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Relatório de Estágio de Mestrado em Português como Língua Segunda e Estrangeira Ensino Explícito de Pronúncia Versão revista e melhorada após defesa pública Fevereiro, 2020

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Relatório de Estágio de Mestrado

em Português como Língua Segunda e Estrangeira

Ensino Explícito de Pronúncia Versão revista e melhorada após defesa pública

Fevereiro, 2020

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Agradecimentos

Devia bastar o som bu-ro-crá-ti-co da palavra “relatório” para reforçar a

sobriedade, levando à síntese perfeita expressa no silêncio. Contrariando a premissa,

aqui ficam, alfabeticamente e a ler por qualquer desordem, os meus agradecimentos:

À Ana, por segurar ainda mais firme nas penosas travessias do deserto;

À Carol, por acreditar para além dos limites da lógica;

À Lúcia, pelo começo de tudo, ao permitir saborear quão prazeroso pode ser

ensinar uma língua;

À Prof. Ana Madeira, pela compreensão de todos os incumprimentos e pela

segurança a delimitar o caminho;

Ao Prof. Roberto Mulinacci, pela paixão contagiante que lhe evoca a língua

portuguesa;

Ao P. e à P., por tanto de inspirador da sua história, com o seu linguajar vadio,

ponto de encontro dos amores de todas as línguas.

Lembrar-me-ei muitas vezes de vós, especialmente nos momentos felizes.

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Agradecimentos 6

Introdução 1

1. Caracterização da instituição de acolhimento 2

2. Descrição das atividades desenvolvidas durante o estágio 5

3. Enquadramento teórico do ensino de pronúncia 7

4. Principais diferenças fonológicas entre o português e o italiano 12

5. Intervenção didática 14

5.1 Identificação do problema 15

5.2 Objetivos 15

5.3 Plano de intervenção 15

5.3.1 Descrição dos participantes 15

5.3.2 Metodologia 17

5.4 Avaliação do impacto da intervenção didática 21

Conclusão 23

Referências bibliográficas 25

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Introdução

Este relatório sintetiza o trabalho desenvolvido no âmbito do estágio curricular

do Mestrado em Português como Língua Segunda e Estrangeira, realizado no

Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas Modernas da Universidade de Bolonha,

durante o primeiro período do ano letivo 2018/2019, que decorreu entre outubro e

dezembro de 2018.

A opção por estágio, em detrimento de tese ou projeto, refletiu a necessidade

de desenvolver competências didáticas baseadas numa experiência prática que me

permitisse ter uma primeira experiência como professora de português como língua

estrangeira (PLE). Mais, que me permitisse ter uma primeira experiência como

professora tout court, mesmo ciente de que não seria legítimo classificá-la como

profissional, tendo em conta as fragilidades de quem se estreia num campo de

conhecimento que lhe é totalmente novo.

Empenhei-me em conseguir realizá-lo no território italiano, por querer perceber

de que modo as semelhanças e os contrastes entre português e italiano podiam ser

facilitadores na aquisição da nova língua; também foi fator de decisão a escassez de

literatura relativa ao trabalho de PLE centrado em italófonos. Foi meu propósito pôr a

tónica no ensino explícito de pronúncia, ainda que incluído numa abordagem mais

abrangente, convicta de que podia traduzir-se num ganho significativo na curva de

aprendizagem de certos grupos de aprendentes. Esta motivação baseou-se na minha

experiência como aluna de línguas estrangeiras, nomeadamente de italiano, e na

vontade de perceber de que modo o ensino explícito de pronúncia podia ser eficaz

desde o primeiro nível de aprendizagem. Deste modo, durante as sessões didáticas de

produção oral de que fui responsável, dei particular atenção a este tópico, tendo

desenvolvido uma pequena intervenção didática, mesmo que com diversas limitações

formais, resultantes tanto do constrangimento temporal como da minha escassa

preparação.

Em síntese, o meu principal objetivo foi ter uma primeira experiência didática,

com a multiplicidade de inputs resultantes da interação com um grupo de alunos em

contexto pedagógico, seguindo-se o escopo específico do ensino de pronúncia.

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Neste relatório, começo por dedicar uma breve nota histórica àquela que é

considerada a mais longeva instituição de ensino superior da Europa — a Universidade

de Bolonha —, antes de avançar na caracterização do Departamento de Línguas,

Literaturas e Culturas Modernas, onde decorreu a minha experiência docente.

Segue-se um sumário das diferentes atividades que preencheram o estágio.

O capítulo seguinte é dedicado ao enquadramento teórico do ensino de

pronúncia, uma vez que o trabalho pedagógico que desenvolvi, como já foi afirmado,

teve como objetivo primordial a aquisição de pronúncia.

Tendo em conta que o trabalho foi fortemente motivado pelas principais

diferenças fonológicas entre o italiano e o português, dedico-lhes um capítulo

autónomo. Ainda que não seja uma descrição exaustiva, permite perceber quão

profícuo pode ser este conhecimento, quando se trabalha em universos linguísticos

uniformes e com pontos de contacto com a língua de destino.

O corpo mais extenso do relatório está contido no capítulo 5, no qual é feito um

sumário de uma pequena intervenção didática de ensino explícito de pronúncia, dividida

em três experiências, identificadas por A, B e C, para clareza de comunicação.

A finalizar, na conclusão, faço um balanço da minha atividade como estagiária,

referindo as competências que foram reforçadas — ou mesmo adquiridas por antes

serem inexistentes —, assim como as dificuldades com que me confrontei e que servem

de reflexão para experiências futuras.

1. Caracterização da instituição de acolhimento

Considerada a universidade mais antiga da Europa, é aceite que o ensino livre e

independente das escolas eclesiásticas tenha aqui começado em 10881. No entanto, foi

a história recente que tornou o nome da Universidade de Bolonha no símbolo da união

do ensino superior no espaço europeu.

1 www.unibo.it/it/ateneo/chi-siamo/la-nostra-storia/luniversita-dal-xii-al-xx-secolo, consultado a 20/06/2019

Outubro, 2019

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Um passo relevante foi dado a 18 de setembro de 1988, durante a celebração

dos 900 anos do nascimento da instituição. Nesse dia, a magnífica Piazza Maggiore

acolhia 388 reitores de universidades de todo o mundo que subscreveram a Magna

Carta Universitatum Europaeum (1988) 2 , atualmente ratificada por mais de 800

instituições universitárias. O espírito da universalidade do saber ficava plasmado neste

documento, reafirmando-se a autonomia da universidade e a ligação indissociável entre

a atividade didática e de investigação, além da recusa dos limites impostos por qualquer

fronteira geográfica ou política.

