recarga de manancial com água de reúso – uma alternativa para a conservação dos mananciais e...

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22 ARTIGOS Fórum de Dir. Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 81, p. 22-29, maio/jun. 2015 Palavras-chave: Água. Reúso. Recarga de manancial. Crise hídrica. Sumário: 1 Introdução – 2 O que é recarga de manancial com água de reúso e qual é a sua importância? – 3 Panorama normativo do Sistema Nacional de Recursos Hídricos – 4 O enquadramento dos corpos d’água à luz do CONAMA – 5 Conclusão – Referências 1 Introdução A crise da água no século XXI, para alguns especialistas, 1 é resultado de inúmeros problemas ambientais que são agravados por causas relacio- nadas à economia e ao desenvolvimento social. Para Tundisi et al. (2008), a crise hídrica está ligada a fatores como a intensa urbanização que aumenta a demanda pela água e amplia a descar- ga de efluentes em corpos de água causando o estresse e escassez desse recurso; a deficiência da infraestrutura de saneamento básico em muitas regiões que, por vezes, possui perdas de água potável em patamares superiores a 30% da água produzida; 2 e, por fim, a problemas relacionados à falta de articulação e de ações consistentes na governabilidade de recursos hídricos, bem como sustentabilidade ambiental. De fato, os fatores mencionados são pre - ponderantes para o agravamento da crise hídrica atualmente vivenciada; contudo, não são os únicos. Afora esses fatores, também merecem destaque as mudanças globais com eventos hidrológicos que 1 GLEICK (2000); TUNDISI et al. (2008). 2 O Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, ela- borou estudo do Ranking do Saneamento com base no SNIS 2012, apontando que a média de perdas de água para os 100 maiores municípios brasileiros é de 39%. O estudo considerou que, para fins de parâmetros de qualidade de um município com relação ao nível de perdas, o nível ideal de perdas é de 15%. Levando em consideração esse parâmetro, o estudo concluiu que apenas 4 (quatro) municípios possuem perdas iguais ou inferiores a 15%, 74 (setenta e quatro) municípios possuem níveis de perdas até 60% e 11 (onze) municípios possuem perdas superiores à média de qualidade. O estudo complete pode ser visto em: <http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/ ranking/relatorio-completo-2014.pdf>. intensificam ainda mais o quadro crítico da falta de água. O Brasil é dividido em 12 (doze) regiões hidro- gráficas, a saber: (i) Amazônica; (ii) Tocantins Araguaia; (iii) Paraguai; (iv) Paraná; (v) Uruguai; (vi) Atlântico Sul; (vii) Atlântico Sudeste; (viii) Atlântico Leste; (ix) Atlântico Nordeste Oriental; (x) Atlântico Nordeste Ocidental; (xi) São Francisco; e (xii) Parnaíba. Dessas regiões, 5 (cinco) 3 apresentaram volume médio de chuva abaixo da média histórica em 2012. 4 O comportamento das vazões em algu- mas bacias hidrográficas do território nacional sofre- ram alterações significativas, sendo consideradas bem abaixo das médias históricas, chegando próxi- mas aos mínimos já registrados. 5 Tendo em vista esse quadro, é necessário pro- curar formas alternativas para minimizar os poten- ciais riscos da escassez hídrica. Nessa perspectiva, o presente artigo tem por objetivo analisar o panorama normativo dos recursos hídricos no Brasil e verificar a possibilidade de uti- lizar água de reúso para recarregar mananciais. O artigo está divido em quatro seções. Na pri- meira procura-se delinear o conceito de recarga de manancial com água de reúso e a sua importância no contexto de escassez hídrica atualmente vivida pelo país. A segunda apresenta o panorama nor- mativo do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, bem como a regulamentação existente sobre a água de reúso. A terceira demonstra que a solução proposta relaciona-se com outros instrumentos 3 Atlântico Nordeste Oriental, Atlântico Leste, Parnaíba, São Francisco e Atlântico Nordeste Ocidental. 4 Estudo divulgado pela ANA (2013). 5 Segundo estudo divulgado pela ANA (2013), o Rio Paraíba, em maio de 2009, atingiu o máximo já registrado no período, mas, em 2012, depois de período de extrema seca na bacia, foram registrados valores mensais abaixo das médias históricas; e o Rio Uruguai, no qual as médias mensais para o período de 2009 e 2011 excederam as médias mensais anteriores, contrariamente do que ocorreu em 2012, período que chegou bem próximo do mínimo já registrado. Recarga de manancial com água de reúso – Uma alternativa para a conservação dos mananciais e para a escassez hídrica Fernando S. Marcato Professor do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da FGV Direito SP no curso de “Direito da Infraestrutura”. Professor do curso de graduação em Direito da Direito GV. Mestre em Direito Público Comparado “master recherche 2” na Universidade Panthéon-Sorbonne (Paris I). Andréa Costa de Vasconcelos Graduada pela Universidade São Judas Tadeu. Aluna da Escola de Formação da Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP). Assistente acadêmica do professor Fernando S. Marcato. Advogada.

