relatório geral - c&a - abril de 2010

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SEDE NACIONAL Rua Caetano Pinto, 575 4º andar Brás São Paulo/ SP Fone: (+ 55 11) 3105-0884 / Fax: (+ 55 11) 3107-0538 [email protected] www.os.org.br COMPORTAMENTO SOCIAL E TRABALHISTA C&A RELATÓRIO GERAL SÃO PAULO ABRIL 2010

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Este Relatório de Observação apresenta os resultados da pesquisa realizada pelo Instituto Observatório Social (IOS), no período entre março e junho de 2008, sobre o desempenho social e trabalhista de seis unidades da C&A, empresa transnacional que atua prioritariamente no ramo de varejo de moda.

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Page 1: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

SEDE NACIONAL

Rua Caetano Pinto, 575 – 4º andar

Brás – São Paulo/ SP

Fone: (+ 55 11) 3105-0884 / Fax: (+ 55 11) 3107-0538

[email protected]

www.os.org.br

COMPORTAMENTO SOCIAL E TRABALHISTA – C&A

RELATÓRIO GERAL

SÃO PAULO

ABRIL 2010

Page 2: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

1

INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL

CONSELHO DIRETOR

Presidente – Aparecido Donizeti da Silva

CUT – Valeir Ertle

CUT – Denise Motta Dau

CUT – Jacy Afonso de Melo

CUT – João Antônio Felício

CUT – Quintino Marques Severo

CUT – Rosane da Silva

CUT – Vagner Freitas de Moraes

DIEESE – João Vicente Silva Cayres

DIEESE – Mara Luzia Feltes

Unitrabalho – Francisco José Carvalho Mazzeu

Unitrabalho – Silvia Araújo

Cedec – Maria Inês Barreto

Cedec – Tullo Vigevani

DIRETORIA EXECUTIVA

Presidente – Aparecido Donizeti da Silva

Diretor Administrativo Financeiro – Valeir Ertle

Unitrabalho – Carlos Roberto Horta

DIEESE – João Vicente Silva Cayres

CUT – Vagner Freitas de Moraes

CUT – João Antônio Felício

Cedec – Maria Inês Barreto

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Supervisor Institucional: Amarildo Dudu Bolito

Coordenador de Pesquisas: Felipe Saboya

Coordenador do Sistema de Informação: Alex Capuano

EQUIPE TÉCNICA

Coordenação: Lílian Arruda

Pesquisadores: Ângela Cristina Tepassê, Daniela Sampaio, Francine Modesto dos Santos, Felipe

Saboya, Lílian Arruda, Maíra Villas-Bôas Vannuchi, Vicente Gomes Macedo Neto.

Redação: Ângela Cristina Tepassê, Francine Modesto dos Santos, Lílian Arruda, Vicente Gomes

Macedo Neto.

Revisão: Felipe Saboya, Leila Nadim Zidan, Paola Bello

Page 3: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

2

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS E TABELAS ................................................................................ 5

LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS .............................................................................. 10

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

2. METODOLOGIA ....................................................................................................... 14

3. PERFIL DA EMPRESA ............................................................................................. 15

3.1. PANORAMA DO SETOR ............................................................................................................ 16 3.1.1 Cadeia têxtil-vestuário ............................................................................................................... 16 3.1.2 A produção na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) .................................................... 17 3.1.3 Movimentos de resistência ao trabalho degradante .................................................................... 19 3.1.4 Comércio varejista ..................................................................................................................... 20

3.2. PERFIL DA EMPRESA ................................................................................................................ 22 3.2.1 C&A no Mundo ......................................................................................................................... 24 3.2.2 C&A no Brasil ........................................................................................................................... 26 3.2.3 Estrutura de gestão e empregos .................................................................................................. 27

3.2.3.1 Gestão.................................................................................................................................. 27 3.2.3.2 Fornecedores ....................................................................................................................... 30 3.2.3.3 Política de Recursos Humanos ............................................................................................ 32

4. ANÁLISE GERAL ..................................................................................................... 41

4.1. LIBERDADE SINDICAL ............................................................................................................. 41

4.2. NEGOCIAÇÃO COLETIVA........................................................................................................ 46

4.3. DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO ......................................................................................... 47

4.4. PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS .................................................................. 57 4.4.1 Função/setor ............................................................................................................................... 57 4.4.2 Remuneração .............................................................................................................................. 58 4.4.3 Promoção ................................................................................................................................... 59 4.4.4 Discriminação ............................................................................................................................ 61 4.4.5 Comunicação e transparência ..................................................................................................... 62 4.4.6 Relação com sindicato ................................................................................................................ 64

5. UNIDADE TAMBORÉ ............................................................................................... 67

5.1. PERFIL DOS TRABALHADORES ............................................................................................. 67 5.1.1. Sexo ........................................................................................................................................... 67 5.1.2 Idade ........................................................................................................................................... 67

Page 4: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

3

5.1.3 Raça/cor ..................................................................................................................................... 68 5.1.4 Escolaridade ............................................................................................................................... 69 5.1.5 Função ........................................................................................................................................ 69 5.1.6 Tempo no emprego .................................................................................................................... 72

5.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................... 73 5.2.1. Liberdade sindical/ relações sindicais ....................................................................................... 73 5.2.2 Salário/benefícios ....................................................................................................................... 75

5.2.2.1 Remuneração ....................................................................................................................... 75 5.2.2.2 Benefícios ............................................................................................................................ 77 5.2.2.3 Treinamento ........................................................................................................................ 78 5.2.2.4 Promoção ............................................................................................................................ 79

5.2.3 Discriminação ............................................................................................................................ 82 5.2.4 Jornada/Hora Extra..................................................................................................................... 83 5.2.5 Saúde e segurança no trabalho ................................................................................................... 86

6. UNIDADE INTERLAGOS .......................................................................................... 88

6.1. PERFIL DOS TRABALHADORES ............................................................................................. 88 6.1.1 Sexo ............................................................................................................................................ 89 6.1.2 Idade ........................................................................................................................................... 89 6.1.3 Raça/cor ..................................................................................................................................... 89 6.1.4 Escolaridade ............................................................................................................................... 91 6.1.5 Cargo/Função ............................................................................................................................. 91 6.1.6 Tempo no emprego .................................................................................................................... 94

6.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................... 95 6.2.1. Liberdade Sindical/relações sindicais ....................................................................................... 95 6.2.2. Salário e Benefícios ................................................................................................................... 97

6.2.2.1. Remuneração ...................................................................................................................... 97 6.2.2.2 Benefícios ............................................................................................................................ 98 6.2.2.3 Treinamento ........................................................................................................................ 99 6.2.2.4 Promoção .......................................................................................................................... 101

6.2.3 Discriminação .......................................................................................................................... 103 6.2.4 Jornada/Hora Extra................................................................................................................... 105 6.2.5 Saúde e Segurança no Trabalho ............................................................................................... 108

7. CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO (CD) ........................................................................ 112

7.1. PERFIL DOS TRABALHADORES ........................................................................................... 112 7.1.1 Sexo .......................................................................................................................................... 113 7.1.2 Idade ......................................................................................................................................... 114 7.1.3 Raça/cor ................................................................................................................................... 114 7.1.4 Escolaridade ............................................................................................................................. 115 7.1.5 Função ...................................................................................................................................... 116 7.1.6 Tempo no emprego .................................................................................................................. 118

7.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................. 119 7.2.1 Liberdade sindical/relações sindicais ....................................................................................... 119 7.2.2 Salário/Benefícios .................................................................................................................... 122

7.2.2.1 Remuneração ..................................................................................................................... 122 7.2.2.2 Benefícios .......................................................................................................................... 124 7.2.2.3 Treinamento ...................................................................................................................... 125 7.2.2.4 Promoção .......................................................................................................................... 128

Page 5: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

4

7.2.3 Discriminação .......................................................................................................................... 132 7.2.3 Jornada/ Hora Extra.................................................................................................................. 133 7.2.5 Saúde e segurança no trabalho ................................................................................................. 136

8. UNIDADE PORTO ALEGRE ................................................................................... 139

8.1. PERFIL DOS TRABALHADORES ........................................................................................... 140 8.1.1. Sexo ......................................................................................................................................... 140 8.1.2 Idade ......................................................................................................................................... 140 8.1.3 Raça/cor ................................................................................................................................... 141 8.1.4 Escolaridade ............................................................................................................................. 142 8.1.5 Cargo/Função ........................................................................................................................... 143 8.1.6 Tempo no emprego .................................................................................................................. 145

8.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................. 146 8.2.1. Liberdade sindical/relações sindicais ...................................................................................... 146 8.2.2. Salários/benefícios .................................................................................................................. 148

8.2.2.1 Remuneração ..................................................................................................................... 148 8.2.2.2 Benefícios .......................................................................................................................... 150 8.2.2.3 Treinamento ...................................................................................................................... 150 8.2.2.4 Promoções ......................................................................................................................... 151

8.2.3 Discriminação .......................................................................................................................... 154 8.2.4 Jornada/Hora Extra................................................................................................................... 156 8.2.5 Saúde e segurança no trabalho ................................................................................................. 158

9. UNIDADE BRASÍLIA .............................................................................................. 161

9.1. PERFIL DOS TRABALHADORES ........................................................................................... 161 9.1.1 Sexo .......................................................................................................................................... 161 9.1.2 Idade ......................................................................................................................................... 162 9.1.3 Raça/cor ................................................................................................................................... 162 9.1.4 Escolaridade ............................................................................................................................. 163 9.1.5 Função ...................................................................................................................................... 164 9.1.6 Tempo no emprego .................................................................................................................. 166

9.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS ............................................................. 167 9.2.1 Liberdade sindical/ relações sindicais ...................................................................................... 167 9.2.2 Salário/benefícios ..................................................................................................................... 168

9.2.2.1 Remuneração ..................................................................................................................... 168 9.2.2.2 Benefícios .......................................................................................................................... 171 9.2.2.3 Treinamento ...................................................................................................................... 172 9.2.2.4 Promoções ......................................................................................................................... 173

9.2.3 Discriminação .......................................................................................................................... 176 9.2.4 Jornada/Hora Extra................................................................................................................... 178 9.2.5 Saúde e segurança no trabalho ................................................................................................. 180

10. UNIDADE FORTALEZA ........................................................................................ 183

10.1. PERFIL DOS TRABALHADORES ......................................................................................... 183 10.1.1 Sexo ........................................................................................................................................ 183 10.1.2 Idade ....................................................................................................................................... 184 10.1.3 Raça/Cor................................................................................................................................. 184 10.1.4 Escolaridade ........................................................................................................................... 186 10.1.5 Cargo /Função ........................................................................................................................ 186

Page 6: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

5

10.1.6. Tempo no emprego ............................................................................................................... 188

10.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS ........................................................... 188 10.2.1. Liberdade Sindical/relações sindicais ................................................................................... 188 10.2.2 Salário e Benefícios ................................................................................................................ 190

10.2.2.1 Remuneração ................................................................................................................... 190 10.2.2.2 Benefícios ........................................................................................................................ 192 10.2.2.3 Treinamento .................................................................................................................... 192 10.2.2.4 Promoção ........................................................................................................................ 193

10.2.3 Discriminação ........................................................................................................................ 196 10.2.4 Jornada/Hora Extra ................................................................................................................. 198 10.2.5 Saúde e Segurança no Trabalho ............................................................................................. 200

11. POLÍTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL ................................................. 203

11.1. INSTITUTO C&A E PRÁTICAS COMUNITÁRIAS............................................................ 203

11.2. PROMOÇÃO DA IGUALDADE ............................................................................................. 209

11.3. PERCEPÇÃO DOS TRABALHADORES E TRANSPARÊNCIA ....................................... 213

11.4 POLÍTICAS DE MEIO AMBIENTE E SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO ......... 216 11.4.1 Meio Ambiente ...................................................................................................................... 216 11.4.2 Saúde e Segurança no Trabalho ............................................................................................. 218

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 232

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 240

LISTA DE QUADROS E TABELAS

TABELA 1 - NÚMERO DE EMPRESAS E VÍNCULO EMPREGATÍCIO EM 31/12 - BRASIL ........................... 21 TABELA 2 - FAIXA ETÁRIA UNIDADES PESQUISADA C&A MARÇO 2008 ................................................... 34 TABELA 3 - LOJAS C&A – FUNCIONÁRIOS POR ÁREA - MARÇO 2008 ......................................................... 37 TABELA 4 JORNADA DE TRABALHO NAS UNIDADES PESQUISADAS – MARÇO 2008 ............................. 38 TABELA 5 – REMUNERAÇÃO DAS UNIDADES PESQUISADAS – ABRIL 2008 ............................................. 39 TABELA 6 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU PREJUDICADOS

POR ALGUM MOTIVO (%). ABR-MAIO 2008 ............................................................................................... 48 TABELA 7 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DICRIMINADOS OU

PREJUDICADOS - ABR-MAIO 2008 ................................................................................................................ 49 TABELA 8 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE PRESENCIARAM CASOS DE DISCRIMINAÇÃO DE

TRABALHADORES POR PARTE DA EMPRESA (%). ABR-MAIO 2008 ..................................................... 53 TABELA 9 - CASOS DE DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA CONTRA TRABALHADORES PRESENCIADOS

POR ENTREVISTADOS .................................................................................................................................... 53 TABELA 10 - AVALIAÇÃO DO CLIMA ORGANIZACIONAL PORTADORES DE NECESSIDADES

ESPECIAIS CD %– ABRIL 2008 ....................................................................................................................... 63 TABELA 11 - AVALIAÇÃO DE CLIMA ORGANIZACIONAL PORTADORES DE NECESSIDADES

ESPECIAIS UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ............................................................................................ 63

Page 7: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

6

TABELA 12 - AVALIAÇÃO CANAL ABERTO PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS CD – ABRIL

2008 ..................................................................................................................................................................... 63 TABELA 13 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR SEXO/GÊNERO UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL

2008 ..................................................................................................................................................................... 67 TABELA 14 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE TAMBORÉ – ABRIL

2008 ..................................................................................................................................................................... 69 TABELA 15 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR GÊNERO E ESCOLARIDADE UNIDADE TAMBORÉ

(%) – ABRIL 2008 ............................................................................................................................................... 69 TABELA 16 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE TAMBORÉ (%)

- ABRIL 2008 ...................................................................................................................................................... 70 TABELA 17 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE TAMBORÉ (%)- ABRIL 2008 ............................ 72 TABELA 18 - TEMPO NA EMPRESA POR RAÇA UNIDADE TAMBORÉ (%)- ABRIL 2008 ............................ 73 TABELA 19 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE

TAMBORÉ – ABRIL 2008 ................................................................................................................................. 74 TABELA 20 – NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL

2008 ..................................................................................................................................................................... 78 TABELA 21 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE TAMBORÉ – MAIO 2008 ....... 79 TABELA 22 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES

UNIDADE TAMBORÉ - ABRIL 2008 ............................................................................................................... 82 TABELA 23 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS UNIDADE TAMBORÉ – ABRIL 2008 ................................................................................ 83 TABELA 24 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008 ............................................ 84 TABELA 25 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA UNIDADE TAMBORÉ (%) - ABRIL 2008 .... 84 TABELA 26 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE TRABALHARAM ALÉM DA JORNADA NO MÊS

ANTERIOR À PESQUISA POR TURNO – UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008 ................................ 85 TABELA 27 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE TAMBORÉ (%) –

ABRIL 2008 ......................................................................................................................................................... 86 TABELA 28 - PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA UNIDADE

TAMBORÉ – ABRIL 2008 ................................................................................................................................. 86 TABELA 29 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE TAMBORÉ (%) –

ABRIL 2008 ......................................................................................................................................................... 88 TABELA 30 - NÚMERO DE TRABALHADORES ENTREVISTADOS POR SEXO/GÊNERO UNIDADE

INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008 ..................................................................................................................... 89 TABELA 31 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL

2008 ..................................................................................................................................................................... 90 TABELA 32 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE INTERLAGOS (%) –

ABRIL 2008 ......................................................................................................................................................... 91 TABELA 33 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE INTERLAGOS

(%) ABRIL 2008 .................................................................................................................................................. 94 TABELA 34 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE INTERLAGOS - ABRIL 2008 ............................. 94 TABELA 35 - COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE

INTERLAGOS – ABRIL 2008 ............................................................................................................................ 96 TABELA 36 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES

UNIDADE INTERLAGOS - ABRIL 2008 ....................................................................................................... 103 TABELA 37 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM PREJUDICADOS OU

DISCRIMINADOS UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL2008 ....................................................................... 104 TABELA 38 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA

EMPRESA CONTRA OS TRABALHADORES UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008 ........................ 104 TABELA 39 - JORNADA DE TRABALHO UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008 ............................... 106 TABELA 40 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008 .................................... 106 TABELA 41 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR Á PESQUISA UNIDADE

INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008 ................................................................................................................... 107 TABELA 42 - NÚMERO DE ENTREVISTADOS QUE TRABALHOU ALÉM DA JORNADA NO MÊS

ANTERIOR À PESQUISA POR JORNADA REGULAR UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008 .......... 107 TABELA 43 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE INTERLAGOS –

ABRIL 2008 ....................................................................................................................................................... 108

Page 8: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

7

TABELA 44 - NÚMERO DE TRABALHADORES DA C&A QUE CONSIDERAM QUE O RITMO DE

TRABALHO EXIGIDO PELA EMPRESA CHEGOU A PREJUDICAR A SAÚDE (%) – UNIDADE

INTERLAGOS – ABRIL 2008 .......................................................................................................................... 108 TABELA 45 - CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS Á ATIVIDADE DA EMPRESA –

UNIDADE INTERLAGOS - ABRIL 2008 ....................................................................................................... 109 TABELA 46 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR SEXO E ÁREA/SETOR CD – ABRIL 2008 ............... 113 TABELA 47 – GRAU DE ESCOLARIDADE POR SEXO CD – ABRIL 2008 ...................................................... 115 TABELA 48 – NÚMERO DE TRABALHADORES QUE CONCLUÍRAM CURSO TÉCNICO POR SEXO –

ABRIL 2008 ....................................................................................................................................................... 115 TABELA 49 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO – ABRIL 2008 ............... 116 TABELA 50 – TEMPO DE EMPRESA POR SEXO CD – ABRIL 2008 ................................................................ 118 TABELA 51 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS CD – ABRIL 2008

........................................................................................................................................................................... 119 TABELA 52 –REMUNERAÇÃO POR SEXO – ABRIL 2008 ................................................................................ 122 TABELA 53 - REMUNERAÇÃO POR COR/RAÇA CD – ABRIL 2008............................................................... 122 TABELA 54 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR REMUNERAÇÃO E CARGO/FUNÇÃO CD – ABRIL

2008 ................................................................................................................................................................... 123 TABELA 55 – NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS POR CARGO/FUNÇÃO – ABR 2008

........................................................................................................................................................................... 126 TABELA 56 – CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS CD – ABRIL 2008 .................................... 128 TABELA 57 – NÚMERO DE TRABALHADORES CIENTES DA EXISTÊNCIA DO PLANO DE CARGOS E

SALÁRIOS CD – ABRIL 2008 ......................................................................................................................... 128 TABELA 58 – NÚMERO DE TRABALHADORES QUE CONSIDERAVAM QUE A EMPRESA OFERECE

OPORTUNIDADES DE PROMOÇÃO – ABRIL 2008 .................................................................................... 130 TABELA 59 – CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES

CD– ABRIL 2008 .............................................................................................................................................. 131 TABELA 60 – MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS CD – ABRIL 2008 ............................................................................................................... 132 TABELA 61 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA

EMPRESA CONTRA TRABALHADORES CD – ABRIL 2008 ..................................................................... 133 TABELA 62 – JORNADA DE TRABALHO CD – ABRIL 2008 ............................................................................ 134 TABELA 63 - TURNO DE TRABALHO CD – ABRIL 2008 .................................................................................. 134 TABELA 64 – HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA CD– ABRIL 2008 .......................................... 135 TABELA 65 – FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS EXTRAS CD– ABRIL 2008 ................................. 136 TABELA 66 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO CD– ABRIL 2008 .................. 136 TABELA 67 – CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA

CD– ABRIL 2008 .............................................................................................................................................. 137 TABELA 68 – AVALIAÇÃO DO SERVIÇO PRESTADO PELO AMBULATÓRIO MÉDICO DO CD – ABRIL

2008 ................................................................................................................................................................... 138 TABELA 69 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES CD – ABRIL 2008 ................. 139 TABELA 70 - NÚMERO DE TRABALHADORES ENTREVISTADOS POR SEXO/GÊNERO UNIDADE

PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ...................................................................................................................... 140 TABELA 71 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE PORTO ALEGRE –

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 142 TABELA 72 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE PORTO ALEGRE –

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 143 TABELA 73 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE PORTO

ALEGRE (%) MAIO 2008 ................................................................................................................................ 145 TABELA 74 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE PORTO ALEGRE - MAIO 2008 ...................... 145 TABELA 75 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE PORTO

ALEGRE – MAIO 2008 .................................................................................................................................... 147 TABELA 76 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE PORTO ALEGRE (%) –

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 151 TABELA 77 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

........................................................................................................................................................................... 151

Page 9: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

8

TABELA 78 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES

UNIDADE PORTO ALEGRE MAIO 2008 ...................................................................................................... 154 TABELA 79 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ..................................................................... 154 TABELA 80 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA

EMPRESA CONTRA TRABALHADORES UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ........................... 155 TABELA 81 - JORNADA DE TRABALHO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ................................... 156 TABELA 82 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ........................................ 156 TABELA 83 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE TRABALHARAM ALÉM DA JORNADA NO MÊS

ANTERIOR À PESQUISA POR JORNADA REGULAR UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008. ..... 157 TABELA 84 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA – MAIO 2008.................................................. 158 TABELA 85 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE PORTO ALEGRE –

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 158 TABELA 86 - CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA .. 159 TABELA 87 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE PORTO ALEGRE (%

–MAIO 2008 ...................................................................................................................................................... 160 TABELA 88 - NÚMERO DE TRABALHADORES ENTREVISTADOS POR SEXO/GÊNERO UNIDADE

BRASÍLIA (%) – MAIO 2008 ........................................................................................................................... 162 TABELA 89 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

........................................................................................................................................................................... 164 TABELA 90 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE BRASÍLIA (%)

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 166 TABELA 91 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE BRASÍLIA (%) - MAIO 2008 ............................ 167 TABELA 92 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE

BRASÍLIA – MAIO 2008 .................................................................................................................................. 167 TABELA 93 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO

2008 ................................................................................................................................................................... 172 TABELA 94 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ...... 172 TABELA 95 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES

UNIDADE BRASÍLIA MAIO 2008.................................................................................................................. 175 TABELA 96 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS – UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ............................................................................. 176 TABELA 97 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA

EMPRESA CONTRA TRABALHADORES UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ...................................... 177 TABELA 98 - JORNADA DE TRABALHO UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO 2008 ....................................... 178 TABELA 99 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ................................................... 178 TABELA 100 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA UNIDADE BRASÍLIA - MAIO 2008 .......... 178 NÚMERO 101 - DE TRABALHADORES QUE TRABALHOU ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR À

PESQUISA POR JORNADA REGULAR UNIDADE BRASÍLIA– MAIO 2008 ............................................ 180 TABELA 102 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE BRASÍLIA – MAIO

2008 ................................................................................................................................................................... 180 TABELA 103 - AVALIAÇÃO DE ESTADO DE SAÚDE UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ........................ 181 TABELA 104- CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA –

UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ............................................................................................................... 181 TABELA 105 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE BRASÍLIA (%) –

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 182 TABELA 106 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR SEXO/GÊNERO NA UNIDADE FORTALEZA -

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 183 TABELA 107 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE FORTALEZA MAIO

2008 ................................................................................................................................................................... 185 TABELA 108 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE FORTALEZA MAIO

2008 ................................................................................................................................................................... 186 TABELA 109 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE FORTALEZA – MAIO

2008 ................................................................................................................................................................... 186 TABELA 110 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE FORTALEZA

– MAIO 2008 ..................................................................................................................................................... 187

Page 10: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

9

TABELA 111 – TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE FORTALEZA - MAIO 2008 ........................... 188 TABELA 112 - COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS – MAIO 2008 .... 189 TABELA 113 - NÚMERO DE TRABALHADORES CIENTES DA EXISTÊNCIA DO PLANO DE CARGOS E

SALÁRIOS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008 ..................................................................................... 194 TABELA 114 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES

UNIDADE FORTALEZA - MAIO 2008 .......................................................................................................... 196 TABELA 115 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM PREJUDICADOS OU

DISCRIMINADOS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008 ......................................................................... 196 TABELA 116 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA

EMPRESA CONTRA TRABALHADORES UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008.................................. 197 TABELA 117– JORNADA DE TRABALHO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008 ........................................ 198 TABELA 118 – TURNO DE TRABALHO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008............................................ 198 TABELA 119 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008 .... 199 TABELA 120 - FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS EXTRAS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

........................................................................................................................................................................... 199 TABELA 121 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE FORTALEZA –

MAIO 2008 ........................................................................................................................................................ 200 TABELA 122 - CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA

UNIDADE FORTALEZA - MAIO 2008 .......................................................................................................... 201 TABELA 123 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE CONHECE

ALGUM PROGRAMA DA EMPRESA VOLTADO PARA A COMUNIDADE ............................................ 205 TABELA 124 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE CONHECEM AS

AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA (INSTITUTO C&A) ..................................... 206 TABELA 125 – OPÇÕES MAIS ASSINALADAS PELOS TRABALHADORES DA C&A SOBRE OS PONTOS

MAIS IMPORTANTES DA POLÍTICA DO INSTITUTO C&A ..................................................................... 206 TABELA 126 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE DISSERAM JÁ TER

SIDO CONVIDADOS PELA EMPRESA A FAZER ALGUM TRABALHO VOLUNTÁRIO ...................... 207 TABELA 127 - PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE SE SENTIRAM A

VONTADE PARA FAZER O TRABALHO SOCIAL VOLUNTÁRIO A CONVITE DA EMPRESA .......... 207 TABELA 128 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE RESPONDERAM

COMO FOI DECIDIDO ONDE SERIA FEITO O TRABALHO VOLUNTÁRIO .......................................... 208 TABELA 129 – NÚMERO DE TRABALHADORES DA C&A QUE RESPONDERAM QUAIS SERIAM DUAS

(2) CARACTERÍSTICAS FORTES DE UMA EMPRESA SOCIALMENTE RESPONSÁVEL .................... 208 TABELA 130 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS SEGUNDO GÊNERO/SEXO NAS UNIDADES PESQUISADAS

– MAR 2008. ..................................................................................................................................................... 210 TABELA 131 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS ENTREVISTADOS PELO IOS SEGUNDO GÊNERO/SEXO

NAS UNIDADES PESQUISAS – ABR - MAIO 2008. .................................................................................... 210 TABELA 132 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS ENTREVISTADOS PELO IOS SEGUNDO COR/RAÇA NAS

UNIDADES PESQUISAS (%) – ABR - MAIO 2008. ...................................................................................... 211 TABELA 133 - AVALIAÇÃO DA COMINICAÇÃO ENTRE FUNCIONÁRIO E EMPRESA (%) ABRIL/MAIO

2008 ................................................................................................................................................................... 213 TABELA 134 – COMO VOCÊ CARACTERIZA O CLIMA ORGANIZACIONAL NA EMPRESA .................... 214 TABELA 135 – AVALIAÇÃO CANAL ABERTO .................................................................................................. 215 TABELA 136 – NÚMERO DE ENTREVISTADOS QUE CONHECE ALGUM PROGRAMA DA EMPRESA

VOLTADO PARA O MEIO AMBIENTE ........................................................................................................ 218 TABELA 137 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DAS UNIDADES DA C&A PESQUISADAS QUE

DIZEM APRESENTAR PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO .......................... 220 TABELA 138 – NÚMERO DE TRABALHADORES DAS UNIDADES PESQUISADAS AFIRMAM

APRESENTAR “OUTROS” PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO –

ABRIL/MAIO 2008 ........................................................................................................................................... 221 TABELA 139 - NÚMERO DE TRABALHADORES DA C&A COM PROBLEMAS DE SAÚDE

CLINICAMENTE DIAGNOSTICADOS E RELACIONADOS À SUA ATIVIDADE DE TRABALHO ...... 222 TABELA 140 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO ............................................... 222 TABELA 141 – CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO DA C&A DAS UNIDADES PESQUISADAS EM

RELAÇÃO À TEMPERATURA....................................................................................................................... 223

Page 11: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

10

TABELA 142 – CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO DA C&A DAS UNIDADES PESQUISADAS EM

RELAÇÃO AO RUÍDO .................................................................................................................................... 224 TABELA 143 – CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO NO CD EM RELAÇÃO A QUALIDADE DO AR 225 TABELA 144 – COMO OS TRABALHADORES DA C&A DAS UNIDADES PESQUISADAS AVALIAM A

ATUAÇÃO DA CIPA NA EMPRESA ............................................................................................................. 226 TABELA 145 – ESTATÍSTICA ANUAL DE ACIDENTES DO TRABALHO C&A 2007 .................................... 228 TABELA 146 – TOTAL DE ACIDENTES DO TRABALHO POR UNIDADE DA C&A PESQUISADA NOS

ÚLTIMOS CINCO ANOS ABRIL MAIO 2008 ............................................................................................... 229 TABELA 147 – AVALIAÇÃO DO SERVIÇO PRESTADO PELO AMBULATÓRIO MÉDICO DA C&A NO CD

........................................................................................................................................................................... 230 QUADRO 1 CRONOLOGIA DA IMPLANTAÇÃO DA C&A NA EUROPA .................................................. 25 QUADRO 2 - ACIDENTES DE TRABALHO CITADOS PELOS TRABALHADORES ENTREVISTADOS DO

CD DA C&A – ABR 2008.......................................................................................................................... 138

LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS

GRAFICO 1 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 200867 GRÁFICO 2 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE TAMBORÉ (%)– ABRIL 2008

...................................................................................................................................................................... 68 GRÁFICO 3 – REMUNERAÇÃO UNIDADE TAMBORÉ – ABRIL 2008 ...................................................... 75 GRAFICO 4 – REMUNERAÇÃO DO SEXO MASCULINO POR RAÇA UNIDADE TAMBORÉ - ABRIL 2008 76 GRAFICO 5 – REMUNERAÇÃO DO SEXO FEMININO POR RAÇA UNIDADE TAMBORÉ - ABRIL 200877 GRÁFICO 6 - FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS EXTRAS UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

...................................................................................................................................................................... 85 GRAFICO 7 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008 89 GRÁFICO 8 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE INTERLAGOS– ABRIL 2008 90 GRÁFICO 9 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE INTERLAGOS(%)

ABRIL 2008 .................................................................................................................................................. 92 GRÁFICO 10 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE SE DECLARAM SINDICALIZADOS UNIDADE

INTERLAGOS – ABRIL 2008 ..................................................................................................................... 95 GRÁFICO 11 - REMUNERAÇÃO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008 ................................................ 97 GRÁFICO 12 – REMUNERAÇÃO POR GÊNERO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008 ...................... 98 GRÁFICO 13 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL

2008 ............................................................................................................................................................ 100 GRÁFICO 14 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

.................................................................................................................................................................... 100 GRÁFICO 15 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE INTERLAGOS –

ABRIL 2008 ................................................................................................................................................ 110 GRÁFICO 16 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE E SEXO – ABRIL 2008 ......................... 114 GRÁFICO 17 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA CD (%)– ABRIL 2008 .................... 115 GRAFICO 18 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE PORTO ALEGRE (%) – MAIO

2008 ............................................................................................................................................................ 141 GRAFICO 19 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE PORTO ALEGRE(%)– MAIO

2008 ............................................................................................................................................................ 141 GRÁFICO 20 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE PORTO ALEGRE (%)

MAIO 2008 ................................................................................................................................................. 144 GRAFICO 21 - REMUNERAÇÃO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ........................................... 149 GRAFICO 22 – REMUNERAÇÃO POR GÊNERO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008 ................ 149 GRAFICO 23 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO 2008162 GRÁFICO 24 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE BRASÍLIA– MAIO 2008163

Page 12: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

11

GRÁFICO 25 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE BRASÍLIA MAIO 2008

.................................................................................................................................................................... 164 GRÁFICO 26 – REMUNERAÇÃO UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008 ...................................................... 169 GRAFICO 27 – REMUNERAÇÃO DO SEXO MASCULINO POR RAÇA – UNIDADE BRASÍLIA MAIO DE

2008 ............................................................................................................................................................ 170 GRAFICO 28 – REMUNERAÇÃO DO SEXO FEMININO POR RAÇA – UNIDADE BRASÍLIA MAIO DE 2008

.................................................................................................................................................................... 171 GRÁFICO 29 – FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS-EXTRAS UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008179 GRÁFICO 30 – NÚMERO DE TRABALHADORS POR IDADE NA UNIDADE FORTALEZA (%) - MAIO 2008

.................................................................................................................................................................... 184 GRÁFICO 31 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA NA UNIDADE DE FORTALEZA – MAIO

DE 2008 ...................................................................................................................................................... 185 GRAFICO 32 - REMUNERAÇÃO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008 ................................................. 191 GRÁFICO 33 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE FORTALEZA - MAIO

2008 ............................................................................................................................................................ 193 GRÁFICO 34 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008193 GRÁFICO 35 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE FORTALEZA –

MAIO 2008 ................................................................................................................................................. 202

FIGURA 1 – ORGANOGRAMA COFRA HOLDING ........................................................................................ 24 FIGURA 2 – ORGANOGRAMA PADRÃO C&A .............................................................................................. 27 FIGURA 3 – ORGANOGRAMA PADRÃO DE UMA LOJA ............................................................................ 29 FIGURA 4 – ORGANOGRAMA CD ................................................................................................................ 116

Page 13: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

12

1. INTRODUÇÃO

Este Relatório de Observação apresenta os resultados da pesquisa realizada pelo

Instituto Observatório Social (IOS), no período entre março e junho de 2008, sobre o

desempenho social e trabalhista de seis unidades da C&A, empresa transnacional que atua

prioritariamente no ramo de varejo de moda.

O IOS é uma iniciativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT Brasil) em parceria

com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), o Departamento Intersindical de

Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE) e a Rede Interuniversitária de Estudos do

Trabalho (Unitrabalho). Seu objetivo é gerar e organizar informações sobre o desempenho social

e trabalhista de empresas, tomando como referência os princípios e direitos fundamentais do

trabalho definidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), e os princípios relativos ao

meio ambiente definidos na Declaração do Rio e Agenda 21. Em seus estudos e pesquisas são

abordados os temas liberdade sindical, negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado,

discriminação de gênero e raça, segurança e saúde no trabalho, e meio ambiente e

responsabilidade social empresarial.

A motivação de se fazer uma pesquisa sócio-trabalhista na C&A partiu da denúncia

realizada pela publicação Observatório Social Em Revista editada em maio de 2006. Nesta edição

da revista, o IOS mostrou como empresas do setor do varejo roupas, entre elas a C&A,

compraram mercadorias em malharias clandestinas que exploram a mão-de-obra de imigrantes

irregulares em São Paulo.

De acordo com a C&A, “o assunto foi pauta de um trabalho investigativo conduzido

pela CPI da Câmara Municipal de São Paulo que apurou irregularidades nessa cadeia de

fornecedores, porém jamais imputando responsabilidades à C&A. Os fatos foram devidamente

esclarecidos por meio de matérias publicadas na imprensa, como na publicação Observatório

Social em Revista, edição de Outubro de 2006, e no jornal o Estado de São Paulo, em reportagem

Page 14: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

13

publicada no dia 26 de Julho de 2006.”

No mesmo ano, foi elaborado pelo IOS o Mapa Sócio-Trabalhista da empresa, baseado

em depoimentos de dirigentes de dez entidades sindicais ligadas à CUT. Contando como a

Introdução o relatório está dividido em 11 capítulos:

- Metodologia: descreve o percurso metodológico da pesquisa;

- Perfil da empresa: caracteriza os setores têxtil-vestuário e varejista, e apresenta

informações gerais sobre a empresa;

- Análise geral e comparativa: traz informações e faz uma comparação com o mesmo

Mapa, realizado em 2006, sobre questões como negociação coletiva, liberdade sindical,

discriminação no trabalho. Foi feita uma seção específica para o caso dos portadores de

necessidade especiais;

- Capítulos com informações específicas sobre cada uma das seis unidades

pesquisadas;

- Capítulo sobre Políticas de Responsabilidade Social, abordando a criação do Instituto

C&A, transparência, políticas de meio ambiente e responsabilidade social.

Ressalta-se a importância da participação de todos os pesquisadores do IOS que

realizaram a coleta de informações e a redação do relatório; das entidades sindicais Confederação

Nacional dos Trabalhadores do Comércio e Serviços (Contracs), Sindicato dos Empregados no

Comércio do Distrito Federal e Sindicato dos Empregados no Comércio de Fortaleza,

demonstraram apoio nas respectivas localidades onde foi realizada a pesquisa, e da empresa

C&A, que proporcionou infra-estrutura e acesso às lojas para a aplicação dos questionários.

O Instituto Observatório Social agradece também a Luciano Pereira Leite, secretário-

geral do Sindicato dos Empregados no Comércio de Osasco e Região, Geralda Godinho,

presidente do Sindicato dos Comerciários do DF, Romildo Miranda, do Sindicato dos

Comerciários de Fortaleza, Ricardo Patah, do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, e Cátia

T. Uehara, da Subsecção do DIEESE do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, pela leitura e

observações realizadas.

Page 15: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

14

Ressalta-se, também, que, no processo de negociação para realização desta pesquisa,

foi estabelecido um termo de compromisso entre as partes, IOS e C&A, que definiu as condições

para a sua realização. O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social foi convidado a

assumir o papel de observador desse processo.

2. METODOLOGIA

A pesquisa realizada na empresa C&A envolve entrevistas com trabalhadores mediante

plano amostral. Em virtude de negociação com a empresa, ficou acordado que seriam

pesquisados todos os trabalhadores disponíveis em seis unidades. No total, foram entrevistados

866 trabalhadores nas unidades pesquisadas e 18 líderes da empresa, supervisores, gerentes

locais, gerentes regionais e diretores.

O procedimento de pesquisa teve o seguinte desenvolvimento:

- negociação com a empresa, escolha das unidades e ajuste nos instrumentos de

pesquisa (2007/2008);

- elaboração de questionário para trabalhadores (ao longo de 2007 e 2008);

- elaboração de panorama setorial e perfil da empresa (realizado em março 2008);

- inserção de questionário no sistema de questionário eletrônico do IOS (em março

2008);

- pré-teste do questionário com pesquisadores do IOS (abril de 2008);

- primeira rodada de entrevistas, na unidade Shopping Tamboré (abril de 2008);

- segunda rodada de entrevistas, na unidade Shopping Interlagos (abril de 2008);

- terceira rodada de entrevistas, no Centro de Distribuição (abril de 2008);

- quarta rodada de entrevistas, na unidade Porto Alegre (maio de 2008);

- quinta rodada de entrevistas, em loja em Brasília (maio de 2008);

- sexta rodada de entrevistas, na unidade Fortaleza (maio de 2008);

- adaptação de questionário para as lideranças da C&A (maio de 2008);

Page 16: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

15

- sétima rodada de entrevistas, com lideranças do Escritório Central, em Alphaville

(junho de 2008);

- apresentação de documentos por parte da C&A (junho de 2008);

- inserção de dados coletados no sistema desenvolvido pelo IOS (junho e julho de

2008);

- tabulação dos dados (junho e julho de 2008);

- início da redação do relatório (julho de 2008);

- reunião técnica com equipe de pesquisadores do IOS envolvidos com os trabalhos

(agosto de 2008);

- apresentação de relatório preliminar à equipe do IOS, para revisão (setembro e

outubro de 2008);

- envio de relatório preliminar para os sindicatos envolvidos, para revisão (novembro

de 2008 a janeiro de 2009);

- envio de relatório preliminar para aprovação por parte da empresa (fevereiro de 2009)

- adaptação de relatório às demandas e comentários da empresa (março a junho de

2009)

- finalização de relatório (fevereiro de 2010)

3. PERFIL DA EMPRESA

Neste capítulo, antes de tratar sobre o perfil da empresa C&A, será apresentado um

panorama do setor, com informações da cadeia têxtil-vestuário, parte da cadeia produtiva em que

a C&A está inserida, e informações do setor de comércio varejista, abordando as particularidades

do segmento de moda. O objetivo é localizar a empresa dentro do contexto setorial.

Em segundo lugar, será abordado o perfil da empresa, em específico. Neste perfil,

encontramos temas como histórico da empresa, atuação no Brasil e no mundo, estrutura de

gestão, e política de recursos humanos. Neste capítulo, foram utilizadas fontes secundárias, como

Page 17: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

16

internet, imprensa, trabalhos acadêmicos, documentos da empresa C&A, e primárias, através de

entrevistas com os líderes1.

3.1. PANORAMA DO SETOR

3.1.1 Cadeia têxtil-vestuário

A cadeia produtiva têxtil-vestuário é constituída por empresas de grandes setores

industriais: a indústria química, provedora de fibras “químicas” ou manufaturadas e insumos para

tinturaria e acabamento; a indústria agropecuária, fornecedora de fibras naturais, tanto vegetais

como animais; e a indústria de máquinas e equipamentos especializados, que incluem tecnologias

de automação, de software, de informação e de comunicações. A indústria têxtil é a parte central

da cadeia e envolve processos de fiação e de tecelagem, e a indústria de confecção, que

transforma os tecidos em roupas2.

No Brasil, a entrada de produtos asiáticos com preços baixos na década de 1990 trouxe

impactos na indústria de confecção. Com o objetivo de reduzir os custos, a indústria nacional

adotou a estratégia da subcontratação. Assim, o segmento têxtil deslocou-se para a região

Nordeste e para o Estado de Minas Gerais, e a atuação da indústria de moda se concentrou em

Santa Catarina, norte paranaense, Minas Gerais e Rio de Janeiro.3

As empresas que se mantiveram no Estado de São Paulo buscaram outras formas para

reduzir os gastos na produção, ou por meio de práticas de subcontratação produtiva, ou por meio

do trabalho em domicílio, ou, ainda, por meio da contratação das chamadas “cooperativas” de

trabalhadores. Estas cooperativas, formadas muitas vezes por ex-empregados de empresas,

enfrentaram, por fim, as mesmas dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas empresas:

baixa escala de produção, falta de acesso ao crédito e elevada informalidade.

1 Líder é como a empresa denomina os funcionários que têm cargos acima de supervisor, ou seja, supervisores

(inclusive), gerentes, gerentes regionais, diretores e vice-presidentes. 2 GARCIA & CRUZ MOREIRA, p. 275.

3 GARCIA & CRUZ MOREIRA, p. 277.

Page 18: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

17

De acordo com estimativas da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de

Confecção (ABIT), divulgados no ano de 2008, o setor conta com cerca de 30 mil empresas, que

empregam cerca de 1,65 milhões de trabalhadores.4 Segundo a ABIT, o Brasil está entre os dez

principais mercados mundiais da indústria têxtil e dispõe de um dos maiores parques fabris do

planeta. É o segundo principal fornecedor de índigo e o terceiro de malha, está entre os cinco

principais países produtores de confecção e entre os oito grandes mercados de fios, filamentos e

tecidos. 5

Há grandes diferenças salariais entre trabalhadores do setor em âmbito internacional,

segundo a consultoria têxtil Werner International, com sede na Bélgica. Se compararmos o custo

da mão de obra no setor de confecções têxteis, os valores brasileiros, de US$ 3,27 por hora

trabalhada, estão, proporcionalmente, muito abaixo dos valores pagos aos trabalhadores do setor

em de países centrais, como Itália os Estados Unidos. Comparativamente os salários são US$

20,05 na Itália; US$ 16,92 nos Estados Unidos; US$ 4,62 na Polônia; US$ 3,27 no Brasil; US$

3,0 na Argentina; US$ 2,96 na Turquia; US$ 2,45 México; US$ 0,55 na China interior; US$ 0,50

no Haiti; US$ 0,46 no Vietnã 0,46 e US$ 0,28 no Bangladesh 0,28.6 Ou seja, do ponto de vista do

custo de produção, ainda é muito vantajoso para as grandes marcas internacionais subcontratarem

empresas brasileiras. Tais níveis salariais referem-se apenas ao setor industrial, e não ao comércio

varejista de confecções.

3.1.2 A produção na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)

Embora na década de 1990 tenha havido um deslocamento da produção da Região

Metropolitana de São Paulo (RMSP) para outras regiões do Brasil, esse deslocamento não foi tão

incisivo: os fatores que atenuaram o deslocamento foram os ganhos de produtividade das

empresas da RMSP e a intensificação da utilização da mão-de-obra subcontratada. Com isso,

4 ABIT. Disponível em: http://www.abit.org.br/site/texbrasil/?id_menu=2&idioma=PT. Acesso em: 11

mar. 2008.

5 Id.

6 IEMI. Boletim Informativo do setor Têxtil Confeccionista Calçadista e Moveleiro. Edição 29, Agosto 2008.

Page 19: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

18

houve um aumento da produção industrial na segunda metade da década de 1990. Na RMSP, a

produção de confecção e têxtil concentra-se em bairros da região central da cidade de São Paulo,

como Bom Retiro, Brás e, em menor escala, na Sé.

Em São Paulo, na primeira metade do século XX, imigrantes sírios e libaneses se

instalaram no centro da cidade, principalmente na Rua 25 de Março e no Brás, em diversas lojas

especializadas na comercialização de tecidos, roupas e armarinhos. Juntamente com a

comercialização foi necessária a produção de tecidos, cujo advento se baseou nas relações de

trabalho que envolviam a subcontratação de produtores especializados. Agregaram-se aos sírios e

libaneses imigrantes europeus e nordestinos, estes confeccionando produtos mais baratos e em

grande escala, no Brás. Na década de 1990, o setor na cidade de São Paulo entrou em outra fase:

com a inserção dos imigrantes coreanos como proprietários das confecções localizadas no centro

da cidade7.

Na década de 2000, a região passa a receber imigrantes bolivianos, que começaram a

trabalhar sob condições degradantes. Esses imigrantes, de forma geral, são trazidos

clandestinamente ao Brasil, mediante a ação de contrabandistas de pessoas, os chamados

“coiotes”. Os trabalhadores bolivianos trabalham em malharias clandestinas e não têm o amparo

da lei trabalhista, carteira assinada, assistência médica ou qualquer condição de saúde e

segurança. De acordo com estimativas do Centro de Apoio ao Migrante, vivem no Estado de São

Paulo 100 mil bolivianos irregulares e 60 mil em situação legal8.

Boa parte da comercialização e de fabricação de roupas é feita no centro de São Paulo,

principalmente no bairro do Bom Retiro. Grande parte da produção é subcontratada, mas muitas

lojas vendem sua mercadoria produzida por confecção própria, geralmente localizada nos fundos

da loja. Os varejistas podem usar sua própria marca ou a marca do atacadista.

Na região do Brás e Bom Retiro as grandes empresas são filiadas à Associação

Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT). Existem, também, associações comerciais, câmaras de

7 GARCIA & CRUZ MOREIRA, p. 291.

8 Folha de São Paulo, 19 fev. 2008. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1902200828.htm.

Acesso em: 10 out. 2008.

Page 20: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

19

dirigentes lojistas, consórcios de exportação, associação de importadores e, inclusive, uma

associação dos empresários coreanos.

Dentro da cadeia produtiva encontram-se também os varejistas, que atuam em uma

faixa de produtos de preços médios. Em suas estratégias, pesa cada vez mais o design e a

publicidade. O segmento é liderado por grandes lojas do comércio varejista de vestuário, como

C&A (holandesa), Riachuelo (controlada pelo Grupo Guararapes, potiguar) e Renner (capital

pulverizado mediante oferta pública de ações na Bolsa de Valores de São Paulo).

3.1.3 Movimentos de resistência ao trabalho degradante

Em geral, empresas multinacionais adotam Códigos de Conduta contra práticas

precárias de trabalho, na busca de condições mínimas de trabalho. Entretanto, essas situações

persistem, seja nas empresas subcontratadas seja nas contratadas pelas subcontratadas, como

trabalho domiciliar e as cooperativas de produção industrial. Alguns movimentos de resistência

atuam contra a utilização de formas precárias de trabalho nas indústrias do vestuário, tanto no

Brasil como internacionalmente. Entre elas, destacam-se:

- Clean Clothes (Roupas Limpas) - Campanha para a melhoria das condições de

trabalho na indústria do vestuário no mundo, que visa acabar com a exploração e abuso da mão-

de-obra, em sua maioria mulheres. Entre as ações desenvolvidas pela campanha estão pressão

para que as empresas sejam responsáveis e garantam que seus produtos sejam produzidos em

condições de trabalho decente; solidariedade e apoio aos trabalhadores, sindicatos e ONGs dos

países produtores; conscientização dos consumidores, mediante informações sobre as condições

de trabalho na indústria do vestuário global para mobilizar os cidadãos a usar o poder de

consumidor; exploração das possibilidades legais para melhorar as condições de trabalho; pressão

para a criação de legislações que promovam boas condições de trabalho e para que governos e

empresas sejam consumidores éticos.

- Sweatshop - Movimento que denuncia os locais de trabalho na indústria do vestuário

Page 21: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

20

e as empresas subcontratadas que violam as leis, e locais onde trabalhadores ficam expostos a

extrema exploração, salários baixos e longas jornadas de trabalho, sem pagamento de horas

extras. Também registra denúncias contra condições de trabalho precárias, com riscos à saúde e

segurança; abuso verbal ou físico por parte dos empregadores; e intimidação sobre iniciativas de

expressão e de organização de trabalhadores. Há, ainda, denuncias de empresas de vestuário que

utilizam trabalho infantil e mão-de-obra escrava.

3.1.4 Comércio varejista

O comércio varejista no Brasil pode ser classificado em comércio lojista e não-lojista.

O comércio não-lojista acontece por meio do contato direto do vendedor com o comprador (porta

em porta, venda pessoal, venda domiciliar, marketing de rede) e por meio de contrato indireto

(mala direta, venda virtual, televendas/telemarketing, TV shopping, internet e vending machines

– máquinas de venda automática, como de guloseimas e refrigerantes). O comércio lojista, por

sua vez, pode ser constituído de pequenos, médios e grandes estabelecimentos, que podem atuar

mediante lojas de rua, galerias comerciais, centros comerciais, strip centers (junto a grandes

lojas) e shopping centers.

As lojas podem ser não-especializadas - hipermercados, supermercados, lojas de

departamento, lojas de departamento com descontos, lojas de conveniência, clubes de compra,

mercados e minimercados, lojas de variedade - ou especializadas - home centers (materiais de

construção e artigos para o lar), autocenters (autopeças e produtos automotivos), bricolagem

(manutenção e decoração de residências), acessórios para decoração, presentes, artigos

eletrônicos, artigos infantis, restaurantes com serviços, restaurante fast food sem serviços, fast

food (pequenas lojas), delicatessen, outlet store (grandes lojas de venda direta ao consumidor),

off price store (pontas de estoque).

No segmento shoppings centers, são encontradas as seguintes categorias de lojas:

Âncoras – possuem geralmente área total superior a 1.000 m². São grandes

Page 22: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

21

anunciantes na mídia eletrônica e impressa e operam fortemente com crediário.

Atraem grande fluxo de consumidores. Nessa categoria, encontram-se grandes

supermercados;

Lojas de conveniência – lojas de alimentos que não são para consumo no local de

compra, além de farmácias, armarinhos e outras;

Lojas de vestuário – englobam todas as lojas que vendem artigos de vestuário,

acessórios, lingeries, meias e tecidos;

Lojas de artigos para o lar – lojas que vendem artigos para montagem e decoração

da casa;

Lojas de artigos diversos;

Lojas de alimentação - para consumo imediato no local de compra, tais como

restaurantes, fast-foods, sorveterias e cafés.

De acordo com Pesquisa Mensal do Comércio, feita em dezembro de 2007 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relação a dezembro de 2006, o volume

de vendas do varejo cresceu 9,0%, enquanto a receita nominal aumentou em 13,1%. Em 2007, as

atividades de tecidos, vestuário e calçados tiveram crescimentos de 10,7% em relação a 2006. O

ano de 2007 foi o melhor para este segmento em toda a série da Pesquisa Mensal do Comércio. 9

TABELA 1 - NÚMERO DE EMPRESAS E VÍNCULO EMPREGATÍCIO EM 31/12 - BRASIL

Nº de pessoas empregadas Nº de estabelecimentos comerciais

2003 2004 2005 2003 2004 2005

Comércio Varejista 4.311.540 4.699.194 5.053.060 2.424.353 2.501.640 2.583.750

Comércio varejista de tecidos,

artigos de armarinho,

vestuário e calçados

627.081

683.193

729.259

426.678

435.963

446.223

Fonte: RAIS Elaboração: IOS

9 IBGE. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1090&id_pagina=1. Acesso em:

10 mar. 2008.

Page 23: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

22

As grandes redes de vestuário já citadas, C&A, Renner e Riachuelo, têm como

consumidor alvo de seus produtos o estrato jovem da população. “A C&A foi pioneira no Brasil

ao transformar a moda em artigos de consumo popular” (GARCIA & CRUZ MOREIRA, p. 296).

Para atender a essa demanda, as roupas vendidas na C&A são confeccionadas por meio de

subcontratação de pequenas e médias empresas.

A Riachuelo, por sua vez, do grupo Guararapes, intensificou a comercialização de

roupas com “alto conteúdo de moda e lançamentos sazonais de acordo com os calendários da

moda, quase que abandonando sua estratégia de vendas de produtos tradicionais fabricados pelas

outras empresas do grupo Guararapes.”10

No mesmo segmento, verifica-se, ainda, a empresa gaúcha Renner, aquisição do grupo

norte-americano JC Penney, atualmente com capital pulverizado na Bolsa de Valores de São

Paulo. A Renner, por sua vez, anunciou em março de 2008 a aquisição de 100% do capital da

rede de lojas Leader e 50% do capital da Leader Administradora Cartões de Crédito. A Leader

conta com 38 lojas em todo o Brasil, sendo 30 no Rio de Janeiro.11 As três empresas representam

cerca de 3% do varejo de roupas do Brasil (R$ 100 bilhões), número que indica que o segmento é

ainda pouco concentrado.

3.2. PERFIL DA EMPRESA

De origem holandesa, a C&A foi fundada em 1841 pelos irmãos Clemens e August

Brenninkmeijer, cujas famílias mantêm-se no controle da empresa desde então. Os empresários

que controlam a C&A são reservados, não dão entrevistas nem comparecem a eventos públicos.

Além disso, a empresa não disponibiliza informações sobre seu desempenho financeiro – fator

apoiado pela legislação brasileira, uma vez que a C&A é empresa de capital fechado. Cada região

da empresa é administrada de forma autônoma, por membros da quinta geração da família

Brenninkmeijer. Segundo a Revista Forbes, em 1998, a fortuna da família estava avaliada em 4

10

GARCIA & CRUZ MOREIRA, p. 296. 11

BUENO, Sergio. Renner anuncia acordo para a aquisição da rede Leader. Valor Econômico, 12 mar. 2008.

Page 24: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

23

bilhões de dólares.12 No Brasil, a lei prevê que empresas com capital fechado não necessitam

divulgar seus resultados.

