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RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO
JULHO DE 2012
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
2
GRUPO DE TRABALHO
SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA (Coordenação)
Diogo de Sant´Ana Laís Vanessa Carvalho de Figueirêdo Lopes
Maria Victória Hernandez
Pedro de Carvalho Pontual Evânio Antônio de Araújo Junior
Ana Túlia de Macedo
Silas Cardoso de Souza
CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Aldino Graef Maria Laura Brandão Canineu
Lidia Yoshikawa
CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO
José Eduardo Romão
Bruno Oliveira Barbosa
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
Julio César Oba
Valdemar Carvalho
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Marivaldo Pereira
Priscila Specie Fernanda Alves dos Anjos
David Brasil Pires
Ivelise Carla Lício Calvet Francisco Cavalheira
Marcio Freitas
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO
E GESTÃO
Enid Pereira Adriana Mendes Oliveira
Idervânio Costa
Amazico José Rosa José Antonio de Aguiar Neto
Valéria Alpino Bigonha Salgado
MINISTÉRIO DA FAZENDA
Claudia da Costa Martinelli Wehbe
Isamara Barbosa Caixeta Ernesto Carneiro Preciado
Sabrina Maciel
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
APLICADA
Fábio de Sá e Silva Felix Garcia Lopez
SECRETARIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Paula Losada
ABONG - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ONGS
Vera Maria Masagão Ribeiro
GIFE - GRUPO DE INSTITUTOS, FUNDAÇÕES E
EMPRESAS
Anna Cynthia Oliveira
CLAI-BRASIL - CONSELHO LATINO-AMERICANO
DE IGREJAS - REGIÃO BRASIL
Eliana Bellini Rolemberg
CEBRAF – CONFEDERAÇÃOBRASILEIRA DE
FUNDAÇÕES
Dora Silvia Cunha Bueno
FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL
Silvio Rocha Sant’ana
UNICAFES - UNIÃO NACIONAL DE
COOPERATIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR E
ECONOMIA SOLIDÁRIA
Daniel Turibio Rech
CONFEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS DA
REFORMA AGRÁRIA – CONCRAB
Gislei Siqueira
INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Henrique Lian
CÁRITAS BRASILEIRA
Ademar de Andrade Bertucci
VISÃO MUNDIAL
Welinton Pereira da Silva
INESC - INSTITUTO DE ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
José Antônio Moroni
ISA - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Adriana de Carvalho Barbosa Ramos
FENAPAES - FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES
Sandra Marinho
APEMA - ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AO MEIO
AMBIENTE
Evandro Nesello
SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS
Salete Gamba
UNESCO
Aline Gonçalves de Souza - Consultora Projeto 914BRA3034/ Contrato AS-783/2012
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
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SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................................... 4
Contextualização Preliminar ............................................................................................ 5
Atividades Desenvolvidas .............................................................................................. 12
Seminário Internacional do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil
.................................................................................................................................... 12
Reuniões do Grupo de Trabalho ................................... Erro! Indicador não definido.
Ampliação da escuta ..................................................... Erro! Indicador não definido.
Grupo de Trabalho Interministerial sobre Prestação de Contas ... Erro! Indicador não
definido.
Participação em eventos ................................................ Erro! Indicador não definido.
Produtos Elaborados ......................................................... Erro! Indicador não definido.
1. Contratualização ....................................................... Erro! Indicador não definido.
1.1 Projeto de lei que cria novo regime jurídico de fomento e colaboração (ANEXO
III – Anteprojeto de Lei comentado) ......................... Erro! Indicador não definido.
2. Uniformização de Entendimentos ............................. Erro! Indicador não definido.
2.1 Decreto Equipe de Trabalho (ANEXO IV) ......... Erro! Indicador não definido.
2.2 Canal de uniformização de entendimentos.......... Erro! Indicador não definido.
3. Transparência ............................................................ Erro! Indicador não definido.
3.1 Aperfeiçoamento das Classificações das OSCs no orçamento público
(modalidade 50)......................................................... Erro! Indicador não definido.
3.2 Aperfeiçoamentos das classificações das OSCs (CNPJ/CNAE) Erro! Indicador
não definido.
4. Formação e capacitação ............................................ Erro! Indicador não definido.
4.1 Elaboração de novos cursos e abertura dos já existentes .... Erro! Indicador não
definido.
5. Estudos e Pesquisas – Universo das OSCs ............... Erro! Indicador não definido.
5.1 Atualização da FASFIL - Fundações Privadas e Associações sem Fins
Lucrativos no Brasil .................................................. Erro! Indicador não definido.
5.2 Agenda de novas pesquisas e estudos ................. Erro! Indicador não definido.
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Apresentação
O desafio de aperfeiçoar o ambiente regulatório das Organizações da Sociedade Civil no
Brasil foi apresentado ao Governo da Presidenta Dilma Rousseff por grupo de mais de
50.000 organizações, movimentos sociais e redes, unidos em uma Plataforma por um
Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil1.
O Decreto nº 7.568, de 16 de setembro de 2011, instituiu o Grupo de Trabalho (“GT”),
sob coordenação da Secretaria-Geral, com a finalidade de avaliar, rever e propor
aperfeiçoamentos na legislação federal relativa à execução de programas, projetos e
atividades de interesse público e às transferências de recursos da União mediante
convênios, contratos de repasse, termos de parceria ou instrumentos congêneres.
O GT foi composto por representantes titulares e suplentes de 7 órgãos do Governo
Federal e de 14 organizações nacionais da sociedade civil. Além disso, contou com
contribuições de diversos colaboradores que auxiliaram a formulação das propostas
apresentadas neste Relatório.
As atividades do GT tiveram início no dia 11 de novembro de 2011, último dia do
Seminário Internacional do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.
Além das contribuições do referido evento, foram realizadas mais de 40 encontros, entre
reuniões com os membros do GT e oitivas com outros Ministérios, e ainda diversas
rodadas de aprimoramento dos produtos elaborados com participação ativa dos
integrantes do GT e demais colaboradores.
A partir das discussões realizadas, reúnem-se neste documento o relato sucinto das
propostas de intervenção com o objetivo de aprimorar o Marco Regulatório das
Organizações da Sociedade Civil, acompanhadas de contextualização do cenário atual e
relato das atividades desenvolvidas.
