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    MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA

    EDISON LOBO Ministro

    Secretaria de Geologia, Minerao e Transformao Mineral

    CLUDIO SCLIARSecretrio

    CPRM-SERVIO GEOLGICO DO BRASIL

    AGAMENON SRGIO LUCAS DANTASDiretor-Presidente

    MANOEL BARRETTO DA ROCHA NETODiretor de Geologia e Recursos Minerais

    JOS RIBEIRO MENDESDiretor de Hidrogeologia e Gesto Territorial

    FERNANDO PEREIRA DE CARVALHODiretor de Relaes Institucionais e DesenvolvimentoEDUARDO S ANTA HELENA

    Diretor de Administrao e Finanas

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR UFC

    PROFESSOR CARO DE SOUSA MOREIRAReitor

    CENTRO DE CINCIASPROFESSOR PAULO DE TARSO CAVALCANTE FREIRE

    Diretor

    DEPARTAMENTO DE GEOLOGIAPROFESSOR WELLINGTON FERREIRA DA SILVA FILHO

    Chefe

    PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASILContrato CPRM- UFC N. 058/PR/05

    Braslia, 200 8

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    APRESENTAO

    O Programa Geologia do Brasil (PGB), desenvolvido pela CPRM - Servio Geolgico doBrasil, responsvel pela retomada em larga escala dos levantamentos geolgicos bsicosdo pas. Este programa tem por objetivo a ampliao acelerada do conhecimento geolgicodo territrio brasileiro, fornecendo subsdios para novos investimentos em pesquisa mineral

    e para a criao de novos empreendimentos mineiros, com a conseqente gerao de novasoportunidades de emprego e renda. Alm disso, os dados obtidos no mbito desse programapodem ser utilizados em programas de gesto territorial e de recursos hdricos, dentreinmeras outras aplicaes de interesse social.

    Destaca-se, entre as aes mais importantes e inovadoras desse programa, aestratgia de implementao de parcerias com grupos de pesquisa de universidades pblicasbrasileiras, em trabalhos de cartografia geolgica bsica na escala 1:100.000. Trata-se deuma experincia que, embora de rotina em outros pases, foi de carter pioneiro no Brasil,representando uma importante quebra de paradigmas para as instituies envolvidas. Essaparceria representa assim, uma nova modalidade de interao com outros setores degerao de conhecimento geolgico, medida que abre espao para a atuao deprofessores, em geral lderes de grupos de pesquisa, os quais respondem diretamente pelaqualidade do trabalho e possibilitam a insero de outros membros do universo acadmico.Esses grupos incluem tambm diversos pesquisadores associados, bolsistas de doutorado emestrado, recm-doutores, bolsistas de graduao, estudantes em programas de iniciaocientfica, dentre outros. A sinergia resultante da interao entre essa considervel parcelado conhecimento acadmico nacional com a excelncia em cartografia geolgica praticadapelo Servio Geolgico do Brasil (SGB) resulta em um enriquecedor processo de produo deconhecimento geolgico que beneficia no apenas a academia e o SGB, mas toda acomunidade geocientfica e industria mineral.

    Os resultados obtidos mostram um importante avano, tanto na cartografia geolgicaquanto no estudo da potencialidade mineral e do conhecimento territorial em amplas reasdo territrio nacional. O refinamento da cartografia, na escala adotada, fornece aospotenciais usurios, uma ferramenta bsica, indispensvel aos futuros trabalhos deexplorao mineral ou aqueles relacionados gesto ambiental e avaliao depotencialidades hdricas, dentre outros.

    Alm disso, o projeto foi totalmente desenvolvido em ambiente SIG e vinculado aoBanco de Dados Geolgicos do SGB (GEOBANK), incorporando o que existe de atualizado emtcnicas de geoprocessamento aplicado cartografia geolgica e encontra-se tambmdisponvel no Portal do SGB www.cprm.gov.br .

    As metas fsicas da primeira etapa dessa parceria e que corresponde ao binio 2005-2006, foram plenamente atingidas e contabilizam 41 folhas, na escala 1:100.000, ou sejaaproximadamente 1,5% do territrio brasileiro. As equipes executoras correspondem agrupos de pesquisa das seguintes universidades: UFRGS, USP, UNESP, UnB, UERJ, UFRJ,UFMG, UFOP, UFBA, UFRN, UFPE e UFC.

    Este CD contm a Nota Explicativa Integrada das folhas Quixeramobim, Boa Viagem eItatira , juntamente com o Mapa Geolgico na escala 1:100.000 da Folha Itatira (SB.24-V-B-V), em ambiente SIG, executado pela UFC, atravs do Contrato CPRM-UFC N o.058/PR/05.

    Braslia, junh o de 200 8

    AGAMENON DANTAS MANOEL BARRETTODiretor Presidente Diretor de Geologia e Recursos Minerais

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    MINISTRIO DE MINAS E ENERGIASECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAO E TRANSFORMAO MINERAL

    CPRM - SERVIO GEOLGICO DO BRASIL

    PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASILContrato CPRM-UFC N. 058/PR/05

    NOTA EXPLICATIVA DAS FOLHAS

    QUIXERAMOBIM(SB.24-V-D-III)

    BOA VIAGEM(SB.24-V-D-II)

    ITATIRA(SB.24-V-B-V)

    1:100.000

    AUTORESAfonso Rodrigues de Almeida, Clovis Vaz Parente, Michel Henry Arthaud

    COORDENAO GERALClovis Vaz Parente

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    APOIO INSTITUCIONAL DA CPRMDepartamento de Geologia-DEGEO

    Diviso de Geologia Bsica-DIGEOBIncio Medeiros Delgado

    Diviso de Geoprocessamento-DIGEOPJoo Henrique Gonalves

    Edio do ProdutoDiviso de Marketing-DIMARK

    Ernesto von Sperling

    Gerncia de Relaes Institucionais eDesenvolvimento - GERIDE/ SUREG-BH

    Marcelo de Arajo Vieira

    Brysa de OliveiraElizabeth de Almeida Cadte Costa

    M. Madalena Costa FerreiraRosngela Gonalves Bastos de Souza

    Silvana Aparecida Soares

    Representante da CPRM no ContratoJos Roberto de Carvalho Gomes

    APOIO TCNICO DA CPRMSupervisor Tcnico do Contrato

    Luiz Carlos da Silva

    Apoio de CampoJos Roberto de Carvalho Gomes

    Antnio Maurlio Vasconcelos

    Reviso do TextoAntnio Maurlio Vasconcelos

    Luiz Carlos da Silva

    Organizao e EditoraoLuiz Carlos da Silva

    Carlos Augusto da Silva Leite

    Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais-CPRM/Servio Geolgico do Brasil.

    Itatira- SB.24-V-B-V, escala 1:100.000: nota explicativa integrada com Quixeramobim e Boa Viagem./AfonsoRodrigues de Almeida, Clovis Vaz Parente, Michel Henry Arthaud - Cear: UFC/CPRM, 2007.196p; 01 mapa geolgico (Srie Programa de Geologia do Brasil PGB) verso em CD-Rom.

    Contedo: Projeto desenvolvido em SIG Sistema de Informaes Geogrficas utilizando o GEOBANK Bancode dados.

    1- Geologia do Brasil- I- Ttulo II- Parente, C.V., Coord. III- Almeida, A.R. IV- Arthaud, H.M..

    CDU 551(815)ISBN 978-85-7499-036-1

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    Programa Geologia do Brasil Folha Boa Viagem, Quixeramobim, Itatira i

    R ESUMO

    Este o relatrio final relativo ao mapeamento geolgico das Folhas Quixeramobim (SB-24-V-D-III), Boa Viagem (SB-24-VD-II) e Itatira (SB-24-V-B-V), objeto do contrato CPRM058/PR/05UFC.A rea abrangida pelas folhas supracitadas est localizada no serto central do Estado do Cear, econtm uma amostra representativa do Domnio Cear Central. Da anlise estrutural e petrolgicaresultou uma seqncia estratigrfica que, da base para o topo, pode ser esquematizada como

    segue: O Complexo Cruzeta de idade neoarqueana (2,14Ga 3,27Ga U-Pb; 2,32Ga 3,16gaSm/Nd) a paleoprotoerozica, representado por paragnaisses e ortognaisses variavelmentemigmatizados, intercalados por rochas metabsicas e metaultrabsicas, localmente mineralizadasem Cr, Ni e PGe, e formaes ferrferas bandadas. Estas rochas so caracterizadas por umafoliao de baixo ngulo, exceto em shear zones localizadas. A Unidade Algodes, de idadepaleoproterozica (2,00Ga - 2,76Ga Sm/Nd), bordeja o Complexo Cruzeta e est constituda pororto e paragnaisses bandados contendo intercalaes de anfibolitos com at 600 m de espessura esubordinadamente xistos pelticos e semipelticos. Intrudidos nas seqncias supra, encontramosos metatonalitos da Sute Madalena (2,16ga U/Pb; 2,39Ga Sm/Nd), e, pelo menos em parte, os

    tonalitos e granodioritos, variavelmente deformados, que constituem a Sute Sitio dos Bois, estaocorrendo preferencialmente na Folha Quixeramobim. Sob a designao de Complexo Cear, estoagrupadas as seqncias meta-sedimentares pelito-aluminosas de idade meso-neoproterozica,distribudas por todo o Domnio Cear Central e denominadas em conformidade geogrfica ondeforam definidas. A Unidade Independncia foi neste trabalho dividida nas sub-unidades So Josdos Guerra, (2,34Ga Sm/Nd) Lzaro (2,06Ga - 3,06Ga Sm/Nd), Guia (1,27Ga-3,40Ga, Sm/Nd),Itatira (1,49Ga-3,53Ga Sm/Nd). A Quixeramobim teve parte de seus domnios redefinidos paraUnidade Juatama. Estas seqncias exibem-se metamorfisadas no fcies anfibolito alto, zona dasilimanita, com produo local de fluidos anatticos. A profuso de lineaes de estiramento

    mineral e falhas inversas regionais indicando transporte tectnico horizontal de nappes, de modogeral, para sul, sugere a atuao de esforos regionais compressivos que foram absorvidos nodesenvolvimento e/ou reativao de zonas de cisalhamento transpressivos dcteis, exemplificadaspela Unidade Milontica Senador Pompeu. A dinmica sinistral deste cisalhamento, dirigida portensores regionais 1H, 2H e 3V induziu dilatao vertical de anisotropias regionais e/ouformao de fraturas extensionais com conseqente fuso parcial de rochas em ambientesprofundos, pela descompresso isotermal local. Em regies onde a produo de lquidosmagmticos se fez ao longo da foliao, foram geradas quantidades importantes de metatexitos ediatexitos, possibilitando, por exemplo, a individualizao de unidades litoestratigraficas, como o

    caso da Unidade Juatama, gerada a partir da Unidade Quixeramobim. Provavelmente na mesmapoca (Neoproterozico) e mecanismo idntico, abundante fuso parcial em metassedimentosOrs, gerou o complexo metatextico/diatextico e leucogranitos associados, agrupados sob a

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    Programa Geologia do Brasil Folhas Boa Viagem, Quixeramobim e Itatira ii

    denominao de Complexo Acopiara. As sutes Nenelandia (561Ma U/Pb; 1,47Ga - 2,11Ga Sm/Nd)e Banabui, constitudas por leucogranitos do tipo S, bem como o distrito pegmattico Berilandia(mineralizado em Li, Be, Nb, Ta e Sn), e ainda as sutes Aroeiras, Quixad (585Ma U/Pb; 597MaPb/Pb; 1,83Ga Sm/Nd) e Rio Quixeramobim (587Ma U/Pb; 1,90Ga Sm/Nd) tambm foram geradasneste estgio magmagnico, estas trs ltimas diferenciando-se, por apresentar enclavesmicrogranulares e diques sinplutnicos mficos, sugerindo a participao local de magmasmantlicos. Uma inverso nos movimentos regionais produziu deformao generalizada nosgranitos supra e encaixantes, neles imprimindo os critrios cinemticos transpressionais hojeobservados.