Atualmente, a C&A é uma das maiores cadeias mundiais de varejo de moda para

mulheres, homens e crianças. Com uma grande variedade de marcas, a empresa opera em 16

países da Europa, três países da América Latina (Argentina, Brasil e México) e também na

China.13

Paralelamente à empresa dos irmãos C&A, foi fundado, em outubro de 2001, o grupo

holandês Cofra Holding AG14, também da família Brenninkmeijer. Com sede na Suíça, o grupo

congrega empresas da família na Europa, América do Norte e América Latina. O grupo tem, além

da sede, outros 10 escritórios regionais em países da Europa, Estados Unidos e Brasil. No Brasil,

a Cofra está presente por meio da Cofra Latin América, que tem escritório localizado em Barueri

(SP). As atividades incluem o varejo (C&A Europa, América Latina e China), investimentos

imobiliários (Redevco), investimentos de capital privado (Bregal e Entrepreneurs Fund), serviços

financeiros (Banco Ibi no Brasil entre outros) e investimentos corporativos no setor de energias

renováveis (Good Energies).15 A C&A é um dos maiores varejistas em produtos e serviços

financeiros - por meio do Banco Ibi a empresa oferece cartões de crédito, seguros, títulos de

capitalização e empréstimos para pessoas físicas e jurídicas.16

12

VASSALLO, Cláudia. Um caso exemplar. Revista Exame. Disponível em:

http://www.inclusao.com.br/projeto_textos_53.htm. Acesso em 22 set. 2008. 13

Disponível em: <http://www.cofraholding.com/en/ret.asp>. Acesso em: 21 fev. 2008 14

Disponível em: <www.confraholding.com>. Acesso em: 21 fev. 2008 15

Disponível em: http://www.cofraholding.com/en/gro_org.asp. Acesso em: 21 fev. 2008 16

Disponível em:< http://www.cea.com.br/>. Acesso em: 21 fev. 2008

Page 25: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

24

FIGURA 1 – ORGANOGRAMA COFRA HOLDING

FONTE: Cofra Holding

Também faz parte do grupo a Organização de Serviço para a Gestão de Auditorias de

Conformidade, a SOCAM (Service Organisation for Compliance Audit Management sigla em

inglês), empresa de auditoria sediada na Bélgica que tem como objetivo verificar e monitorar

padrões de negócios responsáveis em mercadorias compradas pela C&A -, ou seja, identificar e

prevenir a exploração e práticas de trabalho ilegal, além da observância de aspectos ambientais,

saúde e segurança nos locais de trabalhos.

3.2.1 C&A no Mundo

Na Europa, a C&A possui lojas na Áustria, Alemanha, Bélgica, Espanha, Eslovênia,

França, Holanda, Hungria, Luxemburgo, Polônia, Portugal, República Eslovaca, República

Tcheca, Rússia, Suíça e Turquia, totalizando 931 unidades, mais 212 especializadas em moda

infantil, 15 lojas especializadas em moda feminina e mais 14 de sua marca própria, a

“Clockhouse”. Com escritórios estão em Bruxelas e Dusseldorf, a empresa conta com cerca de

Page 26: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

25

34 mil trabalhadores.17

A C&A não produz as mercadorias que vende, mas compra de outras empresas no

mercado mundial, de produtores de artigos manufaturados e roupas prontas para a distribuição.

Os produtos vendidos na Europa são 50% produzidos na Ásia e Índia; o restante, na Europa e na

África do Norte. A empresa conta com 900 fornecedores, monitorados pela SOCAM (Service

Organisation for Compliance Audit Management).

QUADRO 1 – CRONOLOGIA DA IMPLANTAÇÃO DA C&A NA EUROPA

DATA EVENTO

1861 Primeira loja C&A

1900 a 1911 Abertura de muitas lojas na Holanda

1911 Alemanha

1922 Inglaterra

1960 Bélgica.

1968 França

1969 Luxemburgo

1977 Suíça

1980 Espanha

1984 Áustria

1990 Portugal

1999 Republica Tcheca

2001 Polônia

2002 Hungria

Fonte: C&A

No México, a C&A abriu a sua primeira loja em 1999 e, até o final de 2007, operava

com cerca de 50 lojas em mais de 22 cidades diferentes no país. Em 2005, uma pequena licença

de negócio foi concedida e a C&A China Ltda. foi incorporada, com sede localizada em Xangai.

Em março de 2007, a C&A China anunciou a sua entrada no mercado chinês, com a abertura de

quatro lojas na capital do país.18 Na América do Sul, a varejista tem unidades na Argentina e no

Brasil, onde se localiza sua maior operação.19

17

Disponível em: http://www.c-and-a.com/aboutUs/company/history/. Acesso em: 21 fev. 2008. 18

COFRA HOLDING. http://www.cofraholding.com/en/ret_lat.asp. Acesso em: 21 fev. 2008. 19

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 27: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

26

3.2.2 C&A no Brasil

Em 1976, a C&A implantou sua primeira loja no Brasil, no Shopping Ibirapuera, em

São Paulo. Hoje, são 150 lojas em 60 cidades brasileiras, em todas as regiões do país..20 Ao todo,

a empresa emprega mais de 15 mil trabalhadores, mas não revela o número de funcionários com

contrato permanente ou temporário.

De acordo com diretor, a empresa atua em todas as capitais e cidades que tenham

importância regional. É líder no varejo de moda. Está voltada para um público de todas as idades,

para toda a família, embora seja mais direcionada para a classe média e não para a “classe A”. 21

A empresa trabalha com acessórios e aparelhos eletrônicos, entre celulares, tocadores de MP3 e

câmeras fotográficas digitais22. A C&A no Brasil também dispõe de produtos e serviços

financeiros, como seguros, títulos de capitalização, empréstimos para pessoas físicas e jurídicas,

cartão de crédito e aplicações em Certificados de Depósito Bancário (CDB), por meio do Banco

Ibi.

A empresa não revela em documentos ou entrevistas questões estratégicas da no que se

refere ao plano de expansão ou investimentos ocorridos nos últimos cinco anos. Não revela,

também, o resultado financeiro em termos de vendas. Entretanto, as informações obtidas pelo

IOS revelam que, no Brasil, a varejista vem crescendo cerca de 20 lojas ao ano, desde 2005.23 Os

períodos de picos de venda são Natal, Dias das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados e Dia das

Crianças. 24

Pode-se perceber que a subsidiária brasileira reproduz a cultura da matriz, ou seja, trata

com sigilo total as informações estratégicas em função dos planos de negócios e concorrência,

importantes para criar uma relação transparente com o movimento sindical.

20

Documentos disponibilizados pela C&A. 21

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 22

Documentos disponibilizados pela C&A. 23

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 24

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 28: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

27

3.2.3 Estrutura de gestão e empregos

3.2.3.1 Gestão

De acordo com diretor da empresa entrevistado pelo IOS, que não pode ser

identificado, a forma de gestão que é adotada pela C&A brasileira não recebe determinações

diretas da matriz européia, “apenas determinações gerais”.25

No topo do organograma da C&A está a presidência, a qual estão ligadas duas vice-

presidências e quatro diretorias, conforme diagrama abaixo:

FIGURA 2 – ORGANOGRAMA PADRÃO C&A

25

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

P

Presidência

V

VP de

Operações

V

VP de

Compras

compras

D

Diretoria de

Engenharia

D

Diretoria de

Marketing

Diretoria

Financeira

Jurídica

Informática

D

Diretoria

RH

D

Diretoria de

Lojas

D

Diretoria de

Logística

D

istribuição

Corporate

Social

Affairs

Diretoria

Planejamen

to

Diretoria de

Compras

Page 29: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

28

FONTE: Documentos C&A

No âmbito das vendas, o diretor de lojas está no topo do organograma. O gerente da

loja tem autonomia relativa para a tomada de decisões, as unidades respondem ao gerente

regional que, por sua vez, responde ao diretor de lojas. As políticas administrativas são definidas

por comitês de diretores. Segundo o diretor entrevistado, as “bases” eventualmente são

consultadas para a elaboração de algumas políticas, o salário é analisado pelo gerente na própria

região onde a loja está localizada.26 O elo entre o gerente local e a diretoria é o gerente regional

que cuida de 10 a 12 lojas.

Ao gerente de loja, cabe a contratação e desligamento de funcionários. De acordo com

a empresa, ao gerente de loja cabe não somente as atividades comerciais e operacionais, como

também a garantia de observância e implementação das políticas de Recursos Humanos na

unidade, tais como recrutamento e seleção, treinamento e capacitação, desenvolvimento,

avaliação de desempenho e carreira.

De acordo com informações da empresa, a área de Corporate Social Affairs (CSA), por

sua vez, é responsável por planejar e executar as ações referentes à responsabilidade sócio-

ambiental. Estão reunidas no CSA as atividades relacionadas à SOCAM (Service Organisation

for Compliance Audit Management, Sustentabilidade, Meio Ambiente, Diversidade, Instituto

C&A, Pesquisa com Clientes, Segurança de Produtos e Relações Públicas.

26

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 30: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

29

FIGURA 3 – ORGANOGRAMA PADRÃO DE UMA LOJA

FONTE: Documentos C&A

A empresa tem um Plano de Cargos e Salários (PCS), válido em todo o território

nacional, com salários previstos nas convenções coletivas de cada região. A organização do

organograma da loja é resultado de uma revisão do PCS que foi feita recentemente, no ano de

2007. Houve mudanças de nomenclaturas nos cargos e uma revisão salarial, tomando por base

uma pesquisa salarial em âmbito nacional realizada por uma consultoria externa.27

De acordo

com os líderes entrevistados, as mudanças no PCS não foram discutidas com os sindicatos, pois

são procedimentos internos da C&A. Para o IOS, essa informação é um indicativo da postura da

empresa em relação aos sindicatos, considerados pela empresa como um elemento externo,

ignorado no processo de tomada de decisões.

27 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Diretoria de Lojas

Gerência Regional

Gerência de Loja

Supervisão de Varejo

Líderes

Monitores Assessores

Page 31: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

30

Na visão da empresa, a C&A dispõe de um PCS que toma como referência as melhores

práticas do mercado. Houve revisão nas descrições de cargos e mudanças nas nomenclaturas para

diferenciar e esclarecer as responsabilidades de cada cargo. A C&A não discute com o sindicato

o seu PCS por entendê-lo como um diferencial competitivo e, portanto, de caráter estratégico e

confidencial.

Dados da empresa informam que 100% dos líderes e monitores e 95% dos supervisores

são funcionários de carreira. Em relação aos gerentes, 35% são oriundos do quadro interno, 15%

do mercado e 50% do Programa de Trainees.28 No Centro de Distribuição há especificidades nos

cargos, que são divididos entre operacionais e administrativos.29

3.2.3.2 Fornecedores

A empresa afirma possuir um código de conduta com seus fornecedores, o “Código

C&A de Conduta para Fornecimento de Mercadorias”30. Este código considera certos padrões

universalmente válidos e que devem ser aplicados a todas as atividades comerciais da empresa no

que se refere aos aspectos legais, desde o fornecimento até as condições de trabalho dos

empregados das confecções, incluindo situações de utilização de trabalho infantil, trabalho

forçado, liberdade de associação e sindicalização, entre outros.

Em setembro de 2007, a multinacional investiu R$ 5 milhões na SOCAM (Service

Organisation for Compliance Audit Management para que esta inspecionasse as condições de

trabalho oferecidas por 700 fornecedores da empresa. Em setembro de 2007, a SOCAM já havia

visitado 85% dos fornecedores e subcontratados. Em média, cada fornecedor da rede trabalha

com dez oficinas de costura. Vinte e seis fornecedores vistoriados foram bloqueados por não

cumprirem exigências relativas ao ambiente e saúde e segurança no trabalho. Só voltaram ao

cadastro os que cumpriram um plano de ação desenvolvido e acompanhado pelos auditores. Três

28

Documentos disponibilizados pela C&A. 29

Representante da empresa. . Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 30

Disponível em: http://www.cea.com.br/fornecedores/files/Codigo_de_Conduta.pdf. Acesso em: 25 fev. 2008

Page 32: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

31

deles não quiseram se adequar e foram excluídos da lista de fornecedores . Em média, cada

auditor visita, por dia, três locais, entre fornecedores diretos e subcontratados. As fiscalizações

ocorrem sem aviso prévio e não têm caráter punitivo, segundo a rede, mas "corretivo"31

.

Os padrões explicitados pela empresa no Código de Conduta são os seguintes:

- relacionamento com fornecedores: na declaração da empresa, há a exigência de que

os “fornecedores estendam o mesmo princípio de relações comerciais justas e honestas a todos

aqueles que mantenham negócios, incluindo empregados, subcontratados e demais terceiros”;

- aspectos legais e direitos de propriedade intelectual: cumprimento, por parte da

empresa e dos fornecedores, das exigências legais dos países onde a empresa mantém relações

comerciais. Os direitos de propriedade intelectual devem ser respeitados;

- condições de trabalho: são requisitos que se aplicam aos direitos humanos básicos.

Tais requisitos se aplicam tanto à produção de mercadorias da C&A como à produção destinada a

qualquer terceiro: a não utilização do trabalho infantil, cumprimento da exigência de que os

trabalhadores não deverão ter idade igual ou superior a 14 anos, legalmente estipulada no Brasil;

não utilização do trabalho forçado ou “exploração de qualquer indivíduo ou grupo vulnerável”;

salários de acordo com as normas locais, com as leis locais e com o “princípio geral de

negociações justas e honestas”; e garantia de “saúde e seguranças de todos os envolvidos no

processo de produção”;

- aspectos ambientais: respeito às normas de proteção ambiental;

- liberdade de associação: respeito à liberdade dos empregados se associarem “a

quaisquer grupos de sua própria escolha, desde que tais grupos sejam legais em seus países”;

A empresa enumera, também, as condições de fornecimento: prazos, programação,

embalagens, transporte, condições de pagamento. Além disso, determina as condições mínimas

para que uma empresa seja fornecedora da C&A: produção mínima de 200 mil peças ou pares por

mês, não ter loja própria de varejo e que o proprietário seja o responsável pela negociação. 32

31

C&A cria empresa e investe R$ 5 mi para fiscalizar fornecedor . Folha de São Paulo, 30 set. 2007. Disponível em.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi3009200708.htm. Acesso em 05 mar. 2008 32

C&A. Disponível em: <www.cea.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2008.

Page 33: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

32

De acordo com a C&A, em 2007, algumas redes varejistas, como C&A, Riachuelo e

Marisa, firmaram, junto ao Ministério Público do Trabalho, um compromisso de auxílio aos

órgãos oficiais na coibição de exploração de trabalho escravo ou análogo e de imigrantes ilegais

na cadeia têxtil.

A empresa explica, ainda, que seu site de relacionamento com fornecedores

disponibiliza todas as condições éticas e operacionais já existentes nas Condições Gerais de

Fornecimento, documento que rege a relação comercial com fornecedores praticado pela empresa

há muitos anos. O texto a seguir pode ser observado na página supramencionada, bem como no

pedido de compras que é entregue ao fornecedor:

“A C&A Modas Ltda. não aceitará, sob pena de rescisão e descredenciamento, assim como

cancelamento de pedidos de compras, as confecções que:

1. Contratem, de qualquer modo, formal ou informalmente, trabalhadores de nacionalidades

diversas que estejam em situação irregular no país;

2. Contratem empresas integradas por estrangeiros que não estejam legalmente constituídas

como pessoa jurídica.

3. Contratem, formal ou informalmente, empresas que se utilizem, direta ou indiretamente, de

trabalhadores estrangeiros que estejam em situação irregular no país.”

3.2.3.3 Política de Recursos Humanos

No manual do funcionário, chamado pela empresa de “associado”, estão enumerados

cinco comportamentos que o empregado deve ter:33

- “fazer acontecer: ter boa idéia e torná-la realidade; ter coragem para assumir riscos e

desafios e suas conseqüências; ser determinado e persistente na implantação de projetos;

combater resistências e driblar dificuldades; respirar, transpirar resultado;”

- “senso de urgência: agir com rapidez; planejar as atividades; estabelecer prioridades;

focar nos objetos propostos; aceitar o bom em lugar do ótimo extemporâneo;”

33

C&A. Manual do Funcionário, jan. 2008, p. 07.

Page 34: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

33

- “inconformismo: querer fazer melhor a cada dia; atuar como dono do negócio; ter

iniciativa e acabativa (sic); ser obstinado por qualidade; agir com espírito empreendedor;”

- “gostar de gente: gostar de se relacionar; gerar ambiente de confiança mútua e

transparência; valorizar o trabalho do outro; respeitar a diversidade; inspirar pelo exemplo;”

- “espírito contagiante de equipe: atuar coletivamente, de maneira harmônica,

coordenada e disciplinada; compartilhar os sucessos e assumir os erros; estimular o dinamismo; a

criatividade; a participação; compartilhar situações críticas antes de decidir; da e solicitar

feedback.”

É interessante notar que esses tópicos que norteiam o comportamento dos funcionários

incentivam a iniciativa individual, o comportamento dinâmico, em concomitância com a atuação

coletiva. O que se pode questionar, baseando-se nas informações contidas no corpo do relatório, é

se a empresa dá condições para que os funcionários ajam dessa forma, se os líderes agem de

forma coerente com esses pressupostos, e se é possível cobrar transparência de seus funcionários,

uma vez que a própria empresa possui uma forte cultura de sigilo.

Sobre esse conceito, a empresa reforça que:

A cultura do sigilo de fato existe, porém centrada nas questões estratégicas de planejamento de

negócios, tendo em vista a alta competitividade do setor, caracterizando-se, dessa forma, como

o sigilo necessário. Os pressupostos mencionados falam de uma cultura aberta e

empreendedora que em nada se choca com os necessários cuidados estratégicos.

Seleção e treinamento

Documentos e declarações das lideranças ressaltam que o início de carreira da C&A

pode ser feito por jovens profissionais com pouca ou nenhuma experiência.

A C&A exerce um papel social de grande significado ao aceitar candidatos sem qualquer

experiência para trabalhar como funcionário em suas lojas. Isso gera, como conseqüência, alta

atratividade para jovens em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho,

atualmente tão exigente e restrito. Torna, portanto, essa faixa etária predominante em seu

quadro.34

34

Documentos disponibilizados pela C&A.

Page 35: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

34

Dados da empresa apontam que 33% de seus funcionários iniciaram a carreira

profissional na C&A, treinador pelos monitores das lojas. Esse índice confirma o perfil jovem

dos trabalhadores da varejista: 54,2% dos funcionários das unidades pesquisadas têm até 25 anos,

71,28% têm até 30 anos.

TABELA 2 - FAIXA ETÁRIA UNIDADES PESQUISADA C&A MARÇO 2008

FAIXA ETÁRIA NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS (%)

Até 18 anos 7,22

19 a 25 anos 46,98

26 a 30 anos 17,08

31 a 35 anos 10,71

Acima de 35 anos 18,01

FONTE: DOCUMENTOS C&A

Obs: Contempla Menor Aprendiz

Para atender a essa demanda, a empresa mantém alguns programas voltados para

jovens trabalhadores: o Programa Primeiro Emprego, o Programa Jovem Aprendiz e o Programa

de Trainees. De acordo com a empresa, há uma cobertura de 100% da cota do Programa Jovem

Aprendiz, que é feito em parceria com o Senac.35

A varejista mantém programas de treinamento entre seus funcionários. De acordo com

diretor de loja, todos os funcionários que estão na empresa são treinados, passam por vários

setores e são fixados em uma função, que pode ser mudada mais tarde. O treinamento padrão, em

que todos os trabalhadores passam por todos os setores da loja, é chamado de job rotation, e é

seguido por treinamentos específicos para cada função. De acordo com gerente, os treinamentos

gerais acontecem de forma esporádica, enquanto os específicos dependem das necessidades da

loja.36

No CD, são oferecidos cursos de Ensino Fundamental e Médio e Programa de

Informática Básica, em parceria com a Fundação Bradesco. Em virtude do contingente de

deficientes auditivos que trabalham no CD, também é oferecido no local o Curso de Libras, em

35

Documentos disponibilizados pela C&A. 36

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 36: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

35

parceria com o Centro de Aprendizagem Empresarial Piaget37.

Nas lojas, a empresa mantém o programa Fábrica de Talentos, cujo objetivo é

“melhorar e padronizar os processos de treinamento e acompanhamento dos funcionários das

lojas, visando a captação e transformação de talentos, redução de turn over, criação de condições

para o desenvolvimento de carreira e, essencialmente, criar um modelo de qualidade sustentável

de atendimento aos clientes da loja”.38 Nesse programa, o treinamento do novo funcionário se dá

mediante o desempenho de funções por todos os setores. De acordo com diretor da empresa:

A organização tem que se tornar mais ágil, mudou muito mais em relação às condições de

trabalho, a comunicação se tornou muito forte. O mercado ficou muito competitivo. , tem que

investir muito mais em relação às pessoas, se preocupar com as pessoas em todos os níveis. Há

na empresa metas de não reduzir as pessoas, trazer pessoas e reter as pessoas. O turn over do

varejo é muito alto, estamos abaixo do mercado, e na empresa há metas para reduzir turn over

de pessoal.39

De acordo com diretor abordado, como a empresa está em franca expansão, é

necessário fazer treinamento de gestores e formação de gerentes. A formação de gerentes pode

ser realizada mediante trainees ou por meio de uma carreira interna. “Pela carreira interna o

funcionário já traz bagagem operacional.”40

Segundo representante da empresa, a política de formação profissional da C&A “é

focada na aprendizagem do dia a dia, é sempre monitorado”. Existe um calendário de

treinamentos, dividido em três fases: integração, on the job (treinamento em todos os

departamentos da loja) e treinamentos periódicos gerais e para funções específicas. “Os

treinamentos gerais acontecem de forma esporádica e os específicos dependem das necessidades

da loja”.

O programa Aprender Fazendo (Learn by doing) capacita todos os funcionários em

todas as áreas. “A política é a pessoa estar na função específica e visar à formação específica ou

37 Documentos disponibilizados pela C&A..

38 Documentos disponibilizados pela C&A.

39 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

40 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 37: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

36

em caso de promoção”.41 O que se percebe é que tais treinamentos são feitos no desempenho das

funções, ou seja, os funcionários aprendem enquanto estão trabalhando. Dessa forma, esses

treinamentos provavelmente vão ser úteis apenas para o desempenho de funções na própria

empresa, mas não fora dela. Existem áreas onde esses treinamentos são mensais, como o setor de

cartões. Os treinamentos gerais, para todos os trabalhadores, são semestrais.

De acordo com diretor da empresa, “é desejável o ensino médio para os funcionários

porque é importante saber falar e escrever. Quem trabalha com cartões tem que saber fazer

análises numéricas”. 42

Os critérios de seleção para de funcionários nas lojas levam em consideração pessoas

que estejam no perfil do varejo, ou seja, que esteja apta a “trabalhar com pessoas, trabalhar com

equipes, falar e atender. Uma pessoa mais introspectiva fica difícil entrar nesse perfil”. Segundo

diretor da empresa, não há definição de gênero, raça ou idade para se trabalhar na C&A.

Entretanto, há critérios considerados objetivos, como disponibilidade de trabalho aos sábados e

domingos. Ainda de acordo com o diretor, os funcionários “têm que gostar de gente, contagiar o

ambiente e buscar fazer o melhor para o cliente. Têm que ter senso de urgência, inconformismo

com as necessidades do cliente.”43

De acordo com a empresa, “os treinamentos priorizam a melhoria do desempenho

operacional e oferecem habilidade para qualquer iniciante desenvolver sua carreira”. Na estrutura

das lojas, há uma posição destinada quase que exclusivamente ao treinamento e apoio dos

funcionários.

As avaliações dos funcionários são subsídios importantes para promoções posteriores.

A promoção depende da condição do trabalhador sob o ponto de vista da avaliação e de vagas

disponíveis.

Os funcionários das lojas são distribuídos pelas seguintes áreas:

41

Representantes da empresa. Entrevistas realizadas em 04 jun. 2008. 42

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 43

Representantes da empresa. Entrevistas realizadas em 04 jun. 2008.

Page 38: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

37

TABELA 3 - LOJAS C&A – FUNCIONÁRIOS POR ÁREA - MARÇO 2008

ÁREAS NÚMEROS DE FUNCIONÁRIOS (%)

Vendas 54,13

Administrativo 3,20

Fiscal 8,13

Manutenção 0,67

Venda de Produtos Financeiros 33,87

FONTE: DOCUMENTOS C&A

Terceirização

De acordo com diretores entrevistados, a terceirização existe na empresa apenas as

áreas que não fazem parte do negócio principal, como limpeza e refeitório. A C&A não tem

gestão direta sobre os terceirizados. Os trabalhadores temporários não são considerados terceiros,

são contratados apenas nos eventos como Natal, Dias das Mães, Dias dos Pais, Dia dos

Namorados e Dia das Crianças, e têm contrato definido para reforçar a equipe nos eventos. 44

Jornada de trabalho

A maioria dos trabalhadores tem jornada diária integral de oito horas, também

chamada pela empresa de full time. A jornada parcial ou de seis horas diárias é chamada de part

time. Nas lojas, são três turnos: manhã, intermediário e noite, distribuídos de acordo com a curva

de vendas. No CD, a jornada é de oito horas diárias, distribuída em dois turnos: das 6h às

13h50min e das 13h50min às 21h50min. De acordo com gerente, a distribuição de turnos é feita

de acordo com os horários do comércio local e do movimento das lojas. “Eles não sofrem

alteração no decorrer do trabalho, só ocorrem quando o funcionário precisa ou em situações

imprevistas, como cobertura de ausência de funcionário”. 45

De acordo com líder da empresa, a mudança da jornada, de part time para a jornada

full time, está relacionada “com a necessidade da loja e se o trabalhador desempenhar um bom

papel pode passar de part para fullcom o interesse do funcionário e necessidade da loja”.46 Os

gerentes regionais não consideram o aumento da jornada de part time para full time como uma

44

Representantes da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008 45

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 46

Representantes da empresa. Entrevistas realizadas em 04 jun. 2008.

Page 39: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

38

forma de promoção será ressaltado nos capítulos específicos sobre as unidades. Em relação a essa

situação, a empresa argumenta que:

O que determina a jornada de part time ou full time é a necessidade da operação da loja. De

fato, os funcionários acabam entendendo essa mudança como promoções, devido à existência

de uma diferença salarial de 22%. Entretanto, essa não é a forma de divulgação dada pela

empresa. Na anotação na ficha de registro do funcionário consta corretamente como alteração

de carga horária, e não promoção.

TABELA 4 JORNADA DE TRABALHO NAS UNIDADES PESQUISADAS – MARÇO 2008

JORNADA SEMANAL NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS (%)

36 horas 21,50

44 horas 78,50

FONTE: DOCUMENTOS C&A

Obs: Não contempla Menor Aprendiz

Embora a liderança da empresa ressaltar que não considera desejável o exercício de

horas extras, elas são exercidas e seguem políticas da empresa. O critérios definidos estabelecem

que apenas quem trabalha em horário integral pode fazer hora extra, com limite de duas horas

diárias e 26 horas por mês, complementadas por banco de horas nas praças onde acordos com o

sindicato permitem47. As horas extras são compensadas em, no máximo, três meses, quando as

regras do Acordo Coletivo de Trabalho permitem.

Nos capítulos das unidades será abordado que o exercício de horas extras é

diferenciado nas lojas pesquisadas. Em Fortaleza, por exemplo, não é usado o banco de horas.

Será abordado, também, de acordo como informações obtidas com os entrevistados, que nem

sempre a política de horas extras da empresa é obedecida nas unidades pesquisadas. Sobre esse

não cumprimento, a empresa declara que “um dos princípios rígidos é o cumprimento da

legislação. No entanto, dado a capilaridade da empresa, é possível a ocorrência de erros na

gestão. A empresa tem aprimorado os seus controles, de forma a garantir o correto cumprimento

das políticas corporativas em todos os seus aspectos”.

47

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 40: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

39

Remuneração e benefícios

De acordo com líderes da empresa entrevistados, a política salarial é a mesma para

todo o Brasil, com adequações regionais. Nos capítulos específicos sobre as unidades identifica-

se que há especificidades salariais conforme as localidades, e que a remuneração do CD é um

pouco superior à das lojas. De forma geral, há uma concentração maior de trabalhadores nas

faixas de até dois salários mínimos.

A empresa esclarece que, “na distribuição das faixas salariais das lojas, estão

considerados os funcionários com carga horária parcial (36 horas semanais), com denominação

interna de part time, que têm uma diferença de 22% em relação aos funcionários com carga

horária integral (44 horas semanais), com denominação interna de full time.”

TABELA 5 – REMUNERAÇÃO DAS UNIDADES PESQUISADAS – ABRIL 2008

FAIXA SALARIAL % DE FUNCIONÁRIOS

Até um salário mínimo 3,48%

De 1,01 a 1,50 salário mínimo 34,75%

De 1,51 a 2,00 salários mínimos 22,09%

De 2,01 a 2,50 salários mínimos 5,86%

De 2,51 a 3,00 salários mínimos 16,06%

De 3,01 a 4,00 salários mínimos 7,65%

De 4,01 a 5,00 salários mínimos 5,86%

Acima de 5 salários mínimos 4,25%

FONTE: Documentos C&A

A empresa faz pesquisa regional de salário e, a partir dessa pesquisa, define um piso

salarial C&A que, segundo diretor, “normalmente supera o piso previsto na Convenção

Coletiva.”48 De acordo com gerente:

O RH tem uma diretriz regularmente atualizada com o mercado, de acordo com os players

Riachuelo, Renner e outras (empresas comparáveis). A C&A pesquisa as práticas de

remuneração, tenta praticar até um quartil acima da média de mercado. Há política de

remuneração para o Brasil inteiro, mas o piso salarial é diferenciado por causa das diferentes

regiões no país. Seguimos os acordos coletivos de cada região, ,mas adotamos um salário base

(piso C&A), que normalmente é superior ao piso salarial da categoria.49

48

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 49

Representante da empresa Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 41: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

40

Na política de remuneração da empresa está inserido um Programa de Participação nos

Resultados (PROPAR). Segundo os diretores da empresa, o PPR da C&A foi implantado antes da

criação da Lei de Participação nos Lucros. O PROPAR é distribuído por unidade e está ligado a

metas coletivas – se as metas forem atingidas pela unidade, todos, daquela unidade, recebem o

PROPAR. “A meta é baseada no histórico da loja, que é amarrada a uma meta total da empresa.

De 70 a 75% [dos associados] têm feito resultado no PROPAR”, afirmam os gerentes.

A meta estabelecida no Programa é composta por um percentual para venda de cartões

e outro para venda de roupas, a venda de cartões acima da porcentagem não compensa uma

possível venda de roupas abaixo da porcentagem. O PROPAR é pago semestralmente, se a loja

não atingir parte da meta em seis meses não recebe a primeira parte. Entretanto, se conseguir

atingir o total estabelecido durante o ano, recebe 100% no 2° semestre50.

O PROPAR é gerido por uma comissão de negociação constituída pelo gerente e três a

cinco funcionários. Os componentes da comissão são indicados pelos próprios trabalhadores e

pela gerência da loja que, em comum acordo, definem formalmente os representantes dos

trabalhadores no PROPAR. Um dos critérios para indicação é que o funcionário tenha tempo e

conhecimento sobre a empresa. A comissão é composta por um representante de cada

departamento da loja. As reuniões da comissão são mensais ou bimestrais e sua função é

esclarecer dúvidas sobre o programa. O pagamento do PROPAR é feito a cada seis meses.51 De

acordo com a empresa, tais condições estão previstas nos Programas de 2008 e 2009, e as

reuniões da comissão acontecem principalmente para discutir o plano de metas e os resultados

comerciais.

Em 2007, a porcentagem dos valores pagos para os funcionários foi baseada nas

seguintes condições: a) funcionários localizados das áreas de Vendas de Produtos Financeiros

receberão 30% do valor com base nas metas atingidas com as vendas de roupas e eletrônicos e

70% do valor pelas metas atingidas com as vendas de produtos financeiros; b) funcionários

50

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 51

Representantes da empresa. Entrevistas realizadas em 04 jun. 2008.

Page 42: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

41

localizados nas áreas de Vendas de Roupas e Eletrônicos receberam em percentuais inversos, ou

seja, 70% referente às metas de vendas de roupas e eletrônicos e 30% referente metas de vendas

de produtos financeiros.

De acordo com gerente de loja abordado, a política de benefícios da empresa é igual

para todas as praças.52 Alguns benefícios são previstos por lei e na Convenção Coletiva de

Trabalho. A C&A enumera como benefícios para todos os funcionários salário, PROPAR, férias,

férias para gestante, licença-maternidade para mãe adotiva, vale transporte. Outros são

específicos para trabalhadores da empresa, como assistência médica, refeição/desjejum, cartão de

descontos (compras nas lojas com descontos), convênio odontológico, convênio farmácia,

convênio universidades, empréstimo consignado, auxílio funeral (segundo a empresa, condições

acima das CCTs), homenagem por tempo de casa.

É importante ressaltar que este capítulo explica, de forma geral, as políticas de gestão

da C&A, e não é redundante dizer que a maior parte das informações foi baseada em documentos

e declarações de líderes da empresa, e, portanto, revelam a visão das lideranças sobre empresa. É

claro que essas políticas afetam os trabalhadores e estes, obviamente, têm outra visão sobre elas.

Nos próximos capítulos, será abordada a visão dos trabalhadores, onde muitos desses temas serão

resgatados.

4. ANÁLISE GERAL

Neste capítulo, apresenta-se uma análise geral, feita pelo Instituto Observatório Social,

a partir dos temas que são parâmetros dos estudos elaborados pela organização, considerando o

conjunto das unidades C&A pesquisadas.

4.1. LIBERDADE SINDICAL

Líderes da empresa entrevistados confirmam que não é permitida a entrada de

52

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 43: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

42

dirigentes sindicais na C&A para qualquer tipo de campanha. Afirmam, também, que há local

específico para colocação de material do sindicato, desde que entregue ao gerente da loja. A

empresa coloca o sindicato como um ente externo e estranho à organização, conforme relato a

seguir:

A empresa não impede o relacionamento entre associados e sindicato, dá acesso a algumas

coisas: há local específico para comunicação. Não permite acesso ao local de trabalho, porque

isso atrapalha o dia a dia, tira o direito de a pessoa exercer atividade. Se quiser deixar o

material lá dentro da loja, o dirigente entra em contato com o gerente para dar o material. Com

o sindicato de São Paulo já foi firmado um acordo nesse sentido. Algumas lojas que têm

quadro de acrílico onde é colocado o material.53

De acordo com os líderes entrevistados, a empresa não autoriza a realização de

reuniões dos trabalhadores quando convocadas pelo sindicato em algum local da unidade, pois

“não tem espaço e afeta o dia a dia dos trabalhadores e clientes. Se fizerem fora a gente informa e

as pessoas vão, mas fora do horário de trabalho”54. Outro diretor ressalta que “unidade não é o

ambiente adequado porque trabalhamos direto com o público, mas não há restrição se alguém

quiser participar fora das dependências da empresa”.55

Em uma das lojas, o gerente afirma que o sindicato nunca fez solicitação para realizar

reunião no espaço da loja56. De acordo com ele, a empresa “não autoriza. A empresa acredita que

estas reuniões deveriam ser feitas fora do horário de trabalho. O horário de descanso foi feito para

que os funcionários descansem e a empresa quer que os trabalhadores descansem. No horário de

trabalho realmente não autoriza porque deixaríamos de vender.” 57 Ou, de acordo com gerente

regional, se o associado quiser ir ao sindicato fora do horário de trabalho, a empresa não se

opõe.58

Nenhum líder relatou a presença de delegado sindical nas lojas. Contudo, foi

verificado que, em Porto Alegre, um funcionário da empresa é dirigente sindical. A empresa

53

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

54 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

55 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

56 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

57 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

58 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 44: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

43

comenta que “a C&A não foi solicitada a fornecer essa informação [sobre a presença de

delegados sindicais]. Além disso, os sindicatos participantes seguramente devem ter o controle

desse dado”.

De acordo com os líderes entrevistados, as comissões que atuam na empresas são:

Conexão Direta, CIPA, Comissão do PROPAR (Participação e Resultados), e o grupo de

voluntários da sustentabilidade, que faz trabalho de conscientização sobre reciclagem de lixo.

O “Conexão Direta” é formado por um representante de cada setor, indicado por

funcionários, que se reúnem a cada um ou dois meses para discutir com a gerência os problemas

levantados no local de trabalho. “O objetivo do Conexão Direta é fazer uma ponte entre os

funcionários e os gerentes, a fim de discutir sobre o clima de cada loja, problemas e soluções. A

comissão é composta por um representante de cada setor, mas os demais funcionários têm acesso

às Atas das reuniões, que acontecem a cada um ou dois meses, com o apoio da empresa.”59

Em Porto Alegre, há ainda a Comissão Especial para Alimentação, iniciativa local que

avalia a qualidade da alimentação oferecida pela empresa. No CD da capital gaúcha, uma mesma

comissão cuida também dos assuntos da Conexão Direta e do PROPAR. De acordo com gerente,

na comissão do PROPAR são discutidos, além dos assuntos internos da loja, como manutenção

de equipamento, assuntos externos, como o excesso de velocidade dos caminhões que trafegam

nos arredores.

Os líderes de todas as unidades foram unânimes em afirmar que não há comissão

prévia de negociação porque não h necessidade de tal comissão: “Não há comissão de conciliação

prévia porque não há conflitos sérios na empresa. Quando existe algum problema que chega ao

nosso conhecimento ou do Canal Aberto, são resolvidos”.60 A empresa argumenta que os lideres

que responderam à questão desconhecem o instrumento:

A C&A não o aplica por considerá-lo ainda passível de melhor entendimento e aplicabilidade

nas relações de trabalho. Sabemos que a lei 9.958/2000, que introduziu as Comissões de

Conciliação Prévia na CLT, ainda gera controvérsias na Justiça do Trabalho e no Supremo

59

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 60

Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 45: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

44

Tribunal Federal, o que pode ser referendado pela ADI No 2139, de 13/05/09, (vinculada à

ADI No 2160), de competência do Tribunal Pleno do TSF, suspendendo essa obrigatoriedade.

Dessa forma, fica definitivamente garantido o acesso direto dos trabalhadores à Justiça do

Trabalho, sem exigência de submeterem, anteriormente, os conflitos às Comissões de

Conciliação Prévia.

Ainda de acordo com a empresa, o sistema interno de comunicações é constituído por

várias atividades, comissões e instrumentos, que visam a melhor relação possível com seus

funcionários. “O objetivo é atingir os resultados de negócios através de um clima organizacional

positivo. Não se trata, portanto, de comissões legalmente passíveis de obrigatória participação de

representação sindical”.

Percebe–se que a empresa exclui o sindicato como um representante legítimo dos

trabalhadores substituindo-o pelas comissões criadas pela empresa. Identifica-se, aqui, a

necessidade de se avaliar a legitimidade dessas comissões como representantes dos trabalhadores.

Quanto às taxas de sindicalização, não podem ser aferidas como altas ou baixas na

empresa por dois motivos. Em primeiro lugar, o levantamento do IBGE sobre taxas de

sindicalização é do ano de 2001, estando desatualizado para níveis comparativos. Em segundo

lugar, a pesquisa do IOS não pôde confirmar se os entrevistados que se declaram filiados a

sindicatos o são efetivamente. Muitos afirmaram que a data de filiação é a mesma data de

admissão na empresa, como se o processo de filiação fosse automático à admissão, como revela a

fala de um trabalhador, que afirmou que “quando entra numa empresa, automaticamente você é

filiado. Tem pessoas que se desfiliaram, mas eu, não”.

Contudo, ao analisar as respostas dos trabalhadores, vê-se que as taxas de

sindicalização em relação aos demais entrevistados são as seguintes: 11,59% em Tamboré, 7,69%

em Interlagos, 5,26% no CD, 26,66% em Porto Alegre, 15,70% em Brasília e 12,90% em

Fortaleza.

Conforme será indicado em capítulos específicos sobre as unidades, muitos

trabalhadores que afirmaram ser sindicalizados não souberam ou não lembraram o nome do

sindicato, ou responderam que eram sindicalizados ao sindicato da loja ou dos comerciantes.

Page 46: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

45

Na pesquisa atual, chama a atenção que parte dos funcionários considera que são

sindicalizados pelo fato de entregarem a carta de não pagamento da contribuição sindical.

Ressaltam-se as seguintes falas do trabalhador: “poucas coisas são passadas pela empresa, a única

coisa que recebemos da empresa é sobre a carta de anular o imposto sindical”, e “[quando entrei

na empresa] entreguei uma carta para o sindicato e não lembro o que dizia”. Para a empresa,

A oposição pode ser considerada normal, tendo em vista que o direito a essa iniciativa está

previsto na própria Convenção Coletiva de Trabalho. Nas unidades pesquisadas, houve 83% de

recolhimento comprovando, portanto, a inexistência dessa atitude. No CD, 100% do quadro de

funcionários fez o pagamento da contribuição para o sindicato nos últimos três anos. As

devidas comprovações foram entregues diretamente junto à direção do sindicato nos

respectivos anos. A empresa afirma também que possui documentos comprobatórios à

disposição.

Vale ressaltar que, de acordo com os dados apresentados pela empresa, 17% dos

trabalhadores se opuseram ao recolhimento da contribuição. Portanto, os números apresentados

não invalidam as falas dos trabalhadores.

A falta de conhecimento dos assuntos sindicais pode indicar vários aspectos da relação

entre funcionário e sindicatos, além da influência da empresa. Um aspecto que se pode abordar

aqui é a falta de clareza existente por parte dos funcionários da C&A sobre o que é estar

sindicalizado. A falta de acesso dos dirigentes sindicais às proximidades da loja é um grande

empecilho à informação dos trabalhadores acerca dos assuntos sindicais. Outro empecilho

levantado pelo Sindicato dos Comerciários de Osasco é a alta rotatividade dos funcionários,

situação que dificulta a conscientização dos trabalhadores. Caso a empresa tenha contribuído para

a grande quantidade de cartas para o não pagamento da contribuição sindical, como relatam os

trabalhadores, indica postura anti-sindical por parte da empresa.

Por outro lado, a empresa argumenta que as informações sobre os sindicatos circulam

sem impedimentos dentro das lojas. “A C&A oferece os canais através dos quais os funcionários

tomam conhecimento das atividades sindicais – quadros de avisos internos e espaços para

colocação e distribuição de materiais informativos, como folhetos, panfletos e, jornais, quando

solicitado pelos sindicatos.” Além disso, a empresa confirma que não permite a realização de

Page 47: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

46

reuniões dentro das unidades, “o que é perfeitamente compreensível, dada a natureza das relações

e a clara interferência dessas atividades no ambiente de trabalho”.

4.2. NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Na C&A, não há negociação direta entre sindicatos locais e empresa- a negociação

coletiva é feita entre a entidade patronal e a entidade sindical, municipal ou estadual, e só ocorre

no período de data-base. As comissões existentes nas lojas, como PROPAR, CIPA e Conexão

Direta, formam um canal de diálogo entre trabalhadores e gerentes, mas, durante a pesquisa, não

foi identificado se elas influenciam, positiva ou negativamente, no processo de negociação

coletiva. O Sindicato dos Comerciários de Osasco ressalta que a negociação entre a empresa e

seus trabalhadores prevalece, mas dentro de uma política de marginalização das entidades

sindicais.

De acordo com líder entrevistado, a empresa está vinculada à entidade patronal de cada

praça, mas não tem representante nessas entidades e não participa de negociações. A participação

da empresa “se limita a cumprir o que foi acordado na Convenção Coletiva.”61 Com efeito, a

negociação e os temas de negociação são discutidos pelo sindicatos de classe.

Dirigentes sindicais relataram que algumas Convenções Coletivas não permitiam o

sistema de banco de horas, a exemplo das Convenções dos Comerciários da Bahia e do

Maranhão. Como será visto no capítulo dedicado às análises por unidades, essa situação persiste,

porém, a empresa adota majoritariamente o sistema de banco de horas. Apenas nas praças de

Brasília e Fortaleza a prática foi suspensa.

Outra reclamação feita pelos dirigentes é a de que a empresa contrata por seis horas e

exige jornada de oito horas, sendo duas horas extras computadas no banco de horas. Esta situação

possibilita que a C&A utilize trabalhadores em jornadas integrais, com salários menores. A

situação agrava-se quando se identifica, ao longo da pesquisa, que nem todas as horas trabalhadas

61

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 48: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

47

são pagas aos trabalhadores.

O que foi levantado na pesquisa amostral é que, mesmo contrariando as regras da

empresas, muitos entrevistados que têm jornada de 36 horas semanais afirmaram que realizam

horas extras. Com exceção de Fortaleza, essa situação foi encontrada em todas as lojas

pesquisadas, conforme mostram capítulos específicos das unidades.

De acordo com a empresa, o sistema de banco de horas é adotado apenas nas unidades

para as quais consta como item de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). O funcionário part

time, com jornada de 36 horas semanais, pode trabalhar duas horas a mais como extras, desde que

elas sejam compensadas dentro da mesma semana. Caso essa carga semanal seja ultrapassada, a

empresa afirma que:

As horas não compensadas devem ser remuneradas com os devidos acréscimos legais e não

podem ser depositadas no banco de horas. Quanto ao uso inadequado do banco de horas, foram

verificadas e já corrigidas as irregularidades. Atualmente, não há utilização de banco de horas

em Brasília e em Fortaleza. O saldo do banco de horas, nas unidades que utilizam, é afixado no

mural da unidade para que todos os funcionários tenham conhecimento e façam o

acompanhamento das compensações.

4.3. DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

No contexto de 2008, os números anunciados pela própria empresa e a pesquisa do

IOS confirmam a maior presença de jovens no quadro de funcionários da C&A nas unidades

pesquisadas, assim como Também grande presença de mulheres e negros. Há relatos de

discriminação de raça contra os trabalhadores, embora esse tipo de discriminação não seja

preponderante.

Os casos de discriminação relatados a seguir não serão identificados por unidade, para

que os entrevistados tenham sigilo total. Do ponto de vista qualitativo, algumas falas dos

trabalhadores indicam que a maneira como a empresa trata seus funcionários doentes é

preocupante. Frente a esses problemas, a empresa declara que:

Reconhece a gravidade e principalmente as dificuldades, tanto na gestão de eventuais situações

Page 49: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

48

discriminatórias, quanto na correta identificação e análise de relatos através de depoimentos

colhidos na pesquisa. A realidade dos números nos diz que a maioria dos funcionários não teve

tais experiências. Embora nenhum caso de discriminação deva ser defendido, não podemos

afirmar pela pesquisa que esse comportamento é marcante no ambiente C&A. Tais atitudes não

significam marcas características do ambiente C&A, e sim traços comportamentais presentes

nos mais variados estratos sociais.

É importante ressaltar que a análise do tema discriminação é feita não somente de

forma quantitativa, mas principalmente qualitativa, uma vez que qualquer caso de discriminação

que ocorra no ambiente de trabalho é indicativo de uma situação anormal e prejudicial ao

trabalhador, e deve ser enfrentada pela gestão da empresa, seja qual for o fator que origina esse

problema.

TABELA 6 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU PREJUDICADOS POR

ALGUM MOTIVO (%). ABR-MAIO 2008

UNIDADE SIM NÃO

Tamboré 36% 64%

Interlagos 34% 66%

CD 12% 88%

Porto Alegre 28% 72%

Brasília 26% 74%

Fortaleza 14% 86%

TOTAL GERAL 21% 78%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Percebe-se que nas lojas, e principalmente nas lojas paulistas, há maior número de

funcionários que se sentem discriminados ou prejudicados. As relações de competitividade e a

cobrança de metas nas lojas são mais acirradas, ao passo que no CD há uma estrutura funcional

menos competitiva, que permite que as relações sociais entre trabalhadores e lideranças da

unidade sejam mais estáveis e menos tensas - embora haja um grande distanciamento entre

cargos operacionais e cargos administrativos, uma vez que a linha de promoção é bastante

diferenciada.

De acordo com comentário da empresa, “as operações dos CDs são notoriamente

diferentes das lojas. A carreira em logística é bastante diferenciada em seu conteúdo e

competências. O CD caracteriza-se por uma operação bastante disciplinada e exigente em termos

Page 50: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

49

de atenção e cumprimento das tarefas por seus operadores. Os dois CDs têm o desafio do

adequado abastecimento de todas as lojas espalhadas pelo país e, para tanto, tem objetivos e

metas amplamente divulgados e acompanhados através de painéis localizados nas áreas de

trabalho”.

Em Fortaleza o número de entrevistados que se sentiram discriminados ou

prejudicados é baixo em relação às outras lojas. Os trabalhadores, de forma geral, elogiaram a

atuação da gerente local, o que pode ser indicativo de uma ação mediadora eficiente e inibidora

de discriminação por parte da gerente.

No total, 186 trabalhadores (21,5% do total de entrevistados) afirmaram já terem se

sentidos prejudicados ou discriminados por algum motivo. A tabela a seguir lista os motivos

citados:

TABELA 7 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DICRIMINADOS OU

PREJUDICADOS - ABR-MAIO 2008

MOTIVOS CITAÇÕES

Ser homem 1

Cor ou raça 4

Participação sindical 2

Participação política 1

Doença 13

Ser mulher 3

Religião 7

Orientação sexual 2

Doença no trabalho 20

Outros motivos 158

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Além dos motivos listados pela pesquisa do IOS, que têm como base os Direitos

Fundamentais do Trabalho da OIT, outros motivos mencionados pelos entrevistados foram idade,

incompatibilidade entre o trabalho na C&A e a vida pessoal, excesso de trabalho ou jornada

extensa de trabalho, não alcance das metas, competitividade acirrada, excesso de funções,

critérios pessoais para avaliar funcionários, abuso de poder, diferença de escolaridade.

Alguns dos relatos dos trabalhadores que se sentiram discriminados foram

Page 51: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

50

selecionados, e são apresentados a seguir:

- doença e doença no trabalho: trabalhadores afirmam que muitas vezes as chefias

não acreditam quando os funcionários dizem estar doentes. Um entrevistado reclamou que houve

demonstração de abuso de poder por parte do supervisor que queria que ele assinasse uma

advertência mesmo trazendo atestado médico. Outras pessoas acabaram assinando pelo

funcionário. Esta situação foi confirmada por outro(a) entrevistado(a), que declarou que os

funcionários eram obrigados a assinar uma advertência em nome de outras pessoas mesmo se não

achassem correto; houve relato de outro(a) funcionário(a) que tinha depressão, passava mal na

loja, o que gerou comentário público da monitora de que “era frescura”; outro trabalhador ficou

afastado do trabalho pelo INSS durante 4 meses e seu salário não foi pago, durante este tempo.

Segundo o mesmo, não teve um pedido formal de desculpas por parte da empresa, mas sua

gerente se desculpou; trabalhador teve um problema sério de depressão (TOC – transtorno

obsessivo compulsivo) por causa do trabalho, foi ao médico psiquiatra, tomou remédio, quando

trouxe atestado a empresa questionou a validade, no dia seguinte a empresa descredenciou o

médico do plano e colocou um informativo divulgando a medida, deixando o funcionário sem

tratamento (teve que interromper);

- escolaridade: sentiu-se discriminado(a) quando a empresa selecionou quem iria fazer

o curso de Excel e excluiu o funcionário(a) por não ter cursado faculdade. “A empresa exige que

se faça faculdade, porém não dá incentivos financeiros ou flexibilidade de horário”. Segundo os

funcionários, a empresa não deveria “cobrar tanto uma faculdade” dos funcionários (ou seja,

fazer um curso superior), pois todos não têm condições de pagar.

- excesso de autoritarismo: o funcionário deu uma opinião (palpite) sobre um

processo (informalmente) e foi colocado na sua avaliação que era falta de interesse dele e conduta

negativa sobre o trabalho e isso que foi levado a gerência; entrevistado(a) considera que existiram

situações em que os direitos foram prejudicados (banco de horas, descontos, promoções), foi

conversar com gerência e esta não deu respostas, e sim mais exigências; outro entrevistado(a)

relatou que líderes não cumprem acordos, não há transparência e nem seguem os direitos do

Page 52: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

51

trabalhador;

- excesso de cobrança e competitividade: funcionário esperava ser promovido(a),

pois tinha um bom desempenho e era elogiado(a) pelos colegas, mas acabou não sendo e não lhe

foi dito os motivos. Apenas depois que já tinham ocorrido as promoções foi que a líder disse

quais eram os motivos, relativos à vida pessoal. Isso o(a) prejudicou na época, pois não sabia o

que poderia ter sido melhorado; sempre tem fofoca sobre seu desempenho ou sobre algo que não

conseguiu fazer, “te põem para baixo, cobranças absurdas, te deixam mal, isso da parte dos

superiores, há monitoramento excessivo; a pessoa fica o tempo todo no seu pé e isso causa stress

e angústia”;

- humilhação: um(a) funcionário(a) que trabalha no provador relatou que houve uma

ocasião que desapareceram algumas peças e a gerência desconfiou do funcionário/a; outro

entrevistado(a) se sentiu prejudicado porque faltou por problemas pessoais, houve desconto no

salário, a gerente adicionou a isso uma advertência, segundo entrevistado, tomar as duas medidas

simultaneamente não é permitido nas normas da empresa e relata que o superior “fez isso para me

desqualificar e humilhar”, mas o(a) funcionário(a) acionou o sindicato para encaminhar a

anulação da advertência; outro funcionário(a) disse que trabalhou bastante mas considerou que

foi discriminado por não alcançar metas; outro relato diz que “supervisor não cumprimenta as

pessoas, fala que eu não faço cartão, já chega cobrando”, apesar de a venda de cartões não ser sua

função, funcionário(a) é cobrado(a) por isso e seu trabalho não é reconhecido se não “vender

cartão”;

- idade: funcionário(a) disse que estava interessado(a) no cargo de supervisor,

perguntou ao gerente a possibilidade e ouviu a resposta de que a empresa aposta em pessoas mais

jovens, de acordo com entrevistado(a) a “C&A não fica com funcionário depois de aposentado” ;

entrevistado(a) se sentiu prejudicado(a) porque uma pessoa mais nova e menos experiente foi

promovida e considera então, que foi muito mais pela aparência do que pela competência e

porque ela era "puxa-saco";

- jornada/sobrecarga de trabalho: Embora líderes da empresa tenham declarado que

Page 53: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

52

as alterações na jornada estão relacionadas com o interesse do funcionário e necessidade da loja,

ou então, com situações imprevistas, estas afirmações são contraditas pelos relatos dos

trabalhadores (Ver item Política de Recursos Humanos, subitem jornada): um(a) entrevistado(a)

se sentiu prejudicado(a) porque se recusou a fazer horas a mais do que a sua jornada de trabalho e

a reação das lideranças quanto a isso deu a entender que deste modo poderia esquecer qualquer

tipo de crescimento na empresa; entrevistado(a) discordou do banco de horas que não paga hora

extra e não se pode escolher os dia de descontar (folgar); era obrigado a fazer hora a mais

(designavam quando ele tinha que fazer e descontar), falou com o sindicato e descobriu que era

proibido então se negou a fazer hora-extra e passaram a tratá-lo como se não fizesse o seu

trabalho corretamente; funcionário(a) se sentiu prejudicado porque levou suspensão por bater o

cartão de maneira errada, trabalhou o seu turno normalmente bateu seu cartão para sair e depois

continuou a trabalhar normalmente (trabalhou de graça até às 22 horas) e tornou a bater seu

cartão às 22 horas. Foi punido(a) com suspensão por ter feito horas extras, mesmo com sua chefia

sabendo que seu setor não tinha funcionário e que ia trabalhar de graça. Ou seja, o trabalhador(a)

não foi punido(a) por fazer horas extras sem bater o cartão, e sim por fazê-las e bater cartão;

funcionário(a) se sentiu prejudicado porque foi chamado para fazer treinamento em dia de folga e

a empresa não quis dar um outro dia de folga; horário de funcionário(a) foi mudado e isso

impediu de participar de seu grupo religioso. Ao solicitar mudanças de horário foi lhe dito que na

empresa não tinha nada de religião;

- orientação sexual: “sou homossexual, tive um relacionamento com colega da

empresa, mas houve mudança de horário para não ficarmos juntos(as), não podíamos almoçar

juntos(as). Havia brincadeiras preconceituosas de colegas e do líder do caixa, cheguei a pedir

transferência, minha vida pessoal e profissional virou um lixo, pedi para supervisor mudar

companheiro(a) do caixa, foi para a troca para não ser desenvolvido (a)62. Acho que não fui

62 Na terminologia da empresa “ser desenvolvido” é adquirir conhecimentos no local de trabalho e, assim, ter a

chance de ser promovido e crescer profissionalmente.

