relatório da comissão de seguridade social e família sobre agrotóxicos - padre joão
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7/25/2019 Relatrio Da Comisso de Seguridade Social e Famlia Sobre Agrotxicos - Padre Joo
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CMARA DOS DEPUTADOS
COMISSO DE SEGURIDADE SOCIAL EFAMLIA
SUBCOMISSO ESPECIAL SOBRE O USO DEAGROTXICOS E SUAS CONSEQUNCIAS SADE
NOVEMBRO DE 2011
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UTA
DEPUTADOS COMPONENTES DA SUBCOMISSO ESPECIAL SOBRE OUSO DE AGROTXICOS E SUAS CONSEQUNCIAS SADE:
TITULARES
1. DEPUTADO ALEXANDRE ROSO PSB (RS)
2. DEPUTADO AMAURI TEIXEIRAPT (BA)
3. DEPUTADO DARCCIO PERONDI PMDB (RS)
4. DEPUTADO OSMAR TERRA PMDB (RS)
5. DEPUTADO PADRE JOO PT (MG)
6. DEPUTADO ROBERTO DE LUCENA PV (SP)
SUPLENTES
1. DEPUTADO ANDRE ZACHAROW PMDB (PR)2. DEPUTADA CLIA ROCHA PTB (AL)
3. DEPUTADO DR. ROSINHA PT (PR)
4. DEPUTADA RIKA KOKAY PT (DF)
5. DEPUTADO GIVALDO CARIMBO PSB (AL)
6. DEPUTADA ROSINHA DA ADEFAL PT do B(AL)
PRESIDENTE: DEPUTADO OSMAR TERRA
VICE-PRESIDENTE: DEPUTADO ALEXANDRE ROSO
RELATOR: DEPUTADO PADRE JOO
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SUMRIO
AGRADECIMENTOS................................................................................6
1. APRESENTAO................................................................................7
2. CONTEXTO BRASILEIRO.................................................................11
3. MARCO REGULATRIO...................................................................18
4. IMPACTOS DOS AGROTXICOS .................................................21
4.1. Impactos dos agrotxicos na sade humana.......................24
4.1.1. Impactos na sade da populao.................................24
4.1.2. Impactos na sade dos trabalhadores.........................304.2. Impactos dos agrotxicos no meio ambiente.................314.2.1. Destinao Final de Embalagens dos Agrotxicos...41
5. ATRIBUIES DO ESTADO SOBRE OS AGROTXICOS...........515.1. O CONTROLE PRVIO ............................................................515.2. O CONTROLE POSTERIOR .....................................................53
5.2.1. Papel da Anvisa..............................................................54
5.2.2. Ministrio da Agricultura, Pecuria, Abastecimento..58
5.2.3. Ibama/Meio Ambiente....................................................59
6. PROBLEMAS DETECTADOS E ENCAMINHAMENTOS (14)..........65CONSIDERAES FINAIS...................................................................98
ANEXO I PROJETOS DE LEI...........................................................101
ANEXO II INDICAES ...................................................................115
ANEXO III PROPOSTA DE FISCALIZAO FINANCEIRA E
CONTROLE .........................................................................................138
ANEXO IV DADOS E GRAFICOS SOBRE AGROTOXICOS...........142
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GLOSSRIO DE SIGLAS
ABIFINA - Associao Brasileira das Indstrias de Qumica FinaABIQUIM - Associao Brasileira da Indstria Qumica
AENDA - Associao Nacional de Defensivos Genricos
ANAC - Agncia Nacional de Aviao Civil
ANDEF - Associao Nacional de Defesa Vegetal
ANVISAAgncia Nacional de Vigilncia Sanitria
CNPqConselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CNA - Confederao Nacional da Agricultura
CONASEMS - Conselho Nacional de Secretrios Municipais de Sade
CSSF - Comisso de Seguridade Social e Famlia
EMPRABAEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
FIOCRUZFundao Oswaldo Cruz
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovveis
IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INPEVInstituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
MAPA - Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
MCTIMinistrio da Cincia, Tecnologia e Inovao
MMAMinistrio do Meio Ambiente
MPS - Ministrio da Previdncia Social
TEM - Ministrio do Trabalho e Emprego
MSMinistrio da Sade
PARAPrograma de Anlise de Resduos de Agrotxicos em Alimentos
P & DPesquisa e Desenvolvimento
PNADPesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
SINANSistema de Informaes de Agravos de NotificaoSINITOXSistema Nacional de Informaes Txico Farmacolgicas
SINDAG - Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para a Defesa Agrcola
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso
UNESPUniversidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
UNICAMPUniversidade Estadual de Campinas
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AGRADECIMENTOS
Este Relator se sente na obrigao de, em nome de todosos componentes da Subcomisso Especial sobre o Uso de Agrotxicos e suas
Consequncias Sade, agradecer a todos os participantes dos trabalhos
desenvolvidos nesta Casa, em especial aos tcnicos que participaram do
Grupo de Trabalho e Apoio Tcnico desta Subcomisso. Agradeo ainda s
instituies pblicas e privadas que acolheram os convites feitos pela
Subcomisso para a participao nas Audincias e Auscultas realizadas e
encaminharam as documentaes requeridas, bem como aos palestrantes que
emprestaram um pouco do seu conhecimento e experincia sobre tema to
relevante para a sociedade brasileira.
Apesar de todas as dificuldades e obstculos enfrentados
durante os cento e oitenta dias de desenvolvimento das tarefas propostas,
paralelamente aos demais atos da atividade parlamentar, sempre contamos
com o sincero apoio de diversos setores desta Casa e de outras instituies. A
complexidade do assunto e a diversidade de teses e posicionamentos que
circundam o tema em comento fizeram com que o referido tempo se tornasse
exguo. Agora, na fase final dos trabalhos, que temos a real noo de que umtema dessa envergadura no pode ter sua discusso esgotada nos trabalhos
da Subcomisso. Os debates precisam prosseguir, pois o caminho em busca
de um modelo de produo ideal e menos perigoso mostrou-se um tanto
longnquo.
Por fim, agradecemos imensamente a todos os servidores
da Cmara dos Deputados e dos demais rgos pblicos que auxiliaram de
forma inestimvel a realizao dos trabalhos.
Dep. PADRE JOO
Relator
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1. APRESENTAO
A Comisso de Seguridade Social e Famlia da Cmarados Deputados tem, como uma de suas principais atribuies, o debate de
temas que envolvam o direito sade individual e coletiva. Perante tal
atribuio, a utilizao intensa e a possibilidade do uso indiscriminado dos
agrotxicos, que tem representado srios riscos sade humana, chamou a
ateno de diversos membros da Comisso. Por iniciativa deste Relator, foi
criada a Subcomisso Especial sobre o Uso dos Agrotxicos e suas
Consequncias Sade, instalada em maio de 2011.
O objetivo geral da referida Subcomisso foi o de avaliaros processos de controle e usos dos agrotxicos e suas repercusses na
sade pblica. Esse objetivo central foi desdobrado em dois tpicos
especficos. O primeiro consiste em propor mecanismos e instrumentos que
pudessem aperfeioar as regras sobre agrotxicos e reduzir seus impactos
para uma maior proteo da sade da populao. O segundo, em propor
iniciativas que pudessem promover alternativas mais saudveis para a
produo de alimentos.
Como visto, o desafio estabelecido foi bastante
audacioso, ainda mais se considerarmos o contexto atual que envolve o tema
dos agrotxicos em um pas que se autodenomina o celeiro do mundo, que se
orgulha em ser um dos maiores produtores de alimentos em todo o globo e no
qual o combate fome constitui sempre uma das principais bandeiras polticas.
O desafio de produzir alimentos em maior quantidade e de melhor qualidade, a
preos cada vez mais acessveis para toda a populao, instiga no s os
produtores rurais, mas tambm os governos federal, estaduais e municipais.
A Subcomisso em tela selecionou, ento, os seguintes
tpicos como reas prioritrias de estudos:
a) impactos dos agrotxicos na sade pblica;
b) repercusses do uso dos agrotxicos na previdncia
social;
c) consequncias dos agrotxicos na assistncia social e
nas famlias.
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O foco legislativo ficou delimitado anlise e
detalhamento dos impactos dos agrotxicos na sade pblica. Tais impactos
devem cindir-se sade do trabalhador, da populao em geral e do meioambiente. Para o desenvolvimento dos trabalhos foi estabelecido ainda um
Grupo de Trabalho de Apoio Tcnico - GTA, no mbito desta Subcomisso,
composto pelos assessores dos parlamentares que compem a Subcomisso,
tcnicos representantes dos Ministrios envolvidos (MAPA, MS/Anvisa e
MMA/Ibama, alm dos consultores legislativos da Camara Federal.
Para se desincumbirem a contento da misso a que se
propuseram, os membros da subcomisso subdividiram os trabalhos em temas
tcnicos. Os aspectos socioeconmicos envolvem questes relacionadas como registro tcnico e rotulagem; produo, importao, comercializao e
propaganda. No que tange aos aspectos socioambientais, os temas a serem
tratados concernem ao uso e manipulao no campo e nas cidades; destinao
final das embalagens; consumo e contaminao dos alimentos e impactos na
sade ambiental. A normatizao e regulamentao; a fiscalizao; a
implementao de polticas, pesquisas e tecnologias, foram eleitos como temas
transversais.
Obviamente, considerando que um plano de trabalho foi
devidamente discutido e aprovado pelos membros da Subcomisso, tal
planejamento deve guiar os trabalhos do rgo tcnico e, consequentemente, a
elaborao do Relatrio. Ainda que alteraes se faam necessrias no curso
dos trabalhos, visando a uma melhor adequao realidade enfrentada, a
base principal continua sendo o Plano de Trabalho, em especial pela
legitimidade que lhe foi conferida pelos membros da Subcomisso.
Durante o perodo de seu funcionamento, a Subcomissodos Agrotxicos realizou diversas reunies, audincias, auscultas e atividades
externas. Foram no total 2 Audincias Pblicas e 9 Auscultas Tcnicas na
Camara Federal, alm de visitas regionais de campo e Auscultas em Gois,
DF (Fazenda Agroecolgica Malunga) e Minas Gerais (Una/Arinos/BH), entre
outras atividades. Devemos salientar que os trabalhos desta Subcomisso,
foram precedidos por uma Audincia Publica denominada O uso dos
agrotxicos no Brasil e suas conseqncias sade realizada em abril ultimo,
no mbito da Comisso de Seguridade Social e Famlia CSSF, a qual
motivou decisivamente os parlamentares para aprovao da proposta de
instalao desta Subcomisso Especial dos Agrotxicos.
