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RESGATE DA CULINÁRIA DO CERRADO COMO ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO
PAULA, Márcia Maria de1. FIMES; SEAGRO; ASETI.PAULA, Mírian Maria de2. ASETI; UEG: UFG.
RESUMOA flora do Cerrado é extremamente rica em espécies comestíveis, medicinais, ornamentais. Com o avanço das fronteiras agrícolas, muitas espécies desse bioma estão desaparecendo, cedendo seu habitat para plantas exógenas, cuja adaptação exige altos custos econômicos e ecológicos. A urgência de ações de conservação da biodiversidade e a valorização do resgate cultural dos povos do Cerrado, contribuiu para que, em 26 de outubro de 2005, a Superintendência de Água e Esgotos (SAE), lançasse o “Projeto Escolas do Cerrado”, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e a idealizadora do mesmo, a Associação Ecológica Tijuco (ASETI), no município de Ituiutaba-MG. No ano de 2006, o Projeto foi também implantado no município de Mineiros-GO. Situado na região core dos Cerrados, o município de Mineiros, possui uma rica biodiversidade nas suas áreas remanescentes e ainda se encontra em localização estratégica, como região divisora de grandes bacias hidrográficas do continente sul americano. Observa-se que o Cerrado é pouco valorizado, e devido às suas condições naturais, a cada ano, sua área vem perdendo espaço para as atividades agroindustriais. Aliado a isso, com a maioria da população vivendo nas cidades, o pouco conhecimento das comunidades tradicionais que ainda restam sobre a utilização dos recursos do Cerrado deve ser resgatado, e a promoção da valorização do referido bioma deve ser urgente. O Projeto “ESCOLAS DO CERRADO – MINEIROS-GO” teve como proposta envolver as Escolas Rurais do município numa série de ações de Educação Ambiental que promoveram a discussão da necessidade de preservar os remanescentes de vegetação do Cerrado existentes na região. O projeto atuou em 07, das 11 escolas municipais rurais do município, com a proposta de pensar o Cerrado como um ambiente de grande riqueza natural.Palavras Chaves: Resgate Cultural; Cerrado; Escolas Rurais
1 – INTRODUÇÃO
1.1 – Panorama do Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado apenas pela Floresta
Amazônica. Representando um quarto do território brasileiro, possui, aproximadamente,
200 milhões de hectares. Aliada à sua posição central, compartilha espécies da flora com
outros biomas, e ainda com trechos das principais bacias hidrográficas do continente sul
1 Agrônoma. Analista de Desenvolvimento Rural da SEAGRO/U.L. Mineiros. Professora da FIMES/Mineiros. Membro da ASETI/Ituiutaba-MG. E-mail: má[email protected] Geógrafa. Professora da Universidade Estadual de Goiás – UEG/Quirinópolis. Diretora Administrativa daASETI/Ituiutaba-MG. Mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás – UFG/Jataí. E-mail: [email protected]
americano, concentra cerca de um terço da biodiversidade nacional e 5% da flora e fauna
mundial.
Nas últimas décadas, o Cerrado tem sido visto como uma alternativa ao
desmatamento na Amazônia. Santos (1994), afirma que o desenvolvimento da humanidade
está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de
se apropriar dos recursos naturais e transformá-los. Nesse sentido, observa-se que o
processo de ocupação do bioma Cerrado chegou a tal ponto que, segundo dados da
Conservation International – CI (1999), a ocupação humana e a construção de estradas
fizeram com que a massa contínua de área com biota natural se transformasse numa
paisagem cada vez mais fragmentada, composta por ilhas inseridas numa matriz de
agroecossistemas.
Apesar da sua importância ambiental, o Cerrado é pouco valorizado. Sendo, os
costumes, a tradição a forma de manutenção dos povos, a cultura é uma preocupação
contemporânea, bem viva nos tempos atuais (SANTOS, 1994). De acordo com essa
concepção, observa-se que as comunidades que vivem neste Bioma não valorizam a sua
importância, e o conhecimento que ainda resta nas comunidades tradicionais, têm-se
perdido ao longo do tempo. Aliado a isso, o conhecimento da biodiversidade do Cerrado
deve ser resgatado e a promoção da valorização desse bioma deve ser urgente.
