resumo do relatÓrio nacional de desenvolvimento humano … · 2020-05-02 · resumo do relatÓrio...
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RESUMO DO RELATÓRIO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO HUMANO EM SÃO TOME E PRÍNCIPE
2014
A qualidade de liderança como factor inibidor da instabilidade política
e promotor do desenvolvimento humano: o papel da Sociedade Civil e
da Juventude
Equipa de preparação do Relatório de Desenvolvimento Humano em
São Tomé e Príncipe
Supervisão do Representante Residente do PNUD em STP:
José Salema
Direcção Técnica do Assistente do Representante Residente para o Programa:
António Viegas
Consultores Internacionais:
José María Caller Celestino – coordenação de Investigação, elaboração da introdução
“A sociedade civil como fator chave para a estabilidade política e o desenvolvimento
humano. Juventude, inovação e lideranças” e tratamento ao conteúdo das “Conclusões
do RDH 2014: O potencial da juventude e da sociedade civil organizada”
Dade Said – elaboração do capítulo “Desenvolvimento Humano e os Objectivos do
Milénio”
Consultores Nacionais:
Celiza Lima – elaboração do capítulo “Justiça e Desenvolvimento Humano. O valor da
transparência e a segurança jurídica.”
Juvenal Rodrigues - elaboração do capítulo “A liderança da comunicação social para o
desenvolvimento humano. O impacto de dar voz a uma sociedade civil livre.”
Nilda Borges - elaboração do capítulo “A sociedade civil em STP: tipologia das
organizações e necessidades para desenvolver sua liderança.”
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ......................................................... Error! Bookmark not defined.
Capítulo I ......................................................................................................................... 8
A sociedade civil como factor chave para a estabilidade política e o desenvolvimento
humano. Juventude, inovação e lideranças. ..................................................................... 8
Capítulo II ......................................................................................................................... 9
O Desenvolvimento Humano e os Objectivos do Milénio (ODM) .................................. 9
1. Introdução ............................................................................................................ 9
2. O Contexto Económico em São Tomé e Príncipe ............................................. 9
3. Conclusão ........................................................................................................... 12
Capítulo III ..................................................................................................................... 13
Justiça e Desenvolvimento Humano. O valor da transparência e a segurança jurídica.
........................................................................................................................................ 13
NOTA INTRODUTÓRIA .......................................................................................... 13
Capítulo IV ..................................................................................................................... 16
A liderança da comunicação social para o desenvolvimento humano. O impacto de dar
voz a uma sociedade civil livre. ...................................................................................... 16
Capítulo V....................................................................................................................... 18
A sociedade civil em STP: tipologia das organizações e necessidades para desenvolver
a sua liderança. .............................................................................................................. 18
1. Contexto ................................................................................................................. 18
Capítulo VI Conclusões do RDH 2014: O potencial da juventude e a sociedade civil
organizada ...................................................................................................................... 20
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Abreviaturas e Siglas
ACEP Associação para a Cooperação Entre os Povos
ADAPPA Associação para o Desenvolvimento Agro-Pecuário e Protecção do Ambiente
AMEP-STP Associação de Mulheres Empresárias e Profissionais de São Tomé e Príncipe
ARCAR Associação para a Reinserção de Crianças Abondonadas e em situação de Risco
BISTP Banco Internacional de São Tomé e Príncipe
CDC Convenção dos Direitos da Criança
CNJ Conselho Nacional da Juventude
CST Companhia Santomense de Telecomunicações
EITI Iniciativa de Transparência das Insdústrias Extrativas
ENRP Estratégia Nacional de Redução da Pobreza
FBCF Formação bruta de capital fixo
FMI Fundo Monetário Internacional
FONG-STP Federação das Organizações Não Governamentais em São Tomé e Príncipe
GSTP Governo de São Tomé e Príncipe
IDHAD Índice de desenvolvimento humano ajustado à desigualdade
IDH Índice de desenvolvimento humano
IDHG Índice de desenvolvimento do género
IDHAD Índice de desenvolvimento humano ajustado à desigualdade
IDS Inquérito demográfico de saúde
INE Instituto Nacional de Estatística
IOF Inquérito aos orçamentos familiares
IPH-1 Índice de pobreza humana
MLSTP Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe
NU Nações Unidas
OGE Orçamento Geral do Estado
OMD Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organizações Não-Governamentais
OSC Organização da Sociedade Civil
PASS Projecto de Apoio ao Sector Social
PCI Programa de Comparação Internacional
PIB Produto interno bruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
OIT Organização Internacional do Trabalho
PPC Paridade de poder de compra
REDSAN- Rede da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional na CPLP
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
RESCSAN- Rede da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional
de São Tomé e Príncipe
RGDH Relatório Global de Desenvolvimento Humano
RGPH Recenseamento geral da população e habitação
RNB Rendimento nacional bruto
RNDH Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano
STP São Tomé e Príncipe
UNDP United Nations Development Program (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento)
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
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A qualidade de liderança como factor inibidor da instabilidade política e
promotor do desenvolvimento humano: o papel da Sociedade Civil e da
Juventude
INTRODUÇÃO
À semelhança dos anteriores, este
Relatório Nacional de Desenvolvimento
Humano (RNDH) inclui uma análise do
estado de desenvolvimento humano em
STP no contexto dos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio, uma
análise que olha o desenvolvimento como
um processo não só de aumento da renda,
como também de satisfação das
necessidades básicas, cuja meta é alargar
as capacidades e opções das pessoas e da
sociedade como um todo. Como diria
Amartya San (1989), o fundamento para
alargar as escolhas das pessoas baseia-se
“nas capacidades humanas, ou seja, a
série de coisas que as pessoas são capazes
de fazer ou estar”, operacionalizadas em
dimensões humanas diversas, sobretudo,
aquelas que se afiguram imediatamente
imprescindíveis para a existência do
indivíduo: o anseio de viver vida longa e
saudável, ter acesso ao saber e aos
recursos necessários para um padrão de
vida decente.
