revista gestÃo pÚblica

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Uma revista a serviço do País ENTREVISTA | JOE VALLE GOVERNO SOCIEDADE GestãoPública & Desenvolvimento OS INVESTIMENTOS E OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO GOVERNO DILMA ROUSSEFF POLÍTICAS DA UNIÃO Executivo investirá mais de 54 bilhões no setor portuário SISTEMAS E INOVAÇÃO Secretaria de Gestão cria central de atendimento aos servidores ESTADOS E MUNICÍPIOS Governo do Distrito Federal construirá mais centros de combate ao uso de drogas ISSN 0103-7323 9 7 7 0 1 0 3 7 3 2 0 0 9 6 0 Ano XXI - Nº 60 - Dezembro de 2012 - R$ 14,80 PREFEITOS BUSCAM NOVA ADMINISTRAÇÃO COM FOCO NO CIDADÃO No Congresso Brasileiro de Gestão Pública Municipal e na XIII Conferência das Cidades, os gestores reivindicaram a redefinição do pacto federativo e divisão mais equitativa dos recursos

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Page 1: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Uma revista a serviço do País

ENTREVISTA | joe valle

g o v e r n o s o c i e d a d e

GestãoPública& Desenvolvimento

Os investimentOs e Os principais desafiOs dO

gOvernO dilma rOusseff

POLÍTICAS DA UNIÃOexecutivo investirá mais de 54 bilhões no setor portuário

SISTEMAS E INOVAÇÃOsecretaria de gestão cria central de atendimento

aos servidores

ESTADOS E MUNICÍPIOSgoverno do distrito federal construirá mais centros de combate ao uso de drogas

ISS

N 0

103-

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Ano

XXI -

Nº 6

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PREFEITOS BUSCAM NOVA ADMINISTRAÇÃO COM FOCO NO CIDADÃOno congresso Brasileiro de gestão Pública Municipal e na Xiii conferência das cidades, os gestores reivindicaram a redefinição do pacto federativo e divisão mais equitativa dos recursos

Page 2: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Prefeitos e Prefeitas,sejam bem-vindos.Ser bom para o seumunicípio é ser bom para os brasileiros.

Contem com a parceria doBanco do Brasil e as melhores soluções para infraestrutura, educação e desenvolvimento socioeconômico do seu município. Porque, quandoas prefeituras realizam,os brasileiros se realizam.

Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722Ouvidoria BB 0800 729 5678 • Defi ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br/executivomunicipal

@bancodobrasil /bancodobrasil

Page 3: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Prefeitos e Prefeitas,sejam bem-vindos.Ser bom para o seumunicípio é ser bom para os brasileiros.

Contem com a parceria doBanco do Brasil e as melhores soluções para infraestrutura, educação e desenvolvimento socioeconômico do seu município. Porque, quandoas prefeituras realizam,os brasileiros se realizam.

Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722Ouvidoria BB 0800 729 5678 • Defi ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br/executivomunicipal

@bancodobrasil /bancodobrasil

Page 4: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

índice

14 CAPAPrefeitos buscam nova administração pública com foco no cidadão

ENTREVISTAJoe valle: DF terá Frente Parlamentar pela Melhoria e Fortalecimento da Gestão Pública

JUDICIÁRIOdivisão dos royalties do petróleo esbarra no stf: Ministro Luiz Fux defere mandato de segurança de parlamentares

informação e conhecimento para o fortalecimento da cidadania

07

Divu

lgaç

ão

SeçõeS

ENTREVISTA7 JOE VALLE

12 ESPLANADA EM FOCO

OPINIÃO28 MENEZES Y MORAIS

O atual cenário político do Brasil e a disputa pela Presidência da República

32 POLÍTICA E PODER

gOVERNANÇA E gESTÃO43 MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA

Foco no problema ou na solução?

58 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM DESTAQUE

68 COMUNICAÇÃO&MARKETINg

INTERNACIONAL74 MIChAEL KAIN

2012: um ano difícil para a economia mundial

ARTIgO85 RODRIGO ROLLEMBERG

Por um marco legal dos concursos públicos

86 PRêMIOS E PUBLICAÇõES

OPINIÃO89 CLáUDIO EMERENCIANO

A construção do tempo

geStor e carreiraS82 AGU

Nomeações de funções de confiança também têm novas regras

84 FóRUM DE GEStãO DE PESSOAS Evento destaca o novo regime de previdência complementar

Robe

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José

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604 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 5: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Judiciário

60 ROYALTIESMinistro Luiz Fux defere mandato de segurança de parlamentares

63 DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVOAntônio teixeira Leite destaca Motesquieu, Locke, Rosseau e a tripartição dos poderes

terceiro Setor

69 ONg BRASIL Especialistas debatem o futuro do terceiro setor no Brasil

Desde1991

g o v e r n o s o c i e d a d e

GestãoPública& Desenvolvimento

legiSlativo

22 COMISSÃO PARLAMENTAR Congresso Nacional quer leis mais rigorosas contra a pedofilia

políticaS da união

33 BALANÇO DO gOVERNO DILMA O maior investimento foi na área social e o principal desafio é fazer a economia crescer

39 LOgÍSTICAGoverno vai investir mais de 54 bilhões no setor portuário brasileiro

41 ACESSO À JUSTIÇAExecutivo cria a Escola Nacional de Mediação para aperfeiçoar a atuação de profissionais

eStadoS e municípioS

45 DISTRITO FEDERAL Governador assina decretos para ampliar a transparência e o controle da gestão

47 BRASÍLIAGDF vai construir quatro centros de combate ao uso de drogas

49 SEMINÁRIO DO PSBPrefeitos buscam novas estratégias de desenvolvimento

SiStemaS e inovação

52 MEIO AMBIENTEEntra em operação a primeira bolsa de valores ambientais do Brasil

54 RECURSOS HUMANOS Secretaria de Gestão cria central de atendimento para esclarecer dúvidas de servidores

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 5

Page 6: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

www.revistagestaopublica.com.br

FundadoresFrancisco Alves de AmorimJoão Batista Cascudo Rodrigues (In Memoriam)

conselho editorialFrancisco Alves de Amorim - PresidentePaulo Rodrigues Mendes - AnerRicardo Wahrendor Caldas - Professor - UnBJoão Bezerra Magalhães Neto - Administrador Marcus Vinicius de Azevedo Braga - Servidor Federal

diretor-geralMoises Luiz tavares de Amorim

diretor administrativoGerson Floriz Costa

departamento jurídicoRamiro Laterça de Almeida

diretor nacional de comunicaçãoDantas Filho

relações institucionaisEraldo Pinheiro de Andrade

editoraMaria Félix Fontele - RP 302/0352V/GO [email protected]

redaçã[email protected]

jornalistasMenezes y Morais, Ana Seidl

colaboradores nesta ediçãoAntonio teixeira Leite, Cláudio Emerenciano ,Fernando Vasconcelos, Marcus Vinicius de Azevedo Braga, Michael Kain, Senador Rodrigo Rollemberg

diagramaçãoElton Mark

revisãoGustavo Dourado

editor de FotografiaLuiz Antônio

atendimento e redaçã[email protected]

Publicação: Mensalcirculação: NacionalTiragem: trinta mil exemplaresimpressão: Gráfica Alpha Gráfica

BrasíliaSCLN 104 - Bloco D - Sala 104 - 70.733-540 - Brasília-DFtelefax.: 55.61. 3201 6018 - 9972 6018Site: www.revistagestaopublica.com.br

sucursal são PauloDiretor: Cristovam Grazina Diretor Região Norte: Edson Oliveira Secretário-Executivo: Luiz Alberto Corrêa R. álvaro Machado, 22 3º andar - Liberdade - SP

representantesBelo horizonte/MG - Márcio Lima -tel.: 319986-4986Rio de Janeiro/RJ - Rizio Barbosa - tel.: 21 2222-2414Natal/RN - tania Mendes -tel.: 84 9991 1111Salvador/BA - Eliezer Varjão - tel.: 71 91650547issn 0103-7323 Registrado no 1º. Ofício de Registro Cível das Pessoas Naturais e Jurídicas - Brasília- DF.

as matérias assinadas são de responsabilidade dos seus autores. são reservados os direitos inclusive os de tradução. É permitida a citação das matérias, desde que identificada a fonte.

O tema gestão pública está na ordem do dia. Nunca se discutiu tanto o assunto como nos últimos tempos, especialmente depois da criação da Frente Parlamentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública, composta por deputados e senadores interessados em melhorar os rumos do país. Criada com o apoio do Instituto Brasileiro de Adminis-tração Pública e da revista Gestão Pública & Desenvolvimento, a frente tem conclamado a sociedade para participar das discussões. Em mea-dos de dezembro, organizou o Congresso Brasileiro de Gestão Municipal e a Conferência das Cidades, eventos que mobilizaram prefeitos eleitos e reeleitos em torno de um amplo debate em favor da construção de uma nova administração pública, com foco na cidadania responsável e na eficiência.

Durante dois dias, os líderes municipais participaram de painéis, palestras e seminários com destaque para as providências a serem toma-das no início de seus mandatos. Lideranças políticas e gestores públicos dos três níveis de governo e especialistas de organizações não governa-mentais e de instituições contribuíram para o alto nível dos debates. Com certeza, eles aprofundaram suas visões e saíram mais preparados para o exercício da função pública. Assunto que o leitor deve ler e conferir.

Essa busca pela melhoria da gestão pública tem contagiado várias esferas de poder. A Câmara Legislativa do Distrito Federal criou, recen-temente, a Frente Parlamentar pela Melhoria e Fortalecimento da Gestão Pública, a ser instalada em fevereiro. O deputado Joe Valle (PSB) será o coordenador da frente. Em entrevista, Joe Valle, que é presidente da Comissão de Governança, Transparência e Controle Social, fala com propriedade sobre assuntos como planejamento estratégico, desenvol-vimento, sustentabilidade e reforma política. Segundo ele, a frente vai trabalhar na definição de políticas sustentáveis de gestão.

Outro assunto de destaque desta edição, entre tantos outros, é sobre o balanço do governo da presidenta Dilma Rousseff, feito recentemente por ela durante abertura do Encontro Nacional da Indústria. Dilma falou dos principais programas de governo e reconheceu que seu maior desafio, em 2013, será direcionar a economia brasileira no rumo do crescimento. Com a popularidade em alta, a presidenta sabe que terá condições de fazer as reformas e as tarefas necessárias para que o Brasil melhore sua competitividade e reative a economia, que teve um cresci-mento bem abaixo do esperado no terceiro trimestre.

Boa leitura. Maria Félix FonteleEditora-chefe

CARTA AO LEITOR

Colaboração:

g o v e r n o s o c i e d a d e

GestãoPública& Desenvolvimento

IASIAInternational Association of Schools and Institutes of Administration

DPADM/ONU Divisão de Administração Pública e Gestão do Desenvolvimento das Nações Unidas

PARCERIAS INSTITUCIONAIS

Page 7: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

EntrEvista

JOE VALLE

dF terá Frente Parlamentar pela Melhoria e Fortalecimento da gestão Pública Deputado Joe Valle vai coordenar os trabalhos a partir de fevereiro

ana seidl

P residente da Comissão de Governança, Transparência e Controle Social da Câmara

Legislativa do Distrito Federal, o deputado Joe Valle terá mais uma missão: ele vai coordenar a Frente Parlamentar pela Melhoria e Forta-lecimento da Gestão Pública do DF, que será instalada em fevereiro. Joe Carlo Viana Valle nasceu em Caicó/RN, em 2 de setembro de 1964, mas mora em Brasília há 42 anos. Enge-nheiro Florestal e empresário da área agrícola, presidiu a Emater-DF e foi secretário de Inclusão Social do Ministério e Tecnologia. Pelo PSB, foi eleito deputado na Câmara Legis-lativa em 2010 com mais de 13 mil votos. Atualmente é o terceiro secre-tário da Casa, titular da Comissão de Constituição e Justiça e campeão de leis sancionadas pelo Governo do Distrito Federal. Desde o início do mandato, ele divulga seus gastos no Portal da Transparência.

Joe Valle diz que os gover-nos normalmente são muito fracos em gestão, pois não conseguem enxergar o planejamento de longo prazo. “Posso contar nos dedos das mãos as cidades brasileiras que

têm planejamento de longo prazo”, comenta. Segundo o deputado, a Frente Parlamentar pode justamente trabalhar na definição de políticas sustentáveis de gestão. Em entrevista à Revista Gestão Pública & Desen-volvimento, Joe Valle defende uma reforma política para que haja ges-tão pública eficiente.

como a frente parlamentar pela melhoria e fortalecimento da gestão pública do df poderá propor medidas práticas para a melhoria da gestão pública?

JOE VALLE – Primeiro faremos um nivelamento de gestão com a rea-lização de encontros, seminários e reuniões, para que todos possam falar

Carlos Santos

deputado Joe valle: os governos são fracos em gestão porque não conseguem enxergar o planejamento de longo prazo

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 7

Page 8: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

EntrEvista

JOE VALLE

a mesma linguagem e entender a ges-tão pública como ferramenta básica para a qualidade de vida das pes-soas. Segundo, vamos realizar um observatório de políticas públicas de gestão para que tenhamos um portfó-lio dentro da própria casa no intuito de municiar os parlamentares das fer-ramentas necessárias para se fazer uma boa fiscalização. Em terceiro lugar, estamos vendo as ferramentas que dispomos para melhorar a gestão dos gabinetes. Tudo isso, até chegar-mos a leis estruturantes que auxiliem no processo de gestão. Estamos traba-lhando também para transformar uma comissão temporária, a Comissão de Governança, Transparência e Controle Social, numa comissão per-manente, para fortalecer a fiscalização desta casa. A frente tem um coorde-nador técnico que busca na sociedade organizada formar grupos de trabalho que promovam audiências públicas para que possamos discutir os proje-tos de lei de forma participativa.

em outros estados existem frentes pela melhoria da gestão pública semelhantes a que está sendo criada no df?

JOE VALLE – Não, a Comissão de Governança, Transparência e Controle Social, por exemplo, é pio-neira, tem um formato diferenciado, além de fiscalizar é proativa no con-trole da gestão pública. Acredito que pelo formato e resultados já alcança-dos, ela se tornará um benchmarking na área de gestão e governança para o Legislativo nacional.

a atuação da frente do df poderá ser comparada à da frente parlamentar mista para o fortalecimento da gestão pública?

JOE VALLE – Ela se caracte-riza por ser uma extensão da Frente Parlamentar Mista porque estamos numa República Federativa e traba-lhamos com nossos representantes federais que são do Estado na rea-lidade. Esse link é salutar para que tenhamos um processo estadual paralelo ao federal, os dois se com-plementam para que não tenhamos desperdício de recursos e retrabalho. A tendência é que as frentes estadu-ais tenham menos recursos do que a federal, não só financeiros como de pessoal e outros.

O empresário Jorge gerdau disse na abertura do congresso Brasileiro de gestão municipal que a gestão pública representa 40% do piB. O que isso significa?

JOE VALLE – É a mesma coisa do cidadão ter sua casa e de tudo de valor que tiver lá quarenta por cento ficarem num quarto. E aí, ele

coloca uma pessoa desconectada, sem experiência nenhuma, para cui-dar deste quarto repleto de obras de arte. Caricaturando, é mais ou menos neste sentido. Ou seja, quarenta por cento do PIB estão nas mãos de ges-tores públicos e 75% destes estão despreparados. É uma coisa impres-sionante. A gestão pública precisa ser bem mais eficaz. Alguns estudos mostram que a corrupção corrói o Estado brasileiro, 13% se tratam de corrupção ativa, aquela que lemos nos jornais, mensalões da vida. Mas 87% da corrupção passiva é por meio da má gestão dos recursos públicos. Se perde muito dinheiro neste país pela má gestão. Quando se conse-gue economizar estes 87% por meio de uma gestão eficiente, é possível dificultar enormemente a corrupção ativa, porque você tem informação do que está acontecendo. Não se con-segue fazer gestão pública em curto prazo, um secretário de Estado faz uma campanha, quando entra na secretaria não tem dados, ele cria os quadros e o planejamento. Depois de dois anos, quando começa a rea-lizar este planejamento, é trocado porque houve um acordo político, o que gera um gasto exagerado, é como rasgar notas de R$ 100. Isso se repete no país, um exemplo é o DF, que tem uma base muito larga de partidos. Fica quase impossível fazer gestão pública, é preciso ter uma reforma política para se ter uma reforma da gestão pública. Repito uma frase da ex-senadora Marina Silva: É preciso políticas de longo prazo para o curto prazo da política, quatro anos é um soluço mandatário.

em quais aspectos o df pode ser conhecido como precursor de ações positivas em gestão pública?

“ FAREMOS UM NIVELAMENtO DE GEStãO COM A REALIZAçãO DE ENCONtROS E SEMINáRIOS PARA qUE tODOS POSSAM FALAR A MESMA LINGUAGEM E ENtENDER A GEStãO PúBLICA COMO FERRAMENtA BáSICA PARA A qUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS”

8 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 9: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Qual é o caminho para melhorar a gestão pública na capital do país?

JOE VALLE – A Lei da Responsabilidade Ativa da Comissão de Governança, Transparência e Controle Social foi aprovada este mês na Câmara Legislativa. Pela primeira vez, o Legislativo está trabalhando com uma fiscalização proativa na gestão. Ela obriga os gestores públi-cos, as secretarias e as instituições enviarem para a Câmara trimestral-mente um caderno de gestão que faz o acompanhamento do programa de governo que foi entregue no pri-meiro momento em que o governante entrou. Este é um processo que leva o Executivo a se organizar em processos de gestão. Isso é uma coisa inovadora porque normalmente o Legislativo fiscaliza os incêndios, ou, então, fis-caliza para fazer oposição, mostrar os erros do governo. A gente acredita que isso é inovador e vai mudar a rotina, a forma de fazer gestão pública no DF.

como o senhor pensa em atrair para o debate o executivo e o Judiciário local e estender as discussões para a sociedade?

JOE VALLE – A Comissão de Governança e a Frente Parlamentar pela Melhoria e Fortalecimento da Gestão são o farol do Legislativo sobre o Executivo na questão da gestão. Como temos o Ministério Público, o Tribunal de Contas e aqui no DF uma Secretaria de Transparência, a Frente da Gestão e a Comissão de Governança serão este farol. Nós fomos ao Ministério Público, estamos agendados com o Tribunal de Contas e temos realizado seminários para dis-cutir estas questões e as leis, trazendo o Executivo por meio da Secretaria de Transparência e os tribunais para dis-cutir as leis e os cadernos de gestão.

e as entidades de classe e as universidades?

JOE VALLE – O modelo de Frente Parlamentar tem a tendência de por meio de um coordenador técnico criar grupos de trabalho com a participação de entidades de classe e universida-des para debater os temas. Ela é uma geradora de informações para aten-der as demandas da sociedade. Numa sala de situação são geradas todas as informações necessárias para fazer a organização deste mandato. Por exem-plo, todas as informações do meu mandato estão no portal da transpa-rência acessível a qualquer pessoa. A ideia é que todas as instituições tra-balhem neste modelo. A frente será extremamente participativa.

como incentivar outras unidades da federação a traba-lharem permanentemente por um novo modelo de gestão para o Brasil?

JOE VALLE – Eu participei de encontros de prefeitos promovidos pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). O partido cresceu muito, elegeu mais de 400 prefeitos, pro-moveu um seminário para troca de experiências. Participei tam-bém do Congresso Brasileiro de Gestão Municipal nos dias 12 e 13 de dezembro em Brasília. O que a gente percebe é que falta comunicação. Não existe um órgão central que trate da gestão pública, onde os prefeitos possam buscar ajuda. Por exemplo, aqui na Câmara Legislativa fui pro-curar um modelo de gabinete e não existia, pois não existe padronização. Não existem indicadores de eficiên-cia, eficácia e efetividade. A gestão é uma grande ferramenta até para fazer uma campanha política. Os governa-dores mais bem avaliados são aqueles que fizeram a melhor gestão com ferramentas e tecnologia, um exem-plo, o governador de Pernambuco,

O deputado defende também a prática da agricultura orgânica e sustentável

uzane Durães

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 9

Page 10: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

EntrEvista

JOE VALLE

Eduardo Campos. O prefeito Márcio Lacerda de Belo Horizonte também é um exemplo de sucesso baseado em uma gestão eficiente. Considero a reforma política essencial para ter-mos uma reforma da gestão pública.

Quais as principais propostas da frente para a gestão do df?

JOE VALLE – A principal pro-posta é gerar informação, não consigo planejar se não tiver informação. Precisamos de uma empresa pública que cuide das informações. Tivemos recentemente o caso da Caixa de Pandora, onde a Codeplan foi entre-gue a outros fins, agora ela voltou a fazer o planejamento. Precisamos criar os planos de gestão, os mapas estratégicos de longo prazo. Não podemos fazer gestão para o curto prazo da política. Precisamos de políticos mais técnicos. A população precisa procurar nos seus candidatos

também os gestores.

O senhor é campeão em pro-jetos de lei sancionados pelo gdf, quais são os principais des-taques na área de gestão?

JOE VALLE – A lei de Responsabilidade Ativa, a Comissão de Governança, Transparência e Controle Social e a Lei de Responsabilidade Educacional, que é um projeto de ges-tão. O governo precisa informar os índices de responsabilidade na edu-cação. Os indicadores passam a ser obrigatoriamente divulgados e isso faz com que os gestores educacionais planejem suas ações: taxa de analfa-betismo, número médio de estudantes por extratos etários, programas de alimentação escolar, oferta escolar, e outros.

O senhor é também coorde-nador da frente parlamentar

de mobilidade sustentável. O que está sendo estudado para melhorar a mobilidade no df?

JOE VALLE – Acompanhamos toda a legislação de transporte no Distrito Federal. A forma de tra-balho é a mesma da Comissão de Governança, um coordenador téc-nico que forma grupos de trabalho temáticos para discutir os temas com a sociedade. Aí se formula textos que passam a tramitar na Câmara e se transformam em lei. Temos atuação no Plano Diretor de Transporte Urbano onde fize-mos algumas emendas para buscar para os ônibus combustíveis mais alternativos e limpos. Outra atu-ação foi no sentido de construir ciclovias, para aumentar o uso das bicicletas para o lazer e trabalho dos moradores.

no portal da transparência, o senhor divulga os gastos refe-rentes ao seu mandato, qual a importância desta iniciativa. Outros parlamentares do df seguem seu exemplo?

JOE VALLE – Nosso planejamento estratégico do mandato é inova-dor e tem sido exemplo para outros. Quando assumimos, nenhum man-dato tinha o certificado ISO 9001. Eu quero é que copiem mesmo porque se eu conseguir sair com 24 manda-tos certificados, isso será uma vitória. Um mandato que quer transformar Brasília numa cidade sustentável, se conseguir influenciar outros no sentido de melhorar sua gestão, trans-parência e controle social, será uma forma de transformar Brasília numa cidade sustentável. Criamos indicado-res que avaliam o bom mandato, por exemplo, o custo por real fiscalizado, custo por lei aprovada, entre outros. n

Jose valle afirma que é preciso fazer uma reforma da gestão pública no distrito federal

Carlo

s Sa

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10 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 11: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

INFORMAÇÕES | 61 3327-1142 > DF | 11 5081-7950 > SP

CENTRO DE CONVENÇÕES DA ELO CONSULTORIAEdifício Corporate Financial CenterSCN, Quadra 02, Bloco A, 1º andar • Brasília, DF

PROGRAMAÇÃO DE CURSOS

1 > Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos - 8ª Edição 2012São Paulo > 10 e 11 de Dezembro de 2012Apresentador > José Paulo Moreira de Oliveira

2 > Contratação de Treinamento e DesenvolvimentoBrasília > 10 e 11 de Dezembro de 2012Apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby Fernandes e Jaques Fernando Reolon

3 > Auditoria GovernamentalSão Paulo > 12 a 14 de Dezembro 2012Apresentador > Ismar Barbosa Cruz

4 > Contratação Direta Sem Licitação - 4ºEdição 2012Brasília > 13 e 14 de Dezembro de 2012Apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby Fernandes e Participação Especial Ministro Benjamin Zymler

5 > Gestão e Fiscalização de Contratos AdministrativosBrasília > 25 e 26 de fevereiro de 2013Apresentadores > Ministro Augusto Sherman Cavalcanti e Luiz Felipe Bezerra Almeida Simões

6 > Auditoria, Responsabilização & Tomada de Contas EspecialBrasília > 27 e 28 de fevereiro e 1º de março de 2013Apresentadores > Ismar Barbosa Cruz e Alexandre Valente Xavier

7 > Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos PúblicosBrasília > 28 e 29 de março de 2013São Paulo > 23 e 24 de maio de 2013Apresentador > José Paulo Moreira de Oliveira

20132012

Page 12: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

esPlanada eM FocoESPLANADA EM FOCOana sEiDL

“Eles não querem pegar o Lula? Por que acham absurdo nós convidarmos o FHC para nos explicar as razões de seu partido estar envolvido com essa lista?”Jilmar tatto, líder do Pt na Câmara, no dia 12 de dezembro, quando o Pt aprovou o convite para que o ex-presidente Fernando henrique Cardoso vá ao Senado explicar a lista de Furnas Centrais Elétricas com o nome de doadores da campanha do PSDB

Luiz Macedo

Nelson Jr./SCO

/STFJo

sé C

ruz

/ ABr “Certamente haverá

aumento em 2013. Todo ano tem e não há nada de excepcional nisso, em 2012 também teve. O preço vai aumentar, mas também podemos esperar que o preço internacional do petróleo caia.”

guido mantega, ministro da Fazenda, ao confirmar o aumento do preço da gasolina no dia 19 de dezembro

“A grande urgência que existe é de dar efetividade à decisão do Supremo. Esse esforço magnífico que foi feito pelo Supremo no sentido de prestigiar de forma importantíssima os valores republicanos não pode agora ser relegado aos porões da ineficiência. Não podemos ficar aguardando a sucessão de embargos declaratórios. Haverá certamente a tentativa dos incabíveis embargos infringentes.”roberto gurgel, procurador-geral da República, ao solicitar, no dia 19 de dezembro, a prisão imediata dos réus do mensalão

“Substituição de parlamentar na madrugada, encaminhamento, conchavos, mudança de voto em última hora, lamentavelmente. O Congresso protagonizou hoje uma das piores cenas de sua história.”senador randolfe rodrigues (psOl-ap), líder do partido, ao criticar no dia 18 de dezembro o resultado da CPI do Cachoeira

12 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 13: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

n INFLAÇÃO FICA ACIMA DA META DO gOVERNO O resultado do IPCA em

dezembro, 0,69%, confirma rea-justes de preços em toda a economia. A taxa, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou acima dos 0,54% de novembro, e dos 0,56% do mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, a prévia do índice oficial de infla-ção ficou em 5,78%, abaixo dos 6,56% de 2011, mas distante dos 4,5% definidos como meta pelo governo.

Aumento no preço dos alimen-tos de 0,97% e serviços pessoais, 1,10%, foram os dois grupos que mais contribuíram para o índice. Itens como habitação (0,74% de alta) e transportes (0,71%), puxa-dos pela alta nas passagens aéreas, também deram expressiva contri-buição para o aumento da inflação.

n CONgRESSO ADIA VOTAÇÃO DO ORÇAMENTO E DA DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEOAs mesas diretoras do Senado e da Câmara sus-

penderam a votação até fevereiro de 2013, depois do recesso parlamentar: o orçamento da União, créditos suplementares e os mais de 3 mil vetos presidenciais, inclusive o veto da presidenta Dilma Rousseff ao projeto sobre distribuição dos royalties do petróleo. Este tema causou muita briga entre os representantes do Rio de Janeiro e do Espírito Santo e os deputa-dos e senadores de outros estados. Sem consenso para analisar o veto ao projeto de lei dos royalties do petróleo, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiram, em reunião com líderes partidários, encerrar 2012 sem a votação do Orçamento Geral da União e a apreciação dos 3,2 mil vetos pendentes.

Lúcio Bernardo

Cadu Gom

es

n CPI DO CACHOEIRA TERMINA EM PIZZAA comissão criada

depois de uma operação da Polícia Federal para investigar as ligações do bicheiro Carlos Cacho-eira com políticos e empresários terminou no dia 18 de dezem-bro sem penalizar os supostos envolvidos. O relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG) pedia o indiciamento do bicheiro Carlinhos Cachoeira, do ex-presi-dente da empresa Delta, Fernando Cavendish, e de várias outras pessoas. Além da responsabilização criminal de políticos, como o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, e o prefeito de Palmas, Raul Filho, do PT.

O documento original do relator sofreu mudanças por pressão do ple-nário. A tentativa de indiciamento de cinco jornalistas e o pedido de investigações sobre a conduta do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foram retirados do texto.

O relatório de Odair Cunha foi rejeitado. “Quem votou contra o meu relatório blindou o governador Marconi Perillo, blindou a empresa Delta. A grande questão é essa”, disse Odair Cunha.

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 13

Page 14: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

capa

GEStãO MUNICIPAL

Prefeitos buscam nova administração pública com foco no cidadão Gestores reivindicam a redefinição do pacto federativo e divisão mais equitativa dos recursos

ana seidl

o Congresso Brasileiro de Ges-tão Pública Municipal e a XIII Conferência das Cida-

des, realizados nos dias 12 e 13 de dezembro, no Centro de Conven-ções Ulysses Guimarães, em Brasília, mobilizaram os prefeitos eleitos e ree-leitos em favor da construção de uma nova administração pública, com foco na cidadania responsável e na gestão pública eficiente. No evento, que teve como tema Mobilidade

Urbana, os presentes debateram a necessidade de haver um pacto para redefinição das responsabilidades da União, estados e municípios e des-tinação dos recursos para atender às crescentes demandas das prefei-turas. A busca compartilhada de informações e parcerias para vencer os desafios também permearam as discussões.

O evento foi promovido pela Frente Parlamentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública, presidida pelo deputado federal Luiz

Pitiman (PMDB-DF), em conjunto com as comissões de Desenvol-vimento Urbano e de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. Con-tou também com o apoio da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), OAB, Instituto Brasileiro de Administra-ção Pública (Ibap) e Revista Gestão Pública & Desenvolvimento, além de várias parcerias.

Durante os dois dias de congresso, os participantes integraram-se a palestras, painéis informativos e

cerimônia de abertura do congresso: mobilização em torno da gestão nos municípios brasileiros

Roberto Rodrigues

14 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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Roberto Rodrigues

debates sobre providências a serem tomadas no início de mandato dos prefeitos e sobre novas técnicas de gestão e políticas de mobilidade urbana. Lideranças políticas e ges-tores públicos dos três níveis de governo, especialistas de organi-zações não governamentais e de instituições civis prestigiaram o congresso.

A Secretária de Relações Institu-cionais da Presidência da República, Ideli Salvatti, reiterou aos prefeitos o compromisso da presidenta Dilma Rousseff com a melhoria dos projetos de mobilidade urbana, presentes no Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC). E, também, ampliar as políticas públicas para a saúde, edu-cação e empreendedorismo local e as parcerias que já vêm sendo executadas com os municípios. “Nos dias 28, 29 e 30 de janeiro a presidenta Dilma rece-berá todos os prefeitos eleitos, quando serão discutidos os convênios, contra-tos e viabilidade de programas com os líderes municipais”, anunciou. Ela disse aos prefeitos em exercício, que estão tentando fechar as contas de 2012, que o governo federal assume o compromisso dos restos a pagar de R$ 1bilhão e meio até o final do ano. Salvatti disse também que metade destes recursos já foi autorizada. Ela informou ainda que uma medida provisória será editada para que os prefeitos possam renegociar as dívi-das com a previdência.

