revista ijsn - ano iv - nº 2 - 1985

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I _Revista IJSN Ano.lV n.2 Abr/Jun - 1985 Instituto Jones dos Santos Neves Ano IV - N° 2 -.ABR/JUNDE 1985 - VITÓRIA - EspíRITO SA TO

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Page 1: Revista IJSN - Ano IV - Nº 2 - 1985

I _Revista IJSNAno.lV n.2

Abr/Jun - 1985

Instituto Jones dos Santos NevesAno IV - N° 2 -.ABR/JUNDE 1985 - VITÓRIA - EspíRITO SA TO

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LAMWA SABEOQUEÉBOMPAj(AOESPÍRjTOSANTOA perenização do DL-88ü reaquecea economia capixaba e deixa paratrás os tempos do falso milagre e dainsegurança do investidor local.A tenacidade do GovernadorGerson Camata, trazendo para oEspírito Santo essa conquista,histórica, assegura odesenvolvimento sócio-econômicoesperado pela comunidade. Osistema de incentivos do DecretoLei ainda é um suporte necessárioao povo capixaba, porque cria oestado de espírito necessário à

atividade empresarial.A Secretaria da Indústria e doComércio sabe que o que é bompara o Espírito é voltar a confiar eacreditar no sal da terra.

CGOVERNO

• DEMOCRATICO~ DO ESPIRITO SANTO

ADMINISTRACAO GERSON CAMATA

SECRETARIA DE ESTADO DA INDÚSTRIA E DO COMÉRCIOHERMES LEONEO LARANJA GONÇALVES

Page 3: Revista IJSN - Ano IV - Nº 2 - 1985

ANO IV - NO 2 - TRIMESTRALVITÓRIA -.:. EspfRITO SANTO

Registrada sob o número 1854 ­209/73, na Divisão de Censura e Divsões Públicas do Departamento de Pccia Federal de Brasília(DF).

EDITADA PELA ASSESSORIA ICOMUNICAÇÃO SOCIAL DO mDiretor SuperintendenteManoel Martins FilhoCoordenador TécnicoAntônio Luiz CausCoordenador Admmistra.tivo e FinanceiMauro R. Vasconcellos PylroGerente Geral do Projeto AGLURB ­VitóriaLuís C. Feitosa PerimCoordenador Geral do Projeto EspecCidade de Porte Médio - VitóriaJosé Antônio Colodete

CONSELHO EDIT01UALAdilson Vilaça - Carlos TeixeiraDjalma Vazzoler - Fernando BetarellcHeloisa D. Figueiredo - Miriam Cardos

REDAÇÃOAdilson Vilaça, Djalma Vazzoler, Tere:nha Lodi, Sandra Lima, Sueli Camp

ILUSTRAÇÕESEugênio Herkenhoff, Lastênio (selos (debate), Sazito, Zupo (pág. central)FOTOSAldi Corraâi, Carlos Palito, Gildoto}'Ol] ales Júnior, Lobão, Sagrillo,SanchVitor Hugo-VIX.Biblioteca I]SN (Mazzei, Paes e Ruy)

DIAGRAMAÇÃO, MONTAGEMARTE-FINAL:Ivan Alves Vieira Filho

COMPOSIÇÃO, FOTOLITO:Escrita Composições e Traçolito Ltda.

IMPRESSÃO .Grafitusa - Gráfica Tullio SamoriniDISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA:- Os artigos assinados .são deponsabilidade dos autores.- Colaborações forma desaios ou resumos bíbllIográtílcos,encaminhados à ASlCOJ'vI A.SSe~lsoría

Comunicação Socialdos Santos Neves.Endereço: Av. Ce~ar

dar - Praia do Suá ­CEP: 29000 - Telefone:

5758

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INSTITUTO JON::S DO SANTOS N~SBIBlIO ECA

1/ N D I C E

traileté)ria do migrante'HbanÉ~s no Espírito SantoO trabalhador livre brasileiro:à margem do sistema escravista-ES

NOTÍCIAS

ENTREVISTA

RESENHALISTA BIBLIOGRÁFICA

Ex-Governador João Punaro BleyA era Vargas no Espírito Santo

Para o novo Governouma nova Política HabitacionalProblemas na ocupação dasencostas e alternativas de solução

Fundação Ceciliano abreespaço para o escritor capixaba

TRIBUNA LIVREexplosão dos movimentos sociaisGrande Vitória na década de 70

A volta do trólebus parao transporte coletivo urbano

descrição cronológica do····'r!l:)CD1nt urbano de Vitória

Política do Cotidiano

\DEBATE ....

\. Perspectivas Econômicas do Espírito SantoPOLITICAS

,ESTUDOS & PROJETOS',\ Sub-emprego ou longas jornadas são

>a âs opções que restam ao trabalhador~Opanorama urbano sofre alteração

com intensivo do solo

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CARTA AO LEITOREste número da Revista do IJSN circula em mo­

mento especialíssimo da vida nacional, quando nossa socie­dade, toda, volta os olhos para a instalação de um novo gover­no democrático, comandado por Tancredo Neves. Nasce umaNova República!

Para registro desse marco inicial da reconquista da autori­dade civil sobre o Governo, editamos temas pertinentes, a co­meçar pelas chamadas de capa. A ENTREVISTA com o ex­interventor João Punaro Bley, concedida antes de sua morte eainda inédita, evide~;~ia uma relação histórica, pois trata da Re­volução de 30 e da ditadura que se lhe seguiu por 15 anos, re­editada, em termos de interrupção da vida democrática da na­ção, com a ditadura militar que ora recebe a sua pá de cal. ODEBATE deu-se em torno das possibilidades da economia doEspírito Santo no futuro próximo e reuniu personagens impor­tantes do cenário sócio-econômico local -, empresários, líderessindicais e governo.

O advento da Nova República, com data-início tão próxi­ma à Páscoa, reacende a nossa esperança de o Brasil sepultaras alternativas bruscas e inconstitucionais que sempre consti­tuíram estorvo à maturação democrática necessária ao plenodesenvolvimento de suas potencialidades.

Contribuir com a fé necessária e a lucidez gerada pela 'ex­posição e confronto de pontos de vista é o que pretende maiseste número da Revista do IJSN.

Esperança!

\ I, ~

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erspec1ivasEconômicasdoEspíritoSantoAs mudanças advindas com

a posse do presidente TancredoNeves constituem tema, por sisó, capaz de revitaliur o hábitoda discussão,1ão abandonadonos anos do autoritarismo que sefoi a bom tempo. A Revista doInstituto Jones dos Santos Ne­ves, cumprindo exercer a sua vo­cação de fórum de debates, reu­niu empresários, trabalhadores,secretários e técnicos do Gover­no Estadual, em mesa redonda,para confrontar pontos de vistaacerca das Perspectivas Econômi­cas do Estado do Espírito Santo,mediante o advento da Nova Re­pública.

Presentes, os empresários I

Américo Buaiz (Moinho de Trigo, Refinaria de Açúcar, TV-Vitória,entre outras atividades), Arthur Coutinho (Frisa - Frigorífico RioDoce S. A., Empresa de Luz e Força Santa Maria, entre outras) ePedro Burnier (Presidente da Federação da Agricultura - ES e do

~ Grupo Agroave, entre outras); da: parte dos trabalhadores, José~ Anésio e Antônio Moschen, Sin-o dicato da Construção Civil - ES,

e Federação dos Trabalhadoresna Agricultura - ES, respectiva­mente; pelo Governo, os secretá­rios Orlando Caliman, Planeja­mento, e Hermes Laranja, Indús­tria e Comércio. Carlos Teixeira,gerente do Programa de Desen­volvimento Regional Integrado(PDRI) do IJSN, mediou os de­bates; ea direção do IJSN se fezrepresentar por Mauro Pyiro.

Uma grande preocupaçãodos empresários, referente aoDL-880, foi contornada pelo Go­verno do Estado. Logo após amesa redonda promovida pela

Revista do Instituto Jones dos Santos Neves, o Governador GersonCamata efetivava a perenização do DL-880, subsídio imprescindf.vel à economia local.

CARLOS TEIXEIRA - Gostaria de es­tahelecer algumas referências para situarmelhor ~ debate. Começaria, a grosso mo­do, por dividir a economia do ES em doisperíodos: um, antes de 1960 e outro, de­pois de 60. O período antes de 60 carac­teriza-se, de máneira geral, pela fragilidadeda economia capixaba. A monocultura docafé de limitada produção, frente aos prin­cipais centros produtores, fundada na pe­quena propriedade, baseada no trabalho fa­miliar, impediu que houvesse economias deescala, que a partir da produção transpuses­sem os limites das atividades agropecuáriaspara serem investidas, salvo raríssimas exe­ções, na indústria, no comércio ou na esfe­ra financeira. Isso criou um governo deações ampliadas, que caminhou a frente dainiciativa privada, procurando gerar, dentrodo Estado, formas de acumulação que in­duzissem o surgimento da indústria, do co­mércio, etc. Além de criar mecanismos deincentivos, implanta um parque industrialno sul do Estado, dura.nte a administraçãode Jerônimo Monteiro, procurando esse in­tento. Dentro dessa perspectiva de diversi­ficação e de fortalecimento da economiacapixaba, o Estado ingressou na.década de60 sem o sucesso esperado.

A partir da década de 60, o ES define­se pela complexificação e envolvimento da

economia capixaba fora dos seus limitesregionais. O crescimento da economia bra­sileira verificado nessa década imprimiu,a partir dos Estados "desenvolvidos" dosudeste, o seu ritmo, em novas relações deprodução, a todos os pontos do territórioNacional.

No ES, na esfera da agricultura, essadinâmica processou-se, primeiramente, coma política federal de erradicação .dos cafe­zais, que destituiu a pequena propriedade,liberou a terra e a mão-de-obra, viabilizar;.­do assim, juntamente com o crédito abun­dante para a pecuária e incentivos aos re­florestamentos, no início dos anos 70, pro­cessos de concentração fundiária. Na segun­da metade da década de 70, os vínculos quese estabelecem em nossa economia manifes­tam-se com o ressurgimento do café e, maisrecentemente, com o cultivo da cana - am­bas culturas tecnificadas -, novas relaçõesde produção com base no trabalho assala­riado. Assim, o território capixaha, além dese tornar palco de empreendimentos de fo­ra que aqui se implantaram, também tor­nou-se um mercado promissor para as ativi­dades industriais produtoras de insumos,máquinas ~ equipamento.§ agrícolas.

No âmbito industrial, se por um ladoa economia capixaba faz parte do movi­mento da economia nacional através dos

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grandes projetos (siderúrgica, celulose, etc),por outro lado, o empresariado local ouconsegue os benefícios facultados pelo DL880, ampliando e estabelecendo diversifi­cação para enfrentar a concorrência, a ní­vel nacional, ou então desaparece.

PEDRO BURNIER - Antes da fase deerradicação do ca(é, tínhamos dificuldadesem orientar o agricultor com. relação aoplantio de café em curva de nível, a proble"mas de adubação e de conservação de solo,e à problemática muito séria de comercia­lização de café e de formação de coopera­tiva. Quando a primeira cooperativa de. ca­fé foi fundada, em Jaciguá, no municípiode Cachoeiro de Itapemirim,as dificulda­des eram, principalmente de infra-estrutu­ra: não havia estradas, comunicação, o ho­mem do campo não tinha o grau de partici­pação que tem hoje. A televisão, a estradae o telefone tiveram muita influência nes­ses dez anos sobre o homem do campo.Uma influência sociológica que só quemconvive com o agricultor, e conviveu nosidos de 59 e 60, é que pode ver como ohomem do campo de hoje tem uma carac­terística diferente daquela época. Se na­quela época os serviços de extensão e. defomento tivessem as dificuldades de hoje,e tivesse o agricultor muito mais atualiza­do e' aberto, nós revolucionaríamos esse Es-

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A velha vocação agnco/a aindà encontra maior expressão na produção do café

tado em dez anos. Enquanto o agricultor. aminhou muito, o serviço de assistência

técnica do governo, não só a EMATER,mas o governo como um todo, ainda estámuito tímido.

Atualmente, não se encontra uma la­voura plantada de morro abaixo, um agri­cultor que não faça conta do custo do sacode adubo e do custo do preço do café.Em termos de produção agrícola, nós esta­mos, esse ano, com uma cafeicultura maissólida e tecnificada, mas dependendo, ain­da, basicamente do café. Há outras perspec­tivas como a cana, pimenta do reino, serin­gueira, e em escala mais reduzida, abacaxi,mamão e a cultura da mandioca, que pode­ria receber um programa extenso. Existemuma série de oportunidades no Estado, eque, em 1960 ninguém sonhava poder exis­tir, a não ser o café. Apesar de haver essasoportunidades de diversificação, eu pergun­to, por que nós continuamos, basicamente,como Estado tipicamente cafeicultor? Nãoexiste nessa pergunta, nenhuma crítica àcul~ura do café, pois ela vai ser uma culturade futuro e vai ser um esteio para o Estado,durante muitos anos, porque o Estado temcondições sui generis para esta cultura.Muito mais pelo tipo de propriedade e pe­lo homem que trabalha a terra, do que pe­las condições climáticas.

Nós achamos que, comparando a situa­ção de 60 com a de 85, o agricultor evoluiutremendamente e os serviços técnicos, senão pararam, tornaram-se deficientes. O se­gundo é que nós, hoje, temos um agricul-

"Os custos altíssimos impedemo trabalhador de morar nacasa que ele próprio constrói".(José Anésio)

tor preparado, com a cabeça aberta, quequer investir. Um agricultor que quer plan­tar abacaxi, mamão, seringueira, que anseiapara fazer um pró-várzeas. E até quando oEstado vai ficar tímido no sentido de de­senvolver uma política mais agressiva, emtermos de diversificação, mas que não con­temple o abandono nem o desestímulo dacafeicultura? Quem é do Norte do Estadosabe que o café conilon apresenta condi­ções muito interessantes. As lavouras maisantigas de caféconilon de 14 a 15 anos, jáapresentam problemas sérios de produção ede decrepitude, enquanto o café bourbon,na Serra, possui lavouras com 50 e 60 anos.Já tem agricultor, em Linhares, plantandoseringueira no meio do café com 10 anosporque, segundo ele, daqui a cinco anos alavoura estará acabando e ele começará acortar a seringueira. Até hoje a pesquisa emextensão não colocou no campo um mode­lo que o agricultor esteja seguindo. A pes­quisa agrícola já colocou no norte, um mo­delo de irrigação? Esse agricultor está ori­entado para fazer uma economia de água?Não. Tudo o que ele tem de irrigação é oque o vendedor de equipamento vai lá eleva. O agricultor está vinte anos· na :frente

Carlos Palito

da pesquisa, da extensão, do serviçoapoio do Governo.

TEIXEIRA - A gente ouve, de algtprodutores, críticas no que diz respeiteforma como eles têm que consumir fertzantes, máquinas para produzir, e isso cuma dependência e uma despesa monetátão grande que se eles não conseguirem ctos preços para seus produtos, chegam mmo a afirmar que vão parar de produ.Moschen, como você vê esses processos <J

estão ocorrendo, do lado do trabalhad(MOSCHEN - Os técnicos do Esta(

4a Agricultura, não conseguiram de fatozer o lavrador entender aquilo que elestavam querendo. Essas orientações for.impostas de cima para baixo. Quandoera pequeno, a gente plantava café c<qualquer mudinha, qualquer carocinhocafé, sem aditivos, e dava café. Acont<que os trabalhadores não· foram prevenicpelos técnicos, para o futuro. E aí, quan

. não dava mais café, eles corriam e derrulvam outro pe"daço de mata para plantar.tenho divergências com relação ao quePedro Burnier falou, na questão da tecnogia, a partir de 1960. Isso favoreceu a gr:de concentração de terras.

Por que hoje, o ES se volta exatamte a 1960, na ~uestão do café? O pequeproprietário, so mexe com café. Ele ntem condições de mexer com outro tipoprodução porque os financiamentos sdestinados exatamente aos produtos de «

portação. Se ele mexer com arroz e feijiprincipalmente na região montanhosa, 'vai se ferrar. O café dá muito mais lucro Ira o pequeno proprietário. A entrada Cmeios de comunicação só favoreceu ,grandes proprietários, porque eles tiver<condições de expandir e de melhorar afra-estrutura nas suas propriedades.

BURNIER - Só reforçando dtcoisas que o Moschen falou e que smuito importantes. Antigamente, eraciclo da terra virgem, se plantava em maAs primeiras lavouras de café plantadas t

terra antiga, foram assentadas na época1960. Eram as lavouras demonstrativas,gente tinha qUe convencer o agricultor qera possível plantar em terra velha. Honenhum agricultor duvida disso.

A cafeicultura de hoje é complemente diferente da de 1960. Quem fessa revolução? F oi o cafeicultor, que acditou nas técnicas, que fez isso baseado efinanciamento. A grande maioria dessasvouras foi toda financiada através do plgrama de renovação do !BC. O cafeicultde hoje é um homem muito mais rico,mmo pagando o adubo e o defensivo, porqse não pagar o adubo, ele não vai conseglproduzir o café em terreno fértil. Evide

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Segundo Moschen, "consome-se rmlho norte-americano"porque não há estünulo ao pequeno agricultor

temente, o cafeicultor faz contas pará sa­ber se vale a pena adubar uma lavoura, e ofaz com muita sabedoria.

MOSCHEN - Ele é muito mais rico,mas não tem a mesma segurança que tinhanaquela época. Hoje, se o café quebra ou seacontece qualquer coisa na agricultura, elenão tem arroz e feijão ..•

BURNIER - Estou inteiramente deacordo. A vida da cafeicultura do Estadodepende, a cada ano, do acordo internacio­nal do café, que é discutido em Londres.

A arrecadação do Estado e a vida do cafei­cultor, ficam na dependência de uma novanegociação bem feita em Londres. Esse é ofato mais importante para a cafeicultura doEspírito Santo.

MOSCHEN - Um outro fato que fezcom que o café, principalmente do tipocOJÚlon, se desenvolvesse mais no ES é quenos Estados do Sul os produtores começa­ram a investir em outros produtos, como asoja, o que não aconteceu aqui no Estado.Principalmente na região nor~e, o caféconilon encontra facilidades. E plantadoem região montanhosa, na qual se adaptamuito bem. Isso também levou o pessoal' ainvestir muito no café conilon.

MAURO - Eu gostaria de ouvir algu­. ma coisa a respeito da retrospectiva na áreaindustrial.

AMÉRICO BUAIZ - A nossa grandepreocupação como industriais, foi que nomomento que nós sentimos que os agricul­tores estavam indo a pique, nos idos de 58e 60, quando houve uma total erradicaçãodo café, com um desmatamento violentono ES para exploração de madeiras, comum pouco de cacau que era muito prejudi­cado pela situação climática, então perce­bemos que era o momento de se tentar aindustrialização no Estado, e diria que foimotivado, também, por um sentimento devergonha, que eu pessoalmente tinha portodas as vezes que ia a São Paulo e a outrosestados e constatava como nós éramos po­bres. Pobres e sem nenhuma condição denos tornarmos remediados e, muito menos,ncos.

Tornou-se uma verdadeira aflição parílnós, que trabalhávamos de intermediáriosna importação de todos os produtos que'davam condições de sobrevivência à popu­lação do ES. Chegamos a importar café.Trouxemos café do Paraná para consumointerno. Foi aí que partimos, em 1960, pa­ra um plano de desenvolvimento econômi­co. Nós propugnamos, junto ao governo doEstado, e fomos muito bem apoiados, con­seguimos des!anchar um processo de indus­trialização. E bem verdade que, naquelaépoca, nós fomos apoiados também comisenções, que hoje já não existem mais. A

"Não vamos esperar soluçãode gente iluminada de gabinete,porque não vai sair".

(Moschen)

isenção não foi concedida pura e simples­mente para enriquecer alguns. A isenção foifeita como um investimento.

Hoje, nós sentimos que o ES é umapresença nacional e sentimos até, que faze­mos frente a muitos produtores nacionais.Temos uma fábrica de chocolates que inva­diu o país inteiro. Temos uma Braspérolaque se faz presente até no exterior. Uma si­derúrgica que se faz presente, com muitavida e com muito vigor e uma série de ou­tros negócios e indústrias. Quando se falaem uma Nova República, acho que a exem­plo do que aconteceu no ES, está aconte­cendo com o Brasil. Nós tivemos muitas di­ficuldades, lutamos muito. O Estado foi'Obrigado a conceder isenções, a investir,foi obrigado a uma série de coisas. Nóstambém tivemos um desafio. Fomos de­safiantes e desafiados. Não vejo o país emsituação tão dramática quanto. colocam.Contrariando os prognósticos de muitaspessoas e empresas, no ano passado, nósinvestimos violentamente, porque acredita­mos no Estado e no Brasil. Temos os meiosde comunicação em posição invejável emrelação ao mundo.

Quando se fala que o agricultor está

úco, porque ele ganhou muito cotemos que lembrar também quemais dependente na alimentação. Ele éobrigado a comprar feijão, farinha, arroz,etc., e é obrigado a desembolsar 0jllue elepoderia produzir com a terra que t~fr'

Fundamentalmente, quanto ~ais ricosforem os habitantes desse Estado, e quantomais poder aquisitivo tiverem, melhor paranós que produzimos e que industrializa­mos. Esta mensagem é a pregação que nósutilizamos desde 196 O.

Esperamos que na Nova República osrecursos sejam melhor canalizados. Que ha­ja descentralização para que possamos ter'recursos para resolver os nossos problemas.

O ano de 60 foi pródigo em matéria demesa redonda. Nós nos sentávamos, às ve­zes, sem muito assuntó e, de repente, co­meçavam a surgir os problemas. Essa inti­midade dos industriais, dos agricultorescom os homens do governo, que costumamficar muito distantes da gente, é necessária,porque às vezes nós temos soluções e atéjulgamos mal o poder público, pensamosque ele poderia fazer mais, quando ele nãotem condições e precisa ser ajudado, atémesmo com opiniões. Quantas pessoas vo­cês conhecem que têm idéias? Vamos ven­der para elas as idéias. Eu me lembro quan­do a fábrica de cimento atravessou aquelasituação angustiosa, ocasião em que o Dr.Carlos Lindemberg forçou grupos locais aficarem com a fáhica, que hoje, está nasmãos de João Santos por omissão. Homensdo Centro de Comércio do Café não quise­ram examinar o problema. A situação era

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Coutinho, Buaiz e Burnier criticam severamente a "agiotagem" do sistema financeiro

cômoda, porque é cômodo ter dinheiro,principalmente nesta época, quando vocêfaz aplíêações no over-night e tem um re­sultado de 20% ao mês. Não há negócio al-gum que compense mais que o over-night.Nós queremos, também, que a atividadeprodutiva seja mais bem recompensada e

> menos violentada. Nós trabalhamos comprodutos cujos preços são pré-estabelecidospelo Conselho Interministerial de Preços ­CIP - e nos dão um verdadeiro sufoco.

BURNIER - É isso que acho impor­tante se definir, Calíman. O que a gente es­pera como representante da classe patronal,dos empresários da Nova República, é quenós sejamos reconhecidos como fator deprogresso. O homem de hoje, encarregadode gerar produção e emprego, é um heróipor trabalhar numa situação como essa. Seé herói o trabalhador ganhar salário míni­mo, e herói esse homem continuar investin­do, sendo que ele pode pegar ose!! dinhei­ro e ganhar 20% na poupança, ir para casatomar refrigerante, cerveja. Se o trabalha­dor está passando aperto, e nós somos osprimeiros a reconhecer isso, tendo que vi­ver com o salário mínimo (e muitos nem is­so recebem), para o proprietário arriscar oseu capital que lhe custou uma vida de tra­balho, também é um ato heróico. É muitoÉ muito mais simples deixar no õver-night,botar na poupança, ou então comprar ter­ra como fator de segurança. Atualmente,ninguém compra um pedaço de terra pen­sando em tirar dessa terra 20% ao ano, por­que isso não acontece. Ele compra atrás da

"O empresário deveria passarpor um período de banguela".

(Hermes Laranja)

segurança que o Moschen fàlou.Só vai haver, realmente, uma recupe­

ração para todos, se houver uma condiçãode que a situação de juros, de inflação e demercado financeiro, seja contida. Se issonão ocorrer, e o custo do dinheiro conti­nuar nos níveis que está, não há condiçõesde se pro.duzir e fomentar a produção.

AMERICO BUAIZ - Eu precisaria fa­zer uma rápida intervenção sobre o DL 880e o Imposto de Renda. O DL 880 é um ins­trumento altamente necessário para o Esta­do. Devemos lutar para mantê-lo, assim co­mo, devemos lutar para conseguir que oGoverno Federal permita que o Imposto deRenda arrecadado pelas pequenas e médiasindústrias seja depositado pelo empresárionuma conta vinculada, para que esse em­presário possa gerar novos projetos ao de­senvolvimento do seu negócio.

O que se registra habitualmente, é que oprodutor, o empresário e o industrial, lu­ta,? o ano inteiro para fazer um pequenocalXa e de repente, no ano seguinte, ele éviolentado com uma arrecadação de Im­posto de Renda, voltando outra vez à esta­ca zero. Ele vive patinando, lutando o anointeiro para conseguir alguma coisa e quan­do consegue, imediatamente vem o impos-

to e arrecada violen~,m~nte um~ granparcela do que ele obteve. É preciso quete imposto seja preservado para quepossa reinvestir, como estamos fazendoDL 880, com direito a colocar 33% e ,pois ir buscar para novos projetos ou ,para ampliação dos projetos feitos. É necsário estudar uma forma, em conjunto, Ira que se possa fazer uma movimentaç~acional no sentido de proteger os peqinos e médios empresáríos. -

HERMES LARANJA - Falta aouma chamada matriz das vocações, (oportunidades, na área agro-industrial einvestimentos, para se definir prioridadSerá que a prioridade do ES, a níveldesenvolvimento, é o álcool, com todosbenefícios e malefícios? Ou a vocaçãoestado é eminentemente agrícola? A a~

cultura vem recebendo estímulos e favorinclusive do Geres (Grupo de kecuperaçEconômica para o ES).

Atualmente, o Geres trabalha muimais na agricultura. Temos os recursos~eres,. mas não temos quem se disponh,mvestlr. Isso mostra a acomodação do epresariado local. A nível nacional isso nacontece, pelo contrário. A Sudene, t<uma lista de investidores que esperam nala para serem atendidos com recursos, <85. E as nossas linhas são tão subsidiacquanto as linhas da Sudene. Será que isé falta de divulgação do que é o Geres?

Hoje, nós voltamos ao mesmo ciclocafé de anteriormente. Estamos totalmerdependentes do café. O governo do Esta,está preocupado com a agricultura e, sob:tudo, com a alimentação. Mas temos qincentivar a industrialização.

O Estado não tem vocação industrdefinida. A,Companhia Vale do Rio Do- CVRD, com o aparecimento de Caraj:já está desativando cerca de 50% a 6(de suas instalações, em nosso Estado. Ium esforço sobrenatural do seu presidemEliezer Batista, tentando ativar o Corredde Exportação, para exportação de cere,do Planalto Central e da região de MaGrosso do Sul e do Norte, para que se p<sa. interligando o trecho da rede ferroviáfederal, ativar esse corredor, para que o stema concêntrico de economia do nosEstado não venha sentir essa perda.

Não sentimos essa perda numa esc;maior, porque, há dois anos, a CompanlSiderúrgica de Tubarão apa~eceu no Es'do e, há três anos, a, Aracruz; por isso nnão sentimos os reflexos negativos da de,tivação da CVRD. Mas continuamos a blcar a sedimentação em cima do café e e~

é a grande preocupação nossa. Achamque o álcool e a soja são grandes alternavas para o Estado. O ES tem condições (cclentes para a soja. É preciso partir par,

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o maior temor dos empresdrios é não saber "qUfl[ vai ser a taxa de juros amanhã."

plantio de soja, não em áreas de 500 milha, mas em áreas de 8 a 10 mil ha.

O Fundo de Desenvolvimento das Ati­vidades Portuárias - Fundap é um instru­mento .da maior valia e significação para oEstado. Para que se tenha uma noção exatado Fundap - dinheiro que é arrecadado,fruto de uma balança comercial, através deexportação e importação -, nós temos con­dições de ter, só na Secretaria de Educação,uma verba mensal superior a quase 600 mi;Ihões de cruzeiros, a nível de Fundap. Eum dinheiro fácil, que ajuda ao Estado e,por outras forças de injunções políticas,nós não conseguimos vencer, ainda a barrei­ra do Fundap. A grande vocação do Estadoé o setor agro-industrial. Precisamos de­senvolvê-Io; caso contrário, estamos fada­dos a ficar batendo pé em cima de nossamonocultura extraordinária, o café, corren­do um risco muito grande com responsabi­lidade para o futuro. Advogo a tese deque o empresário brasileiro, não só o cápi­xaba, deveria passar por um período cha­mado banguela, em que o empresário dalivre iniciativa leve um ano, mais ou menos,solto. Ele receberia todo apoio a nível go­vernamental, institucional, para que pudes­se correr durante esse período dando asasà imaginação, sem que o Estado caísse depau em cima dele, querendo receber e ar­recadar mais.

Para os novos investimentos já estáprovado que o DL 880 não basta, porquea Sudene já oferece vantagens idênticas, namedida em que se observa que o Geres pos­sui na sua carteira dez ou doze empresáriosnuma lista de espera para vir à mesa com acarta-consulta para ter seu financiamentoaprovado. Na região da Sudene, existemmais de 380 empresários nesta mesma lis­ta de espera, aguardando a aprovação damesa da Sudene para projetos, principal­mente no Maranhão, Pará e Bahia.

BURNIER - Quando se fala em DL880, se fala no Geres e em Banco de De­senvolvimento do Estado do Espírito San­to - Bandes -, que são os dois pólos exe­cutores. Acho que o DL 880 é um fator im­portantíssimo para o desenvolvimento daindústria e, mais recentemente, da própriaagricultura e da agro-indústria, que faz afeliz ligação dos dois setores. Seria funda­mentaI que tivéssemos um Banco de De­senvolvimento um pouco diferente do ban­co que temos hoje trabalhando. O Bancode Desenvolvimento deveria estar ao ladodo empresário, dialogando com a classe em­presarial. Deveria quase que morar dentroda Federação da Indústria e da Federaçãoda Agricultura. Deveria ter ante-projetos deestudos, de oportunidades agrícolas eindustriais. Devia pensar muito mais como

"Hoje, temos uma indústriaque participa com 30 % doproduto interno bruto, aagricultura com 12 % e orestante de serviços".

(Caliman)

um Banco de Desenvolvimento do que co­mo um grande caixa de recursos do DL 880.

O empresário hoje, tem dois grandesproblemas para investir: a remuneração queele está tecebendo pelo capital através doSistema Financeiro eos entraves burocráti­cos de aprovação de projetos. Se o Bancode Desenvolvimento não se imbuir, desde ohomem que é ascensorista ao presidente, deque eles estão a serviço da micro-empresae do empresário e que a tarefa fundamen­taI deles é multiplicar o lucro das empresas,nós estamos falando grego.

Há uma série de coisas que precisamser discutidas para que o empresário nãochegue ao Banco de Desenvolvimento como chapéu na mão, acanhado ou até mesmocom medo, porque há posicionamentos deque se concede favor ao empresário, quedeixa de investir o seu dinheiro a 14% aomês e vai correr o risco num negócio, indoatrás do DL 880. A miséria com que são li­berados os recursos é como se o empresáriofosse um verdadeiro assaltante que fosse as­saltar os recursos do DL 880.

~íI....1ARTHUR COUTINHO - Existe umamentalidade dentro do Bandes, pelo menos.eu acho, em que os interesses dos funcio-IIIIIIIIIInários não coincidem com os objetivos dobanco. Isso pode ser percebido de uma ma­neira subliminar, talvez muita gente nãopense assim, efetivamente. Percebi isso hámuitos anos no banco, devido ao grandecontato que eu tinha. A sobrevivência dostatus do Bandes depende da disponibili­dade de recursos para mantê-lo. Não estouaqui para me queixar do Bandes, porqueele me' deu bastante apoio. Mas acho que oES construiu uma estrutura industrial atéde certo porte, com o DL 880.

Existe uIl'Ul mentalidade, que uma veterminado e implantado, o empresário de­ve se virar. Esse é o pensamento do Geres,do Bandes e do BNDES. Todos os investi­mentos que nós fizemos, a participação dosincentivos fiscais nunca chegou a 150/0.Houve urna época em que nós tínhamos di­nheiro subsidiado, com 20% de correção,mas urna parte não era subsidiada e, poste­riormente, isso terminou e se apanhou di­nheiro a ORTN + 5% de juros. No mercadode hoje, a ORTN é + 30%. Só que esse di­nheiro que eu apanhei não era para aplicarno mercado financeiro. Esse dinheiro, ho­je, está se transformando numa bola de ne­ve para algumas empresas que tiveram pro­blemas, seja por que razão for. Logo, essedinheiro está engolindo o capital de giroque o em.gresário "entrou". Recentemente,para nos arranjarem 500 milhões emORTNs parecia que estavam fazendo omaior favor do mundo à uma empresa. Es-

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Mini-produtor é a prioridade da Secretaria da Agricultura

se dinheiro .nãdvai ser aplicado no mercado

r". '.' financeiro. Nós esta.mos gerando riquezas,.. pagando encargos, ao Bandes. A primeira

coisa que o empresário precisa no Brasil éde um pouco de tranquilidade. E como elepode obter essa tranquilidade mínima? Pre­cisa ter um certo apoio para fortalecimentode seu capital de giro, para minimizar seuscustos financeiros. Hoje, o nosso pavor é acorreção monetária.. Em compensação te­'mos amigos que vibram com isso, porque odinheiro deles está todo no mercado finan­ceiro; mas o nosso dinheiro está na produ­ção. Nós ficamos apavorados com essa in­flação de 12,6%. em janeiro e com a pers­pectiva demais. Isso para nós é um desastre.

O nosso mercado está achatado, ,osnossos produtos estão sofrendo achatamen­to. Pior, eles não 'estão nem controlados,estão soltos e no chão, porque o governoestá importando, subsidiando produtoresde outros países e jogando no mercado, nosarrebentando, ao produtor e ao industrialbrasifeiro. Precisamos ter um pouco detranquilidade e para isso temos que estudarum meio para que as empresas tenham ca­pital de giro próprio. Deveria ser admitidaa hipótese que desde que o empresário"pusesse" algum dinheiro, que o Geres ain­da subscrevesse capital de giro, para algu­mas empresas. Acho que teria que ser ca­pital de risco, mesmo.

Hoje em dia, arranjar dinheiro, princi­palmente se a empresa estiver em dificul­dades, é muito difícil. Esse é um custo ele­vadíssimo para a atividade deles. Vou citarum exemplo. Conversando com um amigo

"O Governo do Estado temdirigido todas as atitud~s paraa classe trabalhadora e para omicro-proprietário".