Dez anos depois, a 19 de junho de 1999, 29 ministros europeus, titulares da pasta

do Ensino Superior, assinavam a Declaração de Bolonha3. Era o início de um caminho de

homogeneidade do ensino universitário europeu, promovendo o intercâmbio de

estudantes e o reconhecimento conjunto das suas habilitações, no que foi comummente

consagrado como Processo de Bolonha. É sob a sua égide que está organizado este

mestrado, além de se dar a coincidência de o estágio ser conduzido precisamente na

alma mater do ensino transnacional, a casa que acolheu a declaração homónima: a

Universidade de Bolonha.

No contexto atual, fazem ainda mais sentido estas palavras iniciais, a deixar

transparecer o idealismo de um ensino europeu comum, em contraste evidente com as

correntes de pensamento que têm ganhado expressão nos últimos anos, em defesa de

um nacionalismo apostado no reerguer de fronteiras.

A Universidade de Bolonha é considerada a líder europeia da mobilidade

internacional (Erasmus+ 2018)4. Nos últimos dados disponibilizados pela instituição,

relativos ao ano letivo de 2017/18, constata-se que 13,6% dos seus estudantes são

internacionais, num total de 86 509 inscritos5.

No que respeita ao Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas Modernas,

onde decorreu esta experiência didática em português, é de sublinhar o seu carácter

2 http://www.magna-charta.org/resources/files/the-magna-charta/portuguese, consultado a 20/06/2019

3http://www.magna-charta.org/resources/files/BOLOGNA_DECLARATION.pdf, consultado a 20/06/2019 4 www.unibo.it/en/university/who-we-are/university-today/university-today, consultado a 26/06/2019 5 www.unibo.it/en/university/who-we-are/university-today/university-today, consultado a 26/06/2019

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plurilinguístico. Atualmente estão disponíveis estudos de alemão, árabe, chinês,

espanhol, finlandês, francês, holandês, inglês, japonês, persa, polaco e russo.

Especificamente a língua portuguesa conta com dois docentes do quadro: o

professor catedrático Roberto Vecchi e o professor associado Roberto Mulinacci,

somando-se normalmente um professor contratado, para o ensino de Lingua e

Linguistica Portoghese e Brasiliana 2, que varia todos os anos, dependendo das

candidaturas apresentadas 6 , além de dois leitores, um da variante de português

europeu (PE) e o outro de português brasileiro (PB).

A oferta curricular7 é constituída por Letterature Portoghese e Brasiliana, níveis

1, 2, 3, exclusiva da licenciatura de Lingue e Letterature Sraniere. Já Lingua e Linguistica

Portoghese e Brasiliana, níveis 1, 2, 3, é comum tanto à licenciatura anterior como à de

Lingue Mercati e Culture dell’Asia — refira-se, no entanto, que esta segunda disciplina é

escolhida também por alunos de outros departamentos 8 . Merece uma menção

particular o facto de o programa desta cadeira incluir a oferta de aulas de PLE,

habitualmente da responsabilidade de um leitor nativo, podendo ser tanto de PE como

de PB, dependendo dos semestres e do grau.

Ainda no primeiro grau de estudos e regendo-se pelos mesmos moldes das

referidas aulas de PLE, existe a disciplina de Portoghese 1 e 2, na licenciatura de

Antropologia, Religioni, Civiltà Orientali.

No que concerne ao segundo nível de estudos, no mestrado de Letterature

Moderne, Comparate e Poscoloniali, encontramos Letterature Portoghese e Brasiliana 1

e 2, Storia della Cultura Portoghese e Lingua Portoghese e Brasiliana; e no mestrado de

Lingua e Cultura Italiane per Stranieri, Lingua Portoghese e Brasiliana.

6 Informação facultada por email pelo Prof. Roberto Mulinacci 7 Todas os dados referidos sobre a oferta curricular estão disponíveis em www.lingue.unibo.it/attivita-didattica, consultado a 26/06/2019 8 Informação facultada por email pelo Prof. Roberto Mulinacci

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2. Descrição das atividades desenvolvidas durante o estágio

As principais atividades consistiram, passe a coincidência da nomenclatura, nas

Attività Integrative di Portoghese. Estas sessões didáticas, da minha responsabilidade,

funcionaram como complemento das aulas de Lìngua e Linguìstica Portoghese e

Brasiliana, do docente Roberto Mulinacci, e em estreita articulação com as aulas de

Portoghese, da leitora Filipa Matos.

Estas sessões de ensino de PLE, variante de Português Europeu, tiveram como

objetivo principal funcionar como espaço de exercitação, particularmente de produção

oral, relativamente à matéria que foi sendo lecionada em Portoghese, nível A1.

Decorreram ao longo de 12 sessões, com 1h30 de duração, tendo a assistência variado

entre um mínimo de 5 alunos (aula de estreia) e um máximo de 16. Parece-me, no

entanto, legítimo afirmar ter-se criado uma efetiva relação pedagógica com 10 dos

participantes, a maioria dos quais esteve presente na totalidade das sessões.

Foi sempre dada uma ênfase particular ao ensino de pronúncia, um dos objetivos

centrais do estágio. Sendo um universo de italofalantes, o ensino de pronúncia estava

facilitado pelo seu conhecimento fonológico prévio, bastando quase sempre tomarem

consciência da fonologia do português, contrastando-a com a sua língua nativa, e

também a partir de exemplos que os próprios alunos transmitiam tanto de outras

línguas como de dialetos. Para o fazer, foi determinante estar sensibilizada para as

principais diferenças fonológicas entre o português e o italiano.

Por outro lado, foi pertinente ter em atenção as divergências gráficas na

representação de sons idênticos ou quase idênticos, nas duas línguas. Muitas vezes,

pude constatar ser a representação gráfica a condicionar a produção oral, em oposição

à facilidade de pronunciação quando a referência era exclusivamente auditiva. Enumero

no parágrafo seguinte alguns exemplos para tornar mais claro o que acabo de afirmar.

O som [ʎ] que corresponde ao dígrafo <lh> (“valha” ['vaʎɐ]) é representado em

italiano com <gl> (“maglia” ['ma:ʎʎɐ]) — há uma ligeira diferença na maior ênfase dada

ao som, difícil de detetar por um não nativo de italiano. O som [ʃ] que corresponde ao

dígrafo <ch> (“chave” [ˈʃa.vɨ]) é representado em italiano com <sc> (“sciarpa” [ˈʃarpa]);

em contrapartida, o grafema <ch> em italiano corresponde ao som [k] (“chiave” [ˈkjave]),

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que em português assume duas representações gráficas: <q> e <c> — este quando

antecede <a>, <o> e <u>. Outro exemplo pode ser dado pela consoante <z>, que em

italiano pode corresponder aos sons [ts] ou [dz]. No entanto, o som português [z] é

facilmente reconhecido por um italofalante, que o usa em palavras como “chiesa”

['kjɛ:za]. Há diversos exemplos desta natureza, em que encontramos sons próximos

entre as duas línguas, mas correspondendo a diferentes grafemas; assim como grafemas

idênticos nas duas línguas que traduzem sons distintos.

