relfexão sobre a utilização das tics no mundo

42
Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo Glória Caetano Avelino Janeiro Trabalho do Módulo de Tecnologias de Informação e Comunicação, submetido para Apreciação do Docente do Curso de Mestrado em Estudos do Ensino Superior e Desenvolvimento, Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. 1

Upload: alsone-guambe

Post on 24-Jul-2015

194 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Glória Caetano Avelino Janeiro

Trabalho do Módulo de Tecnologias de Informação e Comunicação, submetido para Apreciação do Docente do Curso de Mestrado em Estudos do Ensino

Superior e Desenvolvimento, Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane.

Maputo, Julho de 2012

1

Page 2: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Índice

I. Introdução

………………………………………………………………..1

II. Surgimento Histórico das

TICs…………………………………………..2

III. O Papel e Uso das TICs na Educação e no Ensino

Superior…………….7

IV. Indicadores Sobre o Uso das TICs no Ensino Superior no Mundo….12

V. Indicadores e Desafios da Utilizacao das TICs em Mocambique

…......18

VI. Análise Comparativa das Desigualidades no Acesso Digital…..........23

VII. Desigualidade Digital em Relação ao Território…………………….24

VIII. Conclusão …………………………………………………………...26

Bibliografia

2

Page 3: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

I. Introdução

Na tentativa de acompanhar essas novas exigências, as instituições escolares vêm

incorporando novos parâmetros e conceitos às ações de ensino-aprendizagem. A aplicação

das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) a ambientes educativos veio a

transformar a noção tradicional do processo de ensino e aprendizagem, as suas práticas, bem

como o papel dos principais intervenientes (professores e estudantes).

Por consequência, todos tem o direito ao acesso e equidade na disponibilidade do uso da

ciência, tecnologia, inovação e tecnologia de informação e comunicação com vista a acelerar

o processo de criação de riqueza, da erradicação da pobreza, e deste modo, acelerar a

melhoria de qualidade de vida.

Nesse contexto, o presente trabalho tem por objectivo resgatar a histórica emergência do

ciberespaço, nos principais eixos da transformação tecnológica em geração, processamento e

transmissão da informação, explicitando e enfatizando o contexto global em que se está

inserido atualmente.

Na primeira secção, destacam-se os principais conceitos relacionados com esta temática, o

surgimento histórico das TICs, o papel do uso das TICs na educação e geral e no ensino

superior em particular.

Na segunda secção, aborda-se os principais indicadores sobre o uso das TICs no ensino

superior no mundo, nos países desenvolvidos, nos países emergentes, nos países em vias de

desenvolvimento incluindo a África.

Na terceira e última secção, seguir-se-á uma breve reflexão sobre a situação dos indicadores e

desafios da utilização das TICs em Moçambique, análise comparativa das desigualidades no

3

Page 4: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

acesso digital, lições aprendidas com a integração das TICs no subsistema do ensino superior

e conclusões do trabalho.

II. Surgimento Histórico das TICs

Faz muito tempo, a velocidade de propagação de conhecimentos e informações e a troca de

experiências entre os diversos indivíduos ou entre grupos distintos eram demasiadamente

lentas. Com o passar dos anos, uma grande transformação mudou esse panorama pré-

histórico: a Revolução Agrícola. As mudanças resultantes desse processo foram profundas e,

dentre elas, a domesticação de animais teve um significado essencialmente importante: o

deslocamento humano por longas distâncias foi incrivelmente facilitado. E, nesse contexto, a

velocidade de propagação de conhecimentos e informações começava a se acelerar.

Posteriormente, uma nova revolução, iniciada em algumas poderosas e influentes nações da

época, apresentou-se aos diferentes continentes: a Revolução Industrial. O aparecimento das

máquinas a vapor e um pouco mais tarde dos trens e em seguida dos automóveis

consolidaram o domínio dos homens sobre as máquinas. Um pouco mais tarde, conhecido o

eletromagnetismo, a velocidade de propagação de informações atingiu níveis espantosos,

devido ao uso do telégrafo e do telefone.

Mais recentemente, o surgimento de computadores pessoais, com suas redes de comunicação

globais como a Internet, coloca a humanidade frente a uma nova onda de transformações. As

luzes que se acendem são de uma era em que bits valem mais que átomos e que bens

materiais não são mais garantia de poder e riqueza. Atualmente, a expressão “tempo real”

aparece com frequência dando a idéia da velocidade que corre a informação através dos

canais de comunicação que envolvem o globo.

Portanto, após a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial, o homem vive ultimamente a

revolução do conhecimento. Não há atividade humana que resista a esse período de transição.

O impacto das redes de computadores, da microeletrônica, das telecomunicações é total e

4

Page 5: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

pode ser sentido no trabalho, na educação, na economia, no entretenimento, nas artes, ou seja,

em todas as esferas sociais. Assim sendo, o homem, segue como parte integrante, por um

lado passivo e por outro atuante, nesse cenário de singularidade e de intensas mudanças

tecnológicas. Desse modo, a sociedade, segundo alguns, autores é “pós-industrial” ou

“informacional” e vive-se, hoje, o que se chama de “era da informação”.

O microchip marcou, da mesma forma como a máquina a vapor, a eletricidade e a linha de

montagem em outros tempos, um avanço único no desenvolvimento tecnológico da

humanidade.

Da nova economia, saem a linha de produção, os carros, o aço, a produção em massa, o

marketing de massa e a mídia de massa, que distribuíam seus produtos derivados de grandes

indústrias, estúdios e editoras, para entrarem os websites, rápidos como a luz numa fibra

óptica, com seus conteúdos especializados e customizáveis, milhares deles, a poucos cliques

de um mouse, bastando estar conectado ao ciberespaço1.

Nesse contexto, vive-se um momento em que ocorre uma transformação de nossa cultura

material pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza com base nas

tecnologias de informação.

O processo contemporâneo de transformação tecnológica, de acordo com Castells (1999, p.

