revista ijsn - ano iv - nº 2 - 1985
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I _Revista IJSNAno.lV n.2
Abr/Jun - 1985
Instituto Jones dos Santos NevesAno IV - N° 2 -.ABR/JUNDE 1985 - VITÓRIA - EspíRITO SA TO
LAMWA SABEOQUEÉBOMPAj(AOESPÍRjTOSANTOA perenização do DL-88ü reaquecea economia capixaba e deixa paratrás os tempos do falso milagre e dainsegurança do investidor local.A tenacidade do GovernadorGerson Camata, trazendo para oEspírito Santo essa conquista,histórica, assegura odesenvolvimento sócio-econômicoesperado pela comunidade. Osistema de incentivos do DecretoLei ainda é um suporte necessárioao povo capixaba, porque cria oestado de espírito necessário à
atividade empresarial.A Secretaria da Indústria e doComércio sabe que o que é bompara o Espírito é voltar a confiar eacreditar no sal da terra.
CGOVERNO
• DEMOCRATICO~ DO ESPIRITO SANTO
ADMINISTRACAO GERSON CAMATA
SECRETARIA DE ESTADO DA INDÚSTRIA E DO COMÉRCIOHERMES LEONEO LARANJA GONÇALVES
ANO IV - NO 2 - TRIMESTRALVITÓRIA -.:. EspfRITO SANTO
Registrada sob o número 1854 209/73, na Divisão de Censura e Divsões Públicas do Departamento de Pccia Federal de Brasília(DF).
EDITADA PELA ASSESSORIA ICOMUNICAÇÃO SOCIAL DO mDiretor SuperintendenteManoel Martins FilhoCoordenador TécnicoAntônio Luiz CausCoordenador Admmistra.tivo e FinanceiMauro R. Vasconcellos PylroGerente Geral do Projeto AGLURB VitóriaLuís C. Feitosa PerimCoordenador Geral do Projeto EspecCidade de Porte Médio - VitóriaJosé Antônio Colodete
CONSELHO EDIT01UALAdilson Vilaça - Carlos TeixeiraDjalma Vazzoler - Fernando BetarellcHeloisa D. Figueiredo - Miriam Cardos
REDAÇÃOAdilson Vilaça, Djalma Vazzoler, Tere:nha Lodi, Sandra Lima, Sueli Camp
ILUSTRAÇÕESEugênio Herkenhoff, Lastênio (selos (debate), Sazito, Zupo (pág. central)FOTOSAldi Corraâi, Carlos Palito, Gildoto}'Ol] ales Júnior, Lobão, Sagrillo,SanchVitor Hugo-VIX.Biblioteca I]SN (Mazzei, Paes e Ruy)
DIAGRAMAÇÃO, MONTAGEMARTE-FINAL:Ivan Alves Vieira Filho
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IMPRESSÃO .Grafitusa - Gráfica Tullio SamoriniDISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA:- Os artigos assinados .são deponsabilidade dos autores.- Colaborações forma desaios ou resumos bíbllIográtílcos,encaminhados à ASlCOJ'vI A.SSe~lsoría
Comunicação Socialdos Santos Neves.Endereço: Av. Ce~ar
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INSTITUTO JON::S DO SANTOS N~SBIBlIO ECA
1/ N D I C E
traileté)ria do migrante'HbanÉ~s no Espírito SantoO trabalhador livre brasileiro:à margem do sistema escravista-ES
NOTÍCIAS
ENTREVISTA
RESENHALISTA BIBLIOGRÁFICA
Ex-Governador João Punaro BleyA era Vargas no Espírito Santo
Para o novo Governouma nova Política HabitacionalProblemas na ocupação dasencostas e alternativas de solução
Fundação Ceciliano abreespaço para o escritor capixaba
TRIBUNA LIVREexplosão dos movimentos sociaisGrande Vitória na década de 70
A volta do trólebus parao transporte coletivo urbano
descrição cronológica do····'r!l:)CD1nt urbano de Vitória
Política do Cotidiano
\DEBATE ....
\. Perspectivas Econômicas do Espírito SantoPOLITICAS
,ESTUDOS & PROJETOS',\ Sub-emprego ou longas jornadas são
>a âs opções que restam ao trabalhador~Opanorama urbano sofre alteração
com intensivo do solo
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CARTA AO LEITOREste número da Revista do IJSN circula em mo
mento especialíssimo da vida nacional, quando nossa sociedade, toda, volta os olhos para a instalação de um novo governo democrático, comandado por Tancredo Neves. Nasce umaNova República!
Para registro desse marco inicial da reconquista da autoridade civil sobre o Governo, editamos temas pertinentes, a começar pelas chamadas de capa. A ENTREVISTA com o exinterventor João Punaro Bley, concedida antes de sua morte eainda inédita, evide~;~ia uma relação histórica, pois trata da Revolução de 30 e da ditadura que se lhe seguiu por 15 anos, reeditada, em termos de interrupção da vida democrática da nação, com a ditadura militar que ora recebe a sua pá de cal. ODEBATE deu-se em torno das possibilidades da economia doEspírito Santo no futuro próximo e reuniu personagens importantes do cenário sócio-econômico local -, empresários, líderessindicais e governo.
O advento da Nova República, com data-início tão próxima à Páscoa, reacende a nossa esperança de o Brasil sepultaras alternativas bruscas e inconstitucionais que sempre constituíram estorvo à maturação democrática necessária ao plenodesenvolvimento de suas potencialidades.
Contribuir com a fé necessária e a lucidez gerada pela 'exposição e confronto de pontos de vista é o que pretende maiseste número da Revista do IJSN.
Esperança!
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erspec1ivasEconômicasdoEspíritoSantoAs mudanças advindas com
a posse do presidente TancredoNeves constituem tema, por sisó, capaz de revitaliur o hábitoda discussão,1ão abandonadonos anos do autoritarismo que sefoi a bom tempo. A Revista doInstituto Jones dos Santos Neves, cumprindo exercer a sua vocação de fórum de debates, reuniu empresários, trabalhadores,secretários e técnicos do Governo Estadual, em mesa redonda,para confrontar pontos de vistaacerca das Perspectivas Econômicas do Estado do Espírito Santo,mediante o advento da Nova República.
Presentes, os empresários I
Américo Buaiz (Moinho de Trigo, Refinaria de Açúcar, TV-Vitória,entre outras atividades), Arthur Coutinho (Frisa - Frigorífico RioDoce S. A., Empresa de Luz e Força Santa Maria, entre outras) ePedro Burnier (Presidente da Federação da Agricultura - ES e do
~ Grupo Agroave, entre outras); da: parte dos trabalhadores, José~ Anésio e Antônio Moschen, Sin-o dicato da Construção Civil - ES,
e Federação dos Trabalhadoresna Agricultura - ES, respectivamente; pelo Governo, os secretários Orlando Caliman, Planejamento, e Hermes Laranja, Indústria e Comércio. Carlos Teixeira,gerente do Programa de Desenvolvimento Regional Integrado(PDRI) do IJSN, mediou os debates; ea direção do IJSN se fezrepresentar por Mauro Pyiro.
Uma grande preocupaçãodos empresários, referente aoDL-880, foi contornada pelo Governo do Estado. Logo após amesa redonda promovida pela
Revista do Instituto Jones dos Santos Neves, o Governador GersonCamata efetivava a perenização do DL-880, subsídio imprescindf.vel à economia local.
CARLOS TEIXEIRA - Gostaria de estahelecer algumas referências para situarmelhor ~ debate. Começaria, a grosso modo, por dividir a economia do ES em doisperíodos: um, antes de 1960 e outro, depois de 60. O período antes de 60 caracteriza-se, de máneira geral, pela fragilidadeda economia capixaba. A monocultura docafé de limitada produção, frente aos principais centros produtores, fundada na pequena propriedade, baseada no trabalho familiar, impediu que houvesse economias deescala, que a partir da produção transpusessem os limites das atividades agropecuáriaspara serem investidas, salvo raríssimas exeções, na indústria, no comércio ou na esfera financeira. Isso criou um governo deações ampliadas, que caminhou a frente dainiciativa privada, procurando gerar, dentrodo Estado, formas de acumulação que induzissem o surgimento da indústria, do comércio, etc. Além de criar mecanismos deincentivos, implanta um parque industrialno sul do Estado, dura.nte a administraçãode Jerônimo Monteiro, procurando esse intento. Dentro dessa perspectiva de diversificação e de fortalecimento da economiacapixaba, o Estado ingressou na.década de60 sem o sucesso esperado.
A partir da década de 60, o ES definese pela complexificação e envolvimento da
economia capixaba fora dos seus limitesregionais. O crescimento da economia brasileira verificado nessa década imprimiu,a partir dos Estados "desenvolvidos" dosudeste, o seu ritmo, em novas relações deprodução, a todos os pontos do territórioNacional.
No ES, na esfera da agricultura, essadinâmica processou-se, primeiramente, coma política federal de erradicação .dos cafezais, que destituiu a pequena propriedade,liberou a terra e a mão-de-obra, viabilizar;.do assim, juntamente com o crédito abundante para a pecuária e incentivos aos reflorestamentos, no início dos anos 70, processos de concentração fundiária. Na segunda metade da década de 70, os vínculos quese estabelecem em nossa economia manifestam-se com o ressurgimento do café e, maisrecentemente, com o cultivo da cana - ambas culturas tecnificadas -, novas relaçõesde produção com base no trabalho assalariado. Assim, o território capixaha, além dese tornar palco de empreendimentos de fora que aqui se implantaram, também tornou-se um mercado promissor para as atividades industriais produtoras de insumos,máquinas ~ equipamento.§ agrícolas.
No âmbito industrial, se por um ladoa economia capixaba faz parte do movimento da economia nacional através dos
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grandes projetos (siderúrgica, celulose, etc),por outro lado, o empresariado local ouconsegue os benefícios facultados pelo DL880, ampliando e estabelecendo diversificação para enfrentar a concorrência, a nível nacional, ou então desaparece.
PEDRO BURNIER - Antes da fase deerradicação do ca(é, tínhamos dificuldadesem orientar o agricultor com. relação aoplantio de café em curva de nível, a proble"mas de adubação e de conservação de solo,e à problemática muito séria de comercialização de café e de formação de cooperativa. Quando a primeira cooperativa de. café foi fundada, em Jaciguá, no municípiode Cachoeiro de Itapemirim,as dificuldades eram, principalmente de infra-estrutura: não havia estradas, comunicação, o homem do campo não tinha o grau de participação que tem hoje. A televisão, a estradae o telefone tiveram muita influência nesses dez anos sobre o homem do campo.Uma influência sociológica que só quemconvive com o agricultor, e conviveu nosidos de 59 e 60, é que pode ver como ohomem do campo de hoje tem uma característica diferente daquela época. Se naquela época os serviços de extensão e. defomento tivessem as dificuldades de hoje,e tivesse o agricultor muito mais atualizado e' aberto, nós revolucionaríamos esse Es-
A velha vocação agnco/a aindà encontra maior expressão na produção do café
tado em dez anos. Enquanto o agricultor. aminhou muito, o serviço de assistência
técnica do governo, não só a EMATER,mas o governo como um todo, ainda estámuito tímido.
Atualmente, não se encontra uma lavoura plantada de morro abaixo, um agricultor que não faça conta do custo do sacode adubo e do custo do preço do café.Em termos de produção agrícola, nós estamos, esse ano, com uma cafeicultura maissólida e tecnificada, mas dependendo, ainda, basicamente do café. Há outras perspectivas como a cana, pimenta do reino, seringueira, e em escala mais reduzida, abacaxi,mamão e a cultura da mandioca, que poderia receber um programa extenso. Existemuma série de oportunidades no Estado, eque, em 1960 ninguém sonhava poder existir, a não ser o café. Apesar de haver essasoportunidades de diversificação, eu pergunto, por que nós continuamos, basicamente,como Estado tipicamente cafeicultor? Nãoexiste nessa pergunta, nenhuma crítica àcul~ura do café, pois ela vai ser uma culturade futuro e vai ser um esteio para o Estado,durante muitos anos, porque o Estado temcondições sui generis para esta cultura.Muito mais pelo tipo de propriedade e pelo homem que trabalha a terra, do que pelas condições climáticas.
Nós achamos que, comparando a situação de 60 com a de 85, o agricultor evoluiutremendamente e os serviços técnicos, senão pararam, tornaram-se deficientes. O segundo é que nós, hoje, temos um agricul-
"Os custos altíssimos impedemo trabalhador de morar nacasa que ele próprio constrói".(José Anésio)
tor preparado, com a cabeça aberta, quequer investir. Um agricultor que quer plantar abacaxi, mamão, seringueira, que anseiapara fazer um pró-várzeas. E até quando oEstado vai ficar tímido no sentido de desenvolver uma política mais agressiva, emtermos de diversificação, mas que não contemple o abandono nem o desestímulo dacafeicultura? Quem é do Norte do Estadosabe que o café conilon apresenta condições muito interessantes. As lavouras maisantigas de caféconilon de 14 a 15 anos, jáapresentam problemas sérios de produção ede decrepitude, enquanto o café bourbon,na Serra, possui lavouras com 50 e 60 anos.Já tem agricultor, em Linhares, plantandoseringueira no meio do café com 10 anosporque, segundo ele, daqui a cinco anos alavoura estará acabando e ele começará acortar a seringueira. Até hoje a pesquisa emextensão não colocou no campo um modelo que o agricultor esteja seguindo. A pesquisa agrícola já colocou no norte, um modelo de irrigação? Esse agricultor está orientado para fazer uma economia de água?Não. Tudo o que ele tem de irrigação é oque o vendedor de equipamento vai lá eleva. O agricultor está vinte anos· na :frente
Carlos Palito
da pesquisa, da extensão, do serviçoapoio do Governo.
TEIXEIRA - A gente ouve, de algtprodutores, críticas no que diz respeiteforma como eles têm que consumir fertzantes, máquinas para produzir, e isso cuma dependência e uma despesa monetátão grande que se eles não conseguirem ctos preços para seus produtos, chegam mmo a afirmar que vão parar de produ.Moschen, como você vê esses processos <J
estão ocorrendo, do lado do trabalhad(MOSCHEN - Os técnicos do Esta(
4a Agricultura, não conseguiram de fatozer o lavrador entender aquilo que elestavam querendo. Essas orientações for.impostas de cima para baixo. Quandoera pequeno, a gente plantava café c<qualquer mudinha, qualquer carocinhocafé, sem aditivos, e dava café. Acont<que os trabalhadores não· foram prevenicpelos técnicos, para o futuro. E aí, quan
. não dava mais café, eles corriam e derrulvam outro pe"daço de mata para plantar.tenho divergências com relação ao quePedro Burnier falou, na questão da tecnogia, a partir de 1960. Isso favoreceu a gr:de concentração de terras.
Por que hoje, o ES se volta exatamte a 1960, na ~uestão do café? O pequeproprietário, so mexe com café. Ele ntem condições de mexer com outro tipoprodução porque os financiamentos sdestinados exatamente aos produtos de «
portação. Se ele mexer com arroz e feijiprincipalmente na região montanhosa, 'vai se ferrar. O café dá muito mais lucro Ira o pequeno proprietário. A entrada Cmeios de comunicação só favoreceu ,grandes proprietários, porque eles tiver<condições de expandir e de melhorar afra-estrutura nas suas propriedades.
BURNIER - Só reforçando dtcoisas que o Moschen falou e que smuito importantes. Antigamente, eraciclo da terra virgem, se plantava em maAs primeiras lavouras de café plantadas t
terra antiga, foram assentadas na época1960. Eram as lavouras demonstrativas,gente tinha qUe convencer o agricultor qera possível plantar em terra velha. Honenhum agricultor duvida disso.
A cafeicultura de hoje é complemente diferente da de 1960. Quem fessa revolução? F oi o cafeicultor, que acditou nas técnicas, que fez isso baseado efinanciamento. A grande maioria dessasvouras foi toda financiada através do plgrama de renovação do !BC. O cafeicultde hoje é um homem muito mais rico,mmo pagando o adubo e o defensivo, porqse não pagar o adubo, ele não vai conseglproduzir o café em terreno fértil. Evide
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Segundo Moschen, "consome-se rmlho norte-americano"porque não há estünulo ao pequeno agricultor
temente, o cafeicultor faz contas pará saber se vale a pena adubar uma lavoura, e ofaz com muita sabedoria.
MOSCHEN - Ele é muito mais rico,mas não tem a mesma segurança que tinhanaquela época. Hoje, se o café quebra ou seacontece qualquer coisa na agricultura, elenão tem arroz e feijão ..•
BURNIER - Estou inteiramente deacordo. A vida da cafeicultura do Estadodepende, a cada ano, do acordo internacional do café, que é discutido em Londres.
A arrecadação do Estado e a vida do cafeicultor, ficam na dependência de uma novanegociação bem feita em Londres. Esse é ofato mais importante para a cafeicultura doEspírito Santo.
MOSCHEN - Um outro fato que fezcom que o café, principalmente do tipocOJÚlon, se desenvolvesse mais no ES é quenos Estados do Sul os produtores começaram a investir em outros produtos, como asoja, o que não aconteceu aqui no Estado.Principalmente na região nor~e, o caféconilon encontra facilidades. E plantadoem região montanhosa, na qual se adaptamuito bem. Isso também levou o pessoal' ainvestir muito no café conilon.
MAURO - Eu gostaria de ouvir algu. ma coisa a respeito da retrospectiva na áreaindustrial.
AMÉRICO BUAIZ - A nossa grandepreocupação como industriais, foi que nomomento que nós sentimos que os agricultores estavam indo a pique, nos idos de 58e 60, quando houve uma total erradicaçãodo café, com um desmatamento violentono ES para exploração de madeiras, comum pouco de cacau que era muito prejudicado pela situação climática, então percebemos que era o momento de se tentar aindustrialização no Estado, e diria que foimotivado, também, por um sentimento devergonha, que eu pessoalmente tinha portodas as vezes que ia a São Paulo e a outrosestados e constatava como nós éramos pobres. Pobres e sem nenhuma condição denos tornarmos remediados e, muito menos,ncos.
Tornou-se uma verdadeira aflição parílnós, que trabalhávamos de intermediáriosna importação de todos os produtos que'davam condições de sobrevivência à população do ES. Chegamos a importar café.Trouxemos café do Paraná para consumointerno. Foi aí que partimos, em 1960, para um plano de desenvolvimento econômico. Nós propugnamos, junto ao governo doEstado, e fomos muito bem apoiados, conseguimos des!anchar um processo de industrialização. E bem verdade que, naquelaépoca, nós fomos apoiados também comisenções, que hoje já não existem mais. A
"Não vamos esperar soluçãode gente iluminada de gabinete,porque não vai sair".
(Moschen)
isenção não foi concedida pura e simplesmente para enriquecer alguns. A isenção foifeita como um investimento.
Hoje, nós sentimos que o ES é umapresença nacional e sentimos até, que fazemos frente a muitos produtores nacionais.Temos uma fábrica de chocolates que invadiu o país inteiro. Temos uma Braspérolaque se faz presente até no exterior. Uma siderúrgica que se faz presente, com muitavida e com muito vigor e uma série de outros negócios e indústrias. Quando se falaem uma Nova República, acho que a exemplo do que aconteceu no ES, está acontecendo com o Brasil. Nós tivemos muitas dificuldades, lutamos muito. O Estado foi'Obrigado a conceder isenções, a investir,foi obrigado a uma série de coisas. Nóstambém tivemos um desafio. Fomos desafiantes e desafiados. Não vejo o país emsituação tão dramática quanto. colocam.Contrariando os prognósticos de muitaspessoas e empresas, no ano passado, nósinvestimos violentamente, porque acreditamos no Estado e no Brasil. Temos os meiosde comunicação em posição invejável emrelação ao mundo.
Quando se fala que o agricultor está
úco, porque ele ganhou muito cotemos que lembrar também quemais dependente na alimentação. Ele éobrigado a comprar feijão, farinha, arroz,etc., e é obrigado a desembolsar 0jllue elepoderia produzir com a terra que t~fr'
Fundamentalmente, quanto ~ais ricosforem os habitantes desse Estado, e quantomais poder aquisitivo tiverem, melhor paranós que produzimos e que industrializamos. Esta mensagem é a pregação que nósutilizamos desde 196 O.
Esperamos que na Nova República osrecursos sejam melhor canalizados. Que haja descentralização para que possamos ter'recursos para resolver os nossos problemas.
O ano de 60 foi pródigo em matéria demesa redonda. Nós nos sentávamos, às vezes, sem muito assuntó e, de repente, começavam a surgir os problemas. Essa intimidade dos industriais, dos agricultorescom os homens do governo, que costumamficar muito distantes da gente, é necessária,porque às vezes nós temos soluções e atéjulgamos mal o poder público, pensamosque ele poderia fazer mais, quando ele nãotem condições e precisa ser ajudado, atémesmo com opiniões. Quantas pessoas vocês conhecem que têm idéias? Vamos vender para elas as idéias. Eu me lembro quando a fábrica de cimento atravessou aquelasituação angustiosa, ocasião em que o Dr.Carlos Lindemberg forçou grupos locais aficarem com a fáhica, que hoje, está nasmãos de João Santos por omissão. Homensdo Centro de Comércio do Café não quiseram examinar o problema. A situação era
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Coutinho, Buaiz e Burnier criticam severamente a "agiotagem" do sistema financeiro
cômoda, porque é cômodo ter dinheiro,principalmente nesta época, quando vocêfaz aplíêações no over-night e tem um resultado de 20% ao mês. Não há negócio al-gum que compense mais que o over-night.Nós queremos, também, que a atividadeprodutiva seja mais bem recompensada e
> menos violentada. Nós trabalhamos comprodutos cujos preços são pré-estabelecidospelo Conselho Interministerial de Preços CIP - e nos dão um verdadeiro sufoco.
BURNIER - É isso que acho importante se definir, Calíman. O que a gente espera como representante da classe patronal,dos empresários da Nova República, é quenós sejamos reconhecidos como fator deprogresso. O homem de hoje, encarregadode gerar produção e emprego, é um heróipor trabalhar numa situação como essa. Seé herói o trabalhador ganhar salário mínimo, e herói esse homem continuar investindo, sendo que ele pode pegar ose!! dinheiro e ganhar 20% na poupança, ir para casatomar refrigerante, cerveja. Se o trabalhador está passando aperto, e nós somos osprimeiros a reconhecer isso, tendo que viver com o salário mínimo (e muitos nem isso recebem), para o proprietário arriscar oseu capital que lhe custou uma vida de trabalho, também é um ato heróico. É muitoÉ muito mais simples deixar no õver-night,botar na poupança, ou então comprar terra como fator de segurança. Atualmente,ninguém compra um pedaço de terra pensando em tirar dessa terra 20% ao ano, porque isso não acontece. Ele compra atrás da
"O empresário deveria passarpor um período de banguela".
(Hermes Laranja)
segurança que o Moschen fàlou.Só vai haver, realmente, uma recupe
ração para todos, se houver uma condiçãode que a situação de juros, de inflação e demercado financeiro, seja contida. Se issonão ocorrer, e o custo do dinheiro continuar nos níveis que está, não há condiçõesde se pro.duzir e fomentar a produção.
AMERICO BUAIZ - Eu precisaria fazer uma rápida intervenção sobre o DL 880e o Imposto de Renda. O DL 880 é um instrumento altamente necessário para o Estado. Devemos lutar para mantê-lo, assim como, devemos lutar para conseguir que oGoverno Federal permita que o Imposto deRenda arrecadado pelas pequenas e médiasindústrias seja depositado pelo empresárionuma conta vinculada, para que esse empresário possa gerar novos projetos ao desenvolvimento do seu negócio.
O que se registra habitualmente, é que oprodutor, o empresário e o industrial, luta,? o ano inteiro para fazer um pequenocalXa e de repente, no ano seguinte, ele éviolentado com uma arrecadação de Imposto de Renda, voltando outra vez à estaca zero. Ele vive patinando, lutando o anointeiro para conseguir alguma coisa e quando consegue, imediatamente vem o impos-
to e arrecada violen~,m~nte um~ granparcela do que ele obteve. É preciso quete imposto seja preservado para quepossa reinvestir, como estamos fazendoDL 880, com direito a colocar 33% e ,pois ir buscar para novos projetos ou ,para ampliação dos projetos feitos. É necsário estudar uma forma, em conjunto, Ira que se possa fazer uma movimentaç~acional no sentido de proteger os peqinos e médios empresáríos. -
HERMES LARANJA - Falta aouma chamada matriz das vocações, (oportunidades, na área agro-industrial einvestimentos, para se definir prioridadSerá que a prioridade do ES, a níveldesenvolvimento, é o álcool, com todosbenefícios e malefícios? Ou a vocaçãoestado é eminentemente agrícola? A a~
cultura vem recebendo estímulos e favorinclusive do Geres (Grupo de kecuperaçEconômica para o ES).
Atualmente, o Geres trabalha muimais na agricultura. Temos os recursos~eres,. mas não temos quem se disponh,mvestlr. Isso mostra a acomodação do epresariado local. A nível nacional isso nacontece, pelo contrário. A Sudene, t<uma lista de investidores que esperam nala para serem atendidos com recursos, <85. E as nossas linhas são tão subsidiacquanto as linhas da Sudene. Será que isé falta de divulgação do que é o Geres?
Hoje, nós voltamos ao mesmo ciclocafé de anteriormente. Estamos totalmerdependentes do café. O governo do Esta,está preocupado com a agricultura e, sob:tudo, com a alimentação. Mas temos qincentivar a industrialização.
O Estado não tem vocação industrdefinida. A,Companhia Vale do Rio Do- CVRD, com o aparecimento de Caraj:já está desativando cerca de 50% a 6(de suas instalações, em nosso Estado. Ium esforço sobrenatural do seu presidemEliezer Batista, tentando ativar o Corredde Exportação, para exportação de cere,do Planalto Central e da região de MaGrosso do Sul e do Norte, para que se p<sa. interligando o trecho da rede ferroviáfederal, ativar esse corredor, para que o stema concêntrico de economia do nosEstado não venha sentir essa perda.
Não sentimos essa perda numa esc;maior, porque, há dois anos, a CompanlSiderúrgica de Tubarão apa~eceu no Es'do e, há três anos, a, Aracruz; por isso nnão sentimos os reflexos negativos da de,tivação da CVRD. Mas continuamos a blcar a sedimentação em cima do café e e~
é a grande preocupação nossa. Achamque o álcool e a soja são grandes alternavas para o Estado. O ES tem condições (cclentes para a soja. É preciso partir par,
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o maior temor dos empresdrios é não saber "qUfl[ vai ser a taxa de juros amanhã."
plantio de soja, não em áreas de 500 milha, mas em áreas de 8 a 10 mil ha.
O Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias - Fundap é um instrumento .da maior valia e significação para oEstado. Para que se tenha uma noção exatado Fundap - dinheiro que é arrecadado,fruto de uma balança comercial, através deexportação e importação -, nós temos condições de ter, só na Secretaria de Educação,uma verba mensal superior a quase 600 mi;Ihões de cruzeiros, a nível de Fundap. Eum dinheiro fácil, que ajuda ao Estado e,por outras forças de injunções políticas,nós não conseguimos vencer, ainda a barreira do Fundap. A grande vocação do Estadoé o setor agro-industrial. Precisamos desenvolvê-Io; caso contrário, estamos fadados a ficar batendo pé em cima de nossamonocultura extraordinária, o café, correndo um risco muito grande com responsabilidade para o futuro. Advogo a tese deque o empresário brasileiro, não só o cápixaba, deveria passar por um período chamado banguela, em que o empresário dalivre iniciativa leve um ano, mais ou menos,solto. Ele receberia todo apoio a nível governamental, institucional, para que pudesse correr durante esse período dando asasà imaginação, sem que o Estado caísse depau em cima dele, querendo receber e arrecadar mais.
Para os novos investimentos já estáprovado que o DL 880 não basta, porquea Sudene já oferece vantagens idênticas, namedida em que se observa que o Geres possui na sua carteira dez ou doze empresáriosnuma lista de espera para vir à mesa com acarta-consulta para ter seu financiamentoaprovado. Na região da Sudene, existemmais de 380 empresários nesta mesma lista de espera, aguardando a aprovação damesa da Sudene para projetos, principalmente no Maranhão, Pará e Bahia.
BURNIER - Quando se fala em DL880, se fala no Geres e em Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo - Bandes -, que são os dois pólos executores. Acho que o DL 880 é um fator importantíssimo para o desenvolvimento daindústria e, mais recentemente, da própriaagricultura e da agro-indústria, que faz afeliz ligação dos dois setores. Seria fundamentaI que tivéssemos um Banco de Desenvolvimento um pouco diferente do banco que temos hoje trabalhando. O Bancode Desenvolvimento deveria estar ao ladodo empresário, dialogando com a classe empresarial. Deveria quase que morar dentroda Federação da Indústria e da Federaçãoda Agricultura. Deveria ter ante-projetos deestudos, de oportunidades agrícolas eindustriais. Devia pensar muito mais como
"Hoje, temos uma indústriaque participa com 30 % doproduto interno bruto, aagricultura com 12 % e orestante de serviços".
(Caliman)
um Banco de Desenvolvimento do que como um grande caixa de recursos do DL 880.
O empresário hoje, tem dois grandesproblemas para investir: a remuneração queele está tecebendo pelo capital através doSistema Financeiro eos entraves burocráticos de aprovação de projetos. Se o Bancode Desenvolvimento não se imbuir, desde ohomem que é ascensorista ao presidente, deque eles estão a serviço da micro-empresae do empresário e que a tarefa fundamentaI deles é multiplicar o lucro das empresas,nós estamos falando grego.
Há uma série de coisas que precisamser discutidas para que o empresário nãochegue ao Banco de Desenvolvimento como chapéu na mão, acanhado ou até mesmocom medo, porque há posicionamentos deque se concede favor ao empresário, quedeixa de investir o seu dinheiro a 14% aomês e vai correr o risco num negócio, indoatrás do DL 880. A miséria com que são liberados os recursos é como se o empresáriofosse um verdadeiro assaltante que fosse assaltar os recursos do DL 880.
~íI....1ARTHUR COUTINHO - Existe umamentalidade dentro do Bandes, pelo menos.eu acho, em que os interesses dos funcio-IIIIIIIIIInários não coincidem com os objetivos dobanco. Isso pode ser percebido de uma maneira subliminar, talvez muita gente nãopense assim, efetivamente. Percebi isso hámuitos anos no banco, devido ao grandecontato que eu tinha. A sobrevivência dostatus do Bandes depende da disponibilidade de recursos para mantê-lo. Não estouaqui para me queixar do Bandes, porqueele me' deu bastante apoio. Mas acho que oES construiu uma estrutura industrial atéde certo porte, com o DL 880.
Existe uIl'Ul mentalidade, que uma veterminado e implantado, o empresário deve se virar. Esse é o pensamento do Geres,do Bandes e do BNDES. Todos os investimentos que nós fizemos, a participação dosincentivos fiscais nunca chegou a 150/0.Houve urna época em que nós tínhamos dinheiro subsidiado, com 20% de correção,mas urna parte não era subsidiada e, posteriormente, isso terminou e se apanhou dinheiro a ORTN + 5% de juros. No mercadode hoje, a ORTN é + 30%. Só que esse dinheiro que eu apanhei não era para aplicarno mercado financeiro. Esse dinheiro, hoje, está se transformando numa bola de neve para algumas empresas que tiveram problemas, seja por que razão for. Logo, essedinheiro está engolindo o capital de giroque o em.gresário "entrou". Recentemente,para nos arranjarem 500 milhões emORTNs parecia que estavam fazendo omaior favor do mundo à uma empresa. Es-
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Mini-produtor é a prioridade da Secretaria da Agricultura
se dinheiro .nãdvai ser aplicado no mercado
r". '.' financeiro. Nós esta.mos gerando riquezas,.. pagando encargos, ao Bandes. A primeira
coisa que o empresário precisa no Brasil éde um pouco de tranquilidade. E como elepode obter essa tranquilidade mínima? Precisa ter um certo apoio para fortalecimentode seu capital de giro, para minimizar seuscustos financeiros. Hoje, o nosso pavor é acorreção monetária.. Em compensação te'mos amigos que vibram com isso, porque odinheiro deles está todo no mercado financeiro; mas o nosso dinheiro está na produção. Nós ficamos apavorados com essa inflação de 12,6%. em janeiro e com a perspectiva demais. Isso para nós é um desastre.
