rastros de fogo - josé gonçalves

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o que diferencia 0 Pentecostes b{blico do neopentecostalismo atual?

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  • o que diferencia 0 Pentecostes b{blico do neopentecostalismo atual?

  • Rastros de Fogo uma obra de cunho teolgico-

    devocional que discorre acerca do M ovimento

    Pentecostal. Baseado em outras publicaes de sua

    autoria e em textos originais da Bblia Sagrada, o

    autor procurou desenvolver um livro que alcanasse

    o povo e com o qual ele pudesse se identificar. Ao

    lanar mo do ano em que as Assembleias de Deus

    comemoram o seu centenrio, a obra privilegia o

    M ovimento Pentecostal dando amplo destaque

    sua tradio, convocando o povo pentecostal a que

    mantenha a pureza da pregao do Esprito em dias

    to conturbados.

  • O Movimento Pentecostal chegou ao seu

    centenrio no Brasil. Tendo se passado

    um sculo do advento do pentecostalismo moderno, muita coisa ocorreu no interior desse movimento. Na verdade, a expresso

    Movimento Pentecostal tornou-se muito abrangente, no se aplicando apenas aos

    pentecostais clssicos e histricos, mas passou a dar identidade tambm a uma

    variedade de outras correntes perifricas dentro do Movimento, como por exemplo,

    o Neopentecostalismo.

    Essa nova qumica gerada pela unio

    de dezenas ou at mesmo centenas de

    denominaes pentecostais, com seus rituais e crenas divergentes e at mesmo

    antagnicas, resultou na deformao e at mesmo corrupo do pentecostalismo primitivo.

    Baseado, portanto, em tais fatos, Rastros de Fogo discorre ao longo de seus captulos acerca de todas as mudanas sofridas pelo Movimento Pentecostal. A

    obra no tem o intuito de criticar de forma gratuita, ainda que desenvolvida por

    um membro das Assembleias de Deus, um grupo denominacional, mas levar o

    leitor, atravs de seu respaldo teolgico

    e histrico, a refletir sobre as diferentes tradies que compem este movimento.

    Jos Gonalves pastor em Teresina, Piau, graduado em Teologia pelo

    Seminrio Batista de Teresina e em

    Filosofia pela Universidade Federal do

    Piau. Ensinou grego, hebraico e teologia

    sistemtica na Faculdade Evanglica

    do Piau. presidente do Conselho de

    Doutrina da Conveno Estadual das

    Assembleias de Deus no Piau e vice-

    presidente da Comisso de Apologtica

    da CGADB. comentarista de Lies

    Bblicas da Escola Dominical da CPAD

    e autor dos livros Por que Caem os

    Valentes, A Ovelhas Tambm Gemem,

    Defendendo o Verdadeiro Evangelho e

    coautor de Davi as vitrias e derrotas

    de um homem de Deus, todos editados

    pela CPAD.

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  • EM BRANCO

  • O que diferencia o Pentecostes bblico d neopentecostalismo atual?

    CPADRio de Janeiro

  • Todos os direitos reservados. Copyright 2012 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das

    Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

    Preparao dos originais: Elaine Arsenio

    Capa: Josias Finamore

    Projeto grfico: Fagner Machado

    CDD: 239-Apologtica Crist

    ISBN: 978-85-263-1114-5

    As citaes bblicas foram extradas da verso Almeida Revista e Corrigida, edio de 1995, da Socie

    dade Bblica do Brasil, salvo indicao em contrrio.

    Para maiores informaes sobre livros, revistas, peridicos e os ltimos lanamentos da CPAD, visite

    nosso site: http://www.cpad.com.br.

    SAC Servio de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373

    Casa Publicadora das Assembleias de Deus

    Caixa Postal 331

    20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

    1 edio: 2012 / Tiragem - 3.000

  • A presentao

    CJ, /H algum tempo venho idealizando escrever um livro sobre o Movimento Pentecostal. O Esprito Santo e seus dons sempre me fascinaram! Por ter me convertido em uma igreja pentecostal no incio dos anos 80 e convivido com pentecostais todos esses anos, nada mais natural que alimente esse desejo.

    Em outras publicaes j produzira algum material de natureza pneumatolgica, todavia foram escritos mais de cunho apologtico- exegtico do que teolgico-devocional. Nesses trabalhos houve a necessidade constante de recorrer anlise das lnguas originais da Bblia e das regras que regem a lgica formal para desfazer sofismas de alguns telogos que a todo custo procuraram desacreditar a experincia pentecostal. Esse fato fez com que esses textos fossem mais bem assimilados por aqueles que possuam alguma noo de teologia.

    Essa foi a razo do meu desejo de produzir um texto que pudesse ser mais bem assimilado e se identificasse com as massas. Um livro que fomentasse um interesse pelo Esprito Santo semelhante quele que encontramos nos pioneiros pentecostais. Nesse novo texto, portanto, eu no deveria gastar muita tinta ou mesmo nenhuma com argumentos refutativos ou exegticos. Com isso em mente comecei a esboar o livro: Rastros de Fogo o que diferencia o Pentecostes bblico do neopentecostalismo atual?

  • R a st r o s d e F o g o

    Aproximando-se o ano do Centenrio do Movimento Pentecostal no Brasil, j havia selecionado uma ampla bibliografia que serviria de suporte ao meu novo projeto. Assim, escrevi primeiramente o captulo que narra as primeiras experincias pentecostais depois dos apstolos, destacando o movimento montanista, passando pelos pais apostlicos e chagando ao perodo medieval. O roteiro do livro, portanto, privilegiaria o lado histrico do Movimento Pentecostal dando amplo destaque a sua tradio.

    Mas quando comecei a escrever o segundo captulo deste livro, alguma coisa me incomodou, pois crescia em mim a convico de que o Movimento Pentecostal parecia sofrer de algum mal-estar. Sim, mal- estar no sentido definido pelo Dicionrio Aurlio-, situao incomoda, constrangimento e embarao. Parecia-me no haver nenhuma dvida de que estvamos passando, no mnimo, por uma situao incmoda dentro do nosso movimento. A chama pentecostal no havia se apagado, mas passei a observar que j apareciam sinais visveis do seu esfriamento! Era a hora de atentar mais do que nunca para a exortao bblica: No Apagueis o Esprito (1 Ts 5.19).

    Tendo se passado um sculo do advento do pentecostalismo moderno, muita coisa ocorreu no interior desse movimento. Na verdade, a expresso Movimento Pentecostal se tornou muito abrangente, no se aplicando apenas aos pentecostais clssicos ou histricos, mas passou a dar identidade tambm a uma variedade muito grande de outras correntes perifricas dentro do Movimento, como por exemplo, o Ne- opentecostalismo. Como bem observou o escritor Isaltino Gomes Coelho Filho em seu livro Neopentecostalismo uma avaliao pastoral: o neopentecotalismo est bem distante do pentecostalismo em termos de contedo e de prtica, embora este tenha sido contaminado por aquele e aquele tenha sido gerado por este. Mas apesar da atual distncia entre si, os beros paradigmticos de um de outro so os mesmos. No podemos, portanto, fazer uma avaliao correta do neopentecostalismo sem que levemos em conta o pentecostalismo clssico e vice-versa.

    Essa nova qumica produzida pela unio de dezenas ou at mesmo centenas de denominaes pentecostais, com seus rituais e crenas divergentes e at mesmo antagnicas, resultou na deformao e at mes

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  • A p r e s e n t a o

    mo corrupo do pentecostalismo primitivo. Foi esse fato que passou a me incomodar! Deveria, pois, escrever um livro festivo ou reflexivo? Todas as vozes pareciam dizer-me: Seja, pois, a tua palavra como a palavra de um deles, e fala o que bom (2 Cr 18.12). Sendo assim, escolhi a reflexo comemorao!

    Devo destacar, no entanto, que o arrefecimento desse fogo pentecostal no analisado aqui no contexto de uma denominao ou mesmo de algumas delas, mas do Movimento como um todo. Sou pentecostal, perteno s Assemblaias de Deus! No se trata, portanto, de uma crtica gratuita a um grupo denominacional, mas de uma reflexo mais ampla sobre as diferentes tradies que compem esse movimento. Os Rastros de Fogo, logo, apontam as marcas deixadas pelo verdadeiro Pentecostes para que possamos segui-las.

    Uma palavra final sobre como constru a estrutura do texto deste livro necessria. Sabedor que o povo pentecostal familiarizado com o sistema alegrico de interpretao, lancei mo deste mtodo em alguns captulos. Entretanto, fazendo o caminho inverso daquele usado pelos neocarismticos, pois enquanto estes se valem desse mtodo para afirmar interpretaes pessoais o usei para confirmar a ortodoxia crist.

    Que Deus o abenoe!

    Jos Gonalves Teresina, 17 de fevereiro de 2011

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  • EM BRANCO

  • S u m r io

    Apresentao

    1. Do Divino ao Humano

    2. Do Leigo ao Clrigo........... ........

    3. Da ^ocao Profissioi^iz&o

    4. Do Original Cpia........ V I ....

    5. Da Ortlem ao Caos.....l....VM...J

    8. Do Santo ao Pn

    9. Da Ortodoxia rHeresia

    10. Da Bblia' Exi :ncia

    Apndice A

    Apndice B

    Apndice C

    Apndice D

    Notas

  • EM BRANCO

  • D oSois assim insensatos que, tendo comeado no Esprito,

    estejais, agora, vos aperfeioando na carne? (G1 3.3)

    7 Si Um Evento Proftico/ ( J ,

    O Pentecostes resultado da ao do Esprito Santo (At 2.4). A igreja nasceu no Calvrio, mas no Pentecostes que ela batizada. Pois todos ns fomos batizados em um s Esprito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres, e todos temos bebido de um Esprito (1 Co 12.13). No h como negar esse fato. Na verdade, o Pentecostes um evento j h muito profetizado nas Escrituras do Antigo Testamento. E h de ser que, depois, derramarei o meu Esprito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizaro, os vossos velhos tero sonhos, os vossos jovens tero vises. E tambm sobre os servos e sobre as servas, naqueles dias, derramarei o meu Esprito. E mostrarei prodgios no cu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaa. O sol se converter em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrvel Dia do S e n h o r (J1 2.28-31; At 2.17).

    O Pentecostes, pois, nasce como um evento proftico! Existem dezenas de passagens nas Escrituras tanto do Antigo como do Novo Testamento que mostram que o Pentecostes de origem divina e no humana. Tem origem em Deus e no no homem! E evidente que ele ocorre com seres humanos, mas no vem como efeito da ao deles. Quando Paulo diz que a igreja da Galcia havia comeado no Esprito,

    D iv in o a o H u m an o

  • Rastros d e F o g o

    mas que agora estava se aperfeioando na carne, na verdade ele estava dizendo que ela nascera como uma ao soberana do Esprito Santo, mas que naquele momento estava querendo crescer ou se desenvolver pelos esforos humanos. O Esprito no pode se misturar com a carne! Esprito Esprito, carne carne. O que nascido da carne carne; e o que nascido do Esprito esprito (Jo 3.6). O problema hoje com o pentecostalismo contemporneo reside no fato de que est impregnado de carne. No h dvida de que em algumas igrejas parece haver mais carne do que Esprito. Se isso no fosse verdade, ento como se explica as divises? Os escndalos morais e financeiros? Os desvios doutrinrios e at mesmo heresias? Nenhuma dessas coisas se amolda esfera do Esprito, todas esto nas obras da carne (G1 5.19-21).

