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Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Relatório de Estágio na Imprensa Nacional Casa da Moeda Filipa Alexandra Simões Rodrigues Relatório Final de Estágio Mestrado em Crítica Textual Lisboa 2016

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Relatrio de Estgio na

Imprensa Nacional Casa da Moeda

Filipa Alexandra Simes Rodrigues

Relatrio Final de Estgio

Mestrado em Crtica Textual

Lisboa 2016

Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Relatrio de Estgio na

Imprensa Nacional Casa da Moeda

Filipa Alexandra Simes Rodrigues

Relatrio Final de Estgio orientado pela Prof. Doutora ngela Correia

Mestrado em Crtica Textual

Lisboa 2016

1

Relatrio de Estgio apresentado Universidade de Lisboa para cumprimento dos

requisitos para a obteno do grau de Mestre em Crtica Textual, realizado sob

orientao da Professora Doutora ngela Correia, professora auxiliar na Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa.

2

Agradeo INCM por me ter proporcionado este estgio.

Agradeo minha orientadora de estgio Paula Mendes e aos funcionrios do setor

editorial pelo acolhimento e disponibilidade para esclarecimentos.

Agradeo Professora ngela Correia por me ter orientado neste relatrio.

Agradeo aos meus pais por me terem proporcionado a minha formao acadmica,

minha irm e aos meus amigos pela pacincia e pela motivao dada durante todos

estes meses.

3

Resumo

O presente trabalho corresponde ao relatrio do estgio realizado na Imprensa Nacional

Casa da Moeda entre fevereiro e setembro de 2015 na rea de reviso editorial.

Numa primeira parte, feita a introduo do relatrio e a contextualizao do respetivo

estgio, seguidas de uma pequena apresentao da Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Numa segunda parte, que constitui o cerne do trabalho, descreve-se o processo de

reviso de texto necessrio na reedio de um ttulo clssico e na edio de uma nova

obra. So apresentadas as metodologias utilizadas bem como as principais questes

levantadas num trabalho de reviso editorial.

A ltima parte do relatrio dedicada s consideraes finais onde so apresentadas as

principais diferenas entre os projetos que fizeram parte do estgio realizado.

Abstract

This work corresponds to the report held for the internship at Imprensa Nacional Casa

da Moeda between February to September 2015 in the area of editing.

The first part is related to the introduction of the report and the context of the respective

internship, followed by a short presentation of Imprensa Nacional Casa da Moeda.

In the second part, which is the core of the work, describes the various stages of the

editorial process required in a edition of a classic title and the publication of a new

piece. The methodologies used are presented aswell as the main issues raised in a

working editing.

The last part of the report is devoted to closing remarks and major differences between

the projects.

4

ndice

Introduo. 5

A Imprensa Nacional Casa da Moeda 6

Histria.. 6

Servio pblico. 8

A atividade editorial.. 8

Reedio de um ttulo clssico da INCM... 11

Edio de uma nova obra... 21

A coleo.... 21

A obra. 23

A escolha da capa 25

O ttulo do livro .. 29

Smbolos de reviso editorial . 32

Consideraes finais... 37

Bibliografia. 38

5

Introduo

Quando se faz uma edio, o principal objetivo dar a ler um texto com a mxima

qualidade possvel a um pblico que no tinha acesso a esse mesmo texto. Desta forma,

o editor tem em conta as principais caractersticas do texto para que seja respeitada ao

mximo a vontade do autor.

Serve o presente trabalho para mostrar o trabalho realizado no estgio que decorreu

entre fevereiro e setembro de 2015 na Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) no

seguimento da vertente profissionalizante do Mestrado em Crtica Textual. O estgio

decorreu no setor editorial da INCM, sob a orientao da Doutora Paula Mendes.

Neste estgio foram levados a cabo dois projetos: a reedio de um ttulo clssico da

INCM e a edio de uma nova obra. O ttulo clssico escolhido foi Retrica de

Aristteles e a nova obra consistiu num texto sobre D. Quixote escrito por Antnio

Mega Ferreira, posteriormente publicada com o ttulo Essencial sobre Dom Quixote.

O principal objetivo era perceber as diferenas entre as metodologias usadas na reviso

do texto de um ttulo clssico e as metodologias usadas na reviso de uma nova obra.

Na reviso da obra de Aristteles o trabalho consistia em corrigir gralhas oriundas da

digitalizao e atualizao da ortografia. Diferente foi a reviso do texto de Mega

Ferreira cujos objetivos passavam pela confirmao de as novas regras ortogrficas

serem seguidas, bem como as regras do Manual de Estilo da INCM. Este projeto no se

resumiu reviso de texto mas incluiu tambm outras etapas do processo de produo,

nomeadamente a escolha da capa e o contacto estabelecido com o autor.

Foi possvel aplicar as competncias e conhecimentos adquiridos nas unidades

curriculares frequentadas no mbito do mestrado, nomeadamente Reviso de Texto.

Na reviso dos textos de ambos os projetos, foi usada a funcionalidade de registo de

alteraes do programa Microsoft Office Word e, no caso da reviso do texto de uma

nova obra, posteriormente, foi feita tambm a reviso em papel, usando os respetivos

sinais de reviso textual.

6

A Imprensa Nacional Casa da Moeda

A Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) , segundo a pgina on-line da

empresa, uma entidade de capitais pblicos ao servio do Estado Portugus e uma

parte integrante do Setor Empresarial do Estado (SEE), produzindo, desenvolvendo e

fornecendo bens e servios que requerem elevados padres de segurana. Entre os bens

e servios que disponibiliza destacam-se a cunhagem da moeda metlica e a edio de

publicaes oficiais, nomeadamente o Dirio da Repblica. A INCM ainda

responsvel pela produo de documentos de segurana, como o carto do cidado, a

carta de conduo e o passaporte; a autenticao de metais preciosos; a edio de obras

essenciais da cultura portuguesa.

Histria

A 24 de dezembro de 1768 foi criada a Impresso Rgia. Para isso, foi adquirida a

oficina tipogrfica de Miguel Manescal da Costa e foi alugado o palcio de D. Fernando

Soares de Noronha, na atual Rua da Imprensa Nacional. Antes disso, em 1732, Jean de

Villeneuve tinha criado a fbrica de carteres qual a Impresso Rgia posteriormente

se viria a unir. A pedido de D. Joo V, este fundidor de tipos francs veio para Portugal

para ensinar a arte de impresso.

