reutilização de Águas residuárias

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Desenvolvimento sustentável, conservação de recursos hídricos, reuso de água, água pluvial, água cinza.

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  • http://dx.doi.org/10.5902/2236130812585

    Revista do Centro do Cincias Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria

    Revista Monografias Ambientais - REMOA

    e-ISSN 2236 1308 - V. 14, N. 2 (2014): Maro, p. 3164 - 3171

    Recebido em: 2014-01-14 Aceito em: 2014-02-19

    Reutilizao de guas residuriasReuse of waste water

    Nathlia Leal Carvalho1, Paulo Hentz2, Josemar Marques Silva3, Afonso Lopes Barcellos4

    1Doutoranda em Agronomia - Produo Vegetal UPF - UFSM - RS - Brasil.2Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Agronomia, UPF- Universidade de Passo Fundo - UPF - RS - Brasil.3mestrando do Programa de Ps-Graduao em Engenharia, Infraestrutura e Meio Ambiente, UPF- Universidade de

    Passo Fundo - UPF - RS - Brasil.4Acadmico do curso de Cincias Contbeis. Universidade do Norte do Paran - UNOPAR - PR - Brasil.

    Resumo

    Tendo em vista que a gua um recurso natural limitado e imprescindvel vida, questes sobre a conservao e preservao dos recursos

    hdricos tem sido o foco de estudos, por rgos conservacionistas que buscam alternativas para uma melhor utilizao dos recursos naturais.

    As tecnologias de aproveitamento de gua so solues sustentveis e contribuem para uso racional da gua, proporcionando a conservao

    dos recursos hdricos para as futuras geraes. O aumento contnuo da populao mundial responsvel pela crescente escassez de gua

    natural, bem como a disposio inadequada de efluentes lquidos, a heterogeneidade na distribuio de gua e falta de cuidado na sua uti-

    lizao. Portanto, urgente implementar o uso racional da gua e a preservao das fontes de gua, abrangendo os mecanismos, tais como

    polticas efetivas para os recursos hdricos e seu uso adequado adoo obrigatria do uso da gua adequada, tratamento de esgoto domstico

    e industrial, e prticas de reutilizao. O estudo apresenta um levantamento sobre a conceituao de reuso de gua, faz uma anlise desta

    prtica, e descreve algumas tecnologias de sistemas de tratamento que propiciam a recirculao do efluente, citando suas etapas, processos

    utilizados, vantagens e desvantagens.

    Palavras-chave: Desenvolvimento sustentvel, conservao de recursos hdricos, reuso de gua, gua pluvial, gua cinza.

    Abstract

    Given that water is a limited natural resource essential to life, questions about the conservation and preservation of water resources has

    been the focus of studies by bodies which conservationists seek alternatives for better use of natural resources. The technologies use water

    solutions are sustainable and contribute to the rational use of water, providing the conservation of water resources for future generations.

    The continuous increase of the world population is responsible for the increasing scarcity of natural water and the improper disposal of

    wastewater, the heterogeneity in the distribution of water and lack of care in its use. Therefore, it is urgent to implement the water conserva-

    tion and preservation of water sources, including mechanisms such as effective policies for water resources and their proper use mandatory

    adoption of water use adequate treatment of domestic and industrial sewage, and practices reuse. The study presents a survey on the concept

    of water reuse, an analysis of this practice, and describes some technologies for treatment systems that allow the recirculation of the

    effluent, citing its stages, the processes used, advantages and disadvantages.

    Keywords: Sustainable development, water conservation, water reuse, rainwater, greywater.

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    1. INTRODUO

    A gua um dos quatro elementos que compe o planeta, tendo elevadssimo grau de importncia para a sobrevivncia do homem e de toda a natureza. Entretanto, diariamente, milhares de pessoas consomem gua de forma indevida e milhares de fbricas consomem enormes quantida-des de gua, que muitas vezes no so reutilizadas no processo industrial.

