revista mundo cana - arysta lifescience - abril 2010 / nº02
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Abril 2010 / nº02TRANSCRIPT
Abril de 2010 | ano 02 | no 02
Berço daCana,o Nordeste apostaem tecnologiaHistórias de profissionais e empresas da região mostram a vitalidade dosetor sucroalcooleiro.
MUNDO CaNa
Maílson da Nóbrega,economista
“A energia ‘verde’ tem um futuro promissor”
Corda-de-viola: esse mal tem cura
Por que a gestão daspessoas é tão importante?
mud
bum
.com
.br
MUNDO CaNa
pág. 10pág. 8
pág. 12pág. 14
pág. 16 pág. 18
pág. 22pág. 20
pág. 5
EntrEvistaMaílson da Nóbrega
A energia “verde” tem um futuro promissor
pág. 4
EditorialAntonio Carlos CostaDiretor de Marketing da Arysta LifeScience
UsinaJapungu Agroindustrial (PB)
Vontade de crescere enfrentar os desafios
UsinaGrupo Arakaki (SP)Investimento em pessoas e tecnologia
UsinaGrupo Jalles Machado (GO)
Alta produtividadee atenção às pessoas
UsinaUsina Seresta (AL)Irrigação por gotejamento
ProdUtorBenon BarretoDecano da economia canavieira do Nordeste
ProjEtos Em canaProjeto Big Bag
Equipamento facilita distribuição de defensivo
PEsqUisaPedro Christoffoleti e acolheita mecanizada
ANO 02 - NÚMERO 02
ABRIL DE 2010
MUNDO CaNa
A revista Mundo Cana é o veículo decomunicação oficial da Arysta LifeScience
para o mercado sucroalcooleiro.
coordenação GeralAntonio Carlos Costa
Adriana Taguchi
supervisãoGustavo Gonella
ProduçãoTexto Assessoria de Comunicações
jornalista responsávelAltair Albuquerque (MTb 17.291)
redaçãoFelipe Fonseca
FotosFelipe Fonseca e Arquivo Arysta
Projeto Gráfico e Design
Ronaldo Albuquerque
Tiragem2.000 exemplres
Arysta LifeScience do BrasilRua Jundiaí, 50 – 4º andar
São Paulo/SP – Brasil CEP.: 04001-904
Telefone: 55 11 3054-5000 Fax: 55 11 3057-0525
consUltorDjalma Euzébio Simões Neto
Avanço acadêmico garante novas variedades de cana
3
pág. 26
artiGoCoriolano Xavier e José Luiz Tejon
Marketing Rural no Brasilpág. 24
manEjoCorda-de-viola:Controle é possível
16
8
24
A alta da atividade sucroalcooleira no Nordeste é um bom termômetro
para se observar claros avanços do setor nesta primeira década do novo
milênio. Um dia porta de entrada dos colonizadores europeus, hoje não
apenas vende etanol e açúcar para o exterior como conquista números
excepcionais de vendas.
Entre as atividades produtivas do Nordeste, a cana ainda é o destaque de
uma lista crescente que inclui, entre outros itens, algodão, frutas e grãos.
Deve-se realçar também a forte atuação da indústria petroquímica, naval e
as universidades, que estão cada vez mais próximas do setor rural, sempre
em busca de melhorias de produtividade e eficiência.
Nessa segunda edição da Mundo Cana, o objetivo foi falar de cases
vitoriosos que brotaram da cana nordestina e que ilustram esse positivo
cenário. As histórias aqui relatadas pela nossa reportagem confirmam a
incontestável importância da região para o crescimento da economia. E
também ilustram a vocação natural do Nordeste na arte de gerir pessoas,
assunto recorrente em nossas reportagens. Afinal, é a energia das pessoas
que move os negócios. A diferença é sempre feita por elas.
Seguimos a trilha de acertos do setor sucroalcooleiro também na direção
de Goiás e do interior de São Paulo. Nestes trajetos, conhecemos usinas,
profissionais e agentes do segmento que ajudam, de forma inovadora, a
compor o mosaico de sucesso do agronegócio do País.
O cenário que se desenha a partir de iniciativas como as que o leitor
encontrará nas páginas seguintes mostra que a expectativa do agronegócio
para o país como um todo é otimista. Espera-se que o Brasil continue
exportando matéria-prima, pensadores e tecnologia.