A síntese apresentada neste relatório trata as principais questões
detectadas pelo grupo em termos de contratualização entre o Estado e
as OSCs, propõe alternativas imediatas para as lacunas existentes na
legislação atual, promove iniciativas para a melhoria do conhecimento
sobre o universo das organizações, enfatiza a necessidade de
capacitação e melhor comunicação entre governo e sociedade, e, por
fim, sugere uma série de medidas que poderão ser implementadas de
modo subsequente a este trabalho e que ajudarão a fomentar e
fortalecer ainda mais a organização da sociedade civil brasileira.
1 Mais informações sobre a Plataforma em www.plataformaosc.org.br Acesso em 01 de julho de 2012.
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Contextualização Preliminar
Os últimos dados oficiais do Brasil em relação ao universo das Organizações da
Sociedade Civil datam de 2005 e estão dispostos no estudo intitulado FASFIL -
Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil – produzido pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE, em parceria com o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada - IPEA, Associação Brasileira de Organizações Não
Governamentais -ABONG e Grupo de Institutos Fundações e Empresas -GIFE2.
À época existiam 338.162 fundações privadas e associações sem fins lucrativos. Entre
suas áreas de atuação foram identificadas religião (24,8%), desenvolvimento e defesa de
direitos (17,8%), associações patronais e profissionais (17,4%), cultura e recreação
(13,9%), assistência social (11,6%), educação e pesquisa (6%), saúde (1%), dentre
outras (7%).
Ainda de acordo com a FASFIL, as fundações privadas e as associações sem fins
lucrativos empregam 1,7 milhões de trabalhadores formais, representando 70,6% do
emprego formal do universo das entidades sem fins lucrativos. Entretanto, a grande
maioria das organizações identificadas (79,5%) não possui empregados formalizados.
A forte presença do trabalho informal e voluntário explica parcialmente esse fenômeno,
bem como as especificidades dos serviços prestados.
A FASFIL não possui dados quantitativos sobre as OSCs que possuem títulos
concedidos pelo Governo Federal. Para ilustrar esse contingente foram coletados dados
sobre a qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público -
OSCIP, instituída pela Lei 9.790/99 e Declaração de Utilidade Pública, instituída pela
Lei 91/35, ambas concedidas pelo Ministério da Justiça; além de dados sobre
Organização Social, regulada pela Lei 9.637/98, e do Certificado de Entidade
Beneficente de Assistência Social – CEBAS (antigo Certificado de Entidade de Fins
Filantrópicos - CEFF), cujo regramento encontra-se na Lei 12.101/09.
2O estudo Fasfil está sendo atualizado e sistematizado. Nova série histórica de 2006, 2008 e 2010 deverá ser divulgada no fim de
2012 - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ABONG). GRUPO DE
INSTITUTOS FUNDAÇÕES E EMPRESAS (GIFE). As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil (Fasfil).
Disponível em http://www.gife.org.br/arquivos/publicacoes/19/fasfil_2005.pdf Acesso em 05 de julho de 2012.
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No Cadastro Nacional de Entidades de Utilidade Pública - CNEs do Ministério da
Justiça há o registro de 6.166 organizações qualificadas como OSCIP e 12.656
declaradas de utilidade pública no âmbito federal3. No mesmo cadastro, as organizações
estrangeiras autorizadas a atuar no país somam 84.
O estudo Relações de parceria entre poder público e entes de cooperação e
colaboração no Brasil realizado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG, 2010) coletou dados sobre Organizações Sociais - OSs, Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs e Serviços Sociais Autônomos - SSAs.
A pesquisa identificou a existência de 6 entidades qualificadas como OSs no governo
federal, sendo que 5 mantinham contrato de gestão com o Ministério de Ciência,
Tecnologia e Inovação e uma com a Empresa Brasil de Comunicação, vinculada à
Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
Em relação a entidades com Certificação de Entidade Beneficente de Assistência
Social – CEBAS, desde a edição da nova Lei da Filantropia – Lei n.º 12.101/09, o
certificado passou a ser outorgado pelas áreas finalísticas: Ministérios da Saúde,
Educação e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Em consulta realizada junto
aos órgãos foram identificados, respectivamente, 1.253, 1.143 e 2.7644 certificados
concedidos, totalizando 5.160.
Comparando esses dados com os números apresentados pela FASFIL percebe-se que
apenas 7% das organizações possuem algum desses títulos no âmbito federal.
Para as organizações qualificadas como Organizações Sociais, existe o Contrato de
Gestão, e para as qualificadas como OSCIPs, o Termo de Parceria. No entanto, para as
organizações da sociedade civil que não possuam nenhuma dessas duas titulações, o
instrumento utilizado para firmar parcerias com o Poder Público é o convênio.
3 Dados apresentados pela Coordenação-Geral de Tecnologia da Informação do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça atualizados até 23 de julho 2012. 4 Os dados dos certificados concedidos pelo MEC foram obtidos em consulta feita à Secretaria de Regulação e Supervisão da
Educação Superior/ Diretoria de Política Regulatória/Coordenação Geral de Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social. Os referentes ao MS foram obtidos junto à Secretaria de Atenção à Saúde/Departamento de Certificação de Entidades
Beneficentes de Assistência Social em Saúde/Coordenação Geral de Analise e Gestão de Processo e Sistema. E por fim, os do MDS
junto à Secretaria Nacional de Assistência Social/Departamento da Rede Socioassistencial Privada do SUAS.
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Importa mencionar que a modalidade de convênio foi criada originalmente pelo
Decreto-Lei 200/67 para ajustes entre órgãos públicos, com o espírito da
descentralização. Durante muito tempo, o normativo que orientou as principais regras
sobre os convênios foi a Instrução Normativa STN 01/97. Atualmente, é o Decreto nº
6.170/07 e a Portaria Interministerial nº 507/2011 que regem os convênios da União,
tanto com OSCs, quanto com os entes federados.