O presidente da Frente Parlamentar Mista para o Fortalecimento da Ges-tão Pública, deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), disse que é preciso jun-tar esforços para discutir os grandes gargalos. Ele ressaltou a necessidade de existir uma gestão pública de resul-tados. “Se não tivermos foco numa gestão de resultados continuaremos

tendo grandes problemas na máquina pública, seja na saúde, no transporte ou na educação. A gestão pública eficiente é um imperativo do cidadão que paga seus impostos, e não consegue ver resul-tado no dia a dia, no serviço prestado e na devolução do que ele contribui”, afirmou. Pitiman defendeu a criação da carreira do gestor público munici-pal como forma de dar continuidade às

políticas públicas nas cidades. “Com a mudança dos prefeitos muita coisa se perde no caminho, é preciso que haja continuidade nos serviços e progra-mas”, reiterou. Pitiman lembrou que o cidadão mora no município, portanto, é preciso reduzir a dependência dele do estado e do governo federal. “Mais de 90% dos municípios, para pagar a folha de pagamentos, necessitam dos repas-ses mensais e, às vezes, não há recursos para a folha, quanto mais para os inves-timentos que o cidadão quer ver.”

O deputado disse que o Execu-tivo e o Congresso devem trabalhar para que os municípios tenham uma estrutura própria de arrecadação, mas também que os mais pobres contem com garantias da União. Piti-man disse ainda que os royalties do petróleo, se distribuídos para todos os municípios, poderão garantir sua independência. Ele defende tam-bém um pacto federativo para que uma distribuição mais equitativa dos

luiz pitiman: gestão pública eficiente é um imperativo do cidadão que paga seus impostos

“ COM A MUDANçA DOS PREFEItOS MUItA COISA SE PERDE NO CAMINhO, é PRECISO qUE hAJA CONtINUIDADE NOS SERVIçOS E PROGRAMAS”Luiz Pitiman, deputado deferal (PMdB-dF)

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GEStãO MUNICIPAL

recursos seja discutida pela União, estados e municípios, que dê mais segurança para os prefeitos. “É pre-ciso olhar mais para o cidadão que está na ponta”, concluiu.

Em relação à capacitação dos gestores municipais, o deputado destacou a profissionalização e a meritocracia. “Estamos entregando para cada prefeito o manual da boa gestão do prefeito, para que na dúvida, ele possa recorrer”, destacou.

governançaO presidente da Câmara de Ges-

tão, Desempenho e Competitividade da Presidência da República, Jorge Gerdau, destacou que hoje “prati-camente 40% dos recursos do PIB estão na gestão pública, metade na esfera federal e o restante dividido entre as esferas estadual e munici-pal”. Gerdau disse que a governança é o processo mais importante, porque, por meio dela, é possível definir as metas que devem ser atingidas para

a obtenção dos resultados. Ele, que já ajudou políticos de diversos partidos a melhorarem suas administrações, citou casos  reconhecidos pela popu-lação, como o do governador de Pernambuco, Eduardo Cam-pos (PSB), e do ex-governador de Minas Gerais, senador Aécio Neves (PSDB), ambos cotados para dispu-tar a eleição presidencial de 2014. O empresário destacou que o domínio da gestão dos processos é fator deci-sivo para os gestores conquistarem um maior “ibope nas eleições”.

Gerdau disse que é importante o respeito com o cidadão, saber quanto tempo leva para ele ser atendido.

“Hoje têm cidades que levam mais de dois anos para aprovar um projeto. A definição de metas, a assinatura de contratos inteligentes e o conhe-cimento dos processos necessários à entrega de serviços públicos de qua-lidade à população são peças-chave de um bom governo”, recomendou.

concenTração de recUrsosO senador Aécio Neves ( PSDB-

-MG) criticou a forma do PT de governar. Sem citar nomes, o tucano criticou a visão “messiânica” em rela-ção a investimentos na área social, e disse que uma gestão pública efi-ciente tem que garantir melhores resultados à população. Ele acusou também o Executivo de ser “pouco generoso” com estados e municípios e de provocar um “aniquilamento” da federação. “Recente reunião do Confaz, dos secretários da Fazenda, considerou este ano o pior da década. O governo federal procu-rou o caminho pouco generoso das desonerações setoriais, seja no setor automotivo ou em outros e está inter-ferindo nas receitas dos estados e

Jorge gerdau: entrega de serviços públicos de qualidade à população é peça-chave de um bom governo

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aécio neves: o executivo tem sido pouco generoso com

os estados e municípios

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municípios. De 2010 para 2012, esta-dos perderam dez por cento das receitas, os do nordeste 16%. A conta não fecha”, observou Aécio.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que 83% dos municípios estão com dificulda-des para pagar o 13º salário. O senador destacou que 66% do que se arrecada no Brasil estão nas mãos da União, no entanto 87% dos investimentos em segurança pública vêm dos cofres dos estados e municípios; na área de transportes, 63%; na educação, 76%; no saneamento, 86%. Ele concluiu que os novos prefeitos devem se articu-lar politicamente no Congresso para a construção da agenda da federação ao invés de fazerem marchas a Brasília que trazem poucos resultados e mais promessas. Temas como a renegocia-ção das dívidas dos estados, novos critérios de redistribuição do fundo de participação, e a questão dos royal-ties do petróleo e da mineração fazem parte desta agenda.

PacTo FederaTivoO vice-presidente da Frente

Nacional de Prefeitos (FNP) para Assuntos das Cidades Populosas com Alta Vulnerabilidade Socioeco-nômica e prefeito de Aparecida de Goiânia (GO), Maguito Vilela, con-cordou com o senador Aécio Neves de que os prefeitos estão recebendo várias missões e a arrecadação muni-cipal não está acompanhando. “É preciso dialogar, buscar o enten-dimento no sentindo de que as prefeituras tenham responsabilida-des, mas disponham também dos recursos para atender às demandas”, reiterou.

O presidente da Frente Parlamen-tar Mista de Apoio aos Prefeitos e Vice-Prefeitos do Brasil (Fremaprev),

deputado Júlio Campos (DEM/MT), conclamou prefeitos e autoridades a pressionarem o Congresso Nacional no sentido de que o pacto federativo brasileiro seja reformulado, pois para ele esta é a única saída para a sobre-vivência permanente dos municípios de todo o Brasil.

“A União e o Estado são ins-tituições abstratas, enquanto o

município é o mundo real, onde se vive, se arrecada impostos e se gasta. Por isso, é vital que haja uma ampla reformulação do pacto fede-rativo para uma distribuição justa do bolo tributário”, argumentou o pre-sidente da Fremaprev. Ele disse que os municípios ficam com 13% do total, quando seriam necessários no mínimo 21%.

MoBilidade UrBanaA XIII Conferência das Cida-

des debateu a aplicabilidade da nova Lei de Mobilidade Urbana, a inte-gração dos modais de transporte, os projetos de mobilidade urbana e as experiências de sucesso em estados e municípios. O presidente da Comis-são de Desenvolvimento Urbano, deputado Domingos Neto (PSB-CE), afirmou que melhorar a mobilidade urbana é o principal desafio dos novos prefeitos que tomam posse em janeiro. Segundo o deputado, a comissão estuda iniciativas de sucesso no Brasil e no mundo. “A dificuldade de loco-moção é o problema mais imediato

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domingos neto: melhorar a mobilidade urbana é o principal desafio dos prefeitos

“ A UNIãO E O EStADO SãO INStItUIçõES ABStRAtAS, ENqUANtO O MUNICíPIO é O MUNDO REAL, ONDE SE VIVE, SE ARRECADA IMPOStOS E SE GAStA”Júlio Campos, deputado federal (deM/MT)

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enfrentado pela população da perife-ria das grandes cidades, que gasta em algumas capitais até duas horas para ir ao trabalho e mais duas para voltar para casa”, observou.

O deputado acrescentou que é pre-ciso investir em planejamento e que o Brasil, na contramão da tendência internacional, investe em transporte individual, o que é um retrocesso. Ele criticou o modelo centrista, onde existe um centro comercial e todas as pessoas se dirigem a este para traba-lhar, estudar e fazer compras. “Para resolver o problema, que aumentou nos últimos 50 anos por conta do crescimento desordenado das cida-des, reduzindo a qualidade de vida da sua população, é que precisamos debater e conhecer sistemas que tive-ram sucesso na sua implementação”, disse Domingos Neto.

O governador do Ceará, Cid Gomes, destacou que os governos precisam criar alternativas para a mobilidade urbana. “A única solu-ção para que nós possamos atenuar

o sofrimento das pessoas nesta área é investir em transporte público de massa nos grandes centros. Com esforço de planejamento e mobili-zação das diversas esferas de poder”, complementou.

Cid Gomes destacou os inves-timentos feitos nas regiões metropolitanas de Fortaleza e do Cariri, além dos investimentos na cidade de Sobral, na região Norte. Para a Copa do Mundo 2014, Cid Gomes destacou o VLT / Ramal Parangaba - Mucuripe, em execução, com 13 km, nove estações e previ-são de cerca de 90 mil passageiros por dia. “O Brasil, durante mui-tas décadas, não produziu nenhum vagão de trem de passageiros por conta da notória opção pelo modal rodoviário. O governo do Ceará, para implantar metrôs e linhas de trem, fez com que vagões fossem

produzidos no próprio estado!, res-saltou. Cid Gomes destacou que os governos precisam criar alternativas para a mobilidade urbana. “A única solução para que nós possamos ate-nuar o sofrimento das pessoas nesta área é investir em transporte público de massa nos grandes centros, com esforço de planejamento e mobili-zação das diversas esferas de poder”, complementou.

A ex-deputada Angela Amin, relatora do PL nº 694/95, proposi-ção originária da Lei da Mobilidade Urbana, nº 12.587/12, proferiu pales-tra sobre a aplicabilidade da nova lei. Aprovada em abril deste ano, objetiva melhorar a acessibilidade de pessoas e cargas nos municípios por meio da integração de vários meios de trans-porte. A legislação institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana que prioriza transportes não motoriza-dos e coletivos.

“Ao Ministério das Cidades cabe-ria um grande movimento entre os prefeitos para que a lei fosse apli-cada, seria uma forma de gestão para que a lei pegasse, porque muitas leis no Brasil infelizmente não pegam.”

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cid gomes: os governos precisam investir em transporte e criar alternativas de mobilidade urbana

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arquiteto fausto nilo: no Brasil não uma prática sistêmica de mobilidade urbana

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Angela Amin defende mais inves-timentos públicos no transporte de massa. Ela disse ainda que como a mobilidade é um grande gargalo das cidades, esta lei é um importante ins-trumento de gestão para os prefeitos.

O arquiteto e urbanista Fausto Nilo Costa Júnior disse que falar em mobilidade urbana está na “moda”, mas no Brasil não há uma prática sistêmica de mobilidade urbana. “A meta da mobilidade urbana de forma universal é reduzir as via-gens. A medida que se cria mais vias, e se alargam estas vias, mais auto-móveis aparecem”, observou. Fausto ponderou que a meta seria priori-dade para os caminhantes, e para os portadores de deficiências, apoio à acessibilidade. “Não dá para aumen-tar a mobilidade urbana sem uma reforma urbanística, que altere o uso dos solos. A motivação dos desloca-mentos é para ir aos empregos, aos locais de educação e às compras. É preciso reformar os espaços de cir-culação, e reduzir a dependência do transporte motorizado, isso é um tra-balho de décadas.”

o Pac da MoBilidadeO ministro das Cidades, Agui-

naldo Ribeiro, disse que precisamos de estruturas compatíveis com nosso posto de sexta economia mundial. “Gestão eficiente é hoje sem dúvida um dos pontos mais importantes para executar e planejar projetos”, afirmou. Ele destacou que a mobili-dade urbana é um problema mundial agravado com o fato de 70% da popu-lação viver nas cidades. Segundo ele, o momento atual é importante para a mobilidade urbana no país porque o governo federal enfrenta o pro-blema, de forma efetiva, por meio de programas importantes, como o

PAC Mobilidade Grandes Cidades, que contemplou 24 cidades; o PAC Mobilidade Médias Cidades, 74, com população superior a 74mil habitan-tes; e os investimentos para a Copa do Mundo de 2014, que contemplam 12 cidades.

Segundo o ministro, juntos, os programas de investimento englo-bam cerca de 100 dos maiores municípios brasileiros e contam com recursos da ordem de R$ 60 bilhões com prioridade na integração dos diversos modais. Ele enfatizou a

necessidade de fortalecer a gestão pública porque garantiria “a possibi-lidade de planejar e executar as ações de que o país precisa”.

TransiçãoO vice-presidente do Instituto

Brasileiro de Administração Pública, Alexandre Gouveia, participou do painel Transição e início de mandatos e formação de equipes. O professor ressaltou que o Instituto Brasileiro de Administração Pública (Ibab) é uma instituição ligada a ONU que realiza estudos anuais sobre administração pública. “No Brasil, nessa época, é fundamental para os prefeitos elei-tos olharem a transição, os primeiros cem dias, com uma visão estratégica para um bom governo”, aconselhou. Ele acrescentou que o primeiro ano é mais complexo por causa da forma-ção das equipes e a estruturação da máquina administrativa.

“O principal foco estratégico é o cidadão e a continuidade dos serviços básicos. Infelizmente esta transição

ministro das cidades, aguinaldo ribeiro: o momento atual é importante para a mobilidade urbana

Elza Fiúza/ABr

O MINIStRO DAS CIDADES, AGUINALDO RIBEIRO, DISSE qUE PRECISAMOS DE EStRUtURAS COMPAtíVEIS COM NOSSO POStO DE SEXtA ECONOMIA MUNDIAL

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GEStãO MUNICIPAL

no Brasil ainda não é culturalmente bem planejada, como acontece em outros países”, observou. Alexandre Gouveia elogiou a iniciativa do Con-selho Federal de Administração que contou com o apoio do Ibap, de reali-zação do Guia da Boa Gestão para os Prefeitos. “O Ibap já orientou alguns prefeitos e está à disposição. Temos projetos de lei que instituem a obri-gatoriedade de transição no final do mandato.” Neste caso quem deixa a prefeitura tem obrigatoriedade de fazer uma prestação de contas para que o novo gestor tenha condições de dar continuidade ao trabalho.

Gouveia destacou que o Ministé-rio Público de Minas Gerais notificou

cerca de 600 prefeitos para que eles fizessem a transição dando continui-dade a serviços básicos à população que foram interrompidos, como coleta de lixo e transporte público.

negociações O presidente da Associação Bra-

sileira dos Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, disse que nos últimos anos, as negociações do governo federal com os municípios têm avançado, seja na participação de programas como o Bolsa famí-lia e Minha Casa, Minha Vida ou no aumento das transferências voluntá-rias à medida que os municípios têm capacidade de realizar projetos. No

entanto, alertou que “a situação ainda não está boa, o percentual do orça-mento público do país que fica com os municípios, menos de 20%, é insu-ficiente para os serviços que foram assumidos por eles, como toda a saúde e educação de zero a dez anos”.

Pereira quer também que os prefeitos sejam mais ouvidos em pro-gramas do governo federal e também no Congresso Nacional, quando se discute temas que envolvem as prefei-turas, como os pisos salariais, reforma tributária, Lei de licitações etc. Ele disse ainda que os prefeitos estão ten-tando fechar as contas deste ano, pois na maioria das prefeituras houve uma queda na arrecadação (FPM, ICMS).

Selo Cidade Cidadã

O concurso “Selo Cidade Cidadã 2012”, desenvolvido pela Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados, premiou as cidades que apresentaram os melhores projetos para a melhoria do transporte. Entre os municípios foram classificados: na catego-ria, acima de 500 mil habitantes, São Paulo, São José dos Campos, projeto Calçada Segura; entre 60 mil e 500 mil habitantes; Paraná, Caraguatatuba, Caraguá Acessível, construindo espaços inclusivos; até 60 mil habitantes, Santa Catarina, Forquilhinha, Integração da Ciclo-via avenida Professor Eurico Back com o Espaço do Centenário.

A secretária dos Direitos da Pes-soa com Deficiência e do Idoso, Ivy Monteiro Malerba, da prefeitura de Caraguatatuba, SP, representou o

prefeito Antônio Carlos da Silva. Ela disse que o projeto com investimen-tos de cerca de R$ 350 mil, garante o acesso e a mobilidade urbana para o segmento mais vulnerável da população, pessoas com mobilidade reduzida. De acordo com Ivy, na prática, envolve a criação de espa-ços de acessibilidade urbanística e arquitetônica no espaço urbano. “Pegamos a orla da praia e a gente fez adaptações para nivelar a calçada à avenida. E na orla temos espaços acessíveis como o playground adap-tado, academia ao ar livre e a praça do idoso”, explicou.

O vice-prefeito de São José dos Campos, Luiz Antônio Silva, disse que o projeto Calçada Segura veio de uma lei municipal ordenando o uso do solo em relação à calçada e o passeio público. “Foi criado um

programa para que as pessoas se motivassem a fazer as calçadas, um espaço público mais de responsabi-lidade do proprietário, que muitas vezes adiam a manutenção destas.” Silva disse que foi criado um grupo de idosos que fez a sensibilização dos moradores para uma atitude cidadã. A partir disso, os comer-ciantes e moradores se sentiram sensibilizados em fazer as obras das calçadas. “A prefeitura deu o exemplo fazendo novas calça-das para seus imóveis como praças e escolas. Criamos também um departamento técnico formado por engenheiros”. Cerca de 16 micro-empresas foram capacitadas para a realização das calçadas. O custo total do projeto para a prefeitura foi de R$ 500 mil. Para Silva, receber o prêmio Selo Cidade Cidadã foi uma

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Além disso, o crescimento reduzido do PIB não estava previsto.

diálogosO prefeito eleito de Cáceres, Fran-

cis Maris, empresário eleito este ano, afirmou que aproveita todos os encontros e cursos preparatórios para garantir uma administração pública diferente, eficiente e transparente. “Além disso, as palestras discutem temas do cotidiano da administra-ção pública e a necessidade do gestor em atuar com inovação e criativi-dade”, disse. Francis também destaca a importância de participar desses eventos, como oportunidade de esta-belecer contatos políticos e discutir

novas parcerias que possam viabili-zar o município. “Nesse encontro tive oportunidade de dialogar com vários parlamentares do Mato Grosso e também de outros estados que con-tribuem para mostrar os caminhos e possibilidades de conseguir encami-nhar projetos, como por exemplo, o deputado Júlio Campos e o senador Pedro Taques”, disse. O novo prefeito disse que o maior objetivo da gestão é melhorar a qualidade de vida da população. E que o manual da boa gestão entregue aos prefeitos é muito importante para orientar os novos gestores municipais.  

O presidente do Conselho Fede-ral de Engenharia e Agronomia

(Confea), José Tadeu da Silva, inte-grou o painel Participação do cidadão na gestão municipal e governança. Ele destacou a importância da participa-ção do profissional na gestão pública. “Os engenheiros, agrônomos, mete-orologistas, geólogos e geógrafos, técnicos e tecnólogos dessas moda-lidades são profissionais que têm notório conhecimento e saber téc-nico-científico. E muitas vezes a solução para os setores de habitação, transporte, meio ambiente, sanea-mento básico, planejamento urbano e energia, entre outros, está na área tecnológica. Tanto que 70% do PIB do país passam pelo conhecimento desses profissionais”, afirmou. n

Selo Cidade Cidadã

grande satisfação pelo reconheci-mento do trabalho.

Homenagem - O estudante de Administração da Fundação João Pinheiro, MG, Felipe Drumond, foi homenageado no final da sole-nidade. A fundação apresenta uma proposta inovadora: o estudante quando faz o vestibular presta con-curso, e, assim que termina o curso de administração pública, ingressa no serviço do estado. Ele destaca que o vestibular para administração pública (80 vagas) é um dos mais concorridos do estado. Drumond disse ainda que muitos secretários nacionais estudaram na Funda-ção João Pinheiro. Ele anunciou a realização do Encontro Nacional dos Estudantes de Administração Pública, de 15 a 18 de agosto, com a participação prevista de mil pessoas.

“Para que os estudantes de admi-nistração e gestão discutam uma agenda para a área, procuramos a Frente Parlamentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública.” Ele disse que o deputado Luiz Piti-man gostou da ideia e abriu espaço no Congresso para a apresentação de um desafio que estará no site do

Governo de Minas, especificamente no projeto Movimento Minas, um portal de desafios. “Vamos lançar o desafio, provavelmente em março, de como atrair bons profissionais para a gestão pública brasileira”. Toda a sociedade poderá participar.

O endereço é www.movimentominas.gov.mg.br.

cid gomes entrega o prêmio selo cidade cidadã ao vice-prefeito de são José dos campos, luiz antonio silva

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LEgisLativo

COMISSãO PARLAMENtAR

congresso nacional quer leis mais rigorosas contra a pedofilia Exploração sexual de crianças e adolescentes pode virar crime hediondo

menezes y morais

a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei (PL) que transforma em crime

hediondo delitos de exploração sexual de crianças e adolescentes brasileiros. O PL tramita no Senado Federal. Os pedófilos serão puni-dos com rigor, conforme promessa da deputada Erika Kokay (PT-DF),

presidenta da CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescen-tes. A CPI foi instalada no início de 2012, por iniciativa do deputado Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara. Abuso sexual é considerado o segundo maior tipo de violên-cia sofrida por crianças no Brasil. Fechando o cerco contra a pedofilia, a Câmara também aprovou, em cinco de dezembro, o projeto de lei (PL)

que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), relacionando os crimes de pedofilia como hediondos.

O PL amplia a tipificação dos cri-mes de exploração sexual de criança e adolescente. Conforme alguns par-lamentares, o PL aprimora o combate à prostituição e à exploração sexual de menores. A proposição tramita no Senado, porque foi modificado pelos deputados. De acordo com o PL

uma das audiências públicas da cpi: enfrentamento do abuso contra crianças e adolescentes

Divulgaçãolegislativo

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enviado aos senadores, quem aliciar, agenciar, atrair ou induzir criança ou adolescente à exploração sexual ou prostituição estará sujeito a pena de reclusão de cinco a 12 anos e multa. Também incorre nas mesmas penas aqueles que, de qualquer forma, facilitarem a exploração sexual ou prostituição de menores.

A mesma punição será aplicada ao proprietário, gerente, ou respon-sável pelo local onde o crime seja cometido. A pena será aumentada se o crime for com emprego de violên-cia ou grave ameaça. O projeto de lei também estabelece sujeição a pena de três a oito anos de prisão e multa, se o fato não constituir crime mais grave, quem cometer conjunção carnal ou ato libidinoso com adolescente, em situação de exploração sexual, pros-tituição ou abandono.

No âmbito da Câmara dos Depu-tados, parlamentares retomaram discussão da pedofilia há sete anos. Em maio de 2005, por conta da comemoração do Dia do Enfrenta-mento (18/5) um grupo de jovens da Bahia esteve em Brasília para divul-gar o mapa da exploração sexual no país, que atingia àquela época 20% dos municípios, em especial na região Nordeste. Naquela ocasião foi reivindicada que parte dos recursos da segurança pública e do turismo fossem destinados aos programas contra a exploração sexual. E denun-ciado que 60% dos abusos acontecem dentro dos lares.

O deputado Marco Maia – à época não presidia a Câmara dos Deputa-dos – anunciou que foi iniciada, no Rio Grande do Sul, a Terceira Jor-nada de Combate à Violência e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O deputado Marco Maia defende que o governo federal

redirecione as verbas no desenvol-vimento de políticas públicas para devolver “aos menores a dignidade e a cidadania”.

disqUe 100Apenas nos primeiros quatro

meses de 2012, o módulo Criança e Adolescente do Disque 100 registrou um aumento de 71% das denúncias de violação de direitos humanos contra menores em relação ao mesmo perí-odo do ano passado. Entre janeiro e

abril deste ano, foram 34.142 denún-cias contra 19.946 em 2011. Oito em cada dez vítimas são meninas. O governo federal tem um mecanismo que recebe essas denúncias – o Disque Direitos Humanos, coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR).

Com apoio da Petrobras, o Dis-que 100 funciona 24h nos sete dias úteis. De janeiro a março deste ano foram registradas 4.205 denúncias de violência sexual. No ano passado, foram mais de 12 mil registros.

De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, a média diária de denúncias aumentou de 84, em 2010, para 103 nos três primeiros meses de 2011. De janeiro a março deste ano, foram registradas no Disque Direitos Humanos 4.205 denúncias de violên-cia sexual.

Em 2011, o governo federal, por meio do Disque Direitos Humanos, fez 866.088 atendimentos e recebeu 82.281 denúncias de violações dos

Divulgação

deputada Érika Kokai, presidente da cpi: é preciso haver leis mais rigorosas no Brasil

APENAS NOS PRIMEIROS qUAtRO MESES DE 2012, O MóDULO CRIANçA E ADOLESCENtE DO DISqUE 100 REGIStROU UM AUMENtO DE 71% DAS DENúNCIAS

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 23

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direitos de crianças e adolescentes. Todas as denúncias foram encami-nhadas às autoridades. Desde maio de 2003, quando o serviço nacional do Disque 100 entrou em funciona-mento, foram realizados mais de 3 milhões de atendimentos e recebidas 227.427 denúncias

TUrisMo seXUal Na Câmara dos Deputados, a

CPI presidida pela deputada Érika Kokay “é destinada a apurar denún-cias de turismo sexual e exploração sexual de crianças e adolescentes”, segundo a parlamentar petista do Distrito Federal. Érika revelou que a CPI atua em três frentes: nas gran-des obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); nos grandes eventos (Copa do Mundo e Olím-piadas) e nas regiões de fronteira. “A CPI tem eixos definidos. As dili-gências e as investigações são feitas para que os envolvidos na explora-ção sexual de criança e adolescentes sejam punidos”.

A primeira CPI para apurar denúncias de crime sexual contra crianças e adolescente foi instalada na Câmara dos Deputados em 1993. Conforme os especialistas, essa modalidade de crime ocorre no mundo e no Brasil inteiro. A pri-meira denúncia oficial internacional foi feita pela Juíza de Menores de Bologna, na Itália, Maria Rosa. Naquela ocasião, a juíza Maria Rosa chocou a sensibilidade internacio-nal, ao apresentar um vídeo com imagens de exploração sexual de

menores no Brasil, na Avenida Beira Mar, em Fortaleza (CE). A pedofilia no Ceará é reconhecida oficialmente. Em 19/05/2001, a Agência Brasil noticiou a instalação de uma Comis-são Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal, para inves-tigar casos de exploração sexual de crianças e adolescentes na orla marí-tima de Fortaleza.

liga de ProTeção Desde a segunda quinzena de

fevereiro de 2012, o governo federal, por meio da Secretaria de Desenvol-vimento Social e Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), executa a campanha Liga de Proteção a Crianças e Adolescentes em 19 capitais, com a participação da ministra Maria do Rosário. A mobi-lização do governo federal, liderada pela SDH/PR, conta com a ajuda da sociedade civil. Com o slogan “Liga da Proteção – Proteja nossas crian-ças e adolescentes. Violência sexual é crime. Denuncie”, a campanha foi lançada em 19 capitais brasileiras. A ministra da SDH/PR, Maria do Rosá-rio, participou dos lançamentos da campanha em Salvador (BA) e Recife (PE).

Segundo a ministra Maria do Rosário, a sociedade civil também é responsável pela proteção das crian-ças e adolescentes. “Queremos que toda a população esteja atenta ao que acontece com nossas crianças e adolescentes e denuncie qualquer violação, seja através do Disque 100 ou do Conselho Tutelar da sua cidade”, disse.

A Liga de Proteção foi instituída nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Vitória, Belo Horizonte, Natal, João Pessoa, Boa Vista, Campo Grande, Rio Branco,

COMISSãO PARLAMENtAR

a ministra maria do rosário apresenta o balanço anual do serviço disque 100

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A PRIMEIRA CPI PARA APURAR DENúNCIAS DE CRIME SEXUAL CONtRA CRIANçA E ADOLESCENtE FOI INStALADA NA CâMARA DOS DEPUtADOS EM 1993

legislativo

24 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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Goiânia, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Manaus, For-taleza e Belém. A primeira ação da liga aconteceu durante o carnaval de 2012, com atividades de sensi-bilização, com o foco na prevenção, envolvendo a divulgação do Disque Direitos Humanos – o Disque 100.

O governo federal agiu em Pernambuco em parceria com a Secretaria de Defesa Social de Per-nambuco (SDS), Defensoria Pública, Tribunal de Justiça do Estado, Pre-feituras, Conselhos estaduais e municipais da área social e de direitos humanos. A ministra Maria do Rosá-rio lembra que as denúncias podem ser feitas gratuitamente pelo telefone 100. “A pessoa não precisa se identi-ficar, basta denunciar. Mais uma vez queremos dizer para o mundo inteiro que as nossas crianças e adolescentes são cuidadas e protegidas. Se achar uma situação estranha, denuncie. Temos equipes de plantão em Brasí-lia que repassam as informações na mesma hora para os munícipios”.

esTaBeleciMenTos PúBlicos Poderão eXiBir avisos

Visando atualizar a legislação bra-sileira, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Exploração Sexual de Crianças e Ado-lescentes da Câmara dos Deputados propõe algumas alterações. Os proje-tos de lei com as propostas estão em tramitação no Congresso Nacional, dentre eles está o PL nº 4125 de 2004, que obriga estabelecimentos públicos a exibirem avisos informando que abuso sexual e exploração sexual de crianças e adolescentes são crimes, como determina o artigo 244-A do ECA. Este projeto foi aprovado em 10/05/07 na Câmara dos Deputados e seguiu para o Senado Federal.

Outro projeto é o de número 4.850 de 2005, que altera o Código Penal, especifica e aumenta a pena de quem comete crime de tráfico para fins de exploração sexual contra

criança e adolescente. O projeto ins-titui a ação penal pública para todos os delitos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes, cria o crime de «favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável.» Atualmente, a tipifica-ção dessa conduta só existe no ECA, por meio do artigo 244-A.

O Código Penal tipifica os crimes e estabelece penalidades. De acordo com o código, são crimes sexuais no Brasil: corrupção de menores, art.218; favorecimento da prostitui-ção, art. 228; casa de prostituição, art. 229; rufianismo, art. 230; trá-fico de pessoas, art. 231; pornografia, art. 234. Esses crimes são ainda mais graves se praticados contra crian-ças e adolescentes com menos de 14 anos ficando configurada situação de

XuXa e anaïS ninPor ser ilegal, clandestina e em grande parte doméstica, amigos da família,

a exploração sexual de criança e adolescente é um delito pouco visível e difícil de ser identi-ficado, o que dificulta a responsabilização dos agressores, conforme alguns estudio-sos. Leia matéria nesta edição. O pedófilo pode, inclusive, ser o pai da vítima. Dois exemplos famosos saltam aos olhos, um no Brasil, outro na França, envolvendo uma futura apresentadora de TV e uma futura escritora, que ficariam famosas na ida-de adulta: Xuxa Meneghel e Anaïs Nin (1903-1977). Ambas sofreram abuso sexual por seus pais, dentro de casa. E denunciaram esses crimes na fase adulta. Xuxa revelou em entrevista ao Fantástico, da TV Globo. Anaïs Nin, em sua literatura. Xuxa revelou à TV Globo ter sofrido abuso sexual na in-fância e na adolescência. “Parou aos 13 anos, quando eu consegui fugir”.

