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REVISTA UNIVAP Universidade do Vale do Paraíba Universidade do Vale do Paraíba

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REVISTA UNIVAP

Universidade do Vale do ParaíbaUniversidade do Vale do Paraíba

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A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos detrabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveramparticipação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica.Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação totalou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa àfonte.

CORRESPONDÊNCIAUNIVAP - Av. Shishima Hifumi, 2.911 - UrbanovaCEP: 12244-000 – São José dos Campos - SP - BrasilTel.: (12) 3947-1036 / Fax: (12) 3947-1211E-mail: [email protected]

Supervisão Gráfica: Profa. Maria da Fátima Ramia Manfredini - Pró-Reitoria de Cultura e Divulgação - Univap / Revisão: Profa. GlóriaCardozo Bertti - (12) 3922-1168 / Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3947-1036 / Impressão: Jac Gráficae Editora - (12) 3928-1555 / Publicação: Univap/2003

Campus Centro: !Praça Cândido Dias Castejón, 116 - CentroSão José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3922-2355

!Rua Paraibuna, 75 - CentroSão José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3922-2355

Campus Urbanova: !Avenida Shishima Hifumi, 2911 - UrbanovaSão José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000

Unidade Villa Branca: !Estrada Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora - Villa BrancaJacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000

Unidade Aquarius: !Rua Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim AquariusSão José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090

Unidade Caçapava: !Estrada Municipal Borda da Mata, 2020 Caçapava - SP - CEP: 12284-820 - Tel.: (12) 3655-4646

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Fone: (12) 3947-1000 - www.univap.br

Universidade do Vale do ParaíbaUniversidade do Vale do Paraíba

Universidade do Vale do ParaíbaFicha Catalográfica

Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. V.1, n.1 (1993)- .São José dos Campos: UniVap, 1993-

v. : il. ; 30cm

Semestral com suplemento.ISSN 1517-3275

1 - Universidade do Vale do Paraíba

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S U M Á R I Ov.10 n.18 jun.03 ISSN 1517-3275

PALAVRA DO REITOR. .................................................................................... 5

EDITORIAL. .......................................................................................................... 7

A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E AUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9

UM DESAFIO PARA OS CIENTISTAS DO MUNDOTrad. Antonio de Souza Teixeira Júnior ........................................................... 12

LEVANTAMENTO DO PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DAPOPULAÇÃO RESIDENTE EM NÚCLEOS DE FAVELAS EM SÃOJOSÉ DOS CAMPOS - SPRosângela Nicolay Freitas, Maria Joseane de Jesus Serpa, Friedhilde Maria K.Manolescu ............................................................................................................. 14

MAPA DA POBREZA URBANA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SPLuciana Suckow Borges ...................................................................................... 23

BURNOUT E RESILIÊNCIA: NOVOS OLHARES SOBRE O MAL-ESTAR DOCENTEFatima Araujo de Carvalho ............................................................................... 26

HIERARQUIAS OCUPACIONAIS ENTRE BRANCOS E NEGROS EMÁREAS METROPOLITANAS POBRESAndré Augusto Brandão ..................................................................................... 35

AMBIENTES VIRTUAIS PARA A FORMAÇÃO DE EDUCADORES:BUSCANDO UMA ESCOLA INCLUSIVAKlaus Schlünzen Junior, Elisa T. M. Schlünzen, Renata B. Hernandes,Marcelo P. di Santo, Adriana A. L. Terçariol, Maria G. A. Baldo, Adriano M.Fuzaro, Andréa A. Silva, Marcos L. Souza ...................................................... 43

A CONSTRUÇÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS: UMA FERRAMENTAPARA A INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL DE JOVENS CARENTESElisa T. M. Schlünzen, Adriana A. L. Terçariol .............................................. 50

O ESPAÇO E O SAGRADO EM FESTEJOS RELIGIOSOS DECOMUNIDADES RIBEIRINHAS DE PORTO VELHO, RONDÔNIAAdriano Lopes Saraiva ....................................................................................... 58

ÁRVORE DA VIDA: A RAIZ E A SEIVA DA MEMÓRIAElizabeth Moraes Liberato ................................................................................ 63

BASE TECNOLÓGICA PARA O DESENVOLVIMENTO EMENGENHARIA BIOMÉDICAWalter dos Santos ............................................................................................... 72

O TERCEIRO SETOR NA INTERNETCeleste M. Manzanete, Roberta Baldo, Gino Giacomini Filho ..................... 77

EFEITO DO COEFICIENTE VOLUMÉTRICO DE TRANSFERÊNCIA DEOXIGÊNIO NA PRODUÇÃO DE XILITOL EM BIORREATOR DEBANCADASolange Inês Mussatto, Inês Conceição Roberto ............................................ 83

OBTENÇÃO E PURIFICAÇÃO DE QUITOSANA A PARTIR DERESÍDUOS DE CAMARÃO EM ESCALA PILOTONiege Madeira Soares, Catarina Moura, Sheila Vasconcelos, Jaques Rizzi, LuizAntônio de Almeida Pinto ................................................................................ 88

DROGAS FARMACOLÓGICAS PARA O ALÍVIO DAESPASTICIDADE EM PACIENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA:UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICAClaudia Franco .................................................................................................... 93

RESENHA: A CONDIÇÃO HUMANAElizabeth Moraes Liberato ................................................................................ 95

Baptista Gargione FilhoReitor

Antonio de Souza Teixeira JúniorVice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade -Sociedade

Ana Maria C. B. BarsottiPró-Reitora de Assuntos Estudantis

Ailton TeixeiraPró-Reitor de Administração e Finanças

Elizabeth Moraes LiberatoPró-Reitora de Avaliação

Élcio NogueiraPró-Reitor de Graduação

Fabiola Imaculada de OliveiraPró-Reitora de Pós-Graduação Lato Sensu

João Luiz Teixeira PintoPró-Reitor de Graduação do Câmpus Vila Branca deJacareí

Luiz Antônio GargionePró-Reitor de Planejamento e Gestão

Maria Cristina Goulart Pupio SilvaPró-Reitora de Assuntos Jurídicos

Maria da Fátima Ramia ManfrediniPró-Reitora de Cultura e Divulgação

Francisco José de Castro PimentelDiretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba

Francisco Pinto BarbosaDiretor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura eUrbanismo

Frederico Lencioni NetoDiretor da Faculdade de Educação

Luiz Alberto Vieira DiasDiretor da Faculdade de Ciência da Computação

Renato Amaro ZângaroDiretor da Faculdade de Ciências da Saúde

Samuel Roberto Ximenes CostaDiretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas

Vera Maria Almeida Rodrigues CostaDiretora da Faculdade de Comunicação e Artes

Marcos Tadeu Tavares PachecoDiretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

Maria Valdelis Nunes PereiraDiretora do Instituto Superior de Educação

COORDENAÇÃO GERALAntonio de Souza Teixeira Júnior

REVISÃO DE TEXTOGlória Cardozo Bertti

DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃOGlaucia Fernanda Barbosa Gomes

CONSELHO EDITORIALAmilton Maciel MonteiroAntonio de Souza Teixeira JúniorAntônio dos Santos LopesCláudio Roland SonnenburgÉlcio NogueiraElizabeth Moraes LiberatoFrancisco José de Castro PimentelFrancisco Pinto BarbosaFrederico Lencioni NetoJair Cândido de MeloMarcos Tadeu Tavares PachecoMaria da Fátima Ramia ManfrediniMaria do Carmo Silva SoaresMaria Tereza Dejuste de PaulaRosângela TarangerSamuel Roberto Ximenes CostaVera Maria Almeida Rodrigues Costa

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PALAVRA DO REITOR

O Ministério da Ciência e Tecnologia elaborou documento chamado “Proposta de Discussão deOrientações Estratégicas para o Período 2004 – 2007”.

Foram nele definidas, para apoio à P&D, como áreas estratégicas: a) espacial; b) nuclear; c)biotecnologia e uso sustentável da biodiversidade; d) fármacos; e) tecnologia da informação; f) mudançasclimáticas; g) fontes renováveis de energia; h) nanociências e nanotecnologias.

Na área espacial é feita especial menção para as pesquisas de sensoriamento remoto, paraobtenção de imagens por satélites, que devem permitir o domínio mais seguro da proteção e crescimentodas florestas, bem como são importante elemento, no Planejamento Urbano, para a cobrança detributos, para dizer o mínimo.

Na área nuclear, é necessário capacitar pessoas qualificadas para dominar as soluções dosproblemas a serem enfrentados pela medicina, agricultura, monitoramento do meio ambiente e novosmateriais, como a tecnologia do processamento do urânio.

As aplicações da biotecnologia, tendo em vista o uso sustentável da biodiversidade poderãopromover o aumento da produtividade agrícola e melhorar o teor nutritivo dos alimentos, de modo atornar mais eficaz o potencial genético do País.

A produção de fármacos é importante para as áreas de saúde e alimentação e a atuação dopoder de compra do governo pode ser decisivo para que a P&D ajudem a produção industrial, tornandoo País menos dependente da importação.

A Tecnologia da Informação é o grande fator de desenvolvimento de todos os setores e seudomínio é essencial para a independência de qualquer Nação. A própria inclusão digital, em geral, decrianças e jovens, exige adequação do ensino básico para conduzir milhões de brasileiros à condiçãode poder participar de modo mais decisivo do progresso geral do País. É necessário também concentraresforços no sentido de tornar o Brasil um exportador de “software”, como já vem ocorrendo com aÍndia, a Coréia e outros países caracterizados como em desenvolvimento. Isto nos tornará atualizadose competitivos em uma atividade que depende fundamentalmente de estar à frente ou pelo menostentar caminhar junto com os inovadores. Ao mesmo tempo, é importante concentrar esforços no“hardware”, de modo a tornar, por exemplo, o consumo de bens da microeletrônica mais independentede importações. É relevante entender que já nos atrasamos, quiçá irreversivelmente, em microeletrônica,e o mesmo não poderá ocorrer em Tecnologia da Informação.

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A inserção dos países no contexto das mudanças climáticas faz parte de Convenções das NaçõesUnidas, das quais o Brasil tem sido signatário, de modo a cooperar em atividades de Pesquisa,Desenvolvimento, Ensino e Informações de interesse universal, principalmente no domínio de tecnologiaslimpas, de modo a poder concorrer para o desenvolvimento sustentável.

O domínio das fontes renováveis de energia é importante para estar a par da antecipaçãotecnológica necessária para poder utilizar, no futuro, energias alternativas, como a solar, a eólica, abiomassa e as células combustíveis. O aproveitamento do protótipo do motor a gás, desenvolvido peloCTA, é fundamental neste momento em que sobra gás da Bolívia e são anunciadas novas descobertasde depósitos. A possibilidade que o seu uso representa para um transporte de carga, em caminhões, ede passageiros, em ônibus, é de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável, medianteo uso de uma tecnologia não poluente e de enorme alcance econômico.

A Nanociência e as Nanotecnologias decorrentes encontram hoje aplicações em praticamentetodos os setores responsáveis pela modernidade dos países. A participação dos países nas atividadesda Nanotecnologia é tão fundamental como a que ocorreu com a microeletrônica, da qual poucocolaboramos mas tudo indica que nossa presença se está firmando em novos setores, como ananotecnologia, a genômica, a biotecnologia, a engenharia biomédica e a tecnologia da informação.

O Ministério da Ciência e Tecnologia promete apoiar atividades de P&D nas estratégicaspriorizadas, mobilizando recursos para o período 2004 – 2007 e a UNIVAP, em particular, precisaestar preparada para esta empreitada.

Baptista Gargione Filho, Prof. Dr. Reitor da UNIVAP

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EDITORIAL

Chegamos ao número 18 da Revista Univap, neste terceiro ano do novo milênio, que já presenciouuma guerra de curta duração, gerada, segundo alguns, por personalidades psicopatas, ocasionalmentedirigindo nações, ou, segundo outros, por gente muito esperta, procurando expandir fronteiras, demodo a gerar vantagens econômicas, embora alardeando intenções pacifistas de combate a regimesterroristas. Neste sentido, foi bastante emblemático o fato de os dirigentes Blair, Berlusconi e Aznarterem enviado uma carta, publicada pelo “Wall Street Journal”, em fevereiro deste ano, de elogios aogoverno dos Estados Unidos, pela sua decisão de ir à guerra contra o Iraque.

Atravessamos o século 20 com duas guerras mundiais, diversas guerras regionais – Coréia,Iugoslávia, Chechênia, China/Japão, Argentina/Inglaterra, Iraque/Kuwait/EUA e muitas outras – maso século é celebrado como de grandes conquistas para a qualidade de vida popular e de resultadospacifistas, o que aliás foi atestado pelos prêmios Nobel da Paz distribuídos anualmente.

É bem verdade que muita gente foi massacrada, mas os vivos têm memória curta e as vítimas deontem são hoje, muitas vezes, os guerreiros providos de tanques e canhões e alargam suas fronteiras àcusta de mais violência, mortes e destruições. Há, evidentemente, muito cinismo nas relaçõesinternacionais, o que nos faz lembrar um pensador, o malsinado fascista Marinetti, para quem a guerraera a “higiene do mundo”.

Mas, tudo bem, estamos no Brasil com um governo de esquerda e confiamos que esta esquerdanão seja sinônimo daquela situação que todos sonham alcançar para gozar de mais privilégios.

Estamos na UNIVAP e cabe-nos ser otimistas: não há nenhum apocalipse à vista; ao contrário,o Brasil enfrenta seus problemas, tudo funciona, reina a paz, as metas estão estabelecidas e melhoresdias certamente virão, mediante programas sociais nacionais, tornando mais promissor o futuro das“criaturas sem futuro”. E esta é a nossa missão: preparar uma elite consciente das condições a enfrentar,com otimismo e certos de estar contribuindo para formar uma sociedade mais fraterna, mais igualitáriae amante da liberdade.

Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr.Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade

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A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E AUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP)

A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede àPraça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade deSão José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita noMinistério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Ins-crição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filan-trópica e comunitária, que não possui sócios de qual-quer natureza, com seus recursos destinados integral-mente à educação, instituída por escritura pública de 24de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1ºOfício da Comarca de São José dos Campos, às folhas93 vº/96 vº, do livro 275.

A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantidapela FVE, tem como área de atuação prioritária o DistritoGeoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção daeducação para o desenvolvimento da Região do Vale doParaíba e Litoral Norte (DGE-31).

Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi:

a) Campus Centro, em São José dos Campos, situadoà Praça Cândido Dias Castejón, 116, e à RuaParaibuna, 75.

b) Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi,2911, que abrange os territórios dos municípios deSão José dos Campos e Jacareí.

c) Unidade Aquarius, em São José dos Campos, situadoà Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181

d) Unidade Villa Branca, localizado em Jacareí, naEstrada Municipal do Limoeiro, 250

e) Unidade Caçapava,na Estrada Municipal Borda daMata, 2020.

A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange oscursos e programas a seguir descritos:

1) Graduação, abertos a candidatos que tenham con-cluído o ensino médio ou equivalente e que tenhamsido classificados em processo seletivo.

2) Pós-graduação, compreendendo programas deMestrado, Especialização e outros, abertos acandidatos diplomados em cursos de graduação eque atendam aos requisitos da UNIVAP.

3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aosrequisitos estabelecidos pela UNIVAP.

4) Educação a distância, com uso de novas tecnologiasde comunicação.

5) Formação tecnológica, com formação de tecnólogosem nível de 3º grau.

6) Cursos seqüenciais, por campo de saber, de dife-rentes níveis de abrangência, a candidatos que aten-

dam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP.

A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educa-ção integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos deEducação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio eainda de Formação Profissional e Técnica.

A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se:

1) numa função política, capaz de colocar a educaçãocomo fator de inovação e mudanças na Região doVale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31;

2) numa função ética, de forma que, ao desenvolver asua missão, observe e dissemine os valores positi-vos que dignificam o homem e a sua vida em socie-dade;

3) numa proposta de transformação social, voltadapara a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte;

4) no comprometimento da comunidade acadêmica como desenvolvimento sustentável do País e, emespecial, com a Região do Vale do Paraíba e LitoralNorte, sua principal área de atuação.

A UNIVAP está em permanente interação com agentessociais e culturais que com ela se identificam. Como de-corrência da demanda de seus cursos ou dos serviçosque presta, estabelece convênios com instituiçõespúblicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estesconvênios resultam na cooperação técnica e científica,na qualificação de seus recursos humanos etecnológicos, na viabilização de estágios acadêmicos ena prestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizadana trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte,traz consigo a marca da participação comunitária, a partirdo compromisso que tem com a sociedade regional,alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica,na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidadee no exercício da tríplice função constitucional deassegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional,ensino e extensão.Como atividades de extensão, destacam-se, na UNIVAP,aquelas relativas à Comunidade Solidária, que têm porobjetivo mobilizar ações que contribuam para a alfabeti-zação e melhoria da qualidade de vida de populaçõescarentes. Dentro deste Programa, foram realizadasatividades nas áreas de Saúde, Higiene, Cidadania, Edu-cação e Lazer, em Santa Bárbara (BA), Beruri (AM),Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE), Coreaú (CE),Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras (CE), Atalaiado Norte (AM), Pão de Açúcar (AL) e, no Vale do Paraíba,nas cidades de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí,

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200310

Paraibuna, São Francisco Xavier e São José dos Campos.Todas as pesquisas institucionais da Universidade es-tão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvol-vimento (IP&D), o qual executa programas e projetos econgrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP,envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimen-to e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nasáreas sócio-econômica, genômica, instrumentaçãobiomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e de-senvolvimentos educacionais, ciências ambientais etecnologias espaciais, computação avançada,biomédicas, atrai e dá condições de trabalho apesquisadores de grande experiência, do País e doexterior. Os alunos têm condições de participar, com osprofessores, de pesquisas, executando tarefas criativas,motivadoras, que propiciam a formulação de modelos ede simulações, trabalhando com equipamentos deprimeira linha, e isto faz a diferença entre a memorização

e a compreensão. Bolsas de estudo vêm sendo oferecidasa alunos e pesquisadores, quer pela UNIVAP, quer porinstituições como CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP.

O esforço da UNIVAP em construir, no CampusUrbanova, uma Universidade com instalações especiaispara cada área de atuação, com atenção especial aos la-boratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade,compatível com as exigências da sociedade atual.

A UNIVAP, para o ano letivo de 2003, fiel ao lema de que“o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminharmais seguro”, oferece à comunidade da Região do Valedo Paraíba e Litoral Norte o seguinte Programa, de seusdiversos cursos, que vão desde a Educação Infantil àPós-Graduação, passando inclusive pelo Colégio Técni-co Industrial e pela Faculdade da Terceira Idade.

CURSOS DE GRADUAÇÃO

- Administração de Empresas e Negócios- Arquitetura e Urbanismo- Ciência da Computação- Ciências- Ciências Biológicas- Ciências Contábeis- Ciências Econômicas- Ciências Sociais: História, Geografia- Comunicação Social: Jornalismo- Comunicação Social: Publicidade e Propa-

ganda- Direito- Educação Física- Enfermagem- Engenharia Aeroespacial- Engenharia Ambiental- Engenharia Biomédica- Engenharia Civil- Engenharia da Computação- Engenharia de Materiais- Engenharia Elétrica- Fisioterapia- Letras (Português/Inglês e

Português/Espanhol)- Matemática- Normal Superior- Odontologia- Secretariado Executivo- Serviço Social- Terapia Ocupacional- Turismo

CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO

- Doutorado

- Engenharia Biomédica

- Mestrado

- Bioengenharia- Ciências Biológicas- Engenharia Biomédica- Planejamento Urbano e Regional

- Especialização - Lato-Sensu

- Computação Avançada- Dentística Restauradora- Educação Física Escolar- Fisiologia do Esforço- Gerontologia e Família- Gestão Educacional- Gestão Empresarial- Odontopediatria- Reabilitação e Avanços Tecnológicos em

Neurologia- Terapia Familiar- Treinamento Desportivo

- Seqüencial

- Sistemas de Telecomunicações- Tecnologia Aeroespacial

(ênfase em Manutenção Aeronáutica)- Tecnologia Aeroespacial

(ênfase em Sistemas de Aviões)- Tecnologia e Estruturas de Concreto

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Revista UniVap, v.10, n.18, 2003 11

São José dos Campos

Com cerca de 500.000 habitantes, São José dos Camposé o município com maior população na sua região, sendoque seu grande desenvolvimento começou realmente coma construção da Rodovia Presidente Dutra e do CentroTécnico Aeroespacial (CTA). Além disso, a localizaçãoestratégica e privilegiada entre São Paulo e Rio de Janei-ro e a topografia apropriada para a construção de gran-des indústrias possibilitaram que a cidade crescesse ver-tiginosamente na década de 70, passando a ser uma dasáreas mais dinâmicas do Estado e a terceira maior taxa decrescimento da década de 80. De 1993 para cá, a cidadepassou por grandes transformações, alcançando avan-ços na área da saúde, desenvolvimento econômico, edu-cação, criança e adolescente, saneamento básico e obras.

O comércio de São José dos Campos é bastante desen-volvido e vive um período de extensão, com vários cen-tros de compras e grandes supermercados e ShoppingCenters. Com mais de 800 indústrias, 4.000 estabeleci-mentos comerciais e superando 7.000 prestadores deserviço, o perfil industrial de São José dos Campos temdois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespaciale aeronáutica, como a Embraer, e outro diversificado, comindústrias, como a General Motors, Johnson & Johnson,Petrobras, Rhodia, Monsanto, Kodak, Panasonic, Hitachi,Bundy, Ericsson, Eaton e outras. É o quarto municípiodo Estado de São Paulo em arrecadação e ICMS, atrásapenas da capital, Santo André e Campinas.

São José dos Campos possui, como resultado da atuaçãode suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais e

dos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta,mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos des-tacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seusInstitutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica,IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto deFomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Institutode Estudos Avançados.

Com uma vida cultural bastante intensa, o município contacom uma Fundação Cultural e vários espaços culturais,como o Museu Municipal, galerias de arte, centros deexposição, casas de cultura, Teatro municipal, Cine-Tea-tro Benedito Alves da Silva, Cine-Teatro Santana e oTeatro Univap Prof. Moacyr Benedicto de Souza,cinemas, emissoras de rádio FM e AM, Central Regionalda TV Globo, jornais diários com circulação regional,além dos da capital, e várias Bibliotecas Escolares,Universitárias e de Pesquisa, como a da UNIVAP, a doINPE e a do ITA.

A UNIVAP constitui, além do CTA e do INPE, o maiorcentro de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escolaà Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e daTerceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto dePesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorpora-ção da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP,permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pes-quisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com em-presas e instituições do município, notadamente as deensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, deonde são provenientes o reitor, pró-reitores e vários pro-fessores.

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200312

1 ANNAN, K. A Challenge oh the World’s Scientists.The American Association for the Advancement ofScience. v. 299, n. 5612, p. 1485, 7 mar. 2003.ISSN: 1095-9203.

É imensa a contribuição que a ciência vememprestando ao progresso humano e ao desenvolvimentoda sociedade moderna. A aplicação dos conhecimentoscientíficos continua a oferecer poderoso meios deconduzir os desafios enfrentados pela humanidade, dasegurança alimentar até doenças como a AIDS, ou dapoluição até a proliferação de armamentos. Avançosrecentes em tecnologia da informação, genética ebiotecnologia trouxeram inegáveis progressos para o bemestar individual ou coletivo.

Ao mesmo tempo, os esforços despendidos parao avanço da ciência foram marcados, no mundo, pornítidas desigualdades. Países em desenvolvimento, porexemplo, aplicam menos de 1% de seu produto internobruto em pesquisa científica, enquanto que os paísesricos dedicam a isso entre 2 e 3%. O número de cientistas,em proporção à população, nos primeiros, é de 10 a 30vezes menos do que o das nações desenvolvidas. 90%da inovação científica mundial é criada pelas naçõesresponsáveis por 20% da população mundial. E a maiorparte dessa inovação não diz respeito a resolver as afliçõesque atingem a maior parte da população.

Esta desigual distribuição da atividade científicagera sérios problemas, não só para a comunidadecientífica das nações em desenvolvimento, mas muitomais para o desenvolvimento global dessas nações. Elaacelera a disparidade entre as nações avançadas e as emdesenvolvimento, criando dificuldades econômicas esociais, tanto no nível nacional como no internacional. Aidéia de que a ciência gera benefícios diferenciados paraos dois mundos, desenvolvido e em desenvolvimento,constitui um anátema para o objetivo da ciência. Istoestá exigindo a dedicação dos cientistas e instituiçõescientíficas de todo o mundo para mudar este viés, demodo a proporcionar os benefícios da ciência para todos.

Mas nenhuma ponte suficientemente eficaz foi

Um Desafio para os Cientistas do Mundo

Tradução de: Antonio de Souza Teixeira Júnior, Vice-reitor da Univap.Artigo original de: Kofi Annan, Secretário Geral das Nações Unidas.

“A Challenge to the World’s Scientists” 1

construída, de modo a unir o mundo dos ricos ao dospobres e não se conseguiu, portanto, eliminar a violênciae a guerra. Se a ciência for eficiente para utilizar seupotencial total para varrer, da mente das pessoas de cadapaís, a defesa do uso da violência e da guerra comoprocessos de solução de conflitos, teremos avançadomuito. Os cientistas de cada país têm papel fundamentalneste processo.

A chamada Conferência de Pugwash, criada peloManifesto de Russell-Einstein, em 1955, conseguiuaproximar os cientistas russos e americanos por mais de40 anos, de modo a dar condições para o desenvolvimentode um entendimento comum sobre os perigos de umaguerra nuclear e os caminhos para evitá-la; erecentemente também estabeleceu um consistentediálogo entre o Norte e o Sul do planeta, abordandoproblemas de desenvolvimento. Uma cooperação entrelaboratórios de P&D foi instituída para o desarmamentonuclear e controle de armas, entre Rússia e EstadosUnidos, após a Guerra Fria. A política de preservação deuma paz estável não deveria ser atribuição exclusiva depolíticos e diplomatas.

Existem profundas similaridades entre o etos daciência, entendido como a essência do que deve ser aciência, e o projeto de uma organização internacionaldedicada à solução de problemas globais, pois ambasdevem estar engajadas contra as forças da irracionalidadeque consegue aliciar cientistas, e os resultados de suapesquisa, para propósitos destrutivos. Nós adotamos ométodo experimental como paradigma das Nações Unidas,o que significa entender esta entidade como umexperimento de cooperação humana. E ambos lutam porexpressar as verdades universais; para as Nações Unidas,isto inclui a dignidade e a importância da pessoa humanae o entendimento de que, apesar de o mundo apresentarinúmeras particularidades, com interesses específicos, acomunidade humana é única e deve permanecer unidaem torno dos grandes ideais.

O bem estar desejável para a humanidade é oobjetivo básico da comunidade científica e nisto asNações Unidas são um parceiro indispensável. Com aajuda de você, cientista e pesquisador, o mundo podechegar à “revolução azul” com competência para tratar

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das necessidades urgentes criadas pela emergência dascrises correntes da falta de água e sua pesquisa poderálevar a África para a “revolução verde” que trará maiorprodutividade para a agricultura; sua solidariedade podeajudar países em desenvolvimento a construir suacapacidade de participar eficientemente em negociaçõesde tratados e acordos internacionais e entendimentosenvolvendo ciência. E esta sua atuação, como umadvogado das boas causas, pode ajudar a encontrar oacesso ao conhecimento científico; por exemplo,mediante o “acesso ao Programa pela Internet de Iniciativa

à Pesquisa da Saúde”, periódicos científicos vêm sendoentregues a milhares de instituições de paísesemergentes, com descontos ou isenção de pagamentos.

A agenda é enorme e as necessidades são imensas,mas juntos estaremos igualmente envolvidos pararesolver estes desafios. O sistema das Nações Unidas eeu pessoalmente vejo possibilidades futuras de trabalharcom cientistas de todo o mundo para apoiar seu trabalhoe estender seus benefícios, com maior alcance e maiorprofundidade, nos próximos anos.

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Levantamento do Perfil Sócio-econômico da PopulaçãoResidente em Núcleos de Favelas em

São José dos Campos - SP

Rosângela Nicolay Freitas *Maria Joseane de Jesus Serpa *

Friedhilde Maria K. Manolescu **

Resumo: O intenso processo de urbanização verificado no Brasil nas últimas décadas deu origema cidades caóticas, repletas de problemas como: desemprego, violência, carência de equipamentoscoletivos e de moradias. Nesse contexto, em São José dos Campos, SP, verifica-se a existência defavelas desde a década de 1930. Este trabalho tem por objetivo fazer um levantamento do perfilsócio-econômico da população residente nas favelas existentes na cidade, bem como fazer algumasconsiderações a respeito do atual Programa de Desfavelização.

Palavras-chave: Favelas, perfil sócio-econômico, programa de desfavelização.

Abstract: The intensive urbanization process experienced in Brazil in the last decades gave rise tochaotic cities with a high number of problems, such as: unemployment, violence and lack of publicfacilities and housing. Within that scenario, in São José dos Campos (São Paulo, Brazil) the growthof slums began as early as the 1930s. The aim of this work is to produce a social and economicalprofile of those people living in the slums; as well as to develop considerations regarding thecurrent “Slum Replacement Program”.

Key words: Slums, social and economical profile, slum replacement program.

* Mestranda em Planejamento Urbano e Regional -UNIVAP 2003.

** Professora da UNIVAP.

1.INTRODUÇÃO

O intenso processo de urbanização, verificado noBrasil a partir da década de 1950, deu origem a cidadescaóticas, repletas de problemas como: desemprego,violência, falta de equipamentos coletivos e de moradias.

Villaça (1986) afirma que, cada vez mais, nossascidades podem ser subdividas da seguinte forma: de umlado, a cidade dos que comandam e participam dasociedade e, de outro, a cidade dos comandados, dosmarginalizados, dos que estão de fora.

Maricato (2001) utiliza as expressões “cidadelegal” e “cidade ilegal” para definir o mesmo fenômeno.Para a autora, o número de imóveis ilegais na maior partedas cidades brasileiras é tão grande que a cidade legal,cuja produção é hegemônica e capitalista, caminha para

ser, cada vez mais, espaço da minoria. Assim, conclui aautora, parte significativa de nossas cidades vai surgindode forma ilegal, sem a participação dos governos, semrecursos técnicos e financeiros significativos.

Para Rezende (1982), a favela surge como adeterminação de uma parcela da população em se instalarem locais onde existe acessibilidade a centros de empregoe equipamentos urbanos, áreas de alto valor da terra e,portanto, impróprias para essa população de baixa rendada cidade sob o aspecto do consumo legalizado.

Ao longo do tempo, no entanto, as favelasdeixaram de ser apenas os locais onde vivem pessoascarentes, e passaram a representar uma ameaça ao poderconstituído. Nesses locais, observa-se o aparecimentode um poder paralelo, ligado ao tráfico de drogas,responsável por uma infinidade de atrocidades dentro efora das favelas.

Em São José dos Campos, SP, de acordo com RosaFilho e Oliveira (2002), os primeiros núcleos de favelassurgiram há cerca de 70 anos, na década de 1930. Aprimeira favela, localizada na área central da cidade, surgiu

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em 1931 e ficou conhecida como Favela do Banhado (hojeJardim Nova Esperança). Em 1932, também no centro,surgiu a favela da Linha Velha, atualmente conhecidacomo Santa Cruz.

Esses núcleos cresceram e outros foram surgindoem várias partes da cidade. Segundo Rosa Filho e Oliveira(2002), no final da década de 90, existiam vinte e doisnúcleos de favelas com 2.077 moradias e 9.230 habitantes,o que correspondia a 2% da população total do municípioque era de 538.909 habitantes.

Ao longo do tempo, a prática mais comum dopoder público local com relação às favelas existentes noperímetro urbano tem sido a remoção de seus moradorespara áreas periféricas. Tal prática, no entanto, tem servidopara reforçar a segregação residencial já existente nacidade.

Em 2000, teve início em São José dos Camposmais um desses programas. Dessa vez, a PrefeituraMunicipal contou com o apoio financeiro do BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID) e da CaixaEconômica Federal (CEF). É o chamado Programa deDesfavelização.

Este trabalho tem por objetivo fazer um levanta-mento do perfil sócio-econômico da população residenteem núcleos de favelas no Município de São José dosCampos, em 2000, bem como fazer algumas consideraçõessobre o atual Programa de Desfavelização, uma tentativado governo local de reverter o crescimento dos núcleosde favelas existentes na cidade.

Para caracterizar o perfil da população residenteem núcleos de favela foram utilizados dados da PesquisaPerfil Sócio-econômico do Município de São José dosCampos, realizada pela Universidade do Vale do Paraíba-UNIVAP- em parceria com a Prefeitura Municipal, nosanos 1999/2000. A pesquisa por amostra foi realizadamediante um questionário contendo setenta e duasperguntas abrangendo todos os domicílios do município,situados em vinte cinco regiões homogêneas.

As informações dos núcleos de favelas presentesem diferentes pontos da malha urbana da cidade foramagrupadas formando uma única região, denominada deregião vinte dois. Utiliza-se nesse trabalho o conceito defavela contido no Manual do Entrevistador da referidapesquisa, descrito como: “conjunto constituído porunidades habitacionais (barracos, casas comrevestimento de alvenaria ou material misto), localizadasem terrenos invadidos, de propriedade particular oupúblico, ocupadas de forma desordenada e densa,carentes em sua maioria de serviços públicos essenciais”.

2.CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

2.1 O Espaço Urbano

Corrêa (1995) define o espaço urbano como:fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social,um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim aprópria sociedade em uma de suas dimensões, aquelamais aparente, materializada nas formas espaciais.

Para esse autor, a organização espacial urbanadesigual é caracterizada por uma complexa divisão técnicae social do espaço, associada a uma enorme diferençanas condições de vida dos diversos grupos sociais dacidade.

Segundo Rezende (1982), no modo de produçãocapitalista, a cidade surge como local de reprodução dosmeios de produção, local de reprodução da força detrabalho e, também, fator de acumulação de capital. Paraa reprodução dos meios de produção, tornam-senecessários os espaços destinados às atividadesindustriais e seus desdobramentos. Como local dereprodução de força de trabalho, a cidade é a sede dahabitação, do ato de morar e viver. Como fator deacumulação do capital, o solo urbano gera renda fundiária,fundamento da indústria de construção civil.

Para a autora, embora a produção do espaçourbano apresente uma aparente desordem, se dá dentrode uma ordem coerente com o modo de produçãodominante. Ao espaço são adicionados infra-estrutura,sistema viário, equipamentos, que, juntamente com aexistência ou falta de amenidades, compõem o valor daterra.

No caso das cidades brasileiras, os serviçosurbanos se irradiam do centro à periferia, tornando-secada vez mais escassos à medida que a distância do centroaumenta. O resultado é um gradiente de valores do solourbano, que atinge o máximo no centro principal e vaidiminuindo até atingir um mínimo nos limites das cidade.

2.2 Os Agentes Estruturadores do Espaço Urbano

Segundo Maricato (1997), o processo de produçãoe apropriação do espaço urbano, movido por interessesdistintos dos agentes que nele atuam, gera uma série deconflitos.

Para a autora, os proprietários dos meios deprodução, por exemplo, necessitam de terrenos amplos ebaratos, não estando interessados na especulaçãofundiária. Já os proprietários fundiários vêem na retençãode terras uma possibilidade de ampliar seus lucros, poisao criar uma escassez de oferta haverá um aumento de

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preço. Essa prática gera conflito entre proprietáriosindustriais e fundiários.

Corrêa (1995) considera os proprietários fundiáriose dos meios de produção os promotores imobiliários, oEstado e os grupos sociais excluídos os principaisagentes modeladores ou estruturadores do espaçourbano.

Para esse autor, a complexidade da ação dessesagentes sociais inclui práticas que levam a um constanteprocesso de reorganização espacial. Esse processoocorre por incorporação de novas áreas ao espaçourbano, adensamento do uso do solo, deterioração decertas áreas, renovação urbana, relocação diferenciadada infra-estrutura e mudança do conteúdo social,econômico de determinadas áreas da cidade.

Nesse contexto, segundo Maricato (1997), oEstado pode intervir em diversos sentidos, favorecendoou prejudicando determinados interesses. Tudo vaidepender da correlação de forças presentes na sociedade.

Com relação às áreas residenciais, a atuação dospromotores imobiliários, isto é, conjunto de agentes querealizam, parcial ou totalmente, as operações deincorporação, financiamento, construção e comerciali-zação do imóvel, ocorre de modo desigual. Seusinvestimentos são voltados principalmente para aconstrução de imóveis para atender às classes maisfavorecidas, criando e reforçando a segregaçãoresidencial que caracteriza a cidade capitalista.

2.3 Segregação Urbana

Castells (1983) entende como segregação urbanaa tendência à organização do espaço em zonas de fortehomegeneidade social interna e com intensa disparidadesocial entre elas, tanto em termos de diferença, comotambém de hierarquia.

Segundo Villaça (1986), a segregação é umprocesso dialético em que a segregação de uns provoca,ao mesmo tempo e pelo mesmo processo, a segregaçãode outros. O autor destaca como o mais conhecido padrãode segregação urbana o do centro versus periferia. Oprimeiro, dotado de serviços urbanos, públicos eprivados, é ocupado pelas classes de mais alta renda. Asegunda, subequipada e distante, é ocupada predomi-nantemente pelos excluídos.

Para Santos (1981), existem duas ou diversascidades dentro da cidade. Este fenômeno é o resultadoda oposição entre níveis de vida e entre setores deatividade econômica, isto é, entre classes sociais. Assim,às diferentes paisagens urbanas correspondem classes

sociais diferentes.

Segundo Corrêa (1995), os grupos sociaisexcluídos têm como possibilidades de moradia a favela eos cortiços, localizados próximos ao centro da cidade; acasa, produzida pelo sistema de autoconstrução emloteamentos periféricos; os conjuntos habitacionais,produzidos pelo Estado, via de regra também distantesdo centro.