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    Programa Geologia do Brasil Folhas Boa Viagem, Quixeramobim e Itatira iii

    ABSTRACT

    This report (contract CPRM058/PR/05UFC) is a synthesis concerning the results of geologicmapping at the scale 1:100.000, of an area including the topographic maps Quixeramobim (SB-24-V-D-III), Boa Viagem (SB-24-VD-II) and Itatira (SB-24-V-B-V). Those areas, situated in the centralportion of Cear State (NE Brazil), belong to the Central Cear Domain which is part of thenorthwestern Borborema Province. The stratigraphic record, based on geochronological, structural

    and petrological data, is represented by: Cruzeta Complex, of neoarchean/paleoproterozoic age(2,14Ga3,27Ga U-Pb; 2,32Ga3,16ga Sm/Nd), which includes paragneisses and ortogneissesvariably migmatized, interlayed with metabasics and metaultrabasics rocks, locally mineralized inCr, Ni and PGEs, and banded irons formations. These rocks are characterized by a regionally lowangle foliation, except when crosscuted by high angle transcurrent shear zones; Madalena Sutemetatonalite (2,16ga U/Pb; 2,39Ga Sm/Nd) and Sitio dos Bois Suite tonalite and granodiorite,intrusive in the Cruzeta Complex; Algodes Sequence, of paleoproterozoic age (2,00Ga - 2,76GaSm/Nd), borders the Cruzeta Complex and is constituted by banded ortho and para-gneissescontaining amphibolites lenses up to 600 m of thickness and minor pelitic and semipelitics schists;

    Cear Complex, a sequences of pelitic metassediments associated with quartzites and marbles ofneoproterozoic age, subdivided in So Jos dos Guerra Unit, (2,34Ga Sm/Nd-T DM) Lzaro Unit(2,06Ga - 3,06Ga Sm/Nd- T DM), Guia Unit (1,27Ga-3,40Ga, Sm/Nd- T DM), Itatira Unit (1,49Ga-3,53Ga Sm/Nd- T DM) and Quixeramobim Unit. Metamorphic rocks of the Cear Complex aregenerally sillimanite or kyanite bearing with local production of anatetic melts. In the Guia Unit,there are some records of granulitic rocks and garnet bearing amphibolite have been interpretatedas retro-eclogites. Regionally flat-lying foliation associated with ductile thrust zones andmetamorphic context can be explained by Himalayan type nappes with tectonic transport tosoutheast. Melting and formation of magmatic melts are associated with isothermal decompression

    that may be consequence of a rapid exhumation of the metassediments of the Cear Complex orby dilation of regional anisotropies and/or formation of extensional fractures coeval with generationof transpressive ductile shear zones, as the Senador Pompeu. The Juatama Unit is an example ofsuch a process: diatexites and metatexites of this unit have been formed by partial melting of theQuixeramim Unit. Most part of the granitic bodies - Nenelandia Suite (561Ma U/Pb; 1,47Ga -2,11Ga Sm/Nd), Banabui (constituted by S-type leucogranites), Berilandia pegmatitic district(mineralized in Be, Li, Ta, Nb, Sn), Aroeiras Suite, Quixad Suite (585Ma U/Pb; 597Ma Pb/Pb;1,83Ga Sm/Nd)) and Rio Quixeramobim Suite (587Ma U/Pb; 1,90Ga Sm/Nd) may have beengenerated by the same decompression process. The last three magmatic suites shows

    microgranular enclaves and mafic synplutonic dykes, suggesting local participation of mantelicmagma.

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    SUMRIO

    RESUMO............................................................................................................................ iABSTRACT ....................................................................................................................... iii1. INTRODUO ................................................................................................................ 1

    1.1 Aspectos Fisiogrficos ............................................................................................... 51.2 Dados Fsicos de Produo......................................................................................... 7

    2. CONTEXTO REGIONAL .................................................................................................... 9

    2.1 Provncia Borborema................................................................................................. 92.2 Provncia Borborema Setentrional ............................................................................. 102.3 Domnio Cear Central ............................................................................................ 14

    3. ESTRATIGRAFIA........................................................................................................... 223.1 Complexo Cruzeta Apcz........................................................................................ 223.2 Suite Madalena - PP2ma.......................................................................................... 243.3 Unidade Algodes PP2al ....................................................................................... 253.4 Complexo Cear - PRc ............................................................................................ 273.5 Complexo Acopiara (PRacp) ..................................................................................... 343.6 Complexo Tamboril Santa Quitria (NP3 ts) ............................................................... 353.7 Granitos Brasilianos Magmatismo Serto Central...................................................... 363.8 Vulcanismo Bsico Cear Mirim (JK1 c)..................................................................... 39

    4. PETROGRAFIA E GEOQUMICA ....................................................................................... 404.1 Mrmores ............................................................................................................. 404.2 Rochas Metamficas e Metaultramficas .................................................................... 484.3 Complexo Cruzeta .................................................................................................. 614.4 Unidade Algodes................................................................................................... 654.5 Complexo Acopiara................................................................................................. 664.6 Complexo Cear - Unidade Quixeramobim ................................................................. 70

    5. GEOLOGIA ESTRUTURAL E TECTNICA ..........................................................................1225.1 Aspectos estruturais ..............................................................................................122

    5.2 Evoluo Tectnica................................................................................................1336. RECURSOS MINERAIS E CONTROLES DE MINERALIZAO ................................................1376.1 Pegmatitos...........................................................................................................1376.2 Minerais Industriais ...............................................................................................1446.3 Minerais metlicos.................................................................................................1476.4 Urnio e Fsforo ...................................................................................................160

    7. GEOARQUEOLOGIA E SITIOS DE ARTE RUPESTRE DO SERTO CENTRAL DO CEAR .............1707.1 Gravuras e Painis de Arte Rupestre ........................................................................1707.2 Descrio dos stios Arqueolgicos ...........................................................................171

    8. CONCLUSES E RECOMENDAES................................................................................184REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................................187

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    Programa Geologia do Brasil Folha Boa Viagem, Quixeramobim e Itatira 1

    1. I NTRODUO

    O presente relatrio sintetiza as informaes correspondentes ao Projeto MAPEAMENTOGEOLGICO E DE LEVANTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS DAS FOLHAS ITATIRA, BOA VIAGEM EQUIXERAMOBIM, CEAR executado pelos professores da Universidade Federal do Cear Clovis VazParente (Coordenador Geral do Projeto), Afonso Rodrigues de Almeida, Csar Ulisses VieiraVerssimo, Jos de Arajo Nogueira Neto, Michel Henri Arthaud, Otaciel de Oliveira Melo e Snia

    Maria Silva Vasconcelos, com a colaborao da geloga Janolfta Leda Rocha Holanda e de alunosdo Curso de Graduao em Geologia da UFC.

    Para isso, contou-se com a cesso, por parte do Servio Geolgico do Brasil CPRM do seguintematerial:

    - Temas recortados do Mapa Geolgico do Brasil ao Milionsimo e Projetados para WGS-84;

    - Imagens Geocover com resoluo espacial de 14,28 m;

    - Imagens geradas a partir dados aerogeofsicos: aerogamaespectromtricos (contagem total,Potssio, Urnio e Thorio) e magnetomtricos;

    - Modelo digital de terreno.

    As bases aerogeofsicas foram disponibilizadas somente atravs de imagens j resultantes deprocessamento e que no foram fornecidas as bases planimtricas de nenhuma das folhas.

    Foram utilizadas tambm informaes oriundas da consulta de teses de doutorado, dissertaes demestrado, projetos de pesquisas, relatrios de graduao, relatrios tcnicos e trabalhoscientficos, complementadas com interpretao de sensores remotos (imagens de satlite,fotografias areas e mapas aerogeofsicos). A figura 1.1 sintetiza os dados compilados, cujosautores e ttulos esto relacionados na tabela 1.a.

    As reas objeto deste trabalho esto contidas nas folhas Itatira (SB.24.V.B.V), Boa Viagem(SB.24.V.D.II) e Quixeramobim (SB.24.V.D.III), escala 1:100.000, abrangem os municpioshomnimos e cobrem uma rea total de cerca de 9066 Km 2 . Esto localizadas na regio centraldo Estado do Cear (Figura 1.2), em continuidade lateral. Podem ser acessadas, a partir deFortaleza, pela BR020 (Itatira e Boa Viagem) e pela BR116 e CE-021 Estrada do Algodo(Quixeramobim).

    Nestes ltimos 20 anos a regio central do Estado foi foco de inmeros trabalhos geolgicos,principalmente aqueles de cunho econmico e aqueles de cunho geolgico regional. Teses de

    doutoramento, dissertaes de mestrado, relatrios de graduao foram desenvolvidas nestaregio. A figura 1.2 e a tabela 1a resumem os trabalhos disponveis.

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    Programa Geologia do Brasil Folhas Boa Viagem, Quixeramobim e Itatira 2

    Figura 1.1: Localizao das trs folhas no Estado do Cear (I: Itatira; II: Boa Viagem; III:Quixeramobim).

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    Area de m ape am en to

    Limites do Es tado

    do Cear

    Legenda

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    Figura 1.2: Mapa de localizao dos trabalhos anteriores.

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    Programa Geologia do Brasil Folhas Boa Viagem, Quixeramobim e Itatira 4

    Tabela 1.a: Relao dos trabalhos anteriores das folhas Quixeramobim, Boa Viagem e Itatira.