68), “expande-se exponencialmente em razão de sua capacidade de criar uma interface entre

campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada,

armazenada, recuperada, processada e transmitida”. Assim, é possível afirmar que

interagimos em um mundo que se tornou digital.

Desse modo, a história da revolução da tecnologia da informação é relatada por diversos

autores, dentre eles Castells (1999) e Lévy (1999), os quais abordam e evidenciam em suas

análises as transformações sociais, culturais e econômicas que penetram e difundem-se em

todos os campos da atividade humana, devido, primordialmente, à propagação e ao uso das

novas tecnologias de informação pelos indivíduos.

1 Lévy (1999) define ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (...), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização.

5

Page 6: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

De acordo com Lévy (1999), os primeiros computadores (calculadoras programáveis)

surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945. Por muito tempo, reservados aos

militares para cálculos científicos, seu uso civil disseminou-se durante os anos seguintes.

Os historiadores lembram, conforme Castells (1999), que o primeiro computador eletrônico

pesava 30 toneladas, foi construído sobre estruturas metálicas com 2,75 m de altura, tinha 70

mil resistores e 18 mil válvulas a vácuo e ocupava a área de um ginásio esportivo. Escreve

Castells (1999), que quando ele foi acionado, seu consumo foi tão alto que as luzes da

Filadélfia piscaram.

Tecnicamente, um computador é uma montagem particular de unidades de processamento, de

transmissão, de memória e de interfaces para entrada e saída de informações, por isso ele

pode ser encontrado em qualquer lugar onde a informação digital seja processada

automaticamente. Conectado ao ciberespaço,

A partir dos anos 70, com a invenção do microprocessador, que é o computador em um único

chip, houve uma emergência crescente de diversos processos econômicos e sociais de grande

amplitude. Porém, só a partir dessa década que as novas tecnologias de informação

difundiram-se amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo a esse

novo paradigma já referido.

Após esses processos, aconteceu um crescimento na produção industrial: robótica, linhas de

produção flexíveis, máquinas industriais com controlos digitais.

Em meados de 1980, um movimento social nascido na Califórnia apossou-se das novas

possibilidades técnicas e inventou o Computador Pessoal (PC) que, na verdade, se tornou o

nome genérico dos microprocessadores.

Aqui, considero necessário abordar o ponto de partida da globalização, que foi recorrente ao

processo de internacionalização da economia mundial, ininterrupta desde a Segunda Guerra

Mundial, pois foi a partir da década de 80 que se iniciou uma nova história: o mundo

industrial foi sacudido por uma profunda reestruturação capitalista, sustentada tecnicamente

na revolução da informática e das comunicações, devido à descentralização espacial dos

processos produtivos, assim, como afirma Vieira (1998, p. 75) “a nova tecnologia influi em

todos os campos da vida econômica e revoluciona o sistema financeiro, pela conexão

eletrônica dos distintos mercados”.

6

Page 7: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Desse modo, está havendo um redimensionamento das noções de espaço-tempo, uma vez

que, através do uso das TIC(s), notícias dão a volta ao mundo, capitais entram e saem de um

país por transferências eletrônicas, novos produtos são fabricados em muitos países e nenhum

deles isoladamente.

Nesse sentido, as TIC(s) geram a capacidade do global e do local se interpenetrarem e de

funcionarem em tempo real, em escala planetária. Essa influência recíproca gera uma das

fontes de dinamismo da modernidade, o que é intrinsecamente globalizante.

As descobertas básicas nas tecnologias de informação, de acordo com Castells (1999), têm

algo de essencial em comum: embora baseadas principalmente nos conhecimentos já

existentes e desenvolvidas como uma extensão das tecnologias mais importantes, essas

tecnologias representaram um salto qualitativo na difusão maciça da tecnologia em

aplicações comerciais e civis, devido a sua acessibilidade e custo cada vez menor, com

qualidade cada vez maior.

De acordo com Castells (1999), a Revolução da Tecnologia da Informação contribuiu para a

formação dos meios de inovação em que as descobertas e as aplicações interagiam e eram

testadas em um repetido processo de tentativa e erro: aprendia-se fazendo.

Esses ambientes exigiam, apesar da atuação on-line, concentração espacial de centros de

pesquisa, instituições de educação superior, empresas de tecnologia avançada, uma rede

auxiliar de fornecedores, provendo bens e serviços e redes de empresas com capital de risco

para financiar novos empreendimentos. Uma vez que um meio esteja consolidado, como o

Vale do Silício na época referida, ele tende a gerar sua própria dinâmica e atrair

conhecimentos, investimentos e talentos de todas as partes do mundo.

Desde então, o computador escapou do serviço de dados das grandes empresas e dos

programadores profissionais para tornar-se, de acordo com Lévy (1999, p. 31 e 32) “um

instrumento de criação (de textos, de imagens, de músicas), de organização (bancos de dados,

planilhas), de simulação (planilhas, ferramentas de apoio à decisão, programas para pesquisa)

e de diversão (jogos)” de uma proporção crescente da população de países, que Lévy coloca

como desenvolvidos.

Nessa mesma idéia, Castells (1999) se posiciona sobre o assunto, colocando que a

comunicação mediada por computadores é uma revolução que se desenvolve em ondas

7

Page 8: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

concêntricas, começando nos níveis de educação e riqueza mais altos e provavelmente (grifo

meu) incapaz de atingir grandes segmentos de massa sem instrução, bem como países pobres.

Ao que tudo indica, a vida digital em termos de informação será cada vez mais modelável

pelo usuário que poderá decidir de forma personalizada o momento mais adequado para a sua

interação, uma vez que novas ferramentas estão sendo criadas e disponibilizadas na web e

que podem ser acessadas de qualquer lugar do mundo, bastando que o usuário disponibilize

dos recursos necessários para tal tarefa.