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Nesta Audincia realizada pela CSSF, estiveram
presentes como palestrantes, tcnicos e representantes da Confederao
Nacional da Agricultura, da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria/ANVISA,do Movimento dos Pequenos Agricultores MPA e da Coordenao do Frum
Nacional Contra os Agrotxicos. - O quadro abaixo traz uma sntese das
principais audincias e auscultas realizadas na Cmara Federal, contendo as
respectivas datas, temas debatidos e participantes convidados:
Principais Atividades da Agenda da Subcomisso02.06.2011 Reunio de Apreciao e
do Plano de Trabalho daSubcomisso
Parlamentares membros da Subcomisso
16.06.2011
Audincia Pblica: - Acomercializao,fiscalizao e utilizaodos agrotxicos no Pas esuas conseqncias sade e na contaminaodos alimentos.
1. Fabiana Malaspina Tcnica especializada doDepartamento de Vigilncia em Sade do Ambiental eSade do Trabalhador do Ministrio da Sade/MS2. Mrcio Rosa Rodrigues de Freitas- Coordenador-Geral de Avaliao e Controle de Substncias Qumicasda Diretoria de Qualidade Ambiental do IBAMA/MMA3. Lus Eduardo Pacifi Rangel- Engenheiro Agrnomoe Fiscal Federal Agropecurio do Ministrio daAgricultura, Pecuria e Abastecimento/MAPA;4. Marcos Franco Assessor Tcnico do ConselhoNacional de Secretrios Municipais deSade/CONASEMS.
30.06.2011Ausculta TcnicaOsAgrotxicos e a viso dosmovimentos sociais.
1.Fernando Carneiro - Professor da Universidade deBraslia e Representante do Frum Nacional dosAgrotxicos.
05.07.2011Ausculta TcnicaOMarco Regulatrio sobreo Uso dos Agrotxicos.
1. Luciano Gomes de Carvalho Pereira- ConsultorLegislativo na rea de Agricultura
12.07.2011
Ausculta Tcnica: - Arealidade sobre a cadeiaprodutiva dos agrotxicose suas conseqncias
1. Letcia Rodrigues da Silva Representante daAgncia Nacional de Vigilncia Sanitria2. Vincius Mello Teixeira de Freitas - Secretrio doFrum Nacional dos Agrotxicos
09.08.2011
Ausculta Tcnica As
pesquisas sobre o uso deagrotxicos e as aespara o controle biolgico.
1. Edivaldo Domingues Velini - Pesquisador e Diretor
da Faculdade de Cincias Agronmicas da UNESP2. Marcelo Augusto Boechat Morandi - Chefe deEmbrapa Meio Ambiente
23.08.2011
Audincia Pblica: - Aspesquisas cientficassobre o Uso dosAgrotxicos e suasconseqncias Sade.- Apresentao do filmedo cineasta SlvioTendler: O Veneno Estna Mesa
1.Wanderley Pignati - Professor do Instituto de SadeColetiva da Universidade Federal do MatoGrosso/UFMT2. Marcelo Firpo de Souza Porto - Pesquisador doCentro de Estudos da Sade do Trabalhador e EcologiaHumana - Escola Nacional de Sade Pblica -Fundao Oswaldo Cruz3.Tarcsio Mrcio Magalhes Pinheiro - Professor deMedicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMGAusculta Tcnica Opapel dos Ministrios da
1. Dr. Jeferson Seidler - Mdico e Auditor Fiscal doMinistrio do Trabalho e Emprego/MTE
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01.09.2011 Previdncia e do Trabalhono monitoramento efiscalizao dos
Agrotxicos
2. Domingos Lino - Coordenador-Geral deMonitoramento de Benefcios do Ministrio daPrevidncia Social/MPS
15.09.2011
Ausculta Tcnica: - OSetor Empresarial, o Usodos Agrotxicos e as suasConseqncias Sade eao Meio Ambiente.
1. Eduardo DaherMembro da Associao Nacionalde Defesa Vegetal/ANDEF e do Sindicato Nacional daIndstria de Produtos para a Defesa Agrcola/SINDAG2. Tarciso Bonachela- Vice-Presidente da AssociaoBrasileira das Indstrias de Qumica Fina, Biotecnologiae suas Especialidades /ABIFINA.3. Michael Haradom - Membro do Conselho-Diretor daAssociao Nacional de Defensivos Genricos / AENDA
22.09.2011
Ausculta Tcnica: - O
Setor de Pulverizaoarea de Agrotxicos e sConseqncias Sade.
1. Nelson Antonio Paim - Presidente do SindicatoNacional das Empresas de Aviao Agrcola/SINDAG2. Maurcio Jos Antunes Gusman Filho - Gerente
Tcnico da Diretoria de Aeronavegabilidade da AgnciaNacional de Aviao Civil/ANAC3. Jos Maral dos Santos Jnior- Chefe da Divisode Mecanizao e Aviao Agrcola/MAPA
20.10.2011
Ausculta Tcnica: - OSetor EmpresarialComercial, o Uso deAgrotxicos e as suasConseqncias Sade.
1. Juliana Hosken - Representante do InstitutoNacional para Processamento de EmbalagensVazias/INPEV2. Dr. Angelo Trap - Representante da AssociaoBrasileira da Indstria Qumica/ABIQUIM e daUniversidade Estadual de Campinas/Unicamp.3. Jos Roberto da Ros - Vice-Presidente do SindicatoNacional da Indstria de produtos para Defesa Agrcola
10.11.2011 Ausculta tcnica: -
1. Sra. Heloisa Rey FarzaRepresentante da AgnciaNacional de Vigilncia Sanitria/ANVISA2. Sr. Leontino Balbo Jr.- Representante da Fazendade Produtos Orgnicos NATIVE3. Sr. Fernando Carneiro - Representante do FrumNacional de Combate aos Impactos dos Agrotxicos4. Sr. Reginaldo Minare - Representante daConfederao Nacional da Agricultura/CNA
Geralmente, os debates envolvendo os agrotxicos ocorrem
historicamente na Cmara Federal sob a tica da agricultura. As anlises sobre
a situao e os problemas gerados pelo uso e comercializao dessas
substncias, sob a tica da sade, so raras e superficiais. O enfoque
pretendido, no mbito da Subcomisso, foi o de privilegiar o estudo de to
importante tema, mas de acordo com os interesses e repercusses na sade.
Claro que o enfoque no poderia ser exclusivo, abstraindo-se os
demais temas, at porque no mbito da temtica agrotxicos o enfoque
ambiental e sob a tica do trabalhador tambm so relacionados com a sade,numa dimenso dialtica sobre o tema.
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2. Contexto brasileiro
Antes de adentrarmos especificamente no tema da
Subcomisso, necessrio contextualizar a situao brasileira no que tange ao
assunto em tela.
Atualmente o Brasil ocupa a primeira posio no valor
despendido, com a aquisio de substncias agrotxicas em todo o mundo. O
volume consumido no nosso pas colocou o Brasil como sendo a nao que
mais consome agrotxicos no mundo, o que traz muitas preocupaes nossa
populao. Ainda mais quando tal liderana mundial noticiada de forma mais
intensa. Vale ressaltar, entretanto, que o elevado consumo poderia serparcialmente explicado pelo volume da produo agrcola nacional. Nesse
cenrio, devemos destacar que a rea ocupada atualmente pelos
estabelecimentos agropecurios no Brasil de 329.941.393 hectares,
distribudos em 5.175.489 estabelecimentos. S em Lavouras so 65 milhes
de hectares, de florestas plantadas cinco milhes de hectares, sendo que de
pastagens, 115 milhes de hectares so cultivadas e 144 milhes de hectares
nativas. (Fonte: Censo agropecurio, 2006IBGE)
Sendo a nossa agricultura fortemente embasada no usode substncias qumicas para o controle de pragas e doenas vegetais e de
ervas invasoras, quanto maior a produo e a rea plantada, maior vem sendo
o volume de agroqumicos utilizados. Mas o fato a ser destacado que no
Brasil, o aumento do consumo superior ao aumento da produo agrcola,
ampliando ainda mais as preocupaes quanto ao tema.
Portanto, o aumento no consumo de agrotxicos no
Brasil, praticamente o dobro em relao mdia mundial, obviamente no
pode ser explicado to somente pelo aumento da produo. H ainda que seconsiderar o fato de que o clima tropical predomina na maior parte do territrio
brasileiro e, nessas condies alta temperatura e umidade, ausncia de
inverno frio (com neve), etc. em tese as pragas, doenas e plantas invasoras
se multiplicariam de forma mais intensa que em climas temperados.
Certamente as explicaes quanto a este aumento desse mercado tem razes
de ordem econmica, poltica e socio-cultural mais complexa.
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Alm disso, paralelamente ao aumento no consumo, a
presena de resduos de agrotxicos em alimentos acima dos limites mximos
recomendados, e a presena de produtos no permitidos para determinadosalimentos, tm sido seguidamente constatadas pelo Programa de Avaliao de
Resduos de Agrotxicos em Alimentos - PARA, da Anvisa. Afora isso, nas
fiscalizaes junto s empresas produtoras se observa recorrentemente sendo
observadas algumas irregularidades. Esse conjunto de dados sugestivo de
que possa haver uso indiscriminado e em desacordo das recomendaes
presentes nas bulas dos produtos. Os desvios so certamente sentidos pelo
solo, pela gua, pelo ar e nas condies de sade dos seres humanos.
O fato de o Brasil ser um dos maiores produtoresagrcolas do mundo e o seu papel de lder mundial no combate fome no
deveria ensejar o uso indiscriminado de agrotxicos e sem observncia dos
critrios considerados necessrios sua aplicao com reduo de riscos.
Vale lembrar que toda ao desproporcional aos fins
previstos traz em seu bojo a potencialidade elevada de leses a determinados
direitos de terceiros, pois tal desproporcionalidade sugere, em tese, um abuso
de direito. Os desvios relacionados ao uso de agrotxico podem envolver sua
utilizao em quantidades exageradas, o emprego de produtos no
recomendados para determinadas culturas, ou ainda a inobservncia do
intervalo de segurana (perodo mnimo entre a ltima aplicao e a colheita).
