resoluÇÃo do conselho de ensino, pesquisa e...

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS ___________________________________________________________________________ RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO (CONSEPE) N°. 17/2009 Dispõe sobre o Projeto Pedagógico do Curso de Biologia, Campus de Araguaína. O Egrégio Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão Consepe, da Fundação Universidade Federal do Tocantins UFT, reunido em sessão no dia 29 de abril de 2009, no uso de suas atribuições legais e estatutárias, RESOLVE: Art. 1º. Aprovar o Projeto Pedagógico do Curso de Biologia, no Campus de Araguaína. Art. 2º. Esta Resolução entra em vigor a partir desta data. Palmas, 29 de abril de 2009. Prof. Alan Barbiero Presidente Cps

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  • SERVIO PBLICO FEDERAL

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

    ___________________________________________________________________________

    RESOLUO DO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSO (CONSEPE)

    N. 17/2009

    Dispe sobre o Projeto Pedaggico do Curso de

    Biologia, Campus de Araguana.

    O Egrgio Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso Consepe, da Fundao

    Universidade Federal do Tocantins UFT, reunido em sesso no dia 29 de abril de 2009, no

    uso de suas atribuies legais e estatutrias,

    RESOLVE:

    Art. 1. Aprovar o Projeto Pedaggico do Curso de Biologia, no Campus de

    Araguana.

    Art. 2. Esta Resoluo entra em vigor a partir desta data.

    Palmas, 29 de abril de 2009.

    Prof. Alan Barbiero

    Presidente

    Cps

  • 2

    SERVIO PBLICO FEDERAL FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

    Campus Universitrio de Araguana

    Rua Paraguai esquina c/ rua Uxuriana, Setor Cimba CEP: 77807-060

    Araguana

    PROJETO PEDAGGICO DO CURSO DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA

    Projeto Pedaggico do Curso de Licenciatura em Biologia da UFT, campus de Araguana. Redao dos professores Dra. Jeane Alves de Almeida e Dr. Sandro Estevan Moron.

    Araguana (TO), Maio de 2009.

  • 3

    FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

    Administrao Superior

    Dr. Alan Barbiero

    Reitor

    Dr. Jos Expedito Cavalcante Silva

    Vice-reitor

    Msc. Ana Lcia de Medeiros

    Pr-reitoria de Administrao

    Dra. Isabel Cristina Auler Pereira

    Pr-reitoria de Graduao

    Dr. Mrcio Antnio da Silveira

    Pr-reitoria de Pesquisa

    Msc. Marluce Zacariotti

    Pr-reitoria de Extenso, Cultura e Assuntos Comunitrios

    Dr. Pedro Albeirice da Rocha

    Pr-reitoria de Assuntos Estudantis

    Msc. Rafael Jos de Oliveira

    Pr-reitoria de Avaliao e Planejamento

  • 4

    Sumrio APRESENTAO ...................................................................................................... 6 1. CONTEXTO INSTITUCIONAL ................................................................................ 8

    1.1. Histrico da Universidade Federal do Tocantins ......................................... 8 1.2. A UFT no Contexto Regional e Local .......................................................... 10 1.3. Misso institucional ...................................................................................... 12 1.4. Estrutura poltico-administrativa da UFT .................................................... 15

    1.4.1. Os Campi e os respectivos cursos ....................................................... 16 2. CONTEXTUALIZAO DO CURSO .................................................................... 17

    2.1. Nome do Curso ............................................................................................. 17 2.2. Modalidade do curso .................................................................................... 17 2.3. Endereo do Curso ....................................................................................... 17 2.4. Nmero de Vagas ......................................................................................... 17 2.5. Turno de Funcionamento ............................................................................. 17 2.6. Diretor do Campus........................................................................................ 17 2.7. Coordenador do Curso ................................................................................. 18 2.8. Relao Nominal dos membros do colegiado: .......................................... 18 2.9. Comisso de elaborao do PPC ................................................................ 18 2.10. Justificativa ................................................................................................. 19

    3. BASES CONCEITUAIS DO PROJETO PEDAGGICO INSTITUCIONAL .......... 20 3.1. Fundamentos do Projeto Pedaggico dos cursos da UFT ....................... 23 3.2. A construo de um currculo interdisciplinar: caminhos possveis ...... 24 3.3. Desdobrando os ciclos e os eixos do projeto ............................................ 32 3.4. A Interdisciplinaridade na matriz curricular dos cursos da UFT .............. 33 3.5. Objetivo da rea de conhecimento............................................................. 35

    3.5.1. Ciclo de Formao Geral ....................................................................... 40 3.5.2. Ciclo de Formao Especfica............................................................... 43 3.5.3 Disciplinas Optativas .............................................................................. 49 3.5.4 Eixos da Formao Comum ................................................................... 50 3.5.5 Eixos da Formao Profissional ............................................................ 52 3.5.6. Ciclo de Ps-graduao ....................................................................... 57

    4. IMPLICAES DO PROCESSO DE CONSTRUO DE UM NOVO CURRCULO ............................................................................................................. 57 5. AVALIAAO DA APRENDIZAGEM ..................................................................... 58

    5.1 Das avaliaes e dos critrios de aprovao .............................................. 60 5.2 Avaliao do curso e Avaliao Institucional ........................................... 60 5.3 Formas de Ingresso e Mobilidade entre os Cursos .................................... 63

    6. ORIENTAES GERAIS PARA A PRTICA E ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO .................................................................................................. 65 7. TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO ....................................................... 71 8. SEMINRIOS INTERDISCIPLINARES ................................................................ 71 9. INTERFACE PESQUISA E EXTENSO .............................................................. 73

    9.1. Interface com programas de fortalecimento do ensino ............................ 74 9.2. Interface com as Atividades Complementares .......................................... 75

    10. ESTGIO SUPERVISIONADO ........................................................................... 76 11. EMENTRIO ...................................................................................................... 78 12. CORPO DOCENTE ........................................................................................... 136

    12.1. Ncleo Docente Estruturante .................................................................. 136

  • 5

    12.2. Formao acadmica e profissional do corpo docente ........................ 136 12.3. Curriculum Vittae Lattes do Corpo Docente .......................................... 136

    13. INSTALAES ................................................................................................. 144 13.1 Biblioteca .................................................................................................... 144

    13.1.1. Poltica de atualizao e informatizao do acervo ........................ 144 13.1.2. Descrio do acervo de livros e peridicos..................................... 145 13.1.3. Servios da biblioteca ....................................................................... 146 13.1.4. Instalaes e equipamentos da biblioteca ....................................... 146

    13.2. Laboratrios previstos para serem implantados no campus de Araguana para atendimento aos cursos na rea de Ensino de Cincias: ... 147 13.3. rea de lazer e circulao ........................................................................ 147 13.4. Recursos audiovisuais ............................................................................. 147 13.5. Acessibilidade para portador de necessidades especiais: ................... 148 13.6. Sala de Direo do Campus e Coordenao de Curso ........................ 148

    13.6.1. Espaos e estruturas destinadas aos servios de apoio .............. 148 13.6.2. Setores Administrativos .................................................................... 149 13.6.3. Instalaes da Unidade de Licenciatura, Setor Cimba .................. 150

    ANEXOS ................................................................................................................. 153 ANEXO I - REGULAMENTO DO TRABALHO DE CONCLUSO DO CURSO .... 154 ANEXO II - NORMATIVAS SOBRE ATIVIDADES COMPLEMENTARES ............ 169 ANEXO III REGULAMENTO DO ESTGIO CURRICULAR OBRIGATRIO E NO-OBRIGATRIO ............................................................................................. 175 ANEXO IV - REGIMENTO DOS CURSOS DA REA DE ENSINO DE CINCIAS ................................................................................................................................ 194 ANEXO V - MANUAL DE BIOSSEGURANA ...................................................... 199

  • 6

    APRESENTAO

    Apresentamos o Projeto Pedaggico do Curso (PPC) de Licenciatura em Biologia do

    Campus Universitrio de Araguana da Universidade Federal do Tocantins (UFT). O

    presente documento serve de base para a implantao efetiva deste novo curso que

    surge como alternativa para tentar suprir de forma gradual e progressiva as

    necessidades urgentes da educao do Estado do Tocantins por cursos de cincias

    fsicas orientados formao de educadores para o ensino mdio e pela criao de

    novos plos de desenvolvimento cientfico e tecnolgico.

    O presente PPC foi elaborado por uma comisso de docentes nomeados pela

    portaria N de 2006, da Direo do Campus Universitrio de Araguaina, empregando

    como base as normas e legislaes vigentes, incluindo-se as adequaes sugeridas

    pelas novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da

    Educao Bsica, em nvel superior, quanto a Cursos de Licenciatura de graduao

    plena. Entre os documentos norteadores destacamos,

    Parecer CNE/CES n 1304, de 6 de novembro de 2001, Diretrizes Nacionais

    Curriculares para os Cursos de Fsica.

    Resoluo CNE/CES n 9, de 11 de maro de 2002, Estabelece as Diretrizes

    Curriculares para os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Fsica.

    Resoluo CNE/CP 1, de 18/02/2002, publicado em DOU de 09/04/2002,

    seo 1, p.31, republicado em 04/03/2002, Institui Diretrizes Curriculares

    Nacionais para a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel

    superior, curso de licenciatura, de graduao plena.

    Resoluo CNE/CP 2, de 19/02/2002, publicada em D.O.U., Braslia, em

    04/03/2002, seo 1, p. 9 Decreto 3462, de 07 de 05 de 2000, Institui a

    durao e a carga horria dos cursos de licenciatura, de graduao plena, de

    formao de professores da Educao Bsica em nvel superior.

    O Curso de Licenciatura em Biologia, juntamente com os cursos de Licenciatura em

    Qumica e Licenciatura em Fsica formam parte do bloco de licenciaturas em

    Cincias Naturais cuja implantao, a partir de 2008, tornou-se possvel graas ao

  • 7

    suporte financeiro fornecido pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e

    Expanso das Universidades Federais (REUNI), do Governo Federal, institudo pelo

    decreto presidencial n 6096 de 24/05/2007. Em acordo com o presente PPC, o

    bloco das licenciaturas em Cincias Naturais nasce com um ncleo curricular

    comum de trs semestres.

    O presente projeto pedaggico enfatiza a oferta de uma formao slida e

    atualizada quanto a contedos tericos e tarefas experimentais de fsica bsica, e

    matrias de reas afins, incentivando-se desde o incio do curso, a

    interdisciplinaridade na formao, simultaneamente, preservando e fortalecendo a

    formao pedaggica orientada ao trabalho do professor.

