revista médicos das gerais - edição 4

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retranca Destinos naturais Conheça as belezas da Amazônia e do Pantanal Entrevista Advogado destaca como os médicos podem se resguardar dos processos Publicação da Associação Médica de Minas Gerais, Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais e Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Edição 4 - Outubro de 2011 Regionalização da Saúde Apesar do avanço com a regulamentação da Lei 8.080, que agrega ao SUS conceitos importantes como regiões e mapa da saúde, implantação de mudanças ainda é incerta Fechamento autorizadao. Pode ser aberto pela ECT.

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Publicação da Associação Médica de MG (AMMG), Conselho Regional de Medicina de MG (CRMMG) e Sindicato dos Médicos de MG (SinmedMG) - Outubro 2011

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Page 1: Revista Médicos das Gerais - Edição 4

retranca

Destinos naturais Conheça as belezas da Amazônia e do Pantanal

EntrevistaAdvogado destaca como os médicos podem se resguardar dos processos

Publicação da Associação Médica de Minas Gerais, Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais e Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Edição 4 - Outubro de 2011

Regionalização da Saúde

Apesar do avanço com a regulamentação da Lei 8.080, que agrega ao SUS conceitos importantes como regiões e mapa

da saúde, implantação de mudanças ainda é incerta

Fechamento autorizadao. Pode ser aberto pela ECT.

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35 Médico das Gerais Outubro de 2011

retranca

O sonho de São Martinho, de Simone Martini.

Siena, Itália. 1280-1344

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Outubro de 2011 Médico das Gerais 3

in íc io de conversa

Regulamentações trazem avanços e desafios para

a saúde pública

A gestão e os gastos com saúde pública no Brasil têm sido pauta constante de discussões políticas neste ano. Diversas mudanças relativas ao SUS estão em andamento no país, entre a votação de novas leis e a aplicação de outras, recentemente aprovadas. Muitas dessas novas legislações são bandeiras antigas de luta das entidades médicas que têm, pouco a pouco, se concretizado.

Nesta edição, mostramos os principais aspectos do decreto 7.508, regulamentação da Lei 8.080 — chamada de Lei Orgâ-nica do SUS —, publicada após 21 anos de debates. O decreto é comemorado por especialistas e gestores de saúde pública, pois define questões importantes para o melhor funcionamento do sistema, como a permissão de associações interfronteiras, a hierarquização do acesso à saúde, a regionalização em detrimento à municipalização, as Renames e Renases.

No entanto, ainda há muito a ser definido sobre como e quando serão feitas as mudanças determinadas pelo texto, pois, além de avanços, ele traz muitos desafios para a gestão de saúde e aponta poucos caminhos para a aplicação, no dia a dia do SUS, das alterações.

Abordamos também a aprovação, na Câmara, da regulamentação da Emenda Constitucional 29. Agora no Senado, a PLP 306/08 ainda gera polêmica pela discussão sobre a necessidade de novas verbas para cumprimento dos critérios estabelecidos pelo texto. A matéria evidencia como os estados — inclusive Minas Gerais — têm inves-tido o orçamento destinado à saúde e como a regulamentação pode influenciar essa prática atual, com ou sem nova fonte de receita.

Ainda nesta edição, pensando no seu tempo livre e nos momentos de lazer, trazemos uma reportagem sobre destinos de ecoturismo brasileiro. Essa modalidade já atende a 5,4 milhões de pessoas, todo ano, no país. Nesta edição, médicos amantes desse tipo de viagem dão dicas sobre o Pantanal e a Amazônia, duas regiões de paisagens exóticas, natureza exuberante, diversidade e que, atualmente, já possuem passeios turísticos bem estruturados.

Boa leitura.

expe

dien

te Revista Médico das Gerais®Presidentes:Cristiano Gonzaga da Matta Machado José Carlos Vianna Collares FilhoManuel Maurício Gonçalves

Conselho Editorial:Cláudia Navarro Duarte Lemos (CRMMG)Cristiano do Couto Mourão (AMMG)Cristiano Gonzaga da Matta Machado (Sinmed-MG)Fernando Luiz de Mendonça (Sinmed-MG)João Batista Gomes Soares (CRMMG)José Carlos Vianna Collares Filho (AMMG)Manuel Maurício Gonçalves (CRMMG)Jornalistas Fabíola Sanches (AMMG), Marina Abelha de Fuccio Barbosa (CRMMG) e Regina Perillo (Sinmed-MG)

Contatos:Associação Médica de Minas GeraisAv. João Pinheiro, 161 - Centro30130-180 - Belo Horizonte/MGTel: (31) 3247-1600 Fax: (31) 3247-1632E-mail: [email protected]

Conselho Regional de Medicina de Minas GeraisAv. Afonso Pena, 1500/8º andar - Centro 30130-921 - Belo Horizonte/MGTel: (31) 3248-7700 Fax: (31) 3248-7701E-mail: [email protected]

Sindicato dos Médicos de Minas GeraisRua Padre Rolim, 120 - São Lucas30130-090 - Belo Horizonte/MGTelefax: (31) 3241-2811E-mail: [email protected]

Produção Editorial:Interface Comunicação EmpresarialCoordenação Editorial:Veronica Anselmo Soares - MG13722 JPJornalista Colaboradora: Daniella Maria - MG15799 JPRedação: Denise Menezes, João Eugênio e Marina DiasDiagramação: Fernanda Braga

Fotos: RR Produções Fotográficas e Edmilson José de OliveiraCharge: Luiz Oswaldo Rodrigues (LOR)Impressão: Gráfica Formato

Publicação Semestral - Outubro - 2011Tiragem: 43 mil exemplaresCartas para a redação: [email protected]

É proibida a reprodução do conteúdosem autorização prévia. A charge e os

comentários dos entrevistados não refletemnecessariamente a opinião das entidades.

>> Da esquerda para a direita: Cristiano da Matta Machado (Sinmed-MG), Manuel Maurício Gonçalves (CRMMG) e José Carlos Vianna Collares Filho (AMMG)

Page 4: Revista Médicos das Gerais - Edição 4

4 Médico das Gerais Outubro de 2011

cartas

Sobre a reportagem “Disputa na Residência Médica”, publicada na terceira edição da revista Médico das Gerais, gostaria de expressar que passou da hora de modificarmos a formação médica no nosso país. É inadmissível que a discussão sobre a terminalidade do curso de medicina ainda persista e que não se evidencie que uma boa parte dos egressos das faculdades de medicina é inapta para a prática médica. Uma parte da solução seria o planejamento para que daqui alguns anos (dez?) a residência médica fosse considerada obrigatória, prática existente em todos os países desenvolvidos do mundo e com a escolha das vagas baseada na necessidade de especialistas para a nossa população.

Fernando Amorim – CRMMG 44056

A terceira edição da revista está excelente, mantendo o elevado padrão de informação e debate sobre os assuntos mais atuais da medicina. Gostaria de fazer um comentário sobre a matéria “Disputa na Residência Médica”. Tenho uma razoável vivência no assunto, por ter sido diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, diretor do Hospital das Clínicas e reitor da UFMG.

Concordo que realmente há falta de vagas para a residência no país, mas o tema tem sofrido dis-torções conceituais que precisam ser explicitadas, para encontrarmos as soluções para os enormes problemas que enfrenta a saúde no Brasil.

Em consequência da criação da Residência Médica, conforme cita a matéria, e com a proliferação de escolas médicas de baixa qualidade, criou-se na sociedade uma imagem falsa, que está incor-porada de modo sólido: não só a população, como os serviços de saúde avaliam a qualidade dos médicos formados apenas pela residência que cursou — se não cursou nenhuma, terá avaliação pior, inclusive para efeito de admissão em empregos.

Na realidade, a residência foi criada com o objetivo de formar especialistas e não de complementar um curso de graduação mal feito. O curso de graduação deve ser terminal, diplomando um mé-dico completo, que pode exercer a clínica com toda competência e vivência prática. Esse médico, entretanto, não tem a capacidade de atender e solucionar casos complexos de neurologia, ortopedia, oftalmologia, cardiologia, cirurgia, dermatologia e outras especialidades — para esse atendimento é necessária outra formação específica, que é a residência. Não há, portanto, a obrigatoriedade de criar vagas para residência para todos médicos que se formam no país.

A solução não está na criação de residência para todos formados, mas em fechar escolas de má qualidade e impedir a criação de novas escolas sem condições de formar médicos eficientes. Além dessa política, que precisa ser implementada, os cursos atuais, mesmo em escolas de boas universi-dades, devem mudar sua estrutura: menos teoria e mais prática.

Cid Velloso – CRMMG 3340

Parabenizo pela qualidade técnica da revista. Excelente trabalho gráfico, quanto a layout, diagramação e qualidade do papel. As pinturas de capa são fantásticas. Gostaria de saber se é possível encaminhar-me em alta resolução a fotografia da pintura: “Lição de Anatomia do Prof. Tulp” para que eu possa fazer um grande quadro. Se eventualmente tiver alguma outra fotografia também seria útil.

Sérgio Veloso – CRMMG 35622

Caro colega, todas as imagens publicadas nas contracapas da revista são retiradas do banco de imagens grátis www.visipix.com. Nesse endereço você pode fazer o download de diversas obras de arte em alta resolução.

* As cartas publicadas podem ser editadas pela Revista Médico das Gerais.

Page 5: Revista Médicos das Gerais - Edição 4

EntrevistaEm defesa da classe

sumár io

18LegislaçãoEC 29: destino incerto

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24Álem da MedicinaTalentos múltiplos

12AdministrePrepare-se para o segundo ano de Dmed

21Ética MédicaReprodução humana assistida

9Educação MédicaPercurso para a especialidade

26Dia a diaDicas úteis

30Tempo LivreDestinos naturais

28Cuide-seImportância do sono saudável

32Seu valorCategoria tem salários precarizados

14Saúde PúblicaLei 8.080 ganha regulamentação

opin ião

34Causos

Outubro de 2011 Médico das Gerais 5

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retranca

6 Médico das Gerais Outubro de 2011

entrev ista

<<Fernando Ruas Mitraud: o grande volume de trabalho dos médicos piora a relação médico-paciente e contribui para o aumento de processos

Profissional que atua há 20 anos na defesa do médico, o advogado Fernando Ruas Mitraud é assessor jurídico da Comissão de Defesa do

Médico desde sua criação, juntamente com os advogados Auro Valadares e Francisco Gaudereto. Também há 20 anos, trabalha pela proteção de médicos acusados de erro por pacientes.

Para se resguardar de possíveis processos que, para ele, muitas vezes são fruto de oportunismo, o advogado aconselha que o máximo de detalhes seja registrado nos prontuários, já que essas informações poderão servir de evidências durante um possível processo judicial. Outro ponto que, segundo ele, precisa ser melhorado, é a relação médico-paciente, que deve ser baseada no respeito e na exposição clara e sincera dos fatos e possibilidades.

O número de processos contra médicos tem aumentado recente-mente? Em caso positivo, por que isso ocorre?

É fato que a quantidade de processos contra a classe médica tem aumentado e isso está relacionado com mais de um motivo. Além de a população estar melhor esclarecida sobre seus direitos e com mais iniciativa em procurar a Jus-tiça, há também o aumento do grau de ►

Em defesa da classe

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Outubro de 2011 Médico das Gerais 7

entrev ista

oportunismo nas pessoas. Observo, em minha rotina profissional, como muitas vezes os pacientes se aproveitam das si-tuações de maneira nem sempre honesta para tirar proveito de circunstâncias relacionadas a procedimentos médicos. Aliado a isso, outro fato que contribui para o aumento do questionamento das condutas médicas e, consequentemente, da quantidade de processos, é o crescen-te volume de trabalho desses profissio-nais, o que compromete a qualidade da relação médico-paciente.

Quais as principais queixas dos pacientes contra os médicos e qual tipo de processo é mais comum: na Justiça ou no CRM?

As queixas que se destacam são ações indenizatórias na Justiça, embora tam-bém haja pacientes que preferem pro-curar o Conselho Regional de Medicina do seu estado. A especialidade médica que é alvo mais comum de queixas é a obstetrícia, seguida de procedimen-tos cirúrgicos em geral, com desta-que para cirurgias gerais, plásticas e intervenções ortopédicas. Geralmente, os processos estão relacionados a intervenções mais invasivas mas, sem ►

dúvida, os partos lideram. Dar a luz a uma criança é algo que gera muita expectativa. Os pais nunca esperam uma complicação e é mesmo muito difícil aceitar.

Como o médico pode se resguar-dar de eventuais processos?

