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RESUMO
O presente trabalho é um exercício de exegese dentro dos moldes
dos 17 passos para a exegese ministrados no curso de Doutorado em
Ministério do Seminário Teológico: Servo de Cristo em São Paulo. Será
apresentada apenas a parte final que será o sermão oriundo dos estudos
exegéticos aqui apresentados. Além do material apresentado em sala de
aula durante o curso, os livros da bibliografia serão também utilizados
porque os conceitos ali apresentados serão utilizados no formato e na
exposição final deste trabalho. A forma total da apresentação está dividida
em quatros parte que julgamos as que os manuais atuais nos apresentam no
sentido de explorar as significações do texto para os leitores originais e
escritores (exegese) e para consolidar a ponte interpretativa que nos leve ao
sermão (hermenêutica). Nem sempre estaremos justificando ao longo do
trabalho a metodologia utilizada e os manuais consultados para aquele
ensejo, mas sempre estarão implicitamente utilizados, quando não
explicitamente. O primeiro passo é a análise literária, ou seja, análise do
documento com o máximo possível de informações e detalhamentos que
vão desde a gramatica quanto ao uso de figuras de linguagem, expressões
mais importantes. O segundo passo será a análise histórica do documento
na qual autor, carta e destinatários originais serão investigados porque é
uma parte importante da compreensão geral do texto. O terceiro passo é
teológico. Julgamos a Bíblia um texto teológico (não de teologia) pelo
simples fato que nos fala de Deus, sua vontade e seu plano entre nós,
portanto, nossa linha de investigação se dá na analise destas relações e,
obviamente, nos valeremos daquilo que a tradição teológica nos aponta. A
quarta e ultima parte, que será apresentada no curso, é o sermão em si. Já
adiantamos a total impossibilidade de abarcar todas as possibilidade que o
texto de Romanos 5: 1-11 nos traz. Seria tarefa para mais de uma vida.
ABSTRACT
This work is an exegesis exercise along the lines of the 17 steps
for exegesis taught in the course of Doctorate in Ministry Theological
Seminary: Servo de Cristo in São Paulo. It will appear only the final part of
the sermon that will be coming from the exegetical studies presented here.
Besides the presented during the course of classroom material, the
bibliography of books will also be used because the concepts presented
here will be used in the format and in the final exhibition of this work. The
overall shape of the presentation is divided into four of which we judge that
current manuals in the present in order to explore the text meanings to the
original readers and writers (exegesis) and to consolidate the interpretive
bridge that leads us to the sermon (hermeneutics). Nor shall we ever be
justified over the work methodology used and consulted the manuals for
that opportunity, but will always be used implicitly, if not explicitly. The
first step is the literary analysis, ie, document analysis with the maximum
possible information and details ranging from grammar for the use of
figures of speech, the most important expressions. The second step will be
the historical document analysis in which the author, letter and original
recipients will be investigated because they are an important part of the
overall comprehension of the text. The third step is theological. We believe
the Bible a theological text (not theology) for the simple fact that tells us of
God, his will and his plan between us, so our line of research is given in the
analysis of these relations and obviously in what tradition theological
points out. The fourth and last part, which will be presented in the course,
is the sermon itself. Already we have advanced the complete inability to
cover all the possibilities that the text of Romans 5: 1-11 brings. It would
be a task for more than a lifetime.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. ANÁLISE LITERÁRIA E GRAMATICAL
2.1. Texto em português para leitura pela NVI
2.2 Definição e justificativa da escolha da perícope
2.2.1. Características de uma epístola
2.2.2. Características das epístolas Paulinas, e Romanos em
especial
2.2.3. Um texto trinitariano
2.3. Textos do grego Receptus e Majoritário para comparações de
critica textual
2.3.1. Textus Receptus
2.3.2. Texto Bizantino (Majoritário)
2.3.3. Apontando diferenças
2.4. Divisão do texto em unidades menores nos versos identificando
tempos verbais (diagramação), conjunções e preposições, e iniciando o
processo de tradução com breves comentários sobre os verbos principais
2.4.1. Dikaioó
2.4.2. Katallassó
2.5. Tradução provisória com as devidas ênfases e correções
2.6. Referências trazidas do AT para o texto
2.7. Comentário a partir de menores partes com o apoio de teólogos e
comentaristas
3. ANÁLISE HISTÓRICA
3.1 Circunstâncias da carta
3.2 Do autor
3.3. Do público alvo original da carta em seu contexto histórico
4. ANÁLISE TEOLÓGICA
4.1 Identificações do raciocínio geral a partir de um pressuposto e a
partir da leitura de toda a carta
4.2. Identificação dos argumentos deste raciocínio como se
apresentam
4.2.1. Antropologicamente
4.2.2. Teologicamente
4.2.3. Cristologicamente
4.2.4. Pneumatologicamente
5. O SERMÃO
5.1. Tendo sido justificados, pois, pela fé, temos paz com deus por
meio de nosso senhor Jesus Cristo
5.2. Por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual
agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus
5.3. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque
sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter
aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos
decepciona, porque deus derramou seu amor em nossos corações, por meio
do espírito santo que ele nos concedeu
5.4. De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, cristo
morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo;
pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer, mas Deus
demonstra seu amor por nós: cristo morreu em nosso favor quando ainda
éramos pecadores
5.5. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais
ainda seremos salvos da ira de deus por meio dele! Se quando éramos
inimigos de deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu
filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua
vida
5.6. Não apenas isso, mas também nos gloriamos em deus, por meio
de nosso senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a
reconciliação
CONCLUSÃO
BIBLIIOGRAFIA
I. INTRODUÇÃO
A imputação do pecado nos trouxe separação (morte), mas a imputação da
justiça trouxe reconciliação (vida). A justificação produz reconciliação?
Sim, parece ser este o argumento do apóstolo Paulo, e com o proposito
definido de nos salvar e consequentemente nos tornar agentes desta
reconciliação.
A carta de Paulo aos Romanos é notável pelas impressões que deixa
mesmo a leitores mais desatentos. A densidade da teologia, a elevação do
ministério de Cristo à supremacia, a coerência, ainda que dificultada por
muita erudição na apresentação dos conceitos teológicos e soteriológicos,
esmiuçados na doutrina da justificação pela fé, ainda surpreendem.
A Carta aos Romanos é uma fonte inesgotável para estudos, devocionais,
pregação e de teologia, mostrando aos crentes a possibilidade de uma nova
vida pelos méritos e ações concretas de Cristo em nosso favor, satisfazendo
a Lei de Deus.
Para todo crente, o desafio de estudar a carta como um todo deve ser posto
como meta. Há tesouros escondidos aos montes que estudantes e leitores
desatentos e pouco dedicados não encontraram jamais. Mesmo pelos mais
ávidos por conhecimento e crescimento espiritual, às vezes os argumentos
formam uma teia quase inextrincável, que quase nos confunde, mas como
entender tão grande, profundo, largo e alto amor? Palavras muitas vezes
são só palavras.
Parece desafiador a qualquer pastor também e que nutra o desejo de elevar
suas ovelhas aos mais altos e profundos conceitos da relação de Cristo com
os seus, pregar toda carta sistematicamente. Além disto, serve a este como
evangelista por mostrar a grandeza da salvação e os aspectos, alguns
imediatos, que pela fé podem ser experimentados pelos que creem.
Aqui vai um pequeno ensaio, uma tentativa de aproximar do texto com
pouca ou nenhuma pretensão, mas um aprofundamento na busca verdades.
Além disto, faz parte do treinamento das opções apresentadas de exegese e
hermenêutica nos estudos doutorais do Seminário Servo de Cristo após
aulas com o Pr. Dr. Karl John Bosma, na semana de 17 a 21 de agosto.
Será uma tentativa de usar o método de análise literária, histórica e
teológica como sugerem Greidanus[1] e Berkhof[2], começando pela
delimitação do texto.
Na primeira parte uma análise literária e gramatical: texto em português
para leitura pela NVI, definição e justificativa da escolha da perícope, as
características de uma epístola, as características das epístolas Paulinas, e
Romanos em especial, o texto como um texto trinitariano (uma questão
teológico importante), a exposição para pequena critica textual dos textos
do grego Receptus e Majoritário, a divisão do texto em unidades menores
nos versos identificando tempos verbais (diagramação), conjunções e
preposições, e iniciando o processo de tradução com breves comentários
sobre os verbos principais, uma pequena análise dos dois principais termos
do texto: Dikaioó e Katallassó, uma proposta de tradução provisória com
as devidas ênfases e correções, uma análise de Genesis, o texto que
sustenta Romanos 4 e 5, referências trazidas do AT para o texto, logo
seguem comentários do texto separadamente fazendo uso de teólogos e
comentaristas, depois a identificação da citação e uso de expressões do AT
e mesmo do NT e, quando houver citações, qual o critério foi utilizado
nestas citações.
A segunda parte é uma analise histórica, ou seja, contextual, seja da
carta, seja dos leitores, seja do autor. Onde destacaremos: as circunstâncias
da carta, do autor e do público alvo original da carta em seu contexto
histórico.
A terceira sessão é uma análise teológica onde tentaremos a
identificação do raciocínio geral a partir de um pressuposto e a partir da
leitura de toda, a identificação dos argumentos deste raciocínio como se
apresentam.
A última parte é o sermão oriundo de todas as ideias, mas somando
elementos da oratória, exemplos e ilustrações de acordo com a criatividade
e publico alvo.
II. ANÁLISE LITERÁRIA E GRAMATICAL
2.1. Texto em português para leitura pela NVI.
¨Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta
graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória
de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque
sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter
aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos
decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio
do Espírito Santo que ele nos concedeu. De fato, no devido tempo, quando
ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá
alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha
coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu
em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos
justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de
Deus por meio dele! Se quando éramos inimigos de Deus fomos
reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora,
tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!
Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação.¨
2.2 Definição e justificativa da escolha da perícope.
De modo geral, partículas como ¨portanto e pois¨, comuns nos escritos
paulinos, encerram sessões e iniciam outras, ainda que ligações seja
naturalmente possíveis entre temas diversos, o que parece de modo muito
comum, acontecer. No capitulo quatro, mediante o exemplo de Abraão e
Davi, Paulo trata da salvação pela fé e da justificação, também por meio da
fé, de ambos. O assunto parece encerrado do ponto de vista do ¨como¨. A
sessão do capitulo cinco, inicia com uma clausula explicativa, ou seja, ¨a
partir de agora, justificados, podemos...¨. Com efeito, parece abrir uma
lista de possiblidades aos agora justificados. Com notas explicativas
adendos e outros recursos, constrói todo o argumento em torno das novas
possibilidades da vida do justificado.
As expressões justificação e reconciliação são conceitos paralelos,
resultantes e mutuamente necessários. A base legal da reconciliação é a
justificação já que, de modo, algum nos parece possível uma aproximação
de Deus do pecador para uma comunhão em sua condição pecadora sem
que antes algo seja feito neste favor. Não parece fazer sentido justificar sem
que com isto se deseje, ainda que não no primeiro momento, uma mudança
real na condição do pecador. Deste modo, explica-se também, porque os
conceitos são mutuamente necessários. Assim se explica a delimitação final
no verso 11, reconciliados que podem reconciliar. O verso 12 aponta na
direção do ministério reconciliador de Cristo, especificamente, abrindo
portas para a ordem para não mais viver em pecado, conforme Romanos 6.
O comentário Vida Nova do Novo Testamento sugere a perícope indo até o
verso 21, mas apontamos, além da cláusula explicativa ¨portanto¨, a
mudança significativa de assunto, no qual as consequências da morte
operada pelo pecado passam a ser analisadas. O primeiro momento nos
parece (v. 1-11) o ressaltamento dos aspectos positivos da justificação pela
fé, enquanto o segundo momento (v. 12-21), o ressaltamento, em oposição,
das consequências do pecado, a morte.
O argumento, conforme vemos, com cláusulas de ¨além disto¨, apontam
uma correlação interna dos termos do texto e que praticamente
desaparecem no verso 12, ou seja, ainda que seja um argumento decorrente
do que está escrito até o verso 11, o conjunto do texto de 1-11 é interligado
pelas clausulas que claramente apontam para uma argumentação onde cada
conceito se soma e amplia o anterior para causar espanto no leitos. Espanto
este que o próprio escritor pode ter passado no momento em que era
inspirado.
Como já assinalado, vale perceber as ocorrências das palavras derivadas de
justificar e reconciliar que aparecem com intensidade, sendo que justificar
três vezes (versos 1, 7, 9) reconciliar três vezes (versos 10 e 11, sendo duas
vezes no verso 10), logo este paralelo de expressões interligadas desaparece
a partir do verso 12.
A maneira como estes verbos aparecem, ou seja, justificar e logo depois
começar a aparecer o verso reconciliar, sendo o reconciliar no sentido
daquele que é objeto da justificação, apontam, não apenas para o espanto,
mas para preparar o argumento que inicia no verso 12, ou seja, com uma
mudança de assunto no qual o reconciliado passa a ser um agente da
reconciliação, mas o foco dos versos 1-11 é que somos justificados e
reconciliados.