2.4 As Favelas no Brasil

Para Panizzi (1989), o crescimento das cidadesbrasileiras se caracteriza pela expansão de zonas urbanas“ilegais” nas quais vive uma parcela cada vez maissignificativa da população. São pessoas que nãoconseguem comprar uma casa ou um terreno dentro da“legalidade”, isto é, respeitando as leis de mercado e alegislação em vigor.

Ao longo dos anos, prossegue a autora, essaspráticas foram adquirindo diferentes formas, sendo asmais comuns: a produção de áreas de habitações precárias(cortiços, favelas, mocambos ou malocas), os loteamentosclandestinos e a invasão de terrenos.

Para Rolnik (1995), do ponto de vista do capital, afavela ou cortiço, contradição do sistema que a produz erejeita, é território inimigo, que deve ser eliminado. Éinimigo do capital imobiliário porque desvaloriza a região;da polícia, porque em seus espaços irregulares e densosé difícil penetrar; dos médicos, porque ali proliferam osparasitas que se reproduzem nos esgotos a céu aberto.

Segundo Taschner (1996), a favela surge comoexpressão das contradições urbanas de uma sociedadepobre e concentradora da pouca riqueza que tem.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), em 1980, 1,89% dosdomicílios brasileiros estavam situados em favelas -480.595 unidades habitacionais. Em 1991, o percentualera de 3,28%, ou seja, mais de 1,14 milhões de moradiasem favelas.

Ainda segundo Taschner, apesar da subestimaçãoimplícita na definição de favela pelo IBGE (por sócontabilizar como favela núcleos que possuam mais decinqüenta unidades), a taxa de crescimento dessesdomicílios supera, em muito, a de crescimentopopulacional (7,65% contra 1,82% ao ano, entre 1980 e1991).

Maricato (2001) diz que não há números gerais,confiáveis, sobre a ocorrência de favelas em todo o Brasil.O Censo de 2000 dá a entender que entre 1991 e 2000 o

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número de favelas teria aumentado 22% em todo o Brasil,atingindo um total de 3.905 núcleos.

A autora afirma que muito do ambiente construídonas grandes cidades brasileiras foi determinado pelaindustrialização baseada em baixos salários, bem comono grande contingente de trabalhadores que permaneceuna informalidade.

Assim, as cidades brasileiras, principalmente asmetrópoles, possuem um percentual significativo de suapopulação residindo em favelas. Estimativas doLABHAB/FAUSP, com base em diversas fontes,apresentam os seguintes resultados para algumascidades: Rio de Janeiro, 20%; São Paulo, 22%; BeloHorizonte, 20%; Goiânia 13,3%; Salvador 30%; Recife,46%; Fortaleza, 31%.

3. O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O Município de São José dos Campos, situado aleste do Estado de São Paulo, no Médio Vale do Paraíba,é considerado o mais importante dos trinta e cincomunicípios que compõem a Bacia do Paraíba do Sul. Deacordo com o IBGE (Censo Demográfico 2000), omunicípio ocupa uma área de 1.100 km2 e possui 539.313habitantes, sendo que, desse total, 532.717 (98,7%) estãosituados na área urbana e 6.596 (1,2 %) na zona rural.

Este município de projeção nacional e internacio-nal, conhecido por seu moderno parque industrial e porseus importantes institutos de pesquisa - CTA, INPE,ITA - cresceu de forma desordenada, principalmente apartir da década de 1970. Com isso, apesar das riquezasgeradas em seu território, é marcante a desigualdadeverificada na distribuição dos diversos equipamentoscoletivos, caracterizada pela segregação residencial e pelaexclusão social.

Primeira cidade do interior do Estado de São Pauloem arrecadação de ICMS, só perdendo para a CapitalPaulista, e sendo há cinco anos líder na atração deinvestimentos no interior do Estado, São José dosCampos, como outras cidades brasileiras de seu porte, éconstituída de duas cidades: a “cidade legal” e a “cidadeilegal”. Nesta última, a falta de moradias é um dosprincipais problemas.

A inexistência de uma política habitacional queacompanhasse o processo de urbanização do município,aliada às altas taxas de crescimento demográfico e à perdade poder aquisitivo da população, contribuiu para oaumento da carência habitacional (PMSJC, 1995).

Segundo pesquisa realizada pela PrefeituraMunicipal, em 1978, o déficit de moradias estava em torno

de 12.000 unidades para famílias com rendimento de atécinco salários mínimos. De lá para cá, pouca coisa mudou.Foram construídos alguns conjuntos habitacionaispopulares, entre eles, o Conjunto Habitacional ElmanoFerreira Veloso e os Conjuntos Habitacionais D. Pedro Ie D. Pedro II, todos na periferia da Zona Sul da cidade,que juntos atenderam a cerca de 4.600 famílias.

Além desses programas, o poder público municipalmoveu algumas ações complementares com o intuito deminimizar o déficit habitacional do município. A LeiMunicipal nº. 3.721, de 25 de janeiro de 1990, de uso eocupação do solo, instituiu quatro tipos de loteamentosdiferenciados quanto à infra-estrutura exigida, tamanhodos lotes e percentual de áreas públicas. Com isso,reforçou-se a segregação residencial na cidade, uma vezque os loteamentos “A” e “B”, em áreas centrais e maisvalorizadas, destinavam-se às classes média e alta, e ostipos “C” e “D”, localizados nas áreas periféricas,deveriam atender à demanda da classe de baixa renda.

Com isso, a população de baixa renda passou aocupar áreas periféricas, principalmente na Zona Leste,onde o número de loteamentos clandestinos cresceusignificativamente. Os núcleos de favelas, por sua vez,espalharam-se pelo tecido urbano, representando umaameaça ao capital imobiliário.

3.1 O Perfil da População Residente nas Favelas de SãoJosé dos Campos

Constatou-se que, em 2000, nos vinte três núcleosde favela existentes na cidade, moravam 11.024 pessoasem 2.562 domicílios, representando uma média de 4,3pessoas por habitação, maior do que a média registradapara o município, que era de 3,9 pessoas por habitação(Manolescu, Moraes e Krom, 2001).

A população residente era constituída, em suamaioria, de jovens. A população de crianças e adolescen-tes (de 0 a 19 anos) chegava a 52,6%, enquanto a faixaetária que vai de 20 a 49 anos representava cerca de 39%do total de moradores.

O tipo de construção predominante era o de casasde tijolos ou blocos, com ou sem revestimento, quesomavam 81,48% do total. As habitações caracterizadascomo conglomerado de madeira-barraco representavam11,11% e as de madeira pré-fabricada, 7,41% .

Apesar de esses núcleos residenciais estaremlocalizados em terrenos invadidos, a maioria das pessoasentrevistadas, 60% do total, considerava possuir umimóvel próprio e quitado. Apenas 27,41%, consideravammorar em uma área invadida ou ocupada.

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A maioria dos moradores das favelas, 48,15% dototal, sempre residiu no município. Cerca de 16% dosmoradores residiam no município entre 11 e 20 anos.Dentre os moradores que vieram de fora, 29,67% do totalvieram de outro Estado do Brasil. Quanto ao motivo davinda para São José dos Campos, a mudança profissionalrepresentou 31,11% dos casos. Já o motivo principalapontado para a mudança de bairro, 24,44% do total, foio custo mais baixo do imóvel.

Verificou-se que as condições de infra-estruturaeram precárias nos núcleos de favelas, pois apesar de amaioria da população, 86,67% do total, possuir água darede geral com canalização interna, as condições doesgoto sanitário eram as seguintes: 29,63% em rede geral,23,70% a céu aberto e 22,96% em rio, córrego.

Com relação aos serviços médicos, 91,05% dapopulação utilizava a rede pública de saúde, sendo otipo de serviço mais utilizado a consulta médica (49,29%do total).

Quanto aos intervalos de uso dos serviços desaúde, 39,41% dos entrevistados apontaram o anual,seguido por 21,51% trimestral, 12,05% semestral e 10,50%mensal. Verifica-se, ainda, que estas pessoas, em suamaioria, 65,45% do total, recorriam às UBS (UnidadeBásica de Saúde) para serem atendidas.

No que se refere à educação, constatou-se que,dentre as crianças de 0 a 6 anos, 81,67% não freqüentavamnenhum tipo de creche ou pré-escola, conforme Figura 1.

Fig. 1 - Freqüência escolar.

Dentre as crianças de 7 anos ou mais, a maioria,cerca de 65% do total, não estudava, mas afirmava saberler e escrever. Apenas 33,62% das crianças freqüentavama escola regularmente. A mesma taxa, em relação aomunicípio, para crianças nessa faixa etária, no mesmoperíodo, era de 97%.

Das crianças residentes nas favelas quefreqüentavam a escola (total de 2.970 crianças), 87,82%estudavam na rede pública estadual de ensino, sendoque 78,85% destas crianças tinham que se deslocar paraoutro bairro para poder estudar, levando, em 87,18% doscasos, até 30 minutos para chegar à escola. Em 84,62%dos casos não eram utilizados nenhum meio de transportepara fazer o percurso.

Cerca de 73% das pessoas, com 15 anos ou mais,que não tinham curso fundamental e não estudavam,

apontaram como principais motivos desta situação: em46, 03% dos casos, a falta de interesse e/ou a reprovaçãopor várias vezes; e em 20,63% dos casos, o abandono doestudo para poder trabalhar e/ou ajudar nas despesasfamiliares.

O baixo nível de escolaridade/alfabetização entreas crianças e adolescentes também pôde ser constatadoem relação ao chefe da família, sendo que a maioria, 54,07%do total, nunca estudou ou tinha primeiro grau completo;e 34,07% tinha o primário completo ou o ginasialincompleto.

Dentre os moradores das favelas, com 10 anos oumais, verificou-se que apenas 17,79% estavamtrabalhando de forma regular e os que não estavamtrabalhando somavam 71,63% (Figura 2).

Freqüência Escolar entre os Moradores dos Núcleos de Favelas

0

10

20

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40

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Porc

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gem

(%)

Não Sim Não Informa

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Fig. 2 - Situação atual de trabalho.

Os empregados, sejam de maneira regular ouirregular, em 51,78% dos casos, levavam até 30 minutospara chegar ao trabalho. Desse percentual, 27,68% dostrabalhadores utilizavam ônibus de linha, e 35,71% nãoutilizavam nenhum tipo de transporte para chegar aotrabalho.

Quanto ao tipo de atividade que exerciam, 54,46%dos trabalhadores afirmaram estarem empregados nosetor de serviços.

As principais condições de trabalho, para osempregados, são: 40,18% assalariado com carteiraassinada; 31,25% assalariado sem carteira assinada; e19,64% trabalhando por conta própria.

Verificou-se que as famílias residentes em áreasde favelas, segundo critério da ANEP (AssociaçãoNacional de Empresas de Pesquisas), enquadravam-senas classificações econômicas C, D e E do município, oque representa um total de 99,26% das famílias queresidem nestas áreas (Figura 3).

Fig. 3 - Classificação econômica.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Porc

enta

gem

(%)

NãoTrabalha

Trabalha deForma

Regular

Trabalha emCaráter

Provisório

Não Informa

Situação Atual de Trabalho dos Moradores dos Núcleos de Favelas

0 10 20 30 40 50 60

Porcentagem (%)

E

D

C

B2

B1

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A1

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Núcleos de Favelas São José dos Campos

Classificação Econômica dos Moradores dos Núcleos de Favelas

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Para cada uma destas classes sociais considera-se como renda domiciliar média o seguinte: classe E =sem renda até 2 salários mínimos; classe D = 2 a 4 saláriosmínimos; classe C = 4 a 10 salários mínimos.

Nesse mesmo período, esse mesmo índice para aCidade de São José dos Campos era de 45,94% de famíliaspertencentes às classes A1, A2, B1 e B2, sendo a rendadomiciliar média de 10 salários mínimos ou mais.

4. O PROGRAMA DE DESFAVELIZAÇÃO EM SÃOJOSÉ DOS CAMPOS

As informações a respeito do Programa deDesfavelização foram coletadas, basicamente, a partir depesquisa em diversos exemplares do Jornal Valeparaibanoe da transcrição de uma palestra da Secretária Municipalde Obras, Maria Rita Singulano, realizada na UNIVAP em2002.

Assim, em 2000, a Prefeitura Municipal de SãoJosé dos Campos, visando erradicar os núcleos de favelaspresentes no ambiente urbano, implantou o chamadoPrograma de Desfavelização. Como a maioria das favelasestariam localizadas em áreas de risco ou de preservaçãoambiental, optou-se pela transferências desses núcleospara outros locais.

Assim, após ter sido feito um cadastramento daspessoas que viviam em condições de submoradia, foramcriadas parcerias com as seguintes entidades: Companhiade Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU),Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),juntamente com a Caixa Econômica Federal (CEF).

O Programa de Desfavelização prevê a construçãode conjuntos habitacionais populares, em áreasperiféricas, cujas unidades habitacionais serãofinanciadas em 15 anos, com um ano de carência. O custode cada unidade habitacional varia entre R$ 10 mil eR$ 12 mil, e o valor da prestação da cada imóvel é deR$ 20,00.

Na tentativa de evitar o aparecimento de novosbarracos nas favelas já cadastradas, foram fixados nesseslocais outdors referentes ao “congelamento da favela”,trazendo as seguintes informações: nome da favela, datado “congelamento”, mapa da área, número de moradiasexistentes, de famílias e de habitantes, e a inscrição:”Proibido a venda e a construção de novas moradias”.

Foram disponibilizados fiscais da prefeitura paradiariamente fiscalizar o local, verificando se alguma novamoradia estava sendo construída.

Algumas favelas já foram removidas. Entre elas,

estão a favela da Avenida Salinas, localizada na Zona Sulda cidade (às margens do Córrego Senhorinha – ZonaSul), e as favelas Santa Cruz I e III, ambas próximas aoprédio da Prefeitura Municipal, na área central da cidade.No primeiro caso, as 200 famílias foram removidas paraum conjunto habitacional horizontal, também na ZonaSul. No segundo caso, foi construído um conjuntohabitacional vertical próximo à área anterior.

Estão previstas, para o ano de 2003, a remoção detrês núcleos de favelas existentes na Zona Leste dacidade: Nova Detróit, Caparaó e Vila Tatetuba, com umtotal de 453 famílias.

Esse projeto faz parte do Programa Habitar Brasil/BID, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de SãoJosé dos Campos, o BID e a CEF, e representou uminvestimento de cerca de 12 milhões de reais. Desse total,9 milhões, ou seja, 75% do investimento coube ao BID,sendo que o restante foi dividido entre a PrefeituraMunicipal (2 milhões de reais) e a CEF (comaproxidamente1 milhão de reais).

Foi feita a desapropriação de um terreno no BairroJardim São José, também na Zona Leste, que custou 1,35milhões de reais, com previsão de entrega das moradiaspara o mês de março de 2003.

Além das casas, também está incluída no pacotede obras a construção de uma creche, de um centrocomunitário e de uma UBS - Unidade Básica de Saúde.

No entanto, esse projeto tem despertado odescontentamento de moradores residentes nessesnúcleos, para os quais o local escolhido para a construçãodas unidades habitacionais (Bairro Jardim São José,também na Zona Leste) encontra-se ainda mais distantedos já escassos serviços coletivos, bem como dos postosde trabalho.

Contudo, segundo a Prefeitura Municipal, aremoção dos moradores dessas favelas é inevitável, umavez que os barracos foram construídos em áreas de riscoe em terrenos de preservação ambiental permanente. Estelaudo, no entanto, tem sido contestado pela Comissãode Movimentos Populares – CMP, e dado margem a váriosprotestos por parte de alguns representantes dascomunidades envolvidas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A propriedade urbana cumpre sua função socialquando assegura a democratização do acesso ao solourbano e à moradia, adapta-se à política urbana previstapelo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado,equipara sua valorização do interesse social e não se

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torna instrumento de especulação imobiliária.” LEIORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOSCAMPOS - Capítulo IV - Artigo 253.

No entanto, como foi dito anteriormente, em SãoJosé dos Campos, o desenvolvimento econômico-industrial, verificado nas últimas décadas, não significounecessariamente uma melhoria da qualidade de vida deuma parcela significativa de sua população. São oschamados “excluídos” do processo de urbanização dacidade, que, na verdade, representam uma reservaestratégica de mão-de-obra. Essas pessoas são obrigadasa viver em locais inadequados, sem infra-estrutura e,muitas vezes, vítimas de preconceito dos habitantes da“cidade legal”.

Com relação aos moradores das vinte e três favelasexistentes na cidade, em 2000, verificou-se que suapopulação era constituída basicamente de crianças eadolescentes que, em sua maioria, não freqüentava aescola. O baixo nível de escolaridade/alfabetizaçãoexistente entre crianças e adolescentes também pôde serverificado com relação aos chefes das famílias residentesnesses locais.

Constatou-se que, cerca de 70% dos moradores,com 10 anos ou mais, não estavam trabalhando, sendoque, aproximadamente, metade desses trabalhadores outrabalhavam por conta própria ou sem carteira assinada.Nota-se, portanto, que o desemprego era elevado nesseslocais, e o ingresso no mercado informal era uma dasprincipais alternativas encontradas por essas pessoas.

Chamou a atenção o fato de a maioria dosentrevistados afirmar morar em casa própria,independentemente de essas construções terem sidofeitas em áreas invadidas. No que diz respeito aosaneamento básico, a falta de rede de esgoto foi o principalproblema detectado. Nesses locais, quase metade dascasas não dispunha desse tipo de serviço, sobrando aosmoradores poucas opções: ou as chamadas “valasnegras” ou lançar o esgoto residencial em córregos ourios.

Na tentativa de solucionar esse grave problemasocial, a Prefeitura Municipal vem desenvolvendo umprograma que pretende erradicar os núcleos de favelasexistentes na cidade.

O Programa de Desfavelização implantado pelaatual administração pública, a exemplo de programasanteriores, baseia-se principalmente na transferência dosmoradores dos núcleos de favelas para outros locais dacidade.

Os locais escolhidos para esta transferência, no

entanto, são regiões periféricas, o que poderá dificultarainda mais o acesso dessa população à cidade.

Com isso, reforça-se a já existente segregaçãosócio-espacial, responsável pela separação de ricos epobres, concentrados em parcelas distintas do território.

Desse forma, o acesso democrático ao solourbano, previsto na Lei Orgânica Municipal, econseqüentemente, o direito pleno à cidade, e a tudo queela pode oferecer a seus moradores, parece continuarrestrito àqueles que podem pagar por esse privilégio.

É preciso que haja um planejamento social, nãosó econômico, capaz de reverter o atual quadro que seapresenta. Para isso, é fundamental a ampla participaçãopopular, e não apenas de alguns setores da sociedade.

6. BIBLIOGRAFIA

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__________. As idéias fora do lugar e o lugar fora dasidéias. In: A cidade do pensamento único. Petrópolis:Vozes, 2000.

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PROGRAMA de desfavelização da zona leste começaem abril. Jornal Valeparaibano, São José dos Campos, 5mar. 2002. Disponível em: <http://jornal .valeparaibano.com.br /2002/03/05/s jc /favela1.html>. Acesso em: 10 abr. 2003.

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Mapa da Pobreza Urbana de São José dos Campos – SP

Luciana Suckow Borges *

Resumo: Este texto aborda os aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa sobre a distribuiçãoda pobreza urbana de São José dos Campos - SP, que está sendo realizada como dissertação deMestrado em Planejamento Urbano e Regional da UNIVAP. O objetivo da pesquisa é criar mapas dacidade em função dos aspectos mais críticos da manifestação da pobreza, agrupados em quatrocategorias: 1) condição do domicílio, 2) saneamento básico, 3) condição social do morador e 4)condição de educação - analisados em relação à pobreza urbana do Vale do Paraíba e de SãoPaulo.

Palavras-chave: Pobreza, planejamento urbano, São José dos Campos.

Abstract: This text presents the theoretical and methodological aspects of the research about urbanpoverty distribution in São José dos Campos, SP, that is part of a Master´s Degree Dissertation onUrban and Regional Planning at UNIVAP. The purpose of the research is to create maps of the citybased on the most critical manifestations of poverty, grouped in four categories: 1) housing,2) basic sanitation, 3) residents’ social status and 4) educational level - analyzed within thecontext of urban poverty of Paraíba valley and São Paulo.

Key words: Poverty, urban planning, São José dos Campos.

* Mestranda em Planejamento Urbano e Regional -UNIVAP 2002.

1. INTRODUÇÃO

A pobreza urbana é um dos reflexos das condiçõesde urbanização e desenvolvimento das cidades brasileirasque sofreram rápido crescimento e intensa industrializa-ção. Em São José dos Campos, este processo iniciou-seno fim da década de 1920 e intensificou-se na década de1950, com o processo de industrialização nacional.

Hoje, São José dos Campos é a segunda maioreconomia do Estado de São Paulo, a 36ª melhor cidadedo Brasil em índice de desenvolvimento humano (1). Écitada como ótima cidade para a realização de negócios,e tem baixo índice de pobreza, conforme apontado noAtlas Social da UNICAMP (Universidade Estadual deCampinas) – 1999 (2), em matéria publicada no JornalVale Paraibano.

No entanto, neste mesmo Atlas Social, São Josédos Campos aparece com um índice de extremadesigualdade social (3). Conclui-se, então, que o índicede pobreza elevou-se pela renda dos mais ricos. Para finsde planejamento urbano e políticas sociais locais,interessa saber, então, onde estão localizados estespobres na cidade.

E este é o objetivo da pesquisa: mapear as áreasde pobreza urbana de São José dos Campos para o anode 2000, contextualizando-as em relação ao Vale do Paraíbae ao Estado de São Paulo, entendendo que não é possíveluma análise descontextualizada territorial e socialmente.

Neste texto serão abordados os aspectos teóricose metodológicos que balizarão toda a pesquisa e serãodecisivos para seus resultados.

2. A POBREZA E A CIDADE

No início do século XX, no surgimento dasociologia urbana, estudava-se a cidade sob a perspectivaecológica. Isto é, descrevendo-a como um organismo vivo:sua forma, desenvolvimento, estrutura e função. Apobreza era compreendida como uma desorganizaçãotransitória. Analogamente a um organismo vivo, ospobres iriam se adaptar à cidade, melhorariam suasposições sociais e seriam sucedidos por outros pobres.Os mais ‘aptos’ (com maior riqueza e/ou poder) ganhariammelhores posições no ambiente construído da cidade,disso resultando zonas segregadas.

Já na segunda metade do século XX os estudossobre a cidade, e sobre o urbano, baseiam-se naepistemologia marxista, nascida em meio à efervescênciado modo de produção capitalista e suas conseqüênciassociais. O conflito intra-social torna-se chave para a

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compreensão da realidade. É nesta base que se constróiesta pesquisa, pois se entende a pobreza como algointrínseco à organização social.

No Brasil, os estudos urbanos sofreram grandeinfluência da epistemologia marxista, com grandeproliferação de trabalhos nas décadas de 1970 e 1980.Apesar da vasta literatura sobre a cidade, quando oobjetivo é estudar especificamente a pobreza urbana,vemo-nos frente a uma colcha de retalhos. Cada autoraborda um aspecto da pobreza: cultural, histórico,econômico etc. Por isso, serão utilizados conceitos eidéias de diversos autores, desde que compartilhem dapremissa básica de que a pobreza não é algo ‘anormal’,mas fruto da própria sociedade.

Alguns autores que orientaram este trabalho são:Marx (1984), que no séc. XIX relaciona a pobreza à esferada desigualdade social e não à da exclusão, pois mesmoos desempregados inserem-se no sistema capitalista e aele são essenciais; Castells (1984) que dá atenção especialà moradia, por ser o local da manutenção e reproduçãoda vida do homem; Gottdiener (1993) que aponta aimportância de observar fatores urbanos que sejam aomesmo tempo sociais, políticos e econômicos (como apobreza) e ressalta o fato de que a pobreza é reproduzidapela produção da cidade; Santos (1987) que chama aatenção para o território, que é onde se materializam ascontradições do capitalismo e Torres e Marques (2001)que colocam que a discussão centro x periferia, da décadade 1970, não dá conta de explicar a realidade brasileira, aoverificarem a manifestação atual de pobreza urbana.

Em resumo, os pressupostos deste trabalho são:1) a pobreza é algo intrínseco à organização social; 2) a

pobreza está relacionada à desigualdade econômica enão à exclusão social; 3) a pobreza pode ser percebidapor suas manifestações e percebidas no espaço socialurbano.

3. OPERACIONALIZAÇÃO DO CONCEITO DEPOBREZA URBANA

Para mensurar a pobreza urbana, a pesquisa valer-se-á de indicadores sociais construídos com informaçõesdo Censo de 2000 do IBGE. De acordo com Januzzi (2001),o indicador social é o elo de ligação entre a teoria e aevidência empírica dos fenômenos sociais observados,no caso, a pobreza.

Esta pesquisa trabalhará com os dados maisrecentes sobre a população e seu local de moradia quesejam provenientes de fonte oficial e que ofereçaminformações na menor escala possível, o setor censitário(4), visando à precisão do mapeamento da pobrezaurbana.

A pobreza será analisada através de algumas desuas manifestações, agrupadas em quatro categoriassintetizadas nos indicadores: 1) condição do domicílio;2) saneamento básico; 3) condição social do morador e4) condição de educação. A vantagem de realizar a análiseda pobreza por temas é que se poderá verificar em qualaspecto da pobreza cada área intra-urbana é mais carente– o que facilita a tomada de decisões político –administrativas.

Por sua vez, cada indicador síntese será compostopor três indicadores parciais, conforme o quadro a seguir:

Quadro I - Relação de Indicadores Componentes do Mapa da Pobreza Urbana de São José dos Campos – SP

INDICADORSÍNTESE INDICADOR

DensidadeDomicílios em cortiçosCONDIÇÃO DO

DOMICÍLIODomicílios cedidos e/ou ocupados por invasão

Abastecimento de água por poço, nascente ou outra formaEsgotamento sanitário por fossa rudimentar, vala, rio, lago, outro

escoadouro ou sem sanitárioSANEAMENTO

BÁSICODestino do lixo: em caçamba, queimado, enterrado, jogado em terreno

baldio, em lago, no mar ou outro destinoResponsável pelo domicílio com rendimento de até 1 salário mínimo

Responsável pelo domicílio sem instrução e menos de 1 ano de estudoCONDIÇÃOSOCIAL DOMORADOR Responsável pelo domicílio com 8 anos de estudo

Crianças não alfabetizadasAdultos não alfabetizados

MA

PA D

A P

OB

RE

ZA U

RB

AN

A D

ESÃ

O J

OSÉ

DO

S C

AM

POS

CONDIÇÃO DEEDUCAÇÃO

Idosos não alfabetizados

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A escolha destes indicadores para apontar apobreza se deu conforme a disponibilidade deinformações. Procurou-se trabalhar com dados somentedo IBGE, pois a utilização de outras fontes implicaria anão compatibilização territorial da informação –inviabilizando a criação de mapas da pobreza urbana.

Como a pobreza está relacionada à desigualdade,qualquer classificação de pobreza só existe se comparadaa uma determinada realidade. Neste trabalho não serãoutilizados padrões normativos de ‘linhas de pobreza’,mas as áreas intra-urbanas de São José dos Campos serãoavaliadas comparativamente ao desempenho doconjunto dos setores censitários que compõem a áreaurbana em cada indicador, e reinterpretadas em relaçãoao desempenho do Vale do Paraíba e do Estado de SãoPaulo nestas mesmas variáveis.

Cada setor censitário será classificado em relaçãoa cada indicador, e ao indicador síntese, em uma dasseguintes classes: 1 - muito crítica, 2 - crítica, 3 - razoávele 4 - boa, considerando a média e o desvio padrão dodesempenho da cidade de São José dos Campos.

Cada indicador gerará um mapa (totalizando 12mapas), e cada indicador síntese também terá seu mapacorrespondente (no total mais 4 mapas). A partir dosindicadores sínteses será elaborado o mapa final dapobreza urbana de São José dos Campos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretende-se, ao fim deste trabalho, quando osrespectivos mapas sobre condições de pobreza estiveremconcluídos, conhecer melhor a realidade intra-urbana deSão José dos Campos no tocante à pobreza, subsidiandoa tomada de decisões e ações voltadas à população maiscarente.

5. NOTAS

(1) Levantamento realizado pelo IPEA (Institutode Pesquisa Econômica Aplicada) com dados do Censo2000 do IBGE.

(2) Neste trabalho, o índice de pobreza de SãoJosé dos Campos é de 0,811, na escala que vai de 0 (piorcondição) a 1 (melhor condição).

(3) Índice de 0,175, na escala que vai de 0 (piorcondição) a 1 (melhor condição).

(4) Setor censitário é a unidade de coleta de dadosdo IBGE para o Censo Demográfico. Corresponde, nomáximo, a 300 domicílios.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CHIARADIA, A. Taubaté lidera o “Atlas Social” no Vale.Jornal Valeparaibano, São José dos Campos, p. 5,24 jan. 2003. Disponível em: <http://jornal.valeparaibano.com.br/2003/01/24/tau/atlas1.html>.Acesso em: 10 abr. 2003.

GOTTDIENER, M. Estrutura e ação na produção doespaço. In: A produção social do espaço urbano. São Paulo:EDUSP, 1993.

JANUZZI, P. M. Indicadores sociais no Brasil -conceitos, fontes de dados e aplicações. Campinas, SP:Editora Alínea, 2001. 141 p. ISBN 85-86491-95-0.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. SãoPaulo: Abril Cultural, 1984, p. 198-212 v. 1-2. (OsEconomistas).

SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel,1987.

TORRES, H. G.; MARQUES, E. C. Reflexões sobre ahiperperiferia: novas e velhas faces da pobreza no entornomunicipal. Revista Brasileira de Estudos Urbanos eRegionais. v. 3, n. 4, 2001.

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Burnout e Resiliência:Novos Olhares sobre o Mal-estar Docente

Fatima Araujo de Carvalho *

Resumo: O objetivo deste estudo é apresentar alguns resultados de um estudo bibliográficocomparativo entre pesquisas de várias nações com as do Brasil sobre a insatisfação docente,particularmente sobre a síndrome de burnout, visando entender suas causas e possíveis soluçõesadotadas. Burnout tem sido considerado na atualidade um problema internacional das organizaçõesde trabalho, inclusive as escolas. Fatores apontam a globalização e os problemas sociais eeconômicos como responsáveis por grandes mudanças no ambiente escolar. As exigências atuaisem um mundo altamente competitivo e tecnológico, a sociedade cada vez mais complexa, o estressee as pressões da vida moderna têm contribuído para que professores de todo o mundo se sintam emcrise no trabalho. Este estudo representa uma análise de 368 estudos internacionais e 106 nacionaissobre estresse, burnout, resiliência, formação, satisfação e insatisfação docente. Na tentativa deidentificar comportamentos que pudessem contribuir para renovar a energia positiva dos professores,reconhecemos a resiliência como um caminho onde professores e escolas podem criam fatores deproteção para lidar com o estresse profissional.

Palavras-chave: Burnout, stress, resiliência, professores.

Abstract: The purpose of this paper is to share some findings of a comparative cross-culturaltheoretical study on teacher burnout. This syndrome is been recognized nowadays as an internationalproblem affecting organizations including schools. The present requirements of the highly competitiveand technological world and of a society that gets more and more complex everyday, the stressesand pressures of the modern life have all led teachers, all over the world, to feeling in crisis at work.This study is the result of an analysis over 368 international studies and 106 Brazilian studies onstress, burnout, resilience, formation and teacher satisfaction/dissatisfaction. In order to identifyfactors that can contribute to renew teachers’ positive energy with practical solutions for stress, werecognize the power of resilience as the way teachers and schools can create buffers to deal withburnout.

Key words: Burnout, stress, resilience, teachers.

1. INTRODUÇÃO

De caráter bibliográfico, esta pesquisa teve comosuporte inicial a investigação que deu origem ao livroEducação: carinho e trabalho, organizado por Codo(1999), relatando o resultado de um estudo nacional feitoentre 52 mil professores da rede pública de ensinobrasileira, constatando que 48% manifestam algumsintoma de burnout, a síndrome que, segundo o autor,pode levar à falência a educação. Uma contribuição nessesentido se justifica tendo em vista que os estudos sobreburnout têm se intensificado no Brasil, nos últimos três

* Mestre em Psicologia da Educação - PUC - [email protected]

anos. Acreditamos que essa expansão se deva ao trabalhode Codo já que a revisão aponta que só no período 2000-2002 foram produzidos 30 estudos sobre o tema, contra omesmo número realizado na década de 90, levando a crerque Codo passou a representar um marco nacional naspesquisas nessa área.

Burnout é uma expressão inglesa que significaestar exaurido emocionalmente após longa exposição auma situação estressante, com prejuízo para o resultadodo trabalho que exerce. Dentro desse processoqualificado como cíclico e degenerativo, Blase (apudFierro, 1993) esclarece que a insatisfação no trabalho e afalta de motivação resultam em sentimentos negativosaumentando por sua vez a possibilidade de uma posterioratividade ineficaz, conduzindo assim ao agravamento datensão e do sentimento de inutilidade. Os resultados da

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pesquisa entre os professores brasileiros geram umapreocupação alarmante porque além da necessidade deatenção com a saúde psicossocial desses docentes épreciso estar atento aos seus reflexos no cotidianoescolar, já que o baixo envolvimento com o trabalhocertamente interfere de maneira negativa norelacionamento interpessoal e no processo ensino-aprendizagem. E, consoante Assagioli (apud Batá, 1989p. 70),

se uma pessoa tem um conflito dentro de si mesma(...) não pode criar um relacionamentoharmônico com os outros (...) porque tendemosa projetar sobre os outros, tantos os nossosconflitos quanto nossas tendências agressivas ecombativas.

Ainda dentro dessa perspectiva psicossocial,Seligmann-Silva (1994, p. 59) destaca algumasnecessidades que precisam ser atendidas nas situaçõesde trabalho, como aspirações pessoais do ser humano:

a) a necessidade humana de exercer um controlepessoal sobre o próprio trabalho;

b) a necessidade humana de interação social;

c) a necessidade de assegurar a existência de umsentido em suas tarefas pessoais, dentro deuma relação com um todo significativo;

d) a necessidade de perceber reconhecimentosocial, pelo trabalho desenvolvido e outrasnecessidades ligadas ao contexto sócio-econômico e cultural. (...) E, em países deeconomia dependente, a necessidade demanter o emprego para sobreviver.

Considerando que os professores brasileirosparticipantes da pesquisa do professor Cododemonstram que essas necessidades não estão sendoatendidas, provocando o desencadeamento de sintomasreacionários, que Kals (1983) atribui como resposta àincapacidade do indivíduo de adaptar-se às condiçõesambientais, acreditamos que um estudo das dificuldadesapontadas por professores de outras culturas, bem comoo levantamento de estratégias para lidar com asdificuldades inerentes à profissão, são de extremaimportância para a melhora da relação professor-aluno-comunidade, com visíveis ganhos para todos, já queconforme Gusdorf (1995, p.76) ressalta:

ensinamos mais do que pensamos. Os olharesque pousam sobre o professor não se limitam aobservar as competências específicas. São muitomais abrangentes e perscrutam pensamentos,

sentimentos e atitudes. Dessas observaçõesnascem as identificações que permitem ao alunoelaborar seus modelos, inclusive no gosto pelosconteúdos de ensino e escolhas profissionais.

2. OBJETIVO

O presente trabalho visa apresentar resultadosparciais de uma investigação sobre as causas e razõesque levam o professor a entrar em burnout, a síndromeda exaustão profissional atingida após longo períodosubmetido a uma situação estressante. Busca novoscaminhos para a abordagem do sofrimento mental notrabalho docente e para a transformação das situaçõeslaborais adoecedoras em outras capazes de fazer comque volte a existir prazer e significado no trabalho.Comparando estudos semelhantes realizados emdiferentes contextos, objetiva-se também identificarpossíveis transformações adotadas de naturezapreventiva e simultaneamente relevante, que possam estarsendo aplicadas para a melhoria da qualidade da saúdemental e, em conseqüência, do trabalho docente,analisando condições objetivas, históricas e subjetivas,como forma de não atribuir o sucesso e/ou fracassosomente ao sujeito ou ao meio/condições materiais.Propõe também dar uma contribuição para o avanço dorepertório de conhecimentos na área dessa problemática,oferecendo subsídios para novas investigações.

3. METODOLOGIA

A dissertação que deu origem a este artigorepresenta uma análise de 368 estudos internacionais de46 países e 106 nacionais sobre os temas resiliência esatisfação/insatisfação/estresse e burnout doprofissional docente. Foram investigadas pesquisasdesde 1976 até 2002, empíricas e teóricas. A necessidadedo recorte limitou a análise às causas do fenômenoburnout e nas pesquisas sobre resiliência, às estratégiasde enfrentamento do mal-estar. Para estudo das causasdo mal-estar docente foram consideradas as adaptaçõesfeitas tendo como referência as categorias de análiseestabelecidas por Esteve (1999), Trigo-Santos (1996), Trias(1998) e Lipp (2002), distribuídas em dois grupos a saber:

1} fatores extrínsecos:

os que contribuem para a geração de sentimentosde descontentamento no trabalho e esbarram emrazões externas, onde se incluem salários,relações interpessoais (com colegas, superioreshierárquicos e pessoal subordinado), estatutonacional da educação, medidas políticas,condições de trabalho, segurança, supervisão evida pessoal.

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2} fatores intrínsecos:

os que contribuem para a realização,reconhecimento, o trabalho em si, responsabili-dade, progressão na carreira e possibilidade dedesenvolver os fatores inerentes ao conteúdo dotrabalho, e seriam atribuídos à origem desentimentos positivos em relação ao trabalho e,segundo o estudo, eficazes em motivar o indivíduopara uma execução e esforço de nível superior.

4. RESULTADOS

A constatação da síndrome em professores dediversos países parece demonstrar que a relação serhumano - atividade professor está a merecer cuidadosespeciais, talvez por essa razão os estudos têm sido feitosem diferentes áreas: Psicologia Social, Educação, SaúdeOcupacional, Psiquiatria, Relações Sociais no trabalho eCiências Sociais. O tema, portanto, permitiu o acesso aciências diferentes, já que não se pode fazer um estudodo mal-estar docente sem uma visão histórica dofenômeno (Hargreaves, 1999).