    N DEORDEM TTULO AUTOR/AUTORES

    1 GEOLOGIA DA REGIO SUDESTE DE QUIXERAMOBIM (1990) ngela Luzia Andrade de Moraes

    Isabel C. dos Santos Texeira2 GEOLOGIA DA REGIO SW DE QUIXERAMOBIM - CE (1994) Dlber Farias Landim

    3 GEOLOGIA DA REGIO DE QUIXERAMOBIM - CE (1991) Antnio Hlio Muniz FernndezDiana Lcia Gis4 GEOLOGIA DA PORO SE DE QUIXERAMOBIM (1988) Joo Jos Rodrigues Bernades5 GEOLOGIA DA REGIO DE JUATAMA (1989) Maria Araguacy R.Simplicio

    6 GEOLOGIA DA REGIO DE QUIXERAMOBIM - CE (1994) Maria Conceio B. GuerraMaria Rosangelica R. Cunha

    7 GEOLOGIA DA REGIO DE URUQU (1990) Francisca das Chagas C. MoraisMaria Dulcinia Rolim Bessa

    8 CARTOGRAFIA GEOLGICA DE UMA REA A LESTE DE MADALENA-CECOM SUPORTE DE DADOS DE SENSORES REMOTOS Marcus Leandro de A. Texeira

    9ASPECTOS GEOLGICOS, PETROGRFICOS E ESTRUTURAIS DASEQNCIA METAVULCANOSSEDIMENTAR DA CRUZETA EADJACNCIAS

    Leiliane Rufina P. de AzevedoFrancisco Heury F. da Silva

    10 MAPEAMENTO GEOLGICO BSICO DA REGIO CENTRAL DOMUNICPIO DE BOA VIAGEM-CE Cludio Roberto da Silva Vieira

    11ESTUDOS DAS RELAES ENTRE O EMBASAMENTOPALEOPROTEROZICO E AS COBERTURAS PARADERIVADASMESO/NEOPROTEROZICAS NA REGIO DE LAGOA DO MATO-CE

    Cludio Magrbio M. Barbosa

    12LITOGEOQUIMICA E ISOTOPOS ESTAVEIS DE CARBONO E OXIGNIODAS ROCHAS METASSEDIMENTARES HOSPEDEIRAS DA JAZIDAFOSFORO-URANIFERA DE ITATIRA-SANTA QUITERIA - CE (2001)

    Givaldo Lessa Castro

    13 GEOLOGIA DO CAMPO PEGMATTICO DE BERILNDIA - CE (1992) Francisco Marques Jnior

    14 CARACTERIZAO LITOESTRUTURAL E GEOCRONOLGICA DAREGIO FSFORO-URANFERA DE ITATAIA-CE (2003) Aldiney Almeida Santos

    15EVOLUO GEOLGICA PROTEROZICA DA REGIO ENTREMADALENA E TAPERUABA, DOMNIO TECTNICO CEAR CENTRAL(PROVNCIA BORBOREMA)(2004) Neivaldo Araujo de Castro

    16 LITOGEOQUIMICA E CONTROLES GEOCRONOLOGICOS DA SUITEMETAMORFICA ALGODOES-CHORO-CE Guttenberg Martins

    17_1ESTRUTURA, GEOCRONOLOGIA E ALONGAMENTO DOS BATLITOSDE QUIXAD, QUIXERAMOBIM E SENADOR POMPEU - CEARCENTRAL (2004)

    Johnson Fernandes Nogueira

    17_2ESTRUTURA, GEOCRONOLOGIA E ALONGAMENTO DOS BATLITOSDE QUIXAD, QUIXERAMOBIM E SENADOR POMPEU - CEARCENTRAL (2004)

    Johnson Fernandes Nogueira

    18 PROJETO GRANITIDES

    Joaquim Raul F. TorquatoAfonso R. de AlmeidaAntonio C. SidrimCarlos M. L. Maranho

    Clvis V. ParenteJos de A. Nogueira NetoJos V. de SouzaMarcos J. N. de SouzaMichel H. Arthaud

    19 PETROLOGIA E ASPECTOS TECTNICOS DO COMPLEXO GRANTICOQUIXAD-QUIXERAMOBIM Afonso Rodrigues de Almeida

    20 PROJETO JAGUARIBE; RELATRIO FINAL,RECIFE,DNPM-CPRM_1976(15V.11) Campos, M. de

    21 PROJETO FORTALEZA; RELATRIO FINAL, RECIFE, DNPM-CPRM_1977 (10V.IL) Braga, A. de P. G. alii

    22 PROJETO MAPAS METALOGENTICOS E DE PREVISO DE RECURSOSMINERAIS, FORTALEZA, DNPM-CPRM_1983 (2V.IL Morais, J. B. de

    23 MINERAO GERAL DO NE, RELATRIO DE PESQUISA, PROCESSODNPM 803.312177, FORTALEZA_1982 Maciel,J.B.

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    Programa Geologia do Brasil Folhas Boa Viagem, Quixeramobim e Itatira 5

    1.1 Aspectos Fisiogrficos

    Clima

    A regio em epgrafe est localizada na regio conhecida como polgono das secas, que envolveparte dos estados do Nordeste, marcada por clima semi-rido com elevados ndices de evaporaoe evapotranspirao durante todo o ano, com temperatura mdia anual normalmente superior a29C. O clima classificado como do tipo Bsh de Koppen, caracterizado por duas estaesdefinidas: uma chuvosa e outra seca. Em situao normal, o perodo de chuvas tem incio no msde janeiro, prolongando-se at junho, sendo as mximas pluviomtricas entre fevereiro e abril. Operodo seco atinge o mximo de estiagem durante os meses de agosto a outubro. A pluviosidademdia na regio atinge 700 mm, com mdia termal de 27C.

    Vegetao

    A cobertura vegetal das trs folhas est representada em sua grande maioria por espcies dacaatinga hiperxerfila cuja localizao corresponde ao domnio semi-rido dos Sertes Cearenses.Alm das espcies arbustivas, so encontradas tambm espcimes arbreos como o pau-branco, o

    juazeiro, a oiticica, o pau-drco, a aroeira e o jatob.

    De acordo com o mapeamento fitogeogrfico da folha SB.24-V-B, realizado pelo convnioDNPM/RADAMBRASIL, para a NUCLEBRS, a regio de Itataia foi dividida em 3 sub regiesfitoecolgicas, que correspondem a:

    - Estepe Tropical (Caatinga);

    - Floresta Tropical (Floresta Ombrfita Aberta Tropical e Floresta Estacional Semi-DecidualTropical); e

    - reas Antrpicas.

    Solos

    Os solos da rea so oriundos principalmente da alterao in situ de granitos e gnaisses ou demateriais coluviais mobilizados a partir dessas rochas. As associaes dominantes, segundolevantamento realizado pela SUDENE (1973) incluem solos litlicos, brunos no clcicos,planossolos soldicos, solonetz solodizados e podzlicos vermelho amarelo. Caractersticas comunss diversas classes so: a pequena espessura, quase sempre inferior a 1,00m; a textura arenosados horizontes superficiais e areno-argilosa ou argilosa nos horizontes sotopostos; a ocorrnciaeventual de stone lines ou fragmentos de rochas; e, a baixa saturao de bases trocveis. Naregio de Itataia ocorrem, preferencialmente, os solos: brunos no clcicos, planossolos,cambissolos, e algumas associaes de solos litlicos e podzlicos vermelho-amarelo eutrficos debaixa permeabilidade.

    Hidrografia

    A rede de drenagem constituda por cursos dgua intermitentes sazonais de pequena energia,formando vales largos e configurando um padro de drenagem predominantemente dendrtico,localmente estruturado, em zonas de cisalhamento e reas mais fraturadas. A rea compreendida

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    A Depresso Sertaneja representada por um pediplano muito arrasado, desenvolvido sobrerochas gnaissico-migmatticas pr-Cambrianas, submetidas a rigorosos processos erosivos e ocupacerca de 70% da Folha Itatira. No geral, verifica-se um relevo relativamente plano, com superfciedissecada, deixando lombadas e morrotes rebaixados.

    Entretanto, destacam-se em seu seio algumas elevaes, cuja altitude mdia da ordem de350 a 450 metros, como o serrote da Igreja que sustentado por mrmores da FormaoAlcantil.

    Os Planaltos Residuais constituem as pores mais elevadas da rea, com altitudes entre 650 e1000 metros, correspondendo as serras do Cu, das Cacimbas, da Mata Fome, das Laranjeiras e doTrapi. A Serra do Cu, com 1085 metros de altura, o ponto culminante da regio, e o terceiromais alto do Estado do Cear. tambm o divisor de gua das bacias dos rios Cur e Acara,caracterizando-se por uma superfcie cimeira muito dissecada, de morfologia de cuesta, comcaimento suave para norte, porm escalonada por inmeros patamares que marcam a mudana detipos litolgicos.

    Os contrafortes da Serra do Cu formam escarpas ngremes, subverticalizadas, de contornossinuosos emoldurados pelos migmatitos. Esta unidade morfolgica tem uma cobertura vegetal maisdensa que a do pediplano da depresso circunjacente e responsvel pelas modificaes de ordemclimtica local, com temperatura mais amena e densidade pluviomtrica mais acentuada.

    Na maior parte dos planaltos residuais, a partir da cota de 500 metros, nota-se a influncia damorfognese qumica, decorrente da maior umidade, gerando intensa decomposio nas vertentesmenos ngremes, dando origem a uma pedognese incipiente caracterizada por saprlitos cobertospor mataces. Esta unidade de macios elevados representa, segundo Souza (1988), testemunhosde um nvel fundamental do qual o relevo regional foi modelado a partir de vrios ciclos deaplainamento.

    1.2 Dados Fsicos de Produo

    Os trabalhos de campo, que culminaram com a execuo dos Mapas Geolgicos, escala 1:100.000,correspondentes s trs folhas (Folha Quixeramobim, Boa Viagem e Itatira), foram realizados emvrias etapas, concentradas basicamente entre os meses de julho e setembro de 2005, totalizandocerca de 50 dias/Folha. Entretanto, essas reas j haviam sido objeto de estudo por vriosmembros da equipe durante a dcada de oitenta, por ocasio do Projeto Granitides que englobaparte da Folha Quixeramobim, executado sob os auspcios da FINEP e, mais recentemente, oProjeto Cear Central, que engloba as Folhas Itatira e Boa Viagem, desenvolvido em parceria comprofessores do Instituto de Geocincias da Universidade de Braslia, patrocinado pela CAPES,atravs do PROCAD.

    No geral, foram gerados os seguintes dados por folha.

    Folha Quixeramobim Descrio de 707 estaes de afloramento , 74 lminas petrogrficas,cadastramento de 12 novas ocorrncias minerais, 53 anlises geoqumica em rocha total, 02anlises U-Pb*; 10 anlises Sm-Nd*.

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    Folha Boa Viagem - Descrio de 560 estaes de afloramento, 30 lminas petrogrficas, 05 seespolidas, cadastramento de 11 ocorrncias minerais, 41 anlises qumicas em rocha total, anlisesgeocronolgicas - Total 24 (13 Sm/Nd Novas);

    Folha Itatira - Descrio de 857 estaes de afloramento , 65 lminas petrogrficas, ???? seespolidas, cadastramento de 63 ocorrncias minerais, 42 anlises qumicas rocha total; anlisesgeocronolgicas* - Total 57 (09 Sm/Nd Novas);

    * As anlises geocronolgicas encontram-se ainda em processamento de anlises no Laboratriodo Instituto de Geocincias da UNB.

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    2. CONTEXTOR EGIONAL

    2.1 Provncia Borborema

    A rea objeto de estudo est localizada, do ponto de vista geolgico, em regio tradicionalmenteconhecida como Domnio Cear Central (Cear Central, Caby & Arthaud, 1986; Domnio CearCentral, Jardim de S, 1994, Moni et al , 1997; Terreno Cear Central, Cavalcante, 1999).

    O domnio pertence poro setentrional da Provncia Borborema (Almeida et al. , 1977)(Figura 2.1a,b).

    a)

    Figura 2.1a: Localizao da Provncia Borborema no Brasil (Schobbenhaus & Campos,1984).

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    A Provncia Borborema representa o extremo nordeste da Plataforma Sulamericana, caracterizadopor atividade tectnica intensa ao final do Proterozico, conseqncia de coliso continentalenvolvendo os crtons So Lus-Oeste frica e So Francisco-Congo. A coliso, correspondendo aoCiclo Brasiliano-Pan-Africano, completou-se, no caso da Provncia Borborema, por volta de 600-550 Ma.

    A figura 2.2 mostra uma reconstituio inferida dos continentes africano e sul-americano ao finaldo Ciclo Brasiliano.

    2.2 Provncia Borborema Setentrional

    A maior parte dos autores concorda, atualmente, em subdividir a poro setentrional da ProvnciaBorborema em trs ou quatro domnios (ver, p. ex, Brito Neves et al , 2000) (Figura 2.3):

    Figura 2.1b: Subdiviso da Provncia Borborema (Trompette, 1994).