  • 8

    1. CONTEXTO INSTITUCIONAL

    1.1. Histrico da Universidade Federal do Tocantins

    A Fundao Universidade Federal do Tocantins (UFT), instituda pela Lei 10.032, de

    23 de outubro de 2000, vinculada ao Ministrio da Educao, uma entidade

    pblica destinada promoo do ensino, pesquisa e extenso, dotada de autonomia

    didtico-cientfica, administrativa e de gesto financeira e patrimonial, em

    consonncia com a legislao vigente. Embora tenha sido criada em 2000, a UFT

    iniciou suas atividades somente a partir de maio de 2003, com a posse dos primeiros

    professores efetivos e a transferncia dos cursos de graduao regulares da

    Universidade do Tocantins, mantida pelo estado do Tocantins.

    Em abril de 2001, foi nomeada a primeira Comisso Especial de Implantao da

    Universidade Federal do Tocantins pelo Ministro da Educao, Paulo Renato, por

    meio da Portaria de n 717, de 18 de abril de 2001. Essa comisso, entre outros,

    teve o objetivo de elaborar o Estatuto e um projeto de estruturao com as

    providncias necessrias para a implantao da nova universidade. Como

    presidente dessa comisso foi designado o professor doutor Eurpedes Vieira

    Falco, ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    Em abril de 2002, depois de dissolvida a primeira comisso designada com a

    finalidade de implantar a UFT, uma nova etapa foi iniciada. Para essa nova fase, foi

    assinado em julho de 2002, o Decreto de n 4.279, de 21 de junho de 2002,

    atribuindo Universidade de Braslia (UnB) competncias para tomar as

    providncias necessrias para a implantao da UFT. Para tanto, foi designado o

    professor Doutor Lauro Morhy, na poca reitor da Universidade de Braslia, para o

    cargo de reitor pr-tempore da UFT. Em julho do mesmo ano, foi firmado o Acordo

    de Cooperao n 1/02, de 17 de julho de 2002, entre a Unio, o Estado do

    Tocantins, a Unitins e a UFT, com intervenincia da Universidade de Braslia, com o

    objetivo de viabilizar a implantao definitiva da Universidade Federal do Tocantins.

    Com essas aes, iniciou-se uma srie de providncias jurdicas e burocrticas,

  • 9

    alm dos procedimentos estratgicos que estabelecia funes e responsabilidades a

    cada um dos rgos representados.

    Com a posse aos professores, foi desencadeado o processo de realizao da

    primeira eleio dos diretores de campi da Universidade. J finalizado o prazo dos

    trabalhos da comisso comandada pela UnB, foi indicado uma nova comisso de

    implantao pelo Ministro Cristvam Buarque. Nessa ocasio, foi convidado para

    reitor pr-tempore o professor Doutor Srgio Paulo Moreyra, que poca era

    professor titular aposentado da Universidade Federal de Gois (UFG) e tambm,

    assessor do Ministrio da Educao. Entre os membros dessa comisso, foi

    designado, por meio da Portaria de n 002/03 de 19 de agosto de 2003, o professor

    mestre Zezuca Pereira da Silva, tambm professor titular aposentado da UFG para o

    cargo de coordenador do Gabinete da UFT.

    Essa comisso elaborou e organizou as minutas do Estatuto, Regimento Geral, o

    processo de transferncia dos cursos da Universidade do Estado do Tocantins

    (UNITINS), que foi submetido ao Ministrio da Educao e ao Conselho Nacional de

    Educao (CNE). Criou as comisses de Graduao, de Pesquisa e Ps-graduao,

    de Extenso, Cultura e Assuntos Comunitrios e de Administrao e Finanas.

    Preparou e coordenou a realizao da consulta acadmica para a eleio direta do

    Reitor e do Vice-Reitor da UFT, que ocorreu no dia 20 de agosto de 2003, na qual foi

    eleito o professor Alan Barbiero. No ano de 2004, por meio da Portaria n 658, de 17

    de maro de 2004, o ministro da educao, Tarso Genro, homologou o Estatuto da

    Fundao, aprovado pelo Conselho Nacional de Educao (CNE), o que tornou

    possvel a criao e instalao dos rgos Colegiados Superiores, como o

    Conselho Universitrio (CONSUNI) e o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso

    (CONSEPE).

    Com a instalao desses rgos foi possvel consolidar as aes inerentes eleio

    para Reitor e Vice-Reitor da UFT conforme as diretrizes estabelecidas pela lei n.

    9.192/95, de 21 de dezembro de 1995, que regulamenta o processo de escolha de

    dirigentes das instituies federais de ensino superior por meio da anlise da lista

    trplice.

  • 10

    Com a homologao do Estatuto da Fundao Universidade Federal do Tocantins,

    no ano de 2004, por meio do Parecer do (CNE/CES) n041 e Portaria Ministerial n.

    658/2004, tambm foi realizada a convalidao dos cursos de graduao e os atos

    legais praticados at aquele momento pela Fundao Universidade do Tocantins

    (UNITINS). Por meio desse processo, a UFT incorporou todos os cursos e tambm o

    curso de Mestrado em Cincias do Ambiente, que j era ofertado pela Unitins, bem

    como, fez a absoro de mais de oito mil alunos, alm de materiais diversos como

    equipamentos e estrutura fsica dos campi j existentes e dos prdios que estavam

    em construo.

    A histria desta Instituio, assim como todo o seu processo de criao e

    implantao, representa uma grande conquista ao povo tocantinense. , portanto,

    um sonho que vai aos poucos se consolidando numa instituio social voltada para a

    produo e difuso de conhecimentos, para a formao de cidados e profissionais

    qualificados, comprometidos com o desenvolvimento social, poltico, cultural e

    econmico da Nao.

    1.2. A UFT no Contexto Regional e Local

    O Tocantins se caracteriza por ser um Estado multicultural. O carter heterogneo

    de sua populao coloca para a UFT o desafio de promover prticas educativas que

    promovam o ser humano e que elevem o nvel de vida de sua populao. A insero

    da UFT nesse contexto se d por meio dos seus diversos cursos de graduao,

    programas de ps-graduao, em nvel de mestrado, doutorado e cursos de

    especializao integrados a projetos de pesquisa e extenso que, de forma

    indissocivel, propiciam a formao de profissionais e produzem conhecimentos que

    contribuem para a transformao e desenvolvimento do estado do Tocantins.

    A UFT, com uma estrutura multicampi, possui 7 (sete) campi universitrios

    localizados em regies estratgicas do Estado, que oferecem diferentes cursos

    vocacionados para a realidade local. Nesses campi, alm da oferta de cursos de

    graduao e ps-graduao que oportunizam populao local e prxima o acesso

    educao superior pblica e gratuita, so desenvolvidos programas e eventos

  • 11

    cientfico-culturais que permitem ao aluno uma formao integral. Levando-se em

    considerao a vocao de desenvolvimento do Tocantins, a UFT oferece

    oportunidades de formao nas reas das Cincias Sociais Aplicadas, Humanas,

    Educao, Agrrias, Cincias Biolgicas e da Sade.

    Os investimentos em ensino, pesquisa e extenso na UFT buscam estabelecer uma

    sintonia com as especificidades do Estado demonstrando, sobretudo, o compromisso

    social desta Universidade para com a sociedade em que est inserida. Dentre as

    diversas reas estratgicas contempladas pelos projetos da UFT, merecem

    destaque s relacionadas a seguir:

    As diversas formas de territorialidades no Tocantins merecem ser conhecidas. As

    ocupaes do estado pelos indgenas, afro-descendentes, entre outros grupos,

    fazem parte dos objetos de pesquisa. Os estudos realizados revelam as mltiplas

    identidades e as diversas manifestaes culturais presentes na realidade do

    Tocantins, bem como as questes da territorialidade como princpio para um ideal de

    integrao e desenvolvimento local.

    Considerando que o Tocantins tem desenvolvido o cultivo de gros e frutas e

    investido na expanso do mercado de carne aes que atraem investimentos de

    vrias regies do Brasil, a UFT vem contribuindo para a adoo de novas

    tecnologias nestas reas. Com o foco ampliado, tanto para o pequeno quanto para o

    grande produtor, busca-se uma agropecuria sustentvel, com elevado ndice de

    exportao e a conseqente qualidade de vida da populao rural.

    Tendo em vista a riqueza e a diversidade natural da Regio Amaznica, os estudos

    da biodiversidade e das mudanas climticas merecem destaque. A UFT possui um

    papel fundamental na preservao dos ecossistemas locais, viabilizando estudos

    das regies de transio entre grandes ecossistemas brasileiros presentes no

    Tocantins Cerrado, Floresta Amaznica, Pantanal e Caatinga, que caracterizam o

    Estado como uma regio de ectonos.

  • 12

    O Tocantins possui uma populao bastante heterognea que agrupa uma

    variedade de povos indgenas e uma significativa populao rural. A UFT tem,

    portanto, o compromisso com a melhoria do nvel de escolaridade no Estado,

    oferecendo uma educao contextualizada e inclusiva. Dessa forma, a Universidade

    tem desenvolvido aes voltadas para a educao indgena, educao rural e de

    jovens e adultos.

    Diante da perspectiva de escassez de reservas de petrleo at 2050, o mundo busca

    fontes de energias alternativas socialmente justas, economicamente viveis e

    ecologicamente corretas. Neste contexto, a UFT desenvolve pesquisas nas reas de

    energia renovvel, com nfase no estudo de sistemas hbridos fotovoltaica/energia

    de hidrognio e biomassa, visando definir protocolos capazes de atender s

    demandas da Amaznia Legal.

    Tendo em vista que a educao escolar regular das Redes de Ensino emergente,

    no mbito local, a formao de profissionais que atuam nos sistemas e redes de

    ensino que atuam nas escolas do Estado do Tocantins e estados circunvizinhos.

    1.3. Misso institucional

    O Planejamento Estratgico - PE (2006 2010), o Projeto Pedaggico Institucional

    PPI (2007) e o Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI (2007-2011), aprovados

    pelos Conselhos Superiores, definem que a misso da UFT Produzir e difundir

    conhecimentos visando formao de cidados e profissionais qualificados,

    comprometidos com o desenvolvimento sustentvel da Amaznia e, como viso

    estratgica Consolidar a UFT como um espao de expresso democrtica e

    cultural, reconhecida pelo ensino de qualidade e pela pesquisa e extenso voltadas

    para o desenvolvimento regional.