O nosso mercado está achatado, ,osnossos produtos estão sofrendo achatamento. Pior, eles não 'estão nem controlados,estão soltos e no chão, porque o governoestá importando, subsidiando produtoresde outros países e jogando no mercado, nosarrebentando, ao produtor e ao industrialbrasifeiro. Precisamos ter um pouco detranquilidade e para isso temos que estudarum meio para que as empresas tenham capital de giro próprio. Deveria ser admitidaa hipótese que desde que o empresário"pusesse" algum dinheiro, que o Geres ainda subscrevesse capital de giro, para algumas empresas. Acho que teria que ser capital de risco, mesmo.
Hoje em dia, arranjar dinheiro, principalmente se a empresa estiver em dificuldades, é muito difícil. Esse é um custo elevadíssimo para a atividade deles. Vou citarum exemplo. Conversando com um amigo
"O Governo do Estado temdirigido todas as atitud~s paraa classe trabalhadora e para omicro-proprietário".
(Burnier)
argentino, ele contava a situação de umaempresa argentina que ele havia visitado.Ele é representante de empresas argentinasque vendem produto para branqueamentode celulose, e que estão trabalhando a 30%da capacidade, e o Brasil tem mercado parao produto, e ele queria trazer para cá. Elevisitou essa ,empresa e perguntou ao empresário se ele não tinha interesse em investir no Brasil. O empresário respondeuque não queria abrir um novo mercado duvidoso, porque estava trabalhando a 30%de sua capacidade e não estava devendonada a ninguém. Afirmou que tem seu capital de giro e está esperando a época emque a economia do país vai se revitalizar e,então, baseado num mercado efetivo, elevai crescer. "Não vou crescer para venderuma vez e não vender mais", foi a conclusão desse empresário. O nosso maior custoatualmente, é o financeiro. O nosso paíspossui uma economia mais jovem do que aArgentina. Ainda não tem a solidez desejada. Não é possível o empresário continuartrabalhando feito louco, atrás de banqueiro, procurando saber onde arranjar dinheiro um pouco mais barato. O empresário
tem que estar voltado para a produção,zendo negócios de grande risco para poctocar sua máquina. Tem que estar aparelldo para reduzir sua capacidade de acorcom o mercado e voltar a sua plena carga
O ES é um Estado, embora de dim,sões não muito grandes, que tem uma sittção privilegiada para o desenvolvimento'agro-indústria. Tem terras boas, uma tOfgrafia razoável e pode se desenvolver. Mexiste uma coisa pelo qual todo mundo (veria lutar, se se pretende desenvolveragro-indústria e a agricultura. Não é posvel desenvolver a agricultura sem subsídi(como ocorre atualmente, com um mer<do achatado com o nosso e com o imposque temos. Não é possível entregar 25%nossa produção a título de imposto"Funrural.e ICM. Ninguém resiste a isso. rmundo inteiro os produtores agrícolas s;isentos ou tem alíquotas de' 2% a 4%,maior que se conhece, e o Brasil tem 25%
TEIXEIRA - Já existem rumores .'que a Comissão para o Plano deAção (Governo - Copag, teria preocupação commodernização tecnológica,' em termos I
proposta de política industrial para opa:Nesse sentido, a informática seria a pebásica dessa política, além da atuação eoutros ramos como química fina. Teriatambém, como apontam, necessidade (reativar investimentos em setores que, apsar dos anos de recessão, já se aproximados seus limites de capacidade, como écaso do segmento industrial de papel e ,clulose. Nesse sentido, como o ES parti(paria desses novos rumos da econorni,
Um outro aspecto, é que a FundaçiJoão Pinheiro vem efetuando estudos qtvisam subsidiar a nova orientação de po]tica econôm,ica do governo Tancredo Nves. Tendo a preocupação de abandonarmodelo de crescimento centrado no mecado externo e de levar uma reestruturaç~
do Sistema Financeiro de Habitação, detaca a importância de ativar a construç~
civil para a economia do país, por ser u!segmento de capital nacional e grande grador de emprego para a população de b~xa renda, a curto prazo.
A Fundação lembra também que ostor é responsável por 11% da populaçãeconomicamente ativa dos centros urb:nos do país e representa 4,5% do PlB br:sileiro. Estima-se, ainda, um déficit de 7,milhões de moradias entre 1985 e 1990.
Quais são as perspectivas do ES neSlparticular, sabendo-se que a construção cvil foi a responsável pelo emprego de mutos daqueles que vieram para a Grande Vtória, no período da erradicação do café,f!~~ da mesma forma são imensos os défcits. habitacionais da população de baixrenda no ES?
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Sumier teme que a Nova República reprise a polltica agricola do ES
Um outro ingrediente, para o enriquecimento das discussões, é que o ES é umEstàdo que vem tendo um comportamentoeminentemente agrícola. E daí uma novaquestão:
Quais são os rumos da agricultura capixaba na Nova República?
BURNIER - Quando se fala na NovaRepública, eu tenho dito que nós no ES jáa vivemos desde a ascenção do governo Camata, porque desde esse fato nós temos, nogoverno local, correntes mais à direita emais à esquerda. Correntes que respeitam eacham que a solução ainda é a iniciativaprivada, e correntes que não respeitam a.iniciativa privada, acham que o modelo está superado. Essa dicotomia é característica do governo que estamos vivendo desdea posse do Governador e antevejo a NovaRepública com características semelhantes.Nós vivemos aqui um verdadeiro laboratório do que vai ser o Brasil daqui para frente. Sem dúvida nenhuma, a área agrícola doEstado .~ a nossa Secretaria de Agricultura,no contexto nacional e nos governos deoposição, é a mais avançada. Não é apenasà Lei de Terras que estou me referindomas, basicamente, toda a ação da Secretaria da Agricultura é voltada para a área domini-produtor, do trabalhador. Uma definição básica da Nova República, é saber serealmente o modelo da agricult1J.ra do Estado do Espírito Santo será o modelo emque o Estado brasileiro vai se espelhar.
A palavra preferencialmente é mágica,por exemplo. O Governo do Estado vai preferencialmente dirigir as suas atitudes aopequeno proprietário. Ele tem dirigido nãosó preferencialmente mas' todas as atitudes, e não só para o pequeno, mas para aclasse trabalhadora e para o micro-proprietário. Na medida em que acontece isso, você está intranquilizando, colocando à margem, um setor que afinal de contas gerarenda, emprego e progresso e pode gerarmuito mais, se ele não for desestimulado.
Na Nova República e na nossa República Capixaba, é importante haver uma definição mais clara e mais objetiva do corpode assessores e secretários em algumas linhas que travam um diálogo mais estreitocom o empresário e a classe patronal.Quando se fala que o ES tem capacidade deaumentar sua área de cacau em 10%, parece que se falou palavrão. Porque cacau estáligado a gente rica, gente que não precisade dinheiro do Governo e da SEAG. Quemperde com isso é o ES, que deixa de gerarriquezas, e o trabalhador rural que perdeemprego. Quando se diz: nós temos tudono Estado para desenvolver um amplo programa de seringais. Aí dizem: seringueiraé coisa da Firestone, de grande proprie-
"Eu não sou agiota porquenão posso. Se pudesse,estaria na praia e seria o maioragiota do mundo".
(A. Coutinho)
tário. Mas a gente vê o pequeno cafeicultor, em Linhares, muito mais inteligenteque todos nós, começando a importar semente de seringueira de São Paulo. Essascoisas não podem ser colocadas totalmenteà margem, porque o Estado perde com isso.Há n~cessidade que essa Nova República seja revestida de grande participação do empresário para que ele não se sinta banido dosistema. Imagino que a Nova República,ainda seja uma República onde a iniciativaprivada e a propriedade sejam a alavancado progresso e do desenvolvimento. Se nãofor, então, acho que temos que colocar ascoisas às claras. Divorciar a classe trabalhadora e o empresário, é o maior ,erro de umGoverno.
No período das chuvas eu tive que pôrtrês basculantes consertando estrada parapoder passar com minha produção porqueno final do mês, tenho que pagar meus funcionários.
CALIMAN - Mas você tem condiçõesde ter a basculante.
BURNIER - Eu estou alugando basculante.
CALIMAN - Você tem condiçãoalugar e outro nem ,isso tem.
BURNIER - E claro que o rmtrrii'hptn
isso tem...CALIMAN - Então o Estado tem que
apoiar quem não tem...BURNIER - Não estou contra o Esta
do apoiar o mini-produtor. O que eu estoucontra é a gente recolher de Funrural 2,5%e quando o meu trabalhador chega no hospital de Linhares, eles dizem que a verbaacabou e eu tenho que pegar o trabalhador,com uma úlcera perfurada e trazer para Vitória. Sou contra isso.
Reclamo Com o Secretário da Saúdeque o meu sindicato de Barra de São Francisco, Colrtina, São Gabriel da Palha, nãotem soro anti-ofídico contra mordida decobra e eu tenho que ir ao Butantã, em SãoPaulo, pedir pelo amor de Deus à Federação da Agricultura de São Paulo, que mande soro de cobra para os ambulatórios domeu sindicato. Tudo isso porque só existem 8~ ampolas de soro anti-ofídico no Estado. E muito simples o poder público, atecnocracia, chegar e pôr a culpa e~ cimado empresário que está bem de vida edamassa trabalhadora que está precisando demelhores dias e de melhores condições. Essa luta entre a classe empresarial e o trabalhador não conduz a melhores dias. O papeldo governo e do t~cnico é mediar isso, nosentido em que o empresário possa viverbem e o trabalhador também.
MAURO - Gostaria que fossem abordadas as questõe: objetivas em termos de
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o corredor de exportação é fator de desenvolvimento para o ES
r éctivas levantadas pelo Teixeira.HERM~S LARANJA- No Espí
rito Santo já existe. algum ensaio eminformática: e celulose e,em relação àquímica fina, com a descoberta dessenovo poço da Petrobrás, passamos a terchances excelentes. Em relação à agricul:tura, defendo o café e a cana-de-açúcar. Epreciso partir _para a s?ja e as culturas alimentares básicas como componente naturalda sobrevivência. Quanto à habitação, achoque é um problema mais complexo. ACohab .não conseguiu se desamarrar desseimenso nó que é o BNH. Acredito que, anível nacional, teríamos três feitos muitoimportantes a serem atacados e que não foram porque a Cohab ficou muito preocupada com o número de unidades vazias eabandonadas, cujos contratos não foram renovados. Acho que o Programa de LotesUrbanizados é muito interessante e deve serolhado com atenção. O Progra~a João deBarro também é muito interessante e estámulto vivo, poderia ser levado à frente. Nocontexto de habitação rural nesse país, háuma dificuldade muito graruie de se entender que o homem do interior também temdireito a um conjunto habitacional. Ninguém pensa no colono, em construir umavila de três casas. Só pensam em conjuntoshabitacionais de 500 a 1.500 casas. Poderiaser dada atenção especial, na parte de saneamento básico. Acho que se dermos ênfase especial, na Nova República, aos programas agrícolas nós estaremos dando umgrande passo. O programa habitacional doGoverno não vai ser resolvido com a criação do Ministério da Habitação. Habitaçãopopular no Brasil é um problema de cabeça. O banco perdeu sua identidade, deixoude ser um banco de interesse social. A própria Sandra Cavalcanti, uma das criadorasdesse banco, hoje está se renegando. Eladiz que não criou nada, só. deu a idéia.
"A instalação de VoltaRedonda deveria ter sido feitaem Vitória".
(A. Buaiz)
Acredito que o banco vai ter que colocar oconstrutor, o agente financeiro, a Cohab eos mutuários, sentados numa mesa paratentar encontrar uma solução para essescinco mil apartamentos desocupados emItaparica e para as outras seis mil unidadesdesocupadas em todo o Estado. Da mesmaforma que temos essas 12 mil unidades habitacionais vazias, temos na favela do Macaco pedreiras despencando.
Uma solução caseira, e até demagógica,que poderia ser feita no Estado é um programa de Mutirão, como o governador deGoiás, Iris Resende, está fazendo. Constrói-se mil casas no domingo. É' um negócio que dá ibope, mas não sei se está resolvendo. Os resultados dessa casa, vamos sentir daqui a 6 a 8 meses.
CALIMAN - Para falar de perspectivas seria bom retroceder um pouco e pensar como foi esse processo todo. Sabemosque na década de 60, a indústria participava em 7% no produto total do Estado. Aagricultura em 50% e o restante era o setorde serviços. Hoje, temos uma indústria queparticipa com 30% do produto interno bruto, a agricultura com 12% e o restante deserviços. Se olharmos em termos da população economicamente ativa, nós teríamosa agricultura absorvendo 36% e o setor industrial 11%' Há uma disparidade na absorção de mão-de-obra. A tendência do Estado é buscar essa identidade industrial e, aomesmo tempo, ter a sua identidade agríco-
, la, embora nós já tenhamos o café e mais"recentemente, a indústria do álcool, a se-
ringueira e outras atividades. Nesse procso de industrialização, nós tivemos umase endógena, que partiu do trabalho árddos pequenos empresários e depois vei(legislação do governo de Cristiano Dias Ipes, que possibilitou maior desempenhosetor industrial local. E teve a outra faseeconomia brasileira e internacional. Er,os grandes projetos, que têm uma funçimportante a nível nacional e passaramter uma importância muitç grande a ní'local. Esse salto, principaHnente no se!industrial, foi em decorrência disso. A id,tidade, no setor industrial, vai ocorrer a 1
vel das indústrias que viriam ou que já I
tão vindo agregadas a esses grandes pro.tos. Issovai trazer indústrias de ponta, ,mo a informática que tem todas as con,ções de localização no Estado; a indústlda construção civil, uma das grandes geldoras de emprego.
Esse processo geral de transformaç;não aconteceu em nenhum Estado do Blsilo O ES tem uma taxa de crescimento etermos reais, no período de 70 e 80,até 15%. A indústria cresceu 18%. Hourealmente uma explosão, mas por outro :do, um processo de urbanização muigrande. Em 1960 tinhamos 40% da popu:ção localizada na zona urbana, hoje temcerca de 70%. Isso gerou um problema scial que demanda uma série de olltras ati'dades, inclusive industriais, como agro-idústria e produção de alimentos, para ateder à essa população. Vejo uma indústrde pequena produção, principalmente. paa região sul. Nessas regiões montanhosasestá assentada uma determinada estrutUlmais ou menos fixa, que é a chamada Fquena produção. Existe a outra que é a rvel de produção em maior escala, com tenologia mais avançada, na faixa norte (litoral, acima de Aracruz, Linhares, SiMateus, Conceição da Barra, que teria ,
9 reflorestamento, cana, seringueira e outr:rã~ alternativas de produção agrícola de exp'~ tação como o mamão-papaia, abacaxi, guÜ 'raná. Há boas perspectivas de colocação 1
mercado desses produtos. As perspectivna agricultura são boas, tanto na produçide alimentos como na ~~ fontes energéC<lS. No setor serv.iç..os~;;~~puve um aumenmuito grande do chamado setor intermdiário financeiro, em decorrência dos prdutos de exportação. A cidade possui grade quantidade de bancos, inclusive coperspectivas de bancos externos se localizrem aqui, como o City Bank. Mas é nqstor de exportação que está toda a pers~~
tiva futura. O Corredor de EXl'~rtaç~muito importante e o Estadw praticarriete, voltaria àe.staca zero ,sep~rgêSse esoportUJIidade. .
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BUAIZ - Você não vê o momentoatual do Corredor, como aquele em quefoi instalada Volta Redonda, no estado doR.io de Janeiro? Muita semelhança de comp,o,rtamento, essa distorção, esse poder politIco levando para algum lugar que nãoera o mais indicado e, muitos anos depois,Vitória tornou-se o grande Porto. .
CALIMAN - Inclusive, é só o governofederal decidir que vai ser em Sepetiba e,tranquilamente, será lá.
BUAIZ - Eles distorceram a instalaçãode Volta Redonda, levando para o estadodo Rio, quando deveria ter sido feita emVitória, no lugar onde está hoje, a CST. Retardaram a CST para o ES durante quantosanos? Mas a força da natureza é tão violenta que acabaram instalando aqui. E se oCorredor de Exportação não for instaladoaqui, vamos ter a mesma repetição.
CALIMAN - Inclusive, nem tanto como Corredor de Exportação, mas tambémCorredor de Importação. Poderia incrementar indú$trias locais...
ARTHUR COUTINHO - Também tema estrutura ferroviária. Não se pode comparar a estrutura existente aqui, pelo menosaté o trecho da Companhia Vale do RioDoce, com a estrutura do estado do Rio.
BUAIZ - O Governador anunciàva hápouco tempo, muito contente, a descoberta de um poço de gás. Comenta-se que aCVRD está pronta para absorver toda aprodução do gás porque ela já utiliza gás.Eu diria, como industrial, que acho issouma injustiça. Nós achamos que o gás deveser distribuído. Não só para as grandes companhias. Temos indústrias que, hoje, utilizam a lenha. Saímos do diesel para a lenhae queremos sair da lenha para o gás, que éuma operação muito mais simples e econômica. Até sugerimos à Companhia de Exploração da Terceira Ponte - Ceterpo, quedesde já, aproveitasse a.estrutura da 3aponte para colocar a tubulação para o gás ea água. Seria bom prever isso, porque vaificar muito barato. Vila Velha vai se desenvolver muito e ter problemas dessa natureza. As indústrias localizadas do outro ladoseriam beneficiadas, assim como as nossas.
JOSÉ ANÉSIO - Talvez não fôssemosos mais indicados para falar de perspectivaseconômicas, porque temos dificuldades deacesso às fontes de informações. Por tudoque foi dito há uma preocupação da nossaparte em relação as perspectivas econômicas do Estado, se não houver uma ligaçãoda questão econômica com a questão social que está sendo abandonada, de formavisível quando se fala da questão econômica. Hoje temos um grande número de desempregados no Estado, e são pessoas quepara se manterem vivas precisam de alimen-
tação, moradia, trat<i.mento médico. Essaspessoas não estão produzindo...
BUAIZ - Não estão produzindo nemconsumindo.
JOSÉ ANÉSIO - Exato. E a gentequestiona isso. Vamos dar exemplos pequenos mas importantes para essa discussão deperspectivas econômicas do Estado. O casodo padeiro que fabrica o pão e não podelevar para casa, do operário da construçãocivil que não pode morar na casa que constrói. Há uma distorção. Os empresários daindústria, também não têm o consumo doseu produto como deveriam ter, com essepessoal trabalhando e ganhando. Às vezesa gente fica preocupado quando se falamuito a respeito da iniciativa privada e nãose preocupa com pequenos detalhes quesão importantes. Nós temos uma bandeirade luta que é o fim da jornada de trabalhoexcessiva que mata o trabalhador e não permite novos empregos. Nós temos exemplos,inclusive. Há uma ligação muito grande entre o Governo do Estado e a iniciativa privada, que de certa forma está lá dentro, porque são as empresas encarregadas de construir a 3a ponte, quando temos pessoasdormindo na fila para conseguirem um emprego e existem os que estão empregados,fazendo horas extras. Os empresários queexportam só têm interesse em produzir oque exportam, porque aqui dentro, nãotem consumo interno. Se junto com a política econômica não for levada uma política voltada para o problema social, vamoster sempre um Estado com desabamentos,como no Morro do Macaco, em Tabuazeiro, o pessoal com medo de andar na rua,porque tem gente passando fome que rouba o que encontrar pela frente. O moradornão pode sair para visitar um parente porque quando chega não tem mais nada dentro de casa.
Tem que haver uma conscientização por parte do empresariado e do governo, para ver a questão do problema social. Nós participamos, na Secretaria de Estado da Indústria e do Comércio - SEICde uma comissão, onde em algumas reuniões foi discutido o problema da construção civil. Hoje, os empresários do ES trazem o material consumido nas construções,de fora. Naquela época, os que entendiammais do assunto, nos deram uma idéia importante .. Por que não criar, aqui no Estado, as indústrias que produzem esses materiais? Isso geraria mais empregos e talvez oscustos ficassem menores. O trabalhadornão tem culpa dos custos altíssimos, que oimpedem de morar na casa que ele próprioconstrói.
BURNIER - Será que a culpa é só doempresário que constrói a casa?
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JOSÉ ANÉSIO - Também não colocamos a culpa só no empresário. Mas tem quehaver discussões, mesas redondas, onde sedebatam esses problemas com a participação dos trabalhadores, que sempre estiveram à margem de qualquer discussão. Napolítica habitacional desse país, o trabalhador nunca participou. E a gente sabe que amaior parte do dinheiro que tem no BNH,é do trabalhador. Tanto é que quando otrabalhador é mandado embora ele retiraum total que tem lá; mas ele nunca participou. O Secretário Hermes Laranja faloudo número de apartamentos e casas populares que estão vazias: e o operário da construção civil não pode pagar a prestação deuma casa dessas.
CALIMAN - Realmente, existem questões gerais que são políticas mais globais.Deveriam ter um rendimensiónamento. Amargem de manobra que o Estado tem éínfima. Em política habitacional o Estadodepende do BNH, em política industrial depende do Bandes, em poHtica agrícoladepende do Ministério da Agricultura.
BURNIER - Calimart, o que me cons.traJ1ge é que toda vez que o Governo do Estado fala que a arrecadação melhorou, imediatamente fala-se em dar aumento ao funcionalismo público estadual. Parece quenós empresários e trabalhadores, que arrecadamos imposto, vivemos só para pagarfuncionário público. Isso está errado. Estamos reclamando porque damos 25% donosso produto para o governo e dos 25%que vai para o governo, grande parte é para pagar a máquina do Estado. Vai chegarnum ponto em que nós vamos preferir queo governo em vez de manter uma empresaque tenha 400 técnicos para dar assistênciaao campo, faça um ch~que e dê para cadacafeicultor do estado. E mais rentável paraele receber o cheque do governo do quemanter a máquina para dar assistência...
CALIMAN - Compreendo perfeitamente. Isso é uma questão histórica. Ao assumir o planejamento, o ICM correspondiabasicamente a 75% da folha de pagamento.Hoje, corresponde a 120%, 130% da folha.Já existe uma certa margem de aplicação deinvestimento e também de melhoria na própria capacidade de desenvolvimento do Estado, que permite tomar empréstimo e .pas-
.sar a investir, Não é um negócio que se resolve de um momento para o outro, umavez que, a nível da estrutura geral de governo municipal, estadual e federal, sabemosmuito bem que o Estado e os municípiossão muito massacrados eo peso maior. daresponsabilidade não ,é cobrado, pelo povo,do governo federal. E cobrado do município, do prefeito que está lá perto dele. Em
termos de 'definição de uma nova situação,primeiro existe uma questão emergencial,que é a fome, o desemprego. Acho que te-
~mos que esquecer um pouco da recessão epensar em criar empregos, encontrar for
. m~ d, .lim""'" o povo, 1<0'" "di"donar o modelo existente.
JOSÉ ANÉSIO - Na cidade existe umgrande número de pessoas desempregadas,que vieram do interior porque não tinhammais condições de ficar por lá. Essas pessoas que estão sem produzir, quando andam por aí, encontram terras paradas, improdutivas. Enquanto isso. estamos trazendo milho de outros países, pagando umpreço alto.. BUAIZ - Você falou em questão so
cial abandonada. Eu perguntaria: quem aabandonou?
JOSÉ ANÉSIO - Emitindo um pontode vista, pessoal, a administração do país;e, desculpem os senhores, pelo grande interesse que os empresários têm do lucro.
BUAIZ - Estou muito a vontade para te responder. Quando compareço à umamesa redonda, compareço para aprendertambém. Nós também não temos acesso a muitas informações, nos sentimos tãotraídos quanto vocês. A bandeira de lutaque você mencionou, nós também queremos segurar, porque precisamos obter maisinformações. Se você me perguntar o quevai acontecer amanhã com o meu negócio,eu não sei. Se me perguntar quais as taxasde juros para amanhã, eu não sei; se as linhas de crédito serão mantidas, tambémnão sei. Nós não sabemos uma porção decoisas. Considero os empresários, assim como os empregados, uns heróis, por nosmantermos trabalhando da maneira comoestamos, porque qualquer outro já teriaabandonado o negócio. Teria convertidoseu negócio em cruzeiros ou dólares. . •
COUTINHO - Por isso é que existeo desemprego: o empresário está desestimulado•..
BUAIZ - E não se pode condená-los.Quando você falou que o padeiro faz o pãoe não pod~ levar para casa, eu concordocom você. Acho que ele deve levar e aumentar o consumo de pão. Faço apologiado salário mínimo, justo, real. Nas reuniõesda Federação das Indústrias do Estado doEspírito Santo - Findes, não pense que estamos tão indiferentes, quanto vocês imagínam, ao problema social. Quando vemosroubos, assaltos, assassinatos, sabemos queé em função. de um problema social quenos amedronta. Estamos amedrontadostanto quanto vocês e pedimos a Deus que aNova República reencontre o caminho dassoluções, para podermos nos sentar, comtodos que quiserem para encontrarmos a
saída, com a nova ou outra república"qualquer. Muitas empresas nossas foram obrigadas a contrair empréstimos em dólares, porque não encontraram em cruzeiros, para semanterem em pé. O próprio governo forçou a pegar os dólares. Sabe qual é a situação de um empregador da construção civil?Muitos já ganharam muito dinheiro durante muito tempo. Mas hoje, eu duvido queestejam ganhando dinheiro. Um imóvelqualquer que passe de um mês para o outrono estoque tem um acréscimo de pelo menos 12%. Enquanto o preço do imóvel estásubindo, o poder aquisitivo está caindo.Numa entrevista da nossa emissora, o senador Moacyr Dalla, num determinado momento, irritado com as perguntas que eramfeitas sobre as nomeações, enfatizou commuita violência: Eu dou emprego sim! Enquanto puder eu darei emprego! Acreditoque a função do Estado é de criar empregos mas a função maior seria fazer com quenós criássemos emprego.
COUTINHO - A maior penalidadepossível, acho que é a pessoa se tornar umdesempregado. Ou se muda totalmente nossa estrutura econômica, ou se induz o empresárioa criar empregos. Tem que ser feitaalguma coisa, neste país, que tome investimento mellior que aplicação financeira.Um país de agiota não sobrevive. Nós, hoje,somos um país de agiotas. Eu não sou agiota porque não posso, porque se pudesse, estaria na praia e seria o maior agiota domundo.
BUAIZ - Diga-se de passagem que aclassificação de agiota não existe mais. Agiotagem foi oficializada, legalizada•..
COUTINHO - O governo garante ebanca a agiotagem. _
BURNIER - E muito bonito falar malde patrão. Eu quero colocar um governo nolugar de Eatrão;
JOSE ANESIO - Tem que haver ajudadas duas partes...
COUTINHO - N o Brasil ninguémtem acesso a informação nenhuma porquenão existe inforr.nação. Não se pode teracesso a uma coisa que não existe. Outracoisa importante. No Brasil existe a mentalidade de que o lucro é crime. Acho queo lucro é exatemente o embrião de tudoque se féz neste país. Sem o lucro o empresário não vai poder desenvolver .sua empresa, não vai poder dar melhores condiçõesde vida ao empregado. Ou mudamos total~
mente a estrutura econômica ou admitimosque o lucro é salutar.
MOSCHEN - Concordo com muitascoisas que o Burnier falou, mas tem outrasque é difícil a gente pensar igual. Não v.ejoboas perspectivas para a agricultura no estado. Acho que vamos enfrentar várias dificuldades. Se a gente não jogar de fato, Qe
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forma organizada, todos os esforços I
a!?!icultura, a gente não vai resolve.r nadAs empresas rurais só piorilm a situa:<,:ão'elavrador. Os grandes projetos não resolvenada. Se o governo quiser mesmo, ret6T'1o crescimento da economia, principalmete, da produção agrícola, ele vai ter que asumir uma reforma desta est!'utura agráriTem que assumir a distribuição das terr;concentradas nas mãos das grandes emprsas e que não estão produzindo. A elas:trabalhadora nunca participou de nada nese país .e agora ela começa a participar,governo sente a necessidade de botar a elase trabalhadora para discutir. O Burnier flou na questão da soja e outras culturas nEstado, como o álcool. Pois qual.foi o dque o governo sentou com algum pequenprodutor, para discutir como iria ser a inplantação dos projetos de álcool no mPessoalmente, acho que foi de forma err;da. Essas coisas têm que ser discutidaMuita gente fala que os pequenos prod1!ores são contra a implantação da soja. Nãé isso.
BURNIER - Não se pode ser contlimplantar usina de álcool em determinadelugares. Só a massa de emprego que é ger;da é uma loucura.
MOSCHEN - Mas tem hora que voegera emprego e tem hora que gera desenprego. POl;" exemplo: em São Mateus gerodesemprego. A partir do momento que sdesapropria 50 famílias e. se cria 500 enpregos, você não gerou empregt), mas desemprego. Essa é uma questão a ser discttida. São Mateus tem muitas regiões boapara feijão, milho, etc. E se o dinheiro qufoi aplicado em determinadas Coisas tivesssidQ aplicado em feijão e milho, não seripreciso comprar milho norte-americallePor isso é que é preciso discutirmos junto,caso contrário, não iremos encbntrar a selução nunca. Não vamos esperar solução dgente iluminada de gabinete, porque nãvai sair. A gente não acha que o Secretárié isso, que fulano é aq,illo porque fica.rmais do lado desse ou daquele. Democracinão é ficar do lado daqueles qué tem ma'capital, mas ficar ao lado da maioria. Ajtdar a construir uma sociedade que possservir a todos e não apenas a ilm grupeMas para issO' a gente tem que entenderque é democracia, porque a gente faz umconfusão entré democracia e a questão fnancfira da iniciativa privada.
BUAIZ - O que é democracia? Ete diria, que ainda nem sei o que é demecracia direito. Eu qUéro aprender.
COUTINHO - Não, tem regime nlnhum .no mundo que não seja democrat.Você já viu alguém dizer que p.ão seja dimocrata?
.".
POLITICAS
Para o Novo Governouma nova PolíticaI-labitacional
Associação Capixaba dos Mutuários do Sistema Nacional de Habitação - ASCAM.
o primeiro período legislativo desteano do Senado Federal poderá trazer importantes novidades aos mutuários brasileiros. Estará em pauta nesta casa a discussãoe aprovação do projeto de lei do deputadofederal Floriceno Paixão (PDT-RS) queprevê "a manutenção do Plano de Equivalência Salarial (PES) em sua forma original,estabelece os limites máximos de comprometimento de renda por faixa salarial, e autilização do Fiel para os mutuários desempregados".
A tramitação do projeto será aceleradaa depender do "loby" articulado pelos mutuários junto às bancadas do Senado. Porcerto que haverá resistência, mas o empenho do movimento dos mutuários serágrande para vingar esta proposta.
Se aprovado, o projeto do parlamentargaúcho vai "responder as necessidades emergenciaisporque fica garantido o Plano deEquivalência Salarial (PES) a todos os mutuários. Além disto, elimina os decretosque permitem a execução extrajudicial e judicial, e possibilitará uma redução razoávelnas prestações e participação de representantes dos mutuários no Conselho de Administracão do BNH.
Uma nOva fase na relação dos mutuarios brasileiros com o governo federal foiinaugurada recentemente pela Coordenação Nacional dos Mutuarios que .mantevereunião. com a Comissão parai o Plano deAção do Governo (Copag) do presidenteeleito Tancredo Neves. O relacionamentosai de uma etapa de sucessivos impasses epromete passar ao nível da negociação visando chegar. à elaboração da política habitacional do novo governo.
Os •representantes dos mutuários levaram à então equipe responsavel pelo plano governamental de Tancredo Neves umconjunto •. de. propostas que, se colocadasem pratica, darão um novo espectro à realidade habitacional brasileira. Trata-se desolucionar um problema que envolve milhões de brasileiros, prejudicados com apolítica de benefícios aos grupos financeiros em detrimento do adquirente da casaprópria.
As questões priorirarias levadas à Copag tratam da necessidade do governo tomar medidas saneadoras no plano habita-
cional: reconhecimento do PES extensivoaos que não ingressaram na justiça, revoga:ção dos crecretos nOS 2.164 e 70/66 ea leI5.741, sustação de todos os processos deexecução judicial ou extrajudicial, revisãodo programa Fiel, extinção do esquema dobônus previsto no decreto lei 2.164 e incorporação automatica de suas dotações aoFCVS/Fundhab, anulação da resolução17/84 (que aumenta em 30% os seguros dedanos físicos, morte ou invalidez pagos pelos mutuários), garantia da participação dossindicatos de trabalhadores no conselho curador do Banco Nacional de Habitação(BNH),fim do poder de autolegislação doBNH, reconquista das prerrogativas do congresso, participação nas comíssõesde planejamento habitacional, le.vantamento real dasituação dos fundos do SFH .e procedimento da analise das condições de habitaçãodos imóveis do si~tema.
