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PARAGUAÇU, A GENTIL, E IRACEMA, A VIRGEM DE TUPÃ: A criação de um
modelo da mulher indígena nos períodos árcade e romântico
Késsia Poliana Santos Soares Discente do curso de Letras da Faculdade Sete de Setembro
RESUMO
Este artigo aborda a criação de personagens indígenas, a saber Iracema e
Paraguaçu, nas obras de diferentes períodos literários que têm como foco a
mulher. Assim, a temática indianista foi idealizada no período Árcade e
Romântico, tendo em vista a elaboração de um modelo de índia, o que acarretou
na irrealidade das características da nativa, em aspectos físicos e
comportamentais. Logo, destacamos as semelhanças e diferenças das índias
para analisarmos como ocorreu a criação de cada uma delas, observando a
funcionalidade da indígena brasileira, observada em duas obras de períodos
literários diferentes. Realizamos, para isso, uma pesquisa bibliográfica,
baseados em Candido (1999), Faraco (1998), Sodré (1995), entre outros.
Palavras-chave: Índia. Iracema. Alencar. Romantismo. Durão.
PARAGRAÇU, THE GENTLE, AND IRACEMA, THE VIRGIN OF
TUPAN: The creation of an indigenous female model in the arcade and
romantic periods
ABSTRACT
This paper approaches the creation of indigenous characters, particularly
Iracema and Paraguaçu, in the works of different literary periods, which
focuses women. Thus, the indigenous subject was idealized in the Arcade and
Romantic period, considering the elaboration of a female indigenous standard,
which has caused an unreal set of characteristics of the native woman, in what
concerns physical and behavioral aspects. Therefore, we highlight the
similitudes and differences among indigenous women in order to analyze how
the creation of each one of them was conducted, remarking the functionality of
the Brazilian native woman, observed in two different works from distinct
literary periods. For that, we have carried out a bibliographical research based
on Candido (1999), Faraco (1998), Sodré (1995), among others.
Keywords: Indigenous woman. Iracema. Alencar. Romantism. Durão.
1INTRODUÇÃO
Este artigo bibliográfico abordará as personagens indígenas principais de duas obras de
períodos literários diversos: Paraguaçu e Iracema, das obras Caramuru e Iracema, para buscar
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compreender por que e como diferem, mas também como se complementam. Tendo como base
os movimentos literários árcade e romântico, exploraremos primeiramente os períodos, visando
compreender o contexto histórico de cada obra, na intenção de examinar o caráter ideológico e
funcionalidade das personagens. Para fundamentar esta pesquisa, foram utilizados autores
como Candido (1999), Faraco (1998), Sodré (1995), etc. Desse modo, a utilização da obra de
Candido Iniciação a literatura brasileira ocorre para dar subsídios a nossas indagações,
acompanhando as transformações por que a literatura brasileira vem passando, observando o
contexto histórico e o modo como ambos estão interligados nos discursos dos autores. Faraco,
com sua obra Língua e literatura, colabora no estudo dos períodos literários e Sodré, com seu
livro A história da literatura brasileira, respalda os dados para desenvolver a temática
indianista.
2 O ARCADISMO E O ROMANTISMO BRASILEIRO NAS OBRAS CARAMURU E
IRACEMA
O período árcade consistia na retomada do Classicismo, a volta para os grandes poetas gregos
e latinos que influenciaram e continuam a influenciar a literatura contemporânea e universal.
Essa retomada dos clássicos intensificou o apego à métrica e aos padrões dos versos. O poeta
árcade descreve a natureza de maneira harmônica e bucólica. Os poemas do Arcadismo buscam
a conciliação do homem com a vida campestre, ao lado da mulher ideal, a criação de uma
mulher anjo, um ser que não podia ser alcançado consistindo na beleza feminina num ideal de
beleza europeu.
A expressão fugere urbem, aclamada nesse período, trata da natureza vista como um escapismo,
onde o poeta pode devotar sua vida aos seus versos, distante de toda a preocupação e agitação
da vida urbana. Essa necessidade do poeta de encontrar um lugar que mantenha sua vida
equilibrada entre o homem e a natureza, ou seja, a razão e a emoção, manifesta a intenção de
harmonia do homem e os elementos ao seu redor. Segundo Cademartori (1990, p. 32):
Não cabia à fantasia poética deslizar além da inteligibilidade, devendo regular-se, sempre, pelo
entendimento racional e pelas regras da natureza. Esta, entendida como cosmos, ou seja, como a
relação harmônica de todos os elementos, é o modelo de equilíbrio que a arte deve reproduzir.