O PROJEtO 4.850/2005, qUE ALtERA O CóDIGO PENAL, ESPECIFICA E AUMENtA A PENA DE qUEM COMEtE CRIME DE tRáFICO PARA FINS DE EXPLORAçãO SEXUAL CONtRA CRIANçA E ADOLESCENtE

Divulgação

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 25

Page 26: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

COMISSãO PARLAMENtAR

violência presumida (art. 224 do CP).

esTados e MUnicíPiosA exploração sexual de crianças e

de adolescentes existe praticamente em todos os estados brasileiros, asse-gura o ex-pastor Welinton Pereira da Silva, coordenador da Pastoral de Direitos Humanos da Igreja Meto-dista e assessor de Direitos Humanos da Visão Mundial e membro do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes (Conanda). “A pedofilia existe, mas também exis-tem redes, fóruns e frentes onde a sociedade civil combate as caracte-rísticas e especificidades que o delito se apresenta nos estados”, acrescenta Welington Silva. A CPI, que é pre-sidida pela deputada Érika Kokai (PT-DF), tem realizado diligências nos estados. Recentemente, a CPI foi

ao Rio Janeiro para ouvir autorida-des públicas, uma vez que o estado ocupa o segundo lugar no ranking de ligações feitas ao Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração con-tra Crianças e Adolescentes, serviço que funciona desde 2003 por meio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A sociedade civil também tem

colaborado nessa luta, a exemplo da campanha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes lançada no último dia 13 de dezembro pelo Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi). De acordo com a campanha, a partir de 2013, os taxis-tas de Brasília e das 12 cidades-sede da Copa das Confederações e da Copa do Mundo da Fifa, em 2014, exibirão adesivos e em recibos emitidos pelos condutores a frase «Não desvie o olhar. Denuncie». O objetivo da ação é alertar os turistas que chegarão ao país e os motoristas de que a prática sexual com menores constitui crime.

Em Fortaleza (CE), foi instalada a CPI da Exploração Sexual. O presi-dente da Câmara, Acrísio Sena (PT), declarou que a CPI investiga casos de exploração sexual de crianças e ado-lescentes na orla marítima da capital. O vereador Marcus Teixeira (PMDB) propôs a criação de CPI para inves-tigar a utilização irregular de táxis. A CPI fez visitas surpresas aos esta-belecimentos denunciados como sendo locais de prostituição infantil em Fortaleza. Segundo a vereadora Eliana Gomes (PC do B), os primei-ros locais visitados foram Avenida Beira Mar, Praia de Iracema e Barra do Ceará. Fortaleza é a primeira Capital que sediará a Copa de 2014. “Por isto necessita de um trabalho preventivo contra ações de turistas que praticam o chamado ‘prostitu-rismo’”, disse o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza.

No Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais, foi flagrada pela CPI da Assembleia Legislativa do Estado que meninas de até dez anos de idade se ofereciam às margens da BR para, principalmente, caminhoneiros a R$ 1.99.

No norte do Brasil, principalmente

acrísio sena, presidente da câmara municipal de fortaleza: cPi fará trabalho preventivo

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“ A EXPLORAçãO SEXUAL DE CRIANçAS E DE ADOLESCENtES EXIStE PRAtICAMENtE EM tODOS OS EStADOS BRASILEIRO”Pastor Welinton Pereira da Silva

legislativo

26 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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Pará e Acre apesar de ter sido denun-ciado há mais de dez anos pelo jornalista Gilberto Dimenstein em seu livro reportagem “Meninas da Noite”, ainda se tem notícias do “lei-lão das virgens”, onde meninas são “arrematadas” por fazendeiros e se tornam verdadeiras escravas sexuais.

FrenTe socialO combate ao abuso e à exploração

sexual de crianças e adolescentes tem várias frentes, uma delas é a social. O mais frequente tipo de violência a que estão sujeitas crianças e adolescentes é aquele denominado estrutural, em função da precária situação socioe-conômica das famílias.

As crianças e adolescentes víti-mas de exploração sexual sofrem consequências físicas e psicológi-cas. De acordo com os estudiosos, geralmente há uma grande dificul-dade “para readaptação no ambiente social, pois confiar novamente é uma tarefa muito difícil”. As principais consequências físicas são: doenças sexualmente transmissíveis, sendo a mais grave o HIV; infecções crônicas diversas causadas pelo uso de álcool e outras drogas; agressões físicas; gra-videz precoce; abortos provocados por se tratar de gravidez indesejada; mutilações provocadas pelo aborto, determinando a retirada do útero e até mesmo colocando a vítima em perigo de morte.

Dentre as consequências psico-lógicas: depressão; fobias; perda da integridade moral; perda da digni-dade; baixa-estima; falta de confiança nas pessoas; dificuldade de relaciona-mento; dificuldade de aprendizado; tristeza; fuga da realidade; sen-timento de culpa; agressividade; transtornos psicológicos; tentativa de suicídio; e diversos traumas. n

enfrentamentoNo Brasil, na década de

1990, com a Lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi regu-lamentado o princípio de proteção integral às crian-ças e adolescentes, previsto na Constituição Federal de 1988. A norma estabelece o cumprimento pelo Esta-do, pela família e pela so-ciedade de diretrizes que assegurem o respeito à in-tegridade física, psicológica e moral. Em 2000, a socie-dade e o governo, com o apoio da Unicef (órgão das Nações Unidas), estrutu-raram o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. No mesmo ano, este documento foi referendado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), fruto do com-promisso firmado no I Congresso Mundial contra Exploração Sexual Comercial de Crianças, em Estocolmo.

O plano nacional foi estruturado a partir de seis eixos: análise da situação; mobilização e articulação; defesa e responsabilização; atendimento; prevenção; protagonismo infanto-juvenil. No Brasil, os crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes estão tipificados no Estatuto da Criança e do Adoles-cente e pela Constituição Federal de 1988. Tem ainda o defasado Código Penal Brasileiro (1940): dos 50 projetos de lei em trâmite no Congresso Nacional para alterações no código, 14 são referentes à exploração sexual de crianças e adolescentes.

O artigo 240 do ECA prevê reclusão de dois a seis anos e multa a quem pro-duz ou dirige qualquer tipo de representação (teatral, cinematográfica), ativida-de fotográfica ou outro meio visual utilizando-se de criança e adolescente em cena pornográfica, de sexo explícito ou vexatória. A mesma pena é aplicada a quem nas condições deste artigo contracenar com criança ou adolescente. Caso o agente cometa o crime no exercício do cargo ou função, ou então o crime seja cometido com o fim de obter para si ou para outrem vantagem patrimonial, a pena será de três a oito anos.

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meneZeS Y moraiSJornalista, professor, escritor, ensaísta e historiador

opinião

o atual cenário político do Brasil e a disputa pela Presidência da repúblicaa s eleições municipais de 2012, realizadas em dois

turnos (7 e 28 de outubro), além de consolidarem o Estado democrático de direito, desenharam a

minirreforma ministerial do governo Dilma para 2013 e definiram o cenário político do Brasil para a disputa pre-sidencial em 2014. O senador Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE) saíram fortaleci-dos, com as vitórias sobre o PT em Belo Horizonte (MG) e Recife (PE).

Aécio e Fernando não são os úni-cos presidenciáveis ao pleito de 2014. A ex-senadora Marina Silva, do alto de seus 20 milhões de votos obti-dos em 2010, também está no páreo. Outro nome que desponta é o de Mar-celo Freixo (PSol-RJ), que recebeu 30% dos votos na disputa pela Prefei-tura do Rio de Janeiro. Candidatos de partidos menores também entrarão na corrida eleitoral, aliando-se aos dois partidos maiores no final, na hipó-tese de um segundo turno. O senador Aécio Neves, que teve o nome cogitado para disputar o Palácio do Planalto em 2010, ampliou as credenciais com a vitória do seu candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (MG). Aécio inclusive recusou ser o vice na chapa do então presidenciável José Serra, derro-tado por Dilma Rousseff (PT).

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Serra decla-rou: se eleito, cumprirá mandato até 2016. Se não eleito,

fica sem mandato e deverá encerrar a carreira política. É bom lembrar que, em 2008, ele usou o mesmo dis-curso nas eleições anteriores, renunciando para disputar a Presidência da República. O PSDB tem como prováveis candidatos, hoje, além do senador mineiro, o governador de São Paulo Geraldo Alkmin.

A presidenta Dilma fará mudança nos ministérios a partir de 1º de janeiro de 2013, para honrar os acordos políticos firmados no primeiro turno. Nele, o Partido dos

Trabalhadores ficou em segundo lugar entre os partidos que mais cresceram, atrás do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Para disputar o segundo turno mais fortalecido, o PT fez várias alian-ças eleitorais.

PalanqUe aliado Dilma vai cumprir os acordos nego-

ciados. A presidenta, aliás – conforme fonte próxima do Palácio do Planalto – quer fazer a minirreforma ministerial inclusive para excluir os partidos que lhe desagradaram nesses seus dois anos incompletos de governo, cujos titula-res foram envolvidos em escândalos de corrupção. Nesse index, fontes próxi-

mas à Dilma citam o Partido Republicano (PR). O PDT ocupa o Ministério do Trabalho desde 2007 (governo Lula), com Carlos Lupi, que seguiu viagem desde o iní-cio (2011) do governo Dilma. Imposição do partido, Lupi perdeu o cargo fulminado por denúncias de corrupção.

“ A PRESIDENtA DILMA FARá MUDANçA NOS MINIStéRIOS A PARtIR DE 1º DE JANEIRO DE 2013, PARA hONRAR OS ACORDOS POLítICOS FIRMADOS NO PRIMEIRO tURNO”

28 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 29: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Em substituição, Dilma escolheu Bri-zola Neto, considerado da sua “quota pessoal”. O ministro Brizola Neto tem atuação ética e discreta, mas o PDT não se alinhou ao governo Dilma. O deputado Antonio Reguffe (PDT-DF), por exemplo, é um crítico sistemático do governo. Seu colega Paulinho, da Força Sindical, também. Ele disputou a Prefeitura de São Paulo, ignorando a candidatura de Fernando Haddad (PT).

E mais: Paulinho declarou apoio a Serra (PSDB) no segundo turno. O senador Cristovam Buarque (PDT--DF) é outra voz destoante no Senado Federal. Por isto é provável que Brizola Neto desocupe o ministério que o PDT comanda. Dilma reitera nos bastidores políticos que deseja no governo apenas os partidos que subam no seu palanque em 2014.

Mensaleiros O PR ocupa o Ministério das Cidades. A legenda se

chamava Partido Liberal (PL) e tem um dos seus principais quadros envolvidos no escândalo do mensalão, o depu-tado Valdemar Costa Neto. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, Neto declarou que vai recorrer à corte internacional. O

ministro Marco Aurélio Melo consi-derou a declaração do deputado uma piada sem graça. E rebateu: a justiça internacional não interfere nas deci-sões da Justiça brasileira.

Muitos observadores políticos consideraram o desempenho petista fraco nas eleições de 2012 por causa do STF julgar e condenar a cúpula petista que dirigia o partido em 2005: José Dirceu, José Genoíno e Delú-bio Soares. O relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Bar-bosa, ganhou capa da revista Veja e teve seu nome lançado nas redes sociais à Presidência da República.

Psd eM ação Caso desaloje o PR de Valde-

mar Costa do Ministério das Cidades, na minirreforma, Dilma deverá abrir espaço para o Partido Social Demo-crático (PSD), do prefeito Gilberto Kassab (SP), que elegeu quase 500 pre-feitos no primeiro turno. Mas o PSD pode ganhar o Ministério do Traba-lho, desejo manifestado pelo deputado Roberto Santiago (SP) no início deste ano.

Na bolsa de aposta política, era tido, a alguns dias, como certo nos bastidores que seria o Ministério das Cidades e Paulo Simão o indicado do PSD. Simão é dirigente do partido de Kassab em Minas Gerais. Ele também preside a Câmara Brasileira da Indús-tria da Construção mineira. Simão teria sido sondado e respondido que

aceitaria o cargo no Ministério das Cidades. O cacife político do PSD é comprovado em números: menos de dois anos após sua criação, conquistou quase 500 prefei-turas na primeira eleição que disputou.

PsB e PMdB A presidenta Dilma também quer envolver o Partido

Socialista Brasileiro (PSB), do governador de Pernam-buco, Eduardo Campos. Foi o partido que mais cresceu

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campos e aécio: governador e senador saem fortalecidos das eleições municipais

“MUItOS OBSERVADORES POLítICOS CONSIDERARAM O DESEMPENhO PEtIStA FRACO NAS ELEIçõES DE 2012 POR CAUSA DO StF JULGAR E CONDENAR A CúPULA PEtIStA qUE DIRIGIA O PARtIDO EM 2005”

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 29

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em 2012. O PSB ocupa os ministérios da Integração Nacional e dos Portos. Dilma vai reunir-se com Eduardo Campos, para pôr os pingos nos is.

“Nestas eleições mostramos que o PSB é um partido com identidade própria. Que não tem condições de estar a reboque de nenhum outro partido, mesmo que seja um aliado como o PT”. Foi assim que o governador de Pernambuco analisou a vitória do seu partido nas eleições municipais deste ano, ao comentar a vitória sobre os can-didatos impostos pelo ex-presidente Lula. Segundo ele, “em 2014, o PSB estará no Jogo”. O governador-presi-denciável ficou inflado politicamente depois da vitória do seu candidato, Geraldo Júlio, à Prefeitura de Recife (PE), na disputa com o senador Hum-berto Costa (PT), candidato que Lula impôs ao Partido dos Trabalhadores em Pernambuco. A ação de Lula provocou uma crise de autofagia no petismo pernambucano. O ex-prefeito do Recife, João Paulo Lins e

Silva (PT), que foi candidato à vice na chapa de Humberto Costa, recorreu, mais uma vez, à astrologia. Aconse-lhado pelo astrólogo Eduardo Maia, anunciou o voto às 13h. Mas nem a astrologia fez os petistas continuarem na

Prefeitura de Recife, governada há 12 anos pelo PT. O prefeito João da Costa empossará Geraldo Júlio em 1º de janeiro de 2013.

Dos 184 prefeitos do Estado, 170 são de partidos da base de apoio do governador Eduardo Campos, que tem aprovação superior a 80% dos conterrâneos. Além de ser presidente nacional do PSB, o capital político de Eduardo Campos inclui o livre trân-sito que mantém com forças políticas diferenciadas.

O Partido do Movimento Demo-crático Brasileiro (PMDB) será o principal beneficiado na minirre-

forma ministerial. Gabriel Chalita (PMDB), que disputou e perdeu a Prefeitura de São Paulo (SP), deverá ganhar um ministério em Brasília, pelo apoio e engajamento a

dilma rousseff discursa na entrega da casa de número 1 milhão: mudanças na equipe em 2013

“ DOS 184 PREFEItOS DE PERNAMBUCO, 170 SãO DE PARtIDOS DA BASE DE APOIO DO GOVERNADOR EDUARDO CAMPOS, qUE tEM APROVAçãO SUPERIOR A 80% DOS CONtERRâNEOS”

Wilson Dias/ABr

30 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

O AtUAL CENáRIO POLítICO DO BRASIL E A DISPUtA PELA PRESIDêNCIA DA REPúBLICA

opinião

Page 31: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

Fernando Haddad (PT). Candidato imposto por Lula, à revelia do PT, o ex-ministro da Educação ficou mais for-talecido na disputa contra o tucano José Serra.

alianças PaUlisTas Também em São Paulo, por conta do apoio político ao

tucano José Serra, o candidato derrotado Luiz Flávio Bor-ges D’Urso (PTB) deve ser nomeado o novo secretário de Justiça do governo Geraldo Alkmin (PSDB). Quanto à compensação pelas adesões, envolvendo o PSDB de Serra e o PMDB do vice-presidente da República Michel Temer, ambos negam.

Os acordos políticos foram costurados em reuniões. Serra, Alkmin e Luiz D’Urso se reuniram em São Paulo para selar alianças, objetivando o segundo turno. Tam-bém se reuniram na capital paulista o ex-presidente Lula, a presidenta Dilma, o vice Temer e Gabriel Chalita. As equipes de Haddad e Serra negam que as alianças signifi-quem “troca-troca” político-eleitoral.

Na saída da reunião que selou o apoio do PMDB a Haddad, após o resultado do primeiro turno, Temer foi enfático. “Isso é uma maldade. Eu nunca discuti isso, por enquanto, com a presidenta Dilma. Não há essa discus-são. O acordo foi feito em torno de ideias”. Da reunião Temer-Dilma--Lula também participaram dois ministros de Estado: Fernando Pimentel e Aloizio Mercadante e o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

cresciMenTo e qUeda O PT tinha 558 prefeituras em

2008. No primeiro turno de 2012, passou para 627 prefeitos. Em ter-ceiro lugar, o PSDB tinha 791 prefeituras em 2008, caiu para 692 no primeiro turno de 2012. Em quarto lugar, o PDT também regis-trou baixa: caiu de 352 prefeituras em 2008 para 309 no primeiro turno de 2012. Enquanto isso, o PMDB continua o maior partido, mesmo regis-trando queda: tinha 1021 prefeitos em 2008, baixou para 1020 no primeiro turno de 2012.

Com o crescimento do PSB e o comportamento de Eduardo Campos, acreditam os analistas políticos, se daqui a dois anos Dilma não estiver bem nas pesquisas,

se a economia brasileira não esti-ver numa fase de bons resultados, Eduardo Campos poderá lançar--se candidato-solo ao Palácio do Planalto, compor com Aécio Neves como vice em sua chapa, ou quem sabe numa dobradinha com a pró-pria Dilma.

Para desespero do PMDB de Michel Temer. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) não acredita em nenhuma dessas hipóteses. Ele não vê Eduardo Campos capita-lizando as eleições de 2012 como trampolim à Presidência da Repú-blica: “Acho que o Eduardo estará conosco em 2014. Ele tem dito isso.

O jogo é a Dilma”, acredita.O petista paulista, vice-presidente da CPI do Cacho-

eira, esquece ou ignora um fato: a política é muito dinâmica. E de acordo com o filósofo Karl Marx, “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Inclusive a reputação do filósofo citado, com o desmoronamento do “socia-lismo real” em 1991 no Leste Europeu. n

gabriel chalita: em alta no Palácio do Planalto

Olga Vlahou/Carta Capital

“ O Pt tINhA 558 PREFEItURAS EM 2008. NO PRIMEIRO tURNO DE 2012, PASSOU PARA 627 PREFEItOS. EM tERCEIRO LUGAR, O PSDB tINhA 791 PREFEItURAS EM 2008, CAIU PARA 692 NO PRIMEIRO tURNO DE 2012”

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 31

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n OS NOMES QUE CIRCULAM NAS PESQUISAS Se as eleições para presidente da República fossem

hoje, Dilma Rousseff venceria no primeiro turno com 57% de votos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva também venceria no primeiro turno com até 56%. É o que mos-tra pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 16 de dezembro. Em seguida, consta o nome da ex-senadora Marina Silva (sem partido), com índices entre 13% e 18%. O senador Aécio Neves, que já lançou pré-candidatura, surge com o potencial de 9% a 14%. E o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), segue em quarto lugar. Ainda estamos um pouco longe de 2014 em ter-mos eleitorais, mas, até o momento, esses são os nomes que desfilam nas pesquisas. Aécio Neves virá com tudo. Marina Silva ainda estuda seu futuro. Os arranjos políti-cos e as alianças vão se consolidar em 2013, após as festas de final de ano, do recesso de janeiro e quando o carna-val passar.

n DILMA ROUSSEFF ALÇA VOO SOLO RUMO A 2014

Escândalos como mensalão e operação Porto Seguro não abala-ram a popularidade da presidenta Dilma Rousseff, que, ao completar 65 anos de idade, no dia 14 de dezembro, ganhou o melhor pre-sente: setenta e oito por cento da população aprovam seu modo de governar, segundo dados da pesquisa CNI/Ibope. E 62% avaliam seu governo como ótimo ou bom. Pesquisa do instituto Datafolha tam-bém confirma o bom desempenho da presidenta que, do alto desses 62%, supera todos os demais presidentes eleitos depois do período da ditadura militar (1964-1985). Analistas acreditam que as pessoas não associam a imagem da presidenta com a do Partido dos Traba-lhadores (PT), este, sim, um pouco desgastado. Dilma, com seu jeito próprio de governar, de se mostrar intolerante com a corrupção, des-vencilha-se de velhos ranços, aproxima-se de partidos como o PDT, trata bem ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso, anga-ria simpatias de adversários e, assim, de grão em grão, como quem não quer nada, alça voo solo rumo a 2014. Será difícil alguém disputar com ela a Presidência da República.

n SOLIDARIEDADE A LULA Na terça-feira, 18 de dezembro, a bancada o PT na

Câmara dos Deputados organizou um ato em defesa do ex--presidente Luiz Inácio da Silva, que tem sido acusado pelo empresário Marcos Valério de saber do esquema de cor-rupção (mensalão) e de ter se beneficiado dele. O ato de desagravo a Lula ocorreu no Salão Verde da Câmara. Os petistas chegaram à conclusão que essas novas denúncias atingem, em cheio, a imagem do partido que, nos últimos meses, já não é das melhores. Os mais exaltados chegaram a defender o nome de Lula para entrar na disputa pela Pre-sidência da República em 2014. Oito governadores também prestaram solidariedade ao ex-presidente. O ato foi organi-zado pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), em São Paulo, no Instituto Lula. Muitos cantaram: “Olê,olê, olê, olá, Lula, Lula”. Também foi lançado o seguinte bordão “O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”.

Wilson Dias/ABr

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POLÍTICA E PODERpOlÍtica e pOderMaria FÉLIX

32 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 33: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

BALANçO DO GOVERNO DILMA

em 2012, o maior investimento foi na área social Principal desafio é direcionar a economia no rumo do crescimento

ana seidl

a presidenta Dilma Rousseff constatou, no final deste ano, que o fraco desempenho da

economia não afetou sua popula-ridade, uma vez que pesquisas de opinião divulgadas pelo Ibope e Ins-tituto Datafolha confirmaram que as avaliações ótima e boa do governo ficaram em 62 por cento. A aprova-ção pessoal da presidenta chegou aos 78%. O gerente-executivo de pes-quisa da Confederação Nacional da

Indústria (CNI), Renato da Fonseca, analisou que “o baixo desempenho da economia ainda não chegou ple-namente à população. A taxa de desemprego continua muito baixa e a renda continua subindo em ter-mos reais”. De acordo com Fonseca, o anúncio pelo governo de um plano de redução das tarifas de energia elé-trica para 2013 contribuiu para a avaliação positiva.

Em 2013, a presidenta tem o desa-fio de recolocar a economia brasileira no rumo do crescimento. O mercado

financeiro reduziu mais uma vez a expectativa de crescimento para este ano, que passou de 1,03% para 1%. A retração na produção industrial tam-bém foi revista, de 2,27% para 2,32%. Aumentou o pessimismo também para as estimativas de crescimento em 2013. O mercado acredita que a economia terá expansão de 3,4% no ano que vem, menos do que os 3,5% previstos anteriormente. A projeção de crescimento da produção indus-trial também foi revista para baixo, de 3,75% para 3,7%.

Wilson Dias/ABr

presidenta faz balanço dos últimos dois anos: setor industrial foi um dos mais atingidos pela crise internacional

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 33

poLíticas da união

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políticas da união

BALANçO DO GOVERNO DILMA

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A estimativa para a inflação deste ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aumen-tou e ficou em 5,6% ante os 5,58% da apuração anterior. Os números são do boletim Focus, divulgado sema-nalmente pelo Banco Central. Os analistas e investidores elevaram pela primeira vez a expectativa para o IPCA em 2013, em 5,42%. A previ-são anteriormente era de 5,4%.

os PriMeiros dois anosDilma Rousseff fez um balanço

econômico informal dos primeiros dois anos de governo durante sole-nidade, em dia 5 de dezembro, de abertura do Encontro Nacional da Indústria, em Brasília, com a parti-cipação de empresários. O setor foi um dos mais atingidos pela crise eco-nômica internacional. Durante o encontro, Dilma destacou: “Várias medidas que nós tomamos em 2012 ainda não têm seus efeitos completos apresentados. Nós temos certeza que elas irão se difundir pelo sistema eco-nômico e vão sinalizar um novo estágio do nosso desenvolvimento.” Segundo

ela, “o governo tem agido em diversas frentes num esforço para melhorar a competitividade, incentivar o investi-mento e reativar a economia, que teve um crescimento bem abaixo do espe-rado no terceiro trimestre e caminha para uma expansão de 1,3 % em 2012, segundo estimativa do mercado”.

Dilma disse ainda que o país vive “período de transição”. A redu-ção das taxas de juros neste ano foi uma das vitórias do governo. A Selic encerra 2012 no menor nível histórico, 7,25 por cento ao ano. A

desvalorização do Real, por meio de medidas do governo, forma um ambiente favorável à redução do custo de capital do país.

Sem conseguir realizar a tão polê-mica reforma tributária, o governo incentivou a produção com isen-ções fiscais e desoneração da folha de pagamento. Entre os setores beneficiados estão o automotivo, a construção civil e as indústrias têxtil e de calçados. Para atacar os proble-mas de infraestrutura, o governo anunciou um pacote de concessões para rodovias e ferrovias, com inves-timentos de R$133 bilhões ao longo de 25 anos.

A presidenta criticou a resistência das empresas na tentativa de reduzir em 20% as tarifas de energia elétrica para consumidores residenciais e industriais. A adesão das empresas foi parcial à renovação antecipada e condicionada às concessões do setor. As estatais de energia dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, governados pelo PSDB, partido de oposição ao governo federal, não aderiram ao plano governamental. A decisão de Cesp, Cemig e Copel garantiu redução da tarifa de energia de 16,7 por cento, em média, a par-tir de março de 2013. A promessa de Dilma era de redução de cerca de 20%.

De acordo com o governo fede-ral, 105 milhões de pessoas integram a chamada nova classe média bra-sileira. Desde o ano passado, o programa lançado pelo ex-presidente Lula, o Bolsa Família, foi comple-mentado com o programa Brasil Sem Miséria, cujo objetivo é eliminar, até 2014, a pobreza extrema no país. Cerca de 16 milhões de brasileiros deixaram a pobreza extrema, princi-palmente crianças e jovens.

dilma rousseff com sua equipe na abertura do encontro nacional da indústria

DILMA ROUSSEFF FEZ UM BALANçO ECONôMICO INFORMAL DOS PRIMEIROS DOIS ANOS DE GOVERNO DURANtE A SOLENIDADE DE ABERtURA DO ENCONtRO NACIONAL DA INDúStRIA

34 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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O Brasil conseguiu retomar o cres-cimento, distribuir renda, garantir equilíbrio macroeconômico e con-trolar a inflação. A relação da dívida sobre o PIB ficou em 35%, com traje-tória descendente e reservas cambiais de US$ 378 bilhões.

desenvolviMenTo social Para o governo, miserável é a

população que vive com menos de R$ 70 por mês, e há pelo menos 8 milhões nessas condições atual-mente. No entanto, este número não inclui as pessoas que vivem nas ruas. Quando assumiu o governo, Dilma Rousseff prometeu acabar com a pobreza extrema até 2014. De acordo com o IBGE, há no Brasil quase o dobro de pessoas na extrema pobreza: 16,2 milhões. Por outro lado, a “nova classe média” repre-senta cerca de 50% dos moradores das favelas e ocupações. Entre esta camada, estariam até mesmo famílias

que têm renda de um salário mínimo por mês. De acordo com o governo, fazem parte famílias com renda entre R$ 291 e R$1.019 per capita.

O investimento no Brasil Cari-nhoso, programa do Plano Brasil sem Miséria, será de R$ 10 bilhões até 2014, contando a ampliação do programa Bolsa Família e programas de saúde e educação. A partir de 18 de dezembro, o Bolsa Família foi ampliado e garan-tirá uma renda mensal de R$ 70 por pessoa para as famílias extremamente pobres com filhos de até seis anos cadastradas no programa. A medida resultará, de imediato, em redução de 40% na extrema pobreza. Entre as crianças de até seis anos, a proporção da redução imediata será de 62% (2,7 milhões de crianças). Nessa faixa etá-ria, a proporção de pessoas em miséria cai de 13,3%.

Essa é a segunda alteração do Plano Brasil Sem Miséria para a infância atendida pelo Bolsa Família.

O valor do benefício médio aumen-tou 38% durante o primeiro ano do plano, passando de R$ 97 em 2010 para os atuais R$ 134. Em maio, o programa atendia a 13,5 milhões de famílias.

compromisso – A presidenta Dilma Rousseff destacou, no dia 17 de dezembro, em cerimônia do Prêmio Direitos Humanos 2012, no Palácio do Itamaraty, a importância do Bra-sil Carinhoso. “Esse é o programa mais importante do governo e o meu grande compromisso”. Destinado ini-cialmente à faixa etária de zero a seis anos, passou a contemplar crianças e adolescentes até 15 anos. Segundo o governo, até novembro, 9,1 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza. Desse total, 2,8 milhões são crianças de zero a seis anos.

edUcação A Câmara dos Deputados concluiu

no dia 16 de dezembro a tramita-ção do Plano Nacional de Educação (PNE) com a destinação de investi-mento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no ensino do país. Com a aprovação da redação final do pro-jeto pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a proposta segue para a votação dos senadores. A meta de investimento deve ser alcançada em dez anos e engloba recursos do governo federal e dos orçamentos dos estados e dos municípios. Quando

anúncio da ampliação do programa Brasil carinhoso: investimentos serão de mais de r$ 10 bilhões até 2014

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dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 35

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políticas da união

tomou posse em 1º de janeiro de 2011, o investimento previsto na educação era de 7% do PIB. Em 2007, o índice estava em 5,1%.

A promessa da presidenta Dilma Rousseff, de estender os benefícios do Programa Universidade Para Todos (Prouni) ao Ensino Médio e oferecer bolsas de estudo parciais e integrais para que estudantes de baixa renda possam estudar em escolas particula-res ainda não avançou. O programa, batizado inicialmente por Dilma de Promédio, pretendia oferecer finan-ciamentos com prazos estendidos e juros reduzidos.

Em 2012, as escolas com crianças beneficiárias do Bolsa Família vão receber 50% a mais de recursos por aluno. Por meio do programa Brasil Carinhoso, lançado em maio deste ano, creches com crianças benefici-árias do programa vão receber mais do Fundo de Manutenção e Desen-volvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Municípios recebem regularmente recursos para a educação básica e o ensino fun-damental de acordo com o número de alunos matriculados em escola pública, segundo o censo educacio-nal. Em 2012, o valor anual estimado por aluno de creche integral variou de R$ 2.725,69 para R$ 4.590,65. As creches com beneficiários do Bolsa Família recebem recurso adicional de 50% para cada aluno.

