resolução de conflitos nas escolas · mora no complexo da maré, bairro da zona norte do rio de...

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Rio de Janeiro 2014 Resolução de Conflitos nas Escolas: Experiência do 2° Ano do Projeto Educação Para a Paz

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Rio de Janeiro

2014

Resolução deConflitos nas Escolas:

Experiência do 2° Ano do Projeto Educação Para a Paz

Realização:

Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos

Patrocínio:

Petrobras

Apoio Institucional:

Partners for Democratic Change InternationalSecretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro

Instituto RioGE Foundation

Escolas Participantes do Projeto

E.M. Marechal Mascarenhas de MoraesCIEP Operário Vicente Mariano

E.M. Escritor Bartolomeu Campos de QueirosE.M. Professor Souza Carneiro

E.M. Teotônio VilelaE.M. Professor Josué de Castro

E.M. Emílio CarlosE.M. Lima Barreto

Copyright © 2014 por Associação Partners do Brasil - Centro de Colaboração Democrática

Asmar, GabrielaResolução de Con�itos nas Escolas: Experiências do 2° ano do Projeto Educação para a Paz /

Associação Partners do Brasil ; [ capa Tebhata Spekman ]. – 1 ed. Rio de Janeiro : Parceiros Brasil - Centro de Processos Colaborativos, 2014.

64 p. ; 21 cm (broch.)

Parceiros Brasil – Centro de Processos ColaborativosEndereço: Av. Rio Branco, 151, Grupo 404, Centro - Rio de Janeiro, RJ.Telefone: +55 21 2507 1850 e-mail: [email protected]: www.parceirosbrasil.org

Resolução de Con�itos nas Escolas:Experiência do 2° ano do Projeto Educação Para a Paz

Gabriela Asmar1a Edição

1a tiragem – junho 2014 – 600 exemplares

Diretora ExecutivaGabriela Asmar

OrganizadoresLuciana GerberFred Hanson

Fotogra�aEquipe Parceiros BrasilFelipe BaenningerLetícia Santanna

Diagramação e Capa (Projeto editorial):Tebhata Chapim da Silva Spekman

Prefácio

Por Amélia Gonzales, jornalista

Raquel tem 15 anos, é uma jovem bonita. Tem um olhar doce, um jeito de quem sabe o que quer. Mora no Complexo da Maré, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro que no Censo de 2006 registrou 130 mil moradores. São diversas favelas reunidas com um dos mais baixos indicadores sociais do

-res bem tensa.

Assim, Raquel não é uma jovem despreocupada e distraída, como te-ria todo direito de ser. Percebe-se isso pelo jeito de se sentar, empertigada na cadeira, anotando tudo, sempre muito atenta. Por indicação de professores e alunos da escola que frequenta, a Teotônio Vilela, municipal, a jovem hoje faz parte do time de sete estudantes que estão sendo capacitados pelos facili-tadores Natalie Hanna e Leonardo Voigt. Trata-se do projeto de mediação de

fundadora do Parceiros Brasil.

Conheci Raquel numa manhã de segunda-feira chuvosa em que esti-

jovens e os facilitadores. No caminho a pé da entrada da favela até o colégio, o que vi foi o triste cenário de sempre: grupos de homens armados, um tronco de árvore imenso atravessado no caminho para interceptar quem não é da área. São situações já comuns para quem mora no Rio de Janeiro. O impacto,

colégios desses locais. Um imenso portão fechado com cadeado e grades em muitas das salas faz a escola parecer um presídio. A comunidade da Maré,

Mas quando cheguei à sala especialmente reservada pela direção da escola só para as aulas de mediação, percebi que, ao menos naquele instante,

certo nervosismo, sim, mas por outro motivo. Raquel e mais cinco amigos estavam sendo preparados por Natalie e Leo para contarem suas experiências como mediadores num evento do Ministério Público e da Secretaria Munici-

-mente tensos, o que deixou claro seu comprometimento com o projeto.

Feitas as apresentações, logo eu já estava conseguindo ouvir histórias. Raquel contou-me que sua apostila com as técnicas aprendidas tem tamanha importância que está guardada embaixo de sua cama, o lugar mais seguro. Já Wesley, com 14 anos, conseguiu sintetizar numa frase o que pode ser um dos pilares para o sucesso do Educação Para a Paz:

- Nossa linguagem é a mesma dos alunos que precisam de mediação. -

Raquel, Samuel, Vanessa, Wesley... são jovens que moram em luga-

arma apontada para a cabeça. Mas, no último ano, esses e outros adolescentes de oito escolas cariocas acrescentaram à sua realidade uma nova ferramenta: o diálogo. É assim que o Educação Para a Paz ensina.

A aula de Natalie e Leo começa com uma espécie de terapia de gru-po. “Alguém tem algo para contar do que aconteceu em casa?” Penso que seria muito bom se essa mesma atitude fosse habitual nas aulas comuns. Samuel, sotaque nordestino, jeito de quem se esforça para viver a vida ale-gremente, num desses momentos já comentou com os facilitadores que pretende ir embora, quer voltar para o lugar onde nasceu, em Pernambuco, porque não se habituou com a violência do local. Mas ali, naquele instante, ele estava à vontade.

Sumário

Apresentação ............................................................................ 9

Quem Somos ........................................................................... 11

O Projeto Educação Para a Paz .............................................. 15

Metodologia ............................................................................ 20

Currículo Básico ..................................................................... 22

Programa de Mediação entre Alunos ...................................... 25

Resultados - Nas palavras dos Nossos Colaboradores ........... 29

Resultados - Nas Palavras da Nossa Equipe .......................... 34

Resultados - Nas Palavras dos Alunos Mediadores ............... 40

Resultados - Em Números ...................................................... 46

Além dos Muros da Escola ...................................................... 51

Saiu na Mídia ........................................................................... 56

Epílogo .................................................................................... 61

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Apresentação

Nas próximas páginas, serão compartilhadas as experiências, resul-tados e lições aprendidas do segundo ano do Projeto Educação Para a Paz

– Centro de Processos Colaborativos em parceria com a Secretaria Munici-pal de Educação do Rio de Janeiro e patrocinado pela Petrobras. Apresen-taremos, também, depoimentos e relatos de diferentes atores envolvidos

Mediação entre Alunos.

Boa leitura!