Em suma, a regulamentação dos convênios é basicamente infralegal e tem no art. 116 da
Lei nº 8.666/93 uma única disposição em âmbito de lei, conforme ilustra a linha de
tempo abaixo:
Linha do Tempo – Normas referentes ao relacionamento com as OSC
Âmbito Infralegal Âmbito Constitucional / Legal
Ademais, o que se percebe é uma alta instabilidade, ou seja, as regras são alteradas com
bastante frequencia. Só o Decreto nº 6.170/07 já sofreu seis importantes alterações
desde a sua edição, como se vê:
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Alterações normativas realizadas no Decreto nº 6.170/2007
Além disso, vale ressaltar que as Leis de Diretrizes Orçamentárias (“LDO”) também são
marcadas por fortes alterações no que diz respeito às regras para as transferências para
as OSCs. Nos últimos 12 anos, houve descontinuidade das regras a respeito dos
requisitos para recebimento de subvenção5 e sobre a necessidade ou não de exigência de
contrapartida6.
Interpretações aplicadas à relação de conveniamento entre a União e os Estados e
Municípios são estendidas às entidades privadas sem fins lucrativos. Exemplo disso foi
o acórdão TCU n° 1070/2003 de 06.08.2003 que determinou que as OSCs realizassem
procedimentos de compras “nos termos da Lei n° 8.666/93”. Decreto nº 5.504 de
05.08.2005, estabeleceu a prioridade do procedimento licitatório na forma de pregão
eletrônico para as entidades sem fins lucrativos na gestão de recursos públicos -
obrigatoriedade própria dos entes federados - alterada com o Decreto nº 6.170 de
25.07.2007, que estabeleceu o mecanismo de cotação prévia para contratação de
produtos e serviços por entidades privadas sem fins lucrativos no âmbito do convênio.
A celebração, liberação de recursos, acompanhamento da execução e prestação de
contas de convênios, contratos de repasse e termos de parceria são realizadas por meio
do sistema da administração pública federal denominado SICONV7.
No período de 2008 a 20128, foram celebrados 8.332 contratos de repasse, convênios e
termos de parceria por meio do sistema, tendo sido assinalado um montante de R$ 6,5
bilhões para as entidades privadas sem fins lucrativos. Ressalta-se a pequena
quantidade de termos de parceria no período (103), indicando a grande predominância
do convênio para a celebração de parcerias (7.421).9
5De 2000 até 2004 era necessário que a OSC atendesse a qualquer uma das quatro condições lá indicadas. De 2005 até 2009 era necessário o atendimento de todas as três primeiras hipóteses então indicadas pelas LDOs anteriores com a inclusão da necessidade
de ser a OSC qualificada como OSCIP, com Termo de Parceria firmado com o Poder Público. Em 2010 houve a inclusão de mais
duas hipóteses de área de atuação e, em 2011 e 2012 para recebimento de subvenção social passou a ser exigido o CEBAS. 6De 2000 até 2004 e no ano de 2010 não houve previsão expressa a respeito da contrapartida. Nos anos 2005, 2006, 2011 e 2012 a
exigência foi facultativa e de 2007 até 2009 a exigência de contrapartida foi obrigatória. 7 www.convenios.gov.br
8Os anos de 2008 e 2012 não possuem dados completos. O SICONV entrou em funcionamento efetivo em setembro de 2008 e a
execução de 2012 encontra-se em andamento. 9Cabe ressaltar que o modulo de acompanhamento do Termo de Parceria por meio do SICONV foi lançado apenas em 02 de maio
de 2012. Os números apresentados, portanto, refletem àqueles voluntariamente cadastrados no sistema, podendo existir um número
maior de Termos de Parceria firmados no âmbito do Governo Federal no período analisado e não constantes nos registros do
SICONV.
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Ano Assinatura
Modalidade Qtde
Transferências Voluntárias Valor Global Valor Repasse
2008
CONVENIO 808 716.056.852,37 651.107.146,29
TERMO DE PARCERIA 17 12.961.695,71 12.248.277,03
Total 825 729.018.548,08 663.355.423,32
2009
CONTRATO DE REPASSE 254 195.468.718,03 177.906.493,05
CONVENIO 2.423 1.536.500.903,79 1.433.720.604,81
TERMO DE PARCERIA 39 72.239.728,09 69.562.226,56
Total 2.716 1.804.209.349,91 1.681.189.324,42
2010
CONTRATO DE REPASSE 377 237.538.053,89 224.618.472,39
CONVENIO 2.803 1.644.342.656,18 1.523.550.759,17
TERMO DE PARCERIA 35 234.234.218,92 233.847.522,34
Total 3.215 2.116.114.928,99 1.982.016.753,90
2011
CONTRATO DE REPASSE 177 91.806.296,65 91.114.630,04
CONVENIO 1.345 1.320.933.546,08 1.301.528.036,50
TERMO DE PARCERIA 9 64.444.409,69 63.984.510,80
Total 1.531 1.477.184.252,42 1.456.627.177,34
2012
CONVENIO 42 251.317.499,70 246.903.882,29
TERMO DE PARCERIA 3 139.943.229,26 139.696.683,76
Total 45 391.260.728,96 386.600.566,05
TOTAL 8.332 6.517.787.808,36 6.169.789.245,03
Segundo a Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, quase 80% dos convênios com entidades privadas
sem fins lucrativos registrados no SICONV, entre setembro de 2008 e julho de 2012,
são inferiores a R$ 600.000,00, sendo que esse universo representa aproximadamente
20% do valor global dos recursos repassados, conforme se verifica na tabela a seguir:
Grupos < 600.000 e >= 600.000
Qtde de
Transferências
Voluntárias
% da Qtde de
Transferências
Voluntárias
Valor Global % do Valor
Global
Valor Global menor do que R$600.000,00 6.591 79,57% 1.338.603.650,03 20,70%
Valor Global maior ou igual a R$600.000,00 1.692 20,43% 5.128.078.582,03 79,30%
O Comunicado n° 123 - Transferências federais a entidades privadas sem fins
lucrativos (1999-2010)10
do IPEA, revela que, apesar do orçamento global da União ter
experimentado um crescimento contínuo desde 2003 – ressalvada a interrupção
verificada em 2009, em decorrência da crise financeira no cenário internacional – a
mesma intensidade de variação não foi identificada nos repasses às organizações sem
fins lucrativos: “O valor real do orçamento global – que exclui despesas financeiras –
aumentou mais de 80%, enquanto a variação positiva do orçamento destinado às
entidades foi de 45%.” (IPEA, 2011, p.4).