Para escolher o tema do presente
Relatório, além desses questionamentos
fundamentais sobre a instabilidade
política e a sociedade civil, houve
também um interesse muito marcado na
situação da justiça, no estado da
juventude e o seu papel no
desenvolvimento, bem como na
necessidade de inovação em STP.
Enfatizar a necessidade de implementar
as recomendações dos trabalhos
realizados com tanto esforço e recursos se
ajusta às exigências dos cidadãos
consultados. Parece evidente que deve-se
dar maior visibilidade e máxima
relevância às relações entre a justiça e o
desenvolvimento humano.
No âmbito desta análise da justiça a
corrupção é um tema recorrente. Ela é
vista pelos cidadãos como uma das
principais causas - mesmo a principal
para muitos entrevistados - do deficiente
funcionamento do Estado. O epítome da
corrupção no imaginário coletivo são-
tomense é a classe política. E a sua
manifestação mais evidente, a
impunidade. Mas se a classe política
resume a melhor representação da
corrupção, o pernicioso fenómeno não é
património dos políticos.
No que respeita à equidade de género, a
corrupção contribui para perpetuar as
desigualdades. A corrupção impõe uma
taxa adicional de marginalização das
mulheres, já que não se pode construir o
desenvolvimento humano com
6
semelhante disparidade de oportunidades.
Como mostram os resultados dos
Objetivos do Milénio (ODMs) e
confirmam os dados deste Relatório com
o Índice de Desenvolvimento do Género
(IDHG), bem como as análises realizadas
(ver o capítulo II), a equidade de género é
um desafio cujo cumprimento ainda está
longe em STP.
A juventude, o seu papel no
desenvolvimento e a inovação são temas
estreitamente ligados e também
fundamentais para o comum dos atores
consultados.
A inovação não é uma opção, mas uma
necessidade básica para poder participar,
competir e aproveitar todas as vantagens
dum mundo moderno onde as inter-
relações são cada vez mais complexas e
rápidas. Precisa-se introduzir as novas
tecnologias em todos os âmbitos, tanto do
Estado como do sector privado. Porém, a
inovação não pode ser só material. Deve-
se mudar a mentalidade para poder
participar nas múltiplas redes
internacionais já existentes e criar no país
as redes necessárias para atingir os
objetivos propostos. É um grande repto
propor uma mudança profunda na
mentalidade de uma sociedade num curto
espaço de tempo. Os são-tomenses
precisam construir uma imagem de si
mesmos como povo, como nação, que
seja encomiástica, elogiosa. Têm que
dotar-se de uma mentalidade do século
XXI, mas numa perspectiva colectiva,
adquirida no tempo e com opções de
mudança de acordo com os seus sonhos.
Fortalecer a sociedade civil para
desempenhar todas as suas funções, fazer
visível a relação entre um sistema judicial
moderno e o desenvolvimento humano,
dotar a juventude de um roteiro básico
para participar de maneira eficaz no
desenvolvimento, tanto de STP como do
mundo, introduzir a inovação em todos os
âmbitos, são contribuições chaves para
limitar a instabilidade política com que
com tanta razão se preocupam os são-
tomenses.
Contudo, uma questão central se coloca
peremptoriamente em relação a tudo o
que foi anteriormente dito: que pessoa ou
pessoas podem liderar essas mudanças
tão significativas? STP tem ou pode ter,
num prazo razoável, líderes com a
dimensão de um Nelson Mandela ou de
um Gandhi, capazes de aglutinar as
diferentes sensibilidades sociais e
políticas com vista a se atingir objectivos
de interesse comum muito mais
estratégicos? E se o país não dispõe na
actualidade de figuras individuais tão
insignes, que entidades, grupos, sectores,
poderiam gerar essas lideranças?
Considerando que os partidos políticos
são percebidos pelos são-tomenses como
parte principal do próprio problema da
instabilidade política (percepção que
corresponde às contínuas mudanças de
Governo e a impossibilidade durante
todos os anos de democracia de cumprir
7
as legislaturas completas), pode-se
entender o generalizado cepticismo da
população em relação à vontade dos
políticos de superar os interesses
partidários e liderar a estabilidade como
exigem os grandes temas de Estado.
Se esta percepção corresponde à
necessidade crescente de dar maior
protagonismo à sociedade civil, parece
lógico a priori tentar encontrar as
lideranças nas organizações sociais que
possam desempenhar um papel exigente
no cumprimento dos objetivos
estratégicos. Mas para uma função
estabilizadora em STP, perante as já
habituais tendências ou visões políticas de
curto prazo, precisa-se de várias
condições que se propõe apontar e
analisar detalhamente neste Relatório.
Nas conclusões deste Relatório tentar-se-á
estabelecer um roteiro viável para que a
juventude possa desempenhar esse papel
chave.
Este Relatório foi estruturado, tomando
em consideração tanto o tema selecionado
pelos são-tomenses para ser abordado em
profundidade - isto é, o problema da
instabilidade política, as possibilidades de
liderança na sociedade civil para seu
controlo e o papel da juventude nessa
mudança e no futuro desenvolvimento de
STP - como as exigências próprias dos
Relatórios de Desenvolvimento Humano
do PNUD, que tentam refletir com um
conjunto de análises e indicadores a
situação do país com o decorrer dos anos
e em comparação com os outros estados.