    No livro de Atos dos Apstolos a vinda do Esprito Santo marcada por alguns princpios que atestam seu carter proftico. Nesse livro vemos a ao do Esprito sem nenhuma mescla com a carne. Vejamos como o livro de Atos retrata a vinda do Esprito no Pentecostes:

    Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do cu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles lnguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Esprito Santo e comearam a falar em outras lnguas, conforme o Esprito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalm estavam habitando judeus, vares religiosos, de todas as naes que esto debaixo do cu. E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multido e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua prpria lngua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois qu! No so galileus todos esses homens que esto falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa prpria lngua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotmia, e Judeia, e Capadcia, e Ponto, e sia, e Frigia, e Panflia, Egito e partes da Lbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como proslitos), e cretenses, e rabes, todos os temos ouvido em nossas prprias lnguas falar das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Q ue quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Esto cheios de mosto (At 2.1-13).

    Princpios Pentecostais

    Alguns princpios expostos nessa passagem so cruciais para entendermos o Pentecostes bblico:

    1 - 0 Pentecostes bblico marcado pela imprevisibilidade derepente veio do cu... (At 2.1,2).

  • Do D iv in o a o H u m a n o

    A frase de repente chama-me a ateno. Ela fala de imprevisibili- dade. Nada fora ensaiado. O Pentecostes bblico imprevisvel. De fato a palavra grega aphno um advrbio e traduzida pelo lxico grego de Strong como repentinamente! O Pentecostes contemporneo, ao contrrio do Pentecostes bblico, por demais previsvel. Todo mundo j sabe o que acontecer e o que tambm no acontecer. J sabemos, por exemplo, que quem tocar na toalhinha vai testemunhar que recebeu a bno. A a tudo fica por conta da criatividade humana: sabonete ungido, rosa consagrada, ligas que simulam algemas, estrela de Davi, etc. A coisa comea com certo ineditismo, mas depois cai na rotina. Tudo fica muito mecnico!

    No pentecostes bblico era o Esprito quem comandava e por isso mesmo ningum possua as formas ou moldes que delimitavam sua operao. Nada de rezas ou frmulas mgicas! Tudo era espontneo. No entanto, precisamos destacar que havia imprevisibilidade, mas no irracionalidade. Embora as operaes do Esprito no fossem humanamente padronizadas, todavia eram organizadas (1 Co 12.11; 14.40).

    2 - 0 Pentecostes bblico marcado pela verticalidade Veio do cu (At 2.2).

    O Pentecostes bblico ocorreu de cima para baixo. Do cu para a terra. De Deus at aos homens. Possivelmente essa seja a principal diferena entre o Pentecostes de ontem e o de hoje. O de ontem vem do cu, e vertical. O Pentecostes de hoje vem de baixo e horizontal. Acontece entre homem e homem. Muitas igrejas gastam um muito dinheiro em tcnicas de marketing anunciando milagres e mais milagres como se o Esprito de fato estivesse ali, mas na verdade a carne. Em muitos casos o homem quem est por trs de tudo. O Pentecostes de cima no faz alarde nem gosta de holofotes. Ele uma ao de Deus e como tal vem de cima. O que vem daqui de baixo est contaminado pela carne e por isso s vezes exala mau cheiro (Cl 3.2).

    3 - 0 Pentecostes bblico possui voz Veio do cu um som(At 2.2).

    Na verdade, a palavra som traduz o termo grego echos, de onde provm o nosso vocbulo portugus eco. O Pentecostes bblico no ape

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  • Rastros d e F o g o

    nas produz som, mas possui eco. Entretanto isso no exatamente o que diferencia o Pentecostes bblico do moderno? O Pentecostes bblico possui uma voz que ecoa enquanto o de hoje faz apenas barulho. O Pentecostes contemporneo zuadento. Ningum mais aguenta esses pregadores pentecostais fazendo barulho para se manter no ar. Como a televiso um veculo de comunicao extremamente caro, eles esto migrando para a internet. Esto criando blogs a todo instante! Fazem de tudo para serem notados. Foi Zygmunt Bauman, socilogo polons, quem refez a famosa frase de Ren Descartes: Penso, logo existo para: Falam de mim, logo existo.1 Sim, um grande nmero de pregadores pentecostais est gritando a plenos pulmes para serem notados. Fazem barulho, mas suas vozes no conseguem produzir um eco positivo na sociedade.

    4 - 0 Pentecostes bblico produz fogo e no fumaa E foram vistas por eles lnguas repartidas, como que de fogo (At 2.3).

    No tenho dvida de que o pentecostes moderno est quase asfixiado por tanta fumaa! H mais fumaa do que fogo. No Pentecostes bblico havia mais fogo e fogo do Esprito Santo. Apareceram entre eles lnguas de fogo. No estou dizendo que no haja alguma chama aqui ou outra ali entre ns pentecostais, mas no posso negar que no atual momento o pentecostalismo est se transformando em uma grande nuvem de fumaa. Justo Gonzalez j observara que no cristianismo moderno h muita espuma.2 Espuma ou fumaa produzem somente a sensao de crescimento ou volume, contudo, atestam apenas um inchamento. Essa fumaa pode ser vista a grande distncia. Veja, por exemplo, os fatos que comprovam isso: o grande nmero de divrcios entre ns; observe tambm os escndalos e as dezenas de demandas judiciais entre as igrejas e voc constatar isso.

    5 - 0 Pentecostes bblico falava a lngua do povo Porque cada um os ouvia na nossa prpria lngua (At 2.6).

    O Pentecostes bblico falava a lngua do povo. Todo mundo entendia o que ele queria expressar. Nosso pentecostes tem falado, falado, mas assim mesmo no se tem feito entender. Por qu? Acredito que h

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  • Do D iv in o a o H u m a n o

    rudos na comunicao. Fala-se uma coisa, mas as aes demonstram outra. Antonio Vieira, escritor do sculo XVII, observou que Deus obedecido no cu, porque ali Ele um Deus visto, enquanto aqui na terra muitos o desobedecem porque aqui Ele um Deus apenas ouvido.3 Parece que as nossas aes contradizem nossas palavras.

    6 - 0 Pentecostes bblico teocntrico Todos os temos ouvido emnossas prprias lnguas falar das grandezas de Deus (At 2.11).

    O Pentecostes bblico falava de Deus! Ele se centralizava em Deus. Os discpulos falavam das grandezas de Deus e no dos grandes feitos humanos. No seria essa uma das marcas que separam aquilo que divino do que meramente humano? Hoje h muitos pentecostes que falam mais das aes e feitos dos homens do que daquilo que Deus fez ou est fazendo.

    Razes Pentecostais

    Possuo uma herana pentecostal, pois nasci numa igreja pentecostal e continuo convicto das minhas crenas. Todavia, mais consciente e reflexivo quanto as nossas prticas! Precisamos nos mensurar pelo Pentecostes genuno. Devemos novamente ouvir nossos pioneiros. Eles viveram o Pentecostes bblico e foram chamados de pentecostais clssicos. Vamos, portanto, voltar nosso olhar para o passado e verificarmos que o pentecostalismo clssico, como um Movimento dentro da Igreja, tambm nasceu do Esprito.

    Alm da Glossolalia

    O escritor norte-americano Donald Dayton em seu livro: Theolo- gical Roots o f Pentecostalism (.Razes Teolgicas do Pentecostalismo), traa um perfil do pentecostalismo histrico.4 Nessa obra, Dayton revela queo pentecostalismo no um movimento a-histrico, mas tem suas razes fincadas dentro do cristianismo histrico. Ele retrocede at John Wesley revelando que a nossa teologia semelhana da wesleyana, tambm herdeira da grande Reforma Protestante do sculo XVI. De fato, podemos constatar que os movimentos avivalistas que precederam o advento do pentecostalismo moderno tais como o movimento Holiness e de Keswick, dentre outros, so, sem sombra de dvida, aes sobera

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  • Rastros d e F o g o

    nas do Esprito Santo na histria.3 Dayton, por exemplo, diz que um erro tentar reduzir o Pentecostalismo ao Movimento de glossolalia, ou simplesmente ao falar em outras lnguas como fizerem alguns autores no passado.

    Para aqueles autores, o pentecostalismo era analisado a partir do advento das lnguas estranhas na Escola Bblica Betei do americano Charles Fox Pahram, em 1901, ou o avivamento de 1906 com William Joseph Saymour na tambm cidade americana de Los Angeles.6 A crena nas lnguas estranhas como evidncia fsica do batismo no Esprito Santo, conforme cria e ensinou Parham, era na verdade o ponto culminante de um movimento que j vinha se desenvolvendo ao longo da histria da Igreja. Dayton, por exemplo, observa que as anlises que enfatizam somente o falar em lnguas como a principal marca distintiva do pentecostalismo, no levando em conta o seu desenvolvimento histrico, esbarra em algumas dificuldades. Por exemplo:

    1 - Somente o falar em lnguas insuficiente como marca distintiva do pentecostalismo, visto que esse fenmeno tem sido observado tambm em movimentos como o dos sakers e dos mrmons.

    2 - Ignora a tradio teolgica formadora da doutrina pentecostal, fazendo-o depender quase que exclusivamente do grupo de Charles Parham e William Saymour.

    3 - Limita o estudo do fenmeno pentecostal s anlises sociolgicase psicolgicas.

    Herdeiros da Reforma

    A contribuio de Dayton na anlise do pentecostalismo relevante visto ter ele encontrado o elo entre esse movimento e a tradio crist histrica. Realmente possvel encontrar marcas desse Pentecostes em diferentes momentos da histria da igreja crist. Isso pode ser visto de tal forma, que impossvel no se constatar que o pentecostalismo um movimento legtimo dentro do protestantismo histrico. Recentemente, o pastor peruano e telogo pentecostal Bernardo de Campos, demonstrou que somos herdeiros da Reforma Luterana, em especial da ala conhecida como Reforma Radical. Sim, aquela Reforma que pro

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  • Do D iv in o a o H u m a n o

    duziu um dos maiores movimentos de contestao e inconformismo, e que originou os Anabatistas crentes que no aceitaram o batismo infantil como smbolo do ingresso f crist. Para esses crentes, o verdadeiro ingresso ao cristianismo se dava atravs do arrependimento e converso e que tinha no batismo em guas o seu smbolo exterior. Bernardo Campos faz a pergunta: Qual a relao que se pode estabelecer entre o pentecostalismo atual e a Reforma Protestante do sculo XVI?