Estes fatores — conhecimento fonológico prévio e divergências gráficas —

constituíram o ponto de partida para delimitar o trabalho a desenvolver, a partir da

observação de nativos de italiano a falar português em contexto informal. Num segundo

passo, a troca de ideias com o Prof. Roberto Mulinacci, o responsável pelo estágio na

instituição de acolhimento, reforçou a minha convicção de que este poderia ser um

caminho profícuo.

Posteriormente, como dou conta no capítulo em que descrevo as principais

diferenças fonológicas entre português e italiano, consegui identificar literatura sobre

as dificuldades de pronúncia da vibrante [R] do português, da autoria de Fulgêncio e

Bastianetto (1998), ainda que tenha por base a referência padrão da variante de

português do Brasil; em italiano, corresponde a uma vibrante múltipla alveolar. Tinha

também conhecimento prévio de um trabalho de Migliorerai (2017), que assinala a

dificuldade de os aprendentes italianos de PLE pronunciarem o som [ʃ] quando está no

final das palavras. Sensibilizada por esta observação, procurei reforçar a perceção da

realização dos sons em função do contexto, especificamente na realização do morfema

de plural que pode assumir os sons [ʃ], [ʒ], [z].

No decurso das sessões que dirigi foi posta em prática uma pequena intervenção

didática de ensino explícito de pronúncia, que descrevo no capítulo 5.

Em síntese, relativamente à atividade didática, o conhecimento fonológico

prévio dos aprendentes foi usado para consolidar a aquisição da nova língua,

sublinhando as semelhanças e acentuando os contrastes.

Ainda antes de ter início o meu contacto com os alunos, decidi assistir às aulas

de Lìngua e Linguìstica Portoghese e Brasiliana, e Portoghese, ambas com frequência

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bissemanal, e fazê-lo durante toda a minha permanência em Bolonha. No caso

específico de Portoghese, tratou-se da necessidade óbvia de ir acompanhando o

programa, de modo a refleti-lo na minha própria preparação das sessões subsequentes.

Já em relação a Lìngua e Linguìstica Portoghese e Brasiliana, além de reconhecer a

relevância para o meu trabalho de saber com pormenor o conhecimento que os alunos

iam adquirindo, a decisão refletiu uma necessidade científica. Tendo em conta o meu

percurso académico, sabia das carências formais no meu conhecimento de linguística,

sendo um fator de motivação acrescida poder fazê-lo assistindo a aulas numa língua cujo

conhecimento estava — e estou — a aprofundar. Além disso, não é de subestimar a

capacidade de distância analítica que se ganha em relação à língua nativa, a partir de

um olhar estrangeiro; mais, comungar da paixão pelo português que estas aulas

motivavam na plateia.

Do mesmo modo, independentemente de não ter uma relação estrita com o

objetivo do estágio, foi um ganho significativo assistir às aulas de Linguistica Generale,

ministradas pela Prof. Caterina Mauri. Fazendo jus ao verdadeiro espírito que regeu o

Tratado de Bolonha, com exceção de disciplinas com certos requisitos técnicos, todas as

aulas ministradas nesta universidade são de acesso livre e universal.

3. Enquadramento teórico do ensino de pronúncia

Boa parte dos problemas de comunicação que se observam entre aprendentes

de línguas deve-se a erros de pronunciação, sustenta Jenkins (2000), defendendo assim

a necessidade de se dedicar uma atenção particular ao ensino de pronúncia. No entanto,

no que parece ser uma contradição deste facto, a investigação sobre o ensino de

pronúncia só nas últimas décadas evoluiu para se tornar uma área científica reconhecida

— em si mesmo um indicador da pouca relevância que lhe foi atribuída até meados dos

anos 90 (Derwing e Munro, 2015) —, o que se deve a uma multiplicidade de razões.

Estes mesmos autores atribuem esta escassez a uma combinação de fatores que

incluem, entre outros, a disseminação das ideias de Krashen (1989) sobre a importância

de input compreensível em detrimento de instruções explícitas na sala de aula, e o

acentuar da ênfase pedagógica no valor da comunicação, nos anos 1980, em prejuízo

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do rigor linguístico. Já Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2010) tinham referido como,

no contexto da abordagem comunicativa que se desenvolveu na premissa de que o

principal objetivo do ensino de línguas devia ser a comunicação, havia sido dada pouca

atenção ao ensino da pronúncia. Na abordagem comunicativa, a comunicação não só é

o objetivo da aprendizagem, como também o método através do qual tem lugar essa

aprendizagem, daí a linguagem dever ser central em todas as instruções na sala de aula.

Contudo, os mesmos autores defendem que é o foco na comunicação, precisamente,

que deve reforçar a necessidade de ensinar pronúncia e não legitimar a sua exclusão:

“This focus on language as communication brings renewed urgency to the teaching of pronunciation, since both empirical and anecdotal evidence indicates that there is a threshold level of pronunciation for nonnative speakers of English; if they fall below this threshold level, they will have oral communication problems no matter how excellent and extensive their control of English grammar and vocabulary might be.” (Celce-Murcia et al, 2010, p. 10)

Também Atar (2018) reforça esta posição, ao responder afirmativamente ao

título da meta-análise “Should We Teach Pronunciation Explicitly in L2/EFL

Classrooms?”, referindo que as objeções levantadas pela abordagem comunicativa já

não têm razão de ser: “In this respect, although the Communicative Approach was

against pronunciation teaching in the 80s, pronunciation teaching can be incorporated

into communication and learned phonology can be converted into fluent speech by

taking part in various communicative activities.” (Atar, 2018, p. 99).

