reaproveitamento energético de refugos de rotomoldagem
DESCRIPTION
O desenvolvimento do sistema capitalista, o crescimento populacional e o aumento da produção de bens de consumo são alguns dos fatores que contribuem para a geração crescente e, por vezes, desordenada dos resíduos sólidos no planeta. Contudo, em muitos casos não há a prática de destinação e disposição ambientalmente adequada para tais materiais. Possíveis tratamentos para os resíduos englobam processos termoquímicos de reaproveitamento energético, os quais convertem materiais de baixo valor agregado em produtos de interesse, tal como a eletricidade. Este trabalho consistiu, particularmente, na avaliação da instalação de um sistema de gaseificação em uma indústria de médio porte. A partir de um estudo de caso, foram obtidos os dados do processo de transformação de polímeros por seu processo produtivo de rotomoldagem, segundo os quais foi estimada a quantidade de energia possível de ser gerada a partir do poder calorífico da resina polimérica proveniente dos refugos industriais, sendo estes o combustível para o processo de gaseificação. A estratégia metodológica compreendeu a determinação das rotas produtivas e dos equipamentos constituintes do sistema gaseificador. Dessa forma, foram discutidas, primeiramente, as vantagens e as desvantagens da eventual utilização de tal sistema para a empresa do estudo de caso. Por fim, foi considerada tal hipótese para outros possíveis tipos de indústrias presentes no mercado, principalmente no que se refere às diferentes capacidades produtivas. Os resultados destacam, em relação à indústria alvo, que o sistema ainda não é viável, em razão de seu baixo consumo de resina polimérica. No entanto, a discussão aponta uma série de vantagens para esta aplicação em empresas de grande porte. Nestas, além de assegurarem-se demandas poliméricas satisfatórias para a geração de energia elétrica em escalas tangíveis, outros inconvenientes intrínsecos à aquisição do sistema gaseificador são também minimizados. A análise dos resultados permitiu concluir, ainda, que um processo de tratamento de resíduos, tal como a gaseificação, não propicia apenas o benefício energético, mas integra uma das possíveis medidas capazes de desenvolver plenamente um sistema de gestão ambiental empresarial. Este sistema, ao considerar a destinação correta dos resíduos em vez da simples disposição final, contemplaria aspectos econômicos e ambientais. Ao mesmo tempo, a organização fortificaria sua imagem e projetar-se-ia competitivamente no mercado, minimizando o risco de eventuais prejuízos financeiros.TRANSCRIPT
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BRUNO BRANDINO ZUIM
REAPROVEITAMENTO ENERGTICO
DOS REFUGOS INDUSTRIAIS DO
PROCESSO DE ROTOMOLDAGEM A
PARTIR DA GASEIFICAO
Trabalho de Concluso de Curso apresentado
Escola de Engenharia de So Carlos, da
Universidade de So Paulo
Curso de Engenharia Eltrica com nfase em
Sistemas de Energia e Automao
ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdir Schalch
So Carlos
2013
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RESUMO ZUIM, B. B. Reaproveitamento energtico dos refugos industriais do processo de rotomoldagem a partir da gaseificao. 2013. 140 p. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2013. O desenvolvimento do sistema capitalista, o crescimento populacional e o aumento da produo de bens de consumo so alguns dos fatores que contribuem para a gerao crescente e, por vezes, desordenada dos resduos slidos no planeta. Contudo, em muitos casos no h a prtica de destinao e disposio ambientalmente adequada para tais materiais. Possveis tratamentos para os resduos englobam processos termoqumicos de reaproveitamento energtico, os quais convertem materiais de baixo valor agregado em produtos de interesse, tal como a eletricidade. Este trabalho consistiu, particularmente, na avaliao da instalao de um sistema de gaseificao em uma indstria de mdio porte. A partir de um estudo de caso, foram obtidos os dados do processo de transformao de polmeros por seu processo produtivo de rotomoldagem, segundo os quais foi estimada a quantidade de energia possvel de ser gerada a partir do poder calorfico da resina polimrica proveniente dos refugos industriais, sendo estes o combustvel para o processo de gaseificao. A estratgia metodolgica compreendeu a determinao das rotas produtivas e dos equipamentos constituintes do sistema gaseificador. Dessa forma, foram discutidas, primeiramente, as vantagens e as desvantagens da eventual utilizao de tal sistema para a empresa do estudo de caso. Por fim, foi considerada tal hiptese para outros possveis tipos de indstrias presentes no mercado, principalmente no que se refere s diferentes capacidades produtivas. Os resultados destacam, em relao indstria alvo, que o sistema ainda no vivel, em razo de seu baixo consumo de resina polimrica. No entanto, a discusso aponta uma srie de vantagens para esta aplicao em empresas de grande porte. Nestas, alm de assegurarem-se demandas polimricas satisfatrias para a gerao de energia eltrica em escalas tangveis, outros inconvenientes intrnsecos aquisio do sistema gaseificador so tambm minimizados. A anlise dos resultados permitiu concluir, ainda, que um processo de tratamento de resduos, tal como a gaseificao, no propicia apenas o benefcio energtico, mas integra uma das possveis medidas capazes de desenvolver plenamente um sistema de gesto ambiental empresarial. Este sistema, ao considerar a destinao correta dos resduos em vez da simples disposio final, contemplaria aspectos econmicos e ambientais. Ao mesmo tempo, a organizao fortificaria sua imagem e projetar-se-ia competitivamente no mercado, minimizando o risco de eventuais prejuzos financeiros. Palavras-chave: resduos slidos, reaproveitamento energtico, gaseificao, refugos industriais, rotomoldagem.
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ABSTRACT ZUIM, B. B. Energy recovery of the industrial scrap from the rotational molding process through gasification. 2013. 140 p. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2013. The development of the capitalist system, the population growth and the rising production of consumer goods are some of the factors that contribute to the growing and, at times, disordered generation of solid waste on the planet. However, in some cases there is still no environmentally sound destination and disposal conducts for such materials. Possible treatments include energy recovery through thermo chemical processes, which convert low value-added products into ones of interest, such as electricity. The present study consisted, particularly, of the evaluation of installing a gasification system in a medium-sized industry. Based on a case study, data were obtained from the polymer transformation process of its productive process of rotational molding, through which allowed to estimate the achievable amount of energy that could be generated from the calorific value of the polymer resin derived from the industrial scrap, being this one the fuel for the gasification process. The methodological strategy involved the determination of the production routes and also the constituent equipment of the gasifier system. Thus, were discussed, first, the advantages and disadvantages of the eventual use of such a system for the targeted company. This hypothesis was considered for other existing sorts of industries, especially regarding to the different productive capacities. The results revealed, concerning to the targeted industry, that the system is not yet feasible, due to its low consumption of polymer resin. Nevertheless, the discussion suggests a range of advantages for this application in large-sized companies. In these ones, besides being ensured satisfactory polymer demands for generating electricity in tangible scales, other drawbacks inherent to the acquisition of the gasifier system are also minimized. The analysis of the results led to the conclusion, moreover, that a waste treatment process, such as gasification, not only provides the energy benefit, but integrates one of the suitable measures for developing a fully corporate environmental management system. This system, by addressing a proper waste management instead of its simple final disposal, would contemplate both economic and environmental aspects. At the same time, the organization would fortify its image and project itself competitively in the market, minimizing the risk of any financial losses. Keywords: solid waste, energy recovery, gasification, industrial scraps, rotational molding.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abreviatura/Sigla Descrio
A Cinzas
ABELPRE Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e
Resduos especiais
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ABQUIM Associao Brasileira da Indstria Qumica
ABS Acrilonitrila butadieno estireno
ADN ou DNA cido Desoxirribonuclico
ANNEL Agncia Nacional de Energia Eltrica
ASTM American Society for Testing and Materials
BEN Balano Energtico Nacional
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
BR Borracha de Polibutadieno
C Carbono
CD Compact Disc (Disco Laser)
CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem
CMM Crescimento Mensal Mdio
CMMAD Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAD Conferncia das Naes Unidas de Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CP Capacidade Produtiva
DPMM Demanda Polimrica Mensal Mdia
EG Eficincia do Gaseificador
EGM Eficincia Global do MACI
EIA Estudo de Impacto Ambiental
ET Energia Trmica
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ETA Estao de Tratamento de gua
ETE Estao de Tratamento de Esgoto
ETS Eficincia Total do Sistema
EVA Espuma Vinlica Acetinada
FU Fator de Utilizao
H Hidrognio
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IMNC ndice Mdio de No Conformidade
INC ndice de No Conformidade
IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry
MACI Motor Alternativo de Combusto Interna
MCC Material Contendo Carbono
MP Massa Polimrica Mensal Mdia
N Nitrognio
NBR Borracha Nitrilica
O Oxignio
ONU Organizao das Naes Unidas
PA Poliamida
PC Poder Calorfico
PCI Poder Calorfico Inferior
PCS Poder Calorfico Superior
PE Polietileno
PEAD Polietileno de Alta Densidade
PEBD Polietileno de Baixa Densidade
PELBD Polietileno Linear de Baixa Densidade
PET Poli (tereftalado de etileno)
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PEUAPM Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular
PEUBD Polietileno de Ultra Baixa Densidade
PI Potncia Instalada
PIB Produto Interno Bruto
PMMA Polimetil Metacrilato
PNRS Poltica Nacional dos Resduos Slidos
POM Polixidometileno (Poliacetal)
PP Polipropileno
ppm Partes por Milho
PS Poliestireno
PT Potncia Trmica
PTFE ou TEFLON Politetrafluoretileno
PVC Policloreto de Vinila
PVDC Policloreto de Vinilideno
PVF Polifluoreto de Vinila
QP Quantidade Processada
RIMA Relatrio de Impacto Ambiental
RS Resduos Slidos
RSS Resduos de Servio da Sade
RSU Resduos Slidos Urbanos
S Enxofre
SBR Borracha de Butadieno Estireno
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNVS Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria
TG Turbinas ou Microturbinas a Gs
TU Tempo de Utilizao
VM Vazo Mssica
W Umidade
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SUMRIO
1. INTRODUO .............................................................................................................. 12
1.1. A problemtica dos resduos slidos ....................................................................... 13
1.2. Desenvolvimento sustentvel .................................................................................. 15
2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 18
3. REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................................... 19
3.1. Resduos slidos ..................................................................................................... 19
3.1.1. Definies ......................................................................................................... 20
3.1.2. Conceitos iniciais .............................................................................................. 21
3.1.3. Caracterizao ................................................................................................. 22
3.1.3.1. Composio elementar .............................................................................. 23
3.1.3.2. Poder calorfico .......................................................................................... 24
3.1.4. Classificao .................................................................................................... 25
3.1.5. Acondicionamento e armazenamento ............................................................... 26
3.1.6. Coleta e transporte ........................................................................................... 27
3.1.7. Tratamento e destinao final ........................................................................... 29