Os fatores desencadeantes da síndromemencionados pelos professores pesquisados no Brasilpoderiam, à primeira vista, numa visão simplista, parecerúnica e exclusivamente decorrentes da política deeducação vigente e característica do estado geral daeducação no Brasil. Todavia, os estudos selecionadosdemonstram que mesmo em países de primeiro mundo omal-estar docente se faz presente.

O que leva um professor de um país desenvolvidoonde aparentemente as condições de trabalho parecemser mais favoráveis a manifestar a síndrome?Incrivelmente, apontam esses estudos, pelas mesmasrazões expostas pelos professores brasileiros.

A partir dos dados analisados foi possível levantaras razões apresentadas pelo professores para o desgasteprofissional que a docência causa e sua incidência, eestudar formas de enfrentamento do estresse e osmodelos etiológicos que determinam suas causas eorigens.

Para melhor entendimento do fenômeno burnouté necessário que se dê uma definição abrangente dasíndrome. O que é burnout e o que provoca burnout?Para Freudenberger (apud Silva, 2000, p.6), que marcou oinício dos estudos sobre o tema,

burnout é resultado de esgotamento, decepção eperda de interesse pela atividade de trabalhoque surge nas profissões que trabalham emcontato direto com pessoas em prestação de

serviço como conseqüência desse contato diáriono seu trabalho.

Embora Barona (2000) diga que ainda não existeuma definição unanimemente aceita sobre o termoburnout, ela admite que parece haver um consenso emaceitar que burnout seja uma resposta ao estresse laboralcrônico.

A principal definição, aceita e difundida pelamaioria dos pesquisadores, vem de Maslach (1976,1999):

Burnout é uma expressão que significa sofrerpor exaustão física ou emocional causada por longaexposição a uma situação estressante. Entrar em burnoutsignifica chegar ao limite da resistência física ouemocional.

O que diferencia ESTRESSE de BURNOUT estánas conseqüências de um e de outro. Enquanto o estresseafeta quase sempre somente a pessoa envolvida, burnoutvai mais além, afetando também o resultado do seutrabalho e as pessoas que estão diretamente envolvidasno ambiente onde o fenômeno é constatado. Maslach eJackson (apud Codo, 1999, p. 238) também definemburnout como

uma reação à tensão emocional crônica geradaa partir do contato direto e excessivo com outrosseres humanos, particularmente quando estãopreocupados e com problemas.

É ainda Codo (p. 238), baseado nos conceitos deMaslach e Jackson, quem diz que

dentro de um conceito multidimensional, asíndrome envolve três componentes:

1) Exaustão emocional - situação em que ostrabalhadores sentem que não podem dar maisde si mesmos a nível afetivo. Percebemesgotados a energia e os recursos emocionaispróprios, devido ao contato diário com osproblemas;

2) Despersonalização - desenvolvimento desentimentos e atitudes negativas de cinismopara com as pessoas de seu trabalho -endurecimento afetivo, coisificação darelação;

3) Falta de envolvimento pessoal no trabalho -tendência de uma evolução negativa notrabalho, afetando a habilidade para arealização do trabalho e o atendimento oucontato com os usuários.

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Características semelhantes são também citadaspor França e Rodrigues (1997) que, apoiados em Delvaux,acrescentam que a exaustão emocional faz surgir ossintomas de cansaço, irritabilidade, propensão aacidentes, sinais de depressão, de ansiedade, uso abusivode álcool, cigarros ou outras drogas, surgimento dedoenças, principalmente daquelas denominadas deadaptação ou psicossomáticas. A despersonalizaçãoreduz a realização pessoal e a produtividade profissional,geralmente conduzindo a uma avaliação negativa de simesmo, à baixa auto-estima. Desse quadro, GarciaMontalvo apud Silva (2000) aponta o esgotamentoemocional como o que apresenta uma dimensão maisconsistente. Sobre esta última fase de esgotamento,Meleiro (2002, p.13) assim se manifesta:

O estágio de esgotamento desenvolve-se quandoa ação do estressor, ao qual o organismo seadaptou, permanece por um período longo,esgotando a energia de adaptação. O organismoé atingido no plano biológico ou físico e no planopsicológico ou emocional. A pessoa é agredidade um modo geral, e cada indivíduo tempropensão para adoecer de acordo com o locusde minor resistance, isto é, o órgão alvo de maiorfragilidade, com a própria constituição e suasheranças genéticas.

Alvarez Galego e Fernandez Rios (apud Silva,2000) também distinguem três momentos para amanifestação da síndrome:

1º) as demandas de trabalho são maiores que osrecursos materiais e humanos, o que gera umestresse laboral no indivíduo. Nestemomento, o que é característico é a percepçãode uma sobrecarga de trabalho;

2º) evidencia-se um esforço do indivíduo emadaptar-se e produzir uma respostaemocional ao desajuste percebido. Aparecem,então, sinais de fadiga, tensão, irritabilidade eaté mesmo ansiedade. Assim, essa etapa exigeuma adaptação psicológica do sujeito, que,uma vez não atendida, reflete no seu trabalho,reduzindo o seu interesse e a responsabilidadepela sua função;

3º) enfrentamento defensivo, ou seja, o sujeitoproduz uma troca de atitudes e condutas coma finalidade de defender-se das tensõesexperimentadas, ocasionando comportamen-tos de distanciamento emocional, retirada,cinismo e rigidez.

Ainda que, inicialmente, as investigações

apontassem algumas profissões, entre elas a docente,como mais propensas à exaustão, Golembiewski e outros(apud Barona, 2000) asseguram que a síndrome afetatodos os tipos de profissões e não somente as que exigemum envolvimento maior com a clientela.

Todavia, não são os fatores organizacionais osúnicos responsáveis pela instalação da síndrome.Conhecida na Psiquiatria como um transtorno adaptativocrônico, vários estudiosos têm observado que fatoresde personalidade e ambientais também confluem para odesenvolvimento do fenômeno.

Por outro lado, as falas dos professores analisadosindicam que são inúmeros os motivos apresentados comocausadores do mal-estar docente. Parece haver umconsenso nas vozes dos professores de todos os lugares.Fazendo um resumo de todas as suas falas podemos dizerque os professores apontam as seguintes dificuldades:

1) Enfrentam uma gama constante de pressõesdas crianças, dos colegas, dos pais, dos políticose administradores, muitas delas conflitantes equase impossíveis de serem atendidas; 2) Osprofessores têm o desafio contínuo de manter ocontrole da classe; 3) Não têm limites claros dehorário de trabalho; 4) Boa parte de seu trabalhoé levada para casa, o que torna difícil desligar-se no fim do dia; 5) Estão abertos a críticas deinspetores, pais, diretores, meios de comunicaçãoe políticos; 6) Não dispõem de recursos eoportunidades suficientes para reciclagemregular e ampla de seus conhecimentos; 7)Paradoxalmente, espera-se que se mantenhamatualizados com novos formatos e novosdesenvolvimentos em sua matéria de ensino; 8)Dependendo do Diretor podem ter pouca vozativa na administração da escola e na tomadade decisões; 9) Têm seu próprio senso de padrõesprofissionais e sofrem as frustrações decorrentesde não conseguir alcançá-los; 10) Têm o campolimitado para buscar conselhos ou discutirdificuldades com os colegas; 11) Têmdificuldades de lidar com as mudanças.

Entretanto, além dos motivos acima, parece serum consenso entre os autores analisados apontar certasreações às constantes mudanças das leis que regem aeducação. Esteve (1999, p. 96) faz referência à síndromecomo

um sentimento de desencanto que afeta hojemuitos professores, quando comparam a situaçãode ensino há alguns anos atrás com a realidadecotidiana das escolas em que trabalham.

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Atribui esse autor esse sentimento de insegurançaao ceticismo e à recusa dos professores em relação àsnovas políticas educativas. Sob a luz das novasexigências, apontam Cox et al. (apud Travers e Cooper,1997) mudanças radicais e demandas crescentes naatuação docente requerem o exame das atuais práticas,esperando ainda que os professores meçam o êxitodessas modificações avaliando-se e avaliando seusalunos, mudando, em conseqüência, suas práticas.

Analisando as reações naturais do ser humanodiante do novo, Mahoney (apud Almeida, 2000) esclareceque há certas situações que forçam os seres humanos adesenvolver uma resistência que ela classifica como ummecanismo de defesa, uma reação do organismo àmudança, para preservar o EU, já que novas propostassempre desestabilizam a experiência e o conhecimentoprévio, e são, muitas vezes, vistas como ameaças à suaidentidade.

Entretanto, alguns professores, apesar de sujeitosàs mesmas adversidades, parecem passar imunes a elas.Estudos feitos por Fontana (1986, 1998) mostram queprofessores que conseguem conviver ou superar asadversidades parecem pertencer a um tipo depersonalidade cujas características psicológicas e outrascaracterísticas, como idade, gênero, educação, posiçãosocial e experiências passadas, levam a certas variaçõessobre a forma como avaliar uma situação estressante eque o grau de envolvimento com as situaçõesestressantes varia em conseqüência da capacidadepsicofísica de resistência de cada indivíduo.

Também Krause e Stryker (1984), estudando tiposde personalidade e sua relação com o estresse, afirmamque os efeitos dos acontecimentos dependem, em grandeparte, do efeito mediador das diferenças em suasrespostas fisiológicas, psicológicas e sociais.Interessante notar como essa observação faz sentido, naanálise que Hiebert e Farber (1984) fizeram em um estudoem várias escolas do Reino Unido. Os autoresdemonstraram que, embora o nível de estresse nãovariasse muito de escola para escola, variava amplamentedentro de cada uma delas, já que, enquanto para algunsprofessores os agentes estressantes eram desafiosestimulantes, para outros surgiam como pressõesdevastadoras, o que justifica a afirmação de Fimian (1982)quando diz que a freqüência com que se produzemincidentes estressantes e sua força varia de professorpara professor.

Krause e Stryker (1984) falam ainda que naspessoas que possuem alta resistência natural ou queforem hábeis em adaptar-se, o estágio de exaustão podeaté não ser alcançado.

Barefoot et al. (1989) observaram que professoressuscetíveis se tornam mais propensos aos efeitos dasíndrome.

Kyriacou e Sutcliffe (1978) identificaram que o graude estresse enfrentado por um professor depende dosmecanismos de defesa e da capacidade de controlar oelemento estressante e do grau em que o professorvaloriza essa ameaça.

Isto parece indicar, conforme esclarece Fontana(1998, p. 284) porque algumas personalidades conseguemadministrar bem o estresse:

Essas pessoas tentam mudar as coisas emdireções desejáveis quando a mudança épossível. Começam primeiro conhecendo ascoisas como elas são e depois trabalham deforma sensata de acordo com as oportunidadese limitações oferecidas.

A idéia crucial conforme apontam Barefoot et al.(1989) é que um mesmo acontecimento que pode gerarimplicações para um determinado tipo de indivíduo podetambém nada gerar para outro que já conseguiudesenvolver algum tipo de estratégia para enfrentar osproblemas. Dependendo, portanto, das característicaspsicológicas de cada indivíduo, das exigênciascircunstanciais (intensidade e duração) e das experiênciaspassadas, assim como das diferenças no processo devalorização de cada indivíduo, Hoover-Dempsey eKendall (1982) dizem que alguns fatores podem tornarreal um elemento, uma característica potencialmenteestressante. Tal definição é defendida também por Fierro(1983, p. 287) quando afirma que:

uma vez submetidos a iguais ou parecidasdemandas, alguns docentes chegam literalmentea enfermar e outros não. Para explicar essadiferença, surge, espontaneamente, a invocaçãode fatores de personalidade.

Que caminho tomar, então, para minimização daproblemática?

O primeiro passo para identificar ou desenvolverestratégias de enfrentamento da síndrome é, segundoDunham (1992, apud Travers e Cooper, 1997) e Kyriacou(2001), reconhecer sua existência no ensino sem associá-la a alguma debilidade pessoal ou incompetênciaprofissional. Algo semelhante apresenta Penin (1985, p.170) quando fala que é na

reflexão da situação global e na compreensãode cada ocupação dentro do contexto social quecada indivíduo ou categoria ocupacional

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instrumentaliza-se para ´ultrapassar´ ascondições objetivas impostas.

Tanto para Fontana (1998) quanto para Meleiro(2002), Almeida (2000), Esteve (1999), Kyriacou (2001),Hargreaves (1999), Kelchtermans e Srittmatter (1999),Brock e Grady (2000), Jesus (2001), Tavares (2001), entreoutros estudiosos que defendem o mesmo ponto de vista,o apoio e o incentivo de pessoas envolvidas na mesmatarefa, com um entendimento das dificuldades mútuas,são recursos sugeridos para ajudar o professor a se sentirmenos abandonado, menos exposto. É essencialconversar com colegas e diretores e informar os outrossobre o momento difícil que se está atravessando, pois écom o apoio e a solidariedade dos colegas e amigos queo mal-estar deve ser tratado. É por isso que, para Almeida(2000), sentir-se aceito, valorizado, ouvido com suasexperiências, percepções, sucessos e insucessos, faz comque a ameaça seja diminuída, tornando a pessoa maisaberta à nova experiência. Fontana (1998, p. 410) àsemelhança de outros estudiosos sugere ainda que oprofessor

mantenha as ansiedades da vida profissionalcotidiana numa melhor perspectiva e que sejamais realista em suas expectativas e em seusjulgamentos do que é possível e do que éimpossível em qualquer situação.

Propõe o desenvolvimento de “estratégias dedistração”, participando de atividades agradáveis queafastem a mente do problema e aumentem a sensação decontrole pessoal, ao invés das atitudes comunsprovenientes das “estratégias de ruminação” (falar oupensar repetitivamente sobre como as coisas são difíceis)ou das “estratégias negativas de enfrentamento darealidade” (adotar comportamentos escapistasperigosos, como bebida e drogas, agitação física, ouagressividade com os outros).

Acreditando na capacidade de cada indivíduosuperar as próprias adversidades, a análise decomportamentos dos indivíduos - no caso professores -que conseguem superar as adversidades mesmo sujeitosàs mesmas dificuldades que seus colegas, nos levou aidentificar a resiliência como a característica presentenesses professores para conviverem com as dificuldadesinerentes à profissão sem se deixarem abater pelo mal-estar e muito menos se envolverem pelos agentesestressantes profundos que desencadeiam a síndromede burnout. A resiliência tem sido aplicada à educaçãoprincipalmente nos Estados Unidos e Europa e ainda épouco difundida no Brasil. A resiliência tem sido, naatualidade, tema de estudo e projetos em diversosorganismos governamentais e privados. Particularmenteestá sendo vista - quando aplicada à educação - como

um novo espaço, segundo Tavares (2001), de estudo ereflexão, para atender às necessidades que o mundo emtransição está a exigir.

A Psicologia Social, na visão de Grotberg (1995)define resiliência como a capacidade universal quepermite uma pessoa, um grupo ou uma comunidade,prevenir, minimizar ou superar os efeitos nocivos daadversidade.

É um conceito novo que Tavares (2001, p. 43)reconhece como tradutor de

uma realidade antiga em que a pessoa humana eas suas mais diversas organizações se refletemem sua própria essência como seres inteligentes,livres, responsáveis, tolerantes, justos, cordiais,mostrando-nos, assim, o seu verdadeiro rosto.

Ao resgatar

o pressuposto rogeriano de que as pessoaspossuem dentro de si mesmas os recursos para aauto-compreensão e para a modificação de seuauto-conceito, de suas atitudes e, conseqüente-mente, de seus comportamentos e que estesrecursos podem ser ativados, se houver um climapsicológico facilitador,

Almeida (2000, p. 78) confirma a existência desse potencialem cada indivíduo.

É nesse sentido que a resiliência nos possibilitater outra visão do mundo em que vivemos e isso implica,naturalmente, mudanças pessoais, já que novas formasde conhecer, aprender, de ser e estar são exigidas de todosnós, mostrando que tanto a educação quanto a formaçãode cidadãos precisam ser revistas e processadas de formadiferente dos moldes atuais. E, assim, Tavares (2001)complementa que a resiliência passa a ser o caminho quenos conduz a esse grande desafio de mudar a nós mesmos,sendo mais flexíveis, desenvolvendo a reflexibilidade,cedendo espaço para o novo, abrindo-se para mudançasprofundas que exigem até mesmo o desaprender de coisasinúteis para poder empreender, agir e resistir, sem quebrar,ou seja, no meio das mais diversas contrariedades que avida nos imponha, saber ser, comunicar, estar e sobreviver.

As constantes mudanças do mundo atual,conforme cita Placco (2001, p. 7)

em que a competição e a busca por espaçosprofissionais e pessoais se torna mais acirrada,em que as expectativas externas se chocam comas possibilidades reais de realização do sujeito -exigem que este sujeito seja formado e

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autoformado para se preservar psicologicamente,para reagir, para ordenar seu mundo, suasnecessidades, suas prioridades, seus desejos, suasações, de modo a não se deixar sobrepujar porcontingências e circunstâncias a que não possa,em dado momento e em determinadas situações,controlar e dar as respostas exigidas.

Assim, ainda de acordo com Tavares (2001, p. 48)

a formação do cidadão da sociedade emergentedeverá possibilitar o desenvolvimento de estrutu-ras de resiliência, ou seja, de mecanismos físicos,psíquicos, sociais, éticos, religiosos que o tornemmais resiliente, menos vulnerável e que lhepermitam ser um agente (...) eficaz na transforma-ção e otimização da sociedade em que vive.

Por isso corroboramos a proposta de Giacon(2001) que defende a inserção, nos currículos de formaçãode professores, de estudos sobre essas transformações,sugerindo o desenvolvimento do ego resiliente comoforma de prevenção da síndrome.

Também Castro (2001, p. 117), inquieta comoeducadora e formadora de professores, destaca essanecessidade como

uma adequação às novas exigências do ensino,já que o pessoal docente, em especial os iniciantesnessa atividade encontram-se freqüentementedesarmados em face das tarefas e situaçõesrotineiras da prática pedagógica.

A ausência dessa adequação é a mola propulsorados problemas do cotidiano escolar, perpassando porsituações iniciais de estresse e desencadeando,posteriormente, a síndrome de burnout, já que poucotem sido feito, pelo menos no Brasil, para ajudar osprofessores a conviver com essas adversidades, o quegera frustração e desconcerto, principalmente, conformenos adverte Castro (2001, p. 117).

nos professores principiantes, que enfrentam osproblemas educativos com uma bagagem deconhecimentos, estratégias e técnicas que lhesparecem inúteis nos primeiros dias da suaatividade profissional.

5. CONCLUSÕES

Conforme observado, a síndrome de burnoutcontinua a despertar o interesse de pesquisadores,principalmente na última década, tendo em vista ocrescente número de professores vitimados, da pré-escola à universidade. A seleção de pesquisas realizadas

em diversos países mostra que as dificuldadesapresentadas pelos professores parecem fazer parte docotidiano escolar de todos os professores independentedo lugar onde atuem. Hoje, já se pode estudar osresultados de pesquisas em diversos países pelo mundoentre diversas culturas e fazer uma análise entre as essasdificuldades, suas respostas, seu ambiente de trabalho,suas reações, bem como as ações aplicadas nasustentação, orientação e adaptação, transformandosuposições em modelos teóricos que possam servir debase para pesquisas futuras. Tendo em mente que nãohá soluções simples para o fenômeno dentro do complexoeducacional, acreditamos que essas estratégias propostaspodem ajudar a criar um ambiente mais saudável emnossas escolas.

O grande exemplo de professores resilientes estásendo dado continuamente. Caminhos para o desenvolvi-mento de atitudes resilientes também têm sido sugeridospelos estudiosos. Um trabalho de maior abrangência, porparte dos gestores escolares para ajudar os professoresvitimados a superarem suas dificuldades desenvolvendoum outro olhar para as circunstâncias, ajudaria no resgateda auto-estima desses profissionais e a melhorar suasatuações dentro da escola e na sociedade.

É aí que a resiliência entra para exercer o papel dedesenvolver essa capacidade, nessa sociedadeemergente. E dado seu potencial, aplicá-la à Educação eà Psicologia da Educação, ainda citando Placco (2001),vem preencher uma necessidade significativa no Brasil.Tais mudanças passam pela revisão dos métodos eprocessos de ensino-aprendizagem, de formação, deeducação, seus conteúdos e meios. E implicam, acima detudo, mudanças pessoais, preparar os professores paraatuar e conviver em um mundo em transformação.

Dessa forma, as causas da síndrome de burnout,atribuídas por muitos autores à dificuldade de se adaptara esse mundo em transição, que De Masi (2002, p. 14)chama de “cultural gap”, justificando que fenômenosdessa natureza têm reminiscências

antropológicas e psicológicas, já que todos nósformamos nossa personalidade em certa época evivemos a seguinte com a mentalidade dopassado,

exigem uma nova revisão, que certamente não podedesprezar o fator resiliência como um caminho para asuperação ou prevenção desse mal-estar.

Obs.: 1) Este artigo está baseado na dissertaçãodesenvolvida com o apoio da CAPES: O mal-estardocente: das chamas devastadoras (burnout) às flamasda esperança-ação (resiliência).

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2) Todos os grifos são nossos.

3) Orientadora: Profª Drª Marli Elisa DalmazoAfonso de André.

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Hierarquias Ocupacionais entre Brancos e Negros emÁreas Metropolitanas Pobres

André Augusto Brandão *

Resumo: Este artigo pretende discutir as desigualdades educacionais e ocupacionais entre brancose afro-descendentes em um contexto específico de pobreza urbana. Trabalhamos com dados coletadosem pesquisa por nós realizada em dois bairros periféricos da Região Metropolitana do Rio deJaneiro, marcados pela violência, pela distância em relação aos centros de produção e consumo donúcleo da metrópole e por péssimas condições habitacionais. Verificamos através dos dados queexpomos no decorrer do texto que mesmo as situações extremas de pobreza coletiva nãohomogeneizam estes dois agrupamentos raciais do ponto de vista das performances educacionais,de ocupação e de renda.

Palavras-chave: Pobreza, relações raciais, performances sociais.

Abstract: This article intends tot compare the differences in employment and education betweentwo racial groups - African-Brazilians and whites - living in poverty urban areas . We worked withdata collected in our researches in two suburban areas of Greater Rio de Janeiro. The areas aremarked by violence, distance from production and consumption centers and feature very poorhousing facilities. The analysis shows that even extreme poverty does not level these two differentracial groups regarding educational performances, employment and income.

Key words: Poverty, racial relations, social performances.

* Professor adjunto da ESS e professor e pesquisadordo PENESB da UFF.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é discutir as desigualdadesocupacionais e educacionais entre brancos e afro-descendentes em um contexto específico. Maisprecisamente, trabalhamos com dados coletados empesquisa por nós realizada em dois bairros periféricos daRegião Metropolitana do Rio de Janeiro. Pretendemosdemostrar que mesmo situações extremas de pobrezacoletiva não homogeneizam estes dois agrupamentosraciais do ponto de vista das performances sociais emgeral e ocupacionais em particular, que podem seralcançadas.

Estes dados acima referidos foram coletados emjulho de 2000, através de questionários sócio-econômicosaplicados em uma amostra de 400 domicílios de um grandebairro da periferia de São Gonçalo-RJ e na totalidade dos292 domicílios de um pequeno bairro da periferia deItaboraí-RJ.

Ambos são municípios que concentram uma

população com características sócio-econômicas que,estatisticamente, perfazem índices piores que os doconjunto do Estado do Rio de Janeiro, seja na renda dosmoradores ou na infra-estrutura urbana. São municípios,também, com alto índice de violência: Itaboraí era em 1997o segundo município do Estado do Rio de Janeiro emmortes por causas externas por 100.000 habitantes, e SãoGonçalo era o 12º, ainda na frente da cidade do Rio deJaneiro.

Itaboraí e São Gonçalo herdam a pobrezaeconômica que caracteriza o antigo Estado do Rio deJaneiro. Ambos são também área de expansão urbana doconjunto da metrópole desde os anos 1970. Neste sentido,apresentam elevada taxa de crescimento entre 1970 e 2000,bem acima daquela alcançada pelo conjunto do Estadodo Rio de Janeiro, o que parece apontar para a existênciade periferias ainda abertas, passíveis de receberpopulações pobres que se deslocam de outras áreas daRegião Metropolitana do Rio de Janeiro.

Além disto, em artigo recente, Valladares &Preteceille (2000) fazem uma classificação de setorescensitários a partir de uma tipologia de urbanização, naqual o pior tipo seria aquele onde somente ¼ dosdomicílios tem acesso à água encanada, há quase

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nenhuma cobertura sanitária básica e somente cerca de¼ de domicílios tem coleta de lixo. Em 1991, na cidade doRio de Janeiro, dos 1117 setores censitários considerados“favela” pelo IBGE, somente 3,13% estavam neste piortipo. Já em Itaboraí, de seus 190 setores censitários (enenhum destes era considerado “favela” pelo IBGE),81,57% estavam neste pior tipo. Em São Gonçalo asituação era menos drástica, porém muito abaixo daquelado núcleo da metrópole: dos 679 setores censitários (etambém aqui o IBGE não considerava a existência dequalquer “favela” neste município) 16,49% estavam nestepior tipo.

Os territórios onde hoje se localizam Itaboraí eSão Gonçalo foram povoados logo após a fundação dacidade do Rio de Janeiro, quando as terras no entorno daBaía de Guanabara foram doadas como sesmarias. Assim,ainda em tempos coloniais estes espaços foram abarcadospelo chamado ciclo da cana-de-açúcar, que espalhou estacultura pelo litoral do Brasil.

No século XX, Itaboraí aderiu à fruticultura, comdestaque para a produção de laranja, e entrou em novociclo de atividade canavieira. Com a crise da agriculturanos anos 1950 no Estado do Rio de Janeiro, oesvaziamento econômico redundou na utilização dasterras para fins de loteamento e moradia.

São Gonçalo segue em traços gerais este mesmocaminho de desenvolvimento com uma exceção: aproximidade direta com a cidade de Niterói, capital doantigo Estado do Rio de Janeiro, possibilitou um maiordesenvolvimento do setor de serviços e a atração decapitais industriais. Assim, até a década de 1960 omunicípio possuía um parque industrial – ainda que depequeno porte. Esta incipiente industrialização, noentanto, entra em crise a partir desta década e, hoje, SãoGonçalo concentra indústrias basicamente no ramo debeneficiamento de produtos da pesca. A história agrícolarepete sem maiores variações a do município de Itaboraí,porém com especialização única na citricultura.

As áreas de ambos os municípios que foramescolhidas para o estudo mais detalhado têm algumascaracterísticas básicas: precariedade ao nível de serviçosde infra-estrutura urbanos; distância em relação aoscentros administrativos e comerciais da metrópole eprecariedade das ações públicas de saúde e educação.

Assim, trabalhamos com um bairro deaproximadamente 40.000 domicílios situado em SãoGonçalo e outro com 292 domicílios, situado em Itaboraí.Ambos foram, até os anos 50, áreas de produção decitricultura e nesta década são loteados. O primeiro éocupado já intensamente neste momento. O segundo éocupado com ritmo mais lento até o início dos anos 1970

e de forma mais sistemática a partir daí.

No total de 692 questionários aplicados, entrevários outros elementos, procuramos levantar dados quenos dessem a compreensão das relações entre a “cor”(1) ou raça (2) e a performance dos chefes e cônjugesentrevistados no que tange à escolaridade e à ocupação.Os dados coletados, depois de organizados, foramanalisados e nos mostraram diferenças importantes entrebrancos e afro-descendentes que habitavam aquelasmesmas áreas periféricas de concentração de pobrezametropolitana.

Antes, porém, de passar à exposição destesdados, faz-se necessário discutir de forma introdutóriaalguns elementos que a literatura recente acerca dasrelações raciais no Brasil tem apontado em relação àinterpenetração entre a escolaridade, a situaçãoocupacional e a mobilidade social da população negra.

2. CHANCES NEGADAS: RAÇA, ESCOLARIDADE EMOBILIDADE SOCIAL NO BRASIL

Em estudo recente, Pastore e Silva (2000) afirmamque a lógica da mobilidade social no Brasil sofreu umasubstancial mudança entre 1976 e 1996. Desde os anos1950 até a década de 70, predominava entre nós o quepodemos denominar como “mobilidade estrutural”, quese relaciona diretamente a alterações na composição domercado de mão-de-obra. O intenso processo de migraçãorural-urbana que o país atravessou desde a metade doséculo XX, com a conseqüente explosão populacionaldas áreas metropolitanas, aliado à recomposição naagricultura nacional, fez com que a ocupação ruraldiminuísse enormemente seu potencial de absorção detrabalhadores, enquanto as ocupações urbanas cresciam.

No período que vai de 1976 até 1996, a mobilidadesocial passa a ser de matriz mais “circular”. Não ocorremalterações significativas no equilíbrio do emprego rural eurbano e na migração campo cidade (esta começa aarrefecer já nos anos 1970). A crise dos anos 1990, emconjunto com a forma de operação econômicamovimentada pelo Estado brasileiro nesta década,provoca a expansão do desemprego e do trabalhoprecário, que potencializam a competição no mercado detrabalho. Neste sentido, o peso de variáveis comoqualificação e escolaridade da mão-de-obra tambémaumentam.

Pastore e Silva (2000) investigam como osprocessos de mobilidade social neste período sediferenciam por “cor”. Para os autores, a faixa deescolaridade e o status ocupacional do pai aparecem comofatores fundamentais que condicionam a escolaridade eo status ocupacional do filho. A concentração de afro-

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descendentes em patamares inferiores de escolaridadesobredetermina, portanto, a situação desprivilegiadadeste grupo racial no conjunto das posições de ocupaçãoe renda e, conseqüentemente, impacta suaspossibilidades de mobilidade social ascendente.

Para esta investigação os autores agregam as maisde 300 categorias ocupacionais definidas pela PNAD/IBGE em 6 grupos assim definidos: Baixo-inferior(trabalhadores rurais não qualificados - pescadores,agricultores autônomos etc); Baixo-superior (trabalhado-res urbanos não qualificados - empregados domésticos,ambulantes, trabalhadores braçais, serventes, vigias etc);Médio-inferior (trabalhadores qualificados e semi-qualificados - motoristas, pedreiros, mecânicos,carpinteiros etc); Médio-médio (trabalhadores não-manuais – auxiliares administrativos, profissionais deescritório, pequenos proprietários etc); Médio-superior(profissionais de nível médio e médios proprietários -administradores e gerentes, encarregados, chefes noserviço público etc); Alto (profissionais de nível superiore grandes proprietários - empresários, professores deensino superior, advogados, médicos, oficiais militaresetc).

Investigando, a partir dos dados da PNAD de1996, os homens entre 35 e 49 anos por “cor” ou raça, osautores verificam que as rotas médias de mobilidade entrebrancos e afro-descendentes são idênticas até o tipoMédio-inferior. A partir deste ponto, enquanto os filhosde brancos em maioria se mantêm sempre no mesmo grupoocupacional do pai, os filhos de afro-descendentes emmaioria caem para grupos ocupacionais inferiores. Maisprecisamente, os filhos de pais brancos que atuavam notipo Médio-médio ficam em maioria neste mesmo tipo; jáos filhos de pais afro-descendentes que atuavam nestetipo, aparecem em maioria no tipo Médio-inferior. Amesma coisa se verifica nos tipos Médio-superior e Alto.A maioria dos filhos de pais brancos mantêm a posiçãoocupacional respectiva, e a maioria dos filhos de paisafro-descendentes fica na categoria ocupacional Médio-inferior.

A contundência destes dados merece que osvejamos de forma numérica. Em 1996, considerando aamostra citada acima, enquanto somente 29,04% dosfilhos de brancos do tipo Baixo-inferior estão neste tipoou no tipo Baixo-superior, entre os filhos de pardos estataxa é de 35,71 %, chegando a 39,24% entre os filhos depretos.

Na outra ponta, 38,54% dos filhos de pai do tipoAlto permanecem neste tipo quando adultos. Entre osfilhos de pretos, estes são 18,18% e entre os filhos depardos 17,89%. No que tange ao tipo Médio-superior,51,73% dos filhos de pais brancos deste grupo aí

permanecem ou migram para o tipo Alto. Já entre os filhosde pais pretos, estes são 30,75% e entre os filhos de paispardos 35,95%.

Ou seja, pretos e pardos que possuem pai emgrupo de status ocupacional Alto têm muito maispossibilidades que os brancos de uma mobilidade socialdescendente.

Tomando os dados da PNAD de 1996 de formamais “fotográfica”, Pastore e Silva (2000, p. 88) afirmam,que nesta data, estavam nos tipos Baixo-inferior e Baixo-superior 36,4% dos brancos, 48,4% dos pretos e 53,7%dos pardos. Já nos tipos Médio-inferior, Médio-médio eMédio-inferior estavam 54,9% dos brancos, 49,4% dospretos e 44,5% dos pardos. Por último, no grupo Alto,estavam 8,7% dos brancos, 1,9% dos pretos e 2,2% dospardos.

Tais diferenças se relacionam diretamente com asperformances de escolaridade. Como mostram Pastore eSilva (2000, p. 93), 64,8% dos filhos de pais brancos dotipo Alto chegam à 12 anos e mais de escolaridade. Entreos filhos de afro-descendentes com a mesma posiçãoocupacional, somente alcançam os 12 anos e mais deestudos 24,3%.

Na outra ponta, entre os filhos de brancos dogrupo ocupacional Baixo-superior, um total de 19,8%chega aos 12 anos e mais de estudos. Já entre os filhosde afro-descendentes somente 6,7% chegam a estepatamar de escolaridade.

Assim, os autores concluem que “... o núcleo durodas desvantagens que pretos e pardos parecem sofrer selocaliza no processo de aquisição educacional” (Pastoree Silva, 2000, p. 96).

Por último, é importante lembrar ainda que, comomostrou recentemente Henriques (2001), as políticasuniversais de aumento da cobertura educacional nãoconseguiram diminuir a histórica diferença entre os anosmédios de escolaridade de brancos e afro-descendentes.Em 1999 os primeiros, com 25 anos de idade, tinham 8,4anos de estudos em média; os afro-descendentes namesma idade tinham 6,1. Apesar do aumento dos anosmédios de estudos dos dois grupos raciais durante oséculo XX, esta diferença de 2,3 anos, no entanto, semantém praticamente inalterada a partir de 1929(Henriques, 2001, p. 27).

Mesmo considerando somente a década de 1990,os afro-descendentes apresentam, em todos os anos eem todos os segmentos de ensino, performances dedesempenho inferiores aos brancos. Assim, em 1999, 8%dos negros situados na faixa etária entre 15 e 25 anos são

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analfabetos, enquanto os brancos na mesma faixa sãosomente 3%. A ausência da escola, no período de 7 a 13anos de idade, atinge 5% das crianças afro-descendentese 2% das crianças brancas. Já na faixa entre 18 e 23 anos,enquanto 63% dos brancos não chegaram a completar oensino secundário; este percentual entre os afro-descendentes é de 84%. Tomando agora a faixa entre 18e 25 anos de idade, 11% dos jovens brancos haviamchegado ao ensino superior; entre os afro-descendentesestes são somente 2%.

As agregações de dados quantitativos com asquais os estudos de Pastore e Silva (2000) e Henriques(2001), citados acima, trabalham, têm como escopo oconjunto das áreas investigadas pela PNAD do IBGE.Trata-se de pesquisa amostral, que procura mapear arealidade nacional. Neste sentido, alguém pode se sentirtentado a dizer que as diferenças de status ocupacional ede escolaridade média entre brancos e afro-descendentespoderiam ser resumidas na diferença de presença destessegmentos nos contingentes pobres da população, o querealimentaria as diferenças de performance a partir daí.

Se de fato a pobreza brasileira é muito mais negrado que branca, como aponta de forma cristalina o estudode Henriques (2001), pretendemos mostrar, a partir dedados empíricos por nós coletados, que mesmo entregrupos populacionais que habitam áreas extremamentepobres e degradadas que compõem uma malhametropolitana, é possível identificar diferenças que

refletem uma situação pior para os negros.

Assim, se podemos dizer que, em escala nacional,os negros estudam menos do que os brancos porque –entre outras variáveis – são mais pobres do que estes,os dados que coletamos nos dizem que, mesmo entresegmentos populacionais homogeneamente pobres,onde brancos e negros dividem as mesmas ruas semcalçamento e com esgoto a céu aberto, na mesma edegradada periferia, os mecanismos da desigualdaderacial operam mantendo os índices de escolaridade eocupação dos pobres negros em patamares piores queos dos pobres brancos.

3. A CLIVAGEM RACIAL EM MEIO À POBREZAMETROPOLITANA

Na população total da região Metropolitana doRio de Janeiro, em 1991, os afro-descendentes eram44,99% dos habitantes. No município do Rio de janeiro,núcleo desta metrópole, este grupo racial era nesta data38,59% da população residente. Já na periferia dametrópole, a concentração de afro-descendentes começaa subir: 49,47% da população de São Gonçalo e 59,76%da população de Itaboraí neste ano. Trata-se de umcontínuo de segregação espacial que se abate sobre apopulação afro-descendente e que não para por aí. Nosbairros periféricos que estudamos, áreas mais pobres queos pobres municípios onde se situam, a configuraçãoracial dos chefes e cônjuges é a seguinte:

Bairro da periferiade São Gonçalo

Bairro da periferiade Itaboraí

Cor ou raçaNº % Nº %

Branco 286 41,39 174 33,85Preto 102 14,76 61 11,87Pardo 295 42,69 279 54,28SI* 8 1,16 0 0

Total 691 100 514 100

Tabela 1 – Cor ou raça de chefes e cônjuges entre a população pesquisada

* Sem identificação

Como vemos na Tabela 1, a distribuição por “cor”ou raça dos 1205 chefes de família e cônjuges, quepertencem às famílias pesquisadas em julho de 2000 numbairro da periferia de São Gonçalo e em outro da periferiade Itaboraí, é diferente daquela que o próprio IBGEapontava para o conjunto da população residente nestesmunicípios em 1991. Tínhamos, neste ano, para SãoGonçalo, 49,91% de brancos, 39,78% de pardos, 9,69%de pretos, 0,03% de amarelos, 0,06% de indígenas e ainda0,20% de não declarantes (o que configurava umapopulação negra ou afro-descendente de 49,47%). Já na

área pesquisada deste município não encontramos noano 2000 nenhum chefe ou cônjuge amarelo ou indígena;enquanto isto, os brancos eram 41,39%, os pardos 42,69%,os pretos 14,76 e os não declarantes 1,16% (o queconfigura entre os chefes e cônjuges um percentual de57,45% negros ou afro-descendentes).