Documentação é a palavra-chave para os médicos se protegerem. É impor-tante que tudo que aconteça duran-te o atendimento do paciente seja devidamente registrado, até mesmo os pequenos detalhes, que podem ser decisivos na hora de revelar as evidências em um processo judicial. Outra sugestão é que o médico es-clareça tudo o que for possível para o paciente, o que evita a desinformação em relação aos tratamentos e procedi-mentos que serão realizados. Acon-selho, ainda, que o consentimento do paciente e/ou de um familiar seja documentado antes de uma possível intervenção cirúrgica ou tratamento mais invasivo. A medicina deve ser exercida de forma correta e com pro-fissionalismo, o que envolve o máximo de anotações no prontuário médico e o respeito ao paciente.

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8 Médico das Gerais Outubro de 2011

entrev ista

Como deve proceder o profissional que não tiver condições adequadas para trabalhar?

Primeiramente, o médico deve relatar aos seus pacientes as dificuldades que tem em seu trabalho e deixá-lo ciente de todos os riscos e limitações impostos pelo sistema de saúde no qual ele está inserido, principalmente no SUS, como jornadas de trabalho excessivas e falta de equipamentos e/ou mão de obra para realização de exames. Essas dificulda-des também devem ser registradas no prontuário médico. Caso a situação seja permanente, aconselho que o médico denuncie seu problema às autoridades de saúde e leve o caso ao Conselho Regional de Medicina de seu estado ou a outras entidades públicas, como a Secretaria de Saúde de seu município.

Em casos de ameaças de pacientes, aconselho que seja feita uma ocorrên-cia policial.

Em que consiste o trabalho exe-cutado pela Comissão?

A comissão foi criada em 1991 por meio de parceria da Associação Mé-dica de Minas Gerais e do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, com o propósito de amparar institucional e juridicamente os médicos acusados injustamente de erro na Justiça. Os advogados da comissão orientam os médicos devidamente associados e sindicalizados de acordo com a situação de denúncias em que estão envolvi-dos e com a documentação e evidên-cias que possuem. Os atendimentos podem ser agendados pelo telefone (31) 3247-1634. É importante escla-recer que a comissão não acompanha processos éticos no Conselho Regional de Medicina, nem atende pessoas jurí-dicas. Todo o atendimento tem garantia da privacidade.

Quais impactos o senhor observa quando um médico é acusado por um paciente e o que isso pode acarretar em sua vida pes-soal e profissional?

Em muitos casos há uma revolta muito grande do profissional, principalmente quando a acusação é injusta. Alguns médicos falam em largar a medicina, mas o mais frequente é eles deixarem de atender em locais onde a incidência de queixas é maior devido às condições ina-dequadas de trabalho. O que se aprovei-ta de situações como essas é que, nor-malmente, o médico que é processado passa a ter uma conduta mais cuidadosa e não é raro haver grande melhora no preenchimento de prontuários e outros documentos médicos.

Fernando Ruas Mitraud, assessor jurídico da Comissão de Defesa do Médico

“Aconselho que o consentimento do paciente ou familiar seja documentado antes de uma possível intervenção cirúrgica ou tratamento mais invasivo.”

No caso de ser processado ou ameaçado por algum paciente, como o médico deve proceder?

O primeiro passo é procurar um ad-vogado, o que pode ser feito por meio da Comissão de Defesa do Médico.

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retranca

Outubro de 2011 Médico das Gerais 9

Percurso para a especialidade

educação médica

Para muitos médicos, os seis anos de graduação significam apenas o primeiro passo do caminho profissional. A obtenção do título em determinada especialidade, apesar de não ser obrigatória, representa a chance de se anunciar como especialista no cartão de visita, no

consultório e na disputa por uma vaga de emprego.

No entanto, a desinformação sobre as credenciais exigidas pelos cursos e sobre as especialidades reconhecidas no país pode gerar dúvidas a respeito dos percursos que levam, efetivamente, à obtenção do título de especialista médico.

Entre cursos de especialização, pós-graduações e residências em diversas áreas de interesse da medicina, em quais situações se pode, realmente, adquirir titulação?

O título de especialista, para efeito de registro nos Conselhos Regionais de Medicina, a partir de maio de 1989, só tem validade se for emitido por Re-sidência Médica credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) ou sociedade de especialidade conveniada à Associação Médica Bra-sileira (AMB). Os cursos de especialização são considerados como cursos de qualificação, treinamento ou atualização e não habilitam os médicos para os registros como especialistas, mas podem qualificá-los para as provas de títulos.

Reconhecimento

No ano passado, um médico do Espírito Santo entrou com recurso no Superior Tribunal de Justiça, após seu requerimento do título de especia-lista em medicina estética ter sido negado pela Comissão de Títulos de Especialista do Conselho Regional de Medicina do estado.

O capixaba havia concluído um curso de pós-graduação lato sensu nessa área, reconhecido pelo MEC, na Escola de Medicina Fundação Técnico--Educacional Souza Marques, no Rio de Janeiro. No entanto, por essa especialidade não ser reconhecida pela Comissão Mista de Especialidades (CME) — convênio estabelecido entre a CNRM, AMB e Conselho Federal de Medicina (CFM) —, o simples fato de ter feito um curso reconhecido pelo MEC não lhe deu o direito de requerer o título de especialista.

Informar-se sobre o reconhecimento dos cursos e especialidades médicas é essencial para evitar surpresas no momento de requerer o título

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10 Médico das Gerais Outubro de 2011

decorrentes das discussões da Comissão Mista de Especialidades. A última resolução, de número 1973/2011, lista 53 especialidades médicas (acesse em www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2011/1973_2011.htm).

Residência ou prova

Mesmo no caso de especialidade reconhecida, é preciso estar atento às formas como se pode obter o título ou certificado de área de atuação. De acordo com o conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG) Cícero de Lima Rena, esse processo só pode ser feito de duas formas: por meio da conclusão de residência médica credenciada ou pela aprovação em prova de título oferecida pelas sociedades de especiali-dades médicas conveniadas com a AMB.

A residência, modalidade de ensino de pós-graduação lato sensu destinada a médicos, sob a forma de curso de especialização, é considerada a pri-meira opção de muitos profissionais. Contudo, o número reduzido de vagas em relação à quantidade de alunos concorrentes não permite que todos consigam seu espaço nos hospitais ou especialidades desejados. Assim, há médicos que optam por outras pós-graduações e cursos de especialização, no intuito de conseguir, por outras vias, o título de especialista médico.

Segundo Rena, esses cursos não fornecem títulos equivalentes aos da Residência ou AMB, apenas certificados, mesmo que sejam credencia-dos no MEC. “A carga horária desse tipo de curso é baixa, então eles não habilitam, e sim, qualificam”, diz.

Mas, apesar de não formarem diretamente especialistas, certos cursos de longa duração podem ser úteis na intitulação, pois se forem reconhe-

<<Para Maria do Patrocínio Tenório, secretária-executiva da CNRM, é dever dos profissionais pesquisar a respeito das espe-cialidades e cursos antes de se matricular

educação médica

O pedido foi negado administrativa-mente, com fundamento na Resolução 1.634/2002 do Conselho Federal de Medi-cina, pois não há previsão da especialidade “medicina estética”. O médico conseguiu a segurança no juízo de primeiro grau, mas a decisão foi reformada pelo Tribunal de Justi-ça do Espírito Santo, que a reviu em grau de remessa oficial e de recurso voluntário do Conselho Regional de Medicina.

De acordo com a secretária-executiva da CNRM, Maria do Patrocínio Tenório Nunes, os profissionais têm o dever de pesquisar a respeito das especialidades e cursos antes de se matricular. “Estar ciente da legislação e regras é obrigação de cada um de nós, que devemos buscar informação nos sítios eletrô-nicos dos CRMs, AMB, CFM, CNRM, socie-dades de especialidades e outros”, afirma.

Maria do Patrocínio lembra ainda que as especialidades reconhecidas no Brasil são aquelas publicadas nas Resoluções do CFM,

>>Para obter o certificado é

preciso concluir residência médica credenciada ou ser

aprovado em prova de título, diz o conselheiro do CRMMG

Cícero de Lima Rena

Page 11: Revista Médicos das Gerais - Edição 4

O fato de uma área da medicina não estar listada na Resolução do CFM atual-mente não quer dizer que, no futuro, não esteja. A Comissão Mista de Espe-cialidades analisa pedidos de sociedades interessadas, que encaminham seus requerimentos, com a argumentação a favor da demanda. A CME designa relator, ouve os interessados e analisa os dados coletados. O procedimento culmina por aceitar ou não o reconhecimento da especialidade.

Foi o caso, por exemplo, da Acupuntura. Especialidade reconhecida em 1995, os membros de sua sociedade tiveram que coletar diversos documentos que provassem o mérito científico e a relevância da área. “O CFM tem um quesito importante, nesse processo, que é o reconhecimento científico da especialida-de”, diz o presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, Hildebrando Sábato. “Tivemos que estabelecer critérios científicos dos mecanismos de ação da acupuntura e reunir comprovações de que já havia, no mundo inteiro, artigos atestando sua eficiência e eficácia”, completa.

Além da comprovação científica, a sociedade também teve que fundar associações federadas em, no mínimo, oito estados, além de criar cursos de especialização com carga horária de 800 a 1.200 horas — a serem realizados em dois anos.

De acordo com Sábato, a exigência de reconhecimento como especialidade é impor-tante, pois traz o respaldo dos colegas e diminui o preconceito. “Acupuntura era coisa de charlatão, mística. Para nós, o reconhecimento foi um grande passo”, ressalta.

De área de interesse à especialidade

<<Hildebrando Sábato: “A exigência de reconhecimento como especialidade traz o respaldo dos colegas e diminui o preconceito”.

Outubro de 2011 Médico das Gerais 11

educação médica

cidos pelas sociedades de especialidade, podem ser aceitos como pré-requisitos para inscrição nas provas oferecidas por esses órgãos.

Entretanto, é importante mencionar que nem todos os cursos existentes no país são reconhecidos pelas entidades, ou seja, o médico deve se informar previa-mente à inscrição.

Até mesmo no caso dos Programas de Residência Médica (PRM), que dão direito ao título diretamente, é preciso garan-tir que sejam cursos credenciados pela CNRM. “Somente os credenciados pela comissão conferem título de especialista, sendo preciso verificar se é um programa credenciado”, alerta Maria do Patrocínio. Segundo ela, caso haja dúvida, a informa-ção pode ser obtida por meio do endereço eletrônico [email protected]. Outra opção é consultar a Cerem-MG: www.cerem.org.br.

Importância do título

A importância da titulação começa pelo fato de que o Código de Ética considera infração médica a divulgação de especialidade por profissionais que não tenham o título registrado junto ao Conselho Regional. Dessa forma, comprovar a formação oficial em determinada especialidade torna-se imprescindível para o profissional que pretenda exercê-la e anunciá-la.

Outra vantagem da formação em certa especialidade, segundo Maria do Patrocínio, é a atualização científica constante que as sociedades promo-vem. “Esses órgãos possibilitam ao médico participar continuadamente da renovação e atualização na área eleita, troca entre pares, participação em eventos científicos, defesa dos interesses profissionais, o que torna recomendável a obtenção do título, que referenda e valoriza a especializa-ção”, observa.

De acordo com Rena, o título pode também representar uma vantagem competitiva no mercado, por ser um atributo a mais no currículo. Por isso, até médicos que concluíram residência credenciada — ou seja, que já podem se intitular especialistas — costumam fazer a prova.

Como essa prática é comum, editais de provas de títulos podem apresen-tar como pré-requisito, além de determinados cursos de especialização de longa duração ou experiência comprovada na área por um período mínimo, também a residência médica.

Page 12: Revista Médicos das Gerais - Edição 4

administre

Prepare-se para o segundo ano de Dmed

Aproximidade do final do ano indica: hora de co-meçar a procurar documentos, achar os recibos perdidos no fundo da gaveta, conferir dados, enfim, preparar o terreno para a Declaração do

Imposto de Renda.

A tarefa anual será, como em 2011, um pouco mais traba-lhosa para os médicos que atuam como pessoa jurídica ou equiparada, já que eles também deverão entregar à Receita Federal a Declaração de Serviços Médicos e de Saúde (Dmed).

No intuito de esclarecer dúvidas desses profissionais e au-xiliar aqueles que ainda não se adaptaram à nova obrigato-riedade, a Revista Médico das Gerais dá sugestões de como fazer a Dmed a tempo e sem deslizes.

Só para quem tem CNPJ

Para evitar esforços desnecessários, é importante conferir, primeiramente, que profissionais precisam fazer a Dmed. Só devem declarar seus serviços pessoas jurídicas ou pessoas físicas equiparadas às jurídicas nos termos da legislação do Imposto sobre a Renda.

Segundo o site da Receita Federal, enquadram-se nessa categoria prestadoras de serviços médicos e de saúde e/ou operadoras de plano privado de assistência à saúde.