A equipe Parceiros Brasil

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Quem Somos

O Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos é uma organi--

Partners for Democratic Change International -borativos, inclusivos e participativos em mais de 50 países. No Brasil, desde 2009, temos o objetivo de desenvolver cidadãos comprometidos com a cons-trução de uma sociedade sustentável, mais justa e democrática.

rumo ao Leste Europeu e criou o primeiro centro do que veio a ser a rede Partners for Democratic Change

-dades necessárias à transição democrática sustentável, bem como impulsio-

do mundo, sempre através de lideranças locais. Uma vez consolidados di-

locais também nas Américas, África e Oriente Médio. Todos estas organiza-hub Partners for Democratic

Change International, baseada em Bruxelas.

-

consolidações democráticas em diversos países, adaptando e aplicando suas -

conhecimento internacional através das lideranças locais.

-

Jordânia, Polônia, Romênia e Colômbia.

Troca de experiências entre os centros do

Brasil, Eslováquia e Kosovo.

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O centro brasileiro, Parceiros Brasil, foi criado devido a uma verba

-movendo a Mediação e outros métodos colaborativos há mais de 14 anos no

-

“Em 2011, quando entrevistei a advogada Gabriela As-mar por conta de seu interesse específico na mediação de conflitos, estava fazendo contato com o princípio do Educação pela Paz. Naquela época, Gabriela focava sua atuação junto a corporações, mas já planejava ensinar a técnica nas escolas, a exemplo da americana Gail Sadalla (pioneira na adaptação da mediação comunitária ao contexto escolar).

--- Tenho plena convicção de que, quanto antes pudermos atuar nos processos decisórios, melhores e menos caros serão os re-sultados. Constato que há a necessidade de ser um trabalho a lon-go prazo. Não vamos mudar o ambiente da Maré em três, mas em 15 anos, tempo suficiente para que esses jovens que treinamos agora se tornem adultos com capacidade de decisão – disse-me Gabriela na sexta-feira dia 29 de novembro, quando aconteceu o evento no Ministério Público”.

como prioridades, a partir de um longo diagnóstico em nível nacional, pro-gramas que levem à redução da violência nas escolas, dentre os quais se inse-

-

a maior compreensão do empresariado leve a investimentos mais sustentá-veis no campo social.

Além do Projeto Educação Para a Paz, patrocinado pela Petrobras des-de 2011, desenvolvemos outros projetos e novas parcerias com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e UNESCO. No Projeto “Paz nas

Amelia Gonzales, jornalista

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gestores das 152 Escolas do Amanhã. Eles têm colaborado para a dissemina-ção desta nova cultura para um grupo maior de gestores de escolas da rede municipal do Rio de Janeiro.

-çado por alguns jovens, a mudança positiva do clima escolar e a multiplicação

-

pela Fundação Banco do Brasil devido à metodologia de Resolução de Con-

considerada uma tecnologia social, por operacionalizar comportamentos, com um novo padrão de consciência, para tornar as interações humanas mais produtivas e sustentáveis.

O Projeto Educação Para a Paz

parceira com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e patroci-nado pela Petrobras, está presente nas escolas da rede municipal, localizadas

-

foi renovado para mais 2 anos.

por participar do Projeto, após participarem de um evento de sensibilização

internacional, o exercício da opção pela participação é fundamental para o en-gajamento da comunidade escolar e para que os resultados alcançados sejam sustentáveis para além do tempo do Projeto.

“Samuel é um adolescente de 16 anos. Ele é nordestino e veio morar com parentes no Complexo da Maré em busca das tais opor-tunidades da cidade grande. Deixou pra trás o convívio familiar em nome de um sonho maior. Há pouco mais de um ano, Samuel entrou em contato com o Projeto Educação Para a Paz e resolveu, não sabendo definir bem as razões, fazer parte do curso oferecido. Ele aprenderia técnicas de resolução de conflitos. No início ele achou que o curso lhe oferecia o risco de ser reconhecido como um X9, delator, e que acabaria se metendo nos problemas de outras pessoas. Mas, ao longo das aulas, foi entendendo que aprenderia formas de Comunicação Não Violenta (CNV). Em sua primeira mediação de conflitos, Samuel fez diversas perguntas que ajudaram as partes a entrarem num acordo. Naquela sexta-feira não houve briga na esco-la. Mas Samuel mora num lugar que é alcunhado de Complexo. E não é simples para nosso aluno ver como algumas das técnicas que aprendeu, estão restritas ao uso escolar.

A Maré é um conjunto de 16 favelas com cerca de 130 mil mo-radores. Ela se estende ao longo da Avenida Brasil. Desde a década de

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1940, moradores do Nordeste brasileiro, em busca de melhoras formas de existência, construíram as primeiras casas de palafita no terreno que era ainda alagado. A falta de políticas públicas gerou não apenas o crescimento desordenado, característico de áreas de favelas, como também permitiu a atuação do Tráfico de Drogas na região, e com ele, armamento pesado para dar conta de combater possíveis inva-sões, tanto de facções rivais, quanto da polícia. Grandes autoridades na favela da Maré, os traficantes e os policiais, sabem pouco sobre CNV. E é aí que nossos alunos se sentem impotentes. Eles se percebem como parte pequena de uma engrenagem que insiste na manutenção de um tratamento hostil e muitas vezes armado, gerador de outros conflitos. Passando por tiroteios numa frequência quase que diária e sem saber o que esperar das promessas de Pacificação do bairro - mas conhecendo o panorama apresentado por outras regiões da cidade que já foram pacificadas -, Samuel decidiu que por maiores que sejam as oportunidades que o Rio ofereça, seu bem primário é a vida e por ela decidiu voltar ao Nordeste.

Ele agora sonha com uma Maré onde policiais interfiram nos problemas da comunidade com gentileza. Ele vislumbra simpli-ficar o Complexo através do diálogo. Samuel, “é nós”!”

Letícia Santanna, facilitadora PB

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Em 2012/2013, continuamos implementando nas escolas do Rio de -

do as oportunidades para professores e alunos aprenderem e praticarem

são uma plataforma para a construção de habilidades para todas as relações,

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“O foco do projeto é que os conflitos sejam resolvidos de uma forma mais harmoniosa, que as pessoas possam entender o que as levou àquele momento e que reajam de uma forma positiva. Assim, os con-flitos não ficam tão violentos e podem ser resolvidos numa conversa”.