Sem adotar essas medidas, dificilmenteo governo da "Nova Repúblíca"vaí conseguir minimizar a gráve situação do SistemaFinanceiro da Habitação e criar uma polí-
oSistema Financeiro de Habitação não atende a população carente..
assim como adotar e fazer cumprir umarie de medidas complementares que se csubstanciarão nas condições para a conslção e apropriação imediatas do maiormero de habitações em todo o territóriocionaI. Esta meta será conseguida atrada criação de condições efetivas e conetas para superar rapidamente (como usc:processos alternativos de produção) a r·ção negativa entre os custos da habita.e os salários; ainda a desativação das cdições à especulação em torno das habções construídas e do solo urbano.
A Coordenação Nacional admite c"a complexidade do problema leva a ucomplexidade da política habitacional enão deverá se traduzir em um elenco openaI de Títulos de Financiamento (prOlmas do BNH), mas sim em um conjU!amplo de condições paraa produçãomais variadas e possíveis formas, proFtas por cada organização comunitária,da segmento da sociedade, cada famíli
Os mutuários reivindicam ainda qcom urgência, seja ssumido um novo tnmento através da adoção de medidas pr,cas que descentralizem a concepção e a
.~ cisão sobre como produzir habitações~ que supõe a decisão fundamental de der~ cratizar o controle do processo de pro,
tica capaz de adequar-se aos propósitos dosmutuários brasileiros. A austeridade no trato da questão habitacional é imprescindívelpara superar os resultados desastrosos deuma política que privilegiou os grandes grupos econômicos.
Rec~peraros Prejuízos
Vai merecer muita~~ençãoda Coordenação Nacional dos Mutuários e dos membros da Copag a>~}~~ussão acerca dos prejuízos sofridos pelos adquirentes da casaprópria desde 1983, quando as prestaçõespassaram a ser reajustadas acima da variação salarial. Estima-se em Cr$ 65 milhõesas perdas dos mutuários até julho de 1984,com a aplicação dos índices de 130,42% e1'<)1% (julho de 1983 e 1984).
Até hoje o argumento das autoridadesde governo ao discordar da reposição dasperdas dos mutuários "é sua inviabilidadejá que as projeções feitas pelo BNH para odecênio 85-94 mostram uma FCVS incapazde cobrir suas responsabilidades, sem considerar o bônus e tendo incorporado às suasentradas os aumentos das contribuições dosmutuários e dos agentes fmanceiros implementados até 9 DL-2.164, inclusive".
As verdadeiras razões da atual situaçãodo FCVS não são divulgadas pelo BNH que,segundo a Coordenação Nacional dos Mu-
tuários, não admite que a contribuição daUnião (em tomo de Cr$ 2 trilhões) viriajustamente cobrir o atual "rombo" e nãogerar recursos para medidas que resolvessem a inadimplência dos mutuários. "Estequadro revela a necessidade de reformulação profunda de toda a sistemática de financiamento da casa própria implantada apartir de 1970, que teria seu primeiro teste em 1985 com o vencimento massivo decontratos. Mas, faliu antes" argumentou acoordenação.
Uma Nova Política
A equipe de planejamento de Tancre·do Neves tem em mãos um documento entregue pela Coordenação Nacional dos Mutuários, datado de 4 de fevereiro, que refle"te os objetivos do movimento e suas propostas para uma nova política habitacionalno Brasil. "Partindo da luta contra o aumento abusivo e ilegal das prestações da casa própria, através de ações judiciais que levaram o BNH ao banco dos réus, o movimento dos mutuários sente a evidência deque a sua luta está intimamente ligada a detodos os segmentos populares da nação",declarou a Coordenação.
A política habitacional efetivamentedemocrática deve assumir o déficit de habitação no país, de 1°milhões de unidades,
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"Há necessidade crecursos orçamentári(para a construção cmoradias para as comIdas debaixo renda."
ção das residências e da sua infra-estruturbana. "A consecução destes objetiatingirá não só o Sistema Financeiro da Ibitação, mas o mercado imobiliário, as j
mas de apropriação do solo residencialorganização produtora dos componel1construtivos e das próprias unidades", 1
saltou a Coordenação.
Onze Medidas
Alterando fundamentalmente a polca habitacionaldos últimos vinte anos, ddo uma tônica de reorganização da pro<ção do habitat, sua distribuição e seu c'sumo, os mutuários sugerem onze medi,para o novo governo. As principais de]sem dúvida, é o rigoroso controle das aj
,POLITICAS
Para o Novo Governouma nova Política l-Iabitacional
Associação Capixaba dos Mutuários do Sistema Nacional de Habitação -- ASCAM.
o primeiro período legislativo desteano do Senado Federal poderá trazer importantes novidades aos mutuários brasileiros. Estará em pauta nesta casa a discussãoe aprovação do projeto de lei do deputadofederal Floriceno Paixão (PDT-RS) queprevê "a manutenção do Plano de E9~va
lência Salarial (PES) em sua forma ongmal,estabelece os limites máximos de comprometimento de renda por faixa salarial, e autilização do Fiel para os mutuários desempregados".
A trami tação do projeto será aceleradaa depender do "loby" articulado pelos mutuários junto às bancadas do Senado. Porcerto que haverá resistência, mas o empenho do movimento dos mutuários serágrande para vingar esta proposta.
Se aprovado, o projeto do parlamentarga6cho vai "responder as necessidades emergenciais porque fica garantido o Plano deEquivalência Salarial (PES) a todos os mutuários. Além disto, elimina os decretosque pennitem a execução extrajudicial e judicial, e possibilitará uma redução razoávelnas prestações e participação de representantes dos mutuários no Conselho de Admínistracão do BNH.
Uma nOva fase na relação dos mutuarios brasileiros com o governo federal foiinaugurada recentemente. pela CoordenaçãoNacional dos Mutuarios que mantevereunião com a Comissão para0 Plano deAção do Governo (Copag) .. do presidenteeleito Tancredo. Neves. O relacionamentosai de uma etapa de sucessivos.impasses epromete passar ao nível da negociação visando •chegar à elaboração da política habitacional do novo governo.
Os representantes dos mutuarios levaramà então equipe responsavel pelo plano governamental de Tancredo Neves umconjunto de propostas que, se colocadasem pratica, darão um novo espectro à realidade habitacional brasileira. Trata-se desolucionar um problema que envolve milhões de brasileiros, prejudicados comapolítica de benefícios aos grupos financeiros em detrimento do adquirente da casaprópria.
As questões prioritarias levadas à Copag tratam da necessidade do governo tomar medidas saneadoras no plano habita-
cionaI: reconhecimento do PES extensivoaos que não ingressaram n.a justiça, revoga:ção dos crecretos nOS 2.164 e 70/66.e a lel5.741, sustação de todos os processos deexecução judicial ou extrajudicial, revisãodo programa Fiel, extinção dó esquema dobônus previsto no decreto lei 2.164 e incorporação automatica de suas dotações aoFCVS/Fundhab, anulação da resolução17/84 (que aumenta em 30% os seguros dedanos físicos, morte ou invalidez pagospelos mutuados), garantia da participação dossindicatos de trabalhadores no conselho curador do Banco Nacional de Habitação(BNH), fim do poder de autolegislação doBNH, reconquista das prerrogativas do congresso, participação nas comissões de planejamento habitacional, le.vantamento real dasituação dos fundos do SFH e procedimento da analise das condições de habitaçãodos imóveis do sistema.
Sem adotar essas medidas, diíicilmenteo governo da "Nova República" vai conseguir minimizar a gràve situação do SistemaFinanceiro da Habitação e. criar uma polí-
Cohab/ES recomercializa imóveis
Os mutuários querem resolver a questão da habitação na Nova República.
cações das diretrizes da política habitacional pelo Congresso Nacional e a transformação do BHN em entidade de caráter social.
Segue-se uma série de atitudes de relevo: extil)guir a intermediaçãb especulativa exercida pelos agentes financeiros, assegurar o critério de que os reajustes dasprestações tenham como limite a variaçãosalarial dos mutuários (respeitando o nívelde comprometimento de renda), submeterao controle dos assalariados o FGTS, descentralizar os recursos financeiros, destinar e garantir recursos orçamentários parasubsidiar a produção da moradia às camadas populacionais de baixa renda, asseguraro caráter social da política de locações reside,nciais, reformular a política do uso dosolo urbano e rural e garantir a qualidadeda produção habitacional e da infra-estrutura dos espaços residenciais urbanos aomesmo tempo que propicia e incentiva ouso de tecnologias apropriadas e de formasalternativas de construção de baixo custo.
"Os mutuáriospedem ao novogoverno o fim daautolegislação
do BNH."
o processo de produção do habitat será reorganizado com o engajamento das populações na produção de habitações e nocontrole de sua distribuição. Prevê a Coordenação Nacional, a substituição da organização técnica e so~ial de produção e reprodução, estabelecendo-se novos tipos deorganização na construção das unidades residenciais. Ao mesmo tempo, criam-se também as condições para a intensificação daprodução pela possibilidade de acionar programas de construção, simultâneos, em todas as localidades carentes. "O desenvolvimento de uma assistência ·eficiente e bemdistribuída, poderá apoiar o desenvolvimento ·'de processos racionais de construção rápida e barata, e a pesquisa de tecnologia simplificada poderá oferecer soluçõespara a produção de componentes construtivos em série", conclui a Coordenação Nacional dos Mutuários fechando o leque dasoportuníssimas considerações apresentadasà Comissão para o Plano de Ação para oGoverno do presidente Tancredo Neves.
A Cooperativa Habitacional doEspírito Santo (Cohab-ES) ultrapassouos limites da Lei e deu início a um processo de recomercialização dos imóveisque apesar de fechados são mantidoscom prestações quitadas por seus proprietários. A alegação de Fernando Rezende, presidente interino da Cohab, éque "esta medida está sendo adotada para evitar especulação imobiliária".
Aos que desconhecem a legislaçãoespecífica sobre o assunto, a Cohab estaria correta ao tomar esta decisão. Porém a Assessoria]urídica da Associaçãodos Capixabas Mutuários -Ascam -, está preparada para, de público,demonstrara verdadeira natureza da medida de cooperativa. "Não' temos conhecimento dequalquer respaldo legal que permita àCohab recomercializar imóveis. E se inexiste este poder, o mu tuário que sofreuesta medida poderá receber de volta suacasa, como garante o contrato ou TOC(termo de ocupação e compra)".
Até mesmo a direção da Cohab teminseguranças quanto à legalidade da recomercialização de imóveis. Pelo menos,foi isto que transpareceu durante o episódio em que ela tent~u recomercializar o imóvel da mutuária zilma Eny doRosário, o apartamento 201 do edifício Amazonas, no Conjunto Habitacional André Carloni (Serra).
Mesmo com o proptietário originaldo imóvel mantendo regularmente asprestações, a Cohab, usando do pressuposto que o apartamento está desocupado, acabou por ,vendê-lo a terceiro. Ofato tornou-se público por denúncia dapropriei~ária lesada e imediatamente acooperativa recuou de sua posição, de-
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Jales Júnior
volvendo o imóvel ao seu legítimo dono.
A Cohab não se dá por satisfeita.A diretoria da Cohab, Ormi Maria Littigda Fonseca afirmou recentelll;ente quetomarão "a mesma atitude" (de reComercializar) com relação aos imóveis fechados nos Conjuntos André Carloni eBoa Vista n.
Por que os imóveis estão abandonados? Só no município da Serra existemsete mil unidades desocupadas. Qual omotivo desta realidade? Uma afirmaçãopode ser feita: os mutuános não residemem seus imóveis por causa da impropriedade deles à habitação.
Os laudos periciais que foram realizados por técnicos da Cooperativa dosEngenheiros do Espírito Santo (Coopenge), ano passado, demonstram que omaterial de construção usado nos imóveis não corresponde às especificaçõesdo memorial descritivo. A maioria dasunidades tem problema de construção,tais como: rachaduras,infiltrações, faltade escoamento d'água, alicerces insuficientes, etc.
A inadimplência é outro fator importante no abandono dos imóveis. Oalto valor das prestações (irreal inclusiveem relação à qualidade real das unidades) provoca a retirada do mutuário quenão tem condição de arcar com as despesas.
Portanto, é injustificável que a Cohab queira salvar-se lesando continuamente os mutuários. Se o sistema financeiro de habitação corroe-se em irregularidades e absurdos, é necessário encarar isto de frente e buscar umasolução duradoura para o problema.
EUGÊNIO
Problemas na ocupação dasencostas e alternativas de solução
Fernando Bettarello *
*Arquiteto, Técnico em Planejamento Urbano e Coordenador dos Grupos de Estudos Urban(sticos GEU. do IJSN.
"14 de janeiro, 1985.Dia de muita chuva, fma,constante. Véspera de um dia histórico.Escolha de um novo presidente.No alvorecer desse dia,150 mil toneladas descemo Morro de Tabuazeiro, no maciço centraI.Bumba-meu-boi, como é conhecida a pedracausou muita'!. mortes. Ela estava na cotade nível de 120 metros e, logo abaixo, casas.Muitas; Favela de Tabuazeiro".
Es.te i ..o primeiro e, infelizmen~
te, não ser ..mo acidente nos morrosda .Grande 1 .. «a, enquanto não se partirpara soluções concretas. A Região da Grande Vitória apresenta topografia acidentada, onde asplll,nícies,afloramentosrocho-.sose elevações entremeiam-se i vales, mangues e canais. Os assep.tanfelÍtos human.psexpandem-se geralmente nos vales e, emocupações mais recentes, também nos morros. A Uha de Vitória possui um extensoafloramento rochoso do período terciário, cuja área equivale a mais de um terçoda ilha, atingindo em cimade seus pontosmáximos a cota de nível de 300 metroS. Orestante da configuração espacial possuiafloramentos rochosos menores formandos pequenos vales ou át:eas maiores e pla.nas reswtantesde aterros.
As transformações do espaço geográfico .original da Grande Vitória, que atébem pouco tempo vinham se dando de maneira constante e muito lenta, tesultante deuma espécie de "metabolismo" do meio natural, vem se processando nas duas últimasdécadas de modo incisivo, alterando fund~mentalniente a confotnlação do meio eas vant;J.gens locaeionàis anteriores com extrema rapidez, sob o risco, muitas vezes, doirreversível
As vantagens locacionais de uma áreasão determinadas quando. as vantagens urbanas se· avizinham às vantagens geágráficas. Neste caso, na Grande Vitória, osmangues, os morros, e terrenos de má compactação, passam a ser considerados comoáreas de poucaS vantagens locacionais.e, durante muito tempo, permaneceram vaziosem função da ocupação das áreas planas. ecom melhores condições de ha.bitabilidade.
A acessibilidade aos serviços públicos(escola, saúde, etc.) e ao comércio; a proximidade da faixa litorânea; a capacidade dainfra-estrutura instalada, associada a boaconstituição física do terreno, constituemo potencial específico devalor ede adensamento de algumas áreas urbanas. Assim.
são excluídos das localizações melhor seividas os grupos sociais de baixo pod~aquisitivo e, mesmo, os agentes econômcos de menor envergadura, incapazes dcustear os altos valores dos terrenos certrais.
Neste sentido, a ocupação dos temnos de menor vantagem locacional (moIros e mangues) tem sido uma alternativa;esses segmentos da sociedade.
A ocupa.ção, no entanto, tem sido dmaneira desordenada, onde cada'utll proctra os pontos de menor resistência, serqualquer preocupação com o equilíbrio epreservação ecológica desses espaços. Nomorros, a ocupação modifica a coberturvegetal, em especial de bacias hidrográficade· pequena área e localizadas em solos ddesagregação, .logo acima de rochas. crist~linas, como bacias formadoras dos cursod'água, que desciam do maciço central àilhas de Vitória. Têm os riachos origináriode. pequenas bacias de· grande declividad~
quando retirada a cobertura vegetal daáreas de entorno, a possibilidade de tend~
rem ao regime intermitente. Nestas bacÍala erosão se verifica de maneira muito maiacentuada, onde grandes declividades el1solos originários de inteperismo rochos
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Vitor Huqo-VIX
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Vitor Hugo-V IX
No morro da Gurijica,várias pedras na iminência de
desabar podem reprisaro acidente 'de 15dejaneiro...
o deslizamento da pedra"Bumba-meu-boi", pesandomais de 150 mil toneladas,destruiu dezenas de barracosdeixando um rastrode desolação no morrode Tabuazeiro.
Mais de 50 vidas foramdestroçadas na iragédiade Tabuazelro.
causam deslocamentos de massa, além deerosão superficial muito mais intensa. Alémdisso, as enxurradas passam a carrear quantidades maiores de partículas do solo, oque, frequentemente, ocasiona o entupimento dos sistemas de drenagem pluvial cobrindo de lama as ruas da cidade.
A retirada da cobertura vegetal paraocupação, além de expor o solo à ação daschuvas e facilitar a ocorrência de desbarrancamento, elimina, em grande parte, o potencial paisagístico e seu virtual aproveitamento para um uso coletivo, como lazer, paraa população e pulmão verde para a cidade.
No aspecto sanitário, um primeiroponto que desaconselha a ocupação e adensamento dos morros é a dificuldade deabastecimento d'água acima da cota de nível de 50 metros.,Os reservatórios da Cesan estão localizados na cota de nível de 50metros e o abastecimento, acima deste nível, só se faz com a instalação de subelevatórias.
O segundo ponto a ser considerado,diz respeito à rede coletora de águas residuais. Declividades muito elevadas ocasionam grandes velocidades na rede com oconsequente desgaste das canalizações, oque obriga, nestes casos, a implantação dedeclividades artificiais, as quais exigem número elevado de poços de visita encarecendo, sobremaneira, a implantação da rede.Como declividade limitante para a rede deesgotos deve-se considerar sempre o valorde 300/0.
Estes três aspectos citados, isto é, aconstituição física dos morros da GrandeVitória (solos de desagregação logo acimade rochas cristalinas), a dificuldade e o custo de abastecimento acima da cota de nívelde -50 metros e a ocupação de áreas verdescom declividade acima de 30%, nos indicam que: 1) não se deve permitir o adensamento acima da cota de nível de 50 metros; 2) nas áreas que ainda estejam vazias,destinar um uso coletivo que desestimulea ocupação para residência; 3) nos pontoscríticos, sujeitos à erosão, remover a população .para outra área da Grande Vitória,dando a esta área um uso coletivo.
Isto, no entanto, deve ser parte do processo. O:simples 'controle de densidade ou aproibição de ocupação em áreas acima detal cota de nível ou tal declividade não resolve o problema. Novos espaços devem serabertos para recolher, tanto a populaçãoque a cada dia se urbaniza mais rapidamente, o crescimento da atual população urbana, como para'os grupos sociais de baixopoder aquisitivo que não têm acesso à moradia (entendida no sentido amplo, comosendo o somatório de habitação e equipamentos coletivos). Muitas áreas livres naGrande Vitória (excluídos os morroS emangues) são bloqueadas ao uso social específico, para atenderem ao uso especulativo da simples e pura valorização fundiáriado espaço edificável. Essas áreas livres sãoos chamados "vazios urbanos", isto é, es"paços infra-estruturados, cercados por atividades urbanas, mas sem qualquer uso.
A ocorrência desses vazios, além de dificultar q atuação dos órgãos encarregadospela instalação de serviços públicos, implicana incapacidade dos governos, municipais eestadual em responder pelos programas deinfra-estrutura básica, já que os custos unitários são multiplicados na proporção daestocagem de terras.
Em trabalho recente, elaborado a pedido do BNH, foram detectados, na GrandeVitória, o espaço compreendido entre orio Jucu, contorno da BR-l Dl e Jacaraípe,aproximadamente 7.sob ha de vazios urbanos e infra-estruturados, ótimos para ocupação urbana. Com uma densidade baixa(residências unifamiliares), estes vaziosabrigariam uma população em torno de1.500.000 pessoas, isto é, o dobro da atualpopulação da grande Vitória.
Quando é proposta a não ocupação,nas situações expostas anteriormente, dosmorros e mangues, a alternativa passa pelafunção social da terra. Estes espaços vazios devem ser ocupados. Deve ocorrer umtrabalho conjunto entre União e Município, onde estes últimos usariam a atribuição específica de taxar as glebas vazias com
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um imposto progressivo, forçando para q\esses terrenos tenham maior utilidade.União caberia, através do BNH, ir adqlrindo estes vazios e neles implantar progrmas para baixa renda, como o Profilurb cimplantar novos programas baseados rConcessão Real de Uso. A partir de unnova redistribuição dos tributos (refomtributá~ia) os municípios e os Estados dvem implantar programas que tenham c'mo objetivo ocupar esses vazios, com USlque lhes dêem uma função social. A renvação para esses espaços das populaçõ,que atualmente ocupam áreas críticas sit,ando nos mOrros e mangues, deve ser udos objetivos.
Esses pontos críticos devem ser corigidos e neles serem implantadas ativid.des públicas que atendem ao coletivocom isso, impedir que ocorra novamenteocup,!-ção residencial.
A primeira vista, pode parecer que n~
existem recursos para se viabilizar essa proposta. No entanto, a urbanização de OClpações feitas em mangue (p. ex.: bainSão Pedro / Santa Rita - custos estimad<em 19133 para obras de aterro e infra-estr1tura giraram em torno de Cr$ 2.000.00para cada lote de 80 m2 - Maria Ortiz), onos morros (o. ex.: contenção de,encostasbombas de recalques, etc.) tem um custmuito mais elevado, e na maioria das vzes não resolve,' do que a aquisição de glbas vazias e da implantação de program,especiais, que têm uma situação duradoUJe com melhores condições de habitabildade.
Existem alternativas de soluções, o qlfalta é o compromisso político. Com o incio de um novo momento político torna-~
uma questão central ter como objetivo cpolítica urbana, a alteração do processo b:~ico relo qual ~ e~paç,o urbano se ~ro~uze soclalmente dtstnbUldo e consumIdo;
É necessário assumir a política urbal1como a estratégia de alteração das bases dprocesso urbano para ",~ransformá~lo nUImecanismo de distribuição de renda reaPortanto, a política urbana, no limite, p<de constituir-se na política social por eXCllência, e ocupar posição importante ncplanos do Governo e na mobilização poltica. Nela passará a ser fundamental a que:tão de como 'prover sistematicamentehabitação e os serviços urbanos essenciaao atendimento das necessidades mínimade todas as camadas da população. Portarto, isso significa alterar as condições dprocesso imobiliário urbano, alterar a pr<porção do excedente econômico control<do pelo Estado a ser transformado em sulsídios à habitação e aos serviços públicc-, e alterar a gestão do aparelho de Estadresponsável por estas questões.
Fundação Ceciliano abreespaço para o escritor capixaba
Reinaldo Santos Neves *
*Responsável pela Editoria da Fundação Ceciliano Abel de Almeida - FCAA
A Fundação Ceciliano Abel de Almeida está começando, agora em 1985, o seusétimo ano de atividades editoriais. E parece importante assinalar que, durante esseperíodo, ou seja, desde 1979, vem se mantendo como única instituição capixaba adedicar-se formalmente, entra ano e saiano, à edição de livros autenticamente capixabas. Isso não significa que a FCAA queira eSsa exclusividade, essa espécie de monopólio. Mas o fato é esse, e merece registroquando se analisa o trabalho da FCAA. Simplesmente não há como negar à Fundaçãoo mérito de ter sustentado, nesses seis anos,praticamente sozinha, o encargo de confiarno livro capixaba e investir nele. Sem aFundação, a literatura e a historiografia capixabas, já por si tão pobres, seriam certamente mais pobres em um número substancial de títulos de grande importância.
Porque a FCAA, por uma questão delinha editorial, só existe para o livro capixaba. O que não é tão rígido quanto podeparecer, já que dentro da categoria livro capixaba abre-se um leque um tanto amplo,que permite a inclusão não só do textoescrito por autor natural do Espírito Santo(ainda que, como Rubem Braga e Geir Cam-
pos, se tenham radicado em outros Estados) como também por essa figura meio indefinida que é o autor radicado no Espírito Santo (portanto capixabizado). Permite a inclusão, também, de um estudo deimportância sobre assunto capixaba, escrifo inclusive por autor estrangeiro. Essa é,basicamente, a linha editoria>l estabelecidapela FCAA. Uma política que se desdobra,na prática, em quatro coleções específicas.Estudos Capixabas, que inclui exatamenteo que o seu nome indica. Letras Capixabas,que incorpora 'toda a literatura capixaba(conto, romance, poesia, sátira, crônica),escrita por bons autores do presente e dopassado. Livro do Aluno, que inclui textos didáticos para uso nas salas de aula universitárias. E a caçula, a Coleção Taruíra,inaugurada em fins de 1984, de literaturainfanti1. (A escolha do nome Taruíra, umregionalismo, reflete bem a preocupaçãodominante na FCAA de valorizar até essenível de detalhe, sempre que possível, acultura capixaba).
Dentro dessas coleções, a FCAA temfeito de tudo um pouco; um pouco quequeremos crer já pode ser considerado umacervo, um patrimônio, um iIl~~.~tário..i~~pressa do pensamento c3;pixaba';eq.~~®ve
nha a ser cada vez muito mais ainda.Num apanhado geral, o que foi feito
de mais significativo de-tudo-um-pouco?
A FCAA recuperou licou um do-cumento huma e t rdinário interes-se, fonte primá studo da imigra-ção estrangeira no , que é Memóriasde um imigrante italianô,de Orestes Bissoli; reeditou livros clássicos como Insurreição do Queimado, de Afonso Cláudio,Canoeiros do Rio Santa Maria, de;.Ribasda Costa, a originalíssima Gramática portuguesa pelo methodo confuso, de Mendes Fradique; publicou estudos de alto nível sobre diversos aspectos da cultura doEspírito Santo, como a História do teatrocapixaba, de Oscar Gama, e o Romanceiro capixaba, de Guilherme Santos Neves;
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Textos capixabas raros1. Braz Rubim. VOCABULÁRIO BRASILEIRO (1853)2. Pessanha Póvoa. LEGENDAS RELIGIOSAS DA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO
SANTO (1869)3. Azambuja Susano. A BAIXA DE MATHIAS (18S9)4. Azambuja Susano. COMPÉNDIO DE GRAMMÁTICAPORTUGUEZA(1851)5. José Marcelino Pereira de Vasconsellos. JARDIM POÉTICO. la série (1848);
2a série (1850).6. Anônimo. BRAZILIAN IMPROVEMENTS, MORE PARTICULARLY AS
REGARDS THE PROVINCE OF ESPÍRITO SANTO (1825).7. Edgard Wtlberforce. BRAZIL VIEWED THROUGH A NAVAL GLASS (1856)lt Hugo Wernicke. DEUTSCH -r- EVANGELISCHES VOLKSTUM IN ESPÍRITO
SANTO (1910)9. Misael Pena. O LIVRO NEGRO (1874).
10. Antunes de Sequeira. A PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO (1884)11. Manoel Jorge Rodrigues. FUGITIVAS (1883)12. \\Uliam John Steains. AN EXPLORATION OF THE RIO DOCE AND ITS
NORTHERN TRIBUTARIES (lM8)
Todos esses textos encontram-se à disposição dos in·teressados, em. microfilme, na Biblioteca Central daUFES. O texto de Steains foi publicado na Revista doInstituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, edição de 1984,. em tradução executada pela Editora daFCAA.
publicou nomes já consagrados de hossaliteratura, como Renato Pacheco e os expatriados Geir Campos e Rubem Braga(~ste. n~ma co-edição com a Sedu/ES, quedlstnbUlu grande. parte da tiragem entre asescolas da rede oficial de ensino); reuniuem livro, graças ao trabàlho do Prof. JoséAugusto Carvalho, a poesia quase toda desse mito da literatura capixaba que é Audífax de Amorim; reuniu em livro, pela primeira vez, os contos de Fernando Tatágiba; revelou o talento de gente como Bernadette Lyra e Luiz Guilherme Santos Neves; acreditou no autor jovem, vários delesalunos da própria Universidade, como Sebastião Lyrio, Flávio Sarlo, Paulo RobertoSodré e Sérgio Luiz Blank (este último emedição alternativa); institui concurso literário anual, com alternância de gênero de anopara ano (contos, romance, poesia), que revelou o talento de Adilson Vilaça; sem esquecer de antologias como Poetas do Espírito Santo (organizada por Elmo'Elton) eduas antologias de autores novíssimos, reunindo textos produzidos em oficinas literárias da Ufes, Ofício da palavra e Traçosdo ofício; co-editou, com a civilização Brasileira, Benedita Torreão da Sangria Desatada, de João Felício dos Santos, que romanceia a história trágica da revolta dosescravos de São José do Queimado, na Serra, em 1849; além de vários outros títulosfora de coleção, como Escritos sobre osescrit~ .. ck Lacan, de Tania Chulan, Histórias de um vellio pescador, de Deomar B.Pereira, Expressão de cerâmica em São Mateus, de Lilian Siegle e Elizabeth Pereira,Cartões a Lálace, de Almeida Costa Coursin, etc.
Uma preocupação constante da FCAAé possibilitar o ingresso do autor capixabano cenário literário nacional. Isso, por enquanto, só é possível através de uma política de co"edições com editoras de grandescentros, que contam com um bom esquema de promoção -e distribuição do livro. AFCAA teve algumas experiências nesse sentido, co-editando com a Civilização Brasileira, com à Achiamé e mais recentementecom a Rocco. É uma política que a FCAApretende intensificar sempre, acalentandoaté o remoto (mas será impossível?) sonhode produzir o boom do livro capixaba nestepaís.
Além de co-edições com editoras defora, a FCAA desenvolve tàmbém uma política co-editorial com instituições diversas,geralmente sediadas no Espírito Santo. Isso permite à Fundação publicar maior quantidade de títulos. Pois a FCAA se mantémàs suas próprias custas (e não, como muitagente pensa, às custas do orçamento daUfes), e de sua receita é que provêm osre-
"Com O surgimento daeditora da FundaçãoCeciliano Abel de Almeida,a literatura capixaba deuum salto simultaneamentequalitativo e quantitativo.É que não basta escrever'um livro. Só a publicaçãogarante um retorno críticoao autor, que dele sebeneficiará noaperfeiçoamento de suasobras subsequentes. "
Oscar Gama FilhoEditora FCAA
cursos para os seus vários projetos. O Ijeto Editoria é um, apenas um, dentrerios que a FCAA desenvolve. De forma,os recursos para o programa editorial sinvariavelmente, escassos. Diga-se de pagem que a FCAA tem uma série de texde alta qualidade, já aprovados pelo Co!lho Editorial, que não foram publicadoso momento por falta de verba. Um ex,pIo são os textos de contos premiados cmenção honrosa no concurso literário1983, de autoria de Marcos Tavares eguel Marvilla, até agora inéditos. Umaedição é, portanto, uma alternativa sembem-vinda. E ao longo dos seus seis anosatividades a FCAA tem co-editado cmuitas instituições sensíveis a esse tipoinvestimento (como a Fundação J ôrTristão, a Secretaria da Educação e Cu:ra, a Funarte, a então Fundação Culttdo Espírito Santo, a Quimetal, a Casalal, a Prefeitura de Santa Leopoldina). I
laboração preciosa recebemos da AracCelulose, que·· nos doou papel para edcerca de uma dúzia de livros. Essa conjução de esforços e interesses é realmentetal para a sobrevivência de um projeto l
torial amplo no Espírito Santo. E um Fjeto dessa natureza é vital para a sobri.vência dos estudos e das letras capixal
Porque os textos estão aí, textoshoje e textos de ontem. Os autores capibas não param de produzir, e cada vez
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mais gente produzindo coisa melhor. Paralelamente, a FCAA promove frequentespesquisas no sentido de localizar e recuperar textos de interesse para a nossa culturaque não existem, nos arquivos e bibliotecasdo Estado. Esses textos geralmente são localizados em instituições como a Biblioteca Nacional, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, o Museu Nacional, eadquiridos pela FCAA em microfilmes, queficam à disposição dos interessados na Biblioteca Central da UFES. Muitos dessestextos poderiam ser editados, e não o sãopor essa falta de recursos que obriga à definição de uma rígida escala de prioridades.
