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de SúmulasSUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
VOLUME 7, ANO 4MAIO 2010
Revista de Súmulas
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAGabinete do Ministro Diretor da Revista
Diretor
Ministro Felix Fischer
Chefe de Gabinete
Marcos Perdigão Bernardes
Assessora
Priscila Tentardini Meotti
Assistentes
Andrea Dias de Castro CostaGerson Prado da SilvaMaria Angélica Neves Sant’AnaMax Günther Feitosa Albuquerque Alvim
Técnico em Secretariado
Fagno Monteiro Amorim
Mensageiro
Cristiano Augusto Rodrigues Santos
Estagiários
Ricardo Rodrigues Fonseca JúniorSamuel da Mota Cardoso Oliveira
Superior Tribunal de Justiçawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992
Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça – n. 7 - Brasília: STJ, 2010 Sem periodicidade ISBN 978-85-7248-100-7 1. Direito - Periódico - Brasil. 2. Jurisprudência - Periódico - Brasil. 3. Brasil. Superior Tribunal de Justiça
CDU 340.142(81)(05)
MINISTRO FELIX FISCHER Diretor
Revista de Súmulas
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.
RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAPlenário
Ministro Cesar Asfor Rocha (Presidente)
Ministro Ari Pargendler (Vice-Presidente)
Ministro Felix Fischer (Diretor da Revista)
Ministro Aldir Guimarães Passarinho Junior
Ministro Gilson Langaro Dipp (Corregedor-Nacional de Justiça)
Ministro Hamilton Carvalhido
Ministra Eliana Calmon Alves
Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto (Corregedor-Geral da Justiça Federal)
Ministra Fátima Nancy Andrighi
Ministra Laurita Hilário Vaz
Ministro Paulo Geraldo de Oliveira Medina
Ministro Luiz Fux
Ministro João Otávio de Noronha
Ministro Teori Albino Zavascki
Ministro José de Castro Meira
Ministro Arnaldo Esteves Lima
Ministro Massami Uyeda
Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins
Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura
Ministro Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho
Ministro Sidnei Agostinho Beneti
Ministro Jorge Mussi
Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes
Ministro Luis Felipe Salomão
Ministro Mauro Luiz Campbell Marques
Ministro Benedito Gonçalves
SUMÁRIO
Súmulas
95 .................................................................................................................................11
96 .................................................................................................................................63
97 .................................................................................................................................89
98 ...............................................................................................................................111
99 ...............................................................................................................................135
100 .............................................................................................................................175
101 .............................................................................................................................201
102 .............................................................................................................................233
103 .............................................................................................................................253
104 .............................................................................................................................285
105 .............................................................................................................................307
106 .............................................................................................................................373
107 .............................................................................................................................421
108 .............................................................................................................................435
ÍNDICE ANALÍTICO ........................................................................................................................................... 465
ÍNDICE SISTEMÁTICO ...................................................................................................................................... 477
SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................................. 483
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ............................................................................................................ 489
Súmula n. 95
SÚMULA N. 95
A redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados ou do
Imposto de Importação não implica redução do ICMS.
Referências:
CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b.
CTN, arts. 97, I e IV; 111; 175; e 176.
Lei Complementar n. 4/1969, art. 1º, IV.
Lei Complementar n. 24/1975.
Decreto-Lei n. 1.428/1975.
Decreto-Lei n. 2.433/1988.
Decreto n. 77.065/1976.
Decreto n. 99.546/1990.
Precedentes:
REsp 3.884-RS (1º T, 18.02.1991 — DJ 18.03.1991)
REsp 5.892-SC (1º T, 14.10.1992 — DJ 30.11.1992)
REsp 13.665-SP (2º T, 23.06.1993 — DJ 16.08.1993)
REsp 16.472-SC (2º T, 03.02.1993 — DJ 17.05.1993)
REsp 16.538-SP (1º T, 12.05.1993 — DJ 07.06.1993)
REsp 19.851-SC (2º T, 16.11.1992 — DJ 07.12.1992)
REsp 24.163-SP (1º T, 18.08.1993 — DJ 20.09.1993)
Primeira Seção, em 22.02.1994
DJ 28.02.1994, p. 2.961
RECURSO ESPECIAL N. 3.884-RS (90.0006311-6)
Relator: Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Icotron S/A Ind/ de Componentes Eletrônicos
Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul
Advogados: Claudio Otavio Xavier
Bruno Sergio de Araujo Hartz
EMENTA
Tributário. Importação. Isenção parcial.
Não se deve confundir isenção com redução. O Decreto-lei n.
2.433, de 19 de maio de 1988 distingui isenção de outros incentivos
fi scais. Também a Lei Complementar n. 24 de 07 de janeiro de 1975
distinguiu isenção de redução. Todavia, a redução do imposto federal
não produz mesmo efeito no ICM, como leciona a Súmula n. 576 do
Colendo Supremo Tribunal Federal.
Ora se a importação de mercadorias sob a alíquota zero não
confi gura isenção e não impede a cobrança do ICM, a simples redução
não conduz a estas conseqüências.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria,
negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 18 de fevereiro de 1991 (data do julgamento).
Ministro Armando Rolemberg, Presidente
Ministro Garcia Vieira, Relator
DJ 18.03.1991
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
16
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Veira: Icotron S.A. Indústria de Componentes
Eletrônicos (fl s. 335-342), alicerçada na Constituição Artigo 105, III letras a e
c interpõe Recurso Especial, por ser benefi ciária de isenção parcial (redução de
alíquota) do imposto de importação e pretender com arrimo no Decreto-Lei
406/68, artigo 1º § 4º, VI, reproduzido pela Lei Complementar 04/1969, artigo
1º inciso IV, obter igual benefício fi scal no âmbito do imposto sobre operações
de circulação de mercadorias - ICM, posto haver o venerando acórdão (fl s.
324-332) da Egrégia Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça, do Estado
do Rio Grande do Sul, por unanimidade, dado provimento ao recurso do
Estado do Rio Grande do Sul prejudicado o reexame, reformando a sentença,
denegando a segurança.
A sentença de fl s. 287-297, havia reconhecido o direito invocado na inicial
e concedido a segurança preventiva “para reconhecer o direito desta de pagar
como pagou, o ICM com redução da respectiva alíquota”.
Cuida-se, portanto, de MS preventivo contra o Sr. Coordenador Geral do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias porque a Impetrante é benefi ciária de
“alíquotas do imposto de importação reduzidas para 15% (quinze por cento)”.
Assim promoveu o recolhimento do ICM devido com redução da respectiva
alíquota de 17% para 5,67%. Com justo receio de ser alvo de lançamento de
ofício para exigir-se o pagamento do ICM sobre 17% impetrou a segurança.
O Recurso foi impugnado às fl s. 397-406 e a douta Subprocuradoria
Geral lançou o Parecer de fl s. 430.
O Caso é conhecido desta Seção.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente: A impetrante
obteve da Comissão de Política Aduaneira-CPA do Ministério da Fazenda
redução para 15% do I.I. dos equipamentos que importassem, conforme Res.
14 – 1.439, de 18.02.1988 (docs. fl s. 21-159).
Pretende a recorrente seja também estendida ao ICM referida redução que
para ela, equivale à isenção parcial.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 17
A impetrante foi benefi ciada pela redução dos impostos federais e não pela
isenção do ICM que é estadual.
Não se deve confundir isenção com redução. A distinção entre isenção e
outros incentivos fi scais é feita pelo DL 2.433, de 19 de maio de 1988. A Lei
Complementar n. 24 de 07 de janeiro de 1975, também fala em isenção e em
redução (art. 1º). O Decreto-lei n. 1.428, de 02 de dezembro de 1975, atribui
poderes a vários órgãos inclusive à Comissão para a Concessão de Benefícios
Fiscais, a fi m de “conceder redução do imposto de importação para máquinas,
equipamentos, aparelhos, instrumentos, acessórios e ferramentas, nos termos,
limites e condições estabelecidos pelo Poder Executivo”. O Decreto n. 77.065,
de 20 de janeiro de 1976, em seu art. 5º, conferiu à referida Comissão, poderes
para a concessão de benefícios fi scais e reduzir de 70 a 90% os impostos federais,
sobre produtos industrializados e importação de máquinas.
A Lei Complementar n. 04, de 02 de dezembro de 1969, concede isenção
do ICM, às “entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto,
de competência da União sobre importação de produtos estrangeiros” (art. lº,
VI). Como se interpreta literalmente a legislação sobre isenção (artigo 111 do
CTN), devemos buscar o sentido exato de isenção e de redução. Este próprio
artigo 111 fala em incisos diversos (I e II) em suspensão ou exclusão (I) e em
isenção (II) e este princípio se harmoniza com os artigos 175 e 176 também
do CTN. A isenção é sempre decorrente de lei (art. 176) e somente a lei pode
estabelecer a instituição de tributos ou a sua extinção ou a sua fi xação de alíquota
e da sua base de cálculo (art. 97, I e IV). Isenção é defi nida pelos tributaristas
como “a dispensa legal do pagamento do tributo devido”. Nela “verifi ca-se o fato
gerador e ocorre a incidência; entretanto como não é exigido o crédito tributário,
em virtude da dispensa do pagamento, não se recolhe o tributo” (Geraldo
Ataliba). É um favor legal, conferido por lei ao contribuinte que é dispensado
do pagamento de um tributo devido. A redução não se confunde com a isenção.
Ensina Sacha Calmon, na sua Teoria Geral de Tributo, ed. 1982, que:
... ontologicamente isenção e “alíquota zero” são mesmo profundamente diversas: A isenção exclui da condição de “jurígeno” fato ou fator. A alíquota é elemento de determinação quantitativa do dever tributário. Se é zero, não há o que pagar (pág. 154).
A redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM
(estadual) e para se chegar a esta conclusão, basta que se leia a Súmula n. 576
do Colendo Supremo Tribunal Federal, onde está bem claro que: “É lícita a
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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cobrança do imposto de circulação de mercadorias sobre produtos importados
sob o regime de alíquotas “zero”. Ora, se a alíquota zero não corresponde à
isenção total, também a redução da alíquota a 90% não corresponde à “isenção
parcial”.
Pelo Decreto n. 99.546, de 25 de setembro de 1990, publicado no D.O.U.
do dia seguinte, foi outorgada competência à Senhora Ministra da Economia,
Fazenda e Planejamento para,
.... atendidas as condições e os limites estabelecidos na Lei n. 3.244, de 14 de agosto de 1957, e nos Decretos-Leis n. 63, de 21 de novembro de 1966, e 21/62, de 19 de setembro de 1984, alterar as alíquotas do imposto de importação.
É evidente que, com a isenção desta norma legal, não houve qualquer isenção refl exa nas operações relativas à incidência do ICM. A isenção, nos termos da Constituição Federal anterior, só poderia ser concedida por Lei Complementar e a vigente Carta Magna veda expressamente, à União instituir isenções de tributos estaduais (art. 151, III).
A competência para instituir impostos sobre operações relativas à
vinculação de mercadorias é dos Estados e do Distrito Federal (art. 23,
II da Constituição Federal anterior, artigo 155, I, letra b da Constituição
Federal vigente). Na vigência da Constituição Federal anterior, as isenções do
imposto sobre estas operações só eram concedidas ou revogadas por convênios,
celebrados e ratifi cados pelos Estados, nos termos de lei complementar (art.
23, § 6º) e, de acordo com o artigo 151, III da atual Constituição Federal, é
vedado à União instituir isenções de tributos da competência dos Estados e do
Distrito Federal ou dos Municípios. Como, em regra, a isenção é competência
do poder tributante, a União poderia, por lei complementar, por exceção,
isentar do ICM, a operação que gozaria de isenção dos tributos federais.
Mas, no caso em exame, a importação foi com redução de alíquota e não com
isenção.
A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, em seu artigo 1°,
estabeleceu que:
- As isenções do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos dos convênios celebrados e ratifi cados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta lei.
E estas concessões dependiam sempre de decisão unânime dos Estados
representados (art. 2º, § 2º).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 19
O Estado, com base na Lei Complementar n. 04/1969, só poderia
isentar do ICM, as operações isentas dos tributos federais e a impetrante
só gozaria de redução de alíquota e não de isenção, na exportação de seus
produtos. O venerando acórdão recorrido deu interpretação literalmente
correta ao artigo 1° da Lei Complementar n. 04/1969, como bem acentuou
o Estado do Rio Grande do Sul, em sua apelação (fl . 303). Realmente, não
se pode admitir a idéia de que a redução de alíquota equivale à isenção
parcial com força para reduzir o ICM à 15% (quinze por cento). Somente
em caso de isenção é que existe o refl exo nas operações relativas ao ICM, do
contrário seria passar por cima da Constituição e do princípio federativo. É
bom lembrar que a referida Lei Complementar n. 04/1969 foi editada com
base no artigo 19, § 2° da Constituição Federal anterior. Somente poderia
a União conceder isenção do ICM ou de qualquer outro imposto estadual,
quando houvesse “relevante interesse social ou econômico nacional...” e é
claro que nada disso ocorreu, na importação de máquinas, procedida pela
recorrida, com redução de alíquota ou de base de cálculo. O legislador
somente entendeu existir o relevante interesse social ou econômico nacional,
capaz de legitimar e justifi car a isenção das operações relativas ao ICM,
quando isenta de impostos federais, a entrada de mercadorias importadas e
não quando existe apenas redução de alíquota.
É evidente que um simples órgão administrativo não pode isentar ninguém
de imposto estadual. Só a lei complementar poderia fazê-lo. Assim entendeu o
Eminente Ministro Xavier de Albuquerque como Relator, em seu voto, no RE
n. 81.074-SP, ao acentuar que:
- Finalmente, parece-me decisiva uma ponderação que se me afi gura grave: só pode a União isentar de qualquer imposto estadual, por lei complementar. Estar-se-ia por essa via a permitir que um órgão administrativo, que excepcionalmente detém o poder de aplicar o princípio da flexibilidade da tarifa, isentasse indiretamente de imposto estadual quando, a rigor, só a lei complementar federal pode fazê-lo.
Proclama a ementa deste v. acórdão, in verbis:
-ICM. Não importando isenção do imposto de importação a atribuição, a determinada mercadoria, na tarifa aduaneira, da alíquota zero, dela não resulta isenção do tributo estadual. Reexame da questão pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Recurso conhecido, mas não provido.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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Nossa Corte Maior, no RE n. 76.810-SP, Relator Eminente Ministro
Leitão de Abreu, DJ de 26.09.1975, entendeu que:
-ICM. A alíquota zero não configura isenção, porquanto pode ser levada mediante decisão do Conselho de Política Aduaneira.
No mesmo sentido são ainda os seguintes precedentes: ERE n. 79.952-
SP, Relator Eminente Ministro Soares Muñoz, DJ de 19.05.1978; RE
n. 88.676-SP, Relator Eminente Ministro Xavier de Albuquerque, DJ
de 17.03.1978; RE n. 86.322-SP, Relator Eminente Ministro Cordeiro
Guerra, DJ de 25.03.1977; RE n. 81.132-SP, Relator Eminente Ministro
Eloy da Rocha, DJ de 25.04.1977; RE n. 85.952-SP, Relator Eminente
Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 18.02.1977 e ainda os seguintes Recursos
Extraordinários n. 76.810-SP, Relator Eminente Ministro Cordeiro Guerra,
DJ de 19.02.1977 e ainda os seguintes Recursos Extraordinários n. 76.810-
SP, 81.074-SP, 79.471-SP, 81.117-SP, 81.172-SP e 82.568-SP.
Verifi ca-se pelo RE n. 81.132-SP, ter nossa Corte Maior entendido
que:
Não importa isenção do imposto de importação a atribuição da alíquota “zero”, conseqüentemente, dela não resulta isenção do ICM...
No RE n. 85.952, fi rmou o entendimento de que:
A tarifa zero ou livre configura uma não incidência provisória do tributo. A importação de mercadorias sob o regime de tal alíquota não implica, portanto, em isenção do imposto sobre circulação de mercadorias...
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota zero não confi gura
isenção e não impede a cobrança do ICM, a simples redução desta, com
muito mais razão, não pode conduzir a estas conseqüências.
Conheço do recurso pela divergência e nego-lhe provimento.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Geraldo Sobral: Senhor Presidente, na assentada do dia 31
de outubro do corrente ano (1990), pedi vista dos precedentes autos para me
inteirar melhor da controvérsia.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 21
Para melhor apreciação da quaestio juris, relembrem-se as doutas fundamentações do eminente Relator, Ministro Garcia Vieira, que para negar provimento ao apelo extremo assim delimitou a lide:
A impetrante obteve da Comissão de Política Aduaneira-CPA do Ministério da Fazenda redução para 15% do I.I. dos equipamentos que importassem, conforme Res. 14 – 1.439, de 18.02.1988 (docs. fl s. 21-159).
Pretende a recorrente seja também estendida ao ICM referida redução que para ela, equivale à isenção parcial.
A impetrante foi benefi ciada pela redução dos impostos federais e não pela isenção do ICM que é estadual.
Não se deve confundir isenção com redução. A distinção entre isenção e outros incentivos fiscais é feita pelo DL 2.433, de 19 de maio de 1988. A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, também fala em isenção e em redução (art. 1°). O Decreto-lei n. 1.428, de 02 de dezembro de 1975, atribui poderes a vários órgãos inclusive à Comissão para a concessão de Benefícios Fiscais, a fi m de “conceder redução do imposto de importação para máquinas, equipamentos, aparelhos, instrumentos, acessórios e ferramentas, nos termos, limites e condições estabelecidos pelo Poder Executivo”. O Decreto n. 77.065, de 20 de janeiro de 1976, em seu art. 5°, conferiu à referida Comissão, poderes para a concessão de benefícios fi scais e reduzir de 70 a 90% os impostos federais, sobre produtos industrializados e importação de máquinas.
A Lei Complementar n. 04, de 02 de dezembro de 1969, concede isenção do ICM, às “entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto, de competência da União sobre importação de produtos estrangeiros” (art. 1º, VI). Como se interpreta literalmente a legislação sobre isenção (artigo 111 do CTN), devemos buscar o sentido exato de isenção e de redução. Este próprio artigo 111 fala em incisos diversos (I e II), em suspensão ou exclusão (I) e em isenção (II) e este princípio se harmoniza com os artigos 175 e 176 também do CTN. A isenção é sempre decorrente de lei (art. 176) e somente a lei pode estabelecer a instituição de tributos ou a sua extinção ou a sua fi xação de alíquota e da sua base de cálculo (art. 97, I e IV). Isenção é defi nida pelos tributaristas como “a dispensa legal do pagamento do tributo devido”. Nela verifi ca-se o fato gerador e ocorre a incidência; entretanto como não é exigido o crédito tributário, em virtude da dispensa do pagamento, não se recolhe o tributo” (Geraldo Ataliba). É um favor legal, conferido por lei ao contribuinte que é dispensado do pagamento de um tributo devido. A redução não se confunde com isenção. Ensina Sacha Calmon, na sua Teoria Geral de Tributo, ed. 1982, que:
- ... ontologicamente isenção e “alíquota zero” são mesmo profundamente diversas: A isenção exclui da condição de “jurígeno” fato ou fator. A alíquota é elemento de determinação quantitativa do dever tributário. Se é zero, não há o que pagar (pág. 154).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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A redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM (estadual) e para se chegar a esta conclusão, basta que se leia a Súmula n. 576 do Colendo Supremo Tribunal Federal, onde está bem claro que: “É lícita a cobrança do imposto de circulação de mercadorias sobre produtos importados sob o regime de alíquotas “zero”. Ora, se a alíquota zero não corresponde a isenção total, também a redução da alíquota a 90% não corresponde à “isenção parcial”.
Pelo Decreto n. 99.546, de 25 de setembro de 1990, publicado no D.O.U. do dia seguinte foi outorgada competência à Senhora Ministra da Economia, Fazenda e Planejamento para,
... atendidas as condições e os limites estabelecidos na Lei n. 3.244, de 14 de agosto de 1957, e nos Decretos leis n. 63, de 21 de novembro de 1966, e 21/62, de 19 de setembro de 1984, alterar as alíquotas do imposto de importação.
É evidente que, com a edição desta norma legal, não houve qualquer isenção reflexa nas operações relativas à incidência do ICM. A isenção, nos termos da Constituição Federal anterior, só poderia ser concedida por Lei Complementar e a vigente Carta Magna veda expressamente, à União instituir isenções de tributos estaduais (art. 151, III).
A competência para instituir impostos sobre operações relativas à vinculação de mercadorias é dos Estados e do Distrito Federal (art. 23, II da Constituição Federal anterior, artigo 155, I, letra b da Constituição Federal vigente). Na vigência da Constituição Federal anterior, as isenções do imposto sobre estas operações só eram concedidas ou revogadas por convênios, celebrados e ratifi cados pelos Estados, nos termos de lei complementar (art. 23, § 6º) e, de acordo com o artigo 151, III da atual Constituição Federal, é vedado à União instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Como, em regra, a isenção é competência do poder tributante, a União poderia, por lei complementar, por exceção, isentar do ICM, a operação que gozaria de isenção dos tribunais federais. Mas, no caso em exame, a importação foi com redução de alíquota e não com isenção.
A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, em seu artigo 1º, estabeleceu que:
-As isenções do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratifi cados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta lei.
E estas concessões dependiam sempre de decisão unânime dos Estados representados (art. 2º, § 2°).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 23
O Estado, com base na Lei Complementar n. 04/1969, só poderia isentar do ICM, as operações isentas dos tributos federais e a impetrante só gozaria de redução de alíquota e não de isenção, na exportação de seus produtos. O venerando acórdão recorrido deu interpretação literalmente correta ao artigo 1º da Lei Complementar n. 04/1969, como bem acentuou o Estado do Rio Grande do Sul, em sua apelação (fl . 303). Realmente, não se pode admitir a idéia de que a redução de alíquota equivale à isenção parcial com força para reduzir o ICM à 15% (quinze por cento). Somente em caso de isenção é que existe o refl exo nas operações relativas ao ICM, do contrário seria passar por cima da Constituição e do princípio federativo. É bom lembrar que referida Lei Complementar n. 04/1969 foi editada com base no artigo 19, § 2º da Constituição Federal anterior. Somente poderia a União conceder isenção do ICM ou de qualquer outro imposto estadual, quando houvesse “relevante interesse social ou econômico nacional...” e é claro que nada disso ocorreu, na importação de máquinas, procedida pela recorrida, com redução de alíquota ou de base de cálculo. O legislador somente entendeu existir o relevante interesse social ou econômico nacional, capaz de legitimar e justifi car a isenção das operações relativas ao ICM, quando isenta de impostos federais, a entrada de mercadorias importadas e não quando existe apenas redução de alíquota.
É evidente que um simples órgão administrativo não pode isentar ninguém de imposto estadual. Só a lei complementar poderia fazê-lo. Assim entendeu o Eminente Ministro Xavier de Albuquerque, como Relatar, em seu voto, no RE n. 81.074-SP, ao acentuar que:
-Finalmente, parece-me decisiva uma ponderação que se me afigura grave: só pode a União isentar de qualquer imposto estadual, por lei complementar. Estar-se-ia por essa via a permitir que um órgão administrativo, que excepcionalmente detém o poder de aplicar o princípio da flexibilidade da tarifa, isentasse indiretamente de imposto estadual quando, a rigor, só a lei complementar federal pode fazê-lo.
Proclama a ementa deste v. acórdão, in verbis:
-ICM. Não importando isenção do imposto de importação a atribuição, a determinada mercadoria, na tarifa aduaneira, da alíquota zero, dela não resulta isenção do tributo estadual. Reexame da questão pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Recurso conhecido, mas não provido.
Nossa Corte Maior, no RE n. 76.810-SP, Relator Eminente Ministro Leitão de Abreu, DJ de 26.09.1975, entendeu que:
-ICM. A alíquota zero não confi gura isenção, porquanto pode ser elevada mediante decisão do Conselho de Política Aduaneira.
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No mesmo sentido são ainda os seguintes precedentes: ERE n. 79.952-SP, Relatar Eminente Ministro Soares Muñoz, DJ de 19.05.1978; RE n. 88.676-SP, Relator Eminente Ministro Xavier de Albuquerque, DJ de 17.03.1978; RE n. 86.322-SP, Relatar Eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 25.03.1977; RE n. 81.132-SP, Relator Eminente Ministro Eloy da Rocha, DJ de 25.04.1977; RE n. 85.952-SP, Relator Eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 18.02.1977 e ainda os seguintes Recursos Extraordinários números 76.810-SP, Relator Eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 19.02.1977 e ainda os seguintes Recursos Extraordinários n. 76.810-SP, 81.074-SP, 79.471-SP, 81.117-SP, 81.172-SP e 82.568-SP.
Verifi ca-se pelo RE n. 81.132-SP, ter nossa Corte Maior entendido que:
Não importa isenção do imposto de importação a atribuição da alíquota “zero”, conseqüentemente, dela não resulta isenção do ICM ...
No RE n. 85.952, fi rmou o entendimento de que:
A tarifa zero ou livre confi gura uma não incidência provisória do tributo. A importação de mercadorias sob o regime de tal alíquota não implica, portanto, em isenção do imposto sobre circulação de mercadorias...
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota zero não confi gura isenção e não impede a cobrança do ICM, a simples redução desta, com muito mais razão, não pode conduzir a estas conseqüências.
Conheço do recurso pela divergência e nego-lhe provimento.
Em síntese, restringe-se a espécie em saber se a redução do Imposto de
Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados autoriza a isenção do
ICM, ex vi da Lei Complementar n. 04/1969.
Com a devida vênia do eminente Ministro Relator, ouso discordá-lo, posto
que adoto ponto de vista diverso.
A r. sentença monocrática, ao fundamentar o decisum, fê-lo nos seguintes
termos:
... tenho que procede a pretensão exposta na inicial.
É pertinente repetir os dispositivos constitucional e legais que informam a matéria e que, em última análise, fundamentam o pedido da impetrante.
Assim, o par. 2º do art. 19 da Constituição Federal, dispõe, sic: “a União, mediante lei complementar e atendendo a relevante interesse social ou econômico nacional, poderá conceder isenção de impostos estaduais e municipais.
SÚMULAS - PRECEDENTES
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A Lei Complementar n. 04/1969, por sua vez, em seu art. 1º, inc. IV são isentos do ICM “as mercadorias cuja importação estiver isenta de imposto de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros”.
Tal dispositivo foi reprisado a nível estadual, pelo art. 5º, inc. III do Regulamento do ICM RICM ao dispor que “são isentas do imposto as entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros”.
A impetrante logrou comprovar através do certifi cado, doc. de fl s. 252-253, que a importação por ela efetuada, se enquadra entre projetos de desenvolvimento industrial de interesse nacional, tanto que pela Resolução n. 14.1439 de 29.02.1988 da Comissão de Política Aduaneira foi deferida a mesma, impetrante, a redução do Imposto de Importação de 45% para 15% e de 70% para 15% respectivamente.
A inconformidade do Estado se prende ao fato de que esta redução não pode ser tida como isenção parcial.
Não obstante a confusão ou imprecisão terminológica que possa suscitar o uso de diferentes termos, entendo que, na realidade esta redução equivale à isenção parcial.
Aliás, conforme se depreende pela inicial e informações da autoridade impetrada, a questão não é pacifi ca na doutrina que, neste aspecto é dividida.
Todavia, como já salientei me inclino pela tese da impetrante, acompanhando aqueles autores no sentido de que o termo “isenção” deve ser compreendido no seu sentido mais amplo, isto é, como abrangente de todos e quaisquer benefícios fi scais e fi nanceiros, tais como redução da base de cálculo ou de alíquota.
Conforme ensina o conhecido tributarista Ruy Barbosa Nogueira, “As isenções parciais podem revestir diversas modalidades técnicas segundo o elemento de quantifi cação de relação tributária que se utiliza para provocar o efeito liberatório desejado. Assim, por exemplo pode falar-se de redução da base de cálculo, das alíquotas de incidência ou da quantia do imposto”. Direito Tributário Atual, 1982, pág. 38.
Afi rmar como afi rma a autoridade impetrada que a isenção é total ou não é, causa realmente impacto, na medida em que o próprio termo traz ínsito o signifi cado genérico que não admitiria em princípio, qualquer elasticidade na sua compreensão, tal como a redução ou diminuição monetária no quantum da obrigação, via base de cálculo ou alíquota reduzida.
Nesta linha de raciocínio, o próprio termo “isenção parcial” encerraria em si uma contradição. Mas entendo que não seja bem assim. Em primeiro lugar o rigor científi co do termo usado nem sempre corresponde a intenção precisa do legislador. Daí, não ser necessariamente incompatível ou inviável a existência de “isenção parcial”.
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Quem pode negar a evidência no sentido de que se a União exonera a impetrante do pagamento de 30% do Imposto de Importação cobra 15% ao invés de 45%, tal não equivale a uma isenção, ainda que isso importe em redução da alíquota na acepção leiga do termo.
Reforça este entendimento, a própria natureza e a razão de ser do benefício fi scal em apreço, ou seja a operação implica em empreendimento de grande interesse econômico para o País.
Ora, se isenta fosse totalmente a importação do Imposto de Importação, e conseqüentemente do ICM, nos termos da legislação Federal e Estadual invocada, não faz sentido que este benefício não seja concedido à impetrante, no presente caso, até por uma questão de paralelismo. Não se trata de analogia inaplicável no nosso Direito Tributário, mas da constatação pura e simples no sentido de que a não aplicação da alíquota reduzida do Imposto Importação na mesma proporção ao ICM, importa em desvirtuar o próprio sentido ou razão de ser da norma do art. 1º, inc. IV da Lei Complementar n. 04/1969.
Signifi cativa são os termos em que está redigida a Lei Maior quando dispõe, sic: A união mediante Lei Complementar e atendendo a relevante interesse social ou econômico nacional, poderá conceder isenção de impostos estaduais e Municipais.
Pela redação do dispositivo constitucional em apreço é inconcebível a fi gura da redução pura e simples do imposto, como quer a autoridade impetrada. Isto porque, caracterizado como está que a importação em tela atende a relevante interesse econômico nacional, só se pode cogitar da fi gura da isenção, ainda que parcial.
Neste passo, tenho como infeliz e não pertinente a invocação da autoridade impetrada ao disposto no art. 1º, parágrafo único, da Lei Complementar n. 24/1975, transcrito à fI. 273.
As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios ...
parágrafo único: O disposto neste artigo também se aplica:
I - À redução da base de cálculo.
Não se confunda base de cálculo com alíquota. Tanto quanto sei, esta é conseqüência da primeira, sendo que a base de cálculo é informada por critérios objetivos pré-determinados que visam estabelecer o valor do bem.
Veja-se, por oportuno que a Resolução n. 14.1439, da Comissão de Po1ítica Aduaneira-CPA, doc. de fl s. 254, alude expressamente fi cam alteradas, para 15% as alíquotas do imposto de importação incidentes sobre os equipamentos abaixo especifi cados ...
A ilustre representante do Ministério Público em seu parecer de fl . 279, in fi ne, se opõe à pretensão da impetrante, aludindo, sic: “O Decreto-Lei n. 1.137, de
SÚMULAS - PRECEDENTES
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07.12.1970, conferiu poderes tão-somente para o Ministro de Estado da Indústria e do Comércio para conceder a isenção do imposto de Importação. Não tem, assim, a comissão de Política Aduaneira poder para conceder isenção”. Daí, a inexistência de requisito formal para caracterizar a pretendida equiparação.
A impetrante, embora de forma inusitada e pouco usual veio aos autos e a titulo de réplica, se insurgiu contra tal conclusão.
Esclarece a impetrante que o par. 4º art. 14 do Decreto-Lei n. 37/1966 que “Dispõe sobre o Imposto de Importação” no que tange aos bens de interesse para o desenvolvimento econômico, estabelece, sic:
Par. 4°: O direito à isenção prevista neste artigo será declarado em Resolução do Conselho de Política Aduaneira, nos termos do art. 27, da Lei n. 3.244, de 14.08.1957.
A existência de tal dispositivo legal espanca qualquer dúvida a respeito da regularidade formal da concessão da isenção parcial, pelo que não procede o óbice levantado pelo Ministério Público.
À luz de tais considerações, impõe-se a concessão da segurança. (fl s. 292-297).
A colenda 2ª Turma desta Corte, quando do julgamento do Recurso Especial n. 4.527-SC (9057264), Rel. Ministro Vicente Cernicchiaro, decisão unânime, in DJ de 29.10.1990, apreciou matéria semelhante, consoante se vê de sua ementa, in verbis:
Recurso especial. Tributário. ICM. Isenção. Legislação estadual. Quando a legislação estadual conferir isenção do tributo sempre que a União assim dispuser relativamente à importação de produtos estrangeiros, confi gurada a hipótese normativa, surge o direito de o contribuinte liberar-se do ônus fi scal.
Naquela oportunidade o eminente relator, para dirimir a controvérsia
fundamentou seu voto nestes termos:
... o venerando acórdão do Tribunal de Santa Catarina fundamenta a decisão, em parte, com a seguinte passagem: dispõe o art. 1º da Lei Complementar n. 469: fi cam isentos do imposto de circulação de mercadoria, VI, as entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União sobre a importação de produtos estrangeiros. Por seu turno o art. 253 do Decreto Estadual n. 16.792 estabelece: são isentos do imposto a entrada de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União sobre a importação de produtos estrangeiros.
A redução do imposto, prossegue, ou mais precisamente de sua alíquota não deixa de conformar uma isenção parcial, pois, como ensina o acatado tributarista Rui Barbosa Nogueira: As isenções parciais podem revestir diversas modalidades
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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técnicas segundo elemento de quantifi cação da relação tributária que se utilizar para provocar o efeito liberatório desejado. Assim, por exemplo, pode falar-se de redução da base de cálculo, das alíquotas de incidência ou da quantia do imposto. E a isenção tributária, doutrinariamente, pode ser parcial ou total, conforme o julgado do STF concernente ao RE n. 96.007: ICM. Isenção parcial. Direito ao crédito fi scal. A denegação do crédito fi scal pelo Estado membro destinatário da mercadoria relativamente a isenção parcial concedida pelo Estado de origem importa tornar inefi caz a regalia uma vez que o tributo incidiria por inteiro sobre a operação subseqüente, com vulneração do princípio constitucional da não cumulatividade.
Reitero meu entendimento que, tecnicamente, há distinção entre a alíquota zero, isenção, imunidade e redução de alíquota. Todavia, economicamente, e somente neste aspecto, pode existir identifi cação. A isenção, a redução de alíquota, a alíquota zero, implicam diminuição do quantum a ser pago.
Do ponto de vista econômico, sem dúvida alguma que se pode fazer essa identifi cação embora, data venia, os institutos sejam ontologicamente distintos. Acresce-se ao julgamento deste caso que a lei estadual, como consta do acórdão, diz respeito a isenção do imposto: “Entrada de mercadoria cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União sobre a importação de produtos estrangeiros.” Debate-se. E quando não houver isenção, mas redução da alíquota, como no caso concreto, com acentuada diminuição do recolhimento do tributo?
Vê-se, analisando a legislação estadual, notadamente no ponto de vista finalístico, o legislador de Santa Catarina buscou identificar, conferir ao contribuinte o mesmo tratamento tributário, no tocante ao ICM, de que é da sua competência, quanto ao tratamento que a União fornece na hipótese de entrada de mercadoria. Em sendo assim, por interpretação extensiva (não se confunde com a analogia), há razões sufi cientes para a manutenção do acórdão. Evidente a preocupação do Fisco Estadual de, atendendo às mesmas razões da redução do imposto federal, economicamente, repetir o tratamento na área estadual. Assim, embora a fundamentação semelhante, não idêntica, o provimento foi para maior análise, não havendo portanto o confronto com a Súmula n. 576 do Supremo Tribunal Federal.
Na mesma orientação confi ra-se o REsp. n. 4.272-RS (9073383), 2ª Turma, julgo em 31.10.1990, Rel. Ministro Helio Mosimann, in DJ de 03.12.1990, cujo aresto fi cou assim ementado:
Tributário. ICM. Redução de alíquota do imposto de importação. Isenção parcial. Princípio recolhido na legislação estadual.
- A redução da alíquota relativa a imposto sobre produtos importados equivale a isenção parcial e, aceita pela legislação estadual, isenta a parte correspondente do tributo sobre operações relativas à circulação de mercadorias.
- recurso provido.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 29
Destarte, por adotar a mesma linha dos pronunciamentos supratranscritos
é que, data venia do preclaro relatar, conheço do recurso pela divergência e lhe
dou provimento.
É o meu voto.
RATIFICAÇÃO DE VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente, de acordo com
a Constituição Federal anterior, a União só podia conceder isenção por Lei
Complementar e, de acordo com a Constituição atual, ela não pode conceder
isenção. A isenção só pode ser concedida pelos próprios Estados e por convênio
unânime assinado por todos os Estados. Agora, se se admitir que a redução da
alíquota importa em isenção, vamos admitir que a isenção pode ser concedida
por decreto, porque a redução de alíquota pode ser feita por decreto. Como
vamos admitir que uma isenção de um imposto estadual seja concedida pela
União e por decreto, passando por cima da Constituição e da Federação? Se, de
acordo com a Constituição anterior, era só por Lei Complementar e a atual não
permite à União conceder essa isenção, que só pode ser concedida pelos Estados,
ainda mais, repito, por convênio assinado por todos os Estados, como é que
vamos admitir que a União faça isso por decreto? Então, vamos admitir também
a isenção parcial. Reduzindo a alíquota para 90% ou 80% ou para zero, é uma
isenção? Não. Não podemos confundir redução de alíquota com isenção. São
coisas completamente diversas.
Então, insisto no meu voto, estudei muito bem esse assunto. Peço vênia
ao Eminente Ministro Geraldo Sobral, que fez também um brilhante voto.
A questão é controvertida e merece estudos, porque isso é muito importante.
Confi rmo meu voto, data venia.
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente, ouvi atentamente os
votos dos Srs. Ministros Geraldo Sobral e Garcia Vieira. Ambos examinaram
a questão com profundidade. A União Federal pode reduzir alíquota. Pode
reduzi-la a zero, sem que isso interfi ra no imposto estadual. O Governo Federal,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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em sua política governamental de comércio exterior, pode reduzir a alíquota
em 10%, a 15%, a 90%, e até em zero. Isso implica em isenção? Esse ato seria
considerado como isenção?
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator):- Não. O que se discute aí é se a
redução da alíquota importa em isenção de imposto estadual.
O Sr. Ministro José de Jesus Filho:- Tenho para mim, que não. O
Governo Federal pode provocar estímulo. Mas, não deve interferir, reduzindo
o ICM devido. Seria uma intervenção na autonomia do Estado, como
assegurou o Sr. Ministro Garcia Vieira.
Por isso, peço vênia ao Sr. Ministro Geraldo Sobral, que trouxe
um brilhante voto como contribuição ao entendimento da matéria, para
acompanhar o Eminente Ministro-Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 5.892-SC (90.0011106-4)
Relator: Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Teka — Tecelagem Kuehnrich S/A
Recorrida: Fazenda do Estado de Santa Catarina
Advogados: Haroldo Pabst e outro
Ivo Silveira Filho
EMENTA
ICM. Redução e isenção.
Não se pode confundir isenção com redução, com alíquota zero e demais benefícios fi scais.
A redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM (estadual).
Recurso improvido.
SÚMULAS - PRECEDENTES
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram
com o Relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Gomes de Barros e Cesar
Rocha. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Milton Pereira.
Brasília (DF), 14 de outubro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente e Relator
DJ 30.11.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: Teka — Tecelagem Kuehnrich S/A impetrou
mandado de segurança preventivo contra ato do Sr. Coordenador Regional da
Fazenda Estadual em Blumenau-SC, objetivando eximir-se do recolhimento
integral do ICM sobre a importação de produtos estrangeiros, observando-se a
isenção parcial decorrente da redução do Imposto de Importação determinada
pela Comissão de Política Aduaneira (CPA).
Em primeira instância a segurança foi concedida com o fi m de assegurar à
impetrante o direito de recolher o ICM na proporção de 55,56% sobre o valor
tributável (fl s. 81-87).
O egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina reformou a
sentença em acórdão assim ementado:
Mandado de Segurança. ICM. Redução do imposto de importação.
Concedendo a Comissão de Política Aduaneira a redução do imposto de importação, impossível é considerá-la como isenção parcial para recolhimento do antigo ICM, abatendo-se o valor a ser pago ao Estado.
Redução não tem o mesmo signifi cado de isenção parcial, e o art. 111, II, do Código Tributário Nacional obriga a interpretação exclusivamente gramatical em matéria de isenções impedindo exegese extensiva para coibir ampliações não concedida pelo poder tributante. (fl . 102)
Inconformada, a recorrente interpôs recurso especial apoiado no art. 105,
inciso III, alíneas a e c da Constituição Federal, alegando que o v. acórdão
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recorrido negou vigência ao art. 111, inciso II do CTN e deu interpretação
divergente da que lhe tem dado o STF.
Sustenta, em síntese, que não é lícito ao intérprete acrescentar a expressão
total para excluir a parcial, visto que o art. 111, inciso II, do CTN, deu
interpretação literal ao art. 1º da LC n. 04/1969, não excluindo a isenção parcial.
Oferecidas contra-razões às fl s. 115-117A.
Admitido o recurso (fl s. 120-121), subiram os autos a este egrégio Tribunal.
Nesta instância a douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo
desprovimento do recurso por entender que é “lícita a cobrança do imposto de
circulação de mercadorias sobre o regime de alíquota ‘zero’’’.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Não se deve confundir isenção com redução. A distinção entre isenção e outros incentivos fi scais é feita pelo Decreto-Lei n. 2.433, de 19 de maio de 1988. A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, também fala em isenção e em redução (art. 1º). O Decreto-Lei n. 1.428, de 02 de dezembro de 1975, atribui poderes a vários órgãos, inclusive à Comissão para a Concessão de Benefícios Fiscais, a fi m de “conceder redução do imposto de importação para máquinas, equipamentos, aparelhos, instrumentos, acessórios e ferramentas, nos termos, limites e condições estabelecidos pelo Poder Executivo”. O Decreto n. 77.065, de 20 de janeiro de 1976, em seu art. 5º, conferiu à referida Comissão, poderes para a concessão de benefícios fi scais e reduzir de 70 a 90% os impostos federais, sobre produtos industrializados e importação de máquinas.
A Lei Complementar n. 04, de 02 de dezembro de 1969, concede isenção do ICM, às “entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto, de competência da União sobre importação de produtos estrangeiros” (art. 1º, inciso VI). como se interpreta literalmente a legislação sobre isenção (art. 111 do CTN), devemos buscar o sentido exato de isenção e de redução. Este próprio art. 111 fala em incisos diversos (I e II), em suspensão ou exclusão (I) e em isenção (II) e este princípio se harmoniza com os arts. 175 e 176 também do CTN. A isenção é sempre decorrente de lei (art. 176) e somente a lei pode estabelecer a instituição de tributos ou a sua extinção ou a sua fi xação de
alíquota e da sua base de cálculo (art. 97, incisos I e IV). Isenção é defi nida pelos
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 33
tributaristas como “a dispensa legal do pagamento do tributo devido”. Nela
“verifi ca-se o fato gerador e ocorre a incidência: entretanto como não é exigido
o crédito tributário, em virtude da dispensa do pagamento, não se recolhe o
tributo” (Geraldo Ataliba). É um favor legal, conferido por lei ao contribuinte
que é dispensado do pagamento de um tributo devido. A redução não se
confunde com isenção. Ensina Sacha Calmon, na sua “Teoria Geral do Tributo”,
edição 1982, que:
... ontologicamente isenção e ‘alíquota zero’ são mesmo profundamente diversas: A isenção exclui da condição de ‘jurígeno’ fato ou fator. A alíquota é elemento de determinação quantitativa do dever tributário. Se é zero, não há o que pagar. (p. 154)
A redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM
(estadual) e para se chegar a esta conclusão, basta que se leia a Súmula n. 576 do
colendo Supremo Tribunal Federal, onde está bem claro que: “é lícita a cobrança
do imposto de circulação de mercadorias sobre produtos importados sob o
regime de alíquota ‘zero”’. Ora, se a alíquota zero não corresponde à isenção
total, também a redução da alíquota a 90% não corresponde à “isenção parcial”.
Pelo Decreto n. 99.546, de 25 de setembro de 1990, publicado no DOU
do dia seguinte, foi outorgada competência à Senhora Ministra da Economia,
Fazenda e Planejamento para,
... atendidas as condições e os limites estabelecidos na Lei n. 3.244, de 14 de agosto de 1957, e nos Decretos-Leis n. 63, de 21 de novembro de 1966, e 21/1962, de 19 de setembro de 1984, alterar as alíquotas do imposto de importação.
É evidente que, com a edição desta norma legal, não houve qualquer isenção refl exa nas operações relativas à incidência do ICM. A isenção, nos termos da Constituição Federal anterior, só poderia ser concedida por lei complementar e a vigente Carta Magna veda, expressamente, à União instituir isenções de tributos estaduais (art. 151, inciso III).
A competência para instituir impostos sobre operações relativas à
circulação de mercadorias é dos Estados e do Distrito Federal (art. 23, inciso
II, da Constituição Federal anterior, art. 155, inciso I, letra b, da Constituição
Federal vigente). Na vigência da Constituição Federal anterior, as isenções do
imposto sobre estas operações só eram concedidas ou revogadas por convênios,
celebrados e ratifi cados pelos Estados, nos termos de lei complementar (art. 23,
§ 6º) e, de acordo com o art. 151, inciso III, da atual Constituição Federal, é
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vedado à União instituir isenções de tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Como, em regra, a isenção é competência do poder tributante, a União poderia, por lei complementar, por exceção, isentar do ICM, a operação que gozaria de isenção dos tributos federais. Mas, no caso em exame, a importação foi com redução de alíquota e não com isenção.
A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, em seu art. 1º,
estabeleceu que:
As isenções do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratifi cados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta lei.
E estas concessões dependiam sempre de decisão unânime dos Estados representados (art. 2º, § 2º).
O Estado, com base na Lei Complementar n. 04/1969, só poderia isentar do ICM, as operações isentas dos tributos federais e a impetrante só gozaria de redução de alíquota e não de isenção, na exportação de seus produtos.
Realmente, não se pode admitir a idéia de que a redução de alíquota equivale à isenção parcial com força para reduzir o ICM a 15% (quinze por cento). Somente em caso de isenção é que existe o refl exo nas operações relativas ao ICM, do contrário seria passar por cima da Constituição e do princípio federativo. É bom lembrar que a referida Lei Complementar n. 04/1969 foi editada com base no art. 19, § 2º, da Constituição Federal anterior. Somente poderia a União conceder isenção do ICM ou de qualquer outro imposto estadual, quando houvesse “relevante interesse social ou econômico nacional...” e é claro que nada disso ocorreu, na importação de máquinas, procedida pela recorrida, com redução de alíquota ou de base de cálculo. O legislador somente entendeu existir o relevante interesse social ou econômico, capaz de legitimar e justifi car a isenção das operações relativas ao ICM, quando isenta de impostos federais, a entrada de mercadorias importadas e não quando existe apenas redução de alíquota.
É evidente que um simples órgão administrativo não pode isentar ninguém
de imposto estadual. Só a lei complementar poderia fazê-lo. Assim entendeu o
eminente Ministro Xavier de Albuquerque, como Relator, em seu voto, no RE
n. 81.074-SP, ao acentuar que:
Finalmente, parece-me decisiva uma ponderação que se me afi gura grave: só pode a União isentar de qualquer imposto estadual, por lei complementar. Estar-se-ia por essa via a permitir que um órgão administrativo, que excepcionalmente
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 35
detém o poder de aplicar o princípio da flexibilidade da tarifa, isentasse indiretamente de imposto estadual quando, a rigor, só a lei complementar federal pode fazê-lo.
Proclama a ementa deste v. acórdão, in verbis:
ICM. Não importando isenção do imposto de importação a atribuição, a determinada mercadoria, na tarifa aduaneira, da alíquota zero, dela não resulta isenção do tributo estadual. Reexame da questão pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Recurso conhecido, mas não provido.
Nossa Corte Maior, no RE n. 76.810-SP, Relator eminente Ministro
Leitão de Abreu, DJ de 26.09.1975, entendeu que:
ICM. A Alíquota zero não configura isenção, porquanto pode ser elevada mediante decisão do Conselho de Política Aduaneira.
No mesmo sentido são ainda os seguintes precedentes: ERE n. 79.952-SP, Relator eminente Ministro Soares Munõz, DJ de 19.05.1978; ERE n. 88.676-SP, Relator eminente Ministro Xavier de Albuquerque, DJ de 17.03.1978; RE n. 86.322-SP, Relator eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 25.03.1977; RE n. 81.132-SP, Relator eminente Ministro Eloy da Rocha, DJ de 25.03.1977; RE n. 85.952-SP, Relator eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 18.02.1977 e ainda os seguintes Recursos Extraordinários n. 76.810-SP, Relator eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 19.02.1977, 81.074-SP, 79.471-SP, 81.117-SP, 81.172-SP e 82.568-SP.
Verifi ca-se pelo RE n. 81.132-SP, ter nossa Corte Maior entendido que:
Não importa isenção do imposto de importação a atribuição da alíquota “zero”, conseqüentemente, dela não resulta isenção do ICM...
No RE n. 85.952, fi rmou o entendimento de que:
A tarifa zero ou livre confi gura uma não incidência provisória do tributo. A importação de mercadorias sob o regime de tal alíquota não implica, portanto, em isenção do imposto sobre circulação de mercadorias...
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota zero não confi gura
isenção e não impede a cobrança do ICM, a simples redução desta, com muito
mais razão, não pode conduzir a estas conseqüências.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
36
Neste sentido são as decisões proferidas nos Recursos Especiais n. 3.884-
RS, julgado em 18.02.1991, 4.973-SP, DJ de 24.04.1991 e 11.908-SC, DJ de
30.09.1991 de que fui Relator.
Conheço do recurso pela divergência e nego-lhe provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 13.665-SP
Relator: Ministro Américo Luz
Recorrente: Siemens S/A
Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogados: Leo Krakowiak e outros, Vera Lúcia La Pastina e outros e
Hamilton Dias de Souza e outros
EMENTA
Tributário. Empresa beneficiária do programa BEFIEX.
Importação de bens integrantes de seu ativo fi xo. Redução do Imposto
de Importação e IPI. Isenção do ICMS referente à mesma operação.
Impossibilidade.
— Pacífi ca a orientação da Corte no sentido de que incide a
alíquota total do ICM sobre as mercadorias importadas com redução
de imposto, tendo em vista que alíquota reduzida não se confunde
com isenção.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram
com o Relator os Ministros Pádua Ribeiro, José de Jesus, Hélio Mosimann e
Peçanha Martins.
Brasília (DF), 23 de junho de 1993 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 37
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente
Ministro Américo Luz, Relator.
DJ 16.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Américo Luz: acórdão da Décima Câmara Civil do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo assim decidiu a espécie (fl s. 172-
173):
A egrégia Câmara já deixou afi rmado, em hipótese parelha que “a circunstância da contribuinte fazer jus aos benefícios fi scais do Programa BEFIEX que consistem na redução ou isenção parcial dos impostos de importação e sobre produtos industrializados, não implica a necessidade de redução proporcional do ICM, pois, ainda que total, a isenção do tributo federal não afasta a exigência do imposto estadual (Súmula n. 576)” (Apelação Cível n. 157.447-2; j. 24.05.1990).
Outras egrégias Câmaras deste colendo Sodalício fizeram afirmativas semelhantes (“RJTJESP” — 120/149; 113/157; 111/118; 107/134; 105/122; 104/145 etc.).
E recentemente, por expressiva maioria a egrégia Turma Especial desta colenda Seção, respondeu negativamente à tese seguinte: “Os contribuintes sujeitos ao regime BEFIEX, que gozam de redução do imposto federal sobre importação de produtos estrangeiros, têm benefício correspondente à isenção parcial, com relação ao ICM, incidente sobre a entrada de bem importado, nos termos do inciso IV do art. 1º da Lei Complementar n. 04, de 02.12.1969?” (Unif. de Jur. n. 140.894-2; j. em 22.06.1990).
Caso era, assim, de provimento dos recursos, como convieram os ilustres Desembargadores Revisor e Terceiro Juiz que, anteriormente, decidiam de forma diversa.
Do exposto, incorporado o relatório constante dos autos, dão provimento aos recursos, para julgar improcedentes as ações, invertidos os efeitos do sucumbimento. Custas da lei.
No especial alega-se divergência jurisprudencial, fundamento único do
recurso.
Parecer, desfavorável ao provimento do recurso, às fl s. 228-230.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
38
VOTO
O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): Na espécie opina o órgão do
Ministério Público Federal nos seguintes termos (fl s. 228-230):
Controverte-se se a redução do Imposto de Importação e IPI — concedido à empresas benefi ciárias do Programa BEFIEX na importação de bens integrantes de seu ativo fixo — se acarreta também a isenção do pagamento do ICMS referente à mesma operação.
(...)
Não há dúvida que isenção não se confunde com redução. “A isenção pressupõe que todos os dados componentes da hipótese da incidência já que estão definidos e determinados, dando, assim, integral possibilidade a que a lei de isenção produza os seus efeitos, que é de impedir o nascimento do crédito. Destarte, lei que produza, por exemplo, a base de cálculo, isto é, aspecto quantitativo do fato gerado, não estará criando isenção, mas apenas alterando o conteúdo do fato gerador.’’
Já a redução,
... a norma tributária obrigacional incide, portanto, ao contrário do que sucede quando se interpõe uma norma isentante (total). Por isso, é mais próprio e indicado falar-se em redução, e não em isenções parciais. Essa diversidade de regime jurídico contra indica sejam isenção e redução havidas como espécies de um mesmo gênero, a isenção. Esta não se divide, portanto, e a rigor doutrinário, em total e parcial.
Este é também o entendimento deste egrégio Superior Tribunal de Justiça:
1. Tributário. Importações. Isenção parcial.
Não se deve confundir isenção com redução. O Decreto-Lei n. 2.433, de 19 de maio de 1988 distingue isenção de outros incentivos fi scais. Também a Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975 distinguiu isenção de redução. Todavia, a redução do imposto federal não produz o mesmo efeito do ICM, como leciona a Súmula n. 576 do colendo Supremo Tribunal Federal.
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota que não configura isenção e não impede a cobrança do ICM, a simples redução não conduz a estas conseqüências. (STJ — REsp n. 0003.884. DJ de 18.03.1991, p. 2.774).
2. ICM. Fato gerador. Redução de alíquota concedida a imposto federal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 39
— Não é a importação que tipifi ca o fato gerador do ICM e sim a entrada da mercadoria importada do exterior no estabelecimento comercial ou industrial.
— A redução do imposto federal, por sua vez, não produz o mesmo efeito no ICM (Estadual).
(STJ — REsp n. 0011.661 — DJ de 12.12.1991).
A matéria em questão tem recebido tratamento exegético uniforme no
âmbito das Turmas componentes da Seção de Direito Público da Corte no
sentido de que incide a alíquota total do ICM sobre as mercadorias importadas
com redução do imposto de importação, tendo em vista que alíquota reduzida
não se confunde com isenção (REsp n. 26.614-6-SC, Relator Ministro Garcia
Vieira, DJ de 16.11.1992 e 19.851-0-SC, Relator Ministro Pádua Ribeiro, DJ
de 07.12.1992).
Do exposto, não conheço do recurso.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro:
Ementa:Tributário. Contribuintes sujeitos ao regime BEFIEX.
Isenção de ICM. Descabimento.
I - Os contribuintes sujeitos ao regime BEFIEX, que gozam
de redução do impostos federal sobre importação de produtos
estrangeiros, não fazem jus ao correspondente benefício quanto ao
ICM.
II - Voto no sentido de não conhecer do recurso.
Pedi vista destes autos para melhor exame. Ao fazê-lo cheguei à mesma
conclusão do ilustre Relator, cujo douto voto apóia-se inclusive, em precedente,
de que fui Relator, no sentido de que “a redução da alíquota do imposto de
importação não equivale a isenção” (REsp n. 19.851-0-SP).
Acrescento que a egrégia Primeira Seção, ao julgar os EDREsp n. 3.884-
RS, de que fui Relator, confi rmou esse entendimento, achando-se o respectivo
acórdão assim ementado:
Tributário. ICM. Redução de alíquota do Imposto de Importação.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
40
I - Não há confundir isenção com redução de imposto. Por isso, a redução da alíquota do imposto federal não produz, por si só, o mesmo efeito com relação ao ICM.
II - Embargos de divergência conhecidos, mas rejeitados.
Em conclusão, pois, acompanho o voto do ilustre Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 16.472-SC
Relator: Ministro Peçanha Martins
Recorrente: Indústrias Augusto Klimmek S/A
Recorrida: Fazenda Pública do Estado de Santa Catarina
Advogados: Domingos Novelli Vaz e outros, Ivo Silveira Filho e outro
EMENTA
Tributário. ICM. Redução. Importação. Súmula n. 576-
STF.
A redução da alíquota do imposto federal não deve ser
confundida com a isenção do ICM, imposto estadual.
Incabível a pretendida diminuição da exação.
Recurso conhecido, mas desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe negar
provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Américo Luz, Pádua
Ribeiro, José de Jesus e Hélio Mosimann.
Brasília (DF), 03 de fevereiro de 1993 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 41
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente
Ministro Peçanha Martins, Relator
DJ 17.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Indústrias Augusto Klimmek S/A,
inconformada com o v. acórdão exarado pela egrégia Primeira Câmara Cível
do colendo Tribunal de Justiça de Santa Catarina que, dando provimento aos
recursos necessário e voluntário reformou sentença concessiva de segurança
assecuratória do pagamento do ICM na mesma proporção da redução da
alíquota do imposto de importação incidente sobre máquina tufadeira, para
fazer e tufar vassouras, diminuição da ordem de 90% (noventa por cento), em
razão de benefício fi scal instituído pelo Befi ex (Decreto-Lei n. 1.219/1972;
Decreto-Lei n. 1.428/1975, e Decretos n. 71.278/1972 e 77.065/1976), interpõe
o presente recurso especial com fundamento nas letras a e c do permissivo
constitucional.
Diz violados os arts. 128 e 460, do CPC, a Lei Complementar n. 04/1969
e os Decretos-Leis n. 1.219/1972 e 1.428/1975, e os Decretos n. 71.278/1972
e 77.065/1976, e os arts. 97, § 1º, 104, III, e 175, I, do CTN, e aponta acórdãos
divergentes do julgado.
A Fazenda Pública do Estado de Santa Catarina apresentou contra-razões
(fl s. 270-279). Resumiu, deste modo, a tese defendida pela Recorrente:
A Recorrente não têm razão, pois desenvolveu o seguinte raciocínio:
a) Premissa maior (verdadeira): a isenção do Imposto de Circulação de Mercadorias, na entrada de mercadoria importada, depende da isenção do Imposto de Importação (Lei Complementar n. 04, de 02.12.1969, art. 1º, inciso VI);
b) Premissa menor (falsa): a redução da alíquota do Imposto de Importação equivale a uma isenção parcial;
c) Conclusão (falsa): a redução da alíquota do Imposto de Importação implica na redução da alíquota do Imposto de Circulação de Mercadorias.
Aponta a Súmula n. 576 do STF em contraposição à tese da Recorrente e
refere jurisprudência do STF e deste STJ proclamadoras de que não é possível
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
42
entender-se como sinônimos os vocábulos “isenção” e “redução” (RE n. 81.077-
7; Agravo n. 125.606-1; Agravo n. 135.512-3 (AgRg) RS, DJ de 1º.03.1991,
p. 1.809 do Pretório excelso; Agravos n. 4.098, 4.361 e 3.884, do STJ (fl s. 270-
279).
O Ministério Público do Estado de Santa Catarina opinou pela
confi rmação do acórdão (fl s. 292-293).
O recurso foi admitido apenas pela letra c (fl s. 229-230).
Dispensei a ouvida da Subprocuradoria.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Não há afronta a qualquer
dos dispositivos legais apontados, como bem assinalado no despacho de
admissibilidade, “o acórdão recorrido muito bem apreciou a matéria e em
decisão fundamentada concluía, que pela legislação vigente à época, o Estado só
reconhece os incentivos fi scais aprovados no programa BEFIEX que acarretam
isenção total dos tributos não concedendo idêntica prerrogativa às empresas
federais que obtêm redução de tais impostos, sob o fundamento de que a
redução e isenção são vocábulos de signifi cados diferentes. Daí a exigência do
ICM integral em operações que não se enquadram na interpretação da Fazenda
Estadual”. (fl s. 229-230).
Digo mais que a lide foi decidida dentro dos seus limites e o v. acórdão deu
perfeita interpretação à Lei Complementar n. 04, de 02.12.1969, que disciplina
sobre isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias.
Não cogitou de redução e muito menos de comparação dos dois institutos para
igualá-los nos efeitos legais.
É certo que a jurisprudência deste STJ e do STF consagrava alguns arestos
afi rmadores da tese de que a alíquota reduzida equivalia à isenção parcial.
(Precedentes: REsp n. 7.218-0-SC, DJ de 06.05.1991; REsp n. 4.272-0-RS, DJ
de 03.12.1990; RE n. 96.007-SP, DJ de 17.06.1983).
Divergi, do Relator, eminente Ministro Ilmar Galvão, no julgamento do
REsp n. 7.218-SC, cuja ementa proclama:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 43
Tributário. Mercadorias importadas sob alíquota reduzida. Regime equivalente à isenção, no caso, parcial. Direito do contribuinte à isenção, nas mesmas proporções, do tributo estadual previsto para a mesma operação.
As figuras da isenção e da alíquota zero, ou reduzida conquanto antologicamente distintas para os efeitos visados pela lei, nas circunstâncias descritas, conduzem à mesma conseqüência jurídica, merecendo o mesmo tratamento.
Recurso não conhecido. (DJ de 06.05.1991).
Discordei, tendo fi cado vencido, emitindo voto-vista do seguinte teor:
Data máxima venia do eminente Ministro Ilmar Galvão, não tenho como sinônimos os vocábulos “isenção” e “redução”. São institutos jurídicos diferentes e não posso dar-lhes iguais efeitos, como muito bem assinalou o eminente Ministro Marco Aurélio, no AgRg n. 135.512-3-RS, publicado no DJ de 1º.03.1991, p. 1.809, cuja ementa transcrevo:
Imposto sobre Circulação de Mercadorias. Redução. Arts. 19, § 2º e 23, § 6º da Constituição Federal anterior.
Não vulnera os citados dispositivos legais decisão que afasta a vantagem pertinente ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias quando a lei complementar cogita de isenção, considerado idêntico tratamento conferido a imposto da competência da União — sobre Importação de Produtos Estrangeiros. Na hipótese, impossível é entender como sinônimos os vocábulos “isenção” e “redução”, valendo notar que não se pode atribuir ao legislador a inserção, em texto de lei, de instituto sem o sentido que lhe é próprio e que portanto, o individualiza. Prevista a extensão apenas do tratamento pelo qual o importador fi cou isento do imposto, descabe considerar mera redução da alíquota. (Segunda Turma, 05.02.1991).
A Súmula n. 576 do Pretório excelso continua, pois, em plena vigência, e, data venia, os argumentos alinhados pelo eminente Relator não me convenceram a dela divergir, razão por que dou provimento ao recurso do Estado de Santa Catarina, para denegar a segurança.
Assim entendendo, acompanho o eminente Relator conhecendo do recurso e lhe dando provimento.
Amparado nas decisões transcritas do Pretório excelso e da egrégia
Primeira Turma deste STJ, esta exarada no REsp n. 3.884-RS e da qual foram
interpostos embargos de divergência com julgados da egrégia Segunda Turma
anteriores à minha posse, da lavra dos eminentes Ministros Hélio Mosimann
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
44
(REsp n. 4.272-RS) e Vicente Cernicchiaro (REsp n. 4.257-SC), o eminente
Relator, Ministro Pádua Ribeiro, substituto, na egrégia Segunda Turma,
do eminente Ministro Ilmar Galvão, emitiu voto endossando a opinião do
eminente Ministro Garcia Vieira, Relator do aresto embargado, que, adotando a
jurisprudência do Pretório excelso fi rmada em que alíquota zero não confi gura
isenção de ICM, concluiu que a simples redução da alíquota não pode conduzir
à isenção parcial.
Mantenho, pois, a minha opinião sobre matéria na linha da diretriz
pretoriana de que isenção não se confunde com redução de alíquota, sendo
cabível a pretendida diminuição da exação.
À vista do exposto, conhecendo embora do recurso pela letra c, lhe nego
provimento.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Sr. Presidente, acompanho o Relator,
mas devo esclarecer que também era voto vencido nesta Turma. Já reformulei, há
algum tempo, o meu ponto de vista num processo procedente também de Santa
Catarina e de interesse da mesma empresa. Estou com vista no julgamento dos
Embargos de Divergência, a que se referiu o eminente Ministro-Relator. Só não
proferi ainda o meu voto, embora não tenha dúvida nenhuma em acompanhar o
voto de V. Exa., porque não tive oportunidade em virtude do congestionamento
da pauta. Hoje posso garantir que a matéria é pacífi ca aqui na Turma.
Acompanho o voto do eminente Ministro-Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 16.538-SP
Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros
Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Recorrida: Metal Leve S/A Indústria e Comércio
Advogados: Áurea L. A. Salvatore S. Frehse e outros e Mário Morita
e outros
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 45
EMENTA
Tributário. Redução. Alíquota. Isenção. IPI. ICM.
Redução de imposto não se confunde com isenção.
A redução do IPI, na importação de bens de uso ou consumo
não implica, automaticamente, em redução correspondente do ICM
(CTN, art. 111).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram
com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Pereira, Cesar Rocha e
Demócrito Reinaldo. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Garcia Vieira.
Brasília (DF), 12 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente
Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator
DJ 07.06.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Metal Leve S/A Indústria e
Comércio propôs ação declaratória contra o Estado de São Paulo. Pretende ver
declarada a inexistência de relação tributária, relativa ao ICM, na importação de
bens.
Argumenta com a circunstância de que a legislação paulista não fi xou
alíquota, para o caso.
Como pedido alternativo, afi rma que milita em seu favor, isenção parcial
referente ao Imposto de Importação (BEFIEX).
No v. acórdão recorrido, o egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo deu
provimento à apelação, para, embora reconhecendo a incidência do tributo,
declarar a Autora benefi ciária da redução do imposto à razão de 90%.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
46
Metal Leve S/A interpôs recurso extraordinário.
O Estado de São Paulo ofereceu recurso, fi ncado nas alíneas a e c do permissivo constitucional.
Afi rma que o aresto recorrido ofendeu o art. 111 do Código Tributário Nacional e o art. 1º, VI, da Lei Complementar n. 04.
Como paradigmas de dissídio pretoriano, invoca diversos acórdãos do Supremo Tribunal Federal.
Alega, por fi m, que os benefícios do BEFIEX contemplam somente quem satisfaz condições estabelecidas nos respectivos acordos. Como a recorrida não demonstrou que satisfaz estas condições, não poderia valer-se da alíquota minorada.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Na parte desafi ada
pelo recurso especial, o acórdão recorrido diz:
Dispõe o Decreto Estadual n. 17.727, de 25.09.1981 (Regulamento do Imposto de Circulação de Mercadorias): “Art. 5º - fi cam isentas do imposto (Lei n. 440/1974, art. 4º): ... VI - as entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros (Lei Complementar Federal n. 04/1969, art. 1º, VI)”.
Para o caso, a Comissão para Concessão de Benefícios Fiscais a Programas Especiais de Exportação — BEFIEX — reduziu o percentual do Imposto de Importação e do IPI em 90% (fl s. 38 e seguintes).
Daí a pretensão da Autora buscar, alternativamente, o reconhecimento da isenção parcial.
Tratando das isenções totais e parciais, escreve José Souto Maior Borges: “As isenções totais excluem o nascimento da obrigação tributária, enquanto que, nas isenções parciais, surge o fato gerador da tributação, constituindo-se, portanto, a obrigação tributária, embora o quantum do débito seja inferior ao que normalmente seria devido se não tivesse sido estabelecido preceito isentivo ... A isenção parcial consiste, mais propriamente, numa redução ou bonifi cação de débito tributário. ... As isenções parciais podem revestir-se de diversas modalidades técnicas, segundo o elemento de quantifi cação da relação tributária que se utiliza para provocar o efeito liberatório desejado, podendo, assim, falar-se em bonifi cação na base de cálculo, nos tipos de gravame ou na alíquota” (Isenções Tributárias, 2ª ed., 1980, pp. 249-250, § 8º).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 47
A redução do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados (BEFIEX), portanto, significa isenção parcial de impostos da competência da União, ensejando a aplicação do art. 5º, VI, do Decreto Estadual n. 17.727/1981, isto é, o reconhecimento da isenção parcial, na mesma proporção (90%), do ICM, como pedido pela autora, alternativamente.
Essa orientação já foi perfi lhada pela Quarta Câmara deste Tribunal (Apelação n. 120.029-2) e também por esta Câmara (Apelação n. 138.580-2).
Pelo exposto, dá-se provimento ao apelo, para julgar procedente a ação pela alternativa mencionada (isenção parcial — 90%), invertidos os ônus da sucumbência e respeitada a isenção da Fazenda nas custas do processo.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores Menezes Gomes (Presidente) e Borelli Machado, com votos vencedores. (fl . 114)
A Recorrente, louvando-se, também, no egrégio tributarista pernambucano,
lembra não ser de boa técnica confundirem-se os conceitos de isenção e redução
tributária.
A questão já é conhecida desta Turma.
No julgamento do REsp n. 11.908, decidimos, in verbis:
Não se pode confundir isenção com redução, com alíquota zero e demais benefícios fi scais.
A redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM (estadual)
Reporto-me às razões que integram o primoroso voto com que o eminente
Ministro Garcia Vieira nos conduziu, na formação daquele acórdão. Dele
juntarei cópia a estes autos.
Dou provimento ao recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 19.851-SC (92.0005769-1)
Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Recorrente: Fazenda Pública do Estado de Santa Catarina
Advogados: Ivo Silveira Filho e outros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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Recorrida: Teka — Tecelagem Kuehnrich S/A
Advogados: Maro Marcos Hadlich Filho e outro
EMENTA
Tributário. ICM. Redução da alíquota do Imposto de Importação.
I - A redução da alíquota do Imposto de Importação não equivale
a isenção parcial. Não deve, em conseqüência, ser reduzido, na mesma
proporção, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias, em face do
disposto no art. 1º, VI, da Lei Complementar n. 04/1969.
II - Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima
indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, dar
provimento ao recurso. Votaram com o Ministro-Relator os Ministros José de
Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.
Brasília (DF), 16 de novembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator
DJ 07.12.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial,
com fundamento na letra c do permissivo constitucional, interposto pela
Fazenda Pública do Estado de Santa Catarina, contra o acórdão do Tribunal de
Justiça daquele Estado no sentido de que redução da alíquota do Imposto de
Importação constitui isenção parcial extensível ao ICM, na mesma proporção,
ex vi do art. 1º, inciso VI, da Lei Complementar n. 04, de 02.12.1969.
Indica, como paradigmas, precedentes do Supremo Tribunal Federal,
inclusive a sua Súmula n. 576, e desta Corte, dentre eles o REsp n. 3.884-RS.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 49
Contra-arrazoado (fls. 156-160), o recurso foi inadmitido (fls. 168-169), subindo os autos a esta Corte, por força do provimento do agravo de instrumento em apenso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Conheço do recurso, porquanto patente o dissídio com o decidido pela egrégia Primeira Turma no REsp n. 3.884-RS, Relator Ministro Garcia Vieira, cujo acórdão fi cou assim ementado:
Tributário. Importação. Isenção parcial.
Não se deve confundir isenção com redução. O Decreto-Lei n. 2.433, de 19 de maio de 1988 distinguiu isenção de outros incentivos fi scais. Também a Lei Complementar n. 24, de 07 de fevereiro de 1975 distinguiu isenção de redução. Todavia, a redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM, como leciona a Súmula n. 576 do colendo Supremo Tribunal Federal.
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota que não configura isenção e não impede a cobrança do ICM a simples redução não conduz a estas conseqüências.
No mérito, dou-lhe provimento. Reporto-me, a propósito, aos fundamentos do voto-anexo que proferi nos embargos de divergência opostos ao citado paradigma, de que fui Relator.
Acrescento que, nos referidos embargos, foram trazidos a confronto o REsp n. 4.272-RS e o REsp n. 4.527-SC, não tendo sido o respectivo julgamento encerrado em razão de pedido de vista do ilustre Ministro José de Jesus.
Em conclusão, pois, conheço do recurso e lhe dou provimento.
ANEXO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 3.884-RS
(9100050342)
EMENTA
Tributário. ICM. Redução de alíquota do Imposto de Importação.
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I - Não há confundir isenção com redução de imposto. Por isso,
a redução da alíquota do Imposto Federal não produz, por si só, o
mesmo efeito com relação ao ICM.
II - Embargos de divergência conhecidos, mas rejeitados.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): No caso, é manifesto
o dissídio entre o acórdão embargado e os paradigmas trazidos a confronto.
Entendeu o primeiro que a redução de alíquota do Imposto de Importação
não produz o mesmo efeito com relação ao ICM, do que dissentiram os arestos
colacionados. Conheço, pois, dos embargos.
Passo ao exame do mérito. A argumentação dissidente da que serviu de
embasamento ao acórdão embargado acha-se consubstanciada no voto proferido
pelo ilustre Ministro Hélio Mosimann no Recurso Especial n. 4.272-RS, nestes
termos (fl s. 482-486):
Sr. Presidente, o acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, mantendo a sentença recorrida pelos seus próprios fundamentos, que adotou, embora reconhecendo os ”precedentes jurisprudenciais como é o caso do Estado de Santa Catarina”(fl . 107), não deu razão ao contribuinte.
Assim decidiu, basicamente pelos seguintes fundamentos:
... Segundo a melhor doutrina, especialmente aquela trazida na resposta, ou melhor, nas informações fl . 55 em diante em que é citado José Souto Maior Borges, não se opera no caso isenção parcial, mas apenas redução de alíquotas federais. Seria fastidioso transcrever o ensinamento doutrinário do eminente José Souto Maior Borges, já transcrito a partir de fl . 55 dos autos. Os argumentos expedidos pelo eminente tributarista são indestrutíveis pelo seu lógico formal. Não havendo isenção parcial, não há como atender-se a pretensão da impetrante. Verifico que no próprio Certificado n. 301/1985, fl . 22, é referida a expressão redução de 90%. Não há qualquer referência à isenção. Assim, não havendo isenção mesmo parcial, não há como se aplicar o art. 1º, VI, da Lei Complementar n. 04. Aludido dispositivo estabelece isenção de pagamento de ICM relativamente às mercadorias isentas de imposto de competência da União sobre a importação. Dessa forma, mesmo que se admitisse que a redução de 90% fosse interpretada com isenção parcial não haveria como transplantar o benefício para a esfera estadual, porque a isenção, se assim entendida, não é total e portanto seria possível estendê-la ao ICM porque mencionado art. 1º, VI, fala em isenção de imposto, devendo-se entender como isenção total. Assim sendo, mesmo
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se entendendo que a redução de 90% dos tributos federais represente isenção parcial, por força do art. 111 do CTN, não é possível transpor o benefício para a esfera estadual, e isto porque a lei não contempla em sua expressão literal esta situação.
De qualquer forma, deve-se entender que houve redução de alíquotas federais, conforme expresso no certifi cado acima mencionado, e, nessa situação, não é possível estender o benefício para a esfera do tributo estadual, mais precisamente do ICM. De conseqüência, impõe-se a denegação da segurança.
O despacho do eminente primeiro Vice-Presidente do Tribunal gaúcho, reportando-se aos argumentos do recurso — contrariedade do art. 1º, VI, da Lei Complementar n. 04/1969, além de dissentir de decisões dos tribunais de São Paulo e Santa Catarina — admitiu o recurso especial tão-somente pela letra c do permissivo constitucional, aduzindo:
Com efeito, enquanto no acórdão recorrido entendeu-se inexistir isenção parcial e, conseqüentemente, do não aproveitamento dos benefícios concedidos pela LC n. 04, pelo menos o egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina no julgamento da Apelação Cível n. 2.602, manifestou-se no sentido contrário, decidindo que a redução equivale a isenção parcial, isentando, em conseqüência, a parte correspondente do imposto sobre operações à circulação de mercadorias, na conformidade da LC n. 04.
Observo, outrossim que, muito embora se possa tomar o posicionamento do acórdão recorrido como corolário da Súmula n. 576 do Pretório excelso, porque estribado nas mesmas conceituações e diferenciações da isenção da alíquota zero, certo é que os julgados que inspiraram aquela Súmula não tratam de redução de alíquota, mas, sim, da “tarifa livre”. Desse modo, inexistindo orientação fi rmada do plenário do STF especifi camente sobre a questão em debate (redução de alíquota ou isenção parcial), não vejo como trancar a marcha do recurso sob o argumento da Súmula n. 286.
Já o acórdão catarinense trazido a confronto e que contou com meu voto, porta a ementa que segue (fl . 36):
ICM. Redução da alíquota do imposto sobre Importação de Produtos Estrangeiros. Tal redução equivale a isenção parcial e isenta a parte correspondente do imposto sobre operações à circulação de mercadorias. Recurso provido para a concessão da segurança. (Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2.602, de Mafra, julgada em 08.09.1987).
O tema, bem se sabe e se conclui pelo debate travado nestes autos, não é pacífi co.
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Esta Turma, entretanto, há poucos dias, sobre ele teve oportunidade de se manifestar, chamada ao julgamento do recurso interposto contra o acórdão de Santa Catarina, acima deferido.
Em decisão de que não participei porque declarado meu impedimento, o eminente Ministro Vicente Cernicchiaro, Relator, estampou a ementa abaixo transcrita:
Recurso especial. Tributário. ICM. Isenção. Legislação estadual. Quando a legislação estadual conferir isenção do tributo sempre que a União assim dispuser relativamente à importação de produtos estrangeiros, confi gurada a hipótese normativa, surge o direito de o contribuinte liberar-se do ônus fi scal. (REsp n. 4.527-SC, 05.09.1990).
Destaca-se do voto do Relator:
... O venerando acórdão do Tribunal de Santa Catarina fundamenta a decisão, em parte, com a seguinte passagem: dispõe o art. 1º da Lei Complementar 04/1969: ficam isentas do Imposto de Circulação de Mercadoria, VI, as entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União sobre a importação de produtos estrangeiros. Por seu turno o art. 253 do Decreto Estadual n. 16.792 estabelece: são isentas do imposto as entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União sobre a importação de produtos estrangeiros.
A redução do imposto, prossegue, ou mais precisamente de sua alíquota não deixa de conformar uma isenção parcial pois, como ensina o acatado tributarista Rui Barbosa Nogueira: As isenções parciais podem revestir diversas modalidades técnicas segundo elemento de quantificação da relação tributária que se utiliza para provocar o efeito liberatório desejado. Assim, por exemplo, pode falar-se de redução da base de cálculo, das alíquotas de incidência ou da quantia do imposto. E a isenção tributária, doutrinariamente, pode ser parcial ou total, conforme o julgado do STF concernente ao RE n. 96.007: ICM. Isenção parcial. Direito ao crédito fiscal. A denegação do crédito fiscal pelo Estado-Membro destinatário da mercadoria relativamente a isenção parcial concedida pelo Estado de origem importa tornar inefi caz a regalia uma vez que o tributo incidiria por inteiro sobre a operação subseqüente, com vulneração do princípio constitucional da não-cumulatividade.
Reitero meu entendimento que, tecnicamente, há distinção entre a alíquota zero, isenção, imunidade e redução de alíquota. Todavia, economicamente, e somente neste aspecto, pode existir identifi cação. A isenção, a redução de alíquota, a alíquota zero, implicam diminuição do quantum a ser pago.
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Do ponto de vista econômico, sem dúvida alguma que se pode fazer essa identifi cação embora, data venia, os institutos sejam ontologicamente distintos. Acresce-se ao julgamento deste caso que a lei estadual, como consta do acórdão, diz respeito a isenção do imposto: “Entrada de mercadoria cuja importação estiver isenta do imposto de competência da União sobre a importação de produtos estrangeiros.” Debate-se. E quando não houver isenção, mas redução da alíquota, como no caso concreto, com acentuada diminuição do recolhimento do tributo?
Vê-se, analisando a legislação estadual, notadamente do ponto de vista fi nalístico, o legislador de Santa Catarina buscou identifi car, conferir ao contribuinte o mesmo tratamento tributário, no tocante ao ICM, de que é da sua competência, quanto ao tratamento da União fornece na hipótese de entrada de mercadoria. Em sendo assim, por interpretação extensiva (não se confunde com a analogia), há razões sufi cientes para a manutenção do acórdão. Evidente a preocupação do Fisco Estadual de, atendendo às mesmas razões da redução do imposto federal, economicamente, repetir o tratamento na área estadual. Assim, embora a fundamentação semelhante, não idêntica, o provimento foi para maior análise, não havendo portanto o confronto com a Súmula n. 576 do Supremo Tribunal Federal.
A questão é idêntica à apreciada no Rio Grande do Sul, inclusive o dispositivo da legislação estadual reproduz, como em Santa Catarina, o texto da Lei Federal: Lei Complementar n. 04/1969, art. 1º, VI: são isentas do ICM as mercadorias cuja importação estiver isenta de imposto de competência da União (mesmo parcial), sobre a importação de produtos estrangeiros — art. 5º, III, Decreto Estadual n. 29.809, de 18.09.1980, que aprovou o Regulamento do ICM do Estado.
Como sublinhou o Desembargador Milton dos Santos Martins do RS, em voto sobre caso semelhante (fl . 121), a concessão dada pela União não deve, de regra, atingir o Estado, a não ser quando o próprio Estado aceite esta norma e recolha na sua legislação específi ca. Creio ser este o caso dos autos; do contrário, não teria sentido o dispositivo estadual, compreendendo-se na isenção as chamadas isenções parciais (reduções e atenuações do quantum), conforme Geraldo Ataliba (fl . 176).
Por tudo isso é que conhecendo do recurso pela letra c, dou-lhe provimento.
Aos fundamentos deduzidos no douto voto supratranscrito, rebate o
eminente Relator do aresto embargado, Ministro Garcia Vieira, in verbis (fl s.
450-455):
Sr. Presidente: A impetrante obteve da Comissão de Política Aduaneira - CPA do Ministério da Fazenda redução para 15% do II dos equipamentos que importassem, conforme Res n. 14-1.439, de 18.02.1988 (docs. fl s. 21-159).
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Pretende a recorrente seja também estendida ao ICM referida redução que para ela, equivale à isenção parcial.
A impetrante foi benefi ciada pela redução dos impostos federais e não pela isenção do ICM que é estadual.
Não se deve confundir isenção com redução. A distinção entre isenção e outros incentivos fi scais é feita pelo Decreto-Lei n. 2.433, de 19 de maio de 1988. A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, também fala em isenção e em redução (art. 1º). O Decreto-Lei n. 1.428, de 02 de dezembro de 1975, atribui poderes a vários órgãos inclusive à Comissão para a Concessão de Benefícios Fiscais, a fi m de “conceder redução do imposto de importação para máquinas, equipamentos, aparelhos, instrumentos, acessórios e ferramentas, nos termos, limites e condições estabelecidos pelo Poder Executivo”. O Decreto n. 77.065, de 20 de janeiro de 1976, em seu art. 5º, conferiu à referida comissão, poderes para a concessão de benefícios fi scais e reduzir de 70 a 90% os impostos federais, sobre produtos industrializados e importação de máquinas.
A Lei Complementar n. 04, de 02 de dezembro de 1969, concede isenção do ICM, às “entradas de mercadorias cuja importação estiver isenta do imposto, de competência da União sobre importação de produtos estrangeiros”(art. 1º, VI). Como se interpreta literalmente a legislação sobre isenção (art. 111 do CTN), devemos buscar o sentido exato de isenção e de redução. Este próprio art. 111 fala em incisos diversos (I e II) em suspensão ou exclusão (I) e em isenção (II) e este princípio se harmoniza com os arts. 175 e 176 também do CTN. A isenção é sempre decorrente de lei (art. 176) e somente a lei pode estabelecer a instituição de tributos ou a sua extinção ou a sua fixação de alíquota e da sua base de cálculo (art. 97, I e IV). Isenção é defi nida pelos tributaristas como “a dispensa legal do pagamento do tributo devido”. Nela “verifi ca-se o fato gerador e ocorre a incidência; entretanto como não é exigido o crédito tributário, em virtude da dispensa do pagamento, não se recolhe o tributo” (Geraldo Ataliba). É um favor legal, conferido por lei ao contribuinte que é dispensado do pagamento de um tributo devido. A redução não se confunde com isenção. Ensina Sacha Calmon, na sua “Teoria Geral de Tributo”, ed. 1982, que:
— ... ontologicamente isenção e “alíquota zero” são mesmo profundamente diversas: A isenção exclui da condição de “jurígeno” fato ou fator. A alíquota é elemento de determinação quantitativa do dever tributário. Se é zero, não há o que pagar (p. 154).
A redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM ( estadual) e para se chegar a esta conclusão, basta que se leia a Súmula n. 576 do colendo Supremo Tribunal Federal, onde está bem claro que: “É lícita a cobrança do imposto de circulação de mercadorias sobre produtos importados sob o regime de alíquotas ‘zero’. Ora, se a alíquota zero não corresponde à isenção total, também a redução da alíquota a 90% não corresponde à ‘isenção parcial”.
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Pelo Decreto n. 99.546, de 25 de setembro de 1990, publicado no DOU do dia seguinte, foi outorgada competência à Senhora Ministra da Economia, Fazenda e Planejamento para,
... atendidas as condições e os limites estabelecidos na Lei n. 3.244, de 14 de agosto de 1957, e nos Decretos-Leis n. 63, de 21 de novembro de 1966, e 21/62, de 19 de setembro de 1984, alterar as alíquotas do imposto de importação.
É evidente que, com a edição desta norma legal, não houve qualquer isenção reflexa nas operações relativas à incidência do ICM. A isenção, nos termos da Constituição Federal anterior, só poderia ser concedida por lei complementar e a vigente Carta Magna veda expressamente à União instituir isenções de tributos estaduais (art. 151, III).
A competência para instituir impostos sobre operações relativas à circulação de mercadorias é dos Estados e do Distrito Federal (art. 23, II, da Constituição Federal anterior, art. 155, I, letra b, da Constituição Federal vigente). Na vigência da Constituição Federal anterior, as isenções do imposto sobre estas operações só eram concedidas ou revogadas por convênios, celebrados e ratifi cados pelos Estados, nos termos de lei complementar (art. 23, § 6º) e, de acordo com o art. 151, III, da atual Constituição Federal, é vedado à União instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Como, em regra, a isenção é competência do poder tributante, a União poderia, por lei complementar, por exceção, isentar do ICM a operação que gozaria de isenção dos tributos federais. Mas, no caso em exame, a importação foi com redução de alíquota e não com isenção.
A Lei Complementar n. 24, de 07 de janeiro de 1975, em seu art. 1º, estabeleceu que:
— As isenções do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratifi cados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta lei.
E estas concessões dependiam sempre de decisão unânime dos Estados representados (art. 2º, § 2º).
O Estado, com base na Lei Complementar n. 04/1969, só poderia isentar do ICM, as operações isentas dos tributos federais e a impetrante só gozaria de redução de alíquota e não de isenção, na exportação de seus produtos. O venerando acórdão recorrido deu interpretação literalmente correta ao art. 1º da Lei Complementar n. 04/1969, como bem acentuou o Estado do Rio Grande do Sul, em sua apelação (fl . 303). Realmente, não se pode admitir a idéia de que a redução de alíquota equivale à isenção parcial com força para reduzir o ICM à
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15% (quinze por cento). Somente em caso de isenção é que existe o refl exo nas operações relativas ao ICM, do contrário seria passar por cima da Constituição e do princípio federativo. É bom lembrar que referida Lei Complementar n. 04/1969 foi editada com base no art. 19, § 2º, da Constituição Federal anterior. Somente poderia a União conceder isenção do ICM ou de qualquer outro imposto estadual, quando houvesse “relevante interesse social ou econômico nacional ...” e é claro que nada disso ocorreu, na importação de máquinas, procedida pela recorrida, com redução de alíquota ou de base de cálculo. O legislador somente entendeu existir o relevante interesse social ou econômico nacional, capaz de legitimar e justifi car a isenção das operações relativas ao ICM, quando isenta de impostos federais, a entrada de mercadorias importadas e não quando existe apenas redução de alíquota.
É evidente que um simples órgão administrativo não pode isentar ninguém de imposto estadual. Só a lei complementar poderia fazê-lo. Assim entendeu o eminente Ministro Xavier de Albuquerque, como Relator, em seu voto, no RE n. 81.074-SP, ao acentuar que:
— Finalmente, parece-me decisiva uma ponderação que se me afigura grave: só pode a União isentar de qualquer imposto estadual, por lei complementar. Estar-se-ia por essa via a permitir que um órgão administrativo, que excepcionalmente detém o poder de aplicar o princípio da flexibilidade da tarifa, isentasse indiretamente de imposto estadual quando, a rigor, só a lei complementar federal pode fazê-lo.
Proclama a ementa deste v. acórdão, in verbis:
— ICM. Não importando isenção do imposto de importação a atribuição, a determinada mercadoria, na tarifa aduaneira, da alíquota zero, dela não resulta isenção do tributo estadual. Reexame da questão pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Recurso conhecido, mas não provido.
Nossa Corte Maior, no RE n. 76.810-SP, Relator eminente Ministro Leitão de Abreu, DJ de 26.09.1975, entendeu que:
— ICM. A alíquota zero não configura isenção, porquanto pode ser elevada mediante decisão do Conselho de Política Aduaneira.
No mesmo sentido são ainda os seguintes precedentes: ERE n. 79.952-SP, Relator eminente Ministro Soares Muñoz, DJ de 19.05.1978; RE n. 88.676-SP, Relator eminente Ministro Xavier de Albuquerque, DJ de 17.03.1978; RE n. 86.322-SP, Relator eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 25.03.1977; RE n. 81.132-SP, Relator eminente Ministro Eloy da Rocha, DJ de 25.04.1977; RE n. 85.952-SP,
SÚMULAS - PRECEDENTES
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Relator eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 18.02.1977 e ainda os seguintes Recursos Extraordinários n. 76.810-SP, Relator eminente Ministro Cordeiro Guerra, DJ de 19.02.1977 e ainda os seguintes Recursos Extraordinários n. 76.810-SP, 81.074-SP, 79.471-SP, 81.117-SP, 81.172-SP e 82.568-SP.
Verifi ca-se pelo RE n. 81.132-SP, ter nossa Corte Maior entendido que:
Não importa isenção do imposto de importação a atribuição da alíquota “zero”, conseqüentemente, dela não resulta isenção do ICM ...
No RE n. 85.952, fi rmou o entendimento de que:
A tarifa zero ou livre confi gura uma não incidência provisória do tributo. A importação de mercadorias sob o regime de tal alíquota não implica, portanto, em isenção do imposto sobre circulação de mercadorias ...
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota zero não confi gura isenção e não impede a cobrança do ICM, a simples redução desta, com muito mais razão, não pode conduzir a estas conseqüências.
Conheço do recurso pela divergência e nego-lhe provimento.
Assumindo posição sobre a controvérsia, penso, com a devida vênia aos que têm entendimento diverso, que a fundamentação adotada pelo acórdão embargado melhor se ajusta aos princípios jurídicos endossados pela legislação em vigor e por antiga jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. A propósito, expressa disposição do Código Tributário Nacional estabelece que se há de interpretar literalmente a legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção. De outra parte, o entendimento pretoriano é no sentido de que não há confundir isenção com redução de alíquota de imposto.
Em conclusão, pois, conheço dos embargos, mas os rejeito.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: A demanda foi assim relatada pelo eminente Ministro Pádua Ribeiro (lê). Observo que Sua Excelência conheceu do recurso e lhe deu provimento. Pedi vista dos autos para melhor exame da questão, muito embora já tivesse me pronunciado no Recurso Especial n. 3.884 consubstanciado nesta ementa:
Tributário. Importação. Isenção parcial.
Não se deve confundir isenção com redução. O Decreto-Lei n. 2.433, de 19 de maio de 1988 distinguiu isenção de outros incentivos fi scais. Também a Lei
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Complementar n. 24, de 07 de fevereiro de 1975 distinguiu isenção de redução. Todavia, a redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM, como leciona a Súmula n. 576 do colendo Supremo Tribunal Federal.
Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota que não configura isenção e não impede a cobrança do ICM a simples redução não conduz a estas conseqüências.
A meu ver a redução da alíquota não importa em isenção do Imposto de Circulação de Mercadorias e admitir-se a sua redução na forma em que foi pleiteada é impedir o Estado de Santa Catarina de exigir o que lhe tocou na partilha tributária.
Pelo exposto, acompanho o eminente Relator conhecendo do recurso e dando-lhe provimento.
É o meu voto.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: O eminente Relator, acompanhado pelo voto-vista do ilustre Ministro José de Jesus, dava provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda.
Discute-se sobre se a redução da alíquota do Imposto de Importação constitui isenção parcial extensível ao ICM, tributo estadual, na mesma proporção.
Responde à indagação o voto proferido pelo Relator, resumindo:
A redução da alíquota do Imposto de Importação não equivale a isenção parcial. Não deve, em conseqüência, ser reduzido, na mesma proporção, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias, em face do disposto no art. 1º, VI, da Lei Complementar n. 04/1969.
Em face de referência feita ao julgamento do Recurso Especial n. 4.272-RS, de que fui Relator, solicitei vista para melhor exame da matéria focalizada. Naquela oportunidade, há cerca de dois anos, fi liei-me aos precedentes da Turma, segundo os quais, “tecnicamente, há distinção entre a alíquota zero, isenção, imunidade e redução de alíquota. Todavia, economicamente, e somente neste aspecto, pode existir identifi cação. A isenção, a redução de alíquota, a
alíquota zero, implicam diminuição do quantum a ser pago”, embora sejam os
institutos antologicamente distintos (Ministro Vicente Cernicchiaro, REsp
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 59
n. 4.527-SC, em 05.09.1990). Daí concluir-se que a redução equivalia à
isenção parcial, isentando a parte correspondente do imposto sobre operações à
circulação de mercadorias.
Ainda que essa fosse a posição desta Segunda Turma, advertíamos: o tema, bem se sabe e se conclui pelo debate travado, não é pacífi co.
Hoje, diante das inúmeras decisões da egrégia Primeira Turma (REsp n. 3.884-RS, em 18.02.1991; REsp n. 4.973-SC, em 18.02.1991; REsp n. 11.908-SC, em 02.09.1991; REsp n. 19.850-SC, em 06.05.1992; REsp n. 20.848-SP, em 18.05.1992, todos relatados pelo eminente Ministro Garcia Vieira), frente aos votos proferidos na Seção de Direito Público, nos Embargos de Divergência em Recurso Especial n. 3.884-RS, todos harmônicos com a orientação doutrinária, revi a posição anteriormente adotada. Mesmo porque a tese não vem sendo sufragada pelo Supremo Tribunal Federal (Ministro Marco Aurélio, DJU de 1º.03.1992).
Adiro, pois, aos votos já conhecidos, dando provimento ao recurso
interposto.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Tratando-se de controvérsia em derredor dos conceitos de redução de alíquota e isenção, pedi vista dos autos para melhor exame da questão, sobre a qual se debateu a doutrina. A matéria está, porém, pacifi cada na jurisprudência do STF e desta Corte, no Pretório excelso, desde a elaboração da Súmula n. 576, que proclama: “É lícita a cobrança do imposto de circulação de mercadorias sobre produtos importados sob o regime de alíquotas “zero”. Como afi rma Roberto Rosas, “alíquota ‘zero’ não é isenção. É assim chamada para distingui-la da isenção”, embora positive que o eminente Ministro Aliomar Baleeiro a defi nisse como “forma nova para reconhecimento da isenção de imposto” (In “Direito Sumular”, 6ª ed. RT, p. 282).
A egrégia Primeira Turma deste STJ já assentou no REsp n. 3.884-RJ, de que foi Relator o Ministro Garcia Vieira, e cuja ementa reproduzo:
Tributário. Importação. Isenção parcial.
Não se deve confundir isenção com redução. O Decreto-Lei n. 2.433, de 19 de maio de 1988 distingue isenção de outros incentivos fi scais. Também a Lei Complementar n. 24, de 07.02.1975 distinguiu isenção de redução. Todavia, a redução do imposto federal não produz o mesmo efeito no ICM, como leciona a Súmula n. 576 do colendo Supremo Tribunal Federal.
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Ora, se a importação de mercadorias sob a alíquota que não configura isenção e não impede a cobrança do ICM a simples redução não conduz a estas conseqüências.
Na egrégia Segunda Turma, julgando o REsp n. 7.218-SC, divergi do eminente Relator, Ministro Ilmar Galvão e emiti voto vencido defendendo a tese agora consagrada na Seção:
Data máxima venia do eminente Relator Ministro Ilmar Galvão, não tenho como sinônimo os vocábulos “isenção” e “redução”. São institutos jurídicos diferentes e não posso dar-lhes iguais efeitos, como muito bem assinalou o eminente Ministro Marco Aurélio, no AgRg n. 135.512-3-RS, publicado no DJ de 1º .03.1991, p. 1.809, cuja ementa transcrevo:
Imposto sobre Circulação de Mercadorias. Redução. Arts. 1º, § 2º e 23, § 6º, da Constituição Federal anterior.
