relatório elogio ao Ócio
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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
PAULA SOUZA
FACULDADE DE TECNOLOGIA DE MAUÁ
ERIC VIEIRA DA CRUZ
RELATÓRIO DE ESTUDO DA OBRA “ELOGIO AO ÓCIO” DE
BERTRAND ARTHUR WILLIAM RUSSELL
MAUÁ/SP
2014
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ERIC VIEIRA DA CRUZ
RELATÓRIO DE ESTUDO DA OBRA “ELOGIO AO ÓCIO” DE
BERTRAND ARTHUR WILLIAM RUSSELL
Relatório apresentado à FATEC
Mauá, em cumprimento aos
requisitos disciplinares de
Sociedade, Inovação e
Tecnologia, como parte
integrante da Composição de
notas P1 e P2.
Orientador: Prof. Dr. Mauro
Araujo de Sousa.
MAUÁ/SP
2014
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RESUMO
Bertrand Arthur William Russell, nasceu em Ravenscroft em 18 de Maio de
1872 e faleceu em Penrhyndeudraeth em 2 de Fevereiro de 1970. Foi um dos mais
influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram (em grande parte) no século
XX. Um importante político liberal, ativista e um popularizador da Filosofia. Milhões
de pessoas respeitaram Russell como uma espécie de profeta da vida racional e
da criatividade. A sua postura em vários temas foi controversa. Nasceu em 1872,
no auge do poderio econômico e político do Reino Unido, tendo morrido em 1970,
vítima de uma gripe, quando o império se tinha desmoronado e o seu poder drenado
em duas guerras vitoriosas, mas debilitantes. Até sua morte, a sua voz deteve
sempre autoridade moral, uma vez que ele foi um crítico influente das armas
nucleares e da guerra estadunidense no Vietnam. Era inquieto desde os primórdios
de sua existência e assim permaneceu em toda sua prolífica vida de quase
nonagenário. Em 1950, Russell recebeu o Prêmio Nobel da Literatura "em
reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele se bateu
por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento". Publicada inicialmente
nos anos 1930, nas vésperas da 2ª. Guerra Mundial, essa pequena obra “O Elogio
ao Ócio” (em comparação com seus outros trabalhos literários) do inglês Bertrand
Russel possui uma atualidade que o tempo só veio confirmar, apesar de todas as
grandes mudanças ocorridas no planeta. Nela o escritor inglês se bate por uma
radical transformação dos métodos de trabalho da sociedade industrial da época.
A leitura de “O Elogio ao Ócio” é extremamente agradável e um convite para que
se conheçam as ideias de um dos mais notáveis escritores do século XX, que ao
longo de toda sua vida foi um combatente incansável da liberdade e dos valores
elevados do ser humano.
PALAVRAS CHAVE: Filosofia; Ócio; Lazer; Russel; Bertrand; Humanas; Elogio.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 5
1.1 Trechos de amostra de “O Elogio ao Ócio” ................................................... 6
1.2 Tópicos de aplicação das ideias de Bertrand Russel .................................... 7
1.3 Conclusão ..................................................................................................... 9
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1 INTRODUÇÃO
O trabalho passou por constantes evoluções até ocupar a posição que ocupa
dentro da sociedade. Com isso, assumiu vários papéis, os quais o conduziram para
uma posição privilegiada, a de um componente essencial para a vida e o progresso
da humanidade. Contudo, esse fato também gerou um contraponto, que foi a
supressão de outras atividades importantes ao homem, principalmente, do ócio,
que foi historicamente definido, como um símbolo de má índole e de estagnação.
Assim, uma pergunta é necessária: Numa sociedade totalmente voltada para o
trabalho, ainda existe espaço para o tempo livre? Tais indagações direcionam o
pensamento a outra questão, sobre a possibilidade da criação deum modelo social,
não pautado especialmente no trabalho, e que ofereça mais espaço para outras
ações humanas. Porém, para essas meditações, é preciso perceber a progressão
histórica do ideal de trabalho, a fim de que se possa refletir sobre seus
desdobramentos dentro da ordem capitalista do mundo contemporâneo.