Dessa forma, o período árcade estava entrelaçado à possibilidade do real. Contrariamente ao
Romantismo, que instituía em máxima a liberdade e a originalidade, presentes nas diversas
manifestações do espírito humano e em suas formas de visão e organização do mundo, o árcade
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conformava-se aos modelos imperecíveis e consagrados da Antiguidade que tendem ao
universalismo. Os autores árcades estão influenciados pelos grandes nomes clássicos para a
criação de uma estética harmônica entre a natureza e o homem, assim tratando de temáticas
próximas ao ser humano, como a mulher, a vida pastoril, o desejo pelo escapismo.
Ideologicamente, o árcade, oriundo da burguesia em ascensão, protege os interesses da sua
classe. Seria necessário o ímpeto das épocas revolucionárias para mobilizar as forças sociais
para o questionamento do status quo. No Brasil, o Romantismo torna-se possível com a
Independência do país.
Em Caramuru (1781), obra árcade, ocorre a presença do nativismo, já presente no período
literário posterior, com o Romantismo em sua primeira fase, consistindo na procura pela figura
heroica brasileira, a exaltação da pátria por meio das personagens e dos elementos da natureza.
O épico, também subintitulado como O poema épico do descobrimento da Bahia, é narrado na
época da chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, quando teve início o contato com os
nativos e o processo de aculturação. O livro contém, ainda, a presença do indianismo para criar
uma narrativa que exalta o povo português, dessa forma, o livro não visa a exaltação do índio,
como na obra indianista romântica, o indígena presente é usado para exaltar o herói principal:
o homem português.
Diferentemente, no Romantismo, era preciso criar uma figura que simbolizasse a liberdade do
Brasil, que não mais era uma colônia portuguesa, tornando-se uma nação independente em que
o índio foi visto como a possibilidade de ser o herói da pátria representado nos romances da
época.
O indianismo oitocentista, inextricavelmente ligado ao nacionalismo e afirmação de independência
política, fez parte da busca de uma identidade para nação. Enquanto no romantismo a literatura
europeia endeusava o passado e entronizava o cavaleiro medieval como seu herói de eleição, o
Brasil, carente de Idade Média, investirá no índio. (GALVÃO, 2009 p. 07)
A formação de Portugal como nação remonta ao século XII, sendo um dos países mais antigos
da Europa. Como não havia no novo continente um passado medieval de cavaleiros, as atenções
foram voltadas ao nativo, ou seja, o índio. Assim, a imagem do nativo das terras brasileiras
consistia no sujeito indomável, colocado como alma livre; por outro lado, lhe foram atribuídas
as qualidades dos cavaleiros medievais do século XII, surgindo a imagem de um índio quase
europeu. Vista assim, a criação da figura literária do índio atende à intenção de criar um passado
mítico necessário ao orgulho nacional e identidade do povo brasileiro. O Romantismo no Brasil
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se deu no século XIX, quando os autores buscavam a criação de uma nacionalidade inteiramente
brasileira que não tivesse influência direta do europeu, o colonizador.
Na busca pela afirmação ufanista, os autores românticos apropriaram-se da figura do indígena
para criar esse personagem que simbolizasse as origens do país. Assim foi imaginada a figura
heroica do indígena, ocorrendo o resgaste de seus valores, crenças, tradições. Em 1822, o Brasil
tornava-se independente e buscava desassociar-se de Portugal e de qualquer influência que
remetesse ao seu tempo de colônia. Uma vez que o Romantismo é marcado pela exaltação
patriótica de seu país que tem na figura do índio seu emblema, a primeira geração romântica
foi denominada de Indianista ou Nacionalista.
O índio brasileiro foi visto com o símbolo, a representação da nação. A idealização dessa
personagem fez com que o índio se distanciasse do real, passando a ser uma representação da
autonomia do país, mas criado em moldes europeus, resultando, portanto, em um índio que foge
do nativo brasileiro concreto.
O autor brasileiro descobriu no índio um símbolo plástico e poético, capaz de conferir
expressividade ao romantismo nacional. O índio foi tratado com dignidade e soberania que
possibilitassem a substituição da mitologia clássica. Devido a esse caráter simbólico, o índio
romântico não apresenta densidade ou correspondência ao real. Trata-se de uma individualização
nacional, afirmação da autonomia estética e política brasileira. (CADEMARTORI, 1990, p.41)
O autor mais consagrado no quesito de obras indianistas foi José de Alencar. Sua obra romântica
em prosa é vasta, ademais sua aclamação e influência se deram pela sua obra indianista.