E como diz o paraibano Maílson da Nóbrega, nosso entrevistado nessa
edição, o Brasil já virou gente grande nas exportações de commodities
agrícolas, fruto dos avanços tecnológicos proporcionados pelas pesquisas
da Embrapa e da maior profissionalização na gestão do agronegócio.
No papel de liderança que conquistamos no cenário global, renovamos aqui
o cumprimento aos produtores rurais, nossos parceiros e fornecedores das
matérias-primas para alimentação, energia, vestuário e tantos outros itens
indispensáveis em nosso dia a dia.
Boa leitura!Edit
oria
lTriunfo nordestino
4
antonio carlos costa, Diretor de Marketing da Arysta LifeScience
MUNDO CaNa
>
Empresários dos mais diferentes
setores e das maiores organizações
brasileiras param quando toma a
palavra o economista Maílson da
Nóbrega. Afinal, esse paraibano de
67 anos tem muito o que falar quan-
do o assunto é o destino do País e da
própria economia mundial.
Com longa carreira na área pública
e privada, Maílson foi ministro da
Fazenda entre 1988 e 1990, período
de grandes dificuldades para o País.
Saído do governo, foi um dos funda-
dores da MCM Consultores e, mais
tarde, em 1997, da Tendências Con-
sultoria, onde está até hoje e atende
empresas brasileiras e internacio-
nais, que desejam entender os novos
desafios que se apresentam num
mundo cada vez mais globalizado.
Nesse cenário, a bioenergia brasilei-
ra é um componente importante e
com potencial de avanços conside-
ráveis nos próximos anos. Maílson
da Nóbrega sabe disso e, nesta
entrevista exclusiva à revista Mundo
Cana, joga luz sobre a participação
do governo no fortalecimento do
segmento sucroalcooleiro e nas ne-
gociações internas e internacionais
para exportação de etanol e açúcar.
Entrevista Maílson da Nóbrega
5
MUNDO CaNa
O economista que tem o que falarO ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega é uma unanimidade: ninguém fica indiferente ao que ele diz. Por isso, é um dos economistas mais admirados do País.
Mundo Cana – Como o sr. vê o
futuro da energia “verde” no Brasil?
Maílson da Nóbrega – A energia
“verde” tem um futuro promissor.
O Brasil é muito competitivo na
produção de etanol. Os brasileiros
já se acostumaram a usar o álcool
como combustível e o carro flex
permitiu optar entre gasolina e ál-
cool de acordo com as condições de
oferta e preço. O país caminha para
ter toda sua frota de carros leves na
tecnologia flexfuel.
O Brasil ocupa posição de lideran-
ça em produção de etanol, mas o
que barra/trava as exportações,
considerando que o mundo busca
opções ao petróleo? O Brasil é o
segundo maior produtor, depois
>
>
DIV
ULG
Aç
ãO
“O Brasil virou gente grande nas exportações de commodities agrícolas”
6
MUNDO CaNa
dos Estados Unidos. Uma barreira
natural às exportações é o fato de
o biocombustível ser normalmente
mais caro do que outras alternativas,
particularmente nos países desen-
volvidos. Assim, é preciso um esfor-
ço, que não é fácil, para convencer
os consumidores a aceitar o álcool
como combustível, o que se acentua
quando entram em cena questões
associadas à soberania (criar uma
nova dependência externa para
suprimento de combustíveis).
O governo brasileiro está defen-
dendo corretamente a bionergia
perante as grandes nações? Hoje
se pode dizer que o setor privado
tem sido muito mais ativo do que o
governo na defesa dos interesses da
bioenergia. Infelizmente, a política
externa do governo Lula, muito
contaminada por visões ideológicas,
terceiro-mundistas e antiamerica-
nas, tem deixado a desejar quando
se trata da defesa dos interesses da
produção de bioenergia.
O que pode ser feito para melhorar
a imagem da produção rural no
Brasil – cana-de-açúcar, inclusive –
internacionalmente, considerando
que somos acusados de não ofere-
cer condições dignas de trabalho
e até trabalho infantil? É preciso
insistir que são marginais os casos
de trabalho escravo no Brasil. No
caso da cana-de-açúcar, os grandes
produtores são empresas de capital
aberto e exportam grande parte de
sua produção. Esse é cada vez mais
o padrão do setor, pois veremos no-
vos processos de abertura da capital.