3.1.7.1. Triagem ...................................................................................................... 30
3.1.7.2. Reciclagem ................................................................................................ 31
3.1.7.3. Compostagem ............................................................................................ 33
3.1.7.4. Digesto anaerbia .................................................................................... 34
3.1.7.5. Incinerao ................................................................................................ 35
3.1.8. Disposio final ................................................................................................ 36
3.2. Polmeros ................................................................................................................ 39
3.2.1. Nomenclatura ................................................................................................... 39
3.2.2. Histrico ........................................................................................................... 41
3.2.3. Origem e utilizao ........................................................................................... 42
3.2.4. Classificao .................................................................................................... 44
3.2.5. Polietileno ......................................................................................................... 46
3.2.5.1. Polietileno linear de baixa densidade ......................................................... 48
3.2.6. Biodegradao e reciclagem ............................................................................ 50
3.3. Processos produtivos industriais de transformao de polmeros ........................... 52
3.3.1. Moldagem por injeo ...................................................................................... 53
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3.3.1.1. Histrico ..................................................................................................... 53
3.3.1.2. Etapas gerais do processo ......................................................................... 54
3.3.1.3. Tipos de injeo ......................................................................................... 55
3.3.1.4. Mquinas de injeo .................................................................................. 55
3.3.1.5. Parmetros do processo ............................................................................ 57
2.3.2. Extruso ........................................................................................................... 58
3.3.2.1. Histrico ..................................................................................................... 59
3.3.2.2. Etapas gerais do processo ......................................................................... 60
3.3.2.3. Tipos de extruso ....................................................................................... 61
3.3.2.4. Mquinas de extruso ................................................................................ 63
3.3.2.5. Parmetros do processo ............................................................................ 64
2.3.3. Rotomoldagem ................................................................................................. 64
3.3.3.1. Histrico ..................................................................................................... 65
3.3.3.2. O processo ................................................................................................. 68
3.3.3.2.1. Dosagem do p ................................................................................... 69
3.3.3.2.2. Aquecimento do molde ........................................................................ 69
3.3.3.2.3. Resfriamento e rotao ........................................................................ 72
3.3.3.2.4. Desmoldagem ..................................................................................... 73
3.3.3.3. Matria-prima ............................................................................................. 73
2.3.3.3.1. Moagem .............................................................................................. 73
3.3.3.3.2. Pigmentao ........................................................................................ 75
3.3.3.4. Tipos de mquinas ..................................................................................... 76
3.3.3.4.1 Rock and Roll ....................................................................................... 76
3.3.3.4.2. Clamshell ............................................................................................. 76
3.3.3.4.3. Shuttle ................................................................................................. 77
3.3.3.4.4. Turret ................................................................................................... 78
3.3.3.5. Vantagens e limitaes .............................................................................. 78
3.3.4 Outros processos .............................................................................................. 79
3.3.4.1. Moldagem por sopro .................................................................................. 79
3.3.4.2. Termoformagem ......................................................................................... 80
3.3.4.3. Calandragem ............................................................................................. 81
3.3.4.4. Moldagem por compresso ........................................................................ 82
3.4. Aproveitamento energtico ..................................................................................... 83
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3.4.1. Pirlise .............................................................................................................. 85
3.4.2. Gaseificao ..................................................................................................... 87
3.4.2.1. Tipos de gaseificadores ............................................................................. 91
3.4.2.1.1. Gaseificadores de leito fixo .................................................................. 92
3.4.2.1.1.1. Gaseificador contracorrente .......................................................... 92
3.4.2.1.1.2. Gaseificador co-corrente ............................................................... 94
3.4.2.1.2. Gaseificadores de leito fluidizado ........................................................ 95
3.4.2.1.2.1. Gaseificador de leito fluidizado circulante ...................................... 95
3.4.2.1.2.2. Gaseificador de leito fluidizado borbulhante .................................. 96
2.4.2.2. Comparao entre gaseificadores .............................................................. 97
3.4.2.3. Limpeza do gs de sntese......................................................................... 98
3.4.2.4. Utilizao do gs de sntese ..................................................................... 105
3.4.2.4.1. Aproveitamento trmico ..................................................................... 106
3.4.2.4.2. Gerao de energia e eltrica ............................................................ 106
3.4.2.4.2.1. Motores alternativos de combusto interna ................................. 107
3.4.2.4.2.2. Motores stirling ............................................................................ 108
3.4.2.4.2.3. Turbinas a gs ............................................................................ 110
3.4.2.4.2.4. Clulas a combustvel ................................................................. 111
4. ESTUDO DE CASO..................................................................................................... 113
4.1 Dados obtidos ........................................................................................................ 115
5. METODOLOGIA .......................................................................................................... 117
5.1. Consideraes iniciais........................................................................................... 117
5.2. Taxa de gerao de refugos ................................................................................. 118
5.3. Vazo mssica ...................................................................................................... 119
5.4. Potncia trmica ................................................................................................... 120
5.5. Especificao do reator de gaseificao ............................................................... 121
5.6. Eficincia total do sistema ..................................................................................... 122
5.7. Capacidade produtiva ........................................................................................... 123
6. RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................... 124
7. CONCLUSES ........................................................................................................... 129
8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 132
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1. INTRODUO
Pode-se definir industrializao como um processo de modernizao pelo qual os
meios de produo de uma sociedade passam, trazendo como consequncias diretas o
aumento da produtividade e a alterao da dinmica das relaes sociais.
Na Idade Mdia, tcnicas avanadas de manufatura, agricultura e artesanato
iniciaram e conduziram os povos a um avano na produo, sendo estes os primeiros
fomentos ao desenvolvimento industrial. O primeiro pas do mundo a atravessar uma fase
de pleno desenvolvimento industrial foi a Inglaterra. No sculo XVIII, houve a chamada
Primeira Revoluo Industrial, momento a partir do qual este pas passou a basear seu
desenvolvimento econmico nas indstrias. Essa fase teve como principais caractersticas
desde a inveno da mquina a vapor explorao dos trabalhadores, dentre outros
fatores, os quais impulsionaram o estabelecimento do sistema capitalista na economia.
A Segunda Revoluo Industrial, ocorrida no sculo XIX, esteve inserida no
contexto do Imperialismo, em que os pases partiam em busca de novas reas e territrios
de influncia por todo o mundo. Assim, poderiam vender seus produtos industrializados e
obter matrias-primas necessrias s suas indstrias. Pode-se dizer que essa Revoluo
acabou por expandir os principais grupos de pases detentores de tecnologias e produes
industriais, sendo um perodo caracterizado pela descoberta e utilizao da energia eltrica
e o uso do petrleo como importante matria-prima dos processos industriais.
Em um cenrio mais contemporneo, a Terceira Revoluo Industrial, por sua vez,
pode ser caracterizada pelo uso da informtica e da telemtica, as quais atriburam maior
velocidade s relaes de trabalho e produo. Comparado a pases como os Estados
Unidos ou Japo, o Brasil sem dvida iniciou com certo atraso seu processo de
industrializao, experimentando um desenvolvimento industrial mais vigoroso e
representativo apenas no governo de Getlio Vargas, a partir do qual se investiu
fortemente na industrializao de base. Em um segundo momento, no governo de
Juscelino Kubitscheck, houve outro significativo desenvolvimento das indstrias de
produo de bens de consumo, junto proliferao das empresas multinacionais.
Nas dcadas de 70, 80 e 90, a industrializao do Brasil continuou a se
desenvolver, embora o pas tenha sofrido alguns perodos de estagnao e crises
econmicas. Mudanas de governos e moedas, criao de novas leis, dentre outros
acontecimentos, marcaram essa transformao no cenrio brasileiro. Atualmente, o Brasil
desfruta de um extenso parque industrial, capaz de produzir e distribuir uma vasta gama de
produtos por seu territrio. Embora grande parcela da indstria nacional ainda seja voltada
s commodities, o que atribui ao pas certa carncia ou at mesmo dependncia em
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alguns setores de tecnologia mais fina e elaborada, o parque industrial brasileiro vem
passando por uma intensa fase de transformao, buscando acompanhar as tendncias da
crescente urbanizao e do exacerbado aumento do consumo por grande parte da
populao. Nesse contexto, o mundo corporativo indubitavelmente se reestrutura, na
incessante busca de sua parcela do mercado e da maximizao de seus lucros, atravs da
competitividade comercial.
de se esperar, porm, que essa dinmica traga graves consequncias ao meio
ambiente e ao prprio Homem, como a futura escassez dos recursos naturais, a
transformao do meio fsico, a perspectiva da crise energtica e do esgotamento da gua
potvel, o aumento do volume de resduos produzidos e a problemtica de sua disposio,
dentre outros problemas. A produo de resduos, embora inerente a toda e qualquer
forma de vida ou atividade, vem se acelerando de forma exponencial em vista dessa
dinmica.