Não vulnera os citados dispositivos legais decisão que afasta a vantagem pertinente ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias quando a lei complementar cogita de isenção, considerado idêntico tratamento conferido a imposto da competência da União — sobre Importação de Produtos Estrangeiros. Na hipótese, impossível é entender como sinônimos os vocábulos ‘isenção’ e ‘redução’, valendo notar que não se pode atribuir ao legislador a inserção, em texto de lei, de instituto sem o sentido que lhe é próprio e que, portanto, o individualiza. Prevista a extensão apenas do tratamento pelo qual o importador fi cou isento do imposto, descabe considerar mera redução de alíquota. (Segunda Turma, 05.02.1991).
A Súmula n. 576 do Pretório excelso continua, pois, em plena vigência, e, data venia, os argumentos alinhados pelo eminente Relator não me convenceram a dela divergir, razão por que dou provimento ao recurso do Estado de Santa Catarina, para denegar a segurança.
Assim entendendo, acompanho o eminente Relator conhecendo do recurso
e lhe dando provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 24.163-SP (1992/0016521-4)
Relator: Ministro Cesar Rocha
Recorrente: Mahle Indústria e Comércio Ltda
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 11-62, maio 2010 61
Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogados: Arthur Pinto de Lemos Netto e outros, Elizabeth Jane Alves
de Lima e outros
EMENTA
Tributário. Redução da alíquota de Impostos Federais. Programa
BEFIEX. Conseqüência no ICM. Precedentes.
— Redução de alíquota não se confunde com isenção parcial.
Assim, a redução da alíquota do IPI ou do II, em decorrência de
programas de incentivos fi scais, na importação de mercadorias, não
implica, em face do disposto no art. 1º, VI, da Lei Complementar n.
04/1969, na redução, em semelhantes proporções, do imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias.
— Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo,
Gomes de Barros e Milton Pereira.
Brasília (DF), 18 de agosto de 1993 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente
Ministro Cesar Rocha, Relator
DJ 20.09.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Rocha: Mahle Indústria e Comércio Ltda ajuizou
mandado de segurança preventivo contra ato do Sr. Delegado Regional
Tributário do Litoral consubstanciado na cobrança do ICM na importação de
equipamentos. Importação esta que, amparada pelo BEFIEX, contaria com a
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
62
redução de 90% do Imposto sobre a Importação e do Imposto sobre Produtos
Industrializados e, de conseguinte, o ICM, por força do disposto no art. 1º da
Lei Complementar n. 04/1969, também deveria gozar de igual “isenção”.
Mal sucedida em ambas as instâncias ordinárias, a impetrante ingressou
com recurso especial fundamentado nas alíneas a, b e c do permissivo
constitucional.
Sustenta a recorrente contrariedade ao art. 1º, inciso VI, da Lei
Complementar n. 04/1969, que teria sido recebido pela atual Constituição a
teor do disposto no art. 41 do ADCT. Afi rma, ainda, ter o v. acórdão recorrido
julgado válida a Lei estadual n. 6.374/1989 contestada em face da referida Lei
Federal, bem como divergido de julgado do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina.
Em oportunas contra-razões, a recorrida postula a manutenção do
decisório guerreado.
Admitido o recurso, vieram os autos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Rocha (Relator): A matéria já está absolutamente
pacifi cada no âmbito desta Corte, pois as egrégias Primeira e Segunda Turmas
da colenda Primeira Seção, e esta mesma, no julgamento dos Embargos de
Divergência n. 3.884-RS, Relator o eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro,
decidiu que “não há confundir isenção com redução de imposto. Por isso, a
redução da alíquota do imposto federal não produz, por si só, o mesmo efeito
com relação ao ICM.”
No mesmo sentido os seguintes julgados: REsps n. 20.848-1-SP (DJ de
15.06.1992) e 26.614-6 (DJ de 16.11.1992), ambos relatados pelo eminente
Ministro Garcia Vieira; REsps n. 7.490-SC (DJ de 03.05.1993) e 16.538-0 (DJ
de 07.06.1993), Relator eminente Ministro Gomes de Barros; REsp n. 19.851-
0-SC (DJ de 07.12.1992), Relator eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
e REsp n. 9.076-0-SP (DJ de 24.05.1993), Relator eminente Ministro Peçanha
Martins.
Assim, nego provimento ao recurso.
Súmula n. 96
SÚMULA N. 96
O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da
vantagem indevida.
Referência:
CP, art. 158, caput.
Precedentes:
REsp 3.591-RJ (6ª T, 06.11.1990 — DJ 26.11.1990)
REsp 30.485-RJ (5ª T, 1º.03.1993 — DJ 22.03.1993)
REsp 32.057-SP (5ª T, 03.05.1993 — DJ 24.05.1993)
REsp 32.809-SP (5ªT, 12.05.1993 — DJ 07.06.1993)
RHC 3.201-ES (5ª T, 17.11.1993 — DJ 29.11.1993)
Terceira Seção, em 03.03.1994
DJ 10.03.1994, p. 4.021
RECURSO ESPECIAL N. 3.591-RJ (90.0005534-2)
Relator: Ministro Costa Leite
Recorrente: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
Recorrido: Jorcilei Ferreira
Advogado: José Guilherme Brinckmann
EMENTA
Penal. Extorsão. Consumação.
A teor do disposto no art. 158 do Código Penal, não se exige,
para a inteira realização do tipo, a obtenção da vantagem econômica
indevida, que, na verdade, confi gura o exaurimento da ação delituosa,
bastando a intenção. Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
recurso por ambas as alíneas do dispositivo constitucional e dar provimento
para cassar o v. acórdão recorrido e, em conseqüência, restabelecer a sentença de
primeiro grau, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos,
que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 06 de novembro de 1990 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente
Ministro Costa Leite, Relator
DJ 26.11.1990
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Costa Leite: O parecer do Ministério Público Federal
assim resumiu a questão:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
68
À espécie, cuida-se de recurso especial interposto pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, e que tem como fundamento as alíneas a e c, inciso III do art. 105, insertos na Carta Federal vigorante.
O tema, sintetizado é claro, gira em torno da irresignação e discordância do Ministério Público carioca, sobre a conclusão alcançada pela Corte de Justiça daquele Estado — acórdão e voto de fl s. 105-109 —, entendedora da circunstância de que, no delito de extorsão, embora formal, “... é admissível a tentativa porque o processo de execução comporta desdobradamento, exigindo-se, no entanto, a idoneidade dos meios empregados.”
Dessa inteligência, restou o parcial provimento do tempestivo apelo interposto pela ora recorrida Jorcilei Ferreira — vide fl s. 88-89 —, já que a resposta penal, de grau colegiado, reduziu-lhe da metade a sanção outrora imposta no juízo singular, restando portanto, à condenada, cumprir 02 (dois) anos de reclusão, com sursis de 03 (três) anos, nos precisos termos dos arts. 77 e 78, II, alíneas b e c, todos da Lei Penal Substantiva.
Daí porque, forte na tese de que o delito de extorsão simples independe do provento injusto e da obtenção patrimonial pretendida, sendo certo que esta somente constitui o exaurimento delitual, recorre o Ministério Público sob a assertiva de que, ao entender em sentido contrário, a Corte de Justiça Estadual negou vigência ao disposto no art. 158 do Código Penal.
À dissenção jurisprudencial, fundamento secundário da peça recursal, o recorrente sustenta que o v. acórdão, em abraçando tal posicionamento, encontra-se em absoluta rota de colisão com o entendimento da Corte Suprema, trazendo à colação ementa da lavra do eminente Ministro Cordeiro Guerra, à época relatou no RE n. 103.680-6, litteris:
O crime de extorsão é, efetivamente, formal ou de consumação antecipada, integrando-se com a ação, tolerância ou omissão imposta coativamente à vítima.
Não se exige, pois, que o agente tenha conseguido o provento que pretendia. Basta a intenção de obter a indevida vantagem econômica. (Vide fl s. 116 e 117).
Opinando, o parecer, da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República,
João Batista Clayton Rossi, é pelo conhecimento e provimento do recurso.
É o relatório, Senhor Presidente.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): Na esteira do pensamento da
maioria dos nossos tratadistas e da orientação jurisprudencial predominante, o
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 69
v. acórdão recorrido entendeu que o delito de extorsão é formal, admitindo, em
passo seguinte, à modalidade tentada, que, em tese, é perfeitamente possível:
“Apesar de se tratar de crime formal, a extorsão admite tentativa, pois não se
perfaz unico actu, apresentando-se um iter a ser percorrido”, na precisa lição de
Hungria (“Comentários ao Código Penal”, Forense, 2ª ed., vol. VII, p. 77).
O fundamento, porém, em que se estabeleceu o reconhecimento da
tentativa, no caso concreto, ou seja, não ter sido auferida, em face da ação
policial, a vantagem econômica indevida, revela-se inconsistente.
Com efeito, a teor do disposto no art. 158 do Código Penal, inspirado na
antiga redação do art. 253 do Código Penal alemão, não se exige, para a inteira
realização do tipo, o efetivo proveito patrimonial, bastando a intenção de obtê-
lo, mediante o constrangimento da vítima.
A propósito, não se faz necessário avançar mais do que o magistério de
Heleno Fragoso (“Lições de Direito Penal — Parte Especial”, 10ª ed. Vol. I, p.
362), verbis:
Não nos parece que a redação de nossa lei possa dar lugar a dúvidas, que somente surgem quando são invocados autores estrangeiros, cuja elaboração doutrinária é feita com referência a disposições diversas, que não se aplicam ao Direito pátrio. A ação incriminadora pelo vigente CP brasileiro é a de constranger alguém a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, com o intuito de obter vantagem econômica. É evidente que o crime se consuma com o efeito da ação que a lei incrimina, o qual será, em regra, uma disposição patrimonial (versando sobre bens móveis ou imóveis).
Não se exige, para a consumação, que o agente tenha conseguido o proveito que pretendia. O crime se consuma com o resultado do constrangimento, isto é, com a ação ou omissão que a vítima é constrangida a fazer, omitir ou tolerar que se faça, e por isso pode-se dizer que, em relação ao patrimônio, este é crime de perigo. (Grifos no original).
Trata-se de entendimento confortado pela fi rme jurisprudência do colendo
Supremo Tribunal, como fi ltra, além do precedente trazido a confronto pelo
recorrente, do acórdão proferido no HC n. 63.126-SP (RTJ 122/31).
Na verdade, a obtenção da vantagem econômica indevida confi gura apenas
o exaurimento da ação delituosa.
Destarte, estando, de um lado, cabalmente demonstrado o dissídio
jurisprudencial e, de outro, patenteada a contrariedade ao art. 158 do Código
Penal, não sendo o caso de invocar-se a Súmula n. 400 do STF, tal como fez
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
70
o r. despacho de fl . 120, conheço do recurso, por ambas as alíneas, e lhe dou
provimento, para cassar o v. acórdão recorrido e restabelecer a autoridade da
sentença de primeiro grau. É como voto, Senhor Presidente.
RECURSO ESPECIAL N. 30.485-RJ (92.0032395-2)
Relator: Ministro José Dantas
Recorrente: Demerval Botelho (réu preso)
Advogados: Ruy Carlos Kastalski e outro
Recorrido: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
EMENTA
Criminal. Extorsão. Tentativa. Reincidência. Prova. Fixação da
pena. Embargos de declaração. Prazo do recurso especial.
— Embargos de declaração. Embora parcial a interposição, os
declaratórios suspendem o prazo do recurso especial, para ambas as
partes; pelo que, não vem ao caso a analógica restrição das Súmulas n.
354 e 355-STF
— Extorsão. Sua consumação, independentemente da obtenção
da vantagem econômica visada.
— Reincidência. Prova suficientemente instrumentada pela
certifi cação do cumprimento da longa pena da condenação anterior
e sua progressão, embora formalmente omissa quanto ao trânsito em
julgado da decisão.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-lhe
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 71
provimento. Votaram de acordo os Srs. Ministros Costa Lima, Assis Toledo, Edson
Vidigal e Flaquer Scartezzini.
Brasília (DF), 1º de março de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro José Dantas, Relator
DJ 22.03.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Condenado a seis anos de reclusão por
infração do art. 158, caput, do Código Penal — da forma como, sob ameaça de
seqüestro de um fi lho da vítima, exigiu determinada importância para devolver
um seu carro que fora roubado no dia anterior —, ainda agora, contra acórdão
do egrégio TACRJ, na via especial instaurada com base na letra c do permissivo,
o recorrente insiste: primeiro, na tese de extorsão meramente tentada, desde
que não obtivera a vantagem pleiteada, preso que fora no momento da entrega
combinada (acórdãos colacionados, Ap n. 18.204 do TAMG, 1º.02.1990, e Ap
n. 421.871 do TACSP, 14.04.1986, fundados na doutrina de Nelson Hungria e
Magalhães Noronha sobre que o crime formal admite tentativa); segundo, na
falta de prova efi caz da reincidência, por carência de certidão precisa quanto
ao trânsito em julgado da condenação anterior (STF, HC n. 54.569, DJ de
04.03.1977, e acórdãos de diversos outros tribunais); e terceiro, a intolerabilidade
do bis in idem, quanto à pena-base fi xada acima do mínimo por consideração
dos maus antecedentes e em seguida majorada por força do mesmo motivo da
reincidência constitutiva dos antecedentes (Ap. Cr. n. 40.720/1990, TACRJ) —
fl s. 185-88.
Contra-razões à fl . 194.
O recurso foi admitido, salvo na última parte, dado ser do próprio Tribunal
a quo o acórdão cotejado a título da divergência argüida no tema de bis in idem
— fl . 206.
Nesta instância, oficiou a Subprocuradora-Geral Áurea Lustosa,
contrariamente ao recurso, inclusive com a preliminar de intempestividade,
porquanto, a seu ver, os embargos de declaração parcialmente manifestados não
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
72
suspenderiam o prazo recursal relativamente à parte do acórdão não embargada
— fl s. 210-213.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, em merecido apreço
ao parecer do Ministério Público Federal, examine-se a preliminar de que
os embargos de declaração interpostos de apenas uma parte do acórdão não
suspenderiam o prazo do recurso, relativamente a seus pontos não embargados.
À primeira vista, sabido que, de fato, essa objeção ocorre aos embargos
infringentes — Súmulas n. 354 e 355-STF —, pareceria também ocorrer aos
declaratórios.
Todavia, teleologicamente diversas aquelas espécies de embargos
— a primeira, deveras prestante à reforma do julgado no ponto decidido
majoritariamente, e o segundo, apenas ao esclarecimento de omissões ou
obscuridades —, convenha-se que, da restrição preclusiva que a jurisprudência
sumulada do Supremo Tribunal Federal faz ao recurso extraordinário e
analogicamente nós a fazemos ao recurso especial, escapam os embargos de
declaração; isso porque, em primeira linha, a respeito dos declaratórios há
expressa regra legal que lhes dá efeito suspensivo dos prazos recursais, para
qualquer das partes — CPC, art. 465, parágrafo único.
Logo, é forçoso compreender-se que, suspendendo o prazo em favor até
mesmo da parte que nenhum embargo ofereceu, com maior razão o suspende
nos pontos não atacados pelos embargos parciais.
Afasto, pois, a preliminar de extemporaneidade do recurso.
Examinando-o, inicio por confi rmar a restrição do despacho de admissão,
no tocante à suscitação do vício de bis in idem operado pela reincidência, visto
que abordada sob invocação de acórdão divergente, mas proveniente do próprio
Tribunal.
Já no que diz respeito à questionada tentativa a que teria se limitado a
extorsão, deveras, procede a colação jurisprudencial contrária ao v. acórdão
recorrido. Todavia, pesa verifi car que essa tese admissiva da tentativa nos crimes
formais, conquanto goze de razoável prestígio entre os doutrinadores, de há
muito que é relegada pelos Tribunais, inclusive o Supremo Tribunal Federal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 73
De fato, consultados os anais daquela excelsa Corte, deparam-se dois
excelentes pronunciamentos sobre a espécie, em casos mesmo de extorsão
simples, muito bem enunciados pelas seguintes ementas:
Extorsão. Crime formal ou de consumação antecipada:
Não é tentativa, mas crime consumado, se o agente obtém o cheque mediante constrangimento embora não consiga recebê-lo. — RECr 103.680-SP, Relator Ministro Cordeiro Guerra, Segunda Turma 03.09.1985, in RTJ 115/355.
Extorsão. Momento consumativo.
— Com a ameaça que faz o acusado de realizar o seqüestro, caso não obtivesse determinada quantia, consumou-se o crime de extorsão, não tendo como havido apenas tentado pelo fato de o réu não ter chegado a apropriar-se do dinheiro. O crime se consuma com o ato de constranger desde que haja grave ameaça, e desde que a vantagem que o agente procura obter seja indevida, não sendo necessário que tenha ele permanecido com o produto da extorsão. (STF — ac. unânime da Segunda Turma — jul. 09.12.1988 — REC n. 116.849-8-SP — Relator Ministro Aldir Passarinho) COAD-Jus. 89 — n. 43.403).
Ainda sobre o ponto, acentue-se que, no mesmo sentido, a espécie já tem
precedente neste egrégio Tribunal, conforme acórdão assim ementado:
Penal. Extorsão. Consumação.
A teor do disposto no art. 158 do Código Penal, não se exige, para a inteira realização do tipo, a obtenção da vantagem econômica indevida, que, na verdade, configura o exaurimento da ação delituosa, bastando a intenção. Recurso conhecido e provido. — REsp n. 3.591-RJ, Sexta Turma, Relator Ministro Costa Leite, in RSTJ 15/440.
Finalmente, no quanto diga respeito à exigência de certidão específi ca
sobre a reincidência, o dissídio interpretativo alegado pelo recorrente não se
mostra pertinente. É que o v. acórdão atacado não dissentiu da tese, senão que
dispensou-se a maior exigência formal daquela prova. Contentou-se, de fato,
com a certidão de fl . 24, a qual, embora omissa quanto à data do trânsito em
julgado da condenação anterior, inteirou-se, porém, dos documentos de fl s. 23
e 25, assinados pelo Juiz da Vara das Execuções, isto é, cópias reprográfi cas da
sentença de progressão do regime fechado para o semi-aberto e da respectiva
guia de recolhimento do preso ao novo regime.
Há dizer-se, pois, da inviabilidade do recurso também neste ponto.
Primeiro, porque não há semelhança das hipóteses confrontadas — RISTJ,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
74
art. 255, § 2º; e segundo, porque, em última hipótese, a duvidar-se da efi cácia
daquela considerada prova da reincidência, estar-se-á a reexaminá-la — Súmula
n. 7-STJ.
Pelo exposto, conheço parcialmente do recurso, mas para lhe negar
provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 32.057-SP
Relator: Ministro Costa Lima
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Jorge Juiz Lázaro
Advogados: Domingos Muoio Neto e outro
EMENTA
Penal. Extorsão. Momento consumativo.
Dessume do tipo penal inscrito no art. 158 do Estatuto Punitivo
que a extorsão se perfaz com o fato de o agente constranger alguém
mediante violência ou grave ameaça, “com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica”, pouco importando não
tenha conseguido o proveito que buscava, pois foi preso logo depois
que se apossou do dinheiro. A coação surtiu os efeitos desejados pelo
agente com a entrega do dinheiro em local e hora indicados pelo
extorsionário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-
lhe provimento, para cassar o acórdão recorrido e restabelecer a sentença de
primeiro grau. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Dantas e Assis
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 75
Toledo. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Edson Vidigal e Flaquer
Scartezzini.
Brasília (DF), 03 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Costa Lima, Presidente e Relator
DJ 24.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Costa Lima: Recurso especial fi ncado nas alíneas a e c,
item III, art. 105, da CF/1988, interposto pelo Dr. Procurador-Geral de Justiça
de São Paulo, inconformado com o v. aresto de fl s. 173-178 o qual, provendo, em
parte, o recurso de apelação de Jorge Juiz Lázaro, reduziu-lhe a pena referente ao
crime de extorsão, entendendo que não consumado o delito, embora de natureza
formal, à vista de que preso em fl agrante no momento em que se apossava da
caixa contendo o dinheiro.
O recorrente sustenta violação ao art. 158 do Código Penal e divergência
jurisprudencial. Afirma que para a consumação do delito de extorsão é
desnecessária a efetiva consecução do proveito econômico, bastando que o
agente tenha obrado com tal intuito. Traz julgados do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, do Supremo Tribunal Federal e também desta Corte (fl s. 181-
194).
Admitido o especial (fls. 198-199), o Dr. Pedro Yannoulis, ilustrado
Subprocurador-Geral da República, opina pelo provimento do recurso,
considerando ser o delito de extorsão de natureza formal, não dependendo, sua
consumação, da produção de um resultado estranho ou externo à própria ação
(fl s. 205-209).
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Lima (Relator): Conheço do recurso especial pelas
alíneas a e c do permissivo constitucional.
Respeitáveis julgados do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São
Paulo inclinam-se pelo reconhecimento da tentativa em caso de extorsão, se
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
76
o agente não desfrutou do pretendido proveito econômico, à semelhança do
julgado recorrido.
Dispõe o art. 158 do Código Penal:
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena — reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2ºAplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
Penso que constando do tipo que a infração penal consuma-se com o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, para que faça, tolere que se faça, ou deixe de fazer alguma coisa, com o “intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica” basta que o agente constranja a vítima com esse objetivo, sem que, de fato, obtenha a vantagem.
Reporto-me às lições de Nelson Hungria (“Comentários ao Código Penal”, ed. 1955, vol. VII, pp. 71-73); Heleno Fragoso (“Lições de Direito Penal”, Parte Especial, ed. 1977, vol. I, p. 432); Damásio E. de Jesus (“Direito Penal”, 1985, vol. 2, pp. 381-382 da Parte Especial); Júlio Fabrini Mirabete (“Manual de Direito Penal”, Parte Especial, vol. 2, p. 240, ed. 1983 e Paulo José da Costa Júnior (“Comentários ao Código Penal, Parte Especial”, ed. 1988, vol. 2, p. 218), o qual sintetiza assim o tema:
O delito se consuma com o constrangimento, independentemente de vir o sujeito ativo a obter, ou não, a vantagem patrimonial tencionada. O crime é formal, dispensando-se para a consumação a obtenção do proveito econômico injusto (fl s. 187-188).
A divergência jurisprudencial está comprovada, inclusive, com julgados deste Tribunal.
O eminente Ministro José Dantas, no REsp n. 30.485-8-RJ, julgado em 1º.03.1993, anotou:
Já no que diz respeito à questionada tentativa a que teria se limitado a extorsão, deveras, procede a colação jurisprudencial contrária ao v. acórdão recorrido. Todavia, pesa verifi car que essa tese admissiva da tentativa nos crimes formais, conquanto goze de razoável prestígio entre os doutrinadores, de há
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 77
muito que é relegada pelos Tribunais, inclusive o Supremo Tribunal Federal. De fato, consultados os anais daquela excelsa Corte, deparam-se dois excelentes pronunciamentos sobre o espécie, em casos mesmo de extorsão simples...
O eminente Ministro Costa Leite (REsp n. 11.126-RJ, julgado a
13.08.1991) afi rmou:
O crime de extorsão, sem dúvida, consuma-se com o constrangimento da vítima, e, tal como se dessume do v. aresto recorrido, o réu exerceu constrangimento sobre a vítima durante longo tempo, obrigando-a a obedecer ao seu comando, só não se verifi cando a entrega da importância exigida em razão da intervenção policial.
Do colendo Supremo Tribunal Federal, além dos precedentes referidos nos
autos, lembro mais o seguinte:
Habeas corpus. Extorsão mediante seqüestro. Código Penal, art. 159. Consumação no Brasil. Crime formal. Competência da Justiça Estadual. (HC n. 63.126-SP, Relator Ministro Néri da Silveira, RTJ vol. 122, p. 31).
Desse modo, patenteada a contrariedade ao art. 158 do Código Penal e demonstrada a divergência jurisprudencial, conheço do recurso e lhe dou provimento para cassar o acórdão recorrido e restabelecer a sentença.
RECURSO ESPECIAL N. 32.809-SP
Relator: Ministro Assis Toledo
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Oscar Vitturi (réu preso)
Advogado: Washington Del Vage
EMENTA
Penal. Crime de extorsão. Consumação.
Crime formal que independe da obtenção de vantagem indevida
para sua consumação.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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Precedentes jurisprudenciais.
Recurso do Ministério Público conhecido e provido para cassar o
acórdão recorrido e restabelecer a sentença de primeiro grau.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-
lhe provimento para cassar o acórdão recorrido e restabelecer a r. sentença
monocrática. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Edson Vidigal, Flaquer
Scartezzini, José Dantas e Costa Lima.
Brasília (DF), 12 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 07.06.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Oscar Vituri foi condenado a seis anos, dois
meses e vinte dias de reclusão e multa por prática do crime previsto no art. 158,
§ 1º, c.c. 29, caput, do CP.
Inconformado, recorreu o réu, tendo a Nona Câmara do Tribunal de
Alçada Criminal do Estado de São Paulo dado parcial provimento ao recurso
para reconhecer a tentativa e reduzir a pena a quatro anos, um mês e vinte e dois
dias de reclusão e multa.
Nesse ponto, o acórdão encontra-se assim fundamentado:
Entretanto, impõe-se na espécie o reconhecimento do conatus.
É que, como ficou apurado, o apelante e Ivan não chegaram a apanhar o dinheiro visado, e tentaram a fuga ao perceberem o fracasso do plano engendrado.
De fato, inobstante r. opiniões em contrário, já se decidiu, inclusive nesta mesma Câmara, que “a extorsão — delito formal — só se consuma quando o agente tem a posse do dinheiro, pois, do contrário, haverá tentativa, de vez
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 79
que, inexistindo a ‘vantagem indevida’, não haverá o tipo legal do art. 158 do CP.” (JTACrim/SP, 93/135). Ainda, confi gura-se a tentativa se “a ação delituosa foi tempestivamente atalhada em sua execução, de maneira a permanecer a conduta incriminada aquém da ‘meta optada’”. (Rev. cit., p. 112)
De igual maneira, ensina Hungria que “Há que se identifi car a tentativa punível ainda no caso, não muito infreqüente, em que a vítima vencendo o temor incutido, comunica a ameaça à polícia, e esta predispõe as coisas de modo a surpreender o extorsionário no ato de se apoderar da coisa fi ngidamente consignada ou quando se apresenta no lugar indicado para recebê-la” (“Comentários”, vol. VII/1977).
Do mesmo sentido o ensinamento de Magalhães Noronha (“Direito Penal”, vol. II/328), RT 614/311, e JutaCrim/SP 73/398, 75/375, 76/14, 80/531, 83/467, 86/343, 87/296 e 396).
Dessa forma, embora qualifi cado pela participação de três pessoas, o delito permaneceu na esfera da tentativa, porquanto os agentes não chegaram a auferir a pretendida e ilegal vantagem econômica. (fl s. 375-376)
Contra essa decisão, ingressa o Dr. Procurador-Geral de Justiça do Estado
com recurso especial, pelas alíneas a e c, sustentando negativa de vigência ao art.
158 do CP, bem como divergência jurisprudencial com julgados do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro e do Supremo Tribunal Federal.
Após transcrever trecho do acórdão recorrido, salienta o ilustre recorrente:
Com a devida vênia, assim decidindo, a douta Turma Julgadora contrariou o que preceitua o art. 158 do Código Penal, dissentindo, ademais, de vv. arestos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e do excelso Pretório, no sentido de que o delito de extorsão, de natureza formal, consuma-se pela ação, tolerância ou omissão, impostos coativamente à vítima, independentemente do proveito econômico auferido pelo agente, reconhecível pelo exaurimento do grave delito. (fl s. 381-382)
Admitido o recurso, subiram os autos e, nesta instância, a douta
Subprocuradoria Geral da República, em parecer da lavra do Dr. Pedro
Yannoulis, opina pelo provimento do recurso, a fi m de que seja restabelecida a
sentença monocrática.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Preliminarmente, conheço do
recurso, já que o dissídio está demonstrado com julgado do Tribunal de Justiça
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
80
do Estado do Rio de Janeiro, exibido na RT 547/373, do qual extraio o seguinte
tópico:
Extorsão. Irrelevância do fato de não haver o acusado conseguido a vantagem pretendida. Caráter formal da infração. Condenação mantida. Inteligência do art. 158 do CP.
Prisão em fl agrante. Extorsão. Acusado detido no momento em que recebia o dinheiro da vítima. Hipótese em que não há falar em flagrante preparado ou forjado pela polícia. Inaplicabilidade da Súmula n. 145 do STF. Condenação mantida. Inteligência dos arts. 302 do CPP e 158 do CP.
Consuma-se o delito de extorsão com o resultado do constrangimento ilegal, sendo irrelevante ante nossa legislação que o agente aufira efetivamente a indevida vantagem patrimonial. (fl . 388)
Passo ao exame do mérito.
Esta Turma já teve oportunidade de se manifestar a respeito da matéria
quando do julgamento do REsp n. 30.485-8-RJ, Relator Ministro José Dantas,
in DJ de 22.03.1993, estando o acórdão assim ementado:
— Extorsão. Sua consumação, independentemente da obtenção da vantagem econômica visada.
No mesmo sentido, acórdão da lavra do Ministro Costa Leite, in verbis:
Penal. Extorsão. Consumação.
A teor do disposto no art. 158 do Código Penal, não se exige, para a inteira realização do tipo, a obtenção da vantagem econômica indevida, que, na verdade, configura o exaurimento da ação delituosa, bastando a intenção. Recurso conhecido e provido. (REsp n. 3.591-RJ, DJ de 26.11.1990)
Com efeito, trata-se de crime formal que independe da obtenção de
vantagem indevida para sua consumação.
Ante o exposto, acolhendo o parecer, conheço do recurso e lhe dou
provimento para cassar o acórdão recorrido e restabelecer a sentença de primeiro
grau.
É o voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 81
RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 3.201-ES (93.0030091-1)
Relator: Ministro José Dantas
Recorrente: Luiz Guilherme Martins Vieira
Advogados: Luiz Guilherme Martins Vieira e outro
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo
Paciente: Ailton Guimarães Jorge
EMENTA
Penal. Extorsão. Denúncia. Justa causa.
— Habeas corpus. Acertada denegação, na origem, em face da justa causa da ação instaurada por denúncia descritiva de crime em
tese, considerada, ademais, a natureza formal do delito de extorsão.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Flaquer Scartezzini, Assis Toledo, Edson Vidigal e Jesus Costa Lima.
Brasília (DF), 17 de novembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente
Ministro José Dantas, Relator
DJ 29.11.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Denunciado por extorsão juntamente com
quatro outros, da forma como, mediante violência e grave ameaça, constrangeram
Jolismar dos Santos Valadares a lhes vender a sua “banca do jogo do bicho”, pela
importância de nove mil cruzados novos, o ora paciente pediu habeas corpus com
vistas ao trancamento da ação penal, por falta de justa causa.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
82
Argumentou-se, em síntese dos pareceres emitidos pelos Profs. Augusto
Th ompson e Sylvio Capanema, a falta de tipicidade do fato irrogado, desde
mesmo a absoluta ausência de objetividade jurídica, dado que a extorsão se arrola
dentre os crimes contra o patrimônio, e como tal não há dizer-se juridicamente
preservável uma banca destinada à exploração do jogo do bicho, por constituir
contravenção penal, atividade ilícita cujos resultados economicamente aferíveis,
no entanto, são insuscetíveis de produzir efeitos jurídicos.
Denegou-se a ordem, por acórdão da relatoria do Des. Feu Rosa, assim,
ementado:
Ementa: Habeas corpus. Denegação.
1. “Na extorsão, como no constrangimento ilegal, a violência ou grave ameaça constituem o elemento fundamental do tipo e devem ser consideradas em relação a um mal sensível na intenção de obter o proveito” (Maurach, ‘Deutsches Strafrecht, Besonderer Teil’, p. 230, Hermann Schoroedel Verlag K.G., Hannover).
2. “Qualquer que seja a vantagem patrimonial obtida ou procurada pelo agente, em detrimento da vítima, está preenchido um dos requisitos da extorsão” (Hungria, “Comentários”, vol. 7, p. 71).
3. Ordem que se denega. — fl . 86.
Daí o presente recurso, em reiteração das asserções da inicial, e com o
seguinte remate:
29. A prosperar a inconcebível ação penal objeto deste writ, daqui a pouco teremos a Justiça Criminal a lidar com extorsões concernentes à compra e venda de pontos de entorpecentes (bocas de fumo), apropriações indébitas na repartição de botins entre ladrões ou do valor de resgate entre seqüestradores — e sabe-se lá o que mais.
30. Óbvio que, no presente caso, cabia processar réus e vítimas por contravenção, tout court. Isso, contudo, ao que parece, transformou-se em tabu, talvez em função dos motivos apontados pelo ínclito Desembargador Geraldo Correia Lima, no voto em separado proferido no julgamento desta causa:
Afi nal, na contravenção do jogo estão envolvidos, o Governo Federal, através da Caixa Econômica,” com loterias federal e esportiva, loto, sena etc... Os Governos Estaduais por seu turno exploram loterias de todos os tipos imagináveis, até mesmo aqui neste Estado (raspadinha, jogo da velha, bicho etc...), e também os órgãos concessionários de divulgação televisada a nível nacional, como a Globo (Papa-tudo) e o SBT (Sena, Baú etc...).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 83
A pouca vergonha é tão grande, que este País se transformou numa jogatina só, de norte a sul e de leste a oeste. Os órgãos de divulgação citados se dão ao cinismo e luxo de exibir bicheiros presos e algemados na telinha — seus concorrentes —, como troféus da mídia, esquecendo-se que estão nivelados na contravenção, em fl agrante e total desrespeito à lei. É o cúmulo da hipocrisia. Seria cômico se não fosse trágico, diria Nelson Rodrigues”. (fl . 113)
Nesta instância, ofi ciou o Subprocurador-Geral Pedro Yannoulis, com
estas asseverações:
8. Concessa maxima venia, entende este órgão ministerial que nenhuma razão assiste ao recorrente, em favor do ora paciente.
9. E isto porque a exordial (fls. 12-19) demonstra ter havido o fato típico e tanto a autoria quanto a materialidade estão bem comprovadas. Assim, os fatos descritos na denúncia caracterizam, em tese, o delito tipifi cado, tornando inconcebível pretender-se excluir da apreciação do Poder Judiciário, com o prematuro trancamento da ação penal, a responsabilidade pelas condutas descritas. Há, assim, no meu entender, justa causa para a ação penal.
10. Ademais, a alegação de que o ora paciente visava à compra, por preço vil, de ponto de bicho pertencente ao suposto lesado e, portanto, tal não constituiria patrimônio, com o fi m de viabilizar a composição do ilícito penal, não procede a meu ver.
11. Com efeito. Tal fundamento só teria validade se discutido na órbita do Direito Civil, já que faltaria o requisito do objeto lícito, para a validade do ato jurídico, qual seja, o contrato de compra e venda do aludido ponto de bicho, o que fatalmente acarretaria sua nulidade, ex vi do art. 145, II, da Lei Civil. Mas, não pode o argumento, sob esse prisma, ser discutido na área penal, posto que dentro da ilicitude do fato, o ora paciente cometeu ilícito ainda maior — o crime descrito na denúncia.
12. Dessa forma, ante o exposto, opina o Ministério Público Federal pelo improvimento do presente recurso, mantendo-se, conseqüentemente, o v. acórdão recorrido por seus próprios fundamentos. — fl s. 131-132.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, conquanto não
se negue a excelência das razões da postulação, cuja desenvoltura se anima
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
84
pela colação do judicioso magistério dos eminentes pareceristas consultados,
também não se nega igual excelência dos fundamentos do v. acórdão recorrido.
De fato, se de um lado os escólios doutrinários se centraram em que o delito
de extorsão tem por objetividade jurídica o patrimônio, licitamente constituído,
pelo que cabe negar-se materialidade do delito no caso do patrimônio consistir
de uma atividade ilícita, de outro, há compreender-se que, ao largo dessa
materialidade patrimonial escusada à proteção legal, isto é, a escusa vantagem
econômica obtida, há compreender-se que objetivamente o tipo penal, pela sua
indiscutível natureza formal, também protege a inviolabilidade e a liberdade
individual, pela só prática da violência ou da ameaça à pessoa do sujeito passivo.
A esse propósito, a colação doutrinária constante do v. acórdão recorrido,
buscada na lição dos mestres alienígenas e brasileiros, deveras consente a
tipicidade extorsiva pela só ação do agente em constranger a vítima qualquer
que seja a vantagem patrimonial ainda que não obtida.
Aliás, essa afirmação da natureza formal do delito de extorsão, e a
conseqüente irrelevância da obtenção ou não da vantagem econômica visada,
tem prestígio na jurisprudência desta Turma (e.g., REsps n. 30.485, de minha
relatoria, in DJ de 22.03.1993; 32.057, Relator Ministro Jesus Costa Lima, in DJ
de 24.05.1993, e 32.809, Relator Ministro Assis Toledo, in DJ de 07.06.1993).
Desse modo, por mais que os refute o recorrente, com forro na derivação
material implicativa da falta de objetividade jurídica do constrangimento para
obtenção de vantagem patrimonial por si mesma ilícita, fi co com os judiciosos
fundamentos do v. acórdão, tanto mais que pelo conclusivo fecho da descrição
precisa do fato criminoso do qual deve se defender o acusado e de cuja melhor
articulação tratará a sentença, conforme o apurado na instrução. Ei-los, da
forma como se seguem reproduzidos:
Não é outro, a respeito do assunto, o entendimento da melhor doutrina.
Senão vejamos.
a) Antolisei — Parte Especial, vol. I, p. 324 — “O ato de disposição realizado pelo sujeito passivo para efeito da violência ou ameaça exercida sobre ele, deve procurar para o agente ou para outrem, um lucro injusto, com dano para outro.
Quanto ao ‘dano’ não surgem incertezas dignas de relevo. Induvidosamente deve tratar-se de uma diminuição patrimonial no sentido do tomado geralmente.
Não é fácil, por outro lado, determinar quando no crime em exame ocorra o ‘proveito injusto’.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 85
Para vários autores este requisito subsiste toda vez que a vantagem a que tende a ação criminosa não seja devida por lei. Tal critério, porém, peca pelo simplismo e leva a resultados evidentemente inadmissíveis, estendendo além da medida o âmbito do delito de extorsão. Assim, para não fazer senão um exemplo, se a norma de que se trata se aplica ao pé da letra, deveria considerar-se responsável por extorsão o credor que ameaça o devedor de não renovar um mútuo quando lhe sejam pagos juros mais elevados do que aqueles pactuados precedentemente, porque também neste caso a vantagem que o agente pretende não lhe é devida por lei.
A nosso modo de ver deve-se ter presente, antes de tudo, o que já acentuamos falando, em geral, do lucro, ou seja, que um lucro não pode nunca ser considerado ‘injusto’ quando tenha como seu fundamento uma pretensão qualquer (e portanto também de modo indireto) reconhecida a tutelada pelo ordenamento jurídico. Em conseqüência, não se tem extorsão, por falta do requisito em tela, quando o agente, com violência ou ameaça, constrange uma pessoa a pagar-lhe um seu crédito líquido e exigível, como ainda no caso em que, com os mesmos meios, obtenha o cumprimento de uma obrigação natural (crédito de jogo ou de aposta, crédito prescrito etc.). No primeiro caso o agente responderá por exercício arbitrário das próprias razões; no segundo será responsável por violência privada.”
b) Giuliano Marini — “Digesto Pennalistiche” — vol. IV, p. 386 — “No que se refere ao proveito injusto, este deve ser pensado em termos rigorosamente patrimoniais, ou seja, em termos de enriquecimento ou de não-empobrecimento do sujeito ativo, ou do terceiro a favor de quem este age. Consideramos que o ‘injusto’ deve ser entendido no sentido mais amplo: é para ser considerado injusto tanto o proveito contra jus como aquele sine jure. Não se pode de fato restringir o conceito de injustiça apenas à primeira hipótese.”
c) Manzini — “Trattato”, vol. 9, p. 461 — “Para concretizar o crime de extorsão basta que o fato tenha produzido dano ao outro, isto é ao sujeito passivo da violência ou ameaça, ou a outra pessoa.”
d) Carrara, após acentuar que todo documento obtido por coação é nulo, e, por conseguinte, todo negócio jurídico realizado sob extorsão é nulo, pois, “o que é nulo não produz nenhum efeito ”(quod nullum est nullum producit eff ectum), cita que “comete extorsão o ladrão ou seu representante que põe a preço a restituição, ao proprietário, das coisas roubadas” (Programma, § 2.136).
e) Maggiore — “Derecho Penal”, vol. V, p. 99 — impõe como condição para o delito de extorsão que a ação ou omissão deve ter por objeto “alguma coisa”. E arremata: “A injustiça do proveito se refl ete na injustiça da violência ou ameaça; motivo por que é inútil indagar acerca da justiça ou injustiça destas, quando o proveito não tem razão jurídica. A antijuricidade da coação está in re ipsa (no fato mesmo), uma vez que se demonstre a antijuricidade do proveito”.
Este é o pensamento dos penalistas italianos, em geral.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
86
Já a doutrina alemã, representada por Binding, Krey, Maurach, Blei, Haft, Schmindhäuser, dentre outros, fi xa que para a extorsão, basta pura e simplesmente o constrangimento, independentemente do proveito econômico, ou, mesmo, qualquer proveito, seja ele de natureza lícita ou ilícita.
Daí, temos:
a) Maurach — “Deutsches Strafrecht, Besonderer Teil”, p. 230 — Hermann Schroedel Verlag K. G., Hannover: “Na extorsão, como no constrangimento ilegal, a violência ou grave ameaça constituem o elemento fundamental do tipo e devem ser consideradas em relação a um mal sensível na intenção de obter o proveito”.
b) Binding — “Lehrburch des Gemeinen Deutschen Strafrechts, Besonderer Teil”, pp. 379-380 — Verlag Von Wilhelm Engelmann, Leipzig: “O extorsionário quer sua conduta como meio para a obtenção do proveito, enquanto no estelionato a conduta do iludido é sempre causal para a obtenção direta do proveito patrimonial ilícito, não é exigida uma ação do coagido para a extorsão; para chegar a ela, então, ele pode criar o proveito direta ou indiretamente, ou apenas tornar possível sua obtenção. A consumação se consuma com o seu meio, que é a conduta coativa, e começa portanto, com o início da mesma, quando se dá, então, a tentativa. No momento da consumação o extorsionário pode ter obtido o proveito ilícito, e na maior parte das vezes apresenta-se nele o prejuízo para a vítima da extorsão; não é necessário, sozinho, nem um nem outro. Por conseguinte, determina-se a consumação diferentemente do estelionato”.
A literatura jurídico-penal brasileira segue quase que sem discrepâncias a linha doutrinária alemã. E assim temos:
a) Magalhães Noronha — “Enciclopédia Saraiva”, vol. 35, p. 464: “Questiona-se a respeito do ato jurídico nulo, como resultado do crime, perguntando-se se pode integrar o delito. Discutindo o assunto, em face de nossas leis, devemos ter em consideração os atos nulos e os anuláveis.
Os primeiros são mencionados no art. 145 do Código Civil. Nulo de pleno direito, não pode o ato produzir efeito — quod nullum est nullum producit eff ectum — e, portanto, por si, não poderá produzir, em regra efeitos patrimoniais. Mas a extorsão é um crime contra o patrimônio, e faltando essa lesão patrimonial faltará a objetividade jurídica do delito. A nosso ver, não cometeria delito de extorsão quem obrigasse um menor de 16 anos a assinar um documento de dívida, por ser ato praticado por pessoa absolutamente incapaz (CC, art. 5º), como também não cometeria extorsão quem coagisse outrem a fi rmar documento, no qual prometesse tornar-se seu escravo, pois seria ilícito o objeto do ato (CC, art. 145, II). Nesses, como nos outros casos do art. 145 da lei civil, há crime impossível, por absoluta impropriedade de objeto. Haverá, todavia, o delito do art. 146.”
b) Paulo José da Costa Jr. — “Comentários ao Código Penal”, vol. II, p. 219: “O delito se consuma com constrangimento, independentemente de vir o sujeito
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 63-88, maio 2010 87
ativo a obter, ou não, a vantagem patrimonial tencionada. O crime é formal, dispensando-se para a consumação a obtenção do proveito econômico injusto.”
c) Heleno Cláudio Fragoso — “Lições de Direito Penal”, vol. 2, p. 307: “Não se exige, para a consumação, que o agente tenha conseguido o proveito que pretendia. O crime se consuma com o resultado do constrangimento, isto é, com a ação ou omissão que a vítima é constrangida a fazer, omitir ou tolerar que se faça, e por isso pode-se dizer que, em relação ao patrimônio, este é crime de perigo”.
d) Mirabete — “Manual de Direito Penal”, vol. II, p. 222: “Há duas orientações quanto à consumação do crime. Na primeira delas se diz que a extorsão é um crime formal, consumando-se quando a vítima faz, deixa de fazer ou tolera que se faça alguma coisa. Pela segunda, o delito é material e só estará consumado quando o agente obtém a vantagem econômica. A redação do dispositivo, inadequada aliás por não oferecer a mesma solução encontrada para a consumação do roubo, indica que é irrelevante que o agente obtenha a vantagem indevida, bastando para a confi guração do crime, a simples atividade ou omissão da vítima.”
e) Damásio de Jesus — “Direito Penal”, vol. II, p. 320: “A extorsão é delito formal e não material. Cuida-se de crime cujo tipo penal descreve a conduta e o resultado, não exigindo a sua produção. A descrição da conduta se encontra ‘constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa’. O resultado visado pelo agente é a ‘indevida vantagem econômica’. Note-se que o tipo fala em ‘intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica’. Assim, é sufi ciente que o sujeito constranja a vítima com tal fi nalidade, não se exigindo que realmente consiga a vantagem. Cumpre observar que o núcleo do tipo é o verbo constranger e não obter. A defi nição legal não exige que o sujeito obtenha a indevida vantagem econômica”.
Considerando desnecessário nos alongarmos mais desfilando opiniões unânimes de toda a doutrina nacional e estrangeira, concluímos com o inolvidável mestre Nelson Hungria que, em seus “Comentários”, vol. 7, p. 71, diz taxativamente: “Qualquer que seja a vantagem patrimonial obtida ou procurada pelo agente, em detrimento da vítima, está preenchido um dos requisitos da extorsão”.
Dentre os argentinos, admirável, como em tantos outros assuntos, é a análise de Soler, quando discorre sobre as diversas correntes de opinião, concluindo fi rmemente que “o delito fi ca consumado, portanto, no momento em que a vítima abandona a coisa ou se desprende dela” (“Derecho Penal Argentino”, vol. IV, p. 287). O grande mestre enfatiza a desnecessidade de outras considerações acerca da origem ou destino da coisa.
Finalmente, não custa relembrar, que o réu se defende dos fatos narrados na denúncia, e não dos artigos do Código nela mencionados. Se o agente praticou extorsão, consumada ou tentada, exercício arbitrário das próprias razões, constrangimento ilegal ou preencheu qualquer outro tipo penal, isso deverá ser convenientemente apurado durante a instrução processual.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
88
A denúncia não é, portanto, inepta. Não há, a nosso ver, falta de justa causa para a ação penal, razão por que denego a ordem. — fl s. 90-95.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
Súmula n. 97
SÚMULA N. 97
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação de servidor
público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à instituição do regime
jurídico único.
Referência:
CF/1988, arts. 39 e 114.
Precedentes:
CC 3.909-RJ (3ª S, 17.12.1992 — DJ 1º.03.1993)
CC 4.411-RJ (3ª S, 16.09.1993 — DJ 04.10.1993)
CC 5.128-RJ (3ª S, 07.10.1993 — DJ 22.11.1993)
CC 5.270-RJ (3ª S, 07.10.1993 — DJ 08.11.1993)
CC 5.355-RJ (3ª S, 19.08.1993 — DJ 06.09.1993)
CC 5.362-RJ (3ª S, 07.10.1993 — DJ 22.11.1993)
CC 5.381-RJ (3ª S, 16.09.1993 — DJ 04.10.1993)
CC 5.854-RJ (3ª S, 21.10.1993 — DJ 22.11.1993)
Terceira Seção, em 03.03.1994
DJ 10.03.1994, p. 4.021
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.909-RJ
Relator: Ministro Flaquer Scartezzini
Autores: David Janichkis e outros
Advogada: Victorina Regia Jesus de Souza
Ré: Fundação IBGE
Suscitante: Vigésima Oitava Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de
Janeiro-RJ
Suscitado: Juízo Federal da Primeira Vara-RJ
EMENTA
Competência. Lide trabalhista. Pretensão consolidada na
vigência do regime anterior.
— É entendimento jurisprudencial na Corte que as lides de
cunho eminentemente laborais, consolidadas em período anterior
à Lei n. 8.112/1990, que instituiu o Regime Jurídico Único dos
Servidores Civis da União, são da competência da Justiça do Trabalho.
— Conflito conhecido e declarada a competência do Juízo
suscitante.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o suscitante, Vigésima Oitava Junta de Conciliação e Julgamento
do Rio de Janeiro-RJ, nos termos do voto do Relator. Votaram com o Relator
os Srs. Ministros Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal, Vicente Cernicchiaro,
Adhemar Maciel e José Dantas. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro
Pedro Acioli.
Brasília (DF), 17 de dezembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
94
Ministro Flaquer Scartezzini, Relator
DJ 1º.03.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Trata-se de confl ito de competência
assim relatado pela douta Subprocuradoria Geral da República (fl . 46):
Instalou-se confl ito de competência entre a Justiça Comum e a Justiça do Trabalho em relação à competência para processar e julgar ação ordinária movida por servidores públicos, objetivando deferimento de direitos relativos à relação celetista estabelecida antes da Lei n. 8.112/1990.
2. O Juízo Comum recusa sua competência para conhecimento do feito, entendendo que, por ser regra de Direito Processual, de aplicação imediata, o art. 114 da CF/1988 atraiu para a Justiça Especializada a relação jurídica estabelecida entre o servidor e o Estado, entendimento esse que vem de ser confi rmado com a edição do art. 240, letras d e e, da Lei n. 8.112/1990.
3. De outro lado, a Justiça Especializada trabalhista sustenta que a relação jurídica que se estabeleceu entre o servidor público e o Estado tem natureza estatutária e não contratual, por ter o Poder Público liberdade de fixar unilateralmente as condições para o exercício de cargo público.
Após, o Ministério Público Federal opina pela competência do Juízo
Laboral.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, entende
o douto MPF, por parecer da lavra da Dra. Delza Curvello Rocha, digna
Subprocuradora-Geral da República, “que o ponto nodal da questão encontra-
se na fi xação da natureza da pretensão, pleiteada sob o império da nova Carta
e da própria Lei n. 8.112/1990, que implantou o Regime Jurídico Único. A
pretensão deduzida em juízo surge de relação trabalhista, visto que, embora
atualmente os autores sejam estatutários, encontravam-se à época, regidos pela
CLT, em virtude de contratos de trabalho fi rmado com o Poder Público. Esse
fato impõe seja dirimido o confl ito em favor da Justiça Especializada.”
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 95
Às fl s. consta despacho do MM. Juízo suscitado, dando contas de que os
autores, ora vinculados ao Regime Jurídico Único, pleiteiam direitos de natureza
trabalhista anteriores ao atual regime e quando eram regidos pela CLT.
Entendo que fazer deslocar a competência da Justiça do Trabalho para
a Justiça Federal, no caso, é o mesmo que atribuir efeito retroativo à Lei n.
8.112/1990, para abranger fatos pretéritos.
A jurisprudência desta colenda Corte é pacífi ca neste sentido; logo, meu
voto é para conhecer do confl ito e declarar competente para apreciar e julgar o
feito o MM. Juiz Presidente da 28ª Junta de Conciliação e Julgamento do Rio
de Janeiro-RJ, ora suscitante.
É como voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 4.411-RJ
Relator: Ministro Edson Vidigal
Autores: Lia de Campos e outros
Advogado: Luiz Waldeck de Amorim Massa
Ré: União Federal
Suscitante: Juízo Federal da 1ª Vara-RJ
Suscitada: Sexta Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro-RJ
EMENTA
Reclamação trabalhista. Diferenças salariais antes do regime
único. Competência.
1. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação
trabalhista sobre diferenças salariais anteriores ao Regime Jurídico
Único.
2. Confl ito conhecido; competência do Juízo suscitado.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
96
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos este autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente a suscitada, Sexta Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de
Janeiro-RJ, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator,
os Srs. Ministros Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago,
José Dantas, José Cândido, Pedro Acioli e Assis Toledo. Ausente, por motivo
justifi cado, o Sr. Ministro Flaquer Scartezzini.
Brasília (DF), 16 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente
Ministro Edson Vidigal, Relator
DJ 04.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Edson Vidigal: O tema deste conflito é reclamação
trabalhista de servidor público querendo pagamentos referentes à época em que,
antes da Lei n. 8.112/1990, esteve sob o regime da CLT/Consolidação das Leis
do Trabalho.
O Juízo Federal recusou competência apontando o rumo da Justiça do
Trabalho, a qual, por sua vez, entende que a relação jurídica entre servidor
e Estado é de natureza estatutária e não contratual, por ter o Poder Público
liberdade para fi xar unilateralmente as condições para o exercício de cargo.
O Ministério Público Federal, nesta instância, opina pelo conhecimento
do confl ito e competência da Justiça Trabalhista.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, já temos resolvido
aqui em confl itos sobre este mesmo tema que a competência é da Justiça do
Trabalho, não havendo dúvida alguma inclusive quanto à competência residual.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 97
Assim, nos termos do parecer do MPF, às fl s. 17-18, conheço do confl ito e
declaro competente o Juízo suscitado, a Sexta Junta de Conciliação e Julgamento
do Rio de Janeiro.
É o voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.128-RJ (93.015270-0)
Relator: Ministro Adhemar Maciel
Autores: Aldiléa Ferreira e outros
Advogados: Paulo Haus Martins e outro
Ré: Fundação Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística — IBGE
Advogada: Myriam Beaklini
Suscitante: Juízo Federal da 24ª Vara-RJ
Suscitada: 9ª Junta de Conciliação e Julgamento-RJ
EMENTA
Constitucional e Processual Civil. Confl ito de competências.
Reclamação trabalhista ajuizada por servidores atualmente regidos pelo
estatuto (Lei n. 8.112/1990). Competência da justiça especializada.
I - A competência in casu se fi rma ratione materiae (CF, art. 114,
caput), não obstante serem os reclamantes, no momento, servidores
da União Federal. A causa petendi e o petitum dizem respeito à lide
trabalhista, por vantagens advindas antes da implantação do Estatuto
(Lei n. 8.112/1990). Precedentes do STJ.
II - Competência do juízo trabalhista (suscitado).
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
do confl ito e declarar competente a suscitada, Nona Junta de Conciliação
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
98
e Julgamento do Rio de Janeiro-RJ, nos termos do voto do Sr. Ministro-
Relator, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs.
Ministros Anselmo Santiago, José Dantas, José Cândido, Pedro Acioli, Jesus
Costa Lima, Assis Toledo e Edson Vidigal. Ausente, por motivo justifi cado, o
Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro. Custas, como de lei.
Brasília (DF), 07 de outubro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator
DJ 22.11.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de conflito negativo de
competência em que fi gura como suscitante o Juiz Federal da 24ª Vara-RJ e
como suscitada a 9ª Junta de Conciliação e Julgamento daquela mesma Cidade.
2. O juízo suscitado deu-se por incompetente para processar e julgar
reclamação trabalhista ajuizada contra a União Federal por servidores da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística — IBGE.
3. A ação, objeto do presente confl ito, versa sobre o recebimento das
diferenças salariais relativas à acordo coletivo de trabalho fi rmado em 1987.
4. O Ministério Público Federal opinou pela competência da justiça
especializada, por estarem os autores, à época, regidos pela CLT, embora,
atualmente, sejam estatutários.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): O conflito se instaurou
entre Juiz Federal, o suscitante, e juízo trabalhista, o suscitado. A ação é uma
reclamatória aforada por funcionários públicos estatutários, então regidos pela
CLT. O reclamado é o IBGE. A causa petendi está alicerçada no julgamento de
reajuste salarial, conforme cláusula do acordo coletivo de trabalho de 1987, no
período compreendido de março/1987 a novembro/1987.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 99
A jurisprudência da Terceira Seção do STJ é tranqüila a respeito da
competência da justiça especializada:
Competência. Confl ito. Lide trabalhista. Servidores públicos. Período anterior ao regime jurídico único. Competência da Justiça do Trabalho.
Em se tratando de lide trabalhista, demarcada pelo seu objeto (pedido e causa de pedir), versando benefícios referentes a período anterior à vigência do regime jurídico único, competente para a causa é a Justiça do Trabalho (CC n. 2.758-RJ. Relator Ministro Sálvio de Figueiredo. DJ de 21.09.1992, p. 15.649).
No CC n. 3.545-3-RJ, assim fi cou o acórdão por mim ementado:
Constitucional e Processual Civil. Reclamação trabalhista por servidores atualmente regidos pelo estatuto (Lei n. 8.112/1990). Competência da justiça especializada.
I - A competência in casu se fi rma ratione materiae (CF, art. 114, caput), não obstante serem os reclamantes servidores de uma fundação pública federal, atualmente regidos pela Lei n. 8.112/1990. A causa petendi e o petitum dizem respeito a direitos trabalhistas.
II - Competência da suscitante (JCJ).
Com tais observações, declaro competente o juízo trabalhista (suscitado).
É como voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.270-RJ (93.0017752-4)
Relator: Ministro Anselmo Santiago
Autores: Maria Alcina de Jesus Martins e outros
Advogados: Lúcio Cesar Moreno Martins e outros
Réu: Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial — Inmetro
Suscitante: Juízo Federal da 16ª Vara-RJ
Suscitada: Décima Quinta Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de
Janeiro-RJ
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
100
EMENTA
Reclamação trabalhista. Competência. Lei trabalhista. Diferenças salariais. Pretensão consolidada antes da conversão do regime jurídico de celetista para estatutário.
1. Relação de emprego anterior, sob o regime da CLT.
2. Compete à Justiça do Trabalho apreciar reclamatória, quando a pretensão deduzida refere-se a período anterior ao Regime Jurídico Único advindo da Lei n. 8.112/1990.
3. Confl ito conhecido para declarar-se a competência do Juízo Trabalhista.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar competente a suscitada, Décima Quinta Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro- RJ. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Dantas, José Cândido, Pedro Acioli, Jesus Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal e Adhemar Maciel. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro.
Brasília (DF), 07 de outubro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Anselmo Santiago, Relator
DJ 08.11.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Anselmo Santiago: Maria Alcina de Jesus Martins e outros,
servidores públicos, propuseram reclamação trabalhista com vistas a obter
direitos relativos à relação celetista, estabelecida em período anterior à mudança
do regime de celetista para estatutário.
Proposta a ação perante a 15ª Junta de Conciliação e Julgamento do
Rio de Janeiro-RJ, o MM. Juiz julgando-se incompetente para apreciar a lide,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 101
remeteu os autos à Justiça Federal, por entender que a decisão do colento
STF, declarando a inconstitucionalidade do art. 240, alíneas d e e, da Lei n.
8.112/1990, excluiu a competência da Justiça do Trabalho para o conhecimento
de feitos relativos às relações estatutárias.
Por sua vez, o Juiz Federal da 16ª Vara-RJ, a quem tocou o feito por
distribuição, suscitou o presente confl ito, ao entendimento de que o art. 114 da
Constituição Federal atraiu para a Justiça Especial Trabalhista a relação jurídica
estabelecida entre o servidor e o Estado.
O parecer da douta Subprocuradoria Geral da República é no sentido de
que o confl ito seja dirimido em favor da Justiça Trabalhista (fl s. 33-34).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Anselmo Santiago (Relator): A reclamação trabalhista
ajuizada tem por objeto verbas relacionadas com gratifi cações, FGTS, férias
e abono adicional de 1/3, referentes a período anterior à conversão do regime
jurídico dos reclamantes de celetista para estatutário.
A jurisprudência desta egrégia Terceira Seção é pacífi ca no sentido da
competência da Justiça do Trabalho, qual expressa o acórdão relativo ao CC n.
3.459-SE, Relator Ministro Flaquer Scartezzini (DJ de 1º.02.1993 — Seção I -
p. 435), assim ementado:
Competência. Lei trabalhista. Pretensão consolidada na vigência do regime anterior.
— E entendimento jurisprudencial na Corte que as lides de cunho eminentemente laborais, consolidadas em período anterior à Lei n. 8.112/1990, que instituiu o Regime Jurídico Único dos Servidores Civis da União, são da competência da Justiça do Trabalho.
Análogo o contexto, conheço do confl ito para declarar a competência da
Décima Quinta Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro, suscitada.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
102
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.355-RJ (93.0019438-0)
Relator: Ministro José Dantas
Autores: Márcio Brito Lago e outro
Advogada: Gleise Maria Índio e Bartijotto
Réu: Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social —
INAMPS
Advogado: Luiz Carlos Rocha
Suscitante: Juízo Federal da 2ª Vara de Niterói-RJ
Suscitada: Segunda Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-RJ
EMENTA
Servidor público. Vantagens celetistas.
— Reclamação. Competência da Justiça do Trabalho, a cuidar-
se de vantagens anteriores à transformação do vínculo celetista em
estatutário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente a suscitada, Segunda Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-
RJ, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs.
Ministros José Cândido, Pedro Acioli, Jesus Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal,
Vicente Cernicchiaro e Adhemar Maciel. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr.
Ministro Anselmo Santiago.
Brasília (DF), 19 de agosto de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro José Dantas, Relator
DJ 06.09.1993
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 103
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Trata-se de conflito de competência estabelecido entre Juízo Federal e Justiça Especializada Trabalhista, visando à defi nição do Juízo competente para conhecer e julgar reclamação trabalhista para haver vantagens celetistas relativas a período anterior à transferência do servidor público para o regime único, de natureza estatutária.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, para casos dessa natureza, concorde com o reiterado parecer do Ministério Público Federal (e.g., CC n. 3.277, in DJ de 09.08.1993), encontra-se assentada a orientação desta egrégia Seção, sobre declarar competente a Justiça Obreira, desde que se trate de vantagens anteriores à transformação do regime celetista do servidor público para o estatutário.
Pelo exposto, conheço do confl ito para declarar competente a Segunda Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-RJ.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.362-RJ (93.19445-3)
Relator: Ministro José Cândido de Carvalho Filho
Autores: Cláudia Hatsue Uesugi e outros
Ré: Universidade Federal Fluminense
Suscitante: Juízo Federal da 2ª Vara de Niterói-RJ
Suscitada: Terceira Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-RJ
Advogados: Paulo Ricardo G. Cardoso e Carlos Alberto Considera
EMENTA
Conflito de competência. Servidor estatutário com vínculo
celetista originário com o serviço público.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
104
Competência do juízo laboral para dirimir as questões que dizem
respeito ao antigo regime.
Precedentes da Terceira Seção.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do confl ito
e declarar competente a Suscitada, Terceira Junta de Conciliação e Julgamento
de Niterói-RJ, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas constantes
dos autos. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Pedro Acioli, Jesus Costa
Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e José
Dantas. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro.
Brasília (DF), 07 de outubro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro José Cândido de Carvalho Filho, Relator
DJ 22.11.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Cândido: A Dra. Delza Curvello Rocha, ilustre
Subprocuradora-Geral da República, em seu parecer de fl s. 23-24, assim expõe e
aprecia o presente confl ito de competência:
Trata-se de conflito de competência suscitado nos autos de reclamação trabalhista movida por servidor da Universidade Federal Fluminense, objetivando o recebimento de reajustes salariais e demais verbas deles derivadas, relativos ao período de 1987 a 1990, devidos em decorrência de aplicação dos diversos planos econômicos.
2. A reclamação foi, inicialmente, distribuída junto à Justiça trabalhista, que declinou da competência para seu conhecimento, com fundamento em decisão do colendo Supremo Tribunal Federal que declarou inconstitucional a competência atribuída, pela Lei n. 8.112/1990 “à Justiça do Trabalho, para julgar os feitos envolvendo servidores e órgãos públicos, incluídos nesses os da Administração Direta, Indireta e as Fundações.”
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 105
3. No Juízo Federal, argúi o MM. Juiz o presente confl ito, por entender que “o objeto da lide em apreço reveste-se de conteúdo eminentemente trabalhista, porquanto são pleiteadas verbas decorrentes do contrato de trabalho celebrado entre os litigantes...” (fl . 23).
Opinando quanto ao mérito, diz a ilustre parecerista tratar-se de matéria
da competência do juízo laboral.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José Cândido (Relator): Os autos revelam que os autores,
à época, estavam vinculados ao Poder Público através de contrato trabalhista. O
fato de terem-se transferido para o regime estatutário, da Lei n. 8.112/1990, não
os afasta do juízo competente a seu tempo.
Assim vem decidindo esta Terceira Seção:
Ementa: Constitucional e Processual Civil. Conflito de competência. Reclamação trabalhista ajuizada por servidores atualmente regidos pelo estatuto (Lei n. 8.112/1990). Competência da justiça especializada.
I - A competência in casu se fi rma ratione materiae (CF, art. 114, caput), não obstante serem os reclamantes, no momento, servidores da União Federal. A causa petendi e o petitum dizem respeito à lide trabalhista, por vantagens advindas antes da implantação do estatuto (Lei n. 8.112/1990).
Precedentes do STJ.
II - Competência do Juízo trabalhista (suscitado). (CC n. 3.882/1992, julgado em 17.02.1992, Relator Ministro Adhemar Maciel — DJ de 08.03.1993)
Ementa: Competência. Servidor autárquico. Relação celetista.
I - Sendo os direitos reclamados nitidamente trabalhistas, a competência é da Justiça do Trabalho.
II - Confl ito conhecido; competência do suscitado. (CC n. 4.947-RJ, julgado em 02.09.1993, Relator Ministro Edson Vidigal, DJ de 20.09.1993)
Com base nestes precedentes, conheço do confl ito e declaro a competência
do juízo laboral, ora suscitado, para processar e julgar o feito.
É o meu voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
106
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.381-RJ
Relator: Ministro Assis Toledo
Autores: Ana Cristina da Silva Oliveira e outros
Ré: Universidade Federal Fluminense
Suscitante: Juízo Federal da 2ª Vara de Niterói-RJ
Suscitada: 3ª Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-RJ
Advogados: Solange Mattos e outro e Ana Lúcia da Rocha
EMENTA
Processual Civil. Competência. Lide trabalhista.
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar litígios nos
quais se objetivam, com base na CLT, vantagens decorrentes de
contrato de trabalho anteriores à Lei n. 8.112/1990.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a suscitada, Terceira Junta de Conciliação e Julgamento de
Niterói-RJ, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram de acordo os Srs.
Ministros Edson Vidigal, Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago,
José Dantas, José Cândido e Pedro Acioli. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro
Flaquer Scartezzini.
Brasília (DF), 16 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente em exercício
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 04.10.1993
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 107
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Ana Cristina da Silva Oliveira e outros, servidores públicos federais, propuseram reclamação trabalhista contra a Universidade Federal Fluminense, objetivando gratifi cação por jornada extra de trabalho, com base no art. 61 da CLT e na Súmula n. 76 do Tribunal Superior do Trabalho.
A 3ª Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-RJ declinou de sua competência.
O Juízo Federal da 2ª Vara de Niterói deu-se, igualmente, por incompetente, suscitando o presente confl ito.
A douta Subprocuradoria-Geral da República, em parecer da Dra. Delza Curvello Rocha, opinou pela competência da Justiça trabalhista.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Este Tribunal, reiteradamente, vem decidindo pela competência da Justiça trabalhista quando o servidor, atualmente estatutário, pleiteia, com fundamento na CLT, vantagens decorrentes do contrato de trabalho, anteriores à Lei n. 8.112/1990 (CC n. 2.267-0-PA, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo, DJ de 15.06.1992; CC n. 2.032-0, Relator Ministro Barros Monteiro, DJ de 15.06.1992; CC n. 3.630-5, 3.380-8 e 3.776-0, Relator Ministro Assis Toledo, DJ de 17.12.1992, 15.02.1993 e 10.05.1993, respectivamente).
Diante do exposto, nos termos do parecer, conheço do confl ito para declarar competente a 3ª Junta de Conciliação e Julgamento de Niterói-RJ, suscitada.
É o voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.854-RJ
Relator: Ministro Jesus Costa Lima
Autora: Andréa Santoro Valadares
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
108
Advogado: Wagner Manoel Bezerra
Ré: Fundação Legião Brasileira de Assistência — LBA
Advogado: Jonas de Jesus Ribeiro
Suscitante: Juízo Federal da 24ª Vara-RJ
Suscitada: Vigésima Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro-
RJ
EMENTA
Constitucional. Competência. Relação de emprego.
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causa de
servidor público que diga respeito à relação de emprego anterior à
vigência da Lei n. 8.112/1990.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a suscitada, Vigésima Junta de Conciliação e Julgamento
do Rio de Janeiro-RJ. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Assis Toledo,
Edson Vidigal, Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José
Dantas, José Cândido e Pedro Acioli.
Brasília (DF), 21 de outubro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Jesus Costa Lima, Relator.
DJ 22.11.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Conflito negativo de competência
estabelecido entre a 20ª Junta de Conciliação e Julgamento do Rio de Janeiro-
RJ e o MM. Juízo Federal da 24ª Vara do Rio de Janeiro, suscitante, dissentindo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 89-110, maio 2010 109
sobre qual a Justiça competente para processar e julgar reclamação trabalhista
contra a Legião Brasileira de Assistência — LBA, onde se pleiteia reajuste salarial
referente a janeiro de 1989 — 70,28% e diferenças.
Opina a Dra. Delza Curvello Rocha, ilustrada Subprocuradora-Geral da
República, pela competência da Justiça do Trabalho, posto que os benefícios
pleiteados referem-se a períodos anteriores à Lei n. 8.112/1990, quando os
reclamantes ainda eram regidos pela CLT (fl s. 27-28).
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): A matéria objeto do confl ito
é bastante conhecida desta Terceira Seção. A respeito, manifestei-me no CC n.
5.030-8-RJ, que faço inserir a seguir:
A ilustrada Subprocuradora-Geral da República, Dra. Delza Curvello Rocha, assim manifesta-se sobre o tema discutido neste confl ito:
A pretensão deduzida em Juízo surge de relação trabalhista, visto que, embora atualmente o autor possa ser estatutário, encontrava-se, à época, regido pela CLT, em virtude de contrato de trabalho firmado com o Poder Público. Esse fato, aliado à natureza das verbas pleiteadas — nitidamente trabalhistas — impõe seja dirimido o confl ito em favor da Justiça Especializada.
Quanto à declaração de inconstitucionalidade das alíneas d e e do art. 240 da Lei n. 8.112/1990 tem-se que, embora excluída a competência da Justiça Trabalhista para o conhecimento de feitos relativos às relações estatutárias, permanece a competência desse ramo do Poder Judiciário Federal para o conhecimento das pretensões pretéritas, vinculadas à CLT. (fl s. 18-19)
Ao julgar o CC n. 3.382-1-PE, julgado em 19.11.1992, afi rmei:
Constitucional. Administrativo e trabalho. Ação proposta por servidor contra o Município. Competência.
1. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, na forma da lei (art. 114, da CF).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
110
2. Tratando-se de servidor público, prevê a Constituição — art. 39 —, que fi cam sujeitos a um regime jurídico único, o qual segundo opção do legislador é o estatutário (Lei n. 8.112, de 11.12.1990).
3. Registre-se que o Supremo Tribunal Federal, no último dia treze, por maioria, decidiu (ADIN n. 492-1), pela inconstitucionalidade das alíneas d e e do art. 240 da Lei n. 8.112/1990. Em suma, que a Justiça Comum é a competente para processar e julgar as causas de interesse dos servidores públicos submetidos ao regime estatutário.
Verifi ca-se da petição que defl agrou a reclamação trabalhista que o autor, embora estando, hoje, submetido ao regime jurídico único, pleiteia diferenças salariais alusivas a diversos “planos econômicos” que incidiriam sobre os salários então percebidos pelo reclamante.
Resulta, pois, que se a pretensão ajuizada, ainda que por servidor regido, hoje, pelo regime jurídico único, refere-se ao regime de emprego, a competência para processar e julgar a causa é da Justiça do Trabalho, pois o dissídio resulta dessa relação de trabalho.
A matéria objeto da reclamação refere-se exclusivamente a diferenças
salariais anteriores à instituição do regime jurídico único de que trata a Lei n.
8.112, de 11.12.1990. De conseguinte, alusiva à relação de emprego, daí porque
permanece competente para julgar a causa a Justiça do Trabalho.
Face ao exposto, conheço do confl ito e declaro competente a Junta de
Conciliação e Julgamento suscitada.
Súmula n. 98
SÚMULA N. 98
Embargos de declaração manifestados com notório propósito de
prequestionamento não têm caráter protelatório.
Referência:
CPC, arts. 165 e 538, parágrafo único.
Precedentes:
EDcl no REsp 21.158-SP (1ª T, 16.12.1992 — DJ 15.02.1993)
EREsp 20.756-SP (CE, 08.10.1992 — DJ 17.12.1992)
REsp 5.252-SP (3ª T, 02.04.1991 — DJ 29.04.1991)
REsp 9.085-SP (3ª T, 13.05.1991 — DJ 03.06.1991)
REsp 20.150-MG (3ª T, 16.12.1992 — DJ 19.04.1993)
REsp 24.964-DF (6ª T, 29.10.1992 — DJ 15.02.1993)
Corte Especial, em 14.04.1994
DJ 25.04.1994, p. 9.284
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL N. 21.158-SP (92.09146-6)
Relator: Ministro Milton Pereira
Embargante: Fazenda do Estado de São Paulo
Embargados: José de Paula Lima e outros
Advogados: Paula Nelly Dionigi e outros e Jefferson Francisco Alves
e outro
EMENTA
Processual Civil. Embargos declaratórios. Omissão (art. 535,
CPC). Multa (art. 538, parágrafo único, CPC).
1. A imposição da multa prevista no art. 538, parágrafo único,
CPC, além da afi rmação da circustância protelatória, reclamada na lei,
exige razoável fundamentação, demonstrando o manifesto objetivo
protelatório dos embargos.
2. Embargos acolhidos, excepcionalmente com efeito
modifi cativo, provendo parcialmente o recurso, a fi m de excluir a
multa aplicada.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, receber os
embargos, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do relatório e
notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do
presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Cesar Rocha,
Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o
Sr. Ministro Garcia Vieira.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 16 de dezembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
116
Ministro Milton Pereira, Relator
DJ 15.02.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Milton Pereira: O Estado de São Paulo opôs embargos de
declaração, contra decisão acordada no Recurso Especial n. 21.158-3-SP, assim
ementada:
Correção monetária. IPC de janeiro de 1989, percentual devido (70,28%). Leis n. 6.899/1981 e 7.730/1989.
1. A correção monetária, de vida econômica intertemporal, mera atualização do valor da moeda naufragada em tormentosa infl ação, constitui justa solução para todas relações jurídicas, com o fi m de resgatar a real expressão do poder aquisitivo original.
2. Inexistência de contrariedade da Lei Federal.
3. Precedentes iterativos.
4. Recurso conhecido e improvido (fl . 101).
Argumentou a Embargante que o v. acórdão foi omisso quando deixou
de examinar “a irresignação com a imposição de multa nos termos do art. 538,
CPC”. (fl s. 103-105)
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Milton Pereira (Relator): O julgado embargado abrevia-se
na seguinte ementa:
Correção monetária. IPC de janeiro de 1989. Percentual devido (70,28%). Leis n. 6.899/1981 e 7.730/1989.
1. A correção monetária, de vida econômica intertemporal, mera atualização do valor da moeda naufragada em tormentosa infl ação, constitui justa solução para todas as relações jurídicas, com o fi m de resgatar a real expressão do poder aquisitivo original.
2. Inexistência de contrariedade de Lei Federal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 117
3. Precedentes iterativos. (fl . 101)
A embargante, tempestivamente, articulou embargos de declaração, em
sumário, aduzindo que o acórdão embargado
... deixou de fazer o exame de ponto relevante do recurso especial de fl s. 59-71, qual seja, a irresignação com a imposição de multa nos termos do art. 538 do CPC, pelo acórdão de fl . 44, que vislumbrou feição procrastinatória nos embargos de declaração de fl . 41.
3. Esse colendo STJ tem, reiteradamente, repudiado tal entendimento, em casos semelhantes ao presente, por não existir má-fé ou intenção protelatória nesse tipo de recurso quando está em jogo o prequestionamento de questão federal ou constitucional a ser elevada à análise dos Tribunais Superiores. (fl s. 103 e 104)
Com efeito, como resultante de interpostos embargos (fl. 41), ao
rejeitá-los, o egrégio Colegiado, entendendo que se cuidava de manifestação
procrastinatória, com base no art. 538, parágrafo único, CPC, aplicou multa à
embargante (fl . 281).
O recurso especial foi arrazoado no circunlóquio da exclusão da correção
monetária e do cancelamento da multa (fl s. 58 a 71).
O voto condutor da Turma, porém, cingindo-se à incidência da aludida
correção, efetivamente omitiu-se quanto ao insurgimento pertinente à multa
(fl s. 95 e 96 a 99). De avante, pois, a questão deve ser examinada.
Com esse propósito, a uma, observo que a petição de fl . 41, objetivamente,
indicou os pontos que entendeu omitidos, enquanto que o v. acórdão, data
venia maxima, no pertinente ao “intuito procrastinatório”, assim acudiu sem
nenhuma justifi cação. Não basta registrar que teriam motivação protelatória.
Tal declaração deve ser fundamentada, de modo a facilitar a compreensão
da sua razoabilidade e, eventualmente, permitir procedimento irresignatório,
demonstrando que não houve a censurável conduta processual:
— Para a imposição da multa do art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil, há necessidade de fundamentar a declaração de que são manifestamente protelatórios os embargos de declaração (REsp n. 5.252-SP — Relator Ministro Dias Trindade — in DJU de 29.04.1991).
— Civil. Processual. Embargos de declaração. Multa. Fundamento.
Não cabe aplicar a multa do art. 538, parágrafo único, do CPC, sem fundamentação adequada sobre o objetivo protelatório dos embargos de
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
118
declaração, tanto mais quando, como no caso, sequer há a afi rmação, exigida na lei, dessa circunstância (REsp n. 10.808-MG — Relator Ministro Dias Trindade — in DJU de 19.08.1991 — e REsp n. 6.707 — in DJU de 4.11.1991 — gf. — apud Código de Processo Civil Anotado — Sálvio de Figueiredo Teixeira — p. 324).
À vista do exposto, certíssimo de que houve a omissão dada a oportunidade,
excepcionalmente com efeito modifi cativo, no pormenor, parcialmente, dar
provimento ao recurso especial para excluir a multa aplicada com fulcro no art.
538, parágrafo único, CPC, voto acolhendo os embargos.
É o meu voto.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 20.756-SP
Relator: Ministro Assis Toledo
Embargante: Estado de São Paulo
Embargados: Jazon Carneiro e outros
Advogados: Miguel Francisco Urbano Nagib e outro e Antônio Roberto
Sandoval Filho
EMENTA
Processual Civil. Embargos de divergência. Embargos
declaratórios. Multa (art. 538, parágrafo único, do CPC).
Não podem reputar-se protelatórios embargos declaratórios
opostos para satisfazer exigência de prequestionamento. Além disso, a
imposição de multa deve ser precedida de fundamentação adequada,
não bastando a mera afi rmação de serem protelatórios os embargos.
Embargos de divergência acolhidos para cancelamento da multa.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 119
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer dos embargos e os
receber, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator
os Srs. Ministros Vicente Cernicchiaro, Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar,
Cláudio Santos, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Demócrito Reinaldo, José
Dantas, William Patterson, Bueno de Souza, José Cândido, Pádua Ribeiro, Flaquer
Scartezzini, Costa Lima, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Dias Trindade e José de
Jesus. O Sr. Ministro Hélio Mosimann não participou do julgamento. Ausentes,
por motivo justifi cados, os Srs. Ministros Pedro Acioli, Américo Luz, Costa Leite e
Edson Vidigal.
Brasília (DF), 08 de outubro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Antônio Torreão Braz, Presidente
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 17.12.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Julgando recurso especial interposto pela
Fazenda do Estado de São Paulo, a egrégia Segunda Turma não conheceu da
irresignação, em acórdão assim ementado:
Processual Civil. Embargos de declaração. Multa do art. 538 do CPC.
— Protelatórios, in casu, os declaratórios opostos, correta é a aplicação da multa de 1% aplicada pelo acórdão recorrido sobre o valor da causa.
— Recurso não conhecido. (fl . 1.141)
Dessa decisão, interpôs a vencida embargos de divergência trazendo à
colação julgados das Terceira e Quarta Turmas, nos quais se exige fundamentação
adequada para que se possam reputar protelatórios os embargos, in verbis:
Civil. Processual. Embargos de declaração. Multa. Fundamento.
Não cabe aplicar a multa do art. 538, parágrafo único, do CPC, sem fundamentação adequada sobre o objetivo protelatório dos embargos de declaração, tanto mais quando, como no caso, sequer há a afi rmação, exigida na lei, dessa circunstância.
(REsp n. 10.808-MG, Relator Ministro Dias Trindade — DJ de 19.08.1991) — (fl . 1.149).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
120
Processual Civil. Embargos de declaração. Procrastinação. Multa.
I - Afasta-se a multa quando o acórdão dos declaratórios não justifica a protelação em que incorreu a parte.
II - Recurso conhecido e provido pela letra c.
(REsp n. 9.085-SP, Relator Ministro Waldemar Zveiter — DJ de 03.06.1991) — (fl . 1.154).
(...)
Embargos de declaração. Descabimento da multa.
(...)
Ao aplicar a multa cominada no art. 538, parágrafo único, do CPC, cabe ao acórdão justifi car a sua imposição.
(REsp n. 2.601-MG, Relator Ministro Barros Monteiro — DJ de 06.08.1990) — (fl . 1.165).
Admitidos, não foram os embargos impugnados.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): O acórdão recorrido, relatado pelo
Ministro Américo Luz, considerou bastante para a imposição da multa a mera
declaração de serem protelatórios os embargos de declaração, nestes termos:
Na espécie, decretada a parcial procedência da ação (fls. 1.006-1.009), obtiveram seus autores, todos funcionários públicos, o reconhecimento do direito à percepção dos “gatilhos” atrasados, bem como da correção monetária sobre eles incidente, questão aliás pacífi ca nesta egrégia Corte.
Daí por que, igualmente, tenho por procrastinatórios os declaratórios opostos, na linha do decidido pelo acórdão recorrido (fl . 1.056).
Não conheço do recurso. (fl . 1.140)
O acórdão do Tribunal de Justiça também não justifi cara a penalidade,
limitando-se a esta afi rmação:
Não presentes obscuridade, dúvida, contradição ou omissão, os embargos não podem ser recebidos.
Revelam-se, aliás, manifestamente protelatórios a merecer a aplicação da multa prevista no art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil equivalente a
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 121
1% sobre o valor da causa atualizado, em favor dos embargados. (fl . 1.056)
Há, pois, manifesta divergência com os acórdãos colacionados, nos quais se
exige fundamentação para a imposição de multa na hipótese em exame.
Caracterizada a divergência, passo ao mérito.
Na Quinta Turma, tive o ensejo de proferir voto sobre o tema, ocasião em
que salientei:
Quanto à multa aplicada, está caracterizado o dissídio com o acórdão do Supremo Tribunal Federal publicado na RTJ 113/830, no qual não se consideram protelatórios embargos opostos para atender ao requisito do prequestionamento para efeito de recurso.
Assim, conheço em parte do apelo pela letra c e, nesse ponto, lhe dou provimento para cancelar a multa imposta.
Exigindo a jurisprudência, tanto do Supremo Tribunal Federal, como desta Corte, o prequestionamento da questão federal como pressuposto do recurso especial e do recurso extraordinário, não seria lógico que a parte, ao observar essa exigência, sofresse penalidade como conseqüência.
Por outro lado, a jurisprudência desta Corte tem exigido fundamentação adequada para aplicação da multa em foco, não bastando a mera afirmação de serem os embargos protelatórios (REsp n. 10.808-MG, Relator Ministro Dias Trindade, DJ de 19.08.1991; REsp n. 9.085-SP, Relator Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 03.06.1991; REsp n. 2.601-MG, Relator Ministro Barros Monteiro, DJ de 06.08.1990). E isso não se fez no acórdão recorrido.
Em conclusão, conheço em parte do recurso e nessa parte lhe dou provimento. (REsp n. 25.815-0-SP)
Reiterando esse entendimento, conheço dos embargos e os recebo para
fazer prevalecer a tese dos acórdãos das Terceira e Quarta Turmas e, em
conseqüência, cancelar a multa aplicada.
É o voto.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Sr. Presidente, na última sessão
da egrégia Sexta Turma, como Relator, apreciei matéria idêntica e cheguei à
mesma conclusão do ilustre Sr. Ministro Assis Toledo. Acrescento à douta
fundamentação de S. Exa., que o protelatório signifi ca fato e, por isso, há de
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
122
ser explicitado na fundamentação. Inclusive a jurisprudência tem acolhido
que os embargos de declaração constituem a fi xação de prequestionamento,
conseqüentemente, exercício regular do Direito.
Acompanho S. Exa.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, coerente com decisões
que temos proferido na Terceira Turma, acompanho o eminente Ministro-
Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Sr. Presidente, também tenho
defendido, em vezes reiteradas na egrégia Primeira Turma, este mesmo
entendimento.
Portanto, recebo os embargos nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.
É como voto.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, compulsando
os autos, verifi co que, por ocasião do julgamento na egrégia Segunda Turma,
tive ensejo de acompanhar o eminente Relator. Todavia, confesso que o
fi z inadvertidamente, porque sempre votei no sentido de que os embargos
declaratórios interpostos para fi ns de prequestionamento não são protelatórios.
É o que se depreende deste trecho da ementa que encima o acórdão proferido
na assentada de 20.05.1992, de que fui Relator:
II - Não há divisar intento protelatório para fi ns de aplicação da multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC, se objetivam os declaratórios prequestionar questões federais, para o fi m de interposição do recurso especial.
Em razão dessas ponderações, aduzo ainda que, nesse sentido, é pacífi ca a
orientação da Segunda Turma.
Com essas breves observações, acompanho o voto do ilustre Relator.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 123
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente. A exemplo do Ministro
Pádua Ribeiro, acabo de conferir o acórdão que serviu de confronto para esses
embargos para dizer que, naquela oportunidade, também foi um descuido nosso.
Na realidade, na egrégia Segunda Turma já está unifi cado o entendimento no
mesmo sentido do voto do eminente Ministro-Relator. Aquele é um acórdão
isolado que escapou à nossa percepção.
Acompanho o eminente Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 5.252-SP (9095603)
Relator: Ministro Dias Trindade
Recorrentes: João Figueiredo da Silva e cônjuge
Recorrida: Construforma Empreendimentos Imobiliários e Construções
Ltda
Advogados: Alberto Quaresma Júnior e outros e Wilson Arantes
EMENTA
Civil. Processual. Embargos declaratórios. Multa.
Para a imposição da multa do art. 538, parágrafo único, do Código
de Processo Civil, há necessidade de fundamentar a declaração de que
são manifestamente protelatórios os embargos de declaração.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
recurso especial e lhe dar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
124
Brasília (DF), 02 de abril de 1991 (data do julgamento).
Ministro Nilson Naves, Presidente
Ministro Dias Trindade, Relator
DJ 29.04.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Dias Trindade: João Figueiredo da Silva e sua mulher,
interpuseram recurso extraordinário, convertido em recurso especial, com
fundamento no art. 105, III, a e c da Constituição Federal, de acórdão proferido
pela Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, que
considerou meramente protelatórios embargos de declaração opostos em autos
de ação de rescisão contratual movida por Construforma Empreendimentos
Imobiliários e Construções Ltda, condenando ainda os recorrentes ao pagamento
de multa de 1% (um por cento) sobre o valor da causa.
Sustentam os recorrentes violação ao art. 538, parágrafo único, do Código
de Processo Civil, bem como dissídio jurisprudencial.
Processado o recurso, vieram os autos a este Tribunal.
É como relato.
VOTO
O Sr. Ministro Dias Trindade (Relator): Neste recurso se discute, com
fundamento em violação da Lei Federal e dissídio, apenas sobre a aplicação da
multa do art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
Os ora recorrentes pediram declaração do acórdão que julgou a apelação
que interpuseram da sentença que lhes fora inteiramente desfavorável, por isso
que, ao dar o órgão julgador provimento à mesma, o fez tão-somente em parte,
para confi rmar a sentença no que tange à reconvenção que haviam proposto.
E tenho que os embargos declaratórios opostos ao acórdão não se
apresentam de todo descabidos, dado que a redação do fundamento do acórdão
embargado, indicativo de que o pedido reconvencional poderia ser procedente,
em parte, no que diz respeito à obrigação da embargada de lhe devolver
documentos fornecidos, para habilitá-los a obter fi nanciamento para a parte do
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 125
preço do imóvel que lhes fora prometido vender, enseja dúvida.
Talvez tenha sido infeliz a postulação declaratória, ao partir do
entendimento de que lhe fora favorável o acórdão também nessa parte, quando
o oposto dele constava expressamente, o que, no entanto, não serve a dizer
meramente protelatórios os embargos.
É de dizer que, ao impor a multa, sem indicação das razões pelas quais se
reputavam protelatórios os embargos, o acórdão não deu perfeita aplicação ao
disposto no art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
O dissídio é patente, por isso que, tanto o acórdão de autoria do Sr. Ministro
Moreira Alves, quanto o da lavra do Sr. Ministro Rafael Mayer, analisados na
petição de recurso, são no sentido contrário ao recorrido, ao exigirem ambos a
fundamentação pela qual é imposta a multa, que não pode ser a simples menção
ao caráter protelatório, que, para o fi m devem sê-lo de modo manifesto.
Isto posto, voto no sentido de conhecer do recurso por ambos os
fundamentos e lhe dar provimento, de sorte a excluir a condenação imposta.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves: Conheço do recurso especial apenas pelo
fundamento da alínea c. Quanto ao provimento, acompanho S. Exa, o Sr.
Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 9.085-SP (91.0004630-2)
Relator: Ministro Waldemar Zveiter
Recorrente: Ultrafértil S/A Indústria e Comércio de Fertilizantes —
Grupo Petrofértil
Recorrida: Regina Márcia dos Santos Simões
Advogados: Sérgio de Campos Sammarco e outros e Panamá de Souza
Viegas Filho e outro
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
126
EMENTA
Processual Civil. Embargos de declaração. Procrastinação. Multa.
I - Afasta-se a multa quando o acórdão dos declaratórios não
justifi ca a protelação em que incorreu a parte.
II - Recurso conhecido e provido pela letra c.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer
do recurso especial, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos
autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 13 de maio de 1991 (data do julgamento).
Ministro Nilson Naves, Presidente
Ministro Waldemar Zveiter, Relator
DJ 03.06.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Nos autos de indenizatória de acidentes
do trabalho, embasada no direito comum, insurge-se, via especial, a recorrente
contra acórdão de embargos declaratórios (fl . 267) porque estes lhe impuseram
a multa de 1% sobre o valor atualizado da causa (embargos tidos como
procrastinatórios).
O acórdão embargado, ao confi rmar a sentença, concluiu pela culpa da ré
(ora recorrente) condenando-a em 2/3 sobre a renda salarial do de cujos à época
do evento.
Na insurgência, pela letra a, entende a requerente (empresa industrial)
que o acórdão dos embargos declaratórios, ao decidir que não estava adstrito o
Tribunal a exprimir em salários mínimos o valor da dívida e, quanto à súmula, não é
verdade que não a tenha mencionado: fez-lhe referência e não a levou em conta, teria
ferido o art. 538 do CPC.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 127
E ainda dissentido da interpretação que sobre o tema lhe teria dado o
precedente RE n. 88.678, in RTJ 101/1.269 (fl . 272).
No exame dos pressupostos de admissibilidade, admitiu-se o processamento
do excepcional (fl . 282).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Admito e conheço o
excepcional pela letra c.
Nos declaratórios, pediu-se esclarecimentos em face de que (fl. 262)
“... a sentença referida determinou que se pague à Apelada a pensão mensal
equivalente a 2/3 sobre a renda mensal do de cujus, sem contudo, determinasse a
conversão daquele montante em salários mínimos...” Isso porque, como sustenta
o recorrente, “... Da forma que se encontra o texto do v. acórdão, entende-se que
a pensão deverá ser paga à base de 2/3 do salário real percebido pelo de cujus...”
Todavia, o acórdão recorrido, ao apreciar tal recurso, proferiu: “A Câmara
considera manifestamente protelatórios os embargos, eis que não estava adstrito
o Tribunal a exprimir em salários mínimos o valor da dívida...”
À luz da doutrina, a exegese que se faz a norma processual que trata dos
declaratórios é no sentido de que:
A sentença nos embargos de declaração não substitui a outra porque diz o que a outra disse.
Nem pode dizer algo menos, nem diferente, nem mais. Se o diz, foi a decisão embargada que o disse. É a autonomia — que nos vem do fundo das ciências — entre a proposição existencial e o existente.
Mas pode ocorrer que a sentença, nos embargos de declaração, diga algo que a decisão não disse, ou que não se podia entender dito.
No caso que se controverte, o precedente colacionado revela que o julgado
recorrido não se houve com acerto quando prolatou a procrastinação dos
embargos.
No paradigma (RE n. 94.748-PE — RTJ 101/1.269) diz-se que “o
Supremo Tribunal Federal tem proclamado que o acórdão que não justifi ca a
manifestação protelatória dos embargos nega vigência ao art. 538, parágrafo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
128
único, do Código de Processo Civil” (STF, RE n. 88.678, DJU de 25.04.1978, p.
2.628).
E simples enunciado pronunciado pelo Tribunal a quo, quando disse não
estar adstrito a exprimir em salários mínimos o valor da dívida, não se pode ter
como proposição justifi cadora da procrastinação dos declaratórios.
Face a tais fundamentos, conheço do recurso pela letra c e lhe dou
provimento para excluir a pena.
RECURSO ESPECIAL N. 20.150-MG (92.6314-4)
Relator: Ministro Cláudio Santos
Recorrente: Banco do Brasil S/A
Recorrido: Alberto Navarro Vieira
Advogados: Raimunda da Fonseca Amaral e outros e José Carlos Nogueira
da S. Cardillo e outros e Leopoldo Miguel B. de Sant’Anna
EMENTA
Processual Civil. Embargos declaratórios. Multa. Provimento
parcial.
Multa imposta ao embargante sem a indispensável justifi cativa.
Cassação do acórdão nessa parte.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial
provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo
Ribeiro, Dias Trindade e Waldemar Zveiter.
Brasília (DF), 16 de dezembro de 1992 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 129
Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente
Ministro Cláudio Santos, Relator
DJ 19.04.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cláudio Santos: Trata-se de recurso especial com
fundamento no art. 105, III, alínea a, da Constituição Federal, interposto do
v. acórdão do egrégio Tribunal de Alçada de Minas Gerais que confi rmou
a procedência da ação consignatória e manteve a concessão do benefício da
anistia, na forma do disposto no art. 47 do ADCT.
Sustenta a recorrente negativa de vigência aos arts. 515, 535, I e II, 538,
parágrafo único, 131, 295, I e seu parágrafo único, II e IV, 896, III e IV, do
Código de Processo Civil, e art. 974 do Código Civil.
Opostos embargos de declaração, foram os mesmos rejeitados.
O recurso foi admitido.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): Fundamentalmente, a questão
examinada diz com a aplicação do art. 47 do ADCT, de 1988 e, em se tratando
de matéria constitucional, refoge ao âmbito do recurso especial.
Há matéria infraconstitucional, entretanto, examinada na decisão recorrida.
Refi ro-me à multa do art. 538 do CPC imposta ao recorrente.
Nesse ponto conheço do recurso para dar-lhe provimento.
Com efeito, o Colegiado de 2º Grau, data venia, não justifi cou a imposição,
parecendo que a multa foi aplicada pela simples rejeição dos embargos.
Diante do exposto, conheço parcialmente do recurso para cassar a multa
imposta.
É o voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
130
RECURSO ESPECIAL N. 24.964-DF (92.0018107-4)
Relator: Ministro Vicente Cernicchiaro
Recorrente: União Federal
Recorridos: João Rodrigues e outros
Advogado: Renilde T. de Resende Avila
EMENTA
REsp. Processual Civil. Embargos de declaração. Multa.
Prequestionamento. A jurisprudência consagrou admitir a oposição de
embargos de declaração para efetivar prequestionamento de matéria
a ser deduzida em recurso especial ou recurso extraordinário. Não
evidenciado intuito procrastinatório, inadmissível aplicar a multa
(CPC, art. 538, parágrafo único).
Ademais, orientação do STJ exige que a decisão seja
fundamentada.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas constantes nos autos, por unanimidade, conhecer parcialmente do
recurso e dar provimento para excluir a multa aplicada, nos termos do voto do
Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os Srs. Ministros José Cândido e Pedro
Acioli.
Brasília (DF), 29 de outubro de 1992 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator
DJ 15.02.1993
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 131
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Recurso especial interposto pela União Federal, nos autos dos embargos de declaração na apelação cível, em que contende com João Rodrigues e outros.
A Recorrente, com base no disposto no art. 105, III, da Constituição Federal, argúi negativa de vigência de Lei Federal e divergência jurisprudencial (fl s. 114-132).
