representaÇÕes e identidade do profissional de relaÇÕes pÚblicas na rede social facebook: as...

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Representações e identidade do profissional de Relações Públicas na rede social Facebook: as tensões, 100 anos depois Maria Inês Möllmann 1 Pâmela da Silva Pochmann 2 Valdir José Morigi 3 Resumo Neste artigo analisamos a construção das representações identitárias do profissional de Relações Públicas tendo como marco histórico um século do início da atividade no Brasil. O objetivo deste artigo é verificar as tensões dialógicas e suas repercussões na constituição da identidade profissional. Como locus da pesquisa, foi escolhido o site de rede social Facebook, em que foram analisados 10 post de 9 páginas no período de 1º de agosto a 24 de dezembro de 2015. Foram identificadas três eixos temáticos principais que ancoram as representações sociais do relações-públicas: 1) falta reconhecimento da profissão; 2) as redes sociais engajam a classe; e 3) “crise” de identidade na profissão. Palavras-chave Relações Públicas; Representações Sociais; Identidade Profissional; Análise de Conteúdo; Facebook. 1. Introdução A atividade de Relações Públicas completou, em 2015, 100 anos no Brasil, e durante esse período aconteceram diversas mudanças. Para Marcondes Neto e Ficher (2014), passou por três etapas específicas que a levaram ao patamar agora vivido: 1) com o surgimento do Departamento de Relações Públicas, em 1914, pela The São Paulo Tramway Light and Power Company Limited, a regulamentação da profissão pela Lei 5.377/1967 e a Instituição do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas, em 1971; 2) O segundo período abrange o início do regime de acumulação do capital – por volta de 1970, conforme a proposição de David Harvey (1989) –, até os dias atuais, período em que as atividades de Relações Públicas se diversificam e se generalizam, 1 Aluna especial do PPGCOM da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação – UFRGS. Graduada em Relações Públicas e Jornalismo e Especialista em Marketing pela PUCRS, Professora Universitária. E-mail: [email protected]. 2 Aluna especial do PPGCOM da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação – UFRGS, graduada em Relações Públicas pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected]. 3 Professor doutor do PPGCOM da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação – UFRGS. Email: [email protected]. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

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Representações e identidade do profissional de Relações Públicas na rede social

Facebook: as tensões, 100 anos depois

Maria Inês Möllmann1

Pâmela da Silva Pochmann2

Valdir José Morigi3

ResumoNeste artigo analisamos a construção das representações identitárias do profissional deRelações Públicas tendo como marco histórico um século do início da atividade noBrasil. O objetivo deste artigo é verificar as tensões dialógicas e suas repercussões naconstituição da identidade profissional. Como locus da pesquisa, foi escolhido o site derede social Facebook, em que foram analisados 10 post de 9 páginas no período de 1º deagosto a 24 de dezembro de 2015. Foram identificadas três eixos temáticos principaisque ancoram as representações sociais do relações-públicas: 1) falta reconhecimento daprofissão; 2) as redes sociais engajam a classe; e 3) “crise” de identidade na profissão.

Palavras-chaveRelações Públicas; Representações Sociais; Identidade Profissional; Análise deConteúdo; Facebook.

1. Introdução

A atividade de Relações Públicas completou, em 2015, 100 anos no Brasil, e

durante esse período aconteceram diversas mudanças. Para Marcondes Neto e Ficher

(2014), passou por três etapas específicas que a levaram ao patamar agora vivido: 1)

com o surgimento do Departamento de Relações Públicas, em 1914, pela The São Paulo

Tramway Light and Power Company Limited, a regulamentação da profissão pela Lei

5.377/1967 e a Instituição do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas,

em 1971; 2) O segundo período abrange o início do regime de acumulação do capital –

por volta de 1970, conforme a proposição de David Harvey (1989) –, até os dias atuais,

período em que as atividades de Relações Públicas se diversificam e se generalizam,

1Aluna especial do PPGCOM da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação – UFRGS.Graduada em Relações Públicas e Jornalismo e Especialista em Marketing pela PUCRS,Professora Universitária. E-mail: [email protected] especial do PPGCOM da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação – UFRGS,graduada em Relações Públicas pela Universidade Feevale. E-mail:[email protected] doutor do PPGCOM da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação – UFRGS.Email: [email protected].