    Em seguida responde:

    Num sentido histrico e social, o pentecostalismo uma parte do protestantismo herdado da Reforma. De fato, muitos o reconhecem como um protestantismo popular e o diferenciam do protestantismo histrico termo sob todos os aspectos impreciso, porque o pentecostalismo no a-histrico de modo algum ou do Velho protestantismo, como costumava dizer Troeltsch. O pentecostalismo, assim como a maioria das igrejas evanglicas da Amrica Latina e do Caribe, herdeiro em diversas vertentes da teologia e da vida da ampla e complexa Reforma Protestante.7

    Campos pe em destaque a teologia de um dos principais expoentes da Reforma Radical, Toms Muntzer. Muntzer acreditava que o julgamento de Deus sobre a igreja corrompida estava prestes a ocorrer. Em 1520 encontrou-se com os anabatistas que tinham vises e praticavamo dom de profecia. Mesmo antes de Lutero, Muntzer j eliminara o uso do latim na liturgia do culto, permitindo que se lesse a Bblia em sua totalidade e no apenas parte dos evangelhos. A teologia de Muntzer apresentava algumas caractersticas que so tidas como fundamentais: totalidade, globalizao, atualidade e objetividade da f. bem verdade, como observa Allan Anderson, que o movimento Anabatista sofreu crticas pesadas por seus excessos, fazendo com que o mesmo fosse rebatido por Lutero. Anderson destaca que nesse perodo:

    As igrejas protestantes oficiais foram ainda mais firmes em sua oposio ao entusiasmo religioso que caracterizaram sempre a igreja catlica e tiveram que transcorrer cerca de quatro sculos para que mudasse essa situao. Os dons espirituais continuaram apresentando-se, principalmente na periferia radical do protestantismo, e quase sempre eram considerados como movimentos sectrios do m om ento.8

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  • Rastros d e F o g o

    De uma forma simples, podemos resumir a teologia de Muntzer da seguinte forma:

    1. A f uma atitude total ela deve dominar todo o nosso ser em prol da manifestao do Reino de Deus nesse mundo.

    2. A f coletiva e comunitria visa o todo e no apenas as suas partes.

    3. A f temporal tem a ver com a nossa vivncia aqui no mundo.4. A F objetiva e concreta ela no abstrata.

    Quer seja no livro de Atos dos apstolos quer seja na gnese do pentecostalismo clssico, temos a ao do Esprito Santo. No incio desse captulo destacamos o fato de num primeiro momento o Pentecostes ter comeado no Esprito, e num segundo ter se inclinado para a carne. possvel observarmos claramente que o movimento pentecostal do final do sculo XIX e incio do sculo XX, tambm denominado de pentecostes da rua Azuza, e o Pentecostes apostlico, possuem muito em comum. J vimos o que caracterizou o Pentecostes de Jerusalm, vejamos, portanto, o que caracterizou o pentecostes americano.

    Os Pilares do Pentecostalismo Clssico

    William W. Menzies, telogo e historiador pentecostal norte-ame- ricano, destaca oito grandes caractersticas que marcaram o Pentecostes da rua Azuza no ano de 1906:

    1. Enchimento do Esprito Santo os pioneiros pentecostais estavam convencidos de que vivenciaram a mesma experincia dos cristos primitivos o batismo no Esprito Santo. Essa experincia foi a marca distintiva entre os pentecostais e outros grupos protestantes.

    2. Compromisso com evangelismo e misses acreditavam que o recebimento do batismo no Esprito Santo tinha como propsito o poder para testemunhar, munidos dessa crena empreenderam um grande esforo missionrio para evangelizar os povos ainda no alcanados.

    3. F firme a presena de Deus passou a ser algo real entre os pentecostais. Esse fato os levou a crer em milagres e a orar pelos doentes.

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  • Do D iv in o a o H u m a n o

    4. Expectativa os pentecostais acreditavam no retorno iminente do Senhor Jesus Cristo. Para eles a ordem do mundo estava condenada e a misso da igreja era resgatar o maior nmero possvel de pessoas. Suas reunies no eram repeties cansativas de uma liturgia pr- planejada, mas eram marcadas por manifestaes do Esprito Santo.

    5. Realidade o senso da presena de Deus e a expectativa da volta de Cristo faziam com que eles vivessem no temor do Senhor buscando um viver santo. No se tratava apenas de um rigor asctico e moral, mas uma conformidade com a santidade de Deus.

    6. Adorao entusistica seus cultos eram alegres e ruidosos. Havia uma liberdade enorme na liturgia, alguns levantavam as mos, outros cantavam em voz alta, havia tambm as palmas e eventualmente o danar no Esprito era praticado desde os primeiros dias.

    7. Comunho enriquecedora os primeiros pentecostais fomentavam a comunho. O centro da vida deles era o lugar de ajuntamento para o culto.

    8. Autoridade da Bblia o avivamento pentecostal surgiu em torno dos crentes que estudavam a Bblia. Havia o anseio pela verdade, no meramente uma busca por experincias sensoriais. Os lderes pentecostais enfatizavam a necessidade de se julgar o mrito de todo ensino e manifestaes, ensinos e condutas luz da Palavra de Deus.9

    Tanto o Pentecostes do Cenculo como o Pentecostes da rua Azuza eram marcados pela ao do Esprito Santo. Situavam-se na esfera do Esprito e so modelos para os que querem de fato viver uma autntica experincia pentecostal. Eles souberam comear no Esprito e andar nele. O pentecostes contemporneo parece ter se acomodado a viver pelo seu brao de carne. Assim como os Glatas, no devemos ser insensatos, mas voltarmos imediatamente para a esfera do Esprito.

    19

  • EM BRANCO

  • jr j /

    ,y :' / y

    2D o L eig o a o Clrigo

    No extingais o Esprito. (1 Ts 5.19)

    Leigos e Clrigos

    Segundo o Dicionrio Aurlio, leigo, derivado do latim laicu aquele que no clrigo. Tem o sentido, portanto, daquilo que pertence ao povo cristo como tal e no hierarquia eclesistica.10 Essa separao entre leigo e clrigo, conforme destaca os lxicos, no fazia parte da doutrina crist primitiva. H um consenso entre os telogos de que o enrijecimento da estrutura eclesistica que tornou abismal a distncia que separa o leigo do sacerdote trouxe danos irreparveis igreja.

    O que se percebe no Novo Testamento que a estrutura eclesistica existente era muito simples, sendo observado que ela existia mais em questo de funo do que de posio. Ser pastor, presbtero ou dicono eram funes que se relacionavam ao ofcio de cada um, deixando claro, portanto, a funo que o crente exercia dentro de sua comunidade. At aqui no havia a separao entre leigos e sacerdotes, conforme se nota hoje na cultura ocidental. Foi somente a partir da Reforma Protestante do sculo XVI que o termo sacerdote passou a ser aplicado novamente a todos os crentes, como o era no Novo Testamento, e no somente a uma classe privilegiada, segundo ensinava e ainda ensina o catolicismo romano.

    No h nenhuma dvida de que o clericalismo surgiu na tradio crist quando a hierarquia eclesistica procurou monopolizar os caris-

  • Rastros d e F o g o

    mas do Esprito. Quando as manifestaes do Esprito deixam de ser encorajadas entre as massas para ser algo privativo de um grupo privilegiado, os clrigos, ento a igreja entra em um processo de esfriamento. A propsito, o telogo Bernardo Campos lembra-nos de que quando o carisma vira rotina aparece a instituio.11

    A Institucionalizao dos Carismas

    Nas pginas seguintes mostrarei que desde o fim do perodo apostlico at a Reforma Luterana, se observa um conflito enorme entre o laicismo e o clericalismo. Em outras palavras, a convivncia entre leigos e clrigos, crentes e sacerdotes passa a ser conflituosa. Esse apanhado histrico permite-nos ter uma viso panormica de como a igreja reagiu ao do Esprito logo aps ter silenciado o ltimo apstolo. Isso deveria nos alertar que o clericalismo, embora necessrio, nunca foi uma boa poltica para a vida da igreja.

    M uito embora j se possa sentir o rano do clericalismo nas obras dos Pais da Igreja, todavia, nesse perodo predominava ainda uma Igreja em que os leigos possuam vez e voz. O laicismo prevalente nos anos subsequentes m orte dos apstolos, em bora no por m uito tempo. Esses cristos acreditavam, a exemplo dos apstolos, que estavam sob a direo do Esprito Santo. Clemente de Roma, por exemplo, invocou a autoridade do Esprito Santo quando escreveu no de ano 95 d .C .12 O utros textos primitivos destacam tam bm esse fato. Incio de Antioquia, que escreveu sete cartas entre 98 e 117 d.C, dem onstra que os cristos estavam familiarizados com o Esprito Santo e por isso diz que eles no careciam de nenhum dom .13 Por outro lado, o D idaqu, escrito por volta de 101 d.C ., traa diretrizes para o correto uso dos dons espirituais, especialmente o de profecia. Fica claro nesse docum ento o cuidado para no se apagar o Esprito (1 Ts 5.19; M t 12.31), bem como no se submeter ao Esprito do erro (1 Jo 4 .1 ),14

    Para Justino de Roma (100-165 d.C.) as manifestaes do Esprito no lhes eram estranhas, isso pode ser verificado em uma de suas mais importantes obras em que ele afirma que os carismas profticos ainda eram presentes nos seus dias.15 Uma outra referncia importante sobre a

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  • Do L e ig o a o C l r i g o

    obra do Esprito Santo no perodo da patrstica vem de Irineu (120-202 d.C.), ele relata como os crentes discerniam pelo Esprito Santo aquilo que no possua origem divina. Para ele uma das razes que levou os hereges a se afastarem do Evangelho foi a negao do Esprito. Irineu se referia ao movimento gnstico e montanista, respectivamente.16 Fica claro que esse pai apostlico acreditava nas manifestaes do Esprito Santo, mas denuncia a heresia gnstica que desprezava o Parclito. Por outro lado, isso tambm visto na segunda citao em que ele critica o montanismo que exercitava os carismas, mas o fazia, no seu entender, fora da autoridade eclesistica.

    Hiplito de Roma (cerca 136 d.C.), um discpulo de Irineu, tambm demonstra estar familiarizado com a terceira pessoa da trindade. Ele se ops ao gnosticismo, marcionismo e montanismo. Hiplito queria manter-se fiel tradio dos dois primeiros sculos da igreja. De acordo com S. M. Burgess, Hiplito no limitava a operao do Esprito hierarquia eclesistica, como faria mais tarde Cipriano.17 Apesar de a obra de Hiplito j demonstrar uma variao muito clara daquilo que ensinaram os apstolos, contudo, algumas de suas prticas so interessantes para serem lembradas. Por exemplo, para ordenao de um ministro da igreja, ele ensina que se imponham as mos e se invoque sobre o tal a presena do Esprito Santo.

    Um Profeta Mal-Compreendido

    J fizemos referncia neste texto a um movimento de renovao que ocorreu dentro do perodo da patrstica. Esse movimento denominado por Tertuliano de Nova Profecia foi fundado por Montano. O montanismo apareceu por volta de 172 d.C. com manifestaes espirituais, como por exemplo, o xtase, o falar em lnguas e a profecia. Infelizmente o que se sabe sobre o montanismo ou a nova profecia quase sempre vem da pena dos seus crticos. O Montanismo, quando visto pelos olhos da igreja institucionalizada dos seus dias, entrou para a histria como uma excrescncia do cristianismo que deveria ser cortada. O motivo eram os excessos e at mesmo heresias praticadas pelos montanistas. Mas que heresia? R.P. Splitter declara que o motivo que levou a antiga igreja a sentenciar o montanismo como heresia foi a sua suposta alegao de

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  • R astro s d e F o g o

    que ele prprio seria o Parcleto.18 Montano teria dito, portanto, que seria o prprio Esprito Santo.