O ensino de pronúncia pode ser sintetizado em três abordagens principais

(Celce-Murcia, 1996), que integram métodos tradicionais com técnicas modernas:

abordagem intuitiva-imitativa; abordagem analítica-linguística; e abordagem

integrativa. Na primeira, parte-se do pressuposto de que a capacidade do aluno para

ouvir e imitar os sons e o ritmo da L2 levarão a que adquira um bom nível de pronúncia,

sem que haja qualquer instrução explícita. Na segunda abordagem, é reforçado o ensino

explícito de pronúncia, tirando partido de recursos pedagógicos como o alfabeto

fonético internacional, descrições articulatórias e explicações assentes,

nomeadamente, no contraste entre pares mínimos. Foi desenvolvida para

complementar a abordagem intuitiva-imitativa, em vez de a substituir (Celce-Murcia,

Goodwin & Brinton, 1996). Por último, na abordagem integrativa, a pronúncia é vista

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mais como uma componente integral da comunicação do que como uma competência

específica, combinando as estratégias implícitas e explícitas características das duas

abordagens descritas anteriormente, abarcando-se quatro níveis: o percetivo

(discriminação auditiva); o motor (aspetos articulatórios); o cognitivo (construção de

representações mentais das propriedades fonético-fonológicas da L2); e o psicossocial

(motivações pessoais, sociais e profissionais do aprendente) (Grant, 2014).

As atividades didáticas desenvolvidas durante o estágio assentam no que Chan

(2018) define como “embodied pronunciation”, uma abordagem integrativa do ensino

da pronúncia, que se tem vindo a generalizar e que tem implícita a abordagem

multissensorial e multicognitiva de Odisho (2007):

The development of pronunciation skills is substantially more effective when integrated with conscious gestures and other body movement. For the purposes of this article, I will consider embodied pronunciation to refer to body movement that involves physical sensations perceptible through visible, auditory, kinesthetic, and proprioceptive modalities, and that expresses, signifies, or enhances one or more aspects of oral language. Further, I will contend that by focusing attention on embodiment, pronunciation learning and teaching can be enhanced. (Chan, 2018, p.48)

A escolha por esta abordagem deve-se em grande parte à limitação temporal das

atividades didáticas desenvolvidas no estágio, tendo-se previsto que seria a mais

adequada para, ainda assim, poder revelar resultados. Especificamente a abordagem

multissensorial e multicognitiva de Odisho (MMA, na sigla inglesa) propõe que o ensino

da pronúncia de uma língua estrangeira abandone um paradigma quase exclusivamente

auditivo e procure tirar partido de diferentes estímulos:

Teaching with a multisensory approach means the instructor has to approach the learner via more than one sensory modality and the learner should be prepared and encouraged to believe likewise. Similarly, the multicognitive aspect of the approach should encourage learners to try to attentively listen to sounds, retain an acoustic and auditory image of them and compare and contrast them with sounds already part of their psycholinguistic inventory using all the available cognitive processes such association, analysis, synthesis, comparison, contrast, memorization, etc. (2007, p. 5)

A MMA pressupõe uma sequência de orientações (Odisho, 2007, pp. 16-19) que

o professor deve dar aos alunos que se expressam em quatro fases distintas: na

orientação cognitiva, o professor deve preparar os aprendentes para reconhecerem

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mentalmente a existência do problema e as suas implicações fonéticas ou fonológicas

no seu desempenho; na orientação auditiva, recorrendo a pares mínimos e escondendo

a boca, o professor repete cada palavra, pedindo que os alunos identifiquem se

percebem o som 1 ou 2; na orientação visual, o professor, mostrando a boca, produz

ambos os sons, exagerando na sua expressão facial, e, de seguida, os aprendentes ficam

frente a frente a observar o colega, antes de trocarem de papéis; na orientação

cinestésica e propriocetiva, o professor pede aos alunos que observem cuidadosamente

os dois sons e as diferenças nas respetivas posturas articulatórias. Claro que, como

adverte o autor, a intervenção não se esgota no cumprimento da sequência que se

acabou de sintetizar: “Obviously, there are additional follow-up exercises and

demonstrations to reinforce the above procedures. However, the primary intention is

to send as much diversified relevant input as possible to the brain via the auditory, visual

and tactile-kinesthetic sensory modalities (…) to help create the appropriate acoustic

image in the brain.” (p. 18)

Parece ser incontestável a melhoria da pronúncia dos alunos, tanto em sons

individuais como na prosódia, como enunciam Kennedy e Trofimovich (2017, p. 268),

em resposta ao ensino de pronúncia, tanto implícito como explícito, sustentando-se em

diversos estudos: “This is true both for instruction which includes a communicative

focus, and for instruction which targets only formal aspects of pronunciation.”

As recomendações de referentes teóricos como o Quadro Europeu Comum de

Referência para as línguas (QECRL, 2001) apontam no mesmo sentido, reforçando a

relevância do ensino de pronúncia. De acordo com este documento do Conselho da

Europa, há diverso trabalho que pode ser desenvolvido com este propósito. O QECRL,

elaborado no âmbito do projeto “Políticas Linguísticas para uma Europa Plurilingue e

Multicultural”, enumera uma série de atividades que deverão ser desenvolvidas para a

sua aquisição:

a) pela simples exposição a enunciados orais autênticos;

b) pela imitação em coro (colectiva):

i) do professor;

ii) de gravações áudio de falantes nativos;

iii) de gravações vídeo de falantes nativos;

c) por um trabalho individualizado em laboratório de línguas;

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d) pela leitura fonética, em voz alta, de textos aferidos;

e) pelo treino do ouvido e exercícios fonéticos;

f) como d) e e), mas com o apoio de textos com transcrição fonética;

g) por um treino fonético explícito […];

h) pela aprendizagem das convenções ortoépicas (ou seja, a pronúncia de

grafias diferentes);

i) pela combinação das práticas acima apresentadas. (pp. 212-213)

Por tudo isto se conclui a pertinência de dedicar atenção ao ensino explícito de

pronúncia, não sendo o modelo comunicativo — dominante — a justificar a sua ausência

do contexto pedagógico. Na verdade, as competências fonológicas são um elemento

fundamental na aquisição total de uma língua, como reforça o QECRL:

“Muitos aprendentes, nomeadamente os adultos, verão a sua capacidade para pronunciar uma nova língua facilitada por:

• capacidade de aprender a distinguir e a produzir sons desconhecidos e esquemas prosódicos;

• capacidade de produzir e encadear sequências de sons desconhecidos; • capacidade, como ouvinte, de decompor um contínuo sonoro numa sequência

estruturada de elementos fonológicos (ou seja, dividi-lo em elementos distintos e significativos)” (pp. 154-155)

A pronúncia não se circunscreve a uma questão de inteligibilidade, um fator do

qual os aprendentes de línguas estrangeiras estão bastante cientes, como enfatizam

Burns e Seidlhofer (2010, p. 198), nem de assegurar que se consegue passar a mensagem

de forma eficaz; é também uma questão de identidade e daquilo que se designa como

“motivação integrativa”: “The way we sound to our interlocutors is not a trivial or

unimportant matter; it is how we project our identity as individuals and how we indicate

our membership of particular communities as social beings — like the way we look, the

way we sound influences how we get judged by fellow humans.”