O momento da sua da sua elaboração
coincide com a proximidade da data
fixada para se atingir os denominados
Objectivos do Milénio (ODM), pelo que
se introduziu uma análise do seu
cumprimento e, especialmente, na sua
relação com o DH.
8
Capítulo I
A sociedade civil como factor chave para a estabilidade política e o
desenvolvimento humano. Juventude, inovação e lideranças.
A instabilidade política tornou-se em São
Tomé e Príncipe (STP) num dos
principais problemas identificados de
forma recorrente para o desenvolvimento
do país. Esta identificação é partilhada
não só pelos próprios são-tomenses de
distintos sectores sociais, políticos e
económicos consultados, mas também por
numerosos especialistas de entidades
estrangeiras convidados a analisar a
situação de STP. Esta coincidência de
opinião de cidadãos de diferentes
sensibilidades resulta do facto de nenhum
Governo ter sido capaz de cumprir quatro
anos de mandato, revelando-se a situação
agravada por uma crónica
descontinuidade na implementação de
políticas fundamentais – como as que
mais afectam o desenvolvimento humano
- que deveriam ser de longo prazo.
Deve-se sublinhar que esta incapacidade
de dar continuidade às políticas não
parece resultar de discrepâncias
substantivas nem no diagnóstico dos
principais problemas e necessidades de
STP, nem nas possíveis soluções que se
propõem para resolvê-los da melhor
maneira, com êxito. Os são-tomenses
enfatizam a ausência de um compromisso
claro em relação a uma estratégia de
desenvolvimento que seja respeitada
pelos políticos, a não responsabilização
dos dirigentes - que são vistos como
carentes de sentido de Estado - e a falta
de uma sociedade civil forte, responsável
e activa.
Este primeiro capítulo pretende ser
uma introdução do conjunto do Relatório,
com ênfase em questões centrais que são
a crónica instabilidade política, o
problema da corrupção, a importância da
sociedade civil e da juventude para
contribuir no seu controlo e impulsionar o
desenvolvimento humano.
Recorre-se a citações de actores chave no
mundo da justiça para explicitar a
identificação das relações entre esses
temas. As primeiras ligações entre justiça
e desenvolvimento humano podem ser
apreciadas através dos efeitos da
corrupção na economia, na educação, na
saúde e na equidade de género. Quer
dizer, dá-se uma sucinta visão de como as
diferentes partes do sistema são afetadas
pelo problema recorrente da condição
duma classe política incapaz, até hoje, de
dotar o país de estabilidade governativa e
da moral necessária no exercício do poder
e no uso da coisa pública.
Na sequência, aborda-se outro assunto
mais cotado na escolha participativa do
tema principal do Relatório: a juventude e
seu papel no desenvolvimento. Destaca-se
o seu protagonismo social, algumas das
9
suas vantagens e limitações para liderar
mudanças fundamentais e o seu possível
papel nas organizações. Parte-se de uma
primeira hipótese de que a mudança
chegará através duma sociedade civil
forte, organizada e com participação
imprescindível da juventude. Mas ao
longo do Relatório explora-se as
possibilidades de desenvolvimento dessa
juventude e as possíveis rotas para atingir
um papel fundamental no futuro de STP.
Os diferentes perfis dos capítulos
contribuem para a reflexão, partindo de
perspectivas várias, não só sobre a
instabilidade política, mas também sobre
a própria juventude; abordando a
economia, a sociedade, a comunicação
social, a justiça e o desenvolvimento
humano dispõe-se de visões parciais que,
tomadas no seu conjunto, permitem
compreender a complexidade do
problema e a importância de tomar
medidas substantivas para fazer com que
seja realidade a estabilidade política e
uma participação cidadã muito mais ativa
no futuro.
Capítulo II
O Desenvolvimento Humano e os Objectivos do Milénio (ODM)
1. Introdução
São Tomé e Príncipe tem estado a
notabilizar-se na arena regional e
internacional pela sua luta contínua pelo
desenvolvimento, cujo caminho está
previsivelmente pavimentado por reais
desafios estruturais, caracterizados por
uma economia pouco diversificada
herdada do período colonial e baseada na
monocultura do cacau, uma estrutura
económica totalmente dependente do
exterior, infraestruturas sociais e
produtivas deficientes, uma balança de
pagamento cronicamente deficitária, um
elevado peso da dívida externa que em
2012 representa cerca de 77% do seu
Produto Interno Bruto (PIB), depois do
pico de cerca de US$355,5 milhões de
dólares atingidos antes do alívio em 2006,
uma elevada vulnerabilidade a choques
externos, devido à forte dependência
externa – mais de 93% do investimento
público depende da ajuda externa -, e um
tecido empresarial ainda embrionário e
com fraca capacidade de criação de
emprego, entre outros.
2. O Contexto Económico em São
Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe é um país com uma
economia das mais pequenas de África. O
seu PIB representa apenas 0,012% do PIB
de África o que coloca o país no 49.º
lugar numa lista de 50 países, de acordo
com o ranking do Banco Africano de
Desenvolvimento no quadro da Ronda
2011 do Programa de Comparação
Internacional (PCI) recentemente
divulgado, superando apenas as Ilhas
10
Comores que apresenta uma participação
no PIB de África de 0,011%. Contudo, no
âmbito do mesmo programa, STP aparece
entre os 21 países com mais alto PIB real
per capita, estimado em 3 045 dólares
PPC. A média africana é de 4 044 dólares
PPC. Está entre os 15 países com mais
alto consumo individual actual, estimado
em 3 340 dólares PPC. O mais importante
ainda é que o arquipélago está colocado
entre os 20 países com altos níveis de
investimento medido pela formação bruta
de capital fixo (FBCF), com 553 dólares
PPC, quando a média africana é de 710
dólares PPC (Gráfico 1).