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tanto em termos práticos, quanto teóricos; 3) os tempos atuais, em que para além de

obter resultados com relações públicas4, torna-se imperativo cuidar da reputação, não

como estratégia defensiva, mas como argumento de venda, como geração de valor.

Entretanto, apesar de ser uma atividade regulamentada, tendo um Conselho

Profissional para sua fiscalização, a categoria clama pela falta de reconhecimento

perante a sociedade. Braga e Haswani (2008) analisaram o discurso da Lei 5.377/1967 e

do Decreto 63.283/1968 e apontaram que parte do problema vem da regulamentação, do

discurso legal e da falta de uma identidade concisa e objetiva da profissão. Para as

autoras, a ideia não é reduzir ou limitar conceitualmente as Relações Públicas, mas

adotar um discurso que comunique o que a atividade realiza e que possa ser entendido

por qualquer público.

Segundo Alves e Lazzarini (2014), que desenvolveram um estudo sobre a

valorização da profissão, há uma diferença enorme entre o que é ensinado pela

academia em relação à função, atuação e postura do profissional de Relações Públicas e

o que é praticado quando o graduado assume seu posto no mercado. As autoras relatam

que em muitos casos as tarefas de Relações Públicas são realizadas por outros

profissionais da área de comunicação.

Simões e Dornelles (2012) fizeram uma pesquisa sobre o mercado de Relações

Públicas e concluíram que há espaço para estes profissionais, que em empresas de

médio e grande porte comportaria pelo menos um especialista para esta área. O que

ocorre é que as vagas são denominadas com terminações variadas e não com o nome

específico de Relações Públicas. Mesmo assim, o campo vem crescendo e abrangendo

novos cenários, técnicas e ambientes de divulgação, como, por exemplo, as

disponibilizadas pela internet.

Além disso, observamos que há um constante esforço por parte de alguns

profissionais no sentido de esclarecer à sociedade o que é Relações Públicas através de

campanhas de comunicação nos espaços das redes sociais, e que tem repercutido

positivamente. A partir destes fatos levantamos a seguinte indagação: como as tensões

4 Os autores referem-se à obra de KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.) Obtendo Resultados com RelaçõesPúblicas. São Paulo: Pioneira, 2001. O livro propõe como utilizar adequadamente as relações públicas em benefíciodas organizações e da sociedade em geral.

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nas representações sobre a profissão de Relações Públicas repercutem na construção

identitária deste profissional?

O objetivo deste artigo é verificar quais representações sobre a profissão das

Relações Públicas são veiculadas na rede social. Analisamos as manifestações

discursivas, os relatos e as imagens divulgadas na rede social Facebook5. Ambiente

virtual que vem sendo utilizado pelos profissionais da área quer seja para dar mais

visibilidade ao seu trabalho, contribuindo para o desenvolvimento desse mercado no

Brasil. O estudo é fundamentado a partir da Teoria das Representações Sociais (TRS) de

Moscovici (1984-2003), Domingos Sobrinho (2000), Jovchelovitch (2008) e da

socialização profissional de Dubar (2012). A metodologia adotada é Análise de

Conteúdo, de Bardin (1977).

2. A Teoria das Representações Sociais e as Práticas Profissionais

Partimos da perspectiva de Moscovici (2003), que indaga como as pessoas

convertem conhecimentos científicos em conhecimentos de senso comum. Ele segue

uma perspectiva comunicativa “genética” na apreensão do conhecimento veiculado

dinamicamente no cotidiano e aborda o fenômeno das representações sociais (RS).

Distingue pensamento primitivo, ciência e senso comum, relacionando essas formas de

pensar à realidade do ser humano no curso da história.