Dedicou-se à criação de uma trilogia indianista que contempla obras como o Guarani (1857),
Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Declarando no prefácio de Ubirajara:
Este livro é irmão de Iracema. Chamei-lhe de lenda como ao outro. Nenhum título responde melhor
pela propriedade, como pela modéstia, às tradições da pátria indígena. Quem por desfastio percorrer
estas páginas, se não tiver estudado com alma brasileira o berço de nossa nacionalidade, há de
estranhar entre outras coisas a magnanimidade que ressumbra no drama selvagem a formar-lhe o
vigoroso relevo. (ALENCAR, 1966, p.11.)
É inegável que o autor se dedicou a uma vasta pesquisa sobre a língua tupi e costumes indígenas,
tendo em vista o projeto de formação de identidade brasileira por meio da literatura. Assim, é
perceptível seu interesse na afirmação da cultura indígena. Em Iracema (1865), obra que será
objeto de nossa análise, é possível observar a representação dos costumes indígenas e da índia.
Não obstante, antes de Alencar, a obra poética de Gonçalves Dias foi considerada no Brasil a
primeira de elevada qualidade. A propósito de sua obra, Candido (2002, p. 44) afirma que “a
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cadência melodiosa, o discernimento dos valores da palavra e a correção da linguagem
formavam uma base, rara naquela altura, para a calorosa vibração e o sentimento plástico do
mundo que animam os seus versos.” Além de sua maneira de retratar a natureza e exaltá-la por
meio dos seus poemas, Dias trata da temática indianista exibindo a força dos sentimentos e
emoções comuns dos homens. Sobre esta vertente literária, Machado de Assis afirma:
Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentar-
se dos assuntos que lhe oferece sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a
empobreçam. O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne
homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço.
(ASSIS, 1873, p.28).
Desse modo, é possível inferir que o principal autor realista brasileiro buscava uma literatura
que tratasse de assuntos nacionalistas, mas uma nacionalidade que fosse condizente com a
realidade do Brasil. Logo, a crítica é direcionada ao exacerbamento patriótico, da criação desse
indígena que não condiz com o real. Além disso, Machado de Assis, sendo um escritor realista,
recusa a idealização dos períodos árcade e romântico defendendo que a literatura é universal,
buscando um público mais crítico, afirmando culto aos valores pátrios deve ser feito de modo
crítico.
Portanto, a vertente indianista também será alvo de críticas por causa da idealização que lhe
está subjacente, não obstante ter cumprido um importante papel de narrativa fundacional, na
tentativa da criação de uma identidade nacional para o Brasil, em sua fase transitória de país
colonizado para país que acabara de ser declarado independente, mas que ainda carrega grande
influência europeia. Tendo abordado o contexto histórico dos períodos literários, no próximo
tópico traremos a análise das personagens índias femininas nas obras já citadas.
3 A IDEALIZAÇÃO DAS ÍNDIAS PARAGUAÇU E IRACEMA NOS DISTINTOS
PERÍODOS LITERÁRIOS, ÁRCADE E ROMÂNTICO, PARA PRODUÇÃO DE UMA
PERSONAGEM ESPERADA PARA A IDEOLOGIA DA ÉPOCA
Na obra romântica Iracema (1865) é narrada a lenda da origem do Ceará, por meio de
personagens históricos que fizeram parte da colonização cearense. Um ambiente de lendas,
exaltação de um ideal e amor impossível serve para simbolizar o nascimento do primeiro
cearense, ou seja, o fruto da miscigenação entre o homem branco e a mulher indígena, o índio
representando o nascimento do povo brasileiro. A personagem Iracema, índia da tribo dos
Tabajaras, é descrita como a virgem que portava o segredo da jurema, sendo a única pessoa que
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poderia guardá-lo. Era filha do Araquém, o pajé da tribo, a figura mais poderosa entre os
indígenas. Iracema era a virgem de tupã, suas características estão sempre sendo comparadas
às da natureza, mostrando a idealização dos dois elementos presentes no Romantismo: a mulher
e a natureza.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem
dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe
de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito
perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu,
onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava
apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. (p.31)
As características físicas de Iracema são sempre comparadas com elementos da flora e da fauna
brasileiras. Segundo Walnice Nogueira Galvão (2009, p. 8), “A perfeita fusão entre Iracema e
paisagem tropical transforma a protagonista em ícone da natureza brasileira.” Assim, surge, por
meio da personagem, o enaltecer da nação brasileira, desse modo, criando-se, através da figura
da índia, a mistificação dos entes que já estavam no Brasil antes da colonização, ocasionando
na elevação dos nativos juntamente com a natureza brasileira.