As empresas têm compromissos
éticos internos e com seus acionis-
tas e clientes, que não podem ser
manchados por notícias de trabalho
escravo. Por outro lado, a imagem
dessas empresas na opinião pública
é fundamental para a continuidade e
a ampliação de seus negócios, o que
constitui um incentivo adicional para
a adoção de práticas corretas na
contratação de seus empregados, na
sua remuneração e na forma como
são tratados dentro das empresas.
E o açúcar? Como o sr. avalia a im-
portância dessa matéria-prima na
pauta de exportações e o seu po-
tencial de crescimento? O Brasil é o
maior produtor e exportador de açú-
car. Em anos recentes, fomos surpre-
endidos pelo aumento do consumo
mundial, que se imaginava caminhar
para a estagnação ou baixo cresci-
mento, dadas as restrições ao uso do
produto pelos consumidores de mais
alta renda (caso nos países ricos que
produzem e/ou importam açúcar).
O crescimento recente do consumo
se explica pela redução dos níveis de
pobreza nos países emergentes, de
que são exemplos relevantes a China
e a Índia. Opera-se, nesses países,
um fenômeno conhecido, qual seja o
da melhoria dos padrões de alimen-
tação à medida que a renda cresce.
Essa situação aponta para excelentes
perspectivas para o açúcar nos pró-
ximos anos, admitindo que os países
emergentes continuarão crescendo
a um ritmo superior ao das nações
ricas. Mais tarde, os consumidores
desses países, ao atingirem níveis
mais altos de renda e de educação,
podem reduzir o consumo, mas isso
levará tempo para ocorrer. O cenário
é, pois, muito positivo.
O agronegócio brasileiro é um gi-
gante e tem relevância indiscutível
na pauta de exportações. Por outro
lado, assistimos a um endureci-
mento nas negociações comer-
ciais, com utilização de barreiras
aos produtos nacionais. Como o sr.
visualiza esse embate nos pró-
ximos anos? O Brasil virou gente
Hoje se pode
dizer que o setor
privAdo tem sido
muito mAis Ativo do
que o governo nA
defesA dos interesses
dA bioenergiA
““
De que maneira a bioenergia pode
ser um agente positivo na negocia-
ção comercial de outros produtos
do Brasil? Não creio que a bioener-
gia possa constituir um instrumento
de barganha nas negociações de
comércio. A rigor, pode-se dar o
contrário, isto é, o Brasil admitir tra-
tamento favorecido na importação
de produtos oriundos de países que
se dispuserem a derrubar barreiras
contra o biocombustível brasileiro.
7
grande nas exportações de commo-
dities agrícolas, fruto dos avanços
tecnológicos proporcionados pelas
pesquisas da Embrapa e da maior
profissionalização na gestão do agro-
negócio. Deixamos de ser tomadores
de preço para nos transformar em
formadores. Esse novo status exige
preparação para defender nossos
interesses e expandir mercados.
Precisamos ter gente qualificada nas
negociações internacionais. O gover-
no jamais poderá ser a fonte quase
exclusiva, como foi no passado.
O setor produtivo também tem
de fazer a sua parte... Sim. E essa
consciência já está presente nas
lideranças do agronegócio, mas
precisa ser expandida. Iniciativas
como as da UNICA e da assessoria
do governo em negociações no âm-
bito da OMC têm nos proporcionado
vitórias como a do processo contra
os subsídios americanos em favor
do algodão. Temos necessidade de
contar, cada vez mais, com a consul-
toria de escritórios especializados
em defesa comercial no exterior e
em lobby perante os governos e os
parlamentos dos países que impõem
barreiras aos nossos produtos.
E em relação à questão tributária
do setor produtivo. Alimentos e
bionergia não poderiam ter algum
benefício? Infelizmente, o sistema
tributário brasileiro se tornou um
verdadeiro caos e vem piorando.