As RS são sistemas de valores, ideias e práticas a nós impostas e possuem duas

funções: tornar o mundo convencional e serem prescritivas, o que significa que ninguém

está livre de condicionamentos anteriores. O autor (2003, p. 29) expõe que há dois

universos de pensamento nas sociedades contemporâneas “pensantes”: os reificados (da

ciência) e os consensuais (do senso comum). As ciências são os meios pelos quais

entendemos o universo reificado; as RS abordam o universo consensual, sendo

instituídas pelos processos de ancoragem e objetivação, circulam no cotidiano e

necessitam ser vistas como uma “atmosfera” em relação ao indivíduo ou ao grupo. Para

Moscovici (2003, p. 48), o senso comum é “[...] a forma de compreensão que cria o

substrato das imagens e sentidos, sem o qual nenhuma coletividade pode operar”.

5 Disponível em www.facebook.com.

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O conceito de themata proposto pelo autor valoriza as reflexões sobre temas,

uma vez que elas relevam que nossas idéias (representações), são sempre filtradas

através das falas de outros, um tanto quanto “descoladas” da realidade, e pré-existem

como um “ambiente” sociocultural (2003, p. 216).

As RS não são conteúdos de pensamento passíveis de generalização; são

processos cognitivos e afetivos incompletos de apreensão do mundo e exercem distintas

funções cognitivas e sociais. Desse ponto de vista, anunciam temas comuns,

“genéticos”, que nos unem aos outros, em uma espécie de percepção das ideias

primárias características do objeto a que nos referimos em nossa cultura. A

comunicação e o pensamento somente podem ser compreendidos como modificações de

arcabouços prévios, relativizações culturais, materializações de sentido que extrapolam

a sociedade em que as RS se localizam social e historicamente.

Jovchelovitch (2008) segue a perspectiva de Moscovici ao propor que a

construção do “verdadeiro conhecimento”, ao contrário do que pensam muitos, se dá

separando suas estruturas internas e sujeitos, as comunidades e as culturas que lhe dão

substância e razão de ser. Isto significa que concebemos como “conhecimento

verdadeiro” aquele em que deixamos de lado ruídos causados pelos afetos e pelas

pertenças, ou seja, separado dos contextos da vida cotidiana.

No entanto, as RS estão na base de todos os saberes e elas têm pouco do

impessoal, embora nossa herança cartesiana na forma de ver o mundo nos leve a crer

que o conhecimento é racionalidade pura. Para ela, existe o que se pode denominar de

crença: conhecimento cotidiano, perpassado por intenções, pontos de vista e contextos,

o saber portador de crenças, visões leigas, ideologias, mitos ou superstições.

Existem os contextos do saber, presentes na análise representacional, que são o

“eu – outro – objeto”, a tríade que, para Jovchelovitch (2008), fornece a textura e a

forma para a construção de comunidades e representações. Constitui a tríade o

“contexto de saber”, sendo a linguagem e a comunicação o único caminho para chegar

ao conhecimento. Ela propõe o não relativismo selvagem, mas o engajamento em um

exercício de reconhecimento da diversidade, com o objetivo de compreender que, o que

nos parece “o único tipo ideal” é, de fato, apenas um entre muitos tipos. Um estudo que

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propõe esclarecer o problema da variação nas formas de conhecimento passa por

responder à pergunta: o que esta forma de saber quer representar?

Os diferentes processos representacionais são resultado de variáveis na

arquitetura particular das relações da tríade “eu – outro – objeto”, quais sejam: 1) status

e posicionamento dos interlocutores; 2) laço emocional entre interlocutores e 3) como

eles estabelecem simetrias ou assimetrias no diálogo. Forma-se, para Jovchelovitch

(2008), uma “arquitetura da intersubjetividade”, na qual as representações são estruturas

tríplices, em que há a 1) dimensão subjetiva, afetiva ou pessoal laço emocional entre

interlocutores; 2) a dimensão intersubjetiva, derivada do status e natureza do diálogo; e

3) a dimensão objetiva, relativa a construção do objeto mundo. Ela expõe:

A representação emerge como um processo psicossocial complexo erico, envolvendo atores sociais com identidades e vidas emocionais,que se engajam em relações com outros, que têm razões para fazer oque fazem e, ao assim agir, põem em prática os propósitos daquilo quefazem (JOVCHELOVITCH, 2008, p. 174).