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22 ARTIGOS Fórum de Dir. Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 81, p. 22-29, maio/jun. 2015

Palavras-chave: Água. Reúso. Recarga de manancial. Crise hídrica.

Sumário: 1 Introdução – 2 O que é recarga de manancial com água de reúso e qual é a sua importância? – 3 Panorama normativo do Sistema Nacional de Recursos Hídricos – 4 O enquadramento dos corpos d’água à luz do CONAMA – 5 Conclusão – Referências

1 Introdução

A crise da água no século XXI, para alguns especialistas,1 é resultado de inúmeros problemas ambientais que são agravados por causas relacio-nadas à economia e ao desenvolvimento social.

Para Tundisi et al. (2008), a crise hídrica está ligada a fatores como a intensa urbanização que aumenta a demanda pela água e amplia a descar-ga de efluentes em corpos de água causando o estresse e escassez desse recurso; a deficiên cia da infraestrutura de saneamento básico em muitas regiões que, por vezes, possui perdas de água potá vel em patamares superiores a 30% da água produzida;2 e, por fim, a problemas relacionados à falta de articulação e de ações consistentes na gover nabilidade de recursos hídricos, bem como sustentabilidade ambiental.

De fato, os fatores mencionados são pre-

ponde rantes para o agravamento da crise hídrica atualmente vivenciada; contudo, não são os únicos. Afora esses fatores, também merecem desta que as mudanças globais com eventos hidrológicos que

1 GLEICK (2000); TUNDISI et al. (2008).2 O Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, ela-

borou estudo do Ranking do Saneamento com base no SNIS 2012, apontando que a média de perdas de água para os 100 maiores municípios brasileiros é de 39%. O estudo considerou que, para fins de parâmetros de qualidade de um município com relação ao nível de perdas, o nível ideal de perdas é de 15%. Levando em consideração esse parâmetro, o estudo concluiu que apenas 4 (quatro) municípios possuem perdas iguais ou inferiores a 15%, 74 (setenta e quatro) municípios possuem níveis de perdas até 60% e 11 (onze) municípios possuem perdas superiores à média de qualidade. O estudo complete pode ser visto em: <http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/ranking/relatorio-completo-2014.pdf>.

intensificam ainda mais o quadro crítico da falta de água.

O Brasil é dividido em 12 (doze) regiões hidro-gráficas, a saber: (i) Amazônica; (ii) Tocantins Araguaia; (iii) Paraguai; (iv) Paraná; (v) Uruguai; (vi) Atlântico Sul; (vii) Atlântico Sudeste; (viii) Atlântico Leste; (ix) Atlântico Nordeste Oriental; (x) Atlântico Nordeste Ocidental; (xi) São Francisco; e (xii) Parnaíba. Dessas regiões, 5 (cinco)3 apresentaram volu me médio de chuva abaixo da média histórica em 2012.4 O comportamento das vazões em algu-mas bacias hidrográficas do território nacional sofre-ram alterações significativas, sendo consideradas bem abaixo das médias históricas, chegando próxi-mas aos mínimos já registrados.5

Tendo em vista esse quadro, é necessário pro-curar formas alternativas para minimizar os poten-ciais riscos da escassez hídrica.

Nessa perspectiva, o presente artigo tem por objetivo analisar o panorama normativo dos recursos hídricos no Brasil e verificar a possibilidade de uti-lizar água de reúso para recarregar mananciais.