A contadora Renata Veronesi, especializada na área de saúde, simplifica: “O profissional pessoa física equiparado à pessoa jurídica é aquele que tem, sob a sua responsa-bilidade, vários profissionais que desenvolvam a mesma função que ele e atendem sob a responsabilidade do

primeiro. Aqueles que contratam secretária, administrador, faxineira não são equiparados à pessoa jurídica”, explica. “Os equiparados têm obrigatoriamente um Cadastro Nacio-nal de Pessoa Jurídica (CNPJ). Logo, se você não tem um, não pode declarar a Dmed, pois ela não aceita Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou Cadastro Específico do INSS (CEI) do declarante”, completa.

Também ficam dispensadas da declaração as pessoas ju-rídicas ou equiparadas que não tenham prestado serviços, ou as que tenham recebido pagamento exclusivamente de pessoas jurídicas. “Isso quer dizer que, sem emissão de nenhuma nota fiscal a paciente particular (pessoa física), não é necessária a apresentação da Dmed”, lembra.

Crie o hábito

O arquivamento dos dados sobre os serviços médicos e de saúde, em si, não é novidade. Segundo Renata Veronesi, guardar informações sobre consultas ou procedimentos sem-pre foi necessário ao prestador de serviços, que poderia ter que as mostrar em eventual fiscalização. “A diferença é que, antes, muitos não tinham a preocupação com esse controle, e não havia nenhuma penalidade para isso”, explica.

Sócia de empresa contadora que presta serviço para médi-cos, Adriane da Silva diz que a principal diferença, com a criação da Dmed, refere-se à organização. “Para a maioria dos médicos, não mudou nada. Para aqueles equiparados à pessoa jurídica, a mudança é no aspecto de organização, já que hoje é necessário um acompanhamento sistemático dos dados”, explica.

12 Médico das Gerais Outubro de 2011

Especialistas dão dicas para os profissionais que devem fazer, em 2012, a Declaração de Serviços Médicos e de Saúde

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retranca

Outubro de 2011 Médico das Gerais 13

administre

Assim, disciplina é palavra de ordem para não passar sufoco no momento da declaração. O profissional ou clínica deve ter o hábito de anotar e guardar os dados dos pacientes, de quem pagou pelos procedimentos e do serviço prestado. (Confira o box acima).

Renata Veronesi sugere a criação de uma planilha de com-putador para anotação das informações necessárias, ou o arquivamento de todas as notas fiscais emitidas. “O impor-tante é ter sempre os dados de quem tomou o serviço, pois nem sempre o paciente é também quem paga”, alerta.

Outra sugestão é que a organização dos dados na planilha seja feita periodicamente — por exemplo, todo mês. “É só abrir diversas pastas no arquivo, de janeiro a dezembro. Ao final do ano, essas informações estarão totalmente catalogadas”, afirma Adriane da Silva.

A seleção prévia dos dados simplificou o trabalho do infecto-logista Mozar de Castro Neto, que fez sua própria declaração de 2011. “Desde o início do ano passado, a secretária tinha sido orientada quanto à coleta das informações quando eram emitidas notas fiscais, facilitando o trabalho”, diz.

Segundo Castro Neto, a transferência dos dados para o sistema foi feita em cerca de duas horas. “O processo foi tranquilo, pois o programa disponibilizado pela Receita

No caso de valores recebidos em decorrência de pagamen-to pela prestação de serviços médicos e de saúde, devem ser informados:

Nome completo e CPF do responsável pelo pagamento;

Nome completo e CPF do beneficiário do serviço. (Quando esse for menor de 18 anos e não possuir CPF, data de nascimento);

O valor pago, em reais.

Atenção: não devem ser informados na Dmed valores recebidos de pessoas jurídicas ou do Sistema Único de Saúde (SUS).

No caso de valores recebidos em decorrência de pagamento por plano privado de assistência à saúde, contratado sob modalida-de individual, familiar ou coletivo por adesão:

O nome completo e CPF do titular do plano;

Informações solicitadas na Dmed

Federal é bastante amigável, de fácil entendimento e lançamento dos dados”, garantiu.

A entrega da Dmed com os dados corretos, completos e no prazo é imprescindível. A penalidade para quem não declará-los é de R$ 5 mil por mês de não entrega. No caso de informação omitida, inexata ou incompleta, a multa é de 5%, não inferior a R$ 100 do valor das transações comerciais, por transação. A data máxima de entrega da declaração, para 2012, ainda não foi divul-gada pela Receita Federal, mas você pode acompanhar pelo www.receita.fazenda.gov.br.

O nome completo e CPF dos dependentes relacionados ao titular do plano. (Sendo o dependente do plano de saúde menor de 18 anos e não possuindo CPF, é preciso informar a data de nascimento);

O valor anual pago, individualizando as parcelas relativas ao titular e a cada dependente;

Os valores reembolsados à pessoa física beneficiária do plano, individualizados por beneficiário titular ou dependente e por prestador do serviço médico e de saúde (que originou o reembolso).

A Dmed deve ser apresentada pela matriz da pessoa jurídica, consolidando as informações de todos os estabelecimentos da Pessoa Jurídica.

Fonte: www.receita.fazenda.gov.br

Mozar de Castro Neto, médico infectologista

“O programa disponibilizado pela Receita Federal é bastante amigável, de fácil entendimento.”

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14 Médico das Gerais Outubro de 2011

retrancasaúde públ ica

Após 21 anos, Lei Orgânica do SUS ganha regulamentação

Depois de 21 anos, final-mente foi publicado, em 28 de junho deste ano, o decreto 7.508, que

regulamenta a Lei nº 8.080/1990, a chamada Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (SUS). A regulamen-tação é comemorada por especialistas e gestores de saúde pública do país, mas há dúvidas sobre como e quando serão viabilizadas as mudanças de-terminadas pelo texto, como a criação das regiões de saúde, a elaboração do mapa da saúde, a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (Rena-ses) e a Relação Nacional de Medica-mentos Essenciais (Renames).

“O fato de termos a regulamentação, vinda 21 anos depois, por si só, já é um avanço para o SUS”, considera o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Marcelo Gouvêa Teixeira, gestor de uma rede pública que congrega 250 unidades de aten-dimento, responsável por uma média diária de 30 mil atendimentos.

Já o médico César Vieira, consultor técnico do Instituto Brasileiro para Estudos e Desenvolvimento do Setor de Saúde (Ibedess), argumenta que o longo tempo de espera pela regu-lamentação trouxe um fator positivo para o sistema. “Ele permitiu que

toda a experiência acumulada pelo SUS nesses 21 anos fosse conside-rada na regulamentação”, sustenta.

O presidente do CFM, Roberto d’Avila, pondera que a regulamenta-ção representa sim algum progresso, mas ainda não é a solução. “O Con-selho Federal de Medicina vê como favorável o decreto 7.508, porque ele caminha para o melhoramento da gestão no SUS, embora saibamos que ele não irá resolver o problema”.

Da municipalização à regionalização

Para o secretário de Saúde de Belo Horizonte, uma das principais medidas da regulamentação é a criação das regiões de saúde, para a implantação de redes complementa-res e compartilhadas por municípios vizinhos, que podem estar localizados em estados diferentes e até em outros países fronteiriços ao Brasil. “É o reconhecimento do espaço sanitário, que extrapola os limites político-admi-nistrativos de um município”, observa Marcelo Gouvêa. Em sua avaliação, esse reconhecimento do espaço sani-tário é especialmente importante para as cidades de regiões metropolitanas, que já estão conurbadas. “O cidadão mora em um município, trabalha em

Decreto 7.508 estabelece importantes conceitos para o SUS, como as regiões de saúde e o mapa da saúde, mas gestores e entidades ainda não veem caminhos certos para a implantação das mudanças

outro e seus filhos estudam em um terceiro”, destaca.

César Vieira concorda com o secre-tário. Ele afirma que um dos avan-ços da regulamentação é colocar a regionalização no cerne da organi-zação do SUS. “O decreto coloca os gestores das três esferas de governo — municípios, estados e União — para trabalharem juntos na pers-pectiva regional. Assim poderemos saber quais os recursos de saúde que existem e como eles podem ser aprimorados”, diz.

Em posição semelhante quanto à re-gionalização da saúde, em substituição à municipalização mantida até agora pelo SUS, está o secretário de Saúde de Minas Gerais, Antônio Jorge de Souza Marques. “O maior benefício da medida é a possibilidade de identifica-ção clara das necessidades de saúde de uma região. Por meio dessa identifi-cação, alcançaremos as soluções e os investimentos regionalizados”, destaca Antônio Jorge ao informar que, no estado, cerca de 14 milhões de seus 19,15 milhões de habitantes acessam, exclusivamente, os serviços do SUS. Em 2010, Minas contabilizou, pelo sistema, 1.504.474 procedimentos hospitalares, e 354.209.563 atendi-mentos ambulatoriais.

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saúde públ ica

Associações interfronteiras

César Vieira ressalta que outro avanço do decreto é permitir a as-sociação para implantarem-se redes compartilhadas e complementares de serviços, entre municípios vizi-nhos situados em estados diferentes e em outros países. “Temos regiões no Brasil, como a formada pelos municípios de Benjamin Constant e Tabatinga, situados no Amazonas, na tríplice fronteira Brasil - Peru - Colômbia, onde a população circula pelos três países. O mesmo acontece em Foz do Iguaçu, cidade situada na fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina. Se há uma formalização da região de saúde, com a distribuição de responsabili-dades para a criação de uma rede complementar e compartilhada, melhoram o atendimento e a gestão dos recursos para as populações fronteiriças dos países envolvidos. Hoje, os brasileiros que vivem nas fronteiras não têm atendimento local em saúde. Via de regra, pre-cisam se deslocar para a capital do estado”, destaca.

O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, observa que, apesar de já haver compartilhamento de serviços de saúde em alguns casos de fronteiras estaduais, ainda há, em outras regiões, a obstrução de acesso aos serviços de saúde para cidadãos de municípios vizinhos de outros estados. “No sul de Minas, temos um problema grave de obstrução em relação a São Paulo. Caso semelhante ocorre com moradores de municípios goianos

vizinhos ao Distrito Federal. Mas estamos abrindo uma discussão entre os estados para que isso seja solucionado”, assegura.

Helvécio Magalhães informa que o Brasil, de maneira informal, já tem cerca de 400 regiões de saúde identificadas. “O mérito da regula-mentação é formalizar essas regiões de saúde, com força de um decreto presidencial. Isso muda a forma dos gestores se organizarem”, assinala.

Como se dará essa nova organiza-ção dos gestores sanitários dentro da região de saúde é, na avaliação do secretário de saúde de Belo Horizonte, Marcelo Gouvêa, um dos desafios trazidos pela nova regulamentação. “Se existe a região sanitária, que extrapola os limites do município, é de se pressupor também responsabilidades compar-tilhadas, sem que isso signifique desresponsabilizar o município, especialmente no que diz respeito à atenção primária à saúde”, pondera.

Contrato Organizativo

O secretário de Atenção à Saúde explica que as responsabilidades de cada ente que compõe uma re-gião de saúde estarão formalizadas no Contrato Organizativo da Ação Pública de Saúde, outra inovação do Decreto 7.508. “A relação dos gestores que hoje é por pacto, uma mera demonstração de vonta-de, vai estar formalizada por meio do contrato. Nele estará descrito qual a responsabilidade de cada ente envolvido no processo — prefeitos, governador e ministro.

Estarão definidos também quanto de recurso cada um deve colocar e os resultados que devem ser alcançados”, informa.

Helvécio Magalhães lembra que o documento terá força legal e poderá ser executado pelo Ministério Pú-blico, em caso de descumprimento pelos gestores, com base na Lei de Responsabilidade Sanitária. Ele estima ter 40 contratos formalizados entre gestores de regiões de saúde até o final do ano. ►

>>De acordo com o secretário de Saúde de Minas Gerais, Antônio Jorge de Souza Marques, a regulamentação irá permitir a identificação clara das necessidades de saúde de cada região

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saúde públ ica

Consórcios operacionais

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, informa o secretário de saúde da capital, Marcelo Gouvêa Teixeira, um consórcio intermunicipal está em formação para ser opera-cionalizada uma região de saúde. A Aliança para a Saúde já congrega sete municípios — capital, Nova Lima, Sabará, Caeté, Santa Luzia, Vespasiano e Ribeirão das Neves. Outras 24 cidades, entre elas Betim e Contagem, já manifestaram a intenção de ingressar no consórcio e aguardam, para formalizar a decisão,

a aprovação pelas respectivas Câma-ras Municipais de lei que autoriza a medida. “O consórcio será o braço operacional da região da saúde. A gestão da rede compartilhada será feita pelos municípios parceiros da região de saúde”, explica.