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    Figura 2.2: Reconstituio da situao da Provncia Borborema ao final do Proterozico / inciodo Paleozico (Trompette, 1994).

    Figura 2.3: Domnios constitutivos da Provncia Borborema Setentrional (baseado emCavalcante, 1999, simplificado e modificado).

    - Domnio Rio Grande do Norte (Figura 2.3), constitudo pelo Macio So Jos do Campestre (Figura2.4a), pela Faixa Dobrada Serid (Figura 2.4b) e pelo Macio Rio Piranhas (Figuras 2.4b e 2.4c).

    - Domnio Noroeste Cear ou Mdio Corea (Figuras 2.3 e 2.4d).

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    Os limites dos domnios correspondem a megazonas de cisalhamento transcorrentes ativas ao finaldo Ciclo Brasiliano. No estado atual dos conhecimentos, no se sabe quais so as transcorrnciasresponsveis por colagem de terrenos (evoluo de zonas de sutura) e quais as responsveis peloacoplamento de regies distantes, com evoluo geolgica pouco diferente, em funo da suamovimentao transcorrente.

    a)

    b)

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    c)

    d)

    Figura 2.4: Geologia dos domnios da Provncia Borborema Setentrional a) Macio So Jos do Campestre(Dantas, 1998); b) Faixa Serid e Macio Rio Piranha (Dantas et al., 2003); c) Macio Rio Piranha e DomnioOrs Jaguaribe (Cavalcante, 1999); d) Noroeste Cear (Santos, 1999).

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    2.3 Domnio Cear Central

    Registram-se duas definies principais quanto abrangncia geogrfica do Domnio CearCentral. Ambas consideram que o Lineamento Transbrasiliano (Sobral-Pedro II), mega-transcorrncia destral, por muitos interpretado como prolongamento, no Brasil, do Lineamento450 (Trompette, 1994) que, na frica, representa a sutura entre os Crton Oeste frica e Congo,constitui o limite oeste do domnio, em parte encoberto pelas rochas sedimentares da Bacia doParnaba.

    a)

    b)

    Figura 2.5: O Domnio Cear Central limitado a SE a) Alternativa a) pela ZC SenadorPompeu (Fetter, 1999) e b) alternativa B pelas ZC Ors e Aiuba (Arthaud et al.,1998a).

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    A norte, o domnio se estende at o Oceano Atlntico. Alguns autores (Cavalcante, 1999; Fetter,1999; Brito Neves et al. , 2000) consideram que a Zona de Cisalhamento Senador Pompeuestabelece o limite entre o Domnio Cear Central e o Domnio Rio Grande do Norte (Figura 2.5a).Outros autores (p. ex. Arthaud et al. , 1998a) consideram que as Zonas de Cisalhamento de Ors eAiuaba separam o Domnio Cear Central do Domnio Ors-Jaguaribe (Figura 2.5b).

    O Domnio Cear Central produto de longa e complexa histria geolgica, iniciada nos temposarqueanos. Vrios episdios de acreso crustal e vrios ciclos orogenticos deixaram seusregistros magmticos, metamrficos e deformacionais.

    As feies geolgicas atuais do domnio (Figs. 2.2 - 2.5) foram adquiridas no final do CicloBrasiliano/Pan Africano (fim do Proterozico/incio do Paleozico), aps a coliso continentalenvolvendo os crtons So Luis/Oeste frica e So Francisco/Congo, participando da formao deGondwana Ocidental, como parte da Pangea

    A abertura do Oceano Atlntico, iniciada no Mesozico, foi responsvel pela fisso do mega-continente Pangea recm formado e pela separao do Domnio Cear Central do seu equivalenteafricano.

    Arqueano

    Os afloramentos de terrenos arqueanos do Cear Central esto limitados sua poro sul/sudeste,na regio de Pedra Branca e Mombaa. A primeira datao disponvel confirmando a idade destasrochas, antigamente inseridas na unidade denominada Complexo Pedra Branca, corresponde a uma

    iscrona Rb-Sr em rocha total de ortognaisses granticos com idade de 2540 60 Ma (Pessoaet al. , 1986). Mais recentemente, vrias dataes U-Pb em zirco confirmaram a existncia depequeno bloco neoarqueano, em torno de 2,7-2,8 Ga (Figura 2.6) na regio (Fetter, 1999).

    Com aproximadamente 6.000 km 2, recortado pela zona de cisalhamento dctil de Sabonete-Inhar, o bloco apresenta limites ainda mal definidos, em grande parte por causa das grandessemelhanas litolgicas que apresenta com os terrenos paleoproterozicos vizinhos (Fetter, 1999). ainda necessrio refinamento do conhecimento geocronolgico para sua melhor delimitao.Dados geocronolgicos obtidos recentemente (idades modelo Sm/Nd) mostram que este blocoarqueano sofreu um intenso retrabalhamento no paleoproterozico.

    De maneira simplificada, os terrenos arqueanos da regio de Pedra Branca / Mombaa podem sersubdivididos em gnaisses cinza ( grey gneisses ), derivados de protlitos plutnicos de naturezaessencialmente tonaltica / granodiortica, e rochas supracrustais formando associao do tipogreenstone-gnaisses (Pessoa & Archanjo, 1984; Caby & Arthaud, 1986; Caby et al., 1995). As duasunidades apresentam evoluo distinta.

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    Figura 2.6: Esboo geolgico do Domnio Cear Central (segundo Arthaud, 2005, baseado no mapageolgico do Cear, escala 1:500.000 Cavalcante et al., 2003, simplificado e modificado).

    Os gnaisses cinza apresentam idades U-Pb em torno de 2,7-2,8 Ga e idades modelos Sm-Ndescalonadas entre 2,9 e 3,04 Ga e Nd negativo, o que mostra que a associao TTG arqueana sedesenvolveu s custas de rochas mais antigas (Fetter, 1999). J as rochas supracrustais, apesar

    de apresentar idades U-Pb pouco diferentes, apresentam idades modelo mais novas e, sobretudo,Nd positivo, o que levou proposio de origem e evoluo diferentes para as duas unidades: osgnaisses cinza retrabalhados seriam terrenos de arco continental desenvolvidos nas margens de

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    um craton arqueano mais antigo que teria, posteriormente, colidido com a unidade de greenstone -gnaisses constituda por crosta juvenil gerada em domnio ocenico isolado (Fetter, 1999).

    Datao mais recente, obtida pelo mtodo U-Pb SHRIMP em amostra de rocha tonaltica coletada a

    sul da cidade de Boa Viagem forneceu, em regio geralmente tida como paleoproterozica, idadede 3,27 Ga (Silva et al. , 2002). Esta idade anmala deve corresponder a gros de zirco herdadosde embasamento mais antigo.

    O bloco arqueano, policclico, exibe essencialmente as marcas do metamorfismo de fcies anfibolitoalto e da intensa deformao tangencial brasiliana.

    No novo Mapa Geolgico do Cear, escala 1:500.000 (Cavalcante et al. , 2003), estas rochas foramenglobadas, junto com os terrenos paleoproterozicos vizinhos, no Complexo CruzetaIndiferenciado.

    Paleoproterozico

    Rochas de idade paleoproterozica so comuns no Domnio Cear Central, onde representam boaparte da rea exposta. Elas podem ser subdivididas em duas sub-unidades: os terrenos do tipoTTG que, juntos com os terrenos arqueanos, formam o Complexo Cruzeta de Cavalcante et al., (2003) e os terrenos granito gnaisses.

    Terrenos TTG

    Estes terrenos margeiam a noroeste o bloco arqueano de Pedra Branca, aflorando desde a regio

    de Madalena/Boa Viagem at a regio de Chor. So constitudos principalmente por rochasmetaplutnicas de composio tonaltica a granodiortica associadas a faixas supracrustais (comoa Seqncia Algodes Arthaud & Landim, 1995 e Sute Metamrfica Algodes-Chor -Martins, 2000) constitudas de rochas metavulcnicas bsicas (anfibolitos com ou sem granada)e rochas metassedimentares diversas, inclusive formaes ferrferas e manganesferasbandadas.

    Estas seqncias foram datadas pelo mtodo U-Pb em zirco (Fetter, 1999; Martins, 2000).Os resultados apresentados so compatveis e apontam para idade em torno de 2,1-2,13 Gapara os ortognaisses tonalticos. Em amostras dos anfibolitos da Seqncia Algodes, uma

    iscrona Sm-Nd em rocha total (Martins & Oliveira, 2003) forneceu idade de ca. 2,23 Gacompatvel, segundo os autores, com o carter intrusivo dos tonalitos/granodioritos nas rochassupracrustais.

    Tanto no caso dos ortognaisses como das rochas supracrustais, as idades modelo so muitoprximas das idades U-Pb e os valores Nd so positivos, mostrando que se trata de material

    juvenil. Segundo Martins et al. (1998) e Martins & Oliveira (2003), a Seqncia Algodes sedesenvolveu em ambiente de arco ocenico.

    provvel que a unidade atualmente denominada Complexo Cruzeta tenha resultado da acreso

    de vrios arcos insulares paleoproterozicos (idades compreendidas entre 2,1 e 2,15 Ga) em tornode pequeno ncleo arqueano (Fetter, 1999).

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    Como no caso do Complexo Pedra Branca, predominante, nesta unidade, o registrodeformacional (tangencial) e metamrfico (fcies anfibolito alto, s vezes acompanhado demigmatizao mais ou menos acentuada) relacionados ao Ciclo Brasiliano.

    Terrenos gnaisse-migmatticos

    Trata-se de associao complexa de rochas metaplutnicas, na qual predominam rochas decomposio grantica, embora metatonalitos e metagranodioritos tambm sejam comuns, bemcomo rochas supracrustais diversas (metapelitos, quartzitos, rochas calcissilicticas,metavulcnicas bsicas, etc.). Assemelham-se ao embasamento do Domnio Rio Grande do Norte(Complexo Caic) ou do Domnio Ors-Jaguaribe (Bloco Jaguaretama, Parente & Arthaud, 1995).Do ponto de vista geocronolgico, estes terrenos no foram bem caracterizados no Cear Central,mas possvel que, como nos domnios vizinhos, apresentam T DM compreendida entre 2,4 e 2,7Ga, indicando o retrabalhamento de crosta arqueana (Fetter, 1999).

    Meso-Neoproterozico

    O Meso-Neoproterozico representado por coberturas metas-sedimentares que podem serreunidas no Complexo Cear (Arthaud et al. , 1998b).

    Rochas metassedimentares cobrem boa parte do Domnio Cear Central e foram subdividas,com conotaes apenas cartogrficas, em seqncias informais (seqncias Itatira,Canind, Independncia, etc. Arthaud et al ., 1998b). As subdivises no apresentam,por enquanto, significado geolgico claro e no se pode dizer se representam o resultado de

    evoluo separada de vrias bacias ou se correspondem ao desmembramento de uma nicaentidade.

    Essas seqncias apresentam certas caractersticas em comum: so associaes de rochasessencialmente pelticas ou semi-pelticas, com contribuies variveis, mas subordinadas, dequartzitos e carbonatos (mrmores e rochas calcissilicticas). A presena de rochas metavulcnicascidas ou bsicas limitada.

    A idade da deposio dos sedimentos originais ainda no muito clara: existe, no Domnio CearCentral, apenas uma idade U-Pb de 772 31 Ma em zirco de metariolito da Seqncia

    Independncia (Fetter, 1999) e esta pode ser interpretada como idade de deposio, mas apenascomo uma das alternativas possveis.