Diante de possveis entraves ao seu prprio desenvolvimento, no resta alternativa
ao Homem que no se preocupar em resolv-los ou ao menos minimiz-los. Dessa forma,
aquela antiga viso, da Natureza como fonte inesgotvel de recursos materiais e
energticos e que possui capacidade infinita de deposio e depurao aos poucos
substituda por um modelo com base no ciclo de vida e integrao da gesto dos resduos.
Segundo Zanin (2004), esse conceito requer a montagem de um sistema complexo de
procedimentos e aes em que a quantidade de resduos a ser reaproveitada dentro de um
sistema produtivo ou de consumo seja cada vez maior e que a quantidade a ser disposta,
menor.
1.1. A problemtica dos resduos slidos
No incio do sculo XXI, com uma populao estimada de 6,2 bilhes, eram
gerados mais de um bilho de toneladas de resduos slidos por ano (ZANIN, 2004).
Segundo Borges (2000), em 2000, o Brasil produziu o dobro da quantidade de resduos
que produzia 15 anos antes.
Sabe-se, por certo, que estes ndices de produo de resduos esto intimamente
ligados tanto ao crescimento populacional quanto s mudanas de comportamento da
sociedade. Como consequncia inevitvel deste processo, tem-se uma srie de impactos
ambientais. O agravamento da situao ambiental iniciou-se aps a Revoluo Industrial,
j que as tecnologias desenvolvidas resultaram em uma melhora nas condies de vida da
sociedade e geraram significativo crescimento populacional. Nesse contexto, j se tornava
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irreversvel o processo de desenvolvimento de tcnicas de produo em massa, visando
atender a demanda crescente de consumo. Os processos industriais passaram a gerar
produtos em velocidade cada vez maior, contribuindo para o aumento da produo de
resduos, seja durante o processo de fabricao, seja pelo estmulo ao consumo.
Entretanto, sabido que a elevada gerao de resduos no caminha em parceria
com o descarte correto. Segundo a (Associao Brasileira de Empresas de Limpeza
Pblica e Resduos Especiais ABRELPE, 2012), dos 64 milhes de toneladas de
resduos produzidos pela populao, 24 milhes (37,5%) foram enviados para destinos
inadequados. Assim, a adequada destinao desses resduos representa um dos maiores
desafios para o Brasil e para a humanidade.
De acordo com o Panorama dos Resduos Slidos produzido anualmente pela
Abrelpe, cerca de trs mil cidades, 54% do total, incluindo as capitais Belm e Braslia,
ainda enviam resduos para destinos inadequados. Alm disso, o desconhecimento dos
brasileiros em relao ao destino dos resduos tambm preocupante. De acordo com o
estudo Consumo Sustentvel da WWF-Brasil (2013), uma em cada trs pessoas no faz
ideia para onde vo os prprios resduos produzidos em sua casa.
fato que faltam os investimentos necessrios para avanar na coleta e destinao
correta dos resduos slidos, mas prticas sustentveis na hora de consumir ainda so
deixadas de lado por grande parte dos brasileiros. o que revela outros dados do estudo
Consumo Sustentvel. O valor do produto, por exemplo, considerado um aspecto
fundamental por 70% dos entrevistados. Caractersticas do produto ligadas
sustentabilidade, no entanto, como os meios utilizados na produo, o tempo que o
produto leva para desaparecer na natureza e o fato de a embalagem ser reciclvel, ficam
em segundo plano (WWF-Brasil, 2013).
Vive-se, pois, em meio problemtica dos resduos slidos. O sistema capitalista, o
crescimento populacional, o aumento da produo de bens de consumo, dentre outros
fatores, parecem no ceder de forma alguma, enquanto a gerao massiva de resduos
continuar sendo inerente a tais avanos. Contudo, no h como dispor eterna e
adequadamente todos esses resduos, o que pode configurar, no futuro, uma situao de
calamidade.
Aprovada em 2010, a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) foi elaborada
para organizar e definir a forma como o pas deve tratar seus resduos, a partir de
definies e conceitos estabelecidos com rigor. Depois de sua aprovao foi criado, ainda,
o Plano Nacional de Resduos Slidos, que determina para 2014 o fechamento dos lixes
a cu aberto, dando lugar construo de aterros sanitrios apropriados. Como
penalidade, os municpios que no cumprirem a determinao sero enquadrados por
crimes ambientais.
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perceptvel, portanto, que embora a problemtica da gerao de resduos e sua
disposio final ainda sejam alarmantes, algumas aes esto sendo colocadas em
prtica, na tentativa de frear este processo. Ainda que no sejam suficientes para alterar
completamente o cenrio ambiental, social e econmico do Brasil, no que se refere ao
manejo adequado dos resduos slidos, deixam claro por onde se deve comear.
1.2. Desenvolvimento sustentvel
Segundo Agra Filho (2012), para atender s suas necessidades bsicas, a
sociedade interfere no ambiente, provocando alteraes sensveis em suas condies
naturais. Desse modo, torna-se indispensvel o entendimento do processo de gerao dos
impactos ambientais como consequncia dos processos dinmicos e interativos que
ocorrem entre os diversos componentes do ambiente natural e social.
Em geral, os problemas ambientais emergem da inadequao ou insustentabilidade
dos prprios padres de produo e de consumo da sociedade que, por sua vez,
constituem o seu modelo de desenvolvimento (MAIA e GUIMARES, 1997). Em meio a
esse paradoxo de desenvolvimento e necessidade de prticas ambientalmente mais
corretas, surge o conceito de desenvolvimento sustentvel.
H muito anos j se considerava a ideia da necessidade de ao menos tentar impor
limites ao crescimento desordenado da sociedade. Diante dessa polmica, a Organizao
das Naes Unidas (ONU) decidiu realizar a primeira Conferncia Mundial sobre o
Ambiente Humano, em 1972, na cidade de Estocolmo.
Apesar das controvrsias e da heterogeneidade de interesses envolvidos, os
princpios e recomendaes resultantes dessa conferncia representaram um marco no
enfoque conceitual do desenvolvimento. Proclama-se a falncia do modelo de
desenvolvimento existente e preconiza-se a necessidade de alternativas qualidade do
crescimento e que se reconhea o ambiente como dimenso fundamental e base de sua
sustentao.
As iniciativas e manifestaes internacionais evoluram para a criao da Comisso
Mundial sobre o Meio Ambiente, tambm instituda pela ONU, que resultou no relatrio
Nosso Futuro Comum. Nesse documento props-se a seguinte definio para o
desenvolvimento sustentvel: o desenvolvimento que atende s necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade das geraes futuras atenderem a suas
prprias necessidades (CMMAD, 1988).
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Atravs dos compromissos firmados na Conferncia das Naes Unidas de Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD, 1997), os governos nacionais consolidaram a
perspectiva de se redirecionarem os processos de crescimento econmico vigentes para
um novo modelo de desenvolvimento regido pela integrao e sustentabilidade nas suas
dimenses sociais, econmicas, ecolgicas, geopolticas e culturais (SACHS, 1993).
Esse desenvolvimento considera, como suas caractersticas fundamentais, a
equidade na distribuio dos bens econmicos e ecolgicos, o consenso social dos seus
propsitos econmicos e a prudncia na apropriao dos recursos ambientais
(ACSELRAD, 1997; SACHS, 1993). Ainda para este ltimo autor, o planejamento do
desenvolvimento deve considerar as seguintes dimenses do ecodesenvolvimento:
Sustentabilidade social: prega a construo de uma civilizao com maior
equidade na distribuio de rendas e bens, de modo a reduzir o abismo entre os
padres de vida dos ricos e dos pobres.
Sustentabilidade cultural: inclui a procura de razes endgenas de processos de
modernizao e de sistemas agrcolas integrados; processos que busquem
mudanas dentro da continuidade cultural e que traduzam o conceito normativo
de ecodesenvolvimento em um conjunto de solues especficas para o local, o
ecossistema, a cultura e a rea.
Sustentabilidade econmica: deve ser viabilizada atravs da alocao e do
gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de
investimentos pblicos e privados. A eficincia econmica deve ser avaliada em
termos macrossociais, e no apenas atravs do critrio da rentabilidade
empresarial de carter microeconmico.
Sustentabilidade espacial: deve ser dirigida para a obteno de uma
configurao rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuio territorial
de assentamentos urbanos e atividades econmicas, com nfase no que segue:
Reduzir a concentrao excessiva nas reas metropolitanas;
Frear e reverter a destruio de ecossistemas frgeis, mas de
importncia vital;
Promover a agricultura e a explorao agrcola das florestas atravs de
tcnicas modernas e regenerativas altamente controladas;
Explorar o potencial da industrializao descentralizada, acoplada
nova gerao de tecnologias;
Criar uma rede de reservas naturais e de biosfera, para proteger a
biodiversidade.
Sustentabilidade ecolgica: pode ser aperfeioada utilizando-se das seguintes
ferramentas:
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17
Ampliar a capacidade de carga do planeta Terra intensificando o uso do
potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com um mnimo de
danos aos sistemas de sustentao da vida;
Limitar o consumo de combustveis fsseis e de outros recursos e
produtos que so facilmente esgotveis ou danosos ao meio ambiente,
substituindo-os por recursos ou produtos renovveis e/ou abundantes,
usados de forma no agressiva ao meio ambiente;
Reduzir o volume de resduos e de poluio, atravs da conservao de
energia e de recursos e da reciclagem;
Promover a autolimitao no consumo de materiais;
Intensificar a pesquisa para a obteno de tecnologias de baixo teor de
resduos e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimento
urbano, rural e industrial;
Definir normas para uma adequada proteo ambiental atravs de
instrumentos econmicos, legais e administrativos necessrios para o
seu cumprimento.
