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ÍNDICE

INTRODUÇÃO EVOLUÇÃO DA SEVERIDADE NATURAL DA SECA E DOS SEUS EFEITOS SOBRE AS ACTIVIDADES HUMANAS

Gestão da situação de seca Evolução hidrometeorológica Evolução da qualidade da água nas origens Evolução da severidade da seca sobre as actividades humanas Abastecimento urbano Agricultura Combate a incêndios florestais Biomassa e biodiversidade Produção de energia Actividade empresarial

PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE A SECA CRIOU AO AMBIENTE E ÀS ACTIVIDADES HUMANAS

Problemas comuns a todos os sectores da actividade humana Problemas sectoriais Abastecimento urbano Agricultura Combate a incêndios florestais Biomassa e biodiversidade Produção de energia Actividades empresariais

MEDIDAS TOMADAS PARA MITIGAR OS EFEITOS DA SECA E RESPECTIVA EFICÁCIA E EFICIÊNCIA

De âmbito nacional e regional Medidas preventivas Medidas de gestão e operacionais De âmbito sectorial Abastecimento urbano Agricultura Combate a incêndios florestais Biomassa e biodiversidade Produção de energia Actividades empresariais

CUSTOS GERAIS E CUSTOS SECTORIAIS DA SECA Custos gerais Custos sectorias Abastecimento urbano Agricultura Combate a incêndios florestais Biomassa e biodiversidade Produção de energia Actividades empresariais

MEDIDAS A TOMAR PARA QUE NA PRÓXIMA SECA OS EFEITOS MITIGÁVEIS E VIVIDOS NESTA SECA NÃO VOLTEM A OCORRER

Âmbito geral Âmbito sectorial

1

Este relatório é uma iniciativa do Secretariado da Comissão para a Seca 2005 e visa, no essencial, aproveitando a experiência adquirida na gestão da crise da seca ocorrida este ano, conseguir uma avaliação sistematizada dos problemas detectados e, ainda, avançar com um conjunto de propostas de medidas de combate aos efeitos da seca, numa perspectiva nacional e multisectorial, que permitam criar as condições para que numa próxima situação de seca, com características semelhantes às da que acabamos de viver, os seus efeitos mitigáveis sejam apenas residuais. Os temas que estruturam o relatório são os seguintes:

► Evolução da severidade natural da seca e dos seus efeitos sobre as actividades humanas;

► Principais problemas que a seca criou ao ambiente e às actividades humanas e respectivas medidas de mitigação adoptadas;

► Medidas tomadas para mitigar os efeitos da seca e respectiva eficácia e eficiência;

► Custos gerais e custos sectoriais da seca; ► Medidas a tomar para que na próxima seca os efeitos mitigáveis e vividos

nesta seca não voltem a ocorrer. Neste relatório procurou-se ainda articular os contributos remetidos ao Gabinete do Secretariado para a Seca 2005, em resposta ao pedido efectuado a todas as entidades que compõem o Secretariado e a Comissão para a Seca 2005. A análise apresentada tem como principal referência a data de 31 de Dezembro de 2005. Todavia, com a apresentação deste relatório não significa que esteja terminada a situação de seca, havendo actividades, como algumas no domínio da agricultura, cujos efeitos só poderão ser rigorosamente avaliados mais tarde, como é o caso do olival, por não ter terminado a campanha, e do sector pecuário, por desconhecimento dos encargos que advirão da não reposição de stocks alimentares, continuando o sistema de gestão da situação de seca a vigorar até que as condições hidrometeorológicas permitam determinar que a situação foi superada.

INTRODUÇÃO

2

Gestão da situação de seca A situação geográfica do território do Continente português é favorável à ocorrência de episódios de seca, pelo que este fenómeno não constitui propriamente uma surpresa, devendo antes ser encarado como um “elemento climático de determinada frequência” no sentido de que já ocorreu no passado e ocorrerá no futuro. A intensidade de uma seca mede-se não apenas pelos extremos das variáveis que caracterizam os fenómenos naturais, mas também pelos valores que medem os efeitos sobre as actividades humanas, económicas ou não. A severidade de uma seca é sobretudo valorizada pelos que se vêem privados de água para as suas actividades quotidianas, sejam elas alimentares, de higiene ou económicas. Portanto, a intensidade da seca é determinada, não apenas em função da quantidade de precipitação que antecedeu o momento de avaliação, mas sobretudo quando se têm em linha de conta as funções regularizadoras das origens de água, sejam elas albufeiras, lagos ou aquíferos, e que permitem satisfazer as necessidades de água das pessoas, quando a insuficiência de chuva por períodos longos o não permite. Para uma gestão das origens de água, sejam elas águas correntes, rios, linhas de água, albufeiras, lagoas ou aquíferos, em situações críticas de seca, é indispensável um conhecimento detalhado dos aspectos qualitativos e quantitativos das utilizações que delas se fazem, abrangendo as respectivas variações temporais dos valores ambientais, económicos e sociais, que podem estar em causa. Quer isto dizer que a gestão da água deve ser holística e deve ser sustentada por sistemas de informação sobre as variáveis ambientais, económicas e sociais com o mesmo nível de desagregação espacial e temporal, não bastando ter bons e abundantes dados sobre as variáveis hidrometeorológicas, sendo necessário ter o mesmo nível de informação sobre todas as utilizações das origens de água, quer sejam consumptivas quer não o sejam. É por isso que a gestão da situação de seca 2004/2005 assentou, desde o início, na capacidade de recolha sistemática e tratamento da informação, pelas principais organizações da Administração e dos utilizadores directamente envolvidos com a gestão e utilização da água. No ano hidrológico 2004/2005, depois de um ano civil de 2004 em que a precipitação se situou abaixo da média, como se pode observar na figura 1, o alerta da situação de seca meteorológica foi avançado pelo Instituto de Meteorologia, publicamente, em finais de 2004, tendo sido posteriormente proposto o pré-alerta de estado de seca em 31 de Janeiro de 2005 pela Comissão

EVOLUÇÃO DA SEVERIDADE NATURAL DA SECA E DOS EFEITOS SOBRE AS ACTIVIDADES HUMANAS

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de Gestão de Albufeiras, sobretudo tendo em consideração o baixo nível de armazenamento de algumas albufeiras, nomeadamente de fins múltiplos. Também na mesma altura do ano já eram bastante visíveis os efeitos que a ausência de chuva estava a provocar nas culturas “regadas pela natureza”, que são as culturas de Outono-Inverno e pastagens, pelo que emanou desta Comissão uma proposta ao Governo para ser declarada a situação de seca e para que fosse elaborado um Programa de Acompanhamento e Mitigação dos Efeitos da Seca, o que veio a acontecer com a sua publicação em Diário da República sob a forma da Resolução do Conselho de Ministros nº 83/2005 (RCM), de 31 de Março, que criou também uma solução organizacional para a gestão da situação de seca.

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40

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

1961-1990 normal2004

Prec

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)

Figura 1 – Precipitação mensal em Portugal Continental em 2004.

Comparação com os valores médios. Esta solução organizacional de gestão da situação de seca comporta dois níveis de acção: o nível político-estratégico, a Comissão para a Seca 2005; e o nível técnico-operacional, o Secretariado. A missão definida para a estrutura de acompanhamento foi:

(i) Gestão da evolução da situação de seca mediante o diagnóstico regular e a identificação das medidas a adoptar; (ii) Identificação das entidades responsáveis para a efectivação de tais medidas; (iii) Identificação e proposta de adopção das iniciativas de índole legislativa e orçamental que se revelem necessárias à concretização das acções; (iv) Identificação de um conjunto de medidas específicas de apoio ao prosseguimento da actividade agrícola nas zonas afectadas, com especial ênfase para as que possam resultar da articulação com as reservas de água superficiais e subterrâneas e de um uso mais racional e eficiente da água; (v) Identificação das medidas preconizadas pelo Programa para o Uso Eficiente da Água que podem ser executadas de imediato e preparação de medidas a adoptar a médio e longo prazos;

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(vi) Identificação de medidas que contribuam para a prevenção e combate aos incêndios florestais, no quadro da coordenação exercida nesta matéria pelo Ministério da Administração Interna; (vii) Definição e proposta de adopção de um regime excepcional de contratação de empreitada de obras públicas, fornecimento de bens e aquisição de serviços, quando tenham em vista fazer face com carácter de urgência a situações extraordinárias decorrentes da seca, identificando as entidades e a natureza das acções que devem ser propostas para beneficiar desse regime.

A especificidade da missão definida para o Secretariado foi:

► Assegurar a produção de um relatório quinzenal de evolução da situação da seca;

► Apreciar os pedidos de apoio técnico e financeiro que fossem dirigidos às diversas entidades que integram a Comissão, informando as propostas de decisão a submeter à entidade competente para decidir.

A composição da Comissão para a Seca 2005 e o procedimento de acompanhamento da situação estão esquematizados nas figuras seguintes, cujas linhas de actuação assentaram nos princípios da abrangência, co-responsabilidade, transparência e facilitação, cometendo a coordenação, a concertação e a comunicação ao nível político, e a avaliação das situações, as propostas de medidas e a sua operacionalização ao nível técnico.

Figura 2 – Composição organizacional da Comissão para a Seca 2005

Composição da Comissão para a Seca 2005:

► Instituto da Água (INAG); ► Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC); ► Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR); ► Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte; Centro;

Lisboa e Vale do Tejo; Alentejo; Algarve (CCDR); ► Direcção-Geral de Geologia e Energia (DGGE); ► Direcção-Geral da Empresa (DGE); ► Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHa); ► Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF); ► Gabinete de Planeamento e Política Agro-Alimentar (GPPAA); ► Direcção-Geral da Saúde (DGS); ► Direcção Geral do Turismo (DGT); ► Instituto de Meteorologia (IM); ► Águas de Portugal, SGPS, S.A. (AdP); ► Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas de Alqueva, S.A. (EDIA); ► Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP); ► Estruturas associativas dos sectores da agricultura, da indústria e do

abastecimento público de água com representatividade nacional; ► Estruturas associativas de defesa do ambiente.

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Figura 3 – Procedimentos de gestão da situação da seca 2005 O funcionamento do modelo organizacional definido apostou forte na disponibilização permanente de informação a todas as autoridades, agentes económicos e cidadãos em geral, recorrendo às tecnologias de informação e comunicação, através da Internet com a construção e gestão de uma página electrónica, onde regularmente se colocaram os documentos produzidos, e ainda, através da qual os membros do Secretariado trocaram documentos para tomadas de decisão, que doutra forma não seria possível fazer chegar a todos em muito curto espaço de tempo, por vezes de horas. Na figura seguinte esquematiza-se o acesso à informação sobre a seca.

Figura 4 – Esquema de acesso à informação sobre a seca

Secretariado Proposta de Relatório quinzenal

Comissão Aprovação do Relatório quinzenal

Comissão Divulgação

Promoção da execução das medidas Secretariado

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O modelo de gestão da situação de seca adoptado mostrou ser apropriado às circunstâncias atendendo à particularidade da seca ter evoluído num contexto governativo que evoluiu de um final de mandato ao início de funções de um novo governo após ter passado por um processo eleitoral. Evolução hidrometeorológica

► ANO HIDROLÓGICO 2004/2005

O ano de 2004, com valores da quantidade de precipitação muito inferiores aos valores médios, classificou-se como um ano muito seco. No entanto, o ano hidrológico 2004/05 começou auspicioso em matéria de precipitação com o mês de Outubro muito chuvoso a extremamente chuvoso em quase todo o território do Continente, excepto na região Sul onde foi seco a normal. Os meses seguintes, em termos de precipitação, classificaram-se como muito secos a extremamente secos. Globalmente, pode-se considerar que as regiões do Algarve e do Alentejo foram atingidas pelas secas meteorológica e hidrológica, mais cedo e durante mais tempo do que as restantes. No final do ano hidrológico, em 30 de Setembro de 2005, todo o território continuava em situação de seca meteorológica com intensidade moderada a extrema: 3% em seca moderada, 36% em severa e 61% em extrema. O número de meses consecutivos em que o território esteve em situação seca meteorológica severa e extrema apresenta-se na figura 5. Esta situação teve alteração significativa a partir de Outubro de 2005.

Figura 5 – Representação espacial do número de meses consecutivos em seca

meteorológica severa e extrema no ano hidrológico 2004/05

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A percentagem de território em cada uma das classes de seca meteorológica, onde se podem comparar os valores actuais com os valores em 30 de Setembro dos anos de seca de 1945, 1965, 1976, 1981, 1992, 1995 e 1999 apresenta-se na figura 6. No entanto, à excepção dos anos de 1945 e 1995, a situação de seca meteorológica já terminara. Da análise da figura 6 e da tabela 1 verifica-se que a situação de seca meteorológica em 30 de Setembro de 2005 (final do ano hidrológico 2004/05) é, quanto à área afectada nas classes de seca severa e extrema (97 %), a mais grave em termos meteorológicos dos últimos 60 anos (83 % em 1945).

Figura 6 – Percentagem de território (área) nas diferentes classes de seca

meteorológica em 30 de Setembro

Tabela 1 – Percentagem de território afectado pela seca meteorológica em 30 de Setembro

% de território afectado em 30 de Setembro Classes de seca

1945 1965 1976 1981 1992 1995 1999 2005

chuva extrema 0 1 6 0 0 0 6 0

chuva severa 0 3 13 0 1 0 7 0

chuva moderada 0 21 35 3 3 1 50 0

chuva fraca 0 23 33 14 17 4 36 0

normal 0 17 4 21 20 6 1 0

seca fraca 1 32 6 55 48 44 0 0

seca moderada 16 4 2 5 11 40 0 3

seca severa 50 0 1 2 0 5 0 36

seca extrema 33 0 0 0 0 0 0 61

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% d

o Te

rritó

rio

1945 1965 1976 1981 1992 1995 1999 2005

PDSI - Setembro

8

► PRECIPITAÇÃO ACUMULADA

O ano hidrológico 2004/2005 acabou com um grande déficit de precipitação em todo o território continental, com desvios em relação aos valores médios, que variaram entre - 230 mm (regiões do nordeste e interior do Alentejo) e - 1000 mm (Minho e região da Serra da Estrela). Os valores da quantidade de precipitação acumulada no ano hidrológico 2004/05, apresentado na figura 7, foram muito inferiores aos valores médios e variaram entre 152 mm em Faro (Algarve) e 1 079 mm em Portelinha (Minho). A percentagem da quantidade de precipitação acumulada, em relação aos valores médios (1961-90) variou entre 29% em Faro (Algarve) e 59% em Montalegre (Trás-os-Montes), classificando-se o ano hidrológico como extremamente seco em todo o território. De referir que, em termos de percentagem, os valores da quantidade de precipitação são inferiores a 50% em grande parte do território.

Figura 7 – Precipitação acumulada no ano hidrológico 2004/05 (esq.) e percentagem

em relação à média (dir.) Para as estações com séries longas (desde 1901), a análise histórica de mais de cem anos de valores da quantidade de precipitação acumulados no período de 1 de Outubro a 30 de Setembro mostra que, para as estações de Penhas Douradas, Lisboa, Évora e São Brás de Alportel, este é o ano hidrológico mais seco dos últimos 105 anos. Para Beja e Porto, este ano hidrológico é, respectivamente, o 2º e 4º mais seco (tabela 2).

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Tabela 2 – Precipitação acumulada entre 1 de Outubro e 30 de Setembro (ano hidrológico). Número de ordem em Set 05 na série ordenada (crescente) desde 1901

2005 Estação

Nº ordem mm

1945 mm

1976 mm

1981 mm

1992 mm

1995 mm

1999 mm

Menor Valor Anteriormente

Observado mm Ano

Porto/S.Pilar 4 714 698 795 1014 847 1099 947 624 1953

Penhas Douradas 1 804 1068 881 1034 896 1387 1136 881 1976

Lisboa 1 282 294 540 465 412 451 541 294 1945

Évora 1 305 368 430 362 347 411 357 347 1992

Beja 2 199 194 531 267 368 293 415 194 1945

S. Brás de Alportel 1 286 289 817 396 536 554 423 289 1945

Da análise das séries da quantidade de precipitação (desde 1941), verifica-se que em Ponte de Lima, Braga, Portalegre, Grândola, Alvalade e Relíquias, o ano hidrológico 2004/05 é o mais seco dos últimos 65 anos (tabela 3). Para as outras estações referidas na tabela 2, este ano hidrológico é o 2º ou o 3º ano mais seco.

Tabela 3 – Precipitação acumulada entre 1 de Outubro e 30 de Setembro (ano hidrológico). Número de ordem em Set 05 na série ordenada (crescente) desde 1941

2005

Estação Nº ordem mm

1945 mm

1976 mm

1981 mm

1992 mm

1995 mm

1999 mm

Menor Valor Anteriormente

Observado mm Ano

Bragança 2 405 344 618 459 486 614 634 344 1945

Ponte de Lima 1 833 990 888 1169 1152 1598 1216 888 1976

Braga 1 821 843 911 1096 1069 1295 1147 843 1945

Barcelos 2 837 854 823 1206 1056 1343 1189 823 1976

Mirandela 3 274 170 368 339 329 397 408 170 1945

Castelo Branco 2 374 352 463 482 390 494 418 352 1945

Portalegre 1 399 405 675 534 582 649 558 405 1945

Grândola 1 245 350 452 403 436 347 409 347 1995

Serpa 3 209 196 440 192 406 353 388 192 1981

Alvalade 1 205 267 417 303 369 279 308 264 1983

Relíquias 1 238 323 401 337 407 298 387 298 1995

Martim Longo 2 200 120 394 231 490 336 337 120 1945

B. Bravura 2 277 268 786 346 420 362 397 268 1945

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► EVOLUÇÃO DA SITUAÇÃO NO PERÍODO OUTUBRO 2004 - DEZEMBRO 2005

A análise mensal no período Outubro 2004 a Dezembro 2005 apresenta-se na figura 8.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Out 04 Nov 04 Dez 04 Jan 05 Fev 05 Mar 05 Abr 05 Mai 05 Jun 05 Jul 05 Ago 05 Set 05 Out 05 Nov 05 Dez 05

1961-1990 normal2004/2005

Pre

cipi

taçã

o (m

m)

Figura 8 – Precipitação mensal em Portugal Continental no período Out 04- Dez 05. Comparação com os valores médios

Igualmente no início do ano hidrológico 2005/2006, o mês de Outubro foi chuvoso a extremamente chuvoso; o mês de Novembro foi chuvoso a extremamente chuvoso em parte das regiões do Centro e Sul e seco a muito seco nas regiões do Norte. Os valores da quantidade de precipitação acumulada desde 1 de Outubro de 2005 a 31 de Dezembro 2005 variaram entre 165 mm em Mirandela e 640 mm em Penhas Douradas. A percentagem da quantidade de precipitação acumulada, em relação aos valores médios, variou entre 67% em Deilão (Nordeste transmontano) e valores superiores a 120% em parte das regiões do interior e no litoral oeste a Sul de Sines (figura 9). A precipitação acumulada desde 1 de Outubro a 31 Dezembro de 2005, ainda que superior ao respectivo valor médio apenas em parte do território, não é suficiente para compensar o déficit acumulado do ano anterior. Em 15 meses, com início em 1 de Outubro de 2004 a quantidade de precipitação acumulada é ainda inferior ao valor médio do ano hidrológico.

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Figura 9 – Precipitação acumulada desde 1 Out 05 – 31 Dez 05 (esq) e percentagem

em relação à média (dir) A evolução da situação de seca no ano hidrológico 2004/05 e início do ano hidrológico 2005/06, em termos de percentagem de território afectado em cada uma das classes de seca, segundo o índice meteorológico de seca PDSI1, apresenta-se na figura 10 e tabela 4. A representação espacial do Índice de Seca (PDSI) é apresentada na figura 11. Da análise das figuras e da tabela, verifica-se um agravamento da situação de seca nos meses de Inverno 04/05 e uma atenuação no mês de Março, devido à ocorrência de precipitação nas regiões do Norte e Interior. No Verão (Junho, Julho e Agosto), estação menos chuvosa e que contribui com cerca de 6% para a precipitação anual, a situação de seca agravou-se. No mês de Setembro e devido à precipitação ocorrida na primeira quinzena, em particular nas regiões do Norte e Centro, a situação teve um desagravamento nestas regiões. A partir de Outubro de 2005 verifica-se um desagravamento significativo da intensidade de seca em todo o território, traduzido na ausência de áreas em seca severa e extrema. Em 31 de Dezembro de 2005 há a referir que 84% do território ainda permanece em situação de seca com intensidade fraca a moderada.

1 PDSI – Palmer Drought Severity Índex - Índice que se baseia no conceito do balanço da água tendo em conta dados da quantidade de precipitação, temperatura do ar e capacidade de água disponível no solo; permite detectar a ocorrência de períodos de seca e classifica-os em termos de intensidade (fraca, moderada, severa e extrema).

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Figura 10 – Percentagem de território (área) nas diferentes classes de seca

meteorológica (Período: Out/2004 – Dez/2005)

Tabela 4 – Percentagem de território afectado pela seca meteorológica em 2004/05

% de território afectado 2004/05 PDSI

31 out 04

30 nov 04

31 dez 04

31 jan 05

28 fev 05

31 mar 05

30 abr 05

31 mai 05

30 jun 05

31 jul 05

31 ago 05

30 set 05

31 out 05

30 nov 05

31 dez 05

chuva moderada 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

chuva fraca 47 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 5 5

normal 22 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 12 11

seca fraca 20 47 30 0 0 26 15 4 0 0 0 0 52 81 83

seca moderada 5 47 48 25 23 22 22 28 3 0 0 3 36 2 1

seca severa 1 5 20 53 44 28 20 20 33 27 29 36 0 0 0

seca extrema 0 0 2 22 33 24 43 48 64 73 71 61 0 0 0

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% d

o Te

rritó

rio

Out-04 Nov-04 Dez-04 Jan-05 Fev-05 Mar-05 Abr-05 Mai-05 Jun-05 Jul 05 Ago-05 Set-05 Out-05 Nov-05 Dez-05

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Figura 11 – Distribuição espacial do Índice de Seca meteorológica (Out 04-Dez 05)

31 Out 04

30 Nov 04

31 Dez 04

31 Jan 05

28 Fev 05 31 Mar

05 30 Abr

05 31 Mai

05

30 Jun 05

31 Jul 05

31 Ago05

30 Set 05

31 Out 05

30 Nov 05

31 Dez 05

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Apesar da evolução da severidade meteorológica da seca ter sido muito desfavorável, as actividades humanas dependentes das águas das albufeiras foram acauteladas pela gestão criteriosa das mesmas, de acordo com as disponibilidades que estas apresentavam em 31 de Janeiro de 2005 e o pré-alerta de estado de seca proposto nesta data pela Comissão de Gestão de Albufeiras. Apesar da severidade da seca meteorológica ter sido muito elevada e a gestão da situação de seca se ter iniciado em Janeiro de 2005, num cenário de armazenamento da água nas principais albufeiras abaixo dos valores médios, foi possível chegar ao início de Outubro com armazenamentos, em 11 das principais albufeiras referidas na tabela 5, acima de 50% da capacidade total.

Tabela 5 – Variação dos volumes armazenados durante o período de seca

Designação

das % do % do % do % doVolumes volume Volumes volume Volumes volume Volumes volume

Albufeiras total total útil útilBACIA HID.DO DOURO:

Alijó 1.061 60,3 402 22,8 659 39,7 302 18,2Azibo 42.511 78,0 36.351 66,7 6.160 13,2 28.551 61,2Sabugal 10.630 9,3 9.940 8,7 690 0,6 6.040 5,5

BACIA HID.DO VOUGA:Burgães V. de Cambra 408 100,0 110 27,0 298 90,3 32 9,7

BACIA HID.DO MONDEGO:Agueira 401.300 93,5 278.300 64,8 123.000 69,0 27.300 15,3Caldeirão 3.510 63,6 3.130 56,7 380 11,0 1.080 31,1Fagilde 2.492 89,0 200 7,1 2.292 81,9 200 7,1

BACIA HID.DO TEJO:Apartadura 6.053 80,7 3.700 49,3 2.353 33,5 3.215 45,8Castelo do Bode 805.310 73,5 675.100 61,7 130.210 14,4 482.600 53,5Divor 7.726 64,9 3.150 26,5 4.576 38,5 3.140 26,4Idanha 48.556 62,2 13.376 17,1 35.180 45,5 12.576 16,3Magos 1.851 54,7 564 16,7 1.287 42,9 180 6,0Maranhão 134.594 65,5 65.464 31,9 69.130 38,2 40.964 22,6Meimoa 18.702 48,0 8.291 21,3 10.411 38,6 -3.709 -13,7Montargil 132.216 80,4 49.757 30,3 82.459 57,8 28.157 19,7Póvoa e Meadas 4.100 18,6 4.330 19,7 -230 -1,2 1.130 6,0Sta Águeda_Marateca 30.320 81,5 20.940 56,3 9.380 27,4 17.940 52,5

BACIA HID.RIB. OESTES. Domingos 3.098 39,2 1.421 18,0 1.677 22,2 1.069 14,2

BACIA HID.DO SADO:Alvito 118.046 89,1 88.511 66,8 29.535 22,7 86.011 66,2Campilhas 7.562 27,8 1.567 5,8 5.995 22,9 567 2,2Fonte Serne 2.152 41,8 1.354 26,3 798 21,9 -146 -4,0Miguéis 604 64,4 204 21,7 400 48,5 90 10,9Monte Gato 408 62,5 110 16,8 298 49,9 54 9,0Monte da Rocha 48.439 47,1 25.232 24,6 23.207 23,7 20.232 20,7Odivelas 53.942 56,2 32.675 34,0 21.267 30,4 6.675 9,5Pego do Altar 45.900 48,8 14.006 14,9 31.894 33,9 14.006 14,9Roxo 21.275 22,1 14.953 15,5 6.322 7,1 8.153 9,1Vale de Gaio 11.842 18,8 4.557 7,2 7.285 11,6 4.557 7,2

BACIA HID.DO MIRA:Corte Brique 1.235 75,5 822 50,3 413 28,3 647 44,3Santa Clara 338.277 69,7 272.372 56,2 65.905 27,4 27.672 11,5

BACIA HID.DO GUADIANA:Abrilongo 8.340 41,9 5.030 25,3 3.310 17,5 4.030 21,3Alqueva 3.009.800 72,5 2.752.983 66,3 256.817 8,2 1.719.983 55,2Beliche 18.458 38,5 8.000 16,7 10.458 22,0 7.600 16,0Caia 123.930 61,0 74.170 36,5 49.760 25,9 63.470 33,0Enxoé 9.256 89,0 4.514 43,4 4.742 49,9 3.614 38,0Lucefecit 4.221 41,3 1.145 11,2 3.076 33,3 145 1,6Monte Novo 10.061 65,8 5.900 38,6 4.161 28,2 5.400 36,5Odeleite 62.690 48,2 31.016 23,9 31.674 27,1 18.016 15,4Vigia 7.766 46,4 3.338 20,0 4.428 35,4 -861 -6,9

BACIA HID.RIB. DO ALGARVE:Bravura(Alvor) 21.533 61,8 12.413 35,6 9.120 28,3 9.848 30,5Funcho 7.169 15,0 858 1,8 6.311 13,7 -642 -1,4Arade (Silves) 3.600 12,7 2.340 8,2 1.260 4,7 695 2,6Somas 5.590.944 69,0 4.532.596 56,0 1.058.348 17,0 2.650.583 42,6

Armazenamento totalMarço de 2005 Setembro de 2005

Utilizações de Março

a Set/Out de 2005

Armazenamento útilSetembro de 2005

ou Outubro de 2005ou Outubro de 2005

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A quantidade de água utilizada a partir das principais albufeiras, entre 28 de Fevereiro e 30 de Setembro de 2005, foi de 940.164.000 m3 para fins de abastecimento urbano, rega, indústria e combate a incêndios florestais, incluindo-se neles os volumes evaporados e infiltrados, mas excluindo as afluências verificadas neste período, cujos valores para as principais albufeiras se apresentaram na tabela 5. Adverte-se que se deve ter presente que o principal sector utilizador da água, não considerando a utilização não consumptiva da produção hidroeléctrica, é a rega agrícola, e que esta é sobretudo de natureza privada (cerca de 87% - fonte: PNA), cujas captações nas origens de superfície e subterrâneas, não sendo monitorizadas, não estão englobadas na avaliação anterior. A situação nas ribeiras do Oeste, Sado e ribeiras do Algarve revela valores muito preocupantes num cenário de não ocorrência de precipitação com valores acima da média no próximo ano hidrológico. Nos mapas da figura 12, apresenta-se a evolução dos armazenamentos em albufeiras entre 31 de Janeiro e 30 de Setembro de 2005, por bacia hidrográfica e em termos de percentagem em relação às médias dos armazenamentos históricos.

Figura 12 – Evolução do armazenamento em albufeiras entre 31 de Janeiro (esq.), 15 de Outubro

(centro) e 31 Dezembro de 2005 (drt.)

A situação dos armazenamentos nas albufeiras de fins únicos ou de fins múltiplos de pequena dimensão foram também objecto de acompanhamento pelas entidades gestoras, que regularmente forneceram informações ao Secretariado para a Seca 2005, mas não com regularidade quinzenal das que são referidas na tabela 5, pelo facto destas albufeiras não disporem um sistema de medição tão rigoroso. Em termos de garantia do abastecimento de água a partir das albufeiras, apesar do ano ter sido climatologicamente extremamente seco, antecedido de um ano muito seco, do acompanhamento da evolução das albufeiras, pode concluir-se o seguinte desempenho:

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► Abastecimento normal, em que não se registaram restrições porque a utilização principal é inferior ao projectado;

► Abastecimento com algumas restrições, porque foram instaladas utilizações posteriormente à construção da barragem que adquiriram prioridade;

► Abastecimento com severas restrições, situações em que essas restrições estão de acordo com as garantias de projecto ou as utilizações instaladas superam as disponibilidades das bacias hidrográficas em períodos sucessivos de anos secos.

As principais origens de águas subterrâneas, objecto de monitorização especial durante o período de seca, evoluíram de acordo com o esperado em comparação com a média mensal dos anos anteriores, revelando os aquíferos do Cretácico de Aveiro e de Querença-Silves situações de alguma preocupação por terem atingido os seus níveis hídricos históricos mais baixos, como se apresenta na tabela 6.

Tabela 6 – Variação dos níveis piezométricos nos principais aquíferos

Piezómetro Sistema Aquífero Nível em

Janeiro 2005 Nível em

Setembro 2005 Variação

(m)

162A/1 Cretácico de Aveiro -3.21 -5.01 -1.80 184/6 Cretácico de Aveiro -7.71 -19.3 -11.59 185/69 Cretácico de Aveiro -6.54 -8.48 -1.94 196/213 Cretácico de Aveiro 43.76 43.25 -0.51 284/6 V. Leiria-M. Grande 59.74 58.43 -1.44 329/21 Tejo – m. direita 90.75 89.99 -0.76 418/4 Aluviões do Tejo 13.81 13.07 -0.74 420/8 Tejo – m. esquerda 15.70 12.92 -2.78 420/9 Tejo – m. esquerda 18.45 13.48 -4.97 397/87 Estremoz-Cano 243.28 241.82 -1.46 413/54 Elvas-Vila Boim 430.65 428.67 -1.98 512/32 Moura-Ficalho 190.4 188.05 -2.35 521/34 Gabros de Beja 226.53 224.74 -1.79 524/50 Moura-Ficalho 246.16 243.73 -2.43 524/51 Moura-Ficalho 237.42 236.28 -1.14 532/75 Gabros de Beja 146.74 145.41 -1.33 594/95 Mexilhoeira Grande 0.94 0.23 -0.71 595/215 Querença-Silves 3.93 1.32 -2.61 597/96 Querença-Silves 121.38 118.29 -3.09 600/63 S. Bartolomeu 2.51 1.88 -0.63 602/311 Almádena-Odiáxere 4.86 3.96 -0.90 605/212 Albufeira-R. Quarteira -1.46 -2.26 -0.80 605/268 Ferragudo-Albufeira 2.09 1.74 -0.35 606/647 Campina de Faro -3.06 -7.92 -4.86 608/143 Luz – Tavira 34.28 28.75 -5.53 611/115 Campina de Faro 4.37 2.01 -2.36

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Figura 13 - Evolução de níveis piezométricos dos aquíferos do Cretácico de Aveiro

Figura 14 - Evolução de níveis piezométricos dos aquíferos de Querença-Silves e Campina de Faro

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Na região Centro, de Janeiro a Setembro de 2005, verificou-se um aumento global de emissão de licenças de pesquisa e eventual captação de águas subterrâneas (aproximadamente 2 800), tendo sido licenciadas novas captações a que corresponde um aumento de 88,9% em relação a igual período de 2004. Os concelhos onde se registou um maior aumento de licenciamentos foram: Águeda, Albergaria-a-Velha, Aveiro, Carregal do Sal, Castro Daire, Celorico da Beira, Mortágua, Oleiros, Penacova, Satão, Sever do Vouga, Tondela, Vila Nova de Paiva e Vila Velha de Rodão, com taxas de variação de 200% a 800%. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, de Janeiro a Setembro de 2005, verificou-se um aumento global de emissão de licenças de pesquisa e eventual captação de águas subterrâneas, tendo sido licenciadas novas captações, correspondendo a um aumento de 80,3 % em relação ao período homólogo de 2004. Os concelhos onde foi registado um incremento mais elevado do número de captações foram Torres Novas, Tomar, Benavente, Coruche, Santarém e Rio Maior com taxas de variação de 181% a 445%, respectivamente Evolução da qualidade da água nas origens Durante a seca, as preocupações relativas à qualidade da água centraram-se nas origens de água para abastecimento público, dadas as repercussões que a degradação da qualidade poderia ter na saúde pública. O cumprimento das normas de qualidade da água, de acordo com o Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, requere que as origens de água estejam sujeitas a uma rotina mensal de monitorização, cujos resultados só são disponibilizados publicamente, após recolha das amostras, no prazo mínimo de 1,5 a 2 meses. Para o acompanhamento da seca implementou-se uma rotina suplementar de monitorização quinzenal da qualidade da água num conjunto de origens de água para abastecimento público, seleccionadas pelas CCDRs, com base na importância e no historial de qualidade destas origens (figura 15) que possibilita, por analogia, identificar tendências na evolução dos parâmetros de qualidade. As restantes origens continuaram a ser monitorizadas na base mensal, prevista na legislação vigente, para a gama de parâmetros requerida. Dada a necessidade de se dispor em tempo útil de informação sobre a evolução da qualidade da água, a intensificação de monitorização foi efectuada recorrendo à utilização de sondas multiparamétricas e a observações visuais. Naturalmente que o recurso às sondas limitou a gama de parâmetros possível de ser monitorizada: temperatura; pH; condutividade; oxigénio dissolvido (OD); sólidos suspensos totais (SST).