O Projeto EPP requer o envolvimento de professores e alunos, e ou-tros membros da comunidade escolar, na criação de um ambiente seguro de aprendizagem e promoção de uma cultura de paz. Os objetivos são alcança-dos através da aquisição e aplicação de habilidades de comunicação efetiva e não-violenta, gerenciamento de emoções, negociação colaborativa e media-ção. Este modelo inclui o componente fundamental de mediação entre alunos,

desenvolve sua capacidade de assumir responsabilidades e de decidir sobre as questões que os afetam.

Ao longo do ano, realizamos as seguintes atividades:

-bros da comunidade escolar;

-álogo, comunicação não-violenta, negociação colaborativa, e

-

diretoria e corpo docente, do processo de encaminhamento

-

comunidades escolares.

Para construir um programa forte e sustentável, contamos com o apoio e reforço da administração, de professores e pais/responsáveis. Com a implementação desta metodologia, percebemos, nessas escolas, a melhoria e

Isa Pinna

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avanços nítidos de comportamentos dentro e fora do ambiente escolar, prin-cipalmente nos alunos.

Patrick Juvino Machado, 9o ano, E.M. Lima Barreto

Projetos como este, que visam promover profundas mudanças sis-têmicas de comportamento, requerem tempo maior para que os resulta-dos cheguem a um nível ideal. Este é um Projeto que deve se converter em Programa, política pública, até que os estudantes mais velhos possam se tornar exemplos para os menores, perpetuando o ciclo de aprendizado.

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Metodologia

“O homem que começou (o projeto de mediação comunitá-ria) era um advogado norte-americano: Raymond Shonholtz. Ao longo de sua carreira, ele percebeu que a maioria dos conflitos que passavam pela Corte eram resolvido por um juiz ou outro profissional e, muitas vezes, as pessoas que tiveram seu conflito resolvido nessa instância não ficavam satisfeitas com a decisão. Ele pensou que deve-ria existir uma maneira mais satisfatória para as pessoas que vivem em uma comunidade, como vizinhos ou colegas de quarto, resolverem seus conflitos de uma forma que os ajudasse a melhorar a relação entre eles e que também resolvesse o problema.

Em 1982, muitos dos voluntários quiseram ver se eles pode-riam adaptar o programa de mediação comunitária para o ambiente escolar. E nós ensinamos aos jovens um processo bem simples para ajudar outros estudantes a resolverem seus conflitos. Na escola, eles usavam camisetas que diziam “mediador de conflitos” e, quando eles viam dois alunos tendo algum embate, eles perguntavam se queriam alguma ajuda. Caso aceitassem a ajuda, eles passariam por esse pro-cesso simples. Ao final, eles preencheriam um formulário com o acor-do e depois iriam embora.”

Gail Sadalla, pioneira na adaptação da mediação comunitária ao contexto escolar.

O Parceiros Brasil desenvolve e aplica metodologias baseadas na Mediação

capaz de cuidar dos laços afetivos, familiares e sociais, além de resolver os problemas que afetam o dia a dia nas escolas. A mediação empodera as pes-

Aprendemos, portanto, a conviver com as diferenças, expressar sentimentos

situações complexas e tomar decisões informadas e sustentáveis.

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“Gabriela Asmar, que há dois anos me segredou ser este seu projeto de vida, acredita que o Educação Para a Paz foi feito sob medida para o Rio de Janeiro. Mas adverte: nada pode ser feito se a diretoria do colégio não estiver de acordo e trabalhando junto com a equipe. Pensando no macro, Gabriela acredita que a metodologia usada pela sua equipe ainda é inovadora aqui para o Brasil:

----- Não adianta usarmos metodologia antiga para traba-lhar essas cabecinhas de hoje que já nascem multidisciplinares. Uma criança de 10 anos hoje tem acesso à quantidade de informações que o Einstein teve a vida toda. Ao mesmo tempo, na Maré, têm meninos me-ninos e meninas que nunca conheceram o mar, mas podem fazer con-tato via internet com uma pessoa que está no Japão. Por isso, quando falamos de conflito, hoje, precisamos trabalhar com a percepção, que é alguma coisa que cada um tem de maneira muito singular – disse ela.

O Educação Para a Paz, de fato, é capaz de apresentar à criança um tipo de comportamento diferente daquele com o qual está acostumada. E só assim, tendo chance de ganhar uma percepção múltipla, é que se pode apostar que os jovens de hoje vão ser capazes de construir uma sociedade menos binária, em que o sim e o não possam ser substituídos por um talvez.”

Amelia Gonzalez

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Currículo Básico

-

--

criação de um ambiente escolar positivo.

“Quando o aluno começa a ouvir mais o outro e a res-peitar mais o outro, o comportamento dele muda. Muda com o colega, muda com o professor, muda dentro de casa. Ele começa a levar esse conhecimento e essas habilidades que ele está desen-volvendo para outras áreas também. Dessa forma, começa a con-taminar positivamente os seus colegas, seus professores, seus pais, seus irmãos, sua comunidade.”

André RamosMunicipal de Educação do Rio de Janeiro

diálogo, comunicação não-violenta, gerenciamento de emoções, negociação

-amos, oferecemos a alunos de 5o a 9o anos do ensino fundamental a me-todologia de RCE, com o currículo focado em comunicação e negociação

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“O curso é importante, pois aprendi a me comunicar melhor com as pessoas e a controlar a raiva”.

Bruno de Lima Dias, 8o. ano, E. M. Marechal Mascarenhas de Moraes

“Eu adoro o curso, acho que isso vai me ajudar muito no futuro, no meu dia a dia. As técnicas que aprendemos vão ser levadas para toda a vida e isso deve ser repassado de geração em geração por-que eu acho que todos deviam ter esse pensamento”.

Thayany Yohana Ramos Ferreira, 8o. ano, E. M. Marechal Mascarenhas de Moraes

“Eu acho importante as aulas de resolução de conflitos nas escolas. Com as técnicas eu pude aprender a ser mais sincero com as pessoas, poder falar com mais clareza.”

Matheus Braga Reis da Silva, 8o. ano, E. M. Marechal Mascarenhas de Moraes

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Nossas aulas são uma mescla de teoria e dinâmicas, uso de técnicas

crianças e adolescentes privilegiamos as vivências antes de qualquer abor-dagem teórica. Para adultos, contextualizamos cada tema em teoria e apro-fundamos com dinâmicas.

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Programa de Mediação entre Alunos

Em um segundo momento, selecionamos e treinamos um grupo de alunos para atuar como mediadores entre seus pares, facilitando a comu-

ajudam outros alunos a encontrarem uma solução para os seus problemas.

