revista iluminart 10 - jun/2013

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Revista Científica Eletrônica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP Campus Sertãozinho

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  • Corpo EditorialEditor-chefeAltamiro Xavier de Souza - IFSP

    Editor substitutoWeslei Roberto Cndido - UEM

    Conselho EditorialAltamir Botoso UNIMAR *Ana Cristina Troncoso UFF *Andria Ianuskiewtz IFSP *Anne Camila Knoll Domenici IFSPAntonio Sergio da Silva UEG *Antonio Sousa Santos UFVJM *Carlos Alexandre Terra IFSP * Gabriel Roberto Martins IFSP Janete Werle de Camargo Liberatori IFSP *Jos Carlos de Souza Kiihl FATEC *Mauro Nicola Pvoas FURG *Plnio Alexandre dos Santos Caetano IFSPReinaldo Tronto IFSP *Rodrigo Silva Gonzlez UFV *Whisner Fraga Mamede IFSP *

    Conselho ConsultivoAlexandre do Nascimento Souza USPAlexandre Henrique de Martini IFSPlvaro Jos Camargo Vieira PUC-SP / FITAmadeu Moura Bego IFSPAmanda Leal Oliveira USP Amanda Ribeiro Vieira IFSPngela Vilma Santos Bispo UFRBAraci Molnar Alonso USP/EMBRAPA DFCintia Almeida da Silva Santos IFSP Cristiane Cinat UNESPDenise Paranhos Ruys IFSP

    Eduardo Andr Mossin - IFSPEliana de Oliveira FACFITOEmanuel Carlos Rodrigues IFSPEullia Nazar Cardoso Machado IFSPJosilda Maria Belther IFSPKjeld Aagaard Jakobsen USPLeandro Dias de Oliveira UFRRJLuciana Brito UENP / UELLuiz Carlos Leal Jnior IFSPMagno Alves de Oliveira IFBMarina P. A. Mello FACFITO / UNICAIEIRASMarsele Machado Isidoro IFSPNadja Maria Gomes Murta UFVJM / PUC-SPPedro Cattapan UFFPierre Gonalves de Oliveira Filho FAMECRicardo Castro de Oliveira UFSCARRita de Cssia Bianchi UNESPRonaldo de Oliveira Rodrigues UFPARosana Cambraia UFVJMTnia Regina Montanha Toledo Scorparo UENPVgner Rodrigues de Bessa UFVWellington Luiz Alves Aranha UNESP

    MonitoriaGabriel Roberto Martins IFSP

    Designer Gr!coNildo Xavier de Souza

    Diretor Geral do IFSP - Campus SertozinhoLacyr Joo Sverzut

    Reitor do IFSP Eduardo Antonio Modena

    REVISTA CIENTFICA ELETRNICA ANO V N0 10 IFSP - CAmPuS SERTOzINhO JuNhO / 2013 ISSN 1984-8625

    Copyright Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de So Paulo - Campus SertozinhoPara publicao, requer-se que os manuscritos submetidos a esta revista no tenham sido publicados anteriormente e no sejam submetidos ou publicados simultaneamente em outro peridico. Nenhuma parte

    desta publicao pode ser reproduzida sem permisso por escrito da detentora do copyright. O contedo dos artigos so de responsabilidade, nica e exclusiva, dos respectivos autores.

    REvISTa CIEnTFICa ElETRnICaISSn 1984-8625

    Fundada em 2008Peridiocidade Semestral

    www.ifsp.edu.br/sertaozinhoRua Amrico Ambrsio, 269 - Jd. Cana

    Sertozinho - SP - Brasil - Cep: 14169-263Tel.: +55 (16) 3946-1170

    http://www.cefetsp.br/edu/sertaozinho/revista/iluminart.html

    [email protected] / [email protected] https://www.facebook.com/iluminart.iluminart

    * Membros do Conselho Editorial que participam do Conselho Consultivo tambm.

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    Chegamos ao 10 nmero!

    E, o mais importante, chegamos fortes, com disposio de elevarmos o padro da Iluminart. Transform-la cada vez mais em um farol, um ca-nal de comunicao entre o IFSP e a comunida-de acadmica de um modo geral; pois atravs de pesquisas transformadas em artigos conseguimos aprender sobre o que se produz interna e externa-mente Instituio. So artigos recebidos de todas as regies do Brasil, com diversidade de temas, as-suntos e estilos de escrita.

    Internamente, o IFSP passa por um perodo de transio. O processo de escolha do novo reitor o primeiro eleito pelos seus pares (o reitor anterior foi eleito ainda como Diretor Geral e transformado em pro-tempore pelo Ministro da Educao) foi desgastante para toda comunidade, evidenciando a falta de maturidade poltica de seus membros, quer sejam candidatos, simpatizantes, eleitores quer se-jam organizadores do processo eleitoral. Cada seg-mento em seu papel mostrou o quanto estamos lon-ge de sermos uma democracia participativa madura e saudvel.

    Toda esta experincia, na viso da Comisso Eleitoral Central CEC est registrada em seu relatrio !nal sobre o que aconteceu em 2012. O Conselho Editorial da Iluminart resolveu publicar este relatrio na sua ntegra, com o objetivo de fazer um registro histrico atravs do olhar do rgo o!-cial escolhido para conduzir este complexo proces-so eleitoral. Alm de escolher o reitor em 26 campi espalhados pelo estado, a CEC !cou responsvel em conduzir a eleio de sete diretores gerais de campi. Como outras verses sobre os fatos podem ser apre-sentadas, foi escolhido o relatrio aprovado pelo Conselho Superior do IFSP.

    No momento em que escrevo estas palavras, no Brasil esto ocorrendo diversas manifestaes que comearam devido ao aumento da passagem de transporte pblico urbano. Este motivo, sem dvi-da, a gota dgua que faltava em um mar de in-satisfaes com nosso sistema poltico no qual os nossos representantes no nos representam e os poderes constitudos cada vez mais se distanciam dos anseios e necessidades da populao. Vivemos a falta de um servio pblico com qualidade em todos os setores menos na cobrana de impostos - e a sensao de impunidade aos erros e desvios cometidos pelos detentores do poder no Execu-tivo, Legislativo e no menos no Judicirio fez a populao ir s ruas.

    O que resultar disto? No podemos prever.

    Mas, assim como no IFSP, precisamos ama-durecer enquanto nao. A transio, em geral, difcil, muitas vezes dolorida, porm necessria. Faz-se imprescindvel encontrar novas formas de compartilhar as decises e responsabilidades; ela-borar mecanismos de ajustes ao caminho traado em prol do bem maior seja ele qual for, e, res-peito, tanto pelos indivduos e sua histria pessoal quanto pela comunidade.

    Chegamos ao dcimo nmero comemorando o trajeto percorrido pela Iluminart, o momento do IFSP e do Brasil, sabendo que h muito a ser feito, mas com plena convico de que possvel faz-lo.

    Altamiro Xavier de SouzaEditor Chefe

    Docente do IFSP Campus [email protected]

  • Uma coisa pr ideias arranjadas, outra lidar com pas de pessoas de carne e sangue, de mil-e-tantas misrias.

    (Guimares Rosa).

    Podem as palavras compor a verdadeira ordem das re-volues e compreender os movimentos de agitao polti-ca que ocorrem no pas? Talvez no possam, mas so com palavras e discursos que se constroem um mundo melhor ou pior. Tudo comea, atia-se ou se incendeia por meio dos signos verbais que se tem disposio.

    A Revista Iluminart em sua dcima edio olha o mun-do por meio das palavras, seu veculo mais forte de trans-misso das ideias, das pesquisas e dos ideais que surgem nas salas de aula, no silncio das pesquisas em uma escri-vaninha, na tentativa de dilogo em busca da democracia poltica e educacional das organizaes escolares do pas.

    Ao seu modo, a presente edio retrata este momento de agitao e de efervescncia das ideias que proliferam em todas as partes mais recnditas do Brasil. Os trs primei-ros artigos retratam o surgimento e desenvolvimento da educao pro!ssional no pas, desde seus primrdios at a constituio dos chamados Institutos Federais de Educao Cincia e Tecnologia.

    O tema do quarto artigo continua sendo a educao. Muda-se apenas a perspectiva de anlise, agora a geogra-!a e o seu campo de aplicao: o municpio de Sumar-SP. O quinto artigo tambm trilha os caminhos educacionais, versando sobre o PROEJA-FIC, que visa analisar os proces-sos de avaliao diagnstica a !m de melhorar o ensino/aprendizagem desse pblico aprendiz.

    Ao prosseguir na leitura, encontra-se uma re"exo so-bre o romance Tess of the dUrbervilles, de #omas Hardy e o contexto da revoluo industrial que afeta os modos de produo na zona rural inglesa. Embora seja um artigo so-bre literatura, o olhar sobre a sociedade continua a permear este nmero da Iluminart.

    Sai-se da Inglaterra e chega-se a uma das maiores me-trpoles do mundo com a anlise do romance O sol se pe em So Paulo, de Bernardo Carvalho, momento em que questes de identidade e espao so discutidas por meio da pesquisa apresentada; assim viaja-se do campo para a cidade.

    Aps tomar este breve flego pela literatura, o IFSP volta a ser o centro das investigaes novamente. O artigo discu-te a formao do Instituto Federal de So Paulo pelo vis da CTS Cincia, Tecnologia e Sociedade e sua importncia para compreender a regulao democrtica dentro deste centro educacional.

    Na sequncia o leitor encontrar uma pesquisa na rea de psicodiagnstico, focando as relaes entre me e !lha, por meio de um estudo qualitativo que busca conhecer os motivos dos desajustamentos geradores de sofrimentos ps-quicos.

    A educao volta a ser a pauta do prximo artigo. A dis-cusso gira em torno da ampliao do acesso internet nos ambientes educacionais como forma de alcanar a demo-cratizao da informao, que hoje se transformou em um bem precioso.

    O leitor do presente nmero tambm encontrar um es-tudo sobre a aplicao do sistema de gesto Lean Six Sigma, que tem por objetivo evitar os desperdcios. Desta forma, o artigo mostrar como foi a implantao desse mtodo de produo em uma empresa real, possibilitando avaliar sua e!ccia.