Portanto, a primeira característica do novo paradigma é baseada na informação como

matéria-prima, ou seja, é possível afirmar que são tecnologias para agir sobre a informação e

não apenas informação para agir sobre a tecnologia, como foi o caso das revoluções

tecnológicas anteriores. O segundo aspecto deste novo modelo refere-se à penetrabilidade dos

efeitos das novas tecnologias, uma vez que a informação é uma parte integral de toda

atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são

diretamente moldados (contudo, não determinados) pelo novo meio tecnológico. A terceira

característica da sociedade informacional diz respeito a sua organização estrutural em forma

de rede. Assim, é interessante observar que essa lógica de redes é adaptada à crescente

complexidade de interação e aos modelos imprevisíveis do desenvolvimento derivado do

poder criativo dessa interação, ou seja, é perceptível que há uma lógica de redes em qualquer

sistema ou conjunto de relações, usando essas novas tecnologias de informação.

III. O Papel e Uso das TICs na Educação e no Ensino Superior.

O acesso às tecnologias da informação e comunicação está relacionado com os direitos

básicos de liberdade e de expressão, portanto os recursos tecnológicos são as ferramentas

contributivas ao desenvolvimento social, econômico, cultural e intelectual.

À medida que as TCI ganham espaço na escola, o professor passa a se ver diante de novas e

inúmeras possibilidades de acesso à informação e de abordagem dos conteúdos, podendo se

libertar das tarefas repetitivas e concentrar-se nos aspectos mais relevantes da aprendizagem,

porém, torna-se necessário que o professor desenvolva novas habilidades para mover-se nesse

mundo, sendo capaz de analisar os meios à sua disposição e fazer suas escolhas tendo como

referencial algo mais que o senso comum.

8

Page 9: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

O uso adequado das novas tecnologias passa por transformações organizacionais. Em si, o

computador, a internet, as novas tecnologias em geral permitem apenas acelerar e conectar as

atividades. As bobagens, não custa repeti-lo, podem hoje ser feitas em volume muito maior, e

muito mais rapidamente.

O professor realmente existente sofre a permanente pressão de um sem-número de atividades

pontuais, e não se pode simplesmente ver as transformações em curso, com a enorme

abrangência que implicam, como mais uma tarefa, mais uma atividade. Trata-se de articular

de forma organizada, dentro dos horários e dos espaços escolares, os novos enfoques. Se não

houver este redimensionamento organizado, fica realmente cada professor tentando sozinho

equilibrar novas práticas, que podem até entrar em choque com orientações mais

conservadores de outras áreas do estabelecimento.

Antigamente, as empresas organizavam a sua informatização criando um Centro de

Processamento de Dados, o misterioso CPD, com os seus misteriosos especialistas. Só mais

tarde se entendeu que a informática e a comunicação devem constituir um sistema de redes

extremamente solto e difuso dentro das empresas, permitindo um fluxo amplo de informação

entre todos os trabalhadores. As TCI deixaram de ser a especialidade de alguns, para ser uma

dimensão do trabalho de todos, e os "especialistas" se tornaram mais modestamente agentes

de manutenção do sistema.

Na escola, o processo é diferente, mas envolve igualmente esta lenta assimilação, e os

dilemas organizacionais. Gera-se um "laboratório" de informática, com o dono da chave do

laboratório, horários estritos de uso, e uma "disciplina" de informática, como se fosse mais

uma área de estudo. A imagem que se usa relativamente a este enfoque, é que equivaleria, no

caso de um lápis, a fazer aulas de "lapisologia". No caso das novas tecnologias, não se trata

de estudar o computador, e sim de se acostumar a utilizá-lo nas diversas matérias. O aluno

que usa a internet, deve pensar no seu objeto de interesse, e não na internet, da mesma forma

que uma pessoa que faz um exercício não pensa no lápis, mas no problema substantivo que

lhe interessa.

Constitui um fator importante também o fato de um número crescente de alunos disporem de

computadores e de ligações internet nas suas casas, podendo se gerar um tipo de rede,

flexibilizar usos fora de horário da escola, estimular trabalhos extra-escolares que aproveitem

9

Page 10: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

estas disponibilidades, além de criar, fato de crescente importância, uma rede de relações

entre a escola e a comunidade.

Coloca-se igualmente o problema da tradicional segmentação do horário escolar, os 45 ou 50

minutos, que entram crescentemente em tensão com o aprofundamento de estudos e trabalhos

interdisciplinares em torno de temas, formas ricas de trabalho mas que exigem uma

distribuição mais flexível do tempo.

Os trabalhos por temas envolvem por sua vez a organização do espaço de trabalho. Há

escolas que passam a trabalhar em salas com subdivisões, com mesas acopladas em círculos

que permitem trabalho em grupo, interações diversas. É interessante ver que hoje

universidades como a McMaster, na área de medicina, aboliram simplesmente o sistema de

aulas, transformando o trabalho do professor num tipo de assessoria a grupos de estudos

constituídos pelos alunos.

A facilidade crescente de consulta aos professores via internet muda igualmente a

organização de trabalho. Muitos professores hoje já disponibilizam material científico de

consulta em sites pessoais, ou na home-page da escola, em vez de recorrer aos tradicionais

escaninhos com fotocópias. E os alunos se acostumam gradualmente a consultar os

professores via e-mail, a submeter os seus trabalhos a uma apreciação intermediária e assim

por diante.

Não é aqui o lugar de redefinir estas formas de organização, que serão seguramente diferentes

segundo as condições, a cultura local, o interesse das pessoas, as resistências à mudança

encontradas. Os próprios pais resistem freqüentemente a qualquer "modernismo" ou até a

simples formas mais inteligentes de organizar o trabalho, por insegurança, ou por excessiva

fixação no objetivo único da "performance" no vestibular.

Em outros termos, não se trata aqui de sonhar com transformações revolucionárias e

imediatas, e sobre tudo com transformações muito padronizadas. Mas a realidade é que as

dimensões organizacionais, de tempo, espaço, hierarquias, divisões em disciplinas e outros

temas estarão se colocando de maneira cada vez mais premente, e será preciso começar a

trabalhar neste sentido.