É interessante verificar que, mesmo no âmbitodeste bairro periférico, há diferenças de alocação dapopulação por “cor” ou raça. Na tabela acima vemos ototal de chefes e cônjuges por “cor” ou raça, compreendi-

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dos nas 5 áreas em que dividimos este bairro para fins deaplicação dos questionários sócio-econômicos. Comovimos nesta tabela, os brancos são 41,39% da populaçãode todas as áreas e os afro-descendentes 57,45%; noentanto, se tomarmos a área 1, que entre as 5 possui omaior número de ruas urbanizadas e que está recebendoum conjunto de melhoramentos urbanísticos por partedo Governo do Estado do Rio de Janeiro, veremos queos chefes e cônjuges brancos são 46,94% e os chefes ecônjuges afro-descendentes são 51,02%. Já na área 4,que tem a pior caracterização urbanística dentre estas 5áreas do bairro, os chefes e cônjuges brancos sãosomente 28,44%, enquanto os afro-descendentes chegamao enorme montante de 68,81%.

Por isto nos referíamos acima a um contínuo desegregação espacial por raça. O percentual de afro-descendentes na população vai crescendo quando nosafastamos do núcleo da metrópole e chegamos aosmunicípios periféricos; aumenta ainda mais quandochegamos aos bairros mais pobres e afastados destes

municípios, e ainda cresce quando observamos as áreasmais destituídas de infra-estrutura urbana dentro destesbairros pobres.

Tomemos agora o bairro periférico de Itaboraí, quetambém estudamos. O IBGE apontava, para 1991, umadistribuição racial da população residente neste municípioque configurava 39,58% de brancos, 49,19% de pardos,10,57% de pretos, 0,02% de amarelos, 0,10% de indígenase ainda 0,20% de não declarantes (o que totaliza umapopulação afro-descendente de 59,76%). Em 2000, entreos chefes e cônjuges no bairro periférico pesquisado,não encontramos amarelos ou indígenas; os brancos eram33,85%, os pardos 54,28% e os pretos 11,87% (o queconfigura entre os chefes e cônjuges um percentual de66,15% afro-descendentes).

As duas tabelas abaixo mostram a escolaridadealcançada pelos chefes e cônjuges de ambos os bairrosperiféricos estudados.

Cor ou raçaEscolaridade Brancos % Negros %

Analfabeto 9 3,61 15 4,20Ensino fundamental incompleto 120 48,19 221 61,90Ensino fundamental completo 60 24,10 61 17,09Ensino médio incompleto 9 3,61 7 1,96Ensino médio completo e mais 35 14,06 37 10,36SI* 16 6,43 16 4,48Total 249 100% 357 100%

Tabela 2 - Escolaridade de chefes e cônjuges da população pesquisada, por “cor” ou raça, no bairro da periferiade São Gonçalo

* Sem identificação

Tabela 3 - Escolaridade de chefes e cônjuges da população pesquisada, por ”cor” ou raça, no bairro da periferiade Itaboraí

Cor ou raçaEscolaridade Brancos % Negros %

Analfabeto 18 10,34 49 14,41Ensino fundamental incompleto 107 61,49 227 66,96Ensino fundamental completo 21 12,07 25 7,35Ensino médio incompleto 7 4,02 8 2,35Ensino médio completo e mais 17 9,77 30 8,84

Total 170 100% 339 100%

Alguns elementos das tabelas acima devem serressaltados. Primeiro, a taxa de analfabetismo de chefes ecônjuges é menor entre brancos do que entre os negrosem ambos os bairros periféricos. Além disto, chefes e

cônjuges afro-descendentes são mais presentes naescolaridade relativa ao ensino fundamental incompletodo que os brancos e sempre menos freqüentes a partirdaí, em ambos os bairros periféricos que investigamos.

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Somando os chefes e cônjuges que não chegarama acessar o ensino médio, temos no bairro periférico deSão Gonçalo 75,90% de brancos e 83,19% de negros, nobairro periférico de Itaboraí encontramos respectivamente83,91% de brancos e 88,72% de negros.

Trata-se – no caso dos moradores em geral deambos os bairros – de uma população homogeneamentedesprovida dos requisitos educacionais necessários paraa luta pelos melhores lugares do mercado de trabalhometropolitano, principalmente nestes tempos deglobalização produtiva, informatização e requisitos dealta produtividade. Apesar disto, os negros entram ainda

de forma mais desfavorável nesta competição.

No que tange ao desemprego e ao subempregodos chefes de família, encontramos também uma relativaclivagem racial. Não foi possível mapear a soma dedesempregados e subempregados no bairro da periferiade São Gonçalo. Fizemos um tal mapeamento somentepara o bairro estudado na periferia de Itaboraí.Trabalhamos com o critério de autodefinição doentrevistado acerca de sua situação ocupacional eagregamos os desempregados e aqueles que sedenominavam como “fazendo biscates”. Assim, encon-tramos os números abaixo:

CorSituaçãoocupacional Branco %

desemprego Preto %desemprego Pardo %

desempregoTotal %

desemprego

PEA 75 32 109 216Desempregados/fazendo biscates 19 25,33% 10 31,25% 41 37,61% 70 32,40%

Tabela 4 - PEA e desemprego entre os chefes de família por cor ou raça no bairro da periferia de Itaboraí

Vale ressaltar, de início, que este índice dedesemprego expressa a situação de miséria e destituiçãodeste bairro. Apesar de todos os problemas que ametodologia para mensuração do desemprego utilizadapelo IBGE carrega (Brandão, 2002), devemos lembrar queeste instituto apontava para a Região Metropolitana doRio de Janeiro, no mesmo mês em que aplicamos osquestionários naqueles dois bairros (julho de 2000), umataxa da ordem de 5,44%. Se a taxa que os chefes brancosresidentes neste bairro apresentam já é muito mais altaque esta, a taxa dos pretos e pardos em conjunto, quechegava a 36,17%, a suplanta em quase 11 pontospercentuais.

Há também significativas diferenças no que tangeà distribuição ocupacional de chefes e cônjuges, nestesdois bairros de concentração de pobreza urbana. De inícioentre a área melhor urbanizada (que concentra menoríndice de afro-descendentes) e a área pior urbanizada(que concentra maior índice de afro-descendentes) dobairro da periferia de São Gonçalo, já encontramos umadisparidade relativa ao montante de ocupados sob assituações tendencialmente mais precárias. No conjuntodeste bairro, 3 ocupações somam 41,47% do total dapopulação ocupada, são estas: “trabalhador em obras ena construção civil”, “trabalhador doméstico” e“comerciário”. Na área pior urbanizada, estas 3 categoriasreúnem 41,89% dos ocupados, enquanto na área melhorurbanizada somente 30,93% estão alocados nestasocupações.

Do ponto de vista da separação estritamente racial,

os chefes de família ocupados nestas três categoriasacima são 29,41% dos chefes brancos e 30,99% dos chefesafro-descendentes.

Se isolarmos somente a categoria “trabalhadordoméstico”, veremos que enquanto estes são 13,96% daamostra do total das 5 áreas pesquisadas, são 10,31%dos ocupados da amostra da área 1 e nada menos que20,27% dos ocupados na amostra da área 4. Ainda naperspectiva racial, encontramos 3,36% de chefes brancoscomo empregados domésticos e 11,11% de chefes negrosnesta situação.

Neste mesmo bairro, se isolarmos também ascategorias sócio-ocupacionais que podemos muitoamplamente denominar de subproletariado (3), ou sejaos “empregados domésticos”, os “ambulantes” e os“biscateiros”, veremos que do total de chefes e cônjugesbrancos, 9,24% estão aí ocupados, enquanto os afro-descendentes seriam 16,37%.

Tomando somente os chefes de família, entre osque estão ocupados como “trabalhador de obras e daconstrução civil”, encontramos 19,40% dos brancos e32,35% dos afro-descendentes.

Já no bairro da periferia de Itaboraí, as ocupações“trabalhador em obras e na construção civil”, “trabalhadordoméstico” e “comerciário” somam 45,43% da populaçãoocupada, mas somente 38,80% dos chefes de famíliabrancos ocupados e 51,47% dos chefes de família negrosocupados.

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Já os chefes de família, que pertencem aosubproletariado, são 19,40% dos brancos e 20,58% dosnegros. Se desagregarmos os empregados domésticos,veremos que estes são 13,43% dos chefes brancos e15,09% dos afro-descendentes.

Os “trabalhadores em obras e na construção civil”,por sua vez, também reúnem um percentual maior doschefes de família afro-descendentes (32,55% destes) doque dos chefes de família brancos (19,40% destes).

No subproletariado encontramos diferençaspequenas, mas ainda uma situação pior para os afro-descendentes: 19,40% dos chefes brancos estariam nestegrupo, contra 20,58 dos chefes negros.

Como derivação dos dados até aqui apresentados,encontramos também uma clivagem racial no que tange àrenda destes chefes de família marcados pela pobrezametropolitana. Vejamos a tabela abaixo:

Tabela 5 - Renda individual dos chefes de família, por cor ou raça, nos dois bairros periféricos estudados

Bairro da periferiade São Gonçalo

Bairro da periferiade Itaboraí

Rendaem

saláriosmínimos Brancos % Negros % Brancos % Negros %

até 2 s 70 44,87 109 51,90 56 58,33 132 67,34+ de 2 s 63 40,38 79 37,61 34 35,41 54 27,55

SI* 23 14,74 22 10,48 6 6,25 10 5,19

Total 156 100 210 100 96 100 196 100 * Sem identificação

Como podemos verificar, os chefes de família afro-descendentes de ambos os bairros se encontram maispresentes que os brancos na faixa de renda individualaté 2 salários mínimos mensais, e menos presentes nafaixa acima de dois salários mínimos mensais. Vemosainda que, em geral, a renda individual dos chefes defamília é mais alta no bairro da periferia de São Gonçalo;no entanto, é no ainda mais pobre bairro da periferia deItaboraí que as diferenças entre os dois agrupamentosraciais se configuram ainda maior nesta variável.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar, queremos somente ressaltar que aclivagem racial encontrada nestes espaços periféricosde concentração de pobreza na Região Metropolitana doRio de Janeiro “salta” dos números apresentados acima.

Em um dos bairros pesquisados o contínuo desegregação espacial a partir da raça se mostra em detalhes.Trata-se do bairro da periferia de São Gonçalo, que éinternamente heterogêneo no que tange à urbanização.Neste, vemos também a heterogeneidade na concentraçãoracial dos moradores. A sua área mais degradada do pontode vista da infra-estrutura urbana (a área 4) concentra umpercentual muito maior de chefes e cônjuges afro-descendentes do que o conjunto das cinco áreas quecompuseram a amostra. Já a área melhor urbanizada (aárea 1) é a que concentra o menor percentual destes. Nomesmo movimento encontramos na área 4 as piores

condições no que tange à questão do esgoto, da coletade lixo e da iluminação pública. Nesta área 4, onde oschefes e cônjuges afro-descendentes são 68,81%,encontramos ainda as menores taxas de escolaridade dosmaiores de 14 anos e a maior proporção relativa deocupados naquelas atividades mais desqualificadas domercado de trabalho metropolitano.

Para além desta diferença entre as áreas quecompõem um dos bairros, verificamos em ambos umaclivagem racial expressa em vários elementos discutidosaqui: em relação aos brancos, os afro-descendentesapresentam maior percentual de chefes de família ecônjuges atuando no emprego doméstico, analfabetos,nas faixas inferiores de escolaridade; além de maiorpercentual de chefes de família nas ocupações quecompõem a classe do “subproletariado”, bem como dechefes de família desempregados. Trata-se portanto deum conjunto de diferenças de performance, que seestendem da formação escolar ao mercado de trabalho,que nos dizem que, nestes pobres bairros periféricos,onde os brancos são a parte menor da população, osafro-descendentes ainda carregam a tendência a serem,na média, mais pobres e menos escolarizados que ospobres e pouco escolarizados brancos.

Neste sentido, os resultados de nossa pesquisaempírica nos permitem afirmar que mesmo as mais severascondições de pobreza não promovem uma completahomogeneização sócio-econômica entre brancos e afro-

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descendentes, e isto nos mostra, portanto, aimpossibilidade de reduzir a “questão racial” no Brasil auma “questão de classe social” – a menos que queiramos,repetindo os erros do passado, lançar uma densa cortinade fumaça sobre a configuração das relações étnico-raciais entre nós. Mas, tais resultados nos mostramtambém que as políticas voltadas de forma universal paraas populações mais pauperizadas, apesar de muito bemvindas ante o nosso panorama social, não resolverão osproblemas relacionados com as desigualdades de fundoracial que persistem com força mais de 110 anos após ofim da escravidão negra no país.

5. NOTAS

(1) Neste artigo estamos trabalhando com apressuposição de que, no contexto brasileiro, a “cor”eqüivale à representação ainda que figurada da idéia deraça. Mais precisamente, acreditamos que “...alguém sópode ser classificado num grupo de cor se existir umaideologia em que a cor das pessoas tenha algumsignificado. Isto é, as pessoas têm cor apenas no interiorde ideologias raciais” (Guimarães, 1999, p. 44).

(2) Usamos os termos “raça” e “racial” não emsentido biológico, mas sim como indicadores de origense trajetórias históricas comuns, ou seja como “atributosocialmente elaborado” (Hasenbalg, 1991).

(3) Conforme indicação de Ribeiro (2000).

6. BIBLIOGRAFIA

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Ambientes Virtuais para a Formação de Educadores:Buscando uma Escola Inclusiva

Klaus Schlünzen Junior *Elisa Tomoe Moriya Schlünzen *Renata Benisterro Hernandes **

Marcelo Pauluci di Santo **Adriana Aparecida de Lima Terçariol **

Maria das Graças de Araújo Baldo **Adriano Marcos Fuzaro **Andréa Alves da Silva **

Marcos Leonel de Souza **

Resumo: Na disciplina “Formação de Professores para uma Escola Digital e Inclusiva”, do cursode pós-graduação em Educação da FCT/Unesp, visando proporcionar um ambiente Construcionista,Contextualizado e Significativo; foi proposta a implementação de um Portal, para atender adiversidade do grupo de pesquisadores que freqüentavam o curso. Na construção do Portal tínhamoscomo principal objetivo contribuir para a criação de ambientes inclusivos e digitais, fundamentadosnas inúmeras experiências vivenciadas pelo grupo de alunos e professores envolvidos em escolaspúblicas do Estado de São Paulo, empresas e instituições filantrópicas. Com esta proposta abria-se a possibilidade de tornar as pessoas portadoras de necessidades especiais cidadãos totalmenteintegrados ao mercado de trabalho e na sociedade da qual eles foram distanciados. Dessa forma,poderíamos criar um importante instrumento capaz de propiciar momentos de trocas de informaçõese experiência. Pois, na formação atual da maioria dos educadores não há capacitação para promovera inclusão. Logo, com o intuito de promover uma extensão das investigações realizadas, abriu-se apossibilidade de auxiliar e incentivar a construção de Comunidades Virtuais Inclusivas,proporcionando ambientes de aprendizagem que irão contribuir para a capacitação de educadoresem qualquer nível e modalidade de atuação, em um ensino de qualidade para todos.

Palavras-chave: Inclusão, cidadania, ensino à distância, tecnologias de informação e comunicação,ambientes virtuais.

Abstract: Within the activities of the discipline “Teacher Formation for a Digital and InclusiveSchool”, a graduate course of the College of Education of FCT/Unesp, with the purpose of providinga Constructionist, Meaningful and Significant environment, the diverse group of researchers whoattended the course were presented the proposal of the implementation of a Portal. The mainobjective for the construction of the Portal was to create an inclusive and digital environment,based on the several experiences of the group of pupils and professors involved in public schools inthe state of São Paulo - Brazil, companies and philanthropic institutions. With this proposal, itwould be possible to integrate people with special needs marketing the market place and in thesociety from which they had been segregated. Thus, we could create an important instrument capableof providing moments for sharing information and experiences. Unfortunately, the current formationof the majority of the educators does not prepare them to promote that inclusion. Therefore, with thepurpose extending the researches, the work suggested the possibility of assisting and stimulating

Professor(a) da UNESP - Presidente [email protected]@prudente.unesp.brMestrando(a) em Educação - UNESP - [email protected]

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the construction of Inclusive Virtual Communities, providing learning environments that willcontribute for the qualification of educators from all educational levels for achieving qualityeducation for all.

Key words: Inclusion, citizenship, remote learning, information and communication technologies,virtual environments.

1. INTRODUÇÃO

Vivemos numa sociedade em profunda crise social,moral e afetiva que passa por um processo deautodestruição e onde a qualidade de vida diminui dia adia. É urgente trabalhar a favor de uma nova sociedade eacreditarmos que a integração das tecnologias noprocesso educacional pode resgatar o ser humano parao afloramento de suas potencialidades, se utilizado deforma adequada. No entanto, faz-se necessária umacapacitação dos educadores para atuarem na construçãode novos ambientes de aprendizagem com compromissoético e social, procurando desfazer as desigualdades etodo tipo de exclusão, uma vez que a inserção dosportadores de necessidades especiais no mercado detrabalho sempre foi permeada por uma série depreconceitos, considerando que eles não são capazes dedesempenhar com a mesma desenvoltura e a mesmacapacidade as funções feitas por pessoas tidas como“normais”. Aos poucos vemos esse cenário sedesfazendo, tornando-se cada vez mais comum suapresença no mercado de trabalho, o que reverte emqualidade de vida para estas pessoas em uma novaperspectiva, pois já podem sonhar e acreditar napossibilidade de terem uma profissão, ou seremprodutivos e aceitos como qualquer outro ser que nãoapresenta as mesmas dificuldades.

Ao participar do mercado de trabalho, o portadorde necessidades especiais deixa de ser tão dependentede seus familiares, mudando a dinâmica da família. Umdos aspectos mais importantes da contratação dosdeficientes está na cidadania. O trabalho é uma das fontesmais ricas de inclusão social. No sistema capitalista, avalorização está pautada em quem produz. Emboratenhamos observado avanços na inclusão social, aindafalta muito a se conquistar. Nunca se falou tanto deinclusão como nos últimos dez anos. Aumentaram-se aspropostas de trabalho das entidades para os portadoresde necessidades especiais, os conceitos se ampliaram.

O mercado contratante ainda é “tímido”, uma vezque pouquíssimas pessoas acreditam na produtividadedos portadores de necessidades especiais. Também nãosabem lidar com as diferenças e dificuldades dos outros,esquecendo-se que eles, apesar de suas limitações, podemter potenciais jamais explorados. Além disso, se nem aescola, que é o ambiente ideal para iniciar a inclusão das

pessoas especiais, consegue realizar tal façanha, comopodemos acreditar que a aceitação deles poderá ocorrerem outros ambientes?

A garantia de acesso ao trabalho para as pessoascom necessidades especiais é prevista tanto na legislaçãointernacional como na brasileira. No Brasil, as cotas devagas para pessoas com deficiência foram definidas emlei de 1991, porém só passou a ter eficácia no final de1999, quando foi publicado o decreto nº 3.298. Eladetermina que as empresas com mais de cem empregadoscontratem pessoas com necessidades especiais segundoas seguintes cotas: de 100 a 200 empregados, 2%; de 201a 500 empregados, 3%; de 501 a 1.000, 4%; e acima de1.000 funcionários, 5%.

Essa Lei mudou a visão social. No entanto, só alegislação não é suficiente para garantir que a inclusãodos portadores de necessidades especiais no mercadode trabalho ocorra realmente. No entanto, a lei é ummediador, um colaborador, mas se não houver a lei, nãotemos a formalidade de experimentar e vivenciar essarealidade.

Logo, para que a lei seja cumprida realmente, énecessário que a educação faça a sua parte, incluindo noprocesso ensino e aprendizagem o portador denecessidade especial. Além disso, é preciso acreditarmosno potencial destas pessoas. Para isso, as entidadesdevem cumprir o seu papel de mediadoras daprofissionalização e cabe às empresas estarem abertas avivenciar essa realidade. Essa “ajuda”, que se dá semconcessões de isenções fiscais, é responsabilidade social.

Ao mesmo tempo em que essa realidade seexpande, as universidades não vêm formando educadorespara lidar com ela, pois não contemplam em seus currículosconteúdos relacionados à inclusão. Contudo, nãopodemos pensar em uma formação puramente tecnicistaou teórica. A formação do educador deve dar-lhe meiospara auxiliá-lo a descobrir um outro modo de agir e demudar para o benefício dos educandos, fazendo uso dasTecnologias da Comunicação e Informação,potencializando as oportunidades de aprendizagemdessas pessoas. Na maioria das capacitações com o usodas tecnologias, o agente formador leva fórmulas ouatividades prontas para o educador, ou seja, restringe-sea “treiná-lo”. Com isso, torna-se praticamente impossível

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que o educador reflita sobre a sua prática e sobre aimportância que a Educação pode trazer para a construçãode uma nova sociedade.

Assim, acreditando na necessidade de integração,cooperação, diálogo e formação contínua e progressivaproporcionada pela criação de ambientes virtuaisinclusivos, ou seja, uma rede digital de compartilhamentode vivências e experiências na formação de agentes deaprendizagem que englobem não apenas as dimensõescognitivas, mas, principalmente, a disseminação de umaconsciência social, ambiental e existencial, surgiu nadisciplina do programa de pós-graduação em Educaçãoda Faculdade de Ciências e Tecnologia – Unesp dePresidente Prudente/SP, a proposta da elaboração doPortal “Educação Digital Para Todos”.

O objetivo principal da construção do ambientevirtual por meio de uma metodologia construcionista,significativa e contextualizada foi contribuir e fornecersubsídios ao trabalho dos educadores preocupados coma melhoria da qualidade do ensino para todos. Essametodologia usou como estratégia o desenvolvimentode projetos para construir novos conhecimentos dosalunos que constituíam um grupo muito heterogêneo,em que tratar do tema “Escola Digital e Inclusiva” erapara todos estar, não apenas refletindo sobre ele, mas,acima de tudo, estar agindo de forma a contribuir para aconstrução desta escola, repensando o seu ambiente.Assim, cada integrante do grupo com sua experiênciapode contribuir para a aprendizagem e interesse de todos,aliando a teoria com a prática e construindo algo palpável.

Com estas experiências e com as discussões emsala de aula, constatamos que a tecnologia é umaferramenta facilitadora que poderá ser usada comoinstrumento na construção do conhecimento doeducando e, principalmente, dos portadores denecessidades especiais e demais excluídos. Percebemosainda que o professor pode valer-se de informaçõesprovindas de várias áreas e envolver-se com diferentesdisciplinas, tornando o ensino cooperativo einterdisciplinar, sendo necessário que conheça osrecursos oferecidos pelas novas tecnologias,descobrindo o potencial que elas oferecem paratransformar o ensino. Esse caminhar possibilitou-nosvivenciar diversos ambientes (escolas públicas eprivadas, entidades filantrópicas, empresas,organizações) de forma que muitos já desenvolviammetodologias que atendem à diversidade, criandoambientes Construcionistas, Contextualizados e Significa-tivos (Schlünzen, 2000) com o uso das novas tecnologias.

Entretanto, a maioria dos trabalhos realizados naárea de Tecnologias na Educação foi desenvolvidacriando-se projetos de informática com uma visão voltada

para a tecnologia, enquanto o ideal é a sua utilização comvistas na mudança na forma de conceber o ensino e aaprendizagem, utilizando-a como uma potencializadoradesse processo. Assim, esta tecnologia poderia ser umaaliada na criação de um processo educacional melhor,complementando as habilidades individuais e auxiliandona construção de um mundo que dá um sentido maiorpara a vida.

Saber usar as novas tecnologias é a grandedificuldade do professor que está em sala de aula, comum sentimento de isolamento e uma total falta de preparopara tornar o ambiente educacional realmente inclusivo.O objetivo da criação deste Portal foi exatamente dediminuir este isolamento de forma que o educador possaencontrar nele princípios ou idéias para transformar asua prática, visando a inclusão de todos os seus alunos.Buscamos, além disso, dar um grande passo para a criaçãode “comunidades virtuais inclusivas”, ou seja, gruposde pessoas ligadas pela tecnologia na busca de melhoriasde nossas escolas e outros ambientes educacionais.

O objetivo deste trabalho é a criação de um Portalque será uma opção a mais para a formaçãocontextualizada e significativa dos agentes deaprendizagem e educandos por meio do uso dastecnologias, associada a uma metodologia de formação ede avaliação para a construção de uma Educaçãorealmente Inclusiva. Assim, a participação de todosnestas comunidades virtuais permitirá, além do aprendera fazer, o desenvolvimento de habilidades de comunicaçãorelacionadas ao saber ajudar e ao saber ensinar, o quepode contribuir para tornar o processo de formação maishumano e comprometido com o despertar dos desejospor uma escola inclusiva. Esta abordagem tambémpossibilitará implementar a idéia de respeito e aceitaçãoda diversidade, de forma menos seletiva podendo abrir aperspectiva de estar desenvolvendo uma abordageminclusiva para os desfavorecidos.

2. METODOLOGIA DO TRABALHO

Ao propor o desenvolvimento de um Portal quepudesse subsidiar o trabalho dos educadores no sentidode concretizar a inclusão, bem como possibilitar umaformação continuada do próprio grupo, foi solicitada umapesquisa a ser realizada por todos os integrantes do grupoem seus respectivos ambientes de atuação, com oobjetivo de atender aos anseios de educadores e demaisinteressados na área. A partir dos dados tabuladosobtidos nessa pesquisa determinaram-se os links queestariam sendo contemplados no Portal para distribuiçãode tarefas entre os elementos do grupo que seriamresponsáveis pelo seu desenvolvimento, favorecendo aatuação de acordo com interesse e competência de cadaum. Paralelamente à realização das tarefas, foram

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propostas leituras que embasaram a construção desseambiente. Cada encontro do grupo foi muito rico, nosentido de que favoreceu as trocas de experiências, tantono relato do andamento do trabalho de cada aluno,quanto nas discussões e reflexões provocadas pelasleituras.

O título do Portal “Educação Digital para Todos”expressa a intenção de provocar mudanças na Educaçãoatual, incorporando o uso das novas Tecnologias daInformação e Comunicação como instrumentos quevenham possibilitar a aprendizagem e torná-la inclusiva.

Para a seleção do símbolo do Portal, procuramosalgo que representasse a união de esforços dos que lutampela educação digital para todos. Além disso, com oobjetivo de acolher profissionais que desejam tornar oseu ambiente inclusivo a figura principal tem formaestilizada de uma mão com uma educadora em sua palma.

A estrutura do Portal partiu de uma pesquisa emque diversos educadores de diferentes campos deatuação foram entrevistados quanto às dificuldades emlidar com inclusão e o uso de novas tecnologias em suaprática pedagógica. Investigamos as expectativas desses

educadores quanto ao conteúdo de um portal quesuprisse as necessidades encontradas no dia a dia.Somamos os dados coletados às experiênciasvivenciadas em escolas públicas, particulares,profissionalizantes, empresas e instituições filantrópicas,onde o grupo de alunos e professores atua.

Além disso, os alunos realizaram estudos teóricosbaseados em pesquisadores como: Valente (1993, 1999ae b), Mantoan (2001), Moran (1998), Moraes (2002), entreoutros. Esta atividade permitiu a elaboração de algunstextos e apresentações que já compõem a biblioteca doPortal.

Através das experiências do grupo de alunos eprofessores e das discussões em sala de aula, fomos embusca de meios que possibilitassem atender àsnecessidades apontadas pelos educadores. Identificamosa tecnologia como instrumento facilitador da construçãodo conhecimento e viabilizador de um processo deaprendizagem colaborativa.

Assim, numa tentativa de atender às necessidadesdos educadores, o Portal conta com os seguintes recursosimplementados, podendo ser visualizados na Fig. 1.

Fig. 1 - Tela principal do Portal “Educação Digital para Todos”.

Unesp: neste item o usuário poderá acessardiretamente o site da Universidade Estadual Paulista<http://www.prudente.unesp.br>, da qual os educadorese pesquisadores fazem parte.

NEC: Núcleo de Educação Corporativa, é o núcleode pesquisa pertencente à Unesp, que mantém o Portalem seu servidor.

Como Navegar: o propósito desse link é orientara navegação pelo Portal, através de um roteiro de

navegação na forma de um organograma.

Links Externos Interessantes: endereços de website relacionados ao mesmo propósito do Portal.

Fale Conosco: viabilizamos, através de e-mail, umcanal de comunicação direto com o grupo de alunos epesquisadores, para que os educadores possam de formareservada enviar mensagens e críticas.

Biblioteca: ambiente onde os educadores poderão

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ter acesso a textos, artigos, vídeos e referência de livrosque abordam temas relacionados à inclusão, ao uso denovas tecnologias na educação e também uma descriçãoe análise de softwares educativos, bem como informaçõessobre diversas patologias de pessoas portadoras denecessidades especiais.

Eventos: local reservado para divulgação deCongressos, Cursos, Encontros e Palestras relacionadosà Educação.

Pesquisadores: as informações relacionadas àformação acadêmica, atuação profissional, publicaçõese meio de contato com o grupo de alunos e professoresque desenvolveram o Portal.

Banco de Experiências e Projetos: aquipretendemos promover a troca de experiências, em queos educadores podem ter acesso a um acervo de projetose experiências vivenciadas por diversos grupos deeducadores inclusivos e também contribuir com o relatode suas próprias experiências.

Comunicação: através de Chat, cursos on-line eFóruns de discussão, possibilitando a interação entreeducadores, pesquisadores e consultores. Tambémexistirá um espaço para envio de dúvidas e um muralonde todas os usuários poderão divulgar eventospertinentes à Educação.

Busca: esta opção possibilita a busca deinformações no Portal, por meio de palavras-chaves.

Destaques: um letreiro exibirá as novidades deeventos promovidos e informações disponibilizadas peloPortal.

Ainda salientamos o cuidado que tivemos emproduzir um ambiente amigável e de fácil utilização, emque os educadores se sintam motivados a buscarinformações e compartilhar seus anseios, experiências,sucessos e insucessos, desenvolvendo novascompetências e habilidades, participando de um processode aprendizagem colaborativa, para o saber ensinar.

Nossas expectativas futuras são utilizar aEducação à Distância, através das Tecnologias daComunicação e Informação, para capacitar educadores,agregando valores que concretizem as mudançasnecessárias para atender a uma sociedade que demandapor oportunidades, desfazendo as desigualdades e todotipo de exclusão. Esta realização será possível mediantea elaboração de um primeiro curso de extensão em“Educação Inclusiva”, elaborado por todos osparticipantes da confecção do Portal.

3. RESULTADOS E CONCLUSÕES

A disciplina do curso de pós-graduação emEducação “Formação de Professores para uma EscolaDigital e Inclusiva”, oferecida pelos professores KlausSchlünzen Junior e Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, tendocomo uma das finalidades a elaboração de um Portal como tema “Educação Digital para Todos”, caracterizou-sepor oferecer oportunidades de desenvolvimentointelectual, pessoal, social, emocional, político e espiritualpara todos os envolvidos no processo, pois, adotandouma metodologia construcionista, estes educadorespossibilitaram a nós a construção do conhecimento deuma forma contextualizada e significativa.

Para isso, adotaram a estratégia dedesenvolvimento de Projetos de Trabalho, onde foiproposto trabalhar com atividades abertas, quepossibilitaram estabelecer nossas próprias estratégias.Tendo enfoque globalizador, centrado na resolução deproblemas significativos, fomos vistos como sujeitosativos na construção de nosso conhecimento, pois todaa concepção do Portal foi elaborada em conjunto comprofessores e alunos. O conteúdo abordado foideterminado pelo problema em questão, possibilitando aaquisição do conhecimento como instrumento paracompreensão e possível intervenção na realidade.Segundo esta estratégia, os professores interviram emnosso processo de aprendizagem, criando situaçõesproblematizadoras, introduzindo novas informações eparticularmente fornecendo condições para queavançássemos em nossos esquemas de compreensão darealidade.

Esta abordagem metodológica quebrou osparadigmas da Educação Tradicional e fez com quepercebêssemos de uma maneira ampla e irrestrita que aEducação deve ser praticada dando sentido real aoaprender a aprender.

Através das observações nos diversos ambientesem que atuamos e relacionando com o conteúdo destadisciplina, pudemos constatar que quase nada mudouna metodologia de ensino dos professores nos últimosanos na Educação Brasileira. Poucos professores têm avisão e a cultura construcionista na sua metodologia deensino, ou seja, fazem com que os alunos construam seuconhecimento.

A sociedade está em constante mudança, o quetem implicado também uma clientela escolar diferenciadaque possui um conhecimento tecnológico e crítico diantedesta realidade, ou seja, a criança que chega à escola jápassou por processos de educação importantes: pelofamiliar e pela mídia eletrônica. Por isso, é necessária umaeducação para as mídias, para compreendê-las, criticá-

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las e utilizá-las da forma mais abrangente na construçãodo conhecimento, de modo que o aluno seja capaz deanalisar e filtrar as informações durante este processo.

Diante disso, cabe a escola rever sua abordagemtradicional de modo que permita aos seus alunosexpressarem seus desejos. Entretanto, isso não acontecepelo fato de a metodologia de ensino de algunsprofessores estar situada em épocas muito remotas, ouseja, muito defasada, não dando o devido valor aopotencial dos alunos. Isso com certeza ocorre pela faltade preparo destes professores e talvez pelo medo demudar. É necessário incentivar e fazer com que os alunosbusquem as atualidades e as Tecnologias de Informaçãoe Comunicação (TICs) inseridas na sociedade moderna.Assim, os professores poderiam trabalhar com projetos,formulando seu planejamento pedagógico através dasidéias e potenciais dos alunos, usando cada vez mais astecnologias da instituição.

Diante deste cenário, os educadores precisam terconsciência de que o conhecimento é construído atravésde um processo de interação e comunicação externa einterna; perceber que entre suas responsabilidades estáa de ajudar a si mesmo e ao próximo a aprender a viver ecompreender o mundo; ajudar o aluno a desenvolver suashabilidades de compreensão, emoção e comunicação; epermitir que encontrem seus espaços pessoais, sociais eprofissionais. De acordo com (Moran, 1998), “Espera-sede um professor, em primeiro lugar, que seja competentena sua especialidade, que esteja atualizado. Em segundolugar, que saiba comunicar-se com seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o interesse do grupo,entrosado, cooperativo e produtivo”.

No campo da Educação Especial, é fundamentalque também ocorram avanços significativos na didáticaadotada, pois já é previsto por lei que a inclusão aconteçanos diversos níveis de ensino. Contudo, resta ainda muitoa ser feito para que a educação de pessoas portadoras denecessidades especiais não se verifique apenas na teoria.

Existe no mundo atual um grande número depessoas portadoras de necessidades especiais queaumenta dia a dia. Está confirmada pelos resultados depesquisas com segmentos da população e porinvestigações de renomados pesquisadores a estimativamundial de 500 milhões. Na maioria dos países, pelo menosuma em cada dez pessoas é portadora de algumadeficiência física, mental ou sensorial, e a presença dadeficiência repercute, de um modo adverso, em pelomenos 25% de toda a população.

Assim, a idéia de criarmos um Portal surgiu naintenção de apoiar os educadores a atuarem em prol dainclusão e da inserção do computador na prática

pedagógica. Acreditamos que as redes de computadorespossam propiciar um ambiente de aprendizagemcolaborativa. Para montarmos esse Portal, tivemos debuscar informações que foram compartilhadas e expostasao grupo para que cada um colocasse suas idéias,opiniões e experiências. Através das informações obtidas,foram levantadas questões sobre como efetivar ainclusão, usando as novas tecnologias as quaisprovocaram reflexões no grupo. Com isso, adquirimosuma série de conhecimentos que não tínhamos. Segundo(Valente, 1999a), “o conhecimento deverá ser fruto doprocessamento de informações, da aplicação dessasinformações processadas na resolução de problemassignificativos e reflexão sobre os resultados obtidos”.

Durante a construção deste Portal, pudemos, pormeio de algumas leituras, perceber que existem duasmetodologias que vêm sendo adotadas pelos educadoresao trabalhar com as Tecnologias de Informação eComunicação na Educação: o Instrucionismo e oConstrucionismo. Constatamos que os educadores quedesejam caminhar por novos horizontes e descobrirnovos métodos de ensino, podem estar analisando essasmetodologias, refletindo sobre as suas possibilidadespara o desenvolvimento integral dos alunos, assim comopoderão estar observando qual a melhor maneira dealcançar seus objetivos visando à construção do saberde forma significativa.

O acesso a leituras referentes ao uso dasTecnologias de Informação e Comunicação na Educaçãoproporcionou a aprendizagem de conceitos essenciaispara a atuação nesta área. Ao trabalhar com o livro“Mudanças na Comunicação Pessoal: GerenciamentoIntegrado da Comunicação Pessoal, Social eTecnológica”, Moran (1998), percebemos que ele enfatizaa utilização desses recursos como ferramentashumanizadoras. Ao contrário do que muitas pessoasafirmam, que a máquina reforça o individualismo, oegoísmo, podemos, segundo este autor, utilizar essastecnologias a favor da interação pessoal, grupal e social,buscando com as novas formas de comunicação nostornar pessoas mais felizes e amadas.

Com as idéias da autora Maria Teresa EglérMantoan, contidas no texto “Abrindo as Escolas àsDiferenças” (Mantoan, 2001), pudemos ter a certeza deque, apesar das dificuldades, é possível que uma escolase transforme, revendo suas atitudes, alterando suasestruturas físicas e organizacionais, de modo a incluirtodas as crianças em salas de aula regulares. Éfundamental também a existência de cursos para oaprimoramento profissional dos professores.