O secretário afirma que o contrato a ser formalizado entre os parceiros da região de saúde vai contemplar um plano de ação regional, metas de tempo e qualidade de atendimento. “Estamos na expectativa da normatiza-ção adicional pelo Ministério da Saúde, para a definição de quais indicadores serão explicitados. Hoje, esses indi-cadores, como a taxa de mortalidade infantil, com metas de redução, estão nos planos municipais de saúde“, diz.

César Vieira, do Ibedess, lembra que a criação mineira dos consórcios intermunicipais, já bastante difundida no Brasil, especialmente, em São Paulo e no Paraná, é uma experiência de regionalização que deve ter sido levada em consideração pelo governo federal na formatação do novo modelo de organização do SUS. O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, admite que o instrumento foi uma das fontes de inspiração para o novo desenho. “Algumas experiências ajudaram a inspirar sim o novo modelo. Esta-mos colocando os consórcios como ferramenta da área de gestão para as regiões da saúde”, acrescenta.

Hierarquização do acesso à saúde

O decreto 7.508 definiu como portas de entrada para o acesso às ações de saúde mantidas pelo SUS os serviços

de atenção primária, de urgência e emergência, de atenção psicossocial e os específicos para pessoas que, em razão de agravo ou situação laboral, necessitam de atendimento especial. A regulamentação tam-bém permite aos entes federativos criar novas portas de entrada, em função de características peculia-res da região de saúde, desde que apresentem justificativas técnicas e respeitem o acordo pactuado nas comissões intergestoras.

Para César Vieira, a definição formal da atenção primária como porta de entrada para os serviços de saúde é uma medida essencial para o SUS. “No Brasil, temos a questão da superespecialização, uma situação exacerbada, daí a necessidade de se hierarquizar, com a atenção primária como porta de entrada, para se aces-sar dentro do sistema de saúde os serviços mais especializados”, opina.

O consultor técnico do Ibedess de-fende a retomada da tradição, muitas vezes esquecida no país, do médico de família. “Nesse sentido, temos os Programas de Saúde da Família (PSF), mas que ainda precisam ser aperfeiçoados. Outro gargalo é a falta de profissionais necessários a esse atendimento, os médicos genera-listas. Precisa haver uma mudança cultural por parte dos médicos, hoje voltados para a especialização. A universidade deve ser indutora desse processo”, recomenda.

Segundo o diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, André Christiano dos Santos, médico de família e comunidade, a definição do decreto é válida, mas ainda há

<<O secretário de Saúde de Belo Horizonte, Marcelo Gouvêa, destaca que um consórcio intermu-nicipal está em formação para ser criada uma região de saúde nas proximidades da capital

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retrancasaúde públ ica

64 mil hospitais, clínicas e serviços credenciados;

36,8 mil Unidades Básicas de Saúde;

2 milhões de profissionais em atuação;

3,2 bilhões de procedimentos ambulatoriais;

11,3 milhões de internações no SUS ao ano.

Fonte: www.portalsaude.saude.gov.br

Números do SUS no Brasil:

questões a serem solucionadas. “Reconhecemos que a atenção básica é a principal coordenadora do cuidado em saúde”, diz. “Mas há problemas, como a alta rotati-vidade de profissionais na atenção primária, entre os quais ainda há muitos recém-formados. O despre-paro e a falta de fixação dificultam o trabalho que, idealmente, deve ser de longo prazo com os pacientes”, ressalta, lembrando que a presença de recém-formados se dá, princi-palmente, em cidades menores. “Defendemos a carreira nacional do SUS como solução. Com ela, profis-sionais teriam interesse em conti-nuar no setor público, e os médicos não ficariam expostos aos gover-nantes, com contratos precários e sem garantias para permanência na função”, observa.

Mapa da Saúde

Outro importante instrumento para a gestão da saúde introduzido pela nova regulamentação é o mapa da saúde. “O mapa vai mostrar qual a população a ser atendida em cada região e o que se tem de atendi-mento em saúde no país, inclusive a rede privada será também con-tabilizada, seja ela conveniada ou não ao SUS. Isso é uma inovação importantíssima, diz César Vieira, do Ibedess.

O secretário de Saúde de Belo Horizonte, Marcelo Gouvêa, também destaca a importância do mapa para a gestão da saúde. Segundo ele, o instrumento será uma radiogra-fia epidemiológica da região, com a identificação da população no território, dos riscos e agravos a que ela está exposta. “Isso vai permitir a intervenção, o manejo desse risco

sanitário e o planejamento das ações de prevenção, de tratamento de trauma, de prevenção dos agravos identificados“, detalha.

Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde, lembra ainda que um dos componentes dos parâme-tros do mapa será o levantamento dos recursos humanos disponíveis em cada região de saúde. “Vamos saber onde faltam recursos hu-manos, em que áreas e ainda os motivos dessas lacunas. Se não há profissionais por problemas de estru-tura, em função dos salários ou pelos dois motivos. Com isso, os gestores poderão buscar soluções”, informa.

Renases e Rename

Marcelo Gouvêa vê desafios, inclusi-ve jurídicos, para a elaboração tanto das Relações Nacionais de Ações e Serviços de Saúde (Renases), quanto de Medicamentos Essenciais (Rename). A regulamentação deter-mina que o Ministério da Saúde, no âmbito nacional e em conformida-de com as diretrizes da Comissão

Intergestores Tripartite (CIT), elabore as relações. Os documentos serão referência nas regiões de saúde das ações e serviços básicos obrigatórios e ainda para a distribuição de medi-camentos pelo SUS. De acordo com a assessoria de imprensa do Ministé-rio da Saúde, ainda não há previsão para a publicação da primeira edição da Rename e da Renases.

Estados, distrito federal e municípios poderão definir listas complementares. Como a Constituição brasileira estabe-lece a universalidade e integridade da saúde, pondera Marcelo Gouvêa, se houver regiões com serviços e disponi-bilidade de medicamentos diferencia-dos, poderá estar se criando categorias diferentes de cidadãos.

“Se o cidadão de uma determinada região de saúde tiver acesso a servi-ços mais amplos e a uma quantida-de maior de tipos de medicamentos, isso vai gerar polêmicas técnico-as-sistenciais, políticas e jurídicas. Mas esse debate, de como encaminhar a progressividade até se alcançar a universalidade e integridade da saúde, é necessário”, sustenta.

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tação por si só não é suficiente. “Definições já estão mais formatadas e isso é um avanço. No entanto, temos a cons-ciência de que ainda falta dinheiro — valor que, de acordo com o ministro Alexandre Padilha, é de R$ 45 bilhões adicionais anuais”, completa.

Opção de fonte inicialmente apoiada pela presidente Dilma, a Contribuição Social para Saúde (CSS) não teve suporte na Câmara. O destaque do DEM, votado em 21 de setembro, retirou a base de cálculo do imposto, que vincularia 0,1% das movimentações financeiras a gastos do setor. Assim, apesar de não ter extraído totalmen-te a CSS do texto, a Câmara inviabilizou sua criação, por enquanto.

No Senado, o clima para aprovação do novo imposto não é favorável na atual conjuntura. Segundo reportagem pu-blicada no jornal Folha de S. Paulo, em 26 de setembro, apenas 11% dos 81 membros apoiariam a criação do imposto, enquanto 63% responderam negativamente. Já quando questionados sobre a retomada do texto original da lei complementar, que vincula 10% da receita corrente da União à saúde, 53% foram a favor e 16%, contra.

Entre outras opções levantadas como fonte de verba estão royalties do pré-sal ou a taxação de grandes fortunas e altos volumes de movimentação financeira.

Ajuste na gestão

Caso a regulamentação seja aprovada, muitos governos terão que rever seus planejamentos para a saúde. Isso porque os gastos no setor, em diversos estados e muni-cípios, são promovidos, atualmente, com base em cri-térios próprios (definidos, por exemplo, pelos Tribunais de Contas). Esses não levam em conta, muitas vezes, a resolução 322/03 do Conselho Nacional de Saúde ►

Destino incerto

Arecente aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de Lei Complementar que regulamenta a Emenda Constitucional 29 não encerrou o debate sobre os gastos em saúde pública no país. De retor-

no ao Senado, local de origem da proposta, a PLP 306/08 ainda gera divergências e não tem previsão de quando chega a plenário. Em meio a pressões de políticos, governantes e entidades ligadas à saúde, os senadores devem avaliar se o estabelecimento de critérios e porcentagens para investimen-tos na saúde é medida suficiente — e, nesse caso, aprovam a proposta sem alterações —, ou se a criação de nova fonte de renda para o setor é necessária.

Novo imposto?

Segundo o texto aprovado pelos deputados, municípios devem aplicar no mínimo 15% da arrecadação de impos-tos em saúde. No caso dos estados, o valor é de 12%. Já a União deve corrigir os gastos do ano anterior de acordo com a variação nominal do PIB.

A alegação dos governos, nesse sentido, é de que, para cumprir o que pretende a regulamentação, precisam de maior repasse de verba por parte da União. O governo federal, por sua vez, declara que é inviável transferir mais dinheiro sem a criação de um novo imposto.

O impasse não foi resolvido na Câmara, cuja proposta aprovada não aponta uma nova fonte de receita. Contudo, deputados não negam a necessidade de mais verba para o setor. “A regulamentação aprovada na Câmara impede a ‘maquiagem’ dos gastos, mas o Senado pode sim debater sobre alguma forma de fonte adicional. É lá mesmo que ela deve ser discutida”, afirma o deputado federal Saraiva Feli-pe, presidente da Comissão de Seguridade Social e Família.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Carvalhaes, concorda com o fato de que a regulamen-

Apesar do avanço na EC 29, verba da saúde pública ainda é aplicada em outras áreas e permanece discussão entre municípios, estados e União

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Destino incerto (CNS) — cuja definição de ações e serviços de saúde é a mesma presente na proposta de Lei Complementar.

Denúncias promovidas por meios de comunicação ao longo deste ano mostraram a chamada “maquiagem” de gastos na saúde em metade dos estados brasileiros, além de diversos municípios. A crítica é baseada em dados do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (Siops), do Ministério da Saúde, que avalia orça-mentos, quantia gasta no setor por cada estado/município e modo como o dinheiro foi aplicado.

Os governos computaram como serviços de saúde apo-sentadoria de servidores públicos, obras de saneamento básico, financiamento habitacional, entre outros.

Minas no alto do ranking

Segundo os relatórios disponíveis no Siops relativos a 2008 — último ano divulgado até o fechamento desta edição —, apenas 13 estados aplicaram especificamente em saúde o valor definido na Constituição. Com base na análise daquele ano, Minas Gerais é o segundo estado com menor investimento, quando se consideram as definições do Con-selho — atrás apenas do Rio Grande do Sul.

De acordo com o Relatório Resumido de Execução Orça-mentária, publicado pelo Balanço Geral dos Estados no ano de 2008, Minas investiu 13,12% da sua receita na saúde pública — valor acima dos 12% exigidos pela EC 29. Já segundo Análise de Balanços efetuada em confor-midade com as Diretrizes da Resolução CNS e Emenda 29, o percentual cai para 8,65%.

“Órgãos do governo — como Polícia Militar, Instituto de Previdência (Ipsemg), Fundação Estadual do Meio Ambiente, entre outros — recebem investimento como se isso fosse ação de saúde pública”, explica a promotora de Justiça de Defesa da Saúde Josely Ramos Pontes, que moveu ação contra o Estado de Minas Gerais por gastos indevidos com a saúde em dezembro de 2010. “Se eu for ao Hospital Militar, vou ser atendida? Não vou. Então, não é saúde pública”, completa.

A denúncia de Josely Pontes se refere à verba do estado declarada ao Tribunal de Contas como sendo de saneamen-to básico, vinda do orçamento da saúde, e que, segundo o governo, foi repassada à Companhia de Saneamento de

São ações e serviços de saúde: vigilância em saúde, incluindo a epidemiológica e a sanitária;

atenção integral e universal à saúde em todos os níveis de complexidade;

capacitação do pessoal de saúde do SUS;

desenvolvimento científico e tecnológico e controle de qualidade promovidos por instituições do SUS;

produção, aquisição e distribuição de insumos para os serviços de saúde do SUS;

saneamento básico de domicílios ou de pequenas comunidades;

saneamento básico dos distritos sanitários especiais indí-genas e de comunidades remanescentes de quilombos;

manejo ambiental vinculado diretamente ao controle de vetores de doenças;

apoio administrativo realizado por instituições do SUS;

gestão do sistema público de saúde e operação de unida-des prestadoras de serviços públicos de saúde;

remuneração do pessoal de saúde em atividade nas ações de que trata o artigo, incluindo os encargos sociais;

construção, ampliação e reforma de estabelecimentos de saúde do SUS.