O artigo está divido em quatro seções. Na pri-meira procura-se delinear o conceito de recarga de manancial com água de reúso e a sua importância no contexto de escassez hídrica atualmente vivida pelo país. A segunda apresenta o panorama nor-mativo do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, bem como a regulamentação existente sobre a água de reúso. A terceira demonstra que a solução proposta relaciona-se com outros instrumentos

3 Atlântico Nordeste Oriental, Atlântico Leste, Parnaíba, São Francisco e Atlântico Nordeste Ocidental.

4 Estudo divulgado pela ANA (2013).5 Segundo estudo divulgado pela ANA (2013), o Rio Paraíba, em

maio de 2009, atingiu o máximo já registrado no período, mas, em 2012, depois de período de extrema seca na bacia, foram registrados valores mensais abaixo das médias históricas; e o Rio Uruguai, no qual as médias mensais para o período de 2009 e 2011 excederam as médias mensais anteriores, contrariamente do que ocorreu em 2012, período que chegou bem próximo do mínimo já registrado.

Recarga de manancial com água de reúso – Uma alternativa para a conservação dos mananciais e para a escassez hídrica

Fernando S. Marcato

Professor do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da FGV Direito SP no curso de “Direito da Infraestrutura”. Professor do curso de graduação em Direito da Direito GV. Mestre em Direito Público Comparado “master recherche 2” na Universidade Panthéon-Sorbonne (Paris I).

Andréa Costa de Vasconcelos

Graduada pela Universidade São Judas Tadeu. Aluna da Escola de Formação da Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP). Assistente acadêmica do professor Fernando S. Marcato. Advogada.

Fórum de Dir. Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 81, p. 22-29, maio/jun. 2015

Recarga de manancial com água de reúso – Uma alternativa para a conservação dos mananciais e para a escassez hídrica

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instituídos pelo Sistema Nacional de Recursos Hídri-cos. A quarta apresenta as conclusões.

2 O que é recarga de manancial com água de reúso e qual é a sua importância?

A água de reúso é a água residuária6 derivada do esgoto tratado em estações de tratamento de esgoto. De acordo com a Lei Nacional de Sanea-mento Básico (LNSB),7 os efluentes gerados a partir do tratamento dos esgotos sanitários devem ser sub metidos à disposição final ambientalmente adequada.

Em termos práticos, os efluentes são subme-tidos a um novo sistema de tecnologia de tratamento mais avançado em estação própria gerando a água de reúso. A água recuperada é, então, lançada de volta nos mananciais onde normalmente se faz a captação para o abastecimento público. Esse lan-çamento é o que caracteriza a recarga de manancial com água de reúso.

O surgimento da água de reúso está relacionado ao avanço na ocupação do solo e das caracterís-ticas áridas e semiáridas de determinadas regiões, bem como às dificuldades que algumas cidades apresentaram para atender à demanda crescente por água para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Assim, ao se verificar a deficiência para o abastecimento de água potável, percebeu-se a necessidade de se criar alternativas e soluções eficientes para a resolução de tal questão.

Acrescenta-se, ainda, o fenômeno da escas-sez hídrica no Brasil, que não é exclusivo das regiões áridas e semiáridas. Conforme amplamente divulgado nos meios de comunicação no início do ano de 2015, os 6 (seis) principais mananciais da Região Metropolitana de São Paulo apresentaram níveis históricos8 de vazões insuficientes para o abastecimento da demanda metropolitana e dos municípios circunvizinhos. Isso não é tudo, conforme dados demonstrados na introdução deste artigo, 5 (cinco) regiões hidrográficas do Brasil apresen-taram o mesmo problema de escassez hídrica decorrente do baixo volume de chuva abaixo da média histórica em 2012.

Diante desse quadro de insegurança hídrica, a utilização da água de reúso permite por em prática a grande diretriz adotada pelo Conselho Econômico e

6 O conceito de águas residuárias encontra-se no art. 2º da Reso-lução nº 54 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos: “I - água residuária: esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não”.

7 Art. 3, inciso I, alínea “b”.8 Em fevereiro de 2015 o Manancial Cantareira apresentou nível

hídrico de 6,9% da sua capacidade, o Manancial Alto Tietê 13,3%, o Manancial Guarapiranga 55,2%, o Manancial Alto Cotia 34,3%, o Manancial Rio Grande 79,9% e o Manancial Rio Claro 31,8.

Social da Organização das Nações Unidas, segundo o qual, a não ser que haja grande disponibilidade, as águas de melhor qualidade devem ser destina-das para usos mais nobres, de modo que as águas que possuam qualidade inferior sejam consideradas fontes alternativas para usos menos restritivos.