2.2.1. Características de uma epístola
Quando estudamos os textos sagrados, é sabido que análise do gênero
literário é fundamental para o processo de exegese e hermenêutica. O
gênero literário específico de Romanos é a epistola, ou seja, uma carta
direcionada a um grupo específico de cristãos, os cristãos de Roma, pelo
apostolo Paulo conforme o mesmo se apresenta na introdução da carta.
Como destaques especiais que caracterizam um epistola citamos.
2.2.1.1. O caráter pessoal na qual há apresentação, relatos íntimos, defesa
pessoal de suas ações, demonstração de desejos de visitar, de vê-los bem na
fé, de vê-los melhorar em algum aspecto.
2.2.1.2. A maneira como o documento era visto e circulava, ou seja, tendo
sido escrito, foi direcionado a um grupo especifico pelas mãos de um
mensageiro especial.
2.2.1.3. Um propósito específico, ou seja, não eram ideias soltas narradas
por meio de um documento, mas uma ou mais ideias esclarecidas por meio
dos argumentos.
2.2.1.4. A presença de uma apresentação e de uma conclusão com
saudações pessoais e diretas.
2.2.1.5. A linguagem retórica presente no texto como se fosse uma
conversa na qual o escritos prevê perguntas, colocações e outras
intervenções dos seus leitores como se os mesmos estivessem presentes,
uma espécie de interlocutor oculto durante o processo de redação de modo
que na leitura os mesmo pudessem se identificar.
2.2.1.6. A característica de documentos antigos (cartas) que apresentam
uma linha de argumentação clara: prefácio epistolar, exordium, narratio,
propositio, probatio, exhortatio e pós-escrito epistolar ou peroratio
(Kostenberger 2015, pág. 436).
2.2.2. Características das epístolas Paulina e Romanos em especial
O texto de Romanos 5: 1-11 como observaremos, pelo uso de expressões
como νπ κνλνλ δε (transl. on nomon dê), ou seja, muito mais que isto, ou
além disto, são usados como efeito para mostrar a grandeza crescente dos
atos de Cristo por nós, para causar efeito em seus leitores e para enfatizar
cada aspecto teológico daquilo que já opera sobre os crentes a partir dos
atos de Deus em Cristo. Vemos estas expressões nos versos 3, 9 e 11.
2.2.3. Um texto trinitariano
Pai, Filho e Espirito Santo são citados nestes onze versos com
papeis ativos, participativos e muito bem definidos no texto. O Pai:
justifica-nos em Cristo, demonstra amor em Cristo, reconciliou-nos em
Cristo da inimizade, salvou-nos da ira. O Filho: traz-nos paz com Deus, nos
dá acesso à graça pela fé, traz-nos a glória de Deus, morreu pelos ímpios,
morreu pelos pecadores, justifica pelo sangue, reconcilia por meio de sua
morte, nos entregou a reconciliação. O Espírito Santo: o Espirito concedido
por Deus derramou seu amor nos corações.
É importante notar que nenhuma ação das pessoas da Trindade
ocorre por si só, ou seja, uma é sempre decorrente da outra ou traz
consequências sobre a outra. De certo modo, quase se confundem e quase
se tornam inexplicáveis de modo independente da outra. Segundo a ordem
do texto percebemos que: a nossa fé em Jesus Cristo é que nos traz paz com
Deus, o mesmo Cristo que nos dá acesso à graça de ter paz com Deus. Esta
mesma graça aponta para a presença da glória de Deus como fim ultimo,
que será decorrente de tribulações, perseverança, caráter e esperança. Esta
esperança está em nós por causa da presença do Espirito Santo que nos foi
dado por Deus. Cristo providenciou todas estas coisas quando éramos ainda
pecadores para nos livrar da ira de Deus. Fomos reconciliados com Deus
por Cristo quando éramos pecadores e agora que somos reconciliados
seremos salvos pela vida do Filho, que é Cristo. E agora, vivendo com
Cristo nos alegramos em Deus e o próprio Filho nos dá agora a
reconciliação.
2.3. Textos do grego Receptus e Majoritário para comparações de critica
textual.
2.3.1 Receptus
1Δηθαησζέληεο νὖλ ἐθ πίζηεσο εἰξήλελ ἔρνκελ πξὸο ηὸλ ζεὸλ δηὰ ηνῦ
θπξίνπ ἡκῶλ Ἰεζνῦ Χξηζηνῦ 2δη' νὗ θαὶ ηὴλ πξνζαγσγὴλ ἐζρήθακελ ηῇ
πίζηεη εἰο ηὴλ ράξηλ ηαύηελ ἐλ ᾗ ἑζηήθακελ θαὶ θαπρώκεζα ἐπ' ἐιπίδη ηῆο
δόμεο ηνῦ ζενῦ 3νὐ κόλνλ δέ ἀιιὰ θαὶ θαπρώκεζα ἐλ ηαῖο ζιίςεζηλ εἰδόηεο
ὅηη ἡ ζιῖςηο ὑπνκνλὴλ θαηεξγάδεηαη 4ἡ δὲ ὑπνκνλὴ δνθηκήλ ἡ δὲ δνθηκὴ
ἐιπίδα 5ἡ δὲ ἐιπὶο νὐ θαηαηζρύλεη ὅηη ἡ ἀγάπε ηνῦ ζενῦ ἐθθέρπηαη ἐλ ηαῖο
θαξδίαηο ἡκῶλ δηὰ πλεύκαηνο ἁγίνπ ηνῦ δνζέληνο ἡκῖλ 6ἔηη γὰξ Χξηζηὸο
ὄλησλ ἡκῶλ ἀζζελῶλ θαηὰ θαηξὸλ ὑπὲξ ἀζεβῶλ ἀπέζαλελ 7κόιηο γὰξ ὑπὲξ
δηθαίνπ ηηο ἀπνζαλεῖηαη· ὑπὲξ γὰξ ηνῦ ἀγαζνῦ ηάρα ηηο θαὶ ηνικᾷ
ἀπνζαλεῖλ·8ζπλίζηεζηλ δὲ ηὴλ ἑαπηνῦ ἀγάπελ εἰο ἡκᾶο ὁ ζεὸο ὅηη ἔηη
ἁκαξησιῶλ ὄλησλ ἡκῶλ Χξηζηὸο ὑπὲξ ἡκῶλ ἀπέζαλελ 9πνιιῷ νὖλ
κᾶιινλ δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ ζσζεζόκεζα δη' αὐηνῦ ἀπὸ
ηῆο ὀξγῆο 10εἰ γὰξ ἐρζξνὶ ὄληεο θαηειιάγεκελ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ ζαλάηνπ
ηνῦ πἱνῦ αὐηνῦ πνιιῷ κᾶιινλ θαηαιιαγέληεο ζσζεζόκεζα ἐλ ηῇ δσῇ
αὐηνῦ· 11νὐ κόλνλ δέ ἀιιὰ θαὶ θαπρώκελνη ἐλ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ θπξίνπ
ἡκῶλ Ἰεζνῦ Χξηζηνῦ δη' νὗ λῦλ ηὴλ θαηαιιαγὴλ ἐιάβνκελ
2.3.2. Bizantino (majoritário)
1Δηθαησζέληεο νὖλ ἐθ πίζηεσο, εἰξήλελ ἔρνκελ πξὸο ηὸλ ζεὸλ δηὰ ηνῦ
θπξίνπ ἡκῶλ Ἰεζνῦ ρξηζηνῦ, 2δη’ νὗ θαὶ ηὴλ πξνζαγσγὴλ ἐζρήθακελ ηῇ
πίζηεη εἰο ηὴλ ράξηλ ηαύηελ ἐλ ᾗ ἑζηήθακελ, θαὶ θαπρώκεζα ἐπ’ ἐιπίδη ηῆο
δόμεο ηνῦ ζενῦ. 3Οὐ κόλνλ δέ, ἀιιὰ θαὶ θαπρώκεζα ἐλ ηαῖο ζιίςεζηλ,
εἰδόηεο ὅηη ἡ ζιίςηο ὑπνκνλὴλ θαηεξγάδεηαη, 4ἡ δὲ ὑπνκνλὴ δνθηκήλ, ἡ δὲ
δνθηκὴ ἐιπίδα· 5ἡ δὲ ἐιπὶο νὐ θαηαηζρύλεη, ὅηη ἡ ἀγάπε ηνῦ ζενῦ ἐθθέρπηαη
ἐλ ηαῖο θαξδίαηο ἡκῶλ δηὰ πλεύκαηνο ἁγίνπ ηνῦ δνζέληνο ἡκῖλ. 6Ἔηη γὰξ
ρξηζηόο, ὄλησλ ἡκῶλ ἀζζελῶλ, θαηὰ θαηξὸλ ὑπὲξ ἀζεβῶλ
ἀπέζαλελ. 7Μόιηο γὰξ ὑπὲξ δηθαίνπ ηηο ἀπνζαλεῖηαη· ὑπὲξ γὰξ ηνῦ ἀγαζνῦ
ηάρα ηηο θαὶ ηνικᾷ ἀπνζαλεῖλ.8Σπλίζηεζηλ δὲ ηὴλ ἑαπηνῦ ἀγάπελ εἰο ἡκᾶο
ὁ ζεόο, ὅηη ἔηη ἁκαξησιῶλ ὄλησλ ἡκῶλ ρξηζηὸο ὑπὲξ ἡκῶλ
ἀπέζαλελ. 9Πνιιῷ νὖλ κᾶιινλ, δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ,
ζσζεζόκεζα δη’ αὐηνῦ ἀπὸ ηῆο ὀξγῆο. 10Εἰ γὰξ ἐρζξνὶ ὄληεο
θαηειιάγεκελ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ ζαλάηνπ ηνῦ πἱνῦ αὐηνῦ, πνιιῷ κᾶιινλ
θαηαιιαγέληεο ζσζεζόκεζα ἐλ ηῇ δσῇ αὐηνῦ· 11νὐ κόλνλ δέ, ἀιιὰ θαὶ
θαπρώκελνη ἐλ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ θπξίνπ ἡκῶλ Ἰεζνῦ ρξηζηνῦ, δη’ νὗ λῦλ ηὴλ
θαηαιιαγὴλ ἐιάβνκελ.
2.3.3 – Apontando diferenças
Apontamos apenas uma diferença de pontuação entre o texto critico de
Nestle e o texto majoritário no verso 9. Diz o texto de Nestle:
1. πνιιῷ νὖλ κᾶιινλ δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ ζσζεζόκεζα
δη’ αὐηνῦ ἀπὸ ηῆο ὀξγῆο.
Depois o texto Majoritário:
2. Πνιιῷ νὖλ κᾶιινλ, δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ,
ζσζεζόκεζα δη’ αὐηνῦ ἀπὸ ηῆο ὀξγῆο
Segue:
1. Muito mais agora tendo sido justificados pelo seu sangue seremos
salvos por ele da sua ira.
2. Muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos
salvos por ele da sua ira.
Julgamos que a modificação na pontuação não apresenta nenhuma
influencia sobre o significado natural da passagem, já que a cláusula
explicativa: ¨tendo sido justificados pelo seu sangue¨, tem a mesma
conotação estando ou não entre virgulas.
2.4. Divisão do texto em unidades menores nos versos identificando
tempos verbais (diagramação), conjunções e preposições, e iniciando o
processo de tradução com breves comentários sobre os verbos principais.
Vers. Div Grego Receptus Tradução do trecho e justificativas
1 A δηθαησζεληεο νπλ εθ
πηζηεσο
1. Tendo sido justificados,
tornados/feitos justos, declarados
inocentes;
2. ato ou efeito de tornar
algum inocente, ou não imputar
mais a culpa;
3. O filho nos aproxima do pai.
B εηξελελ ερνκελ πξνο ηνλ
ζενλ δηα ηνπ θπξηνπ
εκσλ ηεζνπ ρξηζηνπ
1. Por meio de, pela
instrumentalidade de, através de;
2. Os méritos do filho nos são
transferidos para com a nossa
relação com o Pai
2 A δη νπ θαη ηελ
πξνζαγσγελ εζρεθακελ
1. Nós temos, presente do
indicativo, temos agora;
2. A ação passada e
incondicional de Cristo produz
efeitos no presente.
B ηε πηζηεη εηο ηελ ραξηλ
ηαπηελ
1. Pela fé a esta graça que;
2. A fé é instrumento e a graça
também, não um fim em mesmas.
C ελ ε εζηεθακελ 1. Na qual nós estamos;
2. Estamos porque fomos
postos nesta condição pelo Filho e
não por uma capacidade de estar.
D θαη θαπρσκεζα επ ειπηδη
ηεο δνμεο ηνπ ζενπ
1. E gloriamos na esperança da
glória de Deus;
2. O filho nos coloca em
condição esperançosa diante da
grande glória a qual ainda teremos
acesso.
3 A νπ κνλνλ δε 1. Não somente isto, ou seja,
tem mais;
2. Há uma lista desencadeada
pelas bençãos que o filho pode
produzir a partir da justificação.
B θαη θαπρσκεζα ελ ηαηο
ζιηςεζηλ
1. E, além disto nos floríamos
nas tribulações;
2. Por dádivas, inclui-se aqui o
participar de tribulações.