Este capítulo centra-se no
Desenvolvimento Humano e nos
Objetivos do Milénio, mas ressalta
também o papel da sociedade civil no
desenvolvimento de STP e o perfil da
juventude em relação ao DH, respondendo
ao tema escolhido pelos são-tomenses para
este Relatório.
(...) inclui uma análise do estado de
desenvolvimento humano em STP no
contexto dos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio, uma análise
que olha o desenvolvimento como um
processo não só de aumento da renda,
como também de satisfação das
necessidades básicas, cuja meta é alargar
as capacidades e opções das pessoas e da
sociedade como um todo. (...).
Depois da introdução segue-se uma
análise das condições económicas que
prevaleceram em STP ao longo dos
últimos anos. Em seguida, faz uma
apresentação e avaliação do progresso no
desenvolvimento humano desde a última
edição do RNDH. A terceira parte estende
a análise anterior e ajusta a realização
média nas dimensões do IDH de acordo
com as disparidades nas realizações das
mulheres e dos homens tal como referido
no Relatório Global de Desenvolvimento
Humano. A quinta secção avalia o
desenvolvimento humano no contexto dos
objectivos do desenvolvimento do
milénio. A sexta secção faz um roteiro
sobre a juventude e seu papel no
desenvolvimento. A sétima e última
secção apresentam as conclusões do
capítulo.
As análises incluem a nova metodologia
adotada em 2010 para medir o
Desenvolvimento Humano, tanto na
educação.
O capítulo finaliza com uma exposição
sobre o perfil da juventude são-tomense
e as opções consideradas chaves para
superar a apreciável falta de educação, a
deficiente absorção tecnológica e os
desajustes entre a procura do mercado de
trabalho e os perfis da oferta do
sistema educativo e de formação
profissional.
11
Desempenho económico por sectores de actividade, 2005 – 2013 (%)
Descrição 2005 2006 2007 2008 2009 2020 2011 2012 2013*
Sector Primário 1,6 5,9 2,8 8,5 3,9 -1,1 1,0 -0,1 Agricultura 1,7 7,3 2,7 11,2 4,4 -2,9 0,3 -1,3 Pescas 1,4 3,0 2,9 2,8 2,8 2,7 2,6 2,5 Indústria extractiva 2,6 6,7 2,8 3,9 4,6 5,0 0,9 -1,0
Sector Secundário 3,9 6,4 4,1 5,9 0,3 2,3 1,8 4,5 Indústria transformadora 3,6 5,0 3,2 7,7 2,7 0,5 3,9 8,4 Electricidade e água 10,5 9,6 3,8 5,9 8,0 9,6 12,7 14,9 Construção 2,6 7,0 5,1 4,2 -3,9 2,0 -3,6 -3,3
Sector Terciário 11,8 7,1 -1,1 5,1 2,9 4,7 2,1 1,8
Comércio 6,6 9,6 1,3 9,7 1,0 6,3 0,8 3,1
Alojamento e restauração 0,8 8,6 0,0 1,2 -1,9 -2,5 4,5 4,7
Transporte e comunicações 32,3 2,7 -7,4 1,1 8,0 4,1 3,0 -2,2
Outros serviços 3,9 7,6 1,3 1,4 2,0 3,1 3,4 3,2
Produto Interno Bruto (PIB) 7,1 9,1 0,6 8,1 4,0 4,5 4,8 4,5 4,0-4,5
Inflação 17,2 24,6 27,6 24,8 16,1 12,9 11,9 10,4 7,1
3. Conclusão
Neste capítulo analisou-se o estado de
desenvolvimento humano em STP, uma
análise que olha o desenvolvimento
como um processo não só de aumento
da renda, como também de satisfação
das necessidades básicas, cuja meta
éalargar as capacidades e opções das
pessoas e da sociedade como um todo.
Da análise as seguintes conclusões
podem ser extraídas:
Apesar dos diversos desafios
estruturais e conjunturais e de um
quadro económico aparentemente
desfavorável que se traduziram num
crescimento económico abaixo da
média do continente, a realização
média no desenvolvimento humano de
STP é dos mais robustos do
continente, com um IDH que o
qualifica no grupo de países com
desenvolvimento humano médio.
O desenvolvimento humano das
mulheres não só está 10,2 pontos
percentuais abaixo da sua contraparte
dos homens como também a redução
do fosso está a ser conseguida a uma
modesta taxa de 0,2% ao ano, ou seja,
12,8 vezes inferior ao que seria
necessário para se conseguir a plena
igualdade em 2025. A maior
discrepância verifica-se ao nível do
Poder Legislativo onde apenas 18,2%
dos assentos na Assembleia Nacional
são ocupados por mulheres na última
legislatura, embora supere muitos
países na região.
Do ponto de vista da pobreza, embora
2/3 da população são-tomense
vivessem na situação da pobreza em
2010, com uma despesa média per
capita inferior a 31 mil Dobras
diárias, apenas 20,9% estavam
privadas do acesso aos serviços
básicos como educação, saúde,
abastecimento de água e cuja negação
reflecte normalmente no estado de
desnutrição, baixas taxas de
sobrevivência, condições precárias de
saúde, entre outros.