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Contudo, a informação foi conside-rada como indicadora da presença de potenciais problemas de poluição que pudessem comprometer os fins a que as massas de água se destinavam. Recorreu-se à monitorização conven-cional, complementar de outros parâmetros, sempre que se detecta-ram potenciais situações problemá-ticas. A afluência de nutrientes e de matéria orgânica, o teor em clorofila a e a identificação das espécies fito-planctónicas foram as análises complementares mais recorrente-mente realizadas, sempre que justificado.

Figura 15 - Origens de água para abastecimento público com

monitorização específica para a seca

A intensificação do acompanhamento começou por ser efectuado para a região Sul do país (Alentejo e Algarve), onde o efeito da seca nos meios hídricos superficiais se instalou mais cedo e com maior severidade, estendendo-se posteriormente às restantes regiões do país. Os resultados da monitorização obtidos foram regularmente disponibilizados ao público, podendo ser visualizada graficamente a sua evolução temporal nos relatórios de acompanhamento da seca. Na região Norte de Portugal, as origens de água não demonstraram degradação da qualidade da água em consequência da seca, o mesmo não se tendo passado em diversas origens do Centro e do Sul. Nestas regiões, o problema mais recorrente foi o esperado: redução da concentração em oxigénio dissolvido por excesso de matéria orgânica ou por eutrofização das massas de água, proporcionando uma grande variabilidade diurna da concentração em oxigénio, conduzindo nalguns casos à mortandade nocturna de peixes por depleção de oxigénio. Esta situação foi agravada pelas elevadas temperaturas que se fizeram sentir no Verão. Sempre que o nível de eutrofização observado foi muito elevado, procedeu-se à identificação das espécies fitoplanctónicas, com o objectivo de averiguar se se encontravam presentes espécies nocivas para a saúde pública, nomeadamente cianobactérias. Quando a presença de tais espécies foi confirmada, procederam-se a análises da toxicidade presente na água. Visando reduzir estes problemas foi efectuado o controlo da carga piscícola em algumas albufeiras. De acordo com o Decreto-lei nº 236/98, deve proceder-se ao encerramento de uma captação quando a qualidade da água não for compatível com o abastecimento à população, siituação que só ocorreu na albufeira do Enxoé.

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Evolução da severidade da seca sobre as actividades humanas Abastecimento urbano De acordo com o Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro, o abastecimento doméstico tem prioridade sobre as restantes utilizações da água. Esta mesma hierarquia foi, como teria que ser, adoptada na RCM n.º 83/2005. Todavia, o abastecimento doméstico é assegurado por sistemas urbanos colectivos que, simultaneamente e de forma indissociável, abastecem também todas as actividades económicas ou não, que a eles estão ligados. Por isso, verificou-se a manutenção de usos não prioritários, durante todo o período de seca, mesmo em territórios de elevado risco de ruptura das origens de água. O acompanhamento da situação do abastecimento às populações em quantidade e em qualidade da água foi assegurado por todas as entidades gestoras em estreita colaboração com as entidades da Administração. Quinzenalmente procedeu-se ao levantamento e análise de informação, acerca dos cenários que se verificaram ao nível do abastecimento de água para consumo humano, em cada um dos Municípios de Portugal Continental. Tais dados permitiram desenvolver trabalhos de coordenação e concertação entre as diversas entidades competentes, de modo a instalar condições preventivas e/ou mitigadoras eficazes para fazer face a situações gravosas e ao mesmo tempo compatibilizar as diferentes necessidades de usos de água. As situações que se iam perspectivando mais preocupantes, de acordo com os dados fornecidos pelos Municípios, foram objecto de avaliação, caso a caso, em reuniões entre as entidades gestoras e organismos da Administração com atribuições neste domínio, das quais resultaram as soluções que as situações exigiam. Pontualmente, sempre que a situção o justificou, foram as entidades gestoras contactadas para a avaliação das situações, relativamente à qualidade da água distribuída, e informadas sobre os procedimentos que deveriam adoptar de forma a não porem em perigo a saúde pública. Os pedidos de apoio técnico e financeiro apresentados pelos Municípios foram sistematicamente apresentados à Comissão para a Seca 2005, presidida pelo Secretário de Estado do Ambiente e que integra os dirigentes vários organismos da Administração, regular e insistentemente, tendo-se evidenciado a necessidade de serem desbloqueadas verbas para fazer face aos pedidos de apoio apresentados. No decurso do acompanhamento foi identificada a premência e a importância de uma campanha nacional de sensibilização da população junto dos diversos destinatários para o uso racional da água e, neste espírito, enviou-se a todas as entidades gestoras sugestões de procedimentos, quer internos quer junto das populações, tendo em vista a redução de consumos e a poupança de água.

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A situação de seca foi integrada nas acções de gestão corrente dos Municípios razão pela qual o abastecimento para consumo humano foi garantido, quer em termos quantitativos quer em termos qualitativos. O esgotamento de furos, reduções nos períodos de abastecimento ou a necessidade de abastecimento por vias alternativas (autotanques) afectaram, assim, reduzidas percentagens da população graças a um acrescido esforço desenvolvido pelas entidades gestoras. Embora a utilização de meios dos corpos de bombeiros para a realização de operações de abastecimento público de água seja prática corrente em Portugal, mesmo nos anos em que não ocorre seca meteorológica (por exemplo em situações de interrupções do fornecimento causadas por limpeza de reservatórios municipais, rotura de tubagens ou falta de qualidade das origens de água), ocorreu em 2005 um crescimento significativo do número de abastecimentos realizados pelos bombeiros. Entre 1 de Janeiro e o final de Setembro de 2005, o número de abastecimentos ascendeu a 18 454, valor que foi superior ao registado na totalidade do ano de 2004 ou de 2003. As solicitações registadas pelos corpos de bombeiros ao longo do ano corresponderam a uma média diária de cerca de 60 abastecimentos (este valor sobe para mais de uma centena de solicitações diárias se se considerar apenas o período de Verão), representando um crescimento na ordem dos 60% face a idêntico período do ano anterior. A seca verificada nos dois últimos anos, com particular intensidade no ano hidrológico de 2004/2005, teve consequências especialmente gravosas na região do Algarve. O Algarve viveu o seu segundo ano de seca, e no presente ano de 2005 a severidade da seca, medida em função da pluviosidade, assumiu particular gravidade. No entanto, numa zona do país em que a seca é um fenómeno cíclico e como tal previsível, o facto de se verificar uma sequência de dois anos secos, o último dos quais particularmente acentuado, não teria à partida de implicar uma situação de emergência, levando à indispensabilidade da adopção de medidas de excepção. Mas acontece que, à execução do plano global de abastecimento urbano de água, maduramente pensado e constituindo um todo coerente, com vista a assegurar um sistema “em alta” fiável e eficiente, está ainda a faltar a peça mais importante, sem a qual a lógica de conjunto é profundamente posta em causa: a barragem de Odelouca, criadora da maior albufeira do Algarve, a de maior capacidade de regularização inter-anual, e cujo papel era crucial em condições normais de exploração e, por maioria de razões, em situação cíclica de seca. As circunstâncias presentes vieram evidenciar a fragilidade e vulnerabilidade do sistema de abastecimento sem esta grande reserva de água. Face à inexistência desta origem fundamental – e isto independentemente da situação de seca – a empresa Águas do Algarve, através de protocolo tripartido com o IDRHa e o INAG, passou a recorrer temporariamente ao aquífero Querença-Silves, o mais importante do Algarve, através dos furos de Vale da Vila, a partir de Maio de 2004, e promoveu a construção de novo campo de furos no mesmo aquífero, na zona de Benaciate, desde Março de 2005.

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Entretanto, a empresa deu início à negociação de aquisição, ou aluguer, até ao final da concessão, das captações municipais de Lagos, processo que não foi ainda possível concluir. Agricultura O período de seca que se verificou desde Novembro de 2004 produziu efeitos significativos ao nível da produção e rendimento das actividades agro-pecuárias, tendo sido o seu impacto diferente de sector para sector e de região para região. O Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, perante a necessidade de avaliação destas consequências e de definição e de operacionalização de medidas excepcionais de apoio aos produtores para minimizar os efeitos da seca, procedeu à organização de recolha de informação que permitisse responder a estas questões. Desta forma, fazendo uso de sistemas de informação existentes no ministério, as Direcções Regionais de Agricultura, em articulação com o Gabinete de Planeamento e Política Agro-Alimentar, procederam ao levantamento da informação, que este último organismo analisava, tratava e divulgava. Os primeiros impactos da seca meteorológica foram sentidos a nível das disponibilidades forrageiras e pratenses nas explorações agrícolas. As restrições à movimentação de ruminantes, como medida para controlo da propagação da doença da Língua Azul, agravou a situação nas zonas definidas como de protecção e vigilância. Os alimentos grosseiros para o efectivo pecuário armazenados nas explorações foram sendo gastos e os agricultores forçados a assumir encargos adicionais, para garantirem o fornecimento de alimentos aos animais. À medida que o ano agrícola avançava, outras culturas iam sendo afectadas, com especial relevância para as culturas de sequeiro, que, pela ausência de precipitação, foram em alguns casos beneficiadas com regas, as quais em circunstâncias normais, não seriam necessárias. As culturas de regadio também foram atingidas, quer por limitações introduzidas ao uso da água nos perímetros de rega, quer pelo esgotamento dos recursos hídricos em algumas zonas. Registaram-se igualmente situações em que os agricultores não arriscaram efectuar as suas sementeiras ou plantações, dadas as perspectivas de indisponibilidade de água para o efeito. Segue-se uma descrição sucinta da evolução dos principais grupos de culturas.

► CEREAIS DE OUTONO/INVERNO

A campanha cerealífera de Outono/Inverno, caracterizou-se por uma diminuição generalizada das produções da maioria dos cereais em todas as regiões, exceptuando, o trigo mole. O aumento da produção deste cereal não se deveu às condições de seca vigente, mas ao facto de ter substituído o trigo duro, pois a nova

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modalidade de ajudas, no âmbito da PAC, Regime de Pagamento Único (RPU), deixou de estar dependente da produção, não havendo vantagens em continuar a dar a preferência à produção de trigo duro. No início da campanha, o estado vegetativo destas culturas esteve adiantado em relação à época, embora em situação de alguma desidratação. Em Abril, as estimativas de produtividade dos cereais, apontavam, já para decréscimos significativos. Nos meses seguintes, com a manutenção/agravamento das condições climatéricas adversas (baixa precipitação e elevadas temperaturas), a produção colhida foi bastante inferior relativamente ao ano anterior, atingindo quebras superiores a 30% em todos os cereais, excepto no trigo mole. A redução de área de centeio já vinha sendo constatada nos últimos anos, devido, sobretudo, ao seu menor interesse económico, sendo as searas maioritariamente utilizadas para alimentação animal e produção de semente para reemprego nas explorações. À medida que a situação de seca se agravou e as disponibilidades forrageiras diminuíram, verificou-se um desvio da produção de grão para forragem e/ou pastoreio em algumas searas, principalmente no centeio e na aveia.

► PRADOS, PASTAGENS E CULTURAS FORRAGEIRAS

Em Abril, as quedas pluviométricas tiveram um efeito positivo no desenvolvimento vegetativo dos prados, pastagens de sequeiro e culturas forrageiras, que todavia, apresentavam um crescimento heterogéneo e inferior ao que seria normal para a época. Nesta altura encontravam-se a decorrer os cortes, sendo a sua produção inferior ao normal. A antecipação dos cortes, o sobrepastoreio e o fraco desenvolvimento vegetativo comprometeram a constituição de stocks para o período estival. Esta alimentação foi, no entanto, insuficiente e levou a um maior recurso à aquisição de alimentos compostos, concentrados e palhas. Também se verificou a utilização de algumas áreas de cereal para pastagem e pastoreio dos restolhos das searas já ceifadas. O aumento da procura das palhas levou ao aumento considerável dos preços, que se manteve elevado até ao fim da campanha. A falta de precipitação nos meses seguintes e a consequente redução da produção de matéria verde, levou a uma maior dependência dos alimentos armazenados (fenos, palhas e silagens) e de rações industriais para a alimentação animal. Outro aspecto a realçar prende-se com a qualidade dos fenos obtidos, que foi de uma forma geral, inferior e de baixo valor nutricional. As palhas e as forragens da presente campanha, não foram suficientes para constituir os stocks normais, comprometendo a alimentação animal do próximo ano agrícola. Devido à escassez dos recursos hídricos, houve uma diminuição das áreas semeadas das culturas forrageiras de Primavera/Verão. Também a produção de silagens, feitas à base destas culturas, apresentou valores inferiores ao normal para a época do ano. Em Junho, os prados e as pastagens naturais de sequeiro, encontravam-se, de um modo geral, esgotados, mantendo-se o estado crítico de carência hídrica. Esta situação foi mais acentuada nas regiões do Sul. Nas áreas onde não havia restrições de água para rega, o desenvolvimento vegetativo dos prados, pastagens e culturas forrageiras de regadio, era considerado razoável.

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A falta de pastagens e o aumento do consumo de palhas e concentrados para a alimentação do gado, condicionou o ciclo reprodutivo dos pequenos ruminantes, cuja época de parição ocorre em Setembro/Outubro.

► ABEBERAMENTO DO EFECTIVO PECUÁRIO

Em Abril, o Alentejo foi a única região a manifestar problemas de abeberamento do gado em pleno campo, registando-se um número significativo de situações em que foi necessário proceder à distribuição de água em reboques-cisternas. À medida que o período de ausência de precipitação foi aumentando, as condições de abeberamento do gado foram-se agravando e houve um incremento do número de casos em que era necessário recorrer a reboques-cisternas e autotanques. A partir de Julho, o Algarve começou a ter situações de ruptura no abeberamento dos animais. Os agricultores começaram a proceder ao transporte de água em depósitos, uma vez que os poços e furos apresentavam diminuta capacidade de reposição e as pequenas barragens existentes se encontravam abaixo dos níveis normais. Em Agosto, a Beira Litoral e a Beira Interior necessitaram, também, de recorrer ao transporte de água até às explorações agrícolas, por forma a garantir o abeberamento do efectivo pecuário. Em alguns concelhos de Entre Douro e Minho, registaram-se dificuldades no abeberamento dos efectivos pecuários em pleno campo durante o mês de Setembro. Neste mês, as regiões que não manifestaram problemas no abeberamento dos animais durante a campanha em análise foram Trás-os-Montes e o Ribatejo e Oeste. À medida que o período de escassez de água e a distância do local da rega às captações foi aumentando, os custos com as operações de rega agravaram-se, nomeadamente devido à utilização de motores mais potentes (maior consumo de combustível), mais metros de tubagem e ao aumento das horas de bombagem.

► CEREAIS DE PRIMAVERA/VERÃO

As sementeiras dos cereais de Primavera/Verão iniciaram-se em Abril e decorreram com normalidade, pontualmente com algum atraso. A ausência de precipitação e a escassez de água para rega, originou uma diminuição das áreas semeadas de milho, em relação ao ano anterior, levando os produtores a optarem por culturas menos exigentes em água, como o sorgo. A escassez de água para rega limitou as áreas de milho de regadio às zonas em que não houve restrições de água. Nestes casos, a cultura apresentou uma boa germinação. Nas zonas em que a água era um factor limitativo, verificou-se irregularidade no crescimento/desenvolvimento vegetativo, levando a uma quebra na produtividade. Relativamente ao arroz, não houve alterações de área nas regiões produtoras, com excepção do Alentejo, que apresentou quebras de 50%, e do Algarve, em que não se realizou a cultura. As condições meteorológicas adversas e a falta de alimento, levaram a uma alteração da orientação de produção inicial (produção de grão) do milho de sequeiro para pastoreio do efectivo pecuário. Em síntese, no final de Dezembro, a campanha dos cereais de Primavera/Verão, caracterizou-se por quebras na produção do milho de sequeiro, milho de regadio e arroz, na ordem dos 31%, 30% e 21%, respectivamente.

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► CULTURAS INDUSTRIAIS E ARVENSES DE PRIMAVERA/VERÃO

Dada a escassez de recursos hídricos e a instabilidade das condições meteorológicas, verificou-se em Abril, uma redução das áreas semeadas de girassol, melão, grão de bico, beterraba, feijão e de tomate para indústria. A falta de água confinou as sementeiras aos solos com maior aptidão agrícola e sem restrições hídricas. Em algumas zonas, em que as disponibilidades hídricas foram menores, as culturas apresentaram um aspecto vegetativo debilitado. As áreas semeadas em que não houve falta de água, apresentaram um bom aspecto vegetativo. No Ribatejo e Oeste, o aumento de salinidade resultante da baixa dos lençóis freáticos levou a uma redução da área de tomate para indústria. Até finais de Dezembro, as estimativas de produção, apontam para quebras na ordem dos 89%, 64%, 29% e 15%, no girassol, no grão de bico, no feijão e melão, respectivamente. No tomate para indústria, manteve-se idêntica à do ano anterior, no entanto, há a realçar, uma diminuição da área de 8%.

► BATATA

As plantações da batata decorreram em boas condições e houve uma boa emergência das plantas, consequência da precipitação ocorrida no final de Março. Nesta fase, já se estimava uma diminuição das áreas. Nos meses seguintes, a falta de precipitação levou a um desenvolvimento vegetativo irregular na batata de sequeiro e a colhida apresentou um calibre menor que o normal e inferior qualidade. Face às previsões de falta de precipitação a longo prazo, verificou-se uma diminuição nas sementeiras da batata de regadio. Em Junho, a manutenção da falta de precipitação e a escassez de água para rega (furos, poços e nascentes), conduziu a uma descida generalizada da produtividade da batata. Em síntese, a campanha da batata no Continente caracterizou-se por quebras de produção, da ordem dos 17% na batata de regadio, apresentando valores de 21% e 26% nas principais regiões produtoras (Beira Litoral e Trás-os-Montes). Relativamente à batata de sequeiro, a situação foi mais grave que na anterior, apontando-se para quebras de 40% de produção no Continente. Na principal região produtora, o Ribatejo e Oeste, a descida rondou os 45%.

► FRUTEIRAS

Em Abril, os pomares de pomóideas e de prunóideas, apresentavam uma boa floração e um normal vingamento dos frutos, prevendo-se boas produções, embora a sua evolução dependesse das disponibilidades hídricas futuras. Em Julho, a generalidade destas culturas apresentava um bom aspecto vegetativo, no entanto, nos terrenos menos húmidos, as pomóideas e as vinhas, cujos frutos se encontravam em fase de crescimento, apresentavam sinais de stress hídrico. Em Agosto, as prunóideas, nomeadamente os pêssegos, estavam em fase de colheita, confirmando-se a existência de grande percentagem de frutos com baixo calibre. Foi, neste aspecto, a fruteira que mais se ressentiu com estas condições climatéricas adversas. Nesta altura, no Ribatejo e Oeste, nos pomares de pêra Rocha, começaram a aparecer sintomas de escaldão, devido às elevadas temperaturas então registadas, associadas à ausência de humidade atmosférica.

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Relativamente à campanha das fruteiras, constatou-se quebras na produção da maçã, pêra e figo, de aproximadamente, 17%, 28% e 36%, respectivamente. Relativamente à laranja, a produção a nível do Continente manteve-se idêntica à do ano anterior, no entanto, no Algarve, principal região produtora, apresentou um aumento de 7%. Para este resultado global contribuíu a entrada em plena produção de muitos pomares. No entanto, nas zonas em que se verificou falta de água para rega, a produção registou decréscimos acentuados. Os prejuízos sofridos decorreram essencialmente da desvalorização dos frutos, devida aos pequenos calibres que apresentavam e à sua deficiente qualidade, o que obrigou ao seu escoamento para a indústria de transformação.

► FRUTOS SECOS

Em síntese, prevê-se uma quebra generalizada da produção de castanha, da ordem dos 27%, sendo de 28% em Trás-os-Montes, principal região produtora. Relativamente à qualidade, verifica-se uma predominância de frutos de calibres médios. Também para a avelã se prevê uma diminuição de 16% na produção, face à campanha anterior. Na amêndoa, a produção manteve-se idêntica à do ano transacto, no entanto, no Algarve, registou-se uma quebra de 50%.

► OLIVAL

Em Abril, o olival apresentava um estado vegetativo considerado normal para a época, perspectivando-se, nessa altura, boas produções. No entanto, em Julho, o baixo teor de humidade no solo, provocou a queda prematura da azeitona dos olivais de sequeiro, estimando-se uma diminuição na produção face à campanha anterior. Em Dezembro, houve uma quebra na produção, de azeitona para azeite e de azeitona de mesa, da ordem dos 25% e 33%, respectivamente. Nas principais regiões produtoras de azeite (Trás-os-Montes e Alentejo), atingiram valores na ordem dos 33%.

► VINHA E VINHO

Em Abril e Maio, a vinha apresentou algum atraso no desenvolvimento vegetativo. Estas condições meteorológicas foram benéficas para o controlo de doenças, nomeadamente o míldio, diminuindo o número de tratamentos fitossanitários. Nos meses seguintes, a vinha recuperou o atraso verificado inicialmente, com excepção do Algarve. Nesta região, a uva de mesa e de vinho, nas áreas de regadio, apresentava um bom desenvolvimento vegetativo, enquanto, que as áreas de sequeiro, evidenciavam sintomas de stress hídrico. De uma maneira geral, verifica-se uma descida na produção de vinho, no entanto, prevê-se uma boa qualidade, uma vez que este apresenta bons teores alcoólicos e baixos níveis de acidez. Durante esta campanha, o funcionamento das adegas decorreu com normalidade.

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Tabela 7 – Balanço da Evolução das Actividades Vegetais

Nota: data de referência – 31 de Dezembro Em síntese, estima-se uma diminuição generalizada da produção global colhida de uva para vinho, relativamente à campanha anterior. As vindimas decorreram com normalidade e prevê-se um ano com vinho de boa qualidade. Relativamente à uva de mesa, constatou-se uma quebra na produção de, aproximadamente, 8%. Combate a incêndios florestais O tempo seco verificado no território de Portugal Continental ao longo do ano, originou um aumento progressivo do estado de secura do coberto vegetal (indicador da facilidade dos processos de ignição e propagação dos incêndios), situação que viria a ter o seu reflexo no aumento do número de incêndios em espaços florestais, agrícolas e incultos e, num acréscimo da área ardida, quando comparada com o ano anterior. As albufeiras consideradas como pontos de reabastecimento de meios aéreos foram sendo acompanhadas de modo a determinar as condições de utilização. Biomassa e biodiversidade

► BIOMASSA PISCÍCOLA

Em várias albufeiras, a seca meteorológica traduziu-se em níveis de quantidade de água aramzenada extremamente reduzidos. Estas reduções severas na quantidade de água armazenada provocaram uma pronunciada concentração da biomassa piscícola. Esta concentração da carga piscícola tem, frequentemente, como consequência a degradação da condição física dos peixes ou mesmo a sua morte. No corrente episódio registaram-se apenas fenómenos de morte de peixes em três albufeiras (Bravura, Monte da Rocha e Santa Clara), número reduzido em relação ao expectável para os níveis de redução dos armazenamentos ocorridos. Entre as causas, para o reduzido número de eventos de mortalidade piscícola, estará

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provavelmente a extracção preventiva de biomassa piscícola efectuada em várias albufeiras. Nas três albufeiras em que ocorreu morte de peixes e subsequente extracção do peixe morto, não foi registada alteração da qualidade da água devido ao fenómeno, e, consequentemente, não se registaram restrições à sua utilização. Relativamente à mortalidade ocorrida nestas três albufeiras, ela incidiu apenas numa espécie, com características de infestante desta massas de água, a carpa. Esta mortalidade terá um impacto provavelmente nulo ou ligeiramente positivo em relação ao aproveitamento do potencial desta espécie para a pesca desportiva, dado que, apesar do número de peixes ter sofrido uma redução temporária, o crescimento acelerado dos que restaram permitirá aumentar o número de exemplares de grande dimensão e com maior valor para a pesca desportiva.

► BIODIVERSIDADE

Verificou-se que o nível da água em todas as zonas prospectadas de linhas de água por comparação com os níveis conhecidos em anos anteriores (1997 e 2000) e para a mesma época, sofreu alterações significativas. A medição do nível da água nalguns pegos revisitados entre Julho e Setembro de 2005 indicou que este desceu mais de 90 cm de altura. Alguns dos pegos secaram completamente. De facto, a situação agravou-se muito rapidamente. Alguns cursos de água, onde anteriormente existiam populações de saramugo, atingiram uma situação muito crítica pois todos os pegos detectados apresentavam pequenas dimensões (caso do rio Caia a montante da barragem e das ribeiras de Arronches, Safareja, Murtigão, Murtega, Álamo, Carreiras, Vidigão e Cadavais). O troço do rio Caia, que foi percorrido a pé nos dias 8 e 9 de Setembro, para além de algumas poças de dimensão reduzida e com evidente má qualidade de água, apenas apresentava dez pegos com alguma probabilidade de albergar populações ictiológicas. Alguns destes pegos foram monitorizados, mas o saramugo nunca foi detectado. Produção de energia O ano de 2005 foi extremamente seco, com um coeficiente de hidraulicidade acumulado até ao final de Setembro de 0,30, vindo na sequência do ano 2004, com um coeficiente de hidraulicidade também abaixo da média (0,81) – em ano "normal" este coeficiente deveria ser de 1,0. Apesar da estratégia de contenção utilizada na exploração das diversas albufeiras do sistema electroprodutor, restringindo a sua utilização quase exclusivamente aos meses de Inverno, com consumos de energia eléctrica mais elevados, a evolução do armazenamento global não deixou de reflectir o baixo nível de afluências ao longo do ano, atingindo um mínimo de cerca de 37% em meados de Março, subindo até 50% com a pluviosidade dos meses de Março, Abril e Maio, e descendo gradualmente até ao valor actual de 38%.

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Albufeiras Fios de Água Média Mensal Fios de Água Média Mensal Fios de Água + Albufeiras

Figura 16 – Energia Afluente Diária (GWh) aos Fios de Água e Albufeiras do SEN

Como se pode verificar no gráfico seguinte, de Janeiro a Setembro de 2005 registou-se um decréscimo acentuado de produção de energia hidroeléctrica face a igual período de 2004 devido à existência de extremas condições de seca.

0

250

500

750

1.000

1.250

1.500

1.750

2.000

2.250

2.500

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

GW

h 2004

2005

2003

Figura 17 - Produção mensal de energia eléctrica (GWh) - Portugal Continental Esta utilização reduzida, com impacto no que diz respeito aos custos de produção de energia eléctrica, teve como objectivo a compatibilização com utilizações para outros fins, nomeadamente no que diz respeito às albufeiras de Alto Lindoso, Castelo de Bode, Aguieira, Torrão e Caldeirão. Do ponto de vista da gestão do Sistema Eléctrico Nacional, o período de seca, como o que se está a viver actualmente, não afectou a capacidade do sistema de satisfazer os consumos. As centrais hidroeléctricas integradas em aproveitamentos hidroagrícolas - Bravura, Bugalheira, Caia, Idanha, Pego do Altar e Vale do Gaio, produziram de Janeiro a Dezembro de 2004, 10.957.526 kWh, enquanto que em igual período deste ano, incluindo a central de Montargil, apenas se produziram 7.638.547 kWh.

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A produção de energia eléctrica em 2005, corresponde a cerca de 69,7 % da energia produzida em 2004.

Centrais Hidroeléctricas

Produções (Kwh)

2004 2005 Janeiro 555.185 49.875 Fevereiro 1.322.376 27.727 Março 1.217.235 97.052 Abril 240.753 443.051 Maio 1.113.154 1.530.136

Junho 1.807.049 1.927.462 Julho 2.015.833 2.005.039 Agosto 1.836.156 1.357.539

Setembro 633.751 180.397 Outubro 157.096 20.269 Novembro 29.688 0 Dezembro 29.250 0

Total 10.957.526 7.638.547

Centrais Hidroeléctricas

- 500.000

1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000

Jane

iro

Feve

reiro

Mar

ço

Abril

Mai

o

Junh

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Julh

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Agos

to

Sete

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o

Out

ubro

Nov

embr

o

Dez

embr

o

Prod

uçõe

s (K

wh)

2004

2005

Figura 18 - Produção das centrais hidroeléctricas integradas em aproveitamentos

hidroagrícolas (Bravura, Bugalheira, Caia, Idanha, Montargil, Pego do Altar e Vale do Gaio), em 2004 e 2005

Actividades Empresariais Tendo presente a informação disponível relativa à avaliação dos efeitos da seca no sector empresarial e industrial, constatou-se, em termos gerais, a preocupação de várias empresas industriais a nível de:

a) Qualidade da água que utilizam (nomeadamente devido aos altos teores de salinidade);

b) Restrições ao consumo de água no Baixo Mondego e na bacia do Vouga (carência de água) e a possibilidade de haver futuras restrições ao consumo;

c) Rebaixamento preocupante dos níveis piezométricos nos furos de captação durante o período considerado e esgotamento das cisternas de aproveitamento da água das chuvas;

d) Aumento dos custos de produção para as empresas com actividades relevantes no interface com a produtividade do território, como a agricultura, a pesca e a caça, quer pelo aumento dos custos de produção derivados da escassez/aumento do custo da matéria-prima, quer pela diminuição do volume de vendas (ex.º: adubos e máquinas, equipamentos e ferramentas para a agricultura);

e) Possibilidade de haver aumentos de tarifas (água e electricidade).

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Problemas comuns a todos os sectores da actividade Na sequência do 1º alerta público, da situação de seca meteorológica emitido pelo IM em finais de 2004, os primeiros problemas decorrentes da seca manifestaram-se no início de 2005 num contexto sócio-político algo conturbado o que não impediu que as autoridades com competência na gestão da água tomassem as iniciativas preventivas que se impunham. É nesse contexto que a Comissão de Gestão de Albufeiras (Decreto-Lei n.º 21/98), em 31 de Janeiro, propõe a elaboração de um plano de acompanhamento e mitigação dos efeitos da seca e a criação de uma solução organizacional para gerir a crise, o que só veio a ser aprovado em 31 de Março de 2005 (RCM nº 83/2005). A inexistência de um sistema pré-estabelecido de gestão de situações de seca é um problema amplamente referido por todas as entidades que se vêm envolvidas no exercício de gerir uma situação imprevista. O acompanhamento da situação de seca foi sistematizado através do relatório quinzenal, resultado do trabalho de 19 entidades, que em estreita cooperação demonstraram ser possível um elevado desempenho da Administração e das organizações não governamentais na gestão destas situações, mas revelou-se de alcance mais limitado que o previsto dado que não foi possível estabelecer indicadores de severidade de seca em relação aos efeitos sobre as actividades humanas, económicas ou não. Assim, a gestão da situação da seca baseou-se na identificação de situações que foram sendo relatadas pelos que sofriam os efeitos da seca. Apesar da solução de gestão da situação de seca ter dado resposta positiva na maior parte dos casos, foi notório algum desequilíbrio entre os diversos níveis de mobilização das diversas organizações da Administração, associativas e das actividades económicas e das respectivas capacidades de intervenção. Não menos notória foi a ausência de preparação de algumas entidades gestoras dos sistemas de abastecimento de água, quer urbano, quer de rega e de abeberamento de gado, para situações de seca, demonstrada pela generalizada ausência de planos de contingência no início da situação de seca e que veio a manter-se ao longo de todo o processo de gestão, em algumas situações de risco. A quantificação e distribuição espacial da intensidade de seca tem sido apresentada em função de variáveis que estão directamente associadas à distribuição espacial da quantidade de precipitação, temperatura do ar e capacidade de água disponível no solo, por um lado, e referenciada, caso a caso, em termos dos seus efeitos sobre as actividades humanas. Isto é, não se revelou possível acompanhar a evolução da distribuição espacial da intensidade da seca, com recurso a um índice combinatório das duas vertentes da situação, porque não existe conhecimento sistematizado e actualizado da intensidade espacial e temporal das utilizações, que

PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE A SECA CRIOU AO AMBIENTE E ÀS ACTIVIDADES HUMANAS

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podem ser afectadas por falta de água nas origens, e falta de precipitação e também porque não se conhece com o mesmo nível de rigor as disponibilidades de água dessas origens, englobando nelas as públicas, privadas, de superfície e subterrâneas, sem esquecer o conhecimento da qualidade da água para os fins pretendidos. Nesta situação utilizou-se o índice meteorológico de seca, o PDSI (Palmer Drought Severity Index), calibrado e aferido para a situação de Portugal, com o qual não é possível medir as complexas interacções das várias componentes do ciclo hidrológico e os seus impactos. É por isso que nas mesmas áreas do território, onde índice meteorológico de seca apontava para seca extrema, a severidade da seca em termos dos efeitos sobre as actividades humanas era fraca, nomedamente o abastecimento urbano e a agricultura de regadio, devido precisamente ao efeito da regularização interanual das barragens e aquíferos, e também devido às medidas entretanto tomadas. No que se refere ao apoio técnico às entidades e particulares que o solicitaram, identificaram-se algumas deficiências que decorrem da falta de preparação e/ou de meios humanos das entidades com competências atribuídas nas respectivas matérias, que conduziram à necessidade de serem outras organizações a actuarem para além das suas áreas geográficas e competências. O apoio técnico mais requerido, e onde se sentiram algumas deficiências, foi para a localização e caracterização de furos para abastecimento às populações, à pecuária e para o transporte de água por meios móveis também para os mesmos fins. Foi no apoio financeiro, solicitado para cobrir as despesas excepcionais decorrentes da situação de seca, onde se sentiram os maiores constrangimentos devido às limitações financeiras das organizações da Administração. Importa ainda referir alguns problemas de carácter generalizado e que, de algum modo, não estão associados exclusivamente a nenhum sector da actividade em particular. A necessidade de deslocação aos locais de captação de água para abastecimento público para monitorização, tarefa necessariamente morosa, conduziu a que a análise da qualidade da água tivesse sistematicamente uma quinzena de atraso relativamente à análise quantitativa. No que à qualidade da água se refere, as situações mais críticas registaram-se no Alentejo, onde a temperatura e radiação solar foram mais elevadas. Contudo, na região de Lisboa e Vale do Tejo e mesmo no Centro registaram-se alguns problemas de eutrofização e depleção de oxigénio dissolvido. No Algarve ocorreram problemas apenas pontuais. Note-se que, tal como se constatou na presente seca, e não foi novidade, verificou-se uma grande escassez de meios humanos e materiais para fazer cumprir uma qualquer determinação aos numerosos proprietários de furos particulares, utilizados seja para rega seja para uso doméstico. A consequência deste estado de coisas é que, se houver que impor reduções às extracções num aquífero, o alvo preferencial será sempre o grande consumidor, que é aquele que é controlável. Foi isto que sucedeu no Algarve.