    Mas como isso poderia ser verdade se os seus ensinos atraram um dos mais famosos pais da igreja, Tertuliano? De fato, o bispo de Catargo foi o principal expoente do montanismo. Os historiadores observam que Tertuliano j demonstrava simpatia pelo montanismo em 207 a.C., mesmo antes de aderir a ele. Posteriormente ele assume posio a favor do montanismo militando contra a igreja institucionalizada. De acordo com Jernimo, a razo que levou Tertuliano para o montanismo teria sido a inveja e a injria que a igreja manifestara contra ele. Cludio Moreschini destaca ainda alguns outros motivos, tais como uma renovada expectativa escatolgica, uma maior severidade disciplinar e a certeza de uma mais viva e corroborante presena do Parclito foram os argumentos que levaram Tertuliano a aderir quele que ele chamava a Nova Profecia.19

    Os fatos hoje esto resgatando a verdade sobre esse movimento carismtico. No se est negando aqui que o montanismo tenha cometido excessos, mas como ressaltou o historiador D.F W right, nada de rigorosamente hertico podia ser levantado contra o montanismo. E Moreschini acrescenta que o movimento no professava doutrinas herticas, de modo que nos snodos reunidos na sia M enor para ava- li-lo no fica claro se devia ou no conden-lo. Mas se esta a viso que se tem hoje, ento por que M ontano foi acusado de ser o prprio Parclito, isto , o Esprito Santo? Philip SchafF, historiador da igreja, destaca que seus adversrios concluram, erradamente, que em razo do uso da primeira pessoa para o Esprito Santo em suas declaraes profticas, ele afirmava ser o prprio Parcleto, ou, de acordo com Epifnio, at mesmo Deus, o Pai.20

    O Esprito na Periferia

    O fato que ao se colocar o montanismo na clandestinidade a igreja crist apagou alguns rastros deixados pelo Esprito. Paulo Romeiro destaca que certos telogos creem que ao excluir o montanismo a igreja perdeu um movimento que protestava contra o crescente formalismo e mundanismo, passando a funcionar na clandestinidade.21 Paul Tillich

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  • D o L e ig o a o C l r ig o

    destaca que a vitria da igreja institucional sobre o movimento monta- nista resultou em perda:

    1. O cnon venceu sobre a possibilidade de novas revelaes. A soluo do quarto evangelho de que sempre haveria novas percepes da verdade, sob a crtica do Cristo, foi, pelo menos, reduzida em poder e sentido.

    2. A hierarquia tradicional triunfou contra o esprito proftico. Com isso exclua-se, mais ou menos, o esprito proftico da igreja organizada levando-o a abrigar-se em movimentos sectrios.

    3. A escatologia perdeu grande parte da importncia visvel na era apostlica. A organizao eclesistica passou a ocupar o primeiro lugar. A expectativa do fim reduziu-se ao apelo aos indivduos para que se preparassem para o seu fim pessoal que poderia vir a qualquer momento. Depois desse perodo a ideia do fim da histria deixou de ter importncia.

    4. A rgida disciplina dos montanistas foi abandonada, substituda pelo afrouxamento crescente dos costumes.22

    O sculo II encerra-se com um importante movimento carismtico posto na clandestinidade. Entretanto uma verdade cobre esse perodo se sobressai, importantes Pais da Igreja provam acreditar nas manifestaes do Esprito. Aps esse perodo uma viso crtica e regulamentadora dos carismas do Esprito caracteriza a literatura crist. A. Monaci Castagno resume o final dessa importante fase da igreja:

    1. Os carismas so considerados cada vez mais frequentemente como um privilgio da Igreja Primitiva. Orgenes, que a princpio admitia a existncia dos dons do Esprito como uma afirmao antijudaica, reconhece que os carismas do Esprito tinham ficado mais raros.

    2. Os carismas passam a ser privilgio do clero.

    3. Os carismas passam a ser cada vez mais privilgio do monaquismo, isto , daqueles que levavam uma vida asceta.23

    O Novo Dicionrio do Movimento Pentecostal e Carismtico em sua edio em ingls fez um esforo enorme na tentativa de fazer um resgate

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  • Rastros d e F o g o

    histrico sobre esse perodo. De fato, essa obra dedica nada menos do que dezessete pginas exclusivamente A Doutrina do Esprito Santo nos Pais Antigos. A matria comea com a patrstica e se estende pelo perodo medieval chegando grande Reforma Protestante. Alm dos escritores j listados aqui, h dezenas de outros que so lembrados. Entre eles esto:

    1) Antes do Conclio de Niceia (325 d.C.):

    Orgenes; Novaciano; Cipriano;

    2) Niceno e Perodo ps-niceno:

    Eusbio de Cesareia; Cirilo de Jerusalm; Ddimo, o C ego; Atan- sio; Joo Crisstomo; Baslio de Cesareia; Gregrio de Nissa; Gregrio Nariazeno; Efrm da Srian; Narciso; Pseudo Macarios; Pseudo Dio- nsio, o areopagita; Ambrsio; Agostinho; Toms de Aquino, dentre muitos outros.

    Uma Pneumatologia Deficiente

    Infelizmente o rano do paganismo manchou de uma forma acentuada a teologia de muitos desses nomes. Suas pneumatologias no foram exceo. Orgenes, por exemplo, considerava o Esprito Santo inferior ao Pai e ao Filho. Para chegar a esse raciocnio, Orgenes bebeu do paganismo platnico. Certamente frequentou a escola de Amnio Sacas, um reduto do neoplatonismo. Nessa escola entrou em contato com as Enadas, obra do filsofo Plotino, onde se encontra o ensino sobre as emanaes. A hierarquia da divindade exposta por Orgenes idntica doutrina das emanaes desse filsofo neoplatnico. Geovani Reali, historiador da Filosofia, comenta que ao caracterizar o Pai, o Filho e o Esprito Santo como hierarquia, Orgenes revela mais influncias platnicas do que em qualquer outro ponto de seu sistema.24

    Os exemplos no so poucos. Para Agostinho, bispo de Hipona, o Esprito Santo possua um papel vital na santificao do crente. Mas por outro lado, o bispo de H ipona restringiu as operaes carismticas ao perodo apostlico. Outro exemplo vem de Joo Crisstomo que considerava os dons do Esprito um privilgio da hierarquia eclesistica e do monaquismo.

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  • Do L e ig o a o C l r i g o

    No h como negar que no perodo medieval havia um misticismo muito grande, que at mesmo mais tarde viria a paganizar o cristianismo institucional. Contudo no h nesse perodo muita coisa que lembre o perodo apostlico. A igreja catlica da Europa Ocidental oficialmente continuou negando a possibilidade dos dons espirituais. At o ano 1000 d.C, o livro litrgico Rituale Romanorum explicava a um sacerdote em que casos era necessrio o exorcismo de demnios:

    Os sinais da possesso so os seguintes: a habilidade de falar com certa facilidade em uma lngua estranha ou para entend-la quando outro a fala; a faculdade de revelar o futuro e o desconhecido; demonstrao de poderes que esto fora do normal para a idade e a condio natural do sujeito; e diversos outros indcios que, quando se consideram de maneira conjunta, so provas mais do que suficientes.25

    Os dons carismticos agora eram considerados como sinais do demnio na igreja oficial que estava dom inada pelo escolasticismo desse perodo. No se est afirmando que o Esprito Santo deixou de ter influncia sobre as vidas ou comunidades, e que nada de bom se produziu nesse perodo da histria. No, isso seria ir contra os fatos histricos. Nesse perodo im portantes doutrinas crists se consolidaram, a exemplo da Cristologia, a doutrina da Trindade, alm do florescimento de grandes projetos literrios. No se quer afirmar aqui que as manifestaes carismticas se extinguiram de vez, pois como dem onstrou R. P. Splitrer, algumas manifestaes do Esprito esto presentes, embora de forma espordica, por toda a histria da igreja. Todavia no encontramos nesse perodo aquele clima de efervescncia crist to caracterstico da poca apostlica, e que o pentecostalismo clssico mais tarde iria reviver. A propsito, foi esse distanciam ento do cristianismo bblico que fez eclodir os movimentos de reforma.

    Um Mal Necessrio!

    Ainda no incio desse captulo mencionei que o ciericalismo nunca foi uma boa poltica para a igreja, mas foi necessrio. Isso quer dizer que no devemos ser infantis imaginando que a igreja seria melhor sem

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  • Rastros d e F o g o

    organizao alguma. As palavras de Eugene Peterson so sbias nesse sentido:

    Eu era, e sou, grato instituio eclesistica que me colocou para trabalhar na organizao de uma nova congregao. Eles me ordenaram. Gastaram m uito dinheiro comigo. Incentivaram-me e aconselharam-me. Eles me deram acesso a um a tradio teolgica e eclesistica que fundamental e estabilizadora. Em nenhum mom ento, durante o processo, repudiei essa instituio. No entanto, aprendi que, alm de eu ser um pecador (uma doutrina-chave na teologia de m inha denominao), a prpria instituio tambm era pecadora. Naquele primeiros anos de m inha ordenao, eu no entendia o predomnio e a profundidade do pecado institucional.

    [...] M inha maior descoberta que tinha me enganado em esperar algo diferente. A direo espiritual no vem de instituies. A instituio tem seu lugar prprio e necessrio. Eu no podia funcionar bem sem ela, talvez nem conseguisse funcionar. Entretanto, estivera redondamente enganado em procurar alimento espiritual e esperar aconselhamento vocacional na instituio.26

    Deve, portanto, ficar bem claro que no existe organismo sem organizao; funo sem forma e Igreja que seja totalmente desprovida de conveno. Os carismas so importantes para a igreja, mas a organizao, conclios e convenes tambm o so. Gene A. Getz destaca:

    importante ajudar os cristos a compreender a diferena entre absolutos e no- absolutos, entre funes e formas, entre princpios e padres, entre verdade e tradio, entre organismo e organizao, entre mensagem e mtodo, entre aquilo que supra- cultural e aquilo que puramente cultural.27

    O problema surge quando dentro de nossas igrejas percebe-se que perdemos a noo de funo, de princpios e organismo. Em vez disso, apegamo-nos aferradamente organizao e instituio. No difcil perceber, portanto, que o clericalismo no molde de hoje, e aqui, a anlise ao pentecostalismo enquanto movimento, tem apresentado sintomas bastante desconfortveis.

    Na Contramo dos Carismas

    Tenho medo de que estejamos fazendo o caminho inverso ao percorrido pelos reformadores do sculo XVI, pois enquanto estavam abandonando as prticas medievais reinantes na igreja, ns estamos ressuscitando essas antigas prticas. O clericalismo no seio pentecostal j se parece em muito com aquele praticado pelos sacerdotes medievais. Observa-se, por exemplo, que j temos bispos e apstolos e para

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  • Do L e ig o a o C l r i g o

    que se veja surgir algum dizendo que agora Papa, no demorar muito tempo! Se queremos, de fato, um novo Pentecostes, devemos urgentemente descer do pedestal e nos conscientizar de que o Esprito derramado sobre toda carne (At 2.17), e que cada crente independentemente de sua posio social ou funo eclesial, um sacerdote de Deus (1 Pe 2.9).

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  • EM BRANCO

  • D a Vocao P ro fissio n aliza oMas Eliseu disse ao rei de Israel: Que tenho eu contigo? Vai aos profetas de

    teu pai e aos profetas de tua me. (2 Rs 3.13)

    Uma Nova Profisso ]. / H algum tempo conversava com um colega, tambm pastor, e ele me falava da tese que iria defender por ocasio de uma ps-graduao na rea do direito do trabalho. A tese intitulava-se: O Ministrio Pastoral: vocao ou profisso? Em suas pesquisas encontrara na web um farto debate em torno do assunto. Constatou que no havia ainda consenso entre os juristas em torno do assunto, mas o debate apontava tendncias. Alguns acreditavam que o ministrio pastoral era uma vocao e por isso mesmo no devia haver vnculo empregatcio entre pastor e igreja, mas por outro lado, alguns juristas acreditavam que o trabalho exercido pelo pastor frente sua comunidade podia sim ser configurado como uma relao de trabalho e por isso deveria ser regido pelas leis trabalhistas vigentes.