Impresso Rgia foi, em 1769, integrada a Fbrica de Cartas de Jogar e Papeles cujo

rendimento advinha do fabrico e venda de cartas de jogar at 1833, data da sua extino.

A Casa Literria do Arco do Cego extinta em dezembro de 1801, acontecimento

coincidente com uma das reformas administrativas da Impresso Rgia, integrando o

patrimnio da primeira segunda, juntamente com o patrimnio pessoal de Frei Jos

Mariano da Conceio Veloso diretor da Casa Literria do Arco do Cego desde a sua

criao, em 1799. A Impresso Rgia fica ento encarregue de terminar trabalhos

comeados pela Casa Literria do Arco do Cego, continuando a impresso de livros e

concluindo obras comeadas. Este acontecimento foi bastante importante para a

consolidao da Impresso Rgia enquanto responsvel pela publicao de obras

relevantes da cultura portuguesa. Entre 1810 e 1833 a Impresso Rgia fica a cargo de

um nico administrador, Joaquim Antnio Xavier Anes da Costa, perodo este em que

7

se d um grande crescimento da instituio e as oficinas se veem equipadas com novo

material de impresso.

Em 1816, o palcio, at ento alugado, foi comprado por 16 contos de ris, sendo

demolido em 1895 para dar lugar ao atual edifcio apenas concludo em 1913 que

veio responder s crescentes necessidades da arte grfica.

A Impresso Rgia, tambm chamada Rgia Oficina Tipogrfica, passou, em 1833, a

ser chamada Imprensa Nacional.

Entre 1844 e 1878 a Imprensa Nacional alvo de uma modernizao tecnolgica que

lhe trouxe prmios em exposies nacionais e internacionais Londres (1862), Porto

(1865), Paris (1867), Viena (1873), Filadlfia (1876), Paris (1878), Rio de Janeiro

(1879), Paris (1889 e 1900).

A administrao de Lus Derouet de 1910 a 1927 (data em que morreu assassinado

por um tipgrafo desempregado porta do edifcio da Imprensa Nacional) trouxe um

grande desenvolvimento cultural, que passou pela organizao de conferncias e

exposies, bem como a inaugurao da Biblioteca (em 1923). Paralelamente verificou-

se um assinalvel desenvolvimento social, graas criao da Cooperativa A

Pensionista (1913), da Caixa de Auxlio a Vivas e rfos (1918) e da Previdncia

Mtua (1923).

Em dezembro de 1969, a Imprensa Nacional passa a empresa pblica e, em julho de

1972, funde-se com a Casa da Moeda.

Antes destes acontecimentos, em 1715, publicada a Gazeta de Lisboa, sendo este

considerado o primrdio do jornal oficial. Em 1718, passa a chamar-se Gazeta de

Lisboa Ocidental, voltando ao nome inicial, em 1741. Em 1762, Marqus de Pombal

probe a publicao, e o peridico s volta a ser publicado em 1778. Em 1803 a

publicao novamente interrompida, at 1814, e a partir deste ano o jornal oficial

publicado sem quaisquer interrupes. Entre setembro e dezembro de 1820, so

publicados a Gazeta de Lisboa e o Dirio do Governo que se fundem num s em janeiro

de 1821, com o nome Dirio do Governo. Desde ento, o nome do jornal oficial vrias

vezes alterado; mas, em abril de 1976, recebe o nome atual: Dirio da Repblica.

8

Para alm da publicao do Dirio da Repblica, a Imprensa Nacional tambm

responsvel pela edio, ou apenas impresso, de obras de autores clssicos ou vivos,

obras em portugus e obras traduzidas, obras de carter literrio, artstico ou cientfico,

bem como outros documentos oficiais, como a legislao.

Esta instituio teve ainda uma escola de composio, fundada em meados do sculo

XIX, onde foram formados profissionais em artes grficas. A arte de composio e de

gravura mantm-se at hoje no local onde foi inicialmente instalada pelo Marqus de

Pombal (www.incm.pt / Conhea a INCM / Histria).

Servio pblico

A INCM uma instituio de servio pblico e responsabiliza-se pela disponibilizao

de alguns bens e servios. Entre estes, destaca-se o acesso gratuito verso oficial do

Dirio da Republica; a produo de moeda metlica; a prestao do servio de

contrastarias; a edio e coedio de obras com relevncia cultural; emisso de

documentos de identificao de segurana como o Carto do Cidado, Passaporte,

Carta de Conduo, e cartes de identificao da GNR e PSP. A INCM disponibiliza

aos cidados ainda outros servios como a loja on-line, passaporte eletrnico, e est

responsvel pela emisso de multas e notificaes da ANSR (Autoridade Nacional de

Segurana Rodoviria); pelas receitas e vinhetas mdicas; pelo carto de dador de

sangue; pelo carto de feirante e vendedor ambulante; pelo modelo de autenticao de

videogramas do IGAC (Inspeo Geral das Actividades Culturais); pelas estampilhas de

tabaco e bebidas espirituosas; pelo Livro de Reclamaes; pelo Documento nico

Automvel; pelo carto tacgrafo; pelos certificados de Inspeo Peridica; pelos

boletins de voto; pela emisso de certificados de aptido e qualificao profissional do

pessoal de segurana privada; pela produo, personalizao e remessa das armas da

PSP bem como as licenas para uso e porte de arma. Segundo a pgina on-line da

INCM, para a prestao destes servios a INCM procura a inovao tecnolgica, para

que haja uma divulgao de cultura com qualidade e segurana, sempre ao servio do

cidado.

A atividade editorial

A atividade da Imprensa Nacional Casa da Moeda dividida em quatro unidades de

negcio: a Unidade de Contrastaria, a Unidade de Publicaes, a Unidade Grfica e a

9

Unidade de Moeda. Dentro da Unidade de Publicaes, rea onde o meu estgio esteve

integrado, existem dois setores:

O setor da Edio (EDI), onde trabalham os revisores e paginadores. este setor

que est responsvel pela reviso e paginao do Dirio da Repblica e dos

livros.