Ao trabalhar com o texto “O papel do Professorno Ambiente Logo” de José Armando Valente (1996,

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p. 13), percebemos que o educador pode conseguir“através do Ciclo: descrição-execução-reflexão-depuração-descrição, que se estabelece na interação doaprendiz com o computador, procurar que eles façam umareflexão sobre o uso da tecnologia”. Assim, a “descriçãodas idéias que os alunos passam para o computador podeser usada como objeto de estudo e de discussão arespeito do ato de criar ou do pensar sobre o pensar...”(Freire & Valente, 2001).

Em nossos encontros no curso, tivemos aoportunidade de vivenciar um ambiente onde adiversidade de competências e habilidades entre osalunos foram administradas com eficiência pelosprofessores da disciplina, favorecendo o processo deaprendizagem. O grupo de alunos é composto porprofissionais que atuam em diversas áreas e níveis daeducação, o que poderia ser visto inicialmente como umdesafio ao sucesso do processo de ensino eaprendizagem. No entanto, a diversidade entre os alunosfoi um dos pontos positivos para entendermos o quantopodemos tirar proveito das diferenças em uma sala deaula. Para que isso pudesse acontecer, os professorestiveram o cuidado de conhecer os ideais de cada aluno,identificando o potencial de cada um, propondoatividades que tivessem significado para o contextoprofissional e pessoal do aluno, além de demonstrarem opropósito de colaborar para que cada um alcançasse seuobjetivo. É importante considerar também que lidar coma diversidade requer saber ser humilde para ouvir o que ooutro nos traz e estar aberto a compartilharconhecimentos.

Conforme as atividades do projeto foram sedesenvolvendo, notamos que o grupo constituiu relaçõesde amizade, de cooperativismo, de coletividade e desolidariedade, o que leva a crer que com a metodologiade projetos não se desenvolve apenas o cognitivo doaluno, mas também o afetivo. Para (Mantoan, 2001), “oclima sócio-afetivo das salas de aula é mantido na baseda cooperação, de modo que os alunos se sintam segurose possam compartilhar as experiências de aprendizageme complementá-las com seus saberes”.

4. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp pelo apoiofinanceiro.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200350

A Construção de Ambientes Virtuais: Uma FerramentaPara a Inclusão Digital e Social de Jovens Carentes

Elisa Tomoe Moriya Schlünzen *Adriana Aparecida de Lima Terçariol **

Resumo: Atualmente, a rede que conecta a cada dia milhares de computadores de todo o mundo,denominada Internet, está se tornando uma ferramenta importante na comunicação humana. A suaaplicação em praticamente todas as áreas e o seu crescente número de usuários têm feito com quetodos os países do mundo estejam conectados à Internet. No que se refere ao setor educacional, aInternet tem estado presente desde os primeiros momentos do seu surgimento. Com isso, propôs-sea realização desse projeto de pesquisa, envolvendo atividades com o uso da Rede Internet, para odesenvolvimento de uma Home-Page sobre a cidade de Presidente Prudente (SP), com a finalidadede possibilitar a dez jovens provenientes de classes sociais desfavorecidas o acesso a uma novamaneira de aprender e construir o conhecimento, adquirindo simultaneamente subsídios para asua inclusão digital e social. Assim, ao criar um ambiente virtual, os jovens construíram o próprioconhecimento de uma forma significativa e contextualizada, desenvolvendo-se intelectual, pessoal,social, emocional, espiritual e politicamente.

Palavras-chave: Ambiente virtual de aprendizagem, construção do conhecimento, inclusão digital esocial.

Abstract: Nowadays, the network that connects, every day thousands of computers around theworld is called Internet, and has turned into an important tool for human communication. Itsusefulness in practically all fields and its increasing number of users has connected all countries inthe world. As far as the educational sector is concerned, the Internet has been present since the firstmoments, when it emerged. Therefore, the accomplishment of this search project that involvesactivities using the Internet to develop a Home-Page about the city of Presidente Prudente wasproposed with the purpose of making it possible for ten low-income teenagers, to get in touch witha new way to learn and build knowledge, getting at the same time, subsidies for their digital andsocial inclusion. Thus, when you create a virtual place, those teenagers build their own knowledgein a significant and meaningful way, developing themselves in several aspects: intellectual, personal,social, emotional, spiritual and political.

Key words: Virtual learning environment, knowledge building, digital and social inclusion.

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1. INTRODUÇÃO

A última década do século XX foi marcada peladiscussão sobre a qualidade da Educação e sobre ascondições necessárias para assegurar o direito decrianças, jovens e adultos às aprendizagensimprescindíveis para o desenvolvimento de suas

capacidades. A preocupação com essa questão não épropriamente nova, entretanto, nos anos 90, a Educaçãode qualidade tornou-se uma preocupação de váriossegmentos da sociedade. Inúmeros são os compromissosnacionais e internacionais firmados pelos governos nosúltimos tempos como forma de acelerar o processo queleva a essa meta.

A educação promovida pela escola distingue-sede outras práticas educativas, como as que acontecemna família, no trabalho, no lazer e nas demais formas deconvívio social, por constituir uma ajuda intencional como objetivo de promover o desenvolvimento e a socializaçãode crianças, jovens e, em muitos casos, também deadultos. Em uma concepção democrática, entende-se a

Professora da UNESP - Presidente [email protected] em Educação - UNESP - [email protected]

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educação escolar como responsável por criar condiçõespara que todas as pessoas desenvolvam suas capacidadese aprendam os conteúdos necessários para construirinstrumentos de compreensão da realidade e paraparticipar de relações sociais cada vez mais amplas ediversificadas, condições fundamentais para o exercícioda cidadania.

O desenvolvimento de diferentes capacidades -cognitivas, afetivas, físicas, éticas, estéticas, de inserçãosocial e de relação inter e intrapessoal - só se tornapossível, através do processo de construção ereconstrução de conhecimento. Do contrário, não sepromove a aprendizagem. E, nessa perspectiva, conhecere considerar os diferentes fatores que concorrem para oprocesso de construção de conhecimento passam a seruma tarefa à qual as instituições educativas não podemse negar.

Uma educação, que pretende ser de qualidade,precisa contribuir progressivamente para a formação decidadãos capazes de responder aos desafios colocadospela realidade e nela intervir. A reflexão que a comunidadeeducacional tem acumulado nos últimos anos indica quepara uma formação desse tipo, a escola deve garantir àscrianças e jovens aprendizagens bastante diversificadas.Deve lhes garantir a possibilidade de, ao longo daescolaridade, compreender conceitos, princípios efenômenos complexos e de transitar pelos diferentescampos do saber, aprendendo procedimentos, valores eatitudes, atualmente, imprescindíveis para odesenvolvimento de suas diferentes capacidades.

É necessário que todos aprendam a valorizar oconhecimento e os bens culturais e a ter acesso a elesautomaticamente, a selecionar o que é relevante,investigar, questionar e pesquisar, a construir hipóteses,compreender, raciocinar logicamente, a comparar,estabelecer relações, inferir e generalizar, a adquirirconfiança na própria capacidade de pensar e encontrarsoluções. É preciso que todos aprendam a relativizar,confrontar e respeitar diferentes pontos de vista, discutirdivergências, exercitar o pensamento crítico e reflexivo(Moraes, 2002).

É preciso que aprendam a ler, criticamente,diferentes tipos de texto, utilizar diferentes recursostecnológicos, expressar-se em várias linguagens, opinar,enfrentar desafios, criar, agir de forma autônoma(Almeida, 2002). E que aprendam a diferenciar o espaçopúblico do espaço privado, ser solidários, conviver coma diversidade, repudiar qualquer tipo de discriminação einjustiça (Pellegrino, 2001). Esse conjunto deaprendizagem representa, na verdade, um desdobramentode capacidades que todo cidadão - criança, jovem ouadulto - tem direito de desenvolver ao longo da vida,

com a mediação e ajuda da escola.

A utilização das novas tecnologias de informaçãoe comunicação com esse propósito requer a análiseminuciosa do que significa ensinar e aprender, demandarever a prática e a formação do professor para esse novocontexto, assim como mudanças no currículo e na própriaestrutura da escola. Familiarizar crianças, jovens e adultoscom esses recursos é, hoje, uma necessidade, pois todoscompreendem que na sociedade moderna essas máquinasestão inseridas no dia-a-dia de todos.

Contudo, a utilização das novas tecnologias naEducação, não é fazer delas uma “máquina de ensinar”(Papert, 1994), mas proporcionar condições para que setornem uma nova mídia educacional, passando, então, aser uma ferramenta pedagógica, de complementação, deaperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade doensino. Essas mudanças podem ser introduzidas com apresença do computador que deve propiciar as condiçõespara os alunos exercitarem a capacidade de criar, procurare selecionar informações, resolver problemas e aprenderindependentemente, pois o professor aqui é um criadorde ambientes de aprendizagem e o facilitador do processode desenvolvimento intelectual do aluno (Valente, 1996).

Diante desse cenário, desenvolvemos o projetode construção de uma Home-Page intitulada “Brasil-Portugal: 500 Anos de Contínuas Descobertas”, com oprincipal objetivo de proporcionar o acesso àstecnologias de informação e comunicação a jovensprovenientes de classes sociais desfavorecidas,propiciando a sua inclusão social e digital. Além disso,essa pesquisa visou analisar o uso da Rede Internet parao aprimoramento do processo de aprendizagem,compreender como esse recurso educacional poderiacontribuir para a formação de um novo perfil profissionalapto a atuar na sociedade moderna, interpretar algunsaspectos da comunicação via computador na escola ediscutir as atitudes pedagógicas que tendem a serdesencadeadas entre alunos e professores, assim comocriar situações para o resgate da auto-estima eautoconfiança de jovens carentes, mostrando que sãocapazes.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização dessapesquisa foi baseada no ciclo ação-reflexão-ação, ou seja,as pesquisadoras estiveram permanentemente em contatocom o grupo pesquisado, juntos agiram, refletiram,planejaram e replanejaram as ações sempre que necessárioem um constante movimento de ação e reflexão.

Segundo uma perspectiva de pesquisa-ação,proporcionaram condições para que os jovens se

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tornassem agentes do próprio processo de ensino-aprendizagem. Para isso, foi necessário que buscasseminformações sobre o tema que estavam trabalhando,selecionassem o material coletado e, posteriormente, oestruturassem no computador, para que construíssem opróprio conhecimento.

Os encontros ocorreram na maioria das vezes noPólo Computacional da FCT/UNESP/Campus dePresidente Prudente (SP). Este laboratório estavacomposto por cinco microcomputadores, cinco kitsmultimídia, uma impressora jato de tinta, um scanner eacesso à Rede Internet. Os encontros ocorreram àssegundas-feiras das 14:00 às 18:00 horas. As atividadesforam desenvolvidas em duplas com a finalidade de havercooperação, troca de idéias e respeito entre os sujeitosda pesquisa.

Com o objetivo de trabalhar o tema: Os 500 Anosdo Descobrimento do Brasil, propomos ao grupo acriação de uma Home-Page sobre a cidade de PresidentePrudente (SP). Para isso, foram utilizados alguns serviçosda Rede Internet, como o E-Mail (correio eletrônico), oChat (conversação) e visitas a sites sobre o assunto aser trabalhado. Para a realização dessa atividade houveonze encontros com quatro horas de duração cada um,totalizando 44 horas de formação.

No primeiro encontro com estes jovens, realizamos,inicialmente, uma dinâmica de apresentação com afinalidade de que todos os envolvidos no projeto seconhecessem melhor, buscando realizar um diagnósticode suas expectativas em relação ao trabalho que estariamdesenvolvendo. Em seguida, para que o grupo soubessequal era o objetivo do trabalho, esclareceu-se como seriamdesenvolvidas as atividades relacionadas ao uso da RedeInternet, para construir uma Home-Page com o tema“Brasil-Portugal: 500 Anos de Contínuas Descobertas”,com o intuito de comemorar os 500 Anos deDescobrimento do Brasil. Esclarecemos que esse trabalhoconsistiria na organização de um time virtual deestudantes brasileiros do qual eles fariam parte. A missãodesse time seria pesquisar informações sobre suarespectiva cidade, para, posteriormente, disponibilizá-lasem páginas eletrônicas na Rede Internet.

Com a finalidade de familiarizar os jovens com oambiente virtual, solicitamos que se agrupassem emduplas nos computadores para navegarem em algunssites, utilizando os softwares Netscape Navigator ouInternet Explorer. Foram exploradas várias Home-Pagescom temas diversificados para que os alunos fossem sefamiliarizando com os recursos do computador e interfacesda Internet. Aproveitando essa oportunidade, propomosaos jovens a criação de seus respectivos e-mails. Paraisso, entraram no site do BOL (Brasil On-Line)

http://www.bol.com.br onde se cadastraram e obtiveramseus endereços eletrônicos pessoais. Ao terminarem,solicitamos a eles que enviassem uma mensagemeletrônica às pesquisadoras, informando suas opiniõese sensações ao navegarem pela Rede Mundial deComputadores. Segue abaixo dois exemplos dos e-mailsenviados às pesquisadoras pelos jovens.

_ Professoras, eu estou muito feliz de estarparticipando das aulas de informática, porquesempre quis participar, desde os 13 anos deidade. Espero que vocês gostem de mim. MariaAparecida.

_ Eu quero continuar com o curso de Informática,porque é muito bom para mim mais tarde quandoeu procurar serviço. O primeiro dia dacomputação eu achei muito bom, porque aprendiviajar pela Internet. Eu espero aprender maiscom a aula de Informática com as professoras.Thiago.

Cabe ressaltar que o primeiro exemplo de e-mail,citado acima, foi elaborado por uma jovem extremamentetímida que tinha uma certa dificuldade em se expressar efazer amizades. Ela apresentava uma dificuldade muitogrande de se comunicar com as pesquisadoras e tambémcom os colegas; ficava sempre em seu cantinhoesperando que ninguém a notasse. Felizmente, essatimidez passou a ser deixada de lado a partir do momentoem que se criou um espaço virtual para que dissesse oque estava sentindo sem que ninguém a recriminasse oua rejeitasse. Por meio dos recursos de informação ecomunicação (Moran, 1998) é possível às pessoasinteragirem umas com as outras de uma maneira diferente,ampliarem seu rol de amizades, estabelecendorelacionamentos sinceros e duradouros com pessoasconhecidas e desconhecidas, próximas e distantes.

Em seguida, sugerimos aos alunos que visitassemdois sites, o primeiro deles foi o site brasileiro:http://www.etfop.g12.br/PortBras/index.html, em que sedivertiram com a caça ao tesouro, ou seja, passaram poralguns lugares portugueses desvendando charadas atéencontrarem um tesouro. A visita a este site possibilitouaos alunos atingirem o objetivo proposto, através detentativas e erros, cada vez que se deparavam com o errose sentiam mais desafiados a dar continuidade ao jogo.O segundo foi o site português: http://www.esec-s-bras-alportel.rcts.pt/ouro_preto/ouro_preto.htm. Aonavegarem por este site, os alunos tiveram a oportunidadede conhecer a bela cidade de Ouro Preto e algumas desuas figuras históricas, como, por exemplo, Aleijadinho.Diferente do primeiro site visitado que pôde ser exploradode uma forma lúdica, devido à “caça ao tesouro”, estesegundo apresentou-se de uma forma menos dinâmica.

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Os jovens, acessando à Rede Internet, tiveram aoportunidade de participar também de um Bate-Papo.Entraram no site do UOL, na sala de convidados epuderam conversar com um índio da tribo Xavantes ecom outros internautas conectados no momento. Comessa conversa os jovens enriqueceram a sua cultura,conhecendo algumas características destes índios, como,por exemplo: usos e costumes, comidas típicas, rituais dedança, alguns lugares existentes na aldeia, como o rioCristalino, etc. Como houve interesse pela parte dosjovens em conhecer um pouco mais sobre os índiosXavantes, recomendou-se que entrassem no endereço:http://www.cotiguara.com.br/acultura.htm, para teremacesso a mais informações sobre a cultura das tribosXavantes. Nesse endereço tiveram acesso a fotos derituais comuns entre esses índios, a modos e costumesespecíficos da tribo e muitas outras informações. Nestemesmo encontro, os jovens receberam a visita doProfessor Eduardo, diretor do Colégio Cotiguara dePresidente Prudente (SP), que foi divulgar o CD-ROM“A Cultura Xavante nos 500 Anos do Brasil”.

Após a explanação do site e do CD-ROM sobreos índios Xavantes, os jovens retornaram ao Bate-Papocom o intuito de escolherem uma sala para fazer novasamizades. Ficaram entusiasmados com a possibilidadede conversarem com pessoas a quilômetros de distância.Percebeu-se entre eles uma enorme preocupação emescrever corretamente as palavras, não queriam deixartransparecer ao colega que estava do outro lado da “tela”a inexperiência quanto ao uso da Internet e o modo deredigir algumas palavras. Foi possível observar que osjovens mais tímidos também se envolveram com aatividade, pois alguns deles quase não se expressavamdurante os encontros e no momento em que estavam secomunicando, via computador, pareciam não sentir receiode dizer o que estavam pensando e sentindo.

Em um outro momento, com o intuito de iniciar acoleta de dados para a Home-Page que estariam

construindo sobre a cidade de Presidente Prudente, osjovens foram convidados para visitarem alguns locais dacidade que ainda não conheciam, como, por exemplo, asede do Jornal “O Imparcial”, onde puderam conhecer asinstalações e as etapas de edição de um jornal; o estádiode futebol municipal, “O Prudentão”, onde conheceramas arquibancadas, o gramado e os vestiários.

Outro local visitado foi o Horto Florestal, ondeviram diversas mudas de plantas, árvores e um minhocárioonde era produzido o húmus utilizado para a preparaçãoda terra. Para finalizar essa atividade, o último local a servisitado foi o “aeroporto municipal” e um “hangar”, ondeos jovens puderam, pela primeira vez em suas vidas, ter ocontato com um avião. Ao sair do aeroporto, o gruporetornou a FCT/UNESP/Presidente Prudente (SP), ondepropomos a eles que elaborassem um relatório sobre oslocais que haviam visitado. Todos voltaram felizes parasuas casas, pois naquele dia tiveram a chance de conhecerum pouco melhor a cidade em que residiam, visitandolugares desconhecidos.

Ainda, com a finalidade de coletar dados sobre acidade de Presidente Prudente, os jovens consultaramdiversas fontes, como, por exemplo, jornais, revistas,enciclopédias, Rede Internet visitando os sites http://www.prudenet.com.br e http://www.muranet.com.br,exploraram o CD-ROM “Prudente 2000 Virtual”, produzidopela empresa Caltech Informática Ltda. de PresidentePrudente (SP), dentre outras. Após a pesquisa, reuniramo que haviam coletado, dividiram entre as duplas osassuntos que consideraram relevantes e deram início àdigitação e formatação dos textos da Home-Page. Osoftware utilizado foi o editor de textos Microsoft Wordque foi escolhido pela facilidade de operação. Os temasescolhidos para compor o índice inicial da Home-Pageforam: o histórico da cidade, bandeira, brasão, hino,localização, prefeitos, educação, comércio, indústria,dados ambientais, dados populacionais, turismo e lazer,de acordo com a ilustração da Figura 1.

Fig. 1 - Página inicial da Home-Page contendo o índice.

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Dando prosseguimento à construção desteambiente virtual, cada jovem elaborou uma página pessoalcontendo os seguintes dados: data de nascimento,nacionalidade, cidade, e-mail, série, escola, o que maisgosta de fazer, hobby, música(s) preferida(s) e profissãodesejada. Assim, puderam olhar um pouco para si mesmose expressar suas preferências, inclusive suas perspectivase sonhos futuros. Percebemos que a criação dessaspáginas pessoais permitiu aos jovens realimentarem suasesperanças de um dia poderem melhorar suas condiçõesfinanceiras, sendo um profissional competente ereconhecido.

Finalizadas as páginas pessoais, os jovensdecidiram colocar na Home-Page que estavamconstruindo, além de textos informativos sobre a cidadede Presidente Prudente, um jogo elaborado por eles,denominado “Conheça Prudente Brincando”. Para isso,chegaram a um consenso de que deveriam selecionaralguns mapas, como o da América do Sul, do Brasil, do

Estado de São Paulo e da cidade de Presidente Prudente,para comporem páginas contendo charadas que deveriamser desvendadas pelos internautas com a finalidade delevá-los a refletir sobre alguns conhecimentosgeográficos, históricos, climáticos, ambientais, entreoutros, trazidos pelo mapa até chegarem ao tesouroprocurado, a cidade de “Presidente Prudente”. Assim, aspessoas que estariam visitando o site poderiam encontrarduas formas de navegação: uma delas seria a forma maistradicional onde se escolheria o tema a ser explorado,simplesmente, dando-se um clique com o mouse sobreuma palavra, ou seja, através dos links, e um outrocaminho seria tentar desvendar essas charadaspercorrendo por meio de mapas, refletindo e escolhendoa opção correta. Com isso, os internautas estariam sendolevados a uma viagem pela história de alguns países daAmérica do Sul, chegando até ao Brasil, como demonstraa Figura 2, e, em seguida, à cidade de Presidente Prudentede uma forma mais lúdica e criativa.

Fig. 2 - Página contendo o mapa do Brasil e uma charada a ser desvendada.

Solicitou-se, então, a pesquisa de alguns mapas edados geográficos, a fim de se elaborarem as páginascom as charadas. Cada dupla se empenhou para elaborarcharadas que poderiam estar instigando a curiosidadedos internautas, levando-os até o final do jogo. Tambémtiveram a preocupação de construir, para cada charada,uma tela contendo uma dica para as pessoas que poderiamestar encontrando dificuldades durante a navegação. Paracriar essas dicas, os jovens tiveram de pesquisar em livrosde Geografia, História e enciclopédias, assuntosreferentes ao respectivo tema trazido pelo mapa (Américado Sul, Brasil, São Paulo e Presidente Prudente). Comessa tarefa, os jovens puderam aprender um pouco maissobre alguns aspectos geográficos, históricos, políticos,sociais, econômicos, ambientais, dentre outros, assimcomo algumas características específicas de cada umadas regiões abordadas.

Finalizada esta etapa, houve a disponibilizaçãoda Home-Page sobre a cidade de Presidente Prudente naRede Internet para acesso pelos jovens, com a finalidadede testá-la e depurar o trabalho desenvolvido pelo grupo.O produto obtido com a realização desse projeto podeser observado no seguinte endereço eletrônico http://www.prudente.unesp.br/brasil500/abertura2.htm.

3. RESULTADOS

A oportunidade de ter participado das atividadespropostas nesse grupo de trabalho foi de muitaimportância para todos os jovens participantes dapesquisa. Palavras como: “adorei, gostei, muito bom elegal”, fizeram-se presentes na avaliação final, o que noslevou a acreditar no sucesso e eficiência do projeto, assimcomo no prazer demonstrado pelos jovens em terparticipado do trabalho. A satisfação em ter aprendido e

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descoberto coisas novas também ficou evidente.

A aquisição de conhecimentos, tanto em relaçãoao uso das novas tecnologias quanto aos saberesrelacionados aos conteúdos pesquisados para aconstrução da Home-Page, contribuiu para oenriquecimento cultural, pessoal, intelectual e cognitivodos jovens integrantes do grupo de pesquisa.

O reconhecimento da relevância desse projetocomo um meio de preparação dos jovens para o mercadode trabalho pôde ser notado nos relatos analisados; apreocupação com o futuro profissional fez com que muitosdeles se empenhassem em realizar cuidadosamente astarefas propostas. Reconheciam que participar destegrupo era uma forma de estarem se capacitando eaprimorando-se para posteriormente serem integradosnesta sociedade tão competitiva na qual vivemos.Podemos afirmar que a vontade de ascender socialmenteserviu como um incentivo a esses jovens que sabiam desuas dificuldades financeiras e, por isso, manifestavam aimportância de estarem aproveitando a oportunidade. Oempenho desses jovens não foi em vão, pois aofinalizarmos as atividades do projeto alguns delesconseguiram se inserir no mercado de trabalho; um delesconseguiu emprego em um dos Jornais da cidade comooffice boy; uma das jovens foi contratada como caixa emuma loja de conveniência; outra, como recepcionista emum consultório médico; e um outro passou a interagirmais com a Rede Internet, construindo páginas pessoais.

Uma preocupação em dar continuidade aosencontros também foi notada nesta avaliação, pois amaioria dos jovens questionou sobre a possibilidade deum novo projeto de pesquisa ser organizado, de modoque pudessem aprimorar os conhecimentos adquiridosaté então. Outro ponto positivo evidente nos relatosanalisados foi em relação às novas amizades construídasno decorrer dos encontros. Acredita-se que por ser umaequipe pequena, e o trabalho se concretizar na maioriadas vezes em grupo, facilitou a socialização entre osmembros.

Procuramos manter no interior do Laboratório deInformática um clima agradável, descontraído, onde todostiveram a liberdade de se expressar e trocar idéias nomomento em que desejassem e aprender conceitos demaneira lúdica e prazerosa. Além disso, os jovens sesentiram à vontade para expor o que estavam pensando,sem receio de serem recriminados, pelo contrário, sabiamque suas opiniões seriam respeitadas e levadas emconsideração. O que mais favorece o processo ensino-aprendizagem, além das tecnologias de informação ecomunicação, é a capacidade de comunicação sincera doprofessor, de criar relações de confiança com seus alunos,pelo equilíbrio, competência e simpatia com que

desenvolve sua ação pedagógica (Moran, 1998).

Os jovens também relataram que estavam tristesdevido ao término do projeto de pesquisa. Algunsmencionaram o receio de serem “esquecidos” pelo grupo.Isso demonstrou que o fato de ter ingressado nessetrabalhado científico possibilitou a esses jovens,pertencentes a uma classe social desfavorecida,mostrarem o seu potencial e acreditarem que são capazes,o que até então não era reconhecido pelos própriosjovens, porque no início do projeto apresentavam umabaixa auto-estima e uma falta de confiança em si mesmos,pois achavam, inicialmente, que seria muito difícilconstruir um site na Rede Internet.

Essa sensação dos jovens de perceberem queforam capazes de produzir algo considerado impossívelé denominada de empowerment (Valente, 1999). E aindao fundamental é que eles conseguiram compreender oque haviam construído, podendo relatar o que haviamrealizado e mostrar a outras pessoas, ou melhor, ao mundo,o resultado de seu empenho e dedicação. Acreditar naspróprias capacidades mentais e ter o sentimento deempowerment contribuem para que continuemos amelhorar nossas capacidades mentais e depurar nossospensamentos e ações (Valente, 1999).

Além disso, nesse projeto de pesquisa,encontraram um espaço para demonstrarem suascapacidades e desenvolverem novas competências,como, por exemplo: saber comunicar, raciocinar,argumentar, negociar, organizar, aprender, procurarinformações, conduzir uma observação, construir umaestratégia, tomar ou justificar uma decisão, relacionar,comparar, calcular, escolher, utilizar as novas tecnologias,respeitar as idéias alheias, entre outras. São as diversassituações enfrentadas por uma pessoa com uma certafreqüência que possibilita a construção de competências(Perrenoud, 1999).

As competências são importantes metas daformação. Elas podem responder a uma demanda socialdirigida para a adaptação ao mercado e às mudanças etambém podem fornecer os meios para apreender arealidade e não ficar indefeso nas relações sociais. Paraescrever programas escolares que visem, explicitamente,ao desenvolvimento de competências, podem-se tirar, dediversas práticas sociais, situações problemáticas dasquais serão “extraídas” competências.

Trabalhar para o desenvolvimento decompetências não se limita a torná-las desejáveis,propondo uma imagem convincente de seu possível uso,nem ensinando a teoria, deixando entrever sua colocaçãoem prática. Trata-se de “aprender, fazendo, o que não sesabe fazer”. Em um trabalho norteado pelas competências,

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o problema, e não o discurso, é que organiza osconhecimentos, ou seja, parte da ciência do professor éignorada. Resta-lhe apenas reconstruir outras satisfaçõesprofissionais, em que não se consiste em exporconhecimentos de maneira discursiva, mas sim de sugerire de fazer trabalhar as ligações entre conhecimentos esituações concretas (Perrenoud, 1999).

Segundo este cenário, a noção de problema(Meirieu, 1998) insiste no fato de que, para ser realista,um problema deve estar de alguma maneira incluído emuma situação que lhe dê sentido. Há várias gerações dealunos, a escola tem proposto problemas artificiais edescontextualizados. É necessário ter em mente que umasituação-problema deve permitir ao aluno tomar uma sériede decisões para que consiga alcançar um objetivo queele mesmo definiu ou que lhe foi proposto.

Sendo assim, a proposta de elaboração da Home-Page sobre a cidade de Presidente Prudente possibilitouaos jovens participantes da pesquisa vivenciaremsituações significativas e contextualizadas (Schlünzen,2000) que permitiram o seu desenvolvimento intelectual,pessoal, social, emocional, político e espiritual. Alémdisso, proporcionou condições para que os jovensconstruíssem algumas competências fundamentais paraa sua inclusão digital e social na sociedade globalizada.

4. CONCLUSÕES

O uso da Rede Internet no ambiente educacionaltem estado presente quase desde os primeiros momentosdo seu surgimento. Ela está cada vez mais presente navida acadêmica das universidades. Alguns professorescomeçaram a utilizar, de uma ou outra forma, nas suasatividades docentes, algumas ferramentas telemáticas nasorientações de trabalhos acadêmicos, na realização dedebates eletrônicos, para facilitar aos estudantes o acessoà informação etc. A cultura das telecomunicações estáentrando também no ensino fundamental e médio, naeducação de adultos e na educação informal.

As vantagens e os valores educacionais eformativos do trabalho cooperativo em redes têm sidoamplamente reconhecidos e argumentados. Odesenvolvimento da Home-Page sobre a cidade dePresidente Prudente (SP) possibilitou que os jovens,sujeitos desta pesquisa, fossem envolvidos em atividadesque resultaram em novos conhecimentos ou em uma novaorganização do conhecimento. Ao interagir com asinformações, selecioná-las e disponibilizá-las na RedeInternet puderam aprender conceitos relacionados aosdiversos conteúdos escolares. E, simultaneamente,tiveram condições de se capacitarem para serem inseridosno mercado de trabalho (Terçariol; Meneguette, 2001).

Além disso, as tarefas desenvolvidas permitiramo contato com pessoas de diferentes culturas, os jovenspuderam estabelecer uma relação mais profunda com oseu meio, obtendo informações da comunidade em quevivem e, como conseqüência desse estudo, construíramum produto útil para a comunidade à qual pertencem.

Dessa forma, com a construção de um ambientevirtual criou-se espaço para que ocorresse um processode aprendizagem significativa e contextualizada,possibilitando ainda o desenvolvimento integral dossujeitos envolvidos na pesquisa.

Contudo, cabe ressaltar que é fundamental uminvestimento na formação do professor para o uso dastecnologias de informação e comunicação, de modo quepossa, em um processo de reflexão na ação e sobre aação, rever a sua prática e adotar uma nova postura defacilitador do processo de ensino-aprendizagem e nãomais de transmissor de informações. Para tanto, faz-senecessário oferecer-lhe subsídios para que instigue seusalunos a construir o próprio conhecimento de uma maneiraautônoma, criativa e prazerosa.

5. REFERÊNCIAS

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MORAN, J. M. Mudanças na comunicação pessoal:gerenciamento integrado da comunicação pessoal, sociale tecnológica. São Paulo: Paulinas, 1998.

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PELLEGRINO, C. N. Jogo ecologia da paz: criandoambientes para o desenvolvimento de redes de valoreshumanos nas escolas. 2001. Tese (Doutorado emEducação) - PUC, São Paulo.

PERRENOUD, P. Construir as competências desde aescola. Trad. Bruno Charles Magne. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1999.

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O Espaço e o Sagrado em Festejos Religiosos deComunidades Ribeirinhas de Porto Velho, Rondônia

Adriano Lopes Saraiva *

Resumo: Esse artigo analisa a manifestação do sagrado e do profano a partir da realização defestejos religiosos em comunidades ribeirinhas de Porto Velho, buscando compreender como se dáa organização espacial a partir da religiosidade desse grupo social.

Palavras-chave: Populações ribeirinhas, festejos religiosos, espaço sagrado, espaço profano,religiosidade.

Abstract: This article analyzes the manifestation of the sacred and the profane through religiousfestivities in riverside communities of Porto Velho, searching for the understanding of the spatialorganization derived from the religiosity of this social group.

Key words: Riverside populations, religious festivities, sacred space, profane space, religiosity.

* Licenciado em Geografia da Universidade Federal deRondônia/UNIR. Membro do Centro de EstudosInterdisciplinar em Desenvolvimento Sustentável ePopulações Tradicionais da Amazônia - CEDSA.

“... o verdadeiro significado do sagrado vai alémdas imagens, templos e santuários, porque asexperiências emocionais dos fenômenossagrados são as que se destacam da rotina e dolugar comum...” (Rosendahl, 2001, p.28).

1. INTRODUÇÃO

As atribuições dadas ao espaço de comunidadesribeirinhas estão diretamente ligadas à cultura e ao modode vida dessas populações, repleto de crenças, de mitos,de símbolos e da religiosidade. Como característicamarcante dessa cultura, temos as narrativas míticas e aslendas que possuem como ponto forte à caracterizaçãodos elementos da natureza. Outro aspecto a serdestacado são os festejos religiosos, manifestações dafé católica do grupo que constituem rituais ricos emsignificados.

O sagrado e o profano são destacados por Eliade(1992, 1998) como modos distintos de ser no mundocapazes de promover mudanças espaciais; nesse sentidoRosendahl (1999b) contextualiza a questão do sagrado edo profano como formador e modificador do espaço, sejade uma comunidade ou de uma cidade. Já Durkheim (1989)afirma que no universo das religiões, sejam elas católicas

ou não, existirá sempre a divisão entre esses dois modosde viver o religioso.

O presente estudo foi desenvolvido nascomunidades de São Carlos, Prosperidade e Nazaré,localizadas na região do rio Madeira à jusante de PortoVelho, Estado de Rondônia. As festas que foram objetosdo estudo são as seguintes: Festejo de Nossa Senhorada Conceição Aparecida, Nossa Senhora da Saúde,Nossa Senhora de Nazaré e de São Sebastião.

O objetivo deste artigo é discutir as diversasdesignações dadas ao espaço de comunidades ribeirinhasa partir da realização de festejos religiosos; utilizandopara tanto abordagens teóricas e metodológicas de MirceaEliade, Zeny Rosendahl e Émile Durkheim.

2. AS DESIGNAÇÕES DADAS AO ESPAÇO DASCOMUNIDADES

A forma de perceber a organização espacial parao ribeirinho está em permanente relação com seu modode vida. As águas possuem grande destaque nestaorganização espacial, pois o movimento da cheia e davazante é fator de mudança conhecida e esperada pelacomunidade. Quando uma enchente ultrapassa aexpectativa, não é sinal de calamidade, pois esse modode vida já possui alternativas para contornar essa situação,como, por exemplo, ocupar áreas de terras altastemporariamente.

Esse espaço não é homogêneo, há diferenciaçõesno que se refere ao modo de organizar as moradias e

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outros locais ligados ao cotidiano das pessoas. A festavem para mudar esse espaço, seja pelo seu caráteraglutinador de pessoas (Rosendahl, 1999b) ou pelo seucaráter ritual e religioso (Duvignaud, 1983). É no espaçoque as relações são travadas e o resultado fica lá impresso,conseqüentemente temos no período da festa adiferenciação espacial entre o sagrado e o profano. Fatodestacado por Durkheim (1989, p.73), já que “... cadagrupo homogêneo de coisas sagradas ou mesmo cadacoisa sagrada de alguma importância constitui umcentro de organização à volta do qual gravita um grupode crenças e de ritos...”. Todavia, é importante ressaltarque essa diferenciação também é feita por intermédio deacontecimentos ligados a mitos e símbolos das matas edas águas, lógico que não ligado ao religioso/divino esim às crenças existentes no universo mental do grupo.

Rosendahl (1999a, p.233) define o espaço sagrado“... como um campo de forças e de valores que eleva ohomem religioso acima de si mesmo, que o transportapara um meio distinto daquele no qual transcorre suaexistência”; dentro da perspectiva da sacralidade doespaço Eliade (1998, p.298) nos diz que a “...noção doespaço sagrado implica a idéia da repetição dahierofania primordial que consagrou este espaçotransfigurando-o, singularizando-o, em resumo,isolando-o do espaço profano a sua volta...”.

A noção de espaço sagrado está desvinculadado espaço profano, logo o espaço que podemosconsiderar como sagrado dentro das comunidades é aigreja. Para Rosendahl (1997, p.126) “a definição de umlugar sagrado reflete a percepção que o grupoenvolvido, como simbolismo das formas espaciais variade grupo para grupo, dificilmente se pode generalizarsobre os princípios da paisagem religiosa”. Um exemplodisso está na localidade de São Carlos, onde existe oSanto da Floresta, uma imagem de santo que foienvolvido pelas raízes de uma gigantesca samaumeira eque não se tem conhecimento de quem a colocou nestelocal e nem quando isso aconteceu; na verdade, reveste-se de singularidades que somadas à vida dos moradoresconstituem novos significados e símbolos, tornando-se,assim, motivos de peregrinações, devoção e homenagenspor parte de alguns grupos. Esse fato ilustra a fé doribeirinho, pois mesmo que não haja uma igreja, sempreexistirá um espaço socialmente construído para o sagrado,um locus de fé e de crenças.

A igreja aparece como um espaço dedicado aosanto padroeiro da comunidade. Nas comunidadesribeirinhas não é apenas a igreja que é o espaço paraorações e outros atos religiosos, também existem capelase casas de determinados moradores que constituem, porinúmeros caminhos, lugares dedicados ao sagrado.Portanto, as características básicas de uma igreja de uma

comunidade ribeirinha é que ela, além de ser o lugar ondeos moradores podem demonstrar sua fé e devoção ereceberem os sacramentos, são também locais em queocorrem reuniões especiais em que as decisões tomadassão consideradas “separadas”, logo não se quebra comfacilidade o acordo feito. Há outros locais dentro dacomunidade onde podem ser realizadas essas reuniões,como o centro comunitário, a escola, nas sombras dasárvores. Mas a igreja funciona como centro de decisões,local onde o que é dito tem “mais valor” para seusmoradores.

