revista maio2.p65 1 16/9/2005, 09:16 -...

56
Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:16 1

Upload: dinhtu

Post on 30-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:161

SUMÁRIO

4 ESTUDO

SONO E SONHOS - PARTE IA importancia do sono e o entendimentoespírita sobre os sonhos

7 CONFIANÇA

O CASO DA ÁGUA

Uma história sobre as bençãos do mundoespiritual

9 ESCLARECIMENTO

“HABEAS CORPUS” PARA O GUIA

A história de uma jovem que perdeu o guiaespiritual para um centro “concorrente”

10 APRENDIZADO

AMOR E AUXÍLIO

O aprendizado de um pai que viu seu filhoàs zonas inferiores do plano espiritual

14 CAPAVIDAS PASSADASA infância de Yvonne do Amaral Pereiraexemplicando a justiça divina e a imortali-dade da alma

21 REPARAÇÃO

DRAMA NA SOMBRA

Um assassinato e um suicídio. A mensa-gem de um homem que voltou para contaras conseqüências de seus atos.

26 REFLEXÃO

SEARA DE ÓDIO

O conto de dois espíritos que, ligados peloódio, lutam pelo direito de viver

28 COM TODAS AS LETRAS

HAVIA PESSOAS, HOUVE ACIDENTES

As importantes dicas de nossa línguaportuguesa

27 EXEMPLO

CHICO, SOB A LUZ DAS ESTRELAS

Um exemplo de esforço e dedicação aobem.

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:162

Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

Assinaturas

Assinatura anual: R$45,00(Exterior: US$50,00)

FALE CONOSCO [email protected] (19) 3233-5596

FELICIDADE QUE A PRECEPROPORCIONA

EDITORIAL

V

Edição

Centro de Estudos Espíritas“Nosso Lar” – Depto. Editorial

Equipe Editorial

Adriana LevantesiRafael Dimarzio

Rodrigo LoboSandro Cosso

Thais CândidaZilda Nascimento

Jornalista Responsável

Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Assessoria Lingüística

Zilda Nascimento

Editoração

Rafael Augusto D. Rossi

Revisão

Zilda Nascimento

Administração e Comércio

Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural

Braga Produtos Adesivos

Impressão

Citygráfica

O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

inde, vós que desejais crer.Os Espíritos celestes acorrema vos anunciar grandes coi-

sas. Deus, meus filhos, abre os seustesouros, para vos outorgar todos osbenefícios.

Homens incrédulos! Se soubésseisquão grande bem faz a fé ao coraçãoe como induz a alma ao arrependi-mento e à prece! A prece! ah! comosão tocantes as palavras que saem daboca daquele que ora! A prece é oorvalho divino que aplaca o calorexcessivo das paixões. Filhaprimogênita da fé, ela nos encami-nha para a senda que conduz a Deus.No recolhimento e na solidão, estaiscom Deus. Para vós, já não há misté-rios; eles se vos desvendam. Apósto-los do pensamento, é para vós a vida.Vossa alma se desprende da matériae rola por esses mundos infinitos eetéreos, que os pobres humanos des-conhecem.

Marchai, marchai pelas veredasda prece e ouvireis as vozes dos an-jos. Que harmonia! Já não são o ruí-do confuso e os sons estrídulos daTerra; são as liras dos arcanjos; sãoas vozes brandas e suaves dos serafins,

mais delicadas do que as brisas ma-tinais, quando brincam na folhagemdos vossos bosques. Por entre quedelícias não caminhareis! A vossalinguagem não poderá exprimir essaventura, tão rápida entra ela portodos os vossos poros, tão vivo e re-frigerante é o manancial em que,orando, se bebe. Dulçurosas vozes,inebriantes perfumes, que a almaouve e aspira, quando se lança aessas esferas desconhecidas e habi-tadas pela prece! Sem mescla dedesejos carnais, são divinas todas asaspirações. Também vós, orai comoo Cristo, levando a sua cruz aoGólgota, ao Calvário. Carregai avossa cruz e sentireis as doces emo-ções que lhe perpassavam n’alma,se bem que vergado ao peso de ummadeiro infamante. Sim, Ele ia mor-rer, mas, para viver a vida celestialna morada de seu Pai.

KARDEC, Allan. ESE Cap. XXVIIitem 23. 120ª edição. TraduçãoGuillon Ribeiro

Santo Agostinho. (Paris, 1861.)

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:163

ASSINE: (19) 3233-55964| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

Dados Estatísticos

esquisa realizada ano passa-do em nove capitais brasilei-ras: São Paulo, Rio de Janei-

ro, Belo Horizonte, Brasília, Salva-dor, Recife, Fortaleza, Curitiba ePorto Alegre e em duas grandesmetrópoles: Santos e Campinas, ou-viu 22.518 pessoas e revelou inte-ressante estatística sobre o sono, ve-jamos:

· 45% dos brasileiros dormemmal;

· 32% demoram a pegar nosono;

· 52% acordam cansados.1

Os dados comprovam que a po-pulação vive em guerra com o tra-vesseiro. O resultado é um contin-gente enorme de pessoas que acor-dam de mau humor, passam o diameio desligadas e demonstram nocotidiano um elevado grau deirritação sem motivo.

Os reflexos de noites mal dor-midas são sentidos no ambiente detrabalho, no relacionamento com aspessoas e na falta de qualidade devida.

A realidade estampada nos re-sultados da pesquisa demonstracoerência com os dias atuais, nosquais a vida agitada, a violência, ostress profissional, a superficialida-de de valores e as preocupações coma vida material influenciam e re-fletem no íntimo das pessoas,obstacularizando sua capacidade dedescansar e de se desvencilhar dosproblemas do cotidiano. Isto aliadoà dificuldade ou não raras vezes aausência da visualização de um as-pecto espiritual da existência afetaa serenidade que deve envolver omomento do sono.

Como é possível dormir bem separa o travesseiro são levadas to-das as perturbações do cotidiano,

somadas a uma ausência de vida es-piritual e a uma visão limitada daexistência?

Para dormir bem é primordialuma conscientização dos fenôme-nos que ocorrem durante o sono,bem como da importância deste mo-mento.

A importância do sono

O sono é um fenômeno fisioló-gico pelo qual o corpo entra em re-pouso, nele se dá uma suspensão davida ativa, possibilitando um afrou-xamento dos laços que prendem oespírito à matéria, ocorre então achamada emancipação parcial doespírito em relação ao corpo. Aemancipação é parcial pois o Espí-rito se conserva preso ao corpo porum laço fluídico que serve para tra-ze-lo de volta, esse laço só é rompi-do com a morte do corpo físico.

Durante o sono os cordõesfluídicos continuam a possibilitar aperfeita comunicação entre o Espí-rito e o vaso físico, tanto que se fornecessário o Espírito retornará in-continente.

O ato de dormir, além de opor-tunidade primordial de refazimentodas energias físicas, oferta tambéma possibilidade da emancipação oudesprendimento do Espírito. Estepode, conforme o grau de sua evo-lução: recuperar suas faculdadesespirituais cuja ação a influencia damatéria tolhe, conseguindo vislum-brar a solução de problemas; reco-nhecer-se como ser imortal e depa-rar-se com a finalidade e objetivos

SONO E SONHOS - PARTE 1Adriana Levantesi

ESTUDO

P

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:164

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 5Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

de sua existência atual e lembrar-se do passado e antever aconteci-mentos que estão por vir.

O corpo repousa, durante osono, todavia o Espírito nunca estáinativo, ele se desprende parcial-mente do corpo, percorre o espaçoe entra em contato com o mundoespiritual e outros Espíritos. Con-forme o estado evolutivo de cadaEspírito e seguindo a Lei deSintonia, o Espírito emancipadoparcialmente do corpo será atraídopelos interesses que o prendem àsvibrações que cultiva. Assim, osEspíritos inferiores, presos a interes-ses egoístas e materialistas, não seafastam muito do corpo e dão va-zão aos seus instintos e tendênciasinferiores, sendo atraídos por Espí-ritos que lhes são afins e para regi-ões inferiores e ambientesperturbadores. De outra parte osEspíritos mais evoluídos, durante osono, tem oportunidade de ir aambientes espirituais elevados,onde se instruem e trabalham jun-to a entidades superiores e amigosque reencontram.

Durante o sono há possibilidadedo Espírito também visitar criatu-ras encarnadas e com elas convi-ver de maneira superior ou inferior,conforme o grau de evolução e depropósitos e anseios.

É por ocasião do sono que mui-tas vezes se tem idéias muito boas,ou se vislumbra a solução de algumproblema, todavia a recordaçãodelas no estado de vigília é difícil.Elas são o resultado da liberdadedo Espírito que se emancipa e am-plia suas faculdades neste momen-to, e conseguem absorver conselhosdados por outros Espíritos. Masmesmo que o corpo esqueça tais

idéias e orientações, o Espírito não,e elas virão como inspiração nomomento certo.

Naturalmente que o tipo de ati-vidade que o Espírito executa du-rante a noite, acaba influenciandoo estado do seu corpo, “(...) nessasocasiões, uma forma de repouso erefazimento, pode tornar-se um modode exaustão e desgaste (...). Há mi-lhões de criaturas que se dizem maiscansadas quando despertam. Isso éperfeitamente razoável, graças ao com-portamento vivido no período de des-prendimento das amarras orgânicas”2

A esse respeito os Espíritos su-periores no LE fazem a seguintecomparação: “(...) o Espírito tem umcorpo, como o balão cativo tem um

poste. Ora, da mesma forma que aagitação do balão abala o poste, aatividade do Espírito reage sobre ocorpo e pode faze-lo experimentarfadiga.”3

Ainda no Livro dos Espíritos,especificamente na resposta à ques-tão 402, há belíssimo trecho no qualé possível notar a real importânciado sono: “Pelo efeito do sono, os Es-píritos encarnados estão sempre emrelacionamento com o mundo dosEspíritos, e é isso que faz com que osEspíritos superiores consintam, semdemasiada repulsa, em encarnarementre vós. Quis Deus que durante oseu contato com o vício eles possam irse renovar nas fontes do bem, paranão falirem, eles que vêm instruir osoutros. O sono é a porta que Deus

É por ocasião do sono que muitasvezes se tem idéias muito boas,

todavia a recordação delas no estadode vigília é difícil

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:165

ASSINE: (19) 3233-55966| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

lhes abriu até seus amigos do céu. É orecreio depois do trabalho, enquantoesperam a grande libertação, a liber-tação final que deve devolve-los ao seuverdadeiro meio.”4

O Espírito aproveita todos osmomentos de descanso do corpo, éassim que mesmo na sonolência ounum simples entorpecimento dossentidos, o Espírito emancipa-se,desde que haja prostração das for-ças vitais, pois quanto mais o corpoestá enfraquecido, mais o Espíritoestá livre.

Portanto é possível perceber aimportância do sono. Para o corpofísico é oportunidade de refazer suasenergias, enquanto para o espírito,que jamais está inativo é o precio-so momento no qual ele se despren-de parcialmente do vaso físico econsegue expandir suas faculdadese entrar em contato com o mundoespiritual, bem como com os outrosEspíritos, seja neste mundo ou emoutro, para receber instruções, ou

mesmo ter contato com seu passa-do e futuro.

Porém a emancipação parcial doEspírito, e o que ocorre com ele umavez afrouxados os grilhões que oprender ao corpo, depende da evo-lução deste, de modo que o Espíri-to é atraído por grupos de afinida-de ou ambientes conforme seus pen-samentos e vibrações.

Para dormir bemDiante da importância do sono

Therezinha Oliveira5 indica umpreparo orgânico, mental e espiri-tual para melhor aproveitar o re-pouso diário:

1. orgânico que se refere a re-feições leves antes de dormir, higi-ene e ambiente silencioso e tran-qüilo;

2. mental consistente na leitu-ra, conversas, filmes e atividadescomedidas, não afligentes oudesgastantes capazes de perturbare angustiar a mente ao invés deacalma-la e relaxa-la para o descan-

so;3. espiritual que é obtido com

leitura edificante, meditação, se-renidade, perdão e prece.

Além disso, vale ressaltar que avigília dos pensamentos, palavras eações deve ser uma constante navida e sobretudo ao recolher-se edespertar, a fim de angariar a com-panhia dos amigos espirituais e ga-rantir uma vida equilibrada e har-moniosa.

Nada resume melhor qual deveser o pensamento do homem de bemao encostar sua cabeça no traves-seiro ao final da jornada diária, doque as palavras de Santo Agosti-nho: “Fazei o que eu fazia de minhavida sobre a Terra: ao fim da jorna-da, eu interrogava minha consciência,passava em revista o que havia feito,e me perguntava se não havia faltadoa algum dever, ser ninguém tinha nadaa se lamentar de mim (...) Aquele que,cada noite, lembrasse todas as açõesda jornada e se perguntasse o que fezde bem ou de mal, pedindo a Deus eaos seu anjo guardião para o esclare-cer, adquiriria uma grande força parase aperfeiçoar, porque crede-me,Deus o assistiria.”6�

Para o espírito, o sono é o preciosomomento no qual consegue entrar emcontato com o mundo espíritual

ESTUDO

Bibliografia:

1 Época, Revista. Durma Bem, 334 ed.São Paulo. Editora Globo S.A., 11 OU-TUBRO 2004, P. 76.2 FRANCO, Divaldo Pereira. Despren-dimento pelo Sono. In: ___ No Limiar doInfinito. 5ª ed., Salvador: LEAL, 2000. p.65. 3 KARDEC, Allan, O Livro dos Espíri-tos, 57ª ed. São Paulo: IDE, 1990, p. 191.4 KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos,57ª ed. São Paulo: IDE, 1990, p. 187 e 188.5 OLIVEIRA, Therezinha. Iniciação aoespiritismo. Coleção: Estudos e Cursos. 9ªedição. Campinas/SP: Editora AllanKardec, 2001.6 KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos,57ª ed. São Paulo: IDE, 1990, p. 355.

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:166

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 7Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

eio visitar-nos a Aparecida,uma moreninha da Mocida-de Espírita. Encontrei-a à

noite, ao lado de Cirene, minhamulher, que costurava na sala dejantar.

- Boa noite, sr. Eliseu. Passei atarde com Da. Cirene. Vim hojepara um assunto muito importante:a Mocidade vai em excursão aPedro Leopoldo visitar o Chico. Jáestou com mais de quarenta pedi-dos; faltam os de sua família.

E exibiu triunfante o maço.- Obrigado, Cida. Não necessi-

tamos. Todos estamos bem de saú-de.

- Não faz mal, peçam assim mes-mo. Sempre vem uma reposta, in-sistiu.

- As orientações mediúnicas nãopodem ser pedidas a esmo, Cida. Sódevem ser solicitadas quando to-dos os recursos materiais se esgota-rem; então, é justo recorrer aosamigos espirituais através de mé-diuns; é uma judiaçãosobrecarregá-los por dá cá aquelapalha. Não é sem razão que o Chicotrabalha até alta madrugada, umavez que cada um que lá vai faz umacoleta como você. Analise-as an-tes de ir, e leve-lhes as absoluta-mente necessárias. É uma carida-de para com o médium – conclui.

Sorriu contrafeita; nada replicoue tornou-se vagamente cismarenta;recobrou seu natural expansivo aoCirene chamar-nos para o jantar.

Semanas transcorreram. E num

O CASO DA ÁGUApor Eliseu Rigonatti

V chuvoso domingo de manhã, rea-pareceu bradando:

- O sr. Não ficou sem chumbo!Trouxe-lhe uma lembrança doChico.

E deu-me um vidrinho, dessesde homeopatia, cheio de uma águaagradavelmente perfumada.

- É o perfume de Scheila. Ela per-fumou o meu litro d’água. Estoupresenteando os meus amigos comum pouquinho a cada um; o seu éeste.

Scheila é um Espírito femininoque, ao fluidificar a água, deixa-aperfumada.

Guardei o meu vidrinho avara-mente na cristaleira, com recomen-dações especiais para ninguémtoca-lo.

Ao almoço, narrou-nos as peri-pécias do passeio; só levara três pe-didos; os outros, jogara-os fora.

Preparávamos para ir ao Centro;bateram

Scheila é um espírito feminino que,ao fluidificar a água, deixa-a

perfumada

CONFIANÇA

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:167

ASSINE: (19) 3233-55968| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

RIGONATTI, Eliseu. O Evangelhodas Recordações. Pág. 27. Pensamento

Fonte:

à porta: era o sr. Hermínio, vizinhonosso, esforçado trabalhador do Es-piritismo.

- Eliseu, você vai ao Centro?- Estamos de saída.Por favor. Minha netinha está

passando mal desde ontem; febrealta; o médico a visitou duas vezeshoje; acabo de telefonar-lhe; reco-mendou-me continuar com os me-dicamentos receitados; é o quefaço. Porém, a febre não cede. Amenina está largada no berço equente como brasa. Peça a Da.Corina que lhe tire uma orienta-ção.

Prometi-lhe; na volta lha entre-garia.

Onze horas da noite. Já me ti-nha deitado, e lia à luz do abajur.Repetido e nervoso, o tilintar dacampainha quebrou o silêncio. Pusa mão na cabeça:

- Esqueceu-me a orientação dosr. Hermínio! Que fazer?

Sonolenta, Cirene respondeu-me:

- Vai com ele até à casa de ma-mãe; quem sabe ela ainda está depé.

Saltei da cama. E ao vestir o rou-pão uma idéia estalou-me no cére-bro:

- A água fluidificada de Scheila!Abri-lhe a porta, e falou-me en-

trando:

- A menina piorou, está gemen-do baixinho; parece um sopro do-lorido.

- Sossegue, vou preparar-lhe oremédio; Jesus a curará.

Fi-lo sentar-se. E da cristaleiratomei o vidrinho; na cozinha laveiuma garrafa, enchia-a com metadede água filtrada; pinguei nela dezgotas da água do vidrinho, aindacheirosa levemente, agitei-a bem,e entreguei-lha recomendado:

- Despeje-lhe na boquinha umacolherinha das de café deste medi-camento de quinze em quinze mi-nutos e o Altíssimo fará o resto.

Passei maldormido o resto danoite. O sono ia e vinha sem se fi-xar. Madrugadinha adormeci, edespertei dia claro. O cuco na salade jantar cantou seis horas.

Sem mesmo fazer a mínima hi-giene, corri à casa do vizinho. Den-tro tudo era silêncio. Fiquei nadúvida: “Bato? Não bato?” E pen-sei : “Se ninguém está de pé, é quenada houve de anormal”.