A Recorrente pretende a cassação do acórdão proferido nos embargos de declaração, a fi m de ser determinada a juntada, no Tribunal a quo, do acórdão plenário sobre o incidente de inconstitucionalidade, e cassada a pena de multa que lhe fora imposta (fl . 132).
O v. acórdão (fl s. 101-112) decidiu negar provimento aos embargos de declaração por serem manifestamente protelatórios, condenando a Embargante a pagar aos Embargados a multa de 1% (um por cento) sobre o valor atribuído à causa. Estampa a seguinte ementa:
Embargos de declaração. Inexistência de omissão, obscuridade, dúvida ou contradição no julgado embargado. Juntada de documento ao processo. Natureza protelatória. Multa. Rejeição dos embargos.
1. Os embargos de declaração não são remédio processual adequado à juntada de documento ao processo, que pode ser feita através de simples petição.
2. Inexistindo no acórdão omissão, obscuridade, dúvida ou contradição, rejeitam-se os embargos de declaração que lhe foram opostos.
3. Omissão, obscuridade, dúvida e contradição inexistentes.
4. Embargos de declaração que têm como objeto, unicamente, a juntada de documento ao processo são manifestamente protelatórios e sujeitam o Embargante à pena prevista no parágrafo único do art. 262 do Regimento Interno.
5. Embargos de declaração rejeitados.
6. Multa estipulada nos termos do art. 262, parágrafo único, do Regimento Interno (fl . 112).
O Recorrente, quanto à alínea a, sustenta:
No caso, a falta dos fundamentos da decisão plenária (justamente sobre a prejudicial de inconstitucionalidade) traz negativa de vigência dos arts. 165, 458, II, do CPC, que tratam da motivação das decisões judiciais. E, justamente para suprir essa omissão, é que foram interpostos os embargos de declaração, indevidamente rejeitados.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
132
E o acórdão, afi rmando a desnecessidade da presença da decisão plenária, negou vigência também aos arts. 480 a 482 do CPC, pois desconheceu a natureza subjetivamente complexa da decisão incidental de inconstitucionalidade (fl s. 118-119).
O acórdão dos embargos, negando-se a suprir a omissão apontada pela União Federal, para integração da decisão proferida pelo Tribunal através de seus dois órgãos, negou vigência ao art. 535, inciso II, do CPC (fl . 120).
A declaração de serem tais embargos protelatórios, bem como a imposição da pena de multa, caracterizam negativa de vigência frontal ao art. 538, parágrafo único, do CPC (fl . 123).
Relativamente à alínea c, sustenta:
Portanto, não pode prevalecer o acórdão recorrido que, em divergência com os precedentes da Suprema Corte, declarou os embargos da União Federal manifestamente protelatórios, aplicando à embargante a multa do art. 535, II, do Código de Processo Civil (fl . 131).
O r. despacho do ilustre Presidente do Tribunal de origem admitiu o recurso especial com fundamento nas alíneas a e c (fl s. 214-215).
Parecer do Ministério Público Federal, subscrito pelo ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Flávio Giron, opinando pelo conhecimento e provimento do recurso (fl s. 224-227).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): A Recorrente postula: a)
cassação do acórdão dos embargos de declaração “para ser determinada a juntada,
no órgão a quo, do acórdão plenário sobre o incidente de inconstitucionalidade”
(fl . 132); b) “cassada a pena de multa arbitrariamente imposta” (fl . 132).
Os embargos de declaração, embora incluídos no rol dos recursos, no
Código de Processo Civil, substancialmente, não contêm os respectivos
requisitos. Não visam infringir o julgado. Ao contrário, suprir omissão,
obscuridade, contradição ou dúvida. Buscam, pois, a atender ao princípio da
economia processual e à harmonia das decisões. O art. 535 do Código unitário
não deixa dúvida.
Em conseqüência, não constituem via processual adequada para reclamar a
requisição de documentos. Aliás, a instrução do processo incumbe ao interessado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 111-133, maio 2010 133
A intervenção do magistrado só ocorre quando a parte, por si só, não tem acesso
à prova.
No tocante à multa (CPC, art. 538, parágrafo único), a Recorrente, quando
opôs os embargos de declaração, afi rmou que o fazia “para satisfazer o requisito
do prequestionamento” (fl . 97).
O pormenor é relevante.
Embora não considere o procedimento correto para tal fi m, a jurisprudência
vem abonando a tese.
Para mim, os embargos de declaração são necessários quando o v. acórdão
for omisso, obscuro, contraditório ou encerrar dúvida. Não se prestam, contudo,
para inovar matéria que não seria objeto de julgamento.
Prequestionamento é seqüência de apreciação da matéria apreciada na
instância a quo.
De outro lado, a multa reclama animus de procrastinar ou tumultuar.
Certo, ou equivocadamente, a Recorrente demonstrou propósito de
prosseguir o debate judiciário.
Aliás, essa orientação é sufragada pela jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, de que são exemplos: REsp n. 10.808-MG, Relator Dias Trindade;
REsp n. 9.085-SP, Relator Ministro Waldemar Zveiter; REsp n. 2.601, Relator
Ministro Barros Monteiro.
A egrégia Corte Especial, na sessão de 08 do corrente, reeditou o
entendimento, nos Embargos de Divergência em Recurso Especial n. 20.756-8-
São Paulo, Relator, Ministro Assis Toledo.
Conheço parcialmente, do recurso para excluir a multa aplicada.
Súmula n. 99
SÚMULA N. 99
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que
ofi ciou como fi scal da lei, ainda que não haja recurso da parte.
Referência:
CPC, art. 499, § 2º.
Precedentes:
REsp 5.333-SP (3ª T, 22.10.1991 — DJ 25.11.1991)
REsp 5.507-SP (2ª T, 14.11.1990 — DJ 10.12.1990)
REsp 5.620-SP (2ª T, 12.05.1993 — DJ 31.05.1993)
REsp 6.459-SP (2ª T, 11.09.1991 — DJ 07.10.1991)
REsp 6.536-SP (1ª T, 26.04.1993 — DJ 31.05.1993)
REsp 6.795-SP (2ª T, 17.12.1990 — DJ 04.03.1991)
REsp 22.920-PR (3ª T, 30.08.1993 — DJ 18.10.1993)
REsp 35.314-SP (6ª T, 21.09.1993 — DJ 11.10.1993)
Corte Especial, em 14.04.1994
DJ 25.04.1994, p. 9.284
RECURSO ESPECIAL N. 5.333-SP (90097592)
Relator: Ministro Nilson Naves
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Pedro Gabriel Felício
Advogado: Pedro Augusto Marcello
EMENTA
Ministério Público. Recurso, em ação de investigação de
paternidade, com pedido de alimentos, proposta pela mãe em nome do
fi lho, menor impúbere. Legitimidade. Ofi ciando, em processos, como
parte (órgão agente) ou como fi scal da lei (órgão interveniente), tem o
Ministério Público legitimidade (ou interesse) para recorrer, sempre.
Código de Processo Civil, art. 499, § 2º. Recurso especial conhecido e
provido, para que seja retomado o julgamento da apelação.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
recurso especial e lhe dar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Brasília (DF), 22 de outubro de 1991 (data do julgamento).
Ministro Nilson Naves, Presidente e Relator
DJ 25.11.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: Da ação de investigação de paternidade,
com pedido de alimentos, por ela promovida representando o seu fi lho, menor
impúbere, a autora desistiu, sem oposição do curador especial nomeado após o
pedido de desistência. Homologado o pedido, daí a extinção do processo, apelou
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
140
o Promotor de Justiça, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo (Terceira Câmara
Civil) não conheceu da apelação, verbis:
Porém, não merece conhecimento o recurso.
Atua o Ministério Público apelante, na hipótese, exclusivamente como custos legis, sem se comprometer com o prevalecimento de quaisquer dos interesses das partes em confl ito.
Quem, no caso, defende os interesses do menor, eventualmente colidindo com os de sua mãe e representante legal, nos termos do art. 9º, I, do CPC, é o Curador Especial nomeado pelo Magistrado, que está de acordo com a desistência da ação.
Em suma, como já se decidiu, “se o incapaz está regularmente representado, o órgão do Ministério Público funciona como simples fi scal da lei” (RJTJESP, 99/264; 90/210; 76/227).
Portanto, se o Ministério Público atua apenas como custos legis e jamais como parte, na ação de investigação de paternidade, cumulada com alimentos, ao mesmo falta legitimidade para recorrer, em nome ou na defesa do menor investigante.
No mesmo sentido, outrossim, o entendimento desta Terceira Câmara, manifestado no julgamento da Apelação Cível n. 70.389-1, Relator Toledo Cesar (in RJTJESP, 104/174).
Pelo exposto, não conhecem da apelação.
Daí o recurso extraordinário, com argüição de relevância, interposto
pela Procuradoria Geral da Justiça, envolvendo o art. 499, § 2º, do Código
de Processo Civil. Convertido em recurso especial, e admitido na origem, a
Subprocuradoria Geral da República, nesta Corte, opina pelo seu conhecimento
e provimento.
Conclusos em 27.08.1991.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): O recurso tem por negada a
vigência do art. 499, § 2º (“O Ministério Público tem legitimidade para recorrer
assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal
da lei”), do Código de Processo Civil, na medida em que o acórdão recorrido,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 141
distinguindo a atuação ministerial, entendeu que, na função como fi scal da lei,
ao Ministério Público, no caso, faltaria legitimidade para recorrer.
2. Quanto à legitimidade, tem-na, sempre, o Ministério Público, como
parte ou como fi scal da lei, pela expressão, e própria, do texto processual em
causa. E quanto ao interesse para recorrer? Tem-no, desde que legitimada a
sua atuação. Legitimidade e interesse se confundem, admitindo-se em casos
que tais, a plena função, no processo, do Ministério Público, como parte (órgão
agente) ou como fi scal da lei (órgão interveniente).
3. Relativamente ao caso destes autos, vejam-se as razões da recorrente, de
todo procedentes:
5. No caso dos autos, havia, porém, duas causas bastantes a justificar a intervenção do Ministério Público: uma, ligada à natureza da relação jurídica controvertida (questão de Estado — art. 82, II, do CPC); outra, presa à qualidade de uma das partes da relação processual (o autor é incapaz — art. 82, I, do CPC).
Tanto porque a questão de Estado diz respeito com a ordem pública, tratando de direitos objetivamente indisponíveis, como porque um dos pólos da relação processual é ocupado por um menor impúbere, de cujos interesses não pode dispor seu representante legal, em ambas as hipóteses a intervenção ministerial ocorre em prol do zelo dos interesses indisponíveis do menor e da própria coletividade, dados os efeitos erga omnes da proclamação da questão de Estado, objetivada neste feito.
Em razão da questão de Estado, pode o Ministério Público recorrer em prol da busca da correta aplicação da lei material e processual, independentemente de a quem possa aproveitar seu recurso. Por isso que nas ações de estado pode recorrer em prol da procedência, da improcedência, ou até mesmo da carência, ou seja, em busca da correta aplicação da lei.
Já quando o órgão ministerial intervém em razão da existência de interesse de incapaz,
está finalisticamente destinado a proteger o interesse personificado que lhe legitima a intervenção (...). A intervenção ministerial só pode ser protetiva, para nada mais fazer do que velar por dita indisponibilidade, que está ligada direta e unicamente ao incapaz. Não teria o Curador de Incapazes sequer interesse processual para recorrer contra os interesses da pessoa cuja incapacidade legitimou sua intervenção no feito, porque, nesse caso, estaria zelando por interesses disponíveis da parte contrária, maior e capaz (Justitia, 130/187; RT, 571/141, 568/109, 568/120, 569/135) (Hugo Nigro Mazzilli, Curadoria de ausentes e incapazes, p. 27-28, Ed. Associação Paulista do Ministério Público, São Paulo, 1988).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
142
Segundo a autorizada lição de Cândido Rangel Dinamarco,
a fi gura processual do Ministério Público, neste caso, é a de assistente, aquele que ingressa no processo ad coadjuvandum; por razões que no momento não interessam, o legisladorconsidera o incapaz mais fraco dentro do processo e é preciso que essa fraqueza seja compensada. É por isso que intervém o Ministério Público, para compensar a fraqueza e, portanto, para reforçar a parte. (Op. cit., p. 98).
Diz ainda o ilustre Professor que, sendo assistente do incapaz, cumpre ao órgão do Ministério Público ajudá-lo, de modo a aumentar suas probabilidades de ganho, “podendo, inclusive, recorrer (CPC, art. 499)” (op. cit., p. 332).
Desta forma, mesmo que se aceite a dualidade de formas de atuação ministerial no processo civil (como órgão agente e como órgão interveniente, ou, como querem alguns, como “parte” e como “fiscal da lei”), em ambas as hipóteses tem ele a ampla possibilidade de recorrer, apenas balisado pela defesa do interesse público indisponível que lhe legitimou a própria intervenção.
Desta forma, com a devida vênia, de forma alguma seria adequado utilizar-se a distinção estabelecida no v. acórdão ora recorrido, que negou a legitimidade recursal do órgão do Ministério Público, justamente quando o Promotor de Justiça manifestou corretamente sua inconformidade com a desistência de uma ação de Estado, formulada pela representante legal de um incapaz impúbere, desistência essa que contou desde a primeira ocasião com sua imediata discordância e com sua oportuna inconformidade recursal. Aliás, a inconformidade recursal estava perfeitamente harmônica com a orientação do próprio Pretório excelso. Com efeito o próprio Supremo Tribunal Federal já tinha asseverado que, por tratar-se de direito indisponível, sequer poderia ter sido homologada a desistência da ação de investigação de paternidade, formulada pelos autores, absolutamente incapazes, representados pela mãe, se à aludida desistência se opusera o órgão do Ministério Público (cf. RTJ 70/826; no mesmo sentido, cf. RJTJESP 73/229).
Por tais motivos, injustifi cável, com a devida vênia, a restrição estabelecida no v. acórdão recorrido. Já que o legislador processual civil conferiu legitimidade recursal genérica ao Ministério Público, cabe lembrar que ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus.
4. Já decidiu este Tribunal, em sua Primeira Seção, conforme essas ementas:
— Processual. Recurso. Ministério Público. Legitimidade para recorrer.
I - O CPC é incisivo sobre ter o Ministério Público Federal legitimidade para recorrer, tanto como parte ou como fi scal da lei (CPC, art. 499, § 2º).
II - Recurso provido. (REsp n. 4.114, DJ de 03.12.1990, Sr. Ministro Geraldo Sobral)
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 143
— Recurso Especial. Ministério Público. Legitimidade. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como parte ou fi scal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as partes. A única ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso adesivo. (REsp n. 6.795, DJ de 04.03.1991, Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro)
— Processo Civil. Ministério Público. Recurso. Legitimidade. Art. 499, § 2º, do CPC.
— Mesmo quando atua como custos legis tem o Ministério Público legitimidade para recorrer, máxime quando, em ação acidentária, busca resguardar direito do obreiro.
— Recurso provido. (REsp n. 8.038, DJ de 06.05.1991, Sr. Ministro Américo Luz)
5. Lembrou ainda a recorrente o seguinte:
Aliás, o egrégio Supremo Tribunal Federal já negou às expressas os efeitos da distinção que procurou fazer o v. acórdão recorrido. Com efeito, o Pretório excelso, dando a interpretação do art. 188 do CPC, já proclamou que, seja órgão agente, seja órgão interveniente (ou, como se preferir, seja “parte”, seja “fi scal da lei”), terá o Ministério Público, sempre, o mesmo prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer (cf. RE n. 93.531-1-SP, Relator Ministro Oscar Correa, DJU de 1º.07.1983, p. 9.998; RE n. 94.064-2-SP, Relator Ministro Néri da Silveira, DJU de 17.12.1982, p. 13.209).
6. Por considerar ofendido o aludido art. 499, § 2º, conheço do recurso
especial e lhe dou provimento, para que o Tribunal a quo retome o julgamento
da apelação, como for de direito.
RECURSO ESPECIAL N. 5.507-SP (90.10240-5)
Relator: Ministro Américo Luz
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS
Interessado: José Valdinar Pereira Lima
Advogados: Esmeralda Figueiredo de Oliveira e outros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
144
EMENTA
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de
conta de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a
aplicação do índice integral. Não-conhecimento. Recurso especial.
Art. 499, § 2º, do CPC.
— Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em
recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
— Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Segunda Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar
provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas anexas, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 14 de novembro de 1990 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente e Relator
DJ 10.12.1990
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Américo Luz: Homologada por sentença a conta de
liquidação relativa à presente ação acidentária, interpôs o Ministério Público
apelação pretendendo a aplicação do índice integral e não o fracionado adotado
pelo cálculo para o reajustamento do benefício.
Apreciando o apelo, a Terceira Câmara do Segundo Tribunal da Alçada
Civil do Estado de São Paulo dele não conheceu, consignando o acórdão faltar
ao apelante interesse em apresentar recurso, uma vez agir no feito como custos
legis e tratar-se de direito disponível — fl . 110.
Daí o recurso especial, fundado na letra a do permissivo constitucional,
onde sustenta o Ministério Público que o venerando aresto negou vigência ao
art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 145
Admitido o recurso, subiram os autos.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): Das razões recursais destaco (fl s.
125-126):
Vale anotar que, para não conhecer do recurso, o v. acórdão recorrido disse faltar “legitimidade” ao órgão do Ministério Público para recorrer, porque, no caso, era ele custos legis.
O Ministério Público, porém, conserva igual legitimidade para recorrer, quer seja órgão interveniente (“fi scal da lei”), quer seja órgão agente (“ parte”), por expressa dicção legal (art. 499, § 2º, do CPC).
Embora mencionando a “falta de legitimidade” do Ministério Público, talvez tivesse em mente o v. acórdão recorrido a falta de interesse recursal.
Contudo, tal objeção também não poderia prosperar.
Legitimidade para recorrer tem o Ministério Público sempre que a lei lhe comete ofi ciar num feito, seja como órgão, seja como órgão interveniente (art. 499, § 2º, do CPC). Como corretamente ensina Carnelutti, para o Ministério Público, o interesse processual deriva do poder (legitimidade) que legislador lhe outorgou para o exercício da ação civil (Mettere il Pubblico Ministero al suo posto, “Rivista di Diritto Processuale”, Pádua, Cedam, 1953, pp. 258-259, no mesmo sentido, cf. Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz, Édis Milaré e Nélson Nery Júnior. A ação pública e a tutela jurisdicional dos interesses difusos, p. 35, São Paulo, 1984). Como diz Mazzilli, “o interesse de agir, por parte do Ministério Público, é presumido: quando a lei lhe confere legitimidade para intervir, é porque lhe presume o interesse.” (A defesa dos interesses difusos em juízo — meio ambiente, consumidor e patrimônio cultural, p. 57, ed. Rev. dos Tribunais, São Paulo, 1988). A conclusão de Salvatore Satta é perfeitamente adequada ao nosso sistema jurídico: “o interesse do Ministério Público é expresso na própria norma, que lhe permitiu ou conferiu o modo de atuar”. (“Direito Processual Civil”, v. 1, n. 45, Rio, Ed. Borsoi, 1973).
Desta forma, havia, como há, legitimidade e interesse do Ministério Público na reforma da r. sentença.
Dispõe o § 2º do art. 499 do CPC que “O Ministério Público tem
legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em
que ofi ciou como fi scal da lei.”
Tal disposição é comentada por Sérgio Bermudes nestes termos:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
146
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei, diz o § 2º: Se o órgão do Ministério Público é representante, substituto, ou assistente da parte, pode recorrer, nos casos em que se autoriza o recurso da parte. Aí, não há que distingui-lo do sujeito comum da relação processual. Qualquer limitação à iniciativa recursal do Ministério Público seria contrária à sua posição no processo. Com efeito, não se poderia conceber o Ministério Público representando, substituindo, ou coadjuvando uma das partes e limitado no seu direito de discutir a matéria, na instância recursal. Sua atividade, nessa hipótese, fi caria tolhida e sua missão processual não se completaria. Por conseguinte, a lei não criou restrição a essa iniciativa do Ministério Público quando sua função, no processo, é de representação, substituição, ou assistência. Está, portanto, legitimado a recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção. (“Comentários ao Código de Processo Civil” — vol. VII, p. 60).
Na espécie, não concordou o Ministério Público com a aplicação do índice
fracionado, apelando da sentença homologatória do cálculo.
Além de legitimidade (art. 499, § 2º, do CPC), tem o recorrente interesse
em recorrer.
Dou, pois, provimento ao recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 5.620-SP
Relator: Ministro Hélio Mosimann
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS
Advogados: João José D’Elia e outros
Interessado: Auri Luciano de Souza
Advogados: Luiz Gonzaga Curi Kachan e outros
EMENTA
Processual Civil. Ministério Público. Legitimidade para recorrer.
Art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 147
Quer como fi scal da lei, quer como parte, a legitimidade do
Ministério Público para recorrer está expressa no texto legal.
— Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz, Pádua Ribeiro e José de Jesus.
Brasília (DF), 12 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente
Ministro Hélio Mosimann, Relator
DJ 31.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Tratando-se de ação acidentária, em fase
de liquidação, em que é recorrente o Ministério Público (no interesse de Auri
Luciano de Souza) e recorrido o Instituto Nacional do Seguro Social, o acórdão
recorrido assim se pronunciou:
O autor é maior e está sendo regularmente representado nos autos por advogado.
O cálculo elaborado às fl s. 85-86, apontando a quantia total de Cz$ 31.918,68, já foi levantada pelo autor, como se verifi ca nas guias de fl s. 116 e 118, sem qualquer ressalva.
Assim, em que pese o respeito que merece o culto e combativo doutor Curador de Acidentes, diante do levantamento da quantia depositada pelo INPS e a ausência de recurso do autor, pode ser lembrado que: “A circunstância de a parte abrir mão, de vantagem discutida no processo, não possibilita a intervenção, como fi scal da lei, do órgão do Ministério Público, pela ausência de interesse do titular da ação” (Apelação n. 228.230, em que foi Relator o culto Juiz Demóstenes Braga), ou seja, o fato de intervir no feito como fi scal da lei, “confere amplos poderes, porém nessa função, não possui legitimidade para recorrer” (Apelação n. 235.050, Relator o eminente Juiz Oswaldo Breviglieri).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
148
A atuação da digna Curadoria de Acidentes em favor do obreiro, não pode ir a ponto de substituir os advogados contratados, se estes não se insurgem contra a decisão. (fl . 135)
Recorre o Ministério Público Estadual, com fundamento no art. 105, III,
letra a, da Constituição Federal, alegando, em resumo, que o venerando acórdão
negou vigência ao art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil, à medida em que
asseverou faltar legitimidade recursal ao MP, quando atuando como custos legis.
Contra-razões às fl s. 156 e 165-166.
Às fl s. 159-161, o ilustre Vice-Presidente do Tribunal de origem admitiu a
formação do recurso.
Nesta instância, a douta Subprocuradoria Geral da República, às fl s. 172-
174, opinou pelo provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): O acórdão recorrido negou
legitimidade ao Ministério Público para recorrer, porque custos legis no caso
sob exame. Ademais, afi rmou o acórdão, o acidentado estava representado por
advogado.
Penso que, na realidade, negou-se vigência ao § 2º do art. 499 do Código
de Processo Civil, uma vez que ali está expressa a legitimidade do Ministério
Público para recorrer, quer como parte, quer como fi scal da lei. Nenhuma
ressalva existe no particular.
Assim também tem entendido a jurisprudência, particularmente deste
Tribunal. Veja-se, por exemplo, o Recurso Especial n. 5.333-SP, Relator
Ministro Nilson Naves, in Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 27, pp.
329 e 334, trazendo vários precedentes, inclusive acórdão desta Turma relatado
pelo Ministro Américo Luz, em ação acidentária — REsp n. 8.038, DJ de
06.05.1991). Ainda nesta mesma sessão de hoje, REsp n. 4.051-SP, Relator
Ministro José de Jesus.
Isto posto, dou provimento ao recurso, a fi m de que seja apreciado o mérito
do apelo.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 149
RECURSO ESPECIAL N. 6.459-SP (90.0012454-9)
Relator: Ministro José de Jesus Filho
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS
Interessado: Francisco Pires Correia
Advogada: Esmeralda Figueiredo de Oliveira
EMENTA
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de
conta de liquidação. Apelação. Ministério Público. Legitimidade.
Tem o Ministério Público legitimidade e interesse em recorrer,
seja como parte ou fi scal da lei (art. 499, § 2º, CPC), de todas as
decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
do recurso e lhe dar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 11 de setembro de 1991 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro José de Jesus Filho, Relator
DJ 07.10.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: O Ministério Público do Estado de São
Paulo, com apoio no art. 105, III, alínea a, da Constituição Federal, interpôs
recurso especial ao v. acórdão, proferido pela Terceira Câmara do Segundo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
150
Tribunal de Alçada Civil, que decidiu não ter o seu representante legitimidade
para recorrer da sentença homologatória de cálculos, em ação acidentária
proposta por Francisco Pires Correia contra o INPS.
Alega o Recorrente que a decisão atacada negou vigência ao art. 499, § 2º,
do CPC.
O recurso foi impugnado (fls. 159-160), admitido (fls. 166-167) e
encaminhado a esta Corte.
A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo seu provimento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): O Dr. Curador de Acidentes
do Trabalho apelou da sentença homologatória de conta de liquidação, em
ação acidentária movida por Francisco Pires Correia em desfavor do INPS,
sob o fundamento de que à conta não foi aplicado o índice integral ao primeiro
reajuste do benefício acidentário.
Ao apreciar o apelo, a colenda Terceira Câmara do Segundo Tribunal de
Alçada Civil dele não conheceu, ao fundamento de não haver legitimidade
recursal do representante do Ministério Público, no caso dos autos. Daí, a
irresignação que, a meu ver, procede.
Colhe-se das razões recursais (fl s. 155-157):
Vale anotar que, para não conhecer do recurso, o v. acórdão recorrido disse faltar “legitimidade” ao órgão do Ministério Público para recorrer, porque, no caso, era ele custos legis.
O Ministério Público, porém, conserva igual legitimidade para recorrer, quer seja órgão interveniente (“fi scal da lei”), quer seja órgão agente (“parte”), por expressa dicção legal (art. 499, § 2º, do CPC).
Embora mencionando a “falta de legitimidade” do Ministério Público, talvez tivesse em mente o v. acórdão recorrido a falta de interesse recursal.
Contudo, tal objeção também não poderia prosperar.
Legitimidade para recorrer tem o Ministério Público sempre que a lei lhe comete ofi ciar num feito, seja como órgão agente, seja como órgão interveniente (art. 499, § 2º, do CPC). Como corretamente ensina Carnelutti, para o Ministério Público, o interesse processual deriva do poder (legitimidade) que legislador
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 151
lhe outorgou para o exercício da ação civil (“Mettere il Pubblico Ministero al suo posto”, “Rivista di Diritto Processuale”, Pádua, CEDAM, 1953, pp. 258-259; no mesmo sentido, cf. Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz, Édis Milaré e Nélson Nery Júnior, a ação pública e a tutela jurisdicional dos interesses, difusos, p. 35, São Paulo, 1984). Como diz Mazzilli, “o interesse de agir, por parte do Ministério Público, é presumido; quando a lei lhe confere legitimidade para intervir, é porque lhe presume o interesse” (A defesa dos interesses difusos em juízo meio ambiente, consumidor e patrimônio cultural, p. 57, Ed. Rev. dos Tribunais, São Paulo, 1988). A conclusão de Salvatore Satta é perfeitamente adequada ao nosso sistema jurídico: “o interesse do Ministério Público é expresso na própria norma, que lhe permitiu ou conferiu o modo de atuar.” (“Direito Processual Civil”, v. 1, n. 45, Rio, Ed. Borsoi, 1973).
Desta forma, havia, como há legitimidade e interesse do Ministério Público na reforma da r. sentença.
E a douta Subprocuradoria Geral da República ressaltou, com propriedade
(fl . 177):
Observe-se, ainda, que independentemente do autor ter advogado constituído a atuação do membro do Parquet seja como parte, seja como custos legis, sempre se faz no interesse da justiça, no zelo pela correta aplicação da lei, razão pela qual a Constituição atual erigiu a sua atuação como essencial à função jurisdicional do Estado.
Ademais, como bem ressaltou o ilustre recorrente:
... o Curador de Acidentes do Trabalho é parte na relação processual, visto ser esta a posição que o Ministério Público invariavelmente assume. Além disso, está ele vinculado a um dos interesses substanciais em discussão, qual seja, ao do acidentado (cf. Cândido Rangel Dinamarco, ob. cit., p. 328; Araújo Cintra e outros, pp. 266-267).
O art. 43, I, da Lei Complementar n. 304/1982, coerente com as lições doutrinárias, impõe ao Curador de Acidentes o dever de zelar pelos interesses do obreiro. Exatamente por isso, o egrégio Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo não tem conhecido de recursos por ele interpostos, em favor do INPS, já que sua intervenção no processo se dá em razão da hipossufi ciência do acidentado, não para zelar pelos interesses da autarquia previdenciária (cf. RT 571/141, 568/128, 569/135, Apelação n. 125.317, Sexta Câmara, Relator Juiz Olavo Zampol).
Por derradeiro vale destacar o acórdão relatado pelo eminente Ministro Vicente Cernicchiaro no REsp n. 6.795-SP, assim ementado:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
152
Recurso especial. Ministério Público. Legitimidade.
— O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como parte ou fi scal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as partes. A única ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso adesivo. (DJ de 04.03.1991, p. 1.981)
Vê-se, portanto, que além de legitimidade (art. 499, § 2º, CPC), tem o
recorrente interesse em recorrer.
Neste sentido, o REsp n. 5.507-SP, Relator o Sr. Ministro Américo Luz,
assim ementado:
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a aplicação do índice integral. Não-conhecimento. Recurso especial. Art. 499, § 2º, do CPC.
— Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
— Recurso provido.
Pelo exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento.
É o meu voto.
RECURSO ESPECIAL N. 6.536-SP (90.12637-1)
Relator: Ministro Milton Pereira
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS
Interessado: José Mauro de Oliveira Aires
Advogados: Elsa Maria Sanches Ramos e Mauro Carlos Ferraro e outros
EMENTA
Previdenciário. Processual Civil. Ação acidentária. Curador de
Acidentes do Trabalho. Legitimidade do Ministério Público para
recorrer. Arts. 81, 82, 83 e 499, § 2º, CPC.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 153
1. O sistema processual civil vigente revela dúplice atuação do
Ministério Público — parte e fi scal da lei (art. 499, § 2º, CPC) — A
qualifi cação custos legis tem merecido reprimenda doutrinária.
2. Os interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF)
são pressupostos asseguradores da legitimidade para integração do
Ministério Público na relação processual, exercitando as suas funções
e infl uindo no acertamento do direito objeto de contradição, com os
ônus, faculdades e sujeições inerentes à sua participação infl uente no
julgamento do mérito.
3. Precedentes na jurisprudência.
4. Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencido o Sr.
Ministro Garcia Vieira, dar provimento ao recurso, na forma do relatório e
notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do
presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira,
Demócrito Reinaldo e Gomes de Barros. Ausente, justificadamente, o Sr.
ministro Cesar Rocha. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Garcia Vieira.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 26 de abril de 1993 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente
Ministro Milton Pereira, Relator
DJ 31.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Milton Pereira: o Ministério Público do Estado de São
Paulo, com supedâneo no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal,
interpôs recurso especial contra o v. acórdão do egrégio Tribunal de Alçada Civil
do Estado de São Paulo que não conheceu de apelação sem revisão, na qual se
pretende a aplicação de índice integral ao reajuste de benefício acidentário.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
154
Eis o teor do v. aresto:
A ilustre Curadoria, no caso, ofi cia como fi scal da lei, não estando, pois, a representar o autor, único legitimado ao zelo de seu direito, por intermédio do advogado regularmente constituído (fl . 5).
Desta forma, a apelante é parte ilegítima para recorrer, porquanto a insurgência não visa interesse público, este sim, alvo da fi scalização em tela.
Registre-se, afi nal, que nada obstante a regra do § 2º do art. 499 do Código de Processo Civil, a reconhecer a legitimidade do Ministério Público a recorrer tanto nos processos em que é parte, como naqueles em que atua como órgão fi scalizador, o certo é que a norma não pode ser avistada senão em conjunto com o disposto no art. 82 do precitado estatuto de rito que estabelece as hipóteses de intervenção do Parquet. E, no caso, porque o apelo não tem em mira o interesse público, mas, tão-somente, outro, de proveito exclusivo do autor, não há legitimidade da Curadoria à sua interposição. (fl s. 90-91)
Sustenta o recorrente que a v. decisão atacada negou vigência ao art. 499,
§ 2º, do Código de Processo Civil. Asseverou que negar “ao Ministério Público,
no caso sob exame, legitimidade e interesse para recorrer, é, por vias transversas,
impedir a realização da intenção da lei de ver resguardado, ao máximo, o
interesse público que existe na preservação do direito particular do obreiro
que, por não saber ou não poder defender-se, sucumbe diante da interpretação
equivocada e insensível das fórmulas processuais.”
Contra-arrazoando, o Instituto Nacional da Previdência Social argumentou
que o Ministério Público, nas ações acidentárias, atua como fi scal da lei “não
estando por isso a representar o obreiro.” (fl s 113-115)
A ilustrada Subprocuradoria Geral da República opinou pelo provimento
do recurso, com o seguinte entendimento:
Como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, “o Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei — art. 499, § 2º, CPC” (RE n. 91.677-PR, Segunda Turma, Relator Ministro Cordeiro Guerra, in RTJ 93/1.339).
(...)
Na espécie, ação relativa a acidente do trabalho, o Ministério Público local funcionou na qualidade de custos legis: a sua legitimação para recorrer assenta-se, indiscutivelmente, na expressa literalidade do art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil e o interesse do Parquet, resultante de sua própria legitimidade absolutamente não se confunde com o interesse da parte.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 155
O acórdão hostilizado, em síntese, à toda evidência, negou vigência ao art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil, pelo que está a merecer urgente corrigenda. (fl s. 125-126)
Admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Milton Pereira (Relator): a Curadoria de Acidentes do
Trabalho, com persistente irresignação, apelou de sentença homologatória da
conta de liquidação em ação acidentária, pretendendo a reforma do julgado para
ser aplicado o índice geral ao reajuste do benefício, pretensão não conhecida,
cônsono o venerando acórdão:
A ilustre Curadoria, no caso, ofi cia como fi scal da lei, não estando, pois, a representar o autor, único legitimado ao zelo de seu direito, por intermédio do advogado regularmente constituído (fl . 5).
Desta forma, a apelante é parte ilegítima para recorrer, porquanto a insurgência não visa interesse público, este sim, alvo da fi scalização em tela.
Registre-se, afi nal, que nada obstante a regra do § 2º do art. 499 do Código de Processo Civil, a reconhecer a legitimidade do Ministério Público a recorrer tanto nos processos em que é parte, como naqueles em que atua como órgão fi scalizador, o certo é que a norma não pode ser avistada senão em conjunto com o disposto no art. 82 do precitado estatuto de rito que estabelece as hipóteses de intervenção do Parquet. E no caso, porque o apelo não tem em mira o interesse público, mas, tão-somente, outro, de proveito exclusivo do autor, não há legitimidade da Curadoria à sua interpretação (fl s. 90-91).
Irretorquível, no caso, que o Ministério Público Federal participou da
relação processual, a sua legitimidade resulta do interesse jurídico justifi cador
daquele ingresso admitido, vincado nas funções de intervenção autorizada em
lei. Essa participação estende-se à incidência recursal, como acentuado nas
eruditas razões do recurso, a saber:
omissis (...)
“Em outras palavras, o interesse está pressuposto (in re ipsa) na própria outorga da legitimação: foi ele identifi cado previamente pelo próprio legislador, o qual, por isso mesmo, conferiu a legitimação”.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
156
Como diz Hugo Mazzilli, “o interesse de agir, por parte do Ministério Público, é presumido: quando a lei lhe confere legitimidade para intervir, é porque lhe presume o interesse”. A conclusão de Satta, no particular, é perfeitamente adequada ao nosso sistema jurídico: “o interesse do Ministério Público é expresso na própria norma, que lhe permitiu ou conferiu o modo de atuar”.
Ao ingressar no processo, quer na função de parte, quer na de fi scal da lei, o Ministério Público está atuando na defesa do interesse público. Conforme referido acima, ao lhe ser outorgada legitimação para agir ou intervir em determinado processo, já se lhe reconheceu previamente o interesse. É porque há interesse é que o Ministério Público está legitimado a recorrer (art. 499, CPC). Interessa sempre à sociedade, que a decisão da causa onde haja interesse público seja tomada de modo mais aproximado possível da justiça ideal, sem vício de procedimento ou de juízo.
Daí decorre a correta afi rmação de que o interesse recursal não se constitui para o Parquet em pressuposto de admissibilidade do recurso.
Esta é a razão pela qual, no processo penal, pode ele recorrer de sentença condenatória em favor do réu.
Não raras vezes o Ministério Público interpõe recurso, no processo civil e no processo penal, contra posicionamento de seu antecessor no processo. Essa circunstância, como já se viu, não lhe retira o interesse recursal (fl s. 103-105).
(...)
O direito discutido na ação acidentária merece tratamento diverso do que lhe deu, data venia, o v. acórdão recorrido, haja vista ser indisponível: “os direitos contemplados na Lei Acidentária, estruturada por normas cogentes, ostentam caráter alimentar e, enquanto tais, são indisponíveis”, de modo que mereciam a fi scalização do Ministério Público, pela via controladora do recurso contra a sentença que desrespeitou essa indisponibilidade.
Deixar o processo acidentário correr ao bel prazer da parte, implicaria tolher a atuação do Parquet na defesa do interesse público, imanente ao processo acidentário, interesse público esse que se encontra sempre superposto ao interesse meramente individual da parte.
Ao propósito, o Pretório excelso fi xou princípio que vale ser aqui invocado:
A custódia da lei, deferida ao Ministério Público, não pode sofrer restrições, na exegese de norma processual, coarctando-lhe o pleno desempenho do ofício.
Como diz Carnelutti:
O escopo das partes é ter razão; o escopo do processo é dar razão a quem a tem. Nas duas fórmulas, verdadeiramente simples, está a antítese entre
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 157
o interesse interno e o interesse externo: que seja dada a razão a quem a tem não é um interesse das partes, mas um interesse da sociedade inteira. Portanto, o processo não serve às partes, mas as partes servem ao processo (grifado no original)
Negar ao Ministério Público, no caso sob exame, legitimidade e interesse para recorrer, é, por vias transversas, impedir a realização da intenção da lei de ver resguardado, ao máximo, o interesse público que existe na preservação do direito particular do obreiro que, por não saber ou não poder defender-se, sucumbe diante de interpretação equivocada e insensível das fórmulas processuais (fl s. 108-110).
Para coroar, evitando abordar com a repetição, ilustrou a douta
Subprocuradoria Geral da República, verbis:
Como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, “o Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei — art. 499, § 2º, CPC”. (RE n. 91.677-PR, Segunda Turma, Relator Ministro Cordeiro Guerra, in RTJ 93/1.339).
Pontes de Miranda, a propósito, escreveu: “Restam os casos (4), em que o Ministério Público apenas é órgão judicial consultivo, técnico, podendo externar o que pensa pró ou contra quaisquer comunicações de vontade feitas ao juiz. Não é parte. Não tem, a priori, qualquer legitimação para recorrer; só a lei pode criá-la e essa lei mesma é que lhe pode permitir o recorrer contra o que se resolveu de acordo com o seu parecer, espécie de ius poenitendi, digna de maiores investigações como problema de política legislativa... O Ministério Público, quando funciona, ou é parte, ou não o é. Se não o é parte, somente pode recorrer se o recurso se subsume no de algum legitimado especial, ou se a lei mesma o legitima... Fora daí e de lei explícita, não pode recorrer... 7. Ministério Público — o art. 499, § 2º, foi bastante explícito, de modo que afastou as dúvidas que exsurgiam sob o Código de 1939, antes da Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965, art. 19, § 2º. Os recursos interponíveis são os comuns. No processo, cabem-lhe os mesmos poderes que às partes (art. 81, mas há regras jurídicas especiais, como a do art. 511, relativa à dispensa do preparo. 8. Interesse de intervir para reconhecer — o interesse para recorrer supõe a legação à relação jurídica que está em causa e pode ser vantajosa para o terceiro provimento do recurso. Quanto ao Ministério Público, art. 499, § 2º” (in “Comentários ao Código de Processo Civil”, Ed. Forense, 1975, tomo VII, pp. 71-72).
Barbosa Moreira, comentando o art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil, acentua que “o Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei. Os recursos utilizáveis pelo Ministério Público são os mesmos, em qualquer hipótese, de que dispõem as partes, sem diferença no que tange aos pressupostos de cabimento” (“Comentários ao CPC”, Forense, vol. V, p. 276).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
158
Na espécie, ação relativa a acidente do trabalho, o Ministério Público local funcionou na qualidade de custos legis: a sua legitimação para recorrer assenta-se, indiscutivelmente, na expressa literalidade do art. 499, § 2º, do Código de Processo Civil e o interesse do Parquet resultante de sua própria legitimidade, absolutamente não se confunde com o interesse da parte (fl s. 125-126).
Diga-se, outrossim, que a jurisprudência desta Corte contemplou a
legitimidade ministerial para recorrer; à seguinte parla:
— Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a aplicação do indice integral. Não-conhecimento. Recurso especial. Art. 499, § 2º, do CPC.
Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
Recurso provido (REsp n. 5.507 — Relator Ministro Américo Luz — in DJU de 10.12.1990).
— Processual. Recurso. Ministério Público. Legitimidade para recorrer, tanto como parte ou como fi scal da lei (CPC, art. 499, § 2º).
Recurso provido (REsp n. 4.114 — Relator Ministro Geraldo Sobral — in DJU de 08.02.1990).
— Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de liquidação. Apelação. Ministério Público. Legitimidade.
Tem o Ministério Público legitimidade e interesse em recorrer, seja como parte ou fi scal da lei (art. 499, § 2º, do CPC), de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção (REsp n. 6.459 — Relator Ministro José de Jesus Filho — in DJU de 07.10.1991).
— Acidente do Trabalho. Recurso do Ministério Público.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer como parte ou como fi scal da lei, mas é necessário o interesse da parte em nome de quem recorre, principalmente, quando não há interesse público atingido e se tratando de direito disponível (REsp n. 6.945 — Relator Ministro Garcia Vieira — in DJU de 18.03.1991).
— Recurso Especial. Ministério Público. Legitimidade.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como parte ou fi scal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõe as partes. A única ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso adesivo (REsp n. 6.795 — Relator Ministro Vicente Cernicchiaro — in DJU de 04.03.1991, p. 1.981).
A bem ver, a harmoniosa compreensão fl ui do sistema processual civil
vigente, na perspectiva de dúplice atuação do Ministério Público: como parte
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 159
(art. 81, CPC) ou como fi scal da lei (arts. 82 e 83, Cód. ref.) esmaecendo a
gravitação como custos legis (Cândido Rangel Dinamarco — “Fundamentos do
Processo Civil” — p. 327 — n. 187 — Ed. Rev. Tribs. — 1986; RE n. 93.531
— Relator Ministro Oscar Corrêa — in DJU de 1º.07.1983, p. 9.998; RE
n. 94.064 — Relator Ministro Néri da Silveira — in DJU de 17.12.1983, p.
13.209 — apud razões do recurso).
Curial, pois, que o Ministério Público, seja parte ou fi scal da lei, tem
resguardado o seu direito de recorrer (art. 499, § 2º, CPC), fundado nos interesses
sociais e individuais indisponíveis, pressupostos (in re ipsa) antecedentes à própria
legitimidade para a causa. Integrando na relação processual, a sua desvinculação
direta com os interesses, em confl ito, todavia, não o desqualifi ca para o exercício
dos deveres processuais decorrentes; confi ra-se:
Ser parte signifi ca participar da contradição posta em juízo, qualquer que seja a posição processual ocupada, no processo, todo um conjunto de direitos, faculdades, ônus e sujeições, inerentes às posições processuais. Ser parte não implica ser exatamente igual à parte, uma vez que, obviamente, diferem as partes entre si a partir da posição processual assumida, mas implica, necessariamente, desfrutar na contradição instituída perante o juiz de semelhante igualdade de oportunidade para infl uir na decisão, apesar da posição processual evetualmente ocupada.
Quem participar do processo e nele desfrutar de um complexo de direitos e faculdades que vão infl uir no julgamento sobre a contradição de mérito, é parte, porque ser parte é fazer aquilo que só a parte pode fazer, não o juiz.
Assim, o Ministério Público, sempre, ainda que intervindo, é parte e os adjetivos com que se lhe individualiza a qualidade (parte artifi cial, parte imparcial, parte adjunta, parte necessária ou parte secundária), nenhum signifi cado apresentou no fenômeno processual (José Fernando Silva Lopes — “Ministério Público e o Processo Civil” — p. 79 — Ed. Saraiva — 1978 — gf.).
Desse modo, assente a dualidade no desempenho das funções ou aceita
a sua participação, lato sensu, como parte, de qualquer sorte, influindo no
julgamento, por conclusão, até de lógica jurídica, destacada a sua essencialidade
na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF.),
inafastável a legitimidade do Ministério Público para recorrer, enfi m, seja como
parte interessada no acertamento do mérito, quer ofi ciando como fi scal da lei (§
2º, art. 499, CPC).
Confl uente à motivação, compreendendo que a comentada legitimidade,
por tenazes razões de direito, deve ser reconhecida, descortinada a contrariedade
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
160
no art. 499, § 2º, CPC (art. 105, III, a, CF.), voto pelo provimento, a fi m de que,
para o julgamento do mérito da apelação, dela tome conhecimento a instância
recursal a quo.
É o meu voto.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Presidente): Data venia, fi co vencido, e farei
a juntada de cópia de voto que proferi nesta assentada.
ANEXO
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 9.819-RJ
(91.0004825-9)
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente: Antônio Marcelino
Mendes Ferreira, através de advogada constituída (doc. de fl . 27), moveu contra
o Instituto Nacional de Previdência Social, uma ação de acidente do trabalho
(doc. de fl . 28), sendo indeferida a inicial e julgado extinto o processo sem exame
do mérito, por falta de interesse de agir (doc. de fl . 30), sendo a sentença do
julgador monocrático confi rmada pela Quarta Câmara do egrégio Tribunal de
Alçada Civil do Estado do Rio de Janeiro (doc. de fl s. 11-12). Deste acórdão
não recorreu o segurado, apesar de ter advogado constituído (doc. de fl . 27). O
Dr. Procurador de Justiça interpôs recurso especial (doc. de fl s. 15-26) que não
foi admitido (doc. de fl s. 08-09).
Resume-se a questão em se saber se pode o Procurador de Justiça,
recorrer de acórdão contrário ao segurado se este, com advogado regularmente
constituído nos autos, se conforma com a decisão a ele adversa.
Como se trata de direitos disponíveis e de segurado capaz e devidamente
representado por advogado regularmente constituído com amplos poderes,
inclusive para “desistir de ações, acordar, desistir, discordar, adjudicar, remir,
receber e dar quitação, receber alvarás judiciais, representar o outorgante
em quaisquer repartições públicas ...” (doc. de fl . 27), não tem o Ministério
Público, no caso, legitimidade para recorrer. Não pode ele substituir a parte
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 161
para contrariar a vontade desta. Se o segurado pode até desistir da ação e
entrar em composição amigável com a parte contrária, pode, também, deixar
de recorrer e se conformar com a decisão a ele contrária e nas ações de acidente
do trabalho não é diferente. O Ministério Público que, no caso não é parte, não
pode prejudicar a parte e impedi-la de se conformar com aresto a ele adverso.
A ele falta interesse e legitimidade para recorrer. Não pode ele desconhecer e
contrariar a vontade da parte, se não há sequer interesse público atingido e não
se trata de direito indisponível.
Como fiscal da lei não pode ele recorrer, se a parte é capaz e está
legitimamente representada por advogado constituído e se conformou com o
acórdão a ele contrário.
A questão é bem conhecida desta egrégia Corte. Nos Recursos Especiais n.
4.343-SP, DJ de 29.10.1990, 2.613-SP, assentada de 09 de maio de 1990, 6.945-
SP, DJ de 18.03.1991, entendeu não ter o Ministério Público legitimidade para
recorrer, se não existe o interesse da parte em nome de quem recorre.
Nego provimento ao agravo.
RECURSO ESPECIAL N. 6.795-SP (90.0013191-0)
Relator: Ministro Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS
Interessado: José Geraldo Dias de Souza
Advogada: Iraci Santos Pereira
EMENTA
Recurso especial. Ministério Público. Legitimidade.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como
parte ou fi scal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as
partes. A única ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso
adesivo.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
162
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na
forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo
parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 17 de dezembro de 1990 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator
DJ 04.03.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Recurso especial interposto pelo
Ministério Público do Estado de São Paulo nos autos da ação acidentária, em que
contende com o Instituto Nacional de Previdência Social — INPS e tendo como
interessado José Geraldo Dias de Souza.
O recorrente, com base no disposto no art. 105, III, da Constituição da
República argúi contrariedade de Lei Federal.
A sentença julgou improcedente o pedido por falta de provas (fl s. 86-87).
Desta sentença apelaram o Autor e o ora Recorrente.
O v. acórdão manteve a sentença de 1º grau. Não acolheu o apelo do Autor
e quanto ao do ora Recorrente teceu as seguintes considerações:
Quanto ao apelo da Curadoria, verifi ca-se que o obreiro está representado por profi ssional de sua confi ança e que apresentou, em separado, sua apelação. Nestas condições, não cabe recurso do Ministério Público e que deveria se limitar a emitir parecer no momento oportuno. Também não se conhece deste apelo. (fl . 117)
O Recorrente alega ofensa ao art. 499, § 2º, do CPC. Argumenta que o
Ministério Público pode atuar como parte ou como fi scal da lei (fl s. 120-136).
Despacho de admissão (fl s. 142-143).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 163
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): Sr. Presidente, o art. 499,
§ 2º, do Código de Processo Civil, apontado pelo Recorrente como violado,
ostenta a seguinte redação:
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei.
O texto em vigor conferiu a solução, divergente durante o Código revogado.
A finalidade da lei, nos casos contemplados, é ensejar ao Ministério
Público, pouco importa atuar como parte ou custos legis, o exercício de todos os
meios processuais a fi m de buscar a solução do litígio. Inclui, evidentemente,
o direito de recorrer. A verdade real é a meta buscada. Ressalto, no caso dos
autos, debate-se ação acidentária, hoje, de cunho previdenciário, marcadamente
assistencial.
Pouco importa, data venia, o trabalhador estar representado em juízo
por advogado. Em primeiro lugar, poderá haver divergência entre o causídico
e o representante do Ministério Público. Em segundo lugar, a atuação deste é
compulsória, impondo-se-lhe a obrigação de, no estrito cumprimento do dever
legal, esgotar os meios de defesa.
Essa duplicidade não deve afastar a presença do Parquet. Ao contrário, em
caso de identidade de teses, ambos os recursos serão apreciados conjuntamente.
Barbosa Moreira, “Comentários ao Código de Processo Civil”, Rio, Forense,
1985, vol. V, 5ª ed., 487/488, leciona:
O atual Código, louvavelmente, aqui se defi niu com toda a nitidez, no § 2º do artigo sob exame, “que o Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei”. Os recursos utilizáveis pelo Ministério Público na função de custos legis são os mesmos de que dispõem as partes, sem diferença no que tange aos pressupostos do cabimento. Ressalve-se apenas que, à luz dos dizeres do art. 500, não pode o Ministério Público, naquela qualidade, recorrer “adesivamente”.
Entendo, considerada a natureza jurídica da ação de acidente de trabalho,
a intervenção do Ministério Público é compulsória, ainda que o obreiro se
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
164
faça representar por mandatário com legitimidade ad postulandum. Se a Lei n.
6.367/1976 é silente, ao contrário da anterior, o art. 82, III, in fi ne do Código de
Processo Civil oferece a solução.
Na espécie, fazem-se presentes dois pormenores. A parte economicamente
fraca e a fi nalidade previdenciária da infotunística.
Dou provimento ao recurso. Retornem os autos para julgamento do
recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 22.920-PR
Relator: Ministro Waldemar Zveiter
Recorrentes: Calçados Pátria Ltda e Ministério Público do Estado do
Paraná
Recorrida: Distribuidora de Confecções Paulista Ltda - massa falida
Interessados: Ulisses Carvalho Nunes — Síndico da massa falida,
Courorio Indústria e Comércio de Calçados Ltda e
Manufatura de Artigos de Borracha Nogam S/A
Advogados: Lidson José Tomaz, Carlos Alberto Forbeck Castro e outro,
Renato Votto Braga, Irineu Peters e José Carlos Cassoli
e outro
EMENTA
Processual Civil. Legitimidade do Ministério Público para
recorrer. Processo falimentar. Cobrança da correção monetária sobre o
valor do crédito depositado.
I - A jurisprudência do STJ acolhe entendimento no sentido de
que o Ministério Público tem legitimidade para recorrer, tanto a título
de parte, quanto na função de custos legis. Referente à falência, todavia,
sua ação interventiva e disciplinar limita-se à repressão a eventuais
crimes, à defesa do interesse público ou à do crédito comercial.
Inteligência do art. 499 do CPC.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 165
II - Ainda no direito pretoriano da Corte é assente que a correção
monetária incide em qualquer débito objeto de decisão judicial.
Exegese do art. 1º da Lei n. 6.899/1981.
III - Recurso do Ministério Público não conhecido.
IV - Recurso de Calçados Pátria Ltda conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, retomando o julgamento, após o voto-vista
do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, havendo os Srs. Ministros Relator e Nilson
Naves retifi cado os seus votos quanto ao conhecimento do recurso do Ministério
Público, a Turma, por unanimidade, conhecer e dar provimento ao recurso
especial de Calçados Pátria Ltda e não conhecer do recurso do Ministério
Público. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves e Eduardo
Ribeiro. Não participou do julgamento o Sr. Ministro Cláudio Santos, (§ 2º, art.
162, RISTJ). Custas, como de lei.
Brasília (DF), 30 de agosto de 1993 (data do julgamento).
Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente
Ministro Waldemar Zveiter, Relator
DJ 18.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Calçados Pátria Ltda, nos autos de
processo falimentar requerido por Manufatura de Artigos de Borracha Nogam
S/A contra Distribuidora Confecções Paulista Ltda, interpõe, com fundamento
nas letras a e c do art. 105, III, da CF/1988, especial contra o acórdão de fl s.
267-270, alegando que este violou a norma da Lei n. 6.899/1981 (que prevê
incidência de correção monetária em créditos habilitados na falência). Alega
mais que houve divergência jurisprudencial entre o decisum impugnado e os
precedentes que arrola (fl s. 285-290).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
166
Por sua vez o Ministério Público de âmbito estadual interpõe, pela letra a,
o apelo de que se cuida, pretendendo violadas as normas dos arts. 30 e incisos da
Lei n. 7.661/1945, 499 e 515 do CPC (fl s. 299-306).
O aresto impugnado defi niu a controvérsia, estabelecendo que não tem
legítimo interesse para recorrer da sentença de encerramento da falência a parte
cujo valor de seu crédito está a sua disposição (fl . 267).
No exame dos requisitos de admissibilidade (fl . 312), o apelo é deferido,
ao entendimento de que ao ilustre Presidente do Tribunal a quo não lhe parece
desarrazoada a tese objeto das impugnações recursais.
De outra parte, o Ministério Público Federal (fl s. 322-324), encampando
as teses ventiladas nos recursos, opina pelo provimento das insurgências.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): O acórdão impugnado resolve
a hipótese, decidindo-a assim (fl s. 268-269):
Como se observa nos autos em apenso, a ora apelante requerera sua habilitação de crédito, em setembro de 1987, pedindo a correção monetária; todavia, ali foi proferida sentença em 30.11.1987, que acatou só o crédito originário, sem correção monetária (fl . 19 verso, Autos n. 11.970).
Essa sentença transitou em julgado e o valor correspondente foi depositado.
Logo, não tendo recorrido daquela decisão, não pode agora a apelante reclamar contra a não-aplicação da aludida correção monetária.
Nessa situação, estando a seu dispor o seu crédito, falta-lhe legítimo interesse para recorrer.
Ora, como a falência é um instituto que visa substancialmente liquidar obrigações do devedor, só existiria legítimo interesse para cassar a sentença que encerra a falência, se comprovada a persistência de credores.
Todavia, nada se demonstrou a respeito.
Finalmente o art. 132 da Lei Falimentar não exige prova de quitação dos impostos.
Mesmo porque não se confunde o encerramento da falência com a extinção das obrigações.
Contra essa fundamentação, dois são os apelos.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 167
O do Ministério Público Estadual que, arrimando-o na letra a do
permissivo, entende violadas as normas do art. 30 da Lei n. 7.661/1945, bem
como a dos arts. 499 e 515 do CPC.
Na exegese dessa norma processual, (art. 499 do CPC), ainda como
membro integrante da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro, julgando o Agravo de Instrumento n. 9.524 em que Agravante o
Ministério Público Estadual, manifestei, como Relator, entendimento no
sentido de que a controvérsia doutrinária, havida na vigência do Código de
Processo Civil de 1939, que recusava legitimação ao Ministério Público para
recorrer nos processos em que sua função era a de custos legis, cessou com a
defi nição, expressa, contida no § 2º do art. 499 da atual lei adjetiva.
Assim, disse eu naquele ensejo, tem o Ministério Público, tanto nos
processos em que se apresenta como parte, como naqueles em que ofi cia como
fi scal da lei, legitimidade para recorrer.
Ainda, na interpretação desse dispositivo, diz Barbosa Moreira, in “O
Novo Processo Civil Brasileiro”, 1983, Forense, p. 162, que, entre os que têm
legitimidade para recorrer, encontra-se o Ministério Público, quer em processo
onde tenha a posição de parte, quer naquele em que ofi cie como fi scal da lei (art.
499, § 2º).
Pontifi ca Rubens Requião, Ed. Saraiva, 1º vol., 1975, p. 206, que:
... O Ministério Público não constitui parte no processo falimentar, mas tem um direito de intervenção e controle muito extenso, cujo fi m é, na verdade, duplo: assegurar a repressão aos crimes que podem surgir da falência, e defender pela sua ação disciplinar o interesse público e do crédito comercial.
No caso dos autos, vislumbra a douta Subprocuradoria Geral da República
que (fl . 324):
Assim, por ocasião do decreto de encerramento da quebra, a reportada credora reiterou sua impugnação pela ausência do depósito da correção monetária, acrescendo, ainda, outros elementos justifi cadores da oposição a tal r. sentença. A egrégia Corte Revisora, todavia, não acolheu ditas objeções, que já haviam sido encampadas pelo douto órgão ministerial, em seus pronunciamentos, pois versavam consideráveis irregularidades que se verifi caram no processo falimentar.
Realmente, com a devida vênia, procedem as impugnações dos dois Recorrentes. Deveras, a teor do invocado art. 30, inciso II, da Lei de Quebras, cabe aos credores promover no processo da falência o que for a bem dos (seus)
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
168
interesses e isto a habilitada o fez, embora não haja recorrido da própria r. decisão que admitiu o seu petitum, o que, na verdade, não seria preclusivo, visto como permissível no momento em que apresentou a sua impugnação, objeto das presentes inconformidades.
Daí que, como se vê da doutrina e da jurisprudência, a legitimidade do
Ministério Público para recorrer, tanto como a título de parte, quanto na
função de custos legis é inegável, todavia, no caso dos autos, o Parquet se limitou
simplesmente a coonestar fatos de natureza do direito disponível da outra
parte, também recorrente, ou seja do interesse de Calçados Pátria Ltda, não
suscitando, como era de se esperar, pretensão vinculada, de alguma maneira, ao
interesse ou ordem pública.
Assim, ao arrazoar seu recurso, alegando que o acórdão obrou mal ao
desconsiderar aplicação de correção monetária, reforçou a argumentação da
recorrente Calçados Pátria Ltda que, também em seu apelo, objetivou esse
pedido no seu reclamo.
Esse fato pode ser constatado nas próprias razões do órgão público, quando
este, no apelo requer que (fl s. 306-307):
Ex positis, verifi cadas as condições de admissibilidade deste recurso especial, alicerçado no art. 105, III, a, da Constituição Federal, requer-se lhe seja dada ordem de prossecução, para que, a fi nal provido como se espera, sejam reformadas as decisões recorridas, reconhecendo-se que as mesmas violaram os dispositivos de Lei Federal antes mencionados e, em conseqüência, determinando-se a que o Tribunal a quo, cassado o decisum reprochado, profi ra outro em que se examine o mérito da pretensão recursal apelatória, manifestada por Calçados Pátria Ltda, na forma da lei.
Nos casos de interesses privados, regidos pelo direito disponível das partes
contendentes, ressalvado os casos em que a lei tutela tais interesses (privados)
também pela legitimação extraordinária do Ministério Público (defesa de
direitos alheios em nome próprio), não pode este atuar na lide.
Esse aspecto fi cou confi rmado na jurisprudência da Corte, quando no
REsp n. 2.852-PR, Terceira Turma, o eminente Relator Ministro Dias Trindade
concluiu voto, sufragando por unanimidade, no sentido de que:
Improcedente o pedido de usucapião cessa a causa de intervenção obrigatória do Ministério Público (art. 499, CPC), não tendo o seu representante legitimidade para recorrer de decisão, proferida em sede de execução por honorários de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 169
advogado, no que tange à incidência de correção monetária sobre os mesmos, questão apenas de interesse das partes e do advogado (art. 99, § 1º, da Lei n. 4.215/1963).
Fiel a essa linha de entendimento, também, no caso concreto, a respeito do
direito da parte que o Parquet encampa, o recurso deste não procede.
Quanto ao recurso da credora Calçados Pátria Ltda, a argumentação
expendida logra acolhida.
Trata-se de valor resultante de decisão fi nal em processo de falência. Tal
valor foi colocado à disposição da recorrente, mas calculado sem a correção
monetária.
Esse reajuste da moeda é devido e deriva da própria decisão que decretou a
disponibilidade do valor depositado.
Essa a tese que tem acolhida na jurisprudência do STJ e ficou bem
explicitada no precedente de minha relatoria. No caso, o REsp n. 20.188-7-RJ.
Sua ementa assinalou que:
Comercial e Processual Civil. Ação de cobrança. Dívida líquida e certa representada por duplicata. Processo de conhecimento. Correção monetária. Termo inicial.
I - É assente na doutrina e jurisprudência o entendimento no sentido de que, em qualquer débito que for objeto de decisão judicial, deverá incidir a correção monetária, aplicando-se a Lei n. 6.899/1981, indistintamente, tanto no processo de conhecimento quanto no de execução forçada.
II - Cabimento da ação de cobrança para se exigir dívida de valor, líquida e certa, inclusive, confessada pelo devedor, razão sufi ciente para que a correção monetária incida a partir do vencimento do título (art. 1º, § 1º).
III - Recurso conhecido e provido.
No voto desse paradigma confirmei essa conclusão, deduzindo que é
assente na doutrina e jurisprudência, em qualquer débito que for objeto de
decisão judicial, deverá incidir a correção monetária, aplicando-se a Lei n.
6.899/1981, indistintamente, tanto no processo de conhecimento quanto no de
execução forçada.
Há de se ressaltar que as distinções insertas nos §§ 1º e 2º do art. 1º
da mencionada lei, no pertinente ao termo inicial da incidência da correção
monetária, consoante sustentado no acórdão padrão, dizem menos com a
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
170
estrutura ou identidade dos processos de execução e de conhecimento do que
com a natureza das respectivas dívidas, segundo o grau de certeza que, na
valoração legal, as precede.
Firme nessas razões e fundamentos, tenho por violada a norma do art. 499
do CPC, bem como as da Lei n. 6.899/1981, por isso que conheço do recurso
de Calçados Pátria Ltda, pela letra a, nos fundamentos aduzidos, dando-lhe
provimento para afastar a preliminar de ilegitimidade a fi m de que o Tribunal
julgue a apelação, e não conheço do interposto pelo Ministério Público.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: A propósito do recurso do Ministério
Público, observou o douto Relator ser induvidosa sua admissibilidade, em tese,
também quando atue como custos legis. Acrescentou, entretanto, que, no caso
concreto, limitara-se a defender direito disponível de uma das partes, “não
suscitando, como era de se esperar, pretensão vinculada, de alguma maneira, ao
interesse ou ordem pública”. E acrescentou, invocando precedente desta Turma:
Nos casos de interesses privados, regidos pelo direito disponível das partes contendentes, ressalvado os casos em que a lei tutela tais interesses (privados) também pela legitimação extraordinária do Ministério Público (defesa de direitos alheios em nome próprio), não pode este atuar na lide.
Terminou o voto conhecendo do recurso, pela letra a, mas negando-lhe
provimento.
Pondo-me de acordo com os fundamentos aduzidos pelo Relator, permito-
me discordar da conclusão. Parece-me que, embora se tenha reconhecido poder
o Ministério Público, em tese, recorrer, como fi scal da lei, não havia, na hipótese,
defendido interesse que justifi casse sua intervenção. A conclusão, ao que se me
afi gura, deveria ser o não-conhecimento.
A questão fundamental do recurso de Calçados Pátria Ltda diz com a
correção monetária de seu crédito. O julgado recorrido entendeu que a matéria
não poderia ser examinada porque a sentença que decidira a habilitação “acatou
só o crédito originário, sem correção”.
Inexistiu, em verdade, qualquer pronunciamento quanto à atualização da
expressão monetária do crédito habilitado. Entendo, em tais circunstâncias, que
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 171
não há preclusão obstativa do exame da matéria. Supero, pois, o óbice e, quanto
ao mais, acompanho o Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 35.314-SP (93.014306-9)
Relator: Ministro Adhemar Maciel
Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS
Advogado: Solon José Ramos
Recorrido: José Geraldo da Silva
Advogados: Jayme Arbex
EMENTA
Processual Civil. Acidente do trabalho. Liquidação de cálculo.
Ministério Público. Legitimidade para recorrer in concreto. Recurso
especial improvido.
I - O recorrente especial (INSS) pondera que houve acordo entre
o acidentado, através de seu advogado, e a Autarquia Previdenciária, no
tocante aos cálculos. Assim, ao Ministério Público falece legitimidade
recursal (agravo de instrumento).
II - O Ministério Público tem legitimidade recursal nos termos
do caput, e § 2º, do art. 499 do CPC. No caso em foco, ele recorre
como custos legis. Seu recurso não se faz in abstracto, mas in concreto.
Mesmo com a anuência do acidentado, o Curador de Acidentes do
Trabalho teve por lesivo ao acidentado o índice aplicado nos cálculos.
III - Recurso especial improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer
do recurso pela alínea a, dele conhecer pela alínea c do permissivo constitucional,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
172
porém negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na
forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo
parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros
Anselmo Santiago e Pedro Acioli. Ausentes, por motivo justifi cado, os Srs.
Ministros Vicente Cernicchiaro e José Cândido. Custas, como de lei.
Brasília (DF), 21 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Pedro Acioli, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator
DJ 11.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de recurso especial interposto
pelo Instituto Nacional de Seguro Social contra acórdão do Segundo Tribunal de
Alçada Civil de São Paulo, com fundamento no art. 105, III, a e c, da CF.
2. O Ministério Público Estadual (no interesse de José Geraldo da Silva)
interpôs agravo de instrumento contra decisão que entendeu faltar-lhe interesse
processual para impugnar conta liquidação já transacionada entre as partes.
A Sexta Câmara do 2º TACSP deu provimento ao recurso. Entendeu que o
Ministério Público conta com legitimidade e interesse em recorrer de todas as
decisões proferidas contra a parte sob sua proteção. In casu, a Curadoria pode
atuar para suprir eventuais defi ciências do patrocinador da causa.
3. Inconformado, o INSS interpôs o presente recurso. Aduz que o
Ministério Público Estadual não pode discordar de acordo feito entre as partes
por lhe faltar interesse. Assim, restaram violados os arts. 14, 16, 158, 447 a 449 e
449, § 2º, do CPC; bem como os arts. 82, 85, 1.030 do CC e arts. 67, 68, 70, 76,
87 e 89 da Lei n. 4.215/1963 (EOAB).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Senhor Presidente, no agravo
de instrumento o Ministério Público, de modo concreto, isto é, tentando
demonstrar que houve prejuízo para o acidentado, recorreu. O Tribunal a quo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 135-173, maio 2010 173
deu provimento ao agravo. Daí o recurso especial do INSS, ao fundamento de
que as partes já tinham, antes, concordado com a homologação dos cálculos. Em
sendo assim, não cabia ao Curador de Acidentes agravar.
Senhor Presidente, o recorrente não tem razão. Nos termos do art. 499,
caput, e § 2º do CPC, o Ministério Público está legitimado para recorrer nos
casos em que é fi scal da lei. É exatamente o caso em tela. O recurso, é bom
que se frise, não foi feito in abstracto, como sustenta o recorrente. No agravo de
instrumento o Curador de Acidentes do Trabalho sublinhou: “Já que o critério
de atualização ali utilizado lhe lesa parcialmente o direito pela não-aplicação
da equivalência em todo período de cálculo, com vistas ao que dispõe o RR n.
9.858/1974”. Assim tem legitimidade.
Transcrevo as ementas abaixo:
Processual Civil. Ministério Público. Legitimidade para recorrer. Parte e fi scal da lei.
I - Consoante e expressa verba legis — art. 499, § 2º, CPC, é lícito ao Ministério Público recorrer, tanto nos processos em que ofi cie como parte, bem assim, nos em que for custos legis.
II - Recurso conhecido e provido (REsp n. 5.617-SP. Relator Ministro Pedro Acioli. DJ de 28.10.1991).
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a aplicação do índice integral. Não-conhecimento. Recurso especial. Art. 499, § 2º, do CPC.
— Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
— Recurso provido. (REsp n. 5.507-SP. Relator Ministro Américo Luz. DJ de 10.12.1990, p. 14.799)
Dessarte, não conheço do recurso pela alínea a.
Quanto à alínea c, conheço para negar-lhe provimento. O único aresto
colacionado, o REsp n. 4.343-SP, ementado pelo Ministro Américo Luz,
confi gura caso de recurso in abstracto.
É como voto.
Súmula n. 100
SÚMULA N. 100
É devido o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante na
importação sob o regime de benefícios fi scais à exportação (BEFIEX).
Referências:
CTN, art. 111, II.
Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4º.
Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15.
Decreto-Lei n. 1.248/1972.
Decreto-Lei n. 1.081/1980.
Precedentes:
REsp 31.215-SP (1ª T, 23.06.1993 — DJ 23.08.1993)
REsp 34.009-SP (2ª T, 30.06.1993 — DJ 02.08.1993)
REsp 36.366-SP (1ª T, 25.08.1993 — DJ 20.09.1993)
REsp 36.659-SP (2ª T, 1º.09.1993 — DJ 11.10.1993)
REsp 38.216-SP (1ª T, 06.10.1993 — DJ 08.11.1993)
Primeira Seção, em 19.04.1994
DJ 25.04.1994, p. 9.286
RECURSO ESPECIAL N. 31.215-SP (93.0000351-8)
Relator: Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Pirelli S/A Companhia Industrial Brasileira
Recorrida: Fazenda Nacional
Advogados: Fernanda G. H. Guerra de Andrade e outros e Rubens
Lazzarini
EMENTA
Constitucional. Tributário. Isenção do Adicional de Frete para a
Marinha Mercante — AFRMM. Equivalência com o sistema draw-
back. Impossibilidade.
A isenção, no sistema jurídico-tributário vigorante, só é de ser
reconhecida pelo Judiciário em benefício do contribuinte, quando
concedida, de forma expressa e clara pela lei, devendo a esta se
emprestar compreensão estrita, vedada a interpretação ampliativa.
Para efeito da isenção do AFRMM, o regime BEFIEX não se equipara, juridicamente, ao sistema denominado draw-back. Enquanto, naquele (BEFIEX), o benefi ciário do incentivo obriga-se a efetivar, em determinado prazo, um programa especial de exportação de produtos manufaturados, devendo, na dilação, apresentar saldo positivo de divisas (seja qual for o bem exportado), no regime aduaneiro do draw-back, o que se verifi ca é o vínculo físico (e não fi nanceiro) entre a mercadoria importada e exportada; aquela deverá ser usada na fabricação (complementação ou acondicionamento) do produto exportado.
A lei instituidora do sistema BEFIEX (Decreto-Lei n.
1.219/1972) veda, de forma expressa, a cumulação do referido
benefício fi scal com outros previstos na legislação tributária.
O BEFIEX, segundo a jurisprudência predominante, é coberto,
apenas, pelos benefícios fiscais consignados no Decreto-Lei n.
1.219/1972, que o instituiu, gozando, tão-só, da isenção do IPI e do
imposto de exportação.
Recurso improvido. Decisão unânime.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
180
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma
do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte
integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros
Gomes de Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha e Garcia Vieira. Custas, como
de lei.
Brasília (DF), 23 de junho de 1993 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente
Ministro Demócrito Reinaldo, Relator
DJ 23.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Cuida-se de mandado de segurança
impetrado por Pirelli S/A Companhia Industrial Brasileira, objetivando a
consecução do direito à isenção do Adicional do Frete para Renovação da
Marinha Mercante — AFRMM — para importação de mercadorias ou
produtos ao abrigo do Programa BEFIEX, com apoio no art. 55 da Lei n.
5.025/1966, sob o argumento de que, referido programa guarda equivalência
com o regime draw-back.
Julgada procedente, na primeira instância, a segurança foi denegada, em
grau de recurso apelatório.
Irresignada, a vencida manifestou REsp, com base na alínea a do permissivo
constitucional, sobre alegar ofensa ao art. 55 da Lei n. 5.025/1966.
Admitido na origem, subiram os autos a esta instância.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Senhores Ministros: Visou,
a recorrente, com a impetração de segurança, eximir-se do pagamento do
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 181
Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante — AFRMM — em
decorrência de importação realizada sob o pálio do Programa BEFIEX com
apoio no art. 55 da Lei n. 5.025/1966, sobre entender que aquele (Programa
BEFIEX) guarda equivalência com o regime draw-back.
Parece-me sem razão, a recorrente. Aliás, é ela própria que reconhece,
de forma expressa e clara, na fundamentação de seu recurso, a diferença
existente entre os dois regimes, ao dizer: “Ocorrre que, data maxima venia,
tal conclusão decorreu do fato de o ilustre Relator do aresto recorrido ter
procurado a identidade absoluta entre ambos os regimes, o que obviamente
jamais encontraria”. E confi rma: “Por óbvio que diferenças existem entre ambos
os regimes. Mas o que a lei exige para o jogo da isenção é a equivalência entre
ambos, e não a identidade” (fl . 185).
Em se tratando, pois, como se trata, de isenção, à lei deve se dar
compreensão estrita, vedada, nesses casos, a interpretação ampliativa ou
analógica. A verdade é que as diferenciações entre os programas questionados
é sensível, sufi ciente para se desconsiderar a equivalência invocada. Como bem
se acentuou nas informações, a importação de matérias-primas pelas empresas
ligadas ao Programa BEFIEX para utilização na fabricação, benefi ciamento
ou recondicionamento de produtos de exportação é equivalente, neste aspecto,
ao regime aduaneiro draw-back. Mas, esse tipo de exportação é apenas parte
do Programa BEFIEX. Neste, o benefi ciário do incentivo obriga-se a efetivar,
em determinado espaço de tempo, um programa especial de exportação, de
produtos manufaturados, devendo apresentar saldo positivo de divisas, seja
qual for o bem exportado. É este o objetivo dos estimados do BEFIEX. No
regime aduaneiro do draw-back, o que se verifi ca é um vínculo físico (e não
fi nanceiro) entre a mercadoria importada e exportada. Aquela deverá ser usada
na fabricação, complementação ou acondicionamento de produto exportado.
Seria, portanto, possível, considerar-se a equivalência, apenas e tão-somente
nos casos de mercadorias que, embora importadas pelo Programa BEFIEX, se
destinassem comprovadamente, observadas as regras do Decreto n. 68.904, à
reexportação (fl s. 611-162).
Os regimes — BEFIEX e draw-back são diferentes, ou, por outra, não se
equivalem. É que, no BEFIEX, confere-se, ao participante, o direito de restar
com a mercadoria ou produto, sem a imposição de reimportá-los, o que inocorre
no draw-back. Por demais elucidativo, transcrevo, abaixo, os argumentos do Juiz
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
182
Th eotônio Costa, em seu judicioso voto condutor, que expõe a matéria com
indiscutível precisão:
O regime BEFIEX, data maxima venia das doutas opiniões em contrário, não se constitui em regime equivalente ao do draw-back, pelo menos nos termos de que foi colocado pelo aludido art. 55 da Lei n. 5.025/1966.
Com efeito, o draw-back, desvinculado que se encontra de qualquer programa de importação ou exame de similaridade, aplica-se especialmente nas importações de mercadorias, matérias-primas, insumos, partes e componentes, que serão, de alguma forma, utilizados na fabricação do produto final a ser exportado.
Vale reprisar, que a aplicação de tal regime, abrange a dispensa do Imposto de Importação, Imposto sobre Produtos Industrializados, Imposto sobre Circulação de Mercadorias, Imposto sobre Operações Financeiras, Taxa de Melhoramento dos Portos e do Adicional ao Frente para Renovação da Marinha Mercante, bem como, de outras não relacionadas à efetiva contraprestação de serviços prestados.
O BEFIEX, por seu turno, conforme se verifi ca pela legislação de regência, apesar de abranger tão-somente a isenção do Imposto sobre Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados, em contrapartida, confere ao participante do Programa, o direito de restar com o produto importado, vale dizer, sem a obrigação de reexportá-lo, como no draw-back.
Na verdade, o BEFIEX foi especialmente estruturado visando, principalmente, à aquisição de máquinas e equipamentos indispensáveis à implantação, expansão, modernização, ou diversificação de linhas de produção do parque industrial nacional.
Enfi m, no draw-back, o bem importado será necessariamente utilizado ou integrado no processo de fabricação de produto destinado à exportação, o que não é objetivo do BEFIEX, consoante acima analisado.
Note-se que, contrariamente ao regime informal do draw-back, depende o BEFIEX, não só de precedente registro junto ao Ministério da Indústria e Comércio, como também da prévia aprovação, pela autoridade competente, dos produtos a serem importados.
Como se vê, embora tais regimes aduaneiros sejam aparentemente semelhantes, são substancialmente distintos. E assim sendo, não cabe falar em equivalência entre ambos.
Por tais razões é que descabe a extensão dos benefícios de um regime para o outro. Se assim se fi zer, é de se atribuir também os ônus de cada um para os benefi ciários dos favores fi scais pleiteados.
O Decreto-Lei n. 1.219/1972, norma de regência do BEFIEX, aliás é expresso em vedar a cumulação dos benefícios fi scais que estabelece com outros previstos pela legislação em vigor, nos termos do seu art. 15:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 183
Art. 15: Os benefícios fiscais previstos na legislação em vigor, não poderão ser usufruídos cumulativamente com os estabelecidos neste decreto-lei.
Além do mais, as normas que outorgam isenções, devem ser interpretadas restritivamente, à luz do que dispõe o art. 111, inciso II, do Código Tributário Nacional.
No sentido que expus é a orientação da jurisprudência do extinto Tribunal Federal de Recursos, no venerando acórdão, cuja ementa passo a transcrever:
Tributário. Incentivos fiscais à exportação. Programa BEFIEX. Características que o distinguem do draw-back, excluindo-o da norma do art. 55 da Lei n. 5.025/1966, restrita ao último regime aduaneiro citado e seus equivalentes.
Ilegitimidade da pretendida extensão do benefício a todas as hipóteses de estímulo à exportação, sem desobediência do princípio da interpretação estrita das normas de isenção fi scal.
Apelação provida. (AMS n. 124.386-SP; Quarta Turma do egrégio Tribunal Federal de Recursos, unânime. Relator Ministro Ilmar Galvão; in DJU de 30.05.1989, p. 9.245).
No mesmo prumo, decidiu esta colenda Turma, quando do julgamento da AMS n. 89.03.10390-4, relatada pelo Ilustre Juiz Gomes da Silva (in DOE de 09.04.1990, p. 24), em venerando aresto assim ementado:
Tributário. Inacumulabilidade de outros benefícios fi scais com os do BEFIEX. No programa BEFIEX é devido o AFRMM.
1. Os regimes aduaneiros BEFIEX e draw-back não se confundem.
2. O draw-back refere-se só à matéria-prima que vem de fora, é benefi ciada e retorna ao exterior.
3. O BEFIEX reporta-se à exportação em geral, não implicando em que, necessariamente, para isso, o exportador tenha importado mercadorias ou matéria-prima.
4. O programa BEFIEX tem características que o distinguem do draw-back, excluindo-o da incidência da norma do art. 55 da Lei n. 5.025/1966.
5. O BEFIEX só é coberto pelos benefícios fiscais do Decreto-Lei n. 1.219/1972, que o instituiu, ou seja, goza apenas de isenção do IPI e do Imposto de Importação.
6. É legítima, no caso, a exigência do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), à vista de que as normas concessivas de isenções devem ser interpretadas literalmente.
7. Sentença denegatória confi rmada.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
184
Como se tornou evidente, o BEFIEX foi instituído com o viso de possibilitar a aquisição de máquinas e equipamentos para efeito de modernização do parque industrial nacional. No regime draw-back, o bem importado será utilizado, necessariamente, no processo de fabricação de produto destinado à exportação. Não se confi gura a equivalência alegada, padecendo, a recorrente, de direito líquido e certo à isenção postulada.
Nego provimento ao recurso.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 34.009-SP (93.0009944-2)
Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Recorrente: Pirelli S/A Companhia Industrial Brasileira
Advogados: Fernanda G. H. Guerra de Andrade e outros
Recorrida: Fazenda Nacional
Procuradores: Rubens Lazzarini e outros
EMENTA
Tributário. Programa BEFIEX. Distinção do regime aduaneiro do draw-back. Isenção do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante — AFRMM. Descabimento.
I - O regime BEFIEX não se equivale ao regime aduaneiro do draw-back, sendo legítima a vigência do AFRMM com atinência aos bens importados nas operações a ele relativas. Ofensa ao art. 55 da Lei n. 5.025, de 1966 com a redação do Decreto-Lei n. 24, de 1966, não caracterizada.
II - Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima
indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 185
conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não
conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram
do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus e Hélio Mosimann. Ausentes,
justifi cadamente, os Srs. Ministros Américo Luz e Peçanha Martins.
Brasília (DF), 30 de junho de 1993 (data do julgamento).
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator
DJ 02.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial
interposto por Pirelli S/A — Companhia Industrial Brasileira, com esteio no
art. 105, inciso III, letra a da Constituição Federal, contra acórdão da Terceira
Turma do egrégio Tribunal Regional Federal da Terceira Região (fl . 193),
integrado por embargos declaratórios, assim ementado:
Tributário. Apelação em mandado de segurança. AFRMM. Distinção entre o Programa BEFIEX e o draw-back. Lei n. 5.025/1966, art. 55.
I - O BEFIEX foi especialmente estruturado visando à aquisição de máquinas e equipamentos indispensáveis à implantação, expansão, modernização, ou diversifi cação de linhas de produção do parque industrial nacional. Necessidade de prévio registro junto ao Ministério da Indústria e Comércio.
II - No draw-back, o bem importado será necessariamente utilizado ou integrado no processo de fabricação de produto destinado à exportação.
III - Impossibilidade de cumulação de benefícios fiscais. Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15.
IV - Interpretação restritiva do art. 111, II, do CTN.
V - Inocorrência de equivalência entre os regimes aduaneiros BEFIEX e draw-back, ante a diferença de suas fi nalidades. Legítima a exigência do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante.
VI - Apelação improvida.
Sustenta a recorrente, que o acórdão em tela negou vigência ao art. 55 da
Lei n. 5.025/1966, com a redação que lhe deu o Decreto-Lei n. 24/1966, certa,
de que o regime do BEFIEX guarda equivalência com o regime do draw-back,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
186
e sendo assim, tem direito à isenção ao Adicional ao Frete para Renovação da
Marinha Mercante (AFRMM).
Contra-arrazoado (fl . 218), o recurso, cujo processamento foi admitido (fl .
221), subiu a esta Corte, onde os autos vieram-me distribuídos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Sustenta, em suma, a
recorrente que o acórdão recorrido, ao concluir pela legitimidade da exigência
do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante, quanto aos bens
importados sujeitos ao regime BEFIEX, negou vigência ao art. 55 da Lei n.
5.025, de 1966, com a redação que lhe deu o Decreto-Lei n. 24, de 1966, ao
argumento de que o citado regime equivale ao do draw-back.
Este é o texto do dispositivo, cuja negativa de vigência é alegada:
A isenção do imposto de importação nas operações sob o regime aduaneiro do draw-back ou equivalente, implicará, igualmente, na isenção do imposto de consumo, da taxa de despacho aduaneiro, da taxa de renovação da marinha mercante, da Taxa de Melhoramento dos Portos e daquelas que não correspondam à efetiva contraprestação dos serviços realizados.
No voto que proferiu no MS n. 111.839-DF, no Plenário do extinto e
sempre lembrado Tribunal de Recursos, o eminente Ministro Carlos Th ibau
teve ensejo de demonstrar, com objetividade, que o regime do draw-back não se
equivale ao do BEFIEX. Nesse sentido argumentou:
Ao referir-se ao regime aduaneiro do draw-back ou “equivalentes”, de certo não quis o art. 55 da Lei n. 5.025/1966 estender a isenção tributária senão aos dois outros regimes, também chamados impropriamente, de draw-back, não pelo art. 78 do Decreto-Lei n. 37/1966 que os instituiu, mas pelo Decreto n. 68.904/1971, que o regulamentou. São tais regimes o benefi ciamento ativo e o de reposição de estoques. Todos os três regimes foram devidamente dissecados na excelente monografia de Osiris de Azevedo Lopes Filho intitulada “Regimes Aduaneiros Especiais”, verifi cando-se que, das três modalidades somente a primeira pode ser, tecnicamente, considerada como tal. (Osiris Lopes Filho. ob. cit., “Revista dos Tribunais”, 1984, pp. 91 e seguintes).
Ainda que em pleno vigor, seria, pois, inaplicável ao Programa BEFIEX a isenção do art. 55 da Lei n. 5.025/1966.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 187
Aliás, se o legislador quisesse conceder isenção do AFRMM para as importações do Programa BEFIEX, teria expressamente abordado o assunto, como fez com os impostos de importação e sobre produtos industrializados no Decreto-Lei n. 1.219/1972, que instituiu o programa e as isenções específi cas, ou no Decreto-Lei n. 1.248/1975, que o aperfeiçoou.
Do mesmo modo a isenção do adicional nos casos BEFIEX teria sido expressamente prevista no Decreto-Lei n. 1.801/1980, que consolidou a legislação relativa ao AFRMM e ao Fundo da Marinha Mercante.
Como essa isenção não consta, expressamente, da legislação pertinente, não pode ser aplicada, como deseja a impetrante.
De qualquer forma, para atender-se à pretensão da recorrente, seria impreciso, no caso, dar-se interpretação ampliativa no texto legal isentivo, o que é expressamente vedado pelo art. 111 do Código Tributário Nacional.
Tal orientação, aliás, foi a adotada pela Quarta Turma do citado Tribunal Federal de Recursos, ao julgar, na assentada de 29.03.1989, a AMS n. 124.386-SP, de que foi Relator o eminente Ministro Ilmar Galvão, hoje pontifi cando na excelsa Corte (Ac. DJ de 30.05.1989)
Tributário. Incentivos fi scais à exportação. Programa BEFIEX. Características que o distinguem do draw-back, excluindo-o da incidência da norma do art. 55 da Lei n. 5.025/1966, restrita ao último regime aduaneiro citado e seus equivalentes.
Ilegitimidade da pretendida extensão do benefício a todas as hipóteses de estímulo à exportação, sem desobediência do princípio da interpretação estrita das normas de isenção fi scal.
Apelação provida.
Isto posto, em conclusão, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 36.366-SP (93.0017891-1)
Relator: Ministro Milton Pereira
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorrida: Pirelli S/A Companhia Industrial Brasileira
Procuradores: Gentil Domingues dos Santos e outros
Advogados: Tânia Maria do Amaral Dinkhuysen e outros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
188
EMENTA
Tributário. BEFIEX. Draw-back. Distinções. Isenção. CTN, art.
111, II, Lei n. 5.025/1966 (art. 55). Decreto-Lei n. 24/1966. Decreto-
Lei n. 37/1966 (art. 78). Decreto-Lei n. 1.219/1972.
1. BEFIEX e draw-back, substancialmente, são regimes
aduaneiros distintos, destoando considerá-los equivalentes para o
benefício fi scal da isenção.
2. A isenção é avessa às interpretações ampliativas, não se
acomodando à fi liação analógica (art. 111, II, CTN).
3. A cumulação de benefícios fi scais depara-se no caso, com
vedação explicitada (Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15).
4. Recurso provido (art. 105, III, c, CF).
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,
decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar
provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes
dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram
do julgamento os Srs. Ministros Cesar Rocha, Garcia Vieira, e Demócrito
Reinaldo. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Gomes de Barros. Presidiu o
julgamento o Sr. Ministro Garcia Vieira.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 25 de agosto de 1993 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente
Ministro Milton Pereira, Relator
DJ 28.09.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Milton Pereira: Nos autos da apelação em mandado
de segurança movida pela União Federal contra Pirelli S/A Cia. Industrial
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 189
Brasileira, a colenda Terceira Turma do Tribunal Regional Federal decidiu, de
conformidade com a ementa seguinte:
Tributário. Mandado de segurança. AFRMM. Isenção. Lei n. 5.025/1966. Decreto-Lei n. 24/1966. Regimes aduaneiros do BEFIEX e draw-back. Equivalência.
I - Os institutos do BEFIEX e do draw-back equivalem-se nos seus propósitos, já que visam incentivar exportações de produtos manufaturados.
II - As exportações pelo regime BEFIEX têm direito à isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante — AFRMM, tanto por imposição do art. 55 da Lei n. 5.025/1966, como por exigência da isonomia. (fl . 24)
Contra o v. decisum a União Federal interpôs recurso especial, fulcrado no
art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, sob o argumento de
que houve ofensa ao art. 111, inciso II, do Código Tributário Nacional, bem
como divergência com julgados do extinto Tribunal Federal de Recursos (fl s.
26-29).
Invocando o teor das Súmulas n. 282 e 356 do excelso Pretório, a Recorrida,
em suas contra-razões, observou que o apelo não deve ser conhecido, porque
inexistentes os requisitos para sua admissibilidade. No mérito asseverou que “a
isenção prevista no art. 55, da Lei n. 5.025/1966 abriga as importações efetivas
sob o regime equivalente ao Draw-back” (G.A.)
O apelo não logrou admissão pelo egrégio Tribunal de origem, subindo os
autos a esta Corte por força do agravo de instrumento interposto.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Milton Pereira (Relator): A questão jurídica deu enchança
ao recurso (art. 105, III, a e c da CF) à vista do acertamento espelhado na
seguinte ementa:
Tributário. Mandado de segurança. AFRMM. Isenção. Lei n. 5.025/1966. Decreto-Lei n. 24/1966. Regimes aduaneiros do BEFIEX e draw-back. Equivalência.
1. Os institutos do BEFIEX e do draw-back equivalem-se nos seus propósitos, já que visam incentivar exportação de produtos manufaturados.
2. As exportações pelo regime BEFIEX têm direito à isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante — AFRMM, tanto por imposição do art. 55 da Lei n. 5.026/1966, como por exigência da isonomia.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
190
Fundamentou-se o julgado na afi rmação de que a isenção do AFRMM
(art. 55, Lei n. 5.025/1966, Decreto-Lei n. 24/1966), por analogia, à norma
jurídica que atribui favores fi scais ao regime draw-back, deve ser aplicada às
importações feitas sob o resguardo do BEFIEX.
Para o alinhamento das idéias, trato de se estender favor isencional, sob
necessária espia do art. 111, II, CTN, de início, calha transcrever as disposições,
cuja negativa de vigência empalma o recurso, com a seguinte redação (Lei n.
5.025/1966):
Art. 55: A isenção do Imposto de Importação nas operações sob o regime aduaneiro do draw-back — “ou equivalente”, implicará igualmente, uma isenção do imposto de consumo, da taxa de despacho aduaneiro, da taxa de renovação da Marinha Mercante, da Taxa de Melhoramento dos Portos e daquelas que não correspondem à efetiva contraprestação dos serviços realizados. (Grifei)
Assim, soa como importante ponto de observação que a extensão de
benefício assentou-se na equivalência das operações apropriadas aos
mencionados regimes aduaneiros. Contudo, são diferentes, tecnicamente, sem a
identidade que viabilizaria a isenção, como prenunciado, visto que:
Ao referir-se ao regime aduaneiro do draw-back ou “equivalentes”, de certo não quis o art. 55 da Lei n. 5.025/1966 estender a isenção tributária senão aos dois outros regimes, também chamados impropriamente, de draw-back, não pelo art. 78 do Decreto-Lei n. 37/1966 que os instituiu, mas pelo Decreto n. 68.904/1971, que o regulamentou. São tais regimes o benefi ciamento ativo e o de reposição de estoques. Todos os três regimes foram devidamente dissecados na excelente monografia de Osiris de Azevedo Lopes Filho intitulada “’Regimes Aduaneiros Especiais” verifi cando-se que, das três modalidades somente a primeira pode ser, tecnicamente, considerada como tal. (Osiris Lopes Filho. ob. cit., “Revista dos Tribunais”, 1984, pp. 91 e seguintes).
Ainda que em pleno vigor, seria, pois, inaplicável ao Programa BEFIEX a isenção do art. 55 da Lei n. 5.025/1966.
Aliás, se o legislador quisesse conceder isenção do AFRMM para as importações do Programa BEFIEX, teria expressamente abordado o assunto, como fez com os impostos de importação e sobre produtos industrializados no Decreto-Lei n. 1.219/1972, que instituiu o programa e as isenções específi cas, ou no Decreto-Lei n. 1.248/1975, que o aperfeiçoou.
Do mesmo modo a isenção do adicional nos casos BEFIEX teria sido expressamente prevista no Decreto n. 1.801/1980, que consolidou a legislação relativa ao AFRMM e ao Fundo da Marinha Mercante.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 191
Como essa isenção não consta, expressamente, da legislação pertinente, não pode ser aplicada, como deseja a impertrante. (REsp n. 111.839 — TRF — Relator Ministro Carlos Thibau)
Às claras, assim, enquanto que o draw-back vincula-se fisicamente à
mercadoria e à obrigação de exportá-la (Decreto-Lei n. 37/1966, art. 78), o
BEFIEX prende-se à aquisição de maquinário para objetivos diversos daquele
regime.
Davante, a equivalência em comento só granjearia viabilidade sob os
auspícios de interpretação ampliativa, contudo, hipótese desarrazoada frente à
vedação espraiada no art. 111, II, CTN.
Diferentes, pois, os mencionados programas ou regimes aduaneiros,
espancada a compreenção abrangente ou igualitária, fi cando desconsertada,
desse modo, a premissa de equivalência (art. 55, ref.), que sustentou o julgado
malsinado, esmaece a sua conclusão favorecedora de pretenção defi nida pela
parte recorrida.
Enfi m, ainda que aproximadas, substancialmente, são regimes distintos,
destoando qualifi cá-los como equivalentes.
Sobreponha-se, ainda, que o Decreto-Lei n. 1.219/1972 (BEFIEX) veda a
cumulação dos benefícios fi scais estabelecidos na legislação fi scal.
Na confl uência dessas razões, com os olhos de bem se ver, afastada a
equivalência e coarctada a ampliação interpretativa, orienta-se a conclusão
da improcedência do objetivado favorecimento fiscal, diretriz assoalhada,
iterativamente, desde o extinto Tribunal Federal de Recursos e nesta Corte pela
jurisprudência; entre outros:
— Tributário. Incentivos fi scais à exportação. Programa BEFIEX. Características que o distinguem do draw-back, excluindo-o da norma do art. 55 da Lei n. 5.025/1966, restrita ao último registro aduaneiro citado e seus equivalentes.
Ilegitimidade da pretendida extensão do benefício a todas as hipóteses de estímulo à exportação, sem desobediência do princípio da interpretação estrita das normas de isenção fi scal. Apelação provida (AMS n. 124.386-SP — TFR — Relator Ministro Ilmar Galvão — in DJU de 30.05.1989, p. 9.245).
— Tributário. Programa BEFIEX. Distinção do Regime Aduaneiro do draw-back. Isenção do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante — AFRMM. Descabimento.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
192
I - O regime BEFIEX não se equivale ao regime aduaneiro do draw-back, sendo legítima a vigência do AFRMM com atinência aos bens importados nas operações a ele relativos. Ofensa ao art. 55 da Lei n. 5.025, de 1966 com a redação do Decreto-Lei n. 24, de 1966, não caracterizada.
II - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 34.009-7-SP — STJ — Relator Ministro Pádua Ribeiro — in DJU de 02.08.1993)
No mesmo sentido: REsp n. 31.215-6-SP — Relator Ministro Demócrito
Reinaldo — julgado em 23.06.1993.
Abertamente concordando com a compreensão dominante, na linha dos
pertinentes votos que proferi, conhecendo do recurso (art. 105, III, c, CF), voto
pelo provimento.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 36.659-SP
Relator: Ministro Peçanha Martins
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorrida: Pirelli S/A Cia. Industrial Brasileira
Advogados: Rubens Lazzarini e outros, e Mário Luiz Oliveira da Costa e
outros
EMENTA
Tributário. Importação. Programas BEFIEX e draw-back.