Há uma última razão que merece ser referida, especialmente tendo em conta as

características do universo de aprendentes alvo deste estágio, ainda que não tenha sido

identificada literatura a dar-lhe fundamentação: a aquisição da pronúncia não será um

dos motivos de satisfação pessoal que motivam a aprendizagem de uma língua

estrangeira?

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4. Principais diferenças fonológicas entre o português e o italiano

A aquisição da fonologia de uma segunda língua é um processo complexo, como

referem Gass e Selinker (2000, p. 178), e deve ter em conta as diferenças linguísticas

entre ambas as línguas, daí a pertinência desta descrição. “An understanding of how

learners learn a new phonological system must take into account linguistic differences

between the N[ative]L[anguage] and the T[arget]L[anguage] systems as well as universal

facts of phonology.”

De seguida, apresenta-se uma breve descrição das diferenças fonológicas que

ocorrem entre o português e o italiano, nas suas referências padrão.

Sons exclusivos do português

Sons exclusivos do italiano

Vogais [ĩ] [ɨ] [ũ] [e͂] [ɐ] [ɐ͂] [õ]

[w̃] [j]̃* *semivogais

Consoantes [ʒ] [ɫ] [ʀ]

[ɱ] [t͡s] [dëz] [t͡ʃ] [dëʒ] [j]

Tabela 1: Descrição dos sons que não são comuns em português padrão e italiano padrão.

Em italiano não existe o som [ɐ], a vogal oral média central não-arredondada,

assim como não existe o som [ɨ], a vogal oral alta central não-arredondada, ambos sons

muito comuns no português europeu. Também não existem as vogais nasais: [ĩ] vogal

nasal alta anterior não-arredondada; [ẽ] vogal nasal média anterior não-arredondada;

[ɐ͂] vogal nasal média central não-arredondada, [õ] vogal nasal média recuada

arredondada; [ũ] vogal nasal alta recuada arredondada. Soma-se a inexistência da

semivogal nasal alta anterior não-arredondada [ȷ]̃ e da semivogal nasal alta recuada

arredondada [w̃].

Não existe também o som [ʒ], a fricativa pré-palatal vozeada, ainda que seja

familiar aos falantes de italiano por estar presente em línguas ou dialetos, como no

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dialeto de Sassari, no corso, no sardo meridional, no lígur, no toscano (na palavra

“disagio”), assim como em italiano na palavra de origem francesa “garage”9.

Há um outro som consonantal que se sabe de antemão que oferece dificuldades

de pronúncia: a vibrante uvular [R] do português padrão10, que, em italiano padrão,

corresponde a uma vibrante múltipla alveolar.

A estes sons novos ou quase novos, para os quais é preciso sensibilizar um

italófono, é preciso juntar a forma particular que assume o /l/, que soa como velarizada

tanto em final de sílaba como em final de palavra, sendo representada foneticamente

como [ɫ].

Acresce que /s/ em fim de palavra, em italiano, assume sempre o som [s] de uma

fricativa pré-dorso-alveolar não vozeada, pelo que /s/ em final de sílaba exige um treino

específico na aquisição de PE. É nesse sentido a observação feita por Migliorerai (2017)

que assinala a dificuldade de pronunciar o som [ʃ] quando está no final das palavras:

Em italiano, diversamente do português, o som da consoante ’S’ nunca muda quando a seguir se coloca uma outra consoante, levando por isso o italófono a não emitir o som [ʃ] (por exemplo na palavra ‘meus’), mas uma fricativa pré-dorso-alveolar não vozeada [s]. (p. 53)

Este é, aliás, um desafio também para falantes nativos de outras línguas, dada a

variedade de pronúncia da consoante fricativa que termina sílaba, quer no interior de

palavra, antes de outra consoante, quer em final de palavra, como se pode ler no site

do Instituto Camões 11 . Devido ao processo fonológico de assimilação, em PE, a

consoante é uma palatal, [ʒ] ou [ʃ], conforme esteja antes de uma consoante vozeada

ou não-vozeada (mesmo ['meʒmu], lista ['liʃta]). É realizada como uma fricativa alveolar

em final de palavra, quando antecede uma vogal (as armas [ˈa.zˈaɾ.mɐʃ]).

9 https://it.wikipedia.org/wiki/Fonologia_della_lingua_italiana consultado em 19/09/2018; informação validada e complementada em conversa com o Prof. Roberto Mulinacci 10 “A consoante uvular representada por [R] é a vibrante que se encontra no dialecto-padrão do português europeu, em que a sua produção implica a acção da úvula. Em alguns dialectos existe uma variante dental, a vibrante múltipla que se representa por [r]» (Mateus et al., p. 1000) 11 http://cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo3_1.html consultado em 19/09/2018

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[Escreva aqui]

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5. Intervenção didática

O plano de intervenção reflete a já mencionada abordagem multissensorial e

multicognitiva de Odisho (2007) e a sua concretização reflete também a experiência

desenvolvida por Soeiro (2010), que usa como referência a mesma abordagem e se

dirige também a um universo de falantes latino, debruçando-se sobre as dificuldades

dos hispanofalantes na aprendizagem da pronúncia do espanhol:

“Sabemos que há outros estímulos que no processo da aprendizagem da pronúncia entram em jogo; não é difícil conceber que a visualização atenta e monitorizada da articulação de um som, por exemplo, seja um bom passo para uma produção eficiente do aprendente, sendo aqui a visão fulcral na criação de uma imagem acústica da produção.” (Soeiro, 2010, p. 19)

A escolha por esta abordagem reflete a minha própria expectativa de eficácia

como aprendente de línguas estrangeiras e o facto de prever que seria a mais adequada

a obter resultados, apesar de dois grandes fatores de constrangimento: nível de

aprendizagem dos alunos (A1) e limitação temporal da intervenção (três sessões com o

intervalo de uma semana).

Baseia-se na comparação entre o italiano e o português, descrita anteriormente.

Incide no contraste entre os sons [ɾ] e [R], expresso na experiência A; no contraste entre

o som [ʃ] e [ʒ], expresso na experiência B; e na realização do fonema /s/ em final de

palavra, que em PE pode ser produzido de três formas diferentes, [ʃ], [ʒ], [z],

condicionado pela qualidade do som inicial da palava que se lhe segue, expresso na

experiência C.