Todos esses desvios podem ser fatores que aumentam os riscos sade
humana e ao meio ambiente. Quanto maior o desvio, maiores sero os riscos.
Todo esse contexto chamou a ateno da CSSF, em
especial deste Relator, sobre os riscos sade e ao meio ambiente que tm
sido gerados pelo uso intensivo de agrotxicos. Apenas no ano de 2010 foramcomercializados mais de um milho de toneladas de agrotxicos em todo o
territrio nacional. Desse total, 750 mil toneladas foram produzidas no Pas,
sendo o restante importado, cerca de 318 mil toneladas, conforme informaes
apresentadas pela Anvisa por meio do Ofcio n. 641/2011 GADIP/ANVISA.
Cumpre registrar que os produtos advindos do campo so responsveis por
mais de trinta por cento das exportaes brasileiras e, portanto, so
fundamentais para o supervit na balana comercial.
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Com efeito, o Brasil possui destaque mundial quando o
assunto a produo agrcola assim como precisamos realar que tambm se
destaca pela sua biodiversidade. A ltima estimativa da safra nacional decereais, leguminosas e oleaginosas, feita pelo IBGE, indica uma produo da
ordem de 159,4 milhes de toneladas, superior em 6,6% safra recorde de
2010 (149,6 milhes de toneladas).
A rea a ser colhida em 2011, de 48,6 milhes de
hectares, apresenta acrscimo de 4,5% frente rea colhida em 2010. As trs
principais culturas, que somadas representam 90,5% da produo de cereais,
leguminosas e oleaginosas, o arroz, o milho e a soja, respondem por 82,5% da
rea a ser colhida, registrando, em relao ao ano anterior, variaes de+1,6%, +3,5% e +3,3%, respectivamente. No que se refere produo, o arroz,
o milho e a soja mostram, nessa ordem, acrscimos de 19,0%, 0,3% e 9,2%.
Se por um lado o setor agrcola responde de forma forte e
positiva com o aumento de produtividade, por outro lado, conforme dados
coletados pelo IBGE na PNAD 2004/2009 e apesar da citada pujana do setor
primrio brasileiro, cerca de 11,2 milhes de pessoas vivem em insegurana
alimentar grave e reportaram alguma experincia de fome no perodo
investigado.
Outros 14,3 milhes de brasileiros esto sofrendo
insegurana alimentar moderada, quando h limitao de acesso quantitativo
aos alimentos. Assim, 25,5 milhes de pessoas no nosso pas vivem sob risco
alimentar de moderado a grave. um nmero bem elevado, ainda mais se
considerarmos a produo nacional. J a insegurana alimentar leve atinge
cerca de 40,1 milhes de brasileiros. Ou seja, no total, 60,6 milhes de
pessoas vivem sob risco alimentar de algum nvel.Tais dados, juntamente com a inteno de produtores e
do governo de ampliar ao mximo a produtividade agrcola (aumento absoluto
da produo com a manuteno da rea cultivada) favorece a busca de novos
mtodos produtivos e a incorporao de tecnologias de ponta. Infelizmente, o
combate fome tem servido como justificativa para algumas prticas
deletrias, que produzem efeitos negativos ao homem e ao meio ambiente.
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A utilizao de agrotxicos precisa ser vista e discutida
tendo em mente esse contexto. Por serem produtos que, em situaes
especficas, protegem a lavoura das pragas e evitam a perda da safra, osexageros podem vir a ser justificados pela luta contra a fome, pelo ganho de
produo, pela melhoria da competitividade do Pas no cenrio internacional,
entre outras razes. Pela cultura predominante no campo atualmente, a maioria
dos produtores acaba achando necessrio o uso de determinados produtos
agrotxicos em situaes especficas, ainda mais se considerarmos a
tecnologia em uso e as bases em que o sistema brasileiro de produo
agropecuria est fundamentado. A quase totalidade da produo nacional
segue o modelo tradicional da dita revoluo verde, no qual substncias
txicas so utilizadas para controlar pragas e doenas das plantas cultivadas e
outras espcies vegetais consideradas invasoras.
Em algumas das Audincias, setores colocaram que no
h como modificar esse mtodo, em curto prazo ou de forma abrupta, sem
trazer mais insegurana alimentar ao povo, ainda que reconheamos as
vantagens para a sade e para a proteo do meio ambiente dos sistemas de
produo agroecolgicos.
Mas em mdio prazo, se houver uma priorizao por
parte do governo federal, com polticas publicas agroecolgicas, este cenrio
poder ser modificado. Obviamente, mtodos produtivos que respeitem a
coexistncia de todos os seres vivos e o equilbrio dos ecossistemas
apresentam ganhos considerveis para a promoo da sade humana e, por
isso, precisam ser incentivados.
A misso do Parlamento, diante desse quadro, envolve a
promoo do equilbrio entre as diferentes posies que se opem nadiscusso desse importante tema, ao menos no curto prazo. A adoo de
medidas que favoream e promovam os modelos de produo ditos
agroecolgicos pode ser, no longo prazo, uma alternativa capaz de substituir o
atual padro produtivo. Mas a ruptura no pode ser imediata. uma alterao
que exige tempo adequado de transio, tempo este que pode variar de cultura
para cultura, de regio para regio, e de poca para poca. Como sero visto
no decorrer deste Relatrio, os desafios so muitos para o direito sade e
para o sistema de sade pblica, mas as alternativas so poucas. Os trabalhos
levados a efeito pela Subcomisso dos Agrotxicos mostraram tal premissa.
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Ademais, devem-se reconhecer as dificuldades inerentes
avaliao das consequncias do uso de agrotxicos na sade e no meio
ambiente, em especial os de longo prazo. Isso porque diversas manifestaesclnicas e as patologias que acometem o ser humano, geralmente, no so de
causa isolada. Por exemplo, quando se fala de neoplasias, os componentes
externos, alm de estarem interligados, tambm se vinculam em parte ao
componente gentico que cada um carrega desde a concepo. Durante a
vida, o indivduo entra em contato com uma srie de agentes carcinognicos
diferentes o que dificulta, aps o desenvolvimento do tumor, afirmar qual foi o
agente principal, ou os agentes principais.
Atualmente, com os mtodos de pesquisa disponveis aohomem, apesar de ser difcil vincular a ocorrncia de uma doena dessas
utilizao de agrotxico, ainda que as suspeitas ou indcios sejam bastante
fortes, j existem fortes indcios que o uso dos agrotxicos provoca cncer e
outras doenas graves. Isso porque, ao longo da vida, mesmo aqueles que
trabalham com agrotxicos diuturnamente, podem tambm tm contato com
outras substncias cancergenas. Esse talvez seja um dos principais desafios a
serem vencidos pelos estudiosos e pesquisadores do tema.
De acordo com dados disponibilizados pela Anvisa
Subcomisso, o crescimento do consumo de agrotxicos no mundo aumentou
quase 100%, entre os anos de 2000 e 2009. No Brasil, a taxa de crescimento
atingiu quase 200%, quando considerado o montante de recursos despendidos.
Atualmente existem 2.195 produtos registrados no Brasil,
mas s 900 so comercializados. Os registros so de titularidade de 136
empresas diferentes. So cerca de 430 ingredientes ativos registrados. A
comercializao desses produtos no Pas movimentou recursos da ordem deUS$ 7,3 bilhes, somente no ano de 2009.
O Brasil ocupa a terceira posio mundial no que se
refere importao de produtos agrotxicos. Fica atrs apenas da Frana e da
Alemanha.
Tamanha magnitude do uso dos agrotxicos reflete-se,
obviamente, nos ndices de contaminao dessas substncias nos alimentos,
nas plantas, nos solos e na gua. A contaminao de alimentos e do meio
ambiente por substncias qumicas utilizadas na lavoura comprovada por
diversos estudos e anlises promovidas por instituies pblicas e privadas.
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O prprio Programa de Avaliao de Resduos de
Agrotxicos PARA, da Anvisa, vem sendo implementado desde o ano de
2000, monitorando alimentos ofertados diretamente ao consumidor final, nomercado varejista. Anualmente, so coletadas amostras em diversas unidades
da federao, o que permite uma construo de srie histrica que possibilita
diversas ilaes, tendo em perspectiva o cenrio nacional.
Os dados apresentados a esta Subcomisso,
relacionados aos resultados do PARA, revelam um quadro muito preocupante.
Uma grande quantidade de frutas e hortalias avaliadas pelas autoridades
sanitrias esto em situao irregular. Em Relatrio da Anvisa (2010), esta
informa que foram analisados 9 alimentos em 2007, 17 em 2008 e 20 alimentosem 2009 e 2010, alcanando 234 ingredientes ativos em hortalias, frutas e
leguminosa. A pesquisa de 2009 analisou 3.130 amostras coletadas em 25
estados brasileiros e apresentou resultado insatisfatrio em 29% das amostras.
As desconformidades testadas pela Agncia so de duas
naturezas: resduos de agrotxicos no autorizados para uso em determinadas
culturas e resduos em quantidades superiores aos limites mximos permitidos
para a segurana do consumidor. Alm disso, ocorrem vrios casos de
produtos contrabandeados.
Como ttulo exemplificativo, podemos citar o caso do
pimento: no ano de 2009, 64,8% das amostras testadas revelaram a presena
de substncias no autorizadas para utilizao na cultura de pimento.
Trata-se de um caso tpico de cultura com suporte
fitossanitrio insuficiente, os chamados minor crops. Essa situao decorre do
elevado custo e longo prazo demandado para o registro de produtos sanitrios,
que especfico por cultura, implicando o desinteresse das empresasregistrantes pelas espcies de menor valor econmico.
No que se refere aos resduos de agrotxicos em
quantidades superiores aos limites mximos estabelecidos, o campeo de
irregularidades em 2009 foi o mamo, com 12,8% das amostras em situao
irregular.
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A Anvisa realiza testes em 20 diferentes tipos de
alimentos consumidos in natura. As amostras coletadas revelaram que em
todas as espcies testadas foram utilizados agrotxicos no autorizados,diferentemente do que aconteceu com a avaliao de resduos em valores
superiores ao mximo permitido. Alguns alimentos no tiveram amostras
irregulares quanto a este ltimo aspecto, considerado mais grave quanto aos
efeitos negativos sobre a sade humana, como foi o caso de alface, arroz,
batata, beterraba, cenoura, cebola, repolho e tomate.