    Em conformidade com o Projeto Pedaggico Institucional - PPI (2007) e com vistas

    consecuo da misso institucional, todas as atividades de ensino, pesquisa e

    extenso da UFT, e todos os esforos dos gestores, comunidade docente, discente

    e administrativa devero estar voltados para:

  • 13

    o estmulo produo de conhecimento, criao cultural e ao desenvolvimento

    do esprito cientfico e reflexivo;

    a formao de profissionais nas diferentes reas do conhecimento, aptos

    insero em setores profissionais, participao no desenvolvimento da

    sociedade brasileira e colaborar para a sua formao contnua;

    o incentivo ao trabalho de pesquisa e investigao cientfica, visando ao

    desenvolvimento da cincia, da tecnologia e a criao e difuso da cultura,

    propiciando o entendimento do ser humano e do meio em que vive;

    a promoo da divulgao de conhecimentos culturais, cientficos e tcnicos que

    constituem o patrimnio da humanidade comunicando esse saber atravs do

    ensino, de publicaes ou de outras formas de comunicao;

    a busca permanente de aperfeioamento cultural e profissional e possibilitar a

    correspondente concretizao, integrando os conhecimentos que vo sendo

    adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada

    gerao;

    o estmulo ao conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os

    nacionais e regionais; prestar servios especializados comunidade e

    estabelecer com esta uma relao de reciprocidade;

    a promoo da extenso aberta participao da populao, visando difuso

    das conquistas e benefcios resultantes da criao cultural, da pesquisa cientfica

    e tecnolgica geradas na Instituio.

    Como forma de orientar, de forma transversal, as principais linhas de atuao da

    UFT (PPI, 2007 e PE 2006-2010), foram eleitas quatro prioridades institucionais:

    a) Ambiente de excelncia acadmica: ensino de graduao regularizado, de

    qualidade reconhecida e em expanso; ensino de ps-graduao consolidado e em

    expanso; excelncia na pesquisa, fundamentada na interdisciplinaridade e na viso

    holstica; relacionamento de cooperao e solidariedade entre docentes, discentes e

    tcnico-administrativos; construo de um espao de convivncia pautado na tica,

    na diversidade cultural e na construo da cidadania; projeo da UFT nas reas: a)

    Identidade, Cultura e Territorialidade, b) Agropecuria, Agroindstria e Bioenergia, c)

    Meio Ambiente, e) Educao, f) Sade; desenvolvimento de uma poltica de

  • 14

    assistncia estudantil que assegure a permanncia do estudante em situao de

    risco ou vulnerabilidade; intensificao do intercmbio com instituies nacionais e

    internacionais como estratgia para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da

    ps-graduao.

    b) Atuao sistmica: fortalecimento da estrutura multicampi; cooperao e

    interao entre os campi e cursos; autonomia e sinergia na gesto acadmica e uso

    dos recursos; articulao entre as diversas instncias deliberativas; articulao entre

    Pr-Reitorias, Diretorias, Assessorias e Coordenadorias.

    c) Articulao com a sociedade: relaes com os principais rgos pblicos,

    sociedade civil e instituies privadas; preocupao com a eqidade social e com o

    desenvolvimento sustentvel regional; respeito pluralidade e diversidade cultural;

    d) Aprimoramento da gesto: desenvolvimento de polticas de qualificao e

    fixao de pessoal docente e tcnico-administrativo; descentralizao da gesto

    administrativa e fortalecimento da estrutura multicampi; participao e transparncia

    na administrao; procedimentos racionalizados e geis; gesto informatizada;

    dilogo com as organizaes representativas dos docentes, discentes e tcnicos

    administrativos; fortalecimento da poltica institucional de comunicao interna e

    externa.

    A UFT uma universidade multicampi, estando os seus sete campi universitrios

    localizados em regies estratgicas do Estado do Tocantins, o que propicia a

    capilaridade necessria para que possa contribuir com o desenvolvimento local e

    regional, contemplando as suas diversas vocaes e ofertando ensino superior

    pblico e gratuito em diversos nveis. Oferece, atualmente, 43 cursos de graduao

    presencial, um curso de Biologia a distncia, dezenas de cursos de especializao,

    07 programas de mestrado: Cincias do Ambiente (Palmas, 2003), Cincia Animal

    Tropical (Araguana, 2006), Produo Vegetal (Gurupi, 2006), Agroenergia (Palmas,

    2007), Desenvolvimento Regional e Agronegcio (Palmas, 2007), Ecologia de

    Ectonos (Porto Nacional, 2007), mestrado profissional em Cincias da Sade

    (Palmas, 2007). E, ainda, ainda, um Doutorado em Cincia Animal, em Araguaina;

    os minteres em Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental (Palmas, parceria

  • 15

    UFT\UFRGS), Arquitetura e Urbanismo (Palmas, parceria UFT\UnB), os dinteres em

    Histria Social (Palmas, parceria UFT/UFRJ), em Educao (Palmas, parceria

    UFT\UFG) e Produo Animal (Araguana, parceria UFT\UFG).

    1.4. Estrutura poltico-administrativa da UFT

    Segundo o Estatuto da UFT, a estrutura organizacional da UFT composta por:

    Conselho Universitrio - CONSUNI: rgo deliberativo da UFT destinado a

    traar a poltica universitria. um rgo de deliberao superior e de recurso.

    Integram esse conselho o Reitor, Pr-reitores, Diretores de campi e

    representante de alunos, professores e funcionrios; seu Regimento Interno est

    previsto na Resoluo CONSUNI 003/2004.

    Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso CONSEPE: rgo deliberativo da

    UFT em matria didtico-cientfica. Seus membros so: Reitor, Pr-reitores,

    Coordenadores de Curso e representante de alunos, professores e funcionrios;

    seu Regimento Interno est previsto na Resoluo CONSEPE 001/2004.

    Reitoria: rgo executivo de administrao, coordenao, fiscalizao e

    superintendncia das atividades universitrias. Est assim estruturada: Gabinete

    do reitor, Pr-reitorias, Assessoria Jurdica, Assessoria de Assuntos

    Internacionais e Assessoria de Comunicao Social.

    Pr-reitorias: de Graduao; de Pesquisa e Ps-graduao, de Extenso e

    Cultura, de Administrao e Finanas; de Avaliao e Planejamento; de

    Assuntos Estudantis.

    Conselho do Diretor: o rgo dos campi com funes deliberativas e

    consultivas em matria administrativa (art. 26). De acordo com o Art. 25 do

    Estatuto da UFT, o Conselho Diretor formado pelo Diretor do campus, seu

    presidente; pelos Coordenadores de Curso; por um representante do corpo

    docente; por um representante do corpo discente de cada curso; por um

    representante dos servidores tcnico-administrativos.

    Diretor de Campus: docente eleito pela comunidade universitria do campus

    para exercer as funes previstas no art. 30 do Estatuto da UFT e eleito pela

    comunidade universitria, com mandato de 4 (quatro) anos, dentre os nomes de

  • 16

    docentes integrantes da carreira do Magistrio Superior de cada campus.

    Colegiados de Cursos: rgo composto por docentes e discentes do curso.

    Suas atribuies esto previstas no art. 37 do estatuto da UFT.

    Coordenao de Curso: o rgo destinado a elaborar e implementar a poltica

    de ensino e acompanhar sua execuo (art. 36). Suas atribuies esto

    previstas no art. 38 do estatuto da UFT.

    Considerando a estrutura multicampi, foram criadas sete unidades universitrias

    denominadas de campi universitrios.

    1.4.1. Os Campi e os respectivos cursos

    Campus Universitrio de Araguana: oferece os cursos de licenciatura em

    Matemtica, Geografia, Histria, Letras, Qumica, Fsica e Biologia, alm dos cursos

    de Medicina Veterinria e Zootecnia. Alm disso, disponibiliza os cursos

    tecnolgicos em Cooperativismo, Logstica e Gesto em Turismo; o curso de

    Biologia a distncia; o Doutorado e o Mestrado em Cincia Animal Tropical.

    Campus Universitrio de Arraias: oferece as licenciaturas em Matemtica,

    Pedagogia e Biologia (modalidade a distncia) e desenvolve pesquisas ligadas s

    novas tecnologias e educao, geometria das sub-variedades, polticas pblicas e

    biofsica.

    Campus Universitrio de Gurupi: oferece os cursos de graduao em Agronomia,

    Engenharia Florestal; Engenharia Biotecnolgica; Qumica Ambiental e a licenciatura

    em Biologia (modalidade a distncia). Oferece, tambm, o programa de mestrado na

    rea de Produo Vegetal.

    Campus Universitrio de Miracema: oferece os cursos de Pedagogia e Servio

    Social e desenvolve pesquisas na rea da prtica educativa.

    Campus Universitrio de Palmas: oferece os cursos de Administrao; Arquitetura

    e Urbanismo; Cincias da Computao; Cincias Contbeis; Cincias Econmicas;

    Comunicao Social; Direito; Engenharia de Alimentos; Engenharia Ambiental;

  • 17

    Engenharia Eltrica; Engenharia Civil; Medicina, as licenciaturas em Filosofia, Artes

    e Pedagogia. Disponibiliza, ainda, os programas de Mestrado em Cincias do

    Ambiente, Arquitetura e Urbanismo, Desenvolvimento Regional e Agronegcio,

    Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental, Cincias da Sade.

    Campus Universitrio de Porto Nacional: oferece as licenciaturas em Historia,

    Geografia, Cincias Biolgicas e Letras e o mestrado em Ecologia dos ectonos.

    Campus Universitrio de Tocantinpolis: oferece as licenciaturas em Pedagogia e

    Cincias Sociais.

    Alm do Conselho Diretor (rgo deliberativo), cada campus da UFT tambm conta

    com Direo de Campus (rgo executivo) e com Coordenao e Colegiado de

    Curso (rgos de coordenao de natureza acadmica).

    2. CONTEXTUALIZAO DO CURSO

    2.1. Nome do Curso Curso de Biologia

    2.2. Modalidade do curso Licenciatura

    2.3. Endereo do Curso Rua Paraguai esquina c/ rua Uxuriana, Setor Cimba, CEP: 77807-060. Araguana/TO. 2.4. Nmero de Vagas 40 vagas por semestre

    2.5. Turno de Funcionamento Turno Noturno

    2.6. Diretor do Campus

    De acordo com o Regimento Geral da UFT, ao Diretor de Campus, eleito pela

    comunidade universitria, compete: a administrao da unidade de ensino sob sua

    responsabilidade, a representao do campus nos demais rgos da Universidade,

  • 18

    a promoo de aes de coordenao e fiscalizao das atividades realizadas no

    campus, a elaborao da proposta oramentria e do relatrio das atividades

    desenvolvidas no campus universitrio e demais deliberaes concernentes com o

    bom andamento das atividades de ensino. O Campus de Araguana encontra-se sob

    a direo do Prof. Dr. Luiz Eduardo Bovolato.