A beleza de Iracema é tamanha que resulta no ódio da personagem Irapuã, o maior guerreiro da
tribo contra o colonizador Martim. O personagem histórico Martim Soares Moreno foi um
colonizador português que se aliou à tribo dos Pitiguaras, tribo que era inimiga dos Tabajaras,
ou seja, da tribo de Iracema, representando o português que leva até os índios uma cultura
civilizada e a fé cristã, assim, sempre buscando aculturá-los.
A personagem Iracema representa a conciliação entre os dois povos, os portugueses e os
indígenas, idealizando o processo de aculturação, sendo este o processo de dominador e
dominado. Desse modo, usando do período literário em que a obra foi escrita, o autor cria, em
moldes europeus, a temática brasileira: a colonização, por meio do mito da heroína ufanista que
levará sua pátria, sua honra, natureza, crenças e costumes, contudo, acabará deixando-as para
simbolizar a morte da cultura indígena e o nascimento da cultura híbrida, a miscigenação entre
portugueses e indígenas.
No primeiro encontro de Iracema e Martim, ela acaba ferindo-o com sua flecha; logo, ela
arrepende-se e quebra a flecha para simbolizar a paz entre os dois. Esse momento representa o
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sinal de união dos povos que não mais estão em guerra, esse ato é a união entre o opressor e o
oprimido.
Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito
da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas
profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue
borbulham na face do desconhecido. (p.31)
Nesse caso, um amor-paixão que nasce de forma tão intensa, sendo exposto como o amor
impossível que não poderia ter sido correspondido. O amor de Martim e Iracema era
improvável, assim, a flecha de Iracema pode ser comparada à flecha de Cupido, o símbolo de
uma paixão que avassala.
Ao entregar-se ao português ou consumar o seu amor, o fato tem a intencionalidade de
romantizar o período de colonização. Iracema não é mais a mulher casta, delicada, a mulher-
anjo, agora ela está entregue ao colonizador. A obra, a todo momento, deixa evidente que o
homem que tocar na virgem de tupã morrerá, o que já anuncia que alguma tragédia poderá
acontecer aos personagens.
José de Alencar busca, por meio do amor do homem branco e da índia, fantasiar o processo de
colonização do Ceará, assim como acontece no épico Caramuru (1781), do autor árcade Santa
Rita Durão, que também narra uma lenda, mas sobre o descobrimento da Bahia. A obra traz
uma personagem indígena chamada Paraguaçu, integrante da tribo Tupinambá, localizado na
Bahia, filha de Taparica, que é o chefe da tribo. Assim, Paraguaçu, filha única do líder daquele
povo, e Iracema estão em posições elevadas na hierarquia social de suas tribos. Vejamos a
descrição da personagem feminina na obra árcade:
Paraguaçu gentil (tal nome teve), Bem diversa de gente tão nojosa, De cor tão alva como a branca
neve, donde não é neve, era de rosa; O nariz natural, boca mui breve, Olhos de bela luz, testa
espaçosa. (p.75)
Diferentemente de Iracema, nessa obra não ocorre que a personagem seja descrita com
utilização dos elementos da natureza, já que o período árcade brasileiro não tinha a intenção de
criar a personagem por meio da elevação da flora e fauna brasileira, porém Paraguaçu ainda
foge de ser a representação da verdadeira índia. Descrita com aspectos diferentes do restante de
seu povo, resultando no despertar do interesse do personagem principal, o europeu, suas
características são próximas do ideal português: ela tem a pele clara, o nariz e a boca
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pequeninos. Além do mais, o narrador expressa, no segundo verso, como Paraguaçu era
diferente de “gente tão nojosa”. Dessa forma, explicita seu repúdio aos índios que são mais
próximos do real.