(Burnier)

argentino, ele contava a situação de umaempresa argentina que ele havia visitado.Ele é representante de empresas argentinasque vendem produto para branqueamentode celulose, e que estão trabalhando a 30%da capacidade, e o Brasil tem mercado parao produto, e ele queria trazer para cá. Elevisitou essa ,empresa e perguntou ao em­presário se ele não tinha interesse em in­vestir no Brasil. O empresário respondeuque não queria abrir um novo mercado du­vidoso, porque estava trabalhando a 30%de sua capacidade e não estava devendonada a ninguém. Afirmou que tem seu ca­pital de giro e está esperando a época emque a economia do país vai se revitalizar e,então, baseado num mercado efetivo, elevai crescer. "Não vou crescer para venderuma vez e não vender mais", foi a conclu­são desse empresário. O nosso maior custoatualmente, é o financeiro. O nosso paíspossui uma economia mais jovem do que aArgentina. Ainda não tem a solidez deseja­da. Não é possível o empresário continuartrabalhando feito louco, atrás de banquei­ro, procurando saber onde arranjar dinhei­ro um pouco mais barato. O empresário

tem que estar voltado para a produção,zendo negócios de grande risco para poctocar sua máquina. Tem que estar aparelldo para reduzir sua capacidade de acorcom o mercado e voltar a sua plena carga

O ES é um Estado, embora de dim,sões não muito grandes, que tem uma sittção privilegiada para o desenvolvimento'agro-indústria. Tem terras boas, uma tOfgrafia razoável e pode se desenvolver. Mexiste uma coisa pelo qual todo mundo (veria lutar, se se pretende desenvolveragro-indústria e a agricultura. Não é posvel desenvolver a agricultura sem subsídi(como ocorre atualmente, com um mer<do achatado com o nosso e com o imposque temos. Não é possível entregar 25%nossa produção a título de imposto"Funrural.e ICM. Ninguém resiste a isso. r­mundo inteiro os produtores agrícolas s;isentos ou tem alíquotas de' 2% a 4%,maior que se conhece, e o Brasil tem 25%

TEIXEIRA - Já existem rumores .'que a Comissão para o Plano deAção (Governo - Copag, teria preocupação commodernização tecnológica,' em termos I

proposta de política industrial para opa:Nesse sentido, a informática seria a pebásica dessa política, além da atuação eoutros ramos como química fina. Teria­também, como apontam, necessidade (reativar investimentos em setores que, apsar dos anos de recessão, já se aproximados seus limites de capacidade, como écaso do segmento industrial de papel e ,clulose. Nesse sentido, como o ES parti(paria desses novos rumos da econorni,

Um outro aspecto, é que a FundaçiJoão Pinheiro vem efetuando estudos qtvisam subsidiar a nova orientação de po]tica econôm,ica do governo Tancredo Nves. Tendo a preocupação de abandonarmodelo de crescimento centrado no mecado externo e de levar uma reestruturaç~

do Sistema Financeiro de Habitação, detaca a importância de ativar a construç~

civil para a economia do país, por ser u!segmento de capital nacional e grande grador de emprego para a população de b~xa renda, a curto prazo.

A Fundação lembra também que ostor é responsável por 11% da populaçãeconomicamente ativa dos centros urb:nos do país e representa 4,5% do PlB br:sileiro. Estima-se, ainda, um déficit de 7,milhões de moradias entre 1985 e 1990.

Quais são as perspectivas do ES neSlparticular, sabendo-se que a construção cvil foi a responsável pelo emprego de mutos daqueles que vieram para a Grande Vtória, no período da erradicação do café,f!~~ da mesma forma são imensos os défcits. habitacionais da população de baixrenda no ES?

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Sumier teme que a Nova República reprise a polltica agricola do ES

Um outro ingrediente, para o enrique­cimento das discussões, é que o ES é umEstàdo que vem tendo um comportamentoeminentemente agrícola. E daí uma novaquestão:

Quais são os rumos da agricultura ca­pixaba na Nova República?

BURNIER - Quando se fala na NovaRepública, eu tenho dito que nós no ES jáa vivemos desde a ascenção do governo Ca­mata, porque desde esse fato nós temos, nogoverno local, correntes mais à direita emais à esquerda. Correntes que respeitam eacham que a solução ainda é a iniciativaprivada, e correntes que não respeitam a.iniciativa privada, acham que o modelo es­tá superado. Essa dicotomia é caracterís­tica do governo que estamos vivendo desdea posse do Governador e antevejo a NovaRepública com características semelhantes.Nós vivemos aqui um verdadeiro laborató­rio do que vai ser o Brasil daqui para fren­te. Sem dúvida nenhuma, a área agrícola doEstado .~ a nossa Secretaria de Agricultura,no contexto nacional e nos governos deoposição, é a mais avançada. Não é apenasà Lei de Terras que estou me referindomas, basicamente, toda a ação da Secreta­ria da Agricultura é voltada para a área domini-produtor, do trabalhador. Uma defini­ção básica da Nova República, é saber serealmente o modelo da agricult1J.ra do Es­tado do Espírito Santo será o modelo emque o Estado brasileiro vai se espelhar.

A palavra preferencialmente é mágica,por exemplo. O Governo do Estado vai pre­ferencialmente dirigir as suas atitudes aopequeno proprietário. Ele tem dirigido nãosó preferencialmente mas' todas as atitu­des, e não só para o pequeno, mas para aclasse trabalhadora e para o micro-proprie­tário. Na medida em que acontece isso, vo­cê está intranquilizando, colocando à mar­gem, um setor que afinal de contas gerarenda, emprego e progresso e pode gerarmuito mais, se ele não for desestimulado.

Na Nova República e na nossa Repú­blica Capixaba, é importante haver uma de­finição mais clara e mais objetiva do corpode assessores e secretários em algumas li­nhas que travam um diálogo mais estreitocom o empresário e a classe patronal.Quando se fala que o ES tem capacidade deaumentar sua área de cacau em 10%, pare­ce que se falou palavrão. Porque cacau estáligado a gente rica, gente que não precisade dinheiro do Governo e da SEAG. Quemperde com isso é o ES, que deixa de gerarriquezas, e o trabalhador rural que perdeemprego. Quando se diz: nós temos tudono Estado para desenvolver um amplo pro­grama de seringais. Aí dizem: seringueiraé coisa da Firestone, de grande proprie-

"Eu não sou agiota porquenão posso. Se pudesse,estaria na praia e seria o maioragiota do mundo".

(A. Coutinho)

tário. Mas a gente vê o pequeno cafeicul­tor, em Linhares, muito mais inteligenteque todos nós, começando a importar se­mente de seringueira de São Paulo. Essascoisas não podem ser colocadas totalmenteà margem, porque o Estado perde com isso.Há n~cessidade que essa Nova República se­ja revestida de grande participação do em­presário para que ele não se sinta banido dosistema. Imagino que a Nova República,ainda seja uma República onde a iniciativaprivada e a propriedade sejam a alavancado progresso e do desenvolvimento. Se nãofor, então, acho que temos que colocar ascoisas às claras. Divorciar a classe trabalha­dora e o empresário, é o maior ,erro de umGoverno.

No período das chuvas eu tive que pôrtrês basculantes consertando estrada parapoder passar com minha produção porqueno final do mês, tenho que pagar meus fun­cionários.

CALIMAN - Mas você tem condiçõesde ter a basculante.

BURNIER - Eu estou alugando bascu­lante.

CALIMAN - Você tem condiçãoalugar e outro nem ,isso tem.

BURNIER - E claro que o rmtrrii'hptn

isso tem...CALIMAN - Então o Estado tem que

apoiar quem não tem...BURNIER - Não estou contra o Esta­

do apoiar o mini-produtor. O que eu estoucontra é a gente recolher de Funrural 2,5%e quando o meu trabalhador chega no hos­pital de Linhares, eles dizem que a verbaacabou e eu tenho que pegar o trabalhador,com uma úlcera perfurada e trazer para Vi­tória. Sou contra isso.

Reclamo Com o Secretário da Saúdeque o meu sindicato de Barra de São Fran­cisco, Colrtina, São Gabriel da Palha, nãotem soro anti-ofídico contra mordida decobra e eu tenho que ir ao Butantã, em SãoPaulo, pedir pelo amor de Deus à Federa­ção da Agricultura de São Paulo, que man­de soro de cobra para os ambulatórios domeu sindicato. Tudo isso porque só exis­tem 8~ ampolas de soro anti-ofídico no Es­tado. E muito simples o poder público, atecnocracia, chegar e pôr a culpa e~ cimado empresário que está bem de vida edamassa trabalhadora que está precisando demelhores dias e de melhores condições. Es­sa luta entre a classe empresarial e o traba­lhador não conduz a melhores dias. O papeldo governo e do t~cnico é mediar isso, nosentido em que o empresário possa viverbem e o trabalhador também.

MAURO - Gostaria que fossem abor­dadas as questõe: objetivas em termos de

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o corredor de exportação é fator de desenvolvimento para o ES

r éctivas levantadas pelo Teixeira.HERM~S LARANJA- No Espí­

rito Santo já existe. algum ensaio eminformática: e celulose e,em relação àquímica fina, com a descoberta dessenovo poço da Petrobrás, passamos a terchances excelentes. Em relação à agricul:tura, defendo o café e a cana-de-açúcar. Epreciso partir _para a s?ja e as culturas ali­mentares básicas como componente naturalda sobrevivência. Quanto à habitação, achoque é um problema mais complexo. ACohab .não conseguiu se desamarrar desseimenso nó que é o BNH. Acredito que, anível nacional, teríamos três feitos muitoimportantes a serem atacados e que não fo­ram porque a Cohab ficou muito preocu­pada com o número de unidades vazias eabandonadas, cujos contratos não foram re­novados. Acho que o Programa de LotesUrbanizados é muito interessante e deve serolhado com atenção. O Progra~a João deBarro também é muito interessante e estámulto vivo, poderia ser levado à frente. Nocontexto de habitação rural nesse país, háuma dificuldade muito graruie de se enten­der que o homem do interior também temdireito a um conjunto habitacional. Nin­guém pensa no colono, em construir umavila de três casas. Só pensam em conjuntoshabitacionais de 500 a 1.500 casas. Poderiaser dada atenção especial, na parte de sa­neamento básico. Acho que se dermos ên­fase especial, na Nova República, aos pro­gramas agrícolas nós estaremos dando umgrande passo. O programa habitacional doGoverno não vai ser resolvido com a cria­ção do Ministério da Habitação. Habitaçãopopular no Brasil é um problema de cabe­ça. O banco perdeu sua identidade, deixoude ser um banco de interesse social. A pró­pria Sandra Cavalcanti, uma das criadorasdesse banco, hoje está se renegando. Eladiz que não criou nada, só. deu a idéia.

"A instalação de VoltaRedonda deveria ter sido feitaem Vitória".

(A. Buaiz)

Acredito que o banco vai ter que colocar oconstrutor, o agente financeiro, a Cohab eos mutuários, sentados numa mesa paratentar encontrar uma solução para essescinco mil apartamentos desocupados emItaparica e para as outras seis mil unidadesdesocupadas em todo o Estado. Da mesmaforma que temos essas 12 mil unidades ha­bitacionais vazias, temos na favela do Ma­caco pedreiras despencando.

Uma solução caseira, e até demagógica,que poderia ser feita no Estado é um pro­grama de Mutirão, como o governador deGoiás, Iris Resende, está fazendo. Cons­trói-se mil casas no domingo. É' um negó­cio que dá ibope, mas não sei se está resol­vendo. Os resultados dessa casa, vamos sen­tir daqui a 6 a 8 meses.

CALIMAN - Para falar de perspecti­vas seria bom retroceder um pouco e pen­sar como foi esse processo todo. Sabemosque na década de 60, a indústria participa­va em 7% no produto total do Estado. Aagricultura em 50% e o restante era o setorde serviços. Hoje, temos uma indústria queparticipa com 30% do produto interno bru­to, a agricultura com 12% e o restante deserviços. Se olharmos em termos da popu­lação economicamente ativa, nós teríamosa agricultura absorvendo 36% e o setor in­dustrial 11%' Há uma disparidade na absor­ção de mão-de-obra. A tendência do Esta­do é buscar essa identidade industrial e, aomesmo tempo, ter a sua identidade agríco-

, la, embora nós já tenhamos o café e mais"recentemente, a indústria do álcool, a se-

ringueira e outras atividades. Nesse procso de industrialização, nós tivemos umase endógena, que partiu do trabalho árddos pequenos empresários e depois vei(legislação do governo de Cristiano Dias Ipes, que possibilitou maior desempenhosetor industrial local. E teve a outra faseeconomia brasileira e internacional. Er,os grandes projetos, que têm uma funçimportante a nível nacional e passaramter uma importância muitç grande a ní'local. Esse salto, principaHnente no se!industrial, foi em decorrência disso. A id,tidade, no setor industrial, vai ocorrer a 1

vel das indústrias que viriam ou que já I

tão vindo agregadas a esses grandes pro.tos. Issovai trazer indústrias de ponta, ,mo a informática que tem todas as con,ções de localização no Estado; a indústlda construção civil, uma das grandes geldoras de emprego.

Esse processo geral de transformaç;não aconteceu em nenhum Estado do Blsilo O ES tem uma taxa de crescimento etermos reais, no período de 70 e 80,até 15%. A indústria cresceu 18%. Hourealmente uma explosão, mas por outro :do, um processo de urbanização muigrande. Em 1960 tinhamos 40% da popu:ção localizada na zona urbana, hoje temcerca de 70%. Isso gerou um problema scial que demanda uma série de olltras ati'dades, inclusive industriais, como agro-idústria e produção de alimentos, para ateder à essa população. Vejo uma indústrde pequena produção, principalmente. paa região sul. Nessas regiões montanhosasestá assentada uma determinada estrutUlmais ou menos fixa, que é a chamada Fquena produção. Existe a outra que é a rvel de produção em maior escala, com tenologia mais avançada, na faixa norte (litoral, acima de Aracruz, Linhares, SiMateus, Conceição da Barra, que teria ,

9 reflorestamento, cana, seringueira e outr:rã~ alternativas de produção agrícola de exp'~ tação como o mamão-papaia, abacaxi, guÜ 'raná. Há boas perspectivas de colocação 1

mercado desses produtos. As perspectivna agricultura são boas, tanto na produçide alimentos como na ~~ fontes energéC<lS. No setor serv.iç..os~;;~~puve um aumenmuito grande do chamado setor intermdiário financeiro, em decorrência dos prdutos de exportação. A cidade possui grade quantidade de bancos, inclusive coperspectivas de bancos externos se localizrem aqui, como o City Bank. Mas é nqstor de exportação que está toda a pers~~

tiva futura. O Corredor de EXl'~rtaç~muito importante e o Estadw praticarriete, voltaria àe.staca zero ,sep~rgêSse esoportUJIidade. .

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BUAIZ - Você não vê o momentoatual do Corredor, como aquele em quefoi instalada Volta Redonda, no estado doR.io de Janeiro? Muita semelhança de com­p,o,rtamento, essa distorção, esse poder po­litIco levando para algum lugar que nãoera o mais indicado e, muitos anos depois,Vitória tornou-se o grande Porto. .

CALIMAN - Inclusive, é só o governofederal decidir que vai ser em Sepetiba e,tranquilamente, será lá.

BUAIZ - Eles distorceram a instalaçãode Volta Redonda, levando para o estadodo Rio, quando deveria ter sido feita emVitória, no lugar onde está hoje, a CST. Re­tardaram a CST para o ES durante quantosanos? Mas a força da natureza é tão violen­ta que acabaram instalando aqui. E se oCorredor de Exportação não for instaladoaqui, vamos ter a mesma repetição.

CALIMAN - Inclusive, nem tanto co­mo Corredor de Exportação, mas tambémCorredor de Importação. Poderia incremen­tar indú$trias locais...

ARTHUR COUTINHO - Também tema estrutura ferroviária. Não se pode compa­rar a estrutura existente aqui, pelo menosaté o trecho da Companhia Vale do RioDoce, com a estrutura do estado do Rio.

BUAIZ - O Governador anunciàva hápouco tempo, muito contente, a descober­ta de um poço de gás. Comenta-se que aCVRD está pronta para absorver toda aprodução do gás porque ela já utiliza gás.Eu diria, como industrial, que acho issouma injustiça. Nós achamos que o gás deveser distribuído. Não só para as grandes com­panhias. Temos indústrias que, hoje, utili­zam a lenha. Saímos do diesel para a lenhae queremos sair da lenha para o gás, que éuma operação muito mais simples e econô­mica. Até sugerimos à Companhia de Ex­ploração da Terceira Ponte - Ceterpo, quedesde já, aproveitasse a.estrutura da 3aponte para colocar a tubulação para o gás ea água. Seria bom prever isso, porque vaificar muito barato. Vila Velha vai se desen­volver muito e ter problemas dessa nature­za. As indústrias localizadas do outro ladoseriam beneficiadas, assim como as nossas.

JOSÉ ANÉSIO - Talvez não fôssemosos mais indicados para falar de perspectivaseconômicas, porque temos dificuldades deacesso às fontes de informações. Por tudoque foi dito há uma preocupação da nossaparte em relação as perspectivas econômi­cas do Estado, se não houver uma ligaçãoda questão econômica com a questão so­cial que está sendo abandonada, de formavisível quando se fala da questão econômi­ca. Hoje temos um grande número de de­sempregados no Estado, e são pessoas quepara se manterem vivas precisam de alimen-

tação, moradia, trat<i.mento médico. Essaspessoas não estão produzindo...

BUAIZ - Não estão produzindo nemconsumindo.

JOSÉ ANÉSIO - Exato. E a gentequestiona isso. Vamos dar exemplos peque­nos mas importantes para essa discussão deperspectivas econômicas do Estado. O casodo padeiro que fabrica o pão e não podelevar para casa, do operário da construçãocivil que não pode morar na casa que cons­trói. Há uma distorção. Os empresários daindústria, também não têm o consumo doseu produto como deveriam ter, com essepessoal trabalhando e ganhando. Às vezesa gente fica preocupado quando se falamuito a respeito da iniciativa privada e nãose preocupa com pequenos detalhes quesão importantes. Nós temos uma bandeirade luta que é o fim da jornada de trabalhoexcessiva que mata o trabalhador e não per­mite novos empregos. Nós temos exemplos,inclusive. Há uma ligação muito grande en­tre o Governo do Estado e a iniciativa pri­vada, que de certa forma está lá dentro, por­que são as empresas encarregadas de cons­truir a 3a ponte, quando temos pessoasdormindo na fila para conseguirem um em­prego e existem os que estão empregados,fazendo horas extras. Os empresários queexportam só têm interesse em produzir oque exportam, porque aqui dentro, nãotem consumo interno. Se junto com a po­lítica econômica não for levada uma polí­tica voltada para o problema social, vamoster sempre um Estado com desabamentos,como no Morro do Macaco, em Tabuazei­ro, o pessoal com medo de andar na rua,porque tem gente passando fome que rou­ba o que encontrar pela frente. O moradornão pode sair para visitar um parente por­que quando chega não tem mais nada den­tro de casa.

Tem que haver uma conscientiza­ção por parte do empresariado e do go­verno, para ver a questão do problema so­cial. Nós participamos, na Secretaria de Es­tado da Indústria e do Comércio - SEICde uma comissão, onde em algumas reu­niões foi discutido o problema da constru­ção civil. Hoje, os empresários do ES tra­zem o material consumido nas construções,de fora. Naquela época, os que entendiammais do assunto, nos deram uma idéia im­portante .. Por que não criar, aqui no Esta­do, as indústrias que produzem esses mate­riais? Isso geraria mais empregos e talvez oscustos ficassem menores. O trabalhadornão tem culpa dos custos altíssimos, que oimpedem de morar na casa que ele próprioconstrói.

BURNIER - Será que a culpa é só doempresário que constrói a casa?

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JOSÉ ANÉSIO - Também não coloca­mos a culpa só no empresário. Mas tem quehaver discussões, mesas redondas, onde sedebatam esses problemas com a participa­ção dos trabalhadores, que sempre estive­ram à margem de qualquer discussão. Napolítica habitacional desse país, o trabalha­dor nunca participou. E a gente sabe que amaior parte do dinheiro que tem no BNH,é do trabalhador. Tanto é que quando otrabalhador é mandado embora ele retiraum total que tem lá; mas ele nunca parti­cipou. O Secretário Hermes Laranja faloudo número de apartamentos e casas popu­lares que estão vazias: e o operário da cons­trução civil não pode pagar a prestação deuma casa dessas.

CALIMAN - Realmente, existem ques­tões gerais que são políticas mais globais.Deveriam ter um rendimensiónamento. Amargem de manobra que o Estado tem éínfima. Em política habitacional o Estadodepende do BNH, em política industrial de­pende do Bandes, em poHtica agrícoladepende do Ministério da Agricultura.

BURNIER - Calimart, o que me cons.traJ1ge é que toda vez que o Governo do Es­tado fala que a arrecadação melhorou, ime­diatamente fala-se em dar aumento ao fun­cionalismo público estadual. Parece quenós empresários e trabalhadores, que arre­cadamos imposto, vivemos só para pagarfuncionário público. Isso está errado. Esta­mos reclamando porque damos 25% donosso produto para o governo e dos 25%que vai para o governo, grande parte é pa­ra pagar a máquina do Estado. Vai chegarnum ponto em que nós vamos preferir queo governo em vez de manter uma empresaque tenha 400 técnicos para dar assistênciaao campo, faça um ch~que e dê para cadacafeicultor do estado. E mais rentável paraele receber o cheque do governo do quemanter a máquina para dar assistência...

CALIMAN - Compreendo perfeita­mente. Isso é uma questão histórica. Ao as­sumir o planejamento, o ICM correspondiabasicamente a 75% da folha de pagamento.Hoje, corresponde a 120%, 130% da folha.Já existe uma certa margem de aplicação deinvestimento e também de melhoria na pró­pria capacidade de desenvolvimento do Es­tado, que permite tomar empréstimo e .pas-

.sar a investir, Não é um negócio que se re­solve de um momento para o outro, umavez que, a nível da estrutura geral de gover­no municipal, estadual e federal, sabemosmuito bem que o Estado e os municípiossão muito massacrados eo peso maior. daresponsabilidade não ,é cobrado, pelo povo,do governo federal. E cobrado do municí­pio, do prefeito que está lá perto dele. Em

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termos de 'definição de uma nova situação,primeiro existe uma questão emergencial,que é a fome, o desemprego. Acho que te-

~mos que esquecer um pouco da recessão epensar em criar empregos, encontrar for­

. m~ d, .lim""'" o povo, 1<0'" "di"do­nar o modelo existente.

JOSÉ ANÉSIO - Na cidade existe umgrande número de pessoas desempregadas,que vieram do interior porque não tinhammais condições de ficar por lá. Essas pes­soas que estão sem produzir, quando an­dam por aí, encontram terras paradas, im­produtivas. Enquanto isso. estamos trazen­do milho de outros países, pagando umpreço alto.. BUAIZ - Você falou em questão so­

cial abandonada. Eu perguntaria: quem aabandonou?

JOSÉ ANÉSIO - Emitindo um pontode vista, pessoal, a administração do país;e, desculpem os senhores, pelo grande inte­resse que os empresários têm do lucro.

BUAIZ - Estou muito a vontade pa­ra te responder. Quando compareço à umamesa redonda, compareço para aprendertambém. Nós também não temos aces­so a muitas informações, nos sentimos tãotraídos quanto vocês. A bandeira de lutaque você mencionou, nós também quere­mos segurar, porque precisamos obter maisinformações. Se você me perguntar o quevai acontecer amanhã com o meu negócio,eu não sei. Se me perguntar quais as taxasde juros para amanhã, eu não sei; se as li­nhas de crédito serão mantidas, tambémnão sei. Nós não sabemos uma porção decoisas. Considero os empresários, assim co­mo os empregados, uns heróis, por nosmantermos trabalhando da maneira comoestamos, porque qualquer outro já teriaabandonado o negócio. Teria convertidoseu negócio em cruzeiros ou dólares. . •

COUTINHO - Por isso é que existeo desemprego: o empresário está desestimu­lado•..

BUAIZ - E não se pode condená-los.Quando você falou que o padeiro faz o pãoe não pod~ levar para casa, eu concordocom você. Acho que ele deve levar e au­mentar o consumo de pão. Faço apologiado salário mínimo, justo, real. Nas reuniõesda Federação das Indústrias do Estado doEspírito Santo - Findes, não pense que es­tamos tão indiferentes, quanto vocês imagí­nam, ao problema social. Quando vemosroubos, assaltos, assassinatos, sabemos queé em função. de um problema social quenos amedronta. Estamos amedrontadostanto quanto vocês e pedimos a Deus que aNova República reencontre o caminho dassoluções, para podermos nos sentar, comtodos que quiserem para encontrarmos a

saída, com a nova ou outra república"qual­quer. Muitas empresas nossas foram obriga­das a contrair empréstimos em dólares, por­que não encontraram em cruzeiros, para semanterem em pé. O próprio governo for­çou a pegar os dólares. Sabe qual é a situa­ção de um empregador da construção civil?Muitos já ganharam muito dinheiro duran­te muito tempo. Mas hoje, eu duvido queestejam ganhando dinheiro. Um imóvelqualquer que passe de um mês para o outrono estoque tem um acréscimo de pelo me­nos 12%. Enquanto o preço do imóvel estásubindo, o poder aquisitivo está caindo.Numa entrevista da nossa emissora, o sena­dor Moacyr Dalla, num determinado mo­mento, irritado com as perguntas que eramfeitas sobre as nomeações, enfatizou commuita violência: Eu dou emprego sim! En­quanto puder eu darei emprego! Acreditoque a função do Estado é de criar empre­gos mas a função maior seria fazer com quenós criássemos emprego.

COUTINHO - A maior penalidadepossível, acho que é a pessoa se tornar umdesempregado. Ou se muda totalmente nos­sa estrutura econômica, ou se induz o em­presárioa criar empregos. Tem que ser feitaalguma coisa, neste país, que tome investi­mento mellior que aplicação financeira.Um país de agiota não sobrevive. Nós, hoje,somos um país de agiotas. Eu não sou agio­ta porque não posso, porque se pudesse, es­taria na praia e seria o maior agiota domundo.

BUAIZ - Diga-se de passagem que aclassificação de agiota não existe mais. Agi­otagem foi oficializada, legalizada•..

COUTINHO - O governo garante ebanca a agiotagem. _

BURNIER - E muito bonito falar malde patrão. Eu quero colocar um governo nolugar de Eatrão;

JOSE ANESIO - Tem que haver ajudadas duas partes...

COUTINHO - N o Brasil ninguémtem acesso a informação nenhuma porquenão existe inforr.nação. Não se pode teracesso a uma coisa que não existe. Outracoisa importante. No Brasil existe a men­talidade de que o lucro é crime. Acho queo lucro é exatemente o embrião de tudoque se féz neste país. Sem o lucro o empre­sário não vai poder desenvolver .sua empre­sa, não vai poder dar melhores condiçõesde vida ao empregado. Ou mudamos total~

mente a estrutura econômica ou admitimosque o lucro é salutar.

MOSCHEN - Concordo com muitascoisas que o Burnier falou, mas tem outrasque é difícil a gente pensar igual. Não v.ejoboas perspectivas para a agricultura no esta­do. Acho que vamos enfrentar várias difi­culdades. Se a gente não jogar de fato, Qe

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forma organizada, todos os esforços I

a!?!icultura, a gente não vai resolve.r nadAs empresas rurais só piorilm a situa:<,:ão'elavrador. Os grandes projetos não resolvenada. Se o governo quiser mesmo, ret6T'1o crescimento da economia, principalmete, da produção agrícola, ele vai ter que asumir uma reforma desta est!'utura agráriTem que assumir a distribuição das terr;concentradas nas mãos das grandes emprsas e que não estão produzindo. A elas:trabalhadora nunca participou de nada nese país .e agora ela começa a participar,governo sente a necessidade de botar a elase trabalhadora para discutir. O Burnier flou na questão da soja e outras culturas nEstado, como o álcool. Pois qual.foi o dque o governo sentou com algum pequenprodutor, para discutir como iria ser a inplantação dos projetos de álcool no mPessoalmente, acho que foi de forma err;da. Essas coisas têm que ser discutidaMuita gente fala que os pequenos prod1!ores são contra a implantação da soja. Nãé isso.

BURNIER - Não se pode ser contlimplantar usina de álcool em determinadelugares. Só a massa de emprego que é ger;da é uma loucura.

MOSCHEN - Mas tem hora que voegera emprego e tem hora que gera desenprego. POl;" exemplo: em São Mateus gerodesemprego. A partir do momento que sdesapropria 50 famílias e. se cria 500 enpregos, você não gerou empregt), mas desemprego. Essa é uma questão a ser discttida. São Mateus tem muitas regiões boapara feijão, milho, etc. E se o dinheiro qufoi aplicado em determinadas Coisas tivesssidQ aplicado em feijão e milho, não seripreciso comprar milho norte-americallePor isso é que é preciso discutirmos junto,caso contrário, não iremos encbntrar a selução nunca. Não vamos esperar solução dgente iluminada de gabinete, porque nãvai sair. A gente não acha que o Secretárié isso, que fulano é aq,illo porque fica.rmais do lado desse ou daquele. Democracinão é ficar do lado daqueles qué tem ma'capital, mas ficar ao lado da maioria. Ajtdar a construir uma sociedade que possservir a todos e não apenas a ilm grupeMas para issO' a gente tem que entenderque é democracia, porque a gente faz umconfusão entré democracia e a questão fnancfira da iniciativa privada.

BUAIZ - O que é democracia? Ete diria, que ainda nem sei o que é demecracia direito. Eu qUéro aprender.

COUTINHO - Não, tem regime nlnhum .no mundo que não seja democrat.Você já viu alguém dizer que p.ão seja dimocrata?

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.".

POLITICAS

Para o Novo Governouma nova PolíticaI-labitacional

Associação Capixaba dos Mutuários do Sistema Nacional de Habitação - ASCAM.

o primeiro período legislativo desteano do Senado Federal poderá trazer im­portantes novidades aos mutuários brasilei­ros. Estará em pauta nesta casa a discussãoe aprovação do projeto de lei do deputadofederal Floriceno Paixão (PDT-RS) queprevê "a manutenção do Plano de Equiva­lência Salarial (PES) em sua forma original,estabelece os limites máximos de compro­metimento de renda por faixa salarial, e autilização do Fiel para os mutuários desem­pregados".

A tramitação do projeto será aceleradaa depender do "loby" articulado pelos mu­tuários junto às bancadas do Senado. Porcerto que haverá resistência, mas o empe­nho do movimento dos mutuários serágrande para vingar esta proposta.

Se aprovado, o projeto do parlamentargaúcho vai "responder as necessidades emer­genciaisporque fica garantido o Plano deEquivalência Salarial (PES) a todos os mu­tuários. Além disto, elimina os decretosque permitem a execução extrajudicial e ju­dicial, e possibilitará uma redução razoávelnas prestações e participação de represen­tantes dos mutuários no Conselho de Admi­nistracão do BNH.

Uma nOva fase na relação dos mutua­rios brasileiros com o governo federal foiinaugurada recentemente pela Coordena­ção Nacional dos Mutuarios que .mantevereunião. com a Comissão parai o Plano deAção do Governo (Copag) do presidenteeleito Tancredo Neves. O relacionamentosai de uma etapa de sucessivos impasses epromete passar ao nível da negociação vi­sando chegar. à elaboração da política ha­bitacional do novo governo.

Os •representantes dos mutuários leva­ram à então equipe responsavel pelo pla­no governamental de Tancredo Neves umconjunto •. de. propostas que, se colocadasem pratica, darão um novo espectro à rea­lidade habitacional brasileira. Trata-se desolucionar um problema que envolve mi­lhões de brasileiros, prejudicados com apolítica de benefícios aos grupos financei­ros em detrimento do adquirente da casaprópria.

As questões priorirarias levadas à Co­pag tratam da necessidade do governo to­mar medidas saneadoras no plano habita-

cional: reconhecimento do PES extensivoaos que não ingressaram na justiça, revoga:ção dos crecretos nOS 2.164 e 70/66 ea leI5.741, sustação de todos os processos deexecução judicial ou extrajudicial, revisãodo programa Fiel, extinção do esquema dobônus previsto no decreto lei 2.164 e incor­poração automatica de suas dotações aoFCVS/Fundhab, anulação da resolução17/84 (que aumenta em 30% os seguros dedanos físicos, morte ou invalidez pagos pe­los mutuários), garantia da participação dossindicatos de trabalhadores no conselho cu­rador do Banco Nacional de Habitação(BNH),fim do poder de autolegislação doBNH, reconquista das prerrogativas do con­gresso, participação nas comíssõesde plane­jamento habitacional, le.vantamento real dasituação dos fundos do SFH .e procedimen­to da analise das condições de habitaçãodos imóveis do si~tema.

Sem adotar essas medidas, dificilmenteo governo da "Nova Repúblíca"vaí conse­guir minimizar a gráve situação do SistemaFinanceiro da Habitação e criar uma polí-

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oSistema Financeiro de Habitação não atende a população carente..

assim como adotar e fazer cumprir umarie de medidas complementares que se csubstanciarão nas condições para a conslção e apropriação imediatas do maiormero de habitações em todo o territóriocionaI. Esta meta será conseguida atrada criação de condições efetivas e conetas para superar rapidamente (como usc:processos alternativos de produção) a r·ção negativa entre os custos da habita.e os salários; ainda a desativação das cdições à especulação em torno das habções construídas e do solo urbano.

A Coordenação Nacional admite c"a complexidade do problema leva a ucomplexidade da política habitacional enão deverá se traduzir em um elenco openaI de Títulos de Financiamento (prOlmas do BNH), mas sim em um conjU!amplo de condições paraa produçãomais variadas e possíveis formas, proFtas por cada organização comunitária,da segmento da sociedade, cada famíli

Os mutuários reivindicam ainda qcom urgência, seja ssumido um novo tnmento através da adoção de medidas pr,cas que descentralizem a concepção e a

.~ cisão sobre como produzir habitações~ que supõe a decisão fundamental de der~ cratizar o controle do processo de pro,

tica capaz de adequar-se aos propósitos dosmutuários brasileiros. A austeridade no tra­to da questão habitacional é imprescindívelpara superar os resultados desastrosos deuma política que privilegiou os grandes gru­pos econômicos.

Rec~peraros Prejuízos

Vai merecer muita~~ençãoda Coorde­nação Nacional dos Mutuários e dos mem­bros da Copag a>~}~~ussão acerca dos pre­juízos sofridos pelos adquirentes da casaprópria desde 1983, quando as prestaçõespassaram a ser reajustadas acima da varia­ção salarial. Estima-se em Cr$ 65 milhõesas perdas dos mutuários até julho de 1984,com a aplicação dos índices de 130,42% e1'<)1% (julho de 1983 e 1984).