    2.7. Coordenador do Curso

    Dentre as atribuies conferidas ao Coordenador de Curso, o Regimento

    institucional prev: presidir todos os trabalhos referentes coordenao de curso,

    responder pela eficincia do planejamento e da coordenao das atividades de

    ensino do curso sob sua responsabilidade e representar o colegiado de curso nas

    instncias deliberativas superiores.

    2.8. Relao Nominal dos membros do colegiado:

    Prof.a Dra. Jeane Alves de Almeida

    Prof. Dr. Sandro Estevan Moron

    2.9. Comisso de elaborao do PPC

    A elaborao do Projeto Pedaggico do Curso Licenciatura em Biologia iniciou-se

    em maro de 2008, a partir de reunies regulares com a PROGRAD, as quais

    integraram docentes e tcnicos administrativos responsveis pelo desenvolvimento

    dos projetos de implementao dos cursos propostos pelo REUNI. Integram a

    comisso responsvel pela redao do PPC os seguintes membros, todos

    pertencentes ao campus de Araguana:

    Prof. Dra. Jeane Alves de Almeida

    Prof. Dr. Joseilson Alves de Paiva

    Prof. Dr. Fbio de Jesus de Casto

    Pro. Dr. Nilo Mauricio Sotomayor Choque

    Prof. Dr. Sandro Estevan Moron

  • 19

    2.10. Justificativa

    O Projeto Pedaggico do Curso de Licenciatura em Biologia resulta de um

    processo de discusses e planejamento com a participao dos profissionais da

    rea de Cincias Biolgicas da Universidade Federal do Tocantins Campus

    Araguana. Este projeto tem como objetivo criar o curso de Licenciatura em Cincias

    Biolgicas e a escolha de prioridades e aes de implementao, que garantam ao

    estudante a aquisio de competncias e habilidades de bilogo, levando em conta

    as especificidades e singularidades da instituio. As Cincias Biolgicas tm-se

    despontado como uma das mais promissoras reas em termos avanos cientficos e

    tecnolgicos. Os avanos relativos biotecnologia tm tido grandes

    desdobramentos tcnico-cientficos sobre as mais diversas reas, com reflexos na

    sade, agroeconomia, indstria alimentcia, farmacutica e o desenvolvimento de

    tcnicas na preservao e monitoramento ambiental visando preservao da

    biodiversidade dos ecossistemas. A Biodiversidade um dos patrimnios de maior

    riqueza que o Brasil ainda desconhece, necessitando de estudos ecolgicos que

    levam ao conhecimento dessas riquezas bem como a recuperao de reas j

    degradadas. Por outro lado, a cidade de Araguana tem um grande potencial para

    tornar-se um dos plos de desenvolvimento nas reas de ensino, cincia e cultura

    do Estado de Tocantins e principalmente da regio norte do Brasil. Foi constatada

    uma crescente demanda de profissionais de ensino, principalmente na rea de

    Cincias Biolgicas.

    Na regio Norte, atualmente verifica-se uma carncia de professores, tanto

    para lecionar em Cincias Naturais, no ensino fundamental, como para a disciplina

    de Biologia no ensino mdio. A carncia desse profissional faz com que ocorra o

    deslocamento de profissionais de outras reas, que passam a exercer funes

    destinadas ao Bilogo com um provvel prejuzo no aprendizado do aluno.

    A Biologia hoje uma das reas do conhecimento com maior deficincia de

    professores graduados e capacitados para o seu ensino. As regies Norte, centro-

    oeste e Nordeste so as mais afetadas por essa deficincia, apesar de terem os

    principais biomas brasileiros: Amaznia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlntica e

    Caatinga. Tal deficincia tambm tem, portanto, conseqncias srias na qualidade

    de vida do Homem e no Ambiente.

  • 20

    A criao do curso de Licenciatura em Biologia - UFT em Araguana ter um

    papel importante junto ao desenvolvimento do conhecimento na rea do ensino

    fundamental e mdio e tambm nas instituies ligadas ao Ambiente, pesquisa e

    administrao que necessitam desse profissional para a composio dos quadros

    tcnicos e especializados. Nesse contexto, o ensino de biologia no se apresenta

    como acessrio, mas como um importante instrumento para o entendimento e uma

    melhor qualidade de vida para a sociedade. Talvez, uma das importantes

    contribuies do professor de Biologia seja despertar no cidado a conscientizao

    e o senso crtico.

    3. BASES CONCEITUAIS DO PROJETO PEDAGGICO INSTITUCIONAL

    Algumas tendncias contemporneas orientam o pensar sobre o papel e a funo da

    educao no processo de fortalecimento de uma sociedade mais justa, humanitria

    e igualitria. A primeira tendncia diz respeito s aprendizagens que devem orientar

    o ensino superior no sentido de serem significativas para a atuao profissional do

    formando.

    A segunda tendncia est inserida na necessidade efetiva da interdisciplinaridade,

    problematizao, contextualizao e relacionamento do conhecimento com formas

    de pensar o mundo e a sociedade na perspectiva da participao, da cidadania e do

    processo de deciso coletivo. A terceira fundamenta-se na tica e na poltica como

    bases fundamentais da ao humana. A quarta tendncia trata diretamente do

    ensino superior cujo processo dever se desenvolver no aluno como sujeito de sua

    prpria aprendizagem, o que requer a adoo de tecnologias e procedimentos

    adequados a esse aluno para que se torne atuante no seu processo de

    aprendizagem. Isso nos leva a pensar o que o ensino superior, o que a

    aprendizagem e como ela acontece nessa atual perspectiva.

    A ltima tendncia diz respeito transformao do conhecimento em tecnologia

    acessvel e passvel de apropriao pela populao. Essas tendncias so as

    verdadeiras questes a serem assumidas pela comunidade universitria em sua

    prtica pedaggica, uma vez que qualquer discurso efetiva-se de fato atravs da

  • 21

    prtica. tambm essa prtica, esse fazer cotidiano de professores de alunos e

    gestores que daro sentido s premissas acima, e assim se efetivaro em

    mudanas nos processos de ensino e aprendizagem, melhorando a qualidade dos

    cursos e criando a identidade institucional.

    Pensar as polticas de graduao para a UFT requer clareza de que as variveis

    inerentes ao processo de ensino-aprendizagem no interior de uma instituio

    educativa, vinculada a um sistema educacional, parte integrante do sistema scio-

    poltico-cultural e econmico do pas.

    Esses sistemas, por meio de articulao dialtica, possuem seus valores, direes,

    opes, preferncias, prioridades que se traduzem, e se impem, nas normas, leis,

    decretos, burocracias, ministrios e secretarias. Nesse sentido, a despeito do

    esforo para superar a dicotomia quantidade x qualidade, acaba ocorrendo no

    interior da Universidade a predominncia dos aspectos quantitativos sobre os

    qualitativos, visto que a qualidade necessria e exigida no deixa de sofrer as

    influncias de um conjunto de determinantes que configuram os instrumentos da

    educao formal e informal e o perfil do alunado.

    As polticas de Graduao da UFT devem estar articuladas s mudanas exigidas

    das instituies de ensino superior dentro do cenrio mundial, do pas e da regio

    amaznica. Devem demonstrar uma nova postura que considere as expectativas e

    demandas da sociedade e do mundo do trabalho, concebendo Projetos Pedaggicos

    com currculos mais dinmicos, flexveis, adequados e atualizados, que coloquem

    em movimento as diversas propostas e aes para a formao do cidado capaz de

    atuar com autonomia. Nessa perspectiva, a lgica que pauta a qualidade como tema

    gerador da proposta para o ensino da graduao na UFT tem, pois, por finalidade a

    construo de um processo educativo coletivo, objetivado pela articulao de aes

    voltadas para a formao tcnica, poltica, social e cultural dos seus alunos.

    Nessa linha de pensamento, torna-se indispensvel interao da Universidade

    com a comunidade interna e externa, com os demais nveis de ensino e os

    segmentos organizados da sociedade civil, como expresso da qualidade social

  • 22

    desejada para a formao do cidado. Nesse sentido, os Projetos Pedaggicos dos

    Cursos (PPCs) da UFT devero estar pautados em diretrizes que contemplem a

    permeabilidade s transformaes, a interdisciplinaridade, a formao integrada

    realidade social, a necessidade da educao continuada, a articulao teoria

    prtica e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso.

    Devero, pois, ter como referencial:

    a democracia como pilar principal da organizao universitria, seja no processo

    de gesto ou nas aes cotidianas de ensino;

    o deslocamento do foco do ensino para a aprendizagem (articulao do processo

    de ensino aprendizagem) re-significando o papel do aluno, na medida em que ele

    no um mero receptor de conhecimentos prontos e descontextualizados, mas

    sujeito ativo do seu processo de aprendizagem;

    o futuro como referencial da proposta curricular tanto no que se refere a ensinar

    como nos mtodos a serem adotados. O desafio a ser enfrentado ser o da

    superao da concepo de ensino como transmisso de conhecimentos

    existentes. Mais que dominar o conhecimento do passado, o aluno deve estar

    preparado para pensar questes com as quais lida no presente e poder defrontar-

    se no futuro, deve estar apto a compreender o presente e a responder a questes

    prementes que se interporo a ele, no presente e no futuro;

    a superao da dicotomia entre dimenses tcnicas e dimenses humanas

    integrando ambas em uma formao integral do aluno;

    a formao de um cidado e profissional de nvel superior que resgate a

    importncia das dimenses sociais de um exerccio profissional. Formar, por isso,

    o cidado para viver em sociedade;

    a aprendizagem como produtora do ensino; o processo deve ser organizado em

    torno das necessidades de aprendizagem e no somente naquilo que o professor

    julga saber;

    a transformao do conhecimento existente em capacidade de atuar. preciso ter

    claro que a informao existente precisa ser transformada em conhecimento

  • 23

    significativo e capaz de ser transformada em aptides, em capacidade de atuar

    produzindo conhecimento;

    o desenvolvimento das capacidades dos alunos para atendimento das

    necessidades sociais nos diferentes campos profissionais e no apenas demandas

    de mercado;

    o ensino para as diversas possibilidades de atuao com vistas formao de um

    profissional empreendedor capaz de projetar a prpria vida futura, observando-se

    que as demandas do mercado no correspondem, necessariamente, s

    necessidades sociais.

    3.1. Fundamentos do Projeto Pedaggico dos cursos da UFT

    No ano de 2006, a UFT realizou o seu I Frum de Ensino, Pesquisa, Extenso

    e Cultura (FEPEC), no qual foi apontado como uma das questes relevantes as

    dificuldades relativas ao processo de formao e ensino-aprendizagem efetivados

    em vrios cursos e a necessidade de se efetivar no seio da Universidade um debate

    sobre a concepo e organizao didtico-pedaggica dos projetos pedaggicos

    dos cursos.