10
Comunicado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nº 123 – Transferências federais a entidades privadas sem fins
lucrativos (1999-2010) foi apresentado dia 7 de dezembro de 2011, em Brasília. Disponível em www.ipea.gov.br. Acesso em
20.1.2012.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
10
Houve decréscimo na expressão relativa dos repasses de recursos públicos federais a
entidades sem fins lucrativos, sendo que, no ano de 2006 foram repassados 0,65% do
orçamento anual da União, contra 0,48% em 2010.
No que diz respeito aos ajustes firmados entre as OSCs e o Governo Federal percebe-se
a existência de diversos tipos de objetos. Análise feita pelo IPEA identificou no período
de 2003 a 2011 um grande número de convênios, contratos de repasse e termos de
parceria celebrados com diferentes órgãos, como as Secretarias vinculadas à Presidência
da República (SEPPIR, SDH e SPM), os Ministérios da Cultura, Educação, Saúde,
Desenvolvimento Agrário, Ciência e Tecnologia, Turismo, Esportes, Comunicações,
Trabalho, dentre outros.11
A tabela abaixo ilustra essa diversidade:
NÚMERO DE AJUSTES FIRMADOS POR ÓRGÃO NO PERÍODO 2003-2011
MCT 6.051 MDA 1.366
MINC 3.228 MTrabalho 479
TURISMO 2.098 MIntegração 293
MAPA 1.159 MJ 126
MS 8.997 MComunicações 9
PR 1.925 MFazenda 223
MEC 6.021 MCidades 49
MEsportes 1.271 Outros 4.295
TOTAL 37.590
A transparência na gestão de recursos públicos tem sido cada vez mais demandada pela
sociedade brasileira que tem buscado monitorar a sua aplicação e resultados.
Nesse contexto, com o objetivo de assegurar o direito fundamental de acesso à
informação, bem como de promover a transparência ativa e o controle social como
importantes ferramentas para o combate à corrupção, é que foi recentemente aprovada a
Lei nº 12.527 de 18.11.2011 (Lei de Acesso à Informação). Trata-se, portanto, de
cenário marcado pela orientação e anseio de mudanças de cultura e paradigmas na
Administração Pública.
Ante o exposto, em termos de contextualização preliminar, pode-se destacar que a
relação entre Estado e as Organizações da Sociedade Civil ainda apresenta as
seguintes características:
Diversidade de áreas de atuação das organizações – seja em termos de
finalidades das instituições, seja em termos de objeto de contratualização das
OSCs com o Estado;
Baixa adesão das OSCs aos títulos e aos seus modelos;
Convênio como forma prioritária de parcerização adotada pelo Poder Público;
11
A referida análise abarcou convênios firmados entre 2003-2011 e foi apresentada no Seminário "Estado, Organizações da
Sociedade Civil e as Cooperações nas Políticas Públicas" organizado pelo Instituto.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
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Ausência de lei própria que regule a relação de fomento e colaboração entre o
Estado e as Organizações da Sociedade Civil independentemente de títulos;
Predominância de normas infralegais que são alteradas com freqüência,
evidenciando certa instabilidade dos regramentos;
Existência de interpretações análogas para OSCs e entes federados acerca da
relação de parceria com a União; e
Conjuntura política de crescente preocupação com a aplicação dos recursos
públicos, combate a corrupção, promoção do acesso a informação, transparência
ativa e controle social.
Nesse sentido, entende-se que os instrumentos jurídicos que regem a relação do Estado
com a Sociedade Civil devem acompanhar a transformação política, social e econômica
da democracia brasileira, fundamentados na gestão pública democrática e na
participação social como método de governar. O fortalecimento das organizações da
sociedade civil e a transparência na aplicação dos recursos públicos constituem pilares
fundamentais para a concretização desses objetivos.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
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Atividades Desenvolvidas
O diagnóstico realizado e a análise de documentos produzidos por outros grupos de
trabalho (6ª. e 14ª. Rodadas de Interlocução Política do Conselho da Comunidade
Solidária, em 1998 e 2001; Grupo de Trabalho Interministerial, coordenado pela
Secretaria-Geral, de 2003 a 2005; Comissão de Juristas, no âmbito do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, de 2007 a 2009; e Grupo de Trabalho de Entidades
Sociais, coordenado pelo Ministério da Justiça, em 2011), iniciativas legislativas (mais
de 40 Projetos de Lei sobre o tema tramitando no Congresso Nacional) e pesquisas e
publicações sobre o tema (Projetos da série “Pensando o Direito”, da Secretaria de
Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça; “Um novo marco legal para as ONGs no
Brasil - fortalecendo a cidadania e a participação democrática” da ABONG,
“Perspectivas para o Marco Legal do Terceiro Setor” do GIFE etc) contribuíram para a
formatação das atividades do grupo e sua metodologia de trabalho.
Dentre as atividades desenvolvidas, destacam-se:
Seminário Internacional do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil
De 9 a 11 de novembro de 2011, a Secretaria-Geral da Presidência da República
organizou Seminário Internacional Marco Regulatório das Organizações da Sociedade
Civil com o intuito de constituir alicerces para o início
dos trabalhos do grupo (ANEXO I - Programação do
Seminário).
O evento reuniu 150 especialistas nacionais e
internacionais, permitindo uma discussão qualificada
sobre o arcabouço jurídico vigente e o ambiente político-
institucional das OSCs. Apontaram-se obstáculos
existentes, bem como ações para enfrentá-los que foram
reunidas em um Plano de Ação com 50 propostas para o
GT (ANEXO II - Plano de Ação).
Reuniões do Grupo de Trabalho
O Grupo de Trabalho buscou ir além do diagnóstico produzido e construiu propostas
objetivas e concretas para os problemas identificados. A interação entre atores da
sociedade civil organizada e governo permitiu o alcance de novos entendimentos a
partir das diferentes perspectivas.
