rede nacional funarte artes visuais 2013 10ª ediçãode um grande autoconhecimento da produção...
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Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2013
10ª edição
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Presidenta da RepúblicaDilma Rousseff
Ministra da CulturaMarta Suplicy
Fundação Nacional de ArtesPresidente
Gotschalk da Silva Fraga(Guti Fraga)
Diretor ExecutivoReinaldo Verissimo
Centro de Artes VisuaisDiretor
Francisco de Assis Chaves Bastos(Xico Chaves)
Coordenadora de Artes Visuais Andrea Paes
Coordenadora de ComunicaçãoCamilla Pereira
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Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2013
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Hiper_Espaços XumucuísRamiro Quaresma da Silva
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É com imensa satisfação que apresentamos nesse catálogo os resultados do Programa Rede Nacional Funarte
Artes Visuais. Dez edições após o seu lançamento, podemos verificar como o Programa contribuiu, de forma
estratégica, para um mapeamento dos profissionais em atuação no campo das artes visuais no Brasil. Muito
mais do que um mapeamento, a Rede articulou uma rica interação entre agentes das diversas regiões de
nosso território, possibilitando ao longo de suas edições o desenvolvimento de canais de troca dinâmicos e
duradouros, o aperfeiçoamento de formas de produção, técnicas de criação e instrumentos de gestão, além
de um grande autoconhecimento da produção nacional nas artes visuais, em suas mais diversas linguagens e
contextos.
Mesmo com a crescente demanda desse setor, complexo e em permanente expansão, os desafios aos quais
o Programa se propôs, ambiciosos para o momento de sua criação, foram em grande parte alcançados. O
conjunto de informações colhidas nesses dez anos e a coleção de experiências vivenciadas nos presenteiam
com um grande mosaico, abrangente no tempo e espaço, e que convida à reflexão e avaliação sobre os
próximos passos a serem dados, em parceria entre o poder público e sociedade.
Aqui estão os 22 projetos contemplados nesta edição comemorativa do Programa, novos frutos dessa história.
Deixo a todos uma fraterna saudação e o desejo de que possamos avançar cada vez mais na democratização
dos meios de produção e difusão da arte brasileira em toda a sua diversidade.
Guti Fraga
Presidente da Fundação Nacional de Artes
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As artes visuais se expandiram tanto que passaram a incorporar uma realidade de múltiplos processos de
conhecimento, exponencialmente acelerados e potencializados, transversalizados por um complexo conjunto
de formas de expressão que interagem simultaneamente. As fronteiras entre um processo de criação e outro
deixaram de existir e se há alguma delimitação é porque ainda não se reconfigurou o que está para acontecer
a qualquer instante. O mesmo tempo, que se expande, também não representa mais delimitações entre
passado, presente e futuro. Linguagens (se é que elas de fato ainda existem) e práticas que em alguns
momentos foram consideradas convencionais como a pintura, a escultura, o desenho, a gravura e a fotografia,
podem muito bem coexistir neste espaço atemporal onde as vanguardas não existem mais e não têm mais
como negar o passado para se autoafirmarem. Performance, instalação, intervenção, arte com ferramentas
digitais, objeto, fotolinguagem, poema visual, videoarte, coletivos interativos e outras formas múltiplas de
expressão artística, também não são substitutos radicais das tradições. Não há mais espaço para rupturas.
As mudanças são rápidas, gradativas, diferenciais, instantâneas, até aparentemente substitutivas, mas sem
perda das invenções e proposições que as antecedem.Tudo permanece e se transforma ao mesmo tempo.
Uma das características do século XXI é a possibilidade de convivência entre todas estas formas de expressão.
Há uma simultaneidade de comunicação que nos liberta da cristalização de modelos. A diversidade de ideias
propostas parece nos indicar que o processo evolutivo presente na arte contemporânea libera cada vez mais
o artista em direção à individualização de concepções, conceitos e suportes, o que foi determinante, na
década de 1950, para diferenciar a arte moderna da arte contemporânea. No entanto, contraditoriamente,
a consciência e ação coletivas são exercidas com amplitude e liberdade, como um sistema de interesses
distintos e comuns. Do início das novas conceituações sobre espaço/obra e o rompimento com espaços
limitados e a prática e incorporação das tecnologias atuais, constata-se uma multiplicidade de expressões
que parece não ter mais limites.
A expansão das propostas artísticas contemporâneas em direção a espaços externos – cidade, meio ambiente,
coletividade e comunidade – aponta ainda para outros territórios de interferência e exercício do pensamento.
Afirma-se também como uma arte pública interativa, de ações individuais e coletivas, que nos sinalizam
outros desdobramentos, à procura de um público específico ou apartado das galerias e centros culturais,
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trazendo questões políticas e sociais para o campo da ética e da estética. Compõe um quadro de atitudes e
comportamentos que reinserem o artista como agente direto no processo de transformação social. Agrega
componentes de informação e difusão distintos dos procedimentos previsíveis e abre outras opções criativas e
político-ideológicas. Questiona e propõe a permeabilidade e o rompimento das fronteiras que se movem entre
as expressões artísticas. Parece nos preparar para a definição de arte como um conjunto de ideias e práticas
criativas que funcionam de forma integrada e simultânea à própria vida.
Quando a Rede Nacional de Artes Visuais foi concebida na Funarte, em 2003, considerou-se este momento de
transição que ocorria da arte brasileira. Propôs-se um sistema aberto e diversificado de atuação, deixando os
interlocutores e atores livres para o debate de ideias e conceitos. Não era um projeto voltado apenas para a
gestão cultural. Propunha uma outra forma de diálogo, integrado ao conjunto de políticas culturais. Operava
com os símbolos e signos que compõe o conjunto da pluralidade no campo das artes visuais, heterogênea
e em permanente expansão. Estes signos são pontos que nos unem e nos identificam, que estabelecem a
dialética entre tradição e invenção.
A Rede tornou-se ainda referência para debater e articular modelos de representação artística nacional e
regional, contribuindo para a criação e atualização de uma política aberta e democrática para os profissionais
de artes visuais. À medida que se desdobrou livremente, sob a coordenação do Centro de Artes Visuais, e
chegou à quase totalidade do território nacional, com atuação nos grandes centros urbanos, centros culturais
regionais e lugares totalmente isolados do interior do país, envolveu as universidades, as representações
culturais estaduais e municipais criando um interesse maior e renovador sobre o papel transformador da arte
junto à sociedade, grupos de artistas e pessoas interessadas. Passaram gradativamente a perceber que as artes
visuais iam muito além das fronteiras convencionais e que qualquer questão social, política, comportamental,
educacional ou de pensamento poderia encontrar nela uma prática de reflexão estética e cultural. A Rede
serviu ainda para qualificar, ampliar e dar origem a outros programas, tais como a ampliação da ocupação
dos espaços expositivos da Funarte e das Secretarias e Fundações Culturais estaduais; difundir editais;
implementar outros programas a exemplo do Conexão Artes Visuais MinC Funarte Petrobrás e a formação das
Câmaras Setoriais de Artes Visuais como base para implantação do atual Colegiado Nacional de Artes Visuais,
representação da sociedade civil junto à Secretaria de Políticas Culturais do MinC. No entanto este trabalho
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foi realizado por meio de ações artísticas e de reflexão considerando todo o extenso campo das artes visuais
que se tornara mais evidente, mostrando toda sua característica agregadora das múltiplas linguagens.
O programa, ao longo destes anos, nos modelos de ação direta e edital público, manteve a intenção inicial
de ser um estimulador, fomentador do processo criativo, difusor de autonomias culturais, apontando
para o que poderia ser uma “Campanha Nacional de Artes Visuais”, com maior mobilização, movimentos e
acontecimentos culturais, nos planos nacional e internacional. Ao convocar a classe artística para uma parceria
junto à instituição e à sociedade, certamente estes conceitos de pluralidade e democracia participativa foram
colocados em prática. Por meio desta estratégia de trabalho interativo pode-se definir melhor as bases das
cadeias produtivas, as estratégias de incentivo ao mercado, a conscientização do processo criativo como
necessidade estrutural da sociedade e principalmente como fator educativo, essencial para o processo de
transformação econômica e social brasileiros.
Xico Chaves
Diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte
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Ao longo de suas dez edições, o Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais vem contribuindo na formação
dos agentes em atividade no campo das artes visuais no Brasil, atingindo todos os estados brasileiros e
promovendo ações não só nas capitais, como também em municípios de médio e pequeno porte, nos quais
o acesso à informação sobre a produção artística contemporânea em âmbito nacional e internacional ainda
se faz mais difícil, apesar dos avanços tecnológicos. As oficinas, seminários, residências e demais ações
que integraram o Programa colocaram em uma mesma rede espaços institucionais e autônomos, centrais
e periféricos, todos eles com experiências valorosas e conhecimentos próprios, seja na esfera formal ou
informal.
Tantos formatos diversos refletidos nessas ações são um retrato da pluralidade de manifestações, pensamentos,
processos de criação, condições de produção e estratégias de difusão das Artes Visuais no país. Possuem,
cada qual, suas ferramentas específicas, fruto da criatividade de seus agentes na interação e, muitas vezes,
superação da realidade na qual desenvolvem seus trabalhos. O Programa, ao fomentar e reunir essas ações,
permite, enquanto instrumento de política pública, mais do que um apoio para que se tornem viáveis. Ele
atua, principalmente, no sentido de criar canais e condições para que tais ferramentas sejam compartilhadas,
experimentadas em outros contextos, negociadas e reinventadas, em um processo contínuo de reflexão e
inovação dos processos de criação, produção e gestão.
A riqueza desse processo gerou, nas diversas edições do Programa, resultados para muito além daqueles que
nos é possível mensurar, sendo ele próprio um importante ganho para a constituição dessa rede. Além, é claro,
de seus diversos outros produtos e desdobramentos, como exposições, intervenções, mostras e publicações.
Nesta edição, mais vinte e duas ações se juntam à história do Programa, deixando cada uma sua contribuição
para esse processo contínuo de construção, diálogo e reinvenção.
Izabel Costa
Coordenadora do Programa
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Máquina Orquestra Arco Projetos em Arte
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Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2013
10ªedição
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Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2013
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Quando o Percurso Torna-se Destino Fábio Tremonte
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Origem: São Paulo/SP
Ação: São Paulo/SP
Em junho de 2013, quando concebi o projeto intitulado Longitudes: A Formação do Artista Contemporâneo
no Brasil, minha principal motivação foi debater e questionar o festejado crescimento do mercado de
arte e chamar atenção para a situação dos trabalhadores do meio. Como mostra o relatório de 2013 da
Fundação Europeia de Artes Plásticas, a internacionalização da arte contemporânea brasileira reproduz o
desequilíbrio entre o centro e a periferia do mercado de arte mundial. Apenas cinco artistas brasileiros
concentraram, entre 2009 e 2012, 70% do volume de vendas de obras de arte brasileiras no exterior1.
Dentro do país, a Lei de Incentivo à Cultura, principal meio de financiamento às artes no país, destinou
à região sudeste entre 2007 e 2009, 81,8% dos recursos alocados para as artes visuais2.
Minha intenção com o projeto foi inverter a lógica da produção em artes visuais com vistas para o
mercado externo, sentido latitudinal, e investigar as questões nacionais nas artes visuais, buscando
alternativas para construção de bases sólidas para nossa cultura que, a meu ver, estão diretamente
relacionadas às condições de trabalho.
A quem serve uma política cultural financiadora de um mercado de obras que formaliza apenas 26% dos
seus acordos com os artistas representados3? Estariam as políticas de financiamento à cultura colaborando
para a emergência da diversidade cultural e regional do país? Essas e outras perguntas trazidas para
o seminário colocam em xeque a liberdade de produção artística, enfatizando o fato de que a livre
expressão da subjetividade do autor depende também dos recursos materiais disponíveis.
O seminário aconteceu entre os dias 29 e 30 de março de 2014, na Casa do Povo, e trouxe dezoito artistas,
professores e pesquisadores das cinco regiões brasileiras para discutir a formação em artes visuais.
Divididos em seis mesas, os convidados puderam discutir, problematizar, incrementar e compartilhar
opiniões com os palestrantes e também com o público participante.
Foram recebidas aproximadamente 350 pessoas, atingindo mais que o dobro do público estimado.
Estiveram presentes estudantes de artes (universitários ou de escolas livres), artistas, críticos, curadores,
historiadores de arte, educadores, gestores de instituições ligadas ao ensino de arte e pesquisa em artes
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visuais, professores de arte e interessados em geral. Além do público presencial, o registro audiovisual das mesas-
redondas, disponível no blog do projeto, teve até o mês de julho mais de 2000 visualizações.
O seminário recebeu destaque em importantes meios de comunicação, como: Revista Select, Mapa das Artes, Cultura e
Mercado, Guia da Semana, Suplemento Cultural, Catraca Livre, VirtuVirus, ArtRefe na página do Facebook do Centro de
Pesquisa e Formação do SESC. O jornal da Unesp do mês de junho de 2014 dedicou o suplemento FÓRUM ao seminário
Longitudes, publicando o texto dos 3 palestrantes da mesa “Disparidades Regionais” (Júlio Martins, Kamilla Nunes e
Ueliton Santana) e uma entrevista com a organizadora e pesquisadora Mariana Fernandes.