    Nesse sentido, este Projeto Pedaggico objetiva promover uma formao ao

    estudante com nfase no exerccio da cidadania; adequar a organizao curricular

    dos cursos de graduao s novas demandas do mundo do trabalho por meio do

    desenvolvimento de competncias e habilidades necessrias a atuao, profissional,

    independentemente da rea de formao; estabelecer os processos de ensino-

    aprendizagem centrados no estudante com vistas a desenvolver autonomia de

    aprendizagem, reduzindo o nmero de horas em sala de aula e aumentando as

    atividades de aprendizado orientadas; e, finalmente, adotar prticas didtico-

    pedaggicas integradoras, interdisciplinares e comprometidas com a inovao, a fim

    de otimizar o trabalho dos docentes nas atividades de graduao.

    A abordagem proposta permite simplificar processos de mudana de cursos e

    de trajetrias acadmicas a fim de propiciar maiores chances de xito para os

    estudantes e o melhor aproveitamento de sua vocao acadmica e profissional.

    Ressaltamos que o processo de ensino e aprendizagem deseja considerar a atitude

    coletiva, integrada e investigativa, o que implica a indissociabilidade entre ensino,

  • 24

    pesquisa e extenso. Refora no s a importncia atribuda articulao dos

    componentes curriculares entre si, no semestre e ao longo do curso, mas tambm

    sua ligao com as experincias prticas dos educandos.

    Este Projeto Pedaggico busca implementar aes de planejamento e ensino,

    que contemplem o compartilhamento de disciplinas por professores(as) oriundos(as)

    das diferentes reas do conhecimento; trnsito constante entre teoria e prtica,

    atravs da seleo de contedos e procedimentos de ensino; eixos articuladores por

    semestre; professores articuladores dos eixos, para garantir a desejada integrao;

    atuao de uma tutoria no decorrer do ciclo de formao geral para dar suporte ao

    aluno; utilizao de novas tecnologias da informao; recursos udios-visuais e de

    plataformas digitais.

    No sentido de efetivar os princpios de integrao e interdisciplinaridade, os

    currculos dos cursos esto organizados em torno de eixos que agregam e articulam

    os conhecimentos especficos tericos e prticos em cada semestre, sendo

    compostos por disciplinas, interdisciplinas e seminrios integradores. Cada ciclo

    constitudo por eixos que se articulam entre si e que so integrados por meio de

    contedos interdisciplinares a serem planejados semestralmente em conformidade

    com a carga horria do Eixo de Estudos Integradores.

    3.2. A construo de um currculo interdisciplinar: caminhos possveis

    Buscar caminhos e pistas para a construo de um currculo interdisciplinar

    nos remete necessidade de uma formulao terica capaz de dar sustentao s

    Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Biologia (Resoluo CNE/CP 2, de

    19 de Fevereiro de 2002) e os Parmetros Curriculares Nacionais para a Educao

    Bsica (ensino Fundamental, Cincias Naturais e ensino Mdio) e os resultados

    sobre pesquisa diversas no mbito educacional.

    As incertezas interpostas nos levam a retomar Edgar Morin que em sua obra

    O Paradigma perdido: a natureza humana (1973)1 integrou e articulou biologia,

    antropologia, etnologia, histria, sociologia, psicologia, dentre outras cincias para

    construir a cincia do homem. Enfatizou o confronto que vem sendo feito entre o

    mundo das certezas, herdado da tradio e o mundo das incertezas, gerado pelo

    1 MORIN, Edgar. O paradigma perdido: a natureza humana. Lisboa: Europa Amrica, 1973.

  • 25

    nosso tempo de transformaes e, nesse sentido, passou a entender o homem

    como uma unidade biopsicossociolgica, caminhando de uma concepo de matria

    viva para uma concepo de sistemas vivos e, desses, para uma concepo de

    organizao. Segundo ele,

    o ser vivo est submetido a uma lgica de funcionamento e de desenvolvimento completamente diferentes, lgica essa em que a indeterminao, a desordem, o acaso intervm como fatores de organizao superior ou de auto-organizao. Essa lgica do ser vivo , sem dvida, mais complexa do que aquela que o nosso entendimento aplica s coisas, embora o nosso entendimento seja produto dessa mesma lgica (MORIN, 1973: 242).

    O pensamento complexo proposto por Morin pressupe a busca de uma

    percepo de mundo, a partir de uma nova tica: a da complexidade. Prope uma

    multiplicidade de pontos de vista; uma perspectiva relacional entre os saberes em

    sua multiplicidade; a conquista de uma percepo sistmica, ps-cartesiana, que

    aponta para um novo saber, a partir do pensamento complexo. A complexidade do

    real, como um novo paradigma na organizao do conhecimento, abala os pilares

    clssicos da certeza: a ordem, a regularidade, o determinismo e a separabilidade.

    Ainda, segundo Morin3 (1994: 225), a complexidade refere-se quantidade de

    informaes que possui um organismo ou um sistema qualquer, indicando uma

    grande quantidade de interaes e de interferncias possveis, nos mais diversos

    nveis. De acordo com seus pressupostos,

    essa complexidade aumenta com a diversidade de elementos que constituem o sistema. Alm do aspecto quantitativo implcito neste termo, existiria tambm a incerteza, o indeterminismo e o papel do acaso, indicando que a complexidade surge da interseco entre ordem e desordem. O importante reconhecer que a complexidade um dos parmetros presentes na composio de um sistema complexo ou hipercomplexo como o crebro humano, assim como tambm est presente na complexa tessitura comum das redes que constituem as comunidades virtuais que navegam no ciberespao (MORIN, 1994: 225).

    Na perspectiva de Morin (1994), portanto, a complexidade est no fato de que

    o todo possui qualidades e propriedades que no se encontram nas partes

    2 Idem.

    3 MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. Sintra: Europa-Amrica, 1994.

  • 26

    isoladamente. O termo complexidade traz, em sua essncia, a idia de confuso,

    incerteza e desordem; expressa nossa confuso, nossa incapacidade de definir de

    maneira simples, para nomear de maneira clara, para por ordem em nossas idias.

    O pensamento complexo visto como uma viagem em busca de um modo de

    pensamento capaz de respeitar a multidimensionalidade, a riqueza, o mistrio do

    real e de saber que as determinaes (cerebral, cultural, social e histrica), que se

    impe a todo o pensamento, co-determinam sempre o objeto do conhecimento

    (MORIN4, 2003: 21).

    Analisar a complexidade, segundo Burnham5 (1998: 44), requer o olhar por

    diferentes ticas, a leitura por meio de diferentes linguagens e a compreenso por

    diferentes sistemas de referncia. Essa perspectiva multirreferencial entendida

    como um mtodo integrador de diferentes sistemas de linguagens, aceitas como

    plurais ou necessariamente diferentes umas das outras, para elucidar a

    complexidade de um fenmeno. Nessa acepo, segundo Ardoino6, se torna

    essencial, nos espaos de aprendizagem,

    o afloramento de uma leitura plural de seus objetos (prticos ou tericos), sob diferentes pontos de vista, que implicam vises especficas, quanto linguagens apropriadas s descries exigidas, em funo de sistemas de referenciais distintos, considerados e reconhecidos explicitamente, como no redutveis uns aos outros, ou seja, heterogneos (ARDOINO7, 1998: 24).

    A partir dessa complexidade, Morin prope despertar a inteligncia geral

    adormecida pela escola vigente e estimular a capacidade de contextualizar e

    globalizar; de termos uma nova maneira de ver o mundo, de aprender a viver e de

    enfrentar a incerteza. A educao, nessa perspectiva, se configura como uma

    funo global que atravessa o conjunto dos campos das cincias dos homens e da

    sociedade, interessando tanto ao psiclogo social, ao economista, ao socilogo, ao

    filsofo ou a historiador etc. (ARDOINO8, 1995 apud MARTINS9, 2004: 89). A

    4 MORIN, Edgar. Introduo ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

    5 BURNHAM, T. F. Complexidade, multirreferencialidade, subjetividade: trs referncias polmicas para a

    compreenso do currculo escolar. In: BARBOSA, J. G. (Org.). Reflexes em torno da abordagem

    multirreferencial. So Paulo: Edufscar, 1998, p. 35-55. 6ARDOINO, Jacques. Entrevista com Cornelius Castoriadis. In: BARBOSA, Joaquim Gonalves (org.)

    Multirreferencialidade nas cincias e na educao. S. Paulo: UFSCAR, 1998. 7 Idem.

    8 ARDOINO, J. Entrevista com Cornelius Castoriadis. In: BARBOSA, J. G. (Org.). Multirreferencialidade nas

    cincias e na educao. So Paulo: Ufscar, 1998, 50-72.

  • 27

    incorporao da diversidade do coletivo e a potencializao das experincias

    multirreferenciais dos sujeitos requer no somente a concepo de um currculo que

    privilegie a dialogicidade, a incerteza e certeza, a ordem e desordem, a

    temporalidade e espacialidade dos sujeitos, mas, tambm, a utilizao de

    dispositivos comunicacionais que permitam a criao de ambientes de

    aprendizagem capazes de subverter as limitaes espao-temporais da sala de

    aula.

    Refletir sobre esse novo currculo implica consider-lo como prxis interativa,

    como sistema aberto e relacional, sensvel dialogicidade, contradio, aos

    paradoxos cotidianos, indexalidade das prticas, como instituio eminentemente

    relevante, carente de ressignificao em sua emergncia (BURNHAM10, 1998: 37).

    O conhecimento entendido no mais como produto unilateral de seres humanos

    isolados, mas resultado de uma vasta cooperao cognitiva, da qual participam

    aprendentes humanos e sistemas cognitivos artificiais, implicando modificaes

    profundas na forma criativa das atividades intelectuais.

    Sob esse olhar, o currculo se configura como um campo complexo de

    contradies e questionamentos. No implica apenas seleo e organizao de

    saberes, mas um emaranhado de questes relativas a sujeitos, temporalidades e

    contextos implicados em profundas transformaes. Configura-se como um sistema

    aberto, dialgico, recursivo e construdo no cotidiano por sujeitos histricos que

    produzem cultura e so produzidos pelo contexto histrico-social (BURNHAM, 1998;

    MACEDO11, 2002).

    Nessa nova teia de relaes esto inseridos os processos educativos, que se

    tornam influenciveis por determinantes do global, do nacional e do local. Para

    compreend-lo, torna-se imperativo assumirmos uma nova lgica, uma nova cultura,

    uma nova sensibilidade e uma nova percepo, numa lgica baseada na explorao

    de novos tipos de raciocnio, na construo cotidiana, relacionando os diversos

    saberes.