São variáveis colocadas em uma matriz, denominados pela autora de

componentes dinâmicos das representações sociais: Quem? Como? Por quê? O Que?

Para quê? Ou seja, os elementos constituintes do processo representacional se

apresentam de diferentes formas e funções, a saber: 1) Quem são os atores, os sujeitos

que as produzem? 2) Como elas ocorrem, ou seja, através de quais práticas

comunicativas? 3) Sobre o que os sujeitos se inter-relacionam, quais os conteúdos? 4)

Por que trocam essas informações e percepções? Por fim, 5) Para que o fazem, ou seja,

quais as funções dessas representações na constituição das práticas sociais.

Domingos Sobrinho (2000) lembra sobre a pertinência do conceito de habitus ou

ethos de posição, tal como desenvolvido por Pierre Bourdieu, para o estudo das RS. O

conceito ajuda a pensar nas construções identitárias profissionais, nas quais se

manifestam as impressões subjetivas sobre seu próprio labor, como um tipo de prática

social. Conforme Domingos Sobrinho (2000) as experiências acumuladas ao longo da

trajetória histórica de um grupo produzem os esquemas de percepção, de pensamento e

de ação que guiam os indivíduos, assegurando-lhes a conformidade e constância de

certas práticas através do tempo. As pessoas que dispõem de um mesmo habitus, mesmo

nos conflitos, se compreendem apenas com meia palavra.

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Coloca o autor que o habitus produz, incessantemente, percepções,

representações, opiniões, desejos, crenças, gestos e toda uma gama interminável de

produções simbólicas. Para Bourdieu, conforme Domingos Sobrinho (2000), é o habitus

que permite articular dialeticamente o ator social e a estrutura social, recuperar o agente

social negligenciado pelo objetivismo e ceder lugar à interação, enfatizada pela

fenomenologia. Para ele “[...] a partir da construção das representações dos diferentes

objetos em disputa dentro de um campo particular do espaço social, que um

determinado grupo vai construindo os traços distintivos de sua identidade”

(DOMINGOS SOBRINHO, 2000, p. 120).

O discurso dos profissionais de Relações Públicas no Facebook coloca em

circulação sentidos, crenças e conhecimentos, cuja gênese é o senso comum. Nele estão

presentes as tensões, que impulsionam mudanças no convencional e no prescritivo e o

fato destes participarem de um mesmo habitus proporciona moldar a identidade

profissional. A seguir, vejamos como se manifestam as tensões nessas representações.

3. As Tensões nas Representações sobre o Profissional de Relações Públicas no

Facebook

Na “teoria do senso comum” das práticas profissionais de Relações Públicas há

conformidades e desacordos, alguns mais persistentes, outros mais recentes, alguns mais

difusos, outros mais resumidos, em constante circulação nas interações sociais dos

especialistas da área, o que é característico das RS. Na identificação dessas tensões,

recorremos à Jovchelovitch (2008). Nossa análise busca, segundo diagrama da autora,

trazer as dimensões das representações sobre as práticas profissionais das Relações

Públicas: 1) a partir dos próprios profissionais da área; 2) quando em inter-atuações pela

rede social Facebook; 3) sobre suas realizações, expectativas e opiniões presentes,

passadas ou futuras, ou as de seus colegas; 4) imbuídos de motivos e intenções pessoais

e emocionais; 5) em suas pertenças relativas a esse mundo profissional.

Para analisar as representações sobre as práticas da profissão de Relações

Públicas, recortamos textos de profissionais da área publicados no Facebook e optamos

pela Análise de Conteúdo, que segundo Bardin (1977), visa obter indicadores

(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às

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condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens. Como analisamos

práticas profissionais, utilizamos a proposta de Dubar (2012), para quem a socialização

profissional toma o trabalho como um processo de construção e reconhecimento de si.

