revista interfacehs edição completa vol. 1 n. 2
DESCRIPTION
A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento na área de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/TRANSCRIPT
ABORDAGEM SISTÊMICA DE ACIDENTES E SISTEMAS DE GESTÃO
DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Ildeberto Muniz de Almeida
Professor Assistente Doutor, Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp; [email protected]
RESUMO
Os principais objetivos deste texto são: difundir conceitos de abordagens sistêmicas de
acidentes do trabalho e estimular reflexões sobre sua utilização em sistemas de gestão de
saúde e segurança do trabalho – SGSST – em nosso país. Os conceitos mostrados
sugerem novos caminhos para a interpretação de comportamentos humanos que
participam nas origens proximais ou distais de acidentes. As análises de acidentes devem
buscar condições latentes ou incubadas, pesquisar aspectos da complexidade interativa,
modos de controle psíquico e situações, mecanismos modeladores de comportamentos
dos operadores, migração de sistemas para acidentes ou outros aspectos. Responsáveis
por SGSST são estimulados a saber reconhecer os conceitos ou abordagens mais úteis
às organizações em que atuam.
Palavras-chave: acidente de trabalho; concepções de acidentes; análise de acidentes do
trabalho; sistemas de gestão de saúde e segurança do trabalho; migração do sistema
para o acidente.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=32
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
Tradicionalmente as análises de acidentes do trabalho concluem atribuindo culpa
às próprias vítimas e negando a existência de problemas ou disfunções nos sistemas que
dão origem a esses eventos. Nas últimas décadas, surgem visões que questionam esse
desfecho e destacam a ocorrência de acidentes como avisos da existência de disfunções
sistêmicas, sinais da ocorrência de problemas incubados que precisam ser ouvidos e
adequadamente interpretados pelos sistemas de gestão de saúde e segurança do
trabalho – SGSST.
O enfoque sistêmico de acidentes não encontra facilidades em sua difusão. No
Brasil, uma das poucas obras dedicadas ao enfoque sistêmico é Acidentes industriais: o
custo do silêncio, de Michel Llory (1999a). No prefácio do livro Gerard Mendel discute a
resistência a essa abordagem destacando que ela tem a ver como princípio a partir do
qual se pôde fundar e desenvolver a ciência ... construiu-se a ciência fracionando-se cada
vez mais a realidade, em campos disciplinares distintos e separados, mas apesar disso, a
realidade só existe de forma global ... o espírito do cientista não está preparado para
transitar nesses campos interdisciplinares.
O objetivo deste texto é apresentar alguns dos conceitos dessa abordagem que
vêm sendo utilizados nas últimas décadas em análises de acidentes e discutir implicações
de sua incorporação por SGSST. A discussão será acompanhada de questões sugeridas
como temas para a reflexão e não visa estabelecer “novas verdades”, mas cobra, no
mínimo, a explicitação de razões que levam cada sistema a fazer as escolhas que faz.
Enfim, o texto aponta a existência de caminhos para SGGST que são pouco conhecidos
entre nós.
O MODELO DE ACIDENTE ORGANIZACIONAL DE JAMES REASON
A expressão acidente organizacional foi usada por Reason (1997) em
contraposição à idéia de acidente individual. Segundo ele, neste último todos os
acontecimentos relativos ao acidente, ou seja, suas causas e conseqüências, podem ser
considerados como circunscritos ao indivíduo que realiza a atividade e que sofre o
2
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
acidente e a lesão. Acidentes organizacionais são “eventos comparativamente raros, mas
freqüentemente catastróficos, que ocorrem dentro de uma tecnologia moderna complexa
tais como plantas nucleares, aviação comercial, indústria petroquímica, plantas de
processos químicos, transporte ferroviário e marítimo...” (p.1).
Em pouco tempo essa idéia passa a ser usada na abordagem de acidentes
ocorridos em outros tipos de sistemas e situações. O próprio Reason a utiliza em estudos
de acidentes em manutenção, principalmente na aviação, e também em acidentes
ocorridos em serviços de saúde.
A Figura 1 mostra o modelo de acidente organizacional proposto por Reason.
Nela, um triângulo e um retângulo são usados para representar o acidente. Na parte
superior do esquema, o retângulo representa o desfecho do acidente. Em seu esquema o
autor reproduz aqui a idéia de acidente como fenômeno que sempre inclui a liberação
descontrolada de uma (ou mais) determinada forma de energia de modo a produzir
perdas no sistema: danos materiais, ambientais, outras formas de prejuízos ou vítimas
humanas.
3
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A energia liberada estava presente no sistema, controlada por barreiras que não
conseguiram impedir a liberação do seu fluxo por ocasião do acidente. No topo da figura,
a seta representa essa idéia de fluxo de energia atravessando as barreiras.
No modelo de Reason, o triângulo que forma a base da figura representa o
processo ou as condições do sistema que originam a liberação do fluxo de energia. Nas
proximidades imediatas do desfecho do acidente, ou do descontrole da energia em
questão, com freqüência estariam comportamentos dos trabalhadores que operavam o
sistema. Essas ações ou omissões estão representadas no vértice do triângulo e foram
chamadas por ele de erros ativos, incluindo comportamentos involuntários (os “erros”) e
voluntários. Os erros ativos correspondem aos atos inseguros da abordagem tradicional
de acidentes.
No meio do triângulo estão representados fatores do ambiente físico e técnico de
trabalho. Eles estariam nas origens dos erros ativos e, por sua vez, têm origens em
fatores gerenciais e da organização do trabalho que são representados na base do
triângulo. Esses dois grupos de fatores são chamados de condições latentes que,
segundo o esquema, podem originar o descontrole da energia liberada no acidente de
modo direto, isto é, sem a presença de erros ativos. A seta de condições latentes,
paralela ao triângulo, mostra a possibilidade de acidentes sem “erros” ativos, com origens
diretas nessas condições.
Segundo Reason os erros ativos são pouco importantes para a prevenção. Em
particular, porque as diferentes combinações possíveis entre fatores das condições
latentes criam constantemente novas condições facilitadoras do aparecimento de erros
ativos. Em outras palavras, não é possível eliminar diretamente esses erros. Eles são
conseqüências, e não causas. Por isso mesmo, os interessados na prevenção devem
priorizar a eliminação ou minimização de condições latentes.
Talvez a contribuição mais importante a ser destacada dos estudos de Reason
seja a idéia de que para os interessados na prevenção de acidentes o caminho a seguir
não é o do estudo dos “erros humanos”. Em especial, quando essa expressão é tomada
no sentido de erros ativos, entendidos como resultados de falhas do indivíduo ou
operador que os cometeu. As características do comportamento humano no trabalho
4
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
levam estudiosos do tema a reconhecer que “errar é humano”, ou seja, que o erro sempre
vai existir e que, por isso, a prevenção ideal deve basear-se na abordagem de
características do sistema que aumentam as chances de ocorrência desses erros.
A contribuição de Reason influencia a abordagem de acidentes pelo mundo todo.
Os interessados em conhecê-la em mais profundidade podem fazer busca direta com o
nome do autor em sistemas de busca e bases de dados. Em livro recente, o interessado
pode encontrar muitos exemplos de aplicação desses conceitos em estudos de acidentes
na atividade de manutenção (REASON & HOBBS, 2003).
O ACIDENTE PSICO-ORGANIZACIONAL DE LLORY
Outros autores também utilizam a expressão acidente organizacional com sentido
assemelhado ao empregado por Reason. Em 1997 foi lançada nova edição de Man-made
disasters (TURNER & PIDGEON, 1997) que descreve estágios ou etapas do acidente na
vida do sistema. Em 1999, na França, Llory resume a proposta de Turner e Pidgeon em
três fases. A primeira, pré-acidental ou período de incubação, em que uma lenta e
progressiva degradação do sistema leva à segunda, acidental propriamente dita,
geralmente desencadeada por evento específico. A terceira fase é a pós-acidental, no
curso da qual se manifestam as conseqüências sociais, políticas e institucionais do
acidente, sob a forma de uma crise organizacional e social (LLORY, 1999b, p.114).
O acidente é organizacional na medida em que é, antes de tudo, o produto de uma
organização sociotécnica. Não mais somente como resultado de uma combinação
‘azarada’ de falhas passivas e latentes com falhas ativas e diretas, não mais somente
como resultado de uma combinação específica de erros humanos e de falhas materiais.
(p.113)
O acidente está enraizado na história da organização: uma série de decisões, ou
ausências de decisões; a evolução do contexto organizacional, institucional, cultural que
interfere no futuro do sistema; a evolução (a degradação) progressiva de condições ou
fatores internos à organização; alguns eventos particulares que têm um impacto notável
sobre a vida e o funcionamento do sistema sociotécnico, criando uma situação
5
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
desfavorável: um terreno no qual o acidente (ou um incidente) poderá se inserir e se
desenvolver ... o acidente incuba. O período de incubação pode ser longo... (p.113-4)
Considerando as idéias de acidente organizacional aqui apresentadas, os
primeiros questionamentos suscitados aos interessados em SGGST são:
Qual a concepção de acidente adotada no sistema em que você atua?
Suas análises de acidentes identificam condições latentes ou aspectos da
história da incubação desses eventos? Adotam algum dos conceitos citados?
Como você situa a afirmação de que a maioria dos acidentes deve-se a erros
dos operadores e que o principal objetivo a ser adotado para a sua prevenção é
a eliminação desses erros?
A NOÇÃO DE ACIDENTE NORMAL OU SISTÊMICO DE CHARLES PERROW
Uma das primeiras obras de divulgação do enfoque sistêmico foi publicada em
1984 pelo sociólogo americano Charles Perrow: Normal accidents: living with high-risk
technologies. Nessa obra ele enfatiza o papel da estrutura de sistemas complexos nas
origens do que denominou acidentes normais ou sistêmicos.
Em seu livro Perrow (1999a) destaca uma idéia de risco que não costuma ser
considerada como tal em abordagens técnicas tradicionais. Trata-se do risco decorrente
da possibilidade de interações entre fatores, elementos ou componentes de sistemas
sociotécnicos. Esse tipo de risco é descrito pelo autor como associado à complexidade
sistêmica, ou seja, a uma propriedade de sistemas complexos.
O autor classifica os sistemas em simples e complexos em função do tipo de
interações existentes entre seus elementos. Nos sistemas simples predominam
interações de tipo previsível, ditas simples, como aquelas presentes numa série de pedras
de um dominó. A conseqüência da queda de uma delas, ou seja, a derrubada daquelas
que estão à sua frente, é facilmente previsível. Nos sistemas complexos há maior
freqüência de interações provenientes do acúmulo de aspectos ou fatores que, vistos
isoladamente, não são considerados como risco e, mesmo em seu conjunto, não
6
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
permitem prever os desfechos a que se associam.
Segundo Perrow, em sistemas complexos a emergência de interações complexas
pode originar comportamentos sistêmicos não antecipados e de evolução tão rápida que
impossibilitam aos operadores o restabelecimento da compreensão do que estaria
acontecendo. Como conseqüência, essas situações evoluem para acidentes impossíveis
de serem evitados.
Os sistemas com mais chances de apresentar acidentes desse tipo são aqueles
que incluem parte, unidade ou subsistema que desempenha, simultaneamente, múltiplas
funções. Por exemplo, um aquecedor que é usado tanto para aquecer gases em um
tanque “A”, como para trocar calor de modo a absorver seu excesso de um reator
químico. Sua falha pode deixar o tanque “A” muito frio para a recombinação das
moléculas do gás e, ao mesmo tempo, o reator químico superaquecido por causa da não
absorção do excesso de calor.
Segundo Perrow os acidentes sistêmicos tendem a apresentar acúmulos de
conseqüências desse tipo de falhas, denominadas de falhas de modo comum (common-
mode failures) que tendem a reagir com feedbacks não familiares aos integrantes do
sistema. Além disso, os sistemas mais propensos a esse tipo de acidentes possuem
“interatividade” caracterizada por “proximidade física” entre componentes, “informação de
origem indireta ou inferencial, controle de muitos parâmetros com interações potenciais e
compreensão limitada de alguns processos”. Resumindo a noção de “complexidade
interativa”, Marais et al. (2004) afirmam que ela “refere-se à presença de seqüências de
eventos não familiares, não planejados e inesperados em um sistema”, sendo também
invisíveis e não imediatamente compreensíveis.
Esse tipo de acidentes tende a ser disparado por falhas banais, aparentemente
sem grande significado para a segurança. Por exemplo, um defeito numa máquina de
café levando a um incêndio que culmina na queda de um avião. No acidente de Three
Mile Island um aviso de manutenção cobria alarme luminoso importante. Nesses casos as
situações podem parecer bizarras ao examinador externo, mas costumam ter explicação
racional do operador.
7
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A probabilidade desses acidentes associa-se tanto à complexidade interativa,
citada até aqui, como a uma outra propriedade dessas interações: o fato de serem
estreitamente ou fortemente interligadas (tightly coupling). Isso significa que o sistema é
altamente interdependente, de modo que uma mudança numa parte pode rapidamente
afetar o status de outras partes. Diferentemente das interações frouxas, essas se
mostram estreitamente dependentes ou associadas. De acordo com Perrow, sistemas
estreitamente interligados teriam as seguintes características:
a) Possuem maior número de processos dependentes do tempo, ou seja, que não
podem ser paralisados, por exemplo, à espera de uma intervenção corretiva;
b) Possuem maior proporção de seqüências específicas e invariantes, de modo
que a ocorrência de A sempre leva ao surgimento de B;
c) Além das seqüências específicas invariantes o desenho global do processo
permite apenas um caminho de obtenção da meta de produção, por exemplo,
uma planta nuclear não pode produzir eletricidade a partir de outro combustível,
ou seja, trata-se de sistema pouco flexível; e
d) Possuem pequena margem de manobra ou “folga” (slack), ou seja, quantidades
devem ser precisas, recursos não podem ser substituídos por outros,
substituições temporárias de equipamentos não são possíveis etc. (PERROW,
1999a, p.93-4)
A visão de Perrow leva-o a leitura considerada essencialmente pessimista quanto
às possibilidades de prevenção de acidentes nesse tipo de sistemas. Neles, seria
impossível antever e evitar todas as chances de interações complexas. E parte delas,
sendo fortemente interligadas, acabaria levando a acidentes normais ou sistêmicos. Esse
nome foi dado não porque fossem acidentes de grande freqüência, mas sim por
decorrerem de características inerentes ao sistema.
A alternativa a esses desastres estaria na decisão política de não aceitar a
implantação desse tipo de sistemas no território. Posteriormente, a prevenção desse tipo
de acidentes é discutida com base em idéias de redução da complexidade sistêmica
(PERROW, 1999b; SAGAN, 1993) incluindo estratégias de pessimismo estruturado
(PERROW, 1999b), ou seja, a exploração sistemática dos piores cenários como suporte à
elaboração de práticas de prevenção.
8
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Embora criticada por seu pessimismo, a visão de Perrow exerce larga influência
entre interessados na segurança e confiabilidade de sistemas. Os conceitos de interação
complexa e interação estreitamente ou fortemente interligada passam a ser considerados
na concepção e operação de sistemas, e a noção de origens de acidentes em
características da estrutura de sistemas passa a ser usada em contraposição à de culpa
dos operadores.
Os interessados em outros exemplos de utilização dos conceitos de Perrow podem
encontrá-los em sistemas de buscas e base de dados. O Journal of Contingencies and
Crisis Management é fonte obrigatória para os interessados no tema.
A ABORDAGEM SISTÊMICA E A ANÁLISE DE ACIDENTES
A teoria de sistemas tem suas origens nas décadas de 1930 e 1940. O método
científico tradicional adota divisão do sistema em partes, de modo a examiná-las
separadamente. Esse processo de decomposição, chamado de redução analítica, possui
entre outros os seguintes pressupostos: cada componente ou subsistema opera
independentemente. Em outras palavras, esses componentes não estariam sujeitos a
efeitos dos resultados de suas ações e nem dos demais componentes do sistema. Enfim,
esse enfoque considera que o comportamento dos componentes (por exemplo, os pedais
de uma bicicleta) é o mesmo quando examinado isoladamente (com a bicicleta
desmontada) e quando exercendo seu papel no todo (na bicicleta montada) (LEVESON,
2002).
O enfoque sistêmico centra-se no sistema tomado como totalidade, assumindo
que algumas de suas propriedades só podem ser tratadas adequadamente na sua
inteireza. Os fundamentos da teoria de sistemas estão em dois pares de idéias: 1)
propriedades emergentes e hierarquia; e 2) comunicação e controle.
Em outras palavras, sistemas complexos podem ser descritos como apresentando
diferentes níveis organizados hierarquicamente. Cada nível caracteriza-se por ter
propriedades emergentes, ou seja, que não existem nos níveis inferiores do sistema. Isso
pode ser ilustrado com a idéia de componentes de uma bicicleta ou sistema técnico e a
9
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
função dessa bicicleta ou sistema. Isoladamente, o conjunto de peças da bicicleta não
pode ser usado como meio de transporte. O trabalho dos operadores, montando a
bicicleta, faz emergir essa propriedade que não existe no conjunto de peças isoladas.
A noção de hierarquia visa explicar relações entre níveis diferentes. Os níveis
hierárquicos superiores são responsáveis pelo controle daqueles inferiores. Para obter
esse controle devem impor leis de comportamento, ou seja, constrangimentos ou limites
aos graus de liberdade dos componentes do nível inferior. Por exemplo, o controle de
trabalhadores de manutenção em termos de segurança do trabalho pode ser conseguido
com constrangimentos emanados de gestores dos subsistemas de manutenção, de
segurança e de produção. Esse controle deriva de propriedades emergentes dos níveis
hierárquicos superiores.
Além de definir os constrangimentos, por exemplo, informações que impõe ao
nível hierárquico inferior, o nível superior também define formas de comunicação
ascendente que informam sobre o funcionamento real do sistema, em especial, sobre
como se dá, ou não, a efetiva imposição daqueles constrangimentos, completando a alça
de controle entre os diferentes segmentos da hierarquia.
A segurança é um típico exemplo de propriedade emergente de um sistema. É
impossível avaliar se uma fábrica é segura examinando uma válvula dessa planta.
Afirmações acerca da segurança da válvula sem informações acerca do contexto em que
ela é usada, não fazem sentido. Pode-se até falar da confiabilidade dessa válvula,
definindo confiabilidade como a probabilidade de seu comportamento satisfazer suas
especificações ao longo do tempo sob determinadas condições. Um componente que seja
perfeitamente “seguro” em um sistema pode não sê-lo em outro.
Os conceitos de comunicação e controle da teoria de sistemas servem de
fundamentos ao desenvolvimento de canais de fluxo de informações dentro das
organizações. Os níveis hierárquicos superiores participam no desenho de
constrangimentos (constraintes) destinados à implementação das “leis de
comportamento” do sistema. Essas “leis” incluem normas, meios e práticas a serem
utilizados visando à confiabilidade e à segurança do sistema, constituindo-se em
instrumentos ou ações regulatórias ou de controle do sistema.
10
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Em organizações hierarquizadas como as empresas, indo do pessoal de chão de
fábrica à alta hierarquia, esses processos de controle operam na interface entre diferentes
níveis. Em sistemas abertos alças de informação e controle são consideradas
fundamentais para a continuidade de suas operações em equilíbrio dinâmico nas suas
trocas com o ambiente externo. A Figura 2, retirada de Leveson (2004), mostra os
componentes de uma alça de controle típica na situação em que um supervisor humano
controla determinado subsistema automático.
O controlador sempre tem modelos mentais do processo e da automação em si.
Por exemplo, operando uma máquina automática o trabalhador constrói suas
representações sobre o que está produzindo com a máquina e sobre o próprio
funcionamento da máquina. Se aciona um comando para fechar uma válvula e, na
operação normal, isso tem como resposta o acendimento de luz verde no painel de
comando, ele pode tender a interpretar a luz acesa como sinal de que a válvula está
fechada. Por sua vez, a máquina embute o modelo dos seus criadores acerca do mesmo
processo e das interfaces necessárias com os operadores. Ao discutir acidentes em
sistemas complexos devem-se analisar os modelos mentais necessários para a gestão da
integralidade do sistema. Quando o modelo do controlador ou gestor não corresponde à
situação real, por exemplo, não incorpora informações relativas às repercussões que suas
decisões podem ter fora do sistema, as decisões relativas à gestão da segurança e
confiabilidade do sistema podem ser insuficientes para a sua manutenção.
11
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Essa noção de alça de controle é usada por Leveson (2002; 2004) para criticar a
amplitude da definição adotada por alguns estudiosos para a expressão erro humano. Na
leitura ampliada, dificuldades surgidas na interação homem–máquina são interpretadas
como falhas humanas. Para Leveson, essa forma de definir erro humano deixa de
considerar as características da concepção do sistema, em particular daquelas que
entram nas alças de controle entre homem e dispositivos técnicos e que contribuem para
o enfraquecimento da confiabilidade e da segurança do sistema. Por exemplo, uma falha
na operação de dispositivo que não forneceu adequado feedback do estado do sistema
após ação anterior tende a ser atribuída ao operador, desconsiderando a falha de
concepção desse dispositivo.
IMPLICAÇÕES PARA A SEGURANÇA
Esses conceitos reforçam a constatação do papel dos diversos níveis hierárquicos
das organizações na implementação de mecanismos efetivos de controle suscitando
questões, como as apresentadas a seguir, aos interessados em SGSST:
1. As análises de acidentes, ou o desenho do SGSST de sua organização,
reconstroem o desenho e o funcionamento das alças de informação e controle
adotadas entre os diversos níveis do sistema, com ênfase naquelas que se
referem aos atores envolvidos no acidente?
2. As análises identificam claramente os constrangimentos definidos no sistema
de modo a verificar se os esforços empreendidos pelos atores situados nos
níveis hierárquicos superiores forçam ou impulsionam adequadamente o
sistema no sentido da construção e consolidação da confiabilidade e
segurança do sistema?
3. As análises incluem verificação do como a alta hierarquia acompanha a
operação e o desempenho desse sistema, até mesmo se ela recebe
informações do estado real do sistema?
4. O acompanhamento destaca ou enfatiza o monitoramento das constantes
adaptações locais que ocorrem na base dos sistemas em respostas às
pressões e à variabilidade de componentes do sistema em todos os tipos de
atividades?
12
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Comentando esse último aspecto, Leveson (2002) destaca a idéia de que todo
modelo de acidente que inclua a noção de sistema social e humano deve considerar a
existência de adaptações. Segundo ela, nesse tipo de sistemas “a única constante é que
nada permanece constante o tempo todo”.
De modo semelhante ao que se observa em estudos de Ergonomia da Atividade,
essa forma de compreender o trabalho tem reflexos diretos sobre a forma de entender os
comportamentos humanos no trabalho que não atingem os objetivos pretendidos, os seja,
os ditos “erros humanos”. Visto com esse arcabouço conceitual, o suposto erro humano
não pode mais ser explicado como produto de características pessoais do operador a
exemplo do que faz, invariavelmente, a abordagem tradicional de acidentes.
O enfoque sistêmico passa a definir “erro” como desvio de procedimento racional e
normalmente usado como efetivo para enfrentar aspectos da variabilidade do trabalho. E
não mais como desvio de um procedimento ou norma teoricamente definido como jeito
certo de fazer o trabalho. Isso suscita novas questões aos interessados em SGSST:
1. Qual é a definição de erro adotada em seu sistema?
2. Como o SGSST de sua organização explica e propõe abordar as origens
desses eventos?
Os interessados no uso do modelo de Leveson encontrarão grande número de
exemplos disponíveis na íntegra na página citada. O acidente do veículo lançador de
satélites VLS-1 V03, ocorrido na Base de Alcântara, no Brasil, foi analisado com esse
modelo e com o modelo vertical de Rasmussen (JOHNSON & ALMEIDA, no prelo).
ASPECTOS DA EXPLORAÇÃO DA NOÇÃO DE ERRO HUMANO EM ANÁLISES DE
ACIDENTES
Na atualidade parece haver consenso na idéia de que as situações de trabalho
passam a demandar mais em termos de habilidades de raciocínio e cognitivas (cognitive-
reasoning) do que das sensório-motoras. Com isso ganham importância estudos acerca
13
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
do papel do componente social (humano) desses sistemas. Estudos que buscam explorar
aspectos cognitivos associados aos comportamentos humanos, com ênfase em situações
de trabalho.
Essa distinção também foi usada por Rasmussen (1982) para explicitar a idéia de
que os trabalhadores usam modos diferentes de gestão psíquica de suas ações em
função do tipo de situação que enfrentam. Ele mostra que existem ações controladas
predominantemente de modo quase automático em situações rotineiras. Elas podem ser
desenvolvidas sem a necessidade de pensar em seus componentes. Esses
comportamentos são descritos por Rasmussen como baseados em habilidades (skill-
based). No outro extremo estão ações controladas predominantemente com o uso da
consciência e raciocínios. Elas são denominadas baseadas em conhecimentos
(knowledge-based) e são mais típicas de situações novas ou pouco freqüentes. No nível
intermediário localizam-se ações cuja execução é baseada em regras (rule-based) usadas
em situações em que é possível antever a maioria das situações e treinar os operadores
no seu desenvolvimento.
A aprendizagem humana é descrita como processo em que ações inicialmente
conscientes vão se tornando automáticas como decorrência do número de vezes que são
repetidas. Com a familiarização, a habilidade do operador para sua execução aumenta e
elas passam para um nível de regulação cognitiva de menor custo para o operador.
Quando alguém está aprendendo a guiar automóveis, o processo de aprendizagem da
retirada do pé do pedal de embreagem ilustra essa situação. No início, o motorista coloca
sua atenção na velocidade de retirada do pé e a ação é executada sob controle da
consciência. Quando o motorista aprende a guiar, a ação é executada “automaticamente”.
O mesmo raciocínio se aplica a todas as situações de aprendizado. Vale destacar que
quando o trabalho envolve o surgimento constante de situações novas, ou de incerteza, a
regulação consciente estará mais presente. Aliás, é justamente a habilidade do operador
na detecção e interpretação de sinais de mudanças na evolução da atividade que o leva a
mudar o modo de gestão psíquica que está utilizando.
Esses conhecimentos ensejam questões aos interessados em SGSST:
1. Na exploração de comportamentos humanos envolvidos em acidentes do
14
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
trabalho a equipe de análise de seu SGSST analisa os tipos de situação e o
modo de gestão psíquica usado pelos operadores?
2. Nas análises de acidentes conduzidas em seu SGSST há identificação dos
principais parâmetros utilizados e de características das formas com que se
manifestam e são percebidos pelos operadores na gestão do sistema? Há
exploração de possíveis fatores intervenientes?
3. Em casos envolvendo omissões há exploração da possibilidade de armadilhas
cognitivas no sistema?
Os interessados em exemplos de uso desses conceitos em análises de acidentes podem
consultar Reason e Hobbs (2003), Almeida e Binder (2004), Rasmussen e Svedung
(2000), entre outros.
AMPLIANDO O PERÍMETRO DA ANÁLISE DE ACIDENTES COM A NOÇÃO DE
MIGRAÇÃO DO SISTEMA PARA O ACIDENTE
Na última década Rasmussen (1997), Rasmussen e Svedung (2000), Svedung e
Rasmussen (2002) descrevem o que consideram como importante desafio da atualidade:
a gestão de riscos na sociedade dinâmica.
O desafio teria origens nas rápidas transformações pelas quais passa a sociedade
atual, incluindo:
a) O ritmo acelerado de mudanças tecnológicas nos níveis operativos da
sociedade;
b) O aumento da escala de instalações industriais com aumento do potencial de
acidentes de grandes proporções;
c) O rápido desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação,
levando a sistemas com alto grau de interações estreitamente interligadas; e
d) Os ambientes de grande agressividade e competitividade, que aumentam o
número de conflitos potenciais a serem vividos pelos tomadores de decisão,
levando-os a focalizarem os termos financeiros de curto prazo e critérios de
sobrevivência dos sistemas em detrimento de sua segurança.
15
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A velocidade de mudanças nas bases técnica e organizacional dos processos
usados em sistemas de transportes, industriais, de prestação de serviços de saúde e
outros, com elevada incorporação de novas tecnologias, é maior do que a de processos
gerenciais, e muito maior do que a presente nos sistemas extra-empresa, encarregados
do desenvolvimento de políticas e de legislação para o controle dos riscos desses
processos. Essa defasagem de tempo (time lag) em prejuízo dos mecanismos de
controles de risco desenvolvidos nos sistemas sociotécnicos torna-se mais evidente em
face do ambiente agressivo e de exacerbada competitividade em que essas empresas
normalmente estão inseridas.
Nessas condições surgem pressões no sistema que, com muita freqüência,
influenciam gerências levando-as à adoção de decisões imediatistas que vão empurrando
o sistema para a proximidade das fronteiras de sua segurança.
Esse processo, dinâmico por excelência, mostra que esses sistemas vivem em
constante necessidade de adaptação a mudanças no ambiente em que estão inseridos, e
também em seus próprios componentes. Nessas condições a forma tradicional de gestão
de segurança, baseada em abordagens prescritivas e normativas, torna-se ultrapassada.
Nesses sistemas os acidentes passam a envolver aspectos até então inexistentes
ou de ocorrência menos freqüente. Os operadores não têm à mão uma regra ou
procedimento operacional capaz de indicar-lhes como agir diante daquela perturbação.
Nos sistemas que estudou, Rasmussen também evidencia que nas origens de
acidentes participam decisões gerenciais tomadas fora dos muros da empresa-sistema
propriamente dita. Esse tipo de situação é denominado decisão distribuída (distributed
decision making) e foi exemplificado com análise do naufrágio de um ferry boat, em
Zeebrugge, em março de 1987. Os autores mostram que esse acidente envolveu
aspectos relativos à concepção do barco e do porto, características da gestão de cargas e
da de passageiros, dos horários de tráfego e da operação do barco. Os gestores de cada
uma das áreas citadas convivem com dificuldades e pressões próprias e não conseguem
enxergar a floresta em torno da árvore em que estão. Suas decisões tendem a
desconsiderar possíveis efeitos colaterais em outros subsistemas. O acúmulo de efeitos
16
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
colaterais das decisões tomadas em cada um dos subsistemas só emerge no sistema
visto em sua totalidade, não existe como propriedade de seus componentes
isoladamente.
Nesse tipo de situações, uma vez adotado o conjunto de decisões o sistema torna-
se vulnerável, ou em outras palavras, torna-se intolerante a grande número de mudanças,
seja de comportamentos, seja de outros de seus componentes. Em outras palavras, se o
acidente não tivesse sido desencadeado pelo fator específico x1, poderia ser pelo x2 ou
outro qualquer.
Isso explica a crítica de Rasmussen (1997) à idéia de causa básica ou causa raiz
de acidentes, tão difundida na área de segurança do trabalho. No pensar tradicional,
eliminada a causa básica aquele tipo de acidente não mais ocorreria. Rasmussen vem
mostrando que em sistemas dinâmicos acidentes com aspectos assemelhados podem
ocorrer sem a presença daquela determinada “causa” pensada isoladamente porque, na
situação de trabalho real, o cenário acidentogênico formado é produto da interação ou
acúmulo de efeitos colaterais de decisões tomadas por atores diferentes em cenários que
dificilmente permitem antever a possibilidade, seja do acúmulo, seja dos efeitos. E mais,
isoladamente cada decisão não é capaz de produzir o efeito revelado pelo acidente.
A formação desse cenário de vulnerabilidade, de diminuição da tolerância a
mudanças ou da resiliência do sistema é descrita por Rasmussen como processo de
migração do sistema para o acidente ou para as fronteiras aceitáveis de sua segurança.
Uma vez ocorrida a migração, o acidente pode ser desencadeado por muitos tipos
de pequenas mudanças cuja eliminação, em conformidade com o raciocínio causal do
modelo tradicional de gestão da segurança, revela-se impotente para a efetiva melhoria
da confiabilidade e segurança do sistema.
A Figura 3 mostra o modelo proposto por Rasmussen (1997) para representar a
migração do sistema em direção às suas fronteiras de segurança.
Em todo sistema de trabalho o comportamento humano é modelado por objetivos
e constrangimentos que devem ser respeitados pelos atores com vistas à obtenção de
17
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
sucesso nas suas intervenções. Assim é que o sistema impõe limites ou fronteiras que se
ultrapassados podem ameaçar sua sobrevivência ou relativa estabilidade. Há fronteiras
de natureza econômica, em especial relativas a custos, e também fronteiras impostas
pela carga de trabalho a que os operadores são submetidos.
O espaço de trabalho em que os atores navegam livremente também é limitado
por constrangimentos administrativos, funcionais e de segurança. Eles delimitam
fronteiras de desempenhos aceitável e percebido. No entanto, durante sua atividade os
operadores sempre possuem determinados graus de liberdade que serão “fechados” com
o uso de adaptações locais guiadas por critérios relativos ao processo em curso, tais
como a carga de trabalho, a relação custo–benefício, o risco de falhas, o prazer da
exploração etc.
Esse modelo chama a atenção para a natureza dinâmica da atividade. “As
mudanças normais encontradas nas condições locais de trabalho induzem freqüentes
modificações de estratégias, e a atividade mostra grande variabilidade” (RASMUSSEN
1997, p.189). Tais variações locais, induzidas pela situação, são comparadas por
Rasmussen ao “movimento Browniano” das moléculas gasosas. Durante essas tentativas
de adaptação estabelecem-se gradientes de esforço e de custo cujo resultado tende a ser
uma sistemática migração em direção às fronteiras do desempenho funcionalmente
aceitável que, se cruzadas, resultam em erro ou acidente. Por isso, o autor afirma que a
análise deve focar os mecanismos geradores de comportamentos nos contextos de
trabalho reais e dinâmicos. E não os erros humanos ou violações.
18
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Segundo Rasmussen, a maioria dos grandes acidentes analisados nos últimos
anos mostra, em suas origens, exatamente esse tipo de migração sistemática para as
fronteiras de segurança do sistema, e não uma “coincidência de falhas e erros humanos
independentes”. Por isso, a gestão da segurança nesse tipo de sistemas deveria ser pró-
ativa, centrando-se no estudo das atividades normais dos atores que preparam esse
cenário.
Sistemas bem concebidos dispõem de numerosas barreiras, controles ou linhas de
precauções para evitar acidentes, de modo que a eventual violação de uma delas não
leve de imediato a um evento adverso. A segurança de um subsistema ou sistema em
particular também depende de efeitos colaterais de ações de atores situados em outros
subsistemas ou sistemas. Nos sistemas em que as pressões no sentido do custo–
efetividade são dominantes instala-se degeneração sistemática dessas proteções ao
longo do tempo. O sociólogo alemão Ulrich Beck chamou esse processo de “incerteza
produzida e irresponsabilidade organizada” (produced uncertainties and organised
irresponsibility) e de “incerteza estratégica e vulnerabilidade estrutural” considerando-o
19
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
problema-chave para a pesquisa atual em gestão de risco (apud SVEDUNG &
RASMUSSEN, 2002, p.399).
O exemplo seguinte foi retirado de texto recente. Ele ilustra a estreita relação entre
as noções de propriedade emergente e migração do sistema:
Durante turno noturno de empresa com dois trituradores de madeira falta um
operador de triturador e a máquina mais antiga e com menos recursos
operacionais é deixada parada por falta de pessoal. Em seguida, quebra o pega-
toras que fica sem conserto e seu operador é deixado temporariamente livre.
Logo depois, chega ao pátio um novo caminhão carregado de madeira e não é
descarregado por causa da quebra do pega-toras. Sabendo que o caminhão é
pago em função do tempo de permanência no pátio, e consciente da existência
de pressões da hierarquia para rapidez na descarga, o chefe de turno designa o
operador de pega-toras para operar o triturador parado e solicita
descarregamento do caminhão diretamente nas esteiras dessa máquina.
As decisões tomadas criam segurança ou risco? (ALMEIDA, 2006, p.37)
Os conceitos apresentados suscitam novas questões aos interessados em
SGGST. Outras questões são apresentadas após o texto sobre modelos verticais de
análises de acidentes.
1. Como a segurança formal aborda situações como a desse exemplo?
2. Considerando que a decisão do chefe de turno corresponde ao esperado na
maioria dos sistemas, como classificar as conclusões de análises desse tipo de
acidentes que os explicam como resultados do descumprimento de normas de
segurança por parte do operador?
3. Como o SGSST de sua organização (a segurança formal) aborda a
emergência de situações de perturbação e variabilidade do trabalho que
exigem respostas dos trabalhadores equivalentes à noção de adaptações
locais aqui citadas?
20
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
MODELOS VERTICAIS DE ANÁLISE DE ACIDENTES
Essas idéias estão na base de proposta de gestão de risco e de análises de
acidentes desenvolvida por Rasmussen (1997) e também do método Systems-Theoretic
Accident Models and Processes – STAMP, desenvolvido por Leveson (2004). Os
sistemas sociotécnicos envolvidos na gestão de riscos passam a ser considerados em
sua totalidade, com todos os seus níveis hierárquicos, indo dos operadores no “chão de
fábrica” aos legisladores e agências governamentais responsáveis pela formulação e
implementação de políticas de controle.
A Figura 4 mostra o sistema descrito por Rasmussen. Esse modelo de orientação
“vertical” foi proposto para “capturar o processo causal de perdas como condição
fronteiriça do trabalho sobre pressão e ... identificar parâmetros sensíveis para controle do
comportamento de organizações e indivíduos” (SVEDUNG & RASMUSSEN, 2002, p.401).
O modelo descreve as interações entre tomadores de decisões situados em todos
os níveis da sociedade, em seus papéis de gestores de risco. A análise retoma a noção
de alça de controle discutida anteriormente, explorando as possibilidades de falhas:
a) na concepção de constrangimentos necessários para forçar a implementação
de ações de controle;
b) na execução dessas ações e;
c) no feedback oferecido após a execução das ações.
O modelo proposto por Leveson é parecido com o de Rasmussen, mas inicia-se
com mapa de atores envolvidos no acidente, sem referências ao processo físico e às
atividades citadas na base do esquema de Rasmussen.
As análises incluem mapas com a representação das alças de controle e
informação prescritas ou propostas entre os diferentes níveis hierárquicos do sistema e os
mesmos mapas representando as adaptações locais que ao longo do tempo de existência
do sistema foram sendo feitas nos componentes que visam impor as ações regulatórias
ou informar ao nível superior os resultados das ações realizadas. O livro de Rasmussen e
Svedung (2000) inclui apêndice com registros de análises de seis acidentes com a técnica
21
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
proposta pelos autores.
O modelo de Leveson (2004) associa o Quadro 1, que mostra taxonomia de falhas
possíveis no desenho, na execução ou no feedback das diversas alças analisadas.
A adoção desses modelos exige o abandono da abordagem tradicional adotada na
gestão de segurança, que se baseia na decomposição estrutural do sistema, com
análises de tarefas focadas em seqüência de ações e ocasionais desvios, tratados como
erros humanos. Em seu lugar deve-se adotar modelo de mecanismos modeladores de
comportamentos em termos de constrangimentos (constraintes) das situações de
trabalho, fronteiras de desempenhos aceitáveis e critérios subjetivos guiando as
adaptações às mudanças (RASMUSSEN, 1997).
Como a variabilidade e as adaptações que exigem são contínuas, o “erro humano”
passa a ser visto como uma tentativa de adaptação que não obteve o sucesso desejado,
mas cujo resultado é imediatamente assumido como input ou sinal necessário ao
diagnóstico do estado atual do sistema e às decisões que culminarão em nova tentativa
de adaptação. Nas palavras de Amalberti (1996) o erro é parte da negociação ou
22
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
compromisso cognitivo desenvolvido durante a gestão das atividades.
Um aspecto a ser destacado nessa abordagem de mecanismos modeladores de
comportamentos é sua semelhança com o enfoque de comportamento situado adotado na
Ergonomia da Atividade. As razões associadas às origens do insucesso de determinada
tentativa de adaptação devem ser buscadas nas constraintes – ou na falta delas – que
modelam os comportamentos dos indivíduos e das organizações considerando a
existência de pressões que exigem adaptações locais por parte dos operadores. Além
disso, o Quadro 1 orienta a sistematização de aspectos da análise.
Os modelos verticais suscitam novos questionamentos aos interessados em
SGSST:
23
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
a) Como os gerentes e chefias intermediárias responsáveis por decisões
estratégicas e do cotidiano e que contribuem direta ou indiretamente nas
origens de acidentes são abordados, se são, nos processos de análises
desses acidentes?
b) Como a eventual contribuição de atores situados fora dos muros do sistema-
empresa em questão é abordada em análises de acidentes de sua
organização?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Reino Unido, relatórios recentes de análises de acidentes com escorregões e
quedas, acidentes no trabalho em manutenção, acidentes de trânsito, acidentes de
trabalhadores do setor de saúde e outros, conduzidas por equipes de técnicos do Health
and Safety Executive – HSE, organismo equivalente ao nosso Ministério do Trabalho e
Emprego, mostram que o uso de conceitos como os apresentados neste texto não está
restrito a pesquisadores de universidades e equipes de segurança de grandes empresas
de setores mais dinâmicos e pujantes da economia.
Análises de acidentes começam a ser reconhecidas como práticas profissionais
que credenciam aqueles que as conduzem como interlocutores válidos de todos os
demais atores do sistema. Passam a revelar caminhos pelos quais aspectos da
organização e funcionamento do sistema tornam-se potencialmente acidentogênicos.
Este texto procura mostrar que esses aspectos não podem mais ser confundidos
com exemplos de práticas estranhas, desenvolvidas por uns poucos pesquisadores que
se dedicam ao estudo de acidentes como “fenômenos de laboratório”. Pelo contrário,
mostra que é crescente a incorporação de conceitos como os aqui apresentados em
práticas de empresas e instituições públicas. Esse movimento está associado à
percepção de que os interessados na prevenção de acidentes do trabalho têm muito a
aprender com a experiência desenvolvida em sistemas que conquistaram desempenhos
de segurança reconhecidos como bons, de “alta confiabilidade” ou “ultra-seguros” à luz
dos conhecimentos atuais. Em outras palavras: os interessados na prevenção de eventos
adversos em hospitais, por exemplo, precisam aprender com a experiência da aviação
comercial de vários países do mundo. E assim, sucessivamente.
24
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
No entanto, a percepção dessa mudança não permite desconhecer que esse não
parece ser o caminho seguido na maioria dos sistemas. A abordagem tradicional resiste.
A idéia de que a maioria dos acidentes decorre de falhas humanas persiste, e a resposta
atual da abordagem tradicional a essa velha questão assume a forma de propostas de
“segurança comportamental” (HOPKINS, 2006).
As duras críticas apresentadas por autores aqui citados à idéia de que os
acidentes do trabalho decorrem de erros humanos não devem ser entendidas como
negação do reconhecimento da existência de uma dimensão humana ou subjetiva nesses
eventos. Muito pelo contrário, como o próprio texto mostra esses autores propõem
abordagens ainda pouco difundidas no Brasil para os interessados no estudo dos
comportamentos humanos em situação de trabalho. E revelam que a mera identificação
de ações ou omissões humanas que contrariam preceitos de normas ou regras vigentes
não passa de efeitos, de conseqüências, de fenômenos aparentes cuja essência,
especialmente em termos de origens, precisa ser pesquisada. E que nem de longe deve
ser reduzida à idéia de produto da consciência do operador que teve aquele
comportamento.
Os objetivos deste texto são ambiciosos. Em primeiro lugar, revelar parte da
história dessa forma diferente, alternativa, de conceber os acidentes do trabalho e sua
análise. Em segundo lugar, incentivar interessados no tema da gestão de saúde e
segurança do trabalho a refletirem sobre até que ponto os caminhos aqui indicados
podem ser úteis às organizações em que atuam.
25
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, I. M. Análise de acidentes do trabalho como ferramenta de prevenção. Revista
Cipa, ano XXVII, n.320, p.22-49, 2006.
ALMEIDA, I. M.; BINDER, M. C. P. Armadilhas cognitivas: o caso das omissões na
gênese dos acidentes de trabalho. Cadernos Saúde Pública, v.20, n.5, p.1373-8, 2004.
AMALBERTI, R. La conduite des sistèmes à risques. Paris: Presses Universitaires de
France, 1996. (Collection Le Travail Humain)
HOPKINS, A. What are we to make of safe behaviour programs? Safety Science, 2006 (in
press). Disponível em www.sciencedirect.com/science/journal. Acesso em: 10 jul. 2006.
JOHNSON, C. W.; ALMEIDA, I. M. An investigation into the loss of the Brazilian Space
Programme’s Launch Vehicle VLS-1 V03. No prelo (Aceito para publicação em Safety
Science).
LEVESON, N. G. A new approach to System Safety Engineering. 2002. Disponível em
sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.
LEVESON, N. G. A new accident model for Engineering Safer Systems. Safety Science,
v.42, p.237-70, 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.
LLORY, M. Acidentes industriais: o custo do silêncio. Rio de Janeiro: Multimais, 1999a.
LLORY, M. L’accident de la centrale nucléaire de Three Mile Island. Paris: L’Harmattan,
1999b.
MARAIS, K.; DULAC, N.; LEVESON, N. Beyond normal accidents and high reliability
organizations: the need for an alternative approach to safety in complex systems. MIT
ESD Symposium, March 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 20 abr.
2006.
PERROW, C. Normal accidents. Living with high-risk technologies. 2.ed. New Jersey:
Princeton University Press, 1999a.
PERROW, C. Organizing to reduce the vulnerabilities of complexity. Journal of
Contingencies and Crisis Management, v.7, n.3, p.150-5, 1999b.
RASMUSSEN, J. Human errors: a taxonomy for describing human malfunctions in
industrial installations. Journal of Occupational Accidents, v.4, p.311-35, 1982.
RASMUSSEN, J. Risk management in a dynamic society: a modelling problem. Safety
26
Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho
Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Science, v.27, n.2/3, p.183-213, 1997.
RASMUSSEN, J.; SVEDUNG, J. Proactive risk management in a dynamic society.
Karlstad: Räddningsverket/Swedish Rescue Services Agency, 2000.
REASON, J. Managing the risks of organizational accidents. Aldershot: Ashgate, 1997.
REASON, J.; HOBBS, A. Managing maintenance error. A practical guide. Hampshire:
Ashgate, 2003.
SAGAN, S. D. The limits of safety. Organizations, accidents, and nuclear weapons. New
Jersey: Princeton University Press, 1993. p.250-79.
SVEDUNG, J.; RASMUSSEN, J. Graphic representation of accident scenarios: mapping
system structure and the causation of accidents. Safety Science, v.40, p.397-417, 2002.
TURNER, B. A.; PIDGEON, N. F. Man-made disasters. Oxford: Butterworth Heinemann,
1997.
Artigo recebido em 24.08.2006. Aprovado em 02.10.2006.
27
SYSTEMIC APPROACH TO ACCIDENTS AND OCCUPATIONAL
HEALTH AND SAFETY MANAGEMENT
Ildeberto Muniz de Almeida¹
¹Department of Public Health of the Botucatu Faculty of Medicine – Unesp
ABSTRACT
The principal objectives of this text are: to propagate concepts of systemic approaches to
work accidents and to stimulate reflections on their utilization in Occupational Health and
Safety Management Systems (OHSMS) in Brazil. The concepts presented suggest new
ways to interpret human behaviors that participate in the proximal or remote causes of
accidents. Accident analysis must investigate latent or incubated conditions, and research
aspects of interactive complexity, control modes and situations, behavioral modeling
mechanisms, system migration to accidents or other aspects. Parties responsible for
OHSMS are encouraged to know how to recognize the concepts or approaches most
useful to organizations in which they act.
Key words: Workplace accidents, Accident theories, Accident analysis, Occupational Health and Safety Management Systems, System migration.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=44
©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the
secretarial department: [email protected]
1
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
INTRODUCTION
The analyses of work-place accidents traditionally conclude by attributing blame
the victims themselves and denying the existence of problems or malfunction in the
systems that give rise to these events. Over the last few decades questions have been
raised regarding this conclusion and opinions have highlighted the occurrence of accidents
as a warning as to the existence of systemic malfunction, signs of the occurrence of latent
problems that need to be heeded and appropriately interpreted by the occupational health
and safety management systems (OHSMS).
It is not easy to spread the word about the systemic focus of accidents. In Brazil
one of the few works dedicated to systemic focus is “Acidentes industriais. O custo do
silêncio” [Industrial Accidents. The cost of silence] by Michel Llory (1999a). In the book’s
preface, Gerard Mendel discusses the resistance to this approach, pointing out that it has
to do “with [...] the principle from which science can be founded and developed. [...]
science is constructed by increasingly breaking down the reality into distinct and separate
disciplinary fields, but despite this reality only exists in a global form. [...] the spirit of the
scientist is not prepared to move in these inter-disciplinary fields.”
The aim of this text is to present some of the concepts of this approach that have
been used over the last few decades when analyzing accidents and to discuss the
implications of incorporating them into OHSMS. The discussion will be accompanied by
questions, suggested as topics for reflection. It does not aim to establish “new truths”, but
it demands at least an explanation of the reasons that lead each system to make the
choices they do. In short, the text points to the existence of OHSMS paths that are little
known among us.
JAMES REASON’S ORGANIZATIONAL ACCIDENT MODEL
The expression organizational accident was used by Reason (1997) as a contrast
to the idea of the individual accident. According to Reason, in the latter all happenings
relative to the accident, in other words, its causes and consequences, can be considered
as limited to the individual who carries out the activity and who suffers the accident and the
injury. Organizational accidents are “comparatively rare events, but frequently
2
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
catastrophic, that occur within a complex modern technology, such as nuclear power
stations, commercial aviation, the petrochemical industry, chemical process plants and
railroad and marine transport systems, [...]” (p. 1).
In no time at all, this idea begins to be used in the approach to accidents occurring
in other types of systems and situations. Reason himself uses it when studying
maintenance accidents, particularly in aviation, and also in accidents that occur in health
services.
Figure 1 shows the accident model suggested by Reason; a triangle and a
rectangle are used to represent the accident. In the upper part of the Figure the rectangle
represents the outcome of the accident. In his scheme the author here reproduces the
idea of accident as a phenomenon that always includes the uncontrolled liberation of one
(or more) particular type of energy in such a way as to produce losses in the system:
material and environmental damage, other forms of loss or human victims.
The energy liberated was present in the system controlled by barriers that are
unable to prevent the liberation of its flow at the time of the accident. At the top of the
figure the arrow represents this idea of energy flow crossing the barriers.
3
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
In Reason’s model the triangle that forms the base of the figure represents the
system process or conditions from which the liberation of the energy flow originates. The
behavior of the workers who were operating the system would be frequently found to be
present in the immediate vicinity of the outcome of the accident, or the uncontrolled
energy. These actions, or omissions, are represented at the top of the triangle and were
called by Reason, active errors, including both voluntary and involuntary behaviors (or
“errors”). Active errors correspond to the unsafe acts of the traditional approach to
accidents.
In the middle of the triangle the physical and technical working environment factors
are represented. They are the origin of the active errors, and in turn have their origins in
managerial factors and those relating to the organization of work, which are represented at
the base of the triangle. These two groups of factors are called latent conditions, which
according to the scheme, may give rise to the uncontrolled energy, released in the
accident in a direct way, in other words, without active errors being present. The ‘latent
conditions’ arrow, which is parallel to the triangle, shows the possibility of accidents
without active “errors” that have their direct origins in these conditions.
According to Reason, active errors are unimportant when it comes to prevention, in
particular, because the different possible combinations of latent condition factors
constantly create new conditions that facilitate the appearance of active errors. In other
words, it is not possible to directly eliminate these errors; they are consequences and not
causes. For this very reason, those who are interested in prevention should prioritize the
elimination or minimization of latent conditions.
Perhaps the most important contribution to be highlighted in the studies of Reason
is the idea that for those who are interested in accident prevention the path to follow is not
in the study of “human errors”, especially when this expression is taken in the sense of
active errors, understood as being the result of the failure of the individual or operator who
committed them. The characteristics of human behavior in the work-place lead those who
study the topic to recognize that “to err is human”, in other words, that errors are always
going to exist and that for this reason ideal prevention must be based on an approach to
those characteristics of the system that increase the chances of the occurrence of these
errors.
4
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Reason’s contribution has an influence on everyone’s approach to accidents.
Those interested in finding out about it in more depth may look for it directly under the
author’s name in search engines and databases. Many examples of the application of
these concepts in the study of maintenance-related accidents may be found in a recent
book_(REASON;_HOBBS,_2003).
LLORY’S PSYCHO-ORGANIZATIONAL ACCIDENT
Other authors also use the expression “organizational accident” in a similar sense
to that used by Reason. In 1997, a new edition of “Man made disasters” (TURNER;
PIDGEON, 1997), was launched, which describes the stages or steps of the accident in
the life of the system. In 1999, in France, Llory summarized the proposal of Turner &
Pidgeon in three phases. The first, the pre-accident, or incubation period, in which a slow
and progressive deterioration of the system leads to the second, properly called, accident
phase, generally set off by a specific event. The third is the post-accident phase, in the
course of which the social and institutional consequences of the accident manifest
themselves, in the shape of an organizational and social crisis (LLORY, 1999b, p. 114).
“The accident is organizational to the extent that it is, primarily, the product of a
socio-technical organization. It is no longer only the result of an ‘unfortunate’ combination
of passive and latent failures with active and direct failures, no longer only the result of a
specific combination of human errors and material failures” (p. 113). The accident is “[...]
rooted in the history of the organization: a series of decisions, or the absence of decisions;
the evolution of the organizational, institutional and cultural context that interferes in the
future of the system; the progressive evolution (deterioration) of conditions or factors that
are inside the organization; some particular events that have a notable impact on the life
and functioning of the socio-technical system, creating an unfavorable situation: territory
into which the accident (or incident) may intrude and develop. [...] the accident incubates.
The incubation period may be long [...].” (p. 113-4).
Considering the above ideas of organizational accident the first questions
suggested to those who are interested in OHSMS are:
What concept of accident is used in the system in which you operate?
5
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Do your accident analyses identify latent conditions or aspects of the history of the
incubation of these events? Do you adopt any of the concepts mentioned?
How do you consider the statement that the majority of accidents are due to
operator error and that the main objective to be adopted for preventing them is the
elimination of these errors?
CHARLES PERROW’S NOTION OF NORMAL OR SYSTEMIC ACCIDENT
One of the first works on the systemic focus was published in 1984 by the
American sociologist, Charles Perrow: “Normal Accidents. Living with high-risk
technologies”. In this work he emphasizes the role of the structure of complex systems in
the origins of what he called, normal or systemic accidents.
In his book Perrow (1999a) highlights an idea of risk that is not normally considered
as such in traditional technical approaches. This is the risk arising from the possibility of
interaction between factors, elements or components of socio-technical systems. This type
of risk is described by the author as associated with systemic complexity, in other words,
with a property of complex systems.
The author classifies systems into simple and complex as a function of the type of
interaction that exists between their elements. In simple systems interactions of the type
that are foreseeable, called simple, predominate, such as those present in a set of
dominoes. The consequence of one of them falling, i.e. knocking down those that are in
front of it, is easily foreseeable. In complex systems there is a greater frequency of
interactions coming from the accumulation of aspects or factors that, seen in isolation, are
not considered as risk, and even when considered as a whole, do not allow one to foresee
the outcomes with which they are associated.
According to Perrow, in complex systems the emergence of complex interactions
may give rise to unforeseen systemic behaviors that evolve so quickly that they make it
impossible for the operators to re-establish their understanding of what is happening. As a
consequence these situations evolve into accidents that are impossible to avoid.
6
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The systems that present the most chances of being involved in accidents of this
type are those that include a part, unit or sub-system that performs multiple functions
simultaneously. For example, a heater that is used both for heating gases in a tank “A”, as
well as for exchanging heat in such a way as to absorb any excess from a chemical
reactor Its failure may mean that tank “A” is too cold for recombining the gas molecules
and that the chemical reactor is over-heating at the same time, due to the non-absorption
of the excess heat.
According to Perrow, systemic accidents tend to present accumulations of
consequences of this type of failure, called common-mode failures, which tend to react
with unfamiliar feedback to members of the system. Furthermore, the systems most
susceptible to this type of accident may possess interactivity, characterized by the physical
proximity between components, information of an indirect or inferential nature, control of
many parameters with potential interactions and limited understanding of some processes.
Summarizing the notion of interactive complexity, MARAIS et al., (2004) state that it “refers
to the presence in a system of sequences of unfamiliar, unplanned and unexpected
events”; they are also invisible and not immediately understandable.
This type of accident tends to be set off by common failures, apparently without any
great significance as far as safety is concerned. For example, a defect in a coffee machine
leading to a fire that ends with an airplane crashing. In the Three Mile Island accident a
maintenance warning sign was covering an important luminous warning. In these cases
the situations may seem bizarre to those examining them from outside, but they normally
have a rational explanation from the operator.
The probability of these accidents is associated both to their interactive complexity,
mentioned above, as well as by another property of these interactions: the fact that they
are tightly coupled. This means that the system is highly interdependent in such a way that
a change in one part of it may rapidly affect the status of other parts. Unlike loose
interactions these prove to be strictly dependent, or associated. According to Perrow,
tightly coupled systems have the following characteristics:
a) They have a greater number of processes that are time dependent, i.e. they
cannot be shut down, for example, awaiting corrective interaction;
7
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
b) They have a greater proportion of specific and unvarying sequences, in such a
way that the occurrence of A always leads to B happening;
c) In addition to specific sequences that do not vary the global design of the
process allows for only one path for obtaining the production goal, for example, a nuclear
plant cannot produce electricity from any other fuel, in other words, this is a system with
little flexibility;
d) They have little room for maneuver, or slack, i.e. quantities must be accurate,
resources cannot be substituted for others, temporary substitutions of equipment are not
possible, etc. (PERROW, 1999a, p. 93 –4).
Perrow’s view leads to a reading of the situation that is essentially pessimistic as
far as the possibilities of preventing accidents in this type of system are concerned. It is
not possible to foresee and avoid all the chances of complex interactions and some of
them, because they are strongly coupled, would end up leading to normal or systemic
accidents. This name was given, not because they are accidents that happen frequently,
but because they arise from characteristics that are inherent to the system.
The alternative to these disasters lies in the political decision not to accept the
introduction of this type of system in the area. Subsequently, prevention of this type of
accident is discussed based on the idea of reducing systemic complexity (PERROW,
1999b; SAGAN 1993), including strategies of structured pessimism (PERROW, 1999b),
i.e., the systematic exploration of worst-case scenarios as support for the preparation of
prevention practices.
Although he was criticized for his pessimism Perrow’s view has a large influence on
those interested in the safety and reliability of systems. The concepts of complex
interaction and tightly coupled interaction start to be considered in the design and
operation of systems and the notion of the origins of accidents in the characteristics of the
structure of systems starts to be used, as opposed to blaming the operators.
Those interested in other examples of the use of Perrow’s concepts can find them
in search engines and databases. The “Journal of Contingencies and Crisis Management”
is compulsory reading for those interested in this topic.
8
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
THE SYSTEMIC APPROACH AND ACCIDENT ANALYSIS
The theory of systems has its origins in the 1930s and 1940s. The traditional
scientific method adopts the division of the system into parts in such a way as to examine
them separately. This process of decomposition, called analytical reduction, works with the
following assumptions, among others: each component or subsystem operates
independently, in other words, these components would not be subject neither to the
effects of the results of their actions, nor to those of other system components. In short,
this focus considers that the behavior of the components (for example, the pedals of a
bicycle) is the same when examined in isolation (with the bicycle dismantled), as when
exercising their role within the whole (in the assembled bicycle) (LEVESON, 2002).
The systemic focus is centered on the system taken as a whole, assuming that
some of its properties can only be dealt with adequately in their entirety. The foundations
of the theory of systems are to be found in two pairs of ideas: 1) emerging properties and
hierarchy, and 2) communication and control.
In other words, complex systems may be described as presenting different levels
organized hierarchically. Each level is characterized as having emerging properties, i.e.,
that do not exist at lower levels in the system. This can be illustrated with the idea of the
components of a bicycle, or a technical system, and the function of this bicycle, or system.
In isolation the pieces of the bicycle cannot be used as a means of transport. The work of
the operators in assembling the bicycle makes this property, which does not exist in the
set of isolated parts, emerge.
The notion of hierarchy aims to explain relationships between different levels. The
upper hierarchical levels are responsible for controlling those lower down. To obtain this
control they must impose behavioral laws, in other words, constraints or limits on the
degrees of freedom of the components at the lower level. For example, the control of
maintenance workers in terms of workplace safety, may be achieved by using constraints
that come from the managers of the maintenance, safety and production sub-systems.
This control derives from the emerging properties of the upper hierarchical levels.
Besides defining the constraints, for example, information that it imposes upon the
lower hierarchical level, the upper level also defines forms of ascending communication
that provide information about the real functioning of the system, especially how the
9
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
effective imposition of those constraints is working - or not, as the case may be - and
completing the control loop between the different segments of hierarchy.
Safety is a typical example of a system’s emerging property. It is impossible to
assess whether a plant is safe by examining a valve in this plant. Statements about the
safety of the valve without any information about the context in which it is being used make
no sense. One might even talk about the reliability of this valve, defining reliability as the
probability that its behavior will satisfy its specifications over time and under certain
conditions. A component that is perfectly “safe” in one system may not be in another.
The concepts of communication and control of the theory of systems serve as the
basis for developing information flow channels within organizations. The upper hierarchical
levels take part in the design of constraints destined for the implementation of the system’s
“laws of behavior”. These “laws” include the norms, means and practices to be used and
that are aimed at ensuring the system’s reliability and safety, thereby constituting the
instruments or regulatory or control actions of the system.
In hierarchical organizations like companies, these control processes operate at the
interface between the different levels, ranging from those who work on the factory floor to
top management. In open systems information and control loops are considered
fundamental when it comes to the continuity of their operation in dynamic equilibrium in
their exchanges with the external environment. Figure 2, taken from Leveson (2004),
shows the components of a typical control loop in the situation in which a human
supervisor controls a particular automatic sub-system.
10
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The controller always has mental models of the process and of automation as they
stand. For example, operating an automatic machine the worker constructs his own mental
picture of what he is producing with the machine and on the very functioning of the
machine. If he actions a command to close a valve and if in normal operation the response
to this is the lighting up of a green light on the command panel, he may tend to interpret
the light being on as a sign that the vale is closed. In turn, the machine incorporates the
model of its creators regarding the same process and the necessary interfaces with the
operators. In discussing accidents in complex systems the necessary mental models for
managing the whole of the system must be analyzed. When the controller’s or manager’s
model does not correspond to the real situation, for example, it does not include
information about the repercussions that his decisions might have outside the system,
decisions relating to the management of the safety and reliability of the system may be
insufficient for maintaining it.
This notion of control loop is used by Leveson (2002, 2004) to criticize the breadth
of the definition adopted by some academics for the expression “human error”. Taken in a
broad sense, difficulties arising in the man-machine interaction are interpreted as human
failings. For Leveson, this way of defining human error fails to consider the characteristics
of the design of the system, in particular those that come into the control loops between
man and technical devices and that contribute to weakening the reliability and safety of the
system. For example, a failure in the operation of the device that did not supply adequate
11
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
feedback regarding the state of the system after a previous action, tends to be attributed to
the operator, thereby ignoring the design failure in this device.
IMPLICATIONS FOR SAFETY
These concepts reinforce the role of the various hierarchical levels in organizations
when it comes to implementing effective control mechanisms, suggesting questions such
as the following for those interested in OHSMS:
1. Do the accident analyses or the design of your organization’s OHSMS,
reconstruct the design and functioning of the information and control loops used
between the various levels in the system, with an emphasis on those that refer
to the actors involved in the accident?
2. Do the analyses clearly identify the constraints defined in the system in such a
way as to check if the efforts made by the actors in the upper hierarchical levels
force or encourage the system sufficiently, in the sense of constructing and
consolidating the reliability and safety of the system?
3. Do the analyses include checking how top management monitors the operation
and the performance of this system, including whether it receives information of
the true state of the system?
4. Does the accompaniment highlight or emphasize the monitoring of the constant
local adaptations that occur in the basic design of the systems as a response to
the pressures and variability of system components in all types of activity?
Commenting on this last aspect, Leveson (2002) emphasizes the idea that every
accident model that includes the notion of social and human systems must consider the
existence of adaptations. According to her, in this type of system “the only constant is that
nothing remains constant the whole time”.
In similar fashion to what one sees in studies of the Ergonomics of an Activity, this
way of understanding work reflects directly on the way of understanding human behavior
in the work-place when the intended objectives are not achieved, in other words, the so-
12
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
called “human errors”. Seen from this conceptual framework the supposed human error
can no longer be explained as the product of the personal characteristics of the operator,
as the traditional approach to accidents invariably does.
The systemic focus starts to define “error” as deviation from rational and normally
used procedure as an effective way of facing up to the variability aspects of work, and no
longer as a deviation from a procedure or norm theoretically defined as the right way of
doing the work. This raises new questions for those interested in OHSMS:
1. What definition of error is used in your system?
2. How does the OHSMS in your organization explain and propose
approaching the origins of these events?
Those interested in examples of the use of Leveson’s model will find a large
number of examples available in full on the webpage mentioned. The accident with the
VLS-1 VO3 satellite launch vehicle, which happened at the Alcântara Base in Brazil, was
analyzed using this model and Rasmussen’s vertical model (JOHNSON; ALMEIDA, no
prelo).
ASPECTS OF THE EXPLORATION OF THE NOTION OF HUMAN ERROR IN
ACCIDENT ANALYSES
Currently there seems to be agreement regarding the idea that work situations are
starting to demand more in terms of cognitive reasoning skills than of sensory motor skills.
Therefore, studies about the role of the social (human) component of these systems are
beginning to grow in importance. Studies seek to explore the cognitive aspects associated
with human behaviors with an emphasis on work-related situations.