Não são considerados serviços de saúde: pagamento de aposentadorias e pensões, inclusive dos

servidores da saúde;

pessoal ativo da área de saúde quando em atividade alheia à área;

assistência à saúde que não atenda ao princípio de aces- so universal;

merenda escolar e outros programas de alimentação;

saneamento básico financiado ou que vier a ser mantido com recursos provenientes de taxas, tarifas ou preços públicos;

limpeza urbana e remoção de resíduos;

assistência social;

preservação e correção do meio ambiente realizadas pelos órgãos de meio ambiente dos entes da Federação ou por entidades não governamentais;

obras de infraestrutura, ainda que realizadas para benefi-ciar direta ou indiretamente a rede de saúde;

ações e serviços públicos de saúde custeados com recursos distintos dos especificados na base de cálculo definida na Lei ou vinculados a fundos específicos distintos daqueles da saúde.

Fonte: www.camara.gov.br/proposicoesWeb/

fichadetramitacao?idProposicao=394079

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Minas Gerais (Copasa). De acordo com a promotora, sa-neamento básico é considerado ação de saúde, mas só pode ser incluído no relatório de prestação de contas se for ação não tarifada, o que não era o caso. “O sistema de esgoto é tarifado, a Copasa cobra da população pela prestação desse serviço, por isso a inclusão dessa verba no relatório é irregular”, afirma, lembrando que a ação condenatória contra o estado, para ressarcir os fundos, está em fase pericial.

Em nota, o governo de Minas afirmou que “cumpre regu-larmente suas despesas com a saúde, obedecendo aos critérios definidos pela Instrução Normativa 19/2008 do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e reafirma os resultados alcançados como atestado da sua política para o setor”.

O lugar da saúde

De acordo com Saraiva Felipe, a “maquiagem” no setor é mais comum no âmbito estadual do que municipal. Além disso, entre os estados, aqueles das regiões Norte e Nordeste cumprem melhor a porcentagem exigida do que “aqueles considerados mais ricos na realidade brasileira, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul”, diz. Ele expli-ca que os estados alegam que o orçamento é apertado demais para conseguirem destinar os 12% à saúde. “O que nos causa estranheza é o fato de os estados mais po-bres da federação cumprirem, no geral, os 12%”, afirma.

Para o coordenador da Comissão de Orçamento e Financia-mento do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Luiz Elio-terio, a questão está relacionada ao que os governos veem como mais importante entre os possíveis investimentos. “Eu vejo que esses estados não têm a saúde pública como prioridade, uma vez que, em 2008, 13 deles — incluindo Minas Gerais — não cumpriram a Emenda 29”, observa.

Aloísio Tibiriçá, conselheiro do CFM e coordenador

da Comissão Nacional Pró-SUS

“A regulamentação é uma das principais bandeiras das entidades médicas do país.”

Saraiva Felipe acredita que os gastos na saúde não são vistos, pelas equipes econômicas das esferas de governo, como investimento. “Falta entendimento de que essa é uma área vital. As equipes pensam na saúde como o setor em que eles podem comprimir gastos — o que não dá para fazer, por exemplo, com a aposentadoria.”

Regulamentar é solução?

As opiniões a respeito da necessidade de Lei Complemen-tar à EC 29 para seu cumprimento variam. O conselhei-ro do CNS Fernando Luiz Elioterio diz que, na visão de alguns, a emenda nem mesmo precisaria de regulamenta-ção. “Há especialistas que dizem que a emenda é autorre-gulamentada, não havendo necessidade dessa Lei Comple-mentar.” Contudo, a regulamentação tem sido apoiada por diversos setores da sociedade, na esperança de que, com uma definição mais clara do que são ações e serviços de saúde, o orçamento seja mais rigorosamente cumprido.

Para o conselheiro do CFM e coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS, Aloísio Tibiriçá, a regulamentação, que é uma das principais bandeiras das entidades médicas do país, viria para “melhorar em parte a situação dos gastos em saúde, impedindo que alguns governos façam o que fazem atualmente, que é colocar gastos com outras finalidades como investimento no setor”, diz. Ele acrescenta que isso traria cerca de R$ 15 ou R$ 20 bilhões a mais para a saúde.

Josely Ramos Pontes, promotora de Justiça de Defesa da Saúde

“Se eu for ao Hospital Militar, vou ser atendida? Não vou. Então, não é saúde pública.”

Saraiva Felipe alerta que, mesmo sendo um passo para a evolução da saúde pública, a Lei Complementar não deve ser vista como solução. “A entrada desse recurso não resolve a questão das tabelas defasadas, a necessidade de inclusão de novas terapias, salários mais adequados aos profissionais de saúde etc”, ressalta.

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ét ica médica

As crescentes mudanças de hábitos e compor-tamentos da sociedade e o rápido desenvolvi-mento científico trazem, cada vez mais, dilemas éticos para o exercício da medicina.

Quando o assunto é a reprodução humana assistida, uma das áreas de maior evolução nos últimos anos, as dúvidas se agravam. Onde a humanidade chegará sem a clara definição dos limites éticos para aplicação dos conhecimentos científicos acumulados? Há quase 20 anos, o Brasil conta com normas, emitidas pelo Conselho Federal de Medicina, para orientar a conduta ética de seus médicos em procedimentos de reprodu-ção assistida.

As regras não têm força de lei, mas médicos infrato-res podem até perder o direito de exercer a profissão. Clínicas que desobedecem as normas éticas do CFM também estão sujeitas a penalidades como a cassação de seu registro.

A mais recente atualização dessas regras foi publicada no último mês de janeiro, com a edição da Resolu-ção CFM nº 1.957/2010, que substituiu a CFM nº 1.358/1992, a primeira a tratar do tema no país. Na avaliação de Cláudia Navarro, ginecologista com 20 anos de experiência na área de reprodução humana e conselheira do CRMMG, a principal alteração determina-da pela nova resolução é o estabelecimento de um limite do número de embriões que podem ser transferidos num procedimento de reprodução assistida, escalonado em função da idade da paciente.

Embora o CFM mantenha o limite máximo de quatro embriões por paciente, pela nova normativa, mulheres de até 35 anos podem receber até dois embriões. Para pacientes entre 36 e 39 anos, é permitida a transferên-cia de até três embriões e às receptoras de 40 anos ou mais podem ser transferidos quatro embriões.

Reprodução humana assistida em evolução

Avanço tecnológico

Segundo Cláudia Navarro, a redução do limite de embriões transferidos para pacientes mais jovens é resultado do avanço das técnicas de reprodução assisti-da, que vêm obtendo ascendentes taxas de sucesso por tentativa de fertilização.

“As condições laboratoriais que conseguimos hoje para os meios de cultura favorecem a evolução do embrião, por isso é desnecessário transferir para uma paciente com até 39 anos quatro embriões”, concorda João Pedro Junqueira Caetano, médico especialista em reprodução assistida, diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e membro da Câmara Técnica de Reprodução Humana do CRMMG.

De acordo com o médico, em 1980, dois anos após o nascimento do primeiro bebê de proveta, a britânica Louise Brown, apenas 20% de mulheres com até 35 anos de idade que se submetiam aos tratamentos de reprodução assistida conseguiam engravidar. Em 2000, a taxa de sucesso subiu para 40%. Hoje, cerca de 60% das pacientes, com até 35 anos, tratadas em reprodução assistida ficam grávidas.

A medida, observa Cláudia Navarro, tem ainda uma justificativa pertinente: reduzir a ocorrência de gravidez múltipla, um dos principais complicadores do tratamento em reprodução assistida.

“A gravidez já é considerada de alto risco apenas por ser múltipla. Pode trazer sérias complicações tanto para a gestante quanto para os fetos e recém-nascidos a médio e longo prazos”, adverte o presidente da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Marcelo Lopes Cançado. O médico explica que, para a mulher, a gravidez múltipla potencializa os riscos de diabetes gestacional, distúrbios hipertensivos, trabalho de ►

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parto prematuro, aumento na incidência de mortalidade materna, dentre outros. A prematuridade é ocorrência frequente em gravidez múltipla, podendo causar danos neurológicos severos e definitivos. Marcelo Cançado informa que historicamente a incidência de gravidez múl-tipla dentre as mulheres que engravidavam por meios de reprodução assistida era de 30% a 50%, havendo uma tendência mundial na redução desses números.

Controle econômico

O presidente da Sogimig vê razões de ordem econômica para a limitação do número de embriões transferidos. “A medida é uma prática utilizada há mais tempo nos países em que a medicina é pública e mantida pelo governo, em função dos altos custos — para o estado — do tratamen-to para os recém-nascidos prematuros que demandam atendimento em unidades de tratamento intensivo e das possíveis complicações futuras decorrentes do mesmo processo. Há uma regulamentação já estabelecida e em constante evolução nesse sentido”, afirma.

Para garantir taxas de sucesso altas, mesmo com a redu-ção do número de embriões transferidos, Marcelo Can-çado considera que se faz necessário manter constantes

as evoluções nos processos laboratoriais que envolvem conhecimentos embriológicos. “Temos um grande nú-mero de embriões que apresentam problemas genéticos, por isso, considerável parte das tentativas de reprodução assistida são infrutíferas ou resultam em abortos. Dessa forma, diagnósticos pré-transferência embrionária podem contribuir com um aumento significativo das taxas de sucesso, mesmo com um número reduzido de embriões transferidos”, diz.

Ele lembra, porém, que a manipulação de embriões sem-pre provoca reflexões éticas, filosóficas e religiosas. “Por isso, o caminho desenhado é trabalhar com um número cada vez menor de óvulos e de embriões e congelar o excedente de óvulos, já que não há nenhum impedimento em desprezar óvulos caso necessário”, ressalta.

Reprodução post mortem

Um avanço da nova resolução, consideram os espe-cialistas, é a permissão para a reprodução assistida post mortem, que libera o uso, para fins reprodutivos do material biológico criopreservado de um paciente, após a sua morte, desde que antes de seu falecimento ele tenha manifestado esse desejo por escrito. “Essa já era uma prática das clínicas de reprodução assistida, referenciada por decisões judiciais, que a nova resolução consolidou”, diz João Pedro Junqueira Caetano.

No entendimento de Cláudia Navarro, a medida é reflexo da evolução dos costumes. “Práticas antes consideradas pouco convencionais hoje são socialmente aceitas e as normas éticas têm que acompanhar essa transforma-ção”, sustenta. A médica observa que hoje já é comum que homens e mulheres diagnosticados com câncer pro-curem os recursos da reprodução assistida a fim de pre-venir uma futura infertilidade, situação já comum para pacientes que se submetem a tratamento quimioterápi-co. O processo pode ser realizado a partir do congela-mento de embriões já fertilizados. Isso acontece quando o paciente já tem um parceiro, e o casal, previamente, se beneficia dos recursos da reprodução assistida.

Homens e mulheres solteiros podem se valer também do procedimento, para prevenir uma futura infertilidade e, no caso, o sêmen ou óvulos são congelados e, ainda que o paciente venha a se tornar infértil, poderá com o uso de seu material biológico ter filhos. Com a permis-são para a reprodução assistida post mortem, o embrião, sêmen ou óvulo congelado poderá ser usado pelo par-ceiro ou parentes do paciente para fins de reprodução, mesmo após a sua morte, desde que ele tenha deixado uma autorização formal para o procedimento. “É preciso ►

<<Para Cláudia Navarro, gine-cologista e conselheira do CRMMG, as normas éticas devem acompanhar as mudanças na sociedade

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que os médicos e a sociedade em geral tomem conhe-cimento dessa norma ética, porque a autorização por escrito evita a abertura de um processo judicial para que a questão seja resolvida”, adverte Cláudia Navarro.

Casais homoafetivos

Outra novidade trazida pela resolução que se baseia na evolução dos hábitos da sociedade é a mudança no texto da resolução no tratamento dado aos beneficiários das técnicas de reprodução assistida. Em 1992, a norma indicava que “toda mulher, capaz nos termos da lei, que tenha solicitado e cuja indicação não se afaste dos limites desta resolução, pode ser receptora das técnicas de RA, desde que tenha concordado de maneira livre e consciente em documento de consentimento informado”. Na nova resolução, a expressão “toda mulher” foi substituída por “toda pessoa”, para incluir a possibilidade de que casais homoafetivos sejam tratados com as técnicas de reprodução assistida.

Cláudia Navarro explica que embora o texto da nova resolução não diga isso de forma clara, permite a interpre-tação de que casais homossexuais possam ser usuários das técnicas de RA. Inclusive, à época da publicação da normativa, o presidente do CFM se manifestou publica-mente sobre o assunto, em defesa de que, sob o ponto de vista ético, para a entidade, os casais homossexuais podem se beneficiar das técnicas de reprodução assistida.