O recurso extra é transferido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Desde maio, o MDS já repassou R$ 100 milhões adicionais ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pela transferência aos municípios e ao Distrito Federal.

saúdeO governo federal anunciou, em

dezembro, investimento de R$ 2,7 bilhões até 2014 para construir 900 Unidades de Pronto Atendimento (UPA) em todo o Brasil. Desse total, R$ 1 bilhão é do Programa de Acelera-ção do Crescimento (PAC) destinado à construção de 500 UPAs. Este número foi a promessa da presidenta ao assu-mir o governo. Atualmente, 200 UPAs já estão em funcionamento, aten-dendo a mais de 2 milhões de pessoas por mês. São estruturas de complexi-dade intermediária, entre as unidades básicas de saúde e as emergências

hospitalares. Em conjunto com estas, compõem uma rede organizada de atenção às urgências.

O Cartão Nacional de Saúde (CNS) foi uma promessa de início de mandato, honrada pela presidenta Dilma Rousseff. É a chave de acesso do cidadão à saúde. Os objetivos do Sistema Cartão Nacional de Saúde são organizar e sistematizar dados sobre o atendimento prestado aos usuários; dotar a rede de atendi-mento do Sistema Único de Saúde (SUS) de um instrumento que facilite a comunicação entre os diversos ser-viços de saúde; fornecer informações sobre uma pessoa usuária do SUS em qualquer ponto do país; e gerar dados confiáveis e atualizados que permitam planejamento e intercâm-bio de conhecimento para subsidiar a elaboração e execução das políticas públicas de saúde.

Substituindo os papéis, o cartão magnético é ligado a um grande banco de dados que reúne informações dos

O governo federal anunciou, em dezembro, investimento de r$ 2,7 bilhões até 2014 para a construção de 900 unidades de pronto atendimento (upas) em todo o Brasil

O CARtãO NACIONAL DE SAúDE (CNS) FOI UMA PROMESSA DE INíCIO DE MANDAtO, hONRADA PELA PRESIDENtA DILMA ROUSSEFF

BALANçO DO GOVERNO DILMA

36 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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pacientes, profissionais de saúde, agenda de atendimentos e horários. Este ano, o cartão chegou a 1.300 municípios. De acordo com Odorico Monteiro, secretário da Gestão Estra-tégica e Participativa do Ministério da Saúde, “o CNS é a chave de acesso do cidadão ao sistema de saúde. Hoje, na era da informação, é impor-tante que o conjunto de informações sobre a saúde do cidadão esteja inte-grada numa única base de dados, garantindo que a informação esteja a serviço do cidadão”.

Instituído em 2004, o Brasil Sor-ridente, coordenado pelo Ministério da Saúde, já é o maior programa de assistência odontológica pública e gratuita do mundo. Desde que foi criado, aumentou em 15 vezes a quantidade de atendimentos à popu-lação; saltou de 10 milhões para 150 milhões de consultas por ano. A cobertura populacional do programa também cresceu substancialmente (400%): passou de 18,2 milhões de pessoas assistidas para 92 milhões.

Desde a criação do programa, houve também grande aumento de equipes de Saúde Bucal na Estra-tégia Saúde da Família. Quando o Brasil Sorridente foi lançado, exis-tiam 4.200 equipes, e hoje são mais de 22 mil equipes, presentes em 4.486 municípios. As equipes de saúde bucal, compostas por cirur-gião-dentista, auxiliar de saúde bucal e técnico de saúde bucal, rea-lizam, além do tratamento clínico, ações de promoção e prevenção da saúde junto às comunidades. Caso

necessitem de tratamento odontoló-gico mais complexo, os pacientes são encaminhados aos Centros de Espe-cialidades Odontológicas (CEOs), onde têm acesso a cirurgias ou a tra-tamentos de canal, por exemplo, ou aos laboratórios regionais de prótese.

HaBiTaçãoO programa Minha Casa, Minha

Vida prevê a contratação de unida-des habitacionais com prioridade às famílias de baixa renda. O objetivo principal é reduzir o déficit habita-cional brasileiro, um dos problemas crônicos do país. A meta do pro-grama, na segunda fase (2011-2014), é construir dois milhões de unidades habitacionais, das quais 60% vol-tadas para famílias de baixa renda. Em 2010, após um ano de atividade, o Minha Casa, Minha Vida atin-giu a meta inicial de um milhão de contratações.

O programa, na área urbana, é dividido em três faixas de renda mensal: até R$ 1.600 (faixa 1), até R$ 3.100 (2) e até R$ 5 mil (3). Na área rural, as faixas de renda são anuais: até R$ 15 mil (1), até R$ 30 mil (2) e até R$ 60 mil (3).

Este ano, o ministro do Trabalho, Carlos Brizola Neto, anunciou várias mudanças para aumentar o acesso ao programa. O Conselho Curador do FGTS aumentou o salário familiar considerado para a faixa 2 do Pro-grama Minha Casa, Minha Vida de até R$ 3,1 mil para R$ 3,275 mil. Para a faixa 1 do programa, o conselho manteve os valores em até R$ 1,6 mil e para a faixa 3 também foi mantido o teto de até R$ 5 mil, considerando como novo piso o valor R$ 3,275 mil e não mais o R$ 3,1 mil.

O ministro informou também que a taxa de juros para a faixa 3

cerimônia de entrega da casa de número 1 milhão do programa minha casa, minha vida

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O PROGRAMA MINhA CASA, MINhA VIDA PREVê A CONtRAtAçãO DE UNIDADES hABItACIONAIS COM PRIORIDADE àS FAMíLIAS DE BAIXA RENDA

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 37

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políticas da união

foi reduzida em um ponto porcen-tual, passando de 8,16% ao ano para 7,16% ao ano. “A redução desses juros foi toda bancada pela diminuição do spread bancário”, afirmou.

No caso dos imóveis das princi-pais capitais brasileiras (Brasília, Rio e São Paulo), o teto do valor subiu de R$ 170 mil para R$ 190 mil. De acordo com ele, nas cidades com mais de 1 milhão de habitantes, esse valor foi elevado de R$ 150 mil para R$ 170 mil. Nos municípios que têm população acima de 250 mil habitan-tes e no entorno do Distrito Federal, o teto passou de R$ 130 mil para R$ 145 mil. Nas cidades com mais de 50 mil habitantes, o valor máximo foi elevado de R$ 100 mil para 115 mil. Nas demais cidades, o teto, que era de R$ 80 mil, passou para R$ 90 mil.

saneaMenToOs novos prefeitos e vereado-

res irão enfrentar grandes desafios durante o mandato para melhorar a qualidade de vida dos moradores de suas cidades. Um dos maiores é o pre-cário serviço de saneamento básico, problema comum a praticamente todos os 5.565 municípios brasilei-ros. Quase a metade da população das 100 maiores cidades do Brasil ainda não conta com a coleta de esgo-tos. Os dados foram divulgados em agosto deste ano pelo Instituto Trata Brasil e referem-se a levantamento feito em parceria com a empresa GO Associados. O Instituto Trata Brasil é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que tem o objetivo de incentivar a mobiliza-ção nacional para que o país possa atingir a universalização do acesso à coleta e ao tratamento de esgoto. Com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o

Instituto Trata Brasil informou que nessas 100 cidades vivem 40% dos habitantes do país ou 77 milhões de um total de 191 milhões de pessoas. Mais de 31 milhões moram em luga-res onde o esgoto corre a céu aberto

Embora esse volume seja expres-sivo, o nível de cobertura supera a média nacional com a coleta existente em 59,1% dos 100 municípios ante 46,2% quando se inclui as demais cida-des brasileiras. Em 34 cidades, mais de 80% da população têm o esgoto cole-tado e entre estas, cinco atendem todo o município: Belo Horizonte (MG), Santos (SP), Jundiaí (SP), Piracicaba (SP) e Franca (SP).

A pesquisa aponta que em 32 municípios, a coleta varia entre 0% a 40% e em 34, de 41% a 80%. Quanto ao esgoto tratado foi verificado que em 40 cidades, este serviço não é disponi-bilizado. Em relação à distribuição de água tratada, o serviço é oferecido por 90,94% das cidades. Mas a pesquisa mostra que ainda faltam melhorias porque em 11 cidades o atendimento está abaixo de 80% da população.

Já o nível de excelência ou acima de 81% só existe em seis cidades: Sorocaba (SP), Niterói (RJ), São José do Rio Preto (SP), Jundiaí (SP), Curi-tiba (PR) e Maringá (PR). Na média, os 100 municípios destinaram 28% de sua receita em obras de sanea-mento, a maioria num total de 60 não chegou a utilizar 20% dos recursos na ampliação dos serviços.

ciÊncia e TecnologiaO programa Ciência sem Fron-

teiras é destaque entre as ações do governo federal. Promove a consolidação, expansão e internacio-nalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade por meio do intercâmbio e da mobilidade

internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), por meio de suas respectivas institui-ções de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC. O pro-jeto prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para promo-ver intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de manter contato com sistemas edu-cacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação.

Segundo a Presidenta Dilma, o programa está avançando no objetivo de levar 101 mil alunos para o exte-rior até 2014 onde “vão aprender o que há de mais avançado em ciência e tecnologia no planeta. E, quando voltarem ao Brasil, vão ajudar a melhorar as nossas universidades e a criar novas tecnologias para agre-gar valor e dar mais competitividade às nossas empresas, aos nossos pro-dutos e aos nossos serviços”, afirmou.

Para aproveitar a oportunidade, é necessário que o estudante tenha um bom desempenho na faculdade que está cursando no Brasil, além de ter feito mais de 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Também é preciso conhecer o idioma do país para onde ele vai viajar. n

BALANçO DO GOVERNO DILMA

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poLíticas da união

LOGíStICA

governo vai investir mais de 54 bilhões no setor portuário Medida visa promover a competitividade da economia nacional

da redação

a presidenta Dilma Rous-seff lançou, no início de novembro, o Programa

de  Investimento em Logística: Por-tos, com o objetivo de movimentar o setor de cargas com o menor custo possível. “Queremos que haja uma explosão de investimentos”, obser-vou a presidenta. Ao todo, o governo federal irá investir R$ 54,2 bilhões no setor portuário brasileiro e mais R$ 2,6 bilhões para acessos hidroviá-rios, ferroviários e rodoviários, além

de pátios de regularização de trá-fego. De acordo com Dilma Rousseff, dezoito portos serão beneficiados pela medida de incentivo ao setor.

“Não estou dizendo que o obje-tivo é a menor tarifa porque poderia ser a menor movimentação com a menor tarifa. O objetivo é a maior movimentação de cargas possível com a menor tarifa possível”, expli-cou a presidenta. Segundo ela, é preciso oferecer segurança jurídica para que os investimentos prosperem e os portos sejam mais modernos e eficientes. Observou que, em alguns

casos, a situação jurídica é boa, em outros, satisfatória, e há casos em que ela ainda é inexistente.

ParceriasDilma Rousseff falou, na ocasião,

da importância do fortalecimento das parcerias entre os setores público e privado para a modernização da estrutura portuária. “Queremos inaugurar com essa parceria uma era de eficiência para os portos bra-sileiros”, disse. Segundo ela, os portos são responsáveis por 95% do fluxo de comércio exterior do país.

Wilson Dias/ABr

dilma rousseff: dezoito portos serão beneficiados pela medida de incentivo ao setor

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 39

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políticas da união

LOGíStICA

Wilson Dias/ABr

Disse também que portos eficien-tes, com ligações para os demais meios de transporte, contribuirão para que as exportações brasileiras, principalmente de minério e commo-dities agrícolas, se multipliquem.

Destacou ainda que não haverá mais cobrança de outorga nas novas concessões de portos e nos arrenda-mentos de terminais. Segundo ela, os próximos leilões terão como critério de definição a menor tarifa cobrada.

coMPeTiTividade“Esse conjunto de medidas do

setor portuário tem o objetivo de promover a competitividade da eco-nomia brasileira, pondo fim aos entraves do setor”, disse o ministro da Secretaria de Portos, Leônidas Cristino. Ele lembra que o governo pretende estimular a participação do setor privado nos investimentos e modernizar a gestão dos portos. O ministro salientou que a Região Norte receberá, entre 2014 e 2015, R$ 4,37 bilhões em investimen-tos, e, nos dois anos subsequentes, mais R$ 1,5 bilhão. O Nordeste rece-berá R$ 11,94 bilhões (dos quais R$ 6,77 bilhões entre 2014 e 2015 e R$ 5,15 bilhões entre 2016 e 2017). No Sudeste, serão investidos R$ 16,50 bilhões no primeiro período (2014-2015); e R$ 12,14 bilhões no segundo (2016-2017). A Região Sul rece-berá R$ 3,36 bilhões na primeira etapa e R$ 4,25 bilhões na segunda. Os portos beneficiados na Região Sudeste são: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Itaguaí e Santos; no Nordeste, Cabedelo, Itaqui, Pecém, Suape, Aratu e Porto Sul/Ilhéus; no Norte, Porto Velho, Santana, Manaus/Ita-coatiara, Santarém, Vila do Conde e Belém/Miramar/Outeiro; e no Sul, Porto Alegre Paranaguá/Antonina,

São Francisco do Sul, Itajaí/Imbituba e Rio Grande.

PlanejaMenToAté 2014/2015, R$ 31 bilhões serão

aplicados em novos investimentos em arrendamentos e Terminais de Uso Privativo (TUPs). E entre 2016/2017, serão aplicados mais R$ 23,2 bilhões. O programa prevê ainda a retomada da capacidade de planejamento

portuária, com a reorganização ins-titucional do setor e a integração logística entre modais. A Secreta-ria de Portos ficará responsável pela centralização do planejamento por-tuário, além de portos marítimos, fluviais e lacustres; e o Ministério dos Transportes pelos modais terrestres e hidroviários.

O ministro Leônidas Cristino observou que portos que operem de forma mais eficiente e com cus-tos mais baixos e com maior volume de carga contribuirão para tornar as exportações brasileiras ainda mais competitivas. “Mais exporta-ção vai resultar em mais produção, mais emprego, mais investimento e mais crescimento. Por isso nós vamos fortalecer o planejamento do setor portuário, porque ele tem de estar integrado aos demais modais”, defendeu. n

Com informações da Agência Brasil

ministros, governadores e diversas autoridades participaram da cerimônia no palácio do planalto

“ qUEREMOS INAUGURAR COM ESSA PARCERIA UMA ERA DE EFICIêNCIA PARA OS PORtOS BRASILEIROS”Presidenta Dilma Rousseff

40 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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ACESSO à JUStIçA

executivo investe em ações para aumentar o acesso do brasileiro à justiçaEscola Nacional de Mediação e Conciliação vai aperfeiçoar a atuação de profissionais

da redação

o governo federal está disposto a melhorar o acesso dos bra-sileiros à Justiça e, nesse

sentido, vai investir cerca de 4 milhões de dólares mediante acordo de coo-peração técnica assinado, no último dia 14 de dezembro, entre o Ministé-rio da Justiça e o Programa da ONU para o Desenvolvimento (Pnud). Com esses recursos, o governo pre-tende aumentar o número de fóruns alternativos para resolução de con-flitos, como os Núcleos Estaduais de

Justiça Comunitária. Esses núcleos, segundo avaliações do Ministério da Justiça funcionarão de maneira rápida, além de serem confidenciais, informais e mais baratos. Com isso, os meios alternativos de resolução de disputas podem desafogar a Justiça e melhorar a prestação de serviços ao cidadão. A ideia é colocar mais em prática o mecanismo da negociação, quando o conflito é resolvido dire-tamente pelos envolvidos, cada um abrindo mão de alguma reivindica-ção. Pode ser também por mediação, quando uma terceira pessoa ajuda no

encontro da solução, ou por concilia-ção, quando um terceiro sugere uma resolução.

Outro investimento importante do governo, destinado a dar mais celeridade aos processos e a ajudar a mudar a cultura da judicialização no Brasil, é a Escola Nacional de Media-ção e Conciliação (Enam), lançada no dia 12 de dezembro pelo minis-tro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ao assinar o ato de criação da Enam, o ministro disse que os brasileiros devem adotar a cultura da concilia-ção antes dos conflitos interpessoais

O ministro José eduardo cardozo lança a escola de mediação e conciliação: mais capacitação

Isaac Amorim

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 41

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políticas da união

ACESSO à JUStIçA

Fábio Pozzebom/ABr

serem levados ao Judiciário. Ele lem-brou que a implantação da escola custará R$ 4 milhões até 2014 e que a instituição deverá capacitar 40 mil operadores do Direito e melhorar a atuação deles no que consiste em conciliação.

“A escola é uma grande vitória, porque no Brasil há uma imensa ten-dência de levar todos os processos ao Judiciário como se o estado de direito só pudesse ser realizado por meio das demandas judiciais, visão equivocada e com profundas raí-zes na nossa cultura, mas a melhor resolução se dará se o conflito não for levado ao Judiciário, mas equa-cionado na conciliação”, observou José Eduardo Cardozo. A sede da escola funcionará no Tribunal de Jus-tiça do Distrito Federal e Territórios. Entre os parceiros da iniciativa estão o Ministério Público Federal (MPF), a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Universidade de Brasília (UnB). A escola vai promover, a partir de maio de 2013, cursos a distân-cia e presenciais em mediação para o aperfeiçoamento da atuação dos

profissionais da área, além de formar novos conciliadores e mediadores na solução de conflitos judiciais.

O secretário de Reforma do Judi-ciário do ministério, Flávio Caetano, afirma que a iniciativa vai ajudar a reduzir o volume de processos em tramitação na Justiça. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que são mais de 90 milhões

de processos em tramitação, sendo 58% deles envolvendo interesses da União. “São iniciativas como essa que contribuirão para fortalecer a política nacional de mediação e con-ciliação e para melhorar os serviços do sistema de Justiça”, destacou Flá-vio Caetano.

O presidente do Conselho Federal da OAB, Ophir Cavalcante, acres-centou que as escolas de Direito preparam as pessoas para o litígio, afirmando que a partir de agora, os exames da Ordem vão incluir ques-tões sobre arbitragem e conciliação, a fim de contribuir para o esforço de mudar a cultura do conflito.

O presidente do Superior Tribu-nal de Justiça, ministro Felix Fischer, ressaltou que a Escola Nacional de Mediação e Conciliação (Enam) vai fazer uma revolução entre as insti-tuições responsáveis pela pacificação de conflitos. O advogado-geral da União, Luiz Inácio Adms, adiantou que a conciliação beneficiará, prin-cipalmente, as pessoas mais carentes da sociedade. n

CurSoS da enam Em 2013, a Escola Nacional de Mediação e Conciliação (Enam) ministrará

cursos a distância e presencial e deverá formar 400 instrutores e 20 mil conci-liadores e mediadores. Ainda em 2013 será realizado, em Brasília, o primeiro congresso nacional de mediação e arbitragem, tendo como público alvo profes-sores e alunos dos cursos de direito, juízes, promotores de Justiça e advogados.

Está prevista ainda a realização da Conferência Nacional de Acesso à Justiça, que tem por objetivo colocar em pauta inovações e transformações no sistema de Justiça para ampliar a prestação jurisdicional e a democratização das formas de acesso e efetivação de direitos humanos, tais como o direito à saúde, à educação, ao trabalho, à dignidade, à igualdade e à não discriminação. A Con-ferência Nacional sobre Acesso à Justiça está prevista para o segundo semestre de 2013 e será precedida por etapas regionais nas cinco regiões brasileiras.

flávio caetano, secretário de reforma do Judiciário: fortalecimento da política de mediação

42 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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marcuS viniciuS de aZevedo BragaAnalista de finanças e controle da Controladoria-Geral da União. é formado em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bacharel em Ciências Navais com habilitação em Administração pela Escola Naval. é mestre em Educação pela Universidade de Brasília

govErnança e gEstão

“A principal função do auditor inclusive nem é a de fiscalizar depois do fato consumado, mas a de criar controles internos para que a fraude e a corrup-ção não possam sequer ser praticadas” (Stephen Kanitz, 1999)

Foco no problema ou na solução?a manchete do jornal indica a ação de Tribunal de

Contas Estadual permitiu à condenação de diri-gente municipal a devolução de vultosa quantia de

recursos ao Erário, por conta de atos ruinosos de sua gestão. Foco no problema. Noticiário vespertino exibe servidor de autarquia estadual sendo preso após comprovado desvio de recursos públicos por ele geridos e que deveriam atender a população socialmente carente. Foco no problema.

Comentarista explica, atônito, a forma de atuação de quadrilha de funcionários públicos corruptos na execução de esquema que fraudava processos de compras governamentais na esfera federal, subtraindo grandes somas por conta de preços superfaturados e aqui-sições fictícias. Foco no problema.

No centro do quadro, os problemas. Por algum motivo antropológico que merece estudos adicionais, a comuni-dade, em relação à gestão pública, foca sua atenção prioritariamente nos pro-blemas. É o famoso adágio “-O povo gosta é de sangue...” Talvez seja uma forma de rompermos a nossa rotina com um fato inusitado ou ainda, a canalização de nossas insa-tisfações com as injustiças da vida para aqueles que foram apanhados em constrangedoras situações de práticas de atos de corrupção, na ressurreição do Goldstein da obra 1984, de George Orwell.

Apesar de ser do gosto do público e dos jornalistas, o foco no problema da gestão pública, pura e simplesmente, pouco contribui para um Estado mais eficaz, eficiente e efetivo, que garanta direitos sociais e ofereça serviços

públicos de qualidade. Os problemas têm a sua raiz na ges-tão, ainda que figurem como “caso de polícia”. É preciso atuar no sistema, principalmente em um viés preventivo, para enfrentar as causas dos problemas.

Causa-nos espanto, as faces ficam ruborizadas, mas esse melindre todo com a atuação reprovável de agentes públicos pouco contribui com a solução do problema. Não podemos perder a capacidade de se indignar, mas temos que saber a melhor forma de fazer isso. Aguardo ansioso a manchete de jornal que indique, com destaque, a ado-

ção, por parte de um órgão público, de prática que preveniu falhas ou per-mitiu a melhoria. É raro, quando não se trata de publicidade institucional disfarçada.

Esse é o cerne da questão! O pre-ventivo, a ação adotada para que o erro não ocorra mais, atuando sobre o sis-tema, tem culturalmente baixa adesão do público. Ainda sim, a ação pre-

ventiva inibe a ocorrência de situações similares, pois ela nos permite como organização aprender com o erro, rom-pendo o paradigma do espanto e da indignação e partindo para uma visão corretiva, que aproveita o erro no plano preventivo, avançando gerencialmente.

É nosso direito como cidadão se revoltar, mas é neces-sário enxergar o contexto, para mudar os mecanismos sistêmicos que permitiram que se chegasse aquele ponto. A vida administrativa é um processo e ninguém chega a um contexto de fraude generalizada de um dia para o outro. Existe uma série de omissões de atores envolvidos,

“ DENtRO DO CONtEXtO AtUAL, UM DOS MECANISMOS PREVENtIVOS DE ALtA EFICáCIA E BAIXO CUStO é A tRANSPARêNCIA”

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 43

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inclusive da população usuária, que vai vendo a situação se instalar e nada fala. Aí, um dia, o caldo entorna.

Por isso a importância dos formadores de opinião, em especial os jornalistas, valorizarem as medidas preventivas, os cases gerenciais de sucesso, na criação de mecanismos, inclusive com a participação popular, que inibam a ocor-rência de malfeitos e melhorem os serviços públicos. É muito fácil se apoiar em um padrão de reportagem do tipo “Quanto foi desviado?”, quando importa saber como esse fato pode não se repetir, trocando “sangue” por “músculos”.

Dentro do contexto atual, um dos mecanismos pre-ventivos de alta eficácia e baixo custo é a transparência. Dar publicidade a determinados processos que podem ser objeto de captura inibe a ação de pessoas mal inten-cionadas e fomenta a ação do controle social, por meio de denúncias que indicam o processo doente que está se ini-ciando. A eclosão de um escândalo de corrupção, de um modo geral, é precedido de um momento em que os sinto-mas começam a ficar visíveis, em especial na falência dos serviços públicos demandados pelos agentes públicos res-ponsáveis. È a hora do remédio.

Por fim, a utilização de verificações periódicas, a cria-ção de regras que evitem o conluio e o uso de recursos por uma pessoa apenas, no conceito da segregação de funções, são atitudes administrativas louváveis e que inibem a ocor-rência de dissabores na gestão. Mas, o cidadão comum precisa entender essas nuanças, romper a ingenuidade e perceber que negar a prática dos desvios e depois se sur-preender é pior do que aceitá-lo e estimular as medidas de redução deste.

Essas ações cotidianas e rotineiras de prevenção aos malfeitos passam sem destaque pela gestão. Não dão camisa! Chamadas pejorativamente de “burrocracia”, são ofuscadas pelos problemas que surgem, pela falta de ado-ção dessas mesmas medidas, hipnotizados que ficamos pelos problemas e esquecidos das soluções. E dos pro-blemas, nos tornamos reféns dos morosos processos de condenação penal e ressarcimento do Erário, atolados em um emaranhado de recursos e instâncias.

As ações preventivas funcionam como a vacina que protege anteriormente, que resguarda o gestor diante da opinião pública nos momentos de suspeita de atos reprová-veis. Quem se preocupa com os riscos de forma ostensiva não teme a manchete do jornal. Uma gestão proba é algo concreto, percebido pelo entorno e construída na labuta do dia a dia.

Essa discussão do problema e da solução na gestão se materializa também quando o gestor se vê diante de pro-blemas apontados por denúncias, reportagens ou ainda,

pela ação ordinária dos órgãos de controle. Por vezes, o gestor insiste em negar o problema, em uma postura defensiva, como um verdadeiro zagueiro, defendendo seu gol a todo custo.

Se o gestor se enxergasse como um mecânico e trans-formasse aquele apontamento em uma oportunidade de melhoria, chegaria logo a solução, pontual e estrutural. É a cultura da responsabilização sumária do agente público, acusado dos males da humanidade, que fomenta esse medo da solução. A falha existe, independente de ter sido apon-tada por alguém de dentro ou de fora da organização. Não atuar sobre ela só vai fazê-la crescer, e se agravar, às vezes de uma forma de difícil reversão no futuro.

Dado esse quadro, fica a reflexão de que uma gestão pública amadurecida tem o seu foco não na ocorrência momentânea e pontual escandalosa e sim na pergunta: “O que deixamos de fazer para isso acontecer?”, ou ainda: “O que podemos fazer para que isso não ocorra de novo?”. Per-guntas complexas e customizadas, mas essenciais para que a gestão cresça com cada situação, positiva ou negativa, e ainda, que produza experiências, boas práticas que possam ser aproveitadas em outras unidades administrativas, em outros momentos.

Chegará o dia em que gestores, órgãos de fiscalização, movimentos sociais, jornalistas e acima de tudo, o cidadão, enxergarão para além do fato momentoso, dos culpados e dos erros, e focarão nas soluções derivadas desses erros passados e voltadas para o futuro, em ganhos por vezes imensuráveis. Fazer a justiça é importante para os envol-vidos, mas construir um novo futuro é fundamental para a coletividade. n

charge: glauco, da Folha de são Paulo/Uol

44 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Artigo

Page 45: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

EstaDos e Municípios

DIStRItO FEDERAL

governador assina decretos para ampliar a transparência e o controle da gestão Ouvidoria de Combate à Corrupção deverá ser mais atuante

da redação

c om o objetivo de mostrar cada vez mais aos cidadãos as ações empreendidas pelo GDF, o

governador Agnelo Queiroz assi-nou, no último dia 12 de dezembro, três decretos que visam aperfeiçoar a transparência e o controle da ges-tão local. O governador sancionou a Lei Distrital de Acesso à Informação e criou o Conselho de Transparência e Controle Social (CTCS). O terceiro

decreto torna obrigatória a divul-gação do telefone da Ouvidoria de Combate à Corrupção em todos os editais de licitação e contratos do governo.

Durante a solenidade, Agnelo Queiroz lembrou que, em dois anos, seu governo adotou mais de 50 medi-das de controle e transparência. “É nossa obrigação possibilitar ao cida-dão o acompanhamento do sistema público”, observou o governador ao lembrar que mesmo antes da Lei de

Acesso à Informação, a sua admi-nistração fazia grande esforço no sentido de divulgar ao máximo todas as ações no site do GDF. “Fomos uma das primeiras unidades da federação a avançar nessa questão, com o empe-nho da Secretaria de Transparência e Controle, criada no início desta ges-tão, e a ajuda da Câmara Legislativa. Agora, com a lei, vamos fortalecer ainda mais esse acompanhamento”, sustentou. Segundo ele, com essas medidas, o Distrito Federal caminha

Roberto Barroso/Agência Brasília

agnelo sanciona lei de acesso à informação no df e assina novos decretos: mais transparência

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 45

Page 46: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

estados e municípios

para se transformar em referência de gestão transparente.

De acordo com a Lei Distrital de Acesso à Informação, a Secretaria de Transparência e Controle do Dis-trito Federal vai monitorar, orientar e padronizar todos os procedimentos e treinamentos para que a informação chegue de forma rápida e segura aos cidadãos. A secretaria também atuará como órgão recursal, onde o cida-dão poderá recorrer caso não consiga acesso aos dados desejados. Também é obrigatória, por parte dos órgãos públicos, a divulgação, na internet, de todos os dados da administra-ção pública, em linguagem clara e fácil. O governador lembra que um dos pontos importantes dessas medi-das é a garantia de que o cidadão não precisará justificar a requisição de qualquer informação pública.

O secretário de Transparência e Controle, Carlos Higino, afirma que essa nova regulamentação local garantirá uma efetividade maior de acesso aos dados do poder público.” O secretário de Governo, Gustavo Ponce de Leon, completa: “Todo esse trabalho será importante legado para a legislação do Distrito Federal, por-que o governo ouviu a população, por meio de conferências, e estabele-ceu mais formas de facilitar o acesso à informação.”

acesso à inForMação Durante a solenidade, o gover-

nador disse que o DF deu atenção especial à Lei de Acesso à Informação ao criar a Secretaria de Transparência e Controle e o Portal da Transparên-cia Distrital para divulgação de dados. Ele lembrou também que determi-nou que apenas servidores efetivos possam executar contratos com valo-res acima de R$ 150 milhões, além de

estender a aplicação da Lei da Ficha limpa aos cargos comissionados.

conselHo de TransParÊnciaO Conselho de Transparência e

Controle Social terá como objetivo analisar o cumprimento das políti-cas nessa área, fiscalizar as medidas adotadas e propor ferramentas para aperfeiçoar o controle da ges-tão. O conselho será integrado por 20 conselheiros designados pelo governador. Dez são representantes

das secretarias do GDF, como a de Governo e a de Transparência e Con-trole. Os outros dez são da sociedade civil, sendo cinco ligados a entidades como o Comitê Organizador Dis-trital, que já participam de debates sobre o combate à corrupção.

oUvidoria de coMBaTe à corrUPção

De acordo com a nova lei, em todos os editais de licitação e con-tratos com o governo deverá ser informado o telefone da Ouvido-ria de Combate à Corrupção: 0800 6449060. A medida é uma forma de incentivar a população a denunciar suspeitas de irregularidades em pro-cessos públicos e casos concretos de corrupção.