C εηδνηεο νηη ε ζιηςηο
ππνκνλελ θαηεξγαδεηαη
1. Sabendo que a tribulação
produz paciência;
2. Não é em vão e nem um
martírio sem sentido a presença da
tribulação, mas trabalha a
paciência.
4 A ε δε ππνκνλε δνθηκελ 1. Além disto produz caráter;
2. O caráter no grego não
recebe adjetivo como no
português, que é aprovado;
B ε δε δνθηκε ειπηδα 1. E, além disto o caráter
produz esperança;
2. O ritmo com ¨dé¨ parece
criar uma tensão crescente, como
se a cada palavra o apostolo
quisesse insinuar que já chegou ao
fim, ao topo, mas logo surge algo
maior.
5 A ε δε ειπηο νπ θαηαηζρπλεη 1. E agora a esperança não nos
envergonha;
2. Ora, havia uma que
envergonhava;
3. Não nos envergonha no
sentido de que nos garante que a
nossa esperança terá pleno
cumprimento não nos deixando
envergonhados e desesperados, na
desesperança.
B νηη ε αγαπε ηνπ ζενπ
εθθερπηαη
1. Tem sido derramados;
2. Interessante esta imagem de
Deus como o que derrama e
nossas vidas como vasos que
recebem; é de fora ou de cima,
para baixo ou para dentro.
C λ ηαηο θαξδηαηο εκσλ δηα
πλεπκαηνο αγηνπ
1. Através do Espirito Santo;
2. A Trindade presente no
processo de justificação, de sua
implantação e de todas as suas
garantia.
D ηνπ δνζεληνο εκηλ 1. O qual nos tem dado;
2. Podemos perceber a trindade
presente na passagem: Pai, Filho e
Espírito Santo.
6 A εηη γαξ ρξηζηνο 1. Ainda por Cristo;
2. A tradução em português
começa com a ênfase no tempo e
o grego para enfatizar Cristo;
B νλησλ εκσλ αζζελσλ 1. Sendo nós sem força;
2. A ideia não é de fracos no
sentido direto da palavra, mas de
destituídos de poder;
3. Pode haver a ideia implícita
de que quando estivermos nele
teremos força;
C θαηα θαηξνλ ππεξ
αζεβσλ απεζαλελ
1. De acordo no tempo certo
pelos sem Deus morreu;
2. Morreu no devido tempo
pelos ímpios;
3. Talvez a ênfase seja na
exatidão do momento.
7 A κνιηο γαξ ππεξ δηθαηνπ
ηηο απνζαλεηηαη
1. Raramente por um homem
bom alguém morrerá;
2. A obra de Cristo além de seu
poder mostra sua loucura, morrer
por quem não merece;
3. A ênfase do apóstolo é:
somente Cristo faz isto.
B ππεξ γαξ ηνπ αγαζνπ
ηαρα ηηο θαη ηνικα
απνζαλεηλ
1. Pode ser que por um homem
bom alguém morreria;
2. A expressão teria coragem é
uma inclusão da linguagem
dinâmica da tradução;
8 A ζπληζηεζηλ δε ηελ εαπηνπ
αγαπελ εηο εκαο ν ζενο
1. Deus demonstra o amor dele
por nós;
2. Verbo no presente do
indicativo mostra que o amor
continua sendo demonstrado até
agora.
3. Amor aqui é ágape.
B νηη εηη ακαξησισλ νλησλ
εκσλ ρξηζηνο ππεξ εκσλ
απεζαλελ
1. Sendo nós ainda pecadores
Cristo morreu por nós;
2. A questão temporal neste
caso é fundamental, porque ainda
éramos pecadores e ele morreu
por nós.
9 A πνιισ νπλ καιινλ 1. Muito mais que isto;
2. Uma cláusula de inclusão
para somar ainda mais atos de
Deus ao nosso favor;
3. Mais uma vez fica claro que
se quer usar uma linguagem para
impressionar os leitores, ou seja,
apresentar novos fatos
maravilhosos aos já tão intensos
apresentados anteriormente.
B δηθαησζεληεο λπλ 1. Tendo sido justificados;
2. A expressão que sintetiza o
trecho e o distingue em particular
do restante da carta;
3. Mais uma vez na voz
passiva na qual o homem é objeto
desta ação de Deus.
C ελ ησ αηκαηη απηνπ 1. Pelo sangue dele;
2. A questão do sangue é
obviamente uma figura de
linguagem para expressar sua
morte e o derramamento do seu
sangue como cordeiro perfeito de
Deus;
D ζσζεζνκεζα δη απηνπ 1. Nós seremos salvos por ele;
2. Esta expressão está no
futuro, ou seja, não agora.
E απν ηεο νξγεο 1. Da ira;
2. A ira não está acompanhada
de seu sujeito operados, é tida
como uma entidade a parte da
qual Cristo nos livra.
10 A εη γαξ ερζξνη νληεο 1. Porque se nós;
2. É o inicio de mais uma
argumentação dentro desta teia,
com uma reafirmação doutra
forma.
3. Este argumento será usado
na outra seção a partir do verso 12
sobre a virada.
B θαηειιαγεκελ 1. Nós fomos reconciliados;
2. Reconciliados também.
Quando duas partes se acertam.
C ηῷ ζεσ δηα ηνπ ζαλαηνπ
ηνπ πηνπ απηνπ
1. Por Deus pela morte do seu
filho;
2. Mais uma vez a
instrumentalidade de Cristo
satisfazendo a vontade de Deus.
D πνιισ
καιινλθαηαιιαγεληεο
1. Muito mais agora, tendo
sido reconciliados;
2. Reconciliados também.
3. Há um clima de gradação
aqui, se a morte nos trouxe grande
problemas, o resultado das ações
de Cristo serão ainda maiores.
E ζσζεζνκεζα ελ ηε δσε
απηνπ
1. Nós seremos salvos pela
vida dele.
2. Sua morte nos justifica e sua
vida nos salva.
11 A νπ κνλνλ δε 1. Não somente isto.
2. Mais um novo fluxo de
ideias com gradação superior ou
para enfatizar as argumentações
anteriores.
B αιια θαη θαπρσκελνη ελ
ησ ζεσ
1. Mas também nos gloriamos
em Deus;
2. A alegria aqui é destacada
pela possibilidade que ela gera
naquele que tem a reconciliação,
ou seja, a capacidade de
reconciliar também.
C δηα ηνπ θπξηνπ εκσλ
ηεζνπ ρξηζηνπ
1. Através do Senhor Jesus
Cristo;
2. Aqui ele chama Jesus de
Senhor;
3. Ele é o meio pela qual nossa
alegria em Deus se torna possível.
Jesus como caminho?
D δη νπ λπλ
ηελθαηαιιαγελ ειαβνκελ
1. Através de quem agora
temos recebido a reconciliação;
2. Com destaque para o agora;
3. Com destaque para
reconciliação.
Segue a breve análise dos dois verbos principais que indicamos, ou seja,
justificar e reconciliar.
2.4.1 dikaioó[3]
dikaioó: mostrar como ser reto, declarar reto ou justo.
Palavra original: δηθαηόσ
Verbo
Transliteração: dikaioó
Divisão Silábica: (dik-ah-yo'-o)
Definição rápida: Eu faço justo ou reto, defendo a causa de, justifico
Definição: Eu faço justo, defendo a causa de, pleiteio a justiça ou
inocência de, absolvo, justifico, portanto, Eu declaro como reto.
Cognatos: 1344 dikaióō (de direito, de aprovado judicialmente) –
apropriador, aprovado, especificamente dentre da lei. O crente é feito reto
ou justo pelo Senhor, de modo claro de todos os seus pecados e punições
das quais seria passível por causa dos seus pecados. Além disto, são
justificados, e recebem a Graça de Deus pela fé.
2.4.2. Katallassó[4]
katallassó: reconciliar
Palavra original: θαηαιιάζζσ
Verbo
Transliteração: katallassó
Divisão Silábica: kat-al-las'-so
Definição curta: Eu reconcilio
Definição: Eu mudo, troco, reconcilio.
katallássō - ir até o ponto exato, intensamente, mudar, quando duas partes
são reconciliadas e quando vem até a mesma posição. Trocado,
reconciliado é aplicado a pais casados, Cor 7:11), mas geralmente na
redenção ou remissão de um picador reconciliado com o seu Senhor. Foi
originalmente usado para troca de moedas, certamente, troca, cambio,
(especialmente de dinheiro) portanto, de pessoas, para transformar
inimizade em amizade, para reconciliar.
2.5. Tradução provisória com as devidas ênfases e correções.
Tendo sido justificados por meio da fé temos paz com Deus através
do Senhor Jesus Cristo, através de quem também temos acesso pela fé a
esta graça na qual aguardamos, na esperança da glória de Deus. Não
somente isto, mas nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação
produz perseverança, a perseverança caráter, e o caráter esperança. E agora
a esperança não nos deixa envergonhados porque o amor de Deus foi
derramado em nossos corações através do Espirito Santo aquele que ele nos
tem dado.
2.6. Referências trazidas do AT para o texto.
É importante no processo analisarmos as referências que foram
utilizadas do texto sagrado e a forma como foram usadas. Para maior
clareza, apontaremos as referencias e comentaremos brevemente uma a
uma.
Introdutoriamente a este assunto queremos trazer uma referencia de
G.K Beale (2014, pág. 784):
O ato redentor e amoroso realizado por Deus ao entregar seu Filho à
morte que é simultaneamente um ato de auto entrega do próprio Cristo,
passa a ser o centro do argumento de Paulo. Assim como descreve o modo
pelo qual a promessa de Deus gerou a fé de Abraão (Rm 4. 16b-22), aqui
ele apresenta Cristo como fonte de vida e justiça. Por trás de nossa crença
e no que a antecede, está Cristo, através de quem Deus esperança em nosso
coração e nos transporta para a vida eterna. Ao concluir o tema de Abraão,
na implícita identificação de Jesus como descendência do patriarca, Paulo
dá sinal de que todos que creem em Deus por meio de Jesus foram
incluídos na morte e na ressurreição deste. Este tema, especialmente com
relação à morte de Jesus, agora se torna o tópico principal e explicito de
Paulo. O apóstolo deixa de lado o assunto de Abraão e de sua fé
justificadora e passa a falar de Cristo e sua morte justificadora.
Deste modo, a narrativa de Gênesis 12-25 que trata de Abraão e toda
sua descendência, sobretudo de Isaque, é a narrativa que alimenta a
interpretação desta passassem, mas a passagem em si traz um upgrade de
interpretação, ou seja, a fé que justificou Abraão é apenas um tipo, modelo
daquilo que Cristo fez com muito mais poder, ou seja, por meio de sua
morte é capaz de justificar a todo que crê nele.
Os destaques não são diretos em 5. 1-11, mas vem de citações
presentes no capitulo quatro. Aqui podemos destacar o modelo de Abraão,
que foi um tipo, mas claramente manifesto em Cristo e modelo para os
crentes de hoje, ou seja, a salvação sempre foi por meio da fé.
Destacamos: Abraão simplesmente creu (Gen 15. 6, Rm 4. 3), a
circuncisão como sinal (Gen 17:9, Rm 4: 11), a descendência (Gen 17. 11-
14, Rm 4. 13-17), crer contra todas as circunstâncias desfavoráveis e
contrarias, argumento que aparece no nosso texto (Gen 15. 5, Rm 4: 18),
crendo em Deus que seria poderoso para cumprir sua promessa (Gen 15. 6,
Rm 4. 21), sendo tudo isto lhe imputado como justiça, e não por suas obras,
mas por sua fé em Deus e suas promessas.
2.7. Comentário a partir de menores partes com o apoio de teólogos e
comentaristas.
1. Tendo sido – a) uma vez que fomos, chama a atenção para algo já
realizado e/ou de antemão explicado, o que é o caso. Karl Barth[5], em seu
comentário a Romanos sugere que talvez o amanoense, Tércio, tenha se
enganado na forma do verbo, já que poderia ter dito: ¨tenhamos¨
apresentando muito mais o desejo do que exatamente uma condição. No
entanto, não parece razoável pensar assim já que a tônica do texto nos
sugere que o próprio Deus é agente da justificação que doutra forma não
seria possível. F.F. Bruce chega a mesma conclusão afirmando que a única
possibilidade de assim o ser é notando que ¨temos paz com Deus¨ parece se
encaixar no argumento de Paulo já que ¨acabamos de receber a
reconciliação¨. b) Se pensamos nas consequências deste ato, no que tange a
responsabilidade do homem daqui então, fica claro que, tendo a ênfase nas
bênçãos decorrentes da justificação, nem mesmo por vontade e desejo o
homem pode operar aquilo que a justificação faz e levar a ser feito, no
homem, com o homem e pelo homem. É o caso do que Cristo fez por nós,
não apenas no sentido legal de nos livrar, mas de possibilitar os passos
seguintes, os quais serão descritos, que são recebidos e entendidos pelo
apóstolo como grandes bênçãos espirituais. c) Parece sempre razoável
salientar que o verbo na primeira pessoa do plural (tendo nós...) parece
mais razoável sempre acompanhar o sentido mais universalista David E.