Ao sair para o trabalho, lá fui denovo. O próprio avô me recebeu:

- Venha ver minha netinha,Eliseu. Depois de ter tomado a ter-ceira colherinha, a febre baixou,deixou de gemer, e, na quinta, dor-miu fresquinha que foi um gosto.Já não tem mais nada.

E na hora do almoço encontreia criança passeando na calçada,nos braços do avô que sorriaenlevado.�

Apesar de todo o medicamentoreceitado, a menina está largada equente como brasa

CONFIANÇA

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:168

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 9Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

“HABEAS CORPUS” PARA O GUIA

través de uma entrevista,atendemos uma senhoramuito aflita, que foi logo

nos dizendo:- Graças a Deus, eu não sinto

nada e não tenho nada que me in-comode! A visita a esta Casa seprende à necessidade de minha fi-lha, que precisa de muita prece eorientação.

Respirou profundamente, comoquem procura coordenar as idéias,e continuou: Para falar bem a ver-dade, pertenço a outra religião, por-tanto, não entendo nada sobre Es-piritismo. Não querendo ofender oumagoar, confesso que me sinto con-trariada em saber que minha filhavive enredada com essas coisas dequem já morreu. Acho mesmo quequem Deus levou deve permane-cer quieto, descansando no Céu, ouseja, eles mortos lá e nós vivos cá.Só resolvi vir a esta Casa pelo con-selho da minha comadre, que, noseu entender, estudam muito e,quem sabe, poderiam me esclare-cer o que realmente se passa comminha filha: ela freqüenta um Cen-tro Espírita há muito tempo, viviatranqüila e feliz, afirmando sempreque o bem estar que desfrutava erao resultado de sua mediunidade,porque o seu Guia a auxiliava emtodos os sentidos.

Até aí tudo bem, mesmo eu sen-do contra essa estória de mexercom os mortos, acredito que a ver-dadeira mãe se sente feliz com obem estar de seus filhos.

Más, de uns tempos para cá, te-nho observado que ela anda muitotriste e preocupada. Foi pela minhainsistência que ela acabou contan-do que o Guia deixou de se mani-festar por seu intermédio, sem lhedar explicações.

Diante de tal atitude, pensei cácom meus botões: ora essa, onde jáse viu coisa igual, se ele era seuorientador, como é que se vai em-bora sem explicação e sem ao me-nos dizer adeus? Isto para mim émuito esquisito e complicado.

Minha filha também contou queao comentar o fato com o dirigentedo Centro em que freqüenta, elelhe explicou ser isto muito comumde acontecer porque quando hádemanda ou divergência entre doisCentros Espíritas, aquele que con-tar com um maior número de mé-diuns poderá dominar o Centromenor prendendo seus Guias, atéque seja derrotado totalmente como fechamento da Casa. E isto vemacontecendo desde a fundação deoutro Centro no mesmo bairro emque moramos.

Segundo ele, estamos vivendouma espécie de “batalha santa”entre os dirigentes encarnados e osespíritos dominadores, não saben-do ainda qual o grupo sairá vence-dor. Diante de tal situação, fiqueia pensar: como pode ser isso? Aquina Terra é tão difícil trancafiar ummarginal atrás das grades, comopode no Céu, que é a Casa de Deus,prender-se tantos Guias de uma só

vez? Mas vamos deixar isso para lá,porque não entendo nada dissomesmo!

Como mãe zelosa que sempre fui,procurei o pastor da minha igreja erelatei o caso, esperando algumaorientação e o que ouvi foi o se-guinte:

- Afaste-se desse caso se nãoquiser enlouquecer. Para sua filhanão há mais chance de salvação,pois ela está envolvida com o‘tinhoso’ que já tem a posse de suaalma. Então, muito cuidado paranão perder a sua também!

Fiquei completamente assusta-

A

ESCLARECIMENTO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:169

ASSINE: (19) 3233-559610| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

da e desnorteada, procurei minhacomadre que me acalmou e meaconselhou a procurar este Centro.Espero que você me diga algumacoisa que venha a me esclarecer.

Mesmo estando habituada comentrevistas difíceis, fiquei penaliza-da e após dirigir-lhe palavras deconforto e esperança na bondadedo Pai Criador, perguntei-lhe se suafilha estava bem de saúde, ao queela confirmou, lembrando que re-centemente tinha até sido contra-tada por uma firma muito grande,após passar por inúmeros examesmédicos, sem que nenhum proble-ma tivesse sido constatado.

Expliquei-lhe que são vários osmotivos para que a mediunidadeseja suspensa, mas jamais pela pri-são do Guia, mesmo porque, issonão existe.

retornara.Fiquei muito satisfeita com o fi-

nal deste caso e agradeci ao Pai pelobom senso daquela médium e prin-cipalmente de sua mãe, que mes-mo pertencendo a outra religiãointeressou-se pelo esclarecimentoda situação.

Vejamos agora em detalhes osmotivos para a suspensão damediunidade:

1. Problemas físicos

Como a mediunidade tem raizno corpo físico, um desgaste ou pro-blema grave no organismo pode al-terar a capacidade de produçãomediúnica.

Sabemos que qualquer tipo detrabalho consome energias físicas,mentais e até emocionais. Com amediunidade não é diferente: mes-mo que o médium se apresente sau-dável, haverá um certo desgaste.

Explica Kardec que a suspensãoda mediunidade poderá acontecerem qualquer tipo de faculdade,porque em todas elas haverá des-gaste, porque todas possuem raízesno corpo físico.

Como os bons espíritos visam onosso bem e progresso espiritual,eles nos auxiliam na preservação dasaúde para que possamos realizar atrajetória evolutiva, dispondo deorganismo saudável. Quando des-prezamos tais cuidados, afastam-sedeliberadamente para nos proteger.

2. Programação de trabalho

Conforme o tipo de tarefa pro-gramada para o médium nestaencarnação, os bons espíritos podemreduzir ou modificar sua atuaçãoatravés dele em diferentes fases.

Pode ocorrer também de uma

Pedi que aconselhasse a filha aobservar muito bem o comporta-mento dos membros da Casa e a fi-nalidade das reuniões e que obser-vasse se identificava alguma coisaque denotasse atitude reprovável.Caso verificasse algo nesse sentido,que procurasse outra Casa para tra-balhar com sua mediunidade.

Passados uns dois meses mais oumenos, a senhora voltou muito ale-gre para me informar que a filha,seguindo as orientações, tinha des-coberto que parte da diretoria doCentro fora substituída, que o gru-po estava cobrando taxas pelos tra-balhos realizados e que também es-tavam aceitando encomendas parao mal. Desligou-se imediatamentedaquele grupo, filiou-se a outraCasa e, com o passar de algumassemanas, finalmente seu Guia

ESCLARECIMENTO

são vários os motivos para que amediunidade seja suspensa, mas jamaispela prisão do Guia

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1610

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 11Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

mediunidade entrar em recessopara que outras sejam ativadas. Nãoconfundamos, porém, essas inter-rupções e alterações necessáriascom os casos em que, por nosso de-sinteresse ou mesmo má vontade,abandonamos o exercíciomediúnico. Neste caso, sofreremosa conseqüência da paralisação dotrabalho.

3. Mau uso

A mediunidade, faculdade va-liosa que permite a comunicaçãoentre os dois planos, é concedidaao médium “para o fim de sua me-lhora espiritual e para dar a conhe-cer aos homens a verdade”.

Quando o médium começa ausar a mediunidade para coisas frí-volas ou com propósitos ambiciososou egoístas, ou se nega à transmis-são das mensagens e produção dosfenômenos necessários ao socorromaterial e espiritual das criaturas,os bons espíritos se afastam, em bus-ca de quem se mostre digno de suaassistência.

O afastamento é, então, umaadvertência para que o médiummedite no que está fazendo, ou te-nha a prova de que sua faculdadenão depende de si próprio, não ha-vendo razão para dela se vanglori-ar.

Afirma Herculano Pires em seulivro “Mediunidade, Vida e Comu-nicação”, que “quando o médiumse esquiva ao trabalho, engana-sea si mesmo, pensando enganar aDeus. Sua própria consciência seincumbirá de condená-lo quandochegar a hora e nada justifica a fugaa um compromisso forjado a custado sacrifício alheio”.

Os espíritos não querem que sejamosmeros autômatos na transmissão dos

ensinos. mas que os assimilemos evivamos

4. Teste

Se o médium for correto moral-mente e não sentir necessidade derepouso, a suspensão damediunidade estará servindo paratestar a sua paciência, a perseve-rança na fé e a sua honestidade,não fingindo fenômenos que já nãose produzem por seu intermédio.Além disso, levá-lo a meditar nosensinos recebidos, pois os espíritosnão querem que sejamos meros au-tômatos na transmissão dos ensinos,mas que os assimilemos e vivamos.

O teste é sempre útil uma avali-ação. As virtudes são reconhecidas

e firmadas através dos testes.O caso da médium acima cita-

do não se encaixa em nenhum dosmotivos aqui expostos. Como elanão tinha conhecimentos sobre asleis que regem a mediunidade, seuguia simplesmente afastou-se paraque procurasse explicações e se in-teirasse da verdade.

Se você, caro leitor, interessou-se por este assunto e quiser sabermais, consulte o “Livro dos Mé-diuns”, 2a. Parte, Capítulo XVII,item 220 e comentários.�

ESCLARECIMENTO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1611

ASSINE: (19) 3233-559612| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

olava a conversação em tor-no de proteção espiritual,quando Jonaquim, respeita-

do mentor de comunidade cristãs,narrou com a voz aquecida de bon-dade e sabedoria:

- Ouvi de um instrutor amigoque Mardônio Tércio, convertidoao Cristianismo, nos primeiros dias

do Evangelho em Roma, se fez umdiscípulo tão valioso e humilde doSenhor que, para logo, teve o seunome abençoado nos Céus. Patríciode enorme fortuna, desde cedoabandonado pela mulher que de-mandara Cartago para uma vidaindependente, Mardônio, assim quepenetrou a essência da doutrina do

Cristo, dividiu todos os bens com ofilho único, Marcos Lício, e entre-gou-se à caridade e à renovação.Instrumento fiel do bem, abria osouvidos a todos os apelosedificantes, fossem dos mensagei-ros de Jesus que lhe solicitavam aexecução de tarefas benemerentesou dos irmãos encarnados nos maisbaixos degraus da penúria. Fizera-se espontaneamente o apoio dasviúvas desamparadas e o tutor afe-tuoso dos órfãos. Além disso, man-tinha horários, cada dia, para o ser-viço de assistência direta aos do-entes e sofredores, administrando-lhes alimento e socorro com as pró-prias mãos.

Ao contrário do pai, o jovemMarcos se chafurdou em absurdaviciação. Aos trinta de idade, pa-

recia um flagelo ambulante. Distin-guindo-se entre as forças do ouro edo poder, não vacilava em abusardas regalias que desfrutava paramanter-se no banditismo douradoque os privilégios sociais tanta vezconservam impune.

Dois caminhos tão diferentesproduziram, em conseqüência, duasposições diametralmente opostas noMundo Espiritual. Sobrevindo amorte, Mardônio cresceu em tama-nho merecimento que foi elevadoà esfera do Cristo acessível aos ser-vidores que pudessem colaborarcom ele, o Senhor, nos dias maistorturados do Evangelho nascente.Marcos, porém, arrojou-se a escu-ro antro das zonas inferiores, ondeexperimentava terríveis humilha-ções no orgulho ferido, conquantoafeito à revolta e à perversão, qualse trouxesse a consciênciarevestida em grossa carapaça deinsensibilidade.

O genitor, convertido em após-tolo da abnegação, visitava o filho,no vale tenebroso a que se chum-bava, sem que o filho, cego de es-pírito, lhe assinalasse a presença; etanto se condoeu daquele comquem partilhara o afeto e o sangueque, certa feita, num rasgo de apai-xonado amor pelo rebento querido,suplicou ao Senhor permissão paralevá-lo consigo para as Alturas, afim de assisti-lo, de mais perto.

Jesus sorriu compreensivo eaquiesceu, diante da ternura ingê-

por Humberto de Campos

R

AMOR E AUXÍLIO

Distinguindo-se entre as forças doouro e do poder, mantinha-se nobanditismo dourado que os privilégiossociais tanta vez conservam impune

APRENDIZADO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1712

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 13Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

nua do devotado cooperador, e,antes que amigos experientes lheadministrassem avisos, lá se foiMardônio para a cava sombria, ondeo filho se embriagava de loucura eilusão... Renteado com Marcos,positivamente distante de qualquernoção de responsabilidade, aplicou-lhe passes magnéticos, anestesiou-lhe os sentidos e, tão logo o benefi-ciado cedeu ao repouso, colocou-oenternecidamente nos ombros, àfeição de carga preciosa, e, comimensos cuidados, transportou-opara os Céus...

Instado num dos sítios maissingelos do Plano Superior, o recém-chegado, porém, usufruía a luz maisradiante que a do dia terrestre, e,tão depressa acordou sob o encan-tamento paternal, ao ver-se cober-to de fluidos repugnantes que lhedavam a impressão de ser um do-ente empastado de lamaenquistada, Marcos se confrontoucom os circunstantes, que se movi-am em corpos tênues e luminosos,e passou a gritar impropérios e in-sultos. Ao pai que intentoureconfortá-lo, procurou esbofetearsem misericórdia, afirmando quenão pedira e nem desejava a mu-dança. Exortado a respeitar o nomee a casa do Senhor, injuriou o am-biente com palavras e idéias de zom-baria e ingratidão. Parecia uma feradesatrelada, buscando enlamearuma fonte de luz. Interferiram ami-gos e o rebelado caiu de novo emprostração, sob hipnose benéfica...

Joaquim fez longo intervalo, e,porque se interrompera em apon-tamento culminante da história, umdos companheiros interrogou:

- E daí? Mardônio se viu coibi-do1 de amparar o filho a quem

amava?O instrutor explicou:- Sim, meus amigos, Mardônio

acabou compreendendo que nemDeus violenta filho algum, em nomedo bem, e que o bem jamais foge àpaciência, a fim de ajudar... Por isso,reconduziu Marcos ao antro deonde o arrancara e, sem nada per-der em ternura e esperança, até queo filho quisesse ou pudesse de lá sairpara novos passos no caminho daevolução, o ex-patrício, por noven-ta e dois anos consecutivos, desceudiariamente ao vale das trevas, ofe-recendo ao filho, de cada vez, abênção de uma prece, uma fraseesclarecedora e um naco de pão.

- Ma, isso não é o mesmo queacentuar a impraticabilidade do

socorro? Aventou um dos presentes.Não seria mais justo relegar o ne-cessitado ao próprio destino paraque ele mesmo cogitasse de si?

Jonaquim sorriu expressivamen-te e rematou:

- Não temos o direito de pôr emdúvida o poder e a eficiência da leide auxílio. A renovação conseguidapor noventa e dois anos dedevotamento talvez custasse, semeles, noventa e dois séculos. Oamor, para auxiliar, aprende arepetir.�

XAVIER, Francisco Cândido/ CAMPOS,Humberto. Cartas e Crônicas. Págs. 47-50.Feb. Rio de Janeiro/ RJ. 1966.

Fonte:

Instado num dos sítios mais singelos doPlano Superior, usufruía luz mais

radiante que a do dia terreste

APRENDIZADO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1713

ASSINE: (19) 3233-559614| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

por Yvonne do Amaral Pereira

VIDAS PASSADAS

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1714

| 15Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai. 2005 | FidelidadESPÍRITA

inha primeira infânciadestacou-se pelo traço deinfortúnio, que foi certa-

mente a conseqüência da má atu-ação do meu livre arbítrio em - exis-tências passadas. E uma das razõesde tal infortúnio foi a lembrança,muito significativa, que em mimpermanecia, da última existênciaque tivera. Desde os três anos deidade, segundo informações de mi-nha mãe e de minha avó paterna,pois com esta vivi grande parte dainfância, neguei-me a reconhecerem meus parentes, e principalmen-te em meu pai, aqueles a quem eudeveria amar com desprendimentoe ternura. Sentia que o meu círcu-lo de afinidades afetivas não eraaquele em que eu agora vivia, poislembrava-me do meu pai, da passa-da existências terrena, a quemmuito amava, pedindo insistente-mente, até muito tempo mais tar-de, para que me levassem de voltapara a casa dele. Tratava-se do Es-pírito Charles, a quem eu via fre-quentemente em nossa casa, con-forme explicações do capítulo an-terior. Eu o descrevia com minúciaspara quem me quisesse ouvir, masfazia-o por entre lágrimas, qual acriança perdida entre estranhos,sentido, dos três aos nove anos deidade, uma saudade torturante des-se pai, saudade que, nos dias pre-sentes, se não mais me torturatando, também ainda se não extin-guiu do meu coração. Se as suasaparições eram freqüentes, eu mesentia amparada e mais ou menosserena, pois ele me falava, conver-sávamos, embora jamais eu me re-cordasse do que tratavam as nossasconversações, tal como aconteciacom a outra entidade, Roberto.

Mas, se as aparições escasseavam,advinha amargor insuportável paramim, fato que tornou a minha in-fância um problema tanto para mimcomo para os meus.

Até aos nove anos de idade nãome lembro de que concordasse, deboamente, em pedir a benção a meupai, o da atual existência. Negava-me a faze-lo porque – afirmava,convicta e veemente –“Esse não éo meu pai!” E entrava a explicar aminha mãe, que tentava contornara situação, a ele próprio e à minhaavó paterna, que foi anjo bom daminha infância, como era a perso-nagem que dominava as minhasrecordações.

Detalhes singulares viviam emmeus pensamentos por essa época:

Referindo-me à “casa de meu pai”,eu descrevia um saguão que me eramuito familiar, de tijolos de cerâ-mica, coloniais, onde a “minha car-ruagem” entrava para eu subir oudescer. Havia aí uma escada inter-na por onde eu subia para os anda-res superiores – narrava eu, desfei-ta em prantos, descrevendo a casaa fim de que me levassem novamen-te para lá – e o corrimão da mes-ma, com o balcão lavrado em obrade talha, pintado de branco e comfrisos dourados, mostrava o motivode uma corsa perseguida por umcão e pelo caçador em atitude deatirar com a espingarda. O caça-

dor – mais tarde eu o compreendi– era tipo holandês do século XVII.No entanto, jamais me referia a mi-nha mãe de então, isto é, da exis-tência passada, o que leva à supo-sição de que eu teria sido mais afimcom o pai, visto que foi o sentimentoconsagrado a ele que venceu o tem-po, dominando até mesmo a difi-culdade de uma reencarnação.Mas, se jamais me referia a minhamãe de outrora, lembrava-me mui-to bem dos vestuários queprovávelmente foram por mim usa-dos, e graças a tal particularidademais tarde foi possível levantar aépoca em que se teria verificado a

M

Desde os três anos de idade carregocomigo a lembrança , muito

significativa, da última existência

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1715

ASSINE: (19) 3233-559616| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

minha última existência terrestre:Época de Allan Kardec, de VítorHugo, de Frederico Chopin, ou seja,mais ou menos de 1830 a 1870 (rei-nado de Luís Filipe e Império deNapoleão III, na França).