Não basta lutar por tratamentos
específicos para determinados
produtos, mas por uma reforma
abrangente. Por exemplo, talvez
mais importante do que eventuais
benefícios específicos para alimen-
tos e bioenergia seria evitar a pesa-
da tributação dos insumos utilizados
em sua produção, particularmente
itens sensíveis como combustíveis,
lubrificantes, transportes, comunica-
ções e energia, brutalmente tributa-
dos pelo ICMS.
E como o agronegócio pode contri-
buir para obter redução de tributos
incidentes sobre os elos da cadeia?
Importante para o agronegócio seria
mobilizar Estados e municípios em
torno de uma reforma do ICMS,
capaz de reduzir substancialmente
suas disfuncionalidades atuais e as-
segurar a plena desoneração das ex-
portações. Infelizmente, essa é uma
tarefa gigantesca, que exige nível de
coordenação e liderança política não
disponível na atualidade.
MUNDO CaNa
FELI
PE
FON
SE
CA
“Precisamos ter gente qualificada nas negociações
internacionais”
MUNDO CaNa
Aimigração japonesa trouxe inúme-
ros benefícios para o Brasil. Motiva-
dos pelo potencial que a cafeicultu-
ra apresentava no início do século XX, muitos
japoneses deixaram família e emprego para
construir histórias de sucesso em outros
continentes. Muitos deram certo na nova
terra, como foi o caso dos antepassados dos
fundadores do Grupo
Mais de 9 mil hectares do Grupo arakaki destinam-se à produção da Usina Alcoeste
investimento em pessoAs e o uso de novAs
tecnologiAs compõem A receitA de sucesso do
grupo, locAlizAdo no interior de são pAulo
>
Respeito e qualidade:dogmas do Grupo Arakaki
Arakaki, que desempenha trabalho agrícola
de referência em Fernandópolis (SP).
Em 1983, quando o grupo iniciou as ativida-
des no setor sucroalcooleiro, os dirigentes
não esperavam chegar aos atuais números.
O braço agrícola do grupo administra atual-
mente área de 16.834 hectares, sendo que,
desse total, 9.500 hectares são destinados
à produção da Usina Alcoeste e 4.282 hec-
tares para produção da Usina Ouroeste. No
caso da Alcoeste, 100% da produção vêm
dos canaviais da Agrícola Arakaki. Ao todo,
são fornecidas 716.300 toneladas de cana
para a Alcoeste e 325.500 toneladas para a
Usina Ouroeste.
Mas o diferencial da empresa não está ape-
nas nos números e sim nas pessoas. Ao
todo, são 3 mil colaboradores. A estrutura
conta com cinco diretores e não tem dire-
tor-presidente. Segundo um dos dirigentes,
Luis Antonio Arakaki, a comparação entre
diferentes usinas brasileiras mostraria que
elas se parecem bastante no que diz respei-
to às máquinas, mas em relação às pessoas
são bastante diferentes. “Como não traba-
lhamos com economia de escala e volume,
nosso maior investimento e patrimônio é a
equipe, que precisa estar motivada para tra-
balhar com agilidade”, explica.
Para motivar toda
a organização em
um único objetivo, o
grupo realiza treina-
mentos e investe em
administração parti-
cipativa. “As portas
estão sempre abertas
aos funcionários. Sa-
bemos que o merca-
do exige velocidade
e, para isso, precisamos de tecnologia de
ponta e pessoal disposto a realizar o traba-
lho com competência”, explica Arakaki, lem-
brando que a empresa só pôde se destacar
no mercado pelo aspecto humano porque,
acima de tudo, sempre ofereceu qualidade
em seus produtos e serviços.
FELIPE FONSECA
9
O investimento nas pessoas garante tam-
bém destaque em outras áreas, como a de
inovações tecnológicas. O grupo foi o único
escolhido no Brasil para os testes com a co-
lheitadeira manual, novidade que deve mo-
vimentar o setor especialmente em regiões
onde a máquina não
chega ao canavial.
Outro destaque veio
por meio da Usina
Alcoeste, do grupo.
A unidade participou
do primeiro embar-
que de etanol para
o mercado europeu.