Além disso, o GT propiciou uma aproximação entre gestores do governo federal,
permitindo a identificação e articulação de pontos focais nos diferentes órgãos para
tratamento do tema.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
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O GT realizou sete reuniões plenárias, contando com a presença do Ministro Gilberto
Carvalho em sua abertura e encerramento das atividades.
REUNIÕES PLENÁRIAS DO GRUPO DE TRABALHO
Data Atividades
11/11/2011 Abertura dos trabalhos com a presença do Ministro Gilberto Carvalho.
30/11/2011 Alinhamento e composição de subgrupos temáticos para aprofundamento de questões relevantes.
15/12/2011 Delimitação do plano de ação e de potencias propostas de intervenção.
19/01/2012 Definição dos produtos concretos a serem elaborados.
02/04/2012 Apresentação de minutas dos produtos elaborados e inicializado processo de oitiva sobre os conteúdos
apresentados com especial enfoque no Anteprojeto de Lei.
04/06/2012 Apresentação do processo de ampliação da escuta e dos produtos reformulados.
24/07/2012 Encerramento das atividades com a apresentação dos produtos finais para o Ministro Gilberto Carvalho.
Entre as reuniões plenárias foram realizados encontros preparatórios específicos entre
membros do governo e entre membros da sociedade civil. Além disso, foi criado um
Comitê de Redação com organizações da sociedade civil, composto por representantes
da ABONG; Fundação Esquel; GIFE e UNICAFES. Ao todo foram realizadas mais de
20 reuniões.
Ampliação da escuta
Com o objetivo de ampliar a escuta no Governo
Federal, a Secretaria-Geral realizou reuniões bilaterais
com os membros do GT e com ministérios executores
de políticas finalísticas (Secretaria de Direitos
Humanos; Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial; Ministério do Desenvolvimento
Agrário; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da
Cultura; Ministério da Saúde; Ministério da Educação; Ministério das Cidades; dentre
outros).
O processo de oitiva ocorreu nos meses de abril e maio de 2012, com a realização de 32
reuniões e a participação de cerca de 200 gestores federais. Destacam-se a presença de
diversos secretários, diretores, coordenadores-gerais, assessores, gestores e analistas,
consultores jurídicos e procuradores, dentre outros servidores do governo federal que
muito contribuíram para o aprofundamento do tema.
As reuniões duraram cerca de três a quatro horas cada e nelas os gestores federais
tiveram a oportunidade de relatar o cotidiano do relacionamento com as OSCs e sugerir
propostas para o aperfeiçoamento dessa relação.
Além disso, a Secretaria-Geral dialogou com alguns juristas, acadêmicos e OSCs que
procuraram o órgão nesse período, buscando contemplar diferentes enfoques e visões
sobre o tema.
Há necessidade identificada de ampliar ainda mais o debate, razão pela qual é proposta
a realização de consulta pública participativa com debates presenciais, o que deverá
acontecer após validação interna dos encaminhamentos do Grupo de Trabalho.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
14
Grupo de Trabalho Interministerial sobre Prestação de Contas
Durante maio e junho de 2012, Grupo de Trabalho Interministerial – GTI12
, instituído
pela Portaria Interministerial nº 392, trabalhou com o objetivo de elaborar proposta
para o aperfeiçoamento da metodologia de prestações de contas de Convênios,
Contratos de Repasse, Termos de Parceria e instrumentos congêneres celebrados pelos
órgãos e entidades da Administração Pública Federal com entidades privadas sem fins
lucrativos.
Dentre os itens constantes na proposta elaborada pelo grupo destacam-se:
Ampliação do conceito de prestação de contas, co-responsabilizando as duas
partes signatárias e abarcando desde a celebração do instrumento até a análise
conclusiva pelo concedente;
Simplificação da prestação de contas a partir do registro de despesas de pequena
monta (até R$ 200,00 por fornecedor) em planilha, faculdade de registro no
SICONV de acordo com solicitação do concedente, entre outras medidas;
Estratificação de valores na faixa de R$ 600.000,00 com regras específicas para
concedentes e convenentes;
Sugestões de aperfeiçoamentos no SICONV, com a criação de relatórios,
salvamento automático, ampliação do tamanho de arquivos anexados, dentre
outros;
Prazos para a alimentação do SICONV com dados da execução do instrumento
pelo convenente e para análise da prestação de contas pelo concedente; e
Melhorias na gestão com a padronização de objetos, definição de indicadores e
implementação do controle por resultados, reestruturação das áreas responsáveis
pelo acompanhamento de transferências (limite máximo de 30 instrumentos por
servidor), capacitação permanente e controle social.
Relata-se, ainda, a realização de oficina na
Escola Nacional de Administração Pública
– ENAP com 43 participantes de OSCs e
do Poder Público com intuito de se
difundir boas práticas e discutir melhores
estratégias para o aperfeiçoamento da
prestação de contas.
Considerando a sinergia de escopo dos grupos de trabalho instituídos, a proposta de
aperfeiçoamento da metodologia de prestação de contas pôde tanto receber subsídios
das atividades já desenvolvidas por esse GT quanto ser incorporada aos seus produtos
12
O referido GTI foi composto por representantes: da Casa Civil da Presidência da República, que o
coordenou; da Controladoria-Geral da União; do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; do
Ministério da Fazenda; e da Secretaria-Geral da Presidência da República, tendo, ainda, como membro
convidado, representante do Tribunal de Contas da União, conforme Aviso nº 342/Gab-C. Civil/PR, de 11
de maio de 2012 (Anexo II).
Oficina de Prestação de Contas
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
15
finais, permitindo a reunião de esforços para a delimitação de uma proposta adequada e
avançada para a questão.