É importante esclarecer que a FCAAtambém executa serviços gráficos em caráter comercial, ou seja, imprime (mas nãoedita) vários livros para diversos autores ouinstituições. Esses livros não levam a égideda FCAA, não se incluem em nenhuma desuas coleções, não foram submetidos liapreciação do seu Conselho Editorial. Sãointegralmente financiados pelos responsáveis pela publicação, e o único envolvimento da FCAA nesses casos é de caráter gráfico.
o ano de' 1985, apesar das mudançaspolíticas salutares, será um ano difícil parao Brasil como um todo. De modo que nãose poderá esperar da FCAA uma programação editorial consideravelmente mais intensa que a de 1984. No entanto, a Fundaçãopretende acrescentar às suas várias coleçõesuma série de bons títulos, como os livrosde poemas de Luiz Busatto (Bicho antropolde) e Valdo Motta (Eis o homem), já noprelo, e os de Renato Pacheco (Cantos deFernão Ferreira), Carlos Chenier (Vitória25) e Oscar Gama (Despedaçado ao espelho), já programados, além de um romancede Amylton de Almeida (Autobiografia deHermfnia Maria). A série infantil terá também prioridad'e; com alguns títulos já programados, como O verdureiro que virou cioentista, de Renato Pacheco, biografia deAugusto Ruschi para crianças, e Históriasde bichos contadas pelo povo, de Hermógenes Lima Fonseca. Já está no prelo~:t:s
tudo de Elmo Elton, Tipos populares,i,de"Vitória. A Editora Rocco, com a qual aFCAA editou a Grammatica, está interessada numa co-edição da História do Brasilpelo methodo confuso, do mesmo MendesFradique (pseudônimo do médico capixabaMadeira de Freitas, falecido em 1944).
Complementarmente, a FCAA daráinício à publicação de uma revista literáriaaberta à colaboração de todos os autorescapixabas (o prazo para remessa de originais expira no dia 29 de março). E promoverá, pela terceira vez, o seu concurso literário, que este ano premiará texto de poesia.
Coleção letras capixabasVolumes já publicados
I. Fernando Tatagiba. O SOL NO CÉU DA BOCA, contos2. Bemadette Lyra. AS CONTAS NO CANTO, contos.3. Renato Pacheco. FUGA DE CANAÃ, romance.4~ Audifax de Amorim. POEM.t\.S.5. Elmo Elton. POETAS DO ESPÍRITO SANTO, coletânea.6. Geir Campos. CANTAR DE AMIGO, poema.7. Luiz Guilherme Santos Neves. A NAU DECAPITADA, romance.8. Flavio Sarlo. NAS RAÍZES DO GRITO, poemas.9. Sebastião Lyrio. TIGRES DE PAPEL, contos.
10. Bemadette Lyra. O JARDIM DAS DELÍCIAS, contos.11. Renato Pacheco. REINO NÃO CONQUISTADO, romance.12. Adilson Vilaça. A POSSÍVEL FUGA DE ANA DOS ARCOS, contos.13. Reinaldo Santos Neves. AS MÃOS NO FOGO: O ROMANCE GRACIANO.14. Mendes Fradique. GRAMMATICA PORTUGUEZA PELO
METHQOO CONFUSO, sátira.15. Paulo Roberto Sodré. INTERIORES, poemas.16. Rubem Braga. CRÔNICAS DO ESPÍRITO SANTO.
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ESTUDOS &PROJETOS
Sub-emprego ou longas jornadas sãoas opções que restam ao trabalhador
IÍ/[aria Célia Chaves Ribeiro *Maria Cristina Alvarenga Táveira **
o treinamento de mão-de-obra na periferia está longe de suprir as necessidades da pbPulaçã
* Socióloga, Técnic() do IJSN**Economista, Tecnico do IJSN
Estes dados foram levantados na "Pesquisa do Trabalhador", realizada em agostode 1982 em Porto de Santana (Cariacica),Santa Rita (Vila Velha), Maria Ortiz e Santa Tereza (Vitória), abrangendo uma população de 46.950 pessoas. A Pesquisa doTrabalhador é urna das metas dó sub-projeto Pesquisa e Treinamento no setôr informal, integrante do Projeto Cidades dePorte Médio, financiado pelo Banco Mundial.
Nosso objetivo, ao trabalhar estes dados, é tentar analisar a composição da força de trabalho, sua parcela ocupada e desocupada e o grau de sua utilização nasáreas pesquisadas.
Inicialmente temos que considerar os'limites deste trabalho. Em primeiro lugar, adefasagem de dois anos e meio que nos separa da época em que os dados foram levantados e, em segundo, a limitação espaciál da cobertura da pesquisa. Em relaçãoao tempo, consideramos que as alteraçõesmais significativas que possam ter ocorrido,no que diz respeito à força de trabalho residente nas áreas abordadas, foram no sentido de ampliar o desemprego e a sub-ocupação e aumentar o grau de utilização daparcela ocupada da força de trabalho. Esta conclusão está baseada no acirramentoda crise econômica nos dois últimos anos ena política de arrocho salarial que se manteve no período. Quanto à limitação espacial, acreditamos serem as áreas pesquisadas, de um modo geral, representativas darealidade da periferia da Grande Vitória.
Ao falarmos de força de trabalho, nosreferimos à população que está em condições de participar do processo de produçãosocial.
Não fazem parte da força de trabalhoos que se vêem impossibilitados de trabalhar por motivos de idade, saúde e social(os presos) ou os que não desejam se incorporar na divisão social do trabalho por razões pessoais, tais como: posse de meios desubsistência ou dedicação à atividades in-
dividuais, como trabalho doméstico ou estudo.
Entretanto, nem todos que fazem parte da força de trabalho efetivamente trabalham. Os que trabalham compõem a suaparcela ocupada.
Cabe, porém, ressaltar que na parcelaocupada da força de trabalho eXistem categorias que poderiam nem ser classificadascomo tal devido às suas características.Uma das categorias a se destacar é a dossub-ocupados e, a outra, a dos ocupadosem atividades domésticas remuneradas.Consideramos sub-ocupadas as pessoas quetrabalham menos do que uma jornada completa e que têm condições de trabalhar porum período maior do que realmente o fazem.
Já os empregados em atividades domésticas remuneradas foram ressaltadospor não participarem da divisão social doTrabalho e, portanto, não contribuem parao produto social. Singer propõe, quando osdados permitem, não os incluir na parcela
ocupada da força de trabalho. No nosso cso, não os excluiremos por termos priolzado a questão do emprego e não daprodção social, embora estejamos considerancimportante observar a relação entre for,de trabalho e a produção social.
A parcela desocupada da força de trbalho é composta pelos desempregad,"visíveis", ou seja, os que estão ativamenem busca de emprego, e pelos que não pcsuem ocupação.
Além de observar a composição da foça de trabalho, resolvemos também levatar algumas questões sobre o grau em qltem sido utilizada. A ocupação, a desocpação e sub-ocupação fazem parte de urrquestão de interesse social e, como tal, n~
pode ser desvinculada da produtividadeda própria atividade. Não temos dados paanalisar a produtividade, mas temos algUlindicadores que nos sugerem em que grauforça de trabalho está sendo utilizada e degastada.
Adotamos três indicadores do grau c
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POPULAÇAo DE 15 A 64 ANOS POR OCUPAÇAO PRINCIPAL SEGUNDO OS GRUPOS DE IDADEJULHO DE 1982
AREAS'PORTO DE SANTANA, SANTA RITA, MARIA ORTIZ E SANTA TEREZA
TRABALHADORPROCURANDO JÁ AFAZERES OETENTO eSTUDANTE APOSENT. ou VIVE DE DOENTE OU
SEM .OCUPAÇÁOFAIXAS DE TOTAL
TRABALHO TRABALHOUDAOB~~f~C:~
PENSlONISTA RENDA INVALIDOIDADE
AS$. I AEL AB' REL. ABS REL AOS. AEl. R'L A" AOS. REl. A"
Total 31,785 t7.894 56,2 1.485 ... 1.285 '.0 7.919 24,9 0.0 5.' 1.271 " 8B 02 1,0 99' 3.1
15a19anos 6.441 2"" 99.5 '"., 99' '.1 1.031 1M 0,0 25,3 . 0.0 0.0 O•• '" 10,1
20a241lnos 6.219 3.721 59.' 487 7,' "" 7.0 1.642 26,4 0.0 13' 2' 19 O., ,.; O., -174 27
26 Il 29 anos 5.142 3.202 62' '" '.1 ~, 1.579 30.7 0.0 19 O.' " O., 0.0 0.7 " O.,
:30 11 34amn 238. B7P 97 '.7 " " '" 26,9 4 O,, 63 1.7 0,1 O.• 0.5
35aJ9an01 2.746 1.812 65;9 '" 1.' '" 1.9 700 ,.. 4 O,, 4.5 O., " 1.1 13 O.'
40<1 440nO$ 2.371 1.535 64,7 30 1.' 29 '" 26,1 0.0 , 0.0 6.0 O., .. 2.0 10 O••
4Sa4911I1OS 1.848 L094 59.' " 1.5 " 15 '99 27,0 a7 15 o.a 1.' 0.7
5Oa54anm 1-615 a77 "',' " 1.' " 13 425 26,3 , 0,1 1~' 20 1.2 " 1.7 1.4
55a59anos 43,0 15 1.3 15 1.3 29' 26,8 241 22.4 16 1,4 36 3.' 1.3
6Oa64anos 767 '''' 33.1 5 0.6 5 0.6 196. 'OS 2" 33.3 0.9 " 2.7 29 "
Nos subúrbios, a presença das feiras livres é uma opção de menores preços e trabalho.
utilização da força de trabalho. O primeiro,a sua remuneração, a contrapartida do trabalho que permite a manutenção e reprodução do trabalhador. O segundo, a extensão da jornada de trabalho, que permiteavaliar a intensidade de sua utilização. Porfim, a aposentadoria precoce que indica aidade em que é excluída da força de trabalho por motivos, em geral, dedesgastes ocacsionados pelo próprio trabalho. A aposentadoria precoce é assim encarada pois, nãosendo por idade, dificilmente será por tempo de serviço. Isto porque, embora umaparcela significativa da população destasáreas comecem a trabalhar cedo, levando-seem conta principalmente a origem rural deseus moradores, a maioria não tem comprovação de tempo de serviço, visto a práticade não se assinar a carteira, no campo. As'sim sendo, presumimos que as causas possíveis são, na maioria dos casos, decorrênciade acidentes de trabalho ou doenças'ocasionadas por insalubridade no ambiente' deserviço ou que se desenvolvem devido àsprecárias condições de alimentação, habitação, saúde, etc, que os salários baixos impõem.
Dimensão da força de trabalho
Consideramos como limites de idadeda força de trabalho 15 e 64 anos. Estabelecemos em 15 anos o ingresso na força detrabalho visto que entre 10 e 14 anos 80%da população estuda, sendo que a taxa máxima de 86%, presentes aos 10 e 11 anos,começa a decrescer aos 12 quando atinge84%, chegando aos 71% aos 14 anos, caindo para os 48% na faixa etária que vai dos15 aos 19 anos. Além disto, apenas 4% dapopulação entre 5 e 14 anos trabalha, sendo este índice de 7,9% entre 10 e 14, saltando para 39,5% quando consideramos ogrupo de idade seguinte (15 a 19 anos).
Já o limite máximo, de 64 anos, foiestipulado levando-se em conta o decréscimo da população que trabalhava quandoobservamos a faixa de 60 e 64 anos (33.1 %Je comparamos com a de 65 e 69 anos(19,5%). Além disto, entre estas duas fai-
xas o numero de aposentados ou pensionistas cresce de 39,8 para 61,8%.
Como podemos observar na tabela 1,temos 31.785 pessoas entre 15 e 64 anos.Destes descontamos os doentes ou inválidos, os aposentados ou pensionistas, os quevivem de renda e os que se dedicam aos afazeres domésticos e estudo; temos 20.371pessoas, que constituem a força de trabalho nas quatro áreas pesquisadas.
Descontando os 1.845 moradores queestavam procurando emprego e os 992 semocupação, temos 17.894 pessoas trabalhando, ou seja, a parcela ocupada da força detrabalho.
Formando a parcela desocupada daforça de trabalho estão os outros 2.477moradores, que representam 12,2% da força de trabalho.
Na parcela ocupada consideramos como sub-ocupados os 1.257 que trabalhavam até 80 horas mensais, o que representa uma jornada diária de três horas e 33 minutos para uma semana com cinco diasúteis. Poderíamos incluir a faixa de 80 a120 horas mensais neste cálculo; entretanto, como o limite de 120 horas representacinco horas e 18 minutos diários, considerando a semana com cinco dias úteis, preferimos não incluir os 800 trabalhadores
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nesta faixa, temendo superestimar o número de sub-ocupados.
As atividades domésticas remuneradasenglobam 1.290 pessoas, compostas por1002 empregadas domésticas, 720 lavadeiras e passadeiras e 198 faxineiros. Não consideramos os faxineiros que trabalham emlocais públicos ou privados pois, embora tenham se incluído nesta categoria, são, defato, serventes e participam da divisão socialdo trabalho.
Assim, 17,7% da parcela ocupada, ou15,6% da força d~ trabalho, é compostapor sub-ocupados em atividades que nãocontribuem para o produto social. A ocupação da força ée trabalho é bem distintase compararmos à situação dos homenscom a das mulheres.
Para 16.102 homens de 15 a 64 anos,14.142 constituem a força de trabalho masculina, o que representa 69,4% da força detrabalho total. A parcela ocupada da forçade trabalho masculina é composta por12.585 trabalhadores, ou 88,9% da forçade trabalho masculina.
Em sua parcela pada temos1.061 procurando trab 496 sem ocu-pação. É interessante ta ém obsf'rvar quea faixa etária onde se verifica a maior utilização percentual da força de trabalho é dos30 anos 34 anos. Nesta faixa, para um total de 1.837 homens, 1.778 constituem aforça de trabalho e 1.703 trabalham,ouseja 95,7% da força de trabalho deste grupode idade.
A dimensão da força de trabalho feminina já estabelece a primeira grande diferença em relação a força de trabalho masculina. Numa população de 15.683 mulheres de 15 a 64 anos, apenas 6.229 constituem a força de trabalho feminina. .
O envolvimento de 50,2% das mulheres de 15 a 64 anos com os afazeres domésticos é o principal responsável pela exclu-
A prática do biscate não tem idáde é éuma alternativa para o desemprego.
são da força de trabalho de parcela tão significativa de mulheres.
Cabe lembrar aqui que deveriam serexcluídas da força de trabalho somente asque participam de atividades individuais e~
além disto, não desejam trabalhar. Comonão temos este dado, salientamos que a força de trabalho feminina pode estar subestimada, bem como sua parcela desocupada.Isto por que muitas das mulheres que exercem atividades domésticas prefeririam trabalhar em atividades remuneradas e não ofazem.
A parcela ocupada da força de trabalho feminina é de 85,2%, incluindo 5.309mulheres.
Das mulheres que trabalham, 36,2%realizam as atividades domésticas remuneradas, não participando, portanto, da divisão social do trabalho.
A parcela desocupada da força de trabalho feminina é composta por 424 mulheres que procuram trabalho e 496 quenão possuem ocupação, perfazendo um to-tal de 920. .
A faixa etária que apresenta maior número relativo de mulheres ocupadas é a dos40 aos 44 anos, ou seja, 10 anos após a observada entre os homens. Nesta faixa, em555 mulheres que compõem a força de trabalho, 545 totalizam sua parcela ocupada,ou seja 98,1%'
Observamos que quase a metade dostrabalhadores, ou seja, 48,3% recebem entre um e dois salários mínimos. Somandoeste percentual com os 27,1% que ganhamaté um salário, temos que 75,4% recebematé dois salários mínimos.
Levando em consideração que a taxade dependência é de 2,6 temos que a remuneração para a manutenção e reproduçãodo trabalhador é precária.
Quando consideramos a jornada de trabalho, observamos que 70% da populaçãoocupada trabalha mais que 240 horas mensais, o que significa uma jornada de mais de9 horas diárias numa semana com seis diasúteis. Esta carga horária atinge inclusive63% dos que recebem entre meio a um salário mínimo e praticamente a meta4e (49%)dos que recebem entre um quarto e meiosalário.
Em relação a aposentadoria precoce,abordaremos apenas a população masculina de 15 a 64 anos. Agimos assim pois como os dados disponíveis agregam aposentados e pensionistas, no caso das mulheres,
devido ao seu baixo e tardio ingresso nforça de trabalho, os resultados podem sreferir à pensão que recebem e não à apcsentadoria. O índice de aposentados na pcpulação masculina em idade de trabalho ccmeça a ser significativa na faixa dos 35 ao39 anos quando 5,8% já se enquadra nestcategona. Este índice sobe progressiv:mente passando para 7,4% na faixa SI
guinte (40 a 44 anos), atingindo 11,4% ertre os 45 e 49 anos e chegando a 18,6% ngrupo de 50 a 54 anos. Nas duas últimafaixas, de 55 a 59 anos e 60 a 64 anos, oíndices sobem para 30,6% e 39,8%, respe(tivamente. Apesar dos índices serem altcnestas duas faixas, devemos levar em corta que nestas idades já é possível a aposertadoria por tempo de serviço.
Conclusão
Em linhas gerais podemos dizer que cdados apontam para duas direções.
De um lado, observamos uma taxconsiderável de desempregados e ociosc(12,2%) que somada aos sub-ocupados atirge 18,3% da força de trabalho. Além dcsub ou desocupados temos 50,2% de mllheres entre 15 e 64 anos excluídas volurtariamente, ou não, da força de trabalhpor se dedicarem aos afazeres doméstico!Neste sentido, sabemos que é significativo potencial não utilizado da força de trab,lho.
Por outro lado, fica claro a intensidadcom que a parcela ocupada da força de tnbalho é utilizada ao constatarmos a jorn,da de trabalho de 70% dos que dela partcipaIll; o desgaste apontado na aposentad<ria precoce e as condições de vida que têrque se sublPeter devido aos baixos salário:
COMPOSiÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO
NAS ÁREAS DE PORTO DE SANTANA,SANTA RITA, MARIA ORTIZ
E SANTA TEREZA - JULHO DE 1982
Total Total!U;U Absoluto Relativo
Total da Força de 20.371 100%Trabalho
Parcela ocupada da17.894 87,8%Força de Trabalho
Subocupadcs 1.257
Ocupados emAtividades remuneradas 1.920
Parcela desocupadada Força de ,Trabalho 2.477 12,2%
Procurando Trabalho 1.465
Sem Ocupação 992
POPULAÇÃO QUE TRABALHA POR FAIXAS DE RENDIMENTOSEGUNDO AS HORAS TRABALHADAS NO MÊS DE JULHO DE 19!J2
ÁREAS: PORTO DE SANTANA, SANTA RITA, MARIA ORTIZE'SANTA TEREZA
HORASFAIXAS DE RENDIMENTO NO MES
TRABALHADAS ATÉ DE 1/4a DE 1/2 a DE 1 a 2 DE 2 a 3 DE 3a 5 DE5a10' MAIS DE 101/4SM 1/2SM 1 SM SM SM SM SM SM
NOMESABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS. I REL.
Total 845 100 1.258 100 2.280 100 8.712100 2.199 100 1.772 100 400 100. 101 100
Até 40 horas 317 37,5 IU'I', 16,1 114 5,0 168 1,9 74 3,4 10 0,6 12 '3.0 10 9.9
De 41 a 80 horas 131 15,5 82 6,5 99 4.3 191 2.1 17 0,8 27 1,5 - - - -
De 81 a 120 horas 54 6,4 14611.6 212 9,3 194 2,2 11 0,5 26 1,4 4 1,0 - -
De 121 a 160 horas 54 6,4 114 9,1 26811,8 605 7,0 133 6,0 100 5,6 18 4,5 - -
.. De 161 a 200 horas 52 6,2 90 7.1 150 6,6 627 7.2 93 4.2 132 7,5 24 6.0 4 3.9
De 201 a 240 horas - - 2 0,2 - - 110· 1,3 114 5.2 42 2,4 14 3,5 2 1,9
Mais de 240 horas 237 28,0 621 49,4 1.43763,0 6.817 78,3 1,757 79,9 1,43581,0 328 82.0 85 84,3
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opanorama urbano sofre alteraçãocom o parcelamento intensivo do solo
Terezinha Guimarães Andrade *Rômulo Cabral de Sá **
riência dQ Instituto J ones dos Santos Neves, como orgão responsável pelo exame eanuência prévia, é indiscutível, sobretudoporque contribuiu para a formaçã()de umaequipe técnica que, hoje, além de desenvolver as atribuições exigidas para a aplicaçãoda lei estadual, vem assessorando sistematicamente as prefeituras na elaboração de sualegislação urbanística (perímetro urbano,parcelamento do solo, código de obras,posturas, etc).
Por ,sua vez, o parcelamento do solonão pode ser visto como um instrumentode controle da ocupação, de forma isolada.,A própria lei federal trouxe alterações bastante benéficas nesta interpretação, .quandodispôs a obrigatoriedade de definição, ,porlei municipal, da área urbana e de expansãopara a ocorrência do parcelamento dO,solo.
Assim, o perímetro urbano deixou de
Especulação imobiliária não respeita a legislação do parcelamento...c..:"
estadual deverá estabelecer normas complementares a que ficarão sujeitos os projetosde parcelamento do solo.
Ao exercer essa competência, o Estadodo Espírito Santo promulgou a lei 3.384 de27 de novembro de 1980, dispondo sobreas normas a que deverão se submeter os projetos de loteamento e desmembramento,nas áreas identificadas como de interesseespecial (distritos litorâneos, áreas de preservação das lagoas e de mananciais) e naaglomeração urbana da grande Vitória,atribuindo a Coplan - Coordenação Estadual de Planejamento -, e posteriormenteao Instituto Jones dos Santos Neves (Decreto nO 1.519 - N, 15/03/1981), a competência para exame anuência prévia àaprovação municipal.
Já decorreram, portanto, cinco anosda promulgação da lei estadual e a expe-
*Mestre em Direito. Técnico em Planejamento do JJSN**Engenheiro Civil, Técnico em Planejamento do JJSN
A inexistência de uma legislação decontrole da ocupação urbana e a prática intensiva do parcelamento ~o solo tem contribuído, sem dúvida, para a transformaçãodo panorama das cidades, gerando gravesproblemas urbanos.
Em vigor até fins de 1979, a,gilongo demais de 40 anos, o Decreto Lei 58, a nívelfederal, não estabeleceu qualquer imposição urbanística para o parcelamentp do solo, limitando-se apenas à proteção de direitos dos compradores dos lotes a prestação.
A partir do segundo semestre destemesmo ano de 79, surgiu um projeto de leisobre parcelamento do solo, de autoria dosenador paulista Otto Lehmans, rapidamente aprovado pelas comissões técnicas e peloplenário das duas Casas do Congresso, quase sem alterações, transformando-se na Lei6.766 de 19 de dezembro de 1979.
A lei 6.766 trouxe, em grande parte deseus dispositivos, alterações importantes enecessárias num quadro histórico marcadopela absoluta ausência de normas de controle da ocupação urbana.
Em se~ capítulo I, a lei 6.766 estabelece definições de loteamento e desmembramentos; proíbe o parcelamento parafins urbanos realizado fora das zonas urbanas e de expansão urbana definida por leimunicipal, assim como em terrenos impróprios à urban~zação (alagadiços, inundáveis, aterrados com material nocivo à saúde, com declividade acentuada ou onde ascondições geológicas oU,iiecológicas nãoaconselham a ocupação) e transfere para osgovernos estaduais uma função de granderelevância, condicionando a aprovação dosprojetos de parcelamento do solo pelos municípios ao exame e anuência do Estado,envolvendo, entre outras áreas, as de interesse especial, áreas de mais de um milhãode metros quadrados, bem como aquelas situadas em aglomerações urbanas.
A competência estadual, atribuída pelanova lei, ressalta claro o interesse do estadoem controlar o crescimento urbano, quando esse assume um caráter supra-local.
Entretanto, para exercer a competência que lhe foi atribuída, o poder público
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ser, a bom tempo, somente um instrumento tributário, para transformar-se, também,em um dos ih~f~S~mentos ~econtrole docrescimento urb~no, imp~~1tdo a ocorrência do parcelamento do solo para fins urbanos naS áreas rurais e restringindo a ocupação (áreas de proteção).
Contudo, a soluçiip,dos problemas urbanos não se limita apenas às questões normativas. O Instituto Jones dos Santos Neves, no assessoramento às prefeituras paraelaboração da legislação urbanística, enfrenta problemas que prejudicam"muitasvezes, a qualidade dos trabalhos. Dentreeles, podemos citar, principalmente, a deficiênciil- de uma cartografia básica e o desaparelhamento de pessoal técnico das prefeituras.
A maioria dos municípios não dispõede um levantamento plani-altimétrico, pos- PROPOSTAsuindo, algumas vezes, somente plantas ca-dastrais baseadas em levantamentos expedi-tos, acarretando um elevado grau de'imprecisão quando utilizados para o planejamento físico-territorial. Para que o perímetrourbano funcione efetivamente, enquanto
"A maioria dosmunicípios não
dispõe de levantamentoplani -altimétrico. "
instrumento de controle urbanístico, comdelimitações precisas da área urbana, é imprescindível a existência de uma cartografiabásica com elementos plani-altimétricos.
O Instituto Jones dos Santos Nevestem contornado parte destes problemascom utilização de fotos aéreas do Institutode Terras e Cartografia (levantamento aéreo/1978) que, ao inverso das plantas cadastrais de imóveis, oferece informaçõesde relevo, além da complementação de informações com visitas in loco. Entretanto,este processo, por exigir intenso trabalho(ampliação ou redução de plantas obtidasa partir de fotografias aéreas, levantamento de loteamentos e mapeamentos), temcomo consequência, na maioria das vezes,o atraso no atendimento das demandas.
Outro fator de dificuldade apontadona elaboração e aplicação da legislação ur-
o banística, se refere ao desaparelhamentotécnico das prefeituras que, por suas precárias condições financeiras, quase semprenão podem dispor de um engenheiro ouarquiteto no seu quadro de pessoal técni- .co.
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OCLIMITACÃO
'METRO,
DOS MJNICPIOS LI
ITAPEMIRIM
NO\
No momento das elaborações dos documentos urbanísticos é importante e necessário a particípação e acompanhamentoconstante de técnicos municípais habilitados, por serem os trabalhos desenvolvidospelo Instituto J ones dos Santos Neves, apenas de assessoramento; e princípalmente,porque estes técnicos deverão ser responsáveis pela efetiva aplicação desses documentos, uma vez aprovados pela Câmara Municípal.
Portanto, o Instituto Jones dos SantosNeves vem orientando as prefeituras da necessidade de contratação de profissionaispara a própria garantia de aplicação dos documentos normativos e, na hipótese da impossibilidade financeira de algumas prefeituras, ~ugerindo a contratação de um único profissional para atendimento de doisou três municípios, repartindo, assim, oônus financeiro.
Para este ano, o Instituto J ones dosSantos Neves programou a realização de s'eminários locais com vistas a discutir aspec-
"Como prioridade,de verão serinicialmenteatendidos
os municípioslitorâneos".
tos relativos ao parcelamento do solo, objetivando a participação da comunidade,além de órgãos municípais e entidades interessadas, para a melhor compreensão esolução de seus problemas.
Como prioridade deverão ser inicíalmente atendidos os municípios litorâneos,por constituírem áreas de interesse especialdo Estado e, acíma de tudo, pelo seu valorambiental e turístico que, por sua vez, temgerado crescente especulação imobiliária.Posteriormente, os seminários deverão seestender aos outros municípios do Estado.
Além da realização de seminários, seencont.ra programado a elaboração de cartilhas ou manuais de orientação referentesa parcelamento do solo, saneamento, proteção de encostas e tributação, com linguagem adequada, visando fornecer à comunidade de modo geral informações básicasnestas áreas.
Constrói-se dessa maneira, gradativamente, uma ordem urbanística, na qual ofato urbano começa a ter tratamento adequado à nível nacional, regional e local.
Loteamentos litorâneos comprometendo o potencial turístico.
o panorama das cidades se modifica com os loteamentos constantes.
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Lobão
- Cc! '()epoimento:Ar"ltônio Misse
de Cachoeiro de Itapemi
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«,~~tl···p(ll( flcout~ti~_!i!!!!·!l
FIor~s' .por seis,
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lutamos e imploramos à~
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barcasse, mas'i0nO governo de Washington
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pagou Q sua pas&.ta ao Líbano e nunca t1JQi$g~
_cc~_- ,
'... "vImos.
A trajetória do rríigrantellbanês no Espírito Santo
Mintaha Alcuri Campos *
Adelaide e Noêmia migraram em busca de casamento.
*Prof. Assistente do Departamento de História da Universidade Federal do Esp{rito Santo.
o Lloano esteve subjugado ao Império Otomano até meados do século xx. Algumas das principais razões que impeliram os libaneses aoprimeiro grande surto imigratórioencontram-se na condição desse domínimo e nas diversas formas de espoliação a que estiveram sujeitos:um regime fundiário de herdeirosprivilegiados, o fracionamento ,extremo de terras, a exploração fiscale a deficiência administrativa eramfatores que conduziam à pobreza. Ocultivo em pequenos lotes, em todaa região, não bastava para sutentaras famI1ias, em sua maioria muitonumerosas. A Coroa turca determinava seus próprios cobradores deimpostos, extorquia a população ea obrigava ao serviço militar, quando convocada.
Em 1914, a representação turca contra os árabes conheceu extremos. Ocorreram centenas de enforcamentos. Ao lado dos alemães, naguerra, a Turquia convocava os dominados para o exército. Não foipor outra razão que, nesse ano, aimigração árabe tenha assumido asmaiores proporções. Servir o exército do inimigo, do opressor, eracondição insuportável para a maioria dos libaneses.
Durante a segunda metade doséculo XIX e as primeiras décadasdo século XX, grande número d'e libaneses emigrou P3lra diversos países da América, Africa e Europa.Foi unia verdadeira diáspora, queabalou toda a vida social e econômica doLíbano. A maioria era composta de cristãos, os mais perseguidos do domínio turco. Paralelamente os fatores relativos à dominação turca, outras razões que ocorreram constituíram aspectos condicionantesdo movimento imigratório nesse período.
A decadência das indústrias tradicionais, por exemplo, prejudicadas com aabertura do Canal de Suez, desembocou naentrada de produtos mais baratos e reveloua imigração como uma saída, uma fuga daconcorrência. Libaneses imigrados, por seu
lado, forneciam meios e incentivos aos parentes e amigos para que fizessem o mesmoe escapassem aos problemas que enfrentavam. A' crença num "Eldorado", reveladanas cartas e relatos de amigos e parentesque acreditavam na fortuna fácil que erapossível fazer na América, operava comofundamento idi1ico para a partida.
A força dessa visão é notável se consideramos a condição de uma região castiga-
da por constantes vissitudes polítcas, onde a guerra é um espectrsempre presente e onde o regime,dpropriedade, até há pouco vigentldificultava a posse da terra à maicparcela da população.
Após a guerra de 1914, as mgrações foram determinadas basie<mente por razões de ordem econémica.
Como se não bastasse (J quadrde obstáculos e dificuldades esboç;do, é necessário lembrar ainda qUlem 1914, uma epidemia de tifo m.tava uma média de 40 pessoas pcdia e uma onda de gafanhotos asselou o país. Fatores que, sem dúvid,apressavam a saída daqueles que imgravam por motivos de ordem poltica e ideológica, vinculados à lutnacionalista.
Na realidade, a grande massa dimigrantes buscava no exteriorpleno aproveitamento de sua cap;cidade e iniciativa.
A fixação dos libaneses no Eipírito Santo, no início do séculxx, não está definida com exatdij:o, ~specialmente no que se ref,re à q].lantidade de libaneses que sestabeleceram nesse período. Prov<velmente, em todos os livros carteriais do Estado, será possível encortrar registros relativos à presença d,libanês. A própria confusão entrturco, sírio e libanês, manifesta in
Arquivo clusive nos documentos da époc2dificulta sua identificação.
Encontramos, em registro caltorial, um processo de hipoteca no nomde Felício A!cure, no ano de 1902, e o dJosé Felix Tannure, em 1903, num proce!so de arrendamento de terra. Esses imigrantes encontravam-se em Alegre. No entantcatravés de entrevistas, tivermos conhecimento de que o imigrante Miguel Simão teria chegado de Minas Gerais para essa região, por volta de 1880. Em Cachoeiro dItapemirim, por seu turno, foram registra
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Alguns libaneses fizeram fortuna comercializando café.Arquivo
dos, em 1902, os filhos gêmeos de AntônioMussi.
De qualquer modo, foi a expansão docomércio interno e a subsequente construção de ferrovias, ligando Cachoeiro de ltapemirirn a Vitória e a Niterói, e Vitória aMinas Gerais, que vieram impulsionar omovimento imigratório libanês.