No caso específico
desta usina, são pro-
duzidos anualmente 75 milhões de litros de
álcool e 700 mil toneladas de açúcar. “Nossa
expectativa é que, ainda que tenhamos difi-
culdades de comercialização, estejamos pre-
parados para assimilar as novas tecnologias
e continuar desempenhando um bom traba-
lho”, conclui Arakaki.
nosso mAior
investimento e pAtrimônio
é A equipe, que precisA
estAr motivAdA pArA
trAbAlHAr com AgilidAde
“ “
MUNDO CaNa
Para Luis Arakaki, o fator humano é um diferencial da usina
Se fosse necessário resumir a histó-
ria da Japungu Agroindustrial numa
única frase, provavelmente a mais
adequada seria “cautela nos momentos de
euforia e serenidade para enfrentar os desa-
fios”. Mas um resumo deixaria passar muita
informação preciosa sobre as vitórias con-
quistadas desde que os empresários Luis-
mar Melo, Paulo Fernando e José Ivanildo
compraram uma usina em Santa Rita, na Pa-
raíba. Em 1989, eles deram um passo rumo
ao sucesso e deixaram de ser grandes forne-
cedores de cana para se tornarem importan-
tes referências no setor sucroalcooleiro. A
maioria das vitórias está simbolizada pelos
troféus, medalhas e diplomas dos principais
prêmios da atividade em nível nacional. Para
citar alguns: MasterCana (em 2001, 2003,
2004 e 2007), Revista Fisco (2003), Visão da
Agroindústria, entre outros.
Nenhum destes prêmios foi conquistado
sem esforço e dedicação. Um dos desafios
para atingir alta qualidade produtiva foram
as barreiras naturais da região onde a usina
está localizada. A topografia de grande par-
te do Nordeste é conhecida pelos obstáculos
que impõe à mecanização da colheita. No
caso da região onde a Japungu se encontra,
a dificuldade é outra: embora o relevo seja
MUNDO CaNa
Japungu vence osdesafios com cautela
As dificuldAdes normAis do plAntio e dA
industriAlizAção não são mAiores que A
vontAde de crescer nestA usinA pArAibAnA
José Bolivar lembra que o sucesso exige empenho e paciência
>
11
plano, o solo é arenoso. “Isso exige conhe-
cimento e tecnologias que permitem atingir
bons índices produtivos”, explica José Bolí-
var de Melo Neto, diretor do grupo.
Os desafios, porém, não são maiores do que a
vontade de produzir cana. E com alta produ-
tividade. A parceria com bons fornecedores
garante que 25% da produção sejam tercei-
rizados. Considerando a unidade adquirida
pelo grupo em Goiás, a Agroval, o total de
colaboradores envolvidos gira em torno de 6
mil pessoas. A empresa possui filosofia de va-
lorização destes trabalhadores e, no caso dos
colhedores de cana, a usina já ultrapassou a
marca de 8 toneladas diárias por pessoa.
O foco do grupo se divide entre álcool e açú-
car. No caso deste, a previsão para 2010 é
de 3 milhões de sacos. A proximidade com o
Porto de Suape, em Pernambuco, é um trun-
fo que permite exportar aproximadamente
7% do total produzido. “Trabalhar com mer-
cado interno e externo permite se equilibrar
acompanhando a si-
tuação em cada um
deles. Mas ainda as-
sim a missão é árdua,
pois é difícil prever o
que vai acontecer em
médio prazo”, expli-
ca Bolívar Neto.
É devido a esta insta-
bilidade do mercado
financeiro que o gru-
po opta por agir com
cautela. Na crise eco-
nômica mais recente,
a Japungu não sofreu
tantos abalos como se observou em outras
empresas. “Nos últimos anos, o setor cresceu
em uma velocidade acima do normal e, em-
bora as perspectivas sejam muito boas para
quem produz cana, preferimos dar um passo
de cada vez”, diz o diretor agrícola.
Para quem deseja continuar crescendo no
setor, Bolívar dá mais uma dica da receita
de sucesso da Japungu. A organização inter-
na se divide em duas
frentes básicas: o
mercado, que é ins-
tável e imprevisível,
mas que permite ne-
gociar no momento
da comercialização e
guardar produto em
épocas menos turbu-
lentas; e a produção
agrícola, com gran-
des possibilidades de
aumento de lucros.