O setor de Gesto de Projetos Editoriais (GPE). Neste setor trabalham editores,

sendo estes responsveis por transformar um original de uma obra em livro, em

coordenao com outros profissionais que esto envolvidos no projeto

autor(es), revisor, designer grfico e/ou paginador, tcnicos de pr-impresso,

impresso e acabamentos. responsvel tambm pelo estabelecimento de

contactos que possam ser necessrios e por desenvolver iniciativas de

comunicao e promoo da obra, bem como por garantir que o processo de

edio decorre dentro dos prazos estabelecidos. Como responsveis pelo projeto,

so os editores deste setor que orientam o trabalho e todos os profissionais

envolvidos, consoante os livros faam parte de uma coleo, e tenham portanto

de obedecer a todas as regras predefinidas que lhe esto associadas, ou sejam

edies fora de uma coleo, com uma conceo grfica individualizada. Assim

sendo, o EDI e o GPE trabalham em estreita colaborao. O GPE pode, ainda,

em alguns casos, trabalhar com fornecedores de trabalho externos,

nomeadamente atelis de design grfico.

A Unidade de Publicaes, que, at 2012, se ocupava apenas da publicao de livros,

atualmente, e a partir daquela data, passou a ocupar-se tambm do Dirio da Repblica,

contando com mais de 100 colaboradores.

A INCM, como promotora da lngua e da cultura portuguesas, responsvel pela edio

de obras essenciais da cultura portuguesa e universal. O patrimnio bibliogrfico da

lngua portuguesa assim compartilhado e enriquecido com a edio de novas obras.

Existe ainda o Conselho Editorial, composto por sete a 10 membros devendo estes ser

considerados personalidades de reconhecida capacidade literria, artstica e cultural

que define a atividade editorial da INCM, para que esta cumpra umas das suas grandes

funes: reforar a difuso de obras em lngua portuguesa e representativas da cultura

portuguesa (www.incm.pt / Governo da Sociedade / Obrigaes/Servio pblico).

10

Das obras originais que lhe so apresentadas, a INCM privilegia aquelas que sejam uma

contribuio relevante para a cultura. As obras inditas, escritas ou traduzidas para

portugus, tm de preencher os requisitos de originalidade, correo e coerncia de

contedos para serem selecionadas para edio. As obras a reeditar tm de ser

consideradas fundamentais para o patrimnio cultural, pela relevncia nas mais diversas

reas do conhecimento.

Cabe ao Conselho Editorial da INCM decidir se uma obra considerada contribuio

relevante para a cultura ou no e, consequentemente, se publicada ou no. As obras

que sejam consideradas atentados Declarao dos Direitos Humanos ou incentivem,

de alguma forma, violncia ou preconceitos so rejeitadas. Do mesmo modo, so

rejeitadas teses ou dissertaes que no cumpram os requisitos necessrios para que

sejam considerados contributos relevantes para o conhecimento.

Os textos apresentados INCM para publicao devem estar escritos em papel A4, em

fonte Times New Roman, tamanho 12, com 1,5 de espaamento entre as linhas e sem

rasuras. Os originais devem ser remetidos para a Unidade de Publicaes (no edifcio da

Imprensa Nacional Rua da Escola Politcnica), com a referncia Original Proposta

para edio, acompanhados de um curriculum resumido e endereo para futuro

contacto. Devem ser entregues trs exemplares que, aps a anlise, no sero

devolvidos. Num prazo de trs a seis meses, a INCM informa o autor se a sua proposta

de edio foi aceite ou no. Caso a proposta seja aceite, a INCM apresenta tambm uma

previso de data de edio, tendo em conta as prioridades do plano editorial

(www.incm.pt / Editorial critrios para recebimento e apreciao de originais).

11

Reedio de um ttulo clssico da INCM

A obra trabalhada foi Retrica, escrita por Aristteles, aparentemente, em diferentes

momentos da sua vida, e divide-se em trs livros. Ao ler a introduo da obra, escrita

por Manuel Alexandre Jnior, percebemos que Aristteles ter comeado a escrever

quando era membro da Academia onde lecionava Retrica, em 350 a.C., tendo

possivelmente escrito ento o livro 1.5-15 e partes do livro 3. Quando esteve na

Macednia ter escrito a maior parte do corpo do texto, entre 342 a.C. e 335 a.C.; e aps

ter regressado a Atenas, em 335 a.C., ter concludo o livro, coincidindo este

acontecimento com a abertura da escola aristotlica.

Segundo Nascimento (2006, p. 15), Aristteles nasceu em Estagira (hoje Stavro), em

384 a.C. Considera este filsofo um gnio universalista. Branes (2000, p. 3/4) diz

que, por ser um grande orador e por ter um bom poder de persuaso, Aristteles serviu

de inspirao a jovens gregos e contribuiu para o ensino, com as suas exploraes

cientficas e especulaes filosficas, como ningum antes havia feito. Diz ainda que o

orador grego tinha um grande desejo de conhecimento e afirmava que todos os homens,

por natureza, tm desejo de saber, pois a aquisio de sabedoria agradvel. Aristotle

argues that happiness that state of mind in which men realize themselves and

flourish best consists in a life of intellectual activity. (Branes, 2000, p.3)

Branes (2000, p.4) acrescenta ainda que Aristteles aborda, nos seus perto de 150

escritos, os mais diferenciados temas: lgica e linguagem; arte; tica, poltica e leis;

histria constitucional e histria intelectual; psicologia e fisiologia; histria natural

zoologia, biologia e botnica; qumica, astronomia, mecnica, matemtica; filosofia da

cincia e natureza do movimento, espao e tempo; e ainda metafsica e teoria do

conhecimento.

Com o objetivo de tornar o texto acessvel ao leitor portugus, Retrica uma das obras

editadas no mbito da coleo Obras Completas, da INCM, englobando os trinta

escritos completos de Aristteles que chegaram at ns e outros textos fragmentrios

que a tradio transmitiu como tendo sido escritos por Aristteles. Esta obra, cujo

prefcio e introduo foram escritos por Manuel Alexandre Jnior, foi traduzida por

12

este estudioso, por Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. A edio

trabalhada no estgio foi a quarta edio, publicada pela INCM, em agosto de 2010.