AFRMM. Precedentes STJ.
— Inexiste equivalência entre os regimes aduaneiros “BEFIEX”
e draw-back.
— É legítima a isenção do AFRMM — Adicional ao Frete para
Renovação da Marinha Mercante sobre as mercadorias importadas,
desde que assegurada a reexportação das mesmas, o que caracteriza o
regime draw-back.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 193
Ausente o diploma legal autorizador da isenção do AFRMM
para o “Programa BEFIEX” é legítima a exigência de seu recolhimento,
face à existência de previsão legal.
— Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Pádua Ribeiro e José de Jesus. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Américo Luz e Hélio Mosimann.
Brasília (DF), 1º de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente
Ministro Peçanha Martins, Relator
DJ 11.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Recurso especial interposto pela Fazenda
Nacional com apoio no art. 105, III, letras a e c da Constituição Federal, contra
acórdão do TRF da 3ª Região que, por maioria, deu provimento à apelação
da Pirelli S/A — Cia. Industrial Brasileira entendendo serem os regimes
aduaneiros do BEFIEX e draw-back equivalentes nos seus propósitos.
Alega ofensa ao art. 111, II, do CTN e divergência jurisprudencial com
acórdão do extinto Tribunal Federal de Recursos.
Inadmitido no Tribubal a quo, ao argumento de falta de prequestionamento
e impossibilidade de divergência entre decisão do TFR e acórdão do TRF, foi
interposto agravo de instrumento a que dei provimento, determinando a subida
dos autos para melhor exame.
Dispensei manifestação da Subprocuradoria-Geral da República, nos
termos regimentais.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
194
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Entendeu o v. acórdão
recorrido:
(...)
E não pode haver qualquer critério racional de discriminação entre os sistemas, exatamente porque as mercadorias neles incluídas têm tratamento legislativo equiparado: são produtos manufaturados destinados à exportação e incentivados pela isenção dos tributos aduaneiros.
Sob qualquer ângulo de análise, então, conclui-se que a isenção do AFRMM do draw-back se aplica igualmente ao BEFIEX, quer por imposição legal (art. 55 da Lei n. 5.025/1966), quer por exigência constitucional do princípio da isonomia.
Finalmente, não cabe o argumento de que a tal entendimento opor-se-ia o art. 15 do Decreto-Lei n. 1.219/1972, que proíbe a fruição cumulativa dos benefícios por ele previstos com outros estabelecidos pela legislação em vigor.
É intuitivo que a expressão “benefícios fiscais” utilizada pelo dispositivo legal mencionado signifi ca apenas os benefícios que possam ser considerados estímulos à exportação, vale dizer, da mesma natureza. Se assim não fosse, lembra bem o insigne Juiz desta Corte, Américo Lacombe, nenhuma das isenções concedidas pela legislação do imposto de renda poderia conviver com a isenção concedida pelo sistema BEFIEX, o que não tem senso (apud AMS n. 3.436/1989-SP, Quarta Turma, voto do Juiz-Relator Oliveira Lima). (fl s. 259-260)
O recurso especial alega negativa de vigência ao art. 111, II, do CTN e
divergência jurisprudencial.
No extinto TFR, consolidou-se a jurisprudência no Enunciado da Súmula
n. 27, in verbis:
É legítima a exigência do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) em importação sob regime aduaneiro de draw-back, realizada antes da vigência do Decreto-Lei n. 1.626, de 1º de junho de 1978.
O Decreto-Lei n. 1.626/1978, por seu turno, estabeleceu, no seu art. 1º, o
seguinte:
Art. 1º - Ficam isentas do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante e da Taxa de Melhoramento dos Portos as cargas objeto das operações previstas nos regimes estabelecidos no art. 78 do Decreto-Lei n. 37, de 18 de novembro de 1966.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 195
§ 1º - A isenção prevista no caput fica condicionada à exportação para o exterior das mercadorias submetidas aos referidos regimes aduaneiros especiais.
§ 2º - Para efeito de controle da isenção aplicar-se-á, no que couber, a disciplinação dos regimes mencionados, inclusive a exigência do termo de responsabilidade.
O art. 78 do Decreto-Lei n. 37, de 18.11.1966, instituiu os regimes de
benefi ciamento ativo e de reposição de estoques isentados, junto ao draw-back,
do AFRMM e da Taxa de Melhoramento dos Portos, pelo art. 1ºdo Decreto-
Lei n. 1.626/1978.
Tendo sido instituída a isenção do AFRMM para tais operações pelo
Decreto-Lei n. 1.626/1978, como falar-se em isenção do AFRMM para as
operações draw-back por força do art. 55 da Lei n. 5.025/1966 e, sobretudo,
como estender-se tal isenção ao Programa BEFIEX, instituído pelo Decreto-
Lei n. 1.219, de 15.05.1972, ao qual o legislador deferiu apenas as isenções dos
Impostos sobre a Importação e Produtos Industrializados.
A norma do art. 111, II, do CTN, impõe a interpretação literal da lei que
outorgue isenção tributária. E o mestre Carlos Maximiliano já frisava muito
antes da edição do CTN que “na dúvida se decide contra as isenções totais ou
parciais e a favor do Fisco; ou melhor, presume-se não haver o Estado aberto
mão de sua autoridade para exigir tributo.” (In “Hermenêutica e Aplicação do
Direito”, Forense, 9ª ed. p. 334).
Dentre os precedentes, destaco o acórdão proferido na AMS n. 116.571-
SP, de relatoria do ilustre Ministro Pedro Acioli, ainda no antigo TFR, pela
clareza com que estão postos seus fundamentos, e assim ementado:
Tributário. Importação. Regimes BEFIEX e draw-back. AFRMM.
I - Não se confundem os regimes BEFIEX e draw-back, haja vista que, enquanto aquele está visceralmente ligado a um programa especial de exportação em determinado espaço de tempo, condicionado a divisas positivas no saldo comercial, irrelevante o bem exportado (produto de manufaturação programada), este último, o draw-back consiste em que o importador, para o gozo dos benefícios instituídos, se obrigue a manter o vínculo de reexportação da mercadoria adentrada ao território nacional, com a adição de qualquer implemento industrial ( melhoramento, utilização em fabrico de outro produto etc.).
II - Dá-se a isenção tão-somente pelo fundamento da reexportação em face do vínculo físico da mercadoria (draw-back).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
196
O vínculo econômico ou fi nanceiro BEFIEX não autoriza a isenção do AFRMM.
III - Legítima a exigência do AFRMM, dada a sua previsão legal e ausência de norma legal que isente o Programa BEFIEX de seu recolhimento.
IV - Segurança cassada. Provimento da remessa ofi cial e do recurso voluntário da União Federal.
Vale assinalar que na AMS n. 116.571-SP, fi gurava como Apelada a ora
Recorrida.
Pelo exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 38.216-SP (93.0023997-0)
Relator: Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorrida: Pirelli S/A Companhia Industrial Brasileira
Advogados: Rubens Lazzarini e outros, e Silvana Bussab Endres e outros
EMENTA
AFRMM. Isenção. Regimes aduaneiros do BEFIEX e draw-
back.
Distintos os regimes do BEFIEX e do draw-back não tem direito
à isenção do AFRMM a empresa benefi ciada com o BEFIEX.
A isenção do AFRMM somente decorre de dispositivo expresso
de lei, sendo descabida a interpretação ampliativa e analógica, vedada
pelo art. 111 do CTN.
Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 197
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Gomes de
Barros, Milton Pereira e Cesar Rocha.
Brasília (DF), 06 de outubro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente e Relator
DJ 08.11.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de recurso especial interposto pela
Fazenda Nacional, com apoio nas alíneas a e c do permissivo constitucional,
contra acórdão do egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, assim
ementado:
Tributário. Mandado de Segurança. AFRMM. Isenção. Lei n. 5.025/1966. Decreto-Lei n. 24/1966. Regimes Aduaneiros do BEFIEX e draw-back. Equivalência.
I - Os institutos do BEFIEX e do draw-back equivalem-se nos seus propósitos, já que visam incentivar exportações de produtos manufaturados.
II - As exportações pelo regime BEFIEX têm direito à isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante — AFRMM, tanto por imposição do art. 55 da Lei n. 5.025/1966, como por exigência da isonomia. (fl . 204)
Alega a recorrente violação ao art. 111 do CTN, bem como divergência
jurisprudencial.
Sustenta a impossibilidade de se atribuir, por interpretação analógica,
os benefícios do regime draw-back às importações realizadas sob o regime
BEFIEX.
Alega, ainda, divergência jurisprudencial com julgado que traz à colação
(fl s. 206-209).
Oferecidas contra-razões (fl s. 214-219) e indeferido o processamento do
recurso especial (fl . 222), subiram os autos a este colendo Tribunal, em razão do
provimento de agravo de instrumento.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
198
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Aponta a recorrente como violados
vários dispositivos legais versando sobre questões devidamente prequestionadas
e comprovou a divergência nos moldes exigidos pelo art. 26 do parágrafo único
da Lei n. 8.038/1990.
Conheço do recurso pelas letras a e c.
O recurso é admissível e merece provimento.
A impetrante, beneficiada pelo BEFIEX, pretende lhe seja também
reconhecida a isenção do imposto de importação do Adicional ao Frete
para Renovação da Marinha Mercante — AFRMM. Sustenta ela que suas
importações abrangidas pelo regime de Benefícios Fiscais à Exportação —
BEFIEX estão também isentas do AFRMM, com características semelhantes
ao draw-back, e pede lhe seja assegurada a liberação de mercadorias por ela
importadas, com isenção do referido adicional.
Sem razão a impetrante. O fato de lhe ter sido reconhecida a isenção
dos impostos de importação e sobre produtos industrializados, na importação
de máquinas, equipamentos, aparelhos, instrumentos, acessórios, ferramentais
novos, matérias-primas e produtos intermediários em valor FOB até certo
limite, não lhe confere o direito à isenção do Adicional ao Frete para Renovação
da Marinha Mercante, atual Taxa de Renovação da Marinha Mercante. Os
regimes “BEFIEX” e draw-back são distintos e só se identifi cam no estímulo
à exportação. O Decreto-Lei n. 1.219 de 15 de maio de 1972 que dispõe
sobre a concessão de estímulos à exportação de manufaturados, em seu art. 1º,
estabelece que as empresas fabricantes de produtos manufaturados, detentoras
do BEFIEX, gozarão de isenção dos impostos de importação e sobre produtos
industrializados, mas não prevê a isenção do AFRMM, e deve-se interpretar
literalmente a legislação que disponha sobre isenção (art. 111, II, do CTN). Prevê
o Decreto-Lei n. 37, de 18 de novembro de 1966, no seu art. 78, III, a isenção
de tributos sobre importações de mercadorias “em quantidade e qualidade
equivalentes à utilizada no benefi ciamento, fabricação, complementação ou
acondicionamento do produto importado”. O art. 55 da Lei n. 5.025, de 10 de
junho de 1966, com a redação dada pelo Decreto-Lei n. 24, de 19 de outubro do
mesmo ano, dispõe que:
A isenção do imposto de importação nas operações sobre o regime aduaneiro do draw-back ou equivalente, implicará, igualmente, na isenção do Imposto
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 175-200, maio 2010 199
de Consumo, da Taxa de Despacho Aduaneiro, da Taxa de Renovação da Marinha Mercante, da Taxa de Melhoramento dos Portos e daquelas que não correspondam à efetiva contraprestação de serviços realizados.
Embora o legislador usasse a expressão “ou equivalente”, este fato não
confere à recorrida o direito por ela perseguido porque o regime BEFIEX
não equivale ao draw-back e não se pode admitir a interpretação extensiva ou
analógica para equipará-los. O art. 3º, § 7º, do Decreto-Lei n. 1.801, de 18 de
agosto de 1980, determina que:
O AFRMM é um adicional ao frete cobrado do armador, de qualquer embarcação que opere em porto nacional, de acordo com o conhecimento de embarque e o manifesto de carga, pelo transporte de qualquer carga:
I - (...)
II - Na entrada em porto nacional, na navegação de longo curso,
§ 1º - (...)
§ 7º - (...)
a) (...)
d) - estejam expressamente defi nidas em lei como isentas do AFRMM.
Como se vê, a isenção do AFRMM somente decorre de dispositivo
expresso de lei, e no caso, isto não acontece, porque esta isenção não é concedida
por nenhuma norma legal e a impetrante busca este direito com base em
interpretação ampliativa e analógica de lei tributária e isto é vedado pelo art.
111 do CTN.
O Decreto-Lei n. 1.219/1972, em seu art. 15, que dispõe sobre o BEFIEX,
proíbe a fruição cumulativa deste benefício com os outros nele previstos.
A questão já é bem conhecida deste colendo Superior Tribunal de Justiça,
que vem, reiteradamente, entendendo serem distintos os regimes do “BEFIEX”
e do draw-back e não ter direito à isenção do AFRMM a empresa benefi ciada
com o “BEFIEX”. Neste sentido os Recursos Especiais n. 24.211-SP, DJ de
30.08.1993; 31.215-SP, DJ de 23.08.1993 e 34.009-SP, DJ de 02.08.1993. No
Recurso Especial n. 24.211-SP, Relator o eminente Ministro Pádua Ribeiro,
entendeu a egrégia Segunda Turma que:
Tributário. Programa “BEFIEX”. Distinção do regime aduaneiro do draw-back. Isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante — AFRMM. Descabimento.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
200
I - O regime BEFIEX não se equivale ao regime aduaneiro do draw-back, sendo legítima a exigência do AFRMM com atinência aos bens importados nas operações a ele relativas. Ofensa ao art. 111, II, do Código Tributário Nacional, caracterizada.
II - Recurso especial conhecido e provido.
No Recurso Especial n. 31.215-SP, Relator o eminente Ministro
Demócrito Reinaldo, esta egrégia Primeira Turma fi rmou o entendimento de
que:
Constitucional. Tributário. Isenção do Adicional ao Frete para a Marinha Mercante — AFRMM. Equivalência com o sistema draw-back. Impossibilidade.
A isenção, no sistema jurídico-tributário vigorante, só é de ser reconhecida pelo Judiciário em benefício do contribuinte, quando concedida, de forma expressa e clara pela lei, devendo a esta emprestar compreensão estrita, vedada interpretação ampliativa.
Para efeito da isenção do AFRMM, o regime “BEFIEX” não se equipara juridicamente, ao sistema denominado draw-back. Enquanto, naquele (BEFIEX), o beneficiário do incentivo obriga-se a efetivar, em determinado prazo, um programa especial de exportação de produtos manufaturados, devendo, na dilação, apresentar saldo positivo de divisas (seja qual for o bem exportado), no regime aduaneiro do draw-back o que se verifi ca é o vínculo físico (e não fi nanceiro) entre a mercadoria importada e a exportada; aquela deverá ser usada na fabricação (complementação ou acondicionamento) do produto exportado.
A lei instituidora do sistema “BEFIEX” (Decreto-Lei n. 1.219/1972) veda de forma expressa, a cumulação do referido benefício fi scal com outros previstos na legislação tributária.
O “BEFIEX”, segundo a jurisprudência predominante, é coberto, apenas, pelos benefícios fiscais consignados no Decreto-Lei n. 1.219/1972, que o instituiu, gozando, tão-só, da isenção do IPI e do imposto de exportação.
Recurso improvido.
Dou provimento ao recurso.
Súmula n. 101
SÚMULA N. 101
A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve
em um ano.
Referência:
CC/1916, art. 178, § 6º, II.
Precedentes:
REsp 9.524-SP (4ª T, 14.04.1992 — DJ 1º.06.1992)
REsp 10.497-SP (4ª T, 27.06.1991 — DJ 12.08.1991)
REsp 26.745-SP (2ª S, 29.09.1993 — DJ 25.10.1993)
REsp 30.676-SP (4ª T, 17.02.1993 — DJ 29.03.1993)
REsp 36.385-SP (4ª T, 30.08.1993 — DJ 25.10.1993)
Segunda Seção, em 27.04.1994
DJ 05.05.1994, p. 10.379
RECURSO ESPECIAL N. 9.524-SP (91.5858-0)
Relator: Ministro Barros Monteiro
Recorrente: Itaú Seguros S/A
Recorrido: Neves Cesario Laera
Advogados: Ricardo Benites Malfati e outros, e José Wiazowski e outros
EMENTA
Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Prescrição ânua.
Qualifi cando-se a empresa estipulante como mera mandatária
dos segurados (art. 21, § 2º, do Decreto-Lei n. 73, de 21.11.1966), a
pretensão destes últimos está sujeita à prescrição ânua do art. 178, §
6º, n. II, do Código Civil. Precedente da egrégia Quarta Turma.
Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Bueno de Souza e Fontes de
Alencar.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 14 de abril de 1992 (data do julgamento).
Ministro Fontes de Alencar, Presidente em exercício
Ministro Barros Monteiro, Relator
DJ 1º.06.1992
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
206
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Ao apreciar a apelação interposta contra
sentença que julgou improcedentes embargos à execução, assim se pronunciou o
TAC do Estado de São Paulo:
Embargos opostos pela seguradora à execução fundada em apólice de seguro de vida em grupo e em acidente de trabalho.
Julgados procedentes os embargos, da sentença apelou a seguradora embargante, com vista à sua reforma integral, reiterando, preliminarmente, a apreciação de seu agravo retido à fl . 68, sobre a prescrição da ação relativamente ao seguro contratado.
Houve resposta.
É o relatório.
2. Negam provimento ao agravo retido.
O credor embargado não é segurado, relativamente à devedora apelante. Ou seja, com esta não contratou seguro. Tal ocorreu entre a seguradora e a estipulante. O apelado não passa de benefi ciário do seguro contratado em grupo (com sua ex-empregadora). Neste sentido, a jurisprudência deste egrégio Tribunal (“Jurisprudência Brasileira”, vol. 149 — Seguro de Vida — fl . 154; Apelação n. 299.133, Relator Desembargador Toledo César; Apelação n. 223.403, Relator Juiz Toledo Silva; Apelação n. 377.375, Relator Juiz Raphael Salvador). E a seguradora recebeu o prêmio referente ao mês de cobertura.
Assim, o prazo prescricional anual, previsto no art. 178, § 6º, inciso II, do Código Civil, não se aplica à hipótese dos autos, como se vê, aliás, em v. acórdãos deste egrégio Tribunal, trazidos à colação, de que relatores os eminentes Juízes Maurício Vidigal (Apelação n. 348.978) e Octaviano Lobo (Apelação n. 392.201/8).
3. No mérito, em melhor posição não se encontra a seguradora apelante.
O laudo pericial revelou a existência de relação de causalidade entre o traumatismo ocorrido quando de acidente em serviço, em outubro de 1986, e a invalidez permanente a que submetido o autor da ação de execução, credor embargado, ora apelado. O fato, aliás, também foi reconhecido, judicialmente, como acidente de trabalho, em ação indenizatória ajuizada ante o INPS, condenada a autarquia previdenciária a lhe prestar o auxílio previdenciário para acidentado, bem assim, a lhe proporcionar aposentadoria por invalidez acidentária.
O assistente técnico da seguradora chegou a conclusão diversa, afi rmando, contudo, que a moléstia determinadora da invalidez do apelado é de natureza
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 207
crônica e degenerativa, acarretando-lhe uma invalidez laborativa coberta pelo seguro de acidente do trabalho.
Mas, assim como tem direito ele ao acréscimo previdenciário decorrente do acidente, não será menos certo, tanto que efetuado o pagamento do prêmio correspondente, ter direito à indenização decorrente do contrato de seguro celebrado com empregadora estipulante.
Por isso, o improvimento do apelo, improvido, igualmente, o agravo retido. (fl s. 190-192)
Inconformada, manifestou a embargante-executada recurso especial com
fulcro no art. 105, inciso III, letras a e c, da CF, alegando negativa de vigência
aos arts. 178, § 6º, II, 1.458 e 1.460 do Código Civil, bem como divergência
interpretativa com o julgado inserto, in “Jurisprudência Brasileira Cível e
Comércio”, vol. 3, pp. 235-236.
Admitido o recurso pelo pressuposto da alínea c, subiram os autos com as
razões e contra-razões.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): O exeqüente-embargado
subscreveu seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. No dia 14.10.1976,
sofreu grave acidente no trabalho quando, ao levantar uma pesada caixa,
escorregou, vindo a sofrer em conseqüência lesão na coluna vertebral.
Aposentado por invalidez pelo INPS em 1º.11.1977, a partir de 1º.10.1980,
passou a perceber aposentadoria acidentária. Como a presente execução somente
foi ajuizada em setembro de 1986, a seguradora argüiu desde logo, nos seus
embargos, a ocorrência da prescrição nos termos do art. 178, § 6º, II, do Código
Civil.
Nas instâncias ordinárias, a assertiva restou afastada sob o fundamento de que o exeqüente é terceiro benefi ciário e não segurado, donde a não-incidência do mencionado art. 178, § 6º, n. II, do CC.
Entretanto, não é bem assim.
O estipulante, nos seguros facultativos, como se dá no caso em tela, é mandatário dos segurados, de acordo com o que reza o art. 21, § 2º, do Decreto-Lei n. 73, de 21.11.1966. Logo, consoante bem observou a ora recorrente, a
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
208
empresa estipulante contratou o seguro por conta de terceiros, os verdadeiros
segurados.
Já decidiu esta egrégia Quarta Turma que não se confundem a fi gura do
estipulante com a fi gura dos segurados. O tema ora em questão foi, de fato,
objeto de exame do REsp n. 10.497-SP, de que foi Relator o eminente Ministro
Athos Carneiro, sob a seguinte ementa:
Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Prazo prescricional. Incidência do art. 178, § 6º, II, do Código Civil, na ação do segurado contra a seguradora. Posição do estipulante.
No seguro de vida em grupo não se confunde a fi gura do estipulante com a fi gura dos segurados. Se facultativo o seguro, o estipulante apresenta-se como mandatário dos segurados — Decreto-Lei n. 73/1966, art. 21, § 2º.
Ao segurado, ou ao beneficiário do segurado, ocorrido o sinistro, socorre pretensão contra a entidade seguradora, com base no contrato de seguro. A pretensão do segurado está sujeita ao prazo prescricional ânuo, inclusive nos casos de seguro em grupo, a teor do art. 178, § 6º, II, do Código Civil.
Recurso especial da seguradora, conhecido e provido.
Aplicável, por conseguinte, na espécie dos autos o disposto no art. 178,
§ 6º, n. II, do CC, que é tido como afrontado, uma vez que a execução apenas
veio a lume anos após o acidente e inclusive após a aposentadoria acidentária
do obreiro. O acórdão recorrido, de resto, dissentiu do julgado paradigma, que
assentou de modo induvidoso não ser o autor tão-só benefi ciário, mas também
parte do contrato, como segurado (“Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio”,
vol. 3, pp. 235-236).
Ante o exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas do permissivo
constitucional e dou-lhe provimento, para julgar procedentes os embargos e
extinta a execução com o exame do mérito, na conformidade com o estatuído
no art. 269, n. IV, do CPC (prescrição), carreando-se, por conseguinte, ao
embargado as custas, despesas processuais e os honorários de advogado, estes
últimos arbitrados em 10% sobre o valor atualizado atribuído à execução.
É como voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 209
RECURSO ESPECIAL N. 10.497-SP (91.0008138-8)
Relator: Ministro Athos Carneiro
Recorrente: Bradesco Seguros S/A
Recorrido: Dirceu Valis
Advogados: Carmen Teresa V. D. Capriles Antezana e outros e Romeu
Tertuliano
EMENTA
Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Prazo prescricional.
Incidência do art. 178, § 6º, II, do Código Civil, na ação do segurado
contra a seguradora. Posição do estipulante.
No seguro de vida em grupo não se confunde a figura do
estipulante com a figura dos segurados. Se facultativo o seguro, o
estipulante apresenta-se como mandatário dos segurados — Decreto-
Lei n. 73/1966, art. 21, § 2º.
Ao segurado, ou ao benefi ciário do segurado, ocorrido o sinistro,
socorre pretensão contra a entidade seguradora, com base no contrato
de seguro. A pretensão do segurado está sujeita ao prazo prescricional
ânuo, inclusive nos casos de seguro em grupo, a teor do art. 178, § 6º, II,
do Código Civil.
Recurso especial da seguradora, conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
precedentes que integram o presente julgado. Participaram do julgamento, além
do signatário, os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo e Barros
Monteiro.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 27 de junho de 1991 (data do julgamento).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
210
Ministro Athos Carneiro, Presidente e Relator
DJ 12.08.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Athos Carneiro: Cuida-se de ação de cobrança decorrente
de contrato de “Seguro de Vida em Grupo e Acidentes Pessoais”, aforada por
Dirceu Valis contra a Bradesco Seguros S/A. O juízo monocrático, na decisão de
saneamento, sustentou que “o autor não é segurado, mas terceiro benefi ciário,
com o que não se aplica a ele a prescrição ânua” (fl . 51).
Interpôs a ré agravo de instrumento, ao qual a egrégia Quinta Câmara do
1º TACSP negou provimento, sob o entendimento básico de que ao benefi ciário
de seguro em grupo, e tal seria o caso do autor, não se aplica o prazo prescricional
do art. 178, § 6º, II, do Código Civil, restrito às “ações do segurado contra o
segurador e vice-versa” (fl s. 81-82).
Irresignada, manifestou a seguradora recurso especial, sob as alíneas a e c,
alegando negativa de vigência ao art. 178, § 6º, II, do CC, e dissídio com aresto
do Tribunal de Alçada do antigo Estado da Guanabara, in “Jurisprudência
Brasileira”, v. 3, pp. 235-236). O autor, aduz a recorrente, afi rmou que pelo
exercício de seu trabalho na Volkswagen passara a sofrer de defi ciência auditiva,
varizes bilaterais e males cardiovasculares, tendo deixado o emprego em 21
de outubro de 1987; impunha-se, pois, decretar a prescrição da ação, ajuizada
apenas em dezembro de 1988, com citação efetuada em 13 de abril de 1989.
Disserta sobre os conceitos de benefi ciário, de seguro de vida e de segurado,
reiterando que ‘segurado’ era o antigo funcionário da Volkswagen, e que a
estipulante apenas representa o segurado na contratação do seguro (fl s. 85-97).
O eminente Presidente do Tribunal a quo deferiu o recurso extremo, com
amparo na alínea c do permissivo constitucional (fl s. 101-102). Razões fi nais,
aliás não mais previstas na lei processual, às fl s. 107 e ss.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Athos Carneiro (Relator): Trata-se de seguro em grupo,
sendo estipulante a Fundação Volkswagen, seguradora a ré Bradesco Seguros S/A,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 211
tendo como garantia básica o risco de morte dos segurados, e como garantia adicional o risco de invalidez permanente resultante de acidente. A alegação, formulada na resposta, de que as moléstias acusadas pelo autor não estão cobertas pela cláusula relativa à invalidez permanente, constitui matéria nodal do mérito. Aqui, no entanto, o ponto em julgamento é apenas o relativo a saber quem o segurado, nos seguros em grupo, sujeito ao prazo prescricional ânuo do art. 178, § 6º, II, do Código Civil.
Afastou a prescrição o v. aresto da Quinta Câmara do 1º TACSP, sob os
seguintes fundamentos:
Tratando-se de ação proposta contra seguradora, por benefi ciário de seguro em grupo, a ela não se aplica o disposto no art. 178, § 6º, inciso II, do Código Civil, que é taxativo ao restringi-la às ações do segurado contra o segurador e vice-versa.
No caso em exame, o seguro em discussão é o chamado seguro em grupo, conforme se verifi ca pela documental de fl s. 49-50, onde existe a possibilidade de variação dos benefi ciários, tudo segundo desejo da empresa intitulada como estipulante. Logo, não é aquele seguro referido no inciso de lei acima citado (nesse sentido foi julgado em sede de Embargos Infringentes n. 345.432, da Comarca de Itapetininga, em que foi Relator o eminente Desembargador Carlos Ortiz).
O segurado, no caso dos autos, é a fi rma empregadora, que fi gura no contrato como estipulante, sendo o agravado mero benefi ciário do seguro, não tendo ele qualquer controle sobre o contrato elaborado entre a seguradora e a fi rma empregadora. É a lição da doutrina, mencionada no julgado acima referido que “em matéria de prescrição, não pode haver, como iterativo, interpretação extensiva ou analógica”. A interpretação deve ser restritiva pois a prescrição atinge direitos e, dessa forma, não há como se estender a prescrição ao benefi ciário do seguro em grupo, que apenas dele participa em decorrência do que fi cou ajustado entre a seguradora e o segurado que é a fi rma estipulante. (fl s. 81-82)
Em suma, segundo o v. aresto, no contrato de seguro em grupo, o segurado
seria “a fi rma empregadora, que fi gura no contrato como estipulante”, e o
empregado é conceituado como mero benefi ciário do seguro.
Entretanto, com a vênia devida, assim realmente não é. Como bem expôs
o ilustre Juiz Silvio Marques, também do 1º TACSP, em voto por cópia às fl s.
193 e ss., não cabe fazer distinções entre o segurado que contrata diretamente o
seguro, ou que o faz através de uma corretora, ou aquele que “tem o empregador-
estipulante como intermediário”, embora essa fi gura só tenha surgido depois do
Código:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
212
Na realidade, não existe diferença prática, real, ou jurídica, a não ser pela criação jurisprudencial, entre aquele segurado que contrata diretamente com a seguradora, e aquele outro que o faz através da estipulante, pois ambos, são da mesma forma, segurados, ou seja, a pessoa objeto e causa do seguro.
Ambos sabem da existência do seguro e suas cláusulas. Não existe razão legal, lógica ou prática para se estabelecer prazos prescricionais diferentes para um e outro. Se houvesse possibilidade de criar, com razoáveis fundamentos, essa distinção entre segurado direto e indireto (este o participante de grupo), aquele que faz parte do seguro de vida em grupo, como empregado da estipulante, deveria ter prazo prescricional mais curto, porque mais atento ao evento danoso e seu nexo causal, em razão da concomitância do seguro com a previdência social, onde, ao menor sintoma de moléstia, ou acidente típico, já se providenciam anotações, comunicações e exames, ou seja, há uma alerta para o registro do fato e a postulação dos direitos correspondentes.
O funcionário de uma empresa, que faz parte de um grupo de seguro de vida e acidentes pessoais, tem até mais instrução e advertência para as cláusulas do contrato e seus direitos. Os obreiros sempre trazem para os autos das ações pertinentes, boletins, avisos e circulares que os empregadores divulgam, com os dados a respeito, mostrando que se trata de um benefício paralelo e acrescido ao seguro obrigatório da Previdência Social. Com o desconto mensal no contracheque, existe a permanente lembrança de mais esse direito. Se após a ocorrência de algum evento previsto como originador de benefício, o empregado segurado só pleiteia seus direitos no INPS e ações acidentárias, mas não o faz frente à seguradora privada, é por falta de costume. É de se lembrar que, antes da integração da previdência, eram milhares as ações contra as seguradoras privadas.
Não cabe também o argumento de que no contrato de seguro de vida e acidentes pessoais em grupo, só existem as figuras da seguradora e da empregadora estipulante, sendo o obreiro um terceiro por isso que é o beneficiário e não o segurado. Embora o obreiro entre na relação contratual por adesão, na realidade o seguro é feito em seu benefício direto, fi gurando a empregadora apenas como verdadeira intermediária, corretora, ou procuradora, posto que em nada se benefi cia com tal seguro, no qual o seu funcionário é sempre o benefi ciado direto, portanto é o segurado.
Também não existe o problema da distinção entre segurado e benefi ciário de seguro. O primeiro seria o objeto do contrato, enquanto o segundo o que receberia a indenização contratada. No caso de incapacidade, por acidente ou moléstia, o benefi ciário viria a ser o próprio segurado, como acontece na Previdência Social e nos seguros comuns individuais. No caso de morte, o segurado, ou o estipulante, estabelecem quem receberia o seguro. (fl s. 194-196)
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 213
Diga-se que o Decreto-Lei n. 73, de 21.11.1966, que dispõe sobre o
Sistema Nacional de Seguros Privados, é claro ao estatuir, no art. 21, § 2º:
§ 2º — Nos seguros facultativos o estipulante é mandatário dos segurados.
O Professor Pedro Alvim esclarece certas distinções alusivas ao estipulante,
conforme se cuide de seguro obrigatório ou de seguro facultativo. Naquele, o
estipulante “supre a vontade do segurado, de cuja manifestação se prescinde
para a transferência do risco ao segurador. Ocorre a representação legal, para os
efeitos de contratação e manutenção do seguro”. Mas quem recebe a indenização
é o segurado, ou os benefi ciários por este indicados. Já nos casos de seguro
facultativo,
... o estipulante assume a posição de mandatário. Estes seguros são hoje muito divulgados, tais como os de acidentes pessoais e de vida, celebrados sob a forma coletiva, por entidades como clubes, associações etc. Congregam uma comunidade interessada na cobertura. O segurado adere ao contrato coletivo, manifestando sua vontade e assumindo obrigações. Quem administra, porém, o seguro é o estipulante, como mandatário de todos.
Os direitos e obrigações do estipulante, ou melhor, os poderes de seu mandato são estabelecidos para cada ramo de seguro. Em acidentes pessoais, por exemplo, de acordo com as normas vigentes (Circular n. 15/1978, da Susep) a pessoa física ou jurídica que contratar o seguro é responsável perante o segurador pelo cumprimento das obrigações do contrato. Sua substituição depende da concordância da seguradora e da solicitação por escrito da sucedida e da sucessora.
Nos seguros de vida em grupo, o estipulante é defi nido como o empregador ou a associação que contrata o seguro com a sociedade seguradora (Circular n. 23/1972, da Susep). É investido dos poderes de representação dos segurados perante a seguradora, a quem deve encaminhar todas as comunicações ou avisos inerentes ao contrato, inclusive alterações de importâncias seguradas, bem como inclusão e exclusão de segurados. (“O Contrato de Seguro”, Forense, 2ª ed., n. 166, p. 211)
A inequívoca distinção entre estipulante e segurado aparece mui claramente
também na dissertação de Mestrado de autoria de Ayrton Pimentel, perante o
Dep. de Direito Civil da Fac. de Direito da Univ. de São Paulo, em 1978. Refere
ele:
Do exposto acima, conclui-se que, durante a vigência do contrato, estabelece-se entre estipulante e segurados uma relação de mandato, não havendo dúvidas
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
214
de que o estipulante é mandatário dos segurados. Todavia, cabe uma indagação: qual a qualifi cação jurídica do estipulante quando celebra o contrato-mestre?
O estipulante, na verdade, não se assemelha nem ao gestor de negócios, e nem ao comitente. Ao gestor não se assemelha porque o ato por ele praticado, como salienta o Professor Fábio Konder Comparato, não caracteriza um negócio completo com o segurador, por conta dos segurados, que deveriam ratifi cá-los posteriormente. O ato do estipulante deve ser completado pelo dos segurados, através da adesão. Além disso, no ato do estipulante, ao fi rmar o contrato-mestre, não ocorre uma intromissão desautorizada na esfera jurídica dos segurados, como acontece na gestão. O ato do estipulante não interfere na esfera jurídica do segurado, mas, tão-só, possibilita a ele aderir ao contrato por ele já celebrado. (Ob. cit., n. 69)
Nestes termos, mesmo naqueles casos em que excepcionalmente, ou
por força de cláusulas no pacto laboral, possa caber ao estipulante pagar por
sua conta os prêmios do seguro em grupo, sempre se mantém a distinção
conceitual entre estipulante e segurado. Pode confundir-se a fi gura do segurado
e a do benefi ciário, como nos casos de seguro por acidentes pessoais; pode
necessariamente o benefi ciário ser um terceiro, como nos seguros pelo risco de
morte do segurado. Mas não se confundem a fi gura do estipulante com a fi gura
dos segurados, sendo irrelevante juridicamente, sob tal aspecto, a possibilidade
de “variação” do grupo segurado, pela exclusão de alguns ingressos de outros
segurados.
Por todo exposto, conheço do recurso pela alínea a, e igualmente pela
alínea c, ante o dissídio entre o aresto recorrido e o acórdão do Tribunal de
Alçada do antigo Estado da Guanabara aludido às fl s. 90-93.
Dele conhecendo, dou-lhe provimento para declarar prescrito o direito do
autor ao valor segurado.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 26.745-SP (92.0021884-9)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Itaú Seguros S/A
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 215
Recorrido: Helton Rodrigues dos Santos
Advogados: Luiz Eduardo Caram Garcia e outros e João Afonso de Souza
EMENTA
Prescrição. Seguro em grupo. Empregador como estipulante.
Também nessa hipótese é ânua a prescrição. Incidência do
disposto no art. 178, § 6º, II, do Código Civil.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar
provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Dias Trindade, Waldemar
Zveiter, Fontes de Alencar, Cláudio Santos, Barros Monteiro, Torreão Braz e
Costa Leite. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo.
Brasília (DF), 29 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Nilson Naves, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 25.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Helton Rodrigues dos Santos ajuizou
ação, tendente a obter fosse Itaú Seguros S/A condenada a pagar-lhe indenização
complementar em virtude de seguro invalidez.
O Juízo monocrático deu pela extinção do processo, com base no inciso
IV do art. 269 do Código de Processo Civil, acolhida a preliminar de prescrição
argüida pela ré, por incidir o disposto no art. 178, § 6º, inciso II, do Código
Civil.
Provida a apelação, a ré manifestou recurso especial. Alegou negativa
de vigência do art. 178, § 6º, inciso II, do Código Civil e art. 269, IV, do
CPC e do art. 21 do Decreto-Lei n. 73/1966. Argumentou que, mesmo se
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
216
tratando de seguro em grupo, incide a prescrição ânua e não a vintenária, como
equivocadamente entendeu o acórdão recorrido. Afi rmou existir divergência
jurisprudencial.
Submetido o feito à apreciação da Terceira Turma, esta reconheceu
caracterizado o dissídio de interpretação com julgados da Quarta Turma,
deliberando trazê-lo a julgamento nesta Segunda Seção.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): Emprestei adesão ao
entendimento acolhido pela Terceira Turma a afastar, na hipótese, o prazo
prescricional de um ano. Convenci-me, entretanto, de que melhor a interpretação
adotada pela Quarta Turma, notadamente em vista dos fundamentos deduzidos
pelo eminente Ministro Athos Carneiro, de cujo voto transcrevo parte:
Como bem expôs o ilustre Juiz Sílvio Marques, também do 1º TACSP, em voto por cópia às fl s. 193 e ss., não cabe fazer distinções entre o segurado que contrata diretamente o seguro, ou que o faz através de uma corretora, ou aquele que “tem o empregador-estipulante como intermediário”, embora essa figura só tenha surgido depois do Código:
Na realidade, não existe diferença prática, real, ou jurídica, a não ser pela criação jurisprudencial, entre aquele segurado que contrata diretamente com a seguradora, e aquele outro que o faz através da estipulante, pois ambos são, da mesma forma, segurados, ou seja, a pessoa objeto e causa do seguro.
Ambos sabem da existência do seguro e suas cláusulas. Não existe razão legal, lógica ou prática para se estabelecer prazos prescricionais diferentes para um e outro. Se houvesse possibilidade de criar, com razoáveis fundamentos, essa distinção entre segurado direto e indireto (este o participante do grupo), aquele que faz parte do seguro de vida em grupo, como empregado da estipulante, deveria ter prazo prescricional mais curto, porque mais atento ao evento danoso e seu nexo causal, em razão da concomitância do seguro com a Previdência Social, onde, ao menor sintoma de moléstia, ou acidente típico, já se providenciam anotações, comunicações e exames, ou seja, há uma alerta para o registro do fato e a postulação dos direitos correspondentes.
O funcionário de uma empresa que faz parte de um grupo de seguro de vida e acidentes pessoais, tem até mais instrução e advertência para
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 217
as cláusulas do contrato e seus direitos. Os obreiros sempre trazem para os autos das ações pertinentes, boletins, avisos e circulares que os empregadores divulgam, com os dados a respeito, mostrando que se trata de um benefício paralelo e acrescido ao seguro obrigatório da Previdência Social. Com o desconto mensal no contracheque, existe a permanente lembrança de mais esse direito. Se após a ocorrência de algum evento previsto como originador do benefício, o empregado segurado só pleiteia seus direitos no INPS e ações acidentárias, mas não o faz frente à seguradora privada, é por falta de costume. É de se lembrar que, antes da integração da Previdência, eram milhares as ações contra as seguradoras privadas.
Não cabe também o argumento de que no contrato de seguro de vida e acidentes pessoais em grupo, só existem as figuras da seguradora e da empregadora estipulante, sendo o obreiro um terceiro por isso que é o beneficiário e não o segurado. Embora o obreiro entre na relação contratual por adesão na realidade o seguro é feito em seu benefício direto, fi gurando a empregadora apenas como verdadeira intermediária, corretora, ou procuradora, posto que em nada se benefi cia com tal seguro, no qual o seu funcionário é sempre o benefi ciário direto, portanto é o segurado.
Também não existe o problema da distinção entre segurado e benefi ciário do seguro. O primeiro seria o objeto do contrato, enquanto o segundo o que receberia a indenização contratada. No caso de incapacidade, por acidente ou moléstia, o benefi ciário viria a ser o próprio segurado, como acontece na Previdência Social e nos seguros comuns individuais. No caso de morte, o segurado, ou o estipulante, estabelecem quem receberia o seguro. (fl s. 194-196)
Diga-se que o Decreto-Lei n. 73, de 21.11.1966, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados, é claro ao estatuir, no art. 21, § 2º:
§ 2º — Nos seguros facultativos o estipulante é mandatário dos segurados.
O Professor Pedro Alvim esclarece certas distinções alusivas ao estipulante, conforme se cuide de seguro obrigatório ou de seguro facultativo. Naquele, o estipulante ‘supre a vontade do segurado, de cuja manifestação se prescinde para a transferência do risco ao segurador. Ocorre a representação legal, para os efeitos de contratação e manutenção do seguro”. Mas quem recebe a indenização é o segurado, ou os benefi ciários por este indicados. Já nos casos de seguro facultativo.
... o estipulante assume a posição de mandatário. Estes seguros são hoje muito divulgados, tais como de acidentes pessoais e de vida, celebrados sob a forma coletiva, por entidades, como clubes, associações etc.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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Congregam uma comunidade interessada na cobertura. O segurado adere ao contrato coletivo, manifestando sua vontade e assumindo obrigações. Quem administra, porém, o seguro é o estipulante, como mandatário de todos.
Os direitos e obrigações do estipulante, ou melhor, os poderes de seu mandato são estabelecidos para cada ramo de seguro. Em acidentes pessoais, por exemplo, de acordo com as normas vigentes (Circular n. 15/1978, da Susep) a pessoa física ou jurídica que contratar o seguro é responsável perante o segurador pelo cumprimento das obrigações do contrato. Sua substituição depende da concordância da seguradora e da solicitação por escrito da sucedida e da sucessora.
Nos seguros de vida em grupo, o estipulante é definido como o empregador ou a associação que contrata o seguro com a sociedade seguradora (Circular n. 23/1972, da Susep). É investido dos poderes de representação dos segurados perante a seguradora, a quem deve encaminhar todas as comunicações ou avisos inerentes ao contrato, inclusive alterações de importâncias seguradas, bem como inclusão e exclusão de segurados. (“O Contrato de Seguro”, Forense, 2ª ed., n. 166, p. 211).
A inequívoca distinção entre estipulante e segurado parece mui claramente também na dissertação de Mestrado de autoria de Ayrton Pimentel, perante o Dep. de Direito Civil da Fac. de Direito da Univ. de São Paulo, em 1978. Refere ele:
Do exposto acima, conclui-se que, durante a vigência do contrato, estabelece-se entre estipulante e segurados uma relação de mandato, não havendo dúvidas de que o estipulante é mandatário dos segurados. Todavia, cabe uma indagação, qual a qualifi cação jurídica do estipulante quando celebra o contrato-mestre?
O estipulante, na verdade, não se assemelha nem ao gestor de negócios, e nem ao comitente. Ao gestor não se assemelha porque o ato por ele praticado, como salienta o Professor Fábio Konder Comparato, não caracteriza um negócio completo como segurador, por conta dos segurados, que deveriam ratifi cá-lo posteriormente. O ato do estipulante deve ser completado pelo dos segurados, através da adesão. Além disso, no ato do estipulante, ao fi rmar o contrato-mestre, não ocorre uma intromissão desautorizada na esfera jurídica dos segurados, como acontece na gestão. O ato do estipulante não interfere na esfera jurídica do segurado, mas, tão-só, possibilita a ele aderir ao contrato por ele já celebrado. (Ob. cit., n. 69)
Nestes termos, mesmo naqueles casos em que excepcionalmente, ou por força de cláusula no pacto laboral, possa caber ao estipulante pagar por sua conta os
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RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 219
prêmios do seguro em grupo, sempre se mantém a distinção conceitual entre estipulante e segurado. Pode confundir-se a fi gura do segurado e a do benefi ciário, como nos casos de seguro por acidentes pessoais, pode necessariamente o benefi ciário ser um terceiro, como nos seguros pelo risco de morte do segurado. Mas não se confundem a fi gura do estipulante com a fi gura dos segurados, sendo irrelevante juridicamente, sob tal aspecto a possibilidade de “variação” do grupo segurado, pela exclusão de alguns e ingresso de outros segurados.
Em verdade, o prazo prescricional, na hipótese, é realmente curto. Talvez
injustifi cadamente. A distinção feita, porém, não me parece que se explique.
O fato de tratar-se de seguro em grupo, concluído pelo estipulante, não é
razão para, por si, afastar a incidência da norma legal. Creio poder-se admitir,
eventualmente, que o termo inicial não seja o do conhecimento do sinistro,
quando se possa ter como demonstrado que, por força de circunstâncias, não
tivesse o segurado ciência da própria existência de seguro o que, aliás, não é a
hipótese dos autos. Dar tratamento diferente, entretanto, tão-só por não ter sido
o seguro contratado pessoalmente pelo segurado é que não me parece encontrar
fundamento lógico.
Conheço do recurso e dou-lhe provimento para restabelecer a sentença.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Dias Trindade: O seguro em grupo somente se aperfeiçoa
com a anuência do benefi ciário, que é posto na condição de segurado, fi gurando
o estipulante, segundo defi nição da lei, como seu mandatário na assinação do
contrato base, daí dizer-se que não é descaracterizada a condição de segurado,
pela circunstância de haver a fi gura do estipulante.
É situação diversa daquela em que o seguro é contratado, mas se instituem
benefi ciários que não fi guram como anuentes e nem participam na composição
do prêmio, em que o segurado é o contratante, mas benefi ciários são outras
pessoas.
Ora, no caso em exame, temos seguro em que o benefi ciário é, também,
o segurado, porquanto o contrato somente se completou com a sua anuência,
de sorte que, a prescrição ânua atinge a sua ação, como entende o voto do Sr.
Ministro-Relator, ao qual acompanho.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
220
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, também acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Cláudio Santos: Sr. Presidente, pedi vista dos autos e demorei-me bastante ao tentar colher subsídios para justifi car a posição da Terceira Turma que, em algumas oportunidades, manifestou-se pela prescrição vintenária em casos tais de seguro em grupo.
A douta Quarta Turma tem ponto de vista firme no sentido de que a prescrição, no caso, é ânua. Na verdade, os argumentos expendidos pelo eminente Ministro Athos Carneiro, Relator de um dos casos líderes daquela Turma, são irrespondíveis.
O estipulante, no caso destes seguros, é mandatário dos segurados, e a lei claramente estabelece que a prescrição em casos dessa natureza é anual.
Trocando idéias com o eminente Ministro-Relator sobre o assunto, verifi camos que só uma solução legislativa poderia modifi car essa situação. Na maioria dos casos, se a empresa que patrocina o seguro não tiver um departamento de pessoal que oriente os segurados, estes acabam se descurando e perdendo o prazo para reivindicar a indenização devida. Isso nos levou em alguns julgamentos da Terceira Turma a entender que, por uma questão de justiça, a prescrição, no caso, deveria ser vintenária. Mas a lei é muito clara. O Código Civil não deixa dúvidas sobre a matéria e só uma modifi cação específi ca na lei poderia ensejar outra interpretação.
Sr. Presidente, acompanho a orientação da douta Quarta Turma claramente expendida no voto do eminente Ministro-Relator. Conheço do recurso e dou-lhe provimento para restabelecer a sentença.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, peço vênia para perseverar no entendimento já manifestado na egrégia Quarta Turma, considerando que a prescrição é ânua, uma vez que a estipulante do seguro é mera mandatária do segurado.
Acompanho o Sr. Ministro-Relator.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 221
RECURSO ESPECIAL N. 30.676-SP
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo
Recorrente: Bradesco Seguros S/A
Advogados: Cristina Rodrigues Gontijo e outros
Recorrido: José Monteiro
Advogados: José Wiazowski e outro
EMENTA
Direito Civil. Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Ação
do segurado contra a seguradora. Prescrição ânua. Art. 178, § 6º, II, CC.
Posição da estipulante. Precedentes da Turma. Art. 257, RISTJ. Recurso
parcialmente conhecido e provido.
— Consoante entendimento firmado na Turma, no seguro
facultativo em grupo a estipulante se qualifi ca como mandatária do
segurado, sujeitando-se a pretensão deste ao prazo prescricional de um
ano, nos termos do art. 178, § 6º, II, do Código Civil.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e,
nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros
Monteiro, Athos Carneiro e Fontes de Alencar. Ausente, por motivo justifi cado,
o Ministro Bueno de Souza.
Brasília (DF), 17 de fevereiro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 29.03.1993
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
222
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Cuida-se de ação de cobrança via
da qual pleiteia o autor, dizendo-se benefi ciário de seguro de vida em grupo e
acidentes pessoais, celebrado entre sua empregadora Volkswagen do Brasil S/A
e a seguradora ré, indenização por invalidez decorrente do desempenho de sua
atividade laboral.
Argüida, em contestação, preliminar de prescrição, foi retrucada pelo autor
nos seguintes termos:
Como falar-se em prescrição se inexiste sequer uma data de partida. Foi uma seqüência de traumatismos até deixá-lo agora inválido. Por outro lado é pacífi ca a Jurisprudência em tal forma de contrato, seguro de vida em grupo, fi rmado entre a ré e a Estipulante, (doc. de fl . 57) e não entre segurado e segurador, como previsto na legislação invocada pela ré, sendo pois, vintenária a prescrição. Em anexo, para ilustrar, os Embargos Infringentes n. 245.432, bem como outros v. acórdãos que virão aos autos ao se abordar o mérito.
Decidindo a questão, o MM. Juiz, no saneador, inacolheu a prefacial ao
fundamento de que:
no caso, o exeqüente figura como beneficiário, enquanto a Volkswagen do Brasil S/A permanece como “Estipulante”, na qualidade de empregadora. A prescrição ânua atinge apenas ações do segurado contra a seguradora, não alcançando, por descabido, direito, como quer o réu. O dispositivo legal não se infere ao benefi ciário que, como empregado, no ato da contratação permaneceu sem qualquer força para manifestar vontade.
Contra essa decisão interpôs a seguradora agravo retido.
Julgado, na sentença, improcedente o pedido, apelou o autor.
Requerida, em contra-razões, a apreciação do agravo retido, a Oitava
Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo negou-lhe
provimento, acolhendo, entretanto, a apelação. Quanto ao tema da prescrição,
entendeu, da mesma forma como fi zera o julgador singular, que:
o instrumento da avença foi firmado entre a seguradora, de um lado, e a estipulante de outro. O empregado, em caso de seguro contratado pela sua empregadora com companhia seguradora, é mero benefi ciário e não segurado. O art. 178, § 6º, n. II, do Código Civil, ao estabelecer a prescrição de um ano
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 223
para a instauração da ação do segurado contra a seguradora e vice-versa, nenhuma referência faz à ação do benefi ciário, sendo, portanto, inaplicável à espécie tal regra legal, máxime quando se sabe que norma jurídica que versa sobre prescrição só pode ser entendida restritivamente, vedada, de conseguinte, interpretação extensiva para ampliar a sua abrangência.
Inconformada, a ré interpôs recurso especial, alegando, além de divergência
jurisprudencial, vulneração do art. 178, § 6º, II, CC. Sustenta, em síntese, ocupar
o autor a condição de segurado, e não de benefi ciário, fi gurando a empregadora
como simples intermediária. Aduz, mais, que os males que acometeram o autor
não se incluem na defi nição de acidentes pessoais e, ainda, que as conclusões do
acórdão distoam da prova pericial produzida no que tange ao grau de invalidez.
Oferecidas contra-razões, foi o apelo inadmitido na origem, subindo os
autos por força de agravo a que dei provimento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): A impugnação recursal
somente no que diz com o tema relativo à prescrição atendeu aos requisitos
legais e regimentais autorizativos do cabimento do recurso especial. Quanto às
demais questões aventadas no apelo, não se argüiu em relação a elas qualquer
afronta a dispositivo(s) de lei, tampouco dissonância pretoriana específi ca, pelo
que, por inobservância à regularidade formal, referidas questões não se mostram
passíveis de análise nesta via.
E, mesmo no que respeita à prescrição, o recurso só comporta conhecimento
pela alínea a, na medida em que não logrou o recorrente indicar os repositórios
credenciados de onde extraiu os arestos trazidos como divergentes, fazendo
juntar, por outro lado, cópias não devidamente autenticadas. Inobservado, assim,
o disposto no § 1º do art. 255, RISTJ.
Ocorreu, contudo, a alegada violação do art. 178, § 6º, II, CC, por parte do
acórdão impugnado.
Esta Turma, como cediço, vem sufragando orientação no sentido de ser
ânua a prescrição nos casos como o que ora se submete à apreciação. Nessa
diretriz, exemplifi cativamente, os seguintes julgados:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
224
Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Prescrição ânua.
Qualifi cando-se a empresa estipulante como mera mandatária dos segurados (art. 21, § 2º, do Decreto-Lei n. 73, de 21.11.1966), a pretensão destes últimos está sujeita à prescrição ânua do art. 178, § 6º, n. II, do Código Civil. Precedente da egrégia Quarta Turma.
Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 9.524-SP, Relator o Sr. Ministro Barros Monteiro, DJ de 1º.06.1992).
Direito Civil. Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Ação do segurado contra a seguradora. Prescrição ânua. CC, art. 178, § 6º, II. Posição da estipulante. Precedentes da Turma. Recurso provido.
— Consoante entendimento firmado na Turma, no seguro facultativo em grupo a estipulante se qualifi ca como mandatária do segurado, sujeitando-se a pretensão deste ao prazo prescricional de um ano, nos termos do art. 178, § 6º, II, do Código Civil (REsp n. 19.298-0-SP, por mim relatado, DJ de 21.09.1992).
Firmado esse posicionamento, impõe-se defi nir in casu qual o termo a
quo da contagem do prazo prescricional, ponto que não restou fi xado pelas
instâncias ordinárias diante do entendimento, adotado em primeiro e segundo
graus, de que a prescrição na espécie seria vintenária.
Estabelecido, porém, novo balizamento, com reconhecimento de ser ânuo
o respectivo prazo, incumbe ao Tribunal de origem, examinando o acervo
probatório constante dos autos, estipular o dia de início da contagem do lapso
prescricional, verifi cando, ao depois, se entre este e a data de ajuizamento da
ação transcorreu período superior, ou inferior, a um ano.
Em face do exposto, conheço parcialmente do recurso e nessa parte dou-
lhe provimento para, reconhecendo ânua in casu a prescrição, determinar o
retorno dos autos ao egrégio Tribunal de origem, que, após fi xar o termo a quo
do lapso prescricional, disporá sobre os eventuais consectários daí decorrentes.
VOTO (ADITAMENTO)
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): Tendo os eminentes Pares
entendido incidente no caso a norma do art. 257 do Regimento Interno, que
determina seja aplicado o direito à espécie quando cabível o recurso especial,
aduzo ao voto ontem proferido as considerações a seguir.
Dos autos consta que o recorrido autor foi vítima de problemas auditivos,
psiquiátricos e da coluna resultantes do trabalho diuturno que ao longo dos anos
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 225
desempenhou, como montador-testador de motores. Tais males, que se foram
agravando com o correr do tempo, culminaram por gerar a incapacidade com
base na qual se pleiteia a indenização de que se cuida.
No que diz com o termo a quo do prazo prescricional, esta Corte, por sua
Terceira Turma, já decidiu:
Seguro. Prescrição.
O prazo prescricional da ação do segurado contra a seguradora tem como termo a quo o momento em que aquele teve ciência de que ocorreu o sinistro (REsp n. 23.554-0-SP, Relator o Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 21.09.1992).
Mutatis mutandis, adaptando essa orientação ao caso destes autos, tem-se
que o termo inicial da contagem do lapso prescricional se operou no momento
em que o segurado teve ciência de sua incapacidade; não quando acusou as
primeiras dores lombares ou os primeiros sintomas de surdez, mas sim na
ocasião em que teve consciência de que tais males o incapacitaram para a
atividade laboral que exercia.
Pertinente, a propósito, a ponderação expendida no voto condutor do
aresto recorrido no sentido de que:
(...) tudo isso revela que o mal incapacitante não surgiu num dado momento, mas resultou de toda uma atividade profi ssional agressiva à coluna. Assim, não concordamos com o douto Juiz, quando diz que em 1976 o autor já sabia de seu mal incapacitante. Não poderia saber, leigo como é, se o próprio médico especialista do INPS de fl . 16, diz que em 1980 não sofria o autor de qualquer mal relacionado com a coluna, que fosse incapacitante.
A situação é a mesma de qualquer um de nós: podemos sentir dores nas costas, que vêm e passam. Se fi zermos esforços continuados sobre a coluna, aí ocorrerá um agravamento paulatino das dores, até um momento em que surge uma incapacidade para o trabalho. Mas, quantos têm essas dores e a levam para o resto da vida, sem incapacidade? Ninguém pode dizer, quando surgem as primeiras dores, qual a sua extensão fi nal, pois no início há dores e não incapacidade (Apelação n. 339.311).
Na espécie, conforme noticia a própria inicial, consta que o autor foi,
em função dos problemas de saúde que o acometiam, removido do setor de
montagem e teste de motores, em que trabalhava, para o “refeitório da empresa e
sua função é apenas receber os vales-refeição” (fl . 3).
Entendo que o termo a quo do prazo prescricional se deu exatamente
quando dessa transferência, oportunidade em que a própria empregadora
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
226
reconheceu que o segurado não reunia mais condições para o desempenho
das funções de testador/montador de motores para as quais era qualifi cado
profi ssionalmente.
Aliás, para reconhecer ter havido incapacidade total e permanente, o aresto
impugnado ponderou:
No que diz respeito ao grau de incapacidade, a jurisprudência atual sobre a matéria considera prioritariamente a profissão do Autor para a fixação da incapacidade. No caso vertente era ele montador e testador de motores. Ora, tendo fi cado o Autor surdo, com problemas psiquiátricos e na coluna, é evidente que não poderá mais ser aproveitado na sua antiga profi ssão, tanto assim que a sua empresa empregadora o deslocou para receber vales de refeição, o que importa em dizer, para os fins securitários, que a sua incapacidade é total e permanente (100%).
Com efeito, com o afastamento houve inegável reconhecimento da
incapacidade.
Dos autos, inclusive, constam decisões proferidas em ação acidentária
movida pelo segurado contra o INPS, nas quais se constata que, quando da
transferência, o empregado passou, da outorga administrativa, a receber auxílio
suplementar de 20%. Da sentença proferida naquele feito colhe-se:
Trabalhador que na Volkswagen do Brasil desempenhava funções no setor de montagem e teste de motores, exposto a intenso ruído, admitido em 23.03.1971 e que em 27.09.1984 foi transferido para serviço compatível, por haver contraído surdez profi ssional além de distúrbios psiquiátricos.
Passou a receber do INPS auxílio suplementar de 20% ao invés de auxílio acidente de 40%.
O perito, em bem elaborado laudo, constatou que o autor apresenta perda auditiva quase que total, caracterizando uma disacusia neuro-sensorial profunda.
Evidente que o trabalho desenvolvido pelo autor foi o causador do mal. O ambiente de trabalho possuía nível elevado de ruído e a exposição do autor por vários anos fez surgir a moléstia, de caráter irreversível, segundo o perito.
A própria empregadora transferiu o autor para outro setor de trabalho, onde não existem ruídos intensos.
O acórdão que julgou a apelação então interposta do mesmo modo
assentou:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 227
O autor trabalha em indústria automobilística e desenvolvia suas atividades na montagem e teste de motores, exposto a intenso ruído. Em conseqüência, foi acometido de surdez profi ssional.
O laudo pericial concluiu por disacusia profunda, com perda de 99,9% da audição (fl . 33).
O nexo é reconhecido pela autarquia, que concedeu auxílio suplementar ao trabalhador.
O benefício, todavia, não indeniza adequadamente a incapacidade. O obreiro foi retirado daquela seção, passando a trabalhar em outra, onde os ruídos são menos intensos. Esta mudança, afi rmada na inicial, não foi contestada, sendo, pois, serôdia a tentativa de negá-la em contra-razões.
No prontuário médico fornecido pela empregadora aparece a seguinte
seqüência temporal:
24.09.1984 — Exame audiométrico de controle
(...)
17.10.1984 — AS (auxílio suplementar) 20%
23.10.1984 — Visita ao setor, trabalho em local compatível
14.03.1986 — Comissão de reabilitação — trabalhando no setor de alimentação, coletando vales de refeição — compatível.
Conforme se observa, em março de 1986 o autor teve inequívoca ciência
de que estava incapacitado para o desempenho de seu regular trabalho.
Esta ação, contudo, somente veio a ser proposta em dezembro de 1987,
pelo que irremediavelmente fulminada pela prescrição.
Em face do exposto, conheço parcialmente do recurso e nesta parte dou-
lhe provimento para, reconhecendo ter-se operado in casu a prescrição, extinguir
o processo, com julgamento do mérito (art. 269, IV, CPC).
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, penso que é de aplicar-se à
hipótese o disposto na parte fi nal do art. 257 do Regimento Interno desta Casa:
“Conhecido do recurso, a Turma julgará a causa aplicando o direito à espécie”;
quer dizer, é necessário que a Turma fi xe o termo inicial da prescrição, ainda que
para esse fi m tenha que examinar os elementos constantes dos autos. Quanto ao
mais, estou de acordo com o eminente Ministro-Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
228
VOTO
O Sr. Ministro Athos Carneiro: Eminentes colegas, ponho-me de acordo
com a tese adotada pelo eminente Ministro-Relator. Assim, aliás, esta Turma
julgou no Recurso Especial n. 10.497, de que fui Relator, julgamento aos 27 de
junho de 1991, sob a seguinte ementa (lê):
Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Prazo prescricional. Incidência do art. 178, § 6º, II, do Código Civil, na ação do segurado contra a seguradora. Posição do estipulante.
No seguro de vida em grupo não se confunde a fi gura do estipulante com a fi gura dos segurados. Se facultativo o seguro, o estipulante apresenta-se como mandatário dos segurados — Decreto-Lei n. 73/1966, art. 21, § 2º.
Ao segurado, ou ao beneficiário do segurado, ocorrido o sinistro, socorre pretensão contra a entidade seguradora, com base no contrato de seguro. A pretensão do segurado está sujeita ao prazo prescricional ânuo, inclusive nos casos de seguro em grupo, a teor do art. 178, § 6º, II, do Código Civil.
Recurso especial da seguradora, conhecido e provido.
Todavia, rogo vênia para divergir do eminente Relator no ponto em que S.
Exa. dá provimento apenas parcial ao recurso especial, abstendo-se neste grau
de jurisdição de apreciar o tema relativo à ocorrência ou não, em concreto, da
prescrição ânua. Entendo que, em sendo conhecido o recurso, impende de logo
aplicar o direito à espécie.
Assim, meu voto seria no sentido de conhecer do recurso e então apreciá-
lo em todas as suas conseqüências, tendo em vista os fatos constantes dos autos.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Eminente Presidente, acompanho o Sr.
Ministro-Relator no que diz com a tese da prescrição ânua, evidentemente, sem
fechar portas a eventual reexame.
Quanto ao mais, estou de acordo com V. Exa., até porque, creio eu, poderia
haver um tumulto processual se o feito retornasse à instância de origem, tão-
somente para fi xar o dies a quo.
É nesse sentido o meu voto, acompanhando o eminente Ministro-Relator,
com o acréscimo de V. Exa., Sr. Presidente.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 229
RECURSO ESPECIAL N. 36.385-SP
Relator: Ministro Fontes de Alencar
Recorrente: Bradesco Seguros S/A
Recorrido: Antônio Barbieri
Advogados: Carmen Teresa Venâncio Dias e outros e José Wiazowski,
e outro
EMENTA
Seguro de vida em grupo. Prescrição.
Ainda que se trate de seguro em grupo, de um ano é o lapso para
a prescrição da ação do segurado contra o segurador.
Recurso especial atendido.
Unânime.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram
com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro e Dias
Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental n. 03/1993.
Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Torreão Braz e Athos Carneiro.
Brasília (DF), 30 de agosto de 1993 (data do julgamento).
Ministro Fontes de Alencar, Presidente e Relator
DJ 25.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Antônio Barbieri, na condição de
empregado da empresa Volkswagen do Brasil S/A, participava do seguro de vida
em grupo e de acidentes pessoais celebrado com Bradesco Seguros S/A.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
230
Em decorrência do acidente que o incapacitara para o trabalho, propôs
ação ordinária indenizatória contra a referida seguradora.
A decisão de primeira instância acolheu a preliminar de prescrição,
entendendo que, no caso, o prazo é de um ano, julgando, assim, extinta a ação
(fl s. 162-165, 1º vol).
A Terceira Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado
de São Paulo, por unanimidade, deu provimento ao recurso, para afastar a
prescrição, nos seguintes termos:
O egrégio Plenário desta Corte, na Seção de 21 de março de 1991, julgou Incidente de Uniformização de Jurisprudência n. 404.897-7/2 relativo à matéria. Contra três votos apenas, dos juízes Eliot Akel, Nivaldo Balzano e deste Relator, entendeu a maioria que o prazo prescricional em demandas relativas a seguro de vida em grupo é de 20 (vinte) anos. Nessa ocasião, ainda não integravam este Tribunal os juízes revisor e terceiro desta turma julgadora.
Diante desse precedente jurisprudencial (art. 479 do CPC), o recurso é acolhido para, reformada a r. decisão recorrida, determinar que outra seja proferida com o conhecimento das demais questões em pauta. (fl . 224)
Inconformada, a vencida interpôs recurso especial fulcrado no art. 105,
III, a e c, da Constituição Federal, alegando negativa de vigência dos arts. 22,
inciso VII, da Carta Magna; 178, § 6º, inciso II, 1.432, 1.433, 1.434, 1.435,
1.460, 1.448, do Código Civil; 166 do Código Comercial; e do Decreto-Lei n.
73/1966, além de dissídio jurisprudencial. Sustenta ser a prescrição ânua.
VOTO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): Trata-se de ação indenizatória,
“visando recebimento de indenização com Seguro de Vida em Grupo”, tal como
consta na inicial.
O Tribunal a quo afastou a prescrição anual que fora pronunciada pelo
Juízo de primeiro grau.
Já se manifestou esta Turma, por unanimidade, sobre o tema do presente
recurso quando do julgamento do REsp n. 10.407-SP, de que foi Relator o
eminente Ministro Athos Carneiro, que em seu voto, de forma escorreita,
demonstrou ser aplicável a caso assim a prescrição ânua.
O acórdão do REsp n. 10.407, expõe a seguinte ementa:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 201-231, maio 2010 231
Seguro em grupo, de vida e acidentes pessoais. Prazo prescricional. Incidência do art. 178, § 6º, II, do Código Civil na ação do segurado contra a seguradora. Posição do estipulante.
No seguro de vida em grupo não se confunde a fi gura do estipulante com a fi gura dos segurados. Se facultativo o seguro, o estipulante apresenta-se como mandatário dos segurados — Decreto-Lei n. 73/1966, art. 21, § 2º.
Ao segurado, ou ao beneficiário do segurado, ocorrido o sinistro, socorre pretensão contra a entidade seguradora, com base no contrato de seguro. A pretensão do segurado está sujeita ao prazo prescricional ânuo, inclusive nos casos de seguro em grupo, a teor do art. 178, § 6º, II, do Código Civil.
Recurso especial da seguradora conhecido, e provido.
De igual modo fi cou decidido no REsp n. 20.109, relatado pelo eminente
Ministro Sálvio de Figueiredo e no REsp n. 11.176, por mim relatado.
Na linha dos precedentes, conheço do recurso e lhe dou provimento, por
ambos os fundamentos, para restabelecer a decisão de primeiro grau.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, estou de acordo, na
linha dos precedentes, apenas observando que esta matéria está pendente de
apreciação na Segunda Seção.
Súmula n. 102
SÚMULA N. 102
A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações
expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei.
Referências:
CF/1988, art. 5º, XXIV.
Decreto n. 22.626/1933, art. 4º.
Precedentes:
EREsp 18.588-SP (1ª S, 04.05.1993 — DJ 21.06.1993)
EREsp 24.943-SP (1ª S, 04.05.1993 — DJ 30.08.1993)
EREsp 28.259-SP (1ª S, 15.06.1993 — DJ 02.08.1993)
Primeira Seção, em 17.05.1994
DJ 26.05.1994, p. 13.081
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 18.588-SP (9200226841)
Relator originário: Ministro Demócrito Reinaldo
Relator designado: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Embargante: Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô
Advogados: Rossana Dal Colletto e outros
Embargada: Hilda Marins
Advogados: José Augusto Prado Rodrigues e outros
EMENTA
Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os
compensatórios. Cabimento.
I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano,
fl uem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da
indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.
II - Essa incidência dos juros sobre juros não constitui, no caso,
anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF,
segundo precedente daquela colenda Corte.
III - Embargos de divergência rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima
indicadas, decide a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por maioria, após
o voto-desempate do Sr. Ministro Américo Luz (Presidente), rejeitar os
embargos; vencidos os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo (Relator), Gomes de
Barros, Milton Pereira e Cesar Rocha. Os Srs. Ministros Garcia Vieira, Hélio
Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz votaram com o Sr. Ministro Pádua
Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro José de Jesus.
Brasília (DF), 04 de maio de 1993 (data do julgamento).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
238
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator designado
DJ 21.06.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de embargos de divergência
interpostos pela Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô, contra
acórdão da colenda Segunda Turma desta Corte, da relatoria do eminente
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, que porta a seguinte ementa:
Desapropriação. Incidência de juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.
I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.
II - Essa incidência dos juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.
III - Recurso especial desprovido (fl . 245).
Para confi gurar a divergência apontada, a recorrente traz à colação aresto
da egrégia Primeira Turma, proferido nos Embargos de Declaração no Recurso
Especial n. 7.067-SP, Relator o eminente Ministro Garcia Vieira, que restou
assim sumulado:
Embargos declaratórios. Desapropriação. Honorários de advogado. Juros.
Com referência aos honorários de advogado, não há obscuridade, dúvida, contradição ou omissão.
Quanto à capitalização dos juros é ela expressamente vedada pela Súmula n. 121 do colendo STF.
Embargos parcialmente acolhidos (fl . 270).
Admitidos os embargos (fl . 275), a embargada ofereceu contra-razões (fl s.
277-283), vindo-me os autos conclusos para julgamento.
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 239
VOTO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Conforme se depreende da
leitura do relatório, o ponto fulcral da questão suscitada nos presentes embargos
consiste em saber se, na indenização por desapropriação, é possível fazer a
contagem de forma capitalizada dos juros de mora sobre juros compensatórios.
Em consonância com o posicionamento adotado em outra oportunidade,
ao examinar hipótese semelhante, entendo que, na espécie, não é cabível a
incidência de juros sobre juros. É que a jurisprudência do colendo Supremo
Tribunal Federal, em decisão plenária (RE n. 89.342-PR, in RTJ 9/275; RE
n. 100.741 — DJ de 22.08.1985, p. 1.593), assim como do extinto e sempre
lembrado Tribunal Federal de Recursos, e desta egrégia Corte (Súmulas n.
74-TFR e 12-STJ) fi rmou-se no sentido de que, em desapropriação, os juros
compensatórios são cumuláveis com os moratórios, daí não sendo de concluir-
se, entretanto, possam ser superpostos.
De outra parte, é cediço que a regra geral, refl etida nos reiterados arestos
desta Corte, tem sido direcionados no sentido de que a capitalização de juros,
salvo exceções expressamente previstas em lei, é vedada em nosso ordenamento
jurídico (REsp n. 7.432-PR, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo, DJ de
16.10.1991, p. 14.481).
Consoante essa mesma orientação jurisprudencial, é de admitir-se, na
hipótese, a cumulação, mas não a superposição de juros sobre juros, porquanto as
duas espécies têm fundamentos diversos e prazos iniciais também diversos, mas
incidem, ambas, sobre a mesma base, ou seja o valor simples da indenização, nos
termos da Súmula n. 74-TFR.
Releva considerar, ainda, decisão proferida pela egrégia Segunda Turma, no
julgamento do REsp n. 10.123-SP, Relator Ministro Ilmar Galvão, cuja ementa
do acórdão, aliás, é citada parcialmente no voto do eminente Relator do aresto
embargado, mas se lido integralmente, leva à conclusão contrária àquela a que
chegou o decisum impugnado.
Com efeito, o acórdão, na sua inteireza, encontra-se assim ementado:
Expropriatória indireta. Juros moratórios e juros compensatórios. Critério de cálculo da primeira verba. Ilegitimidade da capitalização.
Os juros moratórios, nas expropriatórias, são calculados sobre o valor da indenização, nele incluídos os juros compensatórios, destinados que são a compensar a contraprestação a que tem direito o expropriado, pelo tempo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
240
de ocupação do imóvel pelo Poder Público, antes do pagamento da verba indenizatória.
Os juros compensatórios, por sua vez, são computados sobre o valor do imóvel, na forma prevista na Súmula n. 74, que não prevê capitalização.
Recurso parcialmente provido (REsp n. 10.123-SP, DJ de 1º.07.1991).
E o eminente Relator, após concluir que os juros moratórios integram a
verba indenizatória, manifesta-se claramente quanto à capitalização de juros:
O mesmo, todavia, não se verifi ca quanto à questão dos juros capitalizados, ou compostos, já que o precedente trazido a confronto, transcrito tão-somente pela ementa, não revela as condições que determinaram a decisão nele contida, parecendo que se trata de caso de liquidação complementar e não de capitalização de juros.
Mas, ainda que se esteja, realmente, diante de hipótese de capitalização de juros, é fora de dúvida que se trata de decisão isolada, que não fez escola, por incomportável a referida solução, na conceituação dos juros moratórios acima exposta.
Como é de ver, o decisum em que se embasou o v. acordão embargado
firma entendimento exatamente ao contrário, reconhecendo, na esteira da
jurisprudência predominante, o descabimento da denominada capitalização de
juros, nos casos como o da espécie.
Ante o exposto, mantendo o mesmo entendimento anteriormente
manifestado, recebo os presentes embargos.
É como voto.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Peço vênia para manter-me
fi el ao entendimento da Primeira Turma e receber os embargos, acompanhando
o voto do Sr. Ministro-Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, o acórdão
embargado apoiou-se no voto que proferi na egrégia Segunda Turma, que
se baseou em vetusta jurisprudência, não só do antigo Tribunal Federal de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 241
Recursos, como do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que os juros
compensatórios integram a indenização. Portanto, trata-se de uma construção
jurisprudencial que assim entendeu e que se consolidou. Segundo essa
orientação, os compensatórios integram a indenização, portanto destinam-
se a compensar o expropriado pela antecipada ocupação do bem pelo Poder
Público. Daí que, havendo demora no pagamento da indenização, ela há de ser
integrada pelos juros compensatórios. Integrados estes à indenização, sobre o
total incidem os juros moratórios.
Alegou-se que isso poderia ensejar o denominado anatocismo, mas, a
propósito, tive oportunidade de trazer à colação acórdão do Supremo Tribunal
Federal, do qual foi Relator o Sr. Ministro Sydney Sanches, proferido no
Recurso Extraordinário n. 102.631-SP, quando S. Exa. assinalou que a Súmula n.
121 do Supremo não tratou de juros compensatórios, mas dos juros moratórios
previstos em contratos, hipótese diversa da versada nestes autos, que se referem
à incidência dos compensatórios, não decorrente da Lei de Usura, mas de
construção pretoriana, fundada no princípio constitucional da justa indenização.
E o Ministro Sydney Sanches cita a Constituição de 1946, art. 141, § 16, regra
essa que foi repetida em todas as Constituições posteriores a 1946, relativa ao
princípio da justa indenização.
Portanto, é com essas breves considerações que peço vênia para divergir do
Ilustre Relator e dos Eminentes Ministros que o acompanharam, no sentido de
manter o acórdão embargado.
Rejeito, pois, os embargos.
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Presidente, os juros compensatórios são a
compensação ao expropriado pela perda antecipada da posse. Integram e fazem
parte da indenização. Os juros moratórios incidem sobre o total da indenização.
Conclusão: também sobre os compensatórios.
Já tenho alguns precedentes na egrégia Primeira Seção. Lembro-me que o
Ilustre Ministro Demócrito Reinaldo pediu vista. Neste último voto que proferi,
pedi para vir cópia, examinei e existem vários precedentes neste sentido, como
também em sentido contrário — a matéria é realmente muito controvertida —
mas não tenho dúvida em acompanhar o Sr. Ministro Pádua Ribeiro, mesmo
porque o que acontece no Sistema Financeiro hoje é o pagamento de juros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
242
mensais, e esses juros integram o capital. Hoje não se pode falar em usura,
porque se pagam juros de 40% ou 50% ao mês; os bancos cobram mais e todo
mês isso é capitalizado. Atualmente, falar-se em anatocismo, ou usura, está
completamente fora de moda.
Assim, Sr. Presidente, acompanho o eminente Ministro Pádua Ribeiro,
data venia.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, tenho opinião fi rmada
sobre a matéria e coincide exatamente com aquela manifestada pelo Sr.
Ministro Pádua Ribeiro, razão por que, pedindo vênia ao Sr. Ministro-Relator,
acompanho-o.
VOTO DESEMPATE
O Sr. Ministro Américo Luz (Presidente): O meu voto é na linha
dos precedentes da Segunda Turma, porquanto lá acompanhei o raciocínio
explicitado pelo Ministro Pádua Ribeiro. Entendo que, na espécie, não há
anatocismo. Os juros compensatórios são um complemento da indenização e
sobre eles incidem os juros de mora, data venia.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 24.943-SP (9200300391)
Relator originário: Ministro Gomes de Barros
Relator designado: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Embargante: Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô
Advogados: Lindinalva Cunha e outros
Embargados: Maurice Chidiac e cônjuge
Advogados: Roberto Elias Cury e outros
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 243
EMENTA
Desapropriação. Indenização. Juros compensatórios e juros moratórios: Cumulação. Inocorrência de anatocismo.
I - Os juros compensatórios integram a indenização, incidindo sobre o seu valor os juros moratórios. Essa forma de cumulação dos juros não constitui anatocismo.
II - Embargos de divergência rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que partes as acima indicadas, decide a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por maioria, após o voto-desempate do Sr. Ministro Américo Luz (Presidente), rejeitar os embargos; vencidos os Srs. Ministros Gomes de Barros (Relator), Milton Pereira, Cesar Rocha e Demócrito Reinaldo. Os Srs. Ministros Garcia Vieira, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz votaram com o Sr. Ministro Pádua Ribeiro.
Brasília (DF), 04 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator designado
DJ 30.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: A egrégia Segunda Turma negou provimento a recurso especial, em acórdão assim resumido:
Em desapropriação são cumuláveis juros compensatórios e moratórios. (Súmula n. 12-STJ).
— Não constitui anatocismo a forma pela qual os juros compensatórios são abrangidos pelo cálculo dos juros moratórios.
— Precedentes jurisdicionais (fl . 387).
A Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô interpôs
embargos de divergência.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
244
Traz a confronto acórdão da Primeira Turma, sintetizado nesta ementa (fl .
389).
Ressalvada a diferença etiológica, os juros compensatórios e os moratórios têm igual natureza.
A incidência de juros moratórios sobre juros compensatórios constitui anatocismo, vedado pela Lei de Usura (Decreto n. 22.626, de 07.04.1933).
Eis o relatório.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): A divergência é sensível.
Enquanto o acórdão embargado nega a existência de anatocismo na capitalização dos juros compensatórios, o aresto invocado consagra proposição inversa.
A decisão da Segunda Turma foi construída sobre: voto do eminente Ministro Hélio Mosimann, in verbis (fl . 379):
A questão já está pacifi cada nesta egrégia Corte, tendo sido, inclusive, editada súmula a respeito, como se pode constatar pelo Verbete n. 12, nestes termos:
Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios.
De outra parte, não há divisar, na espécie, anatocismo. Consoante assinalou o ilustre Ministro Sydney Sanches, Relator do RE n. 102.631-6-SP, DJ de 22.04.1988, a Súmula n. 121 do STF não tratou de juros compensatórios, mas dos moratórios previstos em contratos, hipótese diferente da versada nestes autos, porquanto a incidência dos compensatórios não decorreu da Lei de Usura, mas de construção pretoriana, fundada no princípio constitucional da justa indenização (Constituição de 1946, art. 141, § 16).
Isto posto, diante da jurisprudência dominante, inclusive deste Tribunal, nego provimento ao recurso (Agravo Regimental no AI n. 11.967-SP, julgado em 02.09.1992).
O acórdão da Primeira Turma assentou-se em voto de minha lavra, nestes
termos:
Discute-se a possibilidade de capitalização dos juros compensatórios, de modo a que sobre eles incidam juros de mora.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 245
O acórdão recorrido entende viável, na hipótese, a capitalização.
Já a Recorrente sustenta que semelhante forma de anatocismo enfrenta a vedação contida no art. 4º do Decreto-Lei n. 22.626/1933.
Para simplifi car a discussão, é oportuno relembrar o conceito de juros.
Sabemos todos que juros são os frutos do dinheiro.
Assim como o trabalho gera salário, o dinheiro produz juros.
Na expressão de Sílvio Rodrigues, o juro, a um só tempo, “remunera o credor por fi car privado de seu capital e paga-lhe o risco em que incorre de não o receber de volta” (“Direito Civil” — Ed. Saraiva — 16ª ed. — 2º vol. — p. 117).
Sob a perspectiva da etiologia, os juros dividem-se em compensatórios e moratórios.
Compensatórios são os frutos normais, provenientes do contrato, da lei ou da sentença. Eles se destinam a ressarcir o dono do capital.
Moratórios são aqueles juros provenientes da mora — do atraso culposo do devedor, em cumprir sua obrigação.
Os juros moratórios, além de remunerarem o capitalista, pelas agruras da impontualidade, guardam certo conteúdo de pena, incidente sobre o devedor inadimplente.
Em homenagem a esta diferença, “são cumuláveis juros compensatórios e moratórios” (Súmula n. 12 do STJ).
Ressalvada a diferença de origem, as duas espécies de juros têm idêntica natureza: são produtos do capital.
Merecem, pois, idêntico tratamento.
Tal como os frutos em relação à árvore, os juros desprendem-se do capital, ganhando existência própria.
Por isto, o anatocismo (a capitalização dos juros) é proibido.
O art. 4º da Lei de Usura (Decreto n. 22.626, de 07.04.1933) é peremptório, quando afi rma:
É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.
O acórdão recorrido, proclamando que os juros moratórios “calculam-se também sobre o valor relativo aos juros compensatórios”, choca-se frontalmente com a proibição do art. 4º. (REsp n. 13.840-0-SP, DJ de 24.02.1992)
Os Embargados, na impugnação dos embargos lembram velhos precedentes
do Supremo Tribunal Federal que admitem a incidência dos juros, na espécie.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
246
Respeito a venerável jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Estou,
porém, consciente de que a competência (e com ela a responsabilidade) para
decidir em matéria de natureza infraconstitucional transferiu-se para este
Tribunal.
Enxergo uma difi culdade na tese que admite a capitalização dos juros
compensatórios.
É que se tais juros aderem automaticamente ao capital, os juros compensatórios produzidos a cada mês incidirão sobre aqueles gerados no mês anterior.
Para melhor compreensão, imagine-se uma desapropriação de bem, cujo valor foi estabelecido em Cr$ 100,00.
Computados juros compensatórios de um por cento, teríamos, no fi m do primeiro mês o valor de Cr$ 101,00; no segundo mês, a indenização seria de Cr$ 102,01, e assim por diante.
Nesta toada, chegaríamos ao décimo segundo mês, com a indenização de Cr$ 112,70.
Sobre estes valores incidiriam os juros de mora.
Teríamos, então, um duplo anatocismo.
Por isto, peço vênia para manter-me fi el ao entendimento da Primeira Turma e receber os embargos.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, meu voto é
idêntico ao proferido nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n.
18.588-3-SP, julgado nesta assentada.
ANEXO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 18.588-SP
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, o acórdão
embargado apoiou-se no voto que proferi na egrégia Segunda Turma, que
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 247
se baseou em vetusta jurisprudência, não só do antigo Tribunal Federal de
Recursos, como do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que os juros
compensatórios integram a indenização. Portanto, trata-se de uma construção
jurisprudencial que assim entendeu e que se consolidou. Segundo essa
orientação, os compensatórios integram a indenização, portanto destinam-
se a compensar o expropriado pela antecipada ocupação do bem pelo Poder
Público. Daí que, havendo demora no pagamento da indenização, ela há de ser
integrada pelos juros compensatórios. Integrados estes à indenização, sobre o
total incidem os juros moratórios.
Alegou-se que isso poderia ensejar o denominado anatocismo, mas, a
propósito, tive oportunidade de trazer à colação acórdão do Supremo Tribunal
Federal, do qual foi Relator o Sr. Ministro Sydney Sanches, proferido no
Recurso Extraordinário n. 102.631-SP, quando S. Exa. assinalou que a Súmula n.
121 do Supremo não tratou de juros compensatórios, mas dos juros moratórios
previstos em contratos, hipótese diversa da versada nestes autos, que se referem
à incidência dos compensatórios, não decorrente da Lei de Usura, mas de
construção pretoriana, fundada no princípio constitucional da justa indenização.
E o Ministro Sydney Sanches cita a Constituição de 1946, art. 141, § 16, regra
essa que foi repetida em todas as Constituições posteriores a 1946, relativa ao
princípio da justa indenização.
Portanto, é com essas breves considerações que peço vênia para divergir do
Ilustre Relator e dos Eminentes Ministros que o acompanharam, no sentido de
manter o acórdão embargado.
Rejeito, pois, os embargos.
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Presidente, meu voto é idêntico ao
proferido nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 18.588-3-SP,
julgado nesta assentada.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, meu voto é idêntico ao
proferido nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 18.588-3-SP,
julgado nesta assentada. Acompanho o voto do Ministro Pádua Ribeiro.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
248
VOTO DESEMPATE
O Sr. Ministro Américo Luz: Srs. Ministros, meu voto é idêntico ao
proferido nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 18.588-3-SP,
julgado nesta assentada.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 28.259-SP
Relator: Ministro Cesar Rocha
Embargante: Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô
Embargados: José Maria de Araújo e cônjuge
Advogados: Irene de Lourdes do N. Rodrigues e outros e Marco Antônio
Ferreira da Silva e outros
EMENTA
Ação expropriatória. Justa indenização. Juros moratórios.
Compensatórios. Cumulatividade. Natureza distinta. Inexistência de
anatocismo. Precedentes.
I - Os chamados juros compensatórios não se constituem
propriamente em juros — remuneração de capital — mas em
verba destinada a compensar a perda antecipada do imóvel. São
incidentes até o efetivo pagamento porque, neste ponto, ocorre a
perda da propriedade pelo expropriado e a simultânea aquisição pelo
expropriante, cessando a compensação devida.
II - Os juros moratórios são devidos pela demora no pagamento,
devendo incidir sobre o total do quantum indenizatório.
III - A coexistência dessas verbas harmoniza-se com o
preceito constitucional da prévia e integral indenização, evitando o
enriquecimento sem justa causa das partes .
IV - Dada a natureza das verbas, não há a pretendida capitalização
de juros.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 249
V - Precedentes da Seção.
VI - Embargos rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, José de Jesus, Garcia Vieira, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Gomes de Barros e Milton Pereira. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Américo Luz.
Brasília (DF), 15 de junho de 1993 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Cesar Rocha, Relator
DJ 02.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Rocha: Trata-se de embargos de divergência
interpostos pela Companhia do Metropolitano de São Paulo — METRÔ contra v.
acórdão da egrégia Segunda Turma desta Corte, da lavra do eminente Ministro
Antônio de Pádua Ribeiro, assim ementado:
Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.
Embargos declaratórios. Multa. CPC, art. 538, parágrafo único. Interpretação.
I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.
II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.
III - Não há divisar intuito protelatório, para fi ns de aplicação da multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC, se objetivam os declaratórios prequestionar questões federais, para o fi m de interposição de recurso especial.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
250
IV - Recurso especial parcialmente provido. (fl . 272)
A embargante aponta à caracterização da divergência o REsp n. 13.840-
0-SP, da relatoria do eminente Ministro Gomes de Barros, julgado pela egrégia
Primeira Turma. Neste aresto conclui-se que “a incidência de juros moratórios
sobre os juros compensatórios constitui anatocismo, vedado pela Lei de Usura
(Decreto n. 22.626 de 07.04.1933).”
Verifi cando a dissonância entre os julgados, admiti os embargos, abrindo
vista aos embargados.
Decorrido in albis o prazo para a impugnação (certidão de fl . 291 v.), os
autos voltaram-me conclusos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Rocha (Relator): Cinge-se a divergência em saber se a incidência dos juros moratórios sobre os juros compensatórios, nas ações expropriatórias, implica ou não em anatocismo vedado pelo Decreto n. 22.626/1933 e pelo Enunciado n. 121 da súmula do Supremo Tribunal Federal.
A questão já foi objeto de exame nesta egrégia Seção, quando do julgamento, em 04.05.1993, dos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 6.857-SP, Relator vencido eminente Ministro Demócrito Reinaldo, sendo vencedor o entendimento esposado pelo v. acórdão embargado.
Não afronta a legislação, muito menos a jurisprudência sumulada, o fato de os juros moratórios incidirem sobre os compensatórios. Estes integram a indenização, na medida em que se consubstanciam em recompensa pelo período em que a Administração usou o imóvel sem oferecer a contraprestação devida.
Os chamados juros compensatórios não se constituem propriamente em
juros — remuneração de capital — mas em verba destinada a compensar a perda
antecipada do imóvel. São incidentes até o efetivo pagamento porque, neste
ponto, ocorre a perda da propriedade pelo expropriado e a simultânea aquisição
pelo expropriante, cessando a compensação devida.
Os juros moratórios, por outro lado, devem incidir sobre o total do quantum
indenizatório, incluindo, portanto, a verba compensatória, tendo como termo
inicial o trânsito em julgado da sentença que os fi xar porque devidos pela demora
no pagamento.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 233-251, maio 2010 251
Dada a natureza das verbas, não há a pretendida capitalização de juros.
Aliás pelas mesmas razões, permite-se a cumulação.
Este, ademais, o objeto do Verbete n. 12 da Súmula deste Tribunal.
Partilho, assim, do entendimento esposado pelo v. acórdão embargado, do
qual recolho as seguintes considerações:
Com efeito, já decidiu o excelso Pretório, ao julgar o RE n. 110.892-SP, Relator Ministro Néri da Silveira, que os (RTJ 126/1.048):
Juros Moratórios de 6% a.a. São devidos a partir do trânsito em julgado da sentença, incidindo sobre o valor total da indenização, incluindo os juros compensatórios.
Tal entender justifica-se, porquanto os juros compensatórios integram a indenização, destinando-se a compensar o expropriado pela antecipada ocupação do bem expropriado pelo Poder Público.
Daí que, havendo demora no pagamento da indenização, integrada pelos compensatórios, há de sobre aquela incidir os moratórios.
Esta Turma, aliás, teve oportunidade de manifestar-se sobre a questão, ao julgar o REsp. n. 10.123-SP, Relator Ministro Ilmar Galvão, em cuja ementa lê-se:
Os juros moratórios, nas expropriatórias, são calculados sobre o valor da indenização, nele incluídos os juros compensatórios, destinados que são a compensar a contraprestação a que tem direito o expropriado, pelo tempo de ocupação do imóvel pelo Poder Público, antes do pagamento da verba indenizatória.
De outra parte, não há divisar, na espécie, anatocismo. Consoante assinalou o Ministro Sydney Sanches, na qualidade de Relator do RE n. 102.631-6-SP, cujo acórdão foi publicado no DJ de 22 de abril de 1988, a Súmula n. 121 do STF não tratou de juros compensatórios, mas dos moratórios previstos em contratos, hipótese diversa da versada nestes autos, porquanto a incidência dos compensatórios não decorreu da Lei de Usura, mas de construção pretoriana, fundada no princípio constitucional da justa indenização (Constituição de 1946, art. 141, § 16). (fl s. 269-270)
Em face do exposto, rejeito os embargos, dando prevalência ao
entendimento constante da decisão embargada no sentido de não reconhecer
a existência de anatocismo na incidência dos juros moratórios sobre os
compensatórios, dado as suas naturezas divergentes.
Súmula n. 103
SÚMULA N. 103
Incluem-se entre os imóveis funcionais que podem ser vendidos os
administrados pelas Forças Armadas e ocupados pelos servidores civis.
Referências:
Lei n. 8.025/1990, art. 1º.
Decreto n. 99.266/1990, art. 1º, § 2º.
Decreto n. 99.664/1990.
Precedentes:
MS 1.805-DF (3ª S, 05.11.1992 — DJ 30.11.1992)
MS 2.050-DF (3ª S, 1º.04.1993 — DJ 04.10.1993)
MS 2.467-DF (3ª S, 20.05.1993 — DJ 04.10.1993)
MS 2.521-DF (3ª S, 15.04.1993 — DJ 31.05.1993)
MS 2.563-DF (3ª S, 18.11.1993 — DJ 07.02.1994)
MS 2.627-DF (3ª S, 17.06.1993 — DJ 13.09.1993)
MS 2.691-DF (3ª S, 02.09.1993 — DJ 11.10.1993)
Terceira Seção, em 19.05.1994
DJ 26.05.1994, p. 13.088
MANDADO DE SEGURANÇA N. 1.805-DF (92187099)
Relator: Ministro Pedro Acioli
Impetrantes: José Francisco dos Santos e Vatson Soares Santos
Advogados: Luiz Carlos Martins da Silva e outros
Impetrados: Ministro de Estado da Aeronáutica e Secretár io de
Administração
EMENTA
Administrativo. Imóvel funcional. Servidores civis de Ministérios
Militares.
I - Os imóveis funcionais, administrados pelas Forças Armadas
e ocupados por servidores civis, foram incluídos na autorização legal
concedida para o Poder Executivo alienar (art. 1º da Lei n. 8.025, de
1990), por força do disposto no § 2º do art. 1º do Decreto n. 99.266,
de 28 de maio de 1990. Precedentes desta egrégia Corte.
II - Segurança concedida, para determinar que a autoridade
impetrada encaminhe à Secretaria de Administração Federal da
Presidência da República (SAF/PR) a documentação pertinente ao
imóvel, a fi m de que seja examinado o pleito do impetrante de acordo
com a legislação aplicável à espécie.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da egrégia
Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conceder a
ordem, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os
Srs. Ministros Flaquer Scartezzini, Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal,
Vicente Cernicchiaro e José Dantas.
Brasília (DF), 05 de novembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
258
Ministro Pedro Acioli, Relator
DJ 30.11.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Pedro Acioli: José Francisco dos Santos e Vatson Soares
dos Santos, ambos servidores públicos civis, ingressaram com mandado de segurança, com pedido de liminar, contra ato omissivo do Sr. Ministro de Estado da Aeronáutica e Sr. Secretário da Administração Federal.
Suas alegações podem ser resumidas em que:
a) Na conformidade da legislação referente, ocupam imóveis funcionais e, desejando proceder à aquisição das respectivas unidades, tiveram sua pretensão barrada pela omissão das autoridades coatoras.
b) que se faça cessar, imediatamente, a omissão apontada, permitindo-se o cadastramento e postulação à aquisição do imóvel.
Processado sem liminar, solicitadas as informações das autoridades apontadas coatoras e colhido o parecer do Ministério Público Federal, o feito foi a mim redistribuído.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): O Ministério Público Federal assim
manifestou-se em seu parecer:
Como a pretensão aqui versada é idêntica a outras que mereceram exame da Subprocuradoria Geral, e submetidas a julgamento, lograram êxito, permitimo-nos fazer juntar cópia do parecer, que se inclinou pela concessão da ordem circunscrita à remessa dos requerimentos e documentos que os instruíram à Secretaria de Administração, que os apreciará, para deferir ou não a pretensão de compra dos imóveis, à luz da legislação pertinente, mesmo porque o simples encaminhamento à SAF não confi gura de si, reconhecer direito à aquisição. (fl s. 44-45)
A matéria já foi objeto de apreciação por este Tribunal, verbi gratia os
Mandados de Segurança n. 1.509-DF e 1.121-DF, ambos sendo relatados pelo
Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, cujas ementas assim espelham:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 259
Administrativo. Imóvel funcional. Servidores civis de Ministérios Militares.
Os imóveis funcionais, administrados pelas Forças Armadas e ocupados por servidores civis, foram incluídos na autorização legal concedida para o Poder Executivo alienar (art. 1º da Lei n. 8.025, de 1990), por força do disposto no § 2º do art. 1º do Decreto n. 99.266, de 28 de maio de 1990.