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Na região Centro um dos principais problemas derivado desta seca foi o acentuado rebaixamento dos níveis piezométricos no sistema aquífero do Cretácico de Aveiro. Esta situação levou à imposição de restrições nos volumes de água captada, facto que implicou graves problemas económicos e sociais. Verificaram-se também problemas de compatibilização para as várias utilizações da albufeira da Aguieira, situação que foi bastante agravada devido à seca. Nesta albufeira são feitas captações para abastecimento público de água (para os concelhos de Tábua, Carregal do Sal, Mortágua, Sta. Comba Dão, Penacova e Figueira da Foz), para abastecimento a duas indústrias de pasta e papel, para fins agrícolas (rega dos campos do Baixo Mondego) e ainda para produção de energia hidroeléctrica. No Alentejo um dos problemas identificados foi o conflito de usos consumptivos em determinadas linhas de água/bacias hidrográficas e em determinados sistemas aquíferos. Exemplos disso são a ribeira da Cardeira, o sistema aquífero dos Gabros de Beja e a albufeira do Roxo, agravados pela dificuldade em avaliar os consumos face às disponibilidades em recursos hídricos subterrâneos. Também a insuficiente sensibilização para a problemática/consequências da seca, dos cidadãos em geral e, em particular, dos principais utilizadores de recursos hídricos é outro problema a considerar. Quanto aos rios internacionais, o principal problema registado em matéria regulada pela Convenção de Albufeira prendeu-se com os reduzidos caudais e a sua irregularidade diária, cujos principais impactes se registaram nas vertentes ambientais e dos usos da água para produção de energia (rio Douro), e abastecimento de água às populações (rio Tejo – captação de Valada) e rega (rio Tejo – Lezíria de Vila Franca de Xira). Problemas sectoriais Abastecimento urbano A fiabilidade das origens de água dos pequenos sistemas de abastecimento de água às populações é o problema mais recorrente, devido à inexistência de regularização interanual, mas que afecta apenas uma reduzida percentagem da população. Note-se que o valor máximo mensal de população abastecida por sistemas com restrições ou cujos reservatórios tiveram que ser abastecidos por auto-tanques não ultrapassou os 100 000 habitantes, devido também em grande medida às acções que conduziram à redução de consumos promovidas pelas entidades gestoras e Administração. Contudo, mesmo nos grandes sistemas com serviço a grandes aglomerados populacionais não é comum a existência de Planos de Gestão de Seca, tendo-se verificado, de forma abundante, situações em que as situações de risco de ruptura das disponibilidades de água eram claras e nem por isso algumas entidades gestoras, públicas e privadas, promoveram a elaboração de planos de contingência, problema que se considera de salientar.

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Enquanto que o apoio técnico às entidades gestoras foi sendo prestado, o mesmo não se passou em relação ao apoio financeiro, dado as entidades que prestam estes apoios não disporem dos recursos financeiros que permitiriam satisfazer as solicitações recebidas. A ANMP insistiu na disponibilização urgente das verbas que permitam resolver as situações de carência com repercussões ao nível do bem-estar das populações e reclamou a criação de uma linha de apoio financeiro aos Municípios que manifestem necessidade de tal apoio nos termos da referida RCM. O esgotamento de furos, que atingiu no mês de Agosto o máximo de 44 Municípios, o abastecimento dos reservatórios dos sistemas por auto-tanques, que no mesmo mês teve também o seu máximo e que afectou 66 Municípios, as reduções nos períodos de abastecimento no máximo de 37 Municípios também em Agosto e a redução da qualidade da água em 18 Municípios com o máximo em Julho, foram os problemas mais relevantes relatados pelas autarquias locais. O plano de contingência desenvolvido pela Águas do Algarve em 2004 acabou por ter alguns dos seus piores cenários confirmados pela realidade. De facto, com a finalidade de preservar os escassos recursos existentes, a Comissão para a Seca 2005 viu-se na contingência de impor sucessivas restrições ao uso da água bruta, seja no que toca à água superficial, seja no tocante à água subterrânea. A isso levaram os baixos níveis verificados nas albufeiras, a baixa dos níveis piezométricos no aquífero Querença-Silves e os cenários futuros resultantes da aplicação do modelo matemático de simulação do aquífero, desenvolvido pelo INAG. Em Junho constatou-se que no Algarve, a verificarem-se os consumos expectáveis nos meses seguintes, para abastecimento público e para a rega, as reservas disponíveis nas albufeiras de Beliche e Odeleite, em termos de volume útil, se esgotariam no final do presente ano de 2005. Nesse mesmo mês, já a albufeira do Funcho apresentava níveis muito baixos, aproximando-se do esgotamento. Entre os meses de Março e Maio, verificou-se uma descida acentuada dos níveis piezométricos num conjunto de piezómetros instalados na parte ocidental do aquífero Querença-Silves, que parecia demonstrar uma situação de sobreexploração. Esta descida tinha sido prevista no modelo matemático de simulação do aquífero, desenvolvido pelo INAG em Março, e os níveis piezométricos registados nos citados piezómetros estavam já muito próximos dos níveis mínimos verificados em 1995. Neste enquadramento, foi entendido pela Comissão para a Seca 2005, no mês de Maio, que o aquífero poderia estar em risco de iniciar um processo de progressiva salinização, pelo que a entrada em funcionamento dos novos furos de Benaciate iria agravar o problema; e, pouco mais tarde, em Junho, que a manutenção do ritmo de exploração nos furos de Vale da Vila punha em risco a sustentabilidade do aquífero. No que respeita à albufeira da Bravura, de importância limitada para o sistema multimunicipal, apresentava níveis mais elevados mas registou um incidente de mortandade de uma grande quantidade de peixes, em Junho.

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Com a subida da temperatura, registaram-se ainda alguns "blooms" de algas cianofíceas, nas albufeiras de Odeleite e Beliche, já com volumes reduzidos, durante o Verão. A situação de seca afectou algumas zonas da concessão do Sistema Multimunicipal do Alto Zêzere e Côa, com destaque para a situação crítica em termos de reserva da albufeira da Meimoa, que serve o abastecimento público de água ao concelho de Penamacor, parte do concelho do Fundão e a rega do bloco da Meimoa, e da albufeira de Ponte de Juncais (rio Mondego), que abastece a vila de Fornos de Algodres. A previsão de esgotamento da reserva útil de água na albufeira da Meimoa, tendo por base os consumos verificados na primeira quinzena de Junho, apontava para meados do mês de Agosto, e essa expectativa veio a confirmar-se. De facto, no final de Setembro, o volume total rondava os 8 hm3, ou seja, estava-se abaixo do nível de volume morto. No que respeita à albufeira do açude de Ponte de Juncais, a situação foi igualmente muito crítica, por falta de água no rio Mondego. Registaram-se problemas de fornecimento em sistemas autónomos do concelho do Sabugal, cujas origens secaram (nascentes e pequenas represas). No concelho de Manteigas ocorreram alguns problemas de falta de água, em parte provocados pelo excessivo consumo e pelas deficientes condições de funcionamento da rede em baixa. O sistema multimunicipal de Raia-Zêzere-Nabão, gerido pela Águas do Centro, registou problemas devidos à seca prolongada nos concelhos da Idanha-a-Nova, Oleiros, Pampilhosa da Serra, Sertã e Vila Velha de Ródão. Os concelhos da Sertã, Oleiros, Vila Velha de Ródão e Pampilhosa da Serra são abastecidos na sua quase totalidade por captações subterrâneas que diminuíram substancialmente de caudal, devido à seca. No concelho de Idanha-a-Nova, as reservas hídricas têm vindo gradualmente a diminuir desde o início do ano, com ameaça de ruptura total no abastecimento ao concelho. No que se refere ao sistema intermunicipal do Planalto Beirão, gerido pela Águas do Planalto, a escassez de recursos hídricos teve efeitos especialmente pronunciados em Tondela. A diminuição de caudal no rio Vouga, em consequência da seca, originou uma situação complexa, com uma significativa redução do caudal captado pela infraestrutura de captação instalada. Finalmente, no que respeita ao sistema municipal da Figueira da Foz, gerido pela Águas da Figueira, a situação de seca teve como consequência o baixo nível piezométrico nas origens subterrâneas, sentida nos sistemas Norte e Sul do concelho.

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Os principais efeitos da seca sobre os serviços de abastecimento de água às populações deveu-se à falência das origens de água que não dispõem de capacidade de regularização interanual e com maior incidência nos pequenos sistemas de abastecimentos com captações em zonas não aquíferas. Na tabela 8 e figura 19 apresenta-se a evolução das principais afectações.

Tabela 8 – Evolução da população afectada directa e indirectamente

População afectada por tipo de afectação

Mês e Quinzena Abastecimento dos reservatórios dos sistemas por autotanques

Cortes ou interrupções, Reduções, diminuição de pressão no

abastecimento

Abril (1ª) 14175 213

Maio (1ª) 8395 2635

Junho (1ª) 26500 26781

Junho (2ª) 23440 25217

Julho (1ª) 26004 26350

Julho (2ª) 54831 53312

Agosto (1ª) 48500 60061

Agosto (2ª) 94372 100500

Setembro (1ª) 73097 66127

Setembro (2ª) 69588 39429

Outubro (2ª) 48883 30083

Novembro (2ª) 11921 13354

Dezembro (2ª) 10238 13445

Valor máximo 94372 100500

12

16

30

34

50

4446

66

60

56

51

1916

0 0

4

16 15

22

26 25

37

29

24

16

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0

10

20

30

40

50

60

70

15 Mar 15 Abr 15 Mai 15 Jun 30 Jun 15 Jul 31 Jul 15 Ago 31 Ago 15 Set 30 Set 31 Out 30 Nov 31 Dez

Núm

ero

de C

once

lhos

Concelhos com reforço do abastecimento por auto-tanque Concelhos com cortes no fornecimento da água

Figura 19 – Número de concelhos com reforço dos reservatórios dos sistemas de

abastecimento por auto-tanque ou com cortes/reduções no fornecimento de água ao domicílio

37

6596 8395

2650023440

26004

54831

48500

94372

7309769588

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20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

100000

15 Mar 15 Abr 15 Mai 15 Jun 30 Jun 15 Jul 31 Jul 15 Ago 31 Ago 15 Set 30 Set 31 Out 30 Nov 31 Dez

Núm

ero

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abita

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Figura 20 – População servida com medidas de reforço dos reservatórios dos sistemas de abastecimento por auto-tanque

Na região Norte são reportados como principais problemas o esgotamento prematuro de origens subterrâneas e aquíferos, situação que os Municípios ultrapassaram com maior ou menor dificuldade, recorrendo ao transporte de água em auto-tanques e cisternas (bombeiros principalmente), ou também procedendo à reactivação de captações e execução de novas pesquisas para reforço de caudal, e as insuficiências estruturais, resultantes da inexistência de soluções fiáveis e de garantia, grande parte delas em curso, e que seguramente num futuro próximo contribuirão para uma melhoria significativa das condições de serviço. No que se refere ao abastecimento de água, identificaram-se situações críticas em Municípios servidos por pequenas origens pontuais subterrâneas (qualidade e quantidade), e também em sistemas municipais dependentes de pequenas albufeiras (Nordeste Transmontano), com especial relevo naquelas em que se tornava necessário conciliar as necessidades de rega com os consumos para abastecimento público, e nas de reduzida capacidade de armazenamento. Na Região Centro, além de várias situações graves de falta de água em Municípios dependentes de sistemas de abastecimento de água de reduzida dimensão (quer sistemas com origens subterrâneas quer superficiais), observaram-se situações problemáticas de elevada eutrofização da albufeira da Aguieira (que abastece os Municípios de Carregal do Sal, Sta. Comba Dão, Mortágua, Tábua, Penacova e Figueira da Foz) e da albufeira de Fagilde. Nesta última, a gestão da albufeira (que é uma das principais origens de água para abastecimento público dos Municípios de Viseu, Nelas, Mangualde e Penalva do Castelo) apresentou dificuldades acrescidas devido às condicionantes a que está sujeita, decorrentes de problemas de ordem estrutural da barragem de Fagilde. Na região de Lisboa e Vale do Tejo as situações mais problemáticas estiveram intimamente ligadas ao aparecimento de fenómenos de eutrofização, uma vez que

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as condições climatológicas verificadas os favoreceram. O caso mais problemático foi na Albufeira de São Domingos, por se tratar de uma fonte de abastecimento urbano crucial ao concelho de Peniche. Na captação de Valada também se verificou durante o Verão uma degradação da qualidade da água, principalmente devido aos baixos caudais do rio Tejo, que permitiram concomitantemente uma maior influência da maré nesta zona, com as consequências que daí advêm. Deve por fim salientar-se que no final do ano hidrológico se verificou uma tendência para a melhoria da qualidade da água na albufeira de S. Domingos, que embora ainda tenha a presença de cianobactérias, as quantidades são bastante inferiores aos valores registados no mês de Julho. Do ponto de vista da qualidade da água para consumo humano, os parâmetros com maior número de incumprimentos reportados pelas Autoridades de Saúde foram os parâmetros indicadores. Salienta-se essencialmente a problemática dos cloretos na região do Algarve e na sub-região de Beja, que excederam os valores paramétricos, tendo a Autoridade de Saúde concelhia imposto um valor guia de 350 mg/l. Observaram-se, ainda, incumprimentos aos valores paramétricos nos casos do ferro e manganês na região do Alentejo, nomeadamente no distrito de Beja (concelhos de Almodôvar, Odemira, Ourique e Castro Verde), sem que, estivessem em causa riscos para saúde pública, comunicando nestes casos às entidades gestoras a necessidade de adoptar no tratamento da água as tecnologias adequadas às situações em causa. Na sub-região de Portalegre detectou-se a presença de alumínio em excesso, essencialmente associado ao inadequado sistema de controlo operacional da ETA, tendo contudo, a Autoridade de Saúde local e a entidade gestora resolvido o problema em conjunto. Do ponto de vista bacteriológico, verificou-se também nalgumas zonas de algumas das regiões do país um aumento de incumprimentos, desta índole, associados, essencialmente, a uma deficiente desinfecção da água, traduzida na ausência de cloro residual. Tal facto motivou, na maioria das vezes, acções conjuntas entre as entidades gestoras e as Autoridades de Saúde para resolução destes problemas. Relativamente às origens de água houve uma monitorização mais rigorosa no que diz respeito à pesquisa de cianobactérias, cuja proliferação se encontra associada à progressiva eutrofização das albufeiras, verificando-se que a região do Alentejo era a que apresentava globalmente maiores problemas devido à diminuição dos caudais e consequentemente à escassez de água, nomeadamente nas albufeiras de Enxoé, Roxo, Divor e Vigia. Refere-se ainda, que nem sempre as entidades gestoras enviam atempadamente às Autoridades de Saúde os dados do controlo de qualidade da água para consumo humano.

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Da análise dos episódios de doença de potencial transmissão hídrica, que fazem parte do conjunto de Doenças de Declaração Obrigatória (DDO’s) em Portugal (febre tifóide e paratifóide, outras salmoneloses, shigelose, leptospirose, hepatite A e a doença dos legionários), apresenta-se na figura 21 a evolução das DDO’s nos últimos 5 anos, destacando-se a taxa de prevalência de “outras salmoneloses” e a taxa de incidência por hepatite A. Refere-se que, os dados de 2005 se reportam a dados acumulados até Agosto de 2005.

0

100

200

300

400

500

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700

2000 2001 2002 2003 2004 2005 (atéagosto de

2005)Anos

N.º

tota

l de

caso

s no

tific

ados

Febre tifoíde e paratioíde Outras salmenoloses Shigelose

Leptospirose Doença dos legionários Hepatite A

Figura 21 - Evolução das DDO’s nos últimos 5 anos

Alguns destes casos poderão estar eventualmente associados ao consumo de água proveniente de fontes de abastecimento alternativas, em particular, de poços, fontanários ou nascentes, mas igualmente à falta de sistemas adequados de saneamento, ou ainda, devido a outros tipos de contaminação oral-fecal, como a falta de higiene oral e colectiva. Salienta-se, contudo, que em múltiplos casos, os inquéritos e os respectivos estudos epidemiológicos não são conclusivos, quer porque muitas daquelas doenças se encontram sub notificadas, quer por falta de um programa adequado de vigilância epidemiológica em que fossem registados os episódios de doença versus factor de causalidade, quer porque a população quando exposta a doenças de foro hídrico (diarreias, vómitos, etc) não procura muitas vezes apoio clínico, quer ainda porque, não raras vezes, os próprios clínicos não atribuem geralmente a causa à água de consumo humano medicando os doentes sem aplicar inquéritos adequados. Ainda no referente à garantia da qualidade da água distribuída para consumo humano, a informação reportada quinzenalmente pelas entidades gestoras ao IRAR permitiu, paralelamente com as Autoridades de Saúde, reforçar o controlo nomeadamente identificar e prestar apoio em situações de recurso a fontes de abastecimento alternativas que poderiam constituir algum perigo para a saúde pública das populações.

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A evolução da situação vivida exigiu a avaliação das reais implicações na qualidade da água distribuída. Assim, em Agosto de 2005, foi realizado um questionário dirigido a todas as entidades gestoras, o qual permitiu concluir que, em virtude da situação de escassez de água, em 12,4% dos concelhos, já se verificava uma degradação da qualidade da água na torneira do consumidor. Foi ainda possível aferir que, em virtude da degradação da qualidade da água, 16,2% das entidades gestoras reforçaram o tratamento e 10,6% reforçaram o controlo analítico na torneira do consumidor. Apesar dos problemas de abastecimento público registados em diversos Municípios, não há conhecimento que, exclusivamente devido à situação de seca, qualquer município tenha activado formalmente o seu Plano Municipal de Emergência ou que tenha convocado o respectivo Centro Municipal de Operações de Emergência de Protecção Civil, o que poderá significar que o empenhamento dos meios de resposta disponíveis no espaço municipal não foi comprometido. Agricultura No início do ano de 2005, as reservas hídricas armazenadas em algumas albufeiras que beneficiam os principais aproveitamentos hidroagrícolas não eram suficientes para assegurar uma utilização normal, durante o período de Primavera/Verão. Daí terem resultado para os principais sistemas de regadios públicos os seguintes problemas: ► Em sete aproveitamentos hidroagrícolas as utilizações de água só se realizaram

com a adopção de restrições à distribuição de água e específicas para cada um deles, de modo a assegurar as necessidades dos diferentes utilizadores - Campilhas, Cova da Beira, Fonte Serne, Lucefecit, Minutos, Vale do Sado e Vigia;

► No aproveitamento hidroagrícola de Silves, Lagoa e Portimão a campanha de rega foi restringida às culturas permanentes, tendo-se recorrido ao reforço dos caudais disponíveis através da captação de águas subterrâneas;

► No aproveitamento hidroagrícola do Roxo a campanha de rega esteve impossibilitada, tendo apenas sido fornecida água para abastecimento público, agro-indústria e sobrevivência de uma reduzida área de culturas permanentes;

► No aproveitamento hidroagrícola do Sotavento Algarvio foram adoptadas medidas de poupança de água durante a campanha de rega, com início no mês de Julho, tendo em conta os consumos registados no ano de 2004, a tendência de crescimento dos consumos registados no 1.º semestre de 2005 e o pressuposto de não se verificar a ocorrência de precipitação significativa nos primeiros meses do Outono na região;

► Nos aproveitamentos hidroagrícolas, cujo abastecimento é assegurado através de captações de água subterrânea ou de cursos de água, as campanhas de rega decorreram com as recomendações e restrições adequadas a cada uma das situações – Benaciate, Burgães e Lezíria de Vila Franca de Xira;

► O fornecimento de água no aproveitamento hidroagrícola da Lezíria de Vila Franca de Xira é contínuo, durante todo o ano, sendo a admissão de água para rega efectuada através de portas de água dos rios Tejo e Sorraia. Para assegurar o fornecimento de água para rega no final da campanha de rega Primavera/Verão, a Associação de Beneficiários, na última quinzena de Agosto, construiu um açude no rio Sorraia, de modo a proceder à utilização dos caudais

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excedentes, provenientes do rio Sorraia e desta forma, controlar o avanço da intrusão salina. Ultrapassados os problemas mais urgentes provocados pela situação, procedeu-se à sua remoção e reposição do leito normal do rio.

Nos aproveitamentos hidroagrícolas sujeitos a restrições na utilização de água para rega, além das implicações que estas tiveram nas explorações agrícolas, verificaram-se também consequências no cumprimento dos orçamentos anuais aprovados pelas respectivas entidades gestoras. Relativamente à evolução das actividades agro-pecuárias, verificou-se: ► Quebras de produtividade e de produção dos cereais praganosos de Outono-

Inverno – com excepção do trigo mole, todos os cereais praganosos registaram diminuições significativas nas suas produtividades e produções;

► Dependência forrageira do exterior – à medida que as condições de seca se foram agravando, as disponibilidades forrageiras e pratenses existentes nas explorações foram progressivamente diminuindo, e o recurso a alimentos grosseiros e concentrados comprados ao exterior aumentou significativamente. O acréscimo de procura destes alimentos levou a um aumento do seu preço, que em alguns casos atingiu o dobro. Esta situação levou a um encargo adicional por parte dos agricultores para manterem o seu efectivo pecuário. Os stocks de feno, silagem e palha, de que as explorações agro-pecuárias dispõem para recorrer nos períodos de maior carência de pastagens, não poderam ser repostos como habitualmente;

► “Performance” dos pequenos ruminantes – a alimentação do gado assegurada, devido à falta de pastagens, pelo consumo de palha e concentrados, condicionou o ciclo reprodutivo dos pequenos ruminantes, cuja época de parição decorre normalmente entre Setembro/Outubro. Esta situação levou a um aumento do número de abortos;

► Diminuição das áreas com culturas de regadio de Primavera-Verão. Face ao espectro da falta de água para rega nos meses de Verão, grande parte dos agricultores optaram por diminuir as áreas ocupadas com estas culturas, limitando-as às zonas em que as disponibilidades hídricas não representavam um factor limitante; ou então optaram por culturas menos exigentes em água.

► Custos suplementares para os agricultores com o investimento em obras de hidráulica, nomeadamente, a abertura de novos poços e furos artesianos para colmatar as necessidades de água das diversas culturas;

► Agravamento dos custos com operações de rega com o aumento da distância aos pontos de abastecimento. Foram necessários motores mais potentes (maior consumo de combustível) e mais metros de tubagem e um aumento do número de horas de bombagem devido às reduções verificadas nos caudais. Também o abaixamento do nível de água nos furos, obrigou à recolocação dos motores em posições que permitissem a bombagem da água;

► Agravamento do abeberamento do gado em pleno campo em muitas regiões, onde existiram situações em que foi necessário fazer a distribuição de água por intermédio de autotanques e reboques-cisternas;

► Diminuição quantitativa e qualitativa na produção de pomóideas. A maior parte da produção de pomóideas apresentou calibres inferiores, relativamente a um ano normal;

► Nas fruteiras os prejuízos foram mais relevantes, não por se terem registado quebras muito elevadas no volume da produção, mas, especialmente, pelo

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predomínio de frutos de pequeno calibre, que inviabilizou a sua venda para consumo em fresco, dadas as exigências das normas estabelecidas para a comercialização. Com efeito, foi canalizado para a indústria um volume de fruta superior ao que é normal, o que implicou quebras substanciais no rendimento dos produtores, dada a desvalorização dos frutos destinados à transformação face à sua venda para consumo em fresco;

► Aumento dos encargos em combustíveis devido a uma intensificação dos sistemas de rega, principalmente no período estival;

► Diminuição significativa da produção vegetal total neste ano. Salvo raras excepções, todas as culturas realizadas no nosso país apresentaram quebras significativas na sua produção devido à situação de seca vigente;

► Afectação do potencial produtivo de culturas permanentes, com reflexos na ou nas próximas campanhas, como sucedeu com alguns pomares de citrinos no Algarve.

Também a insuficiente sensibilização para a problemática/consequências da seca, dos cidadãos em geral e, em particular, dos principais utilizadores de recursos hídricos e a ausência de cadastro actualizado dos regadios individuais de iniciativa privada e das respectivas dotações de rega aplicada são outros problemas a considerar relacionados com o sector maior utilizador da água. Combate a incêndios florestais A situação de seca e consequente redução das disponibilidades hídricas condicionou, pontualmente, a utilização, por meios terrestres e aéreos, de pequenos pontos de água de apoio ao combate a incêndios florestais (charcas, tanques, poços e similares), já que alguns deles, especialmente em zonas do interior, se encontravam com reduzido ou nulo volume armazenado. Esta situação justificou um acompanhamento especial dos Serviços Municipais de Protecção Civil, corpos de bombeiros e Comissões Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, tendo alguns Municípios procedido à recarga dos pontos de água localmente considerados estratégicos. A seca originou ainda a diminuição progressiva do volume de água armazenado nas albufeiras, situação que, conjugada com a topografia e ocupação das margens das albufeiras, reduziu significativamente a extensão máxima disponível no plano de água para as manobras de aproximação, enchimento e descolagem dos aviões anfíbios utilizados no combate a incêndios florestais, dificultando ou impedindo a sua operacionalidade. Adicionalmente, verificou-se a existência de diversos obstáculos à movimentação de meios aéreos (nas rotas de aproximação e afastamento dos planos de água) causados pela sobrepassagem de albufeiras por linhas aéreas de transporte de energia. Esta situação, inviabilizou, nalguns casos, o aproveitamento dos escassos recursos hídricos disponíveis Produção de energia Uma vez que se verificou um ano de 2005 muito seco, e consequentemente um maior recurso ao parque térmico para satisfação dos consumos do Sistema Eléctrico

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Nacional, os resultados dos estudos realizados prevêem que o conjunto das centrais do Sistema Electroprodutor Público possa ultrapassar o quantitativo anual de licenças de emissões de CO2 previsto no PNALE (Plano Nacional de Alocação de Licenças de Emissão), na ocorrência de um regime hidrológico médio. Feita uma análise da evolução do preço de CO2 no mercado, verifica-se um crescimento sustentado do preço das licenças de CO2, desde 7,00 Euros/t (em Janeiro) até ao preço actual de cerca de 30 Euros/t , justificado por um período prolongado de seca que fez aumentar o consumo de electricidade produzida através de combustíveis fósseis. A dependência do abastecimento de energia eléctrica relativamente às albufeiras tem-se reduzido progressivamente nos últimos anos, nomeadamente com os valores actuais da capacidade de interligação com Espanha e as centrais térmicas a gás de ciclo combinado da Tapada do Outeiro e do Ribatejo (total aproximado de 1 800 MW). Estima-se que a energia produtível a partir de centrais hídricas em regime seco represente apenas 12,5% do consumo de energia global do país. Em regime “normal” as centrais hídricas contribuem com 30% a 40%. Biomassa e biodiversidade As albufeiras do Sul do Continente são, na sua maior parte, massas de água com elevada produtividade primária, estratificação monomítica quente e elevada variabilidade sazonal e inter-anual do nível da água. As poucas espécies de ciprinídios potamódromos nativos que conseguem tirar partido da produtividade destes meios lênticos (boga e barbo), encontram sérias dificuldades de recrutamento nas albufeiras, devido ao mau estado dos tributários e respectivas zona de desova, ou devido à falta de continuidade do meio lótico entre a albufeira e os locais de desova já referidos. Nestas condições, espécies exóticas como a carpa, a perca-sol e o achigã encontram nas albufeiras condições propícias ao seu desenvolvimento. No caso da carpa, espécie dominante em termos de biomassa e número de indivíduos, a biomassa presente tende a ser elevada, tomando partido da elevada produtividade primária das albufeiras. Durante a seca vários factores concorreram para o aumento do stress ambiental sobre as espécies piscícolas presentes nas albufeiras, provocando uma redução da condição física dos peixes ou mesmo a sua mortalidade. No Alentejo um dos problemas identificados foi o desconhecimento da carga piscícola existente nas albufeiras de aproveitamentos hidroagrícolas públicos, aliado à falta de mecanismos de prevenção da ocorrência de episódios de morte de peixes ou para os solucionar em tempo útil e constrangimentos que afectaram as acções de monitorização com periodicidade quinzenal (limitações na capacidade de resposta dos laboratórios e carências de meios de transporte). Os impactos desta situação de seca nas linhas de água foram ampliados pelos impactos devidos a outras origens, como a existência de inúmeras captações de

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água, para a rega de pequenas hortas e abeberamento de gado, a extracção de inertes e a poluição. Uma grande parte dos pequenos pegos apresentava sinais de acentuada eutrofização, manifestada pela presença de grande quantidade de macrófitos e algas e ainda uma forte coloração da água que em muitos casos não permitia a penetração da luz. A poluição da água é em grande parte devida à existência de grande quantidade de dejectos do gado bovino. A utilização das linhas de água para abeberamento de gado bovino aumentou de forma acentuada em relação à existente em anteriores monitorizações da ictiofauna e numa situação de seca a carga orgânica aparenta ser largamente excessiva. A monitorização efectuada às populações ictiológicas da Bacia do Guadiana na zona de ocorrência do saramugo (Anaecypris hispanica), revelou uma alteração profunda dos povoamentos. Esta espécie extremamente ameaçada não foi detectada em grande parte da área onde era referenciada anteriormente, não sendo de excluir a hipótese de que possam ter ocorrido extinções locais. No decurso deste trabalho o saramugo apenas foi detectado nos rios Vascão e Chança e nas ribeiras de Safareja (sub-bacia do Ardila), Vidigão e Cadavais (ambos da sub-bacia do Chança). A situação da ictiofauna afigura-se extremamente preocupante, pois para além da percepção da mortalidade de um número extremamente elevado de indivíduos devido ao défice hídrico (considerando a extensão das zonas secas e vários indícios da concentração nos pegos de predadores naturais, como garças, cegonhas, lontra, cágados, entre outros), verifica-se ainda um grande desequilíbrio nos povoamentos piscícolas e uma grande expansão de espécies exóticas. Apesar de o trabalho ter incidido nas zonas onde anteriormente se conheciam as melhores populações de saramugo até ao momento esta espécie apenas foi detectada nas ribeiras da Safareja, Vascão, Chança, Vidigão e Cadavais (as duas últimas pertencentes à sub-bacia do Chança). Por outro lado, registou-se um aumento na abundância, diversidade e expansão geográfica de espécies exóticas, como por exemplo o achigã (Micropterus salmoides), em cursos de água onde anteriormente não tinham sido inventariadas e uma diminuição acentuada na diversidade e abundância de espécies nativas. Foi capturado um número significativo de juvenis de achigã, o que indicia a sua reprodução na maioria dos cursos de água onde foi detectada. Esta espécie atinge dimensões consideráveis e é extremamente voraz. O facto de nesses locais se terem encontrado poucos indivíduos de pequenas dimensões das espécies nativas, pode ser um indício de que o achigã está a exercer uma forte predação sobre aquelas espécies. O maior constrangimento prendeu-se com a limitada capacidade de instalação de um sistema de conservação ex-situ (em aquários) para os exemplares de saramugo, devido à falta de meios materiais e humanos para assegurar a sobrevivência do número de exemplares considerado adequado para a salvaguarda da sua diversidade (cerca de 200 animais por população). Outro constrangimento prende-se com o facto deste trabalho estar apenas a ser desenvolvido na bacia do Guadiana. Estas campanhas deveriam ter sido estendidas a outras bacias hidrográficas de pequenas dimensões com problemas de diminuição acentuada do escoamento e onde existem endemismos piscícolas confinados ao

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território nacional como a bacia do Mira, as bacias do Oeste e do Algarve. No entanto, o alargamento das campanhas a outras bacias hidrográficas esteve dependente da disponibilidade de recursos humanos especializados. Para o efeito seria necessário recorrer à contratação de técnicos habilitados exteriores ao ICN, na medida em que os técnicos desta instituição estiveram afectos às campanhas desenvolvidas na bacia do Guadiana. Por fim, tem-se verificado que muitos caminhos de acesso às ribeiras utilizados durante o projecto saramugo estão agora vedados, impedindo a realização de amostragens nos locais onde se conheciam as populações de saramugo. Esta dificuldade tem sido particularmente sentida ao longo do rio Chança. Actividades Empresariais A continuação da situação de seca conduziu ao aumento da salinidade da água dos rios Lima e Vouga, com incidências na qualidade de água de abastecimento industrial. A preocupação do sector da pasta de papel, devido à destruição de grandes áreas florestais, reporta-se às consequências futuras ao nível dos volumes de matérias-primas disponíveis para aproveitamento industrial, e não se restringe apenas a 2005, mas abrange também os próximos anos, até à recarga completa dos aquíferos e água disponível no solo, bem como aos custos de exploração associados. Uma empresa do sector dos produtos químicos evidencia que a principal consequência da presente situação de seca, para as suas actividades, se traduz num importante acréscimo de custos no abastecimento de água de boa qualidade para os seus processos produtivos, já que a sua principal captação de água doce, sita no Carregado (Tejo), acusa elevados teores de salinidade, impróprios para o fim a que se destina, obrigando a empresa a recorrer a outras fontes de abastecimento a custo significativamente mais elevado (30 a 40 vezes). Este facto traduz-se directamente num aumento preocupante dos seus custos de exploração. Algumas empresas do sector dos produtos químicos (adubos) consideraram que, caso ocorressem situações de restrição no consumo de água, estas levariam à paralisação da produção, apesar de grande parte do abastecimento resultar de captações próprias. Dadas as restrições e carência de água na bacia do Sado, estima-se que a produção de arroz nacional tenha sofrido um decréscimo de cerca de 20%, devido à baixa de 50% da produção no Vale do Sado.