As diversas modalidades de usos de água de reúso variam em razão do país e da sua regu la ri-zação legislativa. Embora existam muitas possibi li-dades da utilização de água de reúso no mundo,9 10 no Brasil, para atendimento de grande variedade de usos, todas as possibilidades de usos estão disciplinadas no art. 3º da Resolução nº 54 do Con-selho Nacional de Recursos Hídricos, que diz:

Art. 3º O reúso direto não potável de água, para efeito desta Resolução, abrange as seguintes mo-da li dades:I - reuso para fins urbanos: utilização de água de reúso para fins de irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, com-bate a incêndio, dentro da área urbana;II - reuso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reúso para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;III - reuso para fins ambientais: utilização de água de reúso para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;IV - reuso para fins industriais: utilização de água de reúso em processos, atividades e operações in-dustriais; e,V - reuso na aquicultura: utilização de água de reúso para a criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos. (grifos nossos)

De uma forma geral, na medida em que a água de reúso é utilizada para todos os mencionados usos considerados menos nobres pela legislação,

9 Segundo Leite (2003), em Tóquio, no Japão, a primeira notícia que se teve de utilização de água de reúso foi em 1951, quando uma fábrica de papel utilizou, na sua produção, o efluente secundário de uma estação de tratamento de águas residuárias. Desde 1960, o Japão vem implementando diversos projetos urbanos de reúso de água usados na indústria, na dissolução de neve e nas áreas urbanas. Na Índia, em Bombay, é muito comum a utilização de água de reúso para complementar os serviços de ar condicionados dos prédios que variam de 20 a 25 andares. No Peru é comum a utilização da água de reúso para a aquicul tura, agricultura e para o tratamento em lagoas de estabilização.

10 As principais plantas de água de reúso no mundo encontram-se em: Los Angeles, com capacidade de produção de 2,2 m3/s, cuja aplicação é para recarga de aquifer; Las Vegas, com capacidade de produção de 8,8 m3/s, cuja aplicação é para recarga de manancial; Big Springs, com capacidade de produção de 0,69 m3/s, cuja aplicação é para o reúso direto no sistema público de abastecimento; Orange Couty, com capacidade de 3,07 m3/s, cuja finalidade é recarga de aquífero; Singapura, com capa-cidade de 2,64 m3/s, cuja finalidade é utilizar a água de reúso diretamente na rede pública de abastecimento; Namíbia, com capacidade de 0,61 m3/s, cujo objetivo é utilizar a água de reúso direto no sistema público de abastecimento de água; e Austrália; com capacidade de 2,7 m3/s, também com a finalidade de abastecer a diretamente rede pública.

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automaticamente tem-se a substituição da captação de água potável em mananciais aumentando, em razão da vazão hídrica para o consumo humano. Destaque-se, por oportuno, que no Brasil somente a agricultura consome, atualmente, aproximadamente 72% de toda a água disponível.11

Analisando especificamente a utilização de água de reúso com o objetivo de recarregar ma-nanciais, são diversas as externalidades positivas. Segundo Crook et al (1992) apud Leite (2003), essas externalidades relacionam-se ao aumento da disponibilidade de água subterrânea, ao incre-men to das reservas hídricas, à prevenção da sub si -dência do solo,12 13 e à manutenção dos reserva tó rios de água para uso futuro.

A utilização da água de reúso como solução para a escassez hídrica não é uma prática nova, ao contrário. Trata-se de uma solução adotada mun-dialmente há anos.14 Nesse sentido ensina Brega Filho e Mancuso (2002):

A prática de descarregar os esgotos, tratados ou não, em corpos de água superficiais é a solução normalmente adotada pelas comunidades no mundo inteiro, para o afastamento de resíduos líqui dos. Geralmente esses corpos de água servem como fonte de abastecimento a mais de uma comu ni-dade, havendo casos em que a mesma cidade lança seus esgotos e faz uso do mesmo corpo hídrico como manancial para potabilização. A comuni dade, a indústria ou o agricultor que coleta água, em verdade, esta utilizando-a pela segunda, terceira ou mais vezes.É o clássico caso da cidade de Londres, que capta a água dos rios Tâmisa e Lea, este último usado pela cidade de Stevenage para afastamento de seus esgotos, onde são lançados após tratamento.