    A tendncia, porm, mostra que as leis trabalhistas esto mais propensas a considerar a atividade do clrigo como uma profisso. As sentenas favorveis s dezenas de causas trabalhistas impetradas por pastores contra suas igrejas e respectivas Convenes e Conclios parece no deixar dvida quanto a esse fato. Um grande nmero de pastores j se convenceu desse fato e por isso mesmo est procurando se organizar em torno de sindicatos. No momento que escrevo esse livro dezenas de

  • Rastros d e F o g o

    pastores esto reclamando na justia indenizaes milionrias contra suas respectivas igrejas. O ministrio pastoral, sem sombra de dvida, est mais profissional do que vocacional.

    Existem denominaes pentecostais que j h muito tratam seus pastores como simples empregados. So assalariados e o seu vnculo com a comunidade ou denominao extremamente profissional. So tratados como executivos de uma multinacional que gerenciam uma grande empresa ou uma filial da mesma. Dessa forma, o seu vnculo com a comunidade extremamente profissional, tendo como fator preponderante a produo de resultados. Eles so remanejados quando as metas financeiras estipuladas pela diretoria geral para aquela rea, comunidade ou igreja no alcanada. Assim, quando so transferidos de uma cidade para outra encontram um apartamento mobiliado, que evidentemente no dele, mas da igreja. At mesmo o terno, gravata, sapatos, etc., no lhes pertence e devem ser deixados quando so convocados para atender em outra localidade. Enfim, um empregado como qualquer outro de uma grande empresa.

    Demitido por Justa Causa

    Faz alguns anos que um amigo meu que at ento fazia parte de uma denominao dissidente do pentecostalismo clssico, procurou- me. Estava completamente confuso e desnorteado naquele m om ento. Contou-m e em um tom de pesar que acabara de perder a igreja que pastoreava. Como pentecostal fiquei curioso e ao mesmo tempo preocupado, pois sabedor do nosso rgido cdigo de disciplina imaginei que o mesmo cometera alguma falha moral grave. Presumi que somente isso poderia afast-lo da frente de sua igreja, porque tinha conscincia de que tanto ele como a sua esposa eram extremamente dedicados ao trabalho evanglico! Vendo a minha preocupao logo tranquilizou-me dizendo que no praticara adultrio nem tampouco desviara dinheiro de sua igreja. A diretoria de sua igreja j havia demonstrado descontentamento com ele, pois segundo diziam, as metas financeiras estipuladas para aquela comunidade no estavam sendo alcanadas por ele. Mesmo vendo o seu emprenho diante da sua igreja e que aquela comunidade era formada por pessoas de baixo poder

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  • D a Vo c a o P r o f is s io n a l iz a o

    aquisitivo, seus lderes o mandaram embora. Ciente de sua chamada vocacional, meu amigo procurou superar esse traum a fazendo parte de outra igreja pentecostal. Foi a partir desse episdio que pela primeira vez me dei conta de que havia setores dentro do pentecostalismo que profissionalizaram a vocao pastoral.

    Pastores-Executivos

    Como pastor pentecostal e tendo livre trnsito nesse meio, fico preocupado com alguns comportamentos que julgo serem nocivos nossa f a tendncia que cresce entre os evanglicos de considerar pastores como executivos! At mesmo os ttulos de pastor-presidente, secretrio executivo de misses, bispo e apstolo, que esto em voga no atual momento, j so entendidos dessa forma. No demonstram mais uma atitude de ajustamento ao modelo de governo bblico, mas uma forma de conferir status e destaque dentro do seu respectivo grupo. O ttulo de pastor parece ter ficado empobrecido e talvez por isso se julgue necessrio substituir por um outro mais chamativo. embaraoso e humilhante vermos os crentes preocupados em no trocar os ttulos dos seus lderes quando a eles se dirigem! Observei durante um programa de televiso de uma dessas igrejas neopentecostais que uma senhora estava visivelmente tensa quando quis chamar a ateno do seu lder. Ela se dirigiu a ele primeiramente como bispo, mas logo se deu conta que cometera um errado grave, e por isso tratou logo de se corrigir cha- mando-o de apstolo. Em outra ocasio encontrava-me em um culto quando um pastor convidado chegou ao templo e se dirigiu ao plpito. Logo aps levantar-se da orao o dirigente do culto, confiando que o conhecia e que eram amigos dirigiu-se a ele apenas como irmo, contudo, logo foi corrigido por aquele obreiro que fez questo de dizer em voz alta e bom tom: irmo no, pastor!. Fiquei pensando se pastor tambm no irmo.

    Essa tendncia ao profissionalismo no meio pastoral ou ao carrei- rismo como prefere Eugene Peterson, algo extremamente danoso para as igrejas. Os pastores perdem aquela viso de servo para se ajustarem quela do profissional liberal. A propsito, Eugene Peterson ao comentar a fuga do profeta Jonas para a cidade de Tarsis, destaca:

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  • Rastros d e F o g o

    Tarsis, uma fascinante carreira religiosa, no o lugar adequado para um pastor. Todavia, uma vez a bordo do navio rum o a Trsis, difcil sair: as acomodaes so agradveis, os turistas do grupo so atraentes por que pedir algo diferente? Jonas foi lanado para fora. Se no houvesse marinheiros para nos lanar, teramos de nos forar a pular. A consequncia quase que certa o afogamento carreiricdio.

    Jonas no se afogou, foi engolido por um grande peixe, e assim foi salvo. Sua primeira reao a sua nova condio de salvo foi a orao

    Esse o cerne da histria, localizado no ventre de um peixe. O afogamento do carreirismo religioso seguido pela ressurreio da vocao pastoral. Tornamo-nos o que fomos chamados a ser por meio da orao.28

    Pastor de Aluguel

    A crise ministerial contempornea assemelha-se quela vivida pela escassez sacerdotal no perodo dos juizes. Como um perodo de transio entre um governo tribal e a monarquia, os juizes tiveram de conviver com as ameaas constantes de uma anarquia generalizada. O texto bblico registra:

    Havia um hom em da regio m ontanhosa de Efraim cujo nom e era Mica, o qual disse a sua me: As mil e cem moedas de prata que te foram tiradas, por cuja causa deitavas maldies e tam bm as disseste, eis que esse dinheiro eu o tenho, eu o tomei. Ento, disse sua me: Bendito seja meu filho do Senhor! Assim, restituiu os mil as e cem moedas de prata sua me, porm sua me disse: Inteiram ente tenho dedicado este dinheiro da m inha mo ao Senhor para meu filho, para fazer um a imagem de escultura e um a de fundio; de sorte que agora to tornarei a dar. Porm ele restituiu aquele dinheiro a sua me, que tom ou duzentas moedas de prata e as deu ao ourives, o qual fez delas um a imagem de escultura e um a de fundio, e esteve em casa de Mica. E tinha este hom em , Mica, um a casa de deuses, e fez um fode e terafins, e consagrou a um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote. Naqueles dias, no havia rei em Israel; cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos. E havia um jovem de Belm de Jud, da tribo de Jud, que era levita e peregrinava ali. E este hom em partiu da cidade de Belm de Jud para peregrinar onde quer que achasse comodidade; chegando ele, m ontanha de Efrain, at casa de Mica, seguindo o seu caminho, disse-lhe Mica: D onde vens? Ele lhe disse: Sou levita de Belm de Jud e vou peregrinar onde m elhor aonde quer que achar comodidade. Ento, lhe disse Mica: Fica comigo e s-me por pai e sacerdote; e cada ano te darei dez moedas de prata, e vesturio, e o sustento. E o levita entrou. E consentiu o levita em ficar com aquele

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  • D a Vo c a o P r o f is s io n a l iz a o

    hom em ; e este jovem lhe foi como um de seus filhos. E consagrou Mica ao levita, e aquele jovem lhe foi por sacerdote; e estava em casa de Mica. Ento, disse Mica: Agora, sei que o Senhor me far bem, porquanto tenho um levita por sacerdote. (Jz 17.1-13)

    Esse texto relata o pice dessa crise. Nele podemos extrair lies que servem para mostrar que uma crise institucional pode ter srios reflexos no ministrio vocacional.

    Em primeiro lugar, havia uma crise de modelos Naqueles dias, no havia rei em Israel; cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos (v. 6).

    Por natureza somos dependentes de modelos. Na nossa infncia eram nossos pais, professores ou at mesmo um amigo. Os modelos so necessrios e no h nada de errado em t-los (1 Co 11.1). O termo modelo traduz a palavra grega paradigma, e mantm o sentido em nossa lngua de um referencial. Sem referenciais ficamos deriva, assim como os israelitas beiravam o caos por falta dos mesmos. Quando um povo no possui um modelo ou paradigma para seguir, ento ele corre perigo. Foi assim com os israelitas no perodo dos juizes e parece ser assim com o atual movimento pentecostal. Com um agravante, o nosso modelo pentecostal com seus cones existe, mas no est sendo copiado. Somente uma quantidade muito pequena ainda o deseja. Abandona-se o modelo de pentecostalismo bblico para se abraar os esteretipos.

    O pentecostalismo clssico foi rico em cones e se tornou referncia de um cristianismo autntico e dinmico. Todavia o pentecostalismo de hoje assemelha-se a Sanso com os cabelos cortados. Possua a mesma formosura, mas no a mesma fora. No andava mais com o poder com o qual fora dotado. Talvez seja por isso que se invista tanto em marketing nas igrejas pentecostais na tentativa de se produzir aquilo que somente o Esprito Santo consegue fazer!

    Em segundo lugar, havia uma crise no ministrio sacerdotal Havia um homem da regio montanhosa de Efraim cujo nome era mica (...) e consagrou a um dos seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote (w. 1,5).

    Aqui no havia nenhum respeito pelo ministrio vocacional e o que determinava o exerccio do sacerdcio no era a vocao, mas a ocasio. Mica adorava a Deus e aos deuses (v. 5) e ele mesmo consagrou a um de

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    seus filhos para lhe oficiar como sacerdote. Possua um sacerdote particular. R. N. Champlim observa que essa passagem mostra que:

    Ocorreram desvios idlatras que violavam o segundo mandamento da lei de Moiss (cf Jz 8.27; M q 1.7; 1 Rs 12; 13). Yahweh estava sendo cultuado, mas com o acompanhamento de dolos e atravs de um sacerdcio no-autorizado. Era uma situao prpria do sincretismo, que de modo algum se harmonizava com a legislao mosaica.29

    Quando o assunto vocao pastoral, devemos observar o binmio: vocao-qualificao. H o perigo de termos um ministro vocacionado, mas no qualificado como podemos t-lo qualificado, mas no vocacionado. Somente um ministro vocacionado e qualificado pode exercer a contento e com xito o ministrio pastoral. No caso do filho de Mica, ele poderia at mesmo ser qualificado, mas no era vocacionado pela simples razo de no pertencer tribo de Levi. Mica era da tribo de Efraim (v. 1). Mica ficou incomodado com esse fato, pois posteriormente consagrou uma outra pessoa, agora da tribo de Levi, para lhe oficiar como sacerdote (Jz 17.12). Mas o problema no se resolveu, pois se primeiramente temos algum que poderia ser qualificado, mas no era vocacionado, agora temos algum que vocacionado, pois pertence tribo de Levi, mas demonstra ser desqualificado era um andarilho e que ficava onde melhor lhe parecesse (v. 8). Essa no era uma atribuio de um sacerdote levita (x 28; 29).