Até hoje o argumento das autoridadesde governo ao discordar da reposição dasperdas dos mutuários "é sua inviabilidadejá que as projeções feitas pelo BNH para odecênio 85-94 mostram uma FCVS incapazde cobrir suas responsabilidades, sem consi­derar o bônus e tendo incorporado às suasentradas os aumentos das contribuições dosmutuários e dos agentes fmanceiros imple­mentados até 9 DL-2.164, inclusive".

As verdadeiras razões da atual situaçãodo FCVS não são divulgadas pelo BNH que,segundo a Coordenação Nacional dos Mu-

tuários, não admite que a contribuição daUnião (em tomo de Cr$ 2 trilhões) viriajustamente cobrir o atual "rombo" e nãogerar recursos para medidas que resolves­sem a inadimplência dos mutuários. "Estequadro revela a necessidade de reformula­ção profunda de toda a sistemática de fi­nanciamento da casa própria implantada apartir de 1970, que teria seu primeiro tes­te em 1985 com o vencimento massivo decontratos. Mas, faliu antes" argumentou acoordenação.

Uma Nova Política

A equipe de planejamento de Tancre·do Neves tem em mãos um documento en­tregue pela Coordenação Nacional dos Mu­tuários, datado de 4 de fevereiro, que refle"te os objetivos do movimento e suas pro­postas para uma nova política habitacionalno Brasil. "Partindo da luta contra o au­mento abusivo e ilegal das prestações da ca­sa própria, através de ações judiciais que le­varam o BNH ao banco dos réus, o movi­mento dos mutuários sente a evidência deque a sua luta está intimamente ligada a detodos os segmentos populares da nação",declarou a Coordenação.

A política habitacional efetivamentedemocrática deve assumir o déficit de habi­tação no país, de 1°milhões de unidades,

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"Há necessidade crecursos orçamentári(para a construção cmoradias para as comIdas debaixo renda."

ção das residências e da sua infra-estruturbana. "A consecução destes objetiatingirá não só o Sistema Financeiro da Ibitação, mas o mercado imobiliário, as j

mas de apropriação do solo residencialorganização produtora dos componel1construtivos e das próprias unidades", 1

saltou a Coordenação.

Onze Medidas

Alterando fundamentalmente a polca habitacionaldos últimos vinte anos, ddo uma tônica de reorganização da pro<ção do habitat, sua distribuição e seu c'sumo, os mutuários sugerem onze medi,para o novo governo. As principais de]sem dúvida, é o rigoroso controle das aj

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,POLITICAS

Para o Novo Governouma nova Política l-Iabitacional

Associação Capixaba dos Mutuários do Sistema Nacional de Habitação -- ASCAM.

o primeiro período legislativo desteano do Senado Federal poderá trazer im­portantes novidades aos mutuários brasilei­ros. Estará em pauta nesta casa a discussãoe aprovação do projeto de lei do deputadofederal Floriceno Paixão (PDT-RS) queprevê "a manutenção do Plano de E9~va­

lência Salarial (PES) em sua forma ongmal,estabelece os limites máximos de compro­metimento de renda por faixa salarial, e autilização do Fiel para os mutuários desem­pregados".

A trami tação do projeto será aceleradaa depender do "loby" articulado pelos mu­tuários junto às bancadas do Senado. Porcerto que haverá resistência, mas o empe­nho do movimento dos mutuários serágrande para vingar esta proposta.

Se aprovado, o projeto do parlamentarga6cho vai "responder as necessidades emer­genciais porque fica garantido o Plano deEquivalência Salarial (PES) a todos os mu­tuários. Além disto, elimina os decretosque pennitem a execução extrajudicial e ju­dicial, e possibilitará uma redução razoávelnas prestações e participação de represen­tantes dos mutuários no Conselho de Admí­nistracão do BNH.

Uma nOva fase na relação dos mutua­rios brasileiros com o governo federal foiinaugurada recentemente. pela Coordena­çãoNacional dos Mutuarios que mantevereunião com a Comissão para0 Plano deAção do Governo (Copag) .. do presidenteeleito Tancredo. Neves. O relacionamentosai de uma etapa de sucessivos.impasses epromete passar ao nível da negociação vi­sando •chegar à elaboração da política ha­bitacional do novo governo.

Os representantes dos mutuarios leva­ramà então equipe responsavel pelo pla­no governamental de Tancredo Neves umconjunto de propostas que, se colocadasem pratica, darão um novo espectro à rea­lidade habitacional brasileira. Trata-se desolucionar um problema que envolve mi­lhões de brasileiros, prejudicados comapolítica de benefícios aos grupos financei­ros em detrimento do adquirente da casaprópria.

As questões prioritarias levadas à Co­pag tratam da necessidade do governo to­mar medidas saneadoras no plano habita-

cionaI: reconhecimento do PES extensivoaos que não ingressaram n.a justiça, revoga:ção dos crecretos nOS 2.164 e 70/66.e a lel5.741, sustação de todos os processos deexecução judicial ou extrajudicial, revisãodo programa Fiel, extinção dó esquema dobônus previsto no decreto lei 2.164 e incor­poração automatica de suas dotações aoFCVS/Fundhab, anulação da resolução17/84 (que aumenta em 30% os seguros dedanos físicos, morte ou invalidez pagospe­los mutuados), garantia da participação dossindicatos de trabalhadores no conselho cu­rador do Banco Nacional de Habitação(BNH), fim do poder de autolegislação doBNH, reconquista das prerrogativas do con­gresso, participação nas comissões de plane­jamento habitacional, le.vantamento real dasituação dos fundos do SFH e procedimen­to da analise das condições de habitaçãodos imóveis do sistema.

Sem adotar essas medidas, diíicilmenteo governo da "Nova República" vai conse­guir minimizar a gràve situação do SistemaFinanceiro da Habitação e. criar uma polí-

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Cohab/ES recomercializa imóveis

Os mutuários querem resolver a questão da habitação na Nova República.

cações das diretrizes da política habitacio­nal pelo Congresso Nacional e a transfor­mação do BHN em entidade de caráter so­cial.

Segue-se uma série de atitudes de re­levo: extil)guir a intermediaçãb especula­tiva exercida pelos agentes financeiros, as­segurar o critério de que os reajustes dasprestações tenham como limite a variaçãosalarial dos mutuários (respeitando o nívelde comprometimento de renda), submeterao controle dos assalariados o FGTS, des­centralizar os recursos financeiros, desti­nar e garantir recursos orçamentários parasubsidiar a produção da moradia às cama­das populacionais de baixa renda, asseguraro caráter social da política de locações resi­de,nciais, reformular a política do uso dosolo urbano e rural e garantir a qualidadeda produção habitacional e da infra-estru­tura dos espaços residenciais urbanos aomesmo tempo que propicia e incentiva ouso de tecnologias apropriadas e de formasalternativas de construção de baixo custo.

"Os mutuáriospedem ao novogoverno o fim daautolegislação

do BNH."

o processo de produção do habitat se­rá reorganizado com o engajamento das po­pulações na produção de habitações e nocontrole de sua distribuição. Prevê a Coor­denação Nacional, a substituição da orga­nização técnica e so~ial de produção e re­produção, estabelecendo-se novos tipos deorganização na construção das unidades re­sidenciais. Ao mesmo tempo, criam-se tam­bém as condições para a intensificação daprodução pela possibilidade de acionar pro­gramas de construção, simultâneos, em to­das as localidades carentes. "O desenvolvi­mento de uma assistência ·eficiente e bemdistribuída, poderá apoiar o desenvolvi­mento ·'de processos racionais de constru­ção rápida e barata, e a pesquisa de tecno­logia simplificada poderá oferecer soluçõespara a produção de componentes construti­vos em série", conclui a Coordenação Na­cional dos Mutuários fechando o leque dasoportuníssimas considerações apresentadasà Comissão para o Plano de Ação para oGoverno do presidente Tancredo Neves.

A Cooperativa Habitacional doEspírito Santo (Cohab-ES) ultrapassouos limites da Lei e deu início a um pro­cesso de recomercialização dos imóveisque apesar de fechados são mantidoscom prestações quitadas por seus pro­prietários. A alegação de Fernando Re­zende, presidente interino da Cohab, éque "esta medida está sendo adotada pa­ra evitar especulação imobiliária".

Aos que desconhecem a legislaçãoespecífica sobre o assunto, a Cohab es­taria correta ao tomar esta decisão. Po­rém a Assessoria]urídica da Associaçãodos Capixabas Mutuários -Ascam -, es­tá preparada para, de público,demonstrara verdadeira natureza da medida de co­operativa. "Não' temos conhecimento dequalquer respaldo legal que permita àCohab recomercializar imóveis. E se ine­xiste este poder, o mu tuário que sofreuesta medida poderá receber de volta suacasa, como garante o contrato ou TOC(termo de ocupação e compra)".

Até mesmo a direção da Cohab teminseguranças quanto à legalidade da re­comercialização de imóveis. Pelo menos,foi isto que transpareceu durante o epi­sódio em que ela tent~u recomerciali­zar o imóvel da mutuária zilma Eny doRosário, o apartamento 201 do edifí­cio Amazonas, no Conjunto Habitacio­nal André Carloni (Serra).

Mesmo com o proptietário originaldo imóvel mantendo regularmente asprestações, a Cohab, usando do pressu­posto que o apartamento está desocu­pado, acabou por ,vendê-lo a terceiro. Ofato tornou-se público por denúncia dapropriei~ária lesada e imediatamente acooperativa recuou de sua posição, de-

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Jales Júnior

volvendo o imóvel ao seu legítimo do­no.

A Cohab não se dá por satisfeita.A diretoria da Cohab, Ormi Maria Littigda Fonseca afirmou recentelll;ente quetomarão "a mesma atitude" (de reCo­mercializar) com relação aos imóveis fe­chados nos Conjuntos André Carloni eBoa Vista n.

Por que os imóveis estão abandona­dos? Só no município da Serra existemsete mil unidades desocupadas. Qual omotivo desta realidade? Uma afirmaçãopode ser feita: os mutuános não residemem seus imóveis por causa da improprie­dade deles à habitação.

Os laudos periciais que foram reali­zados por técnicos da Cooperativa dosEngenheiros do Espírito Santo (Coopen­ge), ano passado, demonstram que omaterial de construção usado nos imó­veis não corresponde às especificaçõesdo memorial descritivo. A maioria dasunidades tem problema de construção,tais como: rachaduras,infiltrações, faltade escoamento d'água, alicerces insufi­cientes, etc.

A inadimplência é outro fator im­portante no abandono dos imóveis. Oalto valor das prestações (irreal inclusiveem relação à qualidade real das unida­des) provoca a retirada do mutuário quenão tem condição de arcar com as des­pesas.

Portanto, é injustificável que a Co­hab queira salvar-se lesando continua­mente os mutuários. Se o sistema finan­ceiro de habitação corroe-se em irregu­laridades e absurdos, é necessário en­carar isto de frente e buscar umasolu­ção duradoura para o problema.

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EUGÊNIO

Problemas na ocupação dasencostas e alternativas de solução

Fernando Bettarello *

*Arquiteto, Técnico em Planejamento Urbano e Coordenador dos Grupos de Estudos Urban(sticos ­GEU. do IJSN.

"14 de janeiro, 1985.Dia de muita chuva, fma,constante. Véspera de um dia histórico.Escolha de um novo presidente.No alvorecer desse dia,150 mil toneladas descemo Morro de Tabuazeiro, no maciço centraI.Bumba-meu-boi, como é conhecida a pedracausou muita'!. mortes. Ela estava na cotade nível de 120 metros e, logo abaixo, casas.Muitas; Favela de Tabuazeiro".

Es.te i ..o primeiro e, infelizmen~

te, não ser ..mo acidente nos morrosda .Grande 1 .. «a, enquanto não se partirpara soluções concretas. A Região da Gran­de Vitória apresenta topografia acidenta­da, onde asplll,nícies,afloramentosrocho-.sose elevações entremeiam-se i vales, man­gues e canais. Os assep.tanfelÍtos human.psexpandem-se geralmente nos vales e, emocupações mais recentes, também nos mor­ros. A Uha de Vitória possui um extensoafloramento rochoso do período terciá­rio, cuja área equivale a mais de um terçoda ilha, atingindo em cimade seus pontosmáximos a cota de nível de 300 metroS. Orestante da configuração espacial possuiafloramentos rochosos menores forman­dos pequenos vales ou át:eas maiores e pla.nas reswtantesde aterros.

As transformações do espaço geográ­fico .original da Grande Vitória, que atébem pouco tempo vinham se dando de ma­neira constante e muito lenta, tesultante deuma espécie de "metabolismo" do meio na­tural, vem se processando nas duas últimasdécadas de modo incisivo, alterando fun­d~mentalniente a confotnlação do meio eas vant;J.gens locaeionàis anteriores com ex­trema rapidez, sob o risco, muitas vezes, doirreversível

As vantagens locacionais de uma áreasão determinadas quando. as vantagens ur­banas se· avizinham às vantagens geágrá­ficas. Neste caso, na Grande Vitória, osmangues, os morros, e terrenos de má com­pactação, passam a ser considerados comoáreas de poucaS vantagens locacionais.e, du­rante muito tempo, permaneceram vaziosem função da ocupação das áreas planas. ecom melhores condições de ha.bitabilida­de.

A acessibilidade aos serviços públicos(escola, saúde, etc.) e ao comércio; a proxi­midade da faixa litorânea; a capacidade dainfra-estrutura instalada, associada a boaconstituição física do terreno, constituemo potencial específico devalor ede adensa­mento de algumas áreas urbanas. Assim.

são excluídos das localizações melhor seividas os grupos sociais de baixo pod~aquisitivo e, mesmo, os agentes econômcos de menor envergadura, incapazes dcustear os altos valores dos terrenos certrais.

Neste sentido, a ocupação dos temnos de menor vantagem locacional (moIros e mangues) tem sido uma alternativa;esses segmentos da sociedade.

A ocupa.ção, no entanto, tem sido dmaneira desordenada, onde cada'utll proctra os pontos de menor resistência, serqualquer preocupação com o equilíbrio epreservação ecológica desses espaços. Nomorros, a ocupação modifica a coberturvegetal, em especial de bacias hidrográficade· pequena área e localizadas em solos ddesagregação, .logo acima de rochas. crist~linas, como bacias formadoras dos cursod'água, que desciam do maciço central àilhas de Vitória. Têm os riachos origináriode. pequenas bacias de· grande declividad~

quando retirada a cobertura vegetal daáreas de entorno, a possibilidade de tend~

rem ao regime intermitente. Nestas bacÍala erosão se verifica de maneira muito maiacentuada, onde grandes declividades el1solos originários de inteperismo rochos

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Vitor Huqo-VIX

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Vitor Hugo-V IX

No morro da Gurijica,várias pedras na iminência de

desabar podem reprisaro acidente 'de 15dejaneiro...

o deslizamento da pedra"Bumba-meu-boi", pesandomais de 150 mil toneladas,destruiu dezenas de barracosdeixando um rastrode desolação no morrode Tabuazeiro.

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Mais de 50 vidas foramdestroçadas na iragédiade Tabuazelro.

causam deslocamentos de massa, além deerosão superficial muito mais intensa. Alémdisso, as enxurradas passam a carrear quan­tidades maiores de partículas do solo, oque, frequentemente, ocasiona o entupi­mento dos sistemas de drenagem pluvial co­brindo de lama as ruas da cidade.

A retirada da cobertura vegetal paraocupação, além de expor o solo à ação daschuvas e facilitar a ocorrência de desbarran­camento, elimina, em grande parte, o poten­cial paisagístico e seu virtual aproveitamen­to para um uso coletivo, como lazer, paraa população e pulmão verde para a cidade.

No aspecto sanitário, um primeiroponto que desaconselha a ocupação e aden­samento dos morros é a dificuldade deabastecimento d'água acima da cota de ní­vel de 50 metros.,Os reservatórios da Ce­san estão localizados na cota de nível de 50metros e o abastecimento, acima deste ní­vel, só se faz com a instalação de subeleva­tórias.

O segundo ponto a ser considerado,diz respeito à rede coletora de águas resi­duais. Declividades muito elevadas ocasio­nam grandes velocidades na rede com oconsequente desgaste das canalizações, oque obriga, nestes casos, a implantação dedeclividades artificiais, as quais exigem nú­mero elevado de poços de visita encarecen­do, sobremaneira, a implantação da rede.Como declividade limitante para a rede deesgotos deve-se considerar sempre o valorde 300/0.

Estes três aspectos citados, isto é, aconstituição física dos morros da GrandeVitória (solos de desagregação logo acimade rochas cristalinas), a dificuldade e o cus­to de abastecimento acima da cota de nívelde -50 metros e a ocupação de áreas verdescom declividade acima de 30%, nos indi­cam que: 1) não se deve permitir o adensa­mento acima da cota de nível de 50 me­tros; 2) nas áreas que ainda estejam vazias,destinar um uso coletivo que desestimulea ocupação para residência; 3) nos pontoscríticos, sujeitos à erosão, remover a popu­lação .para outra área da Grande Vitória,dando a esta área um uso coletivo.

Isto, no entanto, deve ser parte do pro­cesso. O:simples 'controle de densidade ou aproibição de ocupação em áreas acima detal cota de nível ou tal declividade não re­solve o problema. Novos espaços devem serabertos para recolher, tanto a populaçãoque a cada dia se urbaniza mais rapidamen­te, o crescimento da atual população urba­na, como para'os grupos sociais de baixopoder aquisitivo que não têm acesso à mo­radia (entendida no sentido amplo, comosendo o somatório de habitação e equipa­mentos coletivos). Muitas áreas livres naGrande Vitória (excluídos os morroS emangues) são bloqueadas ao uso social es­pecífico, para atenderem ao uso especula­tivo da simples e pura valorização fundiáriado espaço edificável. Essas áreas livres sãoos chamados "vazios urbanos", isto é, es"paços infra-estruturados, cercados por ativi­dades urbanas, mas sem qualquer uso.

A ocorrência desses vazios, além de di­ficultar q atuação dos órgãos encarregadospela instalação de serviços públicos, implicana incapacidade dos governos, municipais eestadual em responder pelos programas deinfra-estrutura básica, já que os custos uni­tários são multiplicados na proporção daestocagem de terras.

Em trabalho recente, elaborado a pedi­do do BNH, foram detectados, na GrandeVitória, o espaço compreendido entre orio Jucu, contorno da BR-l Dl e Jacaraípe,aproximadamente 7.sob ha de vazios urba­nos e infra-estruturados, ótimos para ocu­pação urbana. Com uma densidade baixa(residências unifamiliares), estes vaziosabrigariam uma população em torno de1.500.000 pessoas, isto é, o dobro da atualpopulação da grande Vitória.

Quando é proposta a não ocupação,nas situações expostas anteriormente, dosmorros e mangues, a alternativa passa pelafunção social da terra. Estes espaços va­zios devem ser ocupados. Deve ocorrer umtrabalho conjunto entre União e Municí­pio, onde estes últimos usariam a atribui­ção específica de taxar as glebas vazias com

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um imposto progressivo, forçando para q\esses terrenos tenham maior utilidade.União caberia, através do BNH, ir adqlrindo estes vazios e neles implantar progrmas para baixa renda, como o Profilurb cimplantar novos programas baseados rConcessão Real de Uso. A partir de unnova redistribuição dos tributos (refomtributá~ia) os municípios e os Estados dvem implantar programas que tenham c'mo objetivo ocupar esses vazios, com USlque lhes dêem uma função social. A renvação para esses espaços das populaçõ,que atualmente ocupam áreas críticas sit,ando nos mOrros e mangues, deve ser udos objetivos.

Esses pontos críticos devem ser corigidos e neles serem implantadas ativid.des públicas que atendem ao coletivocom isso, impedir que ocorra novamenteocup,!-ção residencial.

A primeira vista, pode parecer que n~

existem recursos para se viabilizar essa proposta. No entanto, a urbanização de OClpações feitas em mangue (p. ex.: bainSão Pedro / Santa Rita - custos estimad<em 19133 para obras de aterro e infra-estr1tura giraram em torno de Cr$ 2.000.00para cada lote de 80 m2 - Maria Ortiz), onos morros (o. ex.: contenção de,encostasbombas de recalques, etc.) tem um custmuito mais elevado, e na maioria das vzes não resolve,' do que a aquisição de glbas vazias e da implantação de program,especiais, que têm uma situação duradoUJe com melhores condições de habitabildade.

Existem alternativas de soluções, o qlfalta é o compromisso político. Com o incio de um novo momento político torna-~

uma questão central ter como objetivo cpolítica urbana, a alteração do processo b:~ico relo qual ~ e~paç,o urbano se ~ro~uze soclalmente dtstnbUldo e consumIdo;

É necessário assumir a política urbal1como a estratégia de alteração das bases dprocesso urbano para ",~ransformá~lo nUImecanismo de distribuição de renda reaPortanto, a política urbana, no limite, p<de constituir-se na política social por eXCllência, e ocupar posição importante ncplanos do Governo e na mobilização poltica. Nela passará a ser fundamental a que:tão de como 'prover sistematicamentehabitação e os serviços urbanos essenciaao atendimento das necessidades mínimade todas as camadas da população. Portarto, isso significa alterar as condições dprocesso imobiliário urbano, alterar a pr<porção do excedente econômico control<do pelo Estado a ser transformado em sulsídios à habitação e aos serviços públicc-, e alterar a gestão do aparelho de Estadresponsável por estas questões.

Page 22: Revista IJSN - Ano IV - Nº 2 - 1985

Fundação Ceciliano abreespaço para o escritor capixaba

Reinaldo Santos Neves *

*Responsável pela Editoria da Fundação Ceciliano Abel de Almeida - FCAA

A Fundação Ceciliano Abel de Almei­da está começando, agora em 1985, o seusétimo ano de atividades editoriais. E pare­ce importante assinalar que, durante esseperíodo, ou seja, desde 1979, vem se man­tendo como única instituição capixaba adedicar-se formalmente, entra ano e saiano, à edição de livros autenticamente capi­xabas. Isso não significa que a FCAA quei­ra eSsa exclusividade, essa espécie de mono­pólio. Mas o fato é esse, e merece registroquando se analisa o trabalho da FCAA. Sim­plesmente não há como negar à Fundaçãoo mérito de ter sustentado, nesses seis anos,praticamente sozinha, o encargo de confiarno livro capixaba e investir nele. Sem aFundação, a literatura e a historiografia ca­pixabas, já por si tão pobres, seriam certa­mente mais pobres em um número substan­cial de títulos de grande importância.

Porque a FCAA, por uma questão delinha editorial, só existe para o livro capi­xaba. O que não é tão rígido quanto podeparecer, já que dentro da categoria livro ca­pixaba abre-se um leque um tanto amplo,que permite a inclusão não só do textoes­crito por autor natural do Espírito Santo(ainda que, como Rubem Braga e Geir Cam-

pos, se tenham radicado em outros Esta­dos) como também por essa figura meio in­definida que é o autor radicado no Espíri­to Santo (portanto capixabizado). Permi­te a inclusão, também, de um estudo deimportância sobre assunto capixaba, escri­fo inclusive por autor estrangeiro. Essa é,basicamente, a linha editoria>l estabelecidapela FCAA. Uma política que se desdobra,na prática, em quatro coleções específicas.Estudos Capixabas, que inclui exatamenteo que o seu nome indica. Letras Capixabas,que incorpora 'toda a literatura capixaba(conto, romance, poesia, sátira, crônica),escrita por bons autores do presente e dopassado. Livro do Aluno, que inclui tex­tos didáticos para uso nas salas de aula uni­versitárias. E a caçula, a Coleção Taruíra,inaugurada em fins de 1984, de literaturainfanti1. (A escolha do nome Taruíra, umregionalismo, reflete bem a preocupaçãodominante na FCAA de valorizar até essenível de detalhe, sempre que possível, acultura capixaba).

Dentro dessas coleções, a FCAA temfeito de tudo um pouco; um pouco quequeremos crer já pode ser considerado umacervo, um patrimônio, um iIl~~.~tário..i~~pressa do pensamento c3;pixaba';eq.~~®ve­

nha a ser cada vez muito mais ainda.Num apanhado geral, o que foi feito

de mais significativo de-tudo-um-pouco?

A FCAA recuperou licou um do-cumento huma e t rdinário interes-se, fonte primá studo da imigra-ção estrangeira no , que é Memóriasde um imigrante italianô,de Orestes Bis­soli; reeditou livros clássicos como Insur­reição do Queimado, de Afonso Cláudio,Canoeiros do Rio Santa Maria, de;.Ribasda Costa, a originalíssima Gramática por­tuguesa pelo methodo confuso, de Men­des Fradique; publicou estudos de alto ní­vel sobre diversos aspectos da cultura doEspírito Santo, como a História do teatrocapixaba, de Oscar Gama, e o Romancei­ro capixaba, de Guilherme Santos Neves;

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Textos capixabas raros1. Braz Rubim. VOCABULÁRIO BRASILEIRO (1853)2. Pessanha Póvoa. LEGENDAS RELIGIOSAS DA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO

SANTO (1869)3. Azambuja Susano. A BAIXA DE MATHIAS (18S9)4. Azambuja Susano. COMPÉNDIO DE GRAMMÁTICAPORTUGUEZA(1851)5. José Marcelino Pereira de Vasconsellos. JARDIM POÉTICO. la série (1848);

2a série (1850).6. Anônimo. BRAZILIAN IMPROVEMENTS, MORE PARTICULARLY AS

REGARDS THE PROVINCE OF ESPÍRITO SANTO (1825).7. Edgard Wtlberforce. BRAZIL VIEWED THROUGH A NAVAL GLASS (1856)lt Hugo Wernicke. DEUTSCH -r- EVANGELISCHES VOLKSTUM IN ESPÍRITO

SANTO (1910)9. Misael Pena. O LIVRO NEGRO (1874).

10. Antunes de Sequeira. A PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO (1884)11. Manoel Jorge Rodrigues. FUGITIVAS (1883)12. \\Uliam John Steains. AN EXPLORATION OF THE RIO DOCE AND ITS

NORTHERN TRIBUTARIES (lM8)

Todos esses textos encontram-se à disposição dos in·teressados, em. microfilme, na Biblioteca Central daUFES. O texto de Steains foi publicado na Revista doInstituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, edi­ção de 1984,. em tradução executada pela Editora daFCAA.

publicou nomes já consagrados de hossaliteratura, como Renato Pacheco e os ex­patriados Geir Campos e Rubem Braga(~ste. n~ma co-edição com a Sedu/ES, quedlstnbUlu grande. parte da tiragem entre asescolas da rede oficial de ensino); reuniuem livro, graças ao trabàlho do Prof. JoséAugusto Carvalho, a poesia quase toda des­se mito da literatura capixaba que é Audí­fax de Amorim; reuniu em livro, pela pri­meira vez, os contos de Fernando Tatági­ba; revelou o talento de gente como Ber­nadette Lyra e Luiz Guilherme Santos Ne­ves; acreditou no autor jovem, vários delesalunos da própria Universidade, como Se­bastião Lyrio, Flávio Sarlo, Paulo RobertoSodré e Sérgio Luiz Blank (este último emedição alternativa); institui concurso literá­rio anual, com alternância de gênero de anopara ano (contos, romance, poesia), que re­velou o talento de Adilson Vilaça; sem es­quecer de antologias como Poetas do Espí­rito Santo (organizada por Elmo'Elton) eduas antologias de autores novíssimos, reu­nindo textos produzidos em oficinas lite­rárias da Ufes, Ofício da palavra e Traçosdo ofício; co-editou, com a civilização Bra­sileira, Benedita Torreão da Sangria Desa­tada, de João Felício dos Santos, que ro­manceia a história trágica da revolta dosescravos de São José do Queimado, na Ser­ra, em 1849; além de vários outros títulosfora de coleção, como Escritos sobre osescrit~ .. ck Lacan, de Tania Chulan, Histó­rias de um vellio pescador, de Deomar B.Pereira, Expressão de cerâmica em São Ma­teus, de Lilian Siegle e Elizabeth Pereira,Cartões a Lálace, de Almeida Costa Cour­sin, etc.

Uma preocupação constante da FCAAé possibilitar o ingresso do autor capixabano cenário literário nacional. Isso, por en­quanto, só é possível através de uma políti­ca de co"edições com editoras de grandescentros, que contam com um bom esque­ma de promoção -e distribuição do livro. AFCAA teve algumas experiências nesse sen­tido, co-editando com a Civilização Brasi­leira, com à Achiamé e mais recentementecom a Rocco. É uma política que a FCAApretende intensificar sempre, acalentandoaté o remoto (mas será impossível?) sonhode produzir o boom do livro capixaba nestepaís.

Além de co-edições com editoras defora, a FCAA desenvolve tàmbém uma po­lítica co-editorial com instituições diversas,geralmente sediadas no Espírito Santo. Is­so permite à Fundação publicar maior quan­tidade de títulos. Pois a FCAA se mantémàs suas próprias custas (e não, como muitagente pensa, às custas do orçamento daUfes), e de sua receita é que provêm osre-

"Com O surgimento daeditora da FundaçãoCeciliano Abel de Almeida,a literatura capixaba deuum salto simultaneamentequalitativo e quantitativo.É que não basta escrever'um livro. Só a publicaçãogarante um retorno críticoao autor, que dele sebeneficiará noaperfeiçoamento de suasobras subsequentes. "

Oscar Gama FilhoEditora FCAA

cursos para os seus vários projetos. O Ijeto Editoria é um, apenas um, dentrerios que a FCAA desenvolve. De forma,os recursos para o programa editorial sinvariavelmente, escassos. Diga-se de pagem que a FCAA tem uma série de texde alta qualidade, já aprovados pelo Co!lho Editorial, que não foram publicadoso momento por falta de verba. Um ex,pIo são os textos de contos premiados cmenção honrosa no concurso literário1983, de autoria de Marcos Tavares eguel Marvilla, até agora inéditos. Umaedição é, portanto, uma alternativa sembem-vinda. E ao longo dos seus seis anosatividades a FCAA tem co-editado cmuitas instituições sensíveis a esse tipoinvestimento (como a Fundação J ôrTristão, a Secretaria da Educação e Cu:ra, a Funarte, a então Fundação Culttdo Espírito Santo, a Quimetal, a Casalal, a Prefeitura de Santa Leopoldina). I

laboração preciosa recebemos da AracCelulose, que·· nos doou papel para edcerca de uma dúzia de livros. Essa conjução de esforços e interesses é realmentetal para a sobrevivência de um projeto l

torial amplo no Espírito Santo. E um Fjeto dessa natureza é vital para a sobri.vência dos estudos e das letras capixal

Porque os textos estão aí, textoshoje e textos de ontem. Os autores capibas não param de produzir, e cada vez

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mais gente produzindo coisa melhor. Para­lelamente, a FCAA promove frequentespesquisas no sentido de localizar e recupe­rar textos de interesse para a nossa culturaque não existem, nos arquivos e bibliotecasdo Estado. Esses textos geralmente são lo­calizados em instituições como a Bibliote­ca Nacional, o Instituto Histórico e Geo­gráfico do Brasil, o Museu Nacional, eadquiridos pela FCAA em microfilmes, queficam à disposição dos interessados na Bi­blioteca Central da UFES. Muitos dessestextos poderiam ser editados, e não o sãopor essa falta de recursos que obriga à de­finição de uma rígida escala de prioridades.

É importante esclarecer que a FCAAtambém executa serviços gráficos em cará­ter comercial, ou seja, imprime (mas nãoedita) vários livros para diversos autores ouinstituições. Esses livros não levam a égideda FCAA, não se incluem em nenhuma desuas coleções, não foram submetidos liapreciação do seu Conselho Editorial. Sãointegralmente financiados pelos responsá­veis pela publicação, e o único envolvimen­to da FCAA nesses casos é de caráter gráfi­co.

o ano de' 1985, apesar das mudançaspolíticas salutares, será um ano difícil parao Brasil como um todo. De modo que nãose poderá esperar da FCAA uma programa­ção editorial consideravelmente mais inten­sa que a de 1984. No entanto, a Fundaçãopretende acrescentar às suas várias coleçõesuma série de bons títulos, como os livrosde poemas de Luiz Busatto (Bicho antro­polde) e Valdo Motta (Eis o homem), já noprelo, e os de Renato Pacheco (Cantos deFernão Ferreira), Carlos Chenier (Vitória25) e Oscar Gama (Despedaçado ao espe­lho), já programados, além de um romancede Amylton de Almeida (Autobiografia deHermfnia Maria). A série infantil terá tam­bém prioridad'e; com alguns títulos já pro­gramados, como O verdureiro que virou cioentista, de Renato Pacheco, biografia deAugusto Ruschi para crianças, e Históriasde bichos contadas pelo povo, de Hermó­genes Lima Fonseca. Já está no prelo~:t:s­

tudo de Elmo Elton, Tipos populares,i,de"Vitória. A Editora Rocco, com a qual aFCAA editou a Grammatica, está interes­sada numa co-edição da História do Brasilpelo methodo confuso, do mesmo MendesFradique (pseudônimo do médico capixabaMadeira de Freitas, falecido em 1944).

Complementarmente, a FCAA daráinício à publicação de uma revista literáriaaberta à colaboração de todos os autorescapixabas (o prazo para remessa de origi­nais expira no dia 29 de março). E promo­verá, pela terceira vez, o seu concurso literá­rio, que este ano premiará texto de poesia.

Coleção letras capixabasVolumes já publicados

I. Fernando Tatagiba. O SOL NO CÉU DA BOCA, contos2. Bemadette Lyra. AS CONTAS NO CANTO, contos.3. Renato Pacheco. FUGA DE CANAÃ, romance.4~ Audifax de Amorim. POEM.t\.S.5. Elmo Elton. POETAS DO ESPÍRITO SANTO, coletânea.6. Geir Campos. CANTAR DE AMIGO, poema.7. Luiz Guilherme Santos Neves. A NAU DECAPITADA, romance.8. Flavio Sarlo. NAS RAÍZES DO GRITO, poemas.9. Sebastião Lyrio. TIGRES DE PAPEL, contos.

10. Bemadette Lyra. O JARDIM DAS DELÍCIAS, contos.11. Renato Pacheco. REINO NÃO CONQUISTADO, romance.12. Adilson Vilaça. A POSSÍVEL FUGA DE ANA DOS ARCOS, contos.13. Reinaldo Santos Neves. AS MÃOS NO FOGO: O ROMANCE GRACIANO.14. Mendes Fradique. GRAMMATICA PORTUGUEZA PELO

METHQOO CONFUSO, sátira.15. Paulo Roberto Sodré. INTERIORES, poemas.16. Rubem Braga. CRÔNICAS DO ESPÍRITO SANTO.