“A norma de 1992 já era avançada para a época, por-que falava de ‘toda mulher’, sem obrigatoriedade de que a paciente fosse casada ou estivesse em uma relação es-tável. O que na prática permitia que uma mulher solteira pudesse se submeter ao tratamento para ter filhos, a chamada produção independente”, destaca João Pedro Junqueira. De fato, a única referência da antiga reso-lução a mulheres casadas ou em relação estável dizia respeito à obrigatoriedade da paciente em tal situação ter autorização formal do cônjuge para se submeter às técnicas de reprodução assistida.

Proibições

Os especialistas ressaltam que a nova resolução mantém proibições a determinadas práticas, por serem questioná-veis sob a ótica da ética. A sexagem — escolha do sexo do bebê — continua proibida, assim como a comerciali-zação de óvulos e sêmen, e o pagamento para a mulher que ceder seu útero para a gestação no procedimento conhecido popularmente como barriga de aluguel.

Cláudia Navarro lembra que a sexagem, do ponto de vista ético, pode ser considerada um primeiro passo para a

eugenia — prática de manipulação de genes para a criação de raças superiores, defendida por ideologias autoritárias e discriminatórias, como o Nazismo. “A sexagem é um assun-to tão sério que é tratado não só na resolução, mas também no Código de Ética Médica. Profissionais e clínicas que a praticam estão sujeitos à cassação de registro”, afirma. Em casos específicos — doenças genéticas ligadas ao sexo — a sexagem pode ser realizada.

Em se tratando de doação de gametas, os óvulos e o sêmen usados nas técnicas de reprodução assistida com gametas doados, são feitos de forma anônima. A doação é um ato de altruísmo. Não é permitido pagamento em dinheiro aos doadores, nem sequer o oferecimento de outros benefícios. “Para a doação de óvulos há ainda restrições em relação à doadora, que deve estar em próprio tratamento por técnicas de reprodução assistida”, acrescenta Marcelo Lopes Cançado.

No caso do útero de aluguel não pode haver relação comercial entre a doadora e o casal submetido ao trata-mento em RA. Deve ainda haver parentesco, até segundo grau, entre a doadora e a paciente.

“Há de se destacar também que exceções podem ser ava-liadas pelos conselhos regionais de medicina para situa-ções especiais de doação de óvulos e de útero de substitui-ção”, diz Cláudia Navarro. Tais casos devem ser avaliados primeiro pela comissão de ética da clínica responsável pelo atendimento do casal, que, se julgar procedente, encami-nhará o pedido de autorização ao Conselho Regional. O conselho, por sua vez, levará a questão para análise da sua Câmara Técnica de Reprodução Assistida, que emitirá parecer a ser votado pela plenária da entidade.

>>De acordo com Marcelo

Lopes Cançado, presi-dente da Sogimig, a doa-ção de óvulos e sêmen é um ato de altruísmo, não se pode oferecer qualquer

tipo de benefício

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24 Médico das Gerais Outubro de 2011

além da medic ina

Talentos múltiplos

Seja com pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, música ou palavras, há quem tenha um talento especial para revelar

sentimentos por meio da arte. Muitos médicos, além de sensibilidade apurada para diagnósticos ou mãos habilidosas para procedimentos cirúrgicos, têm algo a mais em comum: o amor pela arte.

Vindo de uma família com várias pessoas ligadas ao meio artístico, o ginecologista aposentado Zacarias Oliveira Barbosa acabou escolhendo a pintura para se expressar. Desde a infância, por meio de desenhos, ele já dava sinais de seu talento. A arte ficou um pouco esquecida enquanto ele se manteve ocupado com os estudos de medicina, mas depois que se formou e viveu por alguns anos na Espanha e Esta-

dos Unidos durante a década de 70, o contato com a arte se estreitou e ele começou a pintar. “Fiz alguns quadros durante dois meses, mas o tempo exigido pela profissão acabou me fazendo parar”, conta Zacarias, que na época trabalhava em dois hospitais e em seu consultório.

Desde que passou esse breve período como pintor, o médico nunca deixou de ter o desejo de praticar mais a pintura e, assim que apo-sentou, em 1988, voltou a fazer o que mais gosta. “O processo ocor-reu naturalmente e, quando percebi, já estava atuando profissional-mente e sendo convidado para exposições”, lembra. Ele ressalta que um grande impulso foi dado em sua carreira de pintor depois que mostrou seus trabalhos para uma amiga proprietária de uma galeria de arte em Belo Horizonte. “Ela me encaminhou para o professor de pintura Orlando Castaño e também fiz cursos de filosofia e história da arte com o filósofo Moacir Laterza; e de arte, em Barcelona. A partir daí fui só me aperfeiçoando”, conta. Zacarias já expôs seus quadros no gabinete do ex-prefeito de Belo Horizonte Célio de Castro, no Espaço Cultural do Banco Central e até em outros países. No espaço Cultural Otto Cirne, da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), ele já participou de cinco exposições.

Talentos múltiplos

>>Zacarias Oliveira Barbosa

passou a praticar mais a pintura após se aposentar, em 1988

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Outubro de 2011 Médico das Gerais 25

além da medic ina

Talentos múltiplos

Estilo próprio

Assim como Zacarias, o cirurgião plástico João Marcos Pedroso Alva-renga, de Lavras, também teve seu interesse pela arte despertado ainda na infância, quando sua mãe, que gostava de pintar, fazia desenhos para ele colorir. Além da pintura, o médico também começou a de-monstrar interesse pela música, o que o levou a estudar piano e violão.

Ao montar seu primeiro consultório após se graduar, o médico sentiu necessidade de dar ao local algo que conferisse identidade ao espaço. “Queria algo personalizado, com a minha cara, e decidi que pintaria os quadros que o decorariam”, conta. O mesmo aconteceu alguns anos depois, ao adquirir seu apartamento: “Pintei 14 quadros e espalhei alguns deles pelo imóvel”.

A primeira vez que João Marcos expôs seus quadros foi na Secretaria de Cultura de Lavras, a convite do próprio órgão. “Não sabia se meus quadros eram bons o suficiente para uma exposição e fiquei muito feliz por 28 dos 40 quadros que expus terem sido vendidos”, lembra. Depois dessa, o cirurgião-plástico participou de outras exposições em ateliês de Belo Horizonte e na AMMG. “Apesar de às vezes meus qua-dros serem comercializados, encaro a atividade como um hobby”.

Passatempo sério

Foi também como brincadeira que Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, conhecido pelo pseudônimo LOR, tornou-se um dos cartunistas de maior destaque em Minas Gerais. Durante a faculdade de medicina, o especialista em clínica médica e medicina do esporte fazia desenhos para os colegas e caricaturas dos professores. “Nunca imaginei que isso fosse virar uma profissão”, diz.

Pouco tempo depois de sua formatura, em 1972, seu irmão, que é jornalista, fez com que seus desenhos chegassem até o também cartunista Ziraldo. “Ele recomendou que eu enviasse meus desenhos para o jornal ‘O Pasquim’ e, a partir daí, minha carreira nessa área deslanchou e virou uma profissão paralela à medicina. Ziraldo é meu padrinho artístico”, conta. LOR destaca ainda, como colaboradores de seu trabalho, o cartunista mineiro Nilson Azevedo, que o ensinou algumas técnicas; e sua esposa, a artista plástica Thalma Rodrigues, que contribui com seu senso crítico.

Desde quando começou a desenhar profissionalmente, em 1973, LOR já publicou cerca de 5 mil desenhos em forma de charges, ilustrações e cartuns. “No começo eles eram uma expressão do meu desabafo contra a ditadura e eram incentivados por motivos políticos e cultu-rais. Hoje, trabalho com assuntos mais leves”, conta. Ele já ilustrou diversos livros e foi premiado em salões de humor nacionais e interna-cionais. LOR é chargista da Médico das Gerais e, há quase nove anos, do Jornal da AMMG.

Talentos múltiplos

>>LOR já publicou cerca de 5 mil desenhos,

entre charges, ilustrações e cartuns

>>João Marcos Pedroso

Alvarenga vê a pintura como um hobby

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26 Médico das Gerais Outubro de 2011

dia a d ia

Dicas úteis

Se você tem pouca familiaridade com o computador, não sabe navegar na internet, deseja aprender a fazer pesquisas bibliográficas, enviar e-mails ou usar redes sociais, marque uma aula na Biblioteca Virtual da Associação Médica de Minas Gerais. Uma equipe de bibliotecários atende a médicos associados adimplentes, de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h, mediante agendamento. Se você já é internauta, não deixe de conhecer o site www.cdc.inf.br, interligado à rede de bibliotecas da Organização Mundial de Saúde, que oferece mais de 7 mil títulos de revistas científicas em todas as especialidades. O acervo inclui periódicos indexados pelo Medline, Pubmed, Lilacs, entre outros. Outras informações pelo telefone (31) 3247-1633.

Aulas gratuitas

Atenção ao se inscrever em congressos e outros eventos científicos, visando alcançar a pontuação necessária à revalidação de títulos de especialista ou certificados de área de atuação! No último mês de setembro, a Associação Médica Brasileira divulgou alerta de que existem anúncios e peças publicitárias sobre eventos não inscritos na Comissão Nacional de Acreditação (CNA) com a falsa promessa de cré-ditos. Para consultar os eventos científicos devida-mente credenciados, acesse cna-cap.org.br, clicando no link “Atividades”. É possível fazer a busca por especialidade, palavra-chave, mês ou estado do país em que o evento será realizado. Mais informações: (11) 3178-6824 ou [email protected].

Eventos certificados

Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 19 de agosto, apresenta em detalhes as restrições éticas que os médicos, estabelecimentos e instituições vinculadas às atividades médicas devem observar ao elaborar peças publicitárias relacionadas a seus serviços. O documento nº 1.974/2011 acrescenta à norma an-terior sobre o tema, publicada em 2003, informações sobre o alcance das disposições e orientações para sua aplicação. Entre os pontos, destacam-se a proibição de assistência médica à distância — por internet ou telefone, por exemplo —, a vedação ao anúncio de de-terminados títulos e certificados e a extensão das regras a instituições, como sindicatos e sociedades médicas.

Novidades na publicidade médica

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dia a d ia

Publicada no Diário Oficial da União (DOU), no dia 1º de setembro, a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1973/2011 cria três novas áreas de atuação médica: medicina do sono, medicina paliativa e medicina tropical. Área de atuação é um ramo de especialidade médica. Ao ingressar em pro-grama de residência da especialidade infectologia, por exemplo, o profissional pode, a partir de agora, receber treinamento adicional específico na área de medicina tropical.

Novas áreas de atuação

O Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) acaba de conquistar uma vitória inédita no Supremo Tribunal Federal (STF) para os médicos sindicalizados e servidores públicos municipais, estaduais e federais. Pela primeira vez, os profissionais médicos que trabalham em situações insalubres poderão ser beneficiados com a contagem diferenciada para fins de aposentadoria, o que por lei é chamado de aposentadoria especial.

O sindicato destaca que o mandado de injunção para conta-gem diferenciada para aposentadoria é um direito de médicos sindicalizados, filiados ao Sinmed-MG, e em dia com as contribuições. Para saber quais documentos enviar ao Depar-tamento Jurídico consulte o site www.sinmedmg.org.br. Cada caso será avaliado individualmente. Outras informações, pelo telefone (31) 3241-2811 – Departamento Jurídico.

Aposentadoria especial

O crescente número de médicos atuando no serviço público e na saúde suplementar exige, cada vez mais, que a categoria se una em busca de valoriza-ção e melhorias. Mostrar ao futuro médico o que o Sinmed-MG pode fazer por ele e criar, desde o tempo de acadêmicos, uma consciência de classe são os principais objetivos do programa de visitas desen-volvido, há cinco anos, pelo Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Podem participar do programa, as faculdades do estado com curso reconhecido e credenciado pelo Ministério da Educação (MEC). As visitas duram em média duas horas.

Programa para acadêmicos

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cuide-se

Corpo e mente agradecem ao sono saudável

Assim como fazer exercícios físicos ou se alimentar adequadamente, dormir com qualidade é fundamental

para a saúde. O sono tem importante papel na vida do homem, influen-ciando não só condições físicas, psicológicas e sociais, mas também cerebrais. De acordo com a psiquiatra e presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, Sandra Carvalhais, uma boa noite de sono restaura as energias e o ânimo, protege nossa memória, nos deixa mais descansa-dos e bem-humorados, além de ser responsável pelo desenvolvimento do nosso raciocínio.

A neurologista Rosamaria Guimarães afirma que o sono atua no funcio-namento dos sistemas orgânicos — endócrino-metabólico, cardiovas-cular, renal, gastrointestinal —, nas emoções e nas atividades cerebrais. “Dormir é fundamental. A ausência de sono por longos períodos pode levar a quadros de psicose, alucinações e delírios. Ao contrário de ser uma ativi-dade passiva, o sono é uma atividade de intenso funcionamento cerebral, com inúmeras funções, principalmen-te, de memorização, de aprendizado e de conservação de energia”, explica.