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De âmbito nacional e regional Medidas preventivas Em situação de seca declarada coloca-se a questão da priorização das utilizações da água e as medidas a tomar nesse sentido. A agricultura de regadio foi impraticável em algumas regiões, não tendo sido possível recorrer mesmo a culturas menos consumidoras da água. Por outro lado, a redução dos escoamentos e dos volumes armazenados em albufeiras poderá conduzir a um agravamento da qualidade da água se não fossem tomadas medidas sobre as descargas de efluentes, sobre a eficácia dos sistemas de tratamento e sobre o aumento da fiscalização e controlo. A produção de energia hidroeléctrica foi afectada, fundamentalmente quando se tratou de albufeiras de armazenamento, pelo facto de se mobilizarem recursos hídricos essenciais para usos mais prioritários. No ano hidrológico 2004/2005 o estado de pré-alerta de seca foi proposto em 31 de Janeiro de 2005 pela Comissão de Gestão de Albufeiras, composta pelo INAG, que preside, outras entidades da Administração Pública, entre as quais IM, IDRHa, CCDR’s, SNBPC, REN, CPPE e representantes dos utilizadores nomeados pelo Concelho Nacional da Água, bem como a elaboração de um Programa de Acompanhamento e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAMES), o que veio a ser concretizado pela RCM n.º 83/2005. Nas reuniões de 14 de Fevereiro e 12 de Abril, das Subcomissão Regionais da Comissão de Gestão de Albufeiras, em que participaram, a título excepcional, os representantes de todos os utilizadores da água com origem em albufeiras de fins múltiplos ou únicos e que abastecem 113 Municípios, foram tomadas as medidas sobre as origens de água com repartição dos volumes disponíveis entre os diferentes utilizadores dessas albufeiras, que afectaram as áreas dos concelhos assinalados na figura 22 e na tabela 9.

MEDIDAS TOMADAS PARA MITIGAR OS EFEITOS DA SECA E RESPECTIVA EFICÁCIA E EFICIÊNCIA

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Figura 22 – Restrições ao uso da água a partir de albufeiras

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Tabela 9 - Medidas de compatibilização de utilizações das disponibilidades de água das principais origens de água de superfície tomadas nas reuniões das Subcomissões

Regionais das Zonas Norte, Centro e Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras, realizadas em 14 de Fevereiro e 12 de Abril de 2005

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Macedo de Cavaleiros Bragança (Izeda)

Macedo de Cavaleiros Mirandela

Praia Fluvial Os 70% de disponibilidades garantem a normalidade dos serviços de abastecimento de água para rega e às populações

BURGA - Alfândega da Fé - Albufeira a 10% da sua capacidade. As obras de remodelação do sistema de rega inviabilizam a sua utilização

GOSTEI - Bragança -

Os 30% de disponibilidade são suficientes para garantir a rega em 2005. Da reunião específica para avaliar a possibilidade de

ser origem de recurso para abastecimento de águas às populações por auto-tanque resultou a redução de disponibilidades para rega

Possível origem de recurso em caso de emergência para abastecimento das populações de Bragança

MAIROS - Chaves - Os 60% de disponibilidades garantem a campanha de rega de 2005

ARCOSSÓ - Chaves - Os 50% de disponibilidades garantem a campanha de rega de 2005

GRALHAS - Bragança - Açude do sistema do Alto Sabor

SALGUEIRO - Vila Flor Alfândega da Fé - Os 55% de disponibilidades garantem a campanha de rega de

2005

PRADA - Bragança - Os 100% de disponibilidades garantem a campanha de rega de 2005

ALTO LINDOSO TOUVEDO

Viana do Castelo

(Bertiandos) Ponte de Lima (Utilizações indirectas)

-

Produção de energia eléctrica

Abastecimento industrial (Portucel)

As disponibilidades são para a produção de energia de ponta e os caudais a lançar para jusante asseguram o controlo da cunha

salina no troço final do rio Lima de modo a manter operacionais as captações de Bertiandos e da Portucel

Necessidade de manter um controlo quinzenal dos níveis de salinização

incluindo no mês de Agosto em que a Portucel suspende

as actividades

SERRA SERRADA Bragança -

Produção de energia eléctrica

Os 70% de disponibilidades garantem apenas os meses de Junho, Julho e Agosto. As campanhas de sensibilização estão a reduzir em 20% os consumos. Esta origem foi substituída por origens

alternativas (Sabor, Baceiro, Cova da Lua) que garantem o abastecimento com água bruta enquanto a albufeira não estiver

em pleno armazenamento. Iniciados os procedimentos para eventual derrogação da aplicação das normas sobre a qualidade

da água

No quadro do plano de contingência a origem está

encerrada como reserva para ser usada nos meses de

Verão

CAMBA

Macedo de Cavaleiros

Alfândega da Fé Mogadouro

Alfândega da Fé -

Os 45% de disponibilidades permitem garantir a campanha de rega de 2005 e o abastecimento às populações. Apuradas as necessidades em reunião específica ficam assegurados os

serviços de abastecimento à rega e às populações

ESTEVAINHA Alfândega da Fé Alfândega da Fé - Os 50% de disponibilidades garantem o abastecimento de água às populações. Em reunião específica verificou-se que o regadio dos pomares faz-se apenas com 25.000 m3 que estão garantidos

PENEIREIRO Vila Flor - - Os 40% de disponibilidades para abastecimento são insuficientes até Setembro. Necessidade de avaliar o cumprimento das normas

de qualidade da água

Há pequenas localidades com problemas a serem

resolvidos com abastecimento a partir de

novos furos

FONTE LONGA

Carrazeda de Ansiães Vila Flor

- - As disponibilidades para abastecimento são insuficientes até Agosto de 2005

RANHADOS Vila Nova de

Foz Côa, Penedono, Meda

- - As disponibilidades actuais garantem o abastecimento às populações

VALE DE FERREIROS Moncorvo - - As disponibilidades actuais garantem o abastecimento às

populações

ARROIO Moncorvo - - As disponibilidades actuais garantem o abastecimento às populações

PALAMEIRO Moncorvo - - As disponibilidades actuais garantem o abastecimento às populações

SALGUEIRAL Moncorvo - - As disponibilidades actuais garantem o abastecimento às populações

SANTA MARIA DE

AGUIAR

Figueira de Castelo Rodrigo

Vila Nova de Foz Côa

- - As disponibilidades actuais garantem o abastecimento às populações

QUEIMADELA Fafe As disponibilidades garantem o serviço do abastecimento previsto

Se alguns furos falharam em pequenas localidades

recorrem ao abastecimento por auto—tanque

ALIJÓ Alijó Alijó - Os 60% de disponibilidades garantem as utilizações previstas

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TORRÃO Amarante Marco de Canavezes

-

Produção de energia eléctrica Recreio e

Lazer

As disponibilidades garantem as utilizações. Contudo a ocorrência de algas cianobactérias requer uma vigilância especial da qualidade da água. A cota da albufeira irá descer 2 m abaixo do nível mínimo habitual para obras de reparação num pilar da

ponte ferroviária por acordo entre REFER, REN, CPPE e CMM Canavezes

A monitorização da qualidade da água na captação de Marco de Canavezes é efectuada quinzenalmente para

controlo das cianobactérias

SORDO Vila Real

Santa Marta de Penaguião

- Produção de

energia eléctrica

Os 100% de disponibilidades garantem o abastecimento às populações. Contudo estão em curso campanhas de

sensibilização para redução dos consumos

A C.M. de Vila Real tem em curso um concurso para aquisição de 2 auto-tanques

ALVÃO Vila Real - - Os 50% de disponibilidades complementam a garantia de abastecimento às populações a partir da albufeira do Sordo

AGUIEIRA

S. Comba Dão Mortágua

Tábua Carregal do Sal

Penacova Figueira da Foz

Coimbra Figueira da Foz Montemor-o-

Velho Soure

Condeixa-a-Nova

Produção de energia eléctrica Recreio e

Lazer Controle de

cheias

Em reunião específica foi estabelecido que a utilização dos 365 x 106 m3 armazenados seriam utilizados: 2,7 x 106 m3 para

abastecimento à Figueira da Foz, 80 x 106 m3 para a rega e a indústria (Soporcel e Celbi) utilizará captações em furos e

directamente do rio Mondego para satisfazer as suas necessidades de 17,5 x 106 m3. As perdas no regime de

funcionamento do canal são de 5 x 106 m3 e o caudal ecológico de 60 x106 m3. Para viabilizar a exploração de todos as

potencialidades da albufeira serão adaptadas as captações existentes provisoriamente as quais no futuro próximo serão

substituídas por nova origem integrada

A cota 114 de exploração poderá ser considerada como valor limite sem

prejuízo de se estudarem soluções que permitam a

utilização integral da capacidade da albufeira

FAGILDE Viseu

Mangualde Nelas

- - Os 2,5 x 106 m3de disponibilidades asseguram o abastecimento às populações sem restrições

Se for viável o alteamento do descarregador de

superfície a título excepcional poder-se-iam armazenar mais 0,7 x 106

m3 COVA DO VIRIATO Covilhã - - Os 100% de disponibilidade permitem satisfazer as necessidades

S: DOMINGOS Peniche - - Os 40% de disponibilidades garantem o abastecimento às

populações subsistindo o problema da qualidade da água. Por precaução são reactivadas captações subterrâneas

RIO DA MULA (Cascais) - - Está quase vazia e a pouca água não tem qualidade para qualquer uso

CALDEIRÃO Guarda Pinhel - Energia

eléctrica

Os 100% de disponibilidades garantem o abastecimento às populações com a suspensão do turbinamento logo que as afluências sejam iguais ou inferiores à captação de água

SABUGAL Sabugal - - Os 8 x 106 m3 de disponibilidades asseguram o abastecimento às populações do Sabugal que capta a jusante

A albufeira encontra-se a uma cota baixa porque decorrem as obras de escavação do túnel de ligação à albufeira da

Meimoa

CASTELO DO

BODE

Sistema EPAL –Alcanena, Alenquer, Amadora,

Arruda dos Vinhos,

Azambuja, Cartaxo, Cascais,

Constância, Entroncamento, Leiria, Lisboa, Loures, Mafra,

Odivelas, Oeiras, Ourém, Palmela, Porto

de Mós, Santarém,

Sintra, Sobral de Monte Agraço, Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Vila

Franca de Xira e Vila Nova da

Barquinha

-

Produção de energia eléctrica Recreio e

Lazer Turismo

Os 75% de disponibilidades garantem uma exploração normal e asseguram o abastecimento às populações

A captação da EPAL só funciona até à cota (99) em regime normal e até à cota (89) em regime reduzido abaixo da qual a captação terá que ser feita a jusante

da barragem

ALTO CEIRA Góis (captação muito a jusante da barragem)

- Produção de

energia eléctrica

A barragem está em obras e por isso a albufeira está vazia e transfere toda a água para Santa Luzia. A CPPE vai aumentar o

caudal ecológico para jusante

Transvase de água para a albufeira de Stª Luzia no

rio Zêzere para produção de energia

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MEIMOA Penamacor Fundão

Fundão Belmonte

Penamacor - Dos 50% de disponibilidades foram consignados 9,5 x 106 m3

para agricultura e 2,0 x 106 m3 para abastecimento às populações

O volume morto da albufeira por ser utilizado para lançar na ribeira e ser

captado a jusante para a albufeira da Capinha que é

a origem directa do abastecimento ao Fundão

CABRIL Pedrógão Grande -

Produção de energia eléctrica

Os 37% de disponibilidades garantem o abastecimento às populações

O regime de exploração leva a baixar a cota até 1/3 da capacidade para encaixe

de caudais de cheia

IDANHA Idanha-a-Nova Idanha-a-Nova Produção de

energia eléctrica

Os 63% de disponibilidades garantem as necessidades de rega e do abastecimento às populações

BURGÃES Vale de Cambra Vale de Cambra - Os 100% de disponibilidades garantem a satisfação das necessidades de rega e a captação de água a jusante para

abastecimento às populações

Caso as afluências diminuam a C.M. de Vale

de Cambra pretende requisitar toda a água

CAIA Elvas Campo Maior Elvas

Produção de energia eléctrica

integrada no sistema de

rega Recreio e

Lazer

Os 58% de disponibilidades garantem a rega e o abastecimento de água às populações ficando no final do ano com 63 x 106 m3

de reserva

SANTA CLARA Odemira Odemira

Aljezur

Produção de energia eléctrica

integrada no sistema de

rega Indústria

(Minas Neves Corvo)

Recreio e Lazer

Os 69% de disponibilidades garantem a campanha de rega e o abastecimento às populações e o abastecimento à indústria

ficando no final do ano com 41 x 106 m3 de volume útil

Apenas 37% de água armazenada é volume útil. O volume morto é de 244,7

x 106 m3

CORTE BRIQUE - Odemira - Os 65% de disponibilidades garantem a campanha de rega em

condições normais

ALVITO

Alvito, Portel, Cuba,

Vidigueira e Viana do Alentejo

- -

Os 88% de disponibilidades garantem o abastecimento de água às populações e a transferência de 10 x 106 m3 para reforço da albufeira de Odivelas e 1 x 106 m3 para reforço das captações

directas no rio Sado para o perímetro do Vale do Sado.

A captação de água para abastecimento às

populações vai ser melhorada com filtros de

carvão activado

MAGOS - Salvaterra de Magos -

Os 61% de disponibilidades requerem a bombagem a partir do rio a jusante

DIVOR - Arraiolos - Os 65% de disponibilidades garantem a campanha de rega normal ficando com 31% de volume útil no final do ano

Possível origem de recurso de abastecimento a

Arraiolos se a qualidade da água o permitir

MINUTOS - Montemor-o-Novo - As disponibilidades garantem a campanha de rega em condições normais

ABRILONGO - Campo Maior - As disponibilidades garantem as utilizações normais

ENXOÉ Mértola Serpa - - A qualidade da água requer uma vigilância permanente não

existindo restrições sobre os 64% de disponibilidades

Origem determinada para captação de água para

abeberamento de gado por meio de auto-tanques com

acesso controlado

VIGIA Redondo

Reguengos de Monsaraz

Évora Redondo -

O volume de água necessário para o abastecimento público em 2005 e 2006 é de 3,4hm3, limitando-se, por isso, os volumes

para a campanha de rega actual a 2,6 x 106 m3

MONTE DA ROCHA

Ourique Castro Verde

Santiago do Cacém Ourique -

Os 46% de disponibilidades garantem a campanha de rega e o abastecimento às populações ficando no final do ano com 15 x

106 m3 úteis

ARADE - Silves Lagoa

Portimão Turismo

Os 13% de disponibilidades apenas permitem a rega dos pomares com recurso a furos e transferência de 3 x 106 m3 da albufeira do

Funcho

Esta albufeira localiza-se imediatamente a jusante da

albufeira do Funcho

FUNCHO

Silves Lagoa

Albufeira Portimão

Loulé

Silves Lagoa

Portimão -

Os 15% de disponibilidades permitem transferir para a albufeira do Arade 3 x 106 m3 para rega e garantir apenas 3 x 106 m3 para abastecimento de água às populações. As restantes necessidades são supridas pelos furos de Vale da Vila e a reactivação de furos

de reserva nos concelhos dominados pelo sistema de abastecimento de água às populações

Foi accionado o plano de contingência. O recurso ao aquífero Querença-Silves está limitado às captações

existentes. As águas do Algarve estudam as

soluções operacionais para utilizar a água do Funcho

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ODELEITE BELICHE

Alcoutim V.R.S. António Tavira, Olhão,

Faro, Loulé S. Brás de Alportel

Tavira Castro Marim

V.R.S. António Olhão

Turismo

Os 47% e os 35% de disponibilidades das albufeiras de Odeleite e Beliche, respectivamente, permitem a normalidade da rega e do abastecimento às populações em 2005 devendo ser reavaliada a

situação para 2006

As duas albufeiras funcionam interligadas por

um túnel

FONTE SERNE - Santiago do Cacém - Os 42% de disponibilidades requerem a adopção de restrições de

poupança na rega

CAMPILHAS - Santiago do Cacém Odemira - Os 28% de disponibilidades implicam restrições na campanha de

rega e uso eficiente da água

LUCEFECIT - Alandroal - Os 40% de disponibilidades implicam restrições e uso eficiente de água na rega

Possibilidade de estudar uma adução de recurso a

partir da albufeira de Alqueva

ALQUEVA -

Elvas, Vila Viçosa, Alandroal,

Reguengos de Monsaraz, Évora, Portel, Mourão, Moura, Portel,

Vidigueira, Serpa

Produção de energia eléctrica

Os 71% de disponibilidades permitem satisfazer os usos de produção de energia eléctrica e rega existentes

PEGO DO ALTAR

VALE DO GAIO

- Alcácer do Sal Produção de

energia eléctrica

Os 49% do Pego do Altar e 20% de Vale do Gaio de disponibilidades implicam restrições e uso eficiente da água e a eventual transferência de água de 1 x 106 m3 a partir da albufeira

do Alvito passando pela de Odivelas e leito do rio Sado

ROXO Beja Aljustrel

Aljustrel Ferreira do Alentejo

Santiago do Cacém

Indústria Os 22% de disponibilidades apenas permitem garantir o

abastecimento para 2 anos, a rega de culturas permanentes e a indústria e exigem vigilância especial da qualidade da água

Interdição de armazenamento a montante

da albufeira

MONTE NOVO Évora - - Os 62% de disponibilidades garantem o abastecimento de água às populações

BRAVURA Lagos Portimão

Lagos Portimão

Vila do Bispo

Produção de energia eléctrica Turismo

Os 61% de disponibilidades garantem a normalidade dos serviços de abastecimento às populações e rega

MONTE GATO - Ourique - Os 63% de disponibilidades garantem a normalidade dos serviços de abastecimento para rega

MONTE MIGUÉIS - Ourique - Os 61% de disponibilidades garantem a normalidade dos

serviços de abastecimento para rega

ODIVELAS -

Ferreira do Alentejo Grândola

Alcácer do Sal

- Os 60% de disponibilidades com o reforço de 10 x 106 m3 a partir do Alvito garantem a normalidade dos serviços de abastecimento

à rega

MARANHÃO MONTARGIL -

Ponte de Sôr, Avis, Mora,

Coruche, Benavente,

Salvaterra de Magos

Montargil: Produção de

energia eléctrica

integrada no sistema de

rega

Os 65% e os 85% de disponibilidades nas albufeiras do Maranhão e Montargil, respectivamente, garantem a normalidade

do serviço de abastecimento de água à rega

APARTADURA Portalegre Marvão

Castelo de Vide

Castelo de Vide Marvão Turismo Os 81% de disponibilidades garantem os serviços de

abastecimento de água previstos com normalidade

PÓVOA E MEADAS Nisa -

Produção de energia eléctrica

Os 21% de disponibilidades impõem restrições à produção de energia e atenção especial à qualidade da água

PRACANA (Vila Velha de

Ródão e Mação) - -

Produção de energia eléctrica

Os 50% de disponibilidades são para usos não consumptivos. Eventual uso para suprir caudais no leito do rio Tejo para

arrefecimento da Central do Pego

MARATECA Castelo Branco - - Os 81% de disponibilidades garantem a normalidade do serviço de abastecimento de água às populações

MORGAVEL Sines - Indústria Os 68% de disponibilidades garantem a normalidade do serviço de abastecimento de água à indústria e às populações

Nota: Os valores de percentagem indicados reportam-se à data das reuniões

52

Medidas de gestão e operacionais Na sequência das propostas da CGA foi aprovado o modelo para a gestão da situação de seca consubstanciada na criação da Comissão para a Seca 2005, com a missão de: ► Executar o Programa de Acompanhamento e Mitigação dos Efeitos da Seca

2005; ► Criar mecanismos específicos de acompanhamento da evolução da situação,

através da Comissão para a Seca 2005; ► Definir e coordenar as medidas de emergência consideradas necessárias. As medidas em vista, deveriam ser as adequadas à severidade e duração da seca que afecte cada região, segundo níveis de intervenção: ► Nível 1: atitude proactiva de prevenção; ► Nível 2: “alerta de seca”, prevendo o desencadeamento de medidas voluntárias; ► Nível 3: imposição de medidas restritivas de alguns usos de água; ► Nível 4: imposição da adopção de medidas de carácter excepcional. Da acção da Comissão para a Seca 2005 resultaram as seguintes medidas operacionais:

Apoio técnico para execução de furos para captação de água subterrânea; Campanha Nacional de Sensibilização; Adaptação das utilizações da água das albufeiras conforme as disponibilidades; Remoção de biomassa nas albufeiras em risco de eutrofização; Aprovação de legislação sobre regimes excepcionais e transitórios decorrentes da situação de seca: − Decreto-Lei n.º 131/2005 – atribuição de licença para a pesquisa e

captação de águas subterrâneas e para a instalação de novas captações de águas superficiais destinadas ao abastecimento público;

− Decreto-Lei n.º 132/2005 – contratação de empreitadas de obras públicas, fornecimento de bens e aquisição de serviços;

− Decreto-Lei n.º 133/2005 – licenciamento da actividade das entidades que operam no sector da pesquisa, captação e montagem de equipamentos de extracção de água subterrânea;

Aprovação de legislação aplicável ao sector agrícola (conforme é especificado nas páginas 68-76 deste documento);

Criação da Subcomissão Específica para a Seca do Algarve; Redução em 50% dos volumes captados para abastecimento urbano no aquífero Querença-Silves para evitar a sua salinização.

No quadro da Protecção Civil, actividade desenvolvida pelo Estado e pelos cidadãos com a finalidade de prevenir riscos colectivos inerentes a situações de acidente grave, catástrofe e calamidade, de origem natural ou tecnológica, e de atenuar os seus efeitos e socorrer as pessoas em perigo quando aquelas situações ocorram, a estratégia de resposta à situação de seca implicou os vários níveis do Sistema Nacional de Protecção Civil. A nível nacional, o SNBPC, para além do habitual acompanhamento permanente da situação hidrometeorológica, esteve envolvido, desde a primeira hora, na elaboração

53

do diagnóstico da situação nos sistemas de abastecimento público de água. Para tal, a nível distrital, os Centros Distritais de Operações de Socorro (CDOS, estruturas descentralizadas do SNBPC) desenvolveram contactos quinzenais com os Serviços Municipais de Protecção Civil e com os corpos de bombeiros, no sentido de recolherem informação sobre os impactos da situação de seca, de modo a antever possíveis situações críticas que implicassem um maior envolvimento do Sistema de Protecção Civil. Em paralelo, os CDOS prestaram localmente o apoio técnico solicitado pelos Serviços Municipais de Protecção Civil, tanto para a elaboração de Planos de Contingência, como para a aplicação de medidas de emergência previstas no quadro do Sistema Nacional de Protecção Civil, designadamente a mobilização de meios dos corpos de bombeiros para assegurar o transporte de água ou a mobilização de meios militares para fornecimento de equipamentos de potabilização. A nível municipal, as autarquias que tutelam os Serviços Municipais de Protecção Civil, desenvolveram os contactos necessários com os agentes de Protecção Civil locais com o intuito de mitigar os efeitos da seca. Por outro lado, há que assinalar a campanha de sensibilização a nível nacional, lançada pela Águas de Portugal em Julho, em conjugação com o Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, divulgando as melhores práticas e apelando à contenção e ao consumo criterioso. A nível regional, deve enfatizar-se a campanha de sensibilização lançada pela Águas do Algarve, com a parceria da AMAL (Associação de Municípios do Algarve) e da CCDR Algarve, desde Março até Setembro. Na região do Alentejo a primeira medida foi a repartição da água disponível nas albufeiras de fins múltiplos em sede da Subcomissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras. Em Janeiro foi promovido junto das associações de regantes, o levantamento de informação detalhada e actualizada sobre a previsão de consumos para rega e outros fins, incluindo as perdas de água nos sistemas em 2005 e, junto das autarquias e empresas gestoras de sistemas de abastecimento público, informação detalhada e actualizada sobre a previsão de consumos de água para abastecimento público em 2005. Iniciou-se também a recolha de informação relativa aos volumes de água armazenada, com periodicidade semanal, para as seguintes albufeiras que constituem origens de água para abastecimento público: Apartadura, Caia, Enxoé, Monte Novo, Monte da Rocha, Póvoa e Meadas, Roxo, Santa Clara e Vigia. Também foi diligenciado junto das entidades gestoras para que desencadeassem campanhas de sensibilização dirigidas aos seus munícipes, no sentido de racionalizarem e reduzirem os consumos domésticos e passou a licenciar-se, prioritariamente, apenas captações de água destinadas ao abeberamento de gado (1ª prioridade) e à rega de sobrevivência de culturas permanentes (2ª prioridade), a incrementar a fiscalização das áreas de protecção das captações destinadas a abastecimento público, nomeadamente sobre as actividades mais poluidoras, no sentido de evitar o agravamento da qualidade da água por descargas poluentes, e despoletado o processo para que fossem avaliadas as cargas piscícolas nas albufeiras destinadas a abastecimento público e remoção atempada da ictiofauna excedentária.

54

No caso particular do Algarve onde a severidade da seca se reflectiu com grande expressão nas actividades humanas a frequência semestral de amostragem da Rede de Qualidade da Água Subterrânea foi intensificada, passando a ser trimestral, nos pontos de amostragem considerados mais susceptíveis de sofrer degradação da qualidade, devido aos efeitos da seca. Perante o cenário de seca no Algarve foi suspenso o licenciamento de novas captações de águas subterrâneas para rega no aquífero Querença-Silves. A fim de diminuir as extracções de água neste sistema, no início de Julho, os caudais retirados das captações explorados pelas Águas do Algarve foram reduzidos para metade, sendo substituídos pela entrada em funcionamento de captações municipais situadas noutros sistemas aquíferos, que se encontravam em melhor situação quantitativa, apesar de alguns deles apresentarem problemas de qualidade, nomeadamente concentrações elevadas de cloretos. Este processo inicialmente aplicado apenas ao Barlavento, foi alargado ao Sotavento com vista a preservar as origens superficiais de Odeleite-Beliche. Com a reactivação das captações de água subterrânea municipais e por forma a poder fazer frente ao prolongamento do período de seca foi decidido, em Julho, alargar a suspensão do licenciamento de novas captações a outros aquíferos utilizados como origens de água para o abastecimento público. Face ao agravamento da situação do aquífero Querença-Silves foi decidido, no início de Agosto, promover a redução das extracções de água nas captações existentes, tendo-se recorrido, para o efeito, à publicação de um edital com um conjunto de recomendações. Foram igualmente reforçadas as acções de fiscalização das captações de água subterrânea e da abertura de novos furos, com o envolvimento do corpo de fiscalização da CCDR Algarve e das equipas do SEPNA da GNR. Dadas as dificuldades técnicas na avaliação dos recursos subterrâneas e a particular vulnerabilidade do aquífero Querença-Silves, foi solicitada a colaboração de alguns especialistas nacionais em hidrogeologia para apresentarem a sua visão relativa ao estado do aquífero, a sua previsível evolução e propostas relativas a possíveis medidas a adoptar para a sua protecção. No âmbito das competências da Comissão para Aplicação e Desenvolvimento da Convenção (CADC) realizou-se em Lisboa, no dia 27 de Julho, a primeira Conferência das Partes da Convenção sobre a Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, tendo sido acordado o regime para a situação excepcional verificada este ano no rio Douro, estabelecendo que durante os meses de Julho, Agosto e Setembro sejam garantidos caudais em Miranda de 230 hm3 e na secção de Saucelle de 377 hm3. Foram também objecto de concertação com as autoridades espanholas os regimes de caudais dos rios internacionais a vigorarem até ao final do ano hidrológico (30 de Setembro). Foi criado ainda um Grupo de emergência, aquando da 5ª Reunião Plenária, que decorreu a 31 de Maio e 1 de Junho, em Lisboa.

55

De âmbito sectorial Abastecimento urbano Face às condições meteorológicas anormais, indicadoras de uma possível situação de seca, em Janeiro de 2005, o IRAR estabeleceu os primeiros contactos com as entidades gestoras do Continente na procura de uma caracterização da situação existente na altura, bem como dos possíveis efeitos a curto, médio e longo prazo da situação de seca no abastecimento público de água, no que se refere à qualidade da água para consumo humano. Na sequência da informação recolhida, foi feito um primeiro alerta, quer quanto às quantidades de água disponíveis, quer quanto à qualidade da água distribuída às populações. Desde então, o IRAR continuou a desenvolver esforços no sentido de acompanhar devidamente a situação, nomeadamente através do aconselhamento às entidades gestoras, com vista à minimização da potencial degradação da qualidade da água distribuída e consequentes riscos para a saúde pública. No âmbito do acompanhamento da situação de seca, tomaram-se as seguintes medidas:

(i) em Novembro de 2004 foi avaliado o Plano de Contingência apresentado pela empresa Águas do Algarve;

(ii) em Janeiro de 2005 foi realizado um questionário junto das entidades gestoras para avaliação da situação, bem como dos possíveis efeitos a curto, médio e longo prazo, e face à informação recolhida, foram identificadas as entidades gestoras críticas e realizadas reuniões com as mesmas na procura de informação referente aos possíveis impactos na qualidade da água distribuída, com o objectivo de acompanhar e ajudar à implementação das medidas mitigadoras por parte destas entidades;

(iii) em Março de 2005 foi enviado a todas as entidades gestoras o relatório de avaliação do impacto das condições meteorológicas no abastecimento de água em Portugal com o objectivo de alertar para o impacto da seca no abastecimento público de água em Portugal Continental e elencadas e recomendadas um conjunto de medidas para o uso eficiente da água;

(iv) em Abril de 2005 foi elaborado um questionário para ser respondido quinzenalmente pelas entidades gestoras, com o objectivo de avaliar as medidas de excepção adoptadas, nomeadamente, abastecimento por autotanque e/ou reactivação/abertura de furos, de modo a garantir a qualidade da água para consumo humano na torneira do consumidor e emanadas recomendações a todas as entidades gestoras para a prevenção de possíveis efeitos negativos na qualidade da água distribuída, em resultado da seca;

(v) em Maio de 2005 foi realizado um questionário, via telefone, dirigido às entidades gestoras que respondiam ao formulário da Associação Nacional de Municípios Portugueses e não respondiam ao do IRAR, para validação das medidas de excepção contidas nas respostas fornecidas;

(vi) em Julho de 2005, no seguimento de pedido da Direcção Geral de Saúde, foi recomendado às entidades gestoras para comunicarem à Autoridade

56

de Saúde as alterações nos sistemas de abastecimento de água decorrentes da situação da seca;

(vii) em Agosto de 2005 foi realizado um questionário a todas as entidades gestoras, para avaliação dos efeitos da seca na qualidade da água, das medidas de racionalização do uso da água, da redução conseguida, do reforço do controlo analítico da qualidade da água na origem e na torneira, assim como do reforço do tratamento.

Sempre que foi detectada uma situação de risco para a saúde pública, o IRAR contactou de imediato a entidade gestora responsável e informou sobre os procedimentos a adoptar com vista à minimização dos impactos na qualidade da água distribuída. Os Municípios adoptaram medidas voluntárias para combate e mitigação dos efeitos da seca, tais como, acções de sensibilização para poupança de água envolvendo escolas, igrejas, associações locais, comunicação social, reforço do sistema de análises e tratamento da qualidade água para consumo humano, abertura de novos furos, colocação de torneiras redutoras de consumo, inventariação de captações subterrâneas, encerramento de fontanários e de piscinas municipais, inventariação e caracterização de origens de água particulares susceptíveis de complementar as origens dos sistemas públicos, melhoria da eficiência dos sistemas de abastecimento público com reparação de fugas, instalação de contadores e aumento da vigilância dos sistemas, redução de regas de jardins públicos e similares, reforço da fiscalização da lavagem de viaturas na via pública, reforço da fiscalização de captações particulares ilegais, renovação de condutas para redução de perdas, reutilização de águas para usos compatíveis, cuja evolução mensal se expressa na tabela 10.