Participação em eventos
Durante o funcionamento do GT, a Secretaria-Geral participou de uma série de eventos
que promoveram a discussão do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade
Civil com diferentes públicos. Dentre esses eventos, destacam-se:
24-29/01/2012: Fórum Social Mundial
19/03/2012: Seminário NEATS/PUC/SP “Modernização do Sistema de Convênios da
Administração Pública com a Sociedade Civil”
28/03/2012: 7º Congresso GIFE “Novas
Fronteiras do Investimento Social”
09/04/2012: 8ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional LGBT
27/04/2012: Seminário SEPPIR “As
Transferências Voluntárias e o Processo de
Execução da Política de Promoção da Igualdade
Racial”
10/05/2012: Seminário SENAC/SP “Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade
Civil: Desafios e Propostas”
11/05/2012: Encontro com Rede Brasil Voluntário
24/05/2012: Seminário IPEA "Estado,
Organizações da Sociedade Civil e as
Cooperações nas Políticas Públicas"
31/05/2012: Congresso do Centro Acadêmico
XI de Agosto (Direito-USP) “Terceiro Setor:
Perspectivas Jurídicas e Sociais”
25-26/06/2012: 8º Encontro Nacional Terceiro Setor (MG)
08/03; 24/04; 29/06; 18/07: Palestras técnicas do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão sobre SICONV e novas funcionalidades
Congresso GIFE
Seminário PUC/SP
Seminário SENAC /SP
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
16
Produtos Elaborados13
Com vistas a responder ao diagnóstico construído e a partir dos trabalhos realizados,
apresentam-se os seguintes produtos propostos pelo GT.
1. Contratualização
1.1 Projeto de lei que cria novo regime jurídico de fomento e colaboração (ANEXO
III)
Problema: Ausência de norma própria que regule a relação de fomento e
colaboração entre o Estado e as OSCs independentemente da titulação que essas
possuem. As principais regras vigentes encontram-se em nível infralegal e
geram interpretações jurídicas conflitantes devido aos seus direcionamentos
concomitantes para entes públicos e entes privados. A despeito de ambos serem
mandatários de recursos públicos, as organizações têm peculiaridades em razão
de sua qualidade de entidades privadas sem fins lucrativos que os estados e
municípios não possuem.
Solução: Elaboração de Anteprojeto de lei que cria novo regime jurídico para
fomento e colaboração do Estado com as Organizações da Sociedade Civil,
consubstanciando-se em uma resposta estruturante que, inspirada em boas
práticas inova no ordenamento e traz para nível legal avanços presentes na
legislação sobre o tema:
a) Criação de instrumento específico para regular a relação de fomento e
colaboração entre Estado e OSCs, intitulado Termo de Fomento e
Colaboração (art.6º) que possui regras aplicáveis às entidades privadas sem
fins lucrativos, na forma de associação ou fundação, independentemente de
essas possuírem quaisquer títulos e certificações, preservando a autonomia
de funcionamento das entidades;
b) Instituição da regra de Chamamento Público obrigatório (art.9º);
c) Exigência de existência e experiência da entidade por pelo menos três
anos para firmar o Termo de Fomento e Colaboração (art.2º, IV e V);
d) Instituição de Procedimento de Iniciativa Popular (art.15) que tem por
objetivo fomentar a participação dos cidadãos no processo de formulação
das políticas públicas e torna transparente e institucionalizado esse tipo de
comunicação feita ao Poder Público;
e) Previsão de possibilidade de atuação em rede, mantendo-se a proponente
como responsável pelo Termo de Fomento e Colaboração (art.23);
13 Os produtos elaborados contemplam as principais discussões e o acúmulo alcançado nos trabalhos desenvolvidos. Buscou-se
dirimir ao máximo as divergências encontradas e propor uma agenda de iniciativas comum a todos os membros do GT. Apesar do
alto nível de consenso alcançado, dois pontos não atingiram unanimidade: pagamento da equipe de trabalho e pagamento de tributos incidentes. Ainda que os produtos aqui apresentados não representem na integralidade a posição unânime de todos os integrantes do
GT, constituem uma agenda rica de iniciativas preparadas para a promoção de um debate mais amplo.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
17
f) Obrigatoriedade de utilização de plataforma eletrônica - SICONV - para
registro e gerenciamento das informações (art.26);
g) Estratificação e regras diferenciadas para prestação de contas em razão
dos valores envolvidos, nível I – até R$600.000,00 e nível II – acima de R$
600.000,00 (art. 24)14
;
h) Estabelecimento de regra semelhante ao Ficha Limpa (art. 25, II e III)
determinando lapso temporal de até 8 anos de proibição de celebração de
termos de fomento e colaboração para a entidade que tiver incorrido em
condutas descritas no Projeto de Lei;
i) Fim da lacuna sobre possibilidade de pagamento de pessoal da entidade
(art.34) desde que os valores: i) correspondam às atividades previstas e
aprovadas no Plano de Trabalho e ao objeto do ajuste; ii) correspondam à
qualificação técnica necessária para a execução da função a ser
desempenhada; iii) sejam compatíveis com o valor de mercado da região
onde atua e não superior ao teto do Poder Executivo Federal, e; (iv) sejam
proporcionais ao tempo de trabalho efetivamente dedicado ao Termo de
Fomento e Colaboração;
j) Definição acerca da titularidade dos bens e direitos, sendo que no caso
de não haver disposição de que os bens entregues ou adquiridos devem ser
devolvidos ao Poder Público, esses devem ser incorporados ao patrimônio
da organização (art.21, VII e art.33) que, se extinta deverá transferi-lo a
outra entidade congênere;
k) Previsão expressa da não subsidiariedade trabalhista (art.34,§2º);
l) Estipulação de prazo máximo para análise da prestação de contas de 1
ano, sob pena de arquivamento, sendo possível o desarquivamento para
apuração de irregularidades caso surjam elementos novos, suficientes para
caracterizar a má utilização dos recursos transferidos por força do Termo de
Fomento e Colaboração (art.46,§1º e §2º e art.47);
m) Autorização expressa para pagamento de tributos incidentes em razão das
ações previstas no Plano de Trabalho, com exceção daqueles de natureza
direta e personalística que oneram a entidade (art.34, II);
n) Definição do que se entende por despesas administrativas (art.35,
parágrafo único);
o) Possibilidade de pagamento de diárias (art.34,III);
p) Possibilidade de remanejamento em até 15% das rubricas (art. 31) desde
que não altere o valor total da planilha de custos aprovada, seja o mesmo
elemento de despesa e não afete a execução do objeto do termo, e;
q) Criação de Comissão de Monitoramento e Avaliação (art. 37);
Necessidade de parecer de auditoria externa independente para ajustes
acima de R$ 600.000,00 (art.42,§2º);
Previsão da necessidade de o gestor público ter capacidade para
acompanhar os termos de fomento e colaboração que vier a celebrar
(art.11, parágrafo único).