Alm da contaminao dos alimentos, alguns estudos
disponibilizados a esta Subcomisso comprovaram a contaminao do leite
materno, das guas da chuva, do solo e at do ar. Esse foi o caso do Municpiode Lucas de Rio Verde, em Mato Grosso.
Como visto, o quadro brasileiro preocupante e merece
ateno especial de toda a sociedade. O Estado tambm possui uma srie de
responsabilidades que precisam ser exploradas com mais eficincia, tendo em
vista a finalidade de incrementar a segurana alimentar, a proteo e promoo
da sade e a defesa do meio ambiente.
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3. Marco regulatrio
O tema do controle dos agrotxicos est contemplado no
ordenamento jurdico ptrio, em diferentes normas. Na Constituio Federal, o
art. 220, 4, prev a possibilidade de o Poder Pblico, por meio de lei, criar
restries s propagandas comerciais desses produtos como forma de garantir
pessoa e famlia a possibilidade de defesa da propaganda de produtos,
prticas e servios que possam ser nocivos sade.J o art. 225, pargrafo
1, inciso V, define como incumbncia do Poder Pblico controlar a produo, a
comercializao e o emprego de tcnicas, mtodos e substncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
Ademais, os dispositivos constitucionais relacionados
com a proteo e garantia da sade e do meio ambiente preservado tambm
se relacionam de forma implcita com os produtos fitossanitrios, os quais
podem representar elevados riscos, tanto sade, quanto deteriorao do
meio ambiente.
Paralelamente Carta Magna, existem os dispositivos
infraconstitucionais que tratam do tema. O principal destaque recai sobre a Lei
n 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispe sobre a pesquisa, aexperimentao, a produo, a embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercializao, a propaganda comercial, a utilizao, a
importao, a exportao, o destino final dos resduos e embalagens, o
registro, a classificao, o controle, a inspeo e a fiscalizao de agrotxicos,
seus componentes e afins, e d outras providncias.
Segundo a lei, so agrotxicos e afins os produtos e os
agentes de processos fsicos, qumicos ou biolgicos, destinados ao uso nos
setores de produo, no armazenamento e beneficiamento de produtosagrcolas, nas pastagens, na proteo de florestas, nativas ou implantadas, e
de outros ecossistemas e tambm de ambientes urbanos, hdricos e industriais,
cuja finalidade seja alterar a composio da flora ou da fauna, a fim de
preserv-las da ao danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como
as substncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes,
estimuladores e inibidores de crescimento.
Os agrotxicos somente podem ser produzidos,
exportados, importados, comercializados e utilizados, se possurem registro
prvio nos rgos federais competentes.
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Para a concesso desse registro, a Lei prev a
concordncia do produto com as diretrizes e exigncias dos rgos federais
responsveis pelos setores da sade, do meio ambiente e da agricultura.Assim, os agrotxicos s podem ser comercializados no Brasil se forem
aprovados pelo Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento MAPA
pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria Anvisa e pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Ibama,
cada qual avaliando o produto segundo sua rea de competncia.
A importncia do registro, como procedimento de controle
dos agrotxicos e de proteo aos interesses da sociedade, explicitado no
pargrafo 6 do art. 3 da Lei n 7.802. Nesse pargrafo encontram-seindicadas as caractersticas consideradas inaceitveis e impeditivas
concesso de registro aos agrotxicos e afins, bem como a seus componentes,
evidenciando que a finalidade maior dessa Lei consiste em proteger a sade
humana e o meio ambiente dos efeitos nocivos apresentados por esses
produtos.
O 4 do art. 3 incumbe a autoridade competente de
adotar imediatas providncias, sob pena de responsabilidade, quando
organizaes internacionais responsveis pela sade, alimentao ou meio
ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatrio de acordos
ou convnios, alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotxicos,
seus componentes ou afins.
A Lei dos Agrotxicos traz previso sobre a possibilidade
de terceiros requererem o cancelamento de registro, ou a impugnao de
pedidos de registro dos agrotxicos suspeitos de causarem prejuzos ao meio
ambiente, sade humana ou aos animais. Somente algumas entidadespossuem legitimidade ativa para intentarem tal providncia, nos termos
definidos em lei.
Outro aspecto que merece meno diz respeito ao
receiturio agronmico. A Lei em comento, em seu art. 13, estabeleceu que a
venda de agrotxicos e afins aos usurios ser feita atravs de receiturio
prprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados. O Decreto n
4.074/2002 detalha o funcionamento do receiturio agronmico.
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Apesar das possibilidades de controle que podem ser
exploradas na utilizao desse documento e os dados inerentes ao mesmo, o
receiturio tem sido relegado a segundo plano, por vezes desrespeitado e,como verificado por esta Subcomisso, no est atingindo os fins para os quais
foi idealizado.
A Lei n 7.802/1989, devido s alteraes trazidas pela
Lei n 9.974/2000, contm vrios dispositivos que tratam da devoluo e
destinao final das embalagens de agrotxicos e afins:
O 2 do art. 6 determina aos usurios de produtos fitossanitrios queprocedam devoluo das embalagens vazias aos estabelecimentoscomerciais em que foram adquiridos, podendo essa devoluo serintermediada por postos ou centros de recolhimento;
O 5 do art. 6 estabelece que as empresas produtoras ecomercializadoras de agrotxicos e afins so responsveis pela destinaodas embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e comercializados,aps a devoluo pelos usurios;
O art. 12-A atribui ao Poder Pblico competncia para fiscalizar a devoluoe a destinao adequada de embalagens vazias, de produtos apreendidos e
daqueles imprprios para utilizao ou em desuso; bem assim parafiscalizar o armazenamento, o transporte, a reciclagem, a reutilizao e ainutilizao das referidas embalagens vazias e produtos;
O art. 14 define as responsabilidades administrativa, civil e penal por danoscausados sade das pessoas e ao meio ambiente, inclusive os referentes destinao de embalagens vazias; e o art. 15 estabelece penalidades;
O pargrafo nico do art. 19 trata da implementao de programaseducativos e mecanismos de controle e estmulo devoluo dasembalagens vazias por parte dos usurios.
O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens
VaziasINPEV, entidade sem fins lucrativos fundada em 2001, vem tratando
da destinao final de embalagens vazias de agrotxicos. Tendo entrado em
operao em maro de 2002, mais de 170 mil toneladas de embalagens de
agrotxicos usados pelos agricultores j foram recolhidas at o presente.
Atualmente, o Brasil referncia mundial na logstica reversa de embalagens
vazias de agrotxicos: divulgado que 95% das embalagens primrias
(aquelas que entram em contato direto com o produto) so recolhidas eenviadas destinao ambientalmente correta, onde maioria reciclada. Essa
porcentagem em parte questionada nesse relatrio.
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J a Lei n 11.657, de 16 de abril de 2008, institui o dia 18
de agosto como o Dia Nacional do Campo Limpo, oficializando assim evento
que se realiza desde 2005, destacando a importncia do processo derecolhimento de embalagens vazias no meio rural.
A Lei n 9.294, de 15 de julho de 1996, dispe sobre as
restries ao uso e propaganda de produtos fumgeros, bebidas alcolicas,
medicamentos, terapias e defensivos agrcolas, nos termos do 4 do art. 220
da Constituio Federal. O art. 8 dessa Lei estabelece:
Art. 8 A propaganda de defensivos agrcolas quecontenham produtos de efeito txico, mediato ou
imediato, para o ser humano, dever restringir-se aprogramas e publicaes dirigidas aos agricultores epecuaristas, contendo completa explicao sobre a suaaplicao, precaues no emprego, consumo ouutilizao, segundo o que dispuser o rgo competentedo Ministrio da Agricultura e do Abastecimento, semprejuzo das normas estabelecidas pelo Ministrio daSade ou outro rgo do Sistema nico de Sade.
Devemos ainda destacar que a Lei n 6.938/81, referente a
Poltica Nacional de Meio Ambiente e a Lei n 12.305/10, referente a Poltica
Nacional de Resduos Slidos, possuem dispositivos relacionados diretamente
ao uso dos agrotxicos. Infelizmente, alguns desses dispositivos ainda so
pouco observados no mbito da cadeia produtiva dos agrotxicos.
4. Os Impactos do uso de agrotxicos
O uso de agrotxicos representa uma srie de riscos ao
homem, sade humana, ao meio ambiente, fato que j de conhecimento
geral. Ainda quando utilizados com estrita observncia a todas as regras
estabelecidas para o correto manejo, seguindo as recomendaes de uso
feitas pelos fabricantes e corroboradas pelas autoridades brasileiras
responsveis pelo registro, os riscos so altos porque so inerentes prpria
natureza qumica do agrotxico. Como o nome j sugere de incio, tratam-se de
substancias txicas.
Quando o uso indiscriminado, tais riscos so muito mais
elevados e no podem ser relegados, nem pela sociedade, muito menos pelo
Poder Pblico, em especial pelos rgos responsveis pelo controle e
fiscalizao de tais produtos.
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A utilizao de agrotxicos respeitando-se as respectivas
determinaes tcnicas informadas, pode em tese manter o risco dentro de
nveis aceitveis, segundo determinaes feitas em estudos laboratoriais epesquisas cientficas. Quando o assunto substncia txica, no h como
suprimir o risco, mas apenas reduzi-lo a nveis aceitveis. J o uso
desinformado fonte profcua de problemas e srias intoxicaes. A
contaminao acidental do trabalhador, das populaes que residem na rea
perifrica s lavouras, do meio ambiente, dos alimentos e das colees
hdricas prximas tem uma probabilidade relativamente alta e preocupante de
ocorrerem em larga escala. Tais riscos no podem ser olvidados pela
sociedade e pelas instituies que a protegem, como o Estado.
Perante a atual ordem constitucional, o Estado brasileiro
tem o dever de proteger o ser humano em sua total dignidade. Isso envolve,
sem sombra de dvidas, a proteo do direito sade. Esse direito est
intimamente relacionado com o direito vida e dele indissocivel. Tal
construo do Direito Constitucional passa a exigir do Estado, prestaes
positivas direcionadas a prover o cidado de aes e servios que promovam,
protejam, garantam e recuperem a sade de todos.