10

Page 11: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

É importante ter presente que as novas tecnologias colocam desafios organizacionais na

escola, mas também colocam desafios institucionais mais amplos ao sistema educacional em

geral.

Transformações em curso, em termos institucionais, podem ser agrupadas em torno de três

grandes eixos. Por um lado, trata-se do já mencionado sistema de alianças e parcerias com

comunidades, organizações da sociedade civil, sindicatos, empresas, meios de comunicação,

enfim, o conjunto do novo universo que, como a educação, está se reconstruindo em torno da

chamada organização do conhecimento. Por outro lado, trata-se da redefinição do que se faz

no nível ministerial, no nível estadual, no nível municipal, e no nível da comunidade, num

processo de redefinição da hierarquia de decisões. Finalmente, trata-se da horizontalização

geral do sistema através da organização das redes. Aqui também, não se trata só do universo

da educação: é o conjunto das atividades humanas que evolui do conceito tradicional de

autoridade em "pirâmide", para o que já se chama de "sociedade em rede", a network society.

A educação, que trabalha com informações e conhecimento, e cuja matéria prima é portanto

de total fluidez nos novos sistemas de informática e telecomunicações, é sem dúvida a

primeira a ganhar com o conceito de rede, de unidades dinâmicas e criativas que montam um

rico tecido de relações com bancos de dados, outras escolas, centros científicos

internacionais, instituições de fomento e assim por diante. Esta nova e revolucionária

conectividade, substituindo as pesadas e inoperantes pirâmides de inspetores, controladores e

curiosos nomeados por razões diversas, pode dinamizar profundamente todo o sistema. Não é

complicado imaginar uma conferência aberta de diretores escolares para intercâmbio de

propostas pedagógicas, o intercâmbio de textos entre professores de uma área e de diversas

escolas, ou um sistema informatizado de apoio da Secretaria de Educação para consultas

pedagógicas permanentes de professores e assim por diante.

Em outros termos, no quadro de uma sociedade do conhecimento que trabalha com

subsistemas muito diferenciados que evoluem de forma dinâmica e articulada, necessitamos

de formas diferenciadas e flexíveis de gestão, o que só pode ser conseguido com ampla

participação dos interessados. A tradicional hierarquia vertical e autoritária, movida por

mecanismos burocráticos do Estado, ou centrada no lucro e no curto prazo da empresa

privada, simplesmente não resolve.

11

Page 12: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Os avanços tecnológicos mencionados estão gerando novos espaços de conhecimento, que

exigem tratamento diferenciado e articulado. É importante mencionar que a ausência ou

insuficiência de políticas dinâmicas nestas novas áreas, cria um vazio que favorece o

surgimento de uma "indústria do conhecimento", levando frequentemente à formação de

micro-ideologias desintegradoras - veja-se o fanatismo de certas ideologias empresariais, de

certos movimentos religiosos, ou de certos tipos de programas de televisão - prejudicando

uma visão humanista mais ampla que um processo geral de integração social através do

conhecimento pode proporcionar.

A ocupação destes espaços exige uma convergência de atores sociais interessados, incluindo

tanto educadores como empresários, sindicatos, movimentos comunitários e outros, na linha

da constituição da base institucional e política do processo de renovação e ampliação de

atividades ligadas à informação e ao conhecimento.

De toda forma, é importante ter presente que se as novas tecnologais de comunicação e

informação estão reorganizando a indústria, os bancos, a agricultura e tantas outras áreas, é

natural que o edifício educacional, para quem o conhecimento é a sua própria matéria prima,

tem de abrir o seu horizonte de análise, aproveitando o manancial de possibilidades que se

abrem, batalhando por espaços mais amplos e renovados, com tecnologias e soluções

institucionais novas.

Para que a escola possa aderir às inovações, principalmente a tecnológica, é necessário que

leve em consideração a vida cotidiana do aprendente e daquele que está ensinando, pois cada

um traz consigo elementos extrínsecos à realidade da escola, sendo estes relevantes dentro do

espaço das relações que se estabelecem no ambiente escolar. No entanto, exige-se atualmente

uma prática participativa, dialógica, democrática, coletiva e colaborativa.

O processo de ensino e aprendizagem deve ser desenvolvido por competências e habilidades,

em que o professor e o aluno compreendam a sociedade em que estão inseridos. Sociedade

esta, que exige um profissional com qualificações excelentes para o exercício de suas funções

e que aborda uma interação dialógica mediada no ciberespaço. Ainda que o sujeito ou o

indivíduo seja crucial na relação com o saber e a dimensão pessoal não se torne dispensável

nesta relação, o fluxo do saber se dá definitivamente a partir de uma comunidade, de uma

coletividade no ciberespaço.

12

Page 13: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Desta forma, o professor, deve mais do que ensinar, mas ao mesmo tempo, articular

experiências, mediar e facilitar o processo educativo, a fim de que o aluno reflita sobre suas

relações com o mundo e o saber, assumindo, assim o papel ativo no processo de ensino e

aprendizagem. “Quando discutimos o papel de facilitador desempenhado pelo professor,

afirmamos que ele atua apenas como alguém que gentilmente conduz o processo educativo. A

implicação disso é que aquele que recebe sua orientação – o aluno – é responsável por usá-la

adequadamente”. (PALLOFF e PRATT, 2002, p. 110).

Desse modo, professores e alunos devem ressaltar a importância da troca de experiências,

através de relatos de experiências, aprendendo juntos e refletindo com o outro. Assim, como

evidenciando por Palloff e Pratt (2002), quando professores e alunos se envolvem desta

maneira com o processo de aprendizagem, estes aprendem a aprender, além de adquirirem a

capacidade de pesquisar, questionar, analisar e pensar criticamente.