    A reutilizao ou reuso de gua ou ainda em outra forma de expresso, o uso de guas residurias, no um conceito novo e tem sido praticado em todo o mundo h muitos anos. H relatos de sua prtica na Grcia Antiga, com a disposio de esgotos e sua utilizao na irriga-o. Contudo, a demanda crescente por gua tem feito do reuso planejado da gua um tema atual e de grande importncia (SANTOS, 1993). Neste sentido, deve-se considerar o reuso de gua como parte de uma atividade mais abrangente que o uso racional ou eficiente da gua, o qual compre-ende tambm o controle de perdas e desperdcios, e a minimizao da produo de resduos e do consumo de gua (BRASIL, 2007).

    O reuso da gua reduz a demanda sobre os mananciais de gua devido substituio da gua potvel por uma gua de qualidade inferior (BRASIL, 2005). Esta prtica, atualmente muito discutida e posta em evidncia e j utilizada em alguns pases baseada no conceito de substituio de mananciais. Tal substituio possvel em fun-o da qualidade requerida para um uso especfico. Desta forma, grandes volumes de gua potvel podem ser poupados pelo reuso quando se utiliza gua de qualidade inferior (geralmente efluentes ps-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir de gua dentro dos padres de potabilidade (BENASSI, 2007).

    O elevado desenvolvimento demogrfico, associado s transformaes econmicas, reflete-se notavelmente, no uso dos recursos hdricos, principalmente no que se refere qualidade e quantidade das guas superficiais e subterrneas (RAMOS, 2000).

    Os esgotos urbanos e os efluentes industriais e comerciais sem prvio tratamento so os grandes responsveis pela poluio dos meios hdricos. Algumas atividades utilizam grandes quantidades de gua e geram efluentes potencialmente polui-dores (DORIGON e TESSARO, 2010).

    A reciclagem desses efluentes j realidade em alguns pases, como Estados Unidos, Japo e alguns pases da Europa, os quais possuem

    legislao especfica para o desenvolvimento da atividade e obrigaes de implantao de sistemas de tratamento e recirculao da gua utilizada (MORELLI, 2005). Contudo, no Brasil, essa ati-vidade ainda no regulamentada por lei, ocasio-nando, dessa forma, impactos aos meios hdricos (BRASIL, 2005).

    Com o problema da carncia hdrica no planeta, tornou-se fundamental reduzir o seu con-sumo, utiliz-la racionalmente e priorizar formas sustentveis. de suma importncia gerenciar os recursos hdricos utilizados, para que estes atendam s demandas, sem causar danos sade ambiental (DORIGON e TESSARO, 2010).

    Portanto, o objetivo desta pesquisa foi fazer uma reflexo sobre a conceituao de reuso de gua, analisar esta prtica e descrever algumas tecnologias de sistemas de tratamento que propi-ciam a recirculao do efluente, citando suas etapas, processos utilizados, vantagens e desvantagens.

    2. TECNOLOGIAS PARA REUTILIZAO DE GUAS RESIDURIAS

    2.1 Porque reutilizar a gua?A gua usada de maneira inconsequente

    todos os dias. Seja o exagero de minutos no banho, os vrios enxgues da mquina de lavar roupas, a torneira corrente na hora de lavar a loua e os legumes (RAMOS, 2000). Da mesma forma a indstria brasileira gera gua altamente poluda nos processos de produo, sem demonstrar pre-ocupao com os recursos hdricos. A questo : por qu no aproveitar essa gua?

    Questo que j faz parte do dia-a-dia de muitos cidados, que utilizam a gua resultante da mquina de lavar para lavar caladas, banheiro e outras dependncias da casa. A indstria, tambm est despertando para a reutilizao. A principal vantagem a economia que pode chegar at 70% do gasto com gua.