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ESTUDOS &PROJETOS

Sub-emprego ou longas jornadas sãoas opções que restam ao trabalhador

IÍ/[aria Célia Chaves Ribeiro *Maria Cristina Alvarenga Táveira **

o treinamento de mão-de-obra na periferia está longe de suprir as necessidades da pbPulaçã

* Socióloga, Técnic() do IJSN**Economista, Tecnico do IJSN

Estes dados foram levantados na "Pes­quisa do Trabalhador", realizada em agostode 1982 em Porto de Santana (Cariacica),Santa Rita (Vila Velha), Maria Ortiz e San­ta Tereza (Vitória), abrangendo uma popu­lação de 46.950 pessoas. A Pesquisa doTrabalhador é urna das metas dó sub-proje­to Pesquisa e Treinamento no setôr in­formal, integrante do Projeto Cidades dePorte Médio, financiado pelo Banco Mun­dial.

Nosso objetivo, ao trabalhar estes da­dos, é tentar analisar a composição da for­ça de trabalho, sua parcela ocupada e de­socupada e o grau de sua utilização nasáreas pesquisadas.

Inicialmente temos que considerar os'limites deste trabalho. Em primeiro lugar, adefasagem de dois anos e meio que nos se­para da época em que os dados foram le­vantados e, em segundo, a limitação espa­ciál da cobertura da pesquisa. Em relaçãoao tempo, consideramos que as alteraçõesmais significativas que possam ter ocorrido,no que diz respeito à força de trabalho re­sidente nas áreas abordadas, foram no sen­tido de ampliar o desemprego e a sub-ocu­pação e aumentar o grau de utilização daparcela ocupada da força de trabalho. Es­ta conclusão está baseada no acirramentoda crise econômica nos dois últimos anos ena política de arrocho salarial que se man­teve no período. Quanto à limitação espa­cial, acreditamos serem as áreas pesquisa­das, de um modo geral, representativas darealidade da periferia da Grande Vitória.

Ao falarmos de força de trabalho, nosreferimos à população que está em condi­ções de participar do processo de produçãosocial.

Não fazem parte da força de trabalhoos que se vêem impossibilitados de traba­lhar por motivos de idade, saúde e social(os presos) ou os que não desejam se incor­porar na divisão social do trabalho por ra­zões pessoais, tais como: posse de meios desubsistência ou dedicação à atividades in-

dividuais, como trabalho doméstico ou es­tudo.

Entretanto, nem todos que fazem par­te da força de trabalho efetivamente traba­lham. Os que trabalham compõem a suaparcela ocupada.

Cabe, porém, ressaltar que na parcelaocupada da força de trabalho eXistem cate­gorias que poderiam nem ser classificadascomo tal devido às suas características.Uma das categorias a se destacar é a dossub-ocupados e, a outra, a dos ocupadosem atividades domésticas remuneradas.Consideramos sub-ocupadas as pessoas quetrabalham menos do que uma jornada com­pleta e que têm condições de trabalhar porum período maior do que realmente o fa­zem.

Já os empregados em atividades do­mésticas remuneradas foram ressaltadospor não participarem da divisão social doTrabalho e, portanto, não contribuem parao produto social. Singer propõe, quando osdados permitem, não os incluir na parcela

ocupada da força de trabalho. No nosso cso, não os excluiremos por termos priolzado a questão do emprego e não daprodção social, embora estejamos considerancimportante observar a relação entre for,de trabalho e a produção social.

A parcela desocupada da força de trbalho é composta pelos desempregad,"visíveis", ou seja, os que estão ativamenem busca de emprego, e pelos que não pcsuem ocupação.

Além de observar a composição da foça de trabalho, resolvemos também levatar algumas questões sobre o grau em qltem sido utilizada. A ocupação, a desocpação e sub-ocupação fazem parte de urrquestão de interesse social e, como tal, n~

pode ser desvinculada da produtividadeda própria atividade. Não temos dados paanalisar a produtividade, mas temos algUlindicadores que nos sugerem em que grauforça de trabalho está sendo utilizada e degastada.

Adotamos três indicadores do grau c

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POPULAÇAo DE 15 A 64 ANOS POR OCUPAÇAO PRINCIPAL SEGUNDO OS GRUPOS DE IDADEJULHO DE 1982

AREAS'PORTO DE SANTANA, SANTA RITA, MARIA ORTIZ E SANTA TEREZA

TRABALHADORPROCURANDO JÁ AFAZERES OETENTO eSTUDANTE APOSENT. ou VIVE DE DOENTE OU

SEM .OCUPAÇÁOFAIXAS DE TOTAL

TRABALHO TRABALHOUDAOB~~f~C:~

PENSlONISTA RENDA INVALIDOIDADE

AS$. I AEL AB' REL. ABS REL AOS. AEl. R'L A" AOS. REl. A"

Total 31,785 t7.894 56,2 1.485 ... 1.285 '.0 7.919 24,9 0.0 5.' 1.271 " 8B 02 1,0 99' 3.1

15a19anos 6.441 2"" 99.5 '"., 99' '.1 1.031 1M 0,0 25,3 . 0.0 0.0 O•• '" 10,1

20a241lnos 6.219 3.721 59.' 487 7,' "" 7.0 1.642 26,4 0.0 13' 2' 19 O., ,.; O., -174 27

26 Il 29 anos 5.142 3.202 62' '" '.1 ~, 1.579 30.7 0.0 19 O.' " O., 0.0 0.7 " O.,

:30 11 34amn 238. B7P 97 '.7 " " '" 26,9 4 O,, 63 1.7 0,1 O.• 0.5

35aJ9an01 2.746 1.812 65;9 '" 1.' '" 1.9 700 ,.. 4 O,, 4.5 O., " 1.1 13 O.'

40<1 440nO$ 2.371 1.535 64,7 30 1.' 29 '" 26,1 0.0 , 0.0 6.0 O., .. 2.0 10 O••

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5Oa54anm 1-615 a77 "',' " 1.' " 13 425 26,3 , 0,1 1~' 20 1.2 " 1.7 1.4

55a59anos 43,0 15 1.3 15 1.3 29' 26,8 241 22.4 16 1,4 36 3.' 1.3

6Oa64anos 767 '''' 33.1 5 0.6 5 0.6 196. 'OS 2" 33.3 0.9 " 2.7 29 "

Nos subúrbios, a presença das feiras livres é uma opção de menores preços e trabalho.

utilização da força de trabalho. O primeiro,a sua remuneração, a contrapartida do tra­balho que permite a manutenção e repro­dução do trabalhador. O segundo, a exten­são da jornada de trabalho, que permiteavaliar a intensidade de sua utilização. Porfim, a aposentadoria precoce que indica aidade em que é excluída da força de traba­lho por motivos, em geral, dedesgastes ocacsionados pelo próprio trabalho. A aposen­tadoria precoce é assim encarada pois, nãosendo por idade, dificilmente será por tem­po de serviço. Isto porque, embora umaparcela significativa da população destasáreas comecem a trabalhar cedo, levando-seem conta principalmente a origem rural deseus moradores, a maioria não tem compro­vação de tempo de serviço, visto a práticade não se assinar a carteira, no campo. As­'sim sendo, presumimos que as causas possí­veis são, na maioria dos casos, decorrênciade acidentes de trabalho ou doenças'ocasio­nadas por insalubridade no ambiente' deserviço ou que se desenvolvem devido àsprecárias condições de alimentação, habi­tação, saúde, etc, que os salários baixos im­põem.

Dimensão da força de trabalho

Consideramos como limites de idadeda força de trabalho 15 e 64 anos. Estabe­lecemos em 15 anos o ingresso na força detrabalho visto que entre 10 e 14 anos 80%da população estuda, sendo que a taxa má­xima de 86%, presentes aos 10 e 11 anos,começa a decrescer aos 12 quando atinge84%, chegando aos 71% aos 14 anos, cain­do para os 48% na faixa etária que vai dos15 aos 19 anos. Além disto, apenas 4% dapopulação entre 5 e 14 anos trabalha, sen­do este índice de 7,9% entre 10 e 14, sal­tando para 39,5% quando consideramos ogrupo de idade seguinte (15 a 19 anos).

Já o limite máximo, de 64 anos, foiestipulado levando-se em conta o decrésci­mo da população que trabalhava quandoobservamos a faixa de 60 e 64 anos (33.1 %Je comparamos com a de 65 e 69 anos(19,5%). Além disto, entre estas duas fai-

xas o numero de aposentados ou pensionis­tas cresce de 39,8 para 61,8%.

Como podemos observar na tabela 1,temos 31.785 pessoas entre 15 e 64 anos.Destes descontamos os doentes ou inváli­dos, os aposentados ou pensionistas, os quevivem de renda e os que se dedicam aos afa­zeres domésticos e estudo; temos 20.371pessoas, que constituem a força de traba­lho nas quatro áreas pesquisadas.

Descontando os 1.845 moradores queestavam procurando emprego e os 992 semocupação, temos 17.894 pessoas trabalhan­do, ou seja, a parcela ocupada da força detrabalho.

Formando a parcela desocupada daforça de trabalho estão os outros 2.477moradores, que representam 12,2% da for­ça de trabalho.

Na parcela ocupada consideramos co­mo sub-ocupados os 1.257 que trabalha­vam até 80 horas mensais, o que represen­ta uma jornada diária de três horas e 33 mi­nutos para uma semana com cinco diasúteis. Poderíamos incluir a faixa de 80 a120 horas mensais neste cálculo; entretan­to, como o limite de 120 horas representacinco horas e 18 minutos diários, conside­rando a semana com cinco dias úteis, pre­ferimos não incluir os 800 trabalhadores

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nesta faixa, temendo superestimar o núme­ro de sub-ocupados.

As atividades domésticas remuneradasenglobam 1.290 pessoas, compostas por1002 empregadas domésticas, 720 lavadei­ras e passadeiras e 198 faxineiros. Não con­sideramos os faxineiros que trabalham emlocais públicos ou privados pois, embora te­nham se incluído nesta categoria, são, defato, serventes e participam da divisão soci­aldo trabalho.

Assim, 17,7% da parcela ocupada, ou15,6% da força d~ trabalho, é compostapor sub-ocupados em atividades que nãocontribuem para o produto social. A ocu­pação da força ée trabalho é bem distintase compararmos à situação dos homenscom a das mulheres.

Para 16.102 homens de 15 a 64 anos,14.142 constituem a força de trabalho mas­culina, o que representa 69,4% da força detrabalho total. A parcela ocupada da forçade trabalho masculina é composta por12.585 trabalhadores, ou 88,9% da forçade trabalho masculina.

Em sua parcela pada temos1.061 procurando trab 496 sem ocu-pação. É interessante ta ém obsf'rvar quea faixa etária onde se verifica a maior utili­zação percentual da força de trabalho é dos30 anos 34 anos. Nesta faixa, para um to­tal de 1.837 homens, 1.778 constituem aforça de trabalho e 1.703 trabalham,ouse­ja 95,7% da força de trabalho deste grupode idade.

A dimensão da força de trabalho femi­nina já estabelece a primeira grande dife­rença em relação a força de trabalho mas­culina. Numa população de 15.683 mulhe­res de 15 a 64 anos, apenas 6.229 constitu­em a força de trabalho feminina. .

O envolvimento de 50,2% das mulhe­res de 15 a 64 anos com os afazeres domés­ticos é o principal responsável pela exclu-

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A prática do biscate não tem idáde é éuma alternativa para o desemprego.

são da força de trabalho de parcela tão sig­nificativa de mulheres.

Cabe lembrar aqui que deveriam serexcluídas da força de trabalho somente asque participam de atividades individuais e~

além disto, não desejam trabalhar. Comonão temos este dado, salientamos que a for­ça de trabalho feminina pode estar subes­timada, bem como sua parcela desocupada.Isto por que muitas das mulheres que exer­cem atividades domésticas prefeririam tra­balhar em atividades remuneradas e não ofazem.

A parcela ocupada da força de traba­lho feminina é de 85,2%, incluindo 5.309mulheres.

Das mulheres que trabalham, 36,2%realizam as atividades domésticas remune­radas, não participando, portanto, da divi­são social do trabalho.

A parcela desocupada da força de tra­balho feminina é composta por 424 mu­lheres que procuram trabalho e 496 quenão possuem ocupação, perfazendo um to-tal de 920. .

A faixa etária que apresenta maior nú­mero relativo de mulheres ocupadas é a dos40 aos 44 anos, ou seja, 10 anos após a ob­servada entre os homens. Nesta faixa, em555 mulheres que compõem a força de tra­balho, 545 totalizam sua parcela ocupada,ou seja 98,1%'

Observamos que quase a metade dostrabalhadores, ou seja, 48,3% recebem en­tre um e dois salários mínimos. Somandoeste percentual com os 27,1% que ganhamaté um salário, temos que 75,4% recebematé dois salários mínimos.

Levando em consideração que a taxade dependência é de 2,6 temos que a remu­neração para a manutenção e reproduçãodo trabalhador é precária.

Quando consideramos a jornada de tra­balho, observamos que 70% da populaçãoocupada trabalha mais que 240 horas men­sais, o que significa uma jornada de mais de9 horas diárias numa semana com seis diasúteis. Esta carga horária atinge inclusive63% dos que recebem entre meio a um salá­rio mínimo e praticamente a meta4e (49%)dos que recebem entre um quarto e meiosalário.

Em relação a aposentadoria precoce,abordaremos apenas a população masculi­na de 15 a 64 anos. Agimos assim pois co­mo os dados disponíveis agregam aposen­tados e pensionistas, no caso das mulheres,

devido ao seu baixo e tardio ingresso nforça de trabalho, os resultados podem sreferir à pensão que recebem e não à apcsentadoria. O índice de aposentados na pcpulação masculina em idade de trabalho ccmeça a ser significativa na faixa dos 35 ao39 anos quando 5,8% já se enquadra nestcategona. Este índice sobe progressiv:mente passando para 7,4% na faixa SI

guinte (40 a 44 anos), atingindo 11,4% ertre os 45 e 49 anos e chegando a 18,6% ngrupo de 50 a 54 anos. Nas duas últimafaixas, de 55 a 59 anos e 60 a 64 anos, oíndices sobem para 30,6% e 39,8%, respe(tivamente. Apesar dos índices serem altcnestas duas faixas, devemos levar em corta que nestas idades já é possível a aposertadoria por tempo de serviço.

Conclusão

Em linhas gerais podemos dizer que cdados apontam para duas direções.

De um lado, observamos uma taxconsiderável de desempregados e ociosc(12,2%) que somada aos sub-ocupados atirge 18,3% da força de trabalho. Além dcsub ou desocupados temos 50,2% de mllheres entre 15 e 64 anos excluídas volurtariamente, ou não, da força de trabalhpor se dedicarem aos afazeres doméstico!Neste sentido, sabemos que é significativo potencial não utilizado da força de trab,lho.

Por outro lado, fica claro a intensidadcom que a parcela ocupada da força de tnbalho é utilizada ao constatarmos a jorn,da de trabalho de 70% dos que dela partcipaIll; o desgaste apontado na aposentad<ria precoce e as condições de vida que têrque se sublPeter devido aos baixos salário:

COMPOSiÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

NAS ÁREAS DE PORTO DE SANTANA,SANTA RITA, MARIA ORTIZ

E SANTA TEREZA - JULHO DE 1982

Total Total!U;U Absoluto Relativo

Total da Força de 20.371 100%Trabalho

Parcela ocupada da17.894 87,8%Força de Trabalho

Subocupadcs 1.257

Ocupados emAtividades remuneradas 1.920

Parcela desocupadada Força de ,Trabalho 2.477 12,2%

Procurando Trabalho 1.465

Sem Ocupação 992

POPULAÇÃO QUE TRABALHA POR FAIXAS DE RENDIMENTOSEGUNDO AS HORAS TRABALHADAS NO MÊS DE JULHO DE 19!J2

ÁREAS: PORTO DE SANTANA, SANTA RITA, MARIA ORTIZE'SANTA TEREZA

HORASFAIXAS DE RENDIMENTO NO MES

TRABALHADAS ATÉ DE 1/4a DE 1/2 a DE 1 a 2 DE 2 a 3 DE 3a 5 DE5a10' MAIS DE 101/4SM 1/2SM 1 SM SM SM SM SM SM

NOMESABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS·IREL. ABS. I REL.

Total 845 100 1.258 100 2.280 100 8.712100 2.199 100 1.772 100 400 100. 101 100

Até 40 horas 317 37,5 IU'I', 16,1 114 5,0 168 1,9 74 3,4 10 0,6 12 '3.0 10 9.9

De 41 a 80 horas 131 15,5 82 6,5 99 4.3 191 2.1 17 0,8 27 1,5 - - - -

De 81 a 120 horas 54 6,4 14611.6 212 9,3 194 2,2 11 0,5 26 1,4 4 1,0 - -

De 121 a 160 horas 54 6,4 114 9,1 26811,8 605 7,0 133 6,0 100 5,6 18 4,5 - -

.. De 161 a 200 horas 52 6,2 90 7.1 150 6,6 627 7.2 93 4.2 132 7,5 24 6.0 4 3.9

De 201 a 240 horas - - 2 0,2 - - 110· 1,3 114 5.2 42 2,4 14 3,5 2 1,9

Mais de 240 horas 237 28,0 621 49,4 1.43763,0 6.817 78,3 1,757 79,9 1,43581,0 328 82.0 85 84,3

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opanorama urbano sofre alteraçãocom o parcelamento intensivo do solo

Terezinha Guimarães Andrade *Rômulo Cabral de Sá **

riência dQ Instituto J ones dos Santos Ne­ves, como orgão responsável pelo exame eanuência prévia, é indiscutível, sobretudoporque contribuiu para a formaçã()de umaequipe técnica que, hoje, além de desenvol­ver as atribuições exigidas para a aplicaçãoda lei estadual, vem assessorando sistemati­camente as prefeituras na elaboração de sualegislação urbanística (perímetro urbano,parcelamento do solo, código de obras,posturas, etc).

Por ,sua vez, o parcelamento do solonão pode ser visto como um instrumentode controle da ocupação, de forma isolada.,A própria lei federal trouxe alterações bas­tante benéficas nesta interpretação, .quandodispôs a obrigatoriedade de definição, ,porlei municipal, da área urbana e de expansãopara a ocorrência do parcelamento dO,solo.

Assim, o perímetro urbano deixou de

Especulação imobiliária não respeita a legislação do parcelamento...c..:"

estadual deverá estabelecer normas comple­mentares a que ficarão sujeitos os projetosde parcelamento do solo.

Ao exercer essa competência, o Estadodo Espírito Santo promulgou a lei 3.384 de27 de novembro de 1980, dispondo sobreas normas a que deverão se submeter os pro­jetos de loteamento e desmembramento,nas áreas identificadas como de interesseespecial (distritos litorâneos, áreas de pre­servação das lagoas e de mananciais) e naaglomeração urbana da grande Vitória,atribuindo a Coplan - Coordenação Esta­dual de Planejamento -, e posteriormenteao Instituto Jones dos Santos Neves (De­creto nO 1.519 - N, 15/03/1981), a com­petência para exame anuência prévia àaprovação municipal.

Já decorreram, portanto, cinco anosda promulgação da lei estadual e a expe-

*Mestre em Direito. Técnico em Planejamento do JJSN**Engenheiro Civil, Técnico em Planejamento do JJSN

A inexistência de uma legislação decontrole da ocupação urbana e a prática in­tensiva do parcelamento ~o solo tem con­tribuído, sem dúvida, para a transformaçãodo panorama das cidades, gerando gravesproblemas urbanos.

Em vigor até fins de 1979, a,gilongo demais de 40 anos, o Decreto Lei 58, a nívelfederal, não estabeleceu qualquer imposi­ção urbanística para o parcelamentp do so­lo, limitando-se apenas à proteção de direi­tos dos compradores dos lotes a prestação.

A partir do segundo semestre destemesmo ano de 79, surgiu um projeto de leisobre parcelamento do solo, de autoria dosenador paulista Otto Lehmans, rapidamen­te aprovado pelas comissões técnicas e peloplenário das duas Casas do Congresso, qua­se sem alterações, transformando-se na Lei6.766 de 19 de dezembro de 1979.

A lei 6.766 trouxe, em grande parte deseus dispositivos, alterações importantes enecessárias num quadro histórico marcadopela absoluta ausência de normas de con­trole da ocupação urbana.

Em se~ capítulo I, a lei 6.766 estabe­lece definições de loteamento e desmem­bramentos; proíbe o parcelamento parafins urbanos realizado fora das zonas urba­nas e de expansão urbana definida por leimunicipal, assim como em terrenos impró­prios à urban~zação (alagadiços, inundá­veis, aterrados com material nocivo à saú­de, com declividade acentuada ou onde ascondições geológicas oU,iiecológicas nãoaconselham a ocupação) e transfere para osgovernos estaduais uma função de granderelevância, condicionando a aprovação dosprojetos de parcelamento do solo pelos mu­nicípios ao exame e anuência do Estado,envolvendo, entre outras áreas, as de inte­resse especial, áreas de mais de um milhãode metros quadrados, bem como aquelas si­tuadas em aglomerações urbanas.

A competência estadual, atribuída pelanova lei, ressalta claro o interesse do estadoem controlar o crescimento urbano, quan­do esse assume um caráter supra-local.

Entretanto, para exercer a competên­cia que lhe foi atribuída, o poder público

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ser, a bom tempo, somente um instrumen­to tributário, para transformar-se, também,em um dos ih~f~S~mentos ~econtrole docrescimento urb~no, imp~~1tdo a ocorrên­cia do parcelamento do solo para fins urba­nos naS áreas rurais e restringindo a ocupa­ção (áreas de proteção).

Contudo, a soluçiip,dos problemas ur­banos não se limita apenas às questões nor­mativas. O Instituto Jones dos Santos Ne­ves, no assessoramento às prefeituras paraelaboração da legislação urbanística, en­frenta problemas que prejudicam"muitasvezes, a qualidade dos trabalhos. Dentreeles, podemos citar, principalmente, a defi­ciênciil- de uma cartografia básica e o desa­parelhamento de pessoal técnico das prefei­turas.

A maioria dos municípios não dispõede um levantamento plani-altimétrico, pos- PROPOSTAsuindo, algumas vezes, somente plantas ca-dastrais baseadas em levantamentos expedi-tos, acarretando um elevado grau de'impre­cisão quando utilizados para o planejamen­to físico-territorial. Para que o perímetrourbano funcione efetivamente, enquanto

"A maioria dosmunicípios não

dispõe de levantamentoplani -altimétrico. "

instrumento de controle urbanístico, comdelimitações precisas da área urbana, é im­prescindível a existência de uma cartografiabásica com elementos plani-altimétricos.

O Instituto Jones dos Santos Nevestem contornado parte destes problemascom utilização de fotos aéreas do Institutode Terras e Cartografia (levantamento aé­reo/1978) que, ao inverso das plantas ca­dastrais de imóveis, oferece informaçõesde relevo, além da complementação de in­formações com visitas in loco. Entretanto,este processo, por exigir intenso trabalho(ampliação ou redução de plantas obtidasa partir de fotografias aéreas, levantamen­to de loteamentos e mapeamentos), temcomo consequência, na maioria das vezes,o atraso no atendimento das demandas.

Outro fator de dificuldade apontadona elaboração e aplicação da legislação ur-

o banística, se refere ao desaparelhamentotécnico das prefeituras que, por suas pre­cárias condições financeiras, quase semprenão podem dispor de um engenheiro ouarquiteto no seu quadro de pessoal técni- .co.

28

OCLIMITACÃO

'METRO,

DOS MJNICPIOS LI

ITAPEMIRIM

NO\

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No momento das elaborações dos do­cumentos urbanísticos é importante e ne­cessário a particípação e acompanhamentoconstante de técnicos municípais habilita­dos, por serem os trabalhos desenvolvidospelo Instituto J ones dos Santos Neves, ape­nas de assessoramento; e princípalmente,porque estes técnicos deverão ser responsá­veis pela efetiva aplicação desses documen­tos, uma vez aprovados pela Câmara Muni­cípal.

Portanto, o Instituto Jones dos SantosNeves vem orientando as prefeituras da ne­cessidade de contratação de profissionaispara a própria garantia de aplicação dos do­cumentos normativos e, na hipótese da im­possibilidade financeira de algumas prefei­turas, ~ugerindo a contratação de um úni­co profissional para atendimento de doisou três municípios, repartindo, assim, oônus financeiro.

Para este ano, o Instituto J ones dosSantos Neves programou a realização de s'e­minários locais com vistas a discutir aspec-

"Como prioridade,de verão serinicialmenteatendidos

os municípioslitorâneos".

tos relativos ao parcelamento do solo, obje­tivando a participação da comunidade,além de órgãos municípais e entidades in­teressadas, para a melhor compreensão esolução de seus problemas.

Como prioridade deverão ser inicíal­mente atendidos os municípios litorâneos,por constituírem áreas de interesse especialdo Estado e, acíma de tudo, pelo seu valorambiental e turístico que, por sua vez, temgerado crescente especulação imobiliária.Posteriormente, os seminários deverão seestender aos outros municípios do Estado.

Além da realização de seminários, seencont.ra programado a elaboração de car­tilhas ou manuais de orientação referentesa parcelamento do solo, saneamento, pro­teção de encostas e tributação, com lingua­gem adequada, visando fornecer à comuni­dade de modo geral informações básicasnestas áreas.

Constrói-se dessa maneira, gradativa­mente, uma ordem urbanística, na qual ofato urbano começa a ter tratamento ade­quado à nível nacional, regional e local.

Loteamentos litorâneos comprometendo o potencial turístico.

o panorama das cidades se modifica com os loteamentos constantes.

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Lobão

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- Cc! '()epoimento:Ar"ltônio Misse

de Cachoeiro de Itapemi

f,

«,~~tl···p(ll( flcout~ti~_!i!!!!·!l

FIor~s' .por seis,

com tracoma· eUfem, c"~ccc

lutamos e imploramos à~

des brasilei.fj 5

barcasse, mas'i0nO governo de Washington

!!M;+ijk</tt~Jt/'" c <!Ui" c.

pagou Q sua pas&.ta ao Líbano e nunca t1JQi$g~

_cc~_- ,

'... "vImos.

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A trajetória do rríigrantellbanês no Espírito Santo

Mintaha Alcuri Campos *

Adelaide e Noêmia migraram em busca de casamento.

*Prof. Assistente do Departamento de História da Universidade Federal do Esp{rito Santo.

o Lloano esteve subjugado ao Im­pério Otomano até meados do sécu­lo xx. Algumas das principais ra­zões que impeliram os libaneses aoprimeiro grande surto imigratórioencontram-se na condição desse do­mínimo e nas diversas formas de es­poliação a que estiveram sujeitos:um regime fundiário de herdeirosprivilegiados, o fracionamento ,ex­tremo de terras, a exploração fiscale a deficiência administrativa eramfatores que conduziam à pobreza. Ocultivo em pequenos lotes, em todaa região, não bastava para sutentaras famI1ias, em sua maioria muitonumerosas. A Coroa turca determi­nava seus próprios cobradores deimpostos, extorquia a população ea obrigava ao serviço militar, quan­do convocada.

Em 1914, a representação tur­ca contra os árabes conheceu extre­mos. Ocorreram centenas de enfor­camentos. Ao lado dos alemães, naguerra, a Turquia convocava os do­minados para o exército. Não foipor outra razão que, nesse ano, aimigração árabe tenha assumido asmaiores proporções. Servir o exér­cito do inimigo, do opressor, eracondição insuportável para a maio­ria dos libaneses.

Durante a segunda metade doséculo XIX e as primeiras décadasdo século XX, grande número d'e li­baneses emigrou P3lra diversos paí­ses da América, Africa e Europa.Foi unia verdadeira diáspora, queabalou toda a vida social e econômica doLíbano. A maioria era composta de cris­tãos, os mais perseguidos do domínio tur­co. Paralelamente os fatores relativos à do­minação turca, outras razões que ocorre­ram constituíram aspectos condicionantesdo movimento imigratório nesse período.

A decadência das indústrias tradicio­nais, por exemplo, prejudicadas com aabertura do Canal de Suez, desembocou naentrada de produtos mais baratos e reveloua imigração como uma saída, uma fuga daconcorrência. Libaneses imigrados, por seu

lado, forneciam meios e incentivos aos pa­rentes e amigos para que fizessem o mesmoe escapassem aos problemas que enfrenta­vam. A' crença num "Eldorado", reveladanas cartas e relatos de amigos e parentesque acreditavam na fortuna fácil que erapossível fazer na América, operava comofundamento idi1ico para a partida.

A força dessa visão é notável se consi­deramos a condição de uma região castiga-

da por constantes vissitudes polítcas, onde a guerra é um espectrsempre presente e onde o regime,dpropriedade, até há pouco vigentldificultava a posse da terra à maicparcela da população.

Após a guerra de 1914, as mgrações foram determinadas basie<mente por razões de ordem econémica.

Como se não bastasse (J quadrde obstáculos e dificuldades esboç;do, é necessário lembrar ainda qUlem 1914, uma epidemia de tifo m.tava uma média de 40 pessoas pcdia e uma onda de gafanhotos asselou o país. Fatores que, sem dúvid,apressavam a saída daqueles que imgravam por motivos de ordem poltica e ideológica, vinculados à lutnacionalista.

Na realidade, a grande massa dimigrantes buscava no exteriorpleno aproveitamento de sua cap;cidade e iniciativa.

A fixação dos libaneses no Eipírito Santo, no início do séculxx, não está definida com exatdij:o, ~specialmente no que se ref,re à q].lantidade de libaneses que sestabeleceram nesse período. Prov<velmente, em todos os livros carteriais do Estado, será possível encortrar registros relativos à presença d,libanês. A própria confusão entrturco, sírio e libanês, manifesta in

Arquivo clusive nos documentos da époc2dificulta sua identificação.

Encontramos, em registro caltorial, um processo de hipoteca no nomde Felício A!cure, no ano de 1902, e o dJosé Felix Tannure, em 1903, num proce!so de arrendamento de terra. Esses imigrantes encontravam-se em Alegre. No entantcatravés de entrevistas, tivermos conhecimento de que o imigrante Miguel Simão teria chegado de Minas Gerais para essa região, por volta de 1880. Em Cachoeiro dItapemirim, por seu turno, foram registra

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Alguns libaneses fizeram fortuna comercializando café.Arquivo

dos, em 1902, os filhos gêmeos de AntônioMussi.

De qualquer modo, foi a expansão docomércio interno e a subsequente constru­ção de ferrovias, ligando Cachoeiro de lta­pemirirn a Vitória e a Niterói, e Vitória aMinas Gerais, que vieram impulsionar omovimento imigratório libanês.

Por outro lado, a fundação de vilas ecidades no sul do Espírito Santo e seu cres­cimento posterior seguem de perto a pros­peridade decorrente da lavoura cafeeira.Acompanhando esse movimento esteve oimigrante libanês, não vinculado direta­mente ao sistema, mas executando ativida­des paralelas ao setor cafeeiro, de maneiramais discreta, ligando-se a compradores decafé, torrefadores, beneficiadores e mesmoalguns agricultores.

. As vilas e cidades formavam um mer­cado consumidor natural e o crescimentoda população urbana permitiu a prolifera­ção do pequeno comércio, com os arma­zéns de secos e molhados, a farmácia, asvendas de tecidos, os armarinhos e bares.

Ampliou-se a massa de trabalhadoresnão qualificados, biscateiros e ambulantes.Nessas atividades envolveram-se os primei­ros imigrantes libaneses, no interior do Es­pírito Santo. Eram moços solteiros, vindosde zonas rurais e vilas.

Vim para o Espírito Santopara trabalhar na fazenda deum primo em São José doCalçado. Fui pedreiro nodistrito de Café (Alegre) e

depois instalei-me no Alegre,onde estou até hoje na minha

uCasa Centenário".(Jamil Amin)

Os imigrantes libaneses que chegaramem seguida, anteS de tudo, estavam,dispos­tos a agrupar-se junto a familiares, até quepudessem superar as dificuldades iniciais deadaptação, através de um melhor ajuste 'àscondições de vida e trabalho. Ademais, oparentesco sempre representou forte víncu­lo entre os libaneses.

Solteiros e jovens em sua maioria, osprimeiros imigrantes libaneses que chega­ram ao Espírito Santo não possuíam di­nheiro. Por isso, tornaram-se mascates, jáque tal Qcupação não requeria capital, poisa mercadoria podia ser obtida a crédito eseu escoamento era rápido e lucrativo. Jun-

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tando O capital suficiente, esses primeirosmascates, apelidados "turcos", começavama trabalhar por conta própria. No interior,abriam lojas e armazéns em pontos estraté­gicos e, na capital, lojinhas e armarinhos.

Ainda hoje, a origem árabe do termomascate permanece desconhecida. Em1507, quando os portugueses auxiliadospelos libaneses cristãos, tomaram a cidadede Mascate, na Arábia, porto da costa suldo golfo de amam, conservaram-na sobseu cóntrole até 1659. Os portugueses quepara lá seguiram levaram mercadorias parafazer troca ou barganha. Regressando aPortugal, eram chamados "mascates", nãocom o intuito de menosprezo, mas devidoao seu comércio de mascate. O vulto do

Com seu baú, que era verdadeira feiraambulante" o mascate percorria vilas, cida­des e fazendas. Na prática de suas ativida­des comerciais, propagou os acontecimen:tos nacionais e estabeleceu elos de nature­za vária. Facilitou a circulação de rique~~,aproximando o produtor industrial do con­sumidor, o pródutordó consumidor debai­xa renda. A falta de transporte e as enor­mes distâncias entre os grandes centros e>aspequenas vilas facilitou a proliferação des­se mascate e a sua permanência no interiordo Estado.

Os comerciantes estabelecidos em Vi-

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tóna sempre reagiram à mascateação. Nosperíodos de maior crise, aumentava o índi­ce de ambulantes. Então, os filiados da As­sociação Comercial pediam maior atençãopara a mascateação que se espalhava portoda a cidade, exigindo da entidade umapelo à prefeitura para coibir aquela ativi­dade.

O mascate libal).ês esteve presente emtodo o território capixaba. A maioria doscomerciantes mais antigos de Vitória ini­atual mascate era o de "ma.tracar", vocá­bulo ainda de origem árabe, dados aos li­baneses que mascateavam no Brasil duran­te os séculos XVII e XVIII.ciou a vida profissional com o comércioambulante. Muitos' deles chegaram a tor­na.r-se grandes comerciantes, industriais eempresários.

A maioria deles orgulha-se desse fato.Um próspero negociante de Vitória, negouo início de sua vida no Brasil atrilvés do co­mércio ambulante e, no entanto, o ,seu no­me apareceu durante anos nos talonáriosda Prefeitura Municipal de Vitória.

A família de Miguel Simão é um exemploda família migrante próspera.

Mohamed Cade, depois demascatear ao longo do Rio

Amazonas, veio se estabelecerem Caparaó, depois se

transferindo para GuaçuÍ,onde vive até hoje, já comquase 100 anos de idade.