Os alunos que hoje compõem as salas de aula, nasceram em meio à esta emergência de

tecnologias e delas fazem uso sem nenhum medo ou inibição. A tecnologia faz parte de seu

cotidiano. Faz parte da cultura deles. O debate em torno destas questões é antigo e tem

atenuado com o passar do tempo. Cada vez mais as pessoas tem percebido que o computador,

assim como foi o rádio, o cinema, e a TV, não são a revolução, a mudança. Eles favorecem a

mudança, potencializam as dimensões humanas, mas a verdadeira mudança está no uso que

se faz destes recursos, nas práticas.

IV. Indicadores sobre o Uso das TICs no Ensino Superior no mundo

Por grupos de países, os de renda alta lideram o uso de computadores sendo que em média

58,9% da população por cada 100 habitantes utilizam o computador. Seguido dos países de

renda média com 12.2% e os de renda baixa com 5%.

Tabela 1: Número Computador para uso. Por Países 2005

13

Page 14: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Fonte: Rede de Informacao Tecnologica Latino-Americana, microdados 2005.

A tabela acima mostra o grupo de países divididos da seguinte forma: os países de renda

média baixa; os de renda média alta, e os de renda alta.

Dentre estes países, a Suiça lidera a lista com 86,2% de usuários em cada 100 habitantes,

seguido dos EUA com 76,2% e a Espanha apresenta o índice mais baixo com 28,1% de

usuários por cada 100 habitantes.

Para os países de renda média, a Estônia lidera o grupo com 48,9% seguida da republica

Eslováquia com 35,7% e o Panamá com o nível mais baixa de 4,6%.

Os países da baixa Renda apresentam em geral os níveis mais baixos. A lista detes países, o

brasil lidera com 16.1%, seguido do Perú com 10,0%, e Honduras com o nível mais baixo

de 1,6%.

Por Continentes, a Oceánea lidera a lista com 50,5% de usuários em cada 100 habitantes,

seguida das Americas com 35,3%, a Europa com 30,7%, Àsia com 6,4% e Àfrica com 2,2%.

A justificação deste nicveis de usuários deve-se pelos seguintes motivos:

14

Page 15: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Situação de Emprego, nos países desenvolvidos o nível de desemprego é baixo se comparado

com os países de baixa renda, o que de serta forma influencia nos níveis de utilização de

tecnologias de informação e comunicacao. Ora vejamos, as pesquisas mostram que 65% dos

que utilizam a internete, o computador, são empregadas e 37% são desempregados.

Um outro factor que influencia de forma decisiva as possibilidades tanto de possuir

computador e internent domiciliar, quanto o acesso e uso da internet é o nível de renda.

Pessoas com níveis de renda mais alta são os maiores usuários, pois o nível de acesso é mais

rápido e fácil, uma vez que as tecnologias são muito onerosas do ponto de vista de custos.

Por outro lado a questão racial, pode ser vista de forma que efectivamente, o acesso a internet

da população branca representa mais do dobro da população negra. Isso não acontece de

forma homogénea em todas as faixas de renda. A exlusao digital, muito grande nas primeiras

faixas de renda, cai progressivamente até se estabilizar no patamar mais baixo de renda em

trno de USD 22 de diferenca entre os branco e os negros.

A População de regiões mais ricas, próximas aos centros urbanos, com níveis de

escolaridade mais alta e mais jovem tem mais acesso à infraestruturas de telecomunicações e

aos serviços de rede.

A Suécia faz parte do grupo de países com mais acesso ao uso das TICs, com 377,7 de

acesso, seguida da Suíça com 246,8 em 2005. No entanto em termos de variação de 2001 a

2005, o Babados apresenta o nível mais alto de variação de acesso com 108,9% com um peso

de 25.

Tabela 2: Indice de Oportunidade de Acesso as TICs. Países do Mundo. 2001⁄2005

15

Page 16: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

16

Page 17: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Fonte: International Telecommunication Union.measuring the index information society indicators. Geneva, 2007.

17

Page 18: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Por grupo de países, a media dos países de nível alto é de 54,5% de variação de acesso, a

media dos países intermédios é de 45,9% e de países inferiores é de 54,7%.

Deve-se destacar também que, em termos de crescimento no período considerado 2001/2005,

o Brasil e o Haiti são os que apresentaram as maiores taxas de crescimento na região, com

56,4% e 60,7%, respectivamente. No entanto, o destaque vaui para o crescimento do Haiti é

gerado a partir de níveis extremamente baixos de oportunidades, isto faz com que junto com

Nicaragua, Honduras e Cuba, estejam localizados entre os países de baixa oportunidade.

gráfico 1: Acesso à internete Moçambique/Suécia. 2005

Fonte: MTC, Indicador de Ciência e Tecnologia, 2005

Em 2005 só 17,2 % da população total de Moçambique utilizou a internet. Já na Suécia, um

dos países mais avançados em termos de desenvolvimento, esse índice foi de 76,2% da sua

população usou a internet. Quantitativamente, isso significa que na suécia o acesso é de 4,4%

vezes maior do que em Moçambique.

Tabela 3: Número de Alunos Por Computador para uso dos alunos. Por Países 2003

18

Page 19: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Tabela 4: Numero de Computadores (Total e com inetrnet) Para uso dos alunos (Por 100 Alunos) e de escolas que usam

computadores em salas de aula e que têm internet. Por País Europeu. 2006

Fonte: Comissão Europeia. 2006

19

Page 20: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Atendendo as recomendações expressas da comissão Europeia, entre 2003 e 2006, melhorou

sensivelmente a relação Alunos/Computador, passando de 6,8% computadores para cada 100

alunos em 2006.

Em termos quantitativos, os numers osculam de 5,9% de computadores para cada 100 alunos

na Ietónia e na Ituânia, até 27,3 na Dinamarca, mesmo perido.

Na Europa 90% dos computadores disponíves para os alunos enconta-se conectados a

internet, o que permite e facilita a comunicação, gestão e trabalhos em rede.