As características já citadas influenciam para a índia se casar com o português Diogo Álvares,
denominado de Caramuru, que simboliza o trovão de Tupã. A narrativa acontece depois do
naufrágio do barco do personagem, que se torna refém da tribo Tupinambá. Sua companheira
Paraguaçu intercede a seu favor, salvando-o. Mesmo que a índia já estivesse prometida para
outro índio da sua tribo, ela escolhe casar com o português. Essa união resultou em filhos que
serão fruto da miscigenação brasileira, simbolizando a união entre povos distintos e, além disso,
a “pacificação” entre colonizado e colonizador. Assim, representa também o estabelecimento
de alianças entre os Tupinambás e os portugueses.
A presença do indianismo ocorre em ambas as obras, tendo o personagem indígena sido usado
para exemplificar o nativismo. Na obra Caramuru, ocorre que o índio é colocado como segundo
plano para colaborar na narração do épico, o grande feito realizado por um português, que foi
a descoberta e colonização da Bahia. As personagens indígenas aparecem como suporte para
descrição do fato. De fato, o Arcadismo não está preocupado com a elevação do índio e da
natureza, de modo diverso do Romantismo, por isso o Arcadismo irá descrevê-las de maneira
idealizada em função da necessidade de escapismo para um espaço mítico originário. Assim,
as obras indianistas cumprem a função de constituição de narrativas fundadoras e legitimadoras
de uma nação jovem recentemente emancipada de Portugal. Segundo Candido:
O indianismo foi importante historicamente e psicologicamente, dando ao brasileiro a ilusão
compensadora de um altivo antepassado fundador, que, justamente por ser idealizado com arbítrio,
satisfez a necessidade que um país jovem e em grande parte mestiço tinha de atribuir à sua origem
um cunho dignificante. (CANDIDO, 1990, p.42)
O indianismo compensa a necessidade de antepassados, trazendo esse sentimento de
pertencimento, no período romântico. E a importância do índio explica-se pela função que lhe
é atribuída, nas obras indianistas, nessa nova ordem social e política: ser o símbolo do Brasil,
na tentativa de criar uma identidade brasileira e o sentimento de país livre que deixará de ser
colônia.
Além da presença do indianismo em ambas as obras consideradas, ocorre também a presença
da religião que é utilizada de maneira ideológica para legitimar/impor a cultura, porém, de
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maneiras muito distintas nas duas obras. Em Caramuru, a índia torna-se católica para
simbolizar sua transição para a vida europeia, representando-se, assim, uma índia que já foi
colonizada e aceita a cultura do seu colonizador. Desse modo, o ato do batismo é puramente
ideológico, o que implica que o novo Deus é visto como a negação do Deus indígena, assim,
negando-se também toda a cultura dos índios. No período árcade, a idealização da natureza e o
indianismo já se fazem presentes, sendo o índio também idealizado, porém, os autores árcades
não estavam envolvidos na criação de um personagem patriótico por meio do índio, ainda não
ocorria essa preocupação com o símbolo que o índio representava para o Brasil. Vejamos o
momento em que Paraguaçu pede para passar pelo batismo:
Esposo (a bela diz), teu nome ignoro;
Mas não teu coração, que no meu peito
Desde o momento que te vi, que o adoro
Não sei se era amor já, se era respeito;
Mas sei do que então vi, do que hoje exploro,
Que de dous corações um só foi feito.
Quero o batismo teu, quero a tua Igreja,
Meu povo seja o teu, teu Deus meu seja.
Assim, Paraguaçu buscava para si o ideal português, a aceitação dessa cultura por meio da
religião. A índia representa a submissão à colonização. Ela está disposta a negar seu passado
como indígena ao assumir o catolicismo e seu novo nome português: Catarina. Já em Iracema,
obra que foi escrita no período romântico, em que os autores estavam fazendo obras conscientes
sobre o papel do indígena no projeto de colonização para que ele passasse a ser o herói nacional,
acontece o batismo do homem branco que aceita a religião indígena, assumindo a miscigenação
cultural. Agora o europeu não era somente católico, ele tinha aceitado o Deus tupi,
simbolizando a união de culturas. Atentemos no trecho do ‘batismo” da personagem Martim:
Martim abriu os braços e os lábios para receber o corpo e alma da esposa.
— O meu irmão é um grande guerreiro da nação Potiguara; ele precisa de um nome na língua da sua
nação.
— O nome do teu irmão está no seu corpo, onde o pôs a tua mão. — Coatiabo (Guerreiro-Pintado)!
exclamou Iracema.