No contexto dos Objectivos do
Milénio, o capítulo mostrou que para
STP o progresso em direcção às metas
continua ainda modesto. Na hipótese
de progresso linear, se as tendências
actuais prevalecerem, dos 14
indicadores avaliados neste capítulo,
menos de metade apresenta taxas de
progresso anual superiores às
requeridas para atingir as metas em
2015.
O capítulo mostrou também que a
juventude constitui um vibrante
segmento da sociedade são-tomense.
Representando mais de 63% da
população economicamente activa,
constituindo, por isso, um grande
potencial de força de trabalho, a sua
absorção é simultaneamente uma
oportunidade e sério desafio ao
desenvolvimento de STP.
13
Capítulo III Justiça e Desenvolvimento Humano. O valor da transparência e a
segurança jurídica.
NOTA INTRODUTÓRIA Antes de mais, importa referir que na
avaliação do nível de desenvolvimento
humano de um país, devem ser tidos em
conta, para além das múltiplas variáveis
macroeconómicas, também o seu sistema
político, o grau de respeito pela dignidade
da pessoa humana, o acesso aos cuidados
de saúde, educação etc.
É sabido que apenas os sistemas
democráticos, pelas caraterísticas que
apresentam, asseguram o respeito pelos
direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos, designadamente a liberdade de
expressão e a liberdade de associação,
enquanto direitos fundamentais. Daí
decorre a importância determinante dos
Tribunais, enquanto órgão de soberania
incumbido de administrar a justiça em
nome do povo, afigurando-se irrefutável
que existe uma relação direta entre a
qualidade da democracia de um Estado e
o funcionamento do seu sistema
judiciário. Assim, a implementação da
reforma do sector judiciário, hoje
consensualmente reclamada por todos,
terá seguramente um impacto positivo na
vida do país e contribuirá de maneira
decisiva para o seu desenvolvimento
político, económico e social.
Esta abordagem incidirá sobre a
necessidade de reforma do sector da
justiça em São Tomé e Príncipe à luz do
estado atual do sector, tendo em conta os
documentos recentes apresentados sobre a
matéria, mormente o Programa de
Reforma do Sector da Justiça. Analisar-
se-á, por conseguinte, o impacto que
poderá ter no desenvolvimento humano a
cabal implementação das conclusões e
recomendações extraídas dos estudos
realisados e de que forma poderão
contribuir para a edificação de um São
Tomé e Príncipe alicerçado em valores
universais do respeito pela dignidade da
pessoa humana, onde haja uma justiça
mais justa, mais célere e verdadeiramente
ao serviço do cidadão, com os Tribunais
como verdadeiro garante da Democracia e
do Estado de Direito Democrático.
1 – RESUMO DAS CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES CONSTANTES DO PROGRAMA DE REFORMA DO SETOR JUDICIÁRIO
São Tomé e Príncipe comemorou em 12 de
Julho deste ano, o trigésimo nono
aniversário da proclamação da sua
independência, ocasião propícia para uma
reflexão sobre o estado atual do país, sobre
os recuos e avanços, sobre as grandes
aspirações, desafios e conquistas
14
alcançadas, com destaque para as reformas
estruturais reclamadas.
A inventariação das mudanças
desencadeadas pela independência nacional
obriga a que uma particular atenção seja
conferida ao setor da justiça, alvo de
algumas melhorias, sobretudo após a
implantação do regime democrático.
Com a aprovação e entrada em vigor da
nova Constituição, São Tomé e Príncipe
tornou-se um Estado de direito
democrático, baseado no respeito pelo
primado da lei. Essa nova realidade impôs a
revogação de algumas leis, tornadas
inconstitucionais, e alteração de outras, de
forma a se adequarem à nova moldura
jurídica do Estado.
A exigência de novos pacotes legislativos
para preencher o vazio então existente
estendeu-se ao setor judiciário que
beneficiou de algumas alterações
legislativas.
Contudo, essas alterações não
corresponderam a uma reforma estrutural
profunda, facto que conduziu à crise do
sistema, o que levou o Governo, em 2009,
a organizar, com o financiamento do
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, PNUD, o Encontro
Nacional da Justiça.
No fórum, em que tomaram parte todos os
operadores judiciários, foi feita uma
análise detalhada do panorama judiciário
são-tomense. Das conclusões, foi extraído
um conjunto de recomendações que
constam do Pprograma de Reforma do
Setor Judiciário, elaborado em função das
prioridades detetadas e que deve ser
implementado pelo Estado.
Dentre as recomendações saídas do
Encontro Nacional de Justiça destacam-se
as seguintes:
a) Adoção de medidas tendentes a reduzir
as desigualdades sociais quanto ao
acesso à justiça e ao direito e a garantir
a tutela efetiva dos legítimos interesses
dos cidadãos e dos agentes económicos.
b) Revisão de todo o processo legislativo,
elegendo-se como prioridade a revisão
dos Códigos das Custas Judiciais,
Penal, Processo Penal, Processo Civil e
o Código das Sociedades Comerciais.
c) Elaboração e aprovação da Lei de
Menores e Jovens em Risco e de um
Estatuto da Criança, da Lei de Adoção
e a ratificação da Convenção sobre a
Adoção Internacional.
d) Implementação da justiça de
proximidade, através da criação de
julgados de paz ou juizados especiais
para julgarem os processos cíveis de
valor económico reduzido e pequena
criminalidade, permitindo a
administração da justiça de forma
célere e eficaz.
e) O descongestionamento dos Tribunais
Judiciais (a desjudicialização de
conflitos) através do desenvolvimento
da justiça arbitral, nas áreas do Direito
15
Civil, Comercial e Laboral e da
mediação.