Como produto final, 14 convidados redigiram um texto que registrou e desenvolveu as questões e propostas apresentadas
durante sua participação no seminário. Os textos foram traduzidos para a língua inglesa e sua publicação será distribuída
gratuitamente para 150 instituições de formação de artistas no Brasil e no mundo. Certa de ter contribuído de alguma
maneira para criação de redes de contato no campo artístico, tenho para mim que o seminário é uma pequena fração das
muitas reverberações engendradas nesse encontro.
Mariana Queiroz Fernandes
1TEFAF art market report 2013. The global art market, with a focus on China and Brazil The European fine art fondation. Prepared by Dr Clare McAndrew Arts Economics. Edition: The European fine art fondarion, Holanda, 2013.
2SILVA, Frederico A. Barbosa da. “Economia criativa: políticas públicas em construção”. In: Ministério da Cultura, Plano da Secretaria da Economia Criativa: Políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014, Brasília: Ministério da Cultura: 107-111, 2012.
3FIALHO, Ana Letícia. Pesquisa Setorial: O mercado de arte contemporânea no Brasil. 3ª edição, Ana Letícia Fialho (Coord). Abril, 2014
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Artistas Educadores: Um Encontro
Origem: Recife/PE
Ação: Recife/PE
O que motivou o Espaço Fonte – Centro de Investigação em Arte a promover o projeto Artistas Educadores:
um Encontro foi o desafio, como um espaço autônomo que busca inventar sua própria maneira de fazer
as coisas, de gerar nosso próprio modelo. Além disso, somos um grupo que se encontrou na faculdade de
arte, ambiente formal de educação.
Tenho tentado refletir sobre uma possível educação imersiva, que não tem grade curricular, disciplina e
bibliografia pré-determinada, uma educação que ocorra a partir do encontro, da troca e de motivações
individuais. Neste sentido, buscamos aglutinar em um mesmo encontro artistas atuantes com uma sólida
prática na experimentação pedagógica em arte e que são educadores, seja de outros artistas ou de
pessoas que se interessam por arte, a partir da observação de novos modelos gerados por artistas e suas
reinvenções do ensino-aprendizagem nos espaços formais de educação. O encontro baseou-se, portanto,
nas reflexões que foram geradas a partir das experiências apresentadas. O recorte escolhido para o
encontro foram artistas que não abdicam de seu fazer artístico para exercer o papel de educadores, e
que muitas vezes sentem a atividade educacional como uma continuidade de seu processo artístico ou
retiram do confronto com seus alunos subsídios para suas pesquisas. Por isso, foram muitos os horizontes
expandidos.
Experimentar é sempre um salto no escuro e a nossa indagação recaiu sobre o que significa experimentar
na arte e na educação concomitantemente. Importante observar que o encontro reuniu uma diversidade
de posturas e de contextos que enriqueceram com o debate e o escopo de possibilidades. Como esses
artistas educadores delineiam seus modelos educativos e o que esperam deles? A partir de que parâmetros?
Conseguem enxergar uma linha divisória entre seu fazer artístico e educativo? Haveria alguma diferença
entre um artista educador e um educador? O primeiro aspecto discutido foi a necessidade de haver
encontros como este, pois eles fazem emergir a diversidade de metodologias e as inúmeras possibilidades
de enxergar a educação na arte, além da arte-educação. A segunda questão vivenciada foi o lugar
quase periférico que a educação ocupa no fazer artístico, mesmo que a arte seja linguagem, códigos e
sociabilidade, que passa por aprendizados e que não seja algo inato. E uma terceira dimensão pontuada
foi a questão do contexto local que alimenta e demanda certos tipos de pedagogia.
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Artistas Educadores: Um Encontro organizou-se em três discussões. No primeiro dia), apresentaram-se artistas cuja prática
educativa permeia suas práticas artísticas de maneira muito entremeada: Jorge Menna Barreto, Cayo Honorato e Daniel
Lima Santiago. O segundo dia aglutinou discussões entre artistas que são educadores em espaços institucionais: Stela
Barbieri, Marcelo Coutinho e Solon Ribeiro e o último dia voltou-se para artistas que comandam espaços independentes:
Maria Helena Bernardes, Miguel Chikaoka e Albano Afonso. Cada participante teve total liberdade de apresentar seus
achados, inquietações e maneiras de lidar com as esferas da arte e da educação, e foi muito interessante notar o relevo
gerado por tantos posicionamentos distintos.
Como a intenção era qualificar a troca de experiências e de reflexões, recebemos um público presencial de aproximadamente
40 pessoas por dia. Compareceram educadores, gestores, artistas e pesquisadores. Entretanto, o encontro foi transmitido
ao vivo pela internet com mediação de um coordenador de rede social, e tivemos um total de 130 pessoas participando
de várias partes do mundo. O debate online enriqueceu o ritmo das apresentações e deu o tom em alguns momentos.
Apesar de ainda não termos gerado uma publicação, o resultado do intercâmbio de experiências e o conhecimento
gerado a partir dessas trocas entre os artistas educadores já contribuiu para a ampliação do pensamento sobre os rumos
da educação em arte no Brasil, além da instrumentalização que ocorre pela demanda quantitativa dos patrocinadores
e instituições de arte. Importante notar a educação além dos parâmetros formais, temática que tem ganhado muita
visibilidade internacional após a chamada virada educacional (the educational turn), termo que apreende a absorção
de métodos, programas, modelos, termos, processos e procedimentos do campo da educação pelas práticas artísticas
e curatoriais. Não se trata de uma discussão unânime e monocórdica, e sim uma discussão que, em geral, espelha a
constatação de que intervenções e produções discursivas têm se tornado centrais para a prática contemporânea. Apesar
das contradições que este termo suscita, desejamos nos debruçar sobre uma reflexão que emerge a partir da prática, sem
necessariamente prestar tributo às discussões teóricas que se espalham mundo afora.
Cristiana Tejo
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Albano Afonso, Jorge Menna Barreto e Maria Helena Bernardes
Miguel Chicaoka, Solon Ribeiro e Stela Barbieri
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Daniel Santiago
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Arco
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e Máquina Orquestra
Origem: Florianópolis/SC
Ação: Belo Horizonte/MG, Florianópolis/SC e São Paulo/SP
Cada vez que se começa uma conversa pela primeira vez com um artista, um novo vocabulário é agregado.
Curioso observar que os artistas se expressam de acordo com seu meio, como se o vocabulário do
fazer artístico se transformasse em idioma e vice-versa. Um pintor, por exemplo, tem em seu dicionário
palavras como “terebintina” e “veladura”, enquanto fotógrafos usam “diafragma” e “obturador”. E como
a arte contemporânea não necessariamente trabalha apenas com aquilo que “lhe pertence”, ela estimula
constantemente o espectador a uma nova aprendizagem linguística.
Roberto Freitas, O Grivo (Nelson Soares e Marcos Moreira) e Marcelo Comparini me apresentaram um
novo glossário. O que seria um sequenciador analógico? Uma trapizonga? Uma pianola? Um drone? Para
a maioria das pessoas essas palavras podem até fazer algum sentido dependendo do contexto em que são
empregadas, porém somente uma minoria pode defini-las com exatidão.
Novo vocabulário, materiais e sons, tudo junto e misturado em um mesmo ateliê. Com apenas um dia de
trabalho, a sala que era usada para pintura transformou-se em uma espécie de marcenaria e assistência
elétrica. O pó da madeira e os ruídos se espalhavam por todos os ambientes da casa, e com o passar dos
dias as coisas “só melhoravam”. Não completou nem uma semana em que todos trabalhavam juntos e a
trapizonga já começava a soar.
Enquanto Marcos embalava uma melodia no papel, Roberto programava a máquina, Nelson desenhava a
estrutura e Marcelo montava a peça. No segundo seguinte, eles já haviam mudado de função ou pararam
para tomar um cafezinho (como todo bom mineiro). Trabalharam com intuição, testando os materiais,
errando, consertando, falando, escutando e trocando. Era bonito ver como eles se organizavam, cuidando
para que o outro não ficasse sobrecarregado, exausto ou simplesmente desestimulado.
Trabalhar em grupo não é uma tarefa simples, ainda mais quando o tempo é pouco comparado à
produtividade. Nessa experiência, o ritmo de produção era tão intenso quanto a relação do grupo. Eles
se organizavam como notas de música experimental, sem uma pauta e apenas fluindo. Definitivamente
eles não seguiram nenhuma partitura, apenas traçaram alguns esboços e deixaram as ideias no ar para
que outro as pegasse.
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Acompanhar o grupo foi desafiador. Além de falarem um outro idioma, os porquês não pareciam ter importância.
Para eles, era tão claro o motivo do funcionamento das coisas que não era preciso responder a perguntas, como se as
respostas já estivessem no próprio fazer, como se a trapizonga falasse por si só, mesmo que ainda estivesse nascendo.
Compreender esse silêncio foi o que me permitiu escutá-la.
Em alguns momentos havia uma pausa no ar, como se alguma descoberta chegasse sem avisar. A cada teste a
concentração era dobrada e logo depois a correria voltava. Serra elétrica, martelo, violão, risadas, zumbidos agitavam a
casa, acompanhada dos passos dos artistas que iam e vinham de um cômodo para o outro. Eles não podiam fazer uma
trapizonga apenas, precisavam de uma orquestra para acompanhá-los.
O resultado? No momento, o rio segue o fluxo da ação e pensamento para depois refletir e analisar os trabalhos dessa
convivência.
Paula Borghi
Máquina Orquestra foi uma residência que possibilitou artistas de três Estados do Brasil se encontrassem e produzissem
um trabalho coletivo. Sob o olhar atento da curadora Paula Borghi, O Grivo – coletivo formado pelos artistas Nelson
Soares e Marcos Moreira (MG) –, Marcelo Comparini (SP) e Roberto Freitas (SC) abandonaram seus trabalhos individuais
em busca da colaboração em um ambiente horizontal, construindo uma pesquisa vertical que se materializou no que
chamamos de instalação performativa.
O trabalho feito a oito mãos é um conjunto de esculturas mecânicas capazes de ler e processar dados inscritos em
bobinas de papel vegetal milimetrado. Esses dados viram metadados que serão usados nas performances ao vivo deste
grupo provisório de artistas.
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cas Circuitos da Desdobra
Origem: Rio de Janeiro/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ
Circuitos da Desdobra propôs um balanço e uma discussão sobre a atualidade dos espaços autônomos
no Brasil. A ideia nasceu da curiosidade permanente acerca das condições que determinam a
produção no campo das artes e da cultura e, mais especificamente, das artes visuais brasileiras
contemporâneas. As funções, o discurso e os anseios de seus agentes; as modalidades expositivas;
a produção textual e crítica; os inúmeros pontos que compõem seus circuitos; as políticas públicas
elaboradas para os diversos segmentos; as instituições; o mercado; as estratégias de gestão; os
canais para a transmissão das linguagens e do conhecimento em artes, além da formação de novos
públicos, estruturam essa reflexão.
O vigor que marca o cenário artístico/cultural brasileiro, a partir dos anos 2000, não exclui situações
de desconforto, no que se refere às condições para o desenvolvimento de ações – ainda faltam
políticas que considerem os “longos prazos”, menos burocráticas, que se apliquem com continuidade,
permitindo a concretização, mas também a avaliação dos desdobramentos, um feedback das ideias
e ações. É evidente a carência de políticas públicas que proporcionem, de maneira mais ampla, o
fomento das práticas artísticas e que sejam capazes de enxergar tais práticas como modalidades
de pesquisa – para além da produção de bens culturais –, e que se realiza fora do ambiente
acadêmico.
Importante parcela dos espaços autônomos brasileiros sobrevive graças a subvenções provenientes
do Estado, obtidas por meio da política de editais. Outras estratégias são encontradas para reforçar
a captação de recursos: financiamento do setor privado, leilões, bazares, cursos, aluguel de espaço
de ateliê, festas, além do investimento individual dos próprios gestores. Esse diagnóstico de
desconforto é o ponto de partida do debate aqui proposto. O incômodo compartilhado por todos
funcionou como vetor/motor para a discussão, assumindo um formato circular e dinâmico, fugindo
da estrutura convencional dos seminários e conferências.
Circuitos da Desdobra retoma as discussões iniciadas pela Casa da Ribeira de Natal que, no período
de 29 de novembro a 01 de dezembro de 2010, com patrocínio da Funarte, promoveu o Encontro de
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Espaços Culturais Independentes, momento em que se constituiu a Rede de Espaços Independentes (Rede E.E.I.)
e foi redigida a Carta de Natal, documento que serviu de base para este encontro em abril de 2014, no Rio de
Janeiro.
O encontro de Natal, em 2010, foi um momento fundamental para o segmento, que buscou agregar e reforçar o
aspecto colaborativo das estruturas. Esse marco, de cunho político forte, foi seguido por duas iniciativas que
visaram estabelecer a reflexão sobre o papel dos espaços autônomos no Brasil.
No final de 2012, o Ateliê 397 organizou, na Funarte de São Paulo, a exposição Espaços Independentes – a
alma é o segredo do negócio, em que foram apresentadas “as diversas facetas e campos de atuação dos espaços
independentes voltados à arte contemporânea, mostrando suas atividades e resultados de forma acumulativa
durante o período de exposição”. Na ocasião, foi criado um recorte de espaços que apresentavam programações
significativas para a experimentação na arte contemporânea brasileira. O projeto aconteceu na Funarte de
São Paulo e reuniu os seguintes espaços: Ateliê 397 (São Paulo/SP), Ateliê Aberto (Campinas/SP), Atelier
Subterrânea (Porto Alegre/RS), Casa Contemporânea (São Paulo/SP), Casa Tomada (São Paulo/SP) e Casa da
Xiclet (São Paulo/SP), todos dedicados às artes visuais.