57

Tabela 10 –Número de Municípios por tipo de medidas de mitigação dos efeitos da seca no abastecimento urbano tomadas e reportadas à ANMP

Tipo de Medidas

Abr

il

15 M

aio

31 M

aio

15 J

unho

30 J

unho

15 J

ulho

31 J

ulho

15 A

gost

o

31 A

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31 D

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Acções de sensibilização para poupança de água

56 96 93 108 101 102 105 104 118 100 98 91 75 60 46 52 65

Adequação de procedimentos em piscinas municipais

16 30 26 40 32 34 43 45 46 42 40 43 28 21 13 18 19

Colocação de torneiras redutoras de consumo nos fontanários públicos

15 20 22 29 23 30 25 30 27 32 30 27 25 20 11 13 20

Criação de linha telefónica de apoio ao consumidor

14 17 18 20 23 15 19 13 20 13 11 15 12 10 6 6 7

Elaboração de planos de contingência 14 21 19 22 18 22 23 25 28 22 27 25 19 16 12 12 15

Melhoria da eficiência dos sistemas de abastecimento público com reparação de fugas, instalação de contadores e aumento da vigilância dos sistemas

67 106 103 112 113 106 108 108 110 100 102 96 81 61 50 57 74

Realização de infra-estruturas que permitam a retenção em anos de chuva

2 4 7 7 7 6 6 6 7 5 6 6 5 4 3 3 4

Renovação de condutas para redução de perdas

44 62 51 62 69 61 62 58 67 55 67 58 51 37 30 34 43

Reuniões regulares com Juntas de Freguesia

17 33 25 35 29 27 24 27 33 27 31 28 23 20 14 14 18

Reutilização de águas para usos compatíveis

16 18 12 18 21 17 23 23 27 23 30 26 24 19 13 15 20

Abertura de novos furos 23 32 27 43 36 33 42 42 54 51 50 45 37 32 23 25 32

Antecipação de medidas habitualmente adoptadas nos meses de verão

18 33 27 41 38 38 37 33 36 29 31 27 22 - - - -

Encerramento de fontanários 11 21 17 20 20 21 21 25 35 34 34 31 23 20 11 12 18

Encerramento de fontes decorativas (não funcionem em circuito fechado)

16 17 19 19 18 21 28 29 32 25 33 25 25 21 13 14 16

Instalação de drenos nos leitos de rios 1 5 3 3 2 4 5 2 5 4 6 6 7 4 4 4 5

Inventariação de captações subterrâneas 24 39 26 33 27 32 29 29 33 29 32 29 24 19 20 20 25

Inventariação e caracterização de origens de água particulares susceptíveis de complementaras origens dos sistemas públicos

18 18 18 21 19 23 30 24 32 20 28 25 17 18 13 14 17

Outras medidas 5 12 5 9 10 11 11 9 12 10 - 5 7 - - 1 -

Reactivação de antigos furos 25 30 19 34 32 36 41 44 44 42 49 46 34 26 18 19 23

Redução de lavagens de ruas 20 45 34 43 36 47 54 59 58 58 57 50 41 35 25 28 30

Redução de regas de jardins públicos e similares

46 64 65 86 78 85 98 95 98 90 94 86 75 53 37 41 49

Reforço da fiscalização da lavagem de viaturas na via pública

11 19 20 23 21 29 27 28 29 29 28 26 23 23 12 12 15

Reforço da fiscalização de captações particulares ilegais

8 20 15 24 25 27 26 25 26 24 24 23 24 19 14 19 20

Reforço da fiscalização nas áreas de protecção às captações

17 27 20 26 26 26 33 28 32 29 27 26 26 21 16 19 21

Agravamentos tarifários 3 4 3 2 1 1 2 3 1 3 1 2 1 2 1 1 2

Aquisição de material destinado a abastecimento de emergência

9 16 13 18 16 18 18 17 28 22 21 26 19 15 11 10 16

Colocação de reservatórios de água para uso da população

5 6 9 11 10 6 14 12 13 10 12 13 9 9 9 9 10

Consignação de dotações para usos específicos

2 3 1 3 1 2 1 2 3 5 6 4 4 3 1 1 4

Recarga de pontos de água de apoio ao combate a incêndios florestais

7 13 11 15 12 18 14 17 20 15 13 15 11 12 7 7 8

Redução da pressão na rede pública de abastecimento

2 4 2 4 5 7 10 12 14 17 17 16 12 11 6 5 5

Reforço do sistema de análises e tratamento da qualidade água para consumo humano

22 37 32 39 35 35 41 43 48 44 43 40 34 26 21 25 33

Encerramento de piscinas municipais - - - 2 2 2 3 6 8 15 16 20 13 6 7 6 6

Pedido de declaração de calamidade pública

- - - - - - - 1 1 - - 1 - - - - 1

Requisição de águas privadas por interesse público

- 6 5 4 4 4 7 6 9 10 8 10 11 5 4 4 5

Requisição de águas públicas por interesse público

- 1 1 2 2 4 3 3 4 4 4 3 4 2 2 2 2

58

p p

4

34

6350

4132

20 2519 20 16 14

816

1

5

48

50

5156

70 65

59 5856

45

27

42

12

10

1630

3450 44 46 66

60

56

51

19

16

0

20

40

60

80

100

120

140

160

15 Mar 15 Abr 15 Mai 15 Jun 30 Jun 15 Jul 31 Jul 15 Ago 31 Ago 15 Set 30 Set 31 Out 30 Nov 31 Dez

Núm

ero

de C

once

lhos

Concelhos com medidas de nível 2 implementadas Concelhos com medidas de nível 3 implementadasConcelhos com reforço do abastecimento por auto-tanque

Figura 23– Número de concelhos com medidas especiais implementadas

Com base nos dados fornecidos pelos Municípios constatou-se que a situação de seca foi integrada nas acções de gestão corrente, razão pela qual o abastecimento para consumo humano foi garantido, quer em termos quantitativos, quer em termos qualitativos. O esgotamento de furos, reduções nos períodos de abastecimento ou a necessidade de abastecimento por vias alternativas (autotanques) afectou assim reduzidas percentagens da população graças a um acrescido esforço desenvolvido pelas Autarquias. Em relação ao apoio financeiro, foram celebrados, em 2005, os Acordos de Colaboração referentes aos municípios de Alandroal, Alcácer do Sal, Almodôvar, Arouca, Arraiolos, Beja, Bragança, Castro Verde, Mértola, Moura, Nisa, Odemira, Ourique, Serpa e Vale de Cambra. A comparticipação da Administração Central ascende a cerca de 1.680.000,00 Euros, tendo sido pago o montante de 632.986,00 Euros. Destes Acordos, já foram encerrados os de Bragança e Arouca uma vez que tiveram uma taxa de execução financeira de 100%. O Acordo de Vale de Cambra só teve uma taxa de execução de 70%. O apoio financeiro referente aos Acordos celebrados incidiu sobre um investimento global de cerca de 3,3 milhões de Euros. O apoio financeiro, referente aos pedidos aprovados e submetidos para aprovação, incide sobre um investimento global que ascende a cerca de 7 milhões de Euros. Constata-se, contudo, que as disponibilidades financeiras dos diversos organismos da Administração não permitem satisfazer a maior parte das solicitações até ao momento apresentadas. Entretanto, para além dos novos pedidos já referidos anteriormente (Tarouca, Penedono, Sever do Vouga, Penalva do Castelo, Celorico da Beira, Caldas da Rainha, Porto de Mós, Montemor-o-Novo, Estremoz e Monchique), surgiram nos últimos dias mais pedidos referentes aos Municípios de Carrazeda de Ansiães (Norte), Aveiro (Centro), Abrantes (LVT) e Nisa (Alentejo). Estes pedidos, cujo montante referente ao investimento global totaliza aproximadamente 3,4 milhões de Euros, ainda não foram submetidos a aprovação. O apoio técnico foi prestado a 34 Câmaras Municipais (tabela 11) e o apoio financeiro a 15 Câmaras Municipais.

59

Tabela 11 – Apoio técnico às entidades gestoras do abastecimento urbano

Autarquia Data de Pedido Tipo de apoio solicitado Tipo de apoio prestado Entidade que

presta o apoio Ponto de situação do apoio

Alijó Outubro/05 Apoio Técnico para reforço do abastecimento ao concelho

Levantamento das necessidades, reconhecimento de campo e

proposta de alguns locais para furos pesquisa e eventual

captação de água

INAG

Iniciado estudo hidrogeológico para reforço do abastecimento de água e elaboração do caderno de

encargos para os furos de pesquisa e eventual captação

Baião Março/05 Apoio Técnico e Financeiro para novas captações Esclarecimentos técnicos CCDR Norte Situação resolvida

Bragança Fevereiro/05

Apoio para marcação de furos e soluções técnicas para melhorar as captações

desactivadas

Dado o apoio técnico solicitado, nomeadamente no reforço da

ligação de Veiguinhas ao sistema adutor da cidade

CCDR Norte As intervenções estão em curso e em fase conclusão

Mesão Frio Março/05 Apoio Financeiro Encaminhamento do pedido CCDR Norte Situação resolvida

Oliveira de Azeméis Maio/05

Pesquisas de origens para abastecimento da zona Sul do

Concelho A autarquia ultrapassou a questão -

A autarquia encontra-se presentemente a resolver a

questão

Penedono Março/05 Apoio técnico para a abertura de furos e apoio financeiro

para a construção de adutoras

Acompanhamento da execução de furos.

Apoio à candidatura ao POR CCDR Norte O apoio já foi dado

Sabrosa Maio/05

Marcação de locais para furos e possíveis alternativas de

reforço de abastecimento para algumas freguesias –

especialmente a Sul concelho.

Contactos com os Concelhos de Vila Real e Alijó para eventual disponibilidade de água para reforço dos sistemas pontuais (transporte por autotanque)

CCDR Norte

A autarquia encontra-se presentemente a fazer pesquisas;

caso resulte, a situação fica ultrapassada; caso contrário, o

apoio técnico será dado pela CCDR

Vale de Cambra Março/05 Apoio Técnico e Financeiro para novas captações

Acompanhamento da execução de furos. CCDR Norte O apoio já foi dado

Vila Flor Carrazeda de

Ansiães Maio/05

Apoio na definição de soluções de reforço de caudal às duas

autarquias

Antecipar o aproveitamento de volumes armazenados na

ensecadeira de Valtorno (Vila Flôr) para reforço de aldeias das 2

autarquias

CCDR Norte INAG

A solução não foi preconizada

Vila Flor Outubro/05

Apoio Técnico para reforço do abastecimento ao concelho

Levantamento das necessidades, reconhecimento de campo e

proposta de alguns locais para furos pesquisa e eventual

captação de água

INAG

Iniciado estudo hidrogeológico para reforço do abastecimento de água e elaboração do caderno de

encargos para os furos de pesquisa e eventual captação

Vinhais Março/05 Construção de reservatórios Foi prestado o apoio técnico CCDR Norte

INAG O apoio já foi dado

Águeda Agosto/05 Apoio técnico Ida ao local CCDR Centro O apoio já foi dado

Almeida - Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Anadia Junho/05 Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Aveiro - Técnico/Financeiro Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Batalha - Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Carregal do Sal Abril/05 Técnico/Financeiro Apoio para execução de projecto de açude

INAG CCDR Centro

O apoio já foi dado

Castro D’Aire Setembro/05 Marcação de locais para furos Identificação do local CCDR Centro Apoio dado em Outubro 2005

Figueira da Foz Julho/05 Execução de novo furo para substituição de um outro que

colapsou

Ida ao local e acompanhamento da execução dos furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Góis Julho/05 Verificação do caudal – Barragem do Alto Ceira

Ida ao local para medição de caudal CCDR Centro O apoio já foi dado

Mealhada Maio/05 Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Miranda do Corvo Junho/05 Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Montemor-o-Velho Junho/05 Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Porto de Mós Agosto/05 Execução de novo furo para substituição de um outro que

colapsou

Ida ao local e acompanhamento da execução dos furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Sertã Agosto/05 Execução de novo furo Análise de relatório e recolha de informação CCDR Centro Apoio dado em Setembro 2005

Soure - Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Vouzela

- Técnico Marcação de furos CCDR Centro O apoio já foi dado

Serpa Março/05 Apoio Técnico e Financeiro

para reforço do abastecimento a 5 povoações

Indicação dos locais para efectuar os furos e acompanhamento na

execução dos mesmos INAG

Concluída em Julho 2005 a campanha de captações de reforço

ao concelho

Alcácer do Sal Abril/05 Apoio Técnico e Financeiro

para reforço do abastecimento a 6 povoações

Definidas localizações para furos de pesquisa de reforço ao

abastecimento INAG Aguarda-se que a entidade

adjudique os trabalhos

Alandroal Junho/05 Apoio Técnico e Financeiro

para reforço do abastecimento a 1 povoação

Definidas localizações para furos de pesquisa de reforço ao

abastecimento e acompanhamento na execução

dos furos

INAG

Concluída em Setembro 2005 a campanha de captações para reforço do abastecimento ao

concelho

Ferreira do Alentejo Junho/05

Apoio Técnico e Financeiro para reforço do abastecimento

a 2 povoações

Definidas as localizações para furos de pesquisa de reforço a Ferreira do Alentejo e Odivelas

INAG Aguarda-se que a entidade adjudique os trabalhos

Mértola Maio/05 Apoio Técnico e Financeiro

para reforço do abastecimento a 17 povoações

Indicação dos locais para efectuar os furos e execução dos mesmos

com a sonda do INAG INAG

Executados furos para reforço do abastecimento a 10 povoações do

concelho

60

Autarquia Data de Pedido Tipo de apoio solicitado Tipo de apoio prestado Entidade que

presta o apoio Ponto de situação do apoio

Montemor-o-Novo Junho/05

Apoio Técnico e Financeiro para reforço do abastecimento

a 6 povoações

Definidas localizações para furos de pesquisa de reforço ao

abastecimento e acompanhamento na execução

dos furos

INAG

Executados a maioria dos furos, falta executar furos para reforço do

abastecimento a 1 povoação devido a dificuldades no acesso

Arraiolos Junho/05 Apoio Técnico para reforço do abastecimento a 1 povoação

Definidas localizações para furos de pesquisa de reforço ao

abastecimento e acompanhamento na execução

dos furos

INAG Concluído em Agosto 2005 o apoio na execução de furos para reforço

do abastecimento

Sousel Setembro/05 Apoio Técnico para reforço do abastecimento ao concelho

Definidas localizações para furos de pesquisa de reforço ao

abastecimento e programa de trabalhos para recuperação de um

furo

INAG Aguarda-se que a entidade adjudique os trabalhos

Monchique Fevereiro/05 Apoio Técnico: Dois furos para

reforço do abastecimento a Monchique e Marmelete

Indicação do local para efectuar 2 furos de pesquisa CCDR Algarve O apoio foi dado em Junho 2005

Abril/05 Utilização do furo efectuado pela CCDR Algarve em 1996

Autorização da utilização pretendida CCDR Algarve O apoio foi dado em Junho 2005

Aljezur Junho/05 (pedido informal)

Apoio Técnico: Preparação do caderno de encargos e marcação de dois furos

Ajuda na execução do caderno de encargos e marcação de 2 furos CCDR Algarve Apoio dado em 29 de Julho

Loulé Junho/05 (pedido informal)

Apoio Técnico: novo furo em Salir

Indicação do local do novo furo de pesquisa CCDR Algarve O apoio foi dado em Julho 2005

Barlavento Algarvio

(Vila do Bispo, Silves, Portimão, Lagoa, Lagos e

Albufeira)

Junho/05 Apoio Técnico e Financeiro Origens alternativas de água que permitam reduzir as extracções do

aquífero Querença-Silves

CCDR Algarve, Aguas do Algarve, IRAR, Autoridades

de Saúde

Soluções em fase de implementação

A face mais visível da actuação do Sistema Nacional de Protecção Civil e do Sistema de Socorro e Luta Contra Incêndios foi a utilização de viaturas auto-tanque das autarquias e dos corpos de bombeiros, para apoio ao abastecimento público de água, na maior parte dos casos a aglomerados de pequenas dimensões do interior do país, geralmente servidos por origens de água subterrâneas ou não dotados de sistemas públicos de abastecimento. As viaturas auto-tanque realizaram o transporte de água intra e extra-concelhio, reforçando a distribuição de água através do enchimento de reservatórios municipais ou de cisternas de emergência colocadas nas localidades. A outro nível, é também de notar que o SNBPC esteve envolvido em diversas acções de sensibilização e informação à população, procurando alertar para a necessidade de poupança e uso racional da água. De entre as acções tomadas, destacam-se: ► utilização do sítio do SNBPC na internet tanto para a divulgação de medidas de

sensibilização para a poupança de água, como para a publicitação de campanhas realizadas pelas Câmaras Municipais, entidades gestoras dos sistemas de abastecimento público de água e Comissão para a Seca;

► distribuição, a nível nacional, de folhetos de sensibilização para a poupança de água, destinados à população em geral e à população em idade escolar;

► inclusão de mensagens de sensibilização em pacotes de açúcar e respectiva distribuição nacional em estabelecimentos de restauração e similares de todo o país;

► inserção de mensagens sobre poupança de água nas edições de três jornais diários de expressão nacional ao longo de quatro meses (de Junho a Setembro, inclusive).

Entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2005, os meios dos corpos de bombeiros foram mobilizados para um total de 22.853 operações de abastecimento de água, valor que é superior ao registado nos anos de 2004 (13.089) ou 2003 (11.710). As

61

solicitações registadas pelos corpos de bombeiros corresponderam a uma média diária de 65 abastecimentos, representando um crescimento na ordem dos 75% face ao ano anterior, onde a média diária foi de 36 abastecimentos.

0

500

1000

1500

2000

2500

01 a 15Jan

16 a 31Jan

01 a 14Fev

15 a 28Fev

01 a 15Mar

16 a 31Mar

01 a 15Abr

16 a 30Abr

01 a 15Mai

16 a 31Mai

01 a 15Jun

16 a 30Jun

01 a 15Jul

16 a 31Jul

01 a 15Ago

16 a 31Ago

01 a 15Set

16 a 30Set

01 a 15Out

16 a 31Out

01 a 15Nov

16 a 31Nov

01 a 15Dez

16 a 31Dez

Período

Figura 24 – Evolução das operações de abastecimento de água realizadas pelos corpos de bombeiros

Os problemas decorrentes da seca assumiram particular gravidade na região do Algarve. As medidas tomadas são descritas nos parágrafos seguintes. No que respeita ao episódio com a biomassa piscícola, na albufeira da Bravura, foi possível continuar a assegurar o tratamento da água com o respeito de todos os parâmetros de qualidade, tendo sido promovida a remoção dos peixes mortos e dos peixes em excesso. Igualmente, as proliferações de cianobactérias nas albufeiras de Beliche e de Odeleite não atingiram níveis que levassem à intratabilidade da água bruta, face à capacidade de tratamento instalada, e a água tratada continuou a respeitar todos os parâmetros, embora com custos acrescidos de reagentes. Também no que respeita à água proveniente do volume morto da albufeira do Funcho, com qualidade em progressiva degradação, foi possível assegurar o respectivo tratamento, através da mistura com a água bruta do aquífero Querença-Silves. Assim, ainda que a seca tenha tido um impacto grande ao nível da qualidade da água, não foi o mesmo impeditivo da continuação da prestação de um serviço "em alta" de qualidade. As consequências mais sérias da seca, para o sistema multimunicipal, registaram-se sim ao nível da quantidade. A primeira origem a aproximar-se do esgotamento foi a albufeira do Funcho. Assim, foi decidido pela Comissão de Gestão de Albufeiras disponibilizar os 6 hm3 finais em partes iguais aos dois consumidores, a agricultura e o abastecimento público. Deste modo, a contribuição do Funcho para o abastecimento no ano de 2005 foi quase

62

insignificante face à que lhe caberia em situação normal, da ordem dos 17 a 20 hm3/ano, tendo já em anos anteriores sido atingidos os 23 a 25 hm3. Com a constatação, em Junho, de que os níveis nas albufeiras de Beliche e Odeleite estavam preocupantemente baixos, foi decidido pela Comissão para a Seca 2005, com efeitos a partir do início de Julho, que deveria verificar-se uma redução do consumo de 20% para o abastecimento público e de 30% para a rega, face aos consumos expectáveis em situação normal. Esta determinação veio a ser cumprida por ambas as partes. No que respeita ao aquífero Querença-Silves, os furos de Vale da Vila, em exploração pela Águas do Algarve como referido anteriormente cerca de 500 l/s, e a empresa preparava-se para ampliar a extracção no aquífero, através da construção de novo campo de furos, na zona de Benaciate, para fazer face ao défice nas outras origens e à inexistência da barragem de Odelouca. A Comissão para a Seca 2005 entendeu que não era viável uma imposição eficaz de restrições ao uso aos inúmeros utilizadores particulares, legais ou ilegais, e assim, num primeiro momento, em Maio, determinou que o recurso aos novos furos de Benaciate teria de ser adiado, não podendo ocorrer durante o período de seca. Num segundo momento, em Junho, com base nos elementos antes referidos, a comissão decidiu que a extracção nos furos de Vale da Vila deveria sofrer uma redução de 50%, a qual foi de seguida implementada pela Águas do Algarve. Face às restrições em todas as suas origens, gravosas e simultâneas, e face à inexistência da albufeira de Odelouca, a Águas do Algarve não pode cumprir os seus compromissos perante os Municípios seus utilizadores (e accionistas). Assim, acordou com os mesmos a reactivação de uma série de furos municipais, inactivos desde o arranque do sistema multimunicipal. Estes furos situam-se, em geral, em aquíferos de menor qualidade, mas que tinham sido menos explorados nos últimos anos e registavam, portanto, volumes disponíveis comparativamente elevados. Não houve assim solução possível sem sacrificar a qualidade da água fornecida, problema em todo o caso minimizado pelo facto de a Águas do Algarve continuar ainda assim a fornecer um caudal não desprezável. Com esta solução, que constituiu a única viável, foi possível ultrapassar o Verão sem a imposição de cortes de abastecimento às populações. Do lado do consumo final, a Águas do Algarve lançou, a partir de Março e até final de Setembro, uma campanha de sensibilização em todo o Algarve, apelando à poupança da água nas suas múltiplas vertentes. Os Municípios do Algarve tiveram um papel muito activo nesta tentativa de consciencialização da população para a necessidade de reduzir o consumo, e deram o exemplo através da contenção de consumos, nomeadamente pelo fecho de piscinas municipais, redução de regas de jardins, lavagens de ruas, etc.

63

Entretanto, para além de pôr em prática as alternativas constantes dos cenários mais pessimistas do seu Plano de Contingência, a Águas do Algarve continuou a desenvolver os estudos que já vinham de trás, com vista à análise aprofundada de todas as soluções de curto prazo, bem como de médio/longo prazo, relativas a origens de água alternativas e correspondentes sistemas de adução, elevação ou tratamento. Com base nestes estudos, a Águas do Algarve veio a apresentar o Plano de Acção para o abastecimento, posteriormente anexado ao relatório quinzenal de 15 de Outubro, da Comissão para a Seca, cujas medidas de curto prazo se encontram em implementação, incluindo o aproveitamento da água recolhida na albufeira formada pela ensecadeira da obra de Odelouca, o aproveitamento do volume morto das albufeiras de Beliche e Odeleite, o reforço da interligação entre Sotavento e Barlavento, e a abertura de furos em Benaciate com vista a dispersar a captação da empresa no aquífero Querença-Silves. Tendo em conta a gravidade muito particular da situação no Algarve, foi decidida a criação de uma Subcomissão para a Seca 2005, específica para o Algarve, com os principais intervenientes no processo ao nível da região, a qual tem desempenhado um importante papel na análise, aprofundamento e divulgação das soluções, e naturalmente na tomada de decisão. No caso da albufeira da Meimoa, não tendo sido possível reduzir o consumo do regadio (em Julho e Agosto consumiram-se, em termos de média mensal, cerca de 3 hm3, sendo apenas 0,1 hm3 a parte respeitante ao consumo público de água), a Águas do Zêzere e Côa teve de desenvolver um sistema para captar a água abaixo do nível mínimo de exploração, através da instalação de uma jangada com um grupo electrobomba. Relativamente à situação de rotura na albufeira do açude de Ponte de Juncais (note-se que o município de Fornos de Algodres integrou o sistema recentemente e há uma série de investimentos por realizar), a Águas do Zêzere e Côa promoveu uma pesquisa de águas subterrâneas com o objectivo de dispor de uma origem alternativa de água, mas os resultados foram pouco satisfatórios. De qualquer forma, um dos furos permite o abastecimento de autotanques, para reforço em situações de ponta. Perante este cenário, o município tem efectuado cortes no abastecimento e promoveu a demolição de algumas represas de água a montante de Ponte de Juncais, de forma a poderem aproveitar-se alguns (poucos) recursos ainda disponíveis. No caso dos sistemas autónomos no concelho do Sabugal, encontrando-se ainda em curso a execução das condutas provenientes da nova ETA do Sabugal, houve que recorrer aos auto-tanques dos bombeiros. Uma vez terminadas as obras o problema estará ultrapassado. No concelho de Manteigas efectuaram-se intervenções de reforço de condutas do sistema municipal para melhorar a capacidade de transporte da água, uma vez que, por problemas provocados pela pressão de serviço, ocorriam faltas de água com alguma frequência.

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Para fazer face à situação nos concelhos da Sertã, Vila Velha de Ródão, Pampilhosa da Serra e Oleiros, a Águas do Centro começou por executar novos furos nas zonas mais carenciadas, o que não constituiu solução, pelo que foi necessário recorrer ao abastecimento através de camiões-cisterna. Apesar da disponibilidade sempre demonstrada pelos bombeiros em efectuar esse transporte, o elevado número de incêndios registados nessas zonas obrigou a empresa a contratar outros serviços, garantindo assim o abastecimento nestes concelhos. No que se refere ao concelho de Idanha-a-Nova, foi necessário desde muito cedo trabalhar em contínuo com as ETA’s da Toulica e da Sr.ª da Graça, o que obviamente se traduziu em custos acrescidos com recursos humanos e com a aquisição de água à associação de regantes, captada no rio Ponsul. Paralelamente a Águas do Centro executou furos em várias localidades no concelho de Idanha-a-Nova e recorreu a barragens particulares, cujos custos não foram alvo de tratamento no presente documento. De salientar que, não obstante o esforço desenvolvido, foi necessário em determinados períodos de tempo efectuar cortes de água na localidade do Orvalho e em algumas localidades do concelho de Idanha-a-Nova. Por seu lado, a Águas do Planalto tomou uma série de medidas com vista à contenção dos consumos (sensibilizando os Municípios e conjugando esforços com eles, e divulgando boas práticas de consumo junto da população) e desenvolveu ou apoiou uma série de medidas operacionais, em coordenação com os Municípios, face à inexistência de alternativas que permitissem uma plena satisfação dos consumidores (redução de pressão nas redes, suspensão por parte das autarquias das regas de jardins e espaços públicos, redução do período de abastecimento em alguns sistemas, nomeadamente no concelho de Tondela, reforço de caudais recorrendo a transporte de água com auto-tanques dos bombeiros, em especial nos concelhos de Tondela, Mortágua e Tábua, reforço dos caudais com recurso a auto-tanques alugados, nomeadamente no sistema que abastece a cidade de Tondela, execução de novos furos e poços para reforço de captações, extensão de redes por forma a transportar água de sistemas sem problemas para sistemas deficitários, reforço da vigilância e controlo analítico). No que respeita à Águas do Vouga, foi solicitado aos Municípios servidos pelo sistema, através da concedente, que procurassem reactivar/recuperar a capacidade produtiva possível, e houve um esforço conjugado com a concedente para a gestão coordenada das disponibilidades e para a efectivação de campanha de divulgação sobre o uso eficiente da água. As acções no terreno incluíram o aumento da capacidade produtiva, face à disponibilidade hídrica do rio, através da reposição e subida da cota do açude provisório a jusante das captações e da sua impermeabilização, bem como da construção de drenos para alargamento da área de captação, com a retirada de areia para aumento da área inundada pela toalha de água e com campanhas de limpeza do leito do rio para incrementar a permeabilidade e transmissividade. O controlo de qualidade foi naturalmente reforçado e conseguiu-se uma gestão conjunta com Aveiro e Ílhavo da capacidade produtiva disponível nas três

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entidades. Não se verificou qualquer restrição no fornecimento de água às zonas servidas pelo sistema. A Águas da Figueira reforçou o seu programa de monitorização de níveis piezométricos e de qualidade da água bruta, e promoveu a diminuição do caudal extraído nos furos onde o rebaixamento foi mais notório, em simultâneo com a realização de um furo de substituição, junto à ETA das Braças, com o apoio técnico da CCDR Centro. Do lado do consumo, a Águas da Figueira colocou uma saída de água tratada proveniente da ETAR urbana para enchimento dos camiões-cisterna pertencentes à edilidade, para rega de alguns espaços públicos, e propôs à Câmara Municipal a redução do consumo de água nas regas de jardins e lavagem de ruas. Além disso, fez múltiplas inserções em todos os jornais locais, sensibilizando a população para o problema da seca e informando das melhores práticas de utilização racional da água. Realça-se que foi assim possível evitar qualquer falha ou restrição no abastecimento de água. Na região Norte foi prestado apoio técnico, entre outros, aos Municípios de Bragança, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Arouca e Vale de Cambra, estes últimos particularmente afectados pelos incêndios, que provocaram a inoperância de múltiplas infra-estruturas. Algumas Autarquias resolveram ou remediaram os problemas através dos seus próprios meios, com recurso a campanhas intensivas de poupança e redução dos períodos de abastecimento, tendo igualmente procedido por sua iniciativa à abertura e pesquisa de novas origens, designadamente furos verticais. Como se constata do conteúdo dos relatórios quinzenais, a situação na Região Norte só não afectou mais população dada a contribuição dos Sistemas Multimunipais em alta do Grande Porto (Águas do Douro e Paiva e Águas do Cávado), que asseguram praticamente os consumos de mais de 70% dos efectivos demográficos da Região. Relevo ainda para o acompanhamento e monitorização da evolução das reservas disponíveis nas albufeiras do Nordeste Transmontano, em articulação com a Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro, justamente as mais vulneráveis aos períodos de seca e estiagem prolongada. Nesse sentido, foi promovida uma reunião a 24 de Outubro, para a avaliação das soluções de mitigação com as Câmaras Municipais de Alijó, Penedono, Carrazeda de Ansiães, Macedo de Cavaleiros, Vila Flor e Alfandega da Fé, conjuntamente com o IDRHa e Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro. Na região Centro foram atendidos todos os pedidos de intervenção e/ou apoio técnico solicitados, quer por particulares, quer por diversos Municípios (Águeda, Almeida, Anadia, Aveiro, Batalha, Carregal do Sal, Castro Daire, Góis, Lousã, Mealhada, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Porto de Mós, Sertã, Soure e Vouzela.) Foi também feito um acompanhamento permanente dos níveis piezométricos de cinco pontos de medição localizados em aquíferos que apresentam problemas de deficit hídrico devido à seca.

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De igual modo foi feito o acompanhamento da qualidade da água superficial em diversas albufeiras (Aguieira, Fagilde, Louçainha-Alfusqueiro, Penha Garcia, Cabril, Corgas, Castelo de Bode-Fundeiro, Sta. Maria de Aguiar, Caldeirão, Meimoa, Capinha e Sabugal). Em alguns casos este acompanhamento tem sido feito com a colaboração das entidades gestoras de sistemas de abastecimento público de água. Aplicou-se o Decreto-Lei n.º 131/2005 com vista ao licenciamento de captações de águas subterrâneas para consumo humano nos concelhos de Sertã, Montemor-o-Velho, Porto de Mós e Miranda do Corvo. Devido ao rebaixamento acentuado dos níveis piezométricos observado no sistema aquífero do Cretácico de Aveiro foi determinada a proibição temporária de emissão de licenças para a execução de novas captações de águas subterrâneas, excepto as destinadas ao abastecimento para consumo humano. Relativamente à captação de águas de superfície foram impostas, nesta região, restrições nas licenças de captações (novas ou já existentes) para fins que não se destinem ao abastecimento público, sobretudo nos cursos de água onde se verificaram caudais muito reduzidos. Relativamente ao licenciamento para captação de águas superficiais foram impostas restrições nas respectivas licenças para fins que não se destinem ao abastecimento público, sobretudo nos cursos de água onde se verificaram caudais muito reduzidos. Na região de Lisboa e Vale do Tejo foi reforçada a monitorização em quatro captações de águas superficiais destinadas ao abastecimento humano (Valada – rio Tejo; Alb. Castelo de Bode; Alb. Negrelinho – Abrantes; Alb. S. Domingos – Peniche), por serem consideradas aquelas onde eventuais alterações na qualidade da água teriam maior influência na vida das populações. Assim, a partir do mês de Abril a frequência de amostragem nestes locais passou de mensal para quinzenal, relativamente a um conjunto seleccionado de parâmetros. Além destes resultados, oportunamente divulgados nos relatórios quinzenais, foi também redobrada a atenção sobre a análise do fitoplâncton, de modo a detectar o eventual desenvolvimento de algas e consequente eutrofização das águas. Nota-se que, à excepção de Valada, todas as outras captações são em albufeiras e portanto sujeitas a um maior risco. Foi ainda reforçado o acompanhamento da evolução do nível nos aquíferos em quatro locais seleccionados, nos sistemas aquíferos da região de Lisboa e Vale do Tejo. Assim, a partir do mês de Abril a frequência de amostragem passou de mensal para quinzenal nas estações de Catapereiro (Benavente), Casal Ramos (Torres Novas), Monte Silvas 01 (Montijo) e Monte Silvas 02 (Montijo). Para efeito de acompanhamento da seca, foi implementada uma rotina suplementar de monitorização quinzenal da qualidade da água de um conjunto de origens de água para abastecimento público, com base na importância e no historial de qualidade das origens, que possibilitaria por analogia identificar tendências na evolução dos parâmetros de qualidade exclusivas da situação de seca.