Holwerda[6], de aplicação das alianças (Israel judaico, e na Nova Aliança
um Israel de judeus e gentios), que supor uma aplicação ora apenas
apostólica, ora apenas aos romanos, ora apenas a gentios.
2. pois, justificados pela fé - a) a fé é grande assunto na epístola
paulina. Somente sou aquilo que (não!) sou, pela Fé! Se o arrojo da fé, [a
ousadia de crer nas coisas divinas que são absurdas à luz dos critérios
humanos] desaparecer ou falhar por um só instante, se a atitude de
confiança se transformar em dúvida, [se momentaneamente eu tomar uma
posição como se eu nunca houvesse aceitado o paradoxo da fé] então essa
identidade que o relacionamento pela fé impõe entre o sujeito que sou e
aquele que não sou — mas venho [ou viria] a ser pela fé, deixa de existir, e
as considerações que se tecerem a respeito não passam de especulação
religiosa, híbrida¨.[7] b) Cabe aqui comentar de antemão que a ideia de
imputação do pecado a toda humanidade por um homem é resolvida /
compensada, pela imputação da justificação a toda humanidade com/da fé.
3. temos paz com Deus – a paz com Deus, da perspectiva paulina, não
encerra como definição a consciência humana de sua condição de
inimizade ou guerra contra Deus porque o homem em sua rebeldia foi
cegado e entregue a sua própria sorte para sofrer em seu corpo o pagamento
de sua rebeldia. Neste sentido, do mesmo modo que a distância e conflito
são desfeitos soa como novidade porque paradoxalmente o homem
reconciliado é o que mais tem ideia do que seja a inimizade contra Deus.
Dai a grande benção donde decorre a grande alegria de Paulo de ter sido
reconciliado com Deus.
4. Por nosso Senhor Jesus Cristo – Jesus Cristo é sempre o único
mediador de todas as ações de Deus para com o homem e sua criação, não
poderiam ser diferentes quanto à justificação e reconciliação, que nos
parecem os dois temas principais aqui. Pedro destaca esta características do
ministério messiânico de Jesus Cristo em Atos 4. 12. Paulo, apesar de no
instante seguinte afirmar que recebemos a reconciliação como ministério e
missão da parte de Cristo, não o fazem sem antes afirmar ser o próprio
Cristo o mediador e o comissionador de tal tarefa.
5. Por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça – mais uma
vez é Cristo o mediador. Neste caso, ele chama a paz com Deus de graça,
ou seja, como um presente ganho por Cristo e transferidos a nós. Deve
chamar a nossa atenção a expressão acesso, que além de acesso pode
significar aproximação ou admissão, ou seja, por meio de Cristo as
barreiras que nos impediam o acesso a Deus foram derrubadas e o caminho,
acesso, a isto está livre.
6. Na qual agora estamos firmes - levando em consideração toda a
passagem que muito mais do que afirma a fraqueza e debilidade humana,
não podemos, de modo algum, supor que neste momento, seja sugerido
algum poder, vantagem, virtude ou elemento estranho a graça de Deus, mas
que nos seja pertinente, que nos garanta, de uma ou de outra forma, a
capacidade humana de estar firme, de pé, diante de Deus, pelo contrário,
devemos por na conta de Cristo, também, tal condição satisfatória e
vantajosa. Esta firmeza, oriunda obviamente do poder conferido por Cristo
para que todo aquele que se aproxima dele possa se manter firme em sua
presença, soa também como uma expressão de fidelidade e de prazer do
apóstolo que parece querer dizer que, que agora que se achegou a esta
condição, não deseja de forma alguma abandoná-la.
7. E nos gloriamos na esperança da glória de Deus – a glória de Deus
aqui parece remeter a uma graça futura a ser, inevitavelmente, alcançada
por todos alcançados pela justificação e pela reconciliação. No entanto,
diante desta verdade inevitável, de antemão, já é possível se regozijar e se
alegrar.
8. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações – o
sofrimento e as dificuldades parecem sempre parte importante da vida
cristã e companheiras indispensáveis, pelo menos desta vida, de qualquer
proposta séria de relação com Cristo, ao ponto do apostolo dizer que se
alegra em passar por elas. Veremos seguir que, de modo gradativo, a
tribulação parecem sem o primeiro degrau para maturidade, melhor
relacionamento com Deus ou crescimento espiritual. A ética do apóstolo
inclui as lutas e problemas com componente, não apenas necessário, mas
essencial e primeiro na construção da relação com Cristo iniciada pela
justificação e reconciliação. Ele é acompanhado por Pedro e muitos outros
evangelistas nesta afirmação.
9. Porque sabemos que a tribulação produz perseverança – difícil
entender a principio com algo ruim pode produzir algo bom. Talvez, no
entendimento do apostolo, já que a condição de sofrer pela causa de Cristo
lhe cabia ontologicamente já estava nesta condição desde o seu chamado:
¨verá o quanto deve padecer pelo meu nome¨, lhe era simplesmente
impossível não perceber a total improbabilidade de uma vida repletas de
realizações, aceitação e ganhos. Nem por isto, sua ética lhe impedia de
perceber que, por meio da tribulação, que lhe seria companheira, a
perseverança lhe seria fortalecida. Esta maneira de lidar com as
dificuldades é bastante interessante: já que tenho que passar por elas, as
suportarei até o fim.
10. A perseverança, um caráter aprovado – a nossa tradução não traz o
adjetivo aprovado e não conta na versão grega consta apenas caráter.
Talvez caráter bom e mal seja uma condição da língua portuguesa. A
princípio, este caráter só pode ser bom, ou seja, produzido por Cristo a
partir de seus atos em nosso favor. A condição de Cristo é internalizada por
um processo desencadeado pela
11. E o caráter aprovado, esperança – vocábulo esperança também
traduzido por verdade, expectativa ou expectação e confiança. Aqui a
esperança já não mais é o ato ou efeito de confiar cegamente em algo que é
possível, mas como que vendo aquilo que será possível, fiar-se nesta
verdade, nosso, mas apenas ainda não estando em nossas mãos.
12. E a esperança agora não nos decepciona – será que havia alguma que
decepcionaria? Sim, aquelas focadas e construídas por seres humanos.
Conforme comentado anteriormente, não é uma esperança em fundamento
humano, porque tudo narrado na passagem nos vem ora pelas obras ora
pelos méritos de Jesus Cristo.
13. Porque Deus derramou seu amor em nossos corações – a ideia é de que
o amor de Deus tem sido derramado em nossos corações, dia a dia, sem
medida. Este amor, como algo concreto, é o fundamento da esperança que
temos, mais que um sentimento, a certeza da fé.
14. Por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu – neste momento o
destaque mais intenso que podemos dar é o da Trindade. Neste texto, em
poucos versos, o apóstolo sem criar tensões e ou maiores explicações para
as correlações trinitarianas, simplesmente cita cada uma das pessoas da
trindade funcionalmente. Este tem sido o assunto de séculos de teologia
cristã, que ainda é motivo de muita discussão, aqui vale dizer que
recebemos bençãos espirituais do Pai, do Filho e do Espírito e mesmo
bençãos da mesma natureza nos são ofertadas igualmente pelos três. O
Espirito Santo é aquele que derrama e opera o amor de Deus nos nossos
corações. Levando em consideração os dons espirituais, levando em
consideração as ações do Espírito no crente e na igreja, percebemos que o
fundamento primeiro de tudo, que é consequente na vida do crente à partir
da justificação e da reconciliação, é sem dúvida o amor. Amor não apenas
no sentido estrito e limitante dos sentimentos e emoções sem sentido, mas
como uma ferramenta fundante de todas as ações seguintes. Amor é poder
neste sentido. Amor é a base da vida, da força e continuidade da vida cristã.
15. De fato, no devido tempo – esta ênfase estará na verdade no final do
verso porque parece que o apostolo quer exaltar a obra de Cristo muito
mais do que a precisão do tempo da ação, mesmo assim, o apóstolo parece
querer indicar que no limite do tempo Ele não falhou.
16. Quando ainda éramos fracos – quando ainda éramos sem força, porque
agora em Cristo somos fortes, ou seja, mais uma mudança da nossa
condição ontológica pela nossa ligação com Cristo, a ênfase no grego para
ser na falta de força, como se nos esforçássemos sem Cristo em vão e nossa
força agora está no fato de estarmos nele, nem assim é uma força nossa,
mas a força dele que nos é dada. Neste momento faremos, sendo cada
termo à seu tempo no momento certo, três vocábulos que aparecem na
sequencia entre os versos 6 e 8: fracos, ímpios e pecadores. Aqui aparece
apenas fraco. Fraco é tido como: fraco, sem firmeza e doente, seja
fisicamente seja moralmente. O uso destas expressões contrasta com o
drama do amor de Deus por pessoas sem condições sob quaisquer aspectos
de merecer ou mesmo compreender este amor.
17. Cristo morreu pelos ímpios – esta é a loucura do Evangelho que
poucos conseguem entender, até mesmo os crentes, ele morreu por quem
merecia morrer, justificou quem deveria ser condenado, salvou quem
deveria se perder, ajudou quem deveria ser abandonado e curou quem
deveria morrer em chagar. A única possibilidade do Evangelho se
concretizar na vida do ser humano é pelo ato misericordioso de Deus,
porque de outra forma é simplesmente impossível, ninguém está em
condição de, por si mesmo e por suas obras, mesmo que no impossível
cumprimento da lei, salvar-se, justificar-se ou santificar-se. Fazendo aqui o
reforço da expressão fracos do trecho anterior, surge aqui a expressão:
ímpios. A impiedade é a caraterística do homem que pela falta de Deus,
não somente pratica o mal, mas o faz conscientemente e ainda se tornar um
propagador deste mesmo mal, é aquele que pratica o mal e ainda se ri das
próprias atitudes.
18. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo – mesmo por um
justo é raro que alguém morra, quanto mais por pecadores. Cristo não
morreu pro nenhum justo, porque não um justo, nenhuma sequer. Ninguém
que entenda. Ninguém que faça a vontade de Deus;
19. Pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer – talvez e
apenas talvez. Mesmo assim, a morte de um pecador pelo outro pode
pouco, quanto muito, manter aquele mesmo vivo por algum tempo, mas na
mesma condenação. A morte de Cristo, o Santo e Justo, pode não somente
mudar a vida, mas transformar a condição da eternidade, e citando a
segunda e temida, mas ignorada, segunda morte;
20. Mas Deus demonstra seu amor por nós – interessante que o verbo se
encontra no presente do indicativo, ou seja, como uma ação presente e
inacabada ou como uma ação sempre presente, mesmo tenho ocorrido no
passado, a ação de demonstrar continua presente e ativa, ou seja, Deus
continua mostrando ou demonstrando o seu amor por nós.
21. Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores – o
amor de Deus mostra toda sua profundidade neste caso. Ampliando a ideia
anterior de que dificilmente alguém morreria por um justo, aqui se afirma
que Cristo morreu por pecadores. Aqui surge a terceira palavra ao lado de
fracos e ímpios. Pecador tem o peso da condição existencial do homem, ou
seja, ele nasce, cresce, vive e morre pecador. A total incapacidade de por si
só encontrar o bem;
22. Como agora fomos justificados por seu sangue – o apostolo de certa
forma retoma o argumento inicial para levar os leitores a outros assuntos
ainda dentro da extensão do mesmo ato de Deus por nós, que seja justificar
os pecadores.
23. Muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus – há um contraste no
argumento aqui interessante, como se ele quisesse dizer que a maldição é
grande ao que perece sem Cristo, mas não pode ser comparado aquilo que é
produzido na vida do Crente por meio de Cristo. Aliás, esta forma de
argumentar do apóstolo parece comum, ou seja, as bênçãos espirituais são
sempre maiores.
24. Por meio dele – sempre por meio de Cristo, o mediador de tantas
coisas entre nós e Deus.
25. Se quando éramos inimigos de Deus – aqui o apostolo já fala do ponto
do vista do justificado e do reconciliado, mais uma vez ampliando o
argumento no sentido de mostrar que a maldição é grande, mas a salvação é
muito maior. Do temor e tremor para a benção e a paz com Deus.
26. Fomos reconciliados com ele – o verbo que apontamos como principal
ao lado de justificar aparece aqui, reconciliar.
27. Mediante a morte de seu Filho – a morte substitutiva de Cristo é o
meio pelo qual alcançamos a reconciliação, ou seja, ele morreu em nosso
lugar para que ocupássemos os méritos dele em seu lugar. Somos
substituídos na morte e ocupamos um lugar que não era do nosso mérito.
28. Quanto mais agora - Há um clima de gradação aqui, se a morte nos
trouxe grandes problemas, o resultado das ações de Cristo serão ainda
maiores.
29. Tendo sido reconciliados – mais uma vez na voz passiva porque somos
objetos desta ação de Deus em Cristo.
30. Seremos salvos por sua vida – aqui queremos destacar os três tempos
da salvação: passado, presente e futuro. A caraterística aqui destacada é a
futura. Fomos salvos, estamos sendo salvos e seremos salvos. Além disto,
vemos que sua morte nos justifica e sua vida nos salva.