Ao buscarmos material na Web, que conforme Recuero6 (2014), permite que as

interações sejam percebidas, mantendo os rastros sociais dos atores registrados,

possibilita, também, o acesso às postagens em um site de redes sociais até que o autor

da mesma as apague ou a página saia do ar. Como salienta Alf (2015), as redes sociais

são ambientes propícios a diálogos e para que se formem grupos de relacionamento em

torno de discussões comuns. Expõe ele:

É por meio das redes sociais que profissionais, estudantes esimpatizantes das Relações Públicas estão se encontrando. É ummovimento que vem ganhando força, uma troca silenciosa e ao mesmotempo barulhenta de angústias, ideias e ideais. A internet não será ocomeçou ou o fim, mas sim o meio de permitir tudo isso (ALF, 2015, p.10).

A partir da análise dos textos e das imagens dos profissionais de Relações

Públicas publicadas no Facebook, destacamos algumas sequências que expressam as

principais tensões nas representações do profissional das Relações Públicas no Brasil.

As agrupamos por temas: Conceito de Relações Públicas; Academia versus Mercado;

Identidade Profissional; Sistema CONFERP; e Práticas Profissionais.

No Facebook há várias páginas específicas de Relações Públicas e as

selecionadas são: RP Brasil7, ABRP RS SC8, Fala Mais RP9, RP Depressão10, RP +

RP11, Versátil RP12, CONFERP13 e CONRERP 4ª Região14. Nestas, analisamos as

tensões nas representações sobre as práticas do profissional de Relações Públicas, entre

os seguidores (profissionais de Relações Públicas, estudantes e simpatizantes), durante

o período de 1º de agosto de 2015 a 24 de dezembro de 2015, incluindo aí o Dia

6 A autora fala ainda que o Facebook congregava, em maio de 2013, mais de 1,1 bilhões de usuários ativos dos quaismais de 70 milhões deles estão no Brasil hoje.7 Disponível em <https://www.facebook.com/rpbrasil/?fref=ts>. Acesso em 02/12/20158 Disponível em <https://www.facebook.com/abrprssc/?fref=ts>. Acesso em 02/12/20159 Disponível em <https://www.facebook.com/falamaisrp/?fref=ts>. Acesso em 20/11/2015.10 Disponível em <https://www.facebook.com/rpdepressao/?fref=ts>. Acesso em 11/12/2015.11 Disponível em <https://www.facebook.com/RPmaisRP/?fref=ts>. Acesso em 22/08/2015.12 Disponível em <https://www.facebook.com/VersatilRP/?fref=photo>. Acesso em 02/12/2015.13 Disponível em <https://www.facebook.com/SistemaConferp/?fref=ts>. Acesso em 01/09/2015.14 Disponível em <https://www.facebook.com/conrerp4/?fref=ts>. Acesso em 20/10/2015.

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Nacional das Relações Públicas no Brasil, 2 de dezembro, em que ocorreram diversas

manifestações.

A partir da análise do material publicado observamos a formação de três

categorias, eixos temáticos ancorando as representações sociais sobre a profissão: a)

Reconhecimento da profissão de Relações Públicas no Brasil; b) As redes sociais e o

profissional de Relações Públicas e c) “Crise” de identidade na profissão de Relações

Públicas. A seguir, a caracterização de cada uma delas, considerando as imagens e os

textos postados que fazem referência aos atributos dos profissionais de Relações

Públicas no Facebook.

3.1 O reconhecimento da profissão de Relações Públicas no Brasil

Neste eixo temático, trabalhamos dois elementos: conceito de Relações Públicas

e práticas profissionais. Em relação às representações do profissional de Relações

Públicas observamos que, mesmo passado um século do início da profissão no País, ela

é menos reconhecida do que deseja a categoria, que anseia por visibilidade social, como

verificamos nas postagens que fazem referência às compreensões sobre a profissão.

