reportagem o teatro mágico - revista zzz

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ZZZ conversa com Fernando Anitelli, idealizador do projeto O Teatro Mágico. Proposta da trupe é agregar elementos musicais, circenses e de teatro no mesmo palco, sempre com a colaboração do público.

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Page 1: Reportagem O Teatro Mágico - Revista ZZZ

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show

Teatro Mágico está cres-cendo porque as pesso-as estão colaborando. Elas nos ajudam a compor, e podem tirar fotos e gravar vídeos para o nosso site. Para nós, essa interação

é muito importante: o público alimenta a

trupe e a gente responde. É essa a fórmula que faz

acontecer”. É desta maneira que Fernando Anitelli resume a trajetória de “O Teatro Mágico”, projeto que teve início em 2003, ano em que ele gravou seu primeiro CD, “O Teatro Mágico: Entrada para Raros”.

Inicialmente um álbum solo – cujo título é referência ao best-seller “O Lobo da Estepe”, do escritor alemão Hermann Hesse – pos-teriormente acabou se transformando na Companhia Artística. “Quando eu li sobre o Teatro Mágico do Hesse, percebi que era justamente aquilo que eu gostaria de montar: um espetáculo que juntasse tudo numa coisa só, malabaristas, atores, cantores, poetas, palhaços, bailarinas e tudo mais que a minha imaginação pudesse criar. O Teatro Mágico é um lugar onde tudo é possível”, conta.

Se as possibilidades são infinitas, a meta, no entanto, é uma só: estabelecer uma cone-xão transparente entre o público e a obra. Para alcançar esse objetivo, Fernando defende que é essencial que o artista fique cara a cara com as pessoas, pois, dessa maneira, elas criam em si próprias uma fidelização – que o cantor classifica como fabulosa – porque sentem que o projeto não está sendo empurrado “goela abaixo”.

De fato, a participação da “platéia” não fica restrita a um discurso teórico. Em agosto do ano passado, cerca de 400 internautas acompanharam a gravação da primeira versão da música “O que se perde enquanto os olhos piscam”; transmitida ao vivo pela rede. A can-ção – composta em parceria com os usuários – foi disponibilizada no site e, pouco tempo

infinitas possibilidades,ao alcance de todos

POR PIERO VERGÍLIOFOTOS VINÍCIUS CAMPOS

O Teatro Mágico

Música para baixarMas, neste palco, a missão do palhaço

não é apenas encantar. Ao mesmo tem-po em que ele diverte e faz rir, estimula discussões importantes, permeadas com um ativismo ora ferrenho, ora poético. “O Te-atro Mágico não pode simplesmente achar que é suficiente pelo que já está fazendo. A gente busca coisas novas, está sempre se reciclando e se agrupando a causas sociais: movimento estudantil, em prol do meio ambiente, dentre outros”, analisa.

Numa época marcada pela convergên-cia de mídias, O Teatro Mágico é símbolo de vanguarda ao debater, na rede, questões como a reforma da lei de direito autoral e o movimento MPB (Música Para Baixar). Sob essa perspectiva, o Twitter tornou-se decisivo para a difusão de ideias e mo-bilização de pessoas. “A internet é uma ferramenta capaz de fazer isso, pois elimina a presença do atravessador cultural, aquele que vai cobrar mais para o público ter acesso ao artista, autor ou compositor. Podem piratear, jogar no YouTube, fazer download: o que a gente quer é estar cada vez mais ao alcance de todos”, incentiva.

O discurso audacioso e pioneiro em de-fesa da música livre e da arte independente fez com que Fernando resistisse ao assédio das principais gravadoras do país. Certa vez, ao ser questionado sobre essa decisão, usou uma analogia bastante interessante para explicar seu ponto de vista. “Eles oferecem uma Ferrari e você só tem uma bicicleta. Mas, como eu acredito no ET, faço minha bicicleta voar”.

Partindo deste princípio, O Teatro Mágico segue seu caminho, custeando, sem patrocínio, as gravações de suas músicas em estúdio. Mesmo assim, a trupe faz questão de manter os preços populares de seus produtos (CDs, DVDs, livro, camisetas) comercializados ao final das apresentações no stand “Lojinha TM” – montado no local dos shows – e também por meio do site do grupo, além das Livrarias Saraiva e Cultura.

depois, já havia se tornado uma das mais baixadas.

bagunça organizadaFernando lembra que essa proposta

existe desde o surgimento do grupo, com-posto atualmente por 12 pessoas. “A gente começou fazendo sarau; que, assim como a internet, tem uma natureza essencialmen-te colaborativa: alguém chega com uma poesia, outro com uma música, então um vai somando e potencializando o talento e o tim-bre do outro. E isso jogado em cima do palco se transforma nessa bagunça organizada que é O Teatro Mágico”.

E ele tem razão. O espetáculo tem uma base, mas também há espaço para o improviso. “A trupe tem ideia de onde quer chegar, mas não sabe de que maneira isso vai acontecer. Se alguém na platéia pede, de brincadeira, ‘toca Raul [Seixas]’, a gente vai lá e ‘Pluct – Plact – Zum’. Aí um palhaço surge do nada, uma boneca aparece fazendo uma coisa diferente, enquanto brincamos de roda ou ciranda”, descreve.