1.2 – Histórico (Fonte: Memória)
A Associação Ecológica Tijuco – ASETI, foi idealizada e começou a atuar em 1996,
inicialmente designada Fundação Ecológica Tijuco. Foi constituída legalmente em 20 de
março de 1998. É uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com sede no
município de Ituiutaba-MG.
No dia 20 de março de 1998, reunidos no auditório do edifício do Instituto Superior de
Ensino e Pesquisa de Ituiutaba – ISEPI, foi aprovado o Estatuto da Fundação Ecológica
Tijuco, tendo como seu primeiro presidente o Engenheiro Agrônomo, Professor José
Paula de Castro (In Memorian), idealizador e fundador. Um sonhador que vislumbrava um
futuro melhor para todos os homens a partir de um meio ambiente justo e equilibrado.
Enfatizava que os povos deveriam conhecer, entender e preservar, para nós e para as
gerações futuras, este belo patrimônio da natureza, o CERRADO.
No dia 10 de outubro de 2001 foi realizada uma Assembléia Extraordinária para
alteração do Estatuto da Fundação Ecológica Tijuco, que a partir de então constituiu-se
em Associação Ecológica Tijuco.
A Associação Ecológica Tijuco – ASETI, é uma organização não governamental que
tem como finalidade a preservação, conservação e defesa do Meio Ambiente, considerando
os componentes bióticos e abióticos, realizando ações de educação ambiental visando
garantir a continuidade e sustentabilidade do Bioma Cerrado, difundindo conhecimentos
ligados à culinária do Cerrado visando ampliar a percepção dos povos que nele habitam do
potencial econômico, alimentício e terapêutico de suas espécies.
Com finalidade lutar pela criação e afirmação de uma consciência ecológica em todos
os segmentos da sociedade, evidenciando a importância e necessidade de preservação,
conservação e restauração dos componentes abióticos e bióticos para a perpetuidade de
todas as formas de vida do universo, foi certificada pela Secretaria Nacional de Justiça
como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, em maio de 2003.
O Estatuto Social da ASETI (modificado em 2008), Capítulo II, dos Objetivos,
assegura:
Art. 3º - A Associação Ecológica Tijuco tem por finalidade lutar pela criação e afirmação de uma consciência ecológica em todos os segmentos da sociedade, evidenciando a importância e necessidade de preservação, conservação e restauração dos componentes abióticos e bióticos para a perpetuidade de todas as formas de vida do universo.Art. 4º - Para a consecução dos seus objetivos a Associação, através de sua estrutura orgânica, se propõe:a)- Promover ações de aprimoramento da vida urbana e rural, buscando harmonizar as relações humanas com a natureza.
Diante disso, em 26 de outubro de 2005, a SAE lançou o Projeto Escolas do Cerrado,
em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Associação Ecológica Tijuco (ASETI)
a idealizadora do projeto, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de
Minas Gerais (EMATER) e Instituto Estadual de Florestas (IEF). O projeto foi desenvolvido
junto às quatro escolas rurais do município de Ituiutaba-MG, Escola Municipal Agrícola,
Escola Municipal Bernardo José Franco, Escola Municipal José da Silva Ramos e Escola
Municipal Quirino de Morais, com o objetivo de despertar a consciência crítica das pessoas
sobre a problemática ambiental, além de restaurar a percepção da importância de estar
dentro do bioma Cerrado, o segundo maior bioma em diversidade de espécies.
A SAE manteve o Projeto Escolas do Cerrado, do município de Ituiutaba-MG,
até o ano de 2008. A Escola Municipal Agrícola finalizou as atividades do projeto
com a presença de seus membros, gestores, docentes, discentes e dos familiares
do Profº José Paula (In Memorian), prestando-lhe uma honrosa homenagem.