(Salomão Cade)

A década de 1920 foi o período deconsolidação do comércio libanês no muni­cípio de Cachoeiro de Itapemirim, no suldo Estado. No ano de 1920, a populaçãolibanesa de Cachoeiro era de 2.981, contra42.840 brasileiros natos. Nessa. época, os li­baneses chegaram a monopolizar o comér·cio varejista e atacadista, especialmente ode secos e molhados.

A mobilidade dos libaneses para Ca-

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choeiro foi favorecida, em certo momen,tlexatamente por sua condição de cruzamelto de vias férreas e como escoadouro cprodutos da região.

Como centro de convergência, foi tanbém cidade-dormitório. Os viajantes de orgem libanesa, e mesmo as outras nacionaldades, faziam o comércio na periferia e penoitavam em Cachoeiro de Itapemirim, quoferecia melhores hotéis e maior confortl

As mesmas atividades comerciais relcionadas nos talonários de Vitória: foralencontradas nos de Cachoeiro.

Os libaneses não se fixaram na sede dmunicípio. Estabeleceram-se nos distritoNo distrito de Castelo, no ano de 1928, v;mos encontrar treze comerciantes e,em Vigínia, ao mesmo ano, sete. Em Vargem Ata, no ano de 1927, há registro de nove ccmerciantes libaneses.

Relações de casas comerciais que f;ziam propaganda de seus esta.beleciment<e produtos podem ser encontrados em rivistas e em livros sobre o município de Gchoeiro.

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DISTRIBUIÇÃO DE IMIGRANTES LIBANESES EM TRÊS MUNICJPIOS DOESPÍRITO SANTO, SEGUNDO A RAZÃO PRINCIPAL QUE OS

LEVOU A EMIGRAR

Razões para Emigrar Alegre Cachoeiro de Vitória TotalItapemirim

Desejo de enriquecer 12 10 11 33Espírito de aventura 6 4 8 18Parentes radicados no Brasil 8 10 14 32Ameaça de guerra 2 3 5Perseguição política 2 3 5Desilusão amorosa 1 1Libertação do jugo familiar 1 1 2Veio passear e ficou 2 2 4Perseguição religiosa 1 1Acesso à propriedade fundiária 2 1 3

Fonte: Arquivo Municipal de Vit6ria, hvro 315,referências na 116, 159' e 459.

1044430

"terra". No entanto, apesar desse propósi­to de retorno poucos puderam fazê-lo.

A idéia de retorno ficou comprometi­da, de imediato, com as dificuldades encon­tradas em sua chegada e no período deadaptação enfrentado e, especialmente,com a crise no Oriente Médio em 1949. Apartir de então, os propósitos de regresso àcomunidade de origem tornaram-se menosviáveis ou até menos vitais.

Sinais de incorporação definitiva à so­ciedade brasileira podem ser observadosnos casamentos mistos, que a partir da 3ageração de libaneses passam a registrar di­minuição expressiva dos traços de endoga­mia. Isto, mesmo em cidades pequenas,passou a ocorrer com muita freqüência.

O mais importante, porém, foi obser­var que o processo de adaptação e de inser­ção do imigrante libanês à sociedade brasi­leira, com base no estudo do Espírito San­to, significou antes de tudo um processo delibertação.

Sua acomodação e adaptação gradati­vas correspondiam à sua liberação da condi­ção de dominado, vivida por tanto tempo.O estereótipo "turco pobre, sírio remedia­do, libanês rico" criado pelo brasileiro, foiassumido e incorporado por esse imigran­te. Aqui no Brasil, cumprir essa trajetória,além de enfrentar as dificuldades de adap­tação e de obter a afirmação social, signifi­cava conquistar a integridade perdida coma dominação turca e com as crises posterio­res.

A recuperação de sua identidade, com­prometida enquanto povo oprimido, expt1l­so de sua terra. O que se podia conquistar,mais do que a riqueza, era a liberdade.

30TOTAL

Dados coletados através de entrevistas.

, ,

1911 4 1927 2 1933 141912 10 1928 40 1937 71913 12 1929 19 1938 111914 11 1930 19 19391915 10 1931 34 1940 8191.6 8 1932 23 1941 4

Meu pai se estabeleceu emVitória com um tio,

desligando-se, tempos depois,para abrir seu próprio negóciocom a Firma A. Buaiz & Cia.,no ramo de secos e molhados.

Implantou as primeirasindústrias em São Torquato,

quando alí ainda era ummangue.

(Luiz Buaiz)

RELAÇÃO DE AMBULANTESUBANESESCADASTRADOS EM VITÓRIA ENTRE OS ANOS DE

I9II AI9I6' 1927 A I9:H'E 1937 A 1941

A dificuldade dos primeiros momentosforam desaparecendo à medida em que seadaptaram e se firmaram economicamente.'Essa fase concretizou-se quando o imigran­te fixou seu negócio próprio.

Para a maioria dos libaneses, a sua esta­da no Brasil era transitória. Procuravampoupar o máximo para voltar para a sua

Os prédios adquiridos pelos libanesesestiveram sempre localizados no centro dacidade e em zona comercial, já que serviam~o mesmo tempo de comércio e residência.A medida que se desenvolviam no cõmér­cio ou na pequena indústria, aplicavam oseu capital na compra de imóvel. Exami­nando os talonarios de impostos, vamos en­contrar libaneses que, nessa época, pos­suiam mais de 12 casas.

Como resultado imediato, o desejo deenriquecer permeou todos os movimentosde adaptação e todos os passos de constru­ção da sua vida nesse país.

De outro lado, durante muito tempo,esse imigrante dispendeu os esforços pos­síveis para libertar-se da situação de "tur­co", apelido que, antes de tudo, lembravasua condição de oprimido.

O discurso do imigrante libanês estabe­lecido no Espírito Santo revela três mo­mentos distintos de sua vida no Brasil, a sa­ber: a chegada com o passaporte turco, omomento da adaptação econômica e o esta­belecimento de um negócio próprio ou afir­mação em torno de uma atividade econô­mica específica.

O imigrante refere-se aos primeiros mo­mentos vividos no Brasil e confronta suasexperiências com as informações recebidaspor parentes e amigos, sobre as dificuldadesdo enriquecimento fácil.

Ao chegar com um passaporte turco, opassaporte do opressor, enfrentou o despre­zo que o apelido "turco" provocava. Noocidente, turco era sinônimo de bárbaro.Ser chamado assim, especialmente para odominado, era "suprema humilhação".

O imigrante libanês julgou ter resolvi­do sua situação de inferioridade após aguerra de 1914, quando pôde desfazer-sede sua identidade de "turco". Mesmo como Líbano submetido à França, essa novaidentidade não lhe pesava demasiado, já queeste país constituía modelo para todo oOcidente. Nesse momento, todos foramchamados "sírios".

Prova disso é que em todos os docu­mentos cartoriais que tivermos acesso, en­contramos o designativo "sírio" para todosos libaneses registrados. Numa certidão deidade, chegamos a encontrar "Rachid denacionalidade síria, nascido em Beyrouth".

O fato é que ser chamado "sírio" jánão incomodava tanto, embora o libanêsalmejasse recuperar definitivamente suaidentidade. Muitos julgavam tê"lo consegui­do especialmente após a sua ascensão so­cial quando então propagavam a todos:"sou libanês, vocês não conhecem geogra­fia"? E os nacionais respondiam: "prá mimtodos são turcos".

35

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o trabalhador llvrebrasUeiro:à margem do Sistema Escravista-ES

Gilda Rocha *

*Prof. Adjunto do Departamento de História da Universidade Federal do Espfrito Santo.

"Saõ José do Calçado. Sr. Redator do'Cachoeirano'. Vi no seu jornal de 27 de fe­vereiro próximo passado um artigo assina­do pelo Sr. Antônio Ferreira Martins, quenão posso deixar de responder, visto queaquele senhor naõ contou a nossa negocia­çaõ com todo o pe de verdade; assim poispara que o público possa fazer um juízocerto vou narrar-lhe a verdade.

Em junho de 35, é verdade ter me con­vidado o Sr. Ferreira, para eu ir morar emsua situaçaõ denominada - Bemposta - fa­zendo ali derribadas para plantar café quedepois de certo tempo, me pagaria à razaõde 100 $ 000 por mil pés; e também deu-meconsentimento para que eu edificasse umapequena casa para eu morar com o meu gen­ro. Depois de ter eu feito uma derribada eter dado já o princípio do plantio do café;feito a dita casinha que me foi concedida edisposto a continuar a encher toda a derri­bada de café, é quando o senhor Ferreirafaz venda da dita situaçâó ao sr. ManoelXavier, e logo incontinente intima-me paraque eu procurasse outro cômodo, visto quetinha efetuado a venda do sítio.

Propus-lhe entaõ que ele pagasse osmeus serviços em sua situação que o maisbreve possíveZ"iprocurava outro cômodo,nisto combinamos a meter dois homens decritério que passaram a fazer a louvaçaõ demeus serviços, o que montou 65$000, naõentrando o meu trabalho de 2 alqueires dederribada.

Não aceitou o sr. Ferreira a avaliaçaõ,pretextando que não pagava a casa 1{Ístoque dela naõ precisava, e assim que pagaria25 $000 do café, o que eu também naõquis aceitar a sua proposta, porque o maiorprejuízo era meu.

Logo em seguida, manda-me o sr. Fer­reira intimar-me para o juiz de paz, a fimde conciliarmos sobre o recebimento dos25 $ 000, o que declarei em juízo que nãoos recebia, porque tinha direito a mais ou­tras benfeitorias. E como o sr. Ferreira quediz ter tanta razaõ e justiça nâó prosseguiusua ação?

É certo o que diz S. S.: Ninguém poderecusar a entrega da propriedade alheia semque incorra nas penas da lei. É verdade, sr.Ferreira; mas é quando essa obstinaçâó é

o presente. trabalho é parte integrante da'tese de mestrado intitulada "ImigraçãoEstrangeira no Espírito Santo- 1847/1896". Defendida em 15 dejaneiro de 1985 na UniversidadeFederal Fluminense.

feita por meios violentos, e querendo sub­trair direitos de propriedade, o que o S. S.sabe que nunca, nem ao menos de leve pas­sou-me pela idéia, eu só quero que pague­me o meu trabalho que custou-me muitosuor, que S. S. terá o gosto de me ver pelascostas. Para eu plantar mantimentos comodiz S. S. que foi sua permissaõ, não precisa­va fazer uma derribada de 2 alqueires, poistem em sua fazenda (como chama S. S.)muita capoieira, que daria menos trabalhopara roçar.

a que fica dito é pura verdade do nos­so trato verbal, porque infelizmente apesarde muitas vezes pedir-lhe por escrito, nuncaS. S. teve tempo de passar-me. Março de

1887. Evaristo José Martins."l

Esta carta, publicada no jornal "O Ca­choeirano", ilustra bem a situação do tra­balhador livre brasileiro dentro do sistemaescravista colonial. E observemos que osfatos nela relatados se passam no ano de1887, ocasião em que a crise do trabalhoescravo já era intensa. Que dizer, então, dosanos anteriores, em que a grande lavouracafeeira, mesmo com a cessação do tráfico,ainda foi capaz de gerar condições favorá­veis à intensificação do uso do trabalhocompulsório? Marginalizado pelo sistemaeconômico de base escravagista que "repe­lia o trabalho livre, tanto nacional quantoestrangeiro,,2, era natural que o brasileiropobre procurasse sobreviver através da ca­ça, da pesca, da derrubada de árvores, etc.Como disse Nabuco, "o trabalhador livrenão tinha lugar na sociedade, sendo um nô­made, um mendigo, e por isso em parte ne­nhuma achava ocupação fixa3

, e se " ... pa­ra o branco o trabalho manual, era visto co­mo obrigação de negro" e se "a idéia detrabalho trazia consigo uma sugestão de de­gradação,,4, tal não acontecia gratuitamen­te; se a população nacional pobre se esqui-

vava ao trabalho era, certamente, comose demonstrou, porque essas próprias reições de trabalho a colocavam à margem (processo de produção ao tentar medircustos e a produtividade do seu labor ten<como parâmetro o trabalho do negro e'scIvizado. Como enfatizou Emília Viotti (Costa, "para essa população livre, trabalhna fazenda, na situação de camarada, eramesmo que aceitar a condição de escravo"E a mesma ordem econômica que nenhunperspectiva lhe abria passou a taxá-la <preguiçosa, indolente, vadia, etc. Assim dfinida, essa população pobre é, além dissvarrida do mapa na medida em que se pasa a proclamar com insistência a falta <braços e a advogar a introdução d~ estrageiros no país, seja para empregá:J.os n.grandes propriedades, seja para ocupar teras devolutas nas diversas províncias do Inpério. Este último foi o caso do EspíritSanto, Província em que a condição do trbalhador nacional livre não se constitUluma exceção à regra do que se passava n:demais regiões do país. Aproximemo-nopois, da situação específica do território cpixaba.

Grandes extensões de terrenos incult<e exiguidade da população. Eram esses <argumentos maiores das autoridades pnvinciais para justificar o atraso econômicdo Espírito Santo e sua pobreza em relaçãàs demais províncias brasileiras. No entalto, determinados pronunciamentos dess:mesmas autoridades podem nos conduziruma compreensão maior do verdadeiro silnificado da expressão "falta de braços" nEspírito Santo.

O presidente Azambuja afirmava, neinú;ios dos anos 50, que "••• a populaçãda Província, posto que diminuta em rel:ção à extensão do seu território, mal c<mum a todo o Brasil, seria bastante paIelevá-la ao grau de importância a que ot

tras tem chegado. • ...6. Mais ou mencuma década depois o presidente André Algusto de Pádua. Fleury reconhecia, iguamente, a existência de uma "populaçãdesfavorecida da fortuna" que, "em vezdalugar seus serviços aos fazendeiros, oud

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entregar-se ao trabalho pesado e fatigantede lavoura, vive na ociosidade, por lhe de­parar a pesca mais fácil e pronta subsistên­cia"? Francisco Ferreira Correa fala em"hordas errantes de indivíduos cuja ocupa­ç~o únÍCa é procurar as melhores árvorespara serem destroçadas pela impiedade domachado, ou caçar para sustentar aos de­mais que se entregam no corte devastadorde madeiras preciosas"s.

Nos pronunciamentos que acabamosde citar, nota-se que as justificativas para o-ltraso oeconômico da Província não têm seuponto de apoio apenas na "falta de popula­ção", mas, também se reconhece a, "e.xistên­cia" de uma população que não se incorro­rava ao processo de produção: uma popula­ção que, nas palavras do presidente Azam­buja, vive nas praias e "aí adormece depoi~

de empregar uma ou duas horas em reco­lher o marisco que lhe há de matar a fomedo dia,,9; uma população que, segundoCosta Pereira Junior, com "pertináci'a... sededica à pescaria, dominados dessa indolên­cia histórica que em muitas fam11ias setransmite como um legado"! o. Observa-seque para este presidente a indolência é vis­ta não somente "cqmo vocação nacional",mas também como algo que possui caracte­rísticas hereditárias.

E nem mesmo faltou, no Espírito San­to, quem acalentasse a idéia de reduzir essapopulação livre à escravidão. Outro não é osentido que se pode apreender das palavrasdo presidente Pedro Leão Velloso ao fazerconsiderações sobre a colonização nacional:

"Para ela o que entendo que se poderáfazer, fora considerá-los vadios, e como talobrigá-los a trabalhar retidos em colôniasespeciais, e sob a direção de severo regime;por vontade esta gente não se aplicará a ne­nhum viver que a tire do seu doIce far nien­te" 11 •

E, a e.xemplo do que se passava no pla­no nacional, raras eram as vozes a se levan­tarem denotando uma real compreensão doproblema, a e.xemplo do engenheiro J oa­quim Adolpho Pacca, homem integrado àsesferas da Adminjstração da Província, es­pecialmente ao serviço de colonização, e ar­doroso defensor dos núcleos coloniais depequenos proprietários que, em artigo pu­blicado em "O Cachoeirano", dizia:

"Não há deficiência de braços no Bra­sil, senão que a maior parte dos nossos Ín­colas, em falta de terras próprias,vive napecuária cultivando apenas o que é rigoro­samente necessário para a sua subsistênciade cada dia: cumpre tirá-la (sic) desse esta­do de apatia pelo atrativo da ,ropriedade,pela segurança do bemestar"l .

Ou como o responsável pelo editorialdo mesmo jornal que, ao criticar o serviçode imigração da Província pelo fato de fa-

vorecer o estabelecimento de imigrantesestrangeiros em lotes coloniais, argumenta:

" ... não fora de bom aviso incentivarcom igualdade de proteção o agricultor bra­sileiro que também precisa de terras? Pormais importantes que sejam os resultadosmorais e materiais provenientes da imigra­ção, parece-me que nada autoriza a legiti­mar o menosprezo com que se quer trataro Hlho do país, até colocá-lo em posiçãoinferior ao imigrante... O trabalhador na­cional deve merecer-nos especial cuidado,não só porque a grande propriedade contacom ele para o aproveitamento das culturase.xistentes, como ainda porque o Estadonão tem o direito de julgá-lo incapaz paralavrar a terra ao lado do estrangeiro..• Emverdade, é para pasmar como um povo queconta vadios aos milhares vai à casa alheia

d· b d d . d·,,13pe Ir raços como ver a elro men IgOE prosseguindo na mesma linha de de­

fesa do trabalhador brasileiro, o editorialcritica ainda os Avisos de 30 e 31 de outu­bro de 1888, oriundos do Ministério daAgricultura, considerando-os "duas peçasindecentérrimas que aos olhos das naçõescivilizadas porão em relevo, de um lado ausura do Estado contra os súditos mais po­bres e de outro a odiosa restrição feita emdesabono do brasileiro agricultor"!4 ,

NOTAS

1. O CACHOEIRANO, Cachoeiro de Ita­pemirim, nO 13, de 27 de março de 1887.

2. CONRAD, Robert - Os Últimos Anos daEscravatura no Brasil. Trad. de Fernandode Castro Ferro, 2a ed., Rio de Janeiro,Ed. Civilização Brasileira, 1978, p. 43.

3. NABUCO, Joaquim O Abolicionismo.Coleção "Dime nsões do Brasil", 4a ed. Pe­trópolis, Vozes, Instituto Nacional do Li­vro. 1977, p. 153.

4 COSTA. EmJ1ia Viotti da - Da Senzala àColônia. São Paulo, Difusão Européia doLivro. 1966. p. 9.

5. IBID. p. 128.6. Relatório do Presidente José Bonifácio

Nascentes de Azambuja, apresentado a As­sembléia Legislativa Provincial em 24 demaio de 1852, p. 58 (grifo nosso).

7, Relatório do Presidente André Augusto de

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O primeiro dos, avisll~, citados ameaçaYa.com as penas da lei em vigor os posseirosde terras devolutas que não legalizassemsua situação junto à Inspetoria Especial deTerras e Colonização, enquanto o segundodava permissão ao presidente da Provínciapara conceder terras aos nacionais na pro­porção má.xima de 50 famílias em cada nú­cleo que obrigasse mais de mil imigrantes.

Não bastou, como se vê, um simplesato jurídico - no caso, a lei de 13 de maio- para alterar a condição do trabalhador li­vre nacional, condição que era uma decor­rência das relações de trabalho baseadas rioregime escravista. E já dizia Joaquim Nabu­co, em 1883:

"O processo natural pelo qual a escra­vidão fossilizou nos seus moldes a e.xube­rante vitalidade d<, nosso povo durou todoo período do cresc:'mento, e enquanto a na­ção não tiver consciência de que lhe é indis­pensável adaptar à liberdade cada um dosaparelhos do seu organismo de que a escra­vidão se apropriou, a obra desta irá por dian­te mesmo quando não haja mais escra­vos"! 5

E a lei que libertou os cativos, nós osabemos, não foi suficiente para destruir aobra da escravidão, como desejou e pregouNabuco.

Pádua FIeury apresentado à Assembléia Le­gislativa Provincial, em 20 de outubro de1863, p. 35.

8. Relatório do Presidente Francisco FerreiraCorrea apresentado à Assembléia Legislati­va Provincial em 9 de outubro de 1871, p.117.

9. Relatório do Presidente Azambuja, cito p.57.

10. Relatório do Presidente José Fernandes daCosta Pereira Junior apresentado à Assem­bléia Legislativa Provincial em 23 de maiode 1861, p. 66.

11. Relatório do Presidente Pedro Leão Vello­so apresentado à Assembléia LegislativaProvincial em 25 de maio de 1859, p. 39.

12. O CACHOEIRANO, nO 7, de 17 de feve-reiro de 1884.

13. Idem, nO 51, de 30 de dezembro de 1881.14. Ibid.15. NABUCO, Joaquim - op. cit., p. 5,9.

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TRIBUNA LIVRE

Uma descrição cronológica dodesenvolvimento urbano de Vitória

Eneida Maria Souza Mendonça *

*Arquiteta-Trabalho realizado para o 40 curso de Especializaçtro em Planejamento Urbano e Region,- MEC/Minter e República Federativa do Alemanha.

o início da ocupação da ilha de Vitó­ria ocorreu em 1551 com a fundação da Vi­I.à Nossa Senhora da Vitória, i!~~e passou aabrigar a sede da capitania~.?r ~I?resentarmelhores condições de segurança que o sí­tio inicial de colonização, Vila do EspíritoSanto, localizado no continente' e ~ujeito

a constantes ataques indígenas.Em analogia ao desenvolvimento da ca­

pitania, Vitória como sede e principal nú­cleo de ocupação, acompanhou o ritmolento de evolução que caracterizou a re­gião, fruto da política de colonização im­plantada pela metrópole.

Até o século XVII, a função econômi­ca da Vila restringiu-se a atividade de pos­to intermediário, servindo a importantesrotas comerciais. É em torno do porto quese desenvolve a ocupação humana, cuja or­ganização espaCial segue o modelo medie­val de cidade: "ruas tortuosas e estreitas,seguindo a topografia da região". A leste dailha, na fazenda de Jucutuquara" área atual­mente integrant.e da malha urbana do mu­nicípio, cultivava-se, naquela época, canade açúcar, mandioca e milho.

No século XVIII, com a intenção demanter bloqueado o acesso ao interior econseqt,+~.rtemçl)l~.às minas, Vitória, pontoestratégico d~Lpené~ração, recebeu intensoaparato. militar;>onqe foram construídas ereaparelhadas cincoLfortalezas numa exten­são de cerca de 1 km. Não houve, nesse pe­ríodo, qualquer alteração em termos de ex­pansão d.o núcleo central' de povoamento;ao contrário, houve um retrocesso no pro­cesso de ocupação, tendo ocorrido inclu­sive, .a expulsão dos jesuítas e a desativa­ção de aldeias e fazendas. Porém, as altera­ções no quadro econômico da província,em finais do século XVIII, repercutiram nasede, através de modificações na sua estru­tura espacial, cuja expansão decorreu, ba­sicamente, do importante papel exercidopelo porto nesse processo de desenvolvi­mento.

Mas, em função dos próprios aspectosfísicos e naturais de Vitória, "a cidade cres-

ce sobre si mesma, não ultrapassando ain­da, o núcleo inicial, resultando na sobrepo­sição dos tecidos urbanos de diferentesépocas e na expansão em terras conquista·das dos baixios, mangues e mar".

J á nessa época, ao contrário das dese­jáveis condições de segurança que deramorigem à ocupação da região, era flagran­te a necessidade de transferência de sítiodaquele núcleo, em virtude da inexistênciade áreas urbanizáveis.

Dessa forma, em 1830 com o aterro docampinho e em 1860 com o aterro de umaárea ainda mais extensa, entre este e o Lar­go da Conce'ição, iniciou-se por parte da ad­ministração pública, um processo de "pro­dução" de áreas urbanizáveis, provocandoa descentralização dos aspectos físicos dailha. Observoucse, também, o início da ins­talação de serviços urbanos, como: rede deabastecimento de água e escoamento de es­goto pluvial, iluminação elétrica e implan­tação de linha de bonde à tração animal li­gando os bairros mais distantes da capital.

No século XX, o desenvolvimento dosítio urbano de Vitória pode ser caracteri­zado através de três etapas distintas, defi­nidas através de determinadas mudançasocorridas nos campos econômico e socialda região. Estas etapas compreendem os pe­ríodos entre o início do século até a crisede 1929, de 1930 à década de 50 e de 1960em diante.

Até a década de 20, observou-se a con­tinuidade do processo iniciado em finais doséculo anterior, como consequência da as­cenção da produção de café e, em funçãodisto, a intensificação da atividade portuá­ria.

Ocasionadas pelo acelerado processode urbanização ocorreram, neste período,diversas modificações quanto a organiza­ção do espaço da cidade, que recebeu umasérie de serviços e melhoramentos, em res­posta à demanda por novos hábitos, estilo

de vida e pelo próprio aumento de densidade da população. Houve renovação no núc1eo antigo da cidade, através da retificaçãce ampliação das vias, o que resultou na demolição de grande parte do casario existente e na transformação do traçado coloniae nos sucessivos aterros. A área mais dinámica da cidade, que até então se localizava na parte alta, deslocou-se para junto d,porto. Como equipamento urbano, surgiu,praça, elemento necessário à vida urbanapermitindo a ampliação das relações sociaie intensificando a vida cultural. ,

Á urbanização neste período ocorrelde forma tão acelerada, que provocou .nepoder público a preocupação quanto à implantação de determinados serviços, visando a melhoria nas condições de salubridades das habitações e da cidade em geralinstalando o serviço de limpeza pública, coleta de lixo e dando continuidade às obrade infra-estrutura urbana iniciadas no, final do século anterior. Havia também, a intenção de preservar as matas do Maciç'Central da ilha, que possuía diversas nascentes de água, constituindo-se em ótim,manancial para abastecimento de água potável.

A exemplo do Rio de Janeiro e outracidades em processo semelhante de desenvolvimento econômico e de urbanização, cgoverno promoveu a elaboração de planosno sentido de que o inevitável crescimentcda cidade ocorresse de forma ordenada.

O primeiro desta série de planos foelaborado ainda em 1896, durante o governo de Muniz Freire, pelo engenheiro Saturnino de Brito, que dentro de uma ótic,sanitarista de planejamento propunha ,ocupação da ilha em direção nordeste. Esta, incluía a abertura de vias, que correspondem hoje a importantes corredores d,tráfego da capital.

.O governo de Jerônimo Monteiro, posua vez, entre 1908e 1912, destacou-se pe

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la implantação de serviços de infra-estrutu­ra urbana e construção do Parque Mosco­so, no aterro do campinho.

Durante a década de 20, no governode Florentino Avidos, a construção de pon­tes de aço permitiu a ligação da ilha com ocontinente, no sentido sul. Foram construí­das novas instala,ções para abrigar o portode Vitória e, também, conjuntos habitacio­nais, promovendo a expansão do núcleourbano no sentido norte.

Como consequência da queda do café,após a crise de 1929, as obras de melho­ramentos iniciadas na capital foram inter­rompidas e o processo de urbanização deVitória ocorreu, até a década de 50, demaneira mais lenta do que no período an­terior.

No final dos anos 40, além da expor­tação de café, cacau e das últimas toras demadeira de lei provenientes do Estado, oporto de Vitóci.a exerceu importante fun­ção na comercialização de minério prove­niente de Minas Gerais, escoado através daEstrada de Ferro Vitória-Minas. Nesta épo­ca, as alterações quanto a organização es­pacial da cidade ocorreram, como em ou­tros períodos, através de aterros transfor­mando, desta vez, de forma definitiva, operfil do centro urbano.

As transformações mais significativasno panorama urbano de Vitória, no entan­to, ocorreram a partir dos anos 60 e prin-

cipalmente na década de 70, em virtude demudanças ocorridas no quadro econômicoe social do Estado, que contribuíram parao intenso processo de urbanização.

Além da função portuária, caracterís­tica intrínseca da cidade de Vitória, inten­sificou-se, a partir desta época, sua funçãode centro administrativo-financeiro e deprestador de serviços, polarizando todo oEstado, além de parte de Minas Gerais e sulda Bahia. Intensificou-se, também em Vitó­ria, a atividade industrial em função da fa­cilidade de circulação rodoviária, ferroviá­ria e marítima. Além de indústrias têxteise beneficiadoras de leite e café, instaladasnas proximidades das rodovias, destaca-seatualmente, a atividade siderúrgica, atravésda facilidade de obtenção detnatéria-primaproveniente de Minas Gerais. Dentre essaúltimas, a Companhia Siderúrgica de Tu­barão - CST, ocupa grande extensão daárea urbana de Vitória. Embora ainda nãotenha atingido sua capacidade' máxima pre­vista de produção, pressupõe-se o surgi­mento de futuras alterações nos aspectosfísicos da região, em virtude de âeitos po­luidores ocasIonados pelas atividades daCST.

A estrutura social da cidade sofreu,nesse período, radicais alterações. As ati­vidades econômicas instaladas na capitalnão foram suficientes para absorver a nu-

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A área central, ao longoda Avenida Jerônimo Monteiro,

sofreu uma radical transformação.

merosa _mão-de-obra migrante do interior,na sua maioria, não capacitada para. exer­cer tais funções. Como opção alternativa,essa população vem buscando atividadescaracterizadas como subemprego, ou aprestação de serviços informais, típicos daeconomia urbana. A característica sazonale a baixa remuneração dessas atividades im­plicam no permanente baixo poder aquisi­tivo da população e consequentemente, ca­r~ncia em termos alimentares, de saúde,educação e de condições de moradia. Atítulo de ilustração no campo das ativida­des econômicas informais, os moradores doBairro São Pedro, localizado nos mangue­zais, na parte oeste da ilha, sobrevivem emfunção do que conseguem comercializar apartir da apropriação do material "apro­veitável" proveniente do lixo coletado emtodo o município, que é naquele local de­positado. Em função dessa atividade foramampliadas as fronteiras do bairro, bem co­mo seus problemas, através de sucessivasinvasões. A atividade, iniciada em 1981, as­sumiu tamanhas proporções que originou a"Associação dosCatadores de Lixo", co­mo instrumento de organização e luta. pe­los interesses dessa comunidade.

A estrutura espacial da cidade ultrapas­sou, nesta época, os limites da ilha, atingin­do a parte do município situada no conti­nente, bem como os munic1pios vizinhosde Vila Velha, Cariacica, Viana e Serra.

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o Município de Vitóna

através de um processo desordenado deparcelamento e ocupação do solo.

A ocupação residencial na área do mu­nicípio localizado no continente teve iní­cio através de programas habitacionais exe­cutados pelo poder público, visando o aten­dimento da população de baixa renda. Mas,em função da implantação de serviços deinfra-estrutura urbana e locação de deter­minados equipamentos, a região alcançouíndice de valorização de tal ordem que nãopermitiu sua apropriação pela população àqual o programa visava contemplar. Destaforma, a população dt; menor poder aqui­sitivo passou a ocupar os morros e manguesda região (invadidos, muitas vezes, atravésde movimentos sociais organizados), eloteamentos periféricos à área urbana daaglomeração, em geral, nos municípios deCariacica, vila Velha e Serra, distantes obastante do centro de Vitória, a ponto deonerar as despesas desta população com ex­cessivos gastos diários em transporte~

A especulação imobiliária desencadea­da provocou na região mais valorizada dailha (Centro e Praia do Canto), a constru­ção de altos edifícios, descaracterizando ocentro histórico em particular e os aspec­tos naturais da cidade, já alterados pela su­cessão de aterros.

Atualmente, o município de Vitóriaapresenta praticamente a totalidade de seuterritório dentro do perímetro urbano, ex­cluindo-se para fms de preservação, apenas,as áreas de manguezais ainda existentes eaquelas localizadas acima da cota de SOm,que não possuem logradouros já cadastra­dos e serviços de rede de abastecimentode água e energia elétrica. Cónsequente­mente, a área de expansão urbana do mu­nicípio de Vitória limita-se aos vazios ur­banos ainda existentes e a estreita faixa deterra entre a cota de SOm do Maciço Cen­tral e a baía de Vitória, no contorno dailha, que vem sendo ocupada, gradativa­mente, através de "'invasões. Resta, portan­to, a ocupação das áreas contíguas ao nú­clep urbano, localizadas nos demais muni­cípios da aglomeração.

Como centro do aglomerado urbano,o município de Vitória abriga os principaisequipamentos públicos e atividades de co­mércio, serviços e institucionais, atendendoà microrregião, ao Estado e parte dos Es­tados limítrofes, de uma maneira geral.

Assim, alguns equipamentos, como re­ferentes a área educacional e de saúde, pa­recem superdimensionadas se considerar­mos apenas a população do município. En­tretanto, quanto aos equipamentos destina­dos a lazer, a região apresenta visíveis ca­rências. Os espaços destinados a esse fim, li­mitam-se a um parque público no centro da

cidade (Parque Moscoso), algumas pra'ças ea orla marítima, desprovida ainda de infra­estrutura nesse sentido. Esta deficiência édecorrente, principalmente, do desordena­do processo de parcelamento do solo semprevisão de área destinada a uso público.

Dentre os equipamentos de importân­cia sub-regional destacam-se, além de di­versos hospitais e escolas de 20 Grau, ocampus da Universidade Federal do Espí­rito Santo e o Aeroporto Eurico Salles, am­bos locàlizados na parte continental do mu­nicípio. Este último, apresenta-se inade­quadamente inserido na malha urbana, oque limita a expansão de suas atividadesalém de constituir-se em prejuízo na quali­dade de vida da população residente no seuentorno. Além de Vitória, oito municípiosbrasileiros apresentam problemas desta na­tureza, e estão sendo objetos de estudospor uma comissão criada pelo Ministério daAeronáutica. No caso específico de Vitória,em virtude dos altos custos que demanda­riam a transferência do equipamento, fo­ram propostas pela referida comissão reco­mendações restringindo usos, determinan­do gabarito de altura de edificações e esta­belecendo medidas que visem controlar adensidade populacional na área de influên­cia do equipamento.

Essas recomendações foram inseridas àLei Municipal, aprovada em março de1984, correspondente ao Plano Diretor Ur­bano do município de Vitória, que dispõesobre o desenvolvimento urbano do mes­mo. Além de conter normas sobre o exer­cício de atividades, parcelamento e zonea­mento urbano, edificação e preservaçãoambiental, o referido Plano instituiu o Con­selho Municipal do Plano Diretor Urbano,

Localizado no litoral centro-sul doEspírito Santo, possui 81 km2 de exten­saõ, sendo que 11 km2 correspondem àsilhas oceânicas de Trindade e MartimVazo Os 70 km2 restantes estão distri­buídos entre os dois distritos que com­põem o município.