    Algumas igrejas pentecostais parecem se preocupar muito com a vocao, mas negligenciam a qualificao! Por outro lado, h aquelas que esto valorizando demais a qualificao e esquecendo a vocao. Em ambos os casos estamos diante de uma anomalia. Vemos desfilando entre ns pastores que demonstram no ser nem vocacionados e nem muito menos qualificados. No se trata de elitizar o ministrio pastoral ou torn-lo ecltico, no, nada disso. Entretanto devemos nos preocupar com quem estamos mandando para a frente de nossos plpitos a fim de pastorear a igreja de Deus. Um ministro desqualificado pode fazer grandes prejuzos igreja e da mesma forma um no-vocacionado.

    Em terceiro lugar, havia uma crise de propsitos Sou levita de Belm de Jud e vou peregrinar aonde quer que achar comodidade (Jz 17.9).

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    Era um sacerdote sem propsitos. O ministrio sacerdotal para ele era um meio e no um fim! No possua propsito algum em ser um sacerdote. Apareceu a oportunidade e ele favoravelmente abraou. H sites pentecostais que oferecem, e em vrias parcelas sem juros, o ttulo de pastor. Basta pagar e pronto: pastor. Isso se parece muito com essas reportagens que a televiso faz sobre a venda da C N H (Carteira Nacional de Habilitao). Vemos pessoas que jamais fizeram prova de legislao e muito menos de percurso receber a habilitao para dirigir. So verdadeiras armas que se movem no trnsito! Qual a diferena disso para o ministrio pastoral? Apenas uma: enquanto um usa o carro como arma para matar, o outro usa a Bblia! Cometero crimes da mesma forma.

    Em quarto lugar, havia uma crise tico-moral (w. 10,11,12; 18.4,18,19,20)

    Essa crise se manifestava de trs maneiras:

    1 - Em um ministrio legal, mas no moral

    Nem tudo o que legal moral. Uma coisa pode ser amparada por um costume ou lei, isto , ter respaldo legal ou jurdico, mas mesmo assim no se enquadrar no padro estabelecido pelas Escrituras Sagradas! O divrcio, por exemplo, amplamente amparado pela legislao e aceito pela sociedade como uma prtica normal. Todavia, encontramos um srio conflito entre aquilo que preceitua a Bblia e o que diz a legislao (Mt 5.31,32; M t 19.1-12). H pastores de renome que afirmam que qualidade de liderana nada tem a ver com divrcio, enquanto outros simplesmente ignoram o que diz a Escritura para se ajustar ao modelo adotado pela sociedade secular. E evidente que devemos levar em considerao as excees preceituadas na Palavra de Deus, entretanto jamais fazendo da exceo uma regra (1 Co 7.15).

    2 - Em um ministrio sacerdotal controlado pelas leis de mercado

    A razo de o levita oficiar como sacerdote dada por ele mesmo: Assim e assim me tem feito Mica; pois me tem assalariado, e eu lhe sir

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  • Rastros d e F o g o

    vo de sacerdote (Jz 18.4). O pastor que quer ser um ministro de Deus jamais deve condicionar o seu ministrio lei da oferta e da procura. As vezes determinadas ofertas so financeiramente tentadoras, mas no so acompanhadas pela aprovao divina.

    3 - Em um ministrio determinado pela posio e no pela uno

    Entrando eles, pois, em casa de Mica e tomando a imagem de escultura, e o fode, e os terafins, e a imagem de fundio, disse-lhes o sacerdote: Que estais fazendo? Eles lhe disseram: Cala-te, e pe a mo na boca, e vem conosco, e s-nos por pai e sacerdote; te melhor que sejas sacerdote da casa de um s homem do que ser sacerdote de uma tribo e de uma gerao em Israel? Ento, alegrou-se o corao do sacerdote, tomou o fode, e os terafins, e a imagem de escultura, e entrou no meio do povo (Jz 18.18,19,20).

    O texto diz que o levita se alegrou porque seria sacerdote de uma tribo inteira e no de uma casa apenas! Visivelmente possua um ministrio condicionado pela posio em vez de fundament-lo na uno. Nosso sistema de governo episcopal possui suas vantagens, porm tem suas desvantagens. Uma delas est no perigo de se viver em funo do ttulo. Esses ttulos do grandes honrarias para quem os possui e por isso essas posies, que so biblicamente apenas funes, so s vezes disputadas a tapas. Quando um obreiro dirige seu ministrio com essa atitude, assemelha-se quele homem que fez um esforo enorme para colocar sua escada em uma parede muito alta. Quando chegou ao seu topo, descobriu com enorme tristeza que colocara a escada na parede errada.

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  • D oPelo que dissemos: Faamos, agora, e nos edifiquemos um altar,

    no para holocausto, nem para sacrifcio. (Js 22.26)

    A Cpia da Cpia/ l J ,1 Plto, filsofo grego (427-347 a.C.), costumava dizer que o nosso mundo real apenas um simulacro do mundo ideal. Um simulacro uma falsificao ou imitao. Plato acreditava que existia um mundo ideal, perfeito, do qual o nosso era apenas um cpia imperfeita. No seu famoso Mito da Caverna, compara as pessoas que vivem nesse mundo dos sentidos com as sombras das coisas reais. Ns seriamos apenas sombras ou cpias das coisas perfeitas! Sendo este mundo apenas sombra, qualquer tentativa de represent-lo, especialmente atravs da arte, v. Para Plato a arte seria, portanto, uma a cpia da cpia, e por essa razo ele tinha pouco apreo por ela. Somente atravs da iluminao do conhecimento seria possvel sair da caverna para contemplar a beleza do mundo ideal.

    Em nossa cultura ocidental j nos habituamos a conviver com as cpias, simulacros e falsificaes. As estatsticas mostram que o mundo artstico perde milhes de dlares por conta da pirataria. A cpia comercializada como se fosse o original e at mesmo se tornou uma preferncia do pblico. As medidas contra a indstria da pirataria no sentido de coibir a veiculao desses produtos parecem ser incuas. Estamos, portanto, no reinado das cpias e a religio no escapou desse domniol. Mais do que

    O rig in al C pia

  • Rastros d e F o g o

    qualquer outra coisa a religio tambm copiada. Todavia assim como um produto pirateado ou copiado no possui qualidade, da mesma forma o fenmeno religioso quando copiado se torna muito mais perigoso. o falso querendo passar por verdadeiro ou mesmo ficar em lugar deste.

    No difcil, portanto, falsificar qualquer fenmeno religioso e o pentecostalismo no foge a essa regra. O pentecostalismo se tornou, enquanto produto religioso, o que apresenta o menor grau de dificuldade para os falsificadores. Comparando-se os modelos existentes de pentecostalismos, e existem muitos, com o modelo bblico primitivo percebe-se logo que estamos diante de cpias cpias grosseiras. As distores nessas cpias so to grandes que em nada lembram mais a matriz. Na verdade parece que no atual movimento pentecostal poucos ainda possuem a matriz e o restante faz cpia da cpia! O pior que se quer chegar ao modelo original tomando-se como ponto de partida as xerox existentes. O nosso pentecostalismo, pelo menos, o que aparece frequentemente na mdia, um pentecostalismo xerocado. esse pentecostalismo que est venda e so oferecidas as pessoas apenas copias. Cpias mal feitas. Essas cpias podem ser vistas na forma de falar e gesticular dos pregadores da televiso, e especialmente nos mtodos adotados para arrancar dinheiro dos telespectadores. Um usa o manto consagrado, o outro usa a tolha consagrada. Um faz

    fogueira perto do monte, o outro sobe o monte! Um cria o leo ungido, o outro faz o sabonete ungido. Um diz que a f como um ponto de contato, o outro diz que a f a semente. Um compra um jatinho de cinco milhes de dlares, o concorrente compra um outro por 40 milhes de dlares.

    Quando algum me pergunta que tipo de programa evanglico exibido na televiso brasileira recomendaria, tenho grande dificuldade em responder a essa pergunta. Talvez um ou dois, no mais do que isso. No tenho dvidas de que aquilo que se passa por programao pentecostal na televiso nada mais do que veneno religioso. pior do que veneno para matar ratos! Mata em menos do que vinte e quatro horas. Quem sabe no seja por isso que h tanta gente indiferente f pentecostal e cresa a cada dia o ceticismo em relao aos programas evanglicos exibidos na televiso.

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  • Do O r i g i n a l C p ia

    Um Altar de Faz-de-Conta

    Mas nosso assunto cpia, vamos, pois voltar a falar dela. H um relato bblico que muito interessante para nos ajudar a compreender essa histria de cpia e como se d a sua dinmica. Vamos ao texto bblico:

    V indo eles para os lim ites pegados ao Jordo, na terra de C ana, ali os filhos de R ben, os filhos de G ade e a m eia tribo de M anasss ed ificaram um altar ju n to ao Jordo, um altar de grande aparncia. E ou viram os filhos de Israel dizer: Eis que os filhos de R ben, e os filhos de G ade e a m eia tribo de M anasss edificaram um altar na frente da terra de Cana, nos lim ites do Jordo, da banda dos filhos de Israel. O uvindo isto os filhos de Israel, ajun tou-se toda a congregao dos filhos de Israel em Sil, para sarem peleja con tra eles. E enviaram os filhos de Israel aos filhos de R ben, aos filhos de G ade e m eia tribo de M anasss, para a terra de G ileade, Finias, filho de Eleazar, o sacerdote, e dez prncipes com ele, de cada casa paterna um prncipe de todas as tribos de Israel; e cada um era cabea da casa de seus pais en tre os grupos de m ilhares de Israel. E, v indo eles, aos filhos de Rben, e aos filhos de G ade e m eia tribo de M anasss, terra de Gileade, falaram com eles, dizendo: Assim diz toda a congregao do S e n h o r :Q ue transgresso esta, com que transgredistes con tra o D eus de Israel, deixando, hoje, de seguir o S e n h o r , edificando-vos um altar, para vos rebelardes con tra o S e n h o r ? Foi-nos pouco a in iqu idade de Peor, de que ainda at ao dia de hoje no estam os purificados, a inda que houve castigo na congregao do S e n h o r , para que, hoje, abandonais o S e n h o r ? Ser que, rebelando-vos con tra o S e n h o r , am anh, se irar con tra toda a congregao de Israel. Se, porm que a terra da vossa possesso im unda, passai-vos para a te rra da possesso do S e n h o r , onde hab ita o tabernculo do S e n h o r , e tom ai possesso entre ns; mas no vos rebeleis o S e n h o r , nem tam pouco vos rebeleis contra ns, edificando-vos um altar, afora o altar do S e n h o r , nosso Deus.N o com eteu Ac, filho de Zer, transgresso no tocan te ao antema?E no veio ira sobre toda a congregao de Israel? Assim aquele ho m em no m orreu sozinho na sua in iquidade. E nto , responderam os filhos de R ben, os filhos de G ade e a m eia tribo de M anasss e disseram aos cabeas dos grupos de m ilhares de Israel: O D eus dos deuses, o S e n h o r , o Deus dos deuses, o S e n h o r , ele o sabe, e Israel m esm o o saber; se foi em rebeldia ou por infidelidade con tra o S e n h o r , hoje, no nos preserveis. Se ns edificam os altar para nos to rn ar de aps o S e n h o r , o u para sobre ele, oferecer holocausto e oferta de m anjares, ou sobre ele fazer oferta pacfica, o S e n h o r m esm o de ns o requeira. E, se, antes, o fizemos, foi em receio disto: am anh vossos filhos

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  • Rastros d e F o g o

    v i r o a f a la r a n o s s o s f i lh o s , d i z e n d o : Q u e t e n d e s v s c o m o S e n h o r ,

    D eus de Israel? Pois o S e n h o r ps o Jordo por terra entre ns e vs, filhos de R ben e filhos de Gade; no tendes parte no S e n h o r ; E assim bem poderiam vossos filhos fazer desistir a nossos do tem er ao S e n h o r . Pelo que dissemos: Faamos, agora, e nos edifiquem os um altar, no para holocausto , nem para sacrifcio, mas, para que entre ns e vs e entre e as nossas geraes depois de ns, nos seja em testem unho, para poderm os fazer o servio do S e n h o r dian te dele com os nossos holocaustos, e os nossos sacrifcios, e as nossas ofertas pacficas; e para que vossos filhos no digam am anh a nossos filhos:N o tendes parte no S e n h o r . Pelo que dissemos: quando for que, am anh, assim nos digam a ns e s nossas geraes, ento, direm os:Vede o m odelo do altar do S e n h o r que fizeram nossos pais, no para holocausto, nem para sacrifcio, mas para ser testem unho en tre ns e vs. N unca tal nos acontea, que nos rebelssemos con tra o S e n h o r ou que hoje ns abandonssem os ao Senhor, edificando altar para holocausto, oferta de m anjares ou sacrifcio, fora do altar do S e n h o r , nosso Deus, que est peran te o seu tabernculo (Js 22 .10-29).