Precedentes desta egrégia Corte.
Segurança concedida, para determinar que a autoridade impetrada encaminhe à Secretaria de Administração Federal da Presidência da República (SAF/PR) a documentação pertinente ao imóvel, a fi m de que seja examinado o pleito do impetrante de acordo com a legislação aplicável à espécie.
Decisão unânime.
Concedo a segurança para determinar que seja cadastrado o imóvel ocupado
pela impetrante e remetidos os documentos à Secretaria de Administração
Federal, para apreciação de sua pretensão, nos termos da legislação aplicada à
alienação do imóvel funcional da União Federal.
É como voto.
MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.050-DF (920031206-3)
Relator: Ministro Vicente Cernicchiaro
Impetrantes: Maurício Silva de Souza, Maria Madalena Pereira de Souza,
Marta Bruno da Costa e Nélia Maria de Brito
Impetrados: Ministro de Estado da Aeronáutica e Secretár io de
Administração Federal da Presidência da República
Advogado: Benedito Cardoso de Castro
EMENTA
MS. Administrativo. Imóvel funcional. Alienação. Pasta militar.
Servidor civil. A Lei n. 8.025/1990 autorizou a alienação de bens
imóveis residenciais de propriedade da União, situados no Distrito
Federal. O Decreto n. 99.266/1990 — regulamenta a Lei n. 8.025/1990
— autoriza a venda dos imóveis administrados pelas Forças Armadas,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
260
ocupados por servidores civis. Em sendo assim, assiste ao Impetrante
de a sua postulação ser analisada pela Secretaria da Administração.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas constantes dos autos, por maioria, conceder parcialmente a
segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os
Srs. Ministros Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas, Pedro Acioli,
Flaquer Scartezzini e Assis Toledo. Vencidos os Srs. Ministros Costa Lima e
Edson Vidigal.
Brasília (DF), 1º de abril de 1993 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator
DJ 04.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Maurício Silva de Souza e
outros impetram mandado de segurança contra atos do Ministro de Estado
da Aeronáutica e do Secretário de Administração Federal da Presidência da
República.
Os impetrantes são ocupantes de imóveis funcionais administrados
por Ministério Militar e objetivam seja providenciado o recadastramento
desses próprios nacionais, na forma da Portaria n. 219, de 30.07.1990, da SAF,
desembaraçando-os, dessa forma, para alienação.
Sustentam que a recusa das autoridades insinuadas coatoras em
providenciar os elementos necessários à alienação dos imóveis em questão,
agride incontestável direito líquido e certo dos Impetrantes.
Informações às fl s. 22-45 e 47-49.
Parecer do Ministério Público Federal, da lavra da ilustre Subprocuradora-
Geral da República, Dra. Deuza Curvello Rocha, opina pela denegação da
ordem. (fl s. 51-54)
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 261
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): Assiste razão à Impetrante.
Os imóveis das Pastas Militares são destinados ao pessoal da atividade. Nesse sentido, decidiu-se, nesta Seção, no MS n. 1.863-0, de que fui Relator, reconhecendo, aliás, ao Ministro legitimidade para impor sanção ao ocupante irregular, incluindo-se, nessa categoria, o militar que passa para a inatividade e, no prazo legal, recusa restituir a posse direta do prédio.
A Lei n. 8.025/1990 autorizou a alienação de bens imóveis residenciais de propriedade da União, situados no Distrito Federal.
O Decreto n. 99.266/1990 — Regulamenta a Lei n. 8.025/1990 — dispõe no art. 2º, § 2º:
Incluem-se entre os imóveis a serem vendidos os administrados pelas Forças Armadas, ocupados por servidores civis.
Busque-se a razão para o tratamento diferenciado.
A Lei n. 8.025/1990, no art. 1º, § 2º, I, registrou distinção entre “os residenciais administrados pela Forças Armadas, destinados à ocupação por militares”, dos residenciais submetidos à mesma administração, contudo, ocupados por civis.
Entendem-se, então, que os prédios ocupados por militares eram indispensáveis à atividade-fim das Forças Armadas. Os demais, porque consentidos a civis, não envolvia a indispensabilidade.
Aí reside a causa da distinção. Importante sublinhá-la a fi m de resguardar o princípio da isonomia.
Em precedentes desta Corte, pleitos desta natureza têm sido atendidos.
Concedo a segurança, a fi m de a digna autoridade coatora remeter a documentação reclamada para a Secretaria de Administração.
Sem honorários de advogado.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Costa Lima: Sr. Presidente, denego a segurança.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
262
MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.467-DF
Relator: Ministro Assis Toledo
Impetrantes: Francisco Claudino Sobrinho e outros
Impetrados: Ministro-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e
Chefe do Hospital das Forças Armadas
Advogada: Whilde Costa Souza
EMENTA
Administrativo. Imóvel funcional. Servidores civis do Hospital
das Forças Armadas.
Os imóveis administrados pelas Forças Armadas, mas utilizados
por servidores civis, não estão excluídos da autorização legal de venda
ao respectivo ocupante (Decreto n. 99.266/1990, art. 1º, § 2º).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, denegar a segurança em relação ao impetrante
Nereu Leão da Costa e deferir aos demais impetrantes, nos termos do voto do
Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os Srs. Ministros Anselmo Santiago, José
Dantas, Pedro Acioli e Flaquer Scartezzini. Vencidos o Sr. Ministro Costa Lima e,
parcialmente, o Sr. Ministro Adhemar Maciel. Ausentes, justifi cadamente, os Srs.
Ministros Edson Vidigal e Vicente Cernicchiaro.
Brasília (DF), 20 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 04.10.1993
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 263
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Francisco Claudino Sobrinho e outros
impetram mandado de segurança contra atos omissivos do Ministro de Estado
do Estado-Maior das Forças Armadas e do Chefe do Hospital das Forças
Armadas, objetivando assegurar o direito à permanência e à posterior aquisição
dos imóveis funcionais que ocupam.
Alegam que são todos funcionários públicos civis, pertencentes ao quadro
permanente do Hospital das Forças Armadas, legítimos ocupantes de imóveis
funcionais que receberam do citado Hospital. Sustentam que estão sendo
cerceados em seus direitos porque as autoridades impetradas não encaminharam
à Secretaria de Administração Federal da Presidência da República os
formulários de recadastramento.
Solicitadas informações, foram estas prestadas às fl s. 44-63 e 171-182.
A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer da Dra. Delza
Curvello Rocha, opina pela denegação da segurança.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Pela documentação trazida aos
autos, comprovou-se que os impetrantes, com exceção de Nereu Leão da Costa,
são servidores públicos civis e ocupam, regularmente, imóvel sob administração
militar.
O Decreto n. 99.266/1990, ao regulamentar a Lei n. 8.025/1990, permitiu,
expressamente, a alienação dos imóveis ocupados por servidores civis:
Art. 1º (...)
§ 1º (...)
§ 2º Incluem-se entre os imóveis a serem vendidos os administrados pelas Forças Armadas, ocupados por servidores civis.
A matéria é conhecida e, nesse sentido, há inúmeros precedentes desta
Corte (MS n. 1.050, Relator Ministro Gomes de Barros, DJ de 16.09.1991;
MS n. 1.344, Relator Ministro Demócrito Reinaldo, DJ de 14.09.1992; MS n.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
264
1.886, Relator Ministro Vicente Cernicchiaro, julgado em 05.11.1992, e MS n.
1.800-8-DF, Relator Ministro Assis Toledo, DJ de 08.03.1993).
Nereu Leão da Costa, segundo informou a autoridade apontada como
coatora, é militar da ativa, servindo no Hospital das Forças Armadas.
Dispõe o art. 1º, § 2º, I, da Lei n. 8.025/1990:
Art. 1º É o Poder Executivo autorizado a alienar, mediante concorrência pública e com observância do Decreto-Lei n. 2.300, de 21 de novembro de 1986, os imóveis residenciais de propriedade da União situados no Distrito Federal, inclusive os vinculados ou incorporados ao Fundo Rotativo Habitacional de Brasília — FRHB.
§ 1º (...)
§ 2º Não se incluem na autorização a que se refere este artigo, os seguintes imóveis:
I - os residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares;
(...)
E o Decreto n. 99.266/1990, por sua vez, determina:
Art. 1º (...)
§ 1º Não serão vendidos os imóveis residenciais:
(...)
c) administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares;
(...)
Constando, portanto, da legislação pertinente que não serão vendidos
os imóveis residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à
ocupação por militares, não está o impetrante Nereu Leão da Costa amparado
por qualquer direito à aquisição do imóvel questionado.
Abel Duque de Carvalho, apesar de não ser mais servidor do Hospital, é
ocupante do imóvel funcional, conforme documento de fl . 189, desde 08.09.1974.
Está, portanto, amparado pelo § 1º do art. 5º do Decreto n. 99.266/1990, que
assim dispõe:
§ 1º Consideram-se legítimos ocupantes aqueles que, em 15 de março de 1990, mesmo que no transcurso do prazo de desocupação, atendiam às exigências legais para a ocupação e, cumulativamente:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 265
a) eram titulares de regular termo de ocupação;
b) eram titulares de cargo efetivo ou emprego permanente, lotado em órgão ou entidade da Administração Pública Federal ou do Distrito Federal.
(...)
Em conclusão:
a) na linha da jurisprudência citada, defi ro a segurança em relação aos impetrantes Francisco Claudino Sobrinho, Célia Teixeira Rezende, Maria das Graças Conceição, Raimundo Alves de Lima, Eliane Maria do Nascimento Santos, Maria Sofi a dos Santos Saldanha e Abel Duque de Carvalho, apenas para determinar que sejam cadastrados os imóveis por eles ocupados e remetidos os respectivos documentos à Secretaria da Administração Federal para apreciação de suas pretensões, nos termos da legislação aplicável à alienação dos imóveis funcionais da União Federal;
b) denego a segurança pleiteada por Nereu Leão da Costa.
É o voto.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sr. Presidente, acompanho parcialmente
o Sr. Ministro-Relator: Em relação ao Sr. Nereu, julgo-o carecedor da ação, por
impossibilidade jurídica do pedido.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Lima: Sr. Presidente, peço vênia ao eminente
Ministro-Relator para denegar a segurança em relação a todos, pois entendo
que o que importa é a destinação dos imóveis às Forças Armadas.
MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.521-DF (92.0003524-0)
Relator: Ministro José Dantas
Impetrante: Sebastiana Domiciano Loredo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
266
Advogados: Nilton da Silva e outro
Impetrados: Ministro de Estado da Aeronáutica e Ministro de Estado da
Secretaria da Administração Federal
EMENTA
Administrativo. Imóvel funcional administrado pelas Forças
Armadas. Ocupação por servidor civil.
— Companheira. Legitimamente ocupado por servidor civil, o
imóvel funcional administrado pelas Forças Armadas também se inclui
na autorização legal de alienação, conforme a reiterada jurisprudência
deste Tribunal; pelo que, o mesmo direito se estende à companheira
do servidor falecido — Lei n. 8.068/1990, que acrescentou ao art. 6º
da Lei n. 8.025/1990 o seu § 5º.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conceder a ordem, nos termos do voto
do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros
Pedro Acioli, Assis Toledo, Edson Vidigal, Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel
e Anselmo Santiago. Ausentes, por motivo justifi cado, os Srs. Ministros José
Cândido e Flaquer Scartezzini.
Brasília (DF), 15 de abril de 1993 (data do julgamento).
Ministro Costa Lima, Presidente em exercício
Ministro José Dantas, Relator
DJ 31.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Cuida-se de mandado de segurança impetrado
com vistas à determinação de que as dignas autoridades ministeriais promovam
cadastramento da impetrante na qualidade de legítima ocupante do imóvel
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 267
em que reside, sito na SQS 415, bloco V, apto. 210, nesta capital, na qualidade
de companheira e mãe de dois fi lhos menores do falecido servidor civil do
Ministério da Aeronáutica, Altamiro Monteiro.
No tema de tal postulação, a primeira autoridade impetrada respondeu
com as já conhecidas razões de carência do direito da postulante, visto tratar-
se de imóvel administrado pelas Forças Armadas, destinado à residência de
militares e só excepcionalmente cedido àquele servidor civil; asseveração que
a segunda impetrada reforça, acrescentando faltar à requerente, como mera
companheira do servidor falecido, a condição de qualquer vínculo com o serviço
público, tal como o exigiria o art. 5º, § 1º, b, do Decreto n. 99.266/1990 — fl s.
22 e 45.
Ofi ciando, por via do parecer da Subprocuradora-Geral Delza Curvello, o
Ministério Público Federal manifestou-se contrário ao deferimento do pedido,
ao fundamento de que, em síntese, a Lei n. 8.025/1990, ao autorizar a alienação
de imóveis funcionais residenciais, de propriedade da União, exclui aqueles
administrados pelas Forças Armadas, importando nisso a sua destinação, a qual
não se desnatura pelo fato da excepcional ocupação daqueles imóveis por civis
— fl s. 50-53.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, inicialmente,
convenha-se no acerto da remansosa jurisprudência deste egrégio Tribunal,
fi rmada por esta e pela Primeira Seção, no sentido de reconhecer aos servidores
públicos civis, legítimos ocupantes de imóveis residenciais, também os
administrados pelas Forças Armadas, o direito à sua aquisição.
O caso dos autos, porém, refoge a essas singelas linhas da espécie, por
quanto se trata da impetração de companheira do ocupante falecido na qualidade
de funcionário público civil.
No exame dessa peculiaridade, começo por verificar que não se
contesta o estado de companheirismo invocado pela impetrante, a teor dos
documentos juntos às fl s. 10-14, o que, se et in quantum, basta em demonstração
da legitimidade da ocupação do imóvel mesmo após a morte do servidor
(20.08.1992).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
268
A partir daí, discordo da oposição em que se houveram as informações da
digna Ministra-Chefe da Secretaria da Administração Federal da Presidência
da República, sobre que, também da companheira do ocupante falecido deve-
se exigir a condição de titular de cargo efetivo ou emprego permanente, como
primitivamente estabelecido pelo art. 5º, § 1º, b, do Decreto n. 99.266/1990.
Discordo, porque dita norma regulamentadora, se assim interpretável,
ignoraria a posterior edição da Lei n. 8.068, de 13.07.1990, que acrescentou o §
5º ao art. 6º da Lei n. 8.025, de 25.04.1990, com a seguinte redação:
art. 6º (...)
§ 5º — Considera-se legítimo ocupante, nos termos deste artigo, o servidor que no momento da aposentadoria ocupava regularmente o imóvel funcional ou, na mesma condição, o cônjuge ou companheira enviuvado e que permaneça nele residindo na data da publicação desta Lei.
Daí a nova redação daquele decreto-regulamento, art. 5º, § 2º, assim
redigido pelo Decreto n. 99.664, de 1º.11.1990:
art. 5º (...)
§ 2º O disposto no parágrafo precedente também se aplica ao:
a) servidor que no momento da aposentadoria, ocupava regularmente o imóvel funcional ou, caso já tenha falecido, ao seu cônjuge ou companheiro, desde que residente no imóvel em 13 de abril de 1990.
Essas alterações dos textos legais visaram às claras estender às viúvas ou
companheiras dos servidores falecidos na condição de legítimos ocupantes
o mesmo direito a que fizera jus o cabeça do casal. Delas não se colhe a
exigência vislumbrada pela douta informante, isto é, a de que também a viúva ou
companheira detenha a condição de servidor público.
Essa redundância, na verdade, somente se impõe aos descendentes ou
ascendentes que residiam com o falecido, conforme expressamente o diz o art.
5º, § 2º, letra b, do analisado regulamento, com a redação dada pelo Decreto n.
99.664/1990.
Aliás, no tema do analisado direito estendido aos cônjuges enviuvados,
e em igual condição às companheiras, consulte-se o precedente da egrégia
Primeira Seção deste Tribunal, exatamente relativo a imóvel administrado pelo
Ministério da Marinha, verbis:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 269
Administrativo. Imóvel funcional. Servidores civis de ministérios militares.
Os imóveis funcionais, administrados pelas Forças Armadas e ocupados por servidores civis, foram incluídos na autorização legal concedida para o Poder Executivo alienar (art. 1º da Lei n. 8.025, de 1990), por força do disposto no § 2º do art. 1º do Decreto n. 99.266, de 28 de maio de 1990.
Extensão do benefício de compra ao cônjuge enviuvado, nos termos da Lei n. 8.068, de 13 de julho de 1990.
Precedentes desta egrégia Corte.
Segurança concedida, para determinar que a autoridade impetrada encaminhe à SAF/PR a documentação pertinente ao imóvel, a fi m de que seja examinado o pleito da impetrante de acordo com a legislação aplicável à espécie.
Decisão unânime.
Pelo exposto, defiro o mandado de segurança, para determinar o
processamento da documentação pertinente ao imóvel de que se trata e seu
exame com vistas à pretensão de compra pela impetrante.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Pedro Acioli: Sr. Presidente, no caso, trata-se de viúva de
servidor público que ocupava imóvel funcional à data da Lei n. 8.068/1990, que
acrescentou o § 5º ao art. 6º da Lei n. 8.025/1990, nos seguintes termos:
Art. 1º O art. 6º da Lei n. 8.025, de 12 de abril de 1990, fica acrescido do seguinte parágrafo:
Art. 6º - (...)
(...)
§ 5º Considera-se legítimo ocupante, nos termos deste artigo, o servidor que, no momento da aposentadoria ocupava regularmente o imóvel funcional ou, na mesma condição, o cônjuge ou companheira enviuvado e que permaneça nele residindo na data da publicação desta lei.
(...)
A clareza do dispositivo não me deixa dúvidas em acompanhar o Relator.
Acompanho o Relator.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
270
MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.563-DF (93.004782-5)
Relator: Ministro Adhemar Maciel
Impetrantes: Sueli Fátima da Silva Ribeiro e outras
Advogados: Nílton da Silva e outro
Impetrados: Ministro de Estado da Aeronáutica e Ministro de Estado da
Secretaria da Administração Federal
EMENTA
Administrativo e Processual Civil. Apartamento funcional
administrado pelas Forças Armadas. Servidoras civis. Cadastramento.
Mandado de segurança. Interesse processual. Existência. Exclusão
do Ministro de Estado da Secretaria da Administração Federal. Writ
concedido em parte.
I - As impetrantes, servidoras civis, ocupam regularmente imóveis
administrados pelas Forças Armadas (Ministério da Aeronáutica).
Ajuizaram segurança, pedindo para fi carem nos imóveis até fi nal
decisão e para que fossem os papéis para cadastramento enviados
à Secretaria da Administração Federal (SAF). Apontaram como
autoridades coatoras o Ministro da Aeronáutica e o Ministro da
Secretaria da Administração Federal.
II - Exclusão do segundo impetrado (Ministro-Chefe da SAF),
uma vez que ele não praticou ou ameaça praticar, pelo menos por
enquanto, o ato impugnado.
III - Segurança concedida em parte, de acordo com os precedentes
da Seção, tão-somente para o envio dos papéis para a SAF.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,
decide a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, conceder
parcialmente a segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma
do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte
integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Anselmo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 271
Santiago, José Dantas, José Cândido de Carvalho Filho, Pedro Acioli, Assis
Toledo e Luiz Vicente Cernicchiaro. Vencido o Sr. Ministro Jesus Costa Lima.
Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Edson Vidigal.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 18 de novembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator
DJ 07.02.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sueli Fátima da Silva Ribeiro, Francisca
Belarmina Costa e Almerinda de Souza Dutra impetraram mandado de segurança
contra atos do Ministro de Estado da Aeronáutica e do Ministro da Secretaria da
Administração Federal que, de modo arbitrário, recalcitram em enviar os cadastros
dos imóveis funcionais para que a SAF/PR faça a alienação aos impetrantes.
Esses objetivam promover o cadastramento como legítimos ocupantes dos
imóveis funcionais, onde residem, além das respectivas avaliações para fi ns de
alienação e exercício de preferência.
2. O Ministro de Estado da Aeronáutica prestou suas informações às fl s.
29-51. Alegou que o encaminhamento dos cadastros foi apenas suspenso até
que haja a regulamentação da questão no âmbito das Forças Armadas. E, tais
imóveis não estão incluídos na autorização de venda por serem administrados
pelos Ministérios Militares e pelo Estado-Maior das Forças Armadas (Decreto
n. 647, art. 1º, § 1º, c). Diante disso, não há como se conhecer da impetração.
3. O Ministro da Secretaria da Administração Federal prestou suas
informações às fl s. 53-55. Alegou, preliminarmente, sua ilegitimidade passiva
para a causa. No mérito, aduziu que os imóveis em questão não se incluem na
autorização de venda.
4. O Ministério Público Federal opina pela denegação da segurança. Alega
que as impetrantes, apesar de serem funcionárias civis, não têm direito à compra
dos imóveis administrados por militares.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
272
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Senhor Presidente, a questão já
é pacífi ca nesta Seção, que, por maioria (vencidos os Ministros Jesus Costa Lima
e Edson Vidigal), tem entendido que o servidor civil ocupante de apartamento
funcional da União administrado pelas Forças Armadas faz jus ao cadastramento.
Com tais observações, concedo a segurança tão-só para que a documentação
seja enviada à SAF para efeito de cadastramento.
É como voto.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: O meu ponto de vista em torno da
matéria fi cou bem claro no voto que proferi, nesta Terceira Seção, no MS n.
1.873-2-DF do qual fui Relator.
Não tenho motivo para mudar o meu entendimento, sem menosprezo dos
doutos votos dos eminentes Colegas que já se manifestaram sobre o problema.
A lei não determinou, sequer, que o chamado recadastramento fosse
realizado, ex off icio, pela Administração. O interessado é quem deveria
providenciá-lo até 17.08.1990, segundo se extrai da Portaria n. 258, de 10 dos
mesmos mês e ano.
Adianto que a concessão parcial do writ não tem efeito prático nenhum,
porquanto a simples remessa do cadastramento dos impetrantes não gera para a
Administração o dever de alienar o imóvel que, por razão de interesse público,
ela não deseja fazê-lo.
Demais disso, sem lei expressa mandando a União vender o que ela
entende necessário pelo interesse público, será violência determinar que o faça.
No sistema de legalidade em que vivemos não cabe impor-se a um
administrador que pratique ato que extrapole a lei.
A Administração, assim, tem certa margem de liberdade para avaliar, para
decidir se aliena o imóvel segundo critérios de conveniência e oportunidade por
ela própria formulados, todavia sem afastar-se da Lei n. 8.025/1990.
No caso dos autos, a autoridade demonstra que há interesse público
recomendando que os imóveis não sejam vendidos.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 273
Entendo que a Lei n. 8.025, de 12 de abril de 1990, não autorizou, sequer,
a venda dos imóveis administrados pelos Ministérios Militares e destinados à
ocupação de militares, ainda que ocasionalmente ocupados por civis.
Confi ra-se:
Art. 1º- É o Poder Executivo autorizado a alienar, mediante concorrência pública e com observância do Decreto-Lei n. 2.300, de 21 de novembro de 1986, os imóveis residenciais de propriedade da União situados no Distrito Federal, inclusive os vinculados ou incorporados ao Fundo Rotatitvo Habitacional de Brasília — FRHB.
§ 1º Omissis.
§ 2º Não se incluem na autorização a que se refere este artigo, os seguintes imóveis:
I - os residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares;
A atividade administrativa — leciona Seabra Fagundes (“O Controle dos Atos Administrativos”, 3ª ed., Forense, n. 39) — que a “atividade administrativa, sendo condicionada pela lei à obtenção de determinados resultados, não pode a Administração Pública deles se desviar, demandando resultados diversos dos visados pelo legislador. Os atos administrativos devem procurar atingir as conseqüências que a lei teve em vista quando autorizou a sua prática, sob pena de nulidade”.
É o caso dos autos. A Administração somente pode vender os imóveis dentro dos limites traçados na lei, não em outros.
Desse modo, carecem os impetrantes de direito, menos líquido e certo, para obrigarem a União a vender os imóveis que ocupam.
À vista do que, denego a segurança.
MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.627-DF
Relator: Ministro Flaquer Scartezzini
Impetrantes: Abelardo Alves dos Santos, Irenilde Gonçalves de Freitas,
Jacira Pinheiro de Carvalho, Joamar Marques de Oliveira,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
274
Pedro Vicente Gomes, Sebastião Roberto de Araújo Vieira, Sebastião Zenaide Romão e Waldelem Conrado dos Santos
Advogado: Philadelpho Pinto da Silveira
Impetrados: Ministro de Estado do Exército, Ministro de Estado da Secretaria da Administração Federal e Diretor do Patrimônio de Brasília do Ministério do Exército
EMENTA
Administrativo. Imóvel funcional administrado pelas Forças Armadas. Servidor civil.
— Os imóveis funcionais, administrados pelas Forças Armadas, ocupados regularmente por servidores civis, estão incluídos na autorização de venda prevista na Lei n. 8.025/1990, art. 1º, caput.
— Precedentes.
— Segurança concedida.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, conceder a segurança, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Assis Toledo,
Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas e
Pedro Acioli. Vencidos os Srs. Ministros Jesus Costa Lima e Edson Vidigal.
Brasília (DF), 17 de junho de 1993 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
Ministro Flaquer Scartezzini, Relator
DJ 13.09.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Trata-se de mandado de segurança com
pedido de liminar, impetrado por Abelardo Alves dos Santos, Irenilde Gonçalves
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 275
de Freitas, Jacira Pinheiro de Carvalho, Joamar Marques de Oliveira, Pedro
Vicente Gomes, Sebastião Roberto de Araújo Vieira, Sebastião Zenaide Romão
e Waldelem Conrado dos Santos, contra atos dos Srs. Ministros de Estado
do Exército, Ministro de Estado da Secretaria de Administração Federal da
Presidência da República e do Diretor do Patrimônio de Brasília do Ministério
do Exército, objetivando dar curso aos procedimentos administrativos relativos
à aquisição dos imóveis funcionais que ocupam, na qualidade de servidores civis
do Ministério do Exército.
Sem liminar (fl. 51), requisitei informações das dignas autoridades
impetradas que resultaram juntadas às fl s. 56-63, 65-68 e 70-89.
A douta Subprocuradoria Geral da República, às fl s. 91-93, opina pela
denegação da segurança.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, cinge-se a
questão em saber se os imóveis residenciais administrados pelas Forças Armadas
e ocupados por civis estão ou não excluídos da autorização de venda determinada
pela Lei n. 8.025, de 1990.
O Decreto n. 99.266/1990, ao regulamentar o mencionado diploma legal,
assentou no art. 1º, § 2º:
Art. 1º (...)
§ 2º Incluem-se entre os imóveis a serem vendidos os administrados pelas Forças Armadas, ocupados por servidores civis.
Seguindo esta determinação, esta egrégia Corte tem decidido:
Mandado de segurança. Aquisição de imóvel funcional, administrado pelas Forças Armadas. Servidor civil.
I - A jurisprudência desta Corte, a partir do julgamento do MS n. 585-DF, Relator eminente Ministro Ilmar Galvão, fi rmou-se no sentido de que o imóvel funcional, administrado pelas Forças Armadas, regularmente ocupado por servidor civil, em 15.03.1990, está abrangido pela autorização de venda prevista no caput do art. 1º da Lei n. 8.025/1990, cujo dispositivo no seu § 2º, inciso I, e com o art. 5º, § 2º, do Decreto n. 99.266/1990, que regulamentou o aludido diploma.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
276
II - Segurança concedida. (MS n. 614-DF — Relator Ministro Geraldo Sobral — RSTJ n. 26/240).
Administrativo. Mandado de segurança. Servidores civis de Ministérios Militares. Imóveis funcionais. Ocupação, habilitação e compra. Verificação de requisitos e condições gerais. Lei n. 8.025/1990. Decreto n. 99.266/1990.
I - Os imóveis administrados pelas Forças Armadas, salvo as exceções legalmente estabelecidas, incluem-se na autorização geral para alienação aos ocupantes civis.
II - Servidor civil, legalmente ocupante de imóvel funcional residencial, administrado pelas Forças Armadas, tem o direito de obter o encaminhamento administrativo, apreciação dos requisitos exigidos e das condições gerais para a aquisição, seguindo-se decisão compatível ao caso individualizado na pretensão.
III - Não teve feliz inspiração e nem apoio legal o ato de obstar o conhecimento administrativo até fi nal decisão do requerimento versando a pretendida aquisição do imóvel residencial ocupado pela parte interessada.
IV - Precedentes iterativos.
V - Segurança concedida, a fi m de assegurar o direito do requerimento da parte, devidamente instruído e informado, a ser encaminhado à Secretaria de Administração da Presidência da República — SAF/PR.
(MS n. 1.877-0-DF — Relator Ministro Milton Pereira — DJ de 07.12.1992).
Na hipótese, os impetrantes comprovaram a satisfação dos requisitos exigidos à habilitação à compra dos respectivos imóveis, conforme termo de locação de fl s. 13-15, 18-20, 23, 26, 29, 32-33, 36, 39, como determina o art. 5º e §§ do Decreto n. 99.266/1990.
O Ministério do Exército, às fl s. 56-63, além de não contestar a categoria de servidores civis dos impetrantes, alega para justificar a retenção dos requerimentos, o fato de que, se acolhido o pedido, criará situação grave para a Administração Militar, inclusive no campo disciplinar, com refl exo em sua missão constitucional, nos termos do art. 142, CF.
Ora, a lei é clara e a jurisprudência pacífica, não ensejando qualquer interpretação em sentido contrário.
Isto posto, concedo a segurança para o fim de determinar que o requerimento e respectivos documentos do ora impetrante sejam encaminhados, devidamente instruídos, à Secretaria de Administração Federal da Presidência da República, para apreciação da opção de compra do imóvel, de acordo com a legislação aplicável à espécie.
É como voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 277
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Ao proferir voto no MS n. 1.981-5-DF
afi rmei que cadastrar ou recadastrar imóvel, segundo os próprios termos do art.
6º da Lei n. 8.025, de 1990, muito longe está de assegurar o direito à compra da
unidade residencial. Trata-se nada mais, nada menos, do que uma expectativa
de direito. Quer dizer, a autoridade tem o dever de, segundo a conveniência
e oportunidade, mesmo que esteja comprovada a legitimidade da ocupação,
decidir-se pela alienação, pois a lei em comento autorizou a venda e não a impôs.
2. Não bastasse isso, vale reafi rmar os argumentos do parecer da ilustrada
Subprocuradora-Geral da República, Dra. Delza Curvello Rocha, in verbis:
No mérito, a Lei n. 8.025/1990, ao autorizar a alienação de imóveis funcionais residenciais, de propriedade da União Federal, exclui aqueles administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares.
Isso porque, referidos imóveis, face a sua destinação específi ca, encontram-se afetados a uma finalidade pública permanente, ou seja, assegurar a movimentação dos militares no território nacional, especifi camente sua estada em Brasília, onde se encontram os Comandos Militares. Vê-se, pois, que imóveis funcionais, administrados pelo Estado-Maior das Forças Armadas encontram-se, como bem coloca o colega Fernando Henrique Macedo, entre os meios legítimos e legais de que se valem as Forças Armadas para darem o possível cumprimento à sua missão constitucional (art. 142 da CF/1988 — maxime em seu caput, e em seu § 1º). Por esse motivo, não autorizou, o Poder Legislativo, a alienação desses imóveis.
No caso dos autos, a autoridade dita coatora deixa clara a ausência de direito líquido e certo do impetrante — militar da ativa, ocupante de imóvel objeto de destinação militar — que, por esse motivo, encontra-se excluído da autorização de alienação prevista na Lei n. 8.025/1990.
Do exposto, não se constata qualquer violação a direito subjetivo do impetrante — ainda porque não há amparo legal à sua pretensão, que, na realidade encontra óbice no próprio diploma legal com que pretende respaldá-la. (fl . 219)
3. Irrelevante, ao meu sentir, o fato de ser o imóvel administrado ou não
pelo Estado-Maior das Forças Armadas e que seja este, ou não, mero órgão
consultivo da Presidência da República não se enquadrando nas disposições
do art. 142 da Constituição. A verdade é que as Forças Armadas, constituídas
pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, sob a autoridade suprema
do Presidente da República, o assessoram, singular ou conjuntamente com o
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
278
Estado-Maior das Forças Armadas — EMFA e pelo Chefe do Estado-Maior de cada uma das Forças, segundo se extrai no disposto no art. 7º da Lei n. 8.028, de 1990. Mais recentemente, a Lei n. 8.490, de 19.11.1992, estabelece:
Art. 8º O Alto Comando das Forças Armadas, integrado pelos Ministros Militares, pelo Ministro-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e pelo Chefe do Estado-Maior de cada uma das Forças Singulares, tem por fi nalidade assessorar o Presidente da República nas decisões relativas à política militar e à coordenação de assuntos pertinentes às Forças Armadas.
Parágrafo único. O Alto Comando das Forças Armadas reunir-se-á quando convocado pelo Presidente da República e será secretariado pelo Ministro-Chefe da Casa Militar.
Art. 9 º O Estado-Maior das Forças Armadas, mantida sua atual estrutura, tem por fi nalidade assessorar o Presidente da República nos assuntos referidos no art. 50 do Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967, e legislação especial superveniente.
4. Com o maior respeito à douta maioria, continuo a entender que os
ocupantes não têm direito líquido e certo para comprar imóvel funcional e que
o recadastramento é ato administrativo de rotina e incapaz de gerar direito para
obrigar a União a alienar os imóveis.
Denego, portanto, a segurança.
MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.691-DF (93.0009415-7)
Relator: Ministro Anselmo Santiago
Impetrante: Maria da Glória Silva Oliveira
Advogada: Maria Christina Boratto Braga
Impetrados: Ministro de Estado da Aeronáutica e Ministro de Estado da
Secretaria da Administração Federal
EMENTA
Mandado de segurança. Imóvel funcional. Servidores civis do
Ministério da Aeronáutica.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 279
1. Servidores civis do Ministério da Aeronáutica têm direito a
que sejam cadastrados os imóveis por eles ocupados a fi m de que a
Secretaria de Administração Federal aprecie as pretensões tocantes à
aquisição dos mesmos.
2. Segurança concedida.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, conceder a segurança. Votaram com o Sr.
Ministro-Relator os Srs. Ministros José Dantas, José Cândido, Pedro Acioli,
Assis Toledo e Adhemar Maciel. Vencidos os Srs. Ministros Jesus Costa Lima
e Edson Vidigal. Ausente, por motivo justifi cado, O Sr. Ministro Vicente
Cernicchiaro.
Brasília (DF), 02 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Anselmo Santiago, Relator
DJ 11.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Anselmo Santiago: Trata-se de mandado de segurança
com pedido de liminar, impetrado por Maria da Glória Silva Oliveira, contra
ato omissivo atribuído aos Srs. Ministros da Aeronáutica e da Secretaria da
Administração Federal.
Na inicial, a impetrante alega ser legítima e regular ocupante de imóvel
residencial de propriedade da União e administrado pelo Ministério da
Aeronáutica, por isso manifestou, perante o órgão onde trabalha, instrução
de compra do imóvel, nos termos da Lei n. 8.025/1990, regulamentada pelos
Decretos n. 99.266/1990 e 99.664/1990, respectivamente.
No entanto, a autoridade coatora, o Sr. Ministro da Aeronáutica, obstou o
cadastramento, retendo, nos arquivos do Ministério, o requerimento de opção
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
280
e a fi cha cadastral devidamente preenchida pela impetrante, até que seja criada
nova norma regulamentadora da Lei n. 8.025/1990, no âmbito militar.
Pede, afi nal, o cadastramento da impetrante pelo Ministério da Aeronáutica
e a remessa do respectivo cadastro à SAF/PR.
A inicial veio instruída como o “Termo de Locação e Responsabilidade” do
imóvel.
Neguei a liminar e solicitei as informações, que foram prestadas pelas
autoridades impetradas.
O Ministro da Aeronáutica defendeu a legalidade do seu ato, sustentando
que a ocupação de imóveis residenciais, administrados pelas Forças Armadas,
por servidores civis, se faz a título precário, a lhes retirar o direito à aquisição
postulada.
Já a Secretária de Administração Federal, nas informações, declara
não haver praticado nenhum ato prejudicial à impetrante, mas, no mérito,
manifesta-se pela improcedência do pedido, de vez que a lei não permite a
venda de imóveis residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à
ocupação por militares.
Ouvida, a douta Subprocuradoria Geral da República, em seu parecer,
opinou pela denegação da segurança.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Anselmo Santiago (Relator): A impetrante é servidora
civil do Ministério da Aeronáutica e, nessa condição, recebeu da Prefeitura da
Aeronáutica de Brasília o apartamento funcional antes mencionado, aliás por ela
ocupado há anos. Para tanto, fi rmou com aquela, representada por seu Prefeito,
Coronel Acyr Martins Barbosa, um Termo de Locação e Responsabilidade, pelo
qual se comprometeu a cumprir as condições ali impostas.
Já se vê, pela documentação junta, o imóvel estava e ainda está administrado
pelo Ministério da Aeronáutica. Pelo órgão foi entregue à impetrante, que o
ocupa legalmente há vários anos.
Em casos tais, de imóveis residenciais administrados pelas Forças Armadas
e ocupados por servidores civis, a jurisprudência desta egrégia Corte se fi rmou
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 281
no sentido de que foram eles incluídos na autorização legal concedida para o
Poder Executivo alienar (Decreto n. 99.266/1990 — art. 1º, § 2º).
Exprimem essa orientação jurisprudencial as emendas seguintes:
1. Mandado de segurança. Competência.
Compete à Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça processar e julgar mandado de segurança impetrado por servidor público federal contra Ministro de Estado, objetivando a aquisição de imóvel funcional.
2. Administrativo. Imóvel funcional. Servidores civis do Ministério do Exército.
Os imóveis administrados pelas Forças Armadas, mas utilizados por servidores civis, não estão excluídos da autorização legal de venda ao respectivo ocupante (Decreto n. 99.266/1990, art. 1º, § 2º).
(MS n. 1.800-8-DF, Relator Ministro Assis Toledo, DJ de 08.03.1993)
Administrativo. Imóvel funcional. Servidores civis de Ministérios Militares.
I - Os imóveis funcionais, administrados pelas Forças Armadas e ocupados por servidores civis, foram incluídos na autorização legal concedida para o Poder Executivo alienar (art. 1º da Lei n. 8.025, de 1990), por força do disposto no § 2º do art. 1º do Decreto n. 99.266, de 28 de maio de 1990. Precedentes desta egrégia Corte.
II - Segurança concedida, para determinar que a autoridade impetrada encaminhe à Secretaria de Administração Federal da Presidência da República (SAF/PR) a documentação pertinente ao imóvel, a fi m de que seja examinado o pleito do impetrante de acordo com a legislação aplicável à espécie.
(MS n. 1.805-7-DF, Relator: Ministro Pedro Acioli, DJ de 30.11.1992).
Atento à orientação fi rmada a respeito, concedo a segurança para que
seja cadastrado o imóvel ocupado pela impetrante e remetidos os respectivos
documentos à Secretaria de Administração Federal para apreciação da pretensão,
nos termos da legislação aplicada à alienação dos imóveis funcionais do domínio
da União Federal.
É o meu voto.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Senhor Presidente, o meu ponto de vista
em torno do tema é conhecido desta egrégia Terceira Seção.
Não tenho motivo para mudar o meu entendimento, em menosprezo dos
doutos votos dos eminentes Colegas que já se manifestaram sobre o problema.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
282
Não concedo, mesmo em parte, a segurança, segundo a linha de precedentes
de que trata o parecer do Ministério Público.
A lei não determinou, sequer, que o chamado recadastramento fosse
realizado, ex off icio, pela Administração. O interessado é quem deveria
providenciá-lo até 17.08.1990, segundo se extrai da Portaria n. 258, de 10 dos
mesmos mês e ano.
Adianto que a concessão parcial do writ não tem efeito prático nenhum,
porquanto a simples remessa do cadastramento dos impetrantes não gera para a
Administração o dever de alienar o imóvel que, por razão de interesse público,
ela não deseja fazê-lo.
Demais disso, sem lei expressa mandando a União vender o que ela
entende necessário para interesse público, será violência determinar que o faça.
No sistema de legalidade em que vivemos não cabe impor-se a um
administrador que pratique ato que extrapole a lei.
A Administração, assim, tem certa margem de liberdade para avaliar, para
decidir-se, se aliena o imóvel segundo critérios de conveniência e oportunidade
por ela própria formulado, todavia sem afastar-se da Lei n. 8.025/1990.
No caso dos autos, a autoridade demonstra que há interesse público
recomendando que os imóveis não sejam vendidos.
Entendo que a Lei n. 8.025, de 12 de abril de 1990, não autorizou, sequer,
a venda dos imóveis administrados pelos Ministérios Militares e destinados à
ocupação de militares, ainda que ocasionalmente ocupados por civis.
Confi ra-se:
Art. 1º É o Poder Executivo autorizado a alienar, mediante concorrência pública e com observância do Decreto-Lei n. 2.300, de 21 de novembro de 1986, os imóveis residenciais de propriedade da União situados no Distrito Federal, inclusive os vinculados ou incorporados ao Fundo Rotativo Habitacional de Brasília — FRHB.
§ 1º Omissis
§ 2º Não se incluem na autorização a que se refere este artigo, os seguintes imóveis:
I - os residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares;
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 253-283, maio 2010 283
A atividade administrativa — leciona Seabra Fagundes (“O Controle dos
Atos Administrativos”, 3ª ed., Forense, n. 39) — que a “atividade administrativa,
sendo condicionada pela lei à obtenção de determinados resultados, não pode
a Administração Pública deles se desviar, demandando resultados diversos
dos visados pelo legislador. Os atos administrativos devem procurar atingir as
conseqüências que a lei teve em vista quando autorizou a sua prática, sob pena
de nulidade”.
É o caso dos autos. A Administração somente pode vender os imóveis
dentro dos limites traçados na lei, não em outros.
Desse modo, carecem os impetrantes de direito, menos líquido e certo, para
obrigarem a União a vender os imóveis que ocupam.
À vista do que, denego a segurança.
Súmula n. 104
SÚMULA N. 104
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsifi cação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de
ensino.
Referência:
CF/1988, art. 109, IV.
Precedentes:
CC 350-RS (3ª S, 16.11.1989 — DJ 04.12.1989)
CC 6.346-DF (3ª S, 24.02.1994 — DJ 21.03.1994)
CC 6.554-DF (3ª S, 17.03.1994 — DJ 11.04.1994)
CC 6.555-DF (3ª S, 03.02.1994 — DJ 21.03.1994)
CC 6.641-DF (3ª S, 03.02.1994 — DJ 14.03.1994)
CC 6.718-DF (3ª S, 03.03.1994 — DJ 21.03.1994)
CC 7.792-DF (3ª S, 17.03.1994 — DJ 04.04.1994)
Terceira Seção, em 19.05.1994
DJ 26.05.1994, p. 13.088
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 350-RS (89.0008549-2)
Relator: Ministro Flaquer Scartezzini
Autora: Justiça Pública
Réu: Oscar Luiz Weber
Luiz Fonini
Suscitante: Juízo Federal em Passo Fundo-RS
Suscitado: Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Passo Fundo-RS
EMENTA
Processual Penal. Competência. Crime praticado contra entidade
de ensino superior.
— Compete à Justiça Estadual julgamento de crime praticado
em detrimento de bens de universidade particular por se tratar de
entidade de direito privado, que não se inclui entre as elencadas no art.
109, IV, da CF/1988.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
confl ito e declarar competente o suscitado, Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal
de Passo Fundo-RS, na forma do relatório e notas taquigráfi cas anexas, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 16 de novembro de 1989 (data do julgamento).
Ministro José Dantas, Presidente
Ministro Flaquer Scartezzini, Relator
DJ 04.12.1989
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
290
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Trata-se de confl ito de competência entre o Dr. Juiz Federal em Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul, ora suscitante, e o Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal da mesma Comarca, ora suscitado.
Gerou-se o confl ito em virtude de inquérito mandado instaurar perante a Justiça Estadual, nos quais foram indiciados Oscar Luiz Weber e Luiz Fonini, como incursos nos arts. 171, c.c. 14, II, do CP, pela prática tentada de fraude no vestibular 1/1988, da Universidade de Passo Fundo, e ainda, como incurso no art. 16 da Lei n. 6.368/1976.
Por parecer do MP, o Dr. Juiz suscitado determinou a ida dos autos à Justiça Federal, quando, por decisão do Dr. Juiz Federal da Vara Única de Passo Fundo, foi suscitado o presente confl ito, ao entendimento de que se tratava de tentativa de fraude ao vestibular de uma universidade particular, o que, na espécie, não atinge bens, serviços ou interesses da União.
Subiram os autos e a douta SPGR é de parecer que se fi xe a competência do Juízo da Justiça Comum.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, o confl ito
se deu em virtude da negativa manifestada pelos Juízos, Estadual e Federal,
em examinar inquérito policial instaurado para apurar tentativa de fraude no
vestibular da Universidade de Passo Fundo.
A Justiça Comum sustenta sua negativa na afi rmação de que, embora
particular, a Universidade de Passo Fundo presta serviços por delegação do
Ministério da Educação, o que desloca a competência para aquela esfera.
Já na Justiça Federal, a negativa se apóia na afi rmação de que o interesse da
União há que ser particular, específi co e direto, para caracterizar a competência
privilegiada federal.
No meu entender, e assim tive oportunidade de me expressar por inúmeras
vezes, a razão está com o Dr. Juiz suscitante.
Com efeito, a Universidade de Passo Fundo obteve permissão para
funcionar por determinação do Ministério da Educação, mas nem por isso,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 291
e pelo fato de prestar um serviço delegado, de âmbito federal, deixa de ser
uma entidade de direito privado, e, assim sendo, não elencada como uma das
previstas no art. 109, IV, da Carta Política de 1988.
Neste sentido tem entedimento fi rmado o excelso Pretório, tanto que no
Confl ito de Jurisdição Criminal n. 6.517/1985, o eminente Relator, Ministro
Moreira Alves, assim ementou o acórdão:
Conflito de jurisdição. Fraude em exames vestibulares para ingresso em faculdade de medicina mantida por fundação particular.
Inexistência, no caso, de detrimento de bens, serviços ou interesses da União.
Confl ito conhecido, e declarado competente o Juízo da 5ª Vara Criminal da Comarca de Santos.
A toda evidência, a utilização de meios fraudulentos com o objetivo de
conseguir aprovação em exame vestibular, caracteriza-se, in casu, como infração
penal que ofende a particular, nada tendo a ver com o interesse específi co
e direto da União, quando, então, estaria a defi nir a competência da Justiça
Federal.
Desta forma, não havendo bens, serviços ou interesses da União a serem
protegidos pela ação dos acusados, declaro competente para apreciar o feito o
Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal de Passo Fundo-RS, ora suscitado.
É o meu voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.346-DF
Relator: Ministro Assis Toledo
Autora: Justiça Pública
Ré: Wagna da Silva Luz
Suscitante: Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF
Suscitado: Juízo Federal da 10ª Vara-DF
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
292
EMENTA
Processual Penal. Competência.
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de
falsifi cação e uso de documentos falsos relativos a estabelecimento de
ensino da rede privada.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o suscitante, Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-
DF, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os Srs.
Ministros Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo
Santiago, José Dantas, José Cândido de Carvalho Filho, Pedro Acioli e Jesus Costa
Lima.
Brasília (DF), 24 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 21.03.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Wagna da Silva Luz foi denunciada pelo
Ministério Público Federal por ter feito uso de documentos falsos (guia de
transferência da Fundação do Ensino Superior de Rio Verde-GO e histórico
escolar) para ingresso na Associação de Ensino Unifi cado do Distrito Federal
(fl . 05).
Acolhendo exceção de incompetência suscitada pela defesa, o Juiz da 10ª
Vara Federal de Brasília deu-se por incompetente para o processo, determinando
a remessa dos autos à Justiça do Distrito Federal.
O Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF deu-se, igualmente,
por incompetente, suscitando o presente confl ito.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 293
A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer da Dra.
Delza Curvello Rocha, opina pelo conhecimento do confl ito, declarando-se
competente o Juízo suscitado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): A denúncia narra que a ré teria
feito uso de falsa guia de transferência da Fundação do Ensino Superior de Rio
Verde e de falso histórico escolar, com o intuito de ingressar na Associação de
Ensino Unifi cado do Distrito Federal (AEUDF).
Nesse caso, tratando-se de estabelecimentos privados, como bem salientou
o Juízo suscitado, aplica-se o verbete da Súmula n. 31 do extinto Tribunal
Federal de Recursos, in verbis:
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsifi cação ou de uso de certifi cado de conclusão de curso de 1º e 2º graus, desde que não se refi ra a estabelecimento federal de ensino ou a falsidade não seja de assinatura de funcionário federal.
Ante o exposto, conheço do confl ito, declarando competente o Juízo de
Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF, suscitante.
É o voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.554-DF (93.29976-0)
Relator: Ministro José Cândido de Carvalho Filho
Autor: Ministério Público Federal
Suscitante: Juízo de Direito da 3ªVara Criminal de Brasília-DF
Suscitado: Juízo Federal da 10ªVara-DF
Réu: José Florentino da Silva
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
294
EMENTA
Confl ito de competência. Entidade de ensino superior. Crime de
falsifi cação e uso de certifi cado falso. Transferência fraudulenta entre
escolas particulares de ensino superior.
Se os crimes são praticados em detrimento de bens ou serviços
de universidade particular, como entidade de direito privado, a
competência para o julgamento dos implicados é da Justiça Estadual.
Precedentes do STJ.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do confl ito
e declarar competente o suscitado, Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de
Brasília-DF, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas constantes dos
autos. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal,
Luiz Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e José Dantas.
Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini. Licenciado o
Sr. Ministro Pedro Acioli.
Brasília (DF), 17 de março de 1994 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente
Ministro José Cândido de Carvalho Filho, Relator
DJ 11.04.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Cândido: Adoto a parte expositiva do Relatório do
Ministério Público Federal, assim expressa:
O Ministério Público Federal ofereceu diversas denúncias contra estudantes universitários, porque ingressaram eles, fraudulentamente, mediante transferência, em cursos superiores de entidades situadas em Brasília.
Utilizaram-se os denunciados de guias de transferência e histórico escolar falsos, procedentes da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde-GO — FESURV,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 295
para se matricularem em cursos de entidades de ensino superior em Brasília (DF), notadamente na Associação de Ensino Unifi cado de Brasília — AEUDF e no Centro de Ensino Unifi cado de Brasília — Ceub.
O Juízo Federal da 10ª Vara-DF, acolhendo exceção de incompetência interposta pela denunciada Andrea Mendes Simas na Ação Penal n. 92.50777-8, declinou, nesse e nos demais processos, de sua competência em favor da Justiça do Distrito Federal, fundamentando sua decisão na Súmula n. 31 do extinto Tribunal Federal de Recursos, cujo enunciado é o seguinte:
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsifi cação ou uso de certifi cado de conclusão de curso de 1º e 2º graus, desde que não se refi ra a estabelecimento federal de ensino ou a falsifi cação não seja de assinatura de funcionário federal.
Distribuídos os autos ao Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília, este suscitou confl ito negativo de competência, de cujos fundamentos colhe-se o seguinte:
A hipótese não permite a aplicação da Súmula n. 31, uma vez que a notitia criminis menciona que a ré teria feito uso de documento falso que imitava guias de transferência e históricos escolares da Fundação Superior de Rio Verde, com escopo de produzir efeito no âmbito de outra instituição de ensino superior o Centro de Ensino Unifi cado de Brasília — Ceub. A súmula invocada cuida de situação diversa quando se limita à hipótese de curso de 1º e 2º graus.
A jurisprudência colacionada também não se adequa ao caso, uma vez que a documentação escolar — que registra e documenta o processo educativo — não se alinha entre bens, tais como móveis e utensílios e outros pertences da escola.
Como é cediço, a União autoriza o funcionamento, reconhece, regulamenta currículos, grade horária, credencia o corpo docente, registra diplomas e fi scaliza o bom andamento das Instituições de Ensino Superior. Daí, seu interesse na mantença e idoneidade da documentação que diga respeito ao ensino superior ou ali repercuta, circunstância que defi ne em favor da Justiça Federal a competência para dirimir a lide, por força do contido no art. 109, IV, da Carta Magna. (fl s. 18-19).
Opinando sobre o mérito da causa, a ilustre parecerista conclui pela
competência do Juízo suscitado, o da 10ª Vara-DF.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
296
VOTO
O Sr. Ministro José Cândido (Relator): São ponderáveis os argumentos do ilustrado Parecer, assinado pela Dra. Delza Curvello Rocha, quando registra:
Ainda que as fraudes não tenham sido praticadas em detrimento de bens ou serviços da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, não se pode negar que existe uma ofensa a um interesse da União, qual seja, ensino superior.
No caso presente, não deve ser levado em conta que os documentos falsos foram usados perante entidade particular de ensino. O que deve ser sopesado é o fato de estas instituições serem fi scalizadas por órgão colegiado da União — o Conselho Federal de Educação (art. 48 e art. 49 da Lei n. 5.540, de 28.11.1968). São autorizadas a funcionar e são reconhecidas por Decreto do Poder Executivo Federal (art. 47 da Lei n. 5.540/1968). O diploma de conclusão de curso superior, para ter validade, deve ser registrado no Ministério da Educação ou em Universidade Federal credenciada, portanto, em entidade pertencente à União.
E mais: é o Conselho Superior de Educação quem fi xa o currículo mínimo e a duração mínima dos cursos superiores correspondentes a profi ssões reguladas em lei e de outros necessários ao desenvolvimento nacional (art. 26 da Lei n. 5.540, de 28.11.1968).
Desse modo, não se pode negar que a falsifi cação de histórico escolar e de guia de transferência, para fi ns de ingresso em instituição de ensino superior, seja ela pública ou particular, fere frontalmente um interesse da União.
Por outro lado, compete ainda à União “proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência” (CF, art. 23, V). Disto resulta que quem tem acesso à educação, mediante fraude, pratica crime em detrimento de serviço e interesse da União.
Em decorrência, a competência deve ser fi xada em prol da Justiça Federal, diante da existência de crime praticado em detrimento de serviço e interesse da União, na conformidade do art. 109, IV, da Carta Magna. (fl . 19-20)
Tenho entendido de modo contrário, na linha da Súmula n. 31 do ex-TFR, assim expressa:
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsifi cação ou uso de certifi cado de conclusão de curso de 1º e 2º graus, desde que não se refi ra a estabelecimento federal de ensino ou a falsifi cação não seja de assinatura de funcionário federal.
As razões que levaram aquele Tribunal à edição dessa súmula, em sessão
plenária, de 13.12.1979, continuam válidas para as hipóteses ajuizadas, atualmente.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 297
Esta Corte Superior vem prestigiando esse entendimento, como ocorreu
no julgamento do CC n. 350-RS, em que foi Relator o ilustre Ministro Flaquer
Scartezzini:
Processual Penal. Competência. Crime praticado contra entidade de ensino superior.
— Compete à Justiça Estadual julgamento de crime praticado em detrimento de bens de universidade particular por se tratar de entidade de direito privado, que não se inclui entre as elencadas no art. 109, IV, da CF/1988. (Publicado no DJU de 04.12.1989)
Atendendo à orientação deste Superior Tribunal de Justiça, como
demonstra o julgado, conheço do confl ito e dou pela competência do suscitante,
Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília.
É o meu voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.555-DF
Relator: Ministro Edson Vidigal
Autor: Ministério Público Federal
Ré: Lusia Helena de Souza
Suscitante: Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF
Suscitado: Juízo Federal da 10ª Vara-DF
EMENTA
Competência. Penal. Documento falso. Transferência de curso
superior de escolas particulares.
1. Crimes praticados em detrimento de bens ou interesses de
entidade de ensino superior particular são da competência da Justiça
Comum.
2. Confl ito conhecido; competência do suscitante.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
298
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o suscitante, Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF,
nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator, os Srs.
Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José
Dantas, José Cândido de Carvalho Filho e Jesus Costa Lima. Ausente, nesta
assentada, o Sr. Ministro Assis Toledo. Licenciado o Sr. Ministro Pedro Acioli.
Brasília (DF), 03 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Edson Vidigal, Relator
DJ 21.03.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Edson Vidigal: Sob a acusação de ter apresentado
documentação falsa quando pleiteou e conseguiu transferência do Curso de
Administração de Empresas da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde
para a AEUDF — Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal,
Lusia Helena de Souza foi denunciada pelo Ministério Público Federal para
responder a ação penal à conta do CP, art. 304.
O Juízo Federal da 10ª Vara do Distrito Federal, acolhendo exceção de
incompetência, remeteu o caso para a Justiça do Distrito Federal. O Juízo de
Direito da 3ª Vara Criminal do DF, entendendo que não é o caso da Súmula
n. 31 do antigo Tribunal Federal de Recursos, suscitou este confl ito negativo
de jurisdição, tendo o Ministério Público Federal emitido parecer dando pela
competência da Justiça Federal.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Senhor Presidente, o parecer
do Ministério Público Federal destaca que “a autorização para funcionar, o
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 299
reconhecimento e a fi scalização de entidades particulares de ensino superior são
feitos pela União. O diploma de conclusão de curso superior para ter validade
deve ser registrado em órgão da União. É o Conselho Federal de Educação
quem fi xa o currículo mínimo e a duração dos cursos superiores. (...) Quem,
portanto, falsifi ca histórico escolar e guia de transferência de entidade de ensino
superior, ainda que particular, pratica crime em detrimento de interesse e de
serviço da União”. (Fl. 19)
Já tive a oportunidade, como Relator de um confl ito de competência sobre
tema semelhante, há alguns meses, entender também pela competência da
União Federal, no que fui, esmagadoramente, vencido.
Por isso, considerando que, no caso, as escolas são entidades de direito
privado, portanto, não incluídas na previsão constitucional, CF, art. 109, IV,
conheço do confl ito e declaro competente o suscitante, o Juízo de Direito da 3ª
Vara Criminal de Brasília-DF.
É o voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.641-DF
Relator: Ministro Jesus Costa Lima
Autora: Justiça Pública
Réus: João Paixão de Lima e Yolanda Gomes de Lima
Suscitante: Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal de Brasília-DF
Suscitado: Juízo Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do Distrito
Federal
EMENTA
Constitucional e Penal. Ensino superior. Falsificação de
documentos. Transferência.
1. A falsifi cação de histórico escolar e guia de transferência de
estabelecimento de ensino particular para fazer prova junto a outra
entidade, também particular de ensino, não constitui infração penal
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
300
contra serviço da União Federal, cujo interesse genérico pelo fi el
cumprimento das leis federais não é motivo bastante para atrair a
competência da Justiça Federal.
2. Confl ito conhecido, declarando-se competente o Juízo de
Direito da Sexta Vara Criminal de Brasília-DF.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o suscitante, Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal de Brasília-
DF. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros Edson Vidigal, Luiz Vicente
Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas e Pedro Acioli.
Ausentes, nesta assentada, o Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho, e por
motivo justifi cado, o Sr. Ministro Assis Toledo.
Brasília (DF), 03 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Jesus Costa Lima, Relator
DJ 14.03.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Dissentem o MM. Juízo Federal da
10ª Vara do Distrito Federal e o MM. Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal da
Circunscrição Judiciária de Brasília-DF, suscitante, a respeito de qual a Justiça
competente para processar e julgar cidadãos denunciados como infratores dos
arts. 297 e 304 do Código Penal, eis que teriam se utilizado de documentação
falsa da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde — FESURV (histórico
escolar e guia de transferência), obtendo matrícula para um dos denunciados
junto à Associação de Ensino Unifi cado do Distrito Federal (AEUDF).
Opina a Dra. Delza Curvello Rocha, ilustrada Subprocuradora-Geral da
República, pela competência do Juízo Federal, sumariando seu entendimento
neste verbete:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 301
Penal e Processual Penal. Competência. Falsifi cação de guia de transferência e histórico escolar de entidade de ensino superior (FESURV), para fi ns de ingresso em outras entidades de ensino superior (Ceub, AEUDF).
— A autorização para funcionar, o reconhecimento e a fiscalização de entidades particulares de ensino superior são feitos pela União. O diploma de conclusão de curso superior, para ter validade, deve ser registrado em órgão da União. É o Conselho Federal de Educação quem fi xa o currículo mínimo e a duração mínima dos cursos superiores.
— Compete à União “proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência”. (CF, art. 23, V)
— Quem, portanto, falsifica histórico escolar e guia de transferência de entidade de ensino superior, ainda que particular, pratica crime em detrimento de interesse e de serviço da União.
— Em decorrência compete à Justiça Federal julgar crime de falsifi cação dos referidos históricos escolares e guias de transferência. (fl . 14)
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): Resulta dos termos da denúncia
(fl s. 05-06) que, mediante processo de montagem de documentos, utilizando
impressos da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde, os acusados obtiveram
histórico escolar e guia de transferência e conseguiram matrícula na Associação
de Ensino Unifi cado do Distrito Federal (AEUDF).
Os dois estabelecimentos de ensino são particulares e o interesse genérico
da União pelo exato cumprimento das leis e a fi scalização que lhe compete
exercer quanto às instituições de ensino, ou porque se trata de entes a quem
ela outorga autorizações para funcionamento ou porque o diploma deve ser
registrado no Ministério da Educação, longe estão de constituir — penso —
motivo para atrair a competência da Justiça Federal.
A matéria é antiga, considerando-se os termos da Súmula n. 31 do extinto
Tribunal Federal de Recursos que examinou a matéria semelhante com base na
mesma legislação e dispositivo constitucional do mesmo teor do inciso IV do
art. 109 da Constituição. Ali se disse:
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsifi cação ou de uso de certifi cado de conclusão de curso de 1º e 2º graus, desde que não se
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
302
refi ra a estabelecimento federal de ensino ou a falsidade não seja de assinatura de funcionário federal. (Súmula n. 31 do TFR)
Esta Terceira Seção, no dia 16.11.1989, apreciou o problema idêntica em
acórdão da lavra do eminente Ministro Flaquer Scartezzini, assim ementado:
Processual Penal. Competência. Crime praticado contra entidade de ensino superior.
Compete à Justiça Estadual o julgamento de crime praticado em detrimento de bens de universidade particular por se tratar de entidade de direito privado, que não se inclui entre as elencadas no art. 109, IV, da CF/1988. (CC n. 350-RS, Relator Ministro Flaquer Scartezzini, DJU de 04.12.1989)
À colação, outrotanto, pode ser trazido o acórdão do eminente Ministro
Assis Toledo no CC n. 1.893-SP, onde se decidiu:
Processual Penal. Competência. Fraude em exame vestibular.
Compete à Justiça Comum Estadual o processo e julgamento de fraudes em exame vestibular em estabelecimento de ensino superior particular. (DJU de 03.06.1991)
Feitas estas considerações, conheço do confl ito e declaro competente o
Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal de Brasília-DF.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.718-DF (93.031850-0)
Relator: Ministro Adhemar Maciel
Autora: Justiça Pública
Ré: Leuza Leocádia de Oliveira
Suscitante: Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF
Suscitado: Juízo Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do DF
EMENTA
Confl ito de jurisdições. Falsifi cações de histórico escolar e de
guia de transferência de faculdade particular de ensino superior para
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 303
outra congênere. Inexistência de ofensa a bens, serviços ou interesse
da União e de seus entes autárquicos (CF, art. 105, IV). Competência
do Juízo Estadual.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Anselmo Santiago, José Dantas, Pedro Acioli, Jesus Costa Lima, Edson Vidigal e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, nesta assentada, o Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho, e por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Assis Toledo.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 03 de março de 1994 (data do julgamento)
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator
DJ 21.03.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Versa a hipótese sobre confl ito negativo de competência entre o Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF (suscitante) e o Juízo Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal (suscitado).
2. Trata-se de inquérito instaurado pela Polícia Federal, para apurar possível prática do delito tipifi cado no art. 304 do CP. Leuza Leocádia de Oliveira teria apresentado documentação falsifi cada (guia de transferência e histórico escolar) para efetuar sua transferência de um estabelecimento particular de ensino superior para outro congênere.
3. O Juízo Federal da 10ª Vara-DF (suscitado) declinou de sua competência
e determinou a remessa dos autos do inquérito para a Justiça Comum.
Argumentou que o delito ofende bem de faculdade particular de ensino.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
304
4. O Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Brasília-DF (suscitante),
por sua vez, alega o interesse da União no bom andamento das instituições de
ensino superior, que funcionam com sua autorização e fi scalização.
5. Parecer do Ministério Público Federal pela competência do Juízo
Federal suscitado (fl s. 17-19).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Senhor Presidente, tenho para
mim que não se acham em jogo bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades autárquicas (CF, art. 105, IV).
Como se viu do relatório, os papéis falsificados (histórico e guia
de transferência) são de estabelecimento particular de ensino superior e se
destinavam a outro estabelecimento congênere. No caso de fraude de vestibular
— e não vejo razão de tratamento diferenciado — já temos jurisprudência
fi rmada, tanto do STJ quanto do STF:
Processual Penal. Competência. Fraude em exame vestibular. Compete à Justiça Comum Estadual o processo e julgamento de fraudes em exame vestibular em estabelecimento de ensino superior particular. (CC n. 1.893-SP, Relator Ministro Assis Toledo, DJU de 03.06.1991, p. 7.405)
Processual Penal. Competência. Crime praticado contra entidade de ensino superior.
— Compete à Justiça Estadual julgamento de crime praticado em detrimento de bens de universidade particular por se tratar de entidade de direito privado, que não se inclui entre as elencadas no art. 109, IV, da CF. (CC n. 350-RS, Relator Ministro Flaquer Scartezzini, DJU de 04.12.1989)
Conflito de jurisdição. Fraude em exames vestibulares para ingresso em faculdade de medicina mantida por fundação particular.
Inexistência, no caso, de detrimento de bens, serviços ou interesses da União.
Confl ito conhecido, e declarado competente o Juízo da 5ª Vara Criminal da Comarca de Santos. (CJ n. 6.517-85, Relator Ministro Moreira Alves, apud Ministro Flaquer Scartezzini, CC n. 350-RS).
Com essas considerações, tenho por competente o Juízo Estadual.
É como voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 285-306, maio 2010 305
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 7.792-DF (94.0005606-0)
Relator: Ministro José Dantas
Autora: Justiça Pública
Réu: Nelson de Souza Lima
Suscitante: Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Brasília-DF
Suscitado: Juízo Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do Distrito
Federal
EMENTA
Processual Penal. Crime contra entidade de ensino superior.
— Competência. Assentada orientação pretoriana sobre competir
à Justiça Comum Estadual a ação por crime dessa natureza, quando se
trate de entidade universitária privada.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o suscitante, Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Brasília-
DF, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os
Srs. Ministros José Cândido de Carvalho Filho, Assis Toledo, Edson Vidigal, Luiz
Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel e Anselmo Santiago. Ausente, por motivo
justifi cado, o Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini. Licenciado o Sr. Ministro
Pedro Acioli.
Brasília (DF), 17 de março de 1994 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente em exercício
Ministro José Dantas, Relator
DJ 04.04.1994
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
306
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Cuida-se do conhecido caso da falsifi cação
de documentação escolar, transitado de um estabelecimento de ensino superior
de Rio Verde-GO para outro do Distrito Federal, ambos qualifi cados como
entidade privada.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, concorde com o
parecer do Ministério Público Federal (e.g. CC n. 6.544-5-DF, julgado em
24.02.1993), de tão repetida perante esta egrégia Seção, tenha-se que à espécie
dispensa-se a maior discussão, tantas vezes aqui julgada na linha de antigos
precedentes (CC n. 350, 16.11.1989), em favor da competência da Justiça
Comum Distrital (e.g. sessão de 03.02.1994).
Pelo exposto, conheço do confl ito e declaro competente o suscitante —
Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Brasília-DF.
Súmula n. 105
SÚMULA N. 105
Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em
honorários advocatícios.
Referências:
CPC, art. 20.
Lei n. 1.533/1951, arts. 6º e 19.
Precedentes:
EREsp 880-RS (CE, 23.09.1993 — DJ 21.03.1994)
EREsp 18.649-RJ (CE, 22.10.1993 — DJ 28.02.1994)
EREsp 27.879-RJ (CE, 23.09.1993 — DJ 08.11.1993)
EREsp 36.285-RS (CE, 10.03.1994 — DJ 11.04.1994)
Corte Especial, em 26.05.1994
DJ 03.06.1994, p. 13.885
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 880-RS (93.0015836-8)
Relator: Ministro José Dantas
Embargante: Estado do Rio Grande do Sul
Advogados: Vera Lucia Zanette e outros
Embargada: Rocilda Rodrigues Chaves
Advogados: Eduardo Marioti e outros
EMENTA
Processual. Mandado de segurança. Sucumbência.
— Honorários advocatícios. Em conta a natureza especial da
ação, no mandado de segurança não cabe condenação em honorários
(Súmula n. 512-STF, e acórdãos unânimes de Turmas do Superior
Tribunal de Justiça).
Embargos de divergência recebidos por maioria de votos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, receber os embargos de divergência, nos
termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram vencidos os Srs. Ministros
Eduardo Ribeiro, Peçanha Martins, Gomes de Barros e Cesar Rocha. Os Srs.
Ministros Torreão Braz, Bueno de Souza, Pedro Acioli, Américo Luz, Antônio de
Pádua Ribeiro, Jesus Costa Lima, Costa Leite, Nilson Naves, Assis Toledo, Edson
Vidigal, Demócrito Reinaldo, Milton Pereira e Adhemar Maciel votaram com o
Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros José Cândido, Flaquer Scartezzini, Dias
Trindade, José de Jesus, Hélio Mosimann e Anselmo Santiago não compareceram
à sessão por motivo justifi cado. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro William
Patterson.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
312
Ministro José Dantas, Relator
DJ 21.03.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Trata-se de embargos de divergência relativos
ao cabimento de honorários advocatícios em mandado de segurança, verba na
qual o Estado do Rio Grande do Sul fora condenado pelo acórdão local (fl .
102), afi nal confi rmado em grau de recurso especial improvido por maioria de
votos da egrégia Primeira Turma, conforme acórdão da relatoria do Sr. Ministro
Gomes de Barros, assim ementado:
Mandado de segurança. Honorários. Sucumbência.
No processo de mandado de segurança, é oportuna a condenação em honorários de advogado, por sucumbência. — fl . 140
Interpuseram-se os presentes embargos, pela colação de acórdãos
literalmente postos em sentido contrário, a exemplo de assertivas deste teor:
Mandado de segurança.
— Honorários advocatícios. São incabíveis nas ações do tipo. Súmula n. 512-STF.
— Recurso provido. — REsp n. 17.580, Segunda Turma, Relator Ministro Américo Luz; na mesma linha: REsp n. 27.879, Sexta Turma, Relator Ministro José Cândido; REsp n. 1.576, Segunda Turma, Relator Ministro Ilmar Galvão, e REsp n. 16.481, Segunda Turma, Relator Ministro José de Jesus.
Admiti os embargos, à luz do induvidoso pressuposto da divergência
jurisprudencial cotejada — fl . 184.
Processado, o recurso não sofreu impugnação (certidão de fl . 185 v.).
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, o conhecimento dos
embargos se dispensa a exame mais detido, tão real se mostra a divergência do v.
acórdão atacado para com os paradigmas colacionados.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 313
E a conhecê-los, fico em que, sem desmerecimento dos respeitáveis
argumentos aduzidos no voto condutor do v. acórdão embargado —
principiados por salientar-se a inexistência de diferença ontológica entre a ação
de pedir segurança e aquela, de pedir — através do processo de conhecimento — a
correção de ato de autoridade, onde se contém coação ilegal; sem desmerecimento
dessa respeitabilidade, repita-se, fi co em receber os embargos.
Faço-o, sobretudo, porque, ao largo da indagada afi nidade ontológica, de
tamanha preocupação doutrinária, a mim parecem convincentes os fundamentos
básicos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria afi nal
sumulada.
Na verdade, nos memoráveis debates ali travados, ressaltaram-se, no plano
formal, a não-sujeição do processo do mandado de segurança às regras do
Código de Processo Civil, salvo no que a Lei Especial (n. 1.533/1951) houvesse
remetido, não o fazendo, pois, quanto à condenação em honorários; e no plano
substancial, a natureza institucional do mandamus como garantia de mais célere
reparo do direito líquido e certo afetado por ato de autoridade, pelo que, até
constituiria desestímulo a subordinação do seu agente aos ônus da sucumbência,
cujo maior componente são os honorários advocatícios do vencedor, à conta do
igual tratamento das partes.
Daqueles debates dá excelentes registros o acórdão no RE n. 61.097,
julgado pelo Tribunal Pleno, em 12.09.1968, in RTJ 51/805, leading case
referenciado pela Súmula n. 512-STF
Reacesa a questão no advento do CPC de 1973, reafi rmou-se a subsistência
daquele verbete, por subsistirem as mesmas razões da sumulação da matéria,
conforme diversos acórdãos relacionados em obra do Prof. José Nunes Ferreira
— “Súmulas do Supremo Tribunal Federal”, Saraiva, 3ª ed., p. 393.
De todo esse escorço, concluo por reputar de melhor alvitre a preferência
pelos acórdãos colacionados, apesar da respeitabilidade do entendimento oposto,
consagrado pela v. decisão ora embargada.
Daí que cabe receber os embargos, para prover-se o recurso especial e
reformar o acórdão recorrido, no ponto da malsinada condenação em honorários.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
314
VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Senhor Presidente, vejo que o v. acórdão trazido a contraste, por haver sancionado a incidência de honorários em mandado de segurança, é explícito em suas razões, de modo que posso ater-me a breves considerações, no sentido de receber os embargos, uma vez que manifestamente caracterizada a divergência.
Tal como o eminente Ministro-Relator, recebo os embargos, limitando-me apenas a apontar que não são desprezíveis, evidentemente, as razões de ordem doutrinária, sistemática e mesmo legal, porque não vejo a difi culdade, tantas vezes encarecida, concernente ao convívio da lei de mandado de segurança com o Código de Processo Civil. Contudo, penso que a mudança da orientação jurisprudencial nesta matéria não se presta a atender aos interesses superiores das partes que litigam, em termos de seus direitos subjetivos líquidos e certos, porquanto haveria, em contrapartida, a conseqüente aplicação dos honorários às partes sucumbentes — também elas impetrantes no mandado de segurança — e a recíproca também haveria de ser aplicada, obviamente.
O que se verifi ca, a todo custo, é que o mandado de segurança, a se atender a essa exigência de ordem sistemática (aliás, inegável) perderia, ademais, muito de sua prestância, porquanto desembocaria, necessariamente, em processos de liquidação e execução pelas verbas da sucumbência.
Embora reconheça, tanto quanto o eminente Relator, as boas razões do v. acórdão trazido a confronto, penso que os embargos devem ser recebidos.
VOTO
O Sr. Ministro Pedro Acioli: Sr. Presidente, sempre defendi a tese do não-cabimento do honorário de advogado em mandado de segurança, desde quando integrante da Quinta Turma.
De modo que acompanho o eminente Ministro-Relator, data venia.
É como voto.
VOTO
O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Presidente, a matéria tem tradição em duas súmulas do Supremo Tribunal Federal no sentido do voto proferido pelo
eminente Relator, a quem acompanho.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 315
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, tenho
entendimento fi rmado no mesmo sentido sustentado pelo ilustre Relator quanto
à subsistência da Súmula n. 512 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual
não cabem honorários advocatícios em mandado de segurança.
Sobre o assunto reporto-me a trabalho que sobre ele escrevi e que farei
anexar ao presente voto, a título de fundamentação.
Acompanho o ilustre Relator, recebendo os embargos.
ANEXO
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM MANDADO DE SEGURANÇA*
Antônio de Pádua Ribeiro, Ministro do Superior Tribunal de Justiça e Professor Titular de Teoria Geral do Processo e Direito Processual Civil da AEUDF (licenciado).
Há mais de duas décadas o Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula n.
512, segundo a qual “não cabe condenação em honorários na ação de mandado
de segurança”.
Trata-se de verbete com o qual nunca se confi rmou a doutrina majoritária.
De tempos em tempos, doutrinadores, juízes e tribunais, estes, através de
acórdãos ou votos vencidos, têm revelado posicionamento contrário à orientação
por ele adotada.
Agora, com a criação do Superior Tribunal de Justiça, órgão máximo da
interpretação da Lei Federal, a matéria voltou à baila.
Toda controvérsia surgiu com a edição da Lei n. 4.632, de 16.05.1965, que
deu nova redação ao art. 64 do CPC/1939, adotando o princípio da sucumbência
ou sucumbimento, mantido pelo art. 20 da atual Lei Adjetiva Civil. Eis o seu
texto:
A sentença final da causa condenará a parte vencida ao pagamento dos honorários de advogada da parte vencedora, observado, no que for aplicável, o disposto no art. 55.
*Exposição feita 27.05.1993, no auditório do Instituto dos Advogados de São Paulo.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
316
Na sua redação primitiva, o transcrito dispositivo vinculava a condenação
em honorários à existência de “dolo ou culpa, contratual ou extracontratual”.
Acontece que o mandado de segurança foi, inicialmente, regulado pelo
CPC/1939 (arts. 319 a 331). Posteriormente, passou a ser regido pela Lei n.
1.533, de 31.12.1951, cujo art. 20 revogou expressamente “os dispositivos do
Código de Processo Civil sobre o assunto e mais disposições em contrário.”
Daí a indagativa: a regra codificada da sucumbência é extensiva ao
mandado de segurança?
A resposta à questão pressupõe diversas considerações, muitas das quais
com signifi cativos refl exos doutrinários.
Saliente-se, de início, que, segundo o art. 322 do CPC/1939, o juiz,
ao despachar a exordial do mandado de segurança, ordenava não somente a
notifi cação do coator, mas também a citação do representante legal da pessoa
de direito público interessada. Já a Lei n. 1.533/1951 cinge-se a determinar
que o juiz, ao despachar a inicial, deve apenas notifi car o coator para que preste
informações (art. 7º, I). Terá o novo dispositivo eliminado a fi gura do réu?
Sustentam alguns, como Cândido de Oliveira Neto, que o mandado
de segurança é uma ação sem réu, porquanto “o coator não é réu, e assim
suas informações não são ato de defesa não precisando ser subscritas por
advogado”. “A pessoa jurídica de direito público está decididamente proibida
de intervir no processo até a sentença defi nitiva”1. “Somente na instância de
recurso é que a Lei n. 1.533 cogita da existência das partes recorrentes, ou
sejam o próprio autor sucumbente, ou os terceiros interessados, entre as quais
a pessoa de direito público ou delegada”, acrescenta o Desembargador Bulhões
Carvalho, aduzindo a seguir: “Essa singular situação em que foi estruturado
o mandado de segurança em que, na primeira fase, até a sentença, não cogita
de réu nem de partes, impossibilita, evidentemente a aplicação do art. 64 do
CPC que ordena que a parte vencida seja condenada a pagar honorários à
parte vencedora.”2 Seria, como assinala Celso Agrícola Barbi, como a lei tivesse
“transformado o mandado de segurança em processo inquisitório, sem partes, no
qual a autoridade pública, em vez de defender, apenas informa”3.
1 “Mandado de Segurança”, in “Dicionário Enciclopédico Brasileiro”, verbete citado.2 Voto vencido no Mandado de Segurança n. 3.129, proferido no Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara,
in Revista de Direito Público n. 19, p. 215-225 e Revista dos Tribunais, Volume 438, p. 297-305.3 “Do Mandado de Segurança”, p. 107 e seguintes, Forense, 2ª edição, 1996.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 317
Será, porém, admissível ação sem réu? Para os que respondem
negativamente à pergunta, e que hoje integram a corrente majoritária, cumpre
defi nir qual a parte passiva no mandado de segurança: a autoridade coatora ou a
pessoa jurídica a que integra como órgão?
Essa definição é relevante, pois se condenada a pagar honorários
advocatícios é a parte vencida quem deverá ser condenada a pagá-los à
autoridade coatora ou à pessoa jurídica de direito público?
Sobre a palpitante questão, em trabalho que escrevi sobre o tema, após
fi liar-me à doutrina no sentido de que o mandado de segurança é uma ação que,
como qualquer outra, assume a feição declaratória, constitutiva ou condenatória,
disse:
O impetrado é a autoridade coatora, que fi gura no processo como substituto processual da pessoa jurídica de direito público, e, portanto, como parte em sentido formal. Parte em sentido material é a pessoa jurídica da qual a autoridade coatora é órgão. Tal colocação da autoridade coatora como substituto processual não é referida, em geral, pelos doutrinadores. Quem a propôs, de forma magistral, foi o insigne Amaral Santos.
Tal posicionamento da autoridade coatora é convincente, pois, na verdade, não funciona em defesa de direito próprio, mas alheio. Ademais, permite resolver importantes questões processuais. Primeiramente, é de ver-se que a sentença contra o substituto processual atinge o substituído. De outra parte, nada impede que a pessoa jurídica ingresse no processo como litisconsorte da autoridade coatora. Aliás, há caso em que a autoridade coatora pode-se confundir com o próprio representante do ente público; é o caso dos Prefeitos. Isso não se dá quanto aos Chefes dos Executivos, federal e estaduais, pois estes não representam em Juízo as entidades que governam; quem as representa são os seus procuradores (CPC, art. 12, I).4
Para os que assim entendem, sob tal aspecto substancial, não há óbice para
que haja condenação em honorários advocatícios em mandado de segurança.
Todavia, empeços à tal conclusão são alinhados com apoio na legislação.
Sustenta-se, quanto aos processos regulados por lei especial, que só se aplica
subsidiariamente o CPC quando expressamente o diploma legal pertinente
determinar. Com tal entendimento, o Supremo aprovou a Súmula n. 519,
concluindo que se aplica “aos executivos fi scais o princípio da sucumbência a
4 “Mandado de Segurança: alguns aspectos atuais” in “Mandados de Segurança e de Injução”, p. 154, Saraiva,
1990.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
318
que se refere o art. 64 do CPC”. Decidiu aprová-la à vista do art. 76 do Decreto-
Lei n. 960, de 1938.
Acontece que tal argumento não pode ser acolhido quanto ao mandado
de segurança, pois, como antes assinalado, a lei que o regula diz, no seu art. 19,
que “aplicam-se ao processo do mandado de segurança os artigos do Código
de Processo Civil que regulam o litisconsórcio”, sendo expresso o seu art. 20,
no sentido de que “revogam-se os dispositivos do CPC sobre o assunto e mais
disposições em contrário.”
Contra-argumenta o culto Barbosa Moreira aduzindo que “o direito
processual civil cristalizado no Código é direito processual civil comum, que só
cede ante a existência de regra peculiar a tal ou qual processo, mas que cobre a
área deixada em branco pela legislação específi ca, na medida em que seja com
esta compatível.” Em reforço dessa fundamentação, colaciona a citada Súmula n.
519 do Supremo, mas que, pelos motivos antes assinalados, não serve de suporte
data venia à sua conclusão. Trata-se, pois, de importante argumento doutrinário
apenas.
Há, ainda, argumento contrário à condenação em honorários advocatícios
em mandado de segurança, resumido por Barbosa Moreira e por ele próprio bem
respondido. Afi rma-se que “o representante judicial da pessoa jurídica de direito
público, na qualidade de funcionário, já recebe dela o estipêndio correspondente
ao seu cargo, e com isso está recompensado de todos os serviços nos processos
em que a defenda”. Após analisar esse argumento, aduz, com total razão, que
é falso em si mesmo, porquanto “a obrigação de pagar honorários, resultante
do sucumbimento, não se caracteriza como obrigação de recompensar serviços
prestados. O advogado da parte vencedora presta acaso serviços à parte vencida?
É óbvio que não. “O fato constitutivo do dever de pagar honorários, para a parte
vencida, não se há identifi car, senão no próprio fato de ter sido derrotada.”5
Favoráveis à condenação em honorários advocatícios em mandado de
segurança, argumentam outros, como o ilustre Ministro Garcia Vieira, que “na
ação civil pública e, na ação popular, ambas de índole constitucional, é prevista a
condenação em honorários advocatícios, até do autor.”6 Todavia, esse argumento
não pode ser aceito, salvo quanto aos aspectos doutrinários que encerram,
5 “Mandado de Segurança e Condenação em Honorários de Advogado”, in “Revista de Direito Público do
Estado da Guanabara” n. 23, p. 50-59, 1970.6 Estudo anexo ao voto proferido no Mandado de Segurança n. 335-DF, in Revista do Superior Tribunal de
Justiça n. 10, p. 271-276.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 319
porquanto, nas citadas ações, a matéria é expressamente regulada nas leis de
regência e na própria Constituição.
No contexto assinalado, divisamos, até o momento, escólios doutrinários
relevantes, mas que, a nosso ver, não infi rmam os argumentos que ensejaram
a edição da Súmula n. 512 do Supremo. Com efeito, compulsando os debates
travados por ocasião do julgamento do RE n. 61.097-SP (RTJ 51/805) e RMS
n. 17.847 (EDcl.) (RTJ 47/777), deduz-se que os argumentos doutrinários,
brilhantemente sustentados pelos insignes Ministros Amaral Santos, Adaucto
Cardoso, Djaci Falcão e Aliomar Baleeiro, fi caram vencidos. Prevaleceram, em
suma, os argumentos contrários, no sentido de que “a regra da sucumbência,
inscrita no art. 64 do Código de Processo Civil, não se pode estender, a não ser
quando a lei especial manda aplicar, subsidiarimente, o Código de Processo Civil,
como acontece nos executivos fi scais. O Decreto-Lei n. 960, de 17.12.1968, no
seu art. 76, determina a aplicação subsidiária da legislação processual. Mas isso
não acontece no mandado de segurança, pela natureza especial dessa ação”,
argumentou o insigne Ministro Eloy da Rocha, para acrescentar que “não há
condenação, em nenhuma hipótese, ao pagamento de honorários advocatícios,
no mandado de segurança, como no habeas corpus, duas medidas que constituem
duas garantias constitucionais irmãs.”
Em tal panorama, penso que o melhor posicionamento é o de manter a
orientação consagrada no verbete, porquanto, quando da sua edição, todos os
argumentos, ora renovados, foram, em linhas gerais considerados, prevalecendo
a orientação nele traduzida.
Para encerrar, trago um argumento a mais pela manutenção da Súmula,
embora de ordem prática: admitir-se a condenação em honorários em mandado
de segurança ensejará, em última análise, o congestionamento do Judiciário.
Tantas serão as condenações quanto as seguranças impetradas. Todos os
feitos pertinentes, concessivos ou não da ordem, ou mesmo extintivos do
processo, passarão sempre a ensejar a liquidação de sentença para a execução
dos honorários, com todos os problemas daí derivados: expedição de precatórios,
atualização sucessiva de cálculos, impugnação às contas, recursos etc. Nesse
contexto, resulta claro que, embora as ações de segurança não percam a
sua magnitude de garantia constitucional, despir-se-ão de parte da sua
grandiosidade, porquanto o seu respectivo processo deixará sempre um resíduo,
de alto poder poluidor, cujo saneamento só poderá ser feito à custa do alto preço
decorrente da maior demora na administração da Justiça.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
320
Em conclusão: não há olvidar que o direito é dinâmico e que as súmulas
da nossa jurisprudência refl etem apenas a orientação prevalente dos Tribunais
sobre o deslinde de determinada controvérsia; não têm força vinculativa e, por
isso, em certos casos, têm sido alteradas ou revogadas. Na hipótese, porém, creio
que a melhor solução a seguir é a adotada pelo direito anglo-saxônico: stare
decisis et quieta non movere.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite: A despeito de discordar da orientação
estampada na Súmula n. 512 do STF, certo é que vem balizando os rumos da
jurisprudência de longa data. Posição contrária do STJ acabaria se constituindo
em fator de insegurança. A esta altura, só se justifi ca modifi cação via legislativa.
Limitando-me a ressalvar o meu ponto de vista, acompanho o eminente Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves: O assunto que está em pauta é do
conhecimento de todos nós. Foi sumulado pelo Supremo Tribunal Federal
no ano de 1969, em verbete com essa redação: “Não cabe condenação em
honorários de advogado na ação de mandado de segurança” (Súmula n. 512). Já
advertia Savigny, nessa passagem (trata-se de citação que encontrei nas RDP
n. 19/222 e 77/112): “quando os juízes de instância inferior se conformam
com a jurisprudência duma magistratura mais elevada, não cedem apenas à
autoridade, mas seguem o espírito do legislador, cuja sabedoria estabeleceu os
diversos graus de jurisdição”. Na RDP n. 77, Rodolfo de Camargo Mancuso,
em estudo dedicado ao tema dos honorários, ora sob nosso exame, conquanto
tenha batido pela reforma da Súmula n. 512, reconheceu, em preliminar, saldo
positivo para o direito sumular, na medida em que lhe parece útil a “fi xação de
teses jurídicas, a serem aplicadas em casos futuros e análogos”. Sucede que, a
despeito de se tratar de questão sumulada, tal foi deslocada, por versar sobre
matéria infranconstitucional, para a competência do Superior Tribunal de
Justiça, então criado pelo constituinte de 1988 e instalado no ano de 1989. Daí
caber a este Tribunal superior pronunciar-se, assumindo livremente posição ao
redor do cabimento dos honorários de advogado no mandado de segurança.
Observou, com propriedade, o Sr. Ministro Cesar Rocha, no acórdão aqui
declinado na condição de paradigma: “Mas, aqui e agora, não é o caso, visto que,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 321
como afi rmei acima, a ordem constitucional instalada em 1988, deslocou, para
esta colenda Corte, a competência para apreciar, em defi nitivo, a matéria, por
isso não devendo, necessária ou simplesmente, recepcionar a jurisprudência do
egrégio Supremo Tribunal Federal do tempo em que a ele estava destinado o
deslinde fi nal das questões infraconstitucionais, por mais se reconheça — como
reconheço — sabedoria e juridicidade nas suas decisões”.
Em conseqüência, procurei, neste voto, após rápida pesquisa, resumir os
argumentos jurisprudenciais e doutrinários, que encontrei, a favor ou contra a
aludida súmula. Certamente, não trago razão nova, de tanto que já se falou e já
se escreveu a respeito desse assunto. Nem sei se existe!
2. No ano de 1968, o Supremo, em Sessão Plenária, discutiu o tema relativo
aos honorários, no julgamento do RE n. 61.097, principal referência da Súmula
n. 512. Um ano antes, o assunto foi também objeto de debate, em Turma,
segundo acórdão publicado na RTJ — 47/777, mas ali igualmente contribuiu
para a solução da controvérsia a circunstância de se cuidar de caso anterior à
Lei n. 4.632. De ambos os casos fora Relator o Ministro Amaral Santos, para
o qual, em seu voto, vencido, “a verba advocatícia é devida ainda no processo de
mandado de segurança, que, apesar de regulado por lei especial, submete-se às
normas gerais do Código de Processo Civil”. Contrariamente, manifestou-se
assim, de logo, o Ministro Eloy da Rocha, em seu voto vencedor, iniciando-
se pois, no julgamento desse RE n. 61.097, amplo debate: “O princípio da
sucumbência, consagrado no art. 64 do Código de Processo Civil, com a redação
da Lei n. 4.632, de 16.05.1965, vale nos processos regulados pelo Código
de Processo Civil; não, em mandado de segurança, que é disciplinado por lei
especial”, acórdão publicado na RTJ — 51/805.
Formou-se a corrente vencida com os votos dos Ministros Amaral Santos
(Relator), Adaucto Cardoso, Djaci Falcão e Aliomar Baleeiro. De acordo com o
voto do Ministro Amaral Santos, o mandado de segurança é ação, “ação como
outra qualquer”; há partes, autor e réu, “com denominações diferentes, mas nessa
posição”; há relação processual; não há “distinção entre ação fundada em direito
privado ou ação fundada em direito público”; em resumo, concluía, impõe-se a
“aplicação do art. 64”, eis que se requer, em qualquer processo, a condenação da
parte vencida “nos honorários de advogado da parte vencedora”. Conforme o
voto do Ministro Adaucto Cardoso, exige-se que o princípio da sucumbência
seja dilatado “sempre que autoridade arbitrária ou prepotente for responsável
por atos que se corrijam por meio de mandado de segurança”. Segundo o
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
322
voto do Ministro Aliomar Baleeiro, outras disposições do Código de Processo
Civil aplicam-se, implicitamente, ao mandado de segurança; a propósito, S.
Exa. lembrou, naquele momento, o que vinha acontecendo com os executivos
fi scais, no que, depois, resultou na Súmula n. 519, com essa redação: “Aplica-
se aos executivos fi scais o princípio da sucumbência a que se refere o art. 64
do Código de Processo Civil”; existem várias ações especiais “e a maior parte
delas comporta o pagamento de honorários”; conclamou o Tribunal a “coibir o
espírito demandista”: “Assim, todos podem se transformar em demandistas”.
Formou-se a corrente vencedora com os votos dos Ministros Eloy da Rocha
(Relator para o acórdão), Th ompson Flores, Th emístocles Cavalcanti, Osvaldo
Trigueiro, Adalício Nogueira, Evandro Lins, Hermes Lima, Victor Nunes e
Gonçalves de Oliveira (impedido o Ministro Barros Monteiro, licenciado o
Ministro Lafayette de Andrada, Presidência do Ministro Luiz Gallotti). De
acordo com o voto do Ministro Eloy da Rocha, o Código de Processo Civil
não se aplica subsidiariamente, salvo no tocante aos requisitos da petição inicial
(veja-se o art. 6º) e ao litisconsórcio (veja-se o art. 19); deu particular relevo
à natureza especial dessa ação; difi culdade de conceituar as partes, “tendo-se
em vista o sujeito passivo”; quando indeferido, “ninguém jamais se lembrou
de condenar o impetrante”; à semelhança do habeas corpus, o mandado de
segurança é garantia constitucional, “duas ações especiais, a que se não estendem
quaisquer regras referentes à generalidade dos processos, em matéria civil ou
penal”; duas garantias constitucionais irmãs. Conforme o voto do Ministro
Evandro Lins, os honorários podem “desestimular os requerimentos contra
arbitrariedades e ilegalidades”; como o mandado de segurança não impede
seja promovida ação ordinária, perguntou, naquele momento: “Vai-se aplicar
o princípio da sucumbência, quando poderá a Justiça, amanhã, reconhecer, em
ação ordinária, que a parte tinha o direito pleiteado?”; a quem vão ser pagos os
honorários, ao Procurador da Fazenda, “que já recebe dos cofres do Estado?”;
não se aplica o princípio, porque a lei não mandou que fosse aplicado; ação
de tipo especial, especialíssima, decorrente de preceito constitucional; como
se fosse um habeas corpus “em matéria patrimonial, em matéria civil ou em
matéria administrativa”. Segundo o voto do Ministro Gonçalves de Oliveira,
o mandado de segurança é causa, sem parte vencida. Para o voto do Ministro
Osvaldo Trigueiro, é lei especial, não alcançável pelos honorários, porque nela
não existe “a mesma remissão de ordem geral, mas apenas a remissão parcial”;
“Não seria curial que, nos casos de concessão da segurança, a Fazenda Pública
fosse necessariamente condenada, em pleito em que não foi chamada a intervir”;
SÚMULAS - PRECEDENTES
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garantia constitucional, não se justifi cando cobrar honorários de quem dela fez
uso (“reclamou contra ato que considera lesivo de direito líquido e certo”). E o
Ministro Victor Nunes mostrou-se preocupado com a “aplicação indiscriminada
do princípio da sucumbência, para impor a sanção dos honorários”.
3. Editado em 1973 o novo Código de Processo Civil, decidiu o Supremo
que a Súmula n. 512 continuava em vigor, consoante, dentre outros, os julgados
inscritos nas RTJs 81/640, 82/315, 84/301 e 84/579. Confi ra-se a ementa do
RE n. 86.655, Ministro Xavier de Albuquerque: “Não cabe condenação em
honorários de advogado na ação de mandado de segurança nos termos da
Súmula n. 512, cuja prevalência não foi afetada pelo advento do novo Código
de Processo Civil. Jurisprudência farta e reiterada das duas Turmas do Supremo
Tribunal Federal nesse sentido. Recurso extraordinário conhecido e provido.”
(In RTJ-84/301)
Registro que, no ano de 1963, o Supremo deu pelo cabimento dos
honorários, conforme esse voto de Relator do Ministro Luiz Gallotti, no RE
n. 51.309, do Rio Grande do Sul: “Não vejo por que excluir a condenação
em honorários advocatícios, quando o mandado de segurança é concedido. A
concessão da segurança importa existência de ilegalidade patente, que se pode
reconhecer de plano. Razão a mais para que os honorários sejam concedidos.”
(In RTJ-29/19)
4. Seja na jurisprudência seja na doutrina, a Súmula n. 512 tem os seus
opositores mas tem também os seus defensores. Na jurisprudência, anotou
Sérgio Ferraz, em recente trabalho sobre o mandado de segurança, publicado
pela Malheiros Editores, que “de há muitos anos deixaram de surgir em nossos
repositórios jurisprudenciais autorizados registro de decisões em contrário à
Súmula n. 512” (ed. de 1992, p. 133). Talvez até em razão da advertência de
Savigny, que recordei no início deste voto. Mesmo eu, no extinto Tribunal
Federal de Recursos, onde cheguei no ano de 1985, não me lembro de ter
assumido orientação diversa da inscrita no aludido verbete. Deve-se, porém,
ressalvar, no momento, a posição do Superior Tribunal de Justiça, em decorrência
do novo modelo do Poder Judiciário, obra da Constituição de 1988. Tal o
motivo que me animou a discorrer um pouco mais a respeito do tema em causa.