Nesse sentido, a igreja representa um local únicoe de grande importância para essas populações,funcionando como centralizador das crenças do grupo.O local onde observamos que os rituais passam a serrepresentações do que existe dentro do modo particularde acreditar nos preceitos promovidos pela igreja, o quetorna tais preceitos coletivos. E as cerimônias sãocelebradas por um “presidente” ou “ministro”, que graçasa um papel de destaque exerce sua função social e édesignado, com isso exerce influência marcante na vidareligiosa da comunidade.

Os espaços caracterizados como profanos estãoligados a atividades não-religiosas, voltadas para odivertimento e o comércio. O espaço profano é definidopor Rosendahl (1999a, p. 239) “...como o espaçodesprovido de sacralidade, estrategicamente ao“redor” e “em frente” do espaço sagrado”. O festejotem dentro de sua realização atividades voltadas para odivertimento da população, é o caso do futebol, do forróe das bancas de venda. São momentos distintos daprocissão e da celebração; portanto poderíamos, grossomodo, classificá-los como profanos, mas ficamos aindana dependência de entendermos o significado que cadagrupo dá a essas atividades. Na verdade, não temos umafórmula de ver os fatos e diretamente classificá-los. Nacaracterística da cultura dos grupos tradicionais daAmazônia, isso nos remete a uma grande aventura: a determos o real desprendimento de olharmos para asmanifestações sócio-culturais dos grupos e nosaproximarmos o máximo possível desses valores. É umcaminho de descoberta, de aprendizado e de aventurapara o pesquisador e, muitas vezes, nas palavras doribeirinho, são “caminhos de águas perigosas, deremansos e banzeiros”.

Os espaços utilizados para essas atividades estãoem volta da igreja, mas estão em constante ligação com oespaço sagrado da igreja. Para Durkheim (1989, p.72):

A coisa sagrada é, por excelência, aquela que oprofano não deve, não pode impunemente tocar.Certamente, essa interdição não poderiadesenvolver-se a ponto de tornar impossível toda

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comunicação entre os dois mundos; porque se oprofano não pudesse de nenhuma forma entrarem relação com o sagrado, este não serviria paranada.

Durante a festa ou nos momentos sagrados,ocorrem outros acontecimentos. Há o consumo do lazere da diversão. O festejo representa o não-cotidiano, alémdisso, o morador da comunidade utiliza-se desse momentopara divertir-se, fazer algo distinto do dia-a-dia.

Para o ribeirinho, o fato de determinadosacontecimentos estarem presentes na festa não implicaque sua participação em um ou outro possa estar fora docaráter religioso do festejo. O discernimento entre o quevem a ser profano ou sagrado na festa está ligado aosacontecimentos vistos de uma outra ótica. O ribeirinhoao ser questionado a respeito se o forró é ou não festa desanto, sua resposta será afirmativa, porque a festacomeçou a existir junto com o grupo. É algo que nãopode ser dissociado, o festejo e o ribeirinho.

3. OS FESTEJOS RELIGIOSOS EM COMUNIDADESRIBEIRINHAS E A MANIFESTAÇÃO DO SAGRADOE DO PROFANO

Os festejos representam momentos de intensoconvívio entre os moradores das comunidades, asrelações estreitam-se, parentes que estavam distantesencontram-se, amigos trabalham juntos nos preparativospara a festa, a família reúne-se, entre outros aspectos. Oacontecimento possui seu modo próprio de ser realizado,reflexo da maneira pela qual o grupo organiza sua vida.Vindo a representar ritual de renovação do modo deprodução, do período que se inicia e que é voltado parao plantio ou colheita dos produtos agrícolas dascomunidades.

Manifestações da cultura popular como as festasreligiosas são estudadas e definidas de diversas maneiras,alguns autores como DaMatta (1997), Figueiredo (1999),Duvignaud (1983), Rosendahl (1999a) e Maia (1999)levantam questões que se referem ao caráter ritual,religioso, político, organizativo, cultural e formador degrupos sociais desse acontecimento.

Por conseguinte, a festa possui a capacidade defazer com que a comunidade, por alguns dias, saia de suarotina, passando um certo período de tempo com umcotidiano diferenciado; assim Duvignaud (1983, p. 71)afirma que “a festa é um período peculiar, apesar deinteiramente integrado à sociedade, período no qual avida coletiva é extremamente intensa. Os fenômenosrelativos ao sagrado e à religião correspondem amomentos de efervescência e de unanimidade.” Segundoestudos recentes de Saraiva & Silva (2002, p. 204) “as

atividades realizadas durante a festas constituemmomentos onde o espaço ganha contornos diferentesdo que possui durante o cotidiano (...), cada moradorvive o espaço de uma maneira particular.”

O sagrado manifesta-se por intermédio dahierofania (Eliade, 1992, 1998), significa dizer que algode sagrado revela-se na realidade vivida pelo homem.Para Rosendahl (1997, p. 125) “o espaço sagrado se revelanão somente através de uma hierofania, mas tambémpor rituais de construção e, neste caso, os rituaisrepresentam repetições de hierofanias primordiaisconhecidas”.

Além disso, Eliade (1998, p. 297) nos explica que amanifestação do sagrado é imposta também ao homem, oque implica dizer que o homem que vive nessa realidadenão a percebe, ele apenas a vive de uma maneira calma eserena. Portanto, caracterizar essas hierofanias noambiente ribeirinho é uma tarefa complexa, visto que essasmanifestações são “diferentes” dentro do aspectoobservável das populações ribeirinhas.

Ademais, o mundo do ribeirinho é orientado pelaconstrução de uma rede de significados manifestos nossímbolos e mitos da paisagem habitada. Dentro dessemodo de vida, Rosendahl (1999a, p. 231) nos diz que “apalavra sagrado tem o sentido de separação e definição,em manter separadas as experiências envolvendo umadivindade, de outras experiências que não envolvam,consideradas profanas.” Há uma linha tênue que separao sagrado do profano, muitas vezes é percebida duranteas festas religiosas, ou algumas vezes esses doismomentos não acontecem, pois no decorrer do cotidianoda comunidade as atividades realizadas não são remetidasnem ao sagrado e nem ao profano.

As festas religiosas apresentam para osmoradores das comunidades ribeirinhas rituais e objetosque remetem ao divino, à ligação do homem com Deus.Podemos citar a procissão e a celebração como doismomentos principais ligados ao sagrado. A procissãopara DaMatta (1997, p. 65) é definida como um desfileespecial; onde observamos características de ambos(osagrado e o profano), dentro de um mesmo momento,pois a imagem do santo está com o povo e dele recebe narua (e não na igreja) suas orações, cânticos e piedade.Nesse momento as pessoas rezam, pagam promessas epenitências, o fazem para mediar seu contato com adivindade.

Com efeito, Rosendahl (1999b, p. 61) nos diz que“a prática religiosa de ‘fazer’ e ‘pagar’ promessasconstitui uma devoção tradicional e bastante comumno espaço sagrado dos santuários católicos”. Assim,ao elegerem uma imagem e em torno dela organizarem um

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acontecimento capaz de modificar o tempo e o espaço,essa devoção é a mais clara representação da hierofania.A realidade vivida pelo homem ribeirinho está ligada aoseu comportamento eminentemente religioso, e talcomportamento está arraigado ao seu modo de vida, oque é sustentado por Durkheim (1989, p. 68), pois

... todas as crenças religiosas conhecidas, sejamelas simples ou complexas, apresentam um mesmocaráter comum: supõem uma classificação dascoisas, reais ou ideais, que os homensrepresentam, em duas classes ou em dois gênerosopostos, designados geralmente bem, pelaspalavras profano e sagrado.

O profano dentro da realidade ribeirinha é aindamais difícil de ser percebido, seja pelo seu caráterinconstante, pois o ribeirinho não divide seu modo devida entre o sagrado e o profano; os acontecimentos queenvolvem a fé e devoção é que vão determinar a existênciade um ou de outro, ou mesmo de ambos.

Alguns estudiosos se referem ao profano como ocomércio e as danças. Todavia essa proposição não deveser levada ao pé da letra no estudo com populaçõesribeirinhas, pois esses dois momentos fazem parte dafesta e são esperados com uma certa ansiedade pelosmoradores. O “baile” ou “forró” está presente em quasetodos os festejos e é uma das tradições da festa.

No que se refere ao comércio, há uma prática muitocomum que é a realização de leilões para angariar fundospara a igreja do santo homenageado. Nesse sentido, entãonão podemos considerar o leilão como uma atividadecaracteristicamente profana, as pessoas que compramos objetos que são doados pelos moradores dacomunidade o fazem para ofertar ao santo uma parte doque lhe é dado durante o restante do ano, o fruto de seutrabalho e uma parte dele é ofertado ao santo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos geográficos de acontecimentos queenvolvam a fé e as crenças diferenciam no espaço osagrado e o profano. A igreja aparece como espaçosagrado - local de orações, de celebrações, do encontrodo homem com o divino - o que está a sua volta, ocomércio, danças e divertimento, podem sercaracterizados como profano. O que estamos levantandoneste artigo é que para o ribeirinho nem sempre essa é adiferenciação que predomina. O que vai dar o caráter desacralidade ao espaço é a vivência baseada na relaçãodo devoto com o santo, ou seja, a maneira como o homemse comunica com a figura do santo padroeiro; que serátraduzida na forma de festas religiosas.

As análises de Rosendahl (1999b, p. 108) acercado espaço sagrado e do espaço profano podem sersomadas a nossa discussão, pois ela afirma que “ofundamental da análise geográfica é que o espaçosagrado se origina no imaginário coletivo e, portanto,revela simbolismo que ultrapassa qualquer concepção,seja ela tradicional ou pós-moderna.”

Por conseguinte, os aspectos aqui levantadosestão ligados a apenas um dos muitos aspectosexistentes no universo das populações ribeirinhas. Aoabordamos um desses aspectos, ou seja, o que nos remeteao mundo das crenças, estamos fazendo isso levandoem consideração que tanto o sagrado como o profanosão aspectos observáveis dentro desse modo de vida,sendo, assim, passíveis de análise. O ambiente ribeirinhoconstitui-se em um campo amplo para estudos voltadospara a cultura e estudos acerca das festas religiosas;dentro da geografia, ainda são recentes dentro do país.

O espaço comunidades ribeirinhas não éhomogêneo e as mudanças podem ser observadasatravés de diversos aspectos. O espaço pode ser omesmo, mas a concepção simbólica pode variar entre osmoradores e as pessoas que participam da festa religiosa.O festejo nos permite observar que o caráter religiosotem grande destaque dentro desta realidade. Portanto, ocaminho para a compreensão do sagrado e do profano éapenas um dos aspectos inerentes à festa e que estápresente no modo de vida ribeirinho. O fator religiosopossui força e constitui um dos modificadores daespacialidade do grupo que traz à tona momentos degrande importância para o estudo do modo de vida, doscostumes, do cotidiano, das representações simbólicase da religiosidade. Constitui-se, então, um amplo caminhopara o encontro e conhecimento do humano que é aessência do papel da Ciência.

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Árvore da Vida: a Raiz e a Seiva da Memória

Elizabeth Moraes Liberato *

Resumo: Ser idoso, em nossa sociedade, é sobreviver: ao tempo e às dificuldades. Neste percurso,vivendo/sobrevivendo, o idoso foi e continua sendo o expectador e agente de conquistas erealizações; existindo, continua exercendo sua condição de ator: é o ser das relações concretizadas,do vínculo entre as épocas e as gerações. Daí sua importância na construção da memória dasociedade. Na Faculdade da 3.a Idade – UNIVAP, São José dos Campos, criada em 1991, realizamosesta pesquisa, com objetivo de compreender como os alunos percebem a si próprios e o mundo à suavolta, pela reconstituição de sua trajetória de vida, cujos dados fenomenológicos arquivados namemória constituem lembranças e sensações e levam à reflexão; a recomposição desse quebra-cabeça existencial, a junção dessas peças contribui para a compreensão do quadro mais amplo darealidade da vida. Os idosos que participaram deste estudo nos mostram suas raízes construídas embases sólidas; as suas lembranças evocam o passado, mas dão ênfase à construção do presente,expressam suas preocupações, em face de um mundo cujo ritmo de mudanças trouxe melhorias,sobretudo, crises que têm repercutido na educação, no desemprego, causando instabilidade social.Os idosos precisam ser respeitados e ouvidos, para que se possa planejar um futuro melhor, nessemovimento contínuo da vida e de construção da história da humanidade.

Palavras-chave: Memória, lembrança, idoso, sociedade.

Abstract: Being elderly in our society is a survival lesson: beating time and difficulties. Living andsurviving in our society, the elderly have been, and still are, the audience and agent of conquestsand achievements. Existing, they carry on with their acting role: the agents of the concrete actions,of the connection between eras and generations. That is why they are so important for the constructionof the memory of our society. At the “Senior Citizen College”, established in 1991 at Universidadedo Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos, SP, we carried out a research in order tounderstand the degree of perception the elderly students have of themselves and of the surroundingworld Through the he reconstitution of their life trajectories whose phenomenological data archivedin their memory, constitute memories and sensations that lead to reflection. The reconstitution ofthat existential puzzle, putting together the pieces, contributed to a wider understanding of thereality of life. The elderly that participated in this study demonstrated that their roots are built onsolid ground. Their memories evoke the past but emphasize the present. They express their worriesabout a world whose changes brought improvements but also crises in areas like education andlabor, resulting in social instability. The elderly must be respected and heard in order to plan abetter future for everyone, considering life’s continuous evolution and the construction of the historyof mankind.

Key words: Memory, elderly, society.

* Professora e Pró-Reitora de Avaliação da UNIVAP.

“Em mim, também, foram destruídas muitas coisasque julgava iriam durar para sempre, e novascoisas se edificaram, dando nascimento a penase alegrias novas, que eu não poderia preverentão, da mesma forma que as antigas se metornaram difíceis de compreender.” (Proust, 1957,p. 39).

“Uma lembrança é um diamante bruto queprecisa ser lapidado pelo espírito. Sem otrabalho da reflexão e da localização, seria umaimagem fugidia.” (Bosi, 1994, p. 81).

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1. OS CAMINHOS DA MEMÓRIA

Para a criança, a essência da cultura é transmitidaatravés da fidelidade da memória. O adulto norteia suasações pelo presente, porém busca no passado tudo oque se relaciona com suas preocupações atuais (Bosi,1994). Por outro lado, o idoso é o repositório da memóriasocial, sendo valorizado em maior ou menor escalaconforme a cultura de cada sociedade; muitas vezes, pornão agregar valor como força de trabalho, sofrediscriminação e isolamento, o que pode ocorrer no seioda própria família e na sociedade, que permanecem alheiasao seu potencial e à sua experiência acumulada, cujatransmissão é importante para humanizar a vida presente.

Assim expressa Barros, quando analisa os fatoresresultantes dessa exclusão que se caracteriza, em seus“enfoques básicos, por uma diminuição de áreas decontato social e por um processo de reclusão na família;ou seja, a perda das áreas sociais através daaposentadoria ou da viuvez passa a conferir à famíliauma importância fundamental nas relações sociais dosvelhos” (Barros, 1998, p. 162).

O que se constata é que ser idoso, em nossasociedade, é sobreviver: ao tempo, às dificuldades, aostropeços, às instabilidades, à destruição. Neste percurso,vivendo/sobrevivendo, o idoso foi e continua sendo oexpectador e agente de conquistas e de realizações;sobretudo, existindo, continua exercendo sua condiçãode ator: é o ser das ações e reações, das relaçõesconcretizadas, do re-fazer, do vínculo entre as épocas eas gerações. Daí sua importância na construção damemória da sociedade.

Para Ferreira, “abordar a memória como processosocial foi algo que veio interligado com a velhice”(Ferreira, 1998, p. 208).

Para o idoso, as lembranças pessoais reconstitueme reinterpetram os acontecimentos dos quais foramparticipantes; nesse processo, reconstroem-se ossuportes da memória, considerada por Ferreira como “o‘locus’ privilegiado da construção da identidadesocial” (Ferreira, 1998, p. 208). A memória é a ligaçãoentre a pessoa e o seu mundo, aquela estabelece ainterface entre o individual e o social.

Diz Marilena Souza Chauí na apresentação do livrode Bosi (1994), elogiando a autora pelo seu trabalho:

“Descrevendo a substância social da memória –a matéria lembrada – você nos mostra que omodo de lembrar é individual tanto quantosocial: o grupo transmite, retém e reforça aslembranças, mas o recordador, ao trabalhá-las,

vai paulativamente individualizando a memóriacomunitária e, no que lembra e no como lembra,faz com que fique o que signifique. O tempo damemória é social...” (p. 31).

A experiência de cada um, quando recuperada damemória, pode reconstituir a história humana. O idoso,como sujeito histórico significativo, ao lembrar oselementos de vida e da estrutura social de seu passado,superpondo ao seu hoje, irá expressar as mudançasdecorrentes da passagem do tempo, no seu modo deapreendê-lo em todos os seus aspectos; explicita, assim,para todos nós a dinâmica da sociedade.

Devemos atentar, então, para o fato de que

“a memória e a lembrança aparecem, pois, subsu-midas nesse processo de definição de identida-des, de afirmação do sujeito num universo deprofundas alterações, cujo ritmo vertiginosodesafia a permanência de valores e representa-ções sobre o mundo vivido, num contexto derápida desintegração dos liames que unem ossujeitos ao passado” (Ferreira, 1998, p. 208).

É importante a valorização da memória, o respeitoaos fatos passados que consolidam o presente e o futuroda humanidade. “A terceira idade é guardiã da memóriacoletiva, intérprete privilegiada dos ideais e valoreshumanos que mantêm e guiam a convivência social.Nela se encontram as raízes do presente – alicerce damodernidade” (João Paulo II, 2002).

Reafirmando Bosi (1994), no estudo daslembranças das pessoas idosas é possível verificar umahistória social, com características que referenciamaspectos familiares e culturais reconhecíveis.

Esse tipo de estudo deve ser processado nainstituição que desenvolve programas com idosos,incentivando, junto a eles, a reconstituição das vivênciasque permearam e permeiam as diferentes etapas de suavida. O programa institucional poderá alcançar melhorpercepção das necessidades e expectativas dos idosos,assim como potencializar a retomada de seus interessese de renovadas formas de convivência social.

Neste sentido é que este presente estudo foiproposto na Faculdade da 3.a Idade - Universidade doVale do Paraíba - UNIVAP, São José dos Campos - SP,abrindo espaço para a ampliação do conhecimento sobreos idosos.

2. PROJETO DE PESQUISA

Introdução: A Faculdade da 3.a Idade da UNIVAP,

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criada em 1991, desenvolve este projeto em São José dosCampos, Caçapava e Campos do Jordão. É um projeto decunho socioeducativo voltado para oferecer às pessoascom idade acima de 45 anos oportunidade dedesenvolvimento pessoal e participação social, atravésdos Módulos: Saúde Física e Mental, Interação Sócio-educativa, Socialização e Participação e ExpressãoSensível e Corporal; desenvolve suas atividades atravésde aulas, palestras, eventos, passeios, excursões, coral,teatro e outras. O Curso de Atualização Cultural tem aduração de 2 semestres, após o que o aluno recebe umCertificado. O Centro de Estudos Avançados da 3.ª Idade– CEATI, foi criado em 1993 e tem garantido a permanênciado aluno na Faculdade da 3.ª Idade em atividadesmodulares que se renovam a cada semestre; muitosalunos freqüentam o CEATI num período de tempo quese estende há 8 anos, o que demonstra o atendimento àssuas expectativas e o papel relevante desempenhado pelaFaculdade da 3.ª Idade. Considerando a importância deconduzir estudos que nos levem a melhor conhecernossos alunos e, de forma cuidadosa, transferir esseconhecimento para a realidade do idoso, propusemos arealização desta pesquisa, cujo resultado poderá nospermitir um enfoque mais compreensivo em nossas ações,dentro do Projeto e uma visão mais ampla de nossasociedade.

Objetivo: Compreender como as pessoaspercebem a si próprias e o mundo à sua volta, pelareconstituição de sua trajetória de vida, simbolizada emseu crescimento e desenvolvimento natural. Esses dadosfenomenológicos arquivados na memória constituemlembranças e sensações que devem ser recuperadas eorganizadas de forma inteligível, levando à reflexão,recompondo um quebra-cabeça existencial, cuja junção

de peças contribui para a compreensão do quadro maisamplo da realidade da vida.

Metodologia: O estudo foi realizado com autilização de uma dinâmica: “Pesquisando a memória – olugar da lembrança”, usando a simbologia da Árvore daVida (Anexo 1), como se fosse possível compará-la aoser humano, com a apresentação de um desenho querepresentasse a si próprio, a árvore com suas raízes,tronco e seus galhos. Participaram do estudo 62 pessoasda Faculdade da 3.ª Idade - UNIVAP, São José dosCampos, na maioria mulheres, de 60 a 82 anos, amostrasignificativa dos alunos dessa faixa etária, quecorresponde a 123 alunos dos 230 inscritos no Projeto.Os participantes, sem nenhuma diretividade em suasmanifestações, escreveram palavras com significadospróprios para cada um, que identificassem suas raízes,suas bases, enquanto lembranças de tempos passadosque os fortaleceram para alcançar o crescimento de umaárvore frondosa, sua estrutura atual, cujos galhosrepresentam os elementos que, hoje, fazem parte de suapessoa como um todo.

Assim, as palavras foram tomadas como fioscondutores da evocação espontânea, para atravessardeterminados períodos de tempo e quadros de referênciacultural, para enfim alcançar o lembrar individual ecoletivo.

As palavras assinaladas foram transcritas eagrupadas, quando apresentando sentidos próximos, emcategorias: Família, Valores, Sentimentos, Características,Lembranças, Religião, Vivência, Fatos/acontecimentos,Trabalho, Visão de mundo (o que percebem), conforme oquadro abaixo:

NOSSAS RAÍZES, NOSSAS BASES1) Família

antepassados – avóspaismãe muito amiga, ótimo coraçãopai, gênio oposto, severoeducação rígidapai e mãe muito corretosirmã – irmãostiosprimascasamentogestação, filhosfilhos entraram na Faculdade e se formaramcasamento dos filhos, netos

HOJE, NOSSAS VIDAS1) Família

paisirmãoscasamentoesposo companheirofilhoso futuro dos filhosrealização profissional dos filhosevolução cultural dos filhosdesejar o que existe de melhor para os filhosnetoselos de ligação: filhos, netos e novos familiaresbisnetossuporte de famíliasentimento de famíliaviuvezfamília: fica menor o espaço que ocupa hoje

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NOSSAS RAÍZES, NOSSAS BASES HOJE, NOSSAS VIDAS

2) Valores

respeitoeducaçãopadrões morais e cívicos muito exigentespadrões severos de comportamentoboa formaçãocaráteraprendizadoperseverançahonestidadeharmonialiberdadehumanidade

3) Sentimentos

amor, sinceridade (herança para passar para os filhos)alegriasolidariedadefelicidade

4) Características

saúde físicasociabilidadeorganizaçãopersonalidaderesponsabilidadeinsegurançatimidez

2) Valores

Moral e respeitoBoa formaçãoHonestidadeResponsabilidadeSinceridadeAjuda ao próximoFraternidadeSolidariedadeComunhão

3) Sentimentos

amorafetividadecarinhomuita felicidadeamizades, amigas, amigosmenos amigos e laços maiorescompanheirismofranquezaajuda, apoiocompreensãosegurançaesperançaamor e admiração à natureza, animaissabedoriatristezadúvidasmedo

4) Características

alegriagosto por resolver problemasvontade de romper barreirasbusca de autonomiaindependênciagosto pela dançasimples, sem vaidadesubmissatimidez

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NOSSAS RAÍZES, NOSSAS BASES HOJE, NOSSAS VIDAS

5) Lembranças

infânciaambiente familiarambiente físicobom exemplo de vida (do avô e do pai)casa/segurançacidade onde nasciterra natalfestas da infânciagrupo escolar onde fiz o primárioescola e professorescastigos, caso não obtivesse resultado nos estudosamigasadolescência

6) Religião

Deus

7) Vivência

Vida muito dirigida para a economia doméstica,para o lar

8) Fatos/acontecimentos

2ª Guerra Mundialracionamento

5) Lembranças

infâncialanche: pão, manteiga e açúcarjuventudemorte do paifalta do pai (firmeza, coragem)saudade do tempo que não volta maiso tempo perdidosaudades

6) Religião

certeza de que Deus é infinito, maravilhosovida de fémenor religiosidade

7) Vivência

lições de vidaexperiência adquiridavida regrada, relativa prosperidadedificuldades da vidapoderia ter tido vida mais calma e mais divertidadescoberta de mim mesmao que percebemos à nossa voltamais compreensão da vidaconvivênciapresenças queridas e fortes marcam nossas mentesluta e vontade de viveralegria de viveraproveitar o momento presentevontade de me expandir, viversentir-me realizadaa facilidade de se comunicarmodificação para melhornovos relacionamentosentrosamento na sociedadevejo um mundo melhor

8) Fatos/ acontecimentos

progressoa grande evolução educacionalos mitos religiososa evolução da ciência

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NOSSAS RAÍZES, NOSSAS BASES HOJE, NOSSAS VIDAS

9) Trabalho

trabalhadoraa importância do trabalhoo amor pelo trabalhoprofissãoaposentadoriaperda do esforço de 20 anos de trabalhodesemprego dos filhos e genro

10) Visão de Mundo: o que percebem/visão crítica

mentirasegocentrismoindiferençaódioviolênciamisériadesorganizaçãosituação financeiradesempregoo grande número de desempregadosa economia inconstante (o futuro da família)insegurançadesunião nas famíliasa mudança de relacionamento (relações) da famíliahojeos filhos pouco respeitam os paisfalta de educação das crianças nas escolaso mundo chama as crianças cada vez mais cedoa rebeldia dos adolescentesas mudanças de comportamentoas grandes mudanças ecológicasdegradação do meio ambientedesenvolvimento da ciência, clonesmassificação tecnológica (globalização)mais agressõesguerras, injustiçagrandes conflitos mundiaiso desrespeito das autoridades com a humanidadepaíses procuram o podercomunicação fica mais fácil (internet, fax,imprensa); porém, mais nos distanciamos

Durante a atividade, foi construída, com o grupo,uma grande Árvore da Vida, em que todas as palavrasforam fixadas, para que se percebessem os aspectos devida dos participantes, agrupados numa grandeexpressão coletiva.

3. ANÁLISE

Iniciamos a análise citando Bosi:

“um dos aspectos mais instigantes do tema é oda construção social da memória. Quando umgrupo trabalha intensamente em conjunto, há

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uma tendência de criar esquemas coerentes denarração e de interpretação dos fatos,verdadeiros ‘universos de discurso’, ‘universosde significado’, que dão ao material de base umaforma histórica própria, uma versão consagradados acontecimentos. O ponto de vista do grupoconstrói e procura fixar a sua imagem para ahistória.” (Bosi, 1994, 67).

É o que procuramos alcançar com este trabalho,tomando os aspectos mais significativos que podemespelhar determinado grupo, em seu tempo e em suahistória.

Os dados que sobressaem apontam, nas“Raízes”, para a importância da família, a sua constituiçãoe ampliação, uma educação mais rígida, os laços familiares,a preocupação com os filhos, o nascimento dos netos.

Nessa base, encontram-se os valores esentimentos que valorizavam o respeito, a educação, oamor, a solidariedade; as características relevam asociabilidade, a responsabilidade, mas estava presente ainsegurança e a timidez.

Nas lembranças aparece novamente o ambientefamiliar, o exemplo de vida dos pais e avós; a cidadenatal, as festas da infância, a escola, as amigas, aadolescência.

A religião é o sentido de Deus. Enquanto vivência,a vida era mais dirigida para o lar, enquanto o fato marcantefoi a 2.ª Guerra Mundial.

No hoje, “Nossas Vidas”, a família ainda é oelemento mais presente, embora percebam que fica cadavez menor o espaço que ela ocupa na sociedade.

Os valores permanecem ligados à moral, aorespeito, à responsabilidade, mas ampliaram-se paraoutros mais solidários, citando fraternidade e ajuda aopróximo.

Os sentimentos cresceram em sua expressão: amor,afetividade, felicidade, amizades, amor à natureza; aparecea esperança, a segurança para uns e a tristeza, dúvidas,medo para outros.

As características atuais indicam alegria, buscade autonomia, vontade de romper barreiras; mas ao ladoda independência encontram-se ainda presentes a timideze a submissão.

Nas lembranças que resgatam do passado, ainfância traz o sabor do lanche da escola, (pão, manteiga

e açúcar), a juventude; as perdas, as saudades; asexpressões “tempo perdido” e “tempo que não voltamais” indicam a percepção de que a vida passou e quenão retorna.

Com respeito à religião, afirmam maior certeza e féem Deus, aparecendo, no entanto, menor religiosidade.

A vivência trouxe o aprendizado, lições de vida,maior compreensão das coisas, experiência, emboratenham existido dificuldades; é grande a vontade e aalegria de viver, ainda existe a expectativa de realizações,de buscar novos relacionamentos, considerando mesmoque o mundo mudou para melhor. Os acontecimentosmarcantes citados são a grande evolução educacional ecientífica e os mitos religiosos.

No quadro atual surgiu a categoria Trabalho,possivelmente não citada nas “Raízes”, por se tratar demaioria de mulheres, cuja vivência, como expressaram,era mais dirigida ao lar, não caracterizada como trabalho,na acepção atribuída, então, na sociedade. Hoje, sereconhecem como trabalhadoras. Os homens,minoritários, e algumas mulheres que exerceram umaprofissão, se encontram aposentados; preocupam-se como desemprego dos filhos e genros, o que pode significarque os ajudam ou continuam a contribuir para amanutenção da casa.

E surgem palavras, categorizadas em Visão deMundo, enquanto visão crítica do que percebem nomundo atual: predominância do egocentrismo,indiferença; a crua realidade da violência e da miséria.Suas preocupações se voltam para as questões daeconomia, que se refletem na família, que causaminsegurança, desemprego. Retratam uma família que hojese encontra mudada nas formas de relacionamento; seusvalores básicos chocam-se em face da situação de filhosque pouco respeitam os pais, em face da escola que nãoeduca e da rebeldia dos adolescentes. Reportam-se àsmudanças de comportamento; preocupam-se com asquestões ecológicas, com os caminhos que o avançodas ciências pode levar, considerando os efeitos damassificação tecnológica e a globalização. O sentido dapaz é buscado quando apontam um mundo caracterizadopelas agressões, injustiças e guerras, atentos aodesenrolar dos grandes conflitos mundiais, queconsideram como resultado da busca do poder e umdesrespeito à humanidade.

Alertam para o fato de que a comunicação ficacada vez mais facilitada, pelos modernos meios decomunicação, mas, por outro lado, cada vez mais aspessoas se distanciam, no seu dia-a-dia e nos seusrelacionamentos.

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4. CONCLUSÃO

O projeto da Faculdade da 3.ª Idade, nestes 11anos, vem alcançando seus objetivos, constituindo-seem um espaço que proporciona aos alunos formasampliadas de integração e participação, criando novasrepresentações sociais que superam as conotaçõesdepreciativas que a sociedade incorpora sobre oenvelhecimento e que podem desvalorizá-los; dessaforma, contribui para novas posturas e para oaprimoramento da qualidade de vida.

A sociedade precisa estar preparada para ainteração intergeracional, para implementar acomunicação entre as gerações.

A memória social é o eixo da socialização; resgatá-la é valorizar a experiência para a construção de novasações criativas, que, com certeza, trazem em si o poderdas transformações.

Os idosos que participaram deste estudo nosmostram suas raízes construídas em bases sólidas; aslembranças evocam o passado, mas dão ênfase àconstrução do presente, retrato de uma geração cujosvalores se assentam na família. São pessoas quedemonstram grande afetividade, alegria de viver, sãoportadores de fé e de esperança. Por outro lado,expressam suas preocupações, ante um mundo cujo ritmode mudanças trouxe melhorias mas, sobretudo, crises quetêm repercutido na educação, no desemprego, causandoinstabilidade social. Alertam para o distanciamento daspessoas.

Fazem a denúncia dos riscos da violência quepermeia todas as relações, alcançando seu auge nosgrandes conflitos mundiais.

Podemos concluir que, enquanto representantesdo passado, são pessoas presentes que precisam serrespeitadas e ouvidas, para que se possa planejar um

futuro melhor para as gerações que as sucederão, nessemovimento contínuo da vida e de construção da históriada humanidade.

“O rosto de Elrond parecia eterno, nem velhonem jovem, embora nele se escrevesse a memóriade muitas coisas, alegres e tristes (...) Pareciavenerável, como um rei coroado com muitosinvernos, e ao mesmo tempo vigoroso como umguerreiro experiente, no auge da força” (Tolkien,2001).

5. BIBLIOGRAFIA

BARROS, M. M. L. de. Testemunho de vida: um estudoantropológico de mulheres na velhice. In: Velhice outerceira idade? Estudos antropológicos sobreidentidade, memória e política. Rio de Janeiro: FundaçãoGetúlio Vargas, 1998.

BOSI, E. Memória e sociedade. Lembranças de velhos.São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

FERREIRA, M. L. M. Memória e velhice: do lugar dalembrança. In: Velhice ou terceira idade? Estudosantropológicos sobre identidade, memória e política. Riode Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

JOÃO PAULO II. Palavras sobre o idoso. Discurso desetembro, 2002.

MORAES, M.; BARROS, L. (Org). Velhice ou terceiraidade? Estudos antropológicos sobre identidade,memória e política. Rio de Janeiro: Fundação GetúlioVargas, 1998.

PROUST, M. Em busca do tempo perdido. No caminho deSwann. Porto Alegre: Globo, 1957.

TOLKIEN, J. R. R. O senhor dos anéis. São Paulo: MartinsFontes, 2001.

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ANEXO 1:

DESENHO UTILIZADO PARA A DINÂMICA DO EXERCÍCIO“ÁRVORE DA VIDA”.

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* Professor da UNIVAP.

Base Tecnológica para o Desenvolvimentoem Engenharia Biomédica

Walter dos Santos *

Resumo: A Engenharia Biomédica é a mobilizadora da pesquisa tecnológica voltada para aprodução de equipamentos médico-hospitalares. Sem uma base tecnológica, suportada pelaNormalização, a Metrologia e a Qualidade, essa pesquisa não se dará. O engenheiro em biomédicadeve ter formação profissional voltada para a pesquisa tecnológica. Quando se conclui uma pesquisacientífica, geralmente finalizando com uma dissertação acadêmica ou publicação em revistaespecializada ou em anais de congresso, nesse momento ou mesmo um pouco antes, já deve tercomeçado o processo de pesquisa tecnológica. A oportunidade, a adequação, a importância, autilidade dos resultados começaram a ser verificadas no cenário sócio-econômico. Os agentesexternos, tais como Governo, Indústria, Comércio, Incubadoras, Universidade, Institutos,Laboratórios Independentes, Propriedade Industrial, interessados no fomento e resultados, interagemcom a pesquisa tecnológica através da Engenharia.

Palavras-chave: Tecnologia, desenvolvimento, Engenharia Biomédica, norma técnica, metrologia,qualidade.

Abstract: Biomedical Engineering is the technological research mobilizing effort directed to theproduction of medical-hospital equipment. Without a technological base supported byStandardization, Metrology and Quality this research will not exist. The biomedical engineer musthave his/her professional education based on the technological research. The process ortechnological research must start when a scientific research is concluded, generally with an academicdissertation or paper for specialized media or meeting, or even before. Opportunity, appropriateness,importance, usefulness of the results are verified in the social-economic context. External agentslike the Government, Industry, Commerce, Universities, Independent Laboratories, Industrial PatentFirms, interested in foments and results interact with the technological research having theEngineering as an interface.

Key words: Technology, development, biomedical engineering, standards, metrology and quality.

1. INTRODUÇÃO

No sentido de compor uma visualização dadinâmica da pesquisa tecnológica é feita umainterpretação da interação dos dois saberes: o conhecere o fazer. Ciência e Tecnologia formam um par demetodologias, que se completam, mas não se confundem.Tendo a Engenharia como mobilizadora da pesquisatecnológica é necessário identificar a sua baseoperacional. A constituição dessa base é vista comosuportada por três pilares: a NORMALIZAÇÃO, aMETROLOGIA e a QUALIDADE.

A Engenharia Biomédica se apresenta comooportuna desenvolvedora nacional com forte conotação

de utilidade social. Os equipamentos médico-hospitalaresrepresentam um desafio tecnológico atual.

A caracterização da dinâmica da pesquisatecnológica na sua base leva a concluir que a formaçãodo engenheiro em biomédica deve voltar-se para oprofissional pesquisador e que os ciclos de vida dasconquistas tecnológicas estão, aceleradamente,tornando-se mais curtos.

2. CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Entende-se que progredir, em termos humanos, éadquirir conhecimentos e constatá-los na realidade danatureza. Estes dois aspectos do caminho percorrido pelapesquisa, na busca da verdade, mostram um estadodicotômico a ser consolidado pelo trabalho intelectualassociado à capacidade de realização.

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Com esta forma de observar pode-se ter Ciênciacomo conhecimento e Tecnologia como a capacidade de

realização, buscando, ambos, o Desenvolvimento.

C I Ê N C I A T E C N O L O G IA

D E S E N V O L V IM E N T O

As metodologias científica e tecnológica nãopodem ser unificadas, pois apresentam fundamentos eobjetivos peculiares.

De forma bem simples tem-se o Saber Porquê(know-why) e o Saber Fazer (know-how). O resultado éuma nova verdade, quando estes dois saberes seamalgamam ou, em termos de desenvolvimento, mais umdegrau se sobe no progresso humano.

3. DESENVOLVIMENTO DA ENGENHARIABIOMÉDICA

ENGENHARIA, palavra que deriva de engenho,engenhar, criar e realizar praticamente, solucionandoproblemas que ultrapassam os limites naturais do serhumano, ampliando sua capacidade de realização pessoale social.

Se a Engenharia se voltava, há alguns anos, paraáreas de Engenharia Civil, Mecânica, Elétrica, Químicaetc., hoje se evidencia a necessidade da EngenhariaNuclear, Mecatrônica, Espacial, Ambiental, Genética,Biomédica etc.