    So muitas as lies deixadas por esse texto bblico. Vejamos o contexto dessa passagem. O expositor bblico William M cDonald explica a razo desse conflito:

    Aps a diviso da terra a Oeste do Jordo, Josu perm itiu que os Rubenitas, os gaditas e a meia tribo de Manasss retornassem ao territrio que lhes pertencia a leste do Jordo, conforme estipulado [...] A caminho de casa, as duas tribos e meia decidiram edificar um altar prximo s margens do Jordo. As outras nove tribos ficaram furiosas quando souberam disso, pois temeram tratar-se de concorrncia ao altar do Senhor em Sil. Alem disso, receavam que esse altar se tornasse centro de idolatria e levasse Deus a punir toda a naao .

    Alguns detalhes so de fcil percepo em relao a este altar do Jordo.

    Primeiramente era um altar de lembranas edifiquemos um altar, no para holocausto, nem para sacrifcio (Js 22.26).

    Na verdade esse altar era um altar de faz-de-conta! No servia para o culto, mas apenas para aguar a memria e m anter a tradio religiosa das tribos que no estavam mais prximas do culto em Sil. A explicao dada era que toda vez que um israelita olhasse para

  • D o O r ig in a l C p ia

    aquele altar, ou que um dos seus filhos que no conhecera o altar original e o fitasse, tivesse a conscincia de que serviam ao Deus verdadeiro. As lembranas ou as imagens produzidas poderiam ser reais, mas o altar era apenas uma rplica! A rplica se parece m uito com o produto original, mas no a mesma coisa! Pude constatar isso quando estive em Braslia recentemente. Na catedral da capital observei a rplica da piet de Michelangelo e fiquei estupefato com a beleza artstica daquela esttua! Mas tratava-se apenas de uma rplica, uma cpia da original.

    O pentecostalismo de hoje se parece muito com o original, mas no a mesma coisa. Os pregadores pentecostais modernos possuem uma oratria rebuscada e sabem, de fato, mexer com as massas, contudo continuam sendo apenas rplicas, cpias imperfeitas do pentecostalismo bblico.

    Em segundo lugar era um altar apenas para ornamentao edificaram um altar junto ao Jordo, um altar de grande aparncia (v. 10).

    Leia o texto com cuidado e voc ver que esse altar era grande e bonito, mas servia apenas para ornamentao. Sem dvida um israelita em viagem por aquela regio via de longe aquele altar e mais passava a admirar a sua beleza. Mas esse mesmo israelita no poderia cultuar a Deus naquele altar, pois ele no fora feito com esse fim! O altar do Jordo em muito se parece com o pentecostalismo contemporneo, possui a beleza de um pavo, grande e vistoso, todavia est servindo apenas para ornamentar a religio!

    E maravilhoso saber que os estatsticos fazem projees anim adoras sobre o crescimento das igrejas pentecostais, mas esse pentecostalismo grande e vistoso que aparece na mdia no leva ningum adorao verdadeira! Ele possui penduricalhos demais, est m uito alm da Bblia. D ietrich Bonhoffer declarou que a Palavra de Deus no precisa de enfeites.31 O cristianismo assim como o pentecostes bblico possui sua ornamentao natural os dons do Esprito Santo. Q ualquer outra ornamentao torna a f crist feia em vez de bonita!

    Em terceiro lugar era um altar sem fogo! No para holocausto (v. 26).

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  • Rastros d e F o g o

    A palavra holocausto traduz o termo hebraico olah e significa oferta queimada. O holocausto exigia a presena do fogo. Nesse altar do Jordo nenhum israelita sentiria o calor do fogo, pois ele no fora feito para isso. Era um altar grande e vistoso, mas sem fogo.

    Neste livro j disse que o pentecostes m oderno possui m uita carne e pouco Esprito, m uita fumaa e pouco fogo. H m uita coisa por a se passando por fogo, mas pode temos certeza de que no fogo. O fogo depura e o atual pentecostes est impregnado de impurezas. Veja, por exemplo, os pastores que esto levando seus colegas s barras dos tribunais; veja as igrejas que esto sendo tom adas por fora de liminares; veja as explicaes que so dadas para os pedidos de ofertas que so feitos na televiso com a justificativa de que so para m anter no ar a programao, mas nada dizem para os mantenedores que parte delas ser desviada para pagamento de jatos luxuosos e outras coisas mais.

    Em quarto lugar era um altar sem sangue Nem para sacrifcio (v. 26).

    Por um lado esse altar no era para se por uma oferta queimada, por outro, no servia tambm para o sacrifcio. No holocausto a vtima era queimada, mas primeiramente morta e seu sangue derramado. O altar original exigia a presena do sangue.

    Na Bblia a tipologia do sangue muito rica a tal ponto da Escritura dizer que e quase todas as coisas, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue no h remisso (Hb 9.22). O sangue necessrio. Quando Joo, o batista, viu o Senhor Jesus passando, ele exclamou: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Para que pudssemos ser salvos, o Cordeiro deveria ser morto. Primeiro o sangue depois o fogo e ento teremos o pentecostes. O pentecostes contemporneo tem pouco sangue e talvez seja por isso que muito pecador.

    Quem sabe voc comece a se perguntar depois de ler estas linhas se de fato ainda sou um pentecostal. Sim, sou mais pentecostal do que nunca. Acredito na f Pentecostal e por isso me sinto a vontade ao escrever sobre o movimento do qual fao parte h quase trinta anos. Mas seria uma irresponsabilidade de minha parte achar que porque sou pen-

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  • Do O r i g i n a l C p ia

    tecostal est tudo bem em nosso universo. Sem dvida, h um remanescente pentecostal, pois o Esprito soberano para agir e guardar o seu povo, contudo h um pentecostalismo parasitrio que tem escandalizado o mundo e a igreja, e contra esse falso pentecostalismo que precisamos nos levantar.

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  • EM BRANCO

  • D aOs nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa

    esperana. (Ez 37.11)

    Uma Nova Fsica e o Antigo Caos/ j f ,

    Modernamente a fsica quntica tem se contraposto a fsica newto- niana afirmando que nem tudo ordenado no universo. Mas os pressupostos dessa nova fsica, pelo menos nos moldes que esto sendo apresentados, so mais ideolgicos do que cientficos. Trata-se de uma ideologia ps-moderna que prega que o mundo est em holomovimento e que vivemos uma era de incertezas, de verdades relativas e de valores transitrios. uma fsica fincada mais em valores religiosos do que em pressupostos da cincia positiva.32

    A verdade, como sempre mostrou a fsica newtoniana, que o universo possui sua ordem. No h dvida alguma de que um design inteligente desenhou com grande perfeio o nosso habitat natural a terra. H leis, como a da gravidade, que so imutveis e esto a para serem respeitadas. A perfeio da criao no est somente na mecnica celeste, mas na prpria constituio do ser humano a obra prima do criador. Recentemente o cientista Francis Collins, diretor do famoso projeto genoma humano, revelou com assombro a tremenda complexidade que h em um corpo humano.

    O genoma humano formado por todo o DNA de nossa espcie; o cdigo de hereditariedade da vida. O texto recm revelado apre

    O rd em a o Ca o s

  • Rastros d e F o g o

    sentava 3 bilhes de letras, escrito num cdigo estanho e enigmtico composto de quatro letras. A complexidade das informaes contidas em cada clula do corpo tamanha e to impressionante que ler uma letra por segundo desse cdigo levaria 31 anos, dia e noite, ininterruptamente. Se imprimssemos essas letras num tamanho de fonte regular, em etiquetas normais, e as unssemos, teramos como resultado uma torre do tamanho aproximado de um prdio de 53 andares.33

    Todavia com a sua viso holstica, em que o universo visto como um todo interligado, a fsica quntica parece possuir algo em comum com a cosmoviso crist a crena na existncia de um caos. O universo na perspectiva crist catico por causa da entrada do pecado no mundo, enquanto os qunticos vo buscar as causas desse caos na violao dos princpios que regem o nosso ecossistema.

    O caos est presente e se faz perceptvel aos nossos olhos em nosso dia a dia. Podemos v-lo nas catstrofes naturais; nas pestes e epidemias; nas guerras e convulses sociais e na grande confuso religiosa. No h duvida de que vivemos um caos religioso. Caos na religio parece paradoxal, pois justamente onde ele nunca deveria existir.

    Pequenas Igrejas, Grandes Negcios

    Recentemente dois jornalistas do jornal Folha de So Paulo escreveram um artigo sob o ttulo: Vou abrir minha igreja e j volto! A matria exposta na Folha foi escrita com sarcasmo, mas de um realismo impressionante. Mais impressionante ainda quando descobrimos que esse caos descoberto pelo jornalista da Folha est no meio pentecostal.

    Vejamos a matria:

    Vou abrir minha igreja e j volto!O primeiro milagre do heliocentrismo

    Eu, Cludio Angelo, editor de Cincia da Folha de So Paulo e Rafael Garcia, reprter do jornal, decidimos abrir um a igreja.

    Com o auxlio tcnico do departamento Jurdico da Folha e do escritrio Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo Gasparian Advogados, fizemo-lo. Precisamos apenas de R$ 418,42 em taxas e emolumentos e de cinco dias teis (no consecutivos). tudo muito simples.

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  • D a O r d e m a o C ao s

    No existem requisitos teolgicos ou doutrinrios para criar um culto religioso. Tampouco se exige nmero mnimo de fiis.

    Com o registro da Igreja Heliocntrica do Sagrado Evangelho e seu CN PJ, pudemos abrir um a conta bancria na qual realizamos aplicaes financeiras isentas de IR e IOF. Mas esses no so os nicos benefcios fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituio, templos de qualquer culto so imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimnio, a renda ou os servios relacionados com suas finalidades essenciais, as quais so definidas pelos prprios criadores. O u seja, se levssemos a coisa adiante, poderamos nos livrar de IPVA, IPTU , ISS, ITR e vrios outros Is de bens colocados em nome da igreja.