Os meus objetivos foram didáticos per se, querendo com isto dizer que as

experiências tiveram como objetivo o mero exercício pedagógico, sem que

ambicionasse obter conclusões extensíveis a outros universos de falantes. A escolha dos

sons a treinar traduz uma seleção fácil de operacionalizar. Não foi motivada por se tratar

de sons que constituíssem a priori obstáculos à comunicação — questão de pouca

expressão em aprendentes de língua nativa italiana —, nem por serem sons cuja

aquisição se previa como mais exigente, como os sons nasais, alvo de treino fora desta

intervenção específica. Do mesmo modo, “identificação do problema” e “dificuldade na

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produção” refletem uma terminologia adotada por razões meramente operacionais e

que apenas procura expressar a necessidade do ensino explícito de pronúncia.

5.1 Identificação do problema

Trata-se de uma previsão, tendo em conta o que já foi descrito anteriormente.

Experiência A — Dificuldade na produção de [R], inexistente no repertório

fonológico da maioria dos italianos, com exceção de nalgumas variantes dialetais.

Experiência B — Dificuldade na produção de [ʒ], inexistente no inventário

fonológico italiano.

Experiência C — Dificuldade na produção do som correto em final de palavra —

[ʃ], [ʒ], [z] — representado pelo grafema <s>, dependendo da qualidade do som inicial

da palavra que se lhe segue.

5.2 Objetivos

Experiência A — Consciencialização de que [R] é uma vibrante uvular; produção

correta do som; estabelecimento do contraste com [ɾ].

Experiência B — Consciencialização de que [ʒ] é uma fricativa pré-palatal

vozeada; produção correta do som [ʒ]; estabelecimento do contraste com [ʃ].

Experiência C — Reconhecimento do contexto que afeta o som do grafema <s>

em final de palavra; produção correta dos sons [ʃ], [ʒ], [z], respeitando o contexto.

5.3 Plano de intervenção

Explicação aos alunos do objetivo da intervenção didática e dos passos que a

constituem. Toda a metalinguagem é em italiano, tendo em conta que são alunos de A1.

Foi feito o registo em vídeo das atividades de produção oral, assim como o

registo escrito das atividades de reconhecimento auditivo.

5.3.1 Descrição dos participantes

São dez alunos, de nível A1, identificados com letras, para salvaguardar a sua

identidade. É indicado o sexo, assim como a licenciatura que frequentam. Todos têm

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italiano como língua nativa, referindo-se as outras línguas e dialetos que contribuem

para o seu conhecimento fonológico, além das línguas nativas dos pais, quando não são

italianos, com as quais contactam, mesmo quando relatam terem um conhecimento

reduzido.

Aprendentes Sexo Curso Línguas/dialetos

A Feminino (F) Lingue e Letterature Straniere

alemão, francês, inglês

B Masculino (M) Geografia e Processi Territoriali

inglês, dialeto bresciano

C M Lingue e Letterature Straniere

balinês*, indonésio*, inglês, napolitano (variante pugliese foggiana)

*línguas nativas maternas

D F Lingue e Letterature Straniere

espanhol, inglês

E F Lingue, Mercati e Culture dell’Asia

alemão, chinês, espanhol, inglês, dialeto véneto

F M Lingue, Mercati e Culture dell’Asia

espanhol, inglês, japonês, dialeto bresciano

G F Lingue, Mercati e Culture dell’Asia

chinês, espanhol, francês, inglês, dialeto bresciano

H F Lingue e Letterature Straniere

alemão, inglês

I M Lingue, Mercati e Culture dell’Asia

chinês, inglês, dialeto salentino

J M Lingue, Mercati e Culture dell’Asia

árabe*, espanhol, inglês, japonês, dialeto romanholo

*língua nativa paterna

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[Escreva aqui]

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5.3.2 Metodologia

Experiência A

O objetivo desta experiência é a consciencialização de que [R] é uma vibrante

uvular, levando a que haja uma produção correta do som, em contraste com [ɾ].

Nomeação de imagens sem qualquer preparação prévia. A escolha das palavras

teve em conta a necessidade da sua ilustração, além da frequência equivalente de

ambos os sons e em posições distintas. As palavras são as seguintes (11 com som [R],

em posição inicial e posição intervocálica; 11 com som [ɾ], em posição intervocálica, em

posição de final de sílaba dentro ou no final de palavra, e em segunda posição de ataque,

ou seja, de início de sílaba): “rato”, “rapariga”, “carro”, “caro”, “amor”, “relógio”,

“norte”, “garrafa”, “garfo”, “rio”, “rapaz”, “igreja”, “ralador”, “rádio”, “ramo”,

“impressora”, “raquete”, “coruja”, “braço”, “prato”12.

a) Orientação cognitiva

Reconhecimento do problema: os alunos constatam a dificuldade existente na

produção de [R], inexistente no repertório fonológico da maioria dos italianos, com

exceção de em algumas variantes dialetais. Identificam as palavras que contêm o som

[R] e o som [ɾ].

b) Orientação cinestésica e propriocetiva

Eu exemplifico o som [R], posicionando a mão na garganta, reforçando a

localização da produção do som, lendo as palavras da lista que o contêm: “rato”, “carro”,

“relógio”, “garrafa”, “rio”, “rapaz”, “rádio”, “ramo”, “raquete”; ênfase específica em

“rapariga”, e “ralador” que contêm ambos os sons.

É pedido a cada aluno individualmente que repita as palavras com som [R] e sinta,

com a mão na sua própria garganta, onde é produzido o som [R].

É pedido a cada aluno individualmente que descreva as sensações de que

consegue tomar consciência durante a produção do som [R]; fá-lo em italiano.

12 Anexo 1

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Exemplifico o som [ɾ], lendo as palavras da lista que o contêm: “caro”, “amor”,

“norte”, “garfo”, “igreja”, “impressora”, “coruja”, “braço”, “prato”.

É pedido a cada aluno individualmente que repita as palavras com som [ɾ],

tomando consciência de onde é produzido este som, que lhe é familiar, uma vez que faz

parte do inventário fonológico italiano.

É pedido a cada aluno individualmente que descreva as sensações de que

consegue tomar consciência durante a produção do som [ɾ]; fá-lo em italiano.

Os alunos repetem a lista de palavras, assinalando com a mão na garganta

sempre que estão a produzir o som [R], acentuando a perceção física da localização do

som.

c) Orientação auditiva

Leio a lista de palavras que se segue e os alunos identificam as que têm o som

[R], o som [ɾ] ou ambos. “Professora”, “rolha”, “prédio”, “respeito”, “burro”,

“rudimentar”, “razão”, “ritual”, “forte”, “gruta”.

d) Verificação

Leitura individual de todas as palavras com os sons [R] e [ɾ], tanto as da tarefa de

nomeação como as do reconhecimento auditivo.