The above distinction was also used by Rasmussen (1982) to explain the idea that
workers use different types of psychic management of their actions because of the types
of situation they face. He shows that there are actions that are controlled predominantly in
an almost automatic way in routine situations. They may be developed without the need to
think about their components. These behaviors are described by Rasmussen as skill-
based. At the other extreme are actions controlled predominantly by the use of awareness
13
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
and reasoning. They are called knowledge-based and are more typical of new situations,
or those that are infrequent. At the intermediary level are actions whose execution is rule-
based, used in situations in which it is possible to foresee the majority of situations and
train operators in developing them.
Human apprenticeship is described as a process in which, initially, conscious
actions become automatic the more they are repeated. With familiarization, the operator’s
skill in their execution increases and they move to a level of cognitive regulation that
demands less of the operator. When someone is learning to drive an automobile the
learning process relating to taking the foot off the clutch pedal illustrates this situation. At
the beginning the driver pays full attention to the speed with which he removes his foot and
the action is consciously controlled. When the driver learns to drive the action is performed
“automatically”. The same reasoning applies to all learning situations. It is worth pointing
out that when the work involves the occurrence of constantly new, or uncertain situations,
conscious regulation will be more present. In fact, it is precisely the operator’s skill in
detecting and interpreting signs of change in the evolution of the activity that leads him to
change the psychic management way he is using.
This knowledge raises questions for those who are interested in OHSMS:
1. In exploring human behaviors involved with work-related accidents does your
OHSMS analysis team analyze the types of situation and the type of psychic
management used by the operators?
2. In the accident analyses conducted by your OHSMS are the main parameters
used and the characteristics of the ways with which they manifest themselves
identified and are they perceived by the operators in managing the system? Are
possible intervening factors explored?
3. In cases involving omissions is the possibility of there being cognitive traps in
the system explored?
Those interested in examples of the use of these concepts in accident
analyses can consult Reason; Hobbs (2003), Almeida; Binder (2004), Rasmussen;
Svedung (2000), and others.
14
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Broadening the accident analysis perimeter with the notion of migration from the system to
the accident
Over the last decade Rasmussen (1997), Rasmussen; Svedung (2000), Svedung;
Rasmussen (2002) have described what they consider to be the important challenge of
today: risk management in a dynamic society.
The challenge has its origins in the rapid transformations through which society is
currently passing, including:
The accelerated rhythm of technological change at the operative levels in society;
The increase in the scale of industrial installations with an increase in the potential
for accidents of major proportions;
The rapid development of information technology and communication, leading to
systems with a high degree of tightly coupled interactions; and
Environments that are highly aggressive and competitive that increase the number
of potential conflicts to be experienced by the decision-makers, leading them to focus on
short term financial gains and the survival criteria of systems in detriment to their safety.
The speed of change in the technical and organizational bases of the processes
used in transport, industrial, health service provider and other systems that incorporate a
large amount of new technology, is faster than that in management processes and very
much faster than that found in extra-company systems, used for developing policies and
legislation for controlling the risks of these processes This time lag, which prejudices the
risk control mechanisms developed in socio-technical systems, becomes more evident in
the face of the aggressive environment and exacerbated competitiveness in which these
companies normally find themselves.
Under these conditions pressures in the system arise which, frequently, influence
managements, leading them to adopt decisions of an immediatist nature that push the
system close to the boundaries of its safety.
This dynamic process, par excellence, shows that these systems live in constant need of adaptation and changes in the environment in which they are inserted and also in
15
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
their own components. Under these conditions the traditional way of managing safety, based on prescriptive and normative approaches, becomes outdated.
In these systems accidents start involving aspects up until then non-existent, or
that occur less frequently. Operators do not have to hand a rule or operational procedure
that is capable of indicating how they should act when faced with such a disturbance.
In the systems he studied Rasmussen also shows that management decisions
taken outside the walls of the company-system properly called, play their part in the origins
of accidents. This type of situation is called distributed decision making and was
exemplified by analysis of the capsize of the ferry in Zeebrugge in March, 1987. The
authors show that this accident involved aspects relating to the design of the boat and the
port, characteristics of cargo and passenger management, traffic timetables and the
operation of the boat. The managers from each of the areas mentioned have to live with
their own particular difficulties and pressures and cannot see the wood for the trees. Their
decisions tend to ignore possible collateral effects in other sub-systems. The accumulation
of the collateral effects of the decisions taken in each of the sub-systems only emerges in
the system seen as a whole; it does not exist as a property of the components in isolation.
In this type of situation once a set of decisions has been adopted the system
becomes vulnerable, or in other words, it becomes intolerant to a great number of
changes, whether they be behavioral or from another of its components. In other words, if
the accident had not been caused by specific factor x1, it could have been caused by x2,
or any other.
This explains the criticism of Rasmussen (1997) of the idea of the “basic cause” or
“root cause” of accidents, so widely divulged in the area of work-place safety. In traditional
thinking, if the basic cause is eliminated this type of accident no longer occurs.
Rasmussen has been showing that in dynamic systems accidents with similar aspects
may occur without the presence of that particular cause thought of in isolation, because in
the real work situation, the ‘accidentogenic’ scenario that is formed is the product of the
interaction or accumulation of the collateral effects of decisions taken by different actors in
scenarios where it is difficult to foresee the possibility, either of the accumulation, or of the
effects. Furthermore, each decision in isolation is not capable of producing the effect
revealed by the accident.
16
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
This scenario of vulnerability, of a reduction in the tolerance to change, or in the
resilience of the system, is described by Rasmussen as a process of system migration to
the accident or to the acceptable boundaries of its safety.
Once the migration has occurred the accident may be set off by many types of
small changes, whose elimination, in accordance with the causal rationale of the traditional
model of safety management, reveals itself to be powerless to bring about an effective
improvement in the reliability and safety of the system.
Figure 3 shows the model suggested by Rasmussen (1997) to represent the
migration of the system in the direction of its safety boundaries.
In every working system, human behavior is modeled by objectives and constraints
that must be respected by the actors with a view to their achieving success in their
interventions. Therefore, it is the system that imposes limits or boundaries, which if
exceeded may threaten its survival or relative stability. There are frontiers of an economic
nature, especially relating to cost, and there are also boundaries imposed by the work load
to which the operators are submitted.
The working space in which the actors freely move is also limited by administrative,
functional and safety constraints. They set the boundaries of acceptable and perceived
performance. However, during their activities operators always have certain degrees of
freedom that will be “closed” by the use of local adaptations, guided by criteria relative to
the process in question, such as work-load, the cost benefit relationship, the risk of failure,
the pleasure of exploring, etc.
This model calls our attention to the dynamic nature of the activity. “The normal
changes found in local working conditions induce frequent strategy modifications and the
activity shows great variability” (RASMUSSEN 1997, p. 189). Such local variations,
induced by the situation, are compared by Rasmussen to the “Brownian motion” of gas
molecules. During these attempts at adaptation, effort and cost gradients are established,
the result of which tends to be a systematic migration towards the boundaries of
functionally acceptable performance, which if crossed, result in error or accident. Because
of this the author states that analysis must focus on the mechanisms that generate the
behaviors within the true and dynamic contexts of work, and not human errors or
violations.
17
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
According to Rasmussen, the majority of major accidents analyzed over the last
few years show, in their origins, exactly this type of systematic migration to the safety
boundaries of the system and not a “coincidence of independent failures and human
errors”. Because of this, safety management in these types of system should be pro-
active, centering on the study of the normal activities of the actors who prepared this
scenario.
Well conceived systems have countless barriers, controls or lines of precautions to
avoid accidents, so that the eventual violation of one of them does not lead immediately to
an adverse event. The safety of a sub-system, or system in particular, also depends on the
collateral effects of the actions of actors situated in other sub-systems, or systems. In
systems in which the pressures for cost effectiveness dominate, the systematic
degeneration of these protections is installed over time. The German sociologist, Ulrich
Beck, called this process “produced uncertainty and organized irresponsibility” and
“strategic uncertainty and structural vulnerability”, considering it to be the key problem for
current research into risk management (apud SVEDUNG; RASMUSSEN, 2002, p. 399).
18
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The example below was taken from a recent text. It illustrates the close relationship
between notions of emerging property and system migration:
“During the company’s night shift with two wood chippers, one of the chipper
operators is absent and the older machine and the one with fewer operational resources
remains switched off for lack of staff. Soon after, the log handling machine breaks down
and is not repaired and its operator is left temporarily with time on his hands. Soon after, a
new truck arrives in the yard loaded with lumber and is not unloaded due to the breakage
of the log handling machine. Knowing that the truck is paid by the time it remains in the
yard and aware of the pressures from management for fast unloading the head of the shift
allocates the operator of the log handling machine to operate the stopped chipper and
asks for the truck to be unloaded directly onto the conveyor belts of this machine.
Do the decisions taken create safety or risk?” (ALMEIDA, 2006, p. 37)
The concepts presented raise new questions for those interested in OHSMS. Other
questions are presented after the text on vertical accident analysis models.
1. How does formal safety approach situations like the one in the example above?
2. Considering that the decision of the head of the shift corresponds to what is
expected in the majority of systems, how do you classify the analysis
conclusions of this type of accident, which explains them as the result of non-
compliance with safety norms on the part of the operator?
3. How do your organization’s OHSMS (formal safety) approach the emergence of
situations of work disturbance and variability that demand responses from the
workers that are equivalent to the notion of local adaptations, as mentioned
above?
VERTICAL ACCIDENT ANALYSIS MODELS
These ideas are the basis of the risk management and accident analysis proposal
developed by Rasmussen (1997) and also of the Systems-Theoretic Accident Models and
Processes (STAMP) method, developed by Leveson (2004). Socio-technical systems
19
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
involved in risk management begin to be considered in their entirety, with all their
hierarchical levels, going from “non-shop floor” operators to the legislators and government
agencies responsible for the formulation and implementation of control policies.
Figure 4 shows the system described by Rasmussen. This vertical orientation
model was suggested to “capture the causal process of losses as a boundary condition of
working under pressure and [...] to identify sensitive parameters for controlling the
behavior of organizations and individuals” (SVEDUNG; RASMUSSEN, 2002, p. 401).
The model describes the interactions between decision-makers situated at all
levels in society in their roles as risk managers. The analysis takes up again the notion of
control loop discussed previously, by exploring the possibilities of failure:
a) in the design of the constraints necessary for forcing the implementation of
control actions;
b) in carrying out these actions;
c) in the feedback provided after carrying out the actions.
The model proposed by Leveson is similar to that of Rasmussen, but it begins by
mapping out the actors involved in the accident, without reference to the physical process
and the activities mentioned, in Rasmussen’s basic scheme.
The analyses include maps that show the control loops and information prescribed
or proposed between the different hierarchical levels of the system and the same maps
showing the local adaptations that over the time the system existed were being carried out
in the components, whose purpose was to impose regulatory actions or inform
management of the results of the actions carried out. Rasmussen and Svedung’s (2000)
book includes an appendix with analysis registers of six accidents that use the technique
proposed by the authors.
20
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Leveson’s (2004) model associates Table 1, which shows the taxonomy of possible
failures in the design, execution or feedback of the various loops analyzed.
Using these models demands abandoning the traditional approach adopted in
safety management, which is based on the structural decomposition of the system, with
analyses of tasks focused on action sequence and occasional deviations, treated as
human errors. In its place the behavior-modeling mechanisms model in terms of working
situation constraints, acceptable performance boundaries and subjective criteria guiding
the adaptations to the changes should be adopted (RASMUSSEN, 1997).
As the variability and the adaptations they demand are continuous, “human error”
begins to be seen as an attempt at adaptation that did not achieve the desired success,
but whose result is immediately assumed as “input”, or a sign necessary for the diagnosis
of the current state of the system and the decisions that will culminate in a new attempt at
adaptation. In the words of Amalberti (1996) the error is part of the “negotiation or
cognitive commitment” developed during the management of the activities.
21
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
An aspect to be highlighted in this behavior-modeling mechanisms approach is its
similarity to the situated behavior focus, adopted in Activity Ergonomics. The reasons
associated to the origins the lack of success of certain attempts at adaptation must be
looked for in the constraints – or lack of them – that model the behaviors of individuals and
organizations, considering the existence of pressures that demand local adaptations on
the part of operators. In addition, Table 1 is a guide to the systematization of aspects of
the analysis.
Vertical models suggest new questions to those interested in OHSMS:
a) How are managers and intermediate heads responsible for strategic and daily
decisions and who contribute, directly or indirectly to the origins of accidents,
approached, if indeed they are, in the analysis processes of these accidents?
b) How is the eventual contribution of actors outside the walls of the system-
company approached in the analysis of accidents in your organization?
22
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
FINAL CONSIDERATIONS
In the United Kingdom, recent reports of the analyses of accidents involving
slipping and falls, work-related maintenance accidents, traffic accidents, accidents with
workers in the health sector and others, carried out by teams of technicians from the
Health and Safety Executive (HSE), a body equivalent to Brazil’s Ministry of Labor and
Employment, show that the use of concepts like those presented in this text are not
restricted to university researchers and the safety teams of major companies operating in
the most dynamic and powerful sectors of the economy.
Accident analyses are beginning to be recognized as professional practices that
qualify those that conduct them as valid spokespersons of all the other actors in the
system. They begin to reveal paths along which aspects of the organization and
functioning of the system become potentially accidentogenic.
This text tries to show that these aspects can no longer be confused with examples
of strange practices, developed by a few researchers who dedicate themselves to studying
accidents as “laboratory phenomena”. On the contrary, it shows that the incorporation of
concepts such as those presented here is growing in the practices of companies and
public institutions. This movement is associated to the perception that those interested in
the prevention of work-related accidents have a lot to learn from the experience developed
in systems that have achieved safety performances recognized as good, “highly reliable”
or “ultra-safe”, in the light of current knowledge. In other words, those interested in the
prevention of adverse events in hospitals, for example, need to learn from the experience
of commercial aviation from various countries in the world - and so on and so forth.
However, the perception of this change will not let us ignore that this does not
seem to be the path followed in the majority of systems. The traditional approach is still
resisting. The idea that the majority of accidents arise from human failings persists and the
current response of the traditional approach to this old issue assumes the form of
“behavioral safety” proposals (HOPKINS, 2006).
The harsh criticisms presented by authors here mentioned of the idea that work-
related accidents arise from human errors should not be understood as a negation of the
23
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
recognition of the existence of a human or subjective dimension in these events. Very
much to the contrary, as the text itself shows, for those interested in the study of the
human behaviors in the working situation these authors suggest approaches that are as
yet little divulged in Brazil. They also reveal that the mere identification of human actions
or omissions that go contrary to the precepts of current norms or rules are no more than
effects, consequences, apparent phenomena, whose essence, especially in terms of
origins, needs to be researched; in no way whatsoever, must they be reduced to the idea
of the product of the conscience of the operator who behaved in that way.
The aims of this text are ambitious; in the first place, to reveal part of the history of
this different, alternative way of conceiving work-related accidents and theory analysis;
secondly, to encourage those interested in the theme of occupational health and safety
management to reflect upon to what extent the paths here indicated may be useful to the
organizations in which they operate.
24
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
ALMEIDA, I. M. Análise de acidentes do trabalho como ferramenta de prevenção. Revista
Cipa, ano XXVII, n.320, p.22-49, 2006.
ALMEIDA, I. M.; BINDER, M. C. P. Armadilhas cognitivas: o caso das omissões na
gênese dos acidentes de trabalho. Cadernos Saúde Pública, v.20, n.5, p.1373-8, 2004.
AMALBERTI, R. La conduite des sistèmes à risques. Paris: Presses Universitaires de
France, 1996. (Collection Le Travail Humain)
HOPKINS, A. What are we to make of safe behaviour programs? Safety Science, 2006 (in
press). Disponível em www.sciencedirect.com/science/journal. Acesso em: 10 jul. 2006.
JOHNSON, C. W.; ALMEIDA, I. M. An investigation into the loss of the Brazilian Space
Programme’s Launch Vehicle VLS-1 V03. No prelo (Aceito para publicação em Safety
Science).
LEVESON, N. G. A new approach to System Safety Engineering. 2002. Disponível em
sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.
LEVESON, N. G. A new accident model for Engineering Safer Systems. Safety Science,
v.42, p.237-70, 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.
LLORY, M. Acidentes industriais: o custo do silêncio. Rio de Janeiro: Multimais, 1999a.
LLORY, M. L’accident de la centrale nucléaire de Three Mile Island. Paris: L’Harmattan,
1999b.
MARAIS, K.; DULAC, N.; LEVESON, N. Beyond normal accidents and high reliability
organizations: the need for an alternative approach to safety in complex systems. MIT
ESD Symposium, March 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 20 abr.
2006.
PERROW, C. Normal accidents. Living with high-risk technologies. 2.ed. New Jersey:
Princeton University Press, 1999a.
PERROW, C. Organizing to reduce the vulnerabilities of complexity. Journal of
Contingencies and Crisis Management, v.7, n.3, p.150-5, 1999b.
25
Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
RASMUSSEN, J. Human errors: a taxonomy for describing human malfunctions in
industrial installations. Journal of Occupational Accidents, v.4, p.311-35, 1982.
RASMUSSEN, J. Risk management in a dynamic society: a modelling problem. Safety
Science, v.27, n.2/3, p.183-213, 1997.
RASMUSSEN, J.; SVEDUNG, J. Proactive risk management in a dynamic society.
Karlstad: Räddningsverket/Swedish Rescue Services Agency, 2000.
REASON, J. Managing the risks of organizational accidents. Aldershot: Ashgate, 1997.
REASON, J.; HOBBS, A. Managing maintenance error. A practical guide. Hampshire:
Ashgate, 2003.
SAGAN, S. D. The limits of safety. Organizations, accidents, and nuclear weapons. New
Jersey: Princeton University Press, 1993. p.250-79.
SVEDUNG, J.; RASMUSSEN, J. Graphic representation of accident scenarios: mapping
system structure and the causation of accidents. Safety Science, v.40, p.397-417, 2002.
TURNER, B. A.; PIDGEON, N. F. Man-made disasters. Oxford: Butterworth Heinemann,
1997.
Article received on 24.08.2006. Approved on 02.10.2006.
26
SISTEMA DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL:
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO À IMPLANTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS ORGANIZAÇÕES
BRASILEIRAS
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas1; Gilson Brito Alves Lima2
1 Doutor em Engenharia pela Coppe/UFRJ; Professor Coordenador do Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense. 2 Doutor em Engenharia pela Coppe/UFRJ; Professor do Mestrado em
Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense.
RESUMO
A melhoria da segurança, da saúde e do meio ambiente de trabalho, além de aumentar a
produtividade, diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no processo,
o absenteísmo e os acidentes e/ou doenças ocupacionais. Para isto é necessário um
planejamento que permita a participação da alta administração e dos empregados na
busca de soluções práticas e economicamente viáveis. Este trabalho apresenta reflexões
acerca do desempenho da segurança em um canteiro de obras como resultado das
práticas de responsabilidade social, gestão de pessoas e gestão ambiental. Tais sistemas
de gestão constituem o núcleo do que atualmente se denomina sustentabilidade
organizacional. Este é o resultado parcial das pesquisas em desenvolvimento no Latec –
Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente, e indica a continuidade
para a definição de indicadores de ecoeficiência nos processos produtivos e de
efetividade no negócio.
Palavras-chave: responsabilidade social empresarial; gestão de negócios sustentáveis;
desempenho em segurança.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=31
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Mais do que cumprir a legislação existente, é questão de sustentabilidade para a
continuidade da operação das empresas o fato de proporcionarem um ambiente de
trabalho seguro e saudável. Na atualidade, as organizações buscam aperfeiçoar-se
através de modelos de gestão, incorporando conceitos das boas práticas de
relacionamento com empregados, sociedade, governo, acionistas, fornecedores e
concorrentes. Tal escopo de atuação, conforme apresentado na Figura 1, denominou-se
recentemente como “responsabilidade organizacional” (ALLEDI, 2002).
Tal ambiente de pró-atividade no que se refere à prevenção de acidentes e à
proteção à saúde do trabalhador, é resultante do compromisso e da colaboração mútua
entre os empregadores e trabalhadores.
Ao projetar e construir novos locais de trabalho e sistemas de produção, ou
modificar os existentes, deve-se levar em consideração os fatores que podem
comprometer o exercício de determinada tarefa em função das limitações pessoais e
operacionais existentes.
2
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Cada vez mais, destacam-se as preocupações do governo, empresários e
sindicatos em melhorar a segurança, a saúde e as condições do meio ambiente de
trabalho. Para isto, é necessário um planejamento que permita a participação da alta
administração e dos empregados para encontrar as soluções práticas e economicamente
viáveis (ARANTES, 2005).
A melhoria da segurança, da saúde e do meio ambiente de trabalho, além de
aumentar a produtividade, diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no
processo, o absenteísmo e os acidentes e/ou doenças ocupacionais.
Os aspectos preventivos envolvidos na segurança do trabalho buscam minimizar
os riscos e as condições inadequadas e incorporar a melhoria contínua das condições de
trabalho, introduzindo requisitos mínimos de segurança cada vez mais rígidos.
Os riscos de acidentes com lesão, problemas ergonômicos e organizacionais
podem ser identificados pela inspeção sistemática do local de trabalho. As inspeções de
segurança estão entre as medidas preventivas mais importantes para assegurar um local
de trabalho seguro. A natureza do trabalho determinará com que freqüência as inspeções
de segurança devem ser realizadas.
Algumas empresas contam com profissionais de medicina e enfermagem do
trabalho, ligados aos SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho –, que gerenciam o serviço de saúde, ambulatórios e
instalações de reabilitação. Nas pequenas empresas, esses serviços são terceirizados, e
essa terceirização deve ser analisada em termos de efetividade de resultados para a
saúde e a segurança dos trabalhadores.
A função principal do serviço de saúde ocupacional é cooperar com a gerência e
com os trabalhadores, atuando na prevenção e contribuindo para a melhoria contínua da
segurança e das condições de trabalho.
As boas práticas de segurança e higiene ocupacional são importantes para evitar
acidentes e garantir a saúde dos trabalhadores. As boas práticas de segurança estão
3
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
associadas com a melhoria das condições de trabalho. Subestimar os riscos do ambiente
de trabalho ou subestimá-los cria um ambiente propício à ocorrência de acidentes.
Muitas organizações no Brasil ainda têm uma visão restrita em relação à
segurança, à medicina do trabalho e à saúde ocupacional. O tratamento dessas questões
se restringe à coleta de dados estatísticos, ações reativas a acidentes do trabalho e
respostas a causas trabalhistas. Segurança e saúde ocupacional iniciam-se como sistema
de gestão através de normas como a OHSAS 18001/99 (Sistemas de Gestão de
Segurança e Saúde Ocupacional – Especificação) e BS 8800/96 (Diretrizes para Sistemas
de Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional), além do Prêmio Nacional de
Segurança e Saúde Ocupacional.
OS OBJETIVOS DESTE ESTUDO: A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS DE SSO PARA
A SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL
Como pré-requisito para a sustentabilidade das organizações (PRAHALAD, 2006)
é necessário possuir garantia de que suas operações não irão provocar ações futuras no
que se refere a suas práticas em relação aos trabalhadores (passivos trabalhistas) e ao
meio ambiente (passivos ambientais), quanto à continuidade de disponibilidade de bons
fornecedores, quanto à construção de imagem positiva junto à opinião pública e quanto ao
cumprimento da legislação e ao recolhimento de taxas e impostos (ARANTES, 2005).
Buscou-se consolidar os conceitos e as conclusões desenvolvidas nos grupos de
pesquisa, nos quais os autores deste trabalho atuam, com a citação e descrição de casos
coletados em pesquisa de campo.
Objetiva-se a partir da análise das práticas de segurança e saúde ocupacional de
duas pequenas empresas construtoras, que não possuem formalmente sistemas de
gestão implantados, avaliar o quão distante do ideal proposto pela norma está a realidade
de suas obras. Fizeram-se sugestões em caráter de adequação da organização às
normas BS 8800/96 e OHSAS 18000/99. O resultado final constitui-se em contribuição ao
pensamento gerencial em franco desenvolvimento no que se refere à Construção
Sustentável.
4
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Dentre os principais pressupostos apresentados neste artigo, alguns
questionamentos podem ser destacados para subsidiar a análise proposta. Por exemplo:
Quais as atitudes dos responsáveis na obra? Elas indicam preocupação com
segurança? Possuem uma visão sistêmica?
No núcleo dos trabalhadores há uma cultura da segurança e saúde ocupacional?
Eles possuem uma política de conduta que os guia? Se possuírem, ela é bem
entendida?
Há padronização de processos? Se há, isso contribui efetivamente para a
segurança e saúde ocupacional?
A realidade das obras é adequada à legislação?
REVISÃO DA LITERATURA: A SUSTENTABILIDADE E AS PRÁTICAS DE SSO
Constitui estrutura principal desta revisão a apresentação de conceitos relativos a
responsabilidade organizacional (ou corporativa), ética empresarial, gestão sustentável,
gestão da segurança e saúde ocupacional, bem como a fundamentação do Triple Bottom
Line (BOWDEN, 2001).
Torna-se igualmente importante para o entendimento da contribuição deste
trabalho a visualização do PDCA, com suas etapas didaticamente explicitadas para
compor um ciclo de gerenciamento que garanta o aperfeiçoamento contínuo e a
manutenção da rotina.
5
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
RESPONSABILIDADE SOCIAL ORGANIZACIONAL
A responsabilidade social de uma organização consiste na decisão de participar
mais diretamente das ações comunitárias na região em que está inserida e diminuir
possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce. Mas, apoiar o
desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente não são suficientes para
atribuir a uma empresa a condição de socialmente responsável. É necessário investir no
bem-estar de seus empregados e dependentes e num ambiente de trabalho saudável,
além de dar retorno aos seus acionistas e garantir a satisfação dos seus clientes e/ou
consumidores.
O exercício da responsabilidade social pressupõe uma atuação eficaz da
organização em duas dimensões: a gestão de responsabilidade interna e a gestão de
responsabilidade externa.
6
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A responsabilidade social interna caracteriza o estágio inicial da cidadania
empresarial. Entretanto, não é sempre que ocorre esse movimento. Muitas organizações
cometem um sério erro de estratégia social e invertem esse processo, causando grande
descontentamento entre os empregados e confirmando um grave quadro de conflitos,
ansiedade e desmotivações.
A responsabilidade social interna tem como foco trabalhar o público interno da
organização, desenvolver um modelo de gestão participativa e de reconhecimento de
seus empregados, promovendo comunicações transparentes, motivando-os para um
desempenho ótimo. Esse modelo de gestão interna compreende ações dirigidas aos
empregados e dependentes, aos funcionários de empresas contratadas, terceirizadas,
fornecedoras e parceiras.
Na ligação entre as realidades social, política, econômica e cultural da
organização, as ações de responsabilidade social interna podem começar por:
Cuidar da qualidade de vida do empregado e investir nas instalações sanitárias;
Atender às necessidades básicas dos empregados criando uma infra-estrutura de
refeitório para seu público interno, empresas terceirizadas e contratadas, e
fornecendo cesta básica para seus dependentes;
Criar o hábito de uso do uniforme, contribuindo para melhorar as condições de
segurança no trabalho;
Buscar um Plano de Saúde e assistência odontológica que atenda a todos os
empregados e seus familiares;
Cuidar das condições de moradia dos empregados;
Implantar um Plano de Cargos e Salários;
Implantar programas de reconhecimento e valorização do empregado, como: Café
com o Presidente, Empregado Destaque, Ginástica na Empresa, Participação
nos Resultados;
Investir na qualificação dos empregados através de programas de treinamento,
internos e/ou externos, e capacitação visando maior qualificação profissional e
obtenção de escolaridade mínima.
7
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O desenvolvimento dessas ações é também chamado de trabalho de
endomarketing; com elas a organização leva motivação para o seu ambiente interno e cria
uma relação de confiança com o empregado. Assim, a organização ganha sua dedicação,
empenho, lealdade e aumento de produtividade.
A partir do desenvolvimento e da implantação dessas ações de gestão interna, a
empresa pode realizar ações sociais que beneficiem a comunidade, passando a exercitar
a sua responsabilidade social externa. Através de um planejamento de marketing social, a
organização, atendendo à sua missão, às suas crenças e à demanda de necessidades da
comunidade, atua nas áreas de educação, saúde, assistência social e ecologia,
desenvolvendo ações empresariais que visem maior retorno publicitário e de imagem.
A organização pode realizar essas ações através de:
Doações de produtos, equipamentos e materiais em geral;
Transferência de recursos em regime de parceria para órgãos públicos e ONGs,
beneficiando escolas públicas, visando educação com qualidade, viabilizando
cursos técnicos, estágios e formação de futuros profissionais;
Prestação de serviços voluntários para a comunidade pelos empregados da
organização, reformando creches e asilos;
Aplicação de recursos em atividades de preservação do meio ambiente,
adotando uma praça, reciclando o lixo da empresa ou promovendo a coleta
seletiva;
Patrocínio para projetos sociais do governo;
Investimentos diretos em projetos sociais criados pela própria organização;
Investimentos em programas culturais através da lei de incentivo à cultura.
Ao participar de ações sociais, a organização não só adota um comportamento
ético e contribui para o desenvolvimento econômico, mas também atua na dimensão
social do desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade de vida de seus
empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo,
exercendo a sua responsabilidade social.
8
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Uma empresa responsável tem no seu compromisso, com a promoção da
cidadania e o desenvolvimento da comunidade, o seu diferencial competitivo, buscando
desta forma ser uma organização que investe recursos financeiros e tecnológicos, além
de mão-de-obra, em projetos de interesse público. É uma organização que cria um
ambiente agradável de trabalho, valorizando seus talentos, e é capaz de desenvolver um
modelo de gestão integrado, onde as pessoas têm um papel decisivo no seu
compromisso com relação à comunidade e à sociedade em geral.
A SEGURANÇA DO TRABALHO
A melhoria nas condições do ambiente e do exercício do trabalho tem como
objetivos principais diminuir o custo social com acidentes de trabalho, valorizar a auto-
estima e proporcionar a melhoria contínua da qualidade de vida dos trabalhadores.
A evolução social nas relações de trabalho não deve ser vista pelo Estado como
mais um programa de governo, mas como um objetivo nacional constante, associando o
desenvolvimento à melhoria nas condições de vida da sociedade. Esse compromisso
nacional exige o exercício da cidadania, pois cabe a cada um de nós, agentes potenciais
de transformação – governo, empregador ou trabalhador –, contribuir para a melhoria da
qualidade de vida e a formação de uma sociedade mais sadia e produtiva.
Especificamente na área de segurança e saúde no trabalho, o governo está
direcionando a fiscalização para setores econômicos com maior taxa de freqüência de
acidentes (incidência de acidentes incluindo doenças ocupacionais), ampliando a
participação da sociedade produtiva nas propostas de modernização da legislação
trabalhista com o objetivo de reduzir as situações de risco. Não podemos esquecer que o
atendimento às necessidades básicas do trabalhador é fator fundamental para se ter uma
sociedade sadia e produtiva.
A NORMA BS 8800/96
A norma britânica BS 8800 constituiu a primeira tentativa de se estabelecer uma
referência normativa para implementação de um sistema de gestão de segurança, saúde
9
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
e meio ambiente. Essa norma vem sendo utilizada na implementação de um sistema de
gestão de segurança e saúde, visando à melhoria contínua das condições do meio
ambiente de trabalho. Os princípios dessa norma estão alinhados com os conceitos e
diretrizes das normas da série ISO 9000 (Sistema da Qualidade) e da série ISO 14000
(Gestão Ambiental).
A norma britânica BS 8800, que continua válida, motivou diversas entidades
normativas a elaborar em 1988 um conjunto de normas intituladas de Occupational Health
and Safety Assessment Series – OHSAS, visando à realização de auditorias e à
certificação de programas de gestão de segurança, saúde e meio ambiente.
O princípio básico de um sistema de gestão baseado em aspectos normativos
envolve a necessidade de determinar parâmetros de avaliação que incorporem não só os
aspectos operacionais, mas também a política, o gerenciamento e o comprometimento da
alta administração com o processo de mudança e melhoria contínua das condições de
segurança, saúde e trabalho. Esse aspecto é de fundamental importância, pois, na
maioria das vezes, tais melhorias exigem além do comprometimento, altos investimentos
que requerem planejamento no curto, médio e longo prazo para a sua execução.
Com esta nova visão, que muitas empresas já vêm adotando, todos dentro do
processo produtivo são responsáveis no mesmo nível de importância, principalmente os
gerentes e supervisores. A administração deve identificar os riscos e orientar os
trabalhadores com atitudes pró-ativas, dando o exemplo a ser seguido dentro da
organização, mesmo porque não são todas as empresas que são obrigadas pela
legislação a possuir em seus quadros um profissional de segurança.
Segundo a norma britânica BS 8800, as organizações não atuam isoladamente, ou
seja, diversas partes podem ter um interesse legítimo na implantação de um sistema de
gestão. Essas partes são empregados, consumidores, clientes, fornecedores,
comunidade, acionistas, empreiteiros, assim como as agências governamentais
encarregadas de zelar pelo cumprimento dos regulamentos e leis.
A norma BS 8800 é um guia que se destina a ajudar as organizações a
desenvolverem uma abordagem do gerenciamento de segurança e saúde ocupacional
10
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
que permita proteger os empregados, cuja saúde e segurança podem ser afetadas pelas
atividades da organização. Muitas das características do gerenciamento de segurança e
saúde ocupacional se confundem com práticas sólidas de gerência defendidas por
proponentes da excelência da qualidade e dos negócios.
Os elementos apresentados na norma são essenciais para um sistema de
gerenciamento eficaz. Os fatores humanos, incluindo a cultura e a política, entre outros
aspectos das organizações, são fatores decisivos para a eficácia do sistema de
gerenciamento e precisam ser considerados quando da implementação da norma.
Um ciclo de aperfeiçoamento contínuo do gerenciamento e a sua integração no
sistema global de gerência são mostrados na Figura 3, considerando-se todos os estágios
de implementação.
SUSTENTABILIDADE DAS ORGANIZAÇÕES
Desenvolvimento sustentável
Existem inúmeras definições de Desenvolvimento Sustentável, elaboradas por
diferentes setores da sociedade. O conceito de desenvolvimento sustentável foi
11
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
apresentado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, em abril de 1987, na
Assembléia Geral das Nações Unidas. O principal produto dessa Comissão foi o
“Relatório Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório Brundtland”; nesse
texto o desenvolvimento sustentável é apresentado como “o desenvolvimento que satisfaz
as necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de
satisfazerem suas próprias necessidades” (ONU, 1988).
O Desenvolvimento Sustentável pressupõe interdisciplinaridade, na medida em
que sua evolução nos leva a trabalhar com três macro-temas que compõem o chamado
Triple Bottom Line, ou seja, os aspectos ambientais, sociais e econômicos. A sinergia
entre esses aspectos permeia a aplicação do conceito de Desenvolvimento Sustentável,
ou Sustentabilidade, onde quer que ele seja aplicado, tanto em nível governamental,
como na sociedade civil ou na seara empresarial. Pode-se também trabalhar com outras
dimensões do desenvolvimento sustentável, como por exemplo, os aspectos culturais,
tecnológicos e políticos.
Gestão sustentável
A Gestão Sustentável, conceito aplicado às organizações como um
desdobramento imprescindível que se articula com a Responsabilidade Social
Organizacional, deve ser entendida como o compromisso contínuo da organização com o
seu comportamento ético e com o desenvolvimento econômico (BOWDEN, 2001),
promovendo ao mesmo tempo a melhoria da qualidade de vida de sua força de trabalho e
de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.
A gestão sustentável atribui importância fundamental aos aspectos antes
considerados como simples cumprimento de legislação, tais como segurança e saúde
ocupacional, prevenção de acidentes ambientais e posicionamento pró-ativo em relação
ao projeto de produtos ecoeficientes.
12
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Eixo central do conceito da Sustentabilidade, a Ecoeficiência é alcançada mediante o
fornecimento de bens e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades
humanas e tragam qualidade de vida, promovendo ao mesmo tempo uma redução
progressiva dos impactos ambientais e da intensidade do consumo de recursos ao longo
do seu ciclo de vida, num nível, no mínimo, equivalente à capacidade de suporte estimada
da Terra. Retornando ao modelo mental já plenamente conhecido do PDCA, consideram-
se ferramenta indispensável para a efetividade da gestão a elaboração e a
implementação de um sistema de indicadores. No caso deste trabalho adotou-se a base
conceitual do Balanced Scorecard agregado com os conceitos do Triple Bottom Line,
resultando em um Scorecard “sustentável”, como o apresentado na Figura 5.
13
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Conforme apresentado na Figura 5, o inter-relacionamento dos vértices da pirâmide de
sustentabilidade possibilita a identificação dos indicadores de Sustentabilidade, dentre os
quais se destacam os aspectos:
Políticos (eixo econômico-social): relacionamento com o poder público, a
sociedade, as instituições e outras organizações;
Econômicos (eixo sócio-ambiental): efeito dos projetos nas comunidades locais,
transferência de tecnologia, capacitação de agentes na comunidade, equilíbrio
receita versus despesas e geração de receitas;
Sociais (eixo sócio-econômico): geração de oportunidades de crescimento
pessoal e profissional para as pessoas e suas famílias; educação e treinamento,
segurança e saúde na comunidade;
Ecológicos (eixo sócio-ambiental): minimização de impactos sobre o meio
ambiente físico e biótico, máxima valorização dos recursos energéticos
renováveis, foco na ecoeficiência;
Tecnológicos (eixo econômico-ambiental): qualidade e confiabilidade adequadas,
e minimização de riscos de acidentes.
14
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ESTRATÉGIA DE PESQUISA
Realizou-se revisão da literatura e pesquisa de campo com duas pequenas
empresas. Aplicou-se roteiro de observação para identificar as práticas de gestão em
SSO. Entrevistaram-se os engenheiros gestores das obras pesquisadas e os diretores
dessas empresas.
Igualmente observou-se a atuação dos engenheiros e técnicos de segurança. A
partir das observações partiu-se para a análise dos dados e as considerações finais.
ESTUDO DE EXPERIÊNCIAS EM DUAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL
Relato da situação problema na experiência estudada
Na estruturação do presente estudo, foram realizadas pesquisas de campo em
duas obras gerenciadas por empresas que atuam no mercado de Niterói, Estado do Rio
de Janeiro, com a participação dos engenheiros responsáveis pelo gerenciamento da
produção e diretores das empresas. As duas empresas competem no mercado de
pequenas construções e têm como concorrentes outras organizações que se limitam ao
cumprimento da legislação de segurança e saúde ocupacional. À primeira observação,
tornam-se relevantes alguns aspectos que indicam urgente necessidade de melhoria e
que são relacionados ao processo produtivo e à forma de execução das tarefas: projeto
ergonômico do posto de trabalho, programação de jornada de trabalho, aspectos
psíquicos e sociais, além da fadiga ocupacional. Tais fatores, que influenciam na
produtividade, devem ser avaliados com o objetivo de sugerir medidas para adequar o
trabalho à limitação pessoal dos trabalhadores.
Quanto à existência de planejamento nas práticas de segurança e saúde
ocupacional nas empresas analisadas, torna-se explícita a necessidade de que os
profissionais que aí conduzem as inspeções de saúde sejam responsáveis por organizar
medidas de primeiros socorros, no caso de acidentes ou doenças ocupacionais. Eles
15
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
devem, também, orientar na aquisição de equipamentos e na organização dos locais de
trabalho e de suas tarefas. Ou seja, é imprescindível a aplicação de ferramentas
gerenciais, tais como indicadores e sistemas de informação, e o treinamento de tais
profissionais de saúde e de segurança nos conceitos de gestão de negócios e de
planejamento estratégico, para que eles tenham condições de rever e de argumentar no
desenvolvimento de uma cultura de prevenção pró-ativa.
Um elemento importante a favor da segurança, saúde e melhoria das condições de
trabalho é a informação. A empresa deve possuir mecanismos internos para divulgar os
objetivos, indicadores de desempenho e resultados, estimulando a participação dos
trabalhadores. Uma informação bem elaborada contribui para a conscientização de
segurança dos trabalhadores e de seus superiores. Além da informação devem-se criar
mecanismos, como por exemplo caixas de sugestões, permitindo que os trabalhadores
apresentem suas propostas e reconhecendo aquelas que forem implementadas na
prática.
Nas empresas analisadas as informações existentes limitavam-se ao estritamente
necessário ao cumprimento das obrigações legais e trabalhistas.
O principal desafio dos supervisores é obter e manter o cumprimento da legislação
e das normas internas dentro da empresa. E o principal aspecto nesta questão é garantir
que esses líderes sejam os exemplos dentro da organização através de atitudes pró-
ativas com a questão da segurança, da saúde e da melhoria nas condições de trabalho. A
alta administração da empresa, por sua vez, deve determinar as diretrizes através de uma
política de segurança, saúde e meio ambiente. As pessoas estão muito mais disponíveis a
cumprir as normas e os procedimentos quando possuem o exemplo dos líderes da
organização em todos os seus níveis.
Análise dos dados
A análise crítica do planejamento das obras quanto aos aspectos ambientais, de
segurança e de saúde ocupacional, assim como a simples avaliação das causas de
acidentes, inexiste como prática gerencial nas empresas analisadas.
16
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Constatou-se que os trabalhadores possuem uma grande deficiência de
informação, motivação e treinamento. Cabe às empresas criar mecanismos alternativos
para garantir a melhoria contínua dos recursos humanos, pois eles são o seu maior
patrimônio.
No Quadro 1 explicitam-se as práticas de saúde e segurança ocupacional nas
empresas analisadas, confrontando-se essas constatações com as diretrizes da BS
8800/96. Estruturou-se um quadro no qual a primeira e a segunda colunas apresentam
respectivamente a diretriz da BS 8800 e a prática das obras, e a terceira coluna indica a
deficiência da segunda em relação à primeira.
Quadro 1: Práticas em canteiro de obras versus recomendações da BS 8800
DIRETRIZES DA NORMA BS
8800
PRÁTICAS DE S&SO
NAS OBRAS
DEFICIÊNCIAS A SEREM
SUPRIDAS
4.0 INTRODUÇÃO
4.0.1 Generalidades
Todos os elementos deste guia
deverão ser incorporados no
sistema de gerenciamento de
S&SO, mas a maneira e
extensão pelas quais os
elementos individuais devem
ser aplicados dependerão de
fatores como o tamanho da
organização, a natureza das
suas atividades, os perigos e as
condições nas quais opera.
4.0.2 Levantamento da situação
inicial
As organizações deverão
considerar a execução de um
levantamento inicial dos
dispositivos existentes para o
a) quanto aos itens da
legislação relevante que
trata dos assuntos de
gerenciamento de S&SO,
são todos praticados.
b) A orientação existente
Sugere-se uma participação
ativa do gerente de contrato
quanto às orientações sobre
gerenciamento de S&SO. A
formação de comitês
relevantes e o intercâmbio
17
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
gerenciamento de S&SO. Este
levantamento deve ser feito a
fim de proporcionar informações
que influenciarão as decisões
sobre o escopo, adequação e
implementação do sistema
corrente, assim como prover
uma linha mestra a partir da
qual o progresso possa ser
medido. Os levantamentos
iniciais da situação devem
responder à pergunta “onde
estamos agora?”.
O levantamento deve comparar
os dispositivos existentes com:
a) os requisitos da legislação
relevante que trata dos
assuntos de gerenciamento de
S&SO;
b) a orientação existente sobre
gerenciamento de S&SO dentro
da organização;
c) a melhor prática e
desempenho no setor de
emprego da organização, e
noutros apropriados (por
exemplo, a partir de comitês
industriais relevantes de HSC e
orientações de associações de
classe);
d) a eficiência e eficácia de
recursos existentes dedicados
ao gerenciamento de S&SO.
Um ponto de partida útil seria
sobre gerenciamento de
S&SO é exercida pelo
engenheiro de
segurança, técnico de
segurança, mas muito
pouco pelo gerente de
contrato.
c) este item é praticado
pela organização em
caráter mínimo, ou seja,
apenas orientações
informais.
d) quanto à eficiência e
eficácia de recursos
existentes dedicados ao
gerenciamento e S&SO,
afirma-se que os
recursos existem, porém,
como estão vinculados
ao gerente de contrato e
este por sua vez
vislumbra um prêmio por
economia de sua obra,
acaba tornando-se
sempre escasso.
constante com associação
de classe com o intuito de
elaborar palestras e cursos
para dirimir dúvidas. Delegar
plenos poderes ao
engenheiro de segurança
sobre os recursos
destinados à S&SO para que
o gerente de contrato
cumpra suas determinações
em caráter pleno.
18
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
levantar o sistema existente
contra essas linhas mestras. As
informações a partir do
levantamento inicial da situação
podem ser utilizadas no
processo de planejamento.
4.1 Política de S&SO
A mais alta gerência da
organização deve definir,
documentar e endossar a sua
política de S&SO. A gerência
deve assegurar que a política
inclui um compromisso de:
a) reconhecer a S&SO como
parte integral do desempenho
no negócio;
b) obter elevado nível de
desempenho de S&SO, com o
atendimento aos requisitos
legais como o mínimo, e ao
contínuo aperfeiçoamento, com
efetividade econômica do
desempenho;
c) proporcionar recursos
adequados e apropriados à
implantação da política;
d) estabelecer e publicar os
objetivos de S&SO, ainda que
por meio, apenas, de boletins
internos;
e) colocar o gerenciamento de
S&SO como uma
responsabilidade primordial da
a) a alta gerência
reconhece a S&SO como
parte integral do seu
desempenho intrínseco
ao negócio, porém, não é
definida nem
documentada.
b) nada se pode afirmar
quanto ao nível de
desempenho, pois não
há indicadores. Porém,
afirma-se que há o
atendimento aos
requisitos legais mínimos
com o contínuo
aperfeiçoamento e
efetividade econômica de
desempenho.
c) destina-se recurso
adequado e apropriado
ao gerenciamento da
S&SO, mas não para
implantação da política
de S&SO.
d) item não praticado.
e) o gerenciamento de
S&SO da organização
não é uma
Sugere-se a definição de
uma política de S&SO,
documentada e endossada
pela alta direção da
organização. A formulação
de indicadores para se obter
parâmetros de desempenho.
A criação de um boletim
interno para publicar os
objetivos de S&SO, além de
outros meios que assegurem
a sua compreensão,
implantação e manutenção
em todos os níveis da
organização. É também
muito importante designar o
executivo de mais alto nível
de supervisão para o
gerenciamento de S&SO.
Estabelecer grupos de
solução de problemas,
círculo de análise de Riscos
etc. São recursos aplicáveis
para tornar o processo de
decisão mais adequados às
possibilidades de
participação dos
trabalhadores.
19
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
gerência de linha, do executivo
hierarquicamente mais alto ao
nível de supervisão;
f) assegurar a sua
compreensão, implantação e
manutenção em todos os níveis
na organização;
g) promover o envolvimento e
interesse dos empregados a fim
de obter compromissos com a
política e sua implantação;
h) revisar periodicamente a
política, o sistema de
gerenciamento e auditoria do
cumprimento daquela;
i) assegurar que os
empregados, em todos os
níveis, recebam treinamento
apropriado e sejam
competentes para executar
suas tarefas e
responsabilidades.
não é uma
responsabilidade do
executivo
hierarquicamente mais
alto ao nível de
supervisão.
f) item não praticado.
g) não existe o
envolvimento dos
empregados com a
S&SO.
h) item não praticado.
i) nota-se que os
empregados recebem
treinamentos periódicos
em todos os níveis.
trabalhadores.
4.2 Planejamento
4.2.1 Generalidades:
É importante que o sucesso ou
o fracasso da atividade
planejada possa ser visto
claramente. Isto envolve a
identificação dos requisitos de
S&SO, o estabelecimento de
critérios claros de desempenho,
definindo o que deve ser feito,
quem é responsável, quando
20
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
deve ser feito e o desfecho
desejado.Embora seja
reconhecido que, na prática,
organizar, planejar e
implementar funções estarão
em sobreposição, apesar disto,
as seguintes áreas chaves
precisam ser abordadas.
4.2.2 Avaliação de risco
A organização deverá fazer a
avaliação de risco, incluindo a
identificação de perigos.
A organização apresenta
a avaliação de risco,
incluindo identificação
dos perigos, através do
mapa de risco.
4.2.3 Requisitos legais e outros
A organização deverá identificar
os requisitos legais, além da
avaliação de risco a ela
aplicáveis assim como
quaisquer outros requisitos que
considera aplicável ao
gerenciamento de S&SO.
A organização apresenta
os requisitos legais a ela
aplicáveis, como por
exemplo: PPRA,
PCMSO, CIPA etc.
4.2.4 Providências para o
gerenciamento de S&SO
A organização deverá tomar
providências para cobrir as
seguintes áreas chaves:
a) planos e objetivos gerais,
incluindo pessoal e recursos,
para a organização implantar a
sua política;
b) ter acesso a suficiente
conhecimento de S&SO,
capacitações e experiência para
a) não há um
planejamento para a
organização implantar
sua política.
b) a organização
apresenta suficiente
conhecimento de S&SO
e capacitação, porém,
pouca experiência para
administrar suas
atividades com
segurança.
a) sugere-se que a
organização, através dos
executivos responsáveis,
realize o planejamento para
a implantação da política de
S&SO, incluindo pessoal e
recursos.
b) a parceria junto a
empresas de consultoria a
fim de adquirir conhecimento
e experiência para evoluir
gradativamente.
21
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
administrar suas atividades com
segurança e segundo os
requisitos legais;
c) planos operacionais para
implantar as ações de controle
dos riscos identificados em
4.3.2 e para atender aos
requisitos identificados em
4.3.3;
d) planejamento de atividades
organizacionais cobertas em
4.3.6;
e) planejamento para a medição
da eficiência, auditorias e
levantamento da situação (veja
4.4.1, 4.4.2, 4.4.4 e 4.5);
f) implantar ações corretivas
que se demonstrem
necessárias.
c) item não praticado.
d) apesar da prática de
parte das atividades
descritas em 4.3.6, estas
não são planejadas.
e) item não praticado.
f) aplicam-se ações
corretivas, porém de
caráter imediatista.
c) a elaboração imediata de
planos operacionais para
implantação das ações de
controle dos riscos e
requisitos identificados.
d) sugere-se que seja feito o
planejamento destas
atividades.
e) planejamento para
medição da eficiência,
auditorias e levantamento da
situação a fim de criar
indicadores úteis à
organização.
f) usar indicadores para
criação de procedimentos
padronizados de ações
corretivas.
4.3 Implantação e operação
4.3.1 Estrutura e
responsabilidade
A responsabilidade primeira
quanto à saúde e segurança
ocupacionais repousa na alta
gerência. Aqui, a melhor prática
é atribuir ao nível hierárquico
mais elevado(por exemplo,
numa organização de grande
porte, a um membro do
Conselho ou da diretoria)
particular responsabilidade por
garantir que o sistema de
gerenciamento de S&SO é
a) a organização
apresenta um corpo
técnico responsável
composto por engenheiro
e técnico em segurança
do trabalho.
b) a grande maioria das
pessoas está consciente
de sua responsabilidade
com a S&SO.
c) a alta gerência não
demonstra envolvimento
e atuação no
aperfeiçoamento
b) sugere-se aumentar a
carga de treinamento a fim
de conscientizar a totalidade,
ou quase isso, das pessoas
envolvidas, até a
apresentação dos
indicadores, e aí sim,
adequar-se ao sistema.
c) é vital que a alta gerência
demonstre seu compromisso
com a S&SO. O
envolvimento de seu(s)
executivo(s) com a
consciência da influência
que exerce(m) sobre seus
22
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
gerenciamento de S&SO é
corretamente implementado e
funciona segundo os requisitos
em todos os locais e esferas de
operação dentro da
organização.Em todos os níveis
da organização as pessoas
precisam:
a) responsável pela saúde e
segurança daqueles que
dirigem, delas própria e de
outros com os quais
trabalhavam;
b) estar conscientes de sua
responsabilidade com a saúde e
segurança de pessoas que
possam ser afetadas pelas
atividades que controlam, como,
por exemplo, empreiteiros e o
público;
c) estar conscientes da
influência que sua ação ou
inação podem ter sobre a
eficácia do sistema de
gerenciamento de S&SO. A alta
gerência deve demonstrar, por
exemplo, o seu compromisso,
portando-se de maneira
envolvida e atuante no
aperfeiçoamento contínuo do
desempenho da saúde e
segurança ocupacionais.
contínuo do desempenho
da S&SO.
que exerce(m) sobre seus
funcionários e
conseqüentemente sobre a
eficácia do sistema.
4.3.2 Treinamento,
conscientização e competência.
Item não praticado. Sugere-se a formulação de
indicadores para a
23
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
conscientização e competência.
A organização deve tomar as
providências para identificar as
competências necessárias, em
todos os níveis, e organizar
qualquer treinamento
necessário.
indicadores para a
organização identificar
competências necessárias
para organizar qualquer
treinamento necessário, em
todos os níveis.
4.3.3 Comunicações
A organização deverá
estabelecer e manter
dispositivos, sempre que
apropriado, para:
a) a informação eficaz e,
quando adequado, abertas,
sobre a S&SO;
b) tomar as providências
necessárias para a provisão de
consultoria por especialistas;
c) envolver os empregados,
com esclarecimentos, quando
adequado.
a) item não praticado.
b) item não praticado.
c) o corpo técnico da
organização envolvido
com S&SO apresentou-
se no envolvimento com
os empregados e nos
esclarecimentos, quando
adequado.
a) sugere-se a criação
imediata de canais de
comunicação.
b) fazer o levantamento das
necessidades e tomar
providências para a provisão
de consultoria por
especialistas.
4.3.4 Documentação do sistema
de gerenciamento de S&SO
A documentação é elemento
chave para capacitar uma
organização a implantar um
sistema de gerenciamento bem-
sucedido. É também importante
na montagem e retenção do
conhecimento sobre S&SO.
Contudo, é importante que a
documentação seja mantida
num mínimo necessário para
Item não praticado.
Sugere-se a parceria junto
a
empresas de consultoria, por
tratar-se de um elemento
chave para capacitar uma
organização a implantar um
sistema de gerenciamento
bem-sucedido.
24
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
eficácia. As organizações
devem assegurar que a
documentação suficiente fique
disponível para implantar por
completo os planos de S&SO e
que seja proporcional às suas
necessidades.
4.3.5 Controle de documentos
As organizações devem tomar
as providências para garantir
que os documentos sejam
atualizados e aplicáveis aos fins
para os quais foram criados.
Item não praticado. Parceria junto a empresas
de consultoria, por tratar-se
de elemento chave para
capacitar a organização a
implantar um sistema de
gerenciamento bem-
sucedido.
4.3.6 Controle Operacional
É importante que a S&SO, no
seu sentido mais amplo, seja
inteiramente integrada, em toda
a organização, e em todas as
atividades, a despeito do
tamanho ou natureza do seu
trabalho. Ao organizar para a
implantação da política e do
gerenciamento efetivo da
S&SO, a organização deve
tomar providências para
assegurar que as atividades são
executadas com segurança e de
acordo com as providências
definidas em 4.2.4, e, ainda:
a) definir a alocação de
responsabilidades e prestação
de contas na estrutura
a) a organização define a
alocação de
responsabilidades e
prestação de contas na
estrutura gerencial.
b) a organização
assegura que as pessoas
têm a necessária
autoridade para executar
as suas tarefas.
c) a organização atribui
recursos compatíveis
com o seu tamanho e
natureza.
25
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
gerencial;
b) assegurar que as pessoas
têm a necessária autoridade
para executar as suas tarefas;
c) atribuir recursos compatíveis
com o seu tamanho e natureza.
4.3.7 Preparação e resposta a
emergências
Uma organização deve tomar
providências para estabelecer
planos de contingências em
emergências previsíveis e
minimizar os seus efeitos.
Item não praticado. Sugere-se estabelecer
planos de contingências em
emergências previsíveis, e
assim minimizar seus
efeitos.
4.4 Verificação e ação corretiva
4.4.1 Monitoração e medição
A medição do desempenho é
uma maneira importantíssima
de prover informações sobre a
eficácia do sistema de
gerenciamento de S&SO.
Medidas qualitativas e
quantitativas devem ser
consideradas, sempre que
adequado, e devem ser
preparadas especialmente para
as necessidades da
organização. A medição de
desempenho é um meio de
monitorar a extensão na qual a
política e os objetivos estão
sendo satisfeitos e inclui:
a) medições pró-ativas de
desempenho que monitorem o
a) item não praticado.
b) item não praticado.
a) criar medições pró-ativas
de desempenho de
atividades que influenciam o
desempenho de S&SO.
b) criar medições reativas de
desempenho que monitorem
acidentes, quase acidentes,
problemas de saúde e outras
evidências históricas de
saúde, desempenho
deficiente de saúde e
segurança.
26
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
atendimento, por exemplo, pela
vigilância e inspeções das
providências sobre saúde e
segurança da organização,
como sistemas seguros de
trabalho, autorizações para
trabalhar etc.
b) medições reativas de
desempenho que monitorem
acidentes, quase acidentes,
problemas de saúde e outras
evidências históricas de saúde,
desempenho deficiente de
saúde e segurança.
4.4.2 Ação corretiva
Onde deficiências forem
encontradas, as causas
originárias devem ser
identificadas e ações corretivas
tomadas.
Tomam-se ações
corretivas, porém as
causas originárias das
deficiências encontradas
não são identificadas.
Identificar as causas
originárias em deficiências
encontradas e também a
criação de um indicador para
tal fim.
4.4.3 Registros
A organização deve manter os
registros necessários para
demonstrar o cumprimento de
requisitos legais, assim como de
outros.
A organização deve
manter registros
necessários para
demonstrar o
cumprimento de
requisitos legais, assim
como de outros.
4.4.4 Auditoria
Além da monitoração de rotina
do desempenho de S&SO,
haverá necessidade de
auditorias periódicas que
a) item não praticado.
b) item não praticado.
c) item não praticado.
d) item não praticado.
Sugere-se a criação de uma
equipe de auditores internos
capazes de realizar
auditorias rigorosas,
contudo, numa abordagem
27
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
possibilitem uma avaliação mais
profunda e crítica de todos os
elementos do sistema de
gerenciamento de S&SO. As
auditorias devem ser
conduzidas por pessoas
competentes e independentes,
tanto quanto possível da
atividade a ser auditada;
podem, contudo, ser
designadas da própria
organização. Embora as
auditorias precisem ser
rigorosas, a sua abordagem
deve ser adaptada ao tamanho
da organização e à natureza
dos seus perigos. Em diferentes
ocasiões e por razões diversas,
as auditorias precisam cobrir os
seguintes pontos:
a) o sistema global de
gerenciamento de S&SO da
organização capaz de promover
a obtenção dos padrões
requeridos de desempenho de
S&SO?
b) a organização está
cumprindo todas as suas
obrigações com relação à
S&SO?
c) quais são os pontos fortes e
fracos do sistema de
gerenciamento de S&SO?
d) a organização (ou parte dela)
adaptada ao tamanho da
organização (pequeno
porte). Em seguida, a visita
de auditores externos num
intervalo predeterminado, a
fim de melhorar
continuamente seu sistema
de S&SO.
28
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
está realmente fazendo e
realizando o que alega?
As auditorias podem ser
abrangentes ou abordar tópicos
selecionados, segundo as
circunstâncias. Os seus
resultados devem ser
informados a todas as pessoas
relevantes e as ações corretivas
tomadas, conforme as
necessidades.
4.5 Levantamento gerencial
A organização deverá definir a
freqüência e escopo dos
levantamentos periódicos do
sistema de gerenciamento de
S&SO, segundo as suas
necessidades. O levantamento
periódico da situação deverá
considerar:
a) o desempenho global do
sistema de gerenciamento de
S&SO;
b) o desempenho de elementos
individuais do sistema;
c) as conclusões das auditorias;
d) os fatores internos e
externos, como as mudanças na
estrutura organizacional, leis
pendentes, a introdução de
novas tecnologias, etc., e
identificar que ação é
necessária para remediar
a) item não praticado.
b) item não praticado.
c) item não praticado.
d) item não praticado.
Sugere-se que a
organização defina a
freqüência e o escopo dos
levantamentos periódicos do
sistema de gerenciamento
de S&SO, segundo as suas
necessidades.
29
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
quaisquer deficiências. O
sistema de gerenciamento de
S&SO deve ser concebido para
acomodar ou adaptar-se aos
fatores internos e externos.
O levantamento periódico da
situação também proporciona
uma oportunidade de realizar
previsões. As informações em
a) a d) acima podem ser
utilizadas pela organização para
aperfeiçoar a sua abordagem
pró-ativa na minimizarão de
riscos e melhorar o
desempenho nos negócios.
Em uma análise dos aspectos abordados nesse quadro, que consolida as relações
e Diretrizes da Norma BS 8800/96 (Práticas de S&SO nas obras – Deficiências a serem
supridas), verifica-se que um dos aspectos básicos no gerenciamento consiste em não
concentrar esforços nas conseqüências e nos sintomas, mas sim nas causas, procurando
entender o porquê de as pessoas deixarem de cumprir os padrões de desempenho
conforme modelo de Gestão Sustentável sugerido na Figura 6, a seguir.
30
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Conforme sugerido na Figura 6, as organizações em questão, mesmo sendo de pequeno
porte, apresentam necessidades de uma abordagem cientifica da administração da
segurança e da saúde ocupacional e, apesar das carências, visualiza-se a possibilidade
de implementação de um Sistema de Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional
– SGSSO, com vias a uma Gestão Sustentável.
Acrescenta-se ao que é constatado na pesquisa de campo, que a atualidade da
gestão caracterizada com preocupações relativas à sustentabilidade é a abordagem do
gerenciamento de risco (BOWDEN, 2001) tendo como foco os eixos do triple bottom line.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS
Tendo em vista o estudo de caso ora apresentado, pode-se concluir que as
organizações em questão, mesmo sendo de pequeno porte, apresentam-se necessitadas
de uma abordagem científica da administração da segurança e da saúde ocupacional e,
apesar das carências, visualiza-se a possibilidade de implantação de um Sistema de
Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional – SGSSO.
Neste aspecto, sugere-se o envolvimento da alta direção e a designação de um de
seus membros para gerenciar o SGSSO, assim como acompanhar o desempenho das
ações estabelecidas pelo programa de segurança. Para isto, é necessária a definição dos
indicadores, a forma de acompanhar a evolução de cada um deles, e divulgar para toda a
organização os resultados e seus objetivos. Recomenda-se a criação de uma equipe de
auditores internos e a contratação de auditoria externa periódica.
Entende-se ainda, que a padronização trará melhoras como a simplificação e
otimização dos processos como, por exemplo, os serviços executados em obra. Os
esforços para implantação de um SGSSO certamente serão recompensados pelo
potencial de sinergia a ser auferido em planejamento estratégico, eficácia, consistência e
robustez da busca pela melhoria contínua global. Afinal, pessoas constituem-se na
essência de qualquer organização.
31
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Considerou-se neste trabalho os indicadores relativos à segurança e saúde
ocupacional, ou seja, apenas aqueles recomendados para o público interno da
organização. Outras pesquisas deverão ser realizadas para mapear os indicadores
relativos aos outros impactados pelas operações da organização: sociedade, acionistas,
clientes, fornecedores, competidores e governos.
Este artigo é o resultado parcial das pesquisas em desenvolvimento no Latec –
Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente, e indicam a sua
continuidade para a definição de indicadores de ecoeficiência nos processos produtivos e
de efetividade no negócio.
32
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
ALEVATO, H. M. R. Trabalho e neurose: enfrentando a tortura de um ambiente em crise.
Rio de Janeiro: Quartet, 1999.
AMERICAN INSTITUTE OF CHEMICAL ENGINEERS. Guidelines for integrating process
safety management, environment, safety, health, and quality. New York: Center for
Chemical Process Safety, 1996.
ARANTES, E. Investimento em responsabilidade social e sua relação com o desempenho
econômico das empresas. Prêmio Ethos de Responsabilidade Social, 2005.
ARAÚJO, G. M. de. Normas regulamentadoras comentadas. 3.ed. Rio de Janeiro: s.n.,
2002.
BERGAMINI, C. W. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997.
BOWDEN, A. R.; LANE, M. R.; MARTIN, J. H. Triple bottom line risk management. New
York: John Wiley & Sons, 2001.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. BS 8800 [diretrizes para sistemas de
gerenciamento de segurança e saúde ocupacional]. London, 1996.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: occupational health and safety
management systems (Specifications). London, 1999.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: 1999: amendment 1:2002.
Disponível em: emea.bsi-global.com/OHS/Standards/18001Amendment.pdf. Acesso em:
27 nov. 2003.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: occupational health and safety
management systems. Guidelines for the implementation of OHSAS 18001. London, 2000.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: 2000: amendment 1:2002.
Disponível em: emea.bsi global.com/OHS/Standards/18002Amendment. pdf . Acesso em:
27 nov. 2003.
INSTITUTO ETHOS. Disponível em: www.ethos.org.br. Acesso em: 2004.
INSTITUTO McKINSEY. Produtividade no Brasil: a chave do desenvolvimento acelerado.
Rio de Janeiro: Campus, 1999.
LUCA, S. O.; BERNAL, A. J. Integrando a ISO 9001 e a ISO 14001. Falando de
qualidade, São Paulo, ano 12, n.135, p.26-29, ago. 2003.
33
Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
MASLOW, A. H. Motivation and personality. 2.ed. New York: Harperg Row, 1970.
PRADEZ, P. A. J. Uma norma pelo trabalho: é irreversível o uso de certificações para
demonstrar compromissos. Gazeta Mercantil, São Paulo, 8 maio 2002.
PRAHALAD C. K. A riqueza na base da pirâmide. Porto Alegre: Bookman, 2006.
REGINALD, B. H. Towards an integrated management of safety, health and the
environment. In: Chemical & Process Engineering Centre, 1999. Disponível em:
www.cpec.nus.edu.sg/myweb/newsletter/news10/SHE.html. Acesso em: 21 nov. 2003.
SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO – SINDUSCON. Net, Rio de Janeiro, dez. 2002. Seção Serviços e Produtos.
Disponível em: www.sindusnet.com.br/livre/seguranca.cfm. Acesso em: 2004.
SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI Guidance 1999: Guidance document
for social accountability 8000. New York, 1999.
SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Responsabilidade
social 8000. New York, 2001. Disponível em:
www.cepaa.org/Document%20Center/Standard%20Portuguese.doc. Acesso em: 27 nov.
2003.
SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Social Accountability
8000. New York, 2001. Disponível em:
www.cepaa.org/Document%20Center/2001StdEnglishFinal.doc. Acesso em: 27 nov.
2003.
Artigo recebido em 14.08.2006. Aprovado em 07.10.2006.
34
OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY MANAGEMENT SYSTEM: A
CRITICAL SUCCESS FACTOR IN THE INTRODUCTION OF THE
PRINCIPLES OF SUSTAINABLE DEVELOPMENT IN BRAZILIAN
ORGANIZATIONS Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas¹; Gilson Brito Alves Lima²
¹ Doctor in Engineering from COPPE/UFRJ, Coordinating professor of the Masters Degree course in Management Systems at the Universidade Federal Fluminense; ² Doctor in Engineering from COPPE/UFRJ, Professor of the Masters Degree course in Management Systems at the Universidade Federal Fluminense.
ABSTRACT
The concerns of government, businessmen and unions in improving the health, safety and
environmental conditions of the work-place are increasingly gaining in importance.
Improvements in the health, safety and environment of the work-place, in addition to
increasing productivity, reduce the cost of the final product, because they reduce process
interruptions, absenteeism and occupational accidents and/or sickness. For this reason it
is necessary to have a plan that allows for the participation of top management and of
employees when it comes to finding economically viable and practical solutions. This work
presents some considerations about the safety performance on a construction site, as a
result of social responsibility practices, people management and environmental
management. These management systems constitute the nucleus of what is currently
called organizational sustainability. From examples collected in field research,
bibliographic research and from consolidation of work from the research groups to which
the authors belong contributions are presented for improving Occupational Health and
Safety Management as an integral part of Business Management. This is a partial result
of the research being developed by LATEC, the Laboratory of Technology, Business
Management and Environment and indicates it should continue in order to define the
indicators of eco-efficiency in production processes and of business effectiveness.
Keywords: Corporate Social Responsibility; Sustainable Management; Safety Performance.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=43
©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the
secretarial department: [email protected]
1
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
INTRODUCTION
Initial considerations
Providing a safe and healthy working environment is much more than just
complying with current legislation; it is a question of sustainability for the continuity of
company operations. Nowadays organizations are looking to improve by using
management models that incorporate concepts of good practice in their relationships with
employees, society, shareholders, suppliers and competitors. The scope of this way of
operating, as shown in Figure 1, has been recently called “organizational responsibility”
(ALLEDI, 2002).
This environment of pro-activity as far as accident prevention and protection of
workers’ health are concerned is the result of a commitment and mutual collaboration
between employers and workers.
When planning and constructing new work places and production systems, or
modifying the existing ones, the factors that may compromise carrying out a certain task
because of existing personal and operational limitations must be taken into consideration.
2
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Increasingly the concerns of government, business-men and unions in improving
the health, safety and environmental conditions of the work-place are being highlighted.
Because of this planning is necessary that allows for the participation of top management
and employees when it comes to finding practical and economically viable solutions
(ARANTES, 2005).
Improvements in work-place health, safety and environment, in addition to
increasing productivity, reduces the cost of the end product, because it reduces process
interruptions, absenteeism and occupational accidents and/or sickness.
The preventive aspects involved in work safety seek to minimize risks and
unsuitable conditions and to incorporate continuous improvements in working conditions
by introducing minimum, and increasingly rigid, safety requirements.
The risk of accidents resulting in injuries and ergonomic and organizational
problems may be identified by the systematic inspection of the work-place. Safety
inspections are just one of the many important preventive measures taken for ensuring a
safe place of work. The nature of the work will determine how frequently the inspections
should be carried out.
Some companies have occupational medical and nursing professionals linked to
the ‘SESMT’ – Specialist Safety Engineering and Work-place Medicine services, who
manage the health service, medical centers and rehabilitation installations. In small
companies these services are outsourced. This outsourcing must be analyzed in terms of
the effectiveness of its results when it comes to the health and safety of the workers.
The main function of the occupational health service is to cooperate with
management and with the workers, by acting in a preventive capacity and contributing to
the continuous improvement in safety and working conditions.
Good practices in occupational safety and hygiene are important for avoiding
accidents and guaranteeing the health of the workers. Good safety practices are
associated with improvements in working conditions. Underestimating, or being indifferent
to the risks in the working environment, creates an environment that is susceptible to the
occurrence of accidents.
3
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Many organizations in Brazil still have a restricted vision when it comes to safety,
work-place medicine and occupational health. These issues are dealt with only by
collecting statistical data, reacting when there are accidents in the work-place and
defending any labor-related legal actions. Occupational health and safety began as a
management system with norms like the OHSAS 18001/99 (Occupational Health and
Safety Administration Systems – Specification) and BS 8800/96 (Directives for
Occupational Health and Safety Management Systems), in addition to the National
Occupational Health and Safety Prize.
The aims of this study: A contribution to OH&S practices for the sustainability of
civil construction companies.
As a pre-requisite to the sustainability of organizations (PRAHALAD, 2006) it is
necessary to have a guarantee that their operations are not going to cause future actions
as far as their practices in relation to their workers (labor-law liabilities), the environment
(environmental liabilities), the continuing availability of good suppliers, the construction of a
positive image vis-à-vis public opinion, compliance with legislation and the payment of
taxes and dues are concerned (ARANTES, 2005).
As authors of this work we have tried to consolidate the concepts and conclusions
developed in the research groups with which we work and by mentioning and describing
cases collected in field research.
Starting from an analysis of the occupational health and safety practices of two
small building companies that have no formal management systems the objective is to
assess how far the reality of these construction sites is from the ideal proposed by the
norms. We have made suggestions as to how the organization can adapt to the BS
8800/96 and OHSAS 18000/99 norms.
The final result is a contribution to management thinking that is in developing
apace as far as Sustainable Construction is concerned.
Among the main assumptions presented in this article some questions stand out to
help in the analysis proposed. These are:
What attitudes do those in charge of the construction site have? Do
they seem to be concerned with safety? Do they have a systemic view?
4
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Among the workers is there a culture of occupational health and
safety? Do they have a conduct policy that guides them? If they do, is it well
understood?
Are processes standardized? If they are, does this effectively
contribute to occupational health and safety?
Is the reality of the work adjusted to the legislation?
REVIEW OF LITERATURE: SUSTAINABILITY AND OH&S PRACTICES
The main structure of this review is the presentation of concepts relating to
organizational (or corporate) responsibility, business ethics, sustainable management, the
management of occupational health and safety and the foundations of the Triple Bottom
Line (BOWDEN, 2001).
Equally important to an understanding of the contribution this work makes is
visualization of the PDCA [see below] with its steps didactically explained to make up a
management cycle that guarantees continuous improvement and maintenance of the
routine.
5
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Organizational Social Responsibility.
An organization’s social responsibility consists in the decision to participate more
directly in community actions in the region in which it finds itself and to reduce any
possible environmental damage arising from the type of activity it exercises. But
supporting community development and preserving the environment are not enough to be
able to characterize a company as socially responsible. It needs to invest in the well-being
of its employees and their dependents and a healthy working environment, in addition to
giving shareholders a return and guaranteeing the satisfaction of its customers and/or
consumers.
The exercise of social responsibility presupposes that the organization operates
effectively on two fronts: the management of its internal responsibilities and the
management of its external responsibilities.
6
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Internal social responsibility characterizes the initial stage in corporate citizenship.
However, this movement does not always occur. Many organizations commit a serious
corporate strategy error and invert this process, causing great dissatisfaction among their
employees and creating a serious situation of conflict, anxiety and demotivation.
The focus of internal social responsibility is to work with the organization’s internal
public and to develop a participative management and employee recognition model, by
promoting transparent communication and motivating employees to perform at an optimum
level. This management model comprises actions that are directed at employees and their
dependents and at the employees of sub-contractors, out-sourcing companies, suppliers
and partners.
In the link between social, political, economic and cultural reality of the
organization, internal social responsibility actions may begin by:
Taking care of the employee’s quality of life and investing in sanitary
installations;
Meeting the basic needs of the employees by creating a canteen
infrastructure for the internal public, outsourcing companies and sub-contractors
and supplying a basic food hamper for employee dependents;
Creating the habit of wearing a uniform, thereby contributing to
improving safety conditions at work;
Seeking out a Health Insurance and Dental Plan that meets the
needs of all employees and the members of their families;
Taking care of the employees’ living conditions;
Introducing a Job and Salary Plan;
Introducing programs for recognizing and valuing employees, such
as: breakfast with the President, Employee of the month, working out in the
company, profit sharing;
7
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Investing in employee qualifications, by introducing internal and/or
external training and improvement programs, with the aim increasing their
professional qualifications and ensuring they all achieve a minimum level of
education.
Development of these actions is also called ‘endomarketing’, where the
organization instills a degree of motivation into its internal environment and creates
relationship of trust with the employees. In doing this the organization earns the
dedication, effort, loyalty and increase in productivity of its employees.
From the development and introduction of these internal management actions the
company can then move on to carry out social actions that benefit the community, by
beginning to exercise its external social responsibility. Through its social marketing
planning the organization, in line with its mission, beliefs and the demands of community
needs, operates in the areas of education, health and social and ecological assistance,
thereby developing corporate actions that are aimed at improving its image and getting a
more positive return in terms of publicity.
The organization may carry out these actions by:
Donating products, equipment and material, in general;
Transferring resources, in a partnership arrangement, to public
bodies and NGOs for the benefit of public schools, with the aim of providing quality
education, making feasible technical courses, traineeships and preparing future
professionals;
The provision of voluntary services to the community by the
organization’s employees, renovating crèches and old peoples’ homes;
The investment of resources in activities for preserving the
environment, ‘adopting’ a square, recycling the company’s waste, or through
selective waste collection;
Sponsorship for the government’s social projects;
8
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Direct investments in social projects created by the organization
itself;
Investments in cultural programs, via the culture incentive law [tax
breaks].
In participating in social actions the organization, in addition to adopting ethical
behavior and contributing to economic development, acts in the social dimension of
sustainable development, improving the quality of life of its employees and their families,
the local community and society as a whole, thereby exercising its social responsibility.
Through its commitment to promote citizenship and develop the community a
responsible company achieves a competitive differential, seeking in this way to be an
organization that invests financial, technological and labor-force resources in projects that
are of public interest. It is an organization that creates a pleasant working environment, by
valuing the talent it has, and it is capable of developing an integrated management model
where the people have a decisive role to play in the company’s commitment to the
community and society, in general.
Safety at work
The main reasons for introducing improvements in the conditions of the working
environment and working practices are to reduce the social cost associated with work-
related accidents, to value self-esteem and to provide continuous improvements in the
quality of life of the workers.
The social evolution in work relationships must not be seen by the State as yet
another government program, but as an on-going national objective, associating
development to improvements in the living conditions of society. This national commitment
demands the exercise of citizenship, because it is the responsibility of each one of us
(potential agents for transformation as we are), government, employers or workers, to
contribute to improvements in the quality of life and the formation of a healthier and more
productive society.
Specifically in the area of occupational health and safety, the Government is
concentrating its inspection efforts on economic sectors that have the greatest accident
frequency rates (the incidence of accidents, including occupational sickness), by
9
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
broadening the participation of productive society in proposals for the modernization of
labor legislation, with the aim of reducing risk situations. We cannot forget that meeting the
basic needs of the worker is fundamental for a healthy and productive society.
BS 8800/96 norm
The British, BS 8800 norm was the first attempt at establishing a normative point of
reference for implementing a health, safety and environment management system. This
norm has been used in implementing health and safety management systems with the aim
of continuously improving the conditions of the working environment. The principles of this
norm are in line with the concepts and directives of the ISO 9000 (Quality System) and
ISO 14000 (Environmental Management) series norms.
The British BS 8800 norm, which is still valid, was the reason why in 1988 various
normative bodies prepared a set of norms entitled the Occupational Health and Safety
Assessment Series (OHSAS), with the aim of carrying out audits and certifying health,
safety and environmental management programs.
The basic principle of a management system based on normative aspects involves
the need to determine assessment parameters that incorporate not only operational
aspects, but also the policies, the management style and commitment of the senior
managers to the process of change and the continuous improvement in health, safety and
working conditions. This aspect is of fundamental importance because in the majority of
cases these improvements demand, in addition to commitment, major investments that
need short, medium and long term planning for carrying them out.
With this new vision that many companies have been adopting, everybody within
the production process is equally important in terms of responsibility, particularly the
managers and supervisors. The management must identify the risks and guide the
workers with proactive attitudes, setting an example to be followed within the organization,
because not every company is obliged by legislation to have a safety professional on the
staff.
According to the British BS 8800 norm, organizations do not operate in isolation, in
other words, various parties may have a legitimate interest in introducing a management
system. These parties are employees, consumers, customers, suppliers, the community,
10
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
shareholders, and contractors, as well as government agencies charged with ensuring
compliance with the regulations and laws.
The BS 8800 norm is a guide to help organizations develop an approach to the
management of occupational health and safety that allows them to protect employees
whose health and safety may be affected by the organization’s activities. Many
characteristics of occupational health and safety management become confused with
strong management practices defended by those who put forward the ideas of quality and
business excellence.
The elements in the norm are essential to an effective management system.
Human factors, including the culture, politics and others within organizations, are decisive
factors when it comes to the effectiveness of the management system and they need to be
considered when implementing the norm.
A cycle of continuous management improvement and its integration into the global
management system are shown in Figure 3, considering all stages of implementation.
11
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
SUSTAINABILITY OF ORGANIZATIONS
Sustainable development
There are countless definitions of Sustainable Development, as prepared by
different sectors in society. The concept of sustainable development was presented by the
World Commission on Environment in April, 1987, at the United Nations General
Assembly. The main product of this Commission was the “Our Common Future Report”,
also known as the “Brundtland Report”, where sustainable development is presented as
“the development that fulfills the needs of the present, without compromising the ability of
future generations to fulfill their own needs” (ONU, 1988).
Sustainable development presupposes inter-disciplinarity, to the extent that its
evolution leads us to work with three macro-topics that comprise the so-called Triple
Bottom Line, in other words, environmental, social and economic aspects. The synergy
between these aspects runs through the application of the concept of Sustainable
Development, or Sustainability, regardless of whether it is applied at the government, civil
society or corporate level. Other dimensions of sustainable development can also be
worked with, such as, for example, cultural, technological and political aspects.
Sustainable management
Sustainable management, a concept applied to organizations as an essential
development, is closely linked to Organization Social Responsibility and must be
understood as a continuous commitment of the organization to its ethical behavior and
economic development (BOWDEN, 2001), promoting, at the same time, improvements in
the quality of life of its work force and their families, the local community and society as a
whole.
Sustainable management attributes fundamental importance to aspects previously
considered as being mere compliance with legislation, such as occupational health and
safety, environmental accident prevention and proactive positioning in relation to the eco-
efficient products project.
12
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Eco-efficiency, central to the concept of Sustainability, is achieved by means of the
supply of goods and services at competitive prices that satisfy human needs and that
produce quality of life, while at the same time progressively reducing environmental impact
and the intensity of consumption of resources over their life cycle, to a level at least
equivalent to the estimated capacity of the Earth to support this. Returning to the PDCA
mental model, these concepts are considered an indispensable tool for management
effectiveness in preparing and implementing a system of indicators. In the case of this
work we adopted the Balanced Scorecard as the conceptual basis and added the Triple
Bottom Line concepts, resulting in a sustainable scorecard as shown in Figure 5.
13
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
As shown in the above figure the inter-relationship of the vertices of the
substantiality pyramid make it possible to identify the sustainability indicators, among
which the following stand out:
Political aspects
(economic-social axis): relationship with
government, society, institutions and other organizations;
Economic
(socio-environmental axis): effect of projects on local
communities, technology transfer, training of agents in the community, revenue vs.
expense balance and generating revenues;
Social
(socio-economic axis): creation of opportunities for personal
and professional growth for people and their families; education and training, health
and safety in the community;
Ecological
(socio-environmental axis):minimization of impacts on the
physical and biotic environment, attributing maximum value to renewable energy
resources, focus on eco-efficiency;
14
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Technological (economic-environmental axis): suitable quality and
reliability and minimization of accident risks.
RESEARCH STRATEGIES.
We conducted a review of literature and did field research with two small
companies. We applied an observation routine in order to identify their OH&S
management practices. We interviewed the managing engineers of the building sites we
researched and the directors of these companies.
We also observed how the safety engineers and technicians operated.
From the observations we analyzed the data and prepared the final considerations.
STUDY OF EXPERIENCES IN TWO CIVIL CONSTRUCTION COMPANIES
Report of the problem in the experience studied.
In structuring this study we carried out field research on two construction sites
being managed by companies that operate in the market in Niteroi, Rio de Janeiro State,
with the participation of the engineers responsible for managing the building work and
directors of the companies. The two companies compete in the small constructions
market and their competitors are other organizations who limit themselves to complying
with occupational health and safety legislation. At first sight, there are some relevant
aspects that indicate the urgent need for improvement and that are related to the
production process and to the way in which the tasks are carried out: the ergonomic
project of the work station, how the working day is planned, psychical and social aspects
and occupational fatigue. These factors, which have an influence on productivity, must be
evaluated with the aim of suggesting measures for adjusting the work to fit the workers’
own personal limitations.
As for the existence of planning in the occupational health and safety practices in
the companies we analyzed, it is clear that the professionals who carry out the health
inspections need to be made responsible for organizing first aid measures in the case of
15
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
accidents or occupational diseases and for providing advice about the purchase of
equipment and the organization of places of work and tasks. In other words, it is essential
that management tools are used, such as indicators, information systems and the training
of these health and safety professionals in the concepts of business management and
strategic planning so that they are able to review and argue the case for developing a
culture of proactive prevention.
An important element that works in favor of heath, safety and improvements in
working conditions is information. The company must have internal mechanisms for
publicizing the objectives, performance indicators and results, thus encouraging the
workers to participate. A well prepared piece of information contributes to making workers
and their superiors aware of safety issues. Besides information, mechanisms must be
created, for example, suggestion boxes, which allow the workers to present their
proposals; workers whose suggestions are put into practice must be recognized.
In the companies we analyzed the information that existed was limited to what is
strictly necessary for complying with legal and labor obligations.
The main challenge of the supervisors is to obtain and maintain compliance with
legislation and the company’s internal norms.
The main aspect in this issue is to guarantee that these leaders are seen as
examples within the organization through their proactive attitudes as far as the question of
health, safety and improvements in working conditions are concerned. The company’s top
management, in turn, must determine the directives by means of a health, safety and
environment policy. People are much more disposed to comply with norms and
procedures when they have the example of the organization’s leaders at all levels to
follow.
Data analysis
Critical analysis of the planning of the constructions as far as their environmental,
occupational health and safety aspects are concerned, as well as the simple evaluation of
the causes of accidents does not exist as a management practice in the companies we
looked at.
16
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
We saw that the workers are very lacking in information, motivation and training. It
is the responsibility of the companies to create alternative mechanisms for guaranteeing
the continuous improvement of the human resources because they are their biggest asset.
Table 1 explains the occupation health and safety practices in the companies,
comparing them with the BS 8800/96 directives. We constructed a table where the first
column shows the BS 8800 directive, the second the practice on the construction sites and
the third the deficiency of the second in relation to the first.
Table 1: Construction site practices vs. BS 8800 recommendations.
BS 8800 NORM DIRECTIVES
OH&S PRACTICES ON
THE CONSTRUCTION
SITES
DEFICIENCIES TO BE
OVERCOME
4.0 INTRODUCTION
4.0.1 General aspects
All the elements of this guide
should be incorporated into the
OH&S management system, but
the way and the extent by which
the individual elements must be
applied will depend on factors
like the size of the organization,
the nature of its activities, the
hazards and the conditions
under which it operates.
4.0.2 Gathering information
about the initial situation
The organizations should
consider carrying out an initial
a) as far as the items of
relevant legislation that
deal with OH&S
management matters are
concerned, they are all
We suggest the active
participation by the contract
manager as far as issuing
guidelines on management
of OH&S is concerned. The
17
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
information gathering exercise
of the existing devices for
managing OH&S. This should
be done in order to provide
information that will have an
influence on decisions about the
scope, adjustment and
implementation of the current
system, as well as providing a
master line against which
progress can be measured. The
initial situation information
gathering exercise must
respond to the question: “Where
are we now?”.
It must compare existing
devices with:
a) the requirements of relevant
legislation dealing with OH&S
management matters;
b) the OH&S management
guidelines that exist in the
organization;
c) best practice and
performance in the
organization’s employment
sector, and in others (for
example, from relevant H&S
industrial committees and
guidelines from industry
associations);
concerned, they are all
practiced.
b) the existing guidance
about OH&S
management is exercised
by the safety engineer
and the safety technician,
but very little by the
contract manager.
c) this item is practiced
by the organization to a
minimum extent, in other
words, merely informal
guidance.
d) as to the efficiency and
effectiveness of existing
resources dedicated to
management and OH&S
it is said that resources
exist but as they are
linked to the contract
manager and he, in turn,
is aiming to earn a bonus
based on making savings
in his construction they
always end up becoming
scarce.
of OH&S is concerned. The
setting up of relevant
committees and a constant
interchange with industry
associations with the idea of
preparing talks and courses
to clarify doubts. Delegate
full powers to the safety
engineer over the resources
earmarked for OH&S so that
the contract manager can
fully comply with what he
decides.
18
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
d) the efficiency and
effectiveness of the existing
resources dedicated to OH&S
management.
A useful starting point would be
to gather information about the
existing system and compare
with these master lines. The
information from the initial
information gathering exercise
can be used in the planning
process.
4.1 – OH&S policy
THE ORGANIZATION’S TOP
MANAGEMENT MUST
DEFINE, DOCUMENT AND
ENDORSE ITS OH&S POLICY.
MANAGEMENT MUST
ENSURE THAT THE POLICY
INCLUDES A COMMITMENT
TO:
a) recognize OH&S as an
integral part of business
performance;
b) obtain a high level OH&S
performance, meeting the legal
requirements, as a minimum,
and continuously improving; the
performance must be
economically effective;
a) top management
recognizes OH&S as an
integral part of its
performance and intrinsic
to the business, however
it is neither defined nor
documented.
b) nothing can be said as
to the performance level,
because there are no
indicators. However it is
said that they meet the
minimum legal
requirements with
continuous improvement
and economic
performance
effectiveness.
We suggest that an OH&S
policy be defined and
endorsed by the
organization’s top
management. Formulate
indicators to obtain
performance parameters.
Create an internal bulletin to
publish the OH&S objectives,
in addition to other means for
ensuring their understanding,
introduction and
maintenance at all levels in
the organization. It is also
very important to nominate a
top executive for managing
OH&S.
Establish problem solving
groups, risk analysis circles,
etc. These are resources 19
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
c) provide suitable and
appropriate resources for
introducing the policy;
d) establish and publish the
OH&S objectives, even though
this is only by means of internal
bulletins;
e) make OH&S management
the fundamental responsibility of
line management, the
executives who are
hierarchically above the
supervision level;
f) ensure its understanding,
introduction and continuation at
all levels in the organization;
g) encourage the involvement
and interest of the employees in
order to obtain their commitment
to the policy and its introduction;
h) periodically review the policy,
the management system and
the auditing of compliance with
it;
i) ensure that employees at all
levels receive suitable training
and are competent to carry out
their tasks and responsibilities.
c) adequate and
appropriate resources are
applied in OH&S
management, but not for
introducing the OH&S
policy.
d) item not practiced.
e) the organization’s
OH&S management is
not a responsibility of the
hierarchically most senior
executive at the
supervision level.
f) item not practiced.
g) employees are not
involved with OH&S
h) item not practiced.
i) we noted that
employees receive
periodic training at all
levels.
etc. These are resources
that can be applied for
making the decision process
more appropriate to the
possibility of workers
participating.
20
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
4.2 Planning
4.2.1 General aspects:
It is important that the success
or failure of the planned activity
can be clearly seen. This
involves identifying OH&S
requirements, establishing clear
performance criteria, defining
what must be done, who is
responsible, when it should be
done and the desired
outcomes. Although it is
recognized that, in practice,
organizing, planning and
implementing functions will be
imposed, despite this the
following key areas need to be
addressed.
4.2.2 Risk assessment
The organization must carry out
a risk assessment, including the
identification of hazards.
The organization
presents the risk
assessment, including
the identification of
hazards by means of the
risk map.
4.2.3 Legal and other
requirements
The organization must identify
legal requirements in addition to
evaluating the risks that apply to
it and any other requirements it
The organization meets
the legal requirements
applicable to it, for
example:
PPRA,PCMSO,CIPA, etc.
21
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
considers applicable to OH&S
management.
4.2.4 Measures to be taken for
managing OH&S
The organization must take the
necessary measures for
covering the following key
areas:
a) general plans and objectives,
including staff and resources, for
the organization to introduce its
policy;
b) having access to sufficient
knowledge about OH&S,
capabilities and experience, to
manage its activities safely and
in accordance with legal
requirements;
c) operational plans for
introducing the risk control
actions identified in 4.3.2 and
meeting the requirements
identified in 4.3.3;
d) planning of organizational
activities covered in 4.3.6;
e) planning for measuring the
efficiency, audits and
information gathering of the
situation (see 4.4.1, 4.4.2, 4.4.4
a) there is no planning for
the organization to
introduce its policy.
b) the organization shows
sufficient knowledge of
OH&S and preparation,
however it has little
experience for managing
its activities safely.
c) item not practiced.
d) despite practicing
some of the activities
described in 4.3.6, these
are not planned.
e) item not practiced.
f) corrective actions are
applied, although they
are, by nature, an
immediate [knee-jerk]
reaction.
a) we suggest that the
organization, via the
executives responsible, plan
to introduce an OH&S policy,
including people and
resources.
b) set up a joint partnership
with consultancy companies
in order to acquire
knowledge and experience
to gradually evolve.
c) immediately prepare
operational plans for
introducing actions for
controlling risks and the
requirements identified.
d) we suggest that these
activities should be planned.
e) plan for measuring the
efficiency, audits and
information gathering of the
situation, in order to create
indicators that are useful for
the organization.
f) use indicators for creating
standardized corrective
action procedures.
22
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
and 4.5);
f) introducing any corrective
actions that may prove to be
necessary.
4.3 Introduction and operation
4.3.1 Structure and
responsibility
The first responsibility as far as
occupational health and safety
is concerned lies with top
management. Here the best
practice is to attribute to the
highest hierarchical level (for
example, in a major organization
to a member of the Board or the
executive management)
particular responsibility for
guaranteeing that the OH&S
management system is
implemented and works in
accordance with the
requirements, in all places and
spheres of operation within the
organization. At all levels in the
organization people need to be:
a) responsible for the health and
safety of those they manage, of
themselves and of others with
whom they work;
b) aware of their responsibility
a) the organization has a
responsible technical
body, comprising a work
safety engineer and a
technician.
b) the vast majority of
people are aware of their
responsibilities as far as
OH&S is concerned.
c) top management is not
involved or active in the
continuous improvement
of OH&S performance.
b) we suggest increasing the
amount of training done in
order to raise the awareness
of all, or almost all the
people involved, until the
indicators are presented, at
which time this should be
adjusted to the system.
c) it is vital that top
management shows their
commitment to OH&S. The
involvement of its
executives, who should be
aware of the influence they
exercise over the employees
and consequently on the
effectiveness of the system.
23
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
for the health and safety of
people who might be affected by
the activities they control, such
as for example, building
contractors and the public;
c) aware of the influence that
their action or inaction may have
on the effectiveness of the
OH&S management system.
Top management must show,
by example, its commitment,
behaving in an involved way and
acting to continuously improve
occupational health and safety
performance.
4.3.2 Training, awareness
building and competence.
The organization must take
measures to identify the
necessary competences at all
levels and organize any training
that is necessary.
Item not practiced. We suggest the formulation
of indicators for the
organization to identify the
competences necessary for
organizing any needed
training at all levels.
4.3.3 Communications
The organization must have
mechanisms, whenever
appropriate, for:
a) providing effective, and when
appropriate, open information
about OH&S;
a) item not practiced.
b) item not practiced.
c) the organization’s
technical body involved
with OH&S becomes
involved with employees
and provides them with
clarification when
a) we suggest the immediate
creation of communication
channels.
b) gather information about
needs and take steps to
obtain specialist consultancy
help.
24
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
b) taking the necessary steps for
obtaining consultancy help from
specialists;
c) involving employees, by
providing clarification, when
appropriate.
appropriate.
4.3.4 Documentation of the
OH&S management system
Documentation is the key
element for preparing an
organization for introducing a
successful management
system. It is also important
when putting together and
retaining OH&S knowledge.
However, to be effective, it is
important that documentation is
kept to the minimum necessary.
Organizations must ensure that
sufficient documentation is
available for fully introducing the
OH&S plans and that it is
proportional to its needs.
Item not practiced.
We suggest a partnership
with consultancy companies
as being a key element for
preparing an organization for
the introduction of a
successful management
system.
4.3.5 Document control
Organizations must take steps
to guarantee that the documents
are up-dated and applicable for
the purposes for which they
were created.
Item not practiced. We suggest a partnership
with consultancy companies
as being a key element for
preparing an organization for
the introduction of a
successful management
system.
25
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
4.3.6 Operational control
It is important that OH&S, in its
broadest sense, is entirely
integrated into the whole
organization and in all its
activities, despite the size or
nature of its work. In organizing
itself to introduce a policy and
effective management for
OH&S, the organization must
take steps to ensure that the
activities are carried out in
accordance with the measures
defined in 4.2.4, and also:
a) define the allocation of
responsibilities and
accountability in the
management structure;
b) ensure that people have the
necessary authority to carry out
their tasks;
c) allocate resources compatible
with its size and nature.
a) the organization
defines the allocation of
responsibilities and
accountabilities in the
management structure.
b) the organization
ensures that people have
the necessary authority to
carry out their tasks.
c) the organization
allocates resources
compatible with its size
and nature.
4.3.7 Preparation for and
response to emergencies
An organization must take steps
to establish contingent plans for
foreseeable emergencies and
minimize their effects.
item not practiced. We suggest the preparation
of contingency plans for
foreseeable emergencies in
order to minimize their
effects.
26
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
4.4 Checking and corrective
action
4.4.1 Monitoring and measuring
Measuring performance is one
very important way of providing
information about the
effectiveness of the OH&S
management system.
Qualitative measures must be
considered, whenever
appropriate, and must be
specially prepared to meet the
needs of the organization.
Performance measurement is a
means of monitoring the extent
to which the policy and the
objectives are being satisfied
and include:
a) pro-active performance
measurement, which monitors
service, for example, by
watching over and inspecting
the steps taken with regard to
the organization’s health and
safety, such as safe working
systems, work authorization,
etc.
b) reactive performance
measures that monitor
accidents, near accidents,
a) item not practiced.
b) item not practiced.
a) create proactive
performance measures for
activities that have an
influence on OH&S
performance.
b) create reactive
performance measurements
that monitor accidents, near
accidents, health problems
and other historical evidence
of health and deficient health
and safety performance.
27
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
health problems and other
historical evidence of health and
deficient health and safety
performance.
4.4.2 Corrective action
Where deficiencies are found
the causes that give rise to them
must be identified and corrective
actions taken.
Corrective actions are
taken, however the cause
that give rise to the
deficiencies encountered
are not identified.
Identify the causes that give
rise to the deficiencies
encountered and create an
indicator for this purpose.
4.4.3 Records
The organization must keep the
necessary records for showing
compliance with legal and other
requirements.
The organization should
keep the records
necessary for showing
compliance with the legal,
as well as other,
requirements.
4.4.4 Auditing
In addition to monitoring the
OH&S performance routine, it
will be necessary to carry out
periodic audits that make it
possible to assess in more
depth and more critically, all
elements of the OH&S
management system. The
audits must be conducted by
people who are competent and
independent, as much as is
possible, of the activity to be
a) item not practiced.
b) item not practiced.
c) item not practiced.
d) item not practiced.
We suggest the creation of a
team of internal auditors
capable of carrying out strict
audits, albeit with an
approach adapted to the size
of the organization (small).
Subsequently, the visit of
external auditors at
predetermined intervals in
order to continuously
improve its OH&S system.
28
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
audited; they may, however, be
named from within the
organization itself. Although the
audits need to be strict, their
approach must be adapted to
the size of the organization and
to the nature of its hazards. On
different occasions and for
various reasons audits need to
cover the following points:
a) Is the organization’s overall
OH&S management system
capable of helping it achieve the
OH&S performance standards
required?
b) is the organization complying
with all its OH&S obligations?
c) what are the strengths and
weaknesses in the OH&S
management system?
d) is the organization (or part of
it) really doing, and carrying out,
what it alleges it is?
The audits must be extensive or
tackle selected topics, according
to the circumstances. Their
results must be divulged to all
relevant people and corrective
actions taken as necessary.
4.5 Management information a) item not practiced. We suggest that the
29
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
gathering
The organization must define
the frequency and scope of the
periodic gathering of information
from the OH&S management
system, according to its needs.
The periodic gathering of
information about the situation
should consider:
a) the overall performance of the
OH&S management system;
b) the performance of individual
elements of the system;
c) the audit conclusions;
d) the internal and external
factors, such as changes in the
organizational structure,
pending legislation, the
introduction of new technology,
etc., and identify what action is
necessary to remedy any
deficiencies. The OH&S
management system must be
designed to accommodate or
adapt to internal and external
factors.
The periodic gathering of
information about the situation
also provides an opportunity for
making forecasts. The
b) item not practiced.
c) item not practiced.
d) item not practiced.
organization defines the
frequency and scope of the
periodic gathering of
information from the OH&S
management system , in
accordance with its
necessities.
30
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
information in a) to d) above
may be used by the organization
to improve its proactive
approach to minimizing risks
and improving business
performance.
Table 1: Construction site practices vs. BS 8800 recommendations
In an analysis of the aspects covered in the above table, which consolidates the
directives of BS 8800/96 Norm (OH&S practices on construction sites – deficiencies to be
overcome) we can see that one of the basic management issues is not concentrating
efforts on consequences and symptoms, but on causes, trying to understand why people
fail to comply with the performance standards, according to the Sustainable Management
model suggested in Figure 6, below.
As suggested in Figure 6, the organizations in question, even though they are
small, need to adopt a scientific approach to occupational health and safety, and despite
what is missing, we see it is possible to implement an Occupational Health and Safety
Management System (OHSMS), on the road to Sustainable Management.
We would add to what we saw in the field research that modern management is
characterized by concerns relative to sustainability and the risk management approach
(BOWDEN, 2001), the focus of which are the triple bottom line axes.
31
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
CONCLUSION. SUGGESTIONS FOR NEW RESEARCH.
Bearing in mind the case study we have here presented we can conclude that the
organizations in question, even though they are small, need a scientific approach to
occupational health and safety, and despite what is missing, we can see the possibility of
implementing an Occupational Health and Safety Management System (OHSMS).
In this aspect, we suggest the involvement of top management and the naming of
one of its members to manage the OHSMS, as well as to monitor the performance of the
actions established by the safety program. To do this it is necessary to define the
indicators and the way of accompanying the evolution of each one of them and to divulge
its objectives and the results to the whole organization. We recommend the setting up of a
team of internal auditors and the hiring of periodic outside audits.
We also believe that standardization will bring improvements, such as the
simplification and optimization of processes, like services carried out on the construction
site. The efforts to introduce an OHSMS will undoubtedly be rewarded by the potential for
synergies in strategic planning and effectiveness, consistency and robustness in the
search for global continuous improvement. At the end of the day, people are the essence
of any organization.
In this work we have considered the indicators relative to occupational health and
safety, in other words, those recommended for the organization’s internal public. Other
research should be carried out to map the indicators relative to other publics that suffer
from the impact of the organization’s operations: society, shareholders, customers,
suppliers, competitors and governments.
This article is the result of research being developed at LATEC, the Laboratory of
Technology, Business Management and Environment and indicates that it should
continue, in order to define the indicators of eco-efficiency in production processes and of
business effectiveness.
32
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
ALEVATO, H. M. R. Trabalho e neurose: enfrentando a tortura de um ambiente em crise.
Rio de Janeiro: Quartet, 1999.
AMERICAN INSTITUTE OF CHEMICAL ENGINEERS. Guidelines for integrating process
safety management, environment, safety, health, and quality. New York: Center for
Chemical Process Safety, 1996.
ARANTES, E. Investimento em responsabilidade social e sua relação com o desempenho
econômico das empresas. Prêmio Ethos de Responsabilidade Social, 2005.
ARAÚJO, G. M. de. Normas regulamentadoras comentadas. 3.ed. Rio de Janeiro: s.n.,
2002.
BERGAMINI, C. W. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997.
BOWDEN, A. R.; LANE, M. R.; MARTIN, J. H. Triple bottom line risk management. New
York: John Wiley & Sons, 2001.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. BS 8800 [diretrizes para sistemas de
gerenciamento de segurança e saúde ocupacional]. London, 1996.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: occupational health and safety
management systems (Specifications). London, 1999.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: 1999: amendment 1:2002.
Disponível em: emea.bsi-global.com/OHS/Standards/18001Amendment.pdf. Acesso em:
27 nov. 2003.
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: occupational health and safety
management systems. Guidelines for the implementation of OHSAS 18001. London, 2000.
33
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: 2000: amendment 1:2002.
Disponível em: emea.bsi global.com/OHS/Standards/18002Amendment. pdf . Acesso em:
27 nov. 2003.
INSTITUTO ETHOS. Disponível em: www.ethos.org.br. Acesso em: 2004.
INSTITUTO McKINSEY. Produtividade no Brasil: a chave do desenvolvimento acelerado.
Rio de Janeiro: Campus, 1999.
LUCA, S. O.; BERNAL, A. J. Integrando a ISO 9001 e a ISO 14001. Falando de
qualidade, São Paulo, ano 12, n.135, p.26-29, ago. 2003.
MASLOW, A. H. Motivation and personality. 2.ed. New York: Harperg Row, 1970.
PRADEZ, P. A. J. Uma norma pelo trabalho: é irreversível o uso de certificações para
demonstrar compromissos. Gazeta Mercantil, São Paulo, 8 maio 2002.
PRAHALAD C. K. A riqueza na base da pirâmide. Porto Alegre: Bookman, 2006.
REGINALD, B. H. Towards an integrated management of safety, health and the
environment. In: Chemical & Process Engineering Centre, 1999. Disponível em:
www.cpec.nus.edu.sg/myweb/newsletter/news10/SHE.html. Acesso em: 21 nov. 2003.
SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO – SINDUSCON. Net, Rio de Janeiro, dez. 2002. Seção Serviços e Produtos.
Disponível em: www.sindusnet.com.br/livre/seguranca.cfm. Acesso em: 2004.
SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI Guidance 1999: Guidance document
for social accountability 8000. New York, 1999.
SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Responsabilidade
social 8000. New York, 2001. Disponível em:
www.cepaa.org/Document%20Center/Standard%20Portuguese.doc. Acesso em: 27 nov.
2003.
SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Social Accountability
8000. New York, 2001. Disponível em:
34
Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
www.cepaa.org/Document%20Center/2001StdEnglishFinal.doc. Acesso em: 27 nov.
2003.
Article received on 14.08.2006. Approved on 07.10.2006.
35
AVALIAÇÃO DE RISCO MICROBIOLÓGICO: ETAPAS E SUA
APLICAÇÃO NA ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA
Maria Tereza Pepe Razzolini1; Adelaide Cássia Nardocci2
1, 2 Professoras Doutoras do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública/USP.
RESUMO
Este trabalho apresenta as etapas da avaliação de risco microbiológico e sua aplicação
na avaliação da qualidade da água de abastecimento e recreacional. As etapas são:
identificação do perigo, avaliação da exposição, avaliação da relação dose–resposta e
caracterização do risco. A avaliação de risco é uma ferramenta de auxílio à decisão que
possibilita orientar as medidas de controle e intervenção, bem como avaliar os impactos
das ações realizadas, a partir da estimativa de efeitos adversos à saúde associados aos
microrganismos patogênicos presentes em amostras de água tratada e recreacional. Ela
dá suporte à tomada de decisão com base em resultados científicos, em vários níveis de
atuação e nas decisões. No Brasil, esta é uma área de pesquisa recente, mas promissora
para o gerenciamento da qualidade dos recursos hídricos de abastecimento público e
recreacionais, especialmente nas áreas periurbanas das regiões metropolitanas, as quais
apresentam vulnerabilidade sócio-ambiental.
Palavras-chave: avaliação de risco microbiológico; qualidade da água; gerenciamento de
riscos.
.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=30
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
O avanço científico e tecnológico trouxe grandes benefícios à sociedade contemporânea,
como o aumento da expectativa de vida das pessoas e a cura de algumas doenças.
Entretanto, o acentuado consumo de recursos naturais em decorrência do intenso ritmo
de produção resultou em uma crise ambiental propalada pela forte destruição dos
ecossistemas, assim como pelo agravamento da pobreza, da fome e das disparidades
existentes na distribuição de renda tanto internamente quanto entre os países (ONU,
Agenda 21, 1995).
Segundo Nardocci (1999), os potenciais impactos do desenvolvimento tecnológico
e das mudanças no estilo de vida, bem como o aumento da sensibilidade aos perigos à
saúde e à segurança, têm colocado os riscos e a qualidade ambiental entre as maiores
preocupações da sociedade atual. Desta forma, a avaliação e o gerenciamento de riscos
figuram entre as mais importantes atividades atuais de cientistas, políticos, órgãos
reguladores e também do público em geral.
A avaliação de risco pode ser definida como o processo de se estimar a
probabilidade de um evento ocorrer e sua magnitude, levando-se ainda em conta os
efeitos adversos à economia, à saúde e à segurança, entre outros aspectos, em
determinado período (GERBA, 2000). É possível, por exemplo, calcular (ou estimar) o
risco à saúde associado à presença de pesticida nos alimentos, passíveis ainda de
contaminação por microrganismos patogênicos, os quais, por sua vez, também podem
encontrar-se na água para consumo humano.
A avaliação de risco emergiu entre as décadas de 1940 e 1950 com a crescente
adoção de atividades nucleares. Essas avaliações eram utilizadas em plantas industriais
de refinamento de petróleo, usinas nucleares e locais de pesquisas aeroespaciais.
Na área ambiental, essa ferramenta começa a ser reconhecida e utilizada com a
publicação do Guia de Avaliação de Riscos a Carcinogênicos (Guidelines for Carcinogenic
Risk Assessment) pela U. S. Environmental Protection Agency – Usepa, em 1976
(GERBA, 2000). Estimativas referentes à incidência de câncer associada à emissão
industrial de determinada substância química podem ser realizadas no intuito de proteger
a saúde de trabalhadores e comunidades próximas.
2
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Questões de saúde pública relacionadas com a presença de microrganismos em
águas de abastecimento público e recreacionais não são recentes, mas a avaliação de
risco microbiológico sim, pois se trata de uma nova abordagem no gerenciamento dos
riscos de doenças de transmissão hídrica.
Este trabalho propõe-se a apresentar as etapas da avaliação de risco
microbiológico e da sua aplicação na avaliação da qualidade da água de abastecimento e
recreacional.
AVALIAÇÃO DE RISCO MICROBIOLÓGICO
A avaliação de risco é uma área do conhecimento relativamente recente e ainda
não devidamente consolidada, tanto na fundamentação de conceitos como na
terminologia aplicada. As discussões e reflexões no campo acadêmico ainda estão em
fase inicial no Brasil, onde as dificuldades são ampliadas pela falta de precisão na
tradução dos termos da literatura internacional. Um exemplo desta problemática refere-se
às confusões entre os termos risk e hazard ou risco e perigo. Esses termos podem ser
usados como sinônimos no discurso comum, entretanto, no campo científico são
conceitos distintos. Hazard ou perigo é uma propriedade, uma característica qualitativa,
enquanto risk ou risco é uma grandeza quantitativa, adimensional e probabilística.
Também os termos risk analysis e risk assessment têm sido usados ora como
sinônimos ora como etapas distintas. Entretanto, a distinção dessas etapas não é
fundamental para a compreensão dos problemas e podemos dizer, sem prejuízo, que o
estudo atual sobre riscos compreende as etapas de avaliação, gerenciamento e
comunicação de riscos, embora também não haja consenso sobre o conteúdo de cada
etapa, suas interfaces e correlações.
A primeira consolidação do conhecimento científico sobre a avaliação de risco foi
desenvolvida pela National Academy of Sciences (NAS, 1983), dos Estados Unidos, a
qual a estruturou em quatro etapas principais: identificação do perigo, avaliação da
exposição, avaliação da relação da dose–resposta e caracterização do risco, como
apresentado na Figura 1.
3
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
No caso da avaliação de risco microbiológico a identificação do perigo refere-se à
presença de microrganismos e ou suas toxinas associados a um agravo ou doença
específicos. Portanto, a pergunta correspondente é: “Existe o perigo?”. E para respondê-
la é necessária a busca de informações a respeito de patógenos, de fato ou potenciais,
através de estudos clínicos e epidemiológicos, da caracterização microbiana e de estudos
da ecologia das doenças. Tais informações são de relevância nessa etapa do estudo para
avaliar se determinado agente etiológico, aqui denominado de perigo, produz alguma
ameaça à saúde (GERBA, 2000; PEÑA et al., 2001; WHO, 2004). Segundo Haas et al.
(1999) a identificação de um agente microbiano (perigo) pode seguir as seguintes etapas:
a) identificação do agente etiológico de determinada doença obedecendo aos
postulados de Koch;
b) diagnóstico que identifique a sintomatologia, a infecção e a presença do
microrganismo em amostras clínicas do hospedeiro (sangue, pus, fezes);
c) entendimento do processo desencadeante da doença desde a exposição à
infecção (colonização no organismo humano) até o desenvolvimento dos
sintomas, doença e morte;
d) identificação das possíveis vias de transmissão;
e) análise dos fatores de virulência do microrganismo e do ciclo de vida;
f) avaliação da incidência e prevalência da doença na população (risco endêmico) e
investigação de surtos (risco epidêmico);
g) desenvolvimento de modelos (usualmente, modelos utilizando animais);
h) avaliação do papel do sistema imunológico do hospedeiro no combate à infecção e
possível desenvolvimento de vacinas para prevenção; e
i) correlação de estudos epidemiológicos com as possíveis vias de exposição.
4
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A etapa de avaliação da exposição refere-se ao processo de medida ou estimativa
da intensidade, freqüência e duração da exposição humana a um determinado agente,
com o propósito de se determinar a quantidade de organismos que correspondem a uma
única exposição, ou a quantidade total de organismos que compreende um conjunto de
exposições (HAAS et al., 1999; GERBA, 2000). A exposição a contaminantes pode
ocorrer por inalação, ingestão, ou pelas vias dérmica e cutânea, por exemplo. As fontes
de contaminação assim como o mecanismo de transporte e transformação e, ainda, as
rotas de exposição de um microrganismo desde a fonte até o contato com a população
exposta, incluindo-se a via de ingresso no hospedeiro, são importantes fatores a se
considerar nessa etapa de avaliação. As concentrações de exposição são obtidas a partir
de medidas laboratoriais e ou estimadas por modelagens matemáticas. Portanto, a
quantificação da dose de entrada no organismo pode envolver equações com três
5
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
conjuntos de variáveis: concentração do microrganismo, taxas de exposição (intensidade,
freqüência, duração) e características do hospedeiro (peso, imunidade).
A relação dose–resposta resulta de estudos experimentais, os quais devem
evidenciar a concentração do agente etiológico que produz efeito adverso à saúde da
população exposta. Ou seja, a relação dose–resposta visa obter uma relação matemática
entre a quantidade (concentração) de um microrganismo ao qual uma pessoa ou
população está exposta e o risco de se produzirem efeitos adversos a partir dessa
concentração. Marks et al. (1998) ressaltam que o número de organismos ingeridos pode
afetar a probabilidade e a severidade do agravo. As doenças resultam de um processo
complexo de interações entre o hospedeiro, o patógeno e o ambiente, o qual, em alguns
casos, não é totalmente entendido.
Muitas pesquisas com indivíduos voluntários têm sido feitas com o objetivo de
identificar a dose de referência para a infectividade. No caso de vírus os estudos são
feitos com vírus atenuados de vacinas ou com crescimento em laboratórios. Entre as
várias conseqüências de uma infecção, destacam-se:
• a possibilidade de doenças subclínicas (assintomáticas), aquelas que resultam
em sintomas não óbvios como febre, dor de cabeça ou diarréia. Isto é, indivíduos
podem hospedar o agente patogênico e transmiti-lo a outros, sem que fiquem
doentes. A razão de infecções clínicas e subclínicas varia de agente para agente,
especialmente em vírus. Em alguns casos, a probabilidade de desenvolvimento de
doença clínica não apresenta relação com a dose recebida por um indivíduo via
ingestão.
• o desenvolvimento de doenças clínicas; neste caso interferem vários fatores,
como a idade, por exemplo. No caso da hepatite A, os sintomas clínicos podem
variar de 5% em crianças menores que 5 anos até 75% em adultos. Porém,
crianças desenvolvem mais freqüentemente as gastrenterites retrovirais.
Desta forma, os modelos dose–resposta abordam não apenas a probabilidade de
infecção, a probabilidade de que a infecção resulte em doença e a probabilidade de que a
doença resulte em morte. Importante ressaltar que nem sempre estão disponíveis as
informações a respeito da relação dose–resposta de microrganismos patogênicos e dos
6
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
efeitos produzidos em hospedeiros. Nesse sentido, a utilização de funções matemáticas
para estimar essa relação e a escolha do modelo deve ser sempre muito criteriosa.
A caracterização de risco representa a integração das etapas anteriores –
identificação do risco, avaliação da exposição e avaliação da dose–resposta, para a
determinação da estimativa do risco. Assim, essa fase estabelece a estimativa,
quantitativa ou qualitativa, da probabilidade e severidade de efeitos adversos que podem
acometer determinada população (WHO, 2004). Ressalta-se, entretanto, que essas
estimativas devem ser acompanhadas pela magnitude da incerteza do risco estimado. As
fontes de incerteza devem ser incluídas: extrapolação de doses altas para doses baixas,
extrapolação da resposta em animais para seres humanos, extrapolação de uma via de
transmissão para outra, limitação dos métodos analíticos e exposição estimada, por
exemplo.
A avaliação das incertezas é um aspecto muito importante no processo de
avaliação de riscos. Há casos em que algumas fontes de incertezas podem ser
quantificadas em outros casos se for possível atribuir um tratamento qualitativo, mas
sempre devem ser consideradas e avaliadas. Segundo Gerba (2000) duas estratégias
podem ser usadas para a caracterização da incerteza: análises de sensibilidade e
simulação de Monte Carlo. A análise de sensibilidade consiste em analisar a incerteza de
cada parâmetro utilizado na condução do estudo e avaliar o impacto de cada um deles no
resultado final. Na simulação de Monte Carlo, entretanto, assume-se que todos os
parâmetros são aleatórios e, em vez de variar cada um desses parâmetros
separadamente, recorre-se a um software o qual seleciona os dados aleatoriamente
distribuídos e utiliza as funções matemáticas a cada tempo repetidas vezes. O resultado
obtido corresponde, então, aos valores de exposição ou risco correspondente a uma
probabilidade específica com grau de confiança de 95%.
O gerenciamento de risco apresenta uma abordagem endereçada a controlar os
riscos considerando custo–benefício de implantações na melhoria de sistemas de
tratamento de águas captadas para consumo, por exemplo, e que além disso subsidiem
políticas de limites de exposição. Segundo Gerba (2000), a Usepa, nos Estados Unidos,
utiliza o conceito de risco aceitável e sugere que o risco de infecções anuais de 1/10.000
é um nível apropriado para se garantir a segurança para a água de abastecimento de
consumo humano. Para atingir esse nível as estações de tratamento de água para
7
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
consumo humano devem apresentar eficiência na remoção de Giardia e vírus entéricos
da ordem de 99,99%. Dessa forma, o custo de tratamento da água seria factível,
acarretando a redução de custos associados aos serviços de saúde e produtividade.
A comunicação de risco também é uma importante ferramenta do gerenciamento,
a qual visa garantir a troca de informações entre as partes interessadas – gestores
governamentais, técnicos e atores sociais, entre outros.
O Quadro 1 sumariza os paradigmas da avaliação de risco para os efeitos à saúde
humana.
APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE RISCO MICROBIOLÓGICO
A verificação da qualidade sanitária da água de consumo humano mediante
análises laboratoriais para obter informações como a concentração de determinado
microrganismo patogênico ou, então, para constatar sua presença ou ausência nas
amostras não é suficiente para proteger a saúde da população. No Brasil, a qualidade
sanitária das águas de consumo e recreacionais é estabelecida pela Portaria no 518 do
Ministério da Saúde, de 25 de março de 2004, e pela Resolução Conama (Conselho
Nacional do Meio Ambiente) no 274, de 29 de novembro de 2000, respectivamente. Os
8
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
indicadores bacteriológicos clássicos da qualidade da água de consumo, coliformes
termotolerantes e Escherichia coli não são efetivos para avaliar a ocorrência e a eficiência
de remoção de protozoários patogênicos e vírus em estações de tratamento de água
(ROSE & GERBA, 1991; GALE, 2001).
Microrganismos patogênicos podem alcançar locais de suprimento de águas de
consumo humano e recreacionais em razão da contaminação por excretas como
resultado de conexões cruzadas e problemas de manutenção. A emergência e a
reemergência de patógenos traz à tona algumas questões relativas à qualidade sanitária
das águas: “A verificação do atendimento aos padrões bacteriológicos estabelecidos por
lei é suficiente para garantir a qualidade de águas de consumo e recreacionais?”, “O
atendimento a esses padrões realmente promove e protege a saúde dos usuários?”.
São vários os relatos da ocorrência de patógenos (re)emergentes em águas
(HAAS et al., 1999, p.18; RUSIN et al., 2000, p.447; WHO, 2003; WHO, 2004). Vale citar
como exemplo o caso clássico de Milwaukee, em Wisconsin (EUA), onde ocorreu a
contaminação do sistema de abastecimento público de água pelo protozoário
Cryptosporidium, afetando a saúde de 403 mil pessoas, entre as quais 4.400 foram
hospitalizadas e 69 morreram. A provável causa foi a contaminação da água tratada por
excretas humanas e animais (bovinos ou eqüinos). (SOLO-GABRIELE & NEUMEISTER,
1996).
O monitoramento da ocorrência de patógenos para avaliar a qualidade sanitária de
águas de consumo e recreacionais revela-se inviável, tanto no aspecto técnico como no
econômico, em razão da grande diversidade de patógenos, do alto custo e da
complexidade das análises laboratoriais, e do risco à saúde dos técnicos, em virtude da
constante manipulação desses microrganismos. Assim, a avaliação de risco
microbiológico consiste em uma ferramenta que pode ser utilizada para estimar os
possíveis efeitos adversos à saúde quando da presença de organismos patogênicos em
amostras de águas, para orientar as medidas de controle e intervenção, bem como para
avaliar os impactos das ações realizadas.
A Organização Mundial da Saúde, em seu Guia de qualidade para águas de
consumo (Guidelines for drinking-water quality – WHO, 2004) considera a avaliação de
risco microbiológico uma forma de se estimarem os riscos à saúde humana associados à
qualidade da água de consumo. Muitos são os relatos da aplicação de modelos de
9
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
avaliação de risco microbiológico para diversos tipos e usos da água (ROSE & GERBA,
1991;GERBA et al., 1996, CRABTREE et al.,1997; STINE et al.,2005; SCHIJVEN et al.,
2005;BROOKS_et_al.,_2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o exposto, a avaliação de risco microbiológico é uma ferramenta
de auxílio à decisão e pode ser usada para:
estimar efeitos adversos à saúde associados a microrganismos patogênicos
presentes em amostras de água tratada e recreacional;
tomar decisões em vários níveis de atuação;
dar suporte nas decisões baseadas em resultados científicos.
Vale ressaltar que o processo de avaliação de risco deve ser transparente em
todas as etapas de condução dos estudos e bem documentado, ressaltando-se a
oportunidade de reavaliação futura.
No Brasil, esta é uma área de pesquisa recente, mas promissora dos pontos de
vista científico e de gerenciamento da qualidade dos recursos hídricos de abastecimento
público e recreacionais. Sua atuação é fundamental, especialmente nas áreas
periurbanas das regiões metropolitanas, as quais apresentam vulnerabilidade
socioambiental evidente e demandam uma priorização das ações de intervenção para
preservação dos mananciais, para a proteção da saúde humana e a otimização dos
recursos públicos a serem investidos.
10
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 518, de 25 mar. 2004; Estabelece os
procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Disponível
em www.funasa.gov.br/amb/pdfs/portaria518pdf.
BROOKS, J. P. et al. Estimation of bioaersol risk of infection to residents adjacent to a
land applied biosolis site using an empirically derived transport model. J. Appl. Microbiol.,
v.98, p.397-405, 2005.
CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente (Brasil). Resolução no 274, de 29 nov.
2000. Dispõe sobre a qualidade das águas de balneabilidade. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, 8 jan. 2001.
CRABTREE, K. D. et al. Waterborne adenovirus: a risk assessment. Wat. Sci. Tech., v.35,
n.11-12, p.1-6, 1997.
GALE, P. A review – Development in microbiological risk assessment for drinking water. J
Appl of Microbiology, v.91, p.191-205, 2001.
GERBA, C. P. et al. Waterborne rotavirus: a risk assessment. Wat. Res., v.30, n.12,
p.2929-40, 1996.
GERBA, C. P. Risk Assessment. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.; GERBA, C. P. (Ed.)
Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000. p.557-70.
HAAS, C. N.; ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Quantitative Microbial Risk Assessment. 1.ed.
New York: John Wiley & Sons, 1999.
MARKS, M. M. et al. Topics in microbial risk assessment: dynamic flow tree process. Risk
Analysis, v.18, n.3, p.309-28, 1998.
NARDOCCI, A. C. Risco como instrumento de gestão ambiental. 1999. 135p. Tese
(Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São
Paulo. São Paulo.
11
Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente
do Estado de São Paulo, 1995.
PEÑA, C. E.; CARTER, D. E.; AYALA-FIERRO, F. Evaluación de riesgos y restauración
ambiental. 2001. Disponível em: superfund.pharmacy.arizona.edu/toxamb/. Acesso em:
15 abr. 2003.
ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Use of risk assessment for development of microbial
standards. Wat. Sci. Tech., v.24, n.2, p.29-34, 1991.
RUSIN, P. et al. Environmentally transmitted pathogens. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.;
GERBA, C. P. (Ed.) Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000.
p.447-85.
SCHIJVEN, J.; RIJS, G. B.; HUSMAN, A. M. R. Quantitative risk assessment of FMD virus
transmission via water. Risk Analysis, v.25, n.1, p.13-21, 2005.
SOLO-GABRIELE, H.; NEUMEISTER, S. US outbreaks of cryptosporidiosis. J AWWA,
v.88, p.76-86, 1996.
STINE, S. W. et al. Application of microbial risk assessment to the development of
standards for enteric pathogens in water used to irrigate fresh produce. Journal of Food
Protection, v.68, n.5, p.913-8, 2005.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Emerging issues in water and infectious
disease. 2003. Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/emerging/en/. Acesso
em: 20 ago. 2005.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for drinking-water quality. 2004.
Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/dwq/en/. Acesso em: 15 set. 2004.
Artigo recebido em 03.08.2006. Aprovado em 29.09.2006.
12
MICROBIAL RISK ASSESSMENT: STAGES AND APPLICATION IN THE
EVALUATION OF WATER QUALITY Maria Tereza Pepe Razzolini¹; Adelaide Cássia Nardocci²
¹ ² Professors and Doctors of the Environment health Department of the Faculdade de Saúde Pública of USP [Universidade de São Paulo]
ABSTRACT
This work presents the stages of microbial risk assessment and its application in the
evaluation of drinking and recreational water quality. The stages are hazard identification,
exposure assessment, dose-response relationship and risk characterization. Hazard
identification is related to the presence of microorganism and toxins and their association
with specific diseases. Exposure assessment includes the intensity, frequency and
duration of human exposure to a specific agent. The aim of dose-response relationship is
to obtain a mathematical relationship between the amount of microorganism
(concentration) and adverse effects on human health. Risk characterization represents the
integration of the previous stages. Risk assessment is a tool used for decision making and
for providing information to take control and intervention measures, as well as to evaluate
the impact of these actions. It provides support to a decision-making process based on
scientific results in several areas of knowledge. In Brazil, risk assessment is a recent but
promising area of research, for the management of water quality, such as catchment
points and recreational waters, especially in periurban areas of metropolitan regions,
which show precarious sanitary conditions.
Key words: Microbial risk assessment. Water quality. Risk management.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=42
©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the
secretarial department: [email protected]
1
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
INTRODUCTION
Scientific and technological advance have brought great benefits to contemporary
society, such as an increase in people’s life expectancy and a cure for some illnesses.
However, the accentuated consumption of natural resources resulting from the intense
rhythm of production has resulted in an environmental crisis, caused by the significant
destruction of eco-systems, as well as by the increase in poverty, hunger and the
inequalities in income distribution both internally, as well as between countries (United
Nations Conference, Agenda 21, 1995).
According to NARDOCCI (1999), the potential impact of technological
development, changes in life-style, as well as an increase in the awareness of the dangers
to health and safety, have placed risks to the environment and its quality among the
greatest current concerns of society. Therefore, the assessment and management of risks
are among the most important current activities of scientists, politicians, regulatory bodies
and also the public in general.
Risk assessment may be defined as the process of estimating the probability of an
event happening and its magnitude, also taking into account, among other aspects, the
adverse effects to the economy, to health and to safety, over a particular period of time
(GERBA, 2000). It is possible, for example, to calculate (or estimate) the health risk
associated with the presence of pesticides in food that is also susceptible to contamination
by the pathogenic micro-organisms, which may also be found in water used for human
consumption.
Risk assessment emerged between the 1940s and 1950s with the growth in
nuclear activity. The assessments were used in industrial oil refineries, nuclear power
stations and aerospace research locations.
In the environmental area this tool began to be recognized and used with
publication of the Guidelines for Carcinogenic Risk Assessment by the U.S. Environmental
Protection Agency (USEPA) in 1976 (GERBA, 2000). Estimates of the incidence of cancer
associated with the industrial emissions of a particular chemical substance may be carried
out with the intention of protecting the health of workers and neighboring communities.
2
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Public health issues related to the presence of micro-organisms in public drinking
water and recreational water are not recent, but assessment of the microbial risk is,
because this is a new approach to the management of the risks associated with water-
borne illnesses.
Therefore, this work proposes to present the stages in microbial risk assessment
and its application in the assessment of the quality of water coming from catchment areas
and that used for recreational purposes.
Microbial risk assessment
Risk assessment is a relatively recent area of knowledge and still not duly
consolidated, either as far as the basis of its concepts, or the terminology used are
concerned. In Brazil, where the difficulties are amplified by the lack of accurateness in the
translation of terms taken from international literature, discussions and reflections in the
academic field are still in their initial phase. An example of this problem refers to the
confusion that exists between the terms risk and hazard [risco and perigo in Portuguese].
These terms can be used as synonyms in common speech, but they are quite different
concepts in the scientific field. Hazard or perigo is a property, a qualitative characteristic,
while risk or risco is a quantitative, adimensional and probabilistic magnitude.
Also, the terms risk analysis and risk assessment have been sometimes used as a
synonym and sometimes as different stages. However, distinguishing between these
stages is not essential for understanding the problems and we can state without prejudice
that the current study on risks includes the risk assessment, management and
communication stages, although there is also no consensus about the content of each
stage, their interfaces and correlations.
The first consolidation of scientific knowledge on risk assessment was developed
by the National Academy of Sciences (NAS 1983), which structured it into four main
stages: identification of the hazard, assessment of exposure, assessment of the dose-
response relationship and the characterization of risk, as presented in Figure 1.
In the case of microbial risk assessment hazard identification refers to the presence
of micro-organisms and/or their toxins associated with a specific illness or deterioration of
the same. Therefore, the question is: Does the hazard exist? To reply to it we need to look
3
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
for information about pathogens, either in fact or potential, through clinical and
epidemiological studies of microbial characterization and studies of the ecology of the
illnesses. This information is of relevance at this stage of the study in order to assess if a
particular etiological agent, here called a hazard, produces some health threat (GERBA,
2000, PEÑA, et al, 2001,WHO, 2004). According to HAAS et al (1999) identification of a
microbial (hazard) agent may follow the following stages: a) identification of the etiological
agent of a particular illness, in accordance with the postulates of Koch; b) diagnosis, which
identifies the symptomolgy, the infection and the presence of micro-organisms in clinical
samples of the host (blood, pus, feces); c)understanding the process triggered off by the
illness from exposure to infection (colonization in the human organism) to the development
of symptoms, the illness and death; d) identification of possible transmission pathways; e)
analysis of the virulence factors of the micro-organism and its life cycle; f) assessment of
the incidence and prevalence of the illness in the population (endemic risk) and
investigation of outbreaks (epidemic risk); g) development of models (usually models using
animals); h) assessment of the role of the host’s immunological system in fighting the
infection and the possible development of vaccines for prevention, and; i) the correlation of
epidemiological studies with possible exposure pathways.
4
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The exposure assessment stage refers to the measuring process or the estimate of
the intensity, frequency and duration of human exposure to a particular agent, with the
purpose of determining the quantity of organisms that correspond to a single exposure or
the total quantity of organisms that comprise a set of exposures (HAAS et al. 1999,
GERBA, 2000). Exposure to contaminants may occur via pathways such as inhalation,
ingestion and dermal or cutaneous contact. The sources of contamination, the transport
and transformation mechanism and also the exposure routes of a micro-organism from the
source to contact with the exposed population, including the pathway by which it entered
the host, are important factors to be considered in the assessment stage. The
concentrations of exposure are obtained from laboratory measurements and/or estimated
by mathematical modeling. Therefore, quantification of the dose that entered the organism
may involve equations with three sets of variables: concentration of the micro-organism,
5
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
rates of exposure (intensity, frequency, duration) and host characteristics (weight,
immunity).