“O método funciona assim: quando tem uma situação de conflito na escola, alguém pode pedir ajuda aos alunos mediadores. Só assim, sob demanda, é que eles atuam usando todas as técnicas para tentar desfazer o nó. Nas sessões com os facilitadores, durante um ano, são ensinados a ouvir mais do que falar, a usar a mensagem em primeira pessoa, a demonstrar seus próprios sentimentos quando estão fazendo a mediação. E tudo isso, claro, pode ser levado para sua vida em casa, com a família:

---- É um curso que pode mudar sua vida, de verdade – diz Raquel --- Na Maré quem tem poder é quem tem arma, daí que numa briga ou se sai ganhando, ou se sai perdendo. Na escola, a maior parte das brigas é por besteira, surreal. Mas quando se está fora da encrenca é mais fácil perceber isso --- disse Raquel.”

Amelia Gonzalez

quando fortes emoções interferem na sua capacidade de ouvir efetivamente, as negociações podem ser bloqueadas. Nesses casos, é bastante útil envolver um terceiro, neutro, para auxiliar os alunos em disputa na expressão e re-

estudantes treinados para agir como esses terceiros neutros no processo

entre Alunos com a equipe de direção e professores de cada escola, respei-

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Por que você deve ser selecionado para ser um aluno mediador? “Eu gosto de ajudar as pessoas. Não gosto muito de falar em público, mas para ser um mediador eu estou disposto a fazer qualquer coisa. Lá na minha rua eu separei uma briga, conversamos e eles voltaram a se falar. Eu quero ser um mediador de conflitos.”

André Silva Dutra, E. M. Lima Barreto, 1702.

Por que você gostaria de ser um mediador de conflitos? “Porque vai mudar a minha vida e a dos outros também. É muito importante. Vai melhorar a Lima Barreto com esse projeto, que é muito legal. Creio que eu vou ser mediador e a Lima Barreto vai ser uma das melhores escolas.”

Thiago Luis Conrado da Silva

-tida por um terceiro, que não tem poder decisório, mas ajuda as partes na busca de uma decisão. O objetivo da mediação não é determinar quem está certo ou errado, mas sim de ir à fonte do problema, buscar os elementos de solução e ajudar a resolvê-lo. O mediador conduz o processo, garantindo que cada parte seja escutada e compreendida pela outra, promove discus-sões para ajudá-las a esclarecer seus reais interesses e necessidades, e au-xilia a chegar a uma solução que seja satisfatória para todos os envolvidos.

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“Atuamos no início do conflito, quando vemos que há xinga-mentos, fofoca e bullying. Mostramos que há outra forma de resolver o problema, que não é falando alto e sim com o bate-papo. Não toma-mos partido, somos neutros.”

Vanessa Dantas Alves da Silva, aluna mediadora, E. M. Teotônio Vilela.

As principais características do processo de mediação são:

1. Voluntariedade – a mediação só tem sentido se as partes en-volvidas estão de acordo em realizar o processo e colaborar para encontrar uma solução;

partes se comprometem a não divulgar ou utilizar contra o outro o que se diz ou acontece durante o processo.

essencial, deve evitar que suas lentes, seus julgamentos, afe-tem a negociação das partes, durante todo o processo.

4. Visão de futuro – em vez de pensar quem tem culpa ou quem está certo/errado, as partes devem pensar como podem voltar a conviver de forma que todos se sintam bem.

5. Todas as partes são protagonistas – os participantes se com-prometem a propor soluções e a tomar decisões que levem ou não a um acordo. Não chegar a um acordo também é uma op-ção, uma decisão das partes. Caso não cheguem a um acordo,

“Os alunos mediadores adquiriram com o curso muita desenvoltu-ra, segurança e autonomia para lidar com as questões apresentadas pelos demais alunos. Foi muito bom poder presenciar isso, ver que as crianças que eram naturalmente introvertidas desabrocharam e isso é tão notório que os outros alunos demonstram o máximo de respeito e consideração durante todo o processo de mediação entre alunos. Espero que muitos alunos tam-bém possam ter a oportunidade de participar desse Projeto que agrega bene-fícios não somente no âmbito escolar, mas também em suas vidas pessoais.”

Melissa da Costa Gomes, agente educadora, E. M. Emílio Carlos

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aliado ao desenvolvimento de sistemas simples que incentivam as pessoas

resolverem suas diferenças dentro de seus grupos.

“No Educação Para a Paz cada aluno aprende também a fa-zer seu próprio perfil, onde é instado a dizer a idade, sua religião, para qual time que torce. É uma forma de fazê-los perceberem que as pessoas são diferentes e que, com isso, às vezes se é maioria, às vezes não.

---- Eles não pensam muito sobre isso normalmente, a ideia é tentar criar um debate sobre o fato, por exemplo, de ser o único flamenguista na sala de aula – conta Natalie.”

Amelia Gonzalez

Professores, agentes educadores ou diretores podem oferecer aos seus alunos a opção de participar do Programa de Mediação entre Alunos como uma forma alternativa para processos disciplinares regulares, ou os próprios alunos podem solicitar participar de uma mediação. Os alunos me-diadores usam um processo semelhante ao utilizado pelos adultos, porém com as adaptações apropriadas ao seu desenvolvimento e ao contexto escolar.

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Resultados – Nas palavras dos Nossos Colaboradores

Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro

O Projeto Educação Para a Paz começou a ser desenvolvido em parceria com os gestores do programa Escolas do Amanhã, da Secretaria Municipal de

atividades nas escolas da rede municipal no segundo semestre de 2011.

“Acredito ser importante mencionar que as habilidades e competências desenvolvidas através do Projeto Educação para Paz contribuem, diretamente, para o objetivo do Programa Escolas do Amanhã, de fomentar o desenvolvimento das chamadas “habilida-des para vida” (autoconfiança, autocontrole, perseverança, extro-versão, protagonismo, trabalho em equipe, responsabilidade, resili-ência, entre outros).

Trabalhamos com mais de 100.000 alunos dentro do Progra-ma. Mesmo “em números pequenos”, mas não menos importante, o impacto é de extrema relevância para a transformação social dos nossos jovens. Poder ouvir dos nossos alunos mediadores que estão mais interessados em permanecer na escola e, que, embora estejam inseridos em contextos de extrema violência e vulnerabilidade (como Maré e Fumacê), graças ao Projeto, veem possibilidades de um futuro mais pacífico para seus bairros e se sentem capazes de ajudar outras pessoas e, passo a passo, tornar seu bairro, sua cidade e seu país um mundo melhor, nos dá a certeza de que estamos no caminho certo.”