V. Indicadores e Desafios da Utilização das TICs em Moçambique

Tal como noutros países, a entrada de Moçambique na Sociedade de Informação começou na

década 90 com os primeiros serviços de Internet dialup fornecidos pelo Centro de Informática

da Universidade Eduardo Mondlane, CIUEM, a partir de 1993.

Em termos globais a cidade de Maputo lidera a lista das cidades que mais utilizam as TICs

(internet, Telefones fixo e móvel) com uma média de 97.6% de utilizadores em 2009 e a

Provincia de Niassa esta na lista das províncias com menos utilizadores. No entanto, a

provincia de Maputo e Cidade, estão na lista dos maiores utilizadores pois as tecnologias

estão mais difundindas e disponíveis se comparada com outras regiões do país.

gráfico 2: % da Utilização das TICs em Moçambique

20

Page 21: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Fonte: MTC, Indicador de Ciência e Tecnologia, 2009

O modelo de inclusão digital promovido pela política pública moçambicana tem sido a

promoção de competências e manuseamento de ferramentas informáticas. Para tal, são

mobilizados alguns actores nacionais como, por exemplo, a Comissão para a Política

Informática, CPI, uma unidade criada pelo governo para desenhar a política informática de

moçambique; Ministério da Ciência e Tecnologia, MC, Ministério dos transportes e

Comunicações, MCT; Unidade Técnica de implementação da Política de informática,

UTICT, encarregue na informatização do sector público; Unidade Técnica de Reforma da

Administração Financeira do Estado, UTRAFE; Instituto Nacional de Comunicações de

Moçambique, INCM, Gabinete de Informação, GABINFO, instituição ligada ao Gabinete do

Primeiro Ministro encarregue em registo dos meios de comunicação social; e Universidade

Eduardo Mondlane, UEM, a primeira universidade pública (Sangonet, 2009).

As principais tarefas dos actores de política nacional de informática consistiam em:

impulsionar e supervisionar a elaboração da Política de Informática; formulação e

coordenação de Políticas e Estratégias de Ciência e Tecnologias; normalização e

regulamentação ; promoção da valorização de conhecimento local ; protecção de direitos de

propriedade; elaboração de Políticas de Comunicação e de Acesso Universal; implementação

da Política Informática, elaboração de projectos de legislação e regulamentação; regulara a

interligação das redes e a interoperacionalidade dos serviços públicos de telecomunicações ,

21

Page 22: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

atribuição de licenças; garantir o apoio ao desenvolvimento do sector de comunicação social

em Moçambique e formação de quadros superiores do sector das TIC, ( Sangonet, 2009: 6-9).

De acordo com o documento produzido pela Sangonet (2009),uma organização da sociedade

civil sedeada na República da África do Sul, Moçambique foi um dos a africano a

reconhecer a importância dos uso das TIC para promover o desenvolvimento (Sangonet,

2009:9).

Porém, o entusiasmo do Estado em relação a TIC foi esmorecendo ao longo dos anos a ponto

de não constituir agenda prioritária do governo. Apesar do reconhecimento da importância

revolucionária da TIC na governação, no envolvimento do cidadão na participação política e

na agilização dos processos de trabalhos e prestação de serviços público, as tecnologias são

bem vistas em todos os discursos políticos como um dos factores básicos de desenvolvimento

e de combate à pobreza e melhoramento das condições de vida dos moçambicanos.

os documentos do governo nas matérias de inclusão digital com particular enfoque a

“Política de Ciência e Tecnologia”, divulgado em para a “ Estratégia de Ciência, Tecnologia

e Inovação e Moçambique”, publicado em 2006 com o horizonte temporal de 2006, nota-se

nestes dois documentos o grande interesse do governo em criar infraestruturas irão permitir o

acesso das TIC em grande escala nacional.

Apesar da projecção de vontade, a maior parte dos projectos de inclusão digital com metas

até 2005 ainda estão até hoje em fase de implementação, apenas houve avanços em 2006-

2007. Esta lentidão deve-se, em, ao excesso de optimismo por parte dos principais actores de

implementação de política nacional de inclusão digital, ou mesmo da falta de linha de

orientação e de prioridades.

Além de tudo, nota-se que a política nacional de inclusão digital é bastante generalista e

concentradora. O grande foco vai para o aspecto de governação electrónica no sector público,

mas ainda falta uma política sectorial das TIC educação, comércio, media e das comunidades

rurais.

As infra-estruturas adequadas, a capacitação humana, parcerias e mobilização de recursos

para entrada na Sociedade de Informação são fundamentais para as organizações e pessoas

singulares. Mas ainda falta uma política de capacitação de recursos humanos e do

fortalecimento do cidadão em matérias das tecnologias, salvo alguns casos isolados que são

22

Page 23: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

assegurados por alguns institutos e universidades, mas é necessário desenvolver políticas de

capacitação extensiva para as comunidades do interior. Para tal requer-se a criação de infra-

estruturas de conectividade nos distritos quer para a governação electrónica, educação,

telecomunicações, operadores de rádio, televisão e do comércio.

Segundo Sangonet (2009), para suprir o fosso digital interno, Moçambique deve assumir três

desafios fundamentais para a efectiva inclusão digital da comunidade moçambicana: Infra-

estruturas, capacitação humana, custos e preços.

Infra-estruras físicas são a base sobre a qual assenta a política de inclusão digital. Em

Moçambique a conectividade e a comunicação de dados é extremamente lenta , oscilação e

quedas constantes. Ainda mais, as infraestruturas de telecomunicações não estão distribuídas

pelo país de forma equitativa, mas concentram-se mais nas grandes urbes , oferecendo menos

oportunidade de acesso para a maioria da população. O acesso às infraestruturas

telecomunicações depende da existência de energia, mas a qualidade da energia fornecida

também constitui factor impedimento. Para isso, é necessário estender a comunicação via

banda larga,promover regulamentação de partilha de infra-estruturas; assegurar a igualdade

de acesso, reduzir os preços dos computadores pessoais e apoiar os projectos de difusão e

acesso às TIC para pessoas portadoras de deficiência.