Autores como Metcalf e Eddy (1995) apud Santos (2000) citam que o primeiro projeto que se teve notícia sobre a utilização de água de reúso para fins de recarga de aquíferos (águas sub ter-râneas), ocorreu na cidade de Los Angeles, em 1962. Os autores informam, ainda, que após ava-liação detalhada dos efeitos sobre a saúde pública, correspondente a um período de 20 anos, pesqui-sadores chegaram à conclusão de que as operações

11 Estudo revelado pela ANA (2012).12 Trata-se do “movimento para baixo ou afundamento causado pela

perda de suporte subjacente” (LEITE, 2003).13 Segundo Leite (2003), a subsidência de solos constitui problema

relevante em áreas onde ocorre excessivo bombeamento de aquí-feros. A recarga recupera as condições de suporte, melhorando a estabilidade dos solos em áreas consideradas críticas.

14 Segundo Metcalf e Eddy (1995) apud Santos (2000), a utilização de água de reúso, inicialmente sem tratamento e, posteriormente, com tratamento, em fossas sépticas, teve sua origem em 1912, no parque Golden Gate, em São Francisco, no Estado da Califórnia (EUA), a utilização era para fins de irrigação de jardins e supri-mento de lagos ornamentais.

de recarga não produziram nenhum impacto nega tivo apreciável sobre a água subterrânea da área, nem sobre a população que a consumira. Em 1975, nos Estados Unidos, existiam aproximadamente 536 projetos de recuperação e reutilização de efluentes.

3 Panorama normativo do Sistema Nacional de Recursos Hídricos

Para a perfeita compreensão da Política Nacio-nal de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei Federal nº 9.433/97, é importante mencionar que a Constituição Federal estabeleceu dois domínios para os corpos d’água, quais sejam o da União e o dos Estados. Os corpos d’água estabelecidos sob o domínio da União (art. 20) são os rios ou lagos que banham mais de um Estado-Membro ou que sirvam de divisa entre essas unidades, ou fronteira entre o território do Brasil com um país vizinho. Os de domínio do Estado (art. 26) referem-se às águas superficiais que nascem e deságuam no seu território, às águas subterrâneas e as águas fluentes, emergentes ou em depósito, ressalvadas, nestes casos, as decorrentes da União.

A PNRH criou o Sistema Nacional de Geren-ciamento de Recursos Hídricos (SINGRH), com posto por: (i) instâncias participativas de formu lação e deliberação (Conselhos e Comitês de bacias); (ii) instâncias de formulação de políticas governa-mentais (Secretarias de Estado e Ministério do Meio Ambiente – MMA); e (iii) instâncias de imple-mentação e regulação (Agência Nacional das Águas – ANA e órgãos gestores).

O Quadro 1 demonstra a matriz institucional e a interação entre os entes.

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Cada um dos órgãos que compõem o arcabouço institucional da Política Nacional de Recursos Hídri-cos tem suas atividades e competências definidas legalmente.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) é o órgão deliberativo15 e normativo máxi mo do SINGRH, dentre as suas atribuições encon tram-se a de estabelecer diretrizes para a implemen-ta ção da política nacional e aplicação de seus ins trumentos, conforme estabelece o art. 35, inciso XII, da Lei Federal nº 9.433/97, bem como a de fomentar o uso múltiplo da água.16

Os Conselhos de Recursos Hídricos dos Esta-dos e do Distrito Federal constituem-se fóruns de discussão e deliberação para os assuntos que en vol vem bacias sob o domínio do Estado ou do Distrito Federal, bem como representam a ins-tância estadual no Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

A Agência Nacional de Águas (ANA) trata-se de autarquia em regime especial,17 funciona como agência reguladora da utilização dos rios de domínio da União, razão pela qual está encarregada pela cobrança pelo uso da água desses rios e da aplicação desses recursos e de outros destinados ao gerenciamento dos recursos hídricos. Importante mencionar que, em se tratando de um curso de água cujo domínio é do Estado, essa função será exer-cida pela Agência Estadual. Por exemplo, no Estado de São Paulo, a responsabilidade pela gestão dos recursos é desempenhada pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).18

Os Comitês de bacias hidrográficas exercem um papel de “parlamento das águas da bacia”, contando com a participação dos usuários públicos e privados, do poder municipal, da sociedade civil organizada e dos demais níveis de governo (esta-duais e federal). Dentre as suas atribuições, des-taca-se a aprovação do Plano da Bacia.

As Agências de Água atuam como “braço exe cutivo” dos seus correspondentes comitês de bacias. Estão encarregadas da elaboração e imple-mentação do Plano de Recursos Hídricos da Bacia, gerência dos recursos oriundos da cobrança pelo uso da água e os demais recursos destinados à gestão, entre outras atribuições.

