relatório filme "amigos improváveis"

LICENCIATURA EM TERAPIA OCUPACIONAL

1º ANO

UC1 - Introdução à Ciência Ocupacional Ciências Sociais e Humanas

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ANO LETIVO 2016/2017

Crítica ao filme «Amigos

Improváveis»

MIGUEL PEREIRA, 10150401

PORTO NOVEMBRO, 2016

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO

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ÍNDICE

Introdução ........................................................................................................ 2

Análise ............................................................................................................. 4

Conclusão ........................................................................................................ 8

Referências .................................................................................................... 10


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INTRODUÇÃO

O presente relatório constitui uma análise ao filme “Amigos Improváveis” de

Olivier Nakache e Éric Toledano, e tem como foco principal a abordagem e

interpretação dos conceitos sociológicos e ocupacionais explanados no filme,

bem como possíveis articulações entre estes.

O filme francês, “Amigos Improváveis”, estreou em 2012 e baseia-se

numa história verídica de um aristocrata francês de meia-idade, que fica

tetraplégico na sequência de um acidente de parapente, e encontra no seu

assistente um amigo para todas as ocasiões.

Após o acidente, Philippe, o aristocrata, decide contratar alguém que o

apoie nas suas rotinas diárias. É então que conhece Driss, um jovem

senegalês de um bairro problemático, recém-saído da prisão. Driss

comparece na entrevista, não com a intenção de garantir o emprego, mas

apenas como forma de obter o documento para que pudesse continuar a

receber um subsídio do Estado. Contudo, Philippe decide contratá-lo, mesmo

parecendo ser o candidato mais inadequado para a função.

No início, Driss mostra-se reticente, e de certa forma descontente,

quanto a algumas das tarefas que deve realizar enquanto assistente e

cuidador. No entanto, após algumas semanas, e com o aumento da empatia

com Philippe, Driss torna-se mais eficiente nas suas tarefas e parece já

ambientado às suas funções. Ao longo do tempo, estes dois homens com

vidas tão marcadas e distintas, tornam-se cúmplices numa amizade

improvável, mas verdadeiramente profunda.


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Entretanto, Driss vê-se obrigado a abandonar a casa de Philippe e a

demitir-se do seu emprego, devido a problemas em que o seu irmão mais

novo estaria envolvido. Este facto levou Philippe a ter de procurar um novo

cuidador. No entanto, o aristocrata não se sentia bem quando entregue aos

cuidados de outras pessoas, sentindo falta da amizade e companheirismo

que estabeleceu com Driss. Assim que Driss tomou conhecimento do estado

de Philippe, foi ao seu encontro com o intuito de alegrar o seu antigo patrão.

No final, Driss deixa-o entregue a uma senhora com a qual Philippe

trocava cartas, e mais tarde telefonemas (por influência de Driss), mas que

ainda não tinha contactado pessoalmente. Apesar da demissão de Driss, a

relação entre os dois não se alterou, permanecendo a amizade baseada na

confiança e valorização mútua.


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ANÁLISE

O filme pode ser caracterizado como dramático, possuindo uma vertente

emocional vincada e tocante, que obriga à reflexão sobre diversos temas,

essencialmente de caráter social. No entanto, determinadas cenas do filme

são nitidamente marcadas por um humor negro, que acaba por atenuar a sua

índole dramática. É dentro destas duas vertentes que se vão desenvolver os

principais temas retratados no filme, que assentam, essencialmente, nos

princípios e perspetivas sociais relacionados com temas como a cultura, a

amizade, a invalidez e as relações e as diferenças entre classes sociais.

De forma a facilitar a abordagem aos diversos temas sociológicos e

ocupacionais, o filme apresenta personagens com características

completamente opostas.

No início do filme, ainda antes de Driss ser contratado, são

demonstradas as condições e circunstâncias em que o jovem nigeriano vive.

No seio de uma família alargada, numa habitação que não aparenta possuir

as condições ideais para a manutenção do bem-estar de todos os que nela

habitam, marginalizado face à sociedade, na qual aparenta não assumir

nenhum papel de relevo (situação comprovada na entrevista, à qual apenas

comparece para continuar a receber benefícios do Estado), o que contribui

para o estereótipo e exclusão social da classe a que pertence. Driss

representa assim na estratificação social, a classe social baixa, onde

tipicamente estão inseridas as minorias étnicas na França.