À hora do banho, à tarde, fre-quentemente eu exigia de minhaavó certo vestido de rendas negrascom grandes babados e forros deseda vermelha, “muito armado” eamplo, inexistente em nossa casa,e que eu jamais vira. Pedia asmitenes (eu dizia “luvas sem de-

dos”, coisa que jamais vira); pediaa mantilha (xale) e a carruagempara o passeio, porque “o meu paiesperava para sairmos juntos”. Ad-mirava-me muito de não encontrarnada disso, assim como também osquadros que viviam em minhas lem-branças, quadros de grandes pro-porções, os quais eu procurava pelacasa toda a fim de revê-los, sem,todavia, encontra-los, e que, cer-tamente, seriam coleções de arte oupinacotecas dos antepassados da fa-mília da última existência. Repa-

rava então, decepcionada, as pare-des, muito pobres, da casa de mi-nha avó ou da se meus pais, e,súbitamente, não sei que horroro-sas crises advinham para mealucinar, durante as quais verdadei-ros ataques de nervos, ou o querque fosse, e descontroles sentimen-tais indescritíveis, uma saudadeelevada a grau super-humano, melevavam quase à loucura. Passavadias e noites em choro e excitações,que perturbavam toda a família, eo motivo era sempre o mesmo: o de-sejo de regressar à “casa de meupai”, de onde me sentia banida, asaudade angustiosa que sentia delee de tudo o mais de que me reco-nhecia separada. Em tais condições,não podia folgar com as outras cri-anças e jamais sentir prazer num di-vertimento infantil. Em verdadenão encontrei jamais, desde a in-fância, satisfação e alegria em par-te alguma. Fui, portando, uma cri-ança esquiva, sombria, excessiva-mente séria, criança sem risos nemperaltices, atormentada de sauda-des e angústias, imagem, na Terra,daqueles réprobos do suicídio des-critos nos livros especificados. O le-nitivo para tão anormal situaçãoapenas advinha dos trabalhos esco-lares, pois muito cedo comecei afreqüentar a escola, e do amor comque me assistia minha avó paterna,já mencionada, a qual, nãoobstante os seus pendores materia-listas, me ensinou a orar muitocedo, suplicando a proteção deMaria Santíssima.

Certo dia, aos sete anos de ida-de, lembro-me ainda de que, ao metentarem obrigar a pedir a bençãoa meu pai, recusei e expliquei, ve-emente: �

Lembrava-me muito bem dosvestuários que provavelmente forampor mim usados

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1716

| 17Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai. 2005 | FidelidadESPÍRITA

— “Esse não é o meu pai! O meuusa um paletó muito comprido(sobrecasaca ou coisa semelhante),com uma capinha dos lados (trajesmasculinos do tempo de Luís FelipeI, da França); um chapéu muitoalto e cabelos “meio brancos” (gri-salhos) e mais compridos. E usavabigodes grandes. Ele é “um poucovelho”...não é moço como “esse aí,não!...”

Tal franqueza, que para mim re-presentava uma grande dor, para osdemais nada mais seria do que pe-tulância e desrespeito. Valeu-me,nesse dia, boa dose de chineladasministradas por meu pai, o que mui-to me surpreendeu e fêz que meconsiderasse mártir, pois fui casti-gada desconhecendo o motivo porque o era, visto que, sinceramen-te, o pai por mim reconhecido erao Espírito que frequentemente euvia e do qual me lembrava cominconsolável saudade. Na verdade,eu necessitava mais de tratamentofísico, com vistas ao sistema nervo-so e psíquico, visando ao suprimen-to de fluidos balsamizantes, para otraumatismo sediado no perispírito,do que de repreensões e castigoscorporais, cujas razões eu não com-preendia. O castigo de que, real-mente, eu necessitava ali estava, natortura de conservar a lembrançade uma pai amado de uma passadaexistência, quando ali estava o paido presente requerendo igual sen-timento e respeito idêntico, masapenas temido e não propriamenteamado, e no qual sempre deparei aseveridade, útil e muito necessáriaá minha situação atual.

No entanto, bastaria uma sériede passes bem aplicados, freqüên-cia às reuniões de estudo evangéli-

co num Centro Espírita bem orien-tado e preces, para que tão anor-mal situação declinasse. Se, comoé evidente, o fato de recordar exis-tências passadas é, antes de maisnada, uma faculdade, aquele tra-tamento tê-la-ia adormecido emmim, desaparecendo asincomodativas explosões da sub-consciência, ou talvez fosse mesmo

necessária, ao meu reajustamentomoral-espiritual, a conservação dasditas lembranças, e por isso elas fo-ram conservadas. Mas o caso é que,posteriormente, eu mesma, depoisde bem norteadas as minhas facul-dades supranormais, tratei, commeus Guias Espirituais, de algumascrianças assim anormalizadas, con-seguindo resolver terríveis impasses

Narrava eu, desfeita em prantos,descrevendo a casa a fim de que me

levassem novamente para lá

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1717

ASSINE: (19) 3233-559618| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

ção inteiramente anormal, doloro-sa. Mais tarde, atingindo os noveanos de idade, é que esse tratamen-to naturalmente se impôs e, com ostradicionais passes, terapêutica ce-leste que balsamizou minhas amar-guras de então, sobrevieram tréguase consegui mais serenidade para acontinuação da existência.

Entretanto, outra entidade

de natureza semelhante. Mas ape-sar de meu pai se ter convertido àcrença espírita antes mesmo domeu nascimento, e certamente por-que ao meu espírito seria necessá-rio que tais lembranças não fossembanidas da minha consciência, essetratamento não foi tentado e eu tivede vencer a primeira infância ru-demente torturada por uma situa-

igualmente dominava as minhas re-cordações durante a infância. Tra-tava-se do Espírito a quem eu de-nominava Roberto, conforme expli-cações do capítulo anterior. Eu nãoo poderia, efetivamente, esquecer,uma vez que sua presença em nos-sa casa era constante, durante todaa minha infância e grande parte dajuventude. Tal acontecimento avi-ventava estranhas impressões emmeu ser, e, se demorava a revê-lo,saudades muito vivas me pungiamo coração. Não raro perguntava porele à minha avó, pedindo-lhe queo mandasse chamar. Mas um senti-mento indefinível se entrechocavaem minha alma a respeito desse Es-pírito, que eu sabia ser amigo e meamar com veemência. Eu o julgavaentão um parente muito próximo,ao qual me sentia ligada e cujacompanhia me era habitual. Gran-de e afetuosa atração me impeliapara ele. Não obstante, detinha-mecerto temor quando o via e por al-gumas vezes me assustei com suapresença, temi-o, e, em gritos depavor, procurava socorro nos braçosde minha avó. Mais tarde ele pró-prio corrigiu tais distúrbios de mi-nha mente, afirmando que esse ter-ror nada mais era reflexoconsciencial do remorso pelo desli-za praticado contra ele em passadaexistência, mas que tal aconteci-mento se perdera no abismo do pre-térito, que eu agora já não seria ca-paz de assim proceder e por isso nãoassistiam razões para tanto meamesquinhar em sua presença. Que,além do mais, desde muito ele mefavorecera com o perdão sincera-mente extraído do coração, e eu,arrependida, reencarnara decididaa reparar o erro do passado a des-

Sob o seu influxo, eu escreviafebrilmente, sem nada pensar, apenassentindo o braço impulsionado

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1718

| 19Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai. 2005 | FidelidadESPÍRITA

peito de quaisquer sofrimentos esacrifícios. Acrescentava que lon-go passado de amor unia os nossosEspíritos através do tempo e que,portanto, laços espirituaisindissolúveis igualmente nos unirampara o futuro. Tão perfeitas eramas suas aparições à minha vidênciaque, certa vez, contando eu cincoanos de idade, lembro-me de que,encostando casualmente o pulsonum ferro de engomar superaque-cido, eu me queimei e daí resultouuma ferida muito dolorosa. Dois outrês dias depois de tal ocorrência,esse Espírito apresentou-se-me sen-tado na cadeira da sala de visitas,onde frequentemente eu o via, emcasa de minha avó. Chamou-mepara junto dele, como habitualmen-te fazia. Mas, porque eu não o aten-desse de imediato, estendeu a mãoe segurou-me pelo pulso ferido,atraindo-me para ele. O contactomagoou-me horrivelmente e eu pusa chorar, explicando à minha avó oque se passava. Mas ninguém ati-nava com a identidade daquele“Roberto, moço de barbinha”, aquem eu me referia e a quem indi-cava como estando sentado na ca-deira, pois não era visto por maisninguém. Lembro-me ainda do pe-sar, do desapontamento de suafisionomia compreendendo que memagoara com seu gesto afetuoso. Epor que eu me refugiasse junto aminha avó, que casualmente se en-contrava de pé, no centro da sala,e procurasse esconder-me dele, en-cobrindo o rosto em suas saias, tam-bém ele, procurando distrair-me, es-condia a o próprio rosto entre asmãos, para me espionar de esgue-lha. Pus-me a rir, cobrindo e des-cobrindo o rosto, como brincando

de esconde-esconde. Por sua vez,ele fazia o mesmo com as mãos, edentro em pouco eu me via satis-feita, dirigindo-me sempre à cadei-ra, que para outrem continuavavazia, mas que para mim mostravao ser mais amado pelo meu espíri-to, em todos os tempos, depois da-quele outro a quem eu reconheciacomo pai. A constância dessa enti-dade a meu lado prolongou-se atéà minha juventude, e, se fora pos-sível uma obsessão partir de um Es-pírito em boas condições, que amaem vez de odiar, houve obsessãodele sobre mim. Era como um noi-vo, um esposo amante que morrerae não se conformava com a separa-ção. Aos dozes anos de idade já euproduzia literatura profana sob seu

controle mediúnico (essa entidadenunca produziu literatura doutriná-ria, embora me concedesse copiosaliteratura profana), sem contudo eumesma estar muito certa do fenô-meno. Sob o seu influxo, eu escre-via febrilmente, sem nada pensar,completamente desperta, sem orarpreviamente, apenas sentido o bra-ço impulsionado por forçaincontrolável. Tratava-se de estiloliterário vivo, apaixonado, veemen-te, muito positivo, impossível de per-tencer a uma menina de doze anosde idade. Ao que parece, a dita en-tidade fora literato e poeta, e pos-teriormente essas produçõesmediúnicas foram publicadas emjornais e revistas do interior sem,todavia, ser esclarecida a sua ver-�

Tão perfeitas eram as aparições deRoberto à minha vidência que certa

feita senti-me tocada por ele

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1719

ASSINE: (19) 3233-559620| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

dadeira origem. Explicava ele, en-tão, que me preparava para futurosdesempenhos literários-espíritas.

Assim, pois, a atuação da enti-dade Roberto exerceu ação pode-rosa sobre o meu caráter. Melanco-lia profunda acompanhou-me a vidainteira devido à sua influência, eminha consciência, reconhecendo-se culpada diante dele, negava-me

quaisquer possibilidades de alegri-as para o coração. Eu, aliás, nãopoderia esquecer facilmente certosdetalhes de minha passada existên-cia, porque as entidades Charles eRoberto pareciam interessadas emconservá-los. De certa feita, certosepisódios por ti vividos na anteriorexistência, porque será o único meiode te fazer refletir para a emenda

definitiva. Não te pouparei os so-frimentos daí advindos. O que po-derei fazer é ajudar-te a suportá-loscom firmeza de ânimo, e isso eu ofarei. “

E, com efeito, não só me há aju-dado a vencer as intensas peripéci-as que me foram dadas a experi-mentar neste mundo, como tam-bém, através do seu auxílio, boasresoluções tenho tomado a meu pró-prio benefício, e tudo sob inspira-ções extraídas das impressões dei-xadas por aquelas recordações,que, se muito me fizeram sofrer,também me transmitiram a certezade que era justo que eu as sofresse,visto ter errado outrora, e que, de-pois da série de expiações necessá-rias, outras fases de progresso e en-sejos felizes advirão.

Prosseguindo, esclarecerei que,às vezes, as mesmas recordaçõespareciam surgir subitamente, dan-do a entender que seriam antesextraídas da minha consciênciaprofunda por uma vontade exteri-or, uma sugestão de entidades doInvisível, tal a operação dosmagnetizadores e cientistas com os“sujets” sobre quem estudavam osfenômenos de regressão da memó-ria, para indagações sobre a reen-carnação, durante o transesonambúlico. Os fatos curiosos quepassarei a narrar em seguida, du-rante os quais me vi representan-do, por assim dizer, o singular papelde “sujet” de um operador do mun-do invisível, levam-me a crer isso,ao mesmo tempo que desdobra omotivo das citadas recordações deexistências passadas.�

Me transmitiam a certeza de quedepois das expiações necessárias,outras fases de progresso e ensejosfelizes advirão

Fonte:

PEREIRA, Yvonne/ADOLFO, Bezerrade Menezes. FEB. Rio de Janeiro, RJ. 1998

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1720

| 21Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

DRAMA NA SOMBRApor Jorge / Chico Xavier

Quem agradece com since-ridade traz aos benfeito-res aquilo de melhor que

possui.Sou pobre vítima do crime e do

suicídio que vem depositar em vos-sas preces uma singela flor de gra-tidão.

No entanto, para comentar o fa-vor recebido, peço permissão paraque minhas lembranças recuem notempo. Corria o ano de 1917 e sen-tia-me um homem feliz entre osmais felizes.

Era moço, otimista e robusto.Avizinhava-me dos trinta anos e

sonhava a organização de meu pró-prio santuário doméstico.

Anita era minha noiva.Aqueles que amaram profunda-

mente, guardando, inalteráveis, nopeito, a primavera das primeiras as-pirações, poderão compreender afloração de esperança que brilhavaem minhalma.

A escolhida de minha mocida-de encarnava para mim o ideal daperfeita mulher.

Preparávamos o futuro, quandoum primo, de nome Cláudio, veioviver em nossa casa no Rio, à caçade estabilidade profissional para ajuventude, necessitada de maioresexperiências.

Acolhido carinhosamente pormeus pais e por mim, e mais moçoque eu próprio, passou a ser meucompanheiro e meu irmão.

O infortúnio, porém, como que

me espreitava de perto, porqueCláudio e Anita, ao primeirocontacto, pareceram-metrasnfundidos na ventura de velhoconhecimento.

Pouco a pouco, reconheci que acriatura querida me escapava dosbraços e, mais que isso, notei que oamigo se erguia em meu adversá-rio, porque blasonava de minhaperda, ironizando-me a inferiorida-de física.

No decurso de alguns meses, por

mais tentasse distanciá-los discre-tamente, Cláudio e Anita estreita-vam os laços da intimidade afetiva,até que fui apeado de meu projetorisonho - tudo quanto a Terra e avida me ofereciam de melhor.

Instado para entendimento pelaantiga noiva, dela recolhi observa-ções inesperadas.

Nosso compromisso era apenasilusão...

Andara mal inspirada...Eu não representava para ela,

Pouco a pouco,reconheci que acriatura querida me escapava dos

braços

REPARAÇÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1721

ASSINE: (19) 3233-559622| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

Meses transcorreram e a gripe,em 1918, castigava a cidade.

Estendera-se a epidemia e Cláu-dio não lhe resistiu ao assalto. Caiusob invencível abatimento.

Fui-lhe o enfermeiro desvelado,no entanto, mal podia suportar odevotamento de que o via objeto,por parte da mulher que eu amava.

Não compreendia por que seconfiara ela a tamanha versatilida-de, e, observando-a, firme e abne-gada, em torno do rapaz, entreguei-me gradativamente à idéia do cri-me.

Numa noite de febre alta, emque o doente reclamava maioresdemonstrações de paciência e ca-rinho e em que Anita, fatigada,obtivera, enfim, alguns momentosde sono, eliminei todas as dúvidas.À guisa de remédio, administrei aoenfermo o veneno que o afastariapara sempre de nós.

Na manhã imediata, um cadá-ver representava a resposta de meudespeito às esperanças da mulherque me preterira.

A morte, contudo, não conse-guiu desuni-los, porque Anita, em-bora afagada por mim, fez-se arre-dia e desconfiada. Parecia procu-rar em meus olhos a sombra do re-morso que passara a flagelar-me ocoração. E, apática, desalentada,renunciando ao porvir, rendeu-se àdepressão orgânica, que, aos pou-cos, lhe abriu caminho para o se-pulcro.

Revelava-se contente por entre-gar ao polvo invisível da tubercu-lose a taça do próprio corpo.

Quando me vi sozinho, sem osdois, mergulhei no desânimo e noarrependimento.

E entre a silenciosa interrogaçãode meus pais e a tortura interiorque passou a possuir-me, escutava-lhes a voz, desafiando-me em cadacanto:

- Jorge! Jorge! Que fizeste? Quefizeste de nós? Jorge! Jorge! Paga-rás, pagarás...

Os dois fantasmas inexoráveisimpeliam-me à morte.

Inútil tentar resistência.Percebia-os em toda parte, fosse

em casa, na via pública ou dentrode mim...

E o desejo de minha própriaexterminação começou a empolgar-me...

Em dado instante, resolvi nãomais me opor à tentação.

Meus pais eram bons, carinho-sos e devotados.

Não lhes podia dar o espetáculode um suicídio aberto.

Na manhã fatídica, porém, no-tifiquei à minha mãe que faria a lim-

em verdade, o tipo ideal do com-panheiro...

Não seríamos felizes...Melhor desfazer a aliança amo-

rosa, enquanto o tempo nos favo-recia visão justa...

Senti-me desfalecer.Preferia a morte à renúncia.Entretanto, era preciso sufocar

o brio humilhado, asfixiar o cora-ção e viver...

Para vós outros, semelhantesconfidências podem constituir umaconfissão demasiado infantil, toda-via, dela necessito para salientar obenefício recolhido em nossas pre-ces.