    Os dados de idade modelo T DM atualmente disponveis para as seqncias no so, ainda,conclusivos, mas mostram claramente que boa parte do material sedimentar proveniente daeroso dos domnios paleoproterozicos ou mesmo arqueanos que formam seu embasamento, comidades modelo to antigas como 2,25 Ga na seqncia de Itatira (Santos et al ., 2003). Entretanto,boa parte dos valores T DM disponveis para estas seqncias (Fetter, 1999; Santos et al ., 2003;Torres, 2004; Castro et al ., 2003; Arthaud, dados inditos) mesoproterozica e, no caso daregio de Redeno, existe pelo menos uma idade T DM neoproterozica (949 Ma em rochas

    calcissilicticas, Torres, 2004). Considerando a importante contribuio do continentepaleoproterozico como fonte de material, provvel que a deposio dos sedimentos originaisseja bem mais recente do que os T DM mais novos, o que leva a pensar que ela aconteceu, na

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    realidade, no Neoproterozico, ao contrrio do que foi considerado por Cavalcante et al., no MapaGeolgico do Cear (2003), que atriburam as seqncias ao Paleoproterozico.

    Esta interpretao condizente com a idade dos metariolitos de Independncia, que

    representariam manifestao magmtica associada a extenso e afinamento crustal queculminaram com a abertura de bacia ocenica (Oceano Farusiano na Provncia do Hoggar, frica doOeste, Caby et al ., 1981) posteriormente fechada durante a coliso brasiliana. Neste caso, oComplexo Cear, pelo menos no centro do Domnio Cear Central, corresponderia a depsitos demargem passiva neoproterozica.

    Apesar de ainda insuficientes para explicar de maneira satisfatria a histria deposicional dasrochas metassedimentares, os dados geocronolgicos disponveis mostram que sua histriametamrfica/deformacional monocclica e que o nico ciclo orognico que afetou as coberturas foio Ciclo Brasiliano, ao final do Neoproterozico. A idade do metamorfismo brasiliano no CearCentral ainda mal definida, mas a idade isocrnica Sm-Nd de 621 160 Ma (rocha total egranada) obtida em paragnaisses da regio de Itatira (Santos et al ., 2003) pode ser considerada,apesar da incerteza grande, como a idade possvel do pico metamrfico na regio.

    Neoproterozico

    Alm da provvel deposio da seqncia de margem passiva correspondente ao Complexo Cear,dois outros conjuntos litolgicos devem ser atribudos ao Neoproterozico: o Complexo Tamboril-Santa Quitria e os granitos brasilianos.

    Complexo Tamboril-Santa Quitria

    Esta unidade foi reconhecida desde os mapeamentos efetuados pela CPRM nos anos setenta(Campos et al ., 1976; Braga et al ., 1977), aparecendo bem delimitada no Mapa Geolgico doCear publicado em 1983 (Cavalcante et al., 1983). Uma das suas caractersticas marcantes aintensa migmatizao associada presena de grande volume de granitos anatticos e de restitosconstitudos essencialmente por anfibolitos e rochas clciossilicticas.

    Fetter et al . (2003) chegaram concluso que os protlitos desta unidade foram gerados emambiente de arco magmtico continental, acima de zona de sutura localizada a oeste(possivelmente no Lineamento Transbrasiliano, posteriormente reativada em transcorrncia

    destral) e com mergulho para leste.

    A inferncia foi baseada inicialmente na assinatura isotpica (idades modelo) das rochasmigmatticas (de protlitos diorticos a granticos) e da sola metassedimentar da unidade, comvrias idades modelo neoproterozicas (Fetter et al ., 2003). No caso das rochas metaplutnicas doComplexo TamborilSanta Quitria, os dados implicam em mistura de magmas juvenisneoproterozicos com gnaisses paleoproterozicos circunvizinhos (Fetter et al ., 2003). As rochasmetassedimentares basais seriam, em parte, produto da eroso do material juvenil. A intensadeformao e a anatexia avanada, adquiridos durante o pico da coliso brasiliana, dificultam areconstituio da geometria do arco.

    As dataes U-Pb em zirco de vrios corpos granticos deformados do complexo variam entre 649e 615 Ma. Os granitos representam os ltimos estgios da evoluo do arco, caracterizados por

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    aumento progressivo da participao crustal, principalmente por refuso do material magmticomais precoce (Fetter et al ., 2003).

    Fetter et al . (2003) consideram a possibilidade da Seqncia metassedimentar de Independncia

    ser uma bacia de back-arc formada durante a evoluo do arco de Santa Quitria, que teria seiniciado por volta de 770 Ma. Esta interpretao prejudicada pela natureza da sedimentao daseqncia, caracteristicamente de natureza plataformal. A interpretao de que o Complexo Cearrepresenta uma margem passiva e o Complexo Tamboril-Santa Quitria representa um arcomagmtico implica na existncia de uma zona de sutura na interface entre as duas unidades.

    Granitides brasilianos

    Em todas as cadeias, os estgios sucessivos da coliso esto marcados pela gerao de granitos:os pr-colisionais ou arcos magmticos continentais, associados subduco, os sin-colisionaisassociados fase tangencial, e os tardi-orognicos e os ps-orognicos associados aodesenvolvimento de transcorrncias e desespessamento da crosta.

    No caso do Domnio Cear Central, os granitos pr-colisionais correspondem ao ComplexoTamboril-Santa Quitria, abordados no item anterior.

    De maneira esquemtica, os granitos sin-colisionais podem ser subdivididos em dois conjuntos: osgranitos sin-fase tangencial, associados ao espessamento da crosta, e os granitos sin-transcorrncias, associados fase de extruso lateral consecutiva ao espessamento.

    No Domnio Cear Central os granitos associados fase tangencial ainda no so muito bem

    conhecidos, uma vez que boa parte deles se encontra, atualmente, na forma de lminas gnissicasmuito deformadas e difceis, no presente estado da cartografia, de serem individualizados. Doisexemplos de granitos do tipo S ocorrem na regio compreendida entre a Zona de CisalhamentoDctil de Senador Pompeu e a Zona de Cisalhamento Dctil de Ors: trata-se dos muscovitagranitos de Senador Pompeu e de Banabui, respectivamente. De outro lado, o nvel crustalatualmente exposto no Domnio Cear Central muito profundo e grande parte dos granitos dotipo S gerados nas zonas de intensa fuso crustal (tipo leucogranitos himalaianos) provavelmentefoi eliminada h tempo pela eroso quando da volta da crosta sua espessura normal. Emconseqncia, grande parte dos granitos sin fase tangencial ainda no foi devidamente estudada.

    Quanto aos granitos controlados pelas megazonas de transcorrncia geradas ou reativadasposteriormente ao pico do metamorfismo, as dataes disponveis mostram que sua idade dealojamento e cristalizao (U/Pb) se situa em torno de 590 Ma (como o caso, p.ex., dos granitosde Quixeramobim, Quixad e Senador Pompeu, Nogueira, 2004).

    Os granitos ps-colisionais, correspondentes ao magmatismo associado ao desmantelamento dacadeia brasiliana, esto bem representados no Cear Central pelos complexos anelares (Tau eTaperuaba p. ex) associados a enxames de diques cidos a intermedirios (enxames de Tau eIndependncia) e por stocks granticos do tipo Serra da Barriga, So Paulo, Reriutaba, Mucambo e

    Meruoca. Apesar de localizados no Domnio Noroeste Cear, os ltimos granitos foram intrudidosquando os domnios Cear Central e Noroeste do Cear j haviam sido suturados e passavam porevoluo conjunta.

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    As dataes Rb-Sr e U-Pb disponveis para estes corpos variam entre 550 e 520 Ma (Fetter, 1999;Matos et al ., 2003), j na transio do Proterozico para o Paleozico.

    A localizao destes corpos nas margens das grandes zonas de cisalhamento (Tau, Lineamento

    Transbrasiliano) ou de falhas (Falha do Rio Groaras) mostra que seu alojamento est relacionadoao final da atividade das mesmas, j em condies crustais mais rasas.

    Paleozico

    Como vimos acima, os ltimos granitos relacionados com a orognese brasiliana datam doCambriano mdio (Granito da Serra da Barriga, 522 7,6 Ma pelo mtodo U-Pb em monazita,Matos et al ., 2003).

    A movimentao das megazonas de cisalhamento se prolonga, em condies frgeis,provavelmente at o fim do Cambriano / incio do Ordoviciano e, no caso do Lineamento

    Transbrasiliano, at o Devoniano (provavelmente de maneira descontnua). Ao final da histriabrasiliana, formam-se pequenas bacias do tipo pull-apart controladas pela atividade tardia dastranscorrncias (bacias de Jaibaras, Cococi, etc., Parente et al , 2004).

    A Formao Serra Grande (Siluriano da base da Bacia do Parnaba) se depositou sobre as unidadespr-cambrianas e cambro/ordovicianas, fechando esta parte da histria do Domnio Cear Central.

    No Meso-Cenozico verifica-se a ocorrncia de vulcanismo bsico representado na regio porenxames de diques lineares ENE-WSW, de comprimento variando de 1 a 5 km e espessura nodeterminada, e composio que varia de micro-gabro a basalto.

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    3. ESTRATIGRAFIA

    A seqncia estratigrfica a seguir apresentada, tem por base a correlao de rochas dasdiferentes Folhas usando-se colunas estratigrficas j conhecidas em cada regio, bem como aanlise estrutural e petrolgica definida por trabalhos de campo. As correlaes estratigrficasforam pautadas, essencialmente, em trs conceitos:(a) tempo ou idade das rochas (cronoestratigrafia) e,

    (b) continuidade lateral das mesmas rochas ou conjuntos de rochas (litoestratigrafia).(c) a anlise estrutural e petrolgica.

    Desta forma foi possvel construir o quadro sinptico a seguir mostrado e subsequentementedescrito.

    3.1 Complexo Cruzeta Apcz

    Este termo foi utilizado por Cavalcante et al (2003), em substituio ao termo Complexo PedraBranca usado para caracterizar a associao polimetamrfica (Gomes et al, 1983) de formatoelipsoidal, cujo eixo maior, na opinio destes autores, estende-se desde as proximidades de Tauao distrito de Ibuau, 30km a oeste da cidade de Madalena. Est presente nas trs folhas.

    Na Folha Quixeramobim, faz contato com a Complexo Acopiara por meio da zona de cisalhamentoSenador Pompeu. O contato entre o Complexo Cruzeta e o Complexo Cear representado por umcisalhamento de baixo ngulo, marcado por um pacote pouco expressivo de blastomilontos(Arthaud, 1984).

    Na poro norte da Folha Itatira, o contato com a Sub-unidade Guia do Complexo Cear tectnico, suavemente ondulado, marcado por uma intensificao da deformao levando formao de milonitos retromrficos.

    Litologicamente constitudo, nas folhas Itatira e Boa Viagem, por gnaisses migmatticosapresentando bandamento complexo, alternando nveis de composio varivel, com predomniode componentes granodiorticos sobre os componentes tonalticos e granticos (Figura 3.1a). Sofreqentes intercalaes boudinadas de rochas mficas e ultramficas que representam restosdilacerados de complexos acamadados (Figura 3.1b). Tambm so comuns mobilizados decomposio quartzo-feldsptica, pegmatticos ou no, intercalados na foliao. Em certosafloramentos, estes mobilizados representam mais de 50% das rochas expostas.

    Nas Folhas Boa Viagem e Itatira rochas metassedimentares so raras e ocorrem geralmente na

    forma de formaes bandadas ferrferas associadas a anfibolitos e turmalinitos. As relaes entreas rochas supracrustais e as rochas metaplutnicas no foi determinada de maneira inequvoca emconseqncia do alto grau de deformao.