14
O recorte no valor de R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) apoia-se não apenas na Lei nº 9.790/99 a
qual previu que acima desse valor, a auditoria externa independente se torna obrigatória, mas também na
constatação de que quase 80% dos convênios registrados no SICONV entre setembro de 2008 e junho e
2012 são inferiores a R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais), sendo que esse universo representa
aproximadamente 21,5% do valor global de recursos repassados.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
18
Com a implementação de todas essas medidas, espera-se que o Anteprojeto de Lei
contribua para garantir segurança jurídica para a relação entre o Estado e as OSCs,
inserir novos princípios, fundamentos e diretrizes para a relação, ampliar os
mecanismos de transparência e de controle social, auxiliar no planejamento e gestão
pelo Poder Público, reconhecer as particularidades das entidades privadas sem fins
lucrativos e a importância de realização de mecanismos de colaboração junto ao Poder
Público.
2. Uniformização de Entendimentos
2.1 Decreto Equipe de Trabalho (ANEXO IV)
Problema: Não há, na legislação vigente, autorização ou vedação expressa ao
pagamento de equipe de trabalho pertencente à entidade por meio do ajuste. A
análise da legislação federal sobre a matéria demonstra que o legislador manteve
o debate na esfera dos convênios estabelecidos entre entes do poder público, não
abordando a questão sob a ótica das OSCs. Em razão dessa lacuna, o que se
verifica é uma variedade de entendimentos por parte dos gestores públicos na
implementação e fiscalização dos convênios com OSCs. A diversidade de
interpretações leva ainda à precarização das relações de trabalho nas entidades
privadas, orientadas a assumir certas formas de contratação de seus profissionais
para receberem recursos públicos.
Solução: Com intuito de se firmar um melhor entendimento jurídico sobre o
tema, propõe-se eliminar a lacuna jurídica identificada com a alteração do
Decreto nº 6.170/07, que disciplina as transferências de recursos mediante
convênios, tornando expressa a possibilidade da utilização desses recursos para
pagamento da equipe própria das entidades privadas sem fins lucrativos. Ficará
autorizado o pagamento dessas despesas, desde que atendidos requisitos já
previstos na legislação e outros que deem coerência à regra, tais como a seleção
da entidade por chamamento público; previsão da despesa com pagamento de
empregados fixada no plano de trabalho aprovado; remuneração compatível com
o valor de mercado, respeitando os limites previstos no art. 37 da CF/88 para a
remuneração de servidor público federal; qualificação da equipe da organização
e conformidade com o objeto do convênio.
2.2 Canal de uniformização de entendimentos
Problema: Inexistência de um canal formal para expressão das demandas das
OSCs em relação à uniformização de entendimentos conflituosos emitidos pelos
diferentes órgãos federais sobre temas jurídicos e administrativos afetos as
parcerias realizadas. Os mecanismos de uniformização de entendimentos hoje
disponíveis por meio do Colégio de Consultores da AGU e na Comissão Gestora
do SICONV não possibilitam o acesso direto das organizações aos seus
procedimentos de elaboração e podem não ser suficientes dadas as suas
competências específicas.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
19
Solução: Criação de um fluxo institucional entre a Secretaria-Geral da
Presidência da República e a Ouvidoria-Geral da União, no âmbito de Acordo de
Cooperação Técnica, firmado em 15 de junho de 2012 e publicado no DOU em
20 de junho de 2012. Objetiva-se promover maior transparência aos processos e
atos de gestão relacionados às OSCs, instituindo canal aberto para análise e
tratamento de reivindicações. Além disso, pretende-se antecipar potenciais
entraves e construir consensos mais abrangentes, propiciando maior segurança
jurídica e celeridade aos atos de advogados públicos, auditores e gestores das
próprias OSCs. A análise das demandas possibilitará a veiculação de perguntas
freqüentes (FAQ) no sítio eletrônico da OGU, além da elaboração de cartilhas e
outros materiais didáticos para rápida instrução.
3. Transparência
3.1 Aperfeiçoamento das Classificações das OSCs no orçamento público
(modalidade 50)
Problema: Recursos públicos direcionados a entidades sem fins lucrativos
encontram-se concentrados na modalidade de aplicação orçamentária 50 –
transferências a instituições privadas sem fins lucrativos, que agrega repasses a
partidos políticos, sindicatos, serviço social autônomo, entre outros. Não são de
fácil visualização no orçamento público os recursos direcionados as parcerias
realizadas com OSCs.
Solução: Propõe-se a criação de uma nova modalidade 51 – execução
orçamentária delegada a instituições privadas sem fins lucrativos, para dar mais
transparência para a alocação das parcerias realizadas. Nos últimos anos, foram
criadas algumas novas modalidades de aplicação, mas todas relacionadas às
relações federativas. A Modalidade de Aplicação 50 ainda não foi objeto de
desdobramentos, embora concentre uma diversidade excessiva de parcerias do
governo federal, em vários campos das políticas públicas, com diferentes tipos
de organizações, a exemplo de associações, cooperativas, entidades sindicais e
serviço social autônomo.
3.2 Aperfeiçoamentos das classificações das OSCs (CNPJ/CNAE)
Problema: As classificações e códigos hoje existentes na tabela de natureza
jurídica e na classificação nacional de atividades econômicas não contemplam a
diversidade de organizações e seus objetos sociais. Além disso, agrupamentos
atrapalham a compreensão do setor, reunindo em um mesmo grupo tanto
associações e fundações quanto cartórios e partidos políticos.
Solução: Propõe-se a revisão da tabela de natureza jurídica da Comissão
Nacional de Classificação – CONCLA, que identifica a constituição jurídico-
institucional das entidades públicas e privadas nos cadastros da administração
pública do País, bem como das atividades econômicas da Classificação Nacional
de Atividades Econômicas – CNAE. Entre outras características, as
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
20
classificações da CNAE possuem grande relevância para a identificação da área
de atuação e/ou atividade preponderante das entidades.