    9 MARTINS, J. B. Abordagem multirreferencial: contribuies epistemolgicas e metodolgicas para os estudos

    dos fenmenos educativos. So Paulo, S. Carlos: UFSCAR, 2000. 10

    BURNHAM, T. F. Complexidade, multirreferencialidade, subjetividade: trs referncias polmicas para a

    compreenso do currculo escolar. In: BARBOSA, J. G. (Org.). Reflexes em torno da abordagem

    multirreferencial. So Paulo: Edufscar, 1998, p. 35-55. 11

    MACEDO, R. S. Chrysalls, currculo e complexidade: a perspectiva crtico-multirreferencial e o currculo

    contemporneo. Salvador: Edufba, 2002.

  • 28

    Nesse sentido, adotar a interdisciplinaridade como perspectiva para a

    transdisciplinaridade como metodologia no desenvolvimento do currculo implica a

    confrontao de olhares plurais na observao da situao de aprendizagem para

    que os fenmenos complexos sejam observados. Implica tambm, como afirma

    Burnham, entender no s a polissemia do currculo,

    mas o seu significado como processo social, que se realiza no espao concreto da escola, cujo papel principal o de contribuir para o acesso, daqueles sujeitos que a interagem, a diferentes referenciais de leitura de mundo e de relacionamento com este mesmo mundo, propiciando-lhes no apenas um lastro de conhecimentos e de outras vivncias que contribuam para a sua insero no processo da histria, como sujeito do fazer dessa histria, mas tambm para a sua construo como sujeito (qui autnomo) que participa ativamente do processo de produo e de socializao do conhecimento e, assim da instituio histrico-social de sua sociedade (BURNHAM 1998: 37).

    Nessa perspectiva, o conhecimento passa a se configurar como uma rede

    de articulaes desafiando nosso imaginrio epistemolgico a pensar com novos

    recursos, reencantando o ato de ensinar e aprender ao libertarmos [...] as palavras

    de suas prises e devolvendo-as ao livre jogo inventivo da arte de conversar e

    pensar (ASMANN, 1998, p. 8212).

    Nosso desafio mais impactante na implementao de novos currculos na

    Universidade Federal do Tocantins (UFT) est na mudana desejada de avanar, e

    talvez, at superar o enfoque disciplinar das nossas construes curriculares para a

    concepo de currculos integrados, atravs e por meio de seus eixos transversais e

    interdisciplinares, caminhando na busca de alcanarmos a transdisciplinaridade.

    Considerando que desejar o passo inicial para se conseguir, apostamos que

    possvel abordar, dispor e propor aos nossos alunos uma relao com o saber

    (CHARLOT, 200013), em sua totalidade complexa, multirreferencial e multifacetada.

    Nesse fazer, os caminhos j abertos e trilhados no sero descartados,

    abandonados. As rupturas, as brechas, os engajamentos conseguidos so

    importantssimos e nos apoiaro no reconhecimento da necessidade de inusitadas

    pistas. Portanto, a soluo de mudana no est em tirar e pr, podar ou incluir mais

    um componente curricular, uma matria, um contedo, e sim, em redefinir e

    12

    ASSMANN, Hugo. Reencantar a educao: rumo sociedade aprendente. Petrpolis: Vozes, 1998. 13

    CHARLOT, Bernard. Da relao com o saber. Elementos para uma teoria. Porto Alegre: Editora Artmed,

    2000.

  • 29

    repensar o que temos, com criatividade, buscando o que pretendemos. Essa

    caminhada ser toda feita de ir e vir, avanos e recuos e, nesse movimento de

    ondas, possvel vislumbrarmos o desenho de um currculo em espiral, ou seja,

    um trabalho que articula e abrange a dinamicidade dos saberes organizados nos

    ciclos e eixos de formao.

    Essa construo de uma matriz curricular referenciada e justificada pela ao

    e interao dos seus construtores, com nfase no-linear, nos conduzir a

    arquiteturas de formao no-determinista, com possibilidades de abertura, o que

    propiciar o nosso projeto de interdisciplinaridade, flexibilidade e mobilidade. Nesse

    sentido, no tem nem incio nem fim, essa matriz tem,

    Fronteiras e pontos de interseco ou focos. Assim um currculo modelado em uma matriz tambm no-linear e no-seqencial, mas limitado e cheio de focos que se interseccionam e uma rede relacionada de significados. Quanto mais rico o currculo, mais haver pontos de interseco, conexes construdas e mais profundo ser o seu significado. (DOLL JR., 1997: 17814).

    Curricularmente, essa matriz se implementa por meio de um trabalho coletivo

    e solidrio em que o planejamento reconhece como importante deste fazer o

    princpio da auto-organizao da teoria da complexidade. A dialogicidade

    fundamental para evitarmos que a prpria crtica torne-se hegemnica e maquiada.

    Desassimilao de hbitos e mudanas de estruturas no so fceis. frustrante o

    esforo que leva a produes sem sentido. Entretanto, no se muda sem alterar

    concepes, destroar profundamente contedos e rotinas curriculares costumeiras.

    O modelo disciplinar linear ou o conjunto de disciplinas justapostas numa

    grade curricular de um curso tm tido implicaes pedaggicas diversas e deixado

    marcas nada opcionais nos percursos formativos. O currculo centrado na matria e

    salivado nas aulas magistrais tem postado o conhecimento social de forma paralela

    ao conhecimento acadmico. Nesse sentido, o conhecimento aparece como um fim

    a-histrico, como algo dotado de autonomia e vida prpria, margem das pessoas

    (SANTOM, 1998: 10615), perpassa a idia de que nem todos os alunos tm

    condies de serem bem sucedidos em algumas disciplinas, legitimando o prprio

    14

    DOLL Jr., William E. Currculo: uma perspectiva ps-moderna. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997. 15

    SANTOM, J. Torres. Globalizao e interdisciplinaridade: o currculo integrado. Porto Alegre: Artes

    Mdicas, 1998.

  • 30

    fracasso acadmico. Um currculo disciplinar favorece mais a propagao de uma

    cultura da objetividade e da neutralidade, entre tantas razes, porque mais difcil

    entrar em discusses e verificaes com outras disciplinas com campos similares ou

    com parcelas comuns de estudo (SANTOM, 1998: 109). Como conseqncia, as

    contradies so relegadas e as dimenses conflituosas da realidade social

    refutadas, como se fosse possvel sua ocultao.

    A crise que desequilibra valores e posturas do sculo passado a mesma

    que d foras para alternativas curriculares no sculo XXI. As crticas tecidas ao

    currculo disciplinar propem perspectivar a embriologia do currculo globalizado,

    currculo integrado ou currculo interdisciplinar. Apesar de alguns autores no

    distinguirem interdisciplinaridade de integrao, muitos defendem que

    interdisciplinaridade mais apropriada para referir-se inter-relao de diferentes

    campos do conhecimento, enquanto que integrao significa dar unidade das partes,

    o que no qualifica necessariamente um todo em sua complexidade. Os currculos

    interdisciplinares, hoje propostos, coincidem com o desejo de buscar modos de

    estabelecer relaes entre campos, formas e processos de conhecimento que at

    agora eram mantidos incomunicveis (SANTOM16, 1998: 124). Nessa perspectiva,

    No desenvolvimento do currculo, na prtica cotidiana na instituio, as

    diferentes reas do conhecimento e experincia devero entrelaar-se,

    complementar-se e reforar-se mutuamente, para contribuir de modo mais eficaz e

    significativo com esse trabalho de construo e reconstruo do conhecimento e dos

    conceitos, habilidades, atitudes, valores, hbitos que uma sociedade estabelece

    democraticamente ao consider-los necessrios para uma vida mais digna, ativa,

    autnoma, solidria e democrtica. (SANTOM, 1998: 125).

    Nosso currculo desejado um convite a mudanas e afeta, claro, as

    funes dos professores que trabalham em um mesmo curso. Nossa opo de

    organizao do currculo novo cria colegiados de saberes e ilhas de

    conhecimentos que potencializaro a formao de arquiplagos de vivncias e

    itinerncias participativas. Distancia-se, pois, do currculo disciplinar em que

    possvel o trabalho isolado, o eu-sozinho e incomunicvel. No qual, encontram-se

    professores que so excelentes em suas disciplinas, mas que por estarem, muitas

    16

    SANTOM, J. Torres. Globalizao e interdisciplinaridade: o currculo integrado. Porto Alegre: Artes

    Mdicas, 1998.

  • 31

    vezes, preocupados somente com suas matrias, chegam a induzir os alunos a

    acreditarem e se interessarem por esta ou aquela disciplina em detrimento de

    outras, por acreditarem que h disciplinas mais importantes e outras menos

    importantes.

    A construo da realidade social e histrica depende de seus sujeitos, de

    seus protagonistas. A matriz curricular ter a cara ou ser o monstro que os

    desenhistas conseguirem pintar a partir da identidade possvel construda.

    No entanto pode-se falar, conforme (SANTOM, 1998: 20617) em quatro

    formatos de integrar currculos: a) integrao correlacionando diversas disciplinas; b)

    integrao atravs de temas, tpicos ou idias, c) integrao em torno de uma

    questo da vida prtica e diria; d) integrao a partir de temas e pesquisas

    decididos pelos estudantes. Alm da possibilidade ainda de: 1) integrao atravs

    de conceitos, 2) integrao em torno de perodos histricos e/ou espaos

    geogrficos, 3) integrao com base em instituies e grupos humanos, 4)

    integrao em torno de descobertas e invenes, 5) integrao mediante reas de

    conhecimento.

    Por meio da implantao do programa de reestruturao e expanso de seus

    cursos e programas, a UFT objetiva a ampliao do acesso com garantia de

    qualidade. Os princpios que orientam a construo de suas polticas de formao

    esto assentados na concepo da educao como um bem pblico, no seu papel

    formativo, na produo do conhecimento, na valorizao dos valores democrticos,

    na tica, nos valores humanos, na cidadania e na luta contra a excluso social.

    Nesse sentido, enfatiza que a Universidade no deve apenas formar recursos

    humanos para o mercado de trabalho, mas pessoas com esprito crtico e humanista

    que possam contribuir para a soluo dos problemas cada vez mais complexos do

    mundo. Para tanto, prope o exerccio da interdisciplinaridade, com vistas atingirmos

    a transdisciplinaridade, ou seja, uma nova relao entre os conhecimentos.