A efetivao da sustentabilidade compreenderia, portanto, o atendimento e
aplicao de todas essas condies, o que representa, incontestavelmente, um dos
maiores desafios para a humanidade. Por fim, este trabalho se baseia, principalmente, nos
aspectos da sustentabilidade ecolgica aliados aos da sustentabilidade econmica.
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2. OBJETIVOS
O objetivo principal deste Trabalho de Concluso de Curso (TCC) consistiu na
realizao de um estudo de caso em uma indstria de transformao de polmeros pelo
processo de rotomoldagem. Foram obtidos, essencialmente, os dados de consumo de
matria-prima desta indstria, bem como a gerao de produtos no conformes pelo
processo produtivo.
A partir destes dados, estimou-se a quantidade de energia possvel de ser gerada a
partir do poder calorfico da resina polimrica, ou seja, da utilizao da matria-prima
presente nos produtos no conformes como combustvel para o processo de gaseificao.
Para isso, foram traadas rotas produtivas e definidos os equipamentos constituintes do
sistema gaseificador.
De acordo com a anlise da escala de grandeza da potncia obtida, foram
estabelecidas comparaes entre as vantagens e as desvantagens da eventual utilizao
de um sistema de gaseificao para esse tipo de aplicao. Por fim, estendeu-se esta
anlise a outros casos, englobando diferentes capacidades e caractersticas produtivas
das indstrias de transformao de polmeros existentes no mercado.
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3. REVISO BIBLIOGRFICA
Este captulo visa a contextualizar a proposta deste trabalho, a partir da reunio de
conceitos, definies e diferentes opinies de diversos autores com relao a todos os
assuntos pertinentes ao completo desenvolvimento dos objetivos e da metodologia
apresentada.
3.1. Resduos slidos
O desenvolvimento da sociedade impossvel sem a gerao de resduos, que
compreende desde sobras de alimentao e entulhos provenientes de construes, at
baterias e carcaas de eletroeletrnicos, cuja gerao acelerada pelo consumo cada vez
maior e mais diversificada da populao. Diante desse cenrio surge o problema de como
geri-los e gerenci-los.
Felizmente, a sociedade atual tem visto o problema de maneira diferenciada, dando
importncia que revela avanos significativos no que se refere produo, tratamento e
disposio final de resduos slidos. Tem havido, gradativamente, uma maior abertura do
tema no mbito poltico, sendo inmeras vezes tema central de discusses e assuntos
abordados pela mdia.
Neste sentido, a palavra lixo, associada a qualquer coisa imprestvel, nociva e que
no possui valor, passa a ser substituda por resduo, passando a sugerir outra concepo,
segundo a qual se muda drasticamente a abordagem do assunto. Enquanto se define o
lixo, de forma simplista, como tudo aquilo que na realidade no tem mais funo e pode
ser descartado, a nova perspectiva permite vrias alternativas para os resduos slidos:
Evitar a produo de certos resduos;
Diminuir sua produo ou a quantidade de materiais polimricos utilizados nas
embalagens dos produtos;
Reutiliz-los antes de considerar uma alternativa mais complexa;
Submet-los ao processo de reciclagem;
Aproveit-los energeticamente, ou seja, utilizar a energia presente nos resduos
atravs de processos qumicos, fsicos ou biolgicos;
Inertizar e dispor os resduos sem valor (rejeitos).
Cada uma dessas opes apresenta, sem dvidas, certas dificuldades e no so
facilmente realizveis. A opo de evitar a produo de certos resduos, por exemplo, no
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de simples execuo no que diz respeito aos principais bens de consumo. Assim, deve-
se considerar a viabilidade das estratgias em cada situao.
Essencialmente, este captulo visa a abordar os diversos aspectos dos resduos
slidos, desde sua definio e caractersticas at formas de disposio final. So tratados,
ainda, conceitos que dizem respeito gesto e gerenciamento destes materiais.
3.1.1. Definies
A literatura de resduos slidos apresenta, sem dvidas, diversos conceitos e
abordagens para o assunto. Segundo a (Associao Brasileira de Normas Tcnicas -
ABNT, 2004), resduos slidos so
resduos nos estados slido ou semisslido, que resultam de atividade da comunidade de origem: industrial, domstica, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos dgua, ou exijam, pra isso, solues tcnica e economicamente inviveis face melhor tecnologia prtica disponvel.
Outra definio relevante a contida na Agenda 21, na qual consta que resduos
slidos
compreendem todos os restos domsticos e resduos no perigosos, tais como os resduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e os entulhos de construo. Em alguns pases, o sistema de gesto dos resduos slidos tambm se ocupa dos resduos humanos, tais como excrementos, cinzas de incineradores, sedimentos de fossas spticas e de instalaes de tratamento de esgoto. Se manifestarem caractersticas perigosas, esses resduos devem ser tratados como resduos perigosos (CNUMAD, 1997).
Vale observar, ainda, a definio da Legislao norte-americana que define
resduos slidos como
qualquer tipo de lixo, refugo, lodo de estao de tratamento de esgoto, de tratamento de gua ou de equipamento de controle de poluio de ar e outros materiais descartados, incluindo slidos, lquidos, semisslidos, gases em contineres resultantes de operaes industriais, comerciais, de minerao e agrcolas, e de atividades da comunidade, porm no inclui slidos ou materiais dissolvidos e esgoto domstico, slidos ou materiais dissolvidos na gua de fluxo de retorno em irrigao e descargas pontuais (USA 1989).
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Por fim, a Lei n 12.305, que constitui a PNRS, estabelece, em seu inciso XVI do
Artigo 3, que so considerados resduos slidos trs grandes grupos de materiais:
1. Material, substncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades
humanas em sociedade, nos estados slido ou semisslido;
2. Lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica
de esgotos ou em corpos de gua, ou exijam, para isso, solues tcnica ou
economicamente inviveis em face da melhor tecnologia disponvel;
3. Gases contidos em recipientes (BRASIL, 2010).
Outra definio importante com relao ao resduo consiste na avaliao de sua
periculosidade. Esta caracterstica atribuda a um resduo que, em funo de suas
propriedades fsicas, qumicas ou infecto-contagiosas, pode apresentar (ABNT, 2004):
a) Risco sade pblica, provocando mortalidade, incidncia de doenas ou
acentuando seus ndices;
b) Risco ao meio ambiente, quando o resduo for gerenciado de forma inadequada.
3.1.2. Conceitos iniciais
Embora criteriosamente definidos pela PNRS, vale reiterar que os resduos slidos
englobam os gases e lquidos, uma vez que, se o gs contido no recipiente no pudesse
ser considerado resduo slido, este deveria ser completamente removido do recipiente, o
que muitas vezes no vivel. Em outras palavras, se os gases no fossem assim
considerados, embalagens s poderiam ser descartadas caso se fizesse vcuo dentro
delas, o que um contrassenso (SOUTO e POVINELLI, 2012).
Quanto aos lquidos, o fato de poder consider-los como resduos slidos permite
que lquidos perigosos sejam acondicionados em tambores e dispostos em aterros de
resduos industriais. Por fim, o termo semisslido permite que os lodos de estaes de
tratamento de gua (ETA) e de tratamento de esgoto (ETE) sejam gerenciados como
resduos slidos e, como tais, dispostos em aterros, desde que atendidos determinados
requisitos (SOUTO e POVINELLI, 2012).
A PNRS tambm formalizou os conceitos de destinao final ambientalmente
adequada dos resduos e disposio final ambientalmente adequada dos rejeitos, duas
definies distintas, embora complementares (BRASIL, 2010).
Um resduo passa a ser chamado de rejeito quando se esgotarem todas as
possibilidades de tratamento e recuperao por processos tecnolgicos disponveis e
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economicamente viveis, de modo que no haja alternativa que no seja a disposio final
ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
Dessa forma, o que se entende por destinao final ambientalmente adequada o
encaminhamento dos resduos para reutilizao, reciclagem, compostagem,
aproveitamento energtico, dentre outras destinaes admitidas pelo poder pblico, no
intuito de evitar danos ou riscos sade pblica e segurana, minimizando, ainda, os
impactos ambientais negativos (BRASIL, 2010).
J a disposio final ambientalmente adequada se refere exclusivamente aos
rejeitos, consistindo na sua disposio ordenada em aterros. Como a disposio final
tambm um tipo de destinao final, ela tambm deve evitar os mesmos aspectos
negativos da destinao final ambientalmente adequada, segundo a Brasil (2010).
Por fim, vale ressaltar que esta poltica tambm instituiu a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Isto significa que, atualmente, os
fabricantes, distribuidores, comerciantes, titulares dos servios pblicos de limpeza urbana
e manejo de resduos slidos e os prprios consumidores so responsveis pelos resduos
em geral.
3.1.3. Caracterizao
As caractersticas dos resduos slidos basicamente determinam a classificao
dos resduos e, consequentemente, a forma de manuseio e operao. Algumas das
caractersticas importantes so (PHILLIPI JR., 2005):
Densidade aparente, medida em unidade de massa por unidade de volume;
Umidade, em porcentagem de massa;
Composio qualitativa, que corresponde lista dos materiais e substncias de
interesse presentes nos resduos;
Composio quantitativa, que corresponde quantidade percentual dos
materiais ou quantidade massa/massa de substncias de interesse;
Caracterizao qumica, que corresponde quantificao dos elementos
qumicos presentes ou ao comportamento do resduo submetido a testes
qumicos especficos, como lixiviao, solubilizao e combusto.
Neste trabalho, se faz necessria uma abordagem mais especfica de dois
conceitos envolvidos na caracterizao qumica dos resduos slidos: a composio
elementar e o poder calorfico destes materiais.