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As autarquias do Algarve mobilizaram-se, no âmbito da AMAL, na definição de medidas de poupança de água no abastecimento urbano. A fim de diminuir as extracções de água no sistema aquífero Querença-Silves, no início de Julho, os caudais captados nas captações explorados pelas Águas do Algarve foram reduzidos para metade, sendo substituídos pela entrada em funcionamento de captações municipais situadas noutros sistemas aquíferos, que se encontravam em melhor situação quantitativa, apesar de alguns deles apresentarem problemas de qualidade, nomeadamente concentrações elevadas de cloretos. Este processo inicialmente aplicado apenas ao Barlavento, foi alargado ao Sotavento com vista a preservar as origens superficiais de Odeleite-Beliche. Com a reactivação das captações de água subterrânea municipais e por forma a poder fazer frente ao prolongamento do período de seca foi decidido, em Julho, alargar a suspensão do licenciamento de novas captações a outros aquíferos utilizados como origens de água para o abastecimento público. Além das campanhas a nível nacional de sensibilização, no Algarve foi promovida uma campanha específica, envolvendo a Águas do Algarve S.A, CCDR e a Grande Junta Metropolitana do Algarve (AMAL) que por diversos meios e suportes visaram a redução de consumos de água. No mês de Setembro, face à necessidade de equacionar origens de água alternativas para abastecimento público a Aljezur, foi iniciado um estudo que visa determinar a viabilidade de utilização dos excedentes de rega do canal do Rogil, através de recarga do aquífero aluvionar da Várzea de Aljezur. Agricultura De forma a permitir a redução dos consumos de água, de acordo com cada um dos casos concretos foram adoptadas medidas de poupança de água, nomeadamente com a redução de consumos na rega e recomendado o cultivo de culturas menos consumidoras ou outras de ciclos curtos. As restrições adoptadas nas áreas de rega com origens em albufeiras situadas a sul do rio Tejo foram objecto de avaliação e decisão pela Comissão de Gestão de Albufeiras, nas sua reunião plenária em 31 de Janeiro de 2005 e, em Sub-Comissão da Região Sul, em 14 de Fevereiro de 2005. Devido ao facto das campanhas de rega deste ano terem decorrido num período de seca, cada uma das Associações de Beneficiários adoptou um conjunto de medidas de sensibilização para o adequado uso da água, para além das que habitualmente tomam em anos normais, adaptando cada uma delas à especificidade dos respectivos aproveitamentos hidroagrícolas, tendo as mesmas sido divulgadas pelos seus beneficiários da forma que consideraram mais conveniente. No aproveitamento hidroagrícola do Sotavento Algarvio a partir de 1 de Julho foram introduzidas restrições ao consumo de água para rega, tendo-se ainda sensibilizado os regantes para a necessidade de não haverem desperdícios de água de rega e solicitado a reactivação das captações de água subterrânea para rega sempre que

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possível. Neste aproveitamento hidroagrícola com a aplicação das medidas visando a poupança de água para rega, verifica-se uma redução acumulada de 30,0% no consumo de água, no período de 4 de Julho a 31 de Dezembro de 2005, relativamente aos valores acordados em 1 de Julho. A Associação de Beneficiários deu início a 10 de Outubro, a interrupções de três dias no fornecimento de água para a rega, com o objectivo de, caso as condições climáticas não permitam a reposição da água nas albufeiras até ao final do ano, conseguir prolongar o fornecimento, ainda que com interrupções até 31 de Dezembro. Os períodos das interrupções a efectuar foram divulgados pela Associação, através de comunicado aos seus beneficiários. Em virtude de se ter observado no aquífero Luz-Tavira uma considerável recu-peração dos níveis freáticos, foi aconselhável que se recorresse à utilização deste aquífero como origem de água para o aproveitamento hidroagrícola do Sotavento Algarvio (AHSA) até ao limite de 5 hm3/ano. Tal volume de água só poderá ser retirado através da construção de furos de captação, os quais seriam hidraulica-mente ligados à rede de rega. A concretização destas obras, num prazo de tempo muito curto obriga a um conjunto de acções de projecto e de obra sobrepostas no tempo, pelo que se impõe uma coordenação das actividades necessárias para a sua execução. Especificamente na região do Algarve, além do trabalho desenvolvido pela Direcção Regional de Agricultura do Algarve, foram promovidas algumas acções de sensibilização visando a informação e sensibilização dos agricultores relativamente à problemática da seca e à necessidade de poupança de água. Foi dada particular atenção aos agricultores da zona do aquífero Querença-Silves. No sector agrícola, foram tomadas as seguintes medidas: I - Designação: Aumento de 60% para 80% do adiantamento dos Prémios à vaca aleitante e prémio especial aos bovinos machos, relativos a 2004. Descrição: Adiantamento de 80% (em vez dos 60% regulamentares) do montante a pagar a título do prémio à manutenção de vacas aleitantes e prémio especial aos bovinos machos, tendo em vista a disponibilização de meios financeiros aos produtores, que lhes permitisse fazer face a dificuldades de tesouraria, resultantes das perdas e dos acréscimos de encargos na alimentação animal, em virtude da seca e restrições à movimentação devidas à Língua Azul. Legislação base: Decisão 2005/496/CE, de 04/03. Beneficiários: Todos os produtores que se candidataram em 2004 ao prémio à Vaca Aleitante e prémio especial aos bovinos machos. II - Designação: Possibilidade de utilização de terras de Set-Aside, para fins de alimentação animal na zona de Língua Azul. Descrição: Derrogação que permite a utilização desde 15 de Janeiro de 2005, das terras que estavam sujeitas a retirada da produção na zona abrangida pelas restrições no âmbito da Língua Azul, para fins de alimentação animal, tendo em vista um aumento da disponibilidade de alimentação forrageira. Legislação base: Decisão 2005/1049/CE, de 07/04.

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Beneficiários: Produtores de pecuária em regime extensivo que tenham obrigação de retirada de terras da produção. Âmbito geográfico: Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo e Algarve. III - Designação: Plano de Contingência Língua Azul. Descrição: O orçamento PIDDAC 2005 da Direcção Geral de Veterinária foi reforçado em cerca de 8 MEuros, para fazer face ao plano de testes e de vacinas implementado, em virtude do impacto económico dos elevados custos associados às medidas de índole sanitária que se previam, constituindo o suporte financeiro dos encargos veterinários previstos no Plano de Contingência da Febre Catarral Ovina - Língua Azul. As dificuldades decorriam também da necessidade de deslocação dos animais por falta de prados e pastagens dentro da zona de vigilância. Legislação base: Despacho Conjunto 624/2005, de 25 Agosto. IV - Designação: Ajuda Nacional aos Produtores de Pecuária em Regime Extensivo (Língua Azul). Descrição: Subvenção financeira a fundo perdido aos produtores pecuários, destinada a compensar os custos adicionais com alimentação, resultantes da escassez de pastagens em virtude de condições climatéricas adversas, bem como restrições à movimentação animal impostas no âmbito do Plano Nacional de Luta e Erradicação da Febre Catarral Ovina. Legislação base: Despacho Normativo n.º 10/2005, de 02/02. Montantes: 30 Euros/fêmea da espécie bovina com mais de 24 meses, 9 Euros/fêmea das espécies ovina e caprina com mais de 12 meses ou que já tenham parido, no máximo de 3 000 Euros/exploração. Comparticipação Nacional: A subvenção não ultrapassou os 15 MEuros. V - Designação: Regimes de excepção das medidas “Indemnizações Compensatórias” e “Medidas Agro-Ambientais”. Descrição: 1 - Devido ao surto de febre catarral ovina, que causou restrições à circulação de animais, um significativo número de beneficiários destas intervenções, viram-se impossibilitados de cumprir os compromissos assumidos, relativamente aos limites do encabeçamento pecuário. Assim, foi previsto um regime de excepção, objecto de Portaria, em que os titulares de unidades de produção situadas nas zonas afectadas pelo surto da febre catarral ovina e cuja densidade pecuária exceda os limites impostos pelos regulamentos de aplicação das referidas intervenções, podem, em alternativa: • manter o cumprimento dos compromissos assumidos, podendo no que respeita

ao encabeçamento ter nas suas unidades de produção um número de cabeças normais, que multiplicado pelo factor 0,5, não ultrapasse as densidades pecuárias a que se comprometeram;

• desistir da ajuda a que se candidataram, devido à impossibilidade de cumprir o compromisso relativo ao encabeçamento, não havendo neste caso lugar à devolução das ajudas.

2 - Atendendo à situação de seca e aos seus efeitos na produção agrícola de acordo com os dados disponíveis, que serão quantificados no final da campanha, reconheceu-se como podendo ser considerada um caso de força maior, dando

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assim abertura à aceitação de derrogações no cumprimento de certas condições estabelecidas para as Medidas Agro-Ambientais. Assim, de acordo com as orientações dadas e perante a ocorrência de um caso de força maior, em que um ou mais compromissos agro-ambientais não são temporariamente respeitados, devem ser diferenciadas as duas seguintes situações: • o beneficiário mantém as condições de acesso e iniciou o cumprimento dos

compromissos, antes de se verificar o caso de força maior; • o beneficiário foi impedido de manter as condições de acesso ou de cumprir os

compromissos assumidos, relativamente a parte ou à totalidade da área ou aos animais devido ao caso de força maior.

Na primeira situação o beneficiário conservará o direito à ajuda na campanha, enquanto na segunda situação, relativamente à área, ou aos animais, para que não foi possível manter as condições de acesso ou cumprir os compromissos, não haverá lugar a pagamento, nem a penalização por quebra dos compromissos assumidos. No âmbito da aplicação da Intervenção “Medidas Agro-Ambientais” foram identificadas, nomeadamente, as seguintes situações provocadas pelas seca, que justificam derrogações ao cumprimento de certas condições de acesso e/ou compromissos constantes na respectiva regulamentação: • insuficiência de pastagem e consequente alteração ou quebra dos níveis de

encabeçamento mínimo nas medidas em que este encabeçamento é obrigatório; • utilização na alimentação de efectivo pecuário do próprio ou de outrém (a partir

de Agosto) de áreas com culturas destinadas à satisfação de outros objectivos; • redução ou ausência de sementeira de culturas anuais de Primavera/Verão; • redução ou ausência de plantação de culturas permanentes de sequeiro ou

regadio; • deficiente desenvolvimento vegetativo em culturas anuais ou permanentes; • impossibilidade de manter os animais. VI - Designação: Aumento de 60% para 80% do adiantamento do Prémio à vaca aleitante, relativo a 2005. Descrição: Adiantamento de 80% (em vez dos 60% regulamentares) do montante a pagar a título do prémio à manutenção de vacas aleitantes, tendo em vista a disponibilização de meios financeiros aos produtores, que lhes permitisse fazer face a dificuldades de tesouraria, resultantes das perdas e dos acréscimos de encargos na alimentação animal, em virtude da seca. Legislação base: Decisão 2005/2850/CE, de 29/07. Beneficiários: Produtores que se candidataram ao prémio à Vaca em Aleitamento em 2005. Montantes: 80% do prémio base – 200 Euros/cabeça. Comparticipação Comunitária: 80% de 79 MEuros. VII - Designação: Antecipação do pagamento dos prémios por ovelha e por cabra e complementar, relativo a 2005. Descrição: Pagamento integral, a partir de 1 de Novembro, do prémio por ovelha e por cabra e do prémio complementar, tendo em vista a disponibilização de meios financeiros aos produtores, que lhes permita fazer face a dificuldades de tesouraria resultantes das perdas e dos acréscimos de encargos na alimentação animal, em virtude da seca. Legislação base: Reg. (CE) n.º 1418/2005, da Comissão, de 29/08.

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Beneficiários: Produtores que se candidataram ao prémio por ovelha e por cabra e prémio complementar em 2005. Montantes: 21 Euros/ovelha, 16,8 Euros/cabra, 7 Euros/ovelha e cabra (complementar). Comparticipação Comunitária: 29 MEuros. VIII - Designação: Antecipação do pagamento das ajudas ao leite e produtos lácteos, em 2005. Descrição: Pagamento integral do prémio ao leite e a produtos lácteos, tendo em vista a disponibilização de meios financeiros aos produtores, que lhes permita fazer face a dificuldades de tesouraria resultantes das perdas e dos acréscimos de encargos na alimentação animal, em virtude da seca. Legislação base: Reg. (CE) n.º 1418/2005, da Comissão, de 29/08 Beneficiários: Produtores que se candidataram à Ajuda ao Leite e Produtos Lácteos, em 2005. Montantes: 16,31 Euros/t quota. Comparticipação Comunitária: 45 MEuros. IX - Designação: Antecipação do pagamento do RPU (50%), relativo a 2005. Descrição: Adiantamento de 50% do pagamento único às explorações, tendo em vista a disponibilização de meios financeiros aos produtores, que lhes permita fazer face a dificuldades de tesouraria resultantes das perdas do mau ano agrícola em virtude da seca. Legislação base: Decisão 2005/2850/CE, de 29/07. Beneficiários: Produtores que se candidataram ao Regime de Pagamento Único (RPU) em 2005. X - Designação: Transferência de cereais de intervenção. Descrição: Transferência para Portugal de cereais de stocks de intervenção comunitários, provenientes da Hungria (80 mil toneladas de milho, 80 mil de trigo mole e 40 mil de cevada), de modo a disponibilizá-los em condições vantajosas aos criadores de gado bovino, ovino e caprino, que se viram na impossibilidade de alimentar os efectivos com o recurso às pastagens e forragens, dadas as baixíssimas produtividades verificadas em consequência da seca. Os locais de destino dos cereais serão os silos de Lisboa e de Leixões. Após a colocação dos cereais nos silos, o INGA procede à sua revenda, conforme o procedimento habitual de vendas de intervenção. Legislação base: Reg. (CE) nº 1784/2003, artº 7º, que estabelece a OCM dos Cereais, aprovado em 26 de Maio de 2005; Despacho nº 595/2005, de 19 de Agosto. Beneficiários: As vendas dos cereais de intervenção são dirigidas exclusivamente aos agrupamentos de criadores de gado bovino, ovino e caprino e industriais de rações com as quais aqueles estabeleçam contratos de fornecimento. Comparticipação Comunitária: 60 Euros/t. XI - Designação: Alargamento da possibilidade de utilização de terras de Set-Aside, para fins de alimentação animal a todo o território continental. Descrição: Alargamento à totalidade do território continental da derrogação que permitia, desde 15 de Janeiro de 2005, a utilização das terras que estavam sujeitas

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a retirada da produção. Disponibilização de alimentação forrageira para os produtores das regiões de Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e Beira Litoral. Legislação base: Decisão 2005/1876/CE, de 24/06. XII - Designação: Não penalização por subutilização de direitos ao prémio à vaca aleitante e por ovelha e cabra, em 2005. Descrição: De modo a garantir que eventuais diminuições temporárias de efectivos pecuários, decorrentes da situação de seca, não conduzam à perda de direitos aos prémios por vaca em aleitamento, por ovelha e por cabra, no ano de 2005, não reverte para a reserva nacional a parte de direitos não utilizada pelos produtores, sem prejuízo de outras regras relativas a atribuições de direitos efectuadas a partir da reserva nacional ou da reserva específica. Legislação base: Despacho nº 13921/2005, de 23/06, do MADRP. XIII - Designação: VITIS - Medidas que atenuem as dificuldades de plantação dentro do prazo do programa. Descrição: Apoio à reconversão e reestruturação da Vinha, do Programa VITIS. Prorroga até 31 de Maio de 2006, o prazo final para conclusão dos projectos e possibilita o adiantamento dos pagamentos para os 30 projectos não concluídos até aquele prazo, em virtude das dificuldades originadas pelas condições extremas de seca. Legislação base: Portaria 457/2005, de 02/05. XIV - Designação: Dispensa temporária de pagamento de contribuições à Segurança Social. Descrição: Iniciativa que tende a minimizar os encargos decorrentes do regime de segurança social, face à diminuição de rendimento devida às quebras de produção ou à necessidade de aquisição de meios de produção que permitam continuar em actividade. Legislação base: Decreto Lei nº 115/05, de 14 de Julho; Despacho conjunto do MADRP e MTSS de 20 de Setembro de 2005. Beneficiários: Isenção social, por um período de seis meses, do pagamento de contribuições para a segurança social, para os produtores agrícolas e respectivos cônjuges abrangidos pelo regime de trabalhadores independentes, que, cumulativamente, reunam as seguintes condições: • serem detentores de explorações agrícolas de dimensão económica =<12 UDE; • as explorações situarem-se nas áreas de influência das Direcções Regionais de

Agricultura de Trás-os-Montes, Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo e Algarve, onde as perdas de rendimento, em virtude da grave situação de seca, mais se fizeram sentir;

• terem sofrido quebras de produção de, pelo menos, 20% nas regiões desfavorecidas ou 30% nas restantes regiões, relativamente à produção média dos últimos 3 anos;

• não auferirem de quaisquer outros rendimentos de trabalho ou pensões, para além dos que resultem da sua actividade agrícola;

• terem como base de incidência contributiva montante não superior a duas vezes a remuneração mínima mensal garantida à generalidade dos trabalhadores.

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XV - Designação: Linha de Crédito para Apoio a Obras de Hidráulica Agrícola. Descrição: Constituiu um empréstimo reembolsável, pelo prazo máximo de três anos, pelas instituições de crédito que celebraram protocolo com o IFADAP, no qual era estabelecida uma taxa de juro nominal máxima, e beneficiando de bonificações de 80, 60 e 40%, respectivamente, no 1º, 2º e 3º anos. O objectivo era disponibilizar os meios financeiros necessários aos investimentos destinados a aberturas de furos, poços ou captações similares, com a montagem do respectivo equipamento de bombagem, bem como a aquisição de bebedouros e cisternas, quando comprovadamente necessários ao abeberamento dos animais. Teve em vista garantir ou melhorar as condições de abeberamento dos efectivos pecuários nas regiões mais afectadas pela ausência de chuva. Beneficiários: Pessoas singulares ou colectivas, com explorações agrícolas de bovinos, ovinos e caprinos, em regime extensivo, que estejam localizadas nas áreas de influência das Direcções Regionais de Agricultura de Trás-os-Montes, Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo e Algarve. Legislação base: Decreto-lei nº 95/2005, de 9 de Junho; Comparticipação Nacional: O montante global de crédito não podia exceder os 45 MEuros. XVI - Designação: Linha de Crédito para Alimentação Animal. Descrição: Consistia num empréstimo reembolsável, pelo prazo máximo de um ano, pelas instituições de crédito que celebraram protocolo com o IFADAP, no qual era estabelecida uma taxa de juro nominal máxima, beneficiando de uma bonificação de juros de 100%. O objectivo era compensar os custos acrescidos resultantes da escassez de pastagens e forragens, em virtude das condições climatéricas adversas verificadas desde Novembro de 2004. O montante unitário do crédito era de 180 Euros/fêmea espécie bovina com idade superior a 24 meses, 40 Euros/fêmea espécie ovina e caprina com idade superior a 12 meses ou que já tenha parido, e 5 Euros/colmeia registada. Beneficiários: Pessoas singulares ou colectivas, com explorações agrícolas de bovinos, ovinos e caprinos, em regime extensivo, que estejam localizadas nas áreas de influência das Direcções Regionais de Agricultura de Trás-os-Montes, Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo e Algarve. Legislação base: Decreto-lei n.º 94/2005, de 9 de Junho. Comparticipação Nacional: O montante global de crédito não podia exceder os 50 MEuros. XVII - Designação: Linha de Crédito para Apoio ao Sector Horto-frutícola. Descrição: Consistiu num empréstimo reembolsável, pelo prazo máximo é de 1 ano, pelas instituições de crédito que celebraram protocolo com o IFADAP, no qual era estabelecida uma taxa de juro nominal máxima, beneficiando de bonificação de juros de 100%. O Compensar as perdas resultantes das condições climatéricas adversas verificadas desde Novembro de 2004. Beneficiários: Pessoas singulares ou colectivas do sector horto-frutícola que, em consequência da seca, tenham sofrido uma quebra de produção, relativamente à produção normal, igual ou superior a 20% nas regiões desfavorecidas e 30% nas restantes regiões. Por Portaria foram abrangidos os produtores de Batata, no

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Ribatejo e Oeste (concelhos Bombarral, Lourinhã, Óbidos, Peniche, Torres Vedras) e de Citrinos, no Algarve (concelhos Albufeira, Faro, Lagoa, Loulé, Olhão2, Silves e Tavira3). Legislação base: Decreto-lei nº 96/2005, de 9 de Junho, e Portaria nº 559/2005, de 28 de Junho. Comparticipação Nacional: O montante global de crédito não podia exceder 30 MEuros. XVIII – Designação: Dispensa temporária de pagamento de contribuições à Segurança Social. Descrição: Iniciativa que tende a minimizar os encargos decorrentes do regime de segurança social, face à diminuição de rendimento devida às quebras de produção ou à necessidade de aquisição de meios de produção que permitam continuar a actividade. Alargamento às explorações com mais de 12 unidades de dimensão europeia (UDE) e menos de 16 UDE. Prorrogação do prazo de candidatura até dia 30 de Novembro de 2005. Beneficiários: Produtores agrícolas e respectivos cônjuges abrangidos pelo regime de trabalhadores independentes que sejam detentores de explorações agrícolas com uma dimensão superior a 12 UDE e que não ultrapassem as 16 UDE. Legislação base: Decreto-Lei n.º 190/2005, de 4 de Novembro que altera os artigos 2º e 6º do Decreto-Lei n.º 115/2005, de 14 de Julho. XIX – Designação: II Linha de Crédito para Alimentação Animal. Descrição: Linha de Crédito criada para financiamento das entidades do sector pecuário extensivo, criadoras de bovinos, ovinos, caprinos, suínos e equinos, bem como das entidades que se dediquem à apicultura, com vista a compensar os custos acrescidos resultantes da escassez de pastagens e forragens, em virtude de condições climatéricas adversas verificadas desde Novembro de 2004. O montante unitário de crédito é de 180Euros/fêmea das espécies bovina e equina, com idade superior a 24 meses, 40Euros/fêmea espécie ovina e caprina com idade superior a 12 meses ou que já tenha parido, 120Euros/porca reprodutora e 5Euros/colmeia registada. Beneficiários: Pessoas singulares ou colectivas cujas as explorações agrícolas do sector pecuário se dediquem à bovinicultura, ovinicultura, caprinicultura, suinicultura, equinicultura e apicultura e se localizem nas áreas de influência das Direcções Regionais de Agricultura de Trás-os-Montes, Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo e Algarve ou em concelhos afectados por incêndios florestais na área de influência da Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral. Os produtores que já tivessem acedido à anterior linha de crédito, só podiam habilitar-se a esta segunda, se não tivessem atingido o montante a que tinham direito, o qual dependia do efectivo pecuário que detinham. Por Despacho do MADRP, de 4/11/2005 foram abrangidos nesta última região os concelhos: Aguiar da Beira, Alvaiázere, Ansião, Arganil, Batalha (apenas as freguesias de Condeixa-a-Velha, furadouro, Vila Seca, Zambujal e Bem da Fé), Figueiró dos Vinhos, Góis, Leiria (apenas as freguesias de Arrabal e Santa Catarina da Serra), Lousã, Mangualde, Miranda do Corvo, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penalva do

2 Com excepção das explorações agrícolas cujos pomares se encontrem dentro do Aproveitamento Hidroagrícola do Sotavento Algarvio. 3 Com excepção das explorações agrícolas cujos pomares se encontrem dentro do Aproveitamento Hidroagrícola do Sotavento Algarvio.

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Castelo, Penela, Pombal (apenas as freguesias de Vila Cã, São Simão de Litém, Abiúl e Redinha), Porto de Mós, Santa Comba Dão, Sátão, S. Pedro do Sul, Soure (apenas as freguesias de Degracias, Pombalinho e Tapéus), Tábua, Tondela, Vila Nova de Paiva, Vila Nova de Poiares, Viseu e Vouzela. Legislação base: Decreto-Lei n.º 183/2005, de 3 de Novembro que altera os artigos 1º, 2º e 3º do Decreto-Lei n.º 94/2005, de 9 de Junho, e o artigo 3º do Decreto-Lei n.º 95/2005, de 9 de Junho. Comparticipação Nacional: O montante global de crédito não pode exceder os 90 milhões de Euros. O reforço desta linha de crédito deve-se à transferência de 40 milhões de Euros da linha de crédito criada pelo Decreto-Lei n.º 95/2005, de 9 de Junho. XX – Designação: Linha de Crédito para o Sector Horto-frutícola – Inclusão da Maçã, Pêssego, Castanha, Amora e Framboesa. Descrição: Empréstimo reembolsável, pelo prazo máximo de 1 ano, pelas instituições de crédito que celebram protocolo com o IFADAP, no qual é estabelecida uma taxa de juro nominal máxima, beneficiando de bonificação de juros de 100%. Compensar as quebras anormais de produção de diversas culturas, resultantes das condições climáticas da seca, ao longo do ano de 2005, apenas quantificáveis com rigor, na época própria de produção de acordo com os calendários normais de campanha. Montantes unitários estabelecidos: 4 104.54 Euros por hectare para a cultura da maçã, 3 247.13 Euros por hectare para a cultura do pêssego, 467.96 Euros por hectare para a cultura da castanha e 7 506.57 Euros para as culturas da amora e da framboesa. Beneficiários: Pessoas singulares ou colectivas do sector Horto-frutícola que, em consequência da seca, tenham sofrido quebras anormais de produção em diversas culturas. Por alteração de Portaria, foram abrangidos os produtores de Maçã, em Trás-os-montes (concelhos Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Lamego, Mogadouro, Moimenta da Beira, Murça, Penedono, Peso da Régua, S. João da Pesqueira, Sabrosa, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca, Valpaços, Vila Flor e VilaReal), na Beira Interior (concelhos de Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Figueira de Castelo Rodrigo, Fundão, Gouveia, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia e Trancoso) e na Beira Litoral (Aguiar da Beira, Batalha, Carregal do Sal, Castro Daire, Leiria, Mangualde, Marinha Grande, Nelas, Penalva do Castelo, Pombal, Porto de Mós, Santa Comba Dão, S. Pedro do Sul, Sátão, Soure, Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu e Vouzela); os produtores de Castanha, em Trás os Montes (concelhos de Alfândega da Fé, Alijó, Armamar, Bragança, Chaves, Lamego, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Moimenta da Beira, Murça, Penedono, S. João da Pesqueira, Sernencelhe, Tabuaço, Tarouca, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real, Vimioso e Vinhais); os produtores de Pêssego, na Beira Interior (concelhos de Belmonte, Castelo Branco, Covilhã e Fundão), em Trás-os-montes (concelhos de Lamego, Mirandela, Valpaços e Vila Flor); os produtores de amora e framboesa, na Beira Interior (concelhos de Castelo Branco, Covilhã e Fundão). Legislação base: Alteração do nº 1 do nº 2º e do anexo a que se refere o nº1 da Portaria n.º 559/2005, de 28 de Junho, por forma a nele se incluírem novas culturas e regiões afectadas e por forma a que possam usufruir da linha de crédito criada pelo Decreto-Lei n.º 96/2005, de 9 de Junho.

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Combate a incêndios florestais A ocorrência dos mais elevados níveis do índice de risco de incêndio registados desde 2000, implicaram uma atenção especial dos organismos competentes no domínio da prevenção, vigilância e combate a incêndios florestais, a qual teve como principal consequência a antecipação para 15 de Maio e o prolongamento até 15 de Outubro do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais. Para minimizar os efeitos da diminuição dos planos de água das albufeiras foram adequados os concursos para contratação de meios aéreos de combate a incêndios, tendo-se privilegiado a aquisição de aeronaves passíveis também de enchimento em terra, em detrimento das que apenas utilizam planos de água para essa função. A situação de seca e consequente redução das disponibilidades hídricas condicionou, pontualmente, a utilização, por meios terrestres e aéreos, de pequenos pontos de água de apoio ao combate a incêndios florestais (charcas, tanques, poços e similares), já que alguns deles, especialmente em zonas do interior, se encontraram com reduzido ou nulo volume armazenado. Esta situação justificou um acompanhamento especial dos Serviços Municipais de Protecção Civil, corpos de bombeiros e Comissões Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, tendo alguns Municípios procedido à recarga dos pontos de água localmente considerados estratégicos.~ Biomassa e biodiversidade As medidas tomadas relativamente à minimização dos impactes da actual seca em relação à biomassa piscícola em albufeiras enquadraram-se em duas áreas: i) medidas conducentes à eliminação das práticas que eventualmente promovam a

degradação da qualidade da água das albufeiras e ii) operações de extracção preventiva de biomassa piscícola. Entre as medidas conducentes à eliminação das práticas que eventualmente promovam a degradação da qualidade da água das albufeiras implementadas constaram a: i) interdição da utilização de engodos em algumas albufeiras; ii) não devolução à água de algumas das espécies capturadas durante as provas

de pesca desportiva e iii) abolição do período de defeso de algumas espécies piscícolas nas albufeiras. Relativamente à avaliação da biomassa piscícola, propôs-se a implementação de uma metodologia indirecta para a estimativa da biomassa piscícola presente nas albufeiras. A metodologia adoptada, baseada no nível trófico e em dados não sistemáticos de biomassa piscícola, considerou uma biomassa piscícola de 1 t.ha-1 como limite máximo aconselhável, tendo sido proposta a extracção de peixe em todas as albufeiras em se previa que este valor fosse ultrapassado. Para avaliar em que albufeiras este limiar seria ou não ultrapassado e em que altura, foi necessário o conhecimento da biomassa piscícola total presente na massa de água, assim como da evolução da área inundada.

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Actualmente não existe informação sistemática sobre biomassa piscícola em albufeiras, dado que tradicionalmente o estudo destas massas de água não é prioritário. No entanto, os dados de algumas acções de avaliação de biomassa piscícola já realizadas e o peixe extraído de algumas massas de água durante fenómenos anteriores de mortalidade piscícola ou em capturas associadas a esvaziamentos permitem alguma informação dispersa sobre biomassa piscícola em albufeiras. Esta informação esporádica, associada ao facto da carpa explorar grande parte da produtividade primária do sistema, permite estimar a biomassa piscícola presente em função do nível trófico da albufeira. Foi este o método adoptado para a estimativa da biomassa piscícola, com valores de biomassa associada aos vários níveis tróficos que se apresentam no quadro seguinte.

Tabela 12 - Resumo das operações de extracção de biomassa piscícola

Albufeira Estimativa de Biomassa a

retirar DGRF (kg) Biomassa retirada

(kg) N.º de dias de intervenção

Enxoé ------- 34000 25

Vale de Gaio 30000 64000 22

Roxo 80000 86000 56

Funcho 20000 1100 4

Vigia 20000 22000 20

Lucefecit 10000 11000 12

Campilhas 20000 400 1

Total 180000 218500 140

Uma vez na posse da carga piscícola presente na albufeira foi efectuada a simulação da sua evolução, ou seja, da concentração progressiva da biomassa piscícola no actual episódio de seca, de acordo com a previsão relativamente à evolução das áreas inundadas. Nas albufeiras em que essa carga ultrapassava 1 t.ha-1 foi decidido intervir, sendo o momento da intervenção ditado pelo mês em que o limiar de biomassa era ultrapassado. Relativamente ao valor indicativo para a biomassa a extrair, considerou-se que no fim da época hidrológica as albufeiras não deveriam apresentar uma carga superior ao limite razoável, sendo retirada toda a biomassa piscícola excedentária em relação a essa carga, e considerando as estimativas de evolução da área inundada. Aquando da actuação no Roxo, foram dadas indicações para, além da biomassa indicativa a extrair, conduzir as operações tendo em conta a evolução das taxas de captura. Desde o início do PAMES 2005 a DGRF efectuou uma avaliação grosseira da probabilidade de ocorrência de mortalidade piscícola com base em alguns indicadores.