    E quem ganha com isso? Alm do meio ambiente e, consequentemente, a prpria popu-lao, as empresas, que reduzem muito os seus gastos. Numa das empresas pesquisadas, o custo da gua para lavagem de um nibus cai de R$ 2,43 para R$ 0,54. Alm disso, os resduos retirados pela filtragem podem ser revendidos e reciclados. Para implantar o sistema h um custo que varia de acordo com as dimenses do local e da qualidade que se deseja no tratamento da gua. Mas esse custo parece realmente valer a pena j que o retorno, em economia, rpido (MORELLI, 2005).

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    O cenrio demonstrado pela Agncia Nacional de guas (ANA, 2012) aponta que o setor urbano responsvel por 26% do consumo de toda gua bruta do pas e a construo civil responsvel por 16% de toda a gua potvel. O uso deste recurso no se restringe ao perodo de construo do empreendimento; em um edifcio residencial convencional os sanitrios consomem aproximadamente 70% de toda a gua utilizada, encarecendo os custos do condomnio.

    De acordo com o CBCS (2012), o uso adequado de fontes alternativas de gua em subs-tituio gua potvel pode ajudar a reduzir esse valor em 30% a 40%, colaborando para a mitigao dos impactos causados pela construo civil ao meio ambiente.

    Reusar a gua tambm oferece benefcios porque reduz a demanda nas guas de superfcie e subterrneas, alm de proteger o meio ambiente, economizar energia, reduzir investimentos em infraestrutura e proporcionar melhoria dos proces-sos industriais. Portanto, o uso eficiente da gua representa uma efetiva economia para consumi-dores, empresas e a sociedade de um modo geral (SANTOS, 1993).

    Um dos pilares do uso eficiente da gua o combate incessante s perdas e aos desper-dcios, no caso do Brasil a mdia de perdas nos sistemas de abastecimento de 40%. Um sistema de abastecimento de gua potvel no deve ter como objetivo principal tratar gua para irrigao ou para servir como descarga para banheiros ou outros usos menos nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo reuso ou por gua reciclada (MORELLI, 2005).

    2.2 Fontes alternativas de guasSempre que se fala em recursos hdricos, a

    primeira coisa que vem mente das pessoas so os rios, crregos e lagos, as chamadas guas super-ficiais. Mas a escassez do produto est mudando essa viso. Hoje, em vrios pases, a gua se dividida em quatro fontes principais: a superficial, as subterrneas, a de chuva e o reuso.

    De acordo com a norma brasileira para cap-tao de gua de chuva (ABNT NBR 15527:2007), em vigor desde setembro de 2007, essa uma nova realidade, uma mudana de mentalidade, que ganha cada vez mais fora, principalmente no continente europeu e no norte da Amrica. Essas quatro fontes so hoje o novo paradigma da gua para o sculo 21, esse o caminho que vrias regies brasileiras tero que adotar em curto prazo (TOMAZ, 2005).

    Embora o Brasil seja o primeiro pas em dis-ponibilidade hdrica em rios do mundo, a poluio e o uso inadequados comprometem esse recurso em vrias regies. Os problemas de abastecimento esto diretamente relacionados ao crescimento da demanda, ao desperdcio e urbanizao des-controlada.

    O uso de fontes alternativas e de estratgias de uso racional de gua em edificaes uma forma de amenizar os problemas de disponibilidade de gua potvel e diminuir a sua demanda. Dentre estas estratgias pode-se citar o aproveitamento de gua pluvial, o reuso de guas cinzas e a instalao de componentes economizadores de gua (ABNT NBR 15527:2007).

    O aproveitamento de gua pluvial uma prtica milenar, empregada no mundo todo. Essa tcnica tem se difundido e se consolidado como uma forma de mitigar os diversos problemas ambientais causados pelo aumento da demanda de gua, pela falta de medidas de controle da poluio e de gesto ambiental em reas urbanas e rurais (BARROS, 2000).

    A gua da chuva para fins no potveis em reas urbanas pode ser um fator importante para o uso racional deste importante lquido para as concessionrias pblicas, pois um contrassenso usar gua potvel, inclusive com flor, para tal finalidade. Estudiosos no assunto indicam que podemos economizar 15% do servio de abasteci-mento pblico de gua com o reaproveitamento da chuva para uso residencial e comercial (TOMAZ, 2005).