A alienação do indivíduo perante o trabalho faz com que se torne preciso
discutir a elaboração de um novo modelo de sociedade, que ofereça ao homem um
significado para suas atividades. Por isso, os debates sobre a importância do
trabalho têm se tornado constantes. Porém, este novo sistema que se procura
elaborar, vai de encontro as condições materiais estabelecidas, as quais levam os
teóricos a imaginar uma solução radical para os problemas que a sociedade do
trabalho tem apresentado. Não se trata apenas de buscar alternativas que reduzam
os impactos resultantes das relações de trabalho. Isso já foi experimentado com o
aumento das ofertas de lazer, e o resultado foi o agravamento das condições já
existentes. O que muitos estudiosos têm pensado é que o trabalho talvez não seja
o único centro possível das ações humanas, e que seja viável usar um novo
modelo, que possa oferecer novamente sentido ao agir do homem. Nesse contexto,
surgem as ideias do filósofo inglês Bertrand Russell, que defende uma sociedade
não mais centralizada no trabalho, mas que tenha no ócio os elementos
orientadores de seu existir no mundo.
Em “Elogio ao ócio” (2002), Russell abordará as possibilidades de criar um
modelo social focalizado no lazer, conferindo ao trabalho a simples função de
assegurar os meios de subsistência, sem qualquer interferência além deste âmbito.
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Para Russell, a crença historicamente estabelecida de que o trabalho é o ícone
maior da virtude humana não é válida, e deve ser substituída por uma baseada no
ócio. Contudo, Russell deixa claro que não está tratando de qualquer tipo de
ociosidade, como a dos proprietários de terra, para os quais “o ócio só é possível
devido ao trabalho de outros e, na verdade, a sua aspiração a um ócio confortável
é, historicamente, a origem de todo o evangelho do trabalho. A última coisa que
essa gente jamais deseja é que outros seguissem o seu exemplo.” (RUSSELL,
2002, p. 26).
1.1 Trechos de amostra de “O Elogio ao Ócio”
“Quando uma pessoa, que já possui o bastante para viver, resolve ocupar-
se em uma atividade social, a de professor ou a de datilógrafo, por exemplo, diz
que essa pessoa - seja homem ou mulher - está tirando o pão da boca dos outros,
e, por conseguinte, procedendo mal. Se este argumento fosse conclusivo, bastaria
simplesmente que todos nós fossemos indolentes e assim teríamos todos as bocas
cheias de pão. Mas as pessoas que dizem tais coisas se esquecem de que,
habitualmente, o homem gasta os proventos de seu trabalho, e, assim o fazendo,
está empregando esse numerário.”
“Desejo dizer, com toda seriedade, que grande mal está sendo causado ao
mundo moderno, com a crença na virtuosidade do trabalho e com a de que o
caminho para a felicidade e prosperidade consiste na sua diminuição organizada.”
“Se o trabalhador comum trabalhasse quatro horas por dia, isto seria o
suficiente para todos, e não haveria falta de emprego, admitindo-se uma dose muito
moderada de sensata organização. Essa ideia choca os endinheirados porque eles
estão certos de que o pobre não saberia como empregar tanto “lazer”. Nos Estados
Unidos, os homens, muitas vezes, trabalham longas horas mesmo quando já são
endinheirados.”
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“O homem moderno julga que tudo deve ser feito por causa de alguém mais
e nunca tão somente em seu próprio interesse.”
“Mas, não é somente nesses casos excepcionais que as vantagens do
“lazer” aparecerão. Ordinariamente, os homens e as mulheres comuns que têm a
oportunidade de uma vida feliz se tornarão mais bondosos, menos opressores e
menos inclinados a ver os outros com suspeita. O gosto pela guerra desaparecerá,
em parte, por essa razão e, em parte, porque implica um grande e severo trabalho
para todos. A boa índole é a única entre todas as qualidades morais a de que mais
precisa o mundo, e a boa índole é o resultado do sossego e da segurança para
todos; mas, em vez disso, o que escolhemos foi o trabalho demais para uns e a
fome para outros. Até agora, continuamos a ser tão ativos quanto o éramos antes
da existência das máquinas. Por este ponto de vista, temos sido insensatos, mas
não há razão para continuarmos a sê-lo indefinidamente.”