    A rea de qumica contemplada com o estudo sobre a aplicao do so$ware Blender para o uso no ensino de conceitos qumicos; por meio dele o objetivo facilitar o ensino/aprendizagem dos alunos, substituindo modelos es-tticos de reaes qumicas por representaes dinmicas proporcionadas pelo programa de animao Blender.

    Alm disso, a revista apresenta o artigo de renomados autores da rea de Matemtica que discute conceitos de ci-clos minimais, vrtices neutrais e no-neutrais em torneios. Certamente, leitores especializados em estudos matemti-cos tero um timo material em que basear novas pesquisas e aprofundar seus conhecimentos.

    Para terminar, h a resenha sobre o livro A presena do folhetim na minissrie Incidente em Antares, um estudo de-dicado adaptao do romance de rico Verssimo para uma srie televisiva.

    Esperamos que este nmero da Iluminart mesmo sendo organizado com palavras arranjadas, sirva de instrumento para pensar este Brasil feito de pessoas de carne e sangue, de mil-e-tantas misrias, melhorando a qualidade de vida delas, por meio dos estudos crticos que aqui se apresen-tam. A!nal, para que servem os estudos, seno para alterar o pas onde vivemos?

    Weslei Roberto CndidoEditor Adjunto

    Docente da UEM Universidade Estadual de [email protected]

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    ! ARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL PARTE 1: PRIMEIROS QUATROCENTOS ANOS DE HISTRIA DO BRASIL (1500 A 1900)

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    MARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL

    PARTE 1: PRIMEIROS QUATROCENTOS ANOS DE HISTRIA DO BRASIL (1500 A 1900)

    Harryson Jnio Lessa Gonalves Clia Maria Carolino Pires

    Ana Lcia Braz Dias Ana Cldina Rodrigues Monteiro

    RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar os principais fatos histricos que

    antecederam o surgimento da Rede Federal de Educao Profissional, Cientfica e Tecnolgica

    (RFEPCT) no Brasil. Os dados apresentados originaram-se de uma pesquisa qualitativa de

    natureza fenomenolgica, sendo coletados a partir da reviso de literatura especializada e de

    documentos histricos (legislaes). O trabalho apresenta um recorte dos fatos que

    impulsionaram o surgimento das Escolas de Aprendizes Artfices marco histrico da

    institucionalizao da Educao Profissional no Brasil. Tal recorte se insere em um projeto de

    maior amplitude, que se preocupou com a insero do ensino de Matemtica na Educao

    Profissional e nos currculos dos cursos de Matemtica, com o intuito de contribuir com estudos

    que auxiliem na compreenso do ensino da matemtica neste segmento de ensino.

    PALAVRAS-CHAVE: Educao Profissional; Histria da Educao; Educao Brasileira.

    MILESTONES AND TRAJECTORIES OF PROFESSIONAL EDUCATION IN BRAZIL:

    FIRST 400 YEARS OF THE HISTORY OF BRAZIL (1500 - 1900)

    ABSTRACT: The objective of this article is to present the historical facts that precede the creation

    of the Federal Network of Professional, Scientific and Technological Education (Rede Federal de

    Educao Profissional, Cientfica e Tecnolgica - RFEPCT). For this end we present the historical

    events in the first four-hundred years of the history of Brazil which had an impact in the creation of

    the Schools for Apprentice Craftsmen (Escolas de Aprendizes Artfices) in 1909 a historical

    milestone of the institutionalization of Professional Education in Brazil. The study was outlined as a

    qualitative research of phenomenological nature, in which the data was collected and organized

    from a review of the specialized literature and historical documents (legislation). Emphasis will be

    given to mathematics curricula, with the objective of contributing to the study of mathematics

    education in this type of institution. This analysis is important for presenting historical fragments

  • 10(((|(Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10((|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013$

    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

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    with the aim of preserving and rescuing elements of the memory of the Brazilian Professional

    Education.

    KEYWORDS: Profession Education; History of Education; Brazilian Education.

    No Brasil, a formao para o trabalho ocorreu desde a colonizao do pas, uma vez que a

    coroa portuguesa possua interesses na explorao da Colnia e por isso necessitava do auxlio

    da mo de obra para erguer as construes que abrigariam os exploradores e para o extrativismo.

    Assim, tornou seus primeiros artfices os ndios e os escravos. Conforme aponta Fonseca (1986),

    devido ao direcionamento do trabalho manual se voltar para essa populao naquela poca, o

    povo habituou-se a relacionar a formao laboral como destinada somente a sujeitos das mais

    baixas categorias sociais.

    O direcionamento de trabalhos pesados e das profisses manuais aos escravos, no s

    agravou o pensamento generalizado de que os ofcios eram destinados aos deserdados da sorte,

    como tambm impediu, pelas questes econmicas, que os trabalhadores livres exercessem

    outras profisses. Outro fator que contribui para essa mentalidade foi a educao oferecida pelos

    padres jesutas destinar-se primordialmente aos filhos dos nobres da Colnia. (Garcia, 2000)

    Fonseca (1986) afirma que tais situaes eram to enraizadas que uma das condies

    para que indivduos desempenhassem funes pblicas era de nunca o candidato ter trabalhado

    em servios manuais.

    Com a descoberta das primeiras minas de ouro em Minas Gerais, no sculo XVIII, o rei de

    Portugal tratou de organizar sua extrao. Nesse contexto, a coroa portuguesa, interessada nesta

    nova fonte de lucro e vivendo o declnio do comrcio do acar, comeou a cobrar o quinto, que

    nada mais era do que o imposto cobrado pela coroa portuguesa s Casas de Fundio, que

    correspondia a 20% de todo o ouro encontrado na colnia. A descoberta desse minrio e o incio

    de sua explorao nas regies aurferas (Minas Gerais, Gois e Mato Grosso) provocaram uma

    corrida pelo ouro para essas regies.

    Com a criao das Casas de Fundio e de Moeda, surge a necessidade de um ensino

    visando formao de artfices para o exerccio de trabalhos mais especializados nessas Casas,

    para que pudessem auxiliar no manuseio de determinadas ferramentas ou o domnio de tcnicas

    especficas.

    Segundo Garcia (2000) esse ensino diferenciou-se daquele realizado nos engenhos

    durante a poca, o qual voltava-se para a produo de acar, considerando-se os seguintes

    aspectos: i) o ensino realizado nas Casas s era destinado aos filhos de homens brancos

    empregados nas prprias Casas. ii) aqueles que aprendiam o ofcio nos engenhos, faziam-no de

  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((11(

    ! ARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL PARTE 1: PRIMEIROS QUATROCENTOS ANOS DE HISTRIA DO BRASIL (1500 A 1900)

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    forma assistemtica e no precisavam provar o seu conhecimento prtico por meio de exames,

    enquanto que nas Casas de Moeda, pela primeira vez, estabelecia-se uma banca examinadora

    que deveria avaliar as habilidades dos aprendizes adquiridas em um perodo de cinco a seis anos.

    Os que eram bem sucedidos neste exame recebiam uma certido de aprovao.

    Neste mesmo perodo, surgem nos Arsenais da Marinha do Brasil, os centros de

    aprendizagem de ofcios, voltados originalmente para as atividades de construo e reparo de

    embarcaes, uma vez que essas atividades at ento eram realizadas em estaleiros particulares

    e de forma artesanal. Para compor tais centros de aprendizagem de ofcios foram trazidos

    operrios especializados de Portugal e recrutados aprendizes da colnia. Segundo Fonseca

    (1986), os recrutamentos ocorriam inclusive durante a noite e todo aquele que fosse encontrado

    vagando pelas ruas depois do toque de recolher era levado pela patrulha do Arsenal. Tambm se

    recorria aos chefes de polcia para que enviassem presos que tivessem alguma condio de

    trabalhar para compor tais centros.

    Apesar do ensino profissional no Brasil ter-se iniciado nessa poca, em decorrncia da

    proibio das fbricas, ocasionada pelo alvar1 assinado por D. Maria I, em 5 de janeiro de 1785,

    tal ensino permaneceu estagnado durante um longo perodo. O referido alvar trazia a seguinte

    descrio:

    Eu a rainha. Fao saber aos que este alvar virem: que sendo-me presente o grande nmero de fbricas, e manufaturas, que de alguns anos a esta parte se tem difundido em diferentes capitanias do Brasil, com grave prejuzo da cultura, e da lavoura, e da explorao das terras minerais daquele vasto continente; porque havendo nele uma grande e conhecida falta de populao, evidente, que quanto mais se multiplicar o nmero dos fabricantes, mais diminuir o dos cultivadores; e menos braos haver, que se possam empregar no descobrimento, e rompimento de uma grande parte daqueles extensos domnios, que ainda se acha inculta, e desconhecida: nem as sesmarias, que formam outra considervel parte dos mesmos domnios, podero prosperar, nem florescer por falta do benefcio da cultura, no obstante ser esta a essencialssima condio, com que foram dadas aos proprietrios delas. E at nas mesmas terras minerais ficar cessando de todo, como j tem consideravelmente diminudo a extrao do ouro, e diamantes, tudo procedido da falta de braos, que devendo empregar-se nestes teis, e vantajosos trabalhos, ao contrrio os deixam, e abandonam, ocupando-se em outros totalmente diferentes, como so os das referidas fbricas, e manufaturas: e consistindo a verdadeira, e slida riqueza nos frutos, e produes da terra, as quais somente se conseguem por meio de colonos, e cultivadores, e no de artistas, e fabricantes: e sendo alm disto as produes do Brasil as que fazem todo o fundo, e base, no s das permutaes mercantis, mas da navegao, e do comrcio entre os meus leais vassalos habitantes destes reinos, e daqueles domnios, que devo animar, e sustentar em comum benefcio de uns, e outros, removendo na sua origem os obstculos, que lhe so prejudiciais, e nocivos: em considerao de tudo o referido: hei por bem ordenar, que todas as fbricas, manufaturas, ou teares de gales, de tecidos, ou de bordados de ouro, e prata. De veludos, brilhantes, cetins, tafets, ou de outra qualquer qualidade de seda: de belbutes, chitas, bombazinas, fustes, ou de outra qualquer qualidade de fazenda