    A histria do mundo mostra que as antigas civilizaes realizavam a captao da gua da chuva. Muitas indstrias, shoppings, supermer-cados e prdios j esto usando a gua de chuva para fins no potveis. Cidades como Curitiba, So Paulo, Santo Andr, Recife e Foz do Iguau j possuem leis a respeito. Por isso se faz neces-srio no atual momento a disseminao do uso racional da gua, sobretudo, a utilizao da gua da chuva que pode ser to aproveitada por todos ns (BRASIL,2012).

    O reuso de guas cinzas consiste na reutili-zao, aps tratamento adequado, das guas cinzas compostas por efluentes provenientes de tanques, banheiras, chuveiros, lavatrios e mquinas de lavar roupas. A utilizao das guas cinzas trata-das para usos com finalidades no potveis uma alternativa promissora, e que deve ser desenvolvida e incentivada (ABNT NBR 15527:2007). Mais recentemente, essa prtica passou a ser utilizada para fins menos nobres, como o abastecimento

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    das caixas de bacias sanitrias, lavagem de pisos, irrigao de jardins, entre outras.

    Os componentes economizadores, tambm conhecidos como equipamentos ou dispositivos economizadores de gua, tm como objetivo con-tribuir para a reduo do consumo de gua (ABNT NBR 15527:2007). Alguns independem da ao do usurio ou da mudana de seu comportamento, enquanto outros facilitam a diminuio do con-sumo, mas todos estes componentes devem manter o conforto do usurio e a segurana sanitria das instalaes. Os principais componentes economi-zadores so os arejadores, os pulverizadores e os prolongadores, usados em torneiras. Em chuveiros utilizam-se registros reguladores de vazo e em vasos sanitrios, adotam-se vlvulas de descarga com acionamento seletivo (TOMAZ, 2005).

    Alm disso, o desenvolvimento dessas estra-tgias para reduzir o consumo de gua em edifica-es est vinculado caracterizao dos usos finais de gua. A partir deste conhecimento possvel avaliar os principais componentes responsveis pelo uso da gua e priorizar o desenvolvimento de tecnologias para se gerar uma maior economia efetiva (TOMAZ, 2005).

    2.3 Aplicaes de guas de residurias De acordo com a CETESB (2012), pode-

    se explicar que esse processo ocorre por meio de reutilizao direta ou indireta, decorrente de aes planejadas ou no, assim as formas de usos de guas residurias so:

    - Reuso indireto no-planejado da gua: Acon-tece quando a gua utilizada descarregada no meio ambiente e novamente aproveitada, em sua forma diluda, de maneira no intencional e no

    controlada.- Reuso indireto planejado da gua: Processo

    que descarrega os efluentes de forma planejada nos corpos de guas superficiais ou subterrneas, que por sua vez so utilizadas de maneira controlada, no atendimento de alguma necessidade.

    - Reuso direto planejado das guas: aquele cujos efluentes, depois de tratados, so encami-nhados diretamente de seu ponto de descarga at o local do reuso. Esse mtodo j est sendo praticado por algumas indstrias e em irrigaes.

    - Reciclagem de gua: Reuso interno da gua, antes de sua descarga em um sistema geral de tra-tamento ou outro local de disposio. Funciona como uma fonte suplementar de abastecimento do uso original. A reciclagem da gua um caso particular do reuso direto planejado.

    2.4 Principais processos de tratamento de guaTratamento de gua um conjunto de

    procedimentos fsicos e qumicos que so apli-cados na gua para que esta fique em condies adequadas para o consumo, ou seja, para que a gua se torne potvel (Figura 1). O processo de tratamento de gua a livra de qualquer tipo de contaminao, evitando a transmisso de doenas (SANTOS, 1993).