O distrito sede, capital do Estado,equivale à ilha de Vitória, encravada nabaía do mesmo nome, que se constituina maior reentrância no litoral brasileiroentre o Rio de Janeiro e Salvador; pos­sui grande extensaõ de montanhas emangues. O ç/istrito de Goiabeiras equi­vale à área do município localizada nocontinente, ao norte da ilha e a ela liga­da através de pontes, possuindo relevo

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como órgão de assessoramento ao ExeCUlvo Municipal quanto aos assuntos reIativeao desenvolvimento urbano do municípi,Este conselho é composto de representa:tes de diversas entidades, relacionadas dretamente ao desenvolvimento do muncípio, estando entre eles, inclusive, menbros do Conselho Popular de Vitória (entdade que reúne representantes das divers;associações de moradores do municípioApesar de ter iniciado apenas recentemen l

suas atividades, observa-se a importância creferido Conselho, como fórum de permnente debate sobre o desenvolvimento ubano do município de Vitória, entre os cversos segmentos da comunidade.

Baseado no exposto, pode-se afirm;que a complexidade e a interrelação d:funções existentes entre os municípios (Ag~omeração Urbana da Grande Vitóriexigem que o tratamento dos problemaneles existentes, se dê a nível daaglomerção e não de forma individual ou isolacpara cada mun~cípio.

Desta forma estão senl10 tratados c

problemas da aglomeração, referentes "setor de transportes e circulação, bem c'mo, os relativos à regularização fundiária.

Tendo em vista a abrangência e o ra:de polarização que a aglomeração exerea nível regional, faz-se necessário, tambéra programação de incentivos econômicos,atividades rurais, e a locação de determindos equipamentos e serviços em centros ubanos do interior do Estado, possibilitado melhor distribuição dos mesmos no cotexto da região, aliviando a centralizaç1excessiva, hoje, incidentemente, sobreaglomeração e, mais especificamente, soba cidade de Vitória.

de característica plana e, também,ex­tensa área de manguezais.

A populaçãO total do município éde 207.000 habitantes, coincidindo coma população urbana.

Entretanto, devido ao aceleradoprocesso de urbanização por que passoua região nos últimos anos, a cidade de.Vitória constitui-se, atualmente, no cen­tro urbano mais populoso de uma aglo­meraçaõ composta de 5 municípios (Vi­tória, Vila Velha, Cariacica, Viana e Ser­ra), com 1.380 km2 de extensão. Aaglomeraçaõ Urbana da Grande VitóriaposSui uma população de 706.000 ha­bitantes sendo 694.000 correspondentesà populaçaõ urbana.

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A volta do trólebuspara o transporte coletivo urbano

Ronaldo Guimarães Gouvêa *

*Engenheiro avi! e Urbanista, da Assessoria da Presidência da Companhia de Transportes Urbanos daRegião Metropolitana de Belo Horizonte - Metrobel.

Tal como o bonde, o trólebus foi var­rido da face de um grande número de cida­des do mundo ocidental por duas razõesbásicas:

o raciocllllO simplista que levava emconta apenas o menor preço dos ônibusdiesel, desprezando-se os custos relativos àsfontes de energia, diante de um então bai­xo custo do petróleo, bem como não seavaliando os aspectos ligados à qu,alidadede vida;

- o modismo do transporte individualque propiciou, entre outros males, a de­gradação dos sistemas de transportes cole­tivos.

As coisas não evoluiram desta maneirano mundo oriental, tendo a Rússia mantidoum crescimento constante de seu sistemade trólebus até os dias de hoje, contandoatualmente com uma frota de aproximada­mente 20 mil veículos. Sua produção anualanda em torno de 2000 uni<olades a despei­to de ser um país exportador de petróleo.

No caso específico do Brasil, a falta dereposição para equipamentos importados, aausência de um eJetivo programa de fabri­cação local de componentes, a hesitação naaplicação de recursos e a falsa impressão

que o automóvel substituiria o transportecoletivo são alguns dos fatores que levaramà desativação dos sistemas trólebus namaioria das cidades, inclusive Belo Hori­zonte.

Dez anos de convivência com a amargacrise do petróleo serviram para baixar a po­eira dos desatinos cometidos em favor dotransporte individual. Isto porque',' simul­taneamente, as pressões exercidas pela cres­cente população urbana usuária e, em suamaioria, cativa dos sistemas de transportescoletivos, induziram o poder público a ava­liar a gravidade proporcionada pelos baixosníveis de eficiência dos sistemas existentes.

Essas pressões são representadas basi­camente pelo tempo dispendido pelos usuá­rios no transporte, atualmente atingindo opatamar de cinco horas na região metropo­litana de São Paulo e pelo percentual do or­çamento familiar gastos nos deslocamentosdiários "casa-trabalho", que chega a supe­rar a cifra dos 25% para um significativocontingente de nossa população.

Hoje não é mais admissível ver o trans-

Diante de um quadro conjuntural emque se depara com a ,condição de. extremaescassez de recursos e a necessidade de re­dução do consumo de derivados do petró­leo, racionalização passou a ser a palavrade ordem. E as opções atualmente feitas aonível político e tecnológico exigem refle­xão: ênfase aos sistemas de média e alta ca­pacidade para atender às populações de bai­xa renda, distribuídas nas periferias dosgrandes centros, aproveitamento das Jontesenergéticas nacionais, desenvolvimento detecnologias não poluidoras e incentivo àsindústrias nacionais.

porte público como aquela coisa rota e can­sada que ainda existe em tantas cidades domundo, o ônibus lento e malcheiroso, otrem superlotado, o antigo bonde ou o ôni­bus elétrico andando mais devagar do queos carros que impedem o seu avanço mas,antes de tudo, é necessário encará-lo comoum conjunto de f1odosde transportes re­vitalizado, atraentemente véloz e seguro.

Em 1977, um Grupo de Trabalho In-

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o trólebus pode eliminar o ônibus do centro da cidade. ..

terministerial, constituído por técnicos dosMinistérios do Planejamento, dos Transpor­tes e das Minas e Energia, concluía um rela­tório indicando como "prioridade" a ex­pansão dos sistemas de tróle bus existentesno país e a implantação à médio prazo denovos sistemas.

Atualmente, todas as cidades onde otrólebus sobreviveu (São Paulo, Recife,Santos e Araraquara) dedicam-se à recupe­ração e expansão de instalações e equipa­mentos. A cidade de Ribeirão Preto inicioua dois anos a operação de sua rede de tró­lebus e várias cidades já possuem seus estu­dos de viabilidade técnica e econômicaconcluídos ou em andamento.

Interessante é a conclusão tirada pelamunicipalidade de São Francisco (EstadosUnidos), após uma pesquisa feita pelos es­tudantes da Davis University: o trólebus éo mais econômico meio de atrair o usuáriodo automóvel. A investigação revelou que61% dos entrevistados apreciava os tróle­bus, enquanto 67% manifestava seu desa­grado pelos ônibus diesel. É bom lembrarque os modernos ônibus europeus e norte­americanos apresentam uma série de me­lhoramento que não conhecemos nos nos­sos ônibus convencionais, como direçãohidráulica, motor horizontal sob o veículocom forte proteção anti-ruído, suspensão aar, motores de maior potência, etc. Nestescasos a preocupação básica tem sido evitara poluição ambiental e ampliar as condi­ções de conforto dos usuários.

Tradicionalmente são colocados doisóbices ao trólebus: necessidade de redeaérea e suas subestações retificadoras, ge­rando inconvenientes de investimentosmaiores, menor flexibilidade do sistema ealguma poluição visual, e preço inicial maiselevado do veículo, em função de uma in·dústria nacional ainda nascente na área.Entretanto tais crÍticas comportam outraanálise, quando se depara com a tendênciaatual de veículos com maior capacidadepará o atendimento de importantes seg­mentos de demanda:

- Se a rede aérea causa poluição vi­sual, tal desvantagem fica em plano secun­dário em função das poluições atmosfé­ricas e sonora dos ônibus diesel:

- A flexibilidade dos ônibus diminuibastante com a introdução das pistas efaixas exclusivas e da rígida programaçãode pontos de parada nos corredores detransporte;

- Quanto ao preço maior do ônibuselétrico devemos ter em conta, antes detudo, a s.ua elevada vida útil. Além disso,não é razoável comparar o veículo tróle­bus fabricado no Brasil com o anacrôni­co ônibus convencional que, para tanto,

deveria ser melhorado. O ônibus Padron,a despeito das críticas normalmente a elereputadas, serviria como veículo basepara a comparação.

A propósito, diante de uma realidadenacional de milhões de quilowatts dispo­níveis, vale ponderar que não é necessa­riamente exato que a solução que neces­sita menores investimentos seja aquela quemelhor convém à coletividade.

O trólebus é considerado um veículoapropriado para sistema de média capaci­dade de transporte de passageiros, aplican­do-~e mais adequadamente a cidades demédio porte, normalmente com populaçõessuperiores à 80 mil habitantes, e grandesaglomerados urbanos, notadamente regiõesmetropolitanas, que po;ssuam corredores detransportes com demandas na faixa de doismil a oito mil passageiros/hora.

A introdução do trólebus pode e deveser vista como uma oportunidade de apli­cação de melhorias em todo o sistema detransporte urbano, dentro de uma progra­mação global de racionalização através deoperação integrada de modos complemen­tares, onde as frotas existentes de ônibusdiesel também têm seu papel definido.

Por ser um sistema guiado, o trólebusapresenta efeitos estruturantes no meiourbano mais forte que o ônibus convencio­nal. Sendo assim, a concepção e localização

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Sagri

da rede de trólebus deverá ser feita em fUição da existência, características e localzação de corredores em áreas adensadoou em processo de rápido adensamento.

Do ponto de vista energético o tró\'bus tem a vantagem de só consumir quandse movimenta pois, quando está parad,seu motor também está. Além disso, o m,tor pode trabalhar como gerador dUranla frenagem, fazendo com que até 25% cenergia consumida pelo veículo nas aceler;ções seja regenerada e retorne à rede elétrca para ser utilizada por outro veículo n:proximidades.

O trólebus ap. resenta vantagens signifcativas sobre o ônibus convencional n:áreas dos custos operacionais, mais precis;mente nos custos variáveis resultantes deinsumos associados aos fatores veículo-KIe veículo-hora.

Em estudo realizado pela Cia. Santis1de Transportes Coletivos - CSTC, a redlção no custo decorrente da substituição dóleo diesel por energia elétrica e a elimin;ção de determinados lubrificantes ensejaIreduções da ordem de até 70% dos custeassociados à rodagem (veículo-Km) e éaté 33% no custo total.

Em São Paulo a operação de trólebtem faixa exclusiva, postada ao lado do calteiro central da Av. Paes de Barros, permtiu velocidades comerciais superiores el

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· .. e restituir um pouco da tranquilidade dos bondes.

até 25% às observadas nas vias sem trata­mento, na medida que pode ser exploradotodo o potencial de vantagens da rápidaaceleração - desaceleração do veículo,sem a interferência do tráfego misto, den­tro de uma estrutura de pontos de paradacuidadosamente estudada.

Segundo levantamentos de custos de­senvolvidos pela Companhia Municipal deTransportes Coletivos de São Paulo-CMTC,os custos operacionais por Km rodado,,(energia, lubrificantes, pneus e peças), emvalores de janeiro de 1983, montava em91 cruzeiros para o ônibus Padron e 47para o trólebus.

Entretanto os custos globais consti­tuem-se atualmente na mais importantebarreira para a expansão do sistema tró­lebus no Brasil, dada a situação econô­mica do país e as limitações de investi­mentos decorrentes.

A implantação de um sistema comple­to de trólebus, em termos. de custos totais,pode ser dividido em três partes aproxi­madamente iguais: uma referente aos gas­tos com veículos, outra para a instalaçãoda rede elétrica, incluindo as subestaçõesretificadoras e cabos alimentaâores, e umaterceira para melhorias no sistema viário,onde se deve incluir a construção de ga­ragens, oficinais, terminais, etc.

O Estado de São Paulo está vivencian-

Arquivo

do uma tendência de se transferir às em­presas concessionárias de energia elétricaa responsabilidade de implantação, ope­ração e manutenção do sistema elétrico.Isto pode vir a representar uma real re­dução nos investimentos iniciais da ordemde até um terço do valor total, abrindoperspectivas para a participação de em­presas privadas na operação do Trólebus.

No âmbito Federal, a Agência espe­cial de Financiamento Industrial - Finame,vem apoiando todos os programas de Tró­lebus em andamento, financiando veículose equipamentos de subestações elétricas.Também o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social - BNDES, estáinte~essado em apoiar os programs de im­plantação de sistema trólebus.

Na fabricação de veículos, em consór­cio legalmente aprovado pela Empresa Bra­sileira de Transportes Urbanos - EBTU, aViUares fornece os motores e os controla­dores. A Scania fornece os chassis e a Caioexecuta o encarroçamento.

O segundo consórcio aprovado pelaEBTU é encabeçado pela Marcopolo, quefornece a carroceria. A TectroIÚc entracom os controladores, a BardeDa com osmotores e a ScaIÚa com os chassis.

Todos são veículos com vida útil su­perior à vinte e cinco anos. Para Mendon­ça Lima, diretor da Villares, esse período

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pode se estender, em alguns casos, por maisde 500/0.

O maior problema para os fabricantesé a ausência de uma política que propor­cione continuidade de fornecimento, certosque os veículos trólebus hoje fabricados noBrasil se enquadram perfeitamente emqualquer especificação internacional.

Adriano ·Branco, .Secretário dos Trans­portes do Estado de São Paulo, ardorosodefensor do trólebus, afirma que a questãoda viabilidade no sistema trólebus resideem saber se um bom sistema de tr"ansportescoletivos sobre pneus poderá aliviar as neu­roses da circulação urbana, reduzir os infin­dáveis investimentos na rede viária, que játende a ocupar o segundo andar da cidade,e evitar a implantação maciça de sistemasde transporte de alta capacidade, que che­gam ao nível de custo de 75 milhões de dó­lares por quilômetro, no caso de metrô emtúnel aberto por processo Sbield.

Temos ainda de avaliar que não se devedesconsiderar o significado para o desenvol­vimento nacional, de iniciativas que gerema criação de oferta interna de equipamentode transporte, portadores de tecnologiaainda não desenvolvidas no país.

No futuro, o trólebus brasileiro nãoserá provido de motores de corrente alter­nada,· mas também será alimentado atra­vés de rede elétrica com corrente alternadamonofásica. Isto representará o fim dasonerosas subestações, que serão substituí­das por transformadores menores coloca­dos nos postes e alimentados diretamentea partir da rede de distribuição da conces­sionária de energia elétrica. A transforma­ção da corrente· alternada em contínuaséra efetuada por retificadores menorescolocados dentro de cada veículo.

A volta do trólebus, agora de maneiradefinitiva e irreversível, é uma realidade in­contestável. Apesar das restrições existen­tes quanto aos custos de implantação derecursos disponíveis, a alternativa trólebusapresenta-se como possibilidade consistentee viável para se antepor ao grande númerode problemas nas áreas de transportes'urba­nos, como altas tarifas, níveis ainda eleva­dos de consumo de derivados de petróleo,necessidade de desenvolvimento tecnoló­gico, ampliação do mercado de trabalho emuitos outros.-

Cabe, então, aos diversos níveis deGoverno, na elaboração de políticas paraos transportes públicos, estabelecer as di­retrizespertinentes aos diversos modos detransporte, de maneira a proporcionar um.posicionamento firme e definitivo do sis­tema tróle bus dentro de uma rede detransportes coletivos racional, confiável eeficiente.

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A explosão dos movimentos sociaisna Grande Vitória na década de 70

Nildete Virgz'nia Turra Ferreira *

Carlos Pali

*Assistente Social, Presidente do Sindicato de Assistentes Sociais no E. S.. Técnico do fJSN.

Falta de infra-estrutura urbana: estopim das organizações de bairro.

rência do movimento nas questões mais g.rais da sociedade.

No caso da Grande Vitória, apesar degrandes avanços já mencionados, os movmentos sociais urbanos esbarram em limitoções decorrentes do próprio processo dformação e desenvolvimento econômico dEstado. Um deles se refere a existência dum operariado urbano industrial ainda pOtco numeroso e pouco concentrado e queapesar da experiência dos seus antepass,dos, pelo fato de ter entrado no processprodutivo mais recentemente com a inplantação dos Grandes Projetos nos ane70 - período de forte repressão e, portarto, com pouca oportunidade de particip,ção e crescimento ~, ainda está bastantdesagregado no que se refere à sua organ

tureza da sua relação com o poder consti­tuído. Ele preserva a sua independência or­gânica e política em relação ao Estado eavança na superação de um estágio pura­mente economicista e corporativista. A par­ticipação dos movimentos populares- nosgrandes acontecimentos políticos nacio­nais, como a Campanha pelas Diretas e asdemais lutas por liberdades democráticas esindicais; a natureza das reivindicações, noque se refere a uma nova política urbana,atingindo os setores da habitação, transpor­tes coletivos, saúde, etc.; as propostas en­volvendo uma nova política salarial; e acriação de comitês de solidariedade, sãoapenas alguns exemplos que revelam um es­tágio novo, que extrapola as lutas de cará­ter puramente imediatista e revela a interfe-

"Depois de 34 'anos da última grevedos operários da construçaõ civil, aconte­ceu ontem o mais inflamado piquete já rea­lizado por uma classe em greve no Estado,quando mais de três mil trabalhadores mar­charam por aproximadamente 13 quilôme­tros em uma operaçãO arrastão, a partir doGinásio do Colégio Salesiano - onde espe­ravam respostas das negociações,do coman­do de greve, na DRT que devem ser concre­tizadas hoje - passando por Gurigica, San­ta Lúcia, Praia do Canto, até a~ingir o obje-.tivo: parar as operações da Terceira Ponte".(Jornal A GAZETA, 06/09/1979).

Este não é um fenômeno isolado dosúltimos anos da década de 70. É a retoma­da à nível nacional das grandes manifesta­ções populares, depois de 15 (quinze) anosde silêncio e refluxo dos movimentos so­ciais.

Influenciados não só pelas grandes jor­nadas grevistas do ABC paulista, - amplia­das posteriormente para todo o país -, mastambém pelas transformações eco~ômicas esociais ocorridas no Estado, os trabalhado­res capixabas entram novamente em cenapara manifestar suas insatisfações frente àsdifíceis condições de vida f'trabalho. Não émeraobradp acaso que exatamente os ope­rários da construção civil dão início a estepr<:>cesso:~CompanhiaSiderúrgica de Tu­barão (CST) está em fase de construção. Nadécada de 70, inicia-se no Estado a implan­tação dos chamados Grandes Projetos (Ara­cruz; CST, etc.), com todas as consequên­cias advindas do processo de industrializa­ção a toque de caixa, engendrando contra­dições tant@ na esfera da produção quantona reprodução da força de trabalho.

As acirradas contradições urbanas, ainfluência do forte movimento operáriodos grandes centros urbanos brasileiros, aexperiência histórica acumulada, fez comque o movimento social emergente na dé­cada de 70 adquirisse contornos próprios equalidade nova tanto no que se refere àsformas de luta e organização, como na na-

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o povo vai às ruas exigindo mudanças. Gilda Loyola Mesmo a intensa repressão não impediu as manifestações de rua.

zação. Outros setores, como ferroviários,portuários, funcionários públicos, apesardo acervo de experiências históricas, estãodando os primeiros passos no campo da re­tomada da sua organização.

As experiências nos grandes centros ur­banos, principalmente no ABC paulista,vêm mostrando que a existência de um mo­vimento operário e sindical forte influi de­cisivamente no crescimento dos movimen­tos populares dos bairros. A conexão en­tre eles traz saldos organizativos e políti­cos importantes, contribuindo para o cres­cimento do nível de consciência dos mora­dores, levando-os a uma comprensão maiorsobre a sua condição de trabalhadores enão somente de consumidores de bens deserviços agenciados pelo Estado.

Outro fator característico da região,e que tem reflexos no grau de consciênciae organização, está relacionado com o gran­de número de pessoas do campo que imi­graram para a Grande Vitória e a experiên­cia anteriormente acumulada por estas pes­soas. O pequeno proprietário, ligado à pro­dução do café principalmente, que imigroupara a Grande Vitória, acumulou na sua ex­periência de vida a prática da produção in­dividual e familiar, sem o vínculo de assala­riamento, e que, em termos, satisfazia assuas necessidades mínimas de consumo. Es­ta prática vai ter reflexos à nível da suaconsciência e formação, gerando uma con­cepção individualista no enfrentamento dosproblemas e que só será superada na medi­da em que se desencadeia um processo de

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deteriorização das suas condições de vidaem função da política de erradicação docafé, da entrada do grande capital no cam­po e da sua expulsão para os centros urba­nos.

Dá-se. início a um processo crescentede urbanização na Grande Vitória. com aocorrência de forte fluxo migratório atraí­do pela propaganda em torno da industria­lização.

Em 1960, a população do Estado erapredominantemente rural (72%). Quatorzepor cento (14%) da população total con­centrava-se na Grande Vitória, que possuía198.000 habitantes. Em 1980, a populaçãoda Grande Vitória atingia 35% da popula­ção do Estado.

Na realidade, a indústria em si vai

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absorver pequeno número de tdbalhadoresespecializa.dos. A grande maioria é absorvi­da na construção civil, comércio, prestaçãode •serviços, administração pública. Em1977, o Setor de Serviços na Grande Vitó­ria absorvia 70.!D% da população economi­camente ativa, enquanto o Setor Indústriaabsorvia 17.7<40/0-

Esses trabalhadores, mais os desempre­gados, biscateiros, "donas de casa'" vão sefixar nos chamados bairros populares, de­signação ' que, envolve as favelas, invasões,bairros e vilas da periferia e conjuntoshabi­tacionais.

Esses bairros, sem fugir ao que. acorreem escala nacional, têm como característi­ca a ausência ou precariedade de serviços eequipamentos urbanos, como rede de água,luz, esgoto, creche, posto de saúde, que so­mados a.os baixos salários e inflação, agra­vam violentamente as condições dessa po~

pulação, gerando um estado crescente depobreza e miséria social.

Tal quadro é decorrente de uma políti­ca urbana que consiste basicamente na uti­lização da cidade com vistas à prática espe­culativa, visando em última instância, aacumulação. e reprodução do capital. Os re­cursos públicos são 'aplicados dentro deuma orientação que prioriza0 atendimentodos interesses privados, em detrimento dosserviços públicos de consumopara os traba­lhadores. Dessa fortna,a inexistência ti de­ficiência de equipamentos e serviços bási­cos, os baixos salários, as difíceis condiçõesde emprego e custo de vida, além da con­c~nttação de uma grande heterogeneidadede setores sociais habitando nas mesmassubcondições, faz com que a passividade, oconformismo e a individualidade dêem lu­gar à p~~cipação e a tomada de consciên­cia dos/moradores dos bairros sobre suasnecessidades de sobrevivência.

"O movimentosocial preserva a

sua independênciaorgânica e política

em relação ao Estado".

É dentro de um contexto de grandeadensamento da população na Grande Vi­tória e de acirramento das contradições ur­banas, tanto à nível de consumO de bens eserviços - saúde, transporte, educação -,como a nível da produção - baixos salá­rios, desemprego, condições de trabalhoque surgiram os movimentos sociais urba­nos do final da década. de 70 na GrandeVi­tória, tendo continuidade e crescimento atéos dias. de hoje, e que tiveram na greve daconstrução civil de 1979 a expressão máxi­ma do que já ocorreu no Estado em termosde mobilização de massa.

Os movimentos sociais se estenderamà diversas categorias e bairros populares.Ocorreram, neste período, as greves dosmotoristas e trocadores de ônibus, dos pro­fessores universitários e secundários, e dosmédicos j além de dezenas' deinvasões,cujaviolência policial", presente em' todas elas,encontrou forte resistência dos moradorese apoio· dos. mais vastos setores da socieda­de. Emporacara.cterizado pela espontanei­dadee ',' explosividade •frente às ,precáriascondições de vida, de trabalho e baixos sa­lários, a experiência, e a própria necessida­de no decorrer das lutas, fizeram com queos trabalhadores e moradores dos bairrosdesenvolvessem inúmeras formas de organi­zação a partir da criação de estruturas mais

estáveis e, permanentes,como foiocaso ,Associações de Moradores, da Federa\das Associaçõ~s de Moradores da Serra, 'comissões e fóruns unitários ~ Comis~

do Movimento de Transporte ColetivoVila Velha, Comissão.deUnificaçãocMovimentos Populares da GrandeVitólComissão de Saúde da Serra-, além datomada, pelas oposições, de. entidades sdicais e de bairros há anos sob o.contr,de diretorias atrasadas e pelegas(Movirn<tos Comunitários e Sindicatos).

A pequena força domovirnentooperio, industrial propriamente dito, 0igranpeso numérico dos demais setores soci<incluindo os não assalariados,desempre,dos, "donas de casa", etc.,faz com quemovimentos populares dos bairros as:mam, no contexto geral das lutas socida Grande Vitória, umpesoextremamerimportante, pois conseguem congregar apIos setores populares e representar, deto, uma força dentro da conjuntura.

Novas e ricas experiências vêm se ccformando nos dois últimos anos no Espito Santo, que merecemtratamentoees1dos especiais. As transforrnaçõesconjun1rais ,que vêm ocorrendo no país/nos •• anrecentes ea decorrente adoção por paIdo poder públicodenovasestratégíasde J

lação ,com, oSi movimentossociaisrequ.pelo lado do movimento'iurnapermanenrevisão das suas diretrizes~rnéto~()sdeitervenção. As práticasdeeIl,,~lvirnent~

população, no planejamento e execução ,políticas; a criação deinstrumentosconConselhos '. Comunitários, visando a parti,pação da população naadminist~ação pblica; a manutenção da autonomia polítie orgânica dos movimentos em relação ;Estado, são questões de suma importânca serem analisadas dentro da nova conjútura política do país.

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Política do cotidianoJoão Gualberto M. Vasconcellos *

*Mestre em Administração pela Pontiflcia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Professor doDepartamento de Administração da Universidade Federal do Esplrito Santo. '

Felicidade. Parece ser esta a grandebusca das pessoas nesse Brasil de 1985. Re­metidos a um in}lividualismo possessivo,por uma longa ditadura militar, que apagoutantos sorrisos e faz mergulhar em trevastantas ilusões, compulsonamente adiadaspara essa aurora democrática que tanto me­recemos, voltamos a sonhar coletivamente.

Entretanto essa longa noite operouprofundas transf{)rmações na sociedade emmuitos planos - no econômico, no social etambém no individual. Toda a ideologÍa doregime, ,atualmente em fase de decomposi­ção no Brasil,pois já está morto de muÍto,sempre apontou para o triunfo pessoal.Não a ideologia formal propalada pela es­cola Superior de Guerra e presente no dis­curso empolado e socialmente insignifican­te dos militares em suas ordens-do-dia, masa verdadeir:a proposta dos dirigentes parao povo, como aquela veiculada diariamente"ad nauseum" pela televisão - essa voz dó­cil - que sempre enfatizou o valor da vitó­ria própria.

As novelas, como autêntico produtocultural dessa fase, deixam claro esta preo­cupação. Nelas há um mundo maniqueístague se divide claramente em dois: o dosbons e o dos maus. Nessa fantasia, que setornou coletiva na medida em que é vividadiariamente por milhões e milhões de pes­soas, os maus tentam por todas as formasvencer na vida usando de todas as estraté­gias, por mais desumanas e trapaceiras quesejam, enquanto que os bons, ete'rnamenteperseguidos pelos malvados, tentam triun­far utilizando sua ingenuidade e trabalho,sempre numa perspectiva individual. Ou se­ja, não há nenhuma passagem coletiva paraa realização dos desejos. Assim, nunca seviu um personagem global que tenha conse­guido impor uma derrota a tim patrão in­correto utilizando um sindicato, ou um mé­dico que tenha sido punido por um graveerro por força e pressão da opmião púólica,antes os malvados são. desmascarados pelaação isolada de algum justiceiro.

Parece haver, então, uma clara ligaçãoentre o corte dos mecanismos de ação cole­tiva representado pela ação repressiva dosorganismos de segurança no período - queprendiam, batiam e arrebentavam - e pe­la postura. autoritariamente legalizada queimpediu a organização da sociedade, sejaatravés de autênticos partidos políticos,sindicatos e organizações de base, com aideologia veiculada pelos meios de comuni­ca~ão de massa, que incutiram na popula­ção um forte apelo para o sucesso pessoal,presentes nas propagandas: "Ao sucesso,com hol1ywod" "Quem sabe o que quer fu­ma Minister", e no conteúdo da própriaprogramação, na qual destaco as novelas,

pelo seu sucesso de audiência. Quero dizer,o conjunto das ações das elites dominan­tes brasileiras ,- articuladas basicamente noEstado - acabaram 'por conduzir a popula­ção a uma perspectIva bastante indiVidua­lista, principalmente a juventude urbana,presa mais facil desses mecanismos.

Ocorre que a. história move-se dialeti­camente, e as realidades geram seus contrá­rios. E as pessoas que passaram a ser sub­metidas diariamente a tais mensagens,aca­baram por buscar saídas coletivas para suasquestões. Explico melhor: uma criança de10 anos assiste toda noite em sua casa aím'ensos dramas em que estão presentes ca­sais em crise, casais separados, alcoólatra!ique levam famílias ao desespero, assassina­tos passionais e outros, e isso durante anos.Como a sociedade em que ela vive tem pre­sentes esses problemas no seu dia-a-dia, elaacaba por aprender a lidar com eles, semque entretanto, adquira qualquer perspec­tiva política, qualquer saída coletiva. Se­ria como se os dramas pessoais fossem umacoisa e a política, os problemas sociais, ou­tra.

A partir desse corte e dadas as difi-culdades colocadas para a organização cole­tiva e as facilidades para a observação dasquestões pessoais - boa parte das pessoasperdeu a dimensão polítIca ao tratar dasquestões do cotidiano. A ausência forçadados mecanismos de discussão coletiva detais questões e a extrema fragilidade a queforam lançados os partidos políticos, am­pliaram tal fenômeno. Resultado: passa­mos a viver nllm país em que as questões po­líticas relevantes pouco têm a ver com onosso dia-a-dia. Questões absolutamentefundamentais e responsáveis pelas alegrias emisérias do cotidiano, tais como o casa­mento, a educação dos filhos, as drogas e asexl\alidade, não têm qualquer espaço dediscussão nos partidos. Acredito ser estauma das razões de seu crescente esvazia­mento. E quem se lembra do pique dos jó­vens - no Espírito Santo, principalmenteno PT e no PMD.B - até 1982 e hoje, temque imaginar que alguma coisa aconteceu.No mínimo, encerraao um ciclo - o elei­toral - faltou 'dinâmica, faltou uma arti­culação de relevância de guestões, faltou,me parece, inserir o cotidiano como ques­tão política no debate coletivo, como agrande marca do nosso tempo.

Existe, ainda, a constatação óbia deq~e a cri.se. econômi.ca vivida rela c.lasse mé­dia braSileira a obngou a abrir mao de ex­ternalidades, através das quais mascarava eadiava seus problemas. Não dá mais para

viajar para a Europa e viver sonhos holly­woddianos para esconder uma grave crisenum casamento, não dá sequer para promo­ver festas e sair para jantar fora com a fre­quência que os assuntos mal resolvidospressionam. Assim, a crise nos entregou àsnossas próprias subjetividades. Ficamosdiante de nossas aflições como diante daesfinge que coloca um ihigma e diz "deci­fra-me ou te devoro".

O indívidualismo a que fomos entre­gues, o avanço fulminante de questões an­tes tão violentamente afastadas - como ohomossexualismo, por exemplo - e o graude intimidade que todos ganhamos comelas IQudaram a realiqade. O que, a ditadu­ra quis foi a todos alienar empurrando-nospara tora da discussão política. Entretantoa realidade está a nos mostrar que se fo­mos empurrados somente para o plano in­dividual, hoje ansiamos todos por saídascoletivas, e saídas Que incluem nossas de­mandas pessoais por liberdade.

Caso precisássemos de alguma prova,basta observar como o consumo de bensculturais tem aumentado pela classe médiabrasileira - a indústria do livro cresce emplena crise. As pes;;oas buscam explicações,ou será casualidade que o livro "Complexoda Cinderela" que discute o príncipe en­cantado como eixo da vida feminina, serhoje um dos mah vendidos no país? Acre­dito que discutir o prazer, a sexualidade, ocasamento ou as drogas empolgam mais doque ouvir os chatíssimos discursos dos cha­mados rolíticos profissionais, ditos numportugues complicado e num tom triunfa­lista, cheios de formas, mas vazios de con­teúdo.

O prazer, o amor e a felicidade são sen:timentos presentes em cada um de nós. Ea soma de homens livres e aptos a exerce­rem a sua própria individualidade que pro­duz um~iedade sadia e justa. O orgas­mo coletivo é uma tarefa que exige comopré-condição, embora haja uma integra­ção de difícil localização, da fertilidade decada um.

A mim me parece que há uma ausên­cia, só explicável pelo provincianismo edesprezo das "vanguardas partidárias", dadiscussão desses temas pelos partidos po­líticos. Não quero fazer apologia do parti­do como canal privilegiado de quaisquerdiscussões, quero apenas constatar gue umcanal institucionalmente organizado, quedispõe em princípio, de uma estrutura ca­paz ?e fome~tar discussões, ausentou-se.E aSSim, esvazlOu-se.

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ENTREVISTA

Ex-InterventorJoão Punaro Bley.A Era Vargas noEsp'Irito Santo.

No dia 3 de outubro de 1930, ec/odiauma revolta no Rio Grande do Sul.Tratava-se de uma ruptura da política do"café com leite" que, durante muitosanos, sustentara o poder da oligarquiade São Paulo e Minas Gerais. Era o fimda República Velha. Recebendo o poderem 3 de novembro, das mãos da juntapacificad9c:ra, Getúlio Vargas foiconcentrando em suas mãos as decisõespolíticas e econômico-financeiras.Governou sem êonstituição até 1934,ano em que foi eleita a AssembléiaConstituinte. O governo constitucionaldurou até 1937, quando Getúlio Vargasdesfechou um golpe de Estado para evitara vitória da oposição nas eleições queseriam realizadas em 1938. Governoucom plenos poderes ate 1945, sob a égide;~~ Estado Novo, quando, pressionadopela campanha de democratização,convocou eleições gerais. Iniciava-se,pois, a Segunda República.Para o Governo do Espírito Santo, GetúlioVargas, de 1930 a 1943, contou com acolaboração de um competente militar,fruto do tenentismo, braço armado darevolução, que se originou da cisão dejovens oficiais. João Punaro Bley, nasceuno Estado do Paraná, em 14 de novembro

de 1900. Pertenceu, durante 7 anos, àguarnição de Curitiba, onde integrou oconselho revolucionário local. Nomeadointerventor do Estado do Espírito Santoem 1930, foi eleito governadorconstitucional em 1935 para, em 1937,ser nomeado interventor. Dois anosantes de Vargas encerrar seu mandato nocomando do país, Bley deixou o governodo Espírito Santo. Assim, permaneceumais de 12 anos seguidos no comando doEstado.Aos 81 anos de idade, duas semanasantes de sua morte, o General JoãoPunaro Bley concedeu, em sua residênda,no Rio de Janeiro, a seguinte entrevistaa João Eurípides Leal e Fernando LimaSanchotene, do IJSN:

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, 'A polícia atirou no meio damultidão, matando 4 pessoas., ,

REVISTA: General, conte como foi que osenhor tomou-se interventor do EspíritoSanto?BLEY: Cursava eu o 20 ano da Escola doEstado Maior, em Andaraí, Rio de Janeiro,quando, na madrugada de 4 de outubro de1930, tomei conhecimento da eclosão deum levante, de grandes proporções, sob ocomando, no sul, de Getúlio Vargas; emMinas, de Olegário Maciel; na Paraíba, deJuarez Távora. E, na tarde do dia 6 de ou­tubro, recebi um ofício contendo os se­guintes termos: "Senhor Capitão Bley,apresente-se ao General Chefe do Departa­mento de Pessoal, a fim de seguir, aindahoje, para o Espírito Santo, com o CoronelJosé Armando". Contrariado, apresentei­me a meu novo comandante, no Ministérioda Guerra. '

REVISTA: Por que contrariado?BLEY: Eu não conhecia ninguém 1,10 Esta­do. Desejava ser escalado para destacamen­tos que fossem enviados para o sul, ondepoderia solidarizar-me com meus antigoscompanheiros e passar, pela deserção, parao lado revolucionário. Pois bem. Dirigi-mepara o navio que deveria nos conduzir aVitória. Fui informado que nosso destaca­mento seria constituído de apenas 8 ofi­ciais e 13 sargentos, compondo a tropa do30 Batalhão de Caçadores (30 BC) da Po­lícia Militar do Estado e alguns batalhõespatrióticos que estavam sendo organizadospelo Governo do Estado. Entre os oficiais,tive a satisfação de encontrar dois velhoscamaraáas da guarnição do Paraná: o Te­nente de Engenharia Sady Martins Vianae o Tenente de Infantaria celso Lobo. Onavio partiu no dia 8 de outubro. Na via­gem fui conversar com meu comandanteJosé Armando sobre minhas antigas vin­culações revolucionárias. Disse-lhe que nãodesejava enganá-lo e que, na primeiraoportunidade, eu passaria para o lado dasforças revolucionárias. Ele respondeu-me:"Em Vitória, estudaremos melhor o seuproblema de consciência". Informei aos te­nentes Sady Martins e Celso Lobo sobretal convesa. Chegamos em Vitória no dia10 de outubro, sendo recebidos pelos nos­sos camaradas do 30 BC, entre os quaiso major Flavio Augusto do Nascimento,meu primeiro instrutor de Infantaria e oprimeiro-tenente Carlos Marciano de Me­deiros, meu contemporâneo.. A situaçãoestava alarmante. O Presidente do Espí­rito Santo, Aristeu Aguiar, atravessavauma fase de impopularidade tremenda de­vido principalmente ao chamado "massa­cre de 13 de fevereiro".

REVISTA: Que massacre foi esse?BLEY: Aconteceu no dia 13 de fevereiró'de 1930. A Aliança Liberal promoveu um

comício em Vitória, nas escadarias doCarmo. Após vários discursos incendiários,a polícia do Espírito Santo atirou no meioda, multidão, matando 4 pessoas e ferindooutras tantas. Isso mostra o despreparoda polícia e a deteriorização do governo.REVISTA: Como estava a situação da polí­cia do Espírito Santo?BLEY: O 30 BC contava com efetivos re­duzidos, estava mal armado, havia poucosoficiais fiéis à legalidade. A maioria dosoficiais estaV<L francamente favorável à re­volução. Dentre 'estes destacavam-se o Te­nente Euclides Lins, Intendente e represen­tante da revolução, e o Tenente CarlosMarciano de Medeiros. Na Polícia Militaro ambiente era ainda pior. Havia apenasduas companhias sediadas uma em Ca­choeiro do Itapemirim e outra em Colati­na. O próprio representante da corporaçãojunto ao Quartel General, Tenente Nicanor

o>'5e­«

João Punuro Eley, no início do intervenioriaPaiva, não escondia sua simpatia pela revo­lução. Havia dois "batalhões patrióticos"constituídos por operários recrutados porempreiteiros de estradas de rodagem sobpromessa de roupa, alimentação e soldoproblemático.REVISTA: Estava portanto preparado oterreno para uma revolução?BLEY: Três colunas mineiras ameaçavaminvadir o Espírito Santo. Uma, agindo noeixo Iguaçu, Guaçuí, Alegre e Cachoeirode Itapemirim, sob o comando do CapitãoJoaquim Magalhães Barata, estava formadapor elementos da Polícia Militar de Minas epor civis recrutados por chefes políticoslocais como Fernando de Abreu, GenaroPinheiro, Dermeval Amaral, Adílio Valadãoe outros. A outra, ao norte, mais numerosa,comandada pelo Coronel Otávio Camposdo Amaral, da Polícia Militar de Minas Ge­rais, era constituída por policiais militares

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e por irregulares recrutados na zona do RioDoce. Faziam parte também os civis Agli­berto Pires, advogado de Colatina, ManoelRocque, Ademar Távora (irmão de JuarezTávora), Mário Tavares e Manoel Vila, ex­sargento do Exército. Essa coluna viriaatravés do eixo Aimorés-Baixo Guandu-Co­latina, com vistas à ocupação da capital. Aterceira coluna, bem mais modesta, coman­dada por João Calhau, chefe político emIpanema, tinha como ponto de penetraçãoAfonso Cláudio. Como se vê, era sombrioo quadro que se apresentava ao CoronelJosé Armando. Mesmo assim, esse bondosoe compreensivo companheiro deu inícioao cumprimento dé sua missão. De comumacordo com os tenentes Carlos Medeiros eEuclides Lins, entrei em contato com oMajor Flávio do Nascimento com base nanossa velha amizade. Foram, contudo,inúteis os meus esforços para convencer

esse digno e honrado camarada para Umlevante do 3 0 BC. Ele sempre foi extrema~mente legalista. Decidimos então adiar olevante do 30 BC. Enquanto os tenentesCarlos Medeiros e Euclides Lins continua­vam o movimento de desagregação do 30

BC, os tenent~s Sady Martins Viana e celsoLobo seguiram para Cachoeiro com instru­ção para facilitar a ocupação daquela cida­de pela coluna Magalhães Barata. Ao Te­nente Marroig, que representava o CapitãoJosé Armando em Colatina, foi recomen­dado para não opor nenhuma resistência àColuna do Coronel Otávio Campos doAmaral. Enquanto isso, as tropas mineiras,já organizadas, aproximaVam-se da frontei­ra com o estado. Pela manhã do dia 16, opresidente do Estado, Aristeu Aguiar, con­siderando a situação perdida, abandonou opalácio, com sua família, seguindo para aEuropa, num cargueiro italiano - o Atlan-

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, 'Aos 30 anos de idade, fuinomeado interventor do

Estado do Espírito Santo."

Coronel José Armando em Colatina. Pcele fui informado que a Coluna Amaral etava ainda em Baixo Guandu. Disse-rrtambém que o Coronel José Armandmudara de idéia, decidindo resistir. Juguei inútil prosseguir viagem e regresseiVitória. Informado de que uma companh:do 30 BC, sob o comando do SargentDavi, h~via ocupado um entroncamento dEstrada Vitória-Colatina com a missão dparar a marcha revolucionária, fui ao seencontro e o convenci a retornar ao quatel general. Nesse mesmo dia, pela manh:aportou em Vitória o navio Loyde Brasleiro, esperado pelas forças legalistas devdo a reforços prometidos. Entretant(trazia apenas uns poucos engenheiros elcarregados de dinamitar algumas pont,na Ferrovia Vitória-Minas. Com tão redlzido reforço, foi intimado a permaneClao largo e depois, com nossa conivênci:passou a receber a bordo o Coronel JmArmando e alguns soldados que não h,viam atendido ao apelo do Tenente Eueldes Lins para' aderirem a revolução. Acair da tarde, chegava a Vitória a ColunAmaral. O Coronel Campos do Amar<trazia ordens do Presidente de Minas, Ollgário Maciel, para constituir uma juntgovernativa revolucionária composta dDesembargador João Manoel de Carvalhedo jornalista Afonso Correia Lyrio e de UI

oficial do Exército. No dia 19, às 10 hora!tomavamos posse perante grande multidãeNo dia 24, recebemos comunicação de quo Presidente da República, WashingtoLuiz, havia sido deposto pela guarnição dRio de Janeiro e que havia sido organizaduma junta militar para governar o EstadeNo dia 3 de novembro, Getúlio Vargas temava posse, como chefe do governo provsório, juntamente com Olegário MacielJuarez Távora. No Espírito Santo o carg'de interventor estava sendo disputado poJoão Manoel de Carvalho, Afonso Lyri,e Geraldo Viana. João Manoel, que era.mais ativo, valia-se da amizade de sua família com João Pessoa para exigir que.novo interventor fosse pelo menos ligad,à corrente de Jerônimo Monteiro. Diantdessa luta acirrada, a Associação Comelcial de Vitória telegrafou ao Getúlio Vargasugerindo meu nome para o cargo de interventor. Fui chamado ao Rio onde cheguei no dia 14 de novembro, dia do melaniversário. Batista do Vale conduziu-moimediatamente à presença de Oswald.Aranha. Esse foi logo me dizendo: "j

política do Espírito Santo está muit<confusa. O decreto de sua nomeação est:pronto e assinado. Aguarde alguns instanteque nós iremos até o Catete para apresentá-Io ao Getúlio". Assim, aos 30 anos d.

"Coronel, fiz tudo o que era possível parao senhor não assumir o governo legal, poistinha certeza de que sua promoção erauma armadilha e que seu governo deveriadurar no máximo 48 horas. Assim, comsua permissão, peço licença para reunir-mecom nossos camaradas da Coluna Barataque, a essas alturas, deve estar ocupandoCachoeiro de Itapemirim". Contando aindacom nossa antiga camaradagem, soliciteidele uma viatura. Ele colocou à minha dis­posição um automóvel de linha da Estradade Ferro Leopoldina. Segui viagem em dire­ção a Cachoeiro de Itapemirim lá chegandono mesmo dia - 16 de outubro - por voltadas 18 horas. A cidade estava ocupada pelaColuna do Coronel Barata. Covenci-o deque não havia necessidade de marchar con­tra a capital, pois esta já podia ser conside­rada reduto revolucionário. Assim ficoucombinado que ele iria combater as forças

legalistas em Campos, Estado do Rio deJaneiro. Retornei a Vitória em noite fria,chegando a meu destino às 5 horas da ma­nhã do dia 17. No palácio, encontrei o Co­ronel José Armando e outros óficiais empreparativos para abandoná-lo e recolhe­rem-se ao 3 0 BC para oferecer resistência,uma vez que haviam sido informados deque a Coluna Amaral ocupara Colatina emarchava livremente em direção a Vitória.Tentei demover o Coronel José Armandoda idéia de resistir, dizendo-lhe que have­ria um derramamento de sangue inutil­mente. Em contrapartida, ofereci-me parair ao encontro da Coluna Amaral com opropósito de impedir qualquer ato contra o3 0 BC, o que foi aceito. Imediatamenteparti com destino a Colatina. Chegando emSanta Tereza, dia 18, encontrei a popula­ção à espera dos revolucionários. Telefoneipara o Tenente Marroig, representante do

ta. Nesse mesmo dia, a Coluna Barata ocu­pava Cachoeiro de Itapemirim, sem quais­quer resistências. Propus então ao CoronelJosé Armando que assumisse o governo re­volucionário rompendo com o governo fe­deral. Esse concordou e passamos a acertaros detalhes, marcando, afinal, sua posse.Quando já chegávamos no portal do palá­cio, fomos interceptados por um mensa­geiro do telégrafo local que trazia um reca­dó do palácio do Catete chamando o Coro­nel José Armando para uma conferênciaurgente. Insisti para que ele não atendessetal con0.te e assumisse a interventoria re­volucionária como haviamos combinado.Ele porém respondeu-me: "Vamos verprimeiro o que é que o governo quer".Partimos, pois, para a sede dos Correios.No outro lado da linha telegráfica estava opróprio Ministro da Guerra, GeneralNestor Sezefredo dos Passos. Ao nosso la-

do, preparado para receber a mensagem, otelegrafista João Gualberto de Almeida,simpático à causa revolucionária. Numarápida mensagem, o ministro determinavaao Coronel José Armando que, em nomeda Presidência da República, assumisse ogoverno legal do Estado e intensificasse aresistência contra o movimento revolu­cionário. Finalizando, felicitou-o "por suapromoção a General de Brigada". Volteia insistir com o Coronel José Armandopara que ~;~§íimisse o governo revolucio­nário e não acatasse a ordem recebida. Elelimitou-se a dizer-me que já estava muitovelho para perder aquela oportunidade depromoção. Por isso iria cumprir a missãoque acabava de receber do Ministro daGuerra. Acompanhei-o até o palácio paracerimônia de sua posse. Era dia 16 de outu­bro. Depois da cerimônia ele me convidoupara comandar a polícia. Respondi-lhe:

o>"5cr.<

O interventor federal João Punaro Bley em manifestação no Colégio Americano Batista - 1932

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"O ex-governador NestorGomes morreu na maior

miséria possível, ,

no Avidos. Quanto à segunda seção; em 23de julho de 1937, o Governo do Estadocontratava uma empresa brasileira para aconstrução de 300 metros linear de cais,com a profundidade. mínima de 8,50 me­tros. As obras foram contratadas pelo pre­ço fixo de 10.124.355 cruzeiros. Interrom­pidas em 1938, prosseguiram nO'Vamenteaté sua conclusão. Sua inauguração teve lu­gar em 19 de abril de 1942. Pelo relatórioda comissão de tomada de conta e trabalhoexecutado pela empresa, verificou-se que osserviços executados até 28 de fevereiro che­gavam a 17.088.382 cruzeiros. Os paga­mentos efetuados pelo estado até março de1942 somavam em 12.343.192 cruzeiros.REVISTA: E a linha férrea?BLEY: No dia 11 de julho de 1941, reali­zou-se a solenidade de inauguração da li­nha férrea ligando as estações· da Leopol­dina e da Vitória-Minas ao cais do porto,custando ao Estado 506.112 cruzeiros.

Com as desapropriações, o Estado dispen­deu a quantia de 5.961.654 cruzeiros.REVISTA: E a Vale do Rio Doce, comosurgiu?BL EY: O Espírito Santo hospedou, em se­tembro de 1941, ilustres membros de umacomissão técnica econômica norte ameri­cana, chefiada pelo Dr. Wagner Ler Pirsun,presidente do "Export And Insport Banck",dos EUA. Vinham ao Brasil estudar e resol­ver, com as nossas autoridades, vários as­suntos de comum acordo e de interesse en­tre as duas maiores repúblicas do continen­te. Entre eles, o problema da exploração dominério de ferro do Brasil. Foi graças à vin­da dessa comissão e ao idealismo do Pre­sidente Getúlio Vargas que nasceu a Com­panhia Vale do Rio Doce, que tanta influ­ência econômica, financeira e social tem navida do Espírito Santo e cujo desenvolvi-mento ainda não parou. ,

foi uma das mais importantes realidades nomeu governo. Elas foram iniciadas em ja­neiro de 1911 pelo governo Jerânimo Mon­teiro. Em agosto de 1914 foram paraliza­das em virtude da situação econômica cria­da pela guerra européia. Ém 1920, o gover­no federal suspendeu a garantia de juros aque se obrigava, após haver indenizado acompanhia concessionária a qual ele devia.Em setembro de 1925 foi assinado o termode entrega das obras ao Governo do Estadoque assumiu o encargo de construí-lo. Emmarço de 1926, foram reiniciados os ser­viços da primeira seção. Em outubro de1930, foram os serviços novamente suspen­sos em virtude da dificuldade financeira.Em 1935 foram reiniciadas. Terminadas em1939, as obras foram inauguradas em janei­ro de 1940, depois de 28 anos de trabalhoe interrupções, num dispêndio de 26.436mil cruzeiros, incluindo a Ponte Florenti-

REVISTA: Voltando à questão das dívi­das do Estado, o senhor conseguiu saná­las totalmente. Como conseguiu?BLEY: Quando assumi o governo, o Espí­rito Santo devia, ém empréstimos de 1908a 1912; 13,222 mil francos ao Banco Fran­cês Italiano, 1.109,06 mil dólares ao Ban­co Italo-Belga, 50 mil libras esterlinas aoBanco Alemão Transatlântico... Então euchamei cada um desses banqueiros e fiz aseguinte proposta: "Eu pago x se você fi­zer o contrato e me der a quitação". To­dos aceitaram. Assim fiz uma economia demais de 30 milhões de cruzeiros.

REVISTA: Como o senhor disse, grandeparte dessas dívidas foi contraída para aconstrução do Porto de Vitória...BLEY: A construção do Porto de Vitória

lo Horizonte. l'lntão eu o removi para o sa­natório. E lá permaneceu até a morte, soba minha assistência.

o>5E'«

O carregamento de minério de ferro era realizado totalmente por processo braçal

idade, fui nomeado interventor do Estadodo Espírito Santo, pelo então chefe do go­verno Getúlio Vargas, credor da minha es­tima, sempre atento aos meus pedidos esolucionando os problemas que podia re­solver.REVISTA: Que dificuldades o senhor teveque enfrentar em seu governo?BLEY: Encontrei o estado em difícil si­tuação financeira. A dívida do Estado che­gava a um total de 64.133 mil cruzeiros. Opagamento do funcionalismo, particular­mente dos professores do interior, estavaatrasado. Solicitei então um empréstimo de4 milhões de cruzeiros ao governo federal.REVISTA: Como surgiram as dívidas?BLEY: Foram empréstimos feitos por Je­rônimo Monteiro entre 1908 e 1912 paraa construção do Porto de Vitória e da Pon­te Florentino Avidos. Jerônimo Monteiropegou empréstimos em dólar e franco pa­ra fazer o chamado Parque Industrial doEspírito Santo. Criou a usina de açúcar ­Paineiras -, uma fábrica de tintas, fábricade tecidos - Monte Líbano... Sonhou in­dustrializar o Espírito Santo, mas fracassouinteiramente. Naquela época era uma aven­tura transformar o Espírito Santo em esta­do industrial. Não era como hoje.RÉVISTA: Com a saída de Jerônimo Mon­teiro, o Espírito Santo foi governado peloCoronel Marcondes Alves de Souza, que pa­ralizou todas as obras ...BLEY: Paralizou porque não tinha dinhei­ro. A única coisa que o Estado fazia era ar­recadar para pagar as dívidas. Depois tive­mos o governo de Bernadino Monteiro quetambém não fez outra coisa a não ser pagaras dívidas.REVISTA: Falando em Bernadino Montei­ro, ele tinha uma desavença muito gran­de com Jerônimo Monteiro, não?BLEY: Esses dois, que eram irmãos, bri­garam por motivo político. Jerônimo Mon­teiro queria voltar ao Espírito Santo comogoyernador. Bernadino Monteiro recusou aapoiar a sua candidatura e apoiou a can­didatura de Nestor Gomes. A posse de Nes­tor Gomes foi debaixo de tiros. E foi noseu governo que o Espírito Santo levantoua cabeça, por causa da valorização do café.Mas o Espírito Santo, em vez de ganharcom isso, saiu perdendo, porque o NestorGomes não tinha programa de governo. Elevivia de juros a juros. Nest.a época, 1927, opaís era gove!nado por Epitácio Pessoa.REVISTA: E verdade que Nestor Gomesmorreu pobre?BLEY: Ele movimentou milhões de cruzei­ros. Atendeu milhares de a!Jligos e morreuna maior miséria possível. As vezes ele nãotinha 400 réis para tomar a média da ma­nhã. Fui informado de sua situação quandoele estava internado na Santa Casa em Be-

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REVISTA: General, a queima do café nadécada de 30 faz parte das medidas para in­centivar a policultura?BLEY: Não. Eu sempre fui contra a queimado café. sempre me revoltei contra essa me­dida, embora eu fosse pessoá"'i~~ confiançado Presidente da República. NUI1-,fa compa­reci às fogueiras do café do Espírito Santo.Nunca peguei uma tocha para queimar umquilo de café do Espírito Santo. Sempreachei um absurdo. Principalmente porquequeimava-se 45% da safra do Espírito San­to para atender aos interesses do Estado deSão Paulo. Não existia super produção decafé no Espírito Santo. Toda a produçãoera exportada. Com a queima, fomos obri­gados a tirar da exportação 45% do café pa­ra poder ser queimado. Queriam equilibrarestatisticamente uma planta destruindo ofruto, em vez de destruir a planta, quandotodo o ano a planta dá o mesmo fruto. A

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<Sala de degustação de café na intervenção Bley: prova da vocação cateicultora d(l ES

demais produtos necessários à alimentação.Certa ocasião, um lavrador virou-se paramim e disse: ''Capitão Bley, café é um péde ouro. Eu não abandono o pé de ouro pa­ra cuidar de outros produtos".

Nossas exportações para outros esta­dos da federação atingiram, entre 1931 e1941, 1.142.382 cruzeiros. O café ocupao primeiro lugar. Depois vem, com uma di­ferença enorme, a madeira. O cacau, o fei­jão, o milho, o arroz beneficiado quase nãoaparecem.REVISTA: Que medidas foram tomadas noseu governo para incentivar a agricultura?BLEY: Sem abandonarmos o nosso princi­pal produto, o café, realizamos verdadei­ra cruzada em prol da policultura. De 1931a 1942 foram dispendidos 15.905 mil cru­zeiroscom o serviço da agricultura, incluin­do compra de máquinas, combate à saúva,aquisição de plantas e sementes, produções

, 'Queimava-se 45 % da safra do Espírito Santo paraatender aos interesses de São Paulo.

Eu nunca compared às fogueiras do café',

REVISTA: General, sabemos que o Espí- agrícolas, compra de materiais diversos, inflação do Brasil começou aí, com a querito Santo é um estado essencialmente agrí- construção de fábricas de industrialização ma do café do Brasil. Alem do mais, agiarcola. E O senhor começou a governar em da mandioca, compra de material de labo- da maneira mais injusta possível. O lavn1930, justamente quando havia uma gran- ratório, beneficiamentos às propriedades dor recebia apenas 5 cruzeiros por saca dde crise no café. O que o senhor poderia agrícolas, programas da escola prática da café para ser queimado. Enquanto isso,nos contar a respeito da agricultura e espe- agricultura, etc. Departamento Nacional do Café gastavacialmente do café, nesse período? REVISTA: A criação do Banco de Crédi- cruzeiros para segurar o produto quda seBLEY: No Espírito Santo só se plantava ca- to Agrícola do Espírito Santo, que deu ori- queimado.fé. De 1931 a 1941,93% da arrecadação do gem ao BANESTES, foi também parte des- REVISTA: Quanto ao transporte dos PC(Espírito Santo era decorrente do café. O sas medidas que o senhor tomou para in- dutos agrícolas, principalmente do caf!!l~v~ador do Espírito Santo ~ra viciado, o~ é centivar a agricultura? havia muita dificuldade, não?ViCIado, na cultura do cafe e não acredita BLEY: Obra iniciada em 1930, desenvol- BLEY: O transporte do café da zona St

na cultura rotativa. Todas as vezes que eu vida pela patriótica orientação do governo para Vitória, até a guerra, era feito por ptia para o interior do Estado, recomendava provisório, teve o Espírito Santo um marco quenas lanchas' de 150 toneladas. Essas sa:ao prefeito que, em vez de discursos ou expressivo, assinalado pela criação do Ins- am da Barra do Itapemirim, tocavam erbanquetes, marcasse uma reunião de lavra- tituto de Crédito Agrícola do Espírito San- Piúma, depois em Anchieta, em seguida tedores para eU poder falar-lhes. Nessas reu~ to, mediante decreto-lei 6.627, de 1935. cavam em Guarapari, chegando finalmentniões eu sempre dizia que, sem abandonar Dificuldades posteriores determinaram a em Vitória. Mais tarde, pela via férrea.o café, era preciso plantar todos os outros transformação desta primeira idéia do pla- Em 1932 visitei Guarapari pela primeprodutos, pois o Espírito Santo vendia o no no atual Banco de Crédito Agrícola do ravez. Para chegar lá, tive de ir de autom<seu café e comprava de outros estados os Espírito Santo. vel até Araçatiba e de lá tomar um caval<

Viajei a cavalo durante 4 horas. Por incrJvel que pareça, em 1930 não havia integr:ção entre norte e sul. O sistema rodoviáriera dividido em dois grupos totalmente irdependentes. Um no norte, constituído pcuma estrada que saída de Vitória, passandpor Santa Leopoldina, Santa Tereza e chlgando em Colatina. Outro grupo saía dCachoeiro do Itapemirim e ia para Alegle Guaçuí.

Fiz a ligação Vitória a Cachoeiro dItapemirim em 1934. No período comprlendido entre 1931 e 1942 gastou-se comconstrução de estradas de rodagem a inportâneia de 14.511.045 cruzeiros.

Não havia nenhuma estrada de rod,gem ligando Vitória a São Mateus. A pImeira vez que viagei para São Mateus, el1932, parti de Vitória num automóvel Cltme levou até o final da estrada que liga Cllatina a Nova Venéeia. Esta tinha apenas 3km de construção. Prossegui o resto da vi,gem a cavalo, levando dois dias e meio p.ra chegar em Nova Venécia, viajando de]tro da mata do Rio Doce. De Nova Venéc:a São Mateus segui de trem, pela Estrada tFerro de São Mateus. O trem, apesar de SI

especial, descarrilhou 5 vezes. O transcursde volta foi feito por mar, numa embareção de 150 toneladas. Só não naufragu'porque Deus não quis. Somente depois t1940 é que consegui ligar Vitória a SãMateus. E observem que é o municípimais antigo do Espírito Santo.REVISTA: As pontes de Colatina e Linh:res, quem as construiu?BLEY: A ponte de Colatina é obra de FIIrentino Avidos. Foi construída para estrda de ferro e eu fiz uma grande reforrradaptando-a para estrada de rodagem, pemitindo.assim a penetração do norte dRio Doce para Colatina. Quanto à ponted

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,'O integralismo não teve expressão nenhuma e ocomunismo foi màis inexpressivo ainda."

A presença do integralismo, da igreja e do comunismo, no início da interventoria Bley.

sul, a Getúlio Vargas, foi obra do J ones dosSantos Neves.REVISTA: Essas obras foram importantespara o desbravamento. Foi no seu governoque se efetivou o desbravamento ao norteda margem do Rio Doce?BLEY: O desbravamento do so­lo de Colatina começou no governo Avidos.através de uma companhia especial que lo­teou grandes áreas na região entre Colati­na e São Mateus. Foi lá também que, nogoverno de Aristeu Aguiar, apareceu umacolonização polonesa, pessimamente prepa­rada, tendo fracassado inteiramente. De­pois, no meu governo é que começou a pe­netração mais importante.

REVISTA: General, falando em desbrava­.!l1ento, o senhor teve que enfrentar o pro­blema de limite do Espírito Santo com Mi­nas e com a Bahia.BLEY: A questão do limite do EspíritoSanto com a Bahia é a coisa mais estúpidaque existe. Desde o tempo do Brasil Colô­nia, o limite do Espírito Santo com a Ba­hia era o Rio Mucury. Não sei por que car­gas d'água, o governo do estado da épocaaceitou as ponderações do Estado da Bahiaque dizia ser o limite 8 km para dentro doEspírito Santo. Então, em lugar de termoso limite natural, pelo rio, nós temos mar­cos de postes de cimento armado marcan­do a divisa.

REVISTA: E com Minas Gerais?BLEY: O Espírito Santo teve duas questõesde limite com o governo de Minas Gerai".Uma ao sul do Rio Doce, em 1914, quandoo Espírito Santo perdeu dois municípios.A outra, ao norte, ficou em letígio durantealgum tempo, pois a mata era virgem. Ademarcação, conforme constituição, deve­ria ser pela Serra dos Aimorés, preenchidasua continuidade por linhas retas. Em nos-sas negociações de 1938, apesar de todos osesforços, não foi possível se chegar a umasolução conciliatória, pois a comissão deMinas negava a existência da Serra dos Ai­morés. Foi então nomeada uma comissãodo Serviço Geográfico do Exército para re­solver a questão. Essa iniciou seus trabalhosem novembro de 1941, percorrendo minu­ciosamente a zona limite, a fim de deter­minar a posição da Serra dos Aimorés, re­conhecendo finalmente que o Espírito San­to tinha direito sobre a zona contestada,com excessão feita a dois pequenos tre­chos, representando 5% da área total. Infe­lizmente, a política não deixou que o Espí­rito Santo ganhasse. Dr. Getúlio Vargas,com quem discuti este assunto minuciosa­mente duas vezes, virou-se para mim e dis­se: "Eu não vou decidir isto, porque nãoquero ser juiz entr.e vocês eo Valadares".Então eu respondi: "Bom, Presidente, o

senhor pode fazer o que quiser. Pode atédizer que os limites de Minas Gerais são asdunas da costa do Espírito Santo no Muni­cípio de Conceição da Barra. Pode dizerque a Serra dos Aimorés são as dunas daspraias de Conceição da Barra. Mas eu nãoretiro nenhum destacamento do Espíri­to Santo. Enquanto eu for interventor doestado, o destacamento fica na zona que euconsidero que é nossa".

REVISTA: No governo de Francisco Lacer­da de Aguiar, em 1963, o Espírito Santofez um acordo com o governo de Minas Ge­rais que era o Magalhães Pinto.

BLEY: E o Espírito-Santo perdeu uma boaparte desse território, justamente a regiãomais rica.

REVISTA: General, fale-nos um pouco so­bre os partidos políticos do Espírito Santono período em que o senhor lá esteve.BLEY: Até 1937, existiam no Espírito San-

to dois partidos políticos. O PSD, que erado governo, e o partido da Lavoura.REVISTA: Segundo consta, o PSD do Es­pírito Santo foi um dos primeiros a sercriado no país.BLEY: Um dos primeiros. No meu tempo,não havia PSD nacional. Cada governo ti­nha o seu PSD regional. Só mais tarde, gra­ças ao general Magalhães, foi criado o PSDnacional.REVISTA: No Espírito Santo, quem criouo PSD estadual?BLEY: Eu, Carlos Lindemberg, FranciscoOtávio, Asdrubal Soares, Oswaldo Guima­rães... A Comissão Executiva era compostade umas 30 pessoas.REVISTA: E O partido da Lavoura?BLEY: Foi uma iniciativa de um grupo quetentava empolgar os agricultores. Mas essepartido foi imediatamente absorvido pelospolíticos do Espírito Santo. Tanto assim

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que o presidente do partido foi derrotadonas eleições realizadas para a constituintedo Espírito Santo. Nes~a eleição foram elei­tos 3 deputados do PSD. Peço Partido daLavoura foi eleito apenas o Jerônimo Mon­teiro. Mas no dia do reconhecimento, elefaleceu repentinamente.REVISTA: Em 1937 esses partidos foramextintos...BLEY: Foram extintos. E no período emque governei o Espírito Santo, como in­terventor, de 1937 até 1942, a política foiabolida. Ninguém mais falava em políti­ca. Logo depois do golpe de 1937, o Parti­do da Lavoura desaparéceu e surgiu em seulugar a UDN. Apareceu também o PTB.REVISTA: O PTB era forte?BLEY: O PTB no Espírito Santo não tinhanenhuma importância. Ele não tinha ne­nhum deputado federal.REVISTA: E os integralistas?BLEY: O integralismo nenhuma expressão

política teve, a não ser nos Municípios deDomingos Martins e Santa Tereza, porqueele só empolgou notavelmente as coloni­zações estrangeiras, ou seja, a italiana e aalemã. O chefe do Partido Integralista doEspírito Santo era Arnaldo Magalhães, aliássogro do J ones dos Santos Neves. O secre­tário era o Padre Conciano Stangue( queera, ao mesmo tempo, secretário do bispodo Espírito Santo, D. Luiz Escortejane. Ointegralismo nunca me deu trabalho e nun­ca representou força política no ESl'íritoSanto.REVISTA: E o Partido Comunista ei:afor­te?BLEY: Era ainda mais inexpressivo, pois selimitava a um pequeno grupo de Vitória eoutro de Cachoeiro de Itapemirim. Entreos chefes comunistas de Vitória, destaca­va-se um espanhol de nome Hugo Viola,que era fichado na polícia. Era um comu-

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nista interessante, pois era dono de uma sé­rie de pequenas propriedades, explorava ooperariado e era dono de um cortiço enor­me em Santo Antônio. E ele era o comunis­ta "número um" d~ Vitória. Conclusão: aoposição no Espírito Santo nunca me deutrabalho. De modo que não posso reclamarda oposição no Espírito Santo.REVISTA: E como foi sua eleição para go­vernador?BLEY: Foi em 1935. O governador era es­colhido de forma indireta, pelos deputadosestaduais. Na reunião da comissão executi­-;'a do PSD para a escolha da chapa, deixeiclaro que não desejava ser governador. Mascomo não houvesse acordo entre os grupos,fui forçado a aceitar a candidatura. Nós tí­nhamos 16 deputados e a oposição tinha 9.Portanto minha vitória era tranquila. Al­gum temp6 depois o Asdrubal Soares foiconversar comigo dizendo que desejava sergovernador. Eu lhe disse: "Olha, Dr. AS,dru­bal, por que você não se apresentou na oca­sião em que eu disse que não queria ser go­vernador?" Ele respondeu-me: "naquelaoca­sião eu não tinha maioria; agora tenho, demaneira que vim pedir ao senhor para abrirmão de sua candidatura em meu favor". Eurepliquei: "Não posso fazer isto, porque acandidatura não é minha, é do partido. Eeu não vou trair o partido". Ele passou pa­ra a oposição, arrastando consigo 6 deputa­dos estaduais. Então ficamos com 15 de­putados e eles ficaram com 16. Depoisde consultar o Presidente da República, fizum acordo com o J erânimo Monteiro (quetinha 3 deputados e estava apoiando o As­drubal) para que ele ficasse no meu lugar.Ele aceitou. Ficamos então com 13 votoscontra 12. Mas quando chegou na ocasiãoda eleição, o Deputado Carlos Medeiros dis­cordou da candidatura do Jerônimo Mon­teiro. Fizemos então um pacto de honra nomeu gabinete: o Jerônimo seria eleito noprimeiro escrutínio e o Carlos Medeiros vo­taria nele próprio. Assim foi o resultado do10 escrutínio: Jerônimo Monteiro: 12 vo­tos; Asdrubal Soares: 12 votos; Carlos Me­deiros: 1 voto. Não houve, pois, maioria.No 20 turno fui eleito por um voto.