Figura 1 Figura 2

Fonte: Facebook RP + RP Fonte: Facebook Versátil RP

Na Figura 1, aparece a frase: “Você sabe o que é caviar? E Relações Públicas?”;

e, na Figura 2, “2 de dezembro Dia Nacional das Relações Públicas. Sério? O que eles

fazem?”. Identificamos a alusão ao fato de muitos não saberem o que é a profissão e o

que os relações-públicas fazem.

Aqui percebemos como o habitus de Domingos Sobrinho (2000), configura-se

entre os relações-públicas que interagiram na publicação em torno da falta de

entendimento da profissão. Os seguidores da página identificam-se entre si e conversam

sobre essa recorrente tensão da área, como verificamos pelos comentários: “mas não era

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só as pesquisas de público alvo? e café?”; “Luan Felipe, agora você sabe o que eu

faço”; “Todo santo dia a mesma pergunta, né? Ainda bem que amamos RP e adoramos

falar sobre o assunto”. Os que se manifestaram em torno desse conteúdo demonstraram

que compreendem o contexto e a falta de espaço para o profissional, reforçando assim, a

presença de representações que depreciam as Relações Públicas no Brasil.

A estratégia de comunicação expressa na (Figura 1) associa a música

popularmente conhecida “Caviar” de Zeca Pagodinho, a um produto, no senso comum,

considerado símbolo de “sofisticação” e de consumo elitizado, para explicar o que é a

profissão de Relações Públicas. Mostra que as competências do profissional são pouco

conhecidas pela sociedade.

Muitos profissionais não se identificam como relações-públicas, o que dificulta

o seu reconhecimento social. Além disso, muitas competências que compõem as

práticas profissionais dos relações-públicas possuem diferentes terminologias na área o

que contribui para encobrir a identidade dos profissionais. Na figura 4 (abaixo), onde se

indaga: “Relações Públicas é igual a marketing? É jornalismo? É publicidade?”.

Observamos que o profissional é identificado e, muitas vezes, confundido com outros

profissionais da área da Comunicação Social: jornalistas e publicitários. Nos

comentários desse post, vemos as seguintes expressões: “Não! Publicitários e

marqueteiros são respeitados no mercado”, “Relações Públicas? O que é isso? Nunca

ouvi falar!” As frases explicitam como os profissionais se autopercebem no mercado e

como isso auxilia na construção da identidade da profissão. Na figura 3 (abaixo) a

estratégia de comunicação positiva ao anunciar o profissional de Relações Públicas está

associada a celebridades conhecidas nacional e internacionalmente. As frases dos

comentários reforçam esse aspecto: “Relações Públicas transformam pessoas comuns

em heróis de verdade”. Esse post gerou comentários positivos dos seguidores da página,

como “Orgulho que não cabe aqui!” e “RP para sempre”.Figura 3 Figura 4

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Fonte: Facebook Fala mais, RP Fonte: Facebook RP Depressão

Vimos que circulam nas práticas comunicativas diferentes representações sobre

os profissionais de Relações Públicas. Elas remetem a sentidos positivos e negativos

sobre as práticas da profissão, ao mesmo tempo em que expõe as fragilidades do

profissional no processo de construção da identidade do grupo.

3.2 Tensão em relação à formação acadêmica do relações-públicas e o mercado

Neste eixo que envolve a tensão nas representações do profissional entre a formação

acadêmica e as exigências do mercado observamos nas Figuras 5 e 6, a importância da

atualização (Figura 6) e autores que são base para as Relações Públicas durante a

graduação (Figura 5).

Figura 5 Figura 6

Fonte: Facebook RP Depressão Fonte: Facebook ABRP RS/SC

Na figura 5, que faz uma homenagem ao Dia do Professor, são citados autores

principais das teorias de Relações Públicas: “Prova de quinta: Kunsch, Simões,

Peruzzo, França, Lágrimas”. De forma bem humorada, a página fala sobre assuntos que

são habituais em provas da graduação em Relações Públicas e nos comentários os

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seguidores identificam-se e contribuem: “Lágrimas é um assunto fixo nas minhas

provas”, “Falta o Gruning15 e a Ferrari”.