— Tu disseste; eu sou o guerreiro pintado; o guerreiro da esposa e do amigo.
Poti deu ao seu irmão o arco e o tacape, que são as armas nobres do guerreiro. Iracema tinha tecido
para ele o cocar e a araçóia, ornamentos dos chefes ilustres.
A filha de Araquém foi buscar à cabana as iguarias do festim e os vinhos de jenipapo e mandioca.
Os guerreiros beberam copiosamente e fizeram as danças alegres. Enquanto volveram em torno dos
fogos da alegria, ressoaram as canções. (p.95)
O “batismo” de Martim e o ritual que cumpre a função de integrá-lo ao povo nativo mostra a
exaltação da cultura indígena. Da união entre os dois povos é gerada uma nova etnia: a
brasileira. O homem branco não irá utilizar sua cultura para oprimir, ele irá conviver com
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ambas. O enredo, entretanto, começa a evidenciar que o personagem europeu, mesmo após o
batismo, com sua nova identidade e nome indígena, ainda sentirá vontade de retornar a Portugal.
O sentimento de pertencimento ainda está como colonizador.
As indígenas em ambas as obras são retratadas com características semelhantes no combate: a
índia Paraguaçu é uma personagem autônoma, ela escolhe lutar e colabora com a criação de um
ideal indianista, com personalidade e características de uma personagem forte e corajosa que
mantém sua cultura. Assim, participa bravamente nas lutas, podendo até se sacrificar pelo seu
povo. Como no seguinte trecho:
Paraguaçu, que de Diogo Esposa
(Porque mais Jararaca se confunda)
Ia a seu lado a combater briosa,
Nem teme a multidão,
que o campo inunda:
Usa com ela a Tropa belicosa
Da vulgar seta, do bodoque, e funda;
Leva a Amazona um rígido colete,
E co’a espada de ferro o capacete
Assim, podemos perceber que o retrato da índia é exposto como sendo uma personagem forte
e destemida; igualmente Iracema, que é capaz de sacrificar-se pelo homem que ama, seu
colonizador. Tal característica mostra a romantização da personagem e sua devoção pelo
homem branco, como na passagem em que a índia diz que morrerá ao lado de seu amado e
ainda ressalta que poderia até assassinar seu irmão Caubi pelo português:
— Filha do pajé, disse Caubi em voz baixa. Conduz o estrangeiro à cabana: só Araquém pode salvá-
lo.
Iracema voltou-se para o guerreiro branco:
— Vem!
Ele ficou imóvel.
— Se tu não vens, disse a virgem; Iracema morrerá contigo. (p.54)
O irmão de Iracema veio direito ao estrangeiro, que arrancara a filha de Araquém à cabana
hospedeira; o faro da vingança o guia; a vista da irmã assanha a raiva em seu peito. O guerreiro
Caubi assalta com furor o inimigo.
Iracema, unida ao flanco de seu guerreiro e esposo, viu de longe Caubi e falou assim:
— Senhor de Iracema, ouve o rogo de tua escrava; não derrama o sangue do filho de Araquém. Se
o guerreiro Caubi tem de morrer, morra ele por esta mão, não pela tua.
Martim pôs no rosto da virgem olhos de horror:
— Iracema matará seu irmão?
— Iracema antes quer que o sangue de Caubi tinja sua mão que a tua; porque os olhos de Iracema
veem a ti, e a ela não. (p.77)
Iracema faz parte da construção da identidade indígena para a representação da nação, uma
índia vista de maneira pura que está disposta aos maiores sacrifícios pelo que acredita estar
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correto, sendo vista de maneira bondosa e ingênua, mas exibindo a coragem da nação. Por meio
da criação desta personagem, Alencar forja literariamente a construção da identidade pátria.
O índio literário dos romances é o descendente, em linha direta, do índio social e individualmente
bom, dotado de bondade natural, a criatura que fascinou os elementos intelectuais da larga fase de
ascensão burguesa, dos viajantes e utopistas aos enciclopedistas. (SODRÉ, 1995, p.268)
Mesmo com a tentativa de valorizar o nativo e sua cultura, sua representação corresponde à
criação de um ideal. A índia brasileira foge da realidade do povo nativo. Criando-se um índio
que apresenta o caráter ideal para os colonizadores no século XIII e XIX, a elevação indígena
intencionava igualá-lo ao homem europeu.