Em consequência do acordo feito como Senador Jerônimo Monteiro Filh9,tive~~e substituir vários de seus secretários quecomigo trabalharam na ta interventoria poroutros da corrente jeronimista.REVISTA: Em 1943 Getúlio nomeou novointerventor para o Espírito Santo - o Jo­nes dos Santos Neves. De 1943 a 1947 pas­saram pelo estado 5 interventores. Por querazão Getúlio substituiu os interventores?BLEY: Não houve motivo especial e simuma oportunidade. Quando foi criada aCompanhia Vale do Rio Doce, o Ministro

, 'Acabei rompendocom ele

(o Jones dosSantos Neves). , ,

Souza Costa me convidou para Diretor Co­mercial da Vale. Então eu deixei o governodo Espírito Santo.REVISTA: Em 1947 foi eleito governadorCarlos Fernando Monteiro Undemberg,também pelo PSD, permanecendo no car­go até 1951. O senhor acha que o CarlosUndenberg foi um continuador do jero­nismo no Espírito Santo?BLEY: Sim. E eu sempre o apoiei. Achoque o Carlos Lindenberg seria meu substi­tuto se não tivesse havido o golpe de 1937.REVISTA: Entre 1951 e 1954 foi interven­tor do Espírito Santo o Jones dos SantosNeves (aliás ele fora interventor tambémentre 1943 e 1945).BLEY: Na época que governei o EspíritoSanto, o J ones dos Santos Neves prestoubons serviços como membro do Departa­mento Administrativo do Estado e do Ban­co do Espírito Santo. Quando eu ia deixaro governo, Getúlio me disse: "Você foipara mim um homem de uma lealdade atoda a prova. Eu quero recompensar vocêdando-lhe oportunidade de indicar para oseu lugar quem você quiser". Eu indiqueio Jones.REVISTA: Ele foi um dos primeiros a pla­nejar o governo aqui no Espírito Santo... Osenhor poderia nos falar sobre o Jones co­mo político e administrador?BLEY: Aconteceu comigo o. que acontececom todo o mundo: a criatura revolta-secontra o criador. Quatro meses depois deele ser escolhido, ele começou a se retrairem relação a mim e eu acabei rompendocom ele. Quanto à sua atuação como go­vernador, parece-me que fez um bom go­verno, mas eu não posso dar nenhum da­do pois não acompanhei, visto que saí doEspírito Santo.REVISTA: Ele se afastou um pouco, emdeterminada época, do Carlos Lindenberg,não?BLEY: Ele se afastou de muita gente. Elequis fazer um governo sozinho. Achou quedevia renovar o Espírito Santo e se afastoude todos os antigos amigos dele.REVISTA: Ele era do PSD?BLEY: Ele nunca foi do PSD.REVISTA: Ele perdeu uma eleição para go­vernador.BLEY: Perdeu por dois mil e tantos votos.

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REVISTA: Dizem que a eleição foi fraudulenta.BLEY: Dizem, mas não posso garantir.REVISTA: Para terminar, gostaríamos disaber sua opinião sobre a tendência d<Espírito Santo para os próximos anos.BLEY: Numa carta que escrevi ao Deputado Gerson Camata, eu disse a ele que siaqueles que não viveram nos períodos difíceis da vida do Espírito Santo não acreditavam no seu progresso. O Espírito Sant<viveu sempre em crise e sempre venceu essas crises. Eu acredito no Espírito SantoAcredito que ele será um grande estadoPrincipalmente quando funcionar a Usin:Siderúrgica de Tubarão. Quando a primeir:composição da Vitória-Minas chegou no Espírito Santo trazendo minério de Itabiraeu disse que ninguém poderia impedir a vocação siderúrgica do Espírito Santo, e quemais cedo ou mais tarde, Vitória seria <grande centro industrial. A siderurgia fi(

Brasil será colocada em um ponto do litoral onde encontrar o minério de ferro abundante e encontrar com o carvão, que é escasso. E qual é este ponto no litoral brasileiro? Vitória.

Sanch

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N o T *"I c I A sRuaemlançamento

Já está nas praças e bocaso terceiro livro de Fernando Ta­tagiba, com vários lançamentosainda programados. "Rua" reúne15 textos entre contos, crôni­cas e uma reportagem, abordan­do, principalmente, aspectos hu­manos e sociais de Vitória. Mos­tra pessoas que, além de margi­nalizadas e carentes, são maltra­tadas pelos trausentes. Numa dascrônicas faz a reconstituição dosúltimos dias do Bar Britz e dalanchonete Sete, tecendo o desa­brigo em que foi lançada a boe­mia no centro da Ilha.

Tatagiba fala fundamental­mente dos "tipos de rua", habi­tantes dos dias e das noites da ci­dade: onde moram, comem, dor­mem e amanhecem. Critica aretirada, pela Espírito SantoCentrais Elétricas S/A, do bondeexposto na Praça Costa Pereiradurante meses. O bonde foi re­tirado não atendendo a mani­festação popular que insistia napermanência do mesmo, até atra­vés de um recheado abaixo-assi­nado.

"Rua" faz também urna crí­tica ao tipo de literatura quasesempre difundido no Estado. Se­gundo o autor, sempre teve vez aliteratura da "burguesia para aburguesia". Ao contrário, Tatagi­ba vem tentando, através de umalinguagem bem acessível e temaspertinen tes, escrever para o povo.

A contra-capa do livro trazelo~.?S de diversas personalida­des como João Antônio, Verís­simo de Mello, Jorge Amado,Rubem Braga e dos Jornais OGlobo, Folha de São Paulo e J or­naldo Brasil. Também é de auto­ria de Fernando Tatagiba "O Solno Céu da Boca", resultado dosseus melhores trabalhos, a maio­ria premiados. Em 83, lançou a"Invenção de Saudade", mas es-

tá vivendo agora e intensamente,o seu novo livro, que classificade simples, humano e, sobretu­do, carregado de emoção. Bemao jeito de quem viveu as alame­das de São jJsé do Calçado e ti­rou passaporte para as ruas dopesadelo metropolitano.

TCGreabreem abril

A diretoria do Departamen­to Estadual de Cultura - DEC -,assinou convênio com o Bandese Secretaria de Educação, para aobtenção dos recursos necessá­rios à recuperação do TeatroCarlos Gomes.

Após um ano terminado oprojeto que apontava o perigoiminente para os usuários do tea­tro, devido às precárias condi­ções do seu forro e telhado, oDEC começou a receber verbaspara as obras, no valor de Cr $150 milhões. No cronograma deobras, a prioridade ficou com areparação do forro, telhado, sis­temas elétrico e hidráulico, recu­peração dos equipamentos de so­noplastia, iluminação e palco,além da restauração do painel dopintor Homero Massena, respon­sável pela pintura da cúpula doteatro.

Construído em estilo art­nouveau, o Teatro Carlos Gomesfoi projetado por André Carlo­ni e inaugurado em 1927. O pré­dio passou por restauração com­pleta entre 1968 e 1970, com to­do o equipamento indispensávelpara uma casa de espetáculoscom capacidade de atender 600pessoas.

Em abril, o Carlos Gomesvoltará a funcionar, embora nãototalmente recuperado. Estarãosendo executadas obras de recu­peração das esquadrias de portase janelas, partes de gesso e reves­timento dei chão e paredes, alémde parte do mobiliário.

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O diretor da Divisão de Tea­tro, Maurício Silva, está progra­mando alguns espetáculos para areabertura do teatro. Entre eles"as peças "Irresistível Aventura",e "Feliz Ano Velho", esta últi­ma há dois anos em cartaz no ei­xo Rio--São Paulo, com mais de500 apresentações.

4 O Congressoda Andes

No período de 25/02 a01/03 foi realizado, pela primei­ra vez em Vitória, o quarto con­gresso da Associação Nacionaldos Docentes de Ensino Superior- Andes -, reunindo algumas ãu­toridades e milhares de profes­sores dos quatro cantos do País.Os temas básicos discutidos fo­ram sobre a "Conjuntura Nacio­nal e Organização dos Movi­mentos Sindicais"; "ConjunturaNacional e as Perspectivas daUniversidade Brasileira"; "Ques­tões Setoriais" e "Questões Or­ganizativas. "

O Congresso, efetivamente,iniciou-se na terça-feira com reu­niões de grupos e plenárias,rea­lizadas nos Cemunis I, II e IlI,na biblioteca e' nas dependên­cias do Centro de Educação Fí­sica e De~rortos da Universida­de Federa do Espírito Santo.Para a discussão sobre "Movi­mento SindicaL, foram convida­dos o presidente da Confedera­ção Nacional dos Trabalhadoresda Agricultura - Contag - JoséFrancisco da Silva, o represen­tan te do Conselho Nacional dasClasses Trabalhadoras - Conclat-, Ivan Pinheiro, e o da CentralÚnica. dos Trabalhadores -Cut -,Jair Meneguelli. No debate sobreo "Financiamento da Universi­dade", participaram o reitor daPUC de São Paulo, Luis EduardoVanderlei, o presidente da SBPC,Clodovaldo Pavan, o presidentedo Conselho de Reitores das

Universidades Brasileiras, JoséRomeu. Para o debate da Con·juntura Nacional, foram convida­dos o professor Dalmo Dallari, ovice-presidente da OAB, HermesBaeta, o deputado-federal doPMDB-ES Max Mauro e o pre­sidente do PT, Luiz Inácio daSilva.

O vice-presidente da Andes,Carlos Martins, acredita na polí­tica da entidade, contrária à po­lítica do governo federal, quepreza pela privatização do ensi­no. Enfatiza a retomada da lutanesse novo governo pelo ensinopúblico e gratuito (questão tam­bém abordada no Congresso),devendo partir de todos os seg­mentos da sociedade. Raul Guin­ter, secretário-geral, também con­corda com essa posição, e afir­ma que a Andes não terá qual­quer participação na escolha donovo ministro da Educação. Oimportante para ele "é lutar poruma Universidade autônoma edemocrática", independente donome que venha ocupar o cargode ministro.

São Pedroem cordel

"Aqui no São Pedro temigente sofrendo que dá dó / saipro lixo de manhã / com a tripadando nó / vai catar algumas coi­sas / pra comprar açucar e pó".Contar a difícil luta pela sobre­vivência é a tônica dos versos drcordel "O Bairro São Pedro",lançado no Centro Comunitáriode São Padro pelo poeta AdenirBernardino Alves, de 35 anos,nascido em Iúna, carpinteiro de­sempregado e que sobrevive debiscate.

Há quatro anos Adenir moraem São Pedro e conhece bem ahistória do lugar: ocupações, ainterferência da polícia, a lutapara conquistar o direito de ca­tar o lixo depositado no bairro,

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para Todos", de Jayme'Compri,grupo Ivamba, de São Paulo e,dia 27, "Como a Lua", de vla­dimir Capella, grupo Três, de Ja­boatão 1Pernambuco.

No último dia do festival,às 21h, houve o encerramentoe a entrega do prêmio PetrobráslLubrax de Teatro Amador aomelhor ator, melhor atriz. me-

a extrema mlsena do dia-a-dia.A linguagem de seu cordel

é espontânea e sua estrutura éconstruída com seis carreiras deversos com rimas inte~caladas,métrica que ele usa em vocabu­lário puro e simples. "Conheçobastante bairros 1sendo eles qua­se igual 1mais vou contar de SãoPedro 1porque ele é o principal 1com versos que eu faço 1contan­do o bem e o mal".

Através dessa narrativa, mui­tas vezes dramática, Adenir es­creveu anteriormente "AmanteAssassma", ainda não publicado.A publicação de "O Bairro SãoPedro" integrou o Programa deIncentivo e Apoio à ProduçãoLiterária, do Departamento deCultura da Prefeitura de Vitória,com a colaboração do Departa;mento de Imprensa Oficial doEspírito Santo - DIa.

Contratosdo Aglurb

As prefeituras de Vitória eCariacica receberam a primeiraparcela de recursos do Programade Aglomerados Urbanos(Aglurb), da ordem de Cr$ 600milhões, pertencentes a estes~unicípios. A assmatura dosconvênios foi realizada em 11 dejaneiro, no Palácio Anchieta, on­de estiveram reunidos o gover­nador Gérson Camata, o secre­tário de Interior e TransportesSérgio Ceotto, os prefeitos Ber­redo de Menezes e Nelço Sechin,e o diretor superintendente doInstituto J ones dos Santos Ne­ves, Manoel Martins, além de ou­tras autoridades.

O total de recursos previs­tos pelo Aglurb é da ordem de 8milhões de dólares, que serão li­berados à medida em que os ser­viços sejam contratados. Assim,a prefeitura de Cariacica inicioua execução de drenagem e cal­çamento de quatro ruas no seumunicípio: a Avenida Principal,no bairro Formate; Av. Vitóna,em Nova Brasília e o acesso aosbairros São Francisco, Cristo Reie FemandoAntôniona região deBela Aurora, num total de 18mil metros quadrados de obra.

Até o momento, foram investi­dos Cr$ 277 milhões.

Em Vitória, as obras tam­bém êomeçaram a semana passa­da. Com Cr $ 307 milhões refe­rentes à primeira parcela de re­cursos do Aglurb para a Capital,será feito o recapeamento asfál­tico da Av. Maruípe, numa ex­tensão de 660 metros e da Av.Paulino Muller, com 550 metros.O secretário de Obras da Prefei­tura Municipal de Vila Velha,Humberto Veno, assegurou quedentro de 60 dias, os serviçosestarão todos prontos. Para esteano, os recursos que serão inves­tidos através do Aglurb, na Gran­de Vitória, são de Cr $ 17 bi­lhões.

Festivalde teatro

Em São Mateus, foi realiza­do de 20 a 27 de janeiro, o Fes­tival Nacional de Teatro Ama­dor. O evento foi promovido pe­lo Centro Cultural Porto de SãoMateus, com apoio da FundaçãoRoberto Marinho, FederaçãoCapixaba de Teatro Amador ­Fecata -, Instituto Nacional deArtes Cênicas - Inacen - e Con­federação Nacional de TeatroAmador - Confenata.

No dommgo de abertura, aprogramação do festival foi ini­ciada com uma alvorada com o".Tongo do Menmo Jesus", às 4horas, e se estendeu até às 22h,com apresentação da peça "An­chieta: Depoimento", de Paulode Paula, Grupo m-Formação.Dia 21/01 foi apresentado "OGuaranizmho", uma ópera deBeto Costa e Elame Rovena, gru­po Nervo Abalado, de Vitória;dia 22, a peça "Beiço de Estra­da" de Eliezer Filho, grupo Tea­tro Terra, de Cajazeiras 1Paraí­ba; dia 23, a peça "Doce Vampi­ro'; de Carlos Carvalho, grupo"O Dromedário Loquaz", deFlorianópolis 1 Santa Catarina;dia 24, a peça "Entredentes" deCláudio Hendrey, grupo Vitraisde Niterói 1 RJ; Dia 25, "Istoé um Assalto" de Maciel deAguiar, grupo Mateense. de Tea­tro Amador; dia 26, "Felicidade

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Poemapremiado

o na anteriorda Revista/IJSN ficou

devendo a publicação dopoema de Miriam

Santos Cardoso,classificado para a

Antologia NacionalVinÍcius de Moraes, através

de concurso.Para saldo da dívida,

ei-lo:

lhor montagem, melhor diretcmelhor texto, melhor iluminção, melhor figurino, melhor snoplastia, melhor peça ("Felicdade para Todos", opinião (público), melhor música e coregrafia, sendo que às 22 hor,houve encenação da peça "(Homens de Casaco Brancocom o grupo Arco-Íris.

AI.4 NTFE 5 TO

Múseis torpedose domingos - jorge-velho. ..

Por queslio tão brutos os gafanhotosna relva?

Tive um sonhoerótico

que na-o posso confessar111flS me dei conta, impudica,que posso soletrar a palavra or-gas-moembora difícil seia

a coniugação do verbogozar.

Talvez uma ou duas incursõesno reino das sombras 'me convertamem alvorada.

Ensinaram-me que posso tudotirante lamber a calda do doce

e ser igual a homemPosto de lado essa condição

de fêmeae proibida

os mísseistorpedos e domingos - jorge-velhonaõ me apetecerr~

Nos parques e comíciospermanece aceso o confrontoe a ronda dos

espantalhoscom seus escudos e capacetesinoculam a onipresença

dos J<afanhotos.Por que não tiramos

um tal manifestode fauna e de florae de fêmeasproibidas>;;

contra á rondados espantalhos?

Quando me chamarampara a cor que me vestemeus pais e avós'

já haviam sidoexpulso do édene carimbados.De fêmeae deproibida

tenho ainda esta cormais que negra

efervescênciadeste manifesto da alvorada.

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RESENHA'Ao escravo, pão, correção e trabalho

ALMADA, Vilma Paraíso Ferreira de. A escravidão nahistória econômico-social do Espírito Santo,1850-,1888. Niterói, Universidade Federal Flu­minense, 1981.

"Senhor e possuidor do escravo Este­vão e que por o possuir livre e desembara­çado de penhora, embargo ou hipoteca, de­le faz venda... de hoje e para sempre... pelaquantia de um conto de réis .•. para jamais,em tempo algum, lire seja pedido por si oupor seus herdeiros; e que toda a posse,domínio e senhorio que no dito escravo ti­nha, cedo e traspasso à pessoa do compra­dor para ~ue o goze como seu que desde jáfica sendo'.

-- Cartório do 30 Ofício -- Vitória. Es­critura de Venda.

• • •"Com especialidade de justificar que

comprou o escravo de nome João, dando aodito vendedor a quantia de 450 $ 000, sen­do em dinheiro 400$000 e uma vaca por50$000, por conta dos 500$000, valor porquanto contratou o dito escravo..."

-- Cartório do la Ofício -'- Vitória/1893.

• ••"Vende~e a metade de uma escrava, de

idade de vinte e cinco anos, pouco mais oumenos, que sabe lavar, cozinhar e coser. Tra­tar com Antônio Francisco Ribeiro".

-- Correio de Vitória -- Vitória, 29 deoutubro de 1856.

• • •"Todo escravo que for encontrado na

cidade sem "bilhete" do senhor, será condu­zido à cadeia e no dia seguinte castigado noPelourinho com cinquenta açoites. Se rein­cidente a pena poderá ser de duzentos açoi­tes; se for mulher, r.&ceberá quatro dúzias depalmatoadas e, se. reincidente, até seis dú­zias" ~

-- Lei Municipal - Vitória/1829.

• • •"Liberto Floriana, cabra de 19 anos,

sob condição de servir-me até o último diada minha vida... esperando porém que ela,conhecendo este benefício que lhe faço...me gratifique em acompanhar-me em minhavida com afeto.•. de sua espontânea vonta­de".

- Cartório do 20 Ofício de Vitória, 29de janeiro de 1867.(Carta assinada em 20 de março de 1839).

• • •"No dia 28 de outubro de 1855, em

São Matheus, a escrava Pulquéria,da senho­ra Leocádia Maria dos Anjos, achando~epresa num paiol, tentou arrombar a portapara fugir. Não o conseguindo e temendo sercastigada, cortou a garganta com uma faca".

- NOVAES, Maria Stella de - A Escra­vidão e a Abolição no Espírito Santo. Vi­tória, 1963.

Propriedade de um senhor, que nelevia apenas a objetivação de um capital, oescravo foi a alternativa para o f>roblemada mão-de-obra nos terrItórios ao NovoMundo; a categoria animalizada do homemque se podia legalmente comprar, vender,alugar, avaliar, emprestar, doar, dividir, pe­nhorar, hipotecar, arrendar, devolver.••Agrilhoado, através dos tempos, pela má­xima do livro bíblico "ao escravo, pão, cor­reção e trabalho" (Eclesiastes, capo 33, verso25), o escravo esteve subjugado ao poderabsoluto do senhor, fórmula única capazde assegurar a manutenção do regime es­cravista.

Vilma Almada, em A Escravidão naHistória Econômico-Social do EspfritoSanto/I8S0-1888, procura identificar aimportânciá do trabalho escravo na Pro­víncia quando se instala o primeiro surtocafeeiro.' O estudo da escravidão, pano defundo do trabalho em questão, é enfoca­do nos níveis de suas relações de produçãoe de suas relações sociais. Embora seja es­cassa a documentação gue diz réspeito à es­cravidão, quase completamente destruídapelo arroubo das autoridades governantesno sentido de "apagar essa vergonha nacio­nal", a autora faz uma minuciosa e laborio­sa busca em relatórios dos Presidentes daProvíncia, Chefes e Delegados de Poiícia,inventários, escrituras, registros de casa­mento, ofícios, jornais da época, recibos,cartas de alforrias, posturas municipais, leisprovinciais, processos - crimes, e outrasfontes, remontando o quadro do que signi~ficou a mão-de-obra escrava no períodonascente da cafeicultura no Espírito Santo,período este que coincide com a agonia doescravismo no Brasil.

A proibição do tráfego negreiro, em1850, não consegue coibIr o crescimentoda população escrava e no período de 1856

DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO ESCRAVA - 1824-1876otalde Números de Escravos nas Regiõesscravos

Anos na Prov. Capital % [tapem % ":,t" % J.~, %

1824 13.188 7.142 54,2 3.127 ,23,7 2.654 20,1 265 2,01856 12.269' 4.923' 40,1 4.381 35,7 2.213 18,0 752 6,21872 22.552 6.919 30,7 11.722 52,0 2.813 12,5 1.098 4,81875 20.847 6.079 29,2 11.516 55,2 Z.611 1Z,6 635 3,01876 20.806 5.839 28,0 11.853 57,0 2.500 12,0 614 3,0

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a 1872 a Província teve praticamente dupli­cadas suas populações livre e escrava. A exi­gência de braços para a cultura do café, quesubstituía a cana-de-açúcar, confirma a tra­dição escravista da Província, datada do sé­culo XVI. O tráfico ilícito tornou-se umaconstante e os traficantes, quando fla.sra­dos na burla à Lei, gabavam-se como Joa­quim Ferreira de OlIveira, acusado de de­sembarcar em Itapemirim 270 africanos, deque " .•. não tem medo e vai •.. continuarcom o tráfico elícito, ap.esar dos esforçosda ação do Ministério da Justiça" (ArlJuivoPúblico Estadual/ES -'- Carta de Denunciae Mandato de Prisão, 1851). '

O estertor do escravismo não poupou,e na verdade acentuou pela dificuldade emconseguir novos braços, a população escra­va do desgaste causado pero regime de tra­balho. Segundo Stanley Stein, conformepesquisa da autora, algumas fazendas de ca­fé mais se assemelhavam "a aglomerados dedoentes e aleijados do gue a estabelecimen­tos agrícolas para fins de produção remune­rada". Em algumas fazendas, os inutiliza­dos para o trabalho '(cegos, estropiados,doentes do peito, defeituosos, rendidos,etc.) perfaziam mais de 10% da mão-de­obra escrava.

O fim do escravismo, juridicamente ex­tinto em 1888, conduz a autora a algumasreflexões sobre a nossa propalada "demo­cracia racial", que em nada mudará na tam­bém nossa "Nova República", gue, contri­bui para preservar o desajuste do negro li­vre numa sociedade que lmpediu-o de tor­nar-se pequeno 'agricultor dificultando-lhea a~uisição de terras devolutas; lansou-ono 'cativeiro da terra" pela prática do co­lonato, parceria e meação; levou-o a com­petir como mão-de-obra especializada noscentros urbanos, em inferioridade com oimigrante; e, por fim, não livrou-o da pechade ser humano inferior...

Em contrapartida à penúria e à misé­ria, tão" atuais para a grande maioria dosdescendentes de escravos, imensas fortunasforam amealhadas pelos donos de terras ede gentes, A projeção dos filhos dessas for­tunas na vida púolica do Estado "dá de­monstraçãode quanto ainda perdura, noEspírito Santo, a força do poder políticodos senhores de terras e de escravos do pas­sado".

,Adilson Vilaça.

Page 59: Revista IJSN - Ano IV - Nº 2 - 1985

ListaA Revista do IJSN apresenta uma listagem bibliográfica relativa às

Perspectivas Econômicas do Espirito Santo. O material, elaborado pelabibliotecária Conceiçaõ Almeida, pode ser encontrado

. na Biblioteca do IJSN.

AGRICULTURA aceita discutir a produção de soja no estado. A Gazeta,Vitória, 25 out. 1984. p.10.I. cad. c. 4 e 5.ALGAS marinhas,; o Estado descobre seu garimpo no fundo do mar. AGazeta, Vitória, 9 jun. 1983. p. 1. 2. cad. c. 1, 2,3.4,5 e 6.ALGUMAS considerações sobre os transportes na área de influência daCVRD; escalonamento municipal da demanda de serviços de transportes euma análise dos corredores de transportes/exportação. s. n. t.124f.ARACRUZ é responsável por 13% da celulose. A Gazeta, Vitória, 1. mar.1981.ARACRUZ e Xerox produzirão papel. A Tribuna, Vitória, 1. fev. 1981.p.10 1. cad.BALARINI, Sebastião José et alii. Setor Agrícola Capixaba; diagnóstico eperspectivaS. Revista da Fundação Jones dos Santos Neves. Vitória, 2(3):5-lldul./seLI979.BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO. Perspectivasde desenvolvimento integrado do Espírito Santo, no próximo decênio, apartir do crescimento econômico assegurado pelos grandes projetos.Vitória, 1973.104 f.BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO. Plano deação 1975/79. Vitória, 1975. 211f.Programa de reaparelhamento estrutllc~;!i;Yitória. f.BANDES estuda implantar indústria química no ES. A Gazeta, 11 ju!.1984. p. 7.1. cad. c. 4 e 5.BREVE apanhado sobre a história da siderurgia no ES e as velhas raízesde Tubarão. A Tribuna, Vitória, 20 maio 1981. Suplemento Especial.p. 1 c. 1,2.3,4,5 e 6.CADERNO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO. Especialda revista Agora.CALIMAN vê economia capixaba dependente de fatores externos. A Ga­zeta, Vitória, 11 novo 1983. p. 4. 1. cad. c. 5.CALIMAN vê industrialização não adequada à realidade do Estado. AGazeta, Vitória, 18 ago.1984. p.16.1. cad. c. 2,3,4 e 5.CAPUABA começa a escoar cereal do cerrado sábado. A Gazeta, Vitória,27 jun.1984. p. 11.1. cad. c, 5 e 6.COMPLEXO Portuário de Praia Mole; uma realidade brasileira. A Gazeta,Vitória, 14 novo 1984. 14 p. Suplemento Especial.COMPLEXO Portuário do Espírito Santo. A Gazeta, Vitória, 28 jan.1985. 12 p. Suplemento Especial.COMPLEXO Portuário lidera exportação em tecelagem. A Tribuna, Vi­tória, 6 set. 1981. 1. cad. C. 1, 2, 3 e 4.CORREDOR de exportação; prioridade por Sepetiba. A Gazeta, Vitória,16 ago.1981.CRISTIANO alerta sobre os riscos dos grandes projetos. A Gazeta, Vitó­ria, 13 jan.1980.CST; a segunda revolução industrial do Espírito Santo. A Tribuna, Vi­tória, 30 novo 1983. 16p. Suplemento Especial.DELFIM anuncia ativação do corredor. A Gazeta, Vitória, 16 seL 1982.p. 8. 1. cad. C. 2, 3, 4 e 5.DESACELERAÇÃO do corredor tira Cr$ 1 bi pe Capuaba. A Gazeta,Vitória, 27jan. 1983.p.l0.l.cad.c.6.DESENVOLVIMENTO industrial do Espírito Santo. A Gazeta, Vitória,18 set.1979. 16 p. Suplemento Especial.ECONOMISTA acha que desenvolvimento do ES trouxe desquihbrios.A Gazeta, Vitória, 7 ago. 1984. p. 7. cad. C. 2 e 3.ES implanta 1.044 projetos no Provárzcas. A Gazeta, Vitória, 5 jan.1985.p.9.1.cad.c.4.ESPÍRITO SANTO indústria. A Gazeta, Vitória, 2 dez. 1977. 12 p. Su­plemento Especial.ES. render ou render-se; Espírito Santo Agora, Vitória, (4) :22-6, fev. 1973ESPÍRIT~~§'ANTO. Secretaria de Planejamento. O corredor de exporta­ção Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo. Vitória, 1981. 50 f.

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AS ETAPAS do processo histórico de desenvolvimento sóc!o-econômi-co do Espírito Santo. 1975. .FRAGA, Luis. Os sete caminhos do mar. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,30 out. 1982. p. 17.1. cad. C. 1,2,3,4, 5 e 6.FUNDAÇAO JONES DOS SANTOS NEVES, Grande Vitória; Centro deAnimação de Carapina. Revista da FJSN, Vitória, Hl):26-31,jan./mar.1978.FUNRES volta aplicações para setor agropecuário. A Gazeta. Vitória, 6maio 1984. p.14. 1. cad. c.l e 2.GOBBI, Carlos Hennque. Corredor de Exportação; sem saída pata o cer­rado. A Gazeta, Vitória, 4 jul. 1982. p. 25. 1. cad. c.l, 2,3,4,5 e 6.Inauguradas as exportações de soja pelo corredor. A Gazeta, Vitória, 1.jul. 1984. p. 15. 1. cad. C. 1,2,3,4,5 e 6.Portos se espeCIalizam para os granaes projetos. A Gazeta, Vitória, 9.maio1982. p. 20. 1. cad. c.l, 2 e 3.GOVERNADOR critica os grandes projetos. A Tribuna, Vitória, out.

1979. p. 8.1. cad. c~ 1,2 e 3."GRANDES projetos dão prejuízos". A Tribuna, Vitória, 2 dez. 1979.INDUSTRIALIZAÇÃO no Estado não proporcionou efeitos desejados.A Gazeta, Vitória, 13 fev. 1983. p. 15. 1. cad. c. 3, 4 e 5.IMPORTAÇÃO de trigo no Canadá efetiva Corredor de Exportação. ATribuna, Vitória, 30 set.1982. p. 19. 2. cad. c, 1, 2, 3, 4 e 5.IMPORTAÇÃO de trigo por Capuaba inaugurará Corredor de ExpOrta­ção. A Tribuna, Vitória, 2 seL 1982. p. 19. 2. cad.c.l, 2,3 e 4.INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE MINAS GE­RAIS. Estudo preliminar para o deSenvolvimento do sistema de transpor­te dos Estados de Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo. Belo Horizonte.1977.195 f.MAIORES do ES são Vale, Aracruz e CST. A Gazeta, Vitória, 16 jan.1983.1. cad. C. 2 e 3.ME~EIROS, Antônio Carlos de. Espírito Santo; a industrialização comofator de desautonomia relátiva. Rio de Janeiro, 1977. 172 f.MERCADO tàvorável faz Aracruz produzir mais. A Gazeta, Vitória, 27dez. 1979.MUNIZ, Álvaro. Algas Calcárias; no Estado, um projeto pioneiro na Amé­rica Latina. A Gazeta, Vitória, 22 jan. 1984. p. 1. 2. cad. c. 1, 2, 3 e 4.NOVAS certezas de progresso para o Espírito Santo; eficiência e produti­vidade operacional são qualidades que identificam -o complexo portuáriodo Espírito Santo. A Tribuna, Vitória, 23 junho 1980. Suplemento Espe­cial, p. 6 e 7.OpçÃO industrial; ES concentra seu desenvolvimento. A Gazeta, Vitória,5 ago. 1984. p. 16. 19. 1. cad.PETROBRÁS e Docenave ajudam a construir estaleiro. A Gazeta, Vitória,18 fev. 1982. p. 10. 1. cad. c. 3 e 4.PRESSÕES podem tornar inviável o corredor de exportação no Estado.A Gazeta, Vitória, 1. jun. 1983. p. 9. 1. cad. C. 2 e 3.REALIDADE industrial do ES. A Gazeta, Vitória, 31 maio 1983. 20 p.Suplemento Especial.REZENDE, Lino Geraldo. Industrialização; no Espírito Santo, o café foio fator dominante. A Gazeta, Vitória, 1983. 2. cad. C. 1, 2,3,4,5 e 6.SAMARCO; o maior minéroduto do mundo. A :rribuna, Vitória, 29 set.1977.10 p. Suplemento Especial.'IuBARÃO; Espírito Santo ganha nova base para seu futuro. Jornal doBrasil, Rio de Janeiro, 30 novo 1983. p. 7 - 8. 1. cad.USINA de Tubarão; um projeto multiplicador do progresso. A Tribuna,Vitória, 17 ago. 1980. p. 9. Caderno Especial. c.1, 2, 3 e 4.VALE tem projeto para construção de estaleiro. A Gazeta, Vitória, 13maio 1984. p. 13.1. cad. c.l e 2.VIEIRA, Friederick Brum. Doze anos depois; o CIVIT continua espaçoocioso. A Gazeta, Vitória, 12jun.1983. p.18.I. cad. c.l, 2, 3 e 4.VIEIRA, Friederick Brum. Estatística ainda negam a crise que todos sentemA Gazeta, Vitória, 16 ouL1983. p.16.1. cad. c.1, 2,3,4,5 e 6.

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GOVERNOMOCRATlCOESPIRITO SANTO

ADMINISTRACAO GERSON CAMATA

Constroe-se um novo EspíritoSanto, liderança e visãOdo Gerson Camata.Fruto dopovodaquidaO Banco de Desenvolvimento do

rito sabequeéapartir iniciativa local que se fazu Nova República.Epor aberto a quem temidéias e no amanhã.

o Espírito Santo apostou nonome de Tancredo Neves para ocomandada nação. EspíritoSanto apostou na reconquista daesperança. Apostou em novosrumos para a comunidadecapixabaadqui daestabilidade do país.A função de um BancoDesenvolvimento, ondedescortinar os destinos epromover iniciativas,mais tangível quando a vGoverno encampa am:;el()Ssociedade. A perenizaçãoDL-88ü, incentivo V<.A~jUL

produzir e gerar investimentos,encerra o período de incertezados investidores locais.

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Presidência da RepúblicaSecretaria de Planejamento ­Grupo Executivo para aEconômica do Espírito Santo- >CJL,'''L,LJ

'Ctnto tletosatlagre

A sua perenização move amontanha da recessão garantindoo nosso pequeno mas verdadeiromilagre, ao reconquistar a fé doshomens que investem no EspíritoSanto.O GERES - Grupo Executivo paraa Recuperação EconômicadoEspírito Santo, está trabalhandoa favor do santo de casa.

Aqui no Espírito Santo quem fazmilagre é o santo de casa. A fédepositadanos investidoreslocais moveu o Governo doEstado a buscar, "omo alternativapara a garantia do progresso e dodesenvolvimento, a perenizaçãodoDL-SSD.O DL-880 já provousuficientemente a suacapacidade de proporcionararecuperação da economialocal. Os anos de desaquecimentonão foram tão drásticos para oEspírito Santo graças aosincentivosdo Decreto Lei.

salllalla Meslm e Nossa sellhom Menina, séc XVIlI' Madeim com reslos de policromia, a/lum 34 em, o/'iginária