f) A seleção e recrutamento dos
magistrados, mediante critérios
baseados exclusivamente no mérito e na
competência e idoneidade, de forma a
garantir a administração da justiça de
forma objetiva, isenta e imparcial por
parte dos magistrados.
g) A criação de uma escola de formação e
de investigação jurídica e judiciária que
permita a formação dos magistrados e
de outros profissionais do setor da
justiça.
h) A criação de um serviço autónomo de
inspeção, formado por um corpo de
inspetores em regime de exclusividade,
que permita a avaliação do desempenho
dos magistrados, para que apenas
permaneçam no sistema os magistrados
e funcionários judiciários cujo resultado
da avaliação seja positivo.
i) A revisão do mapa judiciário.
j) A humanização da execução de penas e
adoção de verdadeiras políticas de
reinserção social (a construção de um
estabelecimento prisional na Região
Autónoma do Príncipe, bem como a
educação e formação dos reclusos).
k) A descentralização dos Serviços de
Registo e Notariado.
l) A adoção de medidas legislativas que
visem o melhoramento do ambiente de
negócios em São Tomé e Príncipe,
através da simplificação de
procedimentos administrativos na
concessão de alvarás, licenças e
autorizações para o exercício da
atividade empresarial e da aprovação de
um pacote de incentivos fiscais ao
investimento estrangeiro.
m) O combate à corrupção e à impunidade
da classe política e dirigente
(necessidade da aprovação de uma Lei
sobre a Responsabilidade Penal dos
titulares dos cargos Políticos) e a
moralização da classe.
n) Adoção de mecanismos eficazes de
fiscalização e controlo do processo
eleitoral, visando a punição dos crimes
eleitorais, nomeadamente a compra do
voto, através do método vulgarmente
conhecido por “banho”.
Importa, porém, deixar claro que desde a
data da realização dos eventos e estudos
que resultaram na elaboração do
Programa de Reforma do Sector da
Justiça em São Tomé e Príncipe, algumas
das ações inseridas nas conclusões do
referido documento já foram
implementadas, por sucessivos governos
constitucionais, nomeadamente o XIII, o
XIV e o XV. Tais ações consistiram,
principalmente, na criação do juízo de
execução de penas, na aprovação da Lei
da Assistência Judiciária e Consulta
Jurídica violência doméstica e na criação
do Guichet Único de Empresas, cujo
impacto se faz sentir no dia-a-dia dos
agentes económicos que operam no país.
Convém ressaltar, no entanto, que a
grande maioria das ações recomendadas
no quadro do Programa de reforma ainda
aguarda implementação, facto que poderá
ocorrer nos próximos tempos.
16
Capítulo IV A liderança da comunicação social para o desenvolvimento
humano. O impacto de dar voz a uma sociedade civil livre.
O paradigma da Comunicação Social
em São Tomé e Príncipe deve ser
revisto. Os órgãos estatais e privados
necessitam assumir-se de forma
decidida como veículos de circulação de
ideias que promovam o
desenvolvimento humano, reforcem a
unidade e destaquem exemplos
positivos.
1. Caracterização da
Comunicação Social em STP
O suporte legal para a Comunicação
Social são-tomense ainda está
incompleto.
Na lei fundamental, o artigo 29.º
(Liberdade de expressão e informação)
reza que “todos têm o direito de
exprimir e divulgar livremente o seu
pensamento pela palavra, pela imagem
ou por qualquer outro meio”.
Acrescenta que “as infracções
cometidas no exercício deste direito
ficam submetidas aos princípios gerais
de direito criminal, sendo a sua
apreciação da competência dos
tribunais”.
O artigo 30.º (Liberdade de imprensa)
diz, por sua vez, que “na República
Democrática de São Tomé e Príncipe é
garantida a liberdade de imprensa, nos
termos da lei”. E ainda que “o Estado
garante um serviço público de imprensa
independente dos interesses de grupos
económicos e políticos”.
Pode-se deduzir que a livre expressão
do pensamento através da imprensa não
está cerceada por qualquer forma de
censura ou autorização prévia. O que
acontece na prática, vai-se ver mais
adiante.
Em Junho de 2001 foram aprovadas a
Lei da Televisão e a Lei da Rádio.
Evocaram-se articulados da
Constituição Política e da Lei de
Imprensa que “estabelecem o quadro
constitucional e jurídico basilar da
liberdade de expressão do
pensamento”.
O Conselho Superior de Imprensa como
“alta autoridade para a promoção da
liberdade de imprensa, do pluralismo e
da independência da comunicação
social”, segundo a Lei de Imprensa, está
em funções. É um “órgão independente”
e funciona junto da Assembleia
Nacional.
2. Conclusões
Para a comunicação social assumir a
liderança no contexto do
desenvolvimento sustentado de São
17
Tomé e Príncipe terá, em primeiro
lugar, que definir uma Estratégia e
ajustar as políticas editoriais dos órgãos
a este grande objectivo, respeitando
obviamente a diversidade, considerando
que do ponto de vista legal existem
condições para o exercício de liberdade
de expressão, de pensamento e de
imprensa.
Porém, os instrumentos referidos não
serão suficientes sem recursos humanos
capazes de entender e interpretar os
fenómenos que ocorrem, tanto no seio
dos Media como na sociedade em geral.
Contudo, o trabalho deve ser feito e
procurar-se suprir lacunas com
contribuições de são-tomenses com
capacidade na diáspora e de estudiosos
sobre São Tomé e Príncipe.
