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A CARTOGRAFIA DA CRIMINALIDADE NO MUNICÍPIO BRASILEIRO DE
GOIÁS-GO (2001-2010)
Marcello Rodrigues Siqueira1
RESUMO: Nesta pesquisa procurou-se identificar os fatores que determinaram ou que
contribuíram para a criminalidade na cidade de Goiás/GO no período compreendido entre
2001 e 2010. Do ponto de vista teórico, buscou-se suporte na teoria econômica fundamentada
a partir das considerações de Becker (1968) e, sobretudo, em alguns dos principais trabalhos
de Michel Foucault como Microfísica do poder (1979), Em defesa da sociedade (1999); e
Vigiar e punir (2008). A partir dos conceitos de má distribuição de renda, das relações
pessoais, da desestrutura familiar, da baixa educação formal e do desemprego, evidencia-se
que a criminalidade começa a se apresentar com maior frequência nas cidades, à medida que
estas se desenvolvem. Metodologicamente, a pesquisa se organizou em forma de cartografia,
não no sentido de mapa, mas no sentido de descrição/mapeamento da história da
criminalidade no município de Goiás-GO conforme Rolnik (1989). Entre as principais fontes
de pesquisa destacam-se os boletins de ocorrência levantados junto ao 6° Batalhão de Polícia
Militar. Em relação aos resultados foi possível verificar que uma parcela significativa dos
crimes está relacionada a fatores econômicos, seja por motivação principal, seja pelo fato de
haver uma forte relação entre baixos rendimentos e condições precárias de subsistência. A
situação de desemprego compromete o futuro do indivíduo e seu desempenho
socioeconômico, tornando necessária a compreensão do fenômeno da exclusão no mercado de
trabalho, com vistas a viabilizar a integração social e econômica dos mesmos.
PALAVRAS-CHAVE: História. Desenvolvimento. Criminalidade. Cartografia. Goiás.
1 – INTRODUÇÃO
Estudos sobre criminalidade são importantes tendo em vista os impactos que tal
variável tem sobre o crescimento econômico e o bem-estar da população (DA MATA et al.,
2005; 2006). No caso brasileiro, a discussão sobre o tema é ainda mais relevante, visto que
nos últimos anos verificam-se elevações nas taxas de criminalidade. Nesse sentido, um dos
principais desafios do Estado brasileiro é o de formular e implementar políticas que permitam
prevenir e reduzir a criminalidade e a violência. Para tanto, é de fundamental importância o
desenvolvimento de pesquisas que permitam monitorar e melhorar o entendimento das
tendências espaciais e temporais da criminalidade.
1 Professor efetivo da Universidade Estadual de Goiás, Campus Iporá (UEG-Iporá). Doutorando em Políticas
Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED) junto ao Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás –
Fapeg (FAPEG). E-mails: [email protected] ou [email protected]
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Segundo Araújo Jr. e Fajnzylber (2001b), a criminalidade é um importante
problema social, econômico e político que deve ser enfrentado. É um problema social porque
afeta diretamente a qualidade e expectativa de vida das populações. É um problema
econômico porque, de um lado, a sua intensidade está associada às condições econômicas e,
de outro, limita o potencial de desenvolvimento das nações. Finalmente, a criminalidade é um
problema político, uma vez que as ações necessárias para combater o crime envolvem a
participação ativa dos governos e a alocação de recursos públicos escassos em detrimento de
outros objetivos de políticas públicas.
Um dos primeiros pesquisadores a tentar mensurar a importância de fatores
econômicos na determinação da variação das taxas de criminalidade foi Fleisher (1966). Em
seu estudo, o autor relaciona empiricamente as taxas de delinquência juvenil em algumas
cidades americanas às taxas de desemprego específicas desse grupo etário. Utilizando técnicas
que exploram os aspectos de séries temporais da amostra, este autor observa efeitos positivos
e significativos entre desemprego e criminalidade.