Recalquei o sofrimento moral.Escoaram-se os dias.Cláudio era filho adotivo de nos-

sa casa, comensal de nossa mesa.Sentindo-se meu irmão, não sus-

peitava que um ódio terrível se medesenvolvia no coração invigilante.

Observando-a, firme e abnegada, emtorno do rapaz, entreguei-me à idéiado crime.

REPARAÇÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1722

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 23Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

peza na arma de um amigo.Ela pediu-me cuidado.Contemplei-a eternecidamente

pela última vez.Aqueles cabelos brancos roga-

vam-me que eu vivesse!...Fixei a mesa de escritório em

que meu pai, ausente, costumavatrabalhar, e a figura dele visitou-mea imaginação, induzindo-me à cal-ma e ao respeito à vida...

Hesitei.Não seria mais justo continuar

sofrendo no mundo para, com maissegurança, reparar meus erros?

Entretanto, as acusações, em vozinarticulada, martelavam-me o cé-rebro.

Jorge, covarde! Que fizeste denós?!

Decidi-me sem detença.Demandei o quarto de dormir e

com o revólver emprestado espati-fei meu crânio.

Ah! Desde então suspirei pormorar no inferno de fogo terrestreque seria benigno comparado aotormento que passei a experimen-tar!

Creio hoje que as grandes cul-pas nos transformam o espírito numaesfera impermeável, em cujo bojode trevas sofremos irremediávelsoledade, punidos por nossa própriadesesperação.

Tenho a idéia de que todos ospadecimentos se congregavam emmim.

Desejava ver, possuía olhos, e nãovia.

Propunha-me ouvir qualquervoz familiar, identificava meus ou-vidos, e não ouvia.

Queria movimentar as mãos e,sentindo-as embora, não conseguiaacioná-las.

Meus pés! Possuía-os, intactos,entretanto, não podia movê-los.

Achava-me na condição dosmutilados que prosseguem assina-lando a presença dos membros quea cirurgia lhes arrancou.

Comigo uma vida nova de fome,sede, amargura e remorso passou adesdobrar-se...

O estampido não tinha fim.Sempre a bala aniquilando-me

a cabeça...Depois de largo tempo, cuja du-

ração não me é possível precisar, no-tei que vozes sinistras imprecavamcontra mim... Pareciam nascer defurnas sombrias situadas emminhalma...

E sempre envolto na sombra si-bilante, sentia um fogo diferentedaquele que conhecemos na Ter-ra, uma espécie de lava comburente

e incessante, vertendo chamas vi-vas, a se entornarem de minha ca-beça sobre o corpo...

Debalde acariciava o anseio dedormir.

Torturava-me a fome, sem queeu pudesse alimentar-me.

Algumas vezes, pressentia quenuvens do céu se transformavam emtemporal... Guardava a impressãode arrastar-me dificilmente sobre opó, tentando recolher algumas go-tas de chuva que me pudessemdessedentar...

Mas, como se eu estivesse viven-do num cárcere inteiriço, sabia quea chuva rumorejava por fora semque eu lograsse uma gota sequer doprecioso líquido.

E, em meio aos tormentosinomináveis, sofria mordidelas ealfinetadas, quais se vermes

Desde então suspirei por morar noinferno de fogo terrestre que seria

benigno comparado ao tormento quepassei a experimentar

REPARAÇÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1723

ASSINE: (19) 3233-559624| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

devoradores me atingissem o crâ-nio, carcomendo-me todo o corpo,a partir da planta dos pés.

Em muitas ocasiões, monstroshorripilantes descerravam-me aspálpebras que eu não conseguiareerguer e, como se me falassematravés de pavorosas janelas, grita-vam sarcasmos e palavrões, deixan-do-me mais desesperado e abatido.

Sempre aquela sensação da ca-beça a esmigalhar-se, dos ossos ase desconjuntarem e da mente aobstruir-se, sob o império de forças

tremendas que, nem de leve, atéhoje, minha inteligência poderiadefinir ou compreender...

De nada me valiam lágrimas,petitórios, lamentações...

Ansiava pela felicidade de to-car algum móvel de substânciamaterial... Clamava pela bênção depoder transformar as mãos numaconcha simples, a fim de recolheralgo do pó terrestre e localizar-mepor fim...

Assim vivi na condição de umperegrino enovelado nas trevas, até

que alguém me trouxe ao vosso tem-plo de orações.

Agora que recuperei a noção dotempo, digo-vos que isso aconteceuprecisamente há um ano...

Pude conversar convosco, ouvir-vos a voz.

O médium que me acolheu, àmaneira de mãe asilando um filho,era um ímã refrigerante.

Transfundir-me nas sensações deum corpo físico, de que me utiliza-va transitoriamente embora, deu-me a idéia de que eu era uma lâm-pada apagada, buscando reanimar-me na chama viva da existênciaque me fora habitual e cujo calorbuscava reaver desesperadamente.

Depois de semelhante transfu-são de forças, observei que energi-as novas fixavam-se-me no espíri-to, refazendo-me os sentidos nor-mais e, então, pude gemer...

Tive a felicidade de gemer comoantigamente, de chorar como sechora no mundo...

Conduzido a um hospital, rece-bi tratamento.

Decorridos dois meses, passei afreqüentar-vos o ambiente.

Aprendi a encontrar o socorroda oração e, mais consciente demim,indaguei por Cláudio e Anita.

Obtive a permissão de revê-los.Oh! Prodígio! Reencontrei-os

enlaçados num lar feliz, tão jovensquanto antes...

Recém-casados, desfrutavam aventura merecida...

Marido e mulher, haviamreconstituído a união que eu fur-tara...

Aproximei-me deles com imen-sa emoção.

A noite avançava plena...Extático, rememorando o preté-�

Sob o imprério de forças tremendasque, nem de leve, até hoje, minhainteligência poderia definir oucompreender

REPARAÇÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1724

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 25Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

rito, reconheci que os dois haviamentrado nas vibrações radiosas daprece, passando, logo após, ao sonodoce e tranqüilo.

Minha surpresa fez-se mais bela.Afastando-se suavamente do

corpo físico, ambos estenderam-meos braços, em sinal de perdão e deamor...

E, enquanto me entregava aopranto de gratidão, alguém que estáconvosco1 , e é para todos nós umairmã devotada e infatigável, anun-ciou-me aos ouvidos:

- Jorge, o novo dia espera porvocê. Cláudio e Anita, hojereencarnados, oferecem-lhe ao co-ração a bênção de novo abrigo! Emverdade, você receberá um corpocastigado, um instrumento experi-mental em que se lançará à recu-peração da harmonia... A fim derestaurar-se, sofrerá você como éjusto, mas todos nós, na ascensãopara Deus, não prescindiremos doconcurso da dor, a divina instruto-ra das almas... Regozije-se, aindaassim, porque, neste santuário deesperança e ternura, será você ama-nhã, o filho abençoado e querido!

Despedi-me, radiante.E agora, tomado de fé viva, tra-

go-vos a mensagem de meu reco-nhecimento.

Oxalá possa eu merecer a graçade um corpo torturado e doente, emque, padecendo, me refaça e emque, chorando, me reconforte...

Sei que, para as minhas vítimasdo passado e benfeitores do presen-te, serei ainda um fardo de incer-teza e lágrimas, contudo, pelo tra-balho e pela oração, encontrare-

1 O comunicante refere-se ao EspíritoMeimei. Nota do organizador.

Fonte: XAVIER. Francisco Cândido. Ins-

truções Psicofônicas. Págs. 90 – 96. FEB.Rio de Janeiro/RJ. 2005

mos, enfim, o manancial do amorpuro que nos guardará em sublimecomunhão para sempre.

Amigos, recebei minha ventu-ra!

Para exprimir-vos gratidão nadatenho... Mas, um dia, estaremostodos juntos na Vida Eterna e, como amparo divino, repetirei convosco

Clamava pela bênção de podertransformar as mãos numa conchasimples, a fim de recolher algo do póterrestre e localizar-me por fim

a inesquecível invocação destahora: “Que Deus nos abençoe!”.�

REPARAÇÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1725

ASSINE: (19) 3233-559626| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

SEARA DE ÓDIOHumberto de Campos - Chico Xavier

-Não! Não te quero em meusbraços! Dizia a jovem mãe,a quem a Lei do Senhor

conferira a doce missão da mater-nidade, para o filho que lhe desa-brochava do seio:

- Não me furtarás a beleza! Sig-nificas trabalho, renunciação, so-frimento...

- Mãe, deixa-me viver! Suplica-va-lhe a criancinha no santuário daconsciência, estamos juntos! Dá-mea bênção do corpo! Devo lutar eregenerar-me. Sorverei contigo ataça de suor e lágrimas, procuran-do redimir-me... Completar-nos-emos. Dá-me arrimo, darte-ei ale-gria. Serei o rebento de teu amor,tanto quanto serás para mim a ár-vore de luz, em cujos ramos tecereio meu ninho de paz e de esperan-ça...

- Não, não...- Não me abandones!

- Expulsar-te-ei.- Piedade, mãe! Não vês que

procedemos de longe, alma comalma, coração a coração?

- Que importa o passado? Vejoem ti tão somente o intruso, cujapresença não pedi.

- Esqueces-te, mãe, de que Deusnos reúne? Não me cerres a porta!

- Sou mulher e sou livre. Sufo-car-te-ei antes do berço...

- Compadece-te de mim...- Não posso. Sou mocidade e

prazer, és perturbação e obstáculo.- Ajuda-me!- Auxiliar-te seria cortar em mi-

nha própria carne. Disputo a minhafelicidade e a minha leveza femi-nil...

- Mãe, ampara-me! Procuro oserviço de minha restauração...

Dia a dia, renovava-se o diálo-go sem palavras, até que, quando acriança tentava vir à luz, disse-lhea mãezinha cega e infortunada,constrangendo-a a beber o fel dafrustração:

- Torna à sombra de onde vens!Morre! Morre!

- Mãe, mãe! Não me mates! Pro-tege-me! Deixa-me viver...

- Nunca!- Socorre-me!- Não posso.Duramente repelido, caiu o po-

bre filho nas trevas da revolta e, noanseio desesperado de preservar ocorpo tenro, agarrou-se ao coraçãodela, que destrambelhou, à manei-ra de um relógio desconsertado...

Ambos, então, ao invés de con-

tinuarem na graça da vida, preci-pitaram-se no despenhadeiro damorte.

Desprovidos do invólucro car-nal, projetaram-se no Espaço, gri-tando acusações recíprocas.

Achavam-se, porém, imanadosum ao outro, pelas cadeias magné-ticas de pesados compromissos, ar-rastando-se por muito tempo, de-testando-se e recriminando-se mu-tuamente...

A sementeira de crueldade atra-íra a seara de ódio. E a seara deódio lhes impunha nefastodesequilíbrio.

Anos e anos desdobraram-se,sombrios e inquietantes, para osdois, até que, um dia, caridoso Es-pírito de mulher recordou-se delesem preces de carinho e piedade,como a ofertar-lhes o próprio seio.Ambos responderam, famintos deconsolo e renovação, aceitando ogeneroso abrigo...

Envolvidos pela carícia mater-nal, repousaram enfim. Brando sonopacificou-lhes a mente dolorida.

Todavia, quando despertaramde novo na Terra, traziam o estig-ma do clamoroso débito em que sehaviam reunido, reaparecendo,entre os homens, como duas almasapaixonadas pela carne, disputan-do o mesmo vaso físico, no tristefenômeno de um corpo único, sus-tentando duas cabeças.�

REFLEXÃO

Fonte:

XAVIER. Francisco Cândido. Contos e

Apólogos

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1726

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 27Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

COM TODAS AS LETRAS

CHICO, SOB A LUZ DAS ESTRELAS

uando o nosso irmão ChicoXavier veio residir, em de-finitivo, na cidade de

Uberaba, sob a orientação dos Ben-feitores Espirituais, deu a início àfamosa “peregrinação”. Aliás, talnome, até bastante adequado, foiarranjado pelo dileto confrade ami-go Prof. Fausto de Vito, em artigose notícias nesta mesma “A FlamaEspírita”. E pegou! Atividade era amesma “peregrinação” em que, aossábados, saindo da “Comunhão Es-pírita-Cristã”, visitava o bondosomédium alguns lares carentes, le-vando-lhes a alegria de sua presen-ça amiga, acompanhado por gran-de número de pessoas afinizadas.

Eram momentos inesquecíveis!Sob a luz das estrelas e de um lam-pião que seguia à frente, iluminan-do as escuras ruas da periferia, ía-mos ouvindo-o contar fatos de gran-de beleza espiritual. A porta decada lar visitado, ele fazia a leiturade pequeno trecho de “O Evange-lho Segundo o Espiritismo” ou deuma mensagem psicografada. Emseguida, deixávamos anônimo au-xílio material a cada família. Re-cordo-me ainda de que, à porta dedeterminada residência, cantáva-mos, juntos, o “Hino da AlegriaCristã”, dos saudosos LeopoldoMachado e Oli de Castro.

Pelos abençoados lábios deChico, as lições se multiplicavam.

Certa noite, o companheiro queconduzia o lampião, distraindo-se,distanciou-se do grupo mais do quelhe era habitual, deixando-nos, pra-

Carlos Baccelli

Fonte:

BATECCELLI, Carlos. Chico Xavier

Mediunidade e Paz. Cap. XVI, pag. 71

ticamente mergulhados na escuri-dão... Ante a queixa de algunsamigos, o Chico pediu-lhe que nosesperasse e aproveitou para expli-car:

- “Assim acontece com a luz daVerdade... Se ela caminhar muitodepressa, nós a perdemos de vista...Se ela retarda, ficamos desnortea-dos no caminho a percorrer... A luzda Verdade deve seguir sempre umpouco à frente dos nossos passos...É o que faz a Doutrina Espírita, que,gradativamente, se revela aos ho-mens...”

Mas, hoje, queremos contar umfato que nos foi narrado por ChicoXavier, acontecido em uma de suasprimeiras “peregrinações’ emUberaba.

Um casal muito pobre tinha fi-lho por nome Rafael, de uns 8 ou 9anos de idade. Paraplégico, o me-nino vivia em cima de uma cama,desde que nascera.

Tinha o Chico o hábito de visitá-lo no próprio quarto, confortando oinfeliz garoto, o qual, em sua tristeprovação,também ficara cego.

Numa das últimas visitas aRafael, que se revelava extrema-mente debilitado, o menino lhe dis-se:

- “Tio” Chico, o senhor tem-mevisitado sempre, sem que eu possaretribuir as suas visitas. Mas, quan-do as estrelas brilharem outra vezpara mim...”

O diálogo dos dois foi interrom-pido.

Os dias correram.

Um dia, o Chico estava em casa,à noite, trabalhando, quando viuentrar o belo espírito de umrapaz,que, sem se apresentar, foilogo dizendo, radiante de felicida-de:

- “As estrelas brilharam outra vezpara mim e aqui estou, cumprindoa minha promessa!...”

Ao ouvir aquelas palavras, ime-diatamente o Chico se lembrou domenino, exclamando:

- “Meu Deus! É o Rafael!...”A visão se desfez, rapidamente.No outro dia, bem cedo, a notí-

cia chegou à sua casa. Rafael, sobo céu estrelado, desencarna demadrugada...

Ao lembrar-se do episódio,Chico chora e as suas lágrimas, co-movendo-nos, falam, sem palavras,da grandeza de sua própria alma.�

Q

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1727

ASSINE: (19) 3233-559628| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

por Eduardo Martins

HAVIA PESSOAS, HOUVEACIDENTES

Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as

Letras. Pág. 10. Editora Moderna. SãoPaulo/SP, 1999.

s verbos haver e fazer sãoos dois da língua portu-guesa com os quais ocor-

rem os mais numerosos e mais gra-ves erros do idioma.Vamos começar por haver. Quan-do significa existir, ele apresenta amesma forma no singular e no plu-ral. Trata-se, no caso, de um verboimpessoal, ou seja, sem sujeito, e épor isso que não varia. Veja umexemplo: Havia muitos alunos naclasse. Constitui erro grave dizer ouescrever: “Haviam” muitos alunos naclasse.

Anote estes outros: Houve (enão “houveram”) muitos acidentes nasestradas./ Se houvesse (e não “hou-vessem” mais policiais na rua, todosteríamos maior segurança. / Haverá(e não “haverão”) dias mais felizesque estes?

No caso de haver formar locu-ção com um verbo auxiliar, este ficainvariável. Assim: Deve haver mui-tas pessoas ali (e não “devem haver”muitas pessoas ali).

Mais alguns exemplos: Estavahavendo (e não “estavam havendo”)muitos desastres naquela estrada./Costumava haver (e não “costuma-

vam haver”) / muitos fregueses no res-taurante aos domingos. / Pode haver(e não “podem haver”) diversos com-pradores para o carro.

Lembre-se apenas: quando ha-

ver significa ter, e não existir, eleadmite singular e plural. Reparenas frase seguintes: Ainda não havi-am sido feitas as correções (Aindanão tinham sido feitas as correções).Se houvessem (tivessem) comprado afábrica, não teriam do que se arre-pender.

Faz anos, fez dias

Fazer também pode ficar invari-ável, o que ocorre quando designatempo ou fenômeno da natureza.Nessa caso, a exemplo de haver, overbo é impessoal e, como não temsujeito, tem a mesma forma no sin-gular e no plural.

Assim, nunca diga: “Fazem” cin-co dias que ele chegou. O certo: Fazcinco dias que ele chegou. Da mesmaforma: Faz dois anos que ele morreu(e não “fazem” dois anos). / Fez dezdias ontem que o casal se mudou ( enão “fizeram” dez dias).

A regra mantem-se no caso de

fazer ser acompanhado de um ver-bo auxiliar: Vai fazer cinco anos queele chegou (e não “vão fazer” cincoanos). / Deve fazer seis meses que elefoi contratado (e não “devem fazer”).