“O nosso objetivo é radicalizar na transparência, que é um instru-mento poderoso. O cidadão participa e é incentivado a melhorar o acesso à informação. Isso impede acon-tecimentos como os do passado”, completou o governador Agnelo Queiroz. n

Roberto Barroso/Agência Brasília

governador recomenda ao secretariado que todas as informações devem ser divulgadas

“ é NOSSA OBRIGAçãO POSSIBILItAR AO CIDADãO O ACOMPANhAMENtO DO SIStEMA PúBLICO”governador Agnelo Queiroz

DIStRItO FEDERAL

46 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 47: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

BRASíLIA

gdF vai construir quatro centros de combate ao uso de drogas Plano Distrital de Enfrentamento ao Crack será reforçado em 2013

da redação

a campanha Viva a Vida sem Drogas, do Governo do Dis-trito Federal, lançada há um

ano, apresenta resultados positivos. Houve um crescimento de 77,5% no número de atendimentos nos sete Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas. Ao todo, foram realizados 89.298 procedimentos nas unidades. De acordo com o gover-nador Agnelo Queiroz, até o final do ano, serão criados mais quatro centros.

No inicio de dezembro, Agnelo

Queiroz anunciou sete novos parcei-ros da campanha. Foram assinadas cartas de intenção com os sindicatos do Comércio Varejista de Combustí-veis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustí-veis); de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar) e do Comér-cio Varejista (Sindivarejista), a Rede de Postos Gasol, a Direcional Enge-nharia, o Centro Educacional Sete Estrelas (Sobradinho) e a Associação dos Criadores do Planalto. A mobili-zação contra as drogas já conta com a colaboração dos sindicatos dos Esta-belecimentos Particulares de Ensino

(Sinepe), do sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon), do Serviço Social do Distrito Federal (Seconci-DF), além da Cooperativa de Consumo dos Feirantes da Feira dos Importados (Cooperfim). São quase 25 mil multiplicadores no com-bate ao uso e tráfico de drogas no DF.

Eles abraçaram a causa e passam a fazer parte da rede de enfrenta-mento, com distribuição de material educativo, uso de botons, camise-tas, cartazes e banners. A equipe da Subsecretaria de Políticas Sobre Drogas (Subad), da Secretaria de Jus-tiça, Direitos Humanos e Cidadania

Antonio Cruz/ABr

a secretaria de Justiça do distrito federal distribui folders e cartilhas da campanha viva a vida sem drogas

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 47

Page 48: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

estados e municípios

(Sejus) faz palestras e apresentação de peças nos canteiros de obras, colé-gios, escolas, postos de gasolina e bares. “Essa etapa envolve a socie-dade. Essas instituições e empresas vão ajudar na divulgação, na distribuição do material e no esclare-cimento”, explicou o governador.

Agnelo Queiroz nomeou dez servidores e dez psiquiatras para tra-balhar nas ações previstas do plano distrital; oficializou a criação do pro-grama Viva a Vida sem Drogas! e do posto da Polícia Rodoviária na BR 070; instituiu a Caminhada em Defesa da Vida sem Droga; autori-zou a Polícia Militar a fiscalizar todas as rodovias do DF e a revitalização da iluminação da região central de Brasília. Por fim, Agnelo Queiroz autorizou o descontingenciamento de R$ 700 mil da Secretaria de Segu-rança Pública, que serão destinados às ações do Plano Distrital de Com-bate ao Crack e outras Drogas.

PlanoO Plano Distrital de Enfrenta-

mento ao Crack e Outras Drogas é resultado do trabalho realizado pelo Comitê de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas. O comitê é composto por 15 secretarias de Estado, além da Codeplan, e é coordenado pelo secre-tário de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, Alírio Neto. O plano é dividido em três frentes: prevenção ao uso de drogas, tratamento e repressão ao tráfico. O balanço das ações que envolvem 15 secretarias mostra ainda o crescimento do número de prisões de traficantes. A operação Marco Zero, da Secretaria de Segurança Pública, começou em 2011 e atuou na zona central de Brasília, Tagua-tinga e Ceilândia. Ela registrou 4.505 ocorrências do uso e porte de drogas e

2.070 de tráfico de drogas.“No Brasil, somente quatro uni-

dades da Federação têm políticas públicas de enfrentamento às dro-gas, e um deles é o DF. Fico muito feliz com o apoio irrestrito que a ini-ciativa tem”, avaliou o secretário de Justiça, Direitos Humanos e Cidada-nia, Alírio Neto. Participam do plano as secretarias da Mulher; de Assuntos Estratégicos; da Criança; de Cultura; de Desenvolvimento Social e Trans-ferência de Renda; de Educação; de Esporte; de Governo; de Justiça; de Juventude; da Micro e Pequena Empresa; de Publicidade Institucio-nal; de Saúde; de Segurança Pública e de Trabalho. Além desses órgãos, o governo federal atua como parceiro do Plano Distrital, por meio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e dos ministérios do Desenvolvimento Social, da Justiça e da Saúde.

Em 2013, o plano será reforçado com novas ações. Para a recuperação e a reinserção social de pessoas com dependência química foram planeja-das 36 ações, que fortalecem o Sistema

Único de Saúde e o Sistema Único de Assistência Social, além de valorizar e apoiar as entidades não governamen-tais que prestam relevantes serviços à sociedade, especialmente no trata-mento de pessoas com dependência química. No combate ao tráfico de drogas estão planejadas sete gran-des e importantes ações voltadas à repressão do narcotráfico e, con-sequentemente, à diminuição da violência e da criminalidade.

“Vamos declarar guerra ao tráfico e enfrentar de forma determinada esse crime que tem assolado nos-sas famílias. A tolerância zero com o tráfico irá salvar nossos jovens e preservar as áreas públicas da capi-tal federal”, pontuou o governador Agnelo Queiroz.

O plano contempla ainda ações especiais de capacitação, treina-mento, pesquisa e, principalmente, envolvimento da sociedade como um todo no enfrentamento ao crack e outras drogas. n

Com informações da Agência Brasília

um dos centros de atenção psicossocial: governo vai construir mais quatro unidades no dF

DFAgora

BRASíLIA

48 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 49: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

SEMINáRIO DO PSB

líderes municipais debatem estratégias de desenvolvimentoEvento foi promovido pelo Partido Socialista Brasileiro

da redação

d e 30 de novembro a 1º de dezembro, o Partido Socia-lista Brasileiro (PSB) e a

Fundação João Mangabeira pro-moveram o seminário Governos Municipais Socialistas – 2013/2016, destinado aos 443 prefeitos elei-tos pela sigla em 2012. O objetivo

do encontro foi preparar melhor os prefeitos antes de assumirem seus mandatos, em janeiro. “O seminário é uma contribuição objetiva do par-tido aos que se elegeram”, destacou o governador de Pernambuco, Edu-ardo Campos, presidente nacional do PSB. “Vamos colocar à disposi-ção deles experiências, ferramentas e subsídios que serão importantes não

só para os que vão necessitar fazer a transição de outros governos, mas também para aqueles que já estão nos mandatos e foram reeleitos”, obser-vou o governador.

Campos lembrou, na ocasião, que o PSB foi o partido que mais cresceu em relação a 2008, com 42% mais prefeitos eleitos. Foi o que mais ele-geu prefeitos de capitais – cinco; o

seminário reuniu mais de 400 prefeitos eleitos do psB: preparação para a posse

Divu

lgaç

ão/P

SB

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 49

Page 50: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

estados e municípiosDi

vulg

ação

/PSB

que alcançou o maior índice de ree-leição de seus gestores – 71,8%; e também o que mais ampliou o número de eleitorado a governar – 101%, o que totalizará uma popu-lação de 15,4 milhões sob a gestão dos socialistas. Durante o seminário, a Fundação João Mangabeira lançou duas publicações: Fontes de Financia-mentos de Projetos junto ao Governo Federal e Como Elaborar Projetos.

Uma das palestrantes, a economista Lídia Goldenstein, ex--professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defen-deu que é preciso dar novo alcance à definição de estratégias de desenvol-vimento para o Brasil, que incluam políticas agressivas de incentivo a novos setores, como a moda, os games e o design. Para Lídia, eles são tão importantes na atualidade como a siderurgia ou a mineração foram no

passado. Lídia destacou aos prefeitos do PSB a relevância de se incenti-var essas atividades econômicas, que considera essenciais e que geral-mente são confundidas com formas de entretenimento ou manifestações

culturais. “Elas precisam ser alvo de políticas proativas e ter estratégias adequadas de crescimento. A novi-dade é a maneira como olhamos para essa indústria”, argumentou a econo-mista, para quem o momento atual da economia brasileira é oportuno para esse tipo de discussão.

acesso aos PrograMas sociaisO secretário executivo do Minis-

tério da Integração Nacional, Alexandre Navarro, um dos pales-trantes convidados, falou sobre as parcerias do governo federal com as prefeituras. Ele orientou os futu-ros prefeitos a levantarem, em seus municípios, a população atual na linha de pobreza. “Em linhas gerais, essa é a população direcionada aos programas de benefício continu-ado da União, como o Bolsa Família, Cadastro Único, Salário Mínimo Crescente, Brasil Carinhoso, Minha Casa, Minha Vida, e outros”, lem-brou. “Eu sugeriria colocar entre as primeiras medidas no cargo percor-rer o município todo e levantar esses números que, embora já exista um cadastro montado pelo governo fede-ral, estão sempre defasados”.

De acordo com Navarro, pesquisa recente realizada em São Paulo indi-cou que 40% da população que se enquadra nessa faixa estão fora do cadastro dos programas de benefício continuado. Isso se repete em todo o país, declarou, porque a fonte mais indicada para detectar essas pessoas e atualizar os cadastros são as pre-feituras, que estão próximas de seus habitantes.

Para facilitar o acesso dos novos prefeitos a tais programas, Alexan-dre Navarro detalhou os principais deles, que incluem desde a amplia-ção e fortalecimento das estruturas

eduardo campos: seminário é uma contribuição objetiva do partido aos que se elegeram

CAMPOS LEMBROU qUE O PSB FOI O PARtIDO qUE MAIS CRESCEU EM RELAçãO A 2008, COM 42% MAIS PREFEItOS ELEItOS. FOI O qUE MAIS ELEGEU PREFEItOS DE CAPItAIS

SEMINáRIO DO PSB

50 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 51: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

econômicas dos municípios e arran-jos produtivos locais até pesca e aquicultura, irrigação e capacitação da juventude, inclusive a rural, para a competitividade.

Para o primeiro secretário Nacio-nal do PSB e presidente da Fundação João Mangabeira, Carlos Siqueira, as exposições “contribuíram muito para uma reflexão de administrações mais modernas, mais eficientes”. Para ele, o seminário foi um sucesso, muito pelo nível da adesão dos prefeitos e prefeitas, como também pelo conte-údo das exposições que foram feitas e a receptividade junto aos prefeitos. “Vimos que os prefeitos e prefeitas saíram satisfeitos, com relatos de que esse trabalho contribuiu muito para uma reflexão de administrações mais modernas, tendo o planejamento como característica dessas adminis-trações, além do atendimento das necessidades lógicas da população,

compromissos mais importantes que nossos prefeitos assumiram den-tro de suas campanhas e que devem cumprir”, afirmou Siqueira. n

Com informações de Renato Pena, da Assessoria de

Imprensa do PSB Nacional

Divu

lgaç

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SB

alexandre navarro: futuros prefeitos devem levantar população atual na linha de pobreza

“O FUNDO DE PARtICIPAçãO DOS MUNICíPIOS EStá EM qUEDA. CONSEqUENtEMENtE, A GENtE tEM qUE SE VIRAR NA CONStRUçãO DE CONVêNIOS E PROJEtOS PARA ERGUER A NOSSA ADMINIStRAçãO”José Vanderlei da Silva, prefeito de Brejinho (Pe)

aS liderançaS muniCipaiS

O prefeito de Brejinho (PE), José Vanderlei da Silva, conta que esta-va assustado com os números da arrecadação municipal. “O Fundo de Participação dos Municípios está em queda. Consequentemen-te, a gente tem que se virar na construção de convênios e projetos para erguer a nossa administração. Com esses congressos é que adqui-rimos essas experiências”, avaliou.

O prefeito de Pedra Lavrada (PB), Roberto Vasconcelos Cordei-ro, relata que eles foram “orien-tados a buscar as melhores polí-ticas públicas para compensar as dificuldades”. “Os repasses para as prefeituras têm diminuído, mas conseguimos, com esse seminário e outras ações do partido, acumular conhecimento para encontrar al-ternativas para buscar esses recur-sos”, confirmou.

Para o prefeito de Novo Acordo (TO), José Coelho, o PSB Nacional demonstra preocupação com seus novos gestores. “O partido tem nos orientado e isso tem sido e será muito importante em nossa administração, para que possamos melhorar a qualidade de vida do nosso povo”, argumentou. Odilon da Silveira, o prefeito reeleito de Nhandeara (SP), também avaliou o seminário com entusiasmo: “vejo que muitos trabalhos que o PSB tem desenvolvido servem de exem-plo para administrações futuras do partido”, disse.

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 51

Page 52: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

sistemas e inovação

MEIO AMBIENtE

sistEMas e inovação

entra em operação a primeira bolsa de valores ambientais do BrasilBVRio vai fomentar o desenvolvimento com sustentabilidade

da redação

c omeçou a funcionar, no dia 10 de dezembro, no Rio de Janeiro, a primeira bolsa de

valores para negociação de ativos ambientais do Brasil. A bolsa foi criada mediante parceria da Secre-taria de Estado do Ambiente, a Secretaria de Fazenda do Município do Rio e a BVRio (associação civil sem fins lucrativos). Eles firmaram acordo de cooperação para desenvol-ver o mercado de ativos ambientais e criaram a primeira Bolsa Verde do Brasil. Em 10 de dezembro, a BVRio lançou sua plataforma de negociações (BVTrade). O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, a subsecretá-ria de Economia Verde, Suzana Kahn, e o presidente executivo da Bolsa de Valores Ambientais (BVRio), Pedro Moura Costa, participaram da ceri-mônia de lançamento do projeto que vai permitir aos produtores rurais ganharem dinheiro com a preser-vação da vegetação nativa em suas propriedades.

A bolsa iniciou operações de mer-cado para a negociação de contratos de compra e venda de Cotas de Reserva Ambiental Futura (CRAFs) entre produtores e proprietários rurais. As

CRAFs são contratos padronizados desenvolvidos pela BVRio que permi-tem que proprietários rurais possam negociar suas cotas e pré-fixar os preços antes mesmo da criação das cotas. O pagamento só acontecerá na entrega para o comprador.

A negociação ocorrerá por meio de uma plataforma online ágil e segura, desenvolvida especialmente para a transação de ativos ambien-tais. Além de prover uma plataforma de negociação, a BVRio também será responsável, em cooperação com as autoridades públicas, pela mode-lagem e quantificação dos ativos ambientais que possam ser negocia-dos na Bolsa Verde.

O presidente-executivo da BVRio, Pedro Moura Costa, explicou que os

produtores irão negociar contratos de compra e venda para entrega futura e fomentar o desenvolvimento desse mercado, dando mais transparência ao processo de formação de preços. “A BVRio planeja também promover o desenvolvimento de outras ativida-des econômicas relacionadas a esses mercados, tais como provedores de serviços e de tecnologia. E, ainda, esti-mular uma mudança cultural relativa às questões ambientais. Estas deixam de ser vistas como passivos e passam a ser tratadas como ativos”, explicou Pedro Moura Costa.

Segundo ele, a bolsa foi criada para facilitar o cumprimento de obri-gações por parte dos produtores e, a partir disso, formar um mercado que premiará quem preserva e desonerar

pedro costa, presidente da Bvrio: pioneiro na área de ativos ambientais

Divulgação

52 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 53: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

os que precisam de regularização. Em vez de ações empresariais, a BVRio vai negociar Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) como as cotas de reserva legal florestal, certificados de emissão de gases do efeito estufa e créditos de car-bono. O objetivo é prover soluções de mercado para a promoção do desen-volvimento sustentável.

As negociações dos contratos de compra e venda contam com o apoio dos governos estadual e municipal do Rio de Janeiro. Moura Costa é um pioneiro na área de ativos ambien-tais. Ele foi um dos fundadores da EcoSecurities, uma trading de crédi-tos de carbono que chegou a dominar o comércio global destes papéis e posteriormente foi comprada pelo JP Morgan. Pretende tornar a BVRio o centro de um mercado que ele acre-dita deverá crescer aceleradamente no Brasil e no mundo nos próximos anos, negociando direitos como os de emissão de gases de efeito estufa ou de uso de água.

A presidente do Instituto Munici-pal Pereira Passos, Eduarda La Rocque, que apoiou a parceria e a criação da

BVRio, quando era secretária munici-pal de Fazenda do Rio de Janeiro, disse que foi feita uma perfeita associação entre o mercado financeiro e a econo-mia verde. “Acredito no mercado como grande agente de desenvolvimento social e sustentável”, observou.

A subsecretária de Economia Verde da Secretaria de Estado do Ambiente, Suzana Kahn, disse que a iniciativa da Bolsa Verde é muito importante por ser o primeiro passo para alavancar a economia verde no estado. “Por meio da comercializa-ção das cotas de reserva ambiental, daremos, de fato, partida para um mercado ambiental, que nada mais é do que dar valor aos nossos recursos naturais. A BVRio pretende ser refe-rência no país para a comercialização de ativos ambientais e se prepara para operar um futuro mercado de carbono e também de créditos de logística reversa (reciclagem)”, afir-mou Suzana Kahn.

A vice-presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Denise Rambaldi, a BVRio é uma excelente oportunidade para o Estado do Rio

de Janeiro avançar no cumprimento da legislação, que é de ter pelo menos 20% de suas florestas protegidas sob a forma de Reserva legal. “A BVRio é uma excelente ferramenta de pro-moção da restauração florestal, pois abre-se um novo mercado e espera--se que a Cota de Reserva Legal seja mais lucrativa do que um hectare de pastagem. Áreas de risco ou que não são boas nem para o gado, por exem-plo, onde a lucratividade do produtor rural é baixa, normalmente possuem aptidão florestal. Então, isso servirá de estímulo para o produtor conver-ter suas pastagens em florestas e com isso ganhar dinheiro, ao comerciali-zar suas cotas”, disse Denise. n

Com informações daAscom/Secretaria de Estado do

Ambiente e Agência Reuters

BVrioA bolsa de valores ambientais

BVRio é uma associação sem fins lucrativos que tem por objetivo criar um mercado nacional de ativos am-bientais para desenvolver a econo-mia verde no Brasil. Criada há um ano, a BVRio conta com o apoio da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro e da Prefeitura do Rio de Janeiro. A BVRio tem como mis-são desenvolver um mercado de ati-vos ambientais. Primeiramente, será implantada, na cidade carioca, uma plataforma de negociação destinada a se tornar referência no país para a comercialização de ativos ambien-tais. Esses ativos vão abranger não só os bens já existentes, como energia renovável ou biomassa, mas também os relacionados ao cumprimento de obrigações ambientais, como recupe-ração de áreas florestais, tratamento de resíduos, emissão de gases ou de efluentes, etc.

eduarda la rocque: o mercado é grande agente de desenvolvimento social e sustentável

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 53

Page 54: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

sistemas e inovação

secretaria de gestão cria central de atendimento para esclarecer dúvidas de servidoresSistema deverá registrar mais de 6 mil ligações mensais

ana seidl

a Secretaria de Gestão Pública, do Ministério do Planeja-mento, Orçamento e Gestão,

que completará um ano de atuação em 23 de janeiro de 2013, deu um passo importante em seu processo

de consolidação: inaugurou, em novembro, a Central de Atendi-mento Alô Segep. A secretária de Gestão Pública, Ana Lucia Amorim, diz que o principal objetivo é melho-rar o serviço da secretaria para todo o Sistema de Pessoal Civil da Admi-nistração Pública (Sipec). Cerca de

10 mil servidores das unidades de Recursos Humanos e 120 unidades pagadoras do Sistema Integrado de Administração de Recursos Huma-nos (Siape) serão atendidos.

O serviço é padronizado e cen-tralizado, com uma equipe treinada para fazer o atendimento o mais

RECURSOS hUMANOS

54 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 55: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

rápido possível e com qualidade. “Com isso, a gente melhora os gastos da folha de pagamento, as condi-ções de trabalho do pessoal de RH, e a qualidade de vida dos servido-res que recebem suas remunerações pelo Siape, com a redução dos erros que impactam a folha de pagamen-tos”, afirma.

O novo serviço vai atender os órgãos da administração pública federal, com qualidade, atendi-mento padronizado e diferenciado por níveis de complexidade nas consultas relativas às temáticas de pessoal. Primeiramente, a central operou em fase experimental com quatro órgãos. Segundo Ana Lucia Amorim, o resultado foi muito satisfatório, “as demandas foram atendidas rapidamente e com qua-lidade, as dúvidas e os problemas foram resolvidos. A avaliação foi muito positiva, por isso estamos implantando para todos os órgãos”.

Com os relatórios de aten-dimento e a sistematização das perguntas, a Segep trabalhará pro-ativamente, com políticas que melhorem a gestão de pessoas. Os erros no lançamento das folhas pelas unidades pagadoras podem causar grandes prejuízos. A Segep, com a assessoria da Fundação Getúlio Vargas, fez uma varredura na folha de pagamento em 80% das rubricas de 100% dos servidores e constatou que com a resolução de inconsistências e erros ao longo dos anos chegou-se a uma economia da ordem de R$ 700 milhões. Foram constatados erros acumulados his-toricamente e o que foi possível corrigido. A folha de pagamento do quadro de pessoal civil do governo federal é de R$ 8 bilhões e 500 milhões por mês.

níveis de aTendiMenTo A Central vai trabalhar em três

níveis de atendimento. O primeiro nível será o terceirizado para ser-vidores do Serpro, feito por scripts elaborados para cada dúvida que se levanta. O segundo nível é com pessoal mais qualificado que vai res-ponder perguntas que não foram respondidas no primeiro nível. E o terceiro nível, que é o de recorrência para a resolução dos questionamen-tos, buscando a resposta no menor tempo possível e realizando, sempre que necessário contato com a uni-dade de recursos humanos. O prazo de atendimento nesse nível é de até dois dias úteis.

No primeiro nível são destinados 30 servidores capacitados para aten-der até 6 mil ligações por mês. No segundo e terceiro níveis serão seis servidores da secretaria em cada um. A expectativa da Segep é de que no primeiro nível sejam atendidas 95% das demandas.

A nova central de atendimento atende, entre outros assuntos:

provisão da força de trabalho, com-pensação de recursos humanos e adicionais, anistiados políticos, folha de pagamento e cadastro, movi-mentação de pessoal, avaliações de desempenho, afastamentos, regime disciplinar, cargo em comissão e fun-ção gratificada, vacância de cargo, seguridade social, estagiários, entre outros.

Compete à secretaria formular políticas e diretrizes para a gestão pública e de pessoal, com atuação nas áreas de recursos humanos, car-reiras, estruturas remuneratórias, cargos em comissão e funções de confiança. Atua também no âmbito das estruturas organizacionais, com ações e projetos estratégicos de ino-vação e transformação da gestão pública.

O atendimento da central é feito via telefone (08009782328), de 2ª a 6ª, das 8h às 18h; e via Web, por meio de formulário personalizado e dispo-nibilizado no sítio www.siapenet.gov.br . O atendimento também é dispo-nibilizado via Fax (21) 2159-2260.

no primeiro nível são destinados 30 servidores capacitados para atender até 6 mil ligações por mês

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 55

Page 56: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

sistemas e inovação

ENtREVIStA/ ANA LUCIA AMORIM

secretária diz que serviço vai gerar impacto positivo na qualidade do gastoLançamentos na folha de pagamento deverão ser mais precisos

a secretária de Gestão Pública, Ana Lucia Amorim, espera que com o novo serviço da

Central de Atendimento Alô Segep, os lançamentos nas folhas de paga-mento sejam cada vez mais precisos, e que haja redução de erros que possam gerar prejuízos ao erário. “Muitas vezes, na dúvida, e pressio-nados pelos prazos, alguns setores de unidades pagadoras acabam fazendo lançamentos sem a certeza de esta-rem corretos ou não”, observa. Ela acredita que isso vai gerar um impacto positivo na qualidade do gasto público.

“Os erros também causam trans-torno na vida do servidor, que, às vezes, recebe um valor errado e tem que devolver, ou então não recebe um valor que deveria receber”, observa a secretária. Além disso, o servidor tinha trabalho dobrado para resolver a questão. Ana Lucia lembra que foi feito um trabalho de auditoria durante um ano. “Mediante esforço conjunto da Segep e da Con-troladoria Geral da União com a

ana lucia amorim: os erros também causam transtorno na vida do servidor, que, às vezes, recebe um valor errado e tem que devolver

Luciano Ribeiro

56 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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assessoria da Fundação Getúlio Var-gas foi feita uma varredura na folha de pagamento em 80% das rubricas de 100% dos servidores, sendo que a correção de inconsistências e erros cometidos ao longo dos anos possibi-litou uma economia da ordem de R$ 700 milhões”, observa. Segundo ela, foram encontrados erros acumula-dos historicamente.

Em entrevista à Revista Ges-tão Pública & Desenvolvimento, a secretária Ana Lucia Amorim aponta os benefícios do serviço e diz estar muito otimista com a implementa-ção da nova central.

como era o atendimento destas demandas antes da cen-tral?

ANA LUCIA AMORIM – Era descentralizado. Dependendo do assunto, a unidade pagadora ligava para determinado servidor ou depar-tamento da secretaria. Tudo era pulverizado, e o servidor precisava descobrir quem iria resolver aquela dúvida. A interpretação era muito personalística e nem sempre era a correta. Era um atendimento total-mente desorganizado. Isso acarretava um grande volume de trabalho para todas as equipes da secretaria, des-vio de foco, pois muitas vezes quem deveria estar cuidando da política tinha que atender pessoal das uni-dades pagadoras. Além disso, as orientações não eram padronizadas, nem sempre eram boas e dadas em tempo hábil. A secretaria também não tinha controle nem relatório sobre as dúvidas, o que não permitia um levantamento sistematizado.

como será a atuação do serpro nesse processo?

ANA LUCIA AMORIM – O Serpro

fará atendimento especializado aos servidores de recursos humanos do pessoal civil para esclarecimento de dúvidas sobre o Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape) e o setor das nor-mas da área. Então, toda a equipe foi treinada para isso. São scripts de 16 temas da central de atendimento, do ingresso do servidor no serviço público, até questões de assistência ao servidor. A maioria de implicação financeira: planos de saúde, bene-fícios, nomeação, posse, exercício, registro profissional etc.

O que é a ferramenta service process engineering and kno-wledge exchange, responsável pelo registro e acompanhamento do processo de atendimento?

ANA LUCIA AMORIM – Esta ferramenta faz o gerenciamento do fluxo de demandas. Quando o ser-vidor liga, envia email ou fax, a demanda dele é registrada neste sis-tema. É um processo automatizado, que registra todo o passo a passo da demanda, quando ela entrou, e foi

respondida. As respostas são gra-vadas, o tempo de atendimento é medido, além de ficar registrado que tipo de pergunta foi feita, ela é categorizada. Tudo isso gera relató-rios para o gerenciamento da Segep, o que vai contribuir para a elabora-ção de políticas. Relatórios mensais vão beneficiar a pesquisa. Será pos-sível identificar os meses de pico e os temas mais demandados.

como será feito o controle de qualidade?

ANA LUCIA AMORIM – Existe uma coordenação geral de atendi-mento estruturada na Segep que vai fazer o gerenciamento da quali-dade do atendimento aos usuários do Sipec. Primeiramente pela pesquisa de satisfação, depois do atendi-mento, o servidor pode dizer se ficou ou não satisfeito, e dar uma nota. E a segunda forma será por meio dos relatórios gerenciais que vamos rece-ber com as respostas da central de atendimento registradas e o nível de qualidade daquela resposta.

Quais as expectativas da segep com o novo serviço?

ANA LUCIA AMORIM – Primeiro, é melhorar o atendimento para as unidades pagadoras, pessoas que tra-balham na área de recursos humanos. Com isso, a gente melhora os gastos da folha de pagamentos, as condi-ções de trabalho destes servidores, e a qualidade de vida dos servidores que têm pagamento pelo Siape, com a redução dos erros que impactam a folha de pagamentos. Segundo, com esse ferramental apropriado, poderemos atuar de forma proa-tiva, melhorando a elaboração de políticas para gestão de pessoas a administração pública. n

“ COM ESSE FERRAMENtAL APROPRIADO, PODEREMOS AtUAR DE FORMA PROAtIVA, MELhORANDO A ELABORAçãO DE POLítICAS PARA GEStãO DE PESSOAS DA ADMINIStRAçãO PúBLICA”

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n DISTRIBUIÇÃO DE ROYALTIES: ExECUTIVO VETA, LEgISLATIVO DARÁ A PALAVRA FINAL A briga entre estados produtores e não-pro-

dutores de petróleo ainda está longe do fim. Após o veto presidencial, a favor dos produto-res, os deputados e senadores dos demais estados da federação mobilizaram o Congresso Nacio-nal e conseguiram aprovar o requerimento para votação em regime de urgência dos vetos da pre-sidenta Dilma. A votação foi marcada para o dia 18 de dezembro, em sessão conjunta de depu-tados e senadores. Na Câmara, foram 348 votos favoráveis à urgência, 84 contrários e uma abs-tenção. No Senado, foram 60 votos favoráveis e sete contrários.

por antÔnio tEiXEira LEitE

adMinisTração PúBlica eM desTaqUe

n STF ARQUIVA RECLAMAÇÃO PARA IMPEDIR DESCONTO DOS SERVIDORES EM gREVE A Confederação

dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Confede-ração Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT) e o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal ajuizaram a Reclamação (RCL) 14397 junto ao Supremo Tribunal Federal para impedir o corte dos dias para-dos pelos servidores em greve. Como fundamento, alegaram que a União desrespeitou as decisões da Suprema Corte nos Mandados de Injunção (MIs) 670, 708 e 712. No entanto, o relator ministro Marco Aurélio decidiu pelo arquivamento da ação, em face dos autores da Reclamação não terem sido os impetrantes dos apontados MIs. Destacou o ministro que “o Supremo não agasalha a tese da trans-cendência do tema”, bem como que “para cogitar-se de desrespeito a acórdão por si prolatado, indispensável é que haja, considerado o processo subjetivo, o envolvimento da reclamante como parte”.

n POLÍCIA FEDERAL TERÁ DE INCLUIR VAgAS PARA DEFICIENTES EM SEUS CONCURSOSA Procuradoria-Geral da República

ajuizou Recurso Extraordinário contra a decisão do TRF-1 que negava reserva de vagas em concursos da Polícia Fede-ral. A relatora ministra Cármen Lúcia proveu o recurso, decidindo pela obser-vância pela autoridade administrativa da reserva de vagas, ao promover concurso público para os cargos de delegado, perito e agente. Destacou a relatora “cabe à administração pública examinar, com critérios objetivos, se a deficiência apresentada é ou não compatível com o exercício do cargo, assegurando a ampla defesa e o contraditório ao candidato, sem restringir a participação no certame de todos e de quaisquer candidatos por-tadores de deficiência, como pretende a União”.