Page 54: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

53

promovido(a) por ser homossexual. Companheiro (a) deu abandono de emprego”. Esse caso de

discriminação foi relatado por colegas da unidade.

Também são preocupantes relatos de discriminação durante seleção de temporários,

baseados, principalmente, na aparência física, no porte de alguma deficiência e no

desenvolvimento das atividades cotidianas.

TABELA 8 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE PRESENCIARAM CASOS DE DISCRIMINAÇÃO DE

TRABALHADORES POR PARTE DA EMPRESA (%). ABR-MAIO 2008

UNIDADE SIM NÃO

Tamboré 19% 81%

Interlagos 22% 78%

CD 8% 92%

Porto Alegre 6% 94%

Brasília 8% 92%

Fortaleza 2% 98%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Entre os outros motivos de discriminação presenciados por funcionários foram citados

abuso de poder por parte da liderança, humilhação e desqualificação de um funcionário em

público, e discriminação de funcionários taxados como feios e que não realizam hora extra. Sobre

esses resultados, a empresa comenta que “a análise da tabela 7 aponta 13 relatos sobre

discriminação por doenças em geral e 20 por doenças ocupacionais, genericamente totalizando 33

casos nesse campo e atingindo 3,81% da população pesquisada. Os demais motivos,

caracterizados pelos relatos acima, estão tão pulverizados que não representam mais que

episódios pontuais no ambiente de trabalho”. Ressalta, ainda, que a maioria não presenciou casos

de discriminação conforme tabela 8.

TABELA 9 - CASOS DE DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA CONTRA TRABALHADORES PRESENCIADOS POR

ENTREVISTADOS

MOTIVO TAMBORÉ INTERLAGOS CD PORTO

ALEGRE

BRASÍLIA FORTALEZA

Ser homem 0 0 2 0 1 0

Cor ou raça 0 6 3 0 0 1

Participação sindical 0 0 1 0 0 0

Participação política 0 1 0 1 0 0

Page 55: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

54

Doença 2 7 1 2 1 1

Ser mulher 0 0 2 0 1 0

Religião 0 0 2 0 1 4

Orientação sexual 1 4 2 0 1 0

Doença no trabalho 3 3 2 1 1 0

Outro motivo 10 18 17 4 7 4

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

A seguir são relatadas as falas dos trabalhadores:

- aparência: quando fazia entrevista de seleção percebeu que existiam critérios

relacionados a aparência e não pegar gente com filho (o mínimo possível);

- doença e doença do trabalho: reafirma-se neste relatório que as atitudes das

lideranças em relação às pessoas doentes são extremamente preocupantes, atestados médicos são

questionados incisivamente pelas lideranças. Os relatos dos trabalhadores são contundentes: uma

pessoa havia feito um cirurgia de varizes e por isso foi demitida (depois acionaram o sindicato e

ela foi readmitida); a gerência duvidou da doença de um funcionário e as lideranças sugeriram

para que os demais trabalhadores não criassem vínculo de amizade com essa pessoa de modo a

mostrar que não concordam com colegas que pegam atestado médico; um entrevistado(a) foi

orientado pelo supervisor e líder que não deveria falar com a pessoa que tinha trazido atestado

médico; uma pessoa pegou atestado médico de horas para fazer exame e quando voltou tomou

suspensão por um dia; se alguém falta por doença, supervisor diz que em 75 dias a pessoa não

pode ficar doente; uma líder ameaçava os outros funcionários quando eles apresentavam

atestados, as pessoas dão atestado por doença real e quando voltam não são bem tratadas e são

mal vistas; se a pessoa entregar X atestados, a pessoa fica fora do sorteio anual de brindes.

- excesso de autoritarismo: pessoa que criticou/discordou da política da empresa foi

discriminada; entrevistado(a) acredita que às vezes a empresa pune os funcionários por que acha

que eles infringem as regras por que querem e na verdade é porque as regras não são passadas de

uma maneira clara e objetiva;

- humilhação: estava tendo furtos de dinheiro na loja e no dia em que aconteceu o

furto todas as fitas de segurança sumiram. Acusaram uma funcionária de ter furtado sem

Page 56: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

55

nenhuma prova e depois a mandaram embora; cliente disse ter deixado carteira em jaqueta no

provador, chefia deu versão do cliente como verdadeira, não escutou funcionário do provador,

não deixou se defender;

- jornada: Mais uma vez as afirmações de representantes da empresa que a jornada é

distribuída de acordo com interesses da empresa e trabalhador é contradita: um entrevistado

presenciou que um colega não teve opção em escolher trabalhar aos domingos, esse tipo de

situação afetou o grupo como um todo, pois quem não aceitasse trabalhar no esquema 1/1 estaria

mais longe de uma promoção; outro entrevistado relatou que às vezes tem trabalhadores que não

descansam quando é sua folga, às vezes a empresa não compensa “as horas do banco”;

- orientação sexual: entrevistado(a) considera que tem brincadeiras constantes em

relação à orientação sexual de um trabalhador, “presenciei brincadeiras com funcionários gays e

católicos por parte dos associados. Alguns momentos a empresa atuou contra a discriminação,

alguns momentos não”; supervisor não gostava de homossexuais, excluía pessoas do

departamento e acabou demitindo funcionário (a) homossexual;

- participação sindical: entrevistado(a) relata que duas pessoas se filiaram ao

sindicato para ter desconto na faculdade e foram chamados pela empresa para se justificar;

- raça: um dia um(a) gerente regional ficou do lado de uma funcionária negra do RFS

dizendo: “vamos negrinha”, vamos trabalhar negrinha”; entrevistado(a) ouviu uma funcionária

dizendo que tinha sido discriminada por um trainee, foi dito: "tinha que ser negra mesmo"; um(a)

chefe de uma funcionária disse que só poderia trabalhar na C&A quem se garantisse e ela não se

garantia por causa de sua cor (chefe ainda trabalha na empresa); o apelido de pessoa negra é Pelé

ou Xica da Silva em tom pejorativo; um trabalhador afirma que colega não recebeu promoção por

ser nordestino; funcionário(a) relatou que sua supervisora recusou um currículo pelo fato de a

pessoa ser negra e pela idade;

Os relatos dos trabalhadores indicam casos de discriminação e humilhação nas

unidades pesquisadas da C&A. A situação mais recorrente refere-se aos funcionários que

apresentam atestados por doença: a empresa não vê como bons olhos essa situação, questionando

Page 57: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

56

a honestidade do trabalhador e a idoneidade do profissional médico que dá o atestado. Sobre essa

questão, a empresa afirma que:

A análise da questão doença, objeto de 33 relatos (Tabela 7) indica a prevalência da discussão

sobre validade e/ou abuso do uso de atestados. Com certeza há cuidados por parte da liderança

nessa questão tendo em vista que 20% das dispensas por falta grave em 2008 foram motivadas

por atestados comprovadamente falsificados. Além disso, não há qualquer ilegalidade checar a

validade do atestado quando houver indicativos de alguma inconsistência. Não se trata,

portanto, de questionamento da honestidade do trabalhador e nem mesmo da idoneidade do

profissional médico como afirmado acima. O assunto, entretanto, passou a ser gerenciado

centralizadamente com a recente modificação estrutural do serviço de saúde que administrará

diretamente as entidades conveniadas localmente e com isso permitirá ao médico chefe central

da C&A manter contatos diretos com os médicos locais inclusive para análise e decisões sobre

atestados médicos com mais agilidade e profissionalismo.

A origem do problema verificado entre os trabalhadores não parece partir do direito do

empregador em checar a validade do atestado, mas sim da forma como a mesma é realizada pelos

gerentes – por vezes, relatadas como “ameaças” aos trabalhadores. Para a C&A, “sua liderança

tem agido absolutamente em linha com as explicações prestadas acima e, conforme informado, os

novos procedimentos adotados deverão melhorar a gestão dessas situações”.

Dos inúmeros relatos, neste relatório foram selecionados os casos mais graves de

discriminação, a partir dos quais é possível considerar que, se a empresa tem uma política em

relação a esses temas, não está sendo eficaz, na medida em que não chega aos líderes das áreas de

vendas que têm contato direto com os trabalhadores. A empresa, por sua vez, responde que:

Reconhece a possibilidade de ocorrência de distorções em seu ambiente de trabalho, embora

considere essas atitudes como projeções verificadas na sociedade em que vivemos hoje. É

preciso levar em conta a sensibilidade que o tema desperta nas pessoas principalmente quando

se aborda aspectos diferenciadores de desempenhos e conseqüentemente avaliativos. Da

mesma forma atualmente há uma exacerbação das queixas de assédio moral, quando sabemos

que a caracterização desse comportamento inadequado é complexa e precisa ser muito bem

entendida. Dizem também os especialistas que “a cobrança de metas faz parte do dia-a-dia de

qualquer empresa e não pode ser considerada como assédio moral. A imposição de metas para

alcançar maior produtividade não implica qualquer violação aos direitos do empregado. Ao

contrário, já que podem servir como motivação para alcançar bônus ou prêmio. Mas as metas

não podem ser absurdas nem abusivas".63

Concluindo, o reporte de relatos não pode, portanto,

63 Fonte: Folha de S.Paulo – 23.03.09 – procurador-geral do Trabalho,Otavio Brit Lopes.

Page 58: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

57

ser entendido como um diagnóstico fechado de existência de comportamentos discriminatórios

e abusivos no contexto das relações de trabalho no ambiente C&A. Todos os dados serão

examinados como sinais indicadores de possíveis ações a serem desenvolvidas e melhoradas,

inclusive com as informações diferenciadoras apresentadas entre as unidades pesquisadas.

4.4. PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

Em 1996, a C&A implantou um programa para empregar deficientes auditivos. Este

programa foi feito em parceria com a Divisão de Educação e Reabilitação de Distúrbios da

Comunicação (DERDIC) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O CD é a

unidade que tem maior alocação de portadores necessidades especiais, no caso, os deficientes

auditivos. De acordo com a empresa, a C&A atua na inserção das Pessoas com Deficiência desde

1997, através de seu programa denominado “Portas Abertas”.

A decisão do IOS de fazer uma seção a parte tratando dos portadores de necessidades

vem da percepção de condições de trabalho muito diferenciadas para esse grupo de trabalhadores.

No CD, foram entrevistados 14 deficientes auditivos e, na loja de Brasília, outros. Em

Brasília, todas as entrevistadas são do sexo feminino. As entrevistas foram intermediadas por

intérpretes de libras.

4.4.1 Função/setor

Dentre os 14 entrevistados com necessidades especiais/deficiência auditiva, apenas três

identificaram o próprio cargo - processador de mercadorias. Também foram setores citados pelos

entrevistados recebimento, processamento em mesa, reserva externa, estoque, suspenso,

distribuição de suspenso, descarga. O restante não conseguiu identificar cargo algum como sendo

o que exerce, mesmo quando estimulados por uma lista escrita contendo os cargos do CD. As

atividades desenvolvidas por eles são variadas e relacionadas ao processamento de mercadorias:

montar peças, conferir e controlar mercadoria do caminhão; organizar e empilhar caixas; guardar

Page 59: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

58

roupas em caixas; marcar, etiquetar, e separar roupas; etiquetar caixas; guardar roupas, e mandar

para lojas; organizar roupas nas prateleiras; colocar caixas em caminhão, fechar e anotar número

de caminhão; arrumar roupas para lojas. Em Brasília, metade das entrevistadas trabalha na área

de vendas da loja e a outra metade, na área de estoque, mas todas ocupam o cargo de assessor de

clientes. As trabalhadoras que estão na área de estoque desempenham funções de colocação de

etiquetas e alarmes em roupas e separação de roupas para a área de vendas. Já as trabalhadoras

que estão na área de vendas desempenham atividades de arrumação e coleta de roupas nas seções,

além de remarcar preços. De acordo com relatos das trabalhadoras, elas “já tentaram falar para

seus superiores que há certas atividades que são muito complicadas para os deficientes auditivos,

mas suas chefias dão um sorriso e mandam continuar fazendo o mesmo serviço”.

Tanto no CD como em Brasília os portadores de necessidades especiais exercem

atividades que exigem pequeno grau de qualificação. O Observatório Social não obteve

informações se há portadores de necessidades especiais nos cargos de liderança.

4.4.2 Remuneração

No CD, entre os portadores de necessidades especiais, a maior parte recebe acima de

dois salários mínimos. Em comparação com a distribuição geral de salários do CD, 14,3% dos

portadores de necessidades especiais recebem de 1,01 a 1,5 salário mínimo contra 5,9% do total

de entrevistados do CD. Ou seja, há uma concentração maior de portadores de necessidades

especiais nessa faixa salarial.

Em Brasília, 25% das portadoras de necessidades especiais recebem até um salário

mínimo e 75% das entrevistadas recebem entre 1,01 e 1,5 salário mínimo. Entre o total de

entrevistados, 10,74% recebem até um salário mínimo e 57,85% recebem entre 1,01 e 1,5 salário

mínimo.

Notamos, portanto, que há maior concentração relativa de portadores de necessidades

especiais tanto no CD como em Brasília nas faixas salariais mais baixas.

Page 60: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

59

4.4.3 Promoção

No CD, 50% dos entrevistados com necessidades especiais responderam que a

empresa não possui Plano de Cargos e Salários (PCS), enquanto que 35,2% responderam que a

empresa possui um PCS, e 7,1% não sabiam. Entre os seis entrevistados que sabiam da existência

do PCS, cinco afirmaram conhecer seu conteúdo.

Em Brasília, quando questionadas se a empresa possui um Plano de Cargos e Salários

ou de Carreira, 50% das entrevistadas responderam que não há plano e 50% que não sabem.

No CD, 64,3% dos entrevistados portadores de necessidades especiais responderam

que existe avaliação de funcionários da empresa. Entre os 14 entrevistados, sete afirmaram que já

foram avaliados pela chefia. Em Brasília, 50% das entrevistadas respondem que não há avaliação

de desempenho e que não são avaliadas. A outra metade respondeu que sempre há reuniões com

esse fim, mas que não comparecem porque não há intérprete.Foram colhidos relatos que

argumentaram que “nunca houve nenhum tipo de avaliação formal”.

De acordo com os relatos dos portadores de necessidades especiais de ambas as

unidades, as formas de avaliação são as seguintes: chefe observou e falou que era para acelerar a

produção; o chefe avalia, para ver se você trabalha; “os chefes vêm conversar com a gente e briga

muito, maltrata os surdos. O chefe é chato”; chefe explicou para o interprete e o interprete

explicou para o funcionário o que fazer; quando funcionário(a) entrou os chefes falavam se o

trabalho era bom ou ruim, mas faz tempo que não falam; o chefe faz aconselhamento, o que fazer

e que não fazer; não lembra quem avalia, é um chefe que diz o que ela precisa melhorar, chefes

avaliam e amigo interpreta o que ele falou; acredita que existe um Plano de Cargos e Salários ou

de Carreira para os ouvintes, mas para os portadores de deficiência auditiva ele é inexistente; há

ainda relatos entre as funcionários (as) que trabalham de três a cinco anos de que “sempre

desempenharam as mesmas funções e nunca mudaram nem de setor”.

No CD, 71,43% dos entrevistados portadores de deficiência auditiva respondem que a

empresa não oferece oportunidades de promoção, em Brasília esse número chega a 100%, os

Page 61: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

60

motivos são os seguintes: promoção é para outras pessoas; para quem tem necessidades especiais

dificulta um pouco; pelo fato da audiência auditiva, tem dificuldade de se comunicar; outro

entrevistado diz que para quem é surdo não há oportunidades, seria interessante um surdo ser

chefe de um grupo de surdo; outros relatos dizem que “os trabalhadores não portadores de

deficiência têm oportunidades e os portadores não têm”. De forma geral, no quesito promoção

uma funcionária reclamou que não há comunicação da gerência com a funcionária “o(a) gerente

quase não fala comigo, só oi , tudo bem?”. Entre os que afirmaram que a empresa dá

oportunidades de promoção as razões são as seguintes: se tiver graduação e for dedicado ao

trabalho, com certeza; pessoas têm que fazer sempre serviço direito, mas tem que ter faculdade;

oscila conforme o setor, mas para ele que tem deficiência é impossível; não sabe.

Percebe-se, nesse item, que os portadores de necessidades especiais acreditam que têm

pouca probabilidade de receber promoções e de crescer na empresa. O momento da avaliação,

que poderia favorecer o diálogo e o aprendizado, é enfraquecido pela dificuldade de

comunicação.

No CD, 57,14% dos portadores de necessidades especiais fizeram algum curso

oferecido pela empresa. Em Brasília, todas as trabalhadoras responderam que não participaram de

curso ou treinamento algum oferecido pela loja. Alguns trabalhadores alegaram que não fizeram

o curso “porque a loja não tinha intérprete”. A pesquisa realizada pelo IOS constatou que a

empresa não oferece cursos específicos para portadores de necessidades especiais, apenas faz

algumas adaptações como “colocar legenda em filme”. De acordo como líder da empresa:

A adaptação do deficiente é muito tranqüila, o deficiente auditivo é muito apoiado. Fizemos

um curso de libras com supervisores durante 15 dias e efetivamente eles não falam libras,

ninguém fala fluentemente (grifo IOS), mas, com isto, conseguimos adaptar melhor os

gestores. O deficiente auditivo tem que se esforçar para se adaptar também. Todos os filmes

são legendados e consultores são contratados para palestras.64

Percebe-se, portanto, que a possibilidade de crescimento profissional dos portadores de

64 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 62: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

61

necessidades especiais é pequena. É provável que esse grupo de trabalhadores, que já exerce

atividades com pouca possibilidade de crescimento, aproveite muito pouco dos cursos e

treinamentos oferecidos pela empresa. A falta de comunicação entre chefias e trabalhadores com

deficiência auditiva faz com que estes vejam, em alguns casos, a avaliação como um processo

desgastante.

Entretanto, os momentos de avaliação e treinamentos podem ser uma abertura ao

diálogo e à inclusão destes trabalhadores, desde que a empresa crie mecanismos mais eficazes de

comunicação e, por conseguinte, de avaliação e treinamento.

4.4.4 Discriminação

Em se tratando de discriminação no local de trabalho, em Brasília, 100% das

entrevistadas responderam que já se sentiram prejudicadas ou discriminadas na empresa. Dentre

este montante, 25% responderam que se sentem prejudicadas ou discriminadas por serem

mulheres, e 100% responderam que são prejudicadas na empresa por causa da deficiência

auditiva. No CD, quatro dos 14 portadores de necessidades especiais (cerca de 30% dos

entrevistados) se sentiram discriminados ou prejudicados devido às suas necessidades especiais

ou deficiência auditiva.

Os relatos gerais são os seguintes: funcionários debocham porque usa linguagem de

sinais; não compreende os chefes em função de ser deficiente auditivo(a). Se sentem ainda

discriminados por haver “certo tipo de separação entre as trabalhadoras portadoras de deficiência

auditiva e os outros funcionários”. Há ainda relatos de que as próprias chefias promovem a

separação na hora do almoço entre os portadores de deficiência auditiva e os outros

trabalhadores. Outros relatos dizem que chefias que proibiram os deficientes de se comunicarem

com os outros dentro do setor com o pretexto de que eles “falavam muito”. Entrevistado(a) disse

que chefe só o (a) chama, sem intérprete, só dá papel, sofreu duas advertências: uma porque

chegou atrasado (a), outra não tem conhecimento por causa da falta de intérprete, ninguém

Page 63: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

62

explicou o porquê da advertência. Está há dez anos na empresa e recebe o mesmo salário,

perguntou ao chefe sobre o salário e este respondeu que esse é o patamar.

De modo geral, percebe-se que a inserção dos portadores de necessidade especiais na

empresa é muito difícil, tanto no CD como em Brasília. Os pesquisadores do IOS observaram que

esses trabalhadores formam um grupo que não se integra com os demais. Boa parte dos

problemas de discriminação que os portadores de necessidades especiais sentem poderia ser

evitada se a comunicação entre empresa, colegas de trabalho e portadores de necessidades

especiais fosse aperfeiçoada.

4.4.5 Comunicação e transparência

No CD, 28% dos entrevistados consideram a comunicação com a empresa aberta,

transparente, mas pouco eficiente, enquanto 6% consideram nem aberta, nem transparente. Entre

os portadores de necessidades especiais, 36% dos entrevistados consideram a comunicação com a

empresa aberta, transparente, mas pouco eficiente, e 7% consideram nem aberta, nem

transparente. Em Brasília, em relação à comunicação das trabalhadoras portadoras de

necessidades especiais com suas chefias, 75% responderam que avaliam que sua comunicação

não é aberta e nem transparente e 25% consideram que ela é aberta, transparente, mas pouco

eficiente. Percebe-se, portanto, que os portadores de necessidades especiais consideram a

empresa menos transparente que o restante dos entrevistados. Mais uma vez retornamos ao

problema de comunicação entre empresa e deficientes auditivos.

É interessante notar que, em relação ao clima organizacional do CD, diferentemente do

total de entrevistados da unidade em que a percepção mais citada é que o ambiente da unidade é

alegre, descontraído e participativo; a percepção mais citada entre os deficientes auditivos é que a

empresa não reconhece nem valoriza as qualidades profissionais e pessoais.

Page 64: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

63

TABELA 10 - AVALIAÇÃO DO CLIMA ORGANIZACIONAL PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS CD

%– ABRIL 2008

Alegre, descontraído e participativo 28,57%

Autoritário e desfavorável a tomada de iniciativas 14,28%

Competitivo para busca e valorização de resultados 21,43%

Competitivo desestimulando a produtividade das equipes 21,43%

Reconhece e valoriza as qualidade profissionais e pessoais] 28,57%

Não reconhece nem valoriza as qualidades profissionais e pessoais 42,86%

FONTE – Pesquisa Amostral IOS

Em Brasília, por sua vez, a tabela a seguir mostra que a característica mais citada pelas

trabalhadoras é que o ambiente de trabalho é alegre, descontraído e participativo.

TABELA 11 - AVALIAÇÃO DE CLIMA ORGANIZACIONAL PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

Alegre, descontraído e participativo 75%

Autoritário e desfavorável a tomada de iniciativas 25%

Competitivo para busca e valorização de resultados 0%

Competitivo desestimulando a produtividade das equipes 50%

Reconhece e valoriza as qualidades profissionais e pessoais 25%

Não reconhece nem valoriza as qualidades profissionais e pessoais 50%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS.

A avaliação mais citada entre os portadores de necessidades especiais do CD em

relação ao do Canal Aberto é a de que esse instrumento não é importante, diferentemente dos

dados gerais do CD em que 50% dos entrevistados responderam que o instrumento é importante,

mas nunca precisou usar.

TABELA 12 - AVALIAÇÃO CANAL ABERTO PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS CD – ABRIL 2008

Importante e funciona 2

Importante, mas nunca precisei usar 4

Não é importante 5

Desconheço este instrumento 3

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Em Brasília, os números são mais contundentes, 100% das entrevistadas responderam

desconhecer o Canal Aberto. Podemos afirmar que os problemas de comunicação entre

portadores de necessidades especiais e lideranças da empresa e colegas são graves: os

Page 65: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

64

trabalhadores afirmam que “se sentem prejudicados tanto pelos seus chefes quanto pelos outros

funcionários porque eles não têm qualquer tipo de treinamento de libras para se comunicar com

os portadores de deficiência”. A percepção que os deficientes auditivos têm em relação aos canais

de diálogo com a empresa – avaliação, Canal Aberto – é muito diferenciada em relação aos

demais entrevistados.

4.4.6 Relação com sindicato

No caso de filiação a algum sindicato, em Brasília, 75% das trabalhadoras com

deficiência auditiva responderam não serem filiadas e 25% responderam serem filiadas a algum

sindicato. 100% das entrevistadas afirmaram que nunca participaram de nenhuma atividade

sindical. Todavia houve grande reclamação por parte das entrevistadas que no sindicato não há

intérpretes o que as impede de participar de atividades sindicais. Além disso, elas reivindicam

que esse tipo de profissional trabalhe no sindicato.

No CD, o número de não filiados é ainda maior: 92,8% dos entrevistados com

necessidades especiais responderam não serem filiados a qualquer sindicato. Um entrevistado

chegou a responder que não sabia o que era sindicato, e outro, que afirmou ser filiado, não soube

informar a qual sindicato.

Nesse tema, percebe-se que os sindicatos não têm, também, uma estrutura para atender

os trabalhadores portadores de necessidades especiais. Para este grupo de trabalhadores, que têm

reivindicações específicas, os sindicatos ainda não abriram um canal de comunicação apropriado.

A iniciativa da C&A de contratar pessoas portadoras de necessidades especiais é um

atendimento à Lei nº 8.213 de 1991, que estipula uma cota de 2% de empregados portadores de

necessidades especiais quando a empresa tem até 100 funcionários. Entretanto, os relatos dos

trabalhadores com necessidades especiais reforçam a idéia de que o programa da empresa, que

visa incluir estes trabalhadores, apresenta falhas em virtude da falta de preparo de seus

funcionários, da falta de estrutura apropriada para trabalhar e se comunicar, e de ações

Page 66: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

65

discriminatórias por parte das chefias.

De acordo com o Sindicato dos Comerciários de Osasco, a contratação de pessoas com

deficiência se deu após ação do Ministério do Trabalho e do Conselho Intersindical de Saúde e

Seguridade Social de Osasco e Região (CISSOR) que, em parceria com órgãos como

FUNDACENTRO e DIESAT, realizaram um trabalho de sensibilização, mediante notificação, e

de acompanhamento da contratação de deficientes pelas empresas com mais de 100 trabalhadores

na região. Essa ação foi desencadeada após a promulgação da Lei de Cotas para portadores de

necessidade especiais. Ainda na opinião do sindicato, a empresa cumpre a legislação sobre a

contratação de deficientes, para não ser multada. Para o sindicato, que é uma das entidades que

acompanha desde então a contração de deficientes, o número de incluídos poderia ser

consideravelmente maior que o exigido por lei. A empresa rebate afirmando que esse “é um

diagnóstico fechado que deprecia todo o esforço desenvolvido na gestão dos PCDs [Profissionais

com Deficiência] e que deveria ser revisto”.

Sobre a questão dos PCDs, a empresa declara que:

A gestão de PCDs é uma tarefa complexa e C&A precisa continuar envidando esforços para

tanto, investindo recursos nesse aprendizado, assim como as próprias entidades sindicais

também citadas na pesquisa. Há, dentre os 638 PCDs da comunidade C&A, grande número

para os quais o trabalho na empresa representa a principal fonte de sustento, ou seja, convivem

ainda com a pressão de serem arrimos de famílias. Isto não pode ser desprezado quando

adicionado às dificuldades de comunicação, escolaridade deficiente, necessidade de superação

de obstáculos, preconceitos generalizados na sociedade, enfim, toda sorte de adversidades para

a inclusão. Nesse contexto, é preciso reconhecer as dificuldades que a maioria dos PCDs

enfrenta na disputa pelas melhores oportunidades de carreira. Há estudos indicando que o

processo de aprendizagem escolar das pessoas com deficiência auditiva é prejudicado devido à

ineficiência da didática aplicada, pois não há qualquer forma de planejamento específico e

amplo que capacite professores e funcionários das instituições a atenderem às necessidades do

deficiente auditivo. Soma-se a isso a falta de acompanhamento profissional extraclasse,

imprescindível neste caso. Além disso, a linguagem de libras é reconhecidamente difícil e

incompleta para todas as situações de comunicação. Da mesma forma, a leitura labial exige

bastante treino e atenção dos interlocutores. Essas dificuldades se alastram no desenvolvimento

da formação escolar e impactam o exercício profissional. Quaisquer que sejam as queixas

apresentadas pelos PCDs na pesquisa, obviamente, serão objeto de melhor análise pela

empresa e, sobretudo, serão compreendidas em um contexto onde seguramente há a certeza de

que a empresa desenvolve um trabalho exemplar. Apesar das dificuldades, os PCDs têm

mobilidade e carreira e são alocados em função de suas possibilidades para o exercício das

Page 67: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

66

atividades. Quanto a discriminação e deboche por parte da população do CD, de forma geral o

que se verifica é uma relação saudável. Há compreensão e respeito em relação às limitações

que esse grupo possui. Vale ressaltar que, em 2005 e 2006, houve PCDs auditivos eleitos para

CIPA, demonstrando o que estamos afirmando. A C&A, diferentemente de muitas outras

organizações, permite o ingresso de PCDs em condições inferiores de escolaridade, dando a

oportunidade do pré-requisito ser atingido após a admissão. Sabidamente, além do preconceito

presente na sociedade, o ambiente competitivo do mercado não está preparado para a inclusão

de pessoas que se apresentam sem as condições ideais devido ao histórico de baixa

escolaridade e de falta de mecanismos governamentais para a adequada formação desse

contingente. Resulta que o processo de inclusão necessita do investimento na preparação

básica dos PCDs para o mercado de trabalho e que o gerenciamento dessa inclusão nas

condições que se apresenta no país é de fato um grande desafio para as empresas e seus

gestores. Por conta disso, há 2/3 de vagas em aberto para Pessoas com deficiências segundo

dados do setor de fiscalização do MTE.65 A maioria dos ingressantes nas operações do CD

possui pouco ou nenhum conhecimento de informática. Esse conhecimento em informática é

essencial, pois toda a operação é norteada e controlada por sistema WMS, utilizando coletores

(rádio freqüência) e computadores no dia a dia. Tal aprendizado é conseguido internamente.

Atualmente, a C&A atinge 86% da cota exigida por lei (base: mar/09), sendo uma das

empresas que lideram o ranking das que mais empregam PCDs no Brasil. Se considerarmos os

224 pedidos de demissão, nos últimos 12 meses, seguramente teríamos superado a cota legal.

Além disso, é preciso reconhecer o fato que grande parte dessas saídas espontâneas foi

absorvida pelo mercado de trabalho devido a capacitação profissional adquirida na C&A.

Desde 1997, a C&A possui um programa específico para a contratação de pessoas com

deficiências físicas e sensoriais, chamado “Portas Abertas”. A empresa desenvolve uma

política que visa compatibilizar o perfil do funcionário à função que ele exercerá. Desta forma,

permite que praticamente todas as áreas da empresa possam contar com a contribuição de

pessoas com deficiência, visando ampliar oportunidades, promover a inserção social e

propiciar o desenvolvimento profissional de pessoas com deficiência. Interessados de todo o

país podem se candidatar pelo site da empresa 66 durante o ano todo. As ações planejadas para

desenvolvimento do Programa de PCDs, extraídas do Plano de Trabalho C&A para 2009

contemplam a contratação de consultoria para auxiliar nos trabalhos de: recrutamento e

seleção, treinamento e avaliação de desempenho (face to face); nos casos de demissão ou

eventos especiais necessários de informações mais claras; elaboração de estudo sobre perfil

funcional do portador de deficiência; análise de cargos e oportunidades de inclusão de novos

deficientes em outros cargos; elaboração de um programa de integração social e sensibilização

para melhoria da convivência e relações de trabalho; elaboração de pesquisa especial com os

portadores de deficiência visando entender melhor suas necessidades e buscando pontos a

desenvolver; elaboração de laudo com as alterações necessárias para se tornar um ambiente

com total acessibilidade; reforço do curso de Libras para a liderança; cursos de português,

matemática, informática e trabalho em equipe.

65 Fonte: Folha de S.Paulo – 25.02.2008 - Assessor de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, Rogério

Lopes Costa Reis.” 66

Fonte: www.cea.com.br

Page 68: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

67

5. UNIDADE TAMBORÉ

5.1. PERFIL DOS TRABALHADORES

Na unidade da empresa em Tamboré, o número de funcionários existentes, informados

pela empresa, era de 103, na época da pesquisa. Destes, 98 foram identificados pela gerente como

funcionários contratados na unidade, sendo 71 funcionários disponíveis para entrevista. Para a

pesquisa, o IOS entrevistou 69 funcionários desta unidade.

5.1.1. Sexo

Como em todas as unidades pesquisadas, em Tamboré, a maioria do quadro de

funcionários é composta por mulheres, conforme indica tabela:

TABELA 13 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR SEXO/GÊNERO UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

SEXO/ GÊNERO NÚMERO DE TRABALHADORES (%)

Feminino 75,36%

Masculino 24,64%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

5.1.2 Idade

O gráfico abaixo mostra que a maioria dos trabalhadores (71%) tem entre 18 e 24 anos.

Os trabalhadores que têm entre 25 e 29 anos somam 20,3%.

GRAFICO 1 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

Page 69: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

68

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

5.1.3 Raça/cor

A porcentagem dos trabalhadores que se autodeclaram brancos representa 46% dos

entrevistados, enquanto os que se autodeclaram pardos chega a 39%. Quando somadas as

quantidades de trabalhadores pardos e pretos (negros), chega-se ao total de 51% dos

entrevistados, ultrapassando a quantidade de brancos nesta unidade.

GRÁFICO 2 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE TAMBORÉ (%)– ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Essa distribuição é favorável à raça/cor negra quando percebe-se que, de acordo com

dados do Dieese, 36,2% da população economicamente ativa (PEA) da Região Metropolitana de

São Paulo (RMSP) se autodeclara da cor/raça negra. A percentagem de não-negros (brancos e

amarelos) na RMSP é de 63,8%.67

67

DIEESE. Os negros nos mercados de trabalho metropolitanos. Estudo e pesquisas. Ano 3, No 26, nov. 2006.

Page 70: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

69

TABELA 14 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE TAMBORÉ – ABRIL 2008

Cargo/função Branca Preta Parda Amarela Indígena Total geral

Assessor de cliente 24 5 18 47

Fiscal 1 4 5

Líder 2 1 3

Menor aprendiz 1 1 2

Monitor 3 1 3 7

Outros 2 1 1 1 5

Total geral 32 8 27 1 1 69

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Quanto à distribuição de cargos por raça, verificamos que é equilibrada entre

entrevistados negros e brancos. Pode-se afirmar que, na área de vendas, não há grandes distinções

quantitativas entre negros e brancos.

5.1.4 Escolaridade

Seguindo uma tendência geral nas lojas pesquisadas, na unidade Tamboré, a maioria

dos trabalhadores já concluiu o ensino médio. Entretanto, é a que possui menor número de

trabalhadores cursando a graduação.

TABELA 15 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR GÊNERO E ESCOLARIDADE UNIDADE TAMBORÉ (%) –

ABRIL 2008

Nível de escolaridade Feminino Masculino Total geral

Ensino Médio completo 78,85% 64,71% 75,36%

Ensino Fundamental incompleto 0,00% 5,88% 1,45%

Ensino Médio cursando 5,77% 0,00% 4,35%

Graduação/Superior completo 1,92% 5,88% 2,90%

Graduação/Superior incompleto 3,85% 11,76% 5,80%

Graduação/Superior cursando 9,62% 11,76% 10,14%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

5.1.5 Função

Igualmente às outras lojas pesquisadas, a maioria (68,1%) dos funcionários da unidade

Page 71: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

70

de Taubaté ocupa o cargo de assessor de cliente. A maior parte das entrevistadas do sexo/gênero

feminino exerce o cargo de assessores de clientes. Por outro lado, a quantidade de homens é

cerca de cinco vezes maior que a quantidade de mulheres nas funções de fiscal e líder.

TABELA 16 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE TAMBORÉ (%) - ABRIL

2008

CARGO/ FUNÇÃO SEXO

Feminino Masculino Total geral

Assessor de cliente 73,08% 52,94% 68,12%

Fiscal 3,85% 17,65% 7,25%

Líder 1,92% 11,76% 4,35%

Menor aprendiz 3,85% 0,00% 2,90%

Monitor 11,54% 5,88% 10,14%

Outros 5,77% 11,76% 7,25%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A partir de relatos dos trabalhadores, é possível concluir que estes não desempenham

uma função específica dentro da loja. Com exceção dos fiscais de loja e de alguns líderes, todos

os demais funcionários desempenham as mesmas funções, dependendo das necessidades da loja.

Relatos de funcionários como "onde precisa a gente está lá", ou “faço de tudo um pouco”

confirmam a idéia de que não há funções fixas. Os trabalhadores têm a percepção de que a

divisão por funções é inexistente. Segundo a empresa, “a C&A adota o conceito de multifunção,

ou seja, o funcionário tem a oportunidade de conhecer as atividades de uma loja e, por

conseqüência, consegue desenvolver as competências para a carreira do comércio.”

De forma geral, os assessores de clientes desempenham as seguintes funções:

recebimento de faturas, operação de caixa, atendimento ao cliente, renegociação de faturas,

arrumação de roupas no provador, contagem e separação de peças, arrumação e exposição de

roupas, cuidado com o visual da loja, processamento e reposição de roupas, abordagem de

clientes, entrega de cartões, operação de telemarketing, venda de novos produtos (NP‟s), venda

de cartão de crédito, serviços de telefonista, recolhimento do dinheiro dos caixas, atendimento do

carro forte.

Page 72: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

71

Os monitores, por sua vez, desempenham funções como planejamento de horários,

reposição, devolução e exposição de roupas, desenvolvimento de pessoas68, atendimento ao

cliente, operação de caixa e cuidado com a doação (mensal) de produtos ao Instituto C&A. Já os

líderes realizam atividades de coordenação e treinamento de funcionários, entrevistas, prevenção

de perdas de mercadorias, auditoria de processos, abertura e fechamento de loja, e planejamento

dos trabalhos de cada equipe. De acordo com definições publicadas no Caderno de Informações

da C&A, as tarefas desempenhadas por assessores e monitores são semelhantes diferenciadas

apenas pela responsabilidade que o monitor assume em treinar funcionários. Os monitores

desempenham funções semelhantes aos assessores, ficando ainda responsáveis pelo treinamento

de novos funcionários nas funções de reposição e devolução de roupas, exposição de roupas,

atendimento ao cliente, operação de caixa e cuidar da doação (mensal) de produtos. Já os líderes

realizam atividades de coordenação e treinamento de funcionários, planejamento de horário,

realização de entrevistas de candidatos, prevenção de perdas, auditoria de processos, liderança de

equipe, abertura e fechamento de lojas e planejamento de equipe.

É necessário frisar o fato de que muitos assessores de clientes desempenham funções

de operação de caixa. Diante disto, há que se questionar se eles recebem indenização por quebra

de caixa, estabelecida na Convenção Coletiva de Trabalho 2007/2008 e firmada entre o Sindicato

dos Empregados no Comércio de Osasco e a Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Na

clausula 13 desta CCT está previsto que “o empregado que exercer a função de caixa terá direito

à indenização por „quebra-de-caixa‟ mensal no valor de R$ 32,00 a partir de 1º de setembro de

2007”. De acordo com parágrafo primeiro, “a conferência de valores do caixa será sempre

realizada na presença do respectivo operador e se houver impedimento por parte da empresas

ficará aquele isento de qualquer responsabilidade”. De acordo com o parágrafo segundo “as

empresas que não descontam de seus empregados as eventuais diferenças de caixa não estão

sujeitas ao pagamento da indenização por “quebra-de-caixa”, prevista no caput da cláusula”.

68

Desenvolvimento de pessoas ser refere à aquisição de conhecimentos por parte dos funcionários no

interior na empresa e, assim, ter possibilidade de subir na hierarquia da loja.

Page 73: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

72

A partir das informações obtidas pelo IOS no decorrer da pesquisa, quem desempenha

a função de caixa não tem os direitos previstos na CCT. Porém, segundo a empresa, “inexiste a

obrigação legal do pagamento, pois a Convenção Coletiva de Trabalho condiciona o pagamento

somente para as empresas que processam o desconto das diferenças de caixa. Este não é o caso da

C&A.”

A maior parte das entrevistadas do sexo/gênero feminino exerce o cargo de assessores

de clientes. Por outro lado, a quantidade de homens é cerca de cinco vezes maior que a

quantidade de mulheres nas funções de fiscal e líder.

5.1.6 Tempo no emprego

A maioria dos entrevistados (52,2%) está trabalhando na unidade há dois anos ou

menos, número que indica alta rotatividade entre os funcionários. As mulheres com menos de um

ano e com um a dois anos de empresa estão em maior número que homens na mesma situação.

Os homens, por sua vez, estão em maior número nas faixas de dois a quatro anos e de mais de

seis anos de contratação.

TABELA 17 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE TAMBORÉ (%)- ABRIL 2008

TEMPO DE EMPRESA SEXO

TOTAL FEMININO MASCULINO

Menos de 1 ano 32,69% 23,53% 30,43%

De 1 a 2 anos 23,08% 17,65% 21,74%

Mais de 2 até 4 26,92% 41,18% 30,43%

Mais de 4 até 6 15,38% 5,88% 13,04%

Mais de 6 1,92% 11,76% 4,35%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A maioria dos trabalhadores pardos está concentrada na faixa de menos de um ano de

contratação, e 50% dos trabalhadores pretos têm de dois a quatro anos de carreira na empresa.

Page 74: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

73

TABELA 18 - TEMPO NA EMPRESA POR RAÇA UNIDADE TAMBORÉ (%)- ABRIL 2008

TEMPO DE

EMPRESA

RAÇA/ COR TOTAL

BRANCA PRETA PARDA AMARELA INDÍGENA

Menos de 1 ano 21,88% 25,00% 40,74% 100,00% 0,00% 30,43%

De 1 a 2 anos 25,00% 12,50% 22,22% 0,00% 0,00% 21,74%

Mais de 2 até 4 25,00% 50,00% 29,63% 0,00% 100,00% 30,43%

Mais de 4 até 6 18,75% 12,50% 7,41% 0,00% 0,00% 13,04%

Mais de 6 9,38% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 4,35%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Ao contrário dos trabalhadores pretos e pardos, não há grandes concentrações de

trabalhadores brancos em nenhuma faixa de tempo na empresa.

5.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS

5.2.1. Liberdade sindical/ relações sindicais

O sindicato que representa os trabalhadores da unidade do Shopping Tamboré, no

município de Barueri (SP), é o Sindicato dos Empregados no Comércio de Osasco (SECOR),

filiado à CUT. O SECOR tem como base territorial os municípios de Osasco, Barueri,

Carapicuíba, Embu, Itapevi, Jandira e Taboão da Serra.

Em Tamboré, 12% dos entrevistados afirmam ser sindicalizados, mas nenhum dos que

afirma ser sindicalizado soube responder o nome do sindicato ao qual são filiados, ou

responderam o nome incorretamente. Quase 90% dos filiados a algum sindicato se filiaram entre

um e três meses depois que começaram a trabalhar na empresa, e 50% dos trabalhadores são

filiados há mais de dois anos e meio.

A maioria dos trabalhadores responde que os meios utilizados para obter informações

sobre o sindicato são boletins, panfletos ou jornais do sindicato, além de conversas com colegas

de trabalho e através dos meios de comunicação no local de trabalho (murais). Grande parte dos

trabalhadores também afirma que não tem qualquer conhecimento do sindicato.

Page 75: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

74

TABELA 19 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE TAMBORÉ –

ABRIL 2008

Participando de assembléias ou reuniões do sindicato 0

Lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato 22

Conversando com diretores do sindicato 1

Conversando com colegas de trabalho 32

Conversando com chefes ou gerentes 9

Pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais) 23

Pelo carro de som 0

Não tenho conhecimento 23

Outros 1

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Segundo gerente da unidade, “os sindicalistas podem deixar o material na loja para ser

exposto no mural”. Entretanto, quando questionada se a empresa dá acesso aos locais de trabalho

para sindicalistas, inclusive aqueles que não são funcionários da unidade, a resposta da liderança

é a seguinte: “empresa não considera adequado, mas ela não impede e nem interfere na relação do

trabalhador com o sindicato”.69

A resistência da empresa em permitir o acesso de dirigentes sindicais ao local de

trabalho é confirmada na medida em que apenas um trabalhador disse já ter conversado com

diretores do sindicato, enquanto nenhum dos entrevistados participou de alguma assembléia ou

reunião do sindicato.

Este último dado pode ser resultado de várias limitações enfrentadas pelo movimento

sindical do setor – uma delas, o impedimento do sindicato de realizar alguma atividade no

interior da unidade, fator que impossibilita trabalho de esclarecimento acerca das atividades e da

participação em eventos sindicais.

De acordo com a empresa, “as informações sindicais circulam amplamente no interior

da empresa, tendo em vista que a mesma oferece canais internos para distribuição de folhetos e

materiais diversos, quando solicitada pelo sindicato. Quanto à livre circulação de dirigentes

sindicais dentro das lojas, a empresa não concorda e não permite, assim como nenhuma outra loja

69

Representante da empresa. Entrevista realizada 04 jun. 2008.

Page 76: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

75

do mercado o faz, tendo em vista a incompatibilidade das atividades.”

5.2.2 Salário/benefícios

5.2.2.1 Remuneração

A quantidade de trabalhadores nas faixas salariais de 1,01 a 1,50 e 1,51 a 2 salários

mínimos é praticamente igual. Entretanto, vale salientar que há grande porcentagem de assessores

de cliente nestas faixas.

GRÁFICO 3 – REMUNERAÇÃO UNIDADE TAMBORÉ – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) 2007/2008 firmada entre o

Sindicato dos Empregados no Comércio de Osasco e a Federação do Comércio do Estado de São

Paulo, que rege as relações trabalhistas entre os trabalhadores do setor de comércio varejista e

seus respectivos empregadores, o piso salarial é de R$608,00. Segundo gerente da unidade “a

política de remuneração segue o mercado, mas estabelece os salários acima dos pagos no

mercado”70.

70 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 77: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

76

É interessante notar na faixa salarial de salário até um salário mínimo, há uma

equiparação entre os trabalhadores brancos e pardos. Essa equiparação ocorre também na faixa de

3,01 a 4 salários mínimos, na qual há uma quantidade igual de trabalhadores pretos e brancos. Por

outro lado, os trabalhadores pardos estão representados nas três faixas menores de salário, com

uma maior concentração: 24%, na faixa de 1,51 a 2 salários mínimos.

GRAFICO 4 – REMUNERAÇÃO DO SEXO MASCULINO POR RAÇA UNIDADE TAMBORÉ - ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

As mulheres estão distribuídas nas quatro menores faixas de salário, com concentração

maior na faixa que está próxima ao piso salarial estabelecido pela Convenção Coletiva.

Chama atenção o fato de as mulheres brancas estarem presentes em todas as faixas

salariais, exceto na primeira e na segunda mais baixa. Se somarmos as percentagens das mulheres

pretas e pardas, que formam a raça negra, estas predominam nas menores faixas salariais, da

mesma forma que há uma concentração de 100% de mulheres brancas nas duas faixas salariais

mais altas.

Page 78: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

77

GRAFICO 5 – REMUNERAÇÃO DO SEXO FEMININO POR RAÇA UNIDADE TAMBORÉ - ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

5.2.2.2 Benefícios

Na CCT 2007, firmada entre o Sindicato dos Empregados no Comércio de Osasco e a

Federação do Comércio do Estado de São Paulo, há apenas um benefício garantido aos

trabalhadores: o auxílio funeral.

De acordo com gerente da unidade, os benefícios “concedidos” pela empresa são:

“vale transporte, creche, empréstimo com desconto em folha, assistência médica, refeição, 15

minutos para café, desconto em compra de roupas, auxílio funeral, convênio odontológico,

farmacêutico e convênio universidade”. Ele afirmou também que “não há benefícios específicos

para mulheres, exceto os definidos em lei”.71

71

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 79: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

78

A existência de um único benefício na Convenção Coletiva pode dar razão à gerente da

unidade, que diz que, “por liberalidade da empresa, são sempre concedidos benefícios além das

convenções”. O problema dessa situação é que, se o benefício não é garantido por lei e nem pela

CCT, a decisão de quais benefícios serão concedidos está meramente nas mãos da empresa que,

conseqüentemente, pode retirá-los dos trabalhadores a qualquer momento. 72

5.2.2.3 Treinamento

Grande parte dos funcionários (82,6%) afirma ter feito algum tipo de treinamento

oferecido pela empresa. A gerente afirma que “todos os trabalhadores, ao serem contratados,

recebem uma semana de integração e a formação on the job. Depois disso, dependendo da

necessidade, há treinamentos mais específicos relacionados a cada função”.73

Com base nas informações disponíveis, é possível distinguir dois tipos de

treinamentos: um chamado on the job, do qual todos os trabalhadores participam ao ingressar na

empresa, e outro feito para cada setor, definido de acordo com as necessidades da loja.

A tabela abaixo mostra que a maioria dos trabalhadores participou de dois a cinco

cursos/ treinamentos:

TABELA 20 – NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

Apenas 1 12,28%

De 2 a 5 56,14%

De 6 a 10 14,04%

Mais de 10 17,54%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com as informações adquiridas pelo IOS, o número de cursos realizados

pelos entrevistados não está relacionado com o tempo de contratação pela empresa, mas é

provável que esteja ligado à função desempenhada pelo funcionário, que exige maior ou menor

72

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 73

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 80: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

79

preparo. O tempo de empresa de quem fez apenas um curso ou treinamento varia de cinco meses

a quatro anos; de quem fez de dois a cinco cursos ou treinamentos, varia de 10 meses a 16 anos.

De quem fez de seis a 10 cursos ou treinamentos, o tempo de trabalho na empresa se encontra na

faixa entre sete meses e quatro anos e meio; e de quem fez mais de 10 cursos, varia de seis meses

a cinco anos de contratação. Observamos, portanto, que o número de cursos realizados não têm

relação com o tempo de contração e sim com a função desempenhada.

Apesar da maioria dos trabalhadores (78,9%) afirmar que os cursos e treinamentos que

fizeram não contribuíram para uma promoção dentro da empresa, afirmaram também que a

formação oferecida aumentou seus conhecimentos sobre o trabalho que desempenha.

TABELA 21 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE TAMBORÉ – MAIO 2008

Contribuiu para você ser promovido/a e aumentou os seus conhecimentos sobre o trabalho

que desempenha 15,79%

Não contribuiu para você ser promovido, mas aumentou os seus conhecimentos sobre o

trabalho que desempenha 78,95%

Não acrescentou nada 5,26%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

5.2.2.4 Promoção

A maioria dos trabalhadores (94,2%) sabe que a empresa tem um Plano de Cargos e

Salários (PCS). Entretanto, ¼ dos entrevistados afirma desconhecer o conteúdo do mesmo,

percentual alto quando se trata de uma questão que está diretamente ligada às relações de trabalho

dentro da loja. Há uma diferença significativa, de quase 20%, entre os que sabem da existência do

PCS e os que efetivamente conhecem o conteúdo do Plano. De acordo com a empresa, a C&A

está fazendo uma verificação desses procedimentos em todas as lojas e, onde necessário, serão

aplicadas ações corretivas.

De acordo com gerente da unidade, há plano de cargos e salários nacional, que foi

revisto em 2006. “Ocorreram mudanças na definição e nomenclatura dos cargos e salários.

Também deixou mais clara a função de cada cargo”, afirma. Ainda segundo a gerente, quando

Page 81: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

80

questionada se a política de pessoal é discutida com o sindicato, a resposta foi negativa: “não é

discutida, estas discussões são feitas na convenção coletiva”.74

A C&A não tem qualquer tradição em negociar diretamente com os sindicatos locais.

Sua única forma de negociação é via Convenção Coletiva, que não é considerada uma forma de

negociação direta, pois a empresa é representada pelo sindicato patronal.

Entre os entrevistados, 81,2% dos trabalhadores estão cientes de que há algum tipo de

avaliação de desempenho na unidade. Entretanto, a quantidade de trabalhadores que desconhece

as formas com que é feita chega a quase 20%, percentual que mostra algum tipo de deficiência no

esclarecimento das regras dos processos de avaliação por parte da empresa. Ao serem

perguntados se já foram avaliados pela empresa, 20,3% dos trabalhadores responderam

negativamente.

Os relatos dos funcionários apontam para diferentes tipos de avaliação: “foi feita pelo

supervisor, foi boa, mas deveria ser feita pelo gerente”; “face to face com gerente”; “a avaliação é

feita pelo líder e pela gerente, com notas de 0 a 10”; “através das metas e bom atendimento ao

cliente”; “avaliado pela agilidade, dedicação e compromisso”; não foi avaliado o ano passado por

falta de tempo devido à troca da gerência, mas geralmente a chefia usa uma checklist com a

opinião sobre o desempenho e o funcionário pode confrontar; “as chefias monitoram as metas

individuais e em grupo”; “existe avaliação anual onde o monitor (líder de departamento) faz uma

entrevista indicando os problemas e possíveis melhorias”; “avaliação da atitude, trabalho e

desenvolvimento pessoal”; “há a avaliação dos supervisores duas vezes ao ano e também há

acompanhamento pelos líderes”; “meu líder avalia minha força de vontade e rapidez, com a

avaliação tenho possibilidade de ser promovido”; “há dois anos, tinha avaliação e os gerentes

priorizavam isso; no ano passado poucas pessoas fizeram (ela fez), mas a nova gerência não liga

para o pessoal, e sim para metas”; “não sei de que forma sou avaliada”, “há um feedback diário, o

supervisor faz uma avaliação anual do departamento”.

74 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 82: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

81

Com base nos relatos, é possível afirmar que há dois tipos de avaliação: uma feita

anualmente pelo gerente ou supervisor, com itens pré-estabelecidos e mediante uma pontuação, e

outra que acontece no dia a dia. Pode-se constatar que, no caso da avaliação diária, há critérios

subjetivos como postura, amizade e pró-atividade. Alguns relatos apontam que os funcionários

são muito cobrados pelo alcance das metas, por comportamento e atendimento ao cliente. Há

vezes em que os funcionários sabem que estão sendo avaliados, mas não sabem o critério que está

sendo utilizado na avaliação. Há, ainda, relatos argumentando que a avaliação anual não é feita

há alguns anos. Sobre as distintas percepções dos trabalhadores em relação à avaliação, a

empresa afirma que:

É possível a variação na freqüência, forma e estilo de cada gestor, e é sobre isso que estão

recaindo e as diferenças de abordagens entre as unidades e mesmo entre os entrevistados. O

processo formal de avaliação de desempenho ocorre anualmente, no mês de setembro, para as

lojas. Nesse processo, são registrados pontos que devem ser trabalhados durante todo o ano. Os

gestores são estimulados a fazer o acompanhamento do desempenho ao longo do ano e, dessa

forma, conversar com cada funcionário sempre que necessário, checando a evolução para o

atingimento de metas e o desenvolvimento pessoal e profissional. O processo é coordenado

pelo gestor principal (gerente da unidade), que faz verificações de consistências entre os

avaliadores e avaliados, quando necessário, visando garantir os objetivos de melhoria

continuada. Informamos também que desde 2006, o processo Face To Face vem

gradativamente sendo mudado para o modelo de avaliação de desempenho por competências.