    1 Devido consideramos a importncia histrica deste documento, resolvemos transcrev-lo na ntegra.

  • 12(((|(Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10((|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013$

    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

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    de algodo ou de linho, branca ou de cores: e de panos, baetas, droguetes, saietas ou de outra qualquer qualidade de tecidos de l; ou dos ditos tecidos sejam fabricados de um s dos referidos gneros, ou misturados, tecidos uns com os outros; excetuando to somente aqueles dos ditos teares, e manufaturas, em que se tecem, ou manufaturam fazendas grossas de algodo, que servem para o uso, e vesturio dos negros, para enfardar, e empacotar fazendas, e para outros ministrios semelhantes; todas as mais sejam extintas, e abolidas em qualquer parte onde se acharem nos meus domnios do Brasil, debaixo da pena do perdimento, em tresdobro, do valor de cada uma das ditas manufaturas, ou teares, e das fazendas, que nelas, ou neles houver, e que se acharem existentes, dois meses depois da publicao deste; repartindo-se a dita condenao metade a favor do denunciante, se o houver, e a outra metade pelos oficiais, que fizerem a diligncia; e no havendo denunciante, tudo pertencer aos mesmos oficiais. Pelo que: mando ao presidente, e conselheiros do Conselho Ultramarino; presidente do meu Real Errio; vice-rei do Estado do Brasil; governadores e capites generais, e mais governadores, e oficiais militares do mesmo Estado; ministros das Relaes do Rio de Janeiro, e Bahia; ouvidores, provedores, e outros ministros, oficiais de justia, e fazenda, e mais pessoas do referido Estado, cumpram e guardem, faam inteiramente cumprir, e guardar este meu alvar como nele se contm, sem embargo de quaisquer leis, ou disposies em contrrio, as quais hei por derrogadas, para este efeito somente, ficando alis sempre em seu vigor. (BRASIL, 1785, paginao irregular)

    Somente com a chegada da famlia real no Brasil, em 1808, o pas retoma o avano

    industrial. Em 1 de abril de 1808, D. Joo VI assina um novo alvar revogando o documento

    anterior de D. Maria I que proibia as indstrias manufatureiras no Brasil.

    Eu, o prncipe regente, fao saber aos que o presente alvar virem: que desejando promover e adiantar a riqueza nacional, e sendo um dos mananciais dela as manufaturas, e melhoram, e do mais valor aos gneros e produtos da agricultura, e das artes, e aumentam a populao dando que fazer a muitos braos, e fornecendo meios de subsistncia a muitos dos meus vassalos, que por falta deles se entregariam aos vcios da ociosidade: e convindo remover todos os obstculos que podem inutilizar, e prestar to vantajosos proveitos: sou servido abolir, e revogar toda e qualquer proibio, que haja a este respeito no Estado do Brasil, e nos meus domnios ultramarinos, e ordenar que daqui em diante seja o pas em que habitem, estabelecer todo o gnero de manufaturas, sem excetuar alguma, fazendo os seus trabalhos em pequeno, ou em grande, como entenderem que mais lhes convm, para o que. Hei por bem revogar o alvar de cinco de janeiro de mil setecentos oitenta e cinco e quaisquer leis, ou ordens que o contrrio decidam, como se delas fizesse expressa, e individual meno, sem embargo da lei em contrrio (BRASIL, 1808, paginao irregular)

    Com a abertura dos portos ao comrcio estrangeiro e, ao mesmo tempo, ao permitir a

    instalao de fbricas manufatureiras no Brasil, D. Joo VI criou o Colgio de Fbricas, que

    representou o primeiro estabelecimento instalado pelo poder pblico no Brasil, com a finalidade de

    atender educao dos artistas e aprendizes. Garcia (2000) salienta que esses aprendizes

    vinham de Portugal, atrados pela abertura dos portos e das indstrias.

    Com o interesse de melhor estruturar a colnia e assim oferecer melhores condies para

    o estabelecimento da corte portuguesa no Brasil, D. Joo VI resolveu investir na formao de

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    !! !

    profissionais, a ser realizada, conforme citado, na prpria colnia, uma vez que at ento a

    formao de membros da nobreza ou elite ocorria fora do Brasil ou, quando realizada no local

    destinava-se a clrigos, artilheiros e construtores de fortificaes, tendo-se em vista as

    necessidades da colnia na poca.

    Vale ressaltar que o surgimento da Academia Real Militar no Rio de Janeiro, em 1810,

    proporciona a criao do primeiro curso completo de Cincias Matemticas2, sendo oficialmente a

    primeira instituio brasileira a se dedicar ao ensino superior de matemtica.

    Em 1821, D. Joo VI volta a Portugal e seu filho D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822,

    proclama a Independncia do Brasil. Em 1824, o prncipe regente outorga a primeira Constituio

    Brasileira, que no Art. 179 cita que a "instruo primria gratuita para todos os cidados."

    Contudo, para suprimir a carncia de professores, em 1823, institudo o Mtodo Lancaster, no

    qual um aluno treinado, chamado de decurio, ensinava um grupo de dez alunos (decria) sob a

    rgida vigilncia de um inspetor. Vale ressaltar que neste contexto, o ensino deixa de ser de

    domnio do Estado e se abre para a iniciativa privada.

    Deste perodo at 1826, perpassando pela instaurao do imprio em 1822 e pela

    instaurao da Assembleia Constituinte de 1823, no houve evoluo considervel no mbito do

    ensino profissional brasileiro e, conforme aponta Garcia (2000), a mentalidade continuou a

    mesma, ou seja, destinando-se aos humildes, pobres e desvalidos.

    Em fevereiro de 1825, a Coroa encaminhou um aviso aos presidentes das provncias,

    solicitando que apresentassem informaes sobre a situao da instruo em cada uma delas.

    Justificou que era indispensvel conhecer o que se encontrava estabelecido, para se pudesse

    melhorar ou aumentar os meios de instruo, segundo as necessidades e circunstncias

    particulares das diferentes povoaes e que desejava receber a relao de todas as cadeiras de

    primeiras letras e de gramtica latina, retrica, lgica, geometria e lnguas estrangeiras. (BRASIL,

    1885)

    Os presidentes deveriam informar ainda os lugares em que se acham j institudas como

    os que por sua populao merecerem a criao de outra. Deveriam informar tambm o ordenado

    dos professores e os subsdios arrecadados a favor das escolas. Todos esses dados eram

    necessrios para que a Assembleia Legislativa pudesse dirigir-se com sabedoria em to

    importante matria, facilitando e generalizando a instruo como origem infalvel e fecunda da

    felicidade dos povos. (idem)

    Em 1826, um decreto institui quatro graus de instruo: Pedagogias (escolas primrias),

    Liceus, Ginsios e Academias. Neste contexto, o ensino de ofcios foi includo na 3 srie das

    escolas primrias e, depois, nos estudos de desenho dos Liceus, necessrios s artes e ofcios. 2 Na primeira tentativa de se criar uma universidade no Brasil, a Ordem Catlica fundada por Incio de Loyola (Inacianos) manteve uma Faculdade de Matemtica na Bahia no sculo XVIII, que foi rejeitada pelo Rei de Portugal (ZICCARDI, 2009).

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    No ano seguinte promulgao do referido decreto a Comisso de Instruo da

    Assembleia Geral (Cmara dos Deputados) elaborou um projeto que resultou na Lei de 15 de

    outubro de 1827, o qual organizou o ensino pblico pela primeira vez no Brasil. Para Fonseca

    (1986)

    [...] a tentativa de organizao do ensino revelava uma tendncia evoluo do conceito dominante sbre o ensino profissional, pois mostrava que a conscincia nacional comeava a se preocupar com o problema e a influir no esprito dos homens pblicos, que o traziam a debate no Congresso, numa demonstrao de que principiavam a ficar imbudos das idias mais largas de estender a todos o ensino de ofcios. (FONSECA, 1986, p. 138)

    Apesar de no existirem poca professores com formao em docncia a referida Lei de

    15 de outubro de 1827, que cria as escolas de primeiras letras, menciona o ensino de Matemtica

    em seu artigo 6o, prevendo que:

    Os professores ensinaro a ler, escrever, as quatro operaes de aritmtica, prtica de quebrados, decimais e propores, as noes mais gerais de geometria prtica, a gramtica de lngua nacional, e os princpios de moral crist e da doutrina da religio catlica e apostlica romana, proporcionados compreenso dos meninos; preferindo para as leituras a Constituio do Imprio e a Histria do Brasil. (BRASIL, 1827/2012 grifo nosso)

    Vale ressaltar que a Academia Real Militar no Rio de Janeiro, a qual destinava-se

    formao de Oficiais de Artilharia, Oficiais Engenheiros e Oficiais da Classe de Engenheiros

    gegrafos e Topgrafos, passando a admitir a partir do ano de 1833 que no-militares

    frequentassem seus cursos, desenvolvia o ensino bsico de Matemtica e Cincias Fsicas e

    Naturais, possuindo as seguintes cadeiras: 1o ano Aritmtica, lgebra Elementar, Geometria e Trigonometria Plana e Desenho; 2o ano lgebra Superior, Geometria Analtica, Clculo Infinitesimal e Desenho; 3o ano Mecnica Racional Aplicada s Mquinas, Fsica Experimental e desenho; 4o ano Trigonometria Esfrica, Astronomia e Geodsia. (ZICCARDI, 2009, p. 39)

    Tal fato denota que o ensino de Matemtica fazia parte dos currculos dos cursos de

    formao profissional, mesmo quando ainda no havia docentes formados em Matemtica no

    Brasil. Ou seja, tal ensino era promovido pelos prprios agentes militares, engenheiros ou

    profissionais formados em reas diversas que possussem conhecimentos acerca da Matemtica

    e alguma aptido para o ensino.