Sobre a doutrina, já era lembrada pelo Ministro Amaral Santos, quando
do julgamento do citado RE n. 61.097, no ano de 1968, a opinião de Celso
Agrícola Barbi, em defesa dos honorários. Veja-se a sua lição, em seu “Mandado
de Segurança”, publicado pela Forense:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
324
Com a inovação trazida ao nosso Direito pela Lei n. 4.632, o assunto sofreu radical transformação. Segundo a redação por ela dada ao art. 64 do Código de Processo Civil de 1939, a sentença fi nal condenaria o vencido ao pagamento de honorários de advogado do vencedor. Prevalecia, assim, o princípio da sucumbência, porque não mais se exigia que tivesse havido dolo ou culpa do vencido.
Todavia, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fi rmou-se no sentido de não se aplicar a regra ao processo de mandado de segurança, especialmente com o argumento de que, sendo ele regido por lei especial, estaria imune àquela regra, que está no Código mas não é repetida na Lei n. 1.533. Essa jurisprudência foi consolidada em 03.12.1969, na Súmula n. 512, do seguinte teor: “Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança”.
A nosso ver, mesmo na vigência do Código de 1939, com a modifi cação feita pela Lei n. 4.632, deveria ele ser aplicado ao mandado de segurança. Trata-se de disposição de caráter geral, aplicável a todos os procedimentos, e não apenas aos regulados no Código. Tanto assim que o Supremo Tribunal Federal assentou jurisprudência no sentido de ser aplicável ao executivo fiscal o princípio da sucumbência previsto no art. 64 daquele Código, como se vê na Súmula n. 519, formulada em 03.12.1969. E esse executivo, na ocasião, era regido pelo Decreto-Lei n. 960, no qual não havia nenhuma norma expressa mandando aplicar o art. 64 do Código.
Posteriormente, o Código de Processo Civil de 1973 manteve o princípio vigorante à época de sua publicação e dispôs no art. 20 que “a sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios”.
Essa posição do novo Código reforça a nossa convicção expressa mais acima. Acrescente-se que no § 4º do seu art. 20 regula ele a condenação em honorários, quando a Fazenda Pública for vencida, e não exclui de sua incidência os procedimentos regulados por lei especial.
Cumpre acrescentar, ainda, que a Lei n. 1.533 nada dispõe acerca da atribuição de honorários de advogado, isto é, não determina que a sentença se abstenha de decidir a esse respeito. E não existe nenhum princípio geral em nosso direito que mande que cada uma das partes fi que responsável pelas despesas com seu advogado.
Por todos esses motivos, entendemos que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, consolidada na Súmula n. 512, não deu a melhor solução possível ao assunto e desatende ao princípio da sucumbência, que é geralmente adotado no direito das nações cultas. (5ª ed. pp. 253-254)
A favor da condenação em honorários de advogado, é muito citada a
doutrina de José Carlos Barbosa Moreira, que consultei na publicação pela RT -
SÚMULAS - PRECEDENTES
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418, do ano de 1970. Nesse trabalho, o autor examinou um a um os argumentos
da Súmula n. 512: a) quanto à regência por lei especial, concluiu: “Onde
encontrá-la, todavia, senão no Código de Processo Civil? Assim também, é
neste que se deve procurar a disciplina da condenação na verba honorária, a cujo
respeito silenciam as leis especiais”; b) quanto à inexistência de partes, confi ram-
se esses dois tópicos: “Tratando-se, como se trata, de processo jurisdicional, de
processo de ação, é evidente que não pode deixar de haver partes: seria uma
contradição nos termos” — “Ora, se há partes, há necessariamente, ao fi m do
processo (e abstraindo-se da hipótese de sucumbimento recíproco), uma parte
vencida e outra parte vencedora...”; c) quanto à atuação de advogado, veja-se essa
passagem: “Atua, pois, necessariamente, no processo do mandado de segurança,
um ‘advogado’ da pessoa jurídica, seja ela de direito privado ou, como ocorre
com mais freqüência, de direito público. Na segunda hipótese, o ‘advogado’
será naturalmente aquele a quem a Constituição ou a lei defi ra a representação
judicial da entidade”; d) quanto ao fato do representante judicial já receber
estipêndio correspondente ao seu cargo, entendeu que tanto não impediria a
condenação em honorários, visto que “o fato constitutivo do dever de pagar
honorários, para a parte vencida, não se há de identifi car senão no próprio
fato de ter sido derrotada”; e) quanto a tratar-se de garantia constitucional, à
semelhança do habeas corpus, confi ra-se esse tópico: “Mas a razão fundamental
por que não ocorre, no habeas corpus, a condenação em honorários, consiste
em que esse instituto é disciplinado pelo Direito Processual Penal. Manifesto
absurdo seria invocar essa mesma razão a propósito do mandado de segurança”.
Ao cabo e ao fi m, concluiu:
Ao redor do mandado de segurança estendeu-se uma rede de equívocos, a que se acrescenta nova malha toda vez que se quer tratá-lo como instituto sui generis. Nenhum processo especial é instituto sui generis: as próprias denominações são daquelas qui hurlent de se trouver ensemble... Daí o desacerto — seja-nos permitido dizê-lo sempre com o maior respeito — do Enunciado inserto na Súmula sob o n. 512. Antes de nós já o proclamaram, aliás, vários Ministros da excelsa Corte, entre os quais o eminente processualista Moacir Amaral Santos. Estamos em que, mais cedo ou mais tarde, há de reconhecê-lo e corrigi-lo o Supremo Tribunal Federal. Daqui lhe bateremos, quando chegar o momento, os nossos modestos mas entusiásticos aplausos. (p. 53)
Escreveu Sérgio Ferraz:
Com argumentos nem sempre coincidentes com os nossos opinam em sufrágio à tese da súmula José de Moura Rocha (ob. cit., pp. 250 e ss.), Émerson
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
326
Sandim (“Do mandado de segurança. Honorários advocatícios”, Revista do Curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia 18/221-226), Bulhões de Carvalho (“Honorários de advogado em mandado de segurança”, RF 239/335-342) e Leonardo Greco (“Natureza Jurídica do Mandado de Segurança”, p. 75). Maior, contudo, é o número de adeptos da corrente que critica o teor sumulado, cabendo referir Barbi (“Do Mandado de Segurança”, pp. 244-246), Barbosa Moreira (“Mandado de segurança e condenação em honorários de advogado”, RT 418/48-53), Adhemar Gomes da Silva (“Sucumbência em mandado de segurança”, RT, 512/304-306), Rodolfo de Camargo Mancuso (“Honorários advocatícios em mandado de segurança”, RDP 77/110-121), Coqueijo Costa (ob. cit., p. 97), Hely (“Mandado de Segurança”, p. 66) e Celso Bastos e Michel Temer (“Contencioso administrativo”, Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo 10-20 e ss.). A controvérsia doutrinária aqui retratada cinge-se ao problema da verba honorária... (in “Mandado de segurança (individual e coletivo) — Aspectos polêmicos”, pp. 132-133).
Como anotou Roberto Rosas, no “Direito Sumular”, RT, p. 246, é precioso
o estudo de Francisco Pereira de Bulhões Carvalho, em voto, na defesa da
Súmula n. 512. Dele recolho estes tópicos, relativamente ao mandado de
segurança contra ato judicial:
12. O problema de identifi car-se o sujeito passivo da lide que já não é simples, quando se trata de mandados requeridos contra autoridades administrativas (escreve Bueno Vidigal), é mais complicado quando o coator é uma autoridade judiciária (“Mandado de Segurança”, p. 103).
A lei permite pedido de segurança contra Presidente, Vice-Presidente, Corregedor dos Tribunais, Conselho da Magistratura, Assembléia Legislativa e Tribunais de Contas, e contra decisões judiciais de toda a espécie, proferidas não somente em reclamações, mas sempre que não haja recurso previsto nas leis processuais (art. 5º, n. II, da Lei n. 1.533) e até mesmo como meio rescisório de sentença passada em julgado.
Concedido o mandado em tais casos, qual será a parte vencida a ser condenada a pagar honorários? Certamente não será o Estado, que não tem interesse no litígio nem intervém na demanda.
Também não poderá ser a parte coatora, que não foi citada para a causa e se limitou a prestar informações, como no caso do habeas corpus.
Em muitos outros casos, ainda, o problema de encontrar o sujeito passivo da lide torna-se particularmente complexo... (in RDP — 19/221/222).
5. Há autores que sustentam que os honorários somente são cabíveis se
concedida a segurança. Confi ram-se José Cretella Júnior, in “Comentários à
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Lei do Mandado de Segurança”, Forense, p. 281, e Sérgio Ferraz, citado, p. 132.
Escreveu Adilson Abreu Dallari:
Parece um ato de justiça a fixação de honorários no mandado de segurança. Mas, ao mesmo tempo, a fixação de honorários de advogado no mandado de segurança poderia ser um empecilho ao exercício de um direito constitucionalmente assegurado. Nós poderíamos, através da atribuição dos honorários de advogado, de alguma forma, constranger o impetrante; fazer com que o impetrante se sentisse temeroso de exercitar uma garantia constitucional. Mas, ao mesmo tempo, aquele que já sofreu um prejuízo, já sofreu uma violação de direito, que tem que despender honorários de advogado para poder defender o seu direito, como é que fica? Seria de justiça, portanto, a atribuição dos honorários de advogado. A solução, a meu ver, está ligeiramente referida pelo Professor Celso Bastos quando coloca o problema em termos de responsabilidade civil, no art. 107 da CF. Não é à questão da sucumbência que eu estou me referindo aqui. Eu não vou procurar resolver questões inerentes a uma ação de índole constitucional sob prismas ou sob critérios de Direito Processual. Eu vou procurar a solução na própria constituição. A restauração que eu vou procurar está na própria Constituição, no art. 107.
Em resumo, eu posso entender cabível o pagamento de honorários de mandado de segurança não por força da sucumbência, mas por força de restauração patrimonial, por uma questão até de economia processual, fazendo incidir nesta mesma ação a regra prevista no art. 107 da CF. Sob tal fundamento, seriam devidos os honorários apenas quando concedida a segurança pleiteada. (In “Curso de Mandado de Segurança”, RT, p. 50).
No que concerne à responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público,
à semelhança da transcrição acima, tal é o pensamento de Maurilio Wagner de
Paula Reis, in “Mandados de Segurança e de Injunção”, Saraiva, p. 332.
6. Na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, entendendo que
não são devidos honorários de mandado de segurança, localizei os seguintes
julgados, nem sempre tomados à unanimidade de votos: RMS n. 215, Ministro
Waldemar Zveiter, Terceira Turma, DJ de 22.10.1990; RMS n. 417, Ministro
Armando Rollemberg, Primeira Turma, DJ de 11.03.1991; REsp n. 2.125,
Ministro Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 30.04.1990; REsp n. 27.879,
Ministro José Cândido, SextaTurma, DJ de 15.02.1993; REsp n. 8.543, Ministro
Pedro Acioli, Primeira Turma, DJ de 10.06.1991; REsp n. 17.580, Ministro
Américo Luz, Segunda Turma, DJ de 31.08.1992; RMS n. 162, Ministro Pádua
Ribeiro, Segunda Turma, DJ de 03.05.1993; REsp n. 28.898, Ministro Flaquer
Scartezzini, Quinta Turma, DJ de 31.05.1993; REsp n. 16.481, Ministro José
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
328
de Jesus, Segunda Turma, DJ de 28.09.1992; RMS n. 2.168, Ministro Edson
Vidigal, Quinta Turma, DJ de 17.12.1992; AgR no Ag n. 13.967, Ministro
Hélio Mosimann, Segunda Turma, DJ de 21.09.1992; REsp n. 14.319, Ministro
Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, DJ de 30.03.1992.
Mas, no sentido de que são devidos os honorários, o Superior Tribunal de Justiça também possui julgados, entre outros: MS n. 1.317, Ministro Peçanha Martins, Primeira Seção, DJ de 14.09.1992; REsp n. 17.124, Ministro Cesar Rocha, Primeira Turma, DJ de 15.02.1993 e REsp n. 6.860, Ministro Gomes de Barros, Primeira Turma, DJ de 30.11.1992.
7. Posto isto, de modo que a Corte Especial possa melhor se orientar, declino a minha posição, favorável ao princípio inscrito na Súmula n. 512. De todos os argumentos apresentados, separo dois deles: aquele que destaca o aspecto particular do mandado de segurança, ou a especial natureza dessa ação, de índole tão nobre que se confunde, constitucionalmente, com o habeas corpus; e aquele da difi culdade da condenação, particularmente quando se cuidar de mandado requerido contra ato judicial. Dou-me por bastante confortado com essas duas razões. Ao que creio, a melhor das soluções é a que propõe que o mandado de segurança não comporta, mesmo, condenação em honorários de advogado, em qualquer hipótese.
Daí que, conhecendo dos presentes embargos de divergência, também eu os recebo. Acompanho, pois, o voto do Sr. Ministro José Dantas (Relator).
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sempre apliquei, eximindo-me de maiores indagações, a questionada Súmula, em homenagem ao fato de que cumpria ao Supremo Tribunal Federal defi nir o exato entendimento de direito federal. Já agora, entretanto, cabe a este Tribunal fazê-lo. Assumidas novas responsabilidades, não se há de persistir simplesmente na adoção da súmula, dispensada a crítica de seus fundamentos. Na Turma, não cheguei a suscitar o assunto, mas, sendo trazido a debate neste órgão especial, considero adequado cuidar da matéria. Examino, pois, os principais argumentos que embasam a conclusão consagrada na jurisprudência daquela Corte.
O primeiro, é de que se trataria de lei especial, só regendo o instituto as normas por ela expressamente invocadas.
Peço vênia para manifestar frontal divergência com tal assertiva. Se não se
aplicar, subsidiariamente, o Código de Processo Civil ao mandado de segurança,
SÚMULAS - PRECEDENTES
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simplesmente não haverá processo de mandado de segurança, porque imensos
os vazios que restarão. A lei especial não pretendeu, de modo algum, regular
tudo, mas apenas o peculiar ao instituto de que cuidou.
Assinalam-se algumas questões. Como se contam os prazos do mandado
de segurança? Quem tem capacidade processual para impetrá-lo? Que normas
haverão de ser observadas quanto à capacidade postulatória, à competência,
suspeição e impedimentos do Juiz? Poupo-me de continuar a enumerar quantas
matérias não estão previstas na Lei do Mandado de Segurança e que requerem,
induvidosamente, a invocação subsidiária do CPC.
É verdade que a lei se reporta a um ou outro dispositivo do Código.
Menciona, por exemplo, que obedecerá, a inicial, aos requisitos dos artigos
pertinentes do Código de Processo Civil. Dispõe ser possível litisconsórcio e
traz algumas regras sobre recursos. Entretanto, evidente que não se esgota aí
a aplicação subsidiária do Código, como já salientado. Aliás, algumas dessas
chamadas se explicam. No sistema anterior, o recurso era de agravo de petição,
houvesse ou não julgamento de mérito, ao contrário do que sucedia no Código
de 1939. Por isso, a previsão especial. Com a entrada em vigor do novo código,
extinto o agravo de petição, foi preciso adaptar a lei. Daí consignar hoje que
cabível a apelação. Explica-se a invocação do art. 158 do CPC de 1939. A
inicial do mandado de segurança tem algumas peculiaridades. Considerou-se,
então, conveniente explicitar que incidiriam as normas do Código de Processo
Civil. A menção ao litisconsórcio é menos compreensível, podendo ter-se como
supérfl ua. Talvez se encontrasse alguma difi culdade em haver litisconsórcio com
autoridade coatora. Ninguém, entretanto, se abalançaria a dizer, inexistisse a
norma contida no art. 19 da Lei n. 1.533/1951, que a duas ou mais pessoas não
fosse dado litigar juntas ou que, com violência às mais elementares regras do
contraditório, não pudesse haver litisconsórcio com autoridade coatora.
Este Tribunal, vale notar, consagrou em súmula o entendimento de que
são devidos honorários, em processo falimentar, quando se trata de elisão da
falência, aplicando-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil, embora a
lei específi ca absolutamente não o preveja.
Outro argumento é o de que não haveria partes. Esse me parece tão frágil
que me dispenso de maiores considerações. Hoje já não se discute seriamente
a questão. As partes são, de um lado, o impetrante; do outro, a pessoa jurídica,
de que é agente a autoridade impetrada. Afasta-se também a dificuldade,
relativamente a quem deve arcar com o pagamento quando, concedida a
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
330
segurança, haja condenação em honorários. Será a pessoa jurídica de direito
público, em cujo nome age a autoridade.
Mencionou-se que o mandado de segurança pode ser negado, com base apenas em falta de liquidez. O óbice também não tem consistência. Por esse ou aquele motivo, o impetrante foi vencido na ação. Se houver atuação do advogado da outra parte, o que pode não ocorrer, parece-me que também se deveria sujeitar ao pagamento de honorários, embora isso não seja propriamente o que está em causa.
Põe-se em relevo tratar-se de garantia constitucional. Ora, por ser assim, não se concluirá que o ressarcimento da parte não deva ser integral. Se adotado, aliás, como decisivo o argumento, ter-se-iam que dispensar os honorários apenas quando vencido o impetrante. Jamais fazer menor a garantia do direito, que a concessão da segurança afi rmou ser líquido e certo. Pessoalmente não chego sequer a fazer a distinção.
Também não há comparação alguma com habeas corpus, em que se cuida de
matéria penal. Honorários dizem com o processo civil.
Deve nortear a hipótese, neste e em todos os outros casos, tratando-se de
matéria civil, a formulação de Chiovenda: o processo não resultará em dano
para quem tenha razão. Negando-se os honorários em casos que tais, o direito,
obviamente, não será inteiramente reparado, o processo terá causado dano ao
autor, apesar de se reconhecer a liquidez e a certeza do seu direito.
Observo, por fi m, que, se os precedentes constituem patrimônio a ser
respeitado, a jurisprudência não se há de ter como imutável. Especialmente
quando novo Tribunal foi criado. E este, em outros temas, já tem consagrado
entendimento jurisprudencial, chegando a sumulá-lo, contrariando o que era
tido como assente pelo Supremo Tribunal. Tanto mais de fazê-lo quando se
trata de matéria processual, não dizendo com a licitude de comportamentos
individuais.
Reiterando meus pedidos de vênia aos eminentes Colegas, rejeito os
embargos.
ADITAMENTO AO VOTO
O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: Sr. Presidente, peço a palavra para
justifi car o meu voto. Limitei-me a acompanhar o Relator na suposição de que a
Súmula n. 512 do STF não contava aqui com tantos opositores.
SÚMULAS - PRECEDENTES
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A matéria é polêmica, como está sendo demonstrado. Mas o motivo que
animou a edição do verbete foi o fato de tratar-se de uma garantia constitucional.
Essa natureza do remedium juris e o comando assaz imperativo dos arts. 19 e 20
da Lei n. 1.533/1951, afastando a incidência de qualquer das disposições do
CPC, salvo as relacionadas com o litisconsórcio, deram a tônica da exegese
adotada.
Assinale-se que a aplicação do princípio da sucumbência no mandado
de segurança iria dificultar o acesso do titular do direito assegurado pela
Constituição ao Judiciário, receoso que fi caria das conseqüências de ordem
econômica que adviriam do insucesso da demanda.
Aliás, a jurisprudência do STF sobre o ponto fi xou salutar diretriz: deixou
claro que o princípio da sucumbência previsto no Código de Processo Civil, lei
subsidiária, aplica-se a todos os diplomas legais, menos àqueles que disciplinam
remédios constitucionais de proteção à liberdade ou ao direito líquido e certo, e
deu a interpretação correta, lógico-sistemática, à citada Lei n. 1.533/1951.
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Sr. Presidente o enunciado da Súmula n. 512 do Supremo Tribunal Federal vem sendo aplicado há anos no País. Embora não sejam vedadas estas tentativas de ressuscitar a discussão da matéria, penso que a jurisprudência dos tribunais, sem que haja um fato novo, não deve submeter-se a movimento pendular. Isso introduz na vida jurídica do País inseguranças e incertezas. Além disso, não vejo, agora, argumentos melhores ou maiores do que aqueles que foram objeto de exame quando da jurisprudência que se consubstanciou na Súmula n. 512.
Por essas razões, sem mais considerações, acompanho o Ministro-Relator.
É o meu voto.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Edson Vidigal: Sr. Presidente, acompanho o eminente
Ministro José Dantas, respeitando a divergência aqui manifestada e o direito de
tantos quantos julgam oportuno trazer de volta a discussão da matéria quando
acharem que devam fazê-lo.
É o voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
332
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, sou um dos que têm
divergido, neste Tribunal, da súmula, e aqui continuei a divergir, porque antes
a contestava como advogado. Esta súmula, como já, aliás, acentuado, tem
a característica de ter sido estabelecida por maioria exígua, de apenas um
voto, num julgamento de seis a cinco. Veja-se que não seria recomendável
a sua instituição, só por essa circunstância. Mas um desses votos em favor
do enunciado da súmula foi o do Ministro Evandro Lins, como acentuou
o Ministro José Dantas, e o argumento era o de que sendo o mandado de
segurança um remédio constitucional, haveria que se evitar óbices aos cidadãos
para que esses pudessem acorrer livremente aos Tribunais na defesa dos seus
direitos contra o Estado.
Mas, vejam, o mesmo Supremo Tribunal, examinando a questão dos
honorários advocatícios na ação popular, deferiu honorários quando vitorioso
o cidadão, negando a condenação todas as vezes em que fosse ele vencido. Isto
porque, lembro-me bem, num voto lapidar de Aliomar Baleeiro, ainda que
conciso, tratava-se de defender o patrimônio público e, por isso mesmo, havia
que se incentivar o cidadão a essa defesa. O mesmo acontece no mandado de
segurança. Mais do que a ação popular, dá-se ao mandado de segurança, no
Brasil, e com todas as razões, o título de garantia constitucional do cidadão,
na defesa no seu direito líquido e certo. No momento, então, em que vai aos
Tribunais na defesa desse direito, e só pode ir acompanhado de advogado,
terá que desembolsar recursos para o pagamento dos honorários mesmo na
hipótese em que vencedor na causa, ou seja, quando os Tribunais reconhecem
o ato abusivo do Estado. Indaga-se: será justo ou estar-se-á assegurando a esse
cidadão um remédio efi caz? Creio que não. Por isso é que tenho defendido, nos
casos em que tenho atuado, a aplicação da condenação de honorários sempre
que vencedor o cidadão.
O Sr. Ministro Torreão Braz (Aparte): A Lei de Ação Popular é expressa.
Aí o Supremo não poderia deixar de cumprir o mandamento legal.
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Ao tempo em que se discutia a fi xação
da Súmula n. 512, não havia a norma. O legislador veio, inclusive, em socorro
do cidadão e do patrimônio público para fazer explícito o direito. Ou seja,
valorando como um consectário lógico do remédio, o interesse que tem a Nação
pela participação do cidadão na defesa do patrimônio público. Da mesma forma
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 333
deverá proceder, também, no futuro, com relação ao mandado de segurança.
Mas, enquanto isso não se fi zer, entendo que seria iníquo deixar, ou mesmo
obrigar, o cidadão a desfalcar o seu patrimônio para a defesa do seu interesse
contra o Estado.
É por isso que defendo, então, aquela terceira posição a que aludiu o
eminente Ministro Nilson Naves, sobretudo porque, em litigando contra o
Estado, o cidadão, para fazê-lo, antes já despendeu recursos, via impostos, para
manter o próprio Estado remunerando os prepostos que acionarão suas armas
contra ele mesmo.
Por essas razões, no caso, discordo do eminente Decano para manter a
minha posição em defesa da instituição de honorários advocatícios em mandado
de segurança, quando vitorioso o cidadão.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Sr. Presidente, como Relator
do acórdão embargado, deveria me estender um tanto mais na justifi cação do
meu voto. No entanto, os eminentes Ministros Eduardo Ribeiro e Peçanha
Martins já explanaram o que eu teria a dizer a esta Corte.
Devo, talvez, uma explicação, a partir do registro feito pelo eminente
Ministro Assis Toledo, no sentido de que não houve fato novo que justifi casse a
alteração da jurisprudência em torno do mandado de segurança.
Em verdade, parece-me que houve um fato novo extremamente
relevante — e por ele suscitei a questão, perante a Primeira Seção. Este fato
se traduz, justamente, na criação do Superior Tribunal de Justiça, que hoje
tem competência para dispor sobre a matéria. Entendo que, sendo da sua
competência, esta Casa tem que fi xar sua jurisprudência e não simplesmente se
curvar a uma jurisprudência anterior.
Teria que observar quanto à posição da autoridade coatora. No entanto, o
eminente Ministro Eduardo Ribeiro já fi xou a observação de que a autoridade
coatora não é litisconsorte do Estado nem parte. Na verdade, ela não pode
ser parte até porque não tem personalidade jurídica, é um órgão do Estado.
O fenômeno que ocorre é simplesmente que, no mandado de segurança, a
primeira comunicação processual do Estado, na inicial, é feita não através
daquele órgão normal de comunicação, que hoje é a advocacia do Estado. A
comunicação inaugural no processo de mandado de segurança se faz através de
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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um funcionário, a chamada “autoridade coatora”, que normalmente não seria
um órgão de comunicação processual da pessoa jurídica-Estado. Em verdade,
a parte é a pessoa jurídica do Estado. Quanto à observação de que pode a
condenação em honorários de advogado causar temor a alguém, inibindo-a de
defender o seu direito, parece-me que esse temor também ocorre à pessoa que
vai defender outro direito, no processo ordinário. Então, a melhor solução para
obviar o temor seria, simplesmente, extinguir o instituto da sucumbência. No
entanto, se ele existe, não vejo por que não o aplicar ao mandado de segurança.
A súmula do STJ nos põe diante de um paradoxo, qual seja: quando alguém
defende seu direito líquido e certo, é condenado, previamente, a pagar, porque
para fazer essa defesa, na nossa estrutura processual, ele, necessariamente, terá
de constituir um advogado. No entanto, quando defende direito ilíquido, o autor
se vitorioso, pode ser indenizado pelos gastos que fez.
Quanto ao paralelo entre habeas corpus e mandado de segurança, além de os
dois observarem procedimentos diferentes, deve-se lembrar de uma coisa: é que,
para o mandado de segurança, a lei exige a presença do advogado, enquanto no
habeas corpus o próprio paciente da coação, da restrição à sua liberdade de ir e vir
ele pode se defender pessoalmente.
Lembro, por fim, um outro argumento, que me parece também
inconsistente; o de que o mandado de segurança é uma ação constitucional.
Em verdade, todo direito de ação é constitucional nos termos do art. 5º,
XXXV, da Constituição. O fato é que, a Constituição determina que se crie
um procedimento mais pronto, mais rápido para a concessão de mandado de
segurança, em defesa do direito líquido e certo. No entanto, não torna, como
direito de ação, o direito ao mandado de segurança diferente do direito a
qualquer prestação jurisdicional.
Por isso, Sr. Presidente, pedindo vênia à maioria agora formada, adiro
ao voto do eminente Ministro Eduardo Ribeiro e do não menos eminente
Ministro Peçanha Martins.
VOTO
O Sr. Ministro Milton Pereira: Sr. Ministro-Presidente, na verdade,
qualquer acréscimo pode ter característica da desnecessidade. Porém, esta
necessidade, ainda que de modo singelo, para mim está presente, para
rapidamente justifi car o meu convencimento, fundado em dois segmentos: um
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 335
pragmático, que segue, de certo modo, o lineamento traçado durante os debates,
enraizado na construção pretoriana, conhecida pelo cidadão, sendo conveniente,
por isso, que seja mantida essa interpretação da lei, para a fi rmeza da aplicação
do direito.
Esta linha pragmática, por si, é sufi ciente para que não se modifi que a
jurisprudência cristalizada na Súmula n. 512-STF.
Por outro lado, diviso fundamentação com razões rigorosamente de
direito, conseqüente a uma análise sistêmica baseada na Constituição, berço
do mandado de segurança. Este sentido tem especial relevância, porque a sua
natureza constitucional, no meu pensar, coloca no plano secundário outras
considerações, tecidas para as ações de natureza comum, ou seja, estritamente
fi ncadas no Código de Processo Civil.
Tanto o mandado de segurança tem uma natureza especialíssima que
existe lei especial para disciplinar o seu processamento.
Se assim penso — no aspecto sistêmico da análise — diante do relevo
da Constituição, o mandado de segurança deve ser enfocado diferentemente
de outras ações reguladas apenas no sistema processual comum. Por esse
caminho, permito-me destacar que, na Constituição, berço comum do mandado
de segurança, do habeas corpus, do habeas data e do mandado de injunção,
por exemplo, o art. 5º no inciso LXIX, não cuida da sucumbência, nem da
gratuidade. No inciso LXXIII, tratando da ação popular, ao fi nal preceitua: “...
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. Vale dizer, especifi camente,
para o caso da ação popular, existe previsão constitucional, com elemento
objetivo, ou seja, um vencedor e um vencido, ao mencionar a sucumbência,
conseqüentemente cogitando de honorários advocatícios. Outrossim, quando
a Constituição, no art. 5º, inciso LXXVIII, indicando o habeas corpus e o habeas
data, não se refere à sucumbência, mas à gratuidade. Como a Constituição
estabelece princípios, olhando-se o contexto e não disposições isoladas, verifi ca-
se que, no mandado de segurança, descogitando da sucumbência, evidencia
inexistir a preocupação da verba honorária, subjugada pelo interesse público
revelado no mandado de segurança, como primordial instituto constitucional.
Sr. Ministro-Presidente, ainda que mal alinhando estas considerações,
respeitando e mesmo atento às considerações divergentes que foram trazidas ao
plenário, acompanho o eminente Ministro-Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Cesar Rocha: Sr. Presidente, o eminente Ministro Nilson
Naves, no seu voto, reportou que seria Relator de embargos de divergência
em que estaria sendo atacado acórdão de minha relatoria proferido na egrégia
Primeira Turma, e que não teria trazido ainda a julgamento — certamente
atendendo a pedido meu — porque eu gostaria de alinhar algumas novas
considerações que já fi zera sobre o assunto.
Assim, leio meu voto, com as anotações feitas posteriormente:
Sempre acolhi, com respeitosa reverência, os entendimentos cristalizados na súmula do egrégio Supremo Tribunal Federal.
Todavia, nunca deixou de inquietar-me o comando emergente do Verbete n. 512, segundo o qual “não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança”.
Questioná-lo não importa em nenhuma desafeição ao STF, senão em exercitar o encargo que me é imposto, pois que, sendo matéria infraconstitucional, teve deslocada para este conspícuo STJ a competência para a sua defi nitiva solução.
A doutrina, pelos mais prestigiados, lança-se, em grande escala, numa quase unanimidade, contra a exclusão da verba em exame.
Deve-se, inicialmente, ter em conta a observação de Chiovenda (in, “Instituições de Direito Processual”, vol. III, p. 285, na remissão feita por Luiz Carlos de Potilho, in RF 246/221), ao cuidar do princípio da sucumbência, para quem “o fundamento dessa condenação é o fato objetivo da derrota, e a justifi cação desse instituto está em que a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte a cujo favor se efetiva; por ser interesse do Estado que o emprego do processo não se resolva em prejuízo de quem tem razão e por ser, de outro turno, interesse do comércio jurídico que os direitos tenham um valor tanto quanto possível, nítido e constante”.
Essa, por certo, a motivação que teve o legislador da Lei Adjetiva Civil vigente, na dicção do seu art. 20, ao impor ao vencido pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios.
Em comento a tal dispositivo, o mestre Pontes de Miranda (in, “Comentários ao Código de Processo Civil”, Tomo I, p. 416) leciona que “hoje não há qualquer especialização de ações para que incida o art. 20. Não importa se a ação é declaratória, constitutiva positiva ou negativa, condenatória, mandamental ou executiva. Não mais se limita a sanção às ações do ato ilícito absoluto ou relativo. Pressuposto necessário é um só: ter havido perda da causa, pelo autor, ou pelo réu, ou quem quer que seja perdente”.
O sempre lembrado Hely Lopes Meireles (in, “Mandado de Segurança, Ação
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 337
Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, Habeas data”, p. 65), afi rma, enfaticamente, que “na sentença, o juiz deverá decidir sobre o pedido na inicial, condenando o vencido nas custas e honorários advocatícios, consoante determina o art. 20 do Código de Processo Civil, que fi rmou o princípio da sucumbência, em substituição ao da culpa ou dolo processual. Desde que o mandado de segurança é uma causa, vale dizer, uma ação civil, impõe-se a condenação do vencido em honorários. Não importa que o rito dessa ação seja especial, mesmo porque, nas demais ações especiais, o princípio da sucumbência vem sendo aplicado sem restrições. Não vemos razão para a exclusão dessa verba pela jurisprudência dominante (STF, Súmula n. 512)”.
No mesmo diapasão, o festejado Barbosa Moreira (in, “Direito Processual Civil”, p. 246), que, ainda na vigência do Código de 1939, já entendia que “não nos constando a existência de outros argumentos com que se pudesse impugnar a incidência do art. 64 do mandado de segurança, recapitulemos: se esse processo especial se rege subsidiariamente pelas normas codifi cadas; se nele existe ação e, a fortiori, causa; se há partes e, por conseguinte, parte vencedora e parte vencida, ambas representadas por advogados — então é insustentável a proposição segundo a qual descabe, aí, a condenação em honorários”.
Yussef Said Cahali (in, “Honorários Advocatícios”, pp. 735-734), persegue a mesma linha de compreensão, quando afi rma que “no mandado de segurança há partes, autor e réu, com denominações diferentes, mas nessa posição. No mandado de segurança há relação processual que se completa com a notifi cação da autoridade coatora. No mandado de segurança, como toda e qualquer ação, admite-se a intervenção assistencial, da autoridade pública, do Poder Público, e necessariamente do terceiro interessado. Há uma lesão a direito líquido e certo, instaurando-se uma controvérsia, que não se esgota na declaração da ilegalidade do ato, dotada a sentença de certa executoriedade, ainda que restrita. No plano jurídico-processual, não há distinção entre ação fundada em direito privado ou pela ação fundada em direito público, quando se cuida de reparação de direito individual. A ação sempre é um direito público, direito subjetivo público dirigido contra o Estado, a fi m de obter, através do órgão jurisdicional, a justa composição da lide. E isto somente pode ser obtido, como nas ações em geral, por intermédio de profi ssional habilitado (CPC, art. 36), à diferença, portanto, do que ocorre com o habeas corpus, para cuja impetração é dispensável a outorga de mandato a advogado constituído. Encerrando a lide, a sentença fi nal ou é favorável ou é desfavorável à parte. A parte a quem a sentença favorece é vencedora. A parte a quem a sentença não favorece, ou cuja pretensão deixou de acolher, é vencida. De modo que, aqui, a parte vencida, na técnica da nossa moderna legislação processual, é aquela que não obteve sentença favorável, mas que obteve uma sentença contrária. E estes conceitos se ajustam tanto ao impetrante como à autoridade impetrada. Nem encontra óbice a esse entendimento o fato de poder limitar-se a intervenção da autoridade coatora às informações administrativas,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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pois estas até mesmo podem ter sido omitidas, o que não se impede, como no caso da revelia, de reconhecimento de pretensão resistida”.
O Professor Maurilio Wagner de Paula Reis, em trabalho intitulado “Os honorários na ação de mandado de segurança” (in, “Mandados de Segurança e de Injunção”, coordenado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo, p. 332), anota um dado a mais, pois que ‘não se pode olvidar o art. 37, § 6º, da Constituição de 1988 — as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos respondem pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros. Ora, no momento em que o terceiro tem que se valer do Judiciário para assegurar direito líquido e certo, é evidente que a autoridade coatora está a lhe causar dano”.
Na mesma linha Celso Ribeiro Bastos, (in, “Do Mandado de Segurança”, 2ª ed., Saraiva, 1982, pp. 20-21) quando leciona que “a nossa posição é no sentido de que o mandado de segurança se submete ao princípio da sucumbência. A razão é que embora a Lei n. 1.533 alije o Código de Processo Civil, nas matérias por ela reguladas, nela nada consta acerca de honorários advocatícios, pelo que tem-se que necessariamente aplicar à espécie as leis genéricas do processo civil. Assim já devia ser antes mesmo do atual Código de Processo Civil. Não cremos que ele tenha inovado o tema. A referência freqüente feita pela jurisprudência ao surgimento do novo Código afi gura-se-nos mais como um pretexto para ensejar a correção de um entendimento cujo desacerto já se fazia patente do que o refl exo de uma autêntica alteração do direito objetivo. Sobre ser juridicamente a tese correta, a condenação em honorários é também a solução mais conveniente. Por um lado, reprime a utilização abusiva da medida. De outra parte, restaura um princípio básico de injustiça, segundo o qual ninguém deve arcar com os ônus decorrentes da ilegalidade alheia. O vencedor da segurança já se viu forçado a recorrer ao Judiciário para fazer valer um direito seu, líquido e certo. Os incômodos dessa iniciativa já são em si mesmos injustifi cados e irreparados. Como fazê-lo arcar ainda com as despesas com o seu patrono?”.
Outros e outros doutrinadores, igualmente de reconhecido saber, prestigiam esse mesmo entendimento, tais como Celso Agrícola Barbi (in, “Comentários ao Código de Processo Civil”, vol. I, tomo I, Forense, Rio, 1975, pp. 198-199), Othon Sidou (in, “Habeas corpus, Mandado de Segurança e Ação Popular”, 2ª ed., Forense, 1983, pp. 329), Cândido José Dinamarco (in, “Revista de Processo” 19-199-214), Oscavo Cordeiro Corrêa Neto (in, “Revista dos Tribunais”, 694-257), Luiz Antônio de Andrade (in, ”Revista da OAB-RJ”, I/303), Aristóteles Atheniense (in, “Revista Jurídica Mineira”, 24-13).
Ademais, deve-se sublinhar que o tema inquieta igualmente a jurisprudência, pois que são numerosos os julgados demonstradores de inconformismo com o sobredito Verbete n. 512.
Aliás, como lembra Yussef Said Cahali, em sua obra indicada (p. 734), “a simples insistência com que nossos Tribunais têm sido continuamente provocados para
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 339
manifestação a respeito dos honorários advocatícios em mandado de segurança já revela a ânsia revisionista projetada pela insatisfação do critério jurisprudencial que tem prevalecido”.
Devo assinalar que os eminentes Ministros Amaral Santos, Adauto Lúcio Cardoso, Djaci Falcão, Aliomar Baleeiro e Oscar Dias Correia, dentre outros, igualmente guardavam o convencimento pessoal da aplicação de honorários de sucumbência em mandado de segurança.
Se maior rebeldia não se constata é porque, certamente, a simples existência da pré-falada súmula já inibe o magistrado para não se lançar contra ela e formular novas refl exões sobre o tema.
Mas, aqui e agora, não é o caso, visto que, como afirmei acima, a ordem constitucional instalada em 1988, deslocou, para esta colenda Corte, a competência para apreciar, em definitivo, a matéria, por isso não devendo, necessária ou simplesmente, recepcionar a jurisprudência do egrégio Supremo Tribunal Federal do tempo em que a ele estava destinado o deslinde fi nal das questões infraconstitucionais, por mais que se reconheça — como reconheço — sabedoria e juridicidade nas suas decisões.
É preciso observar-se que o Verbete n. 512 em análise foi plasmado, após calorosas discussões, tomando-se como base o art. 64 do Código de Processo Civil de 1939. É verdade que na vigência da Lei Adjetiva Civil atual a polêmica foi verifi cada, mas o último grande debate de que pude colher é de 1977, quando o mandado de segurança ainda era um rito sagrado, uma palavra mágica, o remédio heróico, de utilização limitada, sem a freqüência, senão vulgaridade, com que hoje é utilizado. E mais: naquele momento ainda era muito forte a infl uência das idéias concebidas, fi rmadas, com fi ncas no Código revogado.
Com efeito, sumulado o entendimento, a partir de então não mais se cuidou de refl etir sobre o tema, apenas nos prestamos a aplicar, sem nenhum questionamento, e apenas com a mera referência à Súmula n. 512.
Todavia, é preciso observar que o CPC vigente traz novos argumentos em favor da aplicação da sucumbência em relação ao mandado de segurança, quando regular os vários processos e procedimentos especiais (art. 270); mandando aplicá-lo a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário do próprio Código ou de lei especial (art. 271); aplicando subsidiariamente as disposições do procedimento ordinário aos procedimentos especiais que se regem pelas disposições que lhes são próprias (art. 273).
É que, como lembra Barbosa Moreira, em referência feita pelo eminente Ministro Pádua Ribeiro (em artigo publicado por Sua Excelência no “Correio Braziliense’” no encarte “Direito e Justiça”, de 13 do fl uente mês, posicionando-se contrariamente à tese que ora defendo), “o direito processual civil cristalizado no Código é direito processual civil comum, que só cede ante a existência de regra
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
340
peculiar a tal ou qual processo, mas que cobre a área deixada em branco pela legislação específi ca, na medida em que seja com esta compatível”.
Com essa mesma concepção, Celso Agrícola Barbi, na obra e no local já mencionados, sentencia que “a simples circunstância de estar ele regulado em lei especial não é decisiva, porque se lhe aplicam inúmeras regras gerais do Código, mesmo porque se assim não fosse seria necessário fazer um Código apenas para os processos de mandado de segurança”.
Por isso é que assevera que “não se pode dizer que existe em nosso Direito o princípio de não se aplicarem as normas do Código aos procedimentos regidos por lei especial. Tanto assim que o colendo Supremo Tribunal Federal manda aplicar as normas sobre honorários de advogados aos executivos fi scais, que eram regidos por lei especial, qual seja o Decreto-Lei n. 960, de 17.03.1938, como se vê na Súmula n. 519, construída na vigência do Código de 1939”.
Assim, justifica-se a aplicação por analogia do CPC no que couber e for compatível com cada instituto que tem regime especial.
De Arnoldo Wald colho o que agora destaco numa versão livre: o fato de o mandado de segurança ser remédio constitucional não importa em descaber a sucumbência. Destacou-se completamente do habeas corpus, sendo considerado hoje por todos como uma ação própria, embora tenha maiores densidade e peculiaridades.
Mas existem outros remédios constitucionais como a ação popular e a ação civil pública, cujas leis estabelecem o cabimento de honorários (Lei n. 4.717, arts. 12 e 13, e Lei n. 7.437, arts. 17 e 18). A contrario sensu, a ausência de normas na Lei n. 1.533 importa, pois, na aplicação análoga do Código de Processo Civil.
As dúvidas quanto à caracterização da parte são irrelevantes em relação à sucumbência. Quer se entenda como parte a autoridade coatora (Hely Lopes Meireles) ou a pessoa jurídica de direito público (eminente Ministro Sálvio de Figueiredo), caberá ao magistrado estabelecer a condenação, fi xá-la eqüitativamente e estabelecer quem deverá pagar os honorários. Há, assim, uma moralização do serviço público, fazendo recair sobre a autoridade que lesa direito líquido e certo uma responsabilidade específi ca, com a aplicação da pena, que, para ela, representará a sucumbência, fazendo prevalecer a lei sobre o arbítrio e os abusos de poder.
Acresce que, como o Juiz tem a faculdade de fixar eqüitativamente os honorários, poderá fazê-lo tendo em conta a índole constitucional do mandado de segurança, utilizando a eqüidade para, em determinados casos, não conceder a sucumbência, ou mandar pagar honorários simbólicos, e, em outros, verifi car sobre quem deve incidir, no todo ou em parte, a responsabilidade pelo pagamento da verba honorária, seja em relação à autoridade coatora, seja no tocante à pessoa jurídica de direito público.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 341
Com esses temperamentos, a analogia se justifi ca por ser compatível com a índole do mandamus, o que não acontece, por exemplo, com a admissão dos embargos infringentes ou com a prática de quaisquer outros atos procedimentais não previstos na lei especial, que viriam alongar ainda mais o processo, que tem como pedra de toque a celeridade e a efi ciência.
É certo, como salientou Napoleão Nunes Maia Filho, que a atividade judicante importa em que se entenda que o processo judicial não encerra surpresas sucessivas, como um jogo aleatório e misterioso, pois é uma atividade conseqüente e previsível, dentro de segura orientação e de constante evolução.
Todavia, como coisa essencialmente viva, o Direito ultrapassa os limites interpretativos que vão se tornando tradicionais, para atualizar o conteúdo da lei, buscar no domínio axiológico o seu sentido fi nalístico, através de encadeamentos visualizadores do que seja justo e razoável.
O saudoso Nelson Sampaio, lecionava que as decisões jucidiais devem evoluir constantemente, referindo, é certo, os casos pretéritos, mas operando passagem à renovação judicial do Direito, sem contudo, abrir a porta ao arbítrio judicial.
O ato de aplicar a lei ao caso concreto não se resume à subsunção, à pragmática das sentenças judiciais anteriores mas que se tenha também como presentes os ensinamentos relevantes da doutrina científi ca do Direito, fonte subsidiária e elemento revalorizador de todos os julgados.
Através de tais operações, não tomará o Juiz liberdades permissivas com a lei, decidindo contra o seu comando, mas, ao estebelecer, em atividade recriadora, a norma regente do caso concreto, dentre as várias opções interpretativas que se oferecerem ao seu espírito, escolherá aquela que mais completamente realize o ideal do justo.
Com efeito, não vejo na lei do mandado de segurança nenhum dispositivo que restrinja a aplicação do princípio da sucumbência. A sua exclusão decorre de criação jurisprudencial com fi ncas em realidades normativa e fática ultrapassadas afastando — e a meu sentir, data venia, erroneamente — a aplicação da regra geral contida no Código de Processo Civil. A perda da causa é o único pressuposto para que seja imposta a condenação da verba cogitada, não mais sendo ela resultante de culpa ou dolo processual.
Não é lógico nem é justo que o vitorioso na contenda, depois de ter direito líquido e certo agredido, após passar por todos os conhecidos e naturais constrangimentos, senão vexames, sempre presentes, ínsitos mesmos, em todas as pelejas judiciais, ainda sofra uma diminuição patrimonial, tendo que arrostar com a remuneração do trabalho do seu patrono.
Ademais, condenar o vencido em todas as parcelas da sucumbência, é, sem dúvida, a solução mais conveniente, na medida em que, por um lado, refreia o uso impertinente do mandamus pelo particular, e, por outro, estimula a autoridade a decidir, em instâncias administrativas, de modo mais refl etido, sobre postulações eventualmente envolventes de direito líquido e certo.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
342
Com tais considerações, ouso divergir do conteúdo da Súmula n. 512 do Pretório excelso, para aplicar a verba honorária postulada.
Baseado nestes pressupostos e em outros que aqui anunciei, peço vênia ao
Ministro José Dantas e aos demais que o seguiram para divergir, acompanhando
o voto do eminente Ministro Eduardo Ribeiro.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sr. Presidente, há quase vinte anos
ingressei na carreira de Juiz Federal, já um pouco maduro, e, inicialmente, não
entendia por que não se aplicavam nessa questão específi ca de sucumbência
no mandado de segurança, os honorários. Inclusive, andei-me rebelando, em
diversas sentenças, contra a Súmula n. 512, concedendo honorários.
Como argumentou o eminente Ministro Eduardo Ribeiro, o processo do
mandado de segurança, embora específi co, evidentemente a ele se aplica o CPC,
subsidiariamente, e desde que não contrarie aquelas linhas básicas do próprio
mandado de segurança. Mas, com o decorrer do tempo, passei a entender
melhor o valor da Súmula n. 512.
Lembro-me, agora, do pensamento muito profundo do grande teórico
italiano Pietro Cogliolo, no livro “Teoria do Direito Privado”, onde diz que
a grandeza de Roma estava, sobretudo, nos precedentes. Então, como disse o
Ministro Assis Toledo, se a toda hora, sem mais nem menos, começarmos a
tentar derrubar aquilo que já está estruturado, o direito deixa de ter segurança.
Com estas breves considerações, acompanho o voto do eminente Sr.
Ministro-Relator.
É como voto.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 18.649-RJ (93.0010950-2)
Relator: Ministro José de Jesus Filho
Embargantes: Estado do Rio de Janeiro e Ministério Público Federal
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 343
Embargados: Ricardo Fernandes dos Passos e outro
Advogados: Marcelo Mello Martins e José Felício Gonçalves e Sousa
e outro
EMENTA
Embargos de divergência.
Não cabe condenação em honorários de advogado na ação
de mandado de segurança. Súmula n. 512 do STF. Embargos de
divergência conhecidos e recebidos.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, receber os
embargos, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros Edson
Vidigal, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Gomes de
Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago,
Torreão Braz, Pedro Acioli, Flaquer Scartezzini, Jesus Costa Lima, Nilson
Naves, Eduardo Ribeiro e Dias Trindade votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Os Srs. Ministros Assis Toledo, José Dantas, Bueno de Souza, José Cândido,
Américo Luz, Antônio de Pádua Ribeiro e Costa Leite não compareceram à
sessão por motivo justifi cado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 22 de outubro de 1993 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente
Ministro José de Jesus Filho, Relator
DJ 28.02.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de embargos de divergência
manifestados pelo Estado do Rio de Janeiro contra decisão da egrégia Primeira
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
344
Turma que, por maioria de votos, admitiu a condenação em honorários de
advogado em mandado de segurança. Traz o Estado em prol da divergência,
julgado da egrégia Sexta Turma que não admite honorários de advogado em
mandado de segurança na esteira da Súmula n. 512 do STF.
É este o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): Conheço dos embargos, posto
que a divergência é manifesta. Há excelentes argumentos em favor de ambas as
teses. Todavia, não estou convencido de que a tese do acórdão embargado seja
a melhor. A vingar tal entendimento, os honorários também seriam devidos no
mandado de injunção. Acontece que, em ambas as ações, não há sucumbência
para autorizar a imposição de honorários porquanto não há vencedor. Daí o
acerto do acórdão paradigma que aplicou a Súmula n. 512 do STF.
Pelo exposto, recebo os embargos, a fi m de que prevaleça a tese do acórdão
paradigma que aplicou a Súmula n. 512 do STF.
É o meu voto.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, esta Corte já decidiu,
por expressiva maioria, em favor da aplicação da Súmula n. 512 do Supremo
Tribunal Federal. Fui vencido e, por isso mesmo, ressalvando meu ponto de vista
pessoal, acompanho a jurisprudência da Corte.
VOTO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Sr. Presidente, com a ressalva
do meu ponto de vista, acompanho o Sr. Ministro-Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Rocha: Sr. Presidente, estou de acordo com o Sr.
Ministro-Relator, com ressalva do meu ponto de vista.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 345
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves: Sr. Presidente, acompanho o Sr. Relator, de
acordo com o voto que proferi nos EREsp n. 27.879, assim ementado:
Mandado de segurança. Honorários de advogado. Não-cabimento. Em hipótese nenhuma (seja de concessão ou de denegação da segurança, ou de extinção do processo, seja a título de sucumbência ou em termos de responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito público), é dado ao juiz impor condenação em honorários de advogado. Princípio da Súmula n. 512-STF (que teve por referência o art. 64 do CPC/1939, na redação da Lei n. 4.632/1965 e que foi mantido após a edição do CPC/1973), acolhido pela Corte Especial do STJ. Jurisprudência e doutrina sobre a matéria, num e noutro sentido. Divergência verifi cada entre a Sexta Turma (acórdão embargado, pelo não-cabimento dos honorários) e a Primeira Turma (acórdão paradigma, pelo cabimento dos honorários), ambas do STJ. Embargos conhecidos mas rejeitados.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, defendi, em julgamento
recente, até com alguma ênfase, tese contrária à da Súmula n. 512 do Supremo
Tribunal Federal. Vencido, por ampla maioria, curvo-me à jurisprudência da
Corte e acompanho o eminente Ministro-Relator.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 27.879-RJ (93079336)
Relator: Ministro Nilson Naves
Embargante: Estado do Rio de Janeiro
Embargados: Rosalvo Pessanha Miranda e outros
Advogados: Marcelo Mello Martins e outro e Sérgio Zveiter e outros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
346
EMENTA
Mandado de segurança. Honorários de advogado. Não-
cabimento. Em hipótese nenhuma (seja de concessão ou de denegação
da segurança, ou de extinção do processo, seja a título de sucumbência
ou em termos de responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito
público), é dado ao juiz impor condenação em honorários de advogado.
Princípio da Súmula n. 512-STF (que teve por referência o art. 64
do CPC/1939, na redação da Lei n. 4.632/1965, e que foi mantido
após a edição do CPC/1973), acolhido pela Corte Especial do STJ.
Jurisprudência e doutrina sobre a matéria, num e noutro sentido.
Divergência verifi cada entre a Sexta Turma (acórdão embargado,
pelo não-cabimento dos honorários) e a Primeira Turma (acórdão
paradigma, pelo cabimento dos honorários), ambas do STJ. Embargos
conhecidos mas rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer dos embargos e os rejeitar, nos
termos do voto do Sr. Ministro-Relator, com as ressalvas declaradas pelos Srs.
Ministros Eduardo Ribeiro, Peçanha Martins, Gomes de Barros e Cesar Rocha.
Os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Assis Toledo, Edson Vidigal, Peçanha
Martins, Demócrito Reinaldo, Gomes de Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha,
Adhemar Maciel, José Dantas, Torreão Braz, Bueno de Souza, Pedro Acioli,
Américo Luz, Antônio de Pádua Ribeiro, Jesus Costa Lima e Costa Leite
votaram com o Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Dias Trindade, José de
Jesus, Hélio Mosimann, Anselmo Santiago, José Cândido e Flaquer Scartezzini
não compareceram à sessão por motivo justifi cado. Presidiu o julgamento o Sr.
Ministro William Patterson.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente
Ministro Nilson Naves, Relator.
DJ 08.11.1993
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 347
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: Na Sexta Turma deste Tribunal, o Sr.
Ministro José Cândido assim relatou a espécie:
Rosalvo Pessanha Miranda e outros, impetraram mandado de segurança contra o Governador do Estado, o Secretário Estadual de Administração, o Superintendente de Administração de Pessoal da Secretaria de Estado de Administração e o Diretor da Fundação Escola de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro, para que lhes fosse garantida liminarmente a inscrição no curso da aludida Fundação e, uma vez aprovados, que se lhes reconhecesse o direito de acesso à classe de Fiscal de Renda “A”, em igualdade de condições com os Auxiliares de Fiscalização “B”.
A ordem foi concedida pelo Juízo de 1º grau.
A egrégia Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, porém, deu provimento ao recurso para denegar a segurança e condenar os impetrantes em custas e honorários de advogado.
Inconformados, Rosalvo Pessanha Miranda e outros interpuseram recurso extraordinário, alegando contrariedade ao art. 153, § 1º, da Constituição, inconstitucionalidade de leis estaduais de atos normativos e dissídio com a Súmula n. 512.
O Supremo Tribunal Federal proferiu o seguinte acórdão:
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráfi cas, por unanimidade de votos, conhecer do recurso mas negar-lhe provimento e determinar a remessa dos autos ao Superior Tribunal de Justiça, nos termos do voto do Ministro- Relator (fl . 530).
Relator Ministro Octavio Gallotti.
Em conseqüência, os autos foram remetidos a esta Corte, para apreciação de matéria infraconstitucional, relativa a honorários advocatícios, que os recorrentes alegam serem indevidos em mandado de segurança, a teor da Súmula n. 512 do STF, trazida a confronto com o acórdão do Tribunal de Justiça.
A SextaTurma, acolhendo o voto do Sr. Relator, conheceu do recurso e lhe
deu provimento, em acórdão com esta ementa:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
348
Recurso especial. Honorários advocatícios em mandado de segurança. Súmula n. 512-STF.
Não cabem honorários advocatícios em mandado de segurança.
Recurso provido.
Inconformado, o Estado do Rio de Janeiro interpôs embargos de
divergência, oferecendo como padrão acórdão da Primeira Turma deste Tribunal,
da relatoria do Sr. Ministro Cesar Rocha, com essa ementa:
Processual Civil. Mandado de segurança. Honorários advocatícios. Cabimento. Entendimento majoritário. Interpretação do Enunciado n. 512 da súmula da jurisprudência predominante no colendo Supremo Tribunal Federal.
I - Coisa essencialmente viva, o Direito ultrapassa os limites interpretativos que vão se tornando tradicionais, para, atualizando o conteúdo da lei, buscar no domínio axiológico o seu sentido finalístico, através de encadeamentos visualizadores do que seja justo e razoável.
II - O ato de aplicar a lei ao caso concreto não se resume à subsunção, à pragmática das sentenças judiciais anteriores mas que se tenha também como presentes os ensinamentos relevantes da doutrina científi ca do Direito, fonte subsidiária e elemento revalorizador de todos os julgados.
III - A lei do mandado de segurança não contém nenhum dispositivo que restrinja, explicitamente, a aplicação do princípio da sucumbência. Não é lógico nem é justo que o impetrante vitorioso na contenda, depois de ter direito líquido e certo agredido, após passar por todos os conhecidos e naturais aborrecimentos, sempre presentes, ínsitos mesmos, em todas as pelejas judiciais, ainda sofra uma diminuição patrimonial, tendo que arrostar com a remuneração do trabalho do seu patrono.
IV - Condenar o vencido em todas as parcelas da sucumbência, é, sem dúvida, a solução mais conveniente, na medida em que, por um lado, refreia o uso impertinente do mandamus pelo particular, e, por outro lado, estimula a autoridade a decidir, em instâncias administrativas, de modo mais refl etido, sobre postulações eventualmente envolventes de direito líquido e certo.
V - Recurso conhecido e improvido. (REsp n. 17.124, DJ de 29.03.1993)
Admitidos e contrariados, a Subprocuradoria Geral da República opinou,
em preliminar, pelo conhecimento dos embargos (“O dissído é patente e envolve
questão por demais conhecida”) e, no mérito, pela sua rejeição.
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 349
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): O assunto que está em pauta é
do conhecimento de todos nós. Foi sumulado pelo Supremo Tribunal Federal
no ano de 1969, em verbete com essa redação: “Não cabe condenação em
honorários de advogado na ação de mandado de segurança” (Súmula n. 512). Já
advertia Savigny, nessa passagem (trata-se de citação que encontrei nas RDP
n. 19/222 e 77/112): “quando os juízes de instância inferior se conformam
com a jurisprudência duma magistratura mais elevada, não cedem apenas à
autoridade, mas seguem o espírito do legislador, cuja sabedoria estabeleceu os
diversos graus de jurisdição”. Na RDP n. 77, Rodolfo de Camargo Mancuso,
em estudo dedicado ao tema dos honorários, ora sob nosso exame, conquanto
tenha batido pela reforma da Súmula n. 512, reconheceu, em preliminar, saldo
positivo para o direito sumular, na medida em que lhe parece útil a “fi xação de
teses jurídicas, a serem aplicadas em casos futuros e análogos”. Sucede que, a
despeito de se tratar de questão sumulada, tal foi deslocada, por versar sobre
matéria infraconstitucional, para a competência do Superior Tribunal de Justiça,
então criado pelo constituinte de 1988 e instalado no ano de 1989. Daí caber a
este Tribunal superior pronunciar-se, assumindo livremente posição ao redor do
cabimento dos honorários de advogado no mandado de segurança. Observou,
com propriedade, o Sr. Ministro Cesar Rocha, no acórdão aqui declinado
na condição de paradigma: “Mas, aqui e agora, não é o caso, visto que, como
afi rmei acima, a ordem constitucional instalada em 1988, deslocou, para esta
colenda Corte, a competência para apreciar, em defi nitivo, a matéria, por isso
não devendo, necessária ou simplesmente, recepcionar a jurisprudência do
egrégio Supremo Tribunal Federal do tempo em que a ela estava destinado o
deslinde fi nal das questões infraconstitucionais, por mais se reconheça — como
reconheço — sabedoria e juridicidade nas suas decisões”.
Em conseqüência, procurei, neste voto, após rápida pesquisa, resumir os
argumentos jurisprudenciais e doutrinários, que encontrei, a favor ou contra
a aludida súmula. Certamente, não trago razão nova, de tanto que já se falou
e já se escreveu a respeito desse assunto. Nem sei se existe! O que sei é que,
para começo de conversa, devo aqui conhecer dos embargos. Clara, senão que
claríssima, a divergência entre os acórdãos confrontados: no acórdão embargado,
da Sexta Turma, verifi cou-se que os honorários não eram cabíveis (Súmula n.
512-STF); no acórdão paradigma, da Primeira Turma, deu-se pelo cabimento
da verba. Conheço, pois, dos embargos.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
350
2. No ano de 1968, o Supremo, em Sessão Plenária, discutiu o tema relativo
aos honorários, no julgamento do RE n. 61.097, principal referência da Súmula
n. 512. Um ano antes, o assunto foi também objeto de debate, em Turma,
segundo acórdão publicado na RTJ — 47/777, mas ali igualmente contribuiu
para a solução da controvérsia a circunstância de se cuidar de caso anterior à
Lei n. 4.632. De ambos os casos fora Relator o Ministro Amaral Santos, para
o qual, em seu voto vencido, “a verba advocatícia é devida ainda no processo de
mandado de segurança, que, apesar de regulado por lei especial, submete-se às
normas gerais do Código de Processo Civil”. Contrariamente, manifestou-se
assim, de logo, o Ministro Eloy da Rocha, em seu voto, vencedor, iniciando-
se pois, no julgamento desse RE n. 61.097, amplo debate: “O princípio da
sucumbência, consagrado no art. 64 do Código de Processo Civil, com a redação
da Lei n. 4.632, de 16.05.1965, vale nos processos regulados pelo Código
de Processo Civil; não, em mandado de segurança, que é disciplinado por lei
especial”. Acórdão publicado na RTJ — 51/805.
Formou-se a corrente vencida com os votos dos Ministros Amaral Santos
(Relator), Adaucto Cardoso, Djaci Falcão e Aliomar Baleeiro. De acordo com o
voto do Ministro Amaral Santos, o mandado de segurança é ação, “ação como
outra qualquer”; há partes, autor e réu, “com denominações diferentes, mas nessa
posição”; há relação processual; não há “distinção entre ação fundada em direito
privado ou ação fundada em direito público”; em resumo, concluía, impõe-se a
“aplicação do art. 64”, eis que se requer, em qualquer processo, a condenação da
parte vencida “nos honorários de advogado da parte vencedora”. Conforme o
voto do Ministro Adaucto Cardoso, exige-se que o princípio da sucumbência
seja dilatado “sempre que autoridade arbitrária ou prepotente for responsável
por atos que se corrijam por meio de mandado de segurança”. Segundo o
voto do Ministro Aliomar Baleeiro, outras disposições do Código de Processo
Civil aplicam-se, implicitamente, ao mandado de segurança; a propósito, S.
Exa. lembrou, naquele momento, o que vinha acontecendo com os executivos
fi scais, no que, depois, resultou na Súmula n. 519, com essa redação: “Aplica-
se aos executivos fi scais o princípio da sucumbência a que se refere o art. 64
do Código de Processo Civil”; existem várias ações especiais “e a maior parte
delas comporta o pagamento de honorários”; conclamou o Tribunal a “coibir o
espírito demandista”: “Assim, todos podem se transformar em demandistas”.
Formou-se a corrente vencedora com os votos dos Ministros Eloy da Rocha
(Relator para o acórdão), Th ompson Flores, Th emístocles Cavalcanti, Osvaldo
Trigueiro, Adalício Nogueira, Evandro Lins, Hermes Lima, Victor Nunes e
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 351
Gonçalves de Oliveira (impedido o Ministro Barros Monteiro, licenciado o
Ministro Lafayette de Andrada, Presidência do Ministro Luiz Gallotti). De
acordo com o voto do Ministro Eloy da Rocha, o Código de Processo Civil
não se aplica subsidiariamente, salvo no tocante aos requisitos da petição inicial
(veja-se o art. 6º) e ao litisconsórcio (veja-se o art. 19); deu particular relevo
à natureza especial dessa ação; difi culdade de conceituar as partes, “tendo-se
em vista o sujeito passivo”; quando indeferido, “ninguém jamais se lembrou
de condenar o impetrante”; à semelhança do habeas corpus, o mandado de
segurança é garantia constitucional, “duas ações especiais, a que se não estendem
quaisquer regras referentes à generalidade dos processos, em matéria civil ou
penal”; duas garantias constitucionais irmãs. Conforme o voto do Ministro
Evandro Lins, os honorários podem “desestimular os requerimentos contra
arbitrariedades e ilegalidades”; como o mandado de segurança não impede
seja promovida ação ordinária, perguntou, naquele momento: “Vai-se aplicar
o princípio da sucumbência, quando poderá a Justiça, amanhã, reconhecer, em
ação ordinária, que a parte tinha o direito pleiteado?”; a quem vão ser pagos os
honorários, ao Procurador da Fazenda, “que já recebe dos cofres do Estado?”;
não se aplica o princípio, porque a lei não mandou que fosse aplicado; ação
de tipo especial, especialíssima, decorrente de preceito constitucional; como
se fosse um habeas corpus “em matéria patrimonial, em matéria civil ou em
matéria administrativa”. Segundo o voto do Ministro Gonçalves de Oliveira,
o mandado de segurança é causa, sem parte vencida. Para o voto do Ministro
Osvaldo Trigueiro, é lei especial, não alcançável pelos honorários, porque nela
não existe “a mesma remissão de ordem geral, mas apenas a remissão parcial”;
“Não seria curial que, nos casos de concessão da segurança, a Fazenda pública
fosse necessariamente condenada, em pleito em que não foi chamada a intervir”;
garantia constitucional, não se justifi cando cobrar honorários de quem dela fez
uso (“reclamou contra ato que considera lesivo de direito líquido e certo”). E o
Ministro Victor Nunes mostrou-se preocupado com a “aplicação indiscriminada
do princípio da sucumbência, para impor a sanção dos honorários”.
3. Editado em 1973 o novo Código de Processo Civil, decidiu o Supremo
que a Súmula n. 512 continuava em vigor, consoante, dentre outros, os julgados
inscritos nas RTJs 81/640, 82/315, 84/301 e 84/579. Confi ra-se a ementa do
RE n. 86.655, Ministro Xavier de Albuquerque: “Não cabe condenação em
honorários de advogado na ação de mandado de segurança nos termos da
Súmula n. 512, cuja prevalência não foi afetada pelo advento do novo Código
de Processo Civil. Jurisprudência farta e reiterada das duas Turmas do Supremo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
352
Tribunal Federal nesse sentido. Recurso extraordinário conhecido e provido.”
(In RTJ — 84/301).
Registro que, no ano de 1963, o Supremo deu pelo cabimento dos
honorários, conforme esse voto de Relator do Ministro Luiz Gallotti, no RE
n. 51.309, do Rio Grande do Sul: “Não vejo por que excluir a condenação
em honorários advocatícios, quando o mandado de segurança é concedido. A
concessão da segurança importa existência de ilegalidade patente, que se pode
reconhecer de plano. Razão a mais para que os honorários sejam concedidos.”
(In RTJ — 29/19).
4. Seja na jurisprudência seja na doutrina, a Súmula n. 512 tem os seus
opositores mas tem também os seus defensores. Na jurisprudência, anotou
Sérgio Ferraz, em recente trabalho sobre o mandado de segurança, publicado
pela Malheiros Editores, que “de há muitos anos deixaram de surgir em nossos
repositórios jurisprudenciais autorizados registro de decisões em contrário à
Súmula n. 512” (ed. de 1992, p. 133). Talvez até em razão da advertência de
Savigny, que recordei no início deste voto. Mesmo eu, no extinto Tribunal
Federal de Recursos, onde cheguei no ano de 1985, não me lembro de ter
assumido orientação diversa da inscrita no aludido verbete. Deve-se, porém,
ressalvar, no momento, a posição do Superior Tribunal de Justiça, em decorrência
do novo modelo do Poder Judiciário, obra da Constituição de 1988. Tal o
motivo que me animou a discorrer um pouco mais a respeito do tema em causa.
Sobre a doutrina, já era lembrada pelo Ministro Amaral Santos, quando
do julgamento do citado RE n. 61.097, no ano de 1968, a opinião de Celso
Agrícola Barbi, em defesa dos honorários. Veja-se a sua lição, em seu “Mandado
de Segurança”, publicado pela Forense:
Com a inovação trazida ao nosso Direito pela Lei n. 4.632, o assunto sofreu radical transformação. Segundo a redação por ela dada ao art. 64 do Código de Processo Civil de 1939, a sentença fi nal condenaria o vencido ao pagamento de honorários de advogado do vencedor. Prevalecia, assim, o princípio da sucumbência, porque não mais se exigia que tivesse havido dolo ou culpa do vencido.
Todavia, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fi rmou-se no sentido de não se aplicar a regra ao processo de mandado de segurança, especialmente com o argumento de que, sendo ele regido por lei especial, estaria imune àquela regra, que está no Código mas não é repetida na Lei n. 1.533. Essa jurisprudência foi consolidada em 3.12.1969, na Súmula n. 512, do seguinte teor: “Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança”.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 353
A nosso ver, mesmo na vigência do Código de 1939, com a modifi cação feita pela Lei n. 4.632, deveria ele ser aplicado ao mandado de segurança. Trata-se de disposição de caráter geral, aplicável a todos os procedimentos, e não apenas aos regulados no Código. Tanto assim que o Supremo Tribunal Federal assentou jurisprudência no sentido de ser aplicável ao executivo fiscal o princípio da sucumbência previsto no art. 64 daquele Código, como se vê na Súmula n. 519, formulada em 03.12.1969. E esse executivo, na ocasião, era regido pelo Decreto-Lei n. 960, no qual não havia nenhuma norma expressa mandando aplicar o art. 64 do Código.
Posteriormente, o Código de Processo Civil de 1973 manteve o princípio vigorante à época de sua publicação e dispôs no art. 20 que “a sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios”.
Essa posição do novo Código reforça a nossa convicção expressa mais acima. Acrescente-se que no § 4º do seu art. 20 regula ele a condenação em honorários, quando a Fazenda Pública for vencida, e não exclui de sua incidência os procedimentos regulados por lei especial.
Cumpre acrescentar, ainda, que a Lei n. 1.533 nada dispõe acerca da atribuição de honorários de advogado, isto é, não determina que a sentença se abstenha de decidir a esse respeito. E não existe nenhum princípio geral em nosso direito que mande que cada uma das partes fi que responsável pelas despesas com seu advogado.
Por todos esses motivos, entendemos que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, consolidada na Súmula n. 512, não deu a melhor solução possível ao assunto e desatende ao princípio da sucumbência, que é geralmente adotado no direito das nações cultas. (5ª ed., pp. 253-254)
A favor da condenação em honorários de advogado, é muito citada a
doutrina de José Carlos Barbosa Moreira, que consultei na publicação pela RT -
418, do ano de 1970. Nesse trabalho, o autor examinou um a um os argumentos
da Súmula n. 512: a) quanto à regência por lei especial, concluiu: “Onde
encontrá-la, todavia, senão no Código de Processo Civil? Assim também, é
neste que se deve procurar a disciplina da condenação na verba honorária, a cujo
respeito silenciam as leis especiais.”; b) quanto à inexistência de partes, confi ram-
se esses dois tópicos: “Tratando-se, como se trata, de processo jurisdicional, de
processo de ação, é evidente que não pode deixar de haver partes: seria uma
contradição nos termos” — “Ora, se há partes, há necessariamente, ao fi m do
processo (e abstraindo-se da hipótese de sucumbimento recíproco), uma parte
vencida e outra parte vencedora...”; c) quanto à atuação de advogado, veja-se essa
passagem: “Atua, pois, necessariamente, no processo do mandado de segurança,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
354
um ‘advogado’ da pessoa jurídica, seja ela de direito privado ou, como ocorre
com mais freqüência, de direito público. Na segunda hipótese, o ‘advogado’
será naturalmente aquele a quem a Constituição ou a lei defi ra a representação
judicial da entidade”; d) quanto ao fato de o representante judicial já receber
estipêndio correspondente ao seu cargo, entendeu que tanto não impediria a
condenação em honorários, visto que “O fato constitutivo do dever de pagar
honorários, para a parte vencida, não se há de identifi car senão no próprio
fato de ter sido derrotada”; e) quanto a tratar-se de garantia constitucional, à
semelhança do habeas corpus, confi ra-se esse tópico: “Mas a razão fundamental
por que não ocorre, no habeas corpus, a condenação em honorários, consiste
em que esse instituto é disciplinado pelo Direito Processual Penal. Manifesto
absurdo seria invocar essa mesma razão a propósito do mandado de segurança”.
Ao cabo e ao fi m, concluiu:
Ao redor do mandado de segurança estendeu-se uma rede de equívocos, a que se acrescenta nova malha toda vez que se quer tratá-lo como instituto sui generis. Nenhum processo especial é instituto sui generis: as próprias denominações são daquelas “qui hurlent de se trouver ensemble...” Daí o desacerto — seja-nos permitido dizê-lo sempre com o maior respeito — do enunciado incerto na Súmula sob o n. 512. Antes de nós já o proclamara, aliás, vários Ministros da excelsa Corte, entre os quais o eminente processualista Moacir Amaral Santos. Estamos em que, mais cedo ou mais tarde, há de reconhecê-lo e corrigi-lo o Supremo Tribunal Federal. Daqui lhe bateremos, quando chegar o momento, os nossos modestos mas entusiásticos aplausos. (p. 53)
Escreveu Sérgio Ferraz:
Com argumentos nem sempre coincidentes com os nossos opinam em sufrágrio à tese da súmula José de Moura Rocha (ob. cit., pp. 250 e ss.), Émerson Sandim (“Do mandado de segurança. Honorários advocatícios”, Revista do Curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia 18/221-226), Bulhões de Carvalho (“Honorários de advogado em mandado de segurança”, RF 239/335-342) e Leonardo Greco (“Natureza Jurídica do Mandado de Segurança”, p. 75). Maior, contudo, é o número de adeptos da corrente que critica o teor sumulado, cabendo referir Barbi (“Do Mandado de Segurança”, pp. 244-246), Barbosa Moreira (“Mandado de segurança e condenação em honorários de advogado”, RT 418/48-53), Adhemar Gomes da Silva (“Sucumbência em mandado de segurança”, RT 512/304-306), Rodolfo de Camargo Mancuso (“Honorários advocatícios em mandado de segurança”, RDP 77/110-121), Coqueijo Costa (ob. cit. p. 97), Hely (“Mandado de Segurança”, p. 66) e Celso Bastos e Michel Temer (“Contencioso administrativo”, Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo 10-20 e ss.). A controvérsia doutrinária aqui retratada cinge-se ao problema da verba
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 355
honorária... (in “Mandado de Segurança (individual e coletivo) — Aspectos polêmicos”, pp. 132-133).
Como anotou Roberto Rosas, no “Direito Sumular”, RT, p. 246, é precioso
o estudo de Francisco Pereira de Bulhões Carvalho, em voto, na defesa da
Súmula n. 512. Dele recolho estes tópicos, relativamente ao mandado de
segurança contra ato judicial:
12. O problema de identifi car-se o sujeito passivo da lide que já não é simples, quando se trata de mandados requeridos contra autoridades administrativas (escreve Bueno Vidigal), é mais complicado quando o coator é uma autoridade judiciária (“Mandado de Segurança”, p. 103).
A lei permite pedido de segurança contra Presidente, Vice-Presidente, Corregedor dos Tribunais, Conselho da Magistratura, Assembléia Legislativa e Tribunais de Contas, e contra decisões judiciais de toda a espécie, proferidas não somente em reclamações, mas sempre que não haja recurso previsto nas leis processuais (art. 5º, n. II, da Lei n. 1.533) e até mesmo como meio rescisório de sentença passada em julgado.
Concedido o mandado em tais casos, qual será a parte vencida a ser condenada a pagar honorários? Certamente não será o Estado, que não tem interesse no litígio nem intervém na demanda.
Também não poderá ser a parte coatora, que não foi citada para a causa e se limitou a prestar informações, como no caso do habeas corpus.
Em muitos outros casos, ainda, o problema de encontrar o sujeito passivo da lide torna-se particularmente complexo... (in RDP — 19/221-222).
5. Há autores que sustentam que os honorários somente são cabíveis se
concedida a segurança. Confi ram-se José Cretella Júnior, in “Comentários à
Lei do Mandado de Segurança”, Forense, p. 281, e Sérgio Ferraz, citado, p. 132.
Escreveu Adilson Abreu Dallari:
Parece um ato de justiça a fixação de honorários no mandado de segurança. Mas, ao mesmo tempo, a fixação de honorários de advogado no mandado de segurança poderia ser um empecilho ao exercício de um direito constitucionalmente assegurado. Nós poderíamos, através da atribuição dos honorários de advogado, de alguma forma, constranger o impetrante; fazer com que o impetrante se sentisse temeroso de exercitar uma garantia constitucional. Mas, ao mesmo tempo, aquele que já sofreu um prejuízo, já sofreu uma violação de direito, que tem que despender honorários de advogado para poder defender o seu direito, como é que fica? Seria de justiça, portanto, a atribuição dos honorários de advogado. A solução, a meu ver, está ligeiramente referida pelo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
356
Professor Celso Bastos quando coloca o problema em termos de responsabilidade civil, no art. 107 da CF. Não é a questão da sucumbência que eu estou me referindo aqui. Eu não vou procurar resolver questões inerentes a uma ação de índole constitucional sob prismas ou sob critérios de Direito Processual. Eu vou procurar a solução na própria Constituição. A restauração que eu vou procurar está na própria Constituição, no art. 107.
Em resumo, eu posso entender cabível o pagamento de honorários no mandado de segurança não por força da sucumbência, mas por força de restauração patrimonial, por uma questão até de economia processual, fazendo incidir nesta mesma ação a regra prevista no art. 107 da CF. Sob tal fundamento, seriam devidos os honorários apenas quando concedida a segurança pleiteada. (In “Curso de Mandado de Segurança”, RT, p. 50).
No que concerne à responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público,
à semelhança da transcrição acima, tal é o pensamento de Maurilio Wagner de
Paula Reis, in “Mandados de Segurança e de Injunção”, Saraiva, p. 332.
6. Na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, entendendo que
não são devidos honorários de mandado de segurança, localizei os seguintes
julgados, nem sempre tomados à unanimidade de votos: RMS n. 215, Ministro
Waldemar Zveiter, Terceira Turma, DJ de 22.10.1990; RMS n. 417, Ministro
Armando Rollemberg, Primeira Turma, DJ de 11.03.1991; REsp n. 2.215,
Ministro Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 30.04.1990; REsp n. 27.879,
Ministro José Cândido, Sexta Turma, DJ de 15.02.1993; REsp n. 8.543,
Ministro Pedro Acioli, Primeira Turma, DJ de 10.06.1991; REsp n. 17.580,
Ministro Américo Luz, Segunda Turma, DJ de 31.08.1992; RMS n. 162,
Ministro Pádua Ribeiro, Segunda Turma, DJ de 03.05.1993; REsp n. 28.898,
Ministro Flaquer Scartezzini, Quinta Turma, DJ de 31.05.1993; REsp n.
16.481, Ministro José de Jesus, Segunda Turma, DJ de 28.09.1992; RMS n.
2.168, Ministro Edson Vidigal, Quinta Turma, DJ de 17.12.1992; AgRg no Ag
n. 13.967, Ministro Hélio Mosimann, Segunda Turma, DJ de 21.09.1992; REsp
n. 14.319, Ministro Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, DJ de 30.03.1992.
Mas, no sentido de que são devidos os honorários, o Superior Tribunal de
Justiça também possui julgados, entre outros: MS n. 1.317, Ministro Peçanha
Martins, Primeira Seção, DJ de 14.09.1992; REsp n. 17.124, Ministro Cesar
Rocha, Primeira Turma, DJ de 15.02.1993 e REsp n. 6.860, Ministro Gomes de
Barros, Primeira Turma, DJ de 30.11.1992.
7. Posto isto, de modo que a Corte Especial possa melhor se orientar,
declino a minha posição, favorável ao princípio inscrito na Súmula n. 512.
SÚMULAS - PRECEDENTES
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De todos os argumentos apresentados, separo dois deles: aquele que destaca o
aspecto particular do mandado de segurança, ou a especial natureza dessa ação,
de índole tão nobre que se confunde, constitucionalmente, com o habeas corpus;
e aquele da difi culdade da condenação, particularmente quando se cuidar de
mandado requerido contra ato judicial. Dou-me por bastante confortado com
essas duas razões. Ao que creio, a melhor das soluções é a que propõe que o
mandado de segurança não comporta, mesmo, condenação em honorários de
advogado, em qualquer hipótese.
Daí que, conhecendo dos embargos de divergência, rejeito-os, aderindo-
me, pois, ao ponto de vista da Sexta Turma.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, acompanho o voto do
Sr. Ministro-Relator, tendo em vista julgado desta Corte em que, por ampla
maioria, acolheu-se o entendimento sustentado por S. Exa. Ressalvo meu ponto
de vista.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, acompanho o voto do Sr.
Ministro-Relator, com a ressalva do meu ponto de vista sobre a matéria, tendo
em vista a decisão da Corte Especial nos EREsp 27.879-4-RJ.
VOTO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Sr. Presidente, acompanho o
voto do Sr. Ministro-Relator, com a ressalva do meu ponto de vista.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Rocha: Sr. Presidente, acompanho o voto do Sr.
Ministro- Relator, com ressalva do meu ponto de vista que é o exposto nos
Embargos de Divergência n. 880-2-RS, cuja cópia segue anexa.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
358
ANEXO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 880-RS
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Cesar Rocha: Sr. Presidente, o eminente Ministro Nilson
Naves, no seu voto, reportou que seria Relator de embargos de divergência
em que estaria sendo atacado acórdão de minha relatoria proferido na egrégia
Primeira Turma, e que não teria trazido ainda a julgamento — certamente
atendendo a pedido meu — porque eu gostaria de alinhar algumas novas
considerações que já fi zera sobre o assunto.
Assim, leio meu voto, com as anotações feitas posteriormente:
Sempre acolhi, com respeitosa reverência, os entendimentos cristalizados na súmula do egrégio Supremo Tribunal Federal.
Todavia, nunca deixou de inquietar-me o comando emergente do Verbete n. 512, segundo o qual “não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança”.
Questioná-lo não importa em nenhuma desafeição ao STF, senão em exercitar o encargo que me é imposto, pois que, sendo matéria infraconstitucional, teve deslocada para este conspícuo STJ a competência para a sua defi nitiva solução.
A doutrina, pelos mais prestigiados, lança-se, em grande escala, numa quase unanimidade, contra a exclusão da verba em exame.
Deve-se, inicialmente, ter em conta a observação de Chiovenda (in, “Instituições de Direito Processual”, vol. III, p. 285, na remissão feita por Luiz Carlos de Potilho, in RF 246/221), ao cuidar do princípio da sucumbência, para quem “o fundamento dessa condenação é o fato objetivo da derrota, e a justifi cação desse instituto está em que a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte a cujo favor se efetiva; por ser interesse do Estado que o emprego do processo não se resolva em prejuízo de quem tem razão e por ser, de outro turno, interesse do comércio jurídico que os direitos tenham um valor tanto quanto possível, nítido e constante”.
Essa, por certo, a motivação que teve o legislador da Lei Adjetiva Civil vigente, na dicção do seu art. 20, ao impor ao vencido pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios.
Em comento a tal dispositivo, o mestre Pontes de Miranda (in, “Comentários ao Código de Processo Civil”, Tomo I, p. 416) leciona que “hoje não há qualquer
SÚMULAS - PRECEDENTES
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especialização de ações para que incida o art. 20. Não importa se a ação é declaratória, constitutiva positiva ou negativa, condenatória, mandamental ou executiva. Não mais se limita a sanção às ações do ato ilícito absoluto ou relativo. Pressuposto necessário é um só: ter havido perda da causa, pelo autor, ou pelo réu, ou quem quer que seja perdente”.
O sempre lembrado Hely Lopes Meireles (in, “Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, Habeas data”, p. 65), afi rma, enfaticamente, que “na sentença, o juiz deverá decidir sobre o pedido na inicial, condenando o vencido nas custas e honorários advocatícios, consoante determina o art. 20 do Código de Processo Civil, que fi rmou o princípio da sucumbência, em substituição ao da culpa ou dolo processual. Desde que o mandado de segurança é uma causa, vale dizer, uma ação civil, impõe-se a condenação do vencido em honorários. Não importa que o rito dessa ação seja especial, mesmo porque, nas demais ações especiais, o princípio da sucumbência vem sendo aplicado sem restrições. Não vemos razão para a exclusão dessa verba pela jurisprudência dominante (STF, Súmula n. 512)”.
No mesmo diapasão, o festejado Barbosa Moreira (in, “Direito Processual Civil”, p. 246), que, ainda na vigência do Código de 1939, já entendia que “não nos constando a existência de outros argumentos com que se pudesse impugnar a incidência do art. 64 do mandado de segurança, recapitulemos: se esse processo especial se rege subsidiariamente pelas normas codifi cadas; se nele existe ação e, a fortiori, causa; se há partes e, por conseguinte, parte vencedora e parte vencida, ambas representadas por advogados — então é insustentável a proposição segundo a qual descabe, aí, a condenação em honorários”.
Yussef Said Cahali (in, “Honorários Advocatícios”, pp. 735-734), persegue a mesma linha de compreensão, quando afi rma que “no mandado de segurança há partes, autor e réu, com denominações diferentes, mas nessa posição. No mandado de segurança há relação processual que se completa com a notifi cação da autoridade coatora. No mandado de segurança, como toda e qualquer ação, admite-se a intervenção assistencial, da autoridade pública, do Poder Público, e necessariamente do terceiro interessado. Há uma lesão a direito líquido e certo, instaurando-se uma controvérsia, que não se esgota na declaração da ilegalidade do ato, dotada a sentença de certa executoriedade, ainda que restrita. No plano jurídico-processual, não há distinção entre ação fundada em direito privado ou pela ação fundada em direito público, quando se cuida de reparação de direito individual. A ação sempre é um direito público, direito subjetivo público dirigido contra o Estado, a fi m de obter, através do órgão jurisdicional, a justa composição da lide. E isto somente pode ser obtido, como nas ações em geral, por intermédio de profi ssional habilitado (CPC, art. 36), à diferença, portanto, do que ocorre com o habeas corpus, para cuja impetração é dispensável a outorga de mandato a advogado constituído. Encerrando a lide, a sentença fi nal ou é favorável ou é desfavorável à parte. A parte a quem a sentença favorece é vencedora. A parte a quem a sentença não favorece, ou cuja pretensão deixou de acolher, é vencida.
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De modo que, aqui, a parte vencida, na técnica da nossa moderna legislação processual, é aquela que não obteve sentença favorável, mas que obteve uma sentença contrária. E estes conceitos se ajustam tanto ao impetrante como à autoridade impetrada. Nem encontra óbice a esse entendimento o fato de poder limitar-se a intervenção da autoridade coatora às informações administrativas, pois estas até mesmo podem ter sido omitidas, o que não se impede, como no caso da revelia, de reconhecimento de pretensão resistida”.
O Professor Maurilio Wagner de Paula Reis, em trabalho intitulado “Os honorários na ação de mandado de segurança” (in, “Mandados de Segurança e de Injunção”, coordenado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo, p. 332), anota um dado a mais, pois que “não se pode olvidar o art. 37, § 6º, da Constituição de 1988 — as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos respondem pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros. Ora, no momento em que o terceiro tem que se valer do Judiciário para assegurar direito líquido e certo, é evidente que a autoridade coatora está a lhe causar dano”.
Na mesma linha Celso Ribeiro Bastos (in, “Do Mandado de Segurança”, 2ª ed., Saraiva, 1982, pp. 20-21) quando leciona que “a nossa posição é no sentido de que o mandado de segurança se submete ao princípio da sucumbência. A razão é que embora a Lei n. 1.533 alije o Código de Processo Civil, nas matérias por ela reguladas, nela nada consta acerca de honorários advocatícios, pelo que tem-se que necessariamente aplicar à espécie as leis genéricas do processo civil. Assim já devia ser antes mesmo do atual Código de Processo Civil. Não cremos que ele tenha inovado o tema. A referência freqüente feita pela jurisprudência ao surgimento do novo Código afi gura-se-nos mais como um pretexto para ensejar a correção de um entendimento cujo desacerto já se fazia patente do que o refl exo de uma autêntica alteração do direito objetivo. Sobre ser juridicamente a tese correta, a condenação em honorários é também a solução mais conveniente. Por um lado, reprime a utilização abusiva da medida. De outra parte, restaura um princípio básico de injustiça, segundo o qual ninguém deve arcar com os ônus decorrentes da ilegalidade alheia. O vencedor da segurança já se viu forçado a recorrer ao Judiciário para fazer valer um direito seu, líquido e certo. Os incômodos dessa iniciativa já são em si mesmos injustifi cados e irreparados. Como fazê-lo arcar ainda com as despesas com o seu patrono?”.
Outros e outros doutrinadores, igualmente de reconhecido saber, prestigiam esse mesmo entendimento, tais como Celso Agrícola Barbi (in, “Comentários ao Código de Processo Civil”, vol. I, tomo I, Forense, Rio, 1975, pp. 198-199), Othon Sidou (in, “Habeas corpus, Mandado de Segurança e Ação Popular”, 2ª ed., Forense, 1983, p. 329), Cândido José Dinamarco (in, “Revista de Processo” 19-199-214), Oscavo Cordeiro Corrêa Neto (in, “Revista dos Tribunais”, 694-257), Luiz Antônio de Andrade (in, “Revista da OAB-RJ”, I/303), Aristóteles Atheniense (in, “Revista Jurídica Mineira”, 24-13).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 361
Ademais, deve-se sublinhar que o tema inquieta igualmente a jurisprudência, pois que são numerosos os julgados demonstradores de inconformismo com o sobredito Verbete n. 512.
Aliás, como lembra Yussef Said Cahali, em sua obra indicada (p. 734), “a simples insistência com que nossos Tribunais têm sido continuamente provocadas para manifestação a respeito dos honorários advocatícios em mandado de segurança já revela a ânsia revisionista projetada pela insatisfação do critério jurisprudencial que tem prevalecido”.
Devo assinalar que os eminentes Ministros Amaral Santos, Adauto Lúcio Cardoso, Djaci Falcão, Aliomar Baleeiro e Oscar Dias Correia, dentre outros, igualmente guardavam o convencimento pessoal da aplicação de honorários de sucumbência em mandado de segurança.
Se maior rebeldia não se constata é porque, certamente, a simples existência da pré-falada súmula já inibe o magistrado para não se lançar contra ela e formular novas refl exões sobre o tema.
Mas, aqui e agora, não é o caso, visto que, como afirmei acima, a ordem constitucional instalada em 1988, deslocou, para esta colenda Corte, a competência para apreciar, em definitivo, a matéria, por isso não devendo, necessária ou simplesmente, recepcionar a jurisprudência do egrégio Supremo Tribunal Federal do tempo em que a ele estava destinado o deslinde fi nal das questões infraconstitucionais, por mais que se reconheça — como reconheço — sabedoria e juridicidade nas suas decisões.
É preciso observar-se que o Verbete n. 512 em análise foi plasmado, após calorosas discussões, tomando-se como base no art. 64 do Código de Processo Civil de 1939. É verdade que na vigência da Lei Adjetiva Civil atual a polêmica foi vivifi cada, mas o último grande debate de que pude colher é de 1977, quando o mandado de segurança ainda era um rito sagrado, uma palavra mágica, o remédio heróico, de utilização limitada, sem a freqüência, senão vulgaridade, com que hoje é utilizado. E mais: naquele momento ainda era muito forte a infl uência das idéias concebidas, fi rmadas, com fi ncas no Código revogado.
Com efeito, sumulando o entendimento, a partir de então não mais se cuidou de refl etir sobre o tema, apenas nos prestamos a aplicar, sem nenhum questionamento, e apenas com a mera referência, a Súmula n. 512.
Todavia, é preciso observar que o CPC vigente traz novos argumentos em favor da aplicação da sucumbência em relação ao mandado de segurança, quando regular os vários processos e procedimentos especiais (art. 270); mandando aplicá-lo a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário do próprio Código ou de lei especial (art. 271); aplicando subsidiariamente as disposições do procedimento ordinário aos procedimentos especiais que se regem pelas disposições que lhes são próprias (art. 273).
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362
É que, como lembra Barbosa Moreira, em referência feita pelo eminente Ministro Pádua Ribeiro (em artigo publicado por Sua Excelência no “Correio Braziliense”, no encarte “Direito e Justiça”, de 13 do fl uente mês, posicionando-se contrariamente à tese que ora defendo), “o Direito Processual Civil cristalizado no Código é Direito Processual Civil comum, que só cede ante a existência de regra peculiar a tal ou qual processo, mas que cobre a área deixada em branco pela legislação específi ca, na medida em que seja com esta compatível”.
Com essa mesma concepção, Celso Agrícola Barbi, na obra e no local já mencionados, sentencia que “a simples circunstância de estar ele regulado em lei especial não é decisiva, porque se lhe aplicam inúmeras regras gerais do Código, mesmo porque se assim não fosse seria necessário fazer um Código apenas para os processos de mandado de segurança”.
Por isso é que assevera que “não se pode dizer que existe em nosso direito o princípio de não se aplicarem as normas do Código aos procedimentos regidos por lei especial. Tanto assim que o colendo Supremo Tribunal Federal manda aplicar as normas sobre honorários de advogados aos executivos fi scais, que eram regidos por lei especial, qual seja o Decreto-Lei n. 960, de 17.03.1938, como se vê na Súmula n. 519, construída na vigência do Código de 1939”.
Assim, justifica-se a aplicação por analogia do CPC no que couber e for compatível com cada instituto que tem regime especial.
De Arnoldo Wald colho o que agora destaco numa versão livre: o fato de o mandado de segurança ser remédio constitucional não importa em descaber a sucumbência. Destacou-se completamente do habeas corpus, sendo considerado hoje por todos como uma ação própria, embora tenha maiores densidade e peculiaridades.
Mas existem outros remédios constitucionais como a ação popular e a ação civil pública, cujas leis estabelecem o cabimento de honorários (Lei n. 4.717, arts. 12 e 13, e Lei n. 7.437, arts. 17 e 18). A contrario sensu, a ausência de normas na Lei n. 1.533 importa, pois, na aplicação análoga do Código de Processo Civil.
As dúvidas quanto à caracterização da parte são irrelevantes em relação à sucumbência. Quer se entenda como parte a autoridade coatora (Hely Lopes Meireles) ou a pessoa jurídica de direito público (eminente Ministro Sálvio de Figueiredo), caberá ao magistrado estabelecer a condenação, fi xá-la eqüitativamente e estabelecer quem deverá pagar os honorários. Há, assim, uma moralização do serviço público, fazendo recair sobre a autoridade que lesa direito líquido e certo uma responsabilidade específi ca, com a aplicação da pena, que, para ela, representará a sucumbência, fazendo prevalecer a lei sobre o arbítrio e os abusos de poder.
Acresce que, como o Juiz tem a faculdade de fixar eqüitativamente os honorários, poderá fazê-lo tendo em conta a índole constitucional do mandado de segurança, utilizando a eqüidade para, em determinados casos, não
SÚMULAS - PRECEDENTES
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conceder a sucumbência, ou mandar pagar honorários simbólicos, e, em outros, verifi car sobre quem deve incidir, no todo ou em parte, a responsabilidade pelo pagamento da verba honorária, seja em relação à autoridade coatora, seja no tocante à pessoa jurídica de direito público.
Com esses temperamentos, a analogia se justifi ca por ser compatível com a índole do mandamus, o que não acontece, por exemplo, com a admissão dos embargos infringentes ou com a prática de quaisquer outros atos procedimentais não previstos na lei especial, que viriam alongar ainda mais o processo, que tem como pedra de toque a celeridade e a efi ciência.
É certo, como salientou Napoleão Nunes Maia Filho, que a atividade judicante importa em que se entenda que o processo judicial não encerra surpresas sucessivas, como um jogo aleatório e misterioso, pois é uma atividade conseqüente e previsível, dentro de segura orientação e de constante evolução.
Todavia, como coisa essencialmente viva, o Direito ultrapassa os limites interpretativos que vão se tornando tradicionais, para atualizar o conteúdo da lei, buscar no domínio axiológico o seu sentido fi nalístico, através de encadeamentos visualizadores do que seja justo e razoável.
O saudoso Nelson Sampaio, lecionava que as decisões jucidiais devem evoluir constantemente, referindo, é certo, os casos pretéritos, mas operando passagem à renovação judicial do Direito, sem contudo, abrir a porta ao arbítrio judicial.
O ato de aplicar a lei ao caso concreto não se resume à subsunção à pragmática das sentenças judiciais anteriores mas que se tenha também como presentes os ensinamentos relevantes da doutrina científi ca do Direito, fonte subsidiária e elemento revalorizador de todos os julgados.
Através de tais operações, não tomará o Juiz liberdades permissivas com a lei, decidindo contra o seu comando, mas, ao estabelecer, em atividade recriadora, a norma regente do caso concreto, dentre as várias opções interpretativas que se oferecerem ao seu espírito, escolherá aquela que mais completamente realize o ideal do justo.
Com efeito, não vejo na lei do mandado de segurança nenhum dispositivo que restrinja a aplicação do princípio da sucumbência. A sua exclusão decorre de criação jurisprudencial com fi ncas em realidades normativa e fática ultrapassadas afastando — e a meu sentir, data venia, erroneamente — a aplicação da regra geral contida no Código de Processo Civil. A perda da causa é o único pressuposto para que seja imposta a condenação da verba cogitada, não mais sendo ela resultante de culpa ou dolo processual.