Os casos de funcionários que não foram avaliados se devem ao pouco tempo na função ou,

eventualmente alguma, falha que a empresa se propõe verificar.

Ao mesmo tempo em que 93% dos entrevistados consideram que a empresa oferece

oportunidades de promoção, 62% afirmam que os critérios de promoção são injustos –

percentagem mais alta dentre as unidades pesquisadas.

Na opinião dos entrevistados, os critérios mais utilizados para obter promoção são

demonstração de competência através de bom desempenho e dedicação à empresa. Mais da

metade dos trabalhadores (53%) consideram a amizade com a chefia como um critério de

promoção, mais um indicador da deficiência do plano de cargos e salários da unidade Tamboré.

Page 83: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

82

TABELA 22 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES UNIDADE

TAMBORÉ - ABRIL 2008

CRITÉRIOS CITAÇÕES

Formação escolar e técnica 25

Demonstrar competência através de bom desempenho 41

Ser homem 0

Experiência adquirida no trabalho 32

Não participar de atividades do sindicato 8

Ser branco 0

Dedicação à empresa 38

Ser mulher 1

Ser negro 0

Amizade com a chefia (critérios subjetivos) 37

Outros. Quais? 4

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Os trabalhadores de Tamboré são os mais descontentes com os critérios de promoção

entre todas as unidades pesquisadas. Os indicadores citados nesse item mostram que os critérios

utilizados e a relação liderança/ trabalhadores dão margem a subjetividades e podem ser

repensados.

A empresa afirma que “concorda em aplicar um esforço adicional, visando eliminar

essa percepção negativa representada por 20% das escolhas permeadas à maioria das que foram

reconhecidas como positivas e que devem ser incontestáveis e claramente percebidas no processo

avaliativo”.

5.2.3 Discriminação

Na unidade de Tamboré, 64% dos trabalhadores afirmam que nunca se sentiram

prejudicados ou discriminados. Todavia, é importante salientar que, dentre todas as unidades

pesquisadas, Tamboré apresenta o maior índice de trabalhadores que respondem que já se

sentiram prejudicados ou discriminados de alguma forma, somando 36% do total dos

trabalhadores entrevistados na unidade.

Page 84: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

83

TABELA 23 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS UNIDADE TAMBORÉ – ABRIL 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 1

Participação sindical 0

Participação política 0

Doença 2

Ser mulher 0

Religião 0

Orientação sexual 0

Doença no trabalho 3

Outro motivo 24

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os principais motivos pelos quais os trabalhadores alegam já terem sido discriminados

ou prejudicados foram por expressar opiniões divergentes das de sua chefia, excesso de carga

horária, obrigação de cobrir faltas de outros colegas, falta de informação, críticas de outros

funcionários, gravidez, desconfiança por parte da gerência contra os funcionários, por não bater

metas, abuso de poder por parte das chefias, por se recusar a fazer horas extras, e por idade.

O índice de trabalhadores que alegam já terem presenciado algum tipo de

discriminação chega a 19%. Os principais motivos relatados foram discriminação relacionada à

aparência dos candidatos a funcionários novos, dúvidas por parte das chefias sobre doenças e

desqualificação de funcionários por parte das chefias.

Os relatos dos trabalhadores sobre discriminação e assédio moral estão no capítulo 4,

Análise Geral e Comparativa, na seção 4.3 Discriminação. Nessa seção encontram-se também as

explicações dadas pela Empresa sobre o assunto.

5.2.4 Jornada/Hora Extra

Assim como nas outras lojas pesquisadas, a maioria dos trabalhadores (67%) da

unidade Tamboré trabalha sob regime full time. A tabela abaixo mostra a distribuição dos

trabalhadores de acordo com o turno de trabalho. O maior contingente se concentra no turno da

manhã (abertura).

Page 85: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

84

TABELA 24 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

Manhã (abertura) 46,38%

Tarde 17,39%

Fechamento 36,23%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A maioria dos trabalhadores (62%) afirma ter trabalhado além de sua jornada normal

no mês anterior ao da pesquisa. Dentre estes, 60,5% fez até 4 horas extras e 20,9%, de cinco a 10

horas-extras, conforme indica a tabela a seguir:

TABELA 25 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA UNIDADE TAMBORÉ (%) - ABRIL 2008

Até 4 horas 60,47%

De 5 a 10 horas 20,93%

De 10 a 20 horas 11,63%

De 21 a 40 horas 6,98%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com líder da unidade, a loja possui um sistema de “banco de horas, com

limite de duas horas/dia e 26 horas/mês, e somente quem é full time faz horas extraordinárias. A

loja tem, no máximo, três meses para permitir a compensação do banco de horas e, se não houver

possibilidade de compensação neste tempo, é pago em dinheiro”.

Por outro lado, a CCT 2007/2008 diz que as horas extras devem ser remuneradas com

adicional de 50%, inclusive aos domingos. A convenção estabelece, no entanto, que as empresas

também poderão estabelecer esquema de banco de horas, desde que as horas sejam compensadas

em 180 dias. Neste caso, pode-se afirmar que em Tamboré a empresa respeita o prazo de

compensação de horas extras estabelecido na CCT.

Page 86: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

85

GRÁFICO 6 - FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS EXTRAS UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Conforme o gráfico ilustra, a maioria dos trabalhadores (93%) afirma que as horas

extras não são remuneradas, mas compensadas pelo banco de horas.

Contudo, os dados contidos na tabela a seguir refutam a posição da empresa de que

apenas quem trabalha 44 horas semanais faz horas extras. Segundo a pesquisa amostral, quase

50% dos trabalhadores que afirmam ter carga horária de 36 horas semanais fizeram horas extras

além de sua jornada normal de trabalho no mês anterior ao da pesquisa.

TABELA 26 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE TRABALHARAM ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR À

PESQUISA POR TURNO – UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

JORNADA SEMANAL FEZ HORA EXTRA

TOTAL NÃO SIM

a) 44 horas 13 33 46

b) 36 horas 12 10 22

d) Outra (escreva abaixo) 1 1

Total geral 26 43 69

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com a C&A, “o funcionário part time – com jornada de 36 horas semanais –

pode trabalhar duas horas a mais como extras, desde que elas sejam compensadas dentro da

mesma semana. Numa excepcionalidade de ultrapassagem dessa carga semanal, as horas não

Page 87: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

86

compensadas devem ser remuneradas com os devidos acréscimos legais e não podem ser

depositadas no banco de horas”. Ainda de acordo com a empresa, haverá checagem nos

procedimentos em todas as unidades, embora afirme que não existe impedimento legal para esta

prática.

5.2.5 Saúde e segurança no trabalho

Em linhas gerais, as condições de saúde e segurança oferecidas no local de trabalho

são consideradas boas pelos trabalhadores da unidade de Tamboré. O quesito conforto foi

avaliado pela maioria dos entrevistados como regular.

TABELA 27 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

CONDIÇÕES BOA REGULAR RUIM

Temperatura 36 26 7

Iluminação 60 7 2

Ruído 44 19 6

Ordem / organização do espaço de trabalho 37 25 7

Limpeza 58 11 0

Conforto 28 37 4

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Porém, mais da metade (57,9%) dos entrevistados afirma que o ritmo de trabalho

imposto é prejudicial à saúde. Ou seja, por mais que as condições do local de trabalho sejam

boas, o ritmo exigido pela empresa chegou a prejudicar a saúde da maioria dos trabalhadores - o

que pode estar associado à grande exigência do cumprimento de metas e ao ritmo acelerado que

os trabalhadores das unidades estão expostos.

A partir dessa constatação, os problemas de saúde mais citados pelos trabalhadores

foram depressão ou estresse, problemas de coluna e lesão por esforços repetitivos (LER/DORT).

TABELA 28 - PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA UNIDADE TAMBORÉ –

ABRIL 2008

Problemas de coluna 27

Surdez 2

Doenças de pele 1

Page 88: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

87

Problemas respiratórios 6

Lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) 23

Doenças do sangue 0

Depressão ou estresse 36

Câncer 1

Alergias 5

Outro 20

Não apresentou nenhum problema de saúde 9

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Os casos de depressão ou estresse podem estar relacionados aos problemas da já

apontados por esta pesquisa, como exigência de metas, má relação com os líderes, subjetividade

dos critérios de promoção, deficiência em avaliações, e demais fatores que contribuem para

doenças de ordem psicológica.

Parte considerável dos trabalhadores entrevistados afirmou que sofrem de outros

problemas de saúde, como dores e varizes nas pernas, dores nas costas e fadiga. Em todos os

casos, há uma relação com permanência numa mesma posição por um longo período de tempo - a

maioria em pé e, às vezes, com o carregamento de peso.

Chama atenção o fato de que, entre os trabalhadores que tiveram algum tipo de doença

no trabalho, 63,3% respondem que a enfermidade foi clinicamente diagnosticada e relacionada à

sua atividade laboral. Porém, é preocupante o fato de ¼ dos trabalhadores não revelar se estão

passando mal ou sofrendo de algum tipo de doença enquanto trabalham por medo de serem

prejudicados na empresa.

A C&A comenta que “é preciso diferenciar queixas de doenças diversas, tidas como de

origens relacionadas ao trabalho, com doenças clinicamente diagnosticadas e documentadas por

médico do trabalho, na unidade de Tamboré. Mas será motivo de uma avaliação mais cuidadosa

no próximo PCMSO”. A empresa alega, ainda, que “não faz sentido a ocultação de casos de

doenças ocupacionais com toda a segurança que a legislação oferece. A C&A assume suas

responsabilidades nas eventuais situações existentes em seu ambiente de trabalho, mas, para

tanto, necessita que os dados sejam periciados e vai trabalhar no sentido de eliminar essa possível

distorção”.

Page 89: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

88

Entre os trabalhadores entrevistados, 88,4% responderam não ter sofrido qualquer tipo

de acidente no interior da empresa durante os últimos cinco anos. Dentre os que disseram ter

sofrido acidente, mais de ¼ foi afastado do trabalho. A maioria dos trabalhadores (92%) que

foram afastados, contudo, retornou à função depois do afastamento. Os trabalhadores que não

retornaram à mesma função não o fizeram porque precisaram mudar de turno ou mudar para

setores onde não há necessidade de atender clientes.

TABELA 29 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE TAMBORÉ (%) – ABRIL 2008

Boa 27,54%

Regular 33,33%

Ruim 14,49%

Não tem conhecimento 24,64%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Grande parte dos trabalhadores (quase 48%) avalia a Comissão Interna de Prevenção

de Acidentes (CIPA) como regular e ruim, e quase 25% dos trabalhadores não tem qualquer

conhecimento sobre a Comissão. Esse dado, de certa forma, desqualifica a atuação da CIPA e

indica que a empresa não investe esforços suficientes para apoiar e projetar sua atuação, de

extrema utilidade e importância para os trabalhadores.

6. UNIDADE INTERLAGOS

6.1. PERFIL DOS TRABALHADORES

De acordo com os documentos fornecidos pela empresa, na época da pesquisa, em

abril de 2008, havia 179 funcionários na unidade da C&A em Interlagos. O gerente da unidade,

entretanto, afirmou serem 187 trabalhadores, dos quais 154 estavam disponíveis para coleta de

informações. Destes, 143 participaram da pesquisa.

Page 90: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

89

6.1.1 Sexo

Em Interlagos, como nas outras unidades pesquisadas pelo IOS, a maior parte dos

entrevistados são do sexo feminino:

TABELA 30 - NÚMERO DE TRABALHADORES ENTREVISTADOS POR SEXO/GÊNERO UNIDADE INTERLAGOS

(%) – ABRIL 2008

SEXO/GÊNERO NÚMERO DE TRABALHADORES

Feminino 72%

Masculino 28%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

6.1.2 Idade

Na unidade da empresa em Interlagos, a maioria dos funcionários (69,2%) tem até 24

anos de idade. O resultado não destoa das outras lojas, onde a maioria dos trabalhadores

entrevistados faz parte da população jovem, caracterizada, de acordo com o IBGE, por pessoas na

faixa etária entre 15 e 24 anos.

GRAFICO 7 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

6.1.3 Raça/cor

É interessante ressaltar que, na loja de Interlagos, funcionários que se autodeclaram de

5,59%

63,64%

18,88%

6,99% 4,90%

a) Até 17 anos b) De 18 a 24

anos

c ) De 25 a 29

anos

d) De 30 a 39

anos

e) De 40 a 49

anos

Page 91: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

90

raça/cor negra, soma de pretos e pardos, formam a maior parte dos entrevistados, correspondendo

a 54% do total. Para efeito de comparação, de acordo com estimativa do Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE), a proporção de negros em

relação à população econômica ativa (PEA) da Região Metropolitana de São Paulo era de 35,6%

em novembro de 2006.75 Ou seja, o quadro funcional da empresa supera a proporção de negros

verificada na população economicamente ativa da região onde a unidade está localizada, apesar

de a empresa não possuir política de RH nesse sentido.

GRÁFICO 8 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE INTERLAGOS– ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Na unidade Interlagos, há equilíbrio na distribuição de cargos da área de vendas entre

não-negros (brancos e amarelos) e negros (pretos e pardos). Para o cargo de líder, há exatos 50%

de brancos e 50% de negros.

TABELA 31 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

Cargo/função? Branca Preta Parda Amarela Indígena Total geral

Assessor de cliente 38 10 35 2 1 86

Fiscal 3 2 2 7

Líder 1 2 1 4

Menor aprendiz 3 1 2 6

75

DIEESE. Os negros nos mercados de trabalho metropolitanos. Estudo e pesquisas. Ano 3, No 26, nov. 2006.

43%

13%

41%

2%

1%

a) Branc a

b) Preta

c ) Parda

d) A marela

e) Indígena

Page 92: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

91

Monitor 14 3 13 1 31

Outros 3 1 4 8

não sabe 1 1

Total geral 62 19 58 3 1 143

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

6.1.4 Escolaridade

Como nas outras unidades, a maioria dos trabalhadores tem o ensino médio concluído.

Conforme relato por líderes, a empresa prefere trabalhar com funcionários que tenham cursado o

ensino médio, como explicitado no item “Seleção e Treinamento”.

TABELA 32 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008

Ensino Fundamental / 1º grau (1ª a 8ª série) cursando 0,70%

Ensino Médio / 2º grau / colegial incompleto 2,10%

Ensino Médio / 2º grau / colegial cursando 6,99%

Ensino Médio / 2º grau / colegial completo 72,73%

Superior / Graduação incompleto 6,99%

Superior / Graduação cursando 9,09%

Superior / Graduação completo 1,40%

Total geral 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Entre os entrevistados que cursaram ensino médio, 33,6% fizeram algum tipo de curso

técnico. Os cursos técnicos citados pelos entrevistados são variados, e muitos não têm relação

com a atividade varejista. Informática, técnico em administração, design gráfico, publicidade,

técnico em estética, bombeiro civil, industrial e resgate, secretariado administrativo, música,

vendas e informática, RH e departamento pessoal, técnico em turismo e hotelaria, magistério,

montagem e configuração de micro, auxiliar de enfermagem e técnico de enfermagem, técnico

em estilismo, artes gráficas e tipografia, eletroeletrônico, e técnico em contabilidade estão entre

os cursos citados.

6.1.5 Cargo/Função

Como nas outras lojas, em Interlagos, a maioria dos funcionários exerce o cargo de

Page 93: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

92

assessor de cliente. Entre as lojas paulistas, o número relativo de monitores em Interlagos é o

dobro doe existentes em Tamboré.

De acordo com a supervisora, Interlagos segue a política nacional de cargos de

salários. Ou seja, a empresa não discute com o sindicato a política de cargos e salários, mas segue

as convenções e acordos coletivos. Decisões específicas, não previstas nas convenções e acordos,

são tomadas pelo RH 76.

GRÁFICO 9 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE INTERLAGOS(%) ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

As atividades desempenhadas por cada cargo são semelhantes àquelas explicadas no

capítulo anterior, referente à unidade Tamboré. Na unidade Interlagos, os funcionários

desempenham funções variadas e também fazem declarações do tipo “faço de tudo um pouco”,

“sou multifuncional”.

Especificamente em relação à função de caixa, como na C&A não há um cargo

específico designado para essa função, ela acaba sendo exercida por monitores e assessores de

clientes. Conseqüentemente, o pessoal que exerce a função de caixa não tem os direitos previstos

na Convenção Coletiva de Trabalho 2007/2008, firmada entre o Sindicato dos Empregados no

76 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

60,14%

4,90% 2,80% 4,20%

21,68%

5,59%0,70%

as s es s or de

c liente

fis c al líder menor

aprendiz

monitor outros não s abe

Page 94: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

93

Comércio de São Paulo e o Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo, cuja cláusula 16

inclui a “indenização de quebra de caixa”, estabelecendo que “o empregado que exercer as

funções de Caixa terá direito a indenização por „quebra de caixa‟ mensal, no valor de R$ 30,00

(trinta reais), a partir de 1º de setembro de 2007”.

Segundo a empresa, os “assessores, que representam a maioria no quadro de efetivo de

uma loja, exercem suas tarefas no modelo de multifuncão. Há uma equipe que prioritariamente

exerce as tarefas no caixa. Entretanto, essa atividade pode ser exercida pelos demais assessores,

de acordo com as necessidades das lojas. Não há problemas com diferenças salariais, tendo em

vista que todos estão sob a mesma política salarial. Da mesma forma, inexiste a obrigação legal

do pagamento [da quebra de caixa], pois a Convenção Coletiva de Trabalho condiciona o

pagamento somente para as empresas que processam o desconto das diferenças de caixa. Este não

é o caso da C&A”.

As pressões sobre quem exerce essa função podem ser preocupantes, já que há grande

exigência por metas e não é admitida quebra de caixa. De acordo com relato de um(a)

funcionário, “32% do que se vende tem que ser parcelado em oito vezes. Na 1ª quebra de caixa,

recebe-se advertência verbal; na 2ª, 3ª e 4ª quebra tem advertência por escrito, e na 5ª quebra,

suspensão”. O relato de um monitor(a) que cuidava da área do caixa é contundente em relação ao

papel do caixa: “fui para o recebimento, fui para a sangria e 80% dos roubos feitos por

funcionários diminuíram, troquei o autorizador, os funcionários foram demitidos, não admitia

quebra de caixa.”.

Gestores da C&A esclarecem que “a cobrança de metas faz parte do dia a dia de

qualquer empresa e não pode ser considerada como assédio moral. A imposição de metas para

alcançar maior produtividade não implica em qualquer violação aos direitos do empregado. Ao

contrário, já que podem servir como motivação para alcançar bônus ou prêmio. Mas as metas não

podem ser absurdas nem abusivas”.

Page 95: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

94

TABELA 33 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE INTERLAGOS (%)

ABRIL 2008

Cargo/função Feminino Masculino Total geral

Assessor de cliente 61,17% 57,50% 60,14%

Fiscal 3,88% 7,50% 4,90%

Líder 2,91% 2,50% 2,80%

Menor aprendiz 2,91% 7,50% 4,20%

Monitor 25,24% 12,50% 21,68%

Outros 2,91% 12,50% 5,59%

Não sabe 0,97% 0,00% 0,70%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Não há grande diferenciação entre homens e mulheres na distribuição de cargos não

gerenciais - exceto para o cargo de fiscal, com maior porcentagem de homens, e para o cargo de

monitor, com mais mulheres. De acordo com gerente da unidade, “não há qualquer preferência

para a alocação de mulheres ou homens em determinados setores” 77. Mas, segundo supervisora,

pelo fato de “o perfil da C&A ser moda, acaba tendo mais mulheres no quadro de funcionários,

que é por volta de 60% na loja de Interlagos”78. Neste sentido, a supervisora não vê necessidade

de ajustes para equalizar as condições de trabalho de homens e mulheres.

6.1.6 Tempo no emprego

Podemos verificar, pela tabela a seguir, que boa parte dos funcionários entrevistados

está empregada há pouco tempo. Entre os eles, 59,1% trabalham na loja há dois anos ou menos,

enquanto 78,3% estão contratados há, no máximo, quatro anos. Quando analisado. O gênero/

sexo destes trabalhadores, constatamos que 21,4% das mulheres entrevistadas e 10% dos homens

têm menos de um ano de casa.

TABELA 34 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE INTERLAGOS - ABRIL 2008

Tempo de

empresa Feminino Masculino Total geral

Menos de 1 ano 22 4 26

De 1 a 2 anos 32 18 50

Mais de 2 até 4 25 11 36

77

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 78

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 96: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

95

Mais de 4 até 6 6 4 10

Mais de 6 18 3 21

Total geral 103 40 143

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

6.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS

6.2.1. Liberdade Sindical/relações sindicais

Em Interlagos, o número de trabalhadores que afirmam ser sindicalizados corresponde

a 8% dos entrevistados na unidade. Quando questionados sobre a qual sindicato são filiados,

apenas seis pessoas responderam “Sindicato dos Comerciários de São Paulo”. Os demais

disseram: “o da loja”, “acho que é dos comerciários”, “não sei o nome”, “comerciários”,

“varejista”, ou não lembravam o nome. Essas respostas evasivas indicam que, mesmo entre os

poucos trabalhadores que afirmam ser sindicalizados, há pouca clareza do que é ser de fato.

GRÁFICO 10 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE SE DECLARAM SINDICALIZADOS UNIDADE INTERLAGOS

– ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Quando perguntados sobre o tempo de filiação ao sindicato mencionado, percebe-se

que os trabalhadores compreendem que a filiação é automática à admissão na empresa. A maioria

8%

92%

a) S im. Qual?

b) Não

Page 97: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

96

respondeu ser filiado ou desde a contratação na empresa ou indicaram o tempo, em anos e/ou

meses, equivalente ao tempo de contratação. Dois afirmaram não saber exatamente o tempo.

Estes fatos indicam que os trabalhadores compreendem que a filiação ao sindicato é automática à

admissão na empresa.

Os trabalhadores da unidade Interlagos são informados das atividades e assuntos do

sindicato principalmente através de conversas com colegas e por meios de divulgação no local de

trabalho (murais). Entretanto, boa parte dos entrevistados não tem conhecimento das atividades e

assuntos do sindicato (34,9%). O quadro a seguir mostra a quantidade de vezes que cada veículo

de informação foi apontado como importante por cada trabalhador entrevistado.

TABELA 35 - COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE INTERLAGOS –

ABRIL 2008

Participando de assembléias ou reuniões do sindicato 2

Lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato. 36

Conversando com diretores do sindicato 1

Conversando com colegas de trabalho 57

Conversando com chefes ou gerentes 9

Pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais) 56

Pelo carro de som 2

Não tenho conhecimento 50

Outros. Quais? 5

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Segundo declaração do gerente79, “a empresa permite a distribuição de informativos e

há mural para fixação dos materiais do sindicato”. Por outro lado, quando questionado sobre

autorização dada pela empresa para que sindicalistas tenham acesso aos locais de trabalho,

inclusive aqueles que não são funcionários da unidade, a resposta obtida foi a de que “nunca

nenhum sindicalista lhe pediu isso, mas acha que a loja não é o local adequado”.

Complementarmente, 99% dos entrevistados declaram nunca ter participado de atividade

sindical, e o único trabalhador que afirmou participação disse que ela aconteceu antes de entrar

na loja, não citando a atividade.

79

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 98: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

97

6.2.2. Salário e Benefícios

6.2.2.1. Remuneração

A faixa salarial dos trabalhadores entrevistados na unidade Interlagos está

principalmente entre um e 1,5 salários mínimos (de R$ 415,00 a R$ 622,50); 12,6% ganham até

um salário mínimo e a uma grande parte , 42,7% dos trabalhadores entrevistado, ganham de 1,01

a 1,5 salários mínimos.

GRÁFICO 11 - REMUNERAÇÃO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Na cláusula quarta da CCT 2007/2008 sobre “Salário de Admissão”, ficam estipulados

os seguintes salários para os empregados da categoria, desde que cumprida integralmente a

jornada de trabalho, a partir de 1º de setembro de 2007: a) office-boy, faxineiro, copeiro e

empacotadores em geral, o salário é de R$ 494,00; b) demais empregados, o salário é igual a

R$618,00.

12,6%

42,7%

19,6%

12,6%10,5%

1,4% 0,7%

a) até 1 s alário

mínimo (até R $

415,00)

b) de 1,01 a 1,5

s alário mínimo

(de R $ 415,01 a

R $ 622,50)

c ) de 1,51 a 2

s alários mínimos

(de R $ 626,51 a

R $ 830,00)

d) de 2,01 a 2,5

s alários mínimos

(de R $ 830,01 a

R $ 1037,50)

e) de 2,51 a 3

s alários mínimos

(de R $ 1037,51 a

1245,00

f) de 3,01 a 4

s alários mínimos

(de R $ 1245,01 a

R $ 1660,00)

g) de 4,01 a 5

s alários mínimos

( de R $ 1660,01

a R $ 2075,00)

Page 99: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

98

GRÁFICO 12 – REMUNERAÇÃO POR GÊNERO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Em Interlagos, não há grandes diferenciações salariais entre homens mulheres. Se por

um lado a mulheres predominam na faixa salarial de até um salário mínimo (15% das mulheres

contra 8% dos homens), por outro elas predominam também nas faixas salariais mais altas, de

2,51 a 3 salários mínimos, de 3,01 a 4 salários mínimos e de 4,01 a 5 salários mínimos. As duas

últimas faixas, particularmente, são constituídas apenas por mulheres.

6.2.2.2 Benefícios

De acordo com a declaração de gerente e supervisora da unidade, a C&A concede os

seguintes benefícios aos trabalhadores: vale transporte, alimentação, desconto de 20% na compra

de roupas, assistência médica, auxílio funeral, empréstimo com desconto em folha. Não há

benefícios específicos para mulheres além dos previstos em lei, e os benefícios mencionados são

14,6%

41,7%

15,5%12,6% 12,6%

1,9% 1,0%

7,5%

45,0%

30,0%

12,5%

5,0%

0,0% 0,0%0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0%

a) até 1 salário

mínimo (até

R$ 415,00)

b) de 1,01 a 1,5 salário

mínimo (de

R$ 415,01 a R$ 622,50)

c) de 1,51 a 2 salários

mínimos (de

R$ 626,51 a R$ 830,00)

d) de 2,01 a 2,5 salários

mínimos (de

R$ 830,01 a R$ 1037,50)

e) de 2,51 a 3 salários

mínimos (de

R$ 1037,51 a 1245,00

f) de 3,01 a 4 salários

mínimos (de

R$ 1245,01 a R$ 1660,00)

g) de 4,01 a 5 salários

mínimos ( de

R$ 1660,01 a R$ 2075,00)

Feminino

Masculino

Page 100: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

99

definidos em convenção coletiva 80.

A supervisora da unidade completa dizendo que existem os seguintes benefícios para

os trabalhadores: “além dos benefícios legais há também os demais benefícios oferecidos pela

empresa, que são refeição, assistência médica e odontológica, 20% de desconto em compras para

os associados e dependentes, desconto farmácia, homenagem por tempo de casa, convênio

faculdade, auxílio funeral e o auxílio creche”.81

O benefício que consta na CCT 2007/2008, na Cláusula 44 é Auxílio-funeral. Os

outros benefícios, que são uma decisão unilateral da empresa, não são garantidos por lei ou pela

CCT, e, por isso, podem ser retirados a qualquer momento.

6.2.2.3 Treinamento

A maioria (70%) dos trabalhadores da unidade Interlagos já fez algum tipo de curso ou

treinamento oferecido pela empresa, e grande parte dos entrevistados (47,4%) afirma que já

participou de mais de um curso/treinamento diretamente relacionado à função que desempenha.

No entanto, não é possível afirmar, como percebe-se no gráfico abaixo, se a quantidade de cursos

oferecidos pela empresa contribui de forma significativa do ponto de vista da ascensão

profissional. A contribuição se limita apenas à atividade que o funcionário desempenha.

80

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 81

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 101: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

100

GRÁFICO 13 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Sendo assim, a maioria dos entrevistados afirma que os cursos/ treinamentos não

contribuíram para sua promoção, mas aumentaram os conhecimentos sobre o trabalho que

desempenha.

GRÁFICO 14 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

16,16%

47,47%

19,19%17,17%

a) Apenas 1 b) De 2 a 5 c ) De 6 a 10 d) Mais de 10

24%

73%

3%a) Contribuiu para voc ê s er

promovido/a e aumentou os s eus

c onhec imentos s obre o trabalho

que des empenha.

b) Não c ontribuiu para voc ê s er

promovido, mas aumentou os s eus

c onhec imentos s obre o trabalho

que des empenha.

c ) Não ac res c entou nada

Page 102: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

101

6.2.2.4 Promoção

Como foi visto no item remuneração, em Interlagos, a política de pessoal segue a

diretriz do plano nacional e é somente discutida em convenção coletiva. A pesquisa amostral

coletou que a maioria dos trabalhadores (87%) sabe que há na empresa um plano de cargos e

salários ou de carreira. Grande parte dos entrevistados (80%) que respondem que a empresa

possui um PCS também diz que conhece o conteúdo desse plano. No entanto, a pesquisa não

permite saber qual o nível desse conhecimento e nem como ele é transmitido.

Pode-se observar que o processo de avaliação dos funcionários por parte da empresa é

um importante indicador para promoção. Em Interlagos, 88% dos trabalhadores entrevistados

sabem da existência de uma avaliação dos funcionários por parte da empresa. Além disso, 82%

dos entrevistados responderam que são avaliados no desempenho da sua atividade.

De acordo com os relatos dos trabalhadores, não fica claro se a avaliação de

desempenho é feita uma vez ao ano ou de seis em seis meses, tampouco se é feita com todos os

funcionários, pois 23 pessoas da loja disseram que não foram avaliadas, inclusive funcionários

com mais de um ano de empresa.

Mediante as informações colhidas entre os trabalhadores, entende-se que a avaliação

acontece de duas formas: diariamente, com o acompanhamento dos gestores, e periodicamente

(nem sempre na mesma data), através de uma avaliação feita pelo supervisor do departamento -

ação que os trabalhadores chamam de face to face. Esta avaliação consiste no preenchimento de

um questionário com o supervisor, sobre o qual é feito um diálogo entre as partes.

De acordo com os relatos dos trabalhadores, as formas de avaliação em geral são: “dia-

a-dia a líder do departamento vai acompanhando e dizendo o que precisa melhorar”, “o líder fala

sobre sua produtividade e metas”, “pelo comportamento, atendimento ao cliente, é avaliado em

todas as áreas da loja, inclusive pelas conversas no refeitório e nos banheiros”, “reuniões com

supervisor para discutir sobre o desempenho no trabalho”, “de seis em seis meses há um Face,

sentamos com o supervisor e vemos o que progredimos e regredimos”, “é um processo anual:

Page 103: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

102

chamam na sala do gerente, avaliam e dão nota de acordo como você entrou, onde você está, qual

seria a próxima promoção”, “monitoramento do atendimento ao cliente - há um cliente oculto

(pessoa contratada pela empresa para se fazer por cliente)”, “desde que entrei na empresa, só fui

avaliada uma vez. Desempenho, beleza, entre outros são avaliados pelo supervisor e há uma

conversa de retorno”.

A Empresa comenta que, “embora haja reconhecimento pela maioria dos entrevistados

da existência de um plano de cargos e salários e um sistema de promoções baseado no sistema de

avaliação de desempenho, o processo deverá ser reciclado, visando corrigir algumas distorções,

conforme comentado na página 15 relativa à unidade de Tamboré”.

Com relação às oportunidades de promoção, a maioria dos entrevistados (88%)

considera que a empresa oferece oportunidades. Os motivos são variados. Há trabalhadores que

revelam que as promoções dependem do esforço de cada um, embora muitos afirmam que as

oportunidades acontecem para quem é “puxa saco” ou que as promoções demoram a acontecer e,

algumas vezes, acontecem de maneira injusta.

Em geral, as respostas dadas pelos trabalhadores foram que “a empresa tem plano de

carreira e depende de cada um”, “tem muita gente capacitada, mas não há vagas para todos; falam

que existe oportunidade, mas não é garantido, pois tem gente qualificada que não é promovida”,

“com bom desempenho pode haver promoção, mas, no geral, é mais promovido quem é “puxa-

saco”, “explicam como seguir para ter promoção: o primeiro passo é aumentar a carga horária,

que na minha opinião não é promoção e só ganha R$ 100 a mais”, “ a empresa deveria investir

mais nos funcionários que já estão trabalhando na loja e estão na graduação, ou seja, deveria

implementar o programa de trainee com os associados e não com pessoas que vem de fora”,

“depende da gestão, depende da gerente; há promoções de pessoas sem capacidade e isso

desmotiva as outras, pois vêm pessoas sem capacidade na liderança”, “com o apoio da avaliação

de desempenho é possível [haver promoção], pois a gerência dá um feedback do seu trabalho,

mas considero que não há possibilidade para todas as pessoas”.

Das pessoas que respondem que a empresa oferece oportunidades de promoção, uma

Page 104: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

103

boa parte (42%) considera os critérios injustos. Em relação às outras lojas, o número de

entrevistados insatisfeitos com os critérios de promoção em Interlagos é alto. A tabela a seguir

reafirma que um dos critérios de promoção mais citados foi amizade com a chefia, citado por

43,3% do total de entrevistados.

TABELA 36 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES UNIDADE

INTERLAGOS - ABRIL 2008

Critérios Sim

a) Formação escolar e técnica 63

b) Demonstrar competência através de bom desempenho 112

c) Ser homem 0

d) Experiência adquirida no trabalho 60

e) Não participar de atividades do sindicato 4

f) Ser branco 3

g) Dedicação à empresa 68

h) Ser mulher 1

i) Ser negro 0

j) Amizade com a chefia (critérios subjetivos) 62

k) Outros. Quais? 7

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Interlagos é uma das unidades em que os entrevistados estão mais descontentes com as

políticas de promoção. O alto número de citações “amizade com a chefia (critérios subjetivos)”

pode revelar decisões extremamente subjetivas por parte da gerência.

6.2.3 Discriminação

Em Interlagos, 33,6% dos trabalhadores entrevistados afirmam que já se sentiram

prejudicados ou discriminados na empresa por algum motivo. Alguns dos aspectos já abordados

pelo IOS podem ser motivos da grande insatisfação dos trabalhadores, como a ausência de regras

claras, o autoritarismo da chefias e a cobrança excessiva de metas, que afetam a saúde do

trabalhador e, por conseguinte, a não aceitação por parte da empresa de trabalhadores doentes e

atestados médicos. A tabela a seguir revela os motivos citados pelos trabalhadores.

Page 105: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

104

TABELA 37 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM PREJUDICADOS OU

DISCRIMINADOS UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL2008

Ser homem 0

Cor ou raça 0

Participação sindical 1

Participação política 0

Doença 7

Ser mulher 0

Religião 0

Orientação sexual 1

Doença no trabalho 8

Outro motivo. Qual? 38

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Os relatos dos trabalhadores estão no capítulo “Análise geral e comparativa” no item

“Discriminação no trabalho”. Estes relatos são preocupantes e devem ser analisados por todos os

líderes da empresa.

Em Interlagos, baseado nos relatos, um grave problema detectado está relacionado ao

tratamento dos trabalhadores doentes por parte da liderança da empresa. Outro fato a destacar diz

respeito à não aceitação ou crítica por parte da empresa pela entrega de atestados médicos de

trabalhadores.

22% dos trabalhadores entrevistados afirmaram que já presenciaram algum caso de

discriminação da empresa contra outros trabalhadores. A tabela a seguir revela os motivos desses

casos de discriminação:

TABELA 38 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA

CONTRA OS TRABALHADORES UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 6

Participação sindical 0

Participação política 1

Doença 7

Ser mulher 0

Religião 0

Orientação sexual 4

Doença no trabalho 3

Outro motivo. Qual? 18

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Page 106: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

105

Entre os outros motivos citados estão: suspensão, agressão do cliente, aparência física,

autoritarismo de supervisor, gravidez, excesso de carga horária, dificuldade para demissão

voluntária.

Pode-se observar pelos resultados de ambas as tabelas que a questão da doença – seja

ela relacionada ao trabalho ou não – é motivo freqüente de casos de discriminação por parte da

empresa com os funcionários. Muitos relatos de trabalhadores afirmam que ou chefia questiona a

doença do trabalhador, taxando como “frescura” ou questionando a idoneidade dos atestados

médicos.

A Empresa observa que, “embora nenhum motivo justifique qualquer ato

discriminatório, o percentual dos entrevistados e de motivos apresentados na pesquisa indica que,

na unidade de Interlagos, a maioria dos funcionários não passou e nem presenciou tais

experiências. A questão dos atestados médicos está sendo avaliada com mais cuidado pela

Empresa, tendo em vista que, em 2008, ocorreu grande número de dispensas gerado por

falsificações de atestados médicos.”

6.2.4 Jornada/Hora Extra

Tanto trabalhadores contratados quanto jovens aprendizes foram contemplados pela

pesquisa na unidade de Interlagos. Nesta loja, em específico, identificou-se um problema neste

último grupo de entrevistados: enquanto a legislação permite que menores aprendizes trabalhem

apenas 20 horas semanais, os jovens trabalhadores da C&A dessa classe afirmaram ter jornada de

36 horas semanais. Questionada, a empresa afirmou que “todas as horas de aprendizagem não

ultrapassam os limites previstos nos contratos de aprendizagens. De qualquer forma a área de

Recursos Humanos fará uma verificação”.

Page 107: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

106

TABELA 39 - JORNADA DE TRABALHO UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008

44 horas 63%

36 horas 36%

Outra 1%

Total geral 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Em relação aos turnos um líder da unidade declarou que “a distribuição depende das

vendas. As variações podem acontecer de acordo com a necessidade do funcionário. Não há outro

motivo para mudanças, se isso acontecer é porque houve erros na hora de fazer o

planejamento”.82

A supervisora da unidade completa que “há três turnos: manhã, intermediário e tarde

(fechamento), e o planejamento é feito de acordo com o fluxo da loja, que é maior no período

intermediário e tarde, e nos quais tem mais funcionários”. Afirma, ainda, que “planejamento

permite que não ocorra variação e para que o associado possa se planejar”, mas, se preciso, “ele é

mudado com prévio aviso”.83

A afirmação da supervisora foi confirmada pela pesquisa. Na tabela a seguir, nota-se

que a concentração maior de funcionários está nos turnos da manhã e fechamento, o que leva a

crer que, embora no turno da tarde (intermediário) haja menos pessoas, quem entra neste turno

permanece no trabalho até o fechamento da loja, quando o fluxo de atendimento é maior.

TABELA 40 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008

TURNO DE TRABALHO Total

Manhã (abertura) 42%

Tarde 14%

Fechamento 44%

Total geral 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Quanto às horas extras, a supervisora afirma que há banco de horas definido pela

82

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 83

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 108: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

107

convenção coletiva, embora “a orientação é para que os funcionários não façam horas extras”.84

Apesar da orientação expressa, na realidade 62% dos trabalhadores entrevistados afirmam ter

feito horas extras no mês anterior. Destes, 44% fez até 4 horas mensais além da sua jornada

normal de trabalho.

TABELA 41 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR Á PESQUISA UNIDADE

INTERLAGOS (%) – ABRIL 2008

Até 4 horas 44%

De 5 a 10 horas 37%

De 10 a 20 horas 18%

De 21 a 40 horas 1%

Total geral 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Para a empresa, “assim como em outras unidades pesquisadas, a quantidade de horas

extras trabalhadas no mês pesquisado foi muito reduzida, situando-se dentro de um nível de

normalidade aceito pela legislação.”

Em Interlagos, a compensação das horas extras pelo banco de horas foi a forma

utilizada pela maior parte dos funcionários (85%). Verifica-se, pela tabela a seguir, que mais da

metade dos entrevistados (54,9%) que têm a jornada regular de 36 horas semanais (part time)

afirmam trabalhar além da jornada.

TABELA 42 - NÚMERO DE ENTREVISTADOS QUE TRABALHOU ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR À

PESQUISA POR JORNADA REGULAR UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

JORNADA SEMANAL Não Sim Total geral

44 horas 29 61 90

36 horas 23 28 51

Outra (escreva abaixo) 2 2

Total geral 54 89 143

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Na tabela acima, ressalta-se a posição contraditória da empresa, cuja política não

84

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 109: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

108

permite que trabalhadores part time realizem horas extras.

6.2.5 Saúde e Segurança no Trabalho

As condições de trabalho em Interlagos não foram bem avaliadas pelos trabalhadores

nos itens temperatura, ruído e conforto.

TABELA 43 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL 2008

CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO Boa Regular Ruim Total geral

Temperatura 39 69 35 143

Iluminação 111 24 8 143

Ruído 55 53 35 143

Ordem / organização do espaço de trabalho 77 50 16 143

Limpeza 76 57 10 143

Conforto 60 61 22 143

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Em Interlagos, ao serem questionados sobre o ritmo de trabalho exigido pela empresa e

a possibilidade desse ritmo agredir a própria saúde, as opiniões dos trabalhadores se dividem:

50% consideram o ritmo prejudicial, enquanto 47% discordam. Nesse aspecto, as tarefas e

atividades de cada trabalhador é que vão possibilitar ou não um controle mais rigoroso do

trabalho.

TABELA 44 - NÚMERO DE TRABALHADORES DA C&A QUE CONSIDERAM QUE O RITMO DE TRABALHO

EXIGIDO PELA EMPRESA CHEGOU A PREJUDICAR A SAÚDE (%) – UNIDADE INTERLAGOS –

ABRIL 2008

Sim 50%

Não 47%

Não sabe 3%

Total geral 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Grande parte dos entrevistados (62%) responde que, no momento da pesquisa, seu

estado de saúde estava bom. No entanto, um número expressivo (35%) considera que seu estado

de saúde estava regular.

Page 110: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

109

Como nas demais lojas pesquisadas, em Interlagos os trabalhadores que declaram

problemas de saúde relacionados à atividade de trabalho mencionaram principalmente problemas

de coluna, lesão por esforços repetitivos e depressão ou estresse.

TABELA 45 - CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS Á ATIVIDADE DA EMPRESA – UNIDADE

INTERLAGOS - ABRIL 2008

Problemas de coluna 43

Surdez 2

Doenças de pele 3

Problemas respiratórios 17

Lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) 42

Doenças do sangue 3

Depressão ou estresse 65

Câncer 0

Alergias 15

Outro. Qual? 21

Não apresentou nenhum problema de saúde 35

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Os entrevistados assinalaram até 3 opções

Vale destacar que 45,5% dos trabalhadores dessa unidade afirmam terem tido sintomas

de depressão ou estresse. Esse alto índice demonstra que a política de metas, a intensidade do

ritmo de trabalho nos finais de semana e a indefinição de critérios claros de promoção e avaliação

contribuem para a incidência desse tipo de doença.

A maioria dos entrevistados (59%) responde que os problemas de saúde foram

clinicamente diagnosticados e relacionados à atividade de trabalho. Das pessoas que afirmam já

ter apresentado algum problema de saúde, 36% declaram que já deixaram de revelar que estava

doente ou passando mal enquanto trabalhava por medo de ser prejudicado (a) na empresa.

Na unidade Interlagos, apenas 10% dos trabalhadores entrevistados afirmam já ter

sofrido algum acidente de trabalho. A porcentagem de trabalhadores entrevistados que já esteve

afastado por acidente de trabalho ou por outros problemas de saúde é de 32%. Os períodos de

afastamento variam de um dia a quatro meses e as principais causas dos afastamentos são:

torção/problema no pé, torção/problema no joelho, conjuntivite, dor no estômago/gastrite,

tendinite/bursite, pneumonia, alergia, luxação no joelho e deslocamento na coluna devido a queda

Page 111: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

110

da escada, LER, problema de coluna, , escorregamento sobre piso molhado seguido de lesão na

cabeça.

Dos trabalhadores que afirmaram terem sido afastados, todos retornaram à mesma

função que exerciam antes do afastamento, exceto um(a) trabalhador(a), pois, segundo ele(a), o

gerente justificou que na época não havia lugar, mas quatro meses depois voltou para sua área

anterior.

Em relação à atuação da CIPA, apenas 16% a consideram “boa”, conforme indica o

gráfico a seguir.

GRÁFICO 15 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE INTERLAGOS – ABRIL

2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os trabalhadores que avaliam positivamente a atuação da CIPA afirmam que esta

mantém os trabalhadores informados e treinados sobre segurança no local de trabalho. Dentre os

que criticaram a atuação da Comissão, alguns afirmaram que “quando ocorre algo, o máximo que

fazem é chamar os bombeiros e fazem a pessoa trabalhar de novo”; “existem algumas coisas que

a CIPA não toma providência, como equipamentos em áreas em que não deveria estar”; “a CIPA

se reúne para falar de acidente de trabalho, mas na verdade também deveria tratar de saúde no

trabalho, mas eles não agem nesse sentido, quem trabalha com telefone não pode ficar 8 horas, e

16%

26%

16%

42%

a) Boa

b) Regular

c ) Ruim

d) Não tem

c onhec imento

Page 112: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

111

eu fico, tem o stress do trabalho e quem tem tendinite opera caixa, eles não agem para prevenir

doenças”, “não sei quem participa e nem o que acontece, só tem informação em época de eleição,

acredito que as pessoas só se candidatam pela estabilidade”; “deveriam disponibilizar mais

informações do mural, reuniões sobre o que acontece”.

Em Interlagos, é preocupante o alto número de entrevistados que não têm

conhecimento da CIPA (42%). Mesmo entre os entrevistados que afirmam conhecer a CIPA

houve reclamações sobre a falta de conhecimento do papel específico exercido pela Comissão.

Funcionários reclamam que CIPA deve tratar da saúde dos funcionários. Essa

reclamação é pertinente, uma vez que nas lojas o ritmo de trabalho é intenso. As horas extras são

excedentes, mesmo entre os funcionários part time, a pressão pelo cumprimento de metas é

excessiva, a compensação do trabalho em termos de ascensão profissional é pequena e a

indefinição de critérios objetivos de promoção são fatores que colaboram com esse cenário

insalubre.

A atuação da CIPA não deve ser restrita à prevenção de acidentes de trabalho,

especialmente nas atividades de serviço, onde os acidentes têm uma importância secundária, e as

doenças do trabalho, oriundas das formas de organização do trabalho, se evidenciam.

De acordo com comentário da empresa, “da mesma forma que em outras unidades é

preciso diferenciar queixas de doenças diversas, tidas como de origens relacionadas com o

trabalho, com doenças clinicamente diagnosticadas e documentadas por médico do trabalho em

sua unidade de Interlagos. Mas será motivo de uma avaliação mais cuidadosa no próximo

PCMSO. Não faz sentido a ocultação de casos de doenças ocupacionais com toda a segurança

que a legislação oferece. A C&A assume suas responsabilidades nas eventuais situações

existentes em seu ambiente de trabalho, mas, para tanto, necessita que os dados sejam periciados,

e vai trabalhar no sentido de eliminar essa possível distorção.”

Page 113: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

112

7. CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO (CD)

7.1. PERFIL DOS TRABALHADORES

De acordo com documentos da empresa, em 22 de abril de 2008 havia, no CD, 431

funcionários. A pesquisa foi realizada entre 22 e 26 de abril de 2008 e, neste período, a gerência

informou ao IOS verbalmente que, no mesmo CD, havia 354 funcionários, sendo 323 disponíveis

para entrevista. Entretanto, o número de entrevistas realizadas foi de 304. Os motivos dessa

defasagem são vários:

A pesquisa não foi feita por amostragem com número determinado de

entrevistados e sim com o objetivo de pesquisar o maior número de pessoas

possível;

Em virtude da dimensão do CD, as listas de trabalhadores a serem entrevistados

foram distribuídas para funcionários do CD e pesquisadores da IOS, situação que,

de certa forma, dificultou o controle.

As salas em que alguns trabalhadores seriam entrevistados foram alteradas,

situação que dificultou a marcação dos nomes nas listas. Assim, como muitos não

puderam ser marcados imediatamente nas listas, precisavam ser lembrados por

pesquisadores e funcionária do CD.

Mesmo assim, a diferença entre o número de pessoas disponíveis para entrevistas e dos

efetivamente entrevistados é de apenas 5,9%. Se levarmos em consideração o número de

funcionários, o trabalho foi muito bem organizado pela administração do CD.

O perfil dos trabalhadores apresenta um panorama geral que caracteriza os

trabalhadores entrevistados da empresa segundo sexo, idade, cor/raça, escolaridade, função e

tempo no emprego.

Page 114: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

113

7.1.1 Sexo

O quadro de trabalhadores entrevistados no CD é composto por 57,2% de homens e

42,8% de mulheres. Tanto os homens como as mulheres concentram-se, majoritariamente, na

área de logística, já que essa é atividade principal do CD.

As mulheres estão mais presentes no setor de controle de qualidade e em serviços

gerais, representando, respectivamente, 69,4% e 75% do total de empregadas nesses setores. Já os

homens concentram-se na área de transportes, compondo 86,7% desse setor.

TABELA 46 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR SEXO E ÁREA/SETOR CD – ABRIL 2008

Área/setor Feminino Masculino Total geral

Controle de qualidade 25 11 36

Logística 93 122 215

Serviços Gerais 6 2 8

Transportes 6 39 45

Total geral 130 174 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Nota: A classificação por área/setor seguiu a mesma feita pela empresa no Caderno de Informações Gerais cedido

pela empresa ao IOS.

De acordo com a supervisora de logística85, não há preferência de contratação de

mulheres ou de homens em determinadas áreas. Segundo ela, “o foco na contratação é o perfil”.

Considera que “não há necessidade de ajustes no momento” e acredita ser normal que as

mulheres procurem trabalhar na C&A muito mais do que os homens (ela estimava, inclusive, que

o CD tivesse 65% do quadro de trabalhadores composto por mulheres).

O gerente da unidade86 corrobora com a supervisora, reforçando que a contratação é

feita “pelo potencial e não pelo gênero”, e diz também que as mulheres procuram mais e ficam

mais tempo na C&A por afinidade, pelos produtos e pela imagem da empresa. Afirma, ainda, que

“o setor não diferencia homens e mulheres na distribuição de tarefas, apenas certas tarefas mais

pesadas e que não são possíveis às mulheres exercerem”.

85

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 86

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 115: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

114

7.1.2 Idade

Com relação à idade dos trabalhadores do CD, pode-se dizer que os mesmos estão bem

distribuídos pelas faixas etárias. O quadro é composto por 52,9% de trabalhadores acima de 30

anos de idade. Entre as mulheres, 66,2% possuem mais de 30 anos e, entre os homens, o índice

nessa faixa etária é de 43,1%. Pode-se constatar que os trabalhadores dessa unidade concentram-

se em faixas etárias superiores às das lojas.

A seguir, o gráfico da distribuição do total de trabalhadores por idade e sexo mostra

que, entre as faixas de idade de 18 e 39 anos, existem mais trabalhadores do sexo masculino. O

número de mulheres só é maior que o número dos homens a partir das faixas acima de 40 anos.

GRÁFICO 16 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE E SEXO – ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

7.1.3 Raça/cor

Os dados obtidos pelo IOS mostram que os trabalhadores entrevistados do CD são

principalmente negros, ou seja, pretos e pardos. Juntos, representam 52,9% dos participantes da

pesquisa. O gráfico a seguir ilustra a concentração de negros e brancos na empresa.

Page 116: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

115

GRÁFICO 17 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA CD (%)– ABRIL 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

7.1.4 Escolaridade

Com relação à escolaridade dos entrevistados, é possível perceber que a maioria

(65,4%) possui ensino médio completo.

TABELA 47 – GRAU DE ESCOLARIDADE POR SEXO CD – ABRIL 2008

Nível de escolaridade Feminino Masculino Total geral

Ensino Fundamental / 1º grau (1ª a 8ª série) incompleto - 1 1

Ensino Fundamental / 1º grau (1ª a 8ª série) completo 1 1 2

Ensino Médio / 2º grau / colegial incompleto 1 5 6

Ensino Médio / 2º grau / colegial cursando 5 7 12

Ensino Médio / 2º grau / colegial completo 81 118 199

Superior / Graduação incompleto 8 8 16

Superior / Graduação cursando 12 25 37

Superior / Graduação completo 20 8 28

Mestrado / Doutorado / Pós-Graduação cursando 2 - 2

Mestrado / Doutorado / Pós-Graduação completo - 1 1

Total geral 130 174 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Do total de entrevistados, 17,4% declararam ter concluído curso técnico equivalente ao

segundo grau. A tabela abaixo mostra que, na distribuição por gênero, essa proporção se mantém.

TABELA 48 – NÚMERO DE TRABALHADORES QUE CONCLUÍRAM CURSO TÉCNICO POR SEXO – ABRIL 2008

Concluiu algum curso técnico

(equivalente ao 2º grau) Feminino Masculino Total geral

Não 106 145 251

Page 117: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

116

Sim. Qual? 24 29 53

Total geral 130 174 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os cursos técnicos mais citados pelos entrevistados foram administração,

contabilidade, processamento de dados, informática, eletrônica, tecnologia, mecatrônica, têxtil,

vestuário e confecção.

7.1.5 Função

As funções e cargos exercidos pelos trabalhadores do CD estão organizados abaixo de

três gerências: controle de qualidade, CD e logística e transportes, conforme cronograma abaixo.

FIGURA 4 – ORGANOGRAMA CD

Fonte: Documentos da C&A.

Na tabela abaixo, registra-se o número de trabalhadores entrevistados do CD da C&A

por cargo/função e gênero.

TABELA 49 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO – ABRIL 2008

CARGO/FUNÇÃO Feminino Masculino Total geral

Outros 1 3 4

Ajudante geral - 7 7

Menor aprendiz 5 3 8

Diretoria Logística e Distribuição

Gerência de CD e Logística Gerência de Controle de

Qualidade

Gerência de Transportes

Supervisão Supervisão

Supervisão

Inspetor de qualidade Assistente de

Logística/Processo de

Mercadorias

Motoristas/Mecânico de

Autos

Page 118: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

117

Não identificado 2 8 10

Processador de mercadorias e paleteira - 15 15

Auxiliar de administração 10 6 16

Assistente de logística 14 7 21

Motorista de caminhão - 27 27

Inspetor de qualidade 22 9 31

Processador de mercadorias 23 50 73

Processador de mercadorias conferente 53 39 92

Total geral 130 174 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Observa-se que a maioria dos entrevistados concentra-se nos cargos de processador de

mercadorias conferente e processador de mercadorias. Em relação ao gênero, 40,8% das mulheres

estão no cargo de processador de mercadorias conferente. Já os homens estão distribuídos

principalmente em processador de mercadorias (28,7%), processador de mercadorias conferente

(22,4%) e motorista de caminhão (15,5%).