Em 2013, a curadora e pesquisadora Kamilla Nunes, traçou um minucioso mapeamento dos espaços autônomos
presentes no território nacional, por meio de uma bolsa da Funarte. No mesmo ano, os resultados de sua
pesquisa são publicados em uma plataforma online – Artéria (www.arteria.art.br), em colaboração com Bruno
Vilela – e em uma publicação, Espaços autônomos de arte contemporânea. O trabalho de Kamilla Nunes também
afirmava a urgência de uma continuidade dos trabalhos de reflexão sobre essas estruturas.
É assim que, em 2014, Circuitos da Desdobra se insere na linhagem dos projetos acima citados, convidando
representantes de 21 iniciativas autônomas do país para intervirem, durante os dias 15 e 16 de abril, no
Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. Aqui são discutidos realidades e rumos dessas
estruturas que se afirmam, hoje, como peças-chave do sistema da arte, dos processos colaborativos, da produção
cultural, da formação artística e da mediação entre a arte e público. Além disso, o projeto busca promover o
compartilhamento de modelos de gestão, estratégias expositivas e de produção, de comunicação, assim como
pedagogias, assumindo o caráter de fórum, aberto ao público.
Fabiana de Moraes
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Origem: Florianópolis/SC
Ação: Ribeirão Preto/SP
As triangulações do projeto Binômios
O debate aberto organizado em parceria com o Museu de Arte de Ribeirão Preto tornou possível a
publicação da quarta edição da revista Binômios, uma âncora do 3C - Centro de Criação Contemporânea
– plataforma eletrônica que tem por finalidade arquivar diferentes projetos editoriais produzidos em
colaboração com artistas, curadores e críticos de diferentes regiões do país. Para essa edição, o projeto
Binômios criou, também, triangulações. Primeiro porque cada curador trabalhou com dois artistas
que, juntos, formaram um grupo que considerou o trabalho, as inquietações, os procedimentos e as
trajetórias de cada um, assim como tornou possível o encontro com leituras elaboradas pela audiência
no momento do debate. Esses binômios, em certo sentido triangulares, foram constituídos por Ana Maria
Maia, Jonathas de Andrade e Regina Parra; Jacopo Crivelli Visconti, Caetano Dias e Leda Catunda; Josué
Mattos, Eduardo Berliner e Thiago Martins de Melo; Marcelo Campos, Efrain Almeida e José Rufino; Marília
Panitz, Elida Tessler e Gê Orthof.
O exercício de expor o debate, em muitos casos, restrito ao espaço do ateliê do artista, é um meio de
alargar o processo curatorial, vinculado, quase sempre, à organização de exposições. Pensar o projeto
Binômios como uma prática transversal significa tentar se aproximar da história recente das exposições,
ela mesma atrelada aos contundentes experimentos da arte atual. Seria como tornar possível a produção
de cruzamentos com parte da cena artística, sobretudo com a que transita livremente pelas vias da
heterogeneidade. Ou com quem produz encontros fortuitos e improváveis para somar a isso tudo a
“leitura do não-escrito”, conforme preconizou Walter Benjamin. Eis, de fato, o que surge com muita
frequência na prática do diálogo: o não-escrito e o não-pensado se tornam elementos imprevisíveis que
vêm à tona e favorecem leituras da mesma natureza, retirando da prática artística certas obviedades que
se esforçam em salvaguardar as marcas de registro de cada geração de artistas. Caminhar pela via sinuosa
do imprevisível é o que se configura como o ponto de partida para esses encontros dialógicos.
Neste sentido, o projeto Binômios se mantém como um dispositivo para a documentação do presente.
Adota a via do díspar, visto que os encontros inter-regionais produzem anacronismos, sedimentam outros
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eixos e desestruturam os processos normativos que insistem, não sem forçar a barra, na escrita da arte brasileira
metropolitana. Do mesmo modo, ao integrar discursos regionalistas, os binômios intendem percebê-los como um lugar
propício para a efetiva eliminação de fronteiras, o que favoreceria a remontagem sempre necessária do universal a partir
de pequenos fragmentos simbólicos, territoriais, históricos, sociais ou geopolíticos de cada canto do mundo. O escopo
do projeto discorre sobre procedimentos de trabalho dos artistas, tanto quanto sobre especificidades de cenas locais,
entraves e embates com a historiografia da arte, permitindo, também, refletir sobre o modo como cada um deles constrói
irrupções em cada categoria artística, social ou política. Ao longo desse pequeno percurso, o projeto vem tentando
criar interseções com outras linguagens, o que faz dos debates abertos um meio legítimo para o público se aproximar
dos centros de interesse de cada artista e de um conjunto significativo da arte contemporânea produzida em diferentes
regiões do país.
Josué Mattos
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Tiago Martins de Melo Marcelo Campos e José Rufino
Jacopo Crivelli Visconti e Leda Catunda Marcelo Campos e Efrain Almeida
Regina Parra e Ana Maria Maia Caetano Dias e Jacopo Crivelli Visconti
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Esopo
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Cris
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bas Vocabulário Político para Processos Estéticos
Origem: Rio de Janeiro/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ
O projeto Vocabulário Político para Processos Estéticos aconteceu a partir de um encontro, ou de encontros.
Encontro no sentido estrito do termo - estarmos juntos em um mesmo lugar, para produzir o Vocabulário –
e também encontro como um espaço que possibilita a intensificação de nossas relações de colaboração e
aprendizagem, em que experimentamos formas de criação. Este projeto como espaço de encontro também
inaugurou a relação entre pessoas que não se conheciam, e realizou atividades abertas ao público como
parte das ramificações do desejo de criar um vocabulário comum. O projeto do Vocabulário foi realizado
primeiramente por meio de conversas, experiências e diagramáticas, e, posteriormente, pela escrita e
edição de um livro homônimo distribuído gratuitamente e difundido pelo site do projeto.
O projeto tem por objetivo provocar a criação de um Vocabulário em um espaço de atravessamento entre
práticas políticas, estéticas, comunicativas, afetivas, artísticas etc. Partindo da perspectiva de que a
criação é também a criação e a transformação de conceitos ou expressões – marcando uma ramificação
não linear entre língua, linguagem e significação –, com esse projeto fazemos um levantamento das
expressões que nos mobilizam na atualidade, expressões que criamos nós mesmos, ou que transduzimos
de outros espaços, estratégias e práticas. O desafio que o Vocabulário propõe é então conversar e
escrever sobre as nossas expressões e nossas práticas, aproximando o exercício de fazer um vocabulário
do exercício de organizar um glossário, de maneira que essas expressões possam ser compartilhadas e
possam proliferar em criações comuns. Assim, não vemos o Vocabulário como um projeto que inaugura
um modo ou um espaço, mas como um projeto que é ele mesmo um espaço de concatenação, ou de
‘síntese disjuntiva’, de outros tantos espaços da criação. Ele nos desloca, contudo, a uma reconfiguração
enquanto criadores “vocabulosos”, menos daquilo que fomos ou somos e mais daquilo que podemos ser e
fazer estética e politicamente em uma conjunção temporal, aquilo que podemos juntos “vocabulinar”.
O Brasil que se conhece pelas ruas desde os levantes de junho (nesse “ano que não acabou”, entre 2013
e 2014) explicita o surgimento de novas expressões, ações e táticas de criação e resistência. É um Brasil
exaltado contra o poder opressor de um Estado que busca crescimento econômico a todo custo, mas cujas
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minorias vêm sendo definitivamente eliminadas. Como parte de uma tática temporalizada, o projeto se endereça aos
espaços comuns afetivos e ativos das ruas e das assembleias, das reuniões e das partilhas, um processo político social
que não vemos como encerrado, e que procura estender uma articulação aos modos de vida e realidades comuns, abrindo
espaço para falar daquilo de que somos constituídos, de nossos desejos, de nossos desafios. O Vocabulário se soma
então a esses espaços que ativam a micropolítica da língua e da linguagem, a micropolítica das expressividades, que se
valem de um intercâmbio de sensibilidades, negociação de realidades em processo, em conflitos, criando colaborações
e proliferando diferenças.
O projeto aconteceu por meio de três formas de encontro: na primeira semana, a oficina interna da qual participaram
cerca de 25 pessoas chamadas por mim, mais por um desejo de catalisação do que de curadoria; a segunda semana,
com duas oficinas abertas ao público; e a terceira forma de encontro, pela troca constante com algumas pessoas
durante aquelas semanas no Rio, que se tornaram convites para que essas pessoas escrevessem textos específicos
para o Vocabulário. Alguns participantes que haviam sido convidados para a oficina interna e não puderam participar
contribuíram com textos. Há ainda uma quarta dinâmica, que é a incorporação de três textos já escritos e publicados
previamente, provocando outras conversas com o Vocabulário.
Cristina Ribas
Participantes da oficina e publicação: Agência Transitiva, Annick Kleizen, Andre Barséres, André Luiz Mesquita, Beatriz Lemos, Breno Silva, Brian Holmes, Cecilia Cotrim, Cristina Ribas, Davi Marcos, Daniela Mattos, Enrico Rocha, Georgiane Abreu, Giseli Vasconcelos, Graziela Kunsch, Helio Oiticica, Inês Nin, Isabel Ferreira, Jeferson Andrade, Josinaldo Medeiros, Julia Ruiz di Giovanni, Juliana Leal Dorneles, Kadija de Paula, Laura Lima, Luis Andrade, Luiza Cilente, Lucas Rodrigues, Lucas Sargentelli, Margit Leisner, Pedro Mendes, Pierre Garcia, Raphi Soifer, RhR, Ricardo Basbaum, Rodrigo Nunes, Sara Uchoa, Steffania Paola, Tatiana Roque e Tiago Régis
Oficina interna: Capacete EntretenimentosOficinas abertas ao público: Aldeia Gentil e Pontão de Cultura Digital da ECOConversas com os participantes da oficina interna e convidados: Casa Nuvem e Instituto de Artes/UERJ Concepção, mediação e edição: Cristina RibasProdução e edição: Sara Uchoa Site: Inês NinConsultoria: Anamalia RibasRevisão de textos: Valdiria ThorstenbergDesign: Editora Aplicação Espaços parceiros: Casa Nuvem e Capacete
http://vocabpol.cristinaribas.org
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Fábi
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te Quando o Percurso Torna-se Destino
Origem: São Paulo/SP
Ação: Grão-Mogol/MG; Urubici e Urussanga/SC; Petrolina/PE; Juazeiro/BA e Fortaleza/CEFo
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Quando o percurso torna-se destino surgiu da vontade de explorar novas paragens e, também, compartilhar
com artistas locais experiências e situações durante percursos, fazendo uso das características físicas
e geográficas de cada localidade escolhida, propondo uma interação com as formações e situações
específicas da natureza e como essas influem no cotidiano dos moradores locais.
O projeto foi composto por quatro ações que aconteceram em quatro diferentes regiões do Brasil: Grão-
Mogol/MG, Urubici/SC, Urussanga/SC, Petrolina/PE, Juazeiro/BA e Fortaleza/CE, eleitas por apresentar
certas especificidades físicas e geográficas fundamentais ao projeto, relacionadas aos quatro elementos
da natureza – Terra: territórios cambiáveis (MG); Ar: experiência cinza (SC); Água: margem, história
e resistência (PE); e Fogo: sol nascente e sol poente (CE). Para cada viagem, um artista residente no
estado foi convidado para me acompanhar e, juntos, interagirmos com os locais selecionados. São eles,
respectivamente: Pablo Lobato, Julia Amaral, Traplev e Yuri Firmeza, Galciani Neves e Cecília Bedê.
Encontros e caminhos percorridos foram partes essenciais do projeto, pois os caminhos traçados eram
determinados pelas conversas durante os percursos. Assim, as possibilidades eram imensas, explorando
os elementos da natureza e as relações que se estabelecem com os habitantes dessas regiões, permitindo
que as vivências fossem intensas e significativas.
Fábio Tremonte
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Solos Territórios Cambiáveis - Foto: Fábio Tremonte
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Ar Experiência Cinza - Foto: Fábio Tremonte
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Ar Experiência Cinza - Foto: Fábio Tremonte
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a CiberÀtrações, CharreteNet e CarROBOis
Origem: Uberlândia/MG
Ação: Belo Horizonte/BH e Brasília/DF
A CharreteNet faz passeios de quatro dias consecutivos pela cidade e, puxando conversas, vincula ações
afirmativas e proposições de arte pública pelos horizontes em comum da rua, em um processo movido por
troca-trocas de presentes sob apelos de transmitir tudo ao vivo, de forma online.
Nesta edição, com novos e antigos parceiros, levamos na tralha a mesma charretinha original, feita de
reciclagens em Uberlândia, juntamente com presentes, ferramentas digitais e formas de compartilhamento
livres que, no encontro com o bicho, compõem a CharreteNet – para a grande Beagá e o Distrito Federal,
lá agregamos ao cortejo o CarROBOis.
Assim como em Uberlândia em 2011, nossa produção se iniciou com a busca por cocheiros e cavalos em
simbiose com o projeto – o que foi facilitado pelos coletivos Paisagens Poéticas e Carroça Elétrica que,
como outros artistas brasileiros têm trabalhado recentemente com carroceiros urbanos.