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3.1.3.1. Composio elementar
A anlise qumica elementar corresponde porcentagem em massa dos principais
componentes que constituem a biomassa e outros materiais contendo carbono. Os
elementos considerados so: carbono (C), hidrognio (H), enxofre (S), oxignio (O),
nitrognio (N), cinzas (A) e umidade (W).
A composio elementar caracterstica fundamental e de extrema importncia do
combustvel e constitui a base para a anlise de processos como a combusto e a
gaseificao. A quantidade de ar necessria para alimentar o processo, o volume de gases
de sada e sua composio e o poder calorfico so determinados e calculados a partir
desse conceito.
Nos clculos de combusto ou gaseificao da biomassa, por exemplo, utiliza-se a
composio em base mida. Nos manuais e publicaes especializados, os valores da
composio elementar dos combustveis so apresentados em base seca e em base
combustvel, o que os torna independentes de eventuais variaes nos teores de umidade
e cinzas. Cabe mencionar, porm, que em casos no quais o material j se encontre seco
antes de alimentar tais processos de recuperao energtica, deve-se considerar a base
seca ou anular a umidade nos clculos dos demais parmetros.
Na Tabela 3.1 mostrada uma comparao da composio elementar de alguns
materiais como madeira, plstico, papel e papelo.
Combustvel
Elemento
%C %H %O %N %S %Cinzas %W PCS(MJ/kg)
Resto de Alimento 48 6,4 37,6 2,6 0,4 5 0 18,82
Papel e papelo 44 6 44 0,3 0,2 6,8 0 16,33
Txteis 55 6,6 31,2 4,6 0,15 2,5 0 22,07
Madeira 49,5 6 42,7 0,2 0,1 1,5 0 18,32
Plstico 60 7,2 22,8 0 0 10 0 25,28
Tabela 3.1: Composio elementar e PCS de alguns combustveis (SANNER et al., 1970).
Observa-se que o plstico, embora contenha a maior porcentagem de carbono
dentre os materiais apresentados, apresenta a mais alta porcentagem de cinzas. Por outro
lado, o papel e o papelo, quando comparados ao plstico, por exemplo, chegam a
apresentar o dobro de oxignio, em porcentagem, em suas composies.
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3.1.3.2. Poder calorfico
O poder calorfico (PC) pode ser definido como a quantidade de energia liberada na
forma de calor durante a combusto completa de um determinado combustvel. O valor
dessa propriedade pode variar muito de acordo com o teor de umidade do combustvel.
O Poder Calorfico Superior (PCS) considera que a gua presente no combustvel
no evapora junto aos gases de combusto, enquanto o Poder Calorfico Inferior (PCI)
considera que a gua presente no combustvel seja toda vaporizada junto a tais gases.
importante ressaltar que para vaporizar a gua presente na biomassa necessita-se de
energia, o que justifica o PCS ser maior que o PCI.
O PC pode ser determinado atravs da combusto de uma amostra analisada em
uma bomba calorimtrica. Entretanto, se estes valores no esto disponveis, possvel
determin-los a partir de inmeras relaes matemticas obtidas empiricamente, tendo
como referncia a composio elementar do resduo em anlise. O cientista russo Dimitri
Mendeleiev descreveu a primeira frmula para calcular o PCI de um combustvel, como
mostrado na Equao 3.1:
W%12,25S%O%85,108H%95,1029C%13,339PCI (3.1)
A Equao 3.2 representa, por sua vez, uma frmula para a determinao do PCS
de um combustvel (YOUNG, 2010).
W11,2S51,10O34,10H83,111C91,34PCS (3.2)
Elucidativamente, na tabela 3.2 so relacionados, segundo Young (2010), os
poderes calorficos de alguns resduos slidos que compem o RSU. Neste caso, suas
respectivas umidades foram consideradas para efeito da obteno daquela grandeza.
Tipo de resduo slido Poder Calorfico (kJ/kg) Umidade (%)
Resduo de comida 4.600 70,0
Papel 16.700 6,0
Plstico 32.500 2,0
Txtil 17.500 10,0
Borracha 23.300 2,0
Madeira 18.600 60,0
Tabela 3.2: Poder calorfico de alguns resduos que compe o RSU (YOUNG, 2010).
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3.1.4. Classificao
A classificao de resduos slidos envolve uma srie de aspectos, tais como a
identificao do processo ou atividade que lhes deu origem, suas caractersticas e seus
constituintes. Estes ltimos ainda so comparados com listagens de resduos e
substncias cujo impacto sade e ao meio ambiente j conhecido. A identificao dos
constituintes a serem avaliados na caracterizao do resduo deve ser criteriosa e
estabelecida de acordo com as matrias-primas, os insumos e o processo que lhe deu
origem (ABNT, 2004).
Ainda para efeitos da norma NBR 10004 (ABNT, 2004), os resduos so
classificados em:
Resduos classe I - Perigosos: aqueles que apresentam periculosidade,
conforme definido em 3.4.1 ou outra caracterstica, como inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, dentre outros atributos
tambm definidos pela norma;
Resduos classe IIA No perigosos e no inertes: aqueles que no se
enquadram nas classificaes de resduos classe I ou de resduos classe II B.
Os resduos classificados na classe II A podem apresentar propriedades tais
como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em gua;
Resduos classe II B Resduos no perigosos e inertes: so resduos que,
quando amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007,
e submetidos a um contato dinmico e esttico com gua destilada e deionizada,
temperatura ambiente, conforme a ABNT NBR 10006, no tiverem nenhum de
seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de
potabilidade da gua, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. So
as rochas, tijolos, vidros e certos plsticos e borrachas que no so
decompostos facilmente.
Por outro lado, a Lei n 12.305, que constitui a PNRS, estabelece, em seu artigo 13,
a classificao dos resduos slidos quanto origem:
a) Resduos domiciliares: os originrios de atividades domsticas em residncias
urbanas;
b) Resduos de limpeza urbana: os originrios da varrio, limpeza de logradouros
e vias pblicas e outros servios de limpeza urbana;
c) Resduos slidos urbanos: os englobados nas alneas a e b;
d) Resduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de servios: os gerados
nessas atividades, excetuados os referidos nas alneas b, e, g, h e j;
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e) Resduos dos servios pblicos de saneamento bsico: os gerados nessas
atividades, excetuados os referidos na alnea c;
f) Resduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalaes
industriais;
g) Resduos de servios de sade: os gerados nos servios de sade, conforme
definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos rgos do Sisnama
e do SNVS;
h) Resduos da construo civil: os gerados nas construes, reformas, reparos e
demolies de obras de construo civil, includos os resultantes da preparao
e escavao de terrenos para obras civis;
i) Resduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecurias e
silviculturais, includos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;
j) Resduos de servios de transportes: os originrios de portos, aeroportos,
terminais alfandegrios, rodovirios e ferrovirios e passagens de fronteira;
k) Resduos de minerao: os gerados na atividade de pesquisa, extrao ou
beneficiamento de minrios.
3.1.5. Acondicionamento e armazenamento
A qualidade da operao de coleta e transporte dos RSU depende da forma
adequada do seu acondicionamento e armazenamento, segundo os locais, dias e horrios
estabelecidos pelo rgo de limpeza urbana para a coleta. A populao tem, portanto,
participao decisiva nesta operao.
Segundo Oliveira (1992), o acondicionamento correto dos resduos slidos
importante medida que contribui para evitar a proliferao de vetores, alm de minimizar
problemas relacionados aos odores indesejveis e esttica do ambiente, fatores estes
decisivos para garantir o bem-estar dos cidados.
Em resumo, a importncia do acondicionamento e do armazenamento adequado
est em:
Evitar acidentes;
Evitar a proliferao de vetores;
Minimizar o impacto visual e olfativo;
Reduzir a heterogeneidade dos resduos, no caso de haver coleta seletiva;
Facilitar a realizao da etapa da coleta.
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Para isso, a forma de acondicionamento deve obedecer a normas especficas, as
quais so estabelecidas de modo a facilitar as etapas subsequentes de coleta e de
transporte dos RSU. Nos locais onde no possvel o acesso dos veculos de coleta, por
exemplo, devem ser instaladas lixeiras coletivas em pontos estratgicos. Estes, por outro
lado, devem ser acessveis a aqueles veculos e objetivam essencialmente que a
populao concentre o despejo dos resduos produzidos.
Em alguns casos, ainda, inevitvel a necessidade de armazenar os resduos
durante um determinado perodo no local de gerao, at que sejam coletados. Isso exige,
contudo, instalaes fsicas prediais especficas para cada tipo de resduo, em especial
nas indstrias, no comrcio de grande porte e nos estabelecimentos de servios de sade.
3.1.6. Coleta e transporte
A coleta consiste em uma etapa fundamental no gerenciamento dos resduos
slidos, o qual ser futuramente abordado. Trata-se do processo atravs do qual os
resduos so reconhecidos junto ao gerador e encaminhados para a destinao final. A
coleta dos resduos deve ser feita com frequncia adequada, levando em conta que o
acmulo excessivo de resduos pode aumentar os riscos para o meio ambiente e para a
sade pblica, enquanto que a frequncia excessiva eleva o custo operacional a nveis no
viveis (PHILLIPI JR., 2005).
Segundo o Cempre (2000), a coleta dos RSU, feita pelo municpio ou empresa
concessionria, recebe o nome de Coleta Regular, enquanto a coleta dos outros tipos de
resduos recebe o nome de Coleta Especial. A coleta regular normalmente feita pelas
ruas, porta a porta, por caminhes compactadores. Os RSU podem ser acondicionados em
sacos plsticos, como ocorre no Brasil ou em contineres, como acontece na Alemanha.