Capacitação humana. Tendo em conta que o grosso número da população moçambicana

situa-se na zona rural, que neste momento assume com naturalidade que os computadores e a

Internet são para pessoas ricas ou com qualificações académicas mais alta, isto faz com que

com que os recursos e as oportunidades cheguem primeiro as grandes cidades onde estão

concentradas as camadas intelectuais e novos ricos e só depois à comunidade rural. Face a

esta realidade, o desafio principal reside na massificação de formação , que vai para além de

cursos básicos, mas para a capacitação do uso efectivo de TIC por cada grupo-alvo: homens e

mulheres; aposta no sistema nacional de educação como agente promotor de inclusão digital;

capacitação dos professores, não só nas habilidades básicas mas sobretudo no uso de TIC no

processo de ensino-aprendizagem.

O preço da Internet de banda larga em Moçambique é exorbitante, sobretudo para a

população rural que vive com menos de 1 Dólar por dia. Por isso, o primeiro desafio é baixar

o custo da Internet junto dos operadores ou assegurar que os usuários beneficiem de preços

reduzidoDe acordo com o documento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento

23

Page 24: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Económico, OCDE, de 2008, sobre a educação, relata no seu texto que a banda larga é o

factor impulsionador da mudança estrutural, criação de novos serviços digitais, aumenta a

eficiência das empresas, melhora a concorrência e sustenta a globalização:

A banda larga e as aplicações a ela associadas contribuem para a transformação da actividade

económica como o fizeram outras tecnologias de utilização geral, como a electricidade e o

motor de combustão interna. Os impactos da banda larga podem ser mais importantes à

medida que o preço das TIC baixar mais dramaticamente. Ainda que necessários, os

investimentos complementares em inovações de competências e organizacionais podem levar

algum tempo a materializarem-se para permitir a contribuição da banda larga no crescimento

e na criação de emprego (OCDE, 2008: 8).

A largura da banda constitui o ponto fraco do governo por várias razões: a falta de infra-

estruturas de conectividade e as taxas exorbitantes cobradas pelos operadores internacionais

de fornecimento de serviços da Banda Larga.

A capacitação de recursos humanos em TIC abre espaço para formação de uma nova

cidadania mais pró-activa. Assim sendo, é condição essencial para o desenvolvimento de

recursos humanos em três níveis: primeiro, assegurar que todos os cidadãos tenham

conhecimentos básicos para o uso das TIC para diversos fins, segundo, assegurar a formação

de novas gerações de cidadãos capazes de liderar e sustentar a evolução tecnológica e, por

último, formação de novos usuários conectados às redes mundiais de troca de informação e

de conhecimento.

Muitas iniciativas têm sido tomadas para a criação de condições básicas de inclusão digital:

Projecto SchoolNet- uma iniciativa da UEM que a partir de 1997 passou para o Ministério da

Educação e Cultura, MEC, em 2002. O projecto tinha em vista a introdução de salas de

informática nas escolas , começando a nível pré-universitário e nos centros de formação dos

professores , passando progressivamente para o ensino secundário geral e primário.

Actualmente, 22 institutos de formação de professores e 76 escolas secundárias e médias

estão equipadas , mas devido aos altos custos o número de centros de formação de

professores e das escolas secundarias nas capitais provinciais e grandes cidades com acesso a

Internet é reduzido.

24

Page 25: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Introdução da disciplina de informática no tronco comum do currículo escolar, cujo arranque

deve se concretizar em 2009-2010. Adopção de curriculum certificado de TIC para o

desenvolvimento. Este projecto foi adoptado pela UTICT a partir da European Computer

Driving Licence (ECDL) Formação dos formadores e a sua colocação em instituições vitais ,

com destaque para instituições de formação de professores e funcionários de centros de

formação de professores.Cursos básicos de informática.

Relativamente a percentagem de cobertura dos serviços de TICs por província, há a destacar

que no serviço de Internet Maputo Cidade possui uma cobertura de 100.0%, seguido de

Maputo Província com 37.5%, Nampula (23.8%), Inhambane (21.4%) e Manica (20%), as

províncias com baixa cobertura são de Sofala e Tete com 8.0 % respectivamente. As restantes

províncias situam-se na banda dos 13-18%.

Estes dados revelam que as grandes capitais provinciais são as mais privilegiadas em termos

de acesso às tecnologias básicas de comunicação.

Computadores e a Internet são ainda menos disseminados em todo o país. Havia uma

estimativa de 100.000 usuários de computadores em todo país em 2007, na sua maioria

homens de renda mais alta, nas áreas urbanas. Havia estimativa de 24 000 usuários de

Internet em 2009, e este número estava circunscrito nos grupos de maior estatuto social. Mas

este número está a aumentar. Contudo, a falta de acesso a computadores e à Internet coloca

desafios para o desenvolvimento do país. (Panos, 2010).

A partir da leitura de outros documentos e complementando com as tabelas acima indicadas,

conclui-se que, dentre vários avanços, destaca-se a elaboração e aprovação da Estratégia de

Governo Electrónico.

A disseminação da TIC em Moçambique é orientada para as infra-estruturas, que de certo

modo apresentam as suas precariedades e aliada à pobreza da maioria da população rural que

não pode ter acesso dos mesmos e, sobretudo, o grosso número das populações rurais não

possui rede de energia eléctrica nem comunicações por telefone fixo.

VI. Analise Comparativa das Desigualdades no Acesso digital.

Pesquisa feitas a grandes Metrópoles, mostra que o acesso as chamadas Tecnologias de

Informação e Comunicação (TICs) – mais precisamente o acesso ao microcomputador e à

25

Page 26: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

internet – são influenciadas pela posição social dos indivíduos e pelo território onde vivem. O

levantamento, aponta que 54% dos domicílios metropolitanos ainda não possuem

microcomputador e que domicílios de menor renda, localizados em favelas e/ou periferias

metropolitanas se encontram em desvantagem no que se refere ao acesso e capacidade de uso

dessas tecnologias.