Alguns minutos após o encerramento de nossa conversa – Fernando recebeu a reportagem da ZZZ no camarim, momentos antes de subir ao palco na Festa Junina de Votorantim – este jornalista pôde comprovar tal afirmação. Era bonito e também conta-giante observar o envolvimento das pessoas com as coreografias, realizadas em perfeita sincronia, ao mesmo tempo em que assistiam encantadas as performances circenses.

Fazendo valer a premissa de que a poesia prevalece, a Companhia explorava o lúdico, brincando com os conceitos de músi-ca, teatro, circo e fábula. Para chegar a este resultado, Fernando conta que o primeiro passo é o ensaio somente com os músicos. A seguir, ele leva uma gravação ao pessoal do circo para ouvirem o CD e explorarem as possibilidades de cada música. “Todos se encontram somente no dia do show: para ser mais exato horas antes do espetáculo, durante a passagem de som”, confessa.

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Proposta da trupe é agregar elementos musicais, circenses e de teatro no mesmo palco, sempre com a colaboração do público

A Companhia explora o lúdico, brincando com os conceitos de música, tea-tro, circo e fábula; recen-temente, O Teatro Mágico esteve na Festa Junina de Votorantim, onde recebeu a reportagem da ZZZ

O Teatro Mágico na internet: site: www.oteatromagico.mus.brtwitter: www.twitter.com/oteatromagico www.twitter.com/Fanitelli (Fernando Anitelli)

•Nascido em Presidente Prudente e criado na cidade de Osasco, Fernando Anitelli “brinca” com arranjos e melodias desde os 13 anos.

•Formado em Comunicação Social, já foi caricaturista de um jornal diário e trabalhou na produção visual de um banco. Durante esse período, ele aprendeu a administrar um negócio.

• Acumulou ainda a experiência como ator, trabalhando com diretores como Oswaldo Montenegro, Ismael Araújo e Caio An-drade, que lhe deram as noções básicas de expressão corporal, domínio de palco e outros elementos de teatro, indispensáveis em seus shows.

•Foi eleito o Melhor Show Nacional de 2007 pelo guia da Folha de São Paulo.

•Ainda naquele ano, a trupe foi responsável pelo recorde de público na Virada Cultural em São Paulo: 40 mil pessoas assistiram ao show.

•Em junho de 2008, o lançamento do segundo CD, intitulado de “O Segundo Ato”, foi um acontecimento inusitado: Fernando e Companhia participaram de uma caminhada pela Avenida Paulista, com megafone em punho, encabeçando um movimento pacífico em prol da música livre e dos artistas independentes.

•Anitelli comparece ao Fórum Social Mundial 2009 e é convidado pelo MST e pela Marcha Mundial das Mulheres para cantar na cerimônia de recepção aos presidentes: Hugo Chavez (Venezuela), Fernando Lugo (Paraguai), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

•Convidados pelo diretor de núcleo Jayme Monjardim, O Teatro Mágico grava uma participação especial na novela “Viver a Vida”, da Rede Globo.

•Mesmo disponibilizando todo seu conteúdo audiovisual, livre e gratuito, na web, a trupe osasquense já vendeu mais de 200 mil cópias do primeiro CD, 80 mil do segundo e 50 mil do DVD “Entrada Para Raros” – primeiro da banda.

•Além de Fernando Anitelli (voz, violão e guitarra), fazem parte da trupe: Fernando Rosa (contrabaixo), Nene dos Santos e Miguel Assis (bateristas), Willians Marques (percussão e malabares), Galdino Octopus (violino e bandolim), DJ HP (pick-ups e sonoplas-tia), Kleber Saraiva (teclado), Silvio Depieri (sax e flauta), Rober Tosta, Gabriela Veiga e Mateus Bonassa (artistas circenses).

Atualmente, a trupe percorre o país divulgando o mais novo DVD, que chegou ao mercado recentemente e foi batizado de “O Segundo Ato”, mesmo nome do segundo CD. Produzido em parceria com o Itaú Cultural, possui o selo “Creative Commons” – que permite a livre circulação, exibição, veiculação e cópia das imagens e do áu-dio, na íntegra – e é um compilado de uma maratona de apresenta-ções realizadas em São Paulo, em maio do ano passado: foram 18 sessões durante uma semana, sendo três shows por dia.No repertório, as canções desenham a realidade do país sem disfar-ces, mas com pitadas de poesia, em meio a arranjos bem elabora-dos: “Cidadão de Papelão” traz à tona “o cara que catava papelão, sem terno, nem tampouco ternura, à margem de toda rua, sem identificação”. Já em “Pena”, a dificuldade do artista em sobreviver ao mercado é entoada: há muita “música rara em liquidação”. “Xanel n°5”, por sua vez, reflete sobre o amontoado de informações que absorvemos, muitas vezes sem perceber, assistindo aos progra-

mas de TV. Em determinados trechos, ficam expostas as contradições do país. “O sistema é nervoso, mas te acalma com a programação do dia: na tua tela, querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela”, registra Fernando, num dos versos.Por fim, ele aponta aquela que julga ser a principal contribuição do

seu trabalho. “O legado está justa-mente naquilo que eu canto ou falo, na minha presença orgânica nas ma-nifestações, não somente de uma manei-ra virtual: tem que comparecer, “dar as caras”, participar das oficinas e debater. Acredito que seja essa a questão-chave: o artista tem uma responsabilidade social gigante e, por isso, deve servir de exemplo. E esse o caminho que eu procuro seguir”.

O Segundo Atocu

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