Os homens entrevistados compõem 100% dos cargos de ajudante geral, motorista de

caminhão e processador de mercadorias e paleteira. Das pessoas que trabalham como inspetor de

qualidade, 70,9% são mulheres. As mulheres também compõem 66,7% dos cargos de assistente

de logística. De acordo com gerente, certas funções, por serem mais pesadas, não são possíveis de

serem exercidas por mulheres.87

O cargo/função descrito como “não identificado” corresponde aos deficientes

auditivos, pois esses trabalhadores, durante a entrevista, não se identificaram com nenhum dos

cargos apresentados. Essa situação é também explicada na seção “Portadores de necessidades

especiais”. Este fato, contudo, revela um grave problema de comunicação entre empresa e

funcionários portadores de necessidades especiais. Como não há identidade entre estes e o cargo

desempenhado, é provável que sejam apenas reprodutores de tarefas. De acordo com a C&A, essa

questão será avaliada pela área de Recursos Humanos da empresa.

Pela descrição das atividades dos entrevistados, não parece haver uma distinção muito

clara de funções entre trabalhadores registrados como “processador de mercadorias” e

87 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 119: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

118

“processador de mercadorias conferente”. Entretanto, nenhum “processador de mercadorias”

declarou operar paleteira.

Supõe-se, pelo nome do cargo, que “processadores de mercadorias e paleteira” operam

paleteira. No entanto, nem todos os entrevistados que disseram ser registrados nesse cargo

declararam que operam esse instrumento. Ademais, alguns trabalhadores registrados como

“processadores de mercadorias conferente” declararam operar paleteira. Ou seja, de acordo com

as declarações, nem sempre o cargo registrado na Carteira de Trabalho corresponde à função

exercida pelo trabalhador na prática, o que confirma a má adequação do plano de cargos e

salários da empresa.

7.1.6 Tempo no emprego

A maioria (55,9%) dos trabalhadores entrevistados do CD está na empresa há mais de

seis anos. Na tabela a seguir, nota-se que grande parte das mulheres (70,8%) está no emprego há

mais de seis anos. Já para os homens, essa concentração não é tão significativa, ainda assim,

44,8% estão na C&A há mais de seis anos.

TABELA 50 – TEMPO DE EMPRESA POR SEXO CD – ABRIL 2008

Tempo de empresa Feminino Masculino Total geral

Menos de 1 ano 13 40 53

De 1 a 2 anos 6 21 27

Mais de 2 até 4 8 19 27

Mais de 4 até 6 11 16 27

Mais de 6 92 78 170

Total geral 130 174 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Percebe-se que, diferentemente das lojas, no CD há menor rotatividade e, por

conseguinte, maior estabilidade no emprego – motivos possíveis para carreira mais longa dentro

da empresa.

Page 120: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

119

7.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS

7.2.1 Liberdade sindical/relações sindicais

O sindicato que representa os trabalhadores do Centro de Distribuição, no município

de Barueri (SP), é o Sindicato dos Empregados no Comércio de Osasco (SECOR), filiado à CUT.

O SECOR tem como base territorial os municípios de Osasco, Barueri, Carapicuíba, Embu,

Itapevi, Jandira e Taboão da Serra.

Poucos trabalhadores entrevistados do CD são sindicalizados, representando apenas

5% do total. Quando perguntados se eram filiados a algum sindicato, a resposta mais comum foi

não saber do que se tratava. Embora 16 pessoas tenham afirmado que são filiadas a algum

sindicato, dez não souberam informar qual entidade e disseram achar que eram filiados desde que

entraram na empresa, por ser descontada uma contribuição da folha de pagamento. Ou seja,

apenas seis trabalhadores parecem ser, de fato, filiados. Desses, apenas dois disseram ser do

Sindicato dos Comerciários.

Conforme mostra a tabela a seguir, os trabalhadores do CD são informados dos

assuntos e atividades do sindicato mediante, principalmente, boletins, panfletos ou jornais do

sindicato e conversas com colegas de trabalho, mas muitos não têm conhecimento alguns dos

assuntos sindicais.

A localização do CD, diferentemente das lojas pesquisadas localizadas em shoppings

centers, permite a distribuição de informativos do sindicato e o uso de carro de som. A política da

empresa, contudo, é a mesma para todo o Brasil: não permite a presença de sindicato no interior

das unidades.

TABELA 51 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS CD – ABRIL 2008

Participando de assembléias ou reuniões do sindicato 5

Lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato 156

Conversando com diretores do sindicato 3

Conversando com colegas de trabalho 79

Conversando com chefes ou gerentes 42

Page 121: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

120

Pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais) 64

Pelo carro de som 66

Não tenho conhecimento 79

Outros. Quais? 8

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

A maioria absoluta (97,4%) dos entrevistados do CD declara nunca ter participado de

atividade sindical. Essas dificuldades podem ser explicadas pela recusa da empresa em aceitar a

presença do sindicato no local de trabalho ou pela dificuldade de mobilização desses

trabalhadores por parte do sindicato.

Quando questionado se existe uma comissão de trabalhadores ou de representantes dos

trabalhadores, o gerente declara que, no CD, existe o grupo chamado “Conexão Direta” que é o

mesmo do PROPAR88. Tanto no CD como nas lojas essas comissões são o principal canal de

diálogo entre chefias e trabalhadores.

De acordo com documentos da empresa, o Conexão Direta consiste em “encontros

realizados periodicamente entre gestores e funcionários, para transmitir as informações relevantes

da empresa e buscar soluções em conjunto sobre dificuldades ou melhorias nas unidades. É

também um espaço de contato direto e troca de experiências”. Segundo gerente, é o momento de

diálogo com a gerência, onde “valem sugestões de cima para baixo e de baixo para cima; é

comunicação da gerência para a comissão e vice-versa”. 89

De acordo com gerente, na discussão do PROPAR são debatidos também outros

assuntos, como manutenção de equipamentos, colocação de telhado para ponto onde os

trabalhadores aguardam ônibus e instalação de lombadas na rua, para reduzir a velocidade dos

caminhões das dependências da empresa e oferecer mais segurança aos trabalhadores

Segundo gerente do CD entrevistado durante a pesquisa, a comissão é formada por

representantes eleitos em todos os departamentos. A exigência é que esses representantes sejam

contratados há pelo menos um ano. Essa comissão discute com a empresa, todos os meses, a PPR

88

Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 89

Id.

Page 122: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

121

e os valores de percentual de despesas sobre o faturamento (vendas). Os representantes dos

trabalhadores participam, debatem e sugerem mudanças à empresa. “Foi sugerida, por exemplo, a

economia de papéis”, afirma o gerente. Uma vez por ano, quando se aprova a PPR, há a

participação do sindicato, que verifica se todos estão de acordo e aprova o documento.

Essa é a única presença do sindicato no CD. De acordo com o gerente, não existem

delegados sindicais na unidade e o horário de trabalho, assim como a posição da empresa sobre a

presença sindical nas instalações, impedem o acesso aos locais de trabalho para sindicalistas,

inclusive àqueles que não são funcionários do CD. Reforçou, ainda, que os “associados” sabem

onde fica o sindicato e que, embora seja cedida uma sala para eleição sindical dentro do CD, o

local de trabalho não é adequado para reunião. Disse, ainda, que a empresa permite que os

sindicatos entreguem material na entrada e na saída dos turnos e que os avisos sejam afixados em

um quadro específico para este fim. Essa informação é confirmada pelos números da tabela

anterior, que mostra que mais de 50% dos trabalhadores recebem informações através de

panfleto.

Por fim, o gerente afirma que a empresa não autoriza realização de reuniões dos

trabalhadores quando convocados pelo sindicato em nenhum local do CD. “A empresa não

interfere no relacionamento entre associados e sindicato. Não consideramos que seja o ambiente

adequado, considerando o nosso tipo de negócio. O associado é livre para se relacionar com o

sindicato, mas não é necessário que seja na empresa”90, afirma.

Essa medida contribui para o reduzido número de sindicalizados e de trabalhadores que

já participaram de atividades sindicais. A empresa considera o sindicato como um ente externo e

os funcionários acabam reproduzindo essa visão. Por essa razão e pelo incentivo ao diálogo com

outros órgãos de representação não legítimos, o nível de liberdade sindical no CD não pode ser

considerado alto.

90 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04. jun. 2008.

Page 123: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

122

7.2.2 Salário/Benefícios

7.2.2.1 Remuneração

Os salários dos entrevistados do CD estão distribuídos principalmente entre 1,5 e 4,0

salários mínimos – ou seja, 80,9% dos trabalhadores ganham entre R$ 626,51 e R$ 1.660,00, em

valores do ano de 2008. Essa distribuição permanece nessas faixas salariais quando analisados

para homens e mulheres. Apenas 10,5% do total de entrevistados ganham acima de 4,0 salários

mínimos, 8,5% das mulheres contra 12,1% dos homens.

TABELA 52 –REMUNERAÇÃO POR SEXO – ABRIL 2008

Faixa Salarial Feminino Masculino Total geral

a) até 1 salário mínimo (até R$ 415,00) 5 3 8

b) de 1,01 a 1,5 salário mínimo (de R$ 415,01 a R$ 622,50) 5 13 18

c) de 1,51 a 2 salários mínimos (de R$ 626,51 a R$ 830,00) 17 51 68

d) de 2,01 a 2,5 salários mínimos (de R$ 830,01 a R$ 1037,50) 32 28 60

e) de 2,51 a 3 salários mínimos (de R$ 1037,51 a 1245,00 28 34 62

f) de 3,01 a 4 salários mínimos (de R$ 1245,01 a R$ 1660,00) 32 24 56

g) de 4,01 a 5 salários mínimos (de R$ 1660,01 a R$ 2075,00) 6 15 21

h) acima de 5 salários mínimos (acima de R$ 2075,00) 5 6 11

Total geral 130 174 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Dentre os trabalhadores entrevistados, não se identificou concentração expressiva de

uma cor/raça em uma determinada faixa salarial. Entretanto, 16,2% dos brancos ganham acima

de 4,0 salários mínimos enquanto apenas 6,2% dos negros ( pretos e pardos) estão nessa faixa de

salários. A tabela a seguir apresenta essas informações.

TABELA 53 - REMUNERAÇÃO POR COR/RAÇA CD – ABRIL 2008

Faixa salarial Branca Negros Amarela Indígena Total geral

até 1 salário mínimo 5 3 - - 8

de 1,01 a 1,5 salário mínimo 6 11 1 - 18

c) de 1,51 a 2 salários mínimos 21 44 1 2 68

d) de 2,01 a 2,5 salários mínimos 26 34 - - 60

e) de 2,51 a 3 salários mínimos 28 31 - 3 62

f) de 3,01 a 4 salários mínimos 23 28 3 2 56

g) de 4,01 a 5 salários mínimos 13 8 - - 21

h) acima de 5 salários mínimos 8 2 1 - 11

Total geral 130 161 6 7 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Page 124: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

123

Apesar de não haver uma distinção clara de atividades exercidas pela descrição dos

entrevistados entre “processador de mercadorias” e “processador de mercadorias conferente”, a

maioria (57,5%) dos registrados como processador de mercadorias ganha entre 1,5 e 2,0 salários

mínimos. Já os trabalhadores que declararam serem processadores de mercadorias conferentes,

estão concentrados em faixas salariais maiores: 40,2% entre 2,0 e 2,5 salários mínimos e 45,6%

entre 2,5 e 3 salários mínimos. Apesar dessa diferenciação entre trabalhadores em termos de

salário, mas não em termos de atividades, de acordo com a empresa “a política de cargos e

salários é igual para todos os funcionários, independente da idade, tempo na empresa, raça e

gênero”.

Em geral, os motoristas de caminhão entrevistados declaram ganhar salários superiores

aos trabalhadores operacionais do CD. Grande parte deles (44,4%) ganha entre 4,0 e 5,0 salários

mínimos.

A maioria dos auxiliares de administração e dos inspetores de qualidade entrevistados

ganha de 3,0 a 4,0 salários mínimos. Já a maioria dos assistentes de logística declarou ganhar

acima de 3,0 salários.

TABELA 54 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR REMUNERAÇÃO E CARGO/FUNÇÃO CD – ABRIL 2008

Faixa Salarial*

Cargo/função a) b) c) d) e) f) g) h) Total geral

Ajudante geral - 1 6 - - - - - 7

Assistente de logística - - - 1 - 7 7 6 21

Auxiliar de administração - 1 1 1 - 13 - - 16

Inspetor de qualidade - - 1 - 1 27 2 - 31

Menor aprendiz 8 - - - - - - - 8

Motorista de caminhão - - - 1 5 8 12 1 27

Não identificado - 2 1 4 3 - - - 10

Outros - - - - - - - 4 4

Processador de mercadorias - 14 42 12 5 - - - 73

Processador de mercadorias conferente - - 12 37 42 1 - - 92

Processador de mercadorias e paleteira - - 5 4 6 - - - 15

Total geral 8 18 68 60 62 56 21 11 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

*Nota: Ver faixas salariais correspondentes na tabela anterior.

De acordo com gerente da empresa, são feitas pesquisas qualitativas regularmente com

Page 125: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

124

25 empresas no mercado de logística, a partir das quais a C&A tenta aplicar uma média de

remuneração até um quartil acima da média de mercado. Atualmente, essa pesquisa é feita por

intermédio de uma empresa de consultoria. Segundo ele, o CD está sempre adaptando a sua

política de acordo com a atualização do mercado.

O CD tem uma média salarial superior à média das lojas da C&A. Leva-se em

consideração, contudo, que a disposição de cargos e salários é diferenciada e os funcionários têm

mais tempo de empresa.

7.2.2.2 Benefícios

Os benefícios definidos na convenção coletiva de trabalho são: coincidência das férias

com casamento, adiantamento do 13o salário, assistência jurídica, abono de falta à mãe

comerciária, abono de falta ao comerciário estudante, adiantamento de salário, no caso de

falecimento de sogro ou sogra, genro ou nora, o empregado poderá deixar de comparecer ao

serviço nos dias do falecimento e do sepultamento sem prejuízo de salário e auxílio-funeral.

Segundo supervisora, além dos benefícios legais há também os seguintes benefícios

por “liberalidade”: plano de assistência médica e convênio odontológico, 20% de desconto em

compras para os funcionários e dependentes, convênio farmácia, convênio em faculdade,

uniforme, ambulatório, licença maternidade, inclusive para mães adotivas, férias duas vezes ao

ano, empréstimo com valores de juros baixos, serviço social, auxílio funeral e o auxílio creche.91

Gerente considera também como benefício o PROPAR, o refeitório no local de

trabalho (parcialmente subsidiado pela empresa), vestiário no local, chuveiro, banheiro, férias

semestrais (é possível intercalar o período de férias), estacionamento e vídeo locadora, estes dois

últimos, dentro do CD. De acordo com ele, as mulheres têm acompanhamento da maternidade e

pré-natal. “É um pacote fechado para Brasil inteiro”.92 Quando o bebê nasce, tem auxílio-creche,

a mãe pode sair mais cedo para amamentar durante seis meses, e é possível emendar as férias

91

Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 92

Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 126: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

125

com licença-maternidade.

Vale destacar que o representante da empresa considera que banheiro é um benefício,

demonstrando uma visão extremamente tradicional de gerência e administração.

A C&A comenta que o fato de um líder ter citado banheiro como beneficio

“possivelmente ocorreu devido a um problema de entendimento do entrevistado em relação à

pergunta”. Os benefícios estão citados nas considerações finais.

7.2.2.3 Treinamento

A maioria (74,7%) dos trabalhadores entrevistados do CD da C&A declara já ter

participado de algum curso ou treinamento oferecido pela empresa no próprio local de trabalho.

Particularmente todos os inspetores de qualidade entrevistados declaram ter participado de algum

curso ou treinamento. A declaração da supervisora de logística de que esse setor recebe

treinamentos específicos confirma esse dado.

Dos entrevistados que eram “processadores de mercadorias conferente” e

“processadores de mercadorias e paleteira”, participaram de treinamentos ou cursos,

respectivamente, 84,8% e 86,7%. Vale lembrar que algumas pessoas desses cargos operam

paleteira ou empilhadeira e que, portanto, de acordo com a norma regulamentadora NR-1193,

disponível no site do Ministério do Trabalho, para operar equipamentos de transporte, com força

motriz própria, o operador deverá receber treinamento específico, dado pela empresa, que o

habilitará nessa função. Além disso, os operadores de equipamentos de transporte motorizado

deverão ser habilitados e só poderão dirigir se durante o horário de trabalho portar um cartão de

identificação, com o nome e fotografia, em lugar visível.

Houve um caso de uma pessoa que declarou ser “processador de mercadorias e

paleteira”, mas disse não ter participado de nenhum curso ou treinamento oferecido pela empresa

no próprio local de trabalho. A pesquisa não coletou informações se esse tipo de treinamento é

93

Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_11.pdf> Acesso em: 22/08/08

Page 127: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

126

oferecido dentro da própria empresa, nem que tipo de treinamento/curso é oferecido para os

trabalhadores desses cargos. Nos documentos fornecidos pela C&A, não há nenhuma informação

sobre esse assunto. A empresa afirma que essa questão será avaliada pela área de Recursos

Humanos da empresa.

Em relação à comunicação com os deficientes auditivos, o gerente declarou que os

supervisores fizeram um curso de libras de 15 dias para que houvesse comunicação com os

deficientes. Os documentos disponibilizados pela C&A mostram que esse curso iniciou em julho

de 2007, teve duração de 90 dias e participação de 20 funcionários, representantes de diversos

setores do CD.

Dentre as pessoas entrevistadas, os cargos que menos receberam treinamentos foram

de ajudante geral e menor aprendiz. A tabela a seguir mostra o número de trabalhadores que

participou de algum curso ou treinamento no próprio local de trabalho.

TABELA 55 – NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS POR CARGO/FUNÇÃO – ABR 2008

Já participou de algum curso/treinamento oferecido

pela empresa no próprio local de trabalho?

Cargo/função Não Sim Total geral

Ajudante geral 5 2 7

Assistente de logística 2 19 21

Auxiliar de administração 5 11 16

Inspetor de qualidade - 31 31

Menor aprendiz 7 1 8

Motorista de caminhão 2 25 27

Não identificado 4 6 10

Outros - 4 4

Processador de mercadorias 36 37 73

Processador de mercadorias conferente 14 78 92

Processador de mercadorias e paleteira 2 13 15

Total geral 77 227 304

Fonte: Pesquisa IOS/Auto-declaração dos trabalhadores da C&A. Elaboração: IOS

Segundo a supervisora, os treinamentos são de acordo com as funções de cada

trabalhador e existem alguns específicos para trabalhadores da produção e para o administrativo.

Os cursos/treinamentos são teóricos e práticos.

De acordo com documentos fornecidos pela empresa, os cursos que são oferecidos

para o CD envolvem ensino fundamental, ensino médio, informática e capacitação geral para o

Page 128: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

127

trabalho. O projeto para o ensino médio e fundamental e o programa de informática básica são

oferecidos em parceria com a Fundação Bradesco.

Ainda segundo documentos disponibilizados, o projeto para ensino médio e

fundamental teve início em fevereiro de 1997 e encerrou em dezembro de 2004. O projeto teve

270 matriculados, mas somente 71 pessoas concluíram o ensino fundamental e 100 o ensino

médio. Já o programa de informática básica iniciou em outubro de 2002 e encerrou em dezembro

2006, formando 253 funcionários.

De acordo com representante da empresa, a C&A promove qualificação específica para

pessoas da área de logística, chamada CAEP. Na verdade essa é a sigla para Centro de

Aprendizagem Empresarial Piaget, que é o organizador do curso, que tem duração total de 408

horas e compreende as seguintes disciplinas: linguagem e suas tecnologias, conceitos

matemáticos e raciocínio lógico, e conhecimentos e atualidades.

O CAEP organiza o Projeto Capacitar & Acontecer, que tem como objetivo dar

“continuidade ao desenvolvimento dos funcionários que participaram das atividades”

anteriormente descritas, “atendendo principalmente aos que não tiveram condições de ingresso

em cursos superiores”. O projeto, segundo documento da empresa, também tem como objetivos

“dar oportunidade aos funcionários de ampliar seus conhecimentos e desenvolver potencial

criador, agregando valor ao seu trabalho, aos produtos e serviços da empresa” e “favorecer

vínculo entre o saber e o fazer, agregando valores da cidadania e da consciência da participação

no sistema de produção”. O mesmo documento ressalta que esse curso intercala palestras com

especialistas sobre temas que, segundo a empresa, são relevantes para o desenvolvimento

profissional dos funcionários. Em janeiro de 2008, o curso finalizou com 37 funcionários e a

nova turma estava com 42 trabalhadores no momento da pesquisa.

A maioria (51,5%) dos entrevistados que já participou de algum curso ou treinamento

declara ter participado de dois a cinco diretamente relacionados à função que desempenha.

Apesar da grande quantidade de cursos e treinamentos oferecidos pela empresa, quando

perguntado aos trabalhadores se eles contribuíram para promoção, 82,4% respondeu que não, mas

Page 129: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

128

que aumentaram os conhecimentos sobre o trabalho que desempenha.

TABELA 56 – CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS CD – ABRIL 2008

Na sua avaliação esse(s) curso(s)/treinamento(s): Total

Contribuiu para você ser promovido/a e aumentou os seus conhecimentos sobre o trabalho

que desempenha. 28

Não contribuiu para você ser promovido, mas aumentou os seus conhecimentos sobre o

trabalho que desempenha. 187

Não acrescentou nada 10

Não Respondeu 2

Total geral 227

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

7.2.2.4 Promoção

72% dos entrevistados no CD da C&A acreditam que a empresa possui um plano de

Cargos e Salários (PCS) ou de Carreira.

TABELA 57 – NÚMERO DE TRABALHADORES CIENTES DA EXISTÊNCIA DO PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS

CD – ABRIL 2008

A empresa possui um Plano de Cargos e Salários ou de

Carreira?

Cargo/função a) Sim b) Não c) Não sabe Total geral

Ajudante geral 4 1 2 7

Assistente de logística 13 7 1 21

Auxiliar de administração 11 5 - 16

Inspetor de qualidade 27 3 1 31

Menor aprendiz 4 2 2 8

Motorista de caminhão 18 3 6 27

Não identificado 3 6 1 10

Outros 2 2 - 4

Processador de mercadorias 55 11 7 73

Processador de mercadorias conferente 69 19 4 92

Processador de mercadorias e paleteira 13 2 - 15

Total geral 219 61 24 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

.

Das pessoas que disseram que a empresa possui um PCS, um terço (33,33%) disse que

não conhecia o conteúdo do plano. Para a C&A, o resultado é “surpreendente”. A empresa

comenta que “como é baixíssimo o turnover, a maioria já teve promoção e/ou alteração salarial

durante o tempo de trabalho na empresa. No entanto, o assunto será verificado, visando ações

corretivas necessárias.”

Page 130: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

129

Por outro lado, em relação à avaliação de desempenho dos funcionários por parte da

empresa, a maioria absoluta (95%) dos entrevistados responde que existe e que são avaliados no

desempenho de sua atividade (90,5%).

Quanto à forma, de acordo com os comentários dos entrevistados, parece que existe,

além da avaliação diária do trabalhador no desempenho do trabalho, a avaliação denominada face

to face, embora não haja concordância em relação à sua periodicidade. Alguns falam que essa

avaliação é mensal, outros falam que é semestral e até anual. Alguns trabalhadores falam que o

face to face é uma auto-avaliação que, junto com a avaliação do supervisor, busca um consenso

em uma reunião sobre vários aspectos do comportamento do funcionário. Algumas falas dos

trabalhadores caracterizam essa avaliação.

Os relatos dos trabalhadores sobre a avaliação são os seguintes: “o supervisor chama

um a um na sala, fala sobre seu desempenho, metas que não conseguiu alcançar, o que você faz

para melhorar, críticas e elogios”; “o supervisor faz assinar uma folinha com quatro tipos de

coisa: péssimo, ruim, boa, ótima, nos itens: bom comportamento, interesse pelo serviço,

desempenho, absenteísmo, relacionamento e competência”; “uma vez por mês há um face to face

para discutir metas profissionais com o gerente, e uma vez ao ano há outra conversa, que aborda

o aspecto pessoal, também com o gerente”; “No face to face, feito anualmente, pode-se colocar

opiniões em formulário eletrônico com análise do funcionário e análise do supervisor, faz-se

reunião de consenso”.

Apesar da avaliação atingir a maioria dos trabalhadores, seu método induz a diferentes

descrições, o que contribui para uma menor eficácia, já que o trabalhador não a entende como

deveria. A Empresa concorda que, baseando-se nesses depoimentos, é preciso melhorar o

processo de entendimento.

Com relação às oportunidades de promoção, a maioria dos entrevistados acha que a

empresa as oferece. A exceção é, mais uma vez, a opinião dos deficientes auditivos: 90%

assinalam que a empresa não oferece oportunidades.

Page 131: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

130

TABELA 58 – NÚMERO DE TRABALHADORES QUE CONSIDERAVAM QUE A EMPRESA OFERECE

OPORTUNIDADES DE PROMOÇÃO – ABRIL 2008

Cargo/função a) Sim b) Não Total geral

Ajudante geral 7 - 7

Assistente de logística 15 6 21

Auxiliar de administração 13 3 16

Inspetor de qualidade 22 9 31

Menor aprendiz 7 1 8

Motorista de caminhão 23 4 27

Não identificado 1 9 10

Outros 2 2 4

Processador de mercadorias 52 21 73

Processador de mercadorias conferente 73 19 92

Processador de mercadorias e paleteira 10 5 15

Total geral 225 79 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os entrevistados que consideram que a empresa oferece oportunidades de promoção

relatam, em geral, que as vagas são limitadas. Segundo eles, a empresa abre processo seletivo

interno e externo, dos quais podem participar funcionários que tiverem faculdade e um ano de

trabalho na empresa podem participar. Muitos entrevistados reclamam que há mais vagas para

quem vem de fora.

Alguns relatos dos trabalhadores a respeito das promoções são os seguintes: “oferece

de acordo com perfil. De acordo com a vaga é necessário ter escolaridade e fazer provas e

entrevistas”; “é injusto, tem gente que faz faculdade, trabalha aqui há cinco ou seis anos e eles

pegam gente de fora”; “tem gente que tem 14 anos de casa e não tem nível superior e não

consegue promoção”; “oferece, mas tem patamar. Não conheço ninguém que chegou a níveis

mais altos da hierarquia”; “as pessoas que fazem faculdade não têm sido promovidas. Tem que

ter ligação como alguém dentro da empresa. O salário é ruim, não dá para pagar a faculdade,

apesar de eles incentivarem”; “a empresa oferece oportunidades, mas elas não são exclusivas para

os funcionários. Concorremos com os de fora e os de fora têm preferência”; “oscila conforme o

setor, mas para mim, que tenho deficiência, é impossível”.

As falas dos trabalhadores indicam que a empresa costuma contratar mais pessoas de

fora da empresa do que promover os próprios funcionários. Isso contradiz a informação

Page 132: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

131

apresentada no documento disponibilizado pela C&A, que declara que no CD “existe um Plano

de Carreira organizado com praticamente 100% de aproveitamento interno”94.

Em comentário posterior, a empresa reforça que “praticamente 100% das vagas

internas são preenchidas com funcionários internos. Algumas vagas, devido às especificidades

técnicas, podem ser preenchidas através de candidatos externos”.

A supervisora diz que no setor operacional há os steps (faixas) salariais de acordo com

a experiência na função. Há também outras formas de crescimento, como a mudança de cargo,

tanto na política do setor administrativo quanto no setor operacional. Nos últimos anos, segundo

ela, notaram-se algumas mudanças, pois as pessoas que já trabalham na empresa estão

concorrendo mais às vagas do setor administrativo. Ela considera que as oportunidades internas

de crescimento são uma forma de motivação.

Das pessoas que responderam que a empresa oferece oportunidade de promoção,

74,7% responderam que os critérios de aplicação das oportunidades são justos. De modo geral, os

trabalhadores devem passar por processos seletivos que exigem formação técnica e escolar para

serem promovidos. Por isso, a maioria dos trabalhadores acha que os critérios de aplicação das

oportunidades são justos.

Outro critério, muito citado pelos entrevistados, foi demonstrar competência técnica

através de bom desempenho. Um pouco menos, mas ainda muito citado, foi experiência adquirida

no trabalho e dedicação à empresa. Apenas uma pessoa respondeu que para ser promovido tem

que ser branco. Também apenas um entrevistado respondeu que ser homem é critério de

promoção. A tabela a seguir mostra o número de vezes que o critério foi citado por algum

entrevistado.

TABELA 59 – CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES CD– ABRIL

2008

Formação escolar e técnica 256

Demonstrar competência através de bom desempenho 207

Ser homem 1

94 Documentos disponibilizados pela C&A

Page 133: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

132

Experiência adquirida no trabalho 123

Não participar de atividades do sindicato 3

Ser branco 1

Dedicação à empresa 103

Ser mulher 16

Ser negro -

Amizade com a chefia (critérios subjetivos) 45

Outros. Quais? 13

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

O índice de citações do critério “amizade com a chefia” (14,8%), apesar de ser

representativo, é bem inferior àquele verificado nas lojas, o que demonstra que no CD há uma

melhor definição e aplicação de critérios de promoção e de formas de avaliação.

7.2.3 Discriminação

Com relação à discriminação, apenas 11,5% dos entrevistados disseram que já se

sentiram prejudicados ou discriminados na empresa por algum motivo. Essa percentagem é

relativamente menor que nas lojas. Os motivos mais citados foram outros, que não estavam

listados na pesquisa.

TABELA 60 – MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS CD – ABRIL 2008

Ser homem 1

Cor ou raça 1

Participação sindical 1

Participação política 1

Doença 1

Ser mulher -

Religião 3

Orientação sexual -

Doença no trabalho 2

Outro motivo. Qual? 29

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Seis pessoas disseram que se sentiram prejudicados/discriminados por causa de

problemas com a chefia, quatro por não ter formação escolar, três por portar necessidades

especiais e dois por ser menor aprendiz. Os demais apresentaram motivos diversos.

Page 134: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

133

Quando perguntados se já haviam presenciado algum caso de discriminação da

empresa contra os trabalhadores, 7,9% dos trabalhadores responderam positivamente. Com

relação aos motivos da discriminação que os trabalhadores presenciaram, a maioria respondeu

que não foi nenhum dos apresentados.

TABELA 61 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA

CONTRA TRABALHADORES CD – ABRIL 2008

Ser homem 2

Cor ou raça 3

Participação sindical 1

Participação política -

Doença 3

Ser mulher 2

Religião 2

Orientação sexual 2

Doença no trabalho 2

Outro motivo. Qual? 17

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Dentre os outros motivos citados pelos trabalhadores, cinco pessoas citaram problemas

com a chefia - mais especificamente, citaram abuso de poder por parte da chefia. Também dentro

dos outros motivos mais citados, foram cinco casos de discriminação por falta de escolaridade do

trabalhador. Os demais foram motivos diversos.

Os relatos dos trabalhadores sobre como aconteceram essas situações está no capítulo

“Análise Geral e Comparativa”, no item discriminação. Os comentários da empresa relativos a

esse tema também estão no mesmo capítulo.

Embora no CD as relações entre trabalhadores e chefia sejam mais estáveis, as chefias

devem prestar atenção na situação dos portadores de necessidades especiais, que sofrem

discriminação intensa.

7.2.3 Jornada/ Hora Extra

Com relação à jornada de trabalho, gerente declara que são oito horas por dia ou 220

horas por mês, nos turnos da manhã e da tarde. A entrevista com a supervisora de logística

Page 135: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

134

confirma essa informação. Ela afirma, ainda, que o turno da manhã é das 6h às 13h50min e o da

tarde é da 13h50min às 21h50min.

A tabela a seguir mostra que a maioria dos trabalhadores respondeu que a jornada de

trabalho é de 44 horas semanais. Os trabalhadores entrevistados também disseram que, em geral,

os sábados são alternados.

TABELA 62 – JORNADA DE TRABALHO CD – ABRIL 2008

44 horas 288

36 horas 8

Outra (escreva abaixo) 8

Total geral 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Já com relação aos turnos de trabalho, o questionário estava adaptado para as lojas, que

trabalha em três turnos. No caso do CD, além de serem dois turnos, alguns trabalhadores

disseram cumprir o horário comercial. Por isso, a tabela a seguir pode apresentar alguma

incoerência com a realidade do CD.

TABELA 63 - TURNO DE TRABALHO CD – ABRIL 2008

Manhã (abertura) 176

Tarde 125

Fechamento 3

Total geral 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com gerente, não há variação de turnos no CD porque entre 30 e 40% dos

“associados” estudam. Segundo ele, a mudança de turno é planejada, “a pessoa pede para

mudar”. Já na contratação define-se o turno, “o associado já sabe o turno que vai receber; o

calendário é feito no começo do ano”. 95

Quanto à compensação de horas extras, a convenção coletiva define que não serão

sujeitas a acréscimo salarial as horas suplementares trabalhadas, desde que compensadas dentro

de 180 dias, contados a partir da data do trabalho extraordinário, ficando vedado o acúmulo

95 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 136: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

135

individual de saldo de horas extras superior a 120 horas. Além disso, as horas extras trabalhadas

não compensadas no prazo de 180 dias ficarão sujeitas à incidência do adicional legal de 50%

sobre o valor da hora normal.

Segundo gerente, o RH orienta que domingos e feriados sejam pagos como hora extra.

“Se tiver alguma coisa planejada, pode ser feito o banco de horas. O limite de horas de banco são

duas horas por dia, de acordo com a Convenção Coletiva de Osasco. A C&A pratica 26 horas por

mês para ter um controle melhor”, afirma. Ainda de acordo com gerente, o trabalhador deve ser

avisado sobre todas as ações feitas no banco de horas. Pode ser pago após o período estabelecido

na convenção ou o que mais se pratica: o “associado” tira folga geralmente na sexta ou na

segunda. “Normalmente não se faz muito banco de horas, é exceção. No Natal, temos que

contratar temporários com contrato fechado”, afirma o gerente. A supervisora de logística

confirma essas informações.

A entrevista com os trabalhadores mostrou que metade das pessoas havia feito horas

extras no mês anterior. Vale ressaltar que alguns entrevistados ficaram em dúvida nessa questão,

pois não consideravam banco de horas como hora extra.

Dos entrevistados que havia feito horas extras no mês anterior, 45,4% fizeram entre

cinco e dez horas além da jornada de trabalho contratada. A tabela a seguir apresenta essa

informação.

TABELA 64 – HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA CD– ABRIL 2008

a) Até 4 horas 27

b) De 5 a 10 horas 69

c) De 10 a 20 horas 41

d) De 21 a 40 horas 11

e) 41 ou mais 4

Total geral 152

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A remuneração das horas além da jornada de trabalho segue a convenção coletiva. Os

trabalhadores são pagos após 180 dias, caso eles não compensem pelo banco de horas. Por isso,

os trabalhadores entrevistados não sabiam responder de que forma eles seriam remunerados pela

Page 137: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

136

hora extra realizada no mês anterior à pesquisa. Esse pode ser o motivo das respostas ficarem

divididas entre as alternativas apresentadas na tabela abaixo.

TABELA 65 – FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS EXTRAS CD– ABRIL 2008

As horas trabalhadas além da jornada foram ou serão: Total

Remuneradas e pagas como horas-extras 76

Não remuneradas, mas compensadas pelo banco de horas 76

Total geral 152

Fonte: Pesquisa IOS/ Auto-declaração dos trabalhadores da C&A. Elaboração: IOS

7.2.5 Saúde e segurança no trabalho

Com relação às condições do local de trabalho, a maioria dos trabalhadores caracteriza

como boa a temperatura (53,7%), a iluminação (77%) a organização do espaço de trabalho

(66,7%), a limpeza (80,4%) e o conforto (62,5%).

Alguns trabalhadores reclamam do ruído dos trollers, por isso, nesse quesito, a maioria

(54%) classificou como regular ou ruim. Com relação à qualidade do ar, os trabalhadores

entrevistados consideram que não é muito boa por causa da fumaça dos caminhões e da poeira

das roupas, mas que já havia melhorado bastante por causa de algumas medidas que haviam sido

tomadas pela empresa. Mesmo assim, 60,8% dos entrevistados classificaram com regular ou ruim

esse quesito, sendo o mais crítico dentre aqueles analisados.

TABELA 66 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO CD– ABRIL 2008

Como você caracteriza as condições do seu local de

trabalho em relação aos seguintes pontos: Boa Regular Ruim

Total

geral*

Temperatura 160 93 45 298

Iluminação 232 55 14 301

Ruído 137 104 57 298

Qualidade do ar (gases, vapores, poeira, fumaça) 117 111 71 299

Ordem / organização do espaço de trabalho 200 84 16 300

Limpeza 242 52 7 301

Conforto 188 92 21 301

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

*Nota: Nem todos os trabalhadores que responderam à questão, pois alguns portadores de necessidades especiais

alegaram não perceber alguns dos pontos mencionados. Também alguns motoristas de caminhão disseram que a

pergunta não se aplicava a eles.

Page 138: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

137

Quando perguntados se consideravam que o ritmo de trabalho exigido pela empresa

chegou a prejudicar a saúde em algum momento, 28,3% dos trabalhadores entrevistados declaram

que sim. Embora 79,6% disseram que, no momento da pesquisa, seu estado de saúde estava

“bom”, a maioria (56,2%) disse que já apresentou algum problema de saúde relacionado à

atividade de trabalho. Os problemas mais citados foram de coluna, lesão por esforços repetitivos,

depressão ou estresse, problemas respiratórios e alergias.

TABELA 67 – CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA CD– ABRIL

2008

Problemas de coluna 73

Surdez 2

Doenças de pele 3

Problemas respiratórios 35

Lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) 63

Doenças do sangue 2

Depressão ou estresse 56

Câncer -

Alergias 34

Outro. Qual? 28

Não apresentou nenhum problema de saúde 133

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Os casos de dor de coluna e LER, típicos de atividades que exigem o carregamento de

materiais, foram os mais freqüentes. Desses entrevistados, 60,8% disseram que o problema foi

clinicamente diagnosticado e relacionado à atividade que desempenha no trabalho.

Com relação à segurança, de acordo com os documentos da empresa, o CD é, assim

como as lojas, enquadrado pela NR4 como grau de risco 2, característico de empresas com baixo

índice de riscos e acidentes96. Esses documentos não apontam nenhuma atividade ou programa

preventivo específico para saúde e segurança no CD.

Quando perguntados se já estiveram afastados do trabalho por acidentes de trabalho ou

outros problemas de saúde, 37,8% dos entrevistados respondem que sim. Desses, 65,3% não

especificou o motivo ou não comentou se foi por acidente de trabalho ou outro problema de

96 Documentos disponibilizados pela C&A.

Page 139: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

138

saúde. Já as pessoas que declaram terem sido afastadas por acidente de trabalho foram 11,3%. O

quadro a seguir mostra o tempo afastado e os acidentes citados pelos entrevistados. QUADRO 2 - ACIDENTES DE TRABALHO CITADOS PELOS TRABALHADORES ENTREVISTADOS DO CD DA

C&A – ABR 2008

Tempo afastado Acidente

15 dias Machucou-se indo ao trabalho

2 meses Caiu de uma das passarelas e quebrou o braço

1 semana Bateu cabeça em uma das linhas

2 dias Não declarou como foi o acidente

8 dias Troller caiu na cabeça

7 dias Machucou o pulso ao empurrar o troller

3 dias Não declarou como foi o acidente

10 dias Escorregou e machucou-se ao descer do caminhão

5 dias O carrinho pegou no tornozelo

1 ano e dois meses Pisou em falso da paleteira e machucou o joelho

1 semana Enroscou o pé na lona do baú, caiu e torceu o pé

6 dias Não declarou como foi o acidente

7 dias Quebrou a ponta do dedo

7 dias Caiu numa barra de ferro

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Quanto ao serviço prestado pelo ambulatório médico da empresa, 90,8% dos

entrevistados consideraram como bom. De forma geral, dizem que são sempre bem atendidos,

que o atendimento é rápido e que, quando o ambulatório não pode resolver o problema,

encaminham o paciente para o hospital. Alguns entrevistados, mesmo caracterizando o serviço

como “bom”, ressaltaram a necessidade de se ter um médico disponível em tempo integral, visto

que o profissional que atende o CD só chega às 11h, embora os turnos comecem às 6h.

TABELA 68 – AVALIAÇÃO DO SERVIÇO PRESTADO PELO AMBULATÓRIO MÉDICO DO CD – ABRIL 2008

Bom 276

Regular 22

Ruim 3

Não tem 2

Nunca utilizou 1

Total geral 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Com relação aos treinamentos específicos sobre saúde e segurança no trabalho, 80,9%

dos entrevistados disseram que já receberam algum. Entretanto, esses treinamentos foram

Page 140: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

139

descritos como palestras e Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT). De

acordo com a NR-5 do MTE97, a SIPAT é uma das atribuições da CIPA. A maioria (57,9%) dos

trabalhadores entrevistados avaliou a atuação da CIPA como boa. A tabela a seguir mostra a

distribuição das respostas.

TABELA 69 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES CD – ABRIL 2008

Boa 176

Regular 102

Ruim 14

Não tem conhecimento 12

Total geral 304

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os trabalhadores entrevistados do CD em geral também se consideravam bem

informados pela empresa sobre os riscos de doença e acidentes de trabalho, já que 80,9%

apontaram essa alternativa.

Percebe-se que no CD o aparato físico e informativo de saúde e segurança em geral é

bem avaliado: o ambulatório é considerado bom, os trabalhadores se consideram bem informados

pela empresa sobre riscos de doenças e acidente de trabalho e a maioria considera boa a atuação

da CIPA.

8. UNIDADE PORTO ALEGRE

A pesquisa em Porto Alegre foi realizada nos dias 13, 14 e 15 de maio. De acordo com

informação do Departamento de RH, o quadro de funcionários da unidade no momento da

pesquisa era de 131 funcionários. Porém, de acordo com informações do gerente na ocasião da

pesquisa, o quadro total era de 123 funcionários, sendo 106 disponíveis para entrevistas, pois

foram descontados um deficiente auditivo, quatro faltas, 12 licenças maternidade ou afastamento

por doença. Um funcionário se recusou a responder à entrevista. O total de entrevistas

97

Disponível em: http:<//www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_05a.pdf> Acesso em:

08/09/2008

Page 141: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

140

contabilizadas pelo IOS foram 105.

8.1. PERFIL DOS TRABALHADORES

8.1.1. Sexo

Seguindo a tendência geral da empresa C&A, na unidade Porto Alegre, a maioria dos

trabalhadores entrevistados é do sexo feminino.

TABELA 70 - NÚMERO DE TRABALHADORES ENTREVISTADOS POR SEXO/GÊNERO UNIDADE PORTO

ALEGRE – MAIO 2008

SEXO/GÊNERO NÚMERO DE TRABAHADORES (%)

Feminino 75%

Masculino 25%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

8.1.2 Idade

Os trabalhadores jovens, com idade até 24 anos, representam a maioria dos

entrevistados98. Esses dados vão ao encontro dos números das outras unidades, levantados pelo

IOS, e dos números apresentados pela empresa em relação às unidades pesquisadas, já

apresentados no capítulo perfil da empresa:

98 O IBGE considera a população jovem aquela que se encontra entre 15 e 24 anos.

Page 142: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

141

GRAFICO 18 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE PORTO ALEGRE (%) – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

8.1.3 Raça/cor

É interessante notar que a percentagem dos entrevistados que se autodeclaram pretos e

pardos na loja de Porto Alegre chega a de 37%, percentagem alta quando levamos em

consideração que, de acordo com dados do Dieese99, 13,6% da população economicamente ativa

Região Metropolitana de Porto Alegre se autodeclara desta cor/raça.

99

DIEESE. Os negros nos mercados de trabalho metropolitanos. Estudo e pesquisas. Ano 3, No 26, nov. 2006.

1,90%

60,00%

20,00%

12,38%

3,81% 1,90%

a) Até 17

anos

b) De 18 a

24 anos

c) De 25 a

29 anos

d) De 30 a

39 anos

e) De 40 a

49 anos

f) De 50 a

64 anos

Page 143: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

142

GRAFICO 19 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE PORTO ALEGRE(%)– MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Entre os cargos de liderança no âmbito da área de vendas, os negros (pretos e pardos)

estão relativamente bem representados: entre os funcionários brancos, 31,1% são monitores e

líderes; entre os pretos, 41,2%; e entre os pardos, 36,4% ocupam essa função.

TABELA 71 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

Cargo/função Branca Preta Parda Amarela Indígena Total geral

Assessor de cliente 35 7 10 1 2 55

Fiscal 5 2 2 0 1 10

Líder 4 2 2 0 0 8

Menor aprendiz 1 1 0 0 2

Monitor 15 5 6 0 1 27

Outros 1 0 2 0 0 3

Total geral 61 17 22 1 4 105

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

8.1.4 Escolaridade

Não é surpreendente o fato de a maioria dos funcionários entrevistados na unidade

Porto Alegre ter concluído o ensino médio completo, uma vez que, segundo relatos dos líderes, a

empresa prefere trabalhar com funcionários com essa formação.

58%

16%

21%

1%

4%

a) B ranca

b) P reta

c) P arda

d) Am arela

e) Indígena

Page 144: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

143

TABELA 72 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

GRAU NÚMERO DE TRABALHADORES

Ensino Fundamental/1º grau (1ª a 8ª série) cursando 0,95%

Ensino Fundamental/1º grau (1ª a 8ª série) completo 1,90%

Ensino Médio /2º grau /colegial incompleto 1,90%

Ensino Médio / 2º grau / colegial cursando 2,86%

Ensino Médio / 2º grau / colegial completo 72,38%

h) Superior / Graduação cursando 7,62%

i) Superior / Graduação completo 1,9%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Entre os entrevistados que concluíram ensino médio, 15,2% fizeram algum curso

técnico. Os cursos técnicos são variados, muitos sem relação com a atividade varejista. Entre eles

estão os cursos de vendedor lojista, contabilidade, edificações, nutrição, enfermagem, auxiliar de

laboratório de análises químicas, processamento de dados, técnico em desenho e arquitetura,

configuração de computador, processamento do arquivo, técnico eletricista.

8.1.5 Cargo/Função

Assim como em outras unidades, o quadro de funcionários é formado em sua maioria

por assessores de clientes. Todavia, em Porto Alegre há uma percentagem maior de monitores, o

que pode indicar uma política de promoções mais abrangente.

De acordo com líderes da empresa, todos os funcionários passam pelo job rotation, ou

seja, por um período são treinados em todos os setores da loja até se fixarem em apenas um setor.

Porém, a percepção que se tem acerca das tarefas e/ou funções relatadas pelos entrevistados é que

o job rotation é usual na unidade Porto Alegre.

Em Porto Alegre, como em outras unidades da C&A, os assessores de clientes

desempenham funções variadas. Algumas falas de trabalhadores são interessantes e sintomáticas

para mostrar a divisão de tarefas: “a gente acaba fazendo de tudo um pouco”, “sou mil e uma

utilidades. Era caixa, fui para o setor de trocas, mas, se precisar, vou para o caixa”.

Page 145: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

144

GRÁFICO 20 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE PORTO ALEGRE (%) MAIO

2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

É interessante notar que não há um cargo específico de caixa, e que essa função é

exercida por assessor de clientes e monitor. É importante salientar que o cargo de caixa possui

especificidades previstas em Convenção Coletiva de Trabalho 2007/2008, acordada entre o

Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre, Federação do Comércio de Bens e de

Serviços do Estado do Rio Grande do Sul, Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre e

Sindicato do Comercio Varejista de Material Óptico, Fotográfico e Cinematográfico do Estado do

Rio Grande do Sul. Esta convenção estabelece que “os empregados que exerçam a função de

caixa ou similar [grifo IOS] receberão um adicional no valor de 10% do salário efetivamente

recebido, a título de quebra de caixa, ficando ajustado que ditos valores não farão parte integrante

do salário do empregado para qualquer efeito legal”. No item único da clausula “fica facultado o

não pagamento do adicional de quebra de caixa pela empresas que não procederem no desconto

de eventuais diferenças verificadas por ocasião da conferência de caixa”. A referida sistemática

deverá ser consignada no contrato de trabalho ou em documento. É necessário verificar, portanto,

se os trabalhadores que exercem função de caixa recebem os direitos estabelecidos na CCT.

52,38%

9,52%7,62%

1,90%

25,72%

2,86%

assessor de

cliente

fiscal líder menor aprendiz monitor outros

Page 146: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

145

TABELA 73 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE PORTO ALEGRE (%)

MAIO 2008

CARGO/FUNÇÃO SEXO TOTAL GERAL

FEMININO MASCULINO

Assessor de cliente 54,43% 46,15% 52,38%

Fiscal 3,80% 26,92% 9,52%

Líder 7,59% 7,69% 7,62%

Menor aprendiz 2,53% 0,00% 1,90%

Monitor 29,11% 15,38% 25,71%

Outros 2,53% 3,85% 2,86%

Total Geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com gerente, as mulheres são bem representadas nos cargos gerenciais:

Em Porto Alegre, na minha loja, hoje há um homem em cargo de liderança, os outros cargos de

liderança são de mulheres. E no quadro executivo há muitas mulheres. No grupo de trainees,

entre 20 há 15 mulheres. Estou fazendo a seleção do Barra Sul, a grande maioria dos currículos

é de mulheres em função do ramo de atuação. Em outros ramos do comércio há mais homens

(por exemplo, eletrodoméstico), mas em moda há mais mulheres.100

A distribuição de cargos entre homens e mulheres é equilibrada, considerando-se que

há mais mulheres que homens na unidade. As disparidades estão no cargo de fiscal (26,9% dos

homens entrevistados contra apenas 3,8% das mulheres) e de monitor (29,1% de mulheres

entrevistadas contra 15,4% de homens).

8.1.6 Tempo no emprego

Nota-se que boa parte dos funcionários entrevistados está empregada há pouco tempo

na unidade C&A de Porto Alegre, dado que pode indicar alta rotatividade. Entre os funcionários

entrevistados, 49,5% estão contratados na loja há dois anos e 80,9% estão contratados há, no

máximo, quatro anos.

TABELA 74 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE PORTO ALEGRE - MAIO 2008

TEMPO DE EMPRESA SEXO TOTAL

FEMININO MASCULINO

Menos de 1 ano 19 5 24

De 1 a 2 anos 23 5 28

100

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 147: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

146

Mais de 2 até 4 22 11 33

Mais de 4 até 6 2 1 3

Mais de 6 13 4 17

Total geral 79 26 105

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Se avaliarmos essa freqüência por sexo, veremos que a presença de homens e mulheres

é semelhante quando consideramos o tempo de empresa de até quatro anos: 80,8% dos homens e

81% das mulheres. A presença de mulheres se concentra no tempo de casa em até dois anos:

53,2%,contra 38,5% dos homens. A presença dos homens se concentra no tempo de casa de dois

a quatro anos: 42,3% contra 27,3% das mulheres. A concentração de mulheres com tempo de

empresa de até dois anos retrata maior rotatividade entre as trabalhadoras.

8.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS

8.2.1. Liberdade sindical/relações sindicais

De acordo com gerente da unidade Porto Alegre, no que se refere à participação

sindical dos funcionários, “a empresa não apóia e nem coloca óbices; a empresa é neutra, é low

profile em assuntos que não dizem respeito diretamente a ela. Na loja há um dirigente do

sindicato e o relacionamento com ele é bom ou com qualquer um”101.

Porto Alegre é a unidade que apresentou maior índice de sindicalização: 27% do

trabalhadores afirmaram ser sindicalizados. Dentre esses, onze citam filiação ao Sindicato dos

Comerciários ou SINDEC ou Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Porto Alegre, que são

as várias denominações da mesma entidade, sendo que um é diretor sindical adjunto da entidade.

As respostas, de forma geral, evidenciam que muitos consideram que a sindicalização é

um processo automático à admissão na empresa e que a condição de sindicalizado está

relacionada ao pagamento de contribuição sindical. Vinte funcionários afirmaram ser

101 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 148: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

147

sindicalizados desde que foram admitidos na empresa. Tais respostas geram dúvidas em relação a

real filiação desses funcionários, uma vez que muitos acreditam que o ato de admissão na

empresa coincide com o ato de filiação ao sindicato.

Os meios mais usados pelos trabalhadores para conseguir informações sindicais são

conversas com colegas de trabalho; boletins, panfletos ou jornais do sindicato; e meios de

comunicação no local de trabalho.

TABELA 75 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE PORTO ALEGRE

– MAIO 2008

Participando de assembléias ou reuniões do sindicato 2

Lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato 53

Conversando com diretores do sindicato 5

Conversando com colegas de trabalho 54

Conversando com chefes ou gerentes 10

Pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais) 23

Pelo carro de som 0

Não tenho conhecimento 15

Outros. Quais? 0

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Como em outras unidades, apenas a minoria dos trabalhadores já participou de alguma

atividade sindical – apenas quatro dos 105 entrevistados.

Talvez a presença de um dirigente sindical na loja influencie para um maior número de

sindicalizados e um maior conhecimento dos trabalhadores acerca das atividades sindicais.

Porém, essa situação ainda não é suficiente para o comparecimento às atividades ou um

conhecimento mais aprofundado destas. A fala da empresa citada anteriormente é emblemática da

sua postura em relação ao sindicato, já que ela não considera assuntos sindicais como sendo

relativos a ela.

Page 149: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

148

8.2.2. Salários/benefícios

8.2.2.1 Remuneração

Em Porto Alegre, de acordo com gerente, a política de remuneração obedece

primeiramente ao mercado local. Há um piso da praça, acordado pelo Sindicato dos Lojistas e o

Sindicato dos Comerciários. Ainda de acordo com o líder, o salário da C&A em Porto Alegre “é

diferenciado em relação ao piso mais do que qualquer outra coisa”. A política de remuneração

também é definida pelo Plano de Cargos e Salários e pelo Departamento de Recursos Humanos

que tem amplitude nacional.102

A CCT 2007/2008 acordada entre o Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto

Alegre de um lado, e a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande

do Sul, o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre e o Sindicato do Comercio

Varejista de Material Óptico, Fotográfico e Cinematográfico do Estado do Rio Grande do Sul do

outro estabelece os seguintes salários normativos, a partir de 1º de novembro de 2007: para

empregados que recebem salário misto (fixo+comissão) ou exclusivamente comissões, o salário é

de R$597,00; empregados que recebem salários fixos, o normativo é de R$ 535,00; empregados

de serviços de limpeza recebem R$391,00; e empregados que exerçam função de office-boy,

R$380,00. No caso de office-boys maiores de 18 anos, terão direito a um abono salarial mensal

para que se garanta a remuneração de R$535,00.

A maior parte dos trabalhadores da unidade recebe entre de 1,51 a 2 salários mínimos

(de R$ 626,51 a R$ 830,00). Em Porto Alegre, há uma presença maior de trabalhadores nessa

faixa salarial do que em outras lojas, em que a concentração está na faixa de 1,01 a 1,5 salário

mínimo (de R$ 415,01 a R$ 622,50). Conforme mostrado no item cargos/ funções, o fato de a

unidade Porto Alegre ter um número maior de monitores pode ter elevado a média salarial da

unidade.