1.3 – O “Projeto Escolas do Cerrado” – Mineiros-GO
O Projeto “ESCOLAS DO CERRADO – MINEIROS-GO”, foi implantado, tendo como
referência uma iniciativa na cidade de Ituiutaba-MG. A implantação do Projeto pautou-se no
objetivo de promover ações de Educação Ambiental, com intuito de tornar as Escolas
Rurais do município de Mineiros-GO, centros de difusão de conhecimentos para a
preservação, conservação e utilização sustentável dos recursos naturais do Cerrado,
visando a melhoria da qualidade de vida nas comunidades rurais. Teve como proposta,
envolver as Escolas Rurais do município de Mineiros-GO numa série de ações que
promovessem a discussão baseada na necessidade de preservar os remanescentes de
vegetação de Cerrado existentes na região.
O município de Mineiros-GO, localizado na zona do Alto Araguaia, à 420 km da capital,
Goiânia. O clima é Tropical, com duas estações bem definidas: uma seca e outra chuvosa; a
temperatura anual média deste município é de 22º (dados coletados pelos Monges
Beneditinos de Mineiros). Foi colonizado a partir de 1870 por famílias mineiras que vieram
atrás de diamante. Posteriormente, houve grande fluxo de nordestinos.
A vocação econômica do município está diretamente ligada à atividade agropecuária.
Primeiramente com a pecuária extensiva e, posteriormente, a partir de 1970, com a chegada
dos sulistas (gaúchos, paranaenses e catarinenses), iniciou-se o desenvolvimento da
agricultura de grande escala, mudando o panorama da região (SILVA, 1991).
Na região, encontra-se o Parque Nacional das Emas, maior área contínua de Cerrado
preservado do Brasil, que abriga os famosos cupinzeiros e suas larvas da bioluminescência,
o qual recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2001
(IBAMA/CEBRAC, 2004).
A região assume vasta importância no que diz respeito aos recursos hídricos, pois
possui uma grande quantidade de nascentes, além de ser considerada divisora de águas,
encontram-se nascentes de rios que drenam três grandes bacias hidrográficas do continente
Sul Americano: Bacia do Prata, Bacia Amazônica e Bacia do Paraguai (FUNDAÇÃO EMAS,
1998). Lembrando também, que a região é considerada área de carga e recarga do Aqüífero
Guarani, o maior aqüífero subterrâneo da América do Sul (GOMES, 2000).
O Projeto Escolas do Cerrado, em Mineiros-GO, foi coordenado por um grupo com
formação multidisciplinar da Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário -
AGENCIARURAL, Secretaria Municipal de Educação, professores e acadêmicos da
Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior - FIMES.
A proposta do projeto pautou-se no desenvolvimento de uma série de ações, teórico
práticas, que objetivaram promover a educação ambiental nas Escolas Rurais de Mineiros
para a preservação, conservação e utilização sustentável dos recursos naturais do Cerrado.
Entre as ações destacam-se: a realização de oficinas de capacitação, visando discutir
questões relacionadas à caracterização do Cerrado; produção de mudas e gastronomia com
componentes da flora Cerrado e ainda, a destinação final de resíduos sólidos; a adequação
paisagística, nas Escolas Rurais, utilizando-se de espécies nativas do Cerrado; implantação
de hortas escolares e viveiros de mudas de caráter didático; e realização de mutirões e
encontros com as comunidades rurais.
O Projeto Escolas do Cerrado, já foi implantado em dois municípios (já mencionados),
Ituiutaba-MG e Mineiros-GO. Essa possibilidade pautou-se no fato de alguns dos membros
da ASETI residirem e desempenharem suas funções profissionais em tais municípios.
Porém, os métodos e resultados a serem apresentados a seguir, amparam-se no Projeto
que foi realizado na cidade de Mineiros-GO.