Devido evoluo informtica, os ficheiros digitais de algumas obras tornaram-se

ilegveis, o que criou a necessidade de digitalizar a obra e obter, assim, em suporte

digital, um texto exatamente igual ao impresso, aps reviso para eliminao das

gralhas resultantes da digitalizao com recurso a OCR. Aproveitou-se para atualizar a

ortografia da obra e verificar se as normas tipogrficas da INCM eram cumpridas.

O OCR um software que permite converter ficheiros de imagem em ficheiros de texto,

graas ao reconhecimento tico de carteres. Esta converso de imagem em texto

resulta facilmente em erros de leitura tica.

Vejamos os principais erros encontrados na digitalizao.

Acentos

No livro impresso Na digitalizao

(ver fig. 1) E (ver fig. 2)

Cham (ver fig. 3) Chaim (ver fig. 4)

(ver fig. 5) (ver fig. 6)

bonus (ver fig. 7) bnus (ver fig. 8)

ber (ver fig. 9) ber (ver fig. 10)

(ver fig. 11) a (ver fig. 12)

optimo (ver fig. 13) ptimo (ver fig. 14)

(Fig. 1)

(Fig. 2)

13

(Fig. 3)

(Fig. 4)

(Fig. 5)

(Fig. 6)

(Fig. 7)

(Fig. 8)

(Fig. 9)

(Fig. 10)

(Fig. 11)

(Fig. 12)

(Fig. 13)

v

v

14

(Fig. 14)

Em relao aos acentos, verifica-se a falta de acentos em letra maiscula, como no caso

de , ou mesmo a troca de um acento por outro no caso de que passou a .

possvel tambm verificar que grande parte dos carteres com trema no livro

digitalizado aparecem ou sem trema ou com um outro acento, na digitalizao. Existe

ainda o caso de algumas palavras escritas em outras lnguas bonus, em latim, por

exemplo que, provavelmente por correo automtica do Word, aparecem

indevidamente escritas com acento no ficheiro de texto.

Troca de carteres

No livro impresso Na digitalizao

XVIII (ver fig. 15) xvm (ver fig. 16)

central (ver fig. 17) centrai (ver fig. 18)

II (ver fig. 19) U (ver fig. 20)

III (ver fig. 21) HL (ver fig. 22)

lInstitution (ver fig. 23) lTnstitution (ver fig. 24)

Jeanne (ver fig. 25) Jearme (ver fig. 26)

lloquence (ver fig. 27) Veloquence (ver fig. 28)

lanalogie (ver fig. 29) Fanalogie (ver fig. 30)

largumentation (ver fig. 31) 1argumentation (ver fig. 32)

lUniversit (ver fig. 31) YUniversit (ver fig. 32)

Modern (ver fig. 33) Modem (ver fig. 34)

Chapel (ver fig. 33) Chapei (ver fig. 34)

Entsthehung (ver fig. 35) Eritsthehung (ver fig. 36)

(ver

fig. 37)

f\ S pr|TopiKTi 7iepi to oGvxo (

eiTieiv OKE 8)vao9m Gecopev x

7ti0avv (ver fig. 38)

v

15

(fig. 15)

(fig. 16)

(fig. 17)

(fig. 18)

(fig. 19)

(fig. 20)

(fig. 21)

(fig. 22)

(fig. 23)

(fig. 24)

(fig. 25)

16

(fig. 26)

(fig. 27)

(fig. 28)

(fig. 29)

(fig. 30)

(fig. 31)

(fig. 32)

(fig. 33)

(fig. 34)

(fig. 35)

(fig. 36)

(fig. 37)

17

(fig. 38)

Pelos exemplos acima apresentados, possvel perceber que a operao d

frequentemente origem troca de carteres. Regra geral, os carteres trocados so

graficamente semelhantes aos carteres do texto original. Em todas as situaes em que

ocorre texto escrito em grego, os carteres desta lngua aparecem, aps digitalizao,

convertidos em conjuntos de smbolos e letras latinas sem nenhum significado, no texto

escrito em Word. Estes casos exigiram especial ateno, porque os carteres gregos

tiveram de ser inseridos individualmente atravs da funcionalidade inserir smbolo.

Seria possvel, atravs de um conversor automtico, inserir os carteres gregos com um

teclado convencional do computador. Para isso seria, no entanto, necessrio um

domnio mnimo da lngua grega; no sendo o caso, foi redobrada a ateno dada

insero dos smbolos.

Outro aspeto em que houve especial ateno foi o da atualizao da ortografia, tendo em

conta o Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990. Em casos de dvida acerca

da grafia de alguma palavra, foi feita uma pesquisa on-line no Portal da Lngua

Portuguesa do Instituto de Lingustica Terica e Computacional. Nos casos de dupla

grafia ou seja, nos casos em que existem duas possibilidades de grafia, por se tratar de

palavras com divergncias de articulao fontica foram suprimidas as consoantes que

tanto podem ser pronunciadas como podem ocorrer como consoantes mudas. Deste

modo, a escolha foi feita dando preferncia opo grfica mais econmica.

As notas de rodap, apesar de terem sido convertidas em texto, no apareciam tratadas,

no documento Word, como notas de rodap, pelo que foram reintroduzidas

individualmente no devido lugar.

As normas tipogrficas da INCM foram conservadas, uma vez que a edio anterior foi

tambm publicada pela INCM. Foi tido em conta o Manual de Estilo (2008) da INCM,

pequena compilao de regras que garante a uniformidade de tratamento das

publicaes. No houve correes a fazer no que se refere s normas tipogrficas da

INCM pois o texto estava escrito tendo em conta as mesmas. Durante a reviso, e

confrontando sempre com a edio em papel, foi verificado se o OCR teria deturpado a

18

formatao do texto digitalizado. Nem sempre foram precisas alteraes, tratou-se

apenas de verificar se o texto digitalizado estava devidamente formatado. As regras que

mais frequentemente foram tidas em conta foram as que se seguem.