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    Figura 3.1: Gnaisses bandados do Complexo Cruzeta (a - 426966/9440982) e boudins de rochasultrabsicas intercalados nos gnaisses (b estrada Boa Viagem Pedra Branca).

    ba

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    Na Folha Quixeramobim, o Complexo Cruzeta caracterizado por um pacote expressivo emontono de rochas metassedimentares psamticas variavelmente metamorfisadas na fciesanfibolito, alcanando a fuso parcial. De maneira geral so metatexitos bandados (biotita-gnaissese hornblenda-biotita-gnaisses ambos para-derivados), e migmatitos heterogneos e nebulticos.O neossoma , em geral, de granulao grossa (pegmattica), o mesmo ocorrendo com os ncleosnebulticos. Meta-hornblenditos e para-anfibolitos, que podem ocorrer em um mesmo corpo,formaes ferriferas bandadas (fcies xido e silictica), turmalinitos, quartzitos micceos egnaisses quartzo-feldspticos so observados intercalados nesta seqncia.

    Tabela 3.a: Idade modelo T (DM) de algumas rochas do Complexo Cruzeta

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo AutorPRC 1015 421646 9412278 Cruzeta Granodiorito 2,32 Arthaud

    BRCE95-54 421179 9436950 Cruzeta MetatonalITO 2,33 Fetter, APRC 960 413619 9431865 Cruzeta Metatonalito 2,35 ArthaudNCC44B 444000 9468300 Cruzeta Hnb Bt ortogn 2,36 Castro N.PRC92 442958 9470834 Cruzeta Metatonalito 2,41 Santos A.

    PRC 1025 396512 9410375 Cruzeta Granito porf. 2,45 ArthaudPRC 1027 410706 9423130 Cruzeta Metagabro 2,46 Arthaud

    BRCE95-64 410635 9423027 Cruzeta Gabro 2,50 Fetter, ABRCE96-57 399649 9398508 Cruzeta Metatonalito 2,69 Fetter, APRC 1013 422733 9427150 Cruzeta Metatonalito 2,78 Arthaud

    BRCE94-50 407126 9399778 Cruzeta Metariolito 2,81 Fetter, ABRCE94-51 426553 9392463 Cruzeta Metatonalito 2,92 Fetter, APRC 1019 391666 9399524 Cruzeta Gnaisse band 2,97 ArthaudPRC 1026 409020 9419924 Cruzeta gnaisse 3,16 Arthaud

    Tabela 3.b: Idade U-Pb de algumas rochas do Complexo Cruzeta (*: SHRIMP)

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id U-Pb AutorBRCE94-50 407126 9399778 Cruzeta Metarioli 2,78 Fetter, ABRCE94-51 426553 9392463 Cruzeta MetatonalITO 2,77 Fetter, ABRCE96-57 399649 9398508 Cruzeta MetatonalITO 2,88 Fetter, AREFO_09 412703 9425479 Cruzeta Metatonalito 3,27* CPRM/GISNCC301 440000 9453000 Cruzeta Ortognaisse 2,14 Castro N.

    As idades modelo T (DM) das rochas do Complexo Cruzeta variam de 2,3 a 3,2 Ga (Tabela 3.a),indicando uma forte influncia arqueana com contribuio de crosta paleoproterozica.

    As idades U-Pb obtidas neste Complexo (Tabela 3.b) indicam a existncia de ncleos neoarqueano(a idade obtida pelo mtodo SHRIMP, atpica, precisa ser melhor interpretada uma vez que noexistem outros exemplos de rochas com idades to antigas no Cear Central). Analisando estesdados juntamente com as idades modelo T (DM), fica clara a importncia de um evento de acresocrustal paleoproterozico.

    3.2 Suite Madalena - PP2ma

    Trata-se de um conjunto batoltico de quartzo-dioritos rica em diques sin-plutnicos micro-diorticos, intrusivo no Complexo Cruzeta (Figuras 3.2a, b e c).

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    ab

    c

    Essas rochas apresentam deformao geralmente simples, monofsica, localizada e no exibemevidncias de migmatizao sugerindo que intrudiram o Complexo Cruzeta aps a sua deformaoprincipal e metamorfismo que deve ser anterior a 2,15/2,2 Ga, idades U-Pb obtidas na SuiteMadalena por Castro (2004) (tabela 3. d). Outros corpos batolticos intrusivos no Complexo, aindano datados pelo mtodo U-Pb, e que apresentam as mesmas caractersticas deformacionais emetamrficas e com idades modelo semelhantes (em torno de 2,35 Ga, Tabela 3. c) devem fazerparte do mesmo contexto magmtico.

    Tabela 3.c: Idades modelo T(DM) de algumas rochas da Sute Madalena.

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo Autor

    NCC160B 434200 9456800 Madalena Hnb Bt Ortogn 2,39 Castro N.

    NCC292 434200 9456800 Madalena Metatonalito 2,38 Castro N.

    3.3 Unidade Algodes PP2al

    Esta unidade bordeja o Complexo Cruzeta. Pode representar a cobertura paleoproterozica docomplexo ou corresponder a uma unidade alctone envolvida na tectnica tangencial brasiliana.

    formada por rochas supracrustais que no exibem migmatizao e apresentam geralmentefoliaes sub-horizontais e deformao simples monofsica.

    Figura 3.2: Relaes entre os metato-nalitos e os diques sinplutnicos (a e b

    431022/9457384); aspecto de detalhedos metatonalitos (observar a presenade encraves mficos) (c 435251/9461182).

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    Predominam alternncias de anfibolitos e leucognaisses finos (metatufos) (Figura 3.3a),metagrauvacas (Figura 3.3b), metarcsios, raros metapelitos (com ou sem grafita e cianita),quartzitos micceos ou no. Prximo ao topo desta seqncia comum encontrar pacotes de maisde cem metros de espessuras de rochas metavulcnicas flsicas que correspondem a derramesriolticos (Figuras 3.4a e 3.4b). Na entrada da cidade de Madalena (folha Itatira) aflora umaestreita faixa de formao bandada manganesfera.

    Figura 3.3: Alternncia de leucognaisses e anfibolitos tpica da Unidade Algodes (a - 456769/9423064) e metagrauvacas (b 406009/9438012).

    Figura 3.4: Elevaes formadas pelos metariolitos, cortados pela estrada Boa Viagem MonsenhorTabosa (a) e afloramento dos mesmos (b 405870/9438198).

    Merece destaque um tipo lotolgico peculiarencontrada em vrios afloramentosdistantes, nas folhas Itatira e Boa Viagem:trata-se de um anfibolito com granadascentimtricas, portador de calcita,interpretado como rocha calcissilictica(Figura 3.5)

    Figura 3.5: Rocha calcissilictica rica emgranadas Unidade Algodes encontrada nospontos de coordenadas.

    ba

    a b

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    Excetuando uma amostra de metariolito que forneceu uma idade T(DM) de 2,00 Ga, as demaisapresentam valores semelhantes s da Suite Madalena (Tabela 3.e).

    Tabela 3.e: Idades modelo T (DM) de algumas rochas da Unidade Algodes.

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Sm-Nd AutorPRC 04 79 423888 9448005 Algodes Metariolito 2,00 ArthaudNCC055 426300 9458400 Algodes Bt gnaisse 2,23 Castro N.PRC80 406004 9438034 Algodes Metatonalito 2,28 Santos A.

    NCC172A 426200 9451600 Algodes Msc Bt gnaisse 2,35 Castro N.NCC147 437900 9465700 Algodes Bt gnaisse 2,58 Castro N.

    PRC 04 66 423888 9448005 Algodes Metatonalito 2,76 Arthaud

    Uma amostra de metariolito, coletada nas proximidades do afloramento da Figura 3.4b, datadapelo mtodo SHRIMP em zirces, forneceu idade de 2,13 Ga (Castro, 2004) considerada pelo autorcomo idade de cristalizao, o que sugere que essa unidade mais recente que a Sute Madalena.Duas observaes parecem confortar essa hiptese:

    - a Sute Madalena recortada por diques de anfibolitos e de leucognaisses finos muitosemelhantes aos metariolitos descritos acima (Figuras 3.6a e b)

    - num afloramento, foi observado um enriquecimento em granadas nos metatonalitos Madalena naproximidade de leucognaisses finos rseos idnticos aos da Unidade Algodes (Figuras 3.7a e b).Essa ocorrncia de granadas nos metatonalitos no foi observada em nenhum outro afloramento,o que sugere que no se trata apenas de uma funo do grau metamrfico atingido por essasrochas, mas de uma modificao do seu quimismo quando da intruso dos metariolitos

    (metamorfismo de contato).

    Figura 3.6: Diques de anfibolitos recortando os metatonalitos da Sute Madalena (a 433073/9466772)e diques de leucognaisses rseos finos recortando a mesma seqncia litolgica (b - 426688/9456882).

    3.4 Complexo Cear - PRc

    O Complexo Cear inclui unidades lito-estratigraficas que se distribuem por todo o DomnioCentral, e que apesar de similares so descontnuas e assim, de maneira informal,foram designadas conforme as localidades de suas ocorrncias. Por causa da impossibilidade,

    baseado no nosso conhecimento atual, de se estabelecer uma subdiviso estratigrficaformal do Grupo, foi adotada a terminologia Complexo Cear, seguindo a nomenclatura utilizadapela CPRM no mais recente Mapa Geolgico do Cear escala 1:500.000 (Cavalcante et al., 2003).

    a b

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    ba

    Figura 3.7: Vista geral do afloramento de metatonalitos com granadas (os metariolitos, que noaparecem na foto, afloram a esquerda) (a) e detalhe mostrando granadas de mais de um centmetro nosmetatonalitos e anfibolitos intercalados (b - 432457/9468750).

    Dentre as Unidades que compem o Complexo Cear destaca-se a Unidade Independncia, queapesar de certa homogeneidade foi possvel, neste trabalho, baseado em critrios estruturais(existncia de pacotes milonticos internos, discrepncia entre as direes de transporte tectnico),metamrficos (tipo de aluminosilicato presente, condies P/T do pico do metamorfismo),litolgicos e de descontinuidade espacial, individualizar, no Complexo Cear - UnidadeIndependncia, vrias sub-unidades informais. Esta diviso tem um valor local e apenasmapeamentos futuros podero mostrar se deve ser regionalizada. O empilhamento das unidadesobedece a uma seqncia geomtrica, sem conotao cronolgica.

    Complexo Ceara - Unidade Independncia - Sub-unidade So Jos dos Guerra - (PRcisjg)

    Ocorre nas folhas Itatira e Boa Viagem onde corres-ponde unidade basal da Unidade Independncia.Na folha Boa Viagem, seu contato com a UnidadeAlgodes marcado por milonitos retromrficos comgranadas arredondadas e grande quantidade demuscovita recristalizada. Ainda prximo base daunidade foi observado nvel fino de quartzito e

    metapelitos de grau metamrfico mais elevado.Na folha Itatira, o contato marcado por quartzitosbasais que apresentam um aspecto milontico, commuscovitas recristalizadas.

    Acima dessas associaes litolgicas, os metapelitos desaparecem e so substitudos por biotitagnaisses com raras granadas, sem aluminosilicatas e que apresentam um bandamentomigmattico caracterstico constitudo por bandas de um a dois centmetros de leucossomaintercaladas em bandas mais largas de paleossoma (migmatitos tipo lit par lit ) (Figura 3.8).Trata-se provavelmente de metagrauvacas.