2 - MATERIAL E MÉTODOS
O Projeto “ESCOLAS DO CERRADO MINEIROS-GO”, teve como cenário as Escolas
Municipais Rurais de Mineiros-GO, (17°36’36” Lat Sul e 52°33’53” Long W, coordenadas
geográficas), região de planejamento do Sudoeste Goiano.
As ações do projeto tiveram início em fevereiro de 2006, com uma parceria
institucional da então AGENCIARURAL/Unidade Local de Mineiros, atualmente Secretaria
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás – SEAGRO/Unidade Mineiros,
Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior (FIMES) e Prefeitura Municipal de
Mineiros, através da Secretaria Municipal de Educação. No primeiro ano, desenvolveu suas
atividades em 04 Escolas Rurais, que foram: Farroupilha, Bela Vista, Antônio Messias e
Américo Caetano de Rezende. No ano de 2007, trabalhou com as Escolas Municipais
Rurais Salto-Jataí e Pinguela e, em 2008, o projeto foi implantado na Escola Municipal Rural
Corredeira. Ressaltando-se que as ações continuaram nas escolas que iniciaram o projeto
nos anos anteriores (figura 01).
Figura 01. Mapa de localização das Escolas Rurais de Mineiros-GO Fonte: Plano Diretor Democrático de Mineiros-GO, setembro de 2006
Como ações específicas, foram propostas: realização de oficinas de capacitação,
visando questões relacionadas à caracterização do Bioma Cerrado; destinação de resíduos
sólidos; produção de mudas e gastronomia do Cerrado; adequações no currículo das
escolas rurais, levando-se em consideração as características de cada região;
desenvolvimento de ações para coleta de sementes e frutos do Cerrado, visando a
identificação das espécies, produção de mudas (viveiros didáticos) e aproveitamento
alimentar; adequação paisagística nas Escolas Rurais, utilizando espécies nativas do
Cerrado e implantação de hortas escolares dentro do princípio da produção orgânica.
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produção final deste projeto foi a elaboração de um Calendário (2008), com
desenhos dos alunos das Escolas Rurais e receitas da culinária do Cerrado coletadas nas
comunidades rurais, durante as oficinas e os encontros (anexo).
O Projeto “ESCOLAS DO CERRADO MINEIROS-GO” teve como proposta, envolver
as Escolas Rurais do município de Mineiros-GO, numa série de ações que promovessem a
discussão no sentido da necessidade de preservar os remanescentes de vegetação de
Cerrado existentes na região
No que se refere às ações do ano de 2008, as figura 02, 03 e 04 apresentam uma
série de atividades realizadas com o envolvimento de toda a comunidade. As ações
constaram da realização de oficinas, encontros, mutirões, adequação dos pátios escolares,
reformas nos prédios, atividades didáticas com os alunos, entre outras (PAULA, et. al, 2007;
PAULA, et. al., 2008)
Figura 02 - Escola M. Rural Corredeira Fonte: PAULA, MÁRCIA Maria de. (2008)
Figuras 03 e 04 – Painéis didáticos e Proteção de nascentes - Escola M. Rural Salto-Jataí.Fonte: PAULA, Márcia Maria de. (2008)
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização do presente trabalho pôde-se observar a integração dos moradores
das comunidades rurais e com isso a preocupação na busca de melhorias estruturais e
pedagógicas para as escolas. Destacando-se ainda, que houve também o envolvimento dos
acadêmicos dos cursos de Pedagogia, Engenharia Florestal, Agronomia e Zootecnia da
FIMES, vivenciando as atividades práticas.
Com as ações realizadas, a escola passa ser um centro de disseminação de
conhecimentos do Bioma Cerrado, dando à educação um enfoque de serviço ao
desenvolvimento sustentável.
Conclui-se ainda, que a comunidade passa a ter um conhecimento maior da utilização
das espécies do Cerrado, como ornamentais, alimentícias e medicinais, despertando com
isso a necessidade de preservação dessas espécies, no sentido de resgate e manutenção
cultural.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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