    Em uma estao de tratamento de gua (ETA), o processo ocorre em etapas (CORSAN, 2012):

    - Coagulao: quando a gua na sua forma natural (bruta) entra na ETA, ela recebe, nos tanques, uma determina quantidade de sulfato de alumnio. Esta substncia serve para aglomerar (juntar) partculas slidas que se encontram na gua como, por exemplo, a argila.

    Figura 1: Esquema demostrando o tratamento da gua. Fonte: SABESP, 2012.

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    - Floculao: em tanques de concreto com a gua em movimento, as partculas slidas se aglutinam em flocos maiores.

    - Decantao: em outros tanques, por ao da gravidade, os flocos com as impurezas e par-tculas ficam depositadas no fundo dos tanques, separando-se da gua.

    - Filtrao: a gua passa por filtros formados por carvo, areia e pedras de diversos tamanhos. Nesta etapa, as impurezas de tamanho pequeno ficam retidas no filtro.

    - Desinfeco: aplicado na gua cloro ou oznio para eliminar microorganismos causadores de doenas.

    - Fluoretao: aplicado flor na gua para prevenir a formao de crie dentria em crianas.

    - Correo de pH: aplicada na gua uma certa quantidade de cal hidratada ou carbonato de sdio. Esse procedimento serve para corrigir o pH da gua e preservar a rede de encanamentos de distribuio.

    Todas essas etapas de tratamento e o uso de produtos qumicos auxiliares servem para destruir microorganismos que podem causar doenas, reti-rar impurezas, controlar o aspecto e gosto, garan-tindo a qualidade da gua fornecida (SABESP, 2012).

    Aps os processos de tratamento de gua devem ser feitas anlises fsico-qumica e microbio-logias para avaliar a qualidade da gua fornecida aos consumidores. Os parmetros avaliados so: Cor, Turbidez, Cloro Livre Residual, Fluoretos, pH, Odor, Gosto, Coliformes Totais e Colifor-

    mes Termo tolerantes (Fecais). Os valores devem atender ao padro de potabilidade da Portaria N 2.914/2011, de 12 de dezembro de 2011 do Ministrio da Sade.

    2.5 Processos de tratamento de guas residurias

    Tratamento de guas residurias so proces-sos artificiais de depurao, remoo de poluentes e adequao dos parmetros das guas residu-rias, de modo torn-la prpria para lanamento e disposio final, visando preservar as condies e padres de qualidade dos corpos dgua receptores (Figura 2).

    Os processos de tratamento de guas resi-durias so classificados em dois tipos: fsico-qu-micos e biolgicos (NUNES, 2010).

    2.7.1 Processos fsico-qumicos:Os processos fsicos e qumicos esto inter

    -relacionados sendo geralmente chamados de fsico-qumicos. A Seguir mostrada a definio de cada processo separadamente.

    - Processos fsicos: So processos de trata-mento de guas residurias em que se aplicam fenmenos de natureza fsica, tais como: gradea-mento, peneiramento, sedimentao, floculao, decantao, filtrao, osmose reversa, resfriamento, etc.

    - Processos qumicos: So processos de tra-tamento de guas residurias em que so conse-guidos atravs de aplicao de produtos qumicos ou de reaes e interaes qumicas, tais como:

    Figura 2: Classificao ampla de tecnologias de tratamento de aguas residurias. Fonte: Holt e James (2006).

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    coagulao, correo de pH (neutralizao), equa-lizao (homogeneizao), precipitao, oxidao, reduo, adsoro, troca inica, eletrodilise, desinfeco, etc.

    2.7.2 Processos Biolgicos So processos de tratamento de guas resi-

    durias em que so conseguidos atravs de ativi-dades biolgicas ou bioqumicas. Os processos biolgicos podem ser aerbio ou anaerbios, tais como: lodos ativados, lagoas de estabilizao, lagoas aeradas, filtros biolgicos, biodiscos, rea-tores anaerbios, etc (NUNES, 2010).