Tomando como ponto de partida a disseminação dos equipamentos e meios de uso das TICs,

que promovem amplo acesso dos indivíduos a condições de maior participação social,

política e econômica, os pesquisadores tentaram avaliar em que medida o acesso a principal

dessas tecnologias – a internet - é condicionado pelas históricas desigualdades nacionais,

resultantes da estratificação da sociedade e da segmentação territorial.

Com relação ao acesso à Internet – dada a posse de computador - também é possível notar

grandes desigualdades. Em 2001, 81,2% dos domicílios no quintil mais rico da população,

que possuíam computador, tinham também acesso a internet; em 2009 esse percentual subiu

para 93,8%. Para o quintil mais pobre esses percentuais ficaram em 58% em 2001 e 63,7%

em 2009.

Os dados mostram que, nos últimos anos, houve um aumento significativo de acesso a

computador e internet, para todos os quintis de renda. Além disso, em termos proporcionais

foram os quintis mais pobres aqueles que mais aumentaram seu acesso a essas tecnologias, o

que pode estar relacionado ao aumento do montante de renda dessas camadas nos últimos

anos. No entanto, a análise aponta que ainda há grandes desigualdades nas oportunidades de

acesso a computador e internet entre os setores mais ricos e mais pobres da população. Dessa

forma, o leque de oportunidades econômicas, políticas e sociais abertas pelo acesso às TICs

tem se concentrado nos setores mais privilegiados da sociedade brasileira.

VII. A Desigualdade Digital em Relação ao Território

Em relação às variáveis do território, os pesquisadores compararam a relação de domicílios

com computador no núcleo e na periferia – municípios que compõem a região metropolitana.

Os dados mostraram que em 2001, o percentual era de 24,9% para o núcleo, e 13,3% para a

periferia; em 2009, esse valor sobe para 51,5% e 38,5%, respectivamente.

A pesquisa aponta como uma das causas dessa desigualdade o contexto gerado pela 26

Page 27: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

concentração espacial de uma população em desvantagem. É possível que o isolamento social

da população moradora de periferias e, particularmente, de favelas, ao colocar em contato

famílias de nível sócio-econômico próximo, crie um meio-social desvantajoso, onde a posse

de computador não seja tão valorizada como em outros contextos sociais.

Esse resultado é coerente com já obtidos em outras pesquisas realizadas pelo Observatório na

qual se constatou, empiricamente, os efeitos da concentração territorial de população com

desvantagens posicionais e situacionais na ampliação destas desvantagens. Seria a

manifestação do efeito do lugar. Por outro lado, resultados como a menor chance de acesso à

internet para os moradores de periferias podem ser interpretados pela escassez de oferta

desses serviços em localidades mais distantes dos núcleos metropolitanos.

Conclusão

Avanços nos campos científicos e tecnológicos contribuem para promover

autonomia, competitividade e soberania às nações que neles investem. Esse

cenário demanda o fortalecimento da educação científica e tecnológica oferecida

no nível básico, médio e superior, por meio da educação científica e tecnológica

é possível despertar o interesse dos jovens estudantes para carreiras nessas

áreas. Isso requer investimento e desenvolvimento de estratégias pedagógicas

capazes de tornar a linguagem científicotecnológica e seus conteúdos atraentes

para esse público. Faz-se também necessário investir na preparação de

professores e em equipar as escolas com recursos para facilitar a alfabetização

científica e tecnológica, e a efetiva inclusão na atual sociedade do

conhecimento.

Um conjunto de iniciativas integradas pode contribuir para melhorar a educação

científica e tecnológica oferecida nas escolas em Moçambique. Algumas delas

são:

A melhoria da formação inicial e continuada de professores; b) o fornecimento de

computadores e internet às escolas públicas; c) monitoramento, avaliação e

continuidade de iniciativas governamentais e não-governamentais direcionadas

27

Page 28: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

à promoção de educação científica e tecnológica; d) promoção/ participação em

eventos para debater a questão com pesquisadores, professores e gestores

nacionais e internacionais, para verificar como cada um vem trabalhando nos

diversos desafios que envolvem as TIC.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que as estratégias de

popularização da ciência e tecnologia tenham mais sucesso. Ao oferecer espaços

abertos para que educadores possam acessar conteúdos, interagir com outros

educadores e desenvolver projetos com os alunos.

BIBLIOGRAFIA

BRITO, Carlos (2010), Educação á Distância (EAD) no Ensino Superior de Moçambique: UAM. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina. Retirado do website http://btd.egc.ufsc.br/wp-content/uploads/2011/04/Carlos_Estrela_Brito.pdf acessado em 17/06/12.

Castells, M. (1999) the Rise Of the Network Society, The Information age: Economy, Society and culture, Cambridge.

Palloff, P. (1999) Building Learning Communities In Cyberspace: effective strategies for the online classrrom.

South African organisation, whose acronym stands for The Southern African NGO Network.

OCDE, (2008), Organização para a cooperação Económica Europeia, Abril de 2008.

PEREIRA, Luís & MOORE, Michael (2007), Avaliação da Rede de Educação á Distância. Ministério da Educação e Cultura. Projecto de Ensino Superior (HEP-1). Retirado do website http://www.mec.gov.mz/img/documentos/20090302020345.pdf Acessado em 17/06/12.

28

Page 29: Relfexão Sobre a Utilização das TICs no Mundo

Website da Universidade Católica http://www.ucm.ac.mz/cms/ensino-a-distancia

Jacobo, J. (2007) Projecto Grafico e Diagrama, Brasil.

MCT, (2009), Indicadores de Ciência e Tecnologia de Moçambique, Maputo.

Sangonet, (2009) Inclusão Digital em Moçambique: um desafio para todos, relatório de Moçambique , CIUEM.

29