Ambas as obras Tanto em Caramuru como em Iracema, a índia e o homem branco têm filhos,
simbolizando a miscigenação das raças, o crescimento populacional de mestiços, os futuros
brasileiros, as primeiras famílias e descendentes baianos e cearenses.
Em Iracema, o casal protagonista gerou um filho que representa o primeiro brasileiro cearense
nascido da miscigenação das etnias, sendo chamado de Moacir, nome que significa “nascido da
dor”. Desse modo, simbolizando que o nascimento de uma nova cultura e de um novo povo
implica sofrimento, sacrifício e abdicação da cultura própria em benefício da estrangeira: “O
primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação de uma
raça?” (Alencar, 1865, p.151).
Além disso, o falecimento de Iracema na obra representa mais que a morte física da
personagem. Na obra Caramuru, outra personagem feminina indígena perdidamente
apaixonada pelo personagem português, a índia Moema é a representação do amor cego pelo
estrangeiro que, ao não ser correspondida, prefere a morte do que viver separada de seu amado,
no que já anuncia traços românticos na representação trágica do amor. É possível perceber que
Iracema e Moema estão ligadas em relação ao seu destino e motivo de falecimento: o amor
exacerbado pelo homem português. Moema prefere o suicídio quando é abandonada por Diego
e Iracema acaba desfalecendo aos poucos quando percebe a falta de reciprocidade de Martim.
O percurso feito pela personagem Iracema, no texto, demonstra que o seu papel de esposa exige
todos os sacrifícios, inclusive o da renúncia de si mesma. Antes de conhecer Martim ela se
encontrava em plena harmonia com os animais, com a natureza e com a sua comunidade. Ao chegar,
Martim quebra essa harmonia e aos poucos Iracema vai perdendo o seu sorriso, a sua força, o seu
coração e a sua superioridade. (COSTA, 2008, p. 165)
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À medida que se afasta do interior em direção ao litoral, Iracema afasta-se de seus costumes,
de sua tribo. A personagem encontrava-se em harmonia com sua cultura e com a natureza
envolvente, porém, a chegada do homem português quebrará essa conciliação entre a mulher
indígena e a natureza, simbolizando esse gesto a usurpação da natureza pelo colonizador
europeu branco. Mais do que isso, Iracema, que ocupava um lugar elevado em sua tribo, sendo
uma espécie de sacerdotisa que detinha um enorme poder espiritual, passa a acomodar-se ao
papel de esposa de Martim. Walnice Galvão (2009, p.9) considera que a “extrardinária […]
Iracema domina sobranceira o natural e o sagrado” e que “sua única fraqueza é a força de sua
paixão”. Além disso, a morte de Iracema mostra simbolicamente ao leitor a extinção e
esquecimento da cultura indígena, agora miscigenada. O homem branco trouxe consigo suas
crenças, ideias, hábitos e impregnou a cultura indígena, que sucumbiu, assim como o povo que
era portador dela. Não mais é somente a cultura indígena, houve a troca de culturas, tendo a
oprimida sido esquecida e suplantada pela opressora, o que acarreta na hibridização cultural e
na geração de novas etnias, juntamente com uma nova cultura, resultado da troca de elementos
europeus e indígenas. Martim, em quem o sentimento paterno instiga ainda assomos do amor
primeiro por Iracema, não é mais capaz de mantê-la ligada à vida:
Iracema não se ergueu mais da rede onde a pousaram os aflitos braços de Martim. O terno esposo,
em que o amor renascera com o júbilo paterno, a cercou de carícias que encheram sua alma de
alegria, mas não a puderam tornar à vida: o estame de sua flor se rompera. (p.149)
É perceptível que as índias nas obras representam as criações de ideias para fundamentarem as
necessidades dos seus períodos literários, de tal forma que foram criadas visando a propagação
de uma ideologia. Iracema representa o período nacionalista.
No Brasil, o período Romântico deve ser compreendido paralelamente ao processo de emancipação
política. Dois princípios orientaram os escritores da época: o desejo consciente de enfatizar o
orgulho patriótico e a intenção de criar uma literatura independente e diferente da portuguesa. Por
isso, costuma-se dizer que a literatura romântica no Brasil equivaleu, no plano cultural, ao que a
Proclamação da Independência representou no plano político. (FARACO; MOURA, 1998, p.217)
A obra de Alencar simboliza a procura pela liberdade política, a afirmação do brasileiro como
patriota e do país como um Brasil independente. Assim, Iracema pode ser visto como um
manifesto político, pois sua função é exaltar o elemento autóctone, o índio e a natureza, por
meio da descrição dos ambientes e das características da índia, sempre mistificada e exaltada
como a natureza, resultando na intenção consciente da necessidade de mistificação da fundação
da pátria.