Seja como for, os Media locais têm de
se organizar, no sentido de criarem a
sua rede que facilite lidar com aspectos
relevantes do desenvolvimento humano
em execução no país, e acompanhar e
monitorar os mesmos, abrindo espaços
aos seus protagonistas, contribuindo
assim para se criar um movimento
multiplicador de boas práticas, atitudes
cívicas, inovações e iniciativas na busca
de soluções.
Paralelamente, no quotidiano da sua
acção, devem ter presentes os
documentos essenciais já produzidos, de
modo a fortalecer a argumentação,
assim como a realidade cultural do país.
A propósito, a cultura pode e deve
contribuir, como se diz no Documento
de Política Cultural do Ministério da
Educação, Cultura e Formação, para
que “os são-tomenses reencontrem
pontos de convergência para o reforço
da sua identidade”.
Ela tem ramificações nos “conceitos de
direitos humanos, diversidade cultural,
pertença cultural, identidade cultural e
cidadania participativa e postula
parâmetros de organização e de gestão
que geram dinâmicas de lazer e de
ocupação de tempos livres, bem como
oportunidades de ocupações produtivas
e geradoras de rendimento”.
Como já foi dito, face à dificuldade da
classe política em encontrar consensos
que garantam a estabilidade e o
desenvolvimento humano, o contributo
para se atingir esses desideratos pode
passar por uma comunicação social
mais dinâmica e uma sociedade civil
mais atuante, tendo o suporte cultural
ou a são-tomensidade como alavanca. É
a principal plataforma que tem
condições de servir como fator de
coesão social, promotor da confiança
entre os cidadãos e de autoestima
coletiva. Ignorar o contexto cultural é
praticamente condenar ao fracasso os
projetos de desenvolvimento.
Esse processo deve envolver jovens em
idade escolar, das áreas urbanas e das
comunidades rurais.
18
O campo para a descoberta é vasto.
Abrange hábitos, costumes e tradições;
a música, a dança, as artes plásticas, a
gastronomia e o próprio património.
Porque não tentar entender o significado
do ritual pagão que envolve a
celebração do Santo Isidoro ou San
Zudón, padroeiro dos agricultores
adotado pelos cidadãos de Ribeira
Afonso? Vários acreditam que é um
santo protetor e ajuda a melhorar a vida
das pessoas.
Na gastronomia, por exemplo, conhecer
e divulgar os vegetais que entram na
confeção de alguns pratos tradicionais
como o calulú ou djogó e que inclusive
têm influência na saúde.
No artesanato, a experiência
interrompida de alguns projetos indica
que o país pode aproveitar a sua flora
para produzir papel, tintas de tingimento
e outros derivados para criar produtos
“Made in STP”.
Por que não admitir que os pequenos
fabricantes de seus próprios brinquedos
como trotinete, carros de arame ou de
caule de bananeira com rodas de fruta-
pão, se bem orientados, poderiam
integrar equipas de inovadores?
Os jovens da Associação de Estudantes
de Liceu reclamam falta de informação
na rede global sobre temas culturais
são-tomenses.
Os jovens e organizações de sociedade
civil podem estruturar-se para realizar
esse tipo de ações, sem esperar por
condições especiais. Iniciativas podem
ser facilitadas com a rentabilização das
novas tecnologias de informação e
comunicação.
Capítulo V A sociedade civil em STP: tipologia das organizações e
necessidades para desenvolver a sua liderança.
1. Contexto
Ao lado da perene instabilidade política,
São Tomé e Príncipe convive,
economicamente, com uma situação de
dependência externa.
O país já elaborou duas Estratégias
Nacionais de Redução da Pobreza
(ENRP), sendo a primeira em 2002, que
foi revista pelo Governo em 2005 a fim
de englobar os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio (OMD),
tendo em conta que o Estado
Santomense também adoptou a
Declaração do Milénio das Nações
Unidas aquando da Cimeira realizada
em Setembro de 2000.
Com o presente trabalho pretende-se
saber qual é o papel que as
Organizações da Sociedade Civil (OSC)
19
podem desempenhar para o
desenvolvimento sustentável em São
Tomé e Príncipe.
Para tal, dois objectivos principais
norteiam o estudo: primeiro, vai se
concentrar na tipologia das OSC
existentes; segundo, efectuar uma
análise sobre a liderança das OSC no
país.
Mas, considerando importante conhecer
qual foi a trajectória das OSC em São
Tomé e Príncipe, antes de se debruçar
sobre os dois objectivos principais do
estudo, será feito o enquadramento
teórico dos conceitos sociedade civil e
organização da sociedade civil e um
breve historial será apresentado.
Não quer dizer que a sua contribuição
seja menos importante. O voluntário é o
tipo de colaborador que, para além de ter
grande envolvimento com a causa que a
organização representa, adiciona ainda
amor ao seu trabalho.
Outro aspecto que convém realçar, é o
facto de algumas OSC, em particular as
mais activas, terem adoptado práticas
administrativas próprias de empresas
tradicionais, e estarem com uma
mentalidade voltada essencialmente para
a eficiência da prestação de serviços à
comunidade. Esta realidade resulta do
facto dos financiadores exigirem hoje
uma maior profissionalização das OSC,
que se traduz evidentemente no
estabelecimento de várias práticas
tradicionais na administração privada e
pública, como planeamento financeiro,
recursos humanos, liderança, entre outros,
a fim de permitir uma melhor eficiência e
uma melhor utilização dos recursos
investidos.
Tendo em conta as acções em curso, sob a
responsabilidade da FONG-STP, cuja
finalidade é proporcionar uma melhoria
nos planos organizacional e institucional
às OSC no país, é provável que nos
próximos anos se venha a ter novos
elementos para a caracterização das
mesmas.