102 Representantes da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 150: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

149

GRAFICO 21 - REMUNERAÇÃO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

O gráfico a seguir indica que a distribuição salarial entre homens e mulheres coloca o

gênero masculino nas faixas salariais mais elevadas na unidade de Porto Alegre

GRAFICO 22 – REMUNERAÇÃO POR GÊNERO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

16,20%

25,71%

35,24%

9,52%

5,71%6,67%

0,95%

a) até 1

salário

mínimo (até

R$ 415,00)

b) de 1,01 a

1,5 salário

mínimo (de

R$ 415,01 a

R$ 622,50)

c) de 1,51 a 2

salários

mínimos (de

R$ 626,51 a

R$ 830,00)

d) de 2,01 a

2,5 salários

mínimos (de

R$ 830,01 a

R$ 1037,50)

e) de 2,51 a 3

salários

mínimos (de

R$ 1037,51 a

1245,00

f) de 3,01 a 4

salários

mínimos (de

R$ 1245,01 a

R$ 1660,00)

g) de 4,01 a 5

salários

mínimos ( de

R$ 1660,01 a

R$ 2075,00)

18,98%

29,11% 27,84%

12,66%

3,79% 6,32%1,26%

7,69%

15,38%

57,69%

11,54%

27,69%

a) até 1

salário

mínimo (até

R$ 415,00)

b) de 1,01 a

1,5 salário

mínimo (de

R$ 415,01

a R$

622,50)

c) de 1,51 a

2 salários

mínimos

(de R$

626,51 a

R$ 830,00)

d) de 2,01 a

2,5 salários

mínimos

(de R$

830,01 a

R$

1037,50)

e) de 2,51 a

3 salários

mínimos

(de R$

1037,51 a

1245,00

f) de 3,01 a

4 salários

mínimos

(de R$

1245,01 a

R$

1660,00)

g) de 4,01 a

5 salários

mínimos (

de R$

1660,01 a

R$

2075,00)

Feminino

Masculino

Page 151: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

150

8.2.2.2 Benefícios

De acordo com gerente da unidade, há benefícios previstos na Convenção Coletiva de

Trabalho e benefícios que estão além àqueles previstos na CCT. “Como estamos em franca

expansão e o mercado é mais competitivo, a C&A está atenta ao mercado para não perder

pessoas. Pacote de benefícios é mudado para que atenda ao associado, como desconto

universidade, benefício que a empresa trouxe para reter pessoas. Para as trabalhadoras da

unidade, o benefício específico está contido na Convenção Coletiva, benefícios por “liberalidade”

da empresa atingem a gama total dos associados como convênio farmácia, convênio médico

global, exame, consultas, internação e odontologia, auxílio-creche (previsto na CCT), desconto

em mercadorias, convênio com faculdade, vale transporte e refeição”. 103 Já os benefícios

previstos na CCT 2007/2008 são lanche na jornada extraordinária, abono de falta estudante,

assentos no local de trabalho, local para lanche, auxílio-creche, salário educação, intervalo para

amamentação.

8.2.2.3 Treinamento

A maioria dos trabalhadores da loja Porto Alegre já fez algum tipo de curso ou

treinamento – 73 dos 105 entrevistados. De acordo com gerente, todos os funcionários, quando

entram na empresa, passam por um treinamento e, posteriormente, são dados outros, de acordo

com as necessidades. Existem áreas onde os treinamentos são mensais, como o setor de cartões.

Os treinamentos gerais, para todos os trabalhadores, são semestrais. 104

A maioria dos entrevistados fez mais de um curso/treinamento desde que entrou na

empresa. Como os cursos/treinamentos são ministrados de acordo com as necessidades da loja,

não é possível afirmar que a quantidade de cursos contribua qualitativamente do ponto de vista

profissional.

103

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 de jun. 2008 104

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 152: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

151

TABELA 76 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE PORTO ALEGRE (%) – MAIO

2008

Apenas 1 20,55%

De 2 a 5 32,88%

De 6 a 10 17,81%

Mais de 10 28,77%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A maioria dos entrevistados afirma que os cursos e treinamentos aumentaram os

conhecimentos sobre o trabalho que desempenha, mas não contribuiu para ser promovido.

TABELA 77 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

Contribuiu para você ser promovido/a e aumentou os seus conhecimentos sobre o

trabalho que desempenha. 33%

Não contribuiu para você ser promovido, mas aumentou os seus conhecimentos

sobre o trabalho que desempenha. 64%

Não acrescentou nada 3%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

É importante ressaltar que, na loja de Porto Alegre, não há um política especial de

cursos e treinamentos para portadores de necessidades especiais, mas, de acordo com gerente, há

adaptações: são colocadas legendas em filmes para deficiente auditivo; para os deficientes

audiovisuais que fazem trabalho de telefonia, o objetivo da empresa é que façam análise de

crédito, portanto, é preciso treinamento para usar o computador. 105

8.2.2.4 Promoções

Sabe-se que em Porto Alegre a política de pessoal segue o padrão nacional, e essa

política não é discutida com o sindicato, pois é considerada um assunto interno da empresa.106

Segundo a pesquisa amostral, a maior parte dos trabalhadores (92%) afirma que a

empresa dispõe de um Plano de Cargos e Salários (PCS). A maior parte (89%) conhece também o

105

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 106

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 153: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

152

conteúdo do plano, embora a pesquisa não tenha condições de medir o nível de conhecimento e

nem como é transmitido.

Na C&A, considera-se a avaliação um processo importante, referência para as

promoções de funcionários. Com isso, verifica-se que na unidade Porto Alegre a maior parte dos

funcionários (89%) está ciente da existência de avaliação na unidade. A quantidade de

trabalhadores que afirmam ser avaliados, contudo, é menor: 76%. Dos entrevistados, 21%

respondem que não há avaliação e 3% respondem que não sabiam. Ou seja, apesar do fato da

C&A valorizar esse processo, mais de 1/5 do total de trabalhadores nunca havia sido avaliado ou,

pelo menos, não identificaram alguma atividade como sendo de avaliação. Esse alto índice indica

que o método implantado pela empresa não é efetivo, pois não atinge todo o quadro funcional.

De acordo com relatos dos trabalhadores, as formas de avaliação são variadas e,

aparentemente, não há em Porto Alegre um padrão de avaliação como o Face to face, padrão de

outras unidades. De qualquer forma, nota-se que há um momento de diálogo entre funcionários e

gerência da loja. A diversidade dos relatos dos trabalhadores e a informação de que cada

trabalhador não pode revelar seu salário para outro trabalhador podem levar à idéia de que os

critérios de avaliação não são impessoais.

Segundo os entrevistados as formas de avaliação são bastante variadas: relacionada

com metas ou com a quantidade de vendas de cartões, “supervisora acompanha trabalho, vê

resultado, pergunta se quer crescer, diariamente”; “todos avaliam, até associados, avaliam

trabalho, postura como pessoa; sempre tem alguém te olhando para ver se o trabalho está sendo

feito”; “não sei como, mas sou avaliado”; “o supervisor faz um diálogo; de acordo com as

atitudes tanto em relação aos clientes como aos colegas”; “é bom porque eu vejo o que eu estou

certa e estou errada, uma vez por ano com supervisor, supervisor está sempre informado”; “feita

pelo supervisor e líder, eles têm várias folhas com meu desempenho, perguntam para mim se eu

concordo com a avaliação”; “de seis em seis meses tem o cliente oculto que avalia o

trabalhador”; “conversa com chefe imediato e a gerente, tem pontos a devolver, é positivo e

saudável, é um dos poucos momentos que pode conversar com a empresa”; “questionário dá nota

Page 154: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

153

ABCD, supervisor coloca seus pontos positivos e vê se tu concorda”; “todos os dias sou avaliado

e também há uma avaliação anual, onde é feita uma conversa com o supervisor; já fui avaliado,

mas atualmente não sou mais.”; “todo ano tem avaliação, mas o funcionário é observado

constantemente”.

Entre os entrevistados, 93% afirmam que a empresa dá oportunidades de promoção. Os

motivos apresentados são variados. Para alguns, o aumento da jornada de trabalho de seis para

oito horas diárias é uma forma de promoção. A seguir os relatos demonstram as diversas

opiniões: “a empresa dá espaço para desenvolver, os horários são flexíveis e dá tempo de

estudar”; “depende de ti; cargos têm, depende de ti passar para oito horas, passar para monitor,

líder, virar gerente”; “toda hora tem promoção, de seis em seis meses avaliam e promovem

funcionários da loja”; “é difícil, mas já vi pessoas serem promovidas”; “fui promovida, comecei

com seis horas e agora passei para oito”; “porque a empresa dá chances da pessoa se expressar;

tem livre arbítrio para falar das insatisfações”; “eles valorizam muito quem vende maior

quantidade de cartão”, “é levado em conta a experiência adquirida. Comecei como descarregador

de caminhões e hoje sou líder”.

Em Porto Alegre o número de trabalhadores que considera as promoções injustas

(19%) é menor do que em outras unidades, exceto Fortaleza. Contudo, ainda há algumas

ressalvas sobre os critérios de promoção entre os entrevistados. : “pessoas que trabalham bastante

não são as que mais se destacam”; “oferece, mas considero que nem sempre a empresa é justa,

pois acaba se preocupando com a questão do funcionário fazer cartões e não o bom atendimento

que ele faz”; “considero que a empresa oferece, mas tem situações que a pessoa precisa ser

"puxa-saco”; “deram como motivo para não ser promovido(a) um assunto pessoal que não tinha

nada a ver com a loja, mas eu cumpria metas”; “considera difícil, agora só é promovido aquele

que pensa 100% na empresa, tem que ser profissional”; “nas outras áreas considera que tem mais

promoção até por ser maior e na área fiscal já viu mas tem menos”.

A tabela a seguir mostra que os critérios de promoção mais citados por trabalhadores

estão relacionados com desempenho individual e dedicação à empresa.

Page 155: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

154

TABELA 78 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES UNIDADE

PORTO ALEGRE MAIO 2008

CRITÉRIOS NÚMERO DE CITAÇÕES

Formação escolar 47

Demonstrar competência através de bom desempenho 93

Ser homem 0

Experiência adquirida no trabalho 57

Não participar de atividades do sindicato 1

Ser branco 0

Dedicação à empresa 70

Ser mulher 0

Ser negro 0

Amizade com a chefia (critérios subjetivos) 27

Outros. 3

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Diferentemente das lojas paulistas, o uso de critérios subjetivos não está entre os

critérios de promoção mais citados, o que demonstra um ponto positivo para o sistema de

promoções dessa unidade.

8.2.3 Discriminação

O percentual de pessoas que se sentiram discriminadas ou prejudicadas por algum

motivo (28%) é menor que o percentual das unidades paulistas – Tamboré (36%) ou Interlagos

(34%). Ainda assim esse dado requer uma análise mais profunda. Os motivos apresentados pelos

trabalhadores são variados. Os relatos estão no capítulo “Análise geral e comparativa” no item

“Discriminação no trabalho”.

TABELA 79 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 0

Participação sindical 0

Participação política 0

Doença 1

Ser mulher 0

Religião 0

Orientação sexual 0

Page 156: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

155

Doença no trabalho 1

Outro motivo. 27

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Entre outros motivos citados pelos entrevistados estão excesso de trabalho;

competitividade; abuso de autoridade por parte de monitores; preconceito por déficit de atenção;

rebeldia; falta de informação do número de horas extras; falta de integração com colegas no

processo de admissão; excesso de “fofocas”; incompatibilidade de horário; falta de

reconhecimento por parte da chefia; falta de promoção; falta de assistência em acidente; falta de

profissionalismo; problemas com clientes.

O número de pessoas que presenciaram discriminação da empresa contra outros

trabalhadores (6%) é também menor que nas unidades paulistas – Tamboré (19%) e Interlagos

(22%). Ressalta-se, contudo, que qualquer caso de discriminação deve ser severamente

combatido pela empresa. Os motivos pelos quais os entrevistados presenciaram discriminação

também são diversificados. Os relatos dos trabalhadores estão no capítulo “Análise geral e

comparativa” no item “Discriminação no trabalho”.

TABELA 80 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA

CONTRA TRABALHADORES UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 0

Participação sindical 0

Participação política 1

Doença 2

Ser mulher 0

Religião 0

Orientação sexual 0

Doença no trabalho 1

Outro motivo. Qual 4

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Entre outros motivos citados pelos entrevistados estão acusação de funcionário sem

provas; por ser fiscal; e ameaça de líder a funcionários que traziam atestados.

Page 157: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

156

8.2.4 Jornada/Hora Extra

Grande parte dos entrevistados trabalha em regime de 44 horas semanais ou full time,

conforme indica a tabela abaixo.

TABELA 81 - JORNADA DE TRABALHO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

JORNADA NÚMERO DE ENTREVISTADOS

44 horas 74

36 horas 29

28 horas 1

Outra 1

Total geral 105

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Em Porto Alegre a jornada inicia-se às 8h, embora a loja abra às 10h. Os turnos

praticados são manhã, intermediário e tarde/ noite.107

TABELA 82 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008

Manhã (abertura) 49

Tarde 23

Fechamento 33

Total geral 105

FONTE: Pesquisa Amostral IOS.

De acordo com supervisora, “os turnos são distribuídos de acordo com as necessidades

da loja e a disponibilidade dos funcionários; e só há alterações de turnos se os funcionários

precisarem.”.108 Ou então, ainda de acordo com gerente, “normalmente a pessoa tem um turno

definido, que às vezes se estende pelo movimento anormal e pela dinâmica do comércio. Às

vezes precisa cobrir alguém que está de férias. É estabelecido previamente, para a pessoa se

planejar”109. Há reclamações, contudo, de trabalhadores da unidade Porto Alegre que se sentiram

prejudicados por mudanças de horários, aparentemente impostas pela empresa.

Nesse aspecto, a empresa declarou que “a respeito de mudanças de horários impostas

107

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008 108

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 109

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 158: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

157

pela C&A em Porto Alegre a Empresa desconhece e jamais recebeu crítica formal do sindicato

local sobre esse assunto. É possível algum mal entendido ou alguma questão pontual já resolvida,

tendo em vista que o sindicato de Porto Alegre é bastante atuante e nada mencionou nesse

sentido.”

Quatro entrevistados não identificaram seu turno de trabalho e responderam “turno

variado”. Em relação às horas extras, a maior parte dos entrevistados (73%) trabalhou além da

jornada no mês anterior à pesquisa. De acordo supervisora, a utilização de horas extras é feita

quando há “necessidade de hora extra e é solicitado ao trabalhador com antecedência”.110

Segundo gerente, o limite de horas trabalhadas além da jornada não pode exceder 26

horas por mês, não aplicado ao funcionário part time, que não faz banco de horas111. Porém, de

acordo com a pesquisa amostral, alguns funcionários part time realizaram horas extras, conforme

mostra tabela a seguir.

TABELA 83 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE TRABALHARAM ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR À

PESQUISA POR JORNADA REGULAR UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO 2008.

JORNADA SEMANAL SIM NÃO TOTAL

44 horas 19 55 74

36 horas 7 22 29

28 horas 1 0 1

Outra 1 0 1

Total geral 28 77 105

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com a CCT 2007/ 2008, firmada entre o Sindicato dos Empregados do

Comércio de Porto Alegre e entidades patronais, o número máximo de horas a ser compensado

no período de 90 dias é de 90 horas por trabalhador. As horas que excedam esse limite devem ser

pagas como horas extras.

110

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008 111

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 159: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

158

TABELA 84 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA – MAIO 2008

HORAS TRABALHADAS Nº DE TRABALHADORES

a) Até 4 horas 38

b) De 5 a 10 horas 24

c) De 10 a 20 horas 12

d) De 21 a 40 horas 2

Não respondeu 1

Total geral 77

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A forma de compensação mais usada pelos trabalhadores é o banco de horas (81%). De

acordo com gerente, “a idéia é trabalhar com banco de horas e não horas extras, mas tem que ter

planejamento prévio, inclusive do ponto de vista pessoal”112. Contudo, há reclamações de

entrevistados por desconhecerem o cálculo das horas feito pela empresa ou por trabalharem a

mais sem terem essa disponibilidade. Sobre essa questão, os relatos gerais dos trabalhadores estão

no capítulo “Análise geral e comparativa” na seção “Discriminação”.

Ou seja, apesar da política da empresa, o exercício de horas extras é exercido pela

grande maioria dos funcionários na unidade Porto Alegre.

8.2.5 Saúde e segurança no trabalho

Os itens referentes às condições do ambiente de trabalho são, de forma geral, avaliados

positivamente pelos trabalhadores. A temperatura foi o item mais criticado - a cantina, por

exemplo, foi considerada muito fria por alguns.

TABELA 85 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE PORTO ALEGRE – MAIO

2008

CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO BOA REGULAR RUIM

Temperatura 47 47 11

Iluminação 90 11 3

Ruído 60 32 13

Ordem/ organização do espaço de trabalho 73 25 7

Limpeza 89 14 2

Conforto 66 28 11

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

112 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 160: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

159

De todos os entrevistados, 41,9% consideram que o ritmo de trabalho na empresa, em

algum momento, chegou a prejudicar a própria saúde. Grande parte dos entrevistados (65%),

contudo, considera que o seu estado de saúde era bom no momento da pesquisa.

Os problemas de saúde relacionados às atividades de trabalho mais citados pelos

entrevistados foram problemas de coluna, lesão por esforços repetitivos e depressão ou estresse.

Em Porto Alegre, é preocupante o número de entrevistados que relataram ter depressão ou

estresse: 43% do total. As doenças mentais podem ser relacionadas ao estabelecimento de metas

abusivas e ao aumento do ritmo e das exigências no trabalho, que fazem com que trabalhadores

assumam múltiplas funções. Outros problemas de saúde apontados foram dor de cabeça e

enxaqueca; dor no joelho; miopia; e bursite, inflamação proveniente de LER/DORT.

TABELA 86 - CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA

Problemas de coluna 30

Surdez 4

Doenças de pele 1

Problemas respiratórios 6

Lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) 39

Doenças do sangue

Depressão ou estresse 46

Câncer

Alergias 5

Outro. 09

Não apresentou nenhum problema de saúde 31

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A maioria dos entrevistados (55%) afirma que as enfermidades foram diagnosticadas

clinicamente e relacionadas à atividade de trabalho. Apenas 6,67% afirmam ter sofrido algum

acidente de trabalho no interior da empresa nos últimos cinco anos, sendo que todos sofreram

apenas um acidente de trabalho.

Os trabalhadores que se afastaram do trabalho por acidente ou doença chegam a 36%

dos entrevistados. Os períodos e as causas específicas dos afastamentos são variados:

conjuntivite, problemas no joelho, pneumonia, torção de pé, problemas coluna, acidentes

variados. Chama a atenção, mais uma vez, o número de entrevistados afastados por depressão

Page 161: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

160

e/ou enfermidades psicológicas: sete dos 105 entrevistados.

Em geral, o período de afastamento varia entre dez dias e um ano. Dentre os

entrevistados, quatro já haviam sido afastados por depressão, um por síndrome do pânico e um

afastado para tratamento para ansiedade, depressão e síndrome do pânico. Dos trabalhadores que

afirmam terem sido afastados, 81,58% retornaram à mesma função. Dos sete entrevistados que

não retornaram à função, seis consideram que a mudança foi melhor para suas condições de

trabalho.

Na avaliação da atuação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), o

número de trabalhadores que não tem conhecimento sobre a comissão é bastante alto, enquanto

que as avaliações “boa” e “regular” estão equilibradas.

TABELA 87 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE PORTO ALEGRE (% –MAIO

2008

Boa 31,43%

Regular 33,33%

Ruim 8,57%

Não tem conhecimento 26,67%

Total geral 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os motivos para tais avaliações negativas são variados e muitas reclamações

confirmam a falta de conhecimento dos trabalhadores sobre a CIPA. Dentre os que consideram a

atuação da comissão “boa”: “todas as regiões da loja têm informações em painéis sobre as áreas

de risco”; “fazem reunião sobre os riscos e todos os locais têm cartazes demonstrando os riscos

do trabalho”; “deram apoio quando machuquei o pé, tudo que precisava fazer eles fizeram”;

“anteriormente não divulgava tanto, antes elegia por amizade e não competência, sou

representante escolhida”; “membros da CIPA são integrados, sempre divulgam informações no

ponto de partida, as atas da reunião estão no mural”. Dentre os que criticaram a sua atuação: “tem

provador caindo, coisas quebradas”; “porque não vejo o empenho da CIPA em mostrar o trabalho

e de manter os associados informados”; “a empresa não dá prioridade para a CIPA, o funcionário

Page 162: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

161

não tem muito conhecimento”; “faço parte da CIPA, acho que a CIPA tinha que ter um poder

maior, a empresa não deixa atuar devidamente. Praticamente me obrigaram a assinar o que eles

trataram em reunião que eu não participei. Ata da reunião já vem digitada”; “alguns cipeiros não

agem de forma preventiva; no dia que sofri acidente, não tive assistência na CIPA, fui sozinho(a)

para o médico”; “não vejo a CIPA, não faz nada. Se candidatam mais para ter estabilidade”; “só

ouve falar quando tem eleição”.

No caso de Porto Alegre, chamam a atenção os casos de depressão e síndrome do

pânico, uma vez que os dados quantitativos e qualitativos, baseados nos relatos dos trabalhadores,

são preocupantes. Esses casos estão relacionados aos processos de trabalho exigidos pela

empresa. De acordo com a C&A, “as informações relativas a queixas por doenças de forma geral

serão objeto de levantamento mais acurado no próximo Programa de Controle Médico de Saúde

Ocupacional (PCMSO), tendo em vista as distorções quantitativas e qualitativas comparadas com

os dados oficiais apresentados ao INSS. Nesse contexto, as mesmas serão periciadas, visando

devido encaminhamento. Comentários adicionais poderão ser vistos no capítulo de Considerações

finais desse relatório”.

9. UNIDADE BRASÍLIA

9.1. PERFIL DOS TRABALHADORES

De acordo com informações da empresa, o quadro da loja seria composto por 205

funcionários. No momento da pesquisa, o gerente da unidade informou que o quadro era de 195

trabalhadores. Dos 129 disponíveis, 121 trabalhadores foram entrevistados.

9.1.1 Sexo

A tabela a seguir mostra que as mulheres são mais que o dobro dos trabalhadores do

sexo masculino na unidade de Brasília.

Page 163: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

162

TABELA 88 - NÚMERO DE TRABALHADORES ENTREVISTADOS POR SEXO/GÊNERO UNIDADE BRASÍLIA (%)

– MAIO 2008

SEXO/ GÊNERO NÚMERO DE TRABALHADORES (%)

FEMININO 67%

MASCULINO 33%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

9.1.2 Idade

O gráfico a seguir mostra que a maioria dos funcionários, 56,2% tem idade entre 18 e

24 anos, reforçando uma tendência geral nas lojas da empresa, compostas, em sua maioria,por

trabalhadores jovens.113

GRAFICO 23 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR IDADE UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

9.1.3 Raça/cor

Os trabalhadores que se autodeclaram pardos representam 60% do total de

entrevistados. Quando somados a esses o total de trabalhadores que se declaram pretos, chega-se

à 72% de trabalhadores negros, que é a soma de pretos e pardos, superior a todas às outras

113 De acordo com o IBGE, a população jovem está na faixa etária de 15 a 24 anos.

Page 164: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

163

unidades pesquisadas

GRÁFICO 24 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA UNIDADE BRASÍLIA– MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Estes números são mais significativos quando levamos em consideração a estimativa

do Dieese para o Distrito Federal. De acordo dados de 2006, a População Economicamente Ativa

(PEA) do Distrito Federal é composta por 64,2% de trabalhadores da raça/cor negra (pretos e

pardos) e 35,8% de trabalhadores da raça/cor não negra, brancos e amarelos. Ou seja, o quadro

funcional da empresa supera a distribuição racial da região em relação à quantidade de

trabalhadores negros.

9.1.4 Escolaridade

Seguindo a tendência em todas as unidades pesquisadas, a maioria dos trabalhadores

da unidade de Brasília já concluiu o ensino médio. Por outro lado, chama a atenção o fato de

apenas 0,8% terem concluído o ensino superior.

Page 165: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

164

TABELA 89 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

GRAU NÚMERO DE TRABALHADORES (%)

Ensino Médio / 2º grau / colegial cursando 1,65%

Ensino Médio / 2º grau / colegial completo 79,34%

Superior / Graduação incompleto 1,65%

Superior / Graduação cursando 14,88%

Superior / Graduação completo 0,83%

Ensino Médio / 2º grau / colegial incompleto 0,83%

Ensino Fundamental / 1º grau (1ª a 8ª série) completo 0,83%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Dos entrevistados que concluíram o ensino médio, 16,5% fizeram algum tipo de curso

técnico. Estes cursos são variados e se concentram nas áreas de radiologia, informática,

secretariado, telemarketing, elétrica de automóveis, bioquímica, enfermagem, contabilidade,

vigilância, administração e zootecnia.

9.1.5 Função

Nota-se, pelo gráfico a seguir, que a maioria dos trabalhadores (66,2%) exerce a função de

assessor de clientes. Ao mesmo tempo, percentagem de monitores é de 23,4% dos entrevistados.

GRÁFICO 25 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE BRASÍLIA MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

No caso dos assessores de clientes, as funções mais mencionadas foram reposição de

81

12

4

23

1

as s es s or de

c liente

fis cal líder monitor as s is tente

adminis trativo

Page 166: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

165

mercadorias, venda de cartões, arrumação de estoque, separação de roupas, etiquetagem de

roupas, venda de seguros, colocação de alarmes nas peças, venda de Novos Produtos (celulares,

bijouterias, relógios, óculos de sol), arrumação de área e provadores, remarcação de preços,

operação de caixa (recebimento de faturas, concessão de empréstimos) e atendimento e

abordagem a clientes.

Os monitores desempenham funções de monitoria dos caixas, monitoria de

produtividade, planejamento de horários e cuidado com o visual da loja, além das funções

exercidas pelos assessores de clientes.Os líderes, por sua vez, têm funções parecidas com as dos

assessores de clientes, mas com graus diferentes de responsabilidades. As funções são de

prevenção de perdas, elaboração de escalas de horários e folgas, cuidado com o visual da loja,

treinamento de equipe e marcação de férias.

Como nas outras unidades, os relatos mostram não há funções fixas nas lojas e que

trabalhadores que possuem o mesmo cargo desempenham funções variadas. Com exceção das

funções referentes aos cargos de assistente administrativo e fiscal de loja, todos os outros

funcionários desempenham as mesmas funções, dependendo da necessidade. Isto é comprovado

pelas afirmações dos funcionários: “dependendo da necessidade da loja eu trabalho em qualquer

setor”, “desempenho todas as atividades, não tenho atividade fixa”; “faço de tudo um pouco”.

Com isso, o Sindicato dos Comerciários do DF reclama que há desvio de função entre os

trabalhadores.

Sobre essa questão, a empresa afirma que “a política de salários é igual para os

assessores, independente da área de atuação. Portanto, nesse aspecto, não existe nenhum prejuízo

financeiro. Em contrapartida, os assessores são capacitados para exercer diversas atividades na

empresa, possibilitando uma maior especialização na carreira do comércio”.

Page 167: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

166

TABELA 90 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE BRASÍLIA (%) MAIO

2008

CARGO/ FUNÇÃO SEXO

Total geral Feminino Masculino

Assessor de cliente 69,14% 62,50% 66,94%

Fiscal 7,41% 15,00% 9,92%

Líder 2,47% 5,00% 3,31%

Monitor 19,75% 17,50% 19,01%

Assistente administrativo 1,23% 0,00% 0,83%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com a tabela acima, há equilíbrio entre homens e mulheres em todos os

cargos, exceto nos de líder e fiscal de loja, onde a presença de homens é o dobro que de

mulheres. Afirmação de um gerente ressalta que “evita-se colocar mulheres trabalhando em

setores onde há necessidade de pegar peso”.114 Entretanto, a preocupação parece não ser a mesma

com todos os funcionários. De acordo com o Sindicato do DF, mulheres grávidas continuam

fazendo tarefas inadequadas com o estado de gravidez, e não são transferidas para funções que

estejam capazes de exercer.

A C&A argumenta que “desconhece a crítica do Sindicato de DF” e que “existe

sensibilidade da empresa para aproveitar as funcionárias grávidas em atividades compatíveis com

a sua capacidade de trabalho”.

9.1.6 Tempo no emprego

A tabela a seguir mostra que a distribuição dos entrevistados pela maioria das faixas de

tempo é semelhante tanto para os trabalhadores do sexo masculino quanto do sexo feminino, com

exceção apenas da faixa de um a dois anos, em que quase o dobro dos trabalhadores são homens.

114 Representante da empresa. Entrevista realizada em

Page 168: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

167

TABELA 91 - TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE BRASÍLIA (%) - MAIO 2008

TEMPO DE EMPRESA SEXO/ GÊNERO

TOTAL FEMININO MASCULINO

Menos de 1 ano 22,22% 22,50% 22,31%

De 1 a 2 anos 25,93% 40,00% 30,58%

Mais de 2 até 4 24,69% 20,00% 23,14%

Mais de 4 até 6 13,58% 5,00% 10,74%

Mais de 6 13,58% 12,50% 13,22%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

9.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS

9.2.1 Liberdade sindical/ relações sindicais

Em Brasília, o sindicato que representa os trabalhadores é o Sindicato dos Empregados

no Comércio do Distrito Federal (Sindicom/DF). A pesquisa amostral coletou que apenas 16% do

total de trabalhadores dessa unidade declaram ser filiados ao sindicato. Entre os que afirmam ser

sindicalizados, 73,7% não souberam dizer o nome do sindicato ao qual estão filiados e 26,3%

respondem que são sindicalizados por causa de algum tipo de benefício fornecido. Além disto,

mais de 50% dos sindicalizados dizem que estão filiados desde que começaram a trabalhar na

empresa.

As respostas mostram que os trabalhadores acreditam que a filiação ao sindicato está

condicionada à contratação na empresa. Portanto, há uma clara confusão entre contratação e

filiação sindical.

TABELA 92 – COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS UNIDADE BRASÍLIA – MAIO

2008

Participando de assembléias ou reuniões do sindicato 1

Lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato 66

Conversando com diretores do sindicato 2

Conversando com colegas de trabalho 63

Conversando com chefes ou gerentes 27

Pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais) 36

Pelo carro de som 3

Não tenho conhecimento 15

Outros 2

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Page 169: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

168

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Boletins, panfletos ou jornais do sindicato e conversas com colegas de trabalho são as

maiores fontes de informação dos trabalhadores sobre o sindicato, seguidos pelos meios de

comunicação em seus próprios locais de trabalho.

A proporção de trabalhadores que participam de atividade sindical também é muito

baixa, apenas 2%. Nem mesmo os trabalhadores que declaram ser sindicalizados participaram de

atividades sindicais. A respeito disso, a posição da empresa, de acordo com gerente, é o seguinte:

Não há como permitir reuniões ou o acesso dos sindicalistas no interior da unidade porque isto

deveria ser feito fora do horário de trabalho. Além disto, se a empresa autorizasse atividades

sindicais no local de trabalho, a loja deixaria de vender. Não há qualquer tipo de intromissão

por parte da empresa nas relações entre o sindicato e seus funcionários, mas não permite a

entrada de sindicalistas na loja, porque não é o ambiente adequado.115

O impedimento da realização de reuniões ou da própria sindicalização no local de

trabalho por parte da empresa pode ser encarado como um impedimento à atividade sindical.

Sindicato dos Comerciários do DF relata que a empresa tenta proibir a divulgação de qualquer

material ou informação sindical. Por outro lado, as restrições da empresa não impedem o fluxo de

informações sobre o sindicato dentro do ambiente de trabalho, já que 52% do total de

trabalhadores afirmaram que recebem essas informações através dos colegas de trabalho.

9.2.2 Salário/benefícios

9.2.2.1 Remuneração

Mais da metade dos funcionários (57,8%) recebe entre um e 1,5 salário mínimo (de

R$415,01 a R$622,50 em valores de 2008). Uma concentração de funcionários semelhante a esta

numa mesma faixa salarial é encontrada também nas unidades de Fortaleza (54,8%) e Interlagos

115 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 170: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

169

(42,6%). Por outro lado, apenas 0,8% dos trabalhadores estão incluídos na maior faixa salarial

atingida nesta unidade.

GRÁFICO 26 – REMUNERAÇÃO UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com a CCT 2007/2008, firmada entre o Sindicato do Comércio Varejista do

Distrito Federal e o Sindicato dos Empregados no Comércio do Distrito Federal, o piso salarial

para o setor é de R$ 494,00, valor semelhante à faixa salarial onde se concentram a maior parte

dos trabalhadores da unidade de Brasília.

No parágrafo sétimo da cláusula segunda da CCT 2007/2008, “aos comerciários que

trabalham como atendentes, auxiliar de depósito, auxiliar de departamento de crédito, caixa,

cobrador, copeiro, digitador, estoquista, motoboy, recepcionista, segurança/vigia é assegurado o

salário mínimo de R$ 494,00 (quatrocentos e noventa e quatro reais)”.

Page 171: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

170

GRAFICO 27 – REMUNERAÇÃO DO SEXO MASCULINO POR RAÇA – UNIDADE BRASÍLIA MAIO DE 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Chama atenção o fato de a faixa salarial de 2,51 a salários mínimos (de R$1.037,51 a

R$1.245,00 em valores de 2008) concentrar 100% dos trabalhadores pardos entrevistados. Isto

acontece também na faixa superior, de 3,01 a 4 salários mínimos (de R$1.245,01 a R$1.660,00

em valores de 2008) para os trabalhadores que se autodeclaram brancos. Os homens negros que

recebem de 1,01 a 1,5 salário mínimo perfazem 83% do contingente dessa faixa salarial, que

concentra quase 60% do total de trabalhadores.

Page 172: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

171

GRAFICO 28 – REMUNERAÇÃO DO SEXO FEMININO POR RAÇA – UNIDADE BRASÍLIA MAIO DE 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Entre as mulheres, há uma porcentagem muito grande de negras nas faixas salariais

mais baixas: 80% na faixa salarial de até um salário mínimo e 79% na faixa salarial de 1,01 a 1,5

salário mínimo. As mulheres brancas se concentram na faixa salarial mais elevada de 2,51 a 3

salários mínimos. Entre as mulheres, fica claro que as trabalhadoras negras recebem salários

menores que as brancas.

A empresa comenta que “analisará esse dado estatístico que a pesquisa sugere ser claro,

entre trabalhadoras negras e brancas, tendo em vista que a política de cargos e salários é igual

para todos os funcionários, independente da idade, tempo na empresa, raça e gênero”.

9.2.2.2 Benefícios

De acordo com gerente, os benefícios concedidos pela empresa são “assistência médica

e odontológica, vale-transporte, refeição, desconto na compra de mercadorias, convênio farmácia,

10%15%

36%29%

67%

0%

11%

7%14%

0%

80%

68%

50%57%

33%

0%2% 7%

0% 0%10%

4% 0% 0% 0%

a) até 1 salário mínimo (até R$

415,00)

b) de 1,01 a 1,5 salário mínimo (de

R$ 415,01 a R$ 622,50)

c) de 1,51 a 2 salários mínimos (de

R$ 626,51 a R$ 830,00)

d) de 2,01 a 2,5 salários mínimos (de

R$ 830,01 a R$ 1037,50)

e) de 2,51 a 3 salários mínimos (de

R$ 1037,51 a 1245,00

a) Branca b) Preta c) Parda d) Amarela e) Indígena

Page 173: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

172

convênio universidade, empréstimo com desconto em folha e auxílio funeral. Não há benefícios

específicos para mulheres, somente os garantidos em lei”.

Já a CCT de 2007/2008 assegura os benefícios de vale transporte, vale refeição, auxílio

funeral, convênio para empréstimo e assistência médica.

9.2.2.3 Treinamento

A maioria dos trabalhadores, 73% dos entrevistados, já fez algum tipo de curso ou

treinamento oferecido pela empresa. Com base nas falas obtidas é possível afirmar que todos os

trabalhadores passam por dois tipos de treinamento, o chamado on the job e os treinamentos

esporádicos. Grande parte dos entrevistados fez mais de um curso ou treinamento. Como são

ministrados de acordo com as necessidades da loja, não é possível afirmar que a quantidade de

cursos contribui com o crescimento profissional dentro e fora da empresa.

TABELA 93 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO 2008

Apenas 1 30,68%

De 2 a 5 46,59%

De 6 a 10 12,50%

Mais de 10 10,23%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Com efeito, 79,5% dos entrevistados respondem que estes cursos não contribuíram

para uma promoção, mas aumentaram os conhecimentos sobre o trabalho que desempenham.

TABELA 94 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

Contribuiu para você ser promovido/a e aumentou os seus

conhecimentos sobre o trabalho que desempenha 18,18%

Não contribuiu para você ser promovido, mas aumentou os seus

conhecimentos sobre o trabalho que desempenha 79,55%

Não acrescentou nada 2,27%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Page 174: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

173

Com base nestas informações, é possível afirmar que os cursos são focados nas

atividades dos trabalhadores dentro da C&A eque são muito úteis no desempenho das funções

dentro da empresa. Porém, embora os trabalhadores adquiram conhecimentos, estes não

contribuem para a promoção e podem ser limitados para desempenhar funções apenas dentro da

empresa.

A empresa comenta que oferece emprego aos ingressantes via Programa Primeiro

Emprego e que há uma posição na estrutura das lojas destinada quase que exclusivamente ao

treinamento e apoio dos funcionários. Os jovens desenvolvem competências técnicas e

comportamentais com valor profissional para o mercado. Devido à limitação de espaço na

carreira que o comércio naturalmente oferece e opção pela busca de alternativas, esses jovens

acabam seguindo a carreira em outro setor do mercado de trabalho.

9.2.2.4 Promoções

Os dados da pesquisa mostram que 91,7% dos trabalhadores sabem que a empresa

possui um Plano de Cargos e Salários (PCS). Dentre esses, a maior parte (77,5%) diz conhecer o

conteúdo do plano. Contudo, a proporção dos entrevistados que afirmam desconhecê-lo (22,5%)

é significativa se compararmos com a quantidade de trabalhadores que não sabem ou negam a

existência do PCS. De acordo com comentário da C&A, a empresa desenvolverá um plano de

comunicação interno visando informar novamente os funcionários quanto ao funcionamento do

PCS.

De acordo com gerente local, “a empresa tem uma política nacional de PCS, que é feita

pelo escritório central para todas as unidades do Brasil. (...) A política de promoções da empresa

não é discutida com o sindicato”.116 Fica evidente que o posicionamento da empresa frente ao

PCS é que esse é um assunto interno e não é necessário discutir com o sindicato. A empresa não

legitima o sindicato como sendo um ator essencial no processo de negociação do PCS.

116 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 175: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

174

Em se tratando da aplicação de avaliações permanentes por parte da empresa, a maioria

dos trabalhadores (85,9%) afirma que existe algum tipo de avaliação e 77,7% dos trabalhadores

respondem já terem sido avaliados de alguma forma pela empresa no desempenho de sua

atividade. Ou seja, 22,3% não responderam afirmativamente, percentual alto para uma empresa

que afirma avaliar periodicamente os funcionários e que a avaliação é uma importante ferramenta

para promoções.

De acordo com os relatos dos trabalhadores, na prática, as formas de avaliação são

bastante variadas: “a avaliação não é formal, o supervisor fala o que eu preciso desenvolver. O

gerente falou que eu ia ser promovido, mas não me deu oportunidade”; “uma vez por ano,

superior faz uma prévia e o gerente conclui e dá um feed back do que é preciso melhorar”, “tem

muitas reuniões, quando há algum problema ou um bom desempenho eles conversam”; “há

monitoramento de metas por parte de chefia”; “supervisores têm um questionário com vários

aspectos do funcionalismo, como se fosse pontuação”, “na avaliação anual é analisado por todo o

processo que desempenha e pelo que precisa mudar”; “a avaliação e feita pelo supervisor no dia a

dia”, “é muito cobrado em relação às metas e ao atendimento a clientes”; “há avaliação apenas

uma vez, não acho que deve ser uma vez”; “tem que bater a meta todo o dia, se você não faz é

cobrado. O líder avalia as metas”.

Com base nos relatos dos trabalhadores, é possível afirmar que há dois tipos de

avaliação. Uma é anual e padronizada, com vários itens que são perguntados aos trabalhadores

pelos seus gerentes ou supervisores. Há uma pontuação para cada resposta dada pelo funcionário

e para a opinião de sua chefia direta. A outra é diária, que não tem um padrão definido sobre os

critérios, o que dá margem a subjetividades. Esta avaliação é informal e se baseia na postura, nas

ações “erradas e certas”, no atendimento ao cliente, na venda de cartões e nas expectativas sobre

promoção na empresa.

Outro quesito que chama atenção é o estabelecimento de metas. Alguns trabalhadores

responderam que são muito cobrados por isso, e que são obrigados a bater as metas.

Ainda assim, 89% dos trabalhadores respondem que a empresa oferece oportunidades

Page 176: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

175

de promoção. Os motivos apresentados foram: “quando trabalha direito e bate as metas, dando

resposta ao que eles precisam, te promovem a 44 horas (full time) e se destacar, te promovem a

monitor”; “é difícil; eles olham o trabalho, mas só promovem quem vive mais para a loja e é

mais dedicado; quem sai daqui e vive sua vida, não”, “tem mais oportunidade para quem tem

estudo mais elevado, apesar do bom desempenho”; “não é fácil, porque os mais próximos às

chefias conseguem com mais facilidade”; “como é uma empresa de moda, uma pessoa jovem que

estuda ou que sabe uma língua tem chance de crescer, pois há muitos cargos de liderança; quem

tem mais chance são os jovens inseridos no mercado de trabalho que buscam profissionalização,

mas os mais velhos que ingressam na faculdade também têm chances”; “dão muitas

oportunidades para quem está chegando se esquecem quem é mais velho, porque a empresa foca

somente o bom momento do funcionário”; “os critério são vagos, não há clareza”, “existem 50%

de oportunidades para pessoas capacitadas e por mérito; outros 50% são para os puxa-sacos,

gente que não sabe fazer a função e é promovido e quem não foi tem que ensinar”.

Pode-se afirmar que há grande quantidade de respostas que apontam que as

oportunidades de promoção são baseadas em critérios subjetivos, que dependem do bom ou mau

relacionamento com a chefia. Chama atenção o fato de os funcionários acreditarem que a

mudança de carga horária de 36 horas semanais (part time) para 48 horas semanais (full time)

seja um tipo de promoção, apesar da empresa, de acordo com gerente regional, não considerar

assim.

Apenas 29% dos trabalhadores respondem que os critérios de promoção são injustos,

número baixo em relação às unidades paulistas, onde esse índice foi superior a 40% em

Interlagos e a 60% em Tamboré.

TABELA 95 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES UNIDADE

BRASÍLIA MAIO 2008

Formação escolar e técnica 49

Demonstrar competência através de bom desempenho 103

Ser homem 0

Experiência adquirida no trabalho 57

Não participar de atividades do sindicato 1

Page 177: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

176

Ser branco 0

Dedicação à empresa 67

Ser mulher 0

Ser negro 0

Amizade com a chefia (critérios subjetivos) 31

Outros. Quais? 2

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Os entrevistados escolheram até 3 opções

Como os relatos dos funcionários enfatizaram, a demonstração de competência através

de bom desempenho, dedicação à empresa, formação escolar e técnica e experiência adquirida no

trabalho foram os critérios mais citados. Ou seja, na percepção dos trabalhadores, a promoção

depende somente deles, não restando qualquer responsabilidade por parte da empresa. Relatos

como “tem que se matar”, “ficar mais de 8 horas”, “se doar para a empresa”, “carregar

departamento nas costas” indicam que na C&A, para ser promovido, é necessário trabalhar e se

dedicar excessivamente à empresa. “Viver para a loja, viver sua vida não” é um relato

emblemático que mostra que a empresa não proporciona equilíbrio entre trabalho e vida familiar.

Neste sentido, a empresa esclarece “que desenvolverá um plano de reciclagem para

reforçar o correto entendimento de seus processos de avaliação de desempenho e promoções,

conforme o entendimento demonstrado pela maioria dos entrevistados”.

9.2.3 Discriminação

A maioria dos trabalhadores respondeu que nunca se sentiu prejudicado ou

discriminado na empresa. Entretanto, também significativo o número dos que responderam o

contrário, chegando a 26%. Como nas outras lojas, muitos trabalhadores afirmam serem

prejudicados ou discriminados por doença.

TABELA 96 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM DISCRIMINADOS OU

PREJUDICADOS – UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 2

Participação sindical 0

Participação política 0

Page 178: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

177

Doença 1

Ser mulher 1

Religião 1

Orientação sexual 1

Doença no trabalho 5

Outro motivo. Qual? 27

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Entre os outros motivos de discriminação citados pelos trabalhadores estão a emissão

de atestados, discordância em relação às chefias e “fofocas” entre os funcionários. Os relatos das

pessoas que se sentiram discriminados e/ou prejudicada são variados. As falas dos trabalhadores

estão no capítulo “Análise geral e comparativa” no item “Discriminação no trabalho”. Neste

capítulo estão também os comentários e explicações apresentados pela empresa.

Ao serem perguntados se já presenciaram algum tipo de discriminação da empresa

contra outros trabalhadores, o índice verificado anteriormente se reduz a 8%. Os motivos

apresentados também são diversificados, conforme mostra a tabela a seguir.

TABELA 97 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA

CONTRA TRABALHADORES UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 1

Participação sindical 0

Participação política 0

Doença 1

Ser mulher 1

Religião 1

Orientação sexual 1

Doença no trabalho 1

Outro motivo. Qual? 7

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Os entrevistados assinalaram até 3 opções

Além dos motivos listados na tabela, os entrevistados apresentaram outros, como

excesso de trabalho, atestados médicos, cobranças excessivas, discriminação dos funcionários

que não tem disponibilidade de fazer horas extras e abuso de autoridade.

Cabe aqui observar que não deve se salientar somente a quantidade de entrevistados

Page 179: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

178

que se sentiram discriminados ou presenciaram atos de discriminação, mas também a existência

de tais atos. Toda empresa deve elaborar políticas que combatam a discriminação, sendo vinda de

lideranças ou de colegas de trabalho.

9.2.4 Jornada/Hora Extra

Em Brasília 73,5% dos trabalhadores desempenha suas atividades em regime de 44

horas semanais, conforme indica a tabela a seguir.

TABELA 98 - JORNADA DE TRABALHO UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO 2008

44 horas 73,55%

36 horas 24,79%

Outra 1,65%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

De acordo com supervisor, são feitos planejamentos de turnos mensalmente e as

mudanças de horários, quando há necessidade, são comunicadas e também verificadas a partir das

disponibilidades de cada associado. Em geral, os horários são fixos e isso é dito já na

contratação.117

TABELA 99 - TURNO DE TRABALHO UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

Manhã 42,98%

Tarde 36,36%

Fechamento 20,66%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Entre os entrevistados, 53% afirmam que trabalharam além de sua jornada normal no

mês anterior à pesquisa. Dentre esses, pouco mais da metade declara ter feito até 4 horas extras.

A distribuição dos trabalhadores em relação à quantidade de horas extras trabalhadas encontra-se

na tabela a seguir.

TABELA 100 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA UNIDADE BRASÍLIA - MAIO 2008

117 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 180: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

179

Até 4 horas 35

De 5 a 10 horas 19

De 10 a 20 horas 9

De 21 a 40 horas 1

Total geral 64

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Segundo gerente, “as horas extraordinárias são pagas como horas extras se forem feitas

aos domingos e feriados” e “há banco de horas, limitado à duas horas diárias e 26 horas por mês,

que devem ser compensadas em até três meses”.

Já a CCT 2007/2008, que rege as relações de trabalho dos trabalhadores do setor

varejista no Distrito Federal, diz que as duas primeiras horas extras realizadas em dias úteis serão

remuneradas com adicional de 50% e as subseqüentes deverão ter adicional de 100%. Este valor

sobe para 150% aos domingos. Por outro lado, a CCT também estabelece que as empresas podem

utilizar o esquema de banco de horas desde que a compensação ocorra dentro de 120 dias. De

acordo como o Sindicato dos Comerciários de Brasília, em relação aos domingos e feriados a

remuneração extra é de 50% de acréscimo, e trabalha-se dois domingos ao mês, com uma folga

antecipada.

GRÁFICO 29 – FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS-EXTRAS UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Nota-se, contudo, que 95% dos entrevistados que trabalharam além da jornada, fez

compensação mediante banco de horas. De acordo com gerente, “em Brasília, a loja trabalha com

3%

95%

2%

a) Remuneradas e pagas como horas-extras

b) Não remuneradas, mas compensadas pelo banco de horas

c) Não remuneradas e não compensadas pelo banco de horas

Page 181: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

180

banco de horas só para quem é full time (220h/mês), pois quem é part time não pode fazer banco

de horas”118.

Os dados da pesquisa mostram que pouco mais da metade dos funcionários que são

part time fizeram horas extras no mês anterior à pesquisa.

NÚMERO 101 - DE TRABALHADORES QUE TRABALHOU ALÉM DA JORNADA NO MÊS ANTERIOR À

PESQUISA POR JORNADA REGULAR UNIDADE BRASÍLIA– MAIO 2008

JORNADA SEMANAL FEZ HORA- EXTRA?

TOTAL SIM NÃO

44 horas 48 41 89

36 horas 14 16 30

Outra 2 0 2

TOTAL GERAL 64 57 121

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

9.2.5 Saúde e segurança no trabalho

Em geral as condições do local de trabalho foram bem avaliadas pelos trabalhadores,

com destaque para iluminação e limpeza, que obtiveram um percentual de quase 90% de

avaliações “boas”. Entretanto, as condições de temperatura, ruído e conforto foram caracterizadas

por mais de 50% dos trabalhadores como regulares ou ruins. Algumas reclamações dos

trabalhadores em relação ao conforto referem-se ao fato de ficarem em pé durante toda a jornada

de trabalho.

TABELA 102 - AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

CONDIÇÕES Boa Regular Ruim

Temperatura 46 53 22

Iluminação 103 12 6

Ruído 50 38 29

Ordem/organização do espaço de trabalho 66 42 12

Limpeza 103 16 2

Conforto 46 49 25

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

118 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 182: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

181

Em Brasília, 59,5% dos trabalhadores responderam que o ritmo de trabalho chegou a

prejudicar sua saúde. Há um equilíbrio entre os entrevistados que responderam que seu atual

estado de saúde era bom ou regular no momento da pesquisa, e apenas uma minoria avalia o seu

estado de saúde como ruim.

TABELA 103 - AVALIAÇÃO DE ESTADO DE SAÚDE UNIDADE BRASÍLIA – MAIO 2008

Bom 47,11%

Regular 45,45%

Ruim 7,44%

Total geral 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os problemas de saúde mais citados pelos trabalhadores são problemas de coluna,

lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) e depressão ou estresse. Como Tamboré, Interlagos e

Porto Alegre, a doença mais citada em Brasília foi depressão ou estresse.

TABELA 104- CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA – UNIDADE

BRASÍLIA – MAIO 2008

Problemas de coluna 43

Surdez 3

Doenças de pele 2

Problemas respiratórios 16

Lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) 49

Doenças do sangue 2

Depressão ou estresse 57

Câncer 0

Alergias 12

Outro. Qual? 17

Não apresentou nenhum problema de saúde 18

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Dos trabalhadores que já apresentaram algum tipo de doença no trabalho, 68,6%

afirmam que a enfermidade foi clinicamente diagnosticada e relacionada à atividade laboral, e

46% afirmam que já deixaram de revelar que estavam doentes ou passando mal por medo de

serem prejudicados na empresa. Uma das funcionárias relatou que tem problemas ao apresentar

atestados, “Chefia não acredita e não gosta quando apresento atestados”.

Page 183: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

182

Dos entrevistados, 12% afirmam já ter sofrido algum tipo de acidente dentro da

empresa nos últimos cinco anos, enquanto 45% dos trabalhadores afirmam que já foram afastados

por doença ou acidente de trabalho. O tempo de afastamento variou de um a 30 dias. Os motivos

citados foram torção de pé, gastrite, estresse, distensão muscular, doença respiratória, acidentes,

LER e dores nas pernas.

Dos trabalhadores que foram afastados, apenas 12,7% não retornaram a mesma função

depois do afastamento. Percebe-se, a partir dos relatos, que muitos não retornaram à mesma

função porque a atividade estava afetando a saúde. Podemos considerar uma atitude positiva da

empresa, mas paliativa se não forem repensados os processos de trabalho.

TABELA 105 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE BRASÍLIA (%) – MAIO 2008

Boa 13,22%

Regular 28,10%

Ruim 12,40%

Não tem conhecimento 46,28%

Total geral 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Chama atenção o fato de que quase metade dos trabalhadores não tem qualquer

conhecimento sobre a Comissão Interna para Prevenção de Acidentes (CIPA). Também são

vários os relatos de que não se pode desempenhar seu papel adequadamente porque seus

integrantes não têm treinamento suficiente ou não têm disponibilidade para exercer a função de

cipeiros em virtude do excesso de trabalho na loja. Entre os relatos dos que criticaram a sua

atuação: “não têm ainda total controle da prevenção de acidentes; quase todo mundo da CIPA não

pode acompanhar por estar desenvolvendo outra atividade”; “não há preparo das pessoas que

estão na CIPA, quando tem aviso de socorro presenciou atitudes inadequadas”; “quando alguém

passa mal são funcionários que levam para atendimento, pessoal da CIPA não assume

responsabilidade”; “as pessoas caem tem que chamar os brigadistas do shopping, pessoal da

CIPA está envolvido em outro problema da loja e não em socorrer”.

A atuação da CIPA é importante não apenas de prevenir os acidentes de trabalho, mas

Page 184: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

183

também identificar as doenças laborais em aumento na loja, em especial das de ordem

psicológica.

10. UNIDADE FORTALEZA

10.1. PERFIL DOS TRABALHADORES

De acordo com os documentos fornecidos pela empresa, 153 funcionários trabalhavam

na C&A na data da pesquisa, em junho de 2008. Entretanto, 124 participaram das entrevistas.

10.1.1 Sexo

O quadro de funcionários da unidade de Fortaleza segue a tendência geral da empresa

C&A, em que a maior parte dos trabalhadores é do sexo feminino. Dos entrevistados nesta loja,

56% são mulheres e 44% são homens.

TABELA 106 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR SEXO/GÊNERO NA UNIDADE FORTALEZA - MAIO 2008

SEXO NÚMERO DE TRABALHADORES

Feminino 69

Masculino 55

Total geral 124

Fonte: Pesquisa IOS, Elaboração: IOS

De acordo com a gerente de operações, corroborando uma idéia dita pela maior parte

dos líderes da empresa, não há maior ou menor contratação de mulheres para determinadas áreas

e/ou setores. A predominância de mulheres no quadro de funcionários se deve, segundo ela, deve-

se à identificação do público feminino pelo segmento da moda. “pelo setor da empresa que é

moda, então as mulheres podem se identificar mais”.119

119 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 185: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

184

10.1.2 Idade

Nota-se no gráfico abaixo que não há trabalhador com idade superior a 49 anos e que

jovens, com idade até 24 anos, representam a maioria dos entrevistados nesta loja.