Apesar do pioneirismo do trabalho, Fleisher (1966) não tinha, até então, suporte
na teoria econômica para seus resultados empíricos. Becker (1968) preencheu essa lacuna
apresentando um modelo microeconômico. Para o referido autor, as escolhas dos criminosos
para cometer um crime é um comportamento racional em que se comparam os custos e
benefícios com o resultado incerto de sucesso ou de ir para a cadeia. O autor vê a atividade
criminosa como um investimento: leva-se em conta o risco, obtém-se um alto retorno
esperado. Se o individuo tem um comportamento racional ele irá fazer a escolha com o maior
retorno e escolhera cometer um crime se os retornos esperados forem maiores que os custos
diretos, mais os custos psicológicos, mais a punição esperada, mais os salários de mercado.
A base da abordagem econômica do crime defendida por Becker (1968) é o
pressuposto de que as pessoas envolvidas com o sistema legal agem como maximizadores
racionais de sua satisfação. Assim, a partir dos conceitos de má distribuição de renda, das
relações pessoais, da desestrutura familiar, da baixa educação formal e do desemprego,
evidencia-se que a criminalidade começa a se apresentar com maior frequência nas cidades, à
medida que estas se desenvolvem. Daí, a necessidade de se identificar os fatores que
determinam ou que contribuem para a ocorrência criminal na cidade de Goiás-GO.
No Brasil, alguns trabalhos empíricos sobre criminalidade podem ser citados. No
estudo de Andrade e Lisboa (2000), analisa-se o comportamento da taxa de homicídio na
população masculina relacionando-a com variáveis econômicas dos Estados de Minas Gerais,
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Rio de Janeiro e São Paulo para o período de 1981 a 1997. Os principais resultados
encontrados pelos autores mostram uma relação negativa entre salário real e homicídios
existentes apenas para os mais jovens (15 a 19 anos): os coeficientes não são significativos
para a população de maior idade, com exceção de algumas faixas etárias acima dos 30 anos,
em que o coeficiente respectivo é positivo. Além disso, os autores concluíram que a relação
entre desemprego e homicídios também é negativa para os mais jovens, mas que tal relação
aumenta com a idade, tornando-se próxima de zero acima dos 20 anos. A metodologia
adotada permitiu encontrar evidências acerca do efeito da inércia criminal, na medida em que
as gerações que têm maior incidência nos homicídios quando jovens tendem a perpetuar as
maiores probabilidades de vitimização pelo resto do ciclo de vida.
Carrera-Fernandez e Pereira (2000), por sua vez, estudaram a criminalidade na
região metropolitana de São Paulo, por meio das taxas de ocorrências agregadas e de dois
tipos específicos de crime: roubo e roubo de veículos. Os resultados obtidos são, em geral,
esperados pela teoria econômica: a redução dos índices de desemprego e de Gini, bem como a
melhoria no rendimento médio do trabalho, contribuem para reduzir a atividade criminal.
Mendonça (2001) faz uma análise empírica dos determinantes econômicos do
crime para todos os estados do Brasil. O autor estende os modelos econômicos do crime já
conhecidos no sentido de incorporar um mecanismo específico pelo qual a desigualdade de
renda atua sobre a criminalidade. Após controlar pela renda média das famílias, pelo PIB per
capita, pelos gastos públicos com segurança, pelos efetivos policiais, pela taxa de urbanização
e pela taxa de desemprego, o autor obtém coeficientes com os sinais esperados para todas as
variáveis de controle utilizadas, e a desigualdade, em particular, medida pelo índice de Gini,
tem o efeito de aumentar o crime.