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Na obra Caramuru, seu viés político é voltado para o colonizador, sendo um épico que narra a
“descoberta” da Bahia pelo homem português. Por meio da religião, é feito o discurso de
aculturação. Assim, o índio é inferiorizado e sua finalidade na obra é colaborar com o herói
português. A estrutura do poema árcade de Durão é influenciada pelo épico de Camões, Os
lusíadas (1572), seguindo, dessa forma, moldes europeus.
No Arcadismo predomina a dimensão que se pode considerar mais cosmopolita, intimamente ligada
às modas literárias da Europa, desejando pertencer à mesma tradição e seguir os mesmos modelos,
o que permitiu incorporar a produção mental da colônia inculta ao universo das formas superiores
de expressão. (CANDIDO, 1990, p.37)
A estética árcade está totalmente voltada para a influência europeia, através dos moldes
camonianos, uma literatura, portanto, mais voltada para o colonizador. O Brasil ainda era
colônia de Portugal e não havia intenção da exaltação do índio pela sua liberdade. O Arcadismo
retoma aos conceitos dos poetas gregos e de grandes clássicos, seguindo os modelos estéticos
impostos na literatura.
Segundo Candido (1999, p.37),
Entre Arcadismo e Romantismo há uma ruptura estética evidente, mas há também continuidade
histórica, pois ambos são momentos solidários na formação do sistema literário e no desejo de ver
uma produção regular funcionando na pátria.
Portanto, vale assinalar que, mesmo sendo períodos que assentam em princípios estéticos
diferentes, eles acabam se complementando pelo desejo de construção da literatura brasileira.
Assim, ambos contribuem para o desenvolvimento de uma produção literária que dá
visibilidade ao passado local e concede ênfase ao índio.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os papeis representados das índias protagonistas nas obras indianistas apresentadas estão
interligados ao contexto histórico em que as obras foram desenvolvidas. No período árcade, o
Brasil permanecia uma colônia de Portugal. Embora brasileiro, Santa Rita Durão, autor de
Caramuru, viveu sua vida em Portugal, logo, transparece em seu discurso a fala do colonizador.
Isso não significa, no entanto, que não houvesse escritores interessados na emancipação
brasileira, pois desde o Arcadismo já havia obras e escritores comprometidos com os ideais de
liberdade para a nação, como a Inconfidência Mineira. Além disso, os discursos estavam
presentes nas obras, como em Uruguai, de Basílio da Gama, que, tal como Caramuru, apresenta
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temática indianista, mas é no período posterior, com a independência do Brasil, que ocorre a
busca por uma identidade patriótica, pois o país necessita de um representante que afaste a ideia
de colonização. Buscando no índio o ideal de brasileiro e de povo livre, a partir desse marco
histórico de 1822, os escritores irão buscar a retomada da cultura indígena para se desvincular
do europeu. Assim, ocorrem o indianismo, Arcadismo e no Romantismo acabam convergindo
e se complementando na intenção de formar uma literatura brasileira. Houve uma ruptura
estética entre os padrões árcades e românticas, porém a presença dos elementos nativistas e
indianistas inaugura uma vertente da literatura brasileira a que o Romantismo se encarregaria
de dar uma conformação mais definida, reservando à narrativa indianista a função de mito
fundador da nacionalidade.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado de. Machado de Assis: crítica, notícia da atual literatura brasileira. São
Paulo: Agir, 1959. p. 28 - 34: Instinto de nacionalidade. (1ª ed. 1873).
CADEMARTORI, Lígia. Períodos literários. Ed. Ática. 1990.
CANDIDO. Antonio. Iniciação a literatura brasileira. ed.– São Paulo, 1999.
CANDIDO, Antonio. Romantismo no Brasil. Universidade de São Paulo. 2002.
COSTA. Maria Edileuza da. Lindoia, Moema, Carolina, Iracema: mitos românticos da
literatura brasileira. edição especial. 2008.
FARACO & MOURA. Língua e Literatura. São Paulo: Ática, 1998.
GALVAO, W. N. . Introdução a Iracema - A fraqueza da paixão. São Paulo, 2009.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand,
1995.