Samantha Barthelemy, Consultora da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro para o

Programa Escolas do Amanhã.

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integrada ao calendário da SME durante a Semana de Capacitação dos profes-sores da rede, realizada no mês de fevereiro. A cada ano, 120 professores, em média, participam dos nossos cursos oferecidos durante essa semana.

Além disso, tivemos a oportunidade de participar de diversos eventos e iniciativas promovidas pela SME como o Projeto Paz nas Escolas, no qual re-

das 152 Escolas do Amanhã. Este Projeto foi desenhado para atender à neces-sidade das escolas municipais do Rio de Janeiro que compõem o Programa Escolas do Amanhã, de dotar seus diretores e coordenadores pedagógicos de

contou com 248 participantes, divididos em 8 turmas, com duração de 40h.

para novos professores. Os candidatos aprovados na prova teórica passam por 80 horas de capacitação e só então fazem as provas práticas. Nossa diretora,

formação, levando a todos os novos professores da rede o conteúdo básico de RCE sob a ótica da matéria que lecionam.

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Instituto Rio

o objetivo de apoiar e fortalecer iniciativas que promovem o desenvolvimento

no empoderamento das comunidades locais, na mobilização e articulação de diversos atores estratégicos presentes no território, na articulação de parce-

-ções sociais e coletivos de base comunitária.

“O projeto Mediação em Movimento, apoiado em 2013, foi uma grande contribuição para o Instituto Rio (particularmente para o portfólio de projetos, considerando que nunca foi selecionada uma iniciativa nessa área)  já que apresentou uma linha de atuação ino-vadora e com alto potencial de replicação, aspectos fundamentais do programa de seleção da instituição. Ao mesmo tempo, ressalta-se a importância deste tipo de iniciativas na Zona Oeste do Rio de Ja-neiro, já que o projeto demonstra com clareza que a partir do em-poderamento de jovens e adultos é possível transformar realidades e gerar mudanças nos relacionamentos dos diversos públicos envolvi-dos, instalando dinâmicas cooperativas e colaborativas em diferentes ambientes sociais. O trabalho de articulação em redes e com múlti-plos atores e instituições locais também constitui um diferencial do projeto, contribuindo para ganhar força, visibilidade e impactos po-sitivos no processo de transformação em diversos âmbitos de atuação: na vida comunitária, institucional e pessoal do público envolvido.

O processo de produção do documentário e o resultado al-cançado com a elaboração de um material audiovisual de alta qua-

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lidade técnica foi conduzido de forma séria e responsável por uma equipe comprometida com a causa e com amplos conhecimentos sobre a temática vinculada à mediação de conflitos. O resultado alcançado é surpreendente já que o documentário é não apenas um material didático com alto potencial de replicação em outras experi-ências, mas ao mesmo tempo é sensível e comovedor. Parabéns para a equipe Parceiros Brasil!”

Graciela Hopstein

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-talecer a articulação institucional e disseminar as práticas de Resolução de

principalmente, nas escolas localizadas na Zona Oeste, por meio da produção de um documentário.

Ao longo de 2013, realizamos alguns eventos entre os alunos media-dores e diversos membros da comunidade escolar para gravar algumas de nossas atividades, os colaboradores em ação, depoimentos, relatos de uso das

-rio, realizamos algumas sessões de exibição e debate para estimular o uso das

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Gabriela Asmar

“Começamos a sonhar com um projeto como o Educação para a Paz -

shington, conduzimos um diagnóstico do cenário brasileiro frente às meto--

tão profundo. O time foi se formando, com muita garra de entusiasmo e a parceria da SME foi fundamental para a viabilidade da proposta que apresen-

cá, muitas pessoas já contribuíram para o sucesso desse projeto. Algumas deixaram marcas profundas, outras passaram “de raspão”, mas todas, sem exceção, se emocionaram com a capacidade das crianças aprenderem tão rá-pido o paradigma da colaboração. Os adultos, de um modo geral, entendem

Resultados - Nas Palavras da Nossa Equipe

35

o comportamento colaborativo do ponto de vista racional, mas levam mui-

para viver a colaboração. Acredito que a oportunidade de olhar o mundo por lentes colaborativas, desde o momento em que estas lentes ainda estão se

-

contribuição para o mundo da qual mais me orgulho. Agradeço a todos que tornaram este projeto uma realidade”.

Fred Hanson

da equipe Parceiros Brasil e participar do trabalho inovador que fazemos nas escolas públicas da minha cidade adotada, o Rio de Janeiro. É extremamente

-

para os jovens alunos e para observá-los despertarem para os efeitos que esse treinamento pode produzir em suas vidas”.

Luciana Gerber

--

e emocionante acompanhar o processo de desenvolvimento e transformação,

-nhecer e conviver com os alunos mediadores, principalmente, revigora a es-perança e a certeza de que é possível construir uma escola, uma comunidade, um mundo melhor e contagiar positivamente outras pessoas”.

Carlos Augusto Xavier Benjamim

“Em um ano de trabalho no Parceiros Brasil, com funções de escri-

envolvidos, bem como na comunidade escolar, nas famílias e até no entorno da escola. Vejo mudanças reais e transformadoras. Essa é minha maior moti-

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vação para trabalhar no Parceiros Brasil. O outro fator motivador é o quanto -

uma programação didático-pedagógica, que torna o projeto Educação para a Paz um modelo a ser seguido em outras escolas e comunidades”.

Janete da Silva Mattos

Portanto, para mim, o trabalho no Parceiros Brasil é uma experiência totalmen-te diferente do que eu estava acostumada. Apesar de minha função principal na

-

-lho nas escolas e o impacto deste nas vidas dos alunos. Estou à disposição de todos para contribuir com esse trabalho importante para todos os envolvidos”.

Maxwill Braga

“Estou na organização, desde maio de 2013, como facilitador e elabo-

Operário Vicente Mariano. Houve vários episódios de violência no entorno,

do trabalho nessa escola. Por isso, acredito que a construção de uma cultura de paz nas escolas e nas comunidades do Rio de Janeiro depende de múlti-plas ações articuladas e duradouras envolvendo atores públicos, privados e o

vínculo com os alunos e professores”.