The dose-response relationship results from experimental studies, which should
provide evidence as to what concentration of the etiological agent is having an adverse
effect on the health of the exposed population. In other words the dose-response
relationship aims at establishing a mathematical relationship between the quantity
(concentration) of a micro-organism to which the person or population is exposed and the
risk of this concentration producing adverse effects. MARKS et al. (1998) point out that
the number of organisms ingested can affect the probability and severity of the illness.
Illnesses result from a complex process of interactions between the host, the pathogen
and the environment, which in some cases is not fully understood.
A lot of research with volunteers has been done with the aim of identifying the
reference dose for infectivity. In the case of a virus the studies are done with viruses that
have been attenuated by vaccines or grown in laboratories. Among the various
consequences of an infection are:
• the possibility of sub-clinical illnesses (asymptomatic), which are
those that result in symptoms that are not the obvious ones, such as fever,
headaches or diarrhea. In other words, individuals may be host to the pathogenic
agent and transmit it to others without themselves being ill. The reason for clinical
and sub-clinical infections varies from agent to agent, especially with viruses. In
some cases the probability of developing a clinical illness bears no relationship to
the dose received by an individual via ingestion.
• the development of clinical illnesses; various factors may
interfere, such as age, for example. In the case of hepatitis A, the clinical
symptoms may vary from 5% in children under 5 years of age up to 75% in adults.
On the other hand, children are more susceptible to developing retroviral gastro-
enteritis.
Therefore, the dose-response models do not only cover the probability of infection,
the probability that the infection will result in an illness and the probability that the illness
will result in death. It is important to point out that information is not always available about
the dose-response relationship of pathogenic organisms and the effects produced in hosts.
6
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
In this sense, the use of mathematical functions for estimating this relationship and the
choice of the model must be always very carefully chosen.
Risk characterization represents the integration of the previous stages – risk
identification, assessment of exposure and assessment of dose-response for determining
the risk estimate. Therefore, this phase establishes the quantitative and qualitative
estimate of the probability and severity of adverse effects that may afflict a certain
population (WHO, 2004). It has to be pointed out, however, that these estimates must be
accompanied by the magnitude of the uncertainty of the estimated risk. The sources of
uncertainty must be included such as, extrapolating high doses for low doses,
extrapolating the response in animals for that in human beings, extrapolating one
transmission pathway for another, the limitation of analytical methods and the estimated
exposure.
Assessment of the uncertainties is a very important aspect in the process of risk
assessment. There are cases in which some sources of uncertainty may be quantified and
in other cases where a qualitative treatment may be applied to them, but they must always
be considered and assessed. According to GERBA (2000) two strategies may be used to
characterize uncertainty: sensitivity analyses and the Monte Carlo simulation. The
sensitivity analysis comprises analyzing the uncertainty of each parameter used in carrying
out the study and assessing the impact of each of them on the final result. In the Monte
Carlo simulation, however, it is assumed that all the parameters are random and therefore,
instead of varying each one of these parameters separately, software is used that selects
the randomly distributed data and uses mathematical functions each time, over and over
again. The result obtained corresponds, therefore, to the exposure values or risk
corresponding to a specific probability that is reliable at the 95% level.
Risk management provides an approach aimed at controlling risks, by considering
the cost-benefit of introducing improvements, for example, in the treatment system of
water collected for consumption, in addition to providing information about exposure limit
policies. According to GERBA (2000), USEPA in the United States uses the concept of
acceptable risk and suggests that a risk of annual infections of 1/10,000 is a suitable level
for guaranteeing the safety of water used for human consumption. To achieve this level
treatment stations of water used for human consumption must be 99.99% efficient at
7
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
removing Giardia and enteric viruses In this way the cost of treating water is possible,
leading to a reduction in the costs associated with health services and productivity.
Risk communication is also an important management tool, which aims at
guaranteeing an exchange of information between interested parties, such as government
managers, technicians, social stakeholders and others.
The application of microbial risk assessment
To protect the health of the population it is not enough merely to check the sanitary
quality of water used for human consumption, using laboratory analyses in order to obtain
information such as the concentration of a certain pathogenic micro-organism or, to
establish its presence or absence in the samples. In Brazil, the sanitary quality of water for
consumption or for recreational purposes is established by Ministerial Directive 518 issued
by the Health Ministry on March 25, 2004, and by CONAMA (National Environment
Council) Resolution 274, dated November 29, 2000, respectively. The classic
bacteriological indicators of drinking water quality, thermotolerant coliforms and
Escherichia coli are not effective when it comes to assessing the occurrence and efficiency
of the removal of pathogenic protozoa and viruses in water treatment stations (ROSE;
GERBA, 1991, GALE, 2001).
8
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Pathogenic micro-organisms may reach locations that supply water for human
consumption and for recreational purposes due to contamination by excreta as a result of
crossed connections and maintenance problems. The emergence and re-emergence of
pathogens brings to the fore issues relative to the sanitary quality of water: “Is checking
that the bacteriological standards established by law are met enough to guarantee the
quality of drinking water and that used for recreational purposes?”, “Does meeting these
standards really promote and protect the health of users?”.
There are various stories of the occurrence of pathogens (re) emerging in water
(HAAS et al.,p.18, 1999, RUSIN et al., p. 447, 2000, WHO, 2003; WHO, 2004). It is worth
mentioning as an example the classic case of Milwaukee, in Wisconsin (USA, where the
public water system was contaminated by the protozoa, Cryptosporidium, which affected
the health of 403,000 people of whom 4,400 were hospitalized and 69 died. The probable
cause was the contamination of treated water by human and animal (bovine or equine)
excreta. (SOLO-GABRIELE; NEUMEISTER, 1996).
Monitoring the occurrence of pathogens in order to assess the sanitary quality of
drinking water and that used for recreational purposes has proved to be unfeasible, both
from the technical as well as from the economic point of view, due to the large diversity of
pathogens, the high cost and complexity of laboratory analyses and the health risk to
technicians because of the constant manipulation of these organisms. Therefore,
assessment of the microbial risk consists in having a tool that can be used for estimating
the possible adverse effects to health when pathogenic organisms are present in water
samples in order to guide control and intervention measures, as well as to assess the
impact of the actions carried out.
The World Health Organization (WHO, 2004), in its Guidelines for drinking-water
quality, considers microbial risk assessment as a way of estimating the risks to human
health associated with the quality of drinking water. There are many stories about the
application of microbial risk assessment models to different types and uses of water
(GERBA;ROSE,1991, GERBA et al.,1996, CRABTREE et al.,1997, STINE et al.,2005,
SCHIJVEN et al.,2005, BROOKS et al.,2005)
9
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
General considerations
Bearing in mind the above, the assessment of microbial risk is a decision-making
tool and may be used for:
estimating the adverse effects to health associated with pathogenic
organisms present in samples of treated water and that used for recreational
purposes;
decision making at various levels of action;
providing support for decisions based on scientific results.
It is worth pointing out that when conducting the studies the whole risk assessment
process must be transparent at every stage and well documented, making clear that there
is the opportunity for future reassessment.
In Brazil, this is a recent, but promising area of research, both from the scientific
point of view, as well as from the management of the quality of the water resources used
for providing public drinking water and for recreational purposes is concerned, especially in
peri-urban areas of metropolitan regions, where socio-environmental conditions are
obviously precarious and where there is a demand for the prioritization of actions for
intervening, in order to preserve water sources to protect human health and to optimize the
use of public funds needed for investment.
10
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 518, de 25 mar. 2004; Estabelece os
procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Disponível
em www.funasa.gov.br/amb/pdfs/portaria518pdf.
BROOKS, J. P. et al. Estimation of bioaersol risk of infection to residents adjacent to a
land applied biosolis site using an empirically derived transport model. J. Appl. Microbiol.,
v.98, p.397-405, 2005.
CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente (Brasil). Resolução no 274, de 29 nov.
2000. Dispõe sobre a qualidade das águas de balneabilidade. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, 8 jan. 2001.
CRABTREE, K. D. et al. Waterborne adenovirus: a risk assessment. Wat. Sci. Tech., v.35,
n.11-12, p.1-6, 1997.
GALE, P. A review – Development in microbiological risk assessment for drinking water. J
Appl of Microbiology, v.91, p.191-205, 2001.
GERBA, C. P. et al. Waterborne rotavirus: a risk assessment. Wat. Res., v.30, n.12,
p.2929-40, 1996.
GERBA, C. P. Risk Assessment. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.; GERBA, C. P. (Ed.)
Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000. p.557-70.
HAAS, C. N.; ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Quantitative Microbial Risk Assessment. 1.ed.
New York: John Wiley & Sons, 1999.
MARKS, M. M. et al. Topics in microbial risk assessment: dynamic flow tree process. Risk
Analysis, v.18, n.3, p.309-28, 1998.
NARDOCCI, A. C. Risco como instrumento de gestão ambiental. 1999. 135p. Tese
(Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São
Paulo. São Paulo.
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente
do Estado de São Paulo, 1995.
11
Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
PEÑA, C. E.; CARTER, D. E.; AYALA-FIERRO, F. Evaluación de riesgos y restauración
ambiental. 2001. Disponível em: superfund.pharmacy.arizona.edu/toxamb/. Acesso em:
15 abr. 2003.
ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Use of risk assessment for development of microbial
standards. Wat. Sci. Tech., v.24, n.2, p.29-34, 1991.
RUSIN, P. et al. Environmentally transmitted pathogens. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.;
GERBA, C. P. (Ed.) Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000.
p.447-85.
SCHIJVEN, J.; RIJS, G. B.; HUSMAN, A. M. R. Quantitative risk assessment of FMD virus
transmission via water. Risk Analysis, v.25, n.1, p.13-21, 2005.
SOLO-GABRIELE, H.; NEUMEISTER, S. US outbreaks of cryptosporidiosis. J AWWA,
v.88, p.76-86, 1996.
STINE, S. W. et al. Application of microbial risk assessment to the development of
standards for enteric pathogens in water used to irrigate fresh produce. Journal of Food
Protection, v.68, n.5, p.913-8, 2005.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Emerging issues in water and infectious
disease. 2003. Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/emerging/en/. Acesso
em: 20 ago. 2005.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for drinking-water quality. 2004.
Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/dwq/en/. Acesso em: 15 set. 2004.
Article received on 03.08.2006. Approved on 29.09.2006.
12
ATIVIDADE HOSPITALAR: IMPACTOS AMBIENTAIS E ESTRATÉGIAS
DE ECOEFICIÊNCIA Artur Ferreira de Toledo¹; Jacques Demajorovic²
¹Coordenador do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário de Santo André; ²Coordenador do Curso de Bacharel em Gestão Ambiental do Centro Universitário SENAC.
RESUMO
O setor de serviços apresenta uma variedade de aspectos ambientais que, dependendo
da atividade, podem se transformar em impactos significativos ao meio ambiente. Seus
usuários estão diariamente consumindo recursos como energia e água, gerando grande
quantidade de resíduos sólidos e efluentes. No entanto, é ainda reduzido o número de
estudos publicados que possibilitem quantificar adequadamente os impactos ambientais
das atividades de serviços. Ainda assim, para alguns setores, esses dados começam a
ser disponibilizados, de forma a construir um quadro mais realista do potencial impacto
ambiental dessas organizações. A indústria hoteleira, o setor bancário e os hospitais são
alguns dos exemplos que apresentam maiores informações nesse sentido. Este trabalho
discute os principais impactos ambientais gerados pelo setor hospitalar, destacando as
possíveis estratégias de ecoeficiência, de forma a aprimorar a gestão ambiental nessa
atividade. Na parte final do artigo apresentam-se três estudos de caso desenvolvidos em
hospitais localizados na região metropolitana de São Paulo. Os resultados desta pesquisa
revelaram alguns dos principais indicadores de desempenho ambiental relativos à água,
aos resíduos sólidos e à energia, destacando também alguns dos principais desafios para
a efetiva implementação de estratégia de ecoeficiência no setor.
Palavras-chave: Hospitais; ecoeficiência; impacto ambiental; gestão ambiental.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=29
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
A ecoeficiência tem assumido um papel cada vez mais importante nas estratégias
de gestão ambiental das organizações. Pressionadas por uma legislação restritiva e
devido ao aumento de custos em relação ao uso dos recursos naturais, um número cada
vez maior de empresas tem superado o paradigma que prevaleceu até a década de 80,
de que o meio ambiente e a competitividade seriam variáveis antagônicas. No entanto,
essa ferramenta, que, até meados dos anos 90, praticamente se restringiu ao setor
empresarial, começa a ser cada vez mais difundida também no setor de serviços.
No estágio atual em que se encontra a economia mundial, o reconhecimento
dessa ferramenta no setor de serviços é fundamental para a mitigação de impactos do
setor empresarial como um todo. Afinal, grande parte da riqueza gerada na economia tem
origem nesse setor. Nos Estados Unidos, por exemplo, o setor de serviços, que inclui uma
enorme gama de atividades, como restaurantes, hospitais, instituições bancárias, entre
outras, contribuiu com 75% do PIB em 1997, cerca de US$ 3,8 trilhões, e com 80% do
emprego (GUILE et al. 1997, citado por DAVIES et al., 2000). No Brasil, caminhando na
mesma direção, o setor de serviços já responde por cerca de 60% do PIB nacional (DIAS,
2002).
Os números apresentados relativos à relevância econômica do setor serviços,
porém, não contabilizam o aumento do impacto ambiental associado à expansão dessas
atividades. Toda a atividade pertencente ao setor de serviços, em menor ou maior escala,
gera impactos ambientais em seu dia-a-dia, que incluem o consumo de energia e de
água, a geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, poluição do ar, além de
alterações nos ecossistemas e ambientes naturais. Muitos desses impactos poderiam ser
evitados ou restringidos, caso essas atividades incorporassem medidas para a
racionalização dos recursos naturais.
A atividade hospitalar está entre as inúmeras modalidades de serviços que pode
desempenhar um papel central na mitigação ou expansão dos impactos socioambientais
associados ao setor. Os hospitais, entre todas as atividades de serviços, são um dos
principais consumidores de energia elétrica, além de gerarem quantidade significativa de
resíduos. Nesse contexto, a ecoeficiência constitui uma ferramenta essencial para que
também as atividades hospitalares possam conciliar maior eficiência econômica e menor
2
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
impacto ambiental. Este artigo analisa os principais impactos ambientais associados às
atividades hospitalares, destacando como a ecoeficiência vem sendo incorporada nesses
empreendimentos. Em sua parte final, apresenta-se um estudo de caso, incluindo três
hospitais localizados no município de Santo André, debatendo as perspectivas da
incorporação da ecoeficiência no processo de tomada de decisão relativa ao
gerenciamento das unidades hospitalares.
ECOEFICIÊNCIA
Nas últimas décadas, em paralelo ao debate sobre desenvolvimento sustentável,
uma série de ferramentas voltadas à concretização da responsabilidade socioambiental
no âmbito empresarial tem sido discutida, tais como produção limpa, produção mais
limpa, prevenção à poluição e ecoeficiência. Dentre todas elas, a ecoeficiência recebeu
especial atenção nos últimos anos. Interessante notar que não se trata de um debate tão
recente, uma vez que, segundo Lehni (2000), o termo ecoeficiência foi utilizado pela
primeira vez pelos pesquisadores Schaltegger e Sturm em 1990.
Nesse processo, uma importante contribuição foi a publicação do livro Mudando o
curso, de Stephan Schmidheiny. Fundador do Conselho Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável, o autor defendia uma mudança da percepção do setor empresarial em
relação à variável socioambiental. Ao invés de se colocar exclusivamente como agente do
processo de degradação, o setor empresarial poderia desempenhar um papel crucial para
solucionar os desafios da sustentabilidade global (LEHNI, 2000). No entanto, isto só
ocorreria se fosse possível fundamentar as estratégias empresariais em alternativas que
conciliassem melhorias ambientais e econômicas. Nesse sentido, a busca da
ecoeficiência permitiria ao setor empresarial concretizar tais objetivos.
Desde a publicação de Mudando o rumo, o conceito de ecoeficiência tem sido
constantemente remodelado. No livro, uma empresa ecoeficiente seria aquela que
conseguisse gerar produtos e serviços com maior valor agregado, ao mesmo tempo em
que assegurasse redução do consumo de recursos e menor geração da poluição (LEHNI,
2000). Para a OCDE, a ecoeficiência foi definida como a eficiência com que os recursos
ecológicos são utilizados para atender às necessidades humanas, sendo seu resultado
obtido a partir valor dos produtos e serviços gerados por uma empresa, setor econômico
3
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ou ainda um país dividido pela soma das pressões ambientais geradas pelas empresas e
setores. Já para a Agência Ambiental Européia (EEA), que pretende usá-la como um
indicador para quantificar o progresso de um país em direção ao desenvolvimento
sustentável, ecoeficiência é “mais bem-estar com menos natureza” (more welfare from
less nature) (LEHNI, 2000).
Em outros termos, ecoeficiência significa gerar mais produtos e serviços com
menor uso dos recursos e diminuição da geração de resíduos e poluentes. Considerada
dessa forma, a ecoeficiência tem conseguido grande aceitação no meio empresarial,
embora possa ser também ser observada, mais recentemente, a publicação de diversos
trabalhos ressaltando as limitações dessa ferramenta. Uma das principais razões que
explica a sua popularidade junto ao setor empresarial é o fato de que a ecoeficiência não
impõe limites ao crescimento e não envolve restrições a qualquer tipo de atividade
industrial. Como afirmam Holidday et al. (2002), seu objetivo é o crescimento mais
eficiente a partir de uma abordagem de negócios que minimizem os impactos ambientais.
Na prática, essa abordagem possibilita que uma organização seja considerada
ecoeficiente ao conseguir reduzir sua poluição relativa, ainda que, em termos absolutos,
esta tenha aumentado.
Tal flexibilidade mostra-se compatível com as formas atuais de conduzir os
negócios, baseadas nas mudanças incrementais da eficiência dos processos, propiciando
maior interesse por parte das empresas em implementar estratégias de ecoeficiência em
sua gestão. De fato, inúmeros estudos têm demonstrado que, tanto no setor industrial
como de serviços, estratégias de ecoeficiência têm propiciado reduções significativas nos
custos com matéria-prima e energia. No entanto, para seus críticos, não se pode creditar
à ecoeficiência a potencialidade para a concretização de desenvolvimento sustentável.
Segundo a OCDE, para que a ecoeficiência alcançasse tal objetivo, seria necessário um
aumento em mais de 10 vezes na produtividade média dos recursos nos países
industrializados nos próximos 30 anos, de forma que se assegurasse uma expansão da
produção a partir de cada vez menos recursos naturais (DAY, 2004).
O próprio Day (ibid.) contesta essa visão otimista, ressaltando que os ganhos
obtidos nas últimas décadas, na eficiência dos processos, não foram suficientes para
compensar o aumento em termos absolutos do consumo de recursos. Segundo o autor,
economias altamente industrializadas, como Estados Unidos, Alemanha e Japão,
4
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
conseguiram expressivos aumentos da produtividade de recursos, o que favoreceu a
redução em cerca de 20% da intensidade de materiais em relação ao PIB nos últimos 20
anos. No entanto, o consumo total de recursos nesses países aumentou 27,7% no
mesmo período. O mesmo raciocínio é válido em relação ao consumo de energia.
Enquanto, nos Estados Unidos, projeta-se um aumento de 20% do consumo de energia
para os próximos 20 anos, na Ásia estima-se um crescimento em mais de 40% para o
mesmo período.
Ainda para Day (ibid.), as mudanças incrementais propiciadas pelos ganhos de
ecoeficiência seriam um passo importante, mas não suficiente para alcançar o
desenvolvimento sustentável. O verdadeiro desafio está na incorporação contínua de um
processo de inovação baseado na transformação radical das tecnologias, garantindo
novos processos e produtos, ao invés de concentrar-se apenas na melhoria dos
processos atuais. Ainda segundo o autor, o problema não está no conceito de
ecoeficiência e sim em sua aplicação. Segundo ele, o conceito atual de ecoeficiência é
suficientemente amplo para incorporar os desafios da sustentabilidade, uma vez que inclui
mudanças no processo e na inovação nos produtos.
Segundo o Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, a
ecoeficiência é composta por sete elementos: redução da intensidade do material;
redução da intensidade de energia; redução de emissão de substâncias tóxicas; aumento
da reciclabilidade; maximização do uso de fontes renováveis; aumento da durabilidade
dos produtos; e aumento da intensidade de serviços (HOLLIDAY et al., 2002).
Esses elementos mostram claramente que a ecoeficiência não se limita a
mudanças incrementais no uso de recursos. Em muitos casos, isso significa vender
serviços no lugar de produtos, o que possibilita ao consumidor ter suas necessidades
atendidas com menos emprego de recursos.
É o caso da parceria da empresa suíça Mobility com a Ferrovia Federal Suíça. Ao
usuário, oferece-se um sistema de compartilhamento de automóveis que permite ao
credenciado utilizar um automóvel estacionado em lugares predefinidos durante
determinado tempo e, por meio de uma parceria com a empresa ferroviária suíça,
disponibiliza-se para os interssados tarifas promocionais para o uso de trem. O resultado
dessa iniciativa é a mudança do comportamento dos usuários na atividade de transporte,
utilizando muito mais os serviços ferroviários do que o automóvel. Além disso, usuários
5
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
freqüentes desse serviço consomem, em média, menos da metade de combustível por
ano, quando comparados aos proprietários de automóveis. Para a empresa ferroviária, a
principal vantagem é o aumento do uso dos serviços por parte dos usuários do sistema
(LEHNI, 2000).
Para Day (2004), no entanto, o que prevalece na maior parte das organizações
empresariais é uma ênfase na eficiência do processo como sinônimo de ecoeficiência,
enquanto o desenvolvimento de novos produtos e novos serviços continua a ocupar uma
posição secundária. Nesse sentido, uma aplicação parcial do conceito de ecoeficiência
não pode ser confundida com o desenvolvimento sustentável. Além disso, é importante
frisar que a ecoeficiência não trabalha com todas as variáveis presentes no debate atual
sobre sustentabilidade socioambiental corporativa. Trata-se de um conceito que relaciona
apenas duas dimensões: econômica e ambiental. A variável social, elemento fundamental
do tripple bottom line, não está incluída. Apesar desses limites, a ecoeficiência é uma
ferramenta fundamental para as estratégias das organizações, particularmente para as
atividades de serviços, que apresentam elevado potencial de gerar impacto ambiental,
como no caso dos hospitais.
SERVIÇO HOSPITALAR E OS IMPACTOS AMBIENTAIS
O setor hospitalar tem uma importância econômica cada vez maior nos países
desenvolvidos. Uma pesquisa apresentada por Davies e Lowe (1999), nos Estados
Unidos, mostrou que o setor é responsável por empregar um em cada nove
trabalhadores, gerando gastos de um a cada sete dólares na economia. Além disso, essa
atividade emprega cerca de 10.000 milhões de pessoas, inclusos 200.000 consultórios
médicos, 100.000 consultórios odontológicos, 20.000 laboratórios, 10.000 casas de saúde
e 8.000 clínicas.
Além de sua importância econômica, o modo particular de funcionamento dos
hospitais envolve uma gama de atividades que apresenta grande potencial para a
geração de impactos ambientais. Essas organizações operam 24 horas por dia, 365 dias
no ano, possuem equipamentos diversos para a produção de alimentos, consomem óleo
combustível para a geração de energia e demandam também uma variedade de outros
recursos comuns em quantidades consideráveis, incluindo borracha, plásticos e produtos
6
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
do papel. Nesse contexto, os hospitais executam funções muitas vezes semelhantes
àquelas encontradas na indústria, tais como lavanderia, transporte, limpeza, alimentação,
processamento fotográfico, entre outras. Porém, de forma distinta de outras atividades,
seja industrial ou de serviços, os hospitais consomem grande quantidade de produtos
médicos descartáveis, que são usados para impedir a transmissão das doenças para
seus médicos, pacientes e funcionários.
Com essas características presentes, os hospitais, em sua operação, geram, de
um lado, uma grande quantidade de resíduo e, de outro, demandam grande quantidade
de recursos como energia elétrica e água. Davies e Lowe (ibid.) citam que a geração de
resíduos pelo setor é significativa e constante, durante todo ano. Embora, segundo Velez
(2004), 85% dos resíduos de um hospital possam ser reciclados, os 15% restantes são
constituídos por materiais infectantes e perigosos, demandando cuidados especiais para
seu manuseio e destinação. É o caso de seringas utilizadas, anestésico, desinfetantes,
reagentes e resíduos radioativos, entre outros.
Para a maior parte dos resíduos considerados perigosos, a principal alternativa
tem sido a incineração, resultando em emissões atmosféricas oriundas dos equipamentos
de queima. Dados de EWG (1997, apud DAVIES e LOWE, 1999), os EUA possuem 2.400
incineradores nos próprios hospitais, sendo que 2/3 (1.600) não empregam nenhum tipo
de dispositivo de controle de poluição.
Os dados disponíveis no Guia de Ecoeficiência para Hospitais também indicam o
potencial impacto ambiental dessa atividade com relação ao consumo de energia e água.
Velez (2004) aponta que o consumo de energia é bastante diversificado, incluindo
atividades de iluminação, ar condicionado, caldeiras e cozinhas, o que faz com que esse
recurso, na ausência de qualquer plano racionalização, possa representar de 15 a 30% do
faturamento da organização. Por sua vez, Davies et al. (1999), relatam que o elevado
consumo de energia dos hospitais norte-americanos contribui para que essas unidades
apresentem o segundo maior consumo entre todos os prédios comerciais, sendo que os
indicadores disponíveis revelam que o consumo de energia elétrica média é de 240
kWh/m2/ano.
7
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O uso de água também é diversificado, incluindo instalações sanitárias, tanto para
pacientes como para visitantes, lavanderia, limpeza de instalações, restaurantes e jardins.
Os indicadores disponíveis indicam que o total de consumo é muito variável, dependendo
do grau de desenvolvimento do país. Na Dinamarca, por exemplo, o consumo de água fria
por cama/dia chega a registrar quase 600 litros, enquanto na Áustria esse valor alcança
200 l/c/d. Já quando se compara o consumo de água quente em hospitais nos Estados
Unidos e países do leste Europeu, a diferença é de 340 para 110 l/c/d (VELEZ, 2004).
Se a preocupação em construir indicadores de desempenho ambiental já está
presente em muitos países, no caso brasileiro há ainda um longo caminho para se
quantificar corretamente o impacto ambiental associado à atividade hospitalar. De fato,
até o início de 1990, não havia nenhuma preocupação maior com os resíduos
hospitalares, quando comparados os resíduos em geral, ainda que seu potencial de gerar
danos socioambientais fosse bem mais elevado. Eram acondicionados de qualquer
maneira, em geral em sacos impermeáveis, mas também em outros invólucros, sendo
que o local de armazenamento temporário era a céu aberto, sujeitos as intempéries, aos
animais, que, muitas vezes, espalhavam resíduos pelas áreas externas dos hospitais
(DIAS, 2004, p. 25).
Tal preocupação com o manuseio diferenciado dos resíduos hospitalares, segundo
Dias (ibid.), só surgiu a partir do momento em que o paciente passou a ser visto como
consumidor e a exigir um tratamento diferenciado, passando a participar ativamente de
todas as ações que eram realizadas para a recuperação de sua saúde. Ainda segundo a
autora, o surgimento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – AIDS obrigou os
profissionais da saúde a reverem seus procedimentos em relação aos resíduos e sua
contribuição na cadeia de transmissão de doenças. Os materiais perfuro-cortantes
adquiriram enorme importância nesse contexto, exigindo medidas cautelosas em seu
descarte.
Atualmente, a legislação brasileira, por meio de resolução da Comissão Nacional
de Meio Ambiente - CONAMA (283/2001), exige que qualquer unidade que execute
atividades de natureza médico-assistencial humana ou animal possua um Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos da Saúde – RSS, do mesmo modo que a Resolução
33/2003 da ANVISA.
8
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
No entanto, segundo Dias (ibid.), há um conflito entre as resoluções CONAMA e
ANVISA, embora seja inegável o mérito de estabelecer as primeiras diretrizes sobre o
manejo dos RSS e de provocar discussões a respeito. Ainda assim, essa falta de
consenso entre as duas resoluções demonstra que não há uma solução única para o
problema. Para o cumprimento do que estabelece a legislação, os hospitais,
normalmente, delegam essa atividade de gerenciamento para o serviço de higiene e
limpeza, fato esse passível de questionamento, tendo em vista a necessidade do
envolvimento de todos os colaboradores. Souza (2003, apud Dias, 2004), preconiza que
os profissionais que atuam nesse processo não têm uma abordagem ambiental na sua
formação, sendo esta técnica, específica, e não proporciona o preparo necessário que
possibilite as condições que garantam a minimização dos riscos ambientais internos e
externos.
Com relação ao gerenciamento de água, tanto no que se refere ao consumo desse
recurso como o tratamento dos efluentes gerados, poucas são as iniciativas voltadas à
implementação de ações para a utilização racional da água e tratamento adequado antes
de seu descarte. Nesse contexto, com base nas informações obtidas junto à bibliografia
existente sobre o assunto e o desenvolvimento dos estudos de caso, foi construído um
quadro-resumo contendo alguns exemplos de setores e atividades, seus principais
aspectos e impacto dos hospitais. Cabe ainda salientar que os setores comuns a outras
atividades econômicas, tais como recepção, estacionamento, área verde, restaurante e
cozinha, administração, loja de conveniência, manutenção, lavanderia, utilidades, sistema
de incêndio, entre outros, não foram alvo de estudo no quadro abaixo.
9
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A partir dos dados apresentados, identifica-se a necessidade de aprimorar ações
de gestão ambiental nas organizações. Importa destacar que algumas iniciativas em
curso, desenvolvidas em alguns hospitais, indicam a potencialidade da aplicação da
ecoeficiência nessas organizações. Induzidos por uma legislação mais rigorosa e por um
aumento de custos de operação com alguns recursos como água e energia, alguns
hospitais estão implementando ações que estão conseguindo conciliar benefícios
econômicos com melhoria do desempenho ambiental. Alguns exemplos são os casos do
10
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Hospital Pablo Tobón Uribe e do Hospital Infantil Clínica Noel, ambos instalados na
Colômbia, e do Complexo Hospital das Clínicas de São Paulo, entre outros.
Esses hospitais, conforme registrado pelo Centro Nacional de Produção Mais
Limpa e Tecnologias Ambientais de Medelin (2001), Colômbia, e pelo relatório da
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2002), Brasil, lograram, por
meio da adoção da ecoeficiência, de ações preventivas e de programas educativos,
reduzir a geração de resíduos totais e infectantes. Além disso, registraram uma
significativa diminuição no consumo de água e energia por paciente atendido.
Autores como Neto (2001), Novaes (1994) e Azevedo (1993) relatam medidas
possíveis de serem adotadas por organizações hospitalares de forma a conciliar ganhos
econômicos e ambientais. Com respeito às medidas mais recomendadas e mais
significativas, destacam-se:
Modernizar os elevadores: nos serviços hospitalares, os elevadores
representam um altíssimo consumo de energia;
Desligar ar condicionado, quando não é necessária a sua utilização;
Utilizar gases nas caldeiras para pré-aquecer a água: economizar
gás para o aquecimento da água, bem como identificar se existem excessos de
oxigênio nas caldeiras para a combustão;
Utilizar somente um chiller (sistema de refrigeração de água).
Normalmente usam-se dois chiller’s para esfriar a água dos sistemas de ar
condicionado. Sempre que estão ligados, recomenda-se usar somente um, quando
o sistema não está trabalhando com capacidade máxima;
Isolar os circuitos e instalar interruptores de tal forma que se possa
apagar as luzes de diferentes áreas quando elas não são necessárias; também se
recomenda a instalação de sensores de movimento e/ou temporizadores para
controlar a iluminação;
Substituir a iluminação padrão por luzes de alta eficiência em áreas
comuns e instalar lâmpadas de alto rendimento em áreas de trabalho; redesenhar
11
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
os sistemas de iluminação de acordo com as necessidades de cada área
específica e montar um programa de economia de energia;
Regular o fluxo de água através da instalação de sistemas
economizadores em lavabos, chuveiros, áreas de limpeza e sanitários. Substituir
as válvulas hidras convencionais, por válvulas econômicas, diminuir o volume de
descarga, substituindo as caixas de descarga de 12 litros por caixas de 6 litros;
Implementar uma política de não aceitação de produtos embalados
em materiais não recicláveis e melhorar continuamente o manejo de resíduos
sólidos. Evitar a mistura de resíduos perigosos com resíduos contaminados.
Os exemplos citados mostram algumas das perspectivas para as atividades
hospitalares no sentido de garantir ganhos econômicos e ambientais. Ainda assim, no
Brasil, esse debate é incipiente, sendo que a maior parte dos administradores desses
empreendimentos está pouco sensibilizada com relação à adoção de práticas de
ecoeficiência em suas atividades. Nesse contexto, apresentam-se a seguir três estudos
de caso objetivando discutir desafios e perspectivas para a ecoeficiência nos hospitais.
ESTUDOS DE CASOS
As organizações pesquisadas são formadas por dois hospitais particulares e um
hospital público e possuem, pelo menos teoricamente, riscos acentuados de impactos
ambientais. Foram realizados contatos telefônicos e visitas sistemáticas para o
levantamento dos dados. No presente estudo, os nomes das organizações e seus
respondentes permaneceram anônimos, respeitando-se a identidade e o sigilo necessário
para a não exposição dos pesquisados. Cabe ressaltar que, pelo fato de a presente
pesquisa ser exploratória, possuindo limitações, há necessidade de cautela na
generalização dos resultados, merecendo por isso estudos complementares, bem como
uma análise mais apurada dos resultados obtidos.
A pesquisa foi realizada na cidade de Santo André, localizada a sudoeste da
Região Metropolitana de São Paulo, Brasil. Santo André vive, economicamente, um
período de transição, sendo que seu forte passado industrial cede hoje lugar à
convivência entre indústrias remanescentes, que se modernizam poupando mão-de-obra,
12
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
e um setor terciário em expansão. Como ocorreu na Região do ABC, levantamentos de
dados e indicadores econômicos revelam uma grande desconcentração industrial no
município, prevalecendo com forte crescimento o setor de serviços, que assume papel
estratégico no processo de reestruturação produtiva hoje discutido na região. Segundo
dados da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC (1999), as indústrias no
município são responsáveis por 23% da mão-de-obra formalmente ocupada, enquanto o
setor de serviços, incluso atividades de construção civil, comércio e administração pública
assumem a responsabilidade por 77%, sinalizando e fortalecendo sua importância na
economia local.
Com relação aos números de hospitais existentes na região, Nascimento (2002)
cita que a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir 1989 e a muncipalização dos
serviços de saúde fez com que a região metropolitana de São Paulo, como as demais
regiões do Brasil, enfrentasse novos desafios para a gestão do sistema de saúde. Os
grandes investimentos necessários nessa área, no que se refere a equipamentos de alta
tecnologia e exames sofisticados, representam grandes desafios para as finanças
municipais.
Nesse contexto, é necessário mencionar que as três organizações estudadas
apresentam diferentes realidades, portanto, distintas soluções para o tratamento do tema
ecoeficiência, pois se encontram em diferentes patamares de gestão, no entanto, estão
sujeitas à legislação e às obrigações quanto ao gerenciamento de resíduos perigosos.
Cabe salientar, ainda, que os três hospitais apresentam as mesmas características e
similaridade de atividades, portanto, são considerados hospitais gerais.
Ainda assim, dos três hospitais, apenas os dois, particulares, estão no nível de
oferecer aos seus pacientes serviços de hotelaria hospitalar. Segundo Torres (2001), essa
modalidade de serviço é conceituada como a reunião de todos os serviços de apoio,
associada a serviços específicos, que, juntos, oferecem aos clientes internos e externos
conforto, segurança e bem-estar durante seu período de internação/atividade. O conceito
de hotelaria hospitalar nasceu no Brasil há pouco mais de uma década, com o surgimento
de alguns fatores que forçaram essa necessidade emergente. Já o Hospital público não
se enquadra nessa classificação por não oferecer os mesmos serviços. No entanto, tem
uma característica distinta das outras organizações por ser hospital/escola, utilizado para
13
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
residência médica da Faculdade de Medicina do ABC, o que contribui para a análise dos
dados em discrepância ante os demais casos estudados.
Para a medida de comparação da avaliação do desempenho ambiental dos
hospitais foram utilizados os indicadores propostos pelo Guía Sectorial de Producción
Mas Limpia: Hospitales, Clínicas y Centros de Salud (MEDELIN, 2001), em função de
carência de estudos no país sobre performance ambiental em hospitais. Como resultado,
definiram-se os seguintes indicadores: resíduos sólidos (kg/leito/dia); resíduos sólidos
infectantes (kg/leito/dia); consumo total de água quente e fria (m3/leito/dia); e consumo de
energia elétrica (kwh/leito/dia). O quadro abaixo mostra os resultados alcançados dos
indicadores selecionados em diferentes países e regiões:
Os dados mencionados no quadro a seguir resumem os resultados obtidos pela
pesquisa junto aos três hospitais, apresentando-se depois uma análise individual de cada
um dos indicadores selecionados.
14
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ENERGIA ELÉTRICA
Para a obtenção do indicador relacionado ao consumo de energia elétrica, foi usada a
seguinte fórmula:
Os dados retratam percentuais diferenciados de performance em relação ao item
consumo de energia. No hospital A, o consumo de energia é na ordem de 35,83
Kw/h/leito/dia; 63,9% superior ao consumo do hospital B e 113% superior aos dados
coletados no hospital C.
Segundo informações coletadas junto aos respondentes, a significativa diferença
entre os indicadores explica-se em função dos aspectos de hotelaria hospitalar, que uma
ou outra organização oferece aos seus clientes. O hospital A, conforme explicações
anteriores, conta com um número maior de equipamentos eletroeletrônicos, bem como
outros equipamentos que promovem o conforto dos pacientes, portanto, consumindo mais
energia. Os dados comprovam que, na medida em que é maior a oferta de conforto e de
atividades de serviços diferenciadas de exames, o consumo de energia aumenta.
Com relação aos indicadores definidos com base em estudos de casos
internacionais correlatos e referências obtidas junto ao Centro Nacional de Producción
15
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Más Limpia y Tecnologias Ambientales, os três casos estudados demonstram baixa
performance, enquanto o valor típico estabelecido pelo Quadro 2 é de 6,6 Kw/h/leito/dia.
O hospital A apresenta como valor 35,83 Kw/h/leito/dia; o hospital B, 21,86 Kw/h/leito/dia;
e o hospital C, 16,80 Kw/h/leito/dia, sendo este último o que mais se aproxima do valor
típico estabelecido pelo manual, porém, assim mesmo, um valor quase três vezes maior.
ÁGUA
Para a obtenção do indicador relacionado ao consumo de água foi usada a
seguinte fórmula:
Os dados retratam percentuais de performance próximos nos hospitais privados
(hospital A e B), em relação ao tema consumo de água. Enquanto, no hospital A, o
consumo de água é da ordem de 0,5 m3/leito/dia, o hospital B apresenta 0,4 m3/leito/dia.
O que se destaca nesses números é referente ao consumo de água no hospital C,
público, cujo indicador obtido é de 0,85 m3/leito/dia, ou seja, 112% maior do que o
consumo do hospital B. Esse fato pode ser explicado em função da existência de
atividades de lavanderia, que, embora terceirizadas, permanecem ainda dentro de suas
instalações, consumindo água.
Também quando comparados esses números com os dados internacionais
disponíveis, nota-se que o desempenho das três organizações estudadas apresentam
baixa performance, pois o número estabelecido pelo Centro de Estudos é de 0,2
m3/leito/dia, enquanto o hospital A apresenta, como valor, 0,5 m3/leito/dia; o hospital B
apresenta 0,4 m3/leito/dia; e o hospital C, 0,85 m3/leito/dia. Cabe destacar que, entre os
casos estudados, o valor registrado como melhor desempenho é o dobro daquele
estabelecido como valor típico.
16
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
RESÍDUOS TOTAIS
Para a obtenção do indicador relacionado à geração de resíduos totais, foi usada a
seguinte fórmula:
Os dados retratam percentuais diferenciados de performance em relação ao item
geração de resíduos totais. Registra-se que, no hospital A, a geração de resíduos é na
ordem de 5,5 kg/leito/dia; 18% inferior à geração do hospital B (6,5 kg/leito/dia) e 1.164%
inferior aos dados coletados no hospital C (64,07 kg/leito/dia). O hospital público gera
aproximadamente doze vezes mais resíduo leito/dia do que os privados, tidos como
parâmetro.
Segundo os dados quantitativos coletados junto aos informantes, a significativa
diferença existente entre os indicadores pode ser explicada em função do controle mais
rigoroso e pleno que a atividade privada deve ter, em função dos custos oriundos para a
destinação adequada e para o cumprimento da legislação. O hospital A, conforme
explicações anteriores, apresenta um sistema implementado de gerenciamento de
resíduos, bem como indicadores de performance medidos mensalmente. Nesse aspecto,
o hospital A apresenta medidas corretivas de gerenciamento, porém não apresenta
medidas preventivas e educativas relacionadas à geração de resíduos.
No comparativo, em relação à geração de resíduos totais, o menor valor típico
estabelecido pelo Guia Setorial é de 0,14 – 3,5 kg/leito/dia, valor resultante de estudos
realizados na Ásia, Oriente Médio e África, conforme apresentado no Quadro 2. Com
relação ao maior valor típico, estabelecido pelo Guia Setorial, registra-se 8,46 kg/leito/dia,
resultado de estudos realizados nos Estados Unidos da América.
Os resultados da pesquisa dos três casos estudados apresentam os seguintes
valores: o hospital A gera resíduos na ordem de 5,5 kg/leito/dia; o hospital B, 6,5
kg/leito/dia; e o hospital C, 64,07 kg/leito/dia. Portanto, os resultados apresentados pelos
hospitais privados estão acima dos menores valores típicos estabelecidos pelo Guia,
17
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
porém abaixo do maior valor. Quanto ao hospital público, o valor é mais de 60 vezes
maior do que o menor valor e sete vezes maior do que o maior valor apresentado como
indicador típico.
RESÍDUOS INFECTANTES
Para a obtenção do indicador relacionado à geração de resíduos infectantes, foi
usada a seguinte fórmula:
Com relação aos resíduos infectantes gerados pelas organizações pesquisadas, a
situação não é diferente, apresentando indicadores diferenciados de performance
equivalentes aos dados obtidos com relação aos resíduos sólidos. Enquanto, no hospital
A, a geração de resíduos é da ordem de 1,0 kg/leito/dia, 150% inferior à geração do
hospital B (2,5 kg/leito/dia), os dados coletados no hospital C (50,5 kg/leito/dia)
apresentam-se 50 vezes maiores que os do hospital A.
Segundo os dados qualitativos coletados junto aos informantes, a significativa
diferença existente entre os indicadores pode se justificar, como ocorre com os resíduos
totais, devido ao controle mais rigoroso a que estão sujeitos os empreendimentos
privados e aos custos para cumprir a legislação e destinar adequadamente seus resíduos.
O hospital A, como já apontado anteriormente, apresenta um sistema implementado de
gerenciamento de resíduos, bem como indicadores de performance medidos
mensalmente. Nesse aspecto, apresenta medidas corretivas de gerenciamento, apesar de
não dispor de medidas preventivas e educativas com relação à geração.
Quanto à geração de resíduos infectantes, o menor valor típico estabelecido pelo
Guia Setorial é de 0,01 – 0,2 kg/leito/dia, valor resultante de estudos nos Estados Unidos.
Com relação ao maior valor típico estabelecido pelo Guia Setorial, os valores encontrados
na França, Bélgica e Inglaterra variaram de 1,5 - 2 kg/leito/dia. Os três casos estudados
apresentam os seguintes resultados: o hospital A gera resíduos infectantes na ordem de
18
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
1,0 kg/leito/dia; o hospital B, 2,5 kg/leito/dia; e o Hospital C, 50,32 kg/leito/dia. Os
hospitais privados apresentam, se comparados aos maiores valores típicos, resultados
satisfatórios, com destaque para o hospital A; porém, o hospital público estudado possui
um número 25 vezes maior do que o maior valor estabelecido pelo Guia.
A partir dos dados apresentados, percebe-se que os desempenhos dos hospitais
estudados nos indicadores avaliados apresentam uma baixa performance, como no caso
da energia elétrica e da água. Já o que se refere aos resíduos totais e infectantes, o
desempenho é mais próximo aos dados internacionais.
Ainda que os dados levantados no hospital público possam dar a impressão de
que os hospitais privados têm uma preocupação maior com o gerenciamento de seus
recursos, de forma a garantir melhor desempenho econômico e ambiental, a pesquisa
revelou que, de forma geral, estratégias efetivas de ecoeficiência estão ausente dos
modelos de gestão em hospitais. Esse fato torna-se mais evidente quando se analisam os
dados referentes à energia e à água, uma vez que estas são variáveis muito mais
recentes nas decisões dos administradores hospitalares.
Se, para resíduos, já há uma legislação em vigor desde 1990, o que tem levado os
hospitais a procurar alternativas para destinar adequadamente os resíduos, é possível
inferir que a mesma sensibilização para a questão da água e da energia não está
presente nos processos de tomada de decisão dos hospitais no país. Nesse sentido, não
é surpresa que, nesses indicadores, os resultados sejam bem superiores aos disponíveis
na literatura e em casos internacionais, indicando que há inúmeras possibilidades para os
hospitais analisados, no sentido de melhoria de seus indicadores ambientais a partir da
implementação efetiva de estratégias de ecoeficiência.
CONCLUSÕES
A ecoeficiência vem ocupando um espaço cada vez maior nos debates sobre
como conciliar desempenho econômico e compromisso ambiental. Há diversas razões
que explicam o maior interesse pela ferramenta. Em primeiro lugar, o aumento de custos
com recursos naturais torna cada vez mais evidente, para os gestores empresariais, a
necessidade de adotar estratégias de racionalização do consumo desses insumos. Em
19
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
segundo lugar, o avanço tecnológico evidencia que a implementação de ações que
restrinjam os impactos ambientais pode gerar benefícios referentes à competitividade das
atividades empresariais.
Enfim, deve-se destacar o fato de a ecoeficiência ser uma ferramenta compatível à
lógica da atividade empresarial. Ela não impõe limites ao crescimento e não envolve
restrições a qualquer tipo de produto ou processo, limitando-se ao objetivo de tornar o
empreendimento mais competitivo e, ao mesmo tempo, minimizar seus impactos
ambientais. Esta última característica da ecoeficiência tem gerado algumas críticas, no
que tange à supervalorização dessa ferramenta pelo setor empresarial, como instrumento
suficiente para alcançar o desenvolvimento sustentável.
Embora tal crítica não possa desprezada, inúmeros exemplos têm mostrado a
potencialidade dessa ferramenta em gerar benefícios econômicos e ambientais. Importa
destacar que o emprego dessa estratégia, que até o início dos anos 90 esteve
praticamente restrito ao âmbito empresarial, começa a ocorrer também no setor de
serviços. Isso é fundamental, pois quanto mais esse o setor se afirma, na sociedade pós-
industrial, como principal vetor de geração de riquezas e emprego, também maior é a sua
contribuição para o agravamento dos impactos ambientais.
Isso é particularmente verdadeiro para a atividade hospitalar, uma vez que
desempenha um papel central na mitigação ou na expansão dos impactos
socioambientais associados ao setor. A pesquisa revelou que, até o início da década de
90, a geração de resíduos produzidos pelos hospitais não era alvo de muita preocupação
e, principalmente, a sua disposição final por parte dos profissionais da saúde e nem do
poder público. Uma conscientização maior surgiu apenas em função da mudança do
comportamento dos usuários desses serviços e do surgimento da Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida – AIDS, obrigando todos os envolvidos no processo a
reavaliarem seus procedimentos.
Uma das principais razões para isso estaria, como mencionado ao longo deste
trabalho, no fato de que o tema ambiental é ainda pouco abordado no processo de
capacitação e formação dos profissionais da área da saúde. Tal afirmação parece
confirmada, pelo menos considerando as informações levantadas nos hospitais
analisados. Nesse quadro, a incorporação de estratégias de ecoeficiência poderia
melhorar bastante o desempenho dos indicadores analisados, potencializando ganhos
20
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
econômicos e ambientais, e aproximando o valor de tais indicadores daqueles disponíveis
no cenário internacional.
Quanto às organizações estudadas, é preciso mencionar que apresentaram
diferentes realidades, portanto, distintas soluções para o tratamento do tema
ecoeficiência, pois estavam em diferentes patamares de gestão. Identificou-se, também,
que entre os três hospitais analisados, destaca-se o hospital particular com características
de hotelaria, cujo processo de ecoeficiência possui sinais de implementação, embora
seus gestores não tenham ciência do tema.
Além disso, o hospital público é um destaque negativo ante os demais hospitais,
em todos os quesitos englobados na pesquisa, pois apresenta indicadores de
performance em níveis bem mais baixos do as demais organizações.
Embora este estudo não tenha esgotado todas as possibilidades ante sua
complexidade temática, acredita-se que possa contribuir para que as instituições
hospitalares considerem a possibilidade de adoção de um efetivo plano de gerenciamento
ambiental e o desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada à prevenção,
resultando em benefícios nos campos econômico, ambiental e social.
Para alcançar tais resultados, considera-se que o desenvolvimento de modelos de
gestão em atividades de serviço e, particularmente, em hospitais deverão valorizar cada
vez mais a ecoeficiência como um de seus pilares em seus processos de tomada de
decisão.
21
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO ABC (1999). Atividade
Econômica nos anos 90 no Grande ABC. Caderno de Pesquisa, n. 3 e 4. Santo
André.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA - RDC n. 33, de 25/02/
2003.
AZEVEDO, Antonio Carlos (1993). Indicadores de Qualidade e Produtividade em Serviços de Saúde. Informativo CQH. Faculdade de Saúde Pública, USP. Departamento de Prática de Saúde Pública. Administração Hospitalar. São Paulo: Associação de Medicina,.
CONAMA – CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (2001). Resolução número 283/2001, de 01 de outubro.
CENTRO NACIONAL DE PRODUCCIÓN MÁS LIMPIA y TECNOLOGIAS AMBIENTALES
(2001). Guia Sectorial de Producción Mas Limpia: Hospitales, Clínicas y
Centros de Salud. Medelin.
DAVIES, Torrey e LOWE, I. Adam (1999). Environmental Implications of the Health
Care Service Sector. Discussion Paper 00-01. October
DEMAJOROVIC, Jacques (2003). Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental: perspectivas para educação corporativa. São Paulo: Editora Senac.
DAY, Robert M. (1998). Beyond Eco-Eficiency: Sustainability as a Driver for Innovation. PERSPECTIVES, global leadership, mar.
DIAS, Marlene Martins Dias (2002). Aplicação de Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira para um turismo sustentável. Monografia (Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental) – Faculdade de Educação Ambiental. São Paulo, Centro Universitário SENAC.
DIAS, Maria Antonia de Andrade (2004). Resíduos dos serviços de saúde e a contribuição do hospital para a preservação do meio ambiente. Revista Academia de Enfermagem. Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem – ABESE, v. 2, n. 2. São Paulo: Demais Editora.
GODOI, Adalto Felix de (2004). Hotelaria Hospitalar e humanização no atendimento
em hospitais: pensando e fazendo. São Paulo: Ícone.
HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Sthephan e WATTS, Philip (2002). Cumprindo
o prometido: casos de sucesso de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro: Campos.
LEHNI, Markus (2000). Eco-efficiency: creating more value with less impact.
Switzerland: WBCSD.
NASCIMENTO, Vânia Barbosa do (2001). A metrópole paulista e a saúde. São Paulo em
Perspectiva, (jan.) pp. 112-116. São Paulo.
22
Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
NETO, Milton Menezes da Costa (2001). Instrumento de avaliação para hospital geral
de pequeno porte. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde,.
NOVAES, Humberto de Moraes (1994). Padrões: Indicadores de qualidade para
hospitais. Brasil – Washington, D.C.: OPAS.
SOUZA, Marco Antonio de (2001). Proposta sistemática para melhoria do
desempenho ambiental em processos hospitalares. Dissertação de Mestrado
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis.
SCHMIDHEINY, Stephan (1992). Mudando o rumo: uma perspectiva empresarial
global sobre desenvolvimento e meio ambiente. Rio de Janeiro: Editora da
Fundação Getúlio Vargas.
TORRES, Silvana (2001). Limpeza e higiene, lavanderia hospitalar. 2 ed. ver. e ampl.
São Paulo: CLR Balleiro.
VELEZ, Carolina (2004). Guia sectorial de production mas limpia: hospitales,
clinicas e centros de salud. Centro Nacional de Produção Más Limpia y
Tecnologias Ambientales. Disponível em www.cnpml.org. Acesso em 20/04.
http://www.sabesp.com.br/a_sabesp/estatuto/default.htm. Acesso 22/02/2004.
Artigo recebido em 22.11.2005. Aprovado em 21.03.2006.
23
HOSPITAL ACTIVITIES: ENVIRONMENTAL IMPACT AND
ECOEFFICIENCY STRATEGIES Artur Ferreira de Toledo¹; Jacques Demajorovic²
¹Coordinator of the course in Environmental Management Technology at the Centro Universitário Santo André; ²Coordinator of the Bachelor’s Degree in Environmental Management at the Centro Universitário SENAC.
ABSTRACT
The service sector presents a variety of environmental aspects that, depending on the
activity, may have a significant impact on the environment. Its users are consuming
resources such as energy and water on a daily basis and generating a great deal of solid
waste and effluents. However, the number of studies that have been published that allow
us to adequately quantify the environmental impact of service activities is still small. Even
so, for some sectors these data are beginning to be made available in such a way as to
allow us to build up a more realistic picture of the potential environmental impact of these
organizations. The hotel industry, banking sector and hospitals are examples of some of
the sectors that provide us with more information on this issue. This work discusses the
main environmental impacts generated by the hospital sector and highlights the possible
ecoefficiency strategies that can lead to improvements in environmental management in
this particular activity. In the final part of the article we look at three case studies that were
developed in hospitals located in the Greater Metropolitan Region of Sao Paulo. The
results of this research revealed some of the main environmental performance indicators
relating to water, solid waste and energy and also highlighted some of the main challenges
to the effective introduction of an ecoefficiency strategy for the sector.
Key words: Hospitals; ecoefficiency; environmental impact; environmental management.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=41
©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the
secretarial department: [email protected]
1
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
INTRODUCTION
Ecoefficiency has been playing an increasingly important role in the
environmental management strategies of organizations. Pressured by restrictive
legislation and because of an increase in the costs of natural resources, a growing
number of companies have overcome the paradigm that prevailed until the 80s that
the environment and competitiveness are antagonistic variables. This tool,
however, which until the mid-90s was, for all practical purposes, restricted to the
business sector, is beginning to be increasingly employed in the service sector,
also.
In the current stage in which the world economy finds itself recognition of this tool
in the service sector is fundamental for mitigating the impacts on the business sector as a
whole. At the end of the day, a large part of the wealth generated in the economy
originates from this sector. In the United States, for example, the service sector, which
includes a huge range of activities, such as restaurants, hospitals, banking institutions and
others, represented 75% of GDP in 1997, nearly US$ 3.8 trillion, and accounted for 80% of
all employment (GUILE et al. 1997, mentioned by DAVIES et al., 2000). In Brazil, which is
going in the same direction, the service sector already responds for nearly 60% of national
GDP (Dias, 2002).
These numbers, showing the economic relevance of the service sector, do not,
however, account for the increase in the environmental impact associated with expansion
of these activities. To a greater or lesser extent, every activity in the service sector
generates environmental impacts in its day to day operations; these include energy and
water consumption, the generation of solid waste and effluents, air pollution and
alterations in ecosystems and natural environments. Many of these impacts could be
avoided, or restricted, if these activities incorporated measures for rationalizing natural
resources.
Hospital activities are among the countless types of service industry that can play a
central role in mitigating, or expanding, the socio-environmental impacts associated with
the sector. of all service activities, hospitals are one of the main consumers of electrical
energy, in addition to generating a significant quantity of waste. in this context
2
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
ecoefficiency constitutes an essential tool, so that hospital activities may also reconcile
greater economic efficiency with reduced environmental impact. this article analyses the
main environmental impacts associated with hospital activities, by highlighting how
ecoefficiency is being incorporated into these undertakings. in the final part we present a
case study that includes three hospitals located in the municipality of santo andré and
debate the prospects for incorporating an ecoefficiency strategy into the decision making
process in the management of hospital units.
ECOEFFICIENCY
Over the last twenty years, or so, in parallel with the debate on sustainable
development, a series of tools, aimed at making socio-environmental responsibility a
reality within the business sphere have been discussed, such as clean production,
pollution prevention and ecoefficiency. Of all of them, ecoefficiency is the one that has
been receiving special attention over the last few years. It is interesting to note that this is
not such a recent debate since, according to Lehni (2000), the term ecoefficiency was
used for the first time by the researchers, Schaltegger and Sturm in 1990.
In this process an important contribution was made with the publication of the book,
Changing Course, by Stephan Schmidheiny. The author, founder of the World Business
Council for Sustainable Development, defended a change of perception on the part of the
business sector with regard to the socio-environmental variable. Instead of placing itself
exclusively in the position of agent of the degradation process, the business sector could
perform a crucial role in solving the challenges of global sustainability (LEHNI, 2000). This
would only occur, however, if it was possible to base business strategies on alternatives
that would reconcile environmental and economic improvements. In this sense the search
for ecoefficiency would allow the business sector to turn such objectives into a reality.
Since the publication of Changing Course, the concept of ecoefficiency has been
continuously remodeled. In the book an ecoefficient company is one that manages to
generate products and services with greater added value, while at the same time ensuring
a reduction in the consumption of resources and less pollution generation (LEHNI, 2000).
For the OECD ecoefficiency was defined as the efficiency with which ecological resources
are used to meet human needs, its results being obtained from the value of the products
3
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
and services generated by a company, economic sector, or even a country, divided by the
sum of the environmental pressures generated by the companies and sectors. For the
European Environmental Agency (EEA), on the other hand, which intends to use it as an
indicator to quantify the progress of a country towards sustainable development,
ecoefficiency is “more welfare from less nature” (LEHNI, 2000).
In other words, ecoefficiency means generating more products and services with
less use of resources and a decrease in the generation of waste and pollutants.
Considered in this way, ecoefficiency has managed to be accepted in a big way in the
business environment, although more recently we have also seen the publication of
various works pointing out the limitations of this particular tool. One of the main reasons
explaining its popularity with the business sector is the fact that ecoefficiency imposes no
limits on growth and does not involve restrictions as to the type of industrial activity. As
Holliday et al. (2002) state, its objective is more efficient growth from an approach to
business that minimizes environmental impacts. In practice this approach makes it
possible for an organization to be considered ecoefficient when it manages to reduce its
pollution emissions in relative terms, even though in absolute terms they have increased.
Such flexibility has proved to be compatible with current ways of doing business,
based on incremental changes in process efficiency, thereby making companies more
interested in introducing ecoefficiency strategies into their management practices. In fact,
countless studies have shown that both in the industrial sector, as well as in the service
sector ecoefficiency strategies have led to significant reductions in spending on raw
materials and energy. However, to its critics, ecoefficiency cannot be credited with the
potential for turning sustainable development into a reality. According to the OECD, in
order for ecoefficiency to achieve this objective, the average productivity of resources in
industrialized countries would need to increase more than tenfold over the next 30 years,
in such a way as to ensure an expansion of production, while using increasingly fewer
natural resources (DAY, 2004).
Day (ibid.) himself questions this optimistic vision, by pointing out that the gains
obtained over the last few decades in process efficiency were not enough to compensate
for the increase in absolute terms of resource consumption. According to the author, highly
industrialized economies, such as the United States, Germany and Japan, have managed
to obtain considerable increases in resource productivity, which over the last 20 years has
4
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
favored a reduction by nearly 20% in materials intensity in relation to GDP. However, total
consumption of resources in these countries increased 27.7% in the same period. The
same reasoning is valid for energy consumption. While in the United States it is planned
that energy consumption will increase by 20% over the next 20 years, in Asia growth of
more than 40% is estimated for the same period.
For Day (ibid.) incremental changes brought about by ecoefficiency gains would be
an important step, but not sufficient to achieve sustainable development. The real
challenge lies in the continuous incorporation of an innovation process based on the
radical transformation of technology, thereby guaranteeing new processes and products,
instead of concentrating only on improving current processes. Also according to the
author, the problem is not in the concept of ecoefficiency, but in its application. In his
opinion, the current concept of ecoefficiency is sufficiently broad to incorporate the
challenges of sustainability, since it includes process change and product innovation.
According to the World Business Council for Sustainable Development,
ecoefficiency comprises seven elements: a reduction in materials intensity; a reduction in
energy intensity; a reduction in the emission of toxic substances; an increase in
recyclability; maximization of the use of renewable sources; an increase in product
durability; and an increase in service intensity (HOLLIDAY et al., 2002).
These elements clearly show that ecoefficiency is not limited to incremental
changes in the use of resources. In many cases this means selling services in place of
products, which makes it possible for the consumer to have his needs met with less use of
resources.
Such is the case of the partnership of the Swiss company, Mobility, with the Swiss
Federal Railway. To the user Mobility offers an automobile sharing system that allows the
registered person to use an automobile parked in predefined places for a certain period of
time, and via its partnership with the Swiss railway company it makes reduced fares
available on the trains for those who are interested. The result of this initiative is a change
in the behavior of users of the transport system, who now use the rail services much more
than their automobiles. Furthermore, frequent users of this service consume on average
less than half the fuel per year when compared to the owners of automobiles. For the rail
company the main advantage is an increase in the use of their services because of those
who use this system (LEHNI, 2000).
5
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
For Day (2004), however, what prevails in the majority of business organizations is
an emphasis on process efficiency, as a synonym of ecoefficiency, while the development
of new products and new services continues to occupy a secondary position. In this sense
a partial application of the concept of ecoeffciency cannot be confused with sustainable
development. Furthermore, it is important to underline that ecoefficiency does not work
with all the variables that are present in the current debate about corporate socio-
environmental sustainability. This is a concept that brings together only two dimensions:
economic and environmental. The social variable, a fundamental element of the triple
bottom line, is not included. Despite these limits ecoefficiency is a fundamental tool when it
comes to organizational strategy, particularly in those service activities that present a
considerable potential for generating an environmental impact, as is the case with
hospitals.
HOSPITAL SERVICES AND ENVIRONMENTAL IMPACTS
The hospital sector has a growing economic importance in developed countries.
Research presented by Davies and Lowe (1999) in the United States showed that the
sector is responsible for employing one in every nine employees and accounts for one in
every seven dollars that is spent in the economy. Furthermore, this activity employs nearly
10 million people, and includes 200,000 medical consulting rooms, 100,000 odontological
consulting rooms, 20,000 laboratories, 10,000 hospitals and 8,000 clinics.
Besides their economic importance the particular way that hospitals function
involves a range of activities that present great potential for causing an environmental
impact. These organizations operate 24 hours a day, 365 days a year, have various pieces
of equipment for producing food, consume fuel oil for generating energy and also demand
a variety of other common resources in considerable quantities, including rubber, plastics
and paper products. In this context hospitals carry out functions that are often similar to
those found in industry, such as laundry, transport, cleaning, food, photographic
processing, and others. What is different from other activities, however, be they in the
industrial or service sectors, is that hospitals consume great quantities of disposable
medical products that are used to prevent the transmission of diseases to their doctors,
patients and employees.
6
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Because of these characteristics, in their operations hospitals generate, on the one
hand, a great quantity of waste, and on the other demand a great quantity of resources,
such as electrical energy and water. Davies and Lowe (ibid.) mention that the generation
of waste by the sector is significant and constant throughout the year. According to Velez
(2004) while 85% of the waste from a hospital can be recycled the remaining 15% is made
up of infectious and dangerous material that demands special care when handling and
disposing of. Such is the case, among other things, of used syringes, anesthetics,
disinfectants, reagents and radioactive waste.
For the major part of the waste considered to be dangerous the main alternative
has been incineration, resulting in atmospheric emissions that issue from the equipment
used for burning it. Data from EWG (1997, after DAVIES and LOWE, 1999), show that the
USA has 2,400 hospital incinerators, of which 2/3rds (1600) use no type of device for
controlling pollution.
Data available from the Ecoefficiency Guide for Hospitals also indicate the potential
environmental impact of this activity as far as the consumption of energy and water is
concerned. Velez (2004) points out that the consumption of energy is fairly diversified,
including lighting, air conditioning, boilers and kitchen activities, which means that in the
absence of any plan for its rationalization this resource may account for between 15-30%
of the organization’s revenue. Likewise, Davies et al. (1999), report that the high energy
consumption of North American hospitals contributes to the fact that these units present
the second highest consumption of all commercial buildings, with available indicators
revealing that their average electricity consumption is 240 kWh/m2/per year.
The use of water is also varied and includes sanitary installations, both for patients
as well as for their visitors, laundry, the cleaning of installations and restaurants and the
watering of gardens. The available indicators show that total consumption is very variable
and depends on the degree of development of the country. In Denmark, for example, the
consumption of cold water per bed/day is almost 600 liters, while in Austria this figure is
200 l/bed/day. When we come to compare the consumption of hot water in hospitals in the
United States and countries in Eastern Europe the difference varies from 340 to 110
l/bed/day (VELEZ, 2004).
7
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
If there is already a concern in many countries with building up the indicators of
environmental performance, in Brazil there is still a long way to go before we correctly
quantify the environmental impact associated with hospital activities. In fact, until the
beginning of 1990 there was no great concern with hospital waste, compared to waste in
general, even though its potential for causing socio-environmental damage is a great deal
higher. It was handled and packed in any way whatsoever, generally in water-proof sacks,
but also in other types of container, and local temporary storage was in the open air,
exposed to the elements and subject to animals that often scattered the waste around the
external areas of the hospitals (DIAS, 2004, p. 25).