Retomamos com esse post o conceito de themata de Moscovici (1984-2003), ao

nos depararmos com reflexões, ideias e representações que são apontadas por discursos.

Ou seja, os conceitos que os profissionais da área utilizam, geralmente transmitidos por

professores e autores da área. As concepções a respeito do curso de graduação e as suas

práticas são impostas através dos conteúdos das disciplinas que compõem a grade

curricular do curso de Relações Públicas

A formação em Relações Públicas é ampla, o que possibilita que o profissional

atue em várias áreas, por exemplo: eventos, comunicação interna, gerenciamento de

crises e planejamento de comunicação. Segundo Simões e Dornelles (2012), muitos

profissionais focam na atualização para estarem mais preparados, inclusive por conta de

a graduação destacar mais superficialmente alguns assuntos. Como na Figura 6, que traz

um curso específico de “RP e Comunicação Governamental”. Sabemos que essa

abrangência da área pode ser favorável, mas não é percebida, pois os profissionais de

Relações Públicas são contratados para exercerem atividades variadas, com

especificações diferentes.

Assim, percebe-se que há uma tensão entre a formação acadêmica e atuação no

mercado, entre o “universo reificado” da ciência das Relações Públicas e o “universo

consensual” das práticas da profissão (MOSCOVICI, 1984-2003).

3.3 “Crise” de identidade na profissão de Relações Públicas

Para analisar o eixo “crise” de identidade deste profissional dividimos as

imagens nas subcategorias: Identidade Profissional e Sistema CONFERP, conforme as

Figuras 7, 8, 9 e 10, que seguem.

• Identidade Profissional:

Figura 7 Figura 8

15 O nome correto do autor é James E. Grunig.

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Fonte: Facebook RP Brasil Fonte: Facebook ABRP RS/SC

• Sistema CONFERP:Figura 9 Figura 10

Fonte: Facebook Conferp Fonte: Facebook Conrerp 4ª Região

Observamos que nas manifestações das publicações há menções sobre o

desconhecimento em relação à profissão. Ao mesmo tempo aparece um post com a

seguinte frase (Figura 8): “02 de dezembro – Dia Nacional das Relações Públicas. A

melhor profissão da galáxia”16. Isso é reforçado no seguinte texto: “Quem concorda

compartilha. A profissão de Relações Públicas vem crescendo e ocupando espaços

cada vez maiores e importantes no mercado. Este espaço requer que o profissional se

prepare, tenha as ferramentas certas e esteja pronto para enfrentar todas as

adversidades. É hora de comemorar suas conquistas e parabenizar todos os

profissionais!” (Figura 8). Nos comentários os seguidores manifestam-se em apoio,

elevando a autoestima com a frase “A melhor de todas!”. Essa frase, de efeito positivo,

motiva os profissionais a buscar possibilidades de um futuro melhor para as Relações

Públicas no Brasil.

16 Postagem que obteve 41 compartilhamentos, gerando um número considerável de envolvimento dos seguidores dapágina da ABRP RS/SC – Associação Brasileira de Relações Públicas – Rio Grande do Sul/ Santa Catarina.

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Nesse sentido, a posição da seccional gaúcha e catarinense da ABRP, tem

desempenhando seu papel, incentivando a participação da categoria, em especial, na

comemoração da sua data máxima. Como ressaltam Alves e Lazzarini (2014) é

imprescindível que “[...] os novos profissionais continuem, ainda mais com o centenário

da profissão, a divulgar o que fazem, terem orgulho disso e tornar a profissão conhecida

e admirada pela população. Este continua sendo o grande desafio da categoria”.