Diversos produtos e servios disponibilizados pelo
comrcio ao consumidor podem representar riscos ao indivduo. Alguns
possuem um risco maior, outros possuem um risco menor. Em alguns, o
consumidor sabe dos riscos presentes pela prpria natureza do produto, como
o caso das formulaes farmacuticas. Em outros casos, o consumidor
espera ou acredita que no h riscos em usar determinado produto. Esse pode
ser o caso do consumo dos alimentos naturais.
O brasileiro acredita que, aquilo que vem da natureza nopode lhe fazer mal. A alimentao saudvel popularmente confundida com o
consumo de produtos naturais, de frutas, verduras e legumes, quando o mais
correto seria buscar o equilbrio nutricional de todas as refeies. A introduo
dos agrotxicos criou um dilema ou uma dvida real e fundada de que o
consumo de hortifrutigranjeiros pode no ser to saudvel como se pensava.
Em vista do uso indiscriminado dos agrotxicos, podem-se esperar riscos mais
elevados no uso de uma simples hortalia. Hoje o cidado mais esclarecido
sempre se indaga: ser que estou ingerindo que quantidade de agrotxicos ao
comer essa fruta? Ser que no terei um cncer no futuro, por ter ingerido
agrotxico indevidamente?
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Os impactos negativos do uso dos agrotxicos, apesar de
divulgados e de alguns j serem conhecidos, no tm sido ainda razo
suficiente para eliminar ou reduzir o seu uso no campo. Apesar dos riscos deproblemas de sade no ser humano, dos impactos negativos no ambiente, da
alterao indevida de ecossistemas e dos efeitos negativos sobre a vida de
diversos seres vivos, no s quando da aplicao de determinado agrotxico,
parte da sociedade e as autoridades de nosso pas ainda acredita que os
benefcios advindos do uso do agrotxico na produo agrcola superam os
malefcios. Pelo menos grande parte dos produtores rurais tem resistido a
diminuir a utilizao dessas substncias txicas.
Os produtos alimentcios que chegam mesa dobrasileiro podem conter agrotxicos em quantidade suficiente para impactar de
forma negativa a sade humana, principalmente se tal avaliao for
considerada ao longo prazo. A exposio ocupacional de milhares de
trabalhadores rurais tambm causa impactos ruins sade dessas pessoas de
forma mais proeminente, tendo em vista frequncia da exposio e
quantidade de produto que entra em contato com os trabalhadores.
O meio ambiente tambm sofre em demasia com a
quantidade de produtos agrotxicos que so lanados de forma indiscriminada
na natureza. A contaminao dos solos, dos mananciais de guas, do ar e da
biota afeta seriamente o equilbrio dos diversos sistemas biolgicos em
coexistncia.
Como visto, a questo do uso de agrotxicos muito
complexa, envolve diferentes reas de interesse social e do saber humano.
Existem estimativas que do conta de que, a cada ano, 25 milhes de
trabalhadores so contaminados com agrotxicos apenas nos pases emdesenvolvimento. Vale lembrar que o Brasil o campeo mundial no consumo
desses produtos.
Uma srie de condies sociais e econmicas
vivenciadas pela populao brasileira vem colaborando para o aumento
exagerado no consumo desses produtos no Brasil. Pases em desenvolvimento
do um enorme valor ao crescimento econmico, ao sonho de se tornarem
finalmente desenvolvidos. A nsia rumo a tal sonho s vezes acaba por
justificar a adoo de meios relativamente agressivos e condenveis, sem adevida precauo socioambiental.
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Hoje, apesar de o discurso do desenvolvimento
sustentvel freqentar as pautas dos principais fruns sociais, prticas
produtivas que desconsideram os impactos negativos no meio ambiente e nasade de todos ainda esto muito arraigadas no setor produtivo.
Todavia, outros determinantes sociais tambm
influenciam o modo como o ser humano encara o aspecto desenvolvimento. As
prticas exploratrias comerciais, o uso dos meios de comunicao, a lgica de
mercado, a legitimao de saberes como verdades, inclusive utilizando-se da
cincia, e a preocupante prtica histrica de vinculao de acesso ao crdito
rural ao uso de agrotxicos nas lavouras tambm podem explicar, ainda que de
forma parcial, a aceitao social a determinadas prticas lesivas no campo.
4.1. Impactos dos agrotxicos na sade humana.
A utilizao em larga escala dos produtos agrotxicos
gera diversos efeitos negativos, sentidos principalmente pelos malefcios
sade humana. A disseminao do uso desses produtos nos ltimos anos, vem
tornando a intoxicao por tais produtos um crescente problema de sade
pblica.
Alm da intoxicao da populao em geral, por meio do
consumo de alimentos contaminados com esses agrotxicos e pela
contaminao do meio ambiente, inclusive os recursos hdricos, h tambm
principalmente a intoxicao dos trabalhadores rurais. Provavelmente, esses
sejam os mais atingidos por tais substncias, porque eles os manipulam na
forma concentrada e rotineiramente, s vezes sem as devidas precaues.
As chances de intoxicao para os trabalhadores rurais
so, assim, bem maiores e mais fortes do que para as demais pessoas.Saliente-se que esses trabalhadores tambm consomem alimentos
contaminados. Na verdade, o trabalho com o agrotxico constitui fonte
adicional de riscos, alm dos enfrentados como indivduos pertencentes
populao em geral.
4.1.1. Impactos na sade da populao
O contato da populao com os agrotxicos proveniente
de diversas fontes. A principal, sem dvida, so os alimentos in natura, a fontemais disseminada e que atinge mais pessoas ao mesmo tempo. Entretanto,
outras fontes no podem ser desconsideradas.
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A contaminao dos reservatrios de guas que
abastecem nossas cidades tambm constitui fonte preocupante e que atinge
grandes parcelas populacionais. Conforme constatado pela Subcomisso, aprpria Agencia Nacional das guas ANA, no dispem de estrutura
adequada para o devido monitoramento dos recursos hdricos, quanto a
possveis ocorrncias de contaminao das guas por agrotxicos.
Alm disso, o ar e o solo contaminados tambm podem
gerar problemas de sade em determinadas pessoas. J houve inclusive
relatos da ocorrncia em certas regies de chuvas contaminas com
agrotxicos. Portanto, esses tipos de contaminao interessam tambm
sade conjuntamente com a rea ambiental.
No Brasil, as intoxicaes por agrotxicos j ocupam o
segundo lugar entre as intoxicaes exgenas. No perodo de 2006 a 2010,
cerca de 73 % dos casos de intoxicao por agrotxico envolveu o grupo dos
inseticidas (organofosforados, piretrides e carbamatos).
Os dados apresentados pelo Sinan, os quais, apesar das
limitaes impostas pela subnotificao, servem como base para a adoo de
providncias. o caso da Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio daSade, que idealizou um projeto, um modelo de ateno sade de
populaes expostas aos agrotxicos. A previso do prazo final de implantao
em 2015. Esse modelo de vigilncia, segundo informou a SVS/MS, poderia
ser muito til na reduo da subnotificao.
Conforme demonstra o Sistema de Informaes de
Agravos de Notificao SINAN, no ano de 2010 (dados parciais, at maio)
das 6.871 intoxicaes por agrotxicos que foram notificadas, 3.810, ou
55,45% dos casos foram classificados como tentativas de suicdio. Outros1.839 casos (27% do total) foram considerados acidentais. Em terceiro lugar,
com 430 notificaes, ou 6% dos casos, ficaram as intoxicaes creditadas ao
uso habitual dos agrotxicos.
Do total de casos notificados at maio de 2010, 5.605
evoluram para a cura sem seqela alguma. Ou seja, quase 82% das
intoxicaes agudas registradas no SINAN foram tratadas e no deixaram
seqelas. Mas em 310 casos (4,5%) o bito foi o resultado final. Esse nmero,
que em um primeiro momento pode parecer pequeno, revela um ndice de
letalidade relativamente alto dos produtos em tela.
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Apesar do desconhecimento geral sobre a real magnitude
da intoxicao por agrotxicos, tanto o Sinan quanto o Sinitox podem nos dar
uma noo sobre o contexto brasileiro. Conforme informaes fornecidas peloMinistrio da Sade, no perodo de 1999 a 2008, foram registrados 137.089
casos de intoxicao por agrotxicos no Sinitox. J o Sinan registrou apenas
22.804 casos.
Essa diferena pode ser explicada pelo fato de as
intoxicaes exgenas no serem, at o ano de 2010, molstias de notificao
compulsria no mbito das unidades componentes do SUS. Mas a partir de
2010, nos termos da Portaria MS n 2.472, tais intoxicaes passaram a ter
compulsoriedade na sua notificao. O reflexo dessa alterao j pode serpercebido em 2010 com aumento considervel no nmero de registros, pois
com os dados consolidados at maio, os nmeros de intoxicao j superavam
todo o ano de 2009.
A toxicidade dos agrotxicos responde pelos efeitos
produzidos no homem. Como so produtos utilizados para exterminar a vida,
matar, e muitos atuam sobre processos biolgicos especficos (como a
regulao do crescimento) e sobre processos vitais, no organismo humano
esses produtos tambm agem como venenos. Como todo veneno, os efeitos
dependem da dose absorvida.
Os efeitos sobre a sade humana podem ser classificados
de diferentes maneiras, mas a mais conhecida a classificao em efeitos
agudos e crnicos. Os agudos so aqueles que se originam aps a exposio
a um agente txico em concentrao suficiente para causar um dano ou
sintoma aparente em um perodo de 24 horas. J os efeitos crnicos so
aqueles resultantes de uma exposio continuada a doses relativamentebaixas de um ou mais produtos.
Os efeitos agudos so os mais visveis e mais facilmente
relacionados utilizao dos agrotxicos, pois aparecem logo aps o contato
do indivduo, geralmente o trabalhador rural, com determinado produto. Os
sintomas mais comuns envolvem espasmos musculares, alteraes
respiratrias, nuseas, vmitos, desmaios, convulses, fraqueza, clicas
abdominais, vertigens, tremores musculares, cefalia, hipertermia,
conjuntivites, dermatites, alergias de contato, entre outros.