Em ttulos de publicaes; em expresses latinas; em casos de destaque de

palavras ou expresses foi usado o itlico. Quando o texto estava escrito em

itlico, usou-se o redondo para os mesmos efeitos.

Em nomes de autores em citaes bibliogrficas (ver fig. 39) e em numerao

romana em que a palavra antecedente, qual se refere, escrita com minscula

inicial (ver fig. 40) foram usados os versaletes. Em contraste, a numerao

romana escrita em maiscula quando a palavra que a antecede tambm

escrita com inicial maiscula.

(fig.39)

(fig. 40)

No inicio do sculo XIX, mais especificamente 1831, o filsofo alemo Imanuel Bekker,

tem a iniciativa de editar todos os tratados aristotlicos para a Academia de Berlim,

sendo esta a primeira edio moderna da obra de Aristteles. Hoje j existem outras

edies das obras Aristotlicas consideradas de referncia, mais claras, mas foi a edio

de Bekker que deu origem a todas as outras. (Mesquita, 2005, pp. 9 e 11)

Ao longo desta edio, existem numeraes na margem externa (ver fig. 41). Estas

numeraes so citaes dos tratados de Aristteles a partir da edio de Bekker

pgina e coluna , estas citaes podem tambm ocorrer em aparato crtico. (Mesquita,

2005, pp. 35)

Algumas destas numeraes ficaram em falta no texto em Word por no terem sido

reconhecidas na digitalizao. Nestes casos, as numeraes foram inseridas

19

individualmente. Algumas das numeraes foram reconhecidas na digitalizao e

inseridas no meio do texto em Word. Nestes casos, apenas foram acrescentados

parnteses retos para diferenciar do restante texto. Em casos em que a numerao est

na mesma linha em que ocorre a translineao de uma palavra, como se pode ver na

figura 42, a numerao foi colocada imediatamente antes desta mesma palavra, como se

pode ver na figura 43; deste modo, no existem palavras divididas; caso contrrio, a

leitura seria dificultada se a formatao do texto, futuramente, fosse diferente da atual.

(fig. 41)

(fig. 42)

20

(fig. 43)

A reviso foi feita com a funcionalidade de registo de alteraes do programa

Microsoft Office Word. Esta funcionalidade, quando ligada, permite assinalar todas as

alteraes feitas ao documento. Desta forma, possvel, em qualquer altura da reviso,

resolver dvidas sobre opes feitas e rejeit-las, caso seja necessrio.

21

Edio de uma nova obra

A coleo

A Imprensa Nacional Casa da Moeda lanou, em 1985, uma coleo chamada O

Essencial Sobre. A coleo foi iniciada com o ttulo O Essencial sobre Irene Lisboa, de

Paula Moro. O n. 2 O Essencial sobre Antero de Quental, de Ana Maria M. Martins,

e o n. 3 O Essencial sobre a Formao da Nacionalidade, de Jos Mattoso. A INCM

disponibiliza o total da coleco no catlogo on-line (consultar referncias

bibliogrficas). A coleo teve, inclusive, um anncio televisivo, cujo lema era Fume

menos, leia mais (ver fig. 44) porque o preo dos livros era aproximadamente o de um

mao de cigarros.

(fig. 44)

O objetivo da coleo proporcionar a um pblico de leitores alargado, no

especializado, informao de base sobre diversos temas da cultura portuguesa, por um

valor acessvel. Esta coleo um conjunto de pequenos livros que, tal como o nome

indica, transmitem ao leitor a informao fundamental sobre um tema, seja ele uma

personalidade como Irene Lisboa, Antero de Quental, Mrio de S Carneiro etc. , um

tema relacionado com a cultura como a msica tradicional portuguesa, os provrbios

medievais portugueses, o teatro luso-brasileiro, a crtica literria portuguesa ou outro

tema mais genrico como o cancro, os bebs-proveta, a metafsica, o capital social,

a teoria da relatividade, entre outros.

Atualmente, a coleo conta 127 livros.

22

Desde o seu lanamento at 2009 o que corresponde a 111 ttulos , a coleo

manteve-se estvel do ponto de vista grfico (ver figura 45). Em 2010, a estrutura

grfica da coleo foi reformulada pois a editora considerou que a referida coleo

precisava de ser, esteticamente, mais atrativa e contempornea (ver figura 46). Nesta

renovao, o formato foi alterado (a dimenso passou de 110x140 mm para 100x165

mm) bem como o estilo grfico do miolo, o tipo de letra e a capa. O texto do miolo

composto na letra Chronicle Text e a capa em Big Caslon Essencial; os tamanhos

podem variar mas, regra geral, o texto em corpo 10, as notas de rodap em corpo 7,5 e

os ttulos dos captulos em corpo 14. Os materiais tambm foram alterados, o papel do

miolo passou a ser creme (Coral Book Ivory) por oposio ao branco usado

anteriormente (IOR). Esta alterao no se deu apenas por motivos estticos mas

tambm pela comodidade de leitura que o papel creme proporciona, por produzir um

menor contraste com o texto impresso. O material da capa manteve-se, uma cartolina

regular (comummente conhecida por Chromocard), mas passou a ter uma plastificao

mate como acabamento, por oposio ao brilhante dos livros mais antigos.

(fig.45) (fig.46)

23

A obra

Antnio Mega Ferreira, o autor do texto trabalhado, nasceu em Lisboa, em 1949, e

formado em Direito e em Comunicao Social. profissional do jornalismo, trabalhou

em vrios jornais e chefiou redaes, foi autor e apresentador de programas televisivos e

chegou a ser diretor editorial do Crculo de Leitores durante dois anos; foi cronista em

vrias publicaes e colaborador em diversas revistas. Em 1984, Mega Ferreira

comeou a sua carreira literria, publicando obras de fico, poesia e ensaio.

Interessado pela obra de Cervantes e tendo j escrito, em 2006, Por D. Quixote: O

Literato, o Justiceiro e o Amoroso, Mega Ferreira participou na coleo da INCM O

Essencial Sobre.

Processo de produo

Depois de escrito, o texto foi revisto em Word. Esta reviso consistiu em verificar se

existiam erros ou gralhas e se o texto estava escrito de acordo com a nova norma

ortogrfica. No foram encontradas gralhas no texto, apenas foram substitudas as aspas

inglesas pelas aspas portuguesas e os hfens por travesses ver figura 46.