    Isso implica, ainda, os seguintes desdobramentos:

    17

    SANTOM, J. Torres. Globalizao e interdisciplinaridade: o currculo integrado. Porto Alegre: Artes

    Mdicas, 1998. 19

    BRASIL, Conselho Nacional de Educao (CNE). Parecer CNE/CP n 09/2001 que trata sobre a formao do

    professor. Braslia, DF, 2001. Acesso realizado em 29/03/2008 em www.mec.gov.br.

  • 32

    introduzir nos cursos de graduao temas relevantes da cultura contempornea,

    o que, considerando a diversidade multicultural do mundo atual, significa pensar

    em culturas, no plural.

    dotar os cursos de graduao com maior mobilidade, flexibilidade e qualidade,

    visando o atendimento s demandas da educao superior do mundo

    contemporneo.

    Este projeto possui uma construo curricular em ciclos. A idia

    proporcionar ao aluno uma formao inicial ampla, evitando assim a

    profissionalizao precoce uma das grandes causas da evaso.

    Os ciclos referem-se aos diferentes nveis de aprofundamento e distribuio

    dos conhecimentos das reas. Dentro da perspectiva do currculo composto por

    ciclos articulados, o acadmico vivenciar, em diversos nveis processuais de

    aprofundamento, as reas dos saberes. Os ciclos so estruturados em eixos, os

    quais se configuram como os conjuntos de componentes e atividades curriculares

    coerentemente integrados e relacionados a uma rea de conhecimento especfica.

    Tais eixos devero ser compreendidos como elementos centrais e

    articuladores da organizao do currculo, garantindo equilbrio na alocao de

    tempos e espaos curriculares, que atendam aos princpios da formao. Em torno

    deles, de acordo com o Parecer do Conselho Nacional de Educao CNE/CP no.

    09/200118 (p. 41), se articulam as dimenses que precisam ser contempladas na

    formao profissional e sinalizam o tipo de atividade de ensino e aprendizagem que

    materializam o planejamento e a ao dos formadores de formadores.

    A articulao dos ciclos e dos eixos pressupe o dilogo interdisciplinar entre

    os campos do saber que compem os cursos e se concretizam em componentes

    curriculares, constituindo-se na superao da viso fragmentada do conhecimento.

    Na prtica, essa articulao pode ser garantida por componentes curriculares

    de natureza interdisciplinar e por outros de natureza integradora, tais como

    Seminrios Temticos, Oficinas e Laboratrios.

    3.3. Desdobrando os ciclos e os eixos do projeto

  • 33

    Os trs ciclos, que compem este projeto, sero articulados de forma a levar

    o aluno compreenso de que a formao composta de conhecimentos e

    habilidades bsicas necessrias para a leitura do mundo e compreenso da cincia

    e de conhecimentos especficos necessrios formao do profissional. A ps-

    graduao passa a integrar esse processo de forma a preparar o aluno, que optar

    por esse ciclo, para o exerccio profissional no atual estgio de desenvolvimento da

    cincia e das tecnologias.

    Assim, nos primeiros semestres do curso, o aluno passa pelo Ciclo de

    Formao Geral, que alm de propiciar-lhe uma compreenso pertinente e crtica da

    realidade natural, social e cultural, permite-lhe a vivncia das diversas possibilidades

    de formao, tornando-o apto a fazer opes quanto a sua formao profissional

    podendo inclusive articular diferentes reas de conhecimento. Em seguida, o Ciclo

    de formao profissional, oferece-lhe uma formao mais especfica, consistente

    com as atuais demandas profissionais e sociais e, o de aprofundamento em nvel de

    ps-graduao busca a articulao dos ciclos anteriores tendo como foco as reas

    de conhecimento e projetos de pesquisa consolidados na Universidade.

    Os componentes desses Eixos e conjuntos curriculares no apresentam uma

    relao de pr-requisitos e podem ser abordados de modo amplo, como sugerem as

    suas denominaes, bem como receberem um tratamento mais focado num aspecto

    analisado ou a partir de certo campo do saber. Por exemplo, cada rea poder em

    determinado eixo adotar uma abordagem panormica, bem como eleger um tema

    abrangente e utiliz-lo como fio condutor da rea de conhecimento.

    3.4. A Interdisciplinaridade na matriz curricular dos cursos da UFT

    Este Projeto Pedaggico tem como referncia bsica as diretrizes do Projeto

    de Desenvolvimento Institucional (PDI), o Projeto Pedaggico Institucional (PPI) da

    UFT, as diretrizes curriculares do curso e os pressupostos da interdisciplinaridade.

    A partir das concepes de eixos, temas geradores e do perfil do profissional

    da rea de conhecimento e do curso, a estrutura curricular deve ser construda na

    perspectiva da interdisciplinaridade, tendo como elemento desencadeador a

    problematizao de sua contribuio para o desenvolvimento da cincia e melhoria

  • 34

    da qualidade de vida da humanidade. Deve proporcionar, durante todo o curso, a

    busca de formulaes a partir dos grandes questionamentos, que devem estar

    representados nos objetivos gerais e especficos, nas disciplinas, interdisciplinas,

    projetos, e em todas as atividades desenvolvidas no percurso acadmico e nos

    trabalhos de concluso do curso. Enfim, por meio do ensino e da pesquisa, os

    alunos devero refletir sobre a rea de conhecimento numa perspectiva mais

    ampliada e contextualizada como forma de responder aos questionamentos

    formulados.Nessa configurao, o Projeto Pedaggico deste ser formulado de

    acordo com o seguinte desenho curricular:

    MATRIZ CURRICULAR DOS CURSOS DA UFT

    OBJETIVO GERAL DO CICLO DE FORMAO GERAL

    Eixo de

    humanidades e

    sociedade

    Investigao da pr tica e Formao

    Profissional

    Eixo Epistemolgico-

    Pedaggico

    Eixos de

    Linguagen

    Linguage ns de

    NaturezaInstrumental

    Eixo de

    Fund. da rea

    Conhecimento

    M atrizes Especficas

    da rea

    Eixo de Estudos

    Integradores

    Contemporanei dade e t emas

    Interdisci plinares

    OBJETIVO GERAL DO CICLO DE FORM AO P ROFISSIONAL

    OBJETIVO GERAL DO CICLO DE PS -GRADUAO

    T E M A S G E R A D O R E S

    OBJETIVO GERAL DO CURSO

    In ter

    dis

    ci pli n

    a r

    i da

    de

    In te

    r dis

    ci p

    li na ri d

    a d

    e

    PDI, PPI

    DIRETRIZES GERAIS DO CURSOOBJETIVO GERAL DA REA DE FORMAO

    Homem, Sociedade eMeio ambiente

    M atrizes Espec ficas da rea

    Matr iz es Espe cfi ca s

    da rea

    Matr iz es Espe cfi ca s

    da rea

    Matr iz es Espe cfi ca s

    da rea

    Matr iz es Espe cfi ca s

    da rea

    Matr iz es Espe cfi ca s

    da rea

    Matr iz es Espe cfi ca s

    da rea

    Ou seja, a matriz curricular foi construda a partir das seguintes formulaes:

  • 35

    3.5. Objetivo da rea de conhecimento

    Em consonncia com o exposto, o Projeto Pedaggico do Curso ora

    apresentado objetiva contribuir para a formao de professores no campo da

    Biologia, cientes de sua condio de cidados comprometidos com princpios ticos,

    insero histrico-social (dignidade humana, respeito mtuo, responsabilidade,

    solidariedade), envolvimento com as questes ambientais e compromissos com a

    sociedade em que vive.

    A importncia da apropriao interdisciplinar do conhecimento tem-se

    evidenciado no momento contemporneo, tornando ainda mais urgente a exigncia

    da formao em nvel superior diferenciada, ampliando a um maior nmero de

    pessoas os resultados do acesso informao e comunicao. Tal quadro

    aprofunda-se para as Cincias Biolgicas na atualidade e as implicaes que traz

    para o desenvolvimento cientfico-tecnolgico tanto em nvel regional como nacional.

    O curso de Biologia tem como objetivo maior a formao de professores.

    Desta forma, aps a concluso do curso o licenciado poder: (a) atuar no Ensino

    Fundamental de 5 a 8 srie; e (b) atender ao ensino de Biologia no Ensino Mdio.

    A proposta do Curso de Biologia est fundamentada no entendimento de que

    o estudo da cincia deve retratar sua natureza dinmica, articulada, histrica e no

    apenas fundamentada nas exigncias atuais, decorrentes dos avanos cientficos e

    tecnolgicos; na dimenso da transversalidade dos saberes que envolvem as

    Cincias Naturais, baseado nas diretrizes traadas nos Parmetros Curriculares

    Nacionais (BRASIL, 1998) e nos aspectos legais que sustentam a Educao

    Brasileira.

    A opo por essa proposta de trabalho sustenta-se no entendimento da

    complexidade do real, estabelecendo-se numa multiplicidade de relaes e num

    intenso processo de transformao, questionando qualquer segmentao e

    dissociao entre os diferentes campos do saber. Fundamenta-se, assim, na crtica

    concepo de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados

    estveis e previsveis e, sob essa tica, pretende instituir uma organizao de

    contedos de aprendizagem que transcenda a viso compartimentada, fragmentada,

    na forma como historicamente se constituram os currculos acadmicos praticados.

  • 36

    Outra peculiaridade desta proposta a decorrente da prpria estrutura na

    qual foi concebida: a reciprocidade e o carter de reversibilidade entre as temticas

    biolgicas, assim como a transversalidade no tratamento das questes terico-

    metodolgicas que dizem respeito ao exerccio da ao docente e investigao da

    prtica pedaggica, dando substncia inter-relao ensino/pesquisa/extenso e

    integrao teoria/prtica, possibilitando um sistema de referncias pautado na

    realidade do mundo vivido pelos mltiplos sujeitos.

    Cabe aqui pontuar a oportunidade gerada para atendimento s necessidades

    de cada aluno, criando a possibilidade do aprofundamento de estudos, no apenas

    dos contedos especficos do campo biolgico, mas tambm na forma de sua

    compreenso ou aplicao no ensino mdio e fundamental, considerando as

    especificidades de crianas, jovens e adultos com sua diversidade tnica e cultural.

    Compreendendo a importncia da formao de futuros docentes para atuao

    na rede bsica de ensino, o Projeto prope-se a dotar as escolas com profissionais

    habilitados em Biologia e capazes de fazer de seu projeto pedaggico um espao de

    investigao e de produo do conhecimento, vivenciando uma proposta

    metodolgica de formao de professores reflexivos e investigadores.