Em Araújo Jr. e Fajnzylber (2001a) são estudados os determinantes econômicos e
demográficos das taxas de homicídios abrangendo estados da federação no período de 1981 a
1996. Inicialmente, mostra-se que o ciclo de vida dos homicídios é característico, ou seja, em
formato de “U” invertido (com pico em aproximadamente 32 anos). Além disso, na análise da
determinação da criminalidade, as taxas de desigualdade, o nível de renda e o desemprego
mostram-se relevantes para explicar a incidência de homicídios na mesma. Por último, os
autores mostram que as variáveis sugeridas pelo modelo econômico afetam os homicídios de
forma diferenciada, dependendo da faixa etária dos indivíduos.
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Cerqueira e Lobão (2003) desenvolvem um modelo teórico e fazem uma aplicação
econométrica para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, compreendendo o período de
1981 a 1999, a fim de estimar as elasticidades de curto e longo prazos relacionadas às
variáveis listadas no modelo teórico. Segundo esse modelo, os homicídios respondem
positivamente à renda, à desigualdade da renda e ao adensamento demográfico e
negativamente aos gastos em segurança pública com um período de defasagem. Contudo,
enquanto as magnitudes das elasticidades associadas à desigualdade da renda mostraram-se
extremamente elevadas – indicando que a questão da criminalidade nesses dois estados passa,
certamente, pelo problema da exclusão social, cuja desigualdade da renda é a ponta do iceberg
–, por outro lado, aquelas elasticidades associadas aos gastos em segurança pública resultaram
extremamente inelásticas, aproximando-se de zero, o que poderia sugerir a exaustão do
modelo de segurança pública, principalmente no que se refere à polícia.
Carvalho, Cerqueira e Lobão (2005) procuram-se algumas evidências acerca da
relação entre situação socioeconômica e a probabilidade de vitimização no Brasil, tomando
como unidade de análise os 5.507 municípios brasileiros. O artigo conclui que quanto maior é
a proporção de indivíduos em situação de exclusão e vulnerabilidade socioeconômica, maior é
a probabilidade de vitimização no município em questão.
Enfim, os referidos trabalhos empíricos utilizando dados de criminalidade para o
Brasil mostram que o crime pode estar relacionado às variáveis socioeconômicas. A partir
desta perspectiva, buscar-se-á no presente artigo entender o papel destes indicadores no
crescimento da criminalidade no município brasileiro de Goiás no período compreendido
entre 2001 e 2010.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa se desenvolverá em forma de cartografia, não no sentido de mapa, mas
no sentido de descrição/mapeamento da história da criminalidade no município de Goiás-GO.
Rolnik (1989) assim caracteriza o papel do cartógrafo:
[...] O cartógrafo absorve matérias de qualquer procedência [...]. Todas as entradas
são boas, desde que as saídas sejam múltiplas. Por isso o cartógrafo serve-se de
fontes as mais variadas, incluindo fontes não só escritas e nem só teóricas [...]. O
que ele quer é se colocar, sempre que possível, na adjacência das mutações das
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cartografias [...] o que quer é apreender o movimento que surge da tensão fecunda
entre fluxo e representação: fluxo de intensidades e escapando do plano de
organização de territórios, desorientando suas cartografias, desestabilizando suas
representações e, por sua vez, representações estancando o fluxo, canalizando
intensidades, dando-lhes sentido (ROLNIK, 1989, p. 68-69).
O cartógrafo é aquele que acompanha todas as transformações da paisagem,
enquanto produz sua representação. Para produzir a cartografia a documentação pode ser
vasta ou escassa. Cabe ao historiador saber aproveitar informações, manuseá-las, ousar,
interrogar e lapidar, trazendo à tona tudo que considerar importante para resolver sua
problemática de pesquisa. Le Goff (1994, p. 107) deixa claro que a matéria-prima para a
escrita da história deve ser os documentos escritos, mas se estes não existirem, a escrita pode
também ser feita “com tudo que a engenhosidade do historiador permite utilizar”.
Desta forma, este trabalho se baseia em ampla pesquisa bibliográfica e
documental. Segundo Chizzotti (1995, p.11), “a pesquisa investiga o mundo em que o homem
vive e o próprio homem”. Contudo, a pesquisa só existe com o apoio de procedimentos
metodológicos adequados, que permitam a aproximação ao objeto de estudo.
A pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2002, p.44), “[...] é desenvolvida com base
em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL,
2002, p. 44). A principal vantagem da pesquisa bibliográfica está no fato de permitir ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que
poderia pesquisar diretamente. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que
já se produziu e se registrou a respeito do tema de pesquisa. Tais vantagens revelam o
compromisso da qualidade da pesquisa.
Por sua vez, a pesquisa documental constituiu-se num “verdadeiro garimpo de
fontes” por se encontrarem muito dispersas. Acessar essa documentação, ler, classificar e
selecionar exige muito esforço. Mas, de acordo com Gil (2002, p.62-3), a pesquisa
documental apresenta algumas vantagens por ser “fonte rica e estável de dados”: não implica
altos custos e possibilita uma leitura aprofundada das fontes.
Para efetuar uma aproximação ao nível do desenvolvimento local realizou-se uma
abordagem objetiva por meio de informações disponíveis sob a forma de indicadores. A base
operacional/metodológica está fundamentada em levantamentos de dados secundários obtidos junto ao
IBGE, PNUD, SEPLAN/SEPIN/Gerência de Estatísticas Socioeconômicas, Central de Consultoria e
Negócios (CNN) do SEBRAE-GO, ESTADO DE GOIÁS, IPHAN, IPT/CEMPRE, Ministério do
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Turismo, Secretaria de Estado da Fazenda, Portal da Cidade de Goiás, SEGPLAN, Relação Anual de
Informações Sociais – (RAIS) e outros. Portanto, para produzir uma cartografia da criminalidade
foram consultadas bibliografias e documentos variados como jornais, cartas, dossiês, artigos e
outros, além, é claro, dos boletins de ocorrência levantados junto ao 6° Batalhão de Polícia
Militar.
A utilização dos dados secundários fez-se necessária para se ter um quadro atual e
recente da economia do município, uma espécie de raio-x que permitisse identificar os
principais setores de atividade não apenas em termos estáticos, mas também em termos
dinâmicos (levando-se em consideração sua evolução).
3 – RESULTADOS ALCANÇADOS
Aspectos socioeconômicos como desigualdades de renda, baixa educação formal e
a falta de estrutura familiar, são fatores que influenciam na criminalidade. Portanto, espera
demonstrar que uma parcela significativa dos crimes em Goiás-GO pode estar relacionada ao
desenvolvimento socioeconômico do município, seja por motivação principal, seja pelo fato
de haver uma forte relação entre baixos rendimentos e condições precárias de subsistência,
não permitindo ao indivíduo melhores oportunidades de desenvolvimento pessoal e
profissional, optando, muitas vezes, por incorrer em atividades ilícitas como meio de sustento.
De acordo com Carneiro (2005), na memória coletiva, o fato de Goiás ter se
tornado Patrimônio da Humanidade gerou sentimentos diferentes nos vilaboenses. Assim,
percebe-se que o título “fez bem para autoestima” da elite, entendidos como “os mais
ressentidos com a transferência da capital” enquanto os menos favorecidos “não sentem
orgulho”, mas, pelo contrário, “sentem o peso de viver numa cidade turística mundialmente
reconhecida” (CARNEIRO, 2005, p. 96).