Fazer pode também designar fe-nômenos da natureza e nesse casoigualmente não varia: Faz dias mui-to bonitos em setembro ( e não “fa-zem” dias muito bonitos). / Devefazer muitas semanas de sol este ano(e não “devem fazer” muitas sema-nas de sol).�

O

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1728

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 29Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1729

ASSINE: (19) 3233-559630| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

SUMÁRIO

32 ENSINO

ÍDOLOS

Uma lição de fraternidade

36 ESTUDO

SONO E SONHOS

Um estudo sobre a importância do sono e oentendimento espírita sobre os sonhos

43 CAPAA PARÁBOLA DO MORDOMO INFIÉL

Uma das parábolas mais incompreendidassob a luz da Doutrina Espírita

51 REFLEXÃO

SIMÃO PEDRO DIANTE DO PAPA

A narração de ficção que leva-nos a refletirsobre a simplicidade e humildade domestre

55 COM TODAS AS LETRAS

LETRAS

As importantes dicas de nossa línguaportuguesa!

54 CONHECIMENTO

PARA O JOVEM ESPÍRITA

O livro de Emanuel Cristiano e sua impor-tância para todos os jovens adeptos doespíritismo

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1730

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 31Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

Assinaturas

Assinatura anual: R$45,00(Exterior: US$50,00)

FALE CONOSCO [email protected] (19) 3233-5596

MISSÃO DO HOMEM INTE-LIGENTE NA TERRA

EDITORIAL

N

Edição

Centro de Estudos Espíritas“Nosso Lar” – Depto. Editorial

Equipe Editorial

Adriana LevantesiRafael Dimarzio

Rodrigo LoboSandro Cosso

Thais CândidaZilda Nascimento

Jornalista Responsável

Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Assessoria Lingüística

Zilda Nascimento

Editoração

Rafael Augusto D. Rossi

Revisão

Zilda Nascimento

Administração e Comércio

Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural

Braga Produtos Adesivos

Impressão

Citygráfica

O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

ão nos orgulheis por aquiloque sabeis, porque esse sa-ber tem limites bem estrei-

tos no mundo que habitais. Mesmosupondo que fôsseis uma dassumidades desse globo, não tendesnenhuma razão para vos envaidecer.Se Deus, nos seus desígnios, vos feznascer num meio onde pudestes de-senvolver a vossa inteligência, foipor querer que a usásseis em bene-fício de todos. Porque é uma missãoque Ele vos dá, pondo em vossasmãos o instrumento com o qualpodeis desenvolver, ao vosso redor,as inteligências retardatárias e con-duzi-las a Deus. A natureza do ins-trumento não indica o uso que delese deve fazer? A enxada que o jar-dineiro põe nas mãos do seu ajudan-te não indica que ele deve cavar? Eo que diríeis se o trabalhador, emvez de trabalhar, erguesse a enxadapara ferir ao seu senhor? Diríeis queisso é horroroso e que ele deve serexpulso. Pois bem, não se passa omesmo com aquele que se serve dasua inteligência para destruir entreos seus irmãos a idéia da Providên-cia? Não ergue contra o teu senhor

Espírito protetor, Bordéus, 1862FERDINANDO

a enxada que lhe foi dada para pre-parar o terreno? Terá direito ao sa-lário prometido ou merece, pelocontrário, ser expulso do jardim?Pois o será, não o duvideis, e arras-tará existências miseráveis e chei-as de humilhação até que se curvediante d’Aquele a quem tudodeve.

A inteligência é rica em méri-tos para o futuro, mas com a condi-ção de ser bem empregada. Se to-dos os homens bem dotados se ser-vissem dela segundo os desígnios deDeus a tarefa dos Espíritos seria fá-cil, ao fazerem progredir a Huma-nidade. Muitos, infelizmente,atransformam em instrumento deorgulho e de perdição para si mes-mos. O homem abusa de sua inteli-gência como de todas as suas fa-culdades, mas não lhe faltam liçõesadvertindo-o de que uma podero-sa mão pode retirar-lhe o que elamesma lhe deu.

O Evangelho Segundo o Espiri-tismo. Cap VII, pag. 108. EDICEL -Tradução J. Herculano Pires

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1731

ASSINE: (19) 3233-559632| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

abem vocês o objetivo da pre-sente reunião. Quero apresen-

tar-lhes minhas despedidas, em vir-tude da ausência temporária a quesou compelido por elevadas razõesde serviço.

Notei pelo olhar dos circunstan-tes que a maioria partilhava comi-go o mesmo desgosto. Devíamos in-tensamente àquele espírito sábio e

benevolente.Depois de pequena pausa, con-

tinuou:— Conheço a pureza do amor

que vocês me dedicam e estou cer-to de que não ignoram a extensãoda estima que lhes consagro. É na-tural. Somos amigos na mesma em-presa do bem e associados felizes naexecução da Divina Vontade. Com-

panheiros de luta construtiva, pe-sar-nos-ia, sobremaneira, a separa-ção de agora, não obstante efêmera,se não guardássemos no âmagodalma a luz do esclarecimento.

Nesse ponto, Alexandre fezlongo intervalo, descansando seusolhos nos nossos, como a perscru-tar-nos o íntimo, e prosseguiu:

— Alguns colaboradores, a

IDOLOSpor Itaeli Pereira

-S

Nossa estrada de aperfeiçoamentotem sido tortuoso caminho no qualpisamos sobre os ídolos quebrados

ENSINO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1732

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 33Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

quem muito devo, endereçaram-meapelos para que permaneça em nos-sa colônia de trabalho, gentilezaque agradeço, comovido. Não vi-bra em minhas palavras qualquerprurido de personalidade, mas a es-tima recíproca e fiel a que nos de-votamos. Urge considerar, porém,meus amigos, que este servo humil-de não deve absorver o lugar queJesus deve ocupar em suas vidas. Émuito difícil descobrir o amor semjaça e a ele nos entregarmos semreserva. E porque essa dificuldadeé flagrante em todos os caminhosde nossa evolução, quase sempreincidimos no velho erro da idola-tria. É bem verdade que nos encon-tramos numa assembléia de cora-ções simples e amigos, e que nãocabem nesta sala vastas e maciçasconsiderações filosóficas, pararestringirmo-nos ao abençoado se-tor do sentimento. Mas, não possover fugir a oportunidade de sériasreflexões em torno do problema doslaços sagrados que nos unem, semalgemar-nos uns aos outros. Nossaestrada de aperfeiçoamento, bemcomo a senda de progresso da hu-manidade terrestre, em geral, têmsido tortuoso caminho no qual pi-samos sobre os ídolos quebrados.Sucedem-se nossas reencarnaçõese as civilizações repetem o curso emlongas espirais de recapitulação, por-que temos sido invigilantes quantoaos caminhos retos.

Verificando-se nova pausa, emsua afetuosa e significativa exposi-ção, observei que profundo respei-to nos identificava a todos, em faceda palavra venerável.

— Temos criado muitos deusesà parte – continuou o instrutor, co-movido - , para destruí-los, muita

vez, em profundo desespero do co-ração, quando a realidade nos di-late a visão, ante o horizonte infi-nito da vida. Na procura do con-forto individual, em face de proble-mas graves de nossa vida, raramenteencontramos a solução e, sim, afuga, da qual nos valemos com to-das as forças de que somos capazes,para adiar indefinidamente a açãoimprescindível da corrigenda ou doresgate. Virá, porém, o dia da res-tauração da verdade, o momentode nosso testemunho pessoal.

Ele pousou em nós o olhar mui-to lúcido, onde víamos o reflexo deserena emotividade, e, depois delonga pausa, retomou aselucidações das despedidas.

É por isso meus amigos, prosse-guiu em tom fraterno, que oorientador consciencioso de sua ta-refa não pode fugir aos imperativosda evolução de seus tutelados. Dequando em quando, é necessáriodeixar o discípulo entregue a simesmo, ainda que as mais belasnotas de carinho nos sugiram o con-trário. Junto do instrutor, o apren-diz, quase sempre, apenas observa-va. A distância, porém, experimentae age, vivendo o que aprendeu. Éindispensável desenvolver os valo-res ilimitados, inerentes a cada umde nós, guardados como divina he-rança no potencial de nosso mun-

do íntimo. A proteção inconscien-te, que subtrai o protegido ao cli-ma de realização que lhe é próprio,elimina os germens do progresso, daelevação, do resgate individual. Es-tabelecer a dependência desta or-dem é criar o cativeiro do espírito,que anula nossa capacidade de im-provisação e estimula os vícios dopensamento. Fujamos ao condená-vel sistema de adoração recíproca,em que a falsa ternura opera a ce-gueira do sentimento. Respeitemo-nos mutuamente, na qualidade de

irmãos congregados para a mesmaobra do bem e da verdade, mas com-batamos a idolatria; bem-queiramo-nos uns aos outros, comoJesus nos amou; todavia, coopere-mos contra a insuflação doexclusivismo destruidor. Somos de-positários de grandes lições da vidasuperior. Pô-las em prática, esten-dendo mãos amigas aos nossos se-melhantes, é o nosso objetivo fun-damental. Cada um de vocês temobrigações em separado, nos seto-res diferentes da atividade espiri-tual. Durante alguns meses, estive-mos quase sempre juntos, quandoa oportunidade permitia. Associa-dos na mesma experiência, criamoslaços santificados de amor que nosirmanam uns aos outros. Não po-demos, porém, descansar sobre ascomodidades do afeto. É preciso en-

Respeitemo-nos mutuamente, naqualidade de irmãos congregados para

a mesma obra do bem e da verdade,mas combatamos a idolatria

ENSINO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1733

ASSINE: (19) 3233-559634| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

frentar as asperezas do serviço, co-nhecer a luta, testemunhar apro-veitamento. Nunca me valeria daqualidade de instrutor para impe-dir o crescimento mental de vocês.A Terra, que nos é mãe comum, re-clama filhos esclarecidos que cola-borem na divina tarefa de reden-ção planetária. Há multidões, portoda parte, escravas do bem-estare da miséria, da alegria e do sofri-mento, estranhas ao caráter tem-porário das condições em que seagitam. Todos vivem, mas raros es-píritos de nosso mundo tomaramposse da vida eterna. O campo de

trabalho é vastíssimo. Experimen-tem nele o que aprenderam, des-pertando as consciências que dor-mem ao longo do caminho. O

aprendizado fornece-nos conheci-mento. A vida oferece-nos a práti-ca. Unamos a sabedoria com o amor,na atividade de cada dia, e desco-briremos a divindade que palpitadentro de nós, glorificando a Terraque aguarda nosso concurso efici-ente, pelo equilíbrio e compreen-são. Não faltam instrutores bene-volentes e generosos e, além disso,vocês devem aplicar as lições quereceberam, orientando, igualmen-te, seus semelhantes em luta e oscompanheiros ainda frágeis. Só asvítimas voluntárias da idolatriaconvertem a ausência numvácuo. Não, meus amigos,não alimentemos qual-quer processo doloro-so de saudade semotimismo e sem es-perança. Imenso fu-turo de realizaçõessublimes com o Paiespera cada um denós. Edifiquemo-nos, aceitando asexperiências cons-trutivas que nos con-vocam o esforço àpossibilidade maior. Es-timo profundamente a

consolação individual, mas, acimade nosso conforto, devemos procu-rar a libertação com o Cristo.

Incontestavelmente, a preleção

era vazada em severidade afetuo-sa, que, no momento, não nos sa-bia bem ao coração, habituado àsexpressões de incessante carinho,mas tinha virtude de acordar-nospara a verdade, chamando-nos auma atitude de legítimo entendi-mento. Ainda aí, numa simples reu-

nião de despedidas, Alexandresabia ser grande e generoso, impon-do-nos um equilíbrio que, de outromodo, não saberíamos conservar.Apesar da compreensão, tínhamosos olhos úmidos. A separação dosbons, não obstante temporária, ésempre dolorosa. Na companhia

ENSINO

A Terra, que nos é mãe comum,reclama filhos esclarecidos quecolaborem na divina tarefa deredenção planetária

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1734

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 35Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Unamos a sabedoria com o amor, naatividade de cada dia, e descobriremos

a divindade que palpita dentro de nós

Fonte:

XAVIER, Francisco Cândido / AndréLuiz. Missionários da Luz. Págs 314 – 318.FEB. Rio de Janeiro/ RJ. 2000.

dele, havíamos aprendido sublimesensinamentos. Forte e sábio, cari-nhoso e enérgico, exercitara-nos asasas frágeis nos grandes vôos de no-vos conhecimentos. Comparandonossa situação anterior à presente,observávamos evidente melhoriageral. Como não lhe devermos,

a ele, abençoado amigo de todas ashoras, ilimitados testemunhos deamor?

Creio que a maioria partilhavaos meus pensamentos, porque Ale-xandre, dando a idéia de que nosouvia as reflexões mais íntimas,

acrescentou:— Devemos ao Cristo – Jesus

todas as graças! Ele é o Divino In-

termediário entre o Pai e nós ou-tros. Saibamos agradecer ao Mes-tre as bênçãos, as lições, as tarefas.O espírito de gratidão ao Senhoralegra a vida e valoriza o trabalhodos servos fiéis!...

Em seguida, o instrutor levan-tou-se e, sorridente, abraçou cadaum de nós, dirigindo-nos palavrasde incitamento ao Bem e à Verda-de, enchendo-nos de coragem e fé.

Equilibrados pela sua palavraesclarecida, os aprendizes não ou-saram pronunciar qualquer excla-mação, filha da ternura indiscreta.Estávamos todos edificados, em po-sição serena e digna.

Epaminondas, o discípulo maisrespeitável de nosso círculo, tomoua palavra e agradeceu, sobriamen-te, estampando nas afirmativas nos-sos sentimentos mais nobres e en-dereçando ao instrutor amigo nos-sos ardentes votos de paz e êxito,na continuidade de seus trabalhosgloriosos.

Vimos que Alexandre recebianossas vibrações de amor e reco-nhecimento em meio de profundaemoção. Sua fronte venerável emi-tia sublimes irradiações de luz.

Terminada a breve saudação docompanheiro, pronunciou algumasfrases de agradecimento, que nãomerecíamos, e falou:

— Agora, meus amigos, eleve-mos ao Cristo nossos pensamentosde júbilo e gratidão, consagrando-

lhe as inesquecíveis emoções denosso adeus.

Manteve-se de pé, cercado deintensa luz safirino-brilhante, e, deolhos erguidos para o alto, esten-deu os braços como se conversassecom o Mestre presente, embora in-visível, orando com infinita beleza:(...)�

ENSINO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1735

ASSINE: (19) 3233-559636| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

por Adriana Levantesi

S

SONO E SONHOS - PARTE 2

egundo o Dicionário Aurélio,sonho é “seqüência de fenô-menos psíquicos (imagens,

atos, idéias etc) queinvoluntariamente ocorrem duran-te o sono”. Na visão espírita, nãoexiste tão somente este sonho fisio-psíquico ao qual se refere a defini-ção extraída do léxico há, também,o sonho espírita.

O sonho fisio-psíquico retratacondições orgânicas, como porexemplo, perturbações circulatóri-as, digestivas, ruídos ambientes,calor, frio etc. Ou reflete criaçõesmentais (do subconsciente) frutoda mente no estado de vigília, pen-samentos, impressões, anseios, te-mores etc.

Esta espécie de sonho é deno-

minada por Leon Denis, de sonhoordinário, que é puramente cere-bral, simples repercussão das dispo-sições físicas ou preocupações mo-rais. Neste caso, o sonho acaba sen-do reflexo das impressões e imagensarquivadas no cérebro durante avigília, sem direção consciente e in-tervenção da vontade, se desenvol-ve automaticamente em cenas in-decisas, sem coordenação e senti-do, mas que ficam registradas namemória1.

Leon Denis ainda afirma que “osofrimento em geral e, particular-mente certas enfermidades, facili-tando o desprendimento do Espíri-to, aumentam ainda mais a incoe-rência e intensidade dos sonhos. OEspírito, obstado em seu surto,empuxado a cada instante para ocorpo, não se pode elevar. Daí oconflito entre a matéria e o princí-pio espiritual, que reciprocamentese influenciam. As impressões eimagens se chocam e confundem2.”

O sonho espírita é o resultadoda vivencia do espírito no mundoespiritual, é a lembrança do que oEspírito viu durante o sono. Nemsempre há sonho porque nem sem-pre há recordação do que foi vistopelo Espírito, embora este esteja emconstante atividade e movimento.Na vivência do Espírito durante osono, o cérebro físico não é utiliza-do e depois, no retorno ao corpo, a

O sonho físio-psíquico também retratacriações mentais (do subconsciente)fruta da mente no estado de vigília

1 Leon Deni. No Invisível, pág. 156.2 Leon Deni. No Invisível, pág. 156

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1736

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 37Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

matéria pesada e grosseira tambémdificulta a conservação das impres-sões trazidas pelo espírito.

Às vezes o que se lembra nãopassa da perturbação ou impressãoque acompanhou a partida e retor-no do espírito para o mundo espiri-tual no desprendimento parcial queocorre com o sono; a essas podemser somadas, preocupações do es-tado de vigília.

A incoerência dos sonhos, ain-da, se explica pelas lacunas produ-zidas pela lembrança incompleta doque foi vivenciado ou visto peloEspírito durante o sono.

Quando necessário, os bons es-píritos atuam de modo especial so-bre os encarnados, para que ao acor-darem, tenham a lembrança de algode maior importância que foi tra-tado no plano espiritual, ainda quea recordação não seja completa arespeito do vivenciado durante osono, mas ficará uma intuição ca-paz de sugerir idéias e ações.

Ressalta-se que os espíritos maustambém podem fazer o mesmo, se aconduta da pessoa encarnada per-mitir tal influência.

Destaca-se esclarecedora notade Allan Kardec sobre este assun-to na questão 401 de o Livro dosEspíritos: “Os sonhos são o produtoda emancipação da alma, que setorna mais independente pela sus-pensão da vida ativa e de relação.Daí uma espécie de clarividênciaindefinida que se estende aos lu-gares mais distantes, ou que jamaisse viu e, algumas vezes, mesmo aoutros mundos, assim como a lem-brança que traz à memória os acon-tecimentos ocorridos na existênciapresente ou nas existências anteri-ores; a estranheza de imagens do

que se passa ou se passou em mun-dos desconhecidos, entremeadas decoisas do mundo atual, formam es-ses conjuntos bizarros e confusosque parecem não ter nem sentido,nem ligação3.”