15 É integrado por representantes do Poder Executivo federal (MMA, Secretaria da Presidência da República), dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, dos Usuários e das organizações civis de recursos hídricos, e tem por secretaria executiva a Secretaria de Recursos Hídricos do MMA.

16 O uso múltiplo das águas caracteriza-se como um dos funda-mentos basilares da Política Nacional de Recursos Hídricos, con-forme expressa o art. 1º, inciso IV, da Lei nº 9.433/1997.

17 Criada pela Lei nº 9.984/2000, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.

18 Segundo o art. 7º, dos Atos das Disposições Transitórias da Lei nº 7.663/1991, compete ao DAEE cadastrar os usuários e outorgar o direito de uso dos recursos hídricos, bem como aplicar sanções.

Tendo em vista as competências dos diversos atores que compõem o SINGRH, é possível observar que cabe ao CNRH estabelecer as diretrizes e os critérios gerais para regulamentar a prática de reuso de água, uma vez que, nos termos do inciso XII do art. 35 da Lei Federal 9.433/9719 e do inciso VI do art. 1º do Decreto nº 4.613/2013,20 cabe ao CNRH estabelecer as diretrizes para a implementação da PNRH e também da água de reúso, a qual passamos a detalhar.

3.1 A regulamentação da água de reúso

O CNRH expediu a Resolução CNRH nº 54, de 28 de novembro de 2005,21 que tem por objetivo estabelecer as modalidades e os critérios gerais para o reúso de água. Dentre as modalidades esta-belecidas, criou-se a possibilidade de utilização de água de reúso para fins de recuperação ambiental, nos termos do seu art. 3º.22

Segundo a definição dada pelo inciso III do art. 3º da Resolução nº 54/2005 do CNRH, reúso para fins de recuperação ambiental é a “utilização de água de reúso para a implantação de projetos de recuperação do meio ambiente”.

A expressão recuperação do meio ambiente pode ser entendida como uma série de atitudes que tem por finalidade devolver ao meio ambiente as suas características originais, a estabilidade e o equilíbrio dos processos atuantes naquele deter-minado ambiente degradado.23

Levando em consideração que a água de reúso pode ser utilizada com a finalidade de devolver ao meio ambiente as condições próximas às condições anteriores à intervenção e dado que essa água pode atender uma nova demanda, criada a partir de sua disponibilidade, significa dizer que o reúso pode ser utilizado para a recuperação hídrica dos mananciais.

Schatzmann (2004) confirma essa interpreta-ção ao afirmar que:

19 “Art. 35. Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos: [...] XII - estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus instrumentos [...]”.

20 “Art. 1º O Conselho Nacional de Recursos Hídricos, órgão consul-tivo e deliberativo, integrante da estrutura regimental do Ministério do Meio Ambiente, tem por competência:

[...] VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;”

21 Ementa: “Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reúso não potável de água, e dá outras pro vi dências”.

22 Art. 3º O reúso direto não potável de água, para efeito desta Resolução, abrange as seguintes modalidades:

[...] III - reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;

23 Etimologicamente, o verbo recuperar vem do latim reclamation. Estudos Ambientais, Unesp, disponível em: <http://www.rc.unesp. br/igce/aplicada/ead/estudos_ambientais/ea02a.html>.

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O reúso para fins ambientais inclui a restauração e a criação de zonas alagadas para o estabelecimento ou a conservação de habitats e refúgio de animais, restauração de córregos e riachos. A aplicação de água de reuso para fins ambientais, segundo Mees (2004), considera ainda a finalidade de manuten-ção de vazões de cursos de água, que promove a utilização planejada de efluentes tratados, visando a uma adequada diluição de eventuais cargas polui-doras a eles carreadas, incluindo-se fontes difusas, além de propiciar uma vazão mínima na estiagem.24

Ainda que a Resolução nº 54/2005 do CNRH tenha sido muito precisa e clara ao incluir, dentro do rol de água de reúso, a modalidade para fins ambientais, a regulamentação não teceu maiores detalhamentos sobre os requisitos para essa for-ma de uso, o que, a princípio, poderia passar a im pres são de que essa modalidade careceria de regu la mentação. Contudo, essa conclusão seria precipitada.