Quando se aborda a rotina do médico é difícil não pensar na qualidade do sono que esses profissionais têm. O desgaste resultante do regime de plantões nos hospitais ou nos serviços de emergência associado à privação

ou redução significativa das horas de sono é um dos principais fatores que pode vir a prejudicar o desempenho desses profissionais.

Em muitos casos, os plantões começam após um dia normal de trabalho, o que muitas vezes leva os médicos a ficarem sem dormir por muitas horas seguidas. “Já cheguei a dar mais de 60 horas de plantão em uma semana”, conta Alouisiana Lima, clínica geral do Hospital das Clínicas. Segundo ela, com a preocupação e a tensão dignas de um plantão noturno, fica difícil relaxar. “É difícil a recupera-ção durante a semana, o cansaço e o sono sempre aparecem”, admite.

Consequências da falta de sono

De acordo com Rosamaria, a redu-ção significativa das horas de sono causada pela jornada intensa de plantões pode provocar prejuízos em curto e longo prazo. Em curto prazo, pode acarretar falta de concentra-ção, irritabilidade, labilidade do

28 Médico das Gerais Outubro de 2011

Especialistas explicam como uma jornada intensa de trabalho pode afetar a qualidade do sono

humor, cansaço, sonolência diurna e redução da capacidade de planejar e executar procedimentos. Futuramen-te, a falta de descanso pode originar menor vigor físico, envelhecimento precoce, infecções, obesidade, hiper-tensão arterial, diabetes, ansiedade, depressão, problemas de memoriza-ção e distúrbios cognitivos.

A quantidade de horas que dor-mimos todas as noites também interfere na qualidade do sono. Para a pneumologista especialista em Medicina do Sono e secretária geral da Sociedade Mineira de Pneumo-logia e Cirurgia Torácica, Luciana Macedo, são necessárias oito horas para uma revitalização. “Existem os dormidores curtos, que dormem cerca de quatro horas apenas, e os dormidores longos, que precisam de nove a dez horas de sono por dia para se sentirem bem. Sabemos se estamos dormindo o necessário para nós quando acordamos bem e dis-

postos, indepen-dentemente do número de horas que dormimos”, afirma.

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Outubro de 2011 Médico das Gerais 29

De acordo com a especialista, existem outros fatores que também atuam na qualidade dessa função. O hábito de fumar e usar o computador à noite são alguns exemplos. Ingerir alimen-tos estimulantes próximo da hora de dormir, como chás, café, refrigerante (que contém cafeína) e achocolatado, também são prejudiciais devido às suas substâncias estimulantes, que demoram até oito horas para serem expelidas pelo corpo. Existem também as infecções ou inflamações de via aérea superior que causam obstru-ção nasal e podem trazer dificuldade respiratória e consequentemente difi-culdade de dormir. Outro fator deter-minante é a iluminação do ambiente. “O organismo precisa de pouca luz para indução do sono. Um quarto claro pode causar despertar precoce, logo que amanhece”, frisa Luciana.

Desempenho prejudicado

A privação do sono pode acarretar uma série de distúrbios que influen-ciam o desempenho desses profis-sionais. Um dos mais frequentes é a insônia. Ela pode ser aguda ou crônica. De acordo com Sandra, existem diversos tipos de insônia. A inicial e mais frequente, quando não se consegue dormir; a secundária, que envolve aspectos psiquiátricos como estresse pós-traumático ou uso de medicamentos; o chamado sono intermitente, quando a pessoa acorda várias vezes durante a noite; e a insônia terminal ou despertar precoce, quando se acorda muito antes do que se precisa.

Existem outros tipos de distúrbios re-lacionados ao sono, são eles: sonam-bulismo, terror noturno, síndrome das pernas inquietas (quando o paciente realiza movimentos enquanto está dormindo) e a apneia. Qualquer pessoa, em qualquer idade, pode ma-

cuide-se

Tenha uma rotina com horários bem estabelecidos para funções do dia a dia. Tente ir para a cama e acordar nos mesmos horários, mes-mo durante os finais de semana.

Evite refeições pesadas e líqui-dos tarde da noite. As refeições podem causar indigestão e os líquidos podem fazê-lo ir várias vezes ao banheiro.

Pratique exercícios físicos, dese-javelmente pela manhã, ou até 6h antes de deitar-se.

Tenha um quarto com temperatura adequada, escuro e sem ruídos.

Resolva problemas antes de deitar-se (de preferência, listar obrigações do dia seguinte em uma agenda).

Não fique mais que 40 minutos na cama. Se não conseguir dormir levante e faça algo relaxante (ouça uma música calma, leia um livro, mas resista à TV e ao computador).

Invista em colchões e travesseiros confortáveis.

Não durma por longos períodos durante o dia e após às 15h.

Para ter uma boa noite de sono

Fonte: Adaptado do National Health Information Center (www.health.gov/nhic/)

e dicas da especialista Luciana Macedo, pneumologista e membro da Comissão de Doenças do Sono da Sociedade Mineira de

Pneumologia e Cirurgia Torácica.

nifestar esses distúrbios. Já a insônia é mais frequente em pessoas idosas.

Mesmo nos momentos de descanso, o anestesista Ericson Stehling, que chega a dar até quatro plantões de 24 horas por semana, confessa: “O sono fica prejudicado mesmo. De vez em quando, em casa, acordo várias vezes durante a noite pensando que tem alguém me chamando”.

Possíveis soluções

Os tratamentos variam de acordo com a intensidade do distúrbio e com o organismo de cada pacien-te. “Primeiramente, o médico irá aconselhar a busca por hábitos saudáveis”, afirma Sandra. Algumas alternativas são: tomar chás relaxan-tes, beber leite morno e tomar banho em temperaturas mais quentes. “É preciso entender primeiro o histórico de cada paciente e tratar o problema, antes de receitar algum tipo de medi-camento”, ressalta a especialista.

A saída encontrada pelo anestesista André Barra para driblar o desgaste dos plantões é tentar descansar ao máximo no intervalo entre um e outro e, às vezes, nas horas tranquilas dos plantões noturnos.

>>Para a presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, Sandra Carvalhais, dormir

bem traz benefícios para a memória e para o humor: “Uma boa noite de sono

restaura energias e ânimos”.

>>Para a presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, Sandra Carvalhais, dormir

bem traz benefícios para a memória e para o humor: “Uma boa noite de sono

restaura energias e ânimos”.

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30 Médico das Gerais Outubro de 2011

tempo l ivre

A caminho de destinos naturais

Oecoturismo está caindo no gosto dos brasileiros. É o que comprova uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo (MTur), em parceria com a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturis-

mo e Turismo de Aventura (Abeta). Desde 2009, o setor tem atendido anualmente mais de 5,4 milhões de pessoas, representando um aumento de cerca de R$ 25 milhões no faturamento anual das regiões, em relação a 2008. Isso demonstra que mesmo que o momento econômico brasileiro facilite viagens internacionais, ainda é grande o interesse por conhecer as riquezas de nosso país, sobretu-do as naturais.

Entre os destinos mais procurados está a região do Pan-tanal, situado entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O bioma é amplamente visitado em decor-rência de uma fauna muito expressiva e uma vegetação não muito fechada que possibilita avistar os animais. As paisagens são muito diversificadas e incluem vários lagos, pastagens e pequenas matas. Cerca de 100 mil visitantes buscam a região todos os anos.

“A melhor maneira de conhecer o Pantanal é hospedar-se em uma fazenda e fazer passeios de barco, a cavalo, de jipe ou mesmo a pé”, diz a ultrassonografista de Belo Ho-rizonte Juliana Ribeiro. Ela é grande entusiasta dos roteiros ecoturísticos e já visitou o Pantanal duas vezes. “Da primei-ra conheci a cidade de Bonito (MS) e o Pantanal Sul (MS), onde me hospedei em uma fazenda no meio do nada, toda

cercada por lagos e jacarés. As atrações do lugar eram os bichos, nós saímos para observá-los durante dia e noite e avistávamos muitos pássaros, veados, ariranhas entre outros. A pesca também era possível”, relata.

Bonito até no nome

Já Bonito é referência nacional em turismo ecológico e apresenta infraestrutura bastante desenvolvida para atender seus visitantes, contando com um aeroporto. Não faltam opções de restaurantes, pousadas e pacotes de agências de turismo. A cidade oferece passeios que vão desde um tranquilo mergulho de flutuação pelo cristalino Rio da Prata até um desafiador rapel de 72 metros dentro Abismo Anhu-amas, uma caverna com belas formações rochosas e um lago cristalino.

“Bonito é uma boa opção se você não abre mão do confor-to, mas para quem quer se conectar realmente com a natu-reza a melhor pedida é Nobres (MT), uma cidade rica em fauna, cavernas naturais e lagos”, conta Juliana. A região oferece opções de passeio parecidas às de Bonito, incluin-do flutuações em rios cristalinos, cavernas naturais e rapel, mas com o diferencial de ser mais preservada, menos turís-tica e mais erma, o que facilita focagens animais. A grande atração de Nobres é a Lagoa Azul, um lago de exuberante coloração turquesa localizado dentro de uma gruta no Parque Estadual da Gruta da Lagoa Azul. “Visitei Nobres na

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Outubro de 2011 Médico das Gerais 31

Pratos típicos:

Tacacá: Um prato típico das regiões amazônicas, preparado a base de tucupi — um caldo de mandioca rico em alho e chicória — acrescido de camarões secos graúdos, goma de mandioca e uma planta afrodisíaca chamada jambu. A vendedora de tacacá, ou taca-cazeira, é uma figura típica das ruas de diversas cidades da região.

Peixes da região:

Tucunaré: É um peixe facilmente identificável por uma mancha em formato de olho que possui próximo da cauda. Por ser um peixe que resiste à pesca, é muito procurado por praticantes de pesca esportiva. Sua carne exige um preparo em forno ou caldeiras e as receitas costumam incluir tucupi e folhas de jambu.

Pirarucu: É o peixe símbolo das águas amazônicas e impres-siona por seu tamanho descomunal, que ultrapassa facilmente

segunda vez em que fui à região, quando também conheci o Pantanal Norte, que traz as mesmas opções de passeio que o Sul, mas bem mais rústico”, salienta.

A melhor época do ano para visitar o Pantanal é entre maio e setembro, período de seca. Na época das chuvas os rios pantaneiros chegam a subir até cinco metros em seu nível, o que alaga as planícies e isola muitas localidades. “Faz muito calor durante o ano todo, então recomendo um bom protetor solar e chapéu. Repelente também é necessário, uma vez que há muitos insetos por lá”, recomenda Juliana.

Em meio à selva

A Amazônia é outro bioma brasileiro que possibilita um contato direto com uma natureza praticamente virgem. “É um lugar mítico, do qual todos ouvimos falar desde crianças, seja por meio das lendas ou de sua importância ambiental. Já visitei a região por mais de uma vez e sem-pre me impressiono com suas paisagens exóticas, grande abundância de água, a diversidade de verdes e cultura diferente do restante do país”, revela o psiquiatra Rafael Jacques Cosenza. Em suas viagens, ele já conheceu a região de Manaus (AM) e a cidade Presidente Figueiredo (AM).

tempo l ivre

“Mesmo que as cidades tenham seu charme, o verdadeiro encanto da região está continente adentro. Hospedei-me da última vez em um hotel em Novo Airão (AM) no meio da selva, uma experiência que recomendo a todos”, afirma. Ele conta que, ao contrário do que se pensa popularmente, há hotéis que possuem estruturas extremamente confor-táveis, além de restaurantes que servem pratos típicos como tacacá, costela de tucunaré e pirarucu, além das frutas açaí, cupuaçu e taparebá. “Entre as atrações mais procuradas da região, está andar de canoa nos igapós – uma vegetação que se inunda nas cheias dos rios – e pelo belíssimo arquipélago fluvial de Anavilhanas. Além disso, nadei bastante no Rio Negro e brinquei com botos”.

O psiquiatra recomenda ainda uma visita a Presidente Figueiredo. Conhecida como a “terra das cachoeiras”, a cidade abriga mais de 100 quedas d’água, sendo cerca de 20 abertas à visitação pública. Por mais que não pos-suam grande altura das quedas, as cachoeiras da cidade impressionam por se localizar em meio à floresta Ama-zônica, em locais bastante preservados onde é possível avistar muitas espécies de pássaros. A cidade ainda traz opções de turismo de aventura como escaladas, tirolesa, rapel e descidas em boias.

os 2m de comprimento e 80 Kg quando adulto. Um dos pra-tos mais tradicionais de Manaus é o pirarucu de casaca, prato em que o peixe é seco e salgado como um bacalhau antes de ser preparado.

