resenha - etnografia e imaginação histórica - jean e john comarrof

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Nesta primeira parte do texto Etnografia e imaginação histórica, Jean e John Comarrof, elencam a dicotomia etnografia e história imputada por múltiplos segmentos teóricos – esta para o conhecimento do mundo “moderno”, e a outra para o conhecimento das comunidades ditas “tradicionais” – como uma herança das visões evolucionistas do século XIX ainda impregnados em nossas teorias à luz da perspectiva ocidental. Que essa divisão entre tradição e modernidade só ocorre a nosso olhar que persiste na recusa em enxergar modernidade à grupos não-ocidentais. Dessa forma é importante pensar essas ditas populações “tradicionais” não como um segmento isolado das interações do mundo ocidental e estancadas dos processos de transformações históricas, mas como comunidades que sofreram processos de mutação com as suscetíveis interações, como por exemplo, em experiências de colonização. Ou seja, os autores se situam na perspectiva de que todo e qualquer grupo social existe no tempo (existe na história, e detém sua história) e que permanecem instáveis sofrendo os dinamismos por estar situado em esferas sociais mais amplas (globais). Nesse sentido: Precisamos da etnografia para conhecer a nós mesmos, assim como temos necessidade da história para conhecer os outros não- ocidentais. Porque a etnografia serve, ao mesmo tempo, para tornar estranho o que é familiar e familiar o que é estranho, e ainda mais para compreender ambos (COMAROFF, J; COMAROFF, J. Etnografia e imaginação histórica. 2010. Pp 8). Para tanto se faz necessário olhar o mundo ocidental como um problema antropológico, assim como, também, desenvolver uma antropologia historicizada, dado que, segundo os autores, “Uma teoria da sociedade que não seja também uma teoria da história, ou vice-versa,

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Resenha do texto Etnografia e imaginação histórica dos autores COMAROFF, J & COMAROFF, J.

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Nesta primeira parte do texto Etnografia e imaginao histrica, Jean e John Comarrof, elencam a dicotomia etnografia e histria imputada por mltiplos segmentos tericos esta para o conhecimento do mundo moderno, e a outra para o conhecimento das comunidades ditas tradicionais como uma herana das vises evolucionistas do sculo XIX ainda impregnados em nossas teorias luz da perspectiva ocidental. Que essa diviso entre tradio e modernidade s ocorre a nosso olhar que persiste na recusa em enxergar modernidade grupos no-ocidentais.Dessa forma importante pensar essas ditas populaes tradicionais no como um segmento isolado das interaes do mundo ocidental e estancadas dos processos de transformaes histricas, mas como comunidades que sofreram processos de mutao com as suscetveis interaes, como por exemplo, em experincias de colonizao. Ou seja, os autores se situam na perspectiva de que todo e qualquer grupo social existe no tempo (existe na histria, e detm sua histria) e que permanecem instveis sofrendo os dinamismos por estar situado em esferas sociais mais amplas (globais). Nesse sentido:Precisamos da etnografia para conhecer a ns mesmos, assim como temos necessidade da histria para conhecer os outros no-ocidentais. Porque a etnografia serve, ao mesmo tempo, para tornar estranho o que familiar e familiar o que estranho, e ainda mais para compreender ambos (COMAROFF, J; COMAROFF, J. Etnografia e imaginao histrica. 2010. Pp 8).Para tanto se faz necessrio olhar o mundo ocidental como um problema antropolgico, assim como, tambm, desenvolver uma antropologia historicizada, dado que, segundo os autores, Uma teoria da sociedade que no seja tambm uma teoria da histria, ou vice-versa, dificilmente pode ser considerada uma teoria (COMAROFF, J; COMAROFF, J. Etnografia e imaginao histrica. 2010. Pp 16).Sendo caracterstico da etnografia geralmente o estudo de grupos sociais que mantm um distanciamento do nosso, fundamental que se tenha em mente que a etnografia no tem o poder de falar por esses grupos, muito menos a partir de seus respectivos pontos de vista, porm, simplesmente, falar sobre eles. A representao de uma realidade social em sua totalidade inconcebvel, ainda mais pela tica do nativo, quer seja pela imaginao, ou mesmo pela empiria. Logo, reconhecer a autoridade do antroplogo de falar pelo outro se d puramente pela arrogncia de determinados segmentos da disciplina. Nesta perspectiva, segundo destacam os autores, Tudo o que o historiador e o etngrafo conseguem fazer, e tudo o que se pode pedir-lhes para fazer, alargar uma experincia particular s dimenses de uma experincia (...) mais geral(COMAROFF, J; COMAROFF, J. Etnografia e imaginao histrica. 2010. Pp 9).Na perspectiva das relaes de poder no processo de produo Etnogrfica, os autores colocam que o Poder em si no esta acima nem fora da cultura e da histria, e que esta diretamente envolvido em suas construes e determinaes. Nesse sentido, continuam, o poder no pode ser adicionado ao interesse dos estudos antropolgicos apenas na tentativa de responder a grandes questes da histria e da sociedade, mas como componente destes, indissocivel.Os autores colocam ainda o poder como uma qualidade intrnseca do social e do cultural; em resumo, sua capacidade de determinao.Ele pode aparecer como a capacidade dos seres humanos de moldarem a vida dos outros atravs do controle sobre a produo, a circulao e o consumo de signos e objetos, sobre a formao tanto das subjetividades quanto das realidades.Sugerindo uma distino entre modalidades de poder e agncia os autores trazem a discusso s diferenas e relao entre ideologia e hegemonia que podem ser consideradas como as duas dimenses de poder em qualquer cultura. Os autores iro explicar ainda estas diferenas: Aqui reside, portanto, a diferena bsica entre hegemonia e ideologia.A hegemonia consiste em construtos e prticas convencionais que j permeiam uma comunidade poltica; a ideologia tem sua origem nas afirmaes de um grupo social particular.A hegemonia est alm da argumentao direta; a ideologia tende a ser percebida como uma questo de opinies e interesses conflitantes e est, portanto, mais sujeita contestao.A hegemonia, quando mais eficaz, muda; a ideologia convida argumentao.Em outro de seus trabalhos os autores aprofundam estas questes para explorar a conscincia e a representao, a agncia histrica e a prtica social, a dominao e a resistncia, as ordens sociais globais e locais e a poltica e a cultura do colonialismo.No titulo Etnografia e imaginao histrica, se debruaram na pretenso de apresentar uma ideia mais geral:de que possvel, para a antropologia, viver tranquilamente com o conceito de cultura e defend-lo de forma convincente contra seus crticos, como declararam. Tendo dito ainda que isso requer, muito embora, que tratemos a cultura como um campo semntico em mutao, um campo de produo simblica e prtica material permeado pelo poder de modos complexos.Em suma, longe de ser redutvel a um sistema fechado de signos e relaes, o mundo dos significados sempre fluido e ambguo, um mosaico parcialmente integrado de narrativas, imagens e prticas de significao.