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No caso da exposio crnica, os efeitos podem aparecer
aps algum tempo, s vezes at aps muitos anos, at em outras geraes em
face do poder bioacumulativo de algumas substncias. Por isso, so efeitos dedifcil identificao ou impossvel de vincular-se, sem margem a dvidas, o
efeito vislumbrado ao uso de agrotxico. Nesse caso, costuma-se dizer que o
estabelecimento do nexo causal muito difcil de ser estabelecido, ainda que
existam fortes indcios que podem sustentar tal nexo. Na maioria dos casos, os
efeitos clnicos relatados pelas vtimas podem ser confundidos com outras
molstias, ou tratados como algo inespecfico. Se a anamnese no for bem
realizada, a suspeita sobre um produto txico pode nem vir a ser questionada.
No obstante tal dificuldade, os sintomas da intoxicaocrnica envolvem; efeitos neurotxicos, alteraes cromossmicas, leses
hepticas, arritmias, leses renais, neuropatias perifricas, asma, alergias,
doena de parkinson, cnceres, teratogenia, fibrose pulmonar, distrbios
hormonais (hormnios da tireide e sexuais), entre outros efeitos que so
comumente causados pelo contato rotineiro com os produtos agrotxicos.
Os organofosforados e os carbamatos, por exemplo, so
inibidores das colinesterases, as enzimas responsveis pela metabolizao da
acetilcolina, um importante neurotransmissor. A diminuio da degradao da
acetilcolina causa um distrbio chamado de crise colinrgica, com a ocorrncia
de distrbios do sistema nervoso, ligados neurotoxicidade dos agrotxicos.
As substncias do grupo dos organoclorados, em vista de
sua elevada estabilidade fsico-qumica, podem permanecer nos organismos
vivos e no meio ambiente por mais de trinta anos. Tal caracterstica
responsvel pela acumulao de tais produtos ao longo da cadeia alimentar,
fenmeno conhecido como biomagnificao, que o aumento dasconcentraes de uma determinada substncia de acordo com o aumento do
nvel trfico.
Todo esse potencial txico merece ateno especial
quando tratamos das crianas. Como de conhecimento geral, o feto e a
criana so bem mais sensveis aos txicos, principalmente quando as
substncias apresentam caractersticas neurotxicas e teratognicas. A
ocorrncia de doenas neurolgicas e deficincia mental podem estar
correlacionadas com o contato com neurotoxinas de diversas origens, como asde natureza qumica.
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Como parte dos agrotxicos possui efeitos neurotxicos
comprovados, ateno especial ao ser humano nos estgios iniciais de seu
desenvolvimento orgnico como forma de evitar que fatores externosprejudiquem o desenvolvimento neurocognitivo.
Dentre todas as molstias causadas ao homem pelos
agrotxicos, a que mais chama a ateno o cncer. No s pela alta taxa de
letalidade dessa doena, mas pela forma agressiva e devastadora com que ela
atinge o organismo humano. Atualmente, a incidncia dos cnceres tem
aumentado em todo o mundo. As principais causas de origem do cncer so
relacionadas a fatores ambientais, fatores externos ao organismo.
Diversos estudos cientficos produzidos ao redor do
mundo indicam uma estreita associao entre a exposio aos agrotxicos e o
surgimento de diferentes tipos de tumores malignos. Em 1990 o Instituto
Nacional do Cncer e o Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos
avaliaram 51 substncias utilizadas como agrotxicos. Desse total, 24
demonstraram ter potencial carcinognico quando em contato crnico. Em
1997, a Agncia Internacional de Pesquisa em Cncer classificou 26
agrotxicos como possuidores de indcios suficientes sobre seu potencial
carcinognico em animais.1
Apesar das concluses impactantes que os estudos
cientficos sempre obtm quando o objeto de estudo so as substncias
txicas, elas ainda no foram suficientes para gerar uma mudana de atitude
nos produtores rurais ou no Poder Pblico. Em que pesem as concluses sobre
a lesividade vida, aos processos biolgicos, ao meio ambiente, sade que
representam o uso dos agrotxicos, tais substncias continuam sendo
permitidas para uso agrcola. Mesmo que sejam conhecidas diversas molstiascausadas por esses agrotxicos, os produtores rurais os consomem cada vez
mais, o que causa excesso de resduos nos alimentos, bem acima dos valores
mximos permitidos. O Poder Pblico tambm no adota nenhuma providncia
para modificao dessa realidade.
No que tange a intoxicao da populao, interessante
salientar estudo realizado no municpio de Lucas do Rio Verde, local em que foi
pesquisada a presena de resduos de agrotxicos no leite materno.
1SARCINELLI, PN. A exposio de crianas e adolescentes a agrotxicos. In: Veneno ou Remdio?.P.47.
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Conforme os resultados apresentados a esta
Subcomisso, as amostras de leite colhidas em 62 nutrizes revelaram a
presena dessas substncias. Em 100% delas foi detectado DDE, um produtoderivado do DDT. 44% das amostras foram positivas para -endossulfan, um
agrotxico classificado como extremamente txico. Alm desses dois tipos,
ainda foram detectadas as presenas de deltametrina, aldrin, -endossulfan, -
HCH, DDT, trifluralina e lindano.
Outras constataes tambm chamam a ateno. A
maioria das amostras analisadas apresentou trs ou mais substncias txicas
no leite. De fato, o leite de 35 nutrizes tinha, na sua composio, um pool de
agrotxicos. Uma das amostras foi positiva para 6 diferentes substncias e 7amostras foram positivas para 5 diferentes txicos.
A idia, presente no senso comum, sobre a qualidade do
leite materno e de sua importncia para o desenvolvimento saudvel dos bebs
est bastante prejudicada no referido municpio. Alm das protenas, vitaminas
e anticorpos, a amamentao dos recm-nascidos de Lucas do Rio Verde
tambm fornece agrotxicos em quantidade e qualidade diversas.
Nas amostras que foram positivas para o endossulfan,19,4% das mes relataram j ter sofrido um aborto e em 3,2% dos partos a
criana nasceu com alguma m-formao. Partos prematuros ocorreram em
6,5% das gestaes.
O ndice de malformaes verificado em anfbios
coletados em dois diferentes cursos de gua existentes no entorno do referido
municpio, foi de 33% e 26%, enquanto no grupo controle esse ndice atingiu
6%. Tais resultados so muito preocupantes, pois, alm de demonstrar a
contaminao das guas da regio, comprovam o potencial lesivo dosagrotxicos aos organismos vivos, com clara ao teratognica.
Portanto, os problemas causados pelos agrotxicos na
sade humana e na natureza so muitos e bem graves. J existem
comprovaes cientficas suficientes que relacionam tais txicos com o
desenvolvimento de patologias no ser humano. Todavia, tais produtos
continuam sendo utilizados de forma intensiva e indiscriminada, sem
fiscalizao por parte dos rgos estatais responsveis pelo controle da
produo e comercializao dessas substncias no territrio nacional.
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4.1.2. Impactos na sade dos trabalhadores
O grupo populacional que diretamente mais sofre os
efeitos malficos dos agrotxicos so os trabalhadores rurais que tm contato
direto e rotineiro com essas substncias. Alm da frequncia com que os
manipulam, o trabalho exige o contato com produtos altamente concentrados.
As chances de intoxicaes so bem mais altas nessa ocasio, no momento da
diluio e preparo do agrotxico para a sua aplicao.
Existem poucos dados ou indicadores sistematizados e
estudados, principalmente devido as subnotificaes sobre os impactos que a
manipulao corriqueira desses agrotxicos provoca nos trabalhadores, deforma especfica. Juntamente com a elevada subnotificao presente nos
sistemas de informao de sade Sinan e Sinitox h deficincia tambm
nas informaes relacionadas Previdncia Social e do Ministrio do Trabalho.
Os dados relativos aos benefcios de auxlio doena e de
acidente de trabalho so muito pequenos. Entre os anos de 2006 e 2010, foram
concedidos 445 benefcios. Em cinco anos, esse nmero representa muito
pouco e, de fato, no mostra a realidade nacional. O que esse nmero
comprova que a grande maioria dos trabalhadores rurais, no s aqueles queaplicam os agrotxicos, esto fora do sistema de seguridade social.
Todavia, ainda que o Brasil no disponha ainda de dados
confiveis sistematizados que demonstrem a real magnitude das intoxicaes
enfrentadas pelos trabalhadores rurais, sabemos que as manifestaes clnicas
relacionadas com a intoxicao aguda, descritas no item anterior, so
reproduzidas de forma mais intensa e frequente nos aplicadores dos
agrotxicos. Apesar da fragilidade de dados fornecidos pelos rgos
relacionados previdncia e trabalho, o conhecimento que hoje j estdisponvel ao homem acerca dos impactos dos agrotxicos na sade pode
servir de base para a avaliao dos efeitos no trabalhador do campo.
Outro aspecto importante e que merece destaque no
presente tpico o fato de os trabalhadores e produtores rurais, principalmente
os pequenos, serem apontados como os principais culpados pelo excesso de
agrotxicos em uso no campo, na produo agrcola e nos alimentos que
chegam mesa do brasileiro. Porm, so esses trabalhadores os principais
atingidos pelos efeitos nocivos desses agrotxicos.
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Alguns dados apresentados a esta Subcomisso,
inclusive nas visitas tcnicas in loco, mostram a elevao da incidncia de uma
srie de doenas crnicas nas regies de intensa produo agrcola. Aincidncia de cncer em regies produtoras de Minas Gerais, que usam
intensamente agrotxicos em patamares bem acima das mdias nacional e
mundial, sugere uma relao estreita entre essa molstia e a presena de
agrotxico. Neste estado, na cidade de Una, esta sendo construdo um
Hospital de Cancer, em virtude da grande ocorrncia desta doena na regio.
Segundo os dados apresentados na Ausculta Publica que realizamos nesse
municpio, j esto ocorrendo cerca de 1.260 casos/ano/100.000 pessoas. A
media mundial no ultrapassa 400 casos/ano/100.000 pessoas.
Tal contexto mostra que, antes de culpados pela
contaminao alimentar e ambiental pelos agrotxicos, os trabalhadores rurais
acabam sendo as principais vtimas. A sociedade e o Estado precisam apoiar o
trabalhador rural e fornecer-lhe assistncia tcnica adequada para que ele
adote prticas produtivas menos arriscadas para ele e para a sociedade, pois
eles precisam desenvolver a conscincia de que so eles os mais atingidos
pelos efeitos txicos dessas substncias.
Pode-se prever que a incidncia de dermatite,
conjuntivite, problemas neurolgicos, deficincia renal, cncer e outras
doenas ligadas aos agrotxicos sejam mais comuns nos trabalhadores. Esse
um campo que merece ser bem monitorado e estudado, pois pode render
excelentes indicadores e resultados importantes sobre os agrotxicos usados
no campo.