Especialmente nesta
área a Japungu não
dispensa o uso de tecnologias que permitam
aumentar a produtividade. “Temos uma his-
tória de sucesso, mas nosso foco está no fu-
turo, na melhoria contínua para acompanhar
o mercado lá fora”, aponta Bolívar.
nos últimos Anos,
o setor cresceu em umA
velocidAde AcimA do
normAl e, emborA As
perspectivAs sejAm muito
boAs pArA quem produz
cAnA, preferimos dAr
um pAsso de cAdA vez
“
“
FELIPE FONSECA
Estrutura enxuta para escoar melhor a produção
MUNDO CaNa
Irrigar é precisoMUNDO CaNa
De gota em gota, os canaviais
da Usina Seresta, em Teotônio
Vilela (AL), se desenvolvem com
alta qualidade, chamando a atenção do
mercado nacional pelos elevados índices
de produtividade. A empresa implantou
há 11 anos o método de irrigação por go-
tejamento e a tecnologia tem demonstra-
do ser uma escolha acertada. A área total
com cana irrigada por este processo che-
ga a quase 1.500 hectares, sem contar os
17 hectares que foram usados como teste
para validar o sistema. “Quando opta-
mos por irrigação por gotejamen-
to havia no mercado receio
em introduzir a prática
em grandes áreas.
Nós fomos os
maiores im-
plantado-
res do
usinA serestA implAntou método viA
gotejAmento subterrâneo e colHe bons
resultAdos por AcreditAr nA tecnologiA
André Borges: gotejamento é opção lucrativa
>
método, considerando a introdução de
uma única vez e não nos arrependemos
desse pioneirismo”, explica André Borges,
gerente agrícola da Seresta.
Entre as vantagens desta tecnologia desta-
ca-se o maior tempo necessário para reali-
zar a reforma do canavial. Enquanto áreas
onde a irrigação é feita com técnicas mais
tradicionais (aspersão ou via pivô rebocável)
precisam ser reformadas a cada seis anos
(média), a reforma nas áreas com goteja-
mento subterrâneo atinge intervalos de até
o dobro desse período.
O processo de funcionamento é basicamen-
te simples. A água é transportada por uma
rede de gotejadores até as áreas onde es-
tão as raízes da cana. Estes gotejadores es-
tão ligados a uma mangueira alimentadora
principal, que garante o abastecimento con-
tínuo de água. Para introduzir a tecnologia,
a Usina Seresta contou com a experiência da
empresa israelense Netafim, que também
tem projetos no Rio Grande do Norte, Cea-
rá, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. “Nosso
objetivo é chegar aos 5.500 hectares irriga-
dos via gotejamento”, adianta Borges.
Além do maior tempo entre uma reforma da
13
FELIPE FONSECA
plantação e outra, a Seresta constatou eco-
nomia ao aderir a esta tecnologia. Isso se
explica porque o equipamento evita desper-
dício ao jogar água em pontos específicos
do canavial. A manutenção não tem custos
elevados e não exige grande interferência
humana no equipamento.
Em pouco tempo, a chamada “irrigação plena”
incentiva positivamente os índices de produ-
tividade do canavial. No caso da Seresta, os
números chegam a 120 toneladas por hectare
por ano, enquanto a cifra normalmente gira
em torno das 55 toneladas anuais por hecta-
re. “Com a irrigação por gotejamento, temos
a oportunidade de distribuir melhor a água em
grandes áreas, além de controlarmos a umida-
de do solo”, lembra André Borges. Este controle
garante menor infestação de plantas daninhas
e melhor qualidade fitossanitária da cana.
A resistência que esta tecnologia ainda en-
contra no país se explica pelo custo inicial do
investimento e, em muitos casos, pelo des-
conhecimento dos benefícios que o método
traz. “O aumento de produtividade com-
pensa o investimento, sem dúvida alguma.
Nossa expectativa é chegar à margem de
130 toneladas por hectare”, avisa Borges.
com A irrigAção por
gotejAmento, temos
A oportunidAde de
distribuir melHor A
águA em grAndes áreAs,
Além de controlArmos
A umidAde do solo
“
“
MUNDO CaNaEquipamento garante irrigação contínua e eficaz
usinA de goiás comprovA que eficiênciA
produtivA e Atenção às prAticAs gerAm
excelentes resultAdos e conquistAs
14
Orespeito ao meio ambiente, o in-
vestimento em tecnologia de ponta
e as boas negociações comerciais
são características praticamente obrigató-
rias em empresas de sucesso. O Grupo Jalles
Machado, de Goianésia (GO), é um bom
exemplo de que estas práticas abrem portas
para novos e promissores negócios. A história
do grupo começou no início dos anos 1980,
quando o governo de Goiás decidiu fomentar
a produção de cana-de-açúcar no estado.