3.2 A regulamentação do reúso para fins ambientais

A leitura apartada da Resolução nº 54/2005 do CNRH possibilitaria concluir que não há regula-mentação específica para a adoção da água de reúso para fins ambientais. Então, a pergunta ime-diata que deve ser formulada é a seguinte: em ausência de disciplina pelo diploma mencionado, a água de reúso poderia ser utilizada para fins de recarga de manancial?

A resposta é sim. Isso porque o SNRH deve ser interpretado conjuntamente com o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), que foi ins-tituído pela Lei Federal nº 6.938/81, a qual dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.

Essa interpretação decorre da leitura do art. 3º da Lei Federal nº 9.433/97, ou seja, da lei que instituiu o próprio SNRH, in verbis:

Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos: [...]III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental; (grifos nossos)

Assim, em que pese haver dois sistemas autô-nomos, um tratando sobre a proteção do meio am-biente e o outro da gestão dos recursos hídricos, ambos se comunicam no que tange à gestão dos recursos dos cursos d’água, razão pela qual os sistemas devem ser analisados de forma conjunta.

24 Cf. SCHATZMANN, Heloise Cristine. Tratamento avançado de efluen tes de frigorífico de aves e o reuso da água. Mestrado em Engenharia Química, UFSC, 2009; e MEES, Juliana Bortoli R. Trata mento de resíduos líquidos III. Apostila. Universidade Tecno-lógica Federal do Paraná. Medianeira - PR, s.n., 2004.

Nesse sentido, a atuação do SISNAMA se dá mediante a articulação coordenada dos órgãos e entidades que o constituem,25 observadas as ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).26

As normas e padrões editados pelo CONAMA, especialmente no que tange ao padrão de lança-mento de efluentes em corpos receptores, foram estabelecidos na Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, que dispõe sobre a classifica-ção dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.

Essa classificação, ainda que tenha sido esta-belecida no âmbito do SISNAMA, é incorporada pelo SNRH, senão vejamos:

Lei Federal nº 9.433/1997Art. 10. As classes de corpos de água serão esta-belecidas pela legislação ambiental. (grifos nossos)

Isso significa dizer que os critérios e padrões referentes à qualidade de todos os cursos hídricos no Brasil devem ser estabelecidos pelo CONAMA. Contudo, a aplicação desta Resolução e a decisão de enquadrar determinado corpo hídrico dentro das classes estabelecidas devem ser executadas pelo órgão competente que faz parte do SNRH.

Nos termos do art. 44, inciso XI, alínea “a”, da Lei Federal nº 9.433/97, compete à Agência de Água, no âmbito da sua área de atuação, propor ao respectivo Comitê da Bacia Hidrográfica o en-quadramento dos corpos d’água nas classes de uso definidas na Resolução CONAMA nº 357/2005, para, posteriormente, encaminhar ao Conselho Na cio nal de Recursos Hídricos, na hipótese de o domí nio ser da União, ou ao Conselho Estadual, na hipó tese de o domínio ser estadual.

4 O enquadramento dos corpos d’água à luz do CONAMA

Para as águas doces,27 o CONAMA criou 5 classes para classificação dos corpos hídricos, conforme demonstra o Quadro 2:

25 Órgão Superior: O Conselho de Governo Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA Órgão Central: O Ministério do Meio Ambiente – MMA Órgão Executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis – IBAMA Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais respon-

sáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;

Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas res-pectivas jurisdições.

26 Art. 6º, Inciso II, da Lei Federal nº 6.938/81.27 A título de informação, para as águas salobras ou salinas foram

criadas 4 categorias.

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A partir da classificação definida pelo CONAMA, são determinados os usos que podem ser feitos da água.

Por sua vez, o Quadro 3 demonstra os usos desejáveis para cada nível de qualidade, bem como eventual tratamento para o seu uso, segundo a Resolução CONAMA nº 357/2005.

QUADRO 2 – Quadro de classificação das águas segundo Resolução CONAMA nº 357/2005

Fonte: COSTA, 2011.

QUADRO 3: Enquadramento dos corpos de água segundo as categorias de uso

Fonte: ANA, 2009.

Dentre todas as classes apontadas no Quadro 2, a única que não pode ser indicada para reuso é a classe especial, uma vez que, por sua natu-reza, está reservada ao uso primário inicial, ou seja, “destinada ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção, bem como à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas”.28

28 Art. 4º [...] I - classe especial: águas destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas;

e,

As demais classes podem receber água de reúso, devendo, porém, esta água atender aos padrões de qualidade estabelecidos pelo CONAMA para lançamento dos efluentes. Em outras palavras, o fato de a água ser de reúso não exclui a aplicação da norma geral do CONAMA.