Depois de 4 anos que Goiás adquiriu o título de Patrimônio da Humanidade, o que
se vê, o que se fala e que se ouve dos moradores da cidade é que pouco mudou na
realidade. Não houve aumento na oferta de emprego e trabalho, os jovens precisam
mudar da cidade para trabalhar. Outros saem da cidade para estudar em outros
centros, já que os cursos oferecidos nas Faculdades locais são poucos. Os turistas
diminuíram consideravelmente e os que visitam Goiás não consomem o suficiente
para corresponder às expectativas do comerciante, além de ter havido desvalorização
dos imóveis (CARNEIRO, 2005, p. 98 – Grifo nosso)
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Para conhecer e analisar o setor de turismo em Goiás-GO, o Plano Estadual de
Turismo (PET) foi considerado fundamental. O PET foi elaborado pela Agência Estadual de
Turismo – Goiás Turismo, órgão do Governo de Goiás, para o fortalecimento e crescimento
do turismo no Estado de Goiás, buscando intensificar sua contribuição para a geração de
renda, ampliação do mercado de trabalho e valorização cultural, natural e técnico cientifico. O
trabalho desenvolvido pela Goiás Turismo aponta na direção do desenvolvimento humano e
econômico. (ESTADO DE GOIÁS, 2007).
Desde então, estão sendo emitidos boletins informativos com o objetivo de
delinear uma evolução e tendências do comportamento da economia do turismo no Estado de
Goiás. Para tanto, a Política Estadual de Turismo utiliza-se de uma série de critérios2 para
classificar os destinos turísticos nas três categorias de destinos prioritários (Diamante,
Esmeralda e Cristal). Seguindo essa metodologia, o IPTur Goiás divulgou a classificação dos
vinte e seis destinos mais importantes do Estado de Goiás (Destino Diamante). De acordo
com a tabela de classificação, o município de Goiânia-GO seria o melhor estruturado,
ocupando o primeiro lugar no ranking com 403 pontos. O município de Goiás-GO encontra-se
bem classificado, aparecendo em nono lugar na classificação geral com 77 pontos (BOLETIM
DADOS DO TURISMO EM GOIÁS. EDIÇÃO Nº 02 / 2010 - IPTUR / GOIÁS).
É importante para Goiás-GO figurar entre os principais destinos turísticos do
Estado de Goiás e ainda apresentar bom desempenho em relação aos critérios estruturantes,
conforme os resultados da pesquisa apresentados anteriormente, mas será que as atividades
turísticas conseguiram transformar a realidade local e promover o desenvolvimento local?
No caso do município de Goiás-GO, os impactos podem ser mais bem
visualizados conforme a Relação Anual de Informações Sociais – RAIS referentes à
participação do turismo na geração de empregos e estabelecimentos formais nas Atividades
Características do Turismo. Entretanto, os dados são pouco animadores. Os resultados da
pesquisa revelam crescimento negativo no período analisado, entre 2006 e 2011, tanto em
relação ao número de empregos formais (-27%) quanto em relação o número de
estabelecimentos (-16%) relacionados com as Atividades Características do Turismo (ACTs).
2 Foram selecionados dez critérios de estruturação de destino turístico. Entre eles destacam-se: 1) Conselho
Municipal de Turismo – COMTUR; 2) Fundo Municipal de Turismo – FUMTUR; 3) Participação em instância
de governança regional – Fórum Regional de Turismo; 4) Instituto de Pesquisas Turísticas – IPTur; 5) Boletim
de Ocupação Hoteleira – BOH; 6) Plano Municipal de Turismo (PMT) validado pelo COMTUR; 7) Número de
leitos disponíveis no município; 8) Centro de Atendimento ao Turista – CAT; 9) Cadastro dos Prestadores de
Serviços Turísticos – CADASTUR; 10) Sustentabilidade Turística.
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Portanto, o impacto do turismo em Goiás-GO não tem conseguido transformar a realidade
local (RAIS, 2011).
Além disso, o número de turistas vem diminuindo o que tem dificultado a criação
de novos postos de trabalho, a ampliação, melhoria ou criação de novos estabelecimentos
comerciais. Para verificar se o número de turistas realmente tem diminuído consultou-se os
registros de visitantes do Museu Casa de Cora Coralina, um dos pontos turísticos mais
importantes do município. Os dados apresentados revelam que em 2010 foram registrados
20.425 visitantes. O maior índice de todo o período analisado. Este número indica uma média
mensal de 1702 visitantes e uma média diária de, aproximadamente, 56,7 visitantes. Contudo,
há certa irregularidade no período analisado e os dados mostram que em 2011 houve um
declínio no número de visitantes. Em comparação ao ano de 2010, o número de visitantes caiu
14% e, em 2009, 13%. A média do número de visitantes nos anos de 2007 e 2011 foi de
18.282 pessoas (MUSEU CASA DE CORA CORALINA, 2012).