31. Não apenas isso – mais uma vez uma clausula para causar impacto na
vida de quem lê. Se tudo dito antes já nos tiraria o folego, espere porque
tem mais, e muito mais.
32. Mas também nos gloriamos em Deus – gloriar-se, alegrar-se, regozijar-
se.
33. Por meio de nosso Senhor Jesus Cristo - Ele é o meio pela qual nossa
alegria em Deus se torna possível. Jesus como caminho.
34. Mediante quem recebemos agora a reconciliação – receber a
reconciliação recebe duas características quando o trecho é analisado
separadamente. O primeiro, mas já trabalhado muito bem pelos versos
anteriores, é o de que Cristo nos reconciliou com Deus e que, por nossa
vez, recebemos pelos méritos dele, a reconciliação com Deus.
III. ANÁLISE HISTÓRICA
3.1.Circunstâncias da carta.
A epístola aos romanos foi escrita por Paulo, provavelmente na cidade
de Corinto, Grécia, enquanto ele estava hospedado na casa de Caio e
transcrita por um dos Setenta Discípulos, o escriba chamado Tércio de
Icônio. Há uma série de razões que convergem para a teoria de que Paulo a
escreveu em Corinto, uma vez que ele estava prestes a viajar
para Jerusalém ao escrevê-la, o que corresponde com Atos 20:3, no qual é
relatado que Paulo permaneceu durante três meses na Grécia. Isso
provavelmente implica Corinto, pois era o local de maior sucesso
missionário de Paulo, na Grécia. Adicionalmente Febe, uma diaconisa da
igreja em Cencréia, um porto a leste de Corinto, teria sido capaz de
transmitir a carta a Roma depois de passar por Corinto. Erasto, mencionado
em Romanos 16: 23, também viveu em Corinto sendo comissário da cidade
para obras públicas e tesoureiro da cidade em várias épocas, mais uma vez
indicando que a carta foi escrita em Corinto.
O momento exato em que foi escrito não é mencionado na carta, mas
foi obviamente escrito quando a coleta de ofertas para Jerusalém tinha sido
montada e Paulo estava prestes a ir a Jerusalém, ou seja, no final de sua
segunda visita a Grécia, durante o inverno que precedeu a sua última visita
a essa cidade. A maioria dos estudiosos propõe que a carta foi escrita no
final de 55, 56 ou 57. Outros propõe o início de 58 ou 55, enquanto
Luedemann defende uma data anterior, como 51/52 (ou 54/55 ), na
sequência de Knox, que propõe. 53/54. O teólogo Fábbio Xavier, em seu
artigo Conhecendo os Romanos de Roma, deixa claro que a carta pode ter
sido redigida por volta de 55 e 56. [8]
3.2.Do autor.
Durante dez anos antes de escrever a carta (aproximadamente entre os anos
47 a 57 d.C.), Paulo tinha viajado ao redor domar Egeu evangelizando.
Igrejas foram implantadas nas províncias
Romanas da Galácia, Macedónia, Acaia e Ásia. Paulo, considerando a sua
tarefa concluída, queria pregar o evangelho na Espanha. Isso lhe permitiu
visitar Roma no caminho, uma ambição de longa data dele. A carta aos
Romanos, em parte, prepara a comunidade de Roma e dá motivos para sua
visita.
Além da localização geográfica de Paulo, suas opiniões religiosas
são importantes. Primeiramente, Paulo era um judeu helenístico com um
fundo farisaico, integrante de sua identidade. Sua preocupação com o seu
povo é uma parte do diálogo e é retratado ao longo da carta.
―Ele era um homem de pequena estatura‖, afirmam os
Atos de Paulo, escrito apócrifo do segundo século,
―parcialmente calvo, pernas arqueadas, de compleição robusta,
olhos Próximos um do outro, e nariz um tanto curvo.‖ Se esta
descrição merecer crédito, ela fala um bocado mais a respeito
desse homem natural de Tarso, que viveu quase sete décadas
cheia de acontecimentos após o nascimento de Jesus. Ela se
encaixaria no registro do próprio Paulo de um insulto dirigido
contra ele em Corinto. ―As cartas, com efeito, dizem, são
graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra
desprezível‖ (2 Co 10:10). Sua verdadeira aparência teremos de
deixar por conta dos artistas, pois não sabemos ao certo.
Matérias mais importantes, porém, demandam atenção — o que
ele sentia, o que ele ensinava, o que ele fazia. Sabemos o que
esse homem de Tarso chegou a crer acerca da pessoa e obra de
Cristo, e de outros assuntos cruciais para a fé cristã. As cartas
procedentes de sua pena, preservadas no Novo Testamento, dão
eloquente testemunho da paixão de suas convicções e do poder
de sua lógica. Aqui e acolá em suas cartas encontramos
pedacinhos de autobiografia. Também temos, nos Atos dos
Apóstolos, um amplo esboço das atividades de Paulo. Lucas,
autor dos Atos, era médico e historiador gentio do primeiro
século. Assim, enquanto o teólogo tem material suficiente para
criar intérminos debates acerca daquilo em que Paulo acreditava,
o historiador dispõe de parcos registros. Quem se der ao trabalho
de escrever a biografia de Paulo descobrirá lacunas na vida do
apóstolo que só poderão ser preenchidas por conjeturas. A
semelhança de um meteoro brilhante, Paulo lampeja
repentinamente em cena como um adulto numa crise religiosa,
resolvida pela conversão. Desaparece por muitos anos de
preparação. Reaparece no papel de estadista missionário, e
durante algum tempo podemos acompanhar seus movimentos
através do horizonte do primeiro século. Antes de sua morte, ele
flameja até entrar nas sombras além do alcance da vista. Sua
Juventude: Antes, porém, que possamos entender Paulo, o
missionário cristão aos gentios, é necessário que passemos
algum tempo com Saulo de Tarso, o jovem fariseu. Encontramos
em Atos a explicação de Paulo sobre sua identidade: ―Eu sou
judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia‖ (At
21:39). Esta afirmação nos dá o primeiro fio para tecermos o
pano de fundo da vida de Paulo. Da Cidade de Tarso. No
primeiro século, Tarso era a principal cidade da província da
Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. Embora localizada cerca
de 16 km no interior, a cidade era um importante porto que dava
acesso ao mar por via do rio Cnido, que passava no meio dela.
Ao norte de Tarso erguiam-se imponentes, cobertas de neve, as
montanhas do Tauro, que forneciam a madeira que constituía
um dos principais artigos de comércio dos mercadores tarsenses.
Uma importante estrada romana corria ao norte, fora da cidade e
através de um estreito desfiladeiro nas montanhas, conhecido
como ―Portas Cilicianas‖. Muitas lutas militares antigas foram
travadas nesse passo entre as montanhas. Tarso era uma cidade
de fronteira, um lugar de encontro do Leste e do Oeste, e uma
encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as direções,
por terra e por mar. Tarso possuía uma preciosa herança. Os
fatos e as lendas se entre mesclavam, tornando seus cidadãos
ferozmente orgulhosos de seu passado. O general romano
Marco Antônio concedeu-lhe o privilégio de libera
civitas (―cidade livre‖) em 42 A.C. Por conseguinte, embora
fizesse parte de uma província romana, era autônoma, e não
estava sujeita a pagar tributo a Roma. As tradições democráticas
da cidade-estado grega de longa data estavam estabelecidas no
tempo de Paulo. Nessa cidade cresceu o jovem Saulo. Em seus
escritos, encontramos reflexos de vistas e cenas de Tarso de
quando ele era rapaz. Em nítido contraste com as ilustrações
rurais de Jesus, as metáforas de Paulo têm origem na vida
citadina. O reflexo do sol mediterrânico nos capacetes e lanças
romanos teria sido uma visão comum em Tarso durante a
infância de Saulo. Talvez fosse este o fundo histórico para a sua
ilustração concernente à guerra cristã, na qual ele insiste em que
―as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em
Deus, para destruir fortalezas‖ (2 Co 10:4). Paulo escreve de
―naufragar‖ (1 Tm 1:19), do ―oleiro‖ (Rm 9:21), de ser
conduzido em ―triunfo‖ (2 Co 2:14). Ele compara o
―tabernáculo terrestre‖ desta vida a um edifício de Deus, casa
não feita por mãos, eterna, nos céus‖ (2 Co 5:1). Ele toma a
palavra grega para teatro e, com audácia, aplica-a aos apóstolos,
dizendo: ―nos tornamos um espetáculo (teatro) ao mundo‖ (1 Co
4:9). Tais declarações refletem a vida típica da cidade em que
Paulo passou os anos formativos da sua meninice. Assim as
vistas e os sons deste azafamado porto marítimo formam um
pano de fundo em face do qual a vida e o pensamento de Paulo
se tornaram mais compreensíveis. Não é de admirar que ele se
referisse a Tarso como ―cidade não insignificante‖. Os filósofos
de Tarso eram quase todos estóicos. As ideias estóicas, embora
essencialmente pagãs, produziram alguns dos mais nobres
pensadores do mundo antigo. Atenodoro de Tarso é um
esplêndido exemplo. Embora Atenodoro tenha morrido no ano 7
d.C., quando Saulo não passava de um menino pequeno, por
muito tempo o seu nome permaneceu como herói em Tarso. E
quase impossível que o jovem Saulo não tivesse ouvido algo a
respeito dele. Quanto, exatamente, foi o contato que o jovem
Saulo teve com esse mundo da filosofia em Tarso? Não
sabemos; ele não no-lo disse. Mas as marcas da ampla educação
e contato com a erudição grega o acompanham quando homem
feito. Ele sabia o suficiente sobre tais questões para pleitear
diante de toda sorte de homens a causa que ele representava.
Também estava cônscio dos perigos das filosofias religiosas
especulativas dos gregos. ―Cuidado que ninguém vos venha a
enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição
dos homens... ―E não segundo Cristo‖ foi sua advertência à
igreja de Colossos (Cl 2:8). B) Cidadão Romano. Paulo não era
apenas ―cidadão de uma cidade não insignificante‖, mas também
cidadão romano. Isso nos dá ainda outra pista para o fundo
histórico de sua meninice. Em At 22:24-29 vemos Paulo
conversando com um centurião romano e com um tribuno
romano. (Centurião era um militar de alta patente no exército
romano com 100 homens sob seu comando; o tribuno, neste
caso, seria um comandante militar.) Por ordens do tribuno, o
centurião estava prestes a açoitar Paulo. Mas o Apóstolo
protestou: ―Ser-vos-á porventura lícito açoitar um cidadão
romano, sem estar condenado?‖ (At 22:25). O centurião levou a
notícia ao tribuno, que fez mais inquirição. A ele Paulo não só
afirmou sua cidadania romana mas explicou como se tornara tal:
―Por direito de nascimento‖ (At 22:28). Isso implica que seu pai
fora cidadão romano. Podia-se obter a cidadania romana de
vários modos. O tribuno, ou comandante, desta narrativa,
declara haver ―comprado‖ sua cidadania por ―grande soma de
dinheiro‖ (At 22:28). No mais das vezes, porém, a cidadania era
uma recompensa por algum serviço de distinção fora do comum
ao Império Romano, ou era concedida quando um escravo
recebia a liberdade. A cidadania romana era preciosa, pois
acarretava direitos e privilégios especiais como, por exemplo, a
isenção de certas formas de castigo. Um cidadão romano não
podia ser açoitado nem crucificado. Todavia, o relacionamento
dos judeus com Roma não era de todo feliz. Raramente os
judeus se tornavam cidadãos romanos. Quase todos os judeus
que alcançaram a cidadania moravam fora da Palestina. C) De
Descendência Judaica. Devemos, também, considerar a
ascendência judaica de Paulo e o impacto da fé religiosa de sua
família. Ele se descreve aos cristãos de Filipos como ―da
linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus;
quanto à lei, fariseu‖ (Fp 3:5). Noutra ocasião ele chamou a si
próprio de ―israelita da descendência de Abraão, da tribo de
Benjamim‖ (Rm 11:1). Dessa forma Paulo pertencia a uma
linhagem que remontava ao pai de seu povo, Abraão. Da tribo
de Benjamim saíra o primeiro rei de Israel, Saul, em
consideração ao qual o menino de Tarso fora chamado Saulo. A
escola da sinagoga ajudava os pais judeus a transmitir a herança
religiosa de Israel aos filhos. O menino começava a ler as
Escrituras com apenas cinco anos de idade. Aos dez, estaria
estudando a Mishna com suas interpretações emaranhadas da
Lei. Assim, ele se aprofundou na história, nos costumes, nas
Escrituras e na língua do seu povo. O vocabulário posterior de
Paulo era fortemente colorido pela linguagem da Septuaginta, a
Bíblia dos judeus helenistas. Dentre os principais ―partidos‖ dos
judeus, os fariseus eram os mais estritos (veja o capítulo 5, ―Os
Judeus nos Tempos do Novo Testamento‖). Estavam decididos a
resistir aos esforços de seus conquistadores romanos de impor-
lhes novas crenças e novos estilos de vida. No primeiro século
eles se haviam tornado a ―aristocracia espiritual‖ de seu povo.