4.2 Impactos dos agrotxicos no meio ambiente
Inicialmente, poder-se-ia imaginar que a CSSF, aoadentrar no presente assunto, estaria invadindo rea estranha s suas
competncias regimentais. Todavia, isso deve ser afastado. A sade ambiental
essencial para a proteo e promoo da sade humana. Riscos ambientais,
como as contaminaes por substncias txicas, sejam elas provenientes de
fontes urbanas ou rurais, representam de forma indubitvel riscos sade das
pessoas que vivem ao redor da rea atingida e daquelas que venham a ter
contato com focos da contaminao.
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A presena de substncias txicas nos alimentos, nos
mananciais de gua que abastecem as cidades, na gua da chuva, nos solos e
at no ar afetam o equilbrio ecolgico, os ecossistemas e representam sriosriscos sade do homem.
Portanto, a sade ambiental, em face de sua interseco
com a sade humana, constitui tema de interesse e de competncia da
Comisso de Seguridade Social e Famlia.
A devastao da cobertura florestal e o manejo
inadequado dos solos levam degradao de sua estrutura fsica e, em
consequncia, facilitam os processos de eroso. Os solos erodidos exigemmais fertilizantes, que nem sempre conseguem suprir, de modo adequado, as
necessidades nutricionais das plantas, tornando-as assim mais suscetveis ao
ataque de pragas e doenas.
Dessa forma, os agricultores tendem a aplicar doses
crescentes de agrotxicos, produtos que eliminam tambm os inimigos naturais
das pragas facilitando a proliferao de insetos, caros, fungos e bactrias, em
especial nos sistemas monoculturais. Alm disso, dificilmente os agrotxicos
conseguem eliminar toda a populao de pragas, permitindo que os indivduossobreviventes se tornem resistentes a esses produtos. Esse ciclo, bastante
comum na agricultura moderna, vem provocando, desde o final dos anos
sessenta, uma srie de impactos aos agroecossistemas.
Ao mesmo tempo, desde meados dos anos oitenta,
ampliam-se as prticas que procuram aliar a conservao ambiental e a
produo de alimentos em larga escala. Instituies oficiais de pesquisa e de
extenso e um importante conjunto de organizaes no-governamentais
buscam formas de reduzir as prticas predadoras. As sadas maisconvincentes provm das vertentes alternativas: a orgnica, a biodinmica, a
ecolgica, entre outras. Existem evidncias suficientes para se afirmar que os
princpios defendidos por essas vertentes, somados pesquisa agropecuria,
sero a base de um padro sustentvel, com significantes volumes de
produo.
Tal situao pode ser observada pela Subcomisso
quanto da visita tcnica efetivada na Fazenda Agroecolgica Malunga do DF,
assim como em Audincia Publica, onde foi apresentada a experincia exitosa
de produo orgnica que vem ocorrendo na Fazenda Nativa, em So Paulo.
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Atualmente, a presena de substncias txicas nos
alimentos, nos mananciais de gua que abastecem as cidades, na gua da
chuva e nos solos, afetam o equilbrio ecolgico, os ecossistemas erepresentam srios riscos sade do homem.
Portanto, a sade ambiental, em face de sua interseco
com a sade humana, constitui tema de interesse e de competncia da
Comisso de Seguridade Social e Famlia.
Como j de conhecimento geral, a utilizao de
agrotxicos pode causar uma srie de impactos no meio ambiente. Mesmo
quando essa utilizao ocorre no uso correto desses produtos, considerando-se todas as recomendaes e restries para o seu uso, os agrotxicos podem
trazertranstornos para o ambiente. Tais transtornos so mais intensos quando
o uso de agrotxicos ocorre de forma indiscriminada e em desrespeito s
indicaes e recomendaes previstas pelos fabricantes e autoridades pblicas
responsveis pelo registro. A contaminao dos ecossistemas por material
txico leva srias alteraes nas biotas e nos sistemas abiticos e,
consequentemente afetam a vida do homem.
Espcies que no so o alvo principal do produto em usotambm sofrem os efeitos indesejveis do agrotxico. Mamferos, peixes, aves
e insetos sofrem diferentes nveis de toxicidade de tais produtos, ainda que no
sejam o alvo principal do controle da produo.
O impacto negativo da contaminao por agrotxicos
tambm atinge os recursos hdricos. A contaminao de colees de guas
superficiais e subterrneas constitui um dos impactos ambientais mais
importantes no manejo de agrotxicos. Isso porque as guas podem servir
como via de transporte do contaminante txico para longe da fonte. A regioagrcola que utiliza o agrotxico pode gerar a contaminao de guas utilizadas
por determinada comunidade situada a quilmetros da regio produtora. Dessa
forma, no s a populao residente prximo rea agrcola fica exposta ao
txico, mas as demais pessoas que esto bem distantes dessa rea, mas
usam a gua que foi contaminada pelo uso do agrotxico em outra regio.
Os agrotxicos esto inseridos nas discusses sobre as
polticas ambientais desde o incio dos debates. De acordo com a avaliao do
IBAMA, externada na Audincia do dia 16/06/2011, a legislao relacionada ao
referido tema pioneira e farta em instrumentos regulatrios.
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Nesse sentido, o destaque recai sobre a Lei dos
Agrotxicos que descentralizou a competncia para analisar os agrotxicos
para trs diferentes rgos, coordenando, nesse tema, a ao das reas desade, meio ambiente e agricultura, cada qual no mbito de suas atribuies.
Da mesma forma que o aumento do consumo de
agrotxicos reflete de forma negativa a sade pblica, como mostrado no
tpico precedente, o incremento da produo agrcola fundamentada no uso
intensivo de agrotxicos tambm impacta de forma direta o meio ambiente.
Os resduos produzidos pelo uso intensivo de agrotxicos
degradam o meio ambiente no s pela presena das substncias qumicastxicas e seus subprodutos. As embalagens utilizadas para acondicionar e
transportar o agrotxico at o produtor rural tambm constitui um srio
problema para o ambiente e para a sade.
O destino final dessas embalagens vazias constituem,
alm da degradao ambiental e da elevao dos riscos de contaminao e de
agravos sade, d origem a outro problema grave, que a reutilizao
desarrazoada das embalagens primrias dos agrotxicos. O produtor rural e o
trabalhador do campo nem sempre se do conta da periculosidade presentenas embalagens que ficam em contato direto com as substncias utilizadas nas
lavouras para o combate s pragas. Por isso, o recolhimento das embalagens
vazias torna-se muito importante na reduo dos riscos inerentes utilizao
de agrotxicos.
Desde 2000, com a edio da Lei n 9.974, h a
obrigao de os usurios devolverem aos estabelecimentos comerciais as
embalagens vazias. Tambm h a obrigao das empresas produtoras de
agrotxicos de recolherem, junto aos comerciantes, as embalagens vazias eprovidenciar uma destinao final a elas, aps a sua descontaminao.
Conforme anunciado pelo Instituto Nacional de
Processamento de Embalagens Vazias-Inpev, atualmente seria de 95% das
embalagens de agrotxicos das empresas produtoras associadas referida
instituio so restitudas. Nesse calculo, restou incluir no processo da logstica
reversa os demais produtores e importadores que ainda no so associados a
esse Instituto e que no dispem de sistema prprio de coleta.
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Da mesma forma que o aumento do consumo de
agrotxicos reflete de forma negativa e variada na sade pblica, como
mostrado em tpico precedente, o uso intensivo de agrotxicos tambmcomprovadamente impacta de diferentes formas o meio ambiente.
Exemplos no faltam. Em recente pesquisa efetivada no
Estado do Mato Grosso pela equipe do Dr. Pignati,/UFMT no municpio de
Lucas do Rio Verde, realizou-se anlises nas guas coletadas nas cisternas,
nas superfcies e das chuvas em busca da presena de agrotxicos. Diversas
amostras de gua dessas fontes revelaram a presena de substncias
consideradas extremamente txicas, como o Endossulfan, Monocrotofs,
Paration e S-metolacloro.
Essa mesma equipe tambm pesquisou o ar no referido
municpio em busca de resduos de agrotxicos. Foram detectados resduos de
endossulfan e atrazina. Tambm foram examinadas 79 pessoas, de regies
urbana e rural, como coleta e anlise de amostras de urina e sangue, no ano
de 2009. Do total de amostras analisadas de urina, 35 pessoas residentes na
rea urbana foram positivas para glifosato, e outras 35 positivas para
piretrides. Das pessoas da rea rural, o resultado foram os mesmos 35
positivos para glifosato, mais 34 positivas para piretrides.
A anlise do sangue revelou positividade de aldrin em
quatro amostras da rea rural, DDE em 18 pessoas da rea urbana e 24 da
rural e Mirex positivo em duas pessoas na rea urbana e 16 na rea rural.
Outro ponto de interesse nos impactos ambientais se
refere pulverizao area de agrotxicos. Conforme informaes
disponibilizadas a esta Comisso na Audincia do dia 30.06.2011, pelo
professor Fernando Carneiro da Universidade de Braslia, a comunidadecientfica reconhece a existncia de uma considervel deriva tcnica,
observada sempre que se pulveriza qualquer substncia no campo por meio de
aeronaves.
Isso quer dizer que, ainda que todas as recomendaes
sejam seguidas pelo aplicador, como velocidade e direo do vento, umidade,
limites de distncia de povoados e rodovias, somente cerca de 30% do
agrotxico ficar na planta. O fator preocupante que cerca de 70% restantes
iro para o solo (50%) ou para o ar (20%) e regies circunvizinhas.
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Essa informao muito impactantee demonstra que h
grandes riscos diretos ao meio ambiente e a sade da populao local quando
ocorre a pulverizao area.
Em ausculta tcnica realizada por esta Subcomisso em
22 de setembro de 2011, pronunciaram-se acerca da pulverizao area de
agrotxicos, o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviao
Agrcola e representantes da Agncia Nacional de Aviao Civil ANAC e do
Ministrio da Agricultura, Pecuria e AbastecimentoMAPA.
Segundo os expositores, a vasta maioria dos casos de
intoxicao de pessoas ou danos ambientais decorre do emprego dessesprodutos por via terrestre.