2. Que liderança para as
Organizações da Sociedade Civil
em STP
À luz das circunstâncias sociais, políticas
e económicas em que se vive hoje em São
Tomé e Príncipe, as Organizações da
Sociedade Civil (OSC) podem ser um
parceiro credível para o desenvolvimento
sustentável do país.
O papel das OSC é hoje consensualmente
reconhecido.
Conclusão
A proliferação no país de OSC, que se
assistiu a partir dos anos 90, demonstra a
disponibilidade da sociedade civil em
colaborar com o Estado na resolução de
vários problemas sociais, económicos e
políticos.
20
Apesar dos constrangimentos, da
fragilidade organizacional e institucional
de uma grande parte das OSC, bem como
do cepticismo de algumas entidades,
verifica-se que têm sido parceiras
incontestáveis do Estado e dos
financiadores na implementação de
projectos de desenvolvimento.
Mesmo no quadro das suas próprias
actividades, o impacto junto do público-
alvo tem sido positivo.
Contudo, há ainda uma certa inércia, as
OSC em São Tomé e Príncipe não
desempenham de facto o papel fulcral na
formação da consciência de cidadania, na
gestão de conflitos sociopolíticos, no
desenvolvimento económico nacional e
na construção da identidade nacional. A
justificação sempre apresentada é a falta
de meios financeiros.
Assim, é condição sine qua non o
desenvolvimento de estratégias de
mobilização de recursos inovadoras e
criativas para pôr fim à forte dependência
em relação aos apoios concedidos pelo
Estado e pelos parceiros de cooperação.
A prática de criação de redes temáticas
deve também ser incentivada, tarefa que
poderá ser assumida pela FONG-STP.
Ao nível do ordenamento jurídico, viu-se
que as OSC têm o “caminho aberto” para
desenvolverem as suas acções.
Portanto, caberá as OSC se apropriarem
de todos os meios disponíveis para que
possam ajudar a reinventar o diálogo
político e social em São Tomé e Príncipe.
Website
www.anp-stp.gov.st; www.ces.uc.pt
www.fong-stp.net; www.ine.st
www.oecd.org; www.secretariageral.go
Capítulo VI Conclusões do RDH 2014: O potencial da juventude e a sociedade civil organizada Quanto ao tema principal deste RDH, não
há dúvidas que a sua eleição pelos são-
tomenses está mais do que justificada.
A instabilidade política são-tomense e a
percepção de inadmissíveis níveis de
corrupção entre a classe política e na
administração pública não podem
continuar de forma indefinida como se
fossem inerentes ao sistema. Podem e
devem ser abordadas, não só por critérios
éticos, mas pela necessidade imperiosa de
fortalecer o Estado, o que é
imprescindível para se criar condições
adequadas que permitam um autêntico
desenvolvimento humano.
As lideranças que STP precisa poderiam
desenvolver-se no próprio processo de
divulgação, implantação e assunção do
desenvolvimento humano, processo em
que a juventude deveria ter um papel
chave.
A primeira frente é impulsionar a
implementação do Programa de
Reforma da Justiça.
21
A segunda frente fundamental para a nova
mentalidade e a construção de lideranças
para o desenvolvimento humano é a
mudança da comunicação social e do
paradigma de acesso à informação e à
formação.
A terceira frente incontornável é
melhorar a situação socioeconómica da
população que se encontra na
precariedade.
Precisa-se que a economia são-tomense
melhore de forma substancial e que a
própria sociedade são-tomense assuma
um papel decisivo para promover
políticas de protecção social e envolver o
conjunto de cidadãos no processo de
inclusão social.
Seguindo essa linha de reflexão no
contexto do presente Relatório (que inclui
a evolução de parâmetros económicos,
mas não como melhorar substancialmente
a economia), pode-se sugerir a
possibilidade de depositar na sociedade
civil são-tomense, e de modo especial,
na juventude, o peso das acções para ter
impactos significativos nessa população
marginalizada.
Para que isto seja realidade é necessário,
em primeiro lugar, que a juventude são-
tomense deixe de esperar que o Estado
resolva muitos dos problemas básicos e
tome as rédeas dos desafios inadiáveis
que podem ser enfrentados sem grandes
dificuldades.
Em segundo lugar, o teoricamente
arraigado individualismo são-tomense
deve deixar espaço a formas de
cooperação em grupo ou em equipa,
principalmente quando se trata de
aspectos básicos de desenvolvimento
humano.
Em terceiro lugar, deve-se impulsionar o
voluntariado, que oferece grandes
vantagens não só para os receptores
directos dos apoios e para o conjunto da
sociedade, mas também para os próprios
voluntários.
Em quarto lugar, há que criar uma
sociedade-rede, a mais ampla e diversa
possível. Quanto mais ligações locais,
nacionais e internacionais estiverem em
conexão, haverá mais oportunidades de
abrir caminhos e menos vulnerabilidade
face aos problemas complexos.
Em quinto lugar, é urgente e
imprescindível a criação de uma vida
cultural interna, pró-activa, estimulante e
aglutinadora de esforços para dar sentido
de pertença a uma nação, com uma
identidade forte e valorizadora do
património cultural são-tomense.
Em sexto lugar, há que potenciar as
organizações da sociedade civil para que
existam interlocutores visíveis e com
personalidade jurídica capazes de
desenvolver com eficácia todos os pontos
anteriores. Nessas OSC, a juventude deve
encontrar e abrir espaços para lideranças
que impulsionem o país rumo ao
desenvolvimento humano sustentável e
contribuam para estabilização da vida
política e social de STP.