Paulo era fariseu, ―filho de fariseus‖ (At 23.6). Podemos estar
certos, pois, de que seu preparo religioso tinha raízes na lealdade
aos regulamentos da Lei, conforme a interpretavam os rabinos.
Aos treze anos ele devia assumir responsabilidade pessoal pela
obediência a essa Lei. Saulo de Tarso passou em Jerusalém sua
virilidade ―aos pés de Gamaliel‖, onde foi instruído ―segundo a
exatidão da lei.‖ (At 22:3). Gamaliel era neto de Hillel, um dos
maiores rabinos judeus. A escola de Hilel era a mais liberal das
duas principais escolas de pensamento entre os fariseus. Em
Atos 5:33-39 temos um vislumbre de Gamaliel, descrito como
―acatado por todo o povo.‖ Exigia-se dos estudantes rabínicos
que aprendessem um ofício de sorte que pudessem, mais tarde,
ensinar sem tornar-se um ônus para o povo. Paulo escolheu uma
indústria típica de Tarso, fabricar tendas de tecido de pêlo de
cabra. Sua perícia nessa profissão proporcionou-lhe mais tarde
um grande incremento em sua obra missionária. Após completar
seus estudos com Gamaliel, esse jovem fariseu provavelmente
voltou para sua casa em Tarso onde passou alguns anos. Não
temos evidência de que ele se tenha encontrado com Jesus ou
que o tivesse conhecido durante o ministério do Mestre na terra.
Da pena do próprio Paulo bem como do livro de Atos vem-nos a
informação de que depois ele voltou a Jerusalém e dedicou suas
energias à perseguição dos judeus que seguiam os ensinamentos
de Jesus de Nazaré. Paulo nunca pôde perdoar-se pelo ódio e
pela violência que caracterizaram sua vida durante esses anos.
―Porque eu sou o menor dos apóstolos‖, escreveu ele mais tarde,
―. . . pois persegui a igreja de Deus‖ (1 Co 15:9). Em outras
passagens ele se denomina ―perseguidor da igreja‖ (Fp 3:6),
―como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a
devastava‖ (Gl 1:13). Uma referência autobiográfica na primeira
carta de Paulo a Timóteo jorra alguma luz sobre a questão de
como um homem de consciência tão sensível pudesse participar
dessa violência contra o seu próprio povo. ――. . . noutro tempo
era blasfemo e perseguidor e insolente. ―Mas obtive
misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade‖ (1 Tm
1:13). A história da religião está repleta de exemplos de outros
que cometeram o mesmo erro. No mesmo trecho, Paulo refere a
si próprio como ―o principal‖ dos pecadores‖ (1 T 1:15), sem
dúvida alguma por ter ele perseguido a Cristo e seus seguidores.
D) A Morte de Estevão. Não fora pelo modo como Estevão
morreu (At 7:54-60), o jovem Saulo podia ter deixado a cena do
apedrejamento sem comoção alguma, ele que havia tomado
conta das vestes dos apedrejadores. Teria parecido apenas outra
execução legal. Mas quando Estevão se ajoelhou e as pedras
martirizantes choveram sobre sua cabeça indefensa, ele deu
testemunho da visão de Cristo na glória, e orou: ―Senhor, não
lhes imputes este pecado‖ (Atos 7:60). Embora essa crise tenha
lançado Paulo em sua carreira como caçador de hereges, é
natural supor que as palavras de Estevão tenham permanecido
com ele de sorte que ele se tornou ―caçado‖ também —caçado
pela consciência. E) Uma Carreira de Perseguição. Os eventos
que se seguiram ao martírio de Estevão não são agradáveis de
ler. A história é narrada num só fôlego: ―Saulo, porém, assolava
a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres,
encerrava-os no cárcere‖ (Atos 8:3). A Conversão: A
perseguição em Jerusalém na realidade espalhou a semente da
fé. Os crentes se dispersaram e em breve a nova fé estava sendo
pregada por toda a parte (cf. Atos 8:4). ―Respirando ainda
ameaças e morte contra os discípulos do Senhor‖ (Atos 9:1),
Saulo resolveu que já era tempo de levar a campanha a algumas
das ―cidades estrangeiras‖ nas quais se abrigaram os discípulos
dispersos. O comprido braço do Sinédrio podia alcançar a mais
longínqua sinagoga do império em questões de religião. Nesse
tempo, os seguidores de Cristo ainda eram considerados como
seita herética. Assim, Saulo partiu para Damasco, cerca de 240
km distante, provido de credenciais que lhe dariam autoridade
para, encontrando os ―que eram do caminho, assim homens
como mulheres, os levasse presos para Jerusalém‖ (Atos 9:2).
Que é que se passava na mente de Saulo durante a viagem, dia
após dia, no pó da estrada E sob o calor escaldante do sol? A
autorevelação intensamente pessoal de Romanos 7:7-13 pode
dar-nos uma pista. Vemos aqui a luta de um homem
consciencioso para encontrar paz mediante a observância de
todas as pormenorizadas ramificações da Lei. Isso o libertou? A
resposta de Paulo, baseada em sua experiência, foi negativa.
Pelo contrário, tornou-se um peso e uma tensão intoleráveis. A
influência do ambiente helenístico de Tarso não deve ser
menosprezada ao tentarmos encontrar o motivo da frustração
interior de Saulo. Depois de seu retorno a Jerusalém, ele deve ter
achado irritante o rígido farisaísmo, muito embora professasse
aceitá-lo de todo o coração. Ele havia respirado ar mais livre
durante a maior parte de sua vida, e não poderia renunciar à
liberdade a que estava acostumado. Contudo, era de natureza
espiritual o motivo mais profundo de sua tristeza. Ele tentara
guardar a Lei, mas descobrira que não poderia fazê-lo em
virtude de sua natureza pecaminosa decaída. De que modo, pois,
poderia ele ser reto para com Deus? Com Damasco à vista,
aconteceu uma coisa momentosa. Num lampejo cegante, Paulo
se viu despido de todo o orgulho e presunção, como perseguidor
do Messias de Deus e do seu povo. Estevão estivera certo, e ele
errado. Em face do Cristo vivo, Saulo capitulou. Ele ouviu uma
voz que dizia: ―Eu sou Jesus, a quem tu persegues, levanta-te, e
entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer‖ (At 9:5-6).
E Saulo obedeceu. Durante sua estada na cidade, ―Esteve três
dias sem ver, durante os quais nada comeu nem bebeu‖ (Atos
9:9). Um discípulo residente em Damasco, por nome Ananias,
tornou-se amigo e conselheiro, um homem que não teve receio
de crer que a conversão de Paulo’ fora autêntica. Mediante as
orações de Ananias, Deus restaurou a vista a Paulo. [9]
3.3.Do público alvo original da carta em seu contexto histórico.
A Roma do primeiro século vivia uma situação política
bastante triste. Tibério (14-37 D.C.) era um imperador de dupla
personalidade. A maioria dos historiadores tecem elogios à sua
administração, esquecendo a sua violenta tirania e despotismo,
em nome da razão de Estado. Mas os cristãos (confundidos com
os judeus) não tinham do que se queixar. A Tibério sucedeu
Calígula (37-41 D.C.), tão cínico que, para insultar o Senado,
deu as honras de Cônsul ao seu cavalo! Na "História dos
Césares" é apelidado de ―animal feroz‖, tamanha era a sua
crueldade. Por fim, foi assassinado por Cláudio, o capitão de sua
guarda pessoal. E foi uma festa pelo império afora. Sucedeu-
lhe Cláudio (41-54 d.C), um homem irresoluto e tímido, e tão
covarde que consentia que Calígula o esbofeteasse e o
chicoteasse em público. Uma vez imperador, mandou matar
todos seus amigos, a um ponto que Agripina mandou envenená-
lo. Então, Nero subiu ao trono (54-68 d.C): a pior desgraça da
Roma antiga! Mandou matar sua mãe, Agripina, e seu mestre
Sêneca e dezenas de amigos. Isso já no começo. Então se casou
com um homem, praticando relações sexuais à luz do dia, na
presença de sua corte. As demais loucuras, atrocidades e crime
de Nero, todos as conhecem. Mas não podemos esquecer a noite
de 19 de julho do ano de 64, quando ele mandou incendiar
Roma e, depois, colocou a culpa nos cristãos. Talvez fossem
cerca de 200 cristãos, vestidos com túnicas impregnadas de pez
negro, que queimavam como tochas vivas. Foi a primeira e mais
terrível perseguição contra os cristãos e o testemunho de que,
em Roma, já havia uma pequena comunidade, embora não se
tenha registros históricos de seus fundadores - certamente não
São Pedro, como mostrei nos artigos passados.
Finalmente, o povo se revoltou: invadiu o palácio e
acabou com Nero. Sucedeu-lhe, primeiro, Galba, e, depois, Otão
e Vitélio, tolos ineptos e corruptos, particularmente este último,
que era também sádico e sanguinário.
Então Vespasiano tornou-se imperador (69-79 d.C). Era
bondoso e condenava as crueldades de seus antecessores.
Sucedeu-lhe Tito (79-81 d.Ç), que o povo apelidou de "delícias
do gênero humano". Quando morreu, o povo dizia: "Um
imperador como este, ou nunca devia ter nascido ou devia viver
para sempre". Sucedeu-lhe Domiciano (81-96 d.C.), homem
orgulhoso, fútil, avarento e cruel. Desencadeou a segunda
perseguição contra os cristãos. O prazer de Domiciano era matar
pessoas e dá-las aos cães para comer. Outra diversão desse
monstro era mandar queimar os órgãos sexuais de amigos.
Foi assassinado. Sucedeu-lhe Nerva (96-98). O
historiador Apolônio, que viveu nessa época, diz que Nerva era
benévolo, generoso e modesto. Todos os historiadores romanos
louvam e admiram Nerva, com o qual começa a dinastia
antonina. Nesses altos e baixos políticos a vida dos cristãos em
Roma certamente sofria, mas não tanto para ficarem dispersos.
Muito pelo contrário! Era uma comunidade pequena, mas muito
unida. Embora o período que foi do ano 70 ao ano 110 seja
completamente obscuro quanto à história, podemos ter alguma
notícia por meio de Irineu e de Inácio. São notícias misturadas à
ideologia do poder eclesiástico do qual os dois estavam,
imbuídos. Mas quem nós fornecemos as melhores notícias é já
a Arqueologia Paleo-cristã. Tenho aqui â importantíssima obra
de Giovanni Battista De Rossi: "Roma Sotterranea" (Roma
Subterrânea), escrita entre os anos de 1864 e 1877. Esse De
Rossi, arqueólogo e epigrafista italiano (1822-1894), fez o
levantamento topográfico das catacumbas de Roma; foi o
criador da Epigrafia Cristã; organizou o Museu Cristão do
Latrão e redigiu, a partir de 1863, o Boletim de Arqueologia
Cristã, com a assistência da Comissão Vaticana de Arqueologia
Sagrada. Os túmulos que ele descobriu e os sarcófagos que ele
descreveu nos apresentam os mais antigos símbolos, pinturas e
objetos deste primeiro século de vida cristã. Encontramos lá o
alfa e o ômega (Deus, princípio e fim); muitas âncoras (a cruz da
salvação); muitas palmas (a vitória sobre o paganismo); o
cordeiro (o fiel do Cristo); o peixe, cujo acróstico, em grego,
significa: "Jesus-Cristo-Filho-de-Deus-Salvador"; o pastor (o
bom pastor da parábola); o pescador (Jesus em busca dos
homens); o orante (a Igreja em oração); e muitas outras imagens.