A coleta especial, por sua vez, envolve procedimentos mais complexos, uma vez
que h diversos resduos que no podem ou no devem ser simplesmente misturados aos
RSU, devendo ser coletados separadamente. o caso dos RSS, dos resduos da
construo civil, entre outros assim definidos por lei. H outros casos nos quais se aplica,
ainda, o que se chama de logstica reversa.
Logstica reversa o nome que se d ao processo de retornar um material do
consumidor para o fabricante, o oposto da logstica convencional, que se refere ao
processo de levar um material do fabricante ao consumidor final. Formalmente, de acordo
com a PNRS, a logstica reserva
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o conjunto de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos resduos slidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinao final ambientalmente adequada.
Os materiais hoje sujeitos a logstica reversa so os agrotxicos, seus resduos e
embalagens, pilhas e baterias, pneus, leos lubrificantes, diversos tipos de lmpadas,
produtos eletroeletrnicos e seus componentes e demais produtos cuja embalagem, aps
o uso, constitua resduo perigoso (BRASIL, 2010).
Os sistemas de logstica reversa para esses produtos e suas embalagens devem
ser estruturados e implementados pelos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes, independentemente do servio pblico de limpeza urbana e manejo de
resduos slidos. Neste contexto, os consumidores, por sua vez, so responsveis por
devolver queles primeiros os produtos objeto desta ao.
A PNRS prev, ainda, que a logstica reversa pode ser estendida para outros
produtos, dependendo do grau e extenso do impacto de seus resduos sade pblica e
ao meio ambiente, bem com da viabilidade tcnica e econmica do processo.
Quando existe, ainda, uma segregao prvia de acordo com a constituio ou
composio dos resduos, tem-se a Coleta Seletiva (BRASIL, 2010), a qual costuma ser
associada a melhores desempenhos e resultados. Tanto o processo de triagem quanto o
de separao realizada por catadores no apresentam, em contrapartida, uma eficincia
muito alta. Segundo Schalch e Leite (2000), a triagem a posteriori no consegue recuperar
mais de 50% dos materiais reciclveis. Ademais, os catadores no conseguem separar
fragmentos de resduos do restante da massa de lixo.
A segregao na fonte permite, portanto, otimizar os sistemas de tratamento e
disposio final, uma vez que aumenta a qualidade e a quantidade de matria-prima
disponvel. Porm, quando se permite que um resduo perigoso seja misturado a outros
no perigosos, o resultado que a massa total destes materiais acaba sendo classificada
como perigosa e deve ser tratada e disposta como tal. Sendo assim, deve se evitar ao
mximo essa mistura de resduos.
De maneira geral, os resduos, uma vez coletados, devem ser transportados at os
pontos de destinao final, sejam eles as indstrias de reciclagem, as centrais de
tratamento ou os aterros. Quando as distncias e os volumes so pequenos, o transporte
dos resduos pode ser feito pelos prprios veculos de coleta. De maneira geral, estes
veculos devem ser escolhidos de acordo com a quantidade de resduos, do tipo de
resduo transportado, das caractersticas topogrficas e da malha viria da regio a ser
atendida. Horrios e itinerrios devem ser selecionados de modo a minimizar o incmodo
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populao pelo rudo, alm dos riscos decorrentes do excesso de trfego em certas vias e
dos riscos de acidentes, principalmente no transporte de produtos perigosos.
Entretanto, em cidades grandes ou quando os aterros esto muito distantes,
preciso lanar mo de estaes de transbordo. Estas consistem em instalaes nas quais
se faz o translado dos resduos de um veculo coletor a outro veculo com capacidade de
carga maior. Este segundo veculo o que transporta os resduos at o seu destino final.
Estas instalaes podem resumir-se a uma simples plataforma elevada, dotada de uma
rampa de acesso, ou a um edifcio sofisticado e de grandes dimenses (SOUTO e
POVINELLI, 2012).
Phillipi Jr. (2005) destaca algumas das vantagens do emprego de estaes de
transbordo:
Reduo do tempo ocioso do servio de coleta, uma vez que o veculo coletor e
a mo-de-obra so utilizados exclusivamente na coleta;
Possibilidade de reduo do tempo necessrio ao procedimento de coleta, de
maneira que o lixo permanea tempo mais curto na via pblica;
Maior flexibilidade na programao de coleta;
Menor quantidade de veculos circulando, o que diminui o custo do transporte,
composto pelo combustvel, manuteno dos veculos e salrios, alm de
minimizarem os impactos ao meio ambiente e reduzirem o trnsito.
3.1.7. Tratamento e destinao final
Como os RSU so gerados em grande quantidade, torna-se imprescindvel adotar
tcnicas que minimizam o volume a ser disposto. O tratamento de resduos slidos
compreende a utilizao dessas tcnicas que visam pelo menos estabilizao do volume
destes materiais para aumentar a vida til dos aterros sanitrios e evitar uma srie de
outros eventuais problemas.
Segundo Souto e Povinelli (2012), a escolha da alternativa de tratamento a ser
adotada deve enfocar, basicamente, os seguintes aspectos:
Custos de implantao e operao;
Disponibilidade financeira dos agentes envolvidos;
Capacidade de atender s exigncias legais;
Quantidade e capacitao tcnica dos recursos humanos.
Ainda de acordo com estes autores, o fato de uma alternativa apresentar um alto
custo em termos absolutos, como um incinerador, no razo suficiente para que seja
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30
descartada, pois talvez seja a mais barata e eficaz para tratar um determinado resduo
industrial ou de servios da sade quando comparada a outras.
A operao que precede qualquer processo especfico de tratamento a triagem,
enquanto a reciclagem, por sua vez, representa o reprocessamento de materiais,
permitindo novamente sua utilizao (CALDERONI, 1997). A menos destes dois
processos, as demais tecnologias com foco na estabilizao dos resduos podem ser
divididas em processos biolgicos e fsico-qumicos. Entre os primeiros esto a
compostagem, a vermicompostagem e a digesto anaerbia. Entre os ltimos, a
incinerao, a pirlise, a gaseificao, a hidrlise trmica, entre outros processos.
Nos subitens seguintes, ser abordada grande parte destas tecnologias no que diz
respeito s caractersticas, ao funcionamento, viabilidade entre outros aspectos
importantes na eventual considerao de aderir a um determinado tratamento de resduos.
Particularmente, os processos de gaseificao e pirlise ganham um destaque especial,
sendo abordados mais a diante, quando se define de forma mais abrangente e no
apenas para os RSU o conceito de aproveitamento energtico. Esse tratamento especial
se deve ao fato da gaseificao integrar a proposta baseada no estudo de caso deste
trabalho e a pirlise constituir etapa fundamental do processo de gaseificao.
3.1.7.1. Triagem
O objetivo deste processo separar os materiais que se deseja recuperar, ou
aqueles prejudiciais qualidade do processamento ou durabilidade dos equipamentos.
Pode ser executada manualmente em ptios, mesas ou esteiras rolantes. Mtodos
mecnicos e automatizados, como equipamentos magnticos, peneiras, separadores
balsticos entre outros tambm servem ao processo (PHILLIPI JR., 2005).
A operao de triagem pode ser realizada em usinas, nos aterros, nos lixes ou em
outros locais apropriados. Quando realizada nos sacos espera de coleta, pelos
catadores, tem o inconveniente de causar sujidade local e outros problemas j
mencionados anteriormente.
Nos processos manuais, quanto maior o grau de separao desejado e menor a
quantidade de impurezas permitidas, maior ser a mo de obra envolvida. No caso da
separao de materiais a recuperar, o grau de pureza e a limpeza do produto final
influenciam sobremaneira o valor de mercado. Aps a triagem, os materiais podem ser
prensados a fim de baratear o transporte at os locais onde sero industrializados. Por fim,
-
31
a eficincia da mo de obra de triagem pode ser avaliada pela quantidade de resduos
triados por pessoa, por hora (PHILLIPI JR., 2005).
No Brasil, tem havido importantes investimentos nesse setor, dada a elevada
importncia do processo de triagem. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e
Social (BNDES) informou, em junho deste ano, que vai destinar R$ 21,3 milhes para a
instalao de 12 centrais de triagem e a capacitao de 2.160 catadores do Distrito
Federal.
De acordo com o BNDES, 98% das 2,4 mil toneladas coletadas diariamente no
Distrito Federal so aterrados em lixes e os 2% restantes so encaminhados para a
reciclagem pelos catadores. No entanto, a maioria das 33 cooperativas desta regio no
tem estrutura fsica para realizar a triagem dos resduos coletados.
Alm das 12 centrais de triagem que sero instaladas, cada uma receber um
caminho de seis toneladas para dar suporte logstico operao. Os catadores sero
capacitados para realizar triagem, classificao, prensagem, comercializao e gesto de
empreendimentos coletivos.
O projeto prev, ainda, a formao de um corpo tcnico para apoiar as cooperativas
na gesto e desenvolver um programa de limpeza, manuteno de galpes de triagem,
construo e equipagem de uma central de comercializao, estruturao de uma escola
de formao para os catadores, bem como o fortalecimento das cooperativas que no
foram selecionadas para as centrais de triagem, de modo a inseri-las no modelo.
Os recursos so do Fundo Social do BNDES e correspondem a 50% do valor total a
ser investido. a quarta operao do tipo aprovada pelo banco, que j contratou
operaes semelhantes com os municpios do Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
3.1.7.2. Reciclagem
A reciclagem um processo que permite a reinsero de materiais descartados em
um ciclo produtivo, por meio de sua transformao. Em outras palavras, este processo
possibilita que materiais considerados resduos para o gerador passem a configurar
matrias-primas secundrias para outro indivduo e para a sociedade como um todo. A
reciclagem difere da reutilizao ao passo que exige um maior grau de processamento,
excedendo a simples triagem e limpeza do material.