    Em 12 de agosto de 1834 houve a publicao da Lei no 16 (Ato Adicional Constituio), a

    qual dispunha que as provncias passariam a ser responsveis pela administrao do ensino

    primrio e secundrio. No documento, competia s Assembleias Legislativas Provinciais legislar

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    sobre a instruo pblica em estabelecimentos prprios a promov-la, no compreendendo as

    faculdades de Medicina, os cursos jurdicos, academias j existentes, e outros quaisquer

    estabelecimentos de instruo que, para o futuro, fossem criados por lei; alm de promover,

    juntamente com a assembleia e o governo geral, a organizao da estatstica da provncia, a

    catequese, a civilizao dos ndios e o estabelecimento de colnias. Em 1835, graas referida

    Lei, surge, em Niteri, a primeira Escola Normal do Pas, dedicada formao de professores.

    Quanto a esse fato, Fonseca (1986) aponta que:

    S por um milagre essa falta de orientao nica dos ensinos elementares e secundrio no levou o Brasil fragmentao, pois so les os elementos mais fortes da formao da unidade espiritual de um povo, fatres que do um denominador comum s tendncias e aspiraes das diversas regies de um pas. (FONSECA,1986, p. 140)

    Em 1852, o vereador Manuel Arajo Porto Alegre apresenta um projeto que aludia ideia

    de se criar estabelecimentos de ensino de ofcios que no levassem em conta o estado social de

    seus alunos. Essa ideia representou uma reao formal mentalidade dominante da poca que

    associava tal ensino a estudantes carentes, mas no passou de um projeto (FONSECA, 1986).

    Em 1851, um decreto legislativo autorizava o Governo a reformar o ensino primrio e

    secundrio no Municpio da Corte. Trs anos depois, o Decreto no 1.331-A, de 17 de fevereiro de

    1854, punha em execuo o Regulamento da Instruo Primria e Secundria da Corte. A

    Reforma Couto Ferraz, como ficou conhecida, definia os requisitos necessrios ao exerccio do

    magistrio primrio: ser brasileiro, maior, ter moralidade e capacidade profissional. Com a

    finalidade de avaliar esse ltimo requisito, institua o exame escrito e oral, criando, para tanto, uma

    comisso de examinadores nomeados pelo Governo (MATTOS, 2000).

    O Decreto previa asilo para os menores abandonados, onde estes receberiam instruo

    primria e, posteriormente, seriam encaminhados aos Arsenais da Marinha Imperial ou s oficinas

    pblicas ou privadas para aprenderem um ofcio.

    Art. 62. Se em qualquer districtos vagarem menores de 12 annos em tal estado de pobreza que, alm da falta de roupa decente para freqentarem as escolas, vivo mendicidade, o Governo os far recolher a huma das casas de asylo que devem ser creadas para este fim com hum Regulamento especial. Em quanto no forem estabelecidas estas casas, os meninos podero ser entregues aos parochos ou coadjutors, ou mesmo aos professores dos districtos, com os quaes o Inspector Geral contractar, precedendo approvao do Governo, o pagamento mensal da somma precisa para o supprimento dos mesmos meninos. Art. 63. Os meninos, que estiverem nas circunstancias dos Artigos antecedentes, depois de receberem a instruo do primeiro gro, sero enviados para as companhias de aprendizes dos arsenaes, ou de imperiaes Marinheiros, ou para as officinas publicas ou particulares, mediante hum contracto, neste ultimo caso, com

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    os respectivos proprietrios, e sempre debaixo de fiscalisao do Juiz de Orphos. quelles porm que se distinguirem, mostrando capacidade para estudos superiores, dar-se-h o destino que parecer mais apropriado sua intelligencia e aptido. (BRASIL, 1854, paginao irregular)

    Concordando com Garcia (2000), observa-se que o referido Decreto fortalece mais uma

    vez a ideia que o papel dos ofcios destinava-se aos menores abandonados.

    Salienta-se, neste perodo, o seguinte contexto social: populao de cerca de 5.520.000

    habitantes, sendo desses 2,5 milhes de escravos; ensino descentralizado e sem informaes

    educacionais nacionais; imigrao europeia, os colonos trazendo a cultura da valorizao da

    educao para todos; na regio sul, os colonos criam seus prprios sistemas de ensino; incio da

    industrializao e introduo das ideias liberais e demandas por educao escolar.

    Em 1856 ocorre a criao do Collgio Nacional para Surdos-Mudos, que em 1857

    denominou-se de Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. Tal instituto visava oferecer uma educao

    intelectual, moral e religiosa aos surdos que se achassem nas condies de receb-la e prepar-

    los segundo a aptido e necessidade de cada um ao exerccio de uma arte mecnica ou liberal.

    O Instituto Nacional de Surdos de Paris [...] tinha por base, no sculo XIX, o desenvolvimento da aquisio da fala e o aproveitamento dos restos auditivos dos surdos. Deste Instituto vem o fundador da primeira escola para a educao dos surdos no Brasil, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, criado em 1856 por Ernest Huet. (PINTO, 2006, p. 4)

    O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, conforme disposto no artigo 2o do regulamento

    interno, tinha por finalidades a educao intelectual, moral e religiosa dos surdos (PINTO, 2006).

    Recebia alunos de ambos os sexos, devidamente vacinados e com idade entre nove e quatorze

    anos. O curso completo tinha seis anos, sendo que a formao dos meninos era voltada para o

    ensino agrcola e a das meninas tinha nfase nas atividades do lar. Ao completar dezoito anos, ou

    os seis anos de permanncia, os alunos eram obrigados a deixar o Instituto.

    De acordo com a Notcia do Instituto dos Surdos-Mudos no Rio de Janeiro, do Dr. Tobias

    Leite, publicada em 1877, a finalidade do Instituto era de oferecer ao surdo instruco litteraria e

    ensino profissional.

    A instruco litteraria dada em 6 a 8 annos, e comprehende: o ensino da lingua portugueza pelo meio da escrita, da arithimetica at decimaes com applicaes s necessidades da vida commum, da geometria plana com applicaes agrimensura, da geographia e histria do Brazil, e noes da historia sagrada. O modo pratico do ensino da lingua portugueza o prescrito no livro Lies de Linguagem Portugueza, extrahidas de diversos methodos em uso nos institutos da Europa, com as modificaes que a localidade, a occasio, a intelligencia, O temperamento a indole, a idade e os habitos do alumno exigem.

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    Servem de assumpto para as lies de linguagem escripta os objectos que existem e os factos que se do, ou que de propsito se pratico no Instituto. Para auxilio e complemento desse ensino intuitivo e visual, possue o estabelecimento e faz uso constante de uma numerosa colleo de estampas de origens allem e franceza, representando aces, factos e cenas da vida real no mundo exterior, e bem assim de um apparelho para o ensino da arithimetica, de uma coleo completa de pesos e medidas do systema metrico, de figuras geometricas de madeira, mappas e globos geographicos. As lies que comeo pela frma imperativa e continuo pela interrogativa, passo pouco a pouco frma narrativa, em que os alumnos so obrigados no s a apresentar narraes do emprego do seu tempo no intervallo de uma aula outra, como a fazer descripes dos quadros que lhes so indicados pelo professor, e a narrar por escripto os factos que viro praticar ou que praticaro nos passeios fora do Instituto. O ensino da palavra articulada ainda no comeou, por no estar ainda provida a cadeira dessa materia, creada pelo regulamento, como mais um meio de instruco litteraria. Desde a 14 lio do compendio os alumnos comeo a copiar da lousa, letra por letra, e palavra por palavra, e finalmente a lio que o professor lhes deu na taboa negra, na qual tambm escrevem, e assim aprendem a calligraphia. O ensino do desenho dado por modlos gradativos desde a linha recta at o sombreado fuzain. A educao profissional dada por ora: Na officina de sapateiro, que faz todo o calado necessrio para os alumnos e para os particulares que o encomendo; Na officina de encadernao, que encaderna os livros das Reparties Publicas e de particulares. Logo que o numero de alumnos fr sufficiente, outras officinas sero estabelecidas. Ao artefactos das officinas d-se um valor, do qual metade recolhido ao Thesouro nacional como indemnizao da matria prima, a outra metade recolhida Caixa Economica, e escripturada em cadernetas no nome do alumno, que retira capital e juros quando deixa o Instituto. H alumnos que fazem o peculio de 150 ris (LEITE, 1877, p. 5-8 apud SOARES, 1999, p. 84-85 grifo nosso).

    Apesar de consideramos a importncia e necessidade de criao do Imperial Instituto dos

    Surdos-Mudos no que tange ao contexto pedaggico e educacional da Educao Especial no

    Brasil, destacamos que o ensino dedicado ao mundo do trabalho, que no incio se destinou aos

    silvcolas, depois aos escravos, e em seguida aos rfos e aos mendigos, mais tarde passou a

    atender outros excludos, como os surdos, corroborando, assim, a mentalidade hegemnica da

    poca: de que tal ensino era destinado aos menos favorecidos.

    Segundo Fonseca (1986), o ato de 25 de agosto de 1873 fixava o oramento para os

    exerccios de 1873 a 1875, e autorizava o governo a fundar dez escolas primrias no municpio da

    Corte. Aproveitando-se deste fato, o Conselheiro Joo Alfredo Correia de Oliveira assinou o

    Decreto no 5532, de 24 de janeiro de 1874, que criava as dez escolas autorizadas, determinando

    que a ltima delas seria para executar o estabelecido pelos artigos 62 e 63 do Decreto no 1.331-

    A/1854 (citado anteriormente), servindo de Casa de Asilo, que funcionaria com o regulamento que

    o Governo Imperial expedisse. Por esse regulamento, Decreto no 5849, de 9 de janeiro de 1875, a

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    Casa de Asilo passava a chamar-se de Asilo dos Meninos Desvalidos, o qual foi inaugurado em

    14 de maro de 1875, no Rio de Janeiro, na presena do Imperador e do Conselheiro Joo

    Alfredo. Posteriormente, em 1910, o Asilo passou a se chamar Escola Estadual Joo Alfredo.