According to Dias (ibid.), this concern with a different way of handling hospital
waste only arose when the patient came to be seen as a consumer who demanded
differentiated treatment and started to actively participate in everything that was done to
set him or her back on the road to full health. Also, according to the author, the rise of
Acquired Immune Deficiency Syndrome – AIDS - obliged health professionals to review
their procedures with regard to waste and its contribution to the disease transmission
chain. Perforating and cutting materials acquired an enormous importance in this context,
demanding special care when it came to disposing of them.
Currently, Brazilian legislation, by means of a resolution from the National
Environmental Commission - CONAMA (283/2001), demands that all units that carry out
activities of a human or animal medical assistance nature have a Plan for Managing Solid
Waste in the Health Area (RSS), in the same way as Resolution 33/2003 of ANVISA
[National Sanitary Vigilance Agency].
According to Dias (ibid.), however, there is a conflict between the CONAMA and
ANVISA resolutions, although the merit of establishing the first directives on the handling
of RSS and of provoking discussion of the subject is undeniable. Even so, this lack of
agreement between the two resolutions shows that there is no single solution to the
problem. In order to fulfill what the legislation lays down, hospitals normally delegate this
particular management activity to a hygiene and cleaning service, which in itself is a
questionable move, in view of the need for involving all employees. Souza (2003, after
DIAS, 2004) says that the professionals who are actively involved in this process have no
8
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
environmental aspect to their training, which is technical and specific and does not provide
them with the necessary preparation that makes it possible to guarantee minimization of
internal and external environmental risks.
With regard to the management of water, both as far as the consumption of this
resource is concerned, as well as the treatment of the effluents that are generated, there
are few initiatives directed at the introduction of actions for its rational use and suitable
treatment before it is discarded. In this context, based on the information obtained from the
bibliography existing on this subject and the development of the case studies, a Figure
was constructed that summarizes some of the examples from different sectors and
activities, their main aspects and the impact hospitals have. We also must emphasize that
sectors that are common in other economic activities, such as reception, car parking,
green area, restaurant and kitchen, administration, convenience store, maintenance,
laundry, utilities, fire prevention system, and others, were not the subject of the study in
the figure below.
9
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
From the data presented we identified that there is a need to improve
environmental management actions in organizations. It is important to highlight that some
of the current initiatives in hospitals indicate that there is a potential for applying
ecoefficiency in these organizations. As a result of more rigorous legislation and
persuaded by an increase in operating costs with resources such as water and energy,
some hospitals are introducing actions that manage to reconcile economic benefits with
improvements in environmental performance. Examples of this are the Pablo Tobón Uribe
Hospital and the Noel Child Clinical Hospital, both in Colombia, and the Sao Paulo Clinical
Hospital Complex, among others.
10
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
As recorded by the Medelin National Center for Cleaner Production and
Environmental Technologies (2001), Colombia, and the report of the Basic Sanitation
Company of the State of Sao Paulo [CETESB] (2002), Brazil, these hospitals succeeded in
reducing the amount of total and infectious waste they generated by means of
ecoefficiency initiatives, preventive actions and educational programs. Furthermore, they
recorded a significant decrease in the consumption of water and energy per patient
handled.
Authors like Neto (2001), Novaes (1994) and Azevedo (1993) report on the
possible measures that may be adopted by hospital organizations to reconcile economic
gains with environmental gains. The following stand out as being the most recommended
and most significant measures:
Modernize elevators: in hospital services elevators consume an extremely high
amount of energy;
Switch off air conditioning when its use is unnecessary;
Use gas in boilers to pre-heat the water: economize gas for heating water and
identify if there is excess oxygen in the boilers for combustion purposes;
Use only one chiller (water cooling system). Normally two chillers are used to cool
the water in the air conditioning system. Every time it is switched on it is
recommended that only one chiller be used when the system is not working at full
capacity;
Isolate circuits and install switches in such a way that the lights in different areas
may be switched off when they are unnecessary; the installation of movement
sensors and/or time switches for controlling lighting is also recommended;
Substitute standard lighting for highly efficient lights in public areas and install high
performance lamps. In working areas, redesign the lighting systems according to
the needs of each specific area and prepare an energy economy program;
Regulate the flow of water by installing economy systems in wash-rooms, showers,
cleaning areas and rest-rooms. Substitute conventional valves for economy valves
11
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
to reduce the volume of water when flushing the toilet, and substitute 12 liter
cisterns for 6 liter ones;
Introduce a policy of non-acceptance of products packaged in non-recyclable
materials and continuously improve the handling of solid waste. Avoid mixing
dangerous waste with contaminated waste.
The examples mentioned show some of the things that hospitals can do to
guarantee they have both economic and environmental gains. Even so, in Brazil this
debate is just beginning and the majority of the managers of these undertakings are fairly
insensitive to the need to adopt ecoefficiency practices in their activities. It is within this
context that, with the aim of discussing the challenges and prospects for ecoefficiency in
hospitals, we present the following three case studies.
CASE STUDIES
The organizations we researched comprise one public and two private hospitals
and they present, at least theoretically, a high risk of environmental impacts. We had
contact with them by telephone and we visited them personally in order to collect the data.
In this study the names of the organizations that took part in the research and their
respondents are not revealed, thus respecting their identity and providing the necessary
secrecy. It must be emphasized that because this research is exploratory and has its
limitations, it is necessary to be cautious when it comes to making any generalizations
about the results; the research merits complementary studies and a more detailed analysis
of the results.
The research was done in the city of Santo André, which is located in the
Metropolitan Region of Sao Paulo, Brazil. Economically Santo André is going through a
transitional period. Today, its strong industrial past is giving way to a situation where the
remaining industries that are modernizing, and thus economizing labor, coexist alongside
a tertiary sector that is expanding. As happened in the ABC Region, the economic data
and indicators reveal a great industrial deconcentration in the municipality, where a
strongly growing service sector, a sector that is assuming a strategic role in the process of
production restructuring that is today under discussion in the region, is prevailing.
12
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
According to data from the Economic Development Agency for the ABC Region (1999),
industry in the area is responsible for 23% of the formally employed labor force, while the
service sector, including civil construction, commerce and public administration activities,
is responsible for 77%, thus indicating its importance within the local economy and
strengthening its position.
With regard to the number of hospitals in the region, nascimento (2002) mentions
that the creation of the single health system (sus) in 1989 and the municipalization of
health services have meant that the metropolitan region of sao paulo, along with other
regions in brazil, has been facing new challenges when it comes to managing its health
system. the major investments necessary in this area, as far as high technology equipment
and sophisticated examinations are concerned, are a great challenge for municipal
finances.
In this context we need to mention that the three organizations studied present
different realities, and therefore different solutions when it comes to dealing with the theme
of ecoefficiency, because they are at different levels of management development. They
are, however, all subject to the same legislation and obligations as far as the management
of dangerous waste is concerned. We also need to emphasis that the three hospitals
present the same characteristics and have similar activities and are therefore considered
to be general hospitals.
Even so, of the three hospitals, only the two private ones are at a level that allows
them to offer their patients hotel hospital services. According to Torres (2001) this type of
service is conceived of as bringing together all the support services, in association with
specific services, and which together offer comfort, security and well-being to both internal
and external customers during their period of internment/activity. The hotel hospital
concept arrived on the scene in Brazil a little more than ten years ago, when some factors
occurred that forced this emergent need. The public hospital, on the other hand, does not
fit into this classification because it does not offer the same services. It does, however,
have a characteristic that differentiates it from the other organizations; it is a
hospital/school, used for medical residency by the ABC Faculty of Medicine, which leads
to some discrepancies in the data analyzed when compared to the other cases we studied.
13
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
In order to measure the comparison between the environmental performance
evaluations of the hospitals we used the indicators proposed by the Sector Guide for
Cleaner Production: Hospitals, Clinics and Health Centers (Medelin, 2001), because of a
lack of studies in this country on environmental performance in hospitals. As a result we
defined the following indicators: solid waste (kg/bed/day), infectious solid waste
(kg/bed/day), total consumption of hot and cold water (m3/bed/day) and consumption of
electrical energy (kwh/bed/day). The following figure gives the results of the indicators
selected for different countries and regions:
The data mentioned in the table below summarize the results obtained from the
research into the three hospitals. this is followed by an individual analysis of each of the
indicators we selected.
14
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Electrical energy
To obtain the indicator relating to the consumption of electrical energy we used the
following formula:
The data provide us with the different performance percentages relating to energy
consumption. in hospital a, energy consumption is of the order of 35.83 kw/h/bed/day,
63.9% greater than the consumption of hospital b and 113% greater than the data
collected from hospital c.
According to the information we collected from the respondents the significant
difference between the indicators can be explained by the hotel hospital aspects of
service, which one or another organization offers to its customers. hospital a, as explained
previously, has a larger number of items of electro-electronic equipment, as well as other
pieces of equipment that add to the comfort of the patients, but consume more energy. the
data prove that as hospitals offer greater comfort and different examination services, so
energy consumption increases.
In comparison with the indicators we defined from our study of correlated
international cases and the references obtained from the National Center of Cleaner
15
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Production and Environmental Technologies, where the typical value for Figure 2 is 6.6
Kw/h/bed/day, the three cases we studied proved to have a poor performance; hospital A’s
value is 35.83 Kw/h/bed/ day, hospital B’s, 21.86 Kw/h/bed/day and hospital C’s, 16.80
Kw/h/bed/day. The latter is the closest to the typical value established by the manual,
although even so it is a value that is almost three times greater.
Water
To obtain the indicator relating to water consumption we used the following
formula:
The data provide us with performance percentages in the private hospitals
(hospitals a and b), with regard to water consumption, which are very close. while in
hospital a water consumption is around 0.5 m3/bed/day, hospital b’s is 0.4 m3/bed/day.
what stands out from these numbers is the water consumption in hospital c, the public one,
the indicator of which is 0.85 m3/bed/day, or 112% greater than the consumption of
hospital b. this fact may be explained by the existence of laundry activities, which,
although they are outsourced, are still on hospital premises, thus consuming water.
Also when we compare these numbers with the international data available, we
note that the performance of the three organizations studied is poor, because the number
established by the Study Center is 0.2 m3/bed/day, while hospital A’s value is 0.5
m3/bed/day, hospital B’s is 0.4 m3/bed/day and hospital C’s is 0.85 m3/bed/day. It is worth
pointing out that, of the cases we studied, the value we recorded as having the best
performance is double that established as a typical value.
Total waste
To obtain the indicator relating to the generation of total waste we used the
following formula:
16
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The data provide the different performance percentages relating to the generation
of total waste. we can see that in hospital a the generation of waste is of the order of 5.5
kg/bed/day, 18% less than that generated by hospital b (6.5 kg/bed/day) and 1,164% less
than data we collected from hospital c (64.07 kg/bed/day). the public hospital generates
approximately twelve times more waste per bed per day than the private ones, which we
have taken as the parameter.
According to the quantitative data we collected from the respondents the significant
difference between the indicators can be explained by the more rigorous and complete
control that any privately owned activity must have because of the costs arising from
appropriate disposal of the waste and in order to comply with the legislation. as we
previously explained, hospital a has a system for managing waste, as well as performance
indicators that are measured on a monthly basis. in this aspect hospital a takes corrective
management measures, but does not take preventive or educational measures relating to
the generation of waste.
In comparative terms, with regard to the generation of total waste the lowest typical
value established by the Sector Guide is 0.14 – 3.5 kg/bed/day, a value resulting from
studies carried out in Asia, the Middle East and Africa, as shown in Figure 2. With regard
to the highest typical value established by the Sector Guide, this is 8.46 kg/bed/day,
registered in studies carried out in the United States.
The results of the research of our three cases give the following values: hospital A
generates waste of the order of 5.5 kg/bed/day, hospital B, 6.5 kg/bed/day and hospital C,
64.07 kg/bed/day. The results from the private hospitals, however, are greater than the
lowest typical values established by the Guide, albeit below the largest value. As for the
public hospital the value is more than 60 times greater than the lowest value and seven
times greater than the largest value shown as a typical indicator.
17
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Infectious waste
To obtain the indicator relating to the generation of infectious waste we used the
following formula:
With regard to the infectious waste generated by the organizations we looked at
the situation is no different, with performance indicators that are the equivalent of the data
obtained for the solid waste. while in hospital a the generation of waste is of the order of
1.0 kg/bed/day, 150% less than that generated by hospital b (2.5 kg/bed/day), the data
collected from hospital c (50.5 kg/bed/day) are 50 times greater than for hospital a.
According to qualitative data collected from the respondents, as with total waste,
the significant difference between the indicators may be justified by the more rigorous
control to which private undertakings are subject and by the costs incurred in complying
with the legislation and disposing of their waste adequately. hospital a, as already pointed
out previously, has a system of waste management, as well as monthly measured
performance indicators. so, it has corrective management measures relating to the
production of waste, despite not having preventive and educational measures.
As far as the generation of infectious waste is concerned the lowest typical value
established by the Sector Guide is 0.01 – 0.2 kg/bed/day, a value resulting from studies in
the United States. With regard to the highest typical value established by the Sector
Guide, the values found in France, Belgium and England varied from 1.5 - 2 kg/bed/day.
The three cases we studied presented the following results: hospital A generates
infectious waste of the order of 1.0 kg/bed/day, hospital B, 2.5 kg/bed/day and hospital C,
50.32 kg/bed/day. The private hospitals, when compared to the largest typical values, offer
satisfactory results, with hospital A standing out, although the public hospital we studied
has a number that is 25 times greater than the largest value established by the Guide.
From the data presented we can see that the performance of the hospitals we
looked at in those indicators we evaluated is poor, as in the case of electrical energy and
18
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
water consumption. When it comes to total and infectious waste the performance is nearer
the international data.
Even though the data collected in the public hospital may give the impression that
the private hospitals have a greater concern with managing their resources in order to
guarantee a better economic and environmental performance, the research revealed that,
generally speaking, these hospitals do not work with management models that have
effective strategies of ecoefficiency. This fact becomes more obvious when we analyze the
data referring to energy and water, since these are much more recent variables in the
decisions of hospital administrators.
If for waste there has been legislation in force since 1990, which has led hospitals
to look for alternatives for appropriately disposing of it, we can infer that there is not the
same sensitivity with regard to the issue of water and energy when it comes to the
decision-making processes of hospitals in Brazil. It is therefore not surprising that in these
Brazilian indicators the results are much higher than those shown in literature and in
international cases, indicating that there are countless possibilities for the hospitals we
analyzed to improve their environmental indicators by effectively introducing ecoefficiency
strategies.
CONCLUSIONS
Ecoefficiency has been occupying an increasingly larger space in the debate on
how to reconcile economic performance and environmental commitment. There are
various reasons that explain the increased interest in this tool. First of all, the hike in
spending on natural resources makes it increasingly evident to business managers of the
need for adopting strategies for rationalizing the consumption of these in-puts. Secondly,
technological advance provides evidence that the introduction of actions that restrict
environmental impacts may generate benefits when it comes to the competitiveness of
business activities.
19
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Finally, we must emphasize the fact that ecoefficiency is a tool that is compatible
with the logic of business activity. It does not impose limits on growth, neither does it
involve restrictions of any type whatsoever; it is limited to its objective of making the
undertaking more competitive, while at the same time minimizing environmental impact.
This latter characteristic of ecoefficiency has generated some criticism; there are those
that allege that the business sector overvalues this tool as being an instrument that is in
itself capable of achieving sustainable development.
Although such a criticism cannot be ignored, countless examples have shown the
potential of this tool for generating economic and environmental benefits. It is important to
emphasize that use of this strategy, which until the 90s was practically restricted to the
business sphere, is beginning to occur also in the service sector. This is fundamental,
because, in the post-industrial society, the more this sector affirms itself as the main vector
for generating wealth and employment, the greater will be its contribution to the situation of
worsening environmental impacts.
This is particularly true for the hospital activity, since it has a central role to play in
mitigating or expanding the socio-environmental impacts associated with the service
sector. the research revealed that until the beginning of the 90s the generation of waste by
hospitals, and in particular its final disposal, was not the target of much concern as far as
health professionals, or even public authorities, were concerned. a greater awareness
arose only because of the change in behavior of users of these services and the
appearance of acquired immune deficiency syndrome, which obliged all those involved to
re-evaluate their procedures.
As has been mentioned throughout this work, one of the main reasons for this is
the fact that the environmental issue is still little dealt with in the process of training and
preparing professionals for the health area. Such a statement appears to have been
confirmed, at least when we consider the information collected in the hospitals we
analyzed. In this situation the incorporation of strategies of ecoefficiency may considerably
improve the performance in the indicators we analyzed, which in turn will lead to economic
and environmental gains and bring the value of these indicators closer to the values to be
found in the international scenario.
20
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
As for the organizations we studied, we need to mention that, because they are at
different levels of management development, they presented different realities and
therefore require different solutions for dealing with ecoefficiency issues. We also identified
that between the three hospitals we analyzed the private hospital with hotel characteristics
stood out; it shows all the signs of introducing a process of ecoefficiency, although its
managers have no knowledge of the subject.
Furthermore, the situation of the public hospital is negative when compared with
the other hospitals in all the issues covered in this research, because it has lower
performance indicators than those in the other organizations.
Although this study has not exhausted all the possibilities of this complex subject
we believe that it can make a contribution, so that hospital institutions can start to consider
the possibility of adopting an effective plan for environmental management and the
development of an organizational culture directed at prevention, thereby resulting in
benefits in the economic, environmental and social fields.
To achieve these results we consider that the development of management models
in service activities, and in particular in hospitals, should increasingly value ecoefficiency
as one of the pillars of its decision making processes.
21
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
REFERENCES
AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO ABC (1999). Atividade
Econômica nos anos 90 no Grande ABC. Caderno de Pesquisa, n. 3 e 4. Santo
André.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA - RDC n. 33, de 25/02/
2003.
AZEVEDO, Antonio Carlos (1993). Indicadores de Qualidade e Produtividade em Serviços
de Saúde. Informativo CQH. Faculdade de Saúde Pública, USP. Departamento
de Prática de Saúde Pública. Administração Hospitalar. São Paulo: Associação de
Medicina,.
CONAMA – CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (2001). Resolução número 283/2001, de 01 de outubro.
CENTRO NACIONAL DE PRODUCCIÓN MÁS LIMPIA y TECNOLOGIAS AMBIENTALES
(2001). Guia Sectorial de Producción Mas Limpia: Hospitales, Clínicas y
Centros de Salud. Medelin.
DAVIES, Torrey e LOWE, I. Adam (1999). Environmental Implications of the Health
Care Service Sector. Discussion Paper 00-01. October
DEMAJOROVIC, Jacques (2003). Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental: perspectivas para educação corporativa. São Paulo: Editora Senac.
DAY, Robert M. (1998). Beyond Eco-Eficiency: Sustainability as a Driver for Innovation. PERSPECTIVES, global leadership, mar.
DIAS, Marlene Martins Dias (2002). Aplicação de Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira para um turismo sustentável. Monografia (Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental) – Faculdade de Educação Ambiental. São Paulo, Centro Universitário SENAC.
DIAS, Maria Antonia de Andrade (2004). Resíduos dos serviços de saúde e a contribuição do hospital para a preservação do meio ambiente. Revista Academia de Enfermagem. Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem – ABESE, v. 2, n. 2. São Paulo: Demais Editora.
GODOI, Adalto Felix de (2004). Hotelaria Hospitalar e humanização no atendimento
em hospitais: pensando e fazendo. São Paulo: Ícone.
22
Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Sthephan e WATTS, Philip (2002). Cumprindo
o prometido: casos de sucesso de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro: Campos.
LEHNI, Markus (2000). Eco-efficiency: creating more value with less impact.
Switzerland: WBCSD.
NASCIMENTO, Vânia Barbosa do (2001). A metrópole paulista e a saúde. São Paulo em
Perspectiva, (jan.) pp. 112-116. São Paulo.
NETO, Milton Menezes da Costa (2001). Instrumento de avaliação para hospital geral
de pequeno porte. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde,.
NOVAES, Humberto de Moraes (1994). Padrões: Indicadores de qualidade para
hospitais. Brasil – Washington, D.C.: OPAS.
SOUZA, Marco Antonio de (2001). Proposta sistemática para melhoria do
desempenho ambiental em processos hospitalares. Dissertação de Mestrado
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis.
SCHMIDHEINY, Stephan (1992). Mudando o rumo: uma perspectiva empresarial
global sobre desenvolvimento e meio ambiente. Rio de Janeiro: Editora da
Fundação Getúlio Vargas.
TORRES, Silvana (2001). Limpeza e higiene, lavanderia hospitalar. 2 ed. ver. e ampl.
São Paulo: CLR Balleiro.
VELEZ, Carolina (2004). Guia sectorial de production mas limpia: hospitales,
clinicas e centros de salud. Centro Nacional de Produção Más Limpia y
Tecnologias Ambientales. Disponível em www.cnpml.org. Acesso em 20/04.
http://www.sabesp.com.br/a_sabesp/estatuto/default.htm. Acesso 22/02/2004.
Article received on 22.11.2005. Approved on 21.03.2006.
23
A QUALIDADE DO AR DE INTERIORES E A SAÚDE HUMANA Maria de Fátima Barrozo da Costa1; Marco Antonio Ferreira Costa2
1 Doutora em Saúde Pública. Pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / Fundação Oswaldo Cruz; [email protected] 2 Doutor em Ensino de Biociências e Saúde. Professor e Pesquisador
da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / Fundação Oswaldo Cruz; [email protected]
RESUMO
Os crescentes questionamentos sobre a qualidade do ar de interiores no Brasil e a
necessidade do entendimento dos fatores que contribuem para sua complexidade e suas
relações com a saúde humana tornaram-se temas de estudos relevantes para a saúde
pública em nosso país. Este texto objetiva contextualizar a poluição do ar de interiores
como um fator de risco à saúde humana, apresentando os principais fatores que
contribuem para a qualidade do ar de interiores e os possíveis agentes causadores de
agravos à saúde, enfatizando a necessidade de se estabelecer indicadores que possam
ser utilizados na prevenção, controle e promoção da saúde humana em tais ambientes.
Palavras-chave: qualidade do ar de interiores; saúde humana; síndrome do edifício
doente; doença do ambiente interno.
.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=28
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
O impacto da qualidade do ar de interiores sobre a saúde e o bem-estar das
pessoas que utilizam ou trabalham em ambientes aclimatados artificialmente tem sido
tema de pesquisas na área da Saúde Pública desde 1970 (WHO, 2000).
Os modernos edifícios, aclimatados artificialmente, projetados para oferecer o
máximo de conforto a seus ocupantes, muitas vezes com arrojados projetos
arquitetônicos, podem estar criando um ambiente ameaçador à saúde humana. Vários
estudos têm atribuído à má qualidade do ar interior a incidência de relatos de queixas
entre os ocupantes desses locais, relativas à saúde e ao desconforto ambiental, como
também, elevado número de absenteísmo, temperamento alterado, insatisfação e baixo
rendimento no trabalho (GIODA & NETO, 2003; HOJO et al., 2005).
Os ambientes aclimatados artificialmente são considerados ambientes complexos,
em virtude da infinidade de componentes químicos (substâncias tóxicas, carcinogênicas,
radioativas) e biológicos (microrganismos patogênicos) emitidos por diversas fontes, e
que, dependendo das condições físicas (umidade do ar, temperatura do ar, ventilação
inadequada) do ambiente, podem estar interagindo entre si. Além disso, vários estudos
têm evidenciado que o ar interior dos ambientes fechados pode ser mais poluente do que
o ar exterior (LEE et al., 2006).
Diante da relevância do tema e pelo fato de existirem poucos estudos no Brasil
nesta importante área da Saúde Pública, ressalta-se a necessidade de desenvolver
programas de estudos da qualidade do ar de interiores, dentro de um contexto multi-
interdisciplinar, visando contribuir para um melhor entendimento da questão e para o
delineamento de indicadores que potencializem a saúde e o bem-estar dos ocupantes em
tais ambientes.
Assim, em função da dimensão e complexidade da temática, este texto objetiva
contextualizar a poluição do ar de interiores como um fator de risco à saúde humana.
2
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A EPIDEMIOLOGIA DOS AMBIENTES ACLIMATADOS ARTIFICIALMENTE
Em virtude da complexidade da composição do ar interior em ambientes
aclimatados artificialmente, da especificidade dos poluentes e da susceptibilidade dos
seres humanos a esses poluentes, os estudos epidemiológicos têm sido apontados, no
âmbito científico, como uma ferramenta eficaz na visualização dos primeiros sinais de
alerta da má qualidade do ar de interiores.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no ano de 1982 os sintomas e
sinais relatados por mais de 20 por cento dos ocupantes de ambientes aclimatados
artificialmente, podendo desaparecer ou não quando eles deixavam o local, foram
conceituados como “Síndrome do Edifício Doente” (Sick Building Syndrome). Esses
sintomas e sinais inespecíficos relacionados com a Síndrome do Edifício Doente
envolvem, por exemplo: dor de cabeça; tonteira; náusea; apatia; sonolência; cansaço;
fraqueza; dificuldade de concentração; urticária, irritação e secura na pele; falta de ar;
chiado no peito; coriza; irritação no nariz e na garganta; dor de garganta, irritação, ardor e
lacrimejamento nos olhos (WHO, 1983).
Nessas colocações, os pesquisadores Costa e Brickus (2000) evidenciaram,
através de um estudo epidemiológico envolvendo um shopping center aclimatado
artificialmente, localizado na região do Grande Rio, maior prevalência de sintomas e
sinais referentes à “Síndrome do Edifício Doente” entre os comerciários desse
estabelecimento em comparação com os comerciários de lojas com ventilação natural.
Dentre os 24 sintomas e sinais avaliados, 17 deles (vista cansada, resfriado ou gripe,
rouquidão, dificuldade de respirar, apatia ou desânimo, dor de garganta e cabeça)
apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos estudados
(p<0,001). A pesquisa apontou, também, que o relato de queixas em relação ao
desconforto ambiental, para as variáveis iluminação, umidade relativa do ar e odor, foi
significativamente maior entre os ocupantes dos ambientes aclimatados artificialmente.
Para o entendimento da complexidade desses ambientes artificiais, os pesquisadores
Costa e Brickus (2000) consideraram os diferentes fatores que podem atuar nas relações
entre o homem e o ambiente, interferindo direta ou indiretamente na saúde humana, como
os: individuais (idade, sexo, hábito de fumar); comportamentais (estresse, irritação,
tristeza, dificuldade de concentração); socioeconômicos (faixa salarial); organizacionais
3
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
(tipo de trabalho); arquitetônicos (sistema de ventilação, refrigeração) e ambientais
(agentes químicos, físicos e biológicos).
Contudo, para associar determinados ambientes fechados com problemas
específicos relativos à saúde dos seus ocupantes, uma comissão da National Research
Council, em 1987, propôs além da “Síndrome do Edifício Doente” outra nomenclatura, ou
seja, “Doença do Ambiente Interno” ou “Doença Relacionada ao Prédio” ou “Edifício
Doente” (Building-Related Illness).
Dessa forma, “Doença do Ambiente Interno” compreende o relato de sintomas e
sinais característicos da exposição a determinadas substâncias químicas (por exemplo,
monóxido de carbono, formaldeído), bem como as doenças provocada por fungos, vírus e
bactérias, que possam ser identificadas no interior dos edifícios.
Os relatos dos sintomas e sinais relacionados com a “Doença do Ambiente
Interno” freqüentemente não desaparecem quando os seus ocupantes deixam o local, e
muitas vezes afetam somente alguns dos seus usuários. Nesse sentido, para se obter
sucesso na atenuação desses relatos de queixas é preciso identificar e remover a fonte
de exposição.
A biblioteca central da Fundação Oswaldo Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, em
1998, pode ser citada como um exemplo de “Edifício Doente”, onde houve uma
contaminação acentuada de fungos, que se propagou graças à precariedade na
manutenção do sistema de ar condicionado central, o que obrigou ao seu fechamento por
um longo período (STRAUZ et al., 2001).
Diante do exposto, verifica-se que a má qualidade do ar de interiores desempenha
importante papel na causalidade dos agravos a saúde. Seguramente, levando em conta
esta constatação, a poluição do ar interior não se restringe apenas aos edifícios de
escritórios (ZURAIMI et al., 2006), mas inclui ambientes não-industriais, como observado
pelos estudos realizados em residências (ALMEIDA, 2004), escolas (RAMACHANDRAN
et al., 2005), hospitais (LEUNG & CHAN, 2006), centros comerciais (COSTA & BRICKUS,
2000), meios de transportes (LAU & CHAN, 2003) e aeroportos (SILVEIRA et al., 2002).
Apesar dos inúmeros trabalhos de pesquisas que vêm sendo realizados por
pesquisadores da Europa e da América do Norte nessa área, a transposição dos dados
4
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
para a realidade brasileira não é indicada, em razão de algumas diferenças, como as
relacionadas a fatores climáticos, e de características típicas de costumes e
comportamentos.
Por isso, seria interessante realizar estudos que visassem ao controle dos fatores
de riscos relacionados aos poluentes do ar interior e dos agravos à saúde, empregando
estudos epidemiológicos e construindo indicadores que permitam uma visão abrangente
da relação entre saúde e ambiente, voltados inteiramente para a realidade brasileira.
Com certeza, esses procedimentos não esgotariam o leque de alternativas
de pesquisas nesses ambientes, mas poderiam gerar conhecimentos e o
desenvolvimento de novas abordagens do problema, contribuindo assim para a
preservação da saúde dos ocupantes desses locais.
AS POSSÍVEIS FONTES POLUENTES E OS AGRAVOS À SAÚDE
Em ambientes industriais, conhecem-se, a priori, os componentes químicos
utilizados, como a matéria-prima, os subprodutos e o produto final, sendo possível, assim,
identificar os poluentes, evidenciar os agravos à saúde decorrentes destes e apontar as
possíveis medidas de prevenção.
Nos ambientes aclimatados artificialmente, “não-industriais”, encontram-se
inúmeras fontes de contaminação que contribuem para a formação da má qualidade do ar
interior, e que podem ser devidas a ventilação inadequada, contaminação interior (fumaça
de cigarro, efluentes do corpo, emissões químicas dos móveis, equipamentos e materiais
de limpeza, cortina, carpete), contaminação exterior (qualidade do ar, veículos, emissões
industriais), contaminação microbiológica (bactérias, fungos) e material de construção.
É preciso ressaltar que a probabilidade de exposições múltiplas devidas à emissão
dessas substâncias para o ar interior em ambientes aclimatados artificialmente é muito
grande. Sabe-se, também, que dependendo da dinâmica dos poluentes e dos parâmetros
físicos presentes nesses ambientes, diferentes efeitos tóxicos (independente, aditivo,
sinérgico, potencializado e antagônico) ao homem podem ser evidenciados. A
possibilidade de efeitos sinérgicos decorrentes de exposições a baixas concentrações tem
sido assinalada pela literatura (HOGUE, 2000).
5
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Além disso, incertezas quanto à potencialidade dos agravos à saúde, em relação a
baixos níveis de poluentes no ar interior e ao tempo de exposição a eles, principalmente
entre as substâncias carcinogênicas e mutagênicas, apontam para a relevância de
estudos envolvendo a qualidade do ar de interiores (BRICKUS et al., 2001; COSTA &
COSTA, 2002).
Assim, os agravos à saúde, decorrentes da poluição do ar interior, podem se
manifestar no organismo imediatamente após a exposição ou possivelmente depois de
anos, como no caso dos carcinogênicos. Vale salientar, também, que uma pessoa pode
se tornar suscetível a determinado poluente depois de exposições repetitivas.
O mapeamento dos poluentes comumente encontrados no ar interior de ambientes
fechados que constituem fatores de riscos à saúde tem revelado a presença de
formaldeído, fumaça de cigarros, ozônio, monóxido de carbono, dióxido de carbono,
dióxido de nitrogênio, amônia, radônio, compostos orgânicos voláteis (benzeno, tolueno,
xilenos, estireno, etilbenzeno, percloroetileno) e semi-voláteis, material particulado
respirável, fibras, asbestos, fungos, bactérias, vírus, ácaros.
Dentre os quinhentos compostos orgânicos voláteis normalmente identificados no
ar interior, pelo menos trinta dessas substâncias são carcinogênicas e mutagênicas
(COSTA & COSTA, 2005). Na população em geral, a fumaça do cigarro relaciona-se à
presença de mais de quatro mil poluentes (sendo cinqüenta comprovadamente
carcinogênicas) e é considerada uma das principais fontes de exposição não-ocupacional
ao benzeno (COSTA et al., 2002).
Além disso, a presença de elevados níveis de compostos orgânicos voláteis no ar
interior, em comparação com o ar exterior, alerta para a importância da questão da
qualidade do ar desses microclimas artificiais, tanto quanto da poluição atmosférica
(KOTZIAS, 2005).
Os riscos à saúde associados à exposição de contaminantes biológicos, como as
bactérias, fungos e ácaros, em ambientes fechados, principalmente para pessoas
alérgicas e/ou com o sistema imunológico debilitado, são freqüentemente enfatizados pela
literatura (BRICKUS et al., 2004). Isso ocorreu, por exemplo, em 1977, envolvendo a
bactéria Legionella pneumophila, que causa um dos tipos mais graves de pneumonia,
com alta taxa de mortalidade (BRICKUS et al., 2001).
6
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A falta de uma política preventiva nos programas de manutenção nos
sistemas de refrigeração e ventilação pode ser fator determinante para a ocorrência de
poluentes biológicos (microrganismos patogênicos) nos dutos do sistema, e
conseqüentemente constituir uma ameaça à saúde dos seus ocupantes. Os agentes
biológicos podem proliferar na água da bandeja de condensação dos aparelhos de ar
condicionado ou nas torres de refrigeração dos sistemas de ventilação. Arrastada pelo ar,
essa água é introduzida no ambiente refrigerado.
Diante desse quadro, o desconforto ambiental e os relatos de queixas
relativas à saúde, decorrentes da má qualidade do ar de interiores, não podem ser
identificados, minimizados e controlados adequadamente sem o uso apropriado de uma
metodologia que dê conta da complexidade de todos os fatores envolvidos. Portanto,
avaliar a questão sob um enfoque interdisciplinar com certeza contribuirá para um melhor
entendimento do problema, levando à reflexão sobre a necessidade de investigações
envolvendo a identificação dos riscos à saúde, ao mapeamento e controle das prováveis
fontes de poluição e ao levantamento dos possíveis poluentes.
PERSPECTIVAS FUTURAS
Na busca de alternativas para os problemas ecológicos e de superpopulação,
muitos arquitetos vêm propondo possíveis soluções através de projetos audaciosos, nos
quais megaedifícios ou cidades verticais seriam interligados por corredores de aço, vidro
e concreto. Assim, no futuro, estima-se que uma pessoa passará toda a vida nesses
ambientes aclimatados artificialmente, onde poderá morar, estudar, praticar esportes,
fazer compras, trabalhar e se divertir.
Atualmente, no Brasil, a temática “qualidade do ar de interiores” ainda é um campo
de estudos emergente. Apesar do crescente interesse da mídia, dos centros científicos do
país e até mesmo de setores do governo, dispomos de poucos trabalhos de pesquisas
envolvendo a qualidade do ar de interiores e legislações sobre microclimas artificiais.
Estudos adicionais são necessários visando à melhoria da qualidade de vida dos
ocupantes desses ambientes, principalmente no que se refere ao questionamento da
necessidade de uma proposta de valor limite (de referência) em ambientes não-
7
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ocupacionais para alguns poluentes presentes no ar interior, especialmente os
carcinogênicos e mutagênicos, pois os padrões industriais, como os Limites de
Tolerância, introduzidos nas Normas Regulamentadoras da Secretaria de Segurança e
Saúde no Trabalho – Ministério do Trabalho (SSST – MTb) não se aplicam a esses
ambientes não-industriais.
É verdade que já contamos com Regulamentações publicadas pelo Ministério da
Saúde/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária, como a Portaria 3.523 (BRASIL, 1998),
que introduziu critérios e procedimentos para limpeza e manutenção dos sistemas de
climatização, e a Resolução nº 9 (BRASIL, 2003) que determina Padrões Referenciais de
Qualidade do Ar de Interiores, em ambientes climatizados artificialmente de uso público e
coletivo. Apesar da relevância dessa resolução, parâmetros imprescindíveis no
estabelecimento de medidas de controle de riscos à saúde, como os compostos orgânicos
voláteis e formaldeídos, não foram contemplados, mas apenas alguns de seus
indicadores (material particulado, dióxido de carbono e temperatura, entre outros).
Deve-se destacar, também, a importância de se investir mais na educação em
saúde, como um instrumento eficaz no processo de conscientização e na luta contínua
para tentar diminuir os agravos à saúde decorrentes dos fatores de riscos gerados pela
exposição de poluentes no ar interior.
As questões relacionadas à qualidade do ar de interiores não devem ser tratadas
linearmente e solucionadas por simples equações matemáticas. É necessário o
envolvimento dos diferentes atores da sociedade e dos serviços de saúde pública, com
base no reconhecimento da incerteza, diante da complexidade e da relevância que
envolvem a temática, no sentido de contribuir para a avaliação e o gerenciamento das
complexas interações do homem, com suas tecnologias e seus ambientes.
Nesse sentido, é preciso intensificar esforços no desenvolvimento de metodologias
dos fatores determinantes e condicionantes dos poluentes do ar interior que interferem na
saúde humana, que poderão gerar ferramentas eficazes no âmbito da Saúde Pública,
contribuindo para a elaboração de políticas voltadas à qualidade do ar de interiores. Da
mesma forma, é preciso estabelecer programas de controle e prevenção dos agravos à
saúde dos ocupantes desses ambientes.
8
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S. M. Mapeamento da qualidade do ar de interiores de residências no Estado
do Rio de Janeiro. 2004. 150p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Escola Nacional de
Saúde Pública. Rio de Janeiro.
BRASIL. Portaria 3.523, de 28 ago. 1998. Brasília: Diário Oficial da União, 31 ago. 1998.
BRASIL. Resolução RE n0 9, de 16 jan. 2003. Brasília: Diário Oficial da União, 20 jan.
2003.
BRICKUS, L. S. R. et al. Fungi surveys in Tropical Southeastern Brazil. In:
INTERNATIONAL BIOAEROSAL CONFERENCE, 5, 2004, New York. Abstract. New
York: s.n., 2004.
BRICKUS, L. S. R. et al. Qualidade do ar de interiores e a saúde pública. Revista
Brasileira de Toxicologia, v.14, p.29-35, 2001.
COSTA, M. F. B.; BRICKUS, L. S. R. The effect of ventilation systems on prevalence of
symptoms associated with sick buildings in brazilian commercial establishments. Archives
of Environmental Health, v.55, p.279-83, 2000.
COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Benzeno: uma questão de saúde pública. Interciencia,
v.27, p.201-4, 2002.
COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Segurança e saúde no trabalho: cidadania,
competitividade e produtividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.
COSTA, M. F. B. et al. A contribuição da fumaça ambiental do cigarro na exposição não-
ocupacional ao benzeno. Revista Brasindoor, v.5, p.14-6, 2002.
GIODA, A.; NETO, F. R. A. Considerações sobre estudos de ambientes industriais e não
industriais no Brasil: uma abordagem comparativa. Caderno de Saúde Pública, v.19,
p.1389-97, 2003.
HOGUE, C. To MBTE or not to MBTE. Chemical and Engineering News, v.78, p.42-6,
2000.
HOJO, S. et al. Use of QEESI questionnaire for a screening study in Japan. Toxicology
and Industrial Health, v.21, p.113-24, 2005.
KOTZIAS, D. Indoor air and human exposure assessment – needs and approaches.
Experimental Toxicology Pathology, v.57, p.5-7, 2005.
9
A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
LAU, W. L.; CHAN, L. Y. Commuter exposure to aromatic VOCs in public transportation
modes in Hong Kong. Science of the Total Environment, v.308, p.143-55, 2003.
LEE, T. et al. Relationship between indoor and outdoor bio-aerosols collected with a
button inhalable aerosol sample in urban homes. Idoor Air, v.16, p.37-47, 2006.
LEUNG, M.; CHAN, A. H. S. Control and management of hospital indoor air quality.
Medical Science Monitor, v.12, p.17-23, 2006.
RAMACHANDRAN, G. et al. Indoor air quality in two urban elementary schools. Journal
Occupational Environmental Hygiene, v.2 p.553-6, 2005.
SILVEIRA, M. G. et al. Concentração de fungos no ar em um terminal aeroportuário na
cidade do Rio de Janeiro – Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v.27, p.111-
20, 2002.
STRAUZ, M. C. et al. Avaliação das condições de saúde e trabalho em ambientes com
acervos documentais. Revista Brasindoor, v.5, p.22, 2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Indoor air pollutants: exposure and health
effects (Euro Reports and Studies, 78). Copenhagen, 1983.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. The right to health indoor air. Bilthoven,
2000.
ZURAIMI, M. S. et al. A comparative study of VOCs in Singapore and European office
buildings. Building and Environment, v.41, p.313-29, 2006.
Artigo recebido em 04.08.2006. Aprovado em 05.10.2006
10
INDOOR AIR QUALITY AND HUMAN HEALTH Maria de Fátima Barrozo da Costa 1; Marco Antonio Ferreira Costa 2
1 Doctor in Public Health. Researcher at the Sérgio Arouca National School of Public Health / Oswaldo Cruz Foundation. 2 Doctor in the Teaching of Biosciences and Health. Professor and Researcher at the Joaquim
Venâncio Polytechnic School of Health / Oswaldo Cruz Foundation.
ABSTRACT
Indoor air quality and the need for understanding the factors that contribute to its
complexity, are an important area of public health. This paper presents a brief discussion
on indoor air pollution as a risk factor to human health, introducing the main factors that
contribute to indoor air quality and the possible agents that promote adverse effects on
human health. The discussion shows that it is necessary to establish indicators that can
become an effective tool in the detection, prevention and promotion of health in such
environments.
Key words: Indoor air quality, Human health, Sick building syndrome, Building-related
illness
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=40
©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the
secretarial department: [email protected]
1
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
INTRODUCTION
The impact of the quality of indoor air on the health and well-being of people that
use or work in artificially climatized buildings has been the theme of research in the Public
Health area since 1970 (WHO, 2000).
Modern, artificially climatized buildings, planned to offer the maximum comfort to
their occupants, and often with bold architectural projects, may be creating an environment
that is a threat to human health. Various studies have attributed the poor quality of indoor
air to the high incidence of complaint reports relating to health and environmental
discomfort received from the occupants of these places, as well as to the high level of
absenteeism, mood changes, dissatisfaction and poor work performance (GIODA &
NETO, 2003; HOJO et al., 2005).
Artificially climatized environments are considered to be complex environments,
because of the infinite number of chemical (toxic, carcinogenic and radioactive
substances) and biological (pathogenic micro-organisms) components, issued by various
sources and which, depending on the physical conditions (air humidity, air temperature,
inadequate ventilation) of the environment, may be interacting among themselves.
Furthermore, various studies have shown that the air in closed environments may pollute
more than the air outside (LEE et al., 2006).
Given the relevance of this subject and because there are few studies in Brazil in
this important area of Public Health, the need to develop studies of indoor air quality within
a multi-disciplinary context has arisen, with the aim of contributing to a better
understanding of the issue and to outlining indicators that lead to an increase in the health
and well-being of the occupants of such environments.
Therefore, because of the dimension and complexity of the subject, this text aims
to establish the context within which indoor air pollution is a human health risk factor.
2
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The epidemiology of artificially climatized environments
Because of the complexity of the composition of air in artificially climatized
environments, the particular nature of the pollutants and the susceptibility of human beings
to these pollutants, epidemiological studies have been indicated in the scientific field as an
effective tool for detecting the first warning signs of poor indoor air quality.
According to the World Health Organization in 1982, the symptoms and signs
reported by more that 20% of the occupants of artificially climatized environments, that
may, or not, disappear when they leave the place, were classified as “sick building
syndrome”. These unspecific symptoms and signs related to sick building syndrome
involve, for example, headaches, dizziness, nausea, apathy, drowsiness, tiredness,
weakness, difficulty in concentrating, urticaria, irritation and dryness of the skin, shortage
of breath, chest noise, nasal catarrh, nose and throat irritation, a sore-throat, irritated,
burning and watering eyes (WHO, 1983).
The researchers, Costa & Brickus (2000), using an epidemiological study involving
an artificially climatized shopping mall, located in the Greater Rio de Janeiro Metropolitan
area, showed evidence of a greater prevalence of symptoms and signs of “sick building
syndrome” among those who work in the stores in this establishment, than among those
working in stores that have natural ventilation. Of the 24 symptoms and signs they
assessed, 17 of them (tired eyes, colds or flu, hoarseness, breathing difficulties, apathy or
lack of enthusiasm, sore throats and headaches, etc) presented statistically significant
differences between the two groups studied (p<0,001). The research also indicated that
the report of complaints about environmental discomfort for the variables, lighting, relative
air humidity and odors, was significantly greater among the occupants of artificially
climatized environments. To understand the complexity of these artificial environments,
researchers Costa & Brickus (2000) considered the different factors that may operate in
the relationship between man and the environment and that interfere directly or indirectly
in human health, such as those that are personal (age, gender, smoking habits);
behavioral (stress, irritation, sadness, difficulty in concentrating); socio-economic (salary
band); organizational (type of work); architectural (ventilation, refrigeration system) and
environmental (chemical, physical and biological agents).
However, in order to associate certain closed environments with specific problems
relative to the health of their occupants, in 1987, in addition to the “sick building
3
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
syndrome”, a committee from the National Research Council proposed another name, i.e.
“building-related illness” or “sick building” syndrome.
“Building-related illness” includes the report of symptoms and signs characteristic
of exposure to certain chemical substances (for example, carbon monoxide,
formaldehyde), as well as illnesses caused by the fungi, viruses and bacteria that can be
identified inside buildings.
Reports of the symptoms and signs related to “building-related illness” indicate that
frequently these do not disappear when the occupants leave the place and often they only
affect some of its users. In this sense, in order to be successful in reducing these
complaint reports it is necessary to identify and remove the source of exposure.
In 1998 the central library of the Oswaldo Cruz Foundation in Rio de Janeiro was
mentioned as an example of a “sick building”, where there was significant fungal
contamination that spread because of the precarious nature of the maintenance of the
central air-conditioning system, obliging the building to be closed for a long period of time
(STRAUZ et al., 2001).
Given the above, we can see that poor indoor air quality plays an important role in
causing damage to health. Taking into consideration this affirmation, there is no doubt that
indoor air pollution is not only restricted to office buildings (ZURAIMI et al., 2006), but also
includes non-industrial environments, as was seen in the studies carried out in residences
(ALMEIDA, 2004), schools (RAMACHANDRAN et al., 2005), hospitals (LEUNG & CHAN,
2006), commercial centers (COSTA & BRICKUS, 2000), means of transport (LAU &
CHAN, 2003) and airports (SILVEIRA et al., 2002).
Despite the countless pieces of research that have been done by European and
North American researchers in this area, transposing data to the Brazilian reality is not an
indicated course of action, because of the differences, such as those relating to climactic
factors and the typical characteristics of customs and behaviors.
Due to this fact it would be interesting to carry out studies aimed at controlling the
risk factors relating to indoor air pollutants and damage to health, using epidemiological
studies and constructing indicators that allow for a broad vision of the health/environment
relationship and that are focused entirely on the Brazilian reality.
4
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
These procedures would undoubtedly not exhaust the raft of research alternatives
into these environments, although they could produce knowledge and lead to the
development of new approaches to the problem, thereby contributing to the preservation of
the health of the occupants of these places.
Possible sources of pollution and damage to health
In industrial environments the chemical components used as raw materials, the
sub-products and the final product are known “a priori” and therefore their pollutants can
be identified, the damage to health arising from them can be demonstrated and possible
prevention measures can be indicated.
In artificially climatized, non-industrial environments, countless sources of
contamination can be found that contribute to the formation of the poor indoor air quality
and that may be due to inadequate ventilation, interior contamination (cigarette smoke,
bodily effluents, chemical emissions from furniture, cleaning equipment and materials,
curtains, carpets), exterior contamination (air quality, vehicles, industrial emissions), micro-
biological contamination (bacteria, fungi) or construction material.
We need to emphasize that the probability of multiple exposure, due to the
emission of these substances into the indoor air of artificially climatized environments, is
very great. It is also known that, depending on the dynamic of the pollutants and the
physical parameters present in these environments, different toxic effects (independent,
additive, synergic, potentialized and antagonistic) on man may be witnessed. The
possibility of synergic effects arising from exposure to low concentrations has been
pointed out in literature (HOGUE, 2000).
On the other hand, uncertainties as to the potential for damage to health in relation
to low levels of pollutants in indoor air and the exposure time to the same, principally
carcinogenic and mutagenic substances, point to the relevance of studies involving the
quality of indoor air (BRICKUS et al., 2001; COSTA & COSTA, 2002).
Therefore, damage to health arising from indoor air pollution may manifest itself in
the organism immediately after exposure, or possibly years after, as in the case of
carcinogens. It is worth pointing out also that a person may become susceptible to a
certain pollutant after repeated exposure.
5
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
Mapping the pollutants commonly found in the air in closed environments that
constitute health risk factors has revealed the presence of formaldehyde, cigarette smoke,
ozone, carbon monoxide, carbon dioxide, nitrogen dioxide, ammonia, radon, volatile
organic compounds (benzene, toluene, xylene, styrene, ethylbenzene,
perchloroethylene??) and semi-volatile compounds, breathable particulate material, fibers,
asbestos, fungi, viruses, bacteria and mites.
Among the 500 volatile organic compounds normally identified in indoor air, at least
30 of these substances are carcinogenic and mutagenic (COSTA & COSTA, 2005). In the
population in general cigarette smoke, due to the presence of their more than 4,000
pollutants (of which 50 are proved to cause cancer), is considered one of the main sources
of non-occupational exposure to benzene (COSTA et al., 2002).
Furthermore, the presence of high levels of volatile organic compounds in indoor
air in comparison with outdoor air, alerts us to the fact that the issue of air quality in these
artificial micro-climates is just as important as the issue of atmospheric pollution
(KOTZIAS, 2005).
The health risks associated with exposure to biological contaminants, like bacteria,
fungi and mites in closed environments, particularly for people who are allergic and/or
have a weakened immunological system, are frequently emphasized in literature
(BRICKUS et al., 2004), as occurred in 1977, arising from the Legionella pneumophila
bacteria, which causes one the most serious types of pneumonia that has a high mortality
rate (BRICKUS et al., 2001).
The lack of a preventive policy in the maintenance programs in refrigeration and
ventilation systems may be a deciding factor when it comes to the occurrence of biological
pollutants (pathogenic micro-organisms) in the system ducts, and may consequently
constitute a threat to the health of the occupants. Biological agents may proliferate in the
water in the condensation tray of air-conditioning equipment or in the refrigeration towers
of ventilation systems and, are introduced into the refrigerated environment via the air.
Given this picture, environmental discomfort and the reports of complaints relative
to health, arising from the poor quality of indoor air cannot be identified, minimized and
controlled adequately without the appropriate use of a methodology that takes into account
the complexity of all the factors involved. Therefore, assessing the issue from an inter-
6
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
disciplinary focus will undoubtedly contribute to a better understanding of the problem,
leading to a reflection on the need for investigations involving health risk identification, the
mapping and control of the probable sources of pollution and the gathering of information
about possible pollutants.
Future prospects
In their search for alternatives for ecological and over-population problems many
architects have been proposing possible solutions involving audacious projects, where
mega-buildings or vertical cities would be interlinked by corridors of steel, glass and
concrete. So, in the future it is estimated that a person will pass the whole of his or her life
living, studying, practicing sport, shopping, working and enjoying leisure time in these
artificially climatized environments.
Currently in Brazil the subject of indoor air quality is still an emerging field of study.
Despite growing interest in the media, the country’s scientific centers and even on the part
of government we have few pieces of research involving indoor air quality or legislation on
artificial micro-climates.
Additional studies are necessary, with the aim of improving the quality of life of the
occupants of these environments, particularly when it comes to questioning the need for a
value limit (as a point of reference) proposal for non-occupational environments for some
of the pollutants present in indoor air, especially the carcinogens and mutagens. This is
because industrial standards, like the Tolerance Limits introduced in the Regulatory Norms
from the Occupational Health and Safety Department of the Ministry of Labor, do not apply
to these non-industrial environments.
It is true that we already have Regulations published by the Ministry of Health /
National Sanitary Watch Agency like Ordinance 3,523 (BRAZIL, 1998), that introduced
criteria and procedures for cleaning and maintaining climate-control systems, and
Resolution 9 (BRAZIL, 2003), which established the Standards of Reference for Indoor Air
Quality in artificially climate-controlled environments, destined for public collective use.
Despite the relevance of this resolution essential parameters in the establishment of health
risk control measures, such as those relating to volatile organic compounds and
formaldehydes, were not considered, only a few of the indicators (particulate material,
carbon dioxide, temperature and a few others).
7
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
We must also emphasize the importance of investing more in health education, as
an effective instrument in the process of making people aware and in the constant fight to
try and reduce the damage to health arising from risk factors generated by exposure to
pollutants in indoor air.
Issues relating to indoor air quality should not be treated in a linear fashion and
solved using simple mathematical equations. The involvement of different actors in society
is necessary, as is the involvement of the public health services, based on recognition of
its uncertainty, given the complexity and relevance of the subject, in order for them to be
able to contribute to the assessment and management of the complex interactions of man
with his technology and environment in which he lives.
In this sense it is necessary to intensify the efforts for developing methodologies,
relative to the deciding and conditioning factors of indoor air pollutants that interfere in
human health, that can create effective Public Health tools, thereby contributing to the
preparation of policies that focus on indoor air quality, as well as to the establishment of
programs for controlling and preventing damage to the health of the occupants of these
environments.
8
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
ALMEIDA, S. M. Mapeamento da qualidade do ar de interiores de residências no
Estado do Rio de Janeiro. 2004. 150p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Escola
Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro.
BRASIL. Portaria 3.523, de 28 ago. 1998. Brasília: Diário Oficial da União, 31 ago.
1998.
BRASIL. Resolução RE n0 9, de 16 jan. 2003. Brasília: Diário Oficial da União, 20
jan. 2003.
BRICKUS, L. S. R. et al. Fungi surveys in Tropical Southeastern Brazil. In:
INTERNATIONAL BIOAEROSAL CONFERENCE, 5, 2004, New York. Abstract. New
York: s.n., 2004.
BRICKUS, L. S. R. et al. Qualidade do ar de interiores e a saúde pública. Revista
Brasileira de Toxicologia, v.14, p.29-35, 2001.
COSTA, M. F. B.; BRICKUS, L. S. R. The effect of ventilation systems on
prevalence of symptoms associated with sick buildings in brazilian commercial
establishments. Archives of Environmental Health, v.55, p.279-83, 2000.
COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Benzeno: uma questão de saúde pública.
Interciencia, v.27, p.201-4, 2002.
COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Segurança e saúde no trabalho: cidadania,
competitividade e produtividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.
COSTA, M. F. B. et al. A contribuição da fumaça ambiental do cigarro na
exposição não-ocupacional ao benzeno. Revista Brasindoor, v.5, p.14-6, 2002.
GIODA, A.; NETO, F. R. A. Considerações sobre estudos de ambientes industriais
e não industriais no Brasil: uma abordagem comparativa. Caderno de Saúde Pública,
v.19, p.1389-97, 2003.
HOGUE, C. To MBTE or not to MBTE. Chemical and Engineering News, v.78,
p.42-6, 2000.
9
Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
HOJO, S. et al. Use of QEESI questionnaire for a screening study in Japan.
Toxicology and Industrial Health, v.21, p.113-24, 2005.
KOTZIAS, D. Indoor air and human exposure assessment – needs and
approaches. Experimental Toxicology Pathology, v.57, p.5-7, 2005.
LAU, W. L.; CHAN, L. Y. Commuter exposure to aromatic VOCs in public
transportation modes in Hong Kong. Science of the Total Environment, v.308, p.143-55,
2003.
LEE, T. et al. Relationship between indoor and outdoor bio-aerosols collected with
a button inhalable aerosol sample in urban homes. Idoor Air, v.16, p.37-47, 2006.
LEUNG, M.; CHAN, A. H. S. Control and management of hospital indoor air quality.
Medical Science Monitor, v.12, p.17-23, 2006.
RAMACHANDRAN, G. et al. Indoor air quality in two urban elementary schools.
Journal Occupational Environmental Hygiene, v.2 p.553-6, 2005.
SILVEIRA, M. G. et al. Concentração de fungos no ar em um terminal
aeroportuário na cidade do Rio de Janeiro – Brasil. Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional, v.27, p.111-20, 2002.
STRAUZ, M. C. et al. Avaliação das condições de saúde e trabalho em ambientes
com acervos documentais. Revista Brasindoor, v.5, p.22, 2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Indoor air pollutants: exposure and
health effects (Euro Reports and Studies, 78). Copenhagen, 1983.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. The right to health indoor air.
Bilthoven, 2000.
ZURAIMI, M. S. et al. A comparative study of VOCs in Singapore and European
office buildings. Building and Environment, v.41, p.313-29, 2006.
Article received on 04.08.2006. Approved on 05.10.2006.
10
A CONFIGURAÇÃO (DILEMAS) DOS RISCOS AMBIENTAIS E DE
SAÚDE: TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS NO BRASIL
Murilo Fahel¹; Mauro Campos²; Carolina Araújo³
¹Professor pesquisador da Unimontes, mestre em saúde pública pela UAM/Xochimilco (México) e doutorando em ciências humanas: sociologia e política pela UFM; ²Professor do Centro Universitário Newton Paiva,
mestre em gestão das cidades pela PUC-MG e doutorando em ciências humanas: sociologia e política pela UFMG; ³ Professora da Universidade de Negócios e Administração (UNA), mestre em management pela HEC
(Montreal).
RESUMO
O artigo analisa a relação entre os riscos ambientais e de saúde no escopo do modelo de
desenvolvimento social e econômico adotado pelos países centrais e periféricos. Enfatiza
uma análise exploratória sobre os efeitos ambientais no estado de saúde dos indivíduos,
considerando os aspectos macroeconômicos que contribuem para a consolidação dos
paradigmas ambientais e da saúde, em um cenário global. Nesse contexto, busca colocar
em tela os principais paradoxos sobre a temática, abordando aspectos relativos às
iniqüidades existentes neste cenário, numa tentativa de identificar os efeitos (diretos e
indiretos) decorrentes das desigualdades econômicas e sociais, sobretudo em espaços
urbanos. Aponta essas evidências na análise da situação diagnosticada no Brasil,
buscando mostrar os impactos gerados pelo modelo de desenvolvimento aqui adotado e a
conseqüente geração de riscos ambientais e de saúde à população, bem como a resposta
adotada pelo sistema público de saúde.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; riscos ambientais e de saúde;
desigualdades sociais; acesso à saúde.
.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=27
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
Os tópicos de saúde e meio ambiente sempre estiveram intimamente interligados.
Impossível conceber condições de saúde favoráveis num contexto ambiental precário ou
comprometido. Assim, quando se aborda a questão do desenvolvimento, estes dois
assuntos estão necessariamente em pauta, visto que situações de risco ambiental ou de
saúde são insustentáveis ao longo do tempo e comprometem os pilares do
desenvolvimento durável: os desenvolvimentos econômico e social e a preservação
ambiental.
O escopo de desenvolvimento sustentável que se apóia nesses três pilares pode
ser expresso no conceito proposto pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento que, em 1987, propôs como definição oficial de desenvolvimento
sustentável “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”.
No presente artigo, busca-se apresentar dois tipos de problemas que afetam a
saúde pública e que são diretamente influenciados pela opção de modelo de
desenvolvimento adotada pelos países.
Inicialmente, trataremos o problema de saúde relacionado à desigualdade social
resultante do modelo econômico pelo qual se organizam os intercâmbios de produtos em
quase todos os países de nosso planeta. A dinâmica da economia influencia
profundamente os arranjos sociais e tem-se observado um processo de exclusão social e
marginalização econômica de uma parcela significativa da população – que, empobrecida,
não é capaz de assegurar as condições mínimas para uma qualidade de vida satisfatória
para si e para seus descendentes. Esta dificuldade manifesta-se em três problemas reais
expostos neste artigo: uma exposição amplificada aos riscos de saúde, dadas as
condições sanitárias precárias em que vivem; as deficiências na alimentação, que a torna
mais suscetível a doenças; e o debilitado acesso aos serviços de atendimento de saúde
pública.
Numa perspectiva mais ampliada, procuraremos abordar os problemas ambientais
como geradores de riscos para a saúde, sem que necessariamente se limitem às
populações mais vulneráveis. Efeitos de um modelo de desenvolvimento nocivo ao
2
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
equilíbrio ambiental não respeitam as diferenças de classes sociais e tampouco se
restringem aos limites geográficos, mas ainda assim têm sido tratados com certo descaso
quando das definições de políticas de desenvolvimento. No entanto, a dinâmica de
exclusão e marginalização referida no parágrafo anterior assume outra proporção quando
se observa que países periféricos são afetados de forma mais grave, mas não exclusiva,
pelos problemas ambientais.
Ambas as situações são problemáticas e moralmente condenáveis e se
apresentam na contramão da proposta de desenvolvimento sustentável. A primeira, por
tratar-se de problemas internos aos países, deve ser minimizada por políticas públicas
efetivas que atuem, ao mesmo tempo, nas questões de saúde pública e da
marginalização econômica. Quanto a tentar coibir modelos de desenvolvimento nocivos
ao meio ambiente, num cenário de histórica negligência em relação aos efeitos negativos
em favor dos benefícios econômicos imediatos resultantes, a proposta de acordos
internacionais desponta como uma alternativa.
Desde a ECO-92, instrumentos formais que geraram compromissos e obrigações
reguladas pelo direito internacional têm sido assinados por vários países. A partir da
declaração da Agenda 21, o Brasil assinou e ratificou algumas convenções que afetam
diretamente as questões de saúde e meio ambiente no País. Dentre estas, destacamos a
Convenção da Diversidade Biológica, que resultou na alteração da legislação brasileira
quanto aos usos dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados; a
Convenção sobre Mudanças Climáticas, que redundou no Protocolo de Kyoto, que coíbe
o crescimento das emissões de gases causadores do efeito estufa; e a Convenção de
Viena e Protocolo de Montreal sobre a Proteção da Camada de Ozônio, que objetiva
proteger a saúde humana e do meio ambiente contra os efeitos nocivos das alterações da
camada de ozônio. Esse é o contexto no qual se desencadeia a discussão sobre saúde
pública e meio ambiente no Brasil e no mundo. Os problemas que despontam não são
passíveis de soluções simples e imediatas, mas requerem modificações profundas na
forma de pensar o processo de desenvolvimento e as propostas de políticas públicas.
3
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
OS PARADOXOS NA ÁREA DE SAÚDE NO CENÁRIO MUNDIAL
As questões ambientais e de saúde conhecem novos desafios em função dos
avanços da humanidade engendrados pelo desenvolvimento, que impacta de maneira
importante o ecossistema e a qualidade de vida das pessoas nacional e
internacionalmente. Essas alterações, que encontram correspondência na dimensão
individual (com implicações significativas nas condições de saúde), vêm imprimindo
estilos de vida com baixa sustentabilidade para comportamentos considerados saudáveis.
Cada vez mais organismos multilaterais, cientistas e militantes de movimentos
ecológicos alertam para a tendência mundial de agravamento dos riscos ambientais,
evidenciando que a produção e a distribuição dos riscos ampliam as vulnerabilidades da
espécie humana. Apesar destas visões, persiste uma situação crítica que coloca em risco
a saúde da população, com comprometimento da qualidade da água e ar associados a
processos contínuos de desequilíbrio do ecossistema.
No plano da cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável, a
movimentação política em torno da elaboração e implementação da Agenda 21 das
Nações Unidas vem estabelecendo, desde o início dos anos 90, novos princípios e
compromissos1 governamentais e intergovernamentais. Propõe-se adotar uma nova
racionalidade ecológica voltada à eficiência econômica, a eqüidade e a responsabilidade
social e objetiva-se enfrentar as disparidades internacionais e nacionais relacionadas à
pobreza, à fome, às doenças, ao analfabetismo e, especialmente, à deterioração dos
ecossistemas. Por outro lado, o comportamento humano vem sofrendo alterações na sua
composição ao longo da história, instituindo novos hábitos e costumes que afetam a
qualidade da saúde. Assim, alterações no modo de vida, tanto na esfera da produção
como na do consumo, implicam a emergência de um novo perfil epidemiológico.
O informe da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o ano de 2002, intitulado
Reducir los riesgos y promover una vida sana, mostra um paradoxo mundial do consumo,
acentuando a clivagem entre países ricos e pobres. Muitos dos riscos examinados nesse
informe são produzidos pelo paradoxo do consumo insuficiente entre os pobres e
1 Esses novos compromissos incluem: 1) o aperfeiçoamento dos processos de tomada de decisão e dos sistemas de planejamento e gestão, com vistas à articulação gradual das questões econômicas, sociais e de meio ambiente; 2) a institucionalização de sistema de informação para a vigilância e avaliação dos progressos alcançados; e 3) a adoção de estratégia nacional de desenvolvimento sustentável.
4
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
excessivo no caso dos privilegiados. Principalmente nos conglomerados urbanos persiste
a manifestação de um quadro de enfermidades não transmissíveis associadas aos maus
hábitos e aos alimentos, coexistindo com a desnutrição em áreas mais pobres.
Segundo a OMS (2002), pode-se considerar estes os dez riscos regionais e
mundiais mais importantes: insuficiência ponderal, práticas sexuais de risco, hipertensão
arterial, tabagismo, alcoolismo, água insalubre, saneamento e higiene insuficientes,
carência de ferro, fumaça de combustíveis sólidos em espaços fechados,
hipercolesterolemia e obesidade. Juntos, estes fatores são responsáveis por mais de um
terço de toda mortalidade mundial. A maioria dos fatores de risco examinados nesse
informe guarda estreita relação com os hábitos de vida, e em particular com o consumo
excessivo ou insuficiente. No extremo oposto da pobreza se encontra a sobrealimentação,
qualificada como sobreconsumo2.