Não é lógico nem é justo que o vitorioso na contenda, depois de ter direito líquido e certo agredido, após passar por todos os conhecidos e naturais constrangimentos, senão vexames, sempre presentes, ínsitos mesmos, em todas as pelejas judiciais, ainda sofra uma diminuição patrimonial, tendo que arrostar com a remuneração do trabalho do seu patrono.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
364
Ademais, condenar o vencido em todas as parcelas da sucumbência, é, sem dúvida, a solução mais conveniente, na medida em que, por um lado, refreia o uso impertinente do mandamus pelo particular, e, por outro, estimula a autoridade a decidir, em instâncias administrativas, de modo mais refl etido, sobre postulações eventualmente envolventes de direito líquido e certo.
Com tais considerações, ouso divergir do conteúdo da Súmula n. 512 do Pretório excelso, para aplicar a verba honorária postulada.
Baseado nestes pressupostos e em outros que aqui anunciei, peço vênia ao
Ministro José Dantas e aos demais que o seguiram para divergir, acompanhando
o voto do eminente Ministro Eduardo Ribeiro.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 36.285-RS
Relator: Ministro Américo Luz
Embargante: Estado do Rio Grande do Sul
Embargados: Transportadora Pedro Miguel Ltda e outros
Advogados: Vera Lúcia Zanette e outro e Ary de Almeida Mattos
EMENTA
Mandado de segurança.
— Honorários advocatícios. São incabíveis nas ações de mandado
de segurança. Súmula n. 512-STF.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, receber os embargos. Os Srs.
Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Costa Lima, Costa Leite, Nilson Naves,
Eduardo Ribeiro, Dias Trindade, José de Jesus, Waldemar Zveiter, Fontes de
Alencar, Peçanha Martins, José Dantas, Antônio Torreão Braz e Bueno de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 365
Souza votaram com o Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros José Cândido
de Carvalho Filho, Cid Flaquer Scartezzini, Assis Toledo e Garcia Vieira não
participaram do julgamento. Os Srs. Ministros Pedro Acioli e Hélio Mosimann
não compareceram à sessão por motivo justifi cado.
Brasília (DF), 10 de março de 1994 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente
Ministro Américo Luz, Relator
DJ 11.04.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Américo Luz: Trata-se de embargos de divergência opostos
a acórdão de Turma do Tribunal que, em processo de mandado de segurança,
entendeu cabível a condenação do vencido em honorários advocatícios.
A divergência foi devidamente comprovada, sendo admitidos os embargos.
Não houve impugnação.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): A questão de que tratam os
autos tem entendimento convergente na Corte, consoante demonstram os
precedentes trazidos a cotejo pelo embargante, todos postos no sentido do
incabimento de tal verba nos processos do tipo, tudo nos termos de pacífi ca
orientação jurisprudencial da Suprema Corte, cristalizada no Enunciado da
Súmula n. 512, pelo que, sem considerações outras, provejo os embargos.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, reportando-me
ao fundamento do voto que proferi nos Embargos de Divergência no Recurso
Especial n. 880-2-RS acompanho o ilustre Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
366
*Exposição feita 27.05.1993, no auditório do Instituto dos Advogados de São Paulo.
ANEXO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 880-2-
RS
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, tenho
entendimento firmado no mesmo sentido sustentado pelo ilustre Relator
quanto à subsistência da Súmula n. 512, do Supremo Tribunal Federal, segundo
a qual não cabem honorários advocatícios em mandado de segurança.
Sobre o assunto reporto-me a trabalho que sobre ele escrevi e que farei
anexar ao presente voto, a título de fundamentação.
Acompanho o ilustre Relator, recebendo os embargos.
Anexo
Honorários Advocatícios em Mandado de Segurança*
Antônio de Pádua Ribeiro, Ministro do Superior Tribunal de Justiça e Professor Titular de Teoria Geral do Processo e Direito Processual Civil da AEUDF (licenciado).
Há mais de duas décadas o Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula n.
512, segundo a qual “não cabe condenação em honorários na ação de mandado
de segurança”.
Trata-se de verbete com o qual nunca se confi rmou a doutrina majoritária.
De tempos em tempos, doutrinadores, juízes e tribunais, estes, através de
acórdãos ou votos vencidos, têm revelado posicionamento contrário à orientação
por ele adotada.
Agora, com a criação do Superior Tribunal de Justiça, órgão máximo da
interpretação da Lei Federal, a matéria voltou à baila.
Toda controvérsia surgiu com a edição da Lei n. 4.632, de 16.05.1965, que
deu nova redação ao art. 64 do CPC/1939, adotando o princípio da sucumbência
ou sucumbimento, mantido pelo art. 20 da atual Lei Adjetiva Civil. Eis o seu
texto:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 367
A sentença final da causa condenará a parte vencida ao pagamento dos honorários de advogado da parte vencedora, observado, no que for aplicável, o disposto no art. 55.
Na sua redação primitiva, o transcrito dispositivo vinculava a condenação
em honorários à existência de “dolo ou culpa, contratual ou extracontratual”.
Acontece que o mandado de segurança foi, inicialmente, regulado pelo
CPC/1939 (arts. 319 a 331). Posteriormente, passou a ser regido pela Lei n.
1.533, de 31.12.1951, cujo art. 20 revogou expressamente “os dispositivos do
Código de Processo Civil sobre o assunto e mais disposições em contrário.”
Daí a indagativa: a regra codificada da sucumbência é extensiva ao
mandado de segurança?
A resposta à questão pressupõe diversas considerações, muitas das quais
com signifi cativos refl exos doutrinários.
Saliente-se, de início, que, segundo o art. 322 do CPC/1939, o juiz,
ao despachar a exordial do mandado de segurança, ordenava não somente a
notifi cação do coator, mas também a citação do representante legal da pessoa
de direito público interessada. Já a Lei n. 1.533/1951 cinge-se a determinar
que o juiz, ao despachar a inicial, deve apenas notifi car o coator para que preste
informações (art. 7º, I). Terá o novo dispositivo eliminado a fi gura do réu?
Sustentam alguns, como Cândido de Oliveira Neto, que o mandado de
segurança é uma ação sem réu, porquanto “o coator não é réu, e assim suas
informações não são ato de defesa não precisando ser subscritas por advogado”.
“A pessoa jurídica de direito público está decididamente proibida de intervir
no processo até a sentença defi nitiva”1. “Somente na instância de recurso é que
a Lei n. 1.533 cogita da existência das partes recorrentes, ou sejam o próprio
autor sucumbente, ou os terceiros interessados, entre as quais a pessoa de direito
público ou delegada”2, acrescenta o Desembargador Bulhões Carvalho, aduzindo
a seguir: “Essa singular situação em que foi estruturado o mandado de segurança
em que, na primeira fase, até a sentença, não cogita de réu nem de partes,
impossibilita, evidentemente a aplicação do art. 64 do CPC que ordena que a
parte vencida seja condenada a pagar honorários à parte vencedora.” Seria, como
assinala Celso Agrícola Barbi, como a lei tivesse “transformado o mandado de
1 “Mandado de Segurança”, in “Dicionário Enciclopédico Brasileiro”, verbete citado.2 Voto vencido no Mandado de Segurança n. 3.129, proferido no Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara,
in Revista de Direito Público n. 19, p. 215-225 e Revista dos Tribunais, Volume 438, p. 297-305.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
368
segurança em processo inquisitório, sem partes, no qual a autoridade pública, em
vez de defender, apenas informa”3.
Será, porém, admissível ação sem réu? Para os que respondem
negativamente à pergunta, e que hoje integram a corrente majoritária, cumpre
defi nir qual a parte passiva no mandado de segurança: a autoridade coatora ou a
pessoa jurídica a que integra como órgão?
Essa definição é relevante, pois se condenada a pagar honorários
advocatícios é a parte vencida quem deverá ser condenada a pagá-los à
autoridade coatora ou à pessoa jurídica de direito público?
Sobre a palpitante questão, em trabalho que escrevi sobre o tema, após
fi liar-me à doutrina no sentido de que o mandado de segurança é uma ação que,
como qualquer outra, assume a feição declaratória, constitutiva ou condenatória,
disse:
O impetrado é a autoridade coatora, que fi gura no processo como substituto processual da pessoa jurídica de direito público, e, portanto, como parte em sentido formal. Parte em sentido material é a pessoa jurídica da qual a autoridade coatora é órgão. Tal colocação da autoridade coatora como substituto processual não é referida, em geral, pelos doutrinadores. Quem a propôs, de forma magistral, foi o insigne Amaral Santos.
Tal posicionamento da autoridade coatora é convincente, pois, na verdade, não funciona em defesa de direito próprio, mas alheio. Ademais, permite resolver importantes questões processuais. Primeiramente, é de ver-se que a sentença contra o substituto processual atinge o substituído. De outra parte, nada impede que a pessoa jurídica ingresse no processo como litisconsorte da autoridade coatora. Aliás, há caso em que a autoridade coatora pode-se confundir com o próprio representante do ente público; é o caso dos Prefeitos. Isso não se dá quanto aos Chefes dos Executivos, federal e estaduais, pois estes não representam em Juízo as entidades que governam; quem as representa são os seus procuradores (CPC, art. 12, I).4
Para os que assim entendem, sob tal aspecto substancial, não há óbice para
que haja condenação em honorários advocatícios em mandado de segurança.
Todavia, empeços a tal conclusão são alinhados com apoio na legislação.
Sustenta-se, quanto aos processos regulados por lei especial, que só se aplica
subsidiariamente o CPC quando expressamente o diploma legal pertinente
3 “Do Mandado de Segurança”, p. 107 e seguintes, Forense, 2ª edição, 1996.4 “Mandado de Segurança: alguns aspectos atuais” in “Mandados de Segurança e de Injução”, p. 154, Saraiva,
1990.
SÚMULAS - PRECEDENTES
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determinar. Com tal entendimento, o Supremo aprovou a Súmula n. 519,
concluindo que se aplica “aos executivos fi scais o princípio da sucumbência a
que se refere o art. 64 do CPC”. Decidiu aprová-la à vista do art. 76 do Decreto-
Lei n. 960, de 1938.
Acontece que tal argumento não pode ser acolhido quanto ao mandado
de segurança, pois, como antes assinalado, a lei que o regula diz, no seu art. 19,
que “aplicam-se ao processo do mandado de segurança os artigos do Código
de Processo Civil que regulam o litisconsórcio”, sendo expresso o seu art. 20,
no sentido de que “revogam-se os dispositivos do CPC sobre o assunto e mais
disposições em contrário.”
Contra-argumenta o culto Barbosa Moreira aduzindo que “o Direito
Processual Civil cristalizado no Código é Direito Processual Civil comum, que só
cede ante a existência de regra peculiar a tal ou qual processo, mas que cobre a
área deixada em branco pela legislação específi ca, na medida em que seja com
esta compatível.” Em reforço dessa fundamentação, colaciona a citada Súmula n.
519 do Supremo, mas que, pelos motivos antes assinalados, não serve de suporte
data venia à sua conclusão. Trata-se, pois, de importante argumento doutrinário
apenas.
Há, ainda, argumento, contrário à condenação em honorários advocatícios
em mandado de segurança, resumido por Barbosa Moreira e por ele próprio bem
respondido. Afi rma-se que “o representante judicial da pessoa jurídica de direito
público, na qualidade de funcionário, já recebe dela o estipêndio correspondente
ao seu cargo, e com isso está recompensado de todos os serviços nos processos
em que a defenda”. Após analisar esse argumento, aduz, com total razão, que
é falso em si mesmo, porquanto “a obrigação de pagar honorários, resultante
do sucumbimento, não se caracteriza como obrigação de recompensar serviços
prestados. O advogado da parte vencedora presta acaso serviços à parte vencida?
É óbvio que não”. “O fato constitutivo do dever de pagar honorários, para a
parte vencida, não se há identifi car, senão no próprio fato de ter sido derrotada.”5
Favoráveis à condenação em honorários advocatícios em mandado de
segurança, argumentam outros, como o ilustre Ministro Garcia Vieira, que
“na ação civil pública e, na ação popular, ambas de índole constitucional, é
prevista a condenação em honorários advocatícios, até do autor.” 6 Todavia,
5 “Mandado de Segurança e Condenação em Honorários de Advogado”, in “Revista de Direito Público do
Estado da Guanabara” n. 23, p. 50-59, 1970.6 Estudo anexo ao voto proferido no Mandado de Segurança n. 335-DF, in Revista do Superior Tribunal de
Justiça n. 10, p. 271-276.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
370
esse argumento não pode ser aceito, salvo quanto aos aspectos doutrinários que
encerram, porquanto, nas citadas ações, a matéria é expressamente regulada nas
leis de regência e na própria Constituição.
No contexto assinalado, divisamos, até o momento, escólios doutrinários
relevantes, mas que, a nosso ver, não infi rmam os argumentos que ensejaram
a edição da Súmula n. 512 do Supremo. Com efeito, compulsando os debates
travados por ocasião do julgamento do RE n. 61.097-SP (RTJ 51/805) e RMS
n. 17.847 (EDcl.) (RTJ 47/777), deduz-se que os argumentos doutrinários,
brilhantemente sustentados pelos insignes Ministros Amaral Santos, Adaucto
Cardoso, Djaci Falcão e Aliomar Baleeiro, fi caram vencidos. Prevaleceram, em
suma, os argumentos contrários, no sentido de que “a regra da sucumbência,
inscrita no art. 64 do Código de Processo Civil, não se pode estender, a não ser
quando a lei especial manda aplicar, subsidiarimente, o Código de Processo Civil,
como acontece nos executivos fi scais. O Decreto-Lei n. 960, de 17.12.1968, no
seu art. 76, determina a aplicação subsidiária da legislação processual. Mas isso
não acontece no mandado de segurança, pela natureza especial dessa ação”,
argumentou o insigne Ministro Eloy da Rocha, para acrescentar que “não há
condenação, em nenhuma hipótese, ao pagamento de honorários advocatícios,
no mandado de segurança, como no habeas corpus, duas medidas que constituem
duas garantias constitucionais irmãs.”
Em tal panorama, penso que o melhor posicionamento é o de manter a
orientação consagrada no verbete, porquanto, quando da sua edição, todos os
argumentos, ora renovados, foram, em linhas gerais considerados, prevalecendo
a orientação nele traduzida.
Para encerrar, trago um argumento a mais pela manutenção da súmula,
embora de ordem prática: admitir-se a condenação em honorários em mandado
de segurança ensejará, em última análise, o congestionamento do Judiciário.
Tantas serão as condenações quanto as seguranças impetradas. Todos os
feitos pertinentes, concessivos ou não da ordem, ou mesmo extintivos do
processo, passarão sempre a ensejar a liquidação de sentença para a execução
dos honorários, com todos os problemas daí derivados: expedição de precatórios,
atualização sucessiva de cálculos, impugnação às contas, recursos etc. Nesse
contexto, resulta claro que, embora as ações de segurança não percam a
sua magnitude de garantia constitucional, despir-se-ão de parte da sua
grandiosidade, porquanto o seu respectivo processo deixará sempre um resíduo,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 307-371, maio 2010 371
de alto poder poluidor, cujo saneamento só poderá ser feito à custa do alto preço
decorrente da maior demora na administração da Justiça.
Em conclusão: não há olvidar que o direito é dinâmico e que as súmulas
da nossa jurisprudência refl etem apenas a orientação prevalente dos Tribunais
sobre a deslinde de determinada controvérsia; não têm força vinculativa e, por
isso, em certos casos, têm sido alteradas ou revogadas. Na hipótese, porém, creio
que a melhor solução a seguir é a adotada pelo direito anglo-saxônico: stare
decisis et quieta non movere.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, acompanho o voto do Sr.
Ministro-Relator, com a ressalva do meu ponto de vista.
Súmula n. 106
SÚMULA N. 106
Proposta a ação no prazo fi xado para o seu exercício, a demora na citação,
por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi ca o acolhimento da
argüição de prescrição ou decadência.
Referência:
CPC, arts. 219 e 220.
Precedentes:
EAR 179-SP (2ª S, 14.08.1991 — DJ 16.09.1991)
REsp 1.379-RJ (2ª T, 12.02.1992 — DJ 16.03.1992)
REsp 1.450-SP (3ª T, 21.11.1989 — DJ 18.12.1989)
REsp 2.686-SP (4ª T, 21.08.1990 — DJ 17.09.1990)
REsp 2.721-MG (4ª T, 27.10.1992 — DJ 23.11.1992)
REsp 7.013-RS (4ª T, 16.06.1992 — DJ 03.08.1992)
REsp 8.257-SP (4ª T, 19.11.1991 — DJ 16.12.1991)
REsp 19.111-SP (4ª T, 09.06.1992 — DJ 26.10.1992)
REsp 24.783-SP (1ª T, 21.09.1992 — DJ 30.11.1992)
Corte Especial, em 26.05.1994
DJ 03.06.1994, p. 13.885
EMBARGOS INFRINGENTES EM AÇÃO RESCISÓRIA N. 179-SP (91086550)
Relator: Ministro Nilson Naves
Embargante: Caixa Econômica Federal — CEF
Embargado: Joel de Oliveira
Advogados: Gisela Ladeira Bizarra e outros e Sérgio Cardoso da Costa
EMENTA
Ação rescisória. Decadência. Intentada a ação no prazo de lei, a
demora na citação, quando por motivo atribuível ao funcionamento
da Justiça, não justifi ca o acolhimento da argüição de decadência.
Em casos dessa ordem, a demora não pode ser imputada ao autor.
Embargos infringentes rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, rejeitar os
embargos, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Brasília (DF), 14 de agosto de 1991 (data do julgamento).
Ministro Bueno de Souza, Presidente
Ministro Nilson Naves, Relator
DJ 16.09.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: A Subprocuradoria Geral da República, em
parecer da Dra. Yedda de Lourdes Pereira, descreveu os embargos infringentes e
sobre eles opinou, nos termos seguintes:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
378
A Caixa Econômica Federal, em embargos infringentes, pretende a reforma da decisão, na parte em que rejeitou preliminar de decadência, objetivando a prevalência do voto divergente que concluiu:
Pelo que ouvi, a citação da Caixa verifi cou-se mais de 10 dias depois do vencimento do prazo de decadência. Isso, pelo voto do Sr. Ministro-Relator, atribuído à defi ciência do Poder Judiciário. Mas, entendendo que cabia à parte, nos termos do art. 219 do Código de Processo Civil, requerer a prorrogação a que se refere o § 3º; se isso não fez, e a citação efetivou-se depois dos 10 dias, decaiu do direito de ação.
A Embargante, pelo fato de ter sido proferido o despacho de citação dois dias após o decurso do biênio decadencial e a citação quinze dias após, sustenta que o autor decaiu do direito.
Verifi ca-se que o acórdão rescindendo foi publicado a 25.08.1983 e transitou em julgado em 09.09.1983. A rescisória todavia foi distribuída em 26.08.1985, ou seja 14 dias antes do término do prazo, mas só recebeu o despacho de citação 16 dias após e a citação se efetivou vinte e nove dias depois.
É evidente que a hipótese ressalvada na Súmula n. 78 do antigo TFR está caracterizada.
Resta saber se a omissão do Autor, em não requerer a prorrogação determinada no § 3º do art. 219 do CPC, constitui fundamento sufi ciente para a caracterização da decadência.
Na hipótese parece irrelevante, porque a lei manda que a citação se faça nos 10 dias seguintes ao despacho, prazo prorrogável até 90 dias, se requerido nos cinco dias seguintes ao seu término.
Ainda que o art. 219 se refi ra à prescrição, a decadência é alcançada pelos seus efeitos, ex vi do art. 220 da lei processual. Desta forma, considerando que a citação se fez no limite dos cinco dias assegurados para o requerimento da prorrogação, não há como caracterizar-se a “omissão” do Autor que propôs a ação dentro do biênio decadencial.
Por tais fatos, o parecer é pelo não-conhecimento dos embargos e se conhecidos, pelo seu improvimento.
É o relatório, que submeto à consideração do Sr. Revisor.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): Quanto ao tema objeto
da divergência, o Sr. Ministro Athos Carneiro, em seu voto de Relator, no
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 379
julgamento da ação rescisória, reportou-se ao parecer da Subprocuradoria-Geral
da República para dar por improcedente a preliminar de decadência, verbis:
No tocante à decadência, constata-se (fl . 54) que o acórdão impugnado foi publicado no DJ de 25.08.1983, tendo transitado em julgado em 09.09.1983, e a ação rescisória foi distribuída em 26.08.1985 (fl . 2), e no dia 11.09.1985 recebeu o despacho de citação (fl . 53), ocorrendo esta no dia 24 seguinte.
Se o despacho de citação e o chamamento a juízo ocorreram 2 e 15 dias respectivamente, após o transcurso do prazo extintivo, retardamento não atribuível ao autor, mas ao próprio mecanismo da Justiça, impõe-se aplicar a Súmula n. 78, do ex-TFR (fl s. 122-123).
Tenho tido, em meus votos, posicionamento análogo ao acolhido por esta Segunda Seção. Entre alguns casos que já apreciei, eis a ementa que escrevi para um caso de ação renovatória de locação, onde se discutia assunto também atinente à decadência: “Ação renovatória de locação. Decadência. Protocolada a petição inicial dentro do prazo previsto no art. 4º do Decreto n. 24.150/1934, o locatário não decai do direito à ação, se a demora na obtenção do despacho ou na citação não pode lhe ser atribuída. Recurso especial conhecido e provido” (REsp n. 5.849, sessão de 26.11.1990).
Confi rmando, no particular, o acórdão embargado, rejeito os embargos infringentes.
VOTO
O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, o voto divergente é meu, neste caso. Mas, daquela oportunidade em que proferi até hoje, vim a modifi car meu entendimento, fazendo, contudo, ressalvas, para acompanhar a Turma a que pertenço, nos casos da aplicação do art. 219 do Código de Processo Civil. Tinha muita difi culdade em superar, sobretudo em recurso especial, a contrariedade ao referido dispositivo, mas, para que as decisões da Turma fi cassem coerentes e com apoio integral dos seus integrantes, passei a acompanhar os eminentes Pares a respeito. Quero me reconsiderar, fazendo as ressalvas constantes do voto para acompanhar o voto do eminente Ministro Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Cláudio Santos: Sr. Presidente, também eu tinha posição
igual à do Sr. Ministro Dias Trindade, mas, em face do entendimento
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
380
majoritário da Terceira Turma, acabei aderindo a ele, para fi xar-me na seguinte colocação: quando o acórdão recorrido entender que não houve desídia do autor, do interessado, mas sim defi ciência do aparelho judiciário, há que se afastar qualquer argüição de decadência ou de prescrição, no que tange aos respectivos pedidos. Por isso, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 1.379-RJ (89.11679-7)
Relator: Ministro José de Jesus Filho
Recorrentes: Antônio João Dutra e outros
Recorrida: União Federal
Advogados: Edmundo Lins Neto e outros
EMENTA
Ação rescisória. Decadência.
“Proposta a ação no prazo fi xado para o seu exercício, a demora na
citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi ca o
acolhimento da argüição de prescrição” — Súmula n. 78-TFR.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos
autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 12 de fevereiro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente
Ministro José de Jesus Filho, Relator
DJ 16.03.1992
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 381
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Antônio João Dutra e outros, com apoio
no art. 119, III, alíneas a e d, da Constituição Federal de 1967, recorreram
extraordinariamente, argüindo Relevância da Questão Federal, do v. acórdão
proferido pela Primeira Seção do extinto TFR, que restou assim ementado:
Militar. Reserva por aceitação de cargo público permanente, estranho à sua carreira. Remuneração. É a desse cargo, inacumulável com os proventos do posto militar. Aplicação do art. 182, §§ 3º e 5º da CF/1946. Caso em que a sentença violou literal disposição de lei. Ação rescisória julgada procedente.
Alegam os Recorrentes, após haverem oposto embargos declaratórios que
foram rejeitados à unanimidade, que a decisão atacada, ao dar validade a um
“processo decadente”, negou vigência aos arts. 214, 219 e seus §§ e 485, V, todos
do CPC. Alegam, ainda, divergência com julgados de outros Tribunais, inclusive
do colendo STF.
O recurso foi impugnado (fl s. 196-197), admitido (fl . 199), com razões e
contra-razões, respectivamente, às fl s. 208-261 e 204-205.
Remetidos os autos ao Pretório excelso, foram distribuídos ao Sr.
Ministro Sepúlveda Pertence que, em virtude da nova ordem constitucional,
converteu o recurso em especial e determinou sua remessa a esta Corte. A douta
Subprocuradoria Geral da República opinou pelo não-conhecimento da súplica.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): O presente recurso trata da
discussão sobre a ocorrência ou não do instituto da decadência, nos autos da
ação rescisória.
O parecer da douta Subprocuradoria Geral da República, da lavra da
eminente Dra. Edylcéa Tavares Nogueira de Paula, bem analisou a questão, ao
dispor:
Transitou em julgado a decisão rescindenda em 28.05.1982.
Proposta a presente ação em 22.04.1984 (certidão acostada à fl . 11), e obtido o despacho de S. Exa, o Ministro Adhemar Raimundo, determinando a citação, em 23.05.1984 (fl . 30), não se confi gurou a decadência, em razão de que a efetivação
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
382
da citação em data posterior não se deveu à inércia da União Federal, mas à burocracia judicial.
Neste sentido são os arestos trazidos ora à colação:
Ação Rescisória. Prazo de decadência.
Se o Autor, apesar de protocolizar a petição dentro do biênio, não obteve, por inércia, o despacho ordenando a citação naquele prazo, operou-se a decadência do direito à rescisão... (RE n. 114.920-RJ, Relator Ministro Carlos Madeira, publicado no DJU de 02.09.1988, p. 21.827).
Ação Rescisória. Decadência não confi gurada. Preliminar de decadência rejeitada, porque o Autor ajuizou a ação rescisória três dias antes do término do prazo decadencial, pagou o preparo, obteve a distribuição e o despacho determinando a citação da Ré. O que ocorreu, ou deixou de ocorrer depois, não pode ser imputado a ele, mas ao serviço judiciário.... (AR n. 723, Relator Ministro Soares Muñoz, publicado no DJU de 21.03.1980, p. 1.549).
No mesmo sentido as decisões proferidas na AR n. 1.046-9-SP, Relator Ministro Alfredo Buzaid, publicado no DJU de 15.09.1982, p. 10.442; AR n. 1.141-4-SP, Relator Ministro Cordeiro Guerra, publicado no DJU de 29.04.1983, p. 5.552; na AR n. 954-1-SP, Relator Ministro Leitão de Abreu, publicado no DJU de 08.05.1981, p. 4.116, na AR n. 1.202-0-MG, Relator Ministro Francisco Rezek, publicado no DJU de 09.05.1986, p. 7.626; na AR n. 1.030-2-SP, Relator Ministro Moreira Alves, publicado no DJU de 20.11.1981, p. 11.733.
O entendimento é corroborado pela Súmula n. 78 do antigo TFR:
Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi ca o acolhimento da argüição de prescrição.
Comungando com este entendimento, não conheço do recurso.
É o meu voto.
RECURSO ESPECIAL N. 1.450-SP (89.11982-6)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Drogacenter S/A Distribuidora de Medicamentos
Recorrida: H. Bettarello S/A Curtidora e Calçados
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 383
Advogados: Roberto Luiz Clemente e outro e Sebastião Augusto
Migliorini e outro
EMENTA
Ação renovatória. Decadência. Inicial despachada antes de fi ndo
o prazo mas citação efetivada após noventa dias.
Nos termos do art. 220 do CPC, as regras do art. 219 aplicam-
se a todos os prazos extintivos previstos em lei. Assim, há de incidir
tratando-se de decadência, entendendo-se, nesse caso, que o direito
considerar-se-á exercido na data do despacho que ordenar a citação.
Não se aperfeiçoando esta, entretanto, no prazo previsto em lei, ter-
se-á por não exercido, salvo se a delonga for imputável ao próprio
aparelho judiciário, para ela não concorrendo a parte.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
recurso para lhe negar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Brasília (DF), 21 de novembro de 1989 (data do julgamento).
Ministro Gueiros Leite, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 18.12.1989
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Drogacenter S/A — Distribuidora
de Medicamentos ajuizou ação renovatória contra Jorge Curi Netto, Raf ik
Curi, Amin Curi, Chafi k Curi, Adélia Curi Abu-Jamra, Adib Curi, Rachid Curi
e Georgina Curi Chufalo. Esclareceu que a locação foi avençada por cinco
anos, fi ndando a 31 de agosto de 1986. Posteriormente, formulou petição em
que afi rma ter sido o prédio alienado e requereu a substituição dos réus pela
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
384
adquirente H. Bettarello S/A — Curtidora e Calçados. A citação deste deu-se a 19 de junho de 1986. A sentença extinguiu o processo, por considerar que tinha havido decadência sendo, nesta parte, confi rmada no julgamento da apelação.
Apresentou a autora recurso especial. Sustentou que a decisão recorrida negara vigência ao Decreto n. 24.150/1934 e ao art. 263 do Código de Processo Civil. Funda-se, ainda, em dissídio jurisprudencial, seja quanto à necessidade de fazer-se a citação, seja no que diz com a exigência de culpa do autor como determinante do atraso na realização daquele ato processual.
Admitido o recurso, foi devidamente processado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): A questão em debate corresponde a antiga divergência doutrinária e jurisprudencial, já existente quando em vigor o Código de 1939. O art. 4º do Decreto n. 24.150 estabelece que o direito à renovação deve ser exercido nos primeiros seis meses do último ano do contrato. A dúvida está em precisar o momento em que o direito considera-se exercido. Se basta a simples entrega da inicial no protocolo, se necessário o despacho do juiz ou a citação.
Como salienta Buzaid (“Da Ação Renovatória”, 3ª ed., Saraiva, p. 527) as dúvidas haveriam de ter-se como afastadas, ainda no direito anterior, desde que editado o Decreto-Lei n. 6.790/1944 que mandou aplicar o § 2º do art. 166 do CPC então vigente, “aos demais casos de prescrição e prazos extintivos previstos em lei.” Aquele dispositivo dispunha quanto à necessidade da citação, em termos semelhantes aos estabelecidos nos §§ 1º a 4º do art. 219 do Código de 1973.
No Código atual, seu art. 220 tem o seguinte teor:
O disposto no artigo anterior aplica-se a todos os prazos extintivos previstos na lei.
Não pode haver dúvida de que a decadência é um prazo extintivo. Em
princípio, pois, as regras do art. 219 a ela haverão de aplicar-se. Objeta-se que
o § 1º do art. 219 cuida da interrupção da prescrição. Não poderia aplicar-se à
decadência, em que o curso do prazo não é suscetível de interromper-se.
A objeção não me parece válida. Cumpre interpretar a regra com as
necessárias adaptações e não tornar letra morta o citado art. 220. Certo que o
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 385
prazo decadencial não se interrompe. A aplicação a ela do dispositivo em exame
far-se-á lendo-se “o direito considerar-se-á exercido” em lugar de “a prescrição
considerar-se-á interrompida”. E o § 4º, em sua parte fi nal, signifi cará “haver-
se-á por não exercido o direito.”
De outra parte, a invocação do que se contém no art. 263 do CPC em nada
favorece à recorrente. A segunda parte desse dispositivo é expressa em ressalvar
que só se produzirão, relativamente ao réu, os efeitos mencionados no art. 219,
depois que for validamente citado.
Tem a jurisprudência temperado a norma, admitindo que a delonga na
citação não prejudicará o autor quando decorrer do mecanismo judicial e
não de desídia sua. Neste sentido é a Súmula n. 78 do Tribunal Federal de
Recursos. A questão há de ser resolvida em função do caso concreto. Na
hipótese em julgamento, o acórdão examinou se concorreria a escusativa e assim
se pronunciou: “Houve inegável desídia da autora, pois, sabendo que o imóvel
estava à venda, não se cercou das cautelas necessárias antes do ajuizamento da
ação. Em conseqüência, propôs a renovatória contra os antigos proprietários e
atrasou consideravelmente, por sua culpa, a citação da locadora, efetivando-a
somente quando já ocorrera a decadência.”
Em vista do exposto, conheço do recurso pela letra c mas nego-lhe
provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 2.686-SP (90.0003144-3)
Relator: Ministro Athos Carneiro
Recorrente: Isabel dos Anjos Fernandes Gianini
Recorrida: Indústria Comércio de Reboques Safari Ltda
Advogados: Oséas Davi Viana e José Th omaz Mauger e outros
EMENTA
Ação renovatória de locação. Prazo decadencial.
Basta ao locatário ajuizar a demanda em tempo hábil,
protocolando a petição inicial; irrelevante é que o despacho ou a
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
386
citação ocorram já decorrido o semestre, dês que para o atraso não tenham concorrido, por desídia, o demandante.
Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes que integram o presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 21 de agosto de 1990 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente em exercício e Relator
DJ 17.09.1990
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Athos Carneiro: Cuida-se de agravo de instrumento interposto, em ação renovatória de locação, de decisão do MM. Juiz de Direito que rejeitou preliminar de decadência, sob o entendimento de que “basta ao requerente ajuizar a ação dentro do interregno de um ano a seis meses anterior ao vencimento do prazo contratual, situação essa observada pela autora que intentou a demanda na véspera do exaurimento daquele prazo” (fl s. 35-36).
A egrégia Sexta Câmara do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo negou provimento ao recurso, pois “a decadência difere da prescrição, não se suspendendo ou interrompendo o prazo respectivo, não havendo, portanto,
fundamento para se invocar a providência do art. 219 e § 1º, do CPC.” (fl . 87)
Inconformada, manejou a locadora recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando negativa de vigência aos arts. 219, 220 e 269, inciso IV, do CPC, além de divergência do acórdão recorrido com aresto do egrégio STF, sustentando, em síntese, que apenas com a citação ter-se-ia por inocorrente a decadência (fl s. 91-94).
O eminente Juiz Presidente do egrégio Trigunal a quo admitiu o apelo
extremo por ambos os fundamentos (fl s. 100-101).
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 387
VOTO
O Sr. Ministro Athos Carneiro (Relator): O deslinde da questão prende-se
ao prazo decadencial para propositura da ação renovatória de locação (Decreto
n. 24.150/1934, art. 4º). O egrégio Tribunal de origem entendeu que o só fato
do ajuizamento da ação, vale dizer, o protocolo em cartório, independentemente
de despacho e citação, seria bastante a impedir a ocorrência da decadência. O
recorrente, contrariamente, sustenta que apenas com a citação da locadora dito
prazo não se terá escoado.
Com efeito, o melhor entendimento, ao qual me filio, sufragado em
inúmeros julgados, está a corroborar a decisão recorrida. Destarte, tratando-se
de exercício de direito ao qual a lei específi ca não acrescenta nenhum requisito
especial, basta a propositura da ação, a teor do art. 263 do CPC.
Vale citar trecho de voto do eminente Ministro Th ompson Flores, no
egrégio STF:
Convencido estou, com a devida vênia dos que pensam em contrário, que não exigiu a lei (Decreto n. 24.150/1934, art. 4º) que antes do semestre se realize a citação para a renovatória, ou o despacho que a determine.
Com efeito. São termos do artigo citado: “O direito à renovação do contrato de locação, nas condições e modos estabelecidos nesta lei, deve ser exercido pelo locatário, no interregno de um ano, no máximo; até seis meses, no mínimo...” Verifi ca-se, pois, que exigiu o diploma em comentário que o interessado exercesse o seu direito no prazo em questão.
E, a meu ver, bastante se tornara que na forma processual adequada, ingressasse no juízo competente, com o pedido de renovação. Se assim o fi zer, exerceu o direito formativo, a que se refere a lei, suscetível de merecer a devida apreciação. (STF — ERE 62.439-SP, TP., julgado em 24.09.1980 — RTJ 55/682)
No mesmo sentido, dentre outros, os seguintes julgados, coligidos por
Sérgio da Silva Couto: 1º TARJ, Ap n. 14.899, 30.09.1969 — AI n. 20.800,
12.03.1981 — AgRg n. 20.960, 31.03.1981 — Ap n. 16.234, 16.12.1969 — Ap
n. 16.994, 23.04.1970 — Ap n. 41.731, 11.09.1975 — Ap n. 13.155, 03.07.1969
— Ap n. 14.469, 11.09.1969 — Ag n. 16.591, 15.05.1975 — 2º TARJ, Ap n.
3.058, 07.07.1975 — 2º TACiv-SP, Ap n. 138.940, 25.11.1981 — Ap n. 46.867,
21.09.1976 — AgRg n. 90.730, 19.06.1979 — AgRg n. 91.692, 21.02.1979
— Embargos n. 20.260, 15.03.1976 — TARS, Ap n. 15.638, 25.08.1977 —
TAPR, Ap n. 553/1979, 03.10.1979 — TJDF, Ap n. 3.366, 15.05.1974, TJRJ,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
388
Embargos n. 91.394, 05.11.1975. (“A Locação Comercial nos Tribunais” — Ed.
Forense-RJ/1982, p. 158, itens 353/421).
E, ainda, acórdãos citados por Th eotonio Negrão, insertos em JTA 93/392,
105/266, RJTAMG 24/238. (“Código de Processo Civil e legislação processual
em vigor” — ed. RT, 19ª ed., 1989 — p. 810, nota 1 ao art. 4º do Decreto n.
24.150/1934).
Ademais, a norma inscrita no art. 220 do CPC, deve ser analisada de forma
sistemática, afastada a mera interpretação literal, com o que se verifi cará que, in
casu, não se lhe contrariou o enunciado. Para tanto, melhor transcrever a lição do
mestre Moniz de Aragão, que com suma propriedade abordou o tema:
No corpo do art. 219 há providências que em nada se modifi cariam, fosse o prazo de prescrição ou decadência, expressasse o legislador ou não o preceito deste artigo, pois independem disso, como as primeiras, dos efeitos processuais da citação inicial. Dos efeitos materiais interromper a prescrição e tornar litigiosa a coisa, este último não é o visado pelo texto, pois também independe de o prazo ser de prescrição ou de decadência. Apenas uma das disposições, portanto, é aplicável aos casos de prazo extintivo: a interrupção da prescrição.
Mas aí surge a impropriedade da forma de se exprimir, escolhida pelo legislador, em 1944 e agora. É que não se trata de interromper a decadência ou prazo de extinção.
O que a lei visa é assegurar à parte que os efeitos da decadência ou extinção do prazo não ocorrerão, se ajuizar a causa dentro do lapso em lei previsto e obtiver o despacho inicial — ou apresentar a petição inicial no protocolo da distribuição ou do Tribunal, desde que a citação inicial seja realizada na conformidade do disposto nos §§ 2º e 3º do artigo anterior. (“Comentários ao Código de Processo Civil” — II vol., Forense — 5ª ed., 1986, pp. 252-253)
Aqui, cabe ressaltar que, se imputável ao autor da renovatória a não-
efetivação da citação, por desídia, tem-se entendido como ocorrente a decadência.
Mas não é o caso dos autos. Embora diga a recorrente que o locatário não
diligenciou na efetivação da citação no prazo, não se encontram, em nenhum
momento nos autos, elementos comprovadores de que dito argumento tenha
sido enfrentado na justiça a quo, tratando-se, portanto, de matéria de prova
insuscetível de reapreciação na instância especial e, inclusive, carecedora de
prequestionamento. Assim, não se presta à caracterização de divergência o
aresto do egrégio STF trazido à colação, posto que ali cuidou-se exatamente de
SÚMULAS - PRECEDENTES
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caso onde se entendeu efetivada a decadência por inatividade do locador quanto
à realização da citação.
Ante o exposto, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 2.721-MG (90.0003313-6)
Relator: Ministro Bueno de Souza
Recorrentes: Esméria Ferreira Pelegrin e outros
Recorridos: José Luz de Oliveira e outros
Advogados: Marco Antonio Gonçalves Torres e outros e Aristóteles
Dutra Araújo Atheniense e outros
EMENTA
Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Efetivação
do ato citatório.
1. Impor ao litigante o ônus de ajuizar a demanda com antecedência
sufi ciente para que a citação se aperfeiçoe antes de fi ndo o prazo de
decadência, além de manifesta ilegalidade, é, ademais, sumamente
aventuroso, certo que nunca se podem prever os obstáculos à citação.
2. Por outro lado, exigir do autor da rescisória intentada na
véspera da consumação do prazo (no regular exercício do direito), que
logo requeira a dilação do prazo para citação (Código de Processo
Civil, art. 219, §§ 2º, 3º e 4º) constitui requinte de formalismo,
desnecessário e incompatível com o princípio da instrumentalidade
do processo, que a garantia de acesso à jurisdição tanto encarece e
recomenda.
3. Recurso especial conhecido e provido, sem discrepância de
votos.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe
provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Athos Carneiro, Fontes de
Alencar, Sálvio de Figueiredo e Barros Monteiro.
Brasília (DF), 27 de outubro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente
Ministro Bueno de Souza, Relator
DJ 23.11.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Adoto como relatório trechos do
minucioso parecer do ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. José
Ribamar de Castro Viana (fl s. 738-740), verbis:
Recurso extraordinário, acompanhado de argüição de relevância da questão relativa a dissídio jurisprudencial, interposto, em 28 de agosto de 1987, por Esméria Ferreira Pelegrin e outros com amparo nos arts. 119, item III, letras a e d, da Constituição Federal de 1969 e 325 a 329 do RISTF, sobre o fundamento de que o acórdão recorrido, prolatado em embargos infringentes em ação rescisória:
a) contrariara o princípio constitucional do devido processo legal e
b) discrepara da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e de outros Tribunais.
Admitiu-se o extraordinário e determinou-se a subida da argüição de relevância nos próprios autos do extraordinário, independentemente de traslado.
Remetidos os autos ao Supremo Tribunal Federal entendeu o Sr. Ministro-Relator que o recurso extraordinário haveria de desdobrar-se em recurso extraordinário (quanto à matéria constitucional) e recurso especial (quanto à matéria legal, concernente ao dissídio jurisprudencial) e determinou a remessa dos autos ao Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais para que, intimado, o recorrente promovesse o desdobramento (fl . 705).
Efetuado o desdobramento pelo recorrente (fls. 708 a 722) e admitido o recurso especial (fl s. 727 e 728), foram os autos remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
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Os ora recorrentes ajuizaram, em 04 de março de 1980, ação rescisória visando desconstituir o acórdão que julgou procedente a ação reivindicatória contra eles proposta por José Luz de Oliveira e outros. (fl . 2).
O Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, por maioria de votos, pronunciou a decadência e julgou extinto o processo sobre o fundamento de que, embora ajuizada a ação rescisória em 04 de março de 1980, dois (2) dias antes da consumação da decadência, a petição inicial foi conclusa ao Presidente em 10 de março de 1980, os autos conclusos ao Relator em 17 de março de 1980 e a primeira citação, a do litisconsorte José Olivar do Sul, deu-se quando já consumada a decadência, haja vista que não requereram os autores a prorrogação do prazo citatório, conforme determinam os §§ 2º e 3º do art. 219 e 220 do Código de Processo Civil.
Interpostos embargos infringentes, foram rejeitados pelos mesmos fundamentos do acórdão embargado, contra o voto do Desembargador Cláudio Costa, que os recebia. (fl s. 629 a 639).
Interpostos embargos de declaração, foram recebidos para esclarecer que os arts. 219, § 3º, e 220 e o acórdão que neles se fundou não contrariam o princípio constitucional do devido processo legal. (fl s. 648 a 653).
Em suma, tem-se que o acórdão recorrido, prolatado nos embargos infringentes, entendeu que se consumara a decadência porque, embora ajuizada a rescisória antes do decurso do prazo de dois (2) anos, a citação dos réus somente se efetivou após transcurso desse prazo, sem que tenham requerido os autores a prorrogação do prazo de citação, nos termos dos §§ 2º e 3º ao art. 219 do Código de Processo Civil.
Dos acórdãos trazidos à colação, merece destaque:
a) o do Supremo Tribunal Federal que entende que:
— Ajuizada a ação rescisória no prazo fixado para o seu exercício, o retardamento havido nas citações dos réus, se não imputável à falta de diligência dos autores, desautoriza o acolhimento da argüição de decadência. Recurso extraordinário conhecido e provido (cf. fl . 663 e RTJ 91/11/74).
b) e o do Tribunal de Justiça de São Paulo que entendeu que:
— No caso de ser a citação ultimada após o decurso do biênio decadencial, desde que a este retardamento não tenha dado causa o autor da ação rescisória, considera-se, em princípio, prevenida a decadência se a propositura da referida ação se deu em momento oportuno. (Cf. fl . 667 e RT 610/105).
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VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): Sr. Presidente, ao admitir
a instauração de instância extraordinária, suscitada a propósito de alegada
ofensa ao princípio constitucional do devido processo legal, por não terem
sido intimados do despacho ordenando a citação dos réus da ação rescisória, a
r. decisão do ilustre Desembargador José Loyola, Vice-Presidente do Tribunal
a quo, já acentuara a notoriedade do dissídio jurisprudencial concernente à
interpretação que se vem conferindo aos arts. 219 e 220 do Código de Processo
Civil, ao resumir (fl . 682):
Cinge-se a espécie, pois, à busca de uniformidade na interpretação daqueles dispositivos legais, à luz do preceito constitucional invocado, o que recomenda acurado e superior exame.
2. A petição de interposição do recurso extraordinário, anterior à
promulgação da Constituição de 05.10.1988, para documentar o amplo dissídio
jurisprudencial (art. 119, III, d) fi zera apropriada alusão, primeiramente, ao v.
acórdão unânime da Primeira Turma do Supremo Tribunal, de que foi Relator
o eminente Ministro Xavier de Albuquerque (RTJ 91/1.174), em cuja ementa
consta o seguinte:
Ajuizada a ação rescisória no prazo fi xado para o seu exercício, o retardamento havido nas citações dos réus, se não imputável à falta de diligência dos autores, desautoriza o acolhimento da argüição de decadência. Recurso extraordinário conhecido e provido.
Para evidenciar a divergência, transcreveu-se este trecho do mencionado
aresto:
... o rigor com que se houve, na interpretação dos invocados preceitos da lei processual, o Tribunal a quo, discrepa, na verdade, do entendimento usual dos tribunais brasileiros e do próprio Supremo Tribunal Federal. É isso bem sabido, e o demonstraram os recorrentes, como reconheceu o ilustre Presidente daquela Corte.
Conheço, pois, do recurso, e passo a julgar a causa, nos limites em que é, por hora, submetida à nossa apreciação.
Não podem prevalecer critérios rígidos a propósito do tema, devendo cada caso ser examinado em suas notas peculiares. O que prevalece, em nossa jurisprudência, a respeito da ação rescisória, é a orientação de que, se o autor a propõe em momento oportuno, previne, em princípio, a decadência, desde que
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o retardamento da citação do réu não resulte de ação ou omissão que se lhe deva imputar.
3. A par de outros precedentes do Supremo Tribunal (Segunda Turma, RTJ
105/830; 102/445 e 100/320), bem como de julgados mais antigos (RTJ 78/631,
76/269, 63/709, 62/636), mencionam ainda os recorrentes, entre outros, o
julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo, versante com decadência do direito
de propor ação rescisória, publicado na RT 610/105, cuja ementa, reproduzida à
fl . 667, contém o sufi ciente para a confi guração da similitude das espécies.
4. Foi, portanto, acertadamente admitido, por discrepância de julgados, o
presente recurso especial fundado no art. 105, III, a e c, em que se converteu
o recurso extraordinário inicialmente interposto (fl . 708), uma vez que, não
obstante a falta de demonstração de contrariedade à lei, o ilustre Vice-Presidente
Joaquim Alves, do Tribunal de Alçada de Minas Gerais, anotou (fl . 727):
... por se tratar de matéria controvertida, aconselhável seja submetida a exame mais apurado.
5. A divergência assim resumida não se observa, contudo, nas decisões
desta Corte.
De fato:
a) no RMS n. 42-MG, de que foi Relator, nesta Quarta Turma, o eminente
Presidente Athos Carneiro, nosso pensamento, unânime, foi resumido nesta
ementa (DJU de 11.12.1989):
Mandado de segurança. Recurso ordinário. Citação de litisconsorte passivo.
“Promover” a citação, como consta do art. 47, parágrafo único, do CPC, signifi ca requerê-la e arcar com as despesas de diligência; não signifi ca “efetivá-la”, pois no Direito Processual brasileiro a citação é feita pelo sistema da mediação.
Reforma do acórdão que extinguiu o processo sem exame de mérito, para que o mandamus prossiga normalmente.
Recurso ordinário com base no art. 105, II, b, da Constituição Federal, conhecido e provido.
Do douto voto condutor, colho este tópico:
Promover a citação, tal como consta do parágrafo único do art. 47 do CPC, realmente signifi ca requerê-la e arcar com as eventuais despesas necessárias à sua efetivação; mas não signifi ca efetivá-la, pois não cabe à parte, no sistema
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processual brasileiro, realizar a in ius vocatio, mas sim ao meirinho. É o chamado sistema de mediação, também preferido na Alemanha e Áustria. A respeito, e por todos, trago o magistério de Cândido Dinamarco, in “Litisconsórcio”, RT, 2ª ed., n. 34, com remissões de doutrina e julgados; e de Sanseverino e Komatsu, in “A Citação no Direito Processual Civil”, RT, 1977, pp. 55 e ss., com ampla notícia de direito comparado.
Além disso, é de ressaltar que na própria data em que o eminente Relator declarava não comprovada a citação do litisconsorte (fl . 56), o mesmo litisconsorte ingressava nos autos, apresentando a defesa de fl s. 57-59.
Bem argumenta o ilustre órgão do Ministério Público que, “de fato, no sistema processual brasileiro a iniciativa do processo é da parte, mas o seu impulso é ofi cial (CPC, art. 262). Assim, promover a citação signifi ca requerê-la e não se omitir no cumprimento de qualquer exigência legal ou judicialmente exigível, no sentido de que o ato se concretiza (fl . 45).
Faz-se, aliás, no precedente, expressa menção da Súmula n. 78 do TFR,
verbis:
Proposta a ação no prazo fi xado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi ca o acolhimento da argüição de prescrição.
b) no REsp n. 2.686-SP, de que foi Relator, nesta Quarta Turma, ainda
uma vez, o preclaro Ministro Athos Carneiro, a ementa da decisão unânime
reitera (DJU de 17.10.1990):
Ação renovatória de locação. Prazo decadencial.
Basta ao locatário ajuizar a demanda em tempo hábil, protocolando a petição inicial; irrelevante é que o despacho ou a citação ocorram já decorrido o semestre, dês que para o atraso não tenha concorrido, por desídia, o demandante.
Recurso especial não conhecido.
Neste julgado recorda-se o aresto do Supremo Tribunal nos ERE n.
62.439-SP, em que o Plenário, sendo Relator o Ministro Th ompson Flores (RTJ
55/682), frisou:
Convencido estou, com a devida vênia dos que pensam em contrário, que não exigiu a lei (Decreto n. 24.150/1934, art. 4º) que antes do semestre se realize a citação para a renovatória, ou o despacho que a determine.
Com efeito. São termos do artigo citado: “O direito à renovação do contrato de locação, nas condições e modos estabelecidos nesta lei, deve ser exercido pelo locatário, no interregno de um ano, no máximo; até seis meses, no mínimo...”
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 395
Verifica-se, pois, que exigiu o diploma em comentário que o interessado exercesse o seu direito no prazo em questão.
E, a meu ver, bastante se tornara que na forma processual adequada, ingressasse no juízo competente, com o pedido de renovação. Se assim o fi zer, exerceu o direito formativo, a que se refere a lei, suscetível de merecer a devida apreciação. (STF — ERE n. 62.439-SP, TP., julgado em 24.09.1980 — RTJ 55/682).
Acentuou, em continuação, o julgado desta Quarta Turma:
Aqui, cabe ressaltar que, se imputável ao autor da renovatória a não-efetivação da citação, por desídia, tem-se entendido como ocorrente a decadência. Mas não é o caso dos autos. Embora diga a recorrente que o locatário não diligenciou na efetivação da citação no prazo, não se encontram, em nenhum momento nos autos, elementos comprovadores de que dito argumento tenha sido enfrentado na justiça a quo, tratando-se, portanto, de matéria de prova insuscetível de reapreciação na instância especial e, inclusive, carecedora de prequestionamento. Assim, não se presta à caracterização de divergência o aresto do egrégio STF trazido à colação, posto que ali cuidou-se exatamente do caso onde se entendeu efetivada a decadência por inatividade do locador quanto à realização da citação.
6. Se é certo que, no julgamento do REsp n. 5.605-RJ, de que foi Relator o eminente Ministro Cláudio Santos (DJU 23.09.1991) se decidiu, à unanimidade, pela ocorrência de decadência em virtude de demora da citação, aspectos peculiares ao caso foram bem ressaltados no douto voto condutor do acórdão. Eis a ementa:
Ação rescisória. Decadência. Recurso especial não conhecido.
Feita a citação quatro meses após o despacho a ordená-la e fora do biênio caducial, sem que tomadas as providências ao encargo do autor previstas nos §§ 2º e 3º do art. 219 do CPC, consuma-se a decadência.
Dissídio não comprovado.
Recurso não conhecido.
Trecho do v. acórdão recorrido, aliás, sublinha:
In casu, determinada a citação em 16.10.1980, os primeiros réus foram citados no mês de janeiro de 1981, sem que o autor cuidasse de requerer nesse longo interregno de 04 meses, a prorrogação do prazo para efetivação da citação sob pena de operar-se a não-interrupção da prescrição.
Repudiou-se, assim, a confi guração do dissídio e deixou-se de conhecer do
recurso especial.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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7. O entendimento da egrégia Terceira Turma está, aliás, bem exemplifi cado
na decisão do REsp n. 3.029-SP, Relator para o acórdão o insigne Ministro
Waldemar Zveiter (DJU de 1º.07.1991), com esta ementa:
Processual Civil. Rescisória. Decadência.
I - Jurisprudência predominante da Corte e do Pretório excelso assentou entendimento no sentido de que não ocorre a decadência da Rescisória quando a demora na citação deveu-se a obstáculo atinente ao aparelho judiciário.
II - Recurso conhecido e improvido.
O douto voto condutor do acórdão se reporta aos precedentes desta Quarta
Turma (RMS n. 42-MG, há pouco referido) e do Supremo (RT 496/217,
620/244).
8. E a Segunda Seção desta Corte, nos Embargos Infringentes na AR n.
179-SP, por unanimidade, decidiu, em 14.08.1981 (DJU de 16.09.1991), sendo
Relator o preclaro Ministro Nilson Naves, como está na ementa:
Ação rescisória. Decadência. Intentada a ação no prazo de lei, a demora na citação, quando por motivo atribuível ao funcionamento da justiça, não justifi ca o acolhimento da argüição de decadência. Em casos dessa ordem, a demora não pode ser imputada ao autor. Embargos rejeitados.
Nessa oportunidade, o ilustre Ministro Dias Trindade reconsiderou seu
entendimento da questão, razão pela qual a matéria há de ser tida por pacifi cada,
no âmbito da Segunda Seção deste Tribunal.
9. Confi gurada, portanto, como demonstrado nos autos, a divergência ante
a orientação que preside o julgado recorrido, impõe-se conhecer do presente
recurso, no ponto em que se fundamenta na letra c da norma constitucional
autorizativa.
Dele conhecendo, logo assinalo que o v. acórdão recorrido não aponta
concreta confi guração de desídia dos recorrentes, no tocante à diligência, quanto
lhes pudesse incumbir a citação dos réus da rescisória (agora, recorridos). A
questão foi enfrentada e resolvida sob o predomínio da preceituação legal,
sem específi ca referência a inércia dos autores da demanda, concretamente
confi gurada.
É o que prepondera no douto voto do ilustre Relator dos embargos
infringentes, do qual extraio este trecho (fl s. 633-635):
SÚMULAS - PRECEDENTES
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Verifi ca-se dos autos que a ação rescisória foi protocolada em 04/março/1980, dois dias antes de operar-se a decadência, contado esse prazo do trânsito em julgado do acórdão rescindendo, que ocorreu em 06/março/1978.
É intuitivo que a partir do seu ajuizamento era impossível a efetivação da citação dos réus por carta de ordem às diversas Comarcas de seus domicílios no reduzidíssimo prazo de dois dias. Por conseguinte, incumbia aos autores, ora embargantes, com vistas a impedir a consumação da decadência, valeram-se de faculdade que lhes proporcionavam as regras estatuídas nos §§ 2º e 3º do art. 219 do Código de Processo Civil.
Não estava fora da esfera normal da previsão a impossibilidade material das citações dentro daquele apertadíssimo prazo.
Como declarei em meu sucinto voto (fl . 557), cumpria aos autores promover em tempo hábil a citação dos réus, dada a previsibilidade da demora na sua efetivação. A lei não estabelece nenhuma presunção de obstáculo judicial em favor do autor. Ainda que a ação seja aforada na véspera do prazo decadencial, não há qualquer presunção de que a citação não possa se efetivar antes de consumar-se a decadência.
O que há de observar-se, no plano concreto, é a previsibilidade da impraticabilidade da efetivação da citação. E é em razão dessa previsibilidade que a lei (art. 219 do CPC) atribui ao autor a incumbência de promover a citação do réu no prazo decadencial (§ 2º) e, não sendo isto possível, coloca à sua disposição, por acréscimo, o pedido de prorrogação do prazo até por noventa dias (§ 3º).
Como se vê, a lei tudo faz para que o autor não decaia do seu direito. Coloca ao seu alcance os instrumentos necessários e aguarda que ele os maneje adequadamente.
Ora, na espécie, de nada cuidaram os autores. Ajuizaram a ação na antevéspera da expiração do prazo decadencial, deixando-a, todavia, ao embate inexorável do tempo.
Não há negar que também o prazo decadencial se sujeita ao regime processual (CPC, 220) do art. 219. Conseqüentemente, só a efetivação da citação dentro da elasticidade dos prazos previstos nos §§ 2º e 3º do art. 219 é capaz de operar o efeito jurídico concernente ao impedimento da consumação da decadência.
Uma coisa é o exercício do direito de ação, que se dinamiza com sua propositura mediante despacho do juiz ou simples distribuição onde houver mais de uma vara. Outra coisa são os efeitos da citação válida do réu, capazes de operar, dentre outros, a impossibilidade da consumação do prazo decadencial (CPC, 220), sendo relevante, sob esse aspecto, a atividade do autor.
A decadência só não se consuma se o retardamento da citação decorrer de vicissitudes ou emperramento do aparelho judiciário. Todavia, no caso em apreço,
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imputável aos autores a omissão culposa em não requererem a prorrogação do prazo para a efetivação da citação.
Isto posto, não me pejando em manter coerência com meu anterior e modesto entendimento, peço vênia aos respeitáveis e eruditos votos minoritários, para deles divergindo, posicionar-me de conformidade com os votos vencedores.
10. É bem de ver, no entanto, que, ao propor a rescisória antes de
transcorrido o prazo decadencial (pouco importando, como é óbvio, que o
tenham feito apenas dois dias antes de seu decurso), os recorrentes exerceram
regularmente seu direito.
Impor ao litigante o ônus de ajuizar a demanda (rescisória, mandado de
segurança, renovatória de locação etc.) com antecedência sufi ciente para que a
citação se aperfeiçoe antes de fi ndo o prazo da decadência, além de manifesta
ilegalidade, é, ademais, sumamente aventuroso, certo que nunca se podem prever
os obstáculos à citação.
Por outro lado, exigir do autor da rescisória intentada na véspera da
consumação do prazo (no regular exercício do direito) que logo requeira a
dilação do prazo para citação (Código de Processo Civil, art. 219, §§ 2º, 3º e 4º)
constitui requinte de formalismo, desnecessário e incompatível com o princípio
da instrumentalidade do processo, que a garantia de acesso à jurisdição tanto
encarece e recomenda.
O verdadeiro propósito da preceituação contida no disputado art. 119 do
Código de Processo Civil foi, aliás, magistralmente compendiado na insuperável
lição de Buzaid, ao relatar, no Plenário do Supremo Tribunal, em 26.04.1984,
a AR n. 1.105-8-RS. O aresto unânime estampado na RT 589/226 traz esta
ementa:
Ação rescisória. Propositura dentro do biênio. Citação do réu, todavia quando já ultrapassado. Prazo de decadência. Preclusão caracterizada. Extinção do processo. Aplicação do art. 219, §§ 2º e 3º, do CPC.
Do douto voto da lavra do egrégio mestre vale transcrever estes dizeres:
I - Acolho a preliminar de decadência do direito. Na verdade, o v. acórdão rescindendo foi publicado no DJU de 04.05.1979, tendo transitado em julgado. A ação foi ajuizada tempestivamente, isto é, dentro do prazo de dois anos, sendo recolhidas as custas judiciais a 20.10.1980. Subindo os autos à conclusão do Relator, eminente Ministro Cunha Peixoto, determinou S. Exa. que o autor juntasse aos autos, dentro do prazo de 10 dias, cópia autêntica do acórdão rescindendo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 399
e certidão de trânsito em julgado. Este r. despacho, datado de 17.12.1980, foi publicado no órgão ofi cial no dia 02.01.1981. Oferecidos os mencionados documentos, a 26.02.1981, é assinada a carta de ordem, que só deu entrada no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul no dia 28.07.1981. A ré é citada a 14.08.1981. A esse tempo já havia transcorrido o prazo de decadência previsto no art. 495 do CPC.
2. Sob o regime do Código Civil, a prescrição se interrompia pela citação pessoal feita a devedor, ainda que ordenada por juiz incompetente (art. 172, I). Até o advento do Código de Processo Civil de 1939, constituía verdadeiro tormento para os advogados obter a interrupção da prescrição pela citação pessoal do réu, quando a ação era ajuizada nos derradeiros dias do prazo de decadência ou de prescrição. Para obviar a esses inconvenientes, o Código de Processo Civil de 1939 introduziu importante inovação que consistiu em se reputar interrompida a prescrição na data do despacho que ordenar a citação, mas impôs à parte que a efetivasse no prazo de 10 dias, sob pena de fi car inválida a interrupção da prescrição (art. 166, §§ 2º e 3º). O Código de Processo Civil vigente manteve a solução anterior e procurou aperfeiçoá-la, partindo sempre do conceito de que a interrupção da prescrição só se dá pela citação válida (art. 219).
Após traslados o art. 219 do CPC, prossegue o saudoso Ministro Buzaid:
3. Pela leitura desses preceitos legais logo se infere que o primeiro prazo, dentro do qual incumbe ao autor promover a citação, fl ui a partir da prolação do despacho; não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo de 90 dias, na previsão de possível citação edital, mas desde que a parte o requeira no prazo de cinco dias seguintes ao de 10 dias concedidos pelo § 2º do art. 219. Não se efetuando a citação nos prazos já mencionados, haver-se-á por não interrompida a decadência.
A jurisprudência deste Tribunal é pacífi ca. Além dos julgados já referidos no douto parecer da Procuradoria Geral da República, peço vênia para lembrar ainda outros, que deram interpretação quer no art. 166 do CPC de 1939, quer do art. 219 do CPC vigente: AR n. 1.030 (07.10.1981, Relator Ministro Moreira Alves, RTJ 103/485); AR n. 997 (28.08.1980, Relator Ministro Rafael Mayer, RTJ 96/1951); AR n. 898 (08.11.1979, Relator Ministro Thompson Flores, RTJ 95/7).
Este entendimento assentou iterativa e inequivocamente que, embora ajuizada a ação dentro do biênio a contar do trânsito em julgado da decisão rescindenda, se, por culpa exclusiva do autor, não foi o réu citado nos prazos estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 219 do CPC, se há de reputar não interrompida a decadência, operando-se, pois, todos os seus efeitos legais.
Esta orientação presidiu recentemente nossa decisão unânime no REsp n.
19.111, Relator o ilustre Ministro Sálvio de Figueiredo, de cuja ementa consta o
tópico seguinte (DJU de 26.10.1992):
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
400
I - Inocorre a prescrição a que se refere o art. 219, CPC, quando a demora na citação decorreu do mecanismo judiciário.
11. À luz desta preclara compreensão do sentido teleológico da norma;
e em face da inocorrência de desídia dos recorrentes, conheço do recurso, pela
dissidência e dou-lhe provimento, a fi m de cassar o v. acórdão recorrido e, assim,
assegurar a decisão da causa, por todos os seus restantes aspectos, como for de
justiça.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 7.013-RS (90.0013952-0)
Relator: Ministro Fontes de Alencar
Recorrente: Vanderlei Valter Vignochi
Recorrido: Geremias Pedro da Silva
Advogados: Marco Antônio Bandeira Martha e outros e José Cláudio
Camargo e outros
EMENTA
Interrupção da prescrição.
A demora da citação resultando de emperro do aparelho judicial,
do autor não se lhe reclama pedido de prorrogação de prazo para
efetuação do chamamento.
Recurso conhecido, mas denegado.
Unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do
recurso, negando-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 401
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Bueno de Souza e Athos
Carneiro votaram com o Relator.
Brasília (DF), 16 de junho de 1992 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente
Ministro Fontes de Alencar, Relator
DJ 03.08.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Em embargos do devedor a decisão
de primeira instância acolheu a preliminar de prescrição, e julgou extinta a
execução, sob o fundamento de que embora tenha sido ordenada a citação
antes do prazo prescricional, esta não se efetivou em tempo hábil por culpa do
embargado.
A Quinta Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande
do Sul reformou a decisão do Juiz a quo arredando a prescrição, pelos seguintes
fundamentos:
O credor promoveu a execução das notas promissórias, com vencimento programado para 20 de janeiro e 20 de fevereiro de 1983, em 19 de dezembro de 1985, sendo determinada a citação em 26 de dezembro, com certidão negativa do ofi cial de justiça de não ter localizado o devedor, datada de 28 de fevereiro de 1986.
A citação, ocorrida em 05 de maio de 1986, depois de informado o endereço correto do devedor, em 16 de abril de 1986, em atendimento aos despachos de 05 de março e 02 de abril, não autoriza que se penalize o credor com o acolhimento da argüição da prescrição, tendo em vista que o ofi cial de justiça somente deu cumprimento ao mandado, expedido em 16 de janeiro de 1986, em data de 28 de fevereiro.
O endereço incorreto não impedia diligenciasse o oficial de justiça na localização do devedor, antes da devolução do mandado, com certidão negativa, em 28 de fevereiro de 1986, mais de mês depois de ter sido expedido.
Aplica-se, pois, a Súmula n. 05 do Tribunal de Alçada, com a seguinte redação:
Prescrição. Ajuizada demanda no prazo fixado para seu exercício, a demora na citação, atribuível aos serviços judiciários, não justifica o
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
402
acolhimento da argüição de prescrição ou decadência, entendendo-se implícito o requerimento a que se refere o art. 219, § 3º, do CPC. (fl s. 104-105)
Inconformado, o vencido interpôs recurso especial com fundamento no art.
105, III, a e c, da Constituição Federal, alegando ofensa ao art. 219, §§ 3º e 4º,
do Código de Processo Civil, além de dissídio jurisprudencial (fl s. 108-116).
Pelo despacho de fl s. 124-125 foi o recurso admitido, subindo os autos a
esta Corte.
VOTO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): O processo “começa por
iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso ofi cial” (art. 262 do Código de
Processo Civil).
A citação, segundo dispõe o art. 219, caput, e § 1º, do Código de Processo
Civil interrompe a prescrição na data do despacho que a ordena, mas é mister
observar que os §§ 2º e 3º do referido dispositivo estabelecem prazos para a
sua promoção, e quando não observados haver-se-á por não interrompida a
prescrição.
O aresto recorrido entendeu que ajuizada a ação no prazo próprio para
o seu exercício, e determinada a citação do réu, a demora na sua efetivação
ocorrera por defi ciência do mecanismo judicial, e não por inércia da parte, pelo
que ensejo não rende ao acolhimento da argüição de prescrição.
Alega o recorrente violação do art. 219, §§ 3º e 4º, do Código de Processo
Civil.
A propósito do tema esta Turma, recentemente, no REsp n. 13.975,
relatado pelo eminente Ministro Barros Monteiro, entendeu que se a demora
da citação decorre de emperro do aparelho judiciário, não é imprescindível o
requerimento estabelecido no § 3º, para a interrupção da prescrição.
Em assim sendo, não vislumbro, no caso, negativa de vigência de Lei
Federal.
Todavia, o recurso merece conhecimento pelo dissídio jurisprudencial,
pois os julgados trazidos como paradigmas discrepam realmente do aresto
recorrido, vez que exigem formule a parte, expressamente, o requerimento
dilatório previsto no art. 219, § 3º, do Código de Processo Civil.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 403
Isto posto, conheço do recurso tão-somente pela discrepância, porém lhe
nego provimento, porquanto a tese do aresto recorrido guarda consonância com
a orientação desta Turma, a do precedente mencionado, que entendo a melhor.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Sr. Presidente, neste caso está bem
confi gurada a causa perfeitamente razoável da demora da citação. Este caso
serve para esclarecer meu pensamento sobre o assunto, isto é: de que não se há
de presumir, sempre e sempre, o mau funcionamento da Justiça; devo reconhecê-
lo, quando quer que ele ocorra.
Acompanho o eminente Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 8.257-SP (91.2568-2)
Relator: Ministro Barros Monteiro
Recorrentes: Fábio Marduy - espólio e outro
Recorrida: Drogunidas Ltda
Advogados: Venício A. Gramegna e Luiz Murillo Inglez de Souza e outro
EMENTA
Ação renovatória. Decadência. Oportunidade da apresentação de
documentos comprobatórios do cumprimento do contrato.
1. Inocorre a decadência, se ajuizado o pedido em tempo hábil, a
demora havida na citação dos locadores não é imputável, por desídia,
ao autor.
2. Não se cuidando de documento indispensável à propositura da
demanda, é ele suscetível de ser exibido em fase posterior da causa, no
decorrer da instrução.
Recurso especial não conhecido.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
404
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,
decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos
autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 19 de novembro de 1991 (data do julgamento).
Ministro Fontes de Alencar, Presidente
Ministro Barros Monteiro, Relator
DJ 16.12.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: A espécie está assim resumida pelo
Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo:
Cuida-se de recurso de apelação contra a sentença que acolheu a decadência do direito à ação renovatória por demora na citação dos locadores e, ainda, julgou a autora carecedora da ação, extinguindo o processo com fundamento no inciso VI do art. 267 do CPC, por infração contratual (não-realização de seguro do prédio) e falta de juntada à petição inicial de documentos indispensáveis. A mesma decisão concedeu o prazo de seis meses para desocupação, com pagamento de novo aluguel a ser fi xado em execução.
Citando jurisprudência e doutrina, sustenta a apelante que não houve inércia de sua parte e a demora na citação deve ser atribuída à máquina judiciária. Refuta a infração contratual, apresentando apólices de seguro e justifi cando as datas nelas constantes. Entende que a petição inicial estava sufi cientemente instruída e, fi nalmente, insurge-se contra a desocupação do imóvel decretada na sentença, por ser descabida tal providência nas decisões que dão pela carência de ação.
Contra-razões do recorrido às fls. 311-337, defendendo a manutenção da sentença. (fl s. 350-351)
A Oitava Câmara do referido Sodalício deu provimento ao apelo
para afastar a decadência, e bem assim, a carência da ação, determinando o
prosseguimento do feito, com a dilação probatória. Quanto à decadência,
acentuou o decisório que a demora na citação dos locadores não se prende a
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 405
fato imputável à autora. No que concerne à carência, arrimou-se no argumento
de que apenas os documentos indispensáveis à propositura da demanda devem
instruir a inicial; os demais podem ser exibidos em outra fase do processo.
Entendeu, outrossim, que a prova completa da realização do seguro é suscetível
de ser produzida no decorrer da instrução.
Opuseram os réus embargos declaratórios, alegando omissão do julgado,
seja com relação à ausência de requerimento de prorrogação do prazo para
efetivar a citação, seja quanto ao desatendimento das normas que exigem
venha a inicial acompanhada com todos os documentos indispensáveis. A
Turma Julgadora houve por bem rejeitar os embargos, deduzindo os seguintes
fundamentos:
Quanto ao primeiro ponto, ou seja, falta de requerimento de prorrogação do prazo por mais 90 dias para efetivar a citação dos réus, não houve omissão do v. acórdão embargado.
Acompanhando jurisprudência iterativa deste egrégio Tribunal e pelo que ficou decidido no Recurso Especial n. 1.450 do Superior Tribunal de Justiça, considerou-se exercido o direito de renovação na data do despacho que ordenou a citação, já que a delonga de sua efetivação decorreu do aparelho judiciário, para ela não concorrendo a autora.
O que cabia à parte foi por ela providenciado, retirando a carta precatória no dia em que foi colocada à sua disposição e cumprindo-a em apenas 11 dias úteis.
A autora demonstrou haver diligenciado a citação dos réus, mas que, mesmo assim, não conseguiu superar os obstáculos impeditivos da sua efetivação.
Conseqüentemente, se nada mais lhe cumpria providenciar, desnecessário o requerimento de prorrogação de prazo para a citação, não incidindo, no caso, o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 219 do CPC.
Esta desnecessidade fi cou implícita no afastamento da decadência. A questão foi decidida, de forma que não houve omissão no acórdão.
Melhor sorte não têm os embargantes no segundo ponto. A decisão embargada decidiu fundamentadamente a questão referente aos documentos que devem instruir a petição inicial. Se os embargantes entendem que houve negativa de vigência de dispositivos legais, cabe-lhes interpor o recurso apropriado. (fl s. 363-364)
Daí o recurso especial interposto pelos locadores com fulcro nas alíneas a e
c do permissivo constitucional. Com respeito à decadência, alegaram ser clara a
lei ao impor ao autor o ônus de requerer a prorrogação do prazo na hipótese de
a citação não ser efetuada no decêndio. Afi rmaram, em conseqüência, negativa
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
406
de vigência do art. 219 e §§ 2º, 3º e 4º do CPC, e, de outro lado, indicaram
como discrepantes arestos oriundos do próprio 2º Tribunal de Alçada Civil, do
Tribunal de Justiça de Goiás e do STJ (REsp n. 2.488-SP). Considerou errônea
a interpretação dada ao julgado proferido no REsp n. 1.450-SP. No que pertine
à documentação que deve ser apresentada com a peça vestibular, apontaram
negativa de aplicação dos arts. 283 do CPC e 5º do Decreto n. 24.150/1934 e,
ainda, dissídio jurisprudencial com acórdãos emanados do mesmo 2º TACSP
(Lex 105/329 e RT 582/130).
Admitido o apelo extremo pela letra c, subiram os autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): 1. O acórdão recorrido arredou
a argüição de decadência, reputando bastante o aforamento da ação renovatória
no prazo legal, desde que a delonga havida na citação dos réus não é de ser
atribuída à autora.
Em consonância com tal diretriz alinha-se a jurisprudência francamente
dominante de nossos Pretórios, inclusive da Suprema Corte, conforme refere
Th eotonio Negrão em seu “Código de Processo Civil e legislação processual
em vigor”, nota 18 ao art. 219, p. 151, 21ª ed.). É nesse exato sentido o teor da
Súmula n. 78 do extinto TFR.
Esta egrégia Quarta Turma perfi lhou a mesma orientação pretoriana,
podendo ser evocado, entre outros precedentes, o REsp n. 2.686-SP, de que foi
Relator o eminente Ministro Athos Carneiro. Eis a sua ementa:
Ação renovatória de locação. Prazo decadencial. Basta ao locatário ajuizar a demanda em tempo hábil, protocolando a petição inicial, irrelevante é que o despacho ou a citação ocorram já decorrido o semestre, dês que para o atraso não tenha concorrido, por desídia, o demandante.
Recurso especial não conhecido.
Hoje não discrepa a egrégia Terceira Turma deste Tribunal. Com idêntico
desfecho apresentam-se os julgados proferidos nos REsps n. 6.510-DF e 8.629-
MG, ambos de relatoria do ilustre Ministro Waldemar Zveiter. Tais julgamentos
são datados, respectivamente, de 13.05.1991 e 30.04.1991.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 407
Em outra decisão, a citada Terceira Turma deixara ressalvado que o
disposto nos §§ do art. 219 do CPC não prevaleceria caso o retardamento fosse
imputável ao próprio aparelho judiciário, para ela não concorrendo a parte.
Nesse aresto (REsp n. 1.450-SP), o preclaro Relator, Ministro Eduardo Ribeiro,
advertira que:
Tem a jurisprudência temperado a norma, admitindo que a delonga na citação não prejudicará o autor quando decorrer do mecanismo judicial e não de desídia sua. Neste sentido é a Súmula n. 78 do Tribunal Federal de Recursos. A questão há de ser resolvida em função do caso concreto.
Ora, desídia inocorreu no caso em tela, não se afi gurando admissível, como
pretendem os ora recorrentes, revolver os fatos já soberanamente apreciados
pelas instâncias ordinárias. O decisum recorrido asseverou ter agido a locatária
diligentemente ao promover a citação da parte contrária. Não é o apelo especial
a via adequada para reexaminar a matéria fática nele posta (Súmula n. 07 do
STJ). Nesse diapasão, aliás, decidiu esta Corte nos REsps já mencionados sob n.
6.510-DF e 2.686-SP.
Não há falar, pois, em negativa de vigência de Lei Federal.
De outra parte, os arestos paradigmas invocados pelos recorrentes não se
prestam a confronto com o julgado recorrido. Vários deles são provenientes do
mesmo Tribunal (Súmula n. 13 desta Casa). O decisório prolatado pelo Tribunal
de Justiça de Goiás vem reproduzido tão-somente pela sua ementa não ofi cial
(art. 255, § 2º, do RISTJ). Enquanto que o REsp n. 1.450-SP contém ressalva
que se amolda à tese do acórdão ora hostilizado, o REsp n. 2.488-SP já não se
mostra mais hábil à caracterização do dissídio, por superada a orientação que
adotou, em face dos recentes pronunciamentos havidos em ambas as Turmas
que integram a Seção de Direito Privado deste Tribunal (aplicação do princípio
constante da Súmula n. 286 do sumo Pretório).
2. Desassiste razão, de outro lado, aos recorrentes no que toca o segundo
tópico do recurso.
Tem-se tolerado, por motivo razoável, que o locatário deixe de instruir
desde logo a inicial com os documentos comprobatórios do exato cumprimento
do contrato e de demais exigências de ordem legal, podendo ser exibidos até a
decisão de primeira instância, consoante registram J. Nascimento Franco e Nisske
Gondo (“Ação Renovatória e Ação Revisional de Aluguel”, p. 124, 7ª ed.).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
408
Observa o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira que somente os
documentos chamados indispensáveis devem acompanhar a inicial e a
contestação; os demais podem ser oferecidos em outras fases, até mesmo na via
recursal, desde que ouvida a parte contrária e inexistentes o espírito de ocultação
premeditada e o propósito de surpreender o juízo (cf. Ag n. 1.460-RJ).
A prova reclamada é suscetível de ministrar-se, por conseguinte, no curso
da instrução. Confi ra-se, no particular, remansosa jurisprudência: RF 232/118;
RTJ 53/172; Revistas dos Tribunais n. 439/248; 464/166 e 550/150.
Também nesse passo o presente apelo excepcional não oferece condições de prosperar, tanto que não vulnerada disposição de Lei Federal, nem tampouco aperfeiçoado o dissenso interpretativo em face do Enunciado n. 13 da jurisprudência sumulada desta Corte.
3. Ante o exposto, não conheço do recurso.
É o meu voto.
RECURSO ESPECIAL N. 19.111-SP
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo
Recorrente: Viação 9 de Julho S/A
Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e outros
Recorrida: Harumi Maeda
Advogados: José Carlos de Cerqueira e outros
EMENTA
Direito e Processo Civil. Prescrição. Defi ciências do aparelho
judiciário. Indenização. Pensionamento. Orientação da Turma.
Correção. Súmula. Precedentes. Recurso desacolhido.
I - Inocorre a prescrição a que se refere o art. 219, CPC, quando
a demora na citação decorreu do mecanismo judiciário.
II - Segundo orientação que veio a prevalecer na Turma, o
pensionamento é devido até a data em que a vítima completaria
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 409
sessenta e cinco (65) anos ou até a data do falecimento do benefi ciário,
prevalecendo o termo que primeiro ocorrer.
III - Nos termos do Enunciado n. 43 da súmula do Tribunal,
“incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data
do efetivo prejuízo”.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Bueno de Souza, Athos Carneiro
e Fontes de Alencar.
Brasília (DF), 09 de junho de 1992 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 26.10.1992
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Julgada procedente pretensão
indenizatória ajuizada pela recorrida, objetivando reparação dos danos
decorrentes do falecimento de seu marido, em acidente rodoviário causado por
culpa do preposto da empresa recorrente, ambas as partes apelaram.
A Segunda Câmara Especial do Primeiro Tribunal de Alçada Civil de
São Paulo deu provimento ao recurso da autora e parcial provimento ao da ré,
refutando, ainda a ocorrência de prescrição sustentada por esta última em agravo
retido reiterado. Quanto ao ponto, assim se pronunciou o acórdão:
O evento ocorreu em 02 de novembro de 1968, sendo certo que a petição inicial foi despachada em 25 de outubro de 1988. O mandado de citação, conforme consta de fl . 31, foi expedido em 03 de novembro do mesmo ano, tendo sido devolvido, devidamente cumprido, em 07 de dezembro, não obstante a citação tivesse sido realizada às 11:00 horas, do dia 21 de novembro de 1988, conforme consta claramente da certidão de fl . 32 v., e do ciente fi rmado pela própria requerida.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
410
Pelo que se verifi ca, não ocorreu alegada prescrição, uma vez que a ação foi proposta dentro do prazo, e a demora na citação se deveu ao próprio mecanismo da Justiça.
A parte não pode ser prejudicada pela burocracia existente ou inefi ciência dos serviços judiciários. Aliás, nesse sentido diversas são as manifestações jurisprudenciais (RTJ 81/287, 81/990, 91/1.174, 102/445; STF - RT 496/217; STF - RP 22/244; RT 499/127, 508/75, 509/91; RJTJ-SP 47/282 e JTA - RT 94/111).
Inconformada, a ré manifestou recurso especial, alegando violação do
art. 219, CPC, e da Lei n. 6.899/1981, pugnando para que seja reconhecida a
prescrição e, assim não sendo: a) para que seja reduzida a indenização para 1/3
dos vencimentos líquidos do de cujus e até que a recorrida complete 65 anos;
b) para que incida a correção monetária a partir do ajuizamento da ação.
Inadmitido o recurso na origem, subiram os autos por força de agravo que
provi para melhor exame.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): Em sua impugnação
recursal, a recorrente faz referência ao REsp n. 2.488-SP, relatado pelo Sr.
Ministro Cláudio Santos, de cuja ementa se extrai:
Locação comercial. Ação renovatória. Decadência.
Citação determinada no último dia do prazo legal, mas efetivada somente trinta dias após, sem nenhuma manifestação do autor no sentido de obter a prorrogação do prazo para a prática daquele ato. Ofensa manifestada ao art. 219, § 2º, do CPC e ao Decreto n. 24.150/1934.
Recurso provido (DJ de 20.08.1990).
Argumenta a recorrente que tal orientação se aplica às inteiras ao caso
dos autos, posto não ter a recorrida diligenciado no sentido de requerer a
prorrogação prevista no § 3º do art. 219, CPC.
Verifi co, contudo, que nem sentença nem acórdão se pronunciaram sobre
ter, ou não, havido pedido de prorrogação por parte da recorrida. Afi rmaram tão-
somente que a demora da citação se deveu exclusivamente ao funcionamento do
aparelho judiciário. Assim, não tendo a recorrente provocado o Tribunal de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 411
origem para que se manifestasse sobre o ponto, descabe a esta Corte, em sede
especial, averiguar se houve, ou não, o aludido requerimento de prorrogação do
prazo. Assim, ausente o necessário prequestionamento, incabível o apelo.
Ainda que assim não fosse, é de argumentar-se que a jurisprudência desta
Corte vem demonstrando nítida tendência no sentido de que:
Não ocorre prescrição em face do retardamento da citação se tal demora é atribuída ao aparelho judiciário (REsp n. 8.235-PR, Relator designado o Sr. Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 1º.07.1991).
Também assim, dentre outros, os REsps n. 2.686-SP (DJ de 17.09.1990);
2.278-PR (DJ de 28.05.1990); 5.188-RS (DJ de 26.11.1990); 6.510-DF (DJ de
15.06.1991); 3.804-SP (DJ de 1º.10.1990).
Este precisamente o caso dos autos, em que o MM. Juiz expressamente
deixou consignado:
Quanto à prescrição, verifico que não ocorreu. É que a autora, a tempo, ingressou em juízo com a presente ação, recebendo o despacho de fl. 12, determinando a citação da ré. A partir daí não vejo nenhum fato que possa caracterizar qualquer demora para a citação, devendo-se considerar também, sempre, o acúmulo de serviço dos ofi ciais de justiça do Juízo. É remonta (sic) a jurisprudência nesse sentido, quando o atraso na citação não foi causado pelo autor... (fl . 39 v.).
Também o acórdão, conforme mencionado, atribuiu a demora ao “próprio
mecanismo da Justiça”.
Assim, secundando o entendimento firmado nos precedentes citados,
considero não operada a prescrição in casu.
Quanto ao segundo inconformismo da recorrente, da mesma forma não
reúne condições para prosperar, uma vez que sequer citou os dispositivos legais
tidos como violados pelo acórdão, que fi xou a pensão em 2/3 dos vencimentos
líquidos da vítima pelo provável período de vida desta (65 anos). Tendo o
recurso sido interposto com lastro exclusivamente na alínea a do permissivo
constitucional, não se mostra passível de conhecimento.
Ademais, não comportaria reforma o v. acórdão recorrido, haja vista
encontrar-se inteiramente consoante à jurisprudência desta Corte que, em
casos tais, tem reputado devido o pensionamento até a data em que a vítima
completaria sessenta e cinco (65) anos ou até a data do falecimento da autora,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
412
prevalecendo o termo que primeiro ocorrer (REsps n. 3.732-SP, DJ de
1º.10.1990; 1.999-SP, DJ de 07.05.1990; 3.023-SC, DJ de 22.10.1990; 1.723-
RJ, DJ de 02.04.1990).
Por derradeiro, quanto ao termo a quo de incidência da correção monetária,
é pacífi ca a orientação segundo a qual, em se tratando de indenização por ato
ilícito, esta começa a correr a partir do fato, alcançando, inclusive, período
anterior à edição da Lei n. 6.899/1981 (REsps n. 6.712-MG, DJ de 13.05.1991;
9.605-SP, DJ de 04.11.1991; 11.895-GO, DJ de 07.10.1991). Nesse sentido, o
Enunciado n. 43 da súmula-STJ.
Em face do exposto, não conheço do recurso.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, acompanho o eminente
Ministro-Relator inclusive no que concerne à prescrição. A demora na citação,
se não for atribuída à desídia do autor, não justifi ca o acolhimento da referida
prejudicial.
APARTE
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Sr. Presidente, se V. Exa. me permite,
penso que esse protesto também precisa ser notifi cado. Essa notifi cação, aliás, há
de ser tratada da mesma forma, tal como a citação por mandado.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Senhor Presidente, no julgamento do REsp
n. 13.975-SP, tive já ensejo de resumir meu pensamento, que respeitosamente
diverge deste, agora brilhantemente exposto pelo eminente Ministro Sálvio de
Figueiredo (isto é, no tocante à efi cácia sufi ciente do ajuizamento da petição
inicial, para interromper a prescrição).
Quando assim me pronuncio, volto meus olhos para o art. 219, §§ 2º e 3º
do Código de Processo Civil, já aqui várias vezes referidos, tanto em sustentação
oral, como no douto voto do Ministro-Relator. Assim também, fi co atento ao
art. 263 do Código de Processo Civil, que complementa aquelas disposições
da lei processual, ao estabelecer que a ação se considera proposta “tanto que
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 413
a inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219, depois que for validamente citado”. Estes efeitos são, precisamente, os concernentes à prescrição. Vale frisar que o citado art. 263 insiste em que essa citação deva ser válida. Não recuso minha pessoal simpatia pelo critério, digamos assim, realista que anima a jurisprudência há pouco resumida e documentada pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo, embora encontre certas difi culdades de ordem sistemática para subscrevê-la. De fato, se chegássemos ao ponto, mesmo de lege ferenda (ou, caso se consolide a jurisprudência que já se observa nos Tribunais), de nos contentarmos com a distribuição da ação, não creio que efetuaríamos importante progresso, a par dos inconvenientes, tantas vezes mencionados, da legislação atual, cumpre atentar para toda sorte de abusos que o novo critério poderia proporcionar. Bastaria qualquer litigante entregar a petição inicial ao protocolo do Tribunal e despedir-se, e a prescrição fi caria interrompida.
A prescrição, porém, é instituto de ordem pública que não se afeiçoa a tratamento tão liberal (se se pode empregar a palavra). Não somente por critérios de ordem sistemática, mas também de ordem legal é que não me animo a acolher essa proposição: como procederemos, em relação a disposições tão explícitas da nossa lei? Em outra ordem de considerações, aceitar como presunção juris et
de jure que as citações que não se realizam em dez dias (como é o caso dos autos) não se completam por mau funcionamento do fórum, não me parece, data venia, justo nem razoável. O litigante pode ser displicente, tanto quanto o serviço forense também pode ser defeituoso. Minha pessoal compreensão é esta, se se provar o mau funcionamento do fórum, encontraremos na própria lei as justifi cativas que favoreçam a parte assim prejudicada. Se a parte sequer se utiliza do art. 219, § 2º, e se não se evidencia o mau funcionamento do serviço, não me parece razoável desempatar o impasse, sempre em favor do litigante.
Como se vê, a discussão terá sido útil. O eminente Ministro-Relator explicitou seu pensamento, que, nesse tópico, também subscrevo, de que tudo depende daquilo que ocorreu no caso dos autos, e, neste caso, estou de inteiro acordo com S. Exa., isto é, no sentido de que as instâncias ordinárias excluíram a ocorrência da prescrição. A questão de não ter sido observado o procedimento do art. 219, § 2º, não foi suscitada, nem mesmo por meio de embargos declaratórios. De modo que não me parece conter-se na competência desta Turma, nem no âmbito do recurso especial, adentramos esse território, concernente àquilo que se passou no teatro das operações.
Por isso, subscrevo o voto do eminente Ministro-Relator, na sua conclusão.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
414
VOTO
O Sr. Ministro Athos Carneiro: Acompanho o voto do eminente Relator. O eminente Ministro Bueno de Souza manifestou certa, digamos assim, perplexidade quanto ao teor da parte fi nal do parágrafo terceiro do art. 219 do CPC, em que está expressa a exigência de que a parte “o requeira nos cinco dias seguintes ao término do prazo do parágrafo anterior”, ou seja, requeira a prorrogação do prazo para citação. Tenho para mim ser possível dar-se à lei exegese que possa harmonizá-la com as exigências de ordem prática, que todos nós também conhecemos, e com a necessidade de resguardar ao máximo possível as pretensões de direito material manifestadas pelos que se socorrem da Justiça. É que, nos termos do parágrafo segundo do art. 219, incumbe à parte, nos dez dias seguintes à prolação do despacho que ordenou a citação, “promover a citação do réu”. Ora, o que se entende por “promover” a citação do réu? A parte não pode citar o réu, é tarefa do meirinho. Então, tem-se entendido que promover a citação do réu é colocar à disposição do ofi cial de justiça suas custas, ou reembolsá-lo pelas despesas da diligência citatória. É possível, entretanto, principalmente nos foros de grande movimento, que a parte não tenha a oportunidade, no decêndio, de “promover a citação do réu”. Neste caso, sim, caberia requerer ao Juiz a prorrogação do prazo, prazo para que seja “promovida” a citação do réu e, fi nalmente, efetivada pelo ofi cial de justiça.
Entretanto se a parte, naquele decêndio, promoveu a citação do réu daí por diante ela repousa tranqüila em que a citação será feita dentro dos prazos legais, mesmo porque o processo civil, nos termos do art. 262 do Código, começa pela iniciativa da parte mas se desenvolve por impulso ofi cial. E ainda salientaria ser muito difícil para a parte, ou melhor, para o seu advogado, nas Comarcas de grande movimento, poder sempre, a tempo e hora, averiguar se a citação foi ou não efetuada no prazo hábil. Quem trabalha ou tenha trabalhado nos grandes foros sabe dessas difi culdades. Também afastaria, com todas as vênias, aquele temor de que possa um litigante ajuizar a demanda apenas para obter a interrupção da prescrição, e a seguir deixá-la sem andamento. Em primeiro lugar, ele não teria “promovido” a citação do réu; e, em segundo lugar, ainda que a citação pudesse ser postergada, lembraria que a prescrição pode ser interrompida, inclusive, pelo mero e simples protesto judicial.
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Aparte): Sr. Presidente, permita-me V.
Exa.: esse protesto também precisa ser notifi cado. Essa notifi cação é disciplinada
pelo Código, da mesma forma como a citação por mandado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 415
O Sr. Ministro Athos Carneiro: Mas em suma, a argumentação
fundamental é aquela no sentido de que, como manifestou o eminente Relator,
o tema do “requerimento da parte” não foi versado e questionado no venerando
acórdão.
Não conheço do recurso.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Sr. Presidente, no caso concreto, em que
a Instância a quo afi rmou a não participação da parte na demora para efetuação
da citação, acompanho o eminente Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 24.783-SP (92.0017784-0)
Relator: Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Ceralit S/A Indústria e Comércio
Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogados: Carlos Ariboni e outros e Áurea Lúcia A. Salvatore Schulz
Frehse e outros
EMENTA
Ação rescisória. Prescrição. Citação demorada. ICM. Matéria-
prima. Isenção de crédito. Enriquecimento ilícito.
O direito de propor ação rescisória não se extingue, quando
proposta no prazo de dois anos e ocorreu demora na citação, por causa
da qual, não é responsável o autor. Aplicável a Súmula n. 78 do TFR.
Preliminar rejeitada.
Comprovado pericialmente que a ré adquiriu nos mercados
interno e externo matérias-primas sem pagar ICM, quando da
“entrada” e lançou os créditos na escrita para compensação futura. Na
“saída” o imposto foi pago pelos contribuintes de fato.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
416
Reconhecer direito aos créditos, nestes casos, é dar guarida ao
enriquecimento ilícito.
Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e Milton Pereira. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Gomes de Barros e Cesar Rocha.
Brasília (DF), 21 de setembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente e Relator
DJ 30.11.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: Ceralit S/A Indústria e Comércio arrimada na Constituição Federal, art. 105, inciso III, alíneas a e c, interpõe recurso especial, aduzindo, sumuladamente que o v. acórdão, julgando parcialmente procedente a rescisória, afastando a pretensão de ver declarada nula a decisão rescindenda, afrontando os arts. 128 e 460 do Código de Processo Civil, aduz, ainda, que o v. acórdão rejeitou a preliminar de carência de ação ferindo os arts. 219 e 495 do Estatuto Processual, assim também os arts. 177 e 183, outrossim, a decisão recorrida vai de encontro ao disposto na Lei n. 6.899, de 08 de abril de 1981, e no Decreto n. 86.649, de 25 de novembro de 1981, determinando “que os valores a serem restituídos à recorrida, seriam atualizados a partir dos competentes aproveitamentos”. Aduz, por fi m, a afronta ao Decreto-Lei n. 406/1968, art. 1º, § 4º, pede que “as restituições determinadas, obedecidos os dispositivos da Lei n. 6.899/1981”.
A Fazenda do Estado de São Paulo contra-arrazoou às fl s. 207-210.
Despacho de fl s. 215-217 indeferiu o recurso especial que subiu em razão
de provimento de agravo de instrumento.
A Fazenda do Estado de São Paulo propõe ação rescisória almejando a
rescisão do v. acórdão “na parte em que este reconheceu e declarou o direito da ré
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 417
aos créditos fi scais correspondentes às isenções de ICM relativas às importações
de mercadorias do exterior realizadas sob regime de draw-back.”
V. acórdão de fl s. 178-182 julgou procedente em parte a ação rescisória,
nos termos que constaram do acórdão. Do voto do eminente Desembargador
Nelson Schiesari, consta além de outros tópicos relevantes:
Por outro lado, ainda que tivesse a ré o direito de isenção na importação de matéria-prima, como entendeu equivocadamente o v. acórdão, não tem ela direito ao crédito respectivo se repassa ao consumidor o valor do tributo isento, previsto na legislação até o advento da Emenda Constitucional n. 23/1983. Essa é a decisão unânime tomada pelo colendo STF em decisão datada de 18.03.1988, no RE n. 115.616-3-SP, Relator Ministro Carlos Madeira. E esse repasse ficou comprovado nos autos através da prova pericial, fl . 51.
No que tange à correção monetária, outra recente decisão do Pretório excelso tomada a 10.10.1986, proclama que “Até a edição da Emenda Constitucional n. 23, havendo isenção na importação da matéria-prima há direito ao crédito do valor correspondente, à hora da saída do produto industrializado. Não é cabível, no entanto, em ação declaratória, a correção monetária (RE n. 104.963) — RE provido em parte (RE n. 110.569-1-SP, Relator Ministro Francisco Rezek). Cuida-se, na espécie, exatamente de ação declaratória. (fl s. 181-182)
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): O direito de propor ação rescisória
no caso, não se extinguiu. A ação foi ajuizada dentro do prazo de 02 (dois) anos
(art. 495 do CPC) e se houve demora na citação, a culpa não foi da autora,
sendo aplicável a Súmula n. 78 do TFR, verbis:
Proposta a ação no prazo fixado para seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi ca o acolhimento da argüição de prescrição.
Rejeito a preliminar de decadência.
No mérito, nenhuma censura merece o venerando aresto recorrido.
Restou soberanamente comprovado pela perícia judicial (docs. fl s. 42-
57) que a ré adquiriu e adquire nos mercados interno e externo (fl . 40) e não
pagou e nem vem pagando o ICM quando da “entrada” destas matérias-primas
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
418
importadas (fl . 47). Mesmo não tendo pago nenhum ICM por estas entradas
isentas, a autora lançou os créditos em sua escrita para compensações futuras.