Letícia Santanna

“Trabalho na Parceiros Brasil desde o início do ano. Tinha relativa ex-periência em sala de aula. Mas nunca tinha elaborado aulas onde o tema fosse algo tão relevante para o público que a co-constrói . E não estou falando da lo-

-ção não Violenta e do quanto essas crianças podem descobrir aí uma alternativa

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para resolver seus problemas é, sobretudo, motivador. Ver a seriedade com que tratam do assunto, como procuram moldar suas posturas e usar as técnicas de

está nos atos das bases. Na escolha de ser feliz em sociedade. E isso implica abrir mão de ter razão. O que é mágico num contexto mundial onde somos guiados a ter opinião formada sobre tudo o tempo todo”.

Nathalia Jereissati

“Trabalho há 4 meses na Parceiros Brasil e nunca havia tido experi--

olhar para os nossos alunos, vê- los mudar a sua forma de agir e pensar, faz com que eu acredite cada vez mais que precisamos sempre lutar e buscar por condições melhores para a educação.

Em cada aula podemos observar no olhar dos nossos alunos o desejo de mudança, a vontade de fazer diferente. E é por isso que eu tento a cada dia me aproximar mais dessa realidade e acreditar sempre que é possível realizar uma mudança.”

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Leonardo Voigt

-

tem que descer? ... Não dá, para todo o sempre, a maré da violência subir,

Natalie Hanna

“O trabalho no Parceiros Brasil e as formações em resolução de -

sociais para a Secretaria de Habitação em São Paulo, minha cidade natal, -

seios e temores de uma grande mudança em seus modos de viver e ser. O

atuação no Projeto Educação para a Paz me possibilitaram um aprendizado valoroso para a difícil tarefa de construção de uma cultura de paz em áreas de alta vulnerabilidade social e zonas de risco, onde a violência é, todavia,

ao multiplicar os saberes aprendidos para as crianças e adolescentes, rece-

Valentina Zuluaga

“Há um ano que estou tendo a oportunidade de ver como a mediação escolar esta sendo implementada em vários países da América Latina. Mi-nha primeira participação no Projeto Educação para a Paz foi no ano passado quando participei como voluntaria por um período de dois meses. Foi nesse momento que entendi a importância que tem o espaço de aula. A sala de aula é uma micro-sociedade cujo espaço esta sendo aproveitado para reforçar as

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crianças podem replicar e consolidar o aprendizado em qualquer outro con-texto. Acredito que a mediação é uma ferramenta através da qual já é possível enxergar uma transformação cultural, começando no espaço de aula onde o potencial de mudança é maior. Ver os alunos mediadores usar a paráfrase, a mensagem em primeira pessoa, e se questionar sobre a cultura violenta, são só pequenos sementes que já estão colhendo grandes mudanças”.

Vittorio Lo Bianco

-tencial dos alunos como indivíduos atuantes em nossa sociedade de forma

é possível observar o crescimento deles em relação a habilidades e conheci-

também em como traduzi-lo para suas realidades, seus cotidianos. A supe-ração dos constrangimentos estruturais deve ser o foco constante da luta daqueles que buscam uma educação melhor sem, todavia, esquecermos que pontualmente indivíduos podem, a partir de oportunidades como as aulas do projeto educação para a paz, superar aquela situação desvantajosa, ao menos em determinados aspectos como lidar de forma positiva com os

realizar o trabalho na organização”.

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Resultados - Nas Palavras dos Alunos Mediadores

“Servimos de exemplo; por isso, não podemos ter notas baixas, mas não somos melhores que ninguém, somos alunos da mesma escola. Já em

“Obrigado, obrigado por tudo que vocês me proporcionaram e por ter clareado os meus olhos em relação à vida”.

Samuel Lucas Ferreira de Santana, aluno mediador, E. M. Teotônio Vilela.

“Aprendi algo novo, aprendi algo que podia ajudar outras pessoas, que podia ajudar, que pudesse levar para minha vida, foi algo que me cha-mou atenção e me fez aquele querer, aquele gostinho, aquela curiosidade de querer saber mais sobre o Projeto e de querer aprender sobre ele, fazer parte de algo maior.”

Juliana Ferreira Mucury, aluna mediadora, E. M. Emílio Carlos

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“Eu digo para minha mãe o que eu entendi, como eu me sinto; às vezes ela se sente melhor, às vezes ela usa as técnicas comigo também. A

que eu posso ajudar.”

Julia da Silva Dias, aluna mediadora, CIEP Operário Vicente Mariano

“Com as dinâmicas usadas em sala de aula, a gente aprende como viver a vida, como a gente age com nossos colegas, como a gente age em uma sociedade. Esse curso é muito bacana. Mudei muito por dentro, sou mais alegre, falo mais. Antes, era muito tímida. Sou muito agradecida.”

Erika de Souza Silva, aluna mediadora, E. M. Professor Souza Carneiro

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“O sucesso do Projeto é que usamos as nossas palavras, com pessoas

Myke Alvez Montenegro, aluno mediador, E. M. Teotônio Vilela.

“A sensação de poder ajudar e até mesmo resolver situações pesso-

ajudar nas minhas relações futuras, na expressão da minha personalidade. -

Tamires dos Santos Rodrigues Barbosa, aluna mediadora, E. M. Emílio Carlos.

-

“No começo, eu não gostava, mas depois aprendi a gostar e acabei me apaixonando pelo curso. Tomara que no futuro eu consiga um trabalho assim”.

Alexsander da Rocha Lobato, aluno mediador, E. M. Professor Souza Carneiro

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vive brigando por causa de besteira, aí eu paro e penso “Não. Posso usar aquela técnica que eu aprendi na mediação”, aí nisso eu uso. As que eu mais uso são a mensagem em 1ª pessoa e a paráfrase.”

Raquel Mendes Vieira, aluna mediadora, E. M. Teotônio Vilela.

-ção também aprendi a parafrasear, a importância da expressão facial e de

Camila Braz de Souza, aluna mediadora, E. M. Emílio Carlos.

novas. Aprendi a ser mais calmo, a não ser agressivo e a conversar. Amo to-

Luiz Henrique da Silva, aluno mediador, E. M. Professor Souza Carneiro.