Por outro lado, a fundação de vilas ecidades no sul do Espírito Santo e seu crescimento posterior seguem de perto a prosperidade decorrente da lavoura cafeeira.Acompanhando esse movimento esteve oimigrante libanês, não vinculado diretamente ao sistema, mas executando atividades paralelas ao setor cafeeiro, de maneiramais discreta, ligando-se a compradores decafé, torrefadores, beneficiadores e mesmoalguns agricultores.
. As vilas e cidades formavam um mercado consumidor natural e o crescimentoda população urbana permitiu a proliferação do pequeno comércio, com os armazéns de secos e molhados, a farmácia, asvendas de tecidos, os armarinhos e bares.
Ampliou-se a massa de trabalhadoresnão qualificados, biscateiros e ambulantes.Nessas atividades envolveram-se os primeiros imigrantes libaneses, no interior do Espírito Santo. Eram moços solteiros, vindosde zonas rurais e vilas.
Vim para o Espírito Santopara trabalhar na fazenda deum primo em São José doCalçado. Fui pedreiro nodistrito de Café (Alegre) e
depois instalei-me no Alegre,onde estou até hoje na minha
uCasa Centenário".(Jamil Amin)
Os imigrantes libaneses que chegaramem seguida, anteS de tudo, estavam,dispostos a agrupar-se junto a familiares, até quepudessem superar as dificuldades iniciais deadaptação, através de um melhor ajuste 'àscondições de vida e trabalho. Ademais, oparentesco sempre representou forte vínculo entre os libaneses.
Solteiros e jovens em sua maioria, osprimeiros imigrantes libaneses que chegaram ao Espírito Santo não possuíam dinheiro. Por isso, tornaram-se mascates, jáque tal Qcupação não requeria capital, poisa mercadoria podia ser obtida a crédito eseu escoamento era rápido e lucrativo. Jun-
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tando O capital suficiente, esses primeirosmascates, apelidados "turcos", começavama trabalhar por conta própria. No interior,abriam lojas e armazéns em pontos estratégicos e, na capital, lojinhas e armarinhos.
Ainda hoje, a origem árabe do termomascate permanece desconhecida. Em1507, quando os portugueses auxiliadospelos libaneses cristãos, tomaram a cidadede Mascate, na Arábia, porto da costa suldo golfo de amam, conservaram-na sobseu cóntrole até 1659. Os portugueses quepara lá seguiram levaram mercadorias parafazer troca ou barganha. Regressando aPortugal, eram chamados "mascates", nãocom o intuito de menosprezo, mas devidoao seu comércio de mascate. O vulto do
Com seu baú, que era verdadeira feiraambulante" o mascate percorria vilas, cidades e fazendas. Na prática de suas atividades comerciais, propagou os acontecimen:tos nacionais e estabeleceu elos de natureza vária. Facilitou a circulação de rique~~,aproximando o produtor industrial do consumidor, o pródutordó consumidor debaixa renda. A falta de transporte e as enormes distâncias entre os grandes centros e>aspequenas vilas facilitou a proliferação desse mascate e a sua permanência no interiordo Estado.
Os comerciantes estabelecidos em Vi-
tóna sempre reagiram à mascateação. Nosperíodos de maior crise, aumentava o índice de ambulantes. Então, os filiados da Associação Comercial pediam maior atençãopara a mascateação que se espalhava portoda a cidade, exigindo da entidade umapelo à prefeitura para coibir aquela atividade.
O mascate libal).ês esteve presente emtodo o território capixaba. A maioria doscomerciantes mais antigos de Vitória iniatual mascate era o de "ma.tracar", vocábulo ainda de origem árabe, dados aos libaneses que mascateavam no Brasil durante os séculos XVII e XVIII.ciou a vida profissional com o comércioambulante. Muitos' deles chegaram a torna.r-se grandes comerciantes, industriais eempresários.
A maioria deles orgulha-se desse fato.Um próspero negociante de Vitória, negouo início de sua vida no Brasil atrilvés do comércio ambulante e, no entanto, o ,seu nome apareceu durante anos nos talonáriosda Prefeitura Municipal de Vitória.
A família de Miguel Simão é um exemploda família migrante próspera.
Mohamed Cade, depois demascatear ao longo do Rio
Amazonas, veio se estabelecerem Caparaó, depois se
transferindo para GuaçuÍ,onde vive até hoje, já comquase 100 anos de idade.
(Salomão Cade)
A década de 1920 foi o período deconsolidação do comércio libanês no município de Cachoeiro de Itapemirim, no suldo Estado. No ano de 1920, a populaçãolibanesa de Cachoeiro era de 2.981, contra42.840 brasileiros natos. Nessa. época, os libaneses chegaram a monopolizar o comér·cio varejista e atacadista, especialmente ode secos e molhados.
A mobilidade dos libaneses para Ca-
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choeiro foi favorecida, em certo momen,tlexatamente por sua condição de cruzamelto de vias férreas e como escoadouro cprodutos da região.
Como centro de convergência, foi tanbém cidade-dormitório. Os viajantes de orgem libanesa, e mesmo as outras nacionaldades, faziam o comércio na periferia e penoitavam em Cachoeiro de Itapemirim, quoferecia melhores hotéis e maior confortl
As mesmas atividades comerciais relcionadas nos talonários de Vitória: foralencontradas nos de Cachoeiro.
Os libaneses não se fixaram na sede dmunicípio. Estabeleceram-se nos distritoNo distrito de Castelo, no ano de 1928, v;mos encontrar treze comerciantes e,em Vigínia, ao mesmo ano, sete. Em Vargem Ata, no ano de 1927, há registro de nove ccmerciantes libaneses.
Relações de casas comerciais que f;ziam propaganda de seus esta.beleciment<e produtos podem ser encontrados em rivistas e em livros sobre o município de Gchoeiro.
DISTRIBUIÇÃO DE IMIGRANTES LIBANESES EM TRÊS MUNICJPIOS DOESPÍRITO SANTO, SEGUNDO A RAZÃO PRINCIPAL QUE OS
LEVOU A EMIGRAR
Razões para Emigrar Alegre Cachoeiro de Vitória TotalItapemirim
Desejo de enriquecer 12 10 11 33Espírito de aventura 6 4 8 18Parentes radicados no Brasil 8 10 14 32Ameaça de guerra 2 3 5Perseguição política 2 3 5Desilusão amorosa 1 1Libertação do jugo familiar 1 1 2Veio passear e ficou 2 2 4Perseguição religiosa 1 1Acesso à propriedade fundiária 2 1 3
Fonte: Arquivo Municipal de Vit6ria, hvro 315,referências na 116, 159' e 459.
1044430
"terra". No entanto, apesar desse propósito de retorno poucos puderam fazê-lo.
A idéia de retorno ficou comprometida, de imediato, com as dificuldades encontradas em sua chegada e no período deadaptação enfrentado e, especialmente,com a crise no Oriente Médio em 1949. Apartir de então, os propósitos de regresso àcomunidade de origem tornaram-se menosviáveis ou até menos vitais.
Sinais de incorporação definitiva à sociedade brasileira podem ser observadosnos casamentos mistos, que a partir da 3ageração de libaneses passam a registrar diminuição expressiva dos traços de endogamia. Isto, mesmo em cidades pequenas,passou a ocorrer com muita freqüência.
O mais importante, porém, foi observar que o processo de adaptação e de inserção do imigrante libanês à sociedade brasileira, com base no estudo do Espírito Santo, significou antes de tudo um processo delibertação.
Sua acomodação e adaptação gradativas correspondiam à sua liberação da condição de dominado, vivida por tanto tempo.O estereótipo "turco pobre, sírio remediado, libanês rico" criado pelo brasileiro, foiassumido e incorporado por esse imigrante. Aqui no Brasil, cumprir essa trajetória,além de enfrentar as dificuldades de adaptação e de obter a afirmação social, significava conquistar a integridade perdida coma dominação turca e com as crises posteriores.
A recuperação de sua identidade, comprometida enquanto povo oprimido, expt1lso de sua terra. O que se podia conquistar,mais do que a riqueza, era a liberdade.
30TOTAL
Dados coletados através de entrevistas.
, ,
1911 4 1927 2 1933 141912 10 1928 40 1937 71913 12 1929 19 1938 111914 11 1930 19 19391915 10 1931 34 1940 8191.6 8 1932 23 1941 4
Meu pai se estabeleceu emVitória com um tio,
desligando-se, tempos depois,para abrir seu próprio negóciocom a Firma A. Buaiz & Cia.,no ramo de secos e molhados.
Implantou as primeirasindústrias em São Torquato,
quando alí ainda era ummangue.
(Luiz Buaiz)
RELAÇÃO DE AMBULANTESUBANESESCADASTRADOS EM VITÓRIA ENTRE OS ANOS DE
I9II AI9I6' 1927 A I9:H'E 1937 A 1941
A dificuldade dos primeiros momentosforam desaparecendo à medida em que seadaptaram e se firmaram economicamente.'Essa fase concretizou-se quando o imigrante fixou seu negócio próprio.
Para a maioria dos libaneses, a sua estada no Brasil era transitória. Procuravampoupar o máximo para voltar para a sua
Os prédios adquiridos pelos libanesesestiveram sempre localizados no centro dacidade e em zona comercial, já que serviam~o mesmo tempo de comércio e residência.A medida que se desenvolviam no cõmércio ou na pequena indústria, aplicavam oseu capital na compra de imóvel. Examinando os talonarios de impostos, vamos encontrar libaneses que, nessa época, possuiam mais de 12 casas.
Como resultado imediato, o desejo deenriquecer permeou todos os movimentosde adaptação e todos os passos de construção da sua vida nesse país.
De outro lado, durante muito tempo,esse imigrante dispendeu os esforços possíveis para libertar-se da situação de "turco", apelido que, antes de tudo, lembravasua condição de oprimido.
O discurso do imigrante libanês estabelecido no Espírito Santo revela três momentos distintos de sua vida no Brasil, a saber: a chegada com o passaporte turco, omomento da adaptação econômica e o estabelecimento de um negócio próprio ou afirmação em torno de uma atividade econômica específica.
O imigrante refere-se aos primeiros momentos vividos no Brasil e confronta suasexperiências com as informações recebidaspor parentes e amigos, sobre as dificuldadesdo enriquecimento fácil.
Ao chegar com um passaporte turco, opassaporte do opressor, enfrentou o desprezo que o apelido "turco" provocava. Noocidente, turco era sinônimo de bárbaro.Ser chamado assim, especialmente para odominado, era "suprema humilhação".
O imigrante libanês julgou ter resolvido sua situação de inferioridade após aguerra de 1914, quando pôde desfazer-sede sua identidade de "turco". Mesmo como Líbano submetido à França, essa novaidentidade não lhe pesava demasiado, já queeste país constituía modelo para todo oOcidente. Nesse momento, todos foramchamados "sírios".
Prova disso é que em todos os documentos cartoriais que tivermos acesso, encontramos o designativo "sírio" para todosos libaneses registrados. Numa certidão deidade, chegamos a encontrar "Rachid denacionalidade síria, nascido em Beyrouth".
O fato é que ser chamado "sírio" jánão incomodava tanto, embora o libanêsalmejasse recuperar definitivamente suaidentidade. Muitos julgavam tê"lo conseguido especialmente após a sua ascensão social quando então propagavam a todos:"sou libanês, vocês não conhecem geografia"? E os nacionais respondiam: "prá mimtodos são turcos".
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o trabalhador llvrebrasUeiro:à margem do Sistema Escravista-ES
Gilda Rocha *
*Prof. Adjunto do Departamento de História da Universidade Federal do Espfrito Santo.
"Saõ José do Calçado. Sr. Redator do'Cachoeirano'. Vi no seu jornal de 27 de fevereiro próximo passado um artigo assinado pelo Sr. Antônio Ferreira Martins, quenão posso deixar de responder, visto queaquele senhor naõ contou a nossa negociaçaõ com todo o pe de verdade; assim poispara que o público possa fazer um juízocerto vou narrar-lhe a verdade.
Em junho de 35, é verdade ter me convidado o Sr. Ferreira, para eu ir morar emsua situaçaõ denominada - Bemposta - fazendo ali derribadas para plantar café quedepois de certo tempo, me pagaria à razaõde 100 $ 000 por mil pés; e também deu-meconsentimento para que eu edificasse umapequena casa para eu morar com o meu genro. Depois de ter eu feito uma derribada eter dado já o princípio do plantio do café;feito a dita casinha que me foi concedida edisposto a continuar a encher toda a derribada de café, é quando o senhor Ferreirafaz venda da dita situaçâó ao sr. ManoelXavier, e logo incontinente intima-me paraque eu procurasse outro cômodo, visto quetinha efetuado a venda do sítio.
Propus-lhe entaõ que ele pagasse osmeus serviços em sua situação que o maisbreve possíveZ"iprocurava outro cômodo,nisto combinamos a meter dois homens decritério que passaram a fazer a louvaçaõ demeus serviços, o que montou 65$000, naõentrando o meu trabalho de 2 alqueires dederribada.
Não aceitou o sr. Ferreira a avaliaçaõ,pretextando que não pagava a casa 1{Ístoque dela naõ precisava, e assim que pagaria25 $000 do café, o que eu também naõquis aceitar a sua proposta, porque o maiorprejuízo era meu.
Logo em seguida, manda-me o sr. Ferreira intimar-me para o juiz de paz, a fimde conciliarmos sobre o recebimento dos25 $ 000, o que declarei em juízo que nãoos recebia, porque tinha direito a mais outras benfeitorias. E como o sr. Ferreira quediz ter tanta razaõ e justiça nâó prosseguiusua ação?
É certo o que diz S. S.: Ninguém poderecusar a entrega da propriedade alheia semque incorra nas penas da lei. É verdade, sr.Ferreira; mas é quando essa obstinaçâó é
o presente. trabalho é parte integrante da'tese de mestrado intitulada "ImigraçãoEstrangeira no Espírito Santo- 1847/1896". Defendida em 15 dejaneiro de 1985 na UniversidadeFederal Fluminense.
feita por meios violentos, e querendo subtrair direitos de propriedade, o que o S. S.sabe que nunca, nem ao menos de leve passou-me pela idéia, eu só quero que pagueme o meu trabalho que custou-me muitosuor, que S. S. terá o gosto de me ver pelascostas. Para eu plantar mantimentos comodiz S. S. que foi sua permissaõ, não precisava fazer uma derribada de 2 alqueires, poistem em sua fazenda (como chama S. S.)muita capoieira, que daria menos trabalhopara roçar.
a que fica dito é pura verdade do nosso trato verbal, porque infelizmente apesarde muitas vezes pedir-lhe por escrito, nuncaS. S. teve tempo de passar-me. Março de
1887. Evaristo José Martins."l
Esta carta, publicada no jornal "O Cachoeirano", ilustra bem a situação do trabalhador livre brasileiro dentro do sistemaescravista colonial. E observemos que osfatos nela relatados se passam no ano de1887, ocasião em que a crise do trabalhoescravo já era intensa. Que dizer, então, dosanos anteriores, em que a grande lavouracafeeira, mesmo com a cessação do tráfico,ainda foi capaz de gerar condições favoráveis à intensificação do uso do trabalhocompulsório? Marginalizado pelo sistemaeconômico de base escravagista que "repelia o trabalho livre, tanto nacional quantoestrangeiro,,2, era natural que o brasileiropobre procurasse sobreviver através da caça, da pesca, da derrubada de árvores, etc.Como disse Nabuco, "o trabalhador livrenão tinha lugar na sociedade, sendo um nômade, um mendigo, e por isso em parte nenhuma achava ocupação fixa3
, e se " ... para o branco o trabalho manual, era visto como obrigação de negro" e se "a idéia detrabalho trazia consigo uma sugestão de degradação,,4, tal não acontecia gratuitamente; se a população nacional pobre se esqui-
vava ao trabalho era, certamente, comose demonstrou, porque essas próprias reições de trabalho a colocavam à margem (processo de produção ao tentar medircustos e a produtividade do seu labor ten<como parâmetro o trabalho do negro e'scIvizado. Como enfatizou Emília Viotti (Costa, "para essa população livre, trabalhna fazenda, na situação de camarada, eramesmo que aceitar a condição de escravo"E a mesma ordem econômica que nenhunperspectiva lhe abria passou a taxá-la <preguiçosa, indolente, vadia, etc. Assim dfinida, essa população pobre é, além dissvarrida do mapa na medida em que se pasa a proclamar com insistência a falta <braços e a advogar a introdução d~ estrageiros no país, seja para empregá:J.os n.grandes propriedades, seja para ocupar teras devolutas nas diversas províncias do Inpério. Este último foi o caso do EspíritSanto, Província em que a condição do trbalhador nacional livre não se constitUluma exceção à regra do que se passava n:demais regiões do país. Aproximemo-nopois, da situação específica do território cpixaba.
Grandes extensões de terrenos incult<e exiguidade da população. Eram esses <argumentos maiores das autoridades pnvinciais para justificar o atraso econômicdo Espírito Santo e sua pobreza em relaçãàs demais províncias brasileiras. No entalto, determinados pronunciamentos dess:mesmas autoridades podem nos conduziruma compreensão maior do verdadeiro silnificado da expressão "falta de braços" nEspírito Santo.
O presidente Azambuja afirmava, neinú;ios dos anos 50, que "••• a populaçãda Província, posto que diminuta em rel:ção à extensão do seu território, mal c<mum a todo o Brasil, seria bastante paIelevá-la ao grau de importância a que ot
tras tem chegado. • ...6. Mais ou mencuma década depois o presidente André Algusto de Pádua. Fleury reconhecia, iguamente, a existência de uma "populaçãdesfavorecida da fortuna" que, "em vezdalugar seus serviços aos fazendeiros, oud
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entregar-se ao trabalho pesado e fatigantede lavoura, vive na ociosidade, por lhe deparar a pesca mais fácil e pronta subsistência"? Francisco Ferreira Correa fala em"hordas errantes de indivíduos cuja ocupaç~o únÍCa é procurar as melhores árvorespara serem destroçadas pela impiedade domachado, ou caçar para sustentar aos demais que se entregam no corte devastadorde madeiras preciosas"s.
Nos pronunciamentos que acabamosde citar, nota-se que as justificativas para o-ltraso oeconômico da Província não têm seuponto de apoio apenas na "falta de população", mas, também se reconhece a, "e.xistência" de uma população que não se incorrorava ao processo de produção: uma população que, nas palavras do presidente Azambuja, vive nas praias e "aí adormece depoi~
de empregar uma ou duas horas em recolher o marisco que lhe há de matar a fomedo dia,,9; uma população que, segundoCosta Pereira Junior, com "pertináci'a... sededica à pescaria, dominados dessa indolência histórica que em muitas fam11ias setransmite como um legado"! o. Observa-seque para este presidente a indolência é vista não somente "cqmo vocação nacional",mas também como algo que possui características hereditárias.
E nem mesmo faltou, no Espírito Santo, quem acalentasse a idéia de reduzir essapopulação livre à escravidão. Outro não é osentido que se pode apreender das palavrasdo presidente Pedro Leão Velloso ao fazerconsiderações sobre a colonização nacional:
"Para ela o que entendo que se poderáfazer, fora considerá-los vadios, e como talobrigá-los a trabalhar retidos em colôniasespeciais, e sob a direção de severo regime;por vontade esta gente não se aplicará a nenhum viver que a tire do seu doIce far niente" 11 •
E, a e.xemplo do que se passava no plano nacional, raras eram as vozes a se levantarem denotando uma real compreensão doproblema, a e.xemplo do engenheiro J oaquim Adolpho Pacca, homem integrado àsesferas da Adminjstração da Província, especialmente ao serviço de colonização, e ardoroso defensor dos núcleos coloniais depequenos proprietários que, em artigo publicado em "O Cachoeirano", dizia:
"Não há deficiência de braços no Brasil, senão que a maior parte dos nossos Íncolas, em falta de terras próprias,vive napecuária cultivando apenas o que é rigorosamente necessário para a sua subsistênciade cada dia: cumpre tirá-la (sic) desse estado de apatia pelo atrativo da ,ropriedade,pela segurança do bemestar"l .
Ou como o responsável pelo editorialdo mesmo jornal que, ao criticar o serviçode imigração da Província pelo fato de fa-
vorecer o estabelecimento de imigrantesestrangeiros em lotes coloniais, argumenta:
" ... não fora de bom aviso incentivarcom igualdade de proteção o agricultor brasileiro que também precisa de terras? Pormais importantes que sejam os resultadosmorais e materiais provenientes da imigração, parece-me que nada autoriza a legitimar o menosprezo com que se quer trataro Hlho do país, até colocá-lo em posiçãoinferior ao imigrante... O trabalhador nacional deve merecer-nos especial cuidado,não só porque a grande propriedade contacom ele para o aproveitamento das culturase.xistentes, como ainda porque o Estadonão tem o direito de julgá-lo incapaz paralavrar a terra ao lado do estrangeiro..• Emverdade, é para pasmar como um povo queconta vadios aos milhares vai à casa alheia
d· b d d . d·,,13pe Ir raços como ver a elro men IgOE prosseguindo na mesma linha de de
fesa do trabalhador brasileiro, o editorialcritica ainda os Avisos de 30 e 31 de outubro de 1888, oriundos do Ministério daAgricultura, considerando-os "duas peçasindecentérrimas que aos olhos das naçõescivilizadas porão em relevo, de um lado ausura do Estado contra os súditos mais pobres e de outro a odiosa restrição feita emdesabono do brasileiro agricultor"!4 ,
NOTAS
1. O CACHOEIRANO, Cachoeiro de Itapemirim, nO 13, de 27 de março de 1887.
2. CONRAD, Robert - Os Últimos Anos daEscravatura no Brasil. Trad. de Fernandode Castro Ferro, 2a ed., Rio de Janeiro,Ed. Civilização Brasileira, 1978, p. 43.
3. NABUCO, Joaquim O Abolicionismo.Coleção "Dime nsões do Brasil", 4a ed. Petrópolis, Vozes, Instituto Nacional do Livro. 1977, p. 153.
4 COSTA. EmJ1ia Viotti da - Da Senzala àColônia. São Paulo, Difusão Européia doLivro. 1966. p. 9.
5. IBID. p. 128.6. Relatório do Presidente José Bonifácio
Nascentes de Azambuja, apresentado a Assembléia Legislativa Provincial em 24 demaio de 1852, p. 58 (grifo nosso).
7, Relatório do Presidente André Augusto de
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O primeiro dos, avisll~, citados ameaçaYa.com as penas da lei em vigor os posseirosde terras devolutas que não legalizassemsua situação junto à Inspetoria Especial deTerras e Colonização, enquanto o segundodava permissão ao presidente da Provínciapara conceder terras aos nacionais na proporção má.xima de 50 famílias em cada núcleo que obrigasse mais de mil imigrantes.
Não bastou, como se vê, um simplesato jurídico - no caso, a lei de 13 de maio- para alterar a condição do trabalhador livre nacional, condição que era uma decorrência das relações de trabalho baseadas rioregime escravista. E já dizia Joaquim Nabuco, em 1883:
"O processo natural pelo qual a escravidão fossilizou nos seus moldes a e.xuberante vitalidade d<, nosso povo durou todoo período do cresc:'mento, e enquanto a nação não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberdade cada um dosaparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropriou, a obra desta irá por diante mesmo quando não haja mais escravos"! 5
E a lei que libertou os cativos, nós osabemos, não foi suficiente para destruir aobra da escravidão, como desejou e pregouNabuco.
Pádua FIeury apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, em 20 de outubro de1863, p. 35.
8. Relatório do Presidente Francisco FerreiraCorrea apresentado à Assembléia Legislativa Provincial em 9 de outubro de 1871, p.117.
9. Relatório do Presidente Azambuja, cito p.57.
10. Relatório do Presidente José Fernandes daCosta Pereira Junior apresentado à Assembléia Legislativa Provincial em 23 de maiode 1861, p. 66.
11. Relatório do Presidente Pedro Leão Velloso apresentado à Assembléia LegislativaProvincial em 25 de maio de 1859, p. 39.
12. O CACHOEIRANO, nO 7, de 17 de feve-reiro de 1884.
13. Idem, nO 51, de 30 de dezembro de 1881.14. Ibid.15. NABUCO, Joaquim - op. cit., p. 5,9.
TRIBUNA LIVRE
Uma descrição cronológica dodesenvolvimento urbano de Vitória
Eneida Maria Souza Mendonça *
*Arquiteta-Trabalho realizado para o 40 curso de Especializaçtro em Planejamento Urbano e Region,- MEC/Minter e República Federativa do Alemanha.
o início da ocupação da ilha de Vitória ocorreu em 1551 com a fundação da ViI.à Nossa Senhora da Vitória, i!~~e passou aabrigar a sede da capitania~.?r ~I?resentarmelhores condições de segurança que o sítio inicial de colonização, Vila do EspíritoSanto, localizado no continente' e ~ujeito
a constantes ataques indígenas.Em analogia ao desenvolvimento da ca
pitania, Vitória como sede e principal núcleo de ocupação, acompanhou o ritmolento de evolução que caracterizou a região, fruto da política de colonização implantada pela metrópole.
Até o século XVII, a função econômica da Vila restringiu-se a atividade de posto intermediário, servindo a importantesrotas comerciais. É em torno do porto quese desenvolve a ocupação humana, cuja organização espaCial segue o modelo medieval de cidade: "ruas tortuosas e estreitas,seguindo a topografia da região". A leste dailha, na fazenda de Jucutuquara" área atualmente integrant.e da malha urbana do município, cultivava-se, naquela época, canade açúcar, mandioca e milho.
No século XVIII, com a intenção demanter bloqueado o acesso ao interior econseqt,+~.rtemçl)l~.às minas, Vitória, pontoestratégico d~Lpené~ração, recebeu intensoaparato. militar;>onqe foram construídas ereaparelhadas cincoLfortalezas numa extensão de cerca de 1 km. Não houve, nesse período, qualquer alteração em termos de expansão d.o núcleo central' de povoamento;ao contrário, houve um retrocesso no processo de ocupação, tendo ocorrido inclusive, .a expulsão dos jesuítas e a desativação de aldeias e fazendas. Porém, as alterações no quadro econômico da província,em finais do século XVIII, repercutiram nasede, através de modificações na sua estrutura espacial, cuja expansão decorreu, basicamente, do importante papel exercidopelo porto nesse processo de desenvolvimento.
Mas, em função dos próprios aspectosfísicos e naturais de Vitória, "a cidade cres-
ce sobre si mesma, não ultrapassando ainda, o núcleo inicial, resultando na sobreposição dos tecidos urbanos de diferentesépocas e na expansão em terras conquista·das dos baixios, mangues e mar".
J á nessa época, ao contrário das desejáveis condições de segurança que deramorigem à ocupação da região, era flagrante a necessidade de transferência de sítiodaquele núcleo, em virtude da inexistênciade áreas urbanizáveis.
Dessa forma, em 1830 com o aterro docampinho e em 1860 com o aterro de umaárea ainda mais extensa, entre este e o Largo da Conce'ição, iniciou-se por parte da administração pública, um processo de "produção" de áreas urbanizáveis, provocandoa descentralização dos aspectos físicos dailha. Observoucse, também, o início da instalação de serviços urbanos, como: rede deabastecimento de água e escoamento de esgoto pluvial, iluminação elétrica e implantação de linha de bonde à tração animal ligando os bairros mais distantes da capital.
No século XX, o desenvolvimento dosítio urbano de Vitória pode ser caracterizado através de três etapas distintas, definidas através de determinadas mudançasocorridas nos campos econômico e socialda região. Estas etapas compreendem os períodos entre o início do século até a crisede 1929, de 1930 à década de 50 e de 1960em diante.
Até a década de 20, observou-se a continuidade do processo iniciado em finais doséculo anterior, como consequência da ascenção da produção de café e, em funçãodisto, a intensificação da atividade portuária.
Ocasionadas pelo acelerado processode urbanização ocorreram, neste período,diversas modificações quanto a organização do espaço da cidade, que recebeu umasérie de serviços e melhoramentos, em resposta à demanda por novos hábitos, estilo
de vida e pelo próprio aumento de densidade da população. Houve renovação no núc1eo antigo da cidade, através da retificaçãce ampliação das vias, o que resultou na demolição de grande parte do casario existente e na transformação do traçado coloniae nos sucessivos aterros. A área mais dinámica da cidade, que até então se localizava na parte alta, deslocou-se para junto d,porto. Como equipamento urbano, surgiu,praça, elemento necessário à vida urbanapermitindo a ampliação das relações sociaie intensificando a vida cultural. ,
Á urbanização neste período ocorrelde forma tão acelerada, que provocou .nepoder público a preocupação quanto à implantação de determinados serviços, visando a melhoria nas condições de salubridades das habitações e da cidade em geralinstalando o serviço de limpeza pública, coleta de lixo e dando continuidade às obrade infra-estrutura urbana iniciadas no, final do século anterior. Havia também, a intenção de preservar as matas do Maciç'Central da ilha, que possuía diversas nascentes de água, constituindo-se em ótim,manancial para abastecimento de água potável.
A exemplo do Rio de Janeiro e outracidades em processo semelhante de desenvolvimento econômico e de urbanização, cgoverno promoveu a elaboração de planosno sentido de que o inevitável crescimentcda cidade ocorresse de forma ordenada.
O primeiro desta série de planos foelaborado ainda em 1896, durante o governo de Muniz Freire, pelo engenheiro Saturnino de Brito, que dentro de uma ótic,sanitarista de planejamento propunha ,ocupação da ilha em direção nordeste. Esta, incluía a abertura de vias, que correspondem hoje a importantes corredores d,tráfego da capital.
.O governo de Jerônimo Monteiro, posua vez, entre 1908e 1912, destacou-se pe
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la implantação de serviços de infra-estrutura urbana e construção do Parque Moscoso, no aterro do campinho.
Durante a década de 20, no governode Florentino Avidos, a construção de pontes de aço permitiu a ligação da ilha com ocontinente, no sentido sul. Foram construídas novas instala,ções para abrigar o portode Vitória e, também, conjuntos habitacionais, promovendo a expansão do núcleourbano no sentido norte.
Como consequência da queda do café,após a crise de 1929, as obras de melhoramentos iniciadas na capital foram interrompidas e o processo de urbanização deVitória ocorreu, até a década de 50, demaneira mais lenta do que no período anterior.
No final dos anos 40, além da exportação de café, cacau e das últimas toras demadeira de lei provenientes do Estado, oporto de Vitóci.a exerceu importante função na comercialização de minério proveniente de Minas Gerais, escoado através daEstrada de Ferro Vitória-Minas. Nesta época, as alterações quanto a organização espacial da cidade ocorreram, como em outros períodos, através de aterros transformando, desta vez, de forma definitiva, operfil do centro urbano.
As transformações mais significativasno panorama urbano de Vitória, no entanto, ocorreram a partir dos anos 60 e prin-
cipalmente na década de 70, em virtude demudanças ocorridas no quadro econômicoe social do Estado, que contribuíram parao intenso processo de urbanização.
Além da função portuária, característica intrínseca da cidade de Vitória, intensificou-se, a partir desta época, sua funçãode centro administrativo-financeiro e deprestador de serviços, polarizando todo oEstado, além de parte de Minas Gerais e sulda Bahia. Intensificou-se, também em Vitória, a atividade industrial em função da facilidade de circulação rodoviária, ferroviária e marítima. Além de indústrias têxteise beneficiadoras de leite e café, instaladasnas proximidades das rodovias, destaca-seatualmente, a atividade siderúrgica, atravésda facilidade de obtenção detnatéria-primaproveniente de Minas Gerais. Dentre essaúltimas, a Companhia Siderúrgica de Tubarão - CST, ocupa grande extensão daárea urbana de Vitória. Embora ainda nãotenha atingido sua capacidade' máxima prevista de produção, pressupõe-se o surgimento de futuras alterações nos aspectosfísicos da região, em virtude de âeitos poluidores ocasIonados pelas atividades daCST.