Os dez participantes conseguiram reconhecer o contraste entre [R] e [ɾ], no

reconhecimento auditivo.

Todos os participantes conseguiram produzir o som [R]. Oito dos alunos

conseguiram estabelecer o contraste entre o som [R] e o som [ɾ]. O aprendente H e o

aprendente J produziram sempre o som [R], tanto nas situações em que se tratava de

[R], como nas situações em que era [ɾ]. Uma nota particular para o aprendente H que

usa o som [R] em italiano, uma característica com particular expressão na região de

Parma.

Experiência B

Nomeação de imagens sem qualquer preparação prévia. A escolha das palavras

teve em conta a necessidade da sua ilustração, além da frequência equivalente de

ambos os sons e em posições distintas. As palavras são as seguintes (10 com som [ʒ],

em posição inicial e posição intervocálica; 10 com som [ʃ], em posição inicial, posição

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intervocálica e, em dois dos casos, com duas ocorrências, em posição inicial e final): “já”,

“chá”, “janela”, “chávena”, “jardim”, “xarope”, “jornal”, “beijar”, “xadrez”, “ajudar”,

“lixo”, “beringela”, “bruxa”, “mexer”, “azulejo”, “caixa”, “peixe”, “anjo”, “joelho”,

“chaves”13.

a) Orientação cognitiva

Reconhecimento do problema: o som [ʒ] não existe no património fonológico

italiano, apesar de ser do conhecimento dos alunos através do contacto com algumas

variantes dialetais e na palavra de origem francesa, usada no italiano, “garage” [ga'ɾaʒe].

Constatação do contraste com o som [ʃ], através do exemplo do par mínimo já/chá.

Identificação de palavras italianas que contêm o som [ʃ].

b) Orientação cinestésica e propriocetiva

Exemplifico o som [ʒ], sublinhando, com a mão na garganta, a perceção de que

há vibração, daí tratar-se de uma consoante vozeada.

É pedido a cada aluno individualmente que repita as palavras com som [ʒ],

tomando consciência de onde é produzido este som.

É pedido a cada aluno individualmente que descreva as sensações físicas de que

consegue tomar consciência durante a produção do som [ʒ]; fá-lo em italiano.

Exemplifico o som [ʃ], sublinhando, com a mão na garganta, que não há vibração,

daí tratar-se de uma consoante não-vozeada.

É pedido a cada aluno individualmente que repita as palavras com som [ʃ],

acentuando a perceção física da localização do som.

É pedido a cada aluno individualmente que descreva as sensações de que

consegue tomar consciência durante a produção do som [ʃ]; fá-lo em italiano.

Os alunos repetem individualmente a lista de palavras.

c) Orientação auditiva

Leio a lista de palavras que se segue e os alunos identificam as que têm o som

[ʒ] ou o som [ʃ]: “encher”, “chapéu”, “manjericão”, “bochecha”, “objeto”, “desejo”,

“chão”, “corajoso”, “bicho”, “justo”.

13 Anexo 2

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d) Verificação

Leitura individual de todas as palavras com os sons [ʒ] e [ʃ], tanto as da tarefa de

nomeação como as do reconhecimento auditivo.

Os dez participantes conseguiram reconhecer o contraste entre [ʒ] e [ʃ], no

reconhecimento auditivo, assim como estabelecer o contraste na produção oral.

Experiência C

Leitura de frases sem qualquer preparação prévia: “as casas dos rapazes”; “as

casas dos doentes”; “as casas dos amantes”; “os pensamentos profundos”; “os teus

desejos”, “os olhos bonitos”; “os ombros doridos”

a) Orientação cognitiva

Reconhecimento do problema: o grafema <s> em final de palavra tem uma

realização distinta do italiano. Em português, pode ser realizado de três formas

diferentes, [ʃ], [ʒ], [z], condicionado pela qualidade do som inicial da palavra que se lhe

segue.

Reforço da identificação das realizações úteis: ter presente o fonema [ʃ]; antes

de vogal ter presente o fonema [z], o mesmo som da palavra italiana “casa”, como nos

exemplos “as aves”/“os ouvidos”.

b) Orientação cinestésica e propriocetiva

Leio as frases, sublinhando a realização como [z] com o indicador apontado para

os dentes:

1. As [ʃ] casas [ʒ] dos [ʒ] rapazes [ʃ]; 2. As [ʃ] casas [ʒ] dos [ʒ] doentes [ʃ]; 3. Os

[ʃ] pensamentos [ʃ] profundos [ʃ]; 4. Os [ʃ] teus [ʒ] desejos [ʃ]; 5. As [ʃ] casas [ʒ] dos [z]

amantes [ʃ]; 6. Os [z] olhos [ʒ] bonitos [ʃ]; 7. Os [z] ombros [ʒ] doridos [ʃ]

Cada aluno, individualmente, lê as frases, nas quais estão destacados a negrito

os contextos em que ocorre [z], sublinhando a realização deste fonema com o indicador

apontado para os dentes.

Os alunos repetem as frases que foram reordenadas e já não têm o negrito (a

lista para leitura não tem a identificação fonética):

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[Escreva aqui]

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1. As casas dos doentes; 2. As casas dos rapazes; 3. Os olhos bonitos; 4. Os teus

desejos; 5. Os ombros doridos; 6. Os pensamentos profundos; 7. As casas dos amantes

c) Orientação auditiva

Leio a lista que se segue, duas vezes cada frase, e os alunos identificam os

números das frases em que ocorre o som [z]; segue-se a verificação conjunta.

1. Os [z] amores [ʒ] difíceis [ʃ]; 2. As [ʒ] grandes [ʃ] conquistas [ʃ]; 3. Os [ʒ] bons

[z] amigos [ʃ]; 4. As [z] amizades [z] importantes [ʃ]; 5. Os [ʒ] nossos [ʃ] planos [ʃ]; 6. Os

[ʃ] pensamentos [ʃ] profundos [ʃ]; 7. As [ʃ] casas [ʒ] dos [ʒ] doentes [ʃ]; 8. Os [z] olhos

[ʒ] bonitos [ʃ]; 9. Os [z] ombros [ʒ] doridos [ʃ]; 10. Os [ʃ] teus [ʒ] desejos [ʃ]; 11. As [ʃ]

casas [ʒ] dos [z] amantes [ʃ]; 12. As [ʃ] casas [ʒ] dos [ʒ] rapazes [ʃ]

d) Verificação

Leitura individual da lista de 12 frases.