    Ao fundar o Asilo dos Meninos Desvalidos, Joo Alfredo no tinha em mente apenas

    prestar apoio assistencial, mas sim educar meninos de 6 a 12 anos. No entanto, conforme

    Fonseca (1986), a caracterstica do estabelecimento era mais de asilo do que de uma escola

    profissional, mesmo que no artigo 9 do regulamento (Decreto no 5849/1875), fosse disposto se

    oferecesse a instruo aos asilados:

    Art 9 - O ensino do Asilo compreender: 1 - Instruo primria de 1 e 2 gro. 2 - lgebra elementar, geometria plana e mecnica aplicada s artes. 3 - Escultura e desenho. 4 - Msica, vocal e instrumental. 5 - Artes tipogrficas e litogrficas. 6 - Os ofcios mecnicos de:

    Encadernador; Alfaiate; Carpinteiro, marceneiro, torneiro e entalhador; Funileiro; Ferreiro e serralheiro; Surrador, correeiro e sapateiro.

    (FONSECA, 1986, p. 164-165)

    Pelo Decreto no 8910, de 17 de maro de 1883, foi dado novo regulamento ao Asilo,

    incluindo-se no curso de letras o ensino de histria e geografia do Brasil e, na parte profissional, a

    prtica de exerccios fsicos e de agricultura (FONSECA, 1986, p. 153).

    Destaca-se a importncia dada lgebra elementar e geometria plana como

    necessrios para a instruo elementar dos asilados, corroborando uma concepo de artes

    liberais na formao profissional da poca. Ressalta-se a Matemtica relacionada com as artes

    liberais e, possivelmente, percebida como necessria formao laboral (GONALVES, 2012).

    Os ltimos anos do Imprio e as primeiras dcadas de implantao do projeto poltico

    republicano foram perodos histricos marcados por considerveis mudanas sociais e

    econmicas no Pas, provocadas pela extino da escravido, pela consolidao do projeto de

    imigrao e pela expanso da economia (MANFREDI, 2002).

    Conforme retrata Fonseca (1986), ao final do perodo imperial e um ano aps a

    abolio da escravatura no Brasil, o nmero total de fbricas instaladas era de 636

    estabelecimentos, com um total de aproximadamente 54 mil trabalhadores, para uma populao

    total de 14 milhes de habitantes, com uma economia acentuadamente agrrio-exportadora, com

    predominncia de relaes de trabalho rurais pr-capitalistas. Desse perodo at 1909, fundaram-

    se mais 3.362 fbricas. A quantidade de operrios empregados naquelas indstrias, que em 1889

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    era de 24.369 homens, em 1909 j subira para 34.362. Demonstra-se, assim, um crescimento

    exponencial da indstria brasileira.

    No perodo da Repblica Velha, que perpassa desde a proclamao da repblica at a

    ascenso de Getlio Vargas, em 1930, o Brasil investiu em um processo de industrializao forte

    e independente, passando por vrias transformaes visando implementao da indstria

    brasileira. Contudo, por falta de um planejamento e de uma economia interna consolidada, na

    prtica, resultou-se em um endividamento do Pas.

    No decorrer da Primeira Guerra Mundial, instaura-se o capitalismo industrial no Brasil, mas

    o setor econmico continuou subordinado cultura do caf, que dependia da importao de

    mquinas. A autonomia econmica em relao ao caf iniciou-se na dcada de 30 (OHLWEILER,

    1990).

    Na poca, a produo brasileira estava concentrada nos setores txtil e de alimentos, em

    substituio aos artigos de importao que sofreram escassez no perodo da I Guerra. As

    indstrias concentravam-se em So Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais,

    Pernambuco e Paran. Os imigrantes eram os responsveis, em grande parte, pela fora de

    trabalho nas fbricas brasileiras, e o capital nacional predominava. Na produo de energia

    eltrica e companhias ferro-carris concentrava-se o capital estrangeiro.

    Nesse perodo, vrios setores da sociedade comearam a demonstrar interesse de que se

    estabelecesse no Brasil um ensino que preparasse o trabalhador para as atividades da indstria;

    era necessria a melhoria da mo de obra, justificada pelo aumento de indstrias no Pas

    (GARCIA, 2000).

    A Constituio da Repblica de 1891, que instituiu o Sistema Federativo de Governo,

    consagrou tambm a descentralizao do ensino e a dualidade de sistemas, que delegou Unio

    a criao e o controle do ensino superior e o ensino secundrio; aos Estados coube criar e

    controlar o ensino primrio e o ensino profissional (ROMANELLI, 1980).

    Em 1906, o ento presidente do Estado do Rio de Janeiro, Nilo Peanha, por meio do

    Decreto no 787, de 11 de setembro, fundou no Estado do Rio de Janeiro quatro escolas

    profissionais: Campos, Petrpolis, Niteri, e Paraba do Sul, sendo as trs primeiras para o ensino

    de ofcios manufatureiros e a ltima para a aprendizagem agrcola. Por meio do Decreto no 1008,

    em 15 de dezembro, foi criada tambm a escola de Resende, destinada ao ensino agrcola.

    Conforme aponta Cunha (2000), embora essas escolas tivessem vrios aspectos que as

    diferenciassem (regime de internato ou externato, idade de ingresso, rigidez da disciplina,

    currculo, entre outros) estavam todos orientados para a consecuo do mesmo fim: formao de

    fora de trabalho industrial em termos tcnicos e ideolgicos.

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    Apesar de criadas originalmente para educar os menores desvalidos, devido

    inexistncia de programas e por apresentarem a ciclos acadmicos indefinidos, bem como a falta

    de professores preparados e instalaes e maquinrios inadequados, estes estabelecimentos

    tiveram vida curta, duraram pouco mais que um ano (GOMES, 2004).

    No mesmo ano, alm dessas aes, outros fatores foram essenciais para a implantao de

    uma Educao Profissional no Pas. Um deles foi a declarao de Afonso Pena, ento Presidente

    da Repblica, em seu discurso de posse, no dia 15 de novembro de 1906: A criao e

    multiplicao de institutos de ensino tcnico e profissional muito podem contribuir tambm para o

    progresso das indstrias, proporcionando-lhes mestres e operrios instrudos e hbeis. Segundo

    Brando (1999), se, por um lado, o discurso parece marcado pela ideia simplista de que formando

    mo de obra "hbil" para a indstria teramos como consequncia o seu desenvolvimento, por

    outro, demonstra j alguma preocupao com a necessidade de providncias para o

    desenvolvimento industrial do Pas, ao mesmo tempo em que explicita tambm a necessidade de

    formar um trabalhador nesse sentido.

    Assim, o Senado, por meio da Comisso de Finanas, aumentou a dotao oramentria

    para os Estados institurem escolas tcnicas e profissionais elementares, sendo criada, na

    Estrada de Ferro Central do Brasil, a Escola Prtica de Aprendizes das Oficinas do Engenho de

    Dentro, no Rio de Janeiro (SAMPAIO, 2010).

    Em dezembro de 1906, ocorreu o Congresso de Instruo, na cidade do Rio de Janeiro.

    A partir deste evento foi apresentado ao Congresso Nacional um anteprojeto de lei para promoo

    do ensino prtico industrial, agrcola e comercial, nos estados e na capital da Repblica, a ser

    mantido pelo Governo da Unio e parceria com os Estados, onde os Estados arcariam com a

    tera parte das despesas (CUNHA, 2000).

    O anteprojeto previa a criao de campos e oficinas escolares, assim como institutos

    profissionais. Esses seriam implantados em cada municpio, em nmero correspondente

    populao.

    A proposta era de oferta de cursos (diurnos e noturnos) variados: ensino prtico elementar

    de comrcio e indstria; ensino prtico e elementar de agricultura; servios domsticos; internato

    de ensino prtico industrial e agrcola para menores desamparados e viciosos; campos de

    experincia e demonstrao; cursos industriais, agrcolas e comerciais; cursos de aprendizagem

    de ofcios nos quartis e nos navios de guerra; cursos de aprendizagem agrcola para os praas.

    De acordo com o anteprojeto, vislumbrou-se, no currculo de formao geral dos cursos, a

    Matemtica, por meio dos seguintes componentes curriculares: aritmtica, geometria plana,

    desenho linear, elementos de trigonometria, elementos de geometria descritiva.

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    Inicialmente o anteprojeto foi esquecido nos arquivos da Cmara dos Deputados, sendo

    baixado somente trs anos depois um decreto presidencial que criava as escolas de aprendizes

    artfices que, apesar de no ter a mesma amplitude, convergia com o anteprojeto em diversos

    pontos (CUNHA, 2000).

    Deste modo, o presidente Nilo Peanha, em 23 de setembro de 1909, assina o Decreto no

    7.566, criando em diferentes unidades federativas, sob a jurisdio do Ministrio dos Negcios da

    Agricultura, Indstria e Comrcio, dezenove Escolas de Aprendizes Artfices, destinadas ao ensino

    profissional, primrio e gratuito para os desafortunados. Tal fato representa marco histrico na

    criao da atual Rede Federal de Educao Profissional, Cientfica e Tecnolgica.

    Como se pde observar a partir dos fatos relatados neste texto, o carter da educao

    profissional apresentado no perodo que compreende os primeiros quatrocentos anos do Brasil

    mostra-se voltado primordialmente para as populaes marginalizadas da poca e que apesar da

    evoluo do ensino profissional ao longo dos primeiros anos da Histria da Educao no Brasil

    esse estigma permaneceu de maneira muito forte.

    Observa-se tambm a presena do ensino de Matemtica nos currculos dos cursos

    primrios e secundrios, o que denota que sua aproximao das artes liberais durante o perodo

    observado e, possivelmente, percebido como necessrio formao laboral.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BRANDO, Marisa. Da arte do ofcio cincia da indstria: a conformao do capitalismo industrial no Brasil vista atravs da educao profissional. In: SENAC. Boletim tcnico do SENAC. So Paulo, vol.3, no 25, 1999. Disponvel em: http://www.senac.br/informativo/bts/253/boltec253b.htm. Acesso em: 01 mar. 2011.

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    _____. Lei de 15 de outubro de 1827. Manda crear escolas de primeiras letras em todas as cidades, villas e logares mais populosos do imprio. Disponvel em: http://www.camara.gov.br/Internet/InfDoc/conteudo/colecoes/Legislacao/Legimp-J_19.pdf#page=1. Acesso em: 08 jan. 2012.

    _____. Aviso no 49 do Ministrio dos Negcios do Imprio de 26 de fevereiro de 1825. Pede informaes sobre a instruo pblica nas Provncias. Coleo das Decises do Governo do Imprio do Brasil de 1825. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1885.