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n PIB BRASILEIRO TERÁ O SEgUNDO PIOR DESEMPENHO NA AMéRICA DO SUL O país encerrará o ano de 2012 com um crescimento do PIB

em 1,2%. Isto apesar do governo ter adotado medidas robus-tas, como a redução do IPI para vários produtos, incluindo automóveis, ter baixado os juros, ter incentivado os créditos. O resultado é de fato preocupante, levando-se em conta que, na América do Sul, apenas o Paraguai terá um crescimento menor que o nosso, que segundo a Cepal, encolherá em 2012, por causa da seca. Para 2013, as previsões são sim de melhora, mas não substancial. Segundo a FIESP, o crescimento ficará em 3%.

n CâMARA APROVA PL QUE AUMENTA SUBSÍDIO DOS MINISTROS DO STF O plenário da Câmara dos

Deputados aprovou o Projeto de Lei 7749/10, do Supremo Tribunal Federal (STF), que aumenta o subsídio dos minis-tros do STF de R$ 26.723,13 para R$ 28.059,29 a partir de 1º de janeiro de 2013. O valor representará o novo teto para os servidores públicos. Como a Constituição permite aos estados limitarem, em suas constituições, os salários dos desembargadores estaduais a 90,25% do subsídio dos ministros do Supremo, o aumento provoca um efeito cascata. Ele incide também nas remunerações dos servidores mais antigos, que recebem até o teto e, portanto, poderão ter um desconto menor na remuneração final que é retida pela aplicação do teto. A proposta também já prevê os valores com os aumentos nos próximos anos: R$ 29.462,25 a par-tir de 1º de janeiro de 2014; e R$ 30.935,36 a partir de 1º de janeiro de 2015. O PL precisa ser votado ainda pelo Senado Federal.

n CICLO DE CORTES NA TAxA DE JUROS CHEgA AO FIM, PELO MENOS EM 2012Interrompendo o ciclo de

corte na taxa básica de juros (Selic), o Comitê de Política Monetária (Copom), em sua última reunião do ano, deci-diu manter a Selic em 7,25%. A decisão foi tomada por una-nimidade, sem viés de alta ou baixa. As medições do IPCA (Índice de Preços ao Consu-midor Amplo) apontam que a inflação acumulada de janeiro a outubro está em 4,38%. O teto da meta inflacionária estabele-cido pelo governo é de 6,5%.

n BOLÍVIA DESEJA INgRESSAR NO MERCOSULDurante a reunião de cúpula do Mercosul, realizada em

Brasília, o presidente da Bolívia, Evo Morales, assinou o protocolo de adesão para que o país se torne o sexto membro--pleno do bloco. A assinatura dá início a negociações formais para o ingresso, que, no entanto, depende da aprovação pelos Congressos de cada país-membro para se concretizar. Atual-mente, a Bolívia é um Estado associado ao Mercosul, ao lado de Chile, Peru, Colômbia e Equador. Os membros plenos do grupo são Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela.

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JuDiciário

MANDADO DE SEGURANçA

divisão dos royalties do petróleo esbarra no sTFMinistro Luiz Fux defere mandato de segurança de parlamentares

menezes y morais

a o deferir o pedido de liminar no Mandado de Segurança (MS) 31816, impetrado

pelo deputado federal Alessan-dro Molon (PT-RJ), o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Fede-ral (STF), alertou a mesa diretora do Congresso Nacional para cum-prir duas condições institucionais. Primeira, o Congresso Nacional – quando a Câmara dos Deputados e o Senado Federal trabalham juntos

– deve respeitar o prazo de 30 dias para a deliberação acerca do veto presidencial.

Esse prazo expiaria em 30 de dezembro, mas o Congresso que-ria examinar os vetos dia 18/12. A segunda condição constitucional, conforme o ministro Fux em seu des-pacho, divulgado oficialmente em 17/12, é que o “Congresso Nacio-nal, antes de debater o veto ao PL nº 2.565/2011, deveria avaliar os mais de três mil vetos anteriores penden-tes de avaliação, alguns há mais de 10

anos”. Somente após o cumprimento dessas regras legais, conforme o des-pacho do ministro Fux, o Congresso poderá examinar o veto parcial da presidenta Dilma Rousseff ao Projeto de Lei 2.565/2011.

O PL trata das novas regras de partilha de royalties e participa-ções especiais devidos em virtude da exploração de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos dos royalties do pré-sal entre estados e municípios (Lei 12.734/2012). São os chamados royalties do petróleo.

luiz fux: o congresso nacional deveria avaliar antes os mais de três mil vetos anteriores pendentes

José Cruz/ABr

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Judiciário

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No dia 30 de novembro a presi-denta Dilma Rousseff vetou o artigo do projeto de lei que trata da divisão dos recursos de campos licitados, por entender que o texto como estava sig-nificaria quebra de contratos, impondo perdas bilionárias aos estados produ-tores de petróleo. Pelo texto vetado, os estados produtores de petróleo teriam que dividir essas riquezas com esta-dos não produtores. Representantes dos estados não produtores se articu-laram para derrubar o veto de Dilma. E os de estados produtores impetra-ram mandado de segurança no STF contra a divisão dos royalties e parti-cipações especiais devidos em virtude da exploração de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos.

consTiTUição Ao deferir a liminar, o minis-

tro Luiz Fux classificou a atitude do Congresso Nacional de “anarquia normativa”. E lembrou que a Cons-tituição impõe prazo de 30 dias para a deliberação acerca do veto presi-dencial e prevê o trancamento de pauta em caso de descumprimento. Conforme o representante do STF, antes de examinar os vetos ao PL nº 2.565/2011, o Congresso teria que apreciar os vetos em ordem cronoló-gica de tramitação no Legislativo.

Fux afirmou que o primeiro veto recebido e não apreciado dentro do prazo legal “sobrestou a deliberação de todos aqueles que o sucederam”. Por isso, não podem ser decididos antes que os anteriores o sejam. “Aos olhos da Constituição, todo e qual-quer veto presidencial é marcado pelo traço característico da urgência, que resta evidente pela possibilidade de trancamento da pauta legislativa em razão da sua não avaliação opor-tuna. Daí por que não há vetos mais

ou menos urgentes. Todos o são em igual grau”, disse Fux.

Na decisão, o ministro argumen-tou ainda que a alegação de que se trata de matéria interna corporis (de interesse apenas do próprio órgão)

não deve impedir a análise judicial da questão debatida. “É paradoxal que, em um Estado Democrático de Direito, ainda existam esferas de poder imunes ao controle jurisdicio-nal”, assinalou. Luiz Fux ressaltou que os artigos 104 e 105 do Regimento Interno do Congresso Nacional foram violados. Não foi constituída comissão mista (deputados e sena-dores) para elaborar relatório sobre o veto presidencial.

No entendimento do relator do MS 31816, a mesa diretora do Con-gresso Nacional, ao proceder à leitura do veto sem que a matéria se encon-trasse na Ordem do Dia, atuou sem amparo constitucional ou regimental.

Desta forma, segundo Fux, a mesa do Congresso Nacional con-tribuiu para a controvérsia entre os membros do parlamento, além de frustrar “as condições necessárias à cooperação democrática no Estado brasileiro”. Segundo ele, “o fato de a matéria cuidar de interesse das

“ O FAtO DE A MAtéRIA CUIDAR DE INtERESSE DAS MAIORIAS PARLAMENtARES NãO LEGItIMA qUALqUER tIPO DE RUPtURA OU tRANSGRESSãO COM AS NORMAS PREVIAMENtE EStABELECIDAS PELO PRóPRIO LEGISLAtIVO”Ministro Luiz Fux

procuradores do estado do rio Janeiro participam de passeata contra a redistribuição dos royalties

Zulmair Rocha/UO

L

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AçãO PENAL 470

maiorias parlamentares não legitima qualquer tipo de ruptura ou trans-gressão com as normas previamente estabelecidas pelo próprio Legisla-tivo.” A liminar deferida impediu o Congresso de reunir-se em 18/12 para deliberar acerca do veto parcial da presidenta Dilma. Em 13/12/212, três parlamentares cariocas ajuiza-ram mandados de segurança no STF sobre royalties. Fux deliberou sobre um e o veredito vale para todos eles.

coMeMorações Após a divulgação da decisão

do ministro Fux, o deputado Ales-sandro Molon (PT-RJ) e outros colegas comemoraram: “Essa deci-são é importante porque dá um basta na prática, que é inaceitável, de se

escolher qual o veto será apreciado. Foi uma vitória política importante do Rio, porque mostra que mesmo o poder da maioria tem limites”, disse o parlamentar carioca.

“É a proteção do direito dos esta-dos produtores. Mas a decisão foi sobre o processo legislativo e não sobre o mérito dos royalties”, acrescentou. O assunto tomou conta do plená-rio do Senado na tarde do dia 17/12. Senadores de Rio e Espírito Santo comemoraram a liminar, que foi criti-cada pelos representantes dos estados não produtores de petróleo. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que a decisão garante o direito da mino-ria: “A minoria precisa ser respeitada. Houve atropelo do regimento e da Constituição”, afirmou.

Os dois mandados de segurança (MS 31816 e 31814) foram impetra-dos pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), MS 31816. O senador Lin-dbergh Faria (PT-RJ) e o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) são os autores do MS 31814. Os MS são contra a distribuição dos royalties a estados que não produzem petró-leo. O segundo MS utiliza-se de argumentos semelhantes à ação judi-cial do deputado Molon. O senador Lindbergh Faria e pelo deputado Leonardo Picciani, no MS 31814. Eles argumentam que “pinçar um desses vetos – um dos últimos, diga-se de passagem – e submetê-lo a votação colegiada é medida que fere não só a ordem de precedência como, tam-bém, o princípio da razoabilidade”. n

CongreSSo naCional pede ao Stf que anule deCiSão do miniStro fuX

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, ao determinar através de liminar a suspensão da análise dos vetos da presidenta Dilma Rousseff ao projeto de lei que redistribui os royalties aos estados que não pro-duzem petróleo – que ocorreria em sessão do Congresso em 18/12 – ensaiou uma crise política entre os poderes Legis-lativo e Judiciário. O presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), suspendeu a sessão marcada para o dia 18. E revelou que o Congresso recorreu da decisão do ministro Fux para tentar colocar os vetos em votação antes do recesso de fim de ano, que co-meçou dia 20/12. Sarney anunciou duas medidas, um pedi-do de reconsideração e um agravo de instrumento para que o plenário do Supremo possa apreciar a matéria. As ações judiciais foram impetradas na tarde do dia 18/12.

“Vamos recorrer, pedindo ao próprio ministro Fux a re-consideração. Trata-se de questão interna corporis. A sessão está cancelada”, afirmou Sarney, aplaudido pelo plenário do Senado ao anunciar o recurso.

O senador Wellington Dias (PT-PI) defende a realização

de um esforço concentrado para apreciação de todos os ve-tos. Ele afirmou que a decisão do ministro do STF gerou dois efeitos no Legislativo: suspendeu a urgência da análise dos vetos da presidenta Dilma Rousseff à partilha dos royalties do petróleo do pré-sal e trancou a pauta do Congresso. Por isso, acrescentou, com base no Artigo 66 da Constituição Federal, o Congresso impetrou um agravo regimental junto ao STF, que até o fechamento desta edição ainda não tinha se pronunciado sobre a medida.

Na outra ponta da linha, os governadores dos estados não produtores de petróleo continuavam articulados para derrubar no Congresso veto de Dilma até o fechamento des-ta edição. Representantes de 18 estados não produtores de petróleo se reuniram inclusive em Brasília. Eles pediram ao senador Sarney para incluir veto na pauta de votações do Congresso. Sarney atendeu ao pedido e por isto foi chama-do de “traidor” por setores do PT contrários á derrubada do veto. Além do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), participaram do encontro, entre outros, os governadores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Alagoas.

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Judiciário

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antonio teixeira leite Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. é advogado especializado em Direito Público, em Direito Previdenciário e MBA em Direito tributário pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Instituto Brasiliense de Direito Público

DirEito constitucionaL E aDMinistrativo

Motesquieu, locke, rosseau e a tripartição dos poderesH oje, ao analisarmos a estrutura político-jurídico da

pluralidade de Estados existentes, logo resta evi-denciado que há uma característica em comum:

a organização de poderes mostra-se similar, existindo um Poder Executivo, um Legislativo e um Judiciário. No Brasil, ao longo de nossa história constitucional, adotar--se-ia, como regra, o princípio da separação dos poderes de forma tripartite, com apenas uma exceção, a Constituição de 1824, que previa a existência de um quarto poder, o Modera-dor, exercido pelo imperador. De fato, nossa Carta Imperial fixava, em seu artigo 10º, que “os pode-res políticos reconhecidos pela Constituição do Império do Bra-zil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Exe-cutivo, e o Poder Judicial”. A Constituição de 1891 adotara a tripartição, ao prever, em seu art 15, que “são órgãos da soberania nacional os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, harmô-nicos e independentes entre si.” Similar previsão veio em 1934, na redação do artigo 3º, ao dispor que “são órgãos da soberania nacional, dentro dos limites constitucionais, os poderes Legislativo, Exe-cutivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si”. A carta de 1937, mesmo outorgada para amparar o período de arbítrio do Estado Novo, fixava a divisão das

competências estatais entre os poderes Executivo, Legis-lativo e Judiciário, o que não ocorreu na prática. Este quadro se repete na Constituição de 1967, elaborada para possibilitar um período de exceção e de violação de direi-tos fundamentais, mas que trazia, em seu texto, a regra da tripartição tradicional.

Chegamos a 1988, com a promulgação de uma nova Constituição dispondo já em seu artigo 2º que “são Pode-res da União, independentes e harmônicos entre si, o Legisla-tivo, o Executivo e o Judiciário. “Como destaca José Afonso da Silva, “o princípio da separação ou divisão dos poderes foi sem-pre um princípio fundamental do ordenamento constitucional bra-sileiro. A Constituição de 1988 manteve o princípio com um enunciado um pouco diferente. O texto foi aprovado no segundo turno sem a cláusula independen-tes e harmônicos entre si, porque estava sendo adotado o parlamen-tarismo, que é um regime mais

de colaboração entre poderes que de separação. Aquela cláusula é adequada e conveniente no presidencialismo. Como, no final, este é que prevaleceu na Comissão de redação o professor e então deputado Michel Temer suge-riu a reinserção da regra da harmonia e independência que figura no art. 2º, sem porém indicar as ressalvas ao

“ NO BRASIL, , ADOtAR-SE-IA, COMO REGRA, O PRINCíPIO DA SEPARAçãO DOS PODERES DE FORMA tRIPARtItE, COM APENAS UMA EXCEçãO, A CONStItUIçãO DE 1824, qUE PREVIA A EXIStêNCIA DE UM qUARtO PODER, O MODERADOR, EXERCIDO PELO IMPERADOR”

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princípio que sempre constavam nas constituições ante-riores, do teor seguinte : salvo as exceções previstas nesta Constituição, é vedado a qualquer dos poderes delegar atribuições; quem for investido na função de um deles não poderá exercer a de outro.”

Inadequação da expressão: apesar do emprego usual da expressão “separação dos poderes”, há de se fazer uma ressalva importante. Isto porque o Estado é dotado de um poder único e soberano, atribuído ao povo, qualquer que seja a sua forma de manifestação. O que existe sim, de fato, são três funções estatais, cuja execução são atribu-ídas a órgãos diversos chamados de poderes: ao poder Legislativo, a função legislativa (elaborar leis); ao poder Executivo a função administrativa (prestar serviços públi-cos, poder de polícia, fomento e intervenção no domínio econômico) e ao poder Judiciário a função jurisdicio-nal (resolver conflitos). Logo, o que tradicionalmente se denomina separação dos poderes consiste na realidade a distribuição de certas funções a diferentes órgãos do estado, ou seja a divisão de funções estatais. Não é, por-tanto, preciso juridicamente falar-se em separação ou tripartição de poder, já que este é uno e indivisível. No entanto, a expressão “separação de poderes” consolidou--se ao longo do tempo e chegou, até os dias atuais, com largo emprego, sem observância desse rigor terminoló-gico propugnado pela doutrina.

Aristóteles: historicamente, a origem da “tripartição de poderes” situa-se na antiguidade grega, com a publi-cação da obra “Política”, por um dos mais influentes

filósofos, Aristóteles. Na verdade, a concepção do pensa-dor grego não estruturou um sistema de tripartição, mas lançou as bases da teoria da divisão de poderes, ao postu-lar que os atos de governo dividir-se-iam em três funções distintas entre si: a função de elaborar normas gerais e abstratas (função legislativa), a função de aplicar essas normas gerais aos casos concretos (função executiva) e a função de dirimir os conflitos eventualmente havidos na aplicação de tais normas (função de julgamento). Por um lado, sua contribuição foi relevante em identificar que o Estado pratica sim uma pluralidade de atos, mas que apresentam funções diferentes junto à sociedade. Por outro, sua análise ficou circunscrita apenas a prever uma divisão, não concebendo que tais funções teriam de ser necessariamente exercidas por pessoas diferentes, acei-tando, desse modo, que uma mesma pessoa concentrasse o exercício das três funções – legislativa, executiva e juris-dicional – ou seja, com poderes para editar leis, aplicá-las e julgar a todos.

Império Romano e Idade Média: os romanos, em especial, na fase de Império, eram muito concentrado-res de poder nas mãos dos governantes, como reflexo direto da frequência de guerras e da consequente necessi-dade de ordens céleres e emanadas de um mesmo centro. Durante a Idade Média, tivemos um ambiente oposto, com a Europa fragmentada em uma pluralidade de uni-dades políticas pequenas, estando o poder dividido entre soberanos e nobres. Não há aqui, também, um quadro de divisão de poderes dentro do Estado.

O filósofo aristóteles, na grécia, em sua obra “política” fixou que o estado exerce diferentes funções

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MOtESqUIEU, LOCKE, ROSSEAU E A tRIPARtIçãO DOS PODERES

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Idade Moderna: com a Idade Moderna, temos a for-mação dos Estados e das monarquias absolutistas, em que todo o poder passava a estar concentrado nas mãos de um soberano; a sua vontade era a lei, a que obedeciam todos os cidadãos, justificadamente chamados de ser-vos ou vassalos (aqueles que se submetem à vontade de outro). Com base nesta ideia é que se formulou a teoria da irresponsabilidade do estado, que, em algumas consti-tuições, continuou a ter aplicação, mesmo após o avanço dos direitos fundamentais do cidadão. O absolutismo europeu apresentava, como regra, a ampla concentração não em torno de uma instituição ou órgão específico, mas sim de uma única pessoa (o rei). A célebre frase de Luís XIV reflete precisamente este quadro: “L Etat c’est moi” (o Estado sou eu). Para justificar o poder absoluto, foram desenvolvidas teorias por pensadores como Maquia-vel, na sua obra o Príncipe, e Thomas Hobbes, na obra Leviatã.

John Locke e Jean Jacques Rousseau: a teoria acerca da separação de poderes renasce, já bem depois, nos sécu-los XVII e XVIII, com John Locke, no seu “Ensaio Sobre o Governo Civil”, em que analisou as instituições políticas inglesas, e com Jean Jacques Rousseau, no seu “Contrato Social”, na qual defendia que todo o poder estava nas mãos do povo, através do corpo político dos cidadãos. Nestes pensadores, identificar-se-ia a concepção da necessidade de utilização da separação de poderes como um meio efi-caz de contenção ao arbítrio e absolutismo. Era a época em que se desenvolviam todas as áreas do conhecimento humano – consubstanciando no movimento conhecido como iluminismo – e que foram levantadas por filóso-fos e pensadores os graves problemas, como corrupção e desmandos, advindos do exercício do poder por uma única pessoa.

Montesquieu: no entanto, será no ano de 1748, que o francês Charles de Montesquieu promove a publica-ção de uma extensa obra com impactos até os dias atuais, intitulada “Do Espírito das Leis”. Analisando de maneira crítica o sistema político absolutista até então reinante na França, este pensador identificou, primeiro, que ao ente público caberia o exercício de três funções – a admi-nistrativa, a legislativa e a judiciária, que são descritas detalhadamente em sua obra. Segundo, fixou que o exer-cício destas teriam de ser confiadas a órgãos distintos, pois a concentração geraria todos os tipos de problemas, desde a corrupção até o arbítrio. O exercício em separado das funções estatais por órgãos diferentes era concebido

como a estrutura capaz de garantir a limitação de pode-res, pois haveria uma linha limítrofe que não poderia ser ultrapassada, sob pena de invadir a esfera de competência de outro órgão. Era a chamada “limitação do poder pelo poder.” Desse modo, pregava ele, há de existir um órgão encarregado do exercício de cada uma dessas funções e, ademais, não deverá existir nenhuma subordinação entre eles, o que permitirá um controle recíproco e automático de cada qual pelos demais. Sua ideia é revolucionária, pois a divisão do exercício das funções estatais entre órgãos independentes ia de encontro ao absolutismo rei-nante, a partir de então, não haveria mais um único órgão com todos os poderes, mas sim órgãos diferentes. Por fim, Montesquieu tentou estabelecer uma relação das leis para com a sociedade, ao prever que a legislação deveria ser frutos da história e realidade social, não do arbítrio de um soberano.

Inviabilidade prática: o modelo montesquiano em curto espaço, saiu do campo estritamente teórico, e pas-sou para a prática, ao ser incorporado às constituições dos Estados Unidos (1787) e da França (1791). No entanto, logo restou evidenciado, nestes dois países, que uma separação rígida de poderes apresentava problemas que os inviabilizavam. Uma questão emergente residia no fato de que este modelo terminava por ser causador também de arbítrios, ao conferir uma completa independência

Jean Jacques rousseau, na obra “O contrato social”, defendia a separação de poderes

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entre órgãos diferentes. Se, por exemplo, o Judiciário não pudesse julgar a atividade do Executivo, este teria liber-dade para praticar os atos que pretendesse e do modo que bem desejasse, sem ser responsabilizado judicialmente. Outra questão era a de que se não houvesse qualquer controle, então estar-se-ia a atribuir amplos poderes. Era necessário, portanto, que a concepção de divisão dos poderes fosse flexibilizada, impedindo-se que os órgãos respectivos se tornassem tão independentes que, arbitra-riamente, se afastassem da vontade política central, da unidade política.

Em face desse quadro, o modelo montesquiano foi aperfeiçoado, evoluindo para um novo que fixava uma atu-ação coordenada dos poderes. Com isso, eles passaram a desempenhar não só suas funções próprias, mas também, de modo acessório, funções que, em princípio, seriam características de outros poderes. Restou nítido que a divi-são rígida cedeu seu lugar para o modelo de divisão flexível das funções estatais, na qual cada poder termina por exer-cer, em certa medida, as três funções do Estado: uma em caráter predominante (por isso denominada típica) e outras de natureza acessória, denominadas atípicas (por-que, em princípio, são próprias de outros poderes).

Modelo de Checks and Balances: no entanto, será do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, que a sepa-ração de poderes sofrerá mais aperfeiçoamentos, através da montagem de um sistema de freios e contrapesos

(checks and balances). Conceber-se-ia que, em determi-nadas situações, um poder deveria interferir em outro, para limitá-lo e evitar que houvesse excessos. Esse meca-nismo visava a garantir o equilíbrio e a harmonia entre os poderes, por meio do estabelecimento de controles recíprocos, isto é, mediante, a previsão de interferências legítimas de um poder sobre o outro, nos limites admi-tidos na Constituição. Não se trata de subordinação de um poder a outro, mas, sim, de mecanismos limitadores específicos impostos pela própria carta constitucional, de forma a propiciar o equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um poder em detrimento de outro.

Tomemos, como exemplo, o Poder Legislativo a quem incumbe a elaboração das leis, não de maneira livre, mas sim segundo as disposições constitucionais. Como mecanismo limitador, os americanos fixaram que ape-sar do Congresso decidir de forma independente sobre a criação de uma lei, o chefe do Poder Executivo ter um poder de vetar, ou seja, de rejeitar que o projeto apro-vado pela maioria dos congressistas se transforme em uma lei. Outro mecanismo limitador fixa que se dois terços dos congressistas desejarem a lei, eles podem der-rubar o veto presidencial. Também limitando o poder do Legislativo, o outro poder, judiciário, tem a atribuição de declarar uma lei inconstitucional, afastando sua aplicação em determinado caso, ou mesmo retirando-a do ordena-mento jurídico.

Constituição Federal de 1988 e o Sistema de Freios e Contrapesos: o princípio da separação de poderes, com o sistema de freios e contrapesos, foi introduzido na Constituição de 1891, sob influência da carta americana, chegando até os dias atuais. Desse modo, em nosso texto atual, ao Poder legislativo, além de legislar, nos termos do inciso X do seu art. 49, foi atribuída a competência para “fiscalizar e controlar, diretamente ou por qualquer de suas casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta.” Também todo e qualquer ato do Poder Executivo pode ser objeto de questiona-mento e se ilegal, ser anulado pelo Poder Judiciário, em razão do disposto no inciso XXXV do art 5o (“a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ame-aça a direito”). O Executivo tem a prerrogativa de intervir no processo legislativo, vetando os projetos de lei. E o Judiciário pode derrubar uma lei aprovada pelo Legis-lativo e sancionada pelo Presidente, se entender ser esta inconstitucional.

O princípio da separação de poderes, concebido por montequieu há mais de 250 anos, é um dos mais importantes nas sociedades

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MOtESqUIEU, LOCKE, ROSSEAU E A tRIPARtIçãO DOS PODERES

DirEito constitucionaL E aDMinistrativo

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Funções típicas e atípicas: outra característica de nossa separação de poderes reside no fato de que cada órgão não exerce exclusivamente as funções estatais que lhes são típicas, desempenhando também funções deno-minadas atípicas, isto é, assemelhadas às funções típicas de outros poderes. Assim, tanto o Judiciário quanto o Legislativo desempenham, além de suas funções pró-prias ou típicas (judiciária e legislativa, respectivamente), funções atípicas administrativas, quando por exemplo, exercem a gestão de seus bens, pessoal e serviços. Por outro lado, o Executivo e o Judiciário desempenham tam-bém função atípica legislativa (este quando da elaboração do Regimento dos Tribunais – CF, artigo 96, I, “a”; aquele quando expede, por exemplo, medidas provisórias e leis delegadas – CF, artigos 62 e 68). Finalmente, o Executivo e o Legislativo exercem, além de suas funções próprias, a função atípica de julgamento (o Executivo quando profere decisões no processo administrativo; o Legisla-tivo quando julga autoridades, incluindo o presidente da República e os ministros do STF, nos crimes de respon-sabilidade, na forma do artigo 52, I, II e parágrafo único da Constituição (incluindo o presidente da República e os ministros do STF) pelos mesmos crimes. Portanto, não há exclusividade quando do exercício das funções pelos poderes. Há, sim, uma preponderância. Cada órgão de poder estatal desempenha uma função típica, mas desempenha também funções que deveriam pertencer a poderes diversos (funções atípicas)

Conclusão: o grande mérito do princípio da separação

de poderes foi o de estruturar um modo de governar demo-crático e impedir a concentração de prerrogativas em uma mesma pessoa ou órgão. De fato, o modelo concebido por Montesquieu, em 1748 introduziu uma nova estrutura de comando, refratária ao arbítrio, de encontro às concepções absolutistas e ao encontro da participação popular. Das pri-meiras Constituições dos séculos XVIII e XIX, espalhou-se pelas demais cartas, como um princípio fundamental. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, fruto da Revolução Francesa, já trazia em seu artigo 16, que “a socie-dade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Cons-tituição.” No entanto, a simples colocação da tripartição de poderes não é suficiente. O Brasil, há poucas décadas, mesmo teoricamente, contando com um Congresso em funcionamento, na prática, assistiu a um Executivo que submetia os demais poderes à sua vontade, através da força, e, mais grave, promovia violação de direitos fundamentais, de forma impune. Isto evidencia que toda a sociedade, todo cidadão deve assimilar e defender os ideais de Montesquieu e não aceitar jamais que o princípio basilar da separação de poderes seja violado, sob pena de perder seus direitos mais importantes. Hoje, passados mais de dois séculos e meio da obra “O Espírito das Leis”, resta evidenciado que o princí-pio da separação de poderes, por mais críticas que tenha recebido ao longo dos anos, foi um divisor de águas, foi o pilar sobre o qual se ergueram e se assentaram as sociedades democráticas, e, certamente, foi um dos marcos mais signi-ficativos do Direito Constitucional. n

a revolução francesa plantou os pilares das sociedades democráticas

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 67

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&COMUNICAÇÃO MARKETING COMUNICAÇÃO&MARKETINGFernando Vasconcelos

n VENCEDORES DO 6º PRêMIO COLUNISTAS PROMO BRASÍLIA

Grandes PrêmiosCliente de Promoção do Ano: Caixa Econômica FederalEmpresa de Marketing Promocional do Ano: Fermento PromoEmpresário de Marketing Promocio-nal do Ano: Bruno Barra FlapPepperProfissional de Marketing Pro-mocional do Ano: Sonia Mariquito – CAIXAEvento Promocional do Ano: Jogo Brasil Quest – Fermento Promo e EMBRATURAção Promocional do Ano: “Judô no Aeroporto” – Arcos e Infraero

Agências medalhas ouro, prata e bronze Agência Click Brasília, Brasília Sho-pping, Doisnovemeia, Flappepper, Fermento, Fields, Latin Promo e P7 Promo

Clientes medalhas de ouro, prata e bronze Almanaque de Criação, Banco do Bra-sil, Bromélia Filmes, CAIXA, Claro, Infraero, Park Shopping, Tv Record, SEBRAE, Taguatinga Shopping, Tim Centro-Oeste

n VENCEDORES DO 4º PêMIO COLUNISTAS DESINg BRASÍLIA

Nesta premiação não foi concedido nenhum Grande Prêmio.Agências homenageadas com meda-lhas de ouro, prata e bronze Borogodó Comunica, Arcos, Artplan, Borghier/Lowe, Flappper, Grey 141, Icomunicação, Latin Promo e Rossini.

Clientes medalhas de ouro, prata e bronze Banco de Brasília – BRB, Apex-Bra-sil, Brasília Shopping, Clara e Gabriel, EBCT, Ideal Cor Fisioterapia, Rou-dhouse Grill, TV Zimbo/Angola.

n PRêMIO COLUNISTAS BRASÍLIA – OSCAR NIEMEYER, O ARQUITETO DAS CURVAS, FOI HOMENAgEADONo dia 6 de dezembro, a Associação

dos Jornalistas de Marketing e Propaganda recebeu os vencedores do Prêmio Colu-nistas Brasília no Salão Grande Oriente do Brasil, ocasião em que comemoraram, em grande festa, o maior acontecimento da propaganda da capital federal. Pres-tigiaram o evento cerca de mil pessoas do mercado da propaganda brasiliense, incluindo clientes e fornecedores de ser-viço da comunicação.