Leon Denis denomina estes so-nhos de profundos ou etéreos, eacrescenta que, o Espírito uma vezdesprendido da matéria pode tam-bém percorrer a superfície da terrae a imensidade onde procura ou-tros seres, pessoas amadas, paren-tes, amigos, ou guias espirituais. Vainão raramente ao encontro de al-mas humanas, igualmente despren-didas da carne e estabelece comelas uma permuta de pensamentose desígnios. Ao despertar,freqüentemente não há recordaçãodessas visitas, porém ficacomumente uma intuição que ge-ralmente é a origem de certas idéi-as que espontaneamente tomam a

mente sem que se possa explicá-las.O homem pode provar essas vi-

sitas durante o sono? Ao dormirpode, ainda, desejar se encontrarcom tal pessoa e ter determinaçãosobre este acontecimento? Esta in-dagação é feita no Livro dos Espíri-tos e os imortais respondem: “(...)o homem adormecendo, seu Espíri-to desperta, e o que o homem re-solveu, o Espírito, freqüentemente,está bem longe de seguir, porque a

vida do homem interessa pouco aoEspírito quando este está despren-dido da matéria. Isto se aplica aoshomens já muito elevados; os ou-tros passam de outra forma sua exis-tência espiritual: entregando-se àssuas paixões ou permanecendo nainatividade. Pode, pois, acontecerque, segundo o motivo pelos quaisse propôs, o Espírito vá visitar aspessoas que deseja; mas a sua von-tade no estado de vigília não é umarazão para que o faça4.”

A vida do homem interessa pouco aoEspírito quando está desprendido da

matéria

1 Allan Kardec, , O Livro dos Espíritos,pág. 188.

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1737

ASSINE: (19) 3233-559638| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

Interpretação dos sonhos

Questão que desperta muito ointeresse e curiosidade das pessoasé a interpretação dos sonhos, ou asignificação que é atribuída a es-tes. Ressalta-se primeiro que aossonhos não pode ser dado o signifi-cado como querem os adivinhos, ouseja, crer-se que sonhar com talcoisa representa o anuncio de talacontecimento. Os sonhos são ver-dadeiros porque as imagens vistaspelo espírito são reais, porém, atri-buir-lhes um significado exato é

tarefa difícil e arriscada.Vimos que a vivência do Espíri-

to durante o repouso do corpo ébastante variável, e sofre a influ-encia de vários fatores, daí a difi-culdade na sua interpretação, ou-tro ponto que também obstaculizaum entendimento cristalino dossonhos são as lembranças esparsas,a matéria grosseira dificulta a con-servação das impressões trazidaspelo Espírito, de modo que muitasvezes as recordações são fragmen-tadas.

Não se pode esquecer, também,

que a alma está sempre mais oumenos ligada ao corpo durante osono e, portanto, sob a influênciada matéria, as preocupações da vi-gília podem dar, ao que se vê du-rante o sono e se recorda, a apa-rência do que se deseja ou do quese teme, e isso pode ser chamadode efeito da imaginação. Geral-mente quando se está fortementepreocupado com uma idéia, a elase liga tudo aquilo que se vê.

Todavia se aquilo que se viu nosonho não estava nos pensamentosna vigília e realmente acabouacontecendo na vida corporal, nãohá porque pensar que foi fruto daimaginação.

Daí a existência de sonhospremonitórios, que comprovam afaculdade que certos sensitivos pos-

suem de perceber, durante o sono,as coisas futuras. Os exemplos his-tóricos são abundantes. Vejamos umdeles, citado por Leon Denis, naobra “No invisível”: “Abraão Lincolnsonhou que se achava em uma cal-ma silenciosa, como de morte, uni-camente perturbada por soluços;levantou-se, percorreu várias salase viu, finalmente, ao centro de umadelas, um catafalco em que jaziaum corpo vestido de preto, guarda-do por soldados e rodeado de umamultidão em pranto. ‘Quem morreuna Casa Branca’ – perguntouLincoln. ‘O presidente; - respondeuum soldado – foi assassinado! ‘ Nes-se momento uma prolongada acla-mação do povo o despertou. Poucotempo depois morria ele assassina-do.”

Allan Kardec relatou um inte-ressante sonho premonitório naRevista Espírita de 1.866 . Durantea doença que o prendeu ao leitodurante algum tempo o Codificadorsonhou que num lugar que não lheera conhecido e se parecia com umarua, havia uma reunião de indiví-duos que conversavam em grupo,dentre estes alguns eram seus co-nhecidos em sonhos. EnquantoKardec tentava captar o assunto daconversa apareceu no canto de ummuro uma inscrição em letras pe-quenas, brilhantes como fogo: “Des-cobrimos que a borracha rolada soba roda faz uma légua em dez minu-tos, desde que a estrada ...” Apósalgumas reflexões e com a ajuda dainterpretação do Dr. Demeure oCodificador percebeu que partici-para de uma reunião de Espíritosencarnados, durante o sono, queestavam preocupados com inven-ções tendentes a aperfeiçoar os mei-

Geralmente quando se está fortementepreocupado com uma idéia, a ela seliga tudo aquilo que se vê

4 Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, pág192.

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1738

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 39Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

os de transporte terrenos e que talreunião de inventores pretendeuchamar a atenção de Kardec parao que se desenvolve, além dos li-mites do plano corpóreo em voltados processos de evoluçãotecnológica.

Por outras vezes, ao acordar,pode-se ter uma simples lembran-ça de parte daquilo que o espíritovivenciou durante o sono, ou umpressentimento do futuro, se assimDeus o permite, ou ainda a visãodo que se passa em algum outrolugar que o espírito visitou.

Segundo o Dicionário Aurélio,sonho é “seqüência de fenômenospsíquicos (imagens, atos, idéiasetc) que involuntariamente ocor-rem durante o sono”. Na visão es-pírita, não existe tão somente estesonho fisio-psíquico ao qual se re-fere a definição extraída do léxicohá, também, o sonho espírita.

O sonho fisio-psíquico retratacondições orgânicas, como porexemplo, perturbações circulatóri-as, digestivas, ruídos ambientes,calor, frio etc. Ou reflete criaçõesmentais (do subconsciente) frutoda mente no estado de vigília, pen-samentos, impressões, anseios, te-mores etc.

Esta espécie de sonho é deno-minada por Leon Denis, de sonhoordinário, que é puramente cere-bral, simples repercussão das dispo-sições físicas ou preocupações mo-rais. Neste caso, o sonho acaba sen-do reflexo das impressões e imagensarquivadas no cérebro durante avigília, sem direção consciente eintervenção da vontade, se desen-volve automaticamente em cenasindecisas, sem coordenação e sen-tido, mas que ficam registradas na

memória.Leon Denis ainda afirma que “o

sofrimento em geral e, particular-mente certas enfermidades, facili-tando o desprendimento do Espíri-to, aumentam ainda mais a incoe-rência e intensidade dos sonhos. OEspírito, obstado em seu surto,empuxado a cada instante para ocorpo, não se pode elevar. Daí oconflito entre a matéria e o princí-pio espiritual, que reciprocamentese influenciam. As impressões eimagens se chocam e confundem.”

O sonho espírita é o resultadoda vivencia do espírito no mundoespiritual, é a lembrança do que oEspírito viu durante o sono. Nemsempre há sonho porque nem sem-

pre há recordação do que foi vistopelo Espírito, embora este esteja emconstante atividade e movimento.Na vivência do Espírito durante osono, o cérebro físico não é utiliza-do e depois, no retorno ao corpo, amatéria pesada e grosseira tambémdificulta a conservação das impres-sões trazidas pelo espírito.

Às vezes o que se lembra nãopassa da perturbação ou impressãoque acompanhou a partida e retor-no do espírito para o mundo espiri-tual no desprendimento parcial queocorre com o sono; a essas podemser somadas, preocupações do es-tado de vigília.

A incoerência dos sonhos, ain-da, se explica pelas lacunas produ-

Às vezes o que se lembra não passa daperturbação ou impressão que

acompanhou a partida e retorno doespírito para o mundo espiritual

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1739

ASSINE: (19) 3233-559640| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

zidas pela lembrança incompleta doque foi vivenciado ou visto peloEspírito durante o sono.

Quando necessário, os bons es-píritos atuam de modo especial so-bre os encarnados, para que ao acor-darem, tenham a lembrança de algode maior importância que foi tra-tado no plano espiritual, ainda quea recordação não seja completa arespeito do vivenciado durante osono, mas ficará uma intuição ca-paz de sugerir idéias e ações.

Ressalta-se que os espíritos maustambém podem fazer o mesmo, se aconduta da pessoa encarnada per-mitir tal influência.

Destaca-se esclarecedora notade Allan Kardec sobre este assun-to na questão 401 de o Livro dosEspíritos: “Os sonhos são o produtoda emancipação da alma, que se

torna mais independente pela sus-pensão da vida ativa e de relação.Daí uma espécie de clarividênciaindefinida que se estende aos lu-gares mais distantes, ou que jamaisse viu e, algumas vezes, mesmo aoutros mundos, assim como a lem-brança que traz à memória os acon-tecimentos ocorridos na existênciapresente ou nas existências anteri-ores; a estranheza de imagens doque se passa ou se passou em mun-dos desconhecidos, entremeadas decoisas do mundo atual, formam es-ses conjuntos bizarros e confusosque parecem não ter nem sentido,nem ligação.”

Leon Denis denomina estes so-nhos de profundos ou etéreos, eacrescenta que, o Espírito uma vezdesprendido da matéria pode tam-bém percorrer a superfície da terra

e a imensidade onde procura ou-tros seres, pessoas amadas, paren-tes, amigos, ou guias espirituais. Vainão raramente ao encontro de al-mas humanas, igualmente despren-didas da carne e estabelece comelas uma permuta de pensamentose desígnios. Ao despertar,freqüentemente não há recordaçãodessas visitas, porém ficacomumente uma intuição que ge-ralmente é a origem de certas idéi-as que espontaneamente tomam amente sem que se possa explicá-las.

O homem pode provar essas vi-sitas durante o sono? Ao dormirpode, ainda, desejar se encontrarcom tal pessoa e ter determinaçãosobre este acontecimento? Esta in-dagação é feita no Livro dos Espíri-tos e os imortais respondem: “(...)o homem adormecendo, seu Espíri-to desperta, e o que o homem re-solveu, o Espírito, freqüentemente,está bem longe de seguir, porque avida do homem interessa pouco aoEspírito quando este está despren-dido da matéria. Isto se aplica aoshomens já muito elevados; os ou-tros passam de outra forma sua exis-tência espiritual: entregando-se àssuas paixões ou permanecendo nainatividade. Pode, pois, acontecerque, segundo o motivo pelos quaisse propôs, o Espírito vá visitar aspessoas que deseja; mas a sua von-tade no estado de vigília não é umarazão para que o faça.”

Interpretação dos sonhosQuestão que desperta muito o

interesse e curiosidade das pessoasé a interpretação dos sonhos, ou asignificação que é atribuída a es-tes. Ressalta-se primeiro que aossonhos não pode ser dado o signifi-cado como querem os adivinhos, ouseja, crer-se que sonhar com talcoisa representa o anuncio de talacontecimento. Os sonhos são ver-dadeiros porque as imagens vistaspelo espírito são reais, porém, atri-buir-lhes um significado exato étarefa difícil e arriscada.

Vimos que a vivência do Espíri-to durante o repouso do corpo ébastante variável, e sofre a influ-encia de vários fatores, daí a difi-culdade na sua interpretação, ou-tro ponto que também obstaculizaum entendimento cristalino dos

O Espírito uma vez desprendido damatéria vai, não raramente, aoencontro de almas humanas,igualmente desprendidas

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1740

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 41Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

sonhos são as lembranças esparsas,a matéria grosseira dificulta a con-servação das impressões trazidaspelo Espírito, de modo que muitasvezes as recordações são fragmen-tadas.

Não se pode esquecer, também,que a alma está sempre mais oumenos ligada ao corpo durante osono e, portanto, sob a influênciada matéria, as preocupações da vi-gília podem dar, ao que se vê du-rante o sono e se recorda, a apa-rência do que se deseja ou do quese teme, e isso pode ser chamadode efeito da imaginação. Geral-mente quando se está fortementepreocupado com uma idéia, a elase liga tudo aquilo que se vê.

Todavia se aquilo que se viu nosonho não estava nos pensamentosna vigília e realmente acabouacontecendo na vida corporal, nãohá porque pensar que foi fruto daimaginação.

Daí a existência de sonhospremonitórios, que comprovam afaculdade que certos sensitivos pos-suem de perceber, durante o sono,as coisas futuras. Os exemplos his-tóricos são abundantes. Vejamos umdeles, citado por Leon Denis, naobra “No invisível”: “Abraão Lincolnsonhou que se achava em uma cal-ma silenciosa, como de morte, uni-camente perturbada por soluços;levantou-se, percorreu várias salase viu, finalmente, ao centro de umadelas, um catafalco em que jaziaum corpo vestido de preto, guarda-do por soldados e rodeado de umamultidão em pranto. ‘Quem morreuna Casa Branca’ – perguntouLincoln. ‘O presidente; - respondeuum soldado – foi assassinado! ‘ Nes-se momento uma prolongada acla-

mação do povo o despertou. Poucotempo depois morria ele assassina-do5.”

Allan Kardec relatou um inte-ressante sonho premonitório naRevista Espírita de 1.866 . Durantea doença que o prendeu ao leitodurante algum tempo o Codificadorsonhou que num lugar que não lheera conhecido e se parecia com umarua, havia uma reunião de indiví-duos que conversavam em grupo,dentre estes alguns eram seus co-nhecidos em sonhos. EnquantoKardec tentava captar o assunto daconversa apareceu no canto de ummuro uma inscrição em letras pe-quenas, brilhantes como fogo: “Des-cobrimos que a borracha rolada soba roda faz uma légua em dez minu-tos, desde que a estrada ...” Apósalgumas reflexões e com a ajuda dainterpretação do Dr. Demeure7 oCodificador percebeu que partici-para de uma reunião de Espíritosencarnados, durante o sono, queestavam preocupados com inven-ções tendentes a aperfeiçoar osmeios de transporte terrenos e quetal reunião de inventores preten-deu chamar a atenção de Kardecpara o que se desenvolve, além doslimites do plano corpóreo em voltados processos de evoluçãotecnológica.

Por outras vezes, ao acordar,pode-se ter uma simples lembran-ça de parte daquilo que o espíritovivenciou durante o sono, ou umpressentimento do futuro, se assimDeus o permite, ou ainda a visãodo que se passa em algum outro

lugar que o espírito visitou.Portanto observa-se que enquan-

to o corpo físico descansa duranteo sono, a atividade do Espírito nãocessa, e o que acontece com elepode ser revelado através dos so-nhos, que podem ser, segundo asclassificações aqui mencionadas:físio-psíquico, que acabam muitasvezes ajudando a interpretar o mun-do psíquico da pessoa, ou espíritaque é o resultado da vivencia doespírito no mundo espiritual, con-forme ora exposto. Em ambas as es-pécies de sonho como a importân-cia ainda prevalece na devida pre-paração para o sono e valorizaçãodeste momento de vital relevânciapara o corpo físico que repousa epara o Espírito que se desprende. Éválido também prestar atenção nasrecordações da noite, todavia nãose deve deitar preocupações sobreisso, muito menos pautar a vida sobestas, pois a cima de tudo a condu-ta do homem de bem se guia pelaconfiança em Deus e o evangelhode Jesus, que proporcionará a to-dos a paz de uma consciênciatranqüila.�

Bibliografia

1. BERNARDO, Carlos Lourei-ro. A Visão Espírita do Sono e dosSonhos. 4ª ed. São Paulo, Matão:Gráfica da Casa Editora O Clarim,2005.2. DENIS, Leon. No Invisível.13ª ed. Rio de Janeiro: FederaçãoEspírita Brasileira, 1991.3. KARDEC, Allan. O Livro dosEspíritos. 57ª ed. São Paulo, Araras:Instituto de Difusão Espírita, 1990.4. KARDEC, Allan. Obras Pós-tumas. 25ª ed. Rio de Janeiro: Fe-deração Espírita Brasileira, 1990.

1 Leon Denis. No invisível, pág 159 e 160.2 Carlos Bernardo Loureiro. A visão espíri-

ta do Sono e dos Sonhos, pág. 99 a101.

ESTUDO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1741

ASSINE: (19) 3233-559642| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

Therezinha Oliveira

A PARÁBOLA DO MORDOMO INFIEL

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1842

| 43Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Esta parábola foi registrada ape-nas por Lucas e sua interpretação,no aspecto moral, parece muito di-fícil, em princípio, porque: um ho-mem dissipa os bens do seu senhor,é denunciado e vai ser demitido;para conseguir a benevolência eajuda dos que devem ao senhor,frauda na prestação das contas. E éelogiado?! E Jesus nos diz paraimitá-lo?! Parece uma exaltação daesperteza desonesta! Jamais o Mes-tre ensinaria algo moralmente mau.Para alcançar o verdadeiro sentido

da parábola, aprofundemo-nos emseu simbolismo.

Que é um mordomo

A expressão vem do latim maiordomus (o maior na casa) e designao chefe dos criados de um sobera-no ou de uma casa de grande esta-do. Sua função é administrar a casa,os bens do Senhor, e supervisionaro trabalho dos demais servos, em-pregados, com eficiência e fideli-dade. Foi o que não fez o mordomoda parábola. Como conseqüência

está perdendo o emprego e tem defazer logo uma prestação de contasde tudo ao seu senhor.

Ante a situação

Que hei de fazer? pergunta-seele.

Está preocupado, mas não desa-nimado nem inerte. Examina a si-tuação, procurando uma solução,verificando as alternativas.

Lavrar a terra? Não posso! Porque não? Há muito tempo estavarealizando apenas o trabalho de or-

avia um homem rico que tinha um mordomo.E este foi denunciado perante ele por lhe haver dissipado bens.Chamou-o e lhe disse:

Que é isto que ouço falar de ti? Presta contas de tua mordomia, pois jánão poderás ser mais meu mordomo.O mordomo refletiu, então, consigo:Que farei, visto que o meu senhor me tira a mordomia? Lavrar a terra nãoposso. De mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei de fazer para quehaja quem me receba em sua casa, quando for desapossado da mordomia.E, chamando separadamente a cada um dos devedores do seu senhor,

perguntou ao primeiro:— Quanto deves ao meu senhor?

— 100 barris de azeite.— Toma a tua obrigação, senta-te já e escreve: 50.Depois, disse a outro:— E tu, quanto deves?— 100 sacas de trigo.— Toma as tuas letras e escreve: 80.E elogiou aquele senhor o mordomo infiel por haver procedido

prudentemente; porque os filhos deste mundo são mais prudentes nasua geração do que os filhos da luz.

E eu vos digo: granjeai amigos com as riquezas da iniqüidade, para que nodia em que elas vos faltarem, eles vos recebam nos tabernáculos eternos.