É preciso saber fazer aquilo do qual se sabe oporquê. O conhecimento deve se transformar em realidadenatural, socialmente útil.

Onde se encontram Ciência e Tecnologia, aENGENHARIA age de forma objetiva e inteligente, tendocomo orientação a utilidade social da conquista dedesenvolvimento e progresso.

A Engenharia Biomédica tem, diante de si, umpanorama denso de situações e oportunidades para umaação proativa com relação à Ciência e à Tecnologia.

Entretanto, essas metodologias não podem semovimentar sem a existência de uma base constituída deelementos organizacionais, operacionais, materiais etc.

4. BASE TECNOLÓGICA BRASILEIRA

Entende-se, neste trabalho, como Base

Tecnológica Brasileira a plataforma de meios materiais,operacionais e organizacionais disponíveis para apesquisa e o desenvolvimento tecnológico.

Essa plataforma pode ser visualizada comoapoiada em três grandes pilares, que se identificam como:NORMALIZAÇÃO, METROLOGIA e QUALIDADE.

Procurando fugir aos efeitos festivos epromocionais que essas palavras representam, ter-se-á aNORMALIZAÇÃO como a capacidade, organização eparticipação para a geração das Normas Técnicas; aMETROLOGIA, como a existência de padrões,laboratórios, equipamentos de transferência, pessoalqualificado, rastreabilidade regional, nacional einternacional; e a QUALIDADE, como sistemas internos,procedimentos, administração e certificação.

Entretanto, essa BASE TECNOLÓGICA se tornaestática e inerte se não houver um móvel ativador,identificando oportunidades, necessidades, recursos eobjetivos, que aí estão presentes. Esse móvel ativador éa ENGENHARIA. Por isso, a formação do engenheirodeve ser aprimorada, buscando os necessáriosconhecimentos e habilidades tecnológicos. Há que sepensar na formação executiva e administrativa e tambémna formação para a pesquisa tecnológica.

Circundando essa plataforma tem-se, de formasimplificada, o GOVERNO, o COMÉRCIO, a INDÚSTRIA,as INCUBADORAS, a UNIVERSIDADE, osINSTITUTOS, os LABORATÓRIOS INDEPENDENTESe a PROPRIEDADE INDUSTRIAL.

O GOVERNO, através dos orçamentos anuais,contemplando os ministérios da Educação, da Indústriae do Comércio, da Saúde, da Ciência e Tecnologia, daAgricultura, entre outros, tem, permanentemente,construído parte dessa BASE TECNOLÓGICA. Assim,têm-se os laboratórios nacionais do INMETRO (InstitutoNacional de Metrologia, Normalização e QualidadeIndustrial), que com o CONMETRO (Conselho Nacionalde Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial)constituem o SINMETRO (Sistema Nacional deMetrologia, Normalização e Qualidade Industrial).

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Agências de financiamentos, Finep (Financiadora deEstudos e Projetos), Fapesp (Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de São Paulo), BNDES (BancoNacional de Desenvolvimento Econômico e Social) etc.contribuem para facilitar a localização de recursosfinanceiros para os projetos e programas deDesenvolvimento Tecnológico.

A INDÚSTRIA e o COMÉRCIO têm-se adaptadoàs suas necessidades mínimas operacionais, investindo,para uso próprio, nos chamados laboratórios decalibração, no que se refere à METROLOGIA, e noslaboratórios para o Controle da QUALIDADE.

As INCUBADORAS se constituem na forma deincentivar e fomentar a ação empreendedora. Sãoambientes, como o próprio nome sugere, para a gestaçãodas inovações tecnológicas.

À UNIVERSIDADE cumpre a destacada funçãoformadora do profissional, de maneira metódica epedagógica, com os conhecimentos e as habilidadesespecíficas da área escolhida. Esta posição de destaquea torna merecedora das atenções, acolhimento e proteção,além de evidenciar a sua responsabilidade no processodo desenvolvimento tecnológico.

Os INSTITUTOS representam aqui a forma de agirnos mais variados setores de interesse da sociedadebrasileira. São institutos de ensino, de pesquisa científica,

de tecnologia etc.

Os LABORATÓRIOS INDEPENDENTES sãoinstalações especializadas em certificação metrológica,oferecendo condições de aferição e calibração doequipamento de controle e produção industrial. Outroshá que certificam a qualidade de produtos através delaboratórios de ensaios.

A PROPRIEDADE INDUSTRIAL, mais conhecidacomo patente industrial, é a forma de proteger os direitosde invenção e autoria. É um importante indicador doprogresso tecnológico.

Atualmente, a necessidade para acompanhar ospaíses desenvolvidos e emergentes (em desenvolvimen-to) tem evidenciado a importância do DesenvolvimentoTecnológico.

O engenheiro freqüentemente procura ajustar, noseu campo de atividade profissional, seus conhecimen-tos e habilidades quanto a ADMINISTRAR e quanto aPESQUISAR TECNOLOGICAMENTE.

A Fig. 1 mostra, de forma linear, a proporção entreadministrar e pesquisar para a situação profissional naatividade de Engenharia. Também a formação de nívelsuperior deve contemplar esta situação, equilibrando, damesma forma, Administração e Pesquisa.

ADMINISTRADOR PESQUISADOR

ADMINISTRAÇÃO

TP EE CS NQ OU LI ÓS IA C A

Fig. 1 - Campo de atividade profissional.

A interação desses agentes, que representam aenvoltória da demanda e da oferta de tecnologias,mobilizando a BASE TECNOLÓGICA, se dá através daENGENHARIA, realizando a PESQUISA TECNOLÓGICA.

Outros aspectos de extrema importância devemser considerados, tais como o CICLO DE VIDA daDEMANDA, do PRODUTO e da TECNOLOGIA, bem

como o PLANEJAMENTO com ESTRATÉGIAdirecionada para a INOVAÇÃO TECNOLÓGICA(Siemens, 2001).

Para ilustrar os conceitos apresentados tem-se aFig. 2, mostrando a importância da ENGENHARIA namobilização da PESQUISA TECNOLÓGICA.

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NORMALIZAÇÃO

METROLOGIA

QUALIDADE

BASETECNOLÓGICA

ENGENHARIA

Administração

Universidade

Laboratórios independentes

Institutos

Propriedade industrial

Governo

Comércio

Indústria

Incubadoras

Tecnologia

Fig. 2 - Dinâmica da Base Tecnológica.

A indústria de equipamentos da área da saúdevem sendo estimulada pelas conquistas recentes emautomação computadorizada, variedade de sensores,memórias digitais, velocidade de microprocessadores,arquitetura e sistemas operacionais de computadores,novos materiais e processos de fabricação etc. A pardesses estímulos vem ampliando a demanda por serviçosmédico-hospitalares suportados pelo governo, emprogramas de saúde pública, bem como por clínicas ehospitais privados, onde atuam as organizações ecooperativas de assistência médico-hospitalar e amedicina privada.

5. CONCLUSÃO

1. A Ciência busca o conhecer e a Tecnologia, ofazer. São indissociáveis. O Desenvolvimento se produzna interface Ciência-Tecnologia.

2. A Engenharia Biomédica, na sua larga amplitudede atendimento, não pode prescindir de um forte domíniodas metodologias científica e tecnológica.

3. A pesquisa tecnológica somente será possívelse houver uma Base Tecnológica constituída dasatividades Normativa, Metrológica e da Qualidade.

4. A pesquisa tecnológica será mobilizada pela

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atividade de Engenharia. A formação acadêmica deveráser orientada na direção tecnológica com ênfase nessametodologia de pesquisa.

5. A diversidade dos agentes interessados nofomento e resultados da pesquisa tecnológica representauma força permanente e de abrangência nacional. É agarantia para qualquer empreendimento significativo.

6. A formação do engenheiro deve se tornar maisobjetiva quanto à metodologia tecnológica. O enfoquesobre rudimentos científicos e teóricos precisa seracompanhado por práticas laboratoriais, ensaios,experimentação com modelos, projetos etc.

7. É a Engenharia que, na Base Tecnológica, realizaa Pesquisa Tecnológica com objetivos e metodologiapróprios. É a função interativa do engenheiro comformação em pesquisa.

8. Uma forte diferença entre as metodologiascientífica e tecnológica está em que, enquanto na Ciênciaos resultados e descobertas são duráveis, na Tecnologiao ciclo de vida das conquistas tecnológicas são cada vezmais curtos. Por isso, a variável tecnológica precisa estarna base estratégica dos planos de desenvolvimento.

9. Os agentes, que representam o fomento e ademanda tecnológica, agem sinergicamente através daEngenharia, levando-a a realizar a Pesquisa Tecnológicasobre a Base Tecnológica suportada pela Normalização,Metrologia e Qualidade.

10. A Base Tecnológica para o Desenvolvimentoda Engenharia Biomédica demanda engenheiros comformação biomédica preparados para a pesquisatecnológica. Deverão, entretanto, encontrar uma BaseTecnológica para a realização das pesquisas.

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SIEMENS. Tecnologia: estratégia para a competitividade.São Paulo: Nobel, 2001.

UNIVAP. Catálogo 1995/1996 do IP&D da Univap. SãoJosé dos Campos, 1996.

CNPq. Ciência e tecnologia: alicerces dodesenvolvimento. São Paulo: Cobram, 1994.

TEIXEIRA Jr, A. S. Instrumentação e sua interação como desenvolvimento tecnológico do Brasil. RevistaEducação Brasileira, CRUB, Brasília. v. 9, n. 103, 2° sem.1983.

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O Terceiro Setor na Internet

Celeste Marinho Manzanete *Roberta Baldo *

Gino Giacomini Filho **

Resumo: Este trabalho visa fazer uma análise comparativa dos ‘sites’ de entidades do TerceiroSetor, da cidade de São José dos Campos. A partir da falência de um Estado de bem-estar social, eperante a complexidade da situação enfrentada pela população brasileira e mundial, o TerceiroSetor surge como uma alternativa na busca de soluções. A Internet pode ser uma ferramenta dedivulgação para esta nova ordem social. Porém, a utilização desta ferramenta de forma eficienterequer conhecimentos técnicos prévios, nem sempre levados em consideração na hora de se“encomendar a construção” de uma ‘home-page’ para a entidade. Para fazer esta análise, foramacessados quatro ‘sites’ disponíveis na internet, no período de 24 a 28 de junho de 2002. O objetivofoi levantar se as entidades terceiro-setoristas utilizam esta ferramenta de divulgação, que é ainternet, de maneira eficiente. Para isso, foi utilizado um modelo de ‘sites’, proposto por TomVenetianer, através do qual serão analisados itens como design, conteúdo, atualização,navegabilidade e divulgação.

Palavras-chave: Internet, terceiro setor, ferramenta de divulgação.

Abstract: This work has the purpose of making a comparative analysis about the Third Sector’s websites in Sao José dos Campos. With the failure of the State-provided welfare and in the presence ofthe complex situation faced by people in Brazil and all over the world, the Third Sector was born asan alternative for the searching for f solutions. The computer network can be an important tool forthis new social organization. However, the efficient use of that tool requires some previous technicalknowledge, that has not been always considered before the construction of a homepage for a socialentity. To make this analysis, it was accessed four web sites available in the Internet were accessedduring the period between august 24 and 28, 2002. The purpose was to discover if the third-sectorentities use it as a divulgating tool for their work in an efficient way. To prepare this, we used a website model suggested by Tom Venetianer, through which some topics like design, content, updating,divulgation, etc., will be analyzed.

Key words: Internet, third sector, divulgation tool.

Professora da UNIVAP.Professor da UMESP.

***

1. INTRODUÇÃO

A evolução tecnológica, principalmente ocomputador e a Internet, possibilitou um novo meio decomercialização e comunicação entre empresa econsumidor.

Estima-se que existam 180 milhões decomputadores no mundo ligados na Internet, dos quaisaproximadamente cinco milhões no Brasil, sendo que aquiestá crescendo três vezes mais por ano que no resto domundo. Espera-se atingir a marca de um bilhão decomputadores logo no início do século XXI. Segundo

dados publicados em dezembro de 1999 pela GazetaMercantil, nesse ano foram vendidos 100 milhões de PCsno mundo e, em 2000, espera-se vender maiscomputadores pessoais que televisores no mundo.

Entidades do Terceiro Setor apresentam granderesistência quanto ao seu engajamento neste “mundotecnológico” e novo. O argumento mais presente é a faltade recursos para a manutenção da própria instituição,que dirá um recurso tecnológico deste porte. Porém, épreciso desmistificar esta visão. A internet hojeapresenta-se como um meio de divulgação barato e degrande alcance, até mesmo na captação de recursos paraa entidade.

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2. DEFINIÇÕES

2.1 Definindo Terceiro Setor

Está cada vez mais difundida nos vários setoresda sociedade a idéia de que a atual situação do mundorequer atenção especial das empresas para sua dimensãosocial. O sociólogo alemão Claus Offe, professor daUniversidade de Humboldt (Alemanha), defende que“está em curso uma gigantesca reforma nas relações docidadão com o governo”.

Esta nova ordem social surgiu em decorrência dafalência do Estado do bem-estar social, que era o principalprovedor de serviços sociais aos cidadãos. A falênciado Estado e o apogeu do liberalismo, com a concepçãodo Estado Mínimo, paralisou o Primeiro Setor, que é opróprio Estado.

Toda expectativa de melhores serviços sociais foicanalizada para o papel do Estado como órgão reguladordesses serviços e para o crescimento da pobreza e daexclusão social. A baixa qualidade dos serviços e seusaltos custos só fizeram aumentar a legião dos excluídos edos desassistidos. Milhões de cidadãos tornaram-seórfãos do Estado do bem-estar social, morto, enterrado eesquecido pelos escombros deixados pela onda liberalque, tendo começado na Inglaterra, alastrou-se por todoo mundo.

Mal ou bem, o Estado do bem-estar funciona. Poisera o Primeiro Setor que atuava no campo social. Com aapologia do mercado, este Segundo Setor mostrou suaverdadeira face: o seu ímpeto concentrador de renda, ofavorecimento das elites, a promoção da desigualdadesocial e a exclusão social.

Na concepção de Claus Offe, é a nova ordemsocial que surge, sendo a sua principal base a estruturaçãoe o funcionamento do Terceiro Setor.

As empresas, públicas ou privadas, queiram ounão, são agentes sociais no processo de desenvolvimen-to. A dimensão delas não se restringe apenas a umadeterminada sociedade, cidade, país, mas no modo comque se organiza e principalmente atua, por meio deatividades essenciais. Nos países desenvolvidos, deeconomia de mercado, as empresas introduzem variáveissociais nos critérios de gestão e desenvolvimento.

Há cada vez mais a necessidade de demonstrar àsociedade que não se progride sem a pureza do ar, apreservação das florestas e a dignidade da população.Várias empresas no Brasil desenvolvem, há vários anos,nos mais diferentes campos, projetos sócio-culturais:educação, meio ambiente, crianças de rua, geração de

renda, cinema, teatro, música, literatura, patrimônio, artesplásticas, entre outros.

A atuação de um Estado grande e de um Governoforte é substituída pelo surgimento de uma açãocomunitária forte, atuante, reivindicatória e mobilizadora.À ação estatal ineficiente, precária e insuficiente, porquenão atende às demandas sociais da população, sobrevémuma ação comunitária capaz de prover o cidadão dosserviços sociais básicos.

Para Offe, “ao lado do Estado e do mercado,entidades comunitárias como as ONG’s e as igrejas vãoformar uma nova ordem social”.

“Assim, emerge uma nova concepção do Estado.Não mais o Estado burocrático totalizante, oEstado do bem-estar social, e nem tampouco oEstado Mínimo dos liberais. Deparamo-nos comum novo Estado: o Estado inserido no novo pastosocial. O Estado comprometido com a sociedadecivil, cujo papel dominante é o exercício plenodo seu poder social, controlando os excessos domercado, das empresas inescrupulosas, dosburocratas perdulários e corruptos, regulamen-tando serviços prestados pela iniciativa privada,realizando investimentos sociais e atuando emparceria com as empresas e a sociedade civil nabusca de soluções duradouras para a eliminaçãodo déficit social. (...)

Tais entidades formam entre si uma extensa redede solidariedade social. É onde o cidadão vaiencontrar a solidariedade sem interesses, comoafirma Offe. Por exemplo, o cidadão desemprega-do recebe donativos da igreja, assume trabalhovoluntário no hospital ou escola local atravésda associação de pais de alunos ou dacooperativa dos médicos, engaja-se num mutirãoda comunidade para terminar a obra da sua casa,organizado pela associação de moradores. Epode até mesmo encontrar emprego numa ONGque atua na comunidade onde reside, ou defendeuma causa social de seu interesse ouidentificação.” (Melo Neto e Fróes, 1999, p. 54).

Esta ordem supera em vitalidade, legitimidade eharmonia a ordem da burocracia estatal (Primeiro Setor),e a ordem econômica do mercado (Segundo Setor). Ordemque nasce da desordem social existente, com expressãoinstitucional, que se encontra no Terceiro Setor.

As definições para Terceiro Setor ainda sãodiscutidas e existem diversas visões a respeito do tema.O objetivo deste texto não é fechar a discussão, nemresumi-la a apenas uma vertente. Estão apresentadas a

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seguir, a visão de personalidades que conhecem oconceito e que dedicam suas vidas ao estudo do trabalhoneste ramo da sociedade.

Para Claus Offe, sociólogo alemão:

“(...) ao lado do Estado e do mercado, entidadescomunitárias como as ONG´s e as Igrejas vãoformar uma nova ordem social (...). Para atuarnesta nova ordem social, surgem outrasinstituições sociais: entidades filantrópicas,entidades de direitos civis, movimentos sociais,ONG´s, organizações sociais, agências dedesenvolvimento social, órgãos autônomos daadministração pública descentralizada,fundações e instituições sociais das empresas.Tais entidades, juntamente com o Estado e asociedade civil, constituem o que denominamosTerceiro Setor.” (Melo Neto e Fróes, 1999, p. 2-4).

O Prof. Luis Carlos Merége da Fundação GetúlioVargas, que possui um trabalho de reconhecimentonacional na área do Terceiro Setor, afirma que: “O Estado,a iniciativa privada e os cidadãos reunidos em benefíciode causas sociais. Essa definição aparentementeingênua representa um dos mais modernos conceitoseconômicos surgidos no Brasil nos últimos anos: oTerceiro Setor.” (Melo Neto e Fróes, 1999, p. 6).

Para a socióloga Profª Ruth Cardoso, TerceiroSetor é: “uma nova esfera pública, não necessariamentegovernamental; constituída de iniciativas privadas embenefício do interesse comum; com grande participaçãode organizações não-governamentais; e compreendendoum conjunto de ações particulares com o foco no bem-estar público.” (Melo Neto e Fróes, 1999, p. 8).

Para Mario Aquino Alves, pesquisador da FGV:“o espaço institucional que abriga ações de caráterprivado, associativo e voluntarista que são voltadaspara a geração de bens de consumo coletivo, sem quehaja qualquer tipo de apropriação particular deexcedentes econômicos que sejam gerados nesseprocesso.” (Melo Neto e Fróes, 1999, p. 9).

2.2 Terceiro Setor e áreas de atuação

Segundo a legislação vigente, lei federal número9.790 de 23 de março de 1999, referente às Organizaçõesda Sociedade Civil de Interesse Público:

“A qualificação instituída por esta Lei,observado em qualquer caso o princípio dauniversalização dos serviços, no respectivoâmbito de atuação das Organizações, somenteserá conferida às pessoas jurídicas de direito

privado, sem fins lucrativos, cujos objetivossociais tenham pelo menos uma das seguintesfinalidades:I – promoção da assistência social;II – promoção da cultura, defesa e conservaçãodo patrimônio histórico e artístico;III – promoção gratuita da educação,observando-se a forma complementar de partici-pação das organizações de que trata esta Lei;IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação dasorganizações de que trata esta Lei;V – promoção da segurança alimentar enutricional;VI – defesa, preservação e conservação do meioambiente e promoção do desenvolvimentosustentável; (este parágrafo é somente umexemplo. Deve-se colocar nele as finalidades daentidade, sejam elas de caráter social, cultural,assistencialista, entre outras.)VII – promoção do voluntariado;VIII – promoção do desenvolvimento econômicoe social e combate à pobreza;IX – experimentação, não lucrativa, de novosmodelos socioprodutivos e de sistemas alternati-vos de produção, comércio, emprego e créditos;X – promoção de direitos estabelecidos,construção de novos direitos e assessoria jurídicagratuita de interesse suplementar;XI – promoção da ética, da paz, da cidadania,dos direitos humanos, da democracia e de outrosvalores universais;XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento detecnologias alternativas, produção e divulgaçãode informações e conhecimentos técnicos ecientíficos que digam respeito às atividadesmencionadas neste artigo.Parágrafo único. Para os fins deste artigo, adedicação às atividades nele previstasconfigura-se mediante a execução direta deprojetos, programas, planos de ações correlatas,por meio da doação de recursos físicos, humanose financeiros, ou ainda pela prestação de serviçosintermediários de apoio a outras organizaçõessem fins lucrativos e a órgãos do setor públicoque atuem em áreas afins.” (Venetier, 1999, p. 162).

2.3 Internet como ferramenta de divulgação

O cenário atual, com a chegada das novastecnologias e o advento da Internet, transformou asmaneiras como pessoas e empresas comunicam-se entresi. Para o Terceiro Setor a Internet pode ser uma grandeferramenta de divulgação das OSCIPs (Organizações daSociedade Civil de Interesse Público), já que elas, muitasvezes, precisam de parceiros para dar continuidade aos

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seus trabalhos. Em São José dos Campos essa ferramentaé pouco utilizada. Em uma busca em sites como: Yahoo -Cidades - São José dos Campos, Evanguarda.com.br,www.sjc.com.br, foram encontrados apenas quatro sitesde entidades do Terceiro Setor. Já estão conectados àrede mundial de computadores: o Gacc (Grupo de Apoioà Criança com Câncer), a Vale Verde (Associação deDefesa do Meio Ambiente), a Sociedade São Vicente dePaula (ligada à Igreja Católica) e a FUNDHAS (FundaçãoHélio Augusto de Souza).

3. METODOLOGIA

A metodologia consistiu na aplicação do modelode Venetier (1999) para a análise de sites da internet.

Venetier (1999) descreve alguns elementos queprecisam ter numa página para que seja um site desucesso:

1.Nome: para ele, a escolha do nome é muitoimportante; em algumas empresas o nome se confundecom a marca, isso faz delas um grande sucesso. Comoexemplo, o autor cita a Amazon, que tornou-se sinônimode livraria virtual.

2. Endereço: O endereço é a URL da página, quefacilita o processo de busca, o registro em mecanismosde busca, de preferência os que são mais conhecidospela comunidade virtual.

3. Criar um produto virtual: A partir de agora, apalavra produto virtual passa a significar a chamadapresença eficaz na Internet. Não basta estar nociberespaço, é preciso promovê-lo.

4. Design: Este elemento é de extrema importân-cia.É todo o desenvolvimento gráfico: diagramação, arte,ilustração. Para o autor, toda página deve ter, logo notopo, uma síntese clara de seu conteúdo e objetivaresponder às perguntas: “para que serve esta página e oque irei encontrar nela?” (Venetier, 1999, p. 162).

5. Conteúdo: “O conteúdo de um site é representa-do por todos os elementos textuais, visuais e sonoros,desde que contribuam para a comunicação de idéias e deinformações úteis aos visitantes.“Riqueza e utilidade eatualização”.

6. E-mail: Utilizar diversos recursos da Internetpara oferecer serviços como: webcasting, serviços deassistência técnica, formulários eletrônicos versus e-mail

7. Grupos, listas, fóruns de discussão e chats:Proporcionar ao internauta esse tipo de serviço.

8. Atualização: Os sites que trabalham com vendasdevem ser atualizados, principalmente os itens: preços,divulgação de promoções e de novos produtos .

9. Navegabilidade: Estruturação lógica e funcionaldas informações, facilitando as buscas do internauta.

10. Hiperlinks: Classificação por critérios lógicos,atualização e utilidade para o público- alvo.

11. Idioma: toda página deve conter pelo menos oinglês.

12. Divulgação: impressos da empresa, materialpublicitário, press-releases, correspondência eletrônica,usos de hiperlinks, comprando espaço de divulgação.

13. Banner: Os banners são propagandas nainternet, assim como nos jornais e revistas, criou-se umapadronização do tamanho. O padrões são medidos empixels (pontos por polegada), sendo três os maisutilizados:

- Banner de largura inteira: 468 x 60 pixels .- Banner de meia largura : 234 x 60 pixels.- Minibanner: 88 x 31 pixels.

A partir deste modelo, foram analisados os quatrosites das entidades joseenses.

Análise dos sites

Segundo o modelo de Venetier, dos quatro sitesanalisados, conforme Tabela 1, três apresentam endereçoscom o nome / sigla da instituição, o que facilita na buscade informações. O site da Sociedade São Vicente de Paulopossui endereço gratuito, portanto, sem constar o nomeda entidade.

Todos os sites analisados criaram um “produtovirtual”, portanto trabalhando de forma a divulgar aexistência do endereço eletrônica e da entidade. É possívelencontrar todos eles em sites de busca como ogoogle.com ou o yahoo.com.

O conteúdo apresenta-se distribuído de formacoerente no site do Gacc, apresentando bem a instituiçãoe dando opções de ajuda e participação na entidade. Já oda Fundhas não é lógico quanto à localização dasinformações nas páginas que compõem o site. É difícillocalizar o que se precisa neste site, inclusive um e-mailpara o contato com a Fundação. Nos outros sites,entretanto, o e-mail está na página principal, ou entãono link fale conosco / quem somos.

Dois sites apresentam listas de links, o da SSVP e

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o da Vale Verde. Nos outros, não há lista de links, nemfóruns ou chats de discussão.

Quanto à data de atualização, em sua maioria éfeita mensalmente – sites Vale Verde e Gacc. No site daFundhas, é impossível saber quando foi feita a últimaatualização. Já o da SSVP, a data é de mais de 1 ano atrás.

Quanto à navegabilidade, a mais fácil de se navegaré a do Gacc, é também a mais rápida. A página da ValeVerde também é fácil de carregar, mas tem carregamentolento das páginas subseqüentes. Na página da Fundhaso layout não é fluido, e na da SSVP há links de acessoimpossível.

No quesito hiperlinks, o site da SSVP não tem a

apresentação da entidade, seus objetivos e missão. Osda Fundhas e da Vale Verde apresentam seus link´s forade uma seqüência lógica de navegabilidade. Apenas odo Gacc é que apresenta uma seqüência lógica em seuslinks. Todos os sites têm seus conteúdos apenas emlíngua portuguesa.

Através de seus materiais impressos: folders,cartões, cartazes e cartas – as entidades: Gacc, Vale Verdee Fundhas, divulgam seu endereço eletrônico. Já a SSVPnão utiliza seu material impresso para esta finalidade.

A única página que tem banners é a da SSVP, que,por se tratar de uma página de divulgação gratuita, abrigaa propaganda de todos os tipos de produtos e serviçosque o provedor determinar.

Tabela 1 - Análise dos sites

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta pesquisa, pode-se concluir quepoucas entidades do Terceiro Setor em São José dosCampos possuem página na internet para divulgar suasatividades. Mesmo se tratando de uma mídia de custobastante inferior em relação às outras, o Terceiro Setorainda não tem nesta ferramenta de divulgação uma aliada.

As poucas entidades que possuem algum tipo dehome-page ou contato via e-mail não têm a preocupaçãode uma atualização constante e um acesso freqüente paraa manutenção da página.

Dentre as entidades pesquisadas, fica clara a

preocupação de duas delas em manter a qualidade eatualidade da informação. Já as outras não apresentamnem mesmo a data da última atualização dos dados.

Há por fim a constatação de uma necessidade emqualificar os gestores do Terceiro Setor para as novasmídias e as tecnologias mais recentes, e apresentar-lhes,de maneira objetiva, esta que pode ser uma grande aliadana divulgação e no crescimento do trabalho realizadopor cada uma delas: a INTERNET.

4. BIBLIOGRAFIA

CAMARGO, M. F. et al. Gestão do terceiro setor noBrasil. São Paulo: Futura, 2001. p. 180-181.

Cor Tipologia Diagramação FotosVale Verde Cores do logo,

com contraste

Verdana, tamanho7,5 para os textosem geral

Leve, com poucas fotose textos bemdistribuídos

Poucas, nítidas e de bomgosto

Fundhas Contraste dofundo comfontes, semvínculo com ascores do logotipo

Fonte Arial,tamanho 7,5 paraas chamadas eVerdana 10 paraos textos

Com o logotipo do ladodireito e barra deferramentas poucalógica. Apresentas fotospequenas no espaço

Trabalhadas e comfiltros coloridos

SSVP Fundo commarca d´águaque dificulta aleitura

Fonte PalatinoLinotype, tamanho12 para os textos

Pouco atrativa, commarca d´água no fundoque dificulta o acesso

Pouco nítidas e deassuntos não relevantes aogrande público

GaccBase em azul,com coresalegres

Verdana, tamanho8 nos textos etítulos

Alegre, em vista dopúblico atendido, mascom diagramaçãoconfusa.

Bem distribuídas napágina, porém um poucoescuras e comenquadramentocomprometido

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MELO NETO, F. P.; FRÓES, C. Responsabilidade social& cidadania empresarial – a administração do terceirosetor. Quaitymark, 1999.

VENETIER, T. Como vender seu peixe na internet: umguia prático de marketing e comércio eletrônico. Rio deJaneiro: Campus, 1999, p. 162.

4.1 Sites consultados

http://members.fortunecity.com/cjcpjg/

www.gacc.com.br

www.valeverde.org.br

www.fundhas.org.br

www.google.com.br

www.yahoo.com

www.sjc.com.br

www.evanguarda.com.br

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Efeito do Coeficiente Volumétrico de Transferência deOxigênio na Produção de Xilitol em Biorreator de

Bancada

Solange Inês Mussatto *Inês Conceição Roberto **

Resumo: A influência do coeficiente volumétrico de transferência de oxigênio (KLa) na bioconversãode xilose em xilitol por Candida guilliermondii FTI 20037 foi avaliada utilizando o hidrolisadohemicelulósico de palha de arroz como meio de fermentação. As fermentações foram realizadas emum biorreator de bancada a 1,3 vvm e 30°C, sob diferentes velocidades de agitação (500, 300 e 200rpm) que proporcionaram valores de KLa de 52, 15,4 e 5,5 h-1, respectivamente. Os resultadosobtidos mostraram que a bioconversão foi dependente da taxa de aeração empregada, sendo que omaior valor de rendimento do processo em xilitol (YP/S = 0,84 g/g) foi obtido com a utilização de umKLa de 15,4 h-1. O aumento deste parâmetro de 15,4 para 52 h-1 proporcionou uma queda de 52% norendimento em xilitol e um aumento de 130% no crescimento celular. A diminuição do KLa de 15,4para 5,5 h-1 não interferiu na produção de células e não foi capaz de promover um rendimento emxilitol superior ao obtido com a utilização do KLa de 15,4 h-1.

Palavras-chave: Xilitol, palha de arroz, KLa, Candida guilliermondii.

Abstract: The influence of oxygen transfer volumetric rate (KLa) for the bioconversion of xylose intoxylitol by the yeast Candida guilliermondii FTI 20037 was evaluated using rice straw hemicellulosichydrolysate as fermentation medium. The fermentations were carried out in a bioreactor at 30°Cand 1.3 vvm, under different stirring rates (500, 300 and 200 rpm) which resulted in KLa values of52, 15.4 and 5.5 h-1 respectively. According to the results obtained, the bioconversion was dependenton the aeration rate employed, the best xylitol yield (YP/S = 0.84 g/g) being achieved with the use ofKLa = 15.4 h-1. The increase of this parameter to 52 h-1 promoted a decrease of 52% on xylitol yield,and an increase of 130% in cellular growth. The decrease of the KLa value to 5.5 h-1 did not result inany difference in the cell formation and the xylitol yield was lower than that attained with the use ofKLa = 15.4 h-1.

Key words: Xylitol, rice straw, KLa, Candida guilliermondii.

* Doutoranda em Biotecnologia Industrial -FAENQUIL 2002.

** Professora/Pesquisadora do Departamento deBiotecnologia na FAENQUIL.

1. INTRODUÇÃO

Resíduos lignocelulósicos como a palha de arroz,o bagaço de cana-de-açúcar e a madeira de eucaliptovêm sendo constantemente aproveitados no processobiotecnológico de produção de xilitol (edulcorantealimentar com propriedades e aplicações farmacêuticasrelevantes) (Mussatto e Roberto, 2001; Alves, Felipe,Silva, Silva e Prata, 1998; Cannettieri, Almeida e Silva,Felipe, 2001). Entretanto, um dos principais fatores que

influenciam a fermentação dos hidrolisados obtidos apartir destes materiais lignocelulósicos é a capacidadeprodutiva do microrganismo, que varia com as condiçõesde cultivo utilizadas no processo de bioconversão.

A bioconversão de xilose em xilitol por levedurasé regulada principalmente pela disponibilidade de oxigêniono meio de fermentação. Quando em anaerobiose ou emtensões de oxigênio muito baixas, as levedurasfermentadoras de xilose são incapazes de oxidar o NADHcompletamente, o que provoca a excreção do xilitol. Porém,quando o oxigênio é fornecido em excesso, a leveduradesvia o piruvato da fermentação e segue pela via doácido tricarboxílico, ocorrendo maior formação de massacelular (Laplace, Delgenes, Moletta e Navarro, 1991).Desta forma, para que um processo fermentativo ocorra

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de forma eficiente, é de grande importância determinar ofluxo de oxigênio capaz de proporcionar uma utilizaçãobalanceada da fonte de carbono, tanto para o crescimentodo microorganismo como para a fermentação(Winkelhausen e Kuzmanova, 1998).

No presente trabalho avaliaram-se diferentesvalores de coeficiente volumétrico de transferência deoxigênio, com o objetivo de melhorar os resultados dabioconversão de xilose a xilitol pela levedura Candidaguilliermondii, a partir de hidrolisado hemicelulósico depalha de arroz.

2. METODOLOGIA

Obtenção, Concentração e Tratamento do Hidrolisado

A palha de arroz foi inicialmente seca ao sol ecominuída em moinho tipo martelo a um tamanho de 1cmde comprimento e 1mm de espessura. O hidrolisadohemicelulósico foi obtido por catálise ácida em reatorconfeccionado em aço-inox AISI 316 com capacidade de350 litros, munido de aquecimento indireto por resistênciaelétrica por camisa de óleo térmico. As reações foramrealizadas com H2SO4 (98% p/p), na concentração de100 mg/g de matéria seca, a 121 oC por um tempo de 30minutos, mantendo uma relação sólido:líquido de 1:10.Ao final das hidrólises o material foi submetido a umprocesso de filtração a vácuo, sendo o filtrado(hidrolisado hemicelulósico) conservado a 4 °C.

Com o objetivo de aumentar a concentração dexilose a um valor nove vezes maior que o inicial, ohidrolisado foi concentrado sob vácuo em evaporadorcom capacidade de 4 litros, a uma temperatura deaproximadamente 70 ± 5 oC. Posteriormente, para reduzira concentração dos compostos tóxicos provenientes doprocesso de hidrólise, o hidrolisado concentrado foitratado através da alteração do pH original (0,4) para pH8,0, pela adição de NaOH (pastilhas), seguido de suaredução para o pH inicial de fermentação (6,5) pela adiçãode H2SO4 (72% p/p). Após cada alteração do pH, oprecipitado foi removido por centrifugação a 1100xg por15 minutos.

Processo Fermentativo

O microrganismo utilizado foi a levedura Candidaguilliermondii FTI 20037, selecionada para produção dexilitol (Barbosa, Medeiros, Mancilha, Schneider e Lee,1988). A cultura foi mantida repicada em tubos de ensaiocontendo ágar malte inclinado e conservada em geladeiraa 4 oC. Um repique com cerca de 24 horas foi utilizadopara o preparo do inóculo.

O inóculo foi preparado transferindo-se uma

alçada de células, proveniente do repique em meio demanutenção, para tubos de ensaio contendo águadestilada estéril. Alíquotas de 5 mL desta suspensãocelular foram transferidas para frascos Erlenmeyer de 500mL contendo 200 mL do meio contendo (g/l): xilose: 20,0;sulfato de amônio: 3,0, cloreto de cálcio dihidratado: 0,10e extrato de farelo de arroz: 20,0. Os frascos foramincubados a 30 °C em agitador rotatório (Tecnal TE-420)a 200 rpm, por 24 horas. Após este tempo as células foramseparadas por centrifugação a 1100xg por 20 minutos, eressuspensas diretamente no hidrolisado tratado(contendo cerca de 85 g/L de xilose) que compôs o meiode fermentação. As soluções de todos os componentesforam preparadas separadamente e esterilizadas a 121°Cpor 20 minutos, exceto a solução de xilose que foiautoclavada a 112°C por 15 min.

Os ensaios foram conduzidos em um fermentadorde bancada modelo BIOSTAT B (B. Braun BiotechInternational) de 2 litros de capacidade total, comcontrolador de temperatura, agitação, aeração e pH,munido com duas turbinas com 6 pás planas. Asvelocidades de agitação utilizadas foram: 500 rpm, 300 rpme 200 rpm, que proporcionaram valores de KLa de 52 h-1,15,4 h-1 e 5,5 h-1, respectivamente. O volume de meio foifixado em 1000 mL, a temperatura mantida em 30 °C e aaeração em 1,3 vvm, durante as 72 horas do decorrer dafermentação.

Acompanhamento Analítico dos Experimentos

O acompanhamento das fermentações foi realizadoretirando-se amostras para verificação da concentraçãocelular, glicose, xilose e xilitol. O crescimento foiacompanhado por medida das absorbâncias a 600 nm emespectrofotômetro. As amostras foram devidamentediluídas para uma faixa de leitura entre 0,05 a 0,5 unidadesde DO. A concentração celular foi determinada utilizando-se a equação obtida da regressão linear dos dados deuma curva de calibração entre peso seco e absorbância.