Atualmente, há vários problemas em Goiás-GO que colocam em dúvida a
capacidade de gestão territorial e não podem deixar de ser analisados. Nesse sentido, as
pesquisas de campo revelaram também que embora menos intenso que nas décadas de 1970 e
1980, o chamado êxodo rural e urbano ainda é um grave problema. A migração para outras
cidades – principalmente Goiânia-GO e Itaberaí-GO – é notória e atinge principalmente
jovens e mulheres, que não encontram trabalho ou outros estímulos para permanecer em
Goiás-GO e alimentam perspectivas de dias melhores.
Conforme dados levantados junto ao IBGE (2010), no período compreendido
entre 1990 e 2010 foi possível perceber o decrescimento populacional de Goiás-GO em
relação ao município vizinho de Itaberaí-GO. Em 1990, a população de Itaberaí-GO (24.852
habitantes) era menor que a de Goiás-GO (27.782 habitantes). Nos dez anos seguintes,
Itaberaí-GO (27.879 habitantes) apresentou um índice populacional praticamente igual a
Goiás-GO (27.120). Mas, a partir dos anos 2000 até 2010, Itaberaí-GO (35.412 habitantes)
ultrapassa Goiás-GO (24.745 habitantes). Enfim, de 1990 a 2010, em 20 anos Goiás-GO
perdeu aproximadamente 3.037 habitantes enquanto o município vizinho de Itaberaí-GO
obteve um acréscimo populacional de aproximadamente 10.560 habitantes. Como resultado
do maior crescimento econômico e da proximidade3 entre os municípios, Itaberaí-GO tem
3 A distância entre Goiás-GO e Itaberaí é de aproximadamente 41,9 km. O tempo médio de condução é de
40min. Ver: http://distanciacidades.com/. Acesso em 13 de setembro de 2013.
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atraído grande parte da população ativa de Goiás-GO e acelerando o seu decrescimento
populacional.
Outro indicador importante para se avaliar o desenvolvimento e a qualidade de
vida em Goiás-GO é o índice de desenvolvimento humano (IDH). Assim, observa-se que após
o processo de patrimonialização ocorreu diminuição neste indicador passando de 0,736 (2000)
para 0,709 (2010). Assim, a qualidade de vida em Goiás-GO tendeu a piorar após a
patrimonialização do município.
Contudo, mesmo diante de um quadro socioeconômico tão desfavorável,
conforme apresentado anteriormente, foi possível verificar que os índices de criminalidade em
Goiás-GO, quando comparados com outros municípios da região, situam-se em conformidade
com os indicadores da ONU e do Estado de Goiás, com exceção do furto a pessoas que está
um pouco acima da média (Cf. Tabela 01).
Tabela 01: Criminalidade por Cidade/Natureza 2006
OPM Cidade População Efetivo
Homicidio Estupro F. Pessoa R. Resid.
17,38 4,95 28,36 21,08
Indice Oc. Ind. Oc. Ind. Oc. Ind. Oc. Ind.