As tcnicas para o processamento de resduos com vista reciclagem so
normalmente especficas para cada material. Costumam envolver algum grau de
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fragmentao de resduo, triturao ou moagem, para facilitar o seu transporte,
armazenamento e processamento.
Segundo Phillipi Jr. (2005), as entidades empresariais promovem os chamados
bancos ou bolsas de resduos. Neste sentido, as empresas apresentam os resduos que
geram, com detalhes de quantidade e qualidade. Outras empresas, por sua vez, que
utilizam tais resduos como matria-prima em seus processos produtivos, podem se
informar sobre como obt-los diretamente com o gerador.
importante que se tenha em mente que a reciclagem s faz sentido do ponto de
vista econmico se o custo do produto reciclado for inferior ao custo do produto
confeccionado a partir de materiais virgens, ou se o custo da reciclagem for menor que o
custo de outras formas de tratamento e disposio final (ANDRADE, 2002). Caso nenhuma
dessas condies seja satisfeita, a reciclagem somente vai acontecer se for obrigatria por
lei.
A reciclagem de materiais pela indstria, por exemplo, depende muito desta
viabilidade econmica. Sobre esse processo pesa tambm a dificuldade de
desenvolvimento de mercado para os produtos reciclados, que muitas vezes so vistos
como produtos de qualidade inferior. Diversos fabricantes de produtos confeccionados a
partir de materiais reciclados ainda no se utilizam de argumentos adequados otimizao
desta informao, no intuito de motivar a aquisio destes produtos por parte dos
consumidores. Economia de energia, preservao de matrias-primas e recursos naturais
e reduo da quantidade dos RSU que so destinados aos aterros sanitrios, so alguns
dos argumentos positivos da prtica da reciclagem.
No Brasil, nos ltimos anos, foram desenvolvidas diversas iniciativas para colaborar
com a eficincia dos processos de triagem e coleta seletiva e, consequentemente, da
reciclagem. Exemplo disto so as auto declaraes ambientais, que consistem em textos,
na simbologia e em grficos presentes em produtos industrializados em geral,
consolidando-se como excelente interface com o consumidor. Os smbolos mais comuns
so apresentados na figura 3.1.
Figura 3.1: Principais smbolos das auto declaraes ambientais (ABIQUIM, 2009).
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A norma NBR 13230 da ABNT padroniza os smbolos que identificam os diversos
tipos de resinas plsticas utilizadas. O principal objetivo facilitar a etapa de triagem dos
diversos resduos plsticos que sero encaminhados reciclagem. Na tabela 3.3 so
relacionados os smbolos existentes aos seus respectivos termoplsticos e s suas
principais caractersticas, bem como a algumas das aplicaes aps a reciclagem de cada
material.
Termoplstico Simbologia Caractersticas Uso aps reciclagem
Polietileno Tereftalato (PET)
Transparente e extremamente leve.
Tecido para bolsas, lonas e velas nuticas,
cordas e fios.
Polietileno de Alta Densidade (PEAD)
Leve, rgido e com boa
resistncia qumica.
Sacaria industrial, garrafas de detergente,
tubos.
Policloreto de Vinila (PVC)
Transparente, leve e
resistente. Tubos e acessrios para
jardim, cercas.
Polietileno de Baixa Densidade (PEBD)
Flexvel, leve, transparente e impermevel.
Reservatrios industriais e de resduos, tubos,
filmes para uso agrcola.
Polipropileno (PP) Rgido, brilhante e
resistente a variaes trmicas.
Caixas e recipientes para transporte, artigos
de decorao.
Poliestireno (PS) Impermevel, leve,
transparente, rgido e brilhante.
Lixeiras, material para isolamento trmico,
acessrios em geral.
Outros (ABS, EVA, PA, etc.)
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Tabela 3.3: Smbolos padronizados e principais atributos dos termoplsticos (ABIQUIM, 2009).
3.1.7.3. Compostagem
A compostagem, um processo biolgico de decomposio controlada de matria
orgnica contida em restos de origem animal ou vegetal, produz um composto, til para
melhorar as propriedades fsicas do solo, alm de ter propriedades fertilizantes (NAUMOFF
e PERES, 2000).
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De acordo com Bidone e Povinelli (2010), este composto estabilizado e tambm
chamado de hmus. Essa tcnica pode ser utilizada para tratar a frao orgnica dos RSU.
Para Phillipi Jr. (2005), o processo promove a inativao da maioria dos agentes
patognicos normalmente presentes nos resduos slidos, j que so expostos a
temperaturas da ordem de 65 a 70C.
H inmeras alternativas de processos tecnolgicos de compostagem, desde os
mais simples, como a compostagem em montes periodicamente revirados, at instalaes
de grande porte com tambores rotativos. A compostagem pode ser realizada por meio de
processos aerbios, anaerbios ou mistos, mas um processo lento que, dependendo da
tecnologia empregada, pode levar de 45 a 180 dias (PHILLIPI JR., 2005).
A vermicompostagem, por sua vez, um processo complementar compostagem
que visa a melhorar as caractersticas do composto, aumentando a disponibilizao de
macro e micronutrientes, produzindo um material mais estvel (BIDONI e POVINELLI,
2010).
Segundo estes autores, os agentes deste processo so as minhocas, as quais
dependem de algumas condies para sua sobrevivncia. O composto no pode estar
encharcado, pois isso levaria morte daqueles animais por afogamento. Por outro lado,
tambm no pode estar ressecado, uma vez que a umidade essencial realizao do
processo.
3.1.7.4. Digesto anaerbia
Esse mtodo de tratamento baseia-se no rendimento da atividade microbiana,
principalmente dos microrganismos anaerbios que, atravs de seu metabolismo,
transformam a matria orgnica em produtos combustveis, como gs metano e hidrognio
e em um composto, potencialmente utilizvel como condicionador do solo (SOUTO e
POVINELLI, 2012).
Mata-Alvarez (2000) afirma que a energia produzida pela digesto anaerbia
ultrapassaria a necessria para a operao do sistema de tratamento, alm de que este
processo causaria menores impactos ambientais por liberar menos gases estufa por
tonelada de resduo tratado que qualquer outro sistema, inclusive a compostagem.
Os sistemas de digesto anaerbia podem ser divididos em sistemas de fluxo
contnuo e sistemas em batelada. Os primeiros podem tratar quantidades muito maiores de
resduo, porm sua implantao mais custosa quanto comparada aos sistemas de
batelada. Estes, por sua vez, requerem reas muito maiores.
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Os reatores anaerbios tambm podem ser divididos em sistemas a seco e a
mido, tambm conhecidos como sistemas com alta e baixa concentrao de slidos,
respectivamente. Os sistemas com alta concentrao trabalham com os resduos na sua
umidade natural, enquanto os de baixa concentrao requerem adio de gua, sendo que
o meio de reao tem a aparncia de uma sopa (LISSENS et al., 2001).
Para Souto e Povinelli (2012), os reatores anaerbios hoje disponveis no mercado
no so capazes de estabilizar completamente a matria orgnica. Sendo assim, faz-se
necessrio que os resduos que saem do reator sejam estabilizados de forma aerbia, ou
seja, por compostagem. Cumpre ressaltar que os reatores conseguem trabalhar com
cargas orgnicas muito mais altas que os sistemas de compostagem, de modo que suas
vantagens residem tanto na possibilidade do aproveitamento do biogs quanto na
economia de rea para a instalao do sistema.
3.1.7.5. Incinerao
A incinerao uma tcnica que pode ser usada para qualquer tipo de resduo
orgnico. De acordo com Cempre (2000), esta tecnologia consiste na combusto dos
resduos em temperaturas acima de 800C, com injeo de ar para garantir a queima
completa, ou seja, a converso total da matria orgnica em gs carbnico e gua.
Neste processo, no somente toda a matria orgnica, mas tambm praticamente
toda a umidade eliminada, enquanto os resduos so convertidos em cinzas, devendo ser
classificadas de acordo com a NBR 10004 da ABNT e encaminhadas para a destinao
final correspondente. So gerados, ainda, alguns gases txicos que tambm devem sofrer
o tratamento adequado.
Embora seja muito criticada por essa gerao de gases, a incinerao a tcnica
de escolha de alguns pases que dispem de poucas reas para aterros, como o caso da
Sua e do Japo (CEMPRE, 2000). Neste ltimo pas, mais de 70% dos resduos slidos
domsticos so incinerados (USHIMA e SANTOS, 2000). No Brasil, a incinerao muito
utilizada para o tratamento de RSS, com capacidade instalada para tratar 58.874 toneladas
por ano (ABRELPE, 2013). A larga utilizao da incinerao para o tratamento destes
ltimos tipos de resduos se deve ao fato dos agentes patognicos serem destrudos, alm
de eliminar uma srie de compostos qumicos txicos nele presentes.
Alguns incineradores so projetados de modo a permitir o aproveitamento do calor
da queima para a produo de energia eltrica. Uma das desvantagens desse processo
est no risco de produo e emisso de compostos txicos e cancergenos, os quais
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podem depositar-se no solo e entrar na cadeia alimentar via vegetais e provocar danos
ambientais graves. Tecnicamente, existes, porm, algumas formas de minimizar essa
possibilidade, mediante resfriamento mais rpido dos gases e filtragem de materiais
particulados, entre outros mtodos.
Leo e Tan (1998), a partir de um estudo a respeito de alternativas para os
resduos slidos do municpio de So Paulo, mostram que a incinerao de alguns
componentes dos resduos slidos domsticos pode no ser economicamente mais
interessante que a coleta seletiva e reciclagem, embora investimentos mais expressivos
em educao ambiental possam inverter essa situao. No mesmo trabalho, os autores
concluem que, considerando mais especificamente o ponto de vista ambiental e tendo
como parmetro o efeito estufa a elevao da temperatura da superfcie da terra devido
ao aumento da presena de certos gases na atmosfera -, a reciclagem se torna mais
vantajosa.