    H tambm vantagens extratributrias. Os templos so livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilgios como a iseno do servio militar obrigatrio (j sagrei meus filhos Ian e David ministros religiosos) e direito a priso especial.

    Lista de Igrejas abertas no Brasil em 2010 (At setembro)

    Igreja da Agua Abenoada; Igreja Adventista da Stima Reforma Divina; Igreja da Bno Mundial Fogo de Poder; Congregao Anti- Blasfmias; Igreja Chave do den; Igreja Evanglica de Abominao Vida Torta; Igreja Exploso da F; Igreja Pedra Viva; Comunidade do Corao Reciclado; Igreja Evanglica Misso Celestial Pentecostal; Cruzada de Emoes; Igreja C.R.B. (Cortina Repleta de Bnos); Congregao Plena Paz Amando a Todos; Igreja a F de Gideo; Igreja Aceita a Jesus; Igreja Pentecostal Jesus Nasceu em Belm; Igreja Evanglica Pentecostal Labareda de Fogo; Congregao J. A. T. (Jesus Ama a Todos); Igreja Evanglica Pentecostal a ltima Embarcao Para Cristo; Igreja Pentecostal Uma Porta para a Salvao; C om unidade Arqueiros de Cristo; Igreja Automotiva do Fogo Sagrado; Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo; Assembleia de Deus do Pai, do Filho e do Esprito Santo; Igreja Palma da Mo de Cristo; Igreja Menina dos Olhos de Deus; Igreja Pentecostal Vale de Bnos; Associao Evanglica Fiel At Debaixo D 'gua; Igreja Batista Ponte para o Cu; Igreja Pentecostal do Fogo Azul; Comunidade Evanglica Sha- lom Adonai, Cristo!; Igreja da Cruz Erguida para o Bem das Almas; Cruzada Evanglica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade; Igreja Filho do Varo; Igreja da Orao Eficiente; Igreja da Pomba Branca; Igreja Socorrista Evanglica; Igreja A de Amor; Cruzada do Poder

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  • Rastros d e F o g o

    Pleno e Misterioso; Igreja do Amor Maior que Outra; Igreja Dekan- thalabassi; Igreja dos Bons Artifcios; Igreja Cristo Show; Igreja dos Habitantes de Dabir; Igreja Eu Sou a Porta; Cruzada Evanglica do Ministrio de Jeov, Deus do Fogo; Igreja da Bno Mundial; Igreja das Sete Trombetas do Apocalipse; Igreja Barco da Salvao; Igreja Pentecostal do Pastor Sass; Igreja Sinais e Prodgios; Igreja de Deus da Profecia no Brasil e Amrica do Sul; Igreja do M anto Branco; Igreja Caverna de Adulo; Igreja Este Brasil Adventista; Igreja E.T.Q.B. (Eu Tambm Quero a Bno); Igreja Evanglica Florzinha de Jesus; Igreja Cenculo de Orao Jesus Est Voltando; Ministrio Eis-me Aqui; Igreja Evanglica Pentecostal Creio Eu na Bblia; Igreja Evanglica A Ultima Trombeta Soar; Igreja de Deus Assembleia dos Ancios; Igreja Evanglica Facho de Luz; Igreja Batista Renovada Lugar Forte; Igreja Atual dos ltimos Dias; Igreja Jesus Est Voltando, Prepara-te; Ministrio Apascenta as Minhas Ovelhas; Igreja Evanglica Bola de Neve; Igreja Evanglica Ado o Homem; Igreja Evanglica Batista Barranco Sagrado; Ministrio Maravilhas de Deus; Igreja Evanglica Fonte de Milagres; Comunidade Porta das Ovelhas; Igreja Pentecostal Jesus Vem, Voc Fica; Igreja Evanglica Pentecostal Cuspe de Cristo; Igreja Evanglica Luz no Escuro; Igreja Evanglica O Senhor Vem no Fim; Igreja Pentecostal Planeta Cristo; Igreja Evanglica dos Hinos Maravilhosos; Igreja Evanglica Pentecostal da Bno Ininterrupta; Assembleia de Deus Batista A Cobrinha de Moiss; Assembleia de Deus Fonte Santa em Biscoito; Igreja Evanglica Muulmana Jav Pai; Igreja Abre-te-Ssam; Igreja Assembleia de Deus Adventista Romaria do Povo de Deus; Igreja Bailarinas da Valsa Divina; Igreja Batista Floresta Encantada; Igreja da Bno M undial Pegando Fogo do Poder; Igreja do Louvre; Igreja Evanglica Batalha dos Deuses; Igreja Evanglica do Pastor Paulo Andrade, O Homem que Vive sem Pecados; Igreja Evanglica Idolatria ao Deus Maior; Igreja MTV, M anto da Ternura em Vida; Igreja Pentecostal Marilyn Monro; Igreja Quadrangular O M undo E Redondo; Igreja Pentecostal Trombeta de Deus (Samambaia -DF); Igreja Pentecostal Alarido de Deus (Anpolis-GO); Igreja pentecostal Esconderijo do Altssimo (Anpolis-GO); Igreja Batista Coluna de Fogo (Belo Horizonte-MG);

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  • D a O r d e m a o C ao s

    Igreja de Deus que se Rene nas Casas (Itana-MG); Igreja Evanglica Pentecostal a Volta do Grande Rei (Poos de Caldas-MG); Igreja Evanglica Pentecostal Creio Eu na Bblia (Uberlndia-MG); Igreja Evanglica a ltima Trombeta Soar (Contagem -M G); Igreja Evanglica Pentecostal Sinal da Volta de Cristo (Trs Lagoas-MS); Igreja Evanglica Assembleia dos Primognitos (Joo Pessoa-PB); Ministrio Favos de Mel (Rio de Janeiro-RJ); Assembleia de Deus com Doutrinas e sem Costumes (Rio de Janeiro).34

    Uma Qumica Perigosa

    O pentecostalismo contemporneo o resultado da mistura de vrias tradies pentecostais dentro do prprio movimento. O composto dessa qumica tem resultado nesse caos que agora estamos presenciando. A principal causa dessa fragmentao que originou as divises dessas igrejas no est na necessidade da pregao do Evangelho, mas na briga por liderana e interesse financeiro. Um nmero muito pequeno surge como consequncia da necessidade de se permanecer fiel aos princpios bblicos que caracterizam uma igreja bblica.

    A Igreja do Vale dos Ossos Secos

    O profeta Ezequiel teve uma viso do vale de ossos secos retratando o caos reinante no antigo Israel ps-cativeiro. Com o reino do Sul sendo levado para o cativeiro babilnico em 586 a.C, os israelitas viveram um dos piores momentos de sua histria. Perderam sua ptria, sua lngua e identidade como povo para se tornarem escravos de Na- bucodonosor, o grande imperador babilnico. Foi nesse contexto que o profeta teve essa viso.

    Veio sobre m im a m o do S e n h o r ; e o Senhor me levou em esprito, e me ps no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; e eis que eram m ui num erosos sobre a superfcie do vale e estavam sequssimos. E disse: Filho do hom em , podero viver estes ossos? E eu disse: S e n h o r Jeov, tu o sabes. Ento, me disse ele: Profetiza sobre estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do S e n h o r Assim diz o S e n h o r Deus a estes ossos: Eis que farei entrar em vs o esprito, e vivereis. E porei nervos sobre vs, farei crescer

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  • Rastros d e F o g o

    carne sobre vs, sobre vs estenderei pele e porei em vs o esprito, e vivereis. E sabereis que eu sou o S e n h o r . Ento, profetizei como se me deu ordem ; e houve um rudo, enquanto eu profetizava; e houve um rudo, enquanto eu profetizava; eis que se fez rebolio, e ossos se juntaram , cada um osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas no havia neles o esprito. E ele me disse: Profetiza ao esprito, profetiza, filho do hom em , e dize ao esprito: Assim diz o S e n h o r Jeov: Vem dos quatro ventos, esprito, e assopra sobre estes m ortos, para que vivam. E profetizei com o ele me deu ordem , ento, o esprito en trou neles e viveram e se puseram em p, um exrcito grande em extremo. Ento, me disse: Filho do hom em , estes ossos so toda a casa de Israel; eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperana; ns estamos cortados. Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o S e n h o r Jeov: Eis que eu abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair das vossa sepulturas, povo meu, e vos trarei terra de Israel. E sabereis que eu sou o S e n h o r , quando eu abrir a vossa sepultura e vos fizer sair das vossas sepulturas, povo meu. E porei em vs o m eu Esprito, e vivereis, e vos porei na vossa terra, e sabereis que eu, o S e n h o r , disse isso e o fiz, diz o S e n h o r (Ez 37.1-14).

    Deus mostra ao profeta que somente Ele seria capaz de reverter esse quadro catico e fazer o seu povo retornar sua antiga ptria. O profeta Jeremias j estava vaticinado de que a permanncia deles no cativeiro seria de 70 anos e tio logo se cumprisse essa predio o Senhor os faria retornar. Os livros de Esdras e Neemias mostram com detalhes o desfecho dessa profecia.

    Pois bem, analisando essa profecia do vale de ossos secos observamos que a frase nossos ossos se secaram (v. 11) soa quase como um refro. Havia ossos secos e em muitssima quantidade. O caos estava instaurado! Deus mostra ao profeta que os ossos secos estavam no meio do seu povo. Quando leio essa passagem bblica vem-me mente uma pregao que ouvi de um renomado pregador no incio da dcada de 80. Com grande eloquncia ele discorreu sobre a dramtica viso do profeta, chamando a ateno para a capacidade que Deus tem em restaurar. Argumentou que a prpria criao do Estado de Israel em 1948 era uma prova disso.

    Eu tambm estou convicto de que Deus poderoso para restaurar todas as coisas (At 1.6,7), mas estou convencido de que esse texto traz ainda outras lies para ns. Havia ossos secos entre o Israel nao, h ossos secos no meio do Israel cristo. Existiam ossos secos entre o anti

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  • D a O r d e m a o C aos

    go povo de Deus, mas h tambm muitos ossos secos entre o seu atual povo. H, portanto, muitos ossos secos, ossos sequssimos no meio da igreja. No tenho a menor dvida de que o crescimento do pentecosta- lismo e a assimilao de muitas crenas e prticas que lhes foram juntadas como resultado desse processo, fez com que os nossos ossos se secassem!

    Uma leitura atual dessa passagem, tomando como paralelo a atual crise do movimento pentecostal, permite-nos perceber que estamos nesse mesmo vale. Podemos falar, portanto, de a Igreja do vale de ossos secos! Quais seriam as caractersticas de uma igreja que est cheia de ossos secos?

    1- E uma igreja que prega a terra, mas esquece o cu

    Uma das prim eiras caractersticas que marca um a igreja que est cheia de ossos secos que ela possui um vazio escato- lgico! Fala-se m uito na terra, mas pouco no cu! As vezes, sou tentado a desanim ar quando contem plo esse vale de ossos secos dentro do movim ento pentecostal. Tudo a nossa volta contribui para o agravamento da crise: teologia im ediatista, tica relativista e espiritualidade de mercado. O movim ento pentecostal parece ter se transform ado em um grande Shopping Center onde se oferece de tudo e Deus passou a ser visto como um gnio da lmpada!

    2 - uma igreja que prega a cura do corpo, mas se esquece de sarar a alma

    Foi Satans quem disse: Tudo quanto o homem tem ele dar em pela su