GRÁFICO 30 – NÚMERO DE TRABALHADORS POR IDADE NA UNIDADE FORTALEZA (%) - MAIO 2008

Fonte: Pesquisa IOS, Elaboração: IOS

10.1.3 Raça/Cor

Na unidade de Fortaleza, 63% dos entrevistados se autodeclararam negros (pretos e

pardos). De acordo com o IBGE, em 2007, a população da Região Metropolitana de Fortaleza era

composta por 59,5% de pardos, 35,6% de brancos e 4,4% de pretos. Os números estão muito

próximos àqueles obtidos pelo IOS, ou seja, a composição racial da unidade Fortaleza reflete a

composição racial da RMF. Seguem os números relativos:

4%

59%

26%

9%

2%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

a) Até 17

anos

b) De 18 a 24

anos

c) De 25 a 29

anos

d) De 30 a 39

anos

e) De 40 a 49

anos

Page 186: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

185

GRÁFICO 31 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR COR/RAÇA NA UNIDADE DE FORTALEZA – MAIO DE

2008

Fonte: Pesquisa IOS/Auto-declaração dos trabalhadores da C&A. Elaboração: IOS

Quando considerados os cargos de liderança, nota-se que os pardos estão melhor

representados, somando 9%. Entre os funcionários brancos 4%. são monitores e líderes e entre os

pardos o número de monitores e líderes é 9%. No entanto, não há nenhum trabalhador de cor/raça

preta no cargo de líder, apenas um como monitor.

De acordo com a C&A, “sua política de cargos e salários é igual para todos os

funcionários, independente da idade, tempo a empresa, raça e gênero”. A empresa também afirma

que esses dados estatísticos serão analisados para melhor compreensão de suas realidades

regionais.

TABELA 107 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR RAÇA E FUNÇÃO UNIDADE FORTALEZA MAIO 2008

Qual o seu

cargo/função Branca Preta Parda Amarela Indígena

Nº de

Trabalhadores

assessor de cliente 27 9 42 1 4 83

Fiscal 4 0 6 0 0 10

Líder 3 0 3 0 0 6

menor aprendiz 1 0 5 0 0 6

Monitor 3 1 9 0 0 13

Outros 2 0 3 0 0 5

inspetor de fiscais 1 0 0 0 0 1

Total geral 41 10 68 1 4 124

Fonte: Pesquisa IOS, Elaboração: IOS.

33%

8%

55%

1%

3%

a) Branca

b) Preta

c) Parda

d) Amarela

e) Indígena

Page 187: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

186

10.1.4 Escolaridade

A maioria (63%) dos entrevistados na unidade de Fortaleza possui o ensino médio

completo. Esse resultado confirma a tendência da empresa em trabalhar com pessoas que tenham

cursado o ensino médio, conforme os relatos apresentados pelas lideranças.

TABELA 108 - NÚMERO DE TRABALHADORES POR ESCOLARIDADE UNIDADE FORTALEZA MAIO 2008

Nível de Escolaridade Nº de Trabalhadores

Ensino Médio / 2º grau / colegial cursando 8

Ensino Médio / 2º grau / colegial completo 78

Superior / Graduação incompleto 14

Superior / Graduação cursando 16

Superior / Graduação completo 7

Ensino Fundamental / 1º grau (1ª a 8ª série) completo 1

Total geral 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Do total de entrevistados em Fortaleza, 8% declararam ter concluído curso técnico

equivalente ao segundo grau. Os cursos mais citados foram técnico em hardware, em

processamento de dados, em agroindústria, em turismo, em manutenção, prevenção de acidentes

e comandos elétricos, serigrafia (estampas de roupas), administração, RH e atendimento ao

cliente, noções básicas de empreendedorismo, secretariado e contabilidade.

10.1.5 Cargo /Função

A tabela abaixo apresenta o número de trabalhadores entrevistados distribuídos por

cargos/função:

TABELA 109 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

Cargo/Função Nº de Trabalhadores

assessor de cliente 83

Fiscal 10

Líder 6

menor aprendiz 6

Monitor 13

Outros * 5

inspetor de fiscais 1

Page 188: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

187

Total geral 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

*Nota: técnicos de manutenção geral, supervisor, assistentes administrativos

Percebe-se que o quadro de funcionários da loja de Fortaleza é formado em sua

maioria por assessores de clientes, equivalente a 67%. Nota-se, também, que há um número

muito reduzido de pessoas em cargos de liderança (líder e monitor), que, juntos, equivalem a

15% do total de trabalhadores entrevistados.

Em Fortaleza, como em outras unidades da C&A, os assessores de clientes

desempenham funções variadas, como abordagem a clientes para venda de cartões, venda de

produtos financeiros, organização de área, reposição de mercadorias, montagem de visual da loja,

descarrega de caminhão, colocação de alarmes em roupas, operação de caixa, distribuição de

roupas do provador, recebimento de faturas, oferecer vendas em oito vezes no cartão, realizar

pagamentos, fazer saques e cartões, preencher propostas de cartões, digitalizar e consulta a CPFs

de clientes, atendimento de telefones, manter o caixa limpo, venda de Novos Produtos (NPs) no

cartão, recarga de celular, e remarcação de preços, comparecer nas audiências, cumprir as metas.

Em geral, as falas dos trabalhadores revelam que eles “fazem de tudo um pouco”.

TABELA 110 – NÚMERO DE TRABALHADORES POR CARGO/FUNÇÃO E SEXO UNIDADE FORTALEZA – MAIO

2008

Cargo/função Feminino Masculino Total geral

assessor de cliente 72% 60% 67%

Fiscal 3% 15% 8%

Líder 7% 2% 5%

menor aprendiz 1% 9% 5%

Monitor 12% 9% 10%

Outros* 4% 4% 4%

inspetor de fiscais 0% 2% 1%

Total geral 100% 100% 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

*Nota: técnicos de manutenção geral, supervisor, assistentes administrativos.

A partir da tabela, nota-se que a distribuição de cargos, tanto de liderança (monitor e

líder) como os demais, é equilibrada entre homens e mulheres, com óbvia preponderância das

Page 189: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

188

mulheres nos cargos de líder e assessor de cliente, uma vez que as elas representam 56% do

contingente de funcionários da unidade Fortaleza.

10.1.6. Tempo no emprego

Na loja de Fortaleza, os trabalhadores com menos de um ano de empresa são, em sua

maioria, homens. 34,6% das mulheres estão no período de um a dois anos de contratação. Este

dado pode indicar que, nesta unidade, há alta rotatividade entre os trabalhadores entrevistados, já

que apenas 24% estão contratados na loja há mais de quatro anos. Seguem abaixo os números

absolutos:

TABELA 111 – TEMPO NA EMPRESA POR SEXO UNIDADE FORTALEZA - MAIO 2008

Tempo de empresa Feminino Masculino Nº de Trabalhadores

Menos de 1 ano 9 13 22

De 1 a 2 anos 26 20 46

Mais de 2 até 4 anos 14 13 27

Mais de 4 até 6 anos 9 3 12

Mais de 6 anos 11 6 17

Total geral 69 55 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

10.2. GESTÃO DE TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS

10.2.1. Liberdade Sindical/relações sindicais

Poucos trabalhadores da unidade de Fortaleza dizem ser sindicalizados. Entre os

entrevistados, apenas 13% respondem ser filiado a algum sindicato. No entanto, dos 16

trabalhadores que dizem ser filiados, 11 sabem responder corretamente o nome de seu sindicato

(Sindicato dos Comerciários). Também há respostas do tipo “o [sindicato] que todos são”, “a loja

é filiada ao sindicato do comércio”; “não tenho certeza, mas acho que é o Sindicato dos

Comerciários”.Também há os responderam que eram filiados a algum sindicato, mas não

lembraram ou não sabiam qual era o nome.

Page 190: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

189

Muitos dos entrevistados entendem que pagar a contribuição anual é ser filiado ao

sindicato. Outros pensam, ainda que a sindicalização é obrigatória. Ou seja, além do nível de

sindicalização nesta unidade ser baixo, mesmo entre os trabalhadores sindicalizados não há uma

idéia clara acerca da ação sindical.

Quando questionados sobre o tempo de filiação ao Sindicato dos Comerciários, muitos

responderam ser filiados desde que entraram na empresa. Este fato reforça a idéia de que os

trabalhadores compreendem que a filiação ao sindicato é automática à admissão na empresa e que

o pagamento da contribuição anual ocorre porque são filiados.

Os trabalhadores da unidade de Fortaleza são informados das atividades e assuntos do

sindicato, principalmente, pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais),

conversando com colegas e lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato.

O quadro a seguir mostra a quantidade de vezes que o veículo de informação foi

apontado como importante pelos trabalhadores entrevistados.

TABELA 112 - COMO OS TRABALHADORES ADQUIREM INFORMAÇÕES SINDICAIS – MAIO 2008

Participando de assembléias ou reuniões do sindicato 2

Lendo boletins, panfletos ou jornais do sindicato. 39

Conversando com diretores do sindicato 2

Conversando com colegas de trabalho 57

Conversando com chefes ou gerentes 33

Pelos meios de comunicação no local de trabalho (murais) 59

Pelo carro de som 3

Não tenho conhecimento 20

Outros. Quais? 2

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Segundo supervisor120 entrevistado, a empresa permite a distribuição de informativos

do sindicato nos locais de trabalho e na loja, e os panfletos ficam em uma caixa de acrílico

próximo ao ponto eletrônico, onde todos os trabalhadores possam ver. Completa que a empresa

não interfere no acesso dos sindicalistas ao local de trabalho, porém considera que o local de

trabalho não é ambiente adequado. “O associado trabalha numa área de vendas; não acho

120

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 191: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

190

interessante esse espaço físico para isso”121, afirmou, reforçando que a empresa não interfere

quando são convocadas reuniões dos trabalhadores pelo sindicato em algum local da unidade.

Porém, pelo fato da loja do centro ser perto do sindicato, as reuniões são feitas no próprio

sindicato.

Embora a empresa não interfira na relação do trabalhador com o sindicato, o fato de

não haver um espaço no horário de trabalho para que o sindicato possa conversar com o

trabalhador pode constituir impedimento à ação sindical. A tabela anterior reflete essa situação, já

que apenas 1% dos trabalhadores afirma saber dos assuntos do sindicato mediante seus

dirigentes. Conseqüentemente, a maioria (95%) dos trabalhadores entrevistados em Fortaleza

declara nunca ter participado de atividade sindical. Os trabalhadores que afirmam já terem

participado alguma vez correspondem a 5% do total dos entrevistados, e afirmaram que essas

atividades foram reuniões nas instalações do sindicato.

10.2.2 Salário e Benefícios

10.2.2.1 Remuneração

O número de trabalhadores na unidade Fortaleza na faixa salarial de até um salário

mínimo é de 20%. A maioria dos trabalhadores (55%) ganha de 1,01 a 1,5 salários mínimos, ou

seja, 75% dos entrevistados recebem até 1,5 salário mínimo. Em Fortaleza, o índice de

trabalhadores nessa faixa salarial é maior em relação às outras unidades, o que faz com que o

perfil salarial seja o mais baixo.

121

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun.2008.

Page 192: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

191

GRAFICO 32 - REMUNERAÇÃO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Pela CCT 2008, fica estabelecido que, para trabalhadores de empresas com mais de

dez empregados, o piso salarial corresponde a R$ 468,00. No entanto, na loja de Fortaleza 25

trabalhadores declaram que recebem até 1 salário mínimo, o equivalente a R$ 415,00.

A distribuição dos salários entre entrevistadas do sexo feminino, dividido por cor/raça.

É possível notar que, na distribuição salarial, há concentração expressiva da cor/raça parda em

todas as faixas salariais (lembrando que 55% dos entrevistados na unidade da C&A em Fortaleza

se autodeclaram pardos).

Segundo a gerente da unidade, a C&A tem um plano de cargos e salários que

recentemente foi revisto. Nele, os cargos foram redefinidos e passou a ser nacional, ou seja, igual

para todas as lojas. Ela completa dizendo que, também em Fortaleza, o plano de cargos e salários

não é discutido com o sindicato, pois é algo interno e a empresa procura oferecer salários maiores

que os oferecidos pela concorrência.122 Essa afirmação foi feita por todos os líderes e representa

uma política da empresa de exclusão dos sindicatos na negociação da construção de um plano de

cargos e salários.

Em Fortaleza, a comissão do PROPAR é formada por cinco pessoas. Ainda segundo a

gerente, a participação do sindicato nessa negociação se dá da seguinte maneira: “a loja convida o

122

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

25

68

159

51 1

a) até 1 s alário

mínimo (até R $

415,00)

b) de 1,01 a 1,5

s alário mínimo (de

R $ 415,01 a R $

622,50)

c ) de 1,51 a 2

s alários mínimos

(de R $ 626,51 a R $

830,00)

d) de 2,01 a 2,5

s alários mínimos

(de R $ 830,01 a R $

1037,50)

e) de 2,51 a 3

s alários mínimos

(de R $ 1037,51 a

1245,00

f) de 3,01 a 4

s alários mínimos

(de R $ 1245,01 a

R $ 1660,00)

g) de 4,01 a 5

s alários mínimos (

de R $ 1660,01 a R $

2075,00)

Page 193: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

192

sindicato para participar da reunião da comissão do PROPAR, é feito um convite formalizado e o

sindicato é responsável por mandar um representante”. A afirmação foi confirmada pelo

supervisor da loja, que ressaltou que “o sindicato é muito atuante e participou da última

reunião”.

10.2.2.2 Benefícios

De acordo com supervisor, a C&A “tem benefícios para se diferenciar de outras

empresas do mercado, tais como desconto de 20% na compra de roupas, convênio-farmácia,

auxílio-creche, auxílio-funeral, convênio com universidade, assistência médica, refeição e

convênio odontológico” 123. Também há, por lei, o benefício de vale-transporte e o auxílio creche,

definido por convenção coletiva. A gerente completa que a empresa tem, ainda, o

reconhecimento por tempo de casa e acrescenta que o auxílio creche foi definido por convenção

coletiva.. Na CCT 2008, estão previstos também auxílio-funeral, seguro de vida, jornada do

estudante, assistência médico-hospitalar e jurídica aos guarda noturnos e vigias.

10.2.2.3 Treinamento

Segundo gerente, a política de formação profissional da empresa é nacional. Os

treinamentos são realizados de acordo com os setores, mas há treinamentos gerais para todos os

“associados”.124

De acordo com supervisor, o “treinamento é feito todos os dias. É feita com freqüência

reciclagem de pessoal e todos que entram fazem o Job Rotation”125. Na unidade, a maioria (89%)

dos trabalhadores afirma que já fez algum tipo de curso ou treinamento oferecido pela empresa, e

mais de um terço dos entrevistados (36%) respondeu que já participou de mais de um curso ou

treinamento diretamente relacionado à função que desempenha, como ilustra o gráfico a seguir:.

123

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 124

Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 125

Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 194: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

193

GRÁFICO 33 - NÚMERO DE CURSOS/TREINAMENTOS REALIZADOS UNIDADE FORTALEZA - MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Não é possível afirmar que a quantidade de cursos oferecidos pela empresa contribua

ampla e qualitativamente do ponto de vista profissional. Desta forma, a maioria dos entrevistados

afirmou que os cursos e treinamentos não contribuíram para que fosse promovido, mas

aumentaram os conhecimentos sobre o trabalho que desempenha.

GRÁFICO 34 - CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS/TREINAMENTOS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

10.2.2.4 Promoção

Fortaleza segue o padrão nacional de política de pessoal, não discutida com o sindicato

37%

62%

1% a) Contribuiu para você serpromovido/a e aumentouos seus conhecimentossobre o trabalho quedesempenha.

b) Não contribuiu para vocêser promovido, masaumentou os seusconhecimentos sobre otrabalho que desempenha.

c) Não acrescentou nada

2

40

31

37

a) Apenas 1 b) De 2 a 5 c ) De 6 a 10 d) Mais de 10

Page 195: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

194

por ser considerada um assunto interno da empresa. Ainda assim, a maioria dos trabalhadores

(98%) sabe que há na empresa um plano de cargos e salários ou de carreira.

TABELA 113 - NÚMERO DE TRABALHADORES CIENTES DA EXISTÊNCIA DO PLANO DE CARGOS E

SALÁRIOS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

Sim 121

Não 0

Não sabe 3

Total geral 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Grande parte dos entrevistados (80%) também disse que conhece o conteúdo desse

plano. No entanto, a pesquisa não permite saber qual o nível desse conhecimento e como ele é

passado.

Durante a pesquisa de campo foi possível observar que a avaliação dos funcionários da

C&A é um processo considerado importante pela empresa para as promoções a cargos mais

elevados. Na unidade de Fortaleza, a maior parte (97%) dos funcionários sabe que existe uma

avaliação, e 94% dos trabalhadores respondem que são avaliados no desempenho da sua

atividade. Duas das sete pessoas entrevistadas que afirmam não terem sido avaliadas no

desempenho da sua atividade trabalham há mais de um ano na empresa.

De acordo com os relatos dos trabalhadores, as formas de avaliação, em geral, são:

feed back diário sobre o desempenho no trabalho; avaliação diária pelos supervisores, de acordo

com as metas/vendas de cartões; avaliação por meio de um questionário respondido anualmente,

seguido de debate com supervisores e gerência, o que alguns chamam de Face to Face. Alguns

trabalhadores afirmam que nesta conversa com supervisores ou gerência é feita uma comparação

sobre o desempenho do funcionário em relação ao ano anterior e que, embora haja um conjunto

de fatores que possam ser avaliados em relação à promoção, a produtividade do trabalhador em

relação às metas de cartões é um dos itens mais considerados.

Com relação às oportunidades de promoção, a maioria dos entrevistados (98%)

considera que a empresa as oferece. De forma geral, afirmam também que a promoção depende

Page 196: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

195

do desempenho de cada trabalhador e do cumprimento das metas. Diferentemente das outras

lojas, em Fortaleza os funcionários não tem a idéia de promoção ligada ao aumento da jornada de

trabalho, de seis para oito horas diárias.

Os relatos revelam que: “porque as lideranças estão sempre incentivando a

desempenhar bem o trabalho e estudar também para ocupar os cargos que são oferecidos”,

“acontece de acordo com o esforço do associado e se tiver faculdade também”, “dentro de um

tempo de trabalho, dedicação à empresa e formação escolar a pessoa é promovida”, “em alguns

casos sim, quem é mais próximo de lideranças tem uma chance maior de ser promovido, porém

quem faz bem seu trabalho, mas não se destaca muito não é”, “porque estou a pouco tempo na

empresa e já consegui uma pequena promoção”, “a empresa dá oportunidades por meio de

incentivos como descontos em faculdade”.

Das pessoas que responderam que a empresa oferece oportunidades de promoção, 97%

avaliam que os critérios são justos. Esses dados revelam que, na unidade Fortaleza, o processo de

avaliação e promoção é feito de forma clara, com critérios estabelecidos e evidentes, seguidos por

parte dos supervisores e gerência.

No entanto, há alguns relatos de trabalhadores que indicam que nem sempre os

critérios de promoção são justos. Alguns afirmam que “depende da situação”, que “muitas vezes

as regras não são claras nem divulgadas e também não são iguais para todos”. Nesse sentido, há

ressalvas sobre os critérios de promoção entre os entrevistados: “já vi muitas pessoas

promovidas, mas acho que os critérios de promoção não são bem aplicados e existem algumas

injustiças”; “embora tenha visto promoções desde que entrou na empresa, não sabe quais critérios

são utilizados para promover pessoas, às vezes não concorda com certas promoções”.

Na tabela a seguir, nota-se que os critérios de promoção mais citados por trabalhadores

estão relacionados a desempenho individual, dedicação à empresa e formação escolar. O baixo

índice de citações do critério “amizade com a chefia” comprova que o processo de avaliação e

promoção é bem aceito entre os trabalhadores.

Page 197: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

196

TABELA 114 - CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO MAIS UTILIZADOS NA OPINIÃO DOS TRABALHADORES UNIDADE

FORTALEZA - MAIO 2008

Formação escolar e técnica 87

Demonstrar competência através de bom desempenho 114

Ser homem 0

Experiência adquirida no trabalho 64

Não participar de atividades do sindicato 0

Ser branco 0

Dedicação à empresa 84

Ser mulher 0

Ser negro 0

Amizade com a chefia (critérios subjetivos) 5

Outros. Quais? 1

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

10.2.3 Discriminação

Em relação à discriminação, 14% dos trabalhadores entrevistados dizem que já se

sentiram prejudicados ou discriminados na empresa por algum motivo. A seguir, os principais

motivos:

TABELA 115 - MOTIVOS PELOS QUAIS OS TRABALHADORES SE SENTIRAM PREJUDICADOS OU

DISCRIMINADOS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 0

Participação sindical 0

Participação política 0

Doença 1

Ser mulher 0

Religião 3

Orientação sexual 0

Doença no trabalho 1

Outro motivo. Qual? 12

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

O(a) trabalhador(a) que citou o motivo doença possui uma deficiência física (não quis

especificar qual) e relatou que por causa disso as pessoas o(a) vêem como uma pessoa ineficiente.

Outro(a) trabalhador(a) relatou que devido a um problema no pé teve de trazer muitos atestados

para fazer o tratamento e isso gerou comentários dos colegas que chegaram a comentar que

Page 198: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

197

devido aos atestados esta pessoa poderia não ser promovida, disse ainda que só a supervisora

sabe do problema e que tem receio de falar.

Foram mencionados pelos trabalhadores outros motivos que não estavam na lista, tais

como: não bater metas de vendas de cartões/ pressão para fazer cartões; não reconhecimento do

trabalho no setor; forma de procedimento da empresa em relação à troca de roupas; pressão da

gerência para mudança de turno; por ser menor aprendiz/ter menor carga de trabalho; teve que

trancar a matrícula da faculdade, pois foi transferido (a) e os novos horários não batem;

sobrecarga de atividades; pelas regras não serem claras; diferenciação na aplicação de

advertência entre dois funcionários; por causa de deficiência, suspensão por ter feito horas extras.

Apenas três entrevistados (2% do total) presenciaram algum caso de discriminação

contra outros trabalhadores na unidade de Fortaleza. A tabela a seguir revela os motivos

apresentados pelos trabalhadores:

TABELA 116 - MOTIVOS PELOS QUAIS ENTREVISTADOS PRESENCIARAM DISCRIMINAÇÃO DA EMPRESA

CONTRA TRABALHADORES UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

Ser homem 0

Cor ou raça 1

Participação sindical 0

Participação política 0

Doença 0

Ser mulher 0

g) Religião 0

h) Orientação sexual 0

i) Doença no trabalho 0

j) Outro motivo. Qual? 3

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Em relação às outras lojas, há em Fortaleza critérios mais objetivos e claros em relação

à promoção para cargos mais elevados. A maioria dos trabalhadores considera que os critérios de

promoção são justos. Há, contudo, alguns casos de discriminação de cor/raça e religião. As

regras, segundo alguns trabalhadores, não são iguais para todos e também não são claras e pouco

divulgadas.

Page 199: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

198

10.2.4 Jornada/Hora Extra

Em Fortaleza, diferentemente das demais unidades da C&A pesquisadas, a política de

jornada de trabalho e de hora extra foi definida na CCT. De acordo com a gerente, nessa unidade

só é permitido que os funcionários trabalhem 220 horas mensais, exceto digitadores e

telefonistas, que devem ter jornadas de 6 horas por dia. Os menores aprendizes têm jornada de 16

horas semanais e trabalham quatro dias por semana.

TABELA 117– JORNADA DE TRABALHO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

44 horas 113

36 horas 3

Outra * 8

Total geral 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

*Nota: menores aprendizes

Em relação aos turnos de trabalho a gerente afirmou serem três: “ manhã, intermediário

e tarde (fechamento)” 126. A tabela a seguir indica a distribuição dos trabalhadores nos três turnos.

De acordo com a gerente, a variação é de acordo com o movimento. “Por ser uma loja de

shopping, o fluxo é maior nos períodos intermediário e de fechamento, quando há maior número

de funcionários”.

TABELA 118 – TURNO DE TRABALHO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

Manhã (abertura) 53

Tarde 41

Fechamento 30

Total geral 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Ainda segundo a gerente da unidade, o planejamento de turnos é mensal. O supervisor

completa afirmando que o “associado que está disposto, pode trocar de turno, mas é planejado e

avisado”. De fato, houve relatos dos trabalhadores que disseram que o turno varia e que fazem

126 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 200: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

199

revezamento.

A questão das horas extras também é diferenciada em Fortaleza. Nesta unidade, por

intervenção do sindicato, não há banco de horas. Ao serem perguntados se fizeram horas extras

no mês anterior, a maioria (84%) dos trabalhadores entrevistados respondeu negativamente. Dos

trabalhadores entrevistados que dizem ter feito horas extras no mês anterior, a maioria (90%) fez

até 4 horas mensais além da sua jornada normal de trabalho.

Segundo relato da gerente, “na CCT, foi acordado que só pode fazer duas horas diárias

a mais do horário regular de trabalho e, se as faz, o funcionário é remunerado” 127. O número

máximo permitido de horas extras são 26 horas por mês.

TABELA 119 - HORAS TRABALHADAS ALÉM DA JORNADA UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

Número de horas extras trabalhadas no mês anterior Número de trabalhadores

Até 4 horas 18

De 5 a 10 horas 2

Total geral 20

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Na CCT 2008 está previsto, na Cláusula Décima Terceira, que as horas extras serão

pagas com adicional de 70%.

TABELA 120 - FORMAS DE COMPENSAÇÃO DE HORAS EXTRAS UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

As horas trabalhadas além da jornada foram ou serão: Total

a) Remuneradas e pagas como horas-extras 19

b) Não remuneradas, mas compensadas pelo banco de horas 1

Total geral 20

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Uma vez que não é permitido o banco de horas na unidade de Fortaleza, a única forma

de compensação é por remuneração. No entanto, um trabalhador respondeu que não teve suas

horas remuneradas, mas compensadas pelo banco de horas.

127 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 201: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

200

10.2.5 Saúde e Segurança no Trabalho

Em geral, as condições do ambiente de trabalho foram bem avaliadas pelos

trabalhadores, sendo que o item ruído foi o mais criticado: 12 pessoas se disseram incomodadas

pelo barulho da loja em Fortaleza.

TABELA 121 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO Boa Regular Ruim Total geral

Temperatura 102 20 2 124

Iluminação 113 11 0 124

Ruído 84 27 12 123

Ordem / organização do espaço de trabalho 93 30 1 124

Limpeza 104 20 0 124

Conforto 100 22 2 124

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Nota: no item ruído há uma pessoa a menos, 123, pois entre os 124 entrevistados um era deficiente auditivo.

Em relação ao conforto e ao ruído, há duas cláusulas específicas na CCT. A primeira

estabelece assentos no local de trabalho (as empresas manterão assentos para seus empregados

em local que os mesmos possam ser utilizados por aqueles que tenham por atribuição

atendimento ao público, em pé, nos termos da NR 17.3.5 )128 ; a segunda refere-se à poluição

sonora, proibindo a utilização nas empresas de equipamento sonoro ou qualquer outro tipo de

perturbação sonora causadora de ruídos ou barulhos acima dos limites estabelecidos pela NR

(Norma Regulamentadora) nº15 da Portaria 3.214 de 1978.

Em Fortaleza, 77% dos trabalhadores consideram que o ritmo de trabalho exigido pela

empresa, em algum momento, chegou a prejudicar a saúde. Entretanto, a mesma porcentagem

considera que, no momento da pesquisa, seu estado de saúde era bom.

Semelhante às demais lojas pesquisadas, em Fortaleza, os problemas de saúde

relacionados à atividade de trabalho mais citados pelos trabalhadores entrevistados foram

128 De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego a NR 17.3.5 - Para as atividades em que os trabalhos devam

ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos

os trabalhadores durante as pausas. (117.016-3 / I2). Disponível em:

http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_17.asp. Acesso em: 16 set. 2008

Page 202: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

201

problemas de coluna, lesão por esforços repetitivos e depressão ou estresse. Contudo, a

percentagem de trabalhadores que apresenta problemas de saúde é menor que nas outras

unidades.

TABELA 122 - CITAÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE NA EMPRESA UNIDADE

FORTALEZA - MAIO 2008

Problemas de coluna 22

Surdez 1

Doenças de pele 1

Problemas respiratórios 4

Lesão por esforços repetitivos (LER/DORT) 22

Doenças do sangue 0

Depressão ou estresse 28

Câncer 0

Alergias 10

Outro. Qual? 8

Não apresentou nenhum problema de saúde 61

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Dentre outros problemas de saúde citados pelos trabalhadores estão cansaço físico; dor

no joelho, por trabalhar muito tempo em pé, no caixa; dores no peitoral, por carregar peso;

infecção urinária por não tomar água e não ir ao banheiro, por causa do movimento da loja; dores

no ouvido; gastrite,;problemas nas pernas (inchaço); pigarro na garganta por falar muito.Alguns

destes problemas também estão relacionados a LER/DORT e outros estão ligados ao ritmo

intenso de trabalho, agravado nos finais de semana.

Embora haja um número considerável de pessoas com depressão ou estresse na loja de

Fortaleza, grande parte das pessoas (49% dos entrevistados) respondeu que não apresentou

problema de saúde relacionado à sua atividade de trabalho. Dentre os que já apresentaram, 53%

disseram que foram clinicamente diagnosticados e relacionados à atividade de trabalho.

Na unidade Fortaleza, o índice de acidentes de trabalho é baixo em relação às outras

lojas: apenas 2% dos trabalhadores afirmam já ter sofrido algum acidente de trabalho nos últimos

cinco anos.

Do total, 59% dos trabalhadores já estiveram afastados por acidente de trabalho ou

Page 203: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

202

outros problemas de saúde. Os períodos dos afastamentos variam de um a 15 dias. Dentre esses,

93% retornaram à mesma função que exercia antes do afastamento. Dos que não retornaram à

mesma função, 7% foram afastados por problemas de LER/DORT. Portanto, a justificativa pela

qual não voltaram à mesma função após o afastamento foi a mudança de área, para não

aprofundar o problema de tendinite.

Em relação à atuação da CIPA, o gráfico abaixo ilustra que um grande contingente de

funcionários considera como “boa”.

GRÁFICO 35 - AVALIAÇÃO DA CIPA POR PARTE DOS TRABALHADORES UNIDADE FORTALEZA – MAIO 2008

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os relatos dos trabalhadores revelam que a comissão “sempre orienta os funcionários”,

“estão sempre atentos ao que está acontecendo e sempre agindo preventivamente”, “fazem bom

trabalho, sempre com palestras e atentos a qualquer acidente que possa ocorrer dentro da

empresa”.

Dentre os que criticaram a atuação da CIPA, a maioria enfatiza a falta de participação

ativa e a presença somente em época de eleições.

Os problemas de saúde mais citados na unidade Fortaleza não são muito diferentes dos

problemas citados em outras lojas: problemas de coluna, estresse ou depressão, LER/DORT.

41%

32%

6%

21%

a) Boa

b) Regular

c) Ruim

d) Não tem conhecimento

Page 204: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

203

Citações como dor no joelho e inchaço nas pernas remetem ao fato dos trabalhadores ficarem

muito tempo em pé. Reforça-se, aqui, que a empresa deve seguir a CCT e a Norma

Regulamentadora no que se refere aos assentos nos locais de trabalho, já explicitados. Ressalta-

se, contudo, que, nesta unidade, os índices de doenças e as respostas dos trabalhadores sobre a

saúde estão entre as melhores das unidades pesquisadas.

11. POLÍTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

11.1. INSTITUTO C&A E PRÁTICAS COMUNITÁRIAS

Mediante declarações públicas, a empresa apresenta sua visão de Responsabilidade

Social:

A C&A acredita que a ética, a responsabilidade social e a preservação do meio ambiente são

valores fundamentais para uma empresa. Por isso, possui como princípio básico o respeito a

seus funcionários, fornecedores e à comunidade como um todo. (...) Realiza também ações de

preservação do meio ambiente, como utilização de papel reciclado, coleta seletiva de lixo em

todos os departamentos e não distribuição de folhetos em via pública. (...) Além disso,

contribui com entidades assistenciais e filantrópicas e busca sempre o bem-estar de seus

funcionários e de toda a comunidade. Com ações como essas, a C&A acredita e espera

contribuir para um mundo melhor. 129

De acordo com a empresa, são promovidas ações comunitárias no Brasil desde 1976 e,

a partir de meados dos anos 80, “a própria expansão da empresa no Brasil e a ambiência política

democrática mais favorável a partir de um conjunto de condições sociais, culturais etc.,

permitiram a atuação institucionalizada da política de investimento social” 130 da C&A.

A empresa declara nos documentos disponibilizados ao IOS que as suas ações de

Responsabilidade Social Empresarial (RSE) vão além de orientações legais e buscam o

desenvolvimento de competências humanas. Entrevista feita com o diretor-presidente do Instituto

C&A reafirma esta idéia:

129

C&A. Disponível em: http://www.cea.com.br. Acesso em: 24 set. 2008. 130

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 205: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

204

No início, a formação do Instituto C&A teve algumas premissas: envolver os funcionários para

uma compreensão do plano de voluntariado de forma a entender que a sua participação social é

um direito. Teve-se a preocupação em responder a pergunta: por que a C&A tem uma atuação

social? Porque a empresa entende que ela tem uma co-responsabilidade social no contexto

onde ela vive.

A C&A tem o selo da Fundação Abrinq desde 1998, fato que a reconhece como

“Empresa Amiga da Criança”, ou seja, a empresa assume compromissos em benefício da infância

e adolescência. O selo é renovado anualmente.

Outra ação da área de RSE da C&A é a adesão desde julho de 1997 ao Programa na

Mão Certa, com apoio do Instituto C&A. O programa conta também com o apoio do Instituto

Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que em parceria com a Childhood Brasil criou o

Pacto Empresarial Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias

Brasileiras. O objetivo do programa é combater a exploração sexual de crianças e adolescentes e

tem seu foco voltado na educação do caminhoneiro com o intuito de transformá-lo em agente de

proteção. De acordo com a C&A, desde o início da adesão à iniciativa foram capacitados mais de

240 caminhoneiros das empresas de transportes que são parceiras da C&A. Há também o

compromisso da C&A com a sustentabilidade do planeta que será visto mais adiante nas políticas

de meio ambiente da empresa.

Fundado em 1991, o Instituto C&A tem como missão: “participar ativamente do

processo de educação de crianças e adolescentes, fortalecendo estrategicamente as organizações

sociais parceiras e contribuindo para o desenvolvimento do Terceiro Setor” 131. Conforme explica

líder da empresa, a perspectiva de atuação da C&A por meio do Instituto C&A é “assegurar o

direito à educação, já previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na Constituição

brasileira”. Segundo o diretor, um dos princípios que nortearam o início do Instituto C&A foi a

mobilização para que este direito à educação fosse fortalecido e assegurado.

Outra perspectiva de atuação do Instituto é “promover o fortalecimento do

protagonismo da sociedade civil e, a partir daí, fazer união com ONGs locais, associação de

131

Documentos disponibilizados pela C&A.

Page 206: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

205

moradores, entre outros atores sociais, que tenham uma visão de mundo voltado para a demanda

local e que possam fortalecer a atuação do Instituto onde quer que ele atue”.132

De acordo com os documentos fornecidos pela empresa, uma nova unidade do Instituto

C&A é fundada logo depois da inauguração de uma loja da rede. Desta forma, a organização está

presente em todas as localidades onde há lojas da C&A.

O Instituto C&A organiza suas atividades em torno de três áreas: Educação, Arte e

Cultura, com os programas Prazer em Ler, Educação em Tempo Integral e Educação Infantil;

Desenvolvimento Institucional e Comunitário com os Programas, com os programas Redes e

Alianças e Fortalecimento Institucional; e Voluntariado Empresarial, que desenvolve programa

de mesmo nome”. Este programa de voluntariado alcança aproximadamente 20% (cerca de 2.140

pessoas) dos funcionários da empresa, que atuam como voluntários das ações sociais apoiadas

técnica e financeiramente pelo Instituto. A empresa permite que os funcionários pratiquem o

voluntariado durante o expediente de trabalho. De acordo com diretor do Instituto, os

stakeholders que participam da elaboração das políticas, programas e ações do Instituto estão

“dentro de uma perspectiva interna. Participam a equipe do Instituto C&A, os funcionários,

gerentes e o conselho do Instituto C&A. Os participantes externos são lideranças de ONGs, com

as quais é feito um diálogo a partir da demanda local, e às vezes o poder público e outros

investidores”.

Nas unidades pesquisadas pelo IOS, as questões referentes às ações de RSE revelam

que 90% dos entrevistados conhecem algum programa da empresa voltado para a comunidade, e

estes respondem que o programa é o Instituto C&A.

TABELA 123 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE CONHECE ALGUM

PROGRAMA DA EMPRESA VOLTADO PARA A COMUNIDADE

Unidade Sim Não A empresa não tem

programa desse tipo

Total

geral

Brasília 12,36% 1,62% 0% 14%

CD 32,33% 2,66% 0% 35%

Fortaleza 13,51% 0,69% 0% 14%

132

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 207: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

206

Porto Alegre 11,66% 0,46% 0% 12%

Shopping Interlagos 13,63% 2,77% 0% 17%

Shopping Tamboré 6,93% 1,04% 0% 8%

Total geral 90,42% 9,24% 0% 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A respeito do conhecimento dos funcionários sobre as ações de RSE, 67% dos

trabalhadores entrevistados durante a pesquisa responderam positivamente.

TABELA 124 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE CONHECEM AS AÇÕES

DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA (INSTITUTO C&A)

Unidade Não Sim Total geral

Brasília 6% 8% 14%

CD 9% 26% 35%

Fortaleza 4% 10% 14%

Porto Alegre 4% 8% 12%

Shopping Interlagos 7% 9% 17%

Shopping Tamboré 3% 5% 8%

Total geral 33% 67% 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

As pessoas que responderam esta pergunta positivamente assinalaram três pontos

considerados importantes em relação à política desenvolvida pelo Instituto: o foco de atuação em

educação de crianças e adolescentes, o programa específico para estimular a leitura e o incentivo

ao trabalho voluntário dos seus funcionários.

TABELA 125 – OPÇÕES MAIS ASSINALADAS PELOS TRABALHADORES DA C&A SOBRE OS PONTOS MAIS

IMPORTANTES DA POLÍTICA DO INSTITUTO C&A

Pontos da política do Instituto C&A Total geral

Atuação na comunidade 13%

O foco de atuação em educação de crianças e adolescentes 27%

Atuação na comunidade próxima ao associado 3%

O Instituto manter um Programa específico para estimular a leitura 24%

A doação pela empresa das horas do trabalho voluntário dos funcionários da C&A 14%

Incentivo ao trabalho voluntário dos seus funcionários 19%

Total geral 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

OBS: Cada entrevistado escolheu até 3 opções.

Questionado sobre como os funcionários são informados sobre as políticas e ações do

Instituto C&A, o diretor afirma que o convite para participar do Instituto é feito logo no início,

Page 208: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

207

durante a apresentação da empresa aos recém-contratados. Há também, segundo ele, a semana do

Instituto, os encontros de formação e as atividades de mobilização interna, como divulgação de

jornais e o chamado café literário.

Perguntados se já foram convidados pela empresa a fazer algum trabalho voluntário, os

trabalhadores responderam da seguinte forma:

TABELA 126 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE DISSERAM JÁ TER SIDO

CONVIDADOS PELA EMPRESA A FAZER ALGUM TRABALHO VOLUNTÁRIO

Unidade Não Sim Total geral

Brasília 3% 11% 14%

CD 9% 26% 35%

Fortaleza 2% 12% 14%

Porto Alegre 3% 9% 12%

Shopping Interlagos 8% 8% 17%

Shopping Tamboré 4% 4% 8%

Total geral 29% 71% 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

TABELA 127 - PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE SE SENTIRAM A VONTADE

PARA FAZER O TRABALHO SOCIAL VOLUNTÁRIO A CONVITE DA EMPRESA

43.1: Unidade Sim, mas não fez Não Sim Total geral

Brasília 5% 2% 7% 14%

CD 14% 4% 18% 35%

Fortaleza 3% 1% 11% 14%

Porto Alegre 5% 2% 5% 12%

Shopping Interlagos 8% 2% 6% 17%

Shopping Tamboré 4% 1% 3% 8%

Total geral 39% 11% 50% 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Dos trabalhadores que se sentiram à vontade para fazer o trabalho voluntário, mas não

o fizeram, alguns citaram que o motivo seria o medo de prejudicar seu trabalho devido à sua

ausência do setor. Além disso, foi mencionado também que muitos não fazem por falta de tempo,

pois como têm família e filhos, não poderiam participar com freqüência das atividades e não

poderiam se dedicar ao trabalho voluntário como desejariam. É necessário mencionar que o

trabalho voluntário é feito durante a jornada de trabalho na C&A.

Em relação aos locais onde são feitos os trabalhos voluntários dos funcionários da

C&A, o diretor respondeu que, embora a decisão seja tomada pela equipe do Instituto C&A em

Page 209: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

208

conjunto com a equipe dos voluntários, as lideranças de cada loja e os associados podem dar

sugestões. O local é escolhido de acordo com as demandas sociais, e a atuação do Instituto

também se baseia na chamada alternância de apoio.

TABELA 128 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DA C&A POR UNIDADE QUE RESPONDERAM COMO

FOI DECIDIDO ONDE SERIA FEITO O TRABALHO VOLUNTÁRIO

Unidade

A gerência

definiu

sozinha

Indicação de um

grupo de

trabalhadores

Existe uma comissão

para organizar o trabalho

voluntário

Total geral

Brasília 1% 1% 14% 16%

CD 2% 3% 28% 34%

Fortaleza 0% 2% 15% 17%

Porto Alegre 1% 0% 10% 11%

Shopping Interlagos 1% 2% 11% 14%

Shopping Tamboré 1% 0% 7% 8%

Total geral 7% 9% 84% 100%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A resposta dos trabalhadores sobre a forma como foi decidido o local onde seria feito o

trabalho voluntário confirma a declaração do diretor-presidente do Instituto C&A.

Embora a maior parte dos trabalhadores entrevistados (71%) tenha respondido que já

foram convidados pela empresa a fazer algum trabalho social voluntário. e destes, 84% tenham

dito que para decidir onde seria feito o trabalho voluntário existe uma comissão para organizá-lo,

28% não responderam esta pergunta, alegando ou que não sabiam como foi decidido onde seria

feita esta ação social voluntária ou que não tinham certeza, por isso preferiram não responder.

Outros disseram, ainda, que não tinham esta informação, pois quando entraram já tinha uma

instituição definida. Houve também os que não sabiam a resposta porque não participaram.

TABELA 129 – NÚMERO DE TRABALHADORES DA C&A QUE RESPONDERAM QUAIS SERIAM DUAS (2)

CARACTERÍSTICAS FORTES DE UMA EMPRESA SOCIALMENTE RESPONSÁVEL

Respeitar os Direitos Fundamentais do Trabalho 711

Responsabilidade fiscal e trabalhista (pagamento de todos os impostos, salários e encargos) 407

Promoção de benefícios e estímulo à participação da comunidade onde atua 151

Promover ações e programas de sustentabilidade ambiental 273

Estimular a participação do trabalhador nos programas, ações e políticas. 127

Total de respostas 1.669

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Nota: O total das respostas é maior que o total de entrevistados, porque o entrevistado (a) tinha a opção de escolher

até 2 alternativas.

Page 210: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

209

Para os trabalhadores, a questão dos Direitos Fundamentais do Trabalho é a

característica de RSE mais citada que a empresa deve ter. Embora apreciem e valorizem as

atividades externas à empresa, os trabalhadores consideram as questões internas da empresa

relativas aos direitos dos trabalhadores como as mais importantes.

A empresa ressalta, ainda, que as atividades de RSE estão ligadas à gestão do negócio

C&A dentro do Corporate Social Affairs (CSA), área responsável por planejar e executar as

ações referentes à responsabilidade sócio-ambiental da empresa. Estão reunidas no CSA as

atividades relacionadas à SOCAM, Sustentabilidade, Meio Ambiente, Diversidade, Instituto

C&A, Pesquisa com Clientes, Segurança de Produtos e Ralações Públicas.

Sobre o Instituto C&A, a empresa declara que o mesmo:

Constitui-se organizacionalmente em um dos pilares da política de RSE e está na agenda

estratégica da empresa, através de suas inúmeras atividades, investimentos e envolvimentos,

tanto no Brasil quanto na matriz na Holanda. O Instituto C&A não é atividade periférica: a

empresa promove uma convenção anual envolvendo todas as lideranças e reconhecendo as

ações voluntárias de seus associados e reafirmando o seu compromisso social. O programa de

formação de Trainees – novas lideranças gerenciais- incorpora as atividades ligadas ao

Instituto C&A e demais atividades de RSE; existência do Comitê de lideranças representando

todas as regiões do país discutindo e contribuindo para a disseminação da participação social

da empresa; agenda sistemática de reuniões com o presidente e vice presidente da empresa

para discussão das estratégias de investimentos.

11.2. PROMOÇÃO DA IGUALDADE

Neste tópico comentaremos as políticas voltadas para a promoção da igualdade entre

gêneros e cores/ raças diferentes. As políticas voltadas para os portadores de necessidades

especiais foram tratadas numa seção especial.

Nos documentos da C&A consultados pelo Observatório Social, a empresa apresenta

alguns pontos acerca da promoção da igualdade. No Manual do Associado estão entre as regras a

serem seguidas pelos funcionários: respeitar a diversidade C&A133 e a proibição, na empresa, de

133

C&A. Manual do Associado, jan. 2008, p. 07.

Page 211: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

210

“preconceito de qualquer tipo”.134.

Um dos princípios do Código de Ética é “promover e praticar a igualdade de

tratamento, combatendo privilégios e discriminações por grau hierárquico, posição social, raça,

religião ou qualquer outra distinção”.135

A empresa não tem políticas afirmativas em relação às mulheres porque, segundo

todos os líderes entrevistados, não há necessidade de correção, já que as mulheres estão bem

representadas no contingente de funcionários, tanto numericamente quanto na presença em

cargos de chefia. A empresa possui 65% de mulheres e, na opinião de líderes, os processos de

avaliação e crescimento são os mesmo tanto para homens como para mulheres, algumas funções,

mais pesadas, não são exercidas por mulheres.136 “O negócio de modas atrai mais as mulheres. A

metade da gerência é composta por mulheres. Seis anos atrás, havia apenas uma gerente regional,

hoje, a metade é mulher. Esta empresa trabalha com a questão da diversidade, não tem metas,

mas tem objetivos claros. As políticas são iguais para todos”. 137

TABELA 130 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS SEGUNDO GÊNERO/SEXO NAS UNIDADES PESQUISADAS –

MAR 2008.

GÊNERO/ SEXO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS (%)

Feminino 59,22

Masculino 40,78

FONTE: Documentos C&A

Com efeito, e acompanhando os números oferecidos pela empresa, a maioria dos

entrevistados pelo IOS são mulheres.

TABELA 131 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS ENTREVISTADOS PELO IOS SEGUNDO GÊNERO/SEXO NAS

UNIDADES PESQUISAS – ABR - MAIO 2008.

UNIDADE/GÊNERO Feminino (%) Masculino (%)

Brasília 66,95 33,05

CD 42,76 57,24

Fortaleza 55,64 44,36

134

C&A. Manual do Associado, jan. 2008, p. 14. 135

C&A. Código de Ética. 136

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008 137

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 212: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

211

Porto Alegre 75,24 24,76

Shopping Interlagos 72,73 27,97

Shopping Tamboré 75,36 24,64

Total geral 59,35 40,65

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Líderes da empresa relatam experiências:

Não tem problema na C&A, na minha loja, hoje há um homem em cargo de liderança, os

outros cargos de liderança são de mulheres. E no quadro executivo há muitas mulheres. No

grupo de trainees, entre 20, há 15 mulheres. Estou fazendo a seleção, a maioria dos currículos

é de mulheres, em função do ramo de atuação. Em outros ramos do comércio há mais homens

(por exemplo, eletrodoméstico), mas em moda há mais mulheres.

Não é programado a C&A ter mais mulheres, mas mulher se identifica com moda. Quem vai

para contratação é mais mulher. 75% do público da C&A é mulher. Em Fortaleza, a equipe

gerencial é formada por 10 pessoas: 3 homens e 7 mulheres. Em 13 anos de trabalho na

empresa, trabalhei apenas duas vezes com gerentes homens. Nunca vi discriminação por ser

mulher. De nove diretores, três são mulheres.138

De acordo com diretor da C&A, a empresa está desenvolvendo o projeto Corporate

Social Affairs que abrange toda área social: diversidade, Instituto C&A, preservação e

sustentabilidade. No campo da diversidade de sexo e raça, a empresa contratou uma consultoria

com o objetivo de identificar oportunidades de ações e conteúdos e indicadores sociais

referenciais para formulação de uma política em linha com valores corporativos da C&A.

Ainda de acordo com o diretor, para os afro-descendentes, a empresa tem um programa

de formação profissional , em parceira com a Unipalmares, para atrair alunos dessa universidade

para trainees. De 15 trainees em atuação no momento da entrevista, quatro eram negros. A

empresa divulga os programas mediante promoção de palestras na Unipalmares.139

TABELA 132 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS ENTREVISTADOS PELO IOS SEGUNDO COR/RAÇA NAS

UNIDADES PESQUISAS (%) – ABR - MAIO 2008.

Rótulos de Linha Brasília CD Fortaleza Porto Alegre Interlagos Tamboré Total geral

Branca 21,48% 42,76% 33,06% 58,09% 43,36% 46,37% 40,64%

Preta 11,57% 16,45% 8,06% 16,19% 13,28% 11,59% 13,63%

Parda 60,33% 36,52% 54,84% 20,95% 40,57% 39,14% 41,45%

Amarela 3,30% 1,97% 0,80% 0,96% 2,09% 1,45% 1,85%

138

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 139

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008

Page 213: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

212

Indígena 3,30% 2,30% 3,24% 3,81% 0,40% 1,45% 2,43%

Total geral 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Obs: a pesquisa foi feita com base na autodeclaração de cor/raça

Percebe-se pela tabela que a maioria dos trabalhadores entrevistados pelo IOS é da

raça/cor negra - ou seja, pretos e pardos, conforme comparações feitas com dados do Dieese e

IBGE nos capítulos das unidades. Embora as mulheres estejam bem representadas entre as

lideranças entrevistadas, havia um pequeno número de pardos e pretos: apenas dois

autodeclarados entre os 18 entrevistados. Não é possível afirmar, contudo, que trabalhadores da

raça negra não têm acesso aos cargos de liderança, pois necessita-se de informações do quadro

completo de líderes.

Um representante da empresa afirma, ainda, que não há discriminação por orientação

sexual e a empresa está discutindo políticas específicas para trabalhadores homossexuais, como

serviços de plano de saúde ao companheiro do mesmo sexo140. A afirmação do líder de que não

há discriminação é contradita pelos relatos dos trabalhadores, contidos no quarto capítulo deste

relatório, que sofreram ou presenciaram casos de discriminação por parte de colegas e liderança

da empresa. A empresa rebate alegando que “os pouquíssimos casos apontados na pesquisa não

são suficientes para levantar qualquer suspeita”, e ressalta a “inexistência de reclamações a esse

respeito tanto na justiça quanto por parte dos sindicatos locais, o que seria de se esperar, caso

houvesse a presença desse comportamento”.

Em relação aos fornecedores, o Código de Conduta tem a seguinte cláusula: “sob

nenhuma circunstância será tolerada a exploração de qualquer indivíduo ou grupo vulnerável”

(Código C&A de Conduta para Fornecimento de Mercadoria). Embora dois representantes da

empresa141 tenham citado políticas contra discriminação no código para fornecedores, a cláusula

descrita não especifica políticas contra a discriminação. A empresa comenta que “entende que

seu Código de Conduta para fornecimento de mercadorias contempla explicitamente o

140

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 141

Representantes da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 214: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

213

compromisso de extensão de princípio de relações com os demais subcontratados, inclusive sob o

ponto de vista das relações de emprego e trabalho”.

O fato de a empresa ter políticas de diversidade por raça e orientação sexual é

elogiável, mas essas políticas têm de estar ligadas ao combate efetivo à discriminação e ao

assédio moral no local de trabalho.

11.3. PERCEPÇÃO DOS TRABALHADORES E TRANSPARÊNCIA

O fluxo de comunicação entre funcionário e empresa é diferenciado nas unidades e

funciona como uma via de mão dupla: a disposição de se comunicar deve partir tanto de

trabalhadores como de representantes da empresa. Todavia cabe à empresa criar instrumentos e

condições para que esse fluxo ocorra.

TABELA 133 - AVALIAÇÃO DA COMINICAÇÃO ENTRE FUNCIONÁRIO E EMPRESA (%) ABRIL/MAIO 2008

AVALIAÇÃO TAMBORÉ INTERLAGOS CD PORTO

ALEGRE BRASÍLIA

FORTALE

ZA

Aberta, transparente e

eficiente 32,00% 37,00% 67,00% 60,00% 49,00% 69,00%

Aberta, transparente,

mas pouco eficiente 52,00% 45,00% 20,00% 39,05% 40,00% 30,00%

Nem aberta, nem

transparente 16,00% 18,00% 5,00% 0,95% 11,00% 1,00%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

A tabela nos mostra que há uma divisão muito clara entre as avaliações dos

trabalhadores das seis unidades. Em três unidades (CD, Fortaleza e Porto Alegre), a porcentagem

dos que responderam que sua comunicação na empresa com as lideranças é aberta, transparente e

eficiente está igual ou acima dos 60%. Por outro lado, nas unidades de Brasília, Interlagos e

Tamboré houve uma inversão nas respostas. Nestas unidades, o percentual dos que responderam

que sua comunicação na empresa com as lideranças é aberta, transparente e eficiente ficou abaixo

dos 50% .

Chama atenção também o fato de que, nestas unidades, a porcentagem dos

Page 215: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

214

entrevistados que responderam que a comunicação na empresa com as lideranças não é aberta,

tampouco transparente, é alta se comparada às outras unidades: em Interlagos, por exemplo, o

total dos que escolheram essa resposta foi de 18%, enquanto em Porto Alegre esse índice foi de

apenas 0,9%.

Mais uma vez, percebe-se que as condições mais críticas estão nas lojas paulistas,

verificado nas análises de promoção e discriminação. Essas condições podem ser explicadas pela

competitividade excessiva existente na unidade e também em virtude da falta de comunicação

entre líderes da empresa e funcionários. Quando analisada a opinião dos trabalhadores sobre o

clima organizacional da empresa, a caracterização mais citada entre os entrevistados é a de que o

clima é autoritário e desfavorável à tomada de iniciativas.

Apesar disso, sob o ponto de vista da C&A, “a grande maioria dos funcionários

pesquisados reconhece, pela Tabela 133, a comunicação como sendo aberta e transparente e, ao

mesmo tempo, não se mostra satisfeita com o clima organizacional. Os números não apontam,

entretanto, evidências sobre razões que diferenciam as avaliações entre as unidades paulistas e as

demais pesquisadas. Isto deverá ser objeto de melhor analise prática por parte da empresa”.