Frutas nativas:

Taparebá: Também chamada cajá, essa fruta é amarela, azeda e aromática. É bastante apreciada para refrescos, sorvetes e licores.

Cupuaçu: É uma fruta que possui um valor nutritivo muito expressivo, contendo ferro, fósforo e proteínas, além de taninos e vitaminas diversas.

Açaí: Conhecida em todo o país, essa fruta é muito importante na dieta do Norte brasileiro. Para ser consumido, o açaí deve ser primeiramente despolpado em máquina própria ou amassado manualmente, para que a polpa se solte, e, misturada com água, se transforme em um suco grosso conhecido como vinho do açaí.

>>De acordo com a ultrassonografista

Juliana Ribeiro, para quem quer se conectar

com a natureza a melhor pedida é Nobres

>>O psiquiatra Rafael Jacques

Cosenza se impressiona com as paisagens exóticas da Amazônia

>>De acordo com a ultrassonografista

Juliana Ribeiro, para quem quer se conectar

com a natureza a melhor pedida é Nobres

>>O psiquiatra Rafael Jacques

Cosenza se impressiona com as paisagens exóticas da Amazônia

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32 Médico das Gerais Outubro de 2011

retrancaseu va lor

Desde a municipalização da saúde pública, colocada em práti-ca no país a partir da instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990, cerca de 1,5 mil médicos ligados à Secretaria de Estado da Saúde (SES), entre servidores efetivos e aposenta-

dos, acumulam perdas salariais. De acordo com o Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais, o salário básico de um médico da SES é hoje de R$ 1,85 mil, enquanto os profissionais do município de Belo Horizonte têm remuneração básica de R$ 3 mil.

“Com a municipalização da saúde, esses profissionais foram lotados em unidades geridas pelas prefeituras e tiveram a carreira paralisada, tanto que o último concurso para preenchimento de vagas foi em 1992”, diz o presidente do Sindicato, Cristiano Gonzaga da Matta Machado. Ele observa que, em algumas cidades, os médicos da SES que prestam serviços em unidades municipais recebem uma complementação das prefeituras para que seus salários alcancem o patamar dos profissionais do município.

Isso acontece, por exemplo, em Belo Horizonte. Mas a complementação não é incorporada ao salário e, portanto, não é considerada para fins de aposen-tadoria, porque não há contribuição previdenciária do trabalhador sobre ela. “Portanto, mesmo os médicos que a recebem, quando se aposentam, têm seus salários reduzidos à metade”, destaca Cristiano da Matta Machado.

Apagão salarial

De acordo com o médico dermatologista Marílio Malagutti, ex-secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte e membro da Comissão de Mobili-zação dos Médicos da SES, instituída em 2010, com a função de pleitear melhorias salariais para a categoria junto ao estado, a precarização salarial traz consequências danosas aos servidores. “O que vemos hoje são médicos aposentados, com 75, 80 anos, de volta à ativa, em plantões da rede priva-da, para conseguirem sobreviver, o que é um absurdo completo”, reclama.

Malagutti cita o próprio caso para exemplificar a situação salarial dos profissionais. Ele informa que com 65 anos de idade, 37 deles de serviços públicos prestados ao estado, recebe uma remuneração líquida de R$ 1,6 mil, sem contar benefícios a que todos os servidores estaduais têm direito, como os quinquênios. “Como atuo em uma unidade do município de Belo Horizonte, o PAM Campos Sales, recebo uma complementação da Prefei-tura que eleva o meu salário a cerca de R$ 2,8 mil, mas se me aposentar ou quiser gozar de benefícios como as férias-prêmio, perco o complemento.

A verdade é que os médicos da SES vivem um apagão salarial humilhante, que retrata bem a falta de sensibilidade dos vários governos que tivemos no período e seu total descaso com a saúde“, desabafa.

O dermatologista observa ainda que 80% dos 1,5 mil médicos da SES estão no inte-rior. “A situação deles é ainda pior, porque os pequenos municípios não arcam com a complementação que equipara os salários dos médicos da SES aos dos profissionais contratados pelas prefeituras”, destaca.

Novos analistas

Outro problema vivido pelos médicos da SES e que contribui para o enfraquecimento da categoria foi a mudança de nomenclatura do cargo que ocupam. Em 1989, a função exercida pelos médicos passou a se chamar analista de saúde e, em 2005, ocorreu nova transformação e os médicos da SES são ago-ra analistas de atenção à saúde ou especia-listas em políticas e gestão da saúde.

“Jogaram todas as categorias da saúde em uma só carreira. Para o médico ser denomina-do como tal é muito caro, é importante do pon-to de vista da autoestima e, obviamente, eles não aceitam a nova nomenclatura”, salienta o presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, Cristiano Gonzaga da Matta Machado. Malagutti concorda. “Sou analista de atenção à saúde, embora, me pareça, ser o nome mais apropriado ao profissional que analisa a adesão aos planos privados de saúde”, ironiza.

Matta Machado lembra que situação seme-lhante ocorreu com os médicos do Ipsemg, que passaram a ser formalmente chamados ►

Tratados como categoria de segunda classeMédicos da Secretaria de Estado da Saúde têm salário precarizado, sem perspectivas de melhorias

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>>Comissão de Mobili-

zação dos Médicos da SES pleiteia melhorias salariais para a classe

seu va lor

de analistas previdenciários, e da Funda-ção Hospitar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), também mantida pelo estado. “Mas conseguimos reverter a mudança em 2005, na Fhemig, e em 2008, no Ipsemg. Esperamos que aconteça o mesmo com os médicos da SES”, acrescenta.

Dedicação sem reconhecimento

As perdas salariais dos médicos da SES atingem até mesmo profissionais que se aposentaram antes da municipalização da saúde. O cirurgião plástico Edvaldo D’Assumpção, de 73 anos, se aposentou em 1989, do cargo de analista de saúde III, depois de 32 anos de serviços prestados ao estado. O tempo legal de aposentadoria foi alcançado porque nunca gozou de bene-fícios como as férias-prêmio. “Tomei essa decisão porque já estava totalmente des-motivado pelas condições de trabalho e a remuneração”, conta o médico, que chegou a exercer cargo de chefia em uma unidade hospitalar do estado, sem receber qualquer gratificação extra. “Existia a necessidade da função, mas não o cargo. Fiz isso exclusiva-mente pelo espírito de serviço”, explica.

A dedicação do médico, cujo cargo foi transformado em especialista em políti-cas e gestão da saúde, é hoje premiada pelo estado com vencimentos básicos de R$ 1.050,29, aos quais são acrescidos R$ 630,17 por seis quinquênios adminis-trativos e outros R$ 168,05, pagos como adicional trintenário. No total, D’Assumpção recebe R$ 1.848,51. “Esse salário é uma violência”, desabafa, ao contar que escreveu uma carta, em março de 2007, ao então governador Aécio Neves em que solicitava a revisão de seus proventos.

A resposta veio, dois meses mais tarde, por meio de uma correspondência da Chefia de Gabinete de Aécio Neves, que se limitou a anexar uma nota técnica da Diretoria de Contagem de Tempo e Aposentadoria da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. Na nota, a diretora do departamen-to informava que após a análise do caso,

o estado concluiu que “os valores recebidos pelo interessado estão em conformidade com as tabelas de vencimento determinadas pelo chefe do executivo, não havendo, portanto, nenhuma modificação a ser efetuada em seus proventos”.

Outra carta, enviada pela Comissão de Mobilização dos Médicos da SES, em fevereiro do ano passado, solicitou a equiparação salarial aos médicos da Fhemig, que têm remuneração inicial de R$ 3,2 mil, também teve do governo resposta parecida. “Recebemos uma gentil negativa da Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão”, afirma Malagutti.

Na mesma época, a comissão também entregou pessoalmente ao então candidato Antonio Anastasia, hoje governador do estado, carta com as reivindicações da categoria. “Mas até agora, não tivemos uma solução. O governo vem postergando uma resposta”, conta Malagutti.

Dentro da lei

De acordo com o secretário de Estado de Saúde, Antônio Jorge de Souza Marques, os vencimentos das carreiras do Grupo de Atividades de Saúde do Executivo Estadual estão de acordo com a lei. Ele observa que em junho de 2006, os servidores receberam um aumento de 5%, e, em março de 2010, foi aplicado novo reajuste de 10%. Novos acréscimos salariais estão progra-mados ainda para outubro deste ano (5%) e abril de 2012 (5%).

Quanto à solicitação de equiparação salarial com os médicos da Fhemig, o secretário afirma que o assunto vem sendo analisado pela SES, mas a equiparação é matéria privativa do governador, por atribuição legal.

Em relação à mudança da nomenclatura da carreira, uma promessa de Antô-nio Jorge à diretoria do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, em visita à entidade realizada no dia 10 de julho deste ano, reafirma a sua disposi-ção de trabalhar para que o médico seja reconhecido formalmente pelo estado como tal. Mas, novamente, faz a ressalva de que o restabelecimento do cargo e da carreira do médico é matéria de iniciativa privativa do governador do estado.

“Reafirmamos nosso compromisso de defender essa alteração na carreira, não podemos, contudo, prever quando se dará a alteração, uma vez que qualquer alteração de nomenclatura ou estrutura de carreira depende de vários estudos, tanto de viabilidade administrativa quanto financeira, culmi-nando com a aprovação de lei pela Assembleia Legislativa”, conclui.

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causos

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Esse caso ocorreu comigo, Bruno de Almeida Figueira (CRMMG 49301), em mais de um de meus plantões, em São José do Goiabal MG. Só que esse plantão tinha uma particularidade: era um domingo, e pior; um domingo de festa de cavalgada. Uma festa tradi-cional que atrai milhares de pessoas, e com isso, seria até comum atender vários casos de etilismo agudo, só que teve um que chamou atenção.

Parou um carro na porta da UPA, o motorista abriu a porta do carona e gritou:

— Dá uma glicose nele!

Ocorre que o bêbado que desceu cambaleante já era conhecido na cidade e eu também já o conhecia. Perguntei o que ele estava sentindo e ele respondeu já com a fala arrastada:

— Eu “num tô sentino” nada, eu quero um “alvará” “pra mim” ir embora.

Retruquei:

— Mas você não está sentindo nada? Está com vômitos? E ele respondeu:

— Não, doutor, não “vô” mentir não, eu “tô dispono” do “estâmo” sim. “Num tá parano” nem água.

Repetiu a frase acima mais de três vezes e depois completou:

— Engraçado doutor, “num tô” comendo, meu “estamo” num para nem água, mas pinga para, doutor, pinga para...

Trocando o “o” pelo “u” Água não. Pinga sim!

Dr. Joaquim Dutra Câmara, médico psiquiatra na primeira metade do sécu-lo 20 em Barbacena, já se encontrava aposentado e certa vez, ao comemo-rar um dos seus últimos aniversários — faleceu aos 91 anos —, uma incômoda hemorróida o perturba-va naquela semana. Eis que a dita cuja começou a incomodá-lo e ele resolveu seguir depressa para casa a fim de fazer um banho de assento com água morna. Ao passar por uns amigos, eles cientes do aniversário, interromperam sua caminhada:

— Dr. Dutra, meus parabéns pelo aniversário.

— Muito obrigado.

— Estávamos aqui conversando sobre sua idade: Quantos anOs o senhor tem, Dr. Dutra?

— No momento, meu caro, um só e em péssimo estado! Boa tarde a todos!

Fato verídico, ocorrido com o bisavô de José Eugênio Dutra Câmara Filho - CRMMG 21707 - Barbacena (MG).

Haja paciência

Eu, Alais Letícia Giori Guimarães An-drade Oliveira (CRMMG 26707), re-cebi no Centro de Saúde uma senhora acompanhada de seu filho de 4 anos para uma consulta de pediatria. Após as apresentações, iniciei a anamnese:

— Então, dona Fulana, o que está acontecendo com o Sicrano?

— Com quem, ele?

— Sim, com o Sicrano.

— Ele está com diarreia.

— Há quanto tempo?

— Quem, ele?

— Sim.

— Tem mais ou menos quatro dias.

— O Sicrano está vomitando?

— Quem, ele?

— Sim.

— Só vomitou no primeiro dia, mesmo assim, duas vezes.

— A senhora trouxe o cartão de vacinas do Sicrano?

— De quem, dele?

— Sim.

— Não trouxe não senhora.

— Qual tem sido a alimentação do Sicrano?

— De quem, dele?

Aí, já com a paciência esgotada, de tanto “quem, ele?”, disse:

— Não dona Fulana, a minha alimentação.

— Ah, doutora! A alimentação da senhora eu não sei não, se a senho-ra tivesse perguntado dele, eu sabia.

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Outubro de 2011 Médico das Gerais 36

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O médico,

de Dou Gerrit.

Países Baixos. 1613-1675

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37 Médico das Gerais Outubro de 2011

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