Mais tarde no filme, já depois de Driss ser contratado, este demonstra


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um pensamento algo preconceituoso em relação às mulheres, quando tem a

tarefa de colocar as meias em Philippe e afirma que não o faria, sendo que

Marcelle (assistente de Philippe), por ser mulher, com certeza saberia como

executar melhor a tarefa. Os preconceitos em relação a Driss e aos da sua

classe social, bem como a marginalização por parte das classes sociais de

estatuto mais elevado, também são visíveis numa conversa de Philippe com

um amigo, na qual o aristocrata é alertado para o facto de “os da periferia não

mostrarem compaixão”, afirmando que Driss teria saído recentemente da

prisão depois de um assalto a uma joalharia, sendo considerado violento e

instável.

Por outro lado, Philippe representa a classe alta. As condições

socioeconómicas do aristocrata permitem-lhe viver numa enorme casa,

requintada e com todas as condições, ter vários empregados, e conseguir

adquirir o tratamento necessário dado a sua condição de tetraplégico, como

se comprova através da conversa com Driss, onde Philippe afirma em tom

descontraído: “Com os avanços em termos médicos, através de massagens e

medicação, poderão manter-me vivo até aos setenta anos. É caro, mas sou

um tetraplégico rico”. Apesar disto, Philippe tem como desafio o enfrentar de

uma sociedade ainda significativamente preconceituosa e marcada pela

discriminação, no que diz respeito à invalidez e a quem apresenta algum tipo

de incapacidade física, intelectual e/ou social.

Desta forma, o filme reivindica os direitos inerentes à integração plena

na sociedade e às mesmas oportunidades de participação e envolvimento

nas diferentes ocupações, independentemente da etnia, da classe social a

que se pertence, ou da presença de que qualquer tipo de incapacidade.


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Driss e Philippe inserem-se numa mesma sociedade onde comportam

estatutos sociais totalmente díspares. Ambos estão sujeitos às influências de

uma mesma cultura (referente ao país onde habitam) na aquisição de

crenças, motivações, hábitos, costumes, comportamentos, tradições,

sistemas de valores e atitudes. Contudo, eles diferem em muitos destes

pontos, dadas as suas diferenças ao nível de estatuto social, exposição a

padrões sociais, interação e integração na sociedade (composta por

elementos de diferentes culturas), acesso à cultura, saúde e educação, que

contribuiram para a formação de diferentes processos de socialização em

cada um deles.

Um exemplo muito concreto, demonstrado no filme, é a preferência de

Philippe pelas obras de arte de artistas conceituados, pela música clássica e

o facto de possuir um vocabulário rico e gostos sofisticados. Em oposição,

Driss aprecia um tipo de música mais comercial, e apenas reconhece as

melodias dos compositores clássicos pela presença em anúncios publicitários

e desenhos animados. Também em relação a assuntos amorosos, as

opiniões, perspetivas e comportamentos de ambos, diferem

consideravelmente. Enquanto Philippe expressa a profundidade dos seus

sentimentos e emoções nas cartas que escreve através de uma escrita

exuberante e metafórica, Driss parece ser mais pragmático e não demora

muito tempo em debruçar-se sobre as questões estreitamente ligadas ao

contacto íntimo mais físico.

Em termos ocupacionais Driss renova o interesse de Phillipe pela vida,

inclusive pela atividade que o desabilitou. Por puro instinto, ele assume os

papéis de terapeuta ocupacional, psicólogo e amigo, desenvolvendo ele


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próprio novas competências enquanto reabilita e confere a Philippe o suporte

necessário para a adaptação ocupacional, com a reconstrução da sua

identidade ocupacional expressa através da reaquisição e desenvolvimento

de competências e de uma participação ocupacional equilibrada.