    Litologicamente muito diferente das demais unidades do Complexo Cear. Os argumentos a favorda sua incluso so de duas naturezas:

    Figura 3.8: Migmatitos bandados da Sub-unidade So Jos dos Guerra .

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    - estrutural: alm de existir um contato tectnico entre esta unidade e as rochas da UnidadeAlgodes, as suas lineaes de estiramento so paralelas s das unidades superiores enquantoque as da Unidade Algodes so NE-SW.

    - metamrfico: os gnaisses da Unidade So Jos dos Guerra apresentam-se migmatticas, o queno o caso das associaes litolgicas da Unidade Algodes, o que indica uma importantequebra de metamorfismo.

    Existe apenas uma idade modelo, paleoproterozica, em biotita gnaisses da Sub- unidade So Josdos Guerra (Tabela 3.f).

    Tabela 3.f: Idade modelo T (DM) Sm-Nd dos biotita gnaisses migmatticos da Sub-unidade SoJos dos Guerra.

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo Autor

    PRC 04 68 417785 9451303 SJ Guerra Bt gnaisse 2,34 Arthaud

    Complexo Ceara - Unidade Independncia Sub-unidade Lzaro - PRcil

    Trata-se de uma escama compreendidaentre as sub-unidades So Jos dosGuerra e Guia, com as quais apresentacontato tectnico (Figura 3.9). consti-tuda essencialmente por gnaisses finoscom muscovita, pouca biotita e cianita(Figura 3.10a) e por biotita gnaisses

    (Figura 3.10b), ambos migmatticos.Esses gnaisses, muito homogneos,parecem ser os resultados da deforma-o e metamorfismo de um granito detipo S.

    Figura 3.10: Gnaisses migmatticos da Sub-unidade Lzaro: a) leucognaisses com muscovita, granada eraras cianitas;b) biotita gnaisses.

    Figura 3.9: A Sub-unidade Lzaro(Imagem Landsat 7, banda5)

    406000/946400

    433500/9448500

    a b

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    Em volume menor aflora uma faixa de rochasde composio tonaltica (Figura 3.11) tambmintensamente mobilizada. Das cinco idadesmodelo T(DM) disponveis para a sub-unidadeLzaro (Tabela 3.g), quatro so arqueanas euma paleoproterozica.

    A datao U-Pb das monazitas dos leucognaissesmuscovticos forneceu uma idade de metamor-fismo de 605 Ma (Arthaud, indito).

    possvel interpretar esses dados conside-rando que os gnaisses biotticos e muscovticos

    so produtos da anatexia brasiliana de metapelitos e grauvacas com idades modelo elevada (trata-

    se provavelmente de rochas pertencentes ao prprio Complexo Cear) e que os gnaisses tonalticoscorrespondem a intruses sinmetamrficas.

    Tabela 3.g: Idades modelo T (DM) das rochas da Sub-unidade Lzaro (Castro N. 2004; Arthaud M.,dado indito).

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo AutorNCC291B 415100 9457800 Lzaro Titanita 2,81 Castro N.NCC301A 413700 9453000 Lzaro Hnb Bt Ortogn 2,06 Castro N.NCC304 413700 9457200 Lzaro Epidoto B 2,60 Castro N.NCC306 412100 9456900 Lzaro Bt Msc gnaisse 3,06 Castro N.

    PRC 04 70 415085 9457833 Lzaro Migmatito 2,63 Arthaud

    Complexo Ceara- Unidade Independncia Sub-unidade Guia (PRcig)

    Est localizada acima da Sub-unidade So Jos dos Guerra da qual separada por um contatotectnico. Metapelitos (Figura 3.12) predominam na forma de biotita gnaisses muscovita granada aluminosilicata (cianita, sillimanita ou ambas) (Figura 3.12a). comum, nessesgnaisses, a presena de rutilo. O grau de migmatizao varivel e geralmente mnimo nasrochas portadoras de cianita (Figura 3.12b).

    Figura 3.12: Metapelitos mostrando: (a) uma alternncia composicional primria (S 0) sublinhada por

    nveis enriquecidos em muscovita ou em granadas e (b) um migmatizao incipiente.Quartzitos, s vezes micceos, so representados por barras contnuas formando cristas elevadas.So geralmente pouco espessos (Figuras 3.13a e b).

    Figura 3.11: Ortognaisses tonalticos.

    a b

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    Figura 3.13: Aspectos das barras de quartzito da Sub-unidade Guia (Serra do ) (a) e de um afloramentode quartzito micceo (b).

    Vrias lentes de mrmore, de extenses e larguras variveis, concordantes com a foliao regional,esto intercaladas na seqncia peltica, geralmente prximas aos quartzitos. As maioresapresentam uma carstificao notvel (Figuras 3.14a e b)

    Figura 3.14: Afloramento de mrmores da Sub-unidade Guia(a) e entrada da gruta Casa de Pedras(b). (422062/9475630).

    Intercalaes de anfibolitos, frequentemente associadas a rochas calcissilicticas, so comuns edevem ser destacados anfibolitos extremamente ricos em granadas (Figura 3.15), interpretados

    como retroeclogitos derivados de sills ou derrames de basaltos (Castro, 2004; Garcia et al, 2006).

    Figura 3.15: Anfibolitos com granadas interpretados como retroeclogitos (409762/9475842).

    a b

    a b

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    As idades modelo Sm-Nd relativas a essa sub-unidade (Tabela 3.h) indicam, para a proveninciado material detrtico, um predomnio de fontes paleoproterozicas a arqueanas com contribuiode material mais novo resultando, em uma amostra, num T (DM) mesoproterozico.

    Tabela 3.h: Idades modelo T(DM) de algumas rochas da Sub-unidade Guia.Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo Autor

    PRC78 394657 9446510 Guia Mrmore 3,40 Santos A.

    PRC 04 77 396689 9440172 Guia 2,52 Arthaud

    PRC 267 396689 9440172 Guia ortognaisse 2,27 Arthaud

    PRC79 398451 9442962 Guia Paragnaisse 2,13 Santos A.

    PRC 417 396686 9446173 Guia Bt Gnaisse 1,93 Arthaud

    PRC 04 76 396686 9446173 Guia Bt Gnaisse 1,91 Arthaud

    PRC 339 391829 9430493 Guia Calcissilicato 1,79 Arthaud

    PRC 04 55 391829 9430493 Guia Bt Gnaisse 1,27 Arthaud

    Complexo Ceara- Unidade Independncia Sub Unidade Itatira (PRciit)

    tambm conhecida como Nappe de Itatira. O seu contato com a sub-unidade Guia feito atravsde uma sola milontica essencialmente constituda por rochas clasto-milonticas.

    Composicionalmente muito semelhante Sub-unidade Guia da qual se diferencia, sobretudo, poruma maior expressividade dos carbonatos, tanto na forma de mrmores como de rochascalcissilicticas (Figura 3.16).

    Figura 3.16: a) afloramento de mrmores da Sub-unidade Itatira; b) intercalao de mrmores e rochascalcissilicticas.

    A associao entre anfibolitos e rochas calcissilicticas comum.

    Como na Sub-unidade Guia, a maior parte das idades modelo T (DM) obtidas em rochas da Sub-unidade Itatira atestam o predomnio do embasamento paleoproterozico/arqueano nofornecimento do material detrtico, mas uma idade mesoproterozica implica na existncia de umamistura com uma fonte de material mais recente.

    a b

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    Tabela 3.i: Idades modelo T(DM) de algumas rochas da Sub-unidade Itatira.

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo AutorPRC 1292 407816 9495146 Itatira Anfibolito 3,53 Arthaud

    NCC213 412200 9494000 Itatira Gt Bt gnaisse 2,27 Castro N.

    PRC84 414627 9495790 Itatira Mrmore 2,23 Santos A.

    PRC83 415192 9495458 Itatira Mrmore 2,22 Santos A.

    NCC249 421100 9500000 Itatira Gt Bt migmatito 2,17 Castro N.

    P155A 411831 9494186 Itatira Gnaisse 2,09 Santos, A

    PRC82B 411831 9494186 Itatira 2,09 Santos A.

    PRC82A 411831 9494186 Itatira 2,00 Santos A.

    P158 422746 9487722 Itatira Gnaisse 1,78 Santos, A

    PRC87 421562 9487722 Itatira 1,78 Santos A.

    PRC 04 43 428774 9494769 Itatira Bt gnaisse 1,49 Arthaud

    Complexo Ceara - Unidade Quixeramobim (PRcq)

    Ges e Fernandes (1992) deram a denominao de Unidade Quixeramobim para o pacote derochas metassedimentares que ocorre nas adjacncias da cidade de Quixeramobim. Nesta regioesta seqncia est constituda principalmente por xistos, mrmores e quantidades subordinadasde quartzitos e rochas calcissilicticas.

    A Unidade Quixeramobim se mostra essencialmente pelito-psamtica compreendendo biotita xistos,muscovita-biotita xistos, granada-biotita-xistos, granada-muscovita-biotita xistos e granada

    sillimanitacianita-muscovita-biotita xistos. Estes xistos, quando analisados microscopicamente,exibem microbandamento onde bandas constitudas essencialmente por plagioclsio, k-feldspato equartzo mostram efeitos de fuso parcial sobre estas rochas.

    Os quartzitos podem ser puros, sacarides, ferruginosos ou micceos com muscovita e biotita.Podem ocorrer semi-isotrpicos, com granulao fina a mdia, bandados e dobrados, exibindo svezes alternncia com material peltico.

    Localmente, observamos uma transio pelitos-psamitos, com os metapsamitos se mostrando comgranulao fina, constitudos por metassiltitos com elevada proporo de quartzo. Sua naturezaclstica fina e o carter rtmico de sua deposio sugerem uma origem a partir de sedimentosturbidticos.

    Os mrmores calcticos ou dolomticos ocorrem ao longo de todo o domnio como corposlenticulares com espessura mxima de 15 m, podendo repetir-se e, no conjunto, compor faixas deat 30m de largura. Esses mrmores apresentam paragnese com calcita + dolomita + opacos.Tipos mais puros podem ocorrer com at 95% de calcita.

    As rochas calcissilicticas ocorrem como tipos finos e isotrpicos ou finos laminados ou grossos,isotrpicos de textura porfiroblstica. A fcies fina aflora na forma de lajes com dimenses mdiasde 0,3 x 3,0 m, com textura semi-isotrpica, cor cinza escura a esverdeada, compostaessencialmente por anfiblios. Suas caractersticas de campo sugerem uma origem a partir demetamorfismo de rochas sedimentares. Outras ocorrncias no mbito dessas rochas calssilicticas

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    1300

    1100

    900

    700

    500

    300

    100

    0,00

    0,04

    0,08

    0,12

    0,16

    0,20

    0,24

    0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8207

    Pb/235

    U

    206Pb

    238 U

    data-point error ellipses are 68.3% conf .

    1PRC445

    apresentam colorao verde, bandadas com leitos macios alternados com bandas onde sedesenvolvem prismas de tremolitas.

    Apesar da descontinuidade geogrfica com as unidades do Complexo Cear das folhas Boa Viagem

    e Itatira, as semelhanas sugerem que a Unidade Quixeramobim pertence ao mesmo Complexo.

    Unidade Juatama NPcj

    Corresponde a um grande cinturo de rochas migmatticas (diatexitos e metatexitos) encontradoem torno dos batlitos de Quixeramobim e Quixad, sendo que os metassedimentos da UnidadeQuixeramobim representam os protlitos dessa unidade.