Todos os aprendentes conseguiram ler as frases de verificação, realizando

corretamente os sons, com as seguintes exceções:

o aprendente C, na frase 6. “Os pensamentos profundos”, produziu “pensamentos”

como [pẽ.zɐ.ˈmẽ.tuʃ], em vez de [pẽ.sɐ.mˈẽ.tuʃ]; o aprendente D, na frase 8. “Os olhos

bonitos”, produziu “os olhos” como [uˈs o.ʎuʃ], em vez de [uˈz o.ʎuʃ]; na frase 12. “As

casas dos amantes”, produziu “rapazes” como [ʀɐ.ˈpasɨʃ], em vez de [ʀɐ.ˈpazɨʃ]; o

aprendente H, na frase 8. “Os olhos bonitos”, produziu “os olhos” como [uˈs o.ʎuʃ], em

vez de [uˈz o.ʎuʃ]; o aprendente I, na frase 8. “Os olhos bonitos”, produziu “os olhos”

como [uˈs o.ʎuʃ], em vez de [uˈz o.ʎuʃ]; na frase 9. “Os ombros doridos”, produziu “os

ombros” como [uˈs õ.bɾuʃ], em vez de [uˈz õ.bɾuʃ]; na frase 10. “Os teus desejos”,

produziu “desejos” como [dɨ.ˈsɐ.ʒuʃ], em vez de [dɨ.ˈzɐ.ʒuʃ]; na frase 11. “As casas dos

amantes”, produziu “dos amantes” como [dus ɐ.ˈmɐ̃.tɨʃ], em vez de [duz ɐ.ˈmɐ̃.tɨʃ].

5.4 Avaliação do impacto da intervenção didática

É importante salvaguardar que se tratou de uma intervenção com um intervalo

temporal muito restrito, não permitindo por isso legitimar a aquisição de competências.

Só a verificação posterior de produção oral em conversa espontânea, em contexto não

condicionado, permitiria aferir a correta aquisição de pronúncia. Ainda assim, parece-

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[Escreva aqui]

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-me legítimo afirmar que houve, de facto, uma tomada de consciência dos sons

treinados.

Permitiu-me também constatar que, mesmo tendo em conta as dificuldades de

verificação dos resultados, há uma experiência didática que se adquire com a própria

intervenção.

Surpreenderam-me os resultados da experiência A, por não ter antecipado que

a aquisição fosse tão imediata. Pude constatar em ações posteriores que tinha sido

perfeitamente adquirida a consciência do som [R], em oposição a [ɾ], incluindo pelo

aprendente J, que não os distinguira na tarefa de verificação.

Foi curioso constatar que os alunos, apesar de conseguirem produzir os sons sem

os confundirem, revelaram cansaço com a produção sucessiva do som [ʒ], ao qual não

estão habituados.

Estava ciente de que a experiência C era particularmente exigente para alunos

de A1. No entanto, era minha convicção de que, tratando-se de um universo de

aprendentes particularmente motivados para a aprendizagem de línguas estrangeiras,

não se revelaria um objetivo impossível e iria contribuir para reforçar a sua consciência

fonológica do PE, desde os primeiros momentos de contacto com a língua.

Convém salvaguardar que, antes desta experiência, fizemos atividades dedicadas

aos sons nasais, num contexto lúdico e sem registo formal, nas quais revelaram plena

aquisição, com uma única exceção de um aprendente em relação ao ditongo [ɐ̃w]. Foi

interessante constatar que de imediato foi formulada a hipótese de a dificuldade se

dever ao facto de se tratar de um falante da região da Apúlia, no extremo sudeste do

território italiano, mais distante de contactos dialetais com sons nasais. A hipótese foi

sugerida e discutida pelos alunos, no que considero mais um traço revelador do seu

perfil particular na aprendizagem de línguas, que reforça a minha convicção de que o

seu desempenho não é transponível para outros universos — prevejo que com falantes

menos expostos a outras línguas e menos motivados seja necessário dedicar mais tempo

às mesmas tarefas.

Mesmo tendo em conta que houve sons que não foram corretamente

produzidos na experiência C, ficou consolidada a consciência das diferentes realizações

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[Escreva aqui]

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de <s>, um dos traços que marcam frequentemente um falante de português nativo de

italiano, por não o saber produzir corretamente.

Conclusão

O cliché é incontornável, pois a experiência concreta da interação que se

estabelece com um grupo de aprendentes é irrepetível e de uma riqueza pedagógica

singular. Convém notar que não uso a palavra “pedagógica” num redutor pressuposto

unidirecional, mas, sim, na sua expressão múltipla, de influência recíproca entre todos

os participantes no processo. Este é, sem hesitação, o maior ganho do estágio: a

possibilidade de estar em situação real de ensino/aprendizagem, inserida num grupo

extremamente motivado para a partilha do conhecimento, e com o fator extra de se

tratar de uma estreia na atividade docente, o que tornou ainda mais significativa a

experiência.

As maiores dificuldades deveram-se ao planeamento, nomeadamente de como

conseguir pôr em prática uma intervenção didática num limite temporal tão curto e sem

experiência prévia de ensino. Somaram-se os desafios decorrentes da falta de

conhecimentos prévios de linguística. Aula a aula, afloraram inseguranças, dúvidas, mas

também a noção cada vez mais fundamentada de que este é um universo sem respostas

fechadas e de que mesmo as hesitações podem ser transformadas em exemplos

profícuos no ensino de uma língua estrangeira.

Se há ideia que sai fortemente reforçada desta experiência didática é a de que o

espaço de aprendizagem tem de ser um espaço de confiança, a confiança necessária

para arriscar errar e fazê-lo sucessivamente. Desde o momento da apresentação que

essa noção foi expressa com clareza e reforçada pelo meu exemplo, arriscando palavras

de que não estava segura, ao usar a língua nativa dos alunos e expondo-me, desse modo,

ao erro.

Dada a coincidência temporal com o período de estágio, justifica-se dizer que me

investi do genuíno papel de aluna, ao frequentar aulas de língua italiana, reforçando

aquela que tem sido a prática habitual de me tornar aprendente de idiomas estrangeiros,

contactando com distintos perfis pedagógicos, com a sua multiplicidade de recursos.

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Pode parecer a mais óbvia das constatações, mas tantas vezes subestimada: quanto se

desenvolve a capacidade pedagógica de um professor quando ele próprio se assume

como verdadeiro aluno?

Mesmo sendo uma área na qual me estou a iniciar, ensinar uma língua

estrangeira permite convocar competências tão diversificadas que não é dissociável de

todo o nosso percurso, pessoal e profissional, levando-me a concluir que, apesar das

dificuldades, fiz um trabalho válido.

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Referências bibliográficas

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