Às vezes, a tampa do sarcófago tem cenas tiradas da mitologia e
passíveis de uma interpretação espiritual: Orfeu enfeitiçando os
animais (Cristo fascinando os alunos); Eros abraçando Psique (o
amor celeste envolvendo o amor humano); Ulisses amarrado ao
mastro para resistir ao canto das sereias (o cristão desdenhando
o mundo profano). Além dos sarcófagos, encontramos as
pinturas rudimentares, sobretudo nos muros e nas abóbadas dos
cubículos e das criptas. São pinturas de cores suaves, amarelo-
rosado com toques de verde-claro e sombras castanho-
vermelhas, retratando cenas bíblicas ou evangélicas: Moisés
batendo no rochedo; Daniel no fosso dos leões; Noé na sua arca;
Abraão sacrificando Isaac; Lázaro ressuscitado; o paralítico
sarado; Jesus disfarçado como pastor. Isso tudo mostra o
profundo respeito que os cristãos tinham pelos seus mortos: é a
cristianização da antiga cultura do mediterrâneo. A cultura
romana reverenciava os túmulos, que, por lei, deviam ser
preservados de qualquer mutilação, a fim de que as almas não se
tornassem "errantes", como escreveu Plínio o Moço. Os cristãos
só acrescentavam a essa cultura a ideia da ressurreição. É por
essas pinturas, que ainda hoje são visíveis nas catacumbas
descobertas, que conhecemos o modo de orar dos primeiros
cristãos; as roupas que vestiam, de acordo com o sexo; como era
o "repartir do pão"; como era o batismo; o lugar daquele que
presidia a comunidade e até alguns dos trabalhos exercidos pelos
cristãos, em vida. Da análise dessas esculturas e pinturas
podemos concluir que os cristãos romanos dos primeiros séculos
viviam dentro da cultura material romana. A única coisa que os
distinguia dos romanos era a atitude perante o sexo e o
casamento. (Veja: C. Munier; "L’Église dans 1'empire romain";
Paris; 1970; sobretudo o resumo: pág. 7-16. Veja também em:
"Ética sessuale e Matrimônio nel cristianesimo delle origini";
Ed. Cantalamassa; Milano: 1976. O ensaio de P.F. Beatrice:
"Continenza e matrimônio nel cristianismo primitivo"; 3). Se,
para os pagãos de Roma, o corpo era o instrumento do
prazer; se, para os judeus, o corpo era o instrumento da
continuidade da raça e a disposição para receber o Messias
vindouro; para os cristãos o corpo era o instrumento para servir
a comunidade e para dar guarida ao Espírito de Jesus. Explica-se
assim porque não são benquistas as segundas núpcias e, porque
a comunidade se orientava para o celibato, que, além do mais, se
tornava uma bandeira que os distinguia dos pagãos e dos judeus
- talvez tenha influído nisto a expectativa da iminente vinda de
Jesus "nas nuvens". Mas o celibato era adotado somente em
idade madura, justamente pelos presbíteros (palavra grega que
significa "anciãos"). Na chefia da vida cristã, encontramos
aquele que ocupa o primeiro lugar: o bispo – palavra grega que
significa vigilante. Quem eram os bispos de Roma nos primeiros
dois séculos? Existem catálogos completos e pormenorizados,
mas não esqueçamos que a série de biografias dos papas é do
"Liber Pontificalis" (o livro dos pontífices), cuja primeira parte,
que vai até Felix IV, em 530, tem quase nenhum valor histórico:
é o que pensa monsenhor Luís M.O. Duchesne, historiador
eclesiástico católico (1843-1922) e professor do Instituto
Católico de Paris que aplicou princípios histórico-críticos em
suas pesquisas sobre os primeiros papas, pesquisa que reuniu no
livro "Le Liber Pontificalis" (1886-1892). De todos esses bispos
romanos, o mais importante é Clemente romano (97-101) que,
na sua carta aos Coríntios, lança a ideia da necessidade de
organizar os cristãos, a exemplo do exército romano, com um
chefe supremo (o bispo de Roma, claro!) e os chefes subalternos
(os demais bispos) e, finalmente, a tropa bem organizada e
obediente. Essas ideias amadurecerão e, em 325, no Concilio de
Nicéia, encontramos, como coisa normal, os bispos ao lado do
imperador Constantino, colocando as bases da ideologia do
poder eclesiástico. [10]
IV. ANÁLISE TEOLÓGICA
4.1. Identificação do raciocínio geral a partir de um pressuposto e a partir
da leitura de toda a carta.
O esquema abaixo serve para identificar dentro do texto o fluxo de
referencias entre a justificação (o que ela opera em nós), o que produzem
em nós o Filho, o Pai, a Graça e o Espirito Santo e a esperança, que são
sujeitos das várias ações do texto.
Tendo sido justificados
↓
Por Jesus Cristo →
↓
Morreu pelos ímpios
↓
Justificados pelo seu sangue
↓
Reconciliados por Ele
↓
Salvos da Ira de Deus
↓
Deu-nos a reconciliação
Mostra seu amor
↓
Temos paz com Deus →
↓
Gloriamo-nos nele
↓
Derrama o Espirito Santo em nós
→
Derrama
esperança nos
nossos corações
Temos acesso à graça →
↓
Na qual estamos firmes
Gloriamo-nos na Glória
de Deus →
Nas tribulações
↓
Na paciência
↓
Na experiência ou caráter
Esperança → Não envergonha
4.2. Identificação dos argumentos deste raciocínio como se apresentam.
4.2.1. Antropologicamente
A justificação pela fé é quem desencadeia todo o argumento do texto
selecionado. O fim desta justificação, pelo menos no trecho que se segue, é
a reconciliação que alcançamos em Cristo, ou por meio de Cristo. A
reconciliação é o desfazer de nossa inimizade com Deus por meio do
sangue de Cristo, ou seja, da condição de ímpios para reconciliados com
Deus. Da nossa parte cabe, a partir das tribulações, migrar da condição de
ímpios para salvos, aprendendo a nos gloriar em Deus por todo o seu amor
demonstrado em Cristo.
Frisamos as expressões: fraco, ímpio e pecadores. As três formam
um pano de fundo para descrever a condição existencial do homem nascido
naturalmente e vivendo sem Cristo. São expressões fundamentais para que
possamos entender a grandeza do amor de Deus e dos atos de Cristo. O
homem teologicamente é doente, moral e eticamente mal e
ontologicamente longe de Deus.
4.2.2 Teologicamente
Deus é o agente da ira e quem pode reivindicar do homem o
pagamento de sua dívida, assim, por amor, oferece um substitutivo para
esta exigência. No entanto, assim como exige do homem, que tenha o amor
como fundamento para suas ações, ele decide, por amor, justificar e salvar
o homem. Ele não contraria suas próprias exigências ao amar e salvar o
homem, porque ¨descarrega¨ todas as suas exigências em Cristo, mas
movido pelo amor, justifica e salva o homem.
4.2.3 Cristologicamente
Cristo é quem morre pelos maus derramando o seu sangue para
satisfazer as exigências de Deus. Sua morte é tal que ainda nos traz uma
série de outras vantagens nesta relação, como amizade, crescimento
espiritual e bençãos indizíveis. Em sua condição humana, o preço pago foi
muito alto e a dor quase intolerável. A dor sofrida e o preço pago estão a
altura da condição do homem de modo inversamente proporcional, ou seja,
por causa da condição profundamente desgraçada do homem, distante de
Deus, e sujeito a ira de Deus, apenas a morte da pessoa teantrópica (Deus-
homem), é capaz de reverter esta situação.
4.2.4. Pneumatologicamente
Derrama esperança nos nossos corações. Talvez seja esta uma das
manifestações mais intensas do paracletos, ou seja, do consolador,
derramar esta esperança no coração dos crentes. Este derramamento é
espiritual, operado de modo misterioso pelo Espirito, haja vista que o
contexto da passagem que traz inclusive a possibilidade de problemas ao
longo da caminhada com tribulações, como explicar a alegria e constância
do crente? Pela presença consoladora e de esperança do Espirito Santo.
V. O SERMÃO
Romanos 5: 1-11
¨Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça,
na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E
não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que
a tribulação produz a paciência, a paciência a experiência, e a experiência a
esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom
alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora,
tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte
de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela
sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por
nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.¨
5.1.Introdução
É quase certo que nem todos saibam já no inicio da vida cristã, a
quantidade de implicações em torno da nossa relação com Deus e que, ao
longo da vida poucos se darão conta de tudo que há em torno de algo tão
grandioso quanto andar com Deus.
No inicio somos tomados por alegria e certo assombro e muitas
coisas mudam em nós e a nossa volta. Como crianças, temos a alegria da
vida e de termos uma família e podermos aprender uma serie de coisas. À
medida que crescemos, no entanto, se soubermos que fomos planejados,
que nossos pais nos aguardaram com expectativa, que os exames pré-natais
foram feitos sem falhas, que nosso lugar na casa foi preparado, que nossas
primeiras roupas já nos aguardavam, ficamos ainda mais contentes com
nossa vida e existência. Mas é certo que nem toda criança vem ao mundo
em condições tão especiais e com tanto cuidado e expectativa. Há crianças
que não são planejadas, que não são desejadas pelos pais, ou que mesmo
planejadas e desejadas não encontram, pelas dificuldades dos pais como
pobreza ou inexperiência, as condições para ser bem recebidas e poderem
crescer com dignidade e saúde. Mas é certo que nenhum de nós nasce em
Cristo Jesus sem que Deus tenha tomado todos os cuidados para que nossa
vida cristã comece bem e vá bem. Diante da gloriosa graça de Deus, nós
pecadores só podemos nos alegrar e profundamente sermos gratos por tudo
o que ele já fez e até mesmo pelo que irá fazer por nós e este texto é uma
declaração maravilhosa de toda esta graça derramada em nossas vidas.
5.2. Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com deus por nosso
Senhor Jesus Cristo.
É muito comum em algum momento da vida acumularmos dívidas.
Todo endividado sonha com o dia da quitação das suas dividas. Alguns
sonham a noite com a chegada de seus credores simplesmente perdoando
suas dividas e entendendo suas dificuldades de quitar suas dívidas. Pois é, é
isto que acontece quando cremos em Cristo, ele é o credor e nós os
devedores. Como o texto diz isto? Primeiramente o texto nos diz: Tendo
sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por Nosso Senhor
Jesus Cristo. Primeiramente, precisamos entender o que significa a
justificação. Por justificação entendamos o ato misericordioso e gracioso de
Deus de nos considerar puros, mesmo que antes de termos feitos qualquer
coisa ou de termos sido transformados interiormente, mesmo antes até de
desejarmos sermos transformados ou termos a noção de tamanho de nossas
dívidas. Isto é possível, você perguntaria? Eu responderia que sim isto é
possível. Justificar é declarar justo, dizer que é justo. Mas por que Deus faz
isto? A nós é simplesmente impossível viver de modo agradável a Deus,
nossos pecados fazem separação entre nós e Deus. Deus sendo justo, não
tendo comunhão com pecadores precisa, antes de toda e qualquer coisa,
tornar-nos aceitáveis, nos tornar pessoas viáveis a sua graça. Sentir-se
pecador é coisa rara nos nossos dias e a rebelião do homem manifesta-se
não apenas por sua rebelião declarada, mas também por sua total
insensibilidade às suas próprias maldades. Todos os profetas do passado
tinham um grande temor: ver a glória de Deus. Isaias, por exemplo, temeu
o fato de visto a Deus e sua glória e temeu pela sua própria vida. É o que
vemos em Isaias 6: 5, quando se diz: Então disse eu: Ai de mim! Pois estou
perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um
povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos
Exércitos. Apesar de toda sua justiça e santidade, Deus quer nos salvar, por
isto, no primeiro momento ele se aproxima, se achega a nós, nos aceita,
mesmo que ainda não tenha mudado nada. Mas o texto não para aí, o verso
um ainda nos deixa claro que isto é feito por meio de Jesus Cristo, o único
mediador entre Deus e os homens, como vemos em Atos dos Apóstolos 4:
12. Pedro, diante das autoridades e do povo, não teme afirmar que Cristo é
este mediador, talvez se lembrando do que ele disse: Eu sou o caminho, e a
verdade e a vida, e ninguém vem ao Pai senão por mim em João 14:6. Há
um reconhecimento, apesar de toda humanidade dizer o contrario, de que o
homem não está melhorando e mesmo que pudesse, jamais estaria em
condição de se achegar a Deus, seria um salto muito grande e impossível a
humanidade. O texto mostra que Deus veio em nossa direção e promoveu
em Cristo a paz.
5.3. Por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora
estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
Cristo é o credor que bate à nossa porta e oferecesse a graça do
perdão, nos trazendo uma grande noticia. O Evangelho é esta grande
noticia, mas como é esta grande notícia? Este verso nos mostra isto.
Quando o Evangelista João em seu Evangelho em 1:11 afirma que ¨veios
para os que eram seus e os seus não o receberam¨, ou quando o próprio
Jesus conta a parábola sobre os convidados para as Bodas em Lucas 14 e
afirma que aqueles que farão parte da ceia serão aqueles que foram
preteridos, ficamos pensando na grandeza do fato de que em Cristo temos
acesso a fé a esta graça, que no texto, é a paz com Deus. Ou como Paulo
afirma em Romanos 10: 20, citando Isaías 65, que diz: ¨fui achado pelas
que não me procuravam¨. Isaías é ainda mais intenso porque diz: ¨Fui
buscado dos que não perguntavam por mim, fui achado daqueles que não
me buscavam; a uma nação que não se chamava do meu nome eu disse:
Eis-me aqui. Eis-me aqui.¨ eles mostram um contraste claro, a quem foi
oferecida a graça a paz com Deus, negou-a, a quem não foi a achou.
Romanos é uma carta a gentios, uma carta aos que não procuravam. O
próprio ministério de Paulo começava sempre com uma oferta desta graça
aos judeus, nas sinagogas de cada cidade que ele estava, mas sempre os
gentios, ainda que sempre houvesse um pequeno grupo de judeus que
também o fizessem, eram quem melhor respondiam ao convite da salvação.
Hoje falamos muito de acessibilidade porque temos entre nós pessoas com
limitações físicas que as impedem de estar em certos lugares se certas
condições especiais ou de adequação não forem oferecidas. Estávamos
impedidos, pelos nossos pecados, de ter acesso a Deus, mas por Cristo estas
dificuldades e barreiras estão todas derrubadas, e pela fé podemos nos
achegar a ele. Quando ele diz ¨na qual estamos firmes¨, quase podemos
ouvir: agora que estou aqui não saio mais. É claro que o poder de
permanecer na presença de Cristo não está em nós porque as exigências,
pressões, mistérios da vida cristã, além das nossas próprias limitações, são
empecilhos a que nos mantenhamos sempre firmes na sua presença, mas a
alegria reforçada pelo grande desejo é o que deve tomar nossos corações.