    Idade do Complexo Cear

    A idade de deposio dos sedimentos desse complexo , de certa forma, polmica. No mais recente

    mapa geolgico do Cear na escala de 1:500.000 (Cavalcante et al., 2003), ela foi consideradacomo paleoproterozica. Idades modelos T (DM) obtidas recentemente (p. ex. Fetter, 1999, Castro,2004) indicam que, apesar da principal fonte de suprimento de material detrtico ter sido oembasamento arqueano/paleoproterozico, era necessrio a contribuio de material mais novopara justificar a existncia de vrias idades mesoproterozicas. Nas folhas mapeadas, a idademodelo mais nova de 1,27 Ga, obtida em muscovita biotita gnaisses com granada e sillimanita daUnidade Guia (Tabela 3.h). Na sub-unidade Itatira foi tambm obtida uma idade modelomesoproterozica (1,49 Ga; Tabela 3.i). Essas idades representam a idade mxima para deposiodas seqncias sedimentares plataformais

    Para tentar solucionar o problema, oszirces detrticos de uma amostratirada no mesmo afloramento daamostra PRC 0455 (Sub-Unidade Guia)foram separados e datados pelo mtodoSHRIMP U-Pb. Os resultados obtidos(Figura 3.17) mostram a existnciade duas populaes de zirces deidade neoproterozica, com valoresem torno de 0,65 e 0,75/0,80 Ga.Independentemente da natureza dosprotlitos portadores desses zirces,os dados implicam que a deposiodos sedimentos do Complexo Cearse estendeu at o final do Neopro-terozico.

    3. 5 Complexo Acopiara ( PRACP )

    Esta denominao dada para a associao litolgica que ocorre a leste da zona de cisalhamentoSenador Pompeu e a oeste da zona de cisalhamento Ors, na regio central do Estado do Cear.

    Figura 3.17: Concrdia dos zirces detrticos da amostraPRC455 corrigida para 204Pb implicando uma deposio dossedimentos em torno de 640 Ma (Arthaud, indito).

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    Corresponde parcialmente ao Complexo Nordestino de Gomes et al (1981) e Rochas semDenominao de Cavalcante et al (1983). Ela foi usada por Cavalcante et al. (2003) para definiruma seqncia rochosa que ocorre na poro sudeste da folha Quixeramobim, compostaprincipalmente por metatexitos com estrutura gnissica, cujos leucossomas exibem composiotonalitica, granodiortica e grantica, alguns deles com granada, e paleossomas cujas composiesvariam de biotita xistos a para-anfibolitos. So freqentes as lentes de anfibolitos e meta-hornblenditos. Cordes sinuosos de rochas metassedimentares (Unidade Ors), pouco ou nadamigmatizados, apresentam-se preservados neste substrato. So tambm abundantes os leuco-granitos finos com biotita e, ocasionalmente, com muscovita, de cor cinza, resultantes da anatexiaparcial do pacote supracrustal fonte.

    Os raros afloramentos exibem rochas que se estendem, preferencialmente, segundo a direo N-Scom mergulhos variveis, mas inferiores a 60 para leste. Localmente, podem exibir direo

    nordeste-sudoeste com mergulhos para sudeste. Os mergulhos crescem em direo zona decisalhamento Senador Pompeu com os mais acentuados (maiores que 60) encontrados prximosao lineamento. Zonas de cisalhamentos dcteis menores so evidenciadas por verticalizaeslocais da foliao.

    Na regio em questo, diagramas isocrnicos Rb-Sr (Brito Neves, 1975, in Torquato et al, 1989)indicam idades de cerca de 2020+130Ma, com R0 = 0,7070,004. Isto sugere que o eventoTransamaznico teve forte influncia na formao desta Unidade. , entretanto, necessrio umestudo geocronolgico detalhado para mostrar se o Complexo Acopiara pode ser includa noComplexo Cear ou se representa uma seqncia mais antiga (paleoproterozica).

    3.6 Complexo Tamboril Santa Quitria (NP3 TS )

    um complexo anattico/gneo onde uma seqncia de rochas em parte supracrustais sofreu umaintensa fuso (Figura 3.18), preservando apenas restitos de rochas calcissilicticas e anfibolitos(provavelmente derivados de basaltos) na forma de mega-encraves. Um intenso magmatismo sin-anattico, caracterizado por magmas de composio tonaltica a granodiortica, representado porveios, lminas ou plutons.

    Figura 3.18: Aspectos dos migmatitos do Complexo Tamboril-Santa Quitria

    Esse complexo foi inicialmente interpretado por Caby e Arthaud (1986) como uma unidadealctone constituda por rochas anatticas resultando do retrabalhamento de um embasamento

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    possivelmente arqueano. , na realidade, de idade neoproterozica, como mostram vrias idadesmodelo Sm-Nd e todas as idades U-Pb em zirces obtidas, no Cear Central, por Fetter (1999) eCastro (2004). Na folha Itatira, as idades modelo T (DM) existentes variam entre o Paleo e oMesoproterozico indicando mistura de protlitos antigos, provavelmente arqueanos/paleproterozicos, e jovens, provavelmente neoproterozicos.

    Tabela 3.j: Idades modelo de algumas rochas do Complexo Tamboril-Santa Quitria.

    Ponto Long UTM Lat UTM Unidade Litologia Id Modelo Autor

    396200 9489300 TSQ Hnb Bt metatexito 1,75 Castro N.

    P60 396535 9491174 TSQ Anfibolio 1,65 Santos T.

    NCC083 391300 9471600 TSQ Bt metatexito 1,69 Castro N.

    NCC197 391700 9497800 TSQ Bt diatexito 1,25 Castro N.

    NCC200B 390200 9500600 TSQ Bt diatexito 1,38 Castro N.PRC 04 73 397022 9462908 TSQ Granito 1,51 Arthaud

    A hiptese de Fetter et al. (2003), que interpretam este complexo como resultando da evoluo,durante a coliso brasiliana, de um arco magmtico continental, deve ser correta.

    3.7 Granitos Brasilianos Magmatismo Serto Central

    Almeida et al (2003), agruparam a granitognese regional dominante no mbito da FolhaQuixeramobim, sob a designao de Magmatismo Serto Central. Esta unidade compreende, alm

    do Complexo Grantico Quixad Quixeramobim (composto pelos batlitos Quixeramobim,Senador Pompeu e Quixad), os batlitos Banabui, os stocks Serra Azul, Milh, Solonpole eSo Jos do Solonpole e ainda o Provincia Pegmattica Solonpole. So includos ainda osleucogranitides associados aos migmatitos. No mbito da Folha Quixeramobim, encontram-se osbatlitos Quixeramobim, Senador Pompeu e Banabui, em parte, e o distrito pegmatticoBerilndia. Encontra-se, na poro setentrional da Folha Quixeramobim, a poro mais meridionaldo batlito Quixad.

    A Super sute Rio Quixeramobim (NP3 rq)

    Com a finalidade de organizar a terminologia adotada para as unidades litoestratigrficas queocorrem na Folha Quixeramobim, algumas delas com o mesmo nome, algumas modificaes soaqui propostas:

    A designao Rio Quixeramobim , de agora em diante, usada em substituio ao termoQuixeramobim, ate ento usada para definir o batlito que se exibe com cerca de 1600 Km 2 derea aflorante, situado na poro central da Folha Quixeramobim, sendo constitudo por seis

    grandes suites: Muxur Novo (NP3 rqmn), Muxur Velho (NP3rqmv), gua Doce (NP3rqad),,

    Serra Branca (NP3 rqsb), Uruque (NP3 rpu), Boa F (NP3rqbf). Mobilizados Tardios e Uruqu

    Transicional Muxur Novo so variaes laterais das sutes Uruque e Muxur Novo. As sutesMuxur Novo, Serra Branca e Boa F so sries clcio-alcalina de mdio potssio, composta por

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    quartzo-dioritos, tonalitos, granodioritos (dominantes) e monzogranitos a biotita e anfiblio. Elasso diferenciadas por seu padro textural porfirtico, com a Serra Branca apresentando fenocristaisde feldspatos variando de 6 a 20cm; a Muxur Novo com fenocristais variando de 6 a 2 cm e a BoaF exibindo fenocristais aproximadamente equidimensionais em torno de 2,5 cm. Os litotipos dasute gua Doce constituem uma srie clcio-alcalina de baixo potssio, composta essencialmentepor quartzo-dioritos e tonalitos de cor cinza azulado, granulao mdia, afiricos, contendo biotita eanfiblios como minerais mficos essenciais. A suite Uruqu est composta essencialmente pormonzogranitos a biotita, leucocrticos, de cor cinza claro a cinza amarelado, granulao mdia afina e afiricas. Juntamente com os enclaves microgranulares compem uma suite clcio-alcalina demdio potssio. A suite Muxur Velho corresponde a uma srie tonalitica de baixo potssio, cujoslitotipos se apresentam nas formas de enclaves e diques sin-plutnicos, inclusos nas demais suites.So rochas de cor escura e de granulao fina, geralmente contendo xenocristais de feldspatospotssicos.

    Os litotipos Rio Quixeramobim exibem teores de SiO 2 que variam de 51 a 73%, so essencialmentemetaluminosos, ricos em lcalis, Sr, Ba e ETRL e pobres em ETRP, MgO e CaO. Seus teores emETRL so de 2 a 3 vezes mais altos que os exibidos por suites clcio-alcalinas normais.

    A ocorrncia universal de enclaves microgranulares e diques sin-plutnicos descontnuos, sugeremque o mecanismo de mistura de magmas foi de primordial importncia na gerao deste batlito.

    A descrio petrogrfica dos diferentes fcies e o resultado de anlises qumicas deste complexograntico (tabela 2) segue em anexo. A tabela 4, anexa, apresenta as coordenadas geogrficas decada amostra com lminas descritas do Batlito Rio Quixeramobim.

    A Sute Quixad (NP3 Q )

    O batlito Quixad, representado pela serra do Padre, adentra Folha Quixeramobim na suaporo norte e se estende at as imediaes da rodovia CE-021. Ele se mostra constitudo poruma srie monzontica, composta por monzonitos (dominantes) e sienitos, todos porfirticos, commegacristais de plagioclsio e feldspatos potssicos imersos em uma matriz de cor pretaesverdeada, granulao mdia a grossa, composta essencialmente por anfiblios e biotita. Enclaveselipsoidais e diques sin-plutnicos de composio diortica so abundantes. Sua forma diaprica ressaltada pelas foliaes internas que so paralelas aos contatos e s foliaes externas,

    formando na sua poro norte, um "trend" circular, indicando um processo de baloneamento.

    Seus litotipos so essencialmente intermedirios e metaluminosos, ricos em lcalis,MgO (K20/MgO 1), CaO, Sr, Ba, e ETRL, caracterizando-os como uma sute shoshonticaanorognica. A ocorrncia universal de encraves microgranulares e diques sin-plutnicosdescontinuos, sugere que o mecanismo de mistura de magmas foi de primordial importncia nagerao deste batlito. Em Quixad parece no haver a participao de magmas crustais.

    Os altos teores de Sr, Ba e ETRL, com anomalias de Eu ausentes e baixos teores de ETRP, sugeremque os magmas mantlicos so o resultado da fuso de um manto litosfrico metassomatisado

    enriquecido em ETRL, controlada principalmente por hornblenda e flogopita. Os magmas potssicosleves, cujas fuses foram controladas por flogopitas, parecem ter sido os primeiros a invadirem a

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    crosta, seguidos e inundados imediatamente por magmas mais magnesianos, cuj