Na esteira dessa realidade observa-se que os riscos comuns relacionados às
sociedades ricas (tais como hipertensão arterial, hipercolesterolemia, tabagismo,
consumo excessivo de álcool, obesidade e sedentarismo) e enfermidades associadas
predominam em todos os países de ingressos medianos e altos. Mais dramático ainda é o
quadro prevalente nos países periféricos, com nítida acumulação epidemiológica, onde se
origina uma dupla carga ao somar-se às enfermidades infecciosas, com maior incidência
nestes países, as não transmissíveis produzidas pelas novas condições de produção e
consumo do mundo moderno. Em relação a esta última tendência, o que se pode
observar é que ainda persiste uma expansão rápida de epidemias relacionadas a tais
enfermidades que provocam em torno de 60% da mortalidade mundial e que, por sua vez,
guarda uma relação manifesta com a evolução dos hábitos alimentares, com o consumo
constante de alimentos industrializados, com alto teor de gorduras (grassos), salgados ou
açucarados.
2 Os contrastes mundiais são enormes: enquanto nos países pobres há 170 milhões de crianças com peso insuficiente, dos quais morrem mais de três milhões a cada ano, mais de um bilhão de adultos têm peso excessivo e em torno de 300 milhões são clinicamente obesos. Destas pessoas, aproximadamente meio milhão morrem a cada ano na América do Norte e Europa Ocidental de enfermidades relacionadas à obesidade (OMS, 2002).
5
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
RISCOS DAS DESIGUALDADES PARA A QUALIDADE DE VIDA
As clivagens identificadas nas sociedades modernas denotam uma
heterogeneidade estrutural que apresenta uma natureza multidimensional, transitando em
diversas dimensões – social, econômica, étnica, cultural, geográfica – responsáveis pela
demarcação de uma importante desigualdade social no mundo.
Diferenças marcantes na qualidade de vida e nas capacidades humanas,
resultantes de desigualdades no acesso a bens sociais, tendem a se sobrepor; e as
privações sociais múltiplas dependem muito mais de desigualdades estruturais que se
mantêm ao longo do tempo do que de atributos individuais (ACHESON, 2000). Mais
ainda, no escopo das sociedades complexas pode-se afirmar que os processos de
modernização produziram uma generalização de riscos e vulnerabilidades numa escala
global e que as populações estão desigualmente sujeitas a eles. A geração de
populações vulneráveis remete a múltiplas dimensões das sociedades de riscos, desde os
industriais e tecnológicos até os relativos ao ambiente urbano construído. Já a
justaposição dos riscos encontrará como segmento mais vulnerável as populações
empobrecidas, que experimentarão altos níveis de interação com o risco. Por outro lado,
cada vez mais, as dimensões do bem-estar passam a ser consideradas eqüidade no
acesso às oportunidades geradas no processo de desenvolvimento. Assim, o
desenvolvimento passa a ser compreendido como um processo abrangente de expansão
do exercício do direito de escolhas individuais em diversas áreas: econômica, política,
social ou cultural (SEN, 2001).
Na mesma perspectiva, considera-se a noção de qualidade de vida em trânsito
num campo semântico polissêmico: de um lado está relacionada ao modo, condições e
estilo de vida; de outro, inclui as idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia
humana; por fim, relaciona-se ao campo da democracia, do desenvolvimento e dos
direitos humanos e sociais, produzindo um parâmetro definidor do bem-estar social e
individual (MINAYO et al., 2000). Assim é possível estabelecer uma relação intrínseca
entre o conceito de saúde e qualidade de vida – traduzida como capacidades humanas
determinadas socialmente, uma vez que saúde é definida pela qualidade de vida e pela
capacidade de ser e agir de mulheres e homens. Quanto às desigualdades sociais,
tomamos o conceito proposto por Sen (2001): estas consistem nas diferenças produzidas
socialmente e que são moralmente injustas. Relacionando os dois conceitos, temos,
6
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
então, que desigualdade social em saúde refere-se às diferenças produzidas socialmente
na qualidade de vida e na capacidade de ser e agir dos grupos sociais e indivíduos, que
são per si diferenças moralmente injustas e, portanto, devem ser minimizadas.
Estudos mostram que a determinação da saúde é multidimensional e que os
determinantes interagem, influenciando a disposição física e psíquica dos indivíduos
desde a concepção até à morte, através de gerações. Já a concepção de iniqüidade
materializa-se no acesso desigual aos serviços de saúde e se expressa na distribuição,
também desigual, dos índices de saúde entre os grupos sociais. Nessa direção, as
condições sociais das populações determinam o grau de exposição aos fatores de risco
de adoecer ou morrer e o acesso a bens e serviços de saúde, fazendo que as
desigualdades em saúde encontrem suas raízes na desigualdade social. Sabe-se que os
padrões de desigualdade no setor em pauta variam no espaço e no tempo e que essas
desigualdades podem ainda ser agravadas em função de determinantes demográficos e
ambientais, acesso aos bens e serviços de saúde e às políticas sociais (DUARTE et al.,
2002). Desta maneira, as desigualdades em saúde têm sido evidenciadas entre grupos
sociais com diferentes condições socioeconômicas, étnicas, de gênero, idade e de
território. Como conseqüência, isso vem gerando um excedente de enfermidades que
afeta principalmente os grupos mais vulneráveis: mortalidade precoce, sobrecarga de
determinados procedimentos médicos, maiores demandas de serviços sociais e redução
da possibilidade de ascensão social. Ante a evidência consistente de que pessoas
desfavorecidas socialmente têm pior situação de saúde em torno do mundo e de forma
persistente no tempo, a atenção às desigualdades em saúde tem sido um tema de
discussão na agenda política da OMS.
O reconhecimento dos efeitos da estratificação social ou de que indivíduos
inseridos em relações sociais têm chances diferenciadas de realizar os seus interesses
materiais (WRIGHT apud TRAVASSOS, 2000) conferiu centralidade ao debate acerca da
eqüidade no uso dos serviços de saúde, enquanto princípio de justiça social.
Comprovação destas afirmativas pode ser encontrada no estudo comparativo de Van
Doorslaer et al. (1993), que envolveu nove nações européias e os Estados Unidos, sobre
o padrão de eqüidade em saúde, demonstrando que em todos os países analisados a
morbidade estava desproporcionalmente distribuída, concentrando-se naqueles indivíduos
mais pobres; bem como na análise realizada por Travassos et al. (1995) no Brasil,
utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), de 1989,
7
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
coordenada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que se observa
que a taxa de morbidade referida no Brasil para a população urbana tendeu a aumentar
inversamente à renda familiar per capita, padrão que se repetiu em todas as
macrorregiões do País.
TENDÊNCIAS DAS ANÁLISES DAS DESIGUALDADES EM SAÚDE
Na atualidade, existe grande consenso de que pessoas expostas a situações
sociais e econômicas desfavoráveis apresentam piores condições de saúde. Alguns
estudos têm procurado contribuir para este debate a partir do desvelamento das
associações existentes entre condições socioeconômicas e desigualdades em saúde.
A partir da publicação do Black report, quando Townsend e Davidson (1982)
apontaram para o incremento das desigualdades em saúde na população britânica3, há
um esforço no sentido de analisar as diferenças nas condições de saúde e no acesso aos
serviços do setor de acordo com a divisão da população por nível socioeconômico (NSE),
seja este medido por renda, educação, ocupação ou posição na hierarquia social, e os
diferenciais quanto à expectativa de vida no Reino Unido (PAMUK, 1985; CHANDOLA,
2000; WAGSTAFF, 2000).
Nos Estados Unidos, a desigualdade nas distribuições salariais tem-se mostrado
associada à distribuição desigual das tendências de mortalidade na população e
disparidades quanto à renda relativa parecem estar associadas aos homicídios e ao baixo
peso ao nascer (KAPLAN et al., 1996).
Já na Europa o projeto Socioeconomic Factors in Health and Health Care e o
Socioeconomic Inequalities in Mortality and Morbidity in Europe, coordenado pela
Universidade Erasmus, de Roterdã, Holanda, com parte de seus resultados publicados
em Mackenbach e Kunst (1997), indicam que a falta de eqüidade nos setores
socioeconômicos que afeta a saúde da população, em países da União Européia,
manifesta-se, sobretudo, no domínio da “educação”, da “nutrição” e na “utilização de
3 No Reino Unido, a partir da década de 80 foram realizadas três grandes pesquisas avaliativas: The black report on social inequalities in health, de Townsend & Davidson; The health divide, de Townsend, Davidson & Whitehead; e Independent inquiry into inequalities in health, de Acheson.
8
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
serviços de saúde”, quer no funcionamento dos serviços quer na despesa per capita que
os mantém4.
No Brasil, alguns estudos recentes têm procurado investigar a desigualdade em
saúde mediante comparações regionais, infra-regionais e intra-urbanas. Na linha referida,
encontra-se, por exemplo, a proposta de monitoramento Medindo as Desigualdades em
Saúde no Brasil, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com
apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Trata-se de um trabalho que
realiza uma análise abrangente do perfil da desigualdade social em saúde do nosso País,
valendo-se de bases de dados (Pnad, POF, AMS, Data-SUS, IDB/Ripsa5 e outras)
disponível para uso generalizado e com emprego de indicadores e metodologias
acessíveis, proporcionando medidas de desigualdades e análise dos comportamentos da
oferta de recursos humanos e capacidade instalada, acesso e utilização dos serviços de
saúde, financiamento-despesa federal e familiar, qualidade em saúde, situação de saúde
e saúde e condições de vida.
Outra pesquisa que corrobora essa tendência de análise das desigualdades
sociais no setor é a da epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo
exploratório, desenvolvido através de uma parceria do Ministério da Saúde (MS) com o
Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), a OMS e a Opas, por intermédio do
Programa Especial de Análises de Saúde (SHA), de Washington, que analisa as
desigualdades segundo aspectos socioeconômicos e geográficos, além dos relacionados
à composição populacional, por sexo e idade, e à prestação de serviços de saúde,
valendo-se das Bases de Dados do Data-SUS, IBGE, IDB/Ripsa e outras. Este estudo
sugere que a desigualdade em saúde no Brasil está polarizada nos níveis nacional e intra-
regional e que, devido à magnitude das diferenças dos indicadores observados entre as
regiões, o padrão que emerge pode ser definido como marcadamente assimétrico.
Segundo os achados, três macrodeterminantes parecem explicar, em termos estatísticos,
os diferenciais encontrados, quais sejam: urbanização, pobreza e aspectos relacionados à
4 Utilizou-se o método de Coeficiente de Gini como parâmetro de eqüidade para mensurar a desigualdade existente entre os 15 países da União Européia, relativamente à educação e atividades culturais, estilos de vida, nutrição, desemprego, utilização de serviços de saúde e despesa neste campo. 5 Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), Pesquisa do Orçamento Familiar (POF) e pesquisa Assistência Médico-Sanitária (AMS), realizadas pelo IBGE; Data-SUS, do Ministério de Saúde; e Indicadores Demográficos e Socioeconômicos (IDB) da Rede Interagências de Informações para a Saúde (Ripsa).
9
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
organização dos serviços de saúde. A urbanização sugere a exposição a um padrão
“moderno” de fatores de riscos; a pobreza remete às dificuldades inerentes à obtenção
dos meios individuais ou societários de saúde e, por último, os serviços podem, per si,
aumentar ou promover as desigualdades em saúde – nesse aspecto, duas variáveis
devem ser destacadas: acesso e qualidade dos serviços. A perspectiva é que esse estudo
exploratório avance para a configuração de um Atlas das Desigualdades em Saúde no
Brasil que sirva como referencial para o desenho das políticas de saúde e para os
modelos de gestão.
RISCOS AMBIENTAIS E DE SAÚDE NO BRASIL
Situações de risco podem ser geradas pelos processos de desenvolvimento
econômico e social em função de sua interferência nos ecossistemas, com implicações
importantes no perfil de morbimortalidade da população, em função das modalidades de
poluição e contaminação geradas e a liberação descontrolada de formas específicas de
energia. No entanto, as influências do meio ambiente sobre a saúde podem ser
observadas em duas direções: uma positiva, na medida em que este pode promover o
bem-estar e contribuir para a plena realização das capacidades humanas; e outra
negativa, como agente gerador da emergência e manutenção de patologias e, até
mesmo, morte de determinados grupos populacionais. A trajetória a ser percorrida está
intrinsecamente relacionada ao modelo de desenvolvimento social e econômico adotado
por cada Estado-nação e à configuração de um pacto mundial, pautado pela lógica do
binômio crescimento econômico/responsabilidade ambiental e social.
No Brasil, podem-se identificar vários fenômenos que contribuem para a aplicação
de um modelo de desenvolvimento não-sustentável, na medida em que se observam
processos de ampliação das áreas de desmatamento (Amazonas e Cerrado),
comprometimento na qualidade da água para consumo, insuficiência no saneamento
básico, contaminação ambiental por poluentes e outros que estão imbricados a uma
acelerada urbanização que muito contribuiu para o crescimento de bolsões de pobreza
nas áreas periféricas das cidades brasileiras. Esse modelo de desenvolvimento caótico
tem implicações importantes na emergência e reemergência de patologias, induzindo o
10
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
País a um quadro epidemiológico complexo, com uma elevada incidência de riscos à
saúde, principalmente para as populações mais vulneráveis.
A abordagem dos riscos à saúde da população no Brasil implica a descrição de
cenários distintos e sua correlação com os fenômenos socioambientais. O aumento de
patologias cardiovasculares e neoplásicas, com uma tendência crescente nos últimos dez
anos, em acompanhamento do processo de envelhecimento da população (RIPSA, 2000;
IBGE, 2001) está relacionado aos efeitos das condições genéticas, de vida e trabalho,
com maior incidência entre aqueles expostos a determinados poluentes químicos. Já o
cenário conformado pelas doenças infecto-parasitárias (DIP), marcadamente relacionadas
às condições socioambientais, apesar da sua tendência declinante de mortalidade (sexta
causa de óbito), apresenta uma distribuição desigual por regiões no País e por grupos
sociais específicos. Ainda, observa-se a reemergência de antigas patologias (cólera,
dengue, malária), com expressão em determinados espaços geográficos, consolidando
áreas endêmicas–epidêmicas de maior suscetibilidade de ocorrência sistemática.
Por sua vez, as denominadas causas externas, que incluem acidentes e ações
violentas, com produção de traumas, lesões e patologias, vem crescendo no País
(segunda causa de mortalidade), com importante interdependência das condições
socioambientais. Esses cenários e suas tendências epidemiológicas apresentam uma
estreita relação com a iniqüidade social e os impactos ambientais gerados pelo modelo de
desenvolvimento adotado. Apesar de relativos avanços no controle das DIPs (sarampo,
poliomielite, aids e outras), ainda há a manutenção de um grave quadro de desigualdades
sanitárias. Ações como o aumento da cobertura dos serviços de saúde, acesso a novas
tecnologias e insumos são insuficientes diante desses cenários, cuja reversão exige
mudanças estruturais no modelo de desenvolvimento social e econômico, com ênfase na
promoção e prevenção da saúde humana, através da indução de ambientes saudáveis,
tanto nas esferas do consumo quanto na da produção.
Os indicadores de saúde no território nacional mostram um quadro de diferenças
acentuadas da morbimortalidade entre regiões e municípios, espelhados, por exemplo,
pela superação da taxa de mortalidade infantil em 3,5 vezes na região Nordeste
(52,4/1.000 nascidos vivos) em relação ao Sul (15,1/1.000). Já no tocante às mortes por
causas respiratórias, identifica-se uma maior incidência nas regiões Sul e Sudeste, com
destaque para alguns pólos industriais, como o Petroquímico e Siderúrgico de Cubatão
11
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
(SP). Importante ressaltar que as patologias respiratórias corresponderam a 16,22% das
internações hospitalares em 2000, ocupando o segundo lugar entre as doenças mais
prevalentes (RIPSA, 2001), confirmando a constatação da OMS (1998) sobre uma
associação à exposição ambiental da ordem de 50% a 60% relativa às suas formas
agudas e crônicas.
No caso específico das patologias decorrentes dos ambientes de trabalho, apesar
da evidência de subnotificação, registrou-se um aumento de 35.000 casos em 1996, num
universo limitado de 18,8 milhões, concentrados nas regiões Sudeste (58%) e Sul (19%),
sem inclusão dos trabalhadores informais (RIPSA, 1998). No período de 1990 a 1996,
nota-se um crescimento de 8% de doenças relacionadas ao trabalho, sendo que em 1998
a taxa de incidência chegou a 16,24/10.000 trabalhadores segurados. No referente às
doenças transmissíveis, com a agravante do atual reconhecimento de que a qualidade
das condições de vida já não oferece mais garantias contra a disseminação de agentes
infecciosos, tem-se uma perspectiva pouco otimista entre os países periféricos – que,
ademais de um comportamento endêmico dessas doenças, convivem com problemas
básicos de nutrição, saneamento ambiental, condições adequadas de moradia, controle
de vetores e acesso aos cuidados básicos de saúde (IBAMA/GEO, 2002). Nessa direção,
a Funasa, do Ministério da Saúde, vem indicando um aumento, desde o início da década
de 80, de várias endemias como malária, tuberculose e hanseníase; bem como a
ocorrência de vários surtos e epidemias de meningite meningocócica, cólera, dengue,
leptospirose, leishmanioses e até mesmo a hantavirose (Tabela I).
Fatores relevantes de riscos à saúde são derivados dos processos produtivos que
geram a contaminação por agentes químicos, com destaque para os agrotóxicos, chumbo
e mercúrio. Exemplo disso são os biocidas utilizados para o controle de pragas e vetores
e também nos lares, sem consideração das suscetibilidades individuais a essas
exposições. Segundo a OMS (1995), 70% dos casos de intoxicação humana por
agrotóxicos ocorrem nos países em desenvolvimento, e no Brasil os dados corroboram
essa tendência, já que em 1999 ocorreram 398 óbitos por exposição aos agrotóxicos no
País, sendo que 140 foram de origem ocupacional. Em relação à exposição ao mercúrio
metálico gerado pelo uso industrial, ocorre com maior destaque nas regiões Sul e Sudeste
e, no caso da Amazônia Legal, em função da mineração de ouro. O mercúrio lançado no
ambiente pode se depositar nos rios e, através da cadeia biológica, transformar-se no
composto orgânico metilmercúrio, que pode ser encontrado em peixes onívoros
12
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
consumidos pelas populações ribeirinhas, ocasionando, assim, danos à saúde humana
(IBAMA/GEO, 2002).
Outro fator relevante que vem provocando danos à saúde da população é atinente
à poluição atmosférica, que compromete a qualidade do ar, afetando milhões de pessoas.
No Brasil, boa parte dos problemas respiratórios, nos últimos anos, está associada à
deterioração da qualidade do ar, principalmente nas áreas metropolitanas. Entre 1970 e
2000, foi registrado um aumento substancial na emissão de poluentes no País, com
variação que vai de 200%, no caso do dióxido de enxofre (SO2), a até 500%, no caso de
hidrocarbonetos (que, associados aos gases da fumaça negra emitida pelos veículos,
contribuem para o aumento das doenças respiratórias). Estudos indicam que, em São
Paulo, há uma forte correlação entre o aumento de poluição e a incidência de problemas
respiratórios, que respondem por 20% a 25% dos atendimentos no sistema de saúde e
por 10% a 12% da mortalidade. Nota-se, ainda, o diagnóstico de pneumopatias, com
nítida intensificação na década de 90, em trabalhadores expostos à sílica e ao asbesto,
provenientes de ambientes de trabalho das indústrias extrativas, têxteis e da construção
civil, dentre outras. Outro fator contribuinte para o aumento de portadores de doenças
respiratórias têm sido as queimadas – prática corrente em extensas áreas agrícolas do
País –, como registrado em Alta Floresta, no Estado do Mato Grosso, com um aumento
13
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
de 20 vezes no número de pessoas acometidas durante um episódio de queima de
biomassa (IBAMA/GEO, 2002).
Cabe destacar a ocorrência de episódios naturais, como os desastres ambientais
(inundações, estiagem, secas, deslizamentos e incêndios florestais), que têm contribuído
para a grave situação de morbimortalidade no País; bem como os acidentes industriais
ampliados, com desastres fatais e danos ecológicos de monta. Medidas preventivas e de
controle têm sido observadas, mas apresentam pouca efetividade e os efeitos danosos à
saúde humana e a agressão ao ecossistema provocados pelos fenômenos naturais e
acidentes industriais têm reincidido, com repercussões acentuadas em diversas regiões
do País.
Ainda é débil, no Brasil, o reconhecimento da interdependência entre
desenvolvimento econômico, qualidade de vida, condições ambientais e saúde, o que é
constatado pelo contínuo processo de degradação ambiental, com repercussões
negativas na qualidade de vida da população, bem como pelo grave perfil epidemiológico
diagnosticado no País.
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Para as políticas de saúde no Brasil, o que se pode observar nos primórdios da
atuação governamental é que as ações de caráter coletivo – imunização, controle de
epidemias e saneamento – se deram no campo da saúde pública, com uma vinculação
clara com a conjuntura econômica vigente. Historicamente, estabeleceu-se um verdadeiro
abismo entre a gestão das medidas de ordem preventiva e as ações da medicina curativa.
Não há exagero em dizer que estas diferenças têm sido altamente nocivas e injustas. As
medidas preventivas continuam sendo financiadas pelo governo, mas o desprestígio do
desenvolvimento social, ao longo dos anos, resultou na escassez de verbas e na atrofia
de atividades primordiais para o atendimento médico-hospitalar à população em geral.
O sistema de saúde no Brasil caracterizou-se pela separação entre as atividades
preventivas e curativas na atenção à saúde da população. A atividade preventiva era
marcada pelo sanitarismo básico, voltado a combater as causas e interromper a
transmissão das doenças na coletividade. Isto era feito através da oferta de serviços e
14
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ações sanitárias sobre o ambiente, indivíduos e vetores animais, independentemente da
demanda ou vontade das pessoas.
Em relação à redução de gastos em atenção médico-sanitária, esta ocorre à custa
de uma deterioração dos serviços públicos do setor. O modelo de atenção à saúde dá
ênfase ao aspecto médico-assistencial operado pelo setor privado e financiado pelo
Estado. Este modelo desenvolveu-se com a urbanização e a industrialização brasileira,
ocorrida nos anos 30. A rápida constituição de uma classe trabalhadora urbana gerou
necessidades de assistência médica individual para sua reprodução física como força de
trabalho. Este sistema se desenvolveu de acordo com a demanda definida pelos
trabalhadores inseridos no mercado, através da auto-avaliação de sua saúde. Esta lógica
de atenção foi ajustada e valorizada pelo sistema industrial, que necessitava de
trabalhadores em boas condições de saúde para o trabalho.
Apesar das iniciativas para a implantação de um sistema público de saúde
universalizado, nos moldes estabelecidos pela Constituição de 1988, ainda persistem
deformações graves em todo o processo, sendo exemplos: má utilização dos recursos
públicos destinados à saúde em todas as esferas de governo e níveis de prestação de
serviços; centralização das funções governamentais, as quais muitas vezes são
desordenadas, pouco comprometidas e/ou marcadas por mecanismos clientelistas; um
modelo de atenção centrado na medicina curativa e hospitalocêntrica, em detrimento de
ações de prevenção e provisão da saúde; oferta dos serviços de saúde deficitária, tanto
quantitativa quanto qualitativamente; controles precários dos repasses e da distribuição
interna dos recursos públicos aos prestadores de serviços, dentre outras deformações
que estariam contribuindo para a baixa credibilidade operacional do sistema público de
saúde do País (MS, 2000).
Na prática, como se sabe, a universalização formal dos serviços de saúde
implicou, porém, a exclusão de alguns segmentos da sociedade. Isto ocorreu, segundo
Faveret e Oliveira (1990), com os trabalhadores com renda estável, por exemplo, uma vez
que, para conter um eventual excesso de demanda pelos serviços públicos de saúde,
estes usuários foram empurrados para o sistema privado de atendimento. Esta forma de
alijamento destes trabalhadores pode ser explicada, também, pela oferta de serviços
públicos de saúde de baixa qualidade. Com isto, ocorreu a restrição do sistema público ao
atendimento das camadas menos favorecidas. Desta forma, configurou-se um processo
15
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
de “universalização excludente”, em que a expansão do sistema foi acompanhada por
mecanismos de racionamento, ocasionando uma queda na eficiência e eficácia da
prestação dos serviços de saúde. Tal condição resultou, na prática, na redução do
sistema público a um atendimento para os pobres, induzindo os assalariados de poder
aquisitivo estável a aderir aos seguros e planos de saúde privados ou semiprivados.
Estas características estruturais dos serviços de saúde no Brasil reforçam o seu
caráter de dualidade, com institucionalidades distintas, sendo uma direcionada às
camadas sociais com maior acesso à renda (e, conseqüentemente, aos serviços
privados) e a outra destinada aos dependentes dos serviços públicos, quais sejam, os
estratos de baixa renda e os excluídos do mercado formal de trabalho. Assim, mesmo
com os propósitos de universalização do atendimento à saúde demarcados pela
legislação, os mecanismos para a criação de um sistema único redundaram num sistema
dual, caracterizado pela segmentação das clientelas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendida como um direito mais amplo, as relações estabelecidas entre a saúde e
as demais condicionantes que interferem no seu estado ganham vulto para uma
discussão mais adensada. Neste espaço, as interferências exercidas pelo ambiente na
saúde começam a compor novas discussões, nos campos teórico e empírico, que se
pautam pelo entendimento de como as variáveis ambientais podem influir em um melhor
ou pior estado de saúde, dadas as condições ambientais de cada sociedade
(IBAMA/GEO, 2002). Portanto, estas situações ambientais podem tanto condicionar o
bem-estar das pessoas como, também, produzir agravos diversos.
Nesta vertente, o que se percebe é que, em relação aos agravos na saúde, a
questão ambiental assume um papel de extrema relevância. Os problemas ambientais
acabam por potencializar os riscos para a saúde de todas as populações expostas aos
resquícios de um modelo de desenvolvimento altamente prejudicial ao equilíbrio
ambiental, e não apenas às mais vulneráveis. Esta interseção entre saúde e meio
ambiente reforça a questão que impulsiona os programas de controle da poluição do
planeta e que aproximam organismos multilaterais em torno deste objetivo comum. Mais
ainda, quando se percebem as dificuldades em manter condições favoráveis de saúde em
16
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ambientes impróprios, corroídos pela ação humana, isto chama a atenção para um debate
mais amplo acerca do modelo utilizado como mecanismo para associar desenvolvimentos
econômico e social e preservação ambiental, de modo que se possa propor um formato
de desenvolvimento durável e que vise a reduzir riscos ambientais e de saúde.
Na perspectiva do indivíduo, o que determina a procura pelos serviços de saúde
não é um comportamento previsível ou uma necessidade antecipada e programada, e sim
uma contingência imprevisível, quer se tenha ou não condições financeiras de arcar com
a manutenção da sua boa condição física e mental. Deste modo, a questão do acesso a
estes serviços assume um papel fundamental para os indivíduos. Portanto, a saúde,
independentemente de qualquer definição idealista que lhe possa ser atribuída, é o
produto de condições objetivas de existência. Resgatar a idéia do direito à saúde como
noção básica para a formulação de políticas se justifica na medida em que se faça a
distinção entre o direito à saúde e o direito aos serviços de saúde, ou mesmo o direito à
assistência médica.
O sistema de saúde é onerado porque o parâmetro usualmente adotado para a
alocação dos escassos recursos é o da medicina curativa, privilegiando os procedimentos
hospitalares, que deveriam ser o último elo da cadeia de atendimento à população neste
tipo de serviço. Enquanto isso, o arcabouço político que condiciona os investimentos
setoriais é orientado por casuísmos e por ações imediatistas, com um forte vínculo em
medidas corretivas, que são mais evidentes aos olhos das pessoas – sobrepondo, assim,
as ações preventivas que, por sua vez, tendem a gerar melhores resultados no longo
prazo, além de serem menos dispendiosas. São, assim, deixadas de lado em função dos
interesses econômicos de grupos ligados ao fornecimento de equipamentos e
laboratórios, dentre outros grupos de pressão que acabam direcionando os recursos
desta área.
Neste contexto, o equívoco das políticas de saúde torna-se evidente, uma vez que
a doença é apenas uma conseqüência das condições básicas de vida da população. No
entanto, o perfil de saúde de uma coletividade depende de condições vinculadas à própria
estrutura da sociedade e a manutenção do estado de saúde requer a ação articulada de
um conjunto de políticas sociais mais amplas, relativas a emprego, salário, previdência,
educação, alimentação, ambiente e outras. Isso reforça a relação imbricada entre saúde e
desenvolvimento social e econômico sustentável, demandando um estudo com maior
17
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
adensamento teórico-empírico, na tentativa de explicar os aspectos multifacetados da
relação saúde-ambiente-desenvolvimento abordadas neste artigo.
18
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
ACHESON, D. Heath inequalities impact assessment. Bulletin of the world
health organization, pp. 75-85, 2000.
ALLEYNE, G. A. Equity and Health. In: XI WORD CONGRESS OF
PSYCHIATRY ON PSYCHIATRY ON NEW THERSHOLDS, Hamburgo, 6-11 ago.
1999.
CHANDOLA, T. Social class differences in mortality using the new UK national
statistics socioeconomic classification. Social Science and Medicine, n. 50, pp. 641-9,
2000.
CULYER, J./ WAGSTAFF, A. Need, equity and equality in health care. York,
University of York, 1992.
DACHS, J. Determinantes das desigualdades na auto-avaliação do estado de
saúde no Brasil: análise dos dados da Pnad/1998. Revista Ciência & Saúde Coletiva,
Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, 2002.
DUARTE, E. et al. Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil:
um estudo exploratório. Brasília, Opas/OMS/Funasa, 2002.
FAHEL, M.; INÁCIO, M. Qualidade de vida aplicada à saúde do trabalhador:
perspectivas. In: AMORIM, C. S.; CARVALHO, L. F. (Orgs.). Saúde e segurança no
ambiente de trabalho: contexto e vertentes. Belo Horizonte, Fundacentro/UFSJ, pp.
127-37, 2002. (Coleção de Estudos e Análise.)
FAVERET F., P.; OLIVEIRA, P. A Universalização Excludente: reflexões sobre
as tendências do sistema de saúde. In: Revista Dados de Ciências Sociais. Rio de
Janeiro, v. 33, n. 2, pp. 257-83, 1990.
FLEURY, S. Políticas Sociais e Cidadania na América Latina. In: CANESQUI,
Ana Maria (Org.). Ciências Sociais e Saúde. São Paulo, Ed. Hucitec/Abrasco, 1997.
GAKIDOU, E.; MURRAY, C. J.; FRENK, J. Defining and measuring health
inequality: approach based on the distribution of health expectancy. Bulletin of the
world health organization, n. 78, pp. 42-54, 2000.
19
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
GIRALDES, R. Eqüidade em áreas socioeconômicas com impacto na saúde em
países da União Européia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 3, n. 17,
2001.
IBAMA. Geo-Brasil: perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília, Governo
Federal, 2002.
ISA. Almanaque Brasil socioambiental. São Paulo, Instituto Sócio-Ambiental,
2005.
KAPLAN, G.; PAMUK, R.; LYNCH, R. Inequality in income and mortality in the
United States; analysis of mortality and potential pathways. BMJ California, n. 31, pp. 999-
1.003, 1996.
MACKENBACH, J.; KUNST, A. Measuring the magnitude of socio-economic
inequalities in health: overview of available measures illustrated with two examples from
Europe. Social Science Medicine, Rotterdam, n. 44, v.6 , pp. 757-71, 1997.
MEDICI, André Cezar. Aspectos teóricos e conceituais do financiamento das
políticas de saúde. In: PIOLA, Sérgio Francisco; VIANNA, Solon Magalhães (Orgs.).
Economia da Saúde: conceito e contribuição para a gestão da saúde. 2. ed. Brasília,
Ipea, 1995.
MINAYO, M.; HARTZ, Z.; BUSS, P. Qualidade de vida e saúde: um debate
necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, pp. 7-18, 2000.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. SUS: descentralização. Brasília, Ministério da Saúde,
2000.
NERI, M.; SOARES, W. Desigualdade social e saúde no Brasil. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, p. 77-87, 2002. Suplemento.
NORONHA, K. V. M.; VIEGAS, M. A. Desigualdade social no acesso aos
serviços de saúde na região sudeste do Brasil. X SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA E
SAÚDE, s/d, mimeo.
NUNES, A. et al. Medindo as desigualdades em saúde no Brasil: uma
proposta de monitoramento. Brasília, Opas/OMS, 2001.
20
A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
OMS. Informe sobre la salud en el mundo, 2002: reducir los riesgos y
promover una vida sana. Genebra, OMS, 2002.
PAMUK, E. Social class and inequality in mortality from 1921 to 1972 in England
and wales. Populations Studies, n. 39, pp. 17-31, 1985.
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, Cia das Letras, 2001.
TOWNSEND, P.; DAVIDSON, N. The black report. Inequalities in health.
Londres, Peguin Books, 1982.
TRAVASSOS, C. Eqüidade e o Sistema Único de Saúde: uma contribuição para
o debate. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 5, n. 19, pp. 224-35, 2000.
______; FERNANDEZ, C.; PÉREZ, M. Desigualdades sociais, morbidade e
consumo de serviços de saúde no Brasil. Série Estudos: política, planejamento e
gestão em saúde, Rio de Janeiro, n. 4, pp. 5-26, 1995.
TRIGUEIRO, A. (Org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da
questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro, Sextante, 2003.
VAN DOORSLAER, E.; WAGSTAFF, A.; RUTTEN, M. Equity in the finance and
delivery of care: international perspective. Oxford Medical Publications, Oxford, n. 8,
1993.
WAGSTAFF, A. Socioeconomic inequalities in child mortality; comparisons
across nine developing countries. Bulletin of the World Health Organization, n. 78,
pp. 19-29, 2000.
______; PACI, P.; VAN DOORSLARE, E. On the measurement of inequalities in
health. Social Science and Medicine, n. 33, pp. 545-57, 1991.
Artigo recebido em 06.12.2005. Aprovado em 18.01.2006
21
THE CONFIGURATION (DILEMMAS) OF ENVIRONMENTAL AND
HEALTH RISKS: TRENDS AND PERSPECTIVES IN BRAZIL Murilo Fahel¹; Mauro Campos²; Carolina Araújo³
¹Professor-researcher at Unimontes, masters in public health at UAM/Xochimilco (Mexico) and doctoral studies in human sciences: sociology and politics at UFM; ²professor at Centro Universitário Newton Paiva, masters in
city management at PUC-MG and doctoral studies in human sciences: sociology and politics at UFMG; ³professor at Universidade de Negócios e Administração (UNA), masters in management at HEC (Montreal).
ABSTRACT
This article analyzes the relationship between health and environmental risks within the
social and economical development adopted by central and surrounding countries. It
emphasizes an exploratory analysis of environmental effects on the individual’s state of
health, considering the macro-economical aspects that contribute to the consolidation of
environmental and health paradigms on a global level. This text aims to highlight the main
paradoxes, combining the aspects regarding existing iniquities in this context, in an
attempt to identify the effects (direct and indirect) resulting from social and economical
inequalities, particularly in urban spaces. It pinpoints this evidence with an analysis of the
situation diagnosed in Brazil, hoping to show the impacts caused by the adopted model of
development and the consequent generation of environmental and health risks to the
population, as well as the response from the Public Health System.
Key words: sustainable development; environmental and health risks; social inequalities; access to health care.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=39
©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the
secretarial department: [email protected]
1
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
INTRODUCTION
The topics of health and environment have always been interconnected. It is not
possible to conceive of decent health conditions in a precarious environmental context.
Thus, when we speak about development, these two subjects – health and environment -
are necessarily included. Situations involving environmental and health risks are not
sustainable along time and compromise the bases of sustainable development:
economical and social development, as well as environment preservation.
The sustainable development goal supported by those three pillars can be
expressed by the concept proposed by the World Commission on Environment and
Development, in 1987. According to it, the official definition of sustainable development is
“development that meets the needs of the present without compromising the ability of
future generations to meet their own needs. ”
In this article we present two kinds of problems that affect public health and are
directly influenced by the development models adopted by each country.
Initially we will treat the health issues related to social inequity, as a result of the
economical model through which product exchanges are made in almost every country in
the world. The dynamic of the economy deeply influences the social arrangement, as one
can observe in the socioeconomically excluded, making up a significant portion of the
population, who, empowered, are not able to achieve the minimal conditions for a
satisfactory life for themselves and their descendants. This difficulty manifests itself in
three real problems exposed in this article: a higher susceptibility to health risks, due to the
precarious sanitary conditions they live in; lack of alimentation, which makes them more
vulnerable to diseases; and the precarious access to public health services.
On a larger perspective, we will try to analyze the environmental problems as
generators of health risks, which are not necessarily limited to the more vulnerable
population. The effects of a development model, which is harmful to the environment
balance, do not respect social classes or geographic differences. Still, this subject has
been treated with certain irresponsibility when development politics are being defined.
However, the dynamic of exclusion, referred to in the previous paragraph, gains new
2
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
proportions when one observes that peripheral countries are more seriously, yet not
exclusively, affected by environmental problems.
Both situations are problematic and morally condemnable. Both go against
sustainable development propositions. The first one, since it regards the country’s internal
problems, must be minimized by effective public politics that touches, at the same time,
public health issues and economical exclusion. As for stopping harmful development in the
environment, the propositions of international treaties present an alternative, in the context
of historical negligence to the negative effect favoring the immediate economical benefit
that results.
Since ECO-92, several countries have signed formal tools that generated
compromises and obligations ruled by international law. Since the declaration of Agenda
21, Brazil has signed and ratified some conventions that directly affect health and
environmental issues in the country. Among them, we stress The Convention on Biological
Diversity, which caused a change in the Brazilian Legislation regarding the uses of genetic
resources and traditional knowledge associated; the Convention on Climate Change, that
led to the Kyoto Protocol, which limits the increase of gas emissions causing Global
Warming; and the Vienna Convention and Montreal Protocol on Substances That Deplete
the Ozone Layer, whose goal is to protect human and environmental health against the
harmful effects of alterations to the ozone layer. This is the context of the discussion of
public and environmental health in Brazil, and in the world. The problems associated are
not of easy and immediate solutions, but call for deep changes in the governmental
conception of development and their actions toward it.
HEALTH AREA PARADOXES AROUND THE WORLD
The environmental and health issues meet new challenges as mankind develops,
and the ecosystem and quality of life around the globe suffers the impacts of this
development.
These changes have meaningful implications on individual health conditions and
they generate lifestyles with low sustainability if one thinks about behaviors that could be
considered healthy.
3
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
More and more multisided organisms, scientists and ecological movement
militants, have been alerted to the worldwide tendency to aggravate environmental risks
and amplify mankind’s vulnerability. However, the critical situations that have put the
health of the population at risk persist, compromising the quality of water and air, thereby
causing a continuous unbalance in our ecosystem.
In the context of international cooperation for sustainable development, political
action for the actual implementation of United Nations’ Agenda 21 has established, since
the beginning of the 90’s, new principles and governmental and intergovernmental
agreements1. It proposes the adoption of a new ecological rationality directed at
economical efficiency and equality, social responsibility, fighting against international and
national disparities related to poverty, hunger, diseases, illiteracy and, especially the
deterioration of ecosystems.
In addition to this, human behavior has been changing along its history, creating
new habits that affect health quality. These lifestyle changes, both on the production and
consumption patterns, create a new epidemiological profile.
The World Health Organization’s (WHO) report for the year 2002, entitled Reducir
los riesgos y promover una vida sana (Reducing the risks and promoting a sane life)
shows a world paradox in consumption patterns, stressing the distance between the poor
and rich countries. Many of the risks analyzed in this document are due to a lack of
consumption among the poor and excessive consumption among the priviledged. More
specifically, the manifestation and persistence of non-transmissible diseases associated
with bad habits and food are found in large urban locations, coexisting with malnutrition in
poorer areas.
According to Who (2002), the ten leading health risk factors, globally and
regionally, are: underweight; unsafe sex; high blood pressure; tobacco consumption;
alcohol consumption; unsafe water, sanitation and hygiene; iron deficiency; indoor smoke
from solid fuels; high cholesterol and obesity. Together, these account for more than one-
third of all deaths worldwide. Most of the examined risks in this report have a close
1These new agreements include: 1) the perfecting of the decision making process and planning and management systems, aiming the gradual articulation of economical, social and environmental issues; 2) the institutionalization of the information system for vigilance and evaluation of the reached progress; 3) the adoption of a national strategy for sustainable development.
4
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
connection with lifestyle, in particular with excessive or insufficient consumption. At the
extreme opposite of poverty is over-nourishment, qualified as over-consumption2.
The common risks such as: high blood pressure, high cholesterol, excessive
tobacco and alcohol consumption, obesity, sedentary lifestyle and related diseases prevail
in wealthier countries. At the same time, poor countries suffer a double charge, since they
are both vulnerable to infectious diseases, more common there, and to non-transmissible
diseases caused by new conditions of production and consumption in the modern world.
In regard to the aforementioned tendency, what can be observed is a fast
expansion of such infirmities persisting, and resulting in almost 60% of world mortality.
This mortality rate is related to an evolution in eating habits, more specifically, the constant
consumption of industrialized food with high levels of fat, salt and sugar.
RISKS OF INEQUALITY IN QUALITY OF LIFE
The inequalities identified in modern societies have an inner heterogeneous
structure with many dimensions – social, economical, ethnical, cultural, geographical. As a
result of an inequality to access social goods, we have important differences in quality of
life. Multiple social privations are due to structural inequalities that sustain themselves
along time, rather than on individual skills (ACHESON, 2000). In our current society, we
can affirm that the process of modernization has produced a globalization of risks and
vulnerability and the world population has been unequally subjected to them. The
generation of vulnerable population is related to the multiple dimensions of society risks,
from the industrial and technological, to the ones related to urban environments. As for the
juxtaposition of risks, the poor populations are all the more vulnerable, experiencing high
levels of risk contact.
On the other hand, the idea of well being is being considered more and more as a
parameter of equality in regard to the access to opportunities generated by the
development process. Thus, the concept of development is beginning to be understood as
2 The world contrasts are huge - while in the poor countries there are 170 millions of children underweight, and more than three million dying for this reason every year, more than a billion adults have excessive weight and around 300 millions are clinically obese. Approximately half million die every year in North America and Western Europe form diseases related to obesity (WHO, 2002).
5
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
a wide process of expansion of the right to make individual choices in many areas:
economical, political, social or cultural. (SEN, 2001).
In the same perspective, the notion of quality of life is considered on a wide
perspective: one side related to lifestyle and conditions, the other side including ideas on
sustainable development and human ecology; eventually relating to democracy,
development and social and human rights, producing a defining parameter of social and
individual well being (MINAYO et al., 2000).
Thus, it is possible to establish an inner relationship between the concept of health
and quality of life – understood as human capacities socially determined. Health, in this
context, is defined by quality of life and by the capacity of people to be and to act. As for
the social inequities, we use the concept proposed by Sen (2001): consisting of the
socially produced differences that are morally unfair. If we approach both concepts, we
can say that social inequity in health means socially produced differences in quality of life
and in the capacity of social and individual groups being and acting, that are, per se,
morally unfair and consequently must be minimized.
Studies show that health determination is multidimensional and that the
determinants interact, influencing the physical and psychical disposition of people,
throughout their lives and through their generations. As for inequity, it materializes itself as
unequal access to health services and unequal index distribution of these services among
the social groups. Thus, social conditions determine the degree of exposure to the risk
factors of getting ill and the access to health goods and services. In other words, the
inequities in health have their roots in social inequities.
We know that the inequity patterns in health vary in space and time, and that those
inequities can be worsened according to demographic and environmental determinants,
access to health goods and services and social politics (DUARTE et al., 2002). Thus, the
inequalities in health are stressed among social groups with different socioeconomic
conditions, ethnicity, gender, age and territory.
As a consequence, these situations generate an excessiveness of problems that
mainly affect the most vulnerable groups: early mortality, overcharging for medical
procedures, higher demands for social services and reduction of the possibility of social
ascension.
6
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
The confrontation of constant evidence that socially excluded people have a worse
health situation around the world, and the attention to the health inequities, have been
constant subjects on the WHO’s political agenda.
The recognition of the effects of social stratification or that people included in social
relationships have different chances to accomplish their material interests (WRIGHT apud
TRAVASSOS, 2000) gave focus to the debates about the equality of health services, as a
principle of social justice.
These statements are confirmed by the comparative studies made by Van
Doorslaer et al. (1993), with nine European nations and the United States about their
health pattern equality. Doorslaer showed that, in all the analyzed countries, mortality was
not distributed in a proportional way, always concentrating on the poorer people. The
same conclusion is shown by Travassos et al. (1995), in Brazil, using data of the Pesquisa
Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), (National Research on Health and Nutrition), in
1989, coordinated by the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Brazilian
Institute of Geography and Statistics). According to it, the mortality rate in Brazil for the
urban population tends to rise inversely with familiar income per capita in all the larger
regions in the country.
TENDENCIES OF THE ANALYZES OF INEQUALITIES IN HEALTH
Currently, there is a wide consensus that people exposed to harsh social and
economical situations may suffer worse health conditions. Some studies have been trying
to validate this point-of-view arguing the existing association between socioeconomic
conditions and inequities in health.
Since the publishing of the Black report, when Townsend and Davidson (1982)
showed an increase of inequities in the health of the British3, there have been efforts to
analyze the health conditions and the access to its services, according to the division of
the population by socioeconomic level, measured by income, education, occupation or
3 In the United Kingdom, since the 80’s, three big evaluation researches have taken place: The black report on social inequalities in health, by Townsend & Davidson; The health divide, by Townsend, Davidson & Whitehead; and Independent inquiry into inequalities in health, by Acheson.
7
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
position in the social hierarchy and the differences among life expectancy in the United
Kingdom (PAMUK, 1985; CHANDOLA, 2000; WAGSTAFF, 2000).
In the United States, salary inequalities are closely associated with mortality
inequalities, homicides and low birth weight (KAPLAN et al., 1996).
In Europe, the projects Socioeconomic Factors in Health and Health Care, and
Socioeconomic Inequalities in Mortality and Morbidity in Europe, coordinated by Erasmus
University, in Rotterdam, Holland, through sectional results published by Mackenbach and
Kunst (1997), indicate that socioeconomic inequalities that effect the health of the
population in countries belonging to the European Union, manifest themselves mainly in
the educational, nutritional and health service domains, both in the way they work and the
expenses per capita that maintain them4.
In Brazil, some recent studies have been investigating health inequality through
regional, infra-regional and inter-urban comparisons. The results of the research
conducted: Medindo as Desigualdades em Saúde no Brasil (Measuring the health
inequalities in Brazil), developed by the Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
(Institute of Applied Economical Research), with the support of the Organização Pan-
Americana de Saúde (Opas) (Pan-American Health Organization) is one example. This
research makes a wide analysis of the health social inequality profile in Brazil using
databases (Pnad, POF, AMS, Data-SUS, IDB/Ripsa5 and others) available for general use
and accessible indicators and methodology. Thus, it creates an inequality measurement
pattern, able to analyze the human resources offering behavior and installed capacity,
access and utilization of health services, federal and familiar federal expenses, quality of
health, situation of health and health related to life conditions.
Another research that follows this tendency to analyze the social inequities is the
Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo exploratório
(Epidemiology of health inequities in Brazil: an exploratory study), developed through a
partnership between the do Ministério da Saúde (MS) (Ministry of Health), Centro Nacional
4 The Gini Coefficient method was used as a parameter to measure inequity among the 15 countries of the European Union in education, cultural activities, lifestyles, nutrition, unemployment, expenses on health services. 5 Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), Pesquisa do Orçamento Familiar (POF) and Pesquisa Assistência Médico-Sanitária (AMS), made by IBGE; Data-SUS, Ministério de Saúde and Indicadores Demográficos e Socioeconômicos (IDB) from Rede Interagências de Informações para a Saúde (Ripsa).
8
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
de Epidemiologia (Cenepi), (National Epidemiology Center), the WHO and the OPAS,
through the Programa Especial de Análises de Saúde (SHA), (Special Program on Health
Analysis), from Washington. It analyzes the inequities according to socioeconomic and
geographical aspects, in addition to the inequities that are related to population
composition by gender, age and health public services, using databases from Data-SUS,
IBGE, IDB/Ripsa and others.
This study suggests that the health inequity in Brazil is polarized on national and
intra-regional levels and that, due to the magnitude of the differences between the
indicators observed among the regions, the Brazilian pattern is really asymmetrical.
According to the research, three main determinants seem to explain, in statistical
terms, the differences found in: urbanization, poverty and aspects related to the
organization of health services. Urbanization suggests the exposure to a “modern” pattern
of risks; poverty relates to the inner difficulties to obtain individual or social health services;
and finally, the services can per se raise or create the inequalities in health. In this last
aspect, two factors can be outlined: access and quality of services. The perspective is that
this exploratory study must become a wider Atlas of the Inequalities in Health in Brazil and
serve as a reference for the design of health politics and government management
models.
ENVIRONMENTAL AND HEALTH RISKS IN BRAZIL
Social and economical development processes, in the way they interfere with the
ecosystems can generate risk situations. The kinds of pollution a society produces, and
the uncontrolled liberation of specific kinds of energy, directly affects the mortality profile of
a population.
However, the influences of the environment on health may go in two directions: one
positive, since it can promote well being and contribute to fulfilling the accomplishments of
human capacities, and also a negative one, generating emergencies and maintaining
diseases and even causing death to a certain segment of the population. The path chosen
is closely connected to the social and economical development model adopted by each
9
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
country and also to the design of the world pact, based on both economical increases and
social and environmental responsibility.
In Brazil, it is possible to identify several factors that contribute to a non-sustainable
development model: constant growth of the deforestation areas (The Amazon Rain Forest
and The Cerrado), low water quality, insufficient basic sanitation, environmental
contamination by pollutants, all associated with accelerated urbanization creating huge,
poor neighborhoods on the outskirts of big Brazilian cities.
This chaotic development model has important implications in the emergence and
re-emergence of diseases, leading the country to a complex epidemiological state, high in
risk to health, especially within the more vulnerable population.
Talking about health risks in Brazil involves discussing different scenarios and their
relationships to the socioenvironmental phenomena. Knowing that the Brazilian population
is getting older (RIPSA, 2000; IBGE, 2001), the increase in cardiovascular and neo-plastic
diseases, especially within the last ten years, has been related to the effects of genetics
and life and work conditions for the people who are exposed to certain chemical pollutants.
At the same time, infectious-parasitical diseases, strongly related to socioenvironmental
conditions, show a decline in mortality rate (sixth cause of death) but present an uneven
distribution throughout the country’s regions within specific social groups. We may also
observe the re-emergence of ancient diseases (cholera, dengue, malaria), especially in
certain geographic areas, consolidating areas of epidemics with higher susceptibility for a
systematic occurrence.
External causes, including accidents and violent actions, producing traumas,
lesions and diseases, have been increasing (second cause of mortality), with a strong
interdependence on socioenvironmental conditions.
These scenarios and their epidemiological tendencies have an intimate relationship
with social inequity and the environmental impacts caused by the development model
adopted. Even though there have been some advances in controlling these infectious-
parasitical diseases (measles, poliomyelitis, AIDS and others), the sanitary conditions of
the population remain seriously unequal. Actions such as increased coverage of health
services within the population, access to new technologies and inputs, are not sufficient in
such a context. To counteract this situation, structural changes in the social and
10
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
economical development model are necessary, focusing primarily on the promotion of
human health through healthy environments, both in the production and consumption
areas.
Health indicators in Brazilian territories show strong differences in mortality among
regions and towns. In the northeast region, for example, the child mortality rate is 3.5 times
higher (52.4/1000) than in the south (15.1/1000). Whereas deaths caused by respiratory
problems, occur much more frequently in the south and southeast, especially near
industrial iron, steel and petrochemical plants, such as in Cubatão (SP). It is important to
stress that respiratory diseases corresponded to 16.22% of those hospitalized in 2000,
occupying the second position of the most constant diseases (RIPSA, 2001). This confirms
the WHO affirmation (1998) that associated 50% to 60% of respiratory cases with
environmental exposure, both for chronic and non-chronic patients.
In the specific cases of diseases caused by the work environment, of which all
cases have yet to be recorded, there was an increase of 35,000 patients in 1996 in only a
limited area of 18.8 million people, concentrated in the southeast region (58%) and the
south (19%), without including the non-permanent workers (RIPSA, 1998). From 1990 to
1996, there was an increase of 8% in work related diseases. In 1996, the rate went to
16.24/10,000 workers.
As for the transmittable diseases, quality of life conditions no longer offer protection
against their dissemination. The perspective for peripheral countries is not optimistic:
besides the endemic behavior of these diseases, they must also deal with such basic
problems as nutrition, sanitation, housing, vector controls and access to basic health care
(IBAMA/GEO, 2002). The Ministry of Health, through Funasa, has shown an increase of
several diseases such as malaria, tuberculosis and leprosy, and also epidemics of
meningococcal meningitis, cholera, dengue, leptospirosis, leishmaniasis and even
hantaviruses, since the beginning of the 80’s (Chart I).
Relevant factors of health risk are derived from a productive process that generates
the contamination by chemical agents especially agro-chemicals, lead and mercury.
Examples of these are the biocides used to control plagues, without any consideration for
individual susceptibilities to the exposure. According to the WHO, 70% of human
intoxication cases occur in developing countries, and in Brazil the data demonstrates this
tendency. In 1999, there were 398 deaths in the country, caused by exposure to agro-
11
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
chemicals and 140 of them had an occupational origin. Exposure to the metallic mercury
generated by industrial use primarily occurs in the south and southeast regions, and in the
case of the “Legal Amazon”, because of the gold mining.
The mercury thrown in the environment can deposit itself in rivers and through the
biological chain, transform itself into multi-mercurial organic compost, which can be found
in the omnivorous fish consumed by the population who live by the rivers, causing damage
to human health (IBAMA/GEO, 2002).
Another relevant factor that has been causing damage to the health of the
population is atmospheric pollution, which compromises the air quality, affecting millions of
people. In Brazil, many of the respiratory problems in recent years have been associated
with the deterioration of air quality, mainly in metropolitan areas. Between 1970 and 2000,
a substantial increase in the emission of pollutants in the country was registered, with
variations from 200%, in the case of sulfur dioxide (SO2), to 500% in the case of hydro-
carbonates. Associated with gases released from the black smoke from the cars, these
pollutants contribute to an increase in respiratory diseases. Studies indicate that, in São
Paulo, a strong correlation between the increase of the pollution and the incidence of
respiratory problems exists, corresponding to 20%-25% of the medical patients and to
10%-12% of the mortalities.
12
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
We can also observe an intensification of lung diseases during the 90’s, for workers
exposed to silica and asbestos in work places such as textile, extractive and civil
construction industries, among others. Another factor that contributes to the increase in
respiratory diseases is the ‘burnings’ – a normal practice in large agricultural areas
throughout the country – as registered in Alta Floresta, in the state of Mato Grosso, where
the number of people with problems increased 20 fold during a burning episode
(IBAMA/GEO, 2002).
It is also important to mention natural episodes, such as environmental disasters
(floods, drought, mudslides and forest fires), which have been seriously contributing to
mortality in the country, as well as industrial accidents responsible for both human death
and environmental damage. Preventive and controlling actions have been set in place, but
have shown little effectiveness and the damaging effects to human health, as well as the
aggression to the ecosystem caused by natural phenomena and industrial accidents, have
continued in several regions of the country.
In Brazil, the recognition of the interdependence between economical development,
quality of life, environmental and health conditions, are not widely known as can be
observed in the continuity of environmental degradation. Both quality of life and the
country’s epidemiological profile are seriously affected by this situation.
HEALTH POLITICS IN BRAZIL
In Brazil, what can be observed about governmental actions in health politics is that
collective actions, such as immunization, epidemic control and sanitation, have occurred in
the field of public health, closely linked with the economical environment. Historically, a
great gap has existed between preventive measures and curative ones. It would not be
exaggerated to say that these differences have been highly damaging and unfair.
Preventive measures are still being financed by the government; however, the loss in
prestige of social development over the years, has resulted in a freezing of primordial
activities for giving hospital and medical services to the population.
The Brazilian health system has always separated preventive and curative
activities. Preventive actions were always focused on basic sanitation and stopping the
13
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
causes and transmission of diseases among the collectivity. This was done through
sanitation services in regards to the environment, people and animal vectors, no matter if
the people wanted it or not.
As for medical assistance, there has been a significant deterioration in public
services, and reduction of expenses. The current health system gives priority to medical
assistance operated by the private sector, financed by the government. This model has
developed with the process of urbanization and industrialization that occurred during the
30’s. The fast constitution of an urban working class created individual needs for medical
assistance. This system was developed according to the demands of the workers, through
a self-evaluation of their health. This model was adjusted and assessed by the industrial
system, which needed people in good health to work.
Although there have been some initiatives to set a public health system in place for
everyone, as established by the Constitution of 1988, serious deformations still persist in
the whole process. For example, we are still able to find mishandling of public resources
destined for health services in every governmental sphere; centralization of governmental
actions, which many times are disorganized, not compromised and/or tied to the political
machine; a model focused on curative and hospital medicine instead of on preventive
actions; low level of medical services (both quality- wise and quantity- wise); precarious
control of the internal redistribution of public resources and many other that are, without a
doubt, contributing to the low credibility of the Brazilian public health system (MS, 2000).
In practice, the formal globalization of health services implies an exclusion of
certain segments of the society. According to Faveret and Oliveira (1990), this has been
happening to workers with stable incomes. To contain an eventual excess of demand for
public services, they were pushed into the private system.
This migration to the private system can also be explained by the low quality public
services offered, and consequently, the public system become restricted to the less
privileged part of the population. As a result, an “excluding globalization” took place: the
expansion of the system was followed by a rationing mechanism, causing a decrease in
the efficiency of health services. In reality, this condition limited public service assistance
to poor people, inducing all others with stable income to adhere to private or semi-private
insurance.
14
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
These structural characteristics of the Brazilian health service have reinforced its
double character: on one hand directed to the privileged social layers, who have easier
access to private services, and on another, directed to those who depend solely on the
public system. Thus, even with an original legislative proposal to create a universal
assistance, the mechanisms for the creation of a unique system resulted in a dual system,
characterized by the segmentation of its clients.
FINAL CONSIDERATIONS
Universally acknowledged as a human right, health and all the factors that interfere
with its state demand deep contemplation. The interferences of the environment on our
health creates new discussions, on the theoretical and empirical field, based on the
understanding of how environmental variables can influence a better or worse health state
(IBAMA/GEO, 2002). Thus, the environmental situation can encourage well being, but can
also create many problems.
What can be observed is that, in relation to health aggravation, the environmental
issues have an extremely important role. Environmental problems can aggravate risks to
the health of the entire population, not only of the vulnerable, exposed to the results of a
development model highly damaging to environmental balance. This intersection between
health and environment reinforces the issues of pollution control programs and
approaches the multisided organisms around this common goal. Furthermore, when we
observe the difficulties in maintaining favorable health conditions in unsuitable
environments destroyed by human action, our attention is called to the discussions about
the mechanisms used to associate economical and social development and environmental
preservation. In this way, we may begin to propose a model of sustainable development
designed to reduce environmental and health risks.
From an individual perspective, what determines the search for health services is
not foreseeable behavior or pre-programmed need, but an unforeseeable contingency,
whether one can or cannot afford to maintain good physical and/or mental conditions.
Thus, access to these services assumes a fundamental role for the individual, thereby
making health, no matter which idealistic definition we may use for it, the product of
objective existence conditions. It is obviously necessary to reinforce the idea of health
15
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
rights as a basic notion for governmental action, as long as we establish the difference
between the right to health, the right to health services and the right to medical assistance.
The current health system is insufficient because the parameter commonly used for
the allocation of scarce resources is based on curative medicine, emphasizing hospital
procedures, which should in fact be the last link in the assistance chain. However, the
political bases leading the investments are oriented towards immediate action and
corrective measures, which are of course easier to be seen. Preventive action, which
would generate better results on longer terms with less expense, is unfortunately left to the
economical interests of groups connected with the furnishing of equipment and
laboratories, among other lobby groups that end up directing the resources in this area.
In this context, mistakes of governmental measures in the health sector become
clear, since disease is fundamentally a consequence of the basic standards of living of the
population. Furthermore, the health profile of the collectivity depends on conditions
connected to the very structure of society. The maintenance of the health state must have
an articulated action in a wide range of social areas, related to work, salary, public
insurance, education, food, environment and others. This reinforces the close relationship
between health and socioeconomic sustainable development, demanding deep theoretical
and empirical studies that would explain the multisided aspects of the relationship between
health, environment and development, mentioned in this article.
16
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
ACHESON, D. Heath inequalities impact assessment. Bulletin of the world
health organization, pp. 75-85, 2000.
ALLEYNE, G. A. Equity and Health. In: XI WORD CONGRESS OF
PSYCHIATRY ON PSYCHIATRY ON NEW THERSHOLDS, Hamburgo, 6-11 ago.
1999.
CHANDOLA, T. Social class differences in mortality using the new UK national
statistics socioeconomic classification. Social Science and Medicine, n. 50, pp. 641-9,
2000.
CULYER, J./ WAGSTAFF, A. Need, equity and equality in health care. York,
University of York, 1992.
DACHS, J. Determinantes das desigualdades na auto-avaliação do estado de
saúde no Brasil: análise dos dados da Pnad/1998. Revista Ciência & Saúde Coletiva,
Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, 2002.
DUARTE, E. et al. Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil:
um estudo exploratório. Brasília, Opas/OMS/Funasa, 2002.
FAHEL, M.; INÁCIO, M. Qualidade de vida aplicada à saúde do trabalhador:
perspectivas. In: AMORIM, C. S.; CARVALHO, L. F. (Orgs.). Saúde e segurança no
ambiente de trabalho: contexto e vertentes. Belo Horizonte, Fundacentro/UFSJ, pp.
127-37, 2002. (Coleção de Estudos e Análise.)
FAVERET F., P.; OLIVEIRA, P. A Universalização Excludente: reflexões sobre
as tendências do sistema de saúde. In: Revista Dados de Ciências Sociais. Rio de
Janeiro, v. 33, n. 2, pp. 257-83, 1990.
FLEURY, S. Políticas Sociais e Cidadania na América Latina. In: CANESQUI,
Ana Maria (Org.). Ciências Sociais e Saúde. São Paulo, Ed. Hucitec/Abrasco, 1997.
GAKIDOU, E.; MURRAY, C. J.; FRENK, J. Defining and measuring health
inequality: approach based on the distribution of health expectancy. Bulletin of the
world health organization, n. 78, pp. 42-54, 2000.
17
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
GIRALDES, R. Eqüidade em áreas socioeconômicas com impacto na saúde em
países da União Européia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 3, n. 17,
2001.
IBAMA. Geo-Brasil: perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília, Governo
Federal, 2002.
ISA. Almanaque Brasil socioambiental. São Paulo, Instituto Sócio-Ambiental,
2005.
KAPLAN, G.; PAMUK, R.; LYNCH, R. Inequality in income and mortality in the
United States; analysis of mortality and potential pathways. BMJ California, n. 31, pp. 999-
1.003, 1996.
MACKENBACH, J.; KUNST, A. Measuring the magnitude of socio-economic
inequalities in health: overview of available measures illustrated with two examples from
Europe. Social Science Medicine, Rotterdam, n. 44, v.6 , pp. 757-71, 1997.
MEDICI, André Cezar. Aspectos teóricos e conceituais do financiamento das
políticas de saúde. In: PIOLA, Sérgio Francisco; VIANNA, Solon Magalhães (Orgs.).
Economia da Saúde: conceito e contribuição para a gestão da saúde. 2. ed. Brasília,
Ipea, 1995.
MINAYO, M.; HARTZ, Z.; BUSS, P. Qualidade de vida e saúde: um debate
necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, pp. 7-18, 2000.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. SUS: descentralização. Brasília, Ministério da Saúde,
2000.
NERI, M.; SOARES, W. Desigualdade social e saúde no Brasil. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, p. 77-87, 2002. Suplemento.
NORONHA, K. V. M.; VIEGAS, M. A. Desigualdade social no acesso aos
serviços de saúde na região sudeste do Brasil. X SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA E
SAÚDE, s/d, mimeo.
NUNES, A. et al. Medindo as desigualdades em saúde no Brasil: uma
proposta de monitoramento. Brasília, Opas/OMS, 2001.
18
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
OMS. Informe sobre la salud en el mundo, 2002: reducir los riesgos y
promover una vida sana. Genebra, OMS, 2002.
PAMUK, E. Social class and inequality in mortality from 1921 to 1972 in England
and Wales. Populations Studies, n. 39, pp. 17-31, 1985.
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, Cia das Letras, 2001.
TOWNSEND, P.; DAVIDSON, N. The black report. Inequalities in health.
Londres, Peguin Books, 1982.
TRAVASSOS, C. Eqüidade e o Sistema Único de Saúde: uma contribuição para
o debate. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 5, n. 19, pp. 224-35, 2000.
______; FERNANDEZ, C.; PÉREZ, M. Desigualdades sociais, morbidade e
consumo de serviços de saúde no Brasil. Série Estudos: política, planejamento e
gestão em saúde, Rio de Janeiro, n. 4, pp. 5-26, 1995.
TRIGUEIRO, A. (Org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da
questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro, Sextante, 2003.
VAN DOORSLAER, E.; WAGSTAFF, A.; RUTTEN, M. Equity in the finance and
delivery of care: international perspective. Oxford Medical Publications, Oxford, n. 8,
1993.