A estrutura social da cidade sofreu,nesse período, radicais alterações. As atividades econômicas instaladas na capitalnão foram suficientes para absorver a nu-
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A área central, ao longoda Avenida Jerônimo Monteiro,
sofreu uma radical transformação.
merosa _mão-de-obra migrante do interior,na sua maioria, não capacitada para. exercer tais funções. Como opção alternativa,essa população vem buscando atividadescaracterizadas como subemprego, ou aprestação de serviços informais, típicos daeconomia urbana. A característica sazonale a baixa remuneração dessas atividades implicam no permanente baixo poder aquisitivo da população e consequentemente, car~ncia em termos alimentares, de saúde,educação e de condições de moradia. Atítulo de ilustração no campo das atividades econômicas informais, os moradores doBairro São Pedro, localizado nos manguezais, na parte oeste da ilha, sobrevivem emfunção do que conseguem comercializar apartir da apropriação do material "aproveitável" proveniente do lixo coletado emtodo o município, que é naquele local depositado. Em função dessa atividade foramampliadas as fronteiras do bairro, bem como seus problemas, através de sucessivasinvasões. A atividade, iniciada em 1981, assumiu tamanhas proporções que originou a"Associação dosCatadores de Lixo", como instrumento de organização e luta. pelos interesses dessa comunidade.
A estrutura espacial da cidade ultrapassou, nesta época, os limites da ilha, atingindo a parte do município situada no continente, bem como os munic1pios vizinhosde Vila Velha, Cariacica, Viana e Serra.
o Município de Vitóna
através de um processo desordenado deparcelamento e ocupação do solo.
A ocupação residencial na área do município localizado no continente teve início através de programas habitacionais executados pelo poder público, visando o atendimento da população de baixa renda. Mas,em função da implantação de serviços deinfra-estrutura urbana e locação de determinados equipamentos, a região alcançouíndice de valorização de tal ordem que nãopermitiu sua apropriação pela população àqual o programa visava contemplar. Destaforma, a população dt; menor poder aquisitivo passou a ocupar os morros e manguesda região (invadidos, muitas vezes, atravésde movimentos sociais organizados), eloteamentos periféricos à área urbana daaglomeração, em geral, nos municípios deCariacica, vila Velha e Serra, distantes obastante do centro de Vitória, a ponto deonerar as despesas desta população com excessivos gastos diários em transporte~
A especulação imobiliária desencadeada provocou na região mais valorizada dailha (Centro e Praia do Canto), a construção de altos edifícios, descaracterizando ocentro histórico em particular e os aspectos naturais da cidade, já alterados pela sucessão de aterros.
Atualmente, o município de Vitóriaapresenta praticamente a totalidade de seuterritório dentro do perímetro urbano, excluindo-se para fms de preservação, apenas,as áreas de manguezais ainda existentes eaquelas localizadas acima da cota de SOm,que não possuem logradouros já cadastrados e serviços de rede de abastecimentode água e energia elétrica. Cónsequentemente, a área de expansão urbana do município de Vitória limita-se aos vazios urbanos ainda existentes e a estreita faixa deterra entre a cota de SOm do Maciço Central e a baía de Vitória, no contorno dailha, que vem sendo ocupada, gradativamente, através de "'invasões. Resta, portanto, a ocupação das áreas contíguas ao núclep urbano, localizadas nos demais municípios da aglomeração.
Como centro do aglomerado urbano,o município de Vitória abriga os principaisequipamentos públicos e atividades de comércio, serviços e institucionais, atendendoà microrregião, ao Estado e parte dos Estados limítrofes, de uma maneira geral.
Assim, alguns equipamentos, como referentes a área educacional e de saúde, parecem superdimensionadas se considerarmos apenas a população do município. Entretanto, quanto aos equipamentos destinados a lazer, a região apresenta visíveis carências. Os espaços destinados a esse fim, limitam-se a um parque público no centro da
cidade (Parque Moscoso), algumas pra'ças ea orla marítima, desprovida ainda de infraestrutura nesse sentido. Esta deficiência édecorrente, principalmente, do desordenado processo de parcelamento do solo semprevisão de área destinada a uso público.
Dentre os equipamentos de importância sub-regional destacam-se, além de diversos hospitais e escolas de 20 Grau, ocampus da Universidade Federal do Espírito Santo e o Aeroporto Eurico Salles, ambos locàlizados na parte continental do município. Este último, apresenta-se inadequadamente inserido na malha urbana, oque limita a expansão de suas atividadesalém de constituir-se em prejuízo na qualidade de vida da população residente no seuentorno. Além de Vitória, oito municípiosbrasileiros apresentam problemas desta natureza, e estão sendo objetos de estudospor uma comissão criada pelo Ministério daAeronáutica. No caso específico de Vitória,em virtude dos altos custos que demandariam a transferência do equipamento, foram propostas pela referida comissão recomendações restringindo usos, determinando gabarito de altura de edificações e estabelecendo medidas que visem controlar adensidade populacional na área de influência do equipamento.
Essas recomendações foram inseridas àLei Municipal, aprovada em março de1984, correspondente ao Plano Diretor Urbano do município de Vitória, que dispõesobre o desenvolvimento urbano do mesmo. Além de conter normas sobre o exercício de atividades, parcelamento e zoneamento urbano, edificação e preservaçãoambiental, o referido Plano instituiu o Conselho Municipal do Plano Diretor Urbano,
Localizado no litoral centro-sul doEspírito Santo, possui 81 km2 de extensaõ, sendo que 11 km2 correspondem àsilhas oceânicas de Trindade e MartimVazo Os 70 km2 restantes estão distribuídos entre os dois distritos que compõem o município.
O distrito sede, capital do Estado,equivale à ilha de Vitória, encravada nabaía do mesmo nome, que se constituina maior reentrância no litoral brasileiroentre o Rio de Janeiro e Salvador; possui grande extensaõ de montanhas emangues. O ç/istrito de Goiabeiras equivale à área do município localizada nocontinente, ao norte da ilha e a ela ligada através de pontes, possuindo relevo
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como órgão de assessoramento ao ExeCUlvo Municipal quanto aos assuntos reIativeao desenvolvimento urbano do municípi,Este conselho é composto de representa:tes de diversas entidades, relacionadas dretamente ao desenvolvimento do muncípio, estando entre eles, inclusive, menbros do Conselho Popular de Vitória (entdade que reúne representantes das divers;associações de moradores do municípioApesar de ter iniciado apenas recentemen l
suas atividades, observa-se a importância creferido Conselho, como fórum de permnente debate sobre o desenvolvimento ubano do município de Vitória, entre os cversos segmentos da comunidade.
Baseado no exposto, pode-se afirm;que a complexidade e a interrelação d:funções existentes entre os municípios (Ag~omeração Urbana da Grande Vitóriexigem que o tratamento dos problemaneles existentes, se dê a nível daaglomerção e não de forma individual ou isolacpara cada mun~cípio.
Desta forma estão senl10 tratados c
problemas da aglomeração, referentes "setor de transportes e circulação, bem c'mo, os relativos à regularização fundiária.
Tendo em vista a abrangência e o ra:de polarização que a aglomeração exerea nível regional, faz-se necessário, tambéra programação de incentivos econômicos,atividades rurais, e a locação de determindos equipamentos e serviços em centros ubanos do interior do Estado, possibilitado melhor distribuição dos mesmos no cotexto da região, aliviando a centralizaç1excessiva, hoje, incidentemente, sobreaglomeração e, mais especificamente, soba cidade de Vitória.
de característica plana e, também,extensa área de manguezais.
A populaçãO total do município éde 207.000 habitantes, coincidindo coma população urbana.
Entretanto, devido ao aceleradoprocesso de urbanização por que passoua região nos últimos anos, a cidade de.Vitória constitui-se, atualmente, no centro urbano mais populoso de uma aglomeraçaõ composta de 5 municípios (Vitória, Vila Velha, Cariacica, Viana e Serra), com 1.380 km2 de extensão. Aaglomeraçaõ Urbana da Grande VitóriaposSui uma população de 706.000 habitantes sendo 694.000 correspondentesà populaçaõ urbana.
A volta do trólebuspara o transporte coletivo urbano
Ronaldo Guimarães Gouvêa *
*Engenheiro avi! e Urbanista, da Assessoria da Presidência da Companhia de Transportes Urbanos daRegião Metropolitana de Belo Horizonte - Metrobel.
Tal como o bonde, o trólebus foi varrido da face de um grande número de cidades do mundo ocidental por duas razõesbásicas:
o raciocllllO simplista que levava emconta apenas o menor preço dos ônibusdiesel, desprezando-se os custos relativos àsfontes de energia, diante de um então baixo custo do petróleo, bem como não seavaliando os aspectos ligados à qu,alidadede vida;
- o modismo do transporte individualque propiciou, entre outros males, a degradação dos sistemas de transportes coletivos.
As coisas não evoluiram desta maneirano mundo oriental, tendo a Rússia mantidoum crescimento constante de seu sistemade trólebus até os dias de hoje, contandoatualmente com uma frota de aproximadamente 20 mil veículos. Sua produção anualanda em torno de 2000 uni<olades a despeito de ser um país exportador de petróleo.
No caso específico do Brasil, a falta dereposição para equipamentos importados, aausência de um eJetivo programa de fabricação local de componentes, a hesitação naaplicação de recursos e a falsa impressão
que o automóvel substituiria o transportecoletivo são alguns dos fatores que levaramà desativação dos sistemas trólebus namaioria das cidades, inclusive Belo Horizonte.
Dez anos de convivência com a amargacrise do petróleo serviram para baixar a poeira dos desatinos cometidos em favor dotransporte individual. Isto porque',' simultaneamente, as pressões exercidas pela crescente população urbana usuária e, em suamaioria, cativa dos sistemas de transportescoletivos, induziram o poder público a avaliar a gravidade proporcionada pelos baixosníveis de eficiência dos sistemas existentes.
Essas pressões são representadas basicamente pelo tempo dispendido pelos usuários no transporte, atualmente atingindo opatamar de cinco horas na região metropolitana de São Paulo e pelo percentual do orçamento familiar gastos nos deslocamentosdiários "casa-trabalho", que chega a superar a cifra dos 25% para um significativocontingente de nossa população.
Hoje não é mais admissível ver o trans-
Diante de um quadro conjuntural emque se depara com a ,condição de. extremaescassez de recursos e a necessidade de redução do consumo de derivados do petróleo, racionalização passou a ser a palavrade ordem. E as opções atualmente feitas aonível político e tecnológico exigem reflexão: ênfase aos sistemas de média e alta capacidade para atender às populações de baixa renda, distribuídas nas periferias dosgrandes centros, aproveitamento das Jontesenergéticas nacionais, desenvolvimento detecnologias não poluidoras e incentivo àsindústrias nacionais.
porte público como aquela coisa rota e cansada que ainda existe em tantas cidades domundo, o ônibus lento e malcheiroso, otrem superlotado, o antigo bonde ou o ônibus elétrico andando mais devagar do queos carros que impedem o seu avanço mas,antes de tudo, é necessário encará-lo comoum conjunto de f1odosde transportes revitalizado, atraentemente véloz e seguro.
Em 1977, um Grupo de Trabalho In-
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o trólebus pode eliminar o ônibus do centro da cidade. ..
terministerial, constituído por técnicos dosMinistérios do Planejamento, dos Transportes e das Minas e Energia, concluía um relatório indicando como "prioridade" a expansão dos sistemas de tróle bus existentesno país e a implantação à médio prazo denovos sistemas.
Atualmente, todas as cidades onde otrólebus sobreviveu (São Paulo, Recife,Santos e Araraquara) dedicam-se à recuperação e expansão de instalações e equipamentos. A cidade de Ribeirão Preto inicioua dois anos a operação de sua rede de trólebus e várias cidades já possuem seus estudos de viabilidade técnica e econômicaconcluídos ou em andamento.
Interessante é a conclusão tirada pelamunicipalidade de São Francisco (EstadosUnidos), após uma pesquisa feita pelos estudantes da Davis University: o trólebus éo mais econômico meio de atrair o usuáriodo automóvel. A investigação revelou que61% dos entrevistados apreciava os trólebus, enquanto 67% manifestava seu desagrado pelos ônibus diesel. É bom lembrarque os modernos ônibus europeus e norteamericanos apresentam uma série de melhoramento que não conhecemos nos nossos ônibus convencionais, como direçãohidráulica, motor horizontal sob o veículocom forte proteção anti-ruído, suspensão aar, motores de maior potência, etc. Nestescasos a preocupação básica tem sido evitara poluição ambiental e ampliar as condições de conforto dos usuários.
Tradicionalmente são colocados doisóbices ao trólebus: necessidade de redeaérea e suas subestações retificadoras, gerando inconvenientes de investimentosmaiores, menor flexibilidade do sistema ealguma poluição visual, e preço inicial maiselevado do veículo, em função de uma in·dústria nacional ainda nascente na área.Entretanto tais crÍticas comportam outraanálise, quando se depara com a tendênciaatual de veículos com maior capacidadepará o atendimento de importantes segmentos de demanda:
- Se a rede aérea causa poluição visual, tal desvantagem fica em plano secundário em função das poluições atmosféricas e sonora dos ônibus diesel:
- A flexibilidade dos ônibus diminuibastante com a introdução das pistas efaixas exclusivas e da rígida programaçãode pontos de parada nos corredores detransporte;
- Quanto ao preço maior do ônibuselétrico devemos ter em conta, antes detudo, a s.ua elevada vida útil. Além disso,não é razoável comparar o veículo trólebus fabricado no Brasil com o anacrônico ônibus convencional que, para tanto,
deveria ser melhorado. O ônibus Padron,a despeito das críticas normalmente a elereputadas, serviria como veículo basepara a comparação.
A propósito, diante de uma realidadenacional de milhões de quilowatts disponíveis, vale ponderar que não é necessariamente exato que a solução que necessita menores investimentos seja aquela quemelhor convém à coletividade.
O trólebus é considerado um veículoapropriado para sistema de média capacidade de transporte de passageiros, aplicando-~e mais adequadamente a cidades demédio porte, normalmente com populaçõessuperiores à 80 mil habitantes, e grandesaglomerados urbanos, notadamente regiõesmetropolitanas, que po;ssuam corredores detransportes com demandas na faixa de doismil a oito mil passageiros/hora.
A introdução do trólebus pode e deveser vista como uma oportunidade de aplicação de melhorias em todo o sistema detransporte urbano, dentro de uma programação global de racionalização através deoperação integrada de modos complementares, onde as frotas existentes de ônibusdiesel também têm seu papel definido.
Por ser um sistema guiado, o trólebusapresenta efeitos estruturantes no meiourbano mais forte que o ônibus convencional. Sendo assim, a concepção e localização
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Sagri
da rede de trólebus deverá ser feita em fUição da existência, características e localzação de corredores em áreas adensadoou em processo de rápido adensamento.
Do ponto de vista energético o tró\'bus tem a vantagem de só consumir quandse movimenta pois, quando está parad,seu motor também está. Além disso, o m,tor pode trabalhar como gerador dUranla frenagem, fazendo com que até 25% cenergia consumida pelo veículo nas aceler;ções seja regenerada e retorne à rede elétrca para ser utilizada por outro veículo n:proximidades.
O trólebus ap. resenta vantagens signifcativas sobre o ônibus convencional n:áreas dos custos operacionais, mais precis;mente nos custos variáveis resultantes deinsumos associados aos fatores veículo-KIe veículo-hora.
Em estudo realizado pela Cia. Santis1de Transportes Coletivos - CSTC, a redlção no custo decorrente da substituição dóleo diesel por energia elétrica e a elimin;ção de determinados lubrificantes ensejaIreduções da ordem de até 70% dos custeassociados à rodagem (veículo-Km) e éaté 33% no custo total.
Em São Paulo a operação de trólebtem faixa exclusiva, postada ao lado do calteiro central da Av. Paes de Barros, permtiu velocidades comerciais superiores el
· .. e restituir um pouco da tranquilidade dos bondes.
até 25% às observadas nas vias sem tratamento, na medida que pode ser exploradotodo o potencial de vantagens da rápidaaceleração - desaceleração do veículo,sem a interferência do tráfego misto, dentro de uma estrutura de pontos de paradacuidadosamente estudada.
Segundo levantamentos de custos desenvolvidos pela Companhia Municipal deTransportes Coletivos de São Paulo-CMTC,os custos operacionais por Km rodado,,(energia, lubrificantes, pneus e peças), emvalores de janeiro de 1983, montava em91 cruzeiros para o ônibus Padron e 47para o trólebus.
Entretanto os custos globais constituem-se atualmente na mais importantebarreira para a expansão do sistema trólebus no Brasil, dada a situação econômica do país e as limitações de investimentos decorrentes.
A implantação de um sistema completo de trólebus, em termos. de custos totais,pode ser dividido em três partes aproximadamente iguais: uma referente aos gastos com veículos, outra para a instalaçãoda rede elétrica, incluindo as subestaçõesretificadoras e cabos alimentaâores, e umaterceira para melhorias no sistema viário,onde se deve incluir a construção de garagens, oficinais, terminais, etc.
O Estado de São Paulo está vivencian-
Arquivo
do uma tendência de se transferir às empresas concessionárias de energia elétricaa responsabilidade de implantação, operação e manutenção do sistema elétrico.Isto pode vir a representar uma real redução nos investimentos iniciais da ordemde até um terço do valor total, abrindoperspectivas para a participação de empresas privadas na operação do Trólebus.
No âmbito Federal, a Agência especial de Financiamento Industrial - Finame,vem apoiando todos os programas de Trólebus em andamento, financiando veículose equipamentos de subestações elétricas.Também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, estáinte~essado em apoiar os programs de implantação de sistema trólebus.
Na fabricação de veículos, em consórcio legalmente aprovado pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos - EBTU, aViUares fornece os motores e os controladores. A Scania fornece os chassis e a Caioexecuta o encarroçamento.
O segundo consórcio aprovado pelaEBTU é encabeçado pela Marcopolo, quefornece a carroceria. A TectroIÚc entracom os controladores, a BardeDa com osmotores e a ScaIÚa com os chassis.
Todos são veículos com vida útil superior à vinte e cinco anos. Para Mendonça Lima, diretor da Villares, esse período
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pode se estender, em alguns casos, por maisde 500/0.
O maior problema para os fabricantesé a ausência de uma política que proporcione continuidade de fornecimento, certosque os veículos trólebus hoje fabricados noBrasil se enquadram perfeitamente emqualquer especificação internacional.
Adriano ·Branco, .Secretário dos Transportes do Estado de São Paulo, ardorosodefensor do trólebus, afirma que a questãoda viabilidade no sistema trólebus resideem saber se um bom sistema de tr"ansportescoletivos sobre pneus poderá aliviar as neuroses da circulação urbana, reduzir os infindáveis investimentos na rede viária, que játende a ocupar o segundo andar da cidade,e evitar a implantação maciça de sistemasde transporte de alta capacidade, que chegam ao nível de custo de 75 milhões de dólares por quilômetro, no caso de metrô emtúnel aberto por processo Sbield.
Temos ainda de avaliar que não se devedesconsiderar o significado para o desenvolvimento nacional, de iniciativas que gerema criação de oferta interna de equipamentode transporte, portadores de tecnologiaainda não desenvolvidas no país.
No futuro, o trólebus brasileiro nãoserá provido de motores de corrente alternada,· mas também será alimentado através de rede elétrica com corrente alternadamonofásica. Isto representará o fim dasonerosas subestações, que serão substituídas por transformadores menores colocados nos postes e alimentados diretamentea partir da rede de distribuição da concessionária de energia elétrica. A transformação da corrente· alternada em contínuaséra efetuada por retificadores menorescolocados dentro de cada veículo.
A volta do trólebus, agora de maneiradefinitiva e irreversível, é uma realidade incontestável. Apesar das restrições existentes quanto aos custos de implantação derecursos disponíveis, a alternativa trólebusapresenta-se como possibilidade consistentee viável para se antepor ao grande númerode problemas nas áreas de transportes'urbanos, como altas tarifas, níveis ainda elevados de consumo de derivados de petróleo,necessidade de desenvolvimento tecnológico, ampliação do mercado de trabalho emuitos outros.-
Cabe, então, aos diversos níveis deGoverno, na elaboração de políticas paraos transportes públicos, estabelecer as diretrizespertinentes aos diversos modos detransporte, de maneira a proporcionar um.posicionamento firme e definitivo do sistema tróle bus dentro de uma rede detransportes coletivos racional, confiável eeficiente.
A explosão dos movimentos sociaisna Grande Vitória na década de 70
Nildete Virgz'nia Turra Ferreira *
Carlos Pali
*Assistente Social, Presidente do Sindicato de Assistentes Sociais no E. S.. Técnico do fJSN.
Falta de infra-estrutura urbana: estopim das organizações de bairro.
rência do movimento nas questões mais g.rais da sociedade.
No caso da Grande Vitória, apesar degrandes avanços já mencionados, os movmentos sociais urbanos esbarram em limitoções decorrentes do próprio processo dformação e desenvolvimento econômico dEstado. Um deles se refere a existência dum operariado urbano industrial ainda pOtco numeroso e pouco concentrado e queapesar da experiência dos seus antepass,dos, pelo fato de ter entrado no processprodutivo mais recentemente com a inplantação dos Grandes Projetos nos ane70 - período de forte repressão e, portarto, com pouca oportunidade de particip,ção e crescimento ~, ainda está bastantdesagregado no que se refere à sua organ
tureza da sua relação com o poder constituído. Ele preserva a sua independência orgânica e política em relação ao Estado eavança na superação de um estágio puramente economicista e corporativista. A participação dos movimentos populares- nosgrandes acontecimentos políticos nacionais, como a Campanha pelas Diretas e asdemais lutas por liberdades democráticas esindicais; a natureza das reivindicações, noque se refere a uma nova política urbana,atingindo os setores da habitação, transportes coletivos, saúde, etc.; as propostas envolvendo uma nova política salarial; e acriação de comitês de solidariedade, sãoapenas alguns exemplos que revelam um estágio novo, que extrapola as lutas de caráter puramente imediatista e revela a interfe-
"Depois de 34 'anos da última grevedos operários da construçaõ civil, aconteceu ontem o mais inflamado piquete já realizado por uma classe em greve no Estado,quando mais de três mil trabalhadores marcharam por aproximadamente 13 quilômetros em uma operaçãO arrastão, a partir doGinásio do Colégio Salesiano - onde esperavam respostas das negociações,do comando de greve, na DRT que devem ser concretizadas hoje - passando por Gurigica, Santa Lúcia, Praia do Canto, até a~ingir o obje-.tivo: parar as operações da Terceira Ponte".(Jornal A GAZETA, 06/09/1979).
Este não é um fenômeno isolado dosúltimos anos da década de 70. É a retomada à nível nacional das grandes manifestações populares, depois de 15 (quinze) anosde silêncio e refluxo dos movimentos sociais.
Influenciados não só pelas grandes jornadas grevistas do ABC paulista, - ampliadas posteriormente para todo o país -, mastambém pelas transformações eco~ômicas esociais ocorridas no Estado, os trabalhadores capixabas entram novamente em cenapara manifestar suas insatisfações frente àsdifíceis condições de vida f'trabalho. Não émeraobradp acaso que exatamente os operários da construção civil dão início a estepr<:>cesso:~CompanhiaSiderúrgica de Tubarão (CST) está em fase de construção. Nadécada de 70, inicia-se no Estado a implantação dos chamados Grandes Projetos (Aracruz; CST, etc.), com todas as consequências advindas do processo de industrialização a toque de caixa, engendrando contradições tant@ na esfera da produção quantona reprodução da força de trabalho.
As acirradas contradições urbanas, ainfluência do forte movimento operáriodos grandes centros urbanos brasileiros, aexperiência histórica acumulada, fez comque o movimento social emergente na década de 70 adquirisse contornos próprios equalidade nova tanto no que se refere àsformas de luta e organização, como na na-
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o povo vai às ruas exigindo mudanças. Gilda Loyola Mesmo a intensa repressão não impediu as manifestações de rua.
zação. Outros setores, como ferroviários,portuários, funcionários públicos, apesardo acervo de experiências históricas, estãodando os primeiros passos no campo da retomada da sua organização.
As experiências nos grandes centros urbanos, principalmente no ABC paulista,vêm mostrando que a existência de um movimento operário e sindical forte influi decisivamente no crescimento dos movimentos populares dos bairros. A conexão entre eles traz saldos organizativos e políticos importantes, contribuindo para o crescimento do nível de consciência dos moradores, levando-os a uma comprensão maiorsobre a sua condição de trabalhadores enão somente de consumidores de bens deserviços agenciados pelo Estado.
Outro fator característico da região,e que tem reflexos no grau de consciênciae organização, está relacionado com o grande número de pessoas do campo que imigraram para a Grande Vitória e a experiência anteriormente acumulada por estas pessoas. O pequeno proprietário, ligado à produção do café principalmente, que imigroupara a Grande Vitória, acumulou na sua experiência de vida a prática da produção individual e familiar, sem o vínculo de assalariamento, e que, em termos, satisfazia assuas necessidades mínimas de consumo. Esta prática vai ter reflexos à nível da suaconsciência e formação, gerando uma concepção individualista no enfrentamento dosproblemas e que só será superada na medida em que se desencadeia um processo de
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deteriorização das suas condições de vidaem função da política de erradicação docafé, da entrada do grande capital no campo e da sua expulsão para os centros urbanos.
Dá-se. início a um processo crescentede urbanização na Grande Vitória. com aocorrência de forte fluxo migratório atraído pela propaganda em torno da industrialização.
Em 1960, a população do Estado erapredominantemente rural (72%). Quatorzepor cento (14%) da população total concentrava-se na Grande Vitória, que possuía198.000 habitantes. Em 1980, a populaçãoda Grande Vitória atingia 35% da população do Estado.
Na realidade, a indústria em si vai
absorver pequeno número de tdbalhadoresespecializa.dos. A grande maioria é absorvida na construção civil, comércio, prestaçãode •serviços, administração pública. Em1977, o Setor de Serviços na Grande Vitória absorvia 70.!D% da população economicamente ativa, enquanto o Setor Indústriaabsorvia 17.7<40/0-
Esses trabalhadores, mais os desempregados, biscateiros, "donas de casa'" vão sefixar nos chamados bairros populares, designação ' que, envolve as favelas, invasões,bairros e vilas da periferia e conjuntoshabitacionais.
Esses bairros, sem fugir ao que. acorreem escala nacional, têm como característica a ausência ou precariedade de serviços eequipamentos urbanos, como rede de água,luz, esgoto, creche, posto de saúde, que somados a.os baixos salários e inflação, agravam violentamente as condições dessa po~
pulação, gerando um estado crescente depobreza e miséria social.
Tal quadro é decorrente de uma política urbana que consiste basicamente na utilização da cidade com vistas à prática especulativa, visando em última instância, aacumulação. e reprodução do capital. Os recursos públicos são 'aplicados dentro deuma orientação que prioriza0 atendimentodos interesses privados, em detrimento dosserviços públicos de consumopara os trabalhadores. Dessa fortna,a inexistência ti deficiência de equipamentos e serviços básicos, os baixos salários, as difíceis condiçõesde emprego e custo de vida, além da conc~nttação de uma grande heterogeneidadede setores sociais habitando nas mesmassubcondições, faz com que a passividade, oconformismo e a individualidade dêem lugar à p~~cipação e a tomada de consciência dos/moradores dos bairros sobre suasnecessidades de sobrevivência.
"O movimentosocial preserva a
sua independênciaorgânica e política
em relação ao Estado".
É dentro de um contexto de grandeadensamento da população na Grande Vitória e de acirramento das contradições urbanas, tanto à nível de consumO de bens eserviços - saúde, transporte, educação -,como a nível da produção - baixos salários, desemprego, condições de trabalhoque surgiram os movimentos sociais urbanos do final da década. de 70 na GrandeVitória, tendo continuidade e crescimento atéos dias. de hoje, e que tiveram na greve daconstrução civil de 1979 a expressão máxima do que já ocorreu no Estado em termosde mobilização de massa.
Os movimentos sociais se estenderamà diversas categorias e bairros populares.Ocorreram, neste período, as greves dosmotoristas e trocadores de ônibus, dos professores universitários e secundários, e dosmédicos j além de dezenas' deinvasões,cujaviolência policial", presente em' todas elas,encontrou forte resistência dos moradorese apoio· dos. mais vastos setores da sociedade. Emporacara.cterizado pela espontaneidadee ',' explosividade •frente às ,precáriascondições de vida, de trabalho e baixos salários, a experiência, e a própria necessidade no decorrer das lutas, fizeram com queos trabalhadores e moradores dos bairrosdesenvolvessem inúmeras formas de organização a partir da criação de estruturas mais
estáveis e, permanentes,como foiocaso ,Associações de Moradores, da Federa\das Associaçõ~s de Moradores da Serra, 'comissões e fóruns unitários ~ Comis~
do Movimento de Transporte ColetivoVila Velha, Comissão.deUnificaçãocMovimentos Populares da GrandeVitólComissão de Saúde da Serra-, além datomada, pelas oposições, de. entidades sdicais e de bairros há anos sob o.contr,de diretorias atrasadas e pelegas(Movirn<tos Comunitários e Sindicatos).
A pequena força domovirnentooperio, industrial propriamente dito, 0igranpeso numérico dos demais setores soci<incluindo os não assalariados,desempre,dos, "donas de casa", etc.,faz com quemovimentos populares dos bairros as:mam, no contexto geral das lutas socida Grande Vitória, umpesoextremamerimportante, pois conseguem congregar apIos setores populares e representar, deto, uma força dentro da conjuntura.
Novas e ricas experiências vêm se ccformando nos dois últimos anos no Espito Santo, que merecemtratamentoees1dos especiais. As transforrnaçõesconjun1rais ,que vêm ocorrendo no país/nos •• anrecentes ea decorrente adoção por paIdo poder públicodenovasestratégíasde J
lação ,com, oSi movimentossociaisrequ.pelo lado do movimento'iurnapermanenrevisão das suas diretrizes~rnéto~()sdeitervenção. As práticasdeeIl,,~lvirnent~
população, no planejamento e execução ,políticas; a criação deinstrumentosconConselhos '. Comunitários, visando a parti,pação da população naadminist~ação pblica; a manutenção da autonomia polítie orgânica dos movimentos em relação ;Estado, são questões de suma importânca serem analisadas dentro da nova conjútura política do país.
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Política do cotidianoJoão Gualberto M. Vasconcellos *
*Mestre em Administração pela Pontiflcia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Professor doDepartamento de Administração da Universidade Federal do Esplrito Santo. '
Felicidade. Parece ser esta a grandebusca das pessoas nesse Brasil de 1985. Remetidos a um in}lividualismo possessivo,por uma longa ditadura militar, que apagoutantos sorrisos e faz mergulhar em trevastantas ilusões, compulsonamente adiadaspara essa aurora democrática que tanto merecemos, voltamos a sonhar coletivamente.
Entretanto essa longa noite operouprofundas transf{)rmações na sociedade emmuitos planos - no econômico, no social etambém no individual. Toda a ideologÍa doregime, ,atualmente em fase de decomposição no Brasil,pois já está morto de muÍto,sempre apontou para o triunfo pessoal.Não a ideologia formal propalada pela escola Superior de Guerra e presente no discurso empolado e socialmente insignificante dos militares em suas ordens-do-dia, masa verdadeir:a proposta dos dirigentes parao povo, como aquela veiculada diariamente"ad nauseum" pela televisão - essa voz dócil - que sempre enfatizou o valor da vitória própria.
As novelas, como autêntico produtocultural dessa fase, deixam claro esta preocupação. Nelas há um mundo maniqueístague se divide claramente em dois: o dosbons e o dos maus. Nessa fantasia, que setornou coletiva na medida em que é vividadiariamente por milhões e milhões de pessoas, os maus tentam por todas as formasvencer na vida usando de todas as estratégias, por mais desumanas e trapaceiras quesejam, enquanto que os bons, ete'rnamenteperseguidos pelos malvados, tentam triunfar utilizando sua ingenuidade e trabalho,sempre numa perspectiva individual. Ou seja, não há nenhuma passagem coletiva paraa realização dos desejos. Assim, nunca seviu um personagem global que tenha conseguido impor uma derrota a tim patrão incorreto utilizando um sindicato, ou um médico que tenha sido punido por um graveerro por força e pressão da opmião púólica,antes os malvados são. desmascarados pelaação isolada de algum justiceiro.
Parece haver, então, uma clara ligaçãoentre o corte dos mecanismos de ação coletiva representado pela ação repressiva dosorganismos de segurança no período - queprendiam, batiam e arrebentavam - e pela postura. autoritariamente legalizada queimpediu a organização da sociedade, sejaatravés de autênticos partidos políticos,sindicatos e organizações de base, com aideologia veiculada pelos meios de comunica~ão de massa, que incutiram na população um forte apelo para o sucesso pessoal,presentes nas propagandas: "Ao sucesso,com hol1ywod" "Quem sabe o que quer fuma Minister", e no conteúdo da própriaprogramação, na qual destaco as novelas,
pelo seu sucesso de audiência. Quero dizer,o conjunto das ações das elites dominantes brasileiras ,- articuladas basicamente noEstado - acabaram 'por conduzir a população a uma perspectIva bastante indiVidualista, principalmente a juventude urbana,presa mais facil desses mecanismos.