Em 1993, veio uma nova fase para a empre-
sa, que entrou no mercado de açúcar cristal.
Desde então, o grupo coleciona avanços
que o transformaram em uma referência em
cana de Goiás.
Um dos pontos de destaque da usina é o
investimento em colheita mecanizada, que
atinge cerca de 85% do canavial. Ao todo,
são 22 máquinas e, neste ano, está prevista
a chegada de outras quatro unidades. “Utili-
zamos agricultura de precisão para não des-
perdiçar produtos que fazem a diferença no
canavial, como os defensivos agrícolas e os
corretivos de solo”, explica Patrick Francino
Campos, gestor de projetos e processos da
Jalles Machado. Para garantir o bom uso
destes equipamentos e dos processos da
empresa, o grupo conta com cerca de 3 mil
colaboradores diretos.
Na usina, o investimento em tecnologia ca-
minha de mãos dados com a responsabili-
dade social. “Só na região de Goianésia, já
plantamos 800 mil árvores nativas, o que
está em sintonia com a filosofia de cuidados
com o meio ambiente”, lembra Campos.
MUNDO CaNa
Tecnologia eresponsabilidade social
FELIPE FONSECA
Patrick Campos: investimentos
constantes são marcas da Jalles Machado
>
Graças a esta filosofia e à intensa profissiona-
lização do trabalho, a Jalles Machado obteve
certificações de qualidade, como a ISO 14000,
e está em busca da ISO 22000. É possível iden-
tificar esta filosofia na frase de Otávio Lage de
Siqueira, presidente do Conselho de Adminis-
tração do grupo: “Uma empresa que investe
em tecnologia e contribui para a economia de
seu país é vista como empreendedora. Mas,
se ela vai além e acre-
dita em cada de seus
colaboradores acima
de tudo, faz a dife-
rença e se torna uma
referência”.
A abertura ao conhe-
cimento e à tecnolo-
gia fez com que a Jalles Machado buscasse
variedades da cana adaptadas ao clima, solo
e precipitação de chuva da região. Entre os
vários tipos utilizados, o grupo utiliza as va-
riedades CP 867515 e IAC-SP 911099. “Antes
de iniciar o uso, fizemos testes com estas
espécies e percebemos que elas têm bom
desempenho, o que para nós e para o mer-
cado é muito desejado”, explica o técnico
responsável pelos tratos culturais da usina,
Antonio Ricardo Neto.
Por ser a terra a primeira fonte do lucro da usi-
na, os cuidados com o meio ambiente e com a
qualidade da produção estão sempre presen-
tes. No combate a plantas daninhas, como
brachiaria, corda-de-viola e capim colchão, a
Jalles Machado utiliza amicarbazone há pelo
menos três anos e, na área onde é aplicado,
o repasse chega a ser zero (repasse é a nova
aplicação para eliminar plantas daninhas que
tenham brotado posteriormente à aplicação
durante a cultura instalada ou após a colheita
da cana). “Realizamos monitoramentos perió-
dicos e temos observado o sucesso destas
aplicações”, completa o técnico.
FELIPE FONSECA
A preocupação ambiental também pode ser
notada pela área de cana orgânica plantada,
que corresponde a 20% dos 40 mil hectares
do grupo. Mesmo com as elevadas exigências
de manejo e produção apresentadas por com-
pradores internacionais, a usina consegue se
destacar nesse tipo de produção. Hoje, cerca
de 90% do mercado de açúcar orgânico dos
Estados Unidos estão nas mãos da Jalles Ma-
chado. Nas negocia-
ções de etanol, o foco
é o mercado interno.
A área plantada per-
mite que a Jalles
Machado seja autos-
suficiente na produ-
ção de cana. De 1983
para cá, a produção subiu de 1,5 milhão de to-
neladas anuais para 2,9 milhões de toneladas.