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Resultados – Em Números

“UNIDOS PARA A PAZ”, Patrick Juvino Machado, 9o ano, E. M. Lima Barreto

O Projeto Educação Para a Paz iniciou suas atividades em janeiro de 2011. No entanto, o trabalho nas escolas começou em meados de setembro do mesmo ano. Neste curto espaço de tempo de implementação, já foi possível observar muitos resultados positivos e algumas lições aprendidas durante esses anos.

Tendo como objetivo principal a transformação do ambiente escolar e da comunidade em seu entorno, rumo a uma cultura de paz, todo o Projeto é desenhado para que a comunidade escolar se envolva voluntariamente no

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Com o início do trabalho nas escolas, foram realizados os eventos de sensibilização sobre o tema e apresentação do Projeto para o grupo de pro-fessores e outros membros da comunidade escolar. É importante que todas as séries sejam atingidas por alguma atividade relacionada com as práticas

-fessores são vetores fundamentais na disseminação desta nova cultura. Além disso, os professores também se vêem, nos dias de hoje, como parte de mui-

visa fortalecer o impacto positivo desta nova cultura para além da sala de aula e dos muros da escola.

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“A E.M. Professor Souza Carneiro é outra das escolas onde o Educação Para a Paz entrou. No passado, seus alunos costumavam receber assim os visitantes: “Bem vindo ao Carandiru”. Não era um atributo fácil de digerir. Hoje, a realidade é outra, contou Aleksander, um dos alunos mediadores de lá, para a plateia do MP:

---- Eu e meus amigos que já somos mais velhos presenciamos a realidade de antes e de hoje graças à nova diretora e a esse projeto. Eu sempre pensei: a mente do ser humano é difícil de entender, vai ter gente que não vai querer ser mediado. Mas hoje eu penso diferente. Claro que vai ter gente que não quer ouvir, mas a gente pode tentar até mudar o mundo usando o diálogo.”

Amelia Gonzalez

o ao 9o anos nas habilidades bá-

turmas e capacitamos 2.039 alunos da rede municipal.

Em um segundo momento, realizamos uma seleção rigorosa em cada escola, com a participação dos alunos, professores e diretores, de um grupo de alunos para participar da capacitação em Mediação entre Alunos. Esse curso in-

-pantes do Projeto EPP.

-cado, desenhando a logomarca e escolhendo o nome do Programa de Mediação entre Alunos da sua escola. Apresentamos, abaixo, as logomarcas.

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Após estruturar o Programa de Mediação entre Alunos com a comu-nidade escolar de cada unidade educativa, realizamos os eventos de lança-mento do Programa em cada escola. O grupo de alunos mediadores, o coorde-nador-âncora e os facilitadores da equipe Parceiros Brasil entraram nas salas de aula de diferentes anos para apresentar o Programa de Mediação entre Alunos e como participar.

“Visitamos as salas e os professores nos ajudam e apóiam. A mediação é uma forma de melhor o ambiente”.

Vanessa de Farias Lima, aluna mediadora, E. M. Teotônio Vilela

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Algumas escolas já realizaram suas primeiras mediações. Como re-sultados, podemos destacar: a solicitação de mediação por diversos atores da comunidade escolar, principalmente pelos alunos; a vontade dos alunos mediadores de colaborar e participar das sessões de mediação; e o retorno positivo registrado nas avaliações dos alunos que participaram do processo. A seguir, mostramos uma tabela com as análises das mediações realizados no período de março a julho de 2013.

Algumas mediações não foram realizadas devido à greve dos professores, -

citar agressão verbal, fofoca e implicância. Todas (100%!!!) as mediações realiza-das foram encerradas com acordo e o tempo médio de duração foi de 31 minutos.

Período

(mês)Mediações Solicitadas

Quem solicitouMediações Realizadas

Acordo Gênero

Direção / CP Professor Agente

educador Aluno Outro Não Sim Meninas Meninos

MAR 7 2 3 2 5 5 4 6

ABR 11 4 2 2 3 10 10 15 5

MAI 9 2 1 6 9 9 14 4

JUN 6 1 4 5 5 3 7

JUL 13 1 9 3 8 8 9 7

1º SEM 46 10 6 2 24 3 37 0 37 45 29

22% 13% 4% 52% 7% 100% 61% 39%

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“O interessante é que os alunos passam a ser os protagonis-tas de suas histórias, dialogando para resolver os conflitos entre eles. Assim, criamos a consciência de que todos somos responsáveis pelo bom andamento da unidade escolar”.

Vivane Couto , professora, E. M. Teotônio Vilela.

“O resultado do Projeto é altamente positivo. Houve uma melhora significativa no relacionamento entre os alunos. Atual-mente, o nosso trabalho como agente educador é bem melhor devido à redução dos níveis de violência: os conflitos são menos intensos e há menos conflitos entre os alunos”.

Davi Ferreira, agente educador da E. M. Lima Barreto

No 3o trimestre de 2013, diversas situações externas à instituição im-pactaram diretamente o andamento de algumas atividades do Projeto Educa-ção para a Paz nas escolas municipais do Rio de Janeiro.

-sores do município que perdurou até o início de outubro. Buscamos, portan-to, alternativas para continuar em contato com nosso público atendido.

Nesse período, foi possível continuar com algumas atividades em certas escolas em horário diferenciado. Realizamos, também, um evento extra para troca de experiências entre os alunos mediadores, em setembro. Neste mês, conseguimos retomar o contato com os alunos mediadores da maioria das escolas. Combinamos, com as direções das escolas e os alu-nos, um horário alternativo para continuar com nossos encontros durante esse período atípico.

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Além dos Muros da Escola

“Eu sempre fico entusiasmada de ver isso acontecendo em um lugar novo, porque essas técnicas não mudam a criança apenas agora, mas dura para a vida toda. Elas tem relações melhores em casa, assim como casamentos e relações de trabalho melhores. En-tão, é uma habilidade que elas usarão por toda a vida.”

Gail Sadalla, pioneira na adaptação da mediação comunitária ao contexto escolar.

Treinamento equipe EPP com Gail Sadalla:

Anualmente, a equipe Parceiros Brasil recebe capacitação continu--

Em fevereiro de 2013, durante sua visita, realizamos diversos eventos para os participantes do Projeto Educação Para a Paz e revisamos o material didático utilizado nas nossas aulas, baseado nas experiências e lições apren-didas do ano anterior.

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Em 12/12/12 às 12h12, realizamos o último evento do ano com os alunos mediadores, no escritório Parceiros Brasil, no centro do Rio. Os alunos das diferentes escolas compartilharam suas experiências ao lon-go do Projeto e expectativas para o próximo ano. Além disso, debatemos com os alunos estratégias para aperfeiçoar e intensificar a atuação do Projeto nas escolas.