Quando da saída de seus produtos este imposto foi pago pelos contribuintes de
fato. Afi rmou o perito judicial que o ICM foi incluído no preço dos produtos
comercializados pela recorrida e transferido a terceiros, os contribuintes de fato
(fl s. 50-51). Disse o expert ofi cial textualmente que:
Sem dúvida nenhuma, o crédito presumido do ICM de que pretende a autora recuperar-se, foi incluído no preço de seus produtos, cobrado dos compradores e sucumbido pelo consumidor fi nal, que de fato suportou o desembolso destinado aos cofres estaduais. (fl . 51)
Como se vê, a ré não recolheu o ICM nem na entrada da matéria-
prima, nem na saída de seus produtos e ainda assim lhe foi reconhecido pelo
venerando aresto rescindendo o direito aos créditos. Ora, isto é dar guarida ao
enriquecimento ilícito. Não tinha e não tem a recorrente direito aos créditos por
ela utilizados indevidamente e a devolução deverá ser com correção monetária
desde à época do creditamento. Com razão o venerando aresto hostilizado (fl s.
178-182), ao acentuar que:
Ora, a não-cumulatividade que inspirou a r. sentença e o v. acórdão que se pretende desconstituir tem por pressuposto a tributalidade, e não a imunidade, a isenção, ou a não-incidência etc. Vale dizer, apenas a incidência efetiva é que pode dar causa à combatida cumulatividade do tributo, que impõe-se superar mediante o mecanismo das deduções correspondentes às etapas já tributadas. Do contrário dá-se o enriquecimento ilícito do contribuinte. Na espécie, está-se frente a operações de importação de matéria-prima isenta e não matéria-prima tributada. E se não está tributada não há por que realizar-se o creditamento por mercadorias importadas do exterior para aplicá-las aos produtos que a autora com elas produz. Compreendem-se as isenções incidentes sobre insumos, matéria-prima ou embalagem de produtos destinados à exportação. Tão-só, sob pena de lesão ao art. 23, inciso II, da Magna Carta de então. Houve, destarte, violação dessa norma, como de outras das apontadas. Daí a colocação do douto parecerista, verbis: “Sob este enfoque, então, com a devida vênia, parece que a decisão rescindenda efetivamente infringiu a própria norma constitucional conceituadora do princípio da não-cumulatividade, eis que acabou concedendo crédito de imposto (não pago) e confi gurado como verdadeiro subsídio, já que não destinado a ser abatido de imposto devido na subseqüente operação”, aduzindo que “A própria afronta ao texto constitucional, ampliando-se indevidamente o conteúdo do princípio da não-cumulatividade do ICM, mostra-se como fundamento sufi ciente a amparar a procedência da presente rescisória” (fl . 172).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 373-419, maio 2010 419
Por outro lado, ainda que tivesse a ré o direito de isenção na importação de matéria-prima, como entendeu equivocadamente o v. acórdão, não tem ela direito ao crédito respectivo se repassa ao consumidor o valor do tributo isento, previsto na legislação até o advento da Emenda Constitucional n. 23/1983. Essa é a decisão unânime tomada pelo colendo STF em decisão datada de 18.03.1988, no RE n. 115.616-3-SP, Relator Ministro Carlos Madeira. E esse repasse ficou comprovado nos autos através da prova pericial, fl . 51. (fl s. 180-181)
Como se vê, o venerando acórdão impugnado não violou nenhum
dispositivo legal e muito menos os apontados pela recorrente.
Conheço do recurso pela letra a e nego-lhe provimento.
Súmula n. 107
SÚMULA N. 107
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato
praticado mediante falsifi cação das guias de recolhimento das contribuições
previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal.
Referência:
CP, art. 171.
Precedentes:
CC 1.623-SP (3ª S, 07.03.1991 — DJ 29.04.1991)
CC 4.514-SP (3ª S, 24.02.1994 — DJ 14.03.1994)
RHC 1.300-PE (5ª T, 18.09.1991 — DJ 21.10.1991)
Terceira Seção, em 16.06.1994
DJ 22.06.1994, p. 16.427
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 1.623-SP (90.13838-8)
Relator: Ministro Flaquer Scartezzini
Autora: Justiça Pública
Ré: Construtora Batim Ltda
Suscitante: Juízo de Direito da Divisão de Processamento de Inquéritos -
Dipo 3 de São Paulo-SP
Suscitado: Juízo Federal da 1ª Vara Criminal-SP
EMENTA
Confl ito de competência. Falsifi cação de guias do INPS.
— Não ocasionando ofensa direta a bens, serviços ou interesse
da União, suas autarquias ou empresas públicas, fi cando a prática
delituosa circunscrita a particulares, compete a Justiça Comum
Estadual, apreciar e julgar os feitos relativos à falsifi cação de guias do
INPS.
— Confl ito conhecido e declarado competente o MM. Juízo
suscitante.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
do confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo de Direito da Divisão de
Processamento de Inquéritos — Dipo 3 de São Paulo-SP, na forma do relatório
e notas taquigráfi cas anexas, que fi cam fazendo parte integrante do presente
julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 07 de março de 1991 (data do julgamento).
Ministro José Dantas, Presidente
Ministro Flaquer Scartezzini, Relator
DJ 29.04.1991
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
426
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Trata-se de confl ito de competência
entre o ora suscitante, Dr. Juiz de Direito da Divisão de Processamento de
Inquéritos - Dipo 3 de São Paulo, e o Dr. Juiz Federal da 1ª Vara Criminal-SP,
ora suscitado.
Gerou-se o confl ito em virtude de inquérito policial mandado instaurar
pelo delegado da Polícia Federal, objetivando apurar a infração penal prevista
no art. 171 do Código Penal, praticada contra a Previdência Social, com
envolvimento da Construtora Batim Ltda.
Os autos foram distribuídos ao Dr. Juiz Federal da 1ª Vara Criminal de
São Paulo-SP, que, após a cota do MPF no sentido de que o estelionato, se
houve, foi praticado entre particulares, entendeu ser incompetente para o feito e
determinou a remessa dos autos à Justiça do Estado, onde, também após ouvir o
MP, o Dr. Juiz de Direito suscitou o presente confl ito, que subiu a esta Superior
Instância e mereceu parecer da douta Subprocuradoria Geral da República no
sentido da competência do MM. Juízo suscitante.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, consta do
relatório do Departamento de Polícia Federal, após apurar a falsifi cação da
CND — Certidão Negativa de Débito do IAPAS, que a mesma não fora
expedida pela autarquia federal; não foi assinada pelo servidor consignado
no referido documento; que os carimbos apostos na certidão não pertencem
à agência do IAPAS ali mencionada; que a certidão foi providenciada por
terceiros, não havendo envolvimento de servidores da Previdência; que o
proprietário do imóvel, após notifi cado da falsidade do CND, recolheu todos os
tributos devidos ao IAPAS, regularizando a obra, com o que não houve lesão a
interesses da União, suas autarquias ou empresas públicas; e mais, que tais guias
eram adquiridas em papelarias, não sendo, desta forma privativas das repartições
públicas.
Com tais conclusões, verifico, data venia, que não houve interesse
federal prejudicado, tratando-se de se apurar, em estelionato praticado entre
particulares, o que desloca a competência para a Justiça Estadual, conforme
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 421-433, maio 2010 427
decidido reiteradamente por esta egrégia Corte, haja vista o aresto colacionado
pela douta Subprocuradoria Geral da República, neste sentido:
Processual Penal. Confl ito negativo de competência. Falsifi cação de guias do INPS.
— Inocorrendo prejuízo para o INPS em virtude de falsifi cação de guias, que não chegaram a ser utilizadas, fi cando entre particulares a prática do delito, a competência é da Justiça Estadual. (CC n. 7.535-SP, Relator Ministro Bueno de Souza)
Desta forma, meu voto é no sentido de conhecer do confl ito e declarar
competente para apreciar e julgar o feito, o MM. Juiz de Direito da Divisão de
Processamento de Inquéritos — Dipo 3, ora suscitante.
É o meu voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 4.514-SP (93.0008039-3)
Relator: Ministro José Dantas
Autora: Justiça Pública
Ré: Moderna Laboratório de Foto e Processamento de Cores Ltda
Suscitante: Juízo Federal da 3ª Vara-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal de São Paulo-SP
EMENTA
Penal. Processual. Previdência Social. Falsifi cação de guias de
recolhimento.
— Competência. Tranqüila jurisprudência sobre competir à
Justiça Comum Estadual a ação penal por estelionato consistente da
falsifi cação de guias de recolhimento das contribuições previdenciárias,
quando o dano patrimonial direto alcance apenas o contribuinte.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
428
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o suscitado, Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal de São Paulo-
SP, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os
Srs. Ministros José Cândido de Carvalho Filho, Pedro Acioli, Jesus Costa Lima,
Assis Toledo, Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel e Anselmo
Santiago.
Brasília (DF), 24 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro José Dantas, Relator
DJ 14.03.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Relatando o feito, reporto-me ao parecer da
Subprocuradora-Geral Delza Curvello, lavrado nestes termos:
Trata-se de confl ito negativo de competência instalado entre o Juízo Federal da 3ª Vara-SP e o Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal de São Paulo-SP, tendente ao julgamento de crime de falsifi cação de guias de recolhimento de contribuições previdenciárias de pessoa jurídica.
2. O Ministério Público do Estado de São Paulo, entendendo que o crime foi praticado em detrimento de interesses da União, requereu a remessa dos autos do inquérito à Justiça Federal, com fundamento no art. 109, IV, da Constituição Federal, o que foi feito pela Juíza de Direito do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária de São Paulo-SP.
3. Na Justiça Federal, o Ministério Público Federal manifestou no sentido de sua incompetência, sob o argumento de que falsificação de guias de recolhimento de contribuição previdenciária, não causa dano aos cofres da autarquia previdenciária, mas lesa tão-somente a particulares. Nesse caso, o contribuinte continua devedor da Previdência Social, configurando-se, em tese, estelionato praticado em detrimento do patrimônio particular. Colaciona, inclusive, precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
4. Acolhendo a manifestação ministerial, o Juiz Federal Dr. André Nabarrete Neto, suscitou o presente confl ito negativo de competência.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 421-433, maio 2010 429
5. No caso em tela, entende o Ministério Público Federal que não existe ofensa direta a bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias ou empresas públicas, uma vez que a infração moldada na falsifi cação de guias de recolhimento ao INSS não os atingiu, refl etindo tão-somente na esfera do patrimônio particular.
Pelo exposto, o Ministério Público Federal opina pelo conhecimento do confl ito, declarando-se competente a Justiça Estadual, ora suscitada. (Fls. 148-149)
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, de tão conhecida da Seção, a matéria se dispensa a maiores considerações, além da referência à orientação deste órgão, posta em linha com antigos precedentes do Tribunal Federal de Recursos, tal como a referenciei em voto no RHC n. 1.654-RS, que leio (cópia junta por xerocópia).
Pelo exposto, conheço do confl ito e declaro competente o suscitado —
Juízo de Direito da 6ª Vara-SP.
ANEXO
RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 1.654-RS
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, deveras, a mais antiga jurisprudência do extinto Tribunal Federal de Recursos proclamava escaparem à competência da Justiça Federal os delitos de falsifi cação de guias de recolhimento de contribuições previdenciárias, quando o fato não gerasse direta lesão patrimonial aos cofres da autarquia arrecadadora; não importava a essa orientação o resultado indireto, consistente, no dizer do acórdão ora examinado, de lesão do serviço da autarquia federal e do interesse na idoneidade da Administração Pública Federal.
Tão reiterada tornou-se aquela jurisprudência, da qual o parecer
susotranscrito dá alguns exemplos, que este egrégio Superior Tribunal de Justiça
não relutou em perfi lhá-la. Fê-lo, quando nada, já em duas ocasiões, à luz de
asseverações deste quilate:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
430
Confl ito de competência. Falsifi cação de guias do INPS.
— Não ocasionando ofensa direta a bens, serviços ou interesse da União, suas autarquias ou empresas públicas, fi cando a prática delituosa circunscrita à particulares, compete a Justiça Comum Estadual, apreciar e julgar os feitos relativos à falsifi cação de guias do INPS.
— Confl ito conhecido e declarado competente o MM. Juízo suscitante. — CC n. 1.623-SP, Relator Ministro Flaquer Scartezzini, Terceira Seção, in DJ de 19.04.1991.
Penal. Processual. Estelionato. Patrimônio federal. Lesão a particular. Competência. Habeas corpus.
— Não havendo lesão ao patrimônio público e sim a particular, cabe à Justiça Comum Estadual processar e julgar o acusado de crime de estelionato praticado mediante falsifi cação da autenticação mecanográfi ca das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias.
— Recurso conhecido e provido. — RHC n. 1.300-PE, Relator Ministro Edson Vidigal, Quinta Turma, in DJ de 21.10.1991.
Em face dessa colação, correto é aplicar-se ao caso tão remansosa
jurisprudência.
É bem certo que, segundo o acórdão, trata-se de uma quadrilha organizada,
a qual, conforme a diversidade das ações em curso, tanto somente falsifi cavam
a autenticação mecanográfi ca das guias de recolhimento, devolvendo-as às
empresas interessadas, como, em casos outros, objeto de outras ações penais,
posteriormente à falsifi cação introduziam os DARP’S no sistema de computação
da DATAPREV. Dessa segunda operação, de fato, diretamente lesiva do
patrimônio da Previdência Social, não cuidam os autos, senão que cuidam
daquela primeira prática criminosa, que no concernente ao dano patrimonial,
em primeiro plano, confi gura estelionato contra a Corsan, empresa contribuinte
ludibriada pela falsifi cação mecanográfi ca dos chamados DARP’S.
Portanto, não há escusar-se o caso à competência da Justiça Comum
Estadual, na esteira do citado assentamento jurisprudencial sobre a espécie.
Pelo exposto, dou provimento ao recurso para conceder a ordem, declarando
a nulidade ab initio do processo, por incompetência do juízo, de forma que se
remetam os autos à Justiça Comum Estadual.
Por se cuidar de nulidade que alcança todos os onze denunciados, aos
demais estendo a ordem de habeas corpus, na consonância do art. 580 do Código
de Processo Penal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 421-433, maio 2010 431
RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 1.300-PE (91.0012208-4)
Relator: Ministro Edson Vidigal
Recorrente: Juarez Vieira da Cunha
Recorrido: Tribunal Regional Federal da 5ª Região
Paciente: Antônio de Albuquerque Montenegro
EMENTA
Penal. Processual. Estelionato. Patrimônio federal. Lesão a particular. Competência. Habeas corpus.
— Não havendo lesão ao patrimônio público e sim a particular, cabe à Justiça Comum Estadual processar e julgar o acusado de crime de estelionato praticado mediante falsifi cação da autenticação mecanográfica das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias.
— Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,
decide a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar
provimento ao recurso, para declarar competente a Justiça Estadual, na forma
do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte
integrante do presente julgado. Custas, como de lei.
Brasília (DF), 18 de setembro de 1991 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente (RI, art. 101, § 2º)
Ministro Edson Vidigal, Relator
DJ 21.10.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Edson Vidigal: Supostamente prestando serviços de
recolhimento das contribuições previdenciárias de várias empresas, mas na
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
432
verdade apoderando-se dos valores e falsifi cando a autenticação mecanográfi ca
nas guias, Antonio Albuquerque Montenegro, funcionário público aposentado, foi
denunciado 2 (duas) vezes pelo Ministério Público pelo crime do Código Penal
art. 171 c.c. art. 71 (estelionato na modalidade de crime continuado) tendo sido
condenado à pena de 2 (dois) anos de reclusão e multa pelo Juiz da 6ª Vara
Federal (fl s. 4-9).
Impetrou perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região ordem de
habeas corpus argumentando a incompetência da Justiça Federal uma vez não ter
sido atingido o patrimônio federal. Juntou parecer da Procuradoria Federal de
Pernambuco; despacho do Juiz da 3ª Vara Federal e decisões do extinto Tribunal
Federal de Recursos e do excelso Pretório (fl s. 2-3 e 10-21).
O Ministério Público Estadual entendeu competente a Justiça Estadual
por não fi gurar a autarquia previdenciária como sujeito passivo do estelionato
(fl . 31).
A Segunda Turma, entendendo competente a Justiça Federal e à
unanimidade de votos, assim denegou a ordem:
Ainda que não haja uma lesão patrimonial direta — há uma lesão patrimonial indireta, porque o INPS deixou de receber aquela quantia —, existe sim uma lesão direta do serviço. Não é só a lesão patrimonial que acarreta a competência da Justiça Federal, a lesão do serviço também traz esta competência como conseqüência. (fl s. 36-37)
Neste recurso ordinário o recorrente pede a reforma do acórdão para
deslocar a competência da Justiça Federal para a Justiça Estadual, uma vez, pago
pelas fi rmas, o principal, com juros e correção monetária, prejuízo não houve em
detrimento do serviço de arrecadação (fl s. 45-46).
O Ministério Público Federal, nesta instância, opina pelo provimento
do Recurso, vislumbrando a potencialidade lesiva relativa exclusivamente
ao particular, não considerando a eventual mora ocorrida na arrecadação
previdenciária fator constitutivo de dano ao Erário Público (fl s. 58-60).
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, merece reforma o
acórdão atacado que considerou existir lesão patrimonial indireta ao serviço de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 421-433, maio 2010 433
arrecadação da contribuição previdenciária, entendendo competente a Justiça
Federal.
A falsifi cação das guias pode ter gerado o retardamento da arrecadação
da dívida a qual foi sanada no efetivo recolhimento, pelas empresas, com
atualização monetária — juros e correção. O INPS não foi impossibilitado
de receber a quantia e a mora ocorrida não constitui dano ao Erário Público.
Houve lesão ao particular, não ao serviço público, nem indireta — serviço —
nem diretamente — patrimônio.
Nesse sentido, entendimento do ilustre Ministro Flaquer Scartezzini, CC
n. 1.623-SP:
Confl ito de competência. Falsifi cação de guias do INPS.
— Não ocasionando ofensa direta a bens, serviços ou interesse da União, suas autarquias ou empresas públicas, fi cando a prática delituosa circunscrita a particulares, compete a Justiça Comum Estadual, apreciar e julgar os efeitos relativos à falsifi cação de guias do INPS.
— Confl ito conhecido e declarado competente o MM. Juízo suscitante.
Segundo prescreve a CF em seu art. 109:
Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.
Não confi gurando a autarquia previdenciária sujeito passivo da relação
e tampouco tendo sido lesado patrimônio federal, entendendo competente a
Justiça Estadual, pelo que dou provimento ao recurso.
É o voto.
Súmula n. 108
SÚMULA N. 108
A aplicação de medidas socio-educativas ao adolescente, pela prática de
ato infracional, é da competência exclusiva do juiz.
Referência:
ECA, arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182.
Precedentes:
REsp 24.442-SP (5ª T, 19.10.1992 — DJ 16.11.1992)
REsp 26.049-SP (5ª T, 03.03.1993 — DJ 22.03.1993)
REsp 28.886-SP (6ª T, 09.03.1993 — DJ 05.04.1993)
RHC 1.641-RS (6ª T, 27.04.1992 — DJ 18.05.1992)
RMS 1.967-SP (5ª T, 23.09.1992 — DJ 13.10.1992)
RMS 1.968-SP (5ª T, 11.11.1992 — DJ 30.11.1992)
Terceira Seção, em 16.06.1994
DJ 22.06.1994, p. 16.427
RECURSO ESPECIAL N. 24.442-SP (920017071-4)
Relator: Ministro Costa Lima
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorridos: Flávio Roberto Pozza e Emerson Tonelotti
EMENTA
Estatuto da Criança e do Adolescente. Remissão e medidas
sócio-educativas. Competência do Ministério Público e do Juízo.
1. O representante do Ministério Público, antes de iniciado o
procedimento judicial, pode conceder remissão a ser homologada
judicialmente, sendo-lhe vedado aplicar medidas sócio-educativas, o
que é da exclusiva competência do Juízo.
2. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal, Flaquer Scartezzini e José
Dantas.
Brasília (DF), 19 de outubro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Costa Lima, Relator
DJ 16.11.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Costa Lima: Trata-se de recurso especial interposto pelo
Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, com abrigo no art. 105,
item III, letra a, da Constituição, aduzindo que o acórdão recorrido contrariou
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
440
os arts. 127 e 181, §§ 1º e 2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.
8.069, de 13 de julho de 1990), pois entendeu não estar inserida na competência
do Ministério Público a aplicação de medida sócio-educativa, no caso pena
de advertência em desfavor de adolescentes infratores. Tal atribuição estaria
reservada ao Juízo respectivo.
Diz que a interpretação sistemática dos arts. 127 e 181 permite concluir-se
pela competência do Parquet “não fosse admitida a inclusão, não teria sentido o
legislador conferir ao Magistrado a homologação do pedido e, conforme o caso,
a execução da medida, (art. 181, § 1º). Isso signifi ca que, havendo inclusão de
medida sócio-educativa pelo Promotor, será ela executada, ou não, pelo Juiz” (ut
fl . 66).
O especial foi admitido às fl s. 71-72.
O Dr. Edinaldo de Holanda, ilustrado Subprocurador-Geral da República,
assim se pronunciou:
Argúi o órgão ministerial que o entendimento do v. acórdão recorrido de que a aplicação das medidas sócio-educativas é da exclusiva competência do Poder Judiciário decorreria da interpretação isolada dos arts. 114, parágrafo único, 146 e 180, do sobremencionado Estatuto da Criança e do Adolescente.
4. Improcede data venia a zelosa argüição. Mesmo que se considerasse a possibilidade da interpretação ministerial, sobreleva a compreensão mais abrangente da noção de Estado de Direito, que reserva para o Poder Judiciário a aplicação de qualquer medida restritiva de direitos. Não importa que as medidas discutidas tenham ou não natureza de pena, como da afi rmação recursal, pois implicativa de restrição de direitos, que reclama juízo sentencial, com avaliação circunstancial da prova.
5. A existência do Estado de Direito não se circunscreve apenas à validade formal da lei, mas à sua aplicação, como exercício da função jurisdicional. Para Sanches de La Torre, o “Ordenamento jurídico positivo se despliega en tres planos: el de las normas, el de las relaciones intersubjetivas y el de la aplicación de aquéllas a estas” (“Los Princípios Clássicos del Derecho”, Union Editorial S/A, Madrid). A aplicação da norma compõe a exigência do regular ordenamento jurídico.
6. O insigne mestre Pontes de Miranda defi ne o Estado de Direito pela sua contraposição ao Estado dito absoluto (“Comentários à Constituição de 1946”, 3ª ed., tomo 4º, p. 271). O Estado absoluto seria aquele não regido pela Lei e pelo Direito, o que lhe emprestaria maior signifi cado a expressão Estado de fato.
7. O Estado de Direito é constituído por uma ordenação jurídica, da qual depende a existência da democracia. Tanto que a “Teoria Madisoniana” exige, na hipótese número um, como fundamento do Estado democrático o chamado
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 441
“controle externo” dos poderes, regulando assim a sua nítida separação (The Federalist). A especialização de um dos poderes, especifi camente para o exercício da função jurisdicional não pode admitir o seu fracionamento, com atuação no mesmo sentido de órgão paralelo. Seria, segundo Madison, a eliminação do controle externo, gerando o totalitarismo.
8. Mas não é só. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em uma compreensão sistêmica, revela a reserva jurisdicional do Poder Judiciário. O art. 112 da referida lei atribui à autoridade competente o poder de aplicação das medidas sócio-educativas. Por seu turno, o art. 146 defi ne como autoridade a que se refere a lei, o Juiz da Infância e da Juventude.
9. O art. 180, em seu inciso III, outrossim, prevê a representação do Ministério Público à autoridade judiciária, para os fins de aplicação de medida sócio-educativa. Além de que, o art. 181 delimita os atos do Ministério Público, nessa fase, ao pedido de arquivamento e concessão de remissão.
10. O excepcional desvelo das funções institucionais, como atualmente, perde passo, na escala de valores, para o resguardo da Ordem Jurídica. Não basta a regência das relações pelo império da lei: é preciso a garantia de sua aplicabilidade pelo Poder competente.
11. Dir-se-ia haver um confl ito de atribuições do Ministério Público. De um lado, a reivindicação atual, de aplicação autônoma das referidas medidas sócio-educativas. De outro, a soberana defesa do Estado de Direito. A segunda, por mais abrangente, sobrepaira em relação à primeira, que se singulariza no particular. (fl s. 77-79)
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Lima (Relator): 1. O tema foi excelentemente
examinado pelo ilustre Ministro José Dantas, na oportunidade do julgamento
do RMS n. 1.967-6-SP, onde estabeleceu os campos de atuação do Ministério
Público e do Juízo da Criança e do Adolescente. A dizer: se o representante
do Ministério Público pode conceder remissão e advertência. Após tecer
loas ao tratamento novo dispensado àquele instituto, assestou como deve ser
compreendido:
A mesma sustentação não merece maior apoio, no que, a nosso ver, extrapola os conhecidos limites conceituais da remissão, como instituto expressa e inovadoramente confi ado ao Ministério Público, a título de perdão antecipado ao início do procedimento judicial — art. 126, caput, do ECA. E não merece,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
442
porque, como seqüência desse próprio artigo legal, o seu parágrafo único volta a jurisdicionar a concessão da remissão, na hipótese ocorrente de instaurar-se aquele procedimento.
A partir dessa distinção entre as duas hipóteses de remissão — a ministerial, na fase pré-processual, e a judicial, no curso do processo —, certamente que a remissão acumulável com a aplicação de medida sócio-educativa há de ser apenas a que foi concedida judicialmente.
Deveras, em decorrência mesmo de uma interpretação mais sistemática possível, necessariamente tem-se que conciliar tal acumulação (art. 127) com as regras de ordenamento da função jurisdicional e sua distinção literal da função ministerial, assim expresso no texto legal de que se trata, no que interessa, verbis:
Art. 146 — A autoridade a que se refere esta lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o Juiz que exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária local.
(...)
Art. 148 — A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo.
(...)
Art. 180 — Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
II - conceder a remissão;
III - representar à autoridade judiciária para aplicação da medida socioeducativa.
Daí porque, quando o examinado art. 127, seguinte àquelas duas hipóteses de concessão da remissão estabelecidas no art. 126 — a ministerial (caput) e a judicial (parágrafo) —, preconiza que a remissão pode incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação, decerto que o faz na linha do sistema codifi cado; isto é, na compreensão da transcrita regra- mestra de competir à Justiça da Infância e da Juventude aplicar as medidas cabíveis (art. 148, I).
Acentuada essa competência exclusiva, e na mesma linha sistêmica de interpretação, há de conceber-se que dita previsão do art. 127, a comunicar-se
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 443
com as atribuições do Ministério Público, o será para permiti-las acumuláveis pela concomitância da concessão da remissão (art. 180, I) e da representação para aplicação de medida sócio-educativa (inciso II). Só assim será possível inteirar-se essa norma atributiva com a do art. 181, § 1º, segundo a qual, homologada a remissão, “a autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida”.
Em suma, o aparente confl ito de normas secundárias, contido na discriminação dos procedimentos formais cotejados, reclama solucionar-se pela nitidez das normas primárias, do modo como a lei delimitou com absoluta clareza o campo jurisdicional, ao lado do campo postulatório. E se este último consentiu a ministração da remissão, subordinada à homologação judicial, não signifi ca que, por força apenas das regras de procedimento dessa ministração judicialiforme, tenha consentido imiscuir-se o Ministério Público no âmago da função jurisdicional traçado pela própria lei, qual de aplicar medidas coercitivas, de natureza parapenal, como são as chamadas medidas sócio-educativas aplicáveis aos adolescentes infratores (RMS n. 1.967-6, SP, Relator Ministro José Dantas).
2. A interpretação, parece-me, é a que melhor se pode extrair do novo
Estatuto. Depois de apresentado o adolescente, de ouvi-lo, assim aos pais ou
responsáveis, a vítima e testemunhas, o representante do Ministério Público
pode: a) conceder a remissão; b) representar à autoridade judiciária para a
aplicação de medida sócio-educativa (arts. 179 e 180, II e III). O Juiz pode
homologar, seja o arquivamento, seja a remissão e, se discordar, é que enviará
os autos ao Procurador-Geral da Justiça (art. 181, §1º). De não esquecer-se
que a autoridade competente referida na lei é, precisamente, o Juiz e não o
representante do Ministério Público.
3. Desse modo, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 26.049-SP
Relator: Ministro Flaquer Scartezzini
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Juiz de Direito da Vara da Infância e da Juventude de Pereira
Barreto-SP
Interessado: Eduardo de Castro Neves
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
444
EMENTA
Recurso especial. Estatuto da Criança e do Adolescente. Medida
sócio-educativa. Aplicação.
— Há que se fazer uma distinção entre a permissibilidade da
concessão da revisão, atribuída ao MP, e a aplicação de medidas sócio-
educativas, de competência exclusiva do Juízo.
— Jurisprudência iterativa da Corte.
— Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Srs. Ministros José Dantas, Costa Lima, Assis Toledo e Edson
Vidigal.
Brasília (DF), 03 de março de 1993 (data do julgamento).
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente e Relator
DJ 22.03.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Trata-se de recurso especial
formalizado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo com fundamento
no art. 105, III, a, da CF/1988, contra o v. acórdão da egrégia Câmara Especial
do Tribunal de Justiça Estadual que negou provimento à apelação interposta por
Promotor de Justiça, na qualidade de Curador da Infância e da Juventude.
Discute-se no presente recurso, se o Estatuto da Criança e do Adolescente
confere ao órgão ministerial competência para aplicação de medida sócio-
educativa.
A decisão da egrégia Câmara tem como tópico principal, em síntese para
negar provimento ao apelo o seguinte:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 445
Prevalece nesta Câmara o entendimento de que o representante do Ministério Público, recebendo o BO ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial (Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 179), promoverá seu arquivamento, concederá remissão e poderá representar à autoridade judicial para a aplicação de medida sócio-educativa (Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 180, I, II e III).
Só ao Juiz compete aplicar a medida sócio-educativa.
Desta forma, o recurso alega que a egrégia Câmara ao assim decidir, negou
vigência aos arts. 127 e 181, §§ 1º e 2º, do Estatuto.
À época o recurso foi admitido, “diante da relevância da matéria e não
havendo ainda manifestação do egrégio Superior Tribunal de Justiça sobre o
tema em discussão...” (Desp. de fl . 59, em 1º.06.1992).
Subiram os autos e, nesta Superior Instância, não vendo ferimento à Lei
Federal, o MPF opina pelo não-conhecimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Srs. Ministros, entende o Ministério Público do Estado de São Paulo, mediante este Recurso que a egrégia Câmara Especial do Tribunal de Justiça local, negou vigência aos arts. 127 e 181, §§ 1º e 2º, do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Conforme consta dos autos “... o acórdão recorrido manteve a decisão de primeiro grau, acolhendo a tese de que a atribuição conferida ao Ministério Público se restringe à concessão da remissão, facultando-lhe representar ao Juiz da Infância e da Juventude no sentido de se aplicar a medida. O aresto invoca o art. 180 do Estatuto da Criança e do Adolescente que autoriza ao representante do Ministério Público, ao receber o Boletim de Ocorrência ou relatório policial, promover o arquivamento dos autos, conceder a remissão, ou representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa. Ademais, interpreta os arts. 126, 127 e 146 da Lei n. 8.069/1990, para concluir que apenas a autoridade judiciária tem competência para aplicar medida sócio-educativa aos menores...” (fl . 58).
Do despacho de admissão do recurso, já citado no relatório, fi cou entendido
que a subida do mesmo se dava em função da relevância da matéria e, sobretudo,
porque este egrégio Superior Tribunal ainda não havia se pronunciado a respeito.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
446
No entanto, hoje tal não se dá, eis que a matéria já está sobejamente
decidida, em sentido diametralmente oposto ao que pretende o presente recurso.
Tanto que em data de 23.09.1992, o eminente Ministro José Dantas ao
julgar o RMS n. 1.967-6-SP, assim ementou o v. acórdão:
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prática de ato infracional. Medida sócio-educativa. Aplicação.
— Ministério Público. Sobre permitir ao Ministério Público a concessão da remissão, sujeita à homologação judicial, não signifi ca que a Lei n. 8.069/1990, arts. 127 e 181, § 1º, também lhe permita a imposição de medida sócio-educativa, cuja aplicação reservou ao poder jurisdicional especifi cado nos seus arts. 146 e 148, I.
S. Exa., ao comentar a Lei n. 8.069/1990, no recurso a que nos referimos,
assim se expressou, verbis:
Sr. Presidente, do que foi lido e ouvido, não se deve negar à ilustrada sustentação da irresignação do Ministério Público recorrente o acerto da visão doutrinária quanto a que o Estatuto da Criança e do Adolescente inovou a rigidez da jurisdição do Juízo Menorista e da atribuição exclusivamente promocional do Ministério Público, num plano de modernidade bem exemplificada pelo tratamento que dispensou ao instituto da remissão.
No entanto, a mesma sustentação não merece maior apoio, no que, a nosso ver, extrapola os conhecidos limites conceituais da remissão, como instituto expressa e inovadoramente confi ado ao Ministério Público, a título de perdão antecipado ao início do procedimento judicial — art. 126, caput, do ECA. E não merece, porque, como seqüência desse próprio artigo legal, o seu parágrafo único volta a jurisdicionar a concessão da remissão, na hipótese ocorrente de instaurar-se aquele procedimento.
A partir dessa distinção entre as duas hipóteses de remissão — a ministerial, na fase pré-processual, e a judicial, no curso do processo —, certamente que a remissão acumulável com a aplicação de medida sócio-educativa há de ser apenas a que foi concedida judicialmente.
Deveras, em decorrência mesmo de uma interpretação mais sistemática possível, necessariamente tem-se que conciliar tal acumulação (art. 127) com as regras de ordenamento da função jurisdicional e sua distinção literal da função ministerial, assim expresso no texto legal de que se trata, no que interessa, verbis:
Art. 106 — A autoridade a que se refere esta lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o Juiz que exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária local.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 447
(...)
Art. 148 — A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo.
(...)
Art. 180 — Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
II - conceder a remissão;
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.
Daí porque, quando o examinado art. 127, seguinte àquelas duas hipóteses de concessão da remissão estabelecidas no art. 126 — a ministerial (caput), e a judicial (parágrafo) —, preconiza que a remissão pode incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação, decerto que o faz na linha do sistema codifi cado; isto é, na compreensão da transcrita regra-mestra de competir à Justiça da Infância e da Juventude aplicar as medidas cabíveis (art. 148, I).
Acentuada essa competência exclusiva, e na mesma linha sistêmica de interpretação, há de conceber-se que dita previsão do art. 127, a comunicar-se com as atribuições do Ministério Público, o será para permiti-las acumuláveis pela concomitância da concessão da remissão (art. 180, I) e da representação para aplicação de medida sócio-educativa (inciso II). Só assim será possível inteirar-se essa norma atributiva com a do art. 181, § 1º, segundo a qual, homologada a remissão, “a autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida”.
Em suma, o aparente confl ito de normas secundárias, contido na discriminação dos procedimentos formais cotejados, reclama solucionar-se pela nitidez das normas primárias, do modo como a lei delimitou com absoluta clareza o campo jurisdicional, ao lado do campo postulatório. E se a este último consentiu a ministração da remissão, subordinada à homologação judicial, não signifi ca que, por força apenas das regras de procedimento dessa ministração judicialiforme, tenha consentido imiscuir-se o Ministério Público no âmago da função jurisdicional traçado pela própria lei, qual de aplicar medidas coercitivas, de natureza parapenal, como são as chamadas medidas sócio-educativas aplicáveis aos adolescentes infratores.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
448
Após, vários julgamentos se sucederam, bastando remissão, no mesmo
sentido do que foi relatado pelo eminente Ministro José Dantas, a do REsp n.
24.442, Relator Ministro Costa Lima, com a seguinte ementa:
Estatuto da Criança e do Adolescente. Remissão e medidas sócio-educativas. Competência do Ministério Público e do Juízo.
1. O representante do Ministério Público, antes de iniciado o procedimento judicial, pode conceder remissão a ser homologada judicialmente, sendo-lhe vedado aplicar medidas socioeducativas, o que é da exclusiva competência do Juízo.
2. Recurso especial não conhecido. (Publicado no DJ de 16.11.1992)
E, ao do eminente Ministro Assis Toledo, cujo acórdão ficou assim
ementado:
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prática de ato infracional. Medida sócio-educativa. Aplicação.
— A imposição de medida sócio-educativa em desfavor de menor infrator é ato jurisdicional, de competência exclusiva do Juiz.
(Publicado no DJ de 30.11.1992)
Entendo que a matéria está perfeitamente pacifi cada no sentido de que se
deve fazer uma distinção entre a permissibilidade concedida ao MP, na fase pré-
processual (arts. 126 e 127, do ECA), e a fase judicial, compreendida nos arts.
148, 180 e seus incisos e parágrafos.
Desta forma, as atribuições do MP, se restringem a promover o
arquivamento dos autos de ocorrência ou relatório policial, conceder a remissão,
ou representar à autoridade judiciária, e esta sim, é a que é competente para
aplicar medida sócio-educativa aos menores.
Com este entendimento e seguindo o desta egrégia Corte, não vejo
ferimento a qualquer artigo da Lei n. 8.069/1990, que possa agasalhar a
pretensão do MP, razão por que não conheço de seu recurso, por inocorrência
dos pressupostos do art. 105, III, letra a, da CF.
É como voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 449
RECURSO ESPECIAL N. 28.886-SP (92.0027845-0)
Relator: Ministro Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Joseilson Bispo de Lima
EMENTA
REsp. Menores. Remissão. Homologação judicial. O Ministério
Público pode conceder a remissão com força de exclusão do processo.
Urge, porém, homologação judicial, quando implicar aplicação
de medida sócio-educativa. Embora não se trate de pena (sentido
criminal), é sanção, garantido o contencioso administrativo
(Constituição, art. 5º, LV).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso
especial, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram os Srs. Ministros
Adhemar Maciel e Anselmo Santiago. Ausentes, por motivo justifi cado, os Srs.
Ministros José Cândido e Pedro Acioli.
Brasília (DF), 09 de março de 1993 (data do julgamento).
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente e Relator
DJ 05.04.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Cuida-se de recurso especial
interposto pelo Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça do Estado
de São Paulo, fulcrado no art. 105, III, a, da Constituição Federal, no intuito
de impugnar acórdão proferido pela Câmara Especial do egrégio Tribunal de
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
450
Justiça paulista, que excluiu da competência do Ministério Público a imposição
de medida sócio-educativa de advertência a menor infrator.
Sustenta que a r. decisão negou vigência aos arts. 127 e 181, §§ 1º e 2º,
do Estatuto da Criança e do Adolescente. Informa que a imposição de medida
sócio-educativa pelo Promotor de Justiça só produz efeito concreto após a
homologação judicial, resultando de acordo de vontades entre as autoridades
responsáveis pelos menores. Aduz, outrossim, que a nova Carta Política
concedeu ao Ministério Público o poder para a prática destes atos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): O Regimento Interno
do Superior Tribunal de Justiça estabelece a competência interna. Tenho
entendido, a matéria relativa a menores, não obstante o Estatuto da Criança e
do Adolescente menciona “ato infracional”, substancialmente, nada tem a ver
com o Direito Penal. Ao contrário, ideologicamente, são diversos, sem exagero,
opostos. Os respectivos processos, por isso, não devem ser incluídos na Terceira
Seção, especialista em Direito Penal. O Estatuto, ao contrário do Código Penal,
não alimenta nenhum propósito restritivo. Reclama, isso sim, como registra o
art. 1º — proteção integral à criança e ao adolescente. O tema é mais próximo
ao Direito de Família do que do Direito Penal. Este obedece o princípio da
legalidade. Aquele, o princípio que melhor atenda ao interesse do protegido, de
que são exemplos a matéria alimentar e a guarda de pessoas.
Não pretendo, todavia, insistir no particular. Embora registre minha
divergência, conheço do recurso.
A remissão é instituição de exclusão, suspensão ou extinção para apurar
ato infracional. Ajusta-se, assim, às Regras Mínimas das Nações Unidas para
a Administração da Justiça de Menores (Res. 40/33, de 28.11.1985). Trata-
se, como se vê, de instituto que busca evitar o estigma de julgamento que
repercutirá negativamente na vida da criança e do adolescente. É tentativa e
esperança de impor auto disciplina, orientando pedagogicamente.
A remissão é de iniciativa do Ministério Público (Estatuto, art. 180, II).
Todavia, a Justiça da Infância e da Juventude é competente para “conceder a
remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo” (art. 148, II).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 451
O Ministério Público pode “conceder a remissão como forma de exclusão
do processo” (Estatuto, art. 201, II). Urge, no entanto, a homologação judicial,
quando for o caso de suspensão ou extinção do processo. Impõe-se ainda a
intervenção judiciária quando implicar “aplicação de medida sócio-educadora”.
(Estatuto, art. 180, III)
Ainda que a lei específi ca não dispussesse expressamente, impor-se-ia
sempre a presença do Magistrado, particularmente após a Constituição da
República de 1988 que consagrou o contencioso administrativo (art. 5º, LV).
Ainda que não se trate de sanção criminal, encerra, sem dúvida, as características
de sanção, exigindo, por isso, o processo com a chancela do Judiciário.
No caso dos autos, o Promotor Público da Comarca de Pereira Barreto-SP
concedeu a remissão, aplicando a medida sócio-educativa de Advertência (Est.,
art. 115 c.c. art. 127) (fl . 11).
Imputa-se, na espécie, a homologação judicial. Ainda que a medida não
seja colocação em regime de semi-liberdade e de internação.
O Ministério Público, conforme parecer do Procurador da República,
Dr. José Anselmo Barreiros, coloca-se no mesmo diapasão. Colho da seguinte
passagem:
Por outro lado, a interpretação sistemática dos arts. 127 e 181, § 1º, referidos, igualmente não implica a solução proposta no recurso. Nem a concordância do menor e de seu representante legal legitima o ato ministerial a que se recursou homologação.
De resto, a egrégia Quinta Turma do Tribunal Superior de Justiça rejeitou a tese defendida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, em decisão proferida em 07.10.1992, Relator Ministro José Dantas, assim ementada:
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prática de ato infracional. Medida sócio-educativa. Aplicação.
Ministério Público. Sobre permitir ao Ministério Público a concessão de remissão, sujeita a homologação judicial, não significa que a Lei n. 8.069/1990, arts. 127 e 181, § 1º, também lhe permita a imposição de medida sócio-educativa, cuja aplicação reservou ao poder jurisprudencial especifi cado nos seus arts. 146 e 148, I.
Não conheço do recurso.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
452
RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 1.641-RS (91.21879-0)
Relator: Ministro José Cândido
Recorrente: Wandira da Silva Chaves
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
Pacientes: Rodrigo Borba Nedeff e Diego Borba Nedeff
EMENTA
Recurso de habeas corpus. Estatuto da Criança e do Adolescente.
Crime e contravenção penal debitados a menores. Remissão. Aplicação
de medida sócio-educativa. Inexistência de constrangimento ilegal
(Lei n. 8.069/1990).
O Ministério Público, adotadas as providências previstas no
art. 179 da Lei n. 8.069/1990, pode conceder a remissão (perdão) e
requerer à autoridade judiciária a aplicação de medida sócio-educativa
(arts. 180, inciso II, e 127, da Lei n. 8.069/1990).
Desde que homologada a remissão, o Juiz pode determinar o
cumprimento da medida indicada, sem dar causa a constrangimento
ilegal, reparável através de habeas corpus. Foi o que ocorreu nos presentes
autos (arts. 127 e 181, § 1º, da Lei n. 8.069/1990).
A medida sóci-oeducativa, de que trata o art. 112, inciso III, da
Lei n. 8.069/1990 (prestação de serviço à comunidade), aplicada a
menores in casu, tem sentido jurídico diverso da prevista no art. 43,
inciso I, do Código Penal, por isso que não pode ser tomada como
pena restritiva de direito. É a lição do art. 228 da Carta Magna.
Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo no julgamento,
preliminarmente, por maioria, conhecer do recurso, vencido o Ministro Vicente
Cernicchiaro; no mérito, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na
conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir. Votaram com o
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 453
Relator os Ministros Pedro Acioli, Costa Leite e Vicente Cernicchiaro. Ausente,
por motivo justifi cado, o Ministro Carlos Th ibau.
Brasília (DF), 27 de abril de 1992 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente e Relator
DJ 18.05.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Cândido: O acórdão impugnado relatou a espécie dos
autos, assim:
Foi impetrada ordem de habeas corpus em favor dos menores Rodrigo e Diego Borba Nedeff , com 17 e 15 anos, respectivamente, porque obrigados a cumprir determinação de serviços externos à comunidade pelo prazo de três meses, durante 8 horas semanais, aos sábados.
A ordem seria ilegal, pois além de conceder a remissão, o que signifi ca perdão, foi imposta prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida pela simples falta de habilitação para dirigir.
Foram colhidas informações junto à autoridade coatora, e o Dr. Procurador lançou parecer. (fl . 174).
Ao julgar o habeas corpus, a colenda Sétima Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado, em decisão unânime, denegou a ordem, por considerar que
“A concessão de remissão não impede a aplicação de qualquer das medidas
previstas em lei (art. 127 da Lei n. 6.069)” — (fl . 174).
Inconformada, a impetrante recorre a esta Corte, buscando a reforma
da decisão hostilizada, ao entendimento de que a mesma violou o princípio
do contraditório, previsto no art. 5º, LV, da Constituição Federal, desde que
os pacientes tiveram cerceada a sua defesa. De igual modo, insurge-se contra
aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade, atribuída aos pacientes
que tiveram remissão concedida e homologada.
Em parecer, o Ministério Público Federal argúi a preliminar de falta de
representação judicial dos pacientes. No mérito, entendeu o ilustre parecerista
que “A remissão aí pode ser considerada como perdão puro e simples, como
quer a recorrente, mas também pode ser acompanhada de uma medida
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
454
condicionante, quando a Curadoria e o Juízo da Infância e da Adolescência a
julgarem necessária”. Conclui, opinando pelo improvimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José Cândido (Relator): A tese da impetração é a
seguinte: Se houve remissão ou perdão, não é possível a imposição de serviços
à comunidade, porque isso importa em aplicação de pena. Se, ao contrário,
não houve remissão, mas representação, deveria ter havido defesa em favor dos
menores, na forma dos arts. 110 e 111, e incisos, da Lei n. 8.069/1990.
Os autos informam que a Curadoria da Infância e da Juventude concedeu
remissão aos menores, e lhes aplicou a medida de prestação de serviços à
comunidade, pelo período de 03 (três) meses durante 08 (oito) horas semanais,
aos sábados, que foi devidamente homologada pelo Juiz de Direito da 2ª Vara da
Infância e da Juventude da Comarca de São Gabriel-RS (fl s. 149 e 168).
Os menores haviam sido apresentados à Curadoria de São Miguel, pela
prática do crime previsto no art. 132 do Código Penal, e da contravenção do art.
32 da Lei de Contravenções Penais.
É pacífi co o entendimento de que a remissão, de que trata o art. 126 da
Lei n. 8.069/1990, importa, necessariamente, no perdão do ilícito penal ou
contravencional, com a exclusão do processo, atendidos os pressupostos ali
mencionados, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das
medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-liberdade e de
internação (art. 127 do ECA).
No caso dos autos, foi o que aconteceu. O Ministério Público, ao tempo em
que pediu fosse homologada a remissão, requereu o cumprimento imediato da
medida de prestação de serviços à comunidade (arts. 181 e 182, § 1º, da Lei n.
8.069/1990), no que foi atendido pelo Juiz, através da competente homologação
(art. 181, § 1º).
Observe-se que, somente na hipótese do “Representante do Ministério
Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão”, é que “oferecerá
representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento
para aplicação da medida sócio-educativa...” (art. 182), o que não é o caso dos
autos.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 455
Não pode então a impetrante falar em cerceamento de defesa.
Vale deixar consignado que a medida sócio-educativa, de que trata o art.
112, inciso III, da Lei n. 8.060/1969 (prestação de serviço à comunidade), aqui
aplicada, tem sentido jurídico diverso da prevista no art. 43, inciso I, do Código
Penal, por isso que não pode ser tomada como pena restritiva, de direito. É a
lição do art. 228 da Carta Magna.
Sendo assim, já que o Ministério Público concedeu a remissão e nela inclui
medida sócio-educativa, de logo aceita pelo Juiz, não houve constrangimento a
ser vencido pelo remédio heróico.
Isto posto, nego provimento ao recurso.
É o meu voto.
VOTO-PRELIMINAR VENCIDO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Sr. Presidente, peço vênia à egrégia
Turma para não conhecer do recurso. O art. 9º, § 3º, do Regimento Interno,
dispõe, literalmente, ao tratar da competência interna desta Corte:
À Terceira Seção cabe processar e julgar a matéria penal em geral, ressalvados os casos de competência originária da Corte Especial.
Narra o relatório, e os votos aqui lançados, que duas pessoas, menores de
18 anos, envolveram-se em fato ilícito e, por isso, a teor da Lei n. 8.069, de 1990,
o Estatuto da Criança e do Adolescente, sofreram as sanções ali referidas.
Ocorre, data venia, matéria penal diz respeito à relação jurídica que tenha
por causa a prática de delito ou de contravenção penal. Inexistindo infração
penal, inexiste relação jurídica de Direito Penal. Conseqüentemente, como a
competência da egrégia Terceira Seção, a que a Sexta Turma integra, é restrita
para julgar matéria penal, como o menor de 18 anos, por força inclusive do art.
228 da Constituição, não comete delitos — atos ilícitos sem dúvida — data
venia, a competência é da egrégia Segunda Seção.
VOTO-MÉRITO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: No mérito, acompanho o Sr.
Ministro-Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
456
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 1.967-SP (92.0020390-6)
Relator: Ministro José Dantas
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Impetrado: Juiz de Direito da Infância e Juventude da Vara Distrital de
Arujá-SP
Interessado: Reinaldo Kenji Ito
EMENTA
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prática de ato infracional.
Medida sócio-educativa. Aplicação.
— Ministério Público. Sobre permitir ao Ministério Público a
concessão da remissão, sujeita à homologação judicial, não signifi ca
que a Lei n. 8.069/1990, arts. 127 e 181, § 1º, também lhe permita
a imposição de medida sócio-educativa, cuja aplicação reservou ao
poder jurisdicional especifi cado nos seus arts. 146 e 148, I.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram
de acordo os Srs. Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal e Costa Lima. Ausente,
justifi cadamente, o Sr. Ministro Flaquer Scartezzini.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Costa Lima, Presidente em exercício
Ministro José Dantas, Relator
DJ 13.10.1992
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 457
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: A espécie assim foi relatada pelo
Desembargador Cunha Camargo perante a egrégia Câmara Especial do
Tribunal de Justiça de São Paulo:
Cuida-se de mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público, por seu representante para esse fim designado pelo Sr. Dr. Procurador-Geral de Justiça, contra decisão do MM. Juiz da Infância e da Juventude da Vara Distrital de Arujá.
Em sindicância instaurada para apuração de infração atribuída a menor (direção na via pública de automotor, sem habilitação), o Dr. Promotor de Justiça concedeu a remissão, a que agregou a medida sócio-educativa da advertência.
O impetrado não concordou com a medida e, nos termos do § 2º do art. 181 do ECA, fez a remessa dos autos ao Sr. Dr. Procurador-Geral de Justiça, que manteve o ato do Dr. Promotor.
O magistrado desacolheu essa manifestação e homologou apenas a remissão.
Daí este mandado de segurança, com invocação de vários dispositivos do ECA, colimando o cumprimento da manifestação do Sr. Dr. Procurador-Geral de Justiça.
O impetrado prestou informações e a douta Procuradoria Geral de Justiça, pelo mesmo e culto Procurador que subscreve a inicial, manifestou-se pela concessão da ordem. — fl . 45.
Denegou-se o writ por fundamentos deduzidos deste modo:
O art. 180 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe caber ao representante do Ministério Público, ao receber o Boletim de Ocorrência ou relatório da autoridade policial, autuados pelo cartório judicial (art. 179), promover o arquivamento (inciso I), conceder a remissão (inciso II) ou representar à autoridade judiciária propondo a aplicação de medida sócio-educativa (inciso III). Nos dois primeiros casos ele promove ou concede; no último somente o autorizou o legislador a representar propondo a aplicação da medida. A competência para aplicá-la é da autoridade judiciária (ECA, art. 146).
Tem havido equivocada — data venia — interpretação do Ministério Público em relação ao alcance do disposto pelo art. 127 do ECA, que cuida dos efeitos da remissão, sem atribuir competência jurisdicional ao Dr. Curador, competência essa que é privativa do Poder Judiciário.
Como deixou expresso esta Câmara, no julgamento do referido Mandado de Segurança n. 14.470-7, também de Arujá:
Do exposto é lícito deduzir que de modo algum há objeção à atribuição do Ministério Público quanto ao exercício da remissão, como fórmula para
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
458
antecipar os resultados de um processo, segundo salienta a inicial, mas vai de encontro à Constituição a pretendida imposição e medida sócio-educativa, segundo se demonstrou acima. Bem por isso pode-se dizer que a transação, ou acordo de vontades entre o Ministério Público e o menor não modifi ca, data maxima venia, a situação, desde que haja necessidade de tutela jurisdicional quando presente a medida sócio-educativa, como resultando da prática de ato infracional. Em suma, a uniforme orientação desta Câmara no tocante à questão suscitada neste mandamus não se altera na espécie, conquanto respeitáveis os argumentos expostos pelo douto impetrante.
Em síntese: denegaram a segurança. — fl s. 47-48.
Daí o presente recurso ordinário, insistente na defesa do direito líquido
e certo do Ministério Público em ver homologada a concessão da remissão com a
discutida medida de advertência, tal como autorizariam os arts. 112, I, 126, 127,
180, I, 181 e §§ 1ºe 2º, e 201, I, da Lei n. 8.069/1990 — fl s. 51-56. Tem fé na
atribuição do Ministério Público em cumular à remissão e aplicação de medidas
sócio-educativas que não sejam a colocação em regime de semiliberdade e a
de internação, pois, em suma, dita acumulação está expressamente prevista no
art. 127, como prevista também a sua homologação judicial no art. 181, § 1º,
todos da Lei n. 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Finalmente,
censura a interpretação literal que o v. acórdão teria emprestado ao art. 112 do
discutido Estatuto, para defender-lhe a compreensão sistemática, consoante a
qual entende-se que não deve caber exclusivamente à “autoridade competente”
o poder de aplicação de medidas sócio-educativas, também confiadas ao
Ministério Público, salvo aquela exceção.
Processado o recurso, nesta instância ofi ciou o Ministério Público Federal,
por seu Subprocurador-Geral Edinaldo de Holanda, com o seguinte parecer:
1. Deriva-se a atual inconformação do ponto de vista esposado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, segundo o qual, é da competência daquela instituição a aplicação da medida de advertência, de natureza sócio-educativa, aos menores e em razão da prática de ato anti-social.
2. Sobredita convicção nasce fundamentalmente da exegese do art. 127 da Lei n. 8.069, de 13.07.1990, que faculta incluir no ato de remissão a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação.
3. Argúi o órgão ministerial que o entendimento do v. acórdão recorrido de que a aplicação das medidas socioeducativas é da exclusiva competência do
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 459
Poder Judiciário decorreria da interpretação isolada dos arts. 114, parágrafo único, 146 e 180, do sobremencionado Estatuto da Criança e do Adolescente.
4. Improcede data venia a zelosa argüição. Mesmo que se considerasse a possibilidade da interpretação ministerial, sobreleva a compreensão mais abrangente da noção de Estado de Direito, que reserva para o Poder Judiciário a aplicação de qualquer medida restritiva de direitos. Não importa que as medidas discutidas tenham ou não natureza de pena, como da afi rmação recursal, pois implicativa de restrição de direitos, que reclama juízo sentencial, com avaliação circunstancial da prova.
5. A existência do Estado de Direito não se circunscreve apenas à validade formal da lei, mas à sua aplicação, como exercício da função jurisdicional. Para Sanches de La Torre o “ordenamento jurídico positivo se despliega en tres planos: el de las normas, el de las relaciones intersubjetivas y el de la aplicación de aquéllas a estas” (Los Princípios Clásicos del Derecho, Union Editorial S/A, Madrid). A aplicação da norma compõe a exigência do regular ordenamento jurídico.
6. O insigne mestre Pontes de Miranda defi ne o Estado de Direito pela sua contraposição ao Estado dito absoluto (“Comentários à Constituição de 1946”, 3ª ed., t. 4. p. 271). O Estado absoluto seria aquele não regido pela Lei e pelo Direito, o que lhe emprestaria maior signifi cado a expressão Estado de fato.
7. O Estado de Direito é constituído por uma ordenação jurídica, da qual depende a existência da democracia. Tanto que a “Teoria Madisoniana” exige, na hipótese número um, como fundamento do Estado democrático o chamado “controle externo” dos poderes, regulando assim a sua nítida separação (The Federalist). A especialização de um dos poderes, especifi camente para o exercício da função jurisdicional não pode admitir o seu fracionamento, com atuação no mesmo sentido de órgão paralelo. Seria, segundo Madison, a eliminação do controle externo, gerando o totalitarismo.
8. Mas não é só. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em uma compreensão sistêmica, revela a reserva jurisdicional do Poder Judiciário. O art. 112 da referida lei atribui à autoridade competente o poder de aplicação das medidas sócio-educativas. Por seu turno, o art. 146 defi ne como autoridade a que se refere a lei, o Juiz da Infância e da Juventude.
9. O art. 180, em seu inciso III, outrossim, prevê a representação do Ministério Público à autoridade judiciária, para os fins de aplicação de medida sócio-educativa. Além de que, o art. 181 delimita os atos do Ministério Público, nessa fase, ao pedido de arquivamento e concessão de remissão.
10. O excepcional desvelo das funções institucionais, como atualmente, perde passo, na escala de valores, para o resguardo da Ordem Jurídica. Não basta a regência das relações pelo Império da lei: é preciso a garantia de sua aplicabilidade pelo Poder competente.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
460
11. Dir-se-ia haver um confl ito de atribuições no Ministério Público. De um lado, a reivindicação atual, de aplicação autônoma das referidas medidas sócio-educativas. De outro, a soberana defesa do Estado de Direito. A segunda, por mais abrangente, sobrepaira em relação à primeira, que se singulariza no particular.
Em razão, face ao dualismo de atribuições em julgamento, posiciona-se a Subprocuradoria Geral da República pela função prevalente, que é a defesa do Estado de Direito, postulando pelo improvimento do zeloso recurso. — fl s. 61-64.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, do que foi lido e
ouvido, não se deve negar à ilustrada sustentação da irresignação do Ministério
Público recorrente o acerto da visão doutrinária quanto a que o Estatuto da
Criança e do Adolescente inovou a rigidez da jurisdição do Juízo Menorista e
da atribuição exclusivamente promocional do Ministério Público, num plano de
modernidade bem exemplifi cada pelo tratamento que dispensou ao instituto da
remissão.
No entanto, a mesma sustentação não merece maior apoio, no que, a nosso
ver, extrapola os conhecidos limites conceituais da remissão, como instituto
expressa e inovadoramente confi ado ao Ministério Público, a título de perdão
antecipado ao início do procedimento judicial — art. 126, caput, do ECA. E
não merece, porque, como seqüência desse próprio artigo legal, o seu parágrafo
único volta a jurisdicionar a concessão da remissão, na hipótese ocorrente de
instaurar-se aquele procedimento.
A partir dessa distinção entre as duas hipóteses de remissão — a ministerial,
na fase pré-processual, e a judicial, no curso do processo —, certamente que a
remissão acumulável com a aplicação de medida sócio-educativa há de ser
apenas a que foi concedida judicialmente.
Deveras, em decorrência mesmo de uma interpretação mais sistemática
possível, necessariamente tem-se que conciliar tal acumulação (art. 127) com as
regras de ordenamento da função jurisdicional e sua distinção literal da função
ministerial, assim expresso no texto legal de que se trata, no que interessa, verbis:
Art. 146 — A autoridade a que se refere esta lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o Juiz que exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária local.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 461
(...)
Art. 148 — A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo.
(...)
Art. 180 — Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
II - conceder a remissão;
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.
Daí porque, quando o examinado art. 127, seguinte àquelas duas hipóteses
de concessão da remissão estabelecidas no art. 126 — a ministerial (caput) e
a judicial (parágrafo) —, preconiza que a remissão pode incluir eventualmente a
aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de
semiliberdade e a internação, decerto que o faz na linha do sistema codifi cado;
isto é, na compreensão da transcrita regra-mestra de competir à Justiça da
Infância e da Juventude aplicar as medidas cabíveis (art. 148, I).
Acentuada essa competência exclusiva, e na mesma linha sistêmica de
interpretação, há de conceber-se que dita previsão do art. 127, a comunicar-se
com as atribuições do Ministério Público, o será para permiti-las acumuláveis
pela concomitância da concessão da remissão (art. 180, I) e da representação
para aplicação de medida sócio-educativa (inciso II). Só assim será possível
inteirar-se essa norma atributiva com a do art. 181, § 1º, segundo a qual,
homologada a remissão, “a autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o
cumprimento da medida”.
Em suma, o aparente conflito de normas secundárias, contido na
discriminação dos procedimentos formais cotejados, reclama solucionar-se
pela nitidez das normas primárias, de modo como a lei delimitou com absoluta
clareza o campo jurisdicional, ao lado do campo postulatório. E se a este último
consentiu a ministração da remissão, subordinada à homologação judicial, não
signifi ca que, por força apenas das regras de procedimento dessa ministração
judicialiforme, tenha consentido imiscuir-se o Ministério Público no âmago da
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
462
função jurisdicional traçado pela própria lei, qual de aplicar medidas coercitivas,
de natureza parapenal, como são as chamadas medidas sócio-educativas
aplicáveis aos adolescentes infratores.
Na esteira dessas assertivas, e reportando-me aos excelentes fundamentos
aduzidos no parecer do Ministério Público Federal, reputo incensurável o v.
acórdão recorrido.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 1.968-SP
Relator: Ministro Assis Toledo
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Impetrado: Juízo da Infância e da Juventude da Vara Distrital de Arujá-SP
Interessado: Elizeu Chapeta da Silva
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
EMENTA
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prática de ato infracional.
Medida sócio-educativa. Aplicação.
A imposição de medida sócio-educativa em desfavor de menor
infrator é ato jurisdicional, de competência exclusiva do Juiz.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram
com o Relator os Ministros Edson Vidigal, Flaquer Scartezzini, José Dantas e
Costa Lima.
Brasília (DF), 11 de novembro de 1992 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 4, (7): 435-464, maio 2010 463
Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 30.11.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Apreciando o pedido de mandado de
segurança, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo denegou o writ, em
acórdão da lavra do Desembargador Aniceto Aliende, do qual extraio este
tópico:
2. Em que pesem as bem elaboradas razões do eminente subscritor da inicial, a segurança impetrada não é de ser concedida.
Em caso análogo, da mesma Comarca de Arujá, já se deixou expresso, nesta Câmara, não subsistir dúvida sobre a legitimidade do Ministério Público em conceder remissão, a ser submetida à homologação judicial (Mandado de Segurança n. 14.470-0, Relator o Desembargador Lair Loureiro. O que tem a Câmara Especial repelido é a cumulação, com a remissão, de medida sócio-educativa, avançando no campo da atividade jurisdicional, privativo do Juiz da Infância e Juventude, como juiz natural do processo.
Tem esta Câmara Especial, no exame da questão posta nos autos, fi rmado o entendimento de que, ao representante do Ministério Público, ao qual defere a lei a faculdade de conceder a remissão antes de iniciado o procedimento judicial, como forma de exclusão do processo, não cabe cumular a concessão com a aplicação de qualquer das medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. A aplicação de medida educativa, que, em última análise, é forma de impor uma restrição ou penalidade ao menor (sob o eufemismo de cuidadosamente se evitar terminologia que relembre qualquer parâmetro de legislação penal para os maiores de idade), é privativa do Juiz da Infância e Juventude, conforme, aliás, disposição expressa do Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 146. (fl s. 50-51)
Inconformado, recorre o impetrante reiterando as alegações da inicial.
Nesta instância, a douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer
da lavra do Dr. Edinaldo de Holanda, opina pelo improvimento.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
464
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Esta Turma já teve oportunidade
de manifestar-se a respeito da matéria, no julgamento do RMS n. 1.967-6-
SP, Relator Ministro José Dantas, publicado no DJ de 13.10.1992, estando o
acórdão assim ementado:
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prática de ato infracional. Medida sócio-educativa. Aplicação.
Ministério Público. Sobre permitir ao Ministério Público a concessão da remissão, sujeita à homologação judicial, não signifi ca que a Lei n. 8.069/1990, arts. 127 e 181, § 1º, também lhe permita a imposição de medida sócio-educativa, cuja aplicação reservou ao poder jurisdicional especifi cado nos seus arts. 146 e 148, I.
Com efeito, a imposição de medida sócio-educativa em desfavor de menor
infrator é ato jurisdicional, de competência exclusiva do Juiz.
Coerente com essa orientação, à qual dei adesão, nego provimento ao
recurso.
É o voto.
Índice Analítico
A
Ação expropriatória - Anatocismo - Não-caracterização - CF/1988, art. 5°, XXIV - Decreto n. 22.626/1933, art. 4° - Juros moratórios sobre compensatórios - Incidência - Possibilidade. Súmula n. 102-STJ. RSSTJ 7/233.
Ação indenizatória - CC, art. 178, § 6°, II - Prescrição ânua - Seguro em grupo. Súmula n. 101-STJ. RSSTJ 7/201.
Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
Anatocismo - Não-caracterização - Ação expropriatória - CF/1988, art. 5°, XXIV - Decreto n. 22.626/1933, art. 4° - Juros moratórios sobre compensatórios - Incidência - Possibilidade. Súmula n. 102-STJ. RSSTJ 7/233.
Autarquia Federal - Lesão - Ausência - Competência - CP, art. 171 - Crime de estelionato - Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias - Justiça Estadual. Súmula n. 107-STJ. RSSTJ 7/421.
C
Caráter protelatório - Não-caracterização - CPC, arts. 165 e 538, parágrafo único - Embargos de declaração - Prequestionamento. Súmula n. 98-STJ. RSSTJ 7/111.
CC, art. 178, § 6°, II - Ação indenizatória - Prescrição ânua - Seguro em grupo. Súmula n. 101-STJ. RSSTJ 7/201.
CF/1988, art. 5°, XXIV - Ação expropriatória - Anatocismo - Não-caracterização - Decreto n. 22.626/1933, art. 4° - Juros moratórios sobre compensatórios - Incidência - Possibilidade. Súmula n. 102-STJ. RSSTJ 7/233.
CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Justiça do Trabalho - Reclamação - Regime jurídico único - Anterioridade - Servidor público - Vantagens trabalhistas. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime de falsifi cação e uso de documento falso - Estabelecimento particular de ensino - Justiça Estadual. Súmula n. 104-STJ. RSSTJ 7/285.
ÍNDICE ANALÍTICO
468
CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
Citação - Demora - CPC, arts. 219 e 220 - Decadência - Não-caracterização - Prescrição - Não-caracterização. Súmula n. 106-STJ. RSSTJ 7/373.
Competência - Autarquia Federal - Lesão - Ausência - CP, art. 171 - Crime de estelionato - Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias - Justiça Estadual. Súmula n. 107-STJ. RSSTJ 7/421.
Competência - CF/1988, arts. 39 e 114 - Justiça do Trabalho - Reclamação - Regime jurídico único - Anterioridade - Servidor público - Vantagens trabalhistas. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
Competência - CF/1988, art. 109, IV - Crime de falsifi cação e uso de documento falso - Estabelecimento particular de ensino - Justiça Estadual. Súmula n. 104-STJ. RSSTJ 7/285.
Competência - ECA, arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182 - Juiz de Direito - Medida sócioeducativa - Aplicação. Súmula n. 108-STJ. RSSTJ 7/435.
CP, art. 158, caput - Crime de extorsão - Consumação - Crime formal - Vantagem indevida - Obtenção - Irrelevância. Súmula n. 96-STJ. RSSTJ 7/63.
CP, art. 171 - Autarquia Federal - Lesão - Ausência - Competência - Crime de estelionato - Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias - Justiça Estadual. Súmula n. 107-STJ. RSSTJ 7/421.
CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Condenação - Inadmissibilidade - Lei n. 1.553/1951, arts. 6° e 19° - Mandado de segurança. Súmula n. 105-STJ. RSSTJ 7/307.
CPC, arts. 165 e 538, parágrafo único - Caráter protelatório - Não-caracterização - Embargos de declaração - Prequestionamento. Súmula n. 98-STJ. RSSTJ 7/111.
CPC, arts. 219 e 220 - Citação - Demora - Decadência - Não-caracterização - Prescrição - Não-caracterização. Súmula n. 106-STJ. RSSTJ 7/373.
CPC, art. 499, § 2° - Ministério Público - Custos legis - Recurso - Interposição - Legitimidade. Súmula n. 99-STJ. RSSTJ 7/135.
ÍNDICE ANALÍTICO
RSSTJ, a. 4, (7): 465-475, maio 2010 469
Crime de estelionato - Autarquia Federal - Lesão - Ausência - Competência - CP, art. 171 - Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias - Justiça Estadual. Súmula n. 107-STJ. RSSTJ 7/421.
Crime de extorsão - Consumação - CP, art. 158, caput - Crime formal - Vantagem indevida - Obtenção - Irrelevância. Súmula n. 96-STJ. RSSTJ 7/63.
Crime de falsifi cação e uso de documento falso - CF/1988, art. 109, IV - Competência - Estabelecimento particular de ensino - Justiça Estadual. Súmula n. 104-STJ. RSSTJ 7/285.
Crime formal - CP, art. 158, caput - Crime de extorsão - Consumação - Vantagem indevida - Obtenção - Irrelevância. Súmula n. 96-STJ. RSSTJ 7/63.
CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
CTN, art. 111, II - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
D
Decadência - Não-caracterização - Citação - Demora - CPC, arts. 219 e 220 - Prescrição - Não-caracterização. Súmula n. 106-STJ. RSSTJ 7/373.
Decreto n. 22.626/1933, art. 4° - Ação expropriatória - Anatocismo - Não-caracterização - CF/1988, art. 5°, XXIV - Juros moratórios sobre compensatórios - Incidência - Possibilidade. Súmula n. 102-STJ. RSSTJ 7/233.
Decreto n. 77.065/1976 - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
ÍNDICE ANALÍTICO
470
Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Decreto n. 99.664/1990 - Forças Armadas - Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Lei n. 8.025/1990, art. 1° - Servidor civil. Súmula n. 103-STJ. RSSTJ 7/253.
Decreto n. 99.546/1990 - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
Decreto n. 99.664/1990 - Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Forças Armadas - Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Lei n. 8.025/1990, art. 1° - Servidor civil. Súmula n. 103-STJ. RSSTJ 7/253.
Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
Decreto-Lei n. 1.428/1975 - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
Decreto-Lei n. 2.433/1988 - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
ÍNDICE ANALÍTICO
RSSTJ, a. 4, (7): 465-475, maio 2010 471
E
ECA, arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182 - Competência - Juiz de Direito - Medida sócioeducativa - Aplicação. Súmula n. 108-STJ. RSSTJ 7/435.
Embargos de declaração - Prequestionamento - Caráter protelatório - Não-caracterização - CPC, arts. 165 e 538, parágrafo único. Súmula n. 98-STJ. RSSTJ 7/111.
Estabelecimento particular de ensino - CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime de falsifi cação e uso de documento falso - Justiça Estadual. Súmula n. 104-STJ. RSSTJ 7/285.
F
Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias - Autarquia Federal - Lesão - Ausência - Competência - CP, art. 171 - Crime de estelionato - Justiça Estadual. Súmula n. 107-STJ. RSSTJ 7/421.
Forças Armadas - Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Decreto n. 99.664/1990 - Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Lei n. 8.025/1990, art. 1° - Servidor civil. Súmula n. 103-STJ. RSSTJ 7/253.
H
Honorários advocatícios - Condenação - Inadmissibilidade - CPC, art. 20 - Lei n. 1.553/1951, arts. 6° e 19° - Mandado de segurança. Súmula n. 105-STJ. RSSTJ 7/307.
I
Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Decreto n. 99.664/1990 - Forças Armadas - Lei n. 8.025/1990, art. 1° - Servidor civil. Súmula n. 103-STJ. RSSTJ 7/253.
Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
Imposto de Importação (II) - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n.
ÍNDICE ANALÍTICO
472
99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
J
Juiz de Direito - Competência - ECA, arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182 - Medida sócioeducativa - Aplicação. Súmula n. 108-STJ. RSSTJ 7/435.
Juros moratórios sobre compensatórios - Incidência - Possibilidade - Ação expropriatória - Anatocismo - Não-caracterização - CF/1988, art. 5°, XXIV - Decreto n. 22.626/1933, art. 4°. Súmula n. 102-STJ. RSSTJ 7/233.
Justiça do Trabalho - CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Reclamação - Regime jurídico único - Anterioridade - Servidor público - Vantagens trabalhistas. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
Justiça Estadual - Autarquia Federal - Lesão - Ausência - Competência - CP, art. 171 - Crime de estelionato - Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias. Súmula n. 107-STJ. RSSTJ 7/421.
Justiça Estadual - CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime de falsifi cação e uso de documento falso - Estabelecimento particular de ensino. Súmula n. 104-STJ. RSSTJ 7/285.
L
Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto
ÍNDICE ANALÍTICO
RSSTJ, a. 4, (7): 465-475, maio 2010 473
n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Súmula n. 95-STJ. RSSTJ 7/11.
Lei n. 1.553/1951, arts. 6° e 19° - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Condenação - Inadmissibilidade - Mandado de segurança. Súmula n. 105-STJ. RSSTJ 7/307.
Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4° - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex. Súmula n. 100-STJ. RSSTJ 7/175.
Lei n. 8.025/1990, art. 1° - Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Decreto n. 99.664/1990 - Forças Armadas - Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Servidor civil. Súmula n. 103-STJ. RSSTJ 7/253.
M
Mandado de segurança - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Condenação - Inadmissibilidade - Lei n. 1.553/1951, arts. 6° e 19°. Súmula n. 105-STJ. RSSTJ 7/307.
Medida sócioeducativa - Aplicação - Competência - ECA, arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182 - Juiz de Direito. Súmula n. 108-STJ. RSSTJ 7/435.
Ministério Público - Custos legis - CPC, art. 499, § 2° - Recurso - Interposição - Legitimidade. Súmula n. 99-STJ. RSSTJ 7/135.
P
Prescrição - Não-caracterização - Citação - Demora - CPC, arts. 219 e 220 - Decadência - Não-caracterização. Súmula n. 106-STJ. RSSTJ 7/373.
Prescrição ânua - Ação indenizatória - CC, art. 178, § 6°, II - Seguro em grupo. Súmula n. 101-STJ. RSSTJ 7/201.
R
Reclamação - CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Justiça do Trabalho - Regime jurídico único - Anterioridade - Servidor público - Vantagens trabalhistas. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
ÍNDICE ANALÍTICO
474
Recurso - Interposição - Legitimidade - CPC, art. 499, § 2° - Ministério Público - Custos legis. Súmula n. 99-STJ. RSSTJ 7/135.
Regime jurídico único - Anterioridade - CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Justiça do Trabalho - Reclamação - Servidor público - Vantagens trabalhistas. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
S
Seguro em grupo - Ação indenizatória - CC, art. 178, § 6°, II - Prescrição ânua. Súmula n. 101-STJ. RSSTJ 7/201.
Servidor civil - Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Decreto n. 99.664/1990 - Forças Armadas - Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Lei n. 8.025/1990, art. 1°. Súmula n. 103-STJ. RSSTJ 7/253.
Servidor público - CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Justiça do Trabalho - Reclamação - Regime jurídico único - Anterioridade - Vantagens trabalhistas. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
Súmula n. 95-STJ - CF/1988, arts. 151, III, e 155, I, b - CTN, arts. 97, I e IV; 111, 175 e 176 - Decreto n. 77.065/1976 - Decreto n. 99.546/1990 - Decreto-Lei n. 1.428/1975 - Decreto-Lei n. 2.433/1988 - Imposto de Importação (II) - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Alíquota - Redução - Não-vinculação - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - Lei Complementar n. 4/1969, art. 1°, IV. RSSTJ 7/11.
Súmula n. 96-STJ - CP, art. 158, caput - Crime de extorsão - Consumação - Crime formal - Vantagem indevida - Obtenção - Irrelevância. RSSTJ 7/63.
Súmula n. 97-STJ - CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Justiça do Trabalho - Reclamação - Regime jurídico único - Anterioridade - Servidor público - Vantagens trabalhistas. RSSTJ 7/89.
Súmula n. 98-STJ - Caráter protelatório - Não-caracterização - CPC, arts. 165 e 538, parágrafo único - Embargos de declaração - Prequestionamento. RSSTJ 7/111.
Súmula n. 99-STJ - CPC, art. 499, § 2° - Ministério Público - Custos legis - Recurso - Interposição - Legitimidade. RSSTJ 7/135.
Súmula n. 100-STJ - Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - Incidência - CTN, art. 111, II - Decreto-Lei n. 1.081/1980 - Decreto-Lei n. 1.219/1972, art. 15 - Decreto-Lei n. 1.248/1972 - Importação - Incentivos fi scais - Regime Befi ex - Lei n. 5.025/1966, art. 55, na redação do Decreto-Lei n. 24/1966, art. 4°. RSSTJ 7/175.
ÍNDICE ANALÍTICO
RSSTJ, a. 4, (7): 465-475, maio 2010 475
Súmula n. 101-STJ - Ação indenizatória - CC, art. 178, § 6°, II - Prescrição ânua - Seguro em grupo. RSSTJ 7/201.
Súmula n. 102-STJ - Ação expropriatória - Anatocismo - Não-caracterização - CF/1988, art. 5°, XXIV - Decreto n. 22.626/1933, art. 4° - Juros moratórios sobre compensatórios - Incidência - Possibilidade. RSSTJ 7/233.
Súmula n. 103-STJ - Decreto n. 99.266/1990, art. 1°, § 2° - Decreto n. 99.664/1990 - Forças Armadas - Imóvel funcional - Alienação - Possibilidade - Lei n. 8.025/1990, art. 1° - Servidor civil. RSSTJ 7/253.
Súmula n. 104-STJ - CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime de falsifi cação e uso de documento falso - Estabelecimento particular de ensino - Justiça Estadual. RSSTJ 7/285.
Súmula n. 105-STJ - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Condenação - Inadmissibilidade - Lei n. 1.553/1951, arts. 6° e 19° - Mandado de segurança. RSSTJ 7/307.
Súmula n. 106-STJ - Citação - Demora - CPC, arts. 219 e 220 - Decadência - Não-caracterização - Prescrição - Não-caracterização. RSSTJ 7/373.
Súmula n. 107-STJ - Autarquia Federal - Lesão - Ausência - Competência - CP, art. 171 - Crime de estelionato - Falsifi cação - Guias de Recolhimento das Contribuições Previdenciárias - Justiça Estadual. RSSTJ 7/421.
Súmula n. 108-STJ - Competência - ECA, arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182 - Juiz de Direito - Medida sócioeducativa - Aplicação. RSSTJ 7/435.
V
Vantagem indevida - Obtenção - Irrelevância - CP, art. 158, caput - Crime de extorsão - Consumação - Crime formal. Súmula n. 96-STJ. RSSTJ 7/63.
Vantagens trabalhistas - CF/1988, arts. 39 e 114 - Competência - Justiça do Trabalho - Reclamação - Regime jurídico único - Anterioridade - Servidor público. Súmula n. 97-STJ. RSSTJ 7/89.
Índice Sistemático
SÚMULA 95
REsp 3.884-RS .......Rel. Min. Garcia Vieira ............................................. RSSTJ 7/15REsp 5.892-SC .......Rel. Min. Garcia Vieira ............................................. RSSTJ 7/30REsp 13.665-SP ......Rel. Min. Américo Luz ............................................. RSSTJ 7/36REsp 16.472-SC .....Rel. Min. Francisco Peçanha Martins ....................... RSSTJ 7/40REsp 16.538-SP ......Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ..................... RSSTJ 7/44REsp 19.851-SC .....Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ......................... RSSTJ 7/47REsp 24.163-SP ......Rel. Min. César Asfor Rocha .................................... RSSTJ 7/60
SÚMULA 96
REsp 3.591-RJ ........Rel. Min. Paulo Costa Leite ...................................... RSSTJ 7/67REsp 30.485-RJ ......Rel. Min. José Dantas................................................ RSSTJ 7/70REsp 32.057-SP ......Rel. Min. Jesus Costa Lima ....................................... RSSTJ 7/74REsp 32.809-SP ......Rel. Min. Assis Toledo .............................................. RSSTJ 7/77RHC 3.201-ES .......Rel. Min. José Dantas................................................ RSSTJ 7/81
SÚMULA 97
CC 3.909-RJ ...........Rel. Min. Flaquer Scartezzini ................................... RSSTJ 7/93CC 4.411-RJ ...........Rel. Min. Edson Vidigal ........................................... RSSTJ 7/95CC 5.128-RJ ...........Rel. Min. Adhemar Maciel ....................................... RSSTJ 7/97CC 5.270-RJ ...........Rel. Min. Anselmo Santiago ..................................... RSSTJ 7/99CC 5.355-RJ ...........Rel. Min. José Dantas.............................................. RSSTJ 7/102CC 5.362-RJ ...........Rel. Min. José Cândido de Carvalho Filho ............. RSSTJ 7/103CC 5.381-RJ ...........Rel. Min. Assis Toledo ............................................ RSSTJ 7/106CC 5.854-RJ ...........Rel. Min. Jesus Costa Lima ..................................... RSSTJ 7/107
ÍNDICE SISTEMÁTICO
480
SÚMULA 98
EDcl no REsp21.158-SP ................Rel. Min. Milton Luiz Pereira ................................. RSSTJ 7/115EREsp 20.756-SP ...Rel. Min. Assis Toledo ............................................ RSSTJ 7/118REsp 5.252-SP ........Rel. Min. Dias Trindade .......................................... RSSTJ 7/123REsp 9.085-SP ........Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................... RSSTJ 7/125REsp 20.150-MG ...Rel. Min. Cláudio Santos ........................................ RSSTJ 7/128REsp 24.964-DF .....Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ...................... RSSTJ 7/130
SÚMULA 99
REsp 5.333-SP ........Rel. Min. Nilson Naves ........................................... RSSTJ 7/139REsp 5.507-SP ........Rel. Min. Américo Luz ........................................... RSSTJ 7/143REsp 5.620-SP ........Rel. Min. Hélio Mosimann ..................................... RSSTJ 7/146REsp 6.459-SP ........Rel. Min. José de Jesus Filho ................................... RSSTJ 7/149REsp 6.536-SP ........Rel. Min. Milton Luiz Pereira ................................. RSSTJ 7/152REsp 6.795-SP ........Rel. Min Luiz Vicente Cernicchiaro ....................... RSSTJ 7/161REsp 22.920-PR .....Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................... RSSTJ 7/164REsp 35.314-SP ......Rel. Min. Adhemar Maciel ..................................... RSSTJ 7/171
SÚMULA 100
REsp 31.215-SP ......Rel. Min. Demócrito Reinaldo ................................ RSSTJ 7/179REsp 34.009-SP ......Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ....................... RSSTJ 7/184REsp 36.366-SP ......Rel. Min. Milton Luiz Pereira ................................. RSSTJ 7/187REsp 36.659-SP ......Rel. Min. Francisco Peçanha Martins ..................... RSSTJ 7/192REsp 38.216-SP ......Rel. Min. Garcia Vieira ........................................... RSSTJ 7/196
SÚMULA 101
REsp 9.524-SP ........Rel. Min. Barros Monteiro ...................................... RSSTJ 7/205REsp 10.497-SP ......Rel. Min. Athos Carneiro ....................................... RSSTJ 7/209REsp 26.745-SP ......Rel. Min. Eduardo Ribeiro ...................................... RSSTJ 7/214REsp 30.676-SP ......Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira .................. RSSTJ 7/221REsp 36.385-SP ......Rel. Min. Fontes de Alencar ................................... RSSTJ 7/229
SÚMULA 102
EREsp 18.588-SP ...Rel. Min. Demócrito Reinaldo ................................ RSSTJ 7/237EREsp 24.943-SP ...Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ................... RSSTJ 7/242EREsp 28.259-SP ...Rel. Min. Cesar Asfor Rocha .................................. RSSTJ 7/248
SÚMULA 103
MS 1.805-DF..........Rel. Min. Pedro Acioli ............................................ RSSTJ 7/257MS 2.050-DF..........Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ...................... RSSTJ 7/259MS 2.467-DF..........Rel. Min. Assis Toledo ............................................ RSSTJ 7/262
ÍNDICE SISTEMÁTICO
RSSTJ, a. 4, (7): 477-481, maio 2010 481
MS 2.521-DF..........Rel. Min. José Dantas.............................................. RSSTJ 7/265MS 2.563-DF..........Rel. Min. Adhemar Maciel ..................................... RSSTJ 7/270MS 2.627-DF..........Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini .......................... RSSTJ 7/273MS 2.691-DF..........Rel. Min. Anselmo Santiago ................................... RSSTJ 7/278
SÚMULA 104
CC 350-RS .............Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini .......................... RSSTJ 7/289CC 6.346-DF ..........Rel. Min. Assis Toledo ............................................ RSSTJ 7/291CC 6.554-DF ..........Rel. Min. José Cândido de Carvalho Filho ............. RSSTJ 7/293CC 6.555-DF ..........Rel. Min. Edson Vidigal ......................................... RSSTJ 7/297CC 6.641-DF ..........Rel. Min. Jesus Costa Lima ..................................... RSSTJ 7/299CC 6.718-DF ..........Rel. Min. Adhemar Maciel ..................................... RSSTJ 7/302CC 7.792-DF ..........Rel. Min. José Dantas.............................................. RSSTJ 7/305
SÚMULA 105
EREsp 880-RS ........Rel. Min. José Dantas.............................................. RSSTJ 7/311EREsp 18.649-RJ ....Rel. Min. José de Jesus Filho ................................... RSSTJ 7/342EREsp 27.879-RJ ....Rel. Min. Nilson Naves ........................................... RSSTJ 7/345EREsp 36.285-RS ...Rel. Min. Américo Luz ........................................... RSSTJ 7/364
SÚMULA 106
EAR 179-SP ...........Rel. Min. Nilson Naves ........................................... RSSTJ 7/377REsp 1.379-RJ ........Rel. Min. José de Jesus Filho ................................... RSSTJ 7/380REsp 1.450-SP ........Rel. Min. Eduardo Ribeiro ...................................... RSSTJ 7/382REsp 2.686-SP ........Rel. Min. Athos Carneiro ....................................... RSSTJ 7/385REsp 2.721-MG .....Rel. Min. Bueno de Souza....................................... RSSTJ 7/389REsp 7.013-RS .......Rel. Min. Fontes de Alencar ................................... RSSTJ 7/400REsp 8.257-SP ........Rel. Min. Barros Monteiro ...................................... RSSTJ 7/403REsp 19.111-SP ......Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira .................. RSSTJ 7/408REsp 24.783-SP ......Rel. Min. Garcia Vieira ........................................... RSSTJ 7/415
SÚMULA 107
CC 1.623-SP ...........Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini .......................... RSSTJ 7/425CC 4.514-SP ...........Rel. Min. José Dantas.............................................. RSSTJ 7/427RHC 1.300-PE .......Rel. Min. Edson Vidigal ......................................... RSSTJ 7/431
SÚMULA 108
REsp 24.442-SP ......Rel. Min. Costa Lima ............................................. RSSTJ 7/439REsp 26.049-SP ......Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini .......................... RSSTJ 7/443REsp 28.886-SP ......Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ...................... RSSTJ 7/449RHC 1.641-RS .......Rel. Min. José Cândido ........................................... RSSTJ 7/452RMS 1.967-SP ........Rel. Min. José Dantas.............................................. RSSTJ 7/456RMS 1.968-SP ........Rel. Min. Assis Toledo ............................................ RSSTJ 7/462
Siglas e Abreviaturas
AC Apelação Cível
Adm Administrativo
Ag Agravo de Instrumento
AgRg Agravo Regimental
AI Argüição de Inconstitucionalidade
Ana Agência Nacional de Águas
Anatel Agência Nacional de Telecomunicações
Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica
APn Ação Penal
AR Ação Rescisória
CAt Confl ito de Atribuições
CC Código Civil
CC Confl ito de Competência
CCm Código Comercial
Cm Comercial
CNE Conselho Nacional de Educação
Com Comunicação
CP Código Penal
CPC Código de Processo Civil
CDC Código de Proteção e Defesa do
Consumidor
CPP Código de Processo Penal
CR Carta Rogatória
CRI Carta Rogatória Impugnada
Ct Constitucional
CTB Código de Trânsito Brasileiro
CTN Código Tributário Nacional
Cv Civil
D Decreto
DL Decreto-Lei
SIGLAS E ABREVIATURAS
486
DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível
EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória
EAg Embargos de Divergência no Agravo
EC Emenda Constitucional
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EDcl Embargos de Declaração
EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
El Eleitoral
EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial
ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de
Segurança
ExImp Exceção de Impedimento
ExSusp Exceção de Suspeição
ExVerd Exceção da Verdade
ExecAR Execução em Ação Rescisória
ExecMC Execução em Medida Cautelar
ExecMS Execução em Mandado de Segurança
HC Habeas Corpus
HD Habeas Data
HSE Homologação de Sentença Estrangeira
IDC Incidente de Deslocamento de Competência
IExec Incidente de Execução
IF Intervenção Federal
IJ Interpelação Judicial
Inq Inquérito
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência
LC Lei Complementar
SIGLAS E ABREVIATURAS
RSSTJ, a. 4, (7): 483-488, maio 2010 487
LCP Lei das Contravenções Penais
Loman Lei Orgânica da Magistratura
LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
MC Medida Cautelar
MC Ministério das Comunicações
MI Mandado de Injunção
MS Mandado de Segurança
NC Notícia-Crime
PA Processo Administrativo
Pet Petição
PExt Pedido de Extensão
Pn Penal
Prc Precatório
PrCv Processual Civil
PrPn Processual Penal
Pv Previdenciário
QO Questão de Ordem
R Revista do Superior Tribunal de Justiça
Rcl Reclamação
RE Recurso Extraordinário
REsp Recurso Especial
RHC Recurso em Habeas Corpus
RHD Recurso em Habeas Data
RMI Recurso em Mandado de Injunção
RMS Recurso em Mandado de Segurança
RO Recurso Ordinário
Rp Representação
RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça
RvCr Revisão Criminal
S Súmula
SIGLAS E ABREVIATURAS
488
SAF Secretaria de Administração Federal
Sd Sindicância
SEC Sentença Estrangeira Contestada
SF Senado Federal
SL Suspensão de Liminar
SLS Suspensão de Liminar e de Sentença
SS Suspensão de Segurança
STA Suspensão de Tutela Antecipada
Tr Trabalho
Trbt Tributário
Repositórios Autorizados e Credenciados pelo
Superior Tribunal de Justiça
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
01. Lex – Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 1, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro revalidado – Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.
02. Revista de Direito Administrativo – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 2, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 05.09.2007 – DJ 19.09.2007.
03. Revista LTr – Legislação do Trabalho e Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 26.08.1985 – DJ 28.08.1985 – Registro revalidado – Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.
04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 6, de 09.09.1985 – DJ 12.09.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.
05. Julgados dos Tribunais Superiores – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. – Portaria n. 7, de 06.11.1987 – DJ 10.11.1987 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.
06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – Portaria n. 1, de 29.11.1989 – DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/retifi cado – Portaria n. 3, de 19.06.2002 – DJ de 25.06.2002.
07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Portaria n. 1, de 08.02.1990 – DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.
08. Revista Jurídica Mineira – Portaria n. 3, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 13.05.1999 – DJ 04.06.1999.
09. Revista Jurídica – editada por Notadez Informação Ltda. – Portaria n. 4, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990.
10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul – Portaria n. 5, de 02.05.1990 – DJ 09.05.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.
11. Revista de Processo – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 6, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.
12. Revista de Direito Civil – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 7, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 06.06.2000 – DJ 09.06.2000.
13. Revista dos Tribunais – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 8, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
492
14. Revista de Direito Público – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 9, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.
15. Revista Ciência Jurídica – editada pela Editora Nova Alvorada Edições Ltda. – Portaria n. 10, de 21.08.1990 – DJ 24.08.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.
16. Revista Jurisprudência Mineira – editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Portaria n. 12, de 10.09.1990 – DJ 12.09.1990.
17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais – Portaria n. 13, de 17.12.1990 – DJ 19.12.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 10, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
18. Jurisprudência Catarinense – editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina – Portaria n. 1, de 22.05.1991 – DJ 27.05.1991.
19. Revista IOB Trabalhista e Previdenciária – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 16.09.1991 – DJ 20.09.1991 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.
20. Lex – Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 1, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.
22. Lex – Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992.
23. Revista de Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 4, de 20.04.1992 – DJ 24.04.1992.
24. Revista Forense – editada pela Editora Forense – Portaria n. 5, de 22.06.1992 – DJ 06.07.1992.
25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. – Portaria n. 6, de 06.11.1992 – DJ 10.11.1992 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.
26. Série – Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – Portaria n. 1, de 18.02.1993 – DJ 25.02.1993 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.
27. Revista Ata – Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n. 2, de 11.02.1994 – DJ 18.02.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 04.05.1999 – DJ 18.05.1999.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
RSSTJ, a. 4, (7): 489-495, maio 2010 493
28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – editada pela Livraria do Advogado Ltda. – Portaria n. 3, de 02.03.1994 – DJ 07.03.1994.
29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n. 4, de 15.06.1994 – DJ 17.06.1994.
30. Genesis – Revista de Direito do Trabalho – editada pela Genesis Editora – Portaria n. 5, de 14.09.1994 – DJ 16.09.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
31. Decisório Trabalhista – editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. – Portaria n. 6, de 02.12.1994 – DJ 06.12.1994.
32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo – Portaria n. 1, de 18.12.1995 – DJ 20.12.1995 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria n. 1, de 11.04.1996 – DJ 22.04.1996.
34. Lex – Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 29.04.1996 – DJ 02.05.1996 – Registro cancelado – Portaria n. 11, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
35. Revista de Direito Renovar – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 3, de 12.08.1996 – DJ 15.08.1996.
36. Revista Dialética de Direito Tributário – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 16.06.1997 – DJ 23.06.1997.
37. Revista do Ministério Público – Portaria n. 1, de 26.10.1998 – DJ 05.11.1998 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.
38. Revista Jurídica Consulex – editada pela Editora Consulex Ltda. – Portaria n. 1, de 04.02.1999 – DJ 23.02.1999 – Republicada em 25.02.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.
39. Genesis – Revista de Direito Processual Civil – editada pela Genesis Editora – Portaria n. 2, de 12.04.1999 – DJ 15.04.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
40. Jurisprudência Brasileira Criminal – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 6, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.
41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 7, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.
42. Revista de Estudos Tributários – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 8, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
494
43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Editora Brasília Jurídica Ltda. – Portaria n. 10, de 29.06.1999 – DJ 05.07.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.
44. Revista Interesse Público – editada pela Editora Fórum Ltda. – Portaria n. 1, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000.
45. Revista IOB de Direito Civil e Processual Civil – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.
46. Revista IOB de Direito de Família – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 29.03.2000 – DJ 03.04.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 2, de 14.09.2009 – DJe 15.09.2009
47. Revista ADCOAS Previdenciária – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 5, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
48. Revista ADCOAS Trabalhista – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 6, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 7, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
49. Revista de Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 7, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 9, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
50. Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 4, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.
51. Revista Tributária e de Finanças Públicas – editada pela Editora Revista dos Tribunais – Portaria n. 6, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.
52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência – editada pela Nacional de Direito Livraria Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 08.04.2002 – DJ 02.05.2002 – Republicada em 19.04.2002 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.
53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Portaria n. 2, de 23.04.2002 – DJ 02.05.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.
54. Revista Dialética de Direito Processual – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 30.06.2003 – DJ 07.07.2003.
55. Revista Juris Plenum – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 1, de 23.05.2005 – DJ 30.05.2005.
56. Revista Bonijuris – co-editada pelo Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos Magistrados Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII (Amatra) – Portaria n. 2, de 18.10.2005 – DJ 27.10.2005.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
RSSTJ, a. 4, (7): 489-495, maio 2010 495
57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 3, de 16.12.2005 – DJ 08.02.2006.
58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 02.08.2006 – DJ 09.08.2006.
59. CD-ROM – Jur Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 5, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006.
60. DVD – Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 6, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006.
61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris – editada pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n. 7, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
62. CD-ROM – Gazetajuris – editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n. 8, de 02.10.2006 – DJ 04.10.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 12.11.2008 – DJe 17.11.2008.
63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 1, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.
64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 2, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.
65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 10.10.2008 – DJe 15.10.2008.
66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários – editada pela MP Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 30.10.2008 – DJe 07.11.2008.
67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 7, de 15.12.2008 – DJe 17.12.2008.
68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul” (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: htpps://www.tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1, de 18.02.2010 - DJe 24.02.2010 - Registro retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.
69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jusisprudência-online” - editada pela Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2, de 18.02.2010 - DJe 24.02.2010.
70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_jurisprudencia/- editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 13.04.2010.
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