Ocorre que a. história move-se dialeticamente, e as realidades geram seus contrários. E as pessoas que passaram a ser submetidas diariamente a tais mensagens,acabaram por buscar saídas coletivas para suasquestões. Explico melhor: uma criança de10 anos assiste toda noite em sua casa aím'ensos dramas em que estão presentes casais em crise, casais separados, alcoólatra!ique levam famílias ao desespero, assassinatos passionais e outros, e isso durante anos.Como a sociedade em que ela vive tem presentes esses problemas no seu dia-a-dia, elaacaba por aprender a lidar com eles, semque entretanto, adquira qualquer perspectiva política, qualquer saída coletiva. Seria como se os dramas pessoais fossem umacoisa e a política, os problemas sociais, outra.
A partir desse corte e dadas as difi-culdades colocadas para a organização coletiva e as facilidades para a observação dasquestões pessoais - boa parte das pessoasperdeu a dimensão polítIca ao tratar dasquestões do cotidiano. A ausência forçadados mecanismos de discussão coletiva detais questões e a extrema fragilidade a queforam lançados os partidos políticos, ampliaram tal fenômeno. Resultado: passamos a viver nllm país em que as questões políticas relevantes pouco têm a ver com onosso dia-a-dia. Questões absolutamentefundamentais e responsáveis pelas alegrias emisérias do cotidiano, tais como o casamento, a educação dos filhos, as drogas e asexl\alidade, não têm qualquer espaço dediscussão nos partidos. Acredito ser estauma das razões de seu crescente esvaziamento. E quem se lembra do pique dos jóvens - no Espírito Santo, principalmenteno PT e no PMD.B - até 1982 e hoje, temque imaginar que alguma coisa aconteceu.No mínimo, encerraao um ciclo - o eleitoral - faltou 'dinâmica, faltou uma articulação de relevância de guestões, faltou,me parece, inserir o cotidiano como questão política no debate coletivo, como agrande marca do nosso tempo.
Existe, ainda, a constatação óbia deq~e a cri.se. econômi.ca vivida rela c.lasse média braSileira a obngou a abrir mao de externalidades, através das quais mascarava eadiava seus problemas. Não dá mais para
viajar para a Europa e viver sonhos hollywoddianos para esconder uma grave crisenum casamento, não dá sequer para promover festas e sair para jantar fora com a frequência que os assuntos mal resolvidospressionam. Assim, a crise nos entregou àsnossas próprias subjetividades. Ficamosdiante de nossas aflições como diante daesfinge que coloca um ihigma e diz "decifra-me ou te devoro".
O indívidualismo a que fomos entregues, o avanço fulminante de questões antes tão violentamente afastadas - como ohomossexualismo, por exemplo - e o graude intimidade que todos ganhamos comelas IQudaram a realiqade. O que, a ditadura quis foi a todos alienar empurrando-nospara tora da discussão política. Entretantoa realidade está a nos mostrar que se fomos empurrados somente para o plano individual, hoje ansiamos todos por saídascoletivas, e saídas Que incluem nossas demandas pessoais por liberdade.
Caso precisássemos de alguma prova,basta observar como o consumo de bensculturais tem aumentado pela classe médiabrasileira - a indústria do livro cresce emplena crise. As pes;;oas buscam explicações,ou será casualidade que o livro "Complexoda Cinderela" que discute o príncipe encantado como eixo da vida feminina, serhoje um dos mah vendidos no país? Acredito que discutir o prazer, a sexualidade, ocasamento ou as drogas empolgam mais doque ouvir os chatíssimos discursos dos chamados rolíticos profissionais, ditos numportugues complicado e num tom triunfalista, cheios de formas, mas vazios de conteúdo.
O prazer, o amor e a felicidade são sen:timentos presentes em cada um de nós. Ea soma de homens livres e aptos a exercerem a sua própria individualidade que produz um~iedade sadia e justa. O orgasmo coletivo é uma tarefa que exige comopré-condição, embora haja uma integração de difícil localização, da fertilidade decada um.
A mim me parece que há uma ausência, só explicável pelo provincianismo edesprezo das "vanguardas partidárias", dadiscussão desses temas pelos partidos políticos. Não quero fazer apologia do partido como canal privilegiado de quaisquerdiscussões, quero apenas constatar gue umcanal institucionalmente organizado, quedispõe em princípio, de uma estrutura capaz ?e fome~tar discussões, ausentou-se.E aSSim, esvazlOu-se.
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ENTREVISTA
Ex-InterventorJoão Punaro Bley.A Era Vargas noEsp'Irito Santo.
No dia 3 de outubro de 1930, ec/odiauma revolta no Rio Grande do Sul.Tratava-se de uma ruptura da política do"café com leite" que, durante muitosanos, sustentara o poder da oligarquiade São Paulo e Minas Gerais. Era o fimda República Velha. Recebendo o poderem 3 de novembro, das mãos da juntapacificad9c:ra, Getúlio Vargas foiconcentrando em suas mãos as decisõespolíticas e econômico-financeiras.Governou sem êonstituição até 1934,ano em que foi eleita a AssembléiaConstituinte. O governo constitucionaldurou até 1937, quando Getúlio Vargasdesfechou um golpe de Estado para evitara vitória da oposição nas eleições queseriam realizadas em 1938. Governoucom plenos poderes ate 1945, sob a égide;~~ Estado Novo, quando, pressionadopela campanha de democratização,convocou eleições gerais. Iniciava-se,pois, a Segunda República.Para o Governo do Espírito Santo, GetúlioVargas, de 1930 a 1943, contou com acolaboração de um competente militar,fruto do tenentismo, braço armado darevolução, que se originou da cisão dejovens oficiais. João Punaro Bley, nasceuno Estado do Paraná, em 14 de novembro
de 1900. Pertenceu, durante 7 anos, àguarnição de Curitiba, onde integrou oconselho revolucionário local. Nomeadointerventor do Estado do Espírito Santoem 1930, foi eleito governadorconstitucional em 1935 para, em 1937,ser nomeado interventor. Dois anosantes de Vargas encerrar seu mandato nocomando do país, Bley deixou o governodo Espírito Santo. Assim, permaneceumais de 12 anos seguidos no comando doEstado.Aos 81 anos de idade, duas semanasantes de sua morte, o General JoãoPunaro Bley concedeu, em sua residênda,no Rio de Janeiro, a seguinte entrevistaa João Eurípides Leal e Fernando LimaSanchotene, do IJSN:
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, 'A polícia atirou no meio damultidão, matando 4 pessoas., ,
REVISTA: General, conte como foi que osenhor tomou-se interventor do EspíritoSanto?BLEY: Cursava eu o 20 ano da Escola doEstado Maior, em Andaraí, Rio de Janeiro,quando, na madrugada de 4 de outubro de1930, tomei conhecimento da eclosão deum levante, de grandes proporções, sob ocomando, no sul, de Getúlio Vargas; emMinas, de Olegário Maciel; na Paraíba, deJuarez Távora. E, na tarde do dia 6 de outubro, recebi um ofício contendo os seguintes termos: "Senhor Capitão Bley,apresente-se ao General Chefe do Departamento de Pessoal, a fim de seguir, aindahoje, para o Espírito Santo, com o CoronelJosé Armando". Contrariado, apresenteime a meu novo comandante, no Ministérioda Guerra. '
REVISTA: Por que contrariado?BLEY: Eu não conhecia ninguém 1,10 Estado. Desejava ser escalado para destacamentos que fossem enviados para o sul, ondepoderia solidarizar-me com meus antigoscompanheiros e passar, pela deserção, parao lado revolucionário. Pois bem. Dirigi-mepara o navio que deveria nos conduzir aVitória. Fui informado que nosso destacamento seria constituído de apenas 8 oficiais e 13 sargentos, compondo a tropa do30 Batalhão de Caçadores (30 BC) da Polícia Militar do Estado e alguns batalhõespatrióticos que estavam sendo organizadospelo Governo do Estado. Entre os oficiais,tive a satisfação de encontrar dois velhoscamaraáas da guarnição do Paraná: o Tenente de Engenharia Sady Martins Vianae o Tenente de Infantaria celso Lobo. Onavio partiu no dia 8 de outubro. Na viagem fui conversar com meu comandanteJosé Armando sobre minhas antigas vinculações revolucionárias. Disse-lhe que nãodesejava enganá-lo e que, na primeiraoportunidade, eu passaria para o lado dasforças revolucionárias. Ele respondeu-me:"Em Vitória, estudaremos melhor o seuproblema de consciência". Informei aos tenentes Sady Martins e Celso Lobo sobretal convesa. Chegamos em Vitória no dia10 de outubro, sendo recebidos pelos nossos camaradas do 30 BC, entre os quaiso major Flavio Augusto do Nascimento,meu primeiro instrutor de Infantaria e oprimeiro-tenente Carlos Marciano de Medeiros, meu contemporâneo.. A situaçãoestava alarmante. O Presidente do Espírito Santo, Aristeu Aguiar, atravessavauma fase de impopularidade tremenda devido principalmente ao chamado "massacre de 13 de fevereiro".
REVISTA: Que massacre foi esse?BLEY: Aconteceu no dia 13 de fevereiró'de 1930. A Aliança Liberal promoveu um
comício em Vitória, nas escadarias doCarmo. Após vários discursos incendiários,a polícia do Espírito Santo atirou no meioda, multidão, matando 4 pessoas e ferindooutras tantas. Isso mostra o despreparoda polícia e a deteriorização do governo.REVISTA: Como estava a situação da polícia do Espírito Santo?BLEY: O 30 BC contava com efetivos reduzidos, estava mal armado, havia poucosoficiais fiéis à legalidade. A maioria dosoficiais estaV<L francamente favorável à revolução. Dentre 'estes destacavam-se o Tenente Euclides Lins, Intendente e representante da revolução, e o Tenente CarlosMarciano de Medeiros. Na Polícia Militaro ambiente era ainda pior. Havia apenasduas companhias sediadas uma em Cachoeiro do Itapemirim e outra em Colatina. O próprio representante da corporaçãojunto ao Quartel General, Tenente Nicanor
o>'5e«
João Punuro Eley, no início do intervenioriaPaiva, não escondia sua simpatia pela revolução. Havia dois "batalhões patrióticos"constituídos por operários recrutados porempreiteiros de estradas de rodagem sobpromessa de roupa, alimentação e soldoproblemático.REVISTA: Estava portanto preparado oterreno para uma revolução?BLEY: Três colunas mineiras ameaçavaminvadir o Espírito Santo. Uma, agindo noeixo Iguaçu, Guaçuí, Alegre e Cachoeirode Itapemirim, sob o comando do CapitãoJoaquim Magalhães Barata, estava formadapor elementos da Polícia Militar de Minas epor civis recrutados por chefes políticoslocais como Fernando de Abreu, GenaroPinheiro, Dermeval Amaral, Adílio Valadãoe outros. A outra, ao norte, mais numerosa,comandada pelo Coronel Otávio Camposdo Amaral, da Polícia Militar de Minas Gerais, era constituída por policiais militares
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e por irregulares recrutados na zona do RioDoce. Faziam parte também os civis Agliberto Pires, advogado de Colatina, ManoelRocque, Ademar Távora (irmão de JuarezTávora), Mário Tavares e Manoel Vila, exsargento do Exército. Essa coluna viriaatravés do eixo Aimorés-Baixo Guandu-Colatina, com vistas à ocupação da capital. Aterceira coluna, bem mais modesta, comandada por João Calhau, chefe político emIpanema, tinha como ponto de penetraçãoAfonso Cláudio. Como se vê, era sombrioo quadro que se apresentava ao CoronelJosé Armando. Mesmo assim, esse bondosoe compreensivo companheiro deu inícioao cumprimento dé sua missão. De comumacordo com os tenentes Carlos Medeiros eEuclides Lins, entrei em contato com oMajor Flávio do Nascimento com base nanossa velha amizade. Foram, contudo,inúteis os meus esforços para convencer
esse digno e honrado camarada para Umlevante do 3 0 BC. Ele sempre foi extrema~mente legalista. Decidimos então adiar olevante do 30 BC. Enquanto os tenentesCarlos Medeiros e Euclides Lins continuavam o movimento de desagregação do 30
BC, os tenent~s Sady Martins Viana e celsoLobo seguiram para Cachoeiro com instrução para facilitar a ocupação daquela cidade pela coluna Magalhães Barata. Ao Tenente Marroig, que representava o CapitãoJosé Armando em Colatina, foi recomendado para não opor nenhuma resistência àColuna do Coronel Otávio Campos doAmaral. Enquanto isso, as tropas mineiras,já organizadas, aproximaVam-se da fronteira com o estado. Pela manhã do dia 16, opresidente do Estado, Aristeu Aguiar, considerando a situação perdida, abandonou opalácio, com sua família, seguindo para aEuropa, num cargueiro italiano - o Atlan-
, 'Aos 30 anos de idade, fuinomeado interventor do
Estado do Espírito Santo."
Coronel José Armando em Colatina. Pcele fui informado que a Coluna Amaral etava ainda em Baixo Guandu. Disse-rrtambém que o Coronel José Armandmudara de idéia, decidindo resistir. Juguei inútil prosseguir viagem e regresseiVitória. Informado de que uma companh:do 30 BC, sob o comando do SargentDavi, h~via ocupado um entroncamento dEstrada Vitória-Colatina com a missão dparar a marcha revolucionária, fui ao seencontro e o convenci a retornar ao quatel general. Nesse mesmo dia, pela manh:aportou em Vitória o navio Loyde Brasleiro, esperado pelas forças legalistas devdo a reforços prometidos. Entretant(trazia apenas uns poucos engenheiros elcarregados de dinamitar algumas pont,na Ferrovia Vitória-Minas. Com tão redlzido reforço, foi intimado a permaneClao largo e depois, com nossa conivênci:passou a receber a bordo o Coronel JmArmando e alguns soldados que não h,viam atendido ao apelo do Tenente Eueldes Lins para' aderirem a revolução. Acair da tarde, chegava a Vitória a ColunAmaral. O Coronel Campos do Amar<trazia ordens do Presidente de Minas, Ollgário Maciel, para constituir uma juntgovernativa revolucionária composta dDesembargador João Manoel de Carvalhedo jornalista Afonso Correia Lyrio e de UI
oficial do Exército. No dia 19, às 10 hora!tomavamos posse perante grande multidãeNo dia 24, recebemos comunicação de quo Presidente da República, WashingtoLuiz, havia sido deposto pela guarnição dRio de Janeiro e que havia sido organizaduma junta militar para governar o EstadeNo dia 3 de novembro, Getúlio Vargas temava posse, como chefe do governo provsório, juntamente com Olegário MacielJuarez Távora. No Espírito Santo o carg'de interventor estava sendo disputado poJoão Manoel de Carvalho, Afonso Lyri,e Geraldo Viana. João Manoel, que era.mais ativo, valia-se da amizade de sua família com João Pessoa para exigir que.novo interventor fosse pelo menos ligad,à corrente de Jerônimo Monteiro. Diantdessa luta acirrada, a Associação Comelcial de Vitória telegrafou ao Getúlio Vargasugerindo meu nome para o cargo de interventor. Fui chamado ao Rio onde cheguei no dia 14 de novembro, dia do melaniversário. Batista do Vale conduziu-moimediatamente à presença de Oswald.Aranha. Esse foi logo me dizendo: "j
política do Espírito Santo está muit<confusa. O decreto de sua nomeação est:pronto e assinado. Aguarde alguns instanteque nós iremos até o Catete para apresentá-Io ao Getúlio". Assim, aos 30 anos d.
"Coronel, fiz tudo o que era possível parao senhor não assumir o governo legal, poistinha certeza de que sua promoção erauma armadilha e que seu governo deveriadurar no máximo 48 horas. Assim, comsua permissão, peço licença para reunir-mecom nossos camaradas da Coluna Barataque, a essas alturas, deve estar ocupandoCachoeiro de Itapemirim". Contando aindacom nossa antiga camaradagem, soliciteidele uma viatura. Ele colocou à minha disposição um automóvel de linha da Estradade Ferro Leopoldina. Segui viagem em direção a Cachoeiro de Itapemirim lá chegandono mesmo dia - 16 de outubro - por voltadas 18 horas. A cidade estava ocupada pelaColuna do Coronel Barata. Covenci-o deque não havia necessidade de marchar contra a capital, pois esta já podia ser considerada reduto revolucionário. Assim ficoucombinado que ele iria combater as forças
legalistas em Campos, Estado do Rio deJaneiro. Retornei a Vitória em noite fria,chegando a meu destino às 5 horas da manhã do dia 17. No palácio, encontrei o Coronel José Armando e outros óficiais empreparativos para abandoná-lo e recolherem-se ao 3 0 BC para oferecer resistência,uma vez que haviam sido informados deque a Coluna Amaral ocupara Colatina emarchava livremente em direção a Vitória.Tentei demover o Coronel José Armandoda idéia de resistir, dizendo-lhe que haveria um derramamento de sangue inutilmente. Em contrapartida, ofereci-me parair ao encontro da Coluna Amaral com opropósito de impedir qualquer ato contra o3 0 BC, o que foi aceito. Imediatamenteparti com destino a Colatina. Chegando emSanta Tereza, dia 18, encontrei a população à espera dos revolucionários. Telefoneipara o Tenente Marroig, representante do
ta. Nesse mesmo dia, a Coluna Barata ocupava Cachoeiro de Itapemirim, sem quaisquer resistências. Propus então ao CoronelJosé Armando que assumisse o governo revolucionário rompendo com o governo federal. Esse concordou e passamos a acertaros detalhes, marcando, afinal, sua posse.Quando já chegávamos no portal do palácio, fomos interceptados por um mensageiro do telégrafo local que trazia um recadó do palácio do Catete chamando o Coronel José Armando para uma conferênciaurgente. Insisti para que ele não atendessetal con0.te e assumisse a interventoria revolucionária como haviamos combinado.Ele porém respondeu-me: "Vamos verprimeiro o que é que o governo quer".Partimos, pois, para a sede dos Correios.No outro lado da linha telegráfica estava opróprio Ministro da Guerra, GeneralNestor Sezefredo dos Passos. Ao nosso la-
do, preparado para receber a mensagem, otelegrafista João Gualberto de Almeida,simpático à causa revolucionária. Numarápida mensagem, o ministro determinavaao Coronel José Armando que, em nomeda Presidência da República, assumisse ogoverno legal do Estado e intensificasse aresistência contra o movimento revolucionário. Finalizando, felicitou-o "por suapromoção a General de Brigada". Volteia insistir com o Coronel José Armandopara que ~;~§íimisse o governo revolucionário e não acatasse a ordem recebida. Elelimitou-se a dizer-me que já estava muitovelho para perder aquela oportunidade depromoção. Por isso iria cumprir a missãoque acabava de receber do Ministro daGuerra. Acompanhei-o até o palácio paracerimônia de sua posse. Era dia 16 de outubro. Depois da cerimônia ele me convidoupara comandar a polícia. Respondi-lhe:
o>"5cr.<
O interventor federal João Punaro Bley em manifestação no Colégio Americano Batista - 1932
50
"O ex-governador NestorGomes morreu na maior
miséria possível, ,
no Avidos. Quanto à segunda seção; em 23de julho de 1937, o Governo do Estadocontratava uma empresa brasileira para aconstrução de 300 metros linear de cais,com a profundidade. mínima de 8,50 metros. As obras foram contratadas pelo preço fixo de 10.124.355 cruzeiros. Interrompidas em 1938, prosseguiram nO'Vamenteaté sua conclusão. Sua inauguração teve lugar em 19 de abril de 1942. Pelo relatórioda comissão de tomada de conta e trabalhoexecutado pela empresa, verificou-se que osserviços executados até 28 de fevereiro chegavam a 17.088.382 cruzeiros. Os pagamentos efetuados pelo estado até março de1942 somavam em 12.343.192 cruzeiros.REVISTA: E a linha férrea?BLEY: No dia 11 de julho de 1941, realizou-se a solenidade de inauguração da linha férrea ligando as estações· da Leopoldina e da Vitória-Minas ao cais do porto,custando ao Estado 506.112 cruzeiros.
Com as desapropriações, o Estado dispendeu a quantia de 5.961.654 cruzeiros.REVISTA: E a Vale do Rio Doce, comosurgiu?BL EY: O Espírito Santo hospedou, em setembro de 1941, ilustres membros de umacomissão técnica econômica norte americana, chefiada pelo Dr. Wagner Ler Pirsun,presidente do "Export And Insport Banck",dos EUA. Vinham ao Brasil estudar e resolver, com as nossas autoridades, vários assuntos de comum acordo e de interesse entre as duas maiores repúblicas do continente. Entre eles, o problema da exploração dominério de ferro do Brasil. Foi graças à vinda dessa comissão e ao idealismo do Presidente Getúlio Vargas que nasceu a Companhia Vale do Rio Doce, que tanta influência econômica, financeira e social tem navida do Espírito Santo e cujo desenvolvi-mento ainda não parou. ,
foi uma das mais importantes realidades nomeu governo. Elas foram iniciadas em janeiro de 1911 pelo governo Jerânimo Monteiro. Em agosto de 1914 foram paralizadas em virtude da situação econômica criada pela guerra européia. Ém 1920, o governo federal suspendeu a garantia de juros aque se obrigava, após haver indenizado acompanhia concessionária a qual ele devia.Em setembro de 1925 foi assinado o termode entrega das obras ao Governo do Estadoque assumiu o encargo de construí-lo. Emmarço de 1926, foram reiniciados os serviços da primeira seção. Em outubro de1930, foram os serviços novamente suspensos em virtude da dificuldade financeira.Em 1935 foram reiniciadas. Terminadas em1939, as obras foram inauguradas em janeiro de 1940, depois de 28 anos de trabalhoe interrupções, num dispêndio de 26.436mil cruzeiros, incluindo a Ponte Florenti-
REVISTA: Voltando à questão das dívidas do Estado, o senhor conseguiu sanálas totalmente. Como conseguiu?BLEY: Quando assumi o governo, o Espírito Santo devia, ém empréstimos de 1908a 1912; 13,222 mil francos ao Banco Francês Italiano, 1.109,06 mil dólares ao Banco Italo-Belga, 50 mil libras esterlinas aoBanco Alemão Transatlântico... Então euchamei cada um desses banqueiros e fiz aseguinte proposta: "Eu pago x se você fizer o contrato e me der a quitação". Todos aceitaram. Assim fiz uma economia demais de 30 milhões de cruzeiros.
REVISTA: Como o senhor disse, grandeparte dessas dívidas foi contraída para aconstrução do Porto de Vitória...BLEY: A construção do Porto de Vitória
lo Horizonte. l'lntão eu o removi para o sanatório. E lá permaneceu até a morte, soba minha assistência.
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O carregamento de minério de ferro era realizado totalmente por processo braçal
idade, fui nomeado interventor do Estadodo Espírito Santo, pelo então chefe do governo Getúlio Vargas, credor da minha estima, sempre atento aos meus pedidos esolucionando os problemas que podia resolver.REVISTA: Que dificuldades o senhor teveque enfrentar em seu governo?BLEY: Encontrei o estado em difícil situação financeira. A dívida do Estado chegava a um total de 64.133 mil cruzeiros. Opagamento do funcionalismo, particularmente dos professores do interior, estavaatrasado. Solicitei então um empréstimo de4 milhões de cruzeiros ao governo federal.REVISTA: Como surgiram as dívidas?BLEY: Foram empréstimos feitos por Jerônimo Monteiro entre 1908 e 1912 paraa construção do Porto de Vitória e da Ponte Florentino Avidos. Jerônimo Monteiropegou empréstimos em dólar e franco para fazer o chamado Parque Industrial doEspírito Santo. Criou a usina de açúcar Paineiras -, uma fábrica de tintas, fábricade tecidos - Monte Líbano... Sonhou industrializar o Espírito Santo, mas fracassouinteiramente. Naquela época era uma aventura transformar o Espírito Santo em estado industrial. Não era como hoje.RÉVISTA: Com a saída de Jerônimo Monteiro, o Espírito Santo foi governado peloCoronel Marcondes Alves de Souza, que paralizou todas as obras ...BLEY: Paralizou porque não tinha dinheiro. A única coisa que o Estado fazia era arrecadar para pagar as dívidas. Depois tivemos o governo de Bernadino Monteiro quetambém não fez outra coisa a não ser pagaras dívidas.REVISTA: Falando em Bernadino Monteiro, ele tinha uma desavença muito grande com Jerônimo Monteiro, não?BLEY: Esses dois, que eram irmãos, brigaram por motivo político. Jerônimo Monteiro queria voltar ao Espírito Santo comogoyernador. Bernadino Monteiro recusou aapoiar a sua candidatura e apoiou a candidatura de Nestor Gomes. A posse de Nestor Gomes foi debaixo de tiros. E foi noseu governo que o Espírito Santo levantoua cabeça, por causa da valorização do café.Mas o Espírito Santo, em vez de ganharcom isso, saiu perdendo, porque o NestorGomes não tinha programa de governo. Elevivia de juros a juros. Nest.a época, 1927, opaís era gove!nado por Epitácio Pessoa.REVISTA: E verdade que Nestor Gomesmorreu pobre?BLEY: Ele movimentou milhões de cruzeiros. Atendeu milhares de a!Jligos e morreuna maior miséria possível. As vezes ele nãotinha 400 réis para tomar a média da manhã. Fui informado de sua situação quandoele estava internado na Santa Casa em Be-
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REVISTA: General, a queima do café nadécada de 30 faz parte das medidas para incentivar a policultura?BLEY: Não. Eu sempre fui contra a queimado café. sempre me revoltei contra essa medida, embora eu fosse pessoá"'i~~ confiançado Presidente da República. NUI1-,fa compareci às fogueiras do café do Espírito Santo.Nunca peguei uma tocha para queimar umquilo de café do Espírito Santo. Sempreachei um absurdo. Principalmente porquequeimava-se 45% da safra do Espírito Santo para atender aos interesses do Estado deSão Paulo. Não existia super produção decafé no Espírito Santo. Toda a produçãoera exportada. Com a queima, fomos obrigados a tirar da exportação 45% do café para poder ser queimado. Queriam equilibrarestatisticamente uma planta destruindo ofruto, em vez de destruir a planta, quandotodo o ano a planta dá o mesmo fruto. A
.~::>CY
<Sala de degustação de café na intervenção Bley: prova da vocação cateicultora d(l ES
demais produtos necessários à alimentação.Certa ocasião, um lavrador virou-se paramim e disse: ''Capitão Bley, café é um péde ouro. Eu não abandono o pé de ouro para cuidar de outros produtos".
Nossas exportações para outros estados da federação atingiram, entre 1931 e1941, 1.142.382 cruzeiros. O café ocupao primeiro lugar. Depois vem, com uma diferença enorme, a madeira. O cacau, o feijão, o milho, o arroz beneficiado quase nãoaparecem.REVISTA: Que medidas foram tomadas noseu governo para incentivar a agricultura?BLEY: Sem abandonarmos o nosso principal produto, o café, realizamos verdadeira cruzada em prol da policultura. De 1931a 1942 foram dispendidos 15.905 mil cruzeiroscom o serviço da agricultura, incluindo compra de máquinas, combate à saúva,aquisição de plantas e sementes, produções
, 'Queimava-se 45 % da safra do Espírito Santo paraatender aos interesses de São Paulo.
Eu nunca compared às fogueiras do café',
REVISTA: General, sabemos que o Espí- agrícolas, compra de materiais diversos, inflação do Brasil começou aí, com a querito Santo é um estado essencialmente agrí- construção de fábricas de industrialização ma do café do Brasil. Alem do mais, agiarcola. E O senhor começou a governar em da mandioca, compra de material de labo- da maneira mais injusta possível. O lavn1930, justamente quando havia uma gran- ratório, beneficiamentos às propriedades dor recebia apenas 5 cruzeiros por saca dde crise no café. O que o senhor poderia agrícolas, programas da escola prática da café para ser queimado. Enquanto isso,nos contar a respeito da agricultura e espe- agricultura, etc. Departamento Nacional do Café gastavacialmente do café, nesse período? REVISTA: A criação do Banco de Crédi- cruzeiros para segurar o produto quda seBLEY: No Espírito Santo só se plantava ca- to Agrícola do Espírito Santo, que deu ori- queimado.fé. De 1931 a 1941,93% da arrecadação do gem ao BANESTES, foi também parte des- REVISTA: Quanto ao transporte dos PC(Espírito Santo era decorrente do café. O sas medidas que o senhor tomou para in- dutos agrícolas, principalmente do caf!!l~v~ador do Espírito Santo ~ra viciado, o~ é centivar a agricultura? havia muita dificuldade, não?ViCIado, na cultura do cafe e não acredita BLEY: Obra iniciada em 1930, desenvol- BLEY: O transporte do café da zona St
na cultura rotativa. Todas as vezes que eu vida pela patriótica orientação do governo para Vitória, até a guerra, era feito por ptia para o interior do Estado, recomendava provisório, teve o Espírito Santo um marco quenas lanchas' de 150 toneladas. Essas sa:ao prefeito que, em vez de discursos ou expressivo, assinalado pela criação do Ins- am da Barra do Itapemirim, tocavam erbanquetes, marcasse uma reunião de lavra- tituto de Crédito Agrícola do Espírito San- Piúma, depois em Anchieta, em seguida tedores para eU poder falar-lhes. Nessas reu~ to, mediante decreto-lei 6.627, de 1935. cavam em Guarapari, chegando finalmentniões eu sempre dizia que, sem abandonar Dificuldades posteriores determinaram a em Vitória. Mais tarde, pela via férrea.o café, era preciso plantar todos os outros transformação desta primeira idéia do pla- Em 1932 visitei Guarapari pela primeprodutos, pois o Espírito Santo vendia o no no atual Banco de Crédito Agrícola do ravez. Para chegar lá, tive de ir de autom<seu café e comprava de outros estados os Espírito Santo. vel até Araçatiba e de lá tomar um caval<
Viajei a cavalo durante 4 horas. Por incrJvel que pareça, em 1930 não havia integr:ção entre norte e sul. O sistema rodoviáriera dividido em dois grupos totalmente irdependentes. Um no norte, constituído pcuma estrada que saída de Vitória, passandpor Santa Leopoldina, Santa Tereza e chlgando em Colatina. Outro grupo saía dCachoeiro do Itapemirim e ia para Alegle Guaçuí.
Fiz a ligação Vitória a Cachoeiro dItapemirim em 1934. No período comprlendido entre 1931 e 1942 gastou-se comconstrução de estradas de rodagem a inportâneia de 14.511.045 cruzeiros.
Não havia nenhuma estrada de rod,gem ligando Vitória a São Mateus. A pImeira vez que viagei para São Mateus, el1932, parti de Vitória num automóvel Cltme levou até o final da estrada que liga Cllatina a Nova Venéeia. Esta tinha apenas 3km de construção. Prossegui o resto da vi,gem a cavalo, levando dois dias e meio p.ra chegar em Nova Venécia, viajando de]tro da mata do Rio Doce. De Nova Venéc:a São Mateus segui de trem, pela Estrada tFerro de São Mateus. O trem, apesar de SI
especial, descarrilhou 5 vezes. O transcursde volta foi feito por mar, numa embareção de 150 toneladas. Só não naufragu'porque Deus não quis. Somente depois t1940 é que consegui ligar Vitória a SãMateus. E observem que é o municípimais antigo do Espírito Santo.REVISTA: As pontes de Colatina e Linh:res, quem as construiu?BLEY: A ponte de Colatina é obra de FIIrentino Avidos. Foi construída para estrda de ferro e eu fiz uma grande reforrradaptando-a para estrada de rodagem, pemitindo.assim a penetração do norte dRio Doce para Colatina. Quanto à ponted
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,'O integralismo não teve expressão nenhuma e ocomunismo foi màis inexpressivo ainda."
A presença do integralismo, da igreja e do comunismo, no início da interventoria Bley.
sul, a Getúlio Vargas, foi obra do J ones dosSantos Neves.REVISTA: Essas obras foram importantespara o desbravamento. Foi no seu governoque se efetivou o desbravamento ao norteda margem do Rio Doce?BLEY: O desbravamento do solo de Colatina começou no governo Avidos.através de uma companhia especial que loteou grandes áreas na região entre Colatina e São Mateus. Foi lá também que, nogoverno de Aristeu Aguiar, apareceu umacolonização polonesa, pessimamente preparada, tendo fracassado inteiramente. Depois, no meu governo é que começou a penetração mais importante.