Apresentado pelos repórteres globais Antônio de Castro e Márcia Witczac, subiram ao palco os profissionais, acompanhados de seus clientes, para receberem seus prêmios. O Prêmio Colunistas Brasília e o Governo do Distrito Federal fizeram uma homenagem ao arquiteto “criativo das curvas” Oscar Niemeyer durante o evento, exibindo um vídeo inédito, criado especialmente para homenagear o criador de Brasília.

n VENCEDORES NA CATEgORIA PROPAgANDAGrandes PrêmiosAgência do Ano: Borghierh/LoweAnunciante do Ano: GDF - Governo do Distrito FederalVeículo Mídia Impressa do Ano: AQUIDFVeículo Mídia Eletrônica do Ano: Rede Globo de Televisão/DFPublicitária do Ano: Pâmela de Castro, Agência Plá de ComunicaçãoProfissional de Propaganda do Ano: Wesley Brasil, Giacometti &AssociadosMelhor Filme: “Olimpíadas da Língua Portuguesa” – Link e MECMelhor Mídia Impressa: “Esporte”- Borghierh e CAIXAMelhor Mídia Exterior: “The world..” – Artplan e EmbraturCases de Mídias Integradas: “Prevenção das drogas” – Borghi/Lowe - MPFTMelhor Desempenho em Produções de Comerciais: Fabrika FilmesMelhor Desempenho em Produção de Fonogramas: Estúdio AudiotechDestaque do Ano: Ao desenvolvimento do Segmento da Mídia ExteriorO segmento de Mídia Exterior será representado pelas empresas: Elemídia Brasília, Tv Minuto Brasília, Bus TV, Fluxo Mídia, Look Painéis, Look Indoor, Visuplac, All Channel, Saldo Mídia e Elevamídia.

n MEDALHAS DE OURO, PRATA E BRONZE 2mobile e Marketing Digital, Agnelo Pacheco, Agência Click Brasília, Agência Plá, Arcos,

Artplan, Av Comunicação, Borghierh Lowe, DM9DDB, Fabrika Filmes, Fields, Fischer&Friends, FullDesign, Giacometti, Grey141, Lew Lara\TBWa, Link, Master Roma Waiteman, Moringa Digital, Pepper, Plano Digital, Propeg, Tempo e Vento Bravo.

n CLIENTES QUE RECEBERAM MEDALHAS 2sahre, Apex-Brasil, BRB, Banco do Brasil, Bancorbrás Turismo, BRB Corretora Segu-

ros, Caixa, Centro Educacional Leonardo da Vinci, Conselho Federal de Medicina Veterinaria, Correio Braziliense, Correios, Cult22, Detetizadora Brasil, EMBRATUR, Estudio Madsen Foto-grafia, Fabrika Filmes, GPS Brasilia, Giacometti, Grupo Caixa Seguros, Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério das Cidades, Ministério Público do Dis-trito Federal e Territórios, Ministério da Cultura, Ministério da Justiça, Ministério do Turismo, Natureba, OXFAM, Ojo Ótica, Record, SEBRAE, Secom PR, Secretaria de Publicidade Institu-cional-GDF e UniCEUB.

equipe da Borghierh/lowe: agência do ano vencedora na categoria propaganda

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ONG BRASIL

o futuro do terceiro setor no Brasil Especialistas debatem responsabilidade social, sustentabilidade e desenvolvimento

da redação

o futuro do terceiro setor no Brasil foi discutido no perí-odo de 6 a 8 de dezembro,

em São Paulo, durante a quarta edi-ção da ONG Brasil. Especialistas nas áreas de responsabilidade social, sustentabilidade e desenvolvimento

reuniram-se em torno das mais de 190 palestras e da feira de exposito-res. Mais de 500 organizações, de 73 cidades brasileiras e de dez países, entre ONGs, institutos, fundações e entidades ligadas aos setores público e privado estiveram presentes ao encontro, no Expo Center Norte, na Vila Guilherme.

tErcEiro setor

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 69

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tErcEiro setor

ONG BRASIL

A Ong Brasil é um evento sem fins lucrativos que visa integrar os diferentes setores da sociedade, criando um ambiente de  oportu-nidades, troca de informações e profissionalização, internacional-mente reconhecido como a maior e mais completa vitrine brasileira do terceiro setor, de responsabilidade social e de políticas públicas. É rea-lizada pela UBM Brazil, subsidiária brasileira da UBM Internacional, multinacional inglesa líder mundial em organização de feiras profis-sionais.  Das mais de 196 palestras destacaram-se temas como novo marco regulatório, investimento social privado, nova economia, defesa de direitos, consumo e pro-dução responsáveis, voluntariado e humanização da saúde.

A Secretaria Geral da Presidência da República ministrou, na ocasião, o curso Sistema de gestão de convênio e contratos de repasse do governo

federal, realizado em parceria com o Ministério do Planejamento, Orça-mento e Gestão e Controladoria Geral da União. A mesma secreta-ria apresentou o seminário Novo marco regulatório das organizações da sociedade civil. O Instituto Reci-cle falou sobre Arte como campo de conhecimento para o desenvolvimento sustentável e o Centro do Volunta-riado de São Paulo sobre Mobilização para o voluntariado.

Houve ainda a palestra Empre-eendedorismo 2.0, da Unioeste. O

Mackenzie ministrou a palestra Sus-tentabilidade das Organizações. A palestra Competência no Marketing, consciência e cidadania, ficou a cargo da ESPM Social.

eXPosiToresAs ONG’s que participaram da

exposição atuam nos seguintes segui-mentos: saúde, geração de trabalho e  renda, empreendedorismo social, combate às drogas, esportes, defesa de direitos, cultura e arte, assistência social e desenvolvimento comunitário, meio ambiente, animais e educação. A Legião da Boa Vontade (LBV), uma das participantes do evento, expôs o trabalho que realiza para as famílias de baixa renda nas cinco regiões bra-sileiras. O visitante pôde se informar melhor sobre o diferencial da institui-ção, que complementa o atendimento de qualidade com o ensino de bons valores e ideais para a convivência em sociedade.

O evento reuniu mais de 500 organizações em torno de mais de 190 palestras sobre temas relacionados à sustentabilidade

Divulgação/SGPr

A LEGIãO DA BOA VONtADE (LBV) EXPôS O tRABALhO qUE REALIZA PARA AS FAMíLIAS DE BAIXA RENDA NAS CINCO REGIõES BRASILEIRAS

70 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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“Quando a gente reúne entidades de todo Brasil com várias experiências, em vários seguimentos, é a oportuni-dade de disseminar essa informação e de aprender com os outros. A ONG Brasil está de parabéns, o governo de São Paulo apoia essa iniciativa, que cada vez está mais, presente na feira, porque a gente entende que é um intercâmbio importante de informa-ções. Um evento como esse ajuda na busca desses mecanismos de trans-parência e de legitimação dessas defesas”, destacou o secretário de Estado de desenvolvimento social de São Paulo, Rodrigo Garcia.

O Instituto Sorrir para Vida, criado em julho de 2007 por inicia-tiva da dentista Marisa Helena de Carvalho, motivada pelo seu histó-rico de enfrentamento de câncer, e da médica oncologista Vanessa de Carvalho Fabrício, participou da exposição, mostrando como é feito seu trabalho voluntário junto às populações mais carentes. O instituto disponibiliza tratamentos odontoló-gicos completos, especialmente para

a mucosite bucal, exclusivamente à pacientes de baixa renda (crian-ças, adolescentes, adultos e idosos) em tratamento quimioterápico e/ou radioterápico, por consequência de algum tipo de câncer. A instituição recebe fundos de empresas privadas,

de pessoas físicas, da venda de pro-dutos institucionais, de eventos, de bazares e está cadastrada no Centro de Voluntariado de São Paulo, inte-grando a rede de organizações sociais que acreditam na força transforma-dora do trabalho voluntário.

A Pastoral da Criança também participou do encontro destacando as ações promovidas em favor da criança e da gestante, especialmente o projeto de prevenção da  obesi-dade  infantil, cuja capacitação das lideranças será iniciada em janeiro próximo na Paraíba. Até o final de 2013 deverão ser atingidos 71 seto-res. O projeto piloto de prevenção da obesidade foi iniciado em 2010 nas cidades de Maringá e Cascavel (PR) e finalizado em outubro de 2012, com o apoio da Universidade Positivo. O objetivo do projeto foi avaliar uma nova proposta quanto ao método

usado para o diagnóstico nutricional das crianças acompanhadas. n

a legião da Boa vontade expôs alguns trabalhos desenvolvidos nas cinco regiões do país

Divulgação/LBV

folder da Ong Brasil

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 71

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michael KainEconomista e cientista político, graduado pela Universidade do País de Gales. é pós-graduado pelas universidades de Manchester e de Cambridge

intErnacionaL

2012: um ano difícil para a economia mundialF alamos sobre as dificuldades

financeiras e econômicas do Brasil e do mundo neste espaço,

no decorrer de 2012. Os numerosos problemas continuam. Examinare-mos o comportamento da economia e da política nos principais mercados mundiais, seus altos e baixos, sem que-rermos apontar soluções ou cobrirmos muito chão. A taxa de crescimento da economia global continuou a despen-car em 2012, incluindo a do Brasil cujas expectativas de crescimento não se cumpriram.

Os Estados Unidos, após um ano de incertezas políticas exacerbadas pela campanha eleitoral, reelegeu o presidente Barack Obama para um mandato de mais quatro anos. A eco-nomia americana começa a esboçar sinais positivos e espera-se um cres-cimento do produto de 2% este ano e de 2,2% em 2013, com redução na taxa de desemprego, o que é encoraja-dor. O lento crescimento da economia global se deve à continuação da crise econômica e financeira na Europa, que, por sua vez, contaminou a eco-nomia do grupo de países do fórum Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de outros países emergentes. Mesmo assim, o cres-cimento médio da economia global será de 2,9% em 2012 e 3,4% em 2013,

segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). O Brasil apresenta a menor taxa de crescimento entre os BRICS (1,5%), este ano.

rússia e cHinaO grupo de países Brics em sua

última reunião de cúpula na Índia aprovou a proposta de criação de um banco de desenvolvimento, que representará uma nova forma de cooperação econômica e financeira Sul-Sul. O novo banco deverá finan-ciar projetos de infraestrutura nos países do bloco comercial, financiará o comércio intragrupo e em países menos desenvolvidos, especialmente aqueles situados na África subsaa-riana. A intenção é que o novo banco não concorra por recursos com os bancos de desenvolvimento em ope-ração, nos países Brics.

Até o presente, a Rússia é o único país europeu componente do Brics, é o mais extenso país da Europa e do mundo e o mais populoso da Europa. Em 2012, o presidente Vladimir Putin foi reeleito sob ferrenhos protestos da oposição que reclamava da legitimi-dade e justiça da eleição presidencial. Parece evidente que o presidente Putin goza de prestígio popular, a despeito de sua tática autoritária. A prisão das

cantoras do grupo Pussy Riot mos-trou ao mundo a fraqueza do regime; mesmo dentro do governo, algu-mas vozes como o primeiro-ministro Dmitri Medhedev se posicionaram a favor da liberdade das cantoras.

A Rússia dispõe de vasto território, abundantes recursos naturais e ener-géticos, população talentosa e de alto nível educacional, além de base tec-nológica e científica bem estruturada e moderna. A taxa de desemprego na Rússia em setembro de 2012 foi de 5,2% e a estimativa de crescimento do PIB é de 3,7% e inflação anual de 5,1%. O potencial econômico e industrial do país é alto; o foco das medidas de

74 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

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política deveria ser a produção e expor-tação de produtos industrializados de alta tecnologia, além do desenvol-vimento dos serviços financeiros. A Rússia vem progredindo bastante em termos econômicos e sociais desde o fim da era Yeltsin. A despeito de proble-mas de ordem política, tanto a Europa quanto os Estados Unidos continuam a investir no diálogo e na expansão das relações econômicas, culturais e políti-cas com a Rússia.

O Congresso do Partido Comu-nista Chinês realizado em Beijing no início de novembro com o intuito de indicar nova liderança se reveste de importância global devido ao cres-cente poderio econômico e político da China. Para o Brasil e outros países da América Latina qualquer mudança de rumo na política econômica, comercial e financeira na China tem extrema rele-vância, por se tratar de um dos maiores investidores e parceiros comerciais. A liderança chinesa muda a cada decê-nio, com a presença de nova geração substituindo os líderes mais antigos. O ex-líder do Partido Comunista Hu Jintang em seu discurso de despedida criticou os níveis vigentes de corrup-ção na cúpula do partido e do governo, recomendando a tomada de decisões urgentes para a punição dos envolvi-dos, sob pena de severas consequências para o futuro do partido comunista na China. Sugeriu a adoção de medidas de estímulo ao consumo interno e à melhoria do padrão de vida dos cida-dãos, conclamando o Partido a dobrar a renda per capita dos chineses até o ano 2020. Censurou o crescimento da desigualdade econômica entre pes-soas e regiões, outro problema sério a ser resolvido pelos seus sucessores. O PIB da China deverá crescer 7,5% em 2012 e 8,5% em 2013, dentro do espe-rado pelas autoridades locais.

os esTados Unidos Pós-eleição Presidencial

A reeleição do presidente Barack Obama é bem-vinda por represen-tar continuidade e firme presença na política externa, bem como na interna e na atenção aos problemas econômi-cos globais. Seu compromisso inicial é o de resolver a questão do chamado “abismo fiscal”, antes de 31 de dezem-bro, contando com a cooperação da nova safra de deputados republicanos, em maioria na Casa dos Represen-tantes, e dos membros do seu partido Democrata, maioria no Senado. Ao tentar conciliação, consenso e flexi-bilidade na abordagem da questão orçamentária e tributária do país, o presidente tem uma tarefa difícil, mas apoiada pela maioria dos america-nos que se cansaram das resistências partidárias e das disputas de ideias antagônicas. A votação dada aos Democratas e ao presidente, apesar das dificuldades econômicas enfren-tadas pelos americanos, garante que a procura por uma solução para a

dívida pública, aumento de impos-tos e corte de gastos possa ser mais bem negociada com o Congresso. Vale lembrar que, desde a eleição pre-sidencial e parlamentar em oito de novembro é visível a disposição para negociar, tanto do presidente Obama quanto dos congressistas republica-nos. Estes admitem apoiar o aumento da receita via acréscimo nos impos-tos, desde que acompanhado por um corte substancial nas despesas. Os dois lados entendem que a solução para o impasse entre as duas posições partidárias (os republicanos não que-rem aprovar aumento de impostos e os democratas não querem cortar mais os gastos públicos) só se dará via consenso. A questão fiscal do governo americano é séria, pois o nível de endividamento é altíssimo (estimado em 16 trilhões de dólares) e as con-sequências do desequilíbrio fiscal são danosas ao país e à economia mundial. Espera-se também que o presidente Obama trabalhe para reduzir o nível de pobreza que assola a população da

Barack Obama reeleito: promessas de dias melhores para os norte-americanos

Shaw Thew

/Lusa

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 75

Page 76: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

InternacIonal

2012: UM ANO DIFíCIL PARA A ECONOMIA MUNDIAL

maior economia do mundo.Alan Greenspan, ex-presidente

do FED (Banco Central americano), deveria assumir parte da culpa pela crise financeira de 2007-2008 iniciada nos Estados Unidos e que abalou os alicerces do sistema financeiro global, mas admite ter errado em apoiar a falta de regulamentação do setor ban-cário e financeiro americano. Advoga uma recessão “moderada” para resol-ver o problema da dívida americana e levar a economia ao perfil ante-rior à crise, sugerindo que “não há ganhos, sem dores”. A solu-ção recessiva proposta pelo senhor Greenspan deve ser ignorada, pois arrastaria os Estados Unidos e a econo-mia mundial a uma recessão profunda. Quem não previu a chegada da crise financeira de 2007/08, quando de posse de todas as informações rele-vantes, não deve ser ouvido agora. Os Estados Unidos sempre reagiram rapidamente aos ciclos econômicos e no longo prazo as perspecti-vas são promissoras. Dado o avanço tecnológico alcançado pelas empresas americanas na produção energética, par-ticularmente na prospecção de petróleo, estima-se que em 2020 o país se torne o prin-cipal produtor mundial de petróleo, superando a Arábia Saudita, produzindo diaria-mente 11,1 milhões de barris.

a eUroPa e as TenTaTivas de solUção Para a crise Financeira

Há tempo discutimos a situação de crise vivenciada pelos países que compõem a União Europeia (UE) e

em particular pelos 17 membros da zona do euro. A economia do bloco está em fase recessiva pela segunda vez em três anos. A taxa de desem-prego da mão de obra na UE atingiu níveis recordes. Embora em termos econômicos e comerciais, o bloco seja ainda o maior do mundo, seu peso político vem diminuindo, a cada ano. Os prognósticos para 2013 são trági-cos. A Comissão Europeia estimava um crescimento de 1,0% no produto para os 17 países da eurozona, mas os últimos dados indicam que tal cresci-

mento será reduzido a ínfimo 0,1%. A Alemanha deverá crescer 0,8% em 2013, enquanto a economia da Espa-nha sofrerá redução de 1,4%, a de Portugal encolherá mais 1,8%, a da Itália, 1,4%; o país mais endividado, a Grécia, sofrerá recuo de 4,5% no

produto. A menos que surjam novas ideias que promovam o crescimento da economia, um Novo Pacto Euro-peu, as perspectivas para a UE em 2013 são péssimas.

A Alemanha, que detém a maior economia europeia, deveria tentar reduzir o superávit comercial auxi-liando os países endividados e com crescimento zero ou negativo, como Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal, a saírem da crise. Se a UE e o BCE (Banco Central Europeu) associados aos governos europeus

resolvessem adotar uma política expansionista corajosa, nos mol-des Keynesianos, o crescimento advindo propiciaria a geração de emprego e do produto. A presi-denta Dilma Rousseff em várias ocasiões advertiu os dirigentes europeus sobre o perigo de levar os programas de austeridade fis-cal às últimas consequências e sobre a necessidade de aplicar um plano pró-crescimento que crie emprego. O ex-presidente Lula fez coro ao chamado e lem-brou que a população europeia é vítima de um problema criado à sua revelia.

O presidente francês François Hollande afirmou recentemente que há limites para o sacrifí-cio que a população dos países endividados da zona do euro pode suportar. A França tam-bém experimenta uma situação difícil, principalmente pela baixa competitividade da economia.

Na busca de solução em curto prazo para os problemas locais, o presidente Hollande adotou políticas contrárias ao que prometera na campanha eleito-ral ao elevar o imposto indireto sobre o valor agregado (VAT) e cortar gastos públicos, o que o tornou impopular

76 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

Page 77: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

entre os franceses. A União Europeia precisa praticar a sua teoria comuni-tária, ajudando-se reciprocamente. O novo chefe da Igreja Anglicana, o Arcebispo da Cantuária, que previa-mente trabalhou como executivo da área petroquímica ao criticar o capi-talismo moderno, conclamou os governos europeus a praticar um capi-talismo responsável. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou em entrevista recente estar confiante que a economia da Europa caminha para a recuperação. Aquele país mantém um relacionamento comercial, cultural e de investimento muito próximo aos países da Europa, particularmente, da Espanha.

Os líderes europeus, após várias reuniões, não alcançaram consenso para a aprovação da proposta orça-mentária da União Europeia para 2014-2020 e agendaram outro encon-tro. O plano para aumentar em 4,8% as reservas orçamentárias teve a opo-sição dos governos da Alemanha e do Reino Unido, que são os maiores con-tribuintes para as receitas do bloco. David Cameron, primeiro-ministro britânico, foi o mais cáustico opo-sitor ao aumento, opinando não ser o mesmo justo ou harmônico para os contribuintes da Grã-Breta-nha, Alemanha, Suécia, Dinamarca e Países Baixos. Afirmou que o pre-tendido aumento não parecia correto, quando todos os governos estão pre-gando austeridade e cortes de gastos domesticamente. Ressaltou que a Polônia com um vasto setor agrícola seria subsidiada, bem como os ex--países comunistas do leste europeu e a França, todos beneficiados pela CAP (Política Agrícola Comum) e que pressionam por mais recursos. O presidente do Conselho da Europa, Herman Van Rampoy, prometeu

mais uma rodada de negociações para preparar uma nova proposta a ser dis-cutida no início de 2013. A falta de aprovação do orçamento do bloco europeu dificulta ainda mais qualquer empenho local para a saída da reces-são econômica e financeira.

A União Europeia, especialmente os 17 estados da eurozona, está divi-dida em duas Europas. A primeira engloba os países da região norte, ricos, mas endividados e com baixo ou nenhum crescimento do PIB e ele-

vado desemprego. A Europa do sul, endividada e recessiva, teve que se ajustar drasticamente às políticas de austeridade, cortes nos gastos públi-cos e nos direitos de aposentados e pensionistas, desemprego em massa, especialmente entre mais jovens, e redução no padrão de vida. Os paí-ses situados mais ao sul do continente não conseguem pagar suas dívidas, situação que oferece um perigo real de implosão econômica e social. Por exemplo, a Grécia nos últimos seis anos teve uma redução de 25% na geração do produto interno bruto,

ou seja, um quarto do esforço acu-mulado pela população foi perdido. A taxa média de desemprego no país é de 25%, sendo que mais da metade dos jovens até 25 anos está fora do mercado de trabalho. A economia requer medidas pró-crescimento que possibilitem a criação de empregos e o pagamento das dívidas. Um passo para minorar a questão da dívida foi dado em 26 de novembro quando os ministros das finanças da zona do euro e a diretora-geral do FMI concorda-ram em liberar 50 bilhões de dólares (43,7 bilhões de euros) como parte do pacote de resgate assinado pela Grécia com os credores nos últimos dois anos de negociação da dívida pública grega. Acordaram também em reduzir parte do estoque da dívida e prometeram continuar a fazê-lo no futuro. O mon-tante não foi declarado. Espera-se que o país consiga pagar seus débitos, entretanto muitos analistas econômi-cos duvidam da capacidade financeira da Grécia para honrar os compromis-sos futuros, mesmo com os pacotes de resgate autorizados.

É burlesco ouvir eurocratas e líde-res da Comissão Europeia se referir aos cidadãos comunitários, como se estes tivessem igual tratamento no bloco. Pelo número de protestos pací-ficos ou não, de populares, nas ruas das principais cidades européias nos últimos meses, é visível a impaciên-cia da população frente às medidas de austeridade a ela impostas, o que poderá gerar explosões sociais sola-pando as raízes democráticas da Europa. Os acontecimentos recen-tes trazem à baila o severo Tratado de Versalhes que causou o colapso eco-nômico e político da Alemanha nos anos 20s e no início dos 30s com a queda da república democrática de Weimar e a ascensão de Adolfo Hitler

“ A tAXA DE DESEMPREGO DA MãO DE OBRA NA UE AtINGIU NíVEIS RECORDES. EMBORA EM tERMOS ECONôMICOS E COMERCIAIS, O BLOCO SEJA AINDA O MAIOR DO MUNDO, SEU PESO POLítICO VEM DIMINUINDO, A CADA ANO”

dezembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 77

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InternacIonal

2012: UM ANO DIFíCIL PARA A ECONOMIA MUNDIAL

e seu monstruoso regime nazista. Na Grécia, o partido Golden Dawn (Aurora Dourada, em tradução livre), de extrema direita, obteve um terço do número de votos e cadeiras na eleição para o Congresso em 2011. Espera-se que as posições moderadas prevaleçam na Europa e que qual-quer desastre do tipo historicamente associado a problemas econômicos não resolvidos sejam evitados. Os princípios básicos do modelo social europeu afiançando um estado de bem-estar para a população requerem crescimento econômico sustentado e garantia de emprego.

aMÉrica do sUlNa América do Sul, a Argentina

vem adotando uma política nacio-nalista e protecionista desafiando a opinião pública local e internacio-nal e afetando os interesses de países membros do MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) como o Brasil e o

Uruguai; o Paraguai foi suspenso até abril de 2013 e a Venezuela adotada em 31 de julho. Após um primeiro mandato bem avaliado e reeleita com 54% dos votos válidos, a presidente Cristina Kirchner viu cair vertigino-samente seu índice de aprovação. Em oito de novembro, a população foi às ruas em protesto contra a política econômica do governo. Os protestos em nível nacional foram os maiores ocorridos nos últimos anos quando milhares de pessoas gritaram palavras de ordem contra a inflação de 25% que o governo insiste ser de “apenas” 9%, os planos de alteração constitu-cional para garantir à presidente o terceiro mandato consecutivo e o con-trole do câmbio. Muitos argentinos temem que a atitude do governo fede-ral leve a um endurecimento ditatorial minando a liberdade civil do cidadão comum.

Muitos dos participantes, membros da classe média e das classes menos

abastadas, exigiam a saída imediata da presidente. São várias as denúncias de corrupção no governo e no círculo mais próximo da presidente.

Em Nova York, um juiz ao analisar pedido de pagamento de atrasados de uma dívida argentina não negociada com os credores durante a mora-tória em 2001 e adquirida por um fundo, exigiu a imediata cobertura de 1,3 bilhão de dólares. A presidente e sua equipe se recusam a discutir o assunto, por considerá-lo parte de um ataque de “abutres” contra o país. A decisão parece desleal com a Argen-tina, desde que os demais credores negociaram e concordaram em rece-ber até 30% do valor de face da dívida. A presidente pediu o apoio dos paí-ses membros da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) e a Corte em Nova York concedeu um prazo maior para a avaliação da causa. A diretora--geral do FMI, Christine Lagarde, ameaçou suspender o governo argen-tino do organismo internacional pela manipulação de dados estatísticos econômicos e financeiros.

De acordo com relatório recente do Banco Mundial, a classe média na América Latina mostrou expansão de 50% em anos recentes, perfazendo 50 milhões de pessoas; 70 milhões de novos postos de trabalho foram cria-dos e ocupados na região. Segundo o mesmo estudo, a taxa de crescimento econômico do Brasil guarda alta cor-relação com o desempenho do preço das commodities minerais e agrí-colas no mercado internacional, o que significa dependência do país ao comércio destes produtos. A sugestão é que o Brasil necessita maior equi-líbrio entre os setores econômicos e que os produtos manufaturados de alta tecnologia e valor agregado sejam prioridade na pauta de exportação,

cristina Kirchner é recebida pela presidenta dilma no palácio da alvorada: líder argentina tem baixo índice de aprovação popular

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geração de emprego e produção nacio-nal. O governo brasileiro reconhece a dimensão do problema e para saná--lo apresentou programas para atrair investimentos privados e públicos na modernização da infraestrutura básica, como portos, aeroportos, fer-rovias, estradas, comunicações e logística. O governo reduziu impos-tos em alguns setores relevantes, estimulou a redução na taxa de juros e prometeu cortar custos de eletrici-dade para consumidores e empresas. A presidente Dilma Rousseff e seu governo almejam turbinar a indústria brasileira tornando-a competitiva em termos globais.

Cuba mostra sinais positivos de maior liberalidade econômica e polí-tica sob a presidência de Raúl Castro; é hora de o presidente Barack Obama e o Congresso dos estados Unidos con-siderarem o relaxamento do embargo comercial e sanções contra Cuba que já duram 60 anos. Os Estados Uni-dos mantém relações diplomáticas e comerciais com o estado comunista da China e com o Vietnã com quem guerreou em 1964, por que não com Cuba?

No Chile, o governo de cen-tro-direita experimentou pesada derrota nas eleições locais, a coali-zão de partidos de centro-esquerda que compõem a oposição foram os ganhadores da maioria das cadei-ras municipais. A economia chilena apresenta bom desempenho, com taxa de crescimento de 5,2% em 2012. O desemprego atinge 6,5% da força de trabalho e a taxa inflacionária é estimada em 3,1%. Contudo, recen-temente as ruas da capital Santiago e outras cidades grandes se encheram de estudantes e populares criticando a política educacional e a qualidade do ensino público, além de questionarem

as estatísticas oficiais sobre o nível de pobreza no país.

A presidenta Dilma Rousseff par-ticipou da 22ª Cúpula Iberoamericana em Cádiz, na Espanha, em novem-bro e representou papel importante no encontro que foi marcado pela ausência de ilustres convidados. O presidente Raúl Castro, de Cuba, não pode comparecer devido à situação de emergência que assolou o país com a passagem do furacão Sandy deixando um rastro de vítimas e destruição. Por

razões de saúde, o presidente Hugo Chávez, reeleito para o terceiro man-dato foi uma das ausências notadas. A presidente da Argentina também não compareceu. A presidente Dilma, mais uma vez, assinalou a necessidade de a Europa aceitar um modelo de estímulo ao crescimento econômico, abandonando as medidas deflacio-nárias e austeras. Advogou a adoção do estilo brasileiro de cotas para os afrodescendentes, na Europa, e a cria-ção de oportunidades econômicas

e sociais para os afros europeus. O encontro deixou a sensação de que o as relações entre os países ibéricos e a América Latina foram revertidas. Portugal e Espanha estão vendo na América do Sul uma saída para a solu-ção dos seus problemas econômicos, estimulando a emigração de profis-sionais qualificados, particularmente para o Brasil.

o reino Unido coMeça a enXergar lUz no FiM do Túnel

A Grã-Bretanha está oficialmente fora da recessão que abate a Europa; a economia se recuperou no trimestre julho-setembro, com crescimento de 1%, baseado na alta do setor de ser-viços (1,3%, o maior em cinco anos). A taxa de desemprego em outubro recuou de 7,9% para 7,8%, embora o número de solicitantes de auxí-lio desemprego tenha aumentado. O presidente do Banco da Inglaterra (Banco Central britânico), Sir Mer-vyn King, se aposentará em junho de 2013 e será substituído pelo atual pre-sidente do Banco Central do Canadá, Mark Carney, uma decisão contro-versa do Ministro da Fazenda George Osborne. O senhor Mark Carney será o primeiro estrangeiro a chefiar o Banco da Inglaterra. Mervyn King afirmou que a recuperação da econo-mia britânica é lenta, fraca e dolorosa.

O primeiro-ministro David Came-ron realizou uma visita importante ao Brasil em outubro objetivando expandir as ligações econômicas e comerciais entre os dois países e trans-ferir conhecimentos tecnológicos e de gestão acumulados com a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em Londres 2012 para os eventos a serem realizados em 2016, no Rio de janeiro. A Olimpíada de Londres foi bem sucedida e atuou como motor

“ A PRESIDENtA DILMA ROUSSEFF PARtICIPOU DA 22ª CúPULA IBEROAMERICANA EM CáDIZ, NA ESPANhA, EM NOVEMBRO, E REPRESENtOU PAPEL IMPORtANtE NO ENCONtRO qUE FOI MARCADO PELA AUSêNCIA DE ILUStRES CONVIDADOS”

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InternacIonal

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para o crescimento observado nos últimos meses na economia do Reino Unido. Foi um evento ecologicamente sustentável que ajudou na renovação de áreas urbanas e bairros estigma-tizados socialmente, modernizando a infraestrutura viária e o transporte público, eliminando focos de polui-ção e de agressão ambiental em zona industrial abandonada. David Came-ron e seu governo de coalizão procura estabelecer vínculos políticos e econômicos com os países emergentes, como os do fórum BRICS e aspira atrair para Londres as ativi-dades financeiras dos BRICS. O governo britânico acredita em maior integração entre o Reino Unido e os países BRICS na atração de investimento, comércio bilateral e transfe-rência de tecnologia.