    2.6 Sistemas de tratamento de guas residuriasSistema de tratamento de guas residu-

    rias o conjunto de processos unitrios de tra-tamento de guas residurias que funcionam de forma organizada objetivando remover poluentes (impurezas, contaminantes, energia, etc.) devendo atender as condies e padres de lanamento em corpos dgua e de qualidade das guas receptoras conforme sua classe, as condies para reuso ou lanamento no solo atravs de infiltrao, para irrigao de culturas, etc.

    O conjunto de unidades, rgos auxilia-res, acessrios, dispositivos e equipamentos geralmente denominado de estao de tratamento (NUNES, 2010).

    2.7 Adequao de tecnologias para o reaproveitamento de gua da chuva

    O reaproveitamento eficiente da gua da chuva no tem mistrios, mas so necessrios alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros e de fcil manuteno (AQUAS-TOCK, 2008):

    1 Passo: Dimensionamento do SistemaO primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da gua da chuva o dimensio-namento do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e objetivos do usurio, da rea de captao e das carac-tersticas da construo. A definio do tamanho e localizao do reservatrio particularmente importante, pois este o item mais oneroso do projeto e sua espe-cificao correta pode representar uma importante economia. necessria a coleta de informaes por meio de entrevista com o cliente e levantamentos no local.2 Passo: Modelo do SistemaO segundo passo definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser feito

    de vrias formas diferentes, dependendo da empresa contratada. Eles podem variar desde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrneos e apresentam solues mais completas de reciclagem de gua de chuva, s linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas dgua acima do nvel do solo.3 Passo: Fornecimento de ComponentesCom base no dimensionamento e na defi-nio dos objetivos e caractersticas do sistema a ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os diversos componentes necessrios. O principal com-ponente a ser especificado nesta etapa ser o filtro por onde a gua passar antes de ir para o reservatrio.4 Passo: Instalao do SistemaA instalao fica por conta do fornecedor, que deve dispor de pessoal especializado para realizar a instalao de todos os com-ponentes hidrulicos e tambm eltricos (no caso de utilizao de bombas) dos sistemas.

    No caso de um sistema para suprir o uso interno e externo, os componentes devem incluir calhas para a captao da gua do telhado, filtro, reservatrio e bomba, alm de outros acessrios, como freio dgua (para reduzir o turbilhonamento na cisterna), filtro flutuante (para garantir a qua-lidade da gua coletada pela bomba) e multisifo (para evitar a entrada de insetos e roedores na cisterna).

    A gua da cisterna subterrnea pode ser recalcada com a ajuda de bomba para um reser-vatrio superior, de onde segue aos pontos de consumo por gravidade. Pode ainda ser feita por uma bomba pressurizadora, com captao da gua diretamente do reservatrio inferior, quando as torneiras so acionadas. Neste caso o reservatrio superior desnecessrio.

    O tamanho dos reservatrios definido levando-se em conta a previso de consumo, a superfcie de captao e o perodo mximo de estiagem previsto para a regio. Pode-se optar ainda por complementar o abastecimento por gua de chuva com alimentao da rede pblica, ligando os dois sistemas.

    2.8 Aplicaes e finalidades da gua de reusoMuitas pessoas querem aumentar a reuti-

    lizao de gua em seus empreendimentos como parte de uma mudana geral para o desenvolvi-mento sustentvel da terra e gesto de gua. Mas

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    h poucas informaes sobre a gua reutilizada e tecnologias que possam ser adotadas para cada situao (HOLT e JAMES, 2006).