1.2 Tópicos de aplicação das ideias de Bertrand Russel
I. Diminuição da carga horária de trabalho.
A ideia de Russel sobre a diminuição da carga horária de trabalho para
quatro horas diárias, seria uma solução para uma das maiores mazelas sociais da
sociedade contemporânea, o desemprego. Como o mundo nunca foi tão sedento
pelo consumo como nos dias atuais, a produção de bens continuaria sendo
essencial, e com maior espaço de tempo para o lazer, esse consumo aumentaria,
tornando necessária uma maior produção de bens de consumo. Por consequência,
os frutos do trabalho seriam consumidos, fazendo que o trabalho se tornasse
mercadoria de alto valor social.
II. O aumento do lazer e as consequências
Com o aumento do tempo de lazer, muitos problemas modernos como o
Stress, teriam uma redução de incidência, melhorando a qualidade de vida das
pessoas.
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III. A mudança na preocupação com o “Ter”.
A aplicação de uma sociedade que não objetivasse o “ter” com tanta
ganância, teria como consequência, uma sociedade mais justa e igual, onde a
supervalorização pelos bens materiais não ditasse as regras. Como consequência
da diminuição das horas de trabalho, esses bens poderiam ser objetivados apenas
como necessários à sobrevivência, não sendo necessário seu acumulo, tornando
a vida mais baseada no “ser” e não no “ter”.
IV. O trabalho em quantidade igual, independente da classe social.
Com a aplicação da igualdade nas relações do trabalho, o contraste social,
existente entre patrões e operários, esfacelando o padrão atual baseado no sistema
de, enquanto a maioria trabalha, a minoria enriquece.
V. O fim do domínio da máquina automatizada industrial sobre o mundo.
Russel visualizou o domínio da máquina sobre o homem, hoje temos uma
sociedade dependente de máquinas, e por muitas vezes, escrava delas. Uma
diminuição nos sistemas automatizados, e por consequência, nos sistemas virtuais
de convívio, causaria em uma sociedade mais humana, com maior interação entre
os indivíduos, e melhor compreensão entre as pessoas.
VI. Um governo social mundial.
A implantação de um governo baseado na sociedade, e não no poder
econômico, centralizaria as necessidades de seus cidadãos, tornando o povo de
sua respectiva nação, o bem maior de um país, maior do que qualquer acordo
comercial ou poderio militar. Isso causaria grande impacto nas políticas de guerra,
cessando conflitos a partira de uma sociedade mais humanitária.
VII. Reorganização econômica, social e política.
Neste sentido, poderíamos conceber a ideia do socialismo internacional
defendido por Russell. Elegendo uma autoridade (democrática), que representasse
os governos envolvidos, e trabalhando em benefício de todos, poderíamos começar
a visualizar um novo mundo caminhando para o “equilíbrio social e a paz mundial.”
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VIII. O fim do “Conhecimento Inútil”.
Segundo Russel, as crianças geralmente são condicionadas a aprender e a
valorizar somente aquele conhecimento técnico que, no futuro, será útil em sua
escalada social, garantindo-lhes um emprego que, de tão especializado, irá
destaca-lo das demais. Sem espaço para descobrir outras maravilhas do mundo
que não somente as "úteis", as crianças não estão sendo encorajadas a cultivar um
senso exploratório de pesquisa, e isso as leva na maioria dos casos a aceitar o que
os professores lhe impõem como a única verdade que interessa.
1.3 Conclusão
Imaginar um modelo social centrado no ócio pode parecer utópico na
sociedade atual, porém é algo pertinente dentro das condições opressoras que o
trabalho impõe na era capitalista. Ainda que irrealizável, a sociedade baseada no
lazer parece alternativa à lógica escravidão do capital. Assim, a mensagem da obra
de Russell se faz clara. Ou mudam-se os paradigmas, ou a humanidade caminhará
para um profundo vazio. Se não for possível dar ao ócio uma importância maior na
sociedade, então que o trabalho seja restituído em seu significado. Porém, deve-
se considerar que ambos os modelos não são necessariamente opostos, e uma
solução mediadora entre eles pode ser encontrada. Neste caso, o que importa é
que as atividades fujam ao poder nocivo do capitalismo, que transforma ambos os
em atividades passivas, mecanizadas, desprovidas de qualquer função
estimulante. Desse modo, a satisfação dos trabalhadores em ofício, estaria
garantida, bem como as diversas criações que só são possíveis mediante a boa
utilização do tempo livre.