O art. 5º da Resolução CONAMA nº 430/ 2011,29 por sua vez, determina que “os efluentes

c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral.

29 Art. 5º Os efluentes não poderão conferir ao corpo receptor características de qualidade em desacordo com as metas obriga-tórias progressivas, intermediárias e final, do seu enquadramento.

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Fernando S. Marcato, Andréa Costa de Vasconcelos

não poderão conferir ao corpo de água características em desacordo com as metas obrigatórias, interme-diárias e final, do seu enquadramento”. Contudo, na ausência de metas intermediárias progressivas, os padrões de qualidade devem ser os mesmos que constam na classe em que o corpo receptor estiver enquadrado, segundo determinação do §2º do mencionado artigo.30

Na prática, o que se percebe é que se não houver legislação estadual ou na federal, a depender do domínio do curso de água, impondo metas inter-mediárias progressivas, a única condição é que a água de reuso não descaracterize os padrões de qualidade da água da classe na qual o corpo hídrico está enquadrado. Mesmo que as condições reais de qualidade do corpo hídrico sejam inferiores aos padrões da classe em que está enquadrado, o efluente não deve, teoricamente, descaracterizar a classe de uso para a qual foi destinado.

Logo, é possível a utilização de água de reúso com o objetivo de recarregar mananciais desde que essa água não altere as condições e padrões de qualidade de água do corpo hídrico recep tor, con-forme o art. 1231 da Resolução nº 430/2011 do CONAMA.32 É a qualidade da água recep tora que estabelecerá os níveis de tratamento recomen-dados, os critérios de segurança a serem adotados, os custos de capital, de operação e de manutenção associados.

5 Conclusão

Atualmente, com a escassez progressiva de água, a recarga de mananciais com água de reúso representa uma importante opção governamental na busca de medidas que visam diminuir os possí-veis problemas ocasionados pela escassez hídrica. A recarga promove o aumento da disponibilidade hídrica e, por consequência, da segurança hídrica da população, da recuperação das condições do solo dos corpos de águas receptores, bem como da manutenção dos reservatórios para o uso futuro.

Essa solução não se trata de nenhuma ino-vação. Na verdade, diversas comunidades no mundo inteiro utilizam-se dessa técnica desde a década de 60 como forma de promover melhorias ambientais e de condições de saúde.

30 §2º Para os parâmetros não incluídos nas metas obrigatórias e na ausência de metas intermediárias progressivas, os padrões de qualidade a serem obedecidos no corpo receptor são os que constam na classe na qual o corpo receptor estiver enquadrado.

31 Art. 12. O lançamento de efluentes em corpos de água, com exceção daqueles enquadrados na classe especial, não pode rá exceder as condições e padrões de qualidade de água estabe-lecidos para as respectivas classes, nas condições da vazão de referência ou volume disponível, além de atender outras exigên-cias aplicáveis.

32 Esta resolução complementa e altera alguns dispositivos da Resolução CONAMA nº 357.

Conforme apontado, não há insegurança jurí-dica no que diz respeito à adoção da água de reúso para recar regar mananciais em razão do conjunto de atos normativos existentes que permite afirmar que essa solução está devidamente regulamentada pela legislação que disciplina o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Meio Ambiente.

Ainda que esses sistemas tutelem objetos diferentes, o primeiro a gestão dos recursos hídri-cos e o segundo a proteção do meio ambiente, eles se comunicam na medida em que a Lei nº 9.433/97 determina que a legislação ambiental será a responsável por estabelecer os padrões refe-rentes à qualidade de todos os cursos de água no Brasil, ou seja, será ela a responsável por definir as classes dos corpos d’água.

Uma vez estabelecidos os padrões de quali-dade que os cursos de água devem possuir pelo órgão ambiental competente, a única exigência a ser observada pelo gestor público na escolha da estudada solução para a escassez hídrica e para a preservação dos mananciais é que a água de reúso a ser utilizada no lançamento do manancial receptor não pode possuir qualidade inferior à do padrão já classificado pela autoridade ambiental.

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Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

MARCATO, Fernando S.; VASCONCELOS, Andréa Costa de. Recarga de manancial com água de reúso – Uma alternativa para a conservação dos mananciais e para a escassez hídrica. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 81, p. 22-29, maio./jun. 2015.