WAGSTAFF, A. Socioeconomic inequalities in child mortality; comparisons
across nine developing countries. Bulletin of the World Health Organization, n. 78,
pp. 19-29, 2000.
______; PACI, P.; VAN DOORSLARE, E. On the measurement of inequalities in
health. Social Science and Medicine, n. 33, pp. 545-57, 1991.
Article received on 06.12.2005. Approved on 18.01.2006.
19
The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS
INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br
20
AVALIAÇÃO DE RISCO DA INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES MARINHAS
EXÓTICAS POR MEIO DE ÁGUA DE LASTRO NO TERMINAL
PORTUÁRIO DE PONTA UBU (ES) Douglas Siqueira de Medeiros1; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD2
1 Mestre em Tecnologia Ambiental – IPT. Terminal Portuário de Ponta Ubu (ES) – Samarco Mineração S.A.; [email protected] 2 Docente, Mestrado em Tecnologia Ambiental – Cenatec. Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT.
RESUMO
Com o objetivo de minimizar a introdução de espécies marinhas exóticas nos portos, por
meio do descarte da água de lastro dos navios, desenvolveu-se um trabalho de avaliação
de risco dessa operação no Terminal Portuário de Ponta Ubu (ES, Brasil). A técnica
baseou-se naquela adotada pelo Global Ballast Water Management Programme –
GloBallast, da International Maritime Organization – IMO, uma agência da Organização
das Nações Unidas. Essa técnica toma como base a comparação entre as características
ambientais dos portos doadores e receptores de água de lastro, por isso foi necessário
conhecer os parâmetros ambientais dos portos, das espécies de risco por biorregião,
além dos dados sobre a água de lastro recebida, gerando um coeficiente global de risco.
Com esse coeficiente foi possível separar os portos doadores de água de lastro em cinco
classes de risco, ao servirem como vetor no transporte de uma espécie marinha exótica
para o Terminal Portuário de Ponta Ubu.
Palavras-chave: água de lastro; análise de risco; introdução de espécies exóticas;
avaliação ambiental; Ponta Ubu..
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/secao_interfacehs.asp?ed=2&cod_artigo=37
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
Para que os navios consigam navegar em segurança quando se lançam ao mar
sem carga, eles são obrigados a lastrar, que é a operação de colocar a bordo peso líquido
ou sólido para garantir a sua estabilidade e a segurança da tripulação, além de evitar
danos à estrutura.
Os navios, que hoje arcam com o transporte de 80 por cento de toda a mercadoria
comercializada no mundo, estão sendo responsabilizados por causar impactos
ambientais, econômicos e sociais em diversas regiões do globo terrestre, pois, para esse
volume de carga movimentada entre os portos, eles transladam involuntariamente 13
bilhões de toneladas de água de lastro por ano.
Essa movimentação de água de lastro, gerada pela necessidade operacional dos
navios, está sendo responsabilizada pela introdução involuntária de espécies de uma
região em outra e nos portos considerados como palco desses acontecimentos. Embora a
água de lastro seja apontada hoje como uma das quatro maiores ameaças aos mares e
oceanos, por sua atuação como vetor na introdução de espécies exóticas, a literatura
relata que o fenômeno já ocorria com o lastro sólido que a antecedeu.
De acordo com o documento MEPC 49/2/3, que contém a minuta da Convenção
Internacional Para o Controle e Gerenciamento da Água de Lastro de Navios e
Sedimentos, em seu art. 1º, Definições, temos: “Água de Lastro significa água com seu
material em suspensão, tomada a bordo do navio para controlar ‘trim’,1 adernamento,
calado,2 estabilidade ou tensões de um navio”.
À medida que o navio vai sendo descarregado, ele vai captando água do local
onde está atracado, por meio das suas bombas de água de lastro, que são bombas
centrífugas de grande vazão, utilizadas tanto para colocar água no interior de seus
tanques de lastro, como para retirá-la. A água permanecerá armazenada no interior dos
tanques de lastro, até que o navio chegue ao seu porto de carregamento, onde, à medida
que vai recebendo carga em seus porões, vai descarregando-a (Figura 1).
2
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Os tanques de lastro aos quais este trabalho faz menção são compartimentos
estanques existentes a bordo, cuja única finalidade é o armazenamento e transporte de
água de lastro. Recebem a denominação de tanques de lastro segregado, de acordo com
a International Maritime Organization (IMO, 1984, p.41).
3
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Os tanques, nos quais é transportada a água de lastro, ficam dispostos ao longo
de todo o casco do navio (Figura 2). Existe ainda a opção de se fazer lastro nos porões ou
tanques de carga (FONSECA, 1960, p.129).
Embora o início da utilização do lastro líquido, sob a forma de água, nos navios,
em substituição ao sólido, tenha se dado no final do século XIX, é provável que, somente
durante e após a Segunda Guerra Mundial, a água de lastro tenha começado a circular
em grandes volumes, dando início ao processo de introdução involuntária de espécies
exóticas, por esse vetor, de acordo com Carlton e Geller (1993, p.78-82).
Espécies introduzidas também são conhecidas como espécies invasoras,
alienígenas, exóticas, estrangeiras, não nativas, imigrantes e não indígenas. Às vezes
essas palavras são tratadas como sinônimos, porém, em outros momentos, cada uma
adquire significado diferente.
Uma espécie não nativa é aquela que ocorre em uma região onde ela previamente não
existia, pelo menos em uma base de tempo histórica.
Já o termo “espécies invasoras” refere-se a um grupo definido, em termos gerais,
de espécies introduzidas, que trazem ou poderiam trazer alguma medida de dano para a
economia, o ambiente, ou a saúde humana.
Estima-se que, diariamente, 3 mil a 4 mil espécies estejam sendo transportadas
por navios (GOLLASCH, 1997, p.151-7), ameaçando a saúde pública, a biodiversidade e
as atividades socioeconômicas relacionadas, por exemplo, com as populações
tradicionais, as indústrias da pesca e da aqüicultura.
O primeiro registro sobre a introdução de espécies exóticas por meio da água de
lastro foi feito por Ostenfeld (1908), depois da ocorrência de uma floração de diatomácea
Odontella sinensis no Mar do Norte, endêmica da costa tropical e subtropical do Indo-
Pacífico. Essa ocorrência não trouxe, aparentemente, efeitos nocivos (HALLERGRAEF &
BOLCH, 1992, p.1067-84).
Calcula-se que, por volta de 1908, o caranguejo chinês Eriocheir sinensis, ainda
em sua fase larval, tenha migrado para a o sistema hidroviário alemão, embora ele só
tenha sido identificado na Alemanha em 1912. Em 1930, sem causas conhecidas, a
população desse caranguejo cresceu desmedidamente, invadindo ruas e causando
4
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
prejuízos às represas e diques (ROSENTHAL et al., 1998, p.3). Ele migrou da Alemanha
para a Europa Ocidental através dos canais de água doce e, em seu caminho, devastou
estoques de peixes (CALIXTO, 2000, p.96). O evento só veio a se repetir novamente em
abril de 1998, no Rio Elba, onde 850 quilogramas ou 75 mil unidades dessa espécie foram
capturadas pela população local, que se valeu somente das mãos, ou seja, não utilizou
nenhum tipo de instrumento para sua captura. Em 1992, o mesmo caranguejo foi
observado na Baía de São Francisco e na Califórnia, nos Estados Unidos (BROCKMAN,
1999).
Os exemplos mais conhecidos de invasões com sucesso documentado em todo o
mundo são:
Dreissena polymorpa e Dreissena bugensis ou “mexilhão zebra”
Oriundo da Europa Oriental, Dreissena polymorpa foi introduzido, acidentalmente,
através da água de lastro nos Grandes Lagos, fronteira do Canadá com os Estados
Unidos (CARLTON, 1995, p.313-71). A partir daí, o “mexilhão zebra” migrou ainda de
maneira involuntária para as hidrovias americanas, utilizando não só a água de lastro,
como as próprias hidrovias. Hoje, ele já se espalhou por cerca de 40 por cento de toda a
malha hidroviária dos Estados Unidos, gerando um gasto de cinco bilhões de dólares ao
país para tentar conter sua invasão, que está ameaçando a indústria da ostra e colocando
em perigo centenas de empregos, e reparar os danos materiais que ele vem causando
pelo bloqueio das admissões de água das estações de bombas utilizadas no
abastecimento das cidades, hidrelétricas etc.
Mnemiopsis leidyi
Endêmico da Costa Atlântica na América do Norte, teve sua primeira ocorrência
externa a essa área registrada nos mares Negro e de Azov, ao sul da Ucrânia e da
Rússia, em 1982, e hoje está estabelecido nas citadas regiões (SILVA et al., 2001, p.4).
O Mnemiopsis leidyi, atuando como predador, devorou ovos e larvas de peixes e o
próprio plâncton, além de outros ctenóforos, utilizados na alimentação das anchovas.
Sobre essa invasão, os cientistas fizeram uma brincadeira, dizendo que o Mnemiopsis
leidyi é uma resposta americana ao “mexilhão zebra”. Dados divulgados no mesmo ano
indicam que a competição reduziu a oferta do pescado em mais de 80 por cento nos
5
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
últimos dez anos, na Bulgária, Romênia e Turquia (NEWS JOURNAL CENTER, 1997).
“Longe de seus predadores naturais e favorecidos por atributos (hermafroditismo) e
habilidades específicas (reprodução em diferentes condições ambientais, alterações no
seu tamanho), o Mnemiopsis leidyi reproduziu-se rapidamente, chegando à década de
1990 com uma população estimada de um bilhão de toneladas” (SILVA, 2001, p.3).
Limnoperna fortunei ou “mexilhão dourado”
Oriundo dos rios e córregos da China e do Sudeste da Ásia, invadiu Hong Kong
em 1965, Japão e Taiwan nos anos 90 (DARRIGRAN, 2000, p.7-13) e, em 1991, pela
primeira vez, foi encontrado nas Américas, na bacia do Rio da Prata, no Balneário
Bagliardi, Partido Berisso e Buenos Aires, trazido provavelmente pela água de lastro dos
navios transoceânicos (DARRIGRAN, PASTORINO, 1995, p.171-5). Informações não
referenciadas indicam que a mesma espécie foi identificada em 1984, próximo à Colônia
de Sacramento, no Uruguai. Em poucos anos, o Limnoperna fortunei ocupou os rios da
Prata e Paraná, estimando-se que ele viaje uma média de 240 quilômetros por ano
(MANSUR et al., 2004, p.33).
O mesmo autor (MANSUR et al., 1999, p.147-50) já havia feito, em 1998, o
primeiro registro, no Brasil, da presença do Limnoperna fortunei ao sul do Rio Guaíba, na
praia de Itapuã, e no porto das Pombas, município de Viamão (RS).
Em 1998, o Limnoperna fortunei foi encontrado na Usina Hidrelétrica de Yacyretá,
na Argentina. Sua presença vem causando sérios problemas, uma vez que ele provoca a
obstrução de alguns sistemas da geradora de energia elétrica (FONTES, 2002). Esse
autor afirma que, em janeiro de 2000, foi detectada a presença de exemplares adultos do
Limnoperna fortunei afixados aos cascos de dois barcos da Armada Nacional Paraguaia,
que se preparavam para fazer o translado de a jusante para a montante do reservatório
de Itaipu. A raspagem dos exemplares foi efetuada e os mexilhões foram enviados à
Universidade Nacional de La Plata. De acordo com o diagnóstico obtido, a Itaipu efetuou a
limpeza mecânica no casco das embarcações, antes que elas fossem lançadas ao lago
(FONTES, 2002).
6
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Gymnodinium catenatum
Em 1998 o Gymnodinium catenatum foi identificado pela primeira vez no Brasil, em
uma região de cultivo de moluscos na costa de Santa Catarina (PROENÇA et al., 2001,
p.59-65). Esse dinoflagelado é produtor da toxina causadora do “paralytic shellfish
poisoning” – PSP. A constatação dessa toxina em áreas de cultivo de moluscos desde a
Argentina até a costa de Santa Catarina transforma a presença do Gymnodinium
catenatum em um problema de ordem econômica e de saúde pública. O principal suspeito
de causar sua distribuição nessa área é a água de lastro dos navios. O Gymnodium
catenatum forma cistos de resistência, o que facilita a sua sobrevivência no interior dos
tanques de lastro (PROENÇA et al., 2004, p.76-98).
Alexandrium tamarense
O Alexandrium tamarense foi registrado pela primeira vez no Brasil, na costa do
Rio Grande do Sul, em 1996 (ODEBRECHT et al., 1997, p.152). Recentemente,
comparações genéticas realizadas entre cepas obtidas a partir de cistos coletados na
Praia do Cassino, próxima ao porto de Rio Grande (RS), com outras, da Argentina,
Uruguai e Estados Unidos, revelaram semelhança com aquelas da costa oeste deste
último país. Esses resultados descartam a sua migração para o Brasil por correntes
marítimas, aumentando a possibilidade de o processo de introdução ter ocorrido por meio
da água de lastro de navios oriundos daquela região (PERSICH, 2001). A sua presença
na costa do Rio Grande do Sul representa um potencial que pode promover na região
impactos de ordem econômica e de saúde pública, uma vez que a toxina causadora de
PSP pode contaminar o marisco branco, Mesodesma mactroides, que é explorado de
bancos naturais para o consumo humano. Embora não existam dados, esse marisco e
outros filtradores podem acumular, em seus tecidos, quantidades de toxinas suficientes
para intoxicar seres humanos ou causar danos a outros organismos marinhos (PROENÇA
et al., 2004, p.76-98).
ÁGUA DE LASTRO COMO VETOR DE DOENÇA
A possibilidade de a água de lastro descarregada nos portos impactar a saúde das
populações do seu entorno foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde,
7
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
preocupada com o papel de propagador de bactérias causadoras de doenças epidêmicas
(SILVA et al., 2004, p.1).
Um exemplo a ser citado é a epidemia de cólera, ocorrida na América Latina, a
partir de janeiro de 1991. Na ocasião, o cólera teve o Peru como sua porta de entrada no
continente (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2003), aonde chegou provavelmente
por meio da água de lastro. A bactéria valeu-se das bacias hidrográficas da região para se
espalhar por catorze países da América do Sul, deixando, até o presente momento, um
total de doze mil vítimas fatais e 1,2 milhão de casos de pessoas infectadas. Fato
semelhante ocorreu na baía de Paranaguá (PR), onde a água de lastro foi considerada a
principal suspeita da introdução do vírus. O surto de cólera gerado atingiu a comunidade
ribeirinha em 1999, registrando 467 casos confirmados (ANVISA, 2003, p.5).
Nos Estados Unidos, foi detectado na água de lastro de navios oriundos da
América do Sul o vibrião do cólera (MCCARTHY & KHAMBATY, 1994). Em 1999, a
Guarda Costeira Americana (USCG) apresentou relatório sobre a observação do vibrião
do cólera em uma amostra de água de lastro, mas informou, ainda no mesmo trabalho,
que não havia sido possível estabelecer uma ligação dessa observação com a
contaminação dos peixes na Baía de Mobile, Estado do Alabama (USCG, 1999, p.1-26).
MEDIDAS GERENCIAIS PARA CONTROLE DE DESLASTRO DE NAVIOS
Mediante os casos de introdução de espécies exóticas comprovados em várias partes do
mundo, a IMO, agência da Organização das Nações Unidas responsável pela
salvaguarda da vida humana no mar e pela preservação da vida marinha, juntou-se aos
países que já trabalhavam com a introdução de espécies exóticas pela água de lastro,
principalmente Austrália e Estados Unidos, e chamou para si a coordenação dos
trabalhos internacionais nesse sentido, editando resoluções, desenvolvendo e financiando
programas.
A IMO, em conjunto com os seus membros, criou o Programa Global de Gerenciamento
de Água de Lastro (GloBallast), contando com o apoio dos Estados Membros e da
indústria do transporte marítimo, que tem como objetivo apoiar os países em
desenvolvimento no trato do problema de água de lastro. Os recursos para sua execução
8
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
provêm do Fundo Mundial Para o Meio Ambiente – GEF, repassados por intermédio do
Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento – PNUD. A IMO selecionou seis
países (Figura 3) onde o programa seria implementado e desenvolvido ainda como um
trabalho piloto (LEAL & JABLONSKY, 2004, p.11-9). Os escolhidos foram: Brasil, Índia,
Irã, Croácia, África do Sul e China. No Brasil, foi indicado o Porto de Sepetiba como Piloto
do GloBallast.
Alguns países, preocupados com os impactos causados pelas introduções
involuntárias de espécies exóticas por meio do vetor água de lastro, resolveram
desenvolver e implantar algumas ações próprias, no sentido de minimizar as alterações
ambientais causadas por essa atividade.
9
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O Panamá, por iniciativa própria, adotou como medida a proibição da descarga de
água de lastro no interior do seu canal, para todos os navios que o atravessem
(GOLLASH, 1997, p.151-97).
Na Argentina, desde 1990, as autoridades portuárias de Buenos Aires exigem a
cloração da água de lastro dos navios que chegam a seu porto. Atualmente, de acordo
com a Prefeitura Naval Argentina, na Portaria n.7/98, tomo 6, que se refere à proteção ao
meio ambiente, existe uma zona de proibição de ações contaminantes. O deslastro de
navios estrangeiros deve ser feito fora dessa área, entretanto o uso de biocidas continua
sendo autorizado, na mesma Portaria, como complemento às trocas de lastro em alto-mar
(SILVA, 2001, p.6).
No Chile, com o intuito de prevenir epidemias, especialmente de cólera, desde
1995 foi determinada a troca de lastro a 12 milhas da costa, para todos os navios vindos
de países estrangeiros. Caso a troca não seja feita ou não possa ser comprovada, é
necessária a cloração dos tanques (SILVA, 2001, p.7).
Em 1992, a Nova Zelândia, por meio do grupo de água de lastro da IMO, também
elaborou suas diretrizes, que seguem a mesma linha da Austrália (SILVA, 2001, p.7). Em
Israel, o Porto de Haifa adotou como medida mitigadora, para ser aplicada a todos os
navios que para lá se dirijam e que necessitem efetuar a manobra de deslastro de água
depois de atracados, que efetuem a troca de água de lastro em alto mar, antes de
entrarem em águas territoriais israelenses (GOLLASCH, 1997, p.151).
O Terminal Portuário de Ponta Ubu situa-se no município de Anchieta, ao Sul do
Estado do Espírito Santo, e sua atividade-fim é a exportação de pelotas de minério, o que
tem como conseqüência a importação de grandes volumes de água de lastro. Preocupado
com o seu potencial como porta de entrada para espécies marinhas exóticas, Ponta Ubu
tomou a iniciativa de desenvolver um conjunto de medidas alinhadas com a IMO, que
possibilitem minimizar o impacto causado pela operação de lastro dos navios.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma tecnologia gerencial para portos,
que permitisse minimizar a introdução de espécies exóticas por meio da água de lastro,
10
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
sem gerar nenhum atraso na operação dos navios nem depender de nenhum processo de
tratamento da parte do porto ou do navio.
MÉTODO DESENVOLVIDO E RESULTADOS
A falta de uma legislação mandatária no âmbito internacional sobre a água de
lastro, a ausência de um método reconhecidamente seguro para tratar o lastro dos navios,
a inexistência, a bordo dos navios, de qualquer dispositivo para tratar a água de lastro, a
impotência legal dos portos para impor qualquer tratamento para o lastro dos navios e a
falta de pessoal nos portos para acompanhar o deslastro de todos os navios que chegam,
acabam apontando a análise de risco da água de lastro a ser descarregada, como a
técnica de gerenciamento de deslastro dos navios passível de ser aplicada.
Análise de risco da água de lastro
A análise de risco da água de lastro é uma técnica seletiva, em que se atribui
aos navios que se dirijam a um determinado porto, um grau de risco em função da
origem do seu lastro. Esse processo se baseia na similaridade ambiental entre o porto
onde a água de lastro foi captada e o local onde ela será descarregada.
A técnica utilizada neste trabalho baseia-se naquela desenvolvida pelo
programa GloBallast, na qual são gerados quatro coeficientes de risco, que resultam
em um coeficiente global de risco. Por ele se classificam os portos doadores de água
de lastro quanto à sua possibilidade de introduzir, de forma involuntária, espécies
exóticas no porto doador. Portanto, o conhecimento sobre o lastro recebido é
fundamental.
Entre 2001 e 2003, período-base para o desenvolvimento deste trabalho, o
Terminal Portuário de Ponta Ubu recebeu aproximadamente 15 milhões de toneladas
de água de lastro, oriundas de 84 portos diferentes, o que corresponde a uma média
de 5 milhões de toneladas por ano. Esse volume anual corresponde a 13 por cento de
todo o lastro movimentado no Brasil. Todo esse volume de água de lastro, importado
de maneira involuntária, é oriundo da exportação de 36 milhões de toneladas de
pelotas de minério de ferro (MEDEIROS, 2004, p.51-3).
11
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O lastro recebido pelo Terminal Portuário de Ponta Ubu é do tipo segregado
(MEDEIROS, 2004), isto é, o lastro é transportado em tanques destinados única e
exclusivamente para esse fim (IMO, 1984, p.42). Essa característica é uma
conseqüência do tipo de navio com o qual se opera – no caso, o navio tipo graneleiro.
No período de 2001 a 2003, o Terminal Portuário de Ponta Ubu – TPU – recebeu
água de lastro de 84 portos, localizados em sete regiões diferentes: Europa, Oriente
Médio, América Central, América Latina, América do Norte, África e Ásia, com sua
participação distribuída como está mostrado na Figura 4 (MEDEIROS, 2004, p.53).
Das sete regiões, a que mais exportou involuntariamente água de lastro para o
TPU foi o continente europeu, que contribuiu com 79,12 por cento do volume total.
Desse continente, a Holanda e a França foram os países que mais doaram água de
lastro, por intermédio dos portos de Roterdam, considerado o maior doador de água de
lastro (segundo o ENVIRONMENTAL BALLAST WATER MANAGEMENT ASSESSMENT,
2001), e Dunquerque, respectivamente.
12
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
1. Obtenção do Coeficiente de Risco de Freqüência de Visitas de Inoculação (C1)
O conceito deste coeficiente é que, quanto maior a freqüência no recebimento de
água de lastro de um determinado porto, maiores serão as chances de reunir, naquele
local, dentro de um pequeno período, um número mínimo de seres necessários para que
determinada espécie consiga se reproduzir e fixar-se nesse novo ambiente.
O Coeficiente de Risco de Freqüência de Visitas de Inoculação (C1) refere-se ao
número mínimo de eventos de descarga (visitas) de água de lastro, oriunda de um mesmo
porto.
O maior C1 obtido foi 0,0951, do porto de Roterdam, seguido pelos portos de
Dunquerque e Amsterdam, ambos com C1 igual a 0,05476. No período do estudo, foi
recebido pelo Terminal Portuário de Ponta Ubu um total de 347 visitas.
2. Coeficiente de Risco de Volume de Inoculação (C2)
O Coeficiente de Risco de Volume de Inoculação (C2) assume que a probabilidade
de estabelecimento de uma espécie cresce à medida que aumenta o volume de água de
lastro descarregada por evento, oriunda de uma mesma região (CLARKE et al., 2003b).
Para a obtenção desse coeficiente foi estabelecida a relação entre o volume de água de
lastro oriunda de cada porto dentro de determinado período e o volume total de água de
lastro recebida pelo Terminal Portuário de Ponta Ubu, no mesmo período (CLARKE et al.,
2003a).
Dentre os 84 doadores, o maior C2 foi o do porto de Roterdam. Os doze maiores
valores de C2 são praticamente os mesmos portos que apresentaram os maiores valores
C1, porém não na mesma ordem de classificação do grau de risco.
13
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
3. Coeficiente de Risco de Similaridade Ambiental (C3)
O Coeficiente de Risco de Similaridade Ambiental (C3) toma como base a hipótese
de que a probabilidade de estabelecimento de uma espécie é proporcional ao grau de
similaridade da área de origem com a área de destino.
O C3 é proveniente de uma análise multivariada conduzida paralelamente à
análise de riscos, das quais são gerados os valores de similaridade ambiental entre o
porto receptor e cada porto doador de água de lastro. Esse coeficiente apresenta valores
que variam de 0,05 (similaridade mínima) a 1,0 (similaridade máxima). A análise de
similaridade ambiental é realizada com o software “Primer 5”, que trabalha 34 variáveis
ambientais (como descritores para cada porto) e o Coeficiente de Distância Euclidiana
(JUNQUEIRA & LEAL, 2003).
O Coeficiente de Distância Euclidiana gera, a partir da comparação dos
parâmetros do porto doador com o do receptor, o Coeficiente de Distância do Porto. O
princípio é que quanto maior for esse coeficiente, menor será a similaridade entre os
portos, e quanto menor ele o for, maior será a semelhança entre os dois ambientes.
Para solucionar o problema da falta de dados de alguns portos, utilizou-se o
estudo de Miklos Udvardy, desenvolvido em 1975, no qual o mundo foi dividido em 204
biorregiões, com base no princípio de que a similaridade ambiental dentro de uma mesma
região aumenta a probabilidade de que uma espécie presente em um ponto dessa
biorregião possa migrar e fixar-se em outro ponto dentro dela, por vias naturais de
deslocamento, ou por meio da interferência de atividades do homem (CLARKE et al.,
2003a).
4. Coeficiente das Espécies de Risco do Porto Doador (C4)
O Coeficiente das Espécies de Risco do Porto Doador (C4) fornece uma medida
do risco apresentado pelo porto doador relacionado ao número de espécies de risco
(introduzidas, potencialmente nocivas e nocivas) presentes na biorregião do porto. A
14
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
obtenção desse coeficiente é feita por meio de uma proporção entre a soma de todas as
espécies: introduzidas (I), nocivas potenciais (P) multiplicado pelo peso estabelecido
(W1), e nocivas ou de risco (N) multiplicado pelo peso estabelecido (W2). Os pesos
variam de 0 a 10 (JUNQUEIRA & LEAL, 2003, p.5).
5. Coeficiente Global de Risco (CGR)
O Coeficiente Global de Risco (CGR) é uma média ponderada de todos os
coeficientes calculados para água de lastro recebida de cada porto, pelo Terminal
Portuário de Ponta Ubu.
6. Fator de Redução de Risco em Função do Volume (R)
O Fator de Redução de Risco em Função do Volume (R) é obtido na Tabela 1 de
conversão, cujo número de dias em que a água de lastro permaneceu armazenada no
interior dos tanques é corrigido por um fator, pois, quanto mais tempo a espécie
permanecer naquele local, menores serão as suas chances de sobreviver nesse
ambiente, em razão da atmosfera hostil que se cria no interior desses tanques
(JUNQUEIRA & LEAL, 2003, p.4-5).
15
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Ao término do processamento dos quatro coeficientes de risco pelo CGR, para
cada um dos 84 portos dos quais o Terminal Portuário de Ubu recebe água de lastro, eles
receberam a seguinte distribuição quanto ao seu grau de risco de doar uma espécie para
o porto receptor: 12 de altíssimo, 13 de alto, 14 de médio, 17 de baixo e 28 de baixíssimo
risco (MEDEIROS, 2004, p.76).
Os portos brasileiros de Sepetiba (RJ), Praia Mole (ES), São Sebastião e Santos
(SP), Imbituba (SC), Aratu e Ilhéus (BA) e Recife (PE) ocupam oito dos doze lugares na
classificação de altíssimo risco. A participação dos portos brasileiros nessa classe é de
quase 67 por cento, seguida dos portos mediterrâneos, com 25 por cento, e dos portos do
oeste europeu, com 8,33 por cento (MEDEIROS, 2004, p.77).
Dos portos de Dunquerque, Roterdam e Ijmuidem, apontados pelo levantamento
de água de lastro realizado para o TPU como seus maiores doadores em volume de
lastro, apenas o primeiro foi classificado como de alto risco, e os dois últimos foram
apenas o sétimo e oitavo colocados entre os portos de médio risco. Outro fato que
chamou a atenção é que somente três dos portos enquadrados como de altíssimo risco
haviam exportado um volume considerável de água de lastro para o Terminal Portuário de
Ponta Ubu (MEDEIROS, 2004, p.81).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados gerados pela avaliação de risco e evidenciados no decorrer do
trabalho permitem identificar não só os portos, mas também as regiões geográficas que
possuem maior probabilidade de introduzir uma espécie exótica, com êxito, no corpo
hídrico do Terminal Portuário de Ponta Ubu, indicada pelo Risco Relativo.
O fato de os portos brasileiros apresentarem grande similaridade ambiental entre
si é preocupante, pois, uma vez introduzida uma espécie com sucesso em um desses
portos, serão encontradas condições favoráveis para que ela se difunda para os demais
(JUNQUEIRA & LEAL, 2003, p.6).
Ainda que se admita que a técnica não seja totalmente eficaz, ela é aplicável
dentro da competência dos portos, e possível de ser requerida dos navios, se for levado
em consideração o despreparo atual dos navios, tanto do ponto de vista técnico como do
16
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
conhecimento para lidar com a novidade representada pelo tema “introdução de espécies
exóticas por meio de água de lastro”. Vale ressaltar que os métodos em desenvolvimento
para tratamento da água de lastro também não conseguem atingir um alto índice de
eficiência e alguns desses processos exigem transformações dispendiosas e de difícil
atendimento por parte dos navios, a curto e médio prazo, além da potencial geração de
resíduos, que podem impactar negativamente tanto o meio ambiente como a saúde
humana.
A avaliação de risco é uma ferramenta de gestão de caráter indicativo, ou seja,
não possui dispositivos ou características de execução e, portanto, precisa estar
associada a outra ferramenta de gestão, aplicativa, com base em seus indicativos. É
recomendável, assim, o desenvolvimento e o estabelecimento de procedimentos não só
capazes de gerenciar a descarga de água de lastro, mas que também permitam fiscalizar
o seu cumprimento por parte dos navios. Um conjunto desses procedimentos deve ser
elaborado de acordo com as particularidades de cada porto. No caso do Terminal
Portuário de Ponta Ubu, o autor principal elaborou, em paralelo ao desenvolvimento deste
trabalho, um conjunto de procedimentos que orientam não só o navio mas também o
citado Terminal, sobre qual postura deverá ser adotada de acordo com os indicativos da
análise de risco.
A prevenção da introdução de espécies marinhas exóticas por meio de água de
lastro é um tema relativamente novo para a ciência. Isso significa que este trabalho não
termina com a presente investigação, reforçando a necessidade de que estudos e
pesquisas sobre o tema tenham prosseguimento, visando à ampliação e ao
aperfeiçoamento dessas técnicas.
NOTAS
1 Trim – ângulo de inclinação do navio para vante ou para ré; posição do navio dentro
d’água.
2 Calado – altura do navio submersa.
17
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Brasil: água de lastro
Anvisa. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 5p. Disponível em:
www.anvisa.gov.br/paf/agua_lastro3.pdf. Acesso em: 18 out. 2003.
BROCKMAN, R. Chinese mitten crabs in California (Eriocheir sinensis). 1999. Disponível
em: www.mp.usbr.gov/mittencrabs.html. Acesso em: 12 dez. 2000.
CALIXTO, R. J. Poluição marinha origens e gestão. Brasília: Ed. Ambiental, 2000. cap. 5,
p.93-111.
CARLTON, J. T. Transoceanic and inter-oceanic dispersal of coastal marine organisms:
The biology of ballast water. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, v.23,
p.313-71, 1995.
CARLTON, J. T.; GELLER, J. B. Ecological roulette: the global transport of nonindigenous
marine organisms. Science, Washington (DC), v.261, n.5117, p.78-82, 1993.
CLARKE, C. et al. Ballast water risk assessment. Port of Sepetiba, Federal Republic of
Brasil. London: IMO, 2003a. (GloBallast Monograph Series, 14)
CLARKE, C. et al. Ballast water risk assessment. Port of Khark Island, Islamic Republic of
Iran. London: IMO, 2003b. (GloBallast Monograph Series, 8)
DARRIGRAN, G. Invasive Freshwater Bivalves of the Neotropical Region. Dreissena, New
York, v.11, n.2, p.7-13, 2000.
DARRIGRAN, G.; PASTORINO, G. The recent introduction of a freshwater asiatic bivalve
Limnoperna fortunei (Mytilidae) into South America. The Veliger, Berkeley, v.32, n.2,
p.171-5, 1995.
FONSECA, M. M. Arte naval. 2.ed. Guanabara: IBGE, 1960. p.129.
FONTES, J. H. M. A presença do bivalve invasor Limnoperna fortunei na Hidroelétrica de
Itaipu. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE ÁGUA DE LASTRO, 2. 2002, Arraial do
Cabo (RJ). Resumo. Arraial do Cabo: Instituto de Pesquisas Oceanográficas Almirante
Paulo Moreira, 2002.
18
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. Cólera. Brasília: Ministério da Saúde, [2000].
Disponível em: www.funasa.gov.br/guia_epi/htm/doenças/cólera/index.htm. Acesso em:
18 out. 2003.
GOLLASCH, S. Removal of barriers to the effective implementation of ballast water
control and management measures in developing countries. [s.l.]: GEF/IMO/UNDP, 1997.
p.151-97. (Report)
HALLERGRAEFF, G. M.; BOLCH, C. J. Transport of distom and dinoflagellate resting
spores in ships ballast water: implication for plankton biogeography and aquaculture.
Journal of Plankton Research, Oxford, v.14, p.1067-84, 1992.
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION – IMO. Marine polution, 73/78. London,
1984. Annex I, p.41-2.
JUNQUEIRA, A.; LEAL, A. Avaliação de risco de água de lastro. In: Seminário sobre Meio
Ambiente Marinho, 4. Rio de Janeiro: Sobena, 2003. p.1-6.
LEAL, A. N.; JABLONSKY. S. O Programa GloBallast no Brasil. In: SILVA, J.; SOUZA, R.
Água de lastro e bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 2, p.11-9.
MANSUR, M. C. D. et al. Limnoperna fortunei moluscos bivalves invasores, na Bacia do
Guaíba, Rio Grande do Sul, Brasil. Biociências, Porto Alegre, v.7, n.2, p.147-50, 1999.
MCCARTHY, S. A.; KHAMBATY, F. M. International dissemination of epidemic Vibrio
cholarae by cargo ship ballast and other monpotable waters. American. Soc. for
Microbiology, v.60, n.7, 1994.
MANSUR, M. C. D. et al. Prováveis vias de introdução de Limnoperna fortunei (Dunker,
1857) (Mollusca, Bivalvia, Mutilidae) na Bacia da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul e
novos Registros de Invasão no Brasil pelas Bacias do Paraná e Paraguai. In: SILVA, J.;
SOUZA, R. Água de lastro e bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 4, p.33-
338.
MEDEIROS, D. S. Avaliação de risco da introdução de espécies marinhas exóticas por
meio de água de lastro no Terminal Portuário de Ponta Ubu (ES). São Paulo: Instituto de
19
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo/ Centro de Ensino Tecnológico. 2004.
cap. 6, p.51-87.
MEPC 49/2/3. Annex 2: draft international convention for the control and management of
ships’ ballast water and sediments. London: IMO, 2003. p.1-6.
A potential fight: alien vs. alien in the black sea. News Journal Center, Daytona Beach, 7
Dec. 1997. Disponível em: www.n-jcenter.com/97/dec/7/en1.htm. Acesso em: 20 abr.
2001.
ODEBRECHT, C.; MÉNDEZ, S.; GARCIA, V. M. T. Oceanographic processes and hamful
algae blooms in the Subtropical Southwestern Atlantic. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON HARMFUL ALGAE, 8, 1997, Vigo. Anais...Vigo: Instituto Espanhol de
Oceanográfica, 1997. 152p.
OSTENFELD, C. H. On the immigration of Biddulphia Sineses Grev. and its occurrence in
the north sea during 1903-1907. Medd. Komm. Havunders., Ser Plankton, v.1, n.6, p.1-46,
1908.
PERSICH, G. R. Estudos sobre a fisiologia, genética e toxicidade de dinoflagelado
Alexandrium tamarense (Lebour) Balech do Sul do Brasil. 2001. Tese (Doutorado) –
Fundação Universidade de Rio Grande do Sul.
PROENÇA, L. A. O.; TAMANAHA, M. S.; SOUZA, N. P. The toxic dinoflagellate
Gymnodiniu catenatum in Southern Brazilian Waters: occurrence, pigments and toxins.
Atlântica, Rio Grande, v.23, p.59-65, 2001.
PROENÇA, L. A. O.; FERNANDES, L. F. Introdução de microalgas no ambiente marinho:
impactos negativos e fatores controladores. In: SILVA, J.; SOUZA, R. Água de lastro e
bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 7, p.76-98.
ROSENTHAL, H. et al. Testing monitoring systems for risk assessment of harmful
introductions by ship to european waters. In: EUROPEAN MARINE SCIENCE AND
TECNOLOGY CONFERENCE, 3. Lisboa, 1998. Resumo... Bruxelas: Comissão Europeia,
1998.
20
Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
SILVA, J. Avaliação de sobrevivência de organismos transportados por água de lastro de
navios mercantes. Arraial do Cabo: Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira/
Departamento de Oceanografia, 2001. cap. 1, p.1-11.
SILVA, J. et al. Água de lastro. Ciência Hoje, São Paulo, v.32, n.188, p.4, 2001.
SILVA, J. et al. Água de lastro e bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 1,
p.1-8.
TERMINAL PORTUÁRIO DE PONTA UBU. Arquivos do Departamento de Operações
Portuárias. Anchieta: Samarco Mineração, Gerência do Porto, 2004.
Universidade Federal do Espírito Santo. Relatório água de lastro. In: Samarco Mineração
S.A. Vitória: Departamento de Ecologia/UFES, 2003.
UNITED STATES COAST GUARD – USCG. 33 CFR Part 151: National invasive species
act of 1996. Washington (DC), 1999. v.64, n.94, p.1-26.
21
ACIDENTES AMPLIADOS À LUZ DA “DIRETIVA SEVESO” E DA
CONVENÇÃO Nº 174 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO – OIT Edson Rocha jr.¹; Maria Carolina Maggiotti Costa²; Maria Dorotéa Godini³
¹Engenheiro, gerente operacional/ Bunge Fertilizantes Ltda e mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Senac; ²Advogada/ Fundacentro e mestranda em Gestão
Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Senac; ³Engenheira, Diretora Presidente/MDG Consultoria e Treinamento, mestranda em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio
Ambiente pelo Centro Universitário Senac.
RESUMO
O artigo revisa a questão histórica do aparecimento dos acidentes industriais ampliados
no mundo e faz um sucinto estudo da “Diretiva Seveso” da União Européia e da
Convenção nº 174 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, legislações
internacionais que tratam do tema. Mostra o que as referidas normas dispõem em relação
à prevenção e à adoção de medidas em situações emergenciais e críticas e aponta seus
relevantes aspectos comparativos. Por último, conclui que as normas estudadas são
normas preventivas que vêm uniformizar as legislações domésticas dos Estados,
obedecendo a padrões internacionais, sendo aplicáveis à prevenção de fatos e
fenômenos locais.
Palavras-chave: acidente industrial ampliado; Convenção 174 da OIT; Diretiva Seveso;
meio ambiente, saúde do trabalhador, política ambiental internacional.
.
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/secao_interfacehs.asp?ed=2&cod_artigo=36
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
O surgimento dos acidentes industriais está diretamente relacionado ao processo
de industrialização e ao desenvolvimento de novas tecnologias de produção surgidos nas
sociedades modernas a partir da Revolução Industrial. O exemplo é a grande ocorrência
de acidentes nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha envolvendo a máquina a vapor,
símbolo do movimento, e que registraram um elevado número de óbitos (FREITAS;
PORTO; MACHADO, 2000).
A partir da Segunda Guerra Mundial, a demanda significativa por novos materiais e
por produtos químicos, acompanhada pela mudança da base de carvão para o petróleo,
impulsionou o desenvolvimento da indústria química (HAGUENAUER, 1986 apud
FREITAS; PORTO; MACHADO, 2000). O setor químico, por ter natureza extremamente
competitiva, associada ao crescimento da economia em escala mundial e ao rápido
avanço tecnológico, proporcionou o aumento das plantas industriais e,
conseqüentemente, a complexidade dos processos produtivos (THEYS, 1987; UNEP,
1992 apud FREITAS; PORTO; MACHADO, 2000).
Além disso, o crescimento globalizado tem acirrado a concorrência entre as
empresas, levando-as à maximização da produção para atendimento de uma demanda
sempre crescente. Com isso, surge a questão do armazenamento e do transporte das
substâncias químicas, o que gera aumento do número de trabalhadores e de
comunidades e o aparecimento de acidentes envolvendo produtos químicos tóxicos,
oferecendo perigo à saúde dos trabalhadores, à comunidade em que vivem e ao meio
ambiente em geral exposto aos seus riscos.
Como prova dessa afirmação, registra-se a ocorrência de vários desses acidentes
em diversos países, em proporções elevadas, tanto em número de óbitos de
trabalhadores e de pessoas da comunidade afetada, como em nível de contaminação
ambiental.
Estatísticas internacionais apontam que esses acidentes têm sua maior
severidade em países em desenvolvimento e de economia semiperiférica, como Índia,
México e Brasil, e envolvem indústrias multinacionais e nacionais. Além do acidente de
Bhopal, que teve como protagonista uma indústria multinacional, citam-se, como
2
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
exemplos de acidentes envolvendo indústrias químicas nacionais, os de San Juan
Ixhuatepec, no México, e o de Vila Socó, no Brasil, ambos em 1984, e que resultaram em
500 óbitos imediatos cada um. Esses acidentes, não por acaso, ocorreram em áreas
periféricas aos grandes centros urbanos, onde havia a combinação de largo contingente
populacional pobre e marginalizado, com fontes de riscos de acidentes químicos
ampliados, resultando numa grande vulnerabilidade social e, conseqüentemente, na
morte de centenas ou mesmo milhares de pessoas num único evento (FREITAS; PORTO;
MACHADO, 2000).
Segundo Gomez (2000), a investigação de vários acidentes mostrou a presença
simultânea de problemas ambientais internos e externos às instalações fabris envolvendo
matrizes técnicas semelhantes e que, a partir daí, passaram a requerer políticas
preventivas integradas, tanto na questão da saúde do trabalhador como na questão
ambiental. Ampliou-se o raio de ação da análise epidemiológica e sociopolítica. Percebeu-
se que uma série de variáveis formava o cenário e que muitas delas fugiam ao âmbito do
acidente de trabalho clássico, pois era tênue a linha que subdividia o mundo da produção
em ambiente de trabalho e ambiente geral. Essa linha desmoronou com a velocidade, a
gravidade e as conseqüências desses desastres.
A partir da constatação da necessidade de implementação de políticas preventivas
integradas e de ampliação das análises epidemiológicas e sociopolíticas, houve a
premência da incorporação e da discussão de outros referenciais teóricos, que
propiciassem nova abordagem, possibilitando a integração das políticas Ambiental, de
Desenvolvimento e de Saúde do Trabalhador. Assim, surge a perspectiva interdisciplinar
e participativa na análise dos acidentes ampliados. Para Machado, Porto e Freitas (2000,
p. 57), “tal abrangência faz com que a interdisciplinaridade solitária realizada por um
grupo de indivíduos com a mesma formação seja sempre limitada, tornando indispensável
a formação de uma equipe multiprofissional”.
Segundo Freitas, Porto e Gomez (1995), os acidentes químicos ampliados
produzem múltiplos danos em um único evento e têm o potencial de provocar efeitos que
vão além do local e do momento de sua ocorrência. De acordo com Vasconcellos e
Gomez (1997, p. 13): “O ‘choque do evento’ é responsável por conseqüências físicas ou
psíquicas, com efeito imediato ou retardado”. Assim, por um lado, encontra-se a
dificuldade de avaliação das várias conseqüências dos acidentes, que são de alta
3
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
complexidade, e, por outro lado, depara-se com o grande desafio da formulação de
estratégias para sua prevenção e controle, pois esses acidentes, em sua maioria,
possuem características muito diversificadas.
Dessa forma, são imensos os desafios e as responsabilidades impostas a todas as
partes interessadas. Há que se mudar o foco da análise, considerando a organização real
do trabalho e seu papel nesse processo, vendo-o para além do funcionamento das
indústrias. É necessário incorporar as experiências dos trabalhadores com sua prática
diária do trabalho e a análise dos seus riscos, bem como a formulação e a implantação de
ações de controle e prevenção. Além de todas essas precauções, incorporadas em
planos de gestão empresariais e em políticas públicas de prevenção, não se pode deixar
de lado a importância dos planos de emergência ao de atendimento às vítimas em sentido
lato de um acidente industrial ampliado.
Em nível mundial, essas preocupações e precauções surgiram a partir de
acidentes históricos, que tiveram imensa repercussão na imprensa internacional, tais
como o acidente de Flixborough, na Inglaterra (1974), onde 28 pessoas morreram na
planta e centenas ficaram feridas, e o de Seveso, na Itália (1976), que atingiu 37.000
pessoas, além de deixar 17 km2 de terra contaminadas e 4 km2 inabitáveis. Contudo, foi
em 1984 que aconteceu o acidente de Bhopal, na Índia, anteriormente citado, e que
possui grande notoriedade por ser um dos maiores desastres do final do século XX.
Segundo informativo do Diesat (janeiro, 2005, p.1),
Mais de 500 mil pessoas, em sua maioria trabalhadores, foram expostas
aos gases e pelo menos 27 mil morreram por conta disso. Cerca de 150 mil
pessoas ainda sofrem com os efeitos do acidente e aproximadamente 50
mil estão incapacitadas para o trabalho, devido a problemas de saúde.
[...] Ao incorporar a Union Carbide por um total de US$ 9,3 bilhões, a Dow
não apenas comprou os bens, mas também a responsabilidade pelo
desastre de Bhopal. Enquanto os moradores de Bhopal continuam a sofrer
os impactos do desastre de 1984, a responsabilidade legal pelo acidente
ainda está sendo julgada pela Justiça norte-americana, uma vez que a
Dow se recusa a aceitar o passivo ambiental adquirido na compra da Union
Carbide.
4
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
De acordo com Puiatti (2000), os primeiros a sofrer os danos causados pelos
acidentes são os trabalhadores, pois a proximidade com os riscos que deles decorrem
torna-os vítimas potenciais. Assim, ao longo das últimas décadas, houve uma grande
preocupação dos próprios trabalhadores e de seus representantes (sindicatos, comissões
de fábrica, etc.) em buscar novas formas e sistemas de proteção, desde a intervenção no
local de trabalho até a defesa de posições perante as confederações empresariais e os
governos, por intermédio de suas instituições públicas de pesquisa, com vistas à criação
de legislações nacionais e internacionais para a prevenção de acidentes maiores.
Como resposta ao expressivo número de acidentes ampliados registrados no
mundo, as nações e os organismos internacionais têm tomado medidas para lidar com o
problema. Sobre o assunto, Marshall (1987, p. 70 apud PUIATTI, 2000, p. 293) comenta:
“Considero que historicamente os controles gerenciais precedem os controles legais, mas
que as conseqüências comerciais do inadequado controle gerencial impelem os governos
a intervir por meio de legislações”.
Dessa forma, este artigo tem por objetivo identificar os aspectos mais relevantes
de duas das principais normas internacionais sobre o tema, quais sejam: a “Diretiva
Seveso” da União Européia e a Convenção n° 174 da Organização Internacional do
Trabalho – OIT. Para consecução de tal objetivo, além da revisão da literatura, optou-se
por realizar um sucinto estudo sobre as duas legislações, evidenciando o contexto em que
cada uma foi criada e o seu conteúdo, como contribuição para um melhor entendimento
do tratamento da questão dos acidentes industriais ampliados no contexto internacional.
ANTECEDENTES DA “DIRETIVA SEVESO” E DA CONVENÇÃO N° 174 DA OIT
É fundamental ressaltar que a preocupação internacional em relação à
degradação do meio ambiente não é recente. Entretanto, apenas nas últimas décadas do
século XX, seu espaço foi ampliado na imprensa e nas agendas políticas dos atores
importantes da cena internacional, ou seja, dos Estados, das organizações
intergovernamentais, das organizações não governamentais (ONGs), das empresas
multinacionais e dos sindicatos. Volta-se a identificar que a consciência ambiental global
5
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
surgiu paulatinamente e que, somente nas décadas de 60 e 70, o tema meio ambiente
passou a ter uma dimensão realmente internacional, tornando-se global de acordo com a
diversificação e os impactos dos problemas ambientais. Assim, são nitidamente
percebidos os processos de construção de instituições de proteção ambiental, em nível
internacional, que têm por objetivo impedir o fluxo da degradação do planeta (MACHADO,
2004).
Segundo Tavares (1999), antes da Conferência de Estocolmo sobre Meio
Ambiente Humano, realizada em 1972, as questões ambientais recebiam, no âmbito da
Organização das Nações Unidas (ONU), tratamento limitado, com atitudes pontuais de
algumas de suas entidades. Todavia, o ponto de inflexão no exame das questões
ambientais pelo sistema das Nações Unidas foi, realmente, a Conferência de Estocolmo.
De acordo com Machado (2004), é importante ressaltar que os documentos que
compunham o escopo daquela Conferência são entendidos como o primeiro corpo de
legislação branda para a área de meio ambiente internacional. Para Soares (2001, p. 54),
“a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, (...) selou a
maturidade do Direito Internacional do Meio Ambiente”.
Sendo assim, e atendo-se aos eventos ambientais e à sua realidade
transfronteiriça e global, que abrangem elementos internacionais relevantes, ultrapassam
os interesses locais e despertam interesses gerais, chega-se aos acidentes industriais
ampliados e a seu impacto no processo de construção da norma internacional ambiental.
Segundo Machado (2004, p. 24),
A construção de normas internacionais, impulsionadas por eventos locais,
ocorridos em Estado estrangeiro, em que prevalece o Princípio da
Precaução – portanto, de caráter preventivo para os países que não
tenham sido afetados – parece ser ainda mais complexa do que o processo
que dá corpo a regras que visem a combater algum problema universal.
Isso porque os efeitos de problemas de natureza transfronteiriça (...) são
compartilhados pelos países e, como tal, pressionam de maneira mais
dramática as negociações em torno de instrumentos internacionais que
visem a combater suas causas e mitigar suas conseqüências. No que se
refere a problemas locais, apesar do conjunto de países parecer imune a
catástrofes isoladas (principalmente, em países em desenvolvimento), as
6
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
condições que se verificam em um país específico podem facilmente ser
reproduzidas em outro contexto, bastando haver lacuna normativa
significativa que viabilize aquela reprodução.
Conforme Puiatti (2000), a primeira experiência internacional para a prevenção de
acidentes maiores deu-se em junho de 1982, com a publicação, na Comunidade Européia
(agora União Européia), da Diretiva 82/501/ECC, mais conhecida como “Diretiva Seveso”,
em decorrência dos inúmeros acidentes maiores ocorridos na Europa, como Feysin, na
França (1966); Flixborough, na Inglaterra (1974); Beek, na Holanda (1975); e, Seveso, na
Itália (1976). O acidente de Seveso contribuiu de uma forma dramática para o
crescimento da preocupação pública com os riscos industriais associados à produção de
substâncias químicas, pois houve danos de grandes proporções, tanto à saúde coletiva
como ao meio ambiente, acelerando a necessidade de uma resposta regulamentadora da
segurança de instalações químicas. Seveso tornou-se, ao lado de Bhopal (1984) e
Chernobyl (1986), representação das doenças de nossa civilização tecnológica. (De
MARCHI; FUNTOWICZ; RAVETZ, 2000).
Em 1985, após o acidente de Bhopal, a Environmental Protection Agency (EPA)
iniciou, nos Estados Unidos, um programa para incentivar ações comunitárias de
emergência em caso de acidentes envolvendo substâncias químicas perigosas. Essa e
outras ações da sociedade e do governo americanos com vistas à proteção dos
trabalhadores, da saúde pública e do meio ambiente culminaram com a publicação, pela
Occupational Safety and Health Administration (OSHA), da versão final da legislação
americana para proteção dos trabalhadores em instalações sujeitas a acidentes
ampliados. A ela foi dado o nome de Process Safety Management of Highly Hazardous
Chemicals, que entrou em vigor em 26 de maio de 1992 (PUIATTI, 2000).
Também após o desastre de Bhopal, a OIT iniciou uma série de atividades no
campo da segurança química, como a Convenção 170 da OIT sobre a segurança no uso
de produtos químicos nos locais de trabalho, aprovada em 1990, e sua Recomendação,
que fornecem bases para um sistema nacional de segurança química. Especial destaque
deve ser dado à Convenção 174 da OIT, sobre a prevenção de acidentes industriais
maiores, aprovada em 1993, acompanhada pela Recomendação 181, por um código de
práticas e por um manual para a prevenção de grandes acidentes industriais. Ressalta-se,
7
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
ainda, a criação do Sistema Global Harmonizado de Classificação e Rotulagem de
Produtos Químicos, aprovado em 2002, como um dos resultados dos trabalhos iniciados
pela OIT após o acidente de Bhopal. Por fim, mesmo não sendo o foco deste trabalho,
faz-se necessário citar uma outra iniciativa da OIT para a prevenção dos riscos dos
acidentes de trabalho, que são as Diretrizes para os Sistemas de Gestão de Segurança e
Saúde no Trabalho. A aplicação dessas normativas qualificará os programas de
prevenção nas empresas.
Mais recentemente, em 1996, foi lançada uma nova diretiva sobre o “Controle de
Perigos de Acidentes Ampliados envolvendo Substâncias Perigosas”. Essa diretiva
substituiu a Diretiva Seveso de 1982 e impôs aos países da União Européia o prazo de
dois anos para se adequarem às alterações por ela impostas às suas legislações
nacionais. Ante isso, apresenta-se a seguir o conteúdo das duas normas internacionais.
A “DIRETIVA SEVESO”
“Do ponto de vista cronológico, as primeiras normas sobre prevenção, preparo e
resposta a acidentes industriais com efeitos transfronteiriços foram adotadas, no nível
regional da Comunidade Européia, pela Diretiva no 82/501, de 24-6-1982, denominada
Diretiva Seveso, editada em 1982” (SOARES, 2001, p. 295).
Segundo Marchi; Funtowicz e Ravetz (2000, p. 133),
(...) o processo para se chegar a uma proposta de Diretiva relacionada aos
perigos de acidentes ampliados foi longo e complexo, envolvendo
problemas técnicos e políticos. (...). Uma proposta final foi finalmente
apresentada pela Comissão ao Conselho em julho de 1979. As opiniões
requeridas do Parlamento Europeu e do Comitê Econômico e Social foram
expressas em 1980 e duraram mais de dois anos de posteriores consultas
e discussões, antes que a Diretiva fosse finalmente adotada em 24 de
8
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
junho de 1982. O prazo final para a implementação pelos Estados
membros (15 na época) daquele período foi em 08 de janeiro de 1984.
Em linhas gerais, a Diretiva estabelecia uma lista de substâncias químicas e de
produtos que deveriam estar sob controle direto das autoridades, medidas de segurança,
planos de urgência para os países, além de determinar aos Estados-membros a adoção
de medidas necessárias para que todo empresário que exercesse as atividades
constantes de seu anexo estivesse em condições de provar à autoridade competente que
havia feito a avaliação dos riscos de acidentes maiores, tomado as medidas de segurança
apropriadas, bem como equipado e treinado o pessoal que trabalhava no local onde a
atividade era desenvolvida.
Para aos fabricantes, determinava a necessidade de notificar às autoridades
competentes as substâncias perigosas que fossem utilizadas na produção ou que dela
resu1tassem. Estabelecia a previsão de planos de emergência e de intervenção, e a
comunicação imediata, no caso de ocorrência de um acidente maior.
Aos Estados-membros, impunha o dever de informar à Comissão da CE
quaisquer acidentes de maiores proporções. Esta, por sua vez, poderia aconselhar aos
outros Estados, caso houvesse a necessidade de intervenção dos mesmos em locais sob
a sua jurisdição.
A “Diretiva Seveso” foi alterada por duas emendas (1987/1988), que ampliaram
seu escopo e incluíram a questão da armazenagem de substâncias perigosas. Entretanto,
de acordo com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa – Unece
(2004), ainda era necessária uma nova revisão. Os Estados-membros, acompanhando as
resoluções do Quarto e Quinto Programas de Ação em Meio Ambiente (1987/1993),
clamavam por uma revisão geral, para inclusão, dentre outros itens, de um melhor
gerenciamento do risco-acidente. Paralelamente, uma resolução do Parlamento Europeu
também pedia uma revisão do documento pela Comissão.
Dessa forma, em 09 de dezembro de 1996, foi lançada a Diretiva do Conselho
96/82/EC sobre o Controle dos Perigos Associados a Acidentes Graves que Envolvem
Substâncias Perigosas (OJ No L 10 de 14 de Janeiro de 1997), chamada “Diretiva Seveso
9
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
II”, introduzindo importantes avanços em relação à sua predecessora. Foram inseridos
novos requisitos relacionados à gestão de segurança da instalação, ao planejamento e à
resposta às emergências, ao planejamento do uso do solo, ao reforço na previsão de
recursos para as inspeções executadas pelos Estados-membros, além de considerações
sobre o “efeito dominó”, melhorias no relatório de segurança e no processo de informação
ao público.
A partir de 03 de fevereiro de 1999, a “Diretiva Seveso II” entrou em vigor e
tornou-se obrigatória para a indústria e para as autoridades públicas dos Estados-
membros responsáveis por sua implementação. Foi concedido um prazo de dois anos
para o seu pleno cumprimento. Ela é baseada no Artigo 174 do Tratado da Comunidade
Européia e, de acordo com o Artigo 176, os Estados-membros podem adotar medidas
mais restritivas do que aquelas contidas na Diretiva.
A Diretiva possui dois grandes objetivos: a prevenção de acidentes graves
envolvendo substâncias perigosas e a limitação das suas conseqüências para o homem e
para o meio ambiente, com vistas a assegurar níveis de proteção elevados à comunidade.
Seu âmbito de aplicação restringe-se aos estabelecimentos que possuem substâncias
perigosas nas atividades industriais e na estocagem de produtos químicos, sendo-lhes
inerente o provisionamento de três níveis de controles proporcionais, o que, na prática,
significa que onde há quantidades maiores o controle também é maior. Uma companhia
que manuseie uma quantidade de substância perigosa inferior aos limites estabelecidos
não é abrangida pela Diretiva.
Ela estabelece responsabilidades gerais e específicas para operadores e para as
autoridades dos Estados-membros. Todas as organizações sujeitas ao seu escopo devem
possuir uma política para acidentes maiores, incluindo a notificação das autoridades
competentes. As empresas que trabalham com substâncias perigosas em quantidades
superiores à definida pela Diretiva precisam estabelecer um Relatório de Segurança, um
Sistema de Gestão de Segurança e um Plano de Emergência. Para as autoridades
competentes estão definidos critérios gerais de atuação.
O planejamento do uso do solo e seu processo regulatório também estão previstos
na Diretiva, pois a norma pressiona os Estados-membros ao cumprimento de seus
objetivos no sentido de controlar o estabelecimento de novas empresas ou modificações
nas existentes. Ao longo do tempo, as políticas para uso do solo deverão garantir a
10
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
manutenção das distâncias apropriadas entre os estabelecimentos perigosos e as áreas
residenciais.
A “Diretiva Seveso II” confere mais direitos ao público, no que diz respeito ao
acesso à informação, pois estabelece que as empresas e as autoridades têm obrigações
de subsidiar a população com todas as informações necessárias. Ao invés de um
processo reativo, onde a informação está disponível, parte-se para uma atitude pró-ativa,
como, por exemplo, o fornecimento de folhetos com informações práticas de como
proceder em caso de acidente.
Os Estados-membros têm a obrigação de reportar acidentes maiores à Comissão.
Para tanto, foi estabelecido o chamado Major-Accident Reporting System-MARS (Sistema
de Relato de Acidentes Maiores) e o Community Documentation Centre on Industrial
Risks- CDCIR (Centro de Documentação da Comunidade para Riscos Industriais) em
Ispra, Itália.
Para garantir um intercâmbio entre as autoridades de todos os Estados-membros
e a Comissão Européia, foi criado o Comitê das Autoridades Competentes. Conforme
dispõe a norma, os Estados-membros devem gerar relatórios trienais para a Comissão
Européia, que, por sua vez, tem a obrigação de publicar os sumários das informações
com a mesma periodicidade. O relatório mais recente (2000-2002) é o primeiro que avalia
o progresso obtido com a implementação da Diretiva, sintetizando informações obtidas
dos Estados-membros. Foi avaliado pela Comissão com resultados satisfatórios em
relação ao cumprimento da legislação. Para o próximo relatório (2003/2005), haverá
contribuição de mais dez novos Estados-membros.
Em decorrência de acidentes mais recentes, ocorridos em Toulouse, Baia Mare e
Enschede, e de estudos sobre substâncias carcinogênicas e perigosas para o meio
ambiente, a “Diretiva Seveso II” foi ampliada pela emenda do Parlamento Europeu de 31
de dezembro de 2003 (Diretiva 2003/105/EC). As ampliações relevantes deram-se em
relação aos riscos decorrentes de estocagem e de processamento no setor de mineração,
de substâncias pirotécnicas e explosivas e da estocagem de nitrato de amônia.
Dessa
forma, todos os Estados-membros foram obrigados a tomar as medidas e as providências
administrativas e legais necessárias para regulamentar e fazer cumprir a Diretiva até 01
de julho de 2005.
11
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A CONVENÇÃO No 174 DA OIT – CONVENÇÃO SOBRE A PREVENÇÃO DE
ACIDENTES INDUSTRIAIS MAIORES
Como ponto de partida para a construção desse acordo ambiental multilateral, o
acidente de Bhopal, na Índia (1984), teve significativa relevância, pois foi um acidente de
vazamento de produtos tóxicos de natureza local e que despertou interesse político
internacional, dando impulso à negociação de uma norma de impacto local, regional,
nacional e internacional de extrema importância: a Convenção n° 174 da OIT para a
prevenção de acidentes industriais maiores (MACHADO, 2004). Segundo classificação de
Soares (2001, p. 96), esse acordo internacional compõe o grupo de tratados e
convenções multilaterais sobre meio ambiente, sob o título “Proteção aos Trabalhadores,
Regulamentação de Materiais Tóxicos, em vários aspectos, as Regulamentações de
Certas Atividades Industriais” e refere-se, mais especificamente, ao campo da segurança
química.
A Convenção no 174 foi aprovada na Conferência Geral da OIT, em Genebra, em
2 de junho de 1993, em sua 80ª Reunião, e foi adotada em 22 de junho do mesmo ano.
Essa Convenção se propõe a oferecer tratamento adequado à prevenção dos acidentes
industriais ampliads e a reduzir ao mínimo seus riscos e suas conseqüências.
A Convenção possui sua base na “Diretiva Seveso” e tem alcance e aplicação
somente nas instalações expostas a riscos de acidentes maiores, como as indústrias
química, petroquímica, de petróleo e gás, explosivos, armazenagem de produtos
perigosos, terminais, etc. Não se aplica às instalações nucleares e usinas que processam
substâncias radioativas, à exceção dos setores dessas instalações nos quais se
manipulam substâncias não radioativas; a instalações militares; e ao transporte fora da
instalação, distinto do transporte por tubulações.
Em seu corpo se definem as expressões: “substância perigosa”; “quantidade
limite”; “instalação sujeita a riscos de acidentes maiores”; “acidente maior”; “relatório de
segurança”; e “quase-acidente”. Este artigo explorará apenas o conceito de “acidente
maior”.
Dispõe a Convenção no 174 da OIT (OIT, 2002, p.11):
12
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Artigo 3o:
1. Para os fins da presente Convenção:
[....]
d) a expressão “acidente maior” designa todo evento subitâneo, como uma
emissão, incêndio ou explosão de grande magnitude, no curso de uma
atividade em instalação sujeita a riscos de acidentes maiores, envolvendo
uma ou mais substâncias perigosas e que implica grave perigo, imediato ou
retardado, para os trabalhadores, a população ou o meio ambiente.
Nesse instrumento internacional fica evidenciada a necessidade de que todo
Estado-membro deverá, conjuntamente com as organizações mais representativas de
empregadores e de trabalhadores e outras partes interessadas que possam ser afetadas,
formular, adotar e revisar, periodicamente, a legislação, as condições e as práticas
nacionais, com vistas a uma política nacional coerente relativa à proteção dos
trabalhadores, da população e do meio ambiente. Evidencia, ainda, que as autoridades
competentes deverão criar um sistema de identificação das instalações sujeitas a riscos
de acidentes ampliados, com base numa lista de substâncias perigosas ou de categorias
de substâncias, ou de ambas, que inclua suas respectivas quantidades limites.
A Convenção também dispõe sobre a necessidade da identificação, pelos
empregadores, das instalações sob seu controle, sobre a notificação da autoridade
competente e sobre as disposições relativas à instalação. Impõe a necessidade de que as
indústrias elaborem seus relatórios de segurança, ou seja, que tenham sua gestão
documentada e que, por intermédio de seus empregadores, elaborem seus relatórios de
acidente para informar, à autoridade competente e aos demais órgãos designados, a
ocorrência de um acidente maior.
No que diz respeito às responsabilidades das autoridades competentes e aos
planos de emergência fora do local, dispõe a convenção que, com base na informação
fornecida pelo empregador, a autoridade competente assegurará que planos e
13
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
procedimentos de emergência serão efetuados no caso da ocorrência de um grande
acidente. Esse plano deverá conter medidas para proteção da população e do meio
ambiente fora do local de cada instalação. Dispõe, ainda, sobre a política global de
zoneamento de instalações expostas a riscos de acidentes maiores, com vistas ao
adequado isolamento de novas instalações de risco, além da questão da inspeção das
matérias tratadas na Convenção.
Quanto aos direitos e obrigações dos trabalhadores e de seus representantes,
estabelece que, em uma instalação sujeita a risco de acidente maior, aqueles devem ser
consultados sobre as questões relativas à segurança e serem adequadamente
informados sobre os riscos e suas possíveis conseqüências, planos e procedimentos de
emergências e relatórios de acidentes. Devem também ser treinados para interromper a
atividade em caso de risco iminente e observar os procedimentos de prevenção e de
emergências.