(Lu. 16-1/13)

H

A dificil interpretação

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1843

ASSINE: (19) 3233-559644| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

ganização e administração dentrode casa, evidentemente estariadestreinado, sem condições físicaspara voltar ao serviço braçal nocampo, sob o sol inclemente, cavan-do a terra.

Mendigar? Tenho vergonha! Atéagora dispunha, mandava, distri-buía em nome do Senhor. Seria mui-to humilhante para ele passar a pe-dir o socorro de outros, ou ficar nadependência de alguém.

Já sei o que hei de fazer. Encon-trou uma solução que o beneficia-ria. E se pensou, logo colocou emprática, antes que se vencesse o pra-zo dado pelo senhor, enquanto ain-da tinha poder para decidir algu-ma coisa.

Por isso o senhor o elogiou. Nãopela desonestidade, mas porque forahábil no decidir e rápido no agir,conseguindo resolver de imediato

o seu problema pes-

soal e, ainda, abrir perspectivas me-lhores para o seu futuro.

A atualidade da parábola

Por que Jesus contou essa pará-bola aos que o ouviam? Talvezachasse que a situação espiritualdeles estivesse tão difícil e premen-te quanto a do mordomo infiel, es-pecialmente os que administravama nação israelita: os sacerdotes, osanciãos e também os fariseus.

Mas o ensinamento de Jesus nãose limitou à orientação do povo da-quela época. Os problemashumanos continuam osmesmos, já que têm origemno espírito imortal, e a ins-trução moral do Evangelho,que perdura junto à humanidade,lhe serve, ainda e sempre, de dire-triz salvadora. Será que a nossa si-tuação espiritual também está emperigo iminente? Em quê? Por quê?

Como? A continuação do es-tudo da parábola nos escla-recerá.

O homem rico

É Deus, o Senhor detudo o que existe. Muitas eimportantes são as suas pro-priedades, os mundos habi-tados, as moradas espalhadaspelo vasto Universo que Elecriou. Uma delas é a Terra,mundo de provas e expia-ções, habitada por muitos ser-vos seus, os espíritos encarna-dos.

O seu mordomo na Terra

É a espécie humana, quese sobrepõe a tudo e a todos,porque nela o princípio inte-ligente (criado por Deus e que

animatodos os seres vivos) já se tornouum espírito (atingiu a escala huma-na). Mais desenvolvido, cônscio desi mesmo, está capacitado a agirconsciente e voluntariamente so-bre seres e coisas.

Mordomos divinos de Deus naTerra! Eis o que somos nós, os sereshumanos. Cada qual (segundo seugrau evolutivo) dispõe de coisas eseres e é por eles responsável, di-ante de Deus. Alguns respondempelo governo de povos e nações,outros comandam grupos sociais,dirigem religiões. Muitos respon-dem por uma família mas, no míni-mo, cada um cuida ao menos de simesmo, de seu corpo e de sua men-te, da vida que possui.

É bom ser mordomo do Senhorna Terra. Ser humano, ser gente, éuma boa situação. Acarreta encar-gos e responsabilidades maiores,que os seres nas escalas inferioresnão têm, mas o salário espiritualtambém é maior, pois se usufrui

Therezinha Oliveira - Autora do Li-

vro Parábolas Que Jesus Contou e

Valem Para Sempre

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1844

| 45Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

muito mais de tudo o que Deuscriou. Exatamente como Jesus nosensinou: a cada um segundo suasobras (Mateus 16:27) e digno é oobreiro de seu salário (Lucas 10:7).

A confiança de Deus em nós

O Senhor nos fez seus mordomosna Terra!... Entregou-nos a guardae direção da vida neste planeta.Que grande prova de confiança! Elesabe que estamos capacitados paraisso, pois nos criou sensíveis, inteli-gentes e capazes de ação sobre coi-sas e seres.

Inspiradamente, Tagore escre-veu “As crianças são a prova de queDeus não perdeu a confiança nos ho-mens”, caso contrário, o Pai não con-tinuaria a nos entregar, em corpostenros e inteiramente dependentesde crianças, a vida de filhos seus eirmãos nossos.

E na parábola dos talentos, Je-sus coloca que um homem tendo deviajar, ausentando-se do país, confiouos seus bens aos seus servos e depoispartiu. Essa “ausência”, após haverentregado os bens, expressa o livre-arbítrio que Deus nos concede paraagir na vida.

Com que liberdade agimos so-bre os recursos que Deus coloca aonosso alcance! É tanta, que atéchegamos a nos sentir como donos...Mas não somos! Os bens não sãonossos e, sim, do Senhor. Apenas osestamos administrando,empossados neles de modo tempo-rário e precário. O Senhor vai vol-tar e teremos de prestar contas!

Nossa função é a de mordomo:cuidar de seres e bens do Senhor,segundo a vontade e desígniosDele, procurando preservar e fazerrender todo o possível para o bem

geral nesta casa do Senhor, a Ter-ra.

Temos feito isso? Estamos sendomordomos fiéis? Ou usufruindoegoisticamente, em proveito pró-prio? Ou deixando sejam usadossem controle nem responsabilidadena área de nossa influência? Essanegligência e irresponsabilidadenossa como mordomos acarreta dis-sipação dos bens do Senhor, desor-

dem em sua casa.

A denúncia

A parábola não diz quem denun-ciou ao senhor o mordomo infielque lhe havia dissipado bens mas,quanto a nós, espíritos, a lei de cau-sa e efeito é que aponta tudo quefazemos ou deixamos de fazer, naTerra ou onde estivermos.

Pela repercussão de nossos atos

A parábola não diz quem denunciou aosenhor o mordomo infiél

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1845

ASSINE: (19) 3233-559646| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

na vida, sobre coisas e seres, Deusestá “ouvindo” falar de nós! Se osatos são maus, o que está escutan-do de nós não é bom... Se maus ouomissos, pois não fazer o bem quese pode já é um mal.

Como o senhor na parábola cha-mou o mordomo denunciado, Deustambém está nos chamando e per-gunta: Que é isto que ouço falar deti?

Deus nos chama e nos fala pelavoz da consciência, nas instruçõese apelos espirituais que nos vêm deencarnados ou não e, ainda, pelosefeitos que nossos atos estão cau-sando em nós e naqueles que nosrodeiam.

Um mordomo prudente e fielestá sempre atento à prestação decontas que terá de fazer, mantendotudo anotado e correto. O mordomoinfiel, invigilante, não presta aten-ção no que está acontecendo, fazouvidos moucos aos reiterados si-nais e avisos que lhe chegam e só

percebe que a situação ficou difí-cil, quando recebe...

O ultimatum

Presta contas da tua mordomia,pois já não poderás ser mais meumordomo.

O senhor pode nos tirar a mor-domia, destituir-nos de encarrega-dos seus neste mundo, fazendo-nosperder situações, haveres ou pesso-as.

E há um ultimatum que todos, umdia, recebemos. É fatal, decisivo,não podemos evitar de receber e nãotemos como lhe resistir: é a morte,a desencarnação, que nos desapossainteiramente de toda mordomiaterrena.

Se Deus não a tirasse de nós,continuaríamos usando abusiva e ir-responsavelmente os bens da vida,sem querer prestar contas, de nada,a ninguém, nunca! Por isso mesmo,em nosso atual estado evolutivo, amorte física, a desencarnação, éuma imposição necessária e provi-dencial, periódico e obrigatório “ba-lanço”, para que revisemos, reajus-temos, renovemos nosso modo de

ser e agir.Com Jesus, isso não preci-

sa acontecer: Por isto o Pai me

ama, porque dou a minha vida

para tornar a tomá-la. Ninguém ma

tira de mim, mas eu de mim mesmo a

dou; tenho o poder para a dar e po-

der para tornar a tomá-la. Este man-

damento recebi de meu Pai. (João10:17/18) Deus nunca precisa tirarde Jesus a mordomia na Terra ouno plano espiritual porque Jesusemprega sua vida em que, como equando a lei de Deus o quer.

Para o mordomo fiel, a obrigató-

ria prestação de contas é um pro-cesso natural e tranqüilo, sem sus-tos ou aflições. Deus o acha fiel. Em-pregou bem seus encargos e pode-res, portanto, eles não lhe são reti-rados, é mantido neles na vida es-piritual ou pela reencarnação; eainda lhe são confiados novos bense oportunidades, como confirma aparábola dos talentos: Sobre o pou-

co foste fiel, sobre o muito te coloca-

rei.

Mas como fica o mordomo infi-el, quando a morte o desaloja dosbens e encargos terrenos? Nadaconstruiu de bom espiritualmente,fica sem perspectivas boas de futu-ro, tanto para a vida no plano espi-ritual como em relação à sua próxi-ma reencarnação.

E se ficarmos nessa triste situa-ção, como o infiel mordomo, o mauadministrador da parábola? Para ele,achávamos: errou, que se cumpraa justiça divina! Para nós, pedimos:misericórdia!

Que hei de fazer?

Como enfrentarmos a situação?Tentar negar, refutar as acusações?Tolice. São verdadeiras. Por descui-do ou má-fé, dissipamos mesmo.

O mordomo infiel não perdeutempo procurando inutilmente sedesculpar. Em vez disso, examinouas possibilidades reais de saída.

Quando desalojados deste mun-do pela desencarnação, quais asnossas possíveis alternativas? Seráque iremos:

Lavrar a terra?

Enfrentar situações mais primi-tivas e rudes, como, por exemplo:

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1846

| 47Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

Ao desencarnar, ficarmos presosno umbral inferior, região fluídicahabitada por espíritos sofredores oumaus;

Ou, ao reencarnar: nascer comenfermidades, limitações físicas; aoabandono de família; na miséria; noidiotismo; em local inóspito, comoas geleiras, os desertos, a selva... Sebem que, a reencarnação é sempreuma bênção e, onde quer que es-tejamos, como e com quem estiver-mos, sempre é possível viver, pro-gredir, construir um futuro melhor.Mas, ante tudo de que hoje des-frutamos, acostumados a atividadesmelhores, recursos maiores, não nosserá fácil viver nessas outras con-dições, nos sentiremosdespreparados, é uma alternativaque não nos agrada.

Mendigar?

Agora, dispomos de muitos re-cursos materiais e espirituais e comeles, dentro da vida e em nome deDeus: decidimos, realizamos, coor-denamos, distribuímos. E se viermosa ficar em carência espiritual, nadependência de outros para existire sobreviver? Que vergonha!

Se bem que, se isso vier a nosacontecer (e para alguns já podeter acontecido nesta reencarnação)o melhor é: enfrentar com humil-dade, resignação e coragem, pro-

curando nos recuperarmos, para, nofuturo, voltarmos a fazer jus à situ-ação e funções de mordomo espiri-tual.

Mas, apesar de já avisados a res-peito pelo Senhor, ainda não mor-remos (a desencarnação ainda nãose deu), ainda somos mordomos(mesmo que infiéis), ainda desfru-tamos de certas condições nestemundo, temos a chance de achar-mos outra saída (uma solução me-lhor) e exclamar, como o mordomoda parábola...

onde quer que estejamos, sempre épossível viver, progredir, construir um

futuro melhor

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1847

ASSINE: (19) 3233-559648| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

Já sei o que hei de fazer!

Qual a solução encontrada porele? Chamou a si os devedores deseu senhor. Eram pessoas que tam-bém dependiam do senhor para vi-ver e dele haviam recebido azeitee trigo, combustível e alimento(simbolizando o indispensável paraa sustentação e sobrevivência doser) e ainda não haviam pago, con-

tinuando em débito.Chamou-os separadamente, dis-

cretamente, um a um, para umaconversa amiga, informando-se dosdébitos de cada um. Para quê? Afim de permitir que os diminuíssem.Podia fazê-lo? Sim, pois ainda esta-va na função de mordomo.

Que ganhou, agindo assim?Granjeou amigos que, quando elefosse desalojado da mordomia, o

ajudariam a sobreviver.Que esperto! Mas não agiu por

bondade e sim, por interesse pesso-al... Não obstante, os que forambeneficiados, sentindo-se aliviadosem suas dívidas, ficaram gratos aomordomo e sentindo-se seus ami-gos.

Espíritos encarnados na Terra,estamos na situação de mordomosdos muitos recursos que Deus nosconfiou.

Deveríamos estar cuidando bemde tudo para que houvesse boascondições e progresso para todos.Em vez disso, temos sido negligen-tes e infiéis.

Avisos? Já recebemos muitos doSenhor, através dos recursos usuais:a voz da consciência, os efeitos denossos atos, as instruções e apelospara o bem. O mais forte, contudo,é a certeza de que um diadesencarnaremos e teremos de pres-tar contas de tudo. E adesencarnação pode acontecer logo,hoje! Pensando nisso, como reagi-mos? Temos medo ante o que dize-mos ser o desconhecido mas emverdade não o é; tristeza porqueteremos de deixar a vida corpóreacom tudo que nela nos agrada; de-sânimo diante do inevitável dadesencarnação, mas sem nada fa-zermos de útil, válido e positivo paramudar a situação.

Lembremos da solução encon-trada pelo mordomo infiel e enten-damos bem o conselho de Jesus...

Granjeai amigos com as rique-

zas da iniqüidade

Quais são elas? Quase tudo navida, as situações, bens e poderesneste mundo são riquezas da ini-

Chamou a si os devedores de seusenhor que ainda não haviam pago,continuando em débito

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1848

| 49Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

qüidade, porqueinjustas, pois,embora as tenha-mos e desfrute-mos, espiritual-mente não fize-mos por merecer.Ou são conces-sões divinas como

empréstimos, adian-tamentos de condições espirituais,ou situações ensejadas por circuns-tâncias da vida terrena que, bemsabemos, nem sempre são justas elícitas perante Deus. Portanto, qua-se tudo que temos ou de que dis-pomos não é justo. Mas com tais ri-quezas, bens e situações, mesmoimerecidos, como e quanto pode-mos ajudar aos nossos semelhantes!

Mordomos infiéis, convém nosinteressemos pelos nossos semelhan-tes. Como nós, também devem aDeus, pois todos recebemos do Paimuitos recursos e bênçãos, valoresmaiores e mais fundamentais paraa vida da alma do que o azeite e otrigo são para a vida do corpo. Enenhum de nós pagou ainda ao Cri-ador tantas bênçãos, pois, não pro-duzimos de acordo com o que re-cebemos, não retribuímos devida-mente o investimento divino emnós.

Interessemo-nos, principalmen-te, em favor daqueles por quem so-mos mais diretamente responsáveisdiante de Deus: família, grupo re-ligioso, social. Discreta e fraternal-mente, procuremos saber de seusdébitos para com Deus, de sua si-tuação espiritual, e, com os recur-sos de que ainda dispomos, o quesabemos e podemos neste mundo,diminuamos esses problemas, sua-

vizemos suas dores!Assim, mesmo sendo mordomos

infiéis, não tendo sabido adminis-trar direito os bens da vida, tendo

feito ou permitido a dissipação nosbens do Senhor que estavam sobnossa guarda, beneficiaremos pes-soas e granjearemos sua amizadecom essas riquezas e possibilidadesimerecidas. E, quando essas rique-zas, recursos ou possibilidades deque dispomos, nos faltarem de todo(e vão faltar, mesmo, poisdesencarnando, seremos desaloja-dos da nossa mordomia), não fica-remos desamparados: aqueles aquem ajudamos, e por isso, se tor-naram nossos amigos, nos recebe-rão nos tabernáculos eternos, nos aco-lherão em seu coração, no campodo sentimento, em seu espíritoimortal.

É a solução da ajuda mútua, doamor fraterno, o investimento nacaridade, a “poupança” espiritual.Deus quer que nos amemos uns aosoutros. Ajudar é amar. Ajudemo-nos mutuamente.

Temos agido assim? Apesar dosavisos divinos, perdemos tempo eoportunidades sem nada fazermosde concreto, de efetivo, para me-lhorar nossa situação espiritualante a vida. E poderíamos fazê-lo,simplesmente sendo fraternos,caridosos!

Mais prudentes que os filhos

da luz

Por isso Jesus nos diz que os fi-

lhos deste mundo (os materialistas)são mais prudentes em sua geração,em relação à vida terrena, seus ne-gócios e interesses materiais, sãomais atilados, agem com mais pre-visão e maior empenho do que os

filhos da luz (os espiritualistas) o fa-zem, em relação aos seus interessesda vida imortal.

Apesar de saber que estamos emsituação tão aflitiva e prementecomo a do mordomo infiel da pará-bola (faltosos e chamados, em bre-ve, a prestar contas), não procura-mos solucionar nosso problema es-piritual com tanto empenho, inte-

Interessemo-nos, principalmente, emfavor daqueles por quem somos mais

diretamente responsáveis diante deDeus

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1849

ASSINE: (19) 3233-559650| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Jun.2005

ligência e presteza, como os mate-rialistas o fazem em relação às coi-sas do mundo terreno.

E ainda afirma Jesus, ao final:Quem é fiel no mínimo, também

é fiel no muito; quem é injusto nomínimo, também é injusto no mui-to.

Mínimo é o que é material e mui-to, o que é espiritual. Quem nãocontrola e dirige o pouco, não pode,não sabe, administrar nem dirigir omuito. Primeiro recebemos: bensmateriais, encargos menores, pe-quenas oportunidades para ensai-armos nossa atividade espiritual,demonstrarmos nossa capacidadede ação boa, acertada.

Pois, se nas riquezas injustas não

fostes fiéis, quem vos confiará asverdadeiras?

Se nem os bens, as oportunida-des materiais, da vida terrena (quesão as riquezas injustas e mínimas),soubermos utilizar com fidelidade(em prol da vida espiritual) comonos confiarão as riquezas verdadei-ras, os bens do espírito para gerir-mos e cuidarmos?

E se no alheio não fostes fiéis,quem vos dará o que é vosso?

Quando o bem é alheio, toma-se mais cuidado em utilizá-lo, doque com os bens que nos perten-cem, porque dele devemos prestarcontas. No que é nosso, agimosmais à vontade, com menos preo-cupação. Ora, se no alheio não te-

mos cuidado, se, nos bens e opor-tunidades que Deus nos emprestounão agimos com responsabilidade,como nos entregarão o que seránosso em definitivo, os bens e as pos-sibilidades espirituais, que serãopara usarmos com toda a liberdadee sempre? A filho esbanjador com oque lhe damos agora, confiaremoslogo toda a sua herança?

Desejamos ser dignos de bensmaiores? Administremos com fide-lidade (usemos com acerto) os quetemos em mãos agora, assim teste-munhando que estamos aptos a coi-sas maiores.