No post da página RP Brasil (Figura 7)17, a mensagem era: “É HOJE! Parabéns

para você que veste a camisa e tem orgulho de ser RP! Parabéns a todos que lutam

diariamente pela valorização da profissão no nosso país! Parabéns profissionais,

professores, estudantes e vestibulandos de RP. Hoje é nosso dia! Pode ser um pouco

complicado explicar o que é um RP, mas mais complicado ainda é explicar a paixão

pela profissão!”. O texto publicado pela RP Brasil refere, principalmente, à luta diária

dos profissionais, pelo apelo e entusiasmo de quem está nessa área, mesmo, em muitos

casos, não sendo reconhecido pelas suas ações e melhorias.

Vemos que esse tipo de manifestação repercute diretamente na visão do

profissional, pois possibilita que o mesmo perceba seu desempenho no mercado de

trabalho, o que auxilia na construção da sua identidade profissional. A esse respeito

Oliveira et al (2014, p. 311) afirmam:

Podemos, assim, aventar que a falta de valoração e reconhecimento daatividade de relações públicas causa o enfraquecimento da identidadeda profissão. Por sua vez, isso influencia negativamente aautopercepção e a identidade individual daquele profissional que tentaexercer a função de relações-públicas sem encontrar no mercadoespaços onde atuar, levando-o a buscar e/ou assumir outro papel e/ouidentidade. Em outras palavras, a sociedade e o mercado de trabalhopodem não confirmar ou confirmar, reforçar ou negar, e desencadearum processo de (re) construção da identidade profissional e individual(OLIVEIRA et al, 2014, p. 311).

Observamos que há um esforço tanto de profissionais quanto da associação e do

conselho de classe pelo aumento da estima e exposição das Relações Públicas. O

conselho da categoria – CONFERP18 - busca atrair os profissionais e mantê-los

atualizados através da sua participação em congressos e cursos, como vemos pelas duas

17 O recado promoveu engajamento de muitos seguidores, tendo 1.445 compartilhamentos, 179 comentários e 1.767curtidas.18 Conselho Federal dos profissionais de Relações Públicas.

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publicações que escolhemos na categoria “Sistema CONFERP” (Figuras 9 e 10). O

Conselho criou a hashtag “#façopartedotimerp” apresentando especialistas da área e

discorrendo sobre a necessidade do registro profissional, pois há muitos profissionais

que o fazem. No entanto, o registro é necessário para exercer a profissão. Aí

percebemos mais uma tensão em relação ao Sistema CONFERP e o objetivo da

campanha desenvolvida no Facebook, mostrando os relações-públicas com o seu

registro profissional. Entendemos que esses fatores e os cursos de graduação das

universidades contribuem para gerar a identidade profissional dos relações-públicas.

4. Conclusões

Percebemos com o estudo que as tensões nas representações do relações-

públicas sobre sua prática profissional configuram themata – conceito que valoriza as

reflexões sobre temas que pré-existem num “ambiente” sociocultural específico. Assim

considerando, tornou-se “senso comum” desta profissão, ausências de prestígio

profissional, o que está “enraizado” nas relações internas.

O engajamento da categoria profissional nessa rede, ao buscar a “gênese” das

representações, configurou nas tensões dialógicas a themata entre a formação

acadêmica e posterior aplicação desse universo de conhecimentos no mercado de

trabalho. E, na sequência, conformou a “crise” de identidade, com o questionamento do

papel do conselho de classe.

Ao retomar a indagação inicial - analisar como as tensões nas representações

sobre a profissão de Relações Públicas repercutem na construção identitária deste

profissional - verificamos que as páginas analisadas do Facebook se constituem em um

lugar de mediação. Os membros da categoria, ao compartilharem suas representações,

elaboraram um guia de ação do grupo sobre suas práticas profissionais.

Entendemos que a continuidade de pesquisas nesta temática para aprofundar

estudos acerca destas representações sociais e da identidade profissional dos relações-

públicas é necessária. A incessante elaboração de “universos consensuais” requer

investigações renovadas, que auxiliem na compreensão histórica da formação da

categoria, que há pouco mais de 100 anos, iniciou as atividades no Brasil.

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