(fig. 46)

24

O autor no ps em causa as alteraes feitas como descreverei mais adiante. Durante

este processo de reviso, foi usado o registo de alteraes e foram tidas em conta as

regras do Manual de Estilo da INCM (2008).

Foi tida em conta a regra sobre a numerao romana, que foi enunciada acima,

exemplificada na figura 47. A numerao romana que se segue a sculo, por esta

palavra ser escrita com minscula inicial, escrita em maisculas pequenas ou

versaletes em contraste com a numerao romana referente a Filipe, palavra escrita

com maiscula inicial, que escrita com maisculas.

(fig.47)

Foi tida tambm em conta a regra referente ao itlico, enunciada acima, e foi conferido

se o itlico era usado em ttulos de publicaes (fig. 48), em expresses latinas (fig. 49)

e em palavras destacadas ou expresses (fig.50).

(fig. 48)

(fig.49)

(fig.50)

Foi verificado se a bibliografia tinha sido concebida considerando as regras que a INCM

definiu tendo em vista a uniformizao. Assim sendo, as referncias bibliogrficas

devem conter, por esta ordem, os seguintes elementos que sejam relevantes para a

25

identificao da obra: o(s) autor(es) em redondo, com maiscula inicial, escrito em

versaletes ; o nome da publicao em itlico, com maiscula inicial ; artigos

includos em publicaes ou captulos de livros em redondo, entre vrgulas, apenas a

letra inicial maiscula ; responsabilidade secundria inclui editores literrios,

tradutores, ilustradores, etc. ; nmero da edio; o nome da coleo sempre entre

vrgulas e com maiscula inicial ; nmero do volume; publicao que inclui local,

editor e data ; notas e pginas consultadas (ver figura 51). Quando se trata de

referncias a obras do mesmo autor, o nome deste substitudo por um travesso longo,

como se poder ver nas primeiras trs referncias bibliogrficas na figura 51.

(fig. 51)

Depois de revisto, o texto foi enviado para o paginador, que fez a composio das

pginas, de acordo com aquela que a imagem da coleo.

A escolha da capa

Simultaneamente, foi feito o pedido a um designer, neste caso exterior INCM, para

elaborao da capa. Para isso, foi selecionado um trecho do texto da obra que considerei

com informao significativa para dar a conhecer ao designer o contedo da obra e,

assim, melhor adequar a imagem da capa ao texto. Tentando fugir ao bvio, acabei por

selecionar informao demasiado relacionada com o contedo literrio, em vez de

smbolos que estivessem ligados obra. Eis o briefing que foi selecionado:

26

Cervantes escreve o que Cide Hamete diz, ou o que o tradutor o faz

dizer: que D. Quixote louco e que grandiosas e inauditas so as faanhas

que lhe so inspiradas pela loucura, porque h uma desproporo evidente

entre o que a realidade mostra e o que ele imagina que a realidade lhe

apresenta. Tais coisas, as que D. Quixote v, diz Cervantes, no existem na

vida real; no entanto, D. Quixote viu-as em literatura e em literatura que

elas acontecem no texto que Cervantes prope. E por isso, tais coisas so

reais, como matria literria. Para Edward Baker, aos olhos de D. Quixote a

realidade exterior algo que o Engenhoso Fidalgo s pode compreender se

a abordar como se fosse um livro:

No Dom Quixote estamos perante o caso de um leitor que pretende

romper os limites da sua biblioteca concebida como refgio [ maneira de

Montaigne], transformando o espao do quotidiano ocupado pelas restantes

personagens em espao de leitura.

E, no mesmo sentido, escreve Marthe Robert:

O ato quixotesco mais radical no de todo a concretizao de uma

qualquer aspirao pessoal, mas, bem pelo contrrio, a imitao de um ideal

fixado por uma tradio, a saber, uma conveno literria, desprovido

portanto de qualquer originalidade.

O designer acabou por basear o seu trabalho nas principais imagens que os leitores tm

da histria, neste caso, os moinhos, o chapu, o sol, o livro, mas tambm podia ter

partido de imagens como lanas, cavalos etc. Tratando-se da capa de um livro de

coleo, teve de seguir algumas regras grficas definidas para a mesma. Neste caso, as

regras grficas exigem cores fortes em contraste, geralmente duas cores e o preto. Neste

livro, foram usadas as cores Preto, Pantone 199 (vermelho) e Pantone 1235 (amarelo) a

representar o calor e o sol da meseta central espanhola.

Normalmente, a ideia e a proposta de capa do designer; ainda assim a editora pode, e

deve, enviar algumas linhas mestras orientadoras. tambm pedida uma proposta de

capa com pelo menos duas declinaes, permitindo, deste modo, que haja possibilidade

de escolha.

27

Em resposta, o designer enviou duas propostas de capa do livro (figs. 52 e 53) que

foram, posteriormente, enviadas para o autor para que este desse a sua opinio sobre a

capa que melhor se enquadrava na obra. Foi, ao mesmo tempo, pedido ao autor que

escrevesse o texto para a contracapa.

(Fig. 52)

(Fig. 53)

Foi tambm enviada pelo designer uma imagem mostrando o livro em trs dimenses

(fig. 54), com o objetivo de mostrar o efeito mais prximo possvel do produto final.

28

Esta maqueta ainda no tinha acolhido o pedido do autor para que fosse retirado o artigo

definido antes de Dom Quixote no ttulo do livro.

(Fig. 54)

Entretanto, o paginador acabou o seu trabalho e foram feitas as primeiras provas para

que pudesse fazer-se a primeira reviso, com vista a verificar se todas as correes

anteriormente feitas em Word tinham sido convenientemente integradas. O resultado

desta reviso foi enviado ao autor, para que este pudesse fazer algumas alteraes, caso

desejasse.

As alteraes feitas, e referidas anteriormente no incio desta seco (Processo de

produo), foram aceites pelo autor por se tratarem de alteraes grficas.