As concentrações de glicose, xilose e xilitol foramdeterminadas por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência(HPLC), nas condições: coluna BIO-RAD Aminex HPX-87H (300 x 7,8 mm); temperatura: 45°C; eluente: ácidosulfúrico 0,01N; fluxo 0,6 ml/min; volume de amostra: 20µl; detector: índice de refração.

3. RESULTADOS

A produção de xilitol a partir de hidrolisadoslignocelulósicos vem sendo estudada através dediferentes processos que levam em conta tanto a influênciadas variáveis operacionais, como a presença decompostos no hidrolisado, que interferem no processode bioconversão.

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Neste trabalho, o efeito do coeficiente volumétricode transferência de oxigênio (KLa), uma das variáveis deinfluência em processos de bioconversão, foi avaliadona bioconversão de xilose a xilitol por Candidaguilliermondii, a partir de hidrolisado hemicelulósico depalha de arroz. As Figuras 1, 2 e 3 apresentam asconcentrações de glicose, xilose, xilitol e células duranteos processos fermentativos conduzidos com KLa de 52;5,5 h-1 e 15,4, respectivamente.

Fig. 1 - Concentração (g/L) de glicose (T), xilose (l),xilitol (Ž) e células (s) durante o processo

fermentativo conduzido com um KLa = 52 h-1.

Fig. 3 - Concentração (g/L) de glicose (T), xilose (l),xilitol (•) e células (s) durante o processo

fermentativo conduzido com um KLa = 15,4 h-1.

As Figuras 1, 2 e 3 revelam que independente dovalor de KLa utilizado, a glicose foi totalmente consumidapela levedura durante as primeiras 24 horas do processofermentativo. De acordo com a literatura, em meioscontendo misturas de açúcares as hexoses sãoconsumidas preferencialmente, pois inibem ometabolismo da D-xilose através da inativação do sistemade transporte de xilose (repressão catabólica) (Webb eLee, 1990). Tal comportamento não foi verificado nopresente trabalho, uma vez que em todos os ensaiosrealizados o consumo de xilose ocorreu simultaneamenteao de glicose. Lee, Ryu e Seo (2000), analisando afermentação de produção de xilitol através de processobatelada alimentada (“fed-batch”), observaram que emfermentações com meios contendo mistura de açúcares,a glicose é usada como fonte de energia para ocrescimento celular e na regeneração de cofatores,enquanto a xilose é o substrato utilizado para a conversãoem xilitol.

Analisando o consumo de xilose verificou-se queo aumento da taxa de aeração do processo, de um KLa de15,4 para 52 h-1, promoveu um aumento de 90% noconsumo desta pentose, o que refletiu em um aumentode 345% na produção de massa celular. Porém, adiminuição do valor de KLa de 15,4 para 5,5 h-1

praticamente não interferiu no consumo de xilose e nemna produção de células. Comportamento similar a este foiobservado por Martínez, Silva e Felipe (2000) nafermentação de hidrolisado de bagaço de cana-de-açúcar,também para a produção de xilitol. Segundo estes autores,o aumento do KLa do processo de 10 h-1 para 30 h-1

promoveu um aumento de 27% no consumo de xilose e636% no crescimento celular.

No presente trabalho, a utilização de um KLa de

Fig. 2 - Concentração (g/L) de glicose (T), xilose (l),xilitol (•) e células (s) durante o processo

fermentativo conduzido com um KLa = 5,5 h-1.

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Tabela 1 - Efeito do coeficiente volumétrico de transferência de oxigênio nos parâmetros fermentativos deprodução de xilitol a partir de hidrolisado hemicelulósico de palha de arroz.

KLa(h-1)

∆S(%)

X(g/L)

P(g/L)

YP/S(g/g)

YX/S(g/g)

QP(g/L.h)

5,5 22,2 5,1 13,3 0,69 0,05 0,1815,4 17 5,6 12,2 0,84 0,08 0,1752 48,4 14,5 16,7 0,44 0,32 0,23

∆S, consumo de xilose; X, concentração celular final; P, concentração dexilitol; YP/S , fator de conversão de xilose em xilitol; YX/S , fator de conversãode xilose em células; QP , produtividade volumétrica em xilitol.

Através desta tabela observa-se que os valoresdo coeficiente de transferência de oxigênio utilizados nãointerferiram na produtividade do processo. Entretanto,apesar de em todos os casos a concentração final deproduto ter sido praticamente a mesma, o rendimento doprocesso em xilitol diminuiu de 0,84 para 0,44 g/g, quandoo valor de KLa foi aumentado de 15,4 para 52 h-1. Nestecaso, o aumento da taxa de transferência de oxigênioprovocou um maior consumo de xilose, porém, comoconseqüência do excesso de oxigênio fornecido ao meio,ocasionou um desvio no metabolismo da levedura, daprodução de xilitol para a formação de células. Quando oKLa foi reduzido de 15,4 para 5,5 h-1, os valores dosparâmetros do processo fermentativo ficaram muitopróximos, porém o rendimento em xilitol foi 18% menor.

4. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste trabalho mostraramque a determinação do nível de aeração mais adequadoao processo é fundamental para melhorar a bioconversãode xilose em xilitol e atingir elevados rendimentos noprocesso.

Dentre as condições aqui avaliadas, a utilizaçãode um KLa de 15,4 h-1 mostrou ser a mais adequada,

proporcionando um rendimento em produto de 0,84 g/g euma produtividade volumétrica de 0,17 g/L.h, após 72horas de fermentação. Entretanto, estudos paraotimização deste parâmetro devem ser realizados, de formaa proporcionar também elevados valores de produtividadevolumétrica em xilitol e, desta forma, contribuir para queo processo seja realizado com maior rapidez e eficiência.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP e ao CNPq, oapoio financeiro concedido para execução deste trabalho.

6. REFERÊNCIAS

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5,5 h-1 proporcionou um consumo de xilose de apenas22,2% , com um crescimento celular máximo de 5,1 g/L euma produção de xilitol de 13,3 g/L após 72 horas defermentação. Quando o KLa foi aumentado de 5,5 para15,4 h-1, apesar de o consumo de xilose ter sido inferior,houve um aumento na capacidade produtiva da célula,que conseguiu produzir a mesma quantidade de xilitolencontrada anteriormente (cerca de 13 g/L). A utilizaçãode um KLa ainda maior (52 h-1); apesar de terproporcionado um aumento no consumo de xilose, nãomelhorou os valores de produção de xilitol. Roberto,Mancilha e Sato (1999) também verificaram que para

valores de KLa superiores a 15 h-1 nenhuma diferençasignificativa nos níveis de concentração de xilose e xilitolfoi observada. Este fato demonstra que a determinaçãode um nível adequado de aeração é necessário para seatingir uma bioconversão de xilose em xilitol de maneiraeficiente.

O efeito do coeficiente volumétrico detransferência de oxigênio nos parâmetros fermentativosdo processo de produção de xilitol pode ser observadona Tabela 1.

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Revista UniVap, v.10, n.18, 2003 87

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200388

Obtenção e Purificação de Quitosana a Partir de Resíduosde Camarão em Escala Piloto

Niege Madeira Soares *Catarina Moura **

Sheila Vasconcelos **Jaques Rizzi ***

Luiz Antônio de Almeida Pinto ***

Resumo: A quitina, β-(1-4)-N-acetil-D-glucosamina, é o segundo mais abundante biopolímeronatural depois da celulose e é encontrado nos exoesqueletos de crustáceos, carapaça de fungos eoutros materiais biológicos e é a principal provedora da quitosana, β-(1-4)-D-glucosamina. Cidadesportuárias, como a cidade do Rio grande, possuem uma grande concentração de indústriaspesqueiras, que geram anualmente grandes quantidades de resíduos de pescado, principalmentede camarão. O camarão, em sua constituição, possui de 5 a 7% de quitina, que pode ser extraída dosresíduos e transformada em quitosana, que possui alto valor no mercado e pode ser utilizada emvárias áreas devido sua estrutura possuir um grupamento amino disponível, que a mantém comcaracterísticas mais interessantes que a quitina. O objetivo deste trabalho é produzir quitosana emescala piloto e purificá-la para que esta possua características semelhantes ao produto comercial.As etapas de obtenção da quitina são as seguintes: desmineralização, desproteinização,desodorização. Para a produção de quitosana faz-se uma desacetilação alcalina rigorosa, queretira a molécula acetil da quitina transformando esta em quitosana. A purificação da quitosana éfeita utilizando-se a capacidade policatiônica da quitosana em soluções ácidas, de onde esta éprecipitada através da adição de uma solução alcalina.

Palavras-chave: Resíduos de camarão, quitina, quitosana, escala piloto, purificação.

Abstract: Chitin, β-(1-4)-N-acetyl-D-glucosamine, is the second most abundant natural biopolymerafter cellulose and is found in the exoskeletons of crustaceans, the cells of fungi and other biologicalmaterials. It is the main source of chitosan, β-(1-4)-D-glucosamine. Ports like the city of Rio Grandehave a large number of fish-related industriesfactories, which generate large volumes of fish residues,particularly from prawns, every year. Prawns contain 5 to 7% of chitin, which can be extracted fromthe residues and transformed into chitosan. Chitosan has a high market value and can be used inmany areas since its structure has an amino-available grouping which means that it has more usefulcharacteristics than chitin. The aim of this study is to produce chitin and chitosan on a pilot scaleand purify the obtained chitosan so that it has similar characteristics to the commercial product.The steps for obtaining chitosan are as follows: demineralization, deproteinization and thendeodorization. To produce chitosan, rigorous alkaline deacetylation was carried out to remove theacetyl molecule of the chitin, transforming it into chitosan. Chitosan is purified using its polycationiccapacity in acid solutions, from which it is precipitated by adding an alkaline solution.

Key words: Residues of prawns, chitin, chitosan, pilot scale, purification.

Graduação em Engenharia Química - ConselhoNacional de Pesquisa - PIBIC/CNPq - FundaçãoUniversidade Federal do Rio [email protected]ção em Engenharia de Alimentos - FundaçãoUniversidade Federal do Rio Grande.Departamento de Química - Fundação UniversidadeFederal do Rio Grande.

*

**

***

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Revista UniVap, v.10, n.18, 2003 89

1. INTRODUÇÃO

O nome quitina é derivado da palavra grega“quiton”. É o segundo mais abundante biopolímero sobrea terra, depois da celulose, é uma N-acetilglucosamina.Quitosana é o nome utilizado pela forma acetil substituídada quitina que é composta primeiramente por N-glucosamina. A quitosana tem três tipos de gruposfuncionais reativos, um grupo amino como ambos gruposhidroxila primário e secundário nas posições C-2, C-3 eC-6, respectivamente. As modificações químicas destesgrupos têm provido numerosas aplicações em diferentesáreas (Craveiro, 1999).

A quitina, por existir em grande quantidade nanatureza, e seu produto, a quitosana, ter grande valor nomercado, torna-se viável sua obtenção peloreaproveitamento dos resíduos de camarão e de outroscrustáceos. A quitosana possui uma variedade deutilizações como: área médica, tratamento de efluentes,clareamento de óleos e vinhos, pode ser utilizada na formade filmes que possuem várias composições e funçõesdistintas. A biodegradação da quitina é muito lenta nosresíduos de crustáceos. A acumulação de grandes

quantidades de resíduos providos das indústrias deprocessamento de pescado tem se tornado uma dasprincipais preocupações em relação à preservação domeio ambiente (Shahidi, Arachchi e You, 1999). No RioGrande a grande concentração de indústrias deprocessamento de alimentos do mar, por conseguinte, deresíduos de camarão, gera uma preocupação para queestes tenham utilização economicamente viável, o quejustifica o objetivo do presente estudo de obtenção deum produto de alto valor agregado como a quitosana apartir destes resíduos.

2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL

2.1 Produção de quitosana: Para a produção dequitosana a matéria-prima utilizada foram resíduos decamarão, obtidos nas indústrias locais da cidade do RioGrande, e armazenados no freezer do Laboratório deOperações Unitárias/FURG a aproximadamente –18°C.

O procedimento para a produção de quitosanapode ser representado pelo fluxograma apresentado naFigura 1.

Fig. 1 - Fluxograma representativo da produção de quitosana.

Uma massa de 15 kg de resíduos foi colocada emum tanque com agitação, onde foi adicionada umasolução ácida, tendo essa etapa por objetivo a reduçãodo teor de cinzas da matéria-prima. Terminada esta etapa,o reagente em excesso é retirado por lavagens com água.

A etapa de desproteinização é feita com soluçãoalcalina, sendo a principal função dessa etapa a reduçãodo teor de nitrogênio protéico dos resíduos de camarão.O reagente é novamente retirado, através de lavagens, eassim se obtém a quitina úmida.

Resíduos de camarão

Limpeza dos resíduos

Desmineralização

Desproteinização

Desodorização

Secagem

Desacetilação

Secagem

Quitosana

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200390

A etapa de desodorização consiste na purificaçãoda quitina, onde há uma redução do odor característicodos resíduos de camarão e despigmentação(clareamento).

A quitina é então seca, em um secador de bandejaspor quatro horas a 80°C, onde a umidade alcançada ficaem torno de 5-6%.

A quitina seca é então colocada em um reator com

aquecimento e agitação, projetado propriamente para areação de conversão da quitina em quitosana, onde écolocada uma solução alcalina concentrada a elevadatemperatura. A quitosana é seca nas mesmas condiçõesda quitina, até sua umidade comercial, de 6-8%.

2.2 Purificação da quitosana: O processo depurificação é ilustrado pelo diagrama de blocosapresentado na Figura 2.

Fig. 2 - Diagrama de blocos para o processo de purificação da quitosana.

Partindo-se da quitosana seca (6 - 8% umidade),prepara-se um sal com concentração de quitosana 1%,em uma solução de 1% de ácido acético, onde se obteráa quitosana dissolvida, já que esta possui solubilidadeem ácidos orgânicos diluídos (até pH de aproxima-damente 6,0). A solução é filtrada para que seja possívelretirar o material que não foi dissolvido e se obter umasolução com menor quantidade de impurezas. A quitosanaé precipitada em soluções alcalinas até pH de aproximada-mente 12,5. Após é feita a neutralização com ácido até pH7,0. A separação é feita por centrifugação. A secagem éfeita em um secador de bandejas, até a umidade comercial,onde assim se obtém a quitosana purificada.

2.3 Metodologia Analítica: As análises de cinzas,umidade e N-total foram feitas segundo as normas daA.O.A.C (1995). Onde o ensaio de cinzas é feito pelométodo de mufla, umidade pelo método de estufa eanálise de N- total pelo método de Kjeldahl, seguindo osfatores de conversão de proteína, quitina e quitosana,6,25; 14,0 e 11,0, respectivamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos pela análise de N- corrigido,em base úmida, por etapas da produção, são apresentadosna Tabela 1.

Tabela 1 - Resultados obtidos para N-corrigido

Os resultados apresentados na Tabela 1, para N-corrigido, são os obtidos por uma relação entre o N-totaldo método analítico de Kjeldahl e os fatores de correçãoda proteína, quitina e quitosana.

Etapa N-corrigido (%)Matéria-prima 13,0 ± 0,4

Desmineralização 6,7 ± 2,1Desproteinização 5,7 ± 1,5Desodorização 4,3 ± 0,8

Quitosana (úmida) 12,0 ± 1,0

Quitosana Seca

Dissolução

Filtração

Precipitação

Centrifugação

Secagem

Quitosana Purificada

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Para análise de umidade e cinzas foram feitosensaios, em cada etapa do processo em base úmida,conforme as Tabelas 2 e 3.

Tabela 2 - Resultados para análise de umidade

Tabela 3 - Resultados para análise de cinzas

Pela análise da Tabela 2 pode-se notar que amatéria-prima apresentou umidade variando entre 76,0 e80,0% e que esta aumentou ao longo das etapas paraobtenção da quitina devido à adição de soluções aquosase lavagens do processo. A Tabela 3 mostra que a matéria-prima apresentou teor de cinzas entre 7,0 e 8,0% e naetapa de desmineralização, caracterizada pela reduçãodeste teor, houve uma queda considerável, mostrando aeficiência desta etapa.

A Tabela 4 apresenta o rendimento do processopor etapas, com relação à matéria-prima inicial.

Tabela 4 - Rendimento por etapas do processo emrelação a massa de matéria-prima inicial.

Pela análise da Tabela 4, pode-se concluir que orendimento diminui a cada etapa do processo, devido àredução mássica característica de cada uma das etapas.

A Tabela 5 apresenta os resultados para o produtofinal (quitosana seca), obtida em escala piloto.

Tabela 5 - Caracterização da quitosana para asanálises de umidade, cinzas e N-corrigido

A quitosana produzida apresentou N- total na faixade 39,0±1,0%, onde, utilizado o fator de conversão daquitosana, o N- quitosana ficou como apresentado naTabela 5, acima.

A quitosana obtida pelo processo de purificaçãoapresentou a caracterização segundo a Tabela 6.

Tabela 6 - Caracterização da quitosana purificada paraas análises de umidade, cinzas e N-corrigido

Umidade(%)

Cinzas (%)

N-quitosana(%)

6,0±1,0 10,0±1,0 84,0± 1,0

Umidade(%)

Cinzas (%)

N-quitosana(%)

4,0±1,0 -traços- 96,0± 1,0

Foram feitos ensaios de caracterização daquitosana comercial para esta ser utilizada comoparâmetro comparativo com a quitosana purificada obtida.Os resultados destes ensaios foram que a umidade daquitosana comercial encontrou-se na faixa de 5,0±1,0%,as cinzas ao nível de traços e a percentagem de N-quitosana na faixa de 95,0±1,0%.

Observando-se estes resultados pode-se concluirque a quitosana purificada obtida teve uma caracterizaçãosemelhante à da quitosana comercial.

4. CONCLUSÃO

A metodologia experimental para a produção dequitosana em escala piloto mostrou-se adequada, poisapresentou resultados similares aos encontrados naliteratura.

O rendimento em quitina seca permaneceu na faixade 5 - 6% e o rendimento de quitosana seca de 2 - 3%, emrelação à massa inicial de resíduo de camarão utilizado.

A quitosana purificada obtida apresentoucaracterização semelhante à quitosana comercial.

5. REFERÊNCIAS

AOAC - Association of Official Analytical Chemists,1995.

Etapa Umidade B.U. (%)Matéria-prima 78,5 ± 2,5

Desmineralização 85,5 ± 1,5Desproteinização 87,5 ± 2,5Desodorização 86,0 ± 1,0Desacetilação 80,0 ± 1,0

Etapa Cinzas (%)Matéria-prima 7,5 ± 0,5

Desmineralização 0,6 ± 0,4Desproteinização 0,35 ± 0,05Desodorização 1,2 ± 0,2Desacetilação 0,07 ± 0,01

Etapa % (mat. prima)Matéria-prima 59,5 ± 0,5

Desmineralização 40,5 ± 0,5Desproteinização 33,5 ± 1,0

Desodorização 5,0 ± 1,0Desacetilação 2,5 ± 0,5

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200392

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Revista UniVap, v.10, n.18, 2003 93

Drogas Farmacológicas para o Alívio da Espasticidade emPacientes com Esclerose Múltipla: Uma Revisão

Bibliográfica

Claudia Franco *

Resumo: A espasticidade é caracterizada por uma condição anormal do tônus muscular encontradaem várias patologias advindas de lesões no Sistema Nervoso Central. Dentre elas, a EscleroseMúltipla tem sido alvo de várias pesquisas voltadas a fármacos que promovem o alívio daespasticidade. Apesar de algumas drogas disponíveis no mercado produzirem um efeito terapêuticovariável e efeitos colaterais indesejáveis, estudos realizados com fármacos como Gabapentin,Baclofen e Tizanidine mostraram bons resultados sem produzir efeitos colaterais significantes.

Palavras-chave: Espasticidade, esclerose múltipla, fármacos.

Abstract: Spasticity is an abnormal condition of the muscle tone, found in many pathologies of theCentral Nervous System. Among those pathologies, Multiple Sclerosis has been the target of severalresearches on drugs that might relieve the symptoms of spasticity. Although some drugs available inthe market produce variable therapeutic effects and undesirable side effects, studies carried outwith drugs like Gabapentin, Baclofen and Tizanidine, showed good results without significant sideeffects.

Key words: Espasticity, multiple sclerosis, drugs.

* Professora e mestranda em Bioengenharia - UNIVAP2003.

1. INTRODUÇÃO

A espasticidade é uma condição clínica resultantede lesões no Sistema Nervoso Central e pode serresponsável por causar disfunções motoras graves a umindivíduo portador desta síndrome.

Caracteriza-se por padrões alterados de atividadesdas unidades motoras, levando a contrações,movimentos de massa e anormalidades do controlepostural (Mansini, 2000).

Existem várias causas para a espasticidade; entreelas, estão as doenças desmielinizantes como a esclerosemúltipla. Esta doença crônica e auto-imune possuiprevalência e incidência bastante variáveis. SegundoTilbery (2000), tem sido considerada uma fortepreocupação para os Órgãos de Saúde Norte-Americanos, acometendo atualmente 300.000 indivíduosentre 20 a 40 anos de idade. Ao longo do tempo, váriosestudos foram realizados para aliviar a espasticidade empacientes portadores de esclerose múltipla, a fim de

prevenir perdas funcionais graves. Esta condição motora,caracterizada pela hipertonicidade muscular, pode gerardificuldades ao paciente para assumir a posição sentada,o que o impossibilitaria de realizar transferências e olevaria à dependência para as atividades cotidianas comovestir-se e higienizar-se, afetando, assim, a sua qualidadede vida.

2. MÉTODOS

Foi realizada uma revisão de literatura utilizando osite da Google, com as palavras-chave: spaticity/multiplesclerosis, sendo retirados 25 artigos científicos. Desses25, 8 trabalhos destinaram-se ao estudo farmacológicopara esta condição clínica.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Vários estudos sobre os efeitos farmacológicospara o alívio da espasticidade, causada por esclerosemúltipla, foram realizados nos últimos 30 anos.

Esses fármacos atuam como depressores dasações dos motoneurônios gama, responsáveis em grandeparte pela hiperexcitabilidade dos músculos, resultanteda interrupção do sistema supra-segmentar.

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Revista UniVap, v.10, n.18, 200394

Entre as drogas mais antigas usadas para diminuira espasticidade está o Baclofen. Estudos realizados sobreseu efeito clínico demonstraram sua ação minimizadorada espasticidade associada ao alívio da dor causada porespasmos. Apesar de a medicação ter surtido algunsefeitos colaterais como sonolência, vômitos e náuseas,essas sensações foram bem toleradas pelos pacientesportadores de esclerose múltipla. Nenhum dos estudosobservou alterações hepáticas, renais ou na funçãohematológica dos pacientes (Sawa e Paty, 1979; Feldmanet al., 1978; Sachais et al.,1977).

Tratamentos realizados com o fármaco Tizanidinetambém demonstraram significantes resultados para ocontrole do clono e espasmos, além da redução do tônusmuscular observado no grupo comparado em relação aoplacebo. Seus efeitos sobre a espasticidade foramobservados após a primeira semana do início dotratamento e foram mantidos até uma semana após cessara terapia. Os pacientes também apresentaram boatolerância aos efeitos colaterais (Smith et al.,1994; UnitedKingdom Tizanidine Trial Group, 1994).

A Gabapentin é a droga que apresenta estudosmais recentes para o tratamento da espasticidade causadapor esclerose múltipla. Seus efeitos foram analisadosentre grupos controles e placebos, através de escalascomo de Ashworth, Escala de Freqüência de Espasmos,Escala de Clono, Escala de Avaliação Global, Escala daResposta de Babinsk e avaliações por eletromiógrafo(EMG). Apesar de alguns resultados demonstrarempequenas variações entre as escalas, em geral os estudoscom Gabapentin concluíram que este fármaco reduzsignificantemente a espasticidade nos grupos controladosem relação ao placebo, sem produzir efeitos colateraisimportantes (Cutter et al., 2000; Dunevsky e Perel, 998;Mueller et al., 1997).

4. CONCLUSÃO

As propostas de tratamento para aliviar oucontrolar a espasticidade são diversas e, até então,nenhuma delas conseguiu promover a cura definitivadesta condição patológica. Os fármacos apresentadosneste trabalho mostraram um bom resultado para otratamento da espasticidade causada por esclerosemúltipla. Medicação como o Baclofen tem sido utilizadaem outras doenças neurológicas como a paralisia cerebral,oferecendo respostas similares para o alívio daespasticidade. Portanto, a utilização dos remédios

Gabapentin, Baclofen e Tizanidine como propostacomplementar às outras terapias no tratamento daespasticidade mostra-se promissora, merecendo maispesquisas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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* Professora e Pró-reitoria de Avaliação da UNIVAP.

A TRAMA DA CONDIÇÃO HUMANA

“Respostas são dadas diariamente no âmbito dapolítica prática, sujeitas ao acordo de muitos;jamais poderiam se basear em consideraçõesteóricas ou na opinião de uma só pessoa, comose se tratasse de problemas para os quais só existeuma solução possível” (p. 13).

Hannah Arendt, filósofa e pensadora política,nasceu em 1906, na Alemanha; faleceu em 1975. Foi alunade Heidegger, Husserl e Karl Jaspers. Sua obra,considerada uma das mais originais do pensamento noséc. XX, reflete, basicamente, sobre a teoria e a práticapolíticas. O livro A Condição Humana foi publicado em1958; a autora escreve no Prólogo: “limitou-me, de umlado, a uma análise daquelas capacidades humanas geraisdecorrentes da condição humana, e que são permanentes,isto é, que não podem ser irremediavelmente perdidasenquanto não mude a própria condição humana” (p. 14).

O pensamento de Hannah Arendt, em seu livro“A Condição Humana” ressalta que todo diálogo deveser aberto às diferentes idéias e experiências para queocorra necessária reflexão das ações.

Para se refletir sobre a Condição Humana é precisoconsiderar, inicialmente, as atividades fundamentais:labor, trabalho e ação.

O labor representa o processo biológico que vaida geração inicial ao declínio, expresso pelasnecessidades essenciais à vida do homem e queasseguram a sobrevivência da espécie humana.

Diferentemente de todas as coisas vivas, os sereshumanos imprimem ao movimento cíclico de sua chegadae partida do mundo, uma expressão de indivíduos únicos,singulares e irrepetíveis. Isto atribui ao ciclo vital umadinâmica e diversidade impressas na própria história da

Resenha

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 7 ed. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro:Forense Universitária, 1995. 338p.

Elizabeth Moraes Liberato *

humanidade.

O significado da vida seria linear se designasseum intervalo de tempo, uma trajetória com começo e fim,movida por uma força motriz; ao contrário, é um eventopleno de significados, de sentidos que expressam etraduzem as diferentes formas de apreensão da realidadeque não é estática, que se move e adquire sempre novasconfigurações.

Através do trabalho o homem produz as coisasnecessárias à sua existência e que, muitas vezes, atranscende. Para Marx é “a mais humana e produtiva dasatividades do homem” (cit. p. 116).

A ação corresponde à pluralidade, é ligada aocoletivo, à expressão da vida política, porém respeitandoas individualidades. A ação cria “ corpos políticos” e ahistória. Está sempre ligada à capacidade de agir e criaralgo novo.

Ao contrário da natureza humana, a CondiçãoHumana é a soma das atividades e capacidades do homem.Deve-se ter presente que as condições do existir humano- natalidade, mortalidade – criam para as ciências o seuobjeto de estudo, mas as explicações daí decorrentesnão podem excluir o sentido filosófico de que não somos“meras criaturas terrenas”.

O homem, ser pensante, pode discernir etranscender sua materialidade, transformando potenciale possibilidades em ações criativas. O homem, ser sociale político, se expressa pela “vita activa”, num mundo quenão teria sentido se, desde seus primórdios, não sereconhecesse a sua presença e atividade. “Nenhuma vidahumana (...) é possível sem um mundo que, direta ouindiretamente, testemunhe a presença de outros sereshumanos” (p. 31).

Em Aristóteles encontra-se a expressão “biospolitikos”, cujas atividades constituintes seriam a ação(praxis) e o discurso (lexis) capacidades afins do serhumano que as realiza no plano social e político.

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Assinala Arendt: “A pluralidade humana,condição básica de ação e do discurso, tem o duplo aspectode igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homensseriam incapazes de compreender-se entre si e aos seusancestrais, ou de fazer planos para o futuro e prever asnecessidades das gerações vindouras. Se não fossemdiferentes, se cada ser humano não diferisse de todos osque existiram, existem ou virão a existir, os homens nãoprecisariam do discurso ou da ação para se fazerementender” (p. 188).

No alter – o outro - está implícito a pluralidade deseres singulares, terreno das distinções e partilhas.Perceber e compreender o outro permite o agir coletivoque sedimenta o terreno das trocas essenciais ao homem.

Pelo discurso e pela ação os homens se comunicame se inserem no mundo, desde o nascimento, quando sepercebem como seres viventes e são estimulados amovimentar-se, a agir. “O fato de que o homem é capazde agir significa que se pode esperar dele o inesperado,que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável”(p. 191).

Responder à questão: Quem és? tem o significadode uma revelação através de palavras e atos. O ator precisaser autor, anunciando-se, sinalizando e assumindo umaidentidade. O silêncio oculta; o anonimato mantém aspessoas fora do cenário histórico; o isolamento éprivação.

Por outro lado, existem discursos que nadarevelam, nada desvendam. Expor-se é manifestar-se, éentregar ao outro as chaves do seu próprio domínio, oque só é possível quando as pessoas estão com as outras,num plano de convivência.

A cada ação corresponde uma reação, umaresposta, que, como círculos que se expandem, atingemcada vez um número maior de pessoas. A ação política édesencadeadora de um número ilimitado de relações,transpõe os limites da singularidade e da particularidade,para alcançar o conjunto maior, a universalidade: arevelação do homem como sujeito coletivo.

O fluxo contínuo do discurso e da ação interpretae reinterpreta a história. As realizações contidas no atovivo e na palavra falada, na concepção aristotélica,representam a energeia (efetividade), a obra do homem,cujo fim não se esgota em si mesma.

Na sociedade moderna, em que os fins justificamos meios, desvirtua-se e degrada-se a condição essencialda atividade humana. A aparência tem maior peso no

mundo das coisas, perde-se o sentido do relacionamentohumano.

O poder de destruição e a falta de responsabilidadenos atos, sem avaliação das possíveis conseqüênciasdesastrosas, espelham o processo de depredação que seinstaura na sociedade. Restringe-se a capacidade deliberdade do ser humano, que ao criar a teia de relaçõesenreda-se de tal forma que já não se encontra como seríntegro, nem tem ao seu redor possibilidades essenciaisao seu pleno existir.

Essa expropriação do ambiente natural e socialcaracteriza, na era atual, a alienação do sujeito coletivo, oalheiamento às causas verdadeiras.

A ciência tem alcançado patamares jamaiscogitados, muitas experiências suscitam questões éticasaté mesmo sobre a possibilidade de se criar e recriar avida; chega a extrapolar a compreensão dos limites que amente do homem pode atingir.

Em busca de certezas, no seu caminhar filosóficoe histórico, o homem se defronta, em relação ao futuro,com a perplexidade de um processo vital que o desafia arever suas convicções. Nada está tão claro ou firmado;suas posições têm de ser revistas a cada momento.

Assim, a moderna concepção do mundo incorporao embate entre a matéria e a mente, entre o infinitamentepequeno e o infinitamente grande; deve levar aoreencontro da unidade e da pluralidade, da capacidadede contemplar, criar e agir.

Através dos tempos, a diversidade daCONDIÇÃO HUMANA tem afirmado o bem supremoque é a vida como experiência de liberdade, condiçãoprimeira e única para o homem, que sem ela nega suaprópria natureza.

A capacidade de pensar e agir não é prerrogativade poucos, intelectuais, cientistas, mas deve ser assumidapor todos os membros da sociedade, reafirmando aexperiência de estarem ativos, capazes de produzirhistórias que iluminem a existência humana e ações quealcancem a realização de todos, pela efetivação de direitos,num processo de construção que não é individual, mascoletivo.

O discurso, assim, deixa de ser a simplescomposição de palavras, mas convoca ao agir, adquire aforça que se liga ao “elan” vital, pela capacidade de somaro ato de pensar à ação que transforma e reafirma aCONDIÇÃO HUMANA.

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NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃODE TRABALHOS NA REVISTA UNIVAP

A Revista UniVap é uma publicação de divulgação cien-tífica da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), queprocura cumprir com a sua tríplice missão de ensino, pes-quisa e extensão. Assim, a pesquisa na UNIVAP tem,dentre suas funções, a de formar elites intelectuais, semas quais não há progresso. Esta publicação incentiva aspesquisas e procura o envolvimento de seus professo-res e alunos em pesquisas e cogitações de interesse so-cial, educacional, científico ou tecnológico. Aceita arti-gos originais, não publicados anteriormente, de seus do-centes, discentes, bem como de autores da comunidadecientífica nacional e internacional. Publica artigos, notascientíficas, relatos de pesquisa, estudos teóricos, relatosde experiência profissional, revisões de literatura, rese-nhas, nas diversas áreas do conhecimento científico,sempre a critério de sua Comissão Editorial e de acordocom o formato dos artigos aqui publicados.Solicita-se observar as instruções a seguir para o prepa-ro dos trabalhos.

1. Os originais devem ser apresentados em papelbranco de boa qualidade, no formato A4 (21,0cm x 29,7cm)e encaminhados completos, definitivamente revistos, comno máximo 15 páginas, digitadas em espaço 1,5 entre aslinhas. Recomenda-se o uso de caracteres Times NewRoman, tamanho 12, em 2 vias, acompanhadas dedisquete (de 3,5"), de computador padrão IBM PC, comgravação do texto no Programa Word for Windows e, sepossível, enviar o Artigo pelo e-mail [email protected] em casos muito especiais serão aceitos trabalhoscom mais de 15 páginas. Os títulos das seções devem serem maiúsculas, numerados seqüencialmente, destacadoscom negrito. Não se recomendam subdivisões excessivasdos títulos das Seções.

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- Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordocom o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aquiapresentados.

- Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s)do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas, com aste-risco, colocado logo após o nome completo do autor ouautores, remetendo a uma nota de rodapé relativa à(s)informação(ões) referentes às instituições a que

pertence(m) e às qualificações, títulos, cargos ou outrosatributos.- Resumo. Com no máximo 500 palavras, o resumo deveapresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, comofoi feito (metodologia), apresentando os resultados, con-clusões ou reflexões sobre o tema, de modo que o leitorpossa avaliar o conteúdo do texto.

- Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa. Casoo trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deverá sertraduzido para o Português (Resumo).

- Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas a cin-co palavras-chave sobre o tema.

- Texto. Deve ser distribuído de acordo com as caracte-rísticas próprias de cada trabalho. Um trabalho pode, porexemplo, ter uma Introdução, um Desenvolvimento, Con-siderações Finais e Referências Bibliográficas. De ummodo geral, contém: a) Introdução, b) Material e Méto-dos, c) Apresentação e Análise dos Dados d) Resulta-dos, e) Discussão f) Conclusões, Recomendações ouConsiderações Finais, g) Agradecimentos (quando ne-cessário), h) Referências Bibliográficas.

- Citações dentro do texto. As citações textuais longas(mais de três linhas) devem constituir um parágrafo inde-pendente. As menções a autores no decorrer do textodevem subordinar-se ao esquema sobrenome do autor,data (Novo, 1989, p. 20). Se as idéias dos autores foremapresentadas de modo interpretado e resumido, portan-to não sendo “textuais”, devem trazer apenas o sobre-nome do autor e a data. Ex.: Segundo Demo (1991),nenhum texto diz tudo. As linhas não dizem tudo. Asentrelinhas muitas vezes dizem mais. Caso o nome doautor já estiver no texto, indica-se apenas a data entreparênteses. Ex.: Segundo dados do SEBRAE (1993), ogrupo de áreas destinadas às lavouras temporárias fica-va em torno de 7% do total das terras. Se a citação fortextual, deve-se adicionar o número da página. Ex.: Se-gundo Jaime Lerner (1992, p. 20), “A cidadeambientalmente correta evita a industrialização forçada,rejeita as indústrias poluentes...”.

- Refências Bibliográficas. Elas devem ser apresenta-das no final do trabalho, em ordem alfabética de sobre-nome do(s) autor(es), como nos seguintes exemplos:

a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local depublicação: Editora, data. Exemplo:PÉCORA, A. Problemas de redação. 4.ed. São Paulo:Martins Fontes, 1992.

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b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título do ca-pítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do livro.Local de publicação: Editora, data. Página inicial-final.Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar a geografia... liquidar aidéia nacional? In: VESENTIN, José William (org.).Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus,1989. p. 31-82.

c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Título doartigo. Título do periódico, local de publicação, volumedo periódico, número do fascículo, página inicial-páginafinal, mês(es). Ano. Exemplo: ALMEIDA JÚNIOR, M. Aeconomia brasileira. Revista Brasileira de Economia, SãoPaulo, v. 11, n.1, p. 26-28, jan./fev. 1995.

d) Dissertações e Teses: SOBRENOME, Nome. Títuloda dissertação (ou tese). Local. Número de páginas (Ca-tegoria, grau e área de concentração). Instituição em quefoi defendida. data. Exemplo:CECCATO, V. Proposta metodológica para avaliaçãoda qualidade de vida urbana a partir de dadosconvencionais de sensoriamento remoto, Sistema deInformações Geográficas e banco de dados georrelacio-nal. São José dos Campos, 140 p. (INPE-5457-TDI/499).Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) -Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1992.

e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNT paraReferências Bibliográficas.

4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fo-tos) e tabelas devem apresentar boa qualidade e seremacompanhados de legendas breves e claras. Indicar, noverso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figu-ra, o nome do autor e o título abreviado do trabalho. Asfiguras devem ser numeradas seqüencialmente com nú-meros arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendo ficarna parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráfico decontrole de custo. No caso das tabelas, elas tambémdevem ser numeradas seqüencialmente, com númerosarábicos, e colocadas na parte superior da tabela. Exem-plo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figuras etabelas devem ser impressas juntamente com o original equando geradas no computador deverão estar gravadasno mesmo arquivo do texto original. No caso de fotogra-fias, desenho artístico, mapas etc., estes devem ser deboa qualidade e em preto e branco.

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