No dia 27 de fevereiro de 2013, os alunos mediadores do Projeto Educação para a Paz se reuniram com a especialista norte-americana em Resolução de Conflitos nas Escolas Gail Sadalla e com a equipe Parceiros Brasil, na sede da organização, no Centro do Rio. O evento teve como ob-jetivo promover uma troca de experiências entre os alunos, professores e coordenadores pedagógicos de cinco escolas participantes do Projeto e debater seus sucessos e desafios.

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Os alunos relataram que, como mediadores formados, eles podem

maioria dos alunos admitiu, também, que já usou as técnicas de negociação

irmãos e amigos.

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Saiu na Mídia

TV Globo: Alunos do Projeto Educação Para a Paz no programa Na Moral

os alunos da Escola Municipal Teotônio Vilela, localizada na Maré, fa-laram sobre Bullying e comentaram a importância da mediação como processo de resolução de conflitos na escola.

TV Globo: Projeto Educação para a Paz no programa Encontro com Fátima Bernardes

Em 24 de abril de 2013, a equipe Parceiros Brasil e os alunos mediadores da Escola Municipal Professor Souza Carneiro, localizada na Penha, participaram de uma gravação para o programa Encontro com

mostrar como a Resolução de Conflitos nas Escolas está transformando o cotidiano escolar e como funciona o Programa de Mediação entre Alu-

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Maré de Notícias: Mediar é resolver

Em agosto de 2013, os alunos mediadores da Escola Municipal Teotônio Vilela, localizada na Maré, foram entrevistados pelo jornalista Helio Euclides. No artigo, os alunos comentaram sobre o funcionamen-to do Programa de Mediação entre Alunos e as mudanças percebidas até o momento.

Prêmio Fundação Banco do Brasil

Em outubro de 2013, recebemos a certificação da metodologia de Resolução de Conflitos nas Escolas como uma tecnologia social, confe-rida pela Comissão de Certificação do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Socialforam selecionadas.

Tecnologia So-cial -senvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação co-letiva no processo de organização, desenvolvimento e implementação. Está baseado na disseminação de soluções para problemas voltados a demandas de alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos

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hídricos, saúde, meio ambiente, dentre outras. As Tecnologias Sociais podem aliar saber popular, organização social e conhecimento técnico-

propiciando desenvolvimento social em escala.”

Evento no Ministério Público

No dia 29 de novembro de 2013, a equipe Parceiros Brasil e os alunos mediadores do Projeto Educação para a Paz, participaram do evento “Encontro Estadual do Ministério Público pela Paz nas Escolas”.

-vidada a palestrar sobre “convivência e conflitos no ambiente escolar”

escolas municipais do Rio de Janeiro.

-res já formados, de três escolas diferentes, a fim de compartilharem com o público, estimado em mais de 300 pessoas, suas experiências dentro e fora do ambiente escolar, o processo de mediação e as técnicas de Reso-lução de Conflitos nas Escolas. Outros mediadores estiveram presentes para acompanhar o evento.

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“O que posso lhes dizer é que todo o ensaio que assisti valeu a pena. Na sexta-feira, durante o evento no Ministério Público, os jovens não fizeram feio. No início estavam nervosos, sim, mas com o tempo veio a segurança. E eles acabaram por emocionar toda a plateia. Afinal, nós adultos, tão habituados a um mundo onde a vio-lência e as generalizações são banais, ouviremos sempre com alguma surpresa depoimentos como o de Luis Henrique, estudante da Escola Municipal Professor Souza Carneiro:

---- Minha maior experiência com o projeto de mediação foi em casa, quando meus tios estava brigando. Fiz a paráfrase que aprendi no Projeto, falei na primeira pessoa, conversei, disse a eles como eu me sentia quando eles brigavam e falei para a tia que era melhor não discutir naquele momento. Eles pararam de brigar. Mas o melhor veio depois: meu pai chegou para mim e disse: “Filho, estou orgulhoso de você”.

Alguém aí ficou com os olhos cheios d’água? Pode ficar, é permitido. No Projeto Educação Para a Paz a demonstração de sen-timento é bem-vinda.”

Amelia Gonzalez

“A gente aprende muito com a mediação. Não levamos ape-nas para a sala de aula ou quando estamos mediando, mas para a vida toda. Antes de qualquer desaforo eu já queria partir pra briga, agora eu já brinco mais e posso ver o lado do outro”.

Alexsander da Rocha Lobato, aluno mediador, E. M. Professor Souza Carneiro

“Tudo está conectado e tudo tem conexão. Aprender novas técnicas, conhecer pessoas novas e diferentes e compartilhar experi-ências será útil na vida, pois irei encontrar pessoas que nem sempre irão se dar bem comigo e eu irei aplicar as técnicas que aprendi para prevenir um conflito.” 

Raquel Mendes Vieira, aluna mediadora, E. M. Teotônio Vilela.

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Epílogo

para a vida a partir do Educação para a Paz, varia de acordo com os ma-pas mentais e oportunidades de praticar a escolha por comportamentos colaborativos.

É fácil e intuitivo ser gentil com quem nos trata bem. Para isso, não é necessário aprender uma metodologia. O grande desafio e o gran-de aprendizado começam frente às pessoas que desafiam nossos limites e valores. É diante delas que podemos testar e aprimorar o quanto inter-nalizamos do aprendizado. Apenas nestas circunstâncias podemos exer-cer, com mérito, a OPÇÃO por controlar os sentimentos negativos e ser maiores que os comportamentos automatizados. É aí que podemos mu-dar o ciclo dos conflitos e construir as relações nas quais queremos viver.

O Projeto Educação para a Paz não veio apenas para falar de boas intenções, mas para operacionalizar, muito concreta e vivencialmente, esta mudança positiva. Todos sabem da importância e urgência deste propósito, e muitas metodologias existem, mundo à fora. Mas a mudan-ça do ciclo requer também perseverança e apoio. Se fosse fácil, já estaria pronto. Estamos caminhando na direção desejada, com avanços nítidos. Vale a pena continuar!

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Produzido por

Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos

Endereço: Av. Rio Branco, 151, Grupo 404, Centro Rio de Janeiro – RJ

Telefone: +55 21 2507 1850e-mail: [email protected]

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