Nesta fase, o autor fez pequenos ajustes ao texto. Mais adiante, na seco smbolos de

reviso editorial, apresento alguns exemplos destes ajustes, tais como pequenas

eliminaes (fig. 56), correes de acentuao (fig. 56), acrescentos (figs. 58 e 62),

eliminao de pginas em referncias de citaes (fig. 58), indicaes de falta de

espaos (fig. 59), algumas substituies (figs. 60, 61 e 64). O autor fez ainda uma

alterao de redondo para itlico (fig. 63).

29

Foram ento feitas as segundas provas, ou seja, verificou-se se as correes feitas pelo

autor foram devidamente inseridas. Esta contraprova no levantou nenhuma questo e o

livro pde seguir para a produo, depois de inserir algumas informaes na ficha

tcnica que estavam em falta. No acompanhei o processo de impresso do livro e a

minha orientadora de estgio na INCM serviu de intermediria no contacto com o autor.

De igual modo, paralelamente, toda a reviso foi tambm feita por um revisor

profissional da INCM.

O ttulo do livro

Juntamente com as alteraes feitas s primeiras provas, o autor levantou a questo do

ttulo, deixada em standby at ento. Ao longo da obra, o autor escreve Dom Quixote

para referir a obra e D. Quixote quando quer mencionar a personagem. O ttulo do

livro acabou por ficar O Essencial sobre Dom Quixote com a justificao, do autor, de

que no livro se trata da obra literria e no da personagem em si, ainda que o autor

compreendesse que, por motivos esttico-editoriais se optasse por O Essencial sobre

D. Quixote, como podemos ver na figura 55 e transcrito abaixo.

(Fig. 55)

30

Acima l-se: Neste, como em outros textos sore o livro de Cervantes, adotei o critrio

de designar a personagem como D. Quixote e o livro como Dom Quixote. Em tempo: se

se preferir (critrio editorial) pode-se referir o livro como: o Dom Quixote. Por exemplo:

O Essencial sobre o Dom Quixote. Mas compreendo que, por motivos esttico-

editoriais, se prefira O Essencial sobre D. Quixote. Nihil obstat.

Como disse acima, o autor compreenderia se, por motivos esttico-editoriais fosse

necessrio escrever D. Quixote no ttulo da obra, em vez de Dom Quixote. A

escolha entre D. e Dom pertence ao domnio das regras grficas, que variam de

editora para editora. Se se tratasse de algo cerimonioso, como uma carta dirigida

nobreza, por exemplo, seria mais respeitoso usar-se Dom. No sendo o caso, a editora

optaria por D.. Ambas as formas aparecem escritas nas diferentes edies portuguesas

da obra. Diferente este livro em que aparecem as duas formas escritas, como j foi

explicado anteriormente: o autor decidiu usar D. Quixote sempre que se referisse

personagem e Dom Quixote (em itlico) sempre que se referisse obra, de forma

informal e abreviada. Compreende-se a escolha do autor, pois num ensaio sobre este

tema teria de ser claro a que se referia o autor nas diferentes partes do texto. Sendo o

assunto do ensaio a obra em si, a opo que seria escolhida para o ttulo seria Dom

Quixote.

Como disse anteriormente, a editora fez o pedido ao designer para a conceo da capa e

este apresentou duas propostas. Pode acontecer que a editora no aceite nenhuma das

propostas e pea outra ou outras ou pea reformulaes ou ajustes, no tendo sido este o

caso. editora, que encomenda o trabalho ao designer, que cabe a deciso se a capa

aceite ou no e a ela cabe tambm dar o trabalho como fechado. Durante este processo,

o autor consultado pela editora por ser, inclusive, seu direito. Ainda assim, a editora

que decide qual ou quais os projetos que so pertinentes e esto em condies de serem

apresentados ao autor. Um dos principais critrios para a escolha da capa foi a

originalidade e a capa escolhida foi a imagem da primeira proposta apresentada (fig.52)

mas com o ttulo O Essencial sobre Dom Quixote. A capa foi, portanto, resultado de

um dilogo entre a editora, o designer e o autor, neste caso por telefone, at chegar ao

resultado final, como, alis, normalmente acontece na INCM.

Outra questo levantada foi como seria feita a referncia obra Dom Quixote, no ttulo

do livro da coleo: em itlico ou em redondo. Como se trata de uma referncia a um

31

ttulo de uma obra, seria espectvel que esta aparecesse escrita em itlico, como foi

sempre a vontade manifestada pelo autor. No entanto, na conceo da capa considerou-

se que essa possibilidade iria fazer com que a capa deste livro se tornasse destoante das

restantes capas de livros da mesma coleo. H aspetos estticos que pesam neste

processo; no entanto, o design grfico no deve sobrepor-se clareza dos elementos

informativos relevantes na capa dos livros. Ainda assim, a capa segue outros princpios

relevantes que devem ser mencionados. Por exemplo, o ttulo e nomes de autores so

compostos totalmente em caixas altas, ou maisculas. Para alm disso, o uso do itlico

serve como forma de destaque dentro de um texto, ou seja, em contexto, excerto ou

referncia e, neste caso, o ttulo do livro, por si s, j bastante destacado. de frisar

tambm que o ttulo desta coleo tem a particularidade de ter uma ciso tipogrfica,

uma vez que a primeira parte do ttulo que corresponde ao nome da coleo se

destaca da segunda. Foi com estes argumentos contra o uso do itlico no ttulo que o

autor acabou por ceder no uso do mesmo e se optou por escrever o ttulo a redondo,

independentemente de, dentro deste, estar a referncia a uma outra obra.

Na imagem abaixo (fig. 56) possvel ver o produto terminado, agora tambm com o

texto da contracapa escrito pelo autor. No texto de contracapa foi aplicado o princpio

usado no texto do miolo do livro.

32

(Fig. 56)

Smbolos de reviso editorial

Por ter conhecimentos editoriais, o autor utilizou nas alteraes que fez s provas

smbolos de reviso editorial. Apesar de no terem sido usados por mim diretamente,

por no terem sido feitas emendas nas provas em papel e por, depois das emendas feitas

pelo autor, no terem sido precisas mais alteraes, tive de pr em prtica os

conhecimentos sobre os referidos smbolos para ler os do autor.