4. Formação e capacitação
4.1 Elaboração de cursos e publicações
Problema: Escassez de cursos, capacitações e publicações direcionados a
membros de OSCs e gestores de órgãos federais.
Solução: Abertura de vagas em cursos ofertados pela Escola Nacional de
Administração Pública – ENAP. Já no segundo semestre de 2012 serão
ofertados quatro cursos à distância, quais sejam: ética e serviço público; análise
e melhoria de processos; fundamentos em gerência de projetos, e; gestão de
convênios e contratos de repasse.
Elaboração de formação específica em parceria com a Escola da AGU, o
programa CGU Capacita, a ENAP e demais escolas de governo federais, entre
outros atores, congregando participantes de órgãos federais e das OSCs.
Delimitam-se como temas prioritários a gestão de parcerias com OSCs, gestão
das OSCs, transparência ativa (Lei de Acesso à Informação) e uso do SICONV.
Pretende-se fomentar a discussão de temas considerados relevantes para as
partes, fortalecendo a cultura de relações colaborativas na gestão pública,
esclarecendo questões ainda consideradas conflituosas e criando consensos
mínimos para o avanço da agenda no país.
Busca-se, por meio desse esforço, sedimentar o conhecimento existente, seja
pela assimilação do conteúdo pelos operadores da parceria, seja pela produção
de publicações, disseminando os pontos trabalhados e as discussões travadas.
Essas publicações permitirão não só um maior alcance das formações
pretendidas, mas também a continuidade dos diálogos e da elaboração científica
na área.
5. Estudos e Pesquisas – Universo das OSCs
5.1 Atualização da FASFIL - Fundações Privadas e Associações sem Fins
Lucrativos no Brasil
Problema: Ausência de dados agregados atualizados sobre o universo das
entidades sem fins lucrativos, em especial, quantitativo de organizações ativas,
área de atuação, localização, pessoal ocupado, entre outras informações que
compõem o Plano Tabular da pesquisa - FASFIL (Fundações Privadas e
Associações sem Fins Lucrativos no Brasil) de 2005.
Solução: Atualização da pesquisa pelo IBGE em parceria com IPEA, ABONG e
GIFE, com a publicação em 05 de dezembro de 2012 de uma nova série
temporal - dados de 2006, 2008 e 2010, considerando mudanças realizadas na
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
21
Classificação Nacional de Atividade Econômica - CNAE e no Relatório Anual
de Informações Sociais – RAIS em 2006.
5.2 Agenda de novas pesquisas e estudos
Problema: Escassez de pesquisas e estudos apurados acerca do universo das
OSCs e suas fontes de financiamento, dentre outros.
Solução: realização de estudos e pesquisas sobre o papel das OSCs no ciclo das
políticas públicas na percepção do gestor; mapa das OSCs; fontes de
financiamento das organizações; utilização de incentivos fiscais; expressão do
trabalho voluntário no Brasil; censo das entidades inscritas no CNEs/MJ; entre
outras agendas relevantes para a melhor compreensão e aprimoramento da
relação entre Estado e OSCs. Pretende-se criar um grande repositório de estudos
e pesquisas na área.
RELATÓRIO FINAL DO GRUPO DE TRABALHO MARCO REGULATÓRIO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
22
Recomendações para novos trabalhos
Os produtos apresentados buscam aprimorar a relação entre Estado e OSCs. Parte-se do
diagnóstico realizado para a construção de um quadro novo que, em resumo, poderia ser
sintetizado como segue:
Cenário Atual Resultados Esperados
Insegurança jurídica. Marco Regulatório das Organizações da
Sociedade Civil próprio e seguro.
Analogias indevidas. Legislação adequada com a inserção de novos
princípios, fundamentos e diretrizes para a
relação.
Planejamento precário do Poder Público. Melhor planejamento, gestão e
acompanhamento das parcerias.
Pouca transparência e dificuldade de acesso ao
Estado. Ampliação dos mecanismos de transparência e
controle social.
Ausência de dados atualizados e estudos sobre as
OSCs e sua relação com o Estado. Estímulo a produção de estudos e pesquisas
sobre as OSCs e sua relação com o Estado.
Além dos produtos apresentados, as discussões do GT evidenciaram uma série de
questões a serem trabalhadas em ato contínuo. As proposições inseridas nesse relatório
refletem a priorização dada ao tema da contratualização, de forma a responder ao
comando legal do Decreto nº 7.568, de 16 de setembro de 2011, e aos temas mais
urgentes em termos de reordenação do Marco Regulatório das Organizações da
Sociedade Civil.
Subsistem, no entanto, a necessidade de aprofundamento dos estudos de propostas de
medidas incrementais para auxiliar o relacionamento das OSCs com o Estado, como a
criação de um sistema similar ao CAUC (Serviço Auxiliar de Informações para
Transferências Voluntárias) hoje existente para checar as informações de regularidade
fiscal dos Estados, Distrito Federal e Municípios15 e o Termo de Ajustamento de Gestão
ou de Execução, como medida saneadora, intermediária entre a extinção do ajuste
celebrado com a entidade e a tomada de contas especial.
Além disso, há ainda um conjunto de temas fundamentais que devem ser enfrentados
em trabalhos futuros, como o controle por resultados, a sustentabilidade das OSCs
(estímulos às doações voluntárias, fomento ao desenvolvimento institucional, regulação
tributária, dentre outros) e revisão das regras de acreditação e certificação.
O aprofundamento e a implementação de propostas sobre esses temas constituem, ao
lado dos produtos aqui apresentados, um rol importante de mudanças jurídicas e
administrativas. Essa agenda busca garantir um novo ambiente institucional para o
desenvolvimento das OSCs no Brasil, promovendo o fortalecimento das entidades
privadas sem fins lucrativos e, ao mesmo tempo, consagrando o valor das parcerias
realizadas na execução de políticas e projetos de interesse público.
15
Em razão do CAUC, o credenciamento obrigatório no âmbito do SICONV é simplificado para os entes
federados eis que, para esses entes, não é necessária a apresentação, ou mesmo atualização das certidões
negativas. Já para as entidades privadas sem fins lucrativos, é necessário apresentar todas as certidões
negativas, cuja atualização, por não se automática tem gerado dificuldades.