Não temos sido fiéis? Apressemo-nos em nos interessar pelos que tam-bém devem a Deus: os nossos se-

melhantes! Ajudemo-los a reco-nhecerem seus débitos, a entende-rem no que estão errados, explican-do-lhes as leis divinas.

E, com o melhor sentimento decaridade, ajudemo-los a suportaremou superarem suas dificuldades e,também, a corrigirem o rumo desuas vidas.

Diminuamos as dores dos quesofrem, os problemas dos que erram,suavizando um pouco a situaçãodeles perante a lei divina.

Certamente, entre eles e nós, seestabelecerão laços de amizade econfiança, o afeto puro com quetambém nos acolherão em nossasnecessidades, aqui ou no Além.

Mas façamos isto rápido, en-quanto temos autoridade, poder ebens, possibilidades concedidas porDeus, ensejadas por esta reencar-nação, antes que o Senhor nos tire a

mordomia.É inegável que temos sido

mordomos infiéis, maus administra-dores dos bens da vida, mas Jesusnos ensinou que no amor ao próxi-mo está a esperança legítima e ainabalável certeza de conseguirmosequilibrar as nossas contas na con-tabilidade divina.

Fora da caridade, não há salva-ção. �

Créditos:

Ilustrações: Pandora Design

Foto Thezerinha Oliveira: J. P. Andrade

Fonte:

OLIVEIRA, Therezinha. Parábolas Que

Jesus Contou e Valem Para Sempre. Págs

100 – 119. FEB. Rio de Janeiro/ RJ. 2000.

Quando o bem é alheio, toma-se maiscuidado em utilizá-lo, porque deledevemos prestar contas

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1850

| 51Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Jun.2005 | FidelidadESPÍRITA

SIMÃO PEDRO DIANTE DO PAPA!

U

por Hermínio Correia Miranda

m tanto perplexo, o ho-mem de Cafarnaum sente-se perdido no amplo espa-

ço que se abre diante dele. Faz al-gumas perguntas, aqui e ali - a fic-ção pode fazê-lo falar italiano mo-derno, com sotaque, talvez.

Dizem-lhe que aquilo é a PiazzaSan Pietro e que o imponente con-junto de edifícios, ao fundo e emtorno, integra a Igreja que dá onome à piazza e que lá dentro domais imponente deles, está senta-do, num trono, aquele que o her-dou, em linha direta do patrono daigreja e da praça. Que dali, aquelehomem governa milhões de sereshumanos que trazem o mesmodesignativo que se usou pela pri-meira em Antioquia - cristãos. Épossível até que lhe expliquem quehá outros cristãos que não reconhe-cem a autoridade do sucessor dire-to de Pedro, mas isso já seria outrahistória.

O pescador resolve ir até lá paraconhecer melhor o edifício. A pri-meira coisa que se nota é que é umtanto diferente da Casa do Cami-nho, na antiga estrada de Jerusa-

lém para Jope, onde tudo começou,depois que tudo acabou, ou seja,depois da partida de Jesus. Enfim,estamos numa era de progresso etecnologia. Pelo que se observa, aIgreja cresceu muito e, em princí-pio, parece justo dispor de instala-ções condignas para abrigar aque-les que foram incumbidos de ori-entar a comunidade dos fiéis dis-seminados pelo mundo a fora.

Ao entrar pelos portais imensos,que contempla com simplória curi-osidade, o visitante verifica que asinstalações não são exatamentecondignas, mas palacianas, osten-tosas, recobertas de ouro e decora-das com incríveis obras de arte.Mesmo isso, contudo, pensa ele,talvez seja admissível: afinal de con-tas, isto aqui não é Cafarnaum enem estamos vivendo mais no tem-

Como os seres humanos não podem ser deuses, inventaram a ficção científica, nos domínios daqual tudo é possível e o autor é onipotente perante as suas criaturas e as situações que deseje suscitar,mesmo as anacrônicas.

Imaginemos, pois, que, buscando socorro na técnica de ficção científica, tomássemos, com o devi-do respeito e muito carinho, a figura humana de Pedro, tal como ele era ao tempo em que conheceue serviu ao seu Senhor e, ignorando todos os séculos intercorrentes, trouxéssemos o querido pescadorà grande praça, em Roma, que tem o seu nome.

REFLEXÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1851

ASSINE: (19) 3233-559652| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

po de Augusto ou Tibério, numapoeirenta província distante.

Olhares curiosos e até diverti-dos acompanham a perambulaçãodo pescador pelas imensas naves,por onde circulam multidões deturistas apressados, coloridos efalastrões. Parece que ele nem per-cebe que a sua figura destoa ali, nasua sandália desgastada e rústica,na qual ainda há vestígios do barrodeixado pelas últimas chuvas, nastrilhas que ele percorreu. O mantoque o cobre é limpo e claro, masigualmente rústico e sem atavios.Uma bolsa de couro cru e pobre

pende do cordão amarrado à cin-tura. Não que traga grande coisa:um pedaço do pão que sobrou dehoje, pela manhã, e algumasdracmas escassas, mas isso não opreocupa, dado que o Mestre diziaque não era preciso levar ouro nemprata, nas tarefas que confiara aosseus amigos mais próximos.

Simão bar Jonas vai de surpresaem surpresa. Segundo informes quecontinua a colher com um e outro,aquela estátua de bronze ali, à di-reita de quem entra, representa suaprópria figura humana. Está senta-da, ricamente vestida, com todos

os adornos da realeza. O pé tem umbrilho mais intenso, que ele logodescobre resultar do polimento demuitos lábios humanos que ali de-positam beijos. Aquilo o comove, écerto, mas o deixa também profun-damente embaraçado. Por que ra-zão estariam beijando simbolica-mente os seus pés? Que teria feitoele? Será que o haviam transforma-do em algum deus desconhecido?Ou num imperador, como Tibérioou Nero?

Olhando as sandálias mal ajus-tadas aos seus pés de verdade, fi-cou, por um instante, a pensar seaquela gente os beijaria, se, em lu-gar da estátua de bronze coberta deadornos ricos, se sentasse ele, aovivo...

Que coisa mais fantástica tudoaquilo! Que estranha sensação deirrealidade, de pesadelo, de alie-nação! Que multidão de pergun-tas sem respostas lhe acorriam àmente perplexa! Haveria alguémpor ali que soubesse (e pudesse)respondê-las?

Foi, então, que ele se lembroudo homem sentado no trono. Eledeveria saber, tinha de saber. Poisnão era o chamado herdeiro diretoda tradição? O mais acertado, por-tanto, seria falar com ele.

De pergunta em pergunta, che-gou a imponente cidadão abrigadoatrás de não menos imponente es-crivaninha, numa sala que ficavanalgum ponto daquele labirinto denaves, corredores, portas e salões.

O homem nem sequer o convi-dou a sentar-se e o visitante bemque o desejava, pois já sentia o pesodo cansaço de todas aquelasandanças. Não que houvesse sidomaltratado; pelo contrário, foi mui-

As instalações são palacianas,ostentosas, recobertas com ouro edecoradas com incríveis obras de arte

REFLEXÃO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1852

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 53Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

to bem recebido, com um sorrisopolido e palavras mansas. Infeliz-mente, dizia-lhe o cidadão, o San-to Padre (Santo Padre?) não pode-ria recebê-lo tão cedo. Era precisomarcar entrevista, dizer ao que vi-nha, aguardar o chamado e, final-mente, comparecer - condigna-mente vestido, observou, com umolhar significativo, o homem - emdia e hora que deveriam ser rigo-rosamente observados.

O pescador concluiu que eratudo muito complexo e demoradoe o seu tempo ali era escasso. Umapena! Ficaria, então, para outraoportunidade. Agradeceu ao cava-lheiro imponente, fez uma mesuradesajeitada (o homem parecia tãoimportante!) e se pôs à disposiçãodo secretário que o trouxera até ali,de vez que jamais encontraria, so-zinho, o caminho de volta à luz dosol que brilhava lá na praça que ti-nha o seu nome.

Já na praça, olhou, mais umavez, o edifício gigantesco e pensou:

- Que pena! Nunca precisamosmarcar entrevista para conversarcom Jesus... Não há dúvida que fi-cou tudo muito complicado e es-tranho...

E, sem saber como nem por que,Simão bar Jonas viu-se novamenteem Cafarnaum, a consertar a suarede.

André, seu irmão, olhava-o demaneira curiosa e interrogativa.

- Que há com você, Simão? Foipreciso chamá-lo três vezes! Vocêestava dormindo?

Simão ficou em silêncio por al-guns momentos. Em seguida, sacu-diu a cabeça e comentou enigma-ticamente:

- É... Acho que dormi.

Parou novamente e completou:- E que pesadelo, meu Deus!A brisa mansa, a rede nas mãos,

a água plácida do lago, ali à frente,trouxeram-no de volta à realidadepresente. (Mas que seria mesmo opresente?) André não fez novas per-guntas. O irmão sempre fora dadoa esses raptos e “ausências”, desdemenino, quando parecia alhear-sede tudo, esquecido de todos. Nes-ses instantes, via coisas que nin-guém mais via.

Passados alguns momentos amais, André repetiu a frase que Si-mão não ouvira por causa da sua“ausência” (e como estava longe,ele!):

- Eu te disse que temos de sairlogo para o mar, porque, à tarde,

vai chover.Simão correu o olhar experimen-

tado pelo céu e disse:- Também acho. Iremos assim

que acabar o conserto da rede. Fal-ta pouco.

Lá no fundo da sua memória dofuturo, contudo, via gente estranhabeijando seus pés de bronze e aqui-lo o perturbava mais do que elegostaria de admitir.

Sacudiu a cabeça novamente eresmungou algo que André nãoentendeu. Afinal de contas, foraapenas um pesadelo sem sentido.Nada mais.�

REFLEXÃO

Fonte:

MIRANDA, Hermínio Correia. Cristia-

nismo: A Mensagem Esquecida. Págs. 184 –

187. O Clarim. Matão/ SP. 2001.

O pescador concluiu que era tudomuito complexo e demorado

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1853

ASSINE: (19) 3233-559654| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

em oportuno o lançamentodo livro Cartas ao Moço Es-pírita, do Dr. Wilson Ferreira

de Mello, psicografado porEmanuel Cristiano, e editado peloDepartamento Editorial do CentroEspírita Allan Kardec, de Campi-nas.

A obra vem resgatar os valoresda integração do jovem espíritacom a Doutrina Espírita. Providên-cia vital para continuidade das ta-refas, a integração do jovem aoCentro Espírita deve estar na pau-ta das ações de dirigentes espíritasconscientes da transitoriedade dapermanência nas lideranças de nos-sos núcleos. E essa integração háque abrir oportunidades, valorizar

a participação, incentivar sua pre-sença, motivar ao estudo e princi-palmente ser uma integraçãoorientadora nos caminhos juvenis,sempre cheio de incertezas, dúvi-das e decisões que refletem pelavida toda.

Ao lermos a obra a identifica-ção é imediata. Para os atuais jo-vens, em sua faixa etária de parti-cipação nas mocidades espíritas, olivro é bastante objetivo e didáticopara propiciar o real entendimentoda proposta espírita. Tanto comoorientação ao jovem, como roteiropara as atividades desenvolvidaspelos jovens junto aos núcleos es-píritas. Para aqueles que já estãona idade madura e guardam na lem-brança os bons tempos de mocida-de, a experiência volta com toda aforça porque o livro resgata essesvalores que hoje norteiam as ativi-dades desenvolvidas pelos centros,atualmente dirigidos por jovens queparticiparam ativamente das moci-dades espíritas, há algumas déca-das.

Como leitor, pude sentir pesso-almente os bons tempos de moci-dade espírita, quando da participa-ção nas reuniões de estudos, tare-fas assistenciais e nas empolgantesconcentrações de mocidades, ain-da hoje realizadas.

Na apresentação do livro, o es-pírito Nora traz observação impor-tante e que bem retrata a afinida-de que inspira dedicados seareirosda atualidade. Trazendo diálogoestabelecido na espiritualidade

quando de orientação de futurosreencarnantes com tarefas defini-das, um dos candidatos indaga aoBenfeitor Espiritual como os inte-grantes de um grupo de trabalho sereconhecerão para o trabalho naTerra. E o Benfeitor respondeu queera “pelo pulsar do coração (...),pelas alegrias íntimas, pelo desejode estarem juntos (1) comparti-lhando a Mensagem do Senhor”.Esta última expressão, pelo desejode estarem juntos (1), bem indicaa afinidade e o compromisso comas abençoadas tarefas espíritas. Éexatamente pela amizade entre osintegrantes de um grupo que osbons resultados podem ser alcança-dos, vencendo-se a animosidade eas diferenças sempre presentes.

E este alicerce é formado nostempos de juventude, onde as ba-ses da solidariedade podem sermelhor edificadas. Onde a autên-tica alegria da verdadeira amizadecomparece como o laço forte quepermite a continuidade e o com-promisso.

O livro todo é bom. O próprioíndice já oferece o valor de seu con-teúdo.

Recomendamos, com toda ênfa-se, para os grupos espíritas, inclusi-ve aos dirigentes, mas sobretudopara os jovens. E que os dirigentestambém o estudem, pois trata-se deautêntica fonte de informações parao direcionamento e orientação domoço espírita.�

PARA OS JOVENS ESPÍRITASOrson Peter Carrara

B

CONHECIMENTO

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1854

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 55Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Mai.2005 | FidelidadESPÍRITA

por Eduardo Martins

Q

Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as

Letras. Pág. 109. Editora Moderna. São

Paulo/SP, 1999.

USE OS ÓCULOS EPAGUE OS JUROS

uando sente falta deles,como você pergunta: Al-guém viu meu óculos? /

Alguém viu meus óculos? Você devepedir os seus óculos. Da mesma for-ma: uns óculos (e nunca “um” ócu-los), estes óculos (e não “este” ócu-los), seus óculos (e não “seu” ócu-los´), nossos óculos, dois óculos. Porisso muitas vezes você pode até ou-vir a expressão um par de óculos(cada lente seria um óculo).

É fácil explicar a razão: existeuma série de termos na língua por-tuguesa que só admitem plural. Eas palavras que concordam comeles (pronomes, adjetivos, artigos,etc.) têm por isso, obrigatoriamen-te, de estar também no plural.

Assim, quando for a uma festade aniversário, você também deve-rá dar os parabéns ao amigo ouamiga. Trata-se de outra palavraempregada (pelo menos hoje) ape-nas no plural. E, ainda no campodas manifestações de contentamen-to, repare que se usam expressõescomo as boas-vindas, as boas-festas,as boas-entradas, minhas felicita-ções, meus cumprimentos, nossassaudações, etc.

Mas, como nem tudo é festa navida, se você quiser expressar seu

COM TODAS AS LETRAS

pesar a alguém, deverá levar à pes-soa conhecida os pêsames, as con-dolências, os sentimentos. Da mes-ma forma, como no caso dos para-béns, o certo é: Meus pêsames, mi-nhas condolências, meus sentimen-tos.

Existe mais uma série de pala-vras nas mesmas condições, algu-mas delas muito presentes nas con-versas pessoais ou no noticiário daimprensa, do rádio e da televisão.Você seguramente já ouviu muitagente dizer que “o” juros está mui-to alto. É outro erro. Fale nos juros,pague os juros, reclame dos juros.

Também deslize com os patins enunca com “o” patins. A palavratem singular (patim) e plural (pa-tins). Por isso: meus patins, nossospatins, velhos patins. Igualmente,quando você experimentar um sen-timento muito perigoso, cuidado:não existe a forma “o” ciúmes, masos ciúmes. Portanto, meus ciúmes,nossos ciúmes, puros ciúmes (e nun-ca, “meu” ciúmes, “nosso” ciúmes,“muito” ciúmes, “puro ciúmes).

A lista não termina aí. Por exem-plo, ninguém pode admitir que estácom “uma olheira” profunda, mascom umas olheiras profundas. Nemque sente “muita cócega”, porém

muitas cócegas.Veja mais alguns exemplos de

palavras empregadas apenas no plu-ral (elas exigem que os vocábulosque as acompanhem também este-jam no plural): afazeres, arredores,belas-artes, cãs (cabelos brancos),confins, custas (judiciais), férias,fezes, núpcias, suspensórios, trevas,víveres e os naipes do baralho, co-pas, espadas, ouros e paus.�

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1855

ASSINE: (19) 3233-559656| Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Mai.2005

Você sofre!...Em seu Evangelho, Jesus convi-

da:“Vinde a mim, todos vós que vos

encontraisAflitos sob o fardo, e eu vos alivia-

rei”.

Como alcançar esse alívio?Jesus esclarece:“Tomai sobre vós o meu jugo e

aprendei de mimQue sou manso e humilde de co-

ração.E achareis repouso para as vossas

almas,Pois suave é o meu jugo e leve o

meu fardo”.

Jugo é a lei divina.Cumprida devidamente, torna

leve o fardo da vida.E a lei de Deus, ensinada por Je-

sus ereafirmada pelos bons Espíritos,

resume-se em:“Amar a Deus sobre todas as coi-

sasE ao próximo como a si mesmo”.

Procure agir assim, de acordo coma lei de Deus,

e tudo irá melhorar.“Buscai primeiramente o reino de

Deus e a sua justiça e tudo o maisvos será dado por acréscimo de mi-sericórdia divina”.

O Centro Espírita poderá ofertar a vocêtodo o amparo possível de que neces-

site:orientação espiritual, preces, passes, tra-

balhos mediúnicos...E os bons espíritos o assistirão com

todo amor, mas você tem de se esforçarno sentido do bem.

Faça a sua parte e Deus fará o resto.“Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareia,Batei e abrir-se-vos-á”.

Tome cuidado com seus pensamentos,sentimentos, palavras e atos.“Vigiai e orai para não cairdes em ten-

tação”.

Se você está sofrendo exatamente por-que

errou no modo de agir, tenha coragem,pois nova oportunidade de começar

lhe é dada.“Eu também não te condeno.Vai e não peques mais,para que não te suceda algo pior”.

Limpe seu coração de ressentimentos.“Perdoai para serdes perdoados”.

E semeie o bem no seu caminho.“Tudo quanto quiserdes que as pessoas

vos façam, fazei-o vós a elas”.

Porque, pela lei de causa e efeito, édando que recebemos.

“A cada um será dado segundo suasobras”.

Revista Maio2.p65 16/9/2005, 09:1856