Apresento agora uma tabela com os smbolos mais frequentes na reviso de texto em

papel e como funciona o sistema de utilizao destes smbolos.

Os smbolos utilizados na reviso de provas so utilizados no corpo do texto e

margem da pgina. No texto so colocados smbolos (trs primeiras linhas da tabela)

para indicar onde vai ser inserido, alterado ou suprimido o texto ou espaos entre

palavras ou linhas. Na margem, voltaram a colocar-se os smbolos, mas, desta vez,

seguidos de indicaes sobre as alteraes a fazer. Mesmo que os smbolos no texto

deem, por si ss, informao suficiente para as alteraes a fazer (como o caso da

33

abertura de pargrafo, por exemplo), estes devem ser sempre colocados margem de

modo a chamar a ateno para que, naquela linha, existem modificaes.

Smbolo Significado

Colocado, no corpo do texto, sobre um carter a alterar ou

eliminar ou no espao exato onde se pretende inserir texto.

Colocado, no corpo do texto, sobre a sequncia de carteres a

alterar ou eliminar. Utilizado para selecionar dois smbolos,

palavras, frases ou linhas de texto.

Colocado, no corpo do texto, sob a(s) palavra(s) a alterar.

Utilizado para alteraes referentes a tipo de letra.

ou Introduzido por ou , indica a eliminao do carcter,

sequncia de carteres ou espao.

ou

Indica que o carter (encerrado por ) ou sequncia de

carteres (delimitados por ) devem alterar-se para

versaletes (maisculas pequenas).

Indica que o carter (encerrado por ) deve alterar-se para

versais (maisculas).

Colocado para indicar o(s) carter(es) ou palavra(s) a alterar para

caixa alta (maisculas) utilizando ou para caixa baixa

(minsculas) utilizando .

Sequncia a ser colocada a negrito (ou bold).

Sequncia a ser colocada em itlico.

Sequncia a ser colocada a redondo, quando est em itlico.

Sequncia a ser colocada em corpo fino, quando est em negrito.

Antecedido por , colocado para dar espao ou alargar.

ou

Colocado no intervalo de duas linhas e de uma ponta outra da

coluna de texto, quando se pretende alargar a entrelinha.

34

Antecedido por , colocado para apertar espao ou unir

carteres.

Colocado no intervalo de duas linhas e de uma ponta outra da

coluna de texto, quando se pretende apertar a entrelinha.

Colocado antes de uma palavra em que se deve iniciar um novo

pargrafo. (Reforado margem).

Indica que a linha deve ser alinhada esquerda. (Reforado

margem).

Indica que a linha deve ser alinhada direita. (Reforado

margem).

Letras, outros carteres ou palavras que seja preciso trocar entre

si so circundados com este smbolo. (Reforado margem).

Indica necessidade de regularizar espaos entre palavras. Os

smbolos so colocados entre todas as palavras de uma linha e

margem.

Indica a necessidade de aumentar espao entre letras e colocado

sob as palavras da linha a alargar.

Existe ainda a combinao de alguns smbolos, como ou e o seu

significado a acumulao do significado dos smbolos presentes. Ou seja, a primeira

combinao indica que necessrio eliminar o que est delimitado por e colocar

um espao. A segunda combinao indica a necessidade de eliminar a sequncia

delimitada por e de apertar um espao.

Apresento agora alguns exemplos de smbolos utilizados pelo autor, quando fez a

reviso de provas. As seguintes imagens servem tambm para exemplificar as alteraes

feitas pelo autor sobre as quais se falou anteriormente.

35

(fig. 56)

(fig.57)

(fig. 58)

(fig. 59)

(fig. 60)

(fig. 61)

(fig. 62)

36

(fig. 63)

(fig. 64)

Quando se quer retirar a proposta de alterao s provas, o smbolo rasurado e

escrito vale, informando que a mudana fica sem efeito. Podemos ver um destes

casos num momento em que o autor voltou atrs na sua reviso (ver figura 53).

(fig. 65)

37

Consideraes Finais

Foi um privilgio poder estagiar na prestigiada editora Imprensa Nacional Casa da

Moeda e poder ter acesso a alguns recantos do setor editorial.

As reas curriculares do Mestrado em Crtica Textual permitiram que tivesse os

conhecimentos necessrios para desenvolver o trabalho deste estgio, especialmente

Reviso de Texto e Produo do Portugus Escrito, que frequentei opcionalmente.

Neste estgio, com ambos os projetos, foi-me possvel pr em prtica os conhecimentos

adquiridos nas unidades curriculares e desenvolver as competncias relacionadas com a

reviso de texto.

Com a reviso de Retrica, percebi que extremamente importante ser-se fiel ao texto

original para que no seja deturpada a vontade do autor que, estando morto, j no se

pode prenunciar sobre as edies da sua obra. Por ser uma obra um pouco extensa,

percebi tambm que o trabalho do revisor moroso e requer bastante ateno. O ideal

que haja vrias revises para que a possibilidade de haver erros deixados para trs seja a

menor possvel.

Com o projeto da nova obra, pude acompanhar algumas das fases de produo de um

livro, incluindo a encomenda e escolha da capa, o contacto com o autor e a reviso das

provas. Segui o processo, percebendo que o trabalho do editor no se limita apenas

reviso de texto mas inclui tomar muitas outras decises tendo em conta o que vai ser

melhor para a obra mas tambm para o leitor. Entretanto o Essencial sobre Dom

Quixote foi publicado e j se encontra venda.

Este estgio permitiu, portanto, consolidar conhecimentos, desenvolver competncias e

compreender melhor o mundo editorial.

38

Bibliografia

Manual de Estilo, Outubro 2008, Imprensa Nacional Casa da Moeda

MESQUITA, Antnio Pedro; A Vida de Aristteles; Lisboa 2006; Edies

Silabo

Introduo Geral; Lisboa 2005; INCM

BRANES, Jonathan; Aristotle: A Very Short Introduction; Nova Iorque 2000;

Oxford University Press

Aristteles; Retrica; trad. JNIOR, Manuel Alexandre, ALBERTO, Paulo

Farmhouse, PENA, Abel do Nascimento; 4 Ed.; Lisboa 2010; INCM.

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