    _____. Alvar de d. Maria I de 5 de janeiro de 1785. In: BRASIL. MINISTRIO DA JUSTIA. ARQUIVO NACIONAL (Org.) O arquivo nacional e a histria luso-brasileira. Lisboa: Pao de Nossa Senhora da Ajuda, 1785. Disponvel em:

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    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

    !

    !! !

    . Acesso em: 19 fev. 2012.

    _____. Alvar de d. Joo de 1 de abril de 1808. In: BRASIL. MINISTRIO DA JUSTIA. ARQUIVO NACIONAL (Org.) O arquivo nacional e a histria luso-brasileira. Rio de Janeiro: Palcio do Rio de Janeiro, 1808. Disponvel em: < http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=979&sid=107>. Acesso em: 19 fev. 2012.

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  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((25(

    MARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL

    PARTE 2: DAS ESCOLAS DE APRENDIZES ARTFICES REFORMA CAPANEMA

    Harryson Jnio Lessa Gonalves Clia Maria Carolino Pires

    Ana Lcia Braz Dias Ana Cldina Rodrigues Monteiro

    RESUMO: Este artigo tem como objetivo caracterizar elementos da evoluo da Educao

    Profissional no perodo histrico compreendido entre a criao das Escolas de Aprendizes

    Artfices (1909) Reforma Capanema (anos 40 e 50). Para tanto, tem-se como elemento

    norteador da anlise elementos sociais e pedaggicos das referidas reformas educacionais.

    Ressalta-se que tal perodo de anlise marcado por momentos que marcaram a trajetria

    histrica da atual Rede Federal de Educao Profissional, Cientfica e Tecnolgica (RFEPCT). O

    estudo foi delineado como pesquisa qualitativa de natureza fenomenolgica, no qual os dados

    foram coletados e organizados a partir de reviso da literatura especializada e de documentos

    histricos (legislaes).

    PALAVRAS-CHAVE: Educao Profissional; Histria da Educao; Educao Brasileira.

    MILESTONES AND TRAJECTORIES OF PROFESSIONAL EDUCATION IN BRAZIL:

    FROM THE SCHOOLS FOR APPRENTICE CRAFTSMEN TO THE CAPANEMA REFORM

    RESUMO: The objective of this article is to characterize elements of the evolution of Professional

    Education in Brazil, in the period between the creation of the Schools for Apprentice Craftsmen

    (1909) and the Capanema Reform (1940s and 50s). For this end we analyse social and

    pedagogical elements of the aforementioned educational reforms. The historical period in question

    was important in the creation of the present Federal Network of Professional, Scientific, and

    Technological Education. The study was qualitative in nature and done by a review of the

    specialized literature and historical documents (legislations). The importance of this analysis lies in

    the preservation or restauration of elements of the memory of Brazilian Professional Education.

    KEYWORDS: Professional Education; History of Education; Brazilian Education.

  • 26(((|(Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10((|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013$

    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

    !! !

    O presente artigo busca destacar determinados fatores que contriburam para a evoluo da

    Educao Profissional no perodo compreendido entre a criao das Escolas de Aprendizes Artfices

    (1909) e a Reforma Capanema (anos 40 e 50). Assim, o texto foi organizado em trs perodos da

    Histria da Educao Profissional: Escolas de Aprendizes Artfices, Liceus Profissionais e a Reforma

    Capanema.

    1 ESCOLA DE APRENDIZES ARTFICES

    O presidente Nilo Peanha, em 23 de setembro de 1909, assina o Decreto no 7.566, criando em

    diferentes unidades federativas, sob a jurisdio do Ministrio dos Negcios da Agricultura, Indstria e

    Comrcio, dezenove Escolas de Aprendizes Artfices, destinadas ao ensino profissional, primrio e

    gratuito para os chamados desafortunados, conforme previsto no 2o Artigo do Decreto no 7.566:

    Nas Escolas de Aprendizes Artifices, custeadas pela Unio, se procurar formar operarios e contra-mestres, ministrando-se o ensino pratico e os conhecimentos technicos necessarios aos menores que pretendem aprender um officio, havendo para isso at o numero de cinco officinas de trabalho manual ou mecnico que forem mais convenientes e necessrias no Estado em que funccionar a escola, consultadas, quanto possvel, as especialidades das industrias locaes. (BRASIL, 1909 apud FRAJUCA; MAGALHES, 2009, p. 92)

    Os cursos, cujos programas eram aprovados pelo ministro, funcionavam em regime de

    externato, com aulas das 10 horas at s 16 horas. O Artigo 6o do referido Decreto assinala que tinham

    preferncia os desfavorecidos de fortuna, e eram requisitos de acesso: i) idade mnima de 10 anos e de

    no mximo 13 anos; ii) no sofrer molstia infectocontagiosa, nem ter defeito que impossibilite o

    aprendizado do ofcio.

    Em seu Artigo 8 o o Decreto cita que cada escola dever ofertar dois cursos noturnos: i) primrio

    obrigatrio para os alunos que no sabiam ler, escrever ou contar e ii) desenho para os alunos que

    necessitavam dessa disciplina para aprendizagem do ofcio.

    Segundo Cunha (2000), a rede de escolas no inovou muito em termos ideolgicos e

    pedaggicos, ao menos no incio de seu funcionamento, porm mostra-se como grande novidade

    estrutura do ensino, por constituir, provavelmente, o primeiro sistema educacional de abrangncia

    nacional.

    O Decreto no 7.763, de 23 de dezembro de 1909, dispe que, caso existisse em um estado um

    estabelecimento do tipo das escolas de aprendizes artfices, custeado e subvencionado pelo respectivo

    estado, o governo federal poderia deixar de instalar a a escola de aprendizes e artfices, auxiliando o

    estabelecimento estadual com uma subveno igual cota destinada instalao e custeio de cada

    escola. Deste modo, cada estado receberia essas escolas, com exceo do Rio Grande do Sul, onde j

  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((27(

    ! MARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL PARTE 2: DAS ESCOLAS DE APRENDIZES ARTFICES REFORMA CAPANEMA

    !! !

    funcionava o Instituto Tcnico Profissional da Escola de Engenharia de Porto Alegre, mais tarde

    denominado Instituto Parob. O Decreto no 9.070, de 25 de outubro de 1911, declara este Instituto como

    Escola de Aprendizes Artfices, enquanto no fosse estabelecida a escola da Unio o que nunca veio

    a existir. Tambm no foi instalada uma escola de aprendizes artfices no Distrito Federal por j existir o

    Instituto Profissional Masculino. Legislaes posteriores chegaram a prever a criao da Escola do

    Distrito Federal, porm a mesma no chegou a ser implantada. Assim, dos vinte estados, apenas

    dezenove receberam a Escola de Aprendizes Artfices.

    Na capital do estado de So Paulo, o incio do funcionamento da escola ocorreu no dia 24 de

    fevereiro de 1910, instalada precariamente em um barraco improvisado na Avenida Tiradentes, sendo

    transferida, alguns meses depois, para as instalaes no bairro de Santa Ceclia, Rua General Jlio

    Marcondes Salgado, no 234, l permanecendo at o final de 1975 (FONSECA, 1986), quando foi

    transferida para o bairro Canind, Rua Pedro Vicente, no 234 sua atual localizao (IFSP Campus

    So Paulo e reitoria).

    Com exceo da escola do estado do Rio de Janeiro, as escolas foram instaladas sempre na

    capital dos estados, independente se elas eram populosas ou se a produo manufatureira fosse

    intensa; deste modo, o critrio de dimensionamento do sistema e de localizao das escolas no

    correspondiam dinmica da produo manufatureira (CUNHA, 2000). Tome-se como exemplo a

    instalao da escola no estado de Santa Catarina em Florianpolis, mesmo sendo Blumenau o centro

    agrcola e manufatureiro do Estado.

    Na Tabela 1, percebe-se que a varivel nmero de operrios nem sempre acompanhava o

    quantitativo de alunos matriculados nas Escolas de Aprendizes Artfices; como exemplo extremo, se tem

    So Paulo, Minas Gerais e Bahia, que possuam um nmero baixo de aprendizes artfices em relao

    ao nmero de operrios do estado. Em contrapartida, os estados da Paraba, Paran e Esprito Santo

    concentravam, proporcionalmente aos outros estados, muitos aprendizes artfices em relao ao

    nmero de operrios.

    Assim, o dimensionamento do sistema e a localizao das escolas de aprendizes artfices

    mostraram-se inadequados aos propsitos de incentivar a industrializao pela formao profissional

    sistemtica da fora de trabalho (CUNHA, 2000, p. 71). Tabela 1 - Distribuio do nmero de estabelecimentos industriais, de operrios (1907) e de alunos nas Escolas de Aprendizes Artfices (1911), segundo unidades da federao.

    Unidade da Federao

    No de Estabelecimentos

    No de Operrios

    No de Alunos EAA

    Amazonas 92 1167 70 Par 54 2539 95 Maranho 18 4545 104 Piau 3 355 85 Cear 18 1207 100

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    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

    !! !

    Rio Grande do Norte 15 2062 83 Paraba 42 1461 134 Pernambuco 118 12042 125 Alagoas 45 3775 151 Sergipe 103 3027 120 Bahia 78 9964 70 Esprito Santo 4 90 166 Rio de Janeiro 207 13632 282 Distrito Federal 670 35243 - So Paulo 326 24186 121 Paran 297 4724 293 Santa Catarina 173 2102 130 Rio Grande do Sul 314 15426 - Minas Gerais 531 9555 61 Gois 135 868 93 Mato Grosso 15 3870 108 Brasil 3258 151840 2391 FONTE: Centro Industrial do Brasil, O Brasil, suas Riquezas Naturais, suas Indstrias. Rio de Janeiro, Oficinas Grficas M. Orosco e C., 1909, v.III. (CUNHA, 2000, p. 69) NOTA: EAA = escolas de aprendizes artfices

    O artigo 2o do Decreto no 7.566, de 23 de setembro de 1909, apontava que as Escolas de

    Aprendizes Artfices deveriam ofertar at cinco oficinas de trabalho, manual ou mecnico, que fossem

    mais convenientes e necessrias no estado e, quando possvel, as escolas deveriam consultar as

    especialidades das indstrias locais. Cunha (2000) aponta que a maioria absoluta das escolas ensinava

    alfaiataria, sapataria e marcenaria; outras oficinas eram ensinadas em nmero menor, predominando o

    ensino artesanal (pintaria, ferraria, funilaria, selaria, encadernao e outros).