áFricaO continente africano

tem um futuro brilhante neste século. Detém popu-lação jovem de mais de um bilhão de pessoas, crescente classe média, ignorada pelas multinacionais no passado e atualmente cortejada como um mer-cado consumidor potencial. O PIB da África vem crescendo rapidamente a taxas bem maiores que as dos paí-ses desenvolvidos, na última década e gira em torno de 1,7 trilhão de dóla-res anuais, montante maior que o PIB da Índia ou da Rússia. A maioria dos países africanos é democrática; a tra-dição de ditadores e de partido único foi abolida. Uma grande parte desses países exibe taxas de crescimento sem precedentes. A África foi pioneira no uso de aparelhos celulares em opera-ções financeiras e comerciais.

A África do Sul, maior país afri-cano, detém infraestrutura moderna, sistema financeiro sofisticado e desenvolvido, setor agrícola de alta tecnologia e é dotado das maio-res reservas mineral no mundo. A África do Sul é o líder político-eco-nômico regional da Comunidade da África Meridional para o Desenvol-vimento (SADC, na sigla em inglês)

e expoente na cooperação econômica, comercial e política inter-regional. A África do Sul apresenta estabilidade política e econômica, a despeito de conviver com alta taxa de desemprego da mão de obra. O potencial econô-mico e comercial do país é alto; é um dos líderes do fórum BRICS e vem aumentando ano a ano as relações comerciais e de investimento com o Brasil e a América Latina. O PIB esti-mado para 2012 é de 418 bilhões de dólares e renda per capita de 8.560 dólares. A África do Sul foi marcada por greves de mineiros este ano, com

levantes e conflitos que levaram a várias mortes. O governo, patrões e sindicatos finalmente adotaram uma posição conciliatória para resguardar o nível de emprego no setor, um dos maiores empregadores do país.

O Quênia, situado na costa leste da África é outro país chave para a integração cultural, comercial e eco-nômica da África, considerada um

centro avançado em tecnolo-gia da informação e rico em atividades turísticas. Mesmo sofrendo com incursões de militantes islamitas e terro-ristas somalis, no Quênia coexistem mais de 70 etnias. O país lidera a Comunidade da África Oriental, mercado comum regional, de longa história.

A Nigéria, situada na África Ocidental, é o país mais populoso da África; conta com 162,5 milhões de pessoas (2011), juven-tude talentosa e empresarial e receitas vultosas da explo-ração de petróleo e gás natural. Poderia fazer parte do BRICS se melhorasse o desempenho econômico. O

presidente Jonathan Goodluck, do Partido Democrático do Povo (PDP) vem demonstrando capacidade admi-nistrativa e seriedade no trato da coisa pública. Segundo a revista “The Eco-nomist” o PIB estimado para a Nigéria em 2012 é de 248 bilhões de dólares, mas apresenta renda per capita baixa de 1.570 dólares. A Nigéria enfrenta sérios obstáculos ocasionados por ataques terroristas pelo grupo extre-mista islâmico Boko Horam a igrejas cristãs, escritórios governamentais, postos policiais e militares. A cor-rupção é outro grande empecilho ao

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desenvolvimento da Nigéria. Estima--se que mais de 35 bilhões de dólares tenham sido desviadas nos últimos anos por funcionários públicos e de estatais, grandes companhias petro-líferas e a companhia estatal de petróleo. A Nigéria é o maior produ-tor e exportador de petróleo da África e possui empresários talentosos que poderiam fazer mais pelo país. É pre-mente a necessidade de se reduzir o hiato econômico, social, educacional e cultural entre a população abastada e bem-educada dos estados do sul do país, de tradição cristã e os habitantes da região norte, predominantemente pobres e conservadores, de maioria muçulmana.

orienTe MÉdio: disPUTas à esPera de solUção

A situação no Oriente Médio é altamente instável e a situação polí-tica indeterminada, mesmo depois da queda de ditadores árabes, que como o ex-presidente egípcio, general Osni Mubarak, que ficou décadas no poder. O conflito recente entre Israel e Pales-tinos da Faixa de Gaza mostra o estado belicoso e de periculosidade local. Ambas as partes deveriam desanuviar as tensões políticas e militares. O atual presidente egípcio Morsy negociou no Cairo, um cessar-fogo entre o governo de Israel e o grupo Hamas, com a ajuda do governo norte-americano. O presidente Morsy enfrenta forte opo-sição internamente; no último final de semana, milhares de manifestan-tes de 20 organizações se reuniram no centro do Cairo em protesto con-tra a decisão unilateral do presidente de eliminar os demais poderes, sob o pretexto de governabilidade. Os manifestantes protestaram contra a tentativa ditatorial do presidente e contra a agenda islamita imposta.

Magistrados se incorporaram aos protestos e foram recebidos pelo pre-sidente que tentou convencê-los de sua boa intenção. A revolta ainda não terminou e mais protestos foram anunciados. O presidente Morsy deveria retirar seus planos ditatoriais e consultar a oposição. A revolução de 2011 contra o presidente Mubarak se originou nos ativistas de oposição e tendência secular. A agenda radical islâmica não funcionou no Paquistão ou no Afeganistão; é hora de o Egito seguir um curso moderado de lide-rança no mundo árabe.

A Síria está implodindo; a popu-

lação revoltada contra o governo do presidente Bashar al-Assad, no poder desde 2000 em substituição ao fale-cido pai, Hafiz al-Assad, que governou o país desde 1970, não tem expectativa sobre quando terminará a chacina. A Liga Árabe e a ONU (Organização das Nações Unidas) vem empreendendo esforços para resolver o impasse, sem resultado concreto. O regime sírio sob as ordens do presidente Assad continua no poder e a oposição estabeleceu um governo de transição encabeçado pelo ex-comunista, o cristão George Sabra. A comunidade internacional teme que muitos dos rebeldes sejam membros de facções islâmicas infiltrados nas forças

democráticas anti-Assad. O presidente francês François Hollande reconheceu o governo de oposição reorganizado e unificado como legítimo representante do povo sírio. O governo americano e britânico apoiam a oposição finan-ceiramente, mas não a reconhece oficialmente como representante única da nação síria.

O assassinato do embaixador americano na Líbia, Christopher Ste-vens, e três outros diplomatas por membros do grupo terrorista Al--Qaeda mostra a fragilidade da democracia na Líbia e no Oriente Médio, seguindo a deposição e morte do presidente general Muam-mar Kadafi em 2011 e o movimento Primavera Árabe. Teme-se que Pri-mavera Árabe torne-se Inverno Árabe. No pacífico e estável reino da Jordânia aconteceram recentemente vários protestos populares contra o aumento no preço dos combustíveis e contra o governo do rei Abdullah Ibn al-Hussein, no poder desde 1999. A Comissão de Direitos Humanos da ONU denunciou o governo da Irmandade Muçulmana no Egito por discriminação e violação dos direitos humanos dos 10 milhões de cris-tãos coptas que representam a maior comunidade cristã no Oriente Médio. O papa Bento XVI, bravamente visi-tou o Líbano e falou sobre o valor da tolerância, amor e reconciliação entre cristãos, judeus, e muçulma-nos. Solicitou aos cristãos do mundo árabe que não abandonem seus paí-ses, a despeito de tudo.

Em resumo, os problemas econô-micos e políticos globais se acentuaram em 2012, como mostrado nos parágra-fos anteriores. Esperamos que o cenário mundial em 2013 seja menos contur-bado e que se alcance paz e redução do sofrimento humano. n

“ ESPERAMOS qUE O CENáRIO MUNDIAL EM 2013 SEJA MENOS CONtURBADO E qUE SE ALCANCE PAZ E REDUçãO DO SOFRIMENtO hUMANO”

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gEstor e carrEiras

tRANSPARêNCIA

comissão da agU vai investigar supostas irregularidades de servidores Nomeações de funções de confiança também têm novas regras

da redação

c om o objetivo de evitar a prá-tica de ilícitos e de corrupção por parte de servidores públi-

cos, a Advocacia-Geral da União

(AGU) instituiu, em 5 de dezembro, uma Comissão de Ética (Ceagu) para receber denúncias, analisar possíveis irregularidades e repassar informa-ções aos órgãos responsáveis pela investigação. Farão parte da comissão

dois advogados públicos e um ser-vidor administrativo indicados por meio de lista tríplice elaborada pelo Conselho Superior da AGU, para mandato de três anos.

De acordo com a nova norma, a

luis adams: medida visa evitar a prática de ilícitos e de corrupção por parte de servidores públicos

Antonio Cruz/ABr

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comissão, após análise, terá de infor-mar à Corregedoria-Geral da União (CGAU), no prazo de 15 dias, os fatos que possam caracterizar a ocorrên-cia de infração disciplinar, quando o agente for advogado da União, consultor jurídico, procurador da Fazenda Nacional ou procurador do Banco Central. Se o caso tiver envol-vimento de procurador federal, a unidade deverá comunicar a Procura-doria-Geral Federal para que instaure investigação. O mesmo acontece com a Secretaria Geral de Administração (SGA) da AGU quando se tratar de servidores administrativos.

De acordo com a Portaria 562/2012, publicada no Diário Oficial da União e assinada pelo advogado-geral da União, Luis Iná-cio Adams, todos os órgãos da AGU devem assegurar as condições para que a Comissão de Ética cum-pra suas funções, inclusive para que do exercício das atribuições de seus integrantes não lhes resulte qualquer prejuízo ou dano. A norma ainda estabelece que a Secretaria-Geral de Administração será responsável por apoiar o funcionamento da unidade e garantir instalação de uma secreta-ria executiva.

cargos coMissionadosO ministro Luis Inácio Adams

também assinou portaria em que altera regras para as nomeações de cargos comissionados e funções de confiança na AGU. Segundo ele, essas medidas visam recuperar a credibilidade da instituição, que foi afetada pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. A operação identificou, den-tro da AGU, integrantes de um grupo acusado de esquema de fraude de

pareceres técnicos para beneficiar empresários. Entre os investigados pela operação está o então advogado--geral adjunto da AGU, José Weber de Holanda, que foi exonerado do cargo e afastado das funções até a conclusão das investigações.

De acordo com a nova portaria fica estabelecido que antes de toda

nomeação o processo passará pela Corregedoria-Geral da Advocacia da União, que vai avaliar a existência de procedimentos disciplinares do ser-vidor indicado. O candidato terá que assinar ainda uma declaração afir-mando não ter vínculo familiar até terceiro grau com ocupantes de car-gos comissionados na AGU ou no Poder Executivo. Uma pessoa indi-cada a qualquer cargo deverá estar de acordo com as regras estabeleci-das pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal, pelo Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal e pelo Código de Ética do órgão ou entidade.

“Qualquer nomeação que saia do meu gabinete passará por prévia manifestação da Corregedoria (da AGU), que emitirá certidão nega-tiva de processo. É essencial para nós que essas situações não se repitam”, observa Adams.

Outro ponto exigido pela norma da AGU é que a consulta feita pela Secretaria de Gestão Pública do Ministério Público, Orçamento e Gestão (Mpog), nos casos de nome-ação de pessoas sem vínculo com o Serviço Público Federal, deverá ser publicada no Diário Oficial da União em um prazo máximo de 60 dias. Caso o prazo seja expirado, a nome-ação só poderá ser feita após nova consulta.

De acordo com o documento, a identificação de restrições será fator impeditivo para a nomeação ou designação no cargo comissionado,

função ou gratificação, bem como para seus substitutos. n

Com informações da Comunicação Social

da AGU

UMA PESSOA INDICADA A qUALqUER CARGO DEVERá EStAR DE ACORDO COM AS REGRAS EStABELECIDAS PELO CóDIGO DE CONDUtA DA ALtA ADMINIStRAçãO FEDERAL E PELO CóDIGO DE étICA PROFISSIONAL DO SERVIDOR PúBLICO DO PODER EXECUtIVO FEDERAL

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gestor e carreiras

FUNPRESP

Fórum de gestão de Pessoas Evento destaca o novo regime de previdência complementar

o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão reali-zou, recentemente, em 18

de dezembro, a segunda Reunião do Fórum de Gestão de Pessoas da Administração Pública Federal, tendo como tema a Fundação de Pre-vidência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe), entidade que irá gerir o novo sistema de previdência do setor público federal.

O assunto foi apresentado pelo diretor-presidente da nova entidade, Ricardo Pena, que fez uma expo-sição técnica do que será o novo regime de previdência dos servido-res públicos federais e das atribuições da fundação. Nomeado no último dia 13, o novo dirigente falou para representantes das áreas de recursos humanos e das SPOAs (Subsecreta-rias de Planejamento, Orçamento e Administração) de cerca de 50 órgãos do Governo Federal.

O encontro foi aberto pela secre-tária de Gestão Pública do MP, Ana Lucia Amorim de Brito, que desta-cou a importância do novo modelo previdenciário não somente pelo desafio de sanear as contas públi-cas, mas também por proporcionar a harmonização entre os regimes de previdência no Brasil. “Além do aspecto da sustentabilidade que deveremos conquistar no longo prazo, nós estamos aproximando o regime de previdência do servidor público do regime de previdência dos demais trabalhadores brasileiros

e isso proporciona um tratamento igualitário aos cidadãos brasileiros”, disse Ana Lucia.

A secretária de Gestão Pública observou também que o modelo Funpresp irá desonerar o governo de parte da despesa com os servi-dores e desse modo permitir que outros investimentos de melhoria da gestão pública sejam feitos. “Será um instrumento valioso, uma fonte de financiamentos para as áreas de investimentos no país”, frisou Ana Lucia.

Ela informou, na oportunidade, que serão realizados treinamentos técnicos específicos sobre o Fun-presp, envolvendo servidores de toda

a administração pública federal e que nesse sentido está sendo organizado um calendário de capacitações para serem desenvolvidas ao longo do próximo ano.

“Será feito um reforço de aten-dimento para que no início todos os órgãos setoriais e seccionais do país possam ser atendidos de forma tempestiva sobre esse tema. Mas começaremos esse trabalho, de forma prioritária, pelos órgãos que vão receber novos servidores aprovados em concursos públicos a partir do primeiro trimestre de 2013”, adian-tou a secretária. n

Fonte: Ministério do Planejamento/Ascom

Luciano Ribeiro / Divulgação

secretária da segep, ana lucia amorim e o diretor presidente da funpresp-exe, ricardo pena

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artigo

rodrigo rollemBergSenador pelo PSB-DF. Preside a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle

Por um marco legal dos concursos públicoso s tempos atuais exigem cada vez mais a eficiência da admi-

nistração pública, o que pressupõe o aprimoramento dos instrumentos voltados aos interesses da coletividade. Nesse

sentido, obtivemos importantes conquistas desde a Constituição de 1988, que definiu, por exemplo, o concurso público como forma de ingresso no serviço público.

Apesar dos avanços, passados 24 anos da promulgação da Carta Magna ainda não dispomos de um marco legal que dê segurança jurí-dica e garanta igualdade de condições aos candidatos. A falta de regras claras e justas prejudica milhares de brasileiros que investem tempo e dinheiro nos estudos e, apesar disso, veem suas expectativas frustra-das por uma avalanche de ditames de editais que oscilam ao sabor das entidades realizadoras dos concursos e das bancas examinadoras.

Para colaborar com a criação de legislação que discipline essa questão em âmbito federal, apresentei na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado um substitutivo ao projeto de lei do então senador Marconi Perillo, que trata da regulamentação dos concursos. Minha proposta foi elaborada a partir de reclama-ções e sugestões de representantes dos próprios concursandos e de instituições organizadoras dos certames, como o Cespe, da Universidade de Bra-sília (UnB), e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

O texto veda a abertura de concurso exclusi-vamente para cadastro de reserva ou com oferta simbólica de vagas (menos de 5% das vagas do cargo existentes no órgão ou entidade) e proíbe concurso sem nomeação de nenhum candidato. Pelo substitutivo, os aprovados serão chamados em rigorosa obediência à ordem de classi-ficação. Será obrigatória a convocação de todos os aprovados dentro do prazo de validade do concurso para o número de vagas ofertadas. Não fechar essas e outras lacunas observadas hoje seria uma falta de respeito àqueles que se dedicam exaustivamente à meta de fazer car-reira no funcionalismo público.

Outro ponto atacado no substitutivo foi o alto valor das taxas de inscrição. Estabelecemos um teto de 3% da remuneração inicial do cargo ou emprego público, levando-se em conta o nível remunerató-rio, a escolaridade exigida e o número de fases e de provas do certame.

Ficam mantidas as condições especiais, inclusive de isenção para as pessoas que comprovarem renda familiar inferior a dois salários míni-mos e outras condições autorizadas pelo edital.

Decisão importante, também, foi a devolução da taxa de inscri-ção não somente nos casos de anulação e cancelamento do concurso. Incluímos a hipótese de adiamento. Hoje, quando isso acontece as pessoas que não puderem comparecer na nova data perdem o valor investido.

A inscrição deverá ser disponibilizada tanto pela internet, como em postos físicos de atendimento, sendo que nesse segundo caso ficarão disponíveis computadores para os candidatos efetuarem sua inscrição. Já o período de inscrição será de no mínimo 30 dias, podendo a mesma ser feita também por procuração. Segundo as

novas regras, as provas objetivas de qualquer con-curso federal serão aplicadas em pelo menos uma capital por região geográfica na qual houver mais de 50 inscritos.

Outra novidade é que o prazo mínimo entre a publicação do edital e a realização da prova será de 90 dias. Se houver qualquer modificação relevante no edital, volta-se a contar o prazo inicial. Isso per-mite que o candidato organize seus estudos. Além da veiculação do edital no Diário Oficial da União, será imposta a divulgação no site oficial da institui-ção realizadora do concurso.

O substitutivo aborda diversos outros aspec-tos, combate discriminação por idade, sexo, estado civil ou outros critérios injustificados e visa, ainda, garantir que os conteúdos dos testes sejam com-

patíveis com as atribuições do cargo. No texto, a quebra de sigilo das provas e a venda de gabaritos são tratadas como crime. A institui-ção organizadora é responsável por resguardar o sigilo das provas, podendo seus agentes serem responsabilizados, administrativa, civil e criminalmente por atos ou omissões.

Como vemos, o assunto é complexo e com certeza será alvo de grandes debates na CCJ, onde a matéria terá decisão terminativa. Nosso objetivo é aprofundar as discussões e auxiliar na construção da futura lei, com total transparência, consagrando, dessa forma, os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, defendidos lá atrás, no texto constitucional. n

“ APESAR DOS AVANçOS, PASSADOS 24 ANOS DA PROMULGAçãO DA CARtA MAGNA, AINDA NãO DISPOMOS DE UM MARCO LEGAL qUE Dê SEGURANçA JURíDICA E GARANtA IGUALDADE DE CONDIçõES AOS CANDIDAtOS”

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prêMios e pubLicaçõEs

reconhecimento e disseminação de boas práticas de gestão educacional

a s inscrições para a sexta edi-ção do Prêmio Nacional de Gestão Educacional (PNGE)

vão até o dia 31 de janeiro de 2013. Uma das novidades de 2013 é que todas as modalidades serão premia-das em um único momento, durante o XI Congresso Brasileiro de Ges-tão Educacional, em 20 de março, em São Paulo. O prêmio é promo-vido pela Humus, pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino, pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior e pela Associação Nacional dos Cen-tros Universitários. Essas instituições reconhecem a necessidade de fomen-tar e colaborar para o fortalecimento da gestão educacional brasileira, con-tribuindo para o sucesso do ensino num cenário cada vez mais complexo e competitivo.

O prêmio visa estimular a divulgação e disseminação de boas práticas relacionadas à ges-tão educacional, desenvolvidas por instituições e profissionais que reali-zam ações inovadoras e que tenham êxito na melhoria da qualidade de seus processos acadêmicos e orga-nizacionais. Os vencedores desta 6ª edição compartilharão mais infor-mações sobre as práticas eficazes durante o I Colóquio de Práticas Bem Sucedidas em Gestão, que será reali-zado no dia 21 de março, segundo dia

do GEduc 2013, no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. Esta atividade, além de divulgar os  cases  vencedo-res e as práticas de sucesso, terá a finalidade de proporcionar a troca de experiências entre os congres-sistas. Além disso, durante todo o congresso, haverá a  Sessão Pôster, um local destinado à exposição das práticas premiadas e onde será rea-lizada a cerimônia de premiação no dia 20 de março de 2013.

O  PNGE, desde a primeira edi-ção, já premiou mais de 70  cases de sucesso e em 2012 obteve um recorde com mais de 100 inscrições. A cada ano, o prêmio inova para possibilitar a melhoria das organizações edu-cacionais e se consagra como uma referência para a valorização de pro-jetos e reconhecendo renomados

gestores educacionais.O  Prêmio Nacional de Gestão

Educacional  divulga e dissemina as boas práticas relacionadas à gestão educacional ao recompensar insti-tuições privadas que realizam ações inovadoras nesse âmbito de atuação e que tenham êxito na melhoria da qualidade de seus processos acadê-micos e organizacionais.

Os interessados podem se inscre-ver gratuitamente no segmento do ensino superior ou básico/técnico em uma das quatro categorias: Ges-tão Acadêmica; Responsabilidade Social; Gestão Administrativa, de Pessoas ou Financeira; e Relaciona-mento com os Clientes ou Prospects.

Obtenha mais informações pelo e-mail comunicacao@

humus.com.br ou pelo telefone: (011) 5535-1397

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Prêmios e Publicações

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MAPEAMENTO DE COMPETêNCIAS: MéTODOS, TéCNICAS E APLICAÇõES EM gESTÃO DE PESSOAS

● autor: hUGO PENA BRANDãO ● editora: AtLAS

Com a emergência da gestão por competências, grande discussão tem sido feita, tanto no meio acadêmico como no ambiente organizacional, em torno do conceito de compe-tência no trabalho, do processo de mapeamento de competências e de suas aplicações no campo da gestão de pessoas. Este livro reúne mais de 15 anos de experiência do autor na condução e orientação de processos de mapeamento de competências em dife-rentes organizações. Discorre sobre o conceito e a descrição operacional de competências, a gestão por competências, os métodos, técnicas e instrumentos utilizados para mapeamento de competências e suas aplicações na gestão de pessoas. Com o objetivo de instrumentalizar o leitor a conduzir adequadamente processos de mapeamento de competências em diferentes contextos organizacionais, a obra apresenta exemplos ilustrativos, descreve experiências e oferece exercícios práticos e gabaritos comentados. Recomendado para profissionais da área de gestão de pessoas, em especial àqueles responsáveis por con-duzir processos de mapeamento de competências.

gESTÃO PÚBLICA ● autor: EDSON RONALDO NASCIMENtO ● editora: SARAIVA

O livro Gestão Pública consolida a experiência adquirida pelo autor em atividades realizadas durante dez anos em áreas estra-tégicas do governo federal, incluindo o Ministério da Fazenda, o Ministério dos Trans-portes e o Ministério do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior. A obra representa, em síntese, uma ampla fonte de informações para aqueles que tra-balham com o setor público no Brasil, para os que estudam as diversas disciplinas vinculadas às finanças e à gestão pública em nosso país, e para os estudantes que desejam ingressar em carreiras públicas, seja em nível federal, estadual ou municipal.

Edson Ronaldo do Nascimento tem ampla experiência de trabalho na administração pública, tendo participado, inclusive, do projeto para a elaboração da famosa Lei de Responsabi-lidade Fiscal.

CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO NAS EMPRESAS ● autora: StELA MARIS SANMARtIN ● editora: tREVISAN

O livro Criatividade e Inovação: do potencial à ação criadora, de Stela Maris San-martin, oferece uma base mínima de conhecimentos em criatividade - e de sua inserção no contexto das organizações - indispensável à pessoa que deseja apenas conhecer ou ao profissional que pretende implantar um programa sério nesta área. O texto constrói a metáfora da criatividade como um território a ser conhecido, como uma paisagem que o leitor poderá percorrer ao empreender. Oferece visão ampla sobre as várias perspectivas que se pode olhar e investigar a criatividade com a apre-sentação de temas específicos que podem conscientizar o leitor sobre o seu próprio potencial criador, bem como apontar procedimentos e métodos para o seu aprimora-mento e aplicação prática em suas atividades profissionais.

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CULtURA DA GEStãO

congresso de gestão Pública Os interessados em participar

do VI Congresso Consad de Gestão Pública já podem enviar suas pro-postas de trabalhos e painéis a serem apresentadas no evento, que será rea-lizado de 16 a 18 de abril de 2013 em Brasília. As propostas devem ser enviadas até o dia 15 de janeiro. Em sua sexta edição, o congresso já se tor-nou o maior evento no país na área de Gestão Pública.

Os resumos dos trabalhos deve-rão conter de 800 a 1.200 caracteres. Devem seguir também as orientações especificadas no Formulário de Pro-posta de Trabalho ou Painel, disponível no site do Conselho Nacional de Secre-tários de Estado de Administração/CONSAD (www.consad.org.br).

As propostas selecionadas serão anunciadas pelo Comitê Científico até o dia 1º de fevereiro de 2013. Os sele-cionados terão até o dia 20 de março para enviarem os trabalhos. Poderão se inscrever especialistas, acadêmi-cos e profissionais dos três poderes da União, dos estados e municípios. Os trabalhos selecionados serão divulga-dos para todos os congressistas e, em seguida, se tornarão de acesso público no site do Consad.

áreas TeMáTicas Os trabalhos enviados deverão

aprofundar as discussões nas seguintes áreas temáticas: orçamento, contabili-dade, finanças, compras e patrimônio; gestão de pessoas na área pública; ges-tão por resultados, monitoramento e avaliação; novos formatos organiza-cionais; governança, participação e controle social; e governo eletrônico e transparência.

Os trabalhos individuais e painéis deverão ser enviados para o [email protected]

Mais informações pelos telefones (61) 3322-

5520/3226-6569/8126-7606/8134-7925 e pelo site

do Consad.

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cursos e eventos

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opinião

cláudio emerencianoProfessor da UFRN

a construção do tempog estos, paisagens, circunstâncias, ambientes, elos,

desejos, saudades, alegrias, tristezas, coisas da vida, tudo aparentemente pode não ser eterno,

imutável e atemporal, mas assume um sentido, que se projeta muito além de sua época e de sua revelação. Miguel Ângelo, diante da “Piettá”, disse que, ao escul-pir em mármore Maria Santíssima, com Jesus morto, estendido em seu colo, imaginava os instantes em que a criança era carinhosamente estreitada no regaço de sua mãe. E questionou sem responder: “O que Maria pensou e recordou naquele instante?”. A maternidade investe a mulher de um dom especial, dádiva de Deus, que lhe per-mite transmitir ao filho o sentido pleno e puro do amor. É uma espécie de simbiose, amálgama, fusão transcenden-tal. Maria tinha plena consciência do seu papel na vida de Jesus. E. como disseram os evangelistas, “guardava tudo no coração”. Estoicamente. Piedosamente.

O amor é inexcedível como fonte de percepção da magnitude e do sentido da vida. A humanidade perde, progressivamente, nos tempos atuais, essa consciência. Metaforicamente, cada vez mais se deixa de contemplar as estrelas, o céu, a beleza da vida e da natureza. Cada vez menos se ouve o canto dos pás-saros, que não foram ensinados, mas gorjeiam; entoam em todo o mundo sua sinfonia pastoral. Perde-se, cada vez mais, a capacidade, a visão, a von-tade e o atributo de avaliar o homem por seus sentimentos, pelo que ele é em sua dimensão humana e espiri-tual. Estaríamos regredindo? Por quê? Não são os erros, nem as contradições, as fontes exclusivas desse declínio. As omissões e o comodismo, a conveniência e o interesse, a supremacia do Ter sobre o Ser, estão debilitando valores e princípios em todas as nações. As coisas materiais não

têm sentido. São meios e instrumentos efêmeros e perecíveis. O que importa, inquestionavelmente, é o que digni-fica o homem. Eleva-o e o liberta da ignorância, da miséria, da injustiça, da iniquidade e do opróbrio. O homem é sentinela de si mesmo. O homem, disse João Paulo II, é “personagem ativo da civilização do amor”. Os laços de cada um revelam os sentimentos. Renovam a grandeza de cada um.

O passado não é descartável. Está dentro de nós. No Brasil, é a herança cultural, antropológica. Somos uma nação de crenças, vínculos e cosmovi-são judaico-cristãos; de sentimentos e percepções africanos; de sensibilidade

autóctone; que absorveram contribuições universais, face migrações e agora a “aldeia global”. Essas palavras de Isa-ías, sobre Jesus e a humanidade, no século VII antes do

“ O AMOR é INEXCEDíVEL COMO FONtE DE PERCEPçãO DA MAGNItUDE E DO SENtIDO DA VIDA. A hUMANIDADE PERDE, PROGRESSIVAMENtE, NOS tEMPOS AtUAIS, ESSA CONSCIêNCIA.”

piettá

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Cristo, falam até nós: “Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a Palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei”. Tudo converge.

Era uma noite na virada do século XIX para o século XX. Dublin (Irlanda) estava coberta por um manto branco, espesso, resplandecente, da neve que caía sem parar. Essa é a circunstância de um dos contos de conteúdo arreba-tadoramente humano de James Joyce: “Os mortos” (“The Dead”). Conto que integra os chamados “Dublinenses”, por terem como palco a cidade amada do escritor. John Huston o transpôs genialmente para o cinema. Dirigiu o filme em cadeira de rodas, respirando com um tubo portátil de oxigênio. Seu título no Bra-sil, incrivelmente, traduziu melhor o sentido do livro e do filme: “Os vivos e os mortos”. Num sarau, precedido de um jantar, uma canção reaviva a memória de cada

circunstante. Subitamente, seus mortos, familiares e ami-gos, assumem o peso de sua contribuição na vida de cada um. Eis um tema universal. Na visão de Joyce, os vivos e os mortos se entrelaçam para emoldurar o tempo.

A rusticidade de uma vida, quase solitária, mas ger-minando laços, é a mensagem de Gustave Flaubert em “Uma alma simples”, do mesmo modo que o inimitável

Anatole France (Nobel da literatura), agnóstico, exalta a humildade e a cari-dade em “O Poço de Santa Clara”. Machado de Assis nos “Contos Flu-minenses” (como “Linha reta e linha curva” e “Missa do galo”) e Eça de Queiroz (“Um dia de chuva” e “Suave milagre”) devassam o cotidiano do povo, suas coisas mais simples, sutis e óbvias, revelando a substância do seu tempo para detectar a grandeza da condição humana. Nada lhes escapa. Ontem, hoje e amanhã, a consciência

não debilita, nem inibe, mas estimula a busca do bem e da felicidade. O ser feliz, dizia o São Tomás de Aquino, não é apenas um direito, mas uma vocação e uma finalidade da existência humana. n

“ ONtEM, hOJE E AMANhã, A CONSCIêNCIA NãO DEBILItA, NEM INIBE, MAS EStIMULA A BUSCA DO BEM E DA FELICIDADE”

cena do filme “the dead”, baseado no conto de James Joyce, dirigido por John Huston

90 Gestão Pública & Desenvolvimento - dezembro de 2012

A CONStRUçãO DO tEMPO

opinião

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Page 92: REVISTA GESTÃO PÚBLICA

MELHOR QUE CONHECER UM PATRIMÔNIO DA

HUMANIDADE É VIVER NELE.

Quem mora em Brasília tem o privilégio de viver no único bem contemporâneo a ser considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Nossa cidade é reconhecida mundialmente. Ajude a preservar o patrimônio que nos emociona todos os dias.

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