As carroças divagam por destroços modernos de um mundo em mutação, cada vez mais permeado por
agenciamentos e linguagens “maquínicas”. Mesmo com números de celulares pintados na boleia, cavalos
chipados e regulamentações legais da profissão de carroceiro, os cocheiros urbanos carregam o denso e
pesado estigma do atraso, nas interseções campo X cidade, individual X coletivo... Eles transitam entre
fronteiras fundamentais, em torno das relações ancestrais entre homem X animal e homem X máquina.
Segundo Harraway, essas fronteiras foram rompidas com o advento da informática da dominação (ao
fundo toca Boate Azul). Além do fascínio pela potência animal e do apreço pela autonomia profissional,
artistas e carroceiros compartilham agora interesses pela liberdade de trânsito, permanência e abertura
de espaços de vida em comum bastante ameaçados.
Nas atrações e trações dessa identidade surgem nossos ciborgues. A contrastar com a cidade intoxicada
pelos automóveis do egoísmo cotidiano, a cidade em que cavalgamos é arejada por solidariedades
transeuntes, conversas matutas e olhares diretos. Na reciclagem do lixo do consumismo, ela acolhe
animais, crianças e outros bichos, que optam por resistir ao tráfico e à marginalidade com uma dignidade
mundo-bicho (Vida de Gado).
Para pesquisa da rota-roteiro, formulamos um questionário online que sintetiza a proposição de CiberÀtra-
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ções e a torna mais atrativa sob o ponto de vista do reconhecimento autoral e do compartilhamento via web. Esse desen-
volvimento do componente máquina de nossos ciborgues mambembes, assim como a invenção atual de uma “ciberÁgo-
ra”, apresenta muitos desafios. Embora incipiente, junto a pesquisas de campo presenciais ele nos ajudou a traçar os
pontos base da rota-roteiro, cujo trajeto final em cada cidade foi determinado pela viabilidade do conjunto e a simbiose
cocheira que nos conduziu pelas acolhidas, desvios e imprevistos, realimentando e sugerindo novos processos.
Entre a improvisação por contato direto e as parcerias institucionais, em Beagá partimos eu, Cleber e artistas convidados,
com uma equipe composta por jovens da Elástica, do Fora-do-Eixo, da OiKabum, o cocheiro Junior e o cavalo Canário. A
rota-roteiro começou pela ocupação Guarani-Kaiowá, seguindo pelo atelier da Gilmara, a ZAP 18, a EBA-UFMG, a Praça
do viaduto da Lagoinha, a Praça da Estação, a casa Fora-do-Eixo, a Vila Dias e o Espaço Comum Luiz Estrela, seguindo
até Sabará e retornando a nossa base de operações, o curral do Wilmar ao lado da URPV do São Geraldo. Depois da rota,
no quinto dia, fizemos um passeio extra com Wilmar, levando a charrete pra exposição, e conversando no caminho com
Roberto, de Uberlândia, sobre a luta dos carroceiros lá e cá.
No Distrito Federal trabalhamos com uma equipe menor. O processo de articulação foi mais espontâneo e, desde a praça do
Cidadão B, na Ceilândia, fomos agregando participações dos projetos Jovens de Expressão e Mapa Gentil – cujos objetos
e proposições se mesclaram à intervenção do Candidato do Entorno e do evento Quanto Vale seu Voto, dos coletivos La
Femme e Banda Chinela de Couro. Rumo à cidade Estrutural, onde a carroça elétrica jogou bola com os Corpos Informáticos.
Aquino deu presentes à Baiana e a Conversa de Bois e Outros Bichos partiu pelas feiras, culminando com o acontecimento
do CarROBOis e sua mistura de orixás, drones, bois, Saia de Bicicleta, violas de buriti e outras proposições e coletivos
participantes da Feira dos Povos do Cerrado. Rumo às profundezas da Esplanada, câmbios de vozes e papéis, esboços de
uma lógica holográfica balizada pelo desejo de encontro.
Ao prestarmos corpo ao galope nesses passeios, o humano copula com animais não-humanos ativando memórias rítmicas
que ecoam desde a fricção do sexo ao riso. Uma sinergia infinita de afetos comuns a pensar o ser, a pensar o corpo e
vivenciar a tecnologia nas fronteiras dos desafios ecológicos, buscando não confundir o papel das decisões humanas com
o do automatismo “maquínico” nos processos de produção atuais (Desafio de Tom Zé).
Agradecendo aos participantes, convidamos todos a passear pelo site da CharreteNet e pelos perfis de rede social do
projeto, que divulgam encontros, locais, artistas, coletivos e pessoas que se somando aos cortejos, articularam suas
travessuras, trações e atrações.
Gastão Frota
www.charrete.Net http://bit.ly/1hcruc0 http://bit.ly/CharreteNet
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O arreio e o poder
O beijo e o drone
CarROBOis
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Exposição no Maletta - BH
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a Museu Escola Lina Bo Bardi – Edital de Formação de Curadores
Origem: Salvador/BA
Ação: Salvador/BA
O programa Museu Escola Lina Bo Bardi – Edital de Formação de Curadores tem como objetivo estimular o
pensamento curatorial e a reflexão sobre a produção artística contemporânea, a partir da experiência de
profissionais com extensas e regulares pesquisas artísticas da Bahia e de fora do estado. Esses profissionais
são os responsáveis por fornecer as bases teóricas e práticas para a exploração de pesquisas e processos
curatoriais, estimulando os participantes a desenvolverem suas próprias pesquisas e, ao mesmo tempo,
responderem às questões que envolvem a tarefa da curadoria e seus processos diante dos desafios da
atual produção artística. Nesta primeira edição foram convidados os profissionais Ayrson Heráclito (BA),
Fernando Oliva (SP) e Rodrigo Moura (MG).
O projeto teve início com o lançamento do Edital – uma convocatória pública com encontros abertos
para a apresentação do formato do edital e discussão sobre seu tema central, com a participação de
convidados. Após as inscrições, foi feita a análise das propostas por uma comissão de seleção, composta
pelos próprios curadores e pela direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Ao final, esta
comissão indicou os cinco projetos habilitados e contemplados: Caroline Sant´anna - Transfigurações do
Eu; Gracia do Rosário - Um viés na imagística República; Nirlyn Castilho - Incendiário; Pedro Marighella -
Outro Circuito; Uriel de Souza - Fotografia.
As atividades foram realizadas com encontros presenciais e virtuais, além de visitas guiadas às exposições
da 3ª Bienal da Bahia e aos demais núcleos editoriais. Os participantes também tiveram a oportunidade
de se reunir e conversar com profissionais de diferentes setores do MAM-BA, no intuito de entender as
demandas curatoriais numa instituição museológica. Ao final desta edição do projeto, o MAM-BA pretende
se reunir com cada um dos cinco participantes e discutir suas propostas curatoriais e a possibilidade de
realizá-las na instituição.
Também como parte do projeto, foi publicado um Manual de Processos Curatoriais, em um formato de
linha do tempo de curadoria, distribuídos como encarte da Revista Contorno #4 (publicação periódica
do MAM-BA). A ideia é expandir o conteúdo, tornando-o acessível para demais pessoas interessadas,
documentando os processos envolvidos em todo projeto.
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O módulo no Curso de Formação de Curadores adotou metodologia de trabalho teórico-prática, articulando aulas
expositivas com visitas de campo, seguidas por discussões in loco, nos próprios espaços expositivos das mostras que
estudamos e acompanhamos. A questão central do curso foi o novo estatuto das práticas curatoriais no Brasil; ou
seja, de que maneira a curadoria, e seus profissionais, está lidando com as profundas mudanças sociais e econômicas
operadas no país, desde o início do século XXI, notadamente o deslocamento, ou descentralização, dos eixos de poder
geopolíticos-culturais em direção não apenas ao Nordeste, mas a locais antes tidos como "periféricos" (lembrando que,
para além de uma separação territorial rígida, estes locais podem se encontrar em espaços considerados centrais, como
os centros de São Paulo, Salvador, Recife e outras capitais).
Aproveitando o acontecimento da 3a Bienal da Bahia e o fato de o professor fazer parte do grupo de curadores, o grupo
fez visitas de trabalho às exposições, em montagem e depois de prontas, nas quais pudemos refletir juntos sobre os
métodos e escolhas feitas por esta terceira edição da Bienal. Como evitar o discurso de poder e as hierarquias entre obras
e artistas? Como atuar mais como um catalisador, uma ponte entre os artistas e suas experiências, e menos como um
agenciador de subjetividades? Como tirar proveito, produzir e fazer produzir em lugares sem um sistema de arte como
se conhece normalmente em locais profissionalizados? E como evidenciar isso para o outro, espectadores e comunidade
artística? Estas e outras questões surgiram enquanto visitávamos A Reencenação, no Mosteiro de São Bento, e as mostras
antológicas de Juarez Paraíso e Juraci Dórea, no MAM-BA. Em um dos encontros, os alunos apresentaram seus próprios
projetos para serem apreciados pelo grupo e questionados.
Fernando Oliva
Um dos objetivos do processo formativo foi o de propor ações críticas sobre a história e o lugar da curadoria na narrativa
da arte brasileira. A curadoria se apresenta assim como um exercício de adensamento da pesquisa, a fim de propor outras
possibilidades de leituras, que não são tão popularizadas e não fazem parte do panteão hegemônico do pensamento sobre
a arte brasileira, a identidade artística brasileira e a identidade regional. Nesse processo são debatidos preconceitos e
paradigmas a fim de se pensar outras possibilidades de entendimento sobre o fenômeno cultural brasileiro: o Brasil dentro
do Brasil, dentro da América Latina, da África, dos Estados Unidos, da Europa e dentro do mundo.
Ayrson Heráclito
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Fotos: Alfredo Mascarenhas
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ias COPAS: 12 Cidades em Tensão - Intervenções Urbanas em Debate
Origem: São Paulo/SP
Ação: São Paulo/SP, Olinda/PE e Brasilia/DF
O projeto COPAS previu a organização de uma rede composta por artistas e coletivos de arte do Brasil,
que realizou intervenções urbanas em todas as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Participaram
dos encontros mais de 15 artistas e coletivos de arte, vindos das 12 cidades-sede. Foram discutidas
as mudanças ocorridas em cada cidade e as diversas manifestações e expressões em resposta a essas
transformações. Nos encontros, os artistas realizaram performances e intervenções urbanas inéditas.
Copa que se Vive
O assunto “Copa” ocupou a mídia, as ruas, o cotidiano, as conversas. A Copa do Mundo de 2014 está
no Brasil desde 30 de outubro de 2007, data de sua oficialização. Existiu uma tenuidade explosiva, uma
contenção e uma latência ligadas nas teias dos espaços públicos. Foi nesse contexto que o projeto COPAS
ativou a discussão sobre as profundas mudanças pelas quais as cidades-sede vêm passando, no que
tange à convivência social e à democratização dos espaços públicos. O projeto desenvolveu-se junto aos
artistas de cada uma das cidades-sede, conectados, como um grande bando.
No encontro, a sensibilidade artística deflagrou uma experiência coletiva na qual as ações políticas foram
profundamente estéticas, envolvendo ações performáticas, musicais, ocupação de vídeo e programas de
rádio.
Considerando a especificidade de cada região, COPAS foi composto por artistas envolvidos em diferentes
segmentos da criação e capazes de articular diferentes tipos de ações na cena artística, poética e política
de cada cidade. A partir dessa experiência uma cartografia impressa foi produzida, refletindo sobre essas
novas estratégias de relação entre o indivíduo e a cidade nesse contexto da Copa do Mundo de 2014.
Relatos, pensamentos e depoimentos sobre possibilidades de viver junto e a criação coletiva implicada
nas mudanças e conquistas das suas cidades.
A cidade é o nosso plano. Na cidade acontece o trabalho como processo criativo e ético. Garantir um
espaço de debate e construção coletiva entre artistas e formas de vida dentro da cidade é criar uma
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plataforma de lançamento para novos projetos e propostas artístico-urbanas que se relacionam com a tomada da cidade,
do espaço público e com a criação de novos signos e representações desses territórios.
Daniel Lima, Fabiane Borges e Milena Durante
Núcleo Coordenador: Daniel Lima, Fabiane Borges e Milena DuranteArtistas: Poro (Belo Horizonte); Carolina Barreiro e Magnus Magno (Brasília); Eduardo Ferreira, Fabrício Barbosa e Caio Mattoso (Cuiabá); Goto (Curitiba); David da Paz (Fortaleza); Francis Madison (Manaus); Jota Mombaça (Natal); Rodrigo Lourenço (Porto Alegre); Cocô de Umbigada, Ricardo Ruiz e Edson Barrus (Olinda); Moana Mayall (Rio de Janeiro); Tininha Llanos (Salvador); Bijari, Frente 3 de Fevereiro, Nova Pasta, Casadalapa e Ocupeacidade(São Paulo)Edição de Texto: Ana Paula Sant’ana e Élida Lima Produção (São Paulo): Felipe Brait
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Origem: Porto Velho/RO
Ação: Belém/PA, Curitiba/PR
Intercâmbio entre artistas da Região Norte e Sul do Brasil agregando um artista/pesquisador de cada um
dos 10 estados que compõem as duas regiões. O foco do projeto é a reflexão sobre a estruturação dos
circuitos artísticos estaduais, com ênfase na cena autônoma. Cada um dos 10 convidados escreveu um
texto sobre o circuito de arte de seu estado e organizou uma curadoria de vídeo. O projeto oportunizou
dois encontros, um em Belém/PA, na Galeria Theodoro Braga/Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves,
de 7 a 11 de abril de 2014; e outro em Curitiba/PR, de 10 a 14 de abril 2014, no miniauditório do Museu
Oscar Niemeyer, onde ocorreram as mesas-redondas com os convidados e as mostras de vídeo.