REVISTA: General, falando em desbrava.!l1ento, o senhor teve que enfrentar o problema de limite do Espírito Santo com Minas e com a Bahia.BLEY: A questão do limite do EspíritoSanto com a Bahia é a coisa mais estúpidaque existe. Desde o tempo do Brasil Colônia, o limite do Espírito Santo com a Bahia era o Rio Mucury. Não sei por que cargas d'água, o governo do estado da épocaaceitou as ponderações do Estado da Bahiaque dizia ser o limite 8 km para dentro doEspírito Santo. Então, em lugar de termoso limite natural, pelo rio, nós temos marcos de postes de cimento armado marcando a divisa.
REVISTA: E com Minas Gerais?BLEY: O Espírito Santo teve duas questõesde limite com o governo de Minas Gerai".Uma ao sul do Rio Doce, em 1914, quandoo Espírito Santo perdeu dois municípios.A outra, ao norte, ficou em letígio durantealgum tempo, pois a mata era virgem. Ademarcação, conforme constituição, deveria ser pela Serra dos Aimorés, preenchidasua continuidade por linhas retas. Em nos-sas negociações de 1938, apesar de todos osesforços, não foi possível se chegar a umasolução conciliatória, pois a comissão deMinas negava a existência da Serra dos Aimorés. Foi então nomeada uma comissãodo Serviço Geográfico do Exército para resolver a questão. Essa iniciou seus trabalhosem novembro de 1941, percorrendo minuciosamente a zona limite, a fim de determinar a posição da Serra dos Aimorés, reconhecendo finalmente que o Espírito Santo tinha direito sobre a zona contestada,com excessão feita a dois pequenos trechos, representando 5% da área total. Infelizmente, a política não deixou que o Espírito Santo ganhasse. Dr. Getúlio Vargas,com quem discuti este assunto minuciosamente duas vezes, virou-se para mim e disse: "Eu não vou decidir isto, porque nãoquero ser juiz entr.e vocês eo Valadares".Então eu respondi: "Bom, Presidente, o
senhor pode fazer o que quiser. Pode atédizer que os limites de Minas Gerais são asdunas da costa do Espírito Santo no Município de Conceição da Barra. Pode dizerque a Serra dos Aimorés são as dunas daspraias de Conceição da Barra. Mas eu nãoretiro nenhum destacamento do Espírito Santo. Enquanto eu for interventor doestado, o destacamento fica na zona que euconsidero que é nossa".
REVISTA: No governo de Francisco Lacerda de Aguiar, em 1963, o Espírito Santofez um acordo com o governo de Minas Gerais que era o Magalhães Pinto.
BLEY: E o Espírito-Santo perdeu uma boaparte desse território, justamente a regiãomais rica.
REVISTA: General, fale-nos um pouco sobre os partidos políticos do Espírito Santono período em que o senhor lá esteve.BLEY: Até 1937, existiam no Espírito San-
to dois partidos políticos. O PSD, que erado governo, e o partido da Lavoura.REVISTA: Segundo consta, o PSD do Espírito Santo foi um dos primeiros a sercriado no país.BLEY: Um dos primeiros. No meu tempo,não havia PSD nacional. Cada governo tinha o seu PSD regional. Só mais tarde, graças ao general Magalhães, foi criado o PSDnacional.REVISTA: No Espírito Santo, quem criouo PSD estadual?BLEY: Eu, Carlos Lindemberg, FranciscoOtávio, Asdrubal Soares, Oswaldo Guimarães... A Comissão Executiva era compostade umas 30 pessoas.REVISTA: E O partido da Lavoura?BLEY: Foi uma iniciativa de um grupo quetentava empolgar os agricultores. Mas essepartido foi imediatamente absorvido pelospolíticos do Espírito Santo. Tanto assim
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que o presidente do partido foi derrotadonas eleições realizadas para a constituintedo Espírito Santo. Nes~a eleição foram eleitos 3 deputados do PSD. Peço Partido daLavoura foi eleito apenas o Jerônimo Monteiro. Mas no dia do reconhecimento, elefaleceu repentinamente.REVISTA: Em 1937 esses partidos foramextintos...BLEY: Foram extintos. E no período emque governei o Espírito Santo, como interventor, de 1937 até 1942, a política foiabolida. Ninguém mais falava em política. Logo depois do golpe de 1937, o Partido da Lavoura desaparéceu e surgiu em seulugar a UDN. Apareceu também o PTB.REVISTA: O PTB era forte?BLEY: O PTB no Espírito Santo não tinhanenhuma importância. Ele não tinha nenhum deputado federal.REVISTA: E os integralistas?BLEY: O integralismo nenhuma expressão
política teve, a não ser nos Municípios deDomingos Martins e Santa Tereza, porqueele só empolgou notavelmente as colonizações estrangeiras, ou seja, a italiana e aalemã. O chefe do Partido Integralista doEspírito Santo era Arnaldo Magalhães, aliássogro do J ones dos Santos Neves. O secretário era o Padre Conciano Stangue( queera, ao mesmo tempo, secretário do bispodo Espírito Santo, D. Luiz Escortejane. Ointegralismo nunca me deu trabalho e nunca representou força política no ESl'íritoSanto.REVISTA: E o Partido Comunista ei:aforte?BLEY: Era ainda mais inexpressivo, pois selimitava a um pequeno grupo de Vitória eoutro de Cachoeiro de Itapemirim. Entreos chefes comunistas de Vitória, destacava-se um espanhol de nome Hugo Viola,que era fichado na polícia. Era um comu-
nista interessante, pois era dono de uma série de pequenas propriedades, explorava ooperariado e era dono de um cortiço enorme em Santo Antônio. E ele era o comunista "número um" d~ Vitória. Conclusão: aoposição no Espírito Santo nunca me deutrabalho. De modo que não posso reclamarda oposição no Espírito Santo.REVISTA: E como foi sua eleição para governador?BLEY: Foi em 1935. O governador era escolhido de forma indireta, pelos deputadosestaduais. Na reunião da comissão executi-;'a do PSD para a escolha da chapa, deixeiclaro que não desejava ser governador. Mascomo não houvesse acordo entre os grupos,fui forçado a aceitar a candidatura. Nós tínhamos 16 deputados e a oposição tinha 9.Portanto minha vitória era tranquila. Algum temp6 depois o Asdrubal Soares foiconversar comigo dizendo que desejava sergovernador. Eu lhe disse: "Olha, Dr. AS,drubal, por que você não se apresentou na ocasião em que eu disse que não queria ser governador?" Ele respondeu-me: "naquelaocasião eu não tinha maioria; agora tenho, demaneira que vim pedir ao senhor para abrirmão de sua candidatura em meu favor". Eurepliquei: "Não posso fazer isto, porque acandidatura não é minha, é do partido. Eeu não vou trair o partido". Ele passou para a oposição, arrastando consigo 6 deputados estaduais. Então ficamos com 15 deputados e eles ficaram com 16. Depoisde consultar o Presidente da República, fizum acordo com o J erânimo Monteiro (quetinha 3 deputados e estava apoiando o Asdrubal) para que ele ficasse no meu lugar.Ele aceitou. Ficamos então com 13 votoscontra 12. Mas quando chegou na ocasiãoda eleição, o Deputado Carlos Medeiros discordou da candidatura do Jerônimo Monteiro. Fizemos então um pacto de honra nomeu gabinete: o Jerônimo seria eleito noprimeiro escrutínio e o Carlos Medeiros votaria nele próprio. Assim foi o resultado do10 escrutínio: Jerônimo Monteiro: 12 votos; Asdrubal Soares: 12 votos; Carlos Medeiros: 1 voto. Não houve, pois, maioria.No 20 turno fui eleito por um voto.
Em consequência do acordo feito como Senador Jerônimo Monteiro Filh9,tive~~e substituir vários de seus secretários quecomigo trabalharam na ta interventoria poroutros da corrente jeronimista.REVISTA: Em 1943 Getúlio nomeou novointerventor para o Espírito Santo - o Jones dos Santos Neves. De 1943 a 1947 passaram pelo estado 5 interventores. Por querazão Getúlio substituiu os interventores?BLEY: Não houve motivo especial e simuma oportunidade. Quando foi criada aCompanhia Vale do Rio Doce, o Ministro
, 'Acabei rompendocom ele
(o Jones dosSantos Neves). , ,
Souza Costa me convidou para Diretor Comercial da Vale. Então eu deixei o governodo Espírito Santo.REVISTA: Em 1947 foi eleito governadorCarlos Fernando Monteiro Undemberg,também pelo PSD, permanecendo no cargo até 1951. O senhor acha que o CarlosUndenberg foi um continuador do jeronismo no Espírito Santo?BLEY: Sim. E eu sempre o apoiei. Achoque o Carlos Lindenberg seria meu substituto se não tivesse havido o golpe de 1937.REVISTA: Entre 1951 e 1954 foi interventor do Espírito Santo o Jones dos SantosNeves (aliás ele fora interventor tambémentre 1943 e 1945).BLEY: Na época que governei o EspíritoSanto, o J ones dos Santos Neves prestoubons serviços como membro do Departamento Administrativo do Estado e do Banco do Espírito Santo. Quando eu ia deixaro governo, Getúlio me disse: "Você foipara mim um homem de uma lealdade atoda a prova. Eu quero recompensar vocêdando-lhe oportunidade de indicar para oseu lugar quem você quiser". Eu indiqueio Jones.REVISTA: Ele foi um dos primeiros a planejar o governo aqui no Espírito Santo... Osenhor poderia nos falar sobre o Jones como político e administrador?BLEY: Aconteceu comigo o. que acontececom todo o mundo: a criatura revolta-secontra o criador. Quatro meses depois deele ser escolhido, ele começou a se retrairem relação a mim e eu acabei rompendocom ele. Quanto à sua atuação como governador, parece-me que fez um bom governo, mas eu não posso dar nenhum dado pois não acompanhei, visto que saí doEspírito Santo.REVISTA: Ele se afastou um pouco, emdeterminada época, do Carlos Lindenberg,não?BLEY: Ele se afastou de muita gente. Elequis fazer um governo sozinho. Achou quedevia renovar o Espírito Santo e se afastoude todos os antigos amigos dele.REVISTA: Ele era do PSD?BLEY: Ele nunca foi do PSD.REVISTA: Ele perdeu uma eleição para governador.BLEY: Perdeu por dois mil e tantos votos.
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REVISTA: Dizem que a eleição foi fraudulenta.BLEY: Dizem, mas não posso garantir.REVISTA: Para terminar, gostaríamos disaber sua opinião sobre a tendência d<Espírito Santo para os próximos anos.BLEY: Numa carta que escrevi ao Deputado Gerson Camata, eu disse a ele que siaqueles que não viveram nos períodos difíceis da vida do Espírito Santo não acreditavam no seu progresso. O Espírito Sant<viveu sempre em crise e sempre venceu essas crises. Eu acredito no Espírito SantoAcredito que ele será um grande estadoPrincipalmente quando funcionar a Usin:Siderúrgica de Tubarão. Quando a primeir:composição da Vitória-Minas chegou no Espírito Santo trazendo minério de Itabiraeu disse que ninguém poderia impedir a vocação siderúrgica do Espírito Santo, e quemais cedo ou mais tarde, Vitória seria <grande centro industrial. A siderurgia fi(
Brasil será colocada em um ponto do litoral onde encontrar o minério de ferro abundante e encontrar com o carvão, que é escasso. E qual é este ponto no litoral brasileiro? Vitória.
Sanch
N o T *"I c I A sRuaemlançamento
Já está nas praças e bocaso terceiro livro de Fernando Tatagiba, com vários lançamentosainda programados. "Rua" reúne15 textos entre contos, crônicas e uma reportagem, abordando, principalmente, aspectos humanos e sociais de Vitória. Mostra pessoas que, além de marginalizadas e carentes, são maltratadas pelos trausentes. Numa dascrônicas faz a reconstituição dosúltimos dias do Bar Britz e dalanchonete Sete, tecendo o desabrigo em que foi lançada a boemia no centro da Ilha.
Tatagiba fala fundamentalmente dos "tipos de rua", habitantes dos dias e das noites da cidade: onde moram, comem, dormem e amanhecem. Critica aretirada, pela Espírito SantoCentrais Elétricas S/A, do bondeexposto na Praça Costa Pereiradurante meses. O bonde foi retirado não atendendo a manifestação popular que insistia napermanência do mesmo, até através de um recheado abaixo-assinado.
"Rua" faz também urna crítica ao tipo de literatura quasesempre difundido no Estado. Segundo o autor, sempre teve vez aliteratura da "burguesia para aburguesia". Ao contrário, Tatagiba vem tentando, através de umalinguagem bem acessível e temaspertinen tes, escrever para o povo.
A contra-capa do livro trazelo~.?S de diversas personalidades como João Antônio, Veríssimo de Mello, Jorge Amado,Rubem Braga e dos Jornais OGlobo, Folha de São Paulo e J ornaldo Brasil. Também é de autoria de Fernando Tatagiba "O Solno Céu da Boca", resultado dosseus melhores trabalhos, a maioria premiados. Em 83, lançou a"Invenção de Saudade", mas es-
tá vivendo agora e intensamente,o seu novo livro, que classificade simples, humano e, sobretudo, carregado de emoção. Bemao jeito de quem viveu as alamedas de São jJsé do Calçado e tirou passaporte para as ruas dopesadelo metropolitano.
TCGreabreem abril
A diretoria do Departamento Estadual de Cultura - DEC -,assinou convênio com o Bandese Secretaria de Educação, para aobtenção dos recursos necessários à recuperação do TeatroCarlos Gomes.
Após um ano terminado oprojeto que apontava o perigoiminente para os usuários do teatro, devido às precárias condições do seu forro e telhado, oDEC começou a receber verbaspara as obras, no valor de Cr $150 milhões. No cronograma deobras, a prioridade ficou com areparação do forro, telhado, sistemas elétrico e hidráulico, recuperação dos equipamentos de sonoplastia, iluminação e palco,além da restauração do painel dopintor Homero Massena, responsável pela pintura da cúpula doteatro.
Construído em estilo artnouveau, o Teatro Carlos Gomesfoi projetado por André Carloni e inaugurado em 1927. O prédio passou por restauração completa entre 1968 e 1970, com todo o equipamento indispensávelpara uma casa de espetáculoscom capacidade de atender 600pessoas.
Em abril, o Carlos Gomesvoltará a funcionar, embora nãototalmente recuperado. Estarãosendo executadas obras de recuperação das esquadrias de portase janelas, partes de gesso e revestimento dei chão e paredes, alémde parte do mobiliário.
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O diretor da Divisão de Teatro, Maurício Silva, está programando alguns espetáculos para areabertura do teatro. Entre eles"as peças "Irresistível Aventura",e "Feliz Ano Velho", esta última há dois anos em cartaz no eixo Rio--São Paulo, com mais de500 apresentações.
4 O Congressoda Andes
No período de 25/02 a01/03 foi realizado, pela primeira vez em Vitória, o quarto congresso da Associação Nacionaldos Docentes de Ensino Superior- Andes -, reunindo algumas ãutoridades e milhares de professores dos quatro cantos do País.Os temas básicos discutidos foram sobre a "Conjuntura Nacional e Organização dos Movimentos Sindicais"; "ConjunturaNacional e as Perspectivas daUniversidade Brasileira"; "Questões Setoriais" e "Questões Organizativas. "
O Congresso, efetivamente,iniciou-se na terça-feira com reuniões de grupos e plenárias,realizadas nos Cemunis I, II e IlI,na biblioteca e' nas dependências do Centro de Educação Física e De~rortos da Universidade Federa do Espírito Santo.Para a discussão sobre "Movimento SindicaL, foram convidados o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadoresda Agricultura - Contag - JoséFrancisco da Silva, o representan te do Conselho Nacional dasClasses Trabalhadoras - Conclat-, Ivan Pinheiro, e o da CentralÚnica. dos Trabalhadores -Cut -,Jair Meneguelli. No debate sobreo "Financiamento da Universidade", participaram o reitor daPUC de São Paulo, Luis EduardoVanderlei, o presidente da SBPC,Clodovaldo Pavan, o presidentedo Conselho de Reitores das
Universidades Brasileiras, JoséRomeu. Para o debate da Con·juntura Nacional, foram convidados o professor Dalmo Dallari, ovice-presidente da OAB, HermesBaeta, o deputado-federal doPMDB-ES Max Mauro e o presidente do PT, Luiz Inácio daSilva.
O vice-presidente da Andes,Carlos Martins, acredita na política da entidade, contrária à política do governo federal, quepreza pela privatização do ensino. Enfatiza a retomada da lutanesse novo governo pelo ensinopúblico e gratuito (questão também abordada no Congresso),devendo partir de todos os segmentos da sociedade. Raul Guinter, secretário-geral, também concorda com essa posição, e afirma que a Andes não terá qualquer participação na escolha donovo ministro da Educação. Oimportante para ele "é lutar poruma Universidade autônoma edemocrática", independente donome que venha ocupar o cargode ministro.
São Pedroem cordel
"Aqui no São Pedro temigente sofrendo que dá dó / saipro lixo de manhã / com a tripadando nó / vai catar algumas coisas / pra comprar açucar e pó".Contar a difícil luta pela sobrevivência é a tônica dos versos drcordel "O Bairro São Pedro",lançado no Centro Comunitáriode São Padro pelo poeta AdenirBernardino Alves, de 35 anos,nascido em Iúna, carpinteiro desempregado e que sobrevive debiscate.
Há quatro anos Adenir moraem São Pedro e conhece bem ahistória do lugar: ocupações, ainterferência da polícia, a lutapara conquistar o direito de catar o lixo depositado no bairro,
para Todos", de Jayme'Compri,grupo Ivamba, de São Paulo e,dia 27, "Como a Lua", de vladimir Capella, grupo Três, de Jaboatão 1Pernambuco.
No último dia do festival,às 21h, houve o encerramentoe a entrega do prêmio PetrobráslLubrax de Teatro Amador aomelhor ator, melhor atriz. me-
a extrema mlsena do dia-a-dia.A linguagem de seu cordel
é espontânea e sua estrutura éconstruída com seis carreiras deversos com rimas inte~caladas,métrica que ele usa em vocabulário puro e simples. "Conheçobastante bairros 1sendo eles quase igual 1mais vou contar de SãoPedro 1porque ele é o principal 1com versos que eu faço 1contando o bem e o mal".
Através dessa narrativa, muitas vezes dramática, Adenir escreveu anteriormente "AmanteAssassma", ainda não publicado.A publicação de "O Bairro SãoPedro" integrou o Programa deIncentivo e Apoio à ProduçãoLiterária, do Departamento deCultura da Prefeitura de Vitória,com a colaboração do Departa;mento de Imprensa Oficial doEspírito Santo - DIa.
Contratosdo Aglurb
As prefeituras de Vitória eCariacica receberam a primeiraparcela de recursos do Programade Aglomerados Urbanos(Aglurb), da ordem de Cr$ 600milhões, pertencentes a estes~unicípios. A assmatura dosconvênios foi realizada em 11 dejaneiro, no Palácio Anchieta, onde estiveram reunidos o governador Gérson Camata, o secretário de Interior e TransportesSérgio Ceotto, os prefeitos Berredo de Menezes e Nelço Sechin,e o diretor superintendente doInstituto J ones dos Santos Neves, Manoel Martins, além de outras autoridades.
O total de recursos previstos pelo Aglurb é da ordem de 8milhões de dólares, que serão liberados à medida em que os serviços sejam contratados. Assim,a prefeitura de Cariacica inicioua execução de drenagem e calçamento de quatro ruas no seumunicípio: a Avenida Principal,no bairro Formate; Av. Vitóna,em Nova Brasília e o acesso aosbairros São Francisco, Cristo Reie FemandoAntôniona região deBela Aurora, num total de 18mil metros quadrados de obra.
Até o momento, foram investidos Cr$ 277 milhões.
Em Vitória, as obras também êomeçaram a semana passada. Com Cr $ 307 milhões referentes à primeira parcela de recursos do Aglurb para a Capital,será feito o recapeamento asfáltico da Av. Maruípe, numa extensão de 660 metros e da Av.Paulino Muller, com 550 metros.O secretário de Obras da Prefeitura Municipal de Vila Velha,Humberto Veno, assegurou quedentro de 60 dias, os serviçosestarão todos prontos. Para esteano, os recursos que serão investidos através do Aglurb, na Grande Vitória, são de Cr $ 17 bilhões.
Festivalde teatro
Em São Mateus, foi realizado de 20 a 27 de janeiro, o Festival Nacional de Teatro Amador. O evento foi promovido pelo Centro Cultural Porto de SãoMateus, com apoio da FundaçãoRoberto Marinho, FederaçãoCapixaba de Teatro Amador Fecata -, Instituto Nacional deArtes Cênicas - Inacen - e Confederação Nacional de TeatroAmador - Confenata.
No dommgo de abertura, aprogramação do festival foi iniciada com uma alvorada com o".Tongo do Menmo Jesus", às 4horas, e se estendeu até às 22h,com apresentação da peça "Anchieta: Depoimento", de Paulode Paula, Grupo m-Formação.Dia 21/01 foi apresentado "OGuaranizmho", uma ópera deBeto Costa e Elame Rovena, grupo Nervo Abalado, de Vitória;dia 22, a peça "Beiço de Estrada" de Eliezer Filho, grupo Teatro Terra, de Cajazeiras 1Paraíba; dia 23, a peça "Doce Vampiro'; de Carlos Carvalho, grupo"O Dromedário Loquaz", deFlorianópolis 1 Santa Catarina;dia 24, a peça "Entredentes" deCláudio Hendrey, grupo Vitraisde Niterói 1 RJ; Dia 25, "Istoé um Assalto" de Maciel deAguiar, grupo Mateense. de Teatro Amador; dia 26, "Felicidade
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Poemapremiado
o na anteriorda Revista/IJSN ficou
devendo a publicação dopoema de Miriam
Santos Cardoso,classificado para a
Antologia NacionalVinÍcius de Moraes, através
de concurso.Para saldo da dívida,
ei-lo:
lhor montagem, melhor diretcmelhor texto, melhor iluminção, melhor figurino, melhor snoplastia, melhor peça ("Felicdade para Todos", opinião (público), melhor música e coregrafia, sendo que às 22 hor,houve encenação da peça "(Homens de Casaco Brancocom o grupo Arco-Íris.
AI.4 NTFE 5 TO
Múseis torpedose domingos - jorge-velho. ..
Por queslio tão brutos os gafanhotosna relva?
Tive um sonhoerótico
que na-o posso confessar111flS me dei conta, impudica,que posso soletrar a palavra or-gas-moembora difícil seia
a coniugação do verbogozar.
Talvez uma ou duas incursõesno reino das sombras 'me convertamem alvorada.
Ensinaram-me que posso tudotirante lamber a calda do doce
e ser igual a homemPosto de lado essa condição
de fêmeae proibida
os mísseistorpedos e domingos - jorge-velhonaõ me apetecerr~
Nos parques e comíciospermanece aceso o confrontoe a ronda dos
espantalhoscom seus escudos e capacetesinoculam a onipresença
dos J<afanhotos.Por que não tiramos
um tal manifestode fauna e de florae de fêmeasproibidas>;;
contra á rondados espantalhos?
Quando me chamarampara a cor que me vestemeus pais e avós'
já haviam sidoexpulso do édene carimbados.De fêmeae deproibida
tenho ainda esta cormais que negra
efervescênciadeste manifesto da alvorada.
RESENHA'Ao escravo, pão, correção e trabalho
ALMADA, Vilma Paraíso Ferreira de. A escravidão nahistória econômico-social do Espírito Santo,1850-,1888. Niterói, Universidade Federal Fluminense, 1981.
"Senhor e possuidor do escravo Estevão e que por o possuir livre e desembaraçado de penhora, embargo ou hipoteca, dele faz venda... de hoje e para sempre... pelaquantia de um conto de réis .•. para jamais,em tempo algum, lire seja pedido por si oupor seus herdeiros; e que toda a posse,domínio e senhorio que no dito escravo tinha, cedo e traspasso à pessoa do comprador para ~ue o goze como seu que desde jáfica sendo'.
-- Cartório do 30 Ofício -- Vitória. Escritura de Venda.
• • •"Com especialidade de justificar que
comprou o escravo de nome João, dando aodito vendedor a quantia de 450 $ 000, sendo em dinheiro 400$000 e uma vaca por50$000, por conta dos 500$000, valor porquanto contratou o dito escravo..."
-- Cartório do la Ofício -'- Vitória/1893.
• ••"Vende~e a metade de uma escrava, de
idade de vinte e cinco anos, pouco mais oumenos, que sabe lavar, cozinhar e coser. Tratar com Antônio Francisco Ribeiro".
-- Correio de Vitória -- Vitória, 29 deoutubro de 1856.
• • •"Todo escravo que for encontrado na
cidade sem "bilhete" do senhor, será conduzido à cadeia e no dia seguinte castigado noPelourinho com cinquenta açoites. Se reincidente a pena poderá ser de duzentos açoites; se for mulher, r.&ceberá quatro dúzias depalmatoadas e, se. reincidente, até seis dúzias" ~
-- Lei Municipal - Vitória/1829.
• • •"Liberto Floriana, cabra de 19 anos,
sob condição de servir-me até o último diada minha vida... esperando porém que ela,conhecendo este benefício que lhe faço...me gratifique em acompanhar-me em minhavida com afeto.•. de sua espontânea vontade".
- Cartório do 20 Ofício de Vitória, 29de janeiro de 1867.(Carta assinada em 20 de março de 1839).
• • •"No dia 28 de outubro de 1855, em
São Matheus, a escrava Pulquéria,da senhora Leocádia Maria dos Anjos, achando~epresa num paiol, tentou arrombar a portapara fugir. Não o conseguindo e temendo sercastigada, cortou a garganta com uma faca".
- NOVAES, Maria Stella de - A Escravidão e a Abolição no Espírito Santo. Vitória, 1963.
Propriedade de um senhor, que nelevia apenas a objetivação de um capital, oescravo foi a alternativa para o f>roblemada mão-de-obra nos terrItórios ao NovoMundo; a categoria animalizada do homemque se podia legalmente comprar, vender,alugar, avaliar, emprestar, doar, dividir, penhorar, hipotecar, arrendar, devolver.••Agrilhoado, através dos tempos, pela máxima do livro bíblico "ao escravo, pão, correção e trabalho" (Eclesiastes, capo 33, verso25), o escravo esteve subjugado ao poderabsoluto do senhor, fórmula única capazde assegurar a manutenção do regime escravista.
Vilma Almada, em A Escravidão naHistória Econômico-Social do EspfritoSanto/I8S0-1888, procura identificar aimportânciá do trabalho escravo na Província quando se instala o primeiro surtocafeeiro.' O estudo da escravidão, pano defundo do trabalho em questão, é enfocado nos níveis de suas relações de produçãoe de suas relações sociais. Embora seja escassa a documentação gue diz réspeito à escravidão, quase completamente destruídapelo arroubo das autoridades governantesno sentido de "apagar essa vergonha nacional", a autora faz uma minuciosa e laboriosa busca em relatórios dos Presidentes daProvíncia, Chefes e Delegados de Poiícia,inventários, escrituras, registros de casamento, ofícios, jornais da época, recibos,cartas de alforrias, posturas municipais, leisprovinciais, processos - crimes, e outrasfontes, remontando o quadro do que signi~ficou a mão-de-obra escrava no períodonascente da cafeicultura no Espírito Santo,período este que coincide com a agonia doescravismo no Brasil.
A proibição do tráfego negreiro, em1850, não consegue coibIr o crescimentoda população escrava e no período de 1856
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO ESCRAVA - 1824-1876otalde Números de Escravos nas Regiõesscravos
Anos na Prov. Capital % [tapem % ":,t" % J.~, %
1824 13.188 7.142 54,2 3.127 ,23,7 2.654 20,1 265 2,01856 12.269' 4.923' 40,1 4.381 35,7 2.213 18,0 752 6,21872 22.552 6.919 30,7 11.722 52,0 2.813 12,5 1.098 4,81875 20.847 6.079 29,2 11.516 55,2 Z.611 1Z,6 635 3,01876 20.806 5.839 28,0 11.853 57,0 2.500 12,0 614 3,0
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a 1872 a Província teve praticamente duplicadas suas populações livre e escrava. A exigência de braços para a cultura do café, quesubstituía a cana-de-açúcar, confirma a tradição escravista da Província, datada do século XVI. O tráfico ilícito tornou-se umaconstante e os traficantes, quando fla.srados na burla à Lei, gabavam-se como Joaquim Ferreira de OlIveira, acusado de desembarcar em Itapemirim 270 africanos, deque " .•. não tem medo e vai •.. continuarcom o tráfico elícito, ap.esar dos esforçosda ação do Ministério da Justiça" (ArlJuivoPúblico Estadual/ES -'- Carta de Denunciae Mandato de Prisão, 1851). '
O estertor do escravismo não poupou,e na verdade acentuou pela dificuldade emconseguir novos braços, a população escrava do desgaste causado pero regime de trabalho. Segundo Stanley Stein, conformepesquisa da autora, algumas fazendas de café mais se assemelhavam "a aglomerados dedoentes e aleijados do gue a estabelecimentos agrícolas para fins de produção remunerada". Em algumas fazendas, os inutilizados para o trabalho '(cegos, estropiados,doentes do peito, defeituosos, rendidos,etc.) perfaziam mais de 10% da mão-deobra escrava.
O fim do escravismo, juridicamente extinto em 1888, conduz a autora a algumasreflexões sobre a nossa propalada "democracia racial", que em nada mudará na também nossa "Nova República", gue, contribui para preservar o desajuste do negro livre numa sociedade que lmpediu-o de tornar-se pequeno 'agricultor dificultando-lhea a~uisição de terras devolutas; lansou-ono 'cativeiro da terra" pela prática do colonato, parceria e meação; levou-o a competir como mão-de-obra especializada noscentros urbanos, em inferioridade com oimigrante; e, por fim, não livrou-o da pechade ser humano inferior...
Em contrapartida à penúria e à miséria, tão" atuais para a grande maioria dosdescendentes de escravos, imensas fortunasforam amealhadas pelos donos de terras ede gentes, A projeção dos filhos dessas fortunas na vida púolica do Estado "dá demonstraçãode quanto ainda perdura, noEspírito Santo, a força do poder políticodos senhores de terras e de escravos do passado".
,Adilson Vilaça.
ListaA Revista do IJSN apresenta uma listagem bibliográfica relativa às
Perspectivas Econômicas do Espirito Santo. O material, elaborado pelabibliotecária Conceiçaõ Almeida, pode ser encontrado
. na Biblioteca do IJSN.
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GOVERNOMOCRATlCOESPIRITO SANTO
ADMINISTRACAO GERSON CAMATA
Constroe-se um novo EspíritoSanto, liderança e visãOdo Gerson Camata.Fruto dopovodaquidaO Banco de Desenvolvimento do
rito sabequeéapartir iniciativa local que se fazu Nova República.Epor aberto a quem temidéias e no amanhã.
o Espírito Santo apostou nonome de Tancredo Neves para ocomandada nação. EspíritoSanto apostou na reconquista daesperança. Apostou em novosrumos para a comunidadecapixabaadqui daestabilidade do país.A função de um BancoDesenvolvimento, ondedescortinar os destinos epromover iniciativas,mais tangível quando a vGoverno encampa am:;el()Ssociedade. A perenizaçãoDL-88ü, incentivo V<.A~jUL
produzir e gerar investimentos,encerra o período de incertezados investidores locais.
Presidência da RepúblicaSecretaria de Planejamento Grupo Executivo para aEconômica do Espírito Santo- >CJL,'''L,LJ
'Ctnto tletosatlagre
A sua perenização move amontanha da recessão garantindoo nosso pequeno mas verdadeiromilagre, ao reconquistar a fé doshomens que investem no EspíritoSanto.O GERES - Grupo Executivo paraa Recuperação EconômicadoEspírito Santo, está trabalhandoa favor do santo de casa.
Aqui no Espírito Santo quem fazmilagre é o santo de casa. A fédepositadanos investidoreslocais moveu o Governo doEstado a buscar, "omo alternativapara a garantia do progresso e dodesenvolvimento, a perenizaçãodoDL-SSD.O DL-880 já provousuficientemente a suacapacidade de proporcionararecuperação da economialocal. Os anos de desaquecimentonão foram tão drásticos para oEspírito Santo graças aosincentivosdo Decreto Lei.
salllalla Meslm e Nossa sellhom Menina, séc XVIlI' Madeim com reslos de policromia, a/lum 34 em, o/'iginária