Diversos Goiânia 1.201.006 385 204 16,99 43 3,58 863 71,85643 359 29,8916
8º/16ª/25ª Ap. Goiânia 435.323 1041 120 27,57 34 7,81 37 8,499436 90 20,6743
6º BPM
Goiás 26.705 195 3 11,23 0 0 9 33,70155 0 0
Araguapaz 7.271 909 1 13,75 0 0 3 41,2598 0 0
Aruanã 5.212 521 1 19,19 0 0 4 76,74597 0 0
Faina 7.053 882 0 0 1 14,18 1 14,17836 0 0
Guaraíta 2.835 284 0 0 0 0 0 0 0 0
Heitorai 3.711 337 1 26,95 1 26,95 13 350,3099 0 0
Itaberaí 29.775 1027 2 6,717 0 0 20 67,17045 4 13,4341
Itaguari 4.573 572 1 21,87 0 0 0 0 2 43,735
Itaguaru 5.224 522 1 19,14 0 0 1 19,14242 1 19,1424
Itapuranga 25.646 712 2 7,798 2 7,798 2 7,798487 2 7,79849
Matrinchã 4.928 448 1 20,29 1 20,29 1 20,29221 0 0
Mozarlândia 11.880 699 1 8,418 2 16,84 11 92,59259 0 0
Nova Crixás 11.035 920 4 36,25 0 0 27 244,676 0 0
Taquaral 3.285 299 0 0 0 0 0 0 1 30,4414 Fonte: ESTADO DE GOIÁS, Assessoria de Planejamento – PM/3
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Com o objetivo de compreender a situação de forma mais dinâmica, foram
analisados os boletins de ocorrência referentes ao mês de junho4 no período compreendido
entre 2001 e 2010. De forma geral, os resultados da pesquisa indicaram grande variação. Por
exemplo, em junho de 2002 registraram-se 111 ocorrências, a menor quantidade de todo
período. Em contrapartida, em junho de 2010 foram registradas 235 ocorrências
correspondendo a um aumento de aproximadamente 111,7% no índice de criminalidade (Cf.
Gráfico 01).
Fonte: 6° BPM, 2010
4 A escolha do mês de junho se justifica porque é quando ocorre o Festival Internacional de Cinema e Vídeo
Ambiental (FICA) na cidade de Goiás. Esse festival nasceu ainda em 1998, com a ideia de ampliar as ligações da
cidade com o mundo inteiro, e sua primeira edição ocorreu em 1999, e foi realizada em Goiás-GO entre os dias
02 e 06 de junho, durante a Semana do Meio Ambiente. Sua promoção foi realizada pelo Governo do Estado de
Goiás através da FUNAPEL/FEMAGO/SANEAGO/CELG. Neste momento, o município recebe turistas do
mundo inteiro e, por conta disso, os índices de criminalidade tendem a aumentar.
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4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme demonstrado anteriormente, alguns estudos apontam que, ao
resolverem-se problemas de natureza socioeconômica, resolver-se-ia também grande parte do
problema da criminalidade. Porém, a situação socioeconômica do município de Goiás-GO não
tem colabora para esta premissa.
Portanto, se acredita que há outras variáveis e que não só os do contexto
socioeconômico aqui testado têm determinando a criminalidade como um todo. Então, caberia
perguntar: Que outras variáveis poderiam explicar? Algumas hipóteses são levantadas: 1) que
a prática de crimes seja encarada como uma atividade da economia como qualquer outra, ou
seja, os indivíduos tornam-se criminosos porque o custo/benefício é compensador (exemplo
seria o tráfico de drogas); 2) a falta de confiança nas instituições, ou seja, o alto nível de
reprovação ou alta sensação da falta de eficácia/eficiência com relação à Polícia e à Justiça
gera maior sensação de impunidade e maior incentivo à entrada no crime, entre outras.
Enfim, está aberta a agenda de pesquisa para os determinantes da criminalidade no
município de Goiás-GO. A pesquisa ainda encontra-se em sua fase inicial. Além dos dados
quantitativos, é imprescindível realizar uma pesquisa qualitativa para melhor compreensão do
objeto de pesquisa em questão. Eis o grande desafio.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ARAÚJO JR., A. F.; FAJNZYLBER, P. Violência e criminalidade. Cedeplar/UFMG, out.
2001b (Texto para Discussão, n. 167).
12
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