Os artistas/curadores estaduais convidados foram Anderson Paiva (RR), Arthur Leandro e Bruna Suelen
(PA), Claudia Paim (RS), Janice Martins Appel (SC), Joesér Alvarez (RO), Mapige Gemaque (AP), Newton
Goto (PR), Sávio Stoco (AM), Thaise Nardim (TO) e Ueliton Santana (AC). Gabriela Silva representou
Janice Martins no encontro em Belém. A mostra de vídeo está composta por 66 títulos de 59 autores,
entre artistas e iniciativas coletivas: André Sampaio, Ueliton Santana e Darcí Séles (AC); Imagem e Cia.,
FIM-Festival da Imagem em Movimento, Coletivo Psicodélico, Mapige Gemaque e Natasha Parlagreco
(AP); Denilson Novo, Ewerton Almeida, Maurício Pardo, Normandy Litaiff, Paulo Trindade, Sérgio Cardoso,
Francis Madson (AM); Fernando Bini, Key Imaguirre, Newton Goto, Stéphany Matannó, InterluxArteLivre,
Daniel Chaves, ASL Crew, Valdecimples, Fernando Ribeiro/p.Arte, Faetusa Tezelli, Elenize Dezgeniski e
Glerm Soares (PR); Arthur Leandro/Tatá Kinamboji e Terreiro de MansuNangetu; Ícaro Gaya, Qualquer
Quoletivo, Aparelho, Pedro Olaia, Romario Alves, Fernando de Pádua e Rodrigo Barros/Tatá Kafungeji e
Terreiro RundemboNgunzo ti Bamburucema (PA); Arteocupa, Casa Paralela, Espaço N, ruído.gesto e Sub-
terrânea (RS); Lídio Sohn, Pilar de Zayas Bernanos, Raissa Dourado, Joesér Alvarez, Ariana Boaventura e
ACME (RO); Anderson Paiva, Fernão Paim e Cláudio Lavôr (RR); Valdir Agostinho, Janice Martins, Vania
Rodrigues, Geodésica Cultural Itinerante, Juliana Crispe, Guilherme Ribeiro, Joao Muller, Pablo Paniagua
e Claudia Washington (SC); e Thaise Nardim (TO).
Foi feita uma tiragem de 200 exemplares da coleção de vídeo para compartilhamento entre os curadores
e os artistas participantes da mostra de vídeo, e também para distribuição para universidades, museus e
instituições culturais brasileiras. O website www.rotacaodeculturas.wordpress.com veicula os textos elabo-
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rados pelos curadores estaduais, a lista de títulos e as sinopses da mostra de vídeo, registros fotográficos dos encontros,
informações sobre os convidados e outros dados relevantes sobre o projeto, apresentando-se como um arquivo documen-
tal online da proposta. E a página no Facebook é o instrumento de comunicação do projeto.
Ideário
Fazendo uma analogia entre a técnica agrícola da rotação de culturas e o intercâmbio cultural aqui proposto, percebe-se
que o circuito de arte se torna mais enriquecido de valores e potencialidades a partir do momento em que é fomentado
com experiências artísticas heterogêneas, capazes de incrementar as perspectivas de constituição dos próprios circuitos
locais com distintos ideários de atuação, fortalecendo a autonomia, a diversidade produtiva e a qualificação de seus
agentes produtivos.
Essa é a alternativa para o pequeno produtor e para os arranjos produtivos locais, resguardando condições de liberdade
e criatividade para o exercício das linguagens visuais em diferentes territórios, como uma alternativa à monocultura da
indústria cultural que geralmente aplaina as singularidades sociais como meras consumidoras de produtos feitos nas
maiores metrópoles, os quais são exportados para a periferia num sentido único de fluxo, sem reciclagem, sem trocas
culturais, sem reoxigenação de referências, sem transversalização de autorreferencialidades.
Newton Goto
Coordenação logística: Joesér Alvarez Idealização, curadoria geral e coordenação artística: Newton GotoProdução: ACME (Porto Velho-RO) e EPA! (Curitiba-PR)Coordenação de produção: Joesér Alvarez e Newton Goto.Assistência de produção e documentação: Faetusa Tezelli e Jeisse Alvares
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Curitiba
Belém
Belém
Belém
Curitiba
Belém
Belém
Curitiba
Fotos: Faetusa Tezelli
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no Telefone Sem Fio: do Oiapoque ao Chuí
Origem: Belém/PA
Ação: Oiapoque, Calçoene, Ferreira Gomes e Macapá/AP; Mãe do Rio, Ulianópolis e Belém/PA;
Açailândia, Imperatriz e Montes Altos/MA; Araguaína, Guaraí, Paraíso do Tocantins e Alvorada/TO;
Porangatu, Pirenópolis e Barro Alto/GO; Brasília/DF; Araguari e Uberaba/MG; Ribeirão Preto,
Registro, Barra do Turvo e São Paulo/SP; Curitiba/PR; Arroio do Silva e Florianópolis/SC; Gravataí,
Santa Vitoria do Palmar, Pelotas, Chuí e Porto Alegre/RS
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Antes de colocar o pé na estrada, antes de percorrer no carro-casa-estúdio-móvel aproximadamente 6
mil km por estradas e hidrovias do Norte ao Sul do país, uma única certeza era nossa fiel companheira de
bordo: a impossibilidade de decifrar racionalmente o enigma de um Brasil. “Brasis” poderia ser então a
sua denominação mais justa, clara e fidedigna, uma pista, um mapa, uma indicação da pluralidade a que
estávamos sendo inseridos.
A rota foi desenhada de maneira que pudéssemos percorrer e documentar minimamente um pouco de
cada uma das cinco regiões políticas do país, através de 32 cidades entre os estados do Amapá, Pará,
Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Para entendermos a geografia extra-política, a geografia do corpo-a-corpo, optamos por uma metodologia
não específica, não definida, nem definidora. Transcender o campo teórico se fazia necessário para um outro
saber. Um jogo. Ser levado pelo acaso, um acaso que procurávamos e não somente a que nos deixávamos
ser atingidos. Dessa forma, a vivência do corpo-a-corpo se mostrou mais do que uma ferramenta útil na
descamação do enigma. Ele foi um posicionamento preciso frente aos embates contínuos dos percursos.
Um correr risco. Um estar aberto para não decifrar e ser devorado.
O corte começou na primeira cidade ao norte do país, Oiapoque e findou na última cidade ao sul,
Chuí. Guiana Francesa e Uruguai fazem fricções nesses dois espaços de fronteira, e essas cidades, seus
moradores e transeuntes convivem no espaço “do entre”, pela relação de intercâmbio constante de
pessoas e idiomas. A língua portuguesa ao norte permanece mais intacta do que ao sul. No Chuí, uma
espécie de portunhol ecoa pela cidade, dada a facilidade do trânsito livre de pessoas e mercadorias
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estabelecida pelo acordo do Mercosul. Ao norte, como toda a história sobre a região amazônica vem apresentando, a
questão fica um pouco mais violenta. Ilhados por um rio, os amapaenses e brasileiros de vários outros lugares do país,
que migraram para aquela região por causa da promessa de ouro e de uma vida melhor, não possuem o mesmo trânsito
livre que há na Guiana Francesa. E a nossa carne e o nosso suor continuam a ser atrativos do país tropical, abençoado
por Deus e pelo HIV.
Todos os meios tecnológicos de documentação utilizados durante o projeto se revelaram aquém da complexidade e
da grandeza que ele ia desvendando, como um filme que se vive dentro do filme, aquilo que no momento final não é
exposto na tela. Toda essa documentação pode ser acompanhada no site: lucianamagno.com/telefonesemfio. Lá pode
ser acessado um mapa interativo com demarcações das 32 cidades visitadas, além de um documentário, resultado final
do projeto. No site se revela um não lugar. Não lugares. Os séculos parecem ter deixado o homem cansado de tantas
informações. A vida brilha mais forte do que o cinema 3D. Talvez a única função do artista hoje seja inventar uma outra
linguagem. Nesse tempo da invenção, a linguagem é inventada durante o percurso, em conjunto com os interlocutores
do Brasil, ao vivo. O online é um outro tempo.
O encontro com o outro é sempre delicado, sutil e enigmático, e vai indicando caminhos a serem percorridos. A trilha
musical torna o tempo ameno. Entre chuvas, sóis e névoas o retrato vai se colorindo. Um outro índio, embates de
alimentos, invenções de crenças, desmatamentos, a utopia plantada no planalto central, a oficina do teatro do prazer.
Ao sul, outras experiências orgânicas, um projeto pós-modernista, uma obra aberta. Sorrisos de Alice, cidades no Brasil
tentando decifrarem a si mesmas.
Luciana Magno e Solon Ribeiro
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Bacia de Guajará - chegada em Belém - Foto: Luciana Magno
Travessia Macapá-Belém - Foto: Luciana Magno
Cooperofloresta, Agrofloresta e alimentos orgânicos - Barra do Turvo/SP - Foto: Luciana Magno
Jaques, artesão em Ulianópolis/MA - Foto: Luciana Magno
Carro casa estúdio móvel - Frame making off
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BR 156 - 200 Km de pista sem pavimentação - Macapá-Oiapoque
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Origem: Curitiba/PR
Ação: Curitiba/PR e Vitória/ES
Pele e corpo - Marcos Martins
Independência: Quem Troca? tem como proposta a ocupação e o compartilhamento de performance
entre artistas e instituições de Curitiba/PR e Vitória/ES. O evento consiste em mostras de performances,
exposições, palestras, mesas de conversas, lançamento de publicações e múltiplos de artistas, oficinas de
criação e pesquisa, além de atividades pedagógicas com workshops direcionados ao público em geral.
Selecionamos artistas e trabalhos a partir do entendimento de que a performance é uma prática relacionada
com as artes visuais, mas que pode se estender para outros campos como o do teatro, música, dança
e literatura. Essa característica, por ser intrínseca à linguagem, faz dela portadora de uma qualidade
singular que é a de ser a linguagem do espaço e o lugar da relação, da troca e de um sentido especial
de independência.
Os artistas de Curitiba são Ricardo Nolasco, Luana Navarro, Fernanda Magalhães, Michele Moura, Mariana
Mello, Bel Nejur, Eliana Borges, Amabilis de Jesus, Fernando Ribeiro, Cleverson de Oliveira, Ricardo Corona,
Lauro Borges, Denise Bandeira, Rossana Guimarães, Clovis Cunha, Mai Fujimoto e Fabio Morais. Vindos de
Vitória para o Paraná, foram convidados Marcos Martins, Yiftah Peled e Carlos Eduardo Borges.
Para ida à Vitória, foram convidados Fernanda Magalhães, Eliana Borges, Julio Tigre, Ricardo Corona, Pedro
Meyer, Polliana Dalla, Vitor Cesar, Ricardo Maurício, Carla Borba, Eliane Prolik, Grupo Poro, Imaginário
Periférico, Junior Pimenta e Laércio Redondo. Os artistas locais são Marcos Martins, Carlos Eduardo
Borges e Yiftah Peled.
“Relação” é palavra-chave neste projeto e a proposta é acolher trabalhos que alarguem formatos e
conceitos, trabalhos que ao mesmo tempo reflitam a história da performance e se coloquem com potência
na contemporaneidade.
Eliane Borges, Ricardo Corona e Yiftah Peled
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Pele e corpo - Marcos Martins
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Caçando palavras no jardim Cmyky - Eliana Borges
Findocomeço - Lauro Borges
Preciso de você - Laércio Redondo
Fotos: Lídia Ueta
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is O Artista como Intelectual Público - Novas Fronteiras de Produção na Arte Contemporânea
Origem: São Paulo/SP
Ação: São Paulo/SPRi
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O Artista como consistiu em uma série de apresentações públicas realizadas durante três dias no espaço
Pivô - Arte e Pesquisa, em São Paulo. O objetivo principal foi promover debates e reflexões sobre
práticas artísticas contemporâneas que se desenvolvem através de experimentos teóricos, performáticos
e relacionais. Para tanto, reunimos uma diversidade de artistas que utilizam diferentes modalidades
discursivas e dialógicas – tais como palestra, aula, mesa redonda, vídeo-projeção comentada, visita
guiada, culinária coletiva e concerto – como formas de potencializar e expandir a atuação artística,
de modo a configurá-la como uma atividade intelectual de caráter público. Com isso, apresentamos ao
público certas instâncias em que a função do artista e de sua produção são rearticuladas e testadas.
É importante lembrar que o papel do artista na sociedade tem sido seguidamente reinventado como
uma figura intrinsecamente pública e discursiva. Nesse sentido, o projeto O Artista como contribuiu
para atualizar essa inquietação histórica, que é manifestada no desejo de conceber a arte ligada a uma
exterioridade. Isto é, ligada a um campo social expandido.
No atual momento de globalização acelerada (e também em crise), identificamos a necessidade de uma
reavaliação dupla no campo da arte contemporânea, que aponta para uma busca por novas maneiras de
se produzir e atuar culturalmente.O Artista como se concentrou na investigação da atualidade e potência
renovada do debate sobre a função do artista e de sua produção na sociedade. Não mais visto como
gênio criador, o artista contemporâneo incorpora funções de mediador, tradutor, articulador e ativador
de conhecimentos e espaços em áreas diversas, que permeiam e expandem o próprio campo da arte
contemporânea, entendido aqui como uma esfera cognitiva, interdisciplinar e dialógica.
A partir de uma prática combinada – em que os distintos trabalhos se somam e apontam para um
questionamento coletivo – o projeto criou um possível (e temporário) panorama acerca das reconfigurações
do papel do artista e das funções da arte atualmente, que se dá através de novos modos de enunciação
por parte do artista e que implicam no desenvolvimento de novas formas de produção, recepção e fruição
da arte. É nesse sentido que tais processos afetam tanto a historiografia da arte quanto a sua capacidade
de formação de público.
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Rafa RGFotos: Beto Shuafaty
Outro tema central de discussão promovido pelo projeto foi a questão das interações de artistas com os aparatos que
envolvem a mediação e produção artística como, por exemplo, as potências e limites comunicativos em diferentes
esferas do mundo da arte, da mídia, dos espaços públicos e do campo social. Deste modo, alcançamos o objetivo de
estabelecer uma relação imaginativa entre artista, arte e público. Uma relação que pode ser encarada como uma maneira
de constituir um espaço comunal, de caráter artístico e pedagógico.
Ao assumir o momento de apresentação pública como interface de fruição artística e atividade comunicativa, conseguimos
trazer à tona uma noção radicalmente diferente de ativação de espaço artístico (expositivo), de produção de arte e de
formação de público.
Para mais informações e documentação do projeto, acesse: www.artistacomo.info
Leandro Nerefuh e Beto Shwafaty
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ante Videoresidência Território Expandido
Origem: Porto Alegre/RS
Ação: Porto Alegre/RS
Inaugurado com o projeto Videoresidência Território Expandido, o programa foi idealizado com o objetivo
de promover a inter-relação entre artistas de diferentes regiões do Brasil, oferecer intercâmbio de
conhecimento e troca de experiências, bem como favorecer processos de criação coletiva em videoarte.
Durante 45 dias, artistas–residentes dos estados de Alagoas, Minas Gerais e Rio de Janeiro conviveram,
compartilharam e elaboraram suas obras em vídeo com artistas gaúchos, membros do Núcleo de Vídeo RS
(projeto também da Galeria Mamute).
As duplas Walter Karwatzki (RS) e Alice Jardim (AL), Andreia Vigo (RS) e Adriana Tabalipa (RJ), Nelton
Pellenz (RS) e Joacélio Batista (MG) reuniram-se para criar uma nova obra de videoarte coletiva. Foram
produzidos vídeos de Alice e Walter, Andreia e Adriana e Nelton e Joacélio.
Entre janeiro e julho, Videoresidência Território Expandido contemplou diferentes ações com a participação
das duplas de videoresidentes e seus convidados: o artista visual e cineasta, Roderick Steel (SP) e os
músicos Marcelo Armani e Giancarlo Lorenci (RS). Foram realizadas as exposições: Giro, com curadoria
de Andre Parente; Paisagens Inventadas, com curadoria de Niura Borges e a Mostra VB na TV – 30 anos
Videobrasil, com curadoria de Solange Farkas. Também aconteceram as palestras: Transversalidades da
Imagem em Movimento, com o pesquisador, artista e professor da FAAP Lucas Bambozzi; Giro, com o
pesquisador e artista Andre Parente; Em Relação ao Outro – O Vídeo como Inscrição no Mundo, com
o professor da UFPA Orlando Maneschy; e 30 Anos de Videobrasil – A Trajetória do Vídeo no Contexto
das Artes, com a curadora e diretora da Associação Cultural Videobrasil Solange Farkas. Além disso, foi
realizado a mesa-redonda Videoresidência Território Expandido, com os artistas residentes do Núcleo de
Vídeo do Rio Grande do Sul: Andreia Vigo, Nelton Pellenz e Walter Karwatzki, seguida do lançamento do
catálogo bilíngue em inglês e espanhol, apresentando texto crítico de Maria Amelia Bulhões e DVD com
os vídeos resultantes do projeto.
Niura Borges
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Exposição GIRO - Curadoria: André Parente - Foto: divulgação Galeria Mamute
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Roderick Steel, Andreia Vigo e Adriana Tabalipa - Foto: divulgação
Joacélio Batista e Nelton Pellenz - Foto: Dirnei Prates
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Exposição Paisagens Inventadas - Foto: Galeria Mamute
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rano Encontros Carbônicos
Origem: Rio de Janeiro/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ
O projeto Encontros Carbônicos é um evento de artes visuais que compreende uma exposição coletiva
de artistas contemporâneos brasileiros e uma série de conversas públicas entre artistas e cientistas.
Uma iniciativa da Revista Carbono (www.revistacarbono.com), publicação dedicada ao diálogo entre arte
e ciência, os encontros buscam uma nova forma de debater questões contemporâneas, deslocando o
debate conceitual do meio acadêmico para o mundo e visando uma troca efetiva de ideias que materialize
relações mais horizontais e abertas à diferença.
Os encontros acontecem dentro de uma galeria, de maneira que as discussões propostas não se limitem às
exposições orais, mas perpassem também a materialidade das obras expostas, promovendo, num mesmo
espaço, o diálogo entre autores, obras e público. Toda programação é gratuita e aberta ao público. As
conversas públicas com artistas e cientistas são transmitidas ao vivo em streaming de vídeo através do
site do evento (www.encontroscarbonicos.com) e depois são disponibilizadas na íntegra no Youtube. O site
traz ainda a programação completa, o catálogo online das obras expostas e fotografias que documentam
a realização do evento.
Participaram da exposição da primeira edição do evento os artistas Otavio Schipper, Mayra Martins Redin,
Lilian Zaremba, Fábia Schnoor, Grupo Personne, Danilo Carvalho, Leila Danziger, Maria Mazzillo e Raquel
Versieux. As conversas públicas reuniram, ao longo de três dias, o cosmólogo do Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas e curador-chefe do Museu do Amanhã, Luiz Alberto Oliveira, o matemático e diretor
do programa de pós-graduação em História da Ciência, das Técnicas e Epistemologia, Ricardo Kubrusly,
o artista visual Tunga, a filósofa da ciência Virginia Chaitin, o matemático norte-americano Gregory
Chaitin, o artista e professor do Instituto de Artes da UERJ Ricardo Basbaum, o coreógrafo Alejandro
Ahmed, o neurocientista da UFRN John Araújo e a psicanalista e professora da UFF Tania Rivera.
O encerramento do evento foi marcado pelo concerto multimídia do grupo Personne, composto pelos
músicos Alexandre Fenerich, Lílian Campesato, Fernando Iazzetta e Rodolfo Caesar. Na ocasião, ainda
foram lançadas a sexta edição da revista Carbono e o livro História de Observatório, da artista Mayra
Martins Redin.
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nA curadoria do evento é de Marina Fraga – editora da revista Carbono, artista visual e doutoranda em Arte e Cultura
Contemporânea pela UERJ – e Pedro Urano – cineasta e mestrando em História da Ciência e Epistemologia pela UFRJ.
O evento resultou num sucesso de público e crítica, com a galeria do Largo das Artes lotada em todos os dias de
conversas públicas.
Pedro Urano
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a Hiper_ Espaços Xumucuís
Origem: Belém/PA
Ação: Belém/PA e João Pessoa/PB
O projeto de oficinas, vivências e exposição Hiper_Espaços Xumucuís foi idealizado para gerar intercâmbio
entre duas regiões do Brasil, Norte e Nordeste, que tradicionalmente recebem os projetos das regiões Sul
e Sudeste em itinerância. O blog Xumucuís, sussurro dos rios em tupi, encontrou no estado da Paraíba,
na cidade de João Pessoa, o locus ideal para discutir e gerar processos artísticos interligando arte e vida.
A fase um do projeto, denominada Guamá e Jaguaribe, rios importantes e problemáticos das cidades de
Belém e João Pessoa, respectivamente, que seriam o ponto de partida das expedições, uma temática
ambiental que motivaria as discussões e os processos artísticos.
Uma questão me chamou a atenção na pesquisa inicial: o assoreamento e ocupação desordenada das
margens do Jaguaribe, um rio sufocado pela urbe. Já rio Guamá, em Belém, em outra dimensão geográfica,
social e poética, banha a periferia da cidade e dá nome ao seu bairro mais populoso e caótico. A ocupação
de portos comerciais em suas margens, no perímetro urbano de Belém, impediu que a população tivesse
acesso direto a suas águas. Um rio atrás de muros.
A água é o fluído dessa conexão artística entre duas realidades. Ela que desrespeita fronteiras com
uma força natural irresistível, um caminho de descaminhos. Rios não afluentes ligados por um espaço
virtual, um hiper_espaço, onde artistas se encontram para juntar experiências artísticas, experimentar
processos e compartilhar métodos em duas etapas de expedições, vivências e criação artística coletiva,
que resultariam em exposições dos processos em João Pessoa/PB e Belém/PA. Esta foi a primeira fase
de um projeto de interseções artísticas tendo o rio, real ou imaginário, como ponto de confluências de
discursos artísticos.
Partimos para João Pessoa 3 de maio de 2014, com os artistas paraenses João Cirilo, Fábio Graf, Jeyson
Martins e Rodrigo Sabbá, que ministraram as oficinas pintura+intervenção, grafite+pixo, pinhole+estêncil e
livecinema+mapping, respectivamente, entre os dias 8 e 10 de maio. Artistas e interessados participaram
das oficinas que ocorreram no Espaço Cultural Energisa.
Nos dias 11, 12 e 13 de maio montamos de forma colaborativa e dialógica a exposição Sussurro dos Rios
[Guamá-Jaguaribe] no espaço expositivo da Estação Ciência, integrante da Estação Cabo Branco, um
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dos principais pontos turísticos e culturais da cidade de João Pessoa, com média de visitação de 300 pessoas por dia.
Da exposição em João Pessoa destacamos as obras Tártaros, uma instalação de Edilson Parra, e Porto Capim, fotografia
equirretangular de Thercles Silva. A qualidade das obras motivou a seleção desses artistas para vivência na segunda
etapa do projeto, em Belém.
Em Belém, os artistas Edilson Parra e Thercles Silva se juntaram aos artistas Cledyr Pinheiro, Diogo Vianna, Jeyson Martins,
Veronique Isabelle, Luis Júnior e aos curadores Ramiro Quaresma e Dyógenes Chaves para a vivência e atelier aberto que
aconteceu entre os dias 14 e 27 de junho de 2014, no Fórum Landi, espaço histórico da cidade à beira rio. Expedições aos
portos pelas ruas de Belém, pelas palafitas e pelo rio Guamá, numa integração dos artistas entre si e com o meio, trocando
experiências e processos que desencadearam a segunda exposição do projeto, Sussurro dos Rios – Parte II, com abertura
no dia 23 de junho e visitação até o dia 6 de julho de 2014.
Esse processo de atelier aberto de criação e experimentação, em uma curadoria e expografia participativas, foi o grande
resultado deste projeto, que transcende a prática artística e estabelece um diálogo com as cidades e o meio ambiente.
Uma cartografia de vivências que sobrepôs camadas de tinta, imagens, objetivos, spray, projeção e, principalmente,
ideias, que têm na exposição a celebração de encontros entre arte e vida. Uma nova rede de artistas foi formada, novos
afluentes de um rio-arte que corre inexorável sem respeitar limites, muito bem representada na obra Devir, de Edilson
Parra com colaboração de Veronique Isabelle. Nela, uma corda, que é a junção de várias sobras de cordas vem do rio (e
é o próprio rio em sentido), se ancora no espaço, impregnada de lama, ferrugem, peixe e homem, desterritorializando
o sistema da arte contemporânea.
Ramiro Quaresma da Silva
Idealização de curadoria: Ramiro QuaresmaCoordenação geral: Deyse MarinhoCuradoria (PB): Dyógenes ChavesAssistente de produção (PB): Maurise QuaresmaArtistas participantes: Antonio Filho, Arthus Richart, Cledyr Pinheiro, Chico Dantas, Diogo Vianna, Edilson Parra, Fábio Graff, João Cirilo, Jeyson Martins, Luís Júnior, Maurise Quaresma, Potira Maia, Priscila Lima, Rodrigo Sabbá, Shirley Tanure, Thercles Silva, Ton de Souza, Thiago Lima, Veronique Isabelle e Vanessa GuimarãesLocais de realização: Paraíba – Espaço Cultural Energisa, Espaço Mundo e Estação Ciência/Cabo Branco; Belém – Fórum Landi
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Jaguaribe - Jeyson Martins
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Origem: São Paulo/SP
Ação: São José do Barreiro e São Paulo/SPM
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Rural.scapes – Laboratório em Residência é um programa de residência rural em São José do Barreiro,
no Vale do Paraíba, que tem como foco a pesquisa, articulação, reflexão, práticas transdisciplinares
artísticas e produção crítica em ambiente rural.
O projeto é uma plataforma aberta a pensadores e criadores brasileiros de diferentes regiões e estrangeiros
que se relacionam localmente para a construção de um intercâmbio transdisciplinar e multicultural, inter-
regional e internacional. Juntos compõem a rede do projeto, que trabalha como interface entre redes
regionais, estaduais, nacionais e internacionais na revalorização do mundo rural através da revisão de
nossas noções de identidade individual e coletiva em relação ao território.
Na primeira edição recebemos 139 inscrições válidas, de 17 países e 32 cidades brasileiras. Foram
selecionados 12 artistas através de um júri internacional de seleção formado por: Leandro Pisano, criador
e curador do Interferenze New Arts Festival, realizado na região da Irpinia, sul da Itália; Laurita Salles,
coordenadora e curadora do projeto 10 Dimensões e professora da UFRN/DEART; e Nancy Betts, professora
de História da Arte na FAAP e criadora do Festival de Arte de Passa Quatro. Os artistas selecionados foram
hospedados na Fazenda Santa Teresa, durante 15 dias, para desenvolverem seus projetos. Esse processo
aconteceu entre os dias 8 de maio e 10 de junho de 2014. Foram realizados 13 workshops, 4 mesas
redondas, 3 exposições, 4 performances e finalizadas pelo menos 16 obras. O resultado está no site do
projeto www.ruralscapes.net.
Duas exposições locais foram organizadas como fechamento dos períodos de residência. Funcionaram
em formato aberto, como fazenda aberta/open-farm, para as quais as comunidades das cidades próximas
foram convidadas a visitar Santa Teresa e conhecer as propostas dos artistas em um ambiente não formal,
próximo, porém completamente deslocado de seus cotidianos. A terceira exposição foi realizada no Paço
das Artes, em São Paulo, exibindo uma seleção de obras produzidas em ambos períodos da residência,
além dos textos de Ananda Carvalho e Mario Gioia, críticos em residência da primeira edição do projeto.
Para o Paço das Artes, foram selecionadas obras como as Constelações I e II, de Anja Ganster; bambu
de Marcelo Armani; Objetos Têxteis, de Alexandre Heberte; fotografias de Themba Mbuyisa; desenhos de
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Johan Suneson; a obra sonora Brejaúva, de Enrico Ascoli; a instalação de Patrício Dalgo ESTO NO ES UN BING BANG, que
foram expostas como propostas nas exposições na Fazenda. Outras obras, como Espaço Ater(ado)_V1 e de duVa, À Capela
de Armani não eram transponíveis, tais como aconteceram em ambiente rural. Como trazer situações site-specific rurais
para dentro de um museu urbano?
Foram expostas reconstruções, outras elaborações, maturações destas obras. Marit Lindberg e Ana Laura Cantera tiveram
suas obras exibidas como documentação. No caso de Lindberg, uma videodocumentação da performance realizada em São
José do Barreiro, que envolveu a apresentação de 25 pessoas nas janelas e portas do casario colonial da cidade. Já da
obra de Cantera, foi exposta uma fotodocumentação da instalação site-specific, objetos residuais, como tijolos e células
microbianas, e o caderno de artista, apontando ainda a questão processual da obra.
Processos de deslocamento, recorte, apropriação, ressignificação, mímese, transcrição, imersão e intervenção permearam
o fazer dos artistas mergulhados em um ambiente rural, estranho, exótico, suspenso. O corpo a corpo dos artistas com o
lugar gerou processos de elaboração, intervenções pontuais, relações impermanentes. A experiência superou o discurso,
restaram as obras. Objetos residuais do processo.
Rural.scapes – Laboratório em Residência contou com o apoio da Prefeitura Municipal de São José do Barreiro, Paço das
Artes São Paulo, MIS - Museu da Imagem e do Som de São Paulo, Pontos MIS em São José do Barreiro, SISEM - Sistema
Estadual de Museus de São Paulo e Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo
Rachel Rosalen e Rafael Marchetti
www.ruralscapes.netwww.rosalenmarchetti.wordpress.cominfo@ruralscapes.net
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Constelação 2 - Anja Ganster - Foto: Rosalen Marchetti
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tearNOISE - Alexandra Hebert e Marcelo Armani - Foto: Andrea Pasquini
Enrico Ascoli - Foto: Rosalen Marchetti
Johan Suneson - Foto: Marit Lindberg
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Ana Laura Cantera - Foto: Rosalen Marchetti
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ri O Sentido do Público na Arte
Origem: Niterói/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ, Niterói/RJ, Porto Alegre/RS e Juazeiro do Norte/CE
O projeto O Sentido do Público na Arte, coordenado pelo Instituto MESA, assumiu como proposição
a importância de refletir sobre a complexidade estética e ética envolvendo as interações públicas da
produção artística contemporânea com a sociedade, considerando as singularidades regionais brasileiras.
Partindo dessa premissa, criamos um fórum itinerante reunindo múltiplas perspectivas presentes no
horizonte das práticas culturais nacionais em três regiões distintas: Rio de Janeiro/RJ; Porto Alegre/RS;
e Juazeiro do Norte/CE. A iniciativa foi planejada em colaboração com instituições e artistas, curadores
e educadores locais: Casa Daros, Rio de Janeiro; Coletivo E e curadora/educadora Mônica Hoff, Porto
Alegre; Centro Cultural Cariri do Banco do Nordeste, Juazeiro do Norte/CE; junto com a gerente do Centro
Cultural do Banco do Nordeste de Fortaleza, Jacqueline Medeiros, o artista José Rufino, o pesquisador
e diretor do Instituto das Artes da Universidade Federal Fluminense, Leonardo Guelman, e o curador e
diretor de Scottish Sculpture Workshop, Nuno Sacramento. No final, um seminário nacional em parceira
com o Museu de Arte Contemporânea de Niterói foi organizado para reunir as perspectivas regionais.
Os encontros regionais e o seminário foram pensados a partir dos seguintes sub-temas:
1) Contexto e lugar: os parâmetros ético-estéticos das atuações artísticas, pedagógicas, sociais e
curatoriais são inspirados e revistos segundo suas relações e aprofundamentos com o contexto social,
histórico e geográfico local.
2) Presença e tempo: as diversas práticas contemporâneas convergem com diferentes temporalidades,
subjetivações, presenças e vínculos na tentativa de buscar novos parâmetros qualitativos éticos,
pedagógicos, institucionais e formas de cidadania.
3) Fazeres e saberes: A valorização da imaterialidade enquanto processo envolvendo diferentes fazeres
e saberes está presente tanto na arte quanto nas visões ampliadas da cultura popular e da sociedade
contemporânea, criando lugares de encontro entre práticas diversas e de “conceitualismo” artesanal.
O primeiro encontro da série, intitulado Caranguejos e Borboletas foi realizado em colaboração com a Casa
Daros, em 2013. Antigas moedas romanas tinham uma imagem enigmática de um caranguejo segurando
as asas de uma borboleta, interpretada como moral de festina lente, ou avanço cuidadoso. Esta imagem
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foi tomada para refletir sobre os desafios e dicotomias contemporâneas entre arte e público, arte e mercado, cidade e
instituição. Mais de 30 artistas, críticos, educadores e pesquisadores participaram deste debate. O encontro foi filmado
e editado, resultando em uma breve compilação das discussões e citações dos participantes.
Ainda em 2013, o segundo encontro aconteceu em Porto Alegre/RS, em colaboração com Monica Hoff e Coletivo E,
na ocasião da 9ª Bienal do Mercosul, onde coletamos diversos depoimentos dos artistas, educadores, pesquisadores e
curadores envolvidos na 9ª Bienal e suas reflexões sobre os sentidos do Sentido do Público na Arte. Diana Kolker Carneiro
da Cunha e Rafael Silveira [Rafa Éis], educadores e artistas integrantes do Coletivo E, conceberam e editaram o vídeo
destes depoimentos com montagem e edição de Leandro Almeida.
O terceiro encontro Fazeres e saberes múltiplos foi realizado no Cariri, sertão do Ceará, organizando visitas locais em
ateliês e diversos contextos culturais e um encontro no Centro Cultural Cariri do Banco de Nordeste em Juazeiro do Norte/
CE, que reuniu artistas, artesãos, músicos, poetas de cordel, pesquisadores, mestres de reisado e alunos universitários
para conversar sobre as interfaces entre arte e sociedade, o contexto regional, o imaginário e artesania popular e a
emergência de novas práticas artísticas. As visitas e o encontro foram filmados e editados em um documentário artístico
feito pelo videomaker Daniel Leão.
O seminário nacional no MAC de Niterói reuniu reflexões dos três encontros regionais. Além dos colaboradores
institucionais e regionais, participaram as pesquisadoras Sabrina Marques Parracho Sant’anna e Tania Rivera, o crítico/
curador Frederico Morais que falou pela primeira vez sobre a Bienal Inaugural do Mercosul em 1997, a artista Katie Van
Scherpenberg, que fez uma intervenção na praia da Boa Viagem, e o Coletivo No Passaran, que mostrou seu filme É tudo
mentira, no pátio do museu.
O evento foi transmitido online, em www.facebook.com/macdeniteroi.oficial. Os registros em fotografia, os três vídeos dos
encontros regionais e ensaios críticos serão publicados na 3ª edição da Revista MESA, institutomesa.org/RevistaMesa,
publicação digital semestral do Instituto MESA, premiada pelo edital Procultura Funarte em 2010 a ser lançada no fim
de 2014.
Agradecemos imensamente a nossos colaboradores e a todos os participantes de cada encontro. Esperamos dar
continuidade às conversas sobre os desafios invocados no sentido do público na arte, não somente na atuação política,
mas na arte em sua condição de síntese e mediação entre o simbólico e a transformação social.
Sabrina Bueno Curi
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Encontro na casa do músico Francisco Freittas - Cariri
Gravura em processo do artista José Lorenço
Casa Daros
Casa Daros
Centro Cultural Banco do Nordeste - Cariri
A morada e o sagradoCentro Cultural Banco do Nordeste - Cariri
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Katie Van Scherpenberg - performance - MAC
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s Bases Temporárias para Instituições Experimentais
Origem: Curitiba/PR
Ação: Curitiba/PR
Atuando como contraponto frente aos grandes e seculares centros culturais, os espaços de curto tempo
de vida experimentam novos formatos e põem à prova o lugar do sujeito no espaço institucional. São
as chamadas instituições temporárias, que trazem à tona importantes discussões acerca do espaço
institucional artístico.
O projeto Bases Temporárias para Instituições Experimentais teve como ponto de partida a instauração de
uma instituição artística temporária, tendo as relações humanas como norteadoras de seu processo de
construção. Público e proponente participaram juntos na construção do acervo simbólico e documental,
tornando esses encontros a base produtiva da instituição.
Oficinas, vivências, conversas, cursos, biblioteca e grupo de estudos fizeram parte da programação, que
aconteceu com a participação ativa do público. Ao mesmo tempo, essas ações não eram meros recursos
didáticos ou complementares, mas sim eixos construtores de um projeto institucional para outros futuros
projetos.
Marcos Frankowicz
Colaboradores do projeto:Aline Moraes; Ana Johann; Bruno Oliveira; Cayo Honorato; Danilo Duarte; Edinelson Lopes; Elaine de Azevedo; Felipe Prando; Fran Ferreira; Guilheme Jaccon; Heitor Humberto; Jorge Menna Barreto; Keila Kern; Lidia Sanae Ueta; Marcos Frankowicz; Margit Leisner; Milla Jung; Monica Nador; Pierre Lapalu Raquel Garbelotti; Rosemari Ferreira.
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Ação 1 para 1 - Fotos: Lidia Ueta
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Oficina com Jorge Menna Barreto - Barra do Turvo/SP
Oficina com Pierre Lapalu
Abertura Bases Temporárias para Instituções Experimentais
Oficina com Monica Nador e Bruno Oliveira
Conversa com Milla Jung
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Grupo de estudo com Keila Ueta
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ção Diagnóstico para Indie.GESTÃO – Residência de Espaços Autônomos
Origem: Belo Horizonte/MG
Ação: Brasília/DF, Belém/PA, Campinas/SP, Londrina/PR, Nova Lima/MG, Recife/PE e
Rio de Janeiro/RJ
O projeto teve como propósito mapear e compartilhar práticas de gestão de centros artísticos que não estão vinculados às grandes instituições e que atuam de forma autônoma em diferentes contextos brasileiros. Envolveu a realização de atividades de intercâmbio, troca de experiências e produção de conhecimento que foram conduzidas de forma orgânica e colaborativa junto às iniciativas participantes, respeitando os modos de fazer característicos dos circuitos independentes.
Estiveram à frente da coordenação do Indie.GESTÃO dois espaços que possuem experiências consolidadas na manutenção de uma estrutura física e de uma programação regular em localidades à margem de grandes circuitos. São eles: o JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia, aberto em 2010, em Nova Lima/MG, e o Ateliê Aberto, em Campinas/SP, com 17 anos de funcionamento.
A Axperiência Cotidiana na Gestão dos Espaços
São espaços que surgem da vontade e da obstinação de seus fundadores, em geral artistas, que têm o desejo de organizar um espaço comum de trabalho para projetos artísticos e de convívio com públicos diversos. Costumam ter pouco conhecimento prévio como gestores do que implica ter uma estrutura física que recebe e oferece atividades diversas. No dia a dia, problemas e soluções são descobertos na prática. Por outro lado, isto também confere aos espaços maior espontaneidade na tomada de decisões, acolhendo demandas que são trazidas por quem se apropria desses lugares. Os espaços autônomos cumprem hoje uma função política para o campo das artes visuais, pois oferecem uma programação dinâmica e abrigam artistas e projetos que ainda não são assimilados pelas instituições culturais maiores.
O Indie.GESTÃO partiu da premissa de que é da prática e da experiência cotidiana que as ações relacionadas à gestão desses espaços são problematizadas. Os espaços possuem arranjos tão diversos entre si que torna difícil estabelecer uma identidade comum, o que os une são as invenções de táticas de sobrevivência e de atuação em mundo organizado em estruturas pouco abertas à inovação ou àquilo que escapa ao padrão. Por esta razão, o projeto não partiu da busca por modelos prontos, mas sim de uma escuta atenta e de um fazer coletivo baseado nas trocas de experiências.
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A Cozinha e a Mesa
A hora das refeições, de cozinhar junto, de trocar receitas, de colocar uma pitada na discussão, de buscar novos temperos entre a especificidade de cada um, de sentar à mesa. O ato de cozinhar implica em negociações, aproximações e trocas afetivas. A cozinha remete tanto aos bastidores, àquilo que vem antes ou que está por detrás do que os espaços oferecem aos seus públicos, quanto ao modo como esses lugares são apropriados por quem cuida deles. O estar em torno da mesa é algo que acontece ali naturalmente.
Momento 1: Visitas de Diagnóstico aos Espaços Selecionados
Por meio de uma convocatória aberta, restrita a iniciativas que possuem uma estrutura física, foram sele-cionados cinco espaços, um por região do país. A composição do grupo levou em consideração a atuação colaborativa entre os fundadores dos espaços, as diferenças entre os contextos de atuação, a consistência e a regularidade das atividades que realizam em suas respectivas sedes. Os espaços residentes foram estes: Ateliê do Porto, Belém/PA; Barracão Maravilha, Rio de Janeiro/RJ; Elefante Centro Cultural, Brasília/DF; Espaço Fonte, Recife/PE; Grafatório, Londrina/PR.
Em um primeiro momento, os espaços selecionados receberam a visita dos organizadores do projeto que ali realizaram entrevistas e dinâmicas coletivas entre o grupo de gestores. Nos diagnósticos, procurou-se identificar a relação entre a história de vida dos fundadores, as intenções de existência do espaço e os elementos do contexto local de atuação. Em cada uma das visitas, foi realizada uma conversa aberta sobre a gestão e o papel de espaços autônomos para produtores e artistas locais.
Momento 2: Experiência de Imersão e Convivência
No final de maio, ao longo de oito dias, os organizadores do projeto e os representantes dos espaços selecionados foram recebidos no JA.CA, onde debateram intensamente temas relacionados à gestão de seus espaços, organizaram jantares coletivos e receberam a visita de convidados locais e de gestores e pesquisadores de outros contextos. A vivência propiciada pela imersão foi fundamental para amadurecer as questões observadas no diagnóstico e para legitimar as experiências de cada iniciativa.
A imersão também deu início ao desenvolvimento da publicação, principal resultado do projeto, que reúne a sistematização das conversas estabelecidas nos encontros e imagens que foram criadas coletivamente durante as dinâmicas propostas pela residência. Organizada em formato de revistas, a publicação foi pensada para ser lida e atualizada pelo dia a dia de quem está à frente de iniciativas semelhantes e apresenta uma leitura mais ampla sobre o que são os espaços autônomos hoje no Brasil.
Tria Criação e Produção
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Feijão Maravilha - Barracão Maravilha - Foto: Samantha MoreiraTriangulação Atelier Aberto - Foto: Francisca Caporali
Diagnostico Linha Vida - Atelier Do Porto - Foto: Samantha MoreiraAlmoço Diagnostico - Espaço Fonte - Foto: Samantha Moreira
Residência - Ultimo dia JA.CA. - Foto: Thelmo Cristovam Diagnostico Linha Vida - Barraco - Foto: Samantha Moreira
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Feijão Maravilha - Barracão Maravilha - Foto: Samantha Moreira
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Origem: São Paulo/SP
Ação: Rio de Janeiro/RJ, Santarém/PA, Recife/PE, Natal/RN, Curitiba/PR e São Paulo/SPRi
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2014
Para pensar algo sobre Brasil e Portugal no século XXI, é preciso não temer o clichê e deslizar em todas
as superfícies. É preciso analisar o pó debaixo dos tapetes, não ter medo de misturar o universo da
ciência e da magia, fazer chocar o esotérico e o estético, mergulhar no ridículo, fazer uma história de
arte politicamente incorreta, devolver ao centro da festa os desqualificados, os terríveis, os inaptos, os
místicos, e as narrativas perdidas dentro das narrativas institucionais. É preciso pensar, descolonizar o
pensamento e praticar a transmigração das ideias.
Museu Encantador é um projeto sobre “encantamento” e memória entre Brasil e Portugal, uma coleção
temporária de encantos permanentes de ambos os países. Mas como relacionar a cultura brasileira e
portuguesa através do encantamento? O que seria um “museu do encantamento”?
Museu Encantador foi iniciado por Rita Natálio, portuguesa que vive em São Paulo desde 2012, a partir
do seu mestrado no Núcleo de Subjetividade da PUC-SP sobre imitação, invenção e redes. O desafio seria
pensar a construção de um museu como uma performance. Uma coleção onde o corpo se oferece como
guia de encantos, junção de hipnose e futebol, fado e levitação, encontros improváveis entre figuras da
cultura portuguesa e brasileira. O museu do tamanho do corpo, o museu da cultura que o corpo carrega,
uma performance indissociada de uma instalação.
Para isso, convidou a diretora carioca Joana Levi, EduardoVerderame para o desenho do espaço expositivo,
Teresa Silva como performer e Marta Mestre para assistência curatorial e junto com a equipe delinearam
um processo de criação em rede.
Numa primeira fase, desafiamos 15 artistas e pesquisadores a realizar uma doação, de forma a fazer
dialogar suas visões em torno do encantamento cultural e da história de arte com o nosso processo de
criação e criar um espaço conjunto de “fantasmas falantes” da cultura.
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São nossos “doadores de encantos”:
Brasil: Andre Lepecki, pesquisador em estudos de performance e curador; Júlia de Carvalho Hansen, poeta; Gustavo
Ciriaco, artista contextual e performer; Helena Katz, pesquisadora e crítica de dança, professora da PUC-SP; João Penoni,
artista visual; Laura Erber, artista visual e escritora, professora da UNIRIO; Letícia Novaes, cantora e compositora, banda
Letuce; Marcela Levi, coreógrafa e performer; Paulo Bruscky, artista visual; Peter PálPelbart, filósofo e professor da PUC-
SP; Suely Rolnik, psicanalista e professora da PUC-SP.
Portugal: André Teodósio, diretor de teatro, dramaturgo e ator; Ana Gandum, fotógrafa; Ana Borralho e João Galante,
artistas na área da performance e instalação; Gonçalo Tocha, diretor de cinema; Miguel Pereira, coreógrafo e performer;
Rita Brás, diretora de cinema.
Numa segunda fase, realizamos um conjunto de atividades em rede que passou pelas cidades de Santarém (Espaço
Bicho), Recife (Espaço Fonte), Natal (Tecesol), Curitiba (Mostra p.Arte) e São Paulo (Casa do Povo e Casa da Tomada).
Nesses diferentes espaços realizamos oficinas, coleta de imagens e sons, conversas públicas e mostras do trabalho em
processo. Foi assim que conhecemos Seu Osmarino e Dona Luzia, em Alter do Chão. De origem Borari, eles nos contaram
as lendas de encantamento da floresta no Pará, lendas de botos, curupiras e cobra grande que convivem com a religião
católica trazida pelos portugueses.
Por fim, criamos uma instalação multimídia construída por Eduardo Verderame, que reúne as doações e as recolhas
nas várias cidades, junto com uma performance criada especialmente como dramaturgia viva da exposição, dirigida
por Natálio e Levi. O resultado final de toda esta pesquisa e intercâmbio entre artistas é uma instalação-performance
chamada Museu Encantador, na qual ciência e magia tentam coabitar. Uma coleção em língua portuguesa, máquina de
correspondências entre dois países pela qual se trocam livros, pensamentos, desenhos, quadros, sons, danças, artistas,
filósofos.
Museu Encantador foi apresentado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro entre 27 de setembro a 4 de outubro
de 2014.
Rita Natálio
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Pesquisa de rituais com Joana Levi e Rita Natalio - São Paulo - Foto: Leonardo VenturaPesquisa para exposição final - Rita Natalio
Processo em rede - encontro com a família de Seu Osmarino - Alter do Chão - Foto: Kandye Medina
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Museu EncantadorExperimento Corpo e Luz Residência Alter do ChãoFoto: Joana Levi
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Anamaue Artes Visuais – Longitudes: A Formação do Artista Contemporâneo no Brasil
Origem: São Paulo/SP
Ação: São Paulo/SP
Antonio Martins de Araujo Neto – A. C. Produções – Artistas Educadores: Um Encontro
Origem: Recife/PE
Ação: Recife/PE
Arco Projetos em Arte – Máquina Orquestra
Origem: Florianópolis/SC
Ação: Belo Horizonte /MG, Florianópolis/SC e São Paulo/SP
Burburinho Cultural Produções Artísticas – Circuitos da Desdobra
Origem: Rio de Janeiro/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ
3 C - Centro de Criação Contemporânea – Binômios
Origem: Florianópolis/SC
Ação: Ribeirão Preto/SP
Cristina Ribas – Vocabulário Político para Processos Estéticos
Origem: Rio de Janeiro/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ
Fábio Tremonte – Quando o Percurso Torna-se Destino
Origem: São Paulo/SP
Ação: Grão-Mogol/MG; Urubici e Urussanga/SC; Petrolina/PE; Juazeiro/BA e Fortaleza/CE
Gastão da Cunha Frota – CiberÀtrações, CharreteNet BH e CarROBOis
Origem: Uberlândia/MG
Ação: Belo Horizonte/BH e Brasília/DF
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Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia Museu Escola Lina Bo Bardi – Edital de Formação de Curadores
Origem: Salvador/BA
Ação: Salvador/BA
Invisíveis Produções Cinematográficas e Literárias COPAS: 12 Cidades em Tensão – Intervenções Urbanas em Debate
Origem: São Paulo/SP
Ação: São Paulo/SP, Olinda/PE e Brasília/DF
Joesér Alvarez – Rotação de Culturas
Origem: Porto Velho/RO
Ação: Belém/PA, Curitiba/PR
Luciana Magno – Telefone Sem Fio: do Oiapoque ao Chuí
Origem: Belém/PA
Ação: Oiapoque, Calçoene, Ferreira Gomes e Macapá/AP; Mãe do Rio, Ulianópolis e Belém/PA;
Açailândia, Imperatriz e Montes Altos/MA; Araguaína, Guaraí, Paraíso do Tocantins e Alvorada/TO;
Porangatu, Pirenópolis e Barro Alto/GO; Brasília/DF; Araguari e Uberaba/MG; Ribeirão Preto, Registro,
Barra do Turvo e São Paulo/SP; Curitiba/PR; Arroio do Silva e Florianópolis/SC; Gravataí, Santa Vitoria
do Palmar, Pelotas, Chuí e Porto Alegre/RS
Medusa Ediora e Produtora – Independência: Quem Troca?
Origem: Curitiba/PR
Ação: Curitiba/PR e Vitória/ES
Metropóle Serviços Artísticos e Culturais O Artista como Intelectual Público – Novas Fronteiras de Produção na Arte Contemporânea
Origem: São Paulo/SP
Ação: São Paulo/SP
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Estúdio Galeria Mutante – Videoresidência Território Expandido
Origem: Porto Alegre/RS
Ação: Porto Alegre/RS
Pedro Urano – Encontros Carbônicos
Origem: Rio de Janeiro/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ)
Ramiro Quaresma da Silva – Hiper_Espaços Xumucuís
Origem: Belém/PA
Ação: Belém/PA e João Pessoa/PB
Rosalen Marchetti Produções – Rural.scapes – Laboratório em Residência
Origem: São Paulo/SP
Ação: São José do Barreiro e São Paulo/SP
Sabrina Bueno Curi – O Sentido do Público na Arte
Origem: Niterói/RJ
Ação: Rio de Janeiro/RJ, Niterói/RJ, Porto Alegre/RS e Juazeiro do Norte/CE
Simbólica Produções Culturais – Bases Temporárias para Instituições Experimentais
Origem: Curitiba/PR
Ação: Curitiba/PR
Tria Criação e Produção – Indie.GESTÃO - Residência de Espaços Autônomos
Origem: Belo Horizonte /MG
Ação: Brasília/DF, Belém/PA, Campinas/SP, Londrina/PR, Nova Lima/MG, Recife/PE e
Rio de Janeiro/RJ
XBA Serviços e Participações – Museu Encantador
Origem: São Paulo/SP
Ação: Rio de Janeiro/RJ, Santarém/PA, Recife/PE, Natal/RN, Curitiba/PR e São Paulo/SP
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Rural.Scapes - Laboratório em ResidênciaObra: Patrício DalgoFoto: Rosalen Marchetti
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Rede Nacional Funarte
Artes Visuais 2013 - 10ª edição
CoordenaçãoIzabel Costa
Comissão de SeleçãoArmando Queiroz, Cleide Barros,
Elisa de Magalhães, Mônica Hoff e Serafim Bertoloto
AdministraçãoMarco Antonio Figueiredo
Apoio AdministrativoJosé Rocha, Rodrigo Braga e
Rui Pitombo
AgradecimentosAna Paula Santos
Catálogo
EdiçãoIzabel Costa
Assistente de edição Ana Paula Siqueira
Design gráfico Eliane Moreira
Foto capaXico Chaves
RevisãoHelena Costa
Produção gráficaJu lio Fado
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)FUNARTE/Coordenação de Documentação e Informação
Rede Nacional Funarte de Artes Visuais (10. : 2013). Rede Nacional Funarte de Artes Visuais / Izabel Costa(Coord.). – Rio de Janeiro : FUNARTE, 2014. 116 p. ; 21cm . Catálogo do Programa. ISBN 978-85-7507-167-0
1. Artes – Brasil. 2. Artes – Brasil (Programas de incentivo). I. Costa, Izabel.
CDD 709.81