    Entendido como instrumento de balizamento do fazer universitrio, o Projeto

    Pedaggico desse Curso de Biologia, embasado pelos pressupostos tico-

    epistemolgicos, toma, portanto, como referncia os princpios da autonomia e da

    flexibilidade, estando em consonncia com o objetivo claro do Projeto Pedaggico

    Institucional (PPI) ao propor a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a

    transdisciplinaridade na sua proposta de ensino, extenso e pesquisas.

    As Diretrizes Curriculares atuais para o curso de Biologia tm por objetivo

    servir de referncia para as IES na organizao de seus programas de formao,

    permitindo uma flexibilidade na construo dos currculos plenos e privilegiando a

    indicao de reas do conhecimento a serem consideradas, em vez de estabelecer

    disciplinas e cargas horrias definidas.

    De fato, as Diretrizes Curriculares conferem maior autonomia s IES na

    definio dos currculos de seus cursos. Dessa forma, em vez do atual sistema de

    currculos mnimos, nos quais so detalhadas as disciplinas que devem compor

    cada curso, prope-se aqui delinear linhas gerais capazes de definir quais as

    competncias e as habilidades que se deseja desenvolve no currculo. Espera-se,

  • 37

    assim, a organizao de um modelo capaz de adaptar-se o perfil profissional ao

    dinamismo que lhe cobrado na sua atuao, tal como exige a sociedade

    contempornea. Desta forma a graduao passa a ter um papel de formao inicial

    no processo contnuo de educao permanente que inerente ao mundo do

    trabalho.

    Com essa compreenso, usando da liberdade acadmica conferida

    universidade, prope-se uma nova formatao curricular associada implementao

    de alternativas didticas e pedaggicas.

    Nessa perspectiva, a configurao das aes pretendidas no Projeto

    Pedaggico do Curso, contemplando contedos considerados bsicos (Ciclo de

    Formao Geral) e contedos profissionais (Ciclo de Formao Profissional), deve

    assegurar o espao da avaliao contnua, possibilitando a incorporao de novos

    desafios. Isso evidencia o sentido processual do Projeto que, a partir da crtica sobre

    a realidade vivenciada, estar aberto a mudanas, assegurando, no entanto, o

    carter coletivo das decises e o compromisso social da instituio como

    norteadores da avaliao, com vistas a seu aperfeioamento.

    A Biologia tem como sua contribuio bsica produo de conhecimento e

    gerao de informaes sobre a natureza, permitindo uma maior e mais eficiente

    utilizao dos recursos naturais para o bem da sociedade. O manejo dos recursos

    constitui uma das principais caractersticas da sociedade humana, estando

    diretamente ligado aos avanos na qualidade de vida. O princpio que confere

    importncia Biologia a idia de que administramos melhor aquilo que melhor

    conhecemos.

    O Bilogo, como portador de conhecimento sobre a diversidade da vida e dos

    processos que a geram e mantm, tem a responsabilidade maior pela preservao

    do patrimnio natural, no apenas no sentido da atuao tcnica, mas tambm de

    assumir a disseminao desse conhecimento por meio da educao. Mostrar as

    conseqncias ambientais das diversas atividades humanas e atentar para as

    responsabilidades individuais quanto preservao da vida e do ambiente em que a

    vida se desenvolve um exerccio de cidadania a ser permanentemente estimulado.

    A partir dessa compreenso, espera-se que o licenciado em Biologia seja

    capaz de entender o processo de produo/construo do conhecimento biolgico,

    esteja afinado com as demandas da sociedade como um todo, aprendendo a

  • 38

    identificar problemas e a apresentar solues, saiba localizar a informao

    transitando por diversas reas de conhecimento, esteja familiarizado com as

    linguagens contemporneas, favorecendo a mediao nos processos de

    aprendizagem.

    Formar licenciados qualitativamente diferenciados poder permitir

    sociedade usufruir o trabalho de um educador comprometido com o

    desenvolvimento sustentvel de sua regio. Essas caractersticas do formando

    esto em conformidade com o perfil profissional definido nas Diretrizes Curriculares

    para a Formao de Professores de Biologia.

    De acordo com os objetivos deste Projeto e tendo em vista o perfil profissional

    aqui definido, considerou-se pertinente a adoo das competncias e das

    habilidades propostas pelas Diretrizes Curriculares, na pretenso de habilitar os

    professores da rede pblica a:

    a. realizar atividades educacionais em diferentes nveis;

    b. acompanhar a evoluo do pensamento cientfico na sua rea de atuao;

    c. elaborar e executar projetos, utilizando o conhecimento socialmente acumulado

    na produo de novos conhecimentos, tendo a compreenso desse processo a

    fim de utiliz-lo de forma crtica e com critrios de relevncia social;

    d. desenvolver prticas investigativas e aes estratgicas para diagnstico de

    problemas, encaminhamento de solues e tomada de decises;

    e. atuar em prol da preservao da biodiversidade, considerando as

    necessidades de desenvolvimento inerentes espcie humana;

    f. organizar, coordenar e participar de equipes multiprofissionais de forma

    colaborativa;

    g. gerenciar e executar tarefas tcnicas nas diferentes reas do conhecimento

    biolgico, no mbito de sua formao;

    h. utilizar novas metodologias e tecnologias que favoream a mediao no

    processo de aprendizagem;

    i. desenvolver idias inovadoras e aes estratgicas que possibilitem a

    ampliao e o aperfeioamento de sua rea de atuao, preparando-se para

    viver numa sociedade em contnua transformao.

  • 39

    j. ter responsabilidades social e ambiental inerentes ao exerccio da profisso

    com conscincia e crtica.

    k. desenvolver propostas para a implantao de novos modelos de ensino de

    Cincias, Sade e Biologia nos cursos de ensino fundamental e mdio,

    aprofundamento nas subreas descritivas da Biologia e o aproveitamento de

    conhecimentos interdisciplinares.

    A estrutura curricular deste curso est construda a partir de uma perspectiva

    interdisciplinar do processo ensino e aprendizagem proporcionando, durante todo o

    curso, situaes-problema e projetos interdisciplinares para que o aluno vivencie a

    prtica. O objetivo geral e os objetivos especficos devero nortear as ementas das

    disciplinas e interdisciplinas visando estruturao de um curso interdisciplinar.

    Em cada perodo sero oferecidos contedos de todos os eixos, devendo

    ocorrer agrupamentos interdisciplinares de duas, trs ou mais disciplinas ou

    contedos dos eixos do semestre. Essa articulao dever ocorrer de forma similar

    entre os eixos de diferentes semestre e entre os ciclos. Por exemplo: no primeiro

    perodo, a interdisciplinaridade poder acontecer por meio das disciplinas Biologia

    Geral, Fundamentos da Matemtica e Seminrios Interdisciplinares. Os objetivos e

    contribuies especficas dessas disciplinas devem responder aos questionamentos

    formulados para a rea/disciplina. O segundo perodo pode possuir dois

    agrupamentos interdisciplinares: Seminrios Interdisciplinares discutindo a

    biotecnologia e processos emergentes e a biodiversidade; as disciplinas dos eixos

    das humanidades e pedaggico, alm da articulao com as disciplinas do semestre

    anterior. As formas como essas articulaes ou agrupamentos ocorrerem, devero

    esto detalhadas tanto no corpo do PPC quanto nas ementas especficas.

    preciso ter em mente que a interdisciplinaridade no um saber nico e

    organizado, nem uma reunio ou abandono de disciplinas, mas uma forma de ver o

    mundo e de se conceber o conhecimento, que as disciplinas, isoladamente, no

    conseguem atingir e que surge da comunicao entre elas. Para que se obtenha

    essa atitude necessrio estudo, pesquisa, mudana de comportamento, trabalho

    em equipe e, principalmente, um projeto que oportunize a sua ao; para a

    realizao de um projeto interdisciplinar, existe a necessidade de um projeto inicial

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    que seja suficientemente claro, coerente e detalhado, a fim de que as pessoas nele

    envolvidas sintam o desejo de fazer parte dele (FAZENDA, 1995).

    Os 05 (cinco) eixos que estruturam o Ciclo de Formao Geral, assim como os

    eixos compreendidos pelo Ciclo de Formao Especfica, buscam responder aos

    objetivos formulados e s questes propostas a partir dos ciclos. So eles:

    Ciclo de formao de geral

    Ciclo de formao especfico

    Ciclo de ps-graduao.

    As caractersticas de cada um desses ciclos so:

    3.5.1. Ciclo de Formao Geral

    Este ciclo composto de cinco eixos:

    a. Eixo de Humanidades e Sociedade: possui os seguintes temas geradores:

    Homem; Sociedade; Meio-Ambiente.

    Ementa do eixo: As unidades sociais em seus vnculos com o Estado, a sociedade,

    a cultura e os indivduos. Relao indivduo/sociedade/meio ambiente.

    Compreenso crtica da realidade natural, social e cultural por meio da abordagem

    dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicolgicos, ecolgicos,

    ticos, e legais.

    Essas temticas so organizadas em forma de disciplinas e interdisciplinas e

    abrangem estudos sobre temas/problemas complexos, irredutveis a recortes mono-

    disciplinares. Cada disciplina ou interdisciplina que compe esse Eixo possui carga

    horria de 30 ou 45 horas.

    Este eixo corresponde a, no mnimo, 120 horas. Dessa carga horria, pelo

    menos, 20% sero planejadas em conjunto pelos docentes das disciplinas e

    ministradas em forma de aulas conjuntas, projetos, dentre outras formas. A

    avaliao da disciplina ser composta de avaliao especfica da disciplina e

    avaliao conjunta com as disciplinas em que ocorreu a articulao. Ou seja,

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    ser previsto, no processo avaliativo, que parte da nota ser referente ao

    contedo ministrado pelo professor da disciplina e parte ser aferida pela

    atividade resultante do trabalho interdisciplinar.

    b. Eixo de Linguagens: possui os seguintes temas geradores: Linguagens de

    natureza universal; Produo textual; Lngua estrangeira instrumental.

    Ementa do eixo: Conhecimentos e habilidades na rea da linguagem instrumental.

    Expresso oral e escrita nas reas de conhecimento, com foco em retrica e

    argumentao e produo de projetos, estudos, roteiros, ensaios, artigos, relatrios,

    laudos, percias, apresentaes orais etc. Linguagens simblicas de natureza

    universal.

    Este eixo corresponde a 180 horas. Os mesmos procedimentos acima em

    relao articulao das disciplinas sero observados e explicitados no Projeto

    Pedaggico do curso.

    c. Eixo de Estudos Integradores e Contemporneos: deve propiciar o

    enriquecimento curricular e possui os seguintes temas geradores:

    Contemporaneidade; Temticas interdisciplinares.

    Ementa do eixo: Conhecimentos no campo da educao superior, da tecnologia da

    informao e comunicao e questes emergentes na contemporaneidade.