A aplicao de agrotxicos e de outras substncias por
via area uma atividade regulamentada j h um certo tempo no Brasil, e que
por isso mesmo, requer que tenhamos uma viso mais apurada de sua
aplicabilidade, no mbito da atual realidade no campo. Alm da Lei n
7.802/1989 e seu regulamento, aplicam-se especificamente aviao agrcola
as seguintes normas:
Decreto-Lei n 917, de 7 de setembro de 1969dispe sobre o emprego daaviao agrcola no Pas e d outras providncias;
Decreto n 86.765, de 22 de dezembro de 1981 regulamenta o Decreto-Lei n 917, de 1969;
Instruo Normativa n 2, de 3 de janeiro de 2008, do Ministrio daAgricultura, Pecuria e Abastecimento aprova as normas de trabalho daaviao agrcola, em conformidade com os padres tcnicos operacionais ede segurana para aeronaves agrcolas, pistas de pouso, equipamentos,
produtos qumicos, operadores aeroagrcolas e entidades de ensino,objetivando a proteo s pessoas, bens e ao meio ambiente, por meio dareduo de riscos oriundos do emprego de produtos de defesaagropecuria, e aprova modelos;
Regulamento Brasileiro de Homologao Aeronutica RBHA 137 disciplina as operaes aeroagrcolas.
Para a obteno de registro junto ao MAPA e
consequente operao no territrio nacional, a Instruo Normativa n 2/2008
estabelece as seguintes exigncias, em conjunto com outras normas:
- Autorizao de funcionamento da ANAC;
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- Engenheiro agrnomo responsvel pela coordenao das atividades aserem desenvolvidas com o emprego da aviao agrcola, devidamenteregistrado no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia;
- Piloto devidamente licenciado pela ANAC, com experincia mnima de 400horas de voo, tendo concludo curso de aviao agrcola desenvolvido oureconhecido pelo MAPA e homologado pela ANAC;
- Tcnicos em agropecuria responsveis pela execuo dos trabalhos decampo, possuidores de curso de executor tcnico em aviao agrcola,desenvolvido ou reconhecido pelo MAPA;
- Aeronave equipada segundo os padres tcnicos estabelecidos.
Muitos requisitos e vasta documentao so exigidospara que se realizem atividades de aviao agrcola. Em linhas gerais, esse
conjunto de exigncias compreende: autorizao da ANAC; registro junto ao
MAPA; Certificado de Operador Aeroagrcola e outros documentos; aeronaves
prprias para a atividade; pilotos especificamente habilitados; observncia de:
a) manual de segurana de voo; b) parmetros climticos2 de operao; c)
distncias mnimas de proteo a povoamentos (500m) e a mananciais (250m);
planejamento operacional; emprego de produtos aprovados pela Anvisa e
Ibama e registrados no MAPA para pulverizao area; receiturio agronmico;uso de equipamentos de proteo individualEPI; apresentao de relatrios:
a) de aplicao: b) mensal das atividades da empresa; c) mensal de horas de
voo; disponibilidade de ptio de descontaminao3da aeronave. Atuam como
rgos fiscalizadores da aviao agrcola o Ministrio da Agricultura, Pecuria
e AbastecimentoMAPA e a Agncia Nacional de Aviao CivilANAC.
Importante salientar que, j no sentido de aperfeioar a
legislao sobre pulverizao area, tramita na Cmara Federal um importante
Projeto de Lei, de autoria do Deputado Dr. Rosinha, que visa introduzir, nanorma legal especfica, dispositivos que estabelecem condies e
responsabilidades mais precisas para a aplicao area (PL 740/03). Na sua
justificativa inclusive esta destacado que as atuais normas, por alguns
consideradas rgidas e seguras, por outros nem tanto, no so
necessariamente seguidas em toda extenso do imenso territrio nacional.
2
Parmetros climticos: temperatura, umidade relativa do ar, intensidade e direo dos ventos,necessrios ao controle da deriva do produto lanado.3 O ptio de descontaminao compreende: ptio de lavagem; reservatrio de decantao; conjuntomotobomba; ozonizador; reservatrio de oxidao; reservatrio de conteno e evaporao.
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O prprio fenmeno j destacado da deriva tcnica de
agrotxicos pulverizados por avies agrcolas, tem causado frequentes e
graves problemas, em diversas regies do Pas. Os proprietrios de lavourasde grande extenso recorrem a esse mtodo que, se resulta mais eficiente e
econmico para seus propsitos, muitas vezes causa perdas e danos
tremendos a produtores rurais vizinhos, ao ambiente natural, principalmente
aos recursos hdricos e ainda sade da populao que habita as reas
prximas.
Nos ltimos anos, so inmeros os relatos de problemas
dessa natureza, tais como:
- perda de toda ou de grande parte da colheita de
hortalias, frutas e outras espcies de plantas, sensveis e afetadas por
herbicidas aplicados em grandes plantaes vizinhas ou prximas;
- intoxicao e morte de aves, mamferos ou peixes,
afetados por inseticidas e outros produtos fitossanitrios, derivados da
aplicao area em lavouras vizinhas ou prximas;
- contaminao de produtos de origem vegetal ou animal,
tornando-os imprprios para o consumo;
- contaminao de reas de proteo ambiental ou de
preservao permanente, com irreparvel prejuzo para a flora e a fauna;
- contaminao de mananciais hdricos e de reas
urbanas, com consequente prejuzo sade da populao local.
Alm disso, as pessoas afetadas, especialmente quando
se trata de pequenos produtores rurais, enfrentam imensa dificuldade para, pormeio de aes judiciais, tentarem recuperar o prejuzo. Quando este apenas
de ordem material, j constitui um grande problema. Muito pior quando se
compromete a sade ou pe-se em risco a vida humana, muitas vezes sem
que se possa identificar a natureza da intoxicao.
Diante destes fatos, deve-se condicionar a aplicao por
aeronave expectativa de que no haja uma deriva do produto para reas
vizinhas ou prximas, pois isso causaria perda ou dano as plantaes, alm de
riscos sade da populao desta regio e as criaes de animais terrestresou aquticos;
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Deve-se ainda condicionar a aplicao ao respeito s
reas de proteo ambiental, as reas de preservao permanente e as
Unidades de Conservao.
Deve-se exigir ainda que profissional legalmente
habilitado avalie os riscos inerentes operao, ao prescrever os agrotxicos
ou afins a serem aplicados por aeronave, assim como este deve estar presente
quando da aplicao, orientando e supervisionando o servio. Assim como
deveria ser encaminhado aos rgos ambientais e ao MAPA, copia dos
respectivos documentos tcnicos que prescrevam a aplicao dos agrotxicos
e detalham a execuo do respectivo voo.
Alm disso, caso terceiros venham a sofrer perdas ou
danos, o contratante do servio, o aplicador e o profissional anteriormente
referido devem responder solidariamente, quanto aos aspectos cvel e penal.
Parte destas proposies j esto contempladas no referido Projeto de Lei que
deve ser priorizado quanto a sua apreciao na Cmara Federal.
Outro ponto importante a se destacar quanto a pulverizaoarea, se refere ao preocupante e impactante uso de certos herbicidas, como o2,4-D, que inclusive tem sido apontado como um grande vilo, devido aosindcios de que seja cancergeno. Nesse sentido, necessrio avaliar aimportncia de se proibir a aplicao area de produtos herbicidas,principalmente os que apresentam na sua composio qumica o cido 2,4-diclorofenoxiactico ou qualquer substncia dele derivada.
Devemos ainda considerar que exigncias jurdicas
semelhantes quanto a pulverizao area, ainda no se aplicam s demais
formas de aplicao de agrotxicos e afins. No h normas especficas para a
operao de equipamentos terrestres, com trao mecnica ou humana
(pulverizadores costais). No se exigem licenas especficas, treinamento deoperadores, confeco e entrega de relatrios, ptios de descontaminao, etc.
H recomendaes relativas ao uso de EPI, ateno direo do vento, trplice
lavagem das embalagens, entre outras, que so frequentemente
descumpridas, ensejando inmeros casos de contaminao de pessoas e
poluio ambiental.
Cumpre observar que a aviao agrcola se presta a
vrias outras finalidades, alm da aplicao de agrotxicos e afins. O 2 do
art. 2 do Decreto-Lei n 917, de 1969, enumera as seguintes atividades:
a) emprego de defensivos;
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b) emprego de fertilizantes;
c) semeadura;
d) povoamento de gua;
e) combate a incndios em campos ou florestas;
f) outros empregos que vierem a ser aconselhados.
A aplicao area de fertilizantes comum em lavouras
de arroz, irrigadas pelo sistema de inundao, quando no possvel o trnsito
de mquinas terrestres. usual a semeadura area de pastagens. O
lanamento de gua por aeronaves eficiente no combate a incndios
florestais, que podem causar grandes danos ambientais. O controle de vetoresde doenas humanas4 outra possibilidade, ainda no regulamentada, mas
com grande potencial.
A aplicao de agrotxicos e afins por meio da aviao
agrcola somente economicamente vivel em lavouras de grande extenso e
hoje pode constituir a nica alternativa tecnicamente vivel em determinadas
situaes. o caso da pulverizao de fungicidas contra a ferrugem asitica da
soja, doena de rpida evoluo e que requer combate imediato, ocorrendo em
perodo chuvoso, quando pode ser impossvel o trnsito de maquinrio
terrestre, devido s condies de solo e plantas.
No Brasil, a aviao agrcola atua em cerca de 20 milhes
de hectares, correspondentes a 15%, aproximadamente, da rea cultivada. O
cultivo de soja responsvel por cerca de 54% das pulverizaes, sendo a
maior parte de fungicidas destinados ao controle de doenas fngicas. Em
seguida vm as culturas de algodo (20%); arroz (15%); cana-de-acar (8%)
e outras culturas (3%).
Agrotxicos de baixa toxicidade constituem a maior parte
do que aplicado por via area, no Brasil, alm de fertilizantes e micro-
organismos para o controle biolgico de pragas (em cana-de-acar).
4Algumas enfermidades humanas transmitidas por vetores: dengue, febre amarela, malria, leishmaniose,etc.
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De acordo com o Sindicato Nacional das Empresas de
Aviao Agrcola, 65% do total de agrotxicos aplicados pertencem classe
toxicolgica5
IV; 26% classe III; 5% classe II e 4% classe I. O controle dederiva rigoroso e so reduzidos os volumes aplicados: de 2