    A Escola de Aprendizes Artfices de So Paulo, devido s condies de crescimento industrial do

    estado, levou o maior esforo de adaptao das oficinas s exigncias fabris. Assim, desde o incio de

    sua existncia, a escola oferecia ensino de ofcios de mecnica, eletricidade e tornearia. Deste modo, na

    contramo das demais escolas, em So Paulo, a formao dos artfices centrou-se em oficinas ligadas

    indstria, em detrimento de um ensino artesanal.

    A realidade das escolas era de mestres despreparados, devido principalmente excessiva

    liberdade que os programas educativos conferiam aos diretores; isso gerou um mau funcionamento das

    escolas, transformando-as em simples escolas primrias em que se fazia alguma aprendizagem de

    trabalhos manuais. Apenas em 1926, foi estabelecido um currculo padronizado para todas as oficinas,

    expresso na Consolidao dos Dispositivos Concernentes s Escolas de Aprendizes Artfices,

    promulgada por portaria do ministro da Agricultura, Indstria e Comrcio.

    De acordo com a Consolidao, o currculo permaneceu sendo de quatro anos, com mais dois

    complementares. Os dois primeiros anos letivos destinavam-se aos trabalhos manuais, com estgio pr-

    vocacional da prtica dos ofcios, e ocorriam paralelamente aos cursos primrios e de desenho. Para os

    anos letivos seguintes, foram estabelecidas oito sees destinadas ao ensino de ofcios manuais

    (trabalhos de madeira, trabalhos de metal, artes decorativas, artes grficas, artes txteis, trabalhos de

  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((29(

    ! MARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL PARTE 2: DAS ESCOLAS DE APRENDIZES ARTFICES REFORMA CAPANEMA

    !! !

    couro, fabricao de calados, confeco de vesturio) e uma seo destinada ao ensino de tcnicas

    comerciais. A escola poderia oferecer mais que cinco oficinas, desde que houvesse espao fsico no

    edifcio e no mnimo 20 aprendizes para o ofcio.

    O curso primrio funcionaria das 17 horas s 20 horas, com a finalidade de ensinar a leitura e

    escrita, aritmtica at regra de trs, noes de geografia do Brasil e a gramtica elementar da lngua

    nacional. O curso de desenho, que funcionava no mesmo horrio, compreendia o ensino de desenho de

    memria, do natural, de composio decorativa, de formas geomtricas e de mquinas e peas de

    construo, obedecendo aos mtodos mais aperfeioados (CUNHA, 2000). As aulas tericas e prticas,

    segundo a Consolidao, no deveriam ter durao inferior a 50 minutos.

    De acordo com a disposio das disciplinas, conforme a matriz curricular apresentada no

    Quadro 1, percebe-se a ateno dada ao ensino de Matemtica para os artfices, garantindo uma

    formao primria de letramento e de base para a formao profissional. Ressalta-se a aritmtica,

    lgebra, desenho e escalas, trigonometria e geometria presentes na formao matemtica dos artfices.

    Quadro 1- Matriz Curricular das Escolas de Aprendizes Artfices

    1 ano Aulas por semana

    Leitura e escrita 8 Caligrafia 2 Contas 6 Lies das coisas 2 Desenho e trabalhos manuais (estgio pr-vocacional da prtica dos ofcios) 15 Ginstica e canto 3 Total 36

    2 ano Aulas por semana

    Leitura e escrita 6 Contas 4 Elementos de geometria 2 Geografia e histria ptria 2 Caligrafia 2 Instruo moral e cvica 1 Lio das coisas 2 Desenho e trabalhos manuais (estgio pr-vocacional da prtica dos ofcios) 16 Ginstica e canto 3 Total 38

    3 ano Aulas por semana

    Portugus 3 Aritmtica 3 Geometria 3 Geografia e histria ptria 2 Lies das coisas 2 Caligrafia 2 Instruo moral e cvica 1 Desenho ornamental e de escala 8 Aprendizagem nas oficinas (aprendizagem do ofcio propriamente dito) 18

  • 30(((|(Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10((|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013$

    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

    !! !

    Total 42

    4 ano Aulas por semana

    Portugus 3 Aritmtica 3 Geometria 3 Rudimentos de fsica 2 Instruo moral e cvica 1 Desenho ornamental e de escala 6 Desenho industrial e tecnologia 6 Aprendizagem nas oficinas (aprendizagem do ofcio propriamente dito) 24 Total 48

    1 Ano Complementar Aulas por semana

    Escriturao de oficinas e correspondncia 4 Geometria aplicada e noes de lgebra e de trigonometria 4 Fsica experimental e noes de qumica 4 Noes de histria natural 3 Desenho industrial e tecnologia 9 Aprendizagem nas oficinas (aprendizagem do ofcio propriamente dito) 24 Total 48

    2 Ano Complementar Aulas por semana

    Escriturao de oficinas e correspondncia 3 lgebra e trigonometria elementar 2 Noes de fsica e qumica aplicada 3 Noes de mecnica 2 Histria natural elementar 2 Desenho industrial e tecnologia 9 Aprendizagem nas oficinas (especializao) 27 Total 48

    FONTE: Gonalves (2012)

    Para Fonseca (1986), no currculo estabelecido pela Consolidao houve a primeira tentativa de

    elevao do nvel desse ramo de ensino, deixando de ser primrio. Ou seja, apesar de ser considerado

    de nvel primrio, no ensino profissional j se incluam noes de trigonometria e elementos de lgebra.

    Aps muitos anos depois seria reconhecida essa necessidade e o ensino profissional passaria a ser

    considerado de nvel mdio, paralelo ao ensino secundrio.

    O corpo docente era formado por professores e mestres de oficina, sendo esta estrutura alvo de

    insistentes e rigorosas crticas por parte do Servio de Remodelao do Ensino Profissional Tcnico.

    Conforme Fonseca (apud CUNHA, 2000), os professores primrios no sabiam lidar com os contedos

    escolares adequando-os para o ensino profissional, e os mestres de ofcio, vindos diretamente das

    fbricas, seriam homens sem a necessria base terica, com a capacidade presumida de transmitirem

    aos seus discpulos os conhecimentos empricos. Assim, pressupe-se a fragilidade de uma possvel

    articulao interdisciplinar dos contedos de natureza propedutica com a aprendizagem do ofcio.

  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((31(

    ! MARCAS E TRAJETRIAS DA EDUCAO PROFISSIONAL NO BRASIL PARTE 2: DAS ESCOLAS DE APRENDIZES ARTFICES REFORMA CAPANEMA

    !! !

    Em 1930, o funcionamento das escolas de aprendizes artfices passa a ser responsabilidade do

    ento criado Ministrio da Educao e Sade Pblica. Neste contexto, foi implantada a Inspetoria do

    Ensino Profissional Tcnico, que passava a supervisionar as Escolas de Aprendizes Artfices. Essa

    Inspetoria foi transformada, em 1934, em Superintendncia do Ensino Profissional. Foi um perodo de

    grande expanso do ensino industrial, impulsionada por uma poltica de criao de novas escolas

    industriais e introduo de novas especializaes nas escolas existentes.

    Em 1931, ocorrem mudanas significativas no contexto da educao brasileira. Uma srie de

    decretos efetivou as chamadas Reformas Francisco Campos o primeiro titular do recm-criado

    Ministrio da Educao e Sade Pblica. Essa reforma, de 1931, foi marcada pela articulao junto aos

    iderios do governo autoritrio de Getlio Vargas e seu projeto poltico ideolgico, implantado sob a

    ditadura conhecida como Estado Novo (MENEZES; SANTOS, 2002a).

    So alguns Decretos oriundos da reforma: i) Decreto no 19.850, de 11 de abril de 1931, que criou

    o Conselho Nacional de Educao; ii) Decreto no 19.851, de 11 de abril de 1931, que disps sobre a

    organizao do Ensino Superior no Brasil e adotou o regime universitrio; iii) Decreto no 19.852, de 11

    de abril de 1931, que disps sobre a organizao da Universidade do Rio de Janeiro; iv) Decreto no

    19.890, de 18 de abril de 1931, que disps sobre a organizao do Ensino Secundrio; v) Decreto no

    19.941, de 30 de abril de 1931, que instituiu o ensino religioso como matria facultativa nas escolas

    pblicas do Pas; vi) Decreto no 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizou o ensino comercial e

    regulamentou a profisso de contador; vii) Decreto no 21.241, de 14 de abril de 1932, que consolidou as

    disposies sobre a organizao do Ensino Secundrio.

    Segundo estudiosos da histria da Educao Matemtica, a Reforma Francisco Campos

    considerada um marco no ensino da Matemtica no Brasil, devido, na ocasio, o ento Ministro da

    Educao e Sade Pblica ter convidado o professor Euclides Roxo para elaborar uma proposta para a

    reformulao do ensino brasileiro, o que favoreceu o fortalecimento do campo do ensino da Matemtica,

    conforme descreve Pires (2008).

    Euclides Roxo teve papel importante, ao propor a unificao dos campos matemticos lgebra, Aritmtica e Geometria numa nica disciplina, a Matemtica, com a finalidade de abord-los de forma articulada inter-relacionada, uma vez que anteriormente cada um deles era estudado como disciplina independente. Euclides defendeu ainda a idia de que o ensino da geometria dedutiva deveria ser antecedido de uma abordagem prtica da geometria. (PIRES, 2008, p. 15)

    Euclides Roxo era professor do Colgio Pedro II e, em 1927, props uma reformulao radical

    no ensino da Matemtica Congregao do Colgio. Baseado em estudos de Felix Christian Klein

    (matemtico alemo), props a referida unificao da disciplina.

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    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

    !! !

    O iderio viabilizado no Colgio Pedro II se fez presente na proposta de Euclides Roxo ao

    Ministrio da Educao e Sade Pblica que foi plenamente aceita, abarcando-se na Reforma Francisco

    Campos.