Dificilmente quererá sair da presença de Deus quem experimentou este
acesso a vida com Cristo. O finalzinho do trecho parece mostrar qual é esta
alegria, a alegria da glória de Deus. Este trecho faz lembrar o encontro
entre os discípulos, Deus, Cristo e os profetas no monte da transfiguração
em Mateus 17: 1-9, quando tendo experimentado aqueles poucos
momentos na presença de Deus, de Cristo, e dos profetas, não queriam sair
daquele lugar glorioso. Assim é quem recebe esta graça, não quer mais sair
dela.
5.4. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque
sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter
aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos
decepciona, porque deus derramou seu amor em nossos corações, por meio
do Espírito Santo que ele nos concedeu.
Ok? Tudo bem até agora, mas tem um mas. Alguém já disse que tudo
que vem antes de mas deve ser desconsiderado. Alegro-me em informar
que neste caso não se ignora nem o que vem antes nem o que vem depois,
mesmo que este depois, pelo menos no primeiro momento não seja uma
boa noticia como a que apresentávamos até agora. Logo que acaba de falar
sobre um acesso maravilhoso a Deus que nos deixa extasiados, o Apóstolo
introduz uma afirmação contraditória, estranha – gloriar-se nas tribulações.
Será que ele realmente sentia esta alegria? Será que é possível mesmo
alegrar-se com problemas nas nossas vidas? Bom, parece que sim. O
apóstolo não vê a tribulação do ponto de vista estático da vida, ou seja, a
vida não termina na tribulação. Veja que ele argumenta que a tribulação
produz perseverança, caráter e esperança. Sempre que estudamos e
tentamos entender a presença do mal na criação e acabamos por entrar em
questionamentos intransponíveis quando não conseguimos combinar a
Soberania de Deus, Seu amor e Graça com a presença da morte, do
sofrimento, dos desastres naturais e da maldade humana sem limites, nunca
podemos nos esquecer de que, mesmo não conseguindo fechar esta conta,
Deus não nos deixou sem saída e sem escapatória e ainda mais, nos ajuda a
encontrar proposito para tudo que acontece em nossas vidas, sobretudo de
coisas ruins. O mínimo que podemos afirmar é que, passando por
dificuldades teremos nos tornaremos mais perseverantes, ou seja, mais
aptos a levar até o fim os propósitos de Deus nas nossas vidas, nos
tornarmos mais fortes e resistentes, mais aguerridos e mais determinados.
Além disto, nosso caráter será aprovado, ou seja, nossas inclinações para o
pecado, nossas inclinações para o fracasso, nossa preguiça espiritual e
nossas concessões morais se tornarão mais raras, menos frequentes. Nosso
homem interior será robustecido. O próprio apóstolo Paulo entendeu bem
as perseguições e problemas na vida dele. Podemos citar, por exemplo,
duas de suas lutas. A primeira diz respeito a o grande numero de
perseguições e lutas que passou pela vida. Quando lemos II Coríntios 11.
24-28, vemos uma lista de tirar o fôlego de situações difíceis pelas quais o
mesmo passou. O que deve chamar a atenção é o fato de que o Senhor o
sustentou em todas as situações, dando livramento, mostrando a ele que o
sustentava e que era Senhor sobre sua vida. Um pouco mais a frente, mas já
falando de uma questão pessoal, em 12. 7-9, ele afirma ter um espinho na
carne, uma doença física ou outro mal, pelo qual orou e teve uma resposta
negativa a sua oração, mas entendeu claramente por meio da mesma
oração, que aquilo servia para trabalhar o seu caráter, ou seja, para que ele
não fosse tomado pelo orgulho, já que era alguém totalmente usado por
Deus para operação de toda sorte de milagres e sinais. Em Cristo e com
Cristo até mesmo as tribulações fazem sentido e nos levam a um novo
relacionamento com Deus e a uma melhor compreensão de quem somos.
5.5. De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu
pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo
homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra
seu amor por nós: cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos
pecadores.
Alguém já falou mal de você ou você já teve segredos seus ou coisas
mais intimas escancaradas publicamente? Este verso faz afirmações muito
fortes em relação a nós, descrevendo nossa situação e o que somos na
essência de maneira muito contundente. No mesmo verso temos lado a lado
palavras como fracos, ímpios e pecadores em contraste com palavras ou
expressões como amor, justo, homem bom, coragem e demonstração de
amor. Um texto que é interessante porque está implícita a ideia de que,
naturalmente, de modo comum e normal, de modo justo e até legal, todo
aquele que é fraco, ímpio e pecador deveria ser derrotado, lançado no
inferno para pagar pelo que fez e receber sobre si mesmo todo o peso da
Lei e da Mão de Deus. Sim, isto mesmo, receber toda a sorte de males e
castigos. É certo que vivemos uma inversão de valores tão grande que o
homem não apenas ignora a justiça de Deus, mas justifica-se a sim mesmo,
ou seja, julga que seja merecedor de todo bem, mesmo que em sua vida não
dê os mínimos sinais de moralidade e de ética, ou seja, não tem nem o
comportamento para o qual Deus nos criou, nem tem as ideias ou conceitos
que embasam isto. Neste sentido o homem é duplamente condenável, nem
pensa corretamente e nem age corretamente. É certo, também, que mesmo
os crentes, tendo os conceitos corretos nem sempre agem de modo correto,
moral. Seria natural, que Deus, por causa da total incapacidade humana,
que não apenas lhe é inata, mas também produto das suas decisões, ou seja,
o homem deseja o mal e o pratica de modo consciente, o condenasse sem a
necessidade de ofertar qualquer escape. Mas percebamos, mesmo estando
nas mãos de Deus os elementos óbvios e legais para a condenação do
homem, podendo, se quisesse, simplesmente destruí-lo, decidiu não apenas
amar de modo teórico, mas também demonstrar o seu amor por nós quando
enviou Cristo para morrer por fracos, ímpios e pecadores. Fracos são
aqueles que não têm força, ou seja, totalmente debilitados e incapazes,
neste sentido, mesmo quando o homem, convencido de que precisa de
Deus, é totalmente incapaz de trilhar por si só este caminho e avançar em
qualquer questão. O ímpio é por sua vez aquele que, pela falta de Deus,
trilha os caminhos do mal de modo deliberado, torna-se não somente
praticante do mal, mas um defensor e propagador do mal. O pecado é a
condição natural de cada um de nós. Fomos gerados em pecado, nascemos
em pecado, crescemos em pecado e o pecado é o que praticamos
naturalmente se deixados à nossa vontade e destino. Como alguém se
compadeceria de alguém assim? E ainda mais, como alguém faria algo de
positivo e bom por pessoas assim? Pois é, é exatamente nisto que o
apostolo mostra sua admiração e espanto: Cristo morreu por nós.
5.6. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda
seremos salvos da ira de Deus por meio dele! Se quando éramos inimigos
de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu filho, quanto
mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!
É comum nos manuais de teologia encontrar a expressão justificação
como sendo apenas um ato declaratório e de suficiência meramente legal da
condição do homem diante de Deus e que não muda o homem em si, ou
seja, na sua condição interna como pessoa ou na sua condição existencial,
no entanto, ainda que concordemos com a linguagem legal do texto, não
podemos esquecer que o apostolo está mostrando seu espanto diante da
mudança tão dramática da condição existencial diante de Deus, e nem
podemos negar que esta declaração seja apenas uma declaração sem
consequências maiores para nossa vida. A justificação é uma bênção, e uma
benção espiritual tão grandiosa que muda a vida do homem totalmente. A
parir dela nossa vida com Cristo começa e vai em frente, ou seja, ela é a
porta de acesso a coisas ainda maiores, viver com Cristo, morrer com
Cristo e entrar na eternidade com Cristo. O texto diz que por causa de
justificação, quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados e agora
que somos reconciliados seremos salvos. O termo sangue no trecho chama
nossa atenção ao que aconteceu na Cruz. O sangue de Cristo que nos
justifica e cobre os nossos pecados. Sangue que no passado era o sangue de
animais e que eram imperfeitos e deviam ser sempre repetidos. Eles não
justificavam, eles não purificavam e nem mudavam nossa condição de
modo definitivo diante de Deus. Podemos até, a partir deste texto, afirmar:
nossa salvação está garantida pela justificação. A morte de Cristo justifica e
a vida de Cristo salva! Porque ele está vivo serei salvo. Diferente dos
animais que morriam e permaneciam mortos e nunca mais voltavam a
viver, Jesus, o Cordeiro de Deus (João 1: 29), ainda justifica e salva porque
Ele morreu, e com isto justificou, ele ressuscitou e está vivo ao lado do Pai,
e por isto, pode salvar. O plano é completo. O que Abraão não concluiu
quando levou Isaque para ser sacrificado, aqui, o próprio Deus leva até o
fim seu plano, leva o filho e o imola na Cruz. O antítipo de Abraão apenas
apontou, insinuo, mas em Cristo foi executado. Do mesmo, que Deus
ofereceu o cordeiro para o sacrifício naquele tempo, ofereceu agora, mas
desta vez o seu Filho. Alguém precisava morrer, ¨sem derramamento de
sangue não há remissão de pecados¨, conforme diz Hebreus 9: 22. O verso
28 do mesmo texto diz: ¨Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez
para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos
que o esperam para salvação¨. Somente o sangue de Cristo pode purificar
pecados e apenas porque ele está vivo é que seremos salvos. Paulo também
fala de modo muito claro sobre a importância da ressureição para nossa
vida de modo geral, ou seja, o cristianismo faz sentido e deve ser levado à
frente somente pelo fato de que Ele ressuscitou, somente pelo fato de que
ele está vivo. Sua vida é a garantia da nossa salvação.
5.7. Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de
Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a
reconciliação.
Você acha justo, correto e sadio comemorar a vitória antes do tempo?
Quantas histórias nós conhecemos de pessoas que começaram a comemorar
a vitória antes de cruzar a linha de chegada e, por uma desventura, viram a
derrota e não a vitória? Este trecho é uma conclusção diante da salvação
prometida mo verso anteior. Pois é, mas Paulo está fazendo isto, falando da
vitória antes do tempo. Nós seremos salvos como consequencia da nossa
reconciliação, mas somos algo mais do que meramente reconciliados,
porque com a justificação e a reconcilição, por meio do Espirito Santo, o
amor é derramado em nós e desencadeia uma série de avanços e
crescimentos em nós e que não cessam até a sua conclusão. O Poder de
Deus em Cristo de justificar, reconciliar e salvar é garantido, vai acontecer.
Podemos recorrer a outros dois trechos das Escrituras para reforçar e
ilustrar. Veja, por exemplo, II Coríntios 3: 18: ¨E todos nós, que com a face
descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem
estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do
Senhor, que é o Espírito¨. O contexto desta passagem é da liberdade da lei e
liberdade em Cristo por meio do seu Espirito. Mas ele aponta que neste
processo de libertação, estamos sendo transformados dia a dia, com glória
cada vez maior. Esta é a nossa alegria, vemos que estamos cada vez mais
pertos de Deus, não somente porque nossa partida está mais próxima, mas
porque experimentamos em nós uma crescente alegria, influencia e
transformações que só podem ser operadas por Deus. Vejamos outro texto
muito direto quanto a isto. Filipenses 1: 6 diz: ¨Estou convencido de que
aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo
Jesus.¨ Em Cristo, a obra começa e não para até que seja completa, ou seja,
de fato não contamos com a vitória antes da hora no sentido mais inocente
da palavra porque ela não depende de nós, mas somente dele. Ele começa e
Ele termina. A afirmação é uma afirmação de fé: dependo sempre de Cristo
e Cristo é o todo capaz. A reconciliação no presente é uma antecipação da
glória no futuro. O Senhor em tudo irá completar o propósito de seu amor
morrendo, salvando todos os verdadeiros crentes até ao fim. Tendo como
um penhor de salvação no amor de Deus por meio de Cristo, o apóstolo
declarou que os crentes não só podem alegrar-se nas esperanças do céu, e
até mesmo em suas tribulações por causa de Cristo, mas glorificou a Deus
também, como seu amigo imutável que tudo faz através de Cristo, e
somente através de Cristo.
CONCLUSÃO
E então, como ficamos?
Como crentes ficarmos assombrados e maravilhados, fortalecidos em
nossa caminhada por todas as certezas que reforçam ainda mais nossa fé e
fundamental nossas esperanças que o Espírito Santo coloca em nosso
coração, conquistadas por Cristo quando derramou seu sangue na Cruz
demonstrando o amor de Deus por nós.
Aqueles que ainda não conhecem este amor, um convite sério a
pensar e refletir profundamente sobre a grandeza deste amor e tudo que ele
é capaz de fazer por nós e em nós, e a ver o que de fato significa ter Cristo
e andar com Cristo.
Que Deus nos abençoe abrindo os olhos para tudo aquilo que Deus
tem feito em Cristo por cada um de nós. De fato, Ele nos ama.
BIBLIOGRAFIA
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