E as projeções seguem otimistas. Para este
ano, ainda que o Brasil continue dependen-
do do desempenho dos preços na Índia, as
expectativas são positivas. A Jalles Machado
dará continuidade ao preparo de uma nova
unidade em Goiás, que deve entrar em produ-
ção em 2011. A nova unidade deverá envolver
1.600 novos colaboradores. A empresa ainda
tem outro trunfo: a ferrovia Norte-Sul ficará
bem próxima da unidade e vai facilitar muito
o escoamento de produto. A previsão é de
mais sucesso para a usina.
empresA AcreditA nos
seus colAborAdores e isso
‘FAz TOdA A diFErENçA’
“ “
MUNDO CaNa
Na usina, a busca pela excelência contínua
quando Benon Barreto se formou
em Engenharia Agronômica pela
Universidade Federal Rural de
Pernambuco, a realidade do setor sucro-
alcooleiro era outra. Era 1959 e, embora o
país já tivesse um histórico de quase cinco
séculos na plantação de cana, havia muitas
melhorias a ser feitas. Cinquenta anos de-
pois, o engenheiro agrônomo, produtor e
consultor acredita que muita coisa ainda vai
mudar, mas comemora as importantes con-
quistas no segmento.
Uma de suas marcas é a sinceridade com que
analisa todos os lados da produção pernam-
bucana. Seus comentários são feitos com a
segurança de quem observa o agronegócio
desde os 12 anos, quando via o plantio de
cana nas encostas declivosas ser efetuado
por um arado, tracionado por juntas de bois,
sob o comando do “velho carreiro”. Condena
literalmente o plantio de enxada, operação
ainda realizada com muita constância na re-
gião. Sua história também foi enriquecida pelo
trabalho com entidades como IAA (Instituto
do Açúcar e do Álcool), SUDENE (Superinten-
dência do Desenvolvimento do Nordeste), GE-
RAN (Grupo de Estudos para Racionalização
da Agroindústria Açucareira do Nordeste) e em
viagens internacionais onde conheceu e estu-
dou a realidade produtiva
de países como Cuba,
Austrália, Filipinas,
Estados Unidos
(Havaí), África do
Sul e outros.
Cana produzidacom conhecimento
ApAixonAdo pelo setor sucroAlcooleiro,
benon bArreto é conHecido como o
“decAno dA AtividAde do nordeste”
MUNDO CaNa
Benon: experiência e paixão na produção de cana
>
Em 1980, quando Benon Barreto começou
a produzir cana, o país tinha cinco anos de
experiência com o Programa Nacional do
Álcool (Proálcool). Inclusive, o engenheiro
agrônomo teve participação em pelo me-
nos 60% na elaboração dos projetos reali-
zados pela TECAL (Tecnologia Açucareira
Ltda.) relativos a esse programa. Não é a
toa que é chamado por muitos “o decano
da economia canavieira do Nordeste”.
Nestes quase 30 anos de produção e meio
século acompanhando de perto o cenário
sucroalcooleiro, Benon Barreto viu usinas
ser criadas, outras ser extintas, investido-
res chegarem e novos colegas se somarem
ao time da cana no país. Como produtor,
porém, ele não esconde a preocupação
com as exigências sobre o agricultor, que
muitas vezes se equilibra entre a cobrança
do Estado e a rapidez do mercado. “A ques-
tão da queima do canavial é um exemplo de
assunto que precisa ser estudado com mais
cuidado. Aqui no Nordeste temos muitos
terrenos acidentados onde a máquina não
chega e por isso é necessário o corte manual
da lavoura e a queima”, detalha o consultor
e produtor.
Segundo ele, os empresários estão atentos
às novidades nesse assunto, especialmente
quem produz em áreas onde a topografia é
bastante irregular. Além da colheita, este
tipo de terreno dificulta por demais as ou-
tras operações agrícolas, tais como plantio,
tratos culturais, aplicação de fertilizantes e
corretivos. “Em regiões mais planas, é pos-
sível atingir produtividade de 8 toneladas
por dia na colheita da cana, enquanto nas
áreas acidentadas gira entre 3,5 e 4 tonela-
das dia”, compara Benon. Como produtor
rural, