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São Paulo, 2008

Ano 1 - Volume 1, nº 1, julho/dezembro 2008

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Diretor Mário de Magalhães Papaterra Limongi

Assessores Fabrício Tosta de FreitasFelipe Eduardo Levit ZilbermanMarcelo Duarte DaneluzziTatiana Viggiani Bicudo

Coordenador Editorial Tatiana Viggiani Bicudo

Jornalista Responsável Rosangela Sanches (MTb 23.566)

Capa Luís Antônio Alves dos Santos

“Revista da ESMP”, co-edição ESMP/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, é semestral, com tiragem de 3 mil exemplares

José Serra

ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIOPÚBLICO DE SÃO PAULO

Governador

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Ano 1 - Volume 1, nº 1, julho/dezembro 2008

REVISTREVISTREVISTREVISTREVISTAAAAADDDDDA ESMPA ESMPA ESMPA ESMPA ESMP

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Ficha catalográfica elaborada pelaBiblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Revista Jurídica. São Paulo: Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, 2008

SemestralISBN: 85-7060-206-5 (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)

1. Direito - periódicos I. Escola Superior do Ministério Público de São Paulo

Escola Superior do MinistérioPúblico do Estado de São PauloR. Minas Gerais, 316 - Higienópolis01244-010 - São Paulo - SP - BrasilTel.: (11) 3017-7776/3017-7777Fax: (11) 3017-7754www.esmp.sp.gov.bre-mail: [email protected]

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Apresentação

Mário de Magalhães Papaterra Limongi

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INDICE

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INDICE

O Novo Procedimento no Júri.........................................

Antonio Scarance Fernandes

Comentários ao Procedimento do Júri com asalterações introduzidas pela Lei 11.689/08..................

Eloisa de Sousa Arruda

17

43

Questionário no Julgamento pelo Júri.........................

Eloisa de Sousa Arruda

César Dario Mariano da Silva

A Quesitação no Tribunal do Júri.................................

Fauzi Hassan Choukr

63

Reforma Processual Penal e Júri...................................

Jaques de Camargo Penteado

89

Reflexões Pontuais sobre o Devido Processo Legal eo Julgamento dos Crimes de Competência do Tribunaldo Júri.........................................................................

Herivelto de Almeida

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111

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INDICE

Apontamentos sobre a atuação do Promotor deJustiça no Tribunal do Júri em vista da ReformaProcessual Penal.......................................................

Maurício Antonio Ribeiro Lopes

O Tribunal do Júri na Reforma do Processo Penal...

Plínio Antônio Britto Gentil

O Protesto por Novo Júri e sua Manutenção para osCrimes Perpetrados Antes da Entrada em vigor daReforma do Júri..........................................................

Rogério Sanches Cunha

Ronaldo Batista Pinto

123

175

145

Alterações no Rito do Júri........................................

Walfredo Cunha Campos

181

Lei n 11.689, de 9 de junho de 2008........................... 191

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AAAAAPPPPPRRRRREEEEESSSSSEEEEENNNNNTTTTTAAAAAÇÇÇÇÇÃÃÃÃÃOOOOO

Diante das recentes modificações nalegislação processual penal, a Escola Superior doMinistério Público promoveu uma série de pales-tras por todo o Estado de São Paulo com o intuitode propiciar aos colegas uma reflexão sobre os prin-cipais temas.

Não foi difícil encontrar entre osmembros da instituição, aposentados e da ativa,promotores e procuradores de Justiça,processualistas de primeira linha, capazes de umaanálise prática e crítica da nova sistemática proces-sual penal.

O sucesso das palestras nos animoua pedir aos colegas artigos sobre as mudançashavidas. A colaboração foi imediata, propiciando aedição de dois volumes em artigos que esgotam oassunto.

Com os agradecimentos aos auto-res pela inestimável colaboração e a todos os queparticiparam das palestras promovidas em todo oEstado, desejamos a todos uma boa leitura.

Mário de Magalhães Papaterra Limongi

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JÚRI

LEI N. 11.689/08

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O NOO NOO NOO NOO NOVVVVVOOOOOPRPRPRPRPROCEDIMENTOCEDIMENTOCEDIMENTOCEDIMENTOCEDIMENTOOOOO

NO JÚRINO JÚRINO JÚRINO JÚRINO JÚRI

ANTONIO SCARANCE FERNANDESProfessor Titular de Processo Penal daFaculdade de Direito da USPProcurador de Justiça aposentadoCoordenador do ASF Cursos e EventosConsultor Jurídico em matéria criminal

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O NOVO PROCEDIMENTO DO JÚRIO NOVO PROCEDIMENTO DO JÚRIO NOVO PROCEDIMENTO DO JÚRIO NOVO PROCEDIMENTO DO JÚRIO NOVO PROCEDIMENTO DO JÚRI

Critérios e fasesCritérios e fasesCritérios e fasesCritérios e fasesCritérios e fases

O estudo do novo procedimento do júri formado pela Lei nº 11.689/2008 pode ser feito com base nos seguintes tópicos:

- os critérios norteadores do novo procedimento;- a fase do recebimento da denúncia até a pronúncia;- a fase de preparação do julgamento em plenário;- a fase de julgamento em plenário.

Critérios norteadores do novo procedimentoCritérios norteadores do novo procedimentoCritérios norteadores do novo procedimentoCritérios norteadores do novo procedimentoCritérios norteadores do novo procedimento

Alguns critérios nortearam o legislador no procedimento do júri,tendo parte deles orientado também as reformas nos procedimentos em geral e notratamento das provas.

Um importante paradigma do novo conjunto de reformas érepresentado pelo avanço na adoção do princípio acusatório, com aumento do poderdas partes. Como a Constituição Federal adotou, para o processo penal, o sistemaacusatório, dando ao Ministério Público a titularidade exclusiva da ação penal (art. 129,I) e outorgando ao acusado instrumentos para atuar em sua defesa, buscou-se com asreformas construir um processo com predomínio da atuação das partes na movimentaçãodo feito e na produção das provas, expurgando-se resquícios de poderes acusatórios dojuiz, mas mantendo-se o seu poder instrutório suplementar.

Assim, em caso de mudança no fato da imputação feita pelo órgãoacusatório, exige-se agora aditamento, não podendo o juiz, na pronúncia, incluiruma circunstância qualificadora não constante da denúncia, como alguns admitiam,ou, na sentença, condenar com base em circunstância ou elemento novo evidenciadodurante a instrução.

Por outro lado, apesar de inicialmente as partes inquirirem diretamenteas testemunhas, pode o juiz também indagá-las, bem como determinar a produção dequalquer prova para dirimir dúvida relevante.

Outro novo paradigma consiste na construção de procedimentos oraiscom concentração dos atos em uma audiência nos procedimentos ordinário e sumário eem antes da pronúncia no procedimento do júri. Deixam assim os procedimentos deprever a produção de alegações escritas pelas partes e a sucessão de audiências parainquirir as testemunhas de acusação e defesa.

Procurou-se dar celeridade aos procedimentos e obter maisrapidamente o encerramento dos processos. Para isso, especificamente em relaçãoao júri, foi simplificada a forma de elaboração dos quesitos e se suprimiu o protestopor novo júri.

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Principais mudançasPrincipais mudançasPrincipais mudançasPrincipais mudançasPrincipais mudanças

Com a Lei 11689/2008, construiu-se um novo rito de júri. Alguns dosnovos dispositivos reproduzem os anteriores do antigo procedimento ou expressam amesma idéia que eles exprimiam. Outros configuram novidades.

Alterou-se a idade mínima para alguém participar como jurado de 21(vinte e um) para 18 (dezoito) anos (art. 436. caput). A permissão a quem tem dezoitoanos para julgar os graves crimes de homicídio, embora movida pela idéia decompatibilização com a maioridade civil, não merece aplauso. Normalmente, são pre-vistas idades maiores, pois a pessoa com dezoito anos ainda não tem suficiente amadu-recimento para efetuar julgamentos com sérias repercussões nas vidas das pessoas acu-sadas, principalmente porque, muitas vezes, não passaram a exercer atividades de maiorresponsabilidade. Basta ver que são exigidos três anos de exercício funcional após oencerramento dos estudos universitários para alguém ser juiz de direito. Todavia, per-mite-se a alguém, com dezoito anos, decidir sobre graves crimes.

Prevê-se na fase do iudicium accusatione, a ser encerrada em 90dias (art. 412), resposta do acusado (arts. 406, § 3º, 407, 408, 409) e instrução medi-ante audiência única, na qual serão feitas alegações orais e será proferida a decisão depronúncia (art. 411).

A previsão de resposta é tentativa de reparação de erro ocorrido em1941 quando entrou em vigor o Código de Processo Penal. À época discutiu-se sobre aadoção de uma defesa antes de o juiz admitir a acusação. Prevaleceu, na ocasião, entrenós, de maneira contrária ao que sucedeu nos países da Europa continental, a possibili-dade de o juiz acolher a acusação antes de o acusado a ela responder.

A defesa preliminar foi prevista no Código para os processos so-bre crimes de responsabilidade de funcionários públicos e, depois, em outras leis,como, mais recentemente, aconteceu com a Lei dos Juizados Especiais Criminais ea Lei de Drogas.

Todavia, durante a tramitação do projeto, previu-se recebimento dadenúncia ou queixa antes da resposta, o que gera dificuldade de interpretação do novoprocedimento, como abaixo será visto.

A fundamentação da decisão de pronúncia deverá ser restrita (art.413, § 1º) e nela será arbitrada a fiança (art. 413, § 2º) e será decidido sobre prisão oumedida restritiva de natureza cautelar (art.413, § 3ª).

A exigência de limitação da fundamentação da pronúncia à indicaçãoda materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de partici-pação (art.413, § 1º) buscou impedir a influência da decisão de pronúncia no convenci-mento do jurado, pois, ainda que ela não possa ser usada pelas partes como argumentode autoridade (art. 478, I), será entregue aos jurados (art. 472, parágrafo único).

Entretanto, não será fácil conciliar a necessidade de fundamentação coma previsão de simples indicação da materialidade do fato e dos indícios suficientes de autoria,principalmente quando a defesa apresente argumentos e fundamentos que obriguem o juiz a

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examiná-los. Antes da reforma, já se debatia a respeito da profundidade de fundamentaçãoexigida da pronúncia de modo a representar suficiente resposta judicial aos argumentos daspartes e a não configurar excesso passível de influir nos jurados.

Houve ampliação das hipóteses de absolvição sumária (art. 415), anteslimitada às excludentes de antijuridicidade e de culpabilidade, agora estendida para abrangeras situações em que resultar demonstrada a não-materialidade da infração ou a não partici-pação do acusado no fato.

Passam, agora, a ser atacáveis por apelação as decisões de impronúnciae absolvição sumária (art. 416) e não mais por recurso em sentido estrito.

Importante mudança foi a admissibilidade de julgamento do acusado revel,antes somente admitida para os crimes afiançáveis. Por isso, previu-se a intimação da deci-são de pronúncia por edital ao réu solto (art. 420, par. único), com o prosseguimento dofeito. O julgamento de revel pelo júri constitui, para alguns, derivação do direito ao silênciodo acusado, pois se pode ele calar-se perante o juiz, deve também poder se ausentar dasessão de julgamento do júri. Há, entretanto, pensamento diverso, o qual considera existir, nojulgamento à revelia, prejuízo ao direito de defesa.

O desaforamento do feito para comarca vizinha em caso de ex-cesso de serviço, antes possível quando o julgamento não fosse realizado em umano após a apresentação do libelo (antigo artigo 424, parágrafo único), agora seráadmitido quando nos 6 (seis) meses seguintes ao trânsito em julgado da decisão depronúncia não for feito o julgamento (art. 428).

Houve extinção do libelo acusatório e, por conseqüência, da contrarieda-de da defesa. Entendeu-se ser desnecessário o libelo, bastando a pronúncia, pois ele devecorresponder exatamente aos termos desta. Todavia, era importante o libelo para evitar ouso ilegítimo da pronúncia. Com receio de sua utilização indevida em plenário, o legisladordeclarou haver nulidade do julgamento quando a pronúncia servir para a parte como argu-mento de autoridade para convencer os jurados (art. 478, I).

O número de jurados convocados para a sessão de julgamento foi au-mentado de 21 - vinte e um - para 25 - vinte e cinco (art. 462). Constitui medida salutar a fimde se evitar adiamentos por falta de jurados.

Na audiência das testemunhas, antes da pronúncia ou em plená-rio, está prevista a inquirição direta e cruzada pelas partes (cross examination)(art. 473, caput).

Não se permite o uso de algemas, exceto quando absolutamente neces-sário (art. 474, § 3º). O fato de estar o acusado algemado pode influir no convencimento dosjurados, os quais o verão como pessoa perigosa. Por isso, quis o legislador que as algemassomente fossem usadas quando absolutamente necessárias à ordem dos trabalhos, à segu-rança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.

Houve limitação na leitura de peças em plenário. Podem ser lidas somenteas referentes a provas colhidas por carta precatória e a provas cautelares, antecipadas ounão repetíveis (art. 473,§3 º). Isso não significa a total impossibilidade de leitura de outraspeças, mormente em casos com número excessivo de vítimas.

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A nova lei trouxe melhor regulamentação da proibição de leitura dedocumento ou exibição de objeto (art. 479), especificando o que não pode ser lido ouexibido em plenário.

Importante alteração foi a simplificação dos quesitos (arts. 482 e 483),de sorte a evitar nulidade e a proporcionar aos jurados a possibilidade de julgar segundoa sua vontade.

Por fim, houve extinção do protesto por novo júri (art. 4º).

Primeira fase – admissibilidade da acusação e encaminhamento doPrimeira fase – admissibilidade da acusação e encaminhamento doPrimeira fase – admissibilidade da acusação e encaminhamento doPrimeira fase – admissibilidade da acusação e encaminhamento doPrimeira fase – admissibilidade da acusação e encaminhamento doprocesso a plenárioprocesso a plenárioprocesso a plenárioprocesso a plenárioprocesso a plenário

Normalmente, são apontadas duas fases do procedimento do júri, umade admissibilidade da acusação, outra de julgamento. Contudo, para fins didáticos, é interes-sante separar o procedimento em três fases: a primeira de admissibilidade da acusação eencaminhamento da causa a julgamento; a segunda de preparação do processo para o julga-mento; a terceira de julgamento.

Os principais atos da primeira fase do procedimento (artigos 406 a 421)são os seguintes:

- oferecimento da denúncia ou queixa;- recebimento da denúncia ou queixa (art.406, caput);- citação do acusado (art. 406, caput);- resposta do acusado (art. 406, caput, § 3º);- manifestação do Ministério Público (art. 409);- realização de diligências (art. 410);- decisão do juiz (sem previsão);- audiência com declarações do ofendido, inquirição de testemunhas,

esclarecimento dos peritos, acareações, reconhecimentos, interrogatório, debate orale pronúncia (art. 411).

O número de testemunhas que as partes podem arrolar é 8 (oito). Émaior do que o número previsto para inquirição em plenário, de 5 (cinco). Como, duran-te a tramitação do projeto, não se previu mais a concentração das provas em plenário enão se manteve a restrição ao uso de provas anteriormente produzidas, inverteu-se onúmero de testemunhas previstas originariamente no projeto: 5 (cinco) para a primeirafase e 8 (oito) para a fase de julgamento.

A resposta do acusado deve ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias(art. 406, caput), contado a partir da data do efetivo cumprimento do mandado ou do com-parecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação inválida oupor edital (art. 406, §1º).

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A forma de contagem do tempo nos casos de citação por edital de-corre do fato de que o processo será suspenso, por força do artigo 366 do CPP, sendoreiniciado somente com a presença do acusado ou defensor, quando então começará acorrer o prazo de resposta.

No tocante à citação inválida, o comparecimento do acusado ou de seudefensor constituído para a resposta sanará o vício.

A resposta será escrita, podendo conter preliminares e alegações sobretudo o que interessa à defesa do acusado, bem como o rol de testemunhas (art. 406, §3º).Pode ser instruída com documentos e justificações. As exceções alegadas serão processadasem separado (art. 407). A resposta é necessária. Assim, se não for oferecida, será nomeadodefensor dativo (art. 408). Se alegadas preliminares ou apresentados documentos na respos-ta, será ouvido o Ministério Público ou o querelante (art. 410).

Não se prevê momento para decisão do juiz a respeito da resposta e damanifestação do Ministério Público. No Projeto, havia a possibilidade de a acusação serrejeitada no momento da pronúncia. Não se pode concluir pela desnecessidade de decisão,pois não teria sentido dar oportunidade ao acusado para, na resposta, argüir preliminares ealegar tudo que for de seu interesse, abrir vista para a manifestação da parte acusatória, e,depois, inexistir qualquer pronunciamento judicial.

A dúvida é quanto ao alcance dessa decisão. Parece inquestionávela possibilidade de o juiz examinar as preliminares alegadas e impedir o seguimentodo processo quando for inepta a acusação ou faltar condição da ação, pressupostoprocessual ou justa causa. A dúvida fica, então, circunscrita à possibilidade de seantecipar decisão sobre matérias que permitem julgamento antecipado de absolvi-ção quando estiverem suficientemente demonstradas, como, por exemplo, em casode inequívoca falta de autoria.

Por fim, prevê-se audiência única para instrução, alegações orais e deci-são. Na instrução, deve ser obedecida a seguinte ordem: declarações do ofendido, inquiriçãode testemunhas, esclarecimento dos peritos, acareações, reconhecimentos, interrogatório (art.411). Em seguida, serão apresentados debates orais e será proferida sentença (art. 411).

A intenção clara do legislador foi evitar o adiamento da audiência, permitindoao juiz indeferir as provas irrelevantes (411, § 2º), determinar a condução coercitiva da testemunhafaltante (411, §7º), inquirir testemunha que comparecer durante a audiência (411, § 8º).

Todavia, dificilmente terão os juízes condições de impedir adiamentos.Assim, se não comparecer uma testemunha importante para a parte e ela insistir na sua inqui-rição, não sendo possível a sua condução coercitiva, a audiência deverá ser adiada.

O maior empecilho à celeridade pretendida será a necessidade de, emcasos de ausência de testemunha com adiamento da audiência, rigorosa observância da or-dem estabelecida para a realização dos atos de instrução.

O seguimento da ordem de inquirição de testemunhas, primeiramente asde acusação e depois as de defesa, não era visto, no processo brasileiro, como requisitoindispensável de validade da relação jurídica processual, pois, em casos de expedição deprecatória com prazo para cumprimento, admitia-se a inversão. Agora, apesar de se afirmar

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a necessidade de respeito a essa ordem, houve ressalva ao artigo 222 no artigo 400, caput.Aceita-se, portanto, em caso de expedição de precatória para ouvir uma testemunha deacusação, a inquirição anterior das testemunhas de defesa.

Portanto, uma leitura sistemática do dispositivo e uma análise vol-tada para o objetivo de se dar celeridade ao processo conduzem a que não seinterprete a exigência de observância da ordem de modo extremamente rígido, atémesmo em prejuízo da defesa. Assim, caso falte uma testemunha de acusação, es-tando presentes as testemunhas de defesa, desde que concorde o defensor do acu-sado, elas poderão ser ouvidas.

O tempo das alegações orais é de 20 (vinte) minutos, prorrogáveispor mais 10 (dez), conforme art. 411, § 4º. Se houver mais de um acusado, essetempo será individual (411, § 5º). Caso haja assistente da acusação, ele terá 10 (dez)minutos para as suas alegações, acrescentando-se o tempo da defesa em mais 10(dez) minutos (411, § 6º).

Prevê-se a possibilidade de as partes requererem ao juiz a inquiriçãodos peritos (411, § 1º), desde que tenham encaminhado, antes de dez dias da audiência,as perguntas a serem esclarecidas ( art. 410). O juiz pode de ofício determinar a presen-ça de perito, encaminhando-lhe as questões sobre as quais será ouvido.

Estipulou-se o prazo de 90 (noventa) dias para encerramento da pri-meira fase do procedimento (art. 412). Caso seja excedido, sem culpa da defesa, haveráexcesso do tempo permitido de prisão.

PronúnciaPronúnciaPronúnciaPronúnciaPronúncia

As decisões que o juiz poderá proferir na primeira fase do procedimentosão as seguintes: pronúncia (art. 413), impronúncia (art. 414), absolvição sumária (art. 415);desclassificação com declaração de incompetência (art. 419).

Os requisitos exigidos para ser o acusado pronunciado são dois:prova da materialidade do fato e indícios suficientes de autoria ou de participação(art. 413, caput).

A decisão deve ser fundamentada (((((art. 413, §1), limitando-se o juiz, se-gundo a lei, à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes deautoria ou de participação, com declaração do dispositivo legal em que julgou incurso oacusado e com especificação das circunstâncias qualificadoras e das causas de aumento depena. O objetivo é evitar o excesso de motivação, capaz de exercer influência nos jurados.Todavia, não pode o juiz deixar de responder aos argumentos apresentados pelas partespara sustentarem as suas pretensões, principalmente aqueles produzidos pela defesa com oobjetivo de obter a absolvição sumária ou a desclassificação.

Pode o juiz na pronúncia dar ao fato nova definição jurídica do fato, des-de que ele continue o mesmo da imputação, pouco importando se a pena resultante da alte-ração será mais grave ou mais leve (art. 418, CPP). O mesmo sucede nos demais procedi-mentos por força do disposto no artigo 383.

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Todavia, se há mudança no fato em virtude de circunstância ou ele-mento evidenciado durante a instrução, deve-se seguir o artigo 384 (411, § 3º), segundoo qual sempre haverá aditamento do Ministério Público e, sendo ele recebido, necessi-dade de nova audiência.

Acaba, assim, a dúvida antes existente a respeito da possibilidade deo juiz incluir na pronúncia qualificadora não posta pelo Ministério Público na denúncia,nem derivada de aditamento, em virtude da falta de clareza do antigo artigo 408, § 4º.

O juiz deve se manifestar na pronúncia sobre as medidas cautelaresreais ou pessoais. Quando o crime comportar fiança, ela deverá ser arbitrada oudeverá ser mantida liberdade provisória anteriormente concedida (art. 413 § 2º).Deve o magistrado resolver se mantém prisão anterior e, em caso de acusado sol-to, pode decretar a prisão preventiva (art. 413, § 3º). Isso fará com que dificilmen-te haja possibilidade de se arbitrar fiança ou manter a liberdade antes concedidacom base em fiança anteriormente prestada. É necessário verificar ainda se serãoconservadas outras medidas cautelares, tais como aquelas previstas na Lei de Vio-lência Doméstica (Lei 11.340/2006), se serão determinadas outras ou se haverásubstituição de alguma medida por outra (art. 413, § 3º).

Após ser proferida a decisão de pronúncia, as partes serão inti-madas nas seguintes maneiras (art. 420): pessoalmente, o acusado, o defensor no-meado e o Ministério Público (inciso I); por publicação no órgão incumbido dapublicidade dos atos judiciais da comarca conforme prevê o §1o do artigo 370 doCódigo de Processo Penal, o defensor constituído, o querelante e o assistente doMinistério Público ( inciso II); por edital, o acusado solto que não for encontrado(art. 420, parágrafo único, CPP). Sempre deverão ser intimados o acusado e seudefensor, conforme de há muito entendem os tribunais.

Corrige-se errônea referência à pronúncia como sentença, sendo agoramencionada corretamente como decisão, pois é ela uma decisão de natureza interlocutória.Promove-se importante mudança com a possibilidade de intimação por edital do acusa-do e com o prosseguimento do processo sem a sua presença, permitindo-se o julgamen-to à revelia em crimes afiançáveis ou não.

Transitada em julgado a decisão, os autos serão encaminhados ao juizpresidente do Tribunal do Júri (art. 421, caput).

Se, apesar do trânsito em julgado da pronúncia, houver circunstânciasuperveniente que altere a classificação do crime, , , , , deve-se nos termos do art. 421, § 1º,remeter os autos ao Ministério Público, o qual pode aditar a acusação. Caso haja adita-mento, deve-se ouvir a defesa, ainda que não se encontre referência na lei a essa provi-dência, para efetivação do contraditório. Em seguida, o juiz decide, podendo admitir oaditamento (art. 421, § 2º).

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Impronúncia e absolvição sumáriaImpronúncia e absolvição sumáriaImpronúncia e absolvição sumáriaImpronúncia e absolvição sumáriaImpronúncia e absolvição sumária

Haverá impronúncia quando inexistir prova da materialidade do fato ouda existência de indícios suficientes de autoria ou de participação (art. 414, caput). A decisãogera preclusão, mas não impede que, em virtude de prova nova, possa ser instaurado outroprocesso mediante o oferecimento de denúncia ou queixa, enquanto não ocorrer a extinçãoda punibilidade (414, parágrafo único, CPP). Aquilo que já exigia a doutrina, agora ficoucerto: há necessidade de outra denúncia e de renovação do feito. O recurso contra a decisãode impronúncia é a apelação (art. 416, CPP).

A absolvição sumária pode ocorrer em diversas hipóteses: não existir ofato; não ser o acusado autor ou partícipe do fato; não constituir o fato infração penal; estardemonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime (incisos I a IV do art. 415).Em relação à isenção de pena em caso de inimputabilidade, somente será possível a absolvi-ção se a inimputabilidade for a única tese defensiva (parágrafo único do art. 415). Acolhe-seorientação constante de alguns julgamentos11111. Deixa-se ao advogado a incumbência de deci-dir sobre a sorte do acusado. Preferível que ele, de alguma maneira, sustente sempre umatese subsidiária, para assegurar a defesa plena afirmada na Constituição (art. 5º, LV). Melhorseria outro regramento, determinando-se que, em todas as situações de inimputabilidade, oprocesso devesse ser encaminhado a julgamento pelos jurados, os quais poderiam absolvero acusado por outro motivo, afastando dele a aplicação de medida de segurança e preser-vando a soberania do Tribunal do Júri, garantida constitucionalmente (art. 5º, XXXVIII).

Em relação ao Código anterior, houve ampliação das hipóteses de absol-vição sumária, as quais não mais se limitam às excludentes de ilicitude e culpabilidade.

Contra a absolvição sumária, cabe apelação (art. 416, CPP) e não maisrecurso em sentido estrito. Por outro lado, não tem mais razão de ser o impropriamentedenominado recurso de ofício, previsto no artigo 574, II. Como se vê do dispositivo, oreexame necessário era circunscrito a hipóteses de recurso em sentido estrito, não atingindoos casos de apelação. Ademais, com a ampliação das hipóteses de absolvição sumária,aquilo que antes já não se justificava - o controle do tribunal sobre as decisões do juiz deprimeiro grau – agora perde qualquer sentido. Em boa hora, desaparece o recurso de ofíciopara a absolvição sumária.

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1 Pode-se citar: “1. A absolvição sumária por inimputabilidade do acusado constitui sentençaabsolutória imprópria, a qual impõe a aplicação de medida de segurança, razão por que, ao ma-gistrado, incumbe proceder à analise da pretensão executiva, apurando-se a materialidade e auto-ria delitiva, de forma a justificar a imposição da medida preventiva. 2. Reconhecida a existênciado crime e a inimputabilidade do autor, tem-se presente causa excludente de culpabilidade, in-cumbindo ao juízo sumariante, em regra, a aplicação da medida de segurança. 3. Inexistindo nosautos notícia de que a defesa tenha atacado a tipicidade e a ilicitude, ou suscitado a existência deoutra causa excludente da culpabilidade, restando a decisão proferida pelo Tribunal a quo emconformidade com a pretensão manifestada por ambas as partes, tem-se prejudicada a tese argüi-da neste writ de que o veredicto do júri poderia ser mais benéfico ao paciente.” (STJ, HC 38.500,Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 26.4.2005, DJ 1.7.2005). No mesmo sentido,STJ, HC 38498 / MG, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 11.4.2006, DJ 8.5.2006.

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Com o aumento dos casos de absolvição sumária, o exame judicial damaterialidade do fato e dos indícios suficientes de autoria pode levar a três decisões. Emrelação à materialidade, se o juiz concluir que ela não está provada, deve absolver; seconsiderar que está provada, deve pronunciar o acusado; se entender que há dúvidasobre a materialidade deve proferir decisão de impronúncia. No tocante à autoria, sehouver prova da existência de indícios suficientes a seu respeito, o juiz pronunciará oacusado, mas o impronunciará se inexistir tal prova; se, contudo, concluir que não estáprovada a autoria, absolverá sumariamente o imputado.

Mudança na definição jurídica do fato e incompetênciaMudança na definição jurídica do fato e incompetênciaMudança na definição jurídica do fato e incompetênciaMudança na definição jurídica do fato e incompetênciaMudança na definição jurídica do fato e incompetência

Quando responder à acusação, o denunciado ou querelado poderá ale-gar tudo que interesse a sua defesa (art. 406, § 3 º), incluindo-se, aí, matéria referente aerro na classificação do fato imputado ao acusado. Como o juiz, na pronúncia, deve decla-rar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstânciasqualificadoras e as causas de aumento de pena (art. 413, § 2º), poderá corrigir o equívo-co na classificação da denúncia.

Se, na pronúncia, o juiz discordar da classificação dada ao fato pelo pro-motor ou querelante, há duas possibilidades. Se, apesar da alteração, o crime resultante danova classificação continuar sendo da competência do júri, ele poderá dar ao fato defini-ção jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito à penamais grave (art. 418,). O mesmo sucede em outros procedimentos por força da aplicaçãodo art. 383, do CPP. Caso, em virtude da mudança na classificação, o crime deixe de ser dacompetência do júri, o juiz remeterá os autos ao juízo competente para o prosseguimento dacausa (art. 419). Neste juízo, ante a falta de disposição sobre como proceder, deve o juizaplicar, por analogia, o artigo 384.

Outra hipótese ocorre quando a alteração decorra da demonstração daexistência de circunstância ou elemento não contido na denúncia ou queixa e que configuremodificação do fato. Antes, havia dois entendimentos sobre o antigo art. 408, § 4º, assimredigido - o juiz não ficará adstrito à classificação do crime, feita na queixa ou nadenúncia, embora fique o réu sujeito à pena mais grave: o juiz podia incluir qualificadorasou causas de aumento na pronúncia, sem aditamento à denúncia pelo Ministério Público; eraobrigatório o aditamento e a aplicação do artigo 384.

Agora, em que pese ser a redação do novo artigo 418 semelhante àdo antigo 408, § 4º, a dúvida ficou dissipada, pois, conforme § 3º, do art. 411, encerra-da a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o disposto no art. 384 desteCódigo, ou seja, se durante a instrução ficar evidenciada a existência de circunstânciaou elemento não contido na denúncia ou queixa, deve o juiz, consoante o disposto noart. 384, baixar os autos para aditamento do Ministério Público, com nova audiência deinstrução e julgamento.

Em caso de haver indícios de autoria ou de participação de outraspessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado,

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determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por15 (quinze) dias, aplicável,no que couber, o art. 80 deste Código, o qual prevê a separação facultativa do processo.Assim, o promotor poderá aditar a denúncia e incluir novos acusados, os quais serãocitados, devendo ser realizada nova instrução, ou, oferecer denúncia em separado com ins-tauração de outro processo.

O mesmo dispositivo poderá servir para a hipótese em que surgi-rem elementos idôneos a respeito de novos fatos criminosos, conexos com aqueleda denúncia, levando ao seu aditamento, com renovação da instrução, ou ao ofere-cimento de outra denúncia.

Outra regra que trata de mudança fática é a do artigo 421, § 1º: Ainda quepreclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classi-ficação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. Depois,conforme parágrafo seguinte, os autos serão conclusos ao juiz para decisão. A ocorrêncianormalmente citada para exemplificar a regra é da morte superveniente da vítima, que exigea modificação da acusação por tentativa de homicídio para homicídio consumado. Nestecaso, pelo novo dispositivo, o Ministério Público, recebendo os autos, deve aditar a denún-cia, e o juiz, após ouvir a defesa, proferir nova decisão de pronúncia.

Segunda faseSegunda faseSegunda faseSegunda faseSegunda fase

Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário

Os principais atos da segunda fase - Da Preparação do Processo paraJulgamento em Plenário - (Seção III) são os seguintes:

- remessa dos autos ao presidente do Tribunal do Júri (art. 422);- intimação das partes para apresentarem rol de testemunhas que irão

depor em plenário (art. 422);- deliberação sobre requerimento de provas a serem produzidas ou

exibidas no plenário do júri (art. 423, caput);- realização de diligências para sanar nulidade ou esclarecer fato rele-

vante (art. 423, I);- elaboração de relatório sucinto do processo (art. 423, I);- determinação para inclusão do processo na pauta (art. 423, II)- inclusão do processo na pauta (art. 429);- intimação das partes, do ofendido, das testemunhas para a sessão do

julgamento (art. 431);- sorteio dos jurados que atuarão na reunião periódica e, portanto, no

julgamento (art. 432 e 433);- convocação dos jurados (art. 434);

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- afixação na porta do edifício do Tribunal do Júri de: relação dos juradosconvocados, nomes do acusado e dos procuradores das partes, dia, hora e local das sessõesde instrução e julgamento (art. 435);

Como visto, a segunda fase inicia-se com o recebimento dos autos pelopresidente do Tribunal do Júri (art. 422), o qual deve determinar a intimação do órgão doMinistério Público, do querelante, do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias: apresenta-rem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco); juntaremdocumentos; requererem diligências (art. 422).

Essa nova disposição decorre da supressão do libelo e da contrariedadeao libelo. Houve necessidade de outro momento para as partes arrolarem as suas testemu-nhas, produzirem provas documentais e efetuarem requerimentos. Quanto às testemunhas, énecessário indicar se são imprescindíveis para a prova, pois, sem essa indicação, em caso deausência de alguma delas, o julgamento será assim mesmo realizado (art. 461). Sobre osdocumentos, podem ser juntados até três dias antes do julgamento (art. 479, caput), e, sesuperada essa data, não poderão ser lidos em plenário.

O juiz, diante dos requerimentos feitos pelas partes, poderá ordenar asdiligências necessárias para sanar alguma nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julga-mento da causa (art. 423, I). Se não houver diligência ou tiver sido efetuada, deverá o juizfazer um relatório sucinto do processo e determinar sua inclusão em pauta de reunião doTribunal do Júri (art. 423, II).

A nova lei buscou melhorar o sistema de alistamento de jurados. Au-mentou o número dos alistados que podem em comarcas maiores chegar a 1.500 (hummil e quinhentos) jurados (art. 425, caput), enquanto, na legislação anterior, esse númeroera de 500 (quinhentos) (antigo 439), admitindo-se ainda a elevação daquele número ea organização de listas de suplentes (art. 425, § 1º). Ampliou o elenco de entidades àsquais são requisitadas indicações de pessoas para exercerem a função de jurado (art.425, § 2º). Alterou a data de publicação da lista. Agora, será publicada pela imprensaaté o dia 10 de outubro de cada ano, podendo ser alterada até o dia 10 de novembro(art. 426 e § 1º), sendo, antes, publicada em novembro e podendo ser alterado até asegunda quinzena de dezembro (antigo 439, parágrafo único). Os nomes e endereçosdos jurados alistados ficarão guardados em urna fechada a chave, sob responsabilidadedo juiz presidente (art. 426, § 2º).

Exclui-se o jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12(doze) meses que antecederam à publicação da lista geral (art. 426, § 4º). Pretende-secom a norma evitar o jurado profissional, embora uma participação ou poucas não per-mitam dar essa qualificação ao jurado. A inobservância da regra decorrente da manuten-ção do jurado poderá gerar nulidade dos julgamentos em que ele venha a participar.

A inclusão do processo na pauta de julgamento deve, em princípio,adotar a seguinte ordem: os processos de acusados presos e, dentre eles, os de acusadospresos há mais tempo, e, em qualquer caso, havendo igualdade de condições entre osacusados, os processos precedentemente pronunciados (art. 429, incisos I, II, III). Alista dos processos a serem julgados será afixada na porta do edifício do Tribunal do Júriantes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião periódica (art. 429, § 1º).

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Organizada a pauta dos processos da reunião periódica, entre o décimo eo décimo quinto dia útil antecedente à instalação da reunião, procede-se ao sorteio dosjurados, em número de vinte e cinco, sendo intimados para o ato o Ministério Público, aOrdem dos Advogados do Brasil e a Defensoria Pública, não sendo o sorteio adiado se nãocomparecerem (art. 432 e 433). Os jurados sorteados serão convocados para comparecerno dia e hora designados para a reunião (art. 434). Serão afixados na porta do edifício doTribunal do Júri a relação dos jurados convocados, os nomes do acusado e dos procurado-res das partes, além do dia, hora e local das sessões de instrução e julgamento (ar. 435).

A lista dos jurados pode incluir cidadão maior de 18 (dezoito) anos (art.436). Antes, devia ter vinte e um (art. 434). O jurado não pode ser excluído da lista ou nelanão ser incluído por razões de cor, etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou eco-nômica, origem ou grau de instrução (art. 436, § 1º). Arrolam-se vários casos de isenção dojúri (art. 437), semelhantes ao anteriormente previstos.

A recusa injustificada em participar dos serviços de júri acarretará multano valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos (art. 436, § 2º). A recusa ao serviço do júrifundada em convicção filosófica, religiosa ou política importa no dever de prestação de ser-viço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, cabendo ao juiz fixar o tipo deserviço alternativo (art. 438).

O exercício efetivo da função de jurado traz, conforme artigos 439 e 440,algumas vantagens: a) constitui serviço público relevante; b) estabelece presunção de idonei-dade moral; c) assegura prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definiti-vo; d) dá preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento,mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcionalou remoção voluntária. Não poderá sofrer desconto nos vencimentos ou salário o juradoque, sorteado, comparecer à sessão do júri (art. 441).

A ausência do jurado à sessão sem causa legítima ou a retirada antes deser dispensado leva a que o juiz imponha ao faltoso multa de 1 (um) a 10 (dez) saláriosmínimos (art. 443). Admite-se escusa fundada em motivo relevante e devidamente compro-vado se apresentada até o momento da chamada dos jurados, exceto se o motivo for deforça maior (art. 443).

Os jurados respondem, no exercício de sua função ou a pretextode exercê-la, criminalmente nos mesmos termos da responsabilidade do juiz dedireito (art. 445).

O Tribunal do Júri é um órgão colegiado composto pelo juiz togado epor mais vinte e cinco jurados, sendo que, destes, sete sorteados comporão o Conselhode Sentença em cada sessão de julgamento (art. 447). Antes o Tribunal era compostopor vinte e um jurados. O aumento visa a evitar adiamentos das sessões, pois se exige ocomparecimento de pelo menos quinze jurados, e, além do mais, poderá haver recusasdas partes.

Aplicam-se aos jurados as normas sobre suspeições, impedimentos e in-compatibilidades dos jurados (art. 448, § 2º). Há, ainda, uma série de impedimentos própri-os dos jurados previstos nos artigos 448 e 449. O primeiro não permite que sirvam no

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mesmo Conselho cônjuges, conviventes e parentes; o segundo impossibilita alguémde servir em virtude de atuação anterior no mesmo processo ou em processo deco-autor ou partícipe, ou, ainda, em razão de ter manifestado prévia intenção deacusar ou absolver o acusado.

Incluído o processo na pauta, serão intimadas as partes, o ofendi-do, as testemunhas, os peritos, que devam participar da sessão de julgamento (art.431) e os jurados.

Aumenta-se o tempo para o assistente requerer a sua intervençãono julgamento. Antes, devia fazer o pedido com antecedência de, pelo menos trêsdias, da data do plenário (art. 447, par. único); agora, o requerimento pode serfeito até cinco dias antes da data da sessão na qual pretenda participar (art. 430).

Incidentes de desaforamento e de aceleração do julgamentoIncidentes de desaforamento e de aceleração do julgamentoIncidentes de desaforamento e de aceleração do julgamentoIncidentes de desaforamento e de aceleração do julgamentoIncidentes de desaforamento e de aceleração do julgamento

O desaforamento consiste em causa de alteração de competência emque se retira o feito do foro competente e se o transfere para outro. Mantém-se emlinhas gerais o desaforamento como era. Permanecem as mesmas hipóteses justificadorasda alteração de competência: interesse de ordem pública, dúvida sobre a imparcialidadedo júri, dúvida sobre a segurança pessoal do réu, excesso de serviço (antes atraso),conforme art. 427 e 428. Conserva-se a possibilidade de ele ocorrer em virtude derequerimento das partes ou representação do juiz (art. 427, caput). O julgamento era eé de competência do Tribunal de Justiça (art. 427, caput). O encaminhamento do pro-cesso deverá ser feito para uma comarca próxima, onde não persistam os motivos res-ponsáveis pelo desaforamento (art. 427, caput).

Houve, contudo, mudanças ou acréscimos. Determina-se a distri-buição imediata do pedido de desaforamento e afirma-se a sua preferência de jul-gamento (art. 427, § 1º). Permite-se que o assistente do Ministério Público possarequerer o aditamento (art. 427, caput). Possibilita-se a suspensão do julgamentopelo relator (art. 427, § 3). Exclui-se o desaforamento na pendência de recursocontra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, salvo nesta últimahipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização do julgamento anula-do (art. 427, § 4º). Permite-se o desaforamento quando, em virtude do excesso deserviço, constate-se que o julgamento não será realizado no prazo de 6 (seis) me-ses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia (art. 427, § 1º), sen-do que, antes, o desaforamento dependia de não realização do julgamento no pe-ríodo de um ano (art. 424, parágrafo único), contado da data da apresentação dolibelo. Cria-se um incidente de aceleração do julgamento, admissível quando nãohouver excesso de serviço ou não existir processos aguardando julgamento em quan-tidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reu-niões periódicas previstas para o exercício (art. 428, § 2º).

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TTTTTerceira fase do procedimentoerceira fase do procedimentoerceira fase do procedimentoerceira fase do procedimentoerceira fase do procedimento

Principais atosPrincipais atosPrincipais atosPrincipais atosPrincipais atos

Os principais atos da terceira fase compreendida pelos artigos 453 a 497do Código de Processo Penal são os seguintes:

- decisões e providências sobre isenção e dispensa dos jurados, pedidode adiamento, ausência do Ministério Público, ausência do advogado do acusado, não com-parecimento do acusado solto, do assistente, do advogado do querelante, não condução doacusado preso, não comparecimento de testemunha (art. 454 a 461);

- verificação da urna e chamamento dos jurados (art. 462);- instalação dos trabalhos com anúncio do processo e pregão (art.

463);- esclarecimento sobre impedimentos e suspeições, advertência sobre a

incomunicabilidade e proibição de manifestação de opinião (art. 466);- sorteio dos membros do Conselho de Sentença (art. 467);- recusas das partes (arts. 468, 469);- formação do Conselho de Sentença (art. 470);- exortação aos jurados e resposta (art. 472);- entrega aos jurados de cópias da pronúncia e de decisões posteriores

(art. 472, par. único);- instrução em plenário, com declarações do ofendido, inquirição das

testemunhas; acareações, reconhecimento de pessoas e coisas, esclarecimento de peri-tos, leitura de peças, interrogatório (arts. 473 a 475);

-.acusação oral pelo Ministério Público, assistente da acusação,querelante(art. 476);

- defesa oral pelo advogado do acusado (art. 476, § 3º);- réplica da acusação (art. 476, § 4º);- tréplica da defesa (art. 476, § 4º);- votação dos quesitos (arts. 482 a 490);- elaboração de termo assinado pelo juiz presidente, pelos jurados e

pelas partes (art. 491)- sentença lida em plenário (art. 492 e 493);

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Ausências, isenções, adiamentos, dissolução do ConselhoAusências, isenções, adiamentos, dissolução do ConselhoAusências, isenções, adiamentos, dissolução do ConselhoAusências, isenções, adiamentos, dissolução do ConselhoAusências, isenções, adiamentos, dissolução do Conselho

As ausências podem ou não ocasionar o adiamento do julgamento. Have-rá adiamento quando não comparecerem o membro do Ministério Público, o defensor ou oacusado preso e não o haverá quando a ausência for do advogado do querelante, do assis-tente ou do réu solto.

Em caso de ausência do membro do Ministério Público, podem ocorrerduas situações. Havendo justificativa, o juiz simplesmente transferirá o julgamento para oprimeiro dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas as partes e as testemunhas (art.455, caput, CPP). Não existindo justificativa, o juiz comunicará o fato imediatamente aoProcurador-Geral de Justiça com a data designada para a nova sessão (art. 455, parágrafoúnico, CPP).

A nova legislação prevê o adiamento do julgamento pela ausência do Ministé-rio Público, independentemente da existência de justo motivo. Não será nomeado promotor adhoc, como era previsto no antigo parágrafo único do artigo 448, o qual não fora recepcionadopela Constituição de 1988 em virtude do que dispõe o seu 129, §2º.

Também o adiamento em virtude da ausência do advogado terá soluçõesdiversas na dependência de haver escusa legítima ou constituição de novo defensor, confor-me se extrai do artigo 456 e parágrafos 1º e 2º. Quando há escusa ou, na falta desta, hácontratação de outro advogado pelo acusado, o juiz simplesmente adia o julgamento. Faltan-do a escusa e não ocorrendo a contratação de outro defensor, o juiz comunica imediatamenteo fato ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designadapara a nova sessão; será intimada a Defensoria Pública para o novo julgamento, prevendo-seque o adiamento somente ocorrerá uma vez.

Outra razão para o adiamento consiste na não apresentação do acusadopreso (art.457, § 2º, primeira parte). Todavia, o julgamento poderá ser feito quando houverpedido de dispensa de comparecimento subscrito pelo acusado e por seu defensor (art.457,§ 2º, segunda parte).

Embora se afirme o não adiamento do julgamento pelo não compare-cimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sidoregularmente intimado (art. 457, caput), prevê-se a prévia submissão dos pedidos deadiamento e das justificações de não comparecimento ao juiz presidente do Tribunal(art. 457, § 1º), o que permitiria, então, excepcionalmente o adiamento, quando houvermotivo de força maior. Imagine-se a ausência do acusado solto, o qual, apesar de mani-festar o seu interesse em estar presente, foi acometido de uma doença.

A ausência de testemunha pode gerar o adiamento do julgamento quan-do a parte, ao ser intimada para o arrolamento das testemunhas após a pronúncia, tiverrequerido a sua intimação por mandado, declarando não prescindir do depoimento eindicando a sua localização (art. 461, caput). O juiz pode suspender o julgamento emandar conduzir a testemunha, somente decidindo pela marcação de nova data para asessão quando isso não seja possível (art. 461, § 1º). O julgamento será feito se a testemu-nha não tiver sido encontrada pelo oficial de justiça (art. 461, § 2º).

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A testemunha que, sem justa causa, deixar de comparecer será multada,sem prejuízo de ser processada criminalmente por desobediência (art. 458). Aquela quecomparecer não sofrerá descontos nos vencimentos ou salário (arts. 459 e 441).

Outros motivos de adiamento relacionam-se com o número de ju-rados. Assim, haverá adiamento se não comparecerem, pelo menos, quinze jurados(art. 464), em cujo número não serão computados os jurados suspeitos ou impedi-dos (art. 463, § 2º), ou se, em conseqüência do impedimento, suspeição, incompa-tibilidade, dispensa ou recusa, não houver número para formação do Conselho (art.471). Para o novo julgamento, serão convocados os suplentes sorteados na sessão(arts. 464, 465, 471).

Em qualquer momento, se o juiz entender que a verificação de qualquerfato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada imedi-atamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização das diligências(art. 481). Quando se tratar de prova pericial, o juiz nomeará os peritos e formulará osquesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de5 (cinco) dias (art. 481, par. único).

Instalação dos trabalhos, formação do Conselho de Sentença,Instalação dos trabalhos, formação do Conselho de Sentença,Instalação dos trabalhos, formação do Conselho de Sentença,Instalação dos trabalhos, formação do Conselho de Sentença,Instalação dos trabalhos, formação do Conselho de Sentença,impedimentos, suspeições e incompatibilidadesimpedimentos, suspeições e incompatibilidadesimpedimentos, suspeições e incompatibilidadesimpedimentos, suspeições e incompatibilidadesimpedimentos, suspeições e incompatibilidades

Não havendo adiamento do julgamento, o juiz verificará se a urnacontém as cédulas dos 25 (vinte e cinco) jurados sorteados, procedendo-se à cha-mada deles pelo escrivão (art.462). Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jura-dos, o juiz presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo queserá submetido a julgamento (art. 463, caput), sendo feito o pregão pelo oficial dejustiça (art.463, § 1º).

Em seguida, o juiz esclarecerá os jurados sobre os impedimentos, assuspeições e incompatibilidades (art. 466) e os advertirá de que, uma vez sorteados, nãopoderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o pro-cesso, sob pena de exclusão do Conselho de Sentença e multa (art. 466, § 1º).

Depois, será feito o sorteio de sete jurados para a formação do Conselhode Sentença (art. 467), sendo que, durante o sorteio, a defesa e, depois dela, o MinistérioPúblico poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) para cada parte, sem motivar arecusa (art. 468, caput). Havendo dois ou mais acusados, as recusas poderão ser feitas porum só defensor (art. 469, caput). Caso cada defensor faça as suas recusas e, em virtudedelas, não seja obtido o número mínimo de sete jurados para formação do Conselho deSentença, separam-se os julgamentos, sendo julgado em primeiro lugar aquele a quem foiatribuída a autoria do fato ou, em caso de co-autoria, utilizando-se os critérios de preferênciado art.429 para a formação da pauta (art. 469, §§ 1º e 2º).

As argüições de impedimento, suspeição e incompatibilidade contra o juizpresidente do Tribunal do Júri, o órgão do Ministério Público, jurado ou qualquer funcionárioserá examinada na sessão, e, se desacolhida, não suspenderá o processo (art. 470). Deve

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constar da ata o fundamento da argüição e a decisão (art. 470) para o fim de possibilitareventual reexame em grau de recurso.

Formado o Conselho de Sentença, o presidente do Tribunal do Júri faráaos jurados a seguinte exortação: Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causacom imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e osditames da justiça. Os jurados, nominalmente chamados pelo juiz, responderão: Assim oprometo (art. 472, caput). Em seguida, os jurados receberão cópias da pronúncia, ou, se foro caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do pro-cesso (art. 472, parágrafo único).

Instrução em plenário e debatesInstrução em plenário e debatesInstrução em plenário e debatesInstrução em plenário e debatesInstrução em plenário e debates

Os atos da instrução em plenário são os seguintes: inquirição do ofendido edas testemunhas de acusação (473, caput); inquirição das testemunhas de defesa (473, § 1º);acareações, reconhecimentos, esclarecimentos dos peritos (473, § 3º); interrogatório (474).

Na inquirição das testemunhas de acusação, perguntarão, nessa ordem, ojuiz, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor (art.473, caput), e, na dastestemunhas de defesa o juiz, o defensor, o Ministério Público, o assistente, o querelante (art.473, § 1º). Os jurados poderão, depois, formular perguntas ao ofendido e às testemunhas,por intermédio do juiz (art. 473, § 2º). As perguntas das partes serão feitas diretamente àstestemunhas (art. 473, caput).

O interrogatório será feito pelo juiz (art. 474, caput), podendo o Ministé-rio, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, formular, diretamente, perguntas aoacusado (art. 474, § 1º) e os jurados formulá-las por intermédio do juiz presidente (art. 474,§ 3º). O novo dispositivo resolve questão surgida quando houve alteração do tratamentodado ao interrogatório. Passou-se a admitir que as partes pudessem pedir esclarecimentosao acusado (art. 480, §§ 1º e 2º), mas não se indicou a ordem a ser obedecida. Aplicando-se, agora, por analogia o § 1º, do art. 474, deve-se seguir a ordem nele estabelecida. É asolução que melhor observa o contraditório.

Os debates serão dirigidos ao juiz e aos jurados, porque incumbe aoprimeiro resolver sobre a pena e sobre a medida de segurança e aos segundos decidirsobre a materialidade, a autoria, a absolvição, as causas de aumento ou diminuição depena, as circunstâncias qualificadoras ou privilégios. O Ministério Público sustentará aacusação aos jurados e poderá alegar nos debates a existência de agravantes (art. 476,caput) para que o juiz possa fixar pena mais grave. A defesa deverá postular aos juradosa absolvição, a desclassificação, a aceitação de uma causa de diminuição de pena eafirmar a existência de circunstâncias atenuantes (art. 476, § 4º) que poderão influir nafixação da pena.

Falará primeiramente a acusação (Ministério Público, assistente, que-relante) e depois a defesa, podendo haver réplica e tréplica (art.476 e parágrafos). Otempo para cada parte é de uma hora e meia e, em caso de réplica e tréplica, de mais umahora (art. 477), passando a ser de duas horas e meia e duas horas quando houver mais deum acusado (art. 477, § 2º).

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Algemas, registro dos atos em plenário, restrições à instrução eAlgemas, registro dos atos em plenário, restrições à instrução eAlgemas, registro dos atos em plenário, restrições à instrução eAlgemas, registro dos atos em plenário, restrições à instrução eAlgemas, registro dos atos em plenário, restrições à instrução eaos debates em plenárioaos debates em plenárioaos debates em plenárioaos debates em plenárioaos debates em plenário

Muito se vinha discutindo sobre a influência nos jurados do fato de oacusado ficar algemado durante o período em que permanece em plenário. Agora, como § 3º, do artigo 474, considerou o legislador que essa influência existe e, por isso,somente será possível o uso de algemas se absolutamente necessário à ordem dos traba-lhos, à segurança das testemunhas ou à garantia de integridade física dos presentes. Foiessa também a orientação adotada pelo Supremo Tribunal Federal, em súmula vinculante.

Como também é possível nos procedimentos em geral, permite-seo registro dos depoimentos e interrogatório pelos meios ou recursos de gravaçãomagnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, destinada a obter maior fideli-dade e celeridade na colheita da prova, sendo depois transcrito o registro (art. 475e parágrafo único).

Algumas restrições foram estabelecidas em relação à instrução e aosdebates em plenário.

Assim, há restrição quanto ao que pode ser lido em plenário. Poderáhaver leitura de peças desde que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas porcarta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis (art. 473, § 2º).Embora conste serem essas as únicas peças a serem lidas, em casos excepcionais, devi-do à complexidade do processo, por consenso das partes e concordância do juiz, outrastambém poderão ser lidas, sob pena de se prejudicar o julgamento.

Também não poderão ser lidos documentos ou exibidos objetos quenão tiverem sido juntados aos autos com a antecedência de três dias úteis, dando-seciência à outra parte (art. 479). Com a nova lei, buscou-se explicitar o que se compreen-de na proibição: leitura de jornais ou qualquer outro escrito, exibição de vídeos, grava-ções, fotografias, laudos, croquis ou qualquer outro meio assemelhado (art. 479, par.único). É essencial que o conteúdo verse sobre a matéria de fato submetida à apreciaçãoe julgamento dos jurados (art. 479, par. único). Deve-se compreender também na proi-bição documentos ou gravações que, sem dizerem respeito ao fato, se refiram ao agen-te, como a sua certidão de antecedentes criminais. Por outro lado, fica fora da proibiçãoa leitura, por exemplo, de revistas de jurisprudência ou de dados estatísticos sobre aincidência de crime na região.

A análise do artigo 473, § 2º, e do artigo 479 mostra serem coisasdiferentes a leitura de peças solicitadas pelas partes ou determinada pelo juiz a serfeita pelo escrivão (art. 473, § 2º) e a leitura de peças pelas partes durante os deba-tes, em relação às quais há menores proibições, como a de leitura de documentosnão juntados antes de 3 (três) dias úteis da sessão. Em princípio, as partes podem sereferir ou ler qualquer peça dos autos, exceto quando houver proibição expressanesse sentido ou se tratar de elemento indiciário não confirmado em contraditório,pois não tem o valor de prova.

Tanto é assim que o legislador permite aos jurados, à acusação e à defe-sa, em qualquer momento, pedir, por intermédio do juiz presidente, ao orador que indique a

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folha dos autos onde se encontre a peça por ele lida ou citada (art. 480, caput,primeira parte).

O artigo 478 contém algumas proibições. Não permite que as partes fa-çam referências à decisão de pronúncia ou às decisões posteriores que julgaram admissível aacusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que benefi-cie ou prejudique o acusado (inciso I). Não possibilita referências ao silêncio do acusado ouà ausência de interrogatório, em seu prejuízo (inciso II).

A vedação à alusão ao silêncio ou à ausência ao interrogatório é de-corrência do direito constitucional ao silêncio do acusado e do seu direito de não com-parecer à sessão de julgamento para ser interrogado. Contudo, a falta de menção a essesdados não impede que eles influam no julgamento, principalmente porque os juízesleigos não motivam as suas decisões, sendo corrente entre o povo o ditado de que quemcala consente. Por isso, deve o defensor analisar com muito cuidado se convém aoacusado ficar em silêncio ou não comparecer à sessão.

Caberá ao juiz e à parte contrária fiscalizar a obediência a es-sas proibições.

Poderá haver dificuldades para o juiz. Imagine-se que uma das partesimpugne a referência à pronúncia, asseverando que isso foi feito como argumento deautoridade. A outra parte contesta. Como agirá o juiz. Se entender que houve violação,deveria, em princípio, declarar a nulidade, encerrando o julgamento. Todavia, se assimse proceder, poderá haver estímulo a uma parte para que faça a referência quando pres-sentir que o julgamento lhe será adverso, forçando a declaração de nulidade. Para evitarisso, poderia o juiz consignar a impugnação, deixando para declarar a nulidade somentese vier a ser prejudicada a parte que a ela não deu causa.

Por outro lado, como o juiz irá consignar na ata o ocorrido? Deveria,em princípio, transpor para a ata o que foi dito pela parte, a fim de que, em grau derecurso, o tribunal possa apreciar eventual alegação de nulidade. Mas nem sempre issoserá fácil ou possível. Caso a sessão estivesse sendo gravada, poderia o tribunal, emcaso de dúvida, tomar conhecimento direto do que foi afirmado pela parte.

Os jurados podem solicitar, por meio do juiz presidente, ao orador,além de esclarecimento sobre peça dos autos lida ou citada, também esclarecimento defato por ele alegado (art. 480, caput). Indagados se estão habilitados a julgar ou neces-sitam de outros esclarecimentos (art. 480, § 1º), os jurados poderão pedir ao juiz queesclareça alguma questão à vista dos autos (art. 480, § 2º) ou que lhes dê acesso aosautos e aos instrumentos do crime (art. 480, § 3º).

Questionário, votação e sentençaQuestionário, votação e sentençaQuestionário, votação e sentençaQuestionário, votação e sentençaQuestionário, votação e sentença

Houve importantes mudanças no tocante à formulação dos quesitos vi-sando a simplificar a votação e a evitar nulidades. Antes os jurados votavam questões jurídi-cas complexas porque decidiam especificamente sobre todas as teses de absolvição, sendoem regra necessária a formulação de muitos quesitos. Agora, busca-se apurar a vontade dos

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jurados, não mais se exigindo a votação especificada das teses da defesa e, com isso, redu-zindo-se bastante o número de quesitos.

Para evitar erros na votação e na apreensão da vontade dos jurados,exige-se que os quesitos sejam redigidos em proposições afirmativas, simples e distin-tas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessá-ria precisão (art. 482, par. único, primeira parte).

A formulação dos quesitos levará em conta os termos da decisão queadmitiu a acusação, o interrogatório e as alegações das partes em plenário (art. 482, par.único, primeira parte).

Estabeleceu-se uma ordem na votação dos quesitos: materialidade dofato, autoria ou participação, absolvição, causas de diminuição de pena, circunstânciaqualificadora ou causa de aumento reconhecidas na decisão de admissibilidade da acu-sação (art. 483, incisos I a V).

Poderão ser incluídos outros quesitos sobre: desclassificação da in-fração para outra de competência do juiz singular entre o segundo ou o terceiro quesito(art. 483, § 4º), tentativa (art. 483, § 5º), tipificação do delito (art. 483, § 5º) após osegundo quesito.

Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serãoformulados em séries distintas (art. 483,§ 6º).

É importante interpretar o novo sistema de votação com a visão vol-tada para o objetivo da reforma de simplificação dos quesitos e de apreensão da vontadedos jurados - se de absolver ou condenar -, sem questioná-los sobre as complexas ques-tões jurídicas sustentadas pela defesa.

Não há, portanto, razão para ser o primeiro quesito, sobre amaterialidade do fato, separado em dois, como antes se fazia na indagação sobre o fatoprincipal. Caso haja debate sobre a inexistência de relação de causalidade, a questãoserá abrangida pelo quesito sobre absolvição ou, eventualmente, sobre desclassificação.

Não existe mais necessidade de se indagar o jurado sobre as diversasteses de absolvição apresentadas pela defesa. Somente será exigida indagação específi-ca a respeito da tese de absolvição por inimputabilidade, pois dela decorre a aplicaçãode medida de segurança.

Também não se perguntará necessariamente aos jurados a respeito deexcesso culposo, o que somente será feito quando for tese apresentada pela parte oudecorrer do interrogatório do acusado. Como se trata de hipótese em que poderá haverdesclassificação do crime de doloso para culposo, o quesito será feito após o terceiroquesito conforme dispõe o art. 483, § 4 º.

O terceiro quesito sobre a absolvição, se respondidos afirmativa-mente os dois anteriores, é obrigatório, ainda que o advogado sustente apenas atese de negativa de autoria. Será sempre necessário verificar se os jurados desejamabsolver o acusado.

Elaborados os quesitos, eles serão lidos às partes, as quais poderão efe-tuar requerimento ou reclamação, a cujo respeito será proferida decisão (art. 484, caput).

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Depois, serão os jurados esclarecidos sobre o significado de cada quesito (art.484, par. único).

Segue-se a votação em sala reservada na qual estarão presentes somenteo juiz, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, oescrivão e o oficial de justiça (art. 486, caput). São distribuídas aos jurados sete cédulascontendo a palavra sim e sete contendo a palavra não (art.486), sendo recolhidas em urnasseparadas as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas (art. 487). O juiz verificaos votos e as cédulas não utilizadas, determinando que o escrivão registre no termo a votaçãode cada quesito, bem como o resultado do julgamento e a conferência das cédulas nãoutilizadas (art. 488 e parágrafo único). As decisões serão tomadas por maioria dos votos(art.489) e bastam três votos em determinado sentido para ser encerrado o julgamento (art.483, §§ 1º e 2º). Assim, havendo três votos com respostas negativas a respeito dos quesitossobre materialidade e sobre a autoria, encerra-se a votação, e, havendo três votos comrespostas positivas, prossegue-se na votação do quesito sobre a absolvição (art. 483, §§ 1ºe 2º). Também se adotará o mesmo procedimento na votação dos demais quesitos.

Havendo contradição na votação dos quesitos, o juiz, explicando aosjurados em que consiste a contradição, submeterá novamente à votação os quesitos a que sereferirem tais respostas (art. 490, caput). Se em virtude da votação de um quesito os demaisficarem prejudicados, o juiz assim o declarará (art. 490, par. único).

Encerrada a votação, elabora-se o termo (art.491) e, em seguida, o juizproferirá sentença condenatória ou absolutória em conformidade com o resultado da vota-ção dos quesitos.

No caso de condenação, o juiz fixará a pena, devendo levar emconta as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates e as causasde aumento admitidas pelos jurados, seguindo, no mais, o que consta do artigo387, do CPP (art. 492, I, a, b, c, d).

Decorre do novo dispositivo que os jurados não votam as circunstânciasagravantes e atenuantes, mas apenas as causas de aumento ou de diminuição de pena. Nãohá ofensa à soberania do Júri, pois as matérias referentes à pena a ser imposta ao condenadopodem ser atribuídas exclusivamente ao juiz, competente para fixá-la.

O juiz somente pode considerar circunstância agravante ou atenuante de-batida em plenário. No que se refere à agravante, representa importante mitigação na aplica-ção do artigo 385 reclamada pela doutrina, suprimindo-se do juiz o poder de aplicar agra-vante de ofício. Com isso melhor se resguarda a defesa e melhor se garante o contraditório.Todavia, quanto à atenuante, o tema exige melhor explicação. Melhor seria que se adotassea “cesura”, com partição do julgamento em duas etapas, ficando a segunda destinada aodebate sobre a pena, caso houvesse condenação na primeira. Como isso não aconteceu, nãose pode exigir do defensor do acusado que, para sustentar a existência de uma atenuante,tenha de, embora implicitamente, admitir a possibilidade de condenação. Por isso, preferívelentender que pode o juiz, em virtude do princípio da plenitude da defesa aplicável ao júri,admitir circunstância atenuante se ela resultar da prova dos autos, principalmente quandoassentada em prova documental, como ocorre com a menoridade.

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Com a mesma orientação adotada em relação aos demais procedimentosalterados recentemente, exige-se que na sentença o juiz, para determinar o recolhimento àprisão ou a sua manutenção, verifique se estão presentes os requisitos da prisão preventiva(art. 492, I, e).

Ainda, incumbe ao juiz estabelecer os efeitos genéricos e específicos dacondenação (art. 492, I, f).

Quando houver absolvição, pelo novo sistema de votação dos quesitos,não se exige do juiz a indicação do fundamento da absolvição, mas somente que mandecolocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso, revogue as medidasrestritivas provisoriamente decretadas e imponha, se for o caso, a medida de segurançacabível (art. 492, II, a,b,c).

A verificação do fundamento da absolvição será feita com base no termoe no resultado da votação dos quesitos. Somente ficará certa a causa de absolvição quandonegada a materialidade ou a autoria (quesitos I e II). Não se saberá, contudo, a razão daabsolvição quando ocorrer na votação do quesito III.

Das ocorrências mais importantes será lavrada ata (art. 495), sendo que afalta da ata sujeitará o responsável a sanções administrativa e penal (art. 496). A ata é docu-mento de vital importância para o júri, pois é por seu meio que será verificada a regularidadedos trabalhos ou, ao contrário, a existência de eventual nulidade. Também servirá para aparte demonstrar a inocorrência de preclusão pela oportuna impugnação a respeito da reda-ção de um quesito.

Mudanças de classificação após a pronúncia e no julgamentoMudanças de classificação após a pronúncia e no julgamentoMudanças de classificação após a pronúncia e no julgamentoMudanças de classificação após a pronúncia e no julgamentoMudanças de classificação após a pronúncia e no julgamento

Quanto à desclassificação no julgamento em plenário, a nova lei trou-xe importantíssimas alterações.

No art. 492, § 1º, a primeira parte corresponde, com diferente reda-ção, ao que estava no § 2º, do mesmo dispositivo. Prevê que, se houver desclassifica-ção da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunaldo Júri caberá proferir em seguida a sentença.

Todavia, a segunda parte do novo § 1º, do artigo 492, contemplahipótese antes não suficientemente regulada pela legislação em vigor. Determina a apli-cação, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei comoinfração de menor potencial ofensivo, do disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei n º9.099, de 26 de setembro de 1995.

Quando passou a vigorar, entre nós, a Lei n º 9.099, muito se discutiusobre a possibilidade de, em caso de desclassificação em plenário de Júri, ser efetuada atransação prevista no artigo 76. Prevaleceu o entendimento de que os autos deveriamser remetidos ao Juizado Especial. Posteriormente, a Lei 11313/2006 reabriu a discus-são, ao prever que, em casos de reunião de processos, perante o juízo comum ou otribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, seriam obser-

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vados os institutos da transação dos danos e da composição civil. Com isso, sem se discutir,aqui, sobre as afirmações de inconstitucionalidade em virtude da competência exclusiva doJuizado Especial para a aplicação da Lei nº. 9.099, admitiu-se que, nos processos de júri,fosse feita a transação. Ora, se ela era possível no início do processo, nada impedia que fossefeita, ao final, em caso de desclassificação. De qualquer forma, permanecia ainda algumadúvida a respeito. Agora, com o § 1º, do art. 492, quis o legislador que fossem aplicadas asregras dos artigos 69 e seguintes da Lei 9099. Assim, deve o juiz elaborar sentença com adeclaração da desclassificação, aguardar o decurso de prazo para o recurso do MinistérioPúblico, e, depois, designar audiência para os fins previstos nos artigos citados.

Outra relevante regra é a do § 2º, do artigo 492: Em caso de desclassi-ficação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presi-dente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1º deste artigo.Antes grassava divergência sobre a matéria, havendo os que, a nosso ver sem razão, susten-tavam a continuidade da votação dos quesitos pelos jurados, a fim de resolverem sobre oscrimes conexos. O entendimento predominante era no sentido do novo dispositivo. Ora, se,em virtude da votação dos jurados, o crime passa a ser de competência do juiz singular, nãohavia razão para continuarem votando delitos conexos que, desde o início, não eram dacompetência do júri. Diferente, contudo, se os jurados absolvem o acusado pelo crime dojúri, quando, então, deverão continuar no julgamento dos crimes conexos, pois, nesse caso,afirmaram a competência do júri para o caso.

Atribuições do Presidente do Atribuições do Presidente do Atribuições do Presidente do Atribuições do Presidente do Atribuições do Presidente do TTTTTribunal do Júriribunal do Júriribunal do Júriribunal do Júriribunal do Júri

As atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri estãoespecificadas no artigo 497. Trata-se, obviamente, de rol não exaustivo, pois, inde-pendentemente de serem mencionados, o juiz exerce plenamente os poderes ineren-tes à sua atividade jurisdicional.

No rol, encontram-se especificadas duas grandes espécies de atribuiçõesdo juiz: a) as decorrentes do poder do juiz de policiar os trabalhos e de velar pela suaregularidade, podendo usar ainda de poderes coercitivos; b) as derivadas de seu poder dedecidir as questões surgidas durante a sessão. Assim, em relação às atribuições do primeirogrupo, incumbe-lhe regular a polícia das sessões e prender os desobedientes (inciso I), requi-sitar o auxílio da força pública (inciso II), regular os debates (inciso III), mandar retirar dasala o réu que dificultar a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença(inciso VI), interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repousoou refeição dos jurados (inciso VIII); regulamentar, durante os debates, a intervenção deuma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minu-tos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última (inciso XII).Quanto às do segundo grupo, deve o juiz decidir sobre: questões incidentes, que não depen-dam de pronunciamento do júri (inciso IV), a nomeação de defensor ao réu, quando o con-siderar indefeso e, a dissolução, neste caso, do conselho, marcando novo dia para o julga-mento (inciso V); a suspensão da sessão pelo tempo indispensável à execução de diligênciasrequeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados (incisoVII); a extinção de punibilidade (inciso IX); questões de direito suscitadas no curso do

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julgamento (inciso X); diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que preju-dique o esclarecimento da verdade (inciso XI).

BibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografia

ARRUDA, Eloísa de Souza e SILVA, César Dario Mariano da. Ques-tionário no Julgamento pelo Júri. Disponível em www.apmp.com.br/juridico/artigos/docs/2008/rev_quest_julg_juri.doc, acesso em 26.08.2008.

BADARÓ, Gustavo Henrique Righi, Projeto de Lei n. 4.203/2001 –Tribunal do Júri. In: FERRARI, Eduardo Reale. Código de Processo Penal: comentári-os aos projetos de reforma legislativa. Campinas: Millenium, 2003.

DEZEM, Guilherme Madeira e JUNQUEIRA, Gustavo OctavianoDiniz. Nova lei do procedimento do Júri comentada. Campinas: Millennium, 2008.

MENDONÇA. Andrey Borges de. Nova reforma do Código de Pro-cesso Penal. São Paulo: Método, 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: RT, 2008.

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COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS AAAAAOOOOOPRPRPRPRPROCEDIMENTOCEDIMENTOCEDIMENTOCEDIMENTOCEDIMENTOOOOODO JÚRI COM ASDO JÚRI COM ASDO JÚRI COM ASDO JÚRI COM ASDO JÚRI COM AS

ALALALALALTERAÇÕESTERAÇÕESTERAÇÕESTERAÇÕESTERAÇÕESINTRINTRINTRINTRINTRODUZIDODUZIDODUZIDODUZIDODUZIDASASASASAS

PELAPELAPELAPELAPELALEI 11.689/08LEI 11.689/08LEI 11.689/08LEI 11.689/08LEI 11.689/08

ELOISA DE SOUSA ARRUDAProcuradora de JustiçaMestre em Direito Processual Penal pela PUCDoutora em Direito Penal pela PUCProfessora assistente mestre do DepartamentoPenal e Processo Penal da PUC

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COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS AO PROCEDIMENTAO PROCEDIMENTAO PROCEDIMENTAO PROCEDIMENTAO PROCEDIMENTO DO JÚRI COM O DO JÚRI COM O DO JÚRI COM O DO JÚRI COM O DO JÚRI COM ASASASASASALALALALALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELATERAÇÕES INTRODUZIDAS PELATERAÇÕES INTRODUZIDAS PELATERAÇÕES INTRODUZIDAS PELATERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI 1 LEI 1 LEI 1 LEI 1 LEI 11.689/081.689/081.689/081.689/081.689/08

1. Introdução1. Introdução1. Introdução1. Introdução1. Introdução

O Código de Processo Penal em vigor, contando com mais de meioséculo de existência, foi alvo de inúmeras alterações pontuais e assistêmicas, introduzidaspor leis esparsas, buscando adequá-lo às novas realidades sociais, culturais, políticas,econômicas e jurídicas surgidas ao longo dos anos.

Mesmo depois das modificações, remanesceram as críticas ao Decre-to-lei 3.689, de 3/10/1941, apontado como instrumento político processual penal inade-quado para prevenção e repressão da criminalidade contemporânea.

Ante tal constatação, uma vez mais, formou-se comissão nomeadapelo Ministério da Justiça, destinada a promover estudos com o escopo de elaboraranteprojeto do Código de Processo Penal 1.

A comissão, que ficou conhecida por “Comissão Pellegrini”, vez quepresidida pela professora Ada Pellegrini Grinover, entendeu que seria de melhor ordemformular reformas setoriais e consolidou seus estudos e discussões em sete anteproje-tos, enviados à Casa Civil, que, após algumas alterações, os encaminhou ao CongressoNacional resultando nos seguintes projetos de lei:

1. Investigação Criminal- Projeto de Lei nº 4.209/2001;2. Prisão, medidas cautelares e liberdade - Projeto de Lei nº 4.208/

2001;3. Interrogatório do acusado e defesa efetiva - Projeto de Lei nº

4.204/2001;4. Provas - Projeto de Lei nº 4.205/2001;5. Suspensão do processo, emendatio libelli, mutatio libelli e no-

vos procedimentos - Projeto de Lei nº 4.207/2001;

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11111 A Comissão elaboradora de anteprojeto de alterações ao Código de Processo Penal foi constituídapela Portaria nº 61, de 20 de janeiro de 2000, pelo então Ministro da Justiça José Carlos Dias e eraformada pelos seguintes juristas: Ada Pellegrini Grinover (Presidente), Antônio Magalhães GomesFilho, Antônio Scarance Fernandes, Luiz Flávio Gomes, Miguel Reale Júnior, Nilzardo Carneiro Leão,Petrônio Calmon Filho (Secretário), René Ariel Dotti, Rogério Lauria Tucci e Sidnei Beneti. Posteri-ormente, com a saída do Ministro José Carlos Dias houve a renúncia de René Ariel Dotti, ingressandoem seu lugar Rui Stocco.

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6. Júri - Projeto de Lei nº 4.203/2001;7. Recursos e Ações de impugnação - Projeto de Lei nº 4.206/

2001.A metodologia adotada para a elaboração dos anteprojetos foi no sen-

tido de aproveitar, tanto quanto possível, as normas já previstas no Código de ProcessoPenal de 1941, modificando-se somente aquelas necessárias à agilização edesburocratização do processo, abandonando, por conseguinte, discussões meramenteacadêmicas, com a finalidade de alcançar maior efetividade na tutela jurisdicional.

Nesse sentido a opinião de Eduardo Reale Ferrari nos comentáriosintrodutórios aos projetos de reforma legislativa do Código de Processo Penal:

“O Novo Código de Processo Penal deve primar pela estrita obediência àConstituição Federal de 1988, sem, contudo, perenizar a burocratização e aformalidade ainda existente por influência contextual da década de quarentado século passado”. 2

Em relação ao Júri, os objetivos da proposta de alteração legislativa fica-ram explicitados na Exposição de Motivos que acompanhou o projeto de lei, quais sejam, “amodernização, simplificação e eficácia, tornando o procedimento do Júri mais garantista,prático, ágil e atual, resgatando uma dívida de mais de um século”.

Considerando que os maiores problemas diagnosticados pela comis-são de estudos diziam respeito ao excesso de formalismo e a prática de atos inúteis, àdemora na realização do julgamento, ao grande número de processos anulados porquestões formais, entre outras 3, o projeto se ateve à eliminação do que se denominou“usinas da prescrição”, ante a exigência da intimação pessoal da decisão de pronúncia eimpossibilidade do julgamento à revelia; a maior participação das partes nas fases detodo o procedimento; a aplicação mais efetiva dos princípios da imediação e da verdadematerial; e a erradicação do excesso de formalismo, a fim de evitar nulidades.

O procedimento veio previsto num capítulo específico no qual estãoabrangidos os atos processuais desde a fase postulatória até a fase decisória, ao contrá-rio do que ocorrida no texto de 1941, onde o rito do Júri aparecia como um desdobra-mento do ordinário.

Continua clara a existência de duas fases principais, a judiciumacusationis e a judicium causae, englobando esta última os atos preparatórios para ojulgamento da causa4.

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2 2 2 2 2 FERRARI, Eduardo Reale. Código de Processo Penal: Comentários aos projetos de reforma legislativa.Campinas: Millennium, 2003, p. 1.3 3 3 3 3 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Projeto de Lei nº 4.203/2001- Tribunal do Júri. In: FERRARI,Eduardo Reale. Código de Processo Penal: Comentários aos projetos de reforma legislativa. Campi-nas: Millennium, 2003, p. 16744444 Há autores, como é o caso de Guilherme de Souza Nucci, que sustentam ser trifásico o procedimento,tratando a fase de preparação do plenário de forma destacada. NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunaldo Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 46.

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Trataremos no presente artigo das alterações introduzidas pela Lei 11.689/08 que consideramos de maior relevo, sem a preocupação de esgotarmos o tema, até por-que a novel legislação sobre o júri certamente comportará interpretações mais acuradas querda doutrina, quer da jurisprudência.

2. 2. 2. 2. 2. Judicium Judicium Judicium Judicium Judicium AcusationisAcusationisAcusationisAcusationisAcusationis

2.1. 2.1. 2.1. 2.1. 2.1. Acusação e Instrução PreliminarAcusação e Instrução PreliminarAcusação e Instrução PreliminarAcusação e Instrução PreliminarAcusação e Instrução Preliminar

Nos termos do art. 406, realizado o juízo de admissibilidade da acusa-ção e tendo sido recebida a denúncia ou queixa, ordenará o Juiz a citação do réu queatende agora dupla finalidade: cientificá-lo de que está sendo processado e chamá-lo aoprocesso para que se defenda. Esta defesa não é a mais a autodefesa, concretizada pelopróprio acusado quando do seu interrogatório, mas a defesa técnica, realizada por ad-vogado constituído ou dativo.

A efetivação da defesa preliminar tem caráter obrigatório, tanto que,não apresentada no prazo legal, incumbirá ao juiz nomear defensor para oferecê-la ematé 10 (dez) dias (art. 408).

O objetivo da resposta da defesa não é afastar o recebimento petiçãoinicial acusatória, pois esta já foi objeto de apreciação judicial que entendeu presentesos requisitos necessários para o desencadear da ação penal. Desse modo, eventualargüição de falta de justa causa só poderá ser apreciada em sede de habeas corpus, como conseqüente trancamento da ação penal, caso concedida a ordem.

Ofertada a resposta e determinadas as diligências requeridas pelaspartes, será designada audiência que, primando pela celeridade e oralidade, concentraatos de instrução, debates e julgamento.

Na solenidade, a ordem das inquirições sofreu inversão. Serão ouvi-das em primeiro lugar as testemunhas da acusação e depois as da defesa. Seguem-se osesclarecimentos dos peritos, as acareações e o reconhecimento de pessoas e coisas,caso sejam estas provas requeridas. Só então será o réu interrogado (art. 411). Ficaevidenciada a intenção do legislador no sentido de marcar o interrogatório como ummeio de defesa, ou seja, o acusado, após haver presenciado toda a produção de provasorais, poderá realizar sua autodefesa. Continuam aplicáveis à inquirição do réu as regrasconstantes dos artigos 185 a 200 do Código de Processo Penal.

Se no curso da produção da prova houver surgido circunstância ele-mentar não contida na inicial acusatória e que possa importar em nova definição jurídicado fato, aplicar-se-á a regra do art. 3845 (art. 411 § 3º). Incumbe ao Ministério Público,nesta hipótese, proceder ao aditamento da denúncia de ofício e, caso não o faça, poderá ojuiz aplicar o procedimento constante do art. 28.

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5 5 5 5 5 Com a redação dada pela Lei nº 11.719/20.06.2008

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A previsão do art. 411 § 3º afastou a dúvida e conseqüente divergên-cia doutrinária e jurisprudencial gerada pelo art. 408, § 4º do Código de 1941: “O juiznão ficará adstrito à classificação do crime, feita na queixa ou denúncia, embora fique oréu sujeito à pena mais grave, atendido, se for o caso, o disposto no art. 410 e seuparágrafo.”

O art. 410 tratava da hipótese de desclassificação para crime que nãofosse da competência do júri. Em se tratando de alteração da tipificação do delito, per-manecendo a competência do júri, o juiz aplicava o 408 § 4º, ou seja, pronunciava o réuatribuindo à conduta a classificação que entendesse correta, ainda que ficasse o réusujeito a pena mais grave. O Juiz podia inclusive incluir qualificadora que nem ao menostivesse sido narrada na denúncia.

O questionamento que se punha era se o art. 384 precisaria ser aplica-do, principalmente em se tratando da possibilidade de advir pena mais grave. Havia duascorrentes. A primeira entendia ser necessária a aplicação do art. 384 (mutatio libeli) poranalogia. A segunda, que era majoritária, era no sentido de ser desnecessária a aplicaçãodo referido dispositivo, porque a pronúncia não é sentença condenatória, não havendo,por isso mesmo, a necessidade do rigor do art. 384, até porque a ampla defesa ficariaassegurada na segunda fase, a do julgamento pelo júri. Além disso, os fatos apurados nosumário de culpa restariam explicitados na acusação formulada no libelo-crime acusatório,mostrando-se desnecessário o aditamento da denúncia.

Concluída a produção da prova e superadas eventuais questões surgidasdurante a instrução, passa-se à fase dos debates orais, concedendo-se a palavra, respec-tivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis pormais 10 (dez) (art. 411 § 4º).

Havendo assistente da acusação habilitado, seu advogado falará depoisdo Promotor de Justiça e terá o prazo de 10 (dez) minutos para as alegações (art. 411 § 6º).

Figurando na ação penal mais de um réu, o tempo para a acusação e adefesa de cada um deles será considerado individualmente (art. 411 § 5º).

Encerradas as alegações orais, o Juiz proferirá sua decisão na própriaaudiência ou no prazo de 10 (dez) dias (art. 411 § 9º).

Determina o art. 412 que o procedimento esteja encerrado no prazomáximo de 90 (noventa) dias. Sabemos que na prática, dada a complexidade de algunsfeitos e o próprio acúmulo de serviço em inúmeras comarcas, o cumprimento de talprazo far-se-á inviável. Nestes casos, reputamos válida a pacífica orientaçãojurisprudencial acolhendo o princípio da razoabilidade. Ou seja, desde que não tenhaconcorrido para o excesso do prazo legal, atuação desidiosa do Ministério Público oudo Juízo, não poderá daí advir a invalidação de atos processuais.

2.2. Decisões2.2. Decisões2.2. Decisões2.2. Decisões2.2. Decisões

2.2.1. Pronúncia2.2.1. Pronúncia2.2.1. Pronúncia2.2.1. Pronúncia2.2.1. Pronúncia

Nos termos do art. 413, ocorre quando o juiz se convence da existên-cia do crime e de indícios de que o réu seja o seu autor.

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Indícios correspondem à fundada suspeita, sendo que, nesta fase, a exem-plo do que ocorria sob a égide do Código de 1941, a dúvida se resolve pro societate e nãopro reo6.

Nas alterações introduzidas pela nova Lei 11.689/08, a pronúncia dei-xou de ser referida como “sentença”, o melhor que atende ao rigor técnico, posto tratar-se de decisão interlocutória mista não terminativa. Ela aprecia o mérito mas não o julga,não encerrando o processo. Possui conteúdo meramente declaratório, pois o Juiz pro-clama a admissibilidade da acusação, ou seja, declara o réu suspeito, ensejando suasubmissão ao veredicto do Conselho de Sentença.

O art. 413 § 1º deixou assentado que a fundamentação da pronúnciadeve limitar-se a indicar os elementos probatórios que conformem a existência dos re-quisitos legais, já que a decisão não pode constituir pré-julgamento. Referida previsãoveio ao encontro da orientação jurisprudencial, sobre os limites das razões de convenci-mento explicitadas na pronúncia, no sentido de que o juiz deve ser sucinto, sóbrio ecomedido na utilização de referências sobre autoria e materialidade. Não deve dizer, porexemplo, que tem certeza da autoria, ou que há sérias dúvidas sobre a autoria, pois taisreferências podem influenciar os jurados.

O dispositivo da pronúncia é classificatório. O Juiz deve classificar napronúncia o crime doloso contra a vida, o crime conexo com as respectivas qualificadoras– circunstâncias que possuem preceito secundário próprio, com pena autônoma (§ 2º doart. 121 do Código Penal) e causas especiais de aumento de pena – aquelas que efetuam,sobre a pena do tipo básico de um crime, um aumento em quantidade fixa ou dentro decertos limites (art. 121 § 4º e art. 127 Código Penal).

A pronúncia não deve se referir às agravantes, que são causa gerais deobrigatório aumento de pena (art. 61e 62 do Código Penal), atenuantes, que são causasgerais de obrigatória diminuição da pena (art. 65 do Código Penal) ou aos privilégiosque são causas especiais de diminuição de pena, como o homicídio privilegiado.

Em primeiro lugar, tais causas não dizem respeito à classificação docrime, por não influírem no tipo, ou seja, não se referem à existência do crime.

Em segundo lugar, nos termos do disposto no art. 492, I, “b”, ascircunstâncias agravantes e atenuantes devem ser articuladas pela acusação e peladefesa em plenário para que sejam tomadas em consideração pelo Juiz caso advenhaveredicto condenatório. Ou seja, nem ao menos constarão do questionário comoocorria antes da reforma.

Quanto aos privilégios, há vedação expressa neste sentido constantedo art. 7º da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal.

Na pronúncia não deverá ser reconhecida eventual semi-imputabilidade,porque a decisão, no caso, é condenatória e somente o júri pode condenar.

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6 STF: “Por ser a pronúncia mero juízo de admissibilidade da acusação, não é necessária provaincontroversa do crime para que o réu seja pronunciado. As dúvidas quanto à certeza do crime e daautoria deverão ser dirimidas durante o julgamento pelo Tribunal do Júri” (RT 730/463).

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Também não poderá o Juiz manifestar-se sobre concurso de crimes (ex.concurso material, concurso formal, continuidade delitiva), pois se trata de questão relativa àaplicação da pena.

Decidindo pela pronúncia, o juiz deverá definir a situação prisional doacusado. Quer mantenha ou revogue a prisão anteriormente decretada, quer, estando o réusolto venha a decretá-la ou dispense de fazê-lo, a decisão de pronúncia deve motivar tal ouqualquer decisão, tendo em vista o disposto no art. 413 §§ 2º e 3º. Mantida que seja a prisãopela pronúncia, torna-se irrelevante eventual irregularidade da prisão em flagrante ou qual-quer discussão a respeito da prisão preventiva.

Ao pronunciar ou impronunciar o acusado, se os autos contiverem ele-mentos que indiquem a culpabilidade de outras pessoas, o juiz deverá ordenar que os autosvoltem ao Ministério Público para aditamento da denúncia e demais providências relativas aoprocedimento do sumário de culpa. Pode-se ainda aplicar o art. 80 do Código de ProcessoPenal, que admite a separação de processos, se houver número excessivo de acusados, paranão prolongar a prisão de algum deles ou por outro motivo relevante (art. 417).

Nos termos do art. 420, I, serão intimados pessoalmente da pronúncia oacusado, o defensor nomeado e o Ministério Público.

A intimação do defensor constituído, e dos advogados do querelante e doassistente da acusação, será feita pela imprensa, aplicando-se a regra do art. 370 § 1º doCódigo de Processo Penal (art. 420, II).

Estando preso ou solto o réu, primeiro será tentada sua intimaçãopessoal.

Certificado que o acusado solto se encontra em local incerto ou não sabi-do, proceder-se-á sua intimação por edital (art. 420, parágrafo único). Não remanesce,desse modo, a obrigatoriedade de intimação pessoal do réu no caso de pronúncia por crimeinafiançável, o que resultava na suspensão do processo até que a ciência formal se efetivasseou diante da ocorrência da prescrição, interrompida pela pronúncia (art. 117, III do CódigoPenal).

O recurso contra a pronúncia continua sendo o em sentido estrito(art. 581, IV).

O acórdão confirmatório da pronúncia também interrompe a prescrição(art. 117, III do Código Penal).

2.2.2. Impronúncia2.2.2. Impronúncia2.2.2. Impronúncia2.2.2. Impronúncia2.2.2. Impronúncia

Ocorrerá se o Juiz não se convencer da existência do crime ou deindício suficiente de que seja o réu o seu autor.

Prova de existência do crime é a convicção sobre a materialidade; no caso dehomicídio, certeza sobre a ocorrência de morte, não natural, provocada por alguém.

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Indícios suficientes de autoria correspondem à existência de elementosprobatórios que convençam da possibilidade razoável de que o réu tenha sido o autor dainfração.

Na falta de um ou de outro, o juiz deverá julgar improcedente a de-núncia ou queixa, impronunciando o réu.

A impronúncia só faz coisa julgada formal. Por isso, de acordo com oartigo 414, enquanto não extinta a punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ouqueixa, se houver prova nova. A decisão, portanto, é meramente terminativa, ou seja,encerra a ação penal em curso, não fazendo coisa julgada material absoluta, como asentença de absolvição.

Nas palavras de Vicente Greco Filho: “Prova nova é o elemento fáticorelativo ao fato criminoso não constante do processo anterior e que possa alterar aconvicção sobre a existência do crime ou a autoria” 7.

Surgindo prova nova, pode ser instaurada outra ação penal, desde ainicial acusatória, repetindo-se todo o procedimento. A prova do processo anterior podeser aproveitada, desde que resguardada, a possibilidade de contraditório sobre ela, por-que a circunstância nova pode recomendar a revisão da prova anterior 8.

Da decisão de impronúncia, de acordo com o art. 416 cabe apelação.Como se vê, contrariando sólido entendimento doutrinário no sentido de classificar aimpronúncia como decisão interlocutória mista terminativa, visto que encerra a primeirafase do procedimento do júri, deixando de inaugurar a segunda, resolveu o legisladorincluí-la entre as decisões definitivas, estas sim apeláveis, nos termos do art. 593, II.

Havendo impronúncia em relação ao crime doloso contra a vida, o conexoserá encaminhado para apreciação do Juiz singular, posto que cessada a competência dojuízo do júri para o julgamento da causa, aplicando-se o art. 419, caput, por analogia. Issoporque, nos termos do art. 81, parágrafo único, perde ele a competência para julgar o conexo.Ainda que seja competente para julgar esse crime na condição de juiz singular, como aconte-ce nas comarcas de vara única, deve aguardar a preclusão da impronúncia, porque somentenessa oportunidade desaparece a competência prevalente do júri que atraiu o conexo 9.

2.2.3. 2.2.3. 2.2.3. 2.2.3. 2.2.3. Absolvição sumáriaAbsolvição sumáriaAbsolvição sumáriaAbsolvição sumáriaAbsolvição sumária

A sentença de absolvição sumária será proferida se ficar provadaa inexistência do fato; se ficar provado não ser o réu o autor ou partícipe do fato ouse não constituir o fato infração penal. Além disso, quando o juiz se convencer daexistência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena (art. 415,incisos I, II, III e IV).

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7 GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 361.8 Idem, ibidem.9 Idem, ibidem, p. 362.

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Como se vê, foram ampliadas as causas ensejadoras de absolvição su-mária, visto que o texto anterior só contemplava as excludentes de antijuridicidade e as diri-mentes de culpabilidade.

Importante frisar que só a certeza quanto à ocorrência de uma dashipóteses do art. 415 poderá servir de fundamento para a absolvição desde logo. Adúvida, como já se disse, importará na prolação de decisão de pronúncia encaminhandoo réu ao seu juízo natural que é o Júri. Assim, continua não sendo possível a chamadaabsolvição dubitativa, mas somente a absolvição categórica.

Os incisos I, II e III do art. 415 vieram corrigir a omissão doDecreto-lei 3.689/41, que não previa solução caso o juiz se convencesse daatipicidade ou inexistência do fato ou de que, sem qualquer dúvida, o réu nãoera seu autor ou partícipe.

Sustentavam alguns autores que embora a lei não fizesse referência, asolução seria, nestas hipóteses, a absolvição sumária. A impronúncia não seria admissívelporque manteria a possibilidade de o réu voltar a ser processado, situação incompatívelcom a certeza do juiz da inexistência do fato ou da autoria10..

Assim, a opinião de Carlos Frederico Coelho Nogueira:

Além disso, não se podem enquadrar tal situação na sentença de impronúncia(art. 409 do CPP), pois esta, por não estabelecer juízo definitivo quanto àexistência do fato e sua autoria, não faz coisa julgada material, nos termos doparágrafo único do mesmo artigo. A possibilidade de reabertura do processocom o surgimento de prova nova não condiz com a segurança jurídica quedeve decorrer da certeza moral que leva o julgador a absolver um acusado” 1111111111.

Para Júlio Fabbrini Mirabete as hipóteses do art. 411 eram taxativas, edesse modo, se o juiz reconhecesse de que o agente não participara do ilícito, negando,portanto, a autoria, a decisão seria de impronúncia12.

Também neste sentido que diante da falta de previsão legislativa as hipó-teses comportariam impronúncia a lição de José Frederico Marques. Para o autor, se adecisão se fundasse em razões idênticas às apontadas nos itens I e III, do art. 386, equivale-ria à verdadeira sentença absolutória, e então a impronúncia faria coisa julgada, tornandoimpossível nova persecutio criminis13.

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10 GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 361.11 NOGUEIRA, Carlos Frederico Coelho. Comentários ao Código de Processo Penal. São Paulo: Edipro,2002, v. 1. P. 809-810.12 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 18ª. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 511.13 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª. ed. Campinas: Millennium,2000, v. III, p. 221-222.

“Não haveria sentido em se mandar a julgamento pelo Júri um indivíduocuja total inocência estivesse cabalmente demonstrada no sumário de cul-pa. Se o reconhecimento, com plena certeza, de uma excludente deantijuricidade, por parte do juiz sumariante, deve levar à absolvição sumá-ria, com muito maior razão deve ser dada a mesma solução à inexistênciado fato, à negativa de autoria e à exclusão da relação de causalidade.

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Como se vê, a nova previsão sobre a absolvição sumária pacifica as di-vergências doutrinárias acima mencionadas.

Nos termos do parágrafo único do art. 415, a inimputabilidade do acusa-do, mesmo que indubitavelmente constatada, não pode levar à absolvição sumária, a não serque tenha sido sustentada pela defesa como tese única. Podem mesmo ocorrer situações emque o acolhimento de outras causas de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, se mostremais favorável ao réu, pois a absolvição daí decorrente não impõe a ele qualquer gravame.No caso da inimputabilidade, o seu reconhecimento como causa de exclusão de culpabilida-de, importará sempre na fixação da medida de segurança cabível. Mesmo a submissão doacusado a julgamento pelos jurados populares pode se afigurar como mais vantajosa, já que,no plenário, podem ser sustentadas teses defensivas alternativas que levem à absolvição sema imposição de medida de segurança.

A existência da denominada “semi-imputabilidade” não leva à absolviçãosumária, como é evidente, impondo-se a pronúncia do réu.

A absolvição sumária tem a natureza jurídica de sentença e, portanto, fazcoisa julgada formal e material. Poderá ser impugnada por meio de recurso de apelação (art.416).

A respeito da existência de crime conexo com o doloso contra avida, no caso absolvição sumária, valem as observações já lançadas quando trata-mos da impronúncia.

2.2.4. Desclassificação2.2.4. Desclassificação2.2.4. Desclassificação2.2.4. Desclassificação2.2.4. Desclassificação

Ocorre se o juiz se convence da existência de infração penal que nãoseja crime doloso contra a vida. Assim decidindo, deverá o juiz remeter os autos ao juizcompetente.

A Lei 11.689/08 silenciou sobre as providências a serem tomadas nojuízo que recepciona a ação penal. Todavia, entendemos ser o caso de aplicação doartigo 384 (com a redação dada pela Lei 11.719/2008).

Assim, será dada vista ao Ministério Público para que adite a denún-cia, seja para mera alteração na classificação da conduta, seja para a inclusão de cir-cunstância elementar anteriormente não prevista.

Consoante o disposto no § 4º do art. 384, havendo aditamento, cadaparte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas.

O Juiz, então, designará dia e hora para a audiência, com inquiriçãode testemunhas, novo interrogatório do acusado e realização de debates e julgamento(art. 384, § 2º).

Se a prova dos autos não permitir de plano a desclassificação, o Juizdeve pronunciar o acusado, nos termos da denúncia, cabendo ao Conselho de Sentençaresolver a matéria da culpabilidade14.

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14 RT 776/651

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3. Judicium Causae3. Judicium Causae3. Judicium Causae3. Judicium Causae3. Judicium Causae

3.1. Preparação do processo para julgamento em plenário3.1. Preparação do processo para julgamento em plenário3.1. Preparação do processo para julgamento em plenário3.1. Preparação do processo para julgamento em plenário3.1. Preparação do processo para julgamento em plenário

Esgotadas as vias recursais, ocorre a preclusão da decisão de pronún-cia, por falta de instrumentos de modificação. Ainda assim a preclusão não é absoluta -se houver fato superveniente que altere a classificação do delito, a decisão de pronúnciapoderá ser retificada (art. 421 § 1º).

Sob a égide do Decreto-lei 3.689/41, preclusa a pronúncia, os autoseram encaminhados à acusação para a apresentação de libelo-crime acusatório e depoisà defesa para a contrariedade ao libelo. Com a reforma introduzida pela Lei 11.689/08,estes atos processuais foram suprimidos do procedimento. Assim, as partes são intima-das para que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentem rol de testemunhas, até o máximode 5 (cinco), juntem documentos, requeiram diligências e indiquem provas que preten-dam produzir em plenário (art. 422).

À vista dos requerimentos, o Juiz proferirá decisão saneadorada qual constará um breve relatório do processo, a determinação para que se-jam produzidas as provas requeridas e a inclusão do feito na pauta da reuniãodo Tribunal do Júri (art. 423, I e II).

3.2. Desaforamento3.2. Desaforamento3.2. Desaforamento3.2. Desaforamento3.2. Desaforamento

Antes do julgamento, poderá ocorrer o desaforamento, que é a deslocaçãoda competência, previsto exclusivamente no caso do julgamento em plenário do Júri, seocorrentes um dos motivos do art. 427.

Os motivos para o desaforamento permanecem os mesmos, quais sejam:1. interesse da ordem pública;2. dúvida quanto à imparcialidade do júri;3. risco à segurança do réu;4. se o julgamento não se realizar dentro de 6 (seis) meses contados

do trânsito em julgado da decisão de pronúncia, se para a demora não concorreu o réu ou asua defesa. Neste caso, acrescentou o legislador a necessidade que ficar comprovado oexcesso de serviço para que o desaforamento aconteça.

A derrogação de competência deve ser excepcional e por isso mesmo,graves e comprovados os motivos que embasam o pedido.

O desaforamento pode ser provocado por representação do juiz ou re-querimento de qualquer das partes diretamente ao Tribunal de segundo grau.

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Contrariando orientação que subsistia no Supremo Tribunal Federal, nosentido de que o assistente da acusação não podia pleitear desaforamento, foi ele incluídopela Lei 11.689/08, entre aqueles legitimados a suscitar o incidente.

O pedido de desaforamento, referindo-se ao deslocamento do julga-mento, e não de todos os atos do processo, só é cabível no caso de réu pronunciado e,portanto, deve ser formulado após o trânsito em julgado da decisão de pronúncia.

Considerando a relevância do pedido, poderá ser concedida liminarpara a suspensão da solenidade de julgamento (art. 427 § 2º).

O Juiz Presidente do Júri prestará informações a respeito do pedidode desaforamento se não foi o autor da representação (art. 427 § 3º).

Não há mais a previsão de oitiva obrigatória do Procurador-Geral, de-pois de prestadas as informações. Entendemos, todavia, que remanesce a necessidade deoitiva do Ministério Público de segundo grau, na condição de custos legis, como decorrên-cia do art. 257 do C.P.P.

A decisão sobre o desaforamento ou seu indeferimento é irecorrível, masjá se entendeu cabível a impetração de habeas corpus para o Superior Tribunal de Justiçacontra o indeferimento do pedido caso seja prejudicial ao réu (art. 105, I, c da CF).

A Lei 11.689/08 deixou consignado o que já era entendimento da doutrina eda jurisprudência, ou seja, não se admite desaforamento no julgamento de apelação da decisão doJúri. Realizado o primeiro julgamento, não é mais possível pedido de desaforamento, ocorrendouma espécie de preclusão, porque o deferimento atenta contra a soberania do júri, como sehouvesse uma censura sobre o primeiro julgamento.

Abre-se, a possibilidade de desaforamento para o segundo julgamen-to se fatos ocorridos durante o primeiro júri anulado ou fatos supervenientes justifica-rem a medida (art. 427 § 4º).

Deferido o desaforamento, o tribunal indicará a comarca competente,que deverá próxima, mas não necessariamente contígua, em que não se repitam os mo-tivos que o provocaram na comarca de origem. A despeito de a Lei 11.689/08 ter usadoa expressão “comarca da mesma região”, por óbvio, não quis se referir à região do país.Entendimento neste sentido levaria à conclusão de um fato ocorrido em São Paulo,pudesse ser julgado em Minas Gerais, o que atenta contra toda a estrutura de competên-cias do Poder Judiciário brasileiro.

3.3. Lista geral de jurados3.3. Lista geral de jurados3.3. Lista geral de jurados3.3. Lista geral de jurados3.3. Lista geral de jurados

Em expediente instaurado no cartório do juízo do Júri, anualmente ojuiz deve elaborar a lista geral de jurados. A Lei 11.689/08, como se vê do art. 425 e §1º, procedeu a uma atualização, aumentando sensivelmente o número de jurados queintegrarão a lista geral, já que a previsão do Código de 1941 não atendia mais à realida-de dos grandes centros urbanos com alto índice de criminalidade.

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Pode ser jurado o cidadão, ou seja, o brasileiro nato ou naturalizadono gozo dos seus direitos políticos, maior de 18 (dezoito) anos e de notória idoneidade(art. 436). Diminuiu-se a idade que permite o alistamento do jurado, antes 21 (vinte eum) anos. É até compreensível que a modificação da maioridade civil para 18 anos,com o advento do novo Código Civil, tenha influído na elaboração da Lei 11.689/08.Todavia, entendemos que melhor teria sido a manutenção da idade mínima em 21 anos,dada a gravidade das questões submetidas ao Tribunal do Júri, que demandam refle-xão, maturidade e experiência de vida.

O rol de jurados será anualmente completado até porque aquele quetiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederam a publi-cação da lista geral fica dela excluído (art. 426 § 4º).

A função de jurado é obrigatória, salvo as isenções previstas no art.437. Seu exercício efetivo é considerado serviço público relevante, gera presunção deidoneidade moral, assegura prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamen-to definitivo (art. 439). Garante também preferência, em igualdade de condições, naslicitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública,bem como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária (art. 440).

Os jurados incluem-se no conceito de funcionários públicos do art.327 do Código Penal, de modo que são responsáveis, nos mesmos termos que os juízesde carreira, por crime de responsabilidade de agentes públicos.

O art. 438 introduziu como novidade a necessária prestação de servi-ço alternativo pelo jurado dispensado da função em razão de convicção religiosa, filo-sófica ou política. Fica desse modo resolvida a polêmica entre a obrigatoriedade dafunção de jurado e a garantia constitucional da liberdade de credo e de pensamento.

A multa ao jurado faltoso foi atualizada, podendo ser fixada entre 1(um) e 10 (dez) salários mínimos, atendida a sua condição econômica (art. 442).

3.4. Publicação da relação dos processos que serão julgados3.4. Publicação da relação dos processos que serão julgados3.4. Publicação da relação dos processos que serão julgados3.4. Publicação da relação dos processos que serão julgados3.4. Publicação da relação dos processos que serão julgados

Antes do início da reunião do júri, o juiz deverá mandar publicar arelação dos processos que nela serão julgados, sendo que, salvo motivo de interessepúblico que autorize a alteração da ordem, terão preferência: a) os processos de réupreso; b) os processos de réu preso há mais tempo ou, em igualdade de condições, c) osque tiverem sido pronunciados há mais tempo (art. 429).

3.5. Sorteio dos Jurados3.5. Sorteio dos Jurados3.5. Sorteio dos Jurados3.5. Sorteio dos Jurados3.5. Sorteio dos Jurados

Na periodicidade estabelecida na lei de organização judiciária, o juizdeverá proceder ao sorteio dos 25 (vinte e cinco) jurados para a sessão periódica ouextraordinária (art. 433).

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3.6.3.6.3.6.3.6.3.6. Convocação eConvocação eConvocação eConvocação eConvocação e IntimaçõesIntimaçõesIntimaçõesIntimaçõesIntimações

Sorteados os 25 jurados que comporão a reunião que se seguir, serãoeles convocados para comparecer na data da primeira sessão de julgamento.

Também serão intimados o réu e seu defensor, o Ministério Público, oquerelante, o ofendido (se for possível), o advogado do assistente da acusação, as teste-munhas e os peritos eventualmente arrolados (art. 431).

4. Procedimento da Sessão Plenária4. Procedimento da Sessão Plenária4. Procedimento da Sessão Plenária4. Procedimento da Sessão Plenária4. Procedimento da Sessão Plenária

4.1. Instalação4.1. Instalação4.1. Instalação4.1. Instalação4.1. Instalação

No dia e hora marcados para a 1ª sessão de julgamento do Júri, o juizverificará a presença de todos os que foram intimados e dos jurados convocados.

Ausente o representante do Ministério Público, o julgamento seráadiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião. Se injustificada a ausência,deverá o Juiz Presidente comunicar o Procurador-Geral de Justiça para eventuais provi-dências de ordem correcional (art. 455 e parágrafo único).

A ausência injustificada do advogado gera o adiamento da solenidade porsomente uma vez, comunicado o fato à seccional da Ordem dos Advogados do Brasil paraeventuais providências de caráter disciplinar. Para o novo julgamento, o Juiz já intimará aDefensoria Pública evitando assim, sucessivos adiamentos (art. 456 e §§ 1º e 2º).

Não comparecendo o réu solto, regularmente intimado, sem escusalegítima, o julgamento realizar-se-á a sua revelia. (art. 457).

Também ocorrerá o julgamento sem a presença do acusado preso se, nãoatendida a requisição para sua apresentação, houver pedido de dispensa de comparecimentosubscrito por ele e seu defensor (art. 457 § 2º).

O objetivo do legislador foi o de agilizar a resposta penal aos crimesdolosos contra a vida, posto que, sob a égide da lei anterior, a fuga do réu, pronunciadopor crime inafiançável, poderia perenizar-se até a ocorrência da prescrição, o que, emalgumas situações, apresentava-se como estratégia defensiva mais vantajosa para o acu-sado, por mais que atentasse contra o senso comum de justiça.

Entre as desvantagens decorrentes da nova regra estão o não exercí-cio da autodefesa pelo réu, pois não será interrogado; a impossibilidade de reconheci-mento pessoal por parte da vítima (se sobrevivente) e testemunhas; e a falta de contatodos jurados com o acusado para esclarecer eventuais dúvidas.

A ausência de testemunha adiará o julgamento se tiver havido requerimentopara sua intimação, em caráter de imprescindibilidade, com indicação do local em que poderia serencontrada, e desde que não seja possível a sua condução coercitiva (art. 461 § 1º).

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O Juiz instalará a sessão se presentes pelo menos 15 dos 25 juradosanteriormente sorteados e convocados (art. 463).

Não havendo número legal mínimo de jurados presentes, designar-se-ánova data para a sessão do júri, convocando-se os jurados suplentes.

Pelo que se extrai da leitura do art. 464, que remete ao art. 463, os su-plentes só serão convocados se não se perfizer o número mínimo de 15 jurados necessáriospara a instalação da sessão de julgamento. Melhor era a disposição anterior que previa aconvocação de suplentes desde que não comparecem todos os 21 jurados convocados. Talprocedimento conferia maior garantia de que, na sessão seguinte, não viesse a ocorrer o quea doutrina chama de “estouro de urna”, ou seja, a inviabilidade de realizar-se o julgamentopelo insuficiente número de jurados presentes, consideradas as recusas permitidas às partes.

4.2. Constituição do Conselho de Sentença4.2. Constituição do Conselho de Sentença4.2. Constituição do Conselho de Sentença4.2. Constituição do Conselho de Sentença4.2. Constituição do Conselho de Sentença

Entre os presentes, sete jurados serão sorteados para a formação doConselho de Sentença (art. 467).

Ao serem sorteados os jurados, a defesa e depois dela a acusaçãopoderão, até três cada uma, recusar o jurado sem declinar motivo. São as recusasimotivadas ou peremptórias (art. 468).

Se houver mais de um réu com defensores diferentes, poderá ser in-cumbido só um deles para fazer as recusas.

O texto legal anterior permitia que, não havendo acordo e não coinci-dindo as recusas, ocorresse a separação dos julgamentos, prosseguindo-se somente nodo réu cujo defensor houvesse aceitado o jurado. Era comum que a cisão do julgamentoocorresse logo no sorteio do primeiro jurado, pois bastava a divergência entre os defen-sores quanto à aceitação dos jurados para motivar a separação. O Ministério Públiconeste caso podia apenas definir, pela técnica das recusas, o réu que seria julgado.

Tal regra não mais subsiste. Sempre primando pela celeridade veio o art.469 § 1º deixando claro que “a separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razãodas recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho deSentença”. Definiu também qual será o réu julgado em primeiro lugar, ou seja, aquele a quemfoi atribuída a autoria do fato, ou, em caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério da preferên-cia estabelecido para a designação dos julgamentos (art. 469 § 2º).

4.3. Instrução em plenário4.3. Instrução em plenário4.3. Instrução em plenário4.3. Instrução em plenário4.3. Instrução em plenário

No plenário será ouvido em primeiro lugar o ofendido. Depois, as teste-munhas arroladas pela acusação, as arroladas pela defesa e os peritos, nesta ordem. Osistema de inquirição será o direto (art. 473, caput), consagrando o que já era o entendimen-to majoritário da doutrina e da jurisprudência pelo sistema anterior. Só quanto à inquirição

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pelos jurados será respeitado o sistema indireto, sendo as perguntas formuladas pormeio do Juiz Presidente (art. 473 §§ 1º e 2º).

As testemunhas de fora da Comarca serão ouvidas por carta precatóriaexpedida antes do julgamento a requerimento das partes e encartada nos autos. Nadaimpede, todavia, que comparecendo espontaneamente, prestem depoimento.

Ficou abolida a possibilitava a leitura indiscriminada de peças no ple-nário o que por vezes tomava horas, senão dias de julgamento, com pouco ou quasenenhum efeito para o esclarecimento dos jurados.

Pelo novo sistema, só poderão ser lidas as provas colhidas por cartaprecatória e as provas cautelares, antecipadas ou irrepetíveis (art. 473 § 3º).

Só depois produzidas todas as provas trazidas para o plenário é queserá o réu interrogado, seguindo a ordem já estabelecida na fase do sumário de culpa.Às partes ficou garantido o direito de formular perguntas diretamente ao acusado, de-vendo os jurados fazê-lo por meio do Juiz (art. 474 e §§ 1º e 2º).

Ficou vetada a possibilidade de utilização de algemas no acusado durantea solenidade de julgamento salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, àsegurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (art. 474 § 3º). Oque se fez como forma de não influir no ânimo dos jurados de forma desfavorável, poderá vira prejudicá-lo ainda mais. Explicitada pelo Juiz a necessidade de uso das algumas pelosfundamentos acima mencionados, ficará claro que se trata de pessoa perigosa o que colocaem risco a ordem dos trabalhos e/ou a segurança dos presentes.

Visando imprimir celeridade na colheita da provas, permitiu-se que osdepoimentos e o interrogatório sejam registrados por meio de gravação magnética, ele-trônica, estenotipia, ou técnica similar (art. 475 caput).

4.3. Debates4.3. Debates4.3. Debates4.3. Debates4.3. Debates

Encerrada a instrução, fará uso da palavra o Promotor de Justiça, e de-pois o advogado do assistente da acusação (art. 476 caput e § 1º).

Se a acusação for promovida mediante queixa (subsidiária ou de crimeconexo desmembrado), o Promotor falará depois do acusador particular na qualidade decustos legis (art. 476 § 2º).

Finda a acusação, pronunciar-se-á a defesa (art. 476 § 3º).O tempo destinado à acusação e à defesa é de uma hora e meia

para cada uma. Se houver mais de um réu o tempo será acrescido de 1 (uma) hora.Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, não haverá acréscimo detempo, que deve ser dividido entre eles; não havendo entendimento, o juiz determi-nará o tempo de cada um (art. 477 caput e §§ 1º e 2º).

Após a manifestação da defesa, poderá a acusação replicar, e, se houverréplica, qualquer que seja o tempo utilizado, poderá haver tréplica por parte da defesa. O

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tempo máximo para réplica e tréplica é de 1 (uma) hora para cada parte, elevado aodobro se houver mais de um réu.

Os apartes, que antes não contavam com previsão legal, vieram agoraregulados pelo art. 497, XII que arrolou entre as atribuições do Juiz Presidente do Tribunaldo Júri a de conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidosao tempo da parte que estiver com a palavra.

Aqueles que vivem o dia-a-dia do Júri sabem que, apesar da inexistênciade previsão, os apartes sempre brotaram espontaneamente, no clamor dos debates, querpor parte da acusação, quer por parte da defesa, e que só havia interferência do Juizdiante do pedido da garantia da palavra pelo aparteado. Consideramos que, com a limi-tação imposta, o Júri perderá um pouco de seu brilho.

4.4. Questionário e votação4.4. Questionário e votação4.4. Questionário e votação4.4. Questionário e votação4.4. Questionário e votação

Concluídos os debates e dados eventuais esclarecimentos solicitadospelos jurados, o juiz deverá elaborar o questionário.

Os quesitos serão extraídos da pronúncia ou das decisões posterioresque julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes (art.482, parágrafo único). O art. 483 traz um roteiro dos quesitos.

Depois de formular os quesitos, o Juiz os lerá ainda no plenário, pres-tando eventuais esclarecimentos solicitados.

Em seguida, o juiz encaminhará os jurados, acompanhados dos ofici-ais de justiça, com a presença dos acusadores e defensores, para sala reservada, onde seprocederá à votação. Não havendo sala reservada, réu e público devem ser retirados doplenário (art. 485 caput e § 1º).

Na sala secreta (ou fechadas as portas da sala comum), o juiz submeteos quesitos à votação, não se admitindo interferência das partes, as quais, entretanto,podem fazer reclamações, que constarão da ata. O juiz pode mandar retirar da salaquem perturbar a livre manifestação do Conselho de Sentença (art. 485 § 2º).

A dinâmica das votações permanece a mesma prevista no Código de1941, estando prevista nos artigos 486 a 491.

Cada quesito é colocado em votação separadamente. Os jurados re-cebem, antes da votação de cada um, uma cédula com a palavra sim e outra com apalavra não (art.. 486). Em seguida, o juiz lê o quesito que deva ser respondido e umoficial recolhe, em receptáculo que assegure o sigilo, o voto de todos os jurados, edepois, em outro receptáculo, as cédulas não utilizadas. (art.. 487).

4.5 Sentença4.5 Sentença4.5 Sentença4.5 Sentença4.5 SentençaFinda a votação, o juiz proferirá sentença cuja fundamentação é apenas o

resultado da votação. Deverá, todavia, ser fundamentada no que concerne à quantidade da

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pena, ao regime inicial de cumprimento da pena, à concessão, ou não, do direito deapelar em liberdade ou à eventual conversão da pena em medida de segurança do semi-imputável. Ou seja, tudo o que for de competência do juiz-presidente deve ter funda-mentação.

A sentença será lida pelo Juiz, de público, dando em seguida o ma-gistrado por encerrada a sessão de julgamento (art. 493).

Durante toda a sessão, o juiz-presidente exerce o poder de disciplinaprocessual, decidindo todas as questões que surgirem e podendo, inclusive, determinar me-didas coativas para preservar a regularidade do ato (art. 497 e incisos).

De toda a sessão é lavrada ata circunstanciada pelo escrivão, sendo assi-nada pelo juiz e pelas partes (art. 494).

O recurso cabível contra a sentença proferida no plenário do Júri é aapelação, nos termos do art. 593, III e suas alíneas.

O vetusto protesto por novo júri, que herdamos dos tempos em oordenamento jurídico brasileiro admitia penas de morte ou galés perpétuas, foi finalmen-te banido do ordenamento processual penal brasileiro, nos termos do art. 4º da Lei11.689/08.

5. 5. 5. 5. 5. Aplicabilidade das alteraçõesAplicabilidade das alteraçõesAplicabilidade das alteraçõesAplicabilidade das alteraçõesAplicabilidade das alterações

Percebemos da breve análise feita, que foram profundas e importantesas alterações introduzidas no procedimento do Júri.

Considerado o princípio da incidência imediata da norma processualpenal, consagrado pelo art. 2º do C.P.P., as novas regras procedimentais apanham asações penais que tenham início após a entrada em vigor da lei e também as já em curso.

Como lembra Manzini, a lei processual penal provê unicamente parao futuro, ou seja, se aplica a todos os procedimentos e a todos os atos processuais queestão ainda por se cumprir no momento em que entra em vigor, salvo as exceçõesestabelecidas por ela mesma15.

Pouco importa se a nova lei seja taxada de mais severa ou mais bran-da. O princípio da incidência imediata das normas processuais penais se justifica,

“posto que o Estado disciplina a administração da justiça da maneira que lhepareça a mais acertada e deve-se presumir que a nova lei seja melhor que a

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15 MANZINI, Vicenzo, apud TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 3ª ed. SãoPaulo: Saraiva, v. 1, p. 111.

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anterior, não só para o interesse coletivo, como também para os interessesindividuais reconhecidos e protegidos pelo Direito Público em geral”1616161616.

Assim sendo, desde que a nova lei assegure as garantias constitu-cionais do processo penal, terá aplicação imediata, aplicando-se, por óbvio, tam-bém aos processos em curso.

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16 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 114.

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QUESTIONÁRIOQUESTIONÁRIOQUESTIONÁRIOQUESTIONÁRIOQUESTIONÁRIONONONONONO

JULJULJULJULJULGAMENTGAMENTGAMENTGAMENTGAMENTOOOOOPELPELPELPELPELO JÚRIO JÚRIO JÚRIO JÚRIO JÚRI

ELOISA DE SOUSA ARRUDAProcuradora de Justiça no Estado de São PauloMestre em Direito Processual Penal pela PUCDoutora em Direito Penal pela PUCProfessora assistente mestre do Departamento Penal eProcesso Penal da PUC

CÉSAR DARIO MARIANO DA SILVAPromotor de Justiça no Estado de São PauloEspecialista em Direito Penal pela ESMPMestre em Direito das Relações Sociais da PUCProfessor de Direito Penal da PUC

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QUESTIONÁRIO NO JULGAMENTO PELO JÚRIQUESTIONÁRIO NO JULGAMENTO PELO JÚRIQUESTIONÁRIO NO JULGAMENTO PELO JÚRIQUESTIONÁRIO NO JULGAMENTO PELO JÚRIQUESTIONÁRIO NO JULGAMENTO PELO JÚRI

Após anos de acirradas discussões no Congresso Nacional foipublicada a Lei nº 11.689, de 09 de junho de 2.008, que altera quase que na íntegrao procedimento nas ações penais relativas aos crimes dolosos contra a vida e seusconexos. A Lei entrará em vigor sessenta dias após a sua publicação, ou seja, no dia09 de agosto de 2.008.

Considerando a grande incidência de nulidades, em face da complexida-de causada pela elaboração e votação do questionário, achou por bem o legislador introduziralterações substanciais na sua formulação.

Serão redigidos poucos quesitos, que se pretende sejam mais objetivos e defácil intelecção. A elaboração, na forma de proposições afirmativas, simples e distintas, tomará porbase a pronúncia, eventuais decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, o interroga-tório do acusado (autodefesa) e as alegações das partes.

A decisão será obtida por maioria, ou seja, por quatro ou mais votos, umavez que o conselho de sentença continuará composto por sete jurados.

No primeiro quesito, se indagará sobre a materialidade do fato, ou seja,sobre a existência concreta do crime, o que, na maioria das vezes, pode-se demonstrar comlaudo elaborado por peritos médicos.

No segundo quesito, serão os jurados indagados sobre a autoria ou aparticipação no crime.

Mas a grande inovação reside no quesito relativo às teses absolutórias. Aquestão posta aos jurados será simplesmente se eles absolvem o acusado. Assim, invocadaqualquer causa que exclua o crime ou isente o réu de pena, será ela incluída num só quesito,a ser votado pelos julgadores leigos nesse momento. Ou seja, em uma única pergunta estarãoincluídas todas as teses defensivas, mesmo que alternativas e aparentemente incompatíveis.Este quesito somente será votado quando reconhecidas a materialidade e a autoria ou parti-cipação no crime.

A despeito da inegável simplicidade da pergunta posta aos jurados pordeterminação do legislador, alguns problemas certamente advirão.

Sustentada mais de uma tese defensiva, não se saberá ao certo qual ofundamento da absolvição, visto que os julgadores populares julgam pelo sistema da íntimaconvicção, não necessitando explicitar as razões do seu convencimento. E a defesa poderáalegar diversas teses, antagônicas ou não, ou até mesmo pedir clemência aos jurados, quepoderão acolhê-las, dando ensejo à absolvição.

Com efeito, apresentadas diversas teses, reconhecendo quatro oumais jurados uma delas, o resultado será a absolvição, mesmo que o motivo doconvencimento seja distinto.

No procedimento estabelecido pelo Código de Processo Penal de 1941,somente seria o caso de absolvição se ao menos quatro dos jurados acolhessem a mesma

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mesma tese. Pelas novas regras, caso sejam apresentadas hipoteticamente quatro teses dedefesa (ex: legítima defesa real, legítima defesa putativa, estado de necessidade e clemência),aceitando cada jurado uma delas, o resultado será a absolvição, sem haver a possibilidade dese saber qual o seu fundamento. Assim, mesmo que as razões da persuasão sejam diversas,poder-se-á chegar a um veredicto absolutório.

O impasse atingirá obviamente a fase recursal, já que não será possívelsaber qual a tese acolhida. Parece-nos que a acusação, desejando recorrer da decisão dosjurados, deverá rebater todas as teses apresentadas em plenário e demonstrar que são elasmanifestamente contrárias às provas dos autos.

O Juízo de 2º grau enfrentará a mesma dificuldade no julgamento do recurso, umavez que deverá apreciar cada uma das teses apresentadas pela defesa constantes da ata de julgamento.

As causas de diminuição de pena alegadas pelas partes, ou pelo próprioacusado, serão submetidas à votação quando os jurados responderem “não” ao quesito quetrata da absolvição. Assim, o privilégio previsto no artigo 121, parágrafo 1º, do Código Penaldeverá nesse momento ser indagado aos jurados pelo juiz.

Também após o afastamento da absolvição é que virá o questionamento sobre aocorrência de erro na execução (art. 73 do CP), caso constante de decisão que a julgue admissível.

Logo em seguida, serão submetidas à apreciação dos jurados as causasde aumento de pena e qualificadoras, caso reconhecidas na pronúncia.

Salientamos que não mais constarão do questionário as agravantes e as ate-nuantes genéricas. Sustentadas pela acusação ou pela defesa durante os debates, caberá ao juizpresidente da solenidade analisar sua ocorrência, quando da prolação da sentença condenatória.

O quesito relativo ao crime tentado será votado em seguida ao que cuida da autoria.Apresentada tese de desclassificação do crime de homicídio para ou-

tro da competência do júri, o quesito será incluído logo em seguida ao que trata daautoria, como, por exemplo, no caso da pretendida desclassificação para infanticídio,tendo sido o réu pronunciado por homicídio.

Quando sustentada no plenário como única tese defensiva a da des-classificação para crime de competência do juiz singular, a pergunta correspondentedeverá ser formulada após o segundo quesito.

Se a principal tese da defesa for a da absolvição, figurando como tesesecundária a da desclassificação para outro crime não doloso contra a vida, o quesitocorrespondente deverá ser incluído logo após o terceiro.

Acolhida pelos jurados a tese de crime culposo (desclassificação im-própria), poderá ser indagado deles se existe causa de aumento de pena inerente a essamodalidade de delito, como as previstas no artigo 121, parágrafo 4º, primeira parte, doCódigo Penal.

Quanto ao excesso nas excludentes de ilicitude, a situação mostra-se um pou-co mais complexa. Apresentada tese de ocorrência de excludente da ilicitude (art. 23 do CP), aacusação poderá contrariá-la e alegar, entre outros fundamentos, o excesso. Do mesmo modo,poderá a defesa apresentar a ocorrência de excesso culposo como tese principal ou

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O certo é, contudo, que a tese de excesso culposo deverá ser efetiva-mente sustentada pela defesa, pela acusação ou mesmo pelo acusado, sem o que o juiznão poderá incluí-la no questionário. Parece-nos que será uma forma de superar a difi-culdade existente no que tange à quesitação, porque, ao ser pedido o reconhecimentodo excesso pela acusação (excesso doloso) e pela defesa (excesso culposo), advindocondenação, não seria possível saber qual das teses os jurados acolheram. Por isso, anecessidade de quesitar o excesso culposo, quando alegado.

Para que não ocorra confusão quando do julgamento pelos jurados,visto que os quesitos devem ser claros e simples, ocorrendo mais de um crime, os mes-mos deverão ser formulados em séries distintas. Do mesmo modo, havendo mais de umacusado, para cada um deles deverá haver um questionário.

Procuramos enfrentar no presente artigo algumas questões que percebemosimediatas na elaboração do questionário. Outras certamente surgirão no dia-a-dia dos julgamen-tos pelo júri, demandando solução por parte da doutrina e da jurisprudência.

Alguns modelos de questionárioAlguns modelos de questionárioAlguns modelos de questionárioAlguns modelos de questionárioAlguns modelos de questionário

Homicídio qualificadoHomicídio qualificadoHomicídio qualificadoHomicídio qualificadoHomicídio qualificado

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) O acusado Carlos da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparosde arma de fogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) O jurado absolve o acusado?

4) Ao efetuar os disparos de arma de fogo pelas costas o acusado agiu à traição?

Homicídio tentadoHomicídio tentadoHomicídio tentadoHomicídio tentadoHomicídio tentado

1) A vítima João Paulo dos Santos sofreu os ferimentos descritos no laudode exame de corpo de delito de fls. 25?

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subsidiária. Caso os jurados condenem o acusado, deverão ser perguntados se o exces-so foi culposo. Essa indagação deverá ser feita logo após o terceiro quesito, uma vezque o acolhimento da referida tese importa desclassificação para crime culposo. Negadapelos jurados a ocorrência de excesso culposo, será o caso de condenação por crimedoloso, passando-se à votação dos demais quesitos, se for o caso.

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2) O acusado Carlos da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparosde arma de fogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) Assim agindo iniciou o acusado a execução de crime de homicídio, quenão se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, uma vez que a vítima foi pronta-mente socorrida por terceiros?

4) O jurado absolve o acusado?

Desclassificação (tese única)Desclassificação (tese única)Desclassificação (tese única)Desclassificação (tese única)Desclassificação (tese única)

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) O acusado Carlos da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparosde arma de fogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) Ao efetuar os disparos de arma de fogo o acusado quis o evento morteou assumiu o risco de produzi-lo?

4) O jurado absolve o acusado?

Desclassificação (tese subsidiária)Desclassificação (tese subsidiária)Desclassificação (tese subsidiária)Desclassificação (tese subsidiária)Desclassificação (tese subsidiária)

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) O acusado Carlos da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparosde arma de fogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) O jurado absolve o acusado?

4) Ao efetuar os disparos de arma de fogo o acusado quis o evento morteou assumiu o risco de produzi-lo?

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Excesso culposo na legítima defesaExcesso culposo na legítima defesaExcesso culposo na legítima defesaExcesso culposo na legítima defesaExcesso culposo na legítima defesa

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) O acusado Carlos da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparosde arma de fogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) O jurado absolve o acusado?

4) Ao efetuar os disparos de arma de fogo quando a vítima já se encon-trava caída, o acusado excedeu culposamente os limites da legítima defesa?

Erro na execuçãoErro na execuçãoErro na execuçãoErro na execuçãoErro na execução

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) O acusado Carlos da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparosde arma de fogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) O jurado absolve o acusado?

4) Um dos projéteis disparados pelo acusado, desviando-se da direçãodesejada, por erro na execução, atingiu a vítima Carlos dos Reis, produzindo-lhe os ferimentosdescritos no laudo de exame de corpo de delito de fls. 57?

Concurso de pessoas (participação)Concurso de pessoas (participação)Concurso de pessoas (participação)Concurso de pessoas (participação)Concurso de pessoas (participação)

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) Terceira pessoa, no dia 25 de janeiro de 2006, por volta das 23h, naRua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparos de arma defogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos, tendo o acusado Carlos da Silva con-corrido para a prática do crime, na medida que forneceu a arma para o executor?

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3) O jurado absolve o acusado?

Ou:

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima João Paulo dos Santos?

2) Terceira pessoa, no dia 25 de janeiro de 2006, por volta das 23h, naRua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, efetuou disparos de arma defogo contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos?

3) O acusado Carlos da Silva concorreu para a prática do crime, na me-dida que forneceu a arma para a terceira pessoa?

4) O jurado absolve o acusado?

InfanticídioInfanticídioInfanticídioInfanticídioInfanticídio

1) Os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 25foram a causa da morte da vítima?

2) A acusada Carla da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por volta das 23h,na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, desferiu golpes de faca contraseu próprio filho, recém-nascido, logo após o parto e sob a influência de estado puerperal?

3) O jurado absolve a acusada?

Auto-abortoAuto-abortoAuto-abortoAuto-abortoAuto-aborto

1) A acusada Carla da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por volta das23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, utilizando o medica-mento Citotec, provocou aborto em si mesma?

2) O jurado absolve a acusada?

Aborto consentidoAborto consentidoAborto consentidoAborto consentidoAborto consentido

1) A acusada Carla da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por volta das23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, consentiu que terceirapessoa nela provocasse aborto?

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2) O jurado absolve a acusada?

Aborto provocado com o consentimento da gestanteAborto provocado com o consentimento da gestanteAborto provocado com o consentimento da gestanteAborto provocado com o consentimento da gestanteAborto provocado com o consentimento da gestante

1) O acusado José da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por volta das23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, provocou aborto emCarla da Silva com o consentimento desta?

2) O jurado absolve o acusado?

Aborto provocado sem o consentimento da gestanteAborto provocado sem o consentimento da gestanteAborto provocado sem o consentimento da gestanteAborto provocado sem o consentimento da gestanteAborto provocado sem o consentimento da gestante

1) O acusado José da Silva, no dia 25 de janeiro de 2006, por voltadas 23h, na Rua do Porto, n. 26, Jabaquara, nesta Comarca de São Paulo, provocouaborto em Regiane dos Reis sem o consentimento desta?

2) O jurado absolve o acusado?

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídioInduzimento, instigação ou auxílio a suicídioInduzimento, instigação ou auxílio a suicídioInduzimento, instigação ou auxílio a suicídioInduzimento, instigação ou auxílio a suicídio

1) No dia 25 de abril de 2005, por volta das 2h28min, na Rua Enge-nheiro Pereira Barreto, n. 123, nesta Comarca, Carlos de Campos, suicidou-se, ingerin-do veneno, conforme laudo de exame necroscópico de fls. 35/36?

2) A acusada Márcia de Assis prestou auxílio para que a vítima sesuicidasse, fornecendo-lhe o veneno?

3) O jurado absolve a acusada?

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A QA QA QA QA QUESITUESITUESITUESITUESITAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃONO NO NO NO NO TRIBTRIBTRIBTRIBTRIBUNUNUNUNUNALALALALAL

DO JÚRIDO JÚRIDO JÚRIDO JÚRIDO JÚRI

Doutor e mestre em Processo Penal pelaFaculdade de Direito da Universidade de São PauloPromotor de Justiça no Estado de São Paulo

FAUZI HASSAN CHOUKR

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

1. Apontamentos sobre os trabalhos legislativos2. Formação do questionário3. Bibliografia

Resumo: o presente texto apresenta primeiras reflexões sobre a novaestrutura de quesitação nos julgamentos do Tribunal do Júri, analisan-do os movimentos de reforma até a nova Lei 11.689-08, a qual bus-cou simplificar a estrutura que historicamente sofria críticas quanto àsua complexidade e como fonte de questionamentos que levavam, nomais das vezes, à nulificação do julgamento.

Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: Tribunal do Júri – quesitos – veredicto – reforma

1.1.1.1.1. Apontamentos sobre os trabalhos legislativosApontamentos sobre os trabalhos legislativosApontamentos sobre os trabalhos legislativosApontamentos sobre os trabalhos legislativosApontamentos sobre os trabalhos legislativos

Historicamente, a obtenção do veredicto pelo Conselho de Sentençano Tribunal do Júri se dá pela apreciação de perguntas dirigidas ao juiz leigo. Assim,durante a vigência do Código Criminal do Império de 1832, desde sempre prevendo adivisão procedimental dos processos de competência do Júri em duas etapas, fazia-sereferência ao juízo de admissibilidade que seria resolvido com a resposta a um quesitoendereçado ao “conselho de admissibilidade” com o seguinte teor:

Há neste processo sufficiente esclarecimento sobre o crime, e seu autor, paraproceder à accusação? (Art. 245).

Caso a resposta fosse negativa, ou seja, não houvesse a admissibilidadeda causa, haveria um tipo de revisão necessária, a teor do art. 246:

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AAAAA QUESIT QUESIT QUESIT QUESIT QUESITAÇÃO NO AÇÃO NO AÇÃO NO AÇÃO NO AÇÃO NO TRIBUNALTRIBUNALTRIBUNALTRIBUNALTRIBUNAL DO JÚRI DO JÚRI DO JÚRI DO JÚRI DO JÚRI

1 Doutor e Mestre em Processo Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Especializa-do em Direitos Humanos pela Universidade de Oxford – New College. Especializado em Direito ProcessualPenal pela Universidade Castilla La Mancha – Espanha. Promotor de Justiça no Estado de São Paulo.

Fauzi Hassan Choukr1

Primeiros apontamentos sobre a Lei 1Primeiros apontamentos sobre a Lei 1Primeiros apontamentos sobre a Lei 1Primeiros apontamentos sobre a Lei 1Primeiros apontamentos sobre a Lei 11.689-081.689-081.689-081.689-081.689-08

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“a decisão fôr negativa, por não haver sufficiente esclarecimento sobre ocrime, ou seu auctor, o Presidente dará as ordens necessarias, para quesejam admittidos na sala da sua conferencia o queixoso, ou denunciante,ou o Promotor Publico, e o réo, se estiver presente, e as testemunhas, umapor uma, para ratificar-se processo, sujeitando-se todas estas pessoas a novoexame.”

Refeita a instrução, nova decisão a partir de questionamento ao Con-selho, da seguinte maneira (art. 248):

“Finda a ratificação do processo, ou formada a culpa, o Presidente farásahir da sala as pessoas admittidas, e depois do debate, que se suscitarentre as Jurados, porá a votos a questão seguinte: Procede a accusaçãocontra alguem?”, devendo O Secretario escreverá as respostas pelas formu-las seguintes: O Jury achou materia para accusação; O Jury não achou materiapara accusação.”

Uma vez existindo fundamento para a admissibilidade da causa, abrir-se-ia a segunda fase do procedimento, também desenvolvida perante um Conselho de Jurados2,com a seguinte disciplina:

há materia para accusação, o accusador offercerá em juizo o seu libelloaccusatorio dentro de vinte e quatro horas, e o Juiz de Direito mandaránotificar o accusado, para comparecer na mesma sessão de Jurados, ou naproxima seguinte, quando na presente não seja possivel ultimar-se aaccusação (Art. 254).

Nesse momento, o “Segundo Conselho de Jurado”, então compostopor 12 membros, (que não poderiam ter integrado o primeiro conselho3) analisaria omérito da causa e responderia às seguintes questões para alcançar o veredicto:

§ 1.º § 1.º § 1.º § 1.º § 1.º Se existe um crime no facto, ou objecto da accusação?

§ 2.º§ 2.º§ 2.º§ 2.º§ 2.º Se o accusado é criminoso?

§ 3.º§ 3.º§ 3.º§ 3.º§ 3.º Em que gráo de culpa tem incorrido?

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2 Predispunha o Art. 259 que Formados o segundo Conselho, que deve ser de doze Jurados, guardadastodas as formalidades que estão prescriptas para a formação do primeiro, e prestado o mesmo juramento,o Juiz de Direito fará ao accusado as perguntas que julgar convenientes sobre os artigos no libello, oucontrariedade; e quelles factos sobre que as partes concordarem assignando os artigos, que lhes fôremrelativos, não serão submettidos ao exame dos Jurados.3 Art. 289. Art. 289. Art. 289. Art. 289. Art. 289. Os jurados que servirem no Jury de accusação, não entrarão no de julgação

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§ 4.º § 4.º § 4.º § 4.º § 4.º se houve reincidencia (se disso se tratar)?

§ 5.º§ 5.º§ 5.º§ 5.º§ 5.º Se há lugar a indemnização?

O método era o da votação, após debate entre os jurados, vencendo amaioria de conformidade com o art. 270:

Retirando-se os Jurados a outra sala, conferenciarão sós, e a portas fecha-das, sobre cada uma das questões propostas, e o que fôr julgado pela mai-oria absoluta de votos, será escripto, e publicado como no Jury de accusação

Com a reunificação legislativa na Era Vargas, sob a égide da Carta de1937, sabidamente a única que não conferiu guarida constitucional ao Tribunal do Júri, oDecreto-Lei 167 de 1938 acabou regulando a matéria e, pouco tempo depois, sua estruturafoi incorporada largamente ao atual Código de Processo Penal, afirmando-se que

“Com algumas alterações, impostas pela lição da experiência e pelo siste-ma de aplicação da pena adotado pelo novo Código Penal, foi incluído nocorpo do projeto o Decreto-lei 167, de 5 de janeiro de 1938. Como atestamos aplausos recebidos, de vários pontos do país, pelo Governo da Repúbli-ca, e é notório, têm sido excelentes os resultados desse Decreto-lei que veioafeiçoar o tribunal popular à finalidade precípua da defesa social. A aplica-ção da justiça penal pelo júri deixou de ser uma abdicação, para ser umadelegação do Estado, controlada e orientada no sentido do superior interes-se da sociedade. Privado de sua antiga soberania, que redundava, na práti-ca, numa sistemática indulgência para com os criminosos, o júri está, ago-ra, integrado na consciência de suas graves responsabilidades e reabilitadona confiança geral.”4

Nessa estrutura fica clara a domesticação desejada das atividades dacorte popular, com a intenção manifesta de diminuir sua soberania. No tema da quesitação,o conselho de admissibilidade já havia sido extinto em 1841 com a reforma de 3 dedezembro daquele ano. Para o Conselho de Sentença, seria reforçado um modelo dequesitação que, bem ao gosto dos modelos inquisitivos de processo, possuía um aparen-te rigorismo e clareza, mas, na verdade, deixava portas imensas abertas para que essemodelo se tornasse um grande mecanismo propulsor de nulidades.5

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4 Ministro Francisco Campos, na exposição de motivos do projeto de lei que se converteu no Decreto-lei n. 3.689, de 19415 Fartíssima é a literatura a respeito deste aspecto. Entre tantos, consulte-se FRANCO JUNIOR, RaulFRANCO JUNIOR, RaulFRANCO JUNIOR, RaulFRANCO JUNIOR, RaulFRANCO JUNIOR, Raulde Mello. de Mello. de Mello. de Mello. de Mello. — Nulidade e quesitos do júri. Justitia. São Paulo. v.55. n.164. p.34-7. out./dez. 1993;

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Com efeito, preso inicialmente à peça processual denominada “libelo cri-me”6, a quesitação se completava na redação do anterior artigo 4847 do Código de ProcessoPenal com a fala da Defesa (técnica e autodefesa), abrindo discussões sobre a forma corretade se quesitar temas como o infanticídio8, a legítima defesa real e a putativa9, continuidadedelitiva10, co-autoria e participação11, o concurso “de qualquer modo” na prática delitiva12 ouo particularmente complicado questionamento da tese da “inexigibilidade da conduta diver-sa”13, além da possibilidade de se projetar para as várias fases do procedimento do júri, aíincluindo a quesitação, posições doutrinárias típicas da parte geral do Direito Penal14 culmi-nando na possibilidade de nulificação da sessão plenária por erro no questionário15 ou porcontradição à votação de quesitos16 e mesmo não contemplando a correta forma de quesitarquando houvesse inovação de tese defensiva na tréplica17.

A necessidade da simplificação dos quesitos já era sentida quando daentrada em vigor do Código que hoje se quer revogar18. Explicava-se, então, a propósi-to da noção complexidade dos que:

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6A propósito, consulte-se (132/180){81904}CERNICCHIARO, Luiz CERNICCHIARO, Luiz CERNICCHIARO, Luiz CERNICCHIARO, Luiz CERNICCHIARO, Luiz VVVVVicente. icente. icente. icente. icente. — Fato jurídico: júri;limites para o libelo, quesitos e condenação. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. PortoAlegre. v.3. n.14. p.5-6. jun./jul. 2002.7 Art. 484. Os quesitos serão formulados com observância das seguintes regras:I - o primeiro versará sobre o fato principal, de conformidade com o libelo;II - se entender que alguma circunstância, exposta no libelo, não tem conexão essencial com o fato oué dele separável, de maneira que este possa existir ou subsistir sem ela, o juiz desdobrará o quesito emtantos quantos forem necessários;III - se o réu apresentar, na sua defesa, ou alegar, nos debates, qualquer fato ou circunstância que por leiisente de pena ou exclua o crime, ou o desclassifique, o juiz formulará os quesitos correspondentesimediatamente depois dos relativos ao fato principal, inclusive os relativos ao excesso doloso ou culposoquando reconhecida qualquer excludente de ilicitude;* Redação determinada pela Lei n.º 9.113, de 16 de outubro de 1995IV - se for alegada a existência de causa que determine aumento de pena em quantidade fixa ou dentrode determinados limites, ou de causa que determine ou faculte diminuição de pena, nas mesmas condi-ções, o juiz formulará os quesitos correspondentes a cada uma das causas alegadas;V - se forem um ou mais réus, o juiz formulará tantas séries de quesitos quantos forem eles. Também serãoformuladas séries distintas, quando diversos os pontos de acusação;VI - quando o juiz tiver que fazer diferentes quesitos, sempre os formulará em proposições simples e bemdistintas, de maneira que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza.Parágrafo único. Serão formulados quesitos relativamente às circunstâncias agravantes e atenuantes,8 MARION, Carlos MARION, Carlos MARION, Carlos MARION, Carlos MARION, Carlos Alberto. Alberto. Alberto. Alberto. Alberto. — O infanticídio e sua forma de quesitação no júri. Revista do Direito. SantaCruz do Sul. n.18. p.143-59.jul/dez. 20029 PENTEADO, Jaques de Camargo. PENTEADO, Jaques de Camargo. PENTEADO, Jaques de Camargo. PENTEADO, Jaques de Camargo. PENTEADO, Jaques de Camargo. — Júri: legitima defesa putativa e questionário. Revista Jurídica.Porto Alegre. v.42. n. 206. p.22-6. dez. 199410 SIQUEIRA, Geraldo Batista de. SIQUEIRA, Geraldo Batista de. SIQUEIRA, Geraldo Batista de. SIQUEIRA, Geraldo Batista de. SIQUEIRA, Geraldo Batista de. — Crime continuado e quesitação no júri. Revista Jurídica. PortoAlegre. v.43. n.208. p.24-32.fev. 199511 ROSA, ROSA, ROSA, ROSA, ROSA, Antonio Jose Miguel Feu. Antonio Jose Miguel Feu. Antonio Jose Miguel Feu. Antonio Jose Miguel Feu. Antonio Jose Miguel Feu. — A co-autoria no júri. Revista Jurídica. Porto Alegre. v.43. n.209.p.34-41. mar.199512 NASSIFNASSIFNASSIFNASSIFNASSIF, , , , , Aramis. Aramis. Aramis. Aramis. Aramis. — Júri: a participação de qualquer modo. Ajuris: Revista da Associação dos Juízes doRio Grande do Sul. Porto Alegre. v.23. n.67. p.50-9. jul. 1996; LEAL, Saulo Brum. LEAL, Saulo Brum. LEAL, Saulo Brum. LEAL, Saulo Brum. LEAL, Saulo Brum. — Júri: quesitos;formulação do quesito genérico na co-autoria; de qualquer modo; nulidade. Revista Síntese de DireitoPenal e Processual Penal. Porto Alegre. v.2. n.10. p.62-71.out./nov. 2001.

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“Existe complexidade em um quesito, quando a questão nele incluídacontém dois ou mais elementos, dos quais uns podem ser afirmados eoutros negados, sem que haja contradição ou incoerência, havendo pro-babilidade de produzirem tais afirmativas ou negativas a modificaçãojurídica da questão”. É o mesmo pensamento que vem expresso commais clareza na obra de Borsani e Casorati: “Se la questione contieneelementi che, presi isolatamente, puossono dar luogo a due rispostediverse, e che diversamente aprezzati, possono condurre a disparateconseguenze, a dare cioé al reato un carattere diverso o ad aplicare unapena diversa, la questione é mal posta, il voto dei giurati rimane incerto,e puó anche risolverse in un senso contrario alla loro convinzione”(Codice di Procedura Penale Italiano, vol. 8º, pág. 378). No direito fran-cês, onde, na vigência das leis no Ano III, e a pretexto de evitar ques-tões complexas, o questionário do júri se dividia e subdividia em mil euma perguntas, a tal ponto que, para cortar abusos, o Código de Instru-ção Criminal chegou a declarar expressamente, no art. 337, que os quesi-tos seriam complexos; no direito francês, dizíamos, conseguiu-se afinal,depois da lei de 1836, fixar a noção jurídica de complexidade.

Assim, descontando o anteprojeto incumbido a Hélio Tornaghi (1963), quejamais foi apresentado ao Parlamento, mesmo nos trabalhos de Frederico Marques19 e seu entãoanteprojeto já se buscava alcançar maior racionalidade e simplificação dos quesitos, mas seuentão artigo 728 mantinha a estrutura do Código em vigor, apenas resumindo-lhe as etapas20.

Esse mesmo ideal de simplificação veio à luz nos trabalhos encomenda-dos pelo Poder Executivo em 1981, que aproveitavam largamente as experiências do ante-

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15 Ver MARQUES, JaderMARQUES, JaderMARQUES, JaderMARQUES, JaderMARQUES, Jader. . . . . — Tribunal do júri: nulidade da quesitação. Revista Síntese de Direito Penale Processual Penal. Porto Alegre. v.5. n.30. p.64-79. fev./mar. 200516 DADADADADAVIS, Francis Selwyn. VIS, Francis Selwyn. VIS, Francis Selwyn. VIS, Francis Selwyn. VIS, Francis Selwyn. — Contradição ente as respostas e soberania do júri. Revista Brasileira deCiencias Criminais. São Paulo. v.3. n.10. p.169-75. abr./jun. 199517 PINTO, Ronaldo Batista. PINTO, Ronaldo Batista. PINTO, Ronaldo Batista. PINTO, Ronaldo Batista. PINTO, Ronaldo Batista. — Inovação na tréplica. Revista Síntese de Direito Penal e ProcessualPenal. Porto Alegre. v.6. n.32. p.64-9. jun./jul. 200518 Cardoso de Melo, João de Deus. Cardoso de Melo, João de Deus. Cardoso de Melo, João de Deus. Cardoso de Melo, João de Deus. Cardoso de Melo, João de Deus. Dos quesitos da legítima defesa segundo os novos códigos, inJustitia vol. 05, 1942-194319 Por força do Decreto nº 61.239, de 25 de agosto de 1967. Posteriormente, por força da Portaria nº 32de 1970 o próprio Frederico Marques, juntamente com Benjamim Moraes Filho e José Salgado Martinscompuseram, sob a regência do primeiro, a Subcomissão Revisora do Anteprojeto de Código deProcesso Penal.20 Diário do Congresso Nacional, edição de 13 de junho de 1975, página, Suplemento (A)

13 GRECO, Rogério. GRECO, Rogério. GRECO, Rogério. GRECO, Rogério. GRECO, Rogério. — Exigibilidade de conduta diversa como causa supralegal e o júri. Revista daFaculdade de Direito do Alto Paranaíba. Araxá. v. 3. n.3. p. 73-87. 199914 SIQUEIRA, Geraldo Batista de; SIQUEIRA, Marina da Silva; BARBACENA NETO, Henrique; CARMO,SIQUEIRA, Geraldo Batista de; SIQUEIRA, Marina da Silva; BARBACENA NETO, Henrique; CARMO,SIQUEIRA, Geraldo Batista de; SIQUEIRA, Marina da Silva; BARBACENA NETO, Henrique; CARMO,SIQUEIRA, Geraldo Batista de; SIQUEIRA, Marina da Silva; BARBACENA NETO, Henrique; CARMO,SIQUEIRA, Geraldo Batista de; SIQUEIRA, Marina da Silva; BARBACENA NETO, Henrique; CARMO,Nilma Maria Naves Dias do; MARQUES, Mirthes de Nilma Maria Naves Dias do; MARQUES, Mirthes de Nilma Maria Naves Dias do; MARQUES, Mirthes de Nilma Maria Naves Dias do; MARQUES, Mirthes de Nilma Maria Naves Dias do; MARQUES, Mirthes de Almeida Guerra; MARAlmeida Guerra; MARAlmeida Guerra; MARAlmeida Guerra; MARAlmeida Guerra; MARTINS, Reinaldo Edreira. TINS, Reinaldo Edreira. TINS, Reinaldo Edreira. TINS, Reinaldo Edreira. TINS, Reinaldo Edreira. —Teoria finalista da ação: reflexos no procedimento do júri? Revista Jurídica. Porto Alegre. v.48. n.280. p.44-8. fev. 2001; SIQUEIRA, Geraldo de Siqueira. SIQUEIRA, Geraldo de Siqueira. SIQUEIRA, Geraldo de Siqueira. SIQUEIRA, Geraldo de Siqueira. SIQUEIRA, Geraldo de Siqueira. — Teoria finalista da ação: reflexos no procedimento do júri(II). Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. São Paulo. n.17. p.15-20. jan. 2003.

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projeto Frederico Marques, redação que foi publicizada no Diário Oficial da União, do dia27 de maio de 1981 e que gerou o PL 1655/1983, em cuja Exposição de Motivos (nº 212,de 9 de maio de 1983) que apresentava como um dos fins desejados da renovação legislativaa “simplificação do procedimento relativo aos processos de competência do Tribunal do Júri,particularmente no tocante à formulação de quesitos”.

Após a edição da Constituição de 1988, novos trabalhos legislativos tive-ram início com intuito de renovar partes do Código de Processo Penal (e outros segmentosdo ordenamento jurídico), instituindo-se inicialmente, pela Portaria nº 145, de 1992, Comis-são presidida pelo jurista Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, cujos membros foram apon-tados na Portaria nº 3, de 10 de junho de 1992. Ao final dos trabalhos produzidos, foiconstituída nova Comissão para revisão dos textos elaborados, instituída pela Portaria nº349, publicada no DOU, de 17 de setembro de 1993.

Um nome comum a ambas Comissões foi a do prof. René Ariel Dotti,responsável direto pela elaboração dos textos referentes ao Tribunal do Júri, semprecom destaque (naquilo que interessa ao presente trabalho) para a simplificação dos que-sitos. Assim, desses trabalhos teve origem o Projeto de Lei n. 4.900, de 1995 (sobre otribunal do júri), retirado do Parlamento em 1996, sob a justificativa de “que observou[Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária] que recaem sobre ela algumasimperfeições, passíveis de serem sanadas. A esse respeito, cabe destacar as relativas aojulgamento sem a presença do réu, a eliminação do libelo, a supressão do recurso doprotesto por novo júri e a formulação dos quesitos.”21

Naquele anteprojeto, no artigo 483, havia a previsão da redação dosquesitos em ordem obrigatória, da seguinte forma: (I) materialidade do fato; (II) autoria eparticipação; (III) “se o acusado deve ser condenado” e (IV) se existe causa de diminuiçãode pena alegada pela defesa.22

Alcança-se, assim, a criação da Comissão Grinover23 e, com ela, a ela-boração de anteprojeto de lei sobre o Júri uma vez mais e com ambições muito próximas a detodos os trabalhos anteriores no que tange à simplificação dos quesitos.

Assim, a primeira sugestão daqueles acadêmicos para a nova disciplinado júri foi:

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando so-bre:

I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação.

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21 Mensagem nº 97/1996 22 Diário do Congresso Nacional, edição de 28 de janeiro de 1995, Seção I, p. 1442.

23 Portaria nº 61, de 20 de janeiro de 2000 do Ministério da Justiça.

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III – se o acusado deve ser absolvido ou condenado;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena,reconhecidas na pronúncia.

§ 1º. A resposta negativa, por mais de três jurados, a qualquer dos quesitosreferidos nos incisos I e II encerra a votação e implica a absolvição doacusado.

§ 2º. Respondidos afirmativamente, por mais de três jurados, os quesitosrelativos aos incisos I e II, será formulado o terceiro quesito, com a seguinteredação:

“O jurado absolve ou condena o acusado?”

§ 3º. Os quesitos referidos nos incisos I e II e os demais que devam serformulados nos termos do § 5º serão respondidos com as cédulas contendoas palavras “sim” e “não”.

§ 4º. O terceiro quesito será respondido por cédulas especiais contendo aspalavras “absolvo” e “condeno”.

§ 5º. Decidindo os jurados pela condenação o julgamento prossegue, de-vendo ser formulados quesitos sobre:

I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconheci-das na pronúncia;

§ 6º. Sustentada a desclassificação da infração para outra de competênciado juiz singular, será incluído quesito a respeito, para ser respondido emseguida à afirmação da autoria ou participação;

§ 7º. Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serãoformulados em séries distintas.

Assim foi a redação encaminhada ao Congresso Nacional e assimmantida na primeira apreciação da Câmara dos Deputados até seu encaminhamento aoSenado. Afirmava-se, então, que o sistema em vigor era:

complexo, não prevê o quesito sobre absolvição ou condenação.complexo, não prevê o quesito sobre absolvição ou condenação.complexo, não prevê o quesito sobre absolvição ou condenação.complexo, não prevê o quesito sobre absolvição ou condenação.complexo, não prevê o quesito sobre absolvição ou condenação.Essas inovações valorizam a soberania do veredicto popular e reduzem significati-Essas inovações valorizam a soberania do veredicto popular e reduzem significati-Essas inovações valorizam a soberania do veredicto popular e reduzem significati-Essas inovações valorizam a soberania do veredicto popular e reduzem significati-Essas inovações valorizam a soberania do veredicto popular e reduzem significati-vamente a possibilidade de recusos, por vezes proletatórios, que buscam a anulaçãovamente a possibilidade de recusos, por vezes proletatórios, que buscam a anulaçãovamente a possibilidade de recusos, por vezes proletatórios, que buscam a anulaçãovamente a possibilidade de recusos, por vezes proletatórios, que buscam a anulaçãovamente a possibilidade de recusos, por vezes proletatórios, que buscam a anulaçãodo julamento com base em erros de quesitação. Sem dúvida, esse é um dos pontosdo julamento com base em erros de quesitação. Sem dúvida, esse é um dos pontosdo julamento com base em erros de quesitação. Sem dúvida, esse é um dos pontosdo julamento com base em erros de quesitação. Sem dúvida, esse é um dos pontosdo julamento com base em erros de quesitação. Sem dúvida, esse é um dos pontoscentrais do Projeto de Lei.centrais do Projeto de Lei.centrais do Projeto de Lei.centrais do Projeto de Lei.centrais do Projeto de Lei.

Foi no Senado que houve significativa alteração no sistema proposto,passando-se a contar com a seguinte redação:

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“Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem,

indagando sobre:

I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação;

III – se o acusado deve ser absolvido;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reco-nhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que

julgaram admissível a acusação.

§ 1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitosreferidos nos incisos I e II do caput caput caput caput caput deste artigo encerra a

votação e implica a absolvição do acusado.

§ 2º Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitosrelativos aos incisos I e II do caput caput caput caput caput deste artigo será

formulado quesito com a seguinte redação:

‘O jurado absolve o acusado?’

§ 3º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, de-vendo ser formulados quesitos sobre:

I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas napronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

§ 4º Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência dojuiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após osegundo ou terceiro quesito, conforme o caso.

§ 5º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ouhavendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competên-cia do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, paraser respondido após o segundo quesito.

§ 6º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serãoformulados em séries distintas.” (NR)

O ponto diretamente alterado foi a redação do terceiro quesito para “‘Ojurado absolve o acusado?’”. Quando o projeto retornou à Câmara dos Deputados, foialvo de apreciação pelo Relator, Deputado Flávio Dino, que em sua manifestação sobre asmodificações propostas assim se manifestou24: Quanto ao mérito, parecem-me corretas asseguintes alterações feitas pelo Senado Federal, razão pela qual as acolho: ... xxv...”. Aproposta n. “xxv” dizia respeito à pergunta “‘O jurado absolve o acusado?’

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Malgrado o esforço na busca da simplificação conforme visto acima, aredação empregada ainda deixa espaços para que os quesitos venham a ser desdobrados,conforme se observará na seqüência.

2.2.2.2.2. Formação do questionárioFormação do questionárioFormação do questionárioFormação do questionárioFormação do questionário

Como já visto, O Código de Processo Penal determinava, já na redaçãoanterior, não apenas uma ordem necessária para formulação de indagações como, também,a inclusão de indagações necessárias25. Sua não formulação viciava o julgamento, tema inclu-sive sumulado pelo STF26. Como decorrência, afirmava-se diante da antiga norma que a“Formulação de quesitos sobre dolo direto ou eventual antes dos quesitos que isentam depena, excluem o crime ou o desclassificam” é inadmissível (TJSC RT 579/364), assim comoa “Indagação das qualificadoras do homicídio antecedendo a relativa ao homicídio privilegi-ado” (STF, RT 549/429), escapando desta situação, para determinado provimento, hipótesede “causa especial de diminuição da pena... em que não deve anteceder a qualificadora dodelito” (STF, RT 616/410). A nova disciplina dos quesitos impõe, igualmente, ordem obriga-tória que, desatendida, é causa potencialmente geradora de nulidade.

A nova disciplina legal pode levar o leitor, à primeira vista, a acreditarnuma fixação definitiva de quesitos com suas respectivas finalidades. Nada obstante, não éassim que a leitura do direito processual, coadunada com o direito material impõe que sefaça. Fixa é a ordem das perguntas com seus respectivos desdobramentos existentes exata-mente por conta do Direito Penal.

Assim, tema como o da autoria e participação, previstos no quesito n. 2,deve ser desdobrado diante da estrutura do artigo 29 do Código Penal e não pode serconfinado numa única pergunta ultra-abarcativa que elimine as nuances da autoria, participa-ção, participação de menor importância ou participação em delito menos grave.

Já a participação de menor importância haveria de ser votada após oquesito número dois que fala em autoria e participação nos moldes do artigo 29, pois seuparágrafo primeiro ainda diz respeito ao mesmo elemento anímico do crime doloso contra avida, disto se distinguindo do parágrafo segundo, que embora tratando de participação “decrime menos grave”, induz à desclassificação delitiva, embora assim não o seja necessaria-mente em todos os casos.

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24 Ênfase dada ao tema que é objeto deste texto.25 Nada obstante a imposição legal e a vital importância da quesitação para obtenção do veredicto, nãoraras vezes a doutrina e, sobretudo, a jurisprudência, vêem nas deficiências de formação do questioná-rio causa de nulidade “relativa”, dependente da demonstração de prejuízo.26 STF - STF - STF - STF - STF - Súmula n° 156 - Nulidade no Júri: É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta dequesito obrigatório.

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Assim, pode haver participação em crime menos grave quando a pessoaacusada manifestar a intenção homicida mas não com o emprego de meio cruel, ao qual,supostamente, procurou evitar. Em sendo assim, cremos que a votação do quesito referenteà participação em “crime menos grave” deva vir como desdobramento da participação pre-vista no quesito número 2.

Nada obstante, quando a participação em crime menos grave signifi-car a desclassificação delitiva para crime não doloso contra a vida, sua indagação deve-rá vir após o quesito número 3. Neste sentido, inclusive, deve ser entendido o parágrafo4 do presente artigo.

Indagação de particular importância é do n. 3. No dizer de SSSSStoccotoccotoccotoccotocco 27"O terceiro quesito e, dentre todos, o mais importante e fundamental temredação na lei. Aos jurados será indagado apenas se absolvem ou conde-nam o acusado, através de cédulas especiais contendo as palavras “absol-vo” ou “condeno”. Assim, respondidos afirmativamente os dois primeirosquesitos acerca da materialidade do fato e sobre a autoria ou participação,será formulado o terceiro quesito, que engloba todas as teses apresentadaspela defesa. Com essa providência, afasta-se a maior fonte de nulidades,atende-se à determinação constitucional de que aos jurados apenas se pro-põem questões sobre matéria de fato, simplifica o julgamento e, segundonos parece, protege melhor o acusado, permitindo segurança e garantia deum julgamento justo.

Existente a votação desse quesito a partir do momento em que os juradosreconhecem materialidade e autoria, passam os jurados a decidir sobre o “mérito” do fato,cuja resposta positiva, por maioria, implica na condenação da pessoa acusada. Neste quesi-to estão implicadas todas as teses defensivas como as que excluem a tipicidade, aantijuridicidade e a culpabilidade, insertas na mesma preposição de acordo com a ambiçãodos autores da reforma.

Se a simplificação era, sem dúvida, um dos principais objetivos dos tra-balhos reformistas conforme já apontado, o alcance da simplificação pode gerar problemasoperacionais incontroláveis, na medida em que a superposição de teses defensivas, não rarasvezes contraditórias umas com as outras, pode causar confusão no julgador leigo que, diantedo quesito genérico dessa envergadura, fica sem o rumo necessário, função essa, a denorteador, precípua nesse modelo de quesitação.

O regime anterior, criticado pela sua complexidade, tinha em teses defen-sivas, como a da legítima defesa, um dos mais claros exemplos de rebuscamento em virtudedos desdobramentos inerentes à redação do artigo 25 do Código Penal e do artigo 23, par.único, inclusive servindo como parâmetro para demonstrar que o jurado, longe de apreciarexclusivamente “matéria de fato”, também era questionado em “matéria de direito”.

O regime atual poderia ser efetivamente portador de maior simplicidade nãofosse o localizado problema da identificação do excesso doloso ou culposo cuja análise nãoparece ser absorvida por qualquer dos quesitos obrigatórios, pois não se prende ao tema da

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27 Op. cit, p. 85.

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materialidade (inciso I), tampouco de autoria (inciso II), e não basta a votação ao quesito III paraque seja apreciado. Igualmente não comporta votação nos termos das questões que se poderiadenominar de facultativas (par. 3°, I e II; par. 4° e par. 5°), pois o excesso não diz respeito acausa de diminuição de pena alegada pela defesa ou mesmo de circunstância qualificadora oucausa de aumento de pena e não se trata de hipótese de desclassificação.

Em sendo assim, não restará outra alternativa senão a da inclusão de que-sitos desdobrados especificamente em relação a este ponto. Mas, em sendo essa a alterna-tiva, restaria ainda a indagação de como proceder a tal desdobramento.

Resultante do afastamento de tese absolutória da legítima defesa, a con-clusão inicial é que eventuais quesitos sobre excesso doloso e, depois, culposo (nessa ordemobrigatória) devem vir após a resposta negativa por maioria ao quesito número 3, o que nãocausa maior complexidade quando a legítima defesa for a única tese anunciada pela defesatécnica e pela autodefesa.

Não nos parece possível deixar de apreciar a tese do excesso dolosoporquanto diante da inexistência do desdobramento dos requisitos da legítima defesa, não sesabe por que o afastamento da tese se deu.

No mais, em primeiro plano é essa a ordem do art. 23, parágrafo únicodo Código Penal; depois, porque a manutenção da competência do Júri se dá pela valoraçãode ter agido ou não a pessoa acusada com dolo e não com culpa (em sentido estrito) e,assim, com a resposta positiva ao quesito do excesso doloso, mantém-se a competência daCorte Popular para, inclusive, apreciar eventual crime conexo.

As mesmas observações já efetuadas em relação à legitima defesa cabemaqui para as demais hipóteses do art. 23 do Código Penal, residindo a maior complexidade,uma vez mais, na questão do excesso que deverá ser votado na forma explicitada notópico anterior.

Há de ser verificada, ainda, a disciplina do erro de tipo diante de suasvárias manifestações (erro direto ou indireto (discriminante)). Assim, no caso do art. 20, par.1°, primeira parte, existe verdadeira isenção de pena caso não haja previsão de pena a títulode culpa (segunda parte da mesma norma).

Restaria indagar se o quesito ultra-abarcador seria suficiente para apreci-ar todas as circunstâncias de fato que gravitam em torno da ocorrência do erro, as quaisdeveriam ser explicitadas pela defesa para a inclusão da quesitação como se afirmava noregime anterior sendo que, caso contrário, naquela disciplina “Não há [havia] como se aco-lher alegação de nulidade no indeferimento de quesitos sugeridos pela defesa, se evidenciadoque não foram indicadas as circunstâncias fáticas que teriam levado o réu a erro, induzindo-o a acreditar que a sua conduta seria lícita e autorizada – impossibilitando o questionamentodos jurados sobre as circunstâncias. (STJ - HC – 24566 - Data da decisão: 11/02/2003 –Rel. Min. Gilson Dipp)

A intenção da norma é a de que as questões “de fato” possam ser consi-deradas como todas integrantes do quesito número três, restando indagar o resultado jurídi-

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co que deve advir, pois se trata de ausência de culpabilidade, gerando a isenção de penaapenas se não houver previsão de pena a título de conduta culposa isto quando se falarno erro de proibição direto, pois o indireto tratará de alguma discriminante como a legítimadefesa, com seu regime próprio.

Assim, quer-nos parecer que a resposta positiva por maioria à indagação “ojurado absolve o réu” encerra qualquer desdobramento, impondo sua absolvição, enquanto aresposta negativa não afastará integralmente a tese do erro de proibição, que deverá ser apreciadanos termos do parágrafo 4° do presente artigo, após o terceiro quesito.

Particular interesse se mostra o tema do quesito único e inimputabilidadepenal total. . . . . Trata-se de caso de inimputabilidade detectada após o juízo de admissibilidadepois, se anterior, e sendo essa a única “tese defensiva”, será caso de absolvição sumáriana forma do artigo 415, parágrafo único conforme já examinado nestes Comentários.

Como a inimputabilidade total gera absolvição denominada de “impró-pria” vez que dela decorre a imposição de medida de segurança, a resposta “sim” ao terceiroquesito põe fim à votação, mas não exime, por óbvio, a determinação da medida de seguran-ça cabível que deverá ser aplicada nos termos determinados pelo artigo 492, II “c”, comprevisão expressa, repetindo-se assim posição pretoriana existente no regime anterior cujapertinência ainda se dá, ao afirmar-se que “É possível a “Imposição de medida de segurançapelo juiz presidente ao réu, embora inexistente quesito sobre sua periculosidade real no ques-tionário” (RT 563/316; no mesmo sentido: RT 576/366).

O pedido a ser formulado mesmo pelo acusador – e que pode parecer con-traditório aos olhos leigos – é o de absolvição, com os necessários esclarecimentos aos integran-tes do Conselho de Sentença das conseqüências jurídicas dessa “absolvição”.

O que muda em relação ao regime anterior neste tópico é a quesitação dainsanidade do acusado, não mais necessária diante da pergunta número 3, e sendo “matériasó ventilada em plenário [o seu] reconhecimento inadmissível sem a instauração do incidentecompetente [sendo o] indeferimento da pergunta que, portanto, não implica nulidade” (TJMG,RT 652/316).

O reconhecimento da inimputabilidade completa, na nova sistemática,implica desta forma na necessidade de prévia instauração de incidente de sanidade quetendo sua imperiosa necessidade reconhecida pelo Conselho de Sentença nos termos doart. 480 e sendo necessária a produção de laudo pericial, não restará outra alternativasenão a dissolução daquele corpo julgador na forma do art. 481, solução esta, acres-cente-se, já existente no regime anterior.

Quando a tese defensiva da pessoa acusada completamente inimputávelfor de negativa de autoria, não haverá maiores problemas de quesitação com a apreciação dapergunta n. 2 do questionário legal e obrigatório.

Quando, no entanto, houver tese absolutória que deva ser apreciada noitem 3, o resultado “absolve” por maioria não leva à conclusão definitiva da vontade dosjurados, vez que a absolvição “imprópria” gera a imposição de medida de segurança, en-quanto a “própria” isenta a pessoa de qualquer sanção penal.

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Assim, cremos na necessidade da imposição de um quesito espe-cífico, após aquele de n. 3, no qual deverá ser indagado sobre a imposição demedida de segurança. Outra alternativa seria a indagação no item 3 de forma acolocar ao Conselho de Sentença se “absolve” “sem medida de segurança” ou “commedida de segurança”. A hipótese levantada inicialmente, no entanto, parece-nosser de maior clareza para o julgador leigo.

Por outro lado, a inimputabilidade parcial não gera absolvição sumária,mas condenação em sentido próprio com imposição de medida penal reduzida por forçado parágrafo primeiro do artigo 26 do Código Penal com a necessária apreciação docaso pelo Conselho de Sentença. Assim, diversamente da hipótese anterior na qual há absol-vição e tudo se resume ao resultado positivo ao quesito número três, aqui deve ser sustenta-do o pedido de condenação e, com resultado negativo ao quesito número três, a causa dediminuição será objeto de apreciação nos termos do parágrafo terceiro do presente artigo.

Ao final, recordando-se a - Súmula n° 162 do e. STF, “É absoluta anulidade do julgamento, pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos dascircunstâncias agravantes.” Assim, a quesitação de causa de diminuição deve ser subme-tida aos jurados não apenas por provocação da Defesa técnica ou da autodefesa, mas,também, por eventual postulação do Acusador que, como cediço, poderia fazê-lo namedida em que implica situação mais favorável à pessoa acusada. No caso dos crimesdolosos contra a vida, aqui se enquadraria a hipótese do homicídio privilegiado.

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JAQUES DE CAMARGO PENTEADOJAQUES DE CAMARGO PENTEADOMestre e doutor em Direito pela Faculdade deDireito da Universidade de São PauloAdvogado e consultorProcurador de Justiça aposentado do MPSPProfessor doutor do curso de pós-graduaçãoda UNIFIEO

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I. IntroduçãoI. IntroduçãoI. IntroduçãoI. IntroduçãoI. Introdução

No momento histórico em que a Constituição Federal completa 20anos, e a doutrina e a jurisprudência demonstraram que o sistema e a maioria das regrasdo vetusto Código de Processo Penal, promulgado sob regime ditatorial, não foramrecepcionados por aquela, inicia-se a mais profunda reforma deste.1

O estabelecimento do Estado Democrático de Direito, que tem por umdos seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, e objetiva a construção de umasociedade livre, justa e solidária, com a prevalência dos direitos humanos, implica aadoção do sistema acusatório, balizado pelo garantismo e pela efetividade, visando obem comum – reconhecimento daquela dignidade humana, provisão das necessidadesdo homem e fixação de uma ordem jurídica justa, estável e segura –, e se desenvolven-do segundo os direitos e as garantias individuais consagradas na Carta Magna.

A importância e a dimensão dessa matéria indicam a manifesta conveniên-cia de formulação de um anteprojeto de Código de Processo Penal, a sua ampla discussão e,a submissão do mesmo ao procedimento legislativo, para se alcançar a necessária evoluçãojurídica de nosso País, cooperando para a sua real e definitiva inserção no concerto dasnações mais desenvolvidas. Todavia, as reformas se fazem parciais, sem muita discussãono âmbito próprio, nem sempre com a qualidade desejada e, em vez de efetivos e globaisprogramas de melhor administração da Justiça Penal, aposta-se quase exclusivamente notexto legal pontual para se obter a resolução de antigos e sérios problemas da mesma.

Renovada a esperança na elaboração legislativa de um novo e modernoCódigo de Processo Penal Brasileiro, em harmonia com a Constituição Federal emvigor e com os tratados de direitos humanos firmados por nosso País, atento às diversi-dades dos Estados-membros de nossa Federação e ajustado ao desenvolvimento nacio-nal, há que se tentar fazer o melhor com o que se tem e, nesse sentido, a atual reforma

REFORMA PROCESSUAL PENAL E JÚRIREFORMA PROCESSUAL PENAL E JÚRIREFORMA PROCESSUAL PENAL E JÚRIREFORMA PROCESSUAL PENAL E JÚRIREFORMA PROCESSUAL PENAL E JÚRI

Primeiras observaçõesPrimeiras observaçõesPrimeiras observaçõesPrimeiras observaçõesPrimeiras observações

1 “Desde que foi criado, em 1941, o Código de Processo Penal (CPP) passou por 42 reformas pontuais.Os dados são do Ministério da Justiça e divulgados em meio a iniciativas de se promover uma amplareforma da norma que estabelece os procedimentos para a condução das ações criminais pelo Judiciáriobrasileiro. Pouco mais da metade das alterações ocorreram após 1989. Segundo o secretário de Assun-tos Legislativos do órgão, Pedro Abramovay, elas foram realizadas justamente para adequar a lei àConstituição cidadã, promulgada no ano anterior (...) Apesar disso, o secretário nega que tantas mu-danças tenham tornado o código uma ‘colcha de retalhos’. A falta de unidade dos dispositivos do CPPfoi uma das principais críticas de Hamilton Carvalhido, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)e coordenador da comissão instituída pelo Senado, no mês passado, para estudar e elaborar um projetode lei que possibilite a reforma completa da lei” (Jornal do Commercio – Direito & Justiça – ClippingEletrônico – AASP – 26.8.2008.).

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traz a oportunidade de renovar a importância da distinção entre jurisdição, processo eprocedimento, para o tratamento científico da resolução da causa penal.

II. Jurisdição, Processo e ProcedimentoII. Jurisdição, Processo e ProcedimentoII. Jurisdição, Processo e ProcedimentoII. Jurisdição, Processo e ProcedimentoII. Jurisdição, Processo e Procedimento

Conhecida a natureza racional do ser humano, dotado de inteligência,vontade, memória e imaginação, buscando a primeira a verdade e a segunda o bem, naconstante procura da perfeição, e relembrada a inata sociabilidade do homem, dá-se adinâmica de sua existência na vida comunitária. Essa vida em sociedade, por sua vez,evoca a noção de bem comum – preservação da dignidade humana, satisfação das ne-cessidades do homem e estabelecimento de uma ordem jurídica justa, estável e segura.Em síntese, exige-se a paz social para que cada um se desenvolva segundo as suaspotencialidades. O crime desestabiliza essa noção de tranqüilidade da ordem que, assimque o Estado se apresentou com autonomia e poder suficientes, passou a defender,substituindo-se aos particulares dotados de interesses contrapostos, e soberanamenteimpondo a vontade do direito objetivo, isto é, exercendo a jurisdição.

A “jurisdição é um monopólio estatal. Na esfera criminal, examina asituação contrastante entre o direito de punir e o direito de liberdade; decide qual delesprevalecerá no caso concreto e impõe soberanamente essa resolução. É poder: pacificaos interesses justapostos, de punição e de liberdade. A jurisdição é uma função que sedesenvolve no processo, com os atos dos sujeitos processuais e dos auxiliares da justiça;e é uma atividade. A jurisdição é poder, função e atividade que devem ser exercidossegundo o devido processo legal”.2

A origem etimológica do vocábulo processo é “seguir adiante”; o pro-cesso “é indispensável à função jurisdicional exercida com vistas ao objetivo de elimi-nar conflitos e fazer justiça mediante a atuação da vontade concreta da lei. É, por defi-nição, o instrumento através do qual a jurisdição opera (instrumento para a positivaçãodo poder)”.3 Pode-se falar que processo é a jurisdição em curso, é o ambiente em quepode se desenvolver a relação jurídica, e se divide em processo cautelar, processo deconhecimento (declaratório, constitutivo e condenatório) e processo de execução.

Procedimento é a manifestação externa do processo; a “diferença entre oprocedimento e as demais formas de fattispecie complexa resulta na diversidade de ligaçãoexistente entre os atos que o compõem. Só no procedimento o vínculo necessário entre osseus diversos atos impõe que cada um seja conseqüência do precedente e pressuposto econdição necessária do sucessivo. Ou, como diz Gianzi, “a fattispecie procedimento é ca-racterizada, em relação às outras, pela particular coordenação dos atos e mais precisamentepela existência de determinados vínculos aos quais está subordinado o desenvolvimento dasérie”. São, portanto, elementos fundamentais para a caracterização do procedimento: 1. a

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2 PENTEADO, Jaques de Camargo, Duplo Grau de Jurisdição no Processo Penal – Garantismo eEfetividade, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 12.3 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini e DINAMARCO, Cândido Rangel,Teoria Geral do Processo, 12ª ed., São Paulo, Malheiros, 1996, p. 279.

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idéia de que todos os atos contribuem para o efeito substancial derivado do ato final, e2. a coordenação e vinculação entre os atos que o compõem”.4

Com superior didática João Mendes Jr. ensina que uma “cousa é oprocesso, outra cousa é o procedimento: o processo é a direcção no movimento; oprocedimento é o modo de mover e a forma em que é movido o ato”.5 Acrescenta que“o suffixo nominal – mentum – é derivado do grego – menos, que significa princípio demovimento, vida, força vital, e – to, que é uma partícula expletiva. Como suffixo nomi-nal, exprime o acto em seu modo de fazer e na forma em que é feito, isto é, exprime oacto regularmente formalisado... Assim o processo é o movimento em sua forma intrín-seca; o procedimento é este mesmo movimento em sua forma extrínseca, tal como seexerce pelos nossos orgams corporaes e se revela aos nossos sentidos”.6

Nesse sentido, há procedimento legislativo, procedimento ad-ministrativo e procedimento judicial. Este último divide-se em procedimentocomum (ordinário, sumário e sumaríssimo) e em procedimento especial.7

Em síntese, o “procedimento é o conteúdo formal do processo,do mesmo modo que a lide é o seu conteúdo material ou substancial. O processoé a atividade jurisdicional na sua função de aplicar a lei; o procedimento, omodus faciendi com que essa atividade se realiza e se desenvolve”.8

O tipo legal de crime, a competência e outros dados relevantesmodulam o procedimento que, no direito processual positivo, apresenta um tipolegal de procedimento comum, ordinário, aplicável aos delitos mais graves, e fun-cionando como o padrão a ser subsidiariamente empregado para o desenvolvimentodos demais procedimentos (comum, sumário e sumaríssimo, e especial). Para asinfrações penais leves, desprovidas de acidentes que lhe atribuam uma naturezajurídica especial, há o procedimento comum, sumaríssimo, decorrente da previsãoconstitucional de órgão judicial encarregado de resolver as causas penais perti-nentes aos chamados crimes de menor potencial ofensivo (art. 98, inc. I, CF). Paraas infrações penais de média gravidade, também sem nenhum elemento distintivodos que lhes são comuns, é previsto um procedimento comum, sumário, e para oscrimes graves é fixado o procedimento comum, ordinário.

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4 FERNANDES, Antonio Scarance, Incidente Processual, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1991, p. 85.5 Direito Judiciário Brazileiro, 2ª ed., Rio de Janeiro, Typographia Baptista de Souza, 1918, p. 298.6 Op. cit., p. 299.7 “Terminologicamente é muito comum a confusão entre processo, procedimento e autos. Mas, como sedisse, procedimento é o mero aspecto formal do processo, não se confundindo conceitualmente comeste; autos, por sua vez, são a materialidade dos documentos em que se corporificam os atos do proce-dimento. Assim, não se deve falar, por exemplo, em fases do processo, mas do procedimento; nem em‘consultar o processo’ mas os autos” (Antonio Carlos de Araújo Cintra et alii, op. cit., p. 280).8 MARQUES, José Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, 2ª ed., Campinas, Millennium,2000, v. I, p. 430.

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Há crimes, todavia, que se distinguem dos demais, pela natureza desua constituição fenomênica, como os delitos falimentares, geralmente previstos em leisespeciais, de natureza material e formal, cuja prova é prevalentemente documental, for-mulando-se nas relações materiais das pessoas jurídicas, gerando a necessidade de apli-cação de normas penais e extra-penais, recomendando-se o tratamento jurisdicional dasdiversas questões por julgador único e, diante disso, justificando a criação de um proce-dimento especial para a resolução da causa penal que tem por objeto um delito falimentar.

Assim é, por evidência, a questão do Tribunal do Júri, constituci-onalmente competente para conhecer e julgar os crimes dolosos contra a vida (art.5º, inc. XXXVIII, CF), integrado por leigos, assegurados a plenitude de defesa, osigilo das votações e a soberania dos veredictos, o que enuncia acidentes que mos-tram uma natureza jurídica singular, razão de tratamento específico que se materia-liza no procedimento especial.

Presente a natureza jurídica de procedimento penal, a noção de quecada ato da série é conseqüência do antecedente e pressuposto e condição necessária dosucessivo, e de que todos esses atos são coordenados e todos interferem no resultadofinal, bem como a funcionalidade do procedimento comum, ordinário, como padrão deaplicação subsidiária do sistema procedimental como um todo,9 pode-se iniciar a cogniçãoda reforma processual penal quanto aos crimes de competência do Tribunal do Júri.

III. Procedimento relativo aos crimes de competência do III. Procedimento relativo aos crimes de competência do III. Procedimento relativo aos crimes de competência do III. Procedimento relativo aos crimes de competência do III. Procedimento relativo aos crimes de competência do TTTTTribunalribunalribunalribunalribunaldo Júrido Júrido Júrido Júrido Júri

Lançados os fundamentos para o breve exame da reforma processual,limitado à primeira fase do procedimento pertinente às infrações penais de competênciado Tribunal do Júri, procurar-se-á ordenar essas considerações a partir das funções deacusar, defender e julgar.

III. 1. Procedimento e acusaçãoIII. 1. Procedimento e acusaçãoIII. 1. Procedimento e acusaçãoIII. 1. Procedimento e acusaçãoIII. 1. Procedimento e acusação

No plano acusatório, o pressuposto dos pressupostos é que a denún-cia deve ser um “ato pensado e responsável”,10 revelador da responsabilidade ética11 etécnica12 do membro do Ministério Público, encarregado de “promover, privativamente,a ação penal pública na forma da lei” (art. 129, inc. I, CF), consciente do fundamentorepublicano da dignidade humana (art. 1º, inc. III, CF) e da presunção de inocência (art.

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9 “Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições doprocedimento ordinário” (art. 394, § 5º, CPP).10 BUSANA, Dante, O Promotor Criminal, Justitia, São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1978, v. 101, p. 149.11 PENTEADO, Jaques de Camargo, Ética do Promotor de Justiça. In ALVES, Airton Buzzo, RUFINO, AlmirGasquez e SILVA, José Antonio Franco da (Orgs.), Funções Institucionais do Ministério Público, SãoPaulo, Saraiva, 2001, p. 1 e segs.

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5º, inc. LVII, CF),13 não mais se podendo raciocinar com o brocardo “in dubiopro processo”.14

À evidência, a denúncia deve ser baseada em provas pré-constituí-das, lícitas, contar com a estratégia institucional que assegure um mínimo de unidadede atuação funcional, descrever o fato criminoso com todas as suas circunstâncias,requerer a produção de provas15 e formular um pedido concreto. A sua forma, em regra,é escrita.

Formulada, é apresentada ao julgador que, por sua vez, promove umaanálise sumária e não preclusiva dos seus termos e, se presentes a aptidão formal, ospressupostos processuais e as condições da ação, emite um despacho ordinatório de

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12 PENTEADO, Jaques de Camargo, Produção de Provas, Revista dos Tribunais, São Paulo, Revista dosTribunais, 1988, v. 627, p. 383.13 Com propriedade, sustentou o Promotor de Justiça Rodrigo Canellas Dias a promoção de arquiva-mento de inquérito policial nos seguintes termos: “Em primeiro lugar, o acervo probatório não indica apresença daqueles requisitos típicos necessários para a formação, de plano, ‘opinio delicti’, acerca daconfiguração de crime contra a ordem tributária. A falta de provas para a formalização de uma acusaçãodeve ser considerada tanto no que se refere aos aspectos da conduta do responsável pelo tributo (cujacaracterização exigiriam maiores elementos descritivos de prova) quanto às demais circunstâncias agre-gadas ao fato principal (fraude direcionada à supressão ou redução de tributo). É de se reconhecer queo presente inquérito arrasta-se desde longa data, tentando levantar elementos que pudessem ao menosauxiliar na descrição da conduta dos responsáveis pela empresa, sem sucesso algum. Especialmente noque se refere ao aspecto subjetivo, conforme o conjunto probatório, é importante mencionar que não foipossível demonstrar, com a segurança que requer a esfera penal, haver o responsável pela empresainvestigada agido com vontade direcionada à violação das fronteiras penais” (Inquérito Policial nº050.03.047740-9, DIPO-4, SP, Capital).14 “A interpretação conjugada desses dispositivos enseja a conclusão de que, havendo dúvidas sobre amaterialidade e a autoria, o acusador deve esgotar as investigações para obtenção da verdade processual e,de posse desta, arquivar o inquérito policial ou, formando a opinio delicti, oferecer a denúncia, não maisaplicando aquele brocardo que, em hipótese de dúvida, submete o presumidamente inocente ao processocriminal, com os danos próprios dessa situação” (PENTEADO, Jaques de Camargo, Duplo Grau de Jurisdi-ção no Processo Penal – Garantismo e efetividade, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 154).15 O número máximo de testemunhas que a acusação poderá arrolar é de 8 (art. 406, § 2º, CPP).16 No processo penal os atos de comunicação processual ao argüido devem ser pessoais, conformegarantia judicial estatuída pelo Pacto de São José da Costa Rica (art. 8º, nº 2, letra “b” – “comunicaçãoprévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada”), acolhido pelo direito interno (art. 5º, § 2º,CF). A citação por hora certa ou por edital não está em consonância com a Constituição Federal: “Comas novas prescrições trazidas pela Lei 7.271, de 17/04/96, a qual redefiniu o art. 366, CPP, impondo asuspensão dos processos contra acusados que, uma vez citados, por edital, não comparecerem nemconstituírem defensor, podemos afirmar que se cumpriu a garantia judicial mínima prevista na letra b,§ 2º do art. 8º do Pacto (comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada),acabando-se de vez com as condenações contra ausentesausentesausentesausentesausentes, e assegurando-se aos acusados o máximo depossibilidades para colaborarem com a defesa” (CUNHA, J. S. Fagundes e BALUTA, José, O ProcessoPenal à luz do Pacto de São José da Costa Rica, Curitiba, Juruá, 1997, p. 121).

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citação do argüido,16 para oferecer resposta escrita, no prazo de 10 dias (art. 406,“caput”, CPP).17

III. 2. Procedimento e defesaIII. 2. Procedimento e defesaIII. 2. Procedimento e defesaIII. 2. Procedimento e defesaIII. 2. Procedimento e defesa

Essa resposta escrita tem a natureza jurídica de defesa preliminar,posterior à apresentação da denúncia e anterior ao recebimento formal dessa peti-ção inicial que estabiliza a acusação, no processo de conhecimento, de carátercondenatório, e o seu conteúdo é toda a matéria concernente à imprescindível rea-ção do argüido à imputação.18

III. 2. 1. Pressupostos processuais e condições da açãoIII. 2. 1. Pressupostos processuais e condições da açãoIII. 2. 1. Pressupostos processuais e condições da açãoIII. 2. 1. Pressupostos processuais e condições da açãoIII. 2. 1. Pressupostos processuais e condições da ação

Tratando dos pressupostos processuais e das condições da ação, comoconteúdo da resposta e matéria da decisão de controle de admissibilidade da imputação,a reforma processual exige a atualização de três categorias jurídicas que, pertencendo àteoria geral do processo, devem ser aplicadas à esfera criminal com as devidasespecificações. “Isto significa que, em lugar do binômio pressupostos processuais econdições da ação, surge um trinômio pressupostos processuais, condições da ação emérito da causa. Ação e processo não se identificam. A ação antecede o processo e dácausa ao seu nascimento. O processo pode extinguir-se por nulidade, ou por outromotivo e a ação subsiste imprejudicada, podendo o interessado repropô-la. A açãopreexiste e pode subsistir ao processo, ao passo que êste só se inicia pelo direito deação. As condições da ação igualmente não se confundem com o mérito da causa. Con-siste êste no julgamento da procedência, ou improcedência do pedido. Assim a falta depossibilidade jurídica, de legitimidade, ou de interêsse processual não tem o efeito deproduzir uma sentença definitiva de rejeição no mérito, antes uma decisão de que oautor é carecedor da ação”.19

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17 Comentando a legislação de entorpecente, que emprega o termo notificação (art. 55, Lei 11.343/06),Vicente Greco Filho e João Daniel Rassi prelecionam que aquela “notificação, na verdade, é citação,porque é a convocação do réu a juízo, podendo seguir-se, como se verá, sentença de mérito, que seriaimpossível sem que estivesse instaurado o processo contraditório” (Lei de Drogas Anotada, São Paulo,Saraiva, 2008, p. 189). Em sentido contrário, comentando o procedimento dos crimes praticados porfuncionário público, Eduardo Espínola Filho sustentava que a “notificação, para a resposta prévia, noscasos de infração afiançável, feita nos têrmos do art. 514, não autoriza a dispensa da citação inicial;esta só se efetiva, depois de instaurada a ação, com o recebimento da peça acusatória” (Código deProcesso Penal Brasileiro Anotado, Rio de Janeiro, Rio, 1976, v. II, p. 185).18 Segundo os termos da reforma: “Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo queinteresse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolartestemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessá-rio” (art. 406, § 3º, CPP).19 BUZAID, Alfredo, Do Agravo de Petição, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 1956, p. 90.

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Os pressupostos processuais são requisitos de existência e de validadeda relação jurídica processual, e têm dois aspectos: subjetivo e objetivo. No plano subjetivo,referem-se ao julgador (dotado de jurisdição, constitucionalmente competente, isto é,juiz natural da causa, e imparcial) e às partes (capacidade de ser parte, capacidadeprocessual e capacidade postulatória). Os requisitos objetivos são: a) extrínsecos(inexistência de fatos impeditivos) e intrínsecos (observância das normas legais).20

Para ilustrar o tema, recentemente, um Promotor de Justiça teria sidoameaçado por uma pessoa e, diante disso, foi instaurado o procedimento sumaríssimopara apuração desse crime de menor potencial ofensivo, e o mesmo Promotor de Justiçaformulou pedido de prisão preventiva daquele indivíduo, e o julgador, respaldado nessarepresentação do ameaçado, decretou a custódia processual do argüido que, detido,apresentou “habeas corpus” ao Tribunal de Justiça do Acre, alegando a falta de elemen-tos para a privação de sua liberdade, sendo concedida a ordem porque o Promotor deJustiça estava impedido para funcionar no processo, posto que se estendem ao mesmoos impedimentos aplicáveis ao julgador.21

A rigor, aplicado o mecanismo de controle da acusação que a reformainstituiu, oferecida a denúncia (art. 77, Lei 9.099/95), não deveria ser deferida a citaçãodo argüido e, se feita, após a resposta do mesmo (art. 81, Lei 9.099/95), declaradoextinto o processo, sem julgamento de mérito, por falta de pressupostos processuaissubjetivos e objetivos (extensão do impedimento judicial ao titular da ação penal deiniciativa pública e inobservância do direito positivo). Jamais se poderia cogitar da pri-são preventiva.22 Não houve a relação jurídica processual.

As condições da ação – possibilidade jurídica do pedido, interesse deagir e legitimidade para agir –,23 são requisitos necessários para que o julgador examineo mérito da causa. A falta de um deles implica a carência da ação e a extinção doprocesso, sem julgamento do mérito. Faltando um pressuposto processual, não se cons-titui a relação jurídica processual e, superado este exame, passa-se à análise da condiçãodo direito de agir que, faltante, gera uma decisão sobre a ação, não se discutindo o“meritum causae”.

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20 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 5ª ed., São Paulo, Saraiva,1977, v. I, p. 275.21 RT 871/593.22 Elucide-se que, no “habeas corpus”, foi indeferida a liminar e a Procuradoria Geral de Justiça foicontrária à concessão da ordem. Com rigor técnico, se pode classificar este caso como inexistência deprocedimento em sentido jurídico, pois não havia Promotor de Justiça atuando nos autos, muito menoso promotor natural, pois “se falta um pressuposto de existência, não há processo em sentido jurídico,não existe aquela atividade relevante para o direito que se chama processo, não há relação jurídica entreas partes e o Juiz. Haverá processo em sentido puramente físico, atividade encadeada e progressiva,relação de fato entre sujeitos. Se, ao invés, faltar um pressuposto de validez, então há relação processu-al; o que não há é aquela eficácia jurídica do ato regular e são” (TORNAGHI, Hélio, Instituições deProcesso Penal, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 1997, v. I, p. 405).23 O pedido é possível quando admissível pelo direito objetivo; há interesse de agir a partir da utilidadee aptidão do provimento pedido; e legitimação para agir concerne à titularidade ativa e passiva da ação.

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No processo penal, não haverá possibilidade jurídica do pedido se ofato for atípico ou “evidentemente não constituir crime” (art. 43, CPP). Sabido quecrime é ação humana, típica, antijurídica e culpável, e que a acusação deve ser baseadaem prova pré-constituída, se presente uma causa excludente de antijuridicidade, porexemplo, não se poderá formular acusação e, caso oferecida esta, o julgador deverájulgar extinto o processo, sem julgamento de mérito, por carência de ação, eis quejuridicamente impossível a pretensão de aplicar pena a quem agiu “secundum jus”.

Como preleciona a doutrina, a “impossibilidade jurídica do pedidoconstitui índice macroscópico da não-existência de pretensão razoável, pois, nessecaso, nem mesmo em litígio se poderia falar, ante a inviabilidade total da pretensão.Nessa hipótese, ainda que se aduza a falta de pretensão razoável, ou de pretensãoinsatisfeita, o que há, na verdade, é a inexistência efetiva de exigibilidade. O paga-mento de dívida de jogo não pode ser exigido pelas vias processuais, pelo que, noplano processual, se trata de pretensão totalmente inviável. E o mesmo se diga dapersecução penal pela prática de fato atípico, ou que evidentemente não constituacrime, pois não pode existir pretensão punitiva insatisfeita, se o fato praticado nãose acha previsto como fato delituoso ou fato típico”.24

Não se faz presente o interesse de agir quando a acusação é produzidasem provas pré-constituídas ou quando estas forem produzidas sem a intervenção desujeito processual essencial à sua colheita, como uma prova dependente de autorizaçãojudicial e que se ultima sem a intervenção do julgador, de forma que a falta de sujeitoessencial implica um resultado juridicamente inexistente, ou quando a narrativa acusatórianão corresponde às provas validamente colhidas na peça de informação. Este exame sedá na esfera anterior à análise do mérito da causa.

Criticando a tese de que essa análise tratar-se-ia da discussão da justacausa e que esse exame pertine às condições de procedência ou de improcedência daação penal, ensina-se que, muito “pelo contrário, e ainda que multifária, inespecífica, aconceitação de justa causa, em processo penal, é perfeitamente possível extremá-la emsituações concernentes à verificação da admissibilidade do julgamento do meritum causae(e, portanto, do legítimo interesse, ou interesse de agir). Assim, por exemplo, quandoformulada a proposição acusatória com inteira abstração dos elementos informativoscolhidos na investigação criminal, de sorte a apresentar-se totalmente divorciada deles,e, por isso, tecnicamente inepta, evidenciando falta de interesse de agir, determinanteda extinção do processo sem julgamento do mérito”.25

Finalmente, nesta parte, a legitimação para a causa é a “pertinênciasubjetiva da ação, a titularidade da pessoa que propõe a demanda”.26 Dá-se, dentreoutras, nas hipóteses de apresentação de denúncia em caso de ação penal pública deiniciativa do ofendido ou “quando o acusado é, manifesta e unicamente, outra pessoa,ou testemunha, e não autor da infração penal”,27 o que, além de garantir o prévio con-

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24 MARQUES, José Frederico, Tratado de Direito Processual Penal, Saraiva, São Paulo, 1980, v. II, p. 23.25 TUCCI, Rogério Lauria, Teoria do Direito Processual Penal, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2002, p. 95.2626 BUZAID, Alfredo, op. cit., p. 89.27 TUCCI, Rogério Lauria, op. cit., p. 96.

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trole da acusação, também é muito útil para evitar o prosseguimento de ações pe-nais injustas, como aquelas oferecidas em face de pessoas que tiveram os seusdocumentos falsificados por terceiros que praticam crimes e a repressão incidesobre o inocente. Provado esse indevido uso do nome alheio, ainda que recebida adenúncia, o julgador poderá, incidentalmente, declarar a carência da ação penalpor falta de uma das condições da mesma.28

Feita essa digressão, necessária para esboçar o conteúdo da defesa preli-minar, da réplica e da respectiva decisão que controla o exercício da acusação, enfatiza-seque a reforma pode significar uma grande evolução no exercício do direito de defesa que,anteriormente, talvez porque a norma não ensejasse utilidade processual na exposição edemonstração exordial das teses defensivas, limitava-se a simbólicos protestos de inocência,e com o novo sistema pode reagir à imputação formulada com intensidade e proficiência.

Ao contrário da acusação, que deve ser devida: limitada pela tipicidadedos fatos criminosos, baseada em provas pré-constituídas, descritiva do fato delituoso comtodas as suas circunstâncias, adstrita ao conteúdo daqueles elementos de convicção, formu-lada por promotor natural, apresentada ao juiz natural da causa penal e voltada à defesa daordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis(art. 127, “caput”, CF), a defesa é ampla, plasmada unicamente pelo critério ético e desen-volvida pela melhor técnica processual aplicável ao caso concreto, especialmente prestigiadapela presunção de inocência e pela paridade de armas, constituindo a reação necessária àsíntese que advirá da atuação do juiz neutro. Sem a defesa não se constitui a relação jurídicaprocessual e o grau de imperfeição no desenvolvimento daquela acarretará a nulidade abso-luta, relativa ou a irregularidade do procedimento.29

Essa defesa preliminar é um dos elos necessários ao desenvolvimentoregular do procedimento especial – também do comum, à evidência – e, sem a mesma, nãoserá válido o resultado final daquele;30 é obrigatória a sua apresentação (art. 408, CPP).Apresentada, será ouvida a parte contrária, que oferecerá a sua réplica. Nesta, o MinistérioPúblico, órgão de soberania do Estado, incumbido da defesa dos valores, dos princípios edas regras legais essenciais à cidadania, poderá concordar ou discordar dos termos da defe-sa preambular e, certamente, por sua própria natureza institucional, em muitos casos, feitaa reação preliminar da defesa, será o primeiro a pugnar pelo acolhimento das teses que

28 “Como não há preclusão pro iudicato para as questões de ordem pública, como o são as condi-ções da ação, o juiz pode decidir de novo a respeito desta matéria, até proferir sentença, quandonão mais poderá inovar no processo” (NERY, Nelson Junior e NERY, Rosa Maria de Andrade, Códi-go de Processo Civil Comentado, 9ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 436).29 “Não prescreve a lei ao advogado criminal o modo como deve desempenhar sua tarefa, nãosendo, portanto, lícito exigir-lhe que proceda desta ou daquela forma, devendo-se-lhe concedercrédito de confiança, que só deverá ser retirado se se comprovar que, por inépcia, desídia ou dolo,houver causado prejuízo à defesa do réu” (RT 612/306).30 “Falta de notificação do acusado para responder, por escrito, em caso de crime afiançável,apresentada a denúncia. Relevância da falta, importando nulidade do processo, porque atinge oprincípio fundamental da ampla defesa. Evidência do prejuízo” (STF, 1ª Turma, HC nº 60.104-9/SP, Rel. Min. Oscar Corrêa, v. un., j. 14.9.1982, RT 572/412).

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tenham fundamento jurídico e prova adequada.31 Também o querelante apresentará a suaréplica e essa manifestação do mesmo não refugirá das características da acusação do par-ticular, substancialmente diversa daquela do Ministério Público.

III. 3. Procedimento e decisõesIII. 3. Procedimento e decisõesIII. 3. Procedimento e decisõesIII. 3. Procedimento e decisõesIII. 3. Procedimento e decisões

A lei não é clara, mas a interpretação sistemática do novo procedi-mento,32 o desenvolvimento dos elos mencionados – acusação, defesa, réplica –, a pos-sibilidade de apresentação de réplica que acolha os fundamentos da defesa preliminar,a aplicação subsidiária do procedimento comum, ordinário, com a previsão de julga-mento antecipado da lide e a conseqüente absolvição sumária do argüido (art. 397,CPP), e a previsão de uma fase de saneamento do processo (art. 410, CPP), autoriza aconclusão de que se dará o controle jurisdicional da acusação nesta oportunidade. Esteexame é mais profundo do que aquele feito na esfera inicial de recepção da denúncia,tem a natureza jurídica de uma decisão e pode receber a denúncia, rejeitá-la,33 declararextinto o processo, sem julgamento de mérito, por falta de pressuposto processual ou

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31 O Ministério Público tem legitimidade para pleitear a absolvição do argüido, recorrer em favor do mesmo einterpor ações constitucionais que beneficiem o imputado.32 “O aprimoramento do duplo grau de jurisdição, a partir da função judicial, começa com o exame da causa penal,principalmente na esfera do juízo de admissibilidade da acusação. Como toda imputação penal traduz um dano aoargüido, o juiz criminal, sistematicamente, deveria promover o contraditório antes de admitir a acusação, ensejandoao acusado a oportunidade de formular uma defesa preliminar” (PENTEADO, Jaques de Camargo, op. cit., p. 160).Essa é a orientação do Código de Processo Penal-Tipo para a Ibero-América (Capítulo 3º). Trata-se de antigarecomendação doutrinária, e ainda mais rigorosa, para evitar que o juiz da admissibilidade da acusação atuasse nafase posterior ao recebimento da denúncia: “Em nosso entender, o procedimento comum deveria iniciar-se semprepor uma fase preliminar, em que se estabelecesse o contraditório sobre o recebimento da acusação, conduzido porjuiz diverso do juiz do mérito. Recebida a denúncia, o procedimento poderia adotar as formas do atual procedimentosumário, mas concentrando-se todas as provas orais em uma única audiência, em que também se prolatasse asentença” (GRINOVER, Ada Pellegrini, Procedimentos Sumários em Matéria Penal. In PENTEADO, Jaques deCamargo (Coord.), Justiça Penal, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1993, p. 17). No procedimento comum, ordi-nário, aplicável aos demais procedimentos, esse controle jurisdicional da acusação é exigido. Sempre se deve optarpela interpretação que de sentido ao sistema legal e não teria cabimento instituir-se uma comunicação ao argüido,especificar-se o conteúdo de sua resposta, abrir-se oportunidade de réplica ao acusador que, poderá acolher argu-mentação defensiva, e não se decidir a matéria discutida.33 A rejeição pode ser parcial e, especialmente no procedimento relativo aos crimes dolosos contra a vida, aexperiência forense recomenda uma nova e especial atenção do julgador às hipóteses de excesso de acusa-ção, particularmente com a inserção de qualificadoras que não se encontrem amparadas pela prova ou pelodireito, embaraçando a defesa. Vicente Greco Filho e João Daniel Rassi sustentam que o juiz não podedesclassificar o delito imputado, pois o “fenômeno da desclassificação é exclusivo da sentença final em quea condenação é de crime menor contido no crime constante da acusação. Na fase recebimento, ou não, dadenúncia, se o juiz entender que a acusação é abusiva porque o crime, em tese, seria outro menos grave, deverejeitar a denúncia para que o Ministério Público ofereça outra adequada, ressalvada a possibilidade derecurso do órgão da acusação” (op. cit., p. 191).

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de condição da ação ou, sumariamente absolver o argüido, extinguindo o processo comjulgamento de mérito.34

Essa decisão deve ser fundamentada (art. 93, inc. IX, CF). Na hipó-tese de recebimento da denúncia,35 tem a natureza36 de decisão interlocutória, e podeser reexaminada em sede de recurso em sentido estrito ou de “habeas corpus”. Essadecisão interrompe o prazo prescricional. A absolvição sumária tem a natureza jurídicade sentença, caráter definitivo, e faz coisa julgada formal e substancial.

III. 3. 1. Instrução processualIII. 3. 1. Instrução processualIII. 3. 1. Instrução processualIII. 3. 1. Instrução processualIII. 3. 1. Instrução processual

Recebida a denúncia, será marcada a audiência de instrução para aprodução das provas orais37 e realizadas as diligências requeridas pelas partes, no prazode 10 (dez) dias (art. 410, CPP). Estas deverão ser comunicadas desse ato. Na audiên-cia de instrução serão tomadas as declarações do ofendido, inquiridas as testemunhasarroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, tomados os esclarecimentos dosperitos,38 feitas as acareações, e realizado o procedimento específico de reconhecimen-to de pessoas e de coisas, importante elemento de convicção e que muitas vezes tem asua formulação típica negligenciada no foro criminal,39 causando significativas injusti-

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34 Para aqueles que não inserem as causas de excludente de culpabilidade ou de antijuridicidade nascondições da ação (impossibilidade jurídica do pedido), a prova de uma legítima defesa, por exemplo,implica a absolvição sumária nesta fase de juízo de admissibilidade da acusação.35 “Essa decisão, em que pese entendimento contrário, tem de ser fundamentada não apenas como decor-rência de imperativo constitucional, mas também porque assim o determina a lógica do sistema: nãoteria sentido oferecer a oportunidade de apresentação da defesa sem tornar obrigatória a manifestação dojuízo a respeito da tese do acusado” (PODVAL, Maria Fernanda de Toledo R. e PODVAL, Roberto,Processo e Julgamento dos Crimes de Responsabilidade dos Funcionários Públicos. In FRANCO, AlbertoSilva e STOCO, Rui (Coords.), Código de Processo Penal e sua Interpretação Jurisprudencial, 2ª ed.,São Paulo, Revista dos Tribunais, 2004, v. IV, p. 242).36 “Na terminologia jurídica, assinala, notadamente, a essência, a substância ou a compleição das coisas.Assim, a natureza se revela pelos requisitos ou atributos essenciais e que devem vir com a própria coisa.Eles se mostram, por isso, a razão de ser, seja do ato, do contrato ou do negócio. A natureza da coisa,pois, põe em evidência sua própria essência ou substância, que dela não se separa, sem que a modifiqueou a mostre diferente ou sem os atributos, que são de seu caráter. É, portanto, a matéria de que se compõea própria coisa, ou que lhe é inerente ou congênita” (De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, Rio deJaneiro, Forense, 1996, v. III, p.230).37 A audiência é una e se privilegia a oralidade (art. 411, § 2º, CPP).38 Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento da parte (art. 411, § 1º, CPP), masa necessidade dessas elucidações poderá surgir na audiência e, nesse caso, será complementada a perí-cia, nada obstante a falta de requerimento anterior, por evidente impossibilidade de previsão do futuro.39 “... o reconhecimento é uma identificação empírica, subjetiva, problemática” (A. Almeida Júnior e J.B. de O. e Costa Júnior, Lições de Medicina Legal, 11ª ed., São Paulo, Companhia Editora Nacional,1973, p. 564). Ver, por todos, Enrico Altavilla, Psicologia Judiciária, Coimbra, Arménio Amado, 1958,vol. II, p. 203 e segs.

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ças e que, a partir da reforma processual, deverá ser feito nos estritos termos da normaespecífica e destacado da inquirição do ofendido e das testemunhas.40 A seguir,será interrogado o argüido.

Encerrada a instrução probatória, se entender cabível uma nova de-finição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos, acerca deelemento ou circunstância da infração penal, não contidos na imputação, o MinistérioPúblico deverá aditar a petição inicial (arts. 411, § 3º, e 384, “caput”, CPP). Essedispositivo decorre do sistema acusatório, pois a acusação é função da parte, não sepermitindo que o julgador exerça ato daquela.41 Se a ação penal pública advier deiniciativa particular, em caráter subsidiário à função ministerial, o representante legaldo “Parquet” também deverá aditá-la. Esse aditamento, se feito oralmente, seráreduzido a termo.42

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40 “Os modernos estudos de psicologia judiciária indicam que muitas vezes se fazem presentes o quese convencionou chamar de ‘falsas memórias’. No Brasil tal tema brilhantemente analisado por LilianMilnitsky Stein e Maria Lúcia Campani Nygaard que afirmam o seguinte: ‘As falsas memórias refe-rem-se ao fato de lembrarmos de eventos que, na realidade, não aconteceram. Isso ocorre porquedeterminadas informações armazenadas na memória são mais tarde evocadas como se fosse experiênciasvividas. Esse fenômeno vem sendo observado em pesquisas experimentais, tanto no âmbito dapsicoterapia quanto na área jurídica e também em situações do cotidiano (Diges, 1997, Roedlinger,2000, Stein e Neufeld, 2002)’ Lilian Milnitsky Stein e Maria Lúcia Campani Nygaard, A memória emjulgamento: uma análise cognitiva dos depoimentos testemunhais, Revista Brasileira de CiênciasCriminais, 43/151)”. No caso em tela, o fato efetivamente ocorrera, mas não é possível afirmar-se,com a necessária segurança, que foram ambos os acusados que os cometerem, dada a questão daschamadas ‘falsas memórias’” (TJSP, 8ª Câm. Crim, Ap. 01108141.3/3-0, Rel. Des. Guilherme MadeiraDezem, j. 23.11.2007, v. un.).41 Há muito, criticávamos a norma do art. 384 e seu parágrafo único, CPP, com a redação anterior àpresente reforma que, nesta parte, é elogiável: “O julgador que, em face da ausência de descrição queao acusador competia realizar, supre a atividade do último, nada mais é que um juiz que se transmudouem acusador. Encampou as funções deste. Nesse caso, as funções de acusar e julgar estão concentradasem um único órgão, o julgador. Esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição da Repúblicavigente que consagrou o sistema acusatório. Falto de acusação, ao julgador restará absolver o imputado,pois o fato histórico apurado não corresponde à descrição realizada na inicial. Ao acusador incumbe,cumprindo a sua missão constitucional, promover os aditamentos necessários para que a defesa co-nheça a alteração acusatória, reaja amplamente ao seu conteúdo modificado e, a seguir, o julgadoratribua o devido a cada um” (PENTEADO, Jaques de Camargo, Acusação, defesa e julgamento, Cam-pinas, Millennium, 2001, p. 346).42 Ao dizer que, “quando feito oralmente”, o aditamento será reduzido a termo (art. 384, “caput”, CPP),a lei enseja o aditamento escrito e, por outro lado, prevendo prazo para a manifestação da defesa (art.384, § 2º, CPP), indica um caso em que a audiência não será una.

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Apresentado o aditamento, abre-se um procedimento incidentalde citação do argüido para oferecer resposta à adição acusatória,43 segue-se a répli-ca e sobrevém o controle do acréscimo acusatório (art. 384, § 2º, CPP). Rejeitado,prossegue-se com o julgamento da imputação primitiva (art. 384, § 5º, CPP). Rece-bido, de rigor a citação do argüido, com a possibilidade de renovação da instrução(art. 384, §§ 2º e 4º, CPP).

Por fim, com ou sem aditamento, serão apresentadas as alegaçõesorais (art. 411, § 4º, CPP), na presença do juiz da causa, repelindo-se a praxe de se ditaras alegações ao escrevente para que as transcreva no termo de audiência.

Encerrados os debates, o julgador deverá proferir a sua decisão (art.411, § 9º, CPP).44 Excepcionalmente, poderá ordenar a conclusão dos autos e proferiráessa decisão no prazo de até 10 dias.

Em consonância com a garantia constitucional da duração razoá-vel do processo (art. 5º, inc. LXXVIII, CF), esse procedimento não poderá excedero prazo de 90 dias (art. 412) e, caso preso o argüido, deverá ser imediatamenteposto em liberdade.45

III. 3. 2. Decisões ao final da primeira fase do procedimento escalonadoIII. 3. 2. Decisões ao final da primeira fase do procedimento escalonadoIII. 3. 2. Decisões ao final da primeira fase do procedimento escalonadoIII. 3. 2. Decisões ao final da primeira fase do procedimento escalonadoIII. 3. 2. Decisões ao final da primeira fase do procedimento escalonado

A decisão a ser prolatada ao final da primeira fase do procedimen-to escalonado pode ser de pronúncia, de impronúncia, de absolvição sumária ou dedesclassificação.

III. 3. 2. 1. PronúnciaIII. 3. 2. 1. PronúnciaIII. 3. 2. 1. PronúnciaIII. 3. 2. 1. PronúnciaIII. 3. 2. 1. Pronúncia

Segundo a reforma, convencido da materialidade do fato e da exis-tência de indícios de autoria ou de participação, o julgador, fundamentadamente, pro-nunciará o argüido (art. 413, “caput”, CPP). Como esse fato deixa vestígio, é impres-cindível o respectivo laudo de exame de corpo de delito, direto ou indireto. A primitiva

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43 Não bastará a simples comunicação processual à defesa técnica, pois há imputação acrescidaque, necessariamente, deve ser levada ao conhecimento do argüido, para o pleno exercício daampla defesa, com tempo suficiente para se preparar para essa irrogação complementar.44 “Recebido o aditamento, que corresponde ao recebimento inicial da denúncia, não pode mais oMagistrado voltar à capitulação anterior, já que isto representa revogação do despacho que rece-bia a denúncia original, o que não é possível na mesma instância” (TACrim-SP, 6ª Câm. DeFérias de julho/2004, Ap. nº 1.382.115-5, Jales, Rel. Juiz Almeida Sampaio, v. un., j. em 27.7.2004,AASP, Jurisprudência, nº 2431, p. 3579, 14.8.05).45 PENTEADO, Jaques de Camargo, Tempo da Prisão: Breves Apontamentos, Revista dos Tribu-nais, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2003, v. 814, p. 423.

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redação parecia mais correta, pois não basta o convencimento acerca da materialidadede um fato, mas é necessário que se trate da materialidade de um crime, o que é muitodiverso de uma simples questão fática.46

Além disso, ao tratar da linguagem da pronúncia, a norma passa aexigir que os indícios de autoria ou de participação sejam suficientes (art. 413, § 1º,CPP) e, nesse passo, não está em consonância com o “caput” desse dispositivo, para oqual não há exigência de indícios suficientes, mas de indícios, opção da norma revogada,que não trouxe muitos problemas em sua longa aplicação prática.

Respeitados os limites desse trabalho, ao dispor que a fundamen-tação “limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indíciossuficientes de autoria e de participação” (art. 413, § 1º, CPP), a nova redação veda-ria a análise do elemento subjetivo do crime – dado que deve constar da imputaçãoe tese algo freqüente na defesa do argüido –,47 de forma que a limitação legal pode-ria restringir o direito de reação do acusado e, neste passo, a norma não está emconsonância com duas garantias constitucionais – motivação e ampla defesa (arts.5º, incs. XXXVIII, letra “a” e LV, e, 93, IX, CF).

Percebe-se a intenção do legislador, mas a questão não pode serresolvida com a limitação do direito de defesa e nem se restringir à pronúncia, poisa linguagem adotada nos relatórios policiais, nos despachos que decretam a prisãoprocessual, nos acórdãos que confirmam a pronúncia e em outros atos, não deve servazada em termos que, comunicados ao Conselho de Sentença, prejudiquem a im-parcialidade dos jurados.48

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46 A tentativa de simplificação do processo não pode suprimir a profundidade e a extensão das questõesde fato e de direito, e muito menos ignorar que o conteúdo da denúncia é a visão que o acusador temacerca do fato que, nem sempre, corresponde à ocorrência natural, tratando-se de um enunciado de fato:“Esse fato (ou a percepção desse fato) é enquadrado em uma norma, configurando um fato jurídico e, apartir disso, a questão é de direito” (PENTEADO, Jaques de Camargo, Duplo Grau de Jurisdição noProcesso Penal – Garantismo e efetividade, p. 171). Conforme preleciona Marina Gascón Abellán:‘Ciertamente, esta operación de calificación jurídica puede resultar más o menos discrecional, y ellodependerá en gran medida de la configuración del supuesto de hecho legal (H), por lo que desde luego noes indiferente que éste se defina lo más precisa y univocamente posible en función de referentes empíricosclaros; pero, em sí misma, la operación tiene naturaleza normativa” (Los hechos en el derecho, Madrid,Marcial Pons, 1999, p. 74).47 O elemento subjetivo do tipo também figura como um fato que, necessariamente, deve ser descrito eprovado nos autos; para se pronunciar o acusado, deve ser examinada, na maior parte dos casos decompetência do Tribunal do Júri, a intenção de matar: a “presencia de hechos psicológicos es particu-larmente cierta en la sentencia penal, pues, dado que no existe delito sin culpa o dolo, resulta que estadimensión interna o subjetiva há de ser siempre constatada como ‘hecho probado’ para que la conductaenjuiciada pueda ser subsumida en el tipo penal” (ABELLÁN, Marina Gascón, op. cit., p. 76). Sobre anecessidade de a denúncia descrever o elemento subjetivo (RT 842/457 e 468).48 Não basta o reconhecimento da nulidade ou a recomendação judicial acerca desses excessos, pois aacusação poderá referir os termos e os jurados poderão ter acesso aos autos na sala secreta, de forma quese trata de dados que devem ser desentranhados (TJDF, 2ª T. Criminal; HC nº 2006.00.2.002569-8-DF;Rel. Des. Getulio Pinheiro, j. 27.4.2006, m.v. – AASP Jurisprudência 2498, p. 4117).

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Trata-se de linguagem que deve primar pela objetividade, respeitar odevido processo legal e, mesmo com a vedação do emprego da pronúncia e de outrosatos na sessão de julgamento, como argumento de autoridade (art. 478, inc. I, CPP), ossujeitos processuais devem empregar expressões que preservem a imparcialidade dosjulgadores leigos, inclusive para evitar que a exploração midiática de termos exagera-dos, firam o convencimento daqueles, mesmo antes do julgamento da causa.

A boa formação dos sujeitos processuais e a ponderação dos TribunaisSuperiores pode bem resolver a questão de fundamentar a decisão de pronúncia sem ferirdireitos e garantias individuais. Nesse sentido, há dois julgados que servem de paradigma:

“Assim, retomando o fio da exposição, a leitura em plenário das expressõesinadequadas porventura existentes na pronúncia viola, na verdade, um prin-cípio natural de qualquer julgamento que é o da imparcialidade judicial,que, por sinal, é claramente referido em relação ao procedimento em plenáriopelo art. 466, caput, do CPP”.49 E essa violação gera a nulidade do ato decisório(STF, 2ª T., HC nº 84.547-9-MS, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 1.3.2005, v. un.).“1. É evidente o excesso de fundamentação do decisum ora atacado, por-quanto nitidamente extrapolados os limites do julgamento, restrito, ape-nas, à admissibilidade ou não da acusação, tendo sido emitido juízo acercado mérito da questão (existência do crime e certeza da autoria), cuja com-petência é afeta ao Tribunal do Júri, ensejando, outrossim, manifestoprejulgamento. 2. Ordem concedida para anular o acórdão ora atacado edeterminar que outro seja proferido, em estrita observância dos limites dalei” (STJ, 5ª T., HC nº 43.163-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 4.10.2005, v.un.).

Ainda nessa esfera, evidente que não basta que o julgador especifique as cir-cunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena, devendo fundamentar a configuraçãoou não das mesmas, sempre com aquelas recomendações sobre a linguagem empregada.

III. 3. 2. 2. ImpronúnciaIII. 3. 2. 2. ImpronúnciaIII. 3. 2. 2. ImpronúnciaIII. 3. 2. 2. ImpronúnciaIII. 3. 2. 2. Impronúncia

O julgador, motivadamente, não se convencendo da “materialidadedo fato” ou da “existência de indícios suficientes de autoria ou de participação”,impronunciará o acusado (art. 414, CPP). Surgindo prova nova50 antes da extinção dapunibilidade, poderá ser apresentada nova acusação (art. 414, parágrafo único, CPP) eos autos originários servirão como elementos de informação.51

A doutrina afirmava que a impronúncia significa a absolvição de ins-tância, mas se o julgador considerasse que ficou provada a inexistência do fato ou queesse fato não constitui infração penal, essa decisão teria a natureza de absolvição e,

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49 GOMES, Antonio Magalhães Filho, A Motivação das Decisões Penais, São Paulo, Revista dosTribunais, 2001, p. 23550 Isto é, “provas que não foram produzidas e apreciadas no processo, findo com a impronúncia”(NORONHA, E. Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 3ª ed., São Paulo, Saraiva, 1969, p. 273).51 Cabe apelação em face da impronúncia ou da absolvição sumária (art. 416, CPP).

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transitando em julgado, não mais se poderia cogitar de nova imputação, ainda quesobreviesse prova nova, o que foi tratado pela reforma como hipóteses de absolviçãosumária (art. 415, incs. I e III, CPP);52 além disso, preleciona-se que a defesa pode terlegítimo interesse em recorrer da impronúncia visando a absolvição sumária.53

III. 3. 2. 3. III. 3. 2. 3. III. 3. 2. 3. III. 3. 2. 3. III. 3. 2. 3. Absolvição sumáriaAbsolvição sumáriaAbsolvição sumáriaAbsolvição sumáriaAbsolvição sumária

Provada a inexistência do fato, demonstrado que o acusado não éautor ou partícipe do fato, que esse fato não constitui infração penal, ou demonstradacausa de isenção de pena ou de exclusão de crime, fundamentadamente, o julgadorabsolverá aquele (art. 415, CPP).

Segundo a reforma, o inimputável não será “absolvido”, salvo quandoesta for a única tese defensiva (art. 415, parágrafo único, CPP). Nesse sentido, a refor-ma procurou atender os justos reclamos da doutrina acerca da recomendação da pro-núncia do inimputável que alegasse uma causa de exclusão de crime, para que, na ampli-tude do juízo da causa, pudesse contar com a possibilidade de absolvição própria, emvez da chamada absolvição imprópria, que lhe aplicava medida de segurança. Todavia, areforma parece ter ficado no meio do caminho, pois a questão deveria ser sistematica-mente examinada pelo Tribunal do Júri, constitucionalmente competente para conhecere julgar os crimes dolosos contra a vida, e que sempre poderia emitir um juízo menosrigoroso do que a “absolvição” com medida de segurança, cumprida com os horrores donosso sistema manicomial.

III. 3. 2. 4. DesclassificaçãoIII. 3. 2. 4. DesclassificaçãoIII. 3. 2. 4. DesclassificaçãoIII. 3. 2. 4. DesclassificaçãoIII. 3. 2. 4. Desclassificação

Finalmente, quando o julgador se “convencer, em discordância com aacusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 deste Código enão for o competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja” (art. 419,“caput”, CPP), operando-se a chamada desclassificação para crime diverso daquele decompetência do Tribunal do Júri.

Em face do sistema acusatório e da opção legislativa por um processode partes, uma questão importante a ser enfrentada em razão da desclassificação, é oefeito que produzirá a falta de recurso do acusador para sustentar a competência doTribunal do Júri para julgar a imputação, havendo precedente judicial que não conheceude conflito de jurisdição porque o Ministério Público se conformou com a mesma e a

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52 A reforma também considerou caso de absolvição sumária a existência de prova de o acusado não sero autor ou o partícipe do fato (art. 415, inc. II, CPP).53 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 3ª ed., São Paulo, Atlas, 1994, p. 474.

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desclassificatória transitou em julgado.54 A solução contrária feriria a coisa julgada e,nos casos de desclassificação para fato menos grave, o “acusado seria submetido àpossibilidade de condenação por fato mais grave, em face de exclusiva dinâmica judici-al. Se o acusador e a vítima, ou seu representante legal, conformaram-se com a desclas-sificação, não é dado promover o restabelecimento da denúncia mais gravosa”.55

III. 3. 3. Sistema acusatório e aditamentoIII. 3. 3. Sistema acusatório e aditamentoIII. 3. 3. Sistema acusatório e aditamentoIII. 3. 3. Sistema acusatório e aditamentoIII. 3. 3. Sistema acusatório e aditamento

O legislador da reforma nem sempre foi fiel ao sistema acusatórioadotado pela Constituição Federal e, ao estabelecer que por ocasião da pronúncia ou daimpronúncia, havendo indícios de autoria ou de participação de outras pessoas, deter-minará o retorno dos autos ao Ministério Público, aplicando-se o art. 80, do estatutoprocessual, no que couber (art. 417, CPP), essa deficiência ficou manifesta. Em primei-ro lugar, veja-se que o julgador não está apenas comunicando a existência de outrosresponsáveis pelo evento, mas ordenando o retorno dos autos ao acusador, para queeste adite a denúncia ou a queixa crime e, feito isto, o julgador cuidará de manter aunidade do processo ou a sua separação. Ora, esse aditamento é provocado pelo julgador,a adição é obra de sua iniciativa; nesse caso, o julgador exerce uma atividade diversadaquela que lhe atribui o sistema acusatório e, neste passo, as reformas pontuais bemdemonstram o quanto podem prejudicar a harmonia de um Código de Processo. Veja-seque no procedimento comum, ordinário, há regra de aplicação subsidiária ao procedi-mento especial, relativa à espontaneidade do aditamento pelo acusador quanto à novaqualificação jurídica do fato, não havendo razão para se alterar o sistema e atribuir aojulgador uma função acusatória de inclusão de pessoas no polo passivo da ação penalcondenatória, no procedimento especial (art. 384, CPP).56

III. 3. 4. Providências anteriores à remessa dos autos ao Juiz PresidenteIII. 3. 4. Providências anteriores à remessa dos autos ao Juiz PresidenteIII. 3. 4. Providências anteriores à remessa dos autos ao Juiz PresidenteIII. 3. 4. Providências anteriores à remessa dos autos ao Juiz PresidenteIII. 3. 4. Providências anteriores à remessa dos autos ao Juiz Presidente

A intimação da pronúncia deve ser feita pessoalmente ao acusado, aodefensor nomeado e ao Ministério Público e, ao defensor constituído, ao querelante e aoassistente por publicação no órgão incumbido da publicação dos atos judiciais dacomarca; o acusado que estiver solto e não for encontrado, será intimado por edital(art. 420, incs. I e II, e parágrafo único, c.c. o art. 370, § 1º, CPP), o que também não parececonforme à necessidade de comunicação dos atos processuais à pessoa do argüido.

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54 Conflito de Jurisdição nº 160.273-3/4, TJSP, Seção Criminal, 2ª Câm., v. un. Re. Des. Devienne Ferraz,j. em 28.3.1994).55 PENTEADO, Jaques de Camargo, Acusação, defesa e julgamento, Campinas, Millennium, 2001, p. 339.56 Ainda nessa esfera, em vez de se evoluir para o sistema do inquérito civil, em que o controle da funçãoacusatória é feito no âmbito do Ministério Público, persiste-se na criticada forma do art. 28, CPP, em que ojulgador estimula o acusador ao aditamento e, na inércia deste, provoca a Procuradoria Geral de Justiça, e aoser eventualmente atendido, aquele julgador receberá a adição que, em parte magna, é obra sua.

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Preclusa a pronúncia, os autos serão encaminhados ao Juiz Presi-dente do Tribunal do Júri (art. 421, CPP). Nas hipóteses de recurso especial ouextraordinário, que não têm efeito suspensivo, não se opera aquela preclusão emface dos termos da reforma e, portanto, os autos não poderão avançar para a segun-da fase do procedimento escalonado.

Ainda nesse tema da preclusão, há uma hipótese que merece atençãoespecial, pois se procurou disciplinar uma questão muito tratada pelos doutrinadores,concernente ao processo por tentativa de homicídio em que ocorre a morte da vítimaapós a pronúncia, ordenando o legislador da reforma que o julgador mande os autospara o acusador e, retornando-lhe o feito, profira decisão (art. 421, §§ 1º e 2º, CPP).

Ora, a questão não é tão simples como parece, pois é necessárioum profundo exame e prova material de que há nexo causal entre a ação físicaimputada ao argüido e o resultado letal superveniente à pronúncia e, sobretudo, umfato novo – no plano objetivo não houve circunstância estranha à vontade do agenteque tenha impedido a consumação do crime –, elementos estes que exigem adita-mento da denúncia, por ação espontânea do acusador, comunicação ao acusado,defesa incidental, reabertura de oportunidade de colheita de novas provas, debatese, somente depois disso, será decidido o acréscimo.

IVIVIVIVIV. Conclusão. Conclusão. Conclusão. Conclusão. Conclusão

A vontade popular estabeleceu o nosso Estado Democrático de Direito,que tem por um dos seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, e visa a construçãode uma sociedade livre, justa e solidária, com a prevalência dos direitos humanos. A Cons-tituição Federal adotou o sistema acusatório, que deve ser balizado pelo garantismo e pelaefetividade, visando o bem comum – reconhecimento daquela dignidade humana, provisãodas necessidades do homem e fixação de uma ordem jurídica justa, estável e segura –, e sedesenvolvendo segundo os direitos e as garantias individuais consagradas na Carta Magna.

O ideal seria a promulgação de um novo Código de Processo Penal, eisque as reformas pontuais costumam prejudicar o sistema processual, mas há que seinterpretar os novos dispositivos legais de forma a assegurar a evolução da Justiça Penale, nesse sentido, a presente modificação enseja o aprofundamento das noções de jurisdi-ção, de processo e de procedimento. Instituindo um controle judicial da acusação, a reformaprevê a defesa preliminar, a réplica e uma decisão judicial motivada que pode declarar ainexistência da relação jurídica processual por falta de pressupostos processuais, a carênciada ação penal, por impossibilidade jurídica do pedido, ausência de legitimidade para agirou de interesse processual, ou mesmo a sumária absolvição do argüido.

Admitindo a acusação, dar-se-á a instrução em contraditório, comprevalência da atuação das partes, e um significativo tratamento da prova típica dereconhecimento de pessoas ou coisas, que deve ser destacada das inquirições dasvítimas e das testemunhas.

O aditamento legítimo dependerá da iniciativa do acusador e deveráser preservada a neutralidade judicial.

A decisão de pronúncia deve demonstrar a materialidade do crime enão do fato, os limites à motivação não podem violar a garantia constitucional de funda-

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mentação dos atos decisórios, especialmente quanto ao elemento subjetivo do tipo legalde crime, e também as qualificadoras devem ser objeto de fundamentação. A linguagemda pronúncia e dos atos respectivos não pode ferir a imparcialidade dos jurados.

Impronunciado o argüido, o caso será reaberto somente diante deprova nova e com nova acusação.

Se o inimputável apresentar alguma tese defensiva, a reforma exigeque a mesma seja examinada no juízo da causa, o que deveria ser uma regra, poissempre se poderá apresentar uma defesa em plenário e os jurados, soberanamente,decidir de forma menos gravosa que a “absolvição imprópria”.

A desclassificatória exige especial atenção do acusador para apresentarrecurso nos casos em que sustente a competência do Tribunal do Júri, pois a falta dessereclamo implica a impossibilidade de restabelecimento da imputação originária, ainda queo juízo apontado como competente afirme a competência especial daquele Colegiado.

O aditamento implica o controle da acusação acrescida, citação e respos-ta do argüido, réplica e nova decisão sobre essa matéria complementar, renovando-se ainstrução criminal. Os fatos supervenientes à pronúncia e que alterem a classificação docrime também dependem de aditamento e do controle e do contraditório mencionados.

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HERIVELTO DE ALMEIDAPromotor de Justiça no Estado de São Paulo

REFLEXÕES PONTUREFLEXÕES PONTUREFLEXÕES PONTUREFLEXÕES PONTUREFLEXÕES PONTUAISAISAISAISAISSOBRE O DEVIDOSOBRE O DEVIDOSOBRE O DEVIDOSOBRE O DEVIDOSOBRE O DEVIDO

PROCESSO LEGAL E OPROCESSO LEGAL E OPROCESSO LEGAL E OPROCESSO LEGAL E OPROCESSO LEGAL E OJULJULJULJULJULGAMENTGAMENTGAMENTGAMENTGAMENTO DOSO DOSO DOSO DOSO DOS

CRIMES DECRIMES DECRIMES DECRIMES DECRIMES DECOMPETÊNCIA DOCOMPETÊNCIA DOCOMPETÊNCIA DOCOMPETÊNCIA DOCOMPETÊNCIA DOTRIBTRIBTRIBTRIBTRIBUNUNUNUNUNAL DO JÚRIAL DO JÚRIAL DO JÚRIAL DO JÚRIAL DO JÚRI

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REFLEXÕES PONTUAIS SOBRE O DEVIDO PROCESSOREFLEXÕES PONTUAIS SOBRE O DEVIDO PROCESSOREFLEXÕES PONTUAIS SOBRE O DEVIDO PROCESSOREFLEXÕES PONTUAIS SOBRE O DEVIDO PROCESSOREFLEXÕES PONTUAIS SOBRE O DEVIDO PROCESSOLEGAL E O JULGAMENTO DOS CRIMES DELEGAL E O JULGAMENTO DOS CRIMES DELEGAL E O JULGAMENTO DOS CRIMES DELEGAL E O JULGAMENTO DOS CRIMES DELEGAL E O JULGAMENTO DOS CRIMES DE

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRICOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRICOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRICOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRICOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI(Lei nº 1(Lei nº 1(Lei nº 1(Lei nº 1(Lei nº 11.689, de 20 de junho de 2008)1.689, de 20 de junho de 2008)1.689, de 20 de junho de 2008)1.689, de 20 de junho de 2008)1.689, de 20 de junho de 2008)

Herivelto de AlmeidaPromotor de Justiça no Estado de São Paulo

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. A aplicação da lei no tempo; 3. O questioná-rio e sua votação; 4. Conclusão.

1. Introdução1. Introdução1. Introdução1. Introdução1. Introdução

Na esteira das pontuais alterações do Código de Processo Civil e a inglóriatarefa de modificação integral do vetusto Código de Processo Penal, apesar de iniciativaspretéritas de renomados juristas, foram encaminhados ao Congresso Nacional inúmeros pro-jetos com vista à adequação de temas fundamentais do processo penal à nova ordem cons-titucional, aos estudos doutrinários e certa orientação pretoriana.

Com vista à celeridade, eficiência, simplicidade e segurança, foco nosdireitos e garantias individuais e a conformação da ordem jurídica ao processo penal consti-tucional, foram regradas matérias como a duração razoável do processo, as provas ilícitas, aprisão processual e o sistema acusatório, a correlação, os procedimentos etc.

O Projeto de Lei nº 4.203, de 2001, após sucessivas alterações peloCongresso Nacional, foi aprovado e originou a redação final da Lei nº 11.689, sancionadaem 09 de junho de 2008 e publicada no dia seguinte, com entrada em vigor no dia 09 deagosto de 20081, contendo a nova disciplina do procedimento relativo aos processos decompetência do Tribunal do Júri.

A pretexto de extirpar disposições anacrônicas e dotar o ordenamento deum instrumento apto a confrontar a criminalidade crescente, a par do fosso com a realidadejurídico nacional, o legislador perdeu a oportunidade para a perfeita conformação constituci-

1 Lei Complementar nº 95/98, art.8º., § 1º.:Lei Complementar nº 95/98, art.8º., § 1º.:Lei Complementar nº 95/98, art.8º., § 1º.:Lei Complementar nº 95/98, art.8º., § 1º.:Lei Complementar nº 95/98, art.8º., § 1º.: “A contagem do prazo para entrada em vigor das leis queestabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia doprazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral”.

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onal do processo penal e, no segundo momento, arranhou o devido processo legal pararesguardar a plenitude da defesa, sobretudo na fase plenária do Júri.

O presente artigo destina-se à reflexão de alguns tópicos – aplicação dalei no tempo e quesitos - de maior interesse prático e sua correlação com o devido processolegal e seus corolários.

2. 2. 2. 2. 2. Aplicação da lei no tempoAplicação da lei no tempoAplicação da lei no tempoAplicação da lei no tempoAplicação da lei no tempo

A entrada em vigor da nova lei trouxe interessantes questões sobre aaplicabilidade de seus preceitos aos processos em curso, sem prejuízo da validade dos atospraticados sob a vigência da lei anterior, na dicção do artigo 2º. do Código de ProcessoPenal, que encontra seu anteparo material no disposto no art. 5º, XL, da Constituição Fede-ral, e do parágrafo único do art. 2º do Código Penal, que impedem a retroatividade de normaque, de qualquer forma, prejudicar o acusado.

Celeuma se vislumbra, apenas para anotar a complexidade do tema, quantoà necessidade de novo interrogatório do réu após a produção da prova oral e o protesto pornovo júri, extirpado pela nova disciplina processual, posto que alguns autores já a conside-ram como norma processual de reflexos materiais, impondo-se a análise da retroatividadesob o aspecto de ordem material. Neste tópico, entretanto, resume-se o artigo à realizaçãodo plenário do júri sem a presença do réu.

Milhares de processos relacionados aos crimes dolosos contra a vida“dormiam em berço esplendido” após a fase de pronúncia, isto para não mencionar a vergo-nhosa quantidade de “vidas” arquivadas sem a solução do caso. Uma das propostas efetivasveiculadas pela reforma para dar maior resolução aos conflitos e resguardar a tutela jurisdicionalcomo direito público, individual ou coletivo, à jurisdição, foi obstar a denominada crise deinstância, que se manifestava pela ausência de intimação do réu da “sentença” de pronúncia,nos termos utilizados pelo revogado art.413 do CPP que, via de regra, deveria ser pessoal,sob pena de nulidade absoluta. A exceção era aplicável à rara hipótese de crime afiançável(infanticídio, auto-aborto e aborto consentido).

Assim, suspenso o processo sem o impedimento ao regular decurso doprazo prescricional aguardava-se a intimação pessoal do réu nos crimes inafiançáveis para asuperação da fase do judicium accusationis e o ingresso no judicium causae, ou a esperapela extinção da punibilidade, certamente não coibida pelo exaurimento das providênciascautelares, como a decretação da prisão preventiva.

Idêntico procedimento e conseqüências – inatividade processual e cursoregular da prescrição - sucediam nas hipóteses de libelo não entregue pessoalmente ao réu(CPP, art.421 – revogado) e não comparecimento do acusado ao julgamento por crimeinafiançável (CPP, art.451, §1º. – revogado).

Entretanto, cuidou a reforma de permitir a intimação por edital do acusa-do solto que não for encontrado (art.420, parágrafo único), sem discriminação de qualquerhipótese - afiançável ou não - e a possibilidade de realização do plenário do júri sem a

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participação do réu, consectário lógico do silêncio constitucional e da autodefesa, que sedesdobra no direito de audiência e de presença, ambos disponíveis pelo acusado.2

A dicotomia preso-solto, adotada em inúmeras fases do procedimento,permite concluir que ostenta esta última condição (solto) quem voluntariamente se escusa decomparecer aos atos e termos processuais, por mero desinteresse ou para subtrair-se àaplicação da lei penal, com prisão decretada (foragido).

Portanto, intimado por edital da pronúncia e preclusa esta decisão, bemcomo suprimido o libelo na preparação do processo para julgamento em plenário (CPP,art.422), restaria a hipótese do não comparecimento do réu solto como impedimento abso-luto à prestação jurisdicional. Entretanto, como a reforma admitiu a realização deste sem apresença do acusado solto que tiver sido regularmente intimado (pessoalmente ou por edital),como preceitua o novo art.457 do CPP, não haveria óbice ao julgamento dos processossuspensos pela crise de instância sob a égide da lei anterior.

Questão de ordem prática e grande incidência nas lides forenses, a serenfrentada sob a ótica constitucional é a seguinte: processos não suspensos pela vigência daLei nº 9.271/96, que remodelou o art.366 do Código de Processo Penal, apesar da citaçãoeditalícia dos acusados, poderão ser apreciados pelo Tribunal Popular?

A pergunta é relevante porque a formação do processo pressupõe a co-municação prévia, detalhada e pessoal, da acusação formalizada, sob pena de nova crise deinstância mitigada: suspende-se o processo e o curso do prazo prescricional ao acusadocitado por edital que não constituir advogado, nos termos do citado art.366 do CPP.3 Cuida-se de norma inspirada na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, devidamente in-corporada ao direito interno pelas vias ordinárias de ratificação, fundada na ordem constitu-cional (art.5º., §2º) e infraconstitucional (CPP, art.1º., I).

Entendeu-se à época impossível cindir a norma de direito processual (sus-pensão do processo) e a norma de direito penal (suspensão da prescrição), de modo que odispositivo seria inaplicável aos fatos delituosos ocorridos antes de sua vigência, consoantepacífica e antiga orientação do Supremo Tribunal Federal.4

Portanto, a resposta ao questionamento formulado comporta três conclu-sões: a)a)a)a)a) se o acusado, apesar de citado por edital antes da vigência da Lei nº 9.271/96, teveciência da acusação a qualquer tempo ou grau de jurisdição (na fase de admissibilidade, pelocomparecimento espontâneo ou constituição de advogado, pela pronúncia ou qualquer outradecisão que teve ciência; na preparação para o julgamento através do recebimento do libelo;no próprio julgamento, anulado pela decisão contrária à prova dos autos) não existirá impe-

2 GRINOVER, Ada Pellegrini, FERNANDES, Antonio Scarance, GOMES, Antonio Magalhães Filho. Asnulidades no processo penal, RT, 6ª. ed., 1998, p.77.3 A Mensagem n.º 1.269 do Ministério da Justiça, de 29 de dezembro de 1994, que encaminhou o projetooriginário da Lei n.9.271/96 informou que o texto remetido visava ao aperfeiçoamento da administraçãoda justiça criminal (leia-se: garantir a presença do acusado), e a redução da impunidade (diga-se: novacausa de suspensão).4 HC n.º 74.695-5-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, 2a. Turma, j.11.03.97.

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dimento para a realização do plenário do júri ou sua renovação; b)b)b)b)b) caso o acusado tenha sidocitado pessoalmente antes da vigência da Lei nº 9.271/96 e decretada sua revelia a posteriori,na intimação da decisão de pronúncia, na entrega do libelo ou na comunicação para o com-parecimento ao plenário do júri, evidentemente não haverá qualquer óbice na incidência danova lei processual penal; c)c)c)c)c) se o acusado, citado por edital antes da vigência da Lei nº9.271/96 (normalmente indiciado indiretamente, na fase policial) não teve ciência prévia,detalhada e pessoal, da acusação formalizada, impossível sua submissão a julgamento peloEgrégio Tribunal do Júri e conseqüente aplicação imediata dos preceitos contidos na novalegislação processual penal.5

RUI STOCO, um dos membros da comissão que elaborou o anteproje-to, pontuou que as alterações “buscam resgatar essa democratização desejada eaparelhar esse sistema de julgamento popular com mecanismos de proteção e defe-sa dos acusados, revalorizando a figura do jurado leigo e garantindo às partes umprocesso justo e rápido, de modo que a sociedade receba desde logo uma prestaçãode conta e resposta quase imediata da atuação do Estado, e o condenado receba apena no momento que ainda se mostra pertinente, eficaz e com força para alcançaro que dela se espera (prevenção, repressão, segregação, desestímulo, reparação eregeneração) e, pois, se apresente adequada para aquele momento, sabido que jus-tiça tardia não é justiça mas arremedo”.6

Como a prestação jurisdicional eficiente e inafastável, dentro de um prazorazoável, não se desvincula de um processo justo com garantias plenas, o conhecimentopessoal da imputação se traduz em providência indeclinável para o julgamento válido peloTribunal do Júri, pois “as garantias constitucionais e as da Convenção Americanainteragem e se completam; e, na hipótese de uma ser mais ampla que outra, prevalece-rá a que melhor assegure os direitos fundamentais.”7

2. Quesitos2. Quesitos2. Quesitos2. Quesitos2. Quesitos

Considerada a mais ousada alteração no procedimento do júri, a reforma proces-sual rompeu substancialmente com o sistema anterior na formulação dos quesitos, verdadeira “usina denulidades”, nas palavras de René Ariel Dotti,8 ao propor um inusitado sistema misto.

Quesitos são proposições afirmativas, simples e distintas, extraídas da deci-são de pronúncia, do interrogatório e das alegações orais das partes, formulados aos juradossobre a matéria de fato ou absolvição do acusado, através de uma ordem preestabelecida.

5 Nesse sentido: GOMES, Luiz Flávio, CUNHA, Rogério Sanches e PINTO, Ronaldo Batista. Comentári-os às reformas do Código de Processo Penal, São Paulo, RT, 2008, p.91.6 Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 9, n.36, São Paulo, RT, out-dez. 2001, p.204.7 Nota 2, p.76.8 Painel preparatório do Congresso Nacional da Reforma Penal, organizado pela seccional paulista daOrdem dos Advogados do Brasil, disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www.tj.ro.gov.br/emeron/sapem/2001/agosto/0308/ARTIGOS/A17.htm

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No sistema anterior, influenciado pela tradição francesa, a resposta dosjurados era desdobrada em quesitos sobre a matéria de fato para a definição do provimentojurisdicional condenatório ou absolutório. Fato principal, dividido em autoria e materialidadeseguida do nexo de causalidade, causas excludentes da ilicitude ou que isentem o réu depena, inclusive sobre o excesso doloso ou culposo, causas de diminuição, qualificadoras ecausas de aumento, agravantes e atenuantes faziam parte da peregrinação dos jurados àbusca da solução jurídica.

Excluídas as agravantes e atenuantes do âmbito de deliberação dos jura-dos9, pela nova configuração do questionário o juiz presidente formulará quesitos versandosobre a materialidade do fato e outro sobre a autoria, encerrando a votação se colher quatrovotos negativos para qualquer das indagações. Na seqüência, e superadas as teses expostasem plenário (tentativa, desclassificação imprópria etc.), a depender da hipótese, formularáquesito inspirado na tradição inglesa, fundado na dicotomia culpado-inocente, contendo aseguinte pergunta: o jurado absolve o acusado?o jurado absolve o acusado?o jurado absolve o acusado?o jurado absolve o acusado?o jurado absolve o acusado? Por fim, caso não finalizado o julgamento,seguem as causas de diminuição de pena alegadas pela defesa e as qualificadoras e causas deaumento reconhecidas na pronúncia.

Não se pretende esmiuçar todas as variantes lógicas inerentes ao sistemaadotado conforme se apresentam na dinâmica do júri, mas realçar os intransponíveis óbices,de ordem constitucional, legal e prático, para a solução adotada pelo legislador através doquesito englobante das justificativas e dirimentes, ou qualquer outra defesa metajurídica assu-mida em plenário.

RUI STOCO apontava os quatro problemas mais graves da instituição doJúri brasileiro: a) formalismo excessivo do procedimento como um todo e, em especial, noque pertine às nulidades; b) critério de arregimentação de jurados; c) absurda complexida-c) absurda complexida-c) absurda complexida-c) absurda complexida-c) absurda complexida-de do sistema de formulação do questionário a ser submetido aos jurados; d) sistemade do sistema de formulação do questionário a ser submetido aos jurados; d) sistemade do sistema de formulação do questionário a ser submetido aos jurados; d) sistemade do sistema de formulação do questionário a ser submetido aos jurados; d) sistemade do sistema de formulação do questionário a ser submetido aos jurados; d) sistemade votação e de pronunciamento do resultado pelos jurados.de votação e de pronunciamento do resultado pelos jurados.de votação e de pronunciamento do resultado pelos jurados.de votação e de pronunciamento do resultado pelos jurados.de votação e de pronunciamento do resultado pelos jurados.10

A simplificação preconizada na reforma ficou restrita ao tópico absolutório,mantida no restante a votação desdobrada dos quesitos, por maioria de votos, formuladosconforme a pronúncia (materialidade, autoria, dolo, qualificadoras e causas de aumento),interrogatório (autodefesa) e alegações em plenário (desclassificação, causas de diminuição).Ou seja, a “usina de nulidades” permanece, acrescida de um quesito englobante que impedeo conhecimento mínimo e seguro da vontade popular na hipótese comum de teses múltiplasformuladas pela defesa (ex: legítima defesa própria e de terceiro; legítima defesa einimputabilidade; coação moral irresistível e inimputabilidade; estado de necessidade einexigibilidade de conduta diversa etc.). Poderia o legislador, a pretexto de simplificar a for-mulação do questionário e o pronunciamento do resultado pelos jurados, admitir uma absol-vição “às cegas”?

RENÉ ARIEL DOTTI conclui que foi acertada a opção legislativa porque oconselho decide acima e além da norma jurídica, com as seguintes considerações: “Ao votar– colocando na urna a cédula sim ou a cédula não – o juiz de fato não precisa motivar

9 Em sentido contrário: NUCCI, Guilherme de Souza, em Tribunal do Júri, São Paulo, Ed. RT, 2008, p.233.10 Crise existencial do Júri no direito brasileiro, RT 664/252 - negritei;

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a sua decisão: ele decide atendendo somente aos imperativos de sua consciência e aosditames da justiça. É desnecessário indagar se a absolvição resulta do acolhimento deuma causa de exclusão do crime ou de isenção de pena. Contra eventual argumento deque o sistema proposto impede o conhecimento do fundamento jurídico da decisão,especialmente para os efeitos civis e administrativos, é importante a releitura da dou-trina de José Frederico Marques: o pranteado mestre critica a influência que a decisãodo Júri exerce no campo das obrigações civis. Ele sustenta que até mesmo em caso denegativa de autoria, a decisão criminal não exclui a responsabilidade civil ex delicto,segundo a interpretação dada ao art.66, do Código de Processo Penal11. Aliás, a auto-nomia das instâncias (Cód. Civil, art.935) é um sólido argumento à nova lei, que, noentanto, prevê entre os requisitos da ata, a descrição fiel dos “debates e as alegações daspartes com os respectivos fundamentos” (art.495, XIV).” 12

Durante o ciclo de debates sobre o projeto de reforma do procedimentodo júri outro especialista no assunto, HERMÍNIO ALBERTO MARQUES PORTO, em consonânciacom sua obra13, já advertia sobre a dificuldade para a acusação formular eventual recursoporque desconhecido o motivo da absolvição, sugerindo a formulação de quesitos diretos esimples, como “o acusado agiu em legítima defesa?”14

Em última hipótese, a restrição recursal é mera conseqüência processualde uma limitação material de ordem constitucional. Repugna à consciência jurídica tanto umacondenação “às cegas”, como exposto no tópico anterior quanto aos réus que não tiveram

11 “Júri e responsabilidade civil”, em Estudos de Direito Processual Civil, Rio de Janeiro, 1960, p.250.12 Um novo e democrático Tribunal do Júri (VII), artigo publicado no jornal “Estado do Paraná”, nocaderno “Direito e Justiça”, de 27.07.2007, e no informativo Migalhas, edição nº 1950.Admitem o quesito único, mas externam preocupação com a segurança do julgamento e a verdadeiraintenção da vontade popular: NUCCI, Guilherme de Souza, op. cit., p.217; CAMPOS, Walfredo Cunha,em O Novo Júri Brasileiro, São Paulo, Ed. Primeira Impressão, 2008, p.224-225; ARRUDA, Eloisa deSouza, e SILVA, César Dario Mariano da, “Questionário no Julgamento pelo Júri”, em http://www.apmp.com.br/juridico/artigos/art_juridicos2008.html13 “A observada valoração realizada pelos jurados não é explicitada de modo fundamentado, poisestão os jurados sempre presos à resposta em fórmulas monossilábicas (sim ou não). Mas a respostado jurado compreende uma fundamentação implícita e que pode ser encontrada na análise dasprovas, e o estudo em confronto destas pode mostrar, com o acréscimo da expressividade que recebe-ram nos debates orais, as bases motivadoras das respostas aos quesitos. Para tal análise voltam-se aspartes e o Tribunal de segundo grau quando de recursos abordando a decisão dos jurados, debatidacomo manifestamente, ou não, em oposição à prova dos autos.” Em Júri – procedimentos e aspectos dojulgamento – Questionários, São Paulo, Ed. Saraiva, 11ª. ed., 2005, p.145.14 Vide nota 10.GOMES, Luiz Flávio, CUNHA, Rogério Sanches e PINTO, Ronaldo Batista. Comentários às reformas doCódigo de Processo Penal, São Paulo, RT, 2008, p.222-3, defendem a individualização das teses defen-sivas, “levando o Conselho de Sentença a se manifestar sobre cada uma isoladamente (sem desdobra-mentos outros), permitindo ao acusador conhecer, em caso de absolvição, as razões da improcedên-cia da acusação para subsidiar eventual peça recursal. Primeiro serão exploradas as descriminantes(excludentes da ilicitude) e depois as dirimentes (excludentes da culpabilidade) e, eventualmente, asexcludentes de punibilidade.”

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ciência prévia da acusação e serão julgados à revelia pelo Tribunal do Júri, caso adotadasliteralmente as normas preconizadas na reforma, como um processo kafkiano às avessas,desconhecida a causa de absolvição e impossibilitada a parte de contrariá-la, muitas vezesoriginada da junção de votos heterogêneos, manifesta subversão ao princípio da soberaniaque se manifesta na maioria e não a minoria representativa do Tribunal Popular.

O confronto entre o poder punitivo do Estado e o direito de liberdade docidadão, observa ADA PELLEGRINI GRINOVER, deve ser “feito em termos de equilíbrio, asse-gurada a efetiva paridade de armas.paridade de armas.paridade de armas.paridade de armas.paridade de armas.”15 A visão se amplia ao concluirmos que a proibiçãodo excesso, garantia individual posta como freio histórico aos sistemas ditatoriais e regimesde exceção, encontra paralelo e equilíbrio na necessidade de proteção estatal aos indivíduoscontra agressões ao corpo social por comportamentos delituosos (proibição da proteçãodeficiente). O julgamento popular, apesar de suas particularidades, traduz um provimentojurisdicional de relevância e interesse para as partes, o ofendido e toda a coletividade, nãoapenas sob a ótica particular, individual, onde se agrega a plenitude da defesa.

Em algumas situações admite-se o discrímen sem qualquer ofensa ao prin-cípio constitucional da isonomia.16 Em outras, a face substancial do devido processo legaldemanda a apreciação da razoabilidade e senso de justiça na elaboração da lei. ALEXANDREDE MORAES resume bem o tema: “A desigualdade na lei se produz quando a norma distin-gue de forma não razoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas.Para que as diferenciações normativas possam ser consideradas não discriminatórias,torna-se indispensável que exista uma justificativa objetiva e razoável, de acordo comcritérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-se emrelação à finalidade e aos efeitos da medida considerada, devendo estar presente porisso uma razoável relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a finali-dade perseguida, sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucional-mente protegidos. Assim, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveiscom a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade razoa-velmente proporcional ao fim visado.” 17

Outros pontos da reforma padecem de idêntico mal, ou seja, a pretextode homenagear a plenitude da defesa esbarram na par conditio, como a proibição de leiturada pronúncia como argumento de autoridade para prejudicar o réu, silenciando sobre a leitu-ra da impronúncia, desclassificação ou absolvição sumária, na fase de admissibilidade daculpa, para beneficiá-lo (CPP, art.478, I).

15 Lineamentos gerais..., em Ciência e Política Criminal em homenagem a Heleno Fragoso, Rio de Janeiro,Ed. Forense, 1992, p.43, n.2.16 FERNANDES, Antonio Scarance observa que “não há inconstitucionalidade: quando só se permiteao réu a revisão criminal (arts.621 a 631), não sendo possível a revisão pro societate; quando só o réupode interpor embargos infringentes e de nulidade (art.609, parágrafo único); quando o réu, com autilização do habeas corpus, pode se insurgir contra decisões interlocutórias que não comportamapelação ou recurso em sentido estrito, ficando o Ministério Público às vezes sem meios para impug-nar decisões semelhantes, só lhe sendo viável a correição parcial ou a reclamação, de utilizaçãorestrita.” Processo Penal Constitucional, São Paulo, RT, 2ª. ed., 2000, p.51.17 Direito Constitucional, São Paulo, Ed. Atlas, 20ª. ed., 2006, p.32.

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Portanto, sob o aspecto constitucional, o tratamento normativo diferen-ciado entre as teses e partes, submetendo aos jurados matérias de fato de um lado e absol-vição de outro, sob as mais variadas matérias de direito englobadas, resulta em indevida einsuperável discriminação sem qualquer justificativa objetiva e razoável, que não encontrasuporte na plenitude da defesa ou soberania dos veredictos. A norma legal deve ser interpre-tada, como exposto no item anterior, conforme os feixes constitucionais inseridos no devidoprocesso legal para dela extrair seu conteúdo útil.

Sempre repugnou a tradição jurídica brasileira, sob a égide do procedi-mento revogado, a formulação de quesitos englobantes, inclusive quanto às teses defensivas,como na hipótese do homicídio privilegiado, justamente por impedir a correta prestaçãojurisdicional e cognição da matéria de fato pelos jurados.18

Evidente que a mera inclusão, na ata dos trabalhos, dos debates e alega-ções das partes, com os respectivos fundamentos (providência formal), não impedirá umaflagrante injustiça pela adoção do método concentrado de quesitação (providência material),que poderá prejudicar em última análise o próprio réu quando pretender o reconhecimentoda legítima defesa ou exercício regular de um direito (CC, art.188, I) e formular tese subsidi-ária em plenário (inimputabilidade; inexigibilidade de conduta diversa).

A última objeção, de ordem prática, sem resposta pelos adeptos da ado-ção do quesito único, para os quais seria desnecessária a identificação da fundamentação dosentido absolutório dos votos minoritários ou mesmo dos majoritários, consiste na possibili-dade de livrar assassinos seriais ou não, tidos por inimputáveis, da imposição de medida desegurança. A constrição da liberdade deve ceder diante de outra tese mais favorável aoacusado, a ponto de impedir a absolvição sumária no juízo de admissibilidade (CPP, art.415,parágrafo único). Resulta dizer que, formulada qualquer tese em plenário que se inclua noquesito absolutório, por mais inverossímil ou absurda nas circunstâncias do fato (coaçãomoral irresistível; legítima defesa putativa; erro de proibição etc.) importará na liberdadeincontinenti do acusado inimputável se preso estiver e positiva a resposta do quesito absolutório(CPP, art.492, II, a), já que desconhecida a intenção dos jurados, aplicando-se a conclusãomais favorável na exata compreensão dos princípios do favor rei e in dubio pro reo.

Em suma, submetidas várias teses ao Conselho de Sentença e para ga-rantir o equilíbrio das partes sem prejuízo à plenitude da defesa, a clareza e precisão dasrespostas através da exata compreensão dos fatos pelos jurados e permitir o exercício doduplo grau de jurisdição, imprescindível a formulação de tantos quesitos absolutórios quantassejam as teses que excluam o crime ou isentem o réu de pena.

A limitação imposta aos jurados para a votação de questões jurídicas, jáque afeta sua atividade judicante às questões de fato, com o desdobramento dos institutosdebatidos em plenário pelo Ministério Público e defesa em seus elementos constitutivos e

18 STJ, 5ª. Turma, REsp nº 443.159 – MS, Rel. Min. Gilson Dipp, j.05.12.02, DJU 17.03.03, p.270. O STFressaltou que “Mostra-se absoluta a nulidade decorrente da junção indevida de matérias, bem como aresultante da falta de quesito inerente a tese implementada pela defesa” - HC 73.163/MG, 2ª Turma, Rel.Min. Marco Aurélio, DJU de 08/10/1999.

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circunstancias, não constituirá empecilho à proposta, agora sob a ótica da simplificaçãodo quesito e da resposta dos jurados. Significa dizer que, alterada a legislação processu-al para admitir o juízo valorativo absolutório em quesito concentradojuízo valorativo absolutório em quesito concentradojuízo valorativo absolutório em quesito concentradojuízo valorativo absolutório em quesito concentradojuízo valorativo absolutório em quesito concentrado, os juradospassaram a votar para além da matéria de fato, daí a correta proposição de HERMÍNIOALBERTO MARQUES PORTO em definir a tese jurídica em votação - o jurado absolve oacusado por ter agido em legítima defesa?;- o jurado absolve o acusado porqueinimputável? - repita-se, quando se tratarem de teses múltiplas que resultem na exclu-são do crime ou isenção da pena.

Como ensina ALEXANDRE DE MORAES, os direitos e garantias funda-mentais consagrados pela Constituição Federal, portanto, não são ilimitados, uma vezque encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados pela CartaMagna (princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas). Desta forma,quando houver em conflito entre dois ou mais direitos fundamentais, o intérprete deveutilizar-se do princípio da concordância prática ou harmonização, de forma a coordenar osbens jurídicos em conflito, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros,realizando uma redução proporcional do verdadeiro significado da norma e da harmo-nia do texto constitucional com sua finalidade precípua.19

6. Conclusões6. Conclusões6. Conclusões6. Conclusões6. Conclusões

1ª. A realização do plenário do júri é inadmissível sem o conhecimentoprévio, detalhado e pessoal da acusação pelo réu, ou através de seu representante legal-mente constituído;

2ª. A formulação do quesito único absolutório é inadmissível na hipótesede defesas simultâneas que excluam crime ou isentem o réu de pena, impondo seu desdobra-mento através de quesitos simples e diretos contendo a tese jurídica proposta.

Por fim, impossível não concordar com as ponderações de WALFREDOCUNHA CAMPOS, segundo o qual “a nova legislação tem algumas poucas virtudes, maspossui tantos e tão graves defeitos, de ordem jurídico-constitucional e no plano práti-co, que exigem do intérprete verdadeiro malabarismo intelectual para se conseguiraplicá-la com eficácia e justiça.”20

19 Op. cit., nota 17, p.28.20 Op. cit., nota 12, p.15.

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MAURÍCIO ANTONIO RIBEIRO LOPES

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Promotor de Justiça do I Tribunal do Júri de São PauloLivre-Docente em Direito Penal pela USP

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Não houve outra preocupação nestes apontamentos senão apresentar aoPromotor de Justiça que oficia perante o Tribunal do Júri algumas indicações derivadas deinterpretação precoce das Leis ns. 11.689, 11.690 e 11.719, todas de 2008. A centralidadedos objetivos resume-se a redefinir alguns parâmetros essencialmente práticos no exercícioprofissional do Promotor de Justiça em vista da maior mudança produzida no processo penalnos dois terços de século.

Em matéria do Tribunal do Júri, ouso afirmar que a Reforma do Códigode Processo Penal implica também a Reforma do Promotor de Justiça. Novos horizontes deatuação como a aproximação às fontes primárias da prova; o controle e a fiscalização daprova e do processo; o aprimoramento das formas de participação do Promotor de Justiçana audiência; os novos contornos da sessão de julgamento, praticamente tudo exige um novoperfil de Promotor de Justiça para o Tribunal do Júri.

Uma primeira observação que se impõe é da complementariedade dasLeis nos. 11.689, 11.690 e 11.719 que se entrelaçam e recriam a sistemática processualpenal. Tentar comentar apenas os reflexos da Lei n. 11.689/08 que especificamente dáao Júri novo tratamento, sem compatibilizá-la com as demais é equívoco sério e conseqüên-cias desastrosas.

O enfoque dado ao esboço é exclusivamente prático. Uma profecia, des-de já, lanço. Aqueles mais habituados a exercer seus papéis no Tribunal do Júri com a legis-lação anterior, se se limitarem a acreditar que a atual apenas modifica alguns aspectos do Júrisem produzir uma autêntica revolução, talvez sirvam de exemplo para confirmação de pro-posição darwinianas: não evoluir é extinguir, e no caso, com grave ônus para a sociedade.

Talvez seja possível apontar-se dois grandes princípios reitores de toda amudança produzida pelas Leis nºs.11.689, 11.690 e 11.719, de 2008, esses seriam: o daceleridade processual e o da unidade dos atos processuais sejam os de instrução, seja o dejulgamento. O processo na fase inicial deve ser concluído em 90 dias (art. 412, CPP, Lei n.11.689/08); à audiência de instrução serão chamados todos de uma só vez: ofendido, teste-munhas do Ministério Público e da defesa, peritos, o réu para interrogatório e os debates aofinal (art. 411, CPP, lei n. 11.689/08); a sessão de julgamento tem maiores dificuldades paraser adiada pelas partes e a cisão tornou-se hipótese remota (seção X, do capítulo II, Lei n.11.689/08). Se isso for bem observado, o júri terá ainda vida longa entre nós. Se permanecercom defeitos de então, caminha rumo certo ao seu desaparecimento na primeira reformaconstitucional que se descortinar.

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REFORMA PROCESSUAL PENALREFORMA PROCESSUAL PENALREFORMA PROCESSUAL PENALREFORMA PROCESSUAL PENALREFORMA PROCESSUAL PENAL

(ou a Reforma do Júri e a Revolução do Promotor)(ou a Reforma do Júri e a Revolução do Promotor)(ou a Reforma do Júri e a Revolução do Promotor)(ou a Reforma do Júri e a Revolução do Promotor)(ou a Reforma do Júri e a Revolução do Promotor)

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Ative-me, mais demoradamente, em um tema específico, a cisão do julga-mento pela complexidade e importância do tema para o Promotor de Justiça. Espero, aliás, nãoter cometido grandes equívocos, uma vez que tudo é novidade e até o momento nada do que foiescrito parece ser de grande valia para a prática do novo procedimento do Júri.

1. 1. 1. 1. 1. Atuação no inquérito policialAtuação no inquérito policialAtuação no inquérito policialAtuação no inquérito policialAtuação no inquérito policial

É cedo para afirmar como será interpretada a extensão da regra do art.155 do CPP aos processos de competência do Júri, uma vez que por expressa disposiçãolegal do art. 155 do CPP (Lei n. 11.690/08) “o juiz formará sua convicção pela livre apreci-ação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisãoexclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas asprovas cautelares, não repetíveis e antecipadas.” Isso porque em relação ao Júri sempre tevevigência o princípio “in dúbio pro societate”.

Muito embora entenda que não deva ser abandonado esse princípio,uma vez que o art. 413, CPP (Lei n.11.689/08) estatui que “o juiz, fundamentadamente,pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indí-cios suficientes de autoria ou de participação”, também não se deve perder de vista queao lado dos indícios suficientes , a lei impõe ao juiz o dever de decidirfundamentadamente e pelo art. 155, não o podendo fazer exclusivamente nos ele-mentos informativos colhidos na investigação.

Muito se debaterá nos Tribunais sobre essa modificação, até lá, melhoradequar a pauta de trabalho a um desejável salto de qualidade. Manda a prudência (e agora,talvez, a lei) que se colha no inquérito policial prova cada vez mais robusta e ampla permitin-do ao menos em parte a sua reprodução em juízo.

Sugestões de temas a serem pensados na atuação investigativa poderiam ser:Exigir-se a qualificação completa de quem serviu de testemunha de

leitura em interrogatório onde há confissão ou elementos válidos à indicação da respon-sabilidade penal;

Exigir-se minuciosos relatórios de investigação pelos agentes policiaisdemonstrando como se deu à elucidação do crime pode consistir documento de relevo paraa prova judicial, justificando a oitiva dos agentes que os elaboraram;

Deixar para complementar a prova policial em juízo, porque se sabiaque os processos se arrastavam, é um risco cada vez maior em vista da audiência una.Oferecer a denúncia sem todos os laudos técnicos é absolutamente inconveniente pelosmesmos motivos.

Fora dos casos de prisão em flagrante, a técnica de oferecer a denún-cia e em separado requerer-se a complementação das investigações ou a cobrança delaudos periciais deve ser urgentemente abandonada pelos riscos crescentes que impor-tará à instrução criminal.

A aproximação do Promotor de Justiça à investigação policial é uma dasconseqüências mais sensíveis da reforma processual se se pretender colher algum resultadoprático na atuação do Ministério Público.

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2. O oferecimento da denúncia2. O oferecimento da denúncia2. O oferecimento da denúncia2. O oferecimento da denúncia2. O oferecimento da denúncia

Com o desaparecimento do libelo crime acusatório revaloriza-se a de-núncia como peça chave da acusação. Por outro lado, como não há mais a demarcaçãocircunscrita do libelo articulado, pelo menos três grandes temas ganham importância na de-núncia: a descrição das condutas nos casos de concurso de agentes e a indicação do elemen-to subjetivo do autor. Fontes de nulidade rotineiras e grandes problemas para delimitação daacusação em plenário eram as questões alusivas à autoria e participação; dolo direto oueventual; e a descrição das formas qualificadas do crime.

A denúncia deve oferecer as possibilidades mais abertas possíveis aojuiz para classificar a conduta do agente. Os que não forem claramente autores, ou dosquais não se souber precisamente como contribuíram para o resultado, não devem ter asua conduta enrijecida na denúncia, ao contrário, redigi-la de modo mais aberto a inter-pretações e cabimento de condutas é a estratégia indicada. Vale o mesmo para as ques-tões alusivas à indicação do elemento subjetivo do agente, se quis o resultado ou seassumiu o risco de produzi-lo, sobretudo em crimes de forma tentada e mais especial-mente os de tentativa sem resultado material.

O fortalecimento das denúncias abertas é um dos ganhos para a socieda-de trazido pelo novo sistema e sua prática deve ser amplamente estimulada. Todavia, é pre-ciso combinar abertura com controle do grau de indeterminação. A denúncia deve ser aberta,sem ser vazia. Descrever a conduta ou elemento subjetivo de forma aberta não significaindeterminar absolutamente a conduta ou elemento subjetivo. Apenas a diferenciação dodolo da culpa seria suficiente para garantir a validade da denúncia no homicídio de compe-tência do Júri. Afastar as possibilidades da culpa stricto senso é o bastante para validar adenúncia por crime doloso.

A atenção ao elenco das qualificadoras do homicídio redobra com o novosistema, pois as possibilidades de reabrir-se a instrução para demonstrá-las é cada vez me-nos provável. O princípio “in dúbio pro societate” implica que a denúncia deve contemplaro maior número possível de qualificadoras com descrição nos mesmos moldes da aberturapropiciada pelo elemento subjetivo e pela conduta dos agentes.

Isso se prende às dificuldades agora geradas para o aditamento da de-núncia em virtude do princípio da audiência uma com o disposto no art. 384, CPP (Lei n.11.719/ 08) ao expor que “encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova defi-nição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circuns-tância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a de-núncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado oprocesso em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oral-mente.”. O § 2º desse dispositivo ainda regula que “ouvido o defensor do acusado no prazode 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes,designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novointerrogatório do acusado, realização de debates e julgamento.”

Também pela adoção dos debates ao final da audiência da instrução semque exista ditado, mas efetivamente debates, para o reforço da memória do juiz ao pronun-ciar – pois esse terá oportunidade para dispor de tempo à decisão – a descrição das

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qualificadoras de modo mais aberto tende a robustecer a acusação e dificultar as possibilida-des de sua exclusão.

A motivação do crime (incs. I, II e V do art. 121, § 2º, CP) deve serexaustivamente pesquisada no caderno inquisitivo e seu não desvendamento deve serrotulado por futilidade, pois se nada havia de plausível, então era injustificável o crime.A leitura do receituário das qualificadoras como previsto na Exposição de Motivos doCódigo Penal faz penetrar com muito maior facilidade a qualificadora do inc. III, afas-tando-se a idéia central de crueldade do meio empregado pelos exemplos proporciona-dos. Há pelos menos dois outros que merecem atenção: a brutalidade a que se refere àExposição de Motivos e o perigo comum gerado pelo crime, previsto na última figurado art. 121, § 2º, inc. III. Todo crime em meio aberto ou se fechado com outras pessoaspresentes pode ensejar o perigo comum e qualificar o crime.

As causas de aumento de pena e as circunstâncias agravantes – estasúltimas agora dirigidas aos juízes – devem ser articuladas de pronto na denúncia.

No campo das pessoas a serem ouvidas, como talvez surja na juris-prudência a necessidade de ao menos uma prova judicial que confirme a inquisitiva,arrolar-se o Delegado de Polícia ou investigadores que tenham produzido relatóriosmais minuciosos pode ser de generosa utilidade para a pronúncia.

Com a denúncia também devem vir os requerimentos de oitiva de peritos.Como há previsão no art. 411, § 1º, CPP (Lei n. 11.689/08) de que o

juiz poderá indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias deve oPromotor de Justiça, ao arrolar testemunhas e indicar outras provas que pretende pro-duzir, referir algo sobre o seu relevo.

3. 3. 3. 3. 3. AAAAA audiência de instrução – preparo e colheita da prova audiência de instrução – preparo e colheita da prova audiência de instrução – preparo e colheita da prova audiência de instrução – preparo e colheita da prova audiência de instrução – preparo e colheita da prova

Como doravante o princípio central é o da unicidade dos atosinstrutórios com a concentração deles em uma única audiência, o preparo prévio para oato – a exemplo da sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri – é de rigor para o bomPromotor de Justiça. Assim sendo:

Não deve o Promotor de Justiça aceitar a oitiva de testemunha dedefesa ou a apresentação de documento que não lhe tenha sido comunicado com ante-cedência mínima de 10 dias da audiência (arts. 409 e 410, CPP, Lei n. 11.689/08). Devese inteirar sobre antecedentes da testemunha, não se contentando com a mera indicaçãode seu nome e endereço, pois aquelas indicadas pelo Ministério Público na denúncia, emsua enorme maioria, porquanto ouvidas na fase policial, apresentam filiação, RG, e ou-tros dados que a individualizem. Exigir esses dados é direito do Promotor de Justiçapara conhecer a testemunha de defesa que vai ser apresentada, produzir a prova paradebate naquela audiência e depois, talvez, misteriosamente desaparecer. Contraditartestemunha, mais do que nunca agora é importante.

Conferir todos os documentos apresentados e impedir que novos osejam na audiência, pois aqui vale o mesmo princípio em relação ao julgamento peloTribunal do Júri – o da comunicação prévia da parte.

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Não há clareza – ao contrários do que alguns supõem – se o juiz deixaráde formular suas perguntas ao ofendido e às testemunhas e se apenas o fará ao final, sehouver alguma dúvida, deixando a palavra desde logo com o Promotor de Justiça e a defesa.Considero a questão longe de ser resolvida e duvido que algum Tribunal anule processo porconta dessa forma de inquirição. Cada colega ao seu estilo deverá descobrir o que lhe é maisvantajoso. Um aprendizado para muitos se imporá. Os que estavam acostumados a ouvir oque as testemunhas tinham a responder ao juiz e normalmente contentar-se com isso deverãoextinguir-se, como dinossauros processuais, em pouco tempo.

Também longe de pacificação a questão relativa à ausência de testemunha,seja de acusação, seja de defesa ou o próprio réu. Como doravante o réu será o último a serouvido, não serão poucos os defensores e advogados que o estimularão a se ausentar da audiên-cia, depois comprovando algum “motivo” para o ato. Nessas hipóteses, não deve o Promotor deJustiça concordar que se estabeleça a audiência. Deixar-se para oitiva do acusado um dia separa-do da colheita da prova é risco certo para a verdade no processo – como se fossem freqüentes aparceria verdade-réu no âmbito do processo crime!

Sem réu, sem audiência. Esse, para minha interpretação, é princípiocom o qual não se tergiversa.

Há variações sobre o mesmo tema. O réu se faz presente, mas nãotoda as testemunhas de defesa. Igualmente, se o advogado pretender insistir naquela,entendo que o ato deve ser adiado, esteja o réu preso ou solto. O mesmo se dá nojulgamento pelo Júri. Não se o faz pela metade ou às terças partes. Ou se o dá porinteiro, ou não o há. Assim deve ser a audiência.

Única exceção. Conveniência do Ministério Público na insistência de tes-temunha ausente, sem prejuízo da oitiva daquelas que ali estiverem naquela oportunidade. Aocontrário do que faz parecer o § 8º do art. 411, não pode haver inversão da colheita daprova, com oitiva de testemunhas da acusação depois das de defesa. Assim, ainda que com-pareçam as de defesa, ausente testemunha da acusação reputada importante, é critério doPromotor de Justiça adiar o ato ou realizá-lo à metade.

Haverá quem pretenda fazer força para interpretar que não existe maisordem na inquirição de testemunhas e que as defesa poderão ser feitas antes do MinistérioPúblico e assim por diante. Tal equívoco decorre de leitura afoita do art. 411, § 8º (Lei n.11.689/08). Sua intenção pode ter sido boa, mas sua inconstitucionalidade salta aos olhosmesmo do intérprete mais desatento.

Sempre que houver a presença do ofendido ou de parente do mesmodeve o Promotor de Justiça indagar-lhe sobre as perdas que representou o crime para o fimdo art. 397, IV do CPP (Lei n.11.719/08) quanto ao valor mínimo para reparação do danoque deve ser imposto posteriormente ao sentenciado e requerido fundamentadamente peloPromotor de Justiça.

Cartas precatórias e rogatórias estão fora do ambiente da audiência una edeve o Promotor de Justiça zelar para sejam indeferidas essas provas pela quebra do princí-pio da unidade. Se para o julgamento pelo Júri não há essas modalidades, para a instruçãotambém se acham extintas. Réus presos deverão ser trazidos à audiência onde quer queestejam ou que se lhes garanta a presença por vídeo-audiência.

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O interrogatório do acusado passou a ser o capítulo fina da instrução. Alei (art. 411, caput, parte final, Lei n. 11.689/08) disciplina que “Na audiência de instrução,proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemu-nhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentosdos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, emseguida, o acusado e procedendo-se o debate.” (ressalto meu) Ora, se será interrogado emseguida, é porque não há intervalo. O contato entre o defensor e o réu deve ser prévio àaudiência, não ao ato do interrogatório. Vige o princípio de que a audiência é ininterrupta,assim sendo, oportunidade para que receba instruções em privado estão fora do ambientelegal e moral. Ampla defesa não significa direito à fraude processual. Se o réu pretende mentirque o faça por seus meios. Ele assistiu à produção da prova, deve ter formado em seu juízoalguma idéia sobre os fatos. É seu direito permanecer em silêncio; é até sua faculdade mentirdesaforadamente, mas também é direito da sociedade e do Estado que seu interrogatórioseja feito em seguida à colheita da prova, imediatamente em seguida pode-se realçar, semintervalos e pausas para ensaio do que dizer. Não se pode pretender interpretar que a refor-ma processual quis prestigiar a violação do mais comezinho princípio da moral – o da verda-de. Se no processo penal busca-se a verdade real, o interrogatório do acusado em seguida àcolheita da prova dá demonstrações efusivas de que o legislador brindou-nos com a promes-sa dessa tentativa. Cabe a todo Promotor de Justiça zelar pela não interrupção da audiênciaantes do interrogatório do acusado. Se o defensor quiser lhe dizer algo, que o faça publica-mente e que puder ser registrado que o seja. A garantia da ampla defesa acompanha oprincípio da boa-fé.

4. 4. 4. 4. 4. AAAAA audiência de instrução – debates audiência de instrução – debates audiência de instrução – debates audiência de instrução – debates audiência de instrução – debates

Se os debates orais terão vida longa no sistema legal é indecifrávelmistério a este tempo. A tradição forense não tem força para me fazer crer que esseintento do legislador prosperará. Sempre foi mais fácil converter o sumário em ordiná-rio do que o ordinário em sumário. Nova tentativa se faz.

As audiências serão longas. Nos casos de mais um de um réu, pode-rão demorar várias horas. Dir-se-á, mas se faz igual no julgamento pelo Júri. Meia ver-dade. Em plenário as partes podem arrolar até cinco testemunhas; na instrução, até oito.

Verifico que há efeito prático para o Ministério Público na realizaçãodos debates em audiência. Muitos advogados não fazem a sessão plenária, funcionamapenas até a fase da pronúncia, precisamente porque não gostam – ou não sabem –debater. O Promotor está acostumado a essa prática ao longo de sua carreira. Há umagrande vantagem estratégica que deve ser considerada na persistência dos debates.

Não deve o Promotor de Justiça concordar com a apresentação ex-clusiva de memorial pela defesa. Ou ambos ou nenhum.

Não há previsão de que os debates sejam ditados como o são os re-querimentos em audiência. Como se faz ata da sessão do júri onde se expõe sintetica-mente em que consistiu a acusação, assim se fará em relação aos debates das partes.

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Verdade que isso tende a dificultar os recursos, mas a dificuldade de acessoa eles é uma constante na Lei n.11.689/08.

Outro aspecto de relevo, já ensaiado anteriormente: como os debatessubstituem as antigas alegações finais e naquelas era vedada a apresentação de docu-mentos novos, de todo conveniente que se oponha o Promotor de Justiça à apresenta-ção de documento pela defesa que não tiver tempo para contraditar ou analisar antes daaudiência de instrução e debates.

Tal apresentação não deve (não deveria, pelo menos) levar à apresen-tação de memoriais em substituição aos debates. Como há outras oportunidades paraapresentação de documentos, parece mais salutar que se indefira sua apresentação nessafase pela surpresa e pelo claro intento procrastinatório (valendo-se o magistrado dodisposto no art. 411, § 2º, última parte, Lei n. 11.689/08.

5. Da pronúncia5. Da pronúncia5. Da pronúncia5. Da pronúncia5. Da pronúncia

Muita atenção deve guardar o Promotor de Justiça quando receber paraciência a sentença de pronúncia. Isso porque segundo o art. 413, § 1º, CPP (Lei n. 11.689/08) dispõe que “a fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade dofato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juizdeclarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstânciasqualificadoras e as causas de aumento de pena.” Se o juiz invadir o âmbito da especificaçãodas circunstâncias qualificadoras e limitá-las de modo menos abrangente do que a denúncia,impõe-se ao Promotor o exame da conveniência de reclamar a declaração da sentença oumesmo sua reforma, sobretudo porque não pode haver menção ao seu teor na sessão dejulgamento. As limitações que sofremos durante dois terços de século com o libelo crimeacusatório são agora coisa do passado e não se pode permitir ao juiz que substitua o libelopela pronúncia. Veja-se a sutil diferença no ato da pronúncia. O juiz não deve fundamentara existência de qualificadora ou causa de aumento de pena, mas apenas declarar o disposi-tivo legal em que se acha incurso especificando as circunstâncias qualificadoras.

6. Da impronúncia6. Da impronúncia6. Da impronúncia6. Da impronúncia6. Da impronúncia

Uma distinção entre a sistemática atual e a pretérita versa sobre aimpronúncia. Seu recurso agora é a apelação (art. 416, CPP, Lei n. 11.689/08) de tramitaçãomais demorada do que o recurso em sentido estrito pela existência do revisor. Como perma-nece válida a possibilidade de reinstauração da instância com o surgimento de prova nova,muitas vezes é mais vantajoso, a depender das condições do caso, a busca pelacomplementação da prova com a limitação da nova audiência de instrução a poucos atos, doque o recurso mais demorado ao Tribunal.

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7. Da preparação do processo para julgamento em Plenário7. Da preparação do processo para julgamento em Plenário7. Da preparação do processo para julgamento em Plenário7. Da preparação do processo para julgamento em Plenário7. Da preparação do processo para julgamento em Plenário

Com o desaparecimento do libelo crime acusatório que descrevia as cir-cunstâncias do fato tal como seria julgado pelo Tribunal do Júri – substituída essa,essencialmente pela denúncia, mais do que pela decisão de pronúncia – restou comomedida conferida ao Promotor de Justiça nessa fase apenas as seguintes (art. 422, CPP,Lei n. 11.689/08): arrolar testemunhas até o máximo de 5 (cinco); juntar documentos;requerer diligências. Uma quarta, não expressa, também pode ser acrescentada: indicaras pessoas, além das testemunhas, que pretende ouvir em plenário (ofendido, peritos,assistentes técnicos).

A previsão de juntada de documentos nessa fase não esgota o di-reito de sua apresentação até 3 (três) dias úteis antes do julgamento cf. art. 479,CPP, Lei n. 11.689/08.

8. Do alistamento dos jurados8. Do alistamento dos jurados8. Do alistamento dos jurados8. Do alistamento dos jurados8. Do alistamento dos jurados

Tema pouco cuidado pelos Promotores de Justiça é o do controle sobre oalistamento dos jurados. Com a obrigatoriedade do ano sabático para os que serviram emformação de Conselho de Sentença no ano anterior (art. 426, § 4º, CPP, Lei n. 11.689/08),incumbirá ao Promotor de Justiça, sobretudo das localidades menores, zelar pela renovaçãodo alistamento de jurados, verificando também o preenchimento dos requisitos dos arts. 436e ss. CPP, lei n. 11.689/08, mesmo porque o art. 257, II, CPP, Lei n. 11.719/08 remete aoMinistério Público a incumbência de fiscalizar a execução da lei.

Problemas relacionados a esses temas certamente advirão logo no iní-cio. A lista geral de jurados será publicada pela imprensa até o dia 10 de outubro, ouseja, menos de 60 (sessenta) dias depois de vigência das alterações no CPP introduzidaspela Lei n. 11.689/08. Será praticamente impossível assegurar-se que para o primeiroano de vigência da reforma esteja garantido o disposto no art. 426, § 4º, já referido.Caminha para vitória a interpretação de que semelhante dispositivo só terá eficácia parao exercício seguinte ao da publicação da Lei, valendo, desse modo, para o primeiro anode sua vigência, em tese, a mesma lista de jurados do ano anterior, sem exclusão dos quetomaram parte em Conselho de Sentença.

Outra observação, não há limitação ao número de vezes que possa serviro jurado, no interstício de um ano, em formação de Conselhos de Sentença, antes que, noano seguinte, esteja impedido de servir, nada impedindo seu retorno no subseqüente.

9. Desaforamento9. Desaforamento9. Desaforamento9. Desaforamento9. Desaforamento

Permanece a legitimidade do Promotor de Justiça para requerer odesaforamento pelo interesse da ordem pública. São raras as hipóteses em que háindeferimento do pedido de desaforamento pelo Tribunal do Justiça, razão que devetornar ainda mais motivado o pleito do Promotor de Justiça.

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O desaforamento por excesso de serviço deve ser muito criteriosamenteexaminado, pois são raros os locais onde se pode, efetivamente, garantir a realização dejulgamento de réu pronunciado em prazo inferior a seis meses, mesmo porque o art.428, CPP, lei n. 11.689/08, sequer faz distinção entre réus presos e soltos.

10. Da participação do Promotor de Justiça na or10. Da participação do Promotor de Justiça na or10. Da participação do Promotor de Justiça na or10. Da participação do Promotor de Justiça na or10. Da participação do Promotor de Justiça na organização da pautaganização da pautaganização da pautaganização da pautaganização da pauta

O mesmo dever ser zelar fiscalização da lei deve levar o Promotor deJustiça a fiscalizar a organização da pauta, fazendo-a adequada ao art. 429 do CPP. Naenumeração da ordem de preferência houve grave omissão e pela qual deve bater-se oPromotor de Justiça localmente com base nos princípios da igualdade e da igualdadepessoal, além da celeridade para garantir a inclusão em pauta de julgamento dos feitoscom prescrição próxima, sobretudo aqueles que podem ser julgados a partir de agorados réus que estavam pronunciados e aguardando intimação da sentença de pronúncia,uma vez que dela podem ser intimados por edital (art. 420, parágrafo único, CPP, Lei n.11.689/08), podendo haver designação de seu julgamento e nova intimação edital domesmo, quando será julgado a revelia. Milhares de processos que dormiam nos escani-nhos aguardando a prisão ou a prescrição depois de pronunciado o acusado deverão sercolocados em pauta, procedendo-se antes a intimação edital dos pronunciados e depois,uma vez marcada a sessão, intimados da data também por essa via e assim, julgados e,eventualmente, condenados os que forem culpados.

111111. Da atuação do Promotor de Justiça na fiscalização da lei quanto1. Da atuação do Promotor de Justiça na fiscalização da lei quanto1. Da atuação do Promotor de Justiça na fiscalização da lei quanto1. Da atuação do Promotor de Justiça na fiscalização da lei quanto1. Da atuação do Promotor de Justiça na fiscalização da lei quantoàs sessões do às sessões do às sessões do às sessões do às sessões do TTTTTribunal do Júriribunal do Júriribunal do Júriribunal do Júriribunal do Júri

Uma primeira medida deve ser objetivada na atuação do Promotor deJustiça: não ser ele a causa de adiamento de sessão do Tribunal do Júri. A experiênciaprofissional, o zelo pelo interesse público, a preservação da imagem institucional, opreparo adequado para as sessões de julgamento, tudo isso deve levar ao inexoráveldever do Promotor de Justiça de garantir a realização da sessão do Tribunal do Júri.Casos escandalosos como os que levam a mais de uma dezena de adiamentos, motiva-dos por ambas as partes que se sentem no direito de escolher como e quando o réu serájulgado, devem ser coisas de uma passado ávido por esquecimento. A regra, todo réuserá julgado na primeira oportunidade.

Por expressa disposição legal, se o advogado der causa ao adiamento, o réudeverá ser julgado na segunda oportunidade (art. 456, § 1º, CPP, Lei n. 11.689/08), incumbindo aoPromotor de Justiça requerer todas as medidas legais para garantir o julgamento.

A testemunha intimada que deixar de comparecer à sessão de julgamento,em tese, comete crime de desobediência. Como o titular da ação penal é com exclusividadeo Ministério Público, impõe-se-lhe o dever de garantir por todos os meios – até como exer-cício de políticas de prevenção da criminalidade – o comparecimento das testemunhas, so-bretudo as que tiver arrolado.

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É tempo de se deixar tudo ao alvitre do Poder Judiciário. Se a provainteressa ao Ministério Público, convém que se movimente para garantir a sua realiza-ção e que não fique apenas na espera passiva de eventual comparecimento da testemu-nha ou do ofendido.

Como regra geral a ausência de testemunha não impede a realizaçãodo julgamento, salvo se uma das partes requereu sua oitiva sob a condição deimprescindibilidade em momento adequado, cabendo à parte que a arrolou indicar sualocalização. Pois bem, a regra prática dispõe que todas as testemunhas acabam sendoarroladas sob esse caráter e, assim, julgamentos são adiados às toneladas todos os dias.Não se vê em nenhum dispositivo legal onde está escrito que não sendo encontrada atestemunha no local indicado para servir no julgamento seja intimada a parte que aarrolou para indicar novo paradeiro. Ao contrário, está escrito que o julgamento serárealizado se não for encontrada onde se indicou (art. 461, § 2º, CPP, Lei n. 11.689/08).Assim sendo, cada parte deveria agir com maior rigor na indicação dos endereços dastestemunhas, pois não há previsão nem de sua substituição (já que era imprescindível),nem de segunda oportunidade caso não seja encontrada. A única hipótese em que sefacultava o adiamento, quando não fosse possível a condução coercitiva, era o caso datestemunha que, intimada, deixa de comparecer à sessão de julgamento.

Do mesmo modo agora o acusado solto, devidamente intimado, quedeixa de comparecer ao julgamento seja ele defendido por advogado público ou particu-lar. Esse será julgado à revelia independentemente da natureza do crime (art. 457, CPP,Lei n. 11.689/08). Não há possibilidade de se protestar pela oportuna apresentação dedocumento, quase invariavelmente falso, dando conta de algum impedimento do réu.Tais justificações deverão previamente submetidas ao conhecimento do juiz presidentee não no momento da sessão. Réu intimado que não comparece e nem justifica previa-mente será julgado à revelia. Mais do que isso, com tal comportamento evidencia que érisco para a conveniência da instrução criminal e põe em risco a aplicação da lei penal,sendo, praticamente, obrigatória a decretação de sua prisão se condenado, indeferindo-se-lhe o direito de recorrer em liberdade.

12. 12. 12. 12. 12. AAAAA cisão do julgamento pela recusa de jurados cisão do julgamento pela recusa de jurados cisão do julgamento pela recusa de jurados cisão do julgamento pela recusa de jurados cisão do julgamento pela recusa de jurados

Muito ao contrário da sistemática anterior onde a defesa impunha aoPromotor de Justiça o direito e cindir o julgamento em caso de julgamento de mais deum réu pelo mesmo crime e que praticamente estabelecia o direito ao julgamento indivi-dual, a nova sistemática muda completamente essa regra e estabelece o princípio asunidade do julgamento.

No regime pretérito, uma vez que competia (compete) à defesa ex-pressar com prioridade ao Ministério Público (única hipótese em todo o CPP em que adefesa se manifesta antes do Ministério Público, salvo quanto às perguntas a testemu-nhas por ela arroladas) se aceitava ou não o jurado, havendo mais de um réu e mais deum defensor, se esses não tivessem previamente incumbido apenas um deles da aceita-ção ou recusa dos jurados, permitia-se, quando um aceitava o jurado e outro o recusa-va, proceder-se a cisão do julgamento. Ao Promotor de Justiça, na prática, incumbia

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residualmente escolher qual dos acusados seria julgado pela concordância ou não a seguircom a recusa do jurado.

Agora a situação é completamente diferente. Ao ser sorteado o jurado ojuiz indagará ao primeiro advogado de defesa se o aceita. Aceito, perguntará, ao segundo.Aceito, perguntará ao terceiro, se houver e assim até se chegar, sempre se aceito, ao Promo-tor de Justiça. Ao contrário, se recusado pelo primeiro defensor, não se indagará do segundose o aceita ou se o recusa, posto que já fora recusado. Assim, quanto ao jurado recusado poruma das partes, jamais se indagará ao Ministério Público se o aceita ou não. Como o Conse-lho de Sentença só pode ser composto por jurados aceitos, e como as partes tem númeromáximo de recusas cada uma. Enquanto houver a possibilidade de se compô-lo com osjurados remanescentes garantida estará a instalação do Júri. E há, ainda, uma hipótese suple-mentar da qual falarei em seguida.

Dentro desse quadro, supondo que o Promotor de Justiça não recuse ne-nhum jurado, ou seja, apenas aceite aqueles que forem sorteados e que lhe seja indagado sobre aaceitação ou recusa, se estiverem presentes 16 (dezesseis) jurados, e sendo três os réus, aindaque cada defensor recuse os número máximo legal cada um: 3 (três); ainda assim, poderão os trêsréus ser julgados na mesma oportunidade, pois dos 16 (dezesseis) jurados presentes, 7 (sete)ainda remanescerão para compor o Conselho de Sentença.

Por esse mesmo raciocínio, sempre que houver pelo menos o númeromínimo legal de jurados presentes, dar-se-á a sessão de julgamento sem cisão de pelomenos dois acusados.

Se forem 19 (dezenove) os jurado presentes, até quatro réus poderãoser julgados na mesma sessão; se forem 22 (vinte e dois), até cinco; e se forem 25 osjurados presentes, seis réus poderão ser julgados sem a cisão de julgamento.

Essa regra é de simples constatação e deve impedir a todos custo oPromotor de Justiça seja obstada, mesmo porque terá seu tempo acrescido e o da defesarepartido. A vantagem é toda do Ministério Público, e portanto da sociedade, com ojulgamento coletivo dos acusados.

Haverá hipóteses em que algum(uns) do(s) réu(s) não será(ao)julgado(s) na mesma sessão. Isso se dará quando o número de recusas impedir o resul-tado de 7 jurados aceitos pelas partes para compor o Conselho de Sentença. Nesse casodar-se-á a separação do julgamento. Veja-se a hipótese em que presentes 16 (dezesseisjurados), também o Promotor de Justiça, além dos defensores, houverem recusado jura-dos e cujo número final dos restantes não chegue a sete, para a composição do Conselhode Sentença. Aí, ao menos um dos acusados será julgado.

Veja o quadro:

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Na hipótese do quadro acima temos 4 jurados aceitos – até pela im-possibilidade de recusa de outros pelas partes. Como se fará desse quadro um Conselhocom 7 jurados? Ora, a regra impõe que nenhuma parte é obrigada a ter jurado recusadoem seu Conselho de Sentença. O Ministério Público é parte obrigatória, então os jura-dos nºs 10, 11 e 12, estão excluídos do Conselho de Sentença.

Pois bem, como a Lei estabelece no art. 469, § 2º, CPP, critério obri-gatório de precedência dos julgamentos, deve ser verificado em relação aos réus 1, 2 e3, qual deles é o executor principal ou, em caso de co-autoria, qual deles se encontrapreso; dentre os presos, o que o está a mais tempo; em igualdade, os que foram eventu-almente pronunciados em primeiro lugar (na remota hipótese de remembramento).

Suponha-se que seja o réu 1 o executor principal do crime ou o queesteja preso e ainda há mais tempo. Esse então será obrigatoriamente julgado.

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Jurado Defensor 1 Defensor 2 Defensor 3 Promotor de

Justiça

Condição do

jurado

1 Recusa Recusado

2 Recusa Recusado

3 Recusa Recusado

4 Recusa Recusado

5 Recusa Recusado

6 Recusa Recusado

7 Recusa Recusado

8 Recusa Recusado

9 Recusa Recusado

10 Recusa Recusado

11 Recusa Recusado

12 Recusa Recusado

13 Aceito

14 Aceito

15 Aceito

16 Aceito

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Assim, estarão dispensados da formação do Conselho de Sentença osseguintes jurados: 1,2,3 (recusados por sua defesa), 10, 11 e 12 (recusados pelo Minis-tério Público). Obrigatoriamente comporão o Conselho de Sentença os jurados nºs 13,14, 15 e 16. Faltam três jurados e há uma reserva de outros seis, recusados por outrosdefensores. Assim, os jurados nºs 4, 5, 6, 7, 8 e 9 poderão integrar esse Conselho deSentença. Ora, é fácil observar que os quatro aceitos, mais os seis remanescentes, totalizam10 jurados, três dos quais ainda poderão ser excluídos do Conselho de Sentença. Nessahipótese, tem-se a seguinte situação residual. Poderão ser julgados dois réus na mesmasessão, excuindo-se apenas um deles pela recusa de jurados.

Como se chega a tal solução? Lendo-se o disposto no art. 469, § 1º,CPP, Lei n. 11.689/08. Suponhamos que dos 3 réus a serem julgados apenas o de n. 3esteja solto e o de n. 2, que está preso, seja o mandante do crime. Pela ordem do CPP oprimeiro a ser julgado seria o executor material, o autor, ou seja, o de n. 1. A seguir,seria o que está preso, o de n. 2, e por fim o de n. 3, que está solto e não é o autorprincipal. Ocorre que a conjugação dessas regras com a do § 2º do art. 469, permite quesejam julgados dois réu no primeiro julgamento pela soma de recusas e número dejurados. Assim, serão julgados os réus nºs 1 e 2 (autor principal e mandante preso) comos seguintes jurados na composição do Conselho de Sentença: 7, 8, 9, 13, 14, 15 e 16.

O quadro correto, se se considerar as peculiaridades das diferentessituações de acusados (autor material e partícipe; preso e solto) deve ser montado daseguinte forma para controle do Promotor de Justiça e do Juiz Presidente, vejamosoutro exemplo:

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Jurado Autor preso Autor solto Partícipe preso Partícipe solto Promotor de

Justiça

Condição do

jurado

1 Aceito Recusado

2 Aceito Aceito Recusado

3 Aceito Aceito Aceito Recusado

4 Aceito Aceito Aceito Aceito Recusado

5 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

6 Recusado

7 Aceito Aceito Recusado

8 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

9 Aceito Aceito Aceito Recusado

10 Recusado

11 Aceito Aceito Recusado

12 Aceito Aceito Aceito* Aceito Recusado

13 Aceito Recusado

14 Recusado

15 Aceito* Aceito Aceito* Recusado

16 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Recusado

17 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

18 Aceito* Recusado

19 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

20 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

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Nessa hipótese, quem seriam os réus julgados? Veja-se que os juradosmarcados com (*) após o aceito significa dizer que foram implicitamente aceitos, poisesgotadas as recusas das partes que eram legítimas de serem oferecidas. No caso tem-sepor jurados que obrigatoriamente comporão o Conselho de Sentença os seguintes: 5, 8,17, 19 e 20, aceito pelas por todas as partes.

Como é impossível serem julgados todos, pelas recusas exercidas,deverá ser julgado obrigatoriamente o autor preso, por dupla disposição legal. Assim,completando o quadro, temos, considerado que os jurados recusados pelo Promotornão poderão compor o Conselho e nem os jurados recusados pelo autor preso:

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Jurado Autor preso Autor solto Partícipe preso Partícipe solto Promotor de

Justiça

Condição do

jurado

1 Aceito Recusado

2 Aceito Aceito Recusado

3 Aceito Aceito Aceito Recusado

4 Aceito Aceito Aceito Aceito Recusado

5 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

6 Recusado

7 Aceito Aceito Recusado

8 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

9 Aceito Aceito Aceito Recusado

10 Recusado

11 Aceito Aceito Recusado

12 Aceito Aceito Aceito* Aceito Recusado

13 Aceito Recusado

14 Recusado

15 Aceito* Aceito Aceito* Recusado

16 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Recusado

17 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

18 Aceito* Recusado

19 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

20 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

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Os jurados 4,6, 10, 12, 14 e 16 estão definitivamente excluídos daComposição do Conselho, pois recusados pelo Promotor de Justiça e pela defesa do réucom prioridade para julgamento.

Como já existiam 5 jurados que comporiam o Conselho de Sentença,remanescem agora outros que poderiam integrar, em tese o Conselho se apenas esseréu, o autor preso fosse ser julgado; seriam eles os seguintes: 1, 2, 3, 7, 9, 11, 13, 15 e18. Ou seja, cinco iniciais mais nove remanescentes, soma de catorze jurados. Fácilperceber que é possível, então, julgar-se um segundo réu na mesma sessão. Qual seriaesse? Pelo teor do art. 469, § 2º, CPP, ainda o que for autor, independentemente de seencontrar preso ou solto, portanto o segundo réu (autor solto).

Em relação a esse acusado no quadro que foi elaborado ter-se-á agoraa seguinte situação, uma vez que também não poderão compor o Conselho de Sentençaos jurados por ele e sua defesa recusados:

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Jurado Autor preso Autor solto Partícipe preso Partícipe solto Promotor de

Justiça

Condição do

jurado

1 Aceito Recusado Recusado

2 Aceito Aceito Recusado Recusado

3 Aceito Aceito Aceito Recusado

4 Aceito Aceito Aceito Aceito Recusado Recusado

5 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

6 Recusado Recusado

7 Aceito Aceito Recusado Recusado

8 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

9 Aceito Aceito Aceito Recusado

10 Recusado Recusado

11 Aceito Aceito Recusado Recusado

12 Aceito Aceito Aceito* Aceito Recusado Recusado

13 Aceito Recusado Recusado

14 Recusado Recusado

15 Aceito* Aceito Aceito* Recusado

16 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Recusado Recusado

17 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

18 Aceito* Recusado Recusado

19 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

20 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

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Estão recusados pelas partes (autor preso, autor solto e Promotor deJustiça) os jureados nºs: 1, 4, 6, 10, 12, 13, 14, 16 e 18 (nove jurados); estão aceitos osjurados nºs. 5, 8, 17, 19 e 20 (cinco jurados). Como eram vinte os presentes, nove osrecusados, sobraram onze jurados, mais do que suficiente para compor o Conselho, vê-se, assim, que talvez seja possível julgar-se não apenas dois, mas três os réus naquelaoportunidade. Isso porque aos cinco não recusados por parte alguma bastam seremacrescidos outros dois para a composição do Conselho de Sentença. Qual seria então,pela o terceiro réu a ser julgado? Aquele que segundo a regra do art. 429, CPP estiverpreso. Assim, o partícipe preso será o terceiro escolhido legal para julgamento naquelasessão. O quadro então passa a ter a seguinte estrutura, uma vez que também deverãoser excluídos os jurados recusados por sua defesa:

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Jurado Autor preso Autor solto Partícipe preso Partícipe solto Promotor de

Justiça

Condição do

jurado

1 Aceito Recusado Recusado

2 Aceito Aceito Recusado Recusado

3 Aceito Aceito Aceito Recusado

4 Aceito Aceito Aceito Aceito Recusado Recusado

5 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

6 Recusado Recusado

7 Aceito Aceito Recusado Recusado

8 Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito Aceito

9 Aceito Aceito Aceito Recusado

10 Recusado Recusado

11 Aceito Aceito Recusado Recusado

12 Aceito Aceito Aceito* Aceito Recusado Recusado

13 Aceito Recusado Recusado

14 Recusado Recusado

15 Aceito* Aceito Aceito* Recusado

16 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Recusado Recusado

17 Aceito* Aceito Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

18 Aceito* Recusado Recusado

19 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

20 Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito* Aceito

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Somam-se às recusas anteriores as dos jurados de nºs 2, 7 e 11. Parao Conselho de Sentença remanescem, pois os jurados seguintes: 5, 8, 17, 19 e 20, acei-tos por todos e os de nºs 3, 9 e 15, que foram recusados exclusivamente pelo quarto réu.Como se dará então a composição do Conselho de Sentença? Duas hipóteses de inter-pretação se abrem: a primeira com exclusão dos jurados aceitos por todas as partes everificação simples dos sete primeiros sorteados que não tiverem sido recusados pelaspartes remanescentes; a segunda, com a fixação dos cinco aceito por todos acrescidosdos dois primeiros sorteados não recusados por essas mesmas partes. Parece complexo,e talvez seja. Pior, a lei não disciplinou como se proceder.

Na primeira hipótese o Conselho seria formado pelos seguintes jura-dos: nºs 3, 5, 8, 9, 15, 17 e 19.

Na segunda hipótese o Conselho seria formado pelos seguintes jura-dos: nºs. 5, 8, 17, 19, 20, 3 e 9.

Pode parecer pouco, mas essa diferença de dois jurados de uma listapara outra na Composição do Conselho pode ser objeto de muita discussão e causa demuita nulidade. Arrisco a minha solução. No silêncio da Lei e por não se saber de ante-mão quantos jurados cada parte irá recusar (no caso em debate, se o Promotor de Jus-tiça não tivesse se utilizado de sua faculdade de recusar jurados, os quatro seriam julga-dos de uma só vez), uma vez que todas as partes tenham aceitado o jurado o mesmodeve ser convidado pelo Juiz Presidente a integrar o Conselho de Sentença, tomandoassento e isso, a meu ver, é definitivo. Jurado aceito por todos, não importa se pordefesa de quem sequer será julgado, uma vez aceito por todos, comporá o Conselho deSentença. As vagas remanescentes é que derivarão do descarte da recusa daquele acusa-do que não será julgado, por isso, entendo que os dois primeiros recusados apenas peloquarto réu é que servirão para compor o Conselho de Sentença.

Embora esteja convencido dessa lógica, é certo que muitas argüiçõesde nulidade serão produzidas por deficiência da lei.

13. Da instrução em plenário13. Da instrução em plenário13. Da instrução em plenário13. Da instrução em plenário13. Da instrução em plenário

Há aparente distinção entre o que se preconiza para a instrução emplenário e a da fase sumária do Júri. Em plenário, dispõe o art. 473 que, o juiz presiden-te, o Ministério Público, o assistente , o querelante e o defensor tomarão sucessiva ediretamente as declarações do ofendido e inquirirão as testemunhas arroladas pela acu-sação. Na fase do sumário, consoante o art. 212 e seu parágrafo único, CPP, Lei n.11.690/08, que afirma que as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente àtestemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiveremrelação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida e que sobrepontos não esclarecidos o juiz poderá complementar a inquirição.

Ao contrário do fanatismo de alguns colegas, encontro-me longe deacreditar que a lei pretendeu retirar do juiz a prerrogativa de inquirir a testemunha antesmesmo de quem a arrolou. Isso fere completamente o sistema e os princípios da livreapreciação da prova e busca de verdade real. O juiz continua sendo o destinatário da

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prova e, portanto, impossível privá-lo dos poderes que lhes são próprios, dentre osquais, o da inquirição de testemunhas e requisição de provas em nome do princípio dabusca da verdade real.

Se havia alguma dúvida quanto a isso na instrução, espancada foicom a expressa determinação na sessão de julgamento e cujos efeitos devem seestender para todo o processo.

É absurda a disposição legal do art. 474, § 1º, que faculta ao Promotor deJustiça formular perguntas ao acusado antes de seu defensor. Se se trata de ato de defesa,não há razão para que não se seguisse a fórmula da inquirição de testemunhas de defesa.

Deve atentar o Promotor de Justiça para o disposto no art. 474, CPPao determinar que a inquirição do réu dar-se-á em seguida à instrução em plenário, ouseja, sem intervalos para orientação técnica de seu defensor, de modo a garantir maisapropriadamente a busca da verdade real.

14. Dos debates14. Dos debates14. Dos debates14. Dos debates14. Dos debates

Várias alterações também em relação aos debates. Tem por limite odisposto na pronúncia ou decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. Ri-diculamente, como, aliás, muito na fase de debates, um dos menos elogiáveis trechos dareforma, não poderão as partes referir-se à sentença de pronúncia ou decisões posterio-res que a tornaram admissível como argumento de autoridade. Então, pergunta-se, porque o art. 472, parágrafo único, manda entregar cópias dessas peças aos jurados?

Não se sabe ao certo como será interpretada a cláusula do art. 479,parágrafo única, mais elástica do que a anterior 475, que tanto exige agora a antecedên-cia de 3 dias úteis para a juntada de documentos, quanto alargamento do rol do que secontém na proibição: exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, cro-qui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fatosubmetida à apreciação e julgamento dos jurados. Isso porque, cada vez mais freqüentea utilização de recursos áudio-visuais nas sessões de julgamento (data-show e outraspossibilidades), acaso isso se acha vedado de ser utilizado? Absolutamente não, desdeque o material utilizado para a apresentação esteja todo ele presente nos autos e digarespeito à matéria de fato submetida á apreciação dos jurados.

Cabe aqui ressalva, para mim, digna de importância. O que é “ma-téria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados”? Ora, é o própriofato típico de que trata a acusação, sobre o que mais julgam os jurados? Assimsendo, tudo quanto não disser respeito à matéria de fato submetida à apreciação ejulgamento dos jurados escapa da necessidade de ser apresentado com três diasúteis de antecedência ao julgamento. Por exemplo, antecedentes do acusado ou detestemunhas de defesa não podem ser considerados “matéria de fato submetida àapreciação e julgamento dos jurados”. Doutrina, jurisprudência, estatísticas, leis,mapas, estudos, perfis, etc. que não digam respeito a matéria de fato submetida àapreciação e julgamento dos jurados” podem ser apresentados no momento da ses-são de julgamento sem que isso dê causa a nulidade alguma.

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15. Do questionário e sua votação15. Do questionário e sua votação15. Do questionário e sua votação15. Do questionário e sua votação15. Do questionário e sua votação

Não estou completamente convencido de que houve tão radical alte-ração da sistemática dos quesitos quanto alguns mais afoitos estão a sugerir, pratica-mente predizendo o dia do juízo final, literalmente, em matéria do júri por força dosquestionários que, doravante favorecem irresponsavelmente aos acusados. Não li dessaforma e me parece que há suficientes argumentos em contrário.

Sei que a idéia a seguir é polêmica, mas leitura atenta do disposto noart. 482, parágrafo único, cobre de razões o argumento a seguir apresentado. Sob omanto de aparente simplificação dos questionários para diminuir dramaticamente asfontes de nulidade de julgamentos é preciso descortinar algumas situações especiais.

Se por um lado é certo que os jurados deverão ser consultados sobrematéria de fato e se o acusado deve ser absolvido (art. 482, CPP, Lei n. 10.689/08), poroutro permanece em vigor o recurso de apelação quando a decisão dos jurados formanifestamente contrária à prova dos autos (art. 593, III, d, CPP). Assim, se a defesaapresentar uma única tese, nada impede que seja consultado o Conselho de Sentençauma única vez sobre tal, respondendo simploriamente se o réu deve ser absolvido oucondenado em função daquele argumento que constará de ata. Uma tese, um quesito equanto a isso é assunto encerrado.

Outra coisa, muito diferente, prende-se à necessidade de se indagaraos jurados se o réu deve ser absolvido ou condenado uma única vez quando duas, trêsou até mais teses são apresentadas aos jurados em atividade naturalmente permitida àdefesa, mas que exige controle pelo Juiz Presidente para garantir a verdade dos veredic-tos . Veja-se um exemplo:

A defesa sustenta que o réu agiu em legítima defesa própria; em legí-tima defesa de terceiro; em legítima defesa putativa (erro plenamente justificado pelascircunstâncias fáticas); e, por fim, inexigibilidade de conduta diversa (causa supralegalde exclusão do crime). Imagine-se que cada uma dessas causas contaria com apenas umvoto de um jurado diferente a cada vez que se perguntasse se estavam presentes ascausas alegadas pela defesa. Ora, o que em quatro vezes seriam 6x1 votos pela negativae a conseqüente condenação do réu, se englobado, ter-se-á 4x3 pela afirmativa absolutóriasem que se saiba qual a tese apreciada. Como então se recorrer de tal absurdo?

Por isso, sem incorrer em tecnicismos, apenas colocando entre parên-teses ao final de cada quesito, sem aprofundar absolutamente nada, mas apenas pararessaltar qual a tese que está sendo apreciada, deve o Juiz Presidente indagar quatrovezes (no exemplo) se o júri absolve ou condena o réu.

Não se perca de vista que os quesitos serão redigidos em proposiçõesafirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido comsuficiente clareza e necessária precisão. Isso é o que está expresso no art. 482, parágra-fo único, CPP, Lei n. 10.589/08. Se os jurados serão questionados sobre matéria de fatoe se o acusado deve ser absolvido (art. 482, caput, CPP, Lei n. 10.689/08), mas tambémpor meio de quesitos redigidos em proposições afirmativas, simples e distintassimples e distintassimples e distintassimples e distintassimples e distintas, demodo que cada um possa ser respondido com suficiente clareza e necessária preci-cada um possa ser respondido com suficiente clareza e necessária preci-cada um possa ser respondido com suficiente clareza e necessária preci-cada um possa ser respondido com suficiente clareza e necessária preci-cada um possa ser respondido com suficiente clareza e necessária preci-

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sãosãosãosãosão, para cada tese de defesa um quesito deve ser formulado para que seja indagado aojurado em razão da tese se o réu deve ser absolvido.

Uma coisa é a simplificação da votação, outra é a supressão das inda-gações sobre as teses de defesa. A primeira foi contemplada, a segunda não. Assimsendo, o § 2º do art. 483, CPP, Lei n. 10.689, deve ser lido em função do número deteses apresentadas pela defesa. Essa parece ser a interpretação que pela sistemáticadeve prevalecer, do contrário, jamais se garantirá o primado da justiça e se permitirá queda sessão de julgamento se faça uma oficina de delírios com pluralidade de teses eargumentos escapistas para toda sorte de delinqüentes.

Alguns outros problemas estão em clara evidência. Terá, por acaso areforma do CPP revogado o excesso na legítima defesa? Ora, é claro que não. E comoo mesmo será questionado aos jurados? Como poderá ser reconhecido pelo juiz? Con-tinuo a defender que por meio de proposição simples deva se indagar do jurado, nosmesmos moldes que se faz atualmente, logo depois de se ter a votação pela “absolvição”no caso de tese de legítima defesa. Aí, no quarto quesito, desde que tenha sido apresen-tada pelo Promotor de Justiça ou pela defesa a existência de excesso, após o júri afirmarque absolve o réu pela legítima defesa, ou seja, a reconhece como procedente, dele seindagaria sobre as modalidades de excesso sustentadas pelas partes. De outro modo,terá desaparecido para sempre do cenário do crime de homicídio o excesso na legítimadefesa, sobretudo o culposo, o que seria completo absurdo e rematada injustiça.

16. Conclusão16. Conclusão16. Conclusão16. Conclusão16. Conclusão

Certo de que muitas outras questões virão tumultuar as primeiras ex-periências, espero ter contribuído para a visão do Ministério Público sobre a reforma doTribunal do Júri.

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O O O O O TRIBTRIBTRIBTRIBTRIBUNUNUNUNUNALALALALALDO JÚRIDO JÚRIDO JÚRIDO JÚRIDO JÚRI

NA REFORMANA REFORMANA REFORMANA REFORMANA REFORMA DO PR DO PR DO PR DO PR DO PROCESSOOCESSOOCESSOOCESSOOCESSO

PENALPENALPENALPENALPENAL

PLÍNIO ANTÔNIO BRITTO GENTILProcurador de Justiça no Estado de São PauloProfessor universitário, doutor em Direito Processual Penal(PUC-SP)Pesquisador em Direito e Educação (UFSCar)Foi promotor do 1º Tribunal do Júri, em São Paulo

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Plínio Antônio Britto Gentil11111

Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: júri, processo penal, reforma

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

Com a edição de um verdadeiro “pacote” de reformas do processopenal brasileiro, o procedimento relativo à instrução e julgamento dos crimes de compe-tência do tribunal do júri sofreu especial impacto, decorrente das múltiplas alteraçõesnele introduzidas pela nova legislação, no caso representada pela Lei n. 11.689/08.

Assim é que essa tradicional instituição, que materializa direito indi-vidual previsto constitucionalmente, teve seus contornos consideravelmente modifica-dos. As reformas apresentam uma nítida tonalidade simplificadora, pretendendo, nãosem uma dose de razão, agilizar o procedimento do júri. Para tanto foram dele excluídosinstitutos conhecidos, como o libelo e o protesto por novo júri. Também se determinouum encurtamento do questionário submetido aos jurados, com o que se procurou termi-nar de vez com a perplexidade às vezes provocada pela dificuldade de compreensão dequesitos muito numerosos referentes a uma só tese.

A reforma de leis mostra-se freqüentemente problemática, face à na-tural incompatibilidade que costuma surgir entre um dispositivo novo e outro antigo,conservado vigente. O objetivo do intérprete é apenas o de apontar o possível caminhopara a aplicação prática da norma, não descurando de procurar detectar as principaisconseqüências que a nova legislação traz, com os inevitáveis problemas e vantagensdela advindos.

Claro que somente o tempo de efetiva aplicação dessas normas, como polimento que a doutrina e a jurisprudência trouxerem, será capaz de indicar o cami-nho mais adequado para a estabilização de seus dispositivos. Este trabalho se propõeapenas a ser mais uma contribuição, dentre tantas e tão abalizadas, para trazer à luz osprincipais aspectos em que a reforma atingiu o procedimento do júri.

1 Procurador de Justiça no Estado de São Paulo, professor universitário, doutor em Direito ProcessualPenal (PUC-SP), pesquisador em Direito e Educação (UFSCar), afiliado à ABEDi, ao CONPEDI, aoInstituto O Direito por um Planeta Verde e ao Movimento do Ministério Público Democrático. Foipromotor do 1º Tribunal do Júri, em São Paulo.

O TRIBUNAL DO JÚRI NA REFORMA DOO TRIBUNAL DO JÚRI NA REFORMA DOO TRIBUNAL DO JÚRI NA REFORMA DOO TRIBUNAL DO JÚRI NA REFORMA DOO TRIBUNAL DO JÚRI NA REFORMA DOPROCESSO PENALPROCESSO PENALPROCESSO PENALPROCESSO PENALPROCESSO PENAL

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1. O júri no direito brasileiro: um procedimento escalonado1. O júri no direito brasileiro: um procedimento escalonado1. O júri no direito brasileiro: um procedimento escalonado1. O júri no direito brasileiro: um procedimento escalonado1. O júri no direito brasileiro: um procedimento escalonado

O tribunal do júri, com a natureza e forma que tem hoje, significa,entre outras coisas, o resultado da imposição de nobres ingleses, no século XIII, aosoberano conhecido como João sem terra, o qual, politicamente enfraquecido nessemomento, viu-se forçado a aceitar que fossem aqueles julgados por outros nobres – enão mais por juízes que agiam por ordem direta do próprio rei.

De toda forma, a transformação do júri em órgão natural de apuraçãode crimes e de seu julgamento, não só para a nobreza, mas para todos, é algo que parecebem posterior. Essa popularização do júri vem na seqüência da ruptura, ocorrida porforça dos ideais iluministas, com o sistema inquisitório que imperava no processo penal.Conforme anota GOMES FILHO,2 foi uma lei de setembro de 1791, promulgada pelaAssembléia Constituinte francesa, reorganizando a justiça criminal, que assentou as ba-ses daquilo que se converteria no tribunal do júri como é conhecido hoje no universojurídico do Ocidente.

O procedimento desse órgão significa um rompimento também com osistema das provas legais – muitas vezes materializado no emprego das ordálias, oujuízos de Deus – permitindo aos julgadores formar sua convicção livremente e, alémdisso, não precisar indicar os motivos dessa convicção.

Não adotado, ou adotado parcialmente, pelos diversos sistemas judi-ciários do mundo ocidental, o tribunal do júri é instituição tradicional do direito brasilei-ro, tendo sido positivado, como narra ESPÍNOLA FILHO,3 por lei colocada em vigorem junho de 1822 e tendo competência para julgamento dos crimes de imprensa. AConstituição do Império, dois anos depois, a inclui entre os órgãos do Poder Judiciário,determinando que sua competência seria civil e criminal. Atualmente, o tribunal do júri éreconhecido no capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos da ConstituiçãoFederal, o que sinaliza a opção do legislador constituinte em privilegiar o seu papel dedireito fundamental, antes que de órgão do sistema judiciário.

Sujeito ao comando constitucional, nosso Código de Processo Penaldetermina o procedimento que adota a apuração judicial e o julgamento dos delitoscontra a vida cometidos dolosamente – que são o homicídio, o aborto, o infanticídio e aparticipação em suicídio. Cuida-se, como é sabido, de um rito escalonado, em que seapresentam em momentos distintos o judicium accusationis e o judicium causae.

2. O 2. O 2. O 2. O 2. O judicium accusationisjudicium accusationisjudicium accusationisjudicium accusationisjudicium accusationis: início do procedimento: início do procedimento: início do procedimento: início do procedimento: início do procedimento

O juízo é provocado através do oferecimento da denúncia denúncia denúncia denúncia denúncia ou da queixa queixa queixa queixa queixa– peças inaugurais da ação penal. Segue-se o possível recebimento da inicialrecebimento da inicialrecebimento da inicialrecebimento da inicialrecebimento da inicial, sendo, a

2 Direito à prova..., 1997.3 Código..., 1965.

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propósito, caso de considerar a hipótese de que ela seja apenas parcialmente recebida. Umexemplo seria uma denúncia atribuindo ao acusado um homicídio qualificado, recebida uni-camente como acusação de homicídio simples, excluída a qualificadora pelo juiz. Embora secuide de fato incomum, não há razões sérias para afastar essa possibilidade, considerandoque, se o magistrado pode receber a denúncia totalmente, ou rejeitá-la, também por inteiro,pode igualmente adotar postura intermediária, aceitando-a somente naquilo que, segundosua avaliação, tem apoio nos elementos trazidos aos autos. Claro que, insatisfeito o promo-tor, estaria para ele aberta a via do recurso em sentido estrito, fundado no que dispõe o art.581, I, do Código de Processo.

Vai nessa linha o magistério de MARCÃO, ao apontar os ônus supor-tados por quem seja acusado de crime, enfim concluindo, com apoio em julgados detribunais superiores, que

diante de tais repercussões, que são graves, se houver descompasso entre aprova apresentada com a denúncia ou queixa e a conclusão do autor daação penal exposta no requisitório inicial, a intervenção judicial visandoajustar os limites da acusação, já no primeiro despacho, será de rigor.4

Recebidas, enfim, a denúncia ou a queixa e sendo mandado citar o de-nunciado, tem início o procedimento que poderá culminar com o julgamento por um colegiadopopular. É a partir desse instante inicial que vão incidir as novas normas processuais, fruto daLei n. 1Lei n. 1Lei n. 1Lei n. 1Lei n. 11.689/081.689/081.689/081.689/081.689/08, que dão novo formato ao procedimento do júri.

De fato, o art. 1º dessa lei dispõe que o Capítulo II do Título I do Livro II doCódigo de Processo Penal passa a vigorar com a redação que lhe é dada a seguir. Esse capítulopassa a ser denominado DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA COM-PETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI, nomenclatura que indica o assunto objeto do referidocapítulo. O procedimento do júri segue no bojo do Título I do Livro II (DO PROCESSO CO-MUM), classificando-se então como comumcomumcomumcomumcomum, ainda considerando que os processos especiaissão objeto e nome do Título II e que, segundo a nova redação do art. 394, caput, do CPP, “oprocedimento será comum ou especial”.

A primeira novidade é que o art. 406, na sua nova redação, deixa derepresentar a continuação das normas gerais sobre instrução criminal do procedimentocomum (objeto do Capítulo I), quando então se referia às alegações finais da fase dojudicium accusationis.5 O novo art. 406 agora disciplina o início de todotodotodotodotodo o procedimen-to do judicium accusationis – não apenas a sua fase final; vale observar que o artigoanterior, o 405, contém regras concernentes às últimas providências do procedimentoordinário; o procedimento dos crimes de competência do júri já não tem uma relaçãonecessária com as normas dos dispositivos anteriores, considerando que é a partir do

4 Tóxicos, 2005, p. 647.5 Que, ao revés dos demais procedimentos, não visa convencer o juiz em prol de uma condenação ouuma absolvição (salvo o caso da absolvição sumária).

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art. 406 que começa a ser delineado esse procedimento por inteiro, desde o recebimento dadenúncia ou da queixa.

Vê-se que esse dispositivo fala de passagem do recebimento da inicialacusatória, para em seguida mencionar a citação do acusado. Mas convém não esquecer queo recebimento da denúncia ou da queixarecebimento da denúncia ou da queixarecebimento da denúncia ou da queixarecebimento da denúncia ou da queixarecebimento da denúncia ou da queixa está sujeito às mesmas condições atuais, comoconsta do art. 41 do CPP, que não foi revogado, e sua rejeição segue, agora, os parâmetrosestipulados pela nova redação do art. 395 (por força da Lei n. 11.719/08); contra decisãoque deixa de receber a inicial, total ou parcialmente, cabe recurso em sentido estrito, enquan-to que o seu recebimento segue sendo irrecorrível, salvo hipótese de ilegalidade sanável pormeio de habeas corpus.

3. 3. 3. 3. 3. AAAAA citação e a resposta do réu citação e a resposta do réu citação e a resposta do réu citação e a resposta do réu citação e a resposta do réu

Uma vez recebida a denúncia ou a queixa, porque presentes as condi-ções da ação, os pressupostos processuais e porque se cuida de peça apta e assentadaem justa causa (conclusão obtida a contrario sensu do mencionado art. 395, em suanova redação), o juiz, de acordo com o art. 406, ordenará a citação do acusado para, noprazo de dez dias, responderresponderresponderresponderresponder por escrito à acusação.

De novo é preciso considerar as modificações introduzidas no Códi-go pela Lei n. 11.719/08, em especial a que introduz a citação por hora certacitação por hora certacitação por hora certacitação por hora certacitação por hora certa, na novaredação do art. 362, cabível quando o réu se oculta para não ser citado. Cuida-se dereprodução de instituto do direito processual civil, havendo mesmo referência expressaao CPC no corpo do novo art. 362, para indicação da forma a ser obedecida por essamodalidade de citação.

Para essa resposta à acusação tem o réu o prazo de dez dias, contados“a partir do efetivo cumprimento do mandado” (art. 406, § 1º), norma que não deixamargem para discutir a possibilidade de se iniciar a contagem da data de juntada aosautos do mandado cumprido. Tal prazo também pode ter o seu termo inicial no dia emque o acusado, não citado válida e pessoalmente, ou seu defensor constituído, compare-çam em juízo e – conquanto isso não esteja expresso no texto legal – assim tomemciência formal da acusação.

Na hipótese de citação por editalcitação por editalcitação por editalcitação por editalcitação por edital, subsistem as regras do atual art. 366do CPP, que segue vigente; assim, nesse caso, não comparecendo o réu, nem constituindodefensor, de molde a tomarem, um ou outro, ciência formal da acusação, “ficarão suspensoso processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção anteci-pada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nostermos do disposto no art. 312.”6

Essa resposta à acusação, ocorrida quando o juiz já recebeu a denúnciaou a queixa, configura uma espécie de contestação, se feito um paralelo com o processo civile se analisada a amplitude que o art. 406, § 3º, lhe sugere. É diferente de uma defesa prelimi-

6 O art. 312 do CPP não foi alterado pelo “pacote” de reformas.

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nar, como ocorre, por exemplo, no procedimento para apuração do tráfico de entorpecen-tes, definido na chamada Lei de Drogas, quando somente após a resposta do acusado é queo juiz decidirá sobre o recebimento ou a rejeição de denúncia. Mas lá e aqui a amplitude daresposta é praticamente a mesma, verificando-se considerável semelhança na redação dosartigos 406, § 3º (novo), do CPP, e o 55, § 1º, da Lei n. 11.343/06.

Parece o legislador ter pretendido que a resposta do réu seja mais do quea antiga defesa prévia, que chamava de alegações escritas, prevista no que era o art. 395 doCPP, agora totalmente modificado. Mas o resultado prático disso não é expressivo, pois oque o citado parágrafo terceiro do art. 406 contém são simples sugestões para a resposta doréu, consistentes em providências que ele, na fase da anterior defesa prévia, também poderiatomar, valendo notar que, além disso, o antigo art. 399 facultava ao acusado requerer, nesseinstante (o da defesa prévia), as diligências as diligências as diligências as diligências as diligências que julgasse convenientes. A amplitude dessaexpressão naturalmente abrangia a produção de prova documental e qualquer outra. Quantoàs preliminares, expressamente mencionadas no novo art. 406, § 3º, certamente tambémestavam já admitidas, quando fosse o caso, no âmbito das antigas alegações escritas.

O mesmo se diga em relação à apresentação de documentos e justifica-ções e à especificação das provas pretendidas. Quanto às justificações, SILVA as entendecomo aquele conjunto de provas produzido no bojo de uma ação cautelar de justificação,observando não haver sentido em o réu pedi-la, se na audiência (prevista pelo art. 411) terátodas as condições de produzir suas provas.7

O que parece o dispositivo querer significar também é que o acusadotem o prazo da resposta para dizer que provas pretende produzir na fase do na fase do na fase do na fase do na fase do judiciumjudiciumjudiciumjudiciumjudiciumaccusationisaccusationisaccusationisaccusationisaccusationis – já que na fase posterior, em especial no julgamento em plenário, poderáapresentar outras provas. Não se pense que tenha sido fixada uma nova regra de preclusãorelativamente ao que não for argüido nessa resposta. Quando em vigor o sistema dadefesa prévia, também se podia pensar numa preclusão relativamente ao direito de arro-lar testemunhas ou de indicar diligências.

Mas, embora se costumasse entender que o rol da defesa somentepoderia ser apresentado com a prévia, a verdade é que, antes e agora, em virtude dosprincípios da ampla defesa, da busca da verdade real e da presunção de inocência, o juiz,vislumbrando a possibilidade de que um elemento não indicado pela defesa possa pro-duzir prova em favor do réu, devia e deve admitir a sua vinda aos autos.

O mesmo não vale para a busca pelo juiz de uma prova capaz de levar àcondenação. É que o processo penal brasileiro, especialmente com o formato moldado pelaConstituição de 1988, pródiga em lhe fixar princípios de natureza garantista, adotou definiti-vamente o modelo acusatório, isto é, o de uma acusação feita por um órgão e o julgamentopor outro, este último totalmente desvinculado da função de investigar. Resulta que o juiz, emtal sistema, nada tem de comum com a figura de um inquisidor, que busca e obtém por seusmeios a prova de uma possível condenação e, em seguida, profere a sentença condenatória.Não: ante a perspectiva de um elemento em prol da acusação, ele simplesmente o recebecomo o órgão acusador o apresenta, devendo, isto sim, explorar esse elemento em todaa sua profundidade, mas nunca podendo se atirar na busca de outros, ainda que lhe

7 Reforma..., 2008.

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pareçam pertinentes. Não se cuida, evidentemente, de matéria pacífica, mas a discussãosobre o limite dos eventuais poderes instrutórios do juiz tem se avolumado, havendo jáquem sustente que, em razão do perfil acusatório do nosso processo penal, que os arti-gos 209, caput, e § 1º, 234 e 242, do CPP, não foram recepcionados pela Constitui-ção.8 Subscrevendo esses limites da atuação judicial na busca da prova acusatória, masnão de defesa, está a opinião abalizada de Geraldo Prado.9

O que a nova lei faz, ainda, é fixar um momento específico para o juizouvir a acusaçãoa acusaçãoa acusaçãoa acusaçãoa acusação sobre as preliminares e os documentos porventura apresentados pela de-fesa, na sua resposta, conforme consta do novo art. 409. Anteriormente não havia um mo-mento especial para essa consulta, que então poderia ser feita a qualquer tempo, até e inclu-sive, na fase das alegações finais previstas pelo antigo art. 406. Observe-se que o textoreformado não dispõe a respeito do momento em que o juiz decidirá sobre esses temas, oque significa que o fará a qualquer tempo, até o ato final do judicium accusationis, aoprolatar decisão de mérito sobre a causa.

O novo art. 408 determina a obrigatoriedadeobrigatoriedadeobrigatoriedadeobrigatoriedadeobrigatoriedade da apresentação da res-posta do acusado, e, no caso deste não o fazer, por seu advogado, deverá o juiz nomear umdefensor para oferecê-la, no prazo de dez dias. Há, em relação à antiga defesa prévia, adiferença de que esta era faculdadefaculdadefaculdadefaculdadefaculdade do réu, pelo menos quando tivesse advogado constitu-ído, como rezava o art. 395, no qual se lia que “o réu ou seu defensor poderá...”. Flui da novaredação que, esquecendo-se o juiz de nomear o defensor para o oferecimento da resposta,ou o nomeado deixar, por qualquer motivo, de oferecê-las, haverá nulidade processual.

Já se viu que a reforma impõe ao juiz que, uma vez ofertada a respostado réu e desta resultarem a argüição de preliminares ou a juntada de documentos, ouçaa acusação no prazo de cinco dias. Como não há determinação de que o juiz decidaseparadamente essas questões, depreende-se que ele poderá fazê-lo até o momento dadecisão de mérito.

O art. 410 do novo texto dispõe que o juiz, no prazo de dez dias, deter-minará a inquirição das testemunhas e as diligências requeridas pelas partes. Considerando-se que será na audiência de inquirição das testemunhas que as partes farão suas alegaçõesfinais, fica evidente que, se o juiz mandar realizar as diligências no décimo dia, a audiênciasomente poderá ocorrer depois que o resultado das diligências tiver vindo aos autos, o quesignificará que o prazo de dez dias, nessa hipótese, não correrá igualmente para a efetivaçãodas diligências e para a inquirição das testemunhas. Mesmo porque pode acontecer de essainquirição estar condicionada ao que resultar das diligências. A conseqüência é que, em casosassim, o juiz forçosamente ultrapassará os dez dias com relação à audiência, podendo-seantecipar o possível entendimento de que, quando isso ocorrer, terá o magistrado, após aconclusão das diligências, um novo prazo de dez dias para a realização da audiência.

8 É o caso de L. G. Grandinetti Castanho de Carvalho, em Processo penal e Constituição, 2006, p. 171.9 Cf. Sistema acusatório.

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4. 4. 4. 4. 4. AAAAA audiência audiência audiência audiência audiência

O novo art. 411 trata do que alguns estão chamando de a super-audiên-cia: um ato em que, a um só tempo, será ouvido o ofendido, se possível, serão inquiridastestemunhas de acusação e de defesa, tomados esclarecimentos dos peritos, procedidas asacareações, feito o reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se o réu, seguindo-seos debates e se proferindo a decisão. Cuida-se mesmo de pretensão otimista do legislador,que somente se concretizará nos casos em que não faltar uma testemunha imprescindível, nãohouver questões de alta indagação, em que o réu preso for apresentado no horário (se nãotiver manifestado o desejo de não comparecer) e em que, enfim, se somar uma série decircunstâncias favoráveis, que a prática forense diariamente demonstra serem extremamenteimprováveis.

Chama a atenção a menção do texto ao reconhecimento reconhecimento reconhecimento reconhecimento reconhecimento de pessoas oucoisas. Referir-se expressamente a esse meio de prova pode significar que a nova normapretenda, na audiência, um ato formal de reconhecimento, com as providências que o art.226 do CPP, com a ressalva do seu parágrafo único, determina. Note-se que os réus, normalmen-te, já são submetidos a um reconhecimento informal nas audiências, daí a possibilidade de que aprevisão expressa queira representar a necessidade de um ato formal.

A audiência será também o momento em que, vislumbrando-se daanálise das provas a possibilidade de nova definição jurídica do fato em virtude de cir-cunstância não contida na inicial acusatória, o Ministério Público deverá aditaraditaraditaraditaraditar a de-núncia, oralmente, ou por escrito, no prazo de cinco dias. Discordando juiz e promotoracerca da necessidade de aditamento, proceder-se-á de acordo com o art. 28 do CPP,remetendo aquele os autos ao Procurador-Geral de Justiça para decisão. Cuida-se doinstituto da mutatio libelli, agora regulado pela nova redação dada ao art. 384, queinova ao determinar o aditamento mesmo que a nova definição jurídica do fato nãoacarrete aplicação de pena mais grave, como era o sistema do anterior art. 384. A modi-ficação encerra a possibilidade de que o juiz decida impor uma decisão contra o réu sembase numa imputação formulada contra este pela acusação.

Há que distinguir, porém, a hipótese prevista nesse artigo - o revoga-do e o vigente - daquela em que a prova nova se refere a fatos, ainda que implicitamente,já descritos na inicial, daí decorrendo uma nova definição jurídica já contida em parte naimputação que ali foi feita, implicando no reconhecimento de um crime de menor gravi-dade, fenômeno que GRECO FILHO chama de desclassificação, ajuntando o seguinte:

Fato contido implicitamente na denúncia ou queixa significa a cir-cunstância de fato que, apesar de não referida verbalmente na peçainicial, é compreendida nos conceitos nela expressos. Assim, por exem-plo, se a denúncia imputa matar, implicitamente está imputando cau-sar lesão corporal; ou, se descreve subtrair para si coisa alheia, estáimplicitamente também afirmando causar prejuízo a outrem, e assimpor diante. Nesses casos não há necessidade de se adotar o procedi-mento do art. 384, porque o acusado, ao se defender do que está explí-cito, também se defende do que está implícito.10

10 Manual, 1999, p. 329.

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A necessidade de aditamento, trazida pela reforma também aos casos emque, ante a demonstração de fatos não contidos na inicial (como disposto no novo art. 384),não resulte aplicação de pena mais gravenão resulte aplicação de pena mais gravenão resulte aplicação de pena mais gravenão resulte aplicação de pena mais gravenão resulte aplicação de pena mais grave, já tem merecido qualificação de inconstitucional.Assim sentenciou o juiz federal Ali Mazloum, declarando incidentalmente “ainconstitucionalidade da nova regra do caput do artigo 384 do CPP [...]”:

A nova regra processual pretende submetersubmetersubmetersubmetersubmeter o juiz, no ato da sentençano ato da sentençano ato da sentençano ato da sentençano ato da sentença, àvontade de outro órgão. A violação ao artigo 2º da Constituição Federalartigo 2º da Constituição Federalartigo 2º da Constituição Federalartigo 2º da Constituição Federalartigo 2º da Constituição Federal,é frontal, não devendo ser aplicada a nova regra do artigo 384 do CPP nadesclassificaçãodesclassificaçãodesclassificaçãodesclassificaçãodesclassificação do delito para outro de do delito para outro de do delito para outro de do delito para outro de do delito para outro de igual ou menor gravidadeigual ou menor gravidadeigual ou menor gravidadeigual ou menor gravidadeigual ou menor gravidade.11

O art. 411 prevê também a condução coercitiva de quem deva com-parecer. Importa observar que sujeitos à condução coercitiva, no processo penal,estão o ofendido, as testemunhas e os peritos, na forma dos arts. 201, § 1º (com suanova redação), 218 e 278. Note-se que, embora não se trate propriamente de con-dução coercitiva, a apresentação do réu preso não será obrigatória se ele e seudefensor houverem formalizado pedido de dispensapedido de dispensapedido de dispensapedido de dispensapedido de dispensa, cabível na fase do julgamentoem plenário, por força do novo art. 457, e naturalmente também, por extensão, naaudiência do judicium accusationis.

De resto, a possibilidade dada ao juiz de que profira sua decisão noprazo de dez dias, ao invés de fazê-lo na própria audiência, conforme reza o § 9º, tendea se transformar na regra geral, ante a óbvia sobrecarga das pautas das varas criminais,especialmente a partir da aplicação prática dos novos dispositivos, que procuram con-centrar na tal super-audiência todos os atos instrutórios. Cuida-se, fora de dúvida, deprovidência inspirada nas melhores intenções e tendente a prestigiar a natural oralidadeque deve caracterizar qualquer processo, mas de complexa implantação.

É válido indagar da vigência nesse caso do princípio da identidadeidentidadeidentidadeidentidadeidentidadefísica do juizfísica do juizfísica do juizfísica do juizfísica do juiz, agora trazido ao processo penal pelo novo art. 399, § 2º, do CPP. Trata-se de norma disciplinadora do procedimento comum, no qual está incluído o rito do júri,e que, mesmo nos procedimentos especiais, tem aplicação subsidiária, por força donovo art. 394 § 5º. Além disso, o procedimento aplicável à apuração dos crimes decompetência do júri, na fase do judicium accusationis, tem a natureza de um rito emgrande parte assemelhado àquele da alçada do juízo singular, aqui também valendo aconveniência de que o juiz que presidiu a colheita de provas seja o mesmo que profere adecisão. Portanto, a conclusão mais acertada parece ser a de que tal princípio vigora,sim, nessa fase do procedimento do júri, claro que com as ressalvas razoáveis previstaspelo art. 132 do Código de Processo Civil, cuja aplicação supletiva é, nessa hipótese,inteiramente cabível.12

11 Sentença datada de 27/ago./2008, no proc. n. 2005.61.81.009766-6, da 7ª Vara Criminal de S. Paulo.Grifos no original.12 Dispõe o art. 132 do CPC: “O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo seestiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em quepassará os autos ao seu sucessor”.

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A previsão do novo art. 412 de que toda a fase do judicium accusationisesteja terminada no prazo de noventa diasprazo de noventa diasprazo de noventa diasprazo de noventa diasprazo de noventa dias surge com ares de uma outra normaprogramática da reforma, aliás amparada no que dispõe o art. 5º, LXXVIII, da Consti-tuição. Mas ela pode, na verdade, produzir efeitos jurídicos relevantes, como, por exem-plo, a necessidade de colocar em liberdade o réu preso caso o procedimento não estejaconcluído nesse lapso. Note-se que o dispositivo do art. 412 não fala em término dainstrução, mas em conclusão do procedimento, o que supõe a prolação de decisão judi-cial. Diante do possível argumento da acusação de que isso não é direito subjetivo doréu, se deve ponderar que o juiz, ao proferir a decisão, deverá resolver sobre a manuten-ção ou revogação da prisão ou medida restritiva de liberdade a que estiver aquele sub-metido (art. 413, § 3º, em sua nova redação).

Vale observar, ainda, que, tratando-se de prazo para o fim do procedi-mento, esse período poderá não coincidir com o tempo pelo qual o acusado estiverpreso. A acusação talvez argumente que o período de prisão obedeceu os limites legais,se a instrução já estiver encerrada, faltando apenas a decisão judicial. Mas se a instrução– entendida esta como a colheita de provas do fato objeto da acusação – não tiverterminado nos noventa dias e, mesmo assim, os prazos usualmente contados para ainstrução de processo com réu preso ainda não se tiverem escoado, ou se, ao contrário,a instrução tiver acabado nesses prazos, haverá a superposição de dois prazos: um parao término da instrução com acusado preso, contado do início da prisão, outro para aconclusão do procedimento do judicium accusationis, contado do início do procedi-mento, que termina com decisão em que o juiz resolverá sobre a manutenção da eventu-al prisão processual já decretada. É por isso que essa última hipótese significa a possibi-lidade de um constrangimento mesmo que o acusado estiver preso por tempo inferioràquele tradicionalmente computado como limite para o fim da instrução. Os julgadoresdos habeas corpus que, provavelmente, serão impetrados deverão se defrontar com essaquestão, quem sabe daí brotando entendimentos capazes de solucioná-la.

5. 5. 5. 5. 5. AAAAA decisão do juiz e os possíveis recursos decisão do juiz e os possíveis recursos decisão do juiz e os possíveis recursos decisão do juiz e os possíveis recursos decisão do juiz e os possíveis recursos

A nova redação do art. 413, ao se referir à decisão de pronúnciapronúnciapronúnciapronúnciapronúncia, esta-belece que esta se dará quando o juiz se convencer da materialidade do fatodo fatodo fatodo fatodo fato e da existênciade indícios suficientes de autoriade autoriade autoriade autoriade autoria ou participaçãoparticipaçãoparticipaçãoparticipaçãoparticipação. A primeira expressão sugere que bastaráa prova do fato, sem que o juiz deva fazer apreciação de seu caráter criminoso, ou que, se ofizer, isso lhe parecer duvidoso. Nesse caso pronunciará o acusado, deixando ao júri quedecida definitivamente a respeito. Note-se que, segundo o disposto no novo art. 415, III eIV, será caso de absolvição sumária a falta de tipicidade ou de antijuridicidade do fato,quando estiverem provadas. Entretanto, a fórmula indícios de autoria ou participaçãoindícios de autoria ou participaçãoindícios de autoria ou participaçãoindícios de autoria ou participaçãoindícios de autoria ou participação,conquanto inovando meritoriamente quanto à possibilidade de participação, não é precisa aosignificar que tais indícios apontam o acusadoo acusadoo acusadoo acusadoo acusado como possível autor ou partícipe. Em tese, éviável que o juiz se convença da existência de indícios de autoria por parte de outra pessoa e,assim, evidentemente, não pronunciará o réu. Por tudo isso é que parecia melhor a redação

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do antigo art. 408, que falava em indícios de que o réu seja o seu autoro réu seja o seu autoro réu seja o seu autoro réu seja o seu autoro réu seja o seu autor,,,,,13 isto é, autor daconduta a si atribuída pela acusação.....

Note-se que a decisão de pronúncia deverá especificar inclusive as cau-sas de aumento de pena, sejam gerais ou especiais. Como esse ato judicial é que fixa oslimites da acusação em plenário, a falta de menção dessas circunstâncias, na pronúncia,inviabilizará sua sustentação pelo acusador na fase de julgamento da causa. De outro lado,vale lembrar que continua vigente o disposto no art. 7º da Lei de Introdução ao Código deProcesso Penal: “o juiz da pronúncia, ao classificar o crime, consumado ou tentado, nãopoderá reconhecer a existência de causa especial de diminuição da pena.”

O parágrafo terceiro do novo art. 413 acaba com a obrigatoriedade daprisão da pronúnciaprisão da pronúnciaprisão da pronúnciaprisão da pronúnciaprisão da pronúncia, mesmo na forma já mitigada pelo disposto no anterior art. 408, § 2º.Agora o juiz decidirá sobre a manutenção da prisão eventualmente já imposta, devendorevogá-la se desnecessária; do mesmo modo, e ao contrário, deverá nesse momento decidirsobre a necessidade de decretação da prisão. Que a decisão, em qualquer sentido, deva sermotivada, é imperativo constitucional. A necessidade, ou desnecessidade, dessa prisão, quetem natureza processual e, portanto, instrumental, será avaliada à luz do disposto no art. 312do CPP, que estabelece os requisitos da prisão preventiva. Sem dúvida causará embaraço adecisão que, ao pronunciar o acusado por crime doloso contra a vida, determine a sua soltu-ra, justamente no instante em que o juiz esteja convencido, ante a prova produzida, da provada materialidade do fato e de indícios suficientes de autoria ou de participação. Se o réupermaneceu preso quando ainda não havia tal convicção por parte do juiz, por que seriaposto em liberdade quando ela se consolidou na mente do julgador? São conhecidos eincontáveis os arestos a considerar inadequada a revogação da prisão processual quandosobrevém sentença condenatória recorrível, situação análoga à que se está analisando, jáque, em qualquer caso, se trataria, ainda, de uma prisão processual.

A impronúnciaimpronúnciaimpronúnciaimpronúnciaimpronúncia vem disciplinada pelo novo art. 414, cuja redação repetea imperfeição do texto referente à pronúncia, optando por mencionar os indícios suficientesde autoria de autoria de autoria de autoria de autoria ou participação participação participação participação participação. Claro que a decisão que impronuncia o réu tem por fundamen-to a ausência desses elementos, assim como da materialidade do fato. Já se viu que, havendodúvida acerca do caráter criminoso deste, o réu deverá ser pronunciado.

A absolvição sumáriaabsolvição sumáriaabsolvição sumáriaabsolvição sumáriaabsolvição sumária ganhou amplitude com o advento do novo art.415. Os incisos I e II desse dispositivo – prova da inexistência do fato e prova de não sero acusado o seu autor ou partícipe – não estavam compreendidos nas hipóteses anteri-ores, definidas pelo antigo art. 411. No regime da velha legislação esses eram casos queapenas podiam determinar a impronúncia, solução que igualmente se impunha, no dizerde MARQUES PORTO,14 no caso de não constituir o fato infração penal por lhe faltartipicidade, o que agora é previsto no inciso III do art. 415 também como causa deabsolvição sumária. Realmente, a antiga fórmula existência de circunstância que exclua oexistência de circunstância que exclua oexistência de circunstância que exclua oexistência de circunstância que exclua oexistência de circunstância que exclua ocrime ou isente de pena o réu (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º, do Código Penal) crime ou isente de pena o réu (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º, do Código Penal) crime ou isente de pena o réu (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º, do Código Penal) crime ou isente de pena o réu (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º, do Código Penal) crime ou isente de pena o réu (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º, do Código Penal) restrin-gia a absolvição sumária às hipóteses de excludentes de ilicitude ou de culpabilidade, conclu-

13 A omissão ao partícipe, na legislação anterior, se explica pelos contornos pouco definidos dessafigura no direito material vigente na época de edição do Código de Processo Penal.14 Júri, 2005, p. 64-5.

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são reforçada pela menção feita a artigos da velha Parte Geral do Código Penal; o art. 17 sereferia ao erro de fato, circunstância que, na forma da doutrina que inspirou o legislador de1940, conduzia à ausência de culpabilidade, categoria na qual se situava o dolo, sendoconsentânea com essa postura doutrinária a expressão com que esse dispositivo começava:“é isento de pena...”.

Verte do parágrafo único do novo art. 415 que é inaplicável o dispos-to no inciso IV (isenção de pena) “ao caso de inimputabilidade previsto no caput do art.26” do Código Penal, a menos que esta seja “a única tese defensiva”. O citado disposi-tivo do Código Penal refere-se à inimputabilidade por doença mental ou desenvolvi-mento mental incompleto ou retardado. A ressalva que faz o novo texto explica o moti-vo da vedação: se a defesa tiver outras teses além da inimputabilidade do acusado,como, por exemplo, a negativa de autoria ou uma alegação de legítima defesa ou estadode necessidade, será melhor deixar para o juiz natural do fato, que é o júri, a tarefa deapreciar a questão, disso resultando que o colegiado poderá até mesmo absolver o réupor alguma dessas circunstâncias, que foram insuficientes para convencer o juiz; tratar-se-á de absolvição própria, melhor, portanto, para o acusado, ao qual não se imporámedida de segurança, como ocorrerá se lhe for dada a absolvição imprópria, que éaquela que se adequará à previsão do art. 415, IV. Com essa medida o réu terá maisoportunidades e, naturalmente, o colegiado poderá simplesmente reconhecer ainimputabilidade que o magistrado não pode na fase anterior.

Claro que para mandar o réu a julgamento pelo júri terá o juiz quepronunciá-lo, o que somente fará se presentes os requisitos da pronúncia (art. 413). Damesma forma poderá impronunciá-lo, se configurada a hipótese prevista no art. 414.Entretanto, se a defesa não tiver outra tese em favor do réu, não haverá prejuízo emficar a critério do próprio juiz, na fase do judicium accusationis, a decisão sobre oassunto. Convencido da inimputabilidade do acusado nos termos do art. 26 do CódigoPenal e, paralelamente, da materialidade do crime e de que ele seja o seu autor oupartícipe, proferirá sentença de absolvição sumária, de modalidade imprópria, caso emque procederá de acordo com o art. 97, também do Código Penal, impondo-lhe a medi-da de segurança pertinente.

Inevitável questionar aqui a constitucionalidade de atribuir o Códigode Processo poderes para o juiz proferir absolvição em caso de crime doloso contra avida, cuja competência é conferida pela Constituição, com exclusividade, ao júri popu-lar. Para NUCCI, entretanto, não há motivo para dúvida: a medida é constitucional,porquanto é lícito “ao magistrado togado aplicar o filtro que falta ao juiz leigo, remeten-do ao júri apenas o que for, por dúvida intransponível, um crime doloso contra a vida.”15

Dispõe o novo art. 416 que contra a decisão de impronúncia e a sentençade absolvição sumária caberá o recurso de apelação. A impronúncia, que não é objeto desentença como diz o texto legal, mas de decisão, já que este ato judicial não é definitivo, seriacompatível, como era no regime anterior, com o recurso em sentido estrito. A única razão quese pode ver na modificação é a vontade do legislador de que, relativamente à decisão queimpronunciar o réu, não possa mais o juiz retratar-se, possibilidade existente no âmbito dorecurso em sentido estrito, mas incompatível com a apelação. Da sentença de absolvição

15 Código de Processo Penal comentado, 2004, p. 672.

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sumária deve mesmo caber esta última, considerando-se que se trata de ato que põe fimao processo. A nova lei substitui, assim, o recurso em sentido estrito, nesse caso, pelode apelação, valendo observar que foi revogado o anterior art. 581, VI, do CPP.

Quanto ao recurso de ofíciorecurso de ofíciorecurso de ofíciorecurso de ofíciorecurso de ofício, que estava previsto no antigo art. 411 enão está no atual 415, tem sido aceito que não mais cabe da sentença de absolviçãosumária. Mas o capítulo das Disposições Gerais do título denominado DOS RECUR-SOS EM GERAL, com destaque para o art. 574, II, que permanece vigente, diz que osrecursos são voluntários, exceto nos casos que arrola, entre os quais se encontra o dasentença “que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstânciaque exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411”. É uma claríssimareferência à absolvição sumária no procedimento do júri, embora a menção ao art. 411obviamente se reporte ao texto revogado. Mas parece não haver dúvida quanto a seguirem vigor a previsão do recurso de ofício na hipótese de absolvição sumária, desde quefundada na presença de excludentes de ilicitude ou de culpabilidade.

Em comentário a essa questão, PAGLIUCA16 adverte que, a prevale-cer entendimento pela vigência da regra do recurso de ofício em absolvição sumária,tratar-se-á possivelmente de recurso cabível em todos os casos em que tal decisão fortomada – e não só no procedimento do júri – valendo esclarecer que a relevância daponderação se explica pelo fato de que, de acordo com as novas regras processuaiscontidas no “pacote” de reformas, caberá absolvição sumária também no procedimentoordinário e sumário de competência do juízo singular, o que quer dizer, na maioria doscasos; essa conclusão está de conformidade com o novo art. 397 do CPP, que tambémelenca, entre as hipóteses autorizadoras desse tipo de sentença, a presença de excludentesde ilicitude e de culpabilidade – exatamente como definido no art. 574, II.

Na verdade, a tarefa de compatibilização deste artigo com os novosdispositivos processuais ficará a cargo da jurisprudência. Esta não estará dispensada decriteriosamente considerar as razões, teóricas e práticas, talvez não desprezíveis, quedeve ter tido o legislador de 1941 para inserir no Código o recurso de ofício em hipóte-ses de decisões que concederem habeas corpus, reabilitação, que absolverem o réu porcrime contra a economia popular ou arquivarem inquérito policial relativo a esse tipo dedelito, e as que absolverem sumariamente o acusado no procedimento do júri. Serápossível ver nelas algo em comum?

16 Absolvição sumária e recurso de ofício na reforma processual, 2008.

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Pois bem, são todas decisões de certo modo favoráveis ao imputado,as quais, ante a proibição de reformatio in pejus e de revisão criminal pro societate, senão houver recurso da acusação, se tornarão rigorosamente imutáveis. Contêm as hipó-teses elencadas igualmente resultados de possível magnitude, ora do ponto de vista so-cial, ora do jurídico.

Vejam-se os casos de reabilitação, em que são cancelados os registrosda condenação anterior, num ato que significa literalmente apagar o passado, e o deabsolvição de acusado de infração contra a economia popular, crime contra a coletivida-de e potencialmente contra múltiplas e indefinidas vítimas – e isso num tempo em quenão existiam a Lei de Execução Penal, a determinar a supressão, na folha corrida ou nascertidões, de qualquer referência à condenação cumprida (art. 202), nem as atuais leisde defesa das relações de consumo, vindas num clima de tomada de consciência, antesincipiente, do consumidor como sujeito de direitos.

Atente-se, de outro lado, para as hipóteses de concessão de habeascorpus, em que se estará, implícita ou expressamente, admitindo a ocorrência deuma ilegalidade, e, finalmente, a de absolvição sumária em casos que, sem invalidaros já vistos argumentos de NUCCI, tocam num ponto sensível da relação da normaordinária com sua matriz constitucional, ao significar julgamento pelo juízo singularde um possível crime contra a vida, cujo juiz natural é o colegiado popular. Cuida-se de situações em que, ante uma possível deficiência na vigilância do interessepúblico, poderiam se estabelecer, sem viabilidade de reparo, danos sociais ou jurídi-cos de monta. Basta figurar a hipótese, nada impossível, de comarcas de vara única,Brasil afora, mais suscetíveis às pressões do poder econômico, ou então onde casu-almente oficiem autoridades avessas aos trabalhos do júri, acrescentando-se a isso aimpotência de vítimas ou seus familiares para ajustar advogado de acusação, para sevislumbrar no recurso de ofício da absolvição sumária a vantagem de se submeterao tribunal, experiente e vivido, a última palavra sobre questão assim delicada. Ar-gumentar-se-ia que, sob tal fundamento, também a decisão de impronúncia deveriaser recorrível de ofício. Entretanto, há uma diferença: neste caso a decisão judicialnão inviabiliza a retomada da ação penal se houver prova nova, circunstância querepresenta alguma possibilidade de controle sobre a questão.

Na hipótese de ser pronunciado o réu, a reforma inova ao permitira sua intimação por editalpor editalpor editalpor editalpor edital, quando solto e não encontrado, como consta do art.420, parágrafo único. Isso tem relação com a permissão, que virá no novo art. 457,de realização da sessão de julgamento pelo júri mesmo quando o acusado, solto oupreso, neste caso se tiver pedido dispensa, estiver ausente, independentemente deser ou não o delito afiançável.

Intimado regularmente da pronúncia, por qualquer meio legalmente pre-visto, correrá o prazo, de cinco dias, para interposição de recurso, que é em sentido estrito(arts. 581, IV, e 586, do CPP). Com ou sem recurso, ou depois de julgado o que for inter-posto, mantendo a pronúncia, e vencidos os prazos legais, a decisão fará coisa julgada formale precluirá, devendo os autos ser encaminhados ao presidente do tribunal do júri, que opreparará para julgamento em plenário. O novo texto legal, acertadamente, optou pela ex-pressão preclusa a decisãopreclusa a decisãopreclusa a decisãopreclusa a decisãopreclusa a decisão, ao invés da fórmula passada em julgado passada em julgado passada em julgado passada em julgado passada em julgado a sentençaa sentençaa sentençaa sentençaa sentença, da lei

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anterior. Acertou porque se trata de decisão, não de sentença, e porque passarpassarpassarpassarpassarem julgadoem julgadoem julgadoem julgadoem julgado é forma de sugerir uma definitividade que a pronúncia não tem.

6. Início do 6. Início do 6. Início do 6. Início do 6. Início do judicium causae: judicium causae: judicium causae: judicium causae: judicium causae: preparação do processo parapreparação do processo parapreparação do processo parapreparação do processo parapreparação do processo parajulgamentojulgamentojulgamentojulgamentojulgamento

A preparação do processo pelo juiz presidente para a sessão de julga-mento em plenário significa o banimento do libelolibelolibelolibelolibelo e da contrariedadecontrariedadecontrariedadecontrariedadecontrariedade, antes previstosnos arts. 416 a 422 do CPP. Agora o rol de testemunhas para depor em plenário e ospedidos de diligências e de juntada de documentos deverão ser apresentados após des-pacho do juiz presidente, que dará às partes o prazo de cinco dias para o fazerem, sequiserem. Com ou sem tais requerimentos, o juiz presidente, continuando a preparaçãodo processo para julgamento, decidirá sobre os eventuais pedidos, saneará o processo edele fará um relatório sucinto, determinando em seguida sua inclusão em pauta da reu-reu-reu-reu-reu-niãoniãoniãoniãonião do júri. O texto reformado chama de reunião o que tradicionalmente se entendiapor sessão periódica do júri. Significam, ambas as expressões, o lapso em que se realiza-rão as sessões de julgamento e para o qual estarão convocados os mesmos jurados, emnúmero de vinte e cinco (novo art. 447), sorteados para oficiar nesse período.

O alistamento dos jurados sofre modificação especialmente no quetoca ao número dos anualmente alistados, que salta para 1500 nas comarcas com maisde um milhão de habitantes, e à exclusão da lista geral anual do jurado que, nos dozemeses antecedentes à sua publicação, tiver integrado o conselho de sentença, partici-pando efetivamente de uma sessão de julgamento. Essa medida naturalmente procuraevitar a figura do jurado profissional, tentando promover uma constante renovação doscomponentes do colegiado popular.

As principais normas sobre o desaforamentodesaforamentodesaforamentodesaforamentodesaforamento foram mantidas, mas aelas se acrescentou uma nova hipótese: o desaforamento por excesso de serviço. Amedida é justa do ponto de vista dos envolvidos na causa, que assim tenderá a ter umjulgamento mais rápido. Entretanto penalizará comarcas onde, por variadas razões, apauta estiver bem organizada, para onde se remeterão julgamentos acumulados em ou-tras em que o excesso de serviço pode tanto ser resultado do elevado número de feitosquanto de uma possível desorganização do trabalho forense. Suprimiu-se aobrigatoriedade de consulta ao Procurador-Geral de Justiça sobre o pedido dedesaforamento e se determinou sua inadmissibilidade enquanto esteja pendente de re-curso a decisão de pronúncia, ou quando já tiver ocorrido o julgamento, exceto, nestecaso, por conta de fato acontecido “durante ou após a sessão de julgamento anulado”.Embora não haja previsão expressa, salvo aquela especificamente prevista para odesaforamento por excesso de serviço (art. 428, caput), segue aplicável à hipótese oteor da súmula n. 712 do STF: “É nula a decisão que determina o desaforamento deprocesso da competência do Júri sem audiência da defesa.”

Relativamente à organização da pauta e ao sorteio dos jurados, a reformainova ao ampliar para cinco dias a antecedência com que deverá se habilitar o assistente deacusação tendo em vista a data do julgamento em que pretende atuar - a palavra sessãosessãosessãosessãosessão, noart. 430, significa, nesse caso, sessão de julgamento; inova também ao prever a convocação

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do jurado sorteado para a reuniãoreuniãoreuniãoreuniãoreunião periódica por qualquer “meio hábil” (art. 434),o que pode abranger até mesmo a via eletrônica, desde que comprovado o recebi-mento da mensagem.

A função de jurado passa a ser exercível por maiores de dezoitoanos, tendo a reforma reduzido essa idade, que era de vinte e um anos. Nisso nãoandou bem. O jurado é juiz e, como tal, precisa de experiência e maturidade que sóo passar do tempo pode trazer. Argumentar que aos dezoito anos o indivíduo podevotar,17 praticar os atos da vida civil, dirigir veículos e ser penalmente imputávelnão convence. Trata-se, em geral, de atos de menor complexidade que o de julgaralguém acusado de praticar crime contra a vida, decidindo sobre a possível privaçãoda sua liberdade; para isso é desejável que o julgador tenha desenvolvido uma sen-sibilidade somente produzida pelo acúmulo de vivências que experimenta,notadamente aquelas resultantes de um período em que já assumiu responsabilida-des, especialmente familiares e profissionais, que marcam a vida adulta. Observe-seque, dadas as normas vigentes, um juiz togado, incumbido de funções da mesmacomplexidade, dificilmente arcará com essa tarefa antes dos seus vinte e cinco anos.

O novo art. 437, numa fórmula feliz, acrescenta às hipóteses de isen-ção do serviço do júri, a daqueles “que o requererem, demonstrando justo impedimen-to”. A medida é salutar e a sua amplitude vem ao encontro do que a prática forensedemonstra: quem presta o serviço do júri incomodado por preocupações com outrasatividades relevantes não contribui para a tomada de uma decisão refletida e justa.

É acrescentada a possibilidade de prestar serviço alternativo a quem,por motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, se recusar ao serviço do júri;aos que efetivamente o prestarem, isto é, que compuserem um conselho de sentençanuma sessão de julgamento, atribui-se preferência, em igualdade de condições, “naslicitações públicas” – substituído o termo concorrência concorrência concorrência concorrência concorrência por licitações licitações licitações licitações licitações, mais abrangente-, “e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como noscasos de promoção funcional ou remoção voluntária.” (art. 440).

Para o jurado que, sem justo motivo, deixar de comparecer à sessãode julgamento, ou dela se retirar antes de ser dispensado, está prevista aplicação demulta, agora calculada com base no salário mínimo; a previsão de sanção administrativaexclui a possibilidade de configuração do crime de desobediência. Para a composiçãodo conselho de sentença, a reforma acrescentou a união estável entre os sorteados,assim como a manifestação de “prévia disposição para condenar ou absolver o acusa-do”, ao rol de incompatibilidades com o efetivo serviço do júri.

7. 7. 7. 7. 7. AAAAA sessão de julgamento sessão de julgamento sessão de julgamento sessão de julgamento sessão de julgamento

A reforma desmembrou o que era a seção IV (que tratava dos trabalhosem plenário, previstos nos antigos arts. 442 a 496) do capítulo DOS PROCESSOS DOSCRIMES DA COMPETÊNCIA DO JÚRI, em seis seções (n. X, XI, XII, XIII, XIV e XV).

17 Na verdade, até mesmo antes disso, sendo o voto facultativo a partir dos dezesseis anos.

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O novo art. 455, ao tratar da falta do representante do Ministério Públicoà sessão de julgamento, não repete a alternativa do antigo art. 448, de nomeação de promo-tor ad hoc, medida própria de uma época em que essa instituição não tinha a estrutura atual.Mas mantém a obrigatoriedade de se comunicar a ausência ao Procurador-Geral de Justiçase ela não for justificada. Como bem lembrado por SILVA, na falta do advogado do quere-lante, no caso de ação penal privada por crime conexo, submetido ao júri, a solução serádeclarar extinta a punibilidade do réu, relativamente a esse delito, por força da perempção.18

Inovação importante é a possibilidade (art. 457) de realização do julga-mento mesmo na ausência do réuna ausência do réuna ausência do réuna ausência do réuna ausência do réu, antes viável apenas na hipótese de acusado solto, porcrime afiançável, o que excluía o homicídio, que é o mais freqüente na pauta do júri. Note-seque até mesmo o réu preso, desde que tenha apresentado pedido de dispensa, poderá deixarde comparecer e isso não impedirá o seu julgamento (art. 457, § 2º). Cuida-se de modifica-ção que se mostra em tudo compatível com a amplitude que se vem dando ao direito de todoacusado de não “ser obrigado a depor contra si”, previsto no art. 8º. n. 2, g, do Pacto de S.José da Costa Rica, e repetido na Constituição e no CPP, ao tratarem do direito ao silêncio.A nova disposição do Código de Processo é consentânea com esse princípio na medida emque, se é deferido ao réu o direito de silenciar e, por uma extensão cada dia mais aceita, denada praticar que possa incriminá-lo, fica então a seu critério comparecer ou não à sessão dejulgamento, considerando que, por algum motivo, até mesmo de foro íntimo, pode entenderque isso lhe seja mais conveniente. Salta aos olhos, no entanto, que os jurados, leigos emdireito, devem ser expressamente alertados pelo juiz presidente quanto a não deverem inter-pretar o silêncio ou a ausência do acusado em prejuízo de sua defesa.

O novo art. 472 determina que, após a instalação do conselho de senten-ça, os jurados receberãoreceberãoreceberãoreceberãoreceberão cópias da pronúncia, das decisões equivalentes (p. ex., o acórdãoque determinou o julgamento pelo júri) e do relatório do processo” (v. art. 423, II). Essaobrigatoriedade não havia no texto anterior (antigo art. 466, § 2º), que se referia a essaprovidência apenas onde fosse possívelonde fosse possívelonde fosse possívelonde fosse possívelonde fosse possível.

O texto reformado deu especial importância à instrução em plenárioinstrução em plenárioinstrução em plenárioinstrução em plenárioinstrução em plenário,para o que dedicou uma seção, a de n. XI, começando por estabelecer, no art. 473, que,depois do compromisso dos jurados, “o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, oquerelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações doofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.” O novo dispo-sitivo, que estipula o mesmo critério quanto às testemunhas de defesa, arremata com a dis-cussão sobre a eventual necessidade de ofendido e testemunhas de plenário serem pergunta-dos pelos oradores por intermédio do juiz presidente. Embora o texto anterior não previssetal intermediação (v. antigo art. 467), havia quem estendesse ao caso a fórmula da audiênciaperante o juízo singular. Agora o advérbio diretamentediretamentediretamentediretamentediretamente não deixa dúvida alguma sobrecomo eles devem ser inquiridos. A clareza do dispositivo não impedirá, entretanto, que acu-sação ou defesa prefiram fazer a inquirição por meio de perguntas dirigidas ao juiz presiden-te, que as fará aos inquiridos, providência de que não resultará nulidade desde que nãoprovoque prejuízo para qualquer das partes. É, porém, recomendável ao magistrado que,solicitado a intermediar as perguntas, alerte a parte interessada e consulte a contrária sobre o

18 Op. cit., p. 142.

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direito que tem aquela de inquirir diretamente. No tocante aos jurados, o parágrafo segundodispõe que poderão formular perguntas “por intermédio do juiz presidente.”

O novo texto não contém a previsão de leitura de peçasleitura de peçasleitura de peçasleitura de peçasleitura de peças dos autos peloescrivão (como dispunha o antigo art. 466, § 1º), salvo na hipótese de que se “refiram,exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadasou não repetíveis.”(art. 473, § 3º).

Deve ser entendido que a ressalva representada pelo termo exclusi-exclusi-exclusi-exclusi-exclusi-vamentevamentevamentevamentevamente veda a possibilidade de que se defira a leitura de outras peças processuaisquando pedida pelas partes – que, de resto, poderão lê-las por si próprias no momentodos debates; quanto aos jurados, todavia, tal requerimento pode muito bem ser feito – edeferido pelo juiz presidente – quando significar um pedido de esclarecimento sobrequestões relativas ao julgamento. Embora o novo art. 480 estabeleça que os juradospodem pedir tais esclarecimentos ao orador (caput) e que terão acesso aos autos (§ 3º),figure-se a hipótese de um jurado com alguma dificuldade visual que deseje se informarsobre algo, objeto de uma peça contida nos autos, que prefira, por motivo de confiança,uma leitura feita pelo escrivão. Resta claro que não se poderá seguir com o julgamentocaso ele não seja esclarecido e, se a leitura de uma peça processual, ou várias, for amaneira de esclarecê-lo, não há porque não o fazer. Só que a medida deverá ser tomadana fase própria, que é quando, concluídos os debates, o juiz presidente indagar dosjurados se estão habilitados a julgar (art. 480, § 1º). E se disso resultar prejuízo parauma das partes? Não haverá vício nem nulidade, já que se trata de providência regular elícita, em tais circunstâncias.

8. O réu em plenário. Os debates8. O réu em plenário. Os debates8. O réu em plenário. Os debates8. O réu em plenário. Os debates8. O réu em plenário. Os debates

Uma vez inquiridos o ofendido (se possível) e as testemunhas e resol-vido sobre as demais providências (acareações, reconhecimentos e esclarecimento deperitos) previstas pelo art. 473, § 3º, proceder-se-á ao interrogatóriointerrogatóriointerrogatóriointerrogatóriointerrogatório do réu, se presen-te, na forma do disposto no Capítulo III do Título VII do Livro I, que permanece inalteradopelo “pacote” de reformas. Embora de tal capítulo não o conste expressamente, não hádúvida de que o interrogatório é feito pelo juiz, pelo juiz, pelo juiz, pelo juiz, pelo juiz, o que flui indiretamente de uma análisesistemática e mesmo gramatical das normas nele contidas.19 A acusação e a defesa, nessaordem, querendo também inquirir o réu, o farão diretamente; os jurados formularão as per-guntas por meio do juiz presidente (novo art. 474, caput e §§ 1º e 2º).

O uso de algemasalgemasalgemasalgemasalgemas no acusado, em plenário, é condicionado a casos deabsoluta necessidade, “à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da

19 O assunto merece atenção, que via de regra não se lhe dá, por conta de entendimento que procura vero juiz, no processo penal, como alguém que não deve, de forma alguma, interferir na colheita da provada acusação, especialmente considerando que o interrogatório está inserido, no CPP, no título referen-te às provas. Trata-se de levar às últimas conseqüências o banimento do princípio inquisitivo, emfavor do acusatório, que, pouco a pouco, vai se impondo no processo penal.

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integridade física dos presentes” (art. 474, § 3º). Cuida-se neste último dispositivo de regularo emprego de algemas em plenário, tema que freqüentemente povoa discussões jurídicas eque carece de definição precisa no nosso ordenamento,20 de onde se pode extrair que o seuuso está condicionado a casos de extrema necessidade, nisso inserida a possibilidade “defuga ou de agressão da parte do preso”, como reza o art. 234, § 2º, do Código de ProcessoPenal Militar,21 em dispositivo que principia recomendando que “o emprego de algemas deveser evitado”, e que deve ser supletivamente aplicado ao processo penal da Justiça Comum,estando em perfeita consonância com norma enunciada pelo art. 284 do CPP, a dizer que“não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou detentativa de fuga do preso.” Acrescente-se o teor de súmula vinculante aprovada pela CorteSuprema, em agosto de 2008, no sentido de que

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio defuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do presoou de tercerios, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de res-ponsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e danulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo daresponsabilidade civil do Estado.22

No caso do julgamento em plenário pelo júri é especialmente sensívela questão das algemas, ante a impressão que possivelmente cause na mente dos jurados,que sendo leigos, podem sofrer influência da imagem negativa de um réu algemado,havendo notícia de julgamento do Supremo Tribunal Federal anulando, por esse motivo,processo em que o acusado pemaneceu algemado durante a sessão do júri.

É facultado ao réu, que comparecer para interrogatório em plenário,permanecer caladopermanecer caladopermanecer caladopermanecer caladopermanecer calado, exceto quanto à sua identificação, direito assegurado, dentre ou-tros dispositivos já mencionados, pelo art. 5º, LXIII, da Constituição Federal, que, ali-ás, não recepcionou a parte final do art. 198 do CPP, está a dizer que o silêncio doacusado poderia constituir elemento para a formação do convencimento do juiz. Vale apena conferir o magistério de NUCCI, que, citando a companhia de Ada PellegriniGrinover, Antonio Magalhães Gomes Filho, Adriano Marrey, David Teixeira de Azeve-do, Celso Limongi e outros, caminha na direção de uma produção de prova penal quedispense inteiramente o saber proveniente do imputado:

20 Registre-se a existência de projeto de lei sobre o assunto, no Congresso Nacional. “Entre os casosem que as algemas não poderão ser utilizadas estão aqueles em que o acusado se apresentar esponta-neamente à Justiça ou tiver um estado de saúde frágil. O projeto também proíbe o uso de algemaspara exibição do preso publicamente, numa espécie de pena antecipada da sua condenação”, noticiao Diário do Pará, in http//:www.diariodopara.com.Br, 21/ago./2008, consultado em 31/ago./2008.21 Decreto-lei n. 1002, de 21 de outubro de 1969.22 Cf. http//:www1.folha.uol.com.br, consultado em 31/ago./2008.

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É preciso abstrair, por completo, o silêncio do réu, caso o exerça, porque oprocesso penal deve ter instrumentos suficientes para comprovar a culpa doacusado, sem a menor necessidade de se valer do próprio interessado paracompor o quadro probatório da acusação. Se o Estado ainda não atingiumeios determinantes para tanto, tornando imprescindível ouvir o réu paraforma sua culpa, é porque se encontra em nítido descompasso, que precisaser consertado por outras vias, jamais se podendo exigir que a ineficiênciados órgãos acusatórios seja suprida pela defesa.23

Em seguida ao interrogatório, se houver, passar-se-á à fase dos deba-deba-deba-deba-deba-tes em plenáriotes em plenáriotes em plenáriotes em plenáriotes em plenário, em que a acusação, aí compreendido o eventual assistente, e a defesadisporão de uma hora e meia para sustentar suas teses, além de mais uma hora para aréplica e outra para a tréplica. O texto reformado inova tanto na redução dos prazospara as sustentações iniciais quanto no seu aumento para a réplica e a tréplica. No to-cante a estas, é justificável a elevação do tempo disponível para os oradores, conside-rando que aí trabalharão com os argumentos da parte contrária, expostos nas sustenta-ções iniciais, podendo para isso haver mesmo necessidade de lapso maior que a anteriormeia hora do antigo art. 474.

A acusação, na falta do libelo, deverá limitar seu pedido aos termosda decisão de pronúncia, podendo ainda, se for o caso, sustentar a existência de algumacircunstância agravante, dispensado, quanto a esta, o seu reconhecimento na pronúncia– daí a expressa menção a ela, ao tratar dos debates, feita pelo novo art. 476.

Limitando a ação das partes nos debates, o art. 478, com a redaçãoda reforma, as proíbe, sob pena de nulidade, de fazer referências à decisão de pronún-cia, ao uso de algemas e ao silêncio do acusado. O dispositivo é de constitucionalidadeduvidosa, uma vez que procura se imiscuir na estratégia de sustentação das teses pelaspartes, assim lhes cerceando a plenitude do direito de argumentar. O não permitido é ojúri considerar, como razão de decidir, os fundamentos da decisão de pronúncia, o em-prego de algemas ou o silêncio do réu – e não o exercício da plena argumentação pelosoradores.

A leitura de documento ou a exibição de objeto em plenário está con-dicionada a que tenham sido juntados aos autosjuntados aos autosjuntados aos autosjuntados aos autosjuntados aos autos, com ciência à parte contrária, nãobastando apenas essa comunicação, como previa o revogado art. 475. A antecedênciada juntada é de três dias úteisúteisúteisúteisúteis (novo art. 479).

23 Código..., 2004, p. 379.

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9. O questionário9. O questionário9. O questionário9. O questionário9. O questionário

Terminados os debates e esclarecidos os jurados segundo sua neces-sidade, o juiz presidente elaborará o questionárioquestionárioquestionárioquestionárioquestionário que lhes será submetido para julga-mento do réu. Nessa elaboração levará em conta “os termos da pronúncia [...], do inter-rogatório e das alegações das partes” (art. 482). O novo texto deixa clara aobrigatoriedade de incluir no questionário a tese eventualmente formulada pelo réu,no interrogatório, que pode até mesmo não coincidir com as apresentadas pelo seudefensor durante os debates. Depreende-se que não haverá quesitação a respeito decircunstâncias atenuantes ou agravantes. Estas, desde que alegadas nos debates,serão consideradas pelo juiz presidente, ao proferir sentença condenatória, comopreceitua o novo art. 492, b. Importa notar que desapareceu a obrigatoriedade dequesito específico sobre atenuantes não sustentadas pelas partes, como anterior-mente previsto no que era o art. 484, parágrafo único, III.

Segundo dispõe o novo art. 483, a ordem do questionárioordem do questionárioordem do questionárioordem do questionárioordem do questionário será aindagação sobre: a materialidade do fato, a autoria ou participação, a tentativa ou atipificação do delito, a desclassificação do crime para outro da competência do juízosingular, a absolvição do acusado, a existência de causa de diminuição de pena e aexistência de qualificadora ou causa de aumento de pena.

Vê-se que a indagação acerca da materialidade agora expressamenteantecede a da autoria, provocando certa dúvida acerca da localização do tema referenteà relação de causalidaderelação de causalidaderelação de causalidaderelação de causalidaderelação de causalidade. Isso porque, no sistema anterior, o primeiro quesito normal-mente perguntava sobre autoria eeeee materialidade (O réu [...], desferiu golpes [...], pro-duzindo os ferimentos descritos [...]?); o segundo indagava da relação de causalidade(Esses ferimentos deram causa à morte da vítima?). Agora a primeira pergunta devereferir-se à materialidade e a segunda à autoria (ou participação). Na fórmula sugeridapor ARRUDA e MARIANO DA SILVA,24 um questionário de homicídio consumadoficaria assim: 1 - Os ferimentos descritos no laudo [...] foram a causa da morte davítima [...]?; 2 – O acusado [...], no dia [...], na Rua [...], nesta Comarca de [...],efetuou disparos [...] contra a vítima, causando-lhe esses ferimentos? Já se vê que,nessa hipótese, a análise da relação causal fica situada no primeiro quesito, onde ojurado deverá também analisar a efetiva existência do fato, vale dizer, dos ferimentos.Caso ele deseje negar tal existência, ou simplesmente a relação de causalidade entre osferimentos e a morte da vítima, deverá responder negativamente ao quesito. A aprecia-ção da causalidade ficou, dessa forma, acoplada à da existência material do fato.

No que se refere ao eventual quesito sobre a desclassificaçãodesclassificaçãodesclassificaçãodesclassificaçãodesclassificação do delito,chama a atenção que possa ser formulado “para ser respondido após o segundo ou tercei-após o segundo ou tercei-após o segundo ou tercei-após o segundo ou tercei-após o segundo ou tercei-ro quesitoro quesitoro quesitoro quesitoro quesito,25 conforme o caso” (novo art. 483, § 4º). É que, se o júri for indagado se absolveo réu (terceiro quesito) e responder afirmativamente, sem antes ter sido questionado sobre adesclassificação, cuja possibilidade surgiu da análise dos autos, poderá estar julgando umcrime para o qual lhe falta competência. Mais correto seria indagar sobre a desclassificação

24 Cf. consta de Questionário no julgamento pelo júri. www.apmp.com.br, consultado em 18/ago./2008.25Grifo do autor.

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após o segundo quesito, concluindo-se a votação se os jurados reconhecessem a competên-cia do juízo singular, visto que não podem absolver nem condenar o agente de um crime quenão seja doloso contra a vida, valendo lembrar que permanece em vigor o art. 74, § 2º, doCPP, que preceitua: “Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação parainfração da competência de outro, a este será remetido o processo [...]”.

A hipótese desse art. 483, § 4º, é aquela em que fica reconhecida a in-competência do júri para o julgamento da causa. Comentando os dispositivos anteriores doCPP, MARQUES PORTO, com acerto, sustenta a inclusão do quesito sobre a desclassifi-cação logo depois dos dois quesitos iniciais, que eram – e continuam sendo – os relativos àautoria e à materialidade do fato. Assim é que, exemplificando com a possibilidade de deci-são desclassificatória (imprópria) para homicídio culposo, leciona:

Se, por exemplo, o réu está pronunciado por prática de homicídio consu-mado, simples ou qualificado, e a defesa em Plenário alega ter agidoculposamente (art. 18, II, do CP), estará motivando a inclusão no questio-nário do quesito indagador de homicídio culposo, que será o terceiro [...].26

É o mesmo autor que, considerando a hipótese de resposta afirma-tiva ao quesito sobre a desclassificação, arremata que no caso desta, “[...] sendooperada pelos jurados, a sentença que decidirá sobre a nova classificação penal seráproferida pelo Juiz Presidente [...].”27

Sem embargo dessas considerações, entende-se o que pretendeu olegislador da reforma processual nesse ponto: que o júri, mesmo na perspectiva deuma desclassificação que afaste a sua competência para julgar, tenha antes a possi-bilidade de deliberar sobre a absolvição do réu. Assim é que poderão fazê-lo se lhesfor primeiramente submetida à votação a pergunta O jurado absolve o acusado? Éimportante, contudo, frisar que a indagação sobre a desclassificação somente pode-rá ser feita após esse quesito (o da absolvição), desde que negado, quando a tesequando a tesequando a tesequando a tesequando a tesedesclassificatória não for a única tese da defesadesclassificatória não for a única tese da defesadesclassificatória não for a única tese da defesadesclassificatória não for a única tese da defesadesclassificatória não for a única tese da defesa. Ou seja, ante a perspectiva deuma absolvição, pedida em plenário, e, subsidiariamente, de uma desclassificação,os jurados apreciarão primeiro a tese absolutória. Mas para isso é bom ter presenteque a desclassificação deve surgir como uma tese secundária, tendo a defesa susten-tado, como postulação principal, o pedido de absolvição. No caso de ser a desclas-sificação a única tese defensiva, a votação do respectivo quesito deverá obrigatori-amente ocorrer logo após a afirmação, pelo júri, dos dois quesitos iniciais, referen-tes à materialidade e autoria. Esse é o sentido da expressão conforme o caso,conforme o caso,conforme o caso,conforme o caso,conforme o caso, con-tida no novo art. 483, § 4º. Assim também é o magistério de ARRUDA e MARIANODA SILVA.28

26 Júri, 2005, p. 136.27 bidem, p. 68.28 Op. Cit.

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Elaborados os quesitos, o juiz presidente cuidará de explicá-los aos jura-dos, ainda em plenário, e indagará as partes acerca de possíveis requerimentos ou reclama-ções, em seguida convidando os acusadores, defensores, o escrivão, o oficial de justiça e osjurados a se dirigirem à sala especial de votação, conhecida como sala secretasala secretasala secretasala secretasala secreta, onde ad-vertirá as partes da impossibilidade de intervenção capaz de perturbar a livre manifestaçãodo conselho de sentença (novos arts. 484 e 485).

10. 10. 10. 10. 10. AAAAA votação votação votação votação votação

As regras gerais sobre a preparação das cédulas e a colheita dosvotos foram mantidas e, assegurada a incomunicabilidade entre os jurados, proce-der-se-á à votaçãovotaçãovotaçãovotaçãovotação do questionário. Como visto, a reforma processual inova aoreduzir a quesitação de todas as possíveis teses defensivas, em busca da absolviçãoabsolviçãoabsolviçãoabsolviçãoabsolvição,a um quesito únicoquesito únicoquesito únicoquesito únicoquesito único, situado após a indagação quanto à materialidade e autoria, seestes forem respondidos afirmativamente. Trata-se de dispositivo que evidentemen-te procura simplificar o procedimento e que amplia as possibilidades dos jurados emfavor do réu, já que, sem motivar sua decisão, podem optar pela absolvição porrazões diversas uns dos outros.

Essa possibilidade significa que um acusado, cuja defesa alegouduas ou três teses absolutórias, poderá ser absolvido por minoriaminoriaminoriaminoriaminoria de votos quantoà escolha da tese pelos jurados. Se o seu defensor, por exemplo, sustentou umalegítima defesa e, alternativamente, a inexigibilidade de conduta diversa, dois jura-dos podem reconhecer a primeira tese e dois outros preferir a segunda, todos elesabsolvendo, enquanto haverá talvez três jurados que decidiriam pela condenação. Oréu será absolvido, mas seus juízes terão tido motivos diferentes para fazê-lo, o queproduz um resultado questionável, já que a decisão deve ser tomada sempre pormaioria de votos (novo art. 489). Além disso, muita dificuldade terão as partes, nahipótese de uma decisão desfavorável da qual desejem apelar, alegando ter sidomanifestamente contrária à prova dos autos (art. 593, III, d, não modificado), emargumentar contra a deliberação dos jurados, se não sabem com base em que teseestes decidiram. Igual dificuldade terão os tribunais no julgamento desses recursos.

Ante o disposto no § 3º do novo art. 483 (“decidindo os juradospela condenação [...]”), entende-se que a resposta negativa ao quesito indagador daabsolvição representa obrigatoriamente a condenação do réu. Embora esta não devanecessariamente ocorrer nos termos da pronúncia ou da tese sustentada em plenáriopela acusação, se há de entender que uma condenação deverá sobrevir. Assim, nahipótese de o júri afirmar o quesito referente à desclassificação do crime para outrode competência do juízo singular, depois de ter negado o quesito da absolvição (jáque o § 4º manda votar a desclassificação após o segundo ou o terceiro quesito,“conforme o caso”), o magistrado cuja competência foi fixada não poderádesconsiderar a afirmação dos quesitos sobre materialidade e autoria, nem deixarnem deixarnem deixarnem deixarnem deixarde condenar o acusadode condenar o acusadode condenar o acusadode condenar o acusadode condenar o acusado, ainda que vislumbrando causa para isso, submetida ou nãoà apreciação dos jurados. Tratar-se-ia de solução estranha e aparentemente incom-patível com o princípio da livre convicção do juiz.

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Outro ponto em que o novo texto (art. 483, § 1º) merece atenção é aque-le em que se determina o encerramentoencerramentoencerramentoencerramentoencerramento da votação ante a resposta negativa de mais de trêsjurados ao primeiro ou ao segundo quesitos (materialidade e autoria). O dispositivo parecesinalizar com o encerramento da colheita dos votos diante do surgimento do quarto votonegando uma dessas indagações. Assim entendido, o juiz presidente nem colheria do recep-táculo os votos restantes; ou, colhendo-os – o que parece lhe ser determinado pelos novosarts. 487 e 488, segundo os quais os votos não utilizados também devem ser depositados emoutro receptáculo e conferidos, do mesmo modo que os votos dados -, não os divulgarianem faria constar da ata o seu teor. Cuida-se de possibilidade que viria ao encontro de certacorrente doutrinária que advoga o fim da contagem dos votosfim da contagem dos votosfim da contagem dos votosfim da contagem dos votosfim da contagem dos votos quando uma ou outra res-posta alcançar o número de quatro, medida que viria garantir o sigilo da votação, previsto naConstituição. Assim,

[...] para que se possa, realmente, assegurar o sigilo da votação, mister se fazque a contagem dos votos cesse no quarto voto sim, ou no quarto voto não,conforme o caso, pois na medida em que o juiz presidente do júri permite quesejam retirados todos os (sete) votos da urna é possível, como ocorre, quehaja unanimidade de votos e, nesse caso, não será difícil adivinhar quemcondenou (ou absolveu) o réu. Logo, por terra foi a garantia constitucionaldo sigilo dos votos.29

Lógico que, a vingar esse ponto de vista, haveria para as partes umproblema na fundamentação de seus recursos contra a decisão: não poderiam argu-mentar com a quantidade de votos em favor de uma tese ou de outra, o que é sem-pre um elemento de convicção importante quando se trata de sustentar ou atacaruma decisão do júri.

Enfim, do resultado do julgamento será, pelo escrivão, lavrado umtermo, que deverá ser assinado pelo juiz presidente, pelos jurados e – eis a novidade doart. 491 – também pelas partes.

111111. 1. 1. 1. 1. AAAAA sentença e as atribuições do juiz presidente sentença e as atribuições do juiz presidente sentença e as atribuições do juiz presidente sentença e as atribuições do juiz presidente sentença e as atribuições do juiz presidente

A seguir o juiz presidente proferirá sentençasentençasentençasentençasentença. Esta será absolutóriaabsolutóriaabsolutóriaabsolutóriaabsolutória quan-do os jurados negarem o quesito indagador da materialidade ou da autoria, ou quando afir-marem o quesito referente à absolvição. Negado este último, será forçosamente condenatóriacondenatóriacondenatóriacondenatóriacondenatória,conformando-se ao resultado das votações que forem sendo feitas de acordo com as tesessustentadas, sempre respeitado o limite da pronúncia. O juiz dosará a penapenapenapenapena obedecendo aocritério trifásico, na forma do art. 68 do Código Penal, fixando primeiro a pena-base, para oque seguirá a fórmula do art. 59, também do Código Penal, depois promovendo aumentosou reduções correspondentes a circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos deba-

29 RANGEL, 2007, p. 88, apud ARAÚJO, 2007, p. 119.

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tes, e, por último, estabelecendo a quantidade de aumento ou diminuição, referentes às cau-sas que as imponham, se reconhecidas na votação pelo júri. Na hipótese de desclassificaçãopara crime da competência do juízo singular, o magistrado, seja ele o presidente do júri ououtro, resolverá sobre as causas de redução ou de aumento, estando porém adstrito aoreconhecimento da materialidade e autoria e à obrigação de condenar, como visto.

Deverá também o juiz estabelecer “os efeitos genéricos e específicosda condenação”, que são aqueles previstos pelos arts. 91 e 92 do Código Penal, entreos quais, por exemplo, “a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” e “a inca-pacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujei-tos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado”. Acontece quealguns deles, os tratados pelo art. 91, são automáticos, não sendo preciso que o juiz osdeclare; outros, os do art. 92, não sendo automáticos – como verte do seu parágrafoúnico – aí sim, devem ser objeto de expressa declaração na sentença condenatória.Numa interpretação sistemática dos dispositivos do Código Penal e do novo art. 492 doCódigo de Processo Penal, se conclui que, também no caso do júri, somente os efeitosnão automáticos precisam ser estabelecidos pelo juiz. Sem embargo disso, a redaçãodada à alínea d do inciso I do art. 492, mandando observar “as demais disposições doart. 387”, pode significar a necessidade de fixação “de valor mínimo para reparação dosdanos causados pela infração”, como previsto neste último dispositivo. Cuida-se doprimeiro passo para concretizar a reparação do dano reparação do dano reparação do dano reparação do dano reparação do dano a que alude o citado art. 91 doCódigo Penal, mas, desde que o valor fixado representa apenas o mínimo, essa fixação,como adverte SILVA, se dá “sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetiva-mente sofrido.”30

Haverá igualmente o juiz de deliberar sobre a prisão processual even-tualmente em curso, mantendo-a se presentes os requisitos da prisão preventiva; obser-vando os mesmos requisitos, decretará, se for o caso, a prisão do réu que estiver solto.Os parâmetros a serem seguidos são os mesmos da fase da pronúncia. O magistradoainda estará incumbido de, no caso de desclassificação do delito para outro, considera-do de menor potencial ofensivo, aplicar o disposto nos art. 69 e seguintes da Lei n.9099/95, que tratam da fase preliminar do procedimento cabível no caso dessa espéciede infrações. Ficam naturalmente excluídas as hipóteses em que a Lei n. 9099/95 sejainaplicável, em virtude de vedação expressa, contida em normas específicas. Segundolembrado por SILVA, o art. 41 da Lei n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha) e o art. 291, §1º, do Código de Trânsito, excluem do âmbito da Lei dos Juizados Especiais casos deviolência contra a mulher e de lesão corporal culposa quando o agente estiver sob influ-ência do álcool, participando de “racha”, ou em excesso de velocidade superior em 50km/h à máxima permitida na via.31

Da sentença caberá apelação, a ser interposta no prazo de cinco dias acontar da data em que, no final da sessão de julgamento, for lida em plenário (novo art.493), considerando que, nesse caso, as partes dela já saem intimadas. É preciso nãoesquecer que, por força do art. 4º da Lei n. 11.689/08 – que reforma o procedimento dojúri – está revogado o Capítulo IV do Título II do Livro III do Código de Processo Penal, o

30 Reforma..., 2008, p. 30.31 Ibidem, p. 178.

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que quer dizer que não mais existe o protesto por novo júriprotesto por novo júriprotesto por novo júriprotesto por novo júriprotesto por novo júri, recurso privativo da defesa,que era cabível quando a sentença do juiz presidente impusesse ao acusado pena igual ousuperior a vinte anos.

Da sessão de julgamento se lavrará uma ata, que deverá descrever asocorrências, inclusive os fundamentos das alegações das partesfundamentos das alegações das partesfundamentos das alegações das partesfundamentos das alegações das partesfundamentos das alegações das partes, sendo nisto o art.495, XIV, em sua nova redação, mais específico do que o anterior, que só mandavamencionar “os debates orais”. A ata será assinada pelo juiz presidente e “pelas partes”,numa fórmula mais ampla com que o novo art. 494 substitui o anteriormente vigente,que só exigia a assinatura do juiz e do representante do Ministério Público.

Por último, dentre as atribuições do juiz presidente do júri a reformaincluiu a de “dirigir os debates, intervindo [...] mediante requerimento de uma das par-tes”, e a de “regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quandoa outra estiver, com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparterequerido, que serão acrescidos ao tempo desta última” (art. 497, III e XII). Trata-se deevidente exagero toda essa regulamentação, afigurando-se muito melhor a fórmula an-tiga regular os debatesregular os debatesregular os debatesregular os debatesregular os debates, prevista no anterior art. 497, III. As partes devem gozar deampla liberdade para sustentar suas teses e os apartes fazem parte do exercício dessedireito, não devendo o juiz presidente cerceá-lo de maneira alguma. Claro que devecoibir os eventuais excessos, mas para isso bastaria ao novo texto manter o dispositivoanterior, já que as providências para tal fim estão naturalmente compreendidas na atri-buição de regular os debates. Mas dirigi-losdirigi-losdirigi-losdirigi-losdirigi-los, neles intervirintervirintervirintervirintervir, ainda mais a pedido de umadas partes, regulamentarregulamentarregulamentarregulamentarregulamentar os apartes, concedendo prazoprazoprazoprazoprazo para eles, tudo isso representainadequada e possivelmente nociva atuação judicial em prejuízo do pleno exercício dosdireitos de defesa e de acusação.

ConclusãoConclusãoConclusãoConclusãoConclusão

O texto com que o “pacote” de reformas processuais penais passa adisciplinar o rito do júri traduz uma clara disposição em simplificar esse procedimento,assim como lhe conferir maior celeridade e privilegiar a oralidade dos trabalhos. Ocorreque nem sempre as leis correspondem às intenções de seus autores, por melhores quesejam. Apontar as falhas, que inviabilizam o alcance desses objetivos, que, de igualmodo, colidem com outros dispositivos e princípios da nossa ordem jurídica e que aindacriam perplexidade no momento de sua aplicação concreta, é serviço que o jurista pres-ta à necessária harmonização do direito posto com a realidade.

O que se pode notar é que houve alguma simplificação do procedi-mento, do que são exemplo o fim do libelo e a revogação do capítulo referente aoprotesto por novo júri. Em outros casos, à intenção de solucionar problemas nãoparece ter correspondido uma solução viável, como sucede com a audiência da fasedo judicium accusationis, que dificilmente se concretizará da forma e nos prazosdesejados pelo legislador.

A reforma deixa, ainda, perplexidades ao intérprete, como se verifica,dentre outras, na questão da subsistência ou não do recurso de ofício da sentença deabsolvição sumária, assim como na da votação do quesito referente à desclassificação do

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crime para outro da competência do juízo singular, ou ainda na relacionada aos poderes dojuiz presidente durante a sessão de julgamento.

Importa salientar, por fim, que a reforma felizmente procura trazer ao pro-cedimento do júri a aplicação mais concreta de diretrizes processuais relevantes,como o princípio da oralidade, do processo acusatório e o respeito ao direito de não seauto-incriminar, conquistas inalienáveis da civilização.

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O PRO PRO PRO PRO PROOOOOTESTTESTTESTTESTTESTO POR NOO POR NOO POR NOO POR NOO POR NOVVVVVOOOOO

JÚRI E SUJÚRI E SUJÚRI E SUJÚRI E SUJÚRI E SUA MANUTENÇÃOA MANUTENÇÃOA MANUTENÇÃOA MANUTENÇÃOA MANUTENÇÃO

PPPPPARA OS CRIMESARA OS CRIMESARA OS CRIMESARA OS CRIMESARA OS CRIMES

PERPETRADOS PERPETRADOS PERPETRADOS PERPETRADOS PERPETRADOS ANTES DANTES DANTES DANTES DANTES DAAAAA

ENTRADENTRADENTRADENTRADENTRADA EM A EM A EM A EM A EM VIGOR DVIGOR DVIGOR DVIGOR DVIGOR DAAAAA

REFORMA DO JÚRIREFORMA DO JÚRIREFORMA DO JÚRIREFORMA DO JÚRIREFORMA DO JÚRI

ROGÉRIO SANCHES CUNHAPromotor de Justiça no Estado de São Paulo

RONALDO BATISTA PINTOPromotor de Justiça no Estado de São PauloMestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista(UNESP)

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Dentre as diversas alterações trazidas pela Lei n° 11.689, de 09 dejunho de 2008, que inovou a disciplina do Júri em nosso procedimento, destaca-se aque-la que extingue o protesto por novo júri. Tratava-se, como é sabido, de recurso exclusi-vo da defesa cujo objetivo era propiciar a realização de um novo julgamento quando apena imposta, decorrente da condenação pelo Júri, fosse igual ou superior a 20 anos. Adoutrina, de forma quase unânime, apontava os inconvenientes deste recurso, só justifi-cável ao tempo de sua concepção, que remontava ao Código de Processo do Império,que previa penas graves como de degredo, desterro, galés ou morte. Demais disso,servia apenas para retardar a prestação jurisdicional, conferindo ao réu a oportunidadede mais um julgamento com base, única e exclusivamente, na pena imposta. Não rarasvezes, ainda, o cotidiano forense surpreendia a todos com situações inusitadas, nasquais juizes aplicavam penas de 19 e alguns meses com o único objetivo de inibir aoposição do mencionado recurso.

Ressalte-se, contudo, que para os crimes perpetrados antes da en-trada em vigor da lei, a possibilidade do manejo desse recurso fica mantida. Éclaro: trata-se de medida benéfica ao réu posto que vê ampliada sua possibilidaderecursal. De tal sorte que, condenado a pena igual ou superior a 20 anos, pela práticade um crime cometido à época em que ainda existia o protesto - e desde quepreenchidos os requisitos legais elencados nos arts. 607 e 608 do CPP - deve seradmitido o recurso. Como ressalta Tourinho Filho, “se a lei processual penal novacoarcta a Defesa, suprimindo-lhe, por exemplo, recurso, proibindo-lhe esta ou aquelaprova, obstaculizando, enfim, aquela ampla defesa a que se refere a Lei das Leis, éóbvio que tal norma não poderá ter aplicação. Não pelo fato de ser mais severa, queseria irrelevante, mas pela circunstância de ser supinamente inconstitucional” (1)Processo penal, Saraiva: São Paulo, 26ª. ed., 2004, vol. I, p. 113.

A discussão poderia remeter, desde logo, aquilo que na doutrina sedenomina norma mista (ou norma processual material), assim considerado o dispositivoque, embora produzido em um contexto processual, abriga norma de natureza diversa,de cunho penal. Nesse caso, prevalece o entendimento de que não incide o disposto noart. 2° do CPP, a impor a imediata aplicação da lei processual, devendo-se, antes, seanalisar se a navatio legis é prejudicial ao acusado, por conta do princípio constitucio-nal que veda a retroação da lei penal prejudicial ao réu (art. 5°, XL da CF). Lembre-sedo debate que se estabeleceu quando do advento da Lei n° 9.271/96, que, dando novaredação ao art. 366 do CPP, determinou a suspensão do processo e do curso prescricionalquando o réu, citado por edital, deixar de comparecer e, tampouco, constituir advoga-do. Evidente, neste caso, a natureza mista da inovação, pois, de um lado, contém dispo-sições de caráter processual, de cunho adjetivo (citação por edital e suspensão do pro-cesso), e, de outro, um conteúdo marcantemente penal, de natureza substantiva, quandotrata da suspensão do curso prescricional.

O PROTESTO PROTESTO PROTESTO PROTESTO PROTESTO POR NOVO JÚRI E SUAO POR NOVO JÚRI E SUAO POR NOVO JÚRI E SUAO POR NOVO JÚRI E SUAO POR NOVO JÚRI E SUA MANUTENÇÃO P MANUTENÇÃO P MANUTENÇÃO P MANUTENÇÃO P MANUTENÇÃO PARAARAARAARAARAOS CRIMES PERPETRADOS OS CRIMES PERPETRADOS OS CRIMES PERPETRADOS OS CRIMES PERPETRADOS OS CRIMES PERPETRADOS ANTES DAANTES DAANTES DAANTES DAANTES DA ENTRADA ENTRADA ENTRADA ENTRADA ENTRADA EM EM EM EM EM

VIGOR DA REFORMA DO JÚRIVIGOR DA REFORMA DO JÚRIVIGOR DA REFORMA DO JÚRIVIGOR DA REFORMA DO JÚRIVIGOR DA REFORMA DO JÚRI

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Parece-nos, no entanto, que o foco deva ser um pouco diverso, na medi-da em que a inovação em estudo não trata, exatamente, de uma norma mista. Ao contrário,ao suprimir um recurso, sua índole assume um caráter exclusivamente processual, semqualquer reflexo no âmbito penal. Por isso, o enfrentamento da questão deve mesmo seranalisado à luz da Constituição e dos princípios da ampla defesa e do duplo grau de jurisdição.

Poderia o legislador, é verdade, a fim de evitar a enorme polêmicaque, seguramente, se instalará a respeito do tema, ter excepcionado no texto legal,de forma clara, a ultratividade da lei processual penal anterior, mais benéfica. Assimo fez, por exemplo, o legislador da Lei de Introdução do Código de Processo Penal(Decreto-lei n° 3.689/41), que, em seu art. 2°, determinou que em relação à prisãopreventiva e à fiança, “aplicar-se-ão os dispositivos que forem mais favoráveis” aoréu, independentemente do tratamento dado às matérias pelo Código de ProcessoPenal que acabava de entrar em vigor. Tal omissão, contudo, verificada na novadisciplina do Júri, não deve levar à conclusão, segundo pensamos, no sentido deque o protesto por novo júri, com a entrada em vigor da nova lei, acha-seautomaticamente extinto.

Com efeito, ao Supremo Tribunal Federal calhou julgar Ação Di-reta de Inconstitucionalidade, manejada pelo Conselho Federal da OAB (2), tendocomo alvo o disposto no art. 90 da Lei n° 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais),ao determinar que “as disposições desta Lei não se aplicam aos processos penaiscuja instrução já estiver iniciada”. Se alegou ofensa ao 5°, XL da Constituição Fe-deral, ao assegurar que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Orelator, Ministro Joaquim Barbosa, ressaltando a natureza mista da Lei n° 9.099/95,decidiu no sentido de que os dispositivos inovadores dos Juizados, naquilo queforem benéficos ao acusado, devem retroagir, pouco importando, nesse caso, se ainstrução criminal já se encontrava em curso, como quis o legislador. Para tanto,invocou o julgamento da Questão de Ordem no Inquérito Policial n° 1.055, no qualfoi relator o Ministro Celso de Mello, e que tratou exatamente da mesma questão,quando Sua Excelência consignou: “As prescrições que consagram as medidasdespenalizadoras, em causa qualificam-se como normas penais benéficas, necessari-amente impulsionadas, quanto à sua aplicabilidade, pelo princípio constitucionalque impõe a lex mitior uma insuprimível carga de retroatividade virtual e, também,de incidência imediata”. A ADIn, por isso, foi julgada parcialmente procedente, afim de que, dando-se interpretação conforme ao art. 90 da Lei n° 9.099/95, excluirda abrangência deste dispositivo “as normas de direito penal mais favoráveis ao réucontidas nessa lei”. Nesse caso – insistimos – embora a lei expressamente tivesseafastado a incidência dos Juizados para os processos cuja instrução já estivesseiniciada, a mais alta Corte do país afastou esse dispositivo, para que as medidasdespenalizadoras atingissem todo e qualquer processo, independentemente do está-gio em que se encontrava.

Lembremos dois exemplos um tanto mais antigos. É sabido que os crimescontra a economia popular e os crimes de imprensa, tiveram seus julgamentos afetos ao Júripopular. Com o advento do Decreto-lei n° 2/66, foi extinto o Júri para aqueles primeirosdelitos. Em relação aos crimes de imprensa, a Lei n° 5.250/67, não mais previu a competên-cia do Júri para seu julgamento. Suponha-se (há notícia de condenações no Júri pela prática

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de crimes de imprensa – 3), que um réu tenha sido condenado, perante o Júri, por umdesses delitos e que, nesse meio tempo, tenha sido extinta a competência do Tribu-nal popular para o julgamento do feito. Imagine-se, mais, que o réu, condenado,interpusesse apelação ao Tribunal, argumentando que ocorreu nulidade posterior àpronúncia (art. 593, III, a do CPP). Não teria cabimento se negar ao condenado odireito a um segundo julgamento, ainda perante o plenário, sob o fundamento deque, extinta a competência do Júri, também restaria prejudicado o segundo julga-mento. Ora, se o crime foi perpetrado ao tempo em que vigorava a competência doTribunal popular, irrelevante sua posterior extinção, devendo ser preservado, nessecaso, o direito de defesa do réu que, por isso, merece um segundo julgamento.

Haverá quem provoque, face aos argumentos elencados, que consti-tui então verdadeira letra morta o disposto no art. 2° do CPP, ao determinar a imediataincidência da norma processual, em atenção ao princípio do tempus regit actum. Não ébem assim. Identificada uma norma de natureza exclusivamente processual e, em umsegundo momento, constatando-se que sua adoção, de imediato, não acarreta qualquerprejuízo ao acusado, ela terá eficácia desde logo. A própria reforma do Júri em estudotraz elucidativo exemplo. Com efeito, foi extinto o libelo-crime acusatório, que possuíaum objetivo unicamente processual (diga-se, desnecessário), consistente em resumir oconteúdo da acusação que seria manejada em plenário, atento ao teor da sentença depronúncia. Pois bem. O libelo, de natureza, insiste-se, processual, e sua conseqüenteextinção, não acarreta, nem de longe, qualquer espécie de prejuízo ao acusado. A sen-tença de pronúncia, destarte, passa a exercer a mesma função antes reservada ao libellum.Dessa forma, com a entrada em vigor da reforma do Júri, está extinto o libelo, poucoimportando, nesse caso específico, se o delito atribuído ao acusado foi perpetrado ante-riormente à novatio legis. Isso em virtude da conjugação de dois elementos que torna-mos a ressaltar: a natureza unicamente processual do libelo e a impossibilidade de secogitar qualquer espécie de prejuízo ao acusado com sua extinção.

É a doutrina que já se forma a respeito do tema, conforme se observade lúcido artigo da lavra de Rômulo de Andrade Moreira, intitulado “O fim do protestopor novo júri e a questão do direito intertemporal”. Nele o autor baiano conclui que,efetivamente, para os delitos perpetrados antes da entrada em vigor da reforma, deve-sepreservar a possibilidade de oposição do protesto por novo júri em prol dos réus queatenderem os pressupostos autorizadores desse recurso. Sua conclusão é forte na estei-ra do ensinamento de Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, para quem “se anorma processual contém dispositivo que, de alguma forma, limita direitos fundamen-tais do cidadão, materialmente assegurados, já não se pode defini-la como norma pura-mente processual, mas como norma processual com conteúdo material ou norma mista.Sendo assim, a ela se aplica a regra de direito intertemporal penal e não processual”.

Insistimos no tema em face de sua relevância. Sem embargo do dis-posto no art. 2° do CPP que, em adoção ao princípio do tempus regit actum, determinaa aplicação da lei processual de imediato e mesmo se reconhecendo, sem sombra dedúvida, que a matéria referente a recurso (no caso o protesto por novo júri), tem caráterexclusivamente processual, não há como se impedir que, para os crimes perpetradosantes da entrada em vigor da nova disciplina do Júri, possam seus autores, caso conde-nados a penas iguais ou superiores a 20 anos, se valer do mencionado recurso. Pensar-

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se de forma diversa implicaria em restringir o direito de recurso do réu (recurso que,aliás, neste caso é exclusivo do réu), em afronta à ampla defesa e ao duplo grau dejurisdição, previstos na Constituição de forma expressa (no primeiro caso), e comoconseqüência de uma análise sistemática (na segunda hipótese). Eventual omissão dolegislador, que não excepcionou a ultratividade da lei processual penal anterior, maisbenéfica, não deve levar à conclusão, segundo pensamos, no sentido de que o protestopor novo júri, com a entrada em vigor da nova lei, acha-se automaticamente extinto.Não mais subsistirá – insistimos – para os crimes perpetrados em data posterior à vi-gência da lei. Mas para os delitos cometidos anteriormente, deve-se garantir, ao seuautor, o direito ao mencionado recurso, desde que, evidentemente, preenchidos osrequisitos e pressupostos que o autorizam.

NotasNotasNotasNotasNotas

1) TTTTTOURINHO, FilhoOURINHO, FilhoOURINHO, FilhoOURINHO, FilhoOURINHO, Filho. Processo penal, Saraiva: São Paulo, 26ª. ed.,2004, vol. I, p. 113).

2) ADIn n° 1.719-DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 18.06.2007.3) Revista Forense 117/568, 118/558; Arquivo Judiciário 100/2007.4) MOREIRA, Rômulo de MOREIRA, Rômulo de MOREIRA, Rômulo de MOREIRA, Rômulo de MOREIRA, Rômulo de AndradeAndradeAndradeAndradeAndrade. Publicado no sítio

www.jusnavigandi.com.br, acessado em 14.06.2008.

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ALALALALALTERAÇÕESTERAÇÕESTERAÇÕESTERAÇÕESTERAÇÕESNONONONONO

RITRITRITRITRITO DO JÚRIO DO JÚRIO DO JÚRIO DO JÚRIO DO JÚRI

WALFREDO CUNHA CAMPOS7º Promotor de Justiça do IV Tribunal do Júri da Capital

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IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

Com o advento da Lei 11.689, de 9 de junho de 2008, que alteroucompletamente o rito do júri, uma multifária gama de dificuldades surgiram, tolhen-do, especialmente, as funções do Ministério Público. Contra essa Instituição, espe-cialmente, foram erigidas restrições autoritárias inéditas no nosso ordenamento ju-rídico, com a nítida intenção de privilegiar, em demasia, os interesses da defesa e doréu, em detrimento dos interesses sociais encarnados pelo parquet. Comentaremosalguns dos grandes defeitos dessa lei obtusa, sem técnica nem lógica, olimpicamen-te ignoradora da realidade nacional.

TTTTTempo dos debatesempo dos debatesempo dos debatesempo dos debatesempo dos debates

O tempo destinado à acusação e à defesa passou a ser de uma hora emeia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica (art. 477 doCPP). Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e à defesa será de duashoras e meia para a acusação e a defesa; a réplica e a tréplica serão de duas horas (art.477, parágrafo 2º, do CPP).

Sem dúvida alguma, essa foi a pior de todas as modificações da Lei 11.689,de 9 de junho de 2008, que alterou o rito do Júri. A fala inicial da acusação e da defesasempre foi mais longa - o tempo fixado pela lei, revogado, era de duas horas para cada parte- porque, nessa oportunidade, os tribunos narravam os fatos, e apresentavam suas provas eargumentos, o que necessariamente demandava tempo maior. A réplica e a tréplica, maiscurtas - pela lei antiga, de meia hora para cada tribuno - eram utilizadas para possibilitar àspartes rebater os argumentos do adversário, deixando aos jurados a oportunidade de deci-dir, após terem presenciado um verdadeiro exercício dialético de teses e antíteses. Inver-tendo a lógica, o bom senso e a experiência prática, num verdadeiro exercício surrealista,resolveu o legislador subtrair meia hora da fala inicial da acusação e da defesa, fixando-a emuma hora e meia e acrescentar 30 minutos à réplica e à tréplica. Isto significa que, quando ojurado mais precisa de informações para compreender a causa em seus delineamentos bási-cos, como narrativa dos fatos e análise das provas, se tolhe dele a possibilidade dessa com-preensão, limitando o tempo do expositor. Depois, resolve-se, como um ato de verdadeiramágica, acrescentar-se aquela meia hora surrupiada do discurso inicial ao tempo da réplica eda tréplica. Réplica e tréplica que, como vimos, se prestam, primordialmente, para rechaçaras teses do adversário, após a causa ter sido esclarecida aos jurados em seus pontoscardeais. Em síntese: os jurados, sem saberem aquilo que de essencial existe na causa, por-que o tempo da fala inicial pode não ter sido suficiente para isso, serão ainda confundidospelos contra-argumentos de cada parte, na réplica e na tréplica, sem falar na possibilidade decada tribuno reiniciar seu discurso de onde parou para completá-lo... Como dizia o es-

ALALALALALTERAÇÕES NO RITTERAÇÕES NO RITTERAÇÕES NO RITTERAÇÕES NO RITTERAÇÕES NO RITO DO JÚRIO DO JÚRIO DO JÚRIO DO JÚRIO DO JÚRI

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tadista britânico Winston Churchill, se isso for prova de inteligência, deve estar muitobem escondida...

Poder-se-ia dizer que o tempo fixado pela nova lei para o discursoinicial é suficiente. Para o processo de Júri não muito volumoso nem complexo, podeser que sim. Mas, para casos de grande complexidade (que são inúmeros), o tempo deuma hora e meia estará certamente aquém das necessidades do tribuno de expor e dojurado de entender. Basta pensar em um grande processo de Júri, com mais de 20 volu-mes, por exemplo, em que estão registradas provas testemunhais (podem ser dezenas detestemunhas), periciais (reprodução simulada dos fatos, prova de balística, exame deDNA etc.), as declarações das vítimas, acareações, reconhecimentos de pessoas e coi-sas, interrogatórios dos acusados... como sintetizar toda esse arcabouço probatóriodocumentado em quatro mil páginas, em linguagem acessível e não técnica, dispondo deapenas uma hora e meia?!! E mais, o tribuno, na impossibilidade de verbalizar tudoaquilo que é necessário ao jurado saber, será obrigado, forçosamente, a reiniciar, naréplica e tréplica, seu discurso anterior, ao mesmo tempo que já passa a rebater osargumentos do seu adversário. E o jurado terá que entender essa balbúrdia toda!!

Como dizia nosso estadista Rui Barbosa, o senso comum, no Brasil, éo menos comum dos sensos...

Propalou-se que a reforma do Júri foi aprovada para aprimorar a ins-tituição e como uma medida endurecedora contra a criminalidade. Ora, na prática, oque, tragicamente, ocorrerá é o inverso. Nos julgamentos de casos complexos e volu-mes, como o que acima exemplificamos, muitos deles de repercussão nacional, na im-possibilidade ou, pelo menos, extrema dificuldade de o jurado entender, de maneiralógica, o sentido mais profundo daquilo que disseram as partes, não restará outro cami-nho a ele, na dúvida, que o veredicto absolutório. Essa é a tragédia que se avizinha, masserão apontados pela mídia como responsáveis por esse descalabro da Justiça, não aquelesque aprovaram lei tão mal-feita, ilógica, contraditória, confusa, obtusa e maléfica comoa que, infelizmente, hoje vige no Brasil, mas os cidadãos-jurados e o promotor...

Censura aos debatesCensura aos debatesCensura aos debatesCensura aos debatesCensura aos debates

Tem o art. 478 do CPP a seguinte redação:“Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de

nulidade, fazer referências:I - à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de auto-ridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;

II - ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta derequerimento, em seu prejuízo”.

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Proibição de as partes se referirem ao teor da decisão de pronúncia,Proibição de as partes se referirem ao teor da decisão de pronúncia,Proibição de as partes se referirem ao teor da decisão de pronúncia,Proibição de as partes se referirem ao teor da decisão de pronúncia,Proibição de as partes se referirem ao teor da decisão de pronúncia,como como como como como argumento de autoridadeargumento de autoridadeargumento de autoridadeargumento de autoridadeargumento de autoridade

O que significa esse argumento de autoridade? Ao que parece, quis olegislador impedir que o tribuno em seu discurso leia trechos da decisão de pronúnciaou do acórdão que julgaram admissível a acusação e argumente que o juiz técnico ou osdesembargadores do Tribunal de Justiça, com a autoridade que lhes é própria, entende-ram que há prova da materialidade, indícios de autoria de que foi o acusado o autor docrime ou que estão evidenciadas as qualificadoras articuladas na denúncia e, com isso,influenciar os jurados. Esse dispositivo tem, portanto, alvo certo: o Ministério Público,a quem, a partir de agora, será imposta severa censura quando discursar no Tribunal doJúri. E o interessante é que se o juiz de primeiro grau impronunciar, absolver sumaria-mente o acusado ou desclassificar a infração, e houver pelo Tribunal provimento dorecurso interposto pela acusação, a situação em plenário, quando dos debates, será, nomínimo, esdrúxula: ao promotor de justiça estará vedada a manifestação a respeito dadecisão que julgou admissível a acusação (in casu, o acórdão do tribunal), como argu-mento de autoridade, já à defesa não são impostas restrições: poderá o defensor discor-rer livremente quanto ao teor da decisão de primeiro grau reformada (impronúncia,desclassificação ou absolvição sumária), inclusive referindo-se a tais atos como argu-mento de autoridade. Esqueceu-se, entretanto, a lei, tão preocupada em impossibilitarque os jurados se influenciem pela deletéria fala da acusação que, na hipótese de serprovido o recurso do Ministério Público, invalidando um veredicto absolutório porconsiderá-lo manifestamente contrário à prova dos autos (art. 593, inciso III, alínea d,do CPP) não haverá qualquer vedação que o promotor utilize, como argumento deautoridade, dos termos do acórdão! Quer dizer: à acusação é vedado usar da pronúncia,uma decisão meramente processual que julga admissível a acusação, como argumentode autoridade, mas pode, sem peias, explorar todos os argumentos de autoridade deuma decisão de mérito - que é o acórdão que invalidou o julgamento anterior por julgá-lo imprestável! Que técnica primorosa tem essa nova legislação! Não é possível, ainda,deslembrar-se que o art. 476 do CPP estabelece que o Ministério Público fará a acusa-ção nos limites da pronúncia; ora, como fazê-lo sem referir-se a tal decisão?! E mais:pelo texto da lei, a mera referência à decisão de pronúncia sem usá-la como argumentode autoridade é permitida. Ou seja, ler a decisão de pronúncia sem enaltecer seu prolatoré perfeitamente admissível e não induziria nulidade alguma! Realmente, a qualidade danossa legislação vem, cada dia mais, decaindo!!!

Proibição de se manifestar a respeito da determinação para que oProibição de se manifestar a respeito da determinação para que oProibição de se manifestar a respeito da determinação para que oProibição de se manifestar a respeito da determinação para que oProibição de se manifestar a respeito da determinação para que oacusado permaneça algemado, como argumento de autoridadeacusado permaneça algemado, como argumento de autoridadeacusado permaneça algemado, como argumento de autoridadeacusado permaneça algemado, como argumento de autoridadeacusado permaneça algemado, como argumento de autoridade

Não pode a acusação em seu discurso fazer qualquer tipo de referência àdecisão do juiz presidente que determinou que o acusado permanecesse algemado durante asessão plenária. Segundo determina a lei, deve ignorar tal providência inerente ao poder depolícia do magistrado. O interessante é que não há vedação, nem censura, ao adversário: àdefesa, é perfeitamente lícito, quando de sua fala, discorrer livremente quanto à decisão

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judicial que não determinou fosse o réu algemado. Em miúdos: ao promotor é vedadoexplorar demagogicamente a condição de algemado do acusado para tentar convencer osjurados que ele seria perigoso; mas o inverso não é verdadeiro, pode o defensor, tambémdemagogicamente, explorar a pouca experiência dos jurados para tentar persuadi-los que oacusado não oferece qualquer perigo, tanto que o magistrado sequer determinou fosse elealgemado... O razoável é entender que, tanto a acusação quanto a defesa estão proibidosde se manifestar, em seus discursos, a respeito da medida administrativo-cautelar em comen-to. É a maneira de se adaptar essa disposição à Justiça e à Constituição Federal.

Proibição de se fazer referências ao silêncio do acusado ou àProibição de se fazer referências ao silêncio do acusado ou àProibição de se fazer referências ao silêncio do acusado ou àProibição de se fazer referências ao silêncio do acusado ou àProibição de se fazer referências ao silêncio do acusado ou àausência de interrogatório em seu prejuízoausência de interrogatório em seu prejuízoausência de interrogatório em seu prejuízoausência de interrogatório em seu prejuízoausência de interrogatório em seu prejuízo

A lei veda que a acusação faça qualquer comentário ao silêncio emque se manteve o acusado no seu interrogatório, ou a ausência do próprio ato, emprejuízo do réu. No entanto, obviamente, poderá a defesa fazer referência à exis-tência do interrogatório e explorar o seu teor, em benefício do réu. Mais: o legisla-dor copiou a regra esculpida no parágrafo único do art. 186 do CPP que trata davedação do magistrado togado tomar o silêncio do réu como confissão e implantouno artigo referido que trata dos discursos das partes, exigindo que o membro doMinistério Público, que não é juiz e apenas postula, passe a atuar como se fossedecidir a causa! Se o que se pretendia era evitar a influência negativa da ausência deinterrogatório quanto aos jurados, perdeu-se tempo com esse artigo absurdamenteautoritário. A norma que impõe ao juiz togado desconsiderar o silêncio do réu quandodo seu julgamento, evidentemente não pode alcançar o juiz leigo que decide pelaíntima convicção sem fundamentar o seu voto.

Da análise de todas essas proibições, criadas, sem dúvida alguma,com a finalidade de tolher os movimentos da acusação, resta perguntar: e a paridadede armas processuais entre a acusação e a defesa, corolário do princípio da igualda-de (art. 5º, inciso I, da CF), deixou de existir? Ao Ministério Público é impostocensura; à defesa, é garantida ampla liberdade de expressão, e ainda continuamosem uma democracia? Para a acusação, o cativeiro da palavra; para a defesa, aliberdade? É óbvia a inconstitucionalidade do artigo em estudo por afronta visceralao princípio da igualdade.

Quanto a esse princípio basilar de nossa Constituição, assim se mani-festa Alexandre de Moraes:

“A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue de forma nãorazoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas. Paraque as diferenciações normativas possam ser consideradas nãodiscriminatórias, torna-se indispensável que exista uma justificativa obje-tiva e razoável, de acordo com critérios e juízos valorativos genericamenteaceitos, cuja exigência deve aplicar-se em relação à finalidade e aos efeitosda medida considerada, devendo estar presente por isso uma razoável rela-

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ção de proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade perse-guida, sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucional-mente protegidos. Assim, os tratamentos normativos diferenciados são com-patíveis com a Constituição Federal quando verificada a existência deuma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado”. 1

E qual é a justificativa objetiva e razoável que explica esse trata-mento legislativo discriminatório entre a acusação e a defesa? Poder-se-ia dizer que otratamento desigual das partes em plenário decorre do princípio constitucional da pleni-tude de defesa (art. 5º, inciso XXXVIII, alínea a, da CF). Nada mais falso. Como játivemos oportunidade de expor em mais de uma oportunidade, o significado desse prin-cípio é o de assegurar ao acusado de um crime doloso contra a vida uma defesa técnicaefetiva e de qualidade superior à média das defesas penais exercidas em outros proces-sos criminais; uma atuação profissional competente, portanto. E já existe o mecanismolegal de controle da qualidade da atuação defensiva, e, por conseqüência, de respeito ànorma constitucional citada, que é a fiscalização do juiz presidente do discurso defensi-vo, podendo nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo,nesse caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomea-ção ou a constituição de novo defensor (art. 497, inciso V, do CPP).

Em suma, a plenitude de defesa é materializada, como direito do réu,através do bom desempenho do advogado e resguardada, como garantia daquele direi-to, pela fiscalização de sua potencial eficiência persuasiva frente aos jurados pelo magis-trado. É o que basta para cumprir-se o mandamento constitucional e todo o mais éexcesso espúrio que deve ser expurgado do nosso ordenamento jurídico. Não existenecessidade de se impor censura à temática do discurso acusatório a fim de se possibilitar odireito do acusado à plenitude de defesa. A defesa, como é óbvio, pode ser plena gozando aspartes, igualmente, de liberdade de expressão. Inexiste, portanto, justificativa objetiva erazoável que explique esse tratamento legislativo discriminatório, preconceituoso eodioso entre a acusação e a defesa, e o art. 478 do CPP deve ser extirpado do mundojurídico por ser claramente inconstitucional.

E os fins justificariam os meios? A desigualdade entre a acusação e adefesa estaria justificada porque é o meio de se alcançar a plenitude de defesa? Emprimeiro lugar, como vimos acima, a defesa plena é alcançável sem a imposição damordaça ao Ministério Público. Mesmo que, por elucubração cerebrina, se entendesseque a diferenciação entre a acusação e a defesa fosse o meio indispensável de se materi-alizar o excelso princípio da plenitude de defesa (art. 5º, inciso XVIII, alínea a, da CF),não se poderia esquecer que a igualdade entre o Ministério Público e a defesa, emplenário de julgamento, é o único modo de se velar pelos princípios, não menos impor-tantes, da igualdade (art. 5º, inciso I, da CF), da livre manifestação do pensamento (art.5º, inciso IV, da CF), da livre expressão da atividade intelectual (art. 5º, inciso IX, daCF), do contraditório (art. 5º, inciso LV, da CF). Haveria, então, nessa hipótese umaantinomia, um conflito de normas de mesmo status constitucional. Como não existedireito fundamental absoluto, seria necessária a harmonização sistêmica entre as referi-das normas. Como ensina, novamente, Alexandre de Moraes:

1 Direito Constitucional, MORAES, Alexandre de, 20ª ed., Editora Atlas, São Paulo, 2006, p. 32.

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“Os direitos e garantias fundamentais consagrados pela Constituição Fede-ral, portanto, não são ilimitados, uma vez que encontram seus limites nosdemais direitos igualmente consagrados pela Carta Magna (princípio darelatividade ou convivência das liberdades públicas). Desta forma, quan-do houver conflito entre dois ou mais direitos ou garantias fundamentais, ointérprete deve utilizar-se do princípio da concordância prática ou daharmonização, de forma a coordenar e combinar os bens jurídicos em confli-to, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros, realizando umaredução proporcional do verdadeiro significado da norma e da harmonia dotexto constitucional com sua finalidade precípua”2.

Dessa maneira, o único modo de se harmonizarem os princípios cons-titucionais mencionados que estariam em conflito entre si seria a de se não imporlimites temáticos ao Ministério Público, dando-lhe a mesma liberdade que usufrui adefesa; afinal a defesa plena não seria esvaziada pela igualdade com o Ministério Públi-co, mas a desigualdade entre os contendores em plenário aniquilaria o princípio daisonomia. Isso sem dizer que, pensamento diverso, estaria, por via indireta, desprezan-do o mais fundamental de todos os direitos, o pressuposto do exercício e gozo de todosos outros: o direito à vida (art. 5º, caput, da CF), que só pode ser defendido, verdadei-ramente, pelo Ministério Público, se ele gozar de liberdade igual à defesa para sustentaroralmente, acusando o seu transgressor, perante o Tribunal do Júri.

Para arrematar a questão, resta apenas uma lembrança histórica.Quando o nosso Código de Processo Penal foi decretado, no auge da ditadura do Esta-do Novo de Getúlio Vargas em nosso país, não se teve a audácia de censurar a fala dostribunos do Júri. Hoje, vivemos numa democracia que castra a palavra do MinistérioPúblico, sob o pretexto falso de amparar a defesa do acusado.

A providência prática recomendável nessa situação em que o arti-go de lei é evidentemente inconstitucional seria de o juiz presidente, de ofício ou arequerimento do promotor de justiça, declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidadeda norma, autorizando o Ministério Público a debater sem peias, igualando-o à defesa.Isso enquanto não for ajuizada ação direita de inconstitucionalidade para expungir essaatrocidade normativa que envergonha a consciência jurídica nacional.

Sigilo das votaçõesSigilo das votaçõesSigilo das votaçõesSigilo das votaçõesSigilo das votações

Na seção na qual a lei trata do questionário e sua votação, é estabelecido,como regra indeclinável e cogente, nos parágrafos 1º e 2º do art. 483 do CPP, que a respostaafirmativa ou negativa de quatro jurados aos quesitos referentes à materialidade ou à autoria,encerram a votação, absolvendo-se ou condenando-se o acusado. Essas disposições legaispareciam, finalmente, trazer efetividade ao princípio constitucional do sigilo das votações(art. 5º, inciso XXXVIII, alínea b, da CF) que sempre foi desrespeitado quando as votaçõeseram unânimes. Surpreendentemente, o art. 489 do CPP afirma que as decisões do Tribunaldo Júri serão tomadas por maioria de votos, deixando claro que os votos dos jurados devemser contados até o fim, não se encerrando a votação no quarto voto, como determinam os

2 Direito Constitucional, MORAES, Alexandre de, 20ª ed., Editora Atlas, São Paulo, 2006, p. 28.

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parágrafos 1º e 2º do art. 483 do CPP acima comentados - o que acabaria por tornar deconhecimento público a tomada de decisão de cada jurado, quando o veredicto for unânime.

A confirmar a insuperável contradição, o art. 488 do CPP dispõe que oescrivão registre no termo a votação de cada quesito, os números de votos afirmativos ounegativos que cada indagação recebeu. Se seguirmos a literalidade da lei, estará garantido osigilo das votações referentes aos quesitos de materialidade e autoria apenas; aos demais,não. Isso significa dizer que ao mais importante dos quesitos - aquele que indaga aos juradosse absolvem o acusado - não se concede o sigilo da votação! Aos outros quesitos tambémnão, como, por exemplo, o da tentativa, o da causa de diminuição de pena, o da causa deaumento de pena, o das qualificadoras! O legislador criou, na sua incomparável imaginação,um sigilo parcial, de trechos da votação, quando a Constituição Federal é clara em deter-minar o sigilo das votações, ou seja, do veredicto como um todo. Em suma, ou não hásigilo algum dos resultados de todos os votos, como ocorria com a lei revogada, ou essesigilo é completo abarcando todo o questionário; não é possível encontrar-se uma fórmulahíbrida entre os dois sistemas, sob pena de se incorrer em crassa ilogicidade como vimosacima. E como conciliar essa legislação esquizofrênica? As normas citadas, francamentecolidentes, estão no mesmo patamar infraconstitucional, de modo que uma não possui, deper se, prevalência hierárquica em relação à outra. A única maneira eficaz de se solucionaresse dilema, elegendo a norma que deve prevalecer, é buscar, entre elas, a disposição queseja mais compatível, que se afine melhor com o espírito da Constituição Federal. Encontra-da essa harmonia entre a Lei Maior e determinado dispositivo infraconstitucional, o outrodispositivo, que disponha de maneira diversa, não estará mais assentado no fundamento devalidade de todas as normas - a Constituição Federal, e não terá, portanto, eficácia,remanescendo no mundo jurídico, produzindo todos os seus efeitos, apenas aquela outra.Não é difícil perceber que os artigos de lei que garantem o sigilo das votações (parágrafos 1ºe 2º do art. 483 do CPP) são compatíveis com o espírito da Constituição Federal que explicita,como vimos, em forma de princípio próprio do Júri, mencionado sigilo; claro que as normasque impedem o sigilo do resultado das votações (arts. 488 e 489 do CPP) se chocam com aLei Maior e não podem ser aplicadas. Numa análise especialmente prática: o juiz, quando forproceder à votação deve seguir o método dos parágrafos 1º e 2º do art. 483 do CPP (queimpõe o encerramento da votação depois do quarto voto), para todos os quesitos, decla-rando, incidentalmente, a inconstitucionalidade dos arts. 488 e 489 do CPP. Informará tam-bém o juiz em sua decisão que, a fim de concretizar a garantia individual do jurado ao sigilode seu voto, interrompeu a votação quando foi colhido o quarto voto idêntico (quatro votossim ou não). Por fim, ficará consignado no decisum que a interrupção da colheita dos votosnão trouxe nenhum prejuízo às partes, que fiscalizaram toda a votação e não reclamaram deanormalidade em seu desenvolvimento, além do que o resultado final do julgamento não sealteraria se houvesse a continuidade na arrecadação de votos.

Buscando-se o histórico legislativo desse despautério em estudo, pode-se entender como se conseguiu chegar a essas disposições verdadeiramente suicidas.Foi objeto de substitutivo do Senado Federal o art. 489 do CPP que teria, se tivesseprevalecido a vontade daquela Casa, a seguinte redação: “as decisões do Tribunal doJúri serão tomadas sempre por maioria e a resposta coincidente de mais de 3 (três)jurados a qualquer quesito encerra a contagem dos votos referentes a ele”. Ocorre que, naCâmara dos Deputados, referido substitutivo foi rejeitado e o art. 489 do CPP passou a

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prevalecer com a seguinte redação: “as decisões do Tribunal do Júri serão tomadas pormaioria de votos”, exigindo que os votos dos jurados fossem contados até o fim, mesmoquando já se soubesse qual fosse a tese vencedora. Como se esqueceu de se alterar tambémos demais artigos incompatíveis com a nova redação aprovada pela Câmara dos Deputadosao art. 489 do CPP, que são o parágrafo 1º e 2º do art. 483 do CPP, que disciplinam avotação de maneira completamente diferente (exigindo que a votação termine no 4º voto), oresultado final foi um sistema de colhimento de votos completamente amalucado. De umlado, os parágrafos 1º e 2º, do art. 483 do CPP, representam a vontade do Senado Federal;o artigo 489 do CPP, a da Câmara dos Deputados. Não haveria qualquer problema nessasoma de vontades dessas duas Casas, se os dispositivos não fossem antagônicos e incompa-tíveis de permanecer na mesma lei!

Vale a pena conhecer qual foi a fundamentação do preclaro deputadorelator que rejeitou a acertadíssima modificação pretendida pelo Senado Federal queestabelecia o fim das votações quando houvesse resposta coincidente de mais de trêsjurados a qualquer quesito. Assim se manifestou o nobre deputado:

“(...) Por fim, rejeito a modificação XXVI, pois a redação dada pela Câmarados Deputados ao artigo 489 do CPP é mais compatível com a naturezacolegiada do julgamento, permitindo o conhecimento da manifestação detodos os julgadores. Ademais, a sistemática proposta pelo Senado Federalnão encontra semelhança com nenhum outro instituto de nosso sistemajurídico, pois, quando do julgamento por Câmaras ou Turmas, todos osjulgadores votam e têm seus votos computados. Finalmente, a experiênciaprática demonstra que o cômputo da posição de todos os jurados é impor-tante elemento de convicção quando do julgamento de recursos, uma vezque, obviamente, julgamentos por unanimidade tendem a ter uma maior forçapersuasiva (...)”.

Ousamos discordar do posicionamento do insigne deputado. Entende onobre representante do povo que as votações do Tribunal do Júri devem seguir os parâmetrosdas votações dos colegiados formados por juízes togados, quando os votos de todos os seuscomponentes são contados. Ocorre que esquece Sua Excelência que a magistratura togadatem assegurada a si garantias ao livre e independente exercício de sua profissão, como avitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos (art. 95, incisos I, II e III, daCF.), o que já não ocorre com os jurados. Exatamente por não terem os juízes leigosessas garantias que se deve protegê-los com o sigilo das votações. Não resiste, portanto,a uma análise séria, a analogia mencionada. No que pertine ao “importante elemento deconvicção” que seria trazido pelo resultado dos votos de cada quesito para que o Tribunalanalise do acerto ou erro das decisões do Conselho de Sentença, fica claro que tal assertivaignora, completamente, o princípio da soberania dos veredictos, pois parece autorizar a re-forma do mérito pela Justiça Togada da decisão dos jurados, censurando seu veredicto pornão lhe parecer tecnicamente correto, unicamente porque a quantidade de votos em tal ouqual sentido não lhe pareceu apropriada!

Descendo ao campo eminentemente prático, imaginemos uma situaçãonão improvável. Preso um traficante e assassino perigoso, integrante do crime organizado, éprocessado, pronunciado e levado a julgamento popular. Depois de dias de julgamento, os

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jurados se recolhem à sala secreta e deliberam, por unanimidade, sua condenação. Lida asentença condenatória, como diz a lei, a portas abertas, referindo-se o juiz à sua unanimida-de, toda a assistência, repleta de comparsas do gangster, tão ou mais perigosos que ele,saberão que aquelas sete pessoas condenaram o acusado. Ficarão os juízes leigos tranqüi-los? Onde é que está o sigilo das votações, insculpido na nossa Constituição Federal quandoo veredicto é unânime?

Em casos mais prosaicos, nos Júris de todos os dias, cujos réus são ilus-tres desconhecidos, quantas e quantas vezes nós não vemos jurados temerosos, e com ra-zão, pela sua própria vida e de sua família, caso os familiares, amigos ou o próprio acusadoresolvam se vingar deles, agora que ficaram sabendo, pela unanimidade da decisão, quetodos os integrantes do corpo de sentença condenaram o réu. A hipótese contrária, emboramais rara, pode acontecer: os familiares ou amigos da vítima ou a própria, irresignados coma decisão unânime absolutória, deliberam acertar as contas com os juízes leigos. Repetimos:onde é que está o sigilo das votações insculpido na nossa Constituição Federal, quando overedicto é unânime? E respondemos: está apenas no papel da Carta da República, pois, narealidade, esse princípio não existe, quando todos os votos são iguais.

E por que deixar os jurados temerosos de decidir de acordo com suasconsciências e com os ditames da justiça, por medo de represálias? Unicamente porqueo nosso legislador entendeu, equivocadamente como vimos, que o cômputo dos votosdos jurados é um “importante elemento de convicção” quando do julgamento de even-tuais recursos!? Ou porque quer a nossa lei que o escrivão lavre um estúpido termo devotação aonde irão se anotar todos os votos proferidos. E para que isso? Dirão: é paraevitar fraudes. Mas então não se confia na capacidade moral dos juízes, dos jurados, dooficial de justiça, do escrivão, nem na capacidade intelectual do promotor e do defensorde fiscalizarem o julgamento? Além do mais, todas as cédulas com sim e não sãoverificadas pelo presidente e observadas pelas partes no momento da votação! Por queentão esse malsinado e inútil termo de votação? Para nada!

O único modo prático, como vimos, de se cumprir a Constituição,quanto à garantia dada ao jurado do sigilo de sua deliberação, é fazer com que a votaçãose interrompa quando a decisão de qualquer quesito chegar ao quarto voto repetido simou ao quarto voto repetido não, como determinam os parágrafos 1º e 2º do art. 483 doCPP, uma vez que, mesmo que os outros três sejam opostos, o resultado não se alterará.Então por que continuar com a apuração dos outros votos, se já se sabe como decidiramos jurados? De duas uma: ou é para dar cobro a uma ridícula exigência formalinfraconstitucional ou é para satisfazer egos de oradores que gostam de arrotar seusfeitos tribunícios, se referindo aos escores de seus jogos ganhos. De um jeito ou deoutro, um artigo burocrático de uma lei federal ou o peito estufado de alguns pavõesnão podem falar mais alto que a Carta Magna.

Caso não seja esse o entendimento dos magistrados, que ao menos nãomencionem em suas sentenças o conteúdo do indigitado termo de votação. Não sendo umaobrigação do juiz essa referência ao resultado das votações, entendemos deva o presidente

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deixar de alardeá-lo em sua decisão, com a finalidade de dar a tranqüilidade merecida aosjurados. Omisso o número de votos do veredicto quando da leitura em público da sentença,os jurados estarão, na medida daquilo que hoje permite a lei, um pouco mais seguros quantoao sigilo de seu voto, pelo menos naquele instante, com relação às pessoas que assistiram aoato solene. Já depois...

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LEI Nº 1LEI Nº 1LEI Nº 1LEI Nº 1LEI Nº 11.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.1.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.1.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.1.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.1.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.

Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 –Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o CongressoNacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o O Capítulo II do Título I do Livro II do Decreto-Lei no 3.689, de3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

“CAPÍTULO II

DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA COM-PETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Seção I

Da Acusação e da Instrução Preliminar

‘Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citaçãodo acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

§ 1o O prazo previsto no caput deste artigo será contado a partir doefetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de de-fensor constituído, no caso de citação inválida ou por edital.

§ 2o A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), nadenúncia ou na queixa.

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§ 3o Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo queinteresse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendi-das e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo suaintimação, quando necessário.’ (NR)

‘Art. 407. As exceções serão processadas em apartado, nos termos dosarts. 95 a 112 deste Código.’ (NR)

‘Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomearádefensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.’ (NR)

‘Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou oquerelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.’ (NR)

‘Art. 410. O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a realizaçãodas diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias.’ (NR)

‘Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada dedeclarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acu-sação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acare-ações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusa-do e procedendo-se o debate.

§ 1o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimentoe de deferimento pelo juiz.

§ 2o As provas serão produzidas em uma só audiência, podendo o juizindeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

§ 3o Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, odisposto no art. 384 deste Código.

§ 4o As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamen-te, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez).

§ 5o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusa-ção e a defesa de cada um deles será individual.

§ 6o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste,serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifes-tação da defesa.

§ 7o Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante,determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.

§ 8o A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente dasuspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput deste artigo.

§ 9o Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.’ (NR)

‘Art. 412. O procedimento será concluído no prazo máximo de 90 (no-venta) dias.’ (NR)

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Seção II

Da Pronúncia, da Impronúncia e da Absolvição Sumária

‘Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se con-vencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou departicipação.

§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação damaterialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação,devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar ascircunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.

§ 2o Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para aconcessão ou manutenção da liberdade provisória.

§ 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogaçãoou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratan-do-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição dequaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.’ (NR)

‘Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existên-cia de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente,impronunciará o acusado.

Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, po-derá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova.’ (NR)

‘Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado,quando:

I – provada a inexistência do fato;II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;III – o fato não constituir infração penal;IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste

artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.’ (NR)

‘Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumáriacaberá apelação.’ (NR)

‘Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outraspessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, deter-minará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no quecouber, o art. 80 deste Código.’ (NR)

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‘Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da cons-tante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.’ (NR)

‘Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusa-ção, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não forcompetente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.

Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposi-ção deste ficará o acusado preso.’ (NR)

‘Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita:I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público;II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério

Público, na forma do disposto no § 1o do art. 370 deste Código.Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for

encontrado.’ (NR)‘Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminha-

dos ao juiz presidente do Tribunal do Júri.§ 1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância

superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos aoMinistério Público.

§ 2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.’ (NR)

Seção III

Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário

‘Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determi-nará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e dodefensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão deporem plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos erequerer diligência.’ (NR)

‘Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem pro-duzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:

I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ouesclarecer fato que interesse ao julgamento da causa;

II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão empauta da reunião do Tribunal do Júri.’ (NR)

‘Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária não atribuir aopresidente do Tribunal do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-

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lhe-á os autos do processo preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refereo art. 433 deste Código.

Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os processos prepa-rados até o encerramento da reunião, para a realização de julgamento.’ (NR)

Seção IV

Do Alistamento dos Jurados

‘Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal doJúri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de1.000.000 (um milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcasde mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcasde menor população.

§ 1o Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o núme-ro de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especi-al, com as cautelas mencionadas na parte final do § 3o do art. 426 deste Código.

§ 2o O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações declasse e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, univer-sidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pesso-as que reúnam as condições para exercer a função de jurado.’ (NR)

‘Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas pro-fissões, será publicada pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada emeditais afixados à porta do Tribunal do Júri.

§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qual-quer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva.

§ 2o Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a 446deste Código.

§ 3o Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, apósserem verificados na presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seçãolocal da Ordem dos Advogados do Brasil e de defensor indicado pelas DefensoriasPúblicas competentes, permanecerão guardados em urna fechada a chave, sob a res-ponsabilidade do juiz presidente.

§ 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze)meses que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído.

§ 5o Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, comple-tada.’ (NR)

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Seção V

Do Desaforamento

‘Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvidasobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimentodo Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representa-ção do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarcada mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.

§ 1o O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terápreferência de julgamento na Câmara ou Turma competente.

§ 2o Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar,fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri.

§ 3o Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido porele solicitada.

§ 4o Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quandoefetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipó-tese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado.’ (NR)

‘Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razãodo comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julga-mento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado dadecisão de pronúncia.

§ 1o Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará otempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.

§ 2o Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguar-dando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunaldo Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer aoTribunal que determine a imediata realização do julgamento.’ (NR)

Seção VI

Da Organização da Pauta

‘Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dosjulgamentos, terão preferência:

I – os acusados presos;II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na

prisão;

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III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.§ 1o Antes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião peri-

ódica, será afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri a lista dos processos a seremjulgados, obedecida a ordem prevista no caput deste artigo.

§ 2o O juiz presidente reservará datas na mesma reunião periódica para ainclusão de processo que tiver o julgamento adiado.’ (NR)

‘Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requerido sua ha-bilitação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar.’ (NR)

‘Art. 431. Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandaráintimar as partes, o ofendido, se for possível, as testemunhas e os peritos, quando houverrequerimento, para a sessão de instrução e julgamento, observando, no que couber, o dis-posto no art. 420 deste Código.’ (NR)

Seção VII

Do Sorteio e da Convocação dos Jurados

‘Art. 432. Em seguida à organização da pauta, o juiz presidente determi-nará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da DefensoriaPública para acompanharem, em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão nareunião periódica.’ (NR)

‘Art. 433. O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas, ca-bendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para areunião periódica ou extraordinária.

§ 1o O sorteio será realizado entre o 15o (décimo quinto) e o 10o (déci-mo) dia útil antecedente à instalação da reunião.

§ 2o A audiência de sorteio não será adiada pelo não comparecimentodas partes.

§ 3o O jurado não sorteado poderá ter o seu nome novamente incluídopara as reuniões futuras.’ (NR)

‘Art. 434. Os jurados sorteados serão convocados pelo correio ou porqualquer outro meio hábil para comparecer no dia e hora designados para a reunião, sob aspenas da lei.

Parágrafo único. No mesmo expediente de convocação serão transcritosos arts. 436 a 446 deste Código.’ (NR)

‘Art. 435. Serão afixados na porta do edifício do Tribunal do Júri a rela-ção dos jurados convocados, os nomes do acusado e dos procuradores das partes, além dodia, hora e local das sessões de instrução e julgamento.’ (NR)

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Seção VIII

Da Função do Jurado

‘Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderáos cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade.

§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou dei-xar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social oueconômica, origem ou grau de instrução.

§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômicado jurado.’ (NR)

‘Art. 437. Estão isentos do serviço do júri:I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;II – os Governadores e seus respectivos Secretários;III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e

das Câmaras Distrital e Municipais;IV – os Prefeitos Municipais;V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria

Pública;VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da

Defensoria Pública;VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;VIII – os militares em serviço ativo;IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.’ (NR)‘Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,

filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspen-são dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de ca-ráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, naDefensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios daproporcionalidade e da razoabilidade.’ (NR)

‘Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviçopúblico relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial,em caso de crime comum, até o julgamento definitivo.’ (NR)

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‘Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439deste Código, preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provi-mento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoçãofuncional ou remoção voluntária.’ (NR)

‘Art. 441. Nenhum desconto será feito nos vencimentos ou salário dojurado sorteado que comparecer à sessão do júri.’ (NR)

‘Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer nodia marcado para a sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplica-da multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a suacondição econômica.’ (NR)

‘Art. 443. Somente será aceita escusa fundada em motivo relevante de-vidamente comprovado e apresentada, ressalvadas as hipóteses de força maior, até o mo-mento da chamada dos jurados.’ (NR)

‘Art. 444. O jurado somente será dispensado por decisão motivada dojuiz presidente, consignada na ata dos trabalhos.’ (NR)

‘Art. 445. O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la,será responsável criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes togados.’ (NR)

‘Art. 446. Aos suplentes, quando convocados, serão aplicáveis os dis-positivos referentes às dispensas, faltas e escusas e à equiparação de responsabilidade penalprevista no art. 445 deste Código.’ (NR)

Seção IX

Da Composição do Tribunal do Júri e da Formação do Conselho deSentença

‘Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seupresidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete)dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.’ (NR)

‘Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:I – marido e mulher;II – ascendente e descendente;III – sogro e genro ou nora;IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;V – tio e sobrinho;VI – padrasto, madrasta ou enteado.

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§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mante-nham união estável reconhecida como entidade familiar.

§ 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, asuspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.’ (NR)

‘Art. 449. Não poderá servir o jurado que:I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, inde-

pendentemente da causa determinante do julgamento posterior;II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de

Sentença que julgou o outro acusado;III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o

acusado.’ (NR)‘Art. 450. Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de convi-

vência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar.’ (NR)‘Art. 451. Os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incom-

patibilidade serão considerados para a constituição do número legal exigível para a realiza-ção da sessão.’ (NR)

‘Art. 452. O mesmo Conselho de Sentença poderá conhecer de mais deum processo, no mesmo dia, se as partes o aceitarem, hipótese em que seus integrantesdeverão prestar novo compromisso.’ (NR)

Seção X

Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri

‘Art. 453. O Tribunal do Júri reunir-se-á para as sessões de instrução ejulgamento nos períodos e na forma estabelecida pela lei local de organização judiciária.’ (NR)

‘Art. 454. Até o momento de abertura dos trabalhos da sessão, o juizpresidente decidirá os casos de isenção e dispensa de jurados e o pedido de adiamento dejulgamento, mandando consignar em ata as deliberações.’ (NR)

‘Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o juiz presidenteadiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas aspartes e as testemunhas.

Parágrafo único. Se a ausência não for justificada, o fato será imediata-mente comunicado ao Procurador-Geral de Justiça com a data designada para a nova ses-são.’ (NR)

‘Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado,e se outro não for por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidenteda seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão.

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§ 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somenteuma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Públicapara o novo julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado oprazo mínimo de 10 (dez) dias.’ (NR)

‘Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento doacusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmenteintimado.

§ 1o Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimentodeverão ser, salvo comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à aprecia-ção do juiz presidente do Tribunal do Júri.

§ 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiadopara o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa decomparecimento subscrito por ele e seu defensor.’ (NR)

‘Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, ojuiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa previstano § 2o do art. 436 deste Código.’ (NR)

‘Art. 459. Aplicar-se-á às testemunhas a serviço do Tribunal do Júri odisposto no art. 441 deste Código.’ (NR)

‘Art. 460. Antes de constituído o Conselho de Sentença, as testemunhasserão recolhidas a lugar onde umas não possam ouvir os depoimentos das outras.’ (NR)

‘Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de com-parecer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportuni-dade de que trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento eindicando a sua localização.

§ 1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente sus-penderá os trabalhos e mandará conduzi-la ou adiará o julgamento para o primeiro dia de-simpedido, ordenando a sua condução.

§ 2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunhanão ser encontrada no local indicado, se assim for certificado por oficial de justiça.’ (NR)

‘Art. 462. Realizadas as diligências referidas nos arts. 454 a 461 desteCódigo, o juiz presidente verificará se a urna contém as cédulas dos 25 (vinte e cinco) jura-dos sorteados, mandando que o escrivão proceda à chamada deles.’ (NR)

‘Art. 463. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juizpresidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo que será submetidoa julgamento.

§ 1o O oficial de justiça fará o pregão, certificando a diligência nos autos.§ 2o Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão compu-

tados para a constituição do número legal.’ (NR)

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‘Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 deste Código,proceder-se-á ao sorteio de tantos suplentes quantos necessários, e designar-se-á nova datapara a sessão do júri.’ (NR)

‘Art. 465. Os nomes dos suplentes serão consignados em ata, remeten-do-se o expediente de convocação, com observância do disposto nos arts. 434 e 435 desteCódigo.’ (NR)

‘Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, ojuiz presidente esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades cons-tantes dos arts. 448 e 449 deste Código.

§ 1o O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vezsorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opiniãosobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436deste Código.

§ 2o A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial dejustiça.’ (NR)

‘Art. 467. Verificando que se encontram na urna as cédulas relativas aosjurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conse-lho de Sentença.’ (NR)

‘Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juizpresidente as lerá, e a defesa e, depois dela, o Ministério Público poderão recusar os juradossorteados, até 3 (três) cada parte, sem motivar a recusa.

Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer daspartes será excluído daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteiopara a composição do Conselho de Sentença com os jurados remanescentes.’ (NR)

‘Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderãoser feitas por um só defensor.

§ 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recu-sas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.

§ 2o Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primei-ro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência disposto no art. 429 deste Código.’ (NR)

‘Art. 470. Desacolhida a argüição de impedimento, de suspeição ou deincompatibilidade contra o juiz presidente do Tribunal do Júri, órgão do Ministério Público,jurado ou qualquer funcionário, o julgamento não será suspenso, devendo, entretanto, cons-tar da ata o seu fundamento e a decisão.’ (NR)

‘Art. 471. Se, em conseqüência do impedimento, suspeição, incompati-bilidade, dispensa ou recusa, não houver número para a formação do Conselho, o julgamen-to será adiado para o primeiro dia desimpedido, após sorteados os suplentes, com obser-vância do disposto no art. 464 deste Código.’ (NR)

‘Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação:

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Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade ea proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.

Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:Assim o prometo.Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia

ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatóriodo processo.’ (NR)

Seção XI

Da Instrução em Plenário

‘Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instru-ção plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e odefensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se pos-sível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.

§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensordo acusado formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos nomais a ordem e os critérios estabelecidos neste artigo.

§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemu-nhas, por intermédio do juiz presidente.

§ 3o As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconheci-mento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que serefiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, ante-cipadas ou não repetíveis.’ (NR)

‘Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, naforma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I deste Código, com as alteraçõesintroduzidas nesta Seção.

§ 1o O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessaordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado.

§ 2o Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.§ 3o Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período

em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dostrabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.’(NR)

‘Art. 475. O registro dos depoimentos e do interrogatório será feito pe-los meios ou recursos de gravação magnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, des-tinada a obter maior fidelidade e celeridade na colheita da prova.

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Parágrafo único. A transcrição do registro, após feita a degravação, cons-tará dos autos.’ (NR)

Seção XII

Dos Debates

‘Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao MinistérioPúblico, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaramadmissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.

§ 1o O assistente falará depois do Ministério Público.§ 2o Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, falará em primeiro

lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo se este houver retomado atitularidade da ação, na forma do art. 29 deste Código.

§ 3o Finda a acusação, terá a palavra a defesa.§ 4o A acusação poderá replicar e a defesa treplicar, sendo admitida a

reinquirição de testemunha já ouvida em plenário.’ (NR)‘Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e

meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica.§ 1o Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão

entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, deforma a não exceder o determinado neste artigo.

§ 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e adefesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, obser-vado o disposto no § 1o deste artigo.’ (NR)

‘Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nuli-dade, fazer referências:

I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissívela acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que bene-ficiem ou prejudiquem o acusado;

II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta derequerimento, em seu prejuízo.’ (NR)

‘Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de docu-mento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedênciamínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura dejornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias,

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laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre amatéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.’ (NR)

‘Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer mo-mento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autosonde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe,pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.

§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estãohabilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos.

§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará es-clarecimentos à vista dos autos.

§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos eaos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente.’ (NR)

‘Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencialpara o julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissol-verá o Conselho, ordenando a realização das diligências entendidas necessárias.

Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção de prova pericial,o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará quesitos, facultando às partes tam-bém formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias.’ (NR)

Seção XIII

Do Questionário e sua Votação

‘Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria defato e se o acusado deve ser absolvido.

Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmati-vas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficienteclareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos dapronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatórioe das alegações das partes.’ (NR)

‘Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagandosobre:

I – a materialidade do fato;II – a autoria ou participação;III – se o acusado deve ser absolvido;IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena

reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

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§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dosquesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica aabsolvição do acusado.

§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesi-tos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinteredação:

O jurado absolve o acusado?§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue,

devendo ser formulados quesitos sobre:I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconheci-

das na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competên-

cia do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (segun-do) ou 3o (terceiro) quesito, conforme o caso.

§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ouhavendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal doJúri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundoquesito.

§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitosserão formulados em séries distintas.’ (NR)

‘Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes setêm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão,constar da ata.

Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jura-dos o significado de cada quesito.’ (NR)

‘Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, osjurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivãoe o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação.

§ 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o públicose retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.

§ 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qual-quer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da salaquem se portar inconvenientemente.’ (NR)

‘Art. 486. Antes de proceder-se à votação de cada quesito, o juiz presi-dente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmentedobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não.’ (NR)

‘Art. 487. Para assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça recolheráem urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas.’ (NR)

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‘Art. 488. Após a resposta, verificados os votos e as cédulas não utiliza-das, o presidente determinará que o escrivão registre no termo a votação de cada quesito,bem como o resultado do julgamento.

Parágrafo único. Do termo também constará a conferência das cédulasnão utilizadas.’ (NR)

‘Art. 489. As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por maioria devotos.’ (NR)

‘Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradiçãocom outra ou outras já dadas, o presidente, explicando aos jurados em que consiste a con-tradição, submeterá novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas.

Parágrafo único. Se, pela resposta dada a um dos quesitos, o presidenteverificar que ficam prejudicados os seguintes, assim o declarará, dando por finda a votação.’ (NR)

‘Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se refere o art. 488deste Código assinado pelo presidente, pelos jurados e pelas partes.’ (NR)

Seção XIV

Da sentença

‘Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:I – no caso de condenação:a) fixará a pena-base;b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos

debates;c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas

admitidas pelo júri;d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se

encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva;f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação;II – no caso de absolvição:a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não

estiver preso;b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.

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§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competênciado juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, apli-cando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infra-ção penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099,de 26 de setembro de 1995.

§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja dolosocontra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no quecouber, o disposto no § 1o deste artigo.’ (NR)

‘Art. 493. A sentença será lida em plenário pelo presidente antes de en-cerrada a sessão de instrução e julgamento.’ (NR)

Seção XV

Da Ata dos Trabalhos

‘Art. 494. De cada sessão de julgamento o escrivão lavrará ata, assinadapelo presidente e pelas partes.’ (NR)

‘Art. 495. A ata descreverá fielmente todas as ocorrências, mencionandoobrigatoriamente:

I – a data e a hora da instalação dos trabalhos;II – o magistrado que presidiu a sessão e os jurados presentes;III – os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou sem ela, e

as sanções aplicadas;IV – o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa;V – o sorteio dos jurados suplentes;VI – o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com a indicação do

motivo;VII – a abertura da sessão e a presença do Ministério Público, do quere-

lante e do assistente, se houver, e a do defensor do acusado;VIII – o pregão e a sanção imposta, no caso de não comparecimento;IX – as testemunhas dispensadas de depor;X – o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas não pudessem

ouvir o depoimento das outras;XI – a verificação das cédulas pelo juiz presidente;XII – a formação do Conselho de Sentença, com o registro dos nomes

dos jurados sorteados e recusas;

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XIII – o compromisso e o interrogatório, com simples referência ao ter-mo;

XIV – os debates e as alegações das partes com os respectivos funda-mentos;

XV – os incidentes;XVI – o julgamento da causa;XVII – a publicidade dos atos da instrução plenária, das diligências e da

sentença.’ (NR)‘Art. 496. A falta da ata sujeitará o responsável a sanções administrativa

e penal.’ (NR)

Seção XVI

Das Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri

‘Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além deoutras expressamente referidas neste Código:

I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva

autoridade;III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de lingua-

gem ou mediante requerimento de uma das partes;IV – resolver as questões incidentes que não dependam de pronuncia-

mento do júri;V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, poden-

do, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomea-ção ou a constituição de novo defensor;

VI – mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julga-mento, o qual prosseguirá sem a sua presença;

VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das dili-gências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;

VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença epara repouso ou refeição dos jurados;

IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou arequerimento de qualquer destes, a argüição de extinção de punibilidade;

X – resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;

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XI – determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquerjurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclareci-mento da verdade;

XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes,quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cadaaparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.’ (NR)”

Art. 2o O art. 581 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 581 ............................................................................................................................................................................IV – que pronunciar o réu;.............................................................................................VI – (revogado);...................................................................................” (NR) Art. 3o Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua

publicação. Art. 4o Ficam revogados o inciso VI do caput do art. 581 e o

Capítulo IV do Título II do Livro III, ambos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubrode 1941 – Código de Processo Penal.

Brasília, 9 de junho de 2008; 187o da Independência e 120o daRepública.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVATarso GenroEste texto não substitui o publicado no DOU de 10.6.2008

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Procurador-geral de JustiçaFernando Grella Vieira

Corregedor-geral do Ministério PúblicoAntonio de Pádua Bertone Pereira

Conselho Superior do Ministério Público

Fernando Grella Vieira (presidente)Antonio de Pádua Bertone PereiraAna Margarida Machado JunqueiraBeneduceEloisa de Sousa ArrudaJoão Francisco Moreira Viegas

Luís Daniel Pereira CintraNelson Gonzaga de OliveiraPaulo do Amaral SouzaMarisa Rocha Teixeira DissingerPedro Franco de CamposTiago Cintra Zarif

Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça

Membros Natos

José Roberto Garcia DurandLuiz Cesar Gama PellegriniFrancisco Morais SampaioJosé Ricardo Peirão RodriguesJosé Roberto Dealis TucunduvaOswaldo Hamilton TavaresFernando José MarquesIrineu Roberto da Costa LopesRegina Helena da Silva SimõesRoberto João EliasClaus PaioneJosé de Arruda Silveira FilhoÁlvaro Augusto Fonseca de ArrudaPedro Franco de CamposGabriel Eduardo ScottiJosé Luiz AbrantesAntonio ViscontiArnaldo GonçalvesMárcio da Cunha BerraPaulo Álvaro Chaves Martins Fontes

Membros Eleitos

Mágino Alves Barbosa FilhoWalter Paulo SabellaJúlio César de Toledo PizaVânia Maria Ruffini Penteado BaleraSonia Maria SchincarioliGeraldo Luís Wohlers SilveiraMarilisa Germano BortolinPaulo OrtigosaParisina Lopes ZeiglerMário de Magalhães Papaterra LimongiPedro Luiz de MeloSérgio de Araújo Prado JúniorDráusio Lúcio BarretoEliana MontemagniRubens RodriguesVânia Ferrari Tropia PadillaMaria Cristina Barreira de OliveiraHeloisa Antonia Barreira de SouzaOswaldo Luiz PaluIurica Tanio Okumura

Conselho do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional

Fernando Grella VieiraAntonio de Pádua Bertone PereiraVânia Ferrari Tropia PadillaEloisa de Sousa Arruda

Marcos Tadeu Gonçalves TeixeiraMarianí AtchabahianAugusto Soares de Arruda Neto

Congregação da ESMP

Mário de Magalhães Papaterra Limongi(presidente)Tatiana Viggiani Bicudo(coordenadora)Antonio Carlos da PonteEduardo Martines JúniorEliana PassarelliGilberto NonakaLídia Helena Ferreira da Costa PassosLuiz Antonio de Souza

Luiz Roberto Cicogna FaggioniMárcio Fernando Elias RosaMotauri Ciocchetti de SouzaOswaldo Henrique Duek MarquesOswaldo Luiz PaluOswaldo Peregrina RodriguesRonaldo Porto Macedo JúniorSérgio Seiji ShimuraVidal Serrano Nunes JúniorWallace Paiva Martins Júnior

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2799-9800

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