A adaptação no desempenho das ocupações, a manutenção da

participação e a prevenção da disfunção ocupacional com a criação de novos

hábitos e rotinas, nunca negligenciando a importância dos desejos e do bem-

estar do paciente, são objetivos essenciais de qualquer terapeuta

ocupacional. O filme demonstra claramente que a prática centrada no cliente

deve considerar o estado emocional do paciente e requer uma ligação de

confiança mútua, onde o respeito e a abertura são aspetos fundamentais.

Se a incapacidade é permanente, o desenvolvimento de competências

para um desempenho ocupacional positivo pode constituir um maior desafio.

Casos como o de Philippe, em que o cliente é afetado por uma incapacidade

severa, exigem um pensamento criativo constante e o estabelecimento de

objetivos específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas e temporizáveis.

Apesar da falta de experiência de Driss, este demonstra a consciência

clara da necessidade que Philippe apresenta em reconectar-se aos seus

padrões de vida. Assim sendo, Driss traz de volta a emoção e a adrenalina à

vida de Philippe, através de atividades como o parapente, simples passeios

pela cidade, os conselhos a nível amoroso e mesmo o retorno da sua

estimulação a nível sexual. Desta forma, o filme transmite a ideia de que o

terapeuta ocupacional deve adotar uma abordagem que esteja em sintonia

com as necessidades dos seus clientes, demonstrando empatia, inovação e o

ideal de que a vida deve ser livre de barreiras.


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CONCLUSÃO

A história retratada neste filme, as personagens e a sua envolvência com os

diversos cenários demonstram de uma forma consciente e realista os aspetos

que marcam a sociedade atual. Através do humor inteligente e do seu

contraste com cenas dramáticas, onde a emoção toma conta do espetador, o

filme apela à reflexão sobre o que realmente é importante na vida.

O facto de duas realidades tão distintas, como são as de Driss e

Philippe, conseguirem relacionar-se de forma tão harmoniosa e

interdependente demonstra que, apesar de todas as desigualdades sociais

presentes nas sociedades modernas, a igualdade de oportunidades e o valor

da amizade devem permanecer sobre qualquer cultura ou estatuto social.

Constata-se ainda que a forma como a sociedade estabelece opiniões

e preconceitos negativos, pode levar à discriminação de determinados grupos

sociais e a situações de injustiça social. Philippe deu a oportunidade a Driss

de se tornar seu terapeuta e assistente, talvez por sentir que este não teria

pena nem compaixão pelo seu estado, mas estando consciente dos

preconceitos de que Driss era alvo. Se tal não acontecesse, Driss

possivelmente continuaria na situação de desempregado por um longo

período de tempo, agravando as suas condições de vida e contibuindo para

um ciclo contínuo de exclusão social. Por outro lado, a irreverência de Driss e

o facto de se ter empenhado no cumprimento das suas funções,

manifestando uma preocupação real com o bem-estar de Philippe, permitiram

ao aristocrata voltar a ver a vida de forma positiva, depois do acidente e de

ter perdido a mulher que amava.


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Verifica-se então a existência de um benefício mútuo entre as

personagens Philippe e Driss, funcionando de certa forma como terapeutas

um do outro. Tanto Philippe como Driss expandem os horizontes por

influência mútua e adquirem novas perspetivas sobre as suas realidades.

Conclui-se desta forma que é essencialmente num contexto de troca de

valores e opiniões, quando os preconceitos e julgamentos não são

considerados, que nascem e se desenvolvem amizades e relações baseadas

na honestidade, compreensão, valorização e aceitação.


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REFERÊNCIAS

Kbjörnsdóttir, K., & L’orange, K. (2014). “No hands, no chocolate”: Gender,

race, disability and class in the film Intouchables. Netla – Veftímarit um

uppeldi og menntun. Menntavísindasvið Háskóla Íslands.

Kielhofner, G. (2002). Model of Human Occupation: Theory and Application

(3ª ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.

Maia, R.L. (2002). Dicionário de Sociologia. Porto: Porto Editora.

Marinovic, A. (2012, Agosto). Nova oportunidade à vida no filme "Os amigos

Improváveis". Retirado de http://palavrofilacuriosa.blogspot.pt/2012/08/nova-

oportunidade-vida-no-filme-os.html

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