    A reutilizao da gua levanta questes de segurana, casos bem-sucedido e sustentvel aplicaes, incluindo o nvel de tratamento neces-srio para alcanar uma determinada aplicao. As respostas dependem aplicao pretendida da gua. Este conceito deve ser comparado com seu uso pretendido, e uma parte fundamental no sistema de gesto sustentvel da gua. 2.8.1 O uso final da gua

    Como a gua usada e reutilizada, a qua-lidade diminui quando faz a sua potencial utili-dade, no tratamento e requerida para o aumento de reutilizao. Para o desenvolvimento urbano, gua reutilizada adequado para:

    a. vaso sanitrio b. irrigao espao pblico aberto c. jardim privado de irrigao / uso ao ar livre d. torneira fria mquina de lavar e. fluxos ambientais f. corpos de gua ornamentais integrados no desenvolvimento. 2.8.2 Gesto de demanda para reutilizao de

    gua Gesto da demanda uma medida impor-

    tante para reduzir o consumo de gua. Tipicamente, isto aplica-se a gua potvel, mas tambm se aplica a gua reutilizada. Por que precisamos conservar a gua reutilizada? O equvoco frequente que a gua reutilizada como um produto inferior, que mais barato e abundante em fornecer. A gua pode ser reutilizada um recurso de alta qualidade e deve ser considerado como tal (HOLT e JAMES, 2006).

    Para atualizar a qualidade da gua, o tra-tamento geralmente necessrio. Este processo requer energia para remover poluentes. Ao mini-mizar consumo de gua, o consumo de energia tambm minimizado, garantindo um eficiente e sustentvel sistema de abastecimento. Estrat-gias de gesto de demanda incluem a instalao de equipamentos e acessrios. Estas so formas rentveis e sustentveis de minimizao de recur-sos consumo.

    3. CONSIDERAES FINAIS

    Aproximadamente 70% da superfcie ter-restre encontra-se coberta por gua. No entanto, menos de 3% deste volume de gua doce, cuja maior parte est concentrada em geleiras (geleiras polares e neves das montanhas), restando uma

    pequena porcentagem de guas superficiais para as atividades humanas.

    A gua de fundamental importncia para a vida de todas as espcies. Aproximadamente 80% de nosso organismo composto por gua. Boa parte dos pesquisadores concorda que a ingesto de gua tratada um dos mais importantes fatores para a conservao da sade, considerada o sol-vente universal, auxilia na preveno das doenas (clculo renal, infeco de urina, etc.) e proteo do organismo contra o envelhecimento.

    Porm, est havendo um grande desperdcio desse recurso natural, alm de seu uso ser destinado principalmente para as atividades econmicas. Atualmente, 69% da gua potvel destinada para a agricultura, 22% para as indstrias e apenas 9% usado para o consumo humano.

    A poluio hdrica outro fator agravante, os rios so poludos por esgotos domsticos, efluen-tes industriais, resduos hospitalares, agrotxicos, entre outros elementos que alteram as propriedades fsico-qumicas da gua.

    Diante os fatos o aumento da demanda pela gua segue seu curso, natural que alternativas para seu uso eficiente ou adequado sejam previstas. Nossa contribuio, foi projetar a ampliao do uso da gua reciclada, bem como a comprovao das vantagens de seu aproveitamento.

    Nem sempre a economia significativa em termos financeiros, porm com a escassez cada vez maior da gua, o percentual encontrado bem expressivo.

    O Governo, Concessionrias, as Cidades e a populao em geral, devem mobilizar-se no sentido de unir esforos para desenvolver progra-mas de conscientizao informao ao pblico sobre os princpios da eficincia do uso da gua, explicitando como a gua chega ao consumidor; os custos do tratamento da gua, a importncia da conservao dos recursos hdricos e da partici-pao da populao em desenvolver mecanismos de reuso e conservao da gua.

    REFERNCIAS

    ABNT. Associao Brasileira de Normas Tcnicas. NBR 15527 dispe: gua de chuva, Aproveitamento de coberturas em reas urbanas para fins no pot-veis. 2007.

    ANA - Agncia Nacional de guas. Disponvel em: . Acesso em 07 de outubro de 2012.

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    AQUASTOCK gua da Chuva. Sistema de Rea-proveitamento da gua da Chuva. Disponvel em: Acesso em 07 de outubro de 2012.

    BARROS, J.G. Gesto Integrada dos Recursos Hdri-cos. Implementao do uso das guas subterrneas. Braslia: MMA/SRH/OEA. 171 p. 2000.

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