3.1.8. Disposio final
Os resduos no tratados e os rejeitos dos diversos processos de tratamento
precisam ser finalmente dispostos no solo. A soluo mais frequentemente indicada o
aterro sanitrio. Segundo Oliveira (1992), estes locais so obras de engenharia destinadas
a acomodar os resduos sobre o solo, minimizando os impactos ambientais e os riscos
sade. Devem possuir drenos para os lquidos percolados que se formam na
decomposio natural da matria orgnica e impermeabilizao adequada para evitar a
contaminao de aquferos. Ademais, precisam dispor de drenos tambm responsveis
por escoar os gases que se formam no processo de fermentao da matria orgnica.
A operao de aterros sanitrios, por sua vez, deve incluir a compactao dos
resduos e sua cobertura diria com terra, a qual tem por objetivo ajudar a evitar a
emanao de maus odores e a proliferao de vetores. Alm disso, deve haver um sistema
de drenagem de guas pluviais e tratamento adequado para o chorume, bem como um
sistema de monitoramento de lenol fretico.
De acordo com Phillipi Jr. (2005), entre as solues sanitria e ambientalmente
adequadas, os aterros sanitrios so considerados a forma mais barata, no curto prazo,
para solucionar a questo dos resduos slidos em cidades mdias e grandes.
Quando a capacidade de um aterro se esgota, a rea deve ser recuperada do ponto
de vista paisagstico e de utilizao pela sociedade, respeitando-se as limitaes tcnicas
inerentes s caractersticas dos terrenos aterrados com resduos.
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Um dos mais importantes aspectos de um projeto de aterro sanitrio consiste na
determinao das reas de sua localizao. Do ponto de vista tcnico, precisam favorecer
e facilitar as atividades ali realizadas, como transporte, manuseio e cobertura dos resduos.
J sob a tica econmica, devem ser financeiramente acessveis e prximas o suficiente
dos centros de gerao, no intuito de no encarecer demasiadamente os custos de
transporte. Segundo os aspectos ambientais, o terreno deve possuir caractersticas
hidrogeolgicas favorveis, tais como solo de baixa permeabilidade e alta estabilidade
mecnica, ausncia de movimentos naturais de terra e lenol fretico suficientemente
distante. Por fim, no que diz respeito perspectiva social, deve ser devidamente negociada
com a comunidade, uma vez que poucos tendem a aceitar impassivelmente a ideia de
serem vizinhos de um aterro sanitrio (PHILLIPI JR., 2005).
Resumidamente, dentre as principais caractersticas que devem ser levadas em
considerao na definio das reas potencias para instalao de aterros sanitrios
destacam-se:
Dados populacionais;
Caractersticas dos resduos;
Situao da coleta e transporte dos resduos produzidos na regio, inclusive
custos;
Dados geotcnicos, tipo de solo e relevo;
guas subterrneas, superficiais e regime de chuvas;
Legislao, incluindo o uso e ocupao do solo;
Investimento necessrio aquisio das terras;
Dados sociopolticos das comunidades envolvidas (PHILLIPI JR., 2005).
Com o passar do tempo, entretanto, as reas acessveis para dispor os resduos
slidos tendem a se esgotar, provocando aumento de custo devido ao preo dos novos
terrenos ou s maiores distncias em relao aos centros geradores. Vale ressaltar, ainda,
que no futuro existe a possibilidade de esgotarem-se totalmente as reas factveis para
instalao de aterros sanitrios.
a partir dessa realidade que se torna imperioso considerar cada vez mais as
tecnologias alternativas de tratamento e aproveitamento energtico dos resduos slidos.
Porm, vrias so as leis e resolues j existentes no mbito da disposio, as quais
objetivam alterar, para melhor, a dinmica deste processo. Embora essa prtica seja
inevitvel, faz-se necessrio garantir condies adequadas e ambientalmente corretas,
desde o projeto ao funcionamento correto dos aterros.
Neste sentido, a resoluo CONAMA N 001/1986 prev a necessidade de se
estabelecerem as definies, as responsabilidades, os critrios bsicos e as diretrizes
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gerais para uso e implementao do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) como um dos
instrumentos da Poltica Nacional do Meio Ambiente. Para tal, faz-se necessria a
elaborao de um estudo de impacto ambiental e respectivo Relatrio de Impacto
Ambiental (RIMA), a serem submetidos aprovao do rgo estadual competente e do
IBAMA, para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como os
aterros sanitrios (CONAMA, 1986).
Em resumo, o EIA consiste em um documento tcnico de avaliao do impacto
ambiental de qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
A sade, a segurana e o bem-estar da populao;
As atividades sociais e econmicas;
A biota, ou o conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora, a
fauna, os fungos e outros grupos de organismos;
As condies estticas e sanitrias do meio ambiente;
A qualidade dos recursos ambientais.
Dentre os aspectos mais importantes da adeso elaborao do EIA, destacam-se:
Visa a garantir que as medidas preventivas sejam compatveis com o
desenvolvimento sustentvel;
Proporciona um instrumento de tomada de deciso que integra variveis
ambientais, econmicas, sociais e tecnolgicas (instrumento de gesto);
Permite a elaborao de um respectivo RIMA, para que a sociedade possa ter
acesso e compreender o projeto.
O RIMA, por sua vez, reflete as concluses do EIA, o qual deve ser apresentado de
forma objetiva e adequada a sua compreenso. Todas as informaes desse documento
devero ser traduzidas em linguagem acessvel e ilustradas por mapas, quadros, grficos
e demais tcnicas de comunicao visual, de modo que se possa entender as vantagens e
desvantagens do projeto, bem como todas as consequncias ambientais de sua
implementao (CONAMA, 1986).
Existem, entretanto, formas de disposio na quais no h quaisquer cuidados para
a reduo de impactos, normalmente sendo chamadas de lixes. No podem, a rigor,
constiturem formas de disposio final, j que dispor significa colocar de forma ordenada
(FERREIRA, 1993). Os lixes so inadequados do ponto de vista sanitrio porque
propiciam a proliferao de vetores, os quais podem provocar o aparecimento de doenas.
Podem provocar tambm a poluio do solo, das guas, do ar e de diversos problemas
ambientais.
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Do ponto de vista social, acabam refletindo a misria presente na regio, j que so
fontes de sustento para os catadores. Infelizmente, os lixes so a forma mais numerosa
de locais de disposio final no Brasil (IBGE, 2000), sendo dispostos milhares de toneladas
de resduos por dia em locais com essa classificao.
Para situaes intermedirias entre os lixes e os aterros sanitrios, utilizada a
expresso aterros controlados. Segundo Phillipi Jr. (2005), esta ltima denominao
cumpriu durante algum tempo a funo de diferenciar situaes de descuido total daquelas
que j incorporavam alguns cuidados, mas atualmente considerada imprpria por muitos
profissionais, j que passa a impresso de que os riscos ambientais esto todos
controlados dentro das normas estabelecidas, o que no verdade. Tipicamente, esses
aterros recebem cobertura diria de terra, mas no possuem sistemas de
impermeabilizao e de drenagem de lquidos e gases.
3.2. Polmeros
A palavra plstico tem origem no grego plastiks, que significa adequado
moldagem. Plsticos so materiais formados pela unio de grandes cadeias moleculares
chamadas polmeros e estes, por sua vez, so macromolculas formadas a partir de
molculas menores (monmeros) e caracterizadas por seu tamanho, sua estrutura qumica
e interaes intra e intermoleculares. As unidades qumicas fundamentais (meros) so
unidas por ligaes covalentes, que se repetem ao longo da cadeia.
Os polmeros so capazes de adquirir condies plsticas por ao de calor e
presso e podem ser obtidos atravs de reaes polimricas produzidas pelo Homem,
sendo considerados sintticos. Por outro lado, existem os polmeros naturais, encontrados
e extrados diretamente da natureza.
Na figura 3.2 so apresentados alguns exemplos de polmeros comuns, associados
s suas respectivas unidades repetitivas e aos monmeros que lhe do origem.
3.2.1. Nomenclatura
Analogamente s substncias orgnicas, os polmeros possuem um nome que se
relaciona diretamente com a sua frmula qumica. De acordo com a IUPAC - International
Union of Pure and Applied Chemistry (2012), os polmeros so designados pelo prefixo
poli seguido do nome da unidade repetitiva colocado entre parntesis. A ttulo de
suposio, se se considerasse o nome da unidade repetitiva como ABC, o nome do
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Figura 3.2: Principais polmeros, associados s suas respectivas unidades repetitivas e ao monmero de origem (ABIQUIM, 2009).
polmero correspondente seria poli (ABC).
Muitos polmeros possuem nomes mais comuns e populares, pois foram
desenvolvidos antes da sistematizao da nomenclatura das substncias qumicas. Por
exemplo, o polmero normalmente designado por polipropileno, de acordo com a
nomenclatura recomendada pela IUPAC, dever-se-ia designar-se por poli (1-metiletileno).
No entanto, a IUPAC reconhece que esses nomes comuns se encontram
fortemente enraizados na linguagem popular e no seria sensato aboli-los definitivamente.
No entanto, recomenda-se que a comunidade cientfica recorra classificao dos
polmeros de acordo com a nomenclatura sistemtica.
No intuito de simplificar a designao de polmeros e materiais polimricos
frequente o uso de abreviaes atravs de siglas. Os polmeros sintticos so muitas
vezes designados por um nome comercial atribudo pela empresa que o sintetiza. Por
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exemplo, o poli (tetrafluoroetileno) muito conhecido por um dos seus nomes comerciais
o Teflon. Na figura 3.3 so apresentados alguns polmeros relacionados s suas
estruturas, nome