TABELA 134 – COMO VOCÊ CARACTERIZA O CLIMA ORGANIZACIONAL NA EMPRESA

CARACTERÍSTICA PORTO

ALEGRE BRASÍLIA CD

Alegre, descontraído e participativo 25 28 58

Autoritário e desfavorável a tomada de iniciativas 95 113 271

Competitivo para busca e valorização de resultados 11 31 108

Competitivo desestimulando a produt. das equipes 96 96 273

Reconhece e valoriza as qual. profis. e pessoais 39 78 144

Não recon. nem valoriza as qualid. profis. e pessoais 93 102 264

CARACTERÍSTICA FORTALEZA TAMBORÉ INTERLAGOS

Alegre, descontraído e participativo 9 35 48

Autoritário e desfavorável a tomada de iniciativas 120 58 118

Competitivo para busca e valorização de resultados 27 18 48

Competitivo desestim. a produt. das equipes 117 47 111

Reconhece e valoriza as qual. profis. e pessoais 30 59 100

Não recon. nem valoriza as qualid. profis. e pessoais 118 40 105

FONTE: Pesquisa Amostral IOS, 2008.

Page 216: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

215

Outra caracterização que está entre três mais citadas é a de que o clima é competitivo,

desestimulando a produtividade das equipes. A opinião de que o clima organizacional não

reconhece e nem valoriza as qualidades profissionais e pessoais só não é uma das três mais

citadas na unidade Tamboré. As citações dos entrevistados reforçam características já apontadas

anteriormente de acordo com as falas dos trabalhadores e trabalhadoras: a existência de

autoritarismo por parte das chefias, de competitividade excessiva e desqualificação do

profissional.

Uma ferramenta de interlocução de entre empresa e funcionários é o Canal Aberto, . O

Canal Aberto é uma ferramenta de denúncia de líderes mediante correio eletrônico enviado

diretamente ao presidente da empresa. De acordo com um diretor da empresa, o presidente lê

todas as cartas e garante confidencialidade, desde que as denúncias sejam identificadas.142

TABELA 135 – AVALIAÇÃO CANAL ABERTO

AVALIAÇÃO Brasília CD Fortaleza Interlagos Porto

Alegre Tamboré

Importante e funciona 18% 17% 21% 6% 21% 2%

Importante mas não funciona 15% 15% 5% 12% 10% 23%

Importante, mas nunca precisei usar 38% 50% 60% 54% 50% 58%

Não é importante SR 3% 1% 2% 1% SR

Desconheço este instrumento 29% 15% 13% 26% 19% 17%

FONTE: Pesquisa Amostral IOS, 2008.

A maior parte dos entrevistados considera que o Canal Aberto é um instrumento

importante, mas nunca precisou usar. Chama atenção o número de pessoas em Brasília e

Interlagos que não conhecem o Canal Aberto – acima de 25% dos entrevistados.

Alguns entrevistados colocaram em dúvida a fidedignidade do instrumento: “o

associado vai utilizar? Não terá receio?”; “não creio que a opinião chegue ao Fazzio, deve passar

por uma pessoa. A empresa tem lido, mas não vejo resultado. As reclamações param no GCOM

(Grupo de Comunicação). Pessoal fica com receio”; “soube que funcionário que usou Canal

142 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 217: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

216

Aberto foi demitido”; “nunca vi nenhum resultado do Canal Aberto”; “o RH seleciona todas as

reclamações para depois enviar ao Canal Aberto”.; funcionário alegou que fica receoso de usar o

Canal Aberto por medo de sofrer alguma represália por parte da empresa; “essa resposta é

baseada na minha experiência. A questão do salário errado: mandei minha reclamação para São

Paulo no RH ou financeiro, mas o RH alegou que o pagamento estava certo”.

Um instrumento, para ser efetivo, deve ser não somente ser bem divulgado, mas

também ter sua fidedignidade garantida, de forma que os funcionários tenham total confiança em

usá-lo.

De acordo com a empresa, “o Canal Aberto, reconhecido na pesquisa como importante

pela maioria dos entrevistados, é amplamente divulgado, internamente, através de informativos e

pelo próprio manual de integração do associado, recebido mediante protocolo de entrega. O

GCOM (Grupo de Comunicação) mencionado é a nomenclatura antiga do atual Conexão Direta,

não devendo ser confundido, portanto, com o Canal Aberto, que é um fórum diferente em seus

objetivos e forma de operação”.

11.4 POLÍTICAS DE MEIO AMBIENTE E SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO

11.4.1 Meio Ambiente

A C&A declara que está comprometida com a sustentabilidade ambiental e adota

padrões éticos, sociais e ambientais no seu negócio, uma vez que incorpora produtos seguros,

condições de trabalho adequadas e responsabilidade socioambiental.143

A empresa afirma que adota diversas medidas que visam a minimização dos impactos

decorrentes de suas atividades, como uso de papel reciclado, inclusive nas embalagens para

presentes nas lojas, programa de uso de biodiesel nos caminhões da frota, coleta seletiva de lixo,

uso de lâmpadas econômicas, dosador de água nas lojas e escritórios e controlador de energia nas

143

Documentos disponibilizados pela C&A.

Page 218: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

217

lojas e escritórios, associados à criação de um Comitê de Sustentabilidade.144

De acordo com um gerente da empresa, a C&A tem um Comitê Nacional de

Sustentabilidade Ambiental composto por sete pessoas e um diretor responsável. A atuação deste

comitê é baseada em duas frentes: reciclagem de resíduos com coleta seletiva em todas as

unidades e preservação de recursos naturais por meio, por exemplo, da economia de energia com

troca por lâmpadas 40% mais econômicas em todas as unidades e torneiras com dosadores que

economizam de 30 a 35% de água. O líder afirma que cada loja tem uma comissão voluntária de

sustentabilidade, ou seja, um grupo de responsabilidade social ambiental (RSA) que garante que

essas políticas ambientais da C&A sejam aplicadas em cada unidade, uma vez que também é

feito um calendário e ações de sensibilização com os trabalhadores. O grupo de voluntários de

RSA faz revezamento de seus representantes periodicamente e é responsável pela elaboração de

folders, palestras e implementação de ações afirmativas junto aos trabalhadores.145

Ainda segundo líder entrevistado, o biodiesel é usado em todos os caminhões da C&A.

É composto por uma mistura de diesel com óleo de mamona, considerado por ele como não

poluente. É feita uma medição de CO2 como teste de emissão de poluentes nos escapamentos dos

caminhões. Essa política vale para a frota própria e terceirizada, e a inspeção nos caminhões é

feita a cada 30 dias. Caso haja algum problema, os caminhões pertencentes à empresa vão direto

para regulagem; os de terceiros têm até 30 dias para serem regularizados. Outro detalhe é que o

caminhão regulado usa o selo de consumo inteligente.146

As políticas de meio ambiente da C&A, descritas pelo representante da empresa, estão

de acordo com o que foi relatado pelos trabalhadores na pesquisa. Do total dos participantes, 78%

conheciam algum programa da empresa voltado para o meio ambiente. Entre os mais citados

estão a coleta seletiva de lixo, o uso de papel reciclado, campanha de economia de água e

energia, palestras sobre sustentabilidade ambiental, biodiesel e roupas feitas com garrafas PET.

144

Documentos disponibilizados pela C&A. 145

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 146

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 219: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

218

TABELA 136 – NÚMERO DE ENTREVISTADOS QUE CONHECE ALGUM PROGRAMA DA EMPRESA VOLTADO

PARA O MEIO AMBIENTE

Unidades Sim Não Total geral

Brasília 89 32 121

CD 271 33 304

Fortaleza 107 17 124

Porto Alegre 83 22 105

Shopping Interlagos 69 74 143

Shopping Tamboré 59 10 69

Total geral 678 188 866

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

Outro aspecto interessante em relação ao meio ambiente é que, segundo um gerente da

empresa, como grande parte dos trabalhadores do CD mora na comunidade próxima à unidade,

por questão de locomoção, a C&A precisou ampliar o estacionamento de bicicletas no CD. Ainda

há, nesta unidade, participação de entidades comunitárias na gestão ambiental da empresa, na

coleta seletiva de lixo há parcerias com ONGs de catadores de lixo ou ainda indiretamente

mediante parceria com empresas que têm parceria com ONGs.

A constituição de um comitê de Sustentabilidade Ambiental revela comprometimento

com a causa ambiental. Embora a participação e o conhecimento dos trabalhadores seja

importante, e seria mais abrangente se estes pudessem participar na elaboração das políticas

ambientais.

11.4.2 Saúde e Segurança no Trabalho

De acordo com declaração da empresa, confirmada por liderança entrevistada, a

atividade de trabalho desenvolvida na C&A é de grau de risco 2, conforme a Norma

Regulamentadora 4 (NR 4). Esse é o enquadramento característico de empresas com baixo índice

de risco de acidentes, ou seja, ambientes de trabalho com operações que se limitam ao

atendimento a pessoas e ao manuseio de mercadorias das unidades. Exceção se faz ao CD, onde

algumas atividades se realizam com operação de máquinas.147

147 Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 220: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

219

No entanto, a pesquisa identificou que embora a empresa declare que o índice de risco

de acidentes seja baixo, as respostas dos trabalhadores revelam que muitos são afetados por

diversas doenças do trabalho, tanto nas lojas pesquisadas quanto no CD.

Sob o ponto de vista da empresa, “os números e dados apontados pela pesquisa são

estranhos e contrários aos resultados oficiais em seu Programa de Controle Médico de Saúde

Ocupacional, fornecido anualmente aos órgãos oficiais. As possíveis razões certamente se

referem à caracterização adequada das doenças com nexo causal no ambiente de trabalho.”

O IOS esclarece que a possível disparidade entre os resultados obtidos na pesquisa

junto aos trabalhadores e os colhidos pelo controle médico da empresa evidencia um

descompasso. O fato é que existe a disparidade e várias hipóteses devem ser analisadas, como:

1. a prática dos profissionais de saúde da empresa desconsidera as queixas dos

trabalhadores nos serviços de atendimento . As queixas, embora sejam dados

subjetivos, são referências importantes para um programa de prevenção de

doenças do trabalho;

2. os trabalhadores têm medo de perder o emprego e da vulnerabilidade do

trabalhador doente;

3. os trabalhadores evitam ser alvo de discriminação no coletivo de trabalho, o

estigma do doente.

Vale lembrar, ainda, que os dados obtidos na pesquisa foram coletados diretamente dos

relatos dos trabalhadores, e não através de laudos médicos.

De maneira geral, foram detectados, nas unidades da C&A pesquisadas, problemas

relacionados à ergonomia em diversos postos de trabalho. Os operadores de caixa, por exemplo,

não podem sentar-se durante períodos de pouca movimentação da loja, e permanecem em pé por

quase toda a jornada de trabalho, de até oito horas. Em conseqüência, por exemplo, das posturas

exigidas pelo trabalho, da falta de apoios para os braços para executar as operações de caixa e de

movimentos rápidos e repetitivos, os trabalhadores adquirem, com o passar do tempo, problemas

de saúde relacionados ao trabalho, dentre eles, problemas de coluna e LER/DORT (Lesões por

Page 221: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

220

Esforços Repetitivos/ Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho).

De acordo com a C&A, o Ministério Público do Trabalho de Osasco, Fortaleza, Recife

e Campinas (decisão recente) reconheceu os argumentos da empresa para a operação do caixa na

posição “em pé”. Inclusive reconheceu que o novo “balcão ilha de caixa” reúne as condições

ergonômicas exigidas pela NR17. A empresa afirma que “este balcão foi desenvolvido em

conjunto com especialista da Fundacentro. É importante esclarecer, ainda, que os funcionários da

C&A gozam de um intervalo remunerado de 15 minutos para descanso, inclusive os funcionários

que não operam o caixa. A C&A disponibiliza, ainda, assentos para descanso em locais que

possam ser utilizados por todos os funcionários durante as pausas e intervalos de refeição e

descanso”.

O fato de o equipamento levar em conta as exigências da ergonomia ou de ser aceito,

pelo Ministério Público, o trabalho em pé, embora sejam considerações relevantes, objetivamente

não esgotam a discussão. Há um repertório de dados da fisiologia em medicina do trabalho que

comprovam que corpo na postura “em pé” por longos períodos leva à sobrecarga da coluna

vertebral e a problemas circulatórios, como varizes. O agravo nessa situação é o fato de o

trabalhador não ter a possibilidade de períodos de descanso assumindo outra postura. Com

relação à citação dos móveis e equipamentos projetados pela Fundacentro que cumprem os

preceitos da ergonomia, essa informação, de forma isolada e desprovida da análise ergonômica da

atividade exercida por estes trabalhadores, não garante, em si, a prevenção de problemas de

saúde.

TABELA 137 – PORCENTAGEM DE TRABALHADORES DAS UNIDADES DA C&A PESQUISADAS QUE DIZEM

APRESENTAR PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO

Problemas de saúde relacionados

à atividade de trabalho Brasília CD Fortaleza

Porto

Alegre

Shopping

Interlagos

Shopping

Tamboré

Total

geral

Problemas de coluna 36% 24% 18% 28% 30% 39% 27%

Surdez 2% 1% 1% 4% 1% 3% 2%

Doenças de pele 2% 1% 1% 1% 2% 1% 1%

Problemas respiratórios 13% 12% 3% 6% 12% 9% 10%

LER/DORT 40% 21% 18% 35% 29% 33% 27%

Doenças do sangue 2% 1% 0% 0% 2% 0% 1%

Depressão ou estresse 47% 18% 23% 44% 45% 52% 33%

Page 222: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

221

Câncer 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0%

Alergias 10% 11% 8% 5% 10% 7% 9%

Outro. Qual? 14% 9% 6% 11% 15% 29% 12%

Não apresentou problema de saúde 15% 44% 49% 30% 24% 13% 33%

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

É possível notar que os problemas de saúde apontados com maior freqüência são

problemas de coluna, lesões por esforços repetitivos (LER/DORT) e depressão ou estresse. Um

destaque deve ser feito aos relatos de depressão ou estresse principalmente nas lojas, onde os

percentuais ultrapassam os outros problemas de saúde apontados e chega à marca de 52% na loja

do Shopping Tamboré. Esses resultados confirmam os relatos dos trabalhadores sobre a pressão

diária na empresa para o cumprimento das metas impostas.

TABELA 138 – NÚMERO DE TRABALHADORES DAS UNIDADES PESQUISADAS AFIRMAM APRESENTAR

“OUTROS” PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO – ABRIL/MAIO 2008

Outros problemas de saúde Número de trabalhadores

Dor/problema no joelho e/ou costas 17

Dores nas pernas e/ou problemas

de varizes

27

Dores nos ombros/bursite 8

Fortes dores de cabeça/enxaqueca 11

Dor de estômago/gastrite 10

Infecção urinária 6

Problemas de visão 8

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Os outros problemas de saúde assinalados na Tabela 184 estão relacionados às diversas

situações de trabalho que se relacionam à forma de organização do trabalho imposta. São

exemplos o carregamento constante e excessivo de mercadorias do estoque para as áreas da loja

por escadas, a permanência dos trabalhadores muito tempo em pé durante a jornada de trabalho, e

a existência de apenas duas pausas, uma para o almoço de 1 hora outra de 15 minutos, para o

café. As fortes dores de cabeça/enxaqueca e dores de estômago/gastrites podem indicar estresse

elevado no trabalho, como visto na Tabela 184. “Depressão ou estresse” obteve os maiores

percentuais entre os problemas de saúde. Com relação à infecção urinária, os relatos apontam

falta de tempo para ir ao banheiro e para beber água, o que pode ter influência na contração das

Page 223: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

222

infecções. Quanto aos problemas de visão mencionados, o fato de trabalhar muito tempo em

frente ao computador acentuaria o problema da vista”.

Vale lembrar que, das pessoas que disseram ter algum problema de saúde relacionado à

atividade de trabalho, somente 40% (equivalente a 350 pessoas) afirmam que foram

diagnosticados e se constatou a relação da doença à sua atividade de trabalho.

TABELA 139 - NÚMERO DE TRABALHADORES DA C&A COM PROBLEMAS DE SAÚDE CLINICAMENTE

DIAGNOSTICADOS E RELACIONADOS À SUA ATIVIDADE DE TRABALHO

Unidades Não Sim N/A Total geral

Brasília 32 70 19 121

CD 62 104 138 304

Fortaleza 29 33 62 124

Porto Alegre 33 41 31 105

Shopping Interlagos 44 64 35 143

Shopping Tamboré 22 38 9 69

Total geral 222 350 294 866

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

Nota: N/A equivale ao número de pessoas que não responderam a esta pergunta, pois responderam, na questão

anterior, não apresentar problema de saúde algum.

Sobre as condições do local de trabalho, os seguintes pontos foram os mais citados

pelos trabalhadores das unidades da C&A pesquisadas: conforto, temperatura, ruído e ordem e

organização do espaço de trabalho.

Em geral, os relatos dos trabalhadores revelam que o conforto não é muito bom,

portanto regular, especialmente em Brasília, Interlagos e Tamboré. Alguns trabalhadores dizem

que “não podem sentar, não tem cadeira”, trabalham o tempo todo em pé, mesmo em áreas onde

há necessidade de se trabalhar sentado (em frente ao computador, por exemplo). Nos relatos, há

também queixas de que as cadeiras não são confortáveis para as atividades em que é preciso

permanecer o tempo todo sentado.

TABELA 140 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO

Unidades Bom Regular Ruim Total geral

Brasília 38% 41% 21% 100%

CD 62% 31% 7% 100%

Fortaleza 81% 18% 2% 100%

Porto Alegre 63% 27% 10% 100%

Shopping Interlagos 42% 43% 15% 100%

Page 224: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

223

Shopping Tamboré 41% 54% 6% 100%

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

Em relação à temperatura, a opinião dos trabalhadores varia entre considerar regular e

ruim, especialmente no CD e nas lojas de Brasília, Porto Alegre, Interlagos, Tamboré. Em geral,

as reclamações das lojas remetem ao ar condicionado, cuja temperatura é considerada muito

baixa, que pode prejudicar a saúde ou agravar problemas de saúde já existente, como sinusite.

Alguns trabalhadores chegam a mencionar sentir choque térmico quando saem da loja. No CD, as

reclamações referentes à temperatura são da área de recebimento de mercadorias, local aberto e

muito frio no inverno. Os trabalhadores entrevistados sugerem o uso de uniformes adequados

para a proteção nessas situações.

Em Porto Alegre, trabalhadores dizem que a temperatura na cantina é sempre muito

baixa. De acordo com a C&A, essas observações serão consideradas para avaliação e

acompanhamento dentro do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), em conjunto

com oPrograma de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), em andamento no presente

exercício.

TABELA 141 – CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO DA C&A DAS UNIDADES PESQUISADAS EM RELAÇÃO

À TEMPERATURA

Unidades Boa Regular Ruim Total geral

Brasília 38% 44% 18% 100%

CD 54% 31% 15% 100%

Fortaleza 82% 16% 2% 100%

Porto Alegre 45% 45% 10% 100%

Shopping Interlagos 27% 48% 24% 100%

Shopping Tamboré 52% 38% 10% 100%

Fonte: Pesquisa IOS 2008.

O ruído no local de trabalho também foi um ponto bastante questionado pelos

trabalhadores, que, no Shopping Interlagos, chega a 37% de opiniões como regular. As

reclamações são relativas ao som ambiente das lojas, que muitas vezes está em um volume muito

alto e atrapalha a concentração e a própria comunicação entre trabalhadores e entre clientes.

Alguns afirmam que solicitam ao responsável para diminuir o volume do som, e, na maioria das

Page 225: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

224

vezes, são atendidos. Outra reclamação dos trabalhadores é o barulho produzido pelos clientes da

loja que, acrescido ao volume alto do som ambiente, causa incômodos e provoca dores de cabeça.

TABELA 142 – CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO DA C&A DAS UNIDADES PESQUISADAS EM RELAÇÃO

AO RUÍDO

Unidades Boa Regular Ruim Total geral

Brasília 43% 32% 25% 100%

CD 46% 35% 19% 100%

Fortaleza 68% 22% 10% 100%

Porto Alegre 57% 30% 12% 100%

Shopping Interlagos 38% 37% 24% 100%

Shopping Tamboré 64% 28% 9% 100%

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

Somente no CD foi feita a pergunta sobre a qualidade do ar no ambiente de trabalho.

As respostas indicam opinião dos trabalhadores entre boa e regular. As reclamações apontam a

fumaça dos caminhões nos pontos de descarregamento e carregamento de mercadorias como a

causa principal de contaminação do ar. Em declaração ao IOS, a médica do trabalho da empresa

afirmou que não dispõe de pessoa competente ou de um serviço especializado externo, mesmo

que atenda várias empresas, para cuidar da prevenção e do controle da contaminação do ar, ruído

e vibrações nos locais de trabalho, conforme prevê a convenção 148 da OIT. Para a atividade da

empresa não se aplica a criação de um serviço especializado. 148

De acordo com a C&A, a empresa contrata os serviços especializados para realizar

análises ambientais, como suporte ao trabalho dos técnicos e Engenheiro de Segurança. A

empresa afirma ainda que:

Para atenuar os impactos de fumaça de caminhões nos pontos de descarregamento, foram

implantadas as seguintes melhorias:

Instalação de compressor de ar, utilizado para disponibilizar ar comprimido nas docas de

expedição. O processo evita que o caminhão permaneça ligado para produzir ar comprimido e

liberar o sistema de freios. Com isso, é possível eliminar a emissão de CO2 (dióxido de

carbono) nas docas.

Foi iniciado, em Novembro de 2007, o Programa de Controle de Emissão de Poluentes nos

148 Representante de empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 226: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

225

caminhões que prestam serviço para a C&A. Foram adquiridos opacímetros e desenvolvidos

procedimentos de auditoria. Foram também implantadas cláusulas contratuais de

obrigatoriedade de manutenção dos veículos em acordo com as normas de emissão de

poluentes vigentes.

TABELA 143 – CONDIÇÕES DO LOCAL DE TRABALHO NO CD EM RELAÇÃO A QUALIDADE DO AR

Unidade Boa Regular Ruim Total geral

CD 39% 37% 24% 100%

Total geral 39% 37% 24% 100%

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

De acordo com declaração da médica do trabalho149, para a constituição da Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) é afixado o edital de convocação para os funcionários,

representantes da empresa e representantes dos trabalhadores, 60 dias antes do término da gestão

vigente. A gerência é quem indica os representantes da empresa e é feita votação para os

representantes dos trabalhadores. A médica do trabalho disse que o sindicato também poderia

indicar os representantes dos trabalhadores. “Desde que haja a intenção do sindicato, pode haver,

sim, sua participação na nomeação do designado”, reforça.150 Depois de 30 dias é formalizada a

eleição, através de voto secreto, e se inicia a nova gestão.

A CIPA se reúne mensalmente e nas reuniões são feitos comentários sobre acidentes,

manutenções etc., pois de acordo com o parecer da médica do trabalho, essa é a função da CIPA,

a fiscalização.

Na tabela a seguir nota-se que, de formageral, a atuação da CIPA foi considerada entre

boa e regular pelos trabalhadores, e no CD, a maioria dos trabalhadores avaliou a atuação da

CIPA como boa.

As falas dos funcionários sobre a atuação da CIPA são reveladoras:

- “sempre dão as informações necessárias sobre prevenção de acidentes no trabalho”;

“as pessoas que participam da CIPA estão sempre orientando os trabalhadores”; “sempre que

acontece algum acidente de trabalho o pessoal da CIPA está presente”; “estão sempre colocando

149

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 150

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. de 2008.

Page 227: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

226

cartazes, fazendo palestras sobre acidentes, sempre fazem reuniões”; “a CIPA toma providências

se alguma coisa precisa trocar ou está quebrada”; “a CIPA ajuda quando acontece alguma coisa

com algum funcionário, sinaliza os locais onde há riscos de acidentes”.

Na loja de Fortaleza, a atuação da CIPA foi considerada boa pela maior parte dos

trabalhadores, embora o número de avaliação regular seja expressivo. Nas demais lojas, a opinião

sobre a atuação da CIPA variou entre regular e desconhecida.

TABELA 144 – COMO OS TRABALHADORES DA C&A DAS UNIDADES PESQUISADAS AVALIAM A ATUAÇÃO

DA CIPA NA EMPRESA

Unidades Boa Regular Ruim

Não tem

conhecimento Total geral

Brasília 13% 28% 12% 46% 100%

CD 58% 34% 5% 4% 100%

Fortaleza 40% 32% 6% 21% 100%

Porto Alegre 31% 33% 9% 27% 100%

Shopping Interlagos 16% 26% 16% 42% 100%

Shopping Tamboré 28% 33% 14% 25% 100%

Total geral 37% 31% 9% 23% 100%

Fonte: Pesquisa IOS. Elaboração: IOS, 2008.

Os trabalhadores que avaliaram a atuação da CIPA como regular, disseram:

- “há pouca divulgação do trabalho da CIPA”; "os resultados das reuniões da CIPA não

são repassados para os funcionários”; “a CIPA deixa a desejar, as pessoas não estão preparadas

deveriam ser mais treinadas”; “nem sempre os membros da CIPA prestam atendimento aos

funcionários”; “não vejo a atuação direta da CIPA; acredito que as pessoas só se candidatam pela

estabilidade”; “considero que a CIPA deveria envolver mais os funcionários, dando maiores

instruções, acho que isso se deve a falta de tempo, pois é muito difícil conseguir reunir todos os

funcionários”; “a empresa não dá prioridade para a CIPA, o trabalhador não tem muito

conhecimento”; “sou cipeiro e a CIPA não tem apoio, inclusive financeiro para executar o que é

pensado pelo grupo”; “não pela CIPA, mas deveria ter uma abertura melhor da empresa para que

a equipe pudesse atuar melhor”; “ainda faltam sinalizações, muitos não utilizam EPI e a CIPA

não cobra”.

Page 228: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

227

Principalmente nas lojas de Brasília, Interlagos e Tamboré, conforme mostra tabela,

muitos trabalhadores responderam não ter conhecimento sobre a CIPA entre os disseram:

- “a empresa não divulga que há CIPA”; “não tenho conhecimento, porque não há

divulgação do que é feito pela CIPA”; “não tenho informação e os membros da CIPA não

envolvem os trabalhadores”; “só escuto sobre a CIPA em tempo de eleição”; “apesar de ter um

mural, não tem nenhuma informação e nem treinamento sobre a CIPA e durante os quase dois

anos em que trabalho na empresa só teve uma reunião sobre a CIPA”.

De acordo com a médica do trabalho da empresa, a C&A possui o Programa de

Controle Médico e de Saúde Ocupacional , obrigatório para empresas com qualquer número de

empregados. O programa é nacional e abrange todas as unidades. A médica também afirma que,

“não houve necessidade de negociação com os sindicatos em relação à alteração de prazos,

periodicidade e especificidade dos exames, pois a atividade da C&A é enquadrada como grau de

risco 2, característico de empresas com baixo índice de riscos e acidentes, portanto atende a

lei”.151 “O relatório do PCMSO é emitido anualmente e anexado a ata da CIPA; os trabalhadores

ligados as áreas administrativa e comercial fazem exames a cada dois anos, e menores de 18 e

maiores de 45 anos fazem exame periódico anual”.

Com relação ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, é atualizado uma vez

ao ano. Nele consta um cronograma de ações, anexado ao livro da CIPA. O PPRA é discutido

com os “cipeiros”, diferentemente do PCMSO, que trata das doenças do trabalho, tema

indevidamente considerado alheio à atividade da CIPA.

Os levantamentos ambientais para a elaboração do PPRA, Laudo Ergonômico e Laudo

Elétrico das unidades da C&A de todo o Brasil são feitos pelo serviço de segurança do trabalho

da empresa, composto, em sua maioria, por engenheiro de segurança do trabalho e técnicos de

segurança do trabalho.

A empresa informa os trabalhadores sobre os riscos no trabalho, os meios de

prevenção de tais riscos, os resultados dos exames médicos periódicos e os resultados das

151

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008.

Page 229: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

228

avaliações ambientais no local de trabalho, através dos laudos por unidade e dos mapas de

risco.152

No relatório anual dos exames médicos, são divulgadas as porcentagens de exames

alterados, mas não nome de funcionários com problemas de saúde. Se necessário, é feito contato

com o funcionário e um especialista acompanha o caso. De acordo com médica do trabalho, a

empresa não cria obstáculo ao sindicato para o acompanhamento da fiscalização do INSS, MTE

ou SUS, desde que haja uma solicitação formal à gerência da loja.

Sobre a abertura de Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), a médica assegurou

que, até o momento da pesquisa, não houve solicitação do sindicato para que a empresa enviasse

cópias das CATs, “mas caso haja solicitação, será atendido”.153 Esse procedimento, contudo, é

obrigatório, independentemente da solicitação do sindicato.

TABELA 145 – ESTATÍSTICA ANUAL DE ACIDENTES DO TRABALHO C&A 2007

UNIDADES Nº Funcionários Nº Acidentes Nº Absolutos

Dias Perdidos

Tamboré 108 - - -

Interlagos 187 5 3 24

Brasília 228 - - -

Fortaleza 183 - - -

Porto Alegre 142 1 1 93

CD 433 1 1 65

Fonte: C&A

Elaboração: IOS, 2008.

A empresa afirma, ainda, que 50% dos acidentes registrados ocorrem fora do ambiente

de trabalho - ou seja, são acidentes de trajeto, no percurso da residência do funcionário ao local

de trabalho ou vice-versa. Essa situação, segundo a médica do trabalho, incentivou a implantação

de um programa de educação preventiva.154 Este programa está em fase de desenvolvimento pelas

áreas de Recursos Humanas, Treinamento e Serviço Especializado em Segurança e Medicina do

Trabalho, e será acrescido às ações preventivas já existentes, como o Manual de Equipamentos de

152

Representante da empresa. Entrevista realizada em 04 jun. 2008. 153

Representante da empresa. Entrevista realizada em 154

Documentos disponibilizados pela C&A.

Page 230: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

229

Proteção Individual, Manual de Brigada de Incêndio e Programa de Formação de Brigada de

Incêndio, Programa de Avaliações Ergonômicas Especiais e Semana Interna de Prevenção de

Acidentes do Trabalho.

TABELA 146 – TOTAL DE ACIDENTES DO TRABALHO POR UNIDADE DA C&A PESQUISADA NOS ÚLTIMOS

CINCO ANOS ABRIL MAIO 2008

UNIDADES TOTAL

Brasília 15

CD 82

Fortaleza 02

Porto Alegre 07

Shopping Interlagos 16

Shopping Tamboré 14

Total geral 136

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Nos relatos dos trabalhadores das lojas, identifica-se que a maior parte dos acidentes

de trabalho são causados por quedas, torções, escorregões, cortes, fraturas e queda do troller na

cabeça, todos com indicação de afastamento do trabalhador.

Na visão da empresa, os relatos dos trabalhadores estão alinhados com a avaliação do

Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional, que não apontou nexo causal entre o

acidente e as condições de trabalho. “A empresa estranha o fato de tantas queixas não serem

materializadas em afastamentos por doença acidentária, conforme relatos acima dos próprios

trabalhadores. Nesse sentido, fará checagem com maior acuracidade no próximo PCMSO”,

completa a liderança da empresa.

No CD, o número de acidentes é maior que nas lojas. O prédio do CD é equipado por um

ambulatório médico onde são prestados serviços ambulatoriais, considerados bons para 91% dos

entrevistados. As falas dos trabalhadores são reveladoras: “quando precisei fui bem atendido”;

“sempre tem uma enfermeira e um médico, o atendimento é rápido e tem encaminhamento”;

“quando precisei usar, foram atenciosos e há medicamentos”; “não precisei ainda, mas pelo o que

os outros funcionários dizem, é bom”.

Contudo, alguns trabalhadores responderam que o serviço do ambulatório é regular:

Page 231: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

230

“sou mal atendido por ser deficiente auditivo; a enfermeira não sabe atender”; “o médico chega

tarde (10h30min), deveria ter médico nos dois turnos”; “fica trocando constantemente de

enfermeira”; “o médico não fica no período da manhã, domingo ou feriado, a enfermaria está

fechada”.

TABELA 147 – AVALIAÇÃO DO SERVIÇO PRESTADO PELO AMBULATÓRIO MÉDICO DA C&A NO CD

Unidade Bom Regular Ruim Não tem Total geral

CD 276 22 3 2 303

Total geral 276 22 3 2 303

FONTE: Pesquisa Amostral IOS

Nota: há um número a menos no total geral de pessoas que responderam a questão, pois uma delas não respondeu

esta questão justificando que nunca utilizou o serviço do ambulatório médico.

Embora 91% dos entrevistados reconhecem como bons os serviços prestados pelo

ambulatório, a C&A esclarece que o resultado será objeto de verificação e implantação de ações

de melhorias.

Complementarmente, a empresa desenvolve vários programas preventivos, divulgados

aos associados. Entre eles estão ginástica laboral, ações de combate ao tabagismo e de incentivo à

amamentação. Como são programas preventivos, não há obrigatoriedade de participação dos

trabalhadores. No CD, 81% dos trabalhadores que responderam à pesquisa disseram que já

receberam algum treinamento específico sobre saúde e segurança no trabalho. Em geral, são

palestras sobre temas variados, como uso de EPIs, procedimentos e utilização de equipamentos,

prevenção de incêndios, doenças sexualmente transmissíveis (DST), alimentação, tabagismo, etc.

Essas palestras são ministradas na Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho

(SIPAT) pela empresa Intermédica, prestadora de serviço na área de assistência médica aos

trabalhadores da C&A.

Devem-se ressaltar os resultados sobre doenças do trabalho e o grande o número de

doenças apontadas pelos entrevistados, como LER/DORT, estresse ou depressão, problemas de

coluna e varizes - estes dois últimos resultantes das extensas jornadas de trabalhado em pé.

Outra questão que deve ser realçada, e que pode afetar a saúde dos trabalhadores, é

Page 232: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

231

reação de reprovação de líderes da empresas em relação aos funcionários doentes ou que, por

motivo de doença, apresentam atestados médicos, conforme relatado no capítulo “Análise geral e

comparativa”, no item sobre discriminação.

Ainda é importante atentar para a atuação da CIPA, que deve ser facilitada e divulgada

em face do grande número de entrevistados que desconhecem ou tem poucas informações do

trabalho da comissão. A empresa declara que “as atividades da CIPA estão sendo reforçadas,

visando a garantia de funcionamento uniforme em todas as unidades como um fórum preventivo

e educativo e, acima de tudo, com participação incentivada”. No CD, cabe ressaltar a boa

avaliação do ambulatório médico.

A empresa reforçou a discordância com os números de acidentes e doenças

apresentados na pesquisa a partir do relato dos trabalhadores. O argumento da empresa é o

seguinte:

As doenças representam um grande foco de preocupação em todos os setores da vida moderna

em função do estilo não saudável que a maioria das pessoas pratica no dia a dia: alimentação

inadequada, vícios, bebidas, noites mal dormidas, trânsito, mal relacionamento, situações de

desequilíbrio emocional e mesmo as situações vivenciadas no mundo do trabalho. Há situações

em que há dificuldade das pessoas na identificação da origem de seus problemas de saúde e o

trabalho, por conseguinte, também acaba sendo o foco das queixas por razões naturais, bem

como pelo tempo que nele passamos. A legislação do trabalho, desde há muito, avançou nesse

campo, e as grandes empresas desenvolvem mecanismos de controle e defesa das boas práticas

nessa área. A C&A também se inclui dentre as empresas que se preocupam com as atividades

em saúde. Entretanto, há uma preocupação especial com a ocorrência de doenças de nexo

causal com as condições de trabalho. A correta identificação do nexo é importante, tanto para a

correção das condições de origem quanto para as aplicações do direito do trabalhador. Como

se sabe, esse tema ganha, a cada dia, maior visibilidade no cenário mundial. O Governo

brasileiro,em sintonia com essa preocupação, implantou, desde Abril de 2007 nos sistemas

informatizados do INSS, o importante mecanismo auxiliar denominado NTEP – Nexo Técnico

Epidemiológico Previdenciário, que cruza informações entre o código da Classificação

Internacional de Doenças (CID10) com o código da Classificação Nacional de Atividade

Econômica (CNAE), justamente visando a mais correta análise possível sobre esse perfil de

ocorrências, que acaba não somente prejudicando a saúde dos trabalhadores como também, por

outro lado, gerando custos altíssimos para o país e sem o correto gerenciamento. A Empresa

considera que há possibilidades dos números apresentados nesse relatório estarem

equivocados. A existência de 350 casos de doenças ocupacionais clinicamente diagnosticadas

com nexo laboral é muito discrepante dos casos constantes em seu PCMSO.

Page 233: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

232

A empresa continua sua argumentação em relação ao problema:

Não faz sentido a ocultação de casos de doenças ocupacionais com toda a segurança que a

legislação oferece. A C&A assume suas responsabilidades nas eventuais situações existentes

em seu ambiente de trabalho, mas, para tanto, necessita que os dados sejam periciados. A

C&A alterou a organização de seu sistema de saúde e segurança no trabalho, centralizando,

junto ao médico corporativo, todos os serviços prestados nas várias unidades regionais,

visando, com isso, maior proximidade para gerenciamento mais aprofundado, obtenção de

resultados confiáveis e práticas preventivas mais efetivas. A reestruturação permitirá melhor

conhecimento e acompanhamento das ocorrências em saúde, além de oferecer atendimento

mais adequado, complementando o que é prestado pelo INSS.

O IOS esclarece que a pesquisa privilegia e retrata a questão da saúde do ponto de vista

dos trabalhadores e também o ponto de vista da empresa. Seu resultado não é questionável, mas

busca, através dos diferentes olhares, compor as mudanças necessárias com ajuda de outros

parceiros, caso necessário. O IOS garante a total confiabilidade e fidedignidade dos dados da

pesquisa, porém, são diferentes dos dados médicos, periciados. As opiniões dos trabalhadores não

devem ser desqualificadas, e essa é a premissa básica da metodologia utilizada pelo IOS.

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A empresa apresenta comportamento sócio-trabalhista diferenciado, dependendo da

unidade. Como ressalta a empresa:

A abrangência geográfica das unidades C&A, espalhadas pelo país, resulta num processo de

gestão descentralizada e, com certeza, se constitui um grande desafio para a gestão de

Recursos Humanos. É possível a ocorrência de desconformidades na correta aplicação das

políticas corporativas. Sem dúvida, o exercício de análise decorrente desse estudo permitirá a

implementação de ações, visando a identificação e correções de possíveis problemas.

Nesta finalização, ressaltam-se alguns temas que merecem reflexão.

Em relação ao perfil dos trabalhadores em todas as unidades, o contingente de

trabalhadores é composto, em sua maioria, por mulheres jovens. Em todas as unidades, o número

de trabalhadores negros (pardos e pretos) é quantitativamente representativo quando comparados

a dados regionais da População Economicamente Ativa (PEA) ou População Total da Região

Page 234: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

233

Metropolitana. No caso das unidades de Tamboré, Interlagos, Porto Alegre, Brasília e no Centro

de Distribuição há, relativamente, mais pretos e pardos que na PEA, medidas pelo DIEESE nas

regiões metropolitanas das respectivas localidades. Em Fortaleza, a maioria dos trabalhadores,

inclusive os dois líderes entrevistados, são pardos, o que reflete, em números muito próximos, a

composição racial da população da Região Metropolitana de Fortaleza, de acordo com os dados

do IBGE. Percebe-se, portanto, que, tanto nas unidades de vendas como no CD, a população

negra está adequadamente representada.

Entre os líderes entrevistados, as mulheres estão bem representadas; dos 18

entrevistados, nove são mulheres. Há um pequeno número de pardos e pretos: apenas dois líderes

entre os 18 entrevistados se autodeclararam pardos. Não se pode concluir que trabalhadores da

raça negra não tenham acesso aos cargos de liderança, pois seria necessário ter informações sobre

o quadro completo de líderes.

O organograma das lojas é constituído pelos seguintes cargos, da base ao cume:

menores aprendizes, fiscais de loja, assessores de clientes, monitores, líderes, supervisores e

gerente. Em todas as lojas, a maioria dos entrevistados é formada por assessores de clientes e, de

acordo com relatos dos trabalhadores, as funções desempenhadas por assessores de clientes,

monitores e líderes são variadas, não havendo definições precisas de funções relacionadas a cada

cargo. Para a empresa:

Existem funções definidas claramente para cada cargo, que são: Assessor, Monitor e Líder

Operacional. A C&A adota o conceito de multifunção, ou seja, o funcionário tem a

oportunidade de conhecer as atividades de uma loja e, por conseqüência, consegue desenvolver

as competências para a carreira do comércio. As tarefas desempenhadas por Assessores e

Monitores são semelhantes e diferenciadas apenas pela responsabilidade que o Monitor tem no

treinamento dos Assessores, que são: reposição e devolução de roupas, exposição de roupas,

atendimento ao cliente, operação de caixa e cuidar da doação (mensal) de produtos. Os Líderes

realizam atividades de coordenação e treinamento de funcionários, planejamento de horário,

realização de entrevistas de candidatos, prevenção de perdas, auditoria de processos, liderança

de equipe, abertura e fechamento de lojas e planejamento de equipe.

Cabe ressaltar que, em todas as unidades, a função de caixa é desempenhada por quem

tem o cargo de assessor de cliente e/ou monitor. Nesse sentido, não recebem os direitos relativos

Page 235: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

234

à função de caixa previstos nas CCTs de cada localidade estudada. A empresa contesta essa

informação ao declarar que “inexiste a obrigação legal do pagamento, pois a CCT condiciona o

pagamento somente para as empresas que processam o desconto das diferenças de caixa. Este não

é o caso da C&A, conforme pode ser verificado nas CCTs constantes do Caderno de

Informações.”.

Nas unidades de Tamboré, Interlagos, Brasília e Fortaleza, mais da metade dos

trabalhadores tem até dois anos de permanência na empresa. Em Porto Alegre, 40,9% dos

entrevistados estão nessa situação. Apesar de o diretor da empresa afirmar que há metas para

reduzir a rotatividade ou turn over, os dados de tempo no emprego indicam que, nas lojas

pesquisadas, a rotatividade ainda é alta. De acordo com a empresa, “o turn over está presente

como uma característica do comércio varejista, normalmente de maior facilidade para ingresso de

jovens no mundo do trabalho e também como setor doador de mão-de-obra para o setor industrial

nas épocas de aquecimento do nível do emprego.”

Na questão de liberdade sindical, em todas as unidades pesquisadas é grande a falta de

informação e da participação dos trabalhadores nas atividades sindicais. Essa situação se torna

evidente quando os trabalhadores afirmam que são filiados a algum sindicato, mas não sabem ou

não lembram o nome; ou então quando afirmam que são filiados ao sindicato da loja ou sindicato

do comércio; ou ainda quando respondem que são filiados porque pagam contribuição sindical ou

porque enviam carta ao sindicato para isenção de pagamento do imposto sindical. As falas dos

trabalhadores indicam a participação da empresa na formulação e distribuição dessas cartas.,

alguns relatos: “poucas coisas são passadas pela empresa, a única coisa que recebemos da

empresa é sobre a carta de anular o imposto sindical”. A pesquisa apontou também que a empresa

impede a entrada dos sindicatos nos locais de trabalho, o que dificulta o acesso à informação das

atividades sindicais e a troca de informações entre trabalhadores e dirigentes sindicais. Os

representantes da C&A não concordam com essa afirmação, argumentando que:

As informações sindicais circulam amplamente no interior da empresa, tendo em vista que a

mesma oferece canais internos para distribuição de folhetos e materiais diversos, quando

Page 236: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

235

solicitada pelo sindicato. Quanto à livre circulação de dirigentes sindicais dentro das lojas,

obviamente a empresa não concorda e não permite, assim como nenhuma outra loja do

mercado o faz, tendo em vista a incompatibilidade das atividades. Rejeitamos mais uma vez a

imputação de responsabilidades quanto às oposições à contribuição sindical, tendo em vista

que houve 83% de recolhimento de contribuições entre as unidades pesquisadas [dados da

empresa]. A baixa margem de oposição deve ser entendida e aceita pelos sindicalistas como

respeito ao uso do direito previsto nas próprias convenções coletivas, como também um

desafio para melhor atratividade de novos associados.

No item promoção, as informações levantadas pela pesquisa mostram diferenciação

entre as unidades: os trabalhadores das lojas paulistas, Tamboré e Interlagos, são os mais

descontentes com os critérios de promoção. Os relatos dos trabalhadores revelam alta

competitividade e pressão para atingir metas nessas duas unidades.

Cabe salientar que muitos trabalhadores consideram a passagem da jornada de trabalho

de 36 (part time) para 48 horas semanais (full time) como uma forma de promoção. Não causa

surpresa que nessas duas unidades, Tamboré e Interlagos, exista maior número de trabalhadores

que se sentiram discriminados e prejudicados na empresa.

Sobre sua política de cargos e salários, a empresa declara que:

É igual para todos os associados, independente da idade, tempo na empresa, raça e gênero. O

que determina a jornada de part time ou full time é a necessidade da operação da loja. De fato,

os funcionários acabam entendendo essa mudança como promoções, devido à existência de

uma diferença salarial de 22%. Entretanto, essa não é a forma de divulgação dada pela

empresa. A anotação na ficha de registro do funcionário consta corretamente como alteração

de carga horária, e não promoção. Esse é o fato documentado e que deve ser considerado. A

política de promoção na carreira também é igual para todos os funcionários, mas segue

processos objetivos, como qualificação técnica, experiências anteriores e resultados

apresentados por desempenho. Mesmo assim, a empresa avaliará os resultados apontados,

como subjetividade nos critérios de promoção apontados na pesquisa.

O exercício de horas extras é diferenciado nas lojas pesquisadas. Em Fortaleza, por

exemplo, não é usado o banco de horas. De acordo com os entrevistados, nem sempre a política

de horas extras da empresa é obedecida nas unidades pesquisadas, uma vez que quem tem

jornada de 30 horas semanais realiza horas extras, contrariando a política da empresa.

Quanto a este fato, a empresa declara que “o sistema de banco de horas é adotado

apenas nas unidades para as quais consta como item de Convenção Coletiva e, mesmo assim, em

Page 237: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

236

função de pico de atendimento nas unidades. Quanto ao uso inadequado do banco de horas, foram

verificadas e já corrigidas as irregularidades. O funcionário part time – com jornada de 36 horas

semanais - pode trabalhar duas horas a mais como extras, desde que elas sejam compensadas

dentro da mesma semana. Numa excepcionalidade de ultrapassagem dessa carga semanal, as

horas não compensadas devem ser remuneradas com os devidos acréscimos legais e não podem

ser depositadas no banco de horas. Diante disso, a C&A checará os procedimentos em todas as

unidades. Este sistema adotado para part time não é banco de horas, mas adotado legalmente

como sistema de compensação”.

A pesquisa identifica também que o momento de avaliação e treinamentos pode ser

uma oportunidade de diálogo entre trabalhadores e lideranças, desde que a empresa crie

mecanismos mais eficazes de comunicação. Com base na maioria das declarações é possível

afirmar que os cursos oferecidos pela empresa são direcionados para as funções do dia a dia de

trabalho e, aparentemente, não têm grande relevância na hora da promoção ou na construção de

uma carreira dentro da loja. A C&A, entretanto, afirma que a “C&A exerce um papel social de

grande significado ao aceitar candidatos sem qualquer experiência para trabalhar como

funcionário em suas lojas. Isso gera, como conseqüência, alta atratividade para jovens em busca

da primeira oportunidade no mercado de trabalho, atualmente tão exigente e restrito. Há uma

posição na estrutura das lojas destinada quase que exclusivamente ao treinamento e apoio dos

funcionários.”

No caso da avaliação diária, fica claro que não há um critério ou o estabelecimento de

itens que possam deixar claro ao trabalhador sobre a forma utilizada, deixando-o em uma posição

vulnerável frente à empresa e às suas chefias diretas e à própria empresa.

Sobre o processo de avaliação de desempenho, a empresa comenta que:

O processo formal de avaliação de desempenho ocorre anualmente nos meses de abril, para o

CD, e setembro, para as lojas. Nesse processo, são registrados pontos que devem ser

trabalhados durante todo o ano. Os gestores são estimulados a fazer o acompanhamento do

desempenho ao longo do ano e, dessa forma, conversar com cada funcionário sempre que

necessário, checando a evolução para o atingimento de metas e o desenvolvimento pessoal e

profissional. O processo é coordenado pelo gestor principal (gerente da unidade) que faz

Page 238: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

237

verificações de consistências entre os avaliadores e avaliados quando necessário, visando

garantir os objetivos de melhoria continuada. É possível a variação na freqüência, forma e

estilo de cada gestor, e é sobre isso que estão recaindo as diferenças de abordagens entre as

unidades e mesmo entre os entrevistados. Informamos também que, desde 2006, o processo

Face To Face vem gradativamente sendo mudado para o modelo de avaliação de desempenho

por competências. Nas lojas, este novo modelo já está em funcionamento e, no CD, a previsão

é implantá-lo em 2009. Os casos de funcionários que não foram avaliados se devem ao pouco

tempo na empresa ou eventualmente a alguma falha que precisaria ser identificada.

Anualmente, o processo é iniciado com preparação formal para reciclagem das lideranças,

comunicação aos funcionários e cronograma de ações coordenadas pelo RH.

Quanto à política de benefícios, a C&A enumera os benefícios que a empresa chama

de “benefícios próprios”, ou seja, que estão “além daqueles previstos na legislação”. São:

assistência médica, refeição/desjejum, cartão de descontos (compras nas lojas com descontos),

convênio odontológico, convênio farmácia, convênio universidades, empréstimo consignado,

auxílio funeral (condição superior à condição prevista na CCT), homenagem por tempo de casa

De forma geral, são inúmeros os relatos dos trabalhadores que se sentiram

discriminados ou prejudicados dentro da empresa. A C&A deve tomar uma atitude enérgica em

relação a esses episódios, sejam eles ocorridos horizontalmente, entre colegas, ou verticalmente,

entre líderes e trabalhadores. De acordo com a empresa, “tais casos não são tolerados, diante da

observância de seus valores corporativos e, portanto, não precisa ser objeto de uma política

específica. Por outro lado, concorda que os mesmos devem ser objeto de atenção na gestão de

pessoas”.

Os motivos são diversos, conforme indica capítulo específico, mas o maior número de

reclamações está relacionado aos trabalhadores doentes: a empresa é intolerante com

trabalhadores que faltam por doença ou levam atestado médico. De acordo com relatos de

trabalhadores, se estão doentes, os líderes comentam: “você pode ficar doente só daqui a 75 dias”

ou “você está faltando com empresa”. A respeito desse fato, a empresa afirma que “a liderança

está sendo apenas cuidadosa quanto à verificação de freqüência e procedência de atestados

médicos, pois 20% das demissões por justa causa ocorridas em 2008 o foram por falsificação de

atestados. A recente reestruturação do serviço de saúde permitirá controle mais próximo dessas

Page 239: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

238

situações diretamente pelo médico corporativo e as entidades regionais prestadoras de

assistência médica do trabalho, com auxilio especializado às gerencias locais das unidades.”

Neste relatório, há uma seção especial com informações sobre os portadores de

necessidades especiais, em sua maioria, deficientes auditivos. Os deficientes auditivos exercem

funções consideradas mais simples e, de forma geral, recebem os salários mais baixos. Segundo

estes trabalhadores, as perspectivas de crescer na empresa são praticamente impossíveis. Muitos

deficientes auditivos reclamam da dificuldade de comunicação com a chefia da empresa e, de

acordo com esse grupo de trabalhadores, a presença de um intérprete de libras poderia auxiliar o

entendimento. Aparentemente, a inserção dos portadores de necessidades especiais na empresa é

difícil, tanto no CD como na unidade de Brasília. Sobre esse tema, a C&A afirma que:

[A empresa]Aplica uma só política de remuneração para todos os seus funcionários e, portanto,

todos estão gerenciados de acordo com as mesmas tabelas salariais e critérios de promoção ou

reclassificações de funções. Não há diferenciação dessa aplicação em se tratando de

funcionário portador de deficiência. Os PCDs exercem funções para as quais foram

selecionados e contratados e não posições criadas na empresa apenas para sua inserção. Os

documentos internos sobre históricos funcionais podem comprovar as trajetórias individuais

dos PCDs. Conforme amplamente comentado na página, concordamos, entretanto, que a

inserção de deficientes auditivos é bastante desafiadora e que, nesse sentido, a empresa está

investindo maiores esforços conforme atividades descritas anteriormente.

Realização de horas-extras por grande parte dos trabalhadores, pressão por metas e

humilhações afetam a saúde do trabalhador. Os problemas de saúde mais citados pelos

trabalhadores são de coluna, LER/DORT e depressão ou estresse – sendo o último o mais citado

nas lojas de Tamboré, Interlagos, Porto Alegre e Brasília.. Em Porto Alegre, chamam a atenção

os afastamentos por síndrome do pânico e por depressão. A intolerância e a discriminação das

chefias da empresa com os trabalhadores doentes podem acirrar ainda mais os problemas de

saúde dos trabalhadores.

Para a C&A, “o estudo não apresenta dados conclusivos e, portanto é questionável essa

observação genérica sobre os tipos de doenças presentes entre os trabalhadores, bem como a

ligação sugerida com o comportamento da chefia”.

O IOS reafirma que a pesquisa privilegia e retrata a questão da saúde do ponto de vista

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239

dos trabalhadores e também o ponto de vista da empresa. Seu resultado não é questionável, mas

busca, através dos diferentes olhares, compor as mudanças necessárias com ajuda de outros

parceiros, caso necessário. O IOS garante a total confiabilidade e fidedignidade dos dados da

pesquisa, mesmo diferentes de dados médicos, periciados. As opiniões dos trabalhadores não

devem ser desqualificadas, e essa é a premissa básica da metodologia utilizada pelo IOS.

Nesse sentido, atuação da CIPA deve ser facilitada e divulgada em face do grande

número de entrevistados que desconhecem ou tem poucas informações do trabalho da comissão.

No Centro de Distribuição, cabe ressaltar a boa avaliação do ambulatório médico. Como empresa

de comércio e serviços, o risco de acidente dentro da empresa é menor, portanto, a atuação da

CIPA pode ser voltada para a prevenção de doenças do trabalho, enfatizando-se as doenças

psicológicas. A empresa afirma que “a atuação da CIPA deverá ser incentivada para melhor

cumprimento de seu papel preventivo/educativo. Certamente, as mudanças já comentadas sobre a

estrutura de gestão do Serviço de Saúde e Segurança no Trabalho permitirão acompanhamento

mais próximo pela área corporativa”.

Em relação às questões de saúde e segurança no trabalho, é necessário frisar que cada

unidade tem suas peculiaridades socioculturais e que cada líder possui perfil diferenciado. Os

problemas levantados, muitos deles graves, podem ser evitados se a empresa adotar uma política

de formação de líderes com base nos Direitos Humanos e analisar criticamente os extenuantes

processos de trabalho e as constantes cobranças por metas.

Page 241: Relatório Geral - C&A - Abril de 2010

240

REFERÊNCIAS

INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL (IEMI). Boletim Informativo do

Setor Têxtil/Confeccionista – Calçadista e Moveleiro. Edição 29, Agosto 2008).

GARCIA, Renato & CRUZ – MOREIRA. O complexo têxtil-vestuário: um cluster resistente. In:

caminhos para o centro: estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo.

Não datado.

GERÊNCIA SETORIAL DE COMÉRCIO E SERVIÇOS. ÁREA DE OPERAÇÕES

INUSTRIAIS 2 – AO2. A segmentação do comércio varejista. No 12, março de 2000.

OBSERVATÓRIO SOCIAL. Observatório Social Em Revista, No 10, maio 2006.