Em relação às responsabilidades dos países exportadores, a Convenção
determina que se um Estado-membro exportador proibir o uso de substâncias,
tecnologias ou processos perigosos, por ser fonte potencial de acidente maior, esse
Estado deverá informar todo país importador sobre essa proibição e as razões da medida.
A Convenção, em suas disposições finais, institui os procedimentos, os prazos, o
direito à denúncia, dentre outras determinações às quais os Estados membros ficarão
sujeitos no caso de ratificação da Convenção.
Dentre os vários aspectos da Convenção n° 174, destacam-se a criação da
Agenda Global para a Prevenção de Acidentes Ampliados, especialmente para países em
desenvolvimento, e seu caráter intersetorial, que integra áreas de trabalho, meio
ambiente, saúde, defesa civil e planejamento territorial.
Os países que ratificaram a Convenção 174 até 2005 foram: a Suécia (1994), a
Armênia (1996), a Colômbia (1997), a Holanda (1997), a Estônia (2000), o Brasil (2001), a
Arábia Saudita (2001), a Albânia (2003), o Zimbábue (2003), a Bélgica (2004) e o Líbano
(2005).
No Brasil, as iniciativas governamentais em relação à Convenção n° 174 OIT
foram:
14
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
• 1998 – Ministério do Trabalho e Emprego institui a Comissão Tripartite para análise da
Convenção 174 e da Recomendação 181;
• 2000 – criação do Grupo de Estudos Tripartite (GET) para a sua implementação;
• 2001 – aprovada a Convenção pelo Congresso Nacional – Decreto Legislativo 246, de
28.06.2001;
• 2001 – ratificada na OIT, em Genebra – 01.08.2001;
• 2002 – promulgada pelo Presidente da Republica pelo Decreto 4085, de 15.01.2002.
ASPECTOS COMPARATIVOS RELEVANTES
Para iniciar este item, observe-se o que diz Puiatti (2000, p. 307),
A forma e o conteúdo das legislações são um produto de complexa
interação com os métodos legislativos vigentes nos países, inseridos em
suas características socioeconômicas e culturais. Embora comparações
entre legislações sejam uma interessante e informativa tarefa e possam
auxiliar na elaboração de similares legislações em outros países, existe
uma série de limitações nesse processo.
A “Diretiva Seveso II” avança, dentre outros pontos, na gestão de segurança da
instalação, na proibição de funcionamento da instalação, em considerações sobre o
“efeito dominó”, em melhorias no relatório de segurança e em informação ao público.
Segundo Machado (2003, p. 1025.), “a Diretiva vincula o Estado-membro destinatário
quanto aos resultados a alcançar, deixando, no entanto, às instâncias nacionais a
competência quanto à forma e aos meios. A decisão é obrigatória em todos os seus
elementos para os destinatários que ela designar. As recomendações e os pareceres não
são vinculativos”.
15
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O texto da Convenção n° 174 da OIT teve sua base naquela norma européia, à
época a legislação mais completa sobre o assunto, já implementada por anos em diversos
países europeus e com eficiência demonstrada em estatísticas de não ocorrência de
grandes acidentes. Seus elementos, tais como sistema de identificação de instalações,
relatório de segurança, disposições relativas à instalação, proteção de informações
confidenciais, dentre outros, são similares aos da Diretiva, inclusive na definição de
“grande acidente industrial”.
Segundo o Art. 22 da Constituição da OIT, os Estados-membros comprometem-se
a apresentar àquela organização um relatório anual sobre as medidas por eles tomadas
para execução das convenções a que aderiram. Esses relatórios deverão conter as
informações pedidas por seu Conselho de Administração.
A Convenção n° 174 é obrigatória unicamente para os Estados-membros da OIT
cujas ratificações tiverem sido registradas pelo Diretor-Geral daquele organismo
internacional.
Nas duas normas internacionais, as responsabilidades das empresas, no que diz
respeito à implementação de medidas preventivas para evitar a ocorrência de acidentes
maiores, estão plenamente definidas.
Por fim, pretende-se comparar alguns dos aspectos mais relevantes dessas
legislações com a apresentação do quadro que permite visualizar seus âmbitos de
aplicação, suas exceções e as substâncias que são listadas nas referidas normas
internacionais.
16
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo observou, acompanhando Freitas; Porto e Machado (2000), que os
acidentes industriais ampliados, ademais de produzirem elevado número de óbitos, têm o
potencial de expressar sua gravidade além dos muros fabris, atingindo bairros, cidades e
países, com danos psicológicos e sociais às populações expostas e ao meio ambiente
das gerações futuras.
A ocorrência desses acidentes maiores instou os trabalhadores e as populações
atingidas a se mobilizarem por intermédio de associações e outras formas de
participação, a fim de levar ao conhecimento nacional e internacional os transtornos, a
gravidade e a periculosidade de tais eventos. A partir dessa mobilização, que incluiu
17
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
organizações não- governamentais nacionais e internacionais, os Estados passaram a
legislar sobre o assunto e os organismos internacionais promoveram políticas preventivas
e reguladoras multilaterais, as quais produziram resultados normativos visando a
sustentabilidade ambiental e a garantia da saúde e segurança dos trabalhadores nos
processos produtivos.
Dessa forma, observou-se o que Machado (2004) enfatizou, ou seja, a
possibilidade de se afirmar que as normas não emergem de espaços institucionais, mas
de embates políticos entre as diversas percepções sobre qual seria a norma mais
adequada a se criar.
Nesse contexto é que surgiram as “Diretivas Seveso” e a Convenção n° 174 da
OIT. A primeira, acompanhando De Marchi; Funtowicz e Ravetz (2000), foram uma
resposta às necessidades de regulamentação de riscos transfronteiriços em uma Europa
integrada; e a segunda, em um contexto mais amplo, surgiu em decorrência de acidentes
globais, tendo lugar de destaque o acidente de Bhopal, na Índia, que ampliaram o que
Machado (2004) chamou de consciência mundial quanto aos perigos associados à
produção de substâncias químicas.
Em termos gerais, verificou-se que as duas normas internacionais são
semelhantes, sendo que a Diretiva, por possuir uma dinâmica de atualização mais rápida,
avança mais na prevenção dos acidentes químicos ampliados, ao passo que a
Convenção, além de ser um instrumento essencialmente preventivo, tem como maior
preocupação os trabalhadores, pois a OIT possui uma estrutura tripartite onde têm
assento representantes laborais com grande influência nas normas por ela produzidas.
No cenário mundial, os países que efetivamente implantaram a Convenção no 174
da OIT foram os europeus Suécia, Holanda e Bélgica, onde a “Diretiva Seveso” tornou-se
obrigatória em 1982, constituindo-se referência técnica relevante. Levando-se em
consideração que apenas onze países ratificaram a Convenção, constata-se que essa
norma, por solicitar aos países que elaborem legislações nacionais mais rígidas para a
prevenção de acidentes maiores, tem maior relevância para os países em
desenvolvimento, pois os países desenvolvidos já possuem legislações rígidas e
avançadas, tanto em nível nacional quanto regional.
18
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
No Brasil, apesar de algumas iniciativas, ainda são incipientes as ações para a
implementação de uma política nacional de prevenção de acidentes maiores e da
Convenção no 174 da OIT, o que faz necessárias a preparação e capacitação dos órgãos
e das partes interessadas envolvidas, principalmente das empresas que não possuem
sistemas de gerenciamento de riscos e de controle de emergências.
Assim, verificou-se que, em decorrência da gravidade dos riscos e dos efeitos dos
acidentes químicos ampliados, é de suma importância que os Estados controlem a
produção, o armazenamento e o transporte das substâncias químicas tóxicas. Para tanto,
devem integrar as áreas de trabalho, meio ambiente, saúde, defesa civil e planejamento
territorial, internalizar normas internacionais e definir políticas locais que tratem do
assunto. Outrossim, devem levar em consideração os demais atores sociais,
especialmente empregadores e trabalhadores, com harmonia de ações e fixação de
diretrizes claras, que contemplem a segurança e a saúde nos ambientes de trabalho, a
resposta a emergências químicas e a prevenção e o controle de riscos ao meio ambiente
e à população em geral.
Enfim, conclui-se que as normas internacionais exigem, dos países aos quais são
endereçadas e dos países signatários, atitudes em relação à prevenção e à adoção de
medidas nacionais em situações emergentes e críticas. São normas preventivas que vêm
uniformizar as legislações domésticas dos Estados, obedecendo a padrões internacionais
e sendo aplicáveis à prevenção de fatos e fenômenos locais.
19
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
BHOPAL 20 ANOS E O PESADELO CONTINUA. Informativo DIESAT, 15 de janeiro de
2005, pp. 1-2. Disponível em: <http://www.diesat.org.br/Informativos/janeiro_2005.pdf>.
Acesso em: 12 de julho de 2005.
BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. Decreto no 4.085, de 2002. Diário Oficial, Brasília,
DF, 16 de janeiro de 2002.
DE MARCHI, B.; FUNTOWICZ. S.; RAVETZ, J. O acidente industrial de Seveso:
paradigma e paradoxo. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; MACHADO, J. M. H.
(Orgs.). Acidentes industriais ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a
prevenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. pp. 129-148.
DIRECTIVE ON THE MAJOR-ACCIDENT HAZARDS OF CERTAIN INDUSTRIAL
ACTIVITIES (82/501/ECC). Disponível no “Portal para o Direito na União Européia”, em:
http://europa.eu.int/eur-lex/pt/. Acesso em: 05.11.2005.
FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; GOMEZ, C. M. Acidentes químicos ampliados: um
desafio para a saúde pública. Revista de Saúde Pública, v. 29, n. 6 (dez.), pp. 503-514,
1995.
FREITAS, C. M; PORTO, M. F. S.; MACHADO, J. M. H. A questão dos acidentes
industriais ampliados. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; MACHADO, J. M. H. (Orgs.).
Acidentes industriais ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a
prevenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
GOMEZ, C. M. Acidentes químicos: superando a dicotomia entre ambiente interno e
externo. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F. S.; MACHADO, J. M. H. (Orgs.). Acidentes
industriais ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a prevenção. Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
MACHADO, A. A. A construção social da norma ambiental internacional na área de
segurança química: de Bhopal à Convenção 174 da Organização Internacional do
Trabalhão (OIT) para a prevenção de acidentes industriais ampliados – uma
perspectiva da construção ideacional e normativa nas relações internacionais.
Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Instituto de Relações
20
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
MACHADO, J. M. H.; PORTO, M. F. S.; FREITAS, C. M. Perspectivas para uma análise
interdisciplinar e participativa de acidentes (AIPA) no contexto da indústria e do processo.
In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F. S.; MACHADO, J. M. H. (Orgs.). Acidentes industriais
ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a prevenção. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2000.
MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 11ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2003.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Convenção OIT 174,
Recomendação 181: Prevenção de acidentes industriais maiores. Tradução de
Abiquim/Fundacentro. São Paulo: Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho, 2002.
_______ Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Seu Anexo
(Declaração de Filadélfia). Disponível em:
http://www.oitbrasil.org.br/info/download/constituicao_oit.pdf. Acesso em 05 de nov. de
2005.
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION – OSHA 3132. Process
Safety Management. Washington: U.S. Department of Labour, 1993.
PUIATTI, R. A prevenção e os trabalhadores – aspectos comparativos da legislação dos
EUA, da Grã-Bretanha e da Holanda. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; MACHADO,
J. M. H. (Orgs.). Acidentes industriais ampliados: desafios e perspectivas para o
controle e a prevenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
SOARES,G. F. S. Direito Internacional do Meio ambiente: emergência, obrigações e
responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001.
TAVARES, R. N. As Organizações Não-Governamentais nas Nações Unidas. Brasília:
Instituto Rio Branco; Fundação Alexandre Gusmão; Centro de Estudos Estratégicos,
1999.
21
Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
UNITED NATIONS ECONOMIC COMMISSION FOR EUROPE - UNECE. Chemical
Accident Prevention, Preparedness and Response: The Seveso II Directive. Janeiro de
2005. Disponível em: http://europa.eu.int/comm/environment/seveso/index.htm. Acesso
em: 03 de nov. de 2005.
VASCONCELLOS. E. S.; GOMEZ, C. M. O acidente químico ampliado e os efeitos sobre
a saúde dos trabalhadores e da população. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional,
Fundacentro, v. 23, n. 87-88, pp.9-16, novembro 1997.
22
PENSAR PELO AVESSO: O MODELO JAPONÊS DE TRABALHO E
ORGANIZAÇÃO Benjamin Coriat (Tradução de Emerson S. da Silva) Rio de Janeiro: Revan, 1994. 209p.
Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/resenhas.asp?ed=2&cod_artigo=35
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A tese geral que Coriat pretende sustentar nesse livro é que o sistema toyota
constitui um conjunto de inovações organizacionais cuja importância é comparável ao que
foram em suas épocas as inovações trazidas pelo taylorismo e pelo fordismo.
Coriat rejeita tanto as “receitas de bolo” simplistas, que sugerem ser a
competitividade japonesa baseada na adoção de técnicas organizacionais isoladas, como
as visões culturalistas, que negam ser transferível o novo padrão industrial lá
desenvolvido, por ser inerente àquela determinada tradição.
Se de fato, no âmbito de novas relações capital–trabalho – mais cooperativas e
calcadas em compromissos de longo prazo, com credibilidade – restaura-se no
trabalhador direto uma boa dose de agregação das atividades de concepção e execução,
é perfeitamente possível pensar que a identificação de interesses mínimos comuns possa
conduzir a resultados positivos. Nesta configuração, os resultados alcançados por uma
empresa ou por uma economia são mais expressivos do que num ambiente onde
imperasse um contrato social mais conflitivo – no fordismo, por exemplo.
Antunes (em Adeus ao trabalho?) analisa criticamente o modelo japonês e afirma:
os modelos fordista e taylorista deram lugar ao modelo japonês, onde os pontos críticos
são a intensificação da exploração e a aceleração do ritmo de trabalho, cujo triunfo está
na flexibilização da produção, na multifuncionalidade do trabalhador e no trabalho em
equipe. Afirma, também, que a introdução do modelo japonês apóia-se numa correlação
de forças desfavoráveis aos trabalhadores, e rejeita a idéia pela qual esse modelo
garante, simultaneamente, eficiência e eqüidade social. Na realidade, promove-se aí um
estranhamento no trabalho, além de se extrair o saber e o fazer do trabalhador e
provocar-se um estado de desidentidade na classe trabalhadora em relação ao que ela
produz.
O que Coriat nos mostra é que há algo mais do que os grandes modelos
ocidentais de gestão do capitalismo, e seu bem-sucedido percurso até o presente
proporciona uma nova visão de modelos não baseados em questões únicas e simplistas,
mas em uma rede de inter-relacionamentos entre interesses na busca para a solução do
que parece sem solução. A criatividade e a perseverança fazem surgir modelos que,
apesar de jovens, demonstram sabedoria e capacidade de perpetuação. Esses modelos
2
Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
trazem uma energia quase incansável e formidáveis desempenhos, capazes de intimidar
seus antecessores e fazê-los buscar o entendimento da nova situação.
Podemos perceber, nesses detalhados estudos, não só a complexidade do
modelo japonês, mas, também, a postura simplista das inúmeras tentativas de se copiar
seu sucesso.
Vale ainda ressaltar a importância das condições históricas que favoreceram a
criação, a instalação, o desenvolvimento e a perpetuação de tal sistema, como bem
apresenta Coriat na análise dos fatos históricos dos pós-guerras – as condições
econômicas e sociais de um país e de todo o seu parque industrial. Percebe-se que da
necessidade fez-se o combustível para alimentar essa máquina que precisava decolar,
caso contrário afundaria definitivamente.
Antunes afirma que a fragmentação, a heterogeneização e a complexidade da
força de trabalho, assim como a neocorporização das instituições sindicais, ameaçam a
organização sindical tradicional. Constituem, assim, um grande desafio e uma
demonstração de que o capitalismo avançou sobre o ser social que trabalha, levando a
propostas de perda dos direitos e benefícios, em troca da manutenção do emprego ou do
subemprego.
Durante o desenvolvimento do sistema toyota, em 1954, a campanha conduzida
teve como palavra de ordem “Proteger nossa empresa para defender a vida”. Desde
então, a greve praticamente desapareceu na Toyota. Outro sinal dos novos tempos é que,
desde essa época, a atividade sindical tornou-se uma das passagens essenciais que
asseguram a promoção dos dirigentes e a formação das elites dessa empresa.
Outros eventos conexos afetam o conjunto do sistema das relações industriais,
não só na Toyota como em toda a indústria japonesa. Trata-se de um conjunto de
contrapartidas implícitas ou explicitas, dadas aos sindicatos e aos trabalhadores das
grandes empresas em troca de seu engajamento na produção. É nesse período que se
fixa de maneira mais nítida o sistema de emprego vitalício e de salário por antiguidade.
Em todo caso, parece-nos essencial compreender que a introdução do modelo
japonês em grande escala só pode ser feita após essa reorganização em profundidade do
3
Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
sindicalismo, e após o estabelecimento de um jogo complexo de contrapartidas regrando
as relações industriais.
A empresa japonesa é definida como uma firma onde são plenamente levados em
conta os interesses dos empregados e os interesses dos detentores de capital; o papel de
uma terceira força, a do administrador, é realizar o equilíbrio dos interesses no curso da
elaboração e da tomada de decisões no que diz respeito às atividades da firma. A
empresa japonesa não seria um lugar de maximização do lucro, mas um lugar de
mediação dos interesses dos diferentes grupos que a compõem.
O sindicalismo de empresa japonês está perfeitamente integrado aos objetivos da
empresa, donde conclui-se que a maneira eficaz de representação dos interesses dos
assalariados consistiria em utilizar essa forma tão eficaz para equilibrar o poder dos
proprietários e fazer dos administradores seus corretos mediadores.
Como última observação, lembremos que o sistema das relações industriais
japonesas é construído sobre um conjunto de contrapartidas verdadeiras – emprego
vitalício e mercados internos de trabalho, por exemplo.
4
Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do
mundo do trabalho. Campinas (SP): Cortez, 2003.
5
OS SENTIDOS DO TRABALHO: ENSAIO SOBRE A AFIRMAÇÃO E A
NEGAÇÃO DO TRABALHO Ricardo Antunes 3.ed. São Paulo: Boitempo, 2000. 261p.
Maria Carolina Maggiotti Costa - Advogada/Fundacentro; mestranda em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Senac
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/resenhas.asp?ed=2&cod_artigo=34
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho constitui um
aprofundamento das várias dimensões já exploradas pelo autor na obra Adeus ao
trabalho, publicada em 1995.
Com vigor e transparência Ricardo Antunes analisa o mundo do trabalho de hoje,
nas formas contemporâneas de vigência da centralidade do trabalho ou na multiplicidade
de seus sentidos.
O autor inicia sua análise focalizando a crise do movimento operário, momento em
que o mundo do trabalho passou por uma situação extremamente crítica, talvez a maior
desde o aparecimento da classe trabalhadora e do próprio movimento operário,
vivenciado especialmente no início da década de 1970 e que pode ser chamado de crise
estrutural do capital. Nessa fase, o capitalismo começou a dar sinais de um quadro crítico
que se evidenciou com a queda da taxa de lucro, o esgotamento do padrão de
acumulação taylorista/fordista de produção, a hipertrofia da esfera financeira, a maior
concentração de capitais graças às fusões entre as empresas monopolistas e
oligopolistas, a crise do welfare state e dos seus mecanismos de funcionamento e o
incremento acentuado das privatizações.
Essa crise, que tem como expressão o neoliberalismo e a reestruturação produtiva
da era da acumulação flexível, acarretou profundas modificações no mundo do trabalho –
entre elas um enorme desemprego estrutural e um crescente contingente de
trabalhadores em condições precarizadas, além da degradação do meio ambiente –,
modificações estas conduzidas pela lógica societal voltada para a produção de
mercadorias e para a valorização do capital.
Em resposta à crise do capital, iniciou-se um processo de reorganização do
próprio capital e de seu sistema de dominação, cujas evidências foram o advento do
neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do
trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal. A isso se seguiu um processo de
reestruturação da produção e do trabalho, buscando dotar o capital do instrumental
necessário para repor os patamares de expansão anteriores.
Foi nesse contexto que as forças do capital conseguiram reorganizar-se,
introduzindo novos desafios para o mundo do trabalho, que se viu a partir de então em
2
Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
condições bastante desfavoráveis. A reorganização capitalista que se seguiu, com novos
processos de trabalho, recuperou temáticas que haviam sido propostas pela classe
trabalhadora.
Assim, com a derrocada da disputa operária pelo controle social da produção,
estavam dadas as bases sociais e ideo-políticas para a recuperação do processo de
reestruturação do capital, num patamar distinto daquele realizado pelo taylorismo e pelo
fordismo.
Em Os sentidos do trabalho mostra-se que a reestruturação produtiva do capital, o
neoliberalismo, as mudanças no interior do Estado e a perda de seu intervencionismo
social foram responsáveis pelo agravamento da crise, evidenciando que não há sinais
concretos de uma retomada no limiar do século XXI de algo similar aos “anos dourados
de social-democracia”.
O autor fala do surgimento do toyotismo e da era da especialização flexível, das
várias transformações no processo produtivo, passando pela questão da “qualidade total”,
do downsizing, das formas de gestão organizacional, do avanço tecnológico e dos
modelos alternativos ao taylorismo/fordismo. Contextualiza a Inglaterra, país no qual o
experimento de tipo toyotismo aliou-se ao neoliberalismo, ali vigente desde a derrota do
Labour Party em 1979.
Desde o final do governo trabalhista o movimento operário inglês passava por um
período de crise histórica. O sintoma foi o voto declinante no Partido
Trabalhista Inglês. As ações grevistas enfrentavam crescente oposição pública,
presenciando-se uma alteração nos traços constitutivos daquele movimento existente na
Inglaterra desde o final do século XIX.
Essa limitação e esgotamento tiveram sua expressão máxima em 1979, quando o
Partido Conservador conseguiu, com a ascensão de Margaret Thatcher, quebrar a
trajetória anterior. Era o advento da variante neoliberal na sua forma mais ousada, que
manteve os conservadores no poder até maio de 1997. A trajetória participacionista do
Labour foi transformada por uma agenda que possuía como eixo o fortalecimento da
liberdade de mercado.
3
Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O neoliberalismo inglês teve, entretanto, que se defrontar com movimentos de
oposição de grande envergadura, entre os quais a onda de explosões sociais de 1989 e
1990 que atingiu o conservadorismo de Thatcher, com as revoltas contra o poll tax
(aumento de impostos), considerada a mais forte manifestação pública de desgaste do
neoliberalismo.
Acelerava-se no partido a “nova” postura que buscava um caminho alternativo,
dado pela preservação de um traço social-democrático associado a elementos básicos do
neoliberalismo. Começava então a se desenhar o que Tony Blair chamou de “Terceira
Via”.
Politicamente a Terceira Via representa um movimento de modernização do
centro. Embora aceite o valor socialista básico da justiça social, rejeita a política de classe
e busca uma base de apoio que perpasse as classes da sociedade. Economicamente
propugna a defesa de uma nova economia mista, que se pauta pelo equilíbrio entre
regulamentação e desregulamentação e entre os aspectos econômico e não-econômico
na vida da sociedade.
A Terceira Via configura-se como a preservação do que é fundamental no
neoliberalismo. Tony Blair é a expressão da subjetividade e da política criada pelo
moderno capital britânico após o desgaste do neoliberalismo thatcherista. Portanto, a
Terceira Via do New Labour tornou-se uma das manifestações mais críticas ao mundo do
trabalho.
Ricardo Antunes discorre em seu livro sobre a interação crescente entre trabalho e
conhecimento científico, sobre a interação entre trabalho material e imaterial, sobre
trabalho produtivo e improdutivo. Analisa, também, as formas assumidas pela divisão
sexual do trabalho, pela nova configuração da classe trabalhadora, e focaliza as formas
contemporâneas do estranhamento do trabalho em relação a o que se produz e para
quem se produz.
Em Os sentidos do trabalho o autor parte de uma meticulosa pesquisa sobre a
“centralidade do trabalho”, focalizando os fundamentos ontológicos do trabalho no
pensamento de Lukács, e faz uma crítica ao pensamento de Habermas. Trata também do
trabalho livre, ou seja, da jornada de trabalho, questão importante na sociabilidade
contemporânea, que propicia o afloramento do tema da vida dotada de sentido dentro e
4
Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
fora do trabalho: “Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com uma
vida cheia de sentido fora do trabalho”.
Finalmente, conclui com a indicação dos fundamentos societais básicos para um
novo sistema de metabolismo social, ou, nas palavras do autor:
Numa forma de sociabilidade superior, o trabalho, ao reestruturar o ser
social, terá desestruturado o capital. E nesse mesmo trabalho
autodeterminado que tornou sem sentido o capital gerará as condições
sociais para o florescimento de uma subjetividade autêntica e emancipada,
dando um novo sentido ao trabalho.
Assim, o livro Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do
trabalho vai fundo nas explorações entre capital e trabalho, discorrendo sobre questões
vitais, refletindo com muita propriedade as variáveis complexas que compõem o mundo
do trabalho.
5
OS DESAFIOS ÉTICOS DAS NANOTECNOLOGIAS*
Jean-Pierre Dupuy
Professor da Escola Politécnica de Paris e da Stanford University Membro da Academia de Tecnologias
*Originalmente publicado em francês no periódico Les Cahiers du MURS N° 47, 2006. Agradecemos ao professor Jean-Pierre Dupuy e ao editor Jean-Pierre Alix pela liberação dos direitos de divulgação para a INTERFACEHS. 1 Nanotechweb.org, 23 de dezembro de 2003
www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/traducoes.asp?ed=2&cod_artigo=33
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]
1
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
INTRODUÇÃO
Há alguns anos trabalho como filósofo com a ética das nanotecnologias – a
“nanoética”, como é chamada agora – ou, mais precisamente, com a ética da denominada
“convergência NBIC”, que é a convergência entre nano, bio, info-tecnologias e ciências
cognitivas. Gostaria, inicialmente, de defender o ponto de vista segundo o qual a
convergência NBIC e as nanotecnologias, em particular, suscitam questões éticas
originais, o que foi fortemente negado. Por exemplo, Philip Ball, escritor científico da
Nature, escreveu, em um ensaio intitulado “2003: nanotecnologia na linha de fogo”:1
Em março [2003], a Instituição Real de Londres acolheu um seminário de um
dia sobre as nanotecnologias, intitulado “Átomo por átomo”, que,
particularmente, considerei útil, pois permitiu entender um grande espectro de
opiniões sobre o que é agora conhecido pelo nome de nanoética. [...]
Inicialmente, apareceu uma crença, fundada na idéia de que aquilo que é
qualitativamente novo nas nanotecnologias é que elas permitem, pela
primeira vez, a manipulação da matéria em escala atômica. Suponho que
esse ponto de vista é comumente partilhado e, se for esse o caso, deve nos
levar a perguntar: como é possível que vivamos em uma sociedade na qual
não se vê que é precisamente isso que a química faz, de modo racional e
informado, há dois séculos ou até mais? Como pudemos deixar uma tal
ignorância se instalar? Torna-se cada vez mais claro que o debate a propósito
da extensão das possibilidades últimas oferecidas pelas nanotecnologias leva
a questões sobre os próprios fundamentos da química. O vazio de
conhecimentos no qual a maior parte do debate público sobre as
nanotecnologias se estabelece só existe porque o público não conhece quase
nada de química: o que ela é, o que faz e o que pode fazer.
Debruçando-se sobre a nanoética, Ball prossegue:
*Originalmente publicado em francês no periódico Les Cahiers du MURS N° 47, 2006. Agradecemos ao professor Jean-Pierre Dupuy e ao editor Jean-Pierre Alix pela liberação dos direitos de divulgação para a INTERFACEHS. 1 Nanotechweb.org, 23 de dezembro de 2003 http://www.nanotechweb.org/articles/society/2/12/1/1
2
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
As questões relativas à segurança, à equidade, às
implicações militares e à transparência das nanotecnologias
são idênticas àquelas suscitadas por outros domínios da
ciência e da tecnologia. Seria um grave erro, e talvez
perigoso, que as nanotecnologias venham a ser consideradas
uma disciplina que coloca problemas éticos inéditos. Desse
ponto de vista, penso que elas diferem fundamentalmente de
certos aspectos da pesquisa em biotecnologia que tocam em
questões morais totalmente novas. E, no entanto, é talvez a
primeira vez que uma ciência, uma ciência aplicada ou uma
tecnologia, como queiram, desenvolve-se em um clima social
sensibilizado de antemão para as necessidades de um debate
ético.
[...] Mais ainda, a verdade pragmática é que, se as
nanotecnologias não reconhecem que comportam uma
dimensão ética, independentemente do que possa acontecer,
elas a isso serão forçadas. Aqueles que trabalham na área
sabem que as nanotecnologias não constituem, de maneira
nenhuma, uma disciplina, que seus desígnios não podem ser
reunidos em um todo coerente e que não representam, para
nenhum setor industrial, um objetivo definido. Mas mesmo as
agências de financiamento falam disso como se assim não
fosse. No espírito do público, o simples fato de que existam
operações como a Iniciativa nacional americana para as
nanotecnologias sugere, seguramente, que as
nanotecnologias têm uma certa unidade, e é por isso que as
pessoas vão querer estar seguras de que seus aspectos
éticos são levados em consideração.
Penso que Philip Ball se engana duplamente. Creio que há, realmente, uma
unidade por trás da convergência NBIC, mas essa unidade é encontrada no nível do
3
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
programa metafísico de pesquisa, no qual se apóia essa convergência. Creio também que
os dilemas éticos que esse programa suscita são amplamente inéditos e encontram sua
fonte nas idéias fortes que governam a área.
Acabo de utilizar a expressão “programa metafísico de pesquisa”: trata-se de uma
referência à filosofia das ciências de Karl Popper. A filosofia positivista que sustenta a
maior parte da ciência moderna (e boa parte da filosofia contemporânea) considera que a
“metafísica” é uma busca desprovida de sentido, procurando encontrar respostas para
questões que não têm respostas. Porém, Popper, após Emile Meyerson,2 mostrou que
não há programa de pesquisa científica (ou, para nosso propósito, tecnológica) que não
repouse sobre um conjunto de pressuposições gerais a propósito da estrutura do mundo.
Decerto que essas visões metafísicas não podem ser testadas empiricamente e não
podem constituir o objeto de uma “falsificação”. Contudo, isso não implica que elas não
apresentem interesse substancial e não tenham um papel fundamental no avanço da
ciência. Aqueles que negam a metafísica tornam-na simplesmente invisível, e é muito
verossímil que sua metafísica dissimulada seja má ou inconsistente. Para grande espanto
daqueles que o consideravam, erroneamente, um positivista, Karl Popper respondia que a
tarefa do filósofo ou do historiador das ciências era dupla: em primeiro lugar, exumar e
tornar visíveis as idéias metafísicas que repousam sob os programas científicos para levá-
las à crítica; em segundo lugar, proceder a um exame crítico dessas teorias metafísicas
que fosse certamente diferente daquele que funda a crítica das teorias científicas, pois
aqui nenhum teste empírico é possível, ainda que seja racional.
A questão que me coloquei em seguida foi, portanto: qual é o programa metafísico
de pesquisa que sustenta a dita convergência NBIC? Uma de suas características
maiores é que as tecnologias convergentes pretendem substituir a natureza e a vida, e se
tornarem os engenheiros da evolução. Evolução que, até agora, consistiu
fundamentalmente em uma simples “bricolagem”. Ela pode imobilizar-se em caminhos
indesejáveis ou em impasses. É por isso que o homem pode ser tentado a tomar seu
lugar e se tornar o designer dos processos biológicos e naturais. O homem pode
participar da fabricação da vida.
2 “O homem faz metafísica como respira, sem desejá-lo e, sobretudo, sem disso suspeitar a maior parte do tempo.” E. Meyerson, De l’explication dans le sciences (Paris, 1927).
4
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Podemos avaliar de maneira normativa um tal empreendimento? Não creio que as
respostas éticas preexistam às questões que as solicitam. A tarefa do filósofo não
consiste, certamente, em aplicar doutrinas éticas prontas na solução de problemas novos.
As normas e as regras emergem dos próprios problemas que elas devem regular. Essa
visão em circuito (bootstrapping) do que seja um julgamento normativo é inevitável
quando abordamos a avaliação de saltos tecnológicos que só fazemos antecipar.
Gostaria de começar por algumas observações metodológicas.
A ÉTICA NÃO É UM CÁLCULO CUSTO-BENEFÍCIO
Um primeiro erro a denunciar é aquele que consiste em confundir ética e
prudência, e em compreender “prudência” como gestão racional do risco. Noventa por
cento dos relatórios, artigos ou livros que pude consultar sobre esse assunto cometem
esse erro. Pois é um erro, tão grave quanto aquele que cometeria um físico que não
fizesse a diferença entre massa e peso. É um erro sério tratar questões éticas em termos
de balanço entre custos e benefícios, ou seja, reduzir a ética a uma espécie de cálculo
econômico ampliado. Num dos pratos da balança, colocam-se os benefícios que se
espera do progresso tecnológico e econômico e, no outro, os custos. A incerteza afeta
mais o segundo prato que o primeiro e é, evidentemente, em termos de risco que o
apreendemos. Ora, pode-se analisar o conceito de risco com base em três elementos: a)
existe uma eventualidade de prejuízo, afetada normativamente por um signo menos; b) é
possível determinar um grau de possibilidade à ocorrência desse prejuízo, sob a forma de
uma probabilidade, por exemplo; c) é lícito tomar por padrão de apreciação do prejuízo
um sistema de avaliações individuais e coletivas, por exemplo, as preferências, as
funções de utilidade ou de satisfação da população de indivíduos potencialmente
implicados no prejuízo.
Deveria estar claro que as questões éticas suscitadas pelas tecnologias
avançadas não satisfazem nenhuma das três condições que acabo de enunciar. Quando
o relatório da National Science Foundation, de junho de 2002, intitulado Converging
Technologies for Improving Human Performance, enuncia que a convergência NBIC vai
5
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
acarretar uma “mudança de civilização”,3 bem malicioso seria aquele que se aventurasse
a colocar um signo, de mais ou de menos, diante dessa eventualidade, que se
pronunciasse sobre seu grau de possibilidade ou, ainda, que avaliasse suas as
conseqüências adicionando os diferenciais de “utilidade” para toda a população.
É preciso compreender que o obstáculo metodológico que enfatizo não é redutível
a uma forma de incerteza sobre os dados. Não é epistêmico, é ontológico. Tomo o
exemplo do interessante “Report on the Social and Ethical Issues of Genetic Enfineering
with Human Beings”, de novembro de 1982, mais conhecido pelo nome de “Splicing Life”.4
Em uma seção do capítulo “Social and Ethical Issues”, intitulado “Concerns with
Consequences”, lemos:
A tendência corrente é pensar uma pessoa como um indivíduo com um
certo caráter e uma personalidade, que, ao longo das etapas normais
de seu desenvolvimento físico, social e psicológico, permanece quase
fixo em um certo domínio. Mas esse conceito – e a impressão de
previsibilidade e de estabilidade que ele confere às relações
interpessoais – poderia rapidamente se tornar fora de moda se as
pessoas começassem a recorrer a técnicas de enxerto genético para
operar mudanças fundamentais nelas próprias ao longo de sua vida.
Podemos, desde já, submeter-nos a transformações profundas por
meio da psicocirurgia, das técnicas de modificação do comportamento
ou do uso terapêutico de drogas psicoativas. Não se pode excluir que
o gênio genético traz meios mais rápidos, mais seletivos e mais fáceis
de uso. Aqui ainda a incerteza sobre o modo pelo qual os conceitos
básicos de uma pessoa podem evoluir com tempo é acompanhada de
uma incerteza normativa e ética, porque tais conceitos estão
intimamente ligados a valores e a postulados éticos. É pouco provável
que as pessoas possam ter uma visão clara do que seria sua atitude
ética se sua noção daquilo que constitui a identidade pessoal ou
daquilo que constitui as etapas normais do desenvolvimento durante
uma vida viesse a variar profundamente.
3 NSF Report Converging Technologies for Human Performance, Mihail C. Roco & William S. Bainbridge (eds.), junho de 2002, p. 21. 4 President’s Commission for the Study of Ethical Problems in Medicine and Biomedical and Behavioral Research.
6
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Esse texto é notável por sua cegueira quanto ao que designa como dificuldade,
que é, na verdade, uma impossibilidade, como Popper mostrou: antecipar o que serão
nossos princípios éticos e nossos valores no futuro; e continua a raciocinar em termos
conseqüencialistas – o passe de mágica consistindo em falar de incerteza quando se trata
de uma indeterminação radical. Imaginemos um campeão de bayesianismo se esforçando
para colocar probabilidades subjetivas no espaço dos sistemas de valores! Não é,
certamente, a primeira vez que ocorrer essa confusão, já que a famosa
Unbestimmtheitsrelation, de Werner Heisenberg, é traduzida por “Princípio de incerteza”,
embora se trate de um princípio de indeterminação.
A sobreposição do ontológico ao epistêmico é um erro ainda mais grave que as
transformações que nossos princípios e valores éticos conhecerão, e isso em parte
devido às escolhas tecnológicas que faremos. O relatório da NSF, Converging
Technologies, é consciente disso, já que escreve, a propósito da “mudança de civilização”
acarretada pela convergência das tecnologias: “É possível que princípios éticos
inteiramente inéditos prevalecerão em setores nos quais o progresso tecnológico será
radical - como a aceitação de implantes cervicais, o papel dos robôs na sociedade e a
ambivalência da morte diante dos avanços relacionados à clonagem...”5
Se a ética pudesse ser circunscrita a um cálculo moral de benefícios e de custos,
sua tarefa quanto aos problemas que nos ocupam seria desesperada, já que não
saberíamos nem mesmo dizer em qual prato da balança deveríamos colocar este ou
aquele aspecto de uma evolução entrevista. Se a ética fosse um cálculo, mesmo se esse
cálculo se revelasse impossível de efetuar na prática, todo problema ético seria
considerado passível de solução, ainda que fôssemos incapazes de determiná-la. Mas a
situação moral do homem é de outra natureza. Pode acontecer que a conquista do saber
e a atividade criadora dos homens se revelem uma faca de dois gumes: “colocando em
perigo a própria busca dos processos à qual, no entanto, elas são indispensáveis”.6
Veremos exemplos disso. O fato não é que ignoramos se o uso dessa arma é uma coisa
boa ou má: é que esse uso é bom e mau ao mesmo tempo.
5 NSF Report, op. cit., p. 22. O relatório acrescenta, no entanto: “a identidade e a dignidade humana devem ser preservadas”. 6 Henri Atlan, Les Etincelles de hasard. Tome 1: Connaissance spermatique, Paris, Seuil, 1999, p. 45.
7
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
A ÉTICA DAS TECNOLOGIAS, NÃO DAS TÉCNICAS
Outro erro consiste em incidir a avaliação ética na própria técnica. Onde
deveríamos colocá-la? Na tecnologia! O idioma francês moderno, seguindo o inglês,
parece não fazer mais a distinção entre esses dois termos, o que é uma perda. A
tecnologia é a técnica inserida no discurso [logos] que a acompanha, sustentando-a ao
mesmo tempo em que é sustentado por ela. Tomo uma ilustração na obra maior de
Hannah Arendt, Condição Humana. Esse livro, publicado pela primeira vez em 1958,7
começa por uma meditação sobre “esse acontecimento que nada, nem mesmo a fissão
do átomo, poderia eclipsar” que constituiu a colocação em órbita de um Sputinik, em 4 de
outubro do ano precedente. Arendt escreve:
A reação imediata, tal como se exprime na área, foi o alívio de ver
finalizado o primeiro “passo na direção da evasão dos homens da
prisão terrestre”. [...] Essas opiniões tornaram-se lugares comuns. Elas
provam que as pessoas não estão de nenhum modo atrasadas nos
que se refere às descobertas da ciência e aos progressos técnicos e
que, ao contrário, elas os adiantaram várias dezenas de anos. Nesse
caso, como em outros, a ciência realizou e confirmou o que os homens
tinham antecipado em sonhos que não eram nem ocos nem absurdos.
A única novidade é que um dos mais respeitáveis jornais americanos
tenha enfim proclamado, em primeira página, o que até esse momento
estava confinado à literatura pouco respeitável da ficção científica (à
qual ninguém ainda concedeu a atenção merecida como veículo dos
sentimentos e aspirações da massa). A banalidade da frase não deve
nos fazer esquecer que ela era, de fato, extraordinária; pois, se os
cristãos falaram da Terra como um vale de lágrimas e se os filósofos
só viram no corpo uma vil prisão do espírito ou da alma, ninguém na
história da espécie humana em nenhum momento considerou a Terra
como a prisão do corpo, nem mostrou tanto empenho em dela partir,
7 Chicago, The University of Chicago Press, 1958. Utilizo a tradução francesa de Georges Fradier, Condition de l’homme moderne, Calmann-Lévy, 1961.
8
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
literalmente, para a Lua. [...] A Terra é a quintessência da condição
humana [...]8
Retenho esse texto devido a uma contribuição essencial que ele traz aos
problemas que nos ocupam. Ele nos diz que os homens sonham a ciência antes de fazê-
la e que esses sonhos, que podem tomar a forma da ficção científica, têm um efeito
causal sobre o mundo: encarnam-se na técnica e esta transforma a condição humana. O
objeto da avaliação técnica deve ser, portanto, não a técnica sozinha, mas essa estrutura
de causa comum:
Aquele que crê que apenas a técnica tem um efeito sobre a condição humana
deve dar início à separação entre o que é tecnicamente realizável e o que não o é.
Observa-se, efetivamente, que os trabalhos já existentes em nanoética tomam um
cuidado extremo em distinguir o que consideram ciência séria do que todos chamam de
“ficção científica”. O domínio desta última, porém, varia muito de um estudo a outro.
Mesmo que todos concordem em rejeitar as elucubrações de alguém como Michael
Crichton ao reino da literatura de entretenimento, ainda debatemos o fato de os
nanorobôs auto-replicantes imaginados por Eric Drexler, o “inventor” das nanotecnologias,
estarem ou não condenados para sempre a fazer parte dessa ficção científica
desdenhada. O principal interessado parece ter mudado completamente de opinião e
classifica, doravante, na categoria de “não-sério” o que lhe assegurou celebridade. O
recente relatório da Royal Society britânica a esse respeito permite-se tratar com
8 Ibid., p. 7-8.
9
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
desprezo o relatório da NSF americana, com um pérfido: “Perdoar-nos-ão por desdenhar
a maior parte das contribuições, pois elas se baseiam menos na ciência e tecnologia
sérias que na ficção científica”.9
A mudança de perspectiva que proponho tem como primeira implicação um
“anything goes”, como teria dito Feyerabend quanto ao que convém colocar na caixa
“Sonhos da razão”: o não-sério não é menos importante que o sério quando se trata de
alimentar o imaginário da ciência. A metafísica que sustenta a convergência NBIC está na
caixa ao lado da ideologia de propaganda alimentada por livros de um Ray Kurzweil,10
Eric Drexler11 ou Damien Broderick.12 Ali encontraremos a prática da língua, das artes, da
literatura popular e ainda outras coisas.
Como Hannah Arendt, que reagia à expressão de um jornalista comparando a
terra a uma prisão, o pesquisador em nanoética deve permanecer atento às distorções da
língua que, tal como nos lapsos e sintomas, revela as camadas mais profundas do
imaginário científico ou tecnológico. Não resisto à tentação de dar um exemplo. Em
novembro de 2003, cientistas israelenses construíram transístores a partir de nanotubos
de carbono, utilizando o DNA como modelo. Um cientista do Technion-Israel disse: “o que
temos feito consistiu em conduzir a biologia a auto-reunir um mecanismo eletrônico em
um tubo de ensaio [...]. O DNA é utilizado como uma base ou um modelo que determina
onde os nanotubos de carbono vão se encontrar. É a beleza da utilização da biologia”.13
Essa utilização transitiva de um verbo reflexivo denuncia, por si mesma, melhor que um
longo discurso, a ambição das nanobiotecnologias, de abordar [o Gestell heidggeriano] as
propriedades auto-organizadoras do vivente para colocá-las a serviço de fins humanos.
Por que a diligência que proponho aplica-se particularmente bem às
nanotecnologias e, de modo mais generalizado, à convergência NBIC? Porque, no
essencial, essas tecnologias ainda não existem. No entanto, o “sonho” que as traz – com
suas dimensões metafísicas, ideológicas, populares etc. – está presente há muito tempo.
9 The Royal Society, Nanosciences and nanotechnologies: opportunities and uncertainties, RS Policy document 19/04, julho de 2004, p. 55. 10 Ray Kurzweil, The Age of Spiritual Machines, Texere Publishing, 2001. 11 Eric Drexler, Engines of Creation, Anchor Books, 1986. 12 Damien Broderick, The Spike, Forge, New York, 2001. 13 Kenneth Chang, “Smaller Computer Chips Built Using DNA as Template”, New York Times, November 21, 2003: http://www.nytimes.com/2003/11/21/science/21DNA.html?ex=1075525200&en=67948bd27029a142&ei=5070.
10
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Mostrarei isso citando obras filosóficas que datam de várias décadas ou até mesmo de
vários séculos, e das quais podemos dizer, olhando retrospectivamente, que tinham
previsto muitas coisas e, talvez, contribuído para suscitá-las.
Utilizo a expressão “sonhos da razão” de propósito. Faço referência à terrificante
gravura de Goya, cujo título é “El sueño de la razón produce monstruos”.14 Título ambíguo
ao máximo, já que a palavra “sueño”, em espanhol, significa indiferentemente “sono” ou
“sonho”. Em francês e em inglês, a tradução é, freqüentemente, “O sono da razão produz
monstros” e compreende-se: “Quando a razão está dormindo, ou seja, colocada entre
parênteses, a imaginação produz monstros”. Mas, um outro sentido não é menos
possível: “Os sonhos da razão engendram monstros”. É a própria razão, e não sua
ausência, que tem essa capacidade de fazer advir, por seus sonhos, coisas monstruosas.
Gosto muito dessa ambivalência fincada no coração das relações entre a ciência e o
imaginário.
Queria agora, em vez de oferecer um programa de pesquisas em nanoética que
evitasse os erros que acabo de denunciar, simplesmente esboçar algumas dimensões da
direção que poderia tomar um tal programa.
ACIONAR A COMPLEXIDADE
Afirma-se freqüentemente que o ponto de partida das nanotecnologias é a
conferência clássica ministrada por Feynman, em 1959.15 Discordo. Parece-me mais justo
dizer que a origem desse novo campo deve ser pesquisada em uma outra conferência
clássica, a que John Neumann ministrou, em 1948, durante um colóquio organizado pela
Fundação Hixon, no California Institute of Technology (CalTech) e que aparece
retrospectivamente como um dos momentos fundadores das ciências cognitivas. Von
Neumann apresenta nela sua teoria dos autômatos auto-reprodutores e, nessa ocasião,
emite uma conjetura relacionada à noção de complexidade.16
Pode-se conceber, afirma von Neumann, nesse contexto dominado pelos
cibernéticos, que autômatos complexos sejam não somente capazes de se auto-
14 http://www.bne.es/Goya/c75.html 15 “There is Plenty of Room At the Bottom”. 16 Ver Jean-Pierre Dupuy, The Mechanization of the Mind, Princeton University Press, 2000.
11
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
reproduzir, mas também de produzir autômatos mais complexos que eles. Von Neumann
assim se opõe ao projeto da cibernética, que consistia em realizar (ao menos no papel),
para cada função classicamente atribuída ao espírito humano, uma máquina (de Turing)
capaz de reproduzi-la ou de simulá-la. Von Neumann questionava se a maneira mais
simples de caracterizar a função é apresentar a própria máquina. Nessas condições, seria
desprovido de sentido descobrir que tal comportamento pode ser encarnado em uma
estrutura, já que não seria possível definir o comportamento de outro modo senão
descrevendo sua estrutura. Assim, Von Neumann colocava em evidência os limites da
tentativa descendente (top-down), que é classicamente a do engenheiro. No caso dos
sistemas complexos, só tem sentido a tentativa ascendente (bottom-up), que consiste em
explorar aquilo de que é capaz um autômato dado. Logo, profetizava von Neumann, o
construtor de autômatos estaria tão desarmado diante de sua criação quanto o cientista,
diante dos fenômenos naturais complexos.
A engenharia consiste, classicamente, em conceber e fabricar estruturas cujo
comportamento reproduz as funcionalidades que se julgam desejáveis. No entanto, com
as nanotecnologias, e, sobretudo, com a convergência nanobiotecnológica, uma nova
concepção tem lugar, para se tornar, talvez um dia, a concepção dominante. Trata-se,
desta vez, de “dar-se” estruturas complexas (eventualmente, indo buscá-las no
reservatório que nos oferecem a natureza e a vida – por exemplo, o cérebro humano – ou
reproduzindo-as artificialmente – sob a forma de uma rede de neurônios formais, por
exemplo) e de explorar as funcionalidades das quais elas são capazes, tentando rejeitar a
relação estrutura/função: procedimento ascendente, portanto, e não mais descendente.
De maneira mais imaginativa, pode-se dizer que o engenheiro, aqui, longe de desejar a
maestria, estimará que seu empreendimento é tanto mais coroado de sucesso quanto a
máquina que ele inventara o surpreenda. Observa-se, desde logo, tal atitude na pesquisa
com os algoritmos genéticos. Trata-se de simular as capacidades evolutivas de uma
“sopa” primitiva constituída por programas de computador, os mais performáticos
reproduzindo-se mais em relação aos outros. Obtêm-se assim algoritmos de fato muito
performáticos, já que foram “selecionados” segundo esse critério, mas não temos a
capacidade de compreender por que eles têm essas propriedades. Aquele que deseja
fabricar – de fato, criar – a vida, não pode se esquivar de ambicionar reproduzir sua
capacidade essencial, que é de criar, por sua vez, algo radicalmente novo.
12
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Seria um erro pensar que, ainda que original, nossa situação atual, diante das
conseqüências de nossas escolhas tecnológicas, não é o produto de um longo processo
histórico. Descontinuidades e rupturas devem ser sempre analisadas sobre o fundo de
dinâmicas contínuas. Em seu estudo magistral sobre as fraquezas da ação humana,
Condição Humana, Hannah Arendt colocou em evidência o paradoxo fundamental de
nossa época: enquanto os poderes humanos aumentam sob o estímulo do progresso
tecnológico, somos cada vez menos senhores das conseqüências de nossas ações. Uma
longa citação adquire aqui todo o seu valor, pois sua pertinência em relação ao nosso
objeto de estudo não pode ser negligenciada – e devemos manter a lembrança de que
isso foi escrito em 1958:
[...] tentando suprimir a ação, devido a sua incerteza, e preservar a
fragilidade das ocupações humanas, tratando-as como se fossem ou
pudessem tornar-se produtos de uma técnica, conseguimos
inicialmente concentrar a faculdade de agir, de empreender
processos novos e espontâneos, que não existiriam sem o homem,
em uma atitude para com a natureza que até o último estágio da
época moderna consistiu em explorar as leis naturais e fabricar os
objetos com materiais naturais. Podemos perceber a que ponto
começamos a agir sobre a natureza, no sentido literal da palavra,
através de uma observação feita de modo rápido por um cientista
que, no entanto, falava seriamente: a pesquisa fundamental ocorre
quando faço o que não sei que faço.
Isso começa de modo inofensivo pela experimentação, na qual os
homens não se contentam mais em observar, constatar e contemplar
o que a natureza, tal como a vemos, está prestes a entregar, mas em
tentar prescrever condições e provocar processos naturais. A
evolução que aperfeiçoa sem cessar a arte de desencadear
processos elementares, que sem a intervenção do homem
permaneceriam virtuais e não teriam talvez nunca lugar, desemboca
finalmente em uma verdadeira arte de “fazer a natureza”, ou, dito de
outro modo, de criar processos “naturais” que não existiriam sem o
homem e que a natureza terrestre parece incapaz de realizar [...]
13
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O simples fato de que as ciências naturais se tenham tornado
exclusivamente ciências de processos e, em última escala, ciências
de “processos sem retorno” virtualmente irreversíveis, irremediáveis,
indica claramente que não importa qual seja a potência cerebral
necessária para desencadeá-los. A faculdade humana subjacente à
origem desse estado de coisas não é uma faculdade “teórica”
(contemplação ou ação): é a faculdade de agir, de desencadear
processos sem precedente cujo resultado permanece incerto e
imprevisível no domínio humano ou natural em que eles vão ocorrer.
Nesse aspecto da ação [...] desencadeiam-se processos cujo
resultado é imprevisível, de modo que a incerteza, mais que a
fragilidade, torna-se a característica essencial das ocupações
humanas.17
Não há dúvida do quanto essa análise, com uma inacreditável presciência, aplica-
se perfeitamente à convergência NBIC, principalmente no que concerne a dois pontos:
primeiro, podemos dizer que a ambição de (re-) fazer a natureza é uma dimensão
importante do que chamei de metafísica subjacente ao campo da pesquisa (voltarei a isso
em breve); segundo, como foi explicado mais acima, será uma tentação inevitável aos
nanotecnologistas do futuro, para não dizer uma tarefa ou uma obrigação, desencadear
processos sobre os quais não tenham nenhum controle. O mito do aprendiz de feiticeiro
deverá ser atualizado: não será por erro ou por terror que o homem estará despossuído
de suas próprias criações, mas intencionalmente.
“BRINCAR DE DEUS”
O fato de se conceber a natureza como um artefato tem implicações éticas e
epistemológicas consideráveis. É interessante analisar o que os promotores da
convergência NBIC imaginam ser o estado de espírito daqueles que tomam por seus
“inimigos” ou, em todo caso, dos que são seus críticos. Uma expressão sempre surge
para designar esse estado presumido do espírito: os seres humanos não teriam o direito
de usurpar poderes que só pertencem a Deus; “brincar de Deus” [Playing God] seria um
17 Hannah Arendt, Condition de l’homme moderne, op. cit., p. 259-261.
14
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
jogo proibido.18 Acrescenta-se freqüentemente que esse tabu concerniria especialmente
ao “judeu-cristianismo”.
Penso que essa caracterização desconhece completamente tanto a lição
talmúdica quando a teologia cristã. Ela as confunde com a concepção que os gregos
tinham do sagrado: os Deuses, encolerizados com os homens acometidos de hybris (a
desmedida), enviam-lhes a deusa da vingança, Nêmesis. A Bíblia, porém, representa o
homem como co-autor do mundo. Assim como escreve o biofísico Henri Atlan, grande
especialista do Talmud, analisando a literatura sobre o Golem:
Não se encontra [nela], pelo menos no começo, contrariamente à legende de
Fausto, nenhum julgamento negativo sobre o saber e a atividade criadora
dos homens “à imagem de Deus”. Ao contrário, é na atividade criadora que o
homem atinge a plenitude de sua humanidade, em uma espécie d’imitatio
Dei que lhe permite ser associado a Deus, em um processo de criação
contínua e perfectível.19
Voltarei a esse ponto na conclusão. Quanto ao cristianismo, toda uma série de autores
importantes, de Max Weber a Louis Dumont, de Marcel Gauchet a René Girard, analisam-
no como “a religião do fim da religião”: eles o tornam responsável pela dessacralização do
mundo (o famoso “desencantamento”) e, portanto, pela eliminação progressiva de
qualquer tabu, proibição ou limite. É por isso que os mesmos autores fazem do
cristianismo a principal causa do desenvolvimento científico e técnico do Ocidente, pois a
ciência e a técnica repousam, precisamente, na libertação de todo e qualquer limite.
Foi a ciência que tomou para si o papel dessa dessacralização do mundo operada
pelas religiões da Bíblia, despojando a natureza de todo valor prescritivo ou normativo.
Sendo completamente vã, portanto, qualquer tentativa que, a esse respeito, deseje opor a
ciência e a tradição judaico-cristã. O kantismo contribuiu com essa desvalorização da
natureza, fazendo dela um mundo sem intenções nem razões, habitado unicamente por
causas, separando-o radicalmente do mundo da liberdade, onde as razões da ação caem
sob a jurisdição da lei moral.
18 Ver a seção “Concerns about ‘Playing God’ ” do estudo Splicing Life, op. cit., p. 53 sq. 19 Henri Atlan, Les Etincelles de hasard, op. cit., p. 45.
15
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
Se há um problema ético aqui, onde ele se situa? Ele não se evidencia na
transgressão de um tabu qualquer ou do limite garantido pelo sagrado, já que a evolução
conjunta do religioso e da ciência privou de todo fundamento o próprio conceito de limite
moral e, portanto, de transgressão. Todavia, o problema é precisamente esse. Pois não
há sociedade humana livre e autônoma que não repouse sobre um princípio de
autolimitação, mesmo quando crê que esse princípio lhe vem de uma transcendência
qualquer. Rousseau e Kant definiram a liberdade ou a autonomia como a obediência à lei
que nos damos a nós mesmos. Rousseau queria que as leis da Cidade tivessem a
mesma exterioridade em relação aos homens que as leis da natureza, ainda que os
homens façam as primeiras e disso sejam cônscios. Porém, em uma sociedade que
sonha em formatar e fabricar a natureza segundo seus desejos e necessidades, a própria
idéia de exterioridade ou de alteridade perde todo sentido. A substituição do dado pelo
fazer participa, evidentemente, do mesmo processo. A natureza era definida,
tradicionalmente, como o que se mantinha exterior ao mundo humano, com seus desejos,
conflitos, infâmias variadas. Se a natureza torna-se integralmente em nossos sonhos o
que fazemos dela, é claro que não há mais exterior e tudo no mundo refletirá, cedo ou
tarde, o que os homens fizeram ou não, quiseram ou negligenciaram.
Esse problema ético é mais considerável que as questões específicas que
aportam, por exemplo, ao “melhoramento” [enhancement] de uma ou outra capacidade
cognitiva por meio de diversas técnicas. Todavia, o que o faz ainda mais insolúvel é que,
enquanto a responsabilidade dos homens sobre o mundo cresce sem limites, as fontes
éticas de que dispomos diminuem no mesmo ritmo.
A NATUREZA ARTIFICIAL
No coração do programa metafísico de pesquisa que sustenta a convergência
NBIC, encontra-se um enorme paradoxo. A metafísica em questão se quer claramente
monista: não diremos mais, hoje, que tudo no universo procede da mesma substância e,
sim, que tudo está submetido aos mesmos princípios de organização – a natureza, a vida
e o espírito. A palavra de ordem das ciências cognitivas é: “naturalizar o espírito”. Trata-se
de dar novamente ao espírito (e à vida) seu lugar pleno e inteiro no seio do mundo
natural. Ora, considera-se que os princípios de organização supostos como comuns a
tudo que existe no universo são princípios mecanicistas. A máquina que trata a
16
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
informação segundo regras fixas, ou seja, o algoritmo, constitui o modelo único de tudo o
que existe. Cronologicamente, e talvez contrariamente a algumas idéias concebidas, o
espírito foi primeiro assimilado a um algoritmo (ou máquina de Turing: modelo de
McCulloch e Pitts, 1943), em seguida, foi a vez da vida, com o nascimento da biologia
molecular (Max Delbruck e o grupo do phage, 1949); e apenas mais tarde surgiu a tese
segundo a qual as leis da física são recorrentes (ou Turing computáveis). A naturalização
do espírito confunde-se, portanto, com a mecanização do espírito. É mais uma vez a
literatura de propaganda que o diz melhor, na medida em que, em sua grande
ingenuidade filosófica, ela não se embaraça em prudências retóricas. O futurólogo
americano Damien Broderick fez um resumo surpreendente da história da evolução
biológica nos termos que se seguem. Uma vez mais, cada uma das palavras empregadas
é reveladora, a começar por aquela por meio da qual ele designa os seres viventes: são
“replicantes vivos”:
Algoritmos genéticos em número astronômico titubeavam na superfície
da Terra e sob o mar, em níveis muito profundos, durante milhares de
anos, duplicando-se, mudando, sendo selecionados em função do
sucesso de suas expressões, isto é, dos seres biológicos que eles
fabricavam e que se entregavam em uma competição para sobreviver
no mundo macroscópico. Finalmente, toda a ecologia dos seres
viventes no planeta acumulou e representa uma quantidade colossal
de informação comprimida, esquemática.20
As células eucariontes e procariontes, pelas quais a vida começou, estão
assimiladas a produções do espírito humano – os algoritmos genéticos – que só
apareceram nas últimas décadas do século vinte. Esses seres são um condensado de
informação, o blueprint para a fabricação dos próprios seres vivos. O monismo
materialista da ciência moderna transformou-se repentinamente em um monismo
espiritualista. Se o espírito forma uma unidade com a natureza, isso ocorre porque a
natureza é interpretada como se fosse uma produção do espírito. A reviravolta faz pensar
no célebre clown suíço, Grock. Magnífico concertista, ele se aproximava de seu Steinway
e descobria que seu banco estava muito distante do piano. Começava então a empurrar o
piano com muito esforço para aproximá-lo do banco. O piano é a natureza e o banco, o
espírito. É a recomposição da natureza em termos que poderiam levar a crer que o
20 Damien Broderick, The Spike, op. cit., p. 116. Grifos meus.
17
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
espírito é o criador, permitindo dizer que aproximamos o espírito da natureza. Uma
expressão em forma de oxímoro resume de modo satisfatório tudo isso: a natureza
tornou-se natureza artificial.
A etapa seguinte consiste, evidentemente, em perguntar se o espírito não poderia
substituir a natureza para completar, mais eficaz e inteligentemente, sua obra criadora.
Broderick interroga de modo retórico: “Não podemos pensar que os nanossistemas
concebidos pelo espírito humano colocarão em curto-circuito toda errática darwiniana
para se precipitarem de modo correto em direção ao sucesso do modelo fabricado?”21
Em uma perspectiva de estudos culturais comparados, é fascinante ver a ciência
americana, que teve que entrar em uma luta acirrada para retirar do ensino público todo e
qualquer traço de criacionismo, mesmo em suas metamorfoses mais recentes (como o
inteligente design), reencontrar, pelo viés do programa nanotecnológico, a problemática
do design, do modelo, agora, simplesmente, com o homem no papel do demiurgo.
JEREMIAS E O GOLEM
Gostaria de concluir esta reflexão com um relato talmúdico do século XIII, que
chegou às minhas mãos por intermédio do biofísico francês Henri Atlan. Esse relato
coloca em cena o profeta Jeremias no momento em que ela acaba de finalizar a criação
de um golem. O relato não apresenta de modo nenhum essa criação como um ato de
revolta contra Deus, mas, ao contrário, como o coroamento de um longo caminho de
ascensão em direção à santidade e ao conhecimento, os dois juntando-se na perspectiva
de uma imitatio Dei:
Com efeito, como saber que o iniciado conseguiu decifrar e compreender as
leis da criação do mundo senão verificando que seu saber é eficaz naquilo
que lhe permite, a ele próprio, criar um mundo? Como saber se seu
conhecimento da natureza humana está correto senão verificando que ele
lhe permite criar um homem?22
21 Ibid, p. 118. 22 Henri Atlan, Les Etincelles du hasard, op. cit., p. 49.
18
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
O critério de verdade do saber do sábio, como hoje o critério de verdade científica,
é, segundo a expressão famosa de Gianbattista Vico, o verum factum: nós só
conhecemos verdadeiramente aquilo que somos capazes de fazer ou de refazer. O caso
de Warren McCulloch, o artesão das conferências Macy e, nesse sentido, o verdadeiro
fundador da cibernética, muito mais que Norbert Wiener, é esclarecedor23.
Neuropsiquiatra, McCulloch foi, ao longo dos anos, decepcionando-se progressivamente
com os métodos das neurociências. Ele volta-se para a lógica e para aquilo que ainda não
se chamava inteligência artificial. Os estudantes ou discípulos, que o cercavam no MIT,
chamavam-se Seymour Papert e Marvin Minsky – esse Minsky ia formar, mais tarde, um
certo Eric Drexler. O neurofisiologista Jerome Lettvin descreveu nestes termos a evolução
intelectual de McCulloch, que ele admirava profundamente:
Ele se dedicava à tarefa de saber como o cérebro funciona nos
mesmos termos em que o criador de uma máquina conhece suas
engrenagens. A chave de um saber não está na observação, mas na
fabricação de modelos que são, em seguida, confrontados com aos
dados. Contudo, a poiesis deve vir inicialmente. E McCulloch preferia
arriscar-se no fracasso em sua tentativa de criar um cérebro do que
encontrar o êxito no melhoramento da descrição dos cérebros
existentes.24
Retomemos Jeremias e seu homem artificial. Contrariamente a outros golens, esse
fala. De modo completamente natural, ele se dirige primeiramente a seu criador e lhe diz,
fazendo apelo à sua consciência: “Você se dá conta da confusão que acabou de introduzir
no mundo? A partir de hoje, quando encontrarmos um homem ou uma mulher na rua, não
saberemos mais se se trata de uma criatura de Deus ou sua!” Revela-se que Jeremias
não havia pensado nisso. Muito perturbado, ele pede conselho a seu golem para reparar
o que fez. E o homem artificial lhe responde: “Você só tem de me desfazer assim como
me fez”. Jeremias assim o faz e disso tira a seguinte lição: não devemos renunciar a
atingir o conhecimento perfeito que nos torna capazes de criar um homem, mas logo que
23 Ver Jean-Pierre Dupuy, The Mechanization of the Mind, op. cit. 24 Jerome Lettvin, “Warren and Walter”, inédito; arquivos pessoais de Heinz von Foerster. Citado em Jean-Pierre Dupuy, The Mechanization of the Mind, op. cit., p. 137.
19
Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS
©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br
o alcançarmos, devemos nos abster de fazê-lo. Atlan conclui: “Grande lição ele nos dá
para meditar”.25 É isso que me permito convidar-nos a fazer, antes que seja tarde demais.
25 Relato narrado em Les Etincelles de hasard, op. cit., p. 49.
20