    2 LICEUS PROFISSIONAIS

    As escolas de aprendizes artfices se mantiveram funcionando at 13 de janeiro de 1937, com a

    assinatura da Lei no 378, por Getlio Vargas que, em seu artigo no 37, transformava essas escolas em

    Liceus Profissionais, destinados ao ensino profissional em todos os ramos e graus. Essa alterao

    ocorreu pela prpria necessidade de mudana dado o desenvolvimento industrial que Getlio Vargas

    almejava para o pas. (BRASIL, 1937a)

    Em seguida, em 10 de novembro do mesmo ano, outorga-se a Constituio Brasileira de 1937

    a primeira a tratar especificamente de ensino tcnico, profissional e industrial estabelecendo no artigo

    129:

    Art 129 - A infncia e juventude (sic), a que faltarem os recursos necessrios educao em instituies particulares, dever da Nao, dos Estados e dos Municpios assegurar, pela fundao de instituies pblicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educao adequada s suas faculdades, aptides e tendncias vocacionais. O ensino pr-vocacional profissional destinado s classes menos favorecidas em matria de educao o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execuo a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municpios e dos indivduos ou associaes particulares e profissionais. dever das indstrias e dos sindicatos econmicos criar, na esfera da sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operrios ou de seus associados. A lei regular o cumprimento desse dever e os poderes que cabero ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxlios, facilidades e subsdios a lhes serem concedidos pelo Poder Pblico. (BRASIL, 1937b, paginao irregular)

    Apesar da Constituio se reportar ao termo educao, para Garcia (2000), nesse perodo

    houve uma desvinculao total entre formao profissional e educao, uma vez que aos trabalhadores

    era destinada uma formao voltada para o adestramento, treinamento, visto que a indstria ainda era

    bastante elementar, baseada no artesanato e manufatura, com poucas exigncias de uma mo de obra

    que fosse mais qualificada. Nota-se ainda que o ensino tcnico, profissional e industrial no perodo

    continua associado s classes menos favorecidas.

    A denominao de Liceu Profissional perdurou at o ano de 1942, quando o Presidente Getlio

    Vargas, j em sua terceira gesto no governo federal (10/11/1937 a 29/10/1945), baixou o Decreto-lei no

    4.073, de 30 de janeiro, definindo a Lei Orgnica do Ensino Industrial, que preparou novas mudanas

    para o ensino profissional (GONALVES, 2012).

  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((33(

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    !! !

    3 REFORMA CAPANEMA

    Em 1942, um conjunto de importantes leis (leis orgnicas do ensino) foi aprovado, sob o

    comando do ento Ministro da Educao e Sade, Gustavo Capanema Filho, mudando

    consideravelmente o cenrio da educao brasileira. Tais leis estruturaram o ensino industrial,

    reformularam o ensino comercial, criaram o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI),

    trazendo, assim, mudanas significativas ao ensino secundrio. Tais mudanas so conhecidas como

    Reforma Capanema conforme Quadro 2.

    Quadro 2- Decretos-lei da Reforma Capanema

    DECRETO-LEI DATA EFEITO 4.073 30 de janeiro de 1942 organizou o ensino industrial 4.048 22 de janeiro de 1942 instituiu o SENAI 4.127 25 de fevereiro de

    1942 estabeleceu as bases de organizao da rede federal de estabelecimentos de ensino industrial

    4.244 9 de abril de 1942 organizou o ensino secundrio em dois ciclos: o ginasial, com quatro anos, e o colegial, com trs anos

    6.141 28 de dezembro de 1943

    reformulou o ensino comercial

    FONTE: Gonalves (2012)

    No contexto do iderio do Governo Vargas, o ministro Capanema mais explcito ao sugerir

    mecanismos para a ampliao da influncia do governo na educao.

    com a educao moral e cvica que se cerra e se completa o ciclo da educao individual e coletiva e por ela que se forma o carter do: cidados, infundindo-lhes no apenas as preciosas virtudes pessoais seno tambm as grandes virtudes coletivas que formam a tmpera das nacionalidades - a disciplina, o sentimento do dever, a resignao nas adversidades nacionais, a clareza nos propsitos, a presteza na ao, a exaltao patritica. (MENEZES; SANTOS, 2002b, paginao irregular)

    Para uma melhor compreenso deste segmento de ensino, fruto da Reforma Capanema,

    apresentar-se- agora uma sntese da organizao dos ensinos industrial e comercial no perodo,

    tomando como referncia as legislaes acima, bem como a estruturao do ensino secundrio.

    3.1 ENSINO INDUSTRIAL

    O ensino industrial brasileiro, de grau secundrio, era destinado preparao profissional dos

    trabalhadores da indstria e das atividades artesanais e, ainda, dos trabalhadores dos transportes, das

    comunicaes e da pesca.

  • 34(((|(Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10((|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013$

    ! HARRYSON JNIO LESSA GONALVES / CLIA MARIA CAROLINO PIRES ANA LCIA BRAZ DIAS / ANA CLDINA RODRIGUES MONTEIRO

    !! !

    Os cursos eram organizados em dois ciclos, conforme apresentado no Quadro 3, e em trs

    modalidades: Cursos Ordinrios (Quadro 4), Extraordinrios (Quadro 5) e Avulsos ou de Ilustrao

    Profissional (Quadro 6).

    Quadro 3- Organizao do Ensino Industrial Ciclos

    1. CICLO 2. CICLO Ensino Industrial Bsico

    Ensino Maestria Ensino Artesanal Aprendizagem

    Ensino Tcnico Ensino Pedaggico

    FONTE: Decreto-Lei no 4.073 de 30 de janeiro de 1942

    A) Cursos Ordinrios:

    No Quadro 4 so apresentadas as caractersticas dos cursos ordinrios do Ensino Industrial.

    Quadro 4- Ensino Industrial Cursos Ordinrios

    CURSO DESCRIO DURAO

    INDUSTRIAIS

    Aprendizagem de ofcios de longa formao profissional. Requisitos: a) 12 a 17 anos; b) educao primria completa; c) capacidade fsica e mental para os trabalhos escolares; d) aprovado em exame vestibular. Conferia diploma de artfice.

    4 anos

    MAESTRIA

    Alunos j diplomados, destinados formao para exerccio da funo de mestre. Requisitos: a) concludo o curso industrial; b) aprovado em exame vestibular. Conferia diploma de mestre.

    2 anos

    (poderia ser oferecido em

    regime parcelado)

    ARTESANAIS Ofcios com formao reduzida. Conferia certificado.

    VARIVEL

    APRENDIZAGEM

    Ensino metodolgico de ofcio aos aprendizes dos estabelecimentos industriais, em perodos variveis e sob regime de horrio reduzido. Conferia certificado.

    VARIVEL

    TCNICOS

    Ensino de tcnicas prprias ao ensino de funes de carter especfico da indstria. Requisitos: a) concludo o primeiro ciclo do ensino secundrio (ginasial) ou o curso industrial na mesma rea pretendida: b) capacidade fsica e mental para os trabalhos escolares; c) aprovado em exame vestibular. Conferia diploma correspondente tcnica

    3 a 4 anos

    PEDAGGICOS

    Formao de pessoal docente e administradores para o ensino industrial. Requisitos: a) concludo o curso tcnico ou de maestria; b) aprovado em exame vestibular. Conferia diploma correspondente ramificao pedaggica estudada.

    1 ano

    FONTE: Decreto-Lei no 4.073 de 30 de janeiro de 1942 NOTA: Em todos os cursos havia a necessidade de se apresentar prova de no possuir doena contagiosa e de ser vacinado.

  • Revista(Iluminart(|(Ano(V(|(n(10(|(ISSN(1984(;(8625(|(Jun/2013(|((35(

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    !! !

    B) Extraordinrios:

    No Quadro 5 so apresentadas as caractersticas dos cursos extraordinrios do Ensino

    Industrial.

    Quadro 5- Ensino Industrial Cursos Extraordinrios

    CURSO DESCRIO QUALIFICAO Qualificao profissional destinada a jovens e adultos no diplomados ou

    habilitados

    APERFEIOAMENTO / ESPECIALIZAO

    Destinado a trabalhadores j diplomados. Tem por finalidade, respectivamente, ampliar os conhecimentos e capacidades ou ensinar uma especialidade definida a trabalhadores diplomados ou habilitados em curso de formao profissional de ambos os ciclos, e, bem assim, a professores de disciplinas de cultura tcnica ou de cultura pedaggica, includas nos cursos de ensino industrial, ou a administradores de servios relativos ao ensino industrial.

    FONTE: Decreto-Lei no 4.073 de 30 de janeiro de 1942

    C) Avulsos / Ilustrao Profissional

    Destinados a dar aos interessados em geral conhecimentos de atualidades tcnicas, no Quadro

    6 so apresentadas a classificao dos cursos de acordo com o tipo de estabelecimentos.

    Quadro 6- Estabelecimentos de Ensino Industrial

    ESCOLAS CURSOS

    TCNICAS Tcnicos Maestria

    Industriais Pedaggicos

    INDUSTRIAIS

    Industriais Maestria

    Pedaggicos

    ARTESANAIS Artesanais Maestria

    Pedaggicos APRENDIZAGEM Aprendizagem

    FONTE: Decreto-Lei no 4.073 de 30 de janeiro de 1942

    Os cursos de aprendizagem poderiam ser oferecidos por qualquer estabelecimento de ensino

    industrial, bem como os cursos extraordinrios e avulsos (Quadro 6).

    A organizao curricular dos cursos industriais, maestria e tcnicos era composta por disciplinas

    de cultura geral e por disciplinas de cultura tcnica. Nos cursos pedaggicos, a organizao curricular

    era centrada em disciplinas de cultura pedaggica.

    Nos cursos industriais, de maestria, tcnicos e pedaggicos as disciplinas Educao Fsica e

    Educao Musical eram obrigatrias para todos os alunos, assim como a disciplina Educao Pr-

    Militar, para todos os homens, e a disciplina Educao Domstica, para todas as mulheres com

    exceo do curso de maestria oferecido em regime de habilitao parcelada, em que os