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Assim, numa fase inicial, e com base: i) no historial de ocorrência de mortalidade piscícola; ii) no nível trófico ou referências existentes a biomassa piscícola elevada; iii) na utilização da água para consumo publico; iv) no nível de redução do armazenamento observado em Abril e v) na dimensão da massa de água, foram pré-seleccionadas pela DGRF as 19 albufeiras para as quais se pretendia aplicar uma metodologia de estimativa da probabilidade de ocorrência de mortalidade piscícola e quantidades de peixe a extrair. Esta pré-selecção foi alargada posteriormente com mais 13 albufeiras. Foram realizadas campanhas de campo com amostragens de ictiofauna que incidiram nos locais considerados prioritários para a conservação deste grupo da fauna na zona norte da bacia do Guadiana (cursos de água: Caia, Arronches, Xévora e Abrilongo), na zona centro (cursos de água: Safareja, Murtigão, Murtega, Pardiela e Álamo) e na zona sul (cursos de água: Carreiras, Vascão, Chança, Vidigão, Cadavais, Foupana e Odeleite). Estas regiões foram prospectadas por três vezes. Foram monitorizados 48 locais e realizadas 67 capturas por meio de pesca eléctrica. Nos pegos de pequenas dimensões foram retiradas as espécies de peixes exóticas com o objectivo de aumentar a taxa de sobrevivência das espécies autóctones. Os peixes retirados foram utilizados como alimento nos centros de recuperação de aves. Em pegos com espécies autóctones sensíveis cujas dimensões sofreram uma grande redução, acrescido do risco de secarem a curto prazo, efectuou-se a translocação de parte destes espécimes para pegos com melhores condições localizados na mesma linha de água. Na ausência de pegos alternativos e apenas para o caso do saramugo optou-se por translocar parte dessas populações para aquário no sentido de possibilitar a sobrevivência ex-situ e posterior libertação nos locais de origem quando as condições hidrológicas o permitirem. Foram transferidos para aquários 30 saramugos da ribeira do Vidigão, 14 do barranco dos Alcaides, 45 da ribeira do Vascão e 5 da ribeira de Safarejo. No mês de Setembro, face ao agravamento da situação de seca dos pegos, foi percorrido a pé todo o troço do rio Caia onde está referenciada a presença de saramugo (Anaecypris hispanica) para fazer o levantamento dos pegos existentes e da sua situação. No Rio Vascão foram percorridos a pé alguns troços com a mesma finalidade. Actividades empresariais As fábricas de celulose e papel localizadas na Região Centro (a sul da Figueira da Foz), que são normalmente abastecidas da parte terminal do canal condutor geral do Baixo Mondego, dependendo a manutenção da sua produção daquele abastecimento, procederam à redução dos consumos de água do açude, recorrendo à bombagem directamente do leito central do rio na estação de St.º Varão, suportando os custos adicionais correspondentes. A SOPORCEL, inteiramente

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dependente da água do Mondego, procurou reduzir os consumos de água não essenciais, e a CELBI ponderou a utilização alternativa de água de poços. Neste contexto, as empresas deste sector continuam a adoptar programas de contenção de consumos de água, dando satisfação ao compromisso oportunamente assumido, dada a permanência da situação de seca, tendo todas as fábricas do sector da pasta e papel lançado campanhas internas adicionais para optimizar a utilização da água, sensibilizando para a necessidade de evitar quaisquer desperdícios. A continuação da situação de seca conduziu ao aumento da salinidade da água dos rios Lima e Vouga, com incidências na qualidade de água de abastecimento, tendo as empresas tomado medidas para minimizar este impacto negativo, designadamente: a) Em termos da intrusão salina no rio Lima, a minimização dos impactos negativos

vem sendo efectuada sincronizando turbinagens de água doce a partir da barragem de Touvedo, de acordo com a hora e altura das marés, de modo a contrariar a subida da maré e consequente progressão da cunha salina.

b) Em relação ao rio Vouga, houve a necessidade de fazer um açude de areia para minimizar o problema da salinidade.

Devido ao rebaixamento acentuado dos níveis piezométricos observado no sistema aquífero do Cretácico de Aveiro foi determinada a proibição temporária de emissão de licenças para a execução de novas captações de águas subterrâneas, excepto as destinadas ao abastecimento para consumo humano. Neste âmbito, foi também imposta às indústrias localizadas nos concelhos que abrangem este aquífero a obrigatoriedade da instalação de contadores e o envio mensal dos volumes de água captados. A CCDRAlgarve promoveu diversas reuniões com associações e grupos empresariais do sector do turismo com vista à informação sobre a situação de seca e, principalmente, à sensibilização para a necessidade imperiosa de serem adoptadas medidas de poupança de água, tendo sido distribuída uma matriz para recolha de informação sobre a sua implementação, tendo sido obtido elementos de 15 empreendimentos. De salientar que foi dado especial atenção ao sector do turismo com a edição de um “flyer” específico cuja divulgação e distribuição contou com o envolvimento da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

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A estrutura organizacional criada para a Seca 2005 teve como finalidade minimizar os efeitos sociais, ambientais e também económicos, pelo que os custos directos inerentes desta operacionalização deverão ser socialmente assumidos como obrigação da Administração e não contabilizados enquanto custos gerais. O montante total dos custos sectoriais da seca apurado a partir das informações prestadas por 6 entidades do Secretariado ascende a 286 205 800€ (16 210 000€ multimunicipais e intermunicipais + 7 000 000€ Municípios, em abastecimento urbano; 39 000 000€ na agricultura; 697 864€ em sensibilização; 8 760 000€ no combate a incêndios florestais; 285 800€ na extracção de biomassa; 182 000 000€, sem contabilizar os custos associados às emissões de CO2, na produção de energia; 30 000 000€ na indústria de pasta e papel; 2 250 000€ na indústria de adubos) Abastecimento urbano A despesa avaliada pelos Municípios e envolvida na mitigação dos efeitos da Seca e para a qual foi solicitado apoio financeiro da Administração Central ascende a cerca de 7,0 milhões de Euros. Esta despesa representa apenas o custo financeiro directamente envolvido na resolução imediata do fornecimento de água e na garantia da sua qualidade para consumo humano. Foram celebrados, em 2005, os Acordos de Colaboração referentes aos municípios de Alandroal, Alcácer do Sal, Almodôvar, Arouca, Arraiolos, Beja, Bragança, Castro Verde, Mértola, Moura, Nisa, Odemira, Ourique, Serpa e Vale de Cambra. A comparticipação da Administração Central ascende a cerca de 1.680.000,00 Euros, tendo sido pago o montante de 632.986,00 Euros. Destes Acordos, já foram encerrados os de Bragança e Arouca uma vez que tiveram uma taxa de execução financeira de 100%. O Acordo de Vale de Cambra só teve uma taxa de execução de 70%. O apoio financeiro referente aos Acordos celebrados incidiu sobre um investimento global de cerca de 3,3 milhões de Euros. Para além dos Acordos de Colaboração acima referidos, existem mais pedidos de apoio financeiro, surgidos posteriormente, que não puderam ser submetidos para aprovação, no âmbito da Seca 2005, devido a limitações financeiras da Administração Central. Nesta situação encontram-se os pedidos dos municípios de Abrantes, Aljezur, Caldas da Rainha, Carrazeda de Ansiães, Carregal do Sal, Celorico da Beira, Estremoz, Lamego, Miranda do Corvo, Monchique, Montemor-o-Novo, Penalva do Castelo, Penedono, Porto de Mós, Sever do Vouga e Tarouca. O montante do investimento global, referente a estes últimos pedidos, totaliza, aproximadamente, 3 milhões de Euros. Do montante total envolvido corresponde a despesas relativas a 31 Municípios, localizando-se 14 na zona de jurisdição da CCDR Alentejo.

CUSTOS GERAIS E CUSTOS SECTORIAIS DA SECA

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Os custos das acções de sensibilização promovidos a nível nacional e distrital (produção e distribuição de folhetos de sensibilização; realização de campanhas) e participação em acções de sensibilização diversas ascenderam a 575 972 Euros para a Campanha nacional, e 121 892 Euros para a Campanha algarvia, totalizando cerca de 697 874 Euros. Agricultura Nos aproveitamentos hidroagrícolas onde se verificaram restrições ao fornecimento de água para rega, dado que as entidades gestoras têm de continuar a assegurar a gestão, exploração e conservação das infraestruturas, os encargos fixos mantêm-se na sua maioria em período de seca, o que tem implicações no cumprimento dos respectivos orçamentos anuais, porque, nomeadamente, no ano seguinte se a situação se normalizar, terá de ser assegurada a distribuição de água aos regantes e outros utilizadores. Os encargos de 39 milhões de Euros suportados pelo MADRP na agricultura correspondem à estimativa de: ► Bonificações dos juros das linhas de crédito - 7 milhões de Euros ► Cereais de intervenção - 5 milhões de Euros ► Ajuda Nacional aos Produtores de Pecuária em Regime Extensivo - 15 milhões

de Euros ► Isenção Pagamento à Segurança Social - 12 milhões de Euros A extracção do peixe morto das três albufeiras onde tal facto ocorreu, desenvolveram-se com a mobilização de meios humanos e materiais disponibilizados pelas diferentes entidades que se envolveram nas operações realizadas em cada uma delas. Combate a incêndios florestais Os encargos relacionados com a antecipação e prolongamento do período de funcionamento do Dispositivo de Combate a Incêndios Florestais tiveram um acréscimo de custos durante o período crítico de 8 760 000 Euros. Biomassa e Biodiversidade Os encargos tidos com a extracção de biomassa das albufeiras foram de 285 800 Euros, assim descriminados:

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Tabela 13 - Resumo dos custos das operações de extracção de biomassa piscícola

Albufeira Custo total estimado (€)

Enxoé 44200

Vale de Gaio 83200

Roxo 111800

Funcho 3300

Vigia 28600

Lucefecit 14300

Campilhas 400

Total 285800

Produção de energia A maior preocupação resultante da seca reside no facto do “mix” da produção ficar fortemente dependente de combustíveis fósseis, para compensar a quebra das centrais hídricas. Esse impacte, relativamente ao ano hidrológico é neste momento de 133,5 MEuros (106 €), estimando-se que atinja, até final do ano civil, 182 MEuros (106 €), sem contabilizar os custos associados às emissões de CO2. O impacte dos custos associados às emissões de CO2 será mais visível no final de 2007, ou seja, quando se fizer o balanço sobre as emissões do conjunto das instalações do Sistema Electroprodutor Português (SEP) e se este ultrapassar o valor das licenças anuais previstas no PNALE. Considerando o preço das Licenças de Emissão entre 20-25 Euros, teremos:

► Regime hidrológico médio – 0.70 a 0.10 Mt CO2 que corresponde a um prejuízo entre 14 e 17 Milhões Euros.

► Regime seco de referência – 1,52 a 1,16 Mt CO2 que corresponde a um prejuízo entre 30.4 e 38 Milhões Euros.

A situação de excedência relativamente ao quantitativo previsto no PNALE será ainda mais significativa, caso se verifique a manutenção do regime seco no próximo ano. Actividades empresariais Nas actividades empresariais do sector dos produtos químicos, é paradigmático o caso de uma empresa que evidencia que a principal consequência da presente situação de seca, para as suas actividades, se traduz num importante acréscimo de custos no abastecimento de água de boa qualidade para os seus processos produtivos, já que a sua principal captação de água doce, sita no Carregado (Tejo), acusa elevados teores de salinidade, impróprios para o fim a que se destina, obrigando a empresa a recorrer a outras fontes de abastecimento a custo significativamente mais elevado (30 a 40 vezes). Este facto traduz-se directamente num aumento preocupante dos seus custos de exploração.

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No que se refere ao impacto da seca no eucaliptal nacional, principal matéria-prima da indústria de pasta e papel em Portugal, estima-se que a perda de crescimento atribuível à falta de precipitação assuma neste momento valores aproximados de 25% do crescimento potencial do ano, equivalentes a cerca de 30 milhões de Euros, sendo esta estimativa feita em relação ao que seria o crescimento potencial do eucaliptal nacional num ano com níveis de precipitação normais. Dada a plurianualidade da produção de eucalipto, estas perdas poderão vir a ser confirmadas, minoradas ou majoradas, dependendo entre outros factores do perfil de pluviosidade dos próximos anos. Enquanto existe certeza relativamente às perdas nos eucaliptais perto da idade de corte, onde a perda de crescimento é segura (não há tempo para recuperar qualquer crescimento em anos de maior pluviosidade), existe alguma incerteza quanto mais longe estejam os povoamentos do corte. Estes factores são, obviamente, da maior gravidade para um sector estruturante para a economia nacional como é a pasta e o papel, uma vez que este sector, em conjunto com as restantes indústrias florestais, assume uma importância significativa em termos do emprego, PIB nacional, PIB industrial e exportações. Os prejuízos decorrentes da quebra de vendas de adubos por motivo da seca atingem os 2,25 MEuros, tendo como referência os primeiros cinco meses de 2005. Dadas as restrições e carência de água no Vale do Sado, a produção de arroz nacional teve um decréscimo de cerca de 20%, devido à baixa de 50% da produção no Vale do Sado. Esta situação fez subir o preço da matéria-prima nacional e aumentou as necessidades de importações de arroz em casca da UE e de países terceiros. Os industriais deste sector manifestaram em tempo oportuno a sua preocupação com os aumentos dos preços da matéria-prima, devido aos graves constrangimentos que têm sofrido a jusante com a moderna distribuição e a consequente quebra de margens comerciais.

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Âmbito geral No capítulo referente aos principais problemas provocados pela seca foram identificados os que, de forma resumida, a seguir se apresentam: ► Inexistência de um sistema pré-estabelecido de gestão de situações de seca

consubstanciada num modelo organizacional específico para esta situação particular;

► Insuficiência de indicadores de acompanhamento e distribuição espacial da severidade da seca quanto aos efeitos sobre as actividades humanas;

► Desequilíbrio significativo entre os diversos níveis de mobilização das diversas organizações da Administração, associativas e das actividades económicas e das respectivas capacidades de intervenção;

► Ausência de preparação de algumas entidades gestoras dos sistemas de abastecimento de água, quer urbano quer de rega e de abeberamento de gado, para situações de seca, demonstrado pela generalizada ausência de planos de contingência;

► Insuficiência de conhecimento sistematizado e actualizado da intensidade espacial e temporal das utilizações que podem ser afectadas por falta de precipitação e/ou de água nas origens;

► Desconhecimento dos efeitos da redução de consumos das campanhas de sensibilização;

► Informação muito limitada sobre as disponibilidades quantitativas e respectiva qualidade de algumas origens de água com particular relevo para as águas subterrâneas;

► Informação muito insuficiente sobre as utilizações da água para os diversos fins e dos impactos da escassez de água por actividade económica, não se conhecendo com o mesmo nível de rigor as disponibilidades de água dessas origens,englobando nelas as públicas, privadas, de superfície e subterrâneas, sem esquecer o conhecimento da qualidade da água;

► Elevado número de origens de água de sistemas de abastecimento de água sem capacidade de regularização interanual;

► Dificuldade em determinar a causa exacta da morte de peixes ocorrida nas albufeiras;

► Limitações em meios humanos para apoio técnico às entidades gestoras que o solicitaram e uma grande escassez de meios humanos e materiais para fazer cumprir uma qualquer determinação aos numerosos proprietários de furos particulares;

► Limitações financeiras para apoio às entidades gestoras devido às limitações financeiras das organizações da Administração;

► Ocorrência de alguns problemas de eutrofização nas regiões do Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve com particular incidência nas albufeiras da Aguieira, Fagilde, São Domingos, Enxoé, Roxo, Divor e Vigia;

► Ocorrência de acentuado rebaixamento dos níveis piezométricos no sistema aquífero do Cretácico de Aveiro;

MEDIDAS A TOMAR PARA QUE NA PRÓXIMA SECA OS EFEITOS MITIGÁVEIS E VIVIDOS NESTA SECA NÃO VOLTEM A OCORRER

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► Conflitualidade acrescida entre utilizadores da albufeira da Aguieira e outras de fins múltiplos;

► Carência de água e conflitos de usos consumptivos em determinadas linhas de água/bacias hidrográficas e em determinados sistemas aquíferos na região do Alentejo;

► Insuficiente sensibilização para a problemática/consequências da seca, dos cidadãos em geral e, em particular, de alguns dos principais utilizadores das albufeiras de fins múltiplos.

Por isso, a actual situação de seca deve ser encarada como um desafio para a adopção de práticas do uso eficiente da água e de adequação das actividades humanas às capacidades do território, como solução para a não repetição dos impactos negativos que agora se sentem. A melhoria da acção para minimizar as consequências das situações de seca, implica uma nova visão do problema, de modo a focar a prevenção e a mitigação, através da aplicação dos princípios de gestão de risco e intervenções atempadas para reduzir a vulnerabilidade aos efeitos da seca. Propõem-se neste relatório de balanço no final do ano hidrológico um conjunto de medidas estruturantes para que na próxima seca os níveis de prevenção e de eficácia de actuação possam ser sensivelmente melhorados. Para que no próximo episódio de seca o país possa enfrentar a situação daí decorrente propõe-se que sejam adoptadas as medidas que a seguir se referem. A) Criação de um sistema de previsão e gestão de situações de secas Espera-se que a actual situação de seca, a mais grave do ponto de vista meteorológico dos últimos 60 anos, possa também constituir um pretexto favorável a uma reflexão sobre as causas e efeitos da variabilidade climática em Portugal, no sentido da definição de uma coerente e sustentada política de gestão dos recursos e de um claro e adequado modelo institucional para actuação na ocorrência de episódios climáticos extremos. Em Portugal Continental verificou-se nas duas últimas décadas do século XX uma intensificação da frequência e intensidade dos episódios de seca, pelo que urge conceber e instalar um sistema de monitorização e gestão das situações de secas que dê resposta aos problemas identificados, apesar da solução organizacional encontrada para gerir a seca 2005 ter funcionado com bom desempenho. Considera-se que a solução que foi adoptada, de criação de uma Comissão para a seca, envolvendo grande número de entidades e com capacidade de decisão, deu boas provas, permitindo decisões rápidas e processos em geral céleres, por via da interligação e do empenhamento conjunto dessas entidades. Julga-se que é um modelo que poderá ser adoptado, numa situação futura de seca (a presente ainda não acabou). Assim, propõe-se a criação de um sistema de monitorização de situações de seca (comité de monitorização) a integrar num Plano de resposta às situações de Seca

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que poderá seguir o modelo esquematizado na figura 25. (estrutura muito semelhante à actual Comissão para a Seca 2005/Secretariado).

Figura 25 – Esquematização do sistema de previsão e gestão de situações de seca Tendo também em vista antecipar as medidas especiais que devem ser adoptadas em situação de seca, estas devem estar previstas e padronizadas em planos de contingência a elaborar para cada origem de água (origem em termos "macro") ou conjunto de origens - na prática, planos de contingência de cada entidade gestora. A elaboração dos planos de contingência deveria ser acompanhada pela Comissão de Gestão de Albufeiras ou por uma estrutura a criar, com vista a assegurar uma abordagem coordenada e critérios comuns - por exemplo, curvas-guia de exploração dos aproveitamentos com regras de exploração previamente definidas, implicando a definição de níveis de cada albufeira a partir dos quais há que fazer restrições, e definição dessas restrições, numa situação prévia à seca declarada. Estes elementos devem ficar estabelecidos no contrato de concessão de captação de água e de exploração de albufeiras. Conseguir-se-ia, com este conjunto de medidas, uma intervenção progressiva face a um progressivo agravamento da seca, em contraposição a uma intervenção brusca e tardia. Julga-se assim que a estratégia a adoptar deve ter por finalidade um acompanhamento permanente e uma tomada de medidas atempada - medidas essas suaves e progressivas, e não súbitas e gravosas.

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B) Estabelecimento de um sistema de informação fiável sobre as disponibilidades de águas em todos as origens de superfície e subterrânea e sobre o conhecimento das quantidades de água utilizadas para os diferentes fins e respectiva distribuição temporal

No processo de acompanhamento da seca não foi possível apresentar um índice de severidade da seca baseado nos efeitos sobre as actividades humanas. Isso deveu-se tão simplesmente ao facto de não existir conhecimento sistematizado e actualizado da intensidade espacial e temporal das utilizações que podem ser afectadas por falta de água nas origens e também porque não se conhece com o mesmo nível de rigor as disponibilidades de água dessas origens, englobando nelas as públicas, privadas, de superfície e subterrâneas, sem esquecer o conhecimento da qualidade da água para os fins pretendidos. Parece claro que a utilização dos recursos hídricos evoluiu de uma fase de utilização intensiva das águas subterrâneas, onde as havia, para uma fase de utilização intensiva das águas de superfície estando-se a assistir ao início de um período onde a utilização integrada começa a ser assumida como a mais sustentável em termos ambientais e económicos. Para uma gestão das origens de água, sejam elas águas correntes, aquíferos, lagoas ou albufeiras, em situações críticas, como o são as secas, é indispensável um conhecimento detalhado dos aspectos qualitativos e quantitativos das utilizações que deles se fazem, abrangendo as respectivas variações temporais, e dos valores ambientais e económicos que podem estar em causa. Quer isto dizer que a gestão da água deve ser holística e deve ser sustentada por sistemas de informação sobre as variáveis ambientais, económicas e sociais com o mesmo nível de desagregação espacial e temporal. Isto é, não basta ter bons e abundantes dados sobre as variáveis hidrometeorológicas, é necessário ter o mesmo nível de informação sobre todas as utilizações das origens de água, quer sejam consumptivas quer não o sejam. Enquanto que nas albufeiras se conhecem em cada momento com bastante exactidão as disponibilidades existentes e o nível de cobertura das necessidades das utilizações delas dependentes, nos aquíferos a incerteza é bastante elevada dado o desconhecimento dos seus limites, capacidades de armazenamento, capacidade de extracção, captações instaladas, etc. Em situação de seca as incertezas quanto ao que se pode esperar das águas subterrâneas continua uma incógnita e as preocupações centram-se nos abastecimentos com origem em furos executados, quer em aquíferos, quer fora destes, porque não se sabe a quantidade de água disponível em cada momento no subsolo. Embora se saiba a ordem de grandeza das recargas, não são conhecidas as extracções, durante e depois dessas recargas. A incerteza dos furos fora dos aquíferos ainda é maior. O caso mais paradigmático situa-se no Algarve em que os consumos instalados superam as disponibilidades de águas armazenadas em albufeiras, que conduziram ao esgotamento das albufeiras do Funcho e do Arade, incluindo o volume morto. A concentração das extracções no principal aquífero da zona (Querença-Silves) está a

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originar a entrada de água salgada no extremo poente a partir do estuário do rio Arade. Coloca-se, contudo, a dúvida até onde podemos prosseguir nas extracções dadas as incertezas sobre o comportamento do aquífero. As situações em que se verificam maiores indecisões sobre as medidas de recurso a tomar para mitigar os efeitos da seca estão associadas ao desconhecimento das utilizações prioritárias e às disponibilidades das águas subterrâneas. Para solucionar os problemas identificados e dar resposta a esta questão de modo a que numa futura seca as decisões sejam tomadas de forma segura e económica é necessário eliminar o desconhecimento sobre as captações, as utilizações e as disponibilidades, o que passa pelo estabelecimento de um sistema de informação fiável sobre as disponibilidades de águas em todos as origens de superfície e subterrânea e sobre o conhecimento das quantidades de água utilizadas para os diferentes fins e respectiva distribuição temporal. Mas não só. É que em Portugal a regra geral é não medir as extracções nem as utilizações. Sem estas medições não pode haver rigor nas decisões. Por isso a gestão racional da água passa por medir, medir, medir….. Nos últimos anos tem-se verificado um aumento de frequência e intensidade da seca em Portugal. O problema, persistente e não mais esporádico, deve assim ser encarado de forma estrutural e preventiva, no quadro contínuo de longo prazo e não de forma casuística e atenuadora de efeitos que, entretanto, já causaram graves consequências económicas, sociais e ambientais: é a aplicação do princípio da precaução e da acção preventiva previsto e recomendado na política comunitária no âmbito do ambiente. A água doce utilizável representa menos de 1% da quantidade de água do nosso planeta e está repartida muito desigualmente. Torna-se assim indispensável conhecer os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. A existência de um inventário dos recursos hídricos disponíveis, da sua quantidade e qualidade de acordo com os usos a que se destinam, assume nesta perspectiva uma importância fundamental devendo as autoridades competentes manter tal inventário actualizado de forma a que, tendo em conta as informações recolhidas, sejam atempadamente adoptadas as medidas adequadas à garantia de uma gestão sustentável do recurso. Ao mesmo tempo, o público deve ter acesso à informação, em tempo útil e de forma apropriada, sobre a gestão das águas e sobre os projectos relativos à utilização do recurso. C) A grande origem de água por explorar A resposta mais tradicional ao problema de origens de água sem capacidade de regularização interanual é a procura de novas origens de água através da instalação de novas barragens ou novos furos. Definir um programa de criação de infraestruturas a nível nacional, a partir duma rigorosa identificação de necessidades, custos e calendarização, de forma a dotar o país dos meios necessários para fazer face no futuro a situações como a que se vive actualmente também parece óbvio, assim como incutir na população portuguesa a importância da preservação da água e consequente adopção de procedimentos de uso racional e poupança de água, em qualquer período e não apenas em situações de seca.

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A procura de água em Portugal está actualmente estimada pelo Plano Nacional da Agua em 2001 em cerca de 7 500 x 106 m3/ano a que corresponde um valor global provável para a sociedade de 1 880 x 106 Euros/ano, tendo por base os custos reais da água, o que representa 1,65% do Produto Interno Bruto português, segundo o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água. Em termos de procura por sectores, verifica-se que a agricultura é o maior utilizador de água em Portugal, com 87% do total, contra 8% do total no abastecimento urbano às populações e 5% do total na indústria. Quanto aos custos efectivos de utilização da água para os diversos tipos de utilização, verifica-se que o sector urbano passa a ser o mais relevante, correspondendo a 46% do total, seguido da agricultura com 28% do total e da indústria com 26% do total (tabela 14). Nem toda esta água, subtraída ao meio natural através de captações directas, albufeiras ou furos e minas, é efectivamente aproveitada, na medida em que há uma parcela importante associada à ineficiência de uso e a perdas, relativamente à água que é efectivamente captada. Trata-se portanto de uma componente que tem custos para a sociedade, mas não lhe traz benefícios. Estes volumes elevados indiciam, assim, potenciais de poupança muito importantes.

Tabela 14 – Consumos de água e poupanças potenciais

USO DA ÁGUA POR SECTOR

MÉDIA ANUAL DAS COMPONENTES

UR

BA

NO

AG

RIC

ULT

UR

A

IND

ÚST

RIA

TOTAL % PIB

VOLUME FORNECIDO (hm3) 570 6 550 385 7 505 -

CUSTO DO SERVIÇO (M€) 875 525 485 1 885 1,65

CONSUMO EFECTIVO (hm3) 330 3 800 275 4 405 -

VOLUME DA INEFICIÊNCIA (hm3) 240 2 750 12 3 102 -

CUSTO DA INEFICIÊNCIA (M€) 370 220 140 730 0,64

POUPANÇA POTENCIAL (hm3) 160 790 57 1 007 -

POUPANÇA POTENCIAL (M€) 245 65 75 385 0,34

Perante valores de ineficiência do uso da água tão elevados nos dois principais sectores utilizadores de água, o abastecimento para rega, em volume, e o abastecimento urbano, em dinheiro, parece óbvia a necessidade da aplicação de um programa de medidas que, de forma coerente e consistente, reduza para níveis aceitáveis essas ineficiências. É pois isso que sustenta a afirmação de que é o uso eficiente da água a grande origem de água por explorar e que deve ser a aposta concorrente em termos financeiros com novas instalações de captação no domínio hídrico. A publicação e aplicação urgente de um Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água, que verdadeiramente contribua para fomentar a utilização racional deste recurso, cada vez mais escasso, é outra das medidas que se entende como necessária para fazer face a situações como aquela que o País está a atravessar. Tal Programa

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deve conter normas que efectivamente permitam o envolvimento de todos os agentes, públicos e privados, na medida das suas competências, responsabilidades e níveis de intervenção e deve contribuir para a criação duma consciência social e política em torno da gestão da água. Incutir na população portuguesa, desde os bancos da escola, a importância da preservação dos recursos hídricos e consequente adopção de procedimentos de uso racional e poupança de água, em qualquer período e não apenas em situações de seca é uma tarefa fundamental Estando identificadas as áreas e aglomerados mais vulneráveis e expostos a estas situações, importa desde já que se promova, em articulação com todas as entidades gestoras (alta e baixa), a concretização das seguintes acções: ► Manutenção e reforço das campanhas de sensibilização para a poupança e

redução de consumos; ► Investimento na eliminação de fugas e perdas; ► Sensibilização das Autarquias para a necessidade urgente de uma reavaliação das

suas estruturas tarifárias em vigor, na perspectiva de se internalizar a escassez e custos ambientais da água;

► Aposta forte na implementação do Programa para o Uso Eficiente da Água; ► Redução das perdas nas redes; ► Reabilitação e modernização dos sistemas de rega em exploração visando a

optimização da sua gestão e de novas práticas de rega; ► Promoção da reutilização de águas residuais (que no Algarve tem um elevado

potencial, quer pelo estado mais ou menos avançado de alguns projectos, quer pela abordagem regional que está a ser efectuada pela AdA, no âmbito do sistema multimunicipal);

► Melhoria das condições infra-estruturais e de gestão que permitam optimizar o aproveitamento integrado das origens de água superficiais e subterrâneas;

► Promoção de uma maior consciencialização dos grandes utilizadores relativamente às consequências da seca e necessidade de serem adoptados mecanismos e procedimentos de optimização e uso eficiente de recursos hídricos;

► Desencadeamento de acções visando a redução das perdas de água existentes nos sistemas de distribuição de água para rega, pertencentes aos perímetros hidroagrícolas do Estado;

► Incremento de acções tendentes ao uso eficiente da água (agricultura, abastecimento doméstico, lazer, etc.).

Deverão existir campanhas constantes que apelem à poupança no uso deste recurso durante todo o ano. Essas campanhas: ► Não deverão incidir apenas sobre a necessidade de alterar atitudes, mas dar

indicações concretas de como o cidadão pode efectivamente reduzir o consumo (poupar água e Euros) e dar indicações a quem se devem dirigir, no caso de terem conhecimento de rupturas na canalização da água, ou quem devem informar de situações recorrentes de desperdício de água;

► Deverão procurar estimular as empresas a que, durante o ano, sejam identificadas áreas de potencial poupança e optimização do seu uso;

► Deverão abranger a Administração Pública, nomeadamente a Administração Local, pois quando os cidadãos constatam “na rua” desperdícios de água, são levados a pensar que já não é necessário poupar.

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Quando se estiver em pleno período de seca, já não há muito a fazer, a não ser racionalizar/restringir a utilização/consumo da água. D) Construção de novos sistemas públicos de abastecimento de fins

múltiplos com origens fiáveis Apesar das virtualidades da proposta anterior, nem só pelo uso eficiente da água se resolvem alguns problemas decorrentes do desenvolvimento económico e social de algumas regiões, onde também já se registam as primeiras iniciativas da reutilização da água e a prática de utilizações racionais da água. Por isso, a resposta aos problemas enumerados só será cabal com a construção de novos sistemas públicos de abastecimento com origens fiáveis sobejamente identificados. Igualmente se reveste da maior urgência a definição um programa de realização e optimização de infraestruturas a nível nacional, a partir duma rigorosa identificação de necessidades, custos e calendarização, de forma a dotar o país dos meios necessários para fazer face, no futuro, a situações como a que se vive actualmente. Aliás, o Plano Nacional da Água, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 112/2002, de 17 de Abril, identifica no seu ponto 7.7 - Programas e projectos de escala nacional - algumas dessas infra-estruturas. O Plano é visto como "um instrumento indispensável para o País" pelos Municípios. É necessário prosseguir o programa de apetrechamento do país em reservas de água, reforçando com clareza a situação de Portugal como país mediterrânico que só tem soluções para a seca se armazenar água na estação em que ela é abundante. O ideal seria sermos capazes, colectivamente, de acumular o máximo de reservas de água durante a estação das chuvas para se minimizar o problema em épocas de escassez. Uma das principais medidas a tomar a curto prazo na região Centro é a construção do aproveitamento hidráulico de Ribeiradio no rio Vouga cuja importância é reconhecida por vários utilizadores dos recursos hídricos do Médio e Baixo Vouga. Esta infraestrutura permitirá obter mais-valias económicas, sociais e ambientais das quais destacamos: ► Reforçar o abastecimento de água dos concelhos dependentes do sistema

regional de abastecimento de água do Carvoeiro; ► Reduzir a crescente exploração dos aquíferos; ► Satisfazer necessidades para rega; ► Manter o equilíbrio dos caudais ecológicos; ► Constituir uma reserva para combate a incêndios numa importante mancha

florestal. Na região Sul, a concretização em tempo útil do EFMA – Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, é também de grande prioridade e oportunidade, possibilitando a regularização inter-anual das afluências do Guadiana e a satisfação dos diversos pedidos de água. Acresce que este empreendiemnto permitirá dispor no Alentejo, para além das albufeiras do Alqueva e do contra-embalse de Pedrógão, de um importante conjunto de albufeiras de armazenamento e de canais de adução, dotando a região de um conjunto de argumentos físicos, de grande eficácia e fiabilidade relativamente a novas situações de seca.

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Outro problema que urge resolver é a definição e implementação do modelo de gestão para o aproveitamento hidráulico do Mondego. O conflito entre utilizadores da albufeira da Aguieira (Municípios, indústria, agricultores e sector eléctrico) foi bastante agravado devido à seca. Nesta albufeira são feitas captações para abastecimento público de água (para os concelhos de Tábua, Carregal do Sal, Mortágua, Sta. Comba Dão, Penacova e Figueira da Foz), para abastecimento a duas indústrias de produção de papel e pasta de papel, para fins agrícolas (rega dos campos do Baixo Mondego) e ainda para produção de energia hidroeléctrica. É urgente a reabilitação/reformulação do sistema de abastecimento de água com origem na albufeira de Fagilde. A gestão desta albufeira é condicionada por problemas de ordem estrutural da barragem que impedem a sua utilização racional. A solução a médio/longo prazo para o Barlavento Algarvio é a conclusão da barragem de Odelouca. As soluções de curto prazo (até à construção da barragem de Odelouca) são as identificadas pela AdP_AdA. A avaliação de outras medidas infraestruturais de médio/longo prazo estarão dependentes do estudo encomendado pelo INAG. E) Aplicação de um programa específico de inversão do estado de

eutrofização de albufeiras que são origem de água para produção de água potável

Foram mais uma vez identificadas as albufeiras da Aguieira e de Fagilde, de São Domingos, do Enxoé, Roxo, Divor e Vigia com problemas significativos de qualidade da água associada à eutrofização. De uma vez por todas é necessário priorizar as intervenções de descontaminação das respectivas bacias hidrográficas para que na próxima seca não voltem a estar em situação de risco. F) Disposições legais e institucionais de excepção aplicáveis às situações

extremas e especiais Para que as intervenções das autoridades não sejam contestadas fora do âmbito dos tribunais e para que as medidas necessárias à mitigação dos efeitos da seca sejam eficazes e seja salvaguardado o interesse público e os interesses difusos da água é necessário criar um quadro legal específico de sustentação dessas intervenções a aplicar em situações declaradas de extremas ou excepcionais devidamente tipificadas. Para responder ao problema do apoio financeiro que não foi concedido porque os orçamentos anuais das instituições não podem propor verbas para situações incertas, torna-se necessário a criação de um fundo de apoio a situações excepcionais que acumule verbas durante os anos normais para serem utilizadas nestas situações mediante aprovação das entidades que vierem a ser criadas para gerir essas situações.

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É necessário também avaliar potenciais sinergias entre os meios humanos afectos ao sector de fiscalização ambiental (CCDR, SEPNA, DGRF, ICN) e reforçar os meios destes serviços para o efeito, de modo a possibilitar o acompanhamento e a fiscalização no terreno de forma eficaz, em particular para garantir o cumprimento de decisões oficiais e/ou acompanhamento de situações de emergência. Identificar todas aquelas medidas que podem ser aplicadas no âmbito de um sistema de solidariedade intermunicipal, por exemplo, identificação de sistemas de abastecimento que poderão vir a servir concelhos em situação deficitária é outro dos desafios que se coloca. A criação de bancos públicos de água apelando à solidariedade inter-regional na gestão hídrica dos recursos, as transferências de água entre as bacias hidrográficas que devem servir tanto o interesse geral, como o interesse recíproco dos utilizadores, são aspectos que devem ser equacionados. Os princípios do utilizador-pagador e do poluidor-pagador devem ser aplicados em matéria de gestão da água. A utilização de instrumentos económicos pode contribuir para uma gestão mais racional da água e em consequência, podem ser impostos encargos aos utilizadores para controlar o consumo de água ou para reduzir a poluição da água pelos efluentes. As entidades gestoras, por seu lado, devem garantir que a contabilidade relativa ao abastecimento de água seja tornada pública e que discrimine os custos por categorias de utilizadores. Paga-se por vezes um preço político insignificante porque se tem a ideia de que a água cai do céu, logo é grátis. Mas as infraestruturas não são. As tarifas de água e saneamento devem ser revistas de acordo com os custos reais de obtenção e tratamento do recurso. Considera-se necessário reavaliar as autorizações de captação de água em pegos, sobretudo em locais sensíveis, com o eventual condicionamento ou suspensão dessas mesmas autorizações, como também melhorar a fiscalização no sentido de prevenir e evitar a existência de captações ilegais. Verifica-se que em muitos locais sensíveis estas captações estão associadas quase exclusivamente à rega de pequenas hortas que esgotam os poucos pegos que ainda persistem. Poderia ser equacionada em anos de seca a atribuição urgente de uma compensação às populações ribeirinhas para que abandonem as pequenas culturas hortícolas. Noutras zonas as captações são motivadas pela necessidade de abeberamento do gado porque muitas barragens particulares construídas para o efeito acabam por secar. Nestes casos deverá ponderar-se a identificação de locais alternativos para a captação de água. O conhecimento, acompanhamento e monitorização do rio Caia a montante da barragem, e das ribeiras de Arronches, Safareja, Murtigão, Murtega, Álamo e Carreiras leva-nos a ponderar a hipótese de que, em anos de seca e enquanto forem sentidos os seus efeitos, estes cursos de água não deverão ser alvo de captações de água. Outro aspecto a considerar prende-se com o controlo da qualidade da água associada à rejeição de efluentes e à pressão do pastoreio. Para além de um maior controlo e fiscalização dos efluentes, sugere-se que não seja permitido o livre acesso do gado às linhas de água, pois o intenso pisoteio e a grande concentração de dejectos nas suas margens têm acentuado significativamente a degradação da qualidade da água nos pequenos pegos. O gado deverá dessedentar em bebedouros próprios e ser impedido de utilizar uma faixa de 50 m a contar das linhas de água.

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Por fim, é de realçar que nesta seca foram também detectadas dificuldades no recurso ao Fundo de Solidariedade da União Europeia. Embora o regulamento para a sua aplicação preveja que o Fundo possa ser mobilizado em situação de catástrofes naturais com graves repercussões nas condições de vida dos cidadãos, no meio natural ou na economia, a verdade é que os pressupostos para a sua activação dificultam a sua utilização para catástrofes de desenvolvimento lento como as secas. Tal deve-se ao facto de o regulamento pressupor a apresentação de pedido de intervenção do Fundo no prazo de 10 semanas a contar da ocorrência dos primeiros prejuízos causados pelas catástrofe, prazo que é manifestamente insuficiente para situações de seca que se desenrolam ao longo de meses ou anos. Presentemente, o regulamento do Fundo está a ser alterado e é possível que venha a contemplar cláusulas específicas para as situações de seca, ao mesmo tempo que possa vir a reduzir o valor de prejuízos a partir do qual é possível a activação (cerca de 768 M€ em 2005). Será também desejável que a revisão do regulamento venha a contemplar um alargamento das despesas elegíveis, uma vez que, tal como actualmente se encontra, apenas permite considerar despesas inerentes ao restabelecimento imediato do funcionamento das infraestruturas e equipamentos nos domínios do abastecimento de água (abertura de novos furos, aluguer ou aquisição de material destinado ao abastecimento de emergência, incremento nos sistemas de tratamento da água, remoção de peixes em albufeiras, por exemplo). Relativamente à gestão das situações de seca nas bacias hidrográficas internacionais, torna-se necessário promover o funcionamento efectivo da Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção (CADC) e assegurar o desenvolvimento dos trabalhos do Grupo de Trabalho da Seca de modo a que, numa próxima situação de seca, estejam disponíveis os instrumentos necessários para a sua gestão, por coordenação bilateral das acções a tomar. Para garantir uma actuação tempestiva das organizações com competências e obrigações na gestão de situações extremas, afigura-se necessário rever o quadro legislativo nesse sentido, designadamente o objecto da Comissão de Gestão de Albufeiras.

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Âmbito sectorial Abastecimento urbano Foram identificados os seguintes problemas decorrentes da seca que enquadram as propostas de medidas descritas no seu seguimento: ► Falências das origens de água que não dispõem de capacidade de regularização

interanual e com maior incidência nos pequenos sistemas de abastecimentos com captações em zonas não aquíferas;

► Reduzida existência de Planos de Gestão de Seca mesmo em situações de risco de ruptura das disponibilidades de água em que os sinais de alerta eram evidentes e nem por isso as entidades gestoras, públicas e privadas, promoveram a elaboração de planos de contingência;

► Muito insuficiente apoio financeiro dado às entidades gestoras por indisponibilidade orçamental das autoridades competentes;

► Origens de água afectadas por: − esgotamento de furos; − redução da qualidade da água; − baixos níveis verificados nas albufeiras; − baixos níveis piezométricos no aquífero Querença-Silves que poderia

desencadear um processo de progressiva salinização; − esgotamento da albufeira do Funcho; − registo de um incidente de mortandade de uma grande quantidade de peixes

na albufeira da Bravura; − registo de alguns "blooms" de algas cianofíceas, nas albufeiras de Odeleite e

Beliche; − situação crítica em termos de reserva da albufeira da Meimoa, que serve o

abastecimento público de água ao concelho de Penamacor e parte do concelho do Fundão;

− situação igualmente muito crítica na albufeira do açude de Ponte de Juncais, por falta de água no rio Mondego;

− alguns problemas de falta de água em Manteigas, em parte provocados pelo excessivo consumo e pelas deficientes condições de funcionamento da rede em baixa.

► Situações críticas em Municípios da região Norte servidos por pequenas origens pontuais subterrâneas (qualidade e quantidade), e também em sistemas municipais dependentes de pequenas albufeiras (Nordeste Transmontano, tornando-se necessário conciliar as necessidades de rega com os consumos públicos, e nas de reduzida capacidade de armazenamento;

► Na região de Lisboa e Vale do Tejo salientam-se os fenómenos de eutrofização mais problemático foi na albufeira de São Domingos e na captação de Valada também se verificou durante o Verão uma degradação da qualidade da água, principalmente devido aos baixos caudais do rio Tejo, que permitiram concomitantemente uma maior influência da maré;

► Em termos de saúde pública a problemática dos cloretos na Região do Algarve e na Sub-região de Beja que excederam os valores paramétricos e os incumprimentos aos valores paramétricos nos casos do ferro e manganês na Região do Alentejo, nomeadamente no distrito de Beja (Concelhos de Almodôvar, Odemira, Ourique e Castro Verde) bem como em Portalegre a presença de

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alumínio em excesso, essencialmente associado ao inadequado sistema de controlo operacional da ETA e incumprimentos, desta índole, associados, essencialmente, a uma deficiente desinfecção da água, traduzida na ausência de cloro residual, são de destacar;

► Na região do Alentejo refere-se a eutrofização das albufeiras de Enxoé, Roxo, Divor e Vigia;

► Nem sempre as entidades gestoras enviam atempadamente às Autoridades de saúde os dados do controlo de qualidade da água para consumo humano;

► Indeterminação da relação dos casos de Doenças de Declaração Obrigatória em estarem eventualmente associados ao consumo de água proveniente de fontes de abastecimento alternativas, em particular, de poços, fontanários ou nascentes;

► Falta de um programa adequado de vigilância epidemiológica em que sejam registados os episódios de doença versus factor de causalidade, quer porque a população quando exposta a doenças de foro hídrico (diarreias, vómitos, etc) não procura muitas vezes apoio clínico, quer ainda porque não raras vezes os próprios clínicos não atribuem geralmente a causa a água de consumo humano medicando os doentes sem aplicar inquéritos adequados;

► Apesar de 66% das entidades gestoras contactadas terem implementado medidas de racionalização do uso da água, só 8,3% conseguiram calcular ou estimar a poupança;

► Maior parte das entidades gestoras não efectuava o controlo da qualidade da água nas origens;

► Em 12,4% dos concelhos verificou-se a degradação da qualidade da água na torneira do consumidor;

► Reduzida utilização dos mecanismos previstos no quadro do Sistema Nacional de Protecção Civil (apenas o município de Moura, em Outubro, activou formalmente o seu Plano Municipal de Emergência exclusivamente devido à situação de seca).

Num país como o nosso, sofrendo fenómenos de seca recorrentes, mas paradoxalmente com uma pluviosidade média similar a algumas regiões da Grã-Bretanha (da ordem dos 1000 mm/ano), e receptor de caudais muito importantes em cinco rios internacionais, não parece que as consequências muito negativas de secas como a actual sejam uma inevitabilidade. A precipitação em Portugal está, como se sabe, desigualmente distribuída no espaço e no tempo. Com secas a atingir três anos de duração, pelo menos, parece natural pensar que, onde possível e razoável, há que armazenar a água dos anos húmidos para que a mesma esteja acessível nos anos secos. No entanto, na última década e meia, tornou-se muito difícil a aprovação de um projecto de qualquer barragem média ou grande, mesmo em zonas onde a seca atinge particular severidade. O longo historial da barragem de Odelouca, no Algarve, é disso o melhor exemplo. Está determinado que a avaliação de impacte ambiental de uma barragem deve contemplar pelo menos uma alternativa de localização. Mas as condições topográficas, com poucos locais que constituam soluções verdadeiramente interessantes, tornam a questão das alternativas, por vezes, num quase paradoxo: face à impossibilidade de encontrar alternativas reais, estudam-se alternativas que têm pouco que ver com o projecto inicial, e que frequentemente o desvirtuam.

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Acredita-se que seria vantajosa para o nosso país uma nova abordagem, mais equilibrada, com maior ênfase na defesa das populações e tendo em devida conta o impacte económico de "alternativas" que podem implicar benefícios significativamente reduzidos, ou às vezes custos significativamente acrescidos, directos ou indirectos, e paralelamente adoptar medidas que minimizem os impactes ambientais provocados por estes empreendimentos. É necessário melhorar os circuitos de informação entre as entidades responsáveis pela monitorização da qualidade da água e as Autoridades de Saúde, de modo a estas poderem actuar de uma forma célere sempre que haja lugar a incumprimentos dos valores paramétricos que possam pôr em risco a saúde pública. As entidades gestoras de sistemas de abastecimento de água deverão fazer um esforço adicional no sentido de minimizar os efeitos na qualidade da água distribuída. Assim, considera-se importante salientar a necessidade das entidades gestoras implementarem as medidas abaixo indicadas: ► Dado que, aquando do levantamento realizado no mês de Agosto, foi impossível

à generalidade das entidades gestoras identificar as poupanças reais conseguidas em resultado da aplicação das medidas de uso eficiente da água, considera-se que é indispensável a instalação de equipamento de medição adequado para o conhecimento dos volumes distribuídos;

► Dada a importância do controlo operacional num sistema de distribuição de água, considera-se que este controlo deveria ser tomado como um procedimento estrutural obrigatório por parte das entidades gestoras. Assim, estas deveriam adquirir equipamento de adequado ao controlo expedito dos parâmetros críticos.

O investimento em investigação e desenvolvimento de novas tecnologias e procedimentos, como sejam o aperfeiçoamento de técnicas de utilização e de reciclagem de água ou a dessalinização da água do mar para produção de água potável, merece um destaque especial quando se fala em desafios futuros e que deve ser feito um grande esforço neste domínio. Embora a presente situação de seca não tenha causado uma afectação generalizada do território, talvez pela rápida adopção de medidas de poupança e mitigação, nalgumas zonas de Trás-os-Montes, Beira Interior e Baixo Alentejo registaram-se problemas significativos no abastecimento público, motivados quer pelos reduzidos caudais debitados pelas origens de água superficiais e subterrâneas quer por problemas de qualidade da água que inviabilizaram a utilização das origens de água. Nas regiões afectadas a utilização de meios alternativos de abastecimento foi a solução encontrada para mitigar os impactos na população. Neste contexto, verifica-se que há necessidade de reforçar, nestas zonas, o parque de viaturas cisterna disponíveis para o transporte e distribuição de água. Assim, nos concelhos onde existe predominância de aglomerados populacionais de pequenas dimensões dispersos pela área geográfica do município, deverá ser considerada a

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aquisição de viaturas auto-tanques com capacidade de transporte de 6 a 8 mil litros de água. Para os concelhos onde existe risco de afectação do abastecimento de água, a grandes aglomerados populacionais (como sedes de concelho) deverá ser privilegiada a aquisição de viaturas auto-tanque não articuladas com capacidade de transporte na ordem dos 30 mil litros. Todavia, é de notar que a aquisição de novas viaturas de transporte não poderá excluir a necessidade de rentabilizar os meios já existentes, devendo, para tal, ser dada particular atenção à actualização dos meios e recursos constantes nos Planos Municipais e Distritais de Emergência, nomeadamente no que respeita à existência, localização e caracterização de viaturas cisterna detidas por autarquias, corpos de bombeiros, instalações militares ou organizações privadas. A utilização de vagons-cisterna detidos pela CP, com capacidade superior a 60 mil litros, também deverá ser considerada, de modo a facilitar o transvase de longa distância de água potável (os vagons seriam abastecidos em zonas não carenciadas e pré-posicionados perto de zonas críticas, em local onde as viaturas auto-tanque pudessem realizar o seu enchimento). Para complementar a acção dos meios de transporte, deverá ser considerada a aquisição de moto-bombas rebocáveis de grande capacidade (igual ou superior a 5 000 litros por minuto) e de estações móveis de potabilização e tratamento de água (com capacidade superior a 60 m3/hora). Nos aglomerados populacionais considerados críticos poderá ser considerada a instalação de reservatórios flexíveis ou de cisternas em INOX ou fibra destinadas ao armazenamento e abastecimento alternativo de água. Também deverá ser considerada a aquisição, a nível nacional, de pastilhas de purificação de água que possam ser distribuídas pela população sujeita ao consumo de água de menor qualidade. Estas medidas não excluem, naturalmente, a necessidade de um uso mais eficiente da água e a adopção, pelas entidades gestoras, de medidas tendentes à redução de perdas, acções que deverão ser complementadas com a pesquisa de origens alternativas, incluindo a reutilização de águas para usos compatíveis e a dessalinização de água do mar em zonas costeiras. Está presentemente em curso a realização de um vasto programa de investimentos na área da água e do saneamento, da responsabilidade das empresas gestoras de sistemas multimunicipais, para pôr em prática o conteúdo do PEAASAR - Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais para o período 2000-2006 (período coincidente com o terceiro quadro comunitário de apoio). As obras estão em curso de Norte a Sul do país, alcançando uma parte muito significativa do território português, e têm em vista a infraestruturação do país "em alta", incluindo a captação, tratamento e transporte da água até aos reservatórios municipais. O dimensionamento das infra-estruturas permite naturalmente minimizar os efeitos negativos de situações de seca, quer através de reservas quer através de uma maior fiabilidade do tratamento. Entretanto, está já em preparação o investimento a realizar no quarto quadro comunitário de apoio. Para esse efeito, o MAOTDR constituiu um Grupo de

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Trabalho que incumbiu de elaborar o "PEAASAR II", devendo o novo plano ter a sua primeira versão pronta no final do presente ano. No que respeita ao caso específico do Algarve, o Plano de Acção da Águas do Algarve, anteriormente referido, prevê, analisa e quantifica também as várias alternativas a médio/longo prazo (além do foco particular nas de curto prazo), para dotar a região de um sistema muito menos vulnerável a situações de seca prolongada. Antes da sua elaboração já tinham sido desenvolvidos estudos específicos para aprofundar essas várias alternativas. O INAG está a realizar estudos para a definição das soluções de médio-longo prazo de fins múltiplos. A barragem de Odelouca apresenta-se como uma infra-estrutura imprescindível para o sistema multimunicipal de abastecimento de água ao Algarve, o qual foi dimensionado, recorda-se, no pressuposto da sua construção. Infelizmente, com os grandes atrasos sofridos por esse projecto, neste momento a albufeira de Odelouca constitui uma solução crucial, mas a longo prazo. Entende-se que a construção da barragem de Ribeiradio, ou outra na bacia do Vouga com significativo volume de armazenamento, se afigura fundamental para assegurar a continuidade e fiabilidade do abastecimento em situações como a que se vive presentemente. Estando identificadas as áreas e aglomerados mais vulneráveis e expostos a estas situações, importa desde já que se procure, em articulação com todas as entidades gestoras (alta e baixa), na promoção das seguintes acções: ► Sensibilizar as Autarquias para a necessidade urgente de uma reavaliação das

suas estruturas tarifárias em vigor, na perspectiva de se internalizar a escassez e custos ambientais da água;

► Envolver os Sistemas Multimunicipais e outras entidades gestoras na criação de condições adequadas de reforço de caudal às soluções e sistema mais dificitários, antecipando para o efeito alguns investimentos em obras de interligação e novas captações;

► Sensibilizar os Municípios com taxas de serviço e níveis de atendimento mais precários, para a prioridade na execução das obras de ligação às soluções multimunicipais em curso, eliminado assim a dependência das múltiplas origens pontuais em exploração.

Por fim, no que respeita ao pouco recurso feito pelos Municípios dos mecanismos previstos no quadro do Sistema Nacional de Protecção Civil, julga-se que as alterações, em fase de discussão pública, respeitantes a esta matéria, poderão contribuir para uma melhor gestão de emergência no futuro, nomeadamente através da criação/operacionalização das Comissões Municipais de Protecção Civil e dos Centros Municipais de Operações de Socorro. Agricultura Neste sector foram identificados os seguintes problemas a que deve ser dada resposta adequada: ► Restrições à distribuição de água nos aproveitamentos de Campilhas, Cova da

Beira, Fonte Serne, Lucefecit, Minutos, Sotavento Algarvio, Vale do Sado e Vigia;

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► Restrições às culturas regadas, incluindo as permanentes no aproveitamento hidroagrícola de Silves, Lagoa e Portimão;

► Impossibilidade da campanha de rega no Roxo; ► Dificuldade na adução de água para rega no aproveitamento hidroagrícola da

Lezíria de Vila Franca de Xira devido à intrusão salina; ► Consequências no cumprimento dos orçamentos anuais aprovados; ► Aumento da procura das palhas e aumento considerável dos preços das palhas e

das forragens que não foram suficientes para constituir os stocks normais, comprometendo a alimentação animal do próximo ano agrícola;

► Condicionamento do ciclo reprodutivo dos pequenos ruminantes; ► Necessidade de proceder à distribuição de água em reboques-cisternas nas

situações de ruptura no abeberamento dos animais; ► Efeitos no crescimento/desenvolvimento vegetativo dos cereais e quebra na

produtividade; ► Ausência de cadastro actualizado dos regadios individuais de iniciativa privada e

das respectivas dotações de rega; ► Esgotamento das reservas hídricas nas pequenas albufeiras, linhas de água e furos

de captação. Para evitar que na próxima seca os efeitos registados na agricultura nesta última não voltem a acontecer, será necessário a adopção das seguintes medidas: ► Elaboração e aprovação de um Plano Nacional de Regadio; ► Conclusão dos projectos de infraestruturas hidroagrícolas que já estão em curso e

apoio a projectos de reabilitação e modernização das que já se encontram em exploração;

► Reforço da investigação no desenvolvimento de técnicas culturais conducentes à economia da água e na introdução de novas tecnologias de regadio;

► Formação profissional para agricultores subordinada ao tema da gestão de rega e poupança de água;

► Apoio a medidas de reconversão e racionalização do regadio, planos de rega e reservas de água;

► Revisão do actual sistema de seguros, por forma a abranger futuras situações de seca, no âmbito de gestão de riscos das explorações agrícolas.

Combate a incêndios florestais Os problemas mais relevantes atrás identificados, e para os quais de seguida se propõem medidas, foram: ► Condicionamento, pontual, da utilização, por meios terrestres e aéreos, de

pequenos pontos de água de apoio ao combate a incêndios florestais (charcas, tanques, poços e similares);

► Redução significativa da extensão máxima disponível no plano de água para as manobras de aproximação, enchimento e descolagem dos aviões anfíbios dificultando ou impedindo a sua operacionalidade;

► Condicionamentos de operacionalidade devido à sua sobrepassagem das albufeiras por linhas eléctricas.

A seca registada em Portugal Continental e as excepcionais condições de risco de incêndio incrementaram de forma significativa a importância dos pontos de água de apoio ao combate aéreo a incêndios florestais, reforçando a necessidade de os

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mesmos serem sujeitos a uma permanente monitorização, manutenção e, no caso dos mais estratégicos, enchimento. Para estas acções, o papel das Comissões Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios não poderá ser descurado, devendo os organismos que tutelam a área da prevenção contra incêndios assegurar, em base de dados, a manutenção de informação regular acerca do estado dos pontos de água. Do ponto de vista da utilização de aviões anfíbios, a existência de condições de seca implica a necessidade de captação de água nas escassas reservas disponíveis, razão pela qual poderá haver necessidade de, no futuro, adequar as cotas mínimas de armazenamento no período estival às condições de operacionalidade dos meios aéreos. No entanto, tendo-se constatado que algumas albufeiras passíveis de utilização apresentaram condicionamentos de operacionalidade devido à sua sobrepassagem por linhas eléctricas, considera-se que deverá ser produzida regulamentação que condicione a instalação destas linhas nas rotas de aproximação, enchimento e descolagem em albufeiras. Biomassa e biodiversidade

► AVALIAÇÃO DA QUALIDADE ECOLÓGICA

Pode dizer-se que para o conhecimento da biomassa piscícola sustentável num determinado tipo de massa de água é necessário compreender o funcionamento e estado trófico dessa mesma massa de água. O estudo deste funcionamento decorre actualmente no âmbito de um Protocolo de Cooperação e Investigação entre o INAG, DGRF, a Associação para o Desenvolvimento do Instituto Superior de Agronomia, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Universidade de Évora. Este protocolo, associado ao projecto “Qualidade Ecológica e Gestão Integrada de Albufeiras” tem por objecto principal “a definição do potencial ecológico máximo para cada tipo de albufeira existente em Portugal de acordo com a Directiva Quadro da Água”. São também objectivos do Protocolo: “a criação de um modelo de funcionamento trófico de albufeiras portuguesas e avaliação da sua utilização em situações de risco, como seja mortalidade da ictiofauna e ocorrência de cianobactérias e a definição de princípios e de recomendações para a gestão integrada de albufeiras por forma a conciliar o uso dos recursos hídricos com a manutenção de sistemas aquáticos íntegros e de boa qualidade ecológica”.

► AVALIAÇÃO DA BIOMASSA PISCÍCOLA

Consciente das potencialidades e sinergias que uma ferramenta de avaliação da biomassa piscícola poderia trazer ao projecto anteriormente citado, a DGRF celebrou um protocolo de colaboração com o Instituto Superior de Agronomia, destinado ao desenvolvimento de um sistema de avaliação da biomassa piscícola por ecossondagem. Este protocolo, associado ao projecto ECOPEIXE - “Utilização da eco-sondagem para a avaliação da biomassa piscícola em albufeiras”, permitirá avaliar as biomassas piscícolas nas albufeiras de referência provenientes do estudo anterior, estabelecer valores máximos de biomassa piscícola sustentável para cada um dos tipos de massas de água e a avaliação rotineira da biomassa nas restantes albufeiras, bases essenciais para quaisquer intervenções sustentadas na gestão piscícola ou, em casos extremos, extracção de peixe por métodos de captura massiva.

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► AVALIAÇÃO DO ESTADO FITOSSANITÁRIO DAS POPULAÇÕES PISCÍCOLAS. PROTOCOLO DE COLABORAÇÃO COM O LNIV E CCDRS

Actualmente, entre as medidas em curso para uma melhor compreensão futura das causas envolvidas nestes fenómenos está a celebração de um protocolo de colaboração entre a DGRF, CCDRs e o LNIV, para a optimização do processo de amostragem, análise e partilha de informação relacionada com os eventos de mortalidade piscícola.

► CONCILIAÇÃO DOS USOS MÚLTIPLOS COM AS POPULAÇÕES PISCÍCOLAS. A NECESSÁRIA PARTICIPAÇÃO DA DGRF NA COMISSÃO DE GESTÃO DE ALBUFEIRAS

Como já foi referido, as populações piscícolas presentes em albufeiras estão fortemente condicionadas pelo regime de utilização destas massas de água, ditado pelos seus fins: rega, abastecimento urbano e produção de energia hidro-eléctrica. A consequência da variabilidade dos níveis e volumes armazenados é um elevado stress ambiental para as populações piscícolas presentes, particularmente gravoso ao nível do recrutamento, devido à variação do nível da água na altura da desova. Se no caso da carpa esta redução do recrutamento poderia ser vantajosa, no caso do achigã ela acarreta severas limitações. O achigã é o único peixe ictiófago com capacidade para limitar as populações de perca-sol. Este controlo é importante, dado que a perca-sol poderá dar um contributo importante no processo eutrofizacional ao consumir o zooplancton que se alimenta das algas fitoplanctónicas. Este é apenas um aspecto exemplificativo da importância de a DGRF participar na tomada de decisão relativas à gestão das albufeiras, nomeadamente no que concerne à evolução dos níveis e armazenamento.

► AS OPERAÇÕES PARA A EXTRACÇÃO DO PEIXE MORTO

Os três episódios ocorridos demonstraram que a aplicação do princípio da subsidiariedade foi correcta. Nos três casos, Bravura, Monte da Rocha e Santa Clara, foi observada, a nível local, uma mobilização e articulação de meios humanos e materiais que permitiu uma rápida extracção da biomassa piscícola morta da massa de água e/ou das suas margens. Em nenhum destes casos foi detectada alteração da qualidade da água após a mortalidade ou referidos quaisquer cuidados particulares na sua utilização. No entanto, algumas indefinições persistem quanto às entidades responsáveis pela extracção do peixe morto da massa de água, dado que nos três casos as entidades que assumiram a coordenação e a operacionalização das operações variaram. Entre as medidas de curto prazo estará a clarificação dos diversos papéis das entidades com capacidade logística para a remoção do peixe morto.

► CONTACTOS, PARTILHA E DISPONIBILIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Relativamente aos contactos, foi registado durante o actual episódio de seca a ausência de uma matriz de contactos disponível para a troca de informação relacionada com a gestão da biomassa piscícola em albufeiras. Para minorar este problema, e tirando partido da estrutura organizacional criada, foi elaborada uma matriz de contactos relativos às várias entidades relacionadas com a gestão de albufeiras e respectiva jurisdição. Continuando a verificar-se a prática de extracção de inertes, entende-se fundamental envidar esforços no sentido de aumentar a fiscalização desta actividade. O leito das ribeiras é frequentemente deixado numa sucessão de covas que aumentam a

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fragmentação dos pegos, diminuindo assim a probabilidade de sobrevivência da ictiofauna. Recomenda-se que o caudal ecológico nas barragens seja libertado de forma gradual, pois as variações bruscas não são favoráveis à manutenção e recuperação das comunidades piscícolas. Deverá ser ponderada uma campanha de educação ambiental informando as pessoas, sobretudo os pescadores desportivos e profissionais, dos impactos associados à disseminação de espécies exóticas, dissuadindo da prática desta acção ilegal. Propõe-se ainda que sejam tomadas medidas de controlo destas espécies nos cursos de água mais sensíveis. Pretende-se ainda proceder à monitorização da ictiofauna na Primavera e Verão de 2006 para aferir da capacidade de recuperação da ictiofauna aos efeitos da seca de 2004-2005. Produção de energia Em síntese relevam neste sector os seguintes problemas: ► Aumento do consumo de electricidade produzida através de combustíveis fósseis; ► Energia produtível a partir de centrais hídricas em regime seco representa apenas

12,5% do consumo de energia global do país. Em regime “normal” as centrais hídricas contribuem com 30% a 40%.

O aproveitamento do significativo potencial hidroeléctrico que se encontra ainda disponível, para além de promover a disponibilidade de água para outros fins (em particular em períodos de seca extrema e prolongada como o que actualmente ocorre), constitui um importante vector da utilização dos recursos endógenos, essencial para assegurar a sustentabilidade da quota da produção renovável no longo prazo ao menor custo4, e, simultaneamente, para garantir o reforço dos níveis de reserva operacional necessários à integração segura da elevada capacidade de produção de carácter intermitente, através da dotação dos aproveitamentos hidroeléctricos de capacidade de bombagem. Na prática, a construção de novos grandes aproveitamentos hidroeléctricos dotados de elevada capacidade de armazenamento e de reversibilidade traduzir-se-á na redução da exposição do sistema electroprodutor à variabilidade hidrológica, reflectida, quer numa menor sensibilidade da produção hídrica à hidraulicidade e à gestão das albufeiras espanholas situadas nas bacias dos rios Douro e Tejo (e, portanto, das emissões de CO2 das centrais térmicas), quer numa maior disponibilidade de reserva operacional, imprescindível a uma exploração segura do sistema electroprodutor na presença dos elevados níveis de produção intermitente previstos. Para além destes benefícios associados à exploração do sistema electroprodutor, devem ser recordados alguns dos benefícios sociais e ambientais que decorrem da existência de reservas de água: ► Água em quantidade suficiente para os diversos utilizadores/utilizações;

4 Salienta-se que o cumprimento do objectivo assumido por Portugal no âmbito da Directiva 2001/77/CE (Directiva FER)

pressupunha a continuação da construção de aproveitamentos hidroeléctricos de potência instalada superior a 10 MW.

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► Apoio às aeronaves de combate aos incêndios florestais, não só locais mas em todo o raio de acção das mesmas;

► Garantia dos caudais ecológicos; ► Fixação de diversas espécies de aves e da fauna em geral; ► Lagos artificiais a utilizar para o bem estar das populações interiores ou para a

prática de desportos náuticos (remo, natação, pesca desportiva e lazer de uma forma geral).

A continuação do aproveitamento deste potencial hidroeléctrico deverá iniciar-se pela construção do aproveitamento hidroeléctrico do Baixo Sabor (já atribuído por legislação), devido à sua localização privilegiada e ao interesse estratégico que representa em situações de dificuldade de gestão hídrica e energética do troço nacional do Douro. Em casos extremos, de meses de Verão muito secos, o uso desta reserva permitirá garantir os caudais afluentes mínimos à albufeira de Crestuma, necessários para manter a temperatura da água de rejeição da refrigeração da Turbogás dentro dos limites impostos pela legislação ambiental, viabilizando a utilização dos 1 000 MW de potência instalados nessa central térmica sem recurso a situações de excepção a que se associam efeitos ambientais negativos. Ao longo do tempo, devido ao aumento gradual dos consumos de água na bacia espanhola do rio Douro, o interesse estratégico desta reserva tem vindo a tornar-se mais evidente, nomeadamente em termos sociais e ambientais Esta reserva proporcionará um acréscimo dos caudais médios mensais nos meses de Verão possibilitando a garantia de caudais mínimos ambientais no estuário do rio Douro, mesmo na ocorrência de regimes hidrológicos muito secos e o abastecimento de água, ao Grande Porto, a partir da albufeira de Crestuma. A reserva de emergência do Baixo Sabor confere ao sistema electroprodutor uma notável capacidade de resposta a situações críticas de satisfação das necessidades de consumo, substituindo equipamento térmico de ponta, nomeadamente na ocorrência de regimes secos ou muito secos. A data mais optimista actualmente indicada pelo promotor para a respectiva entrada em serviço é o ano 2012. Uma referência ainda para a grande oportunidade e interesse na rentabilização plena do sistema electro-produtor do Alqueva que permite já dispor a Sul de um aproveitamento de potência instalada e de produção muito significativa e fiável e que terá uma componente reversível importante, estando bem habilitado para o aproveitamento integrado de outras energias e, designadamente, a eólica. Este sistema permitirá a disponibilidade de uma reserva de emergência muito importante para a região, em períodos de seca, associada não só à albufeira de Alqueva, mas também a um outro importante conjunto de albufeiras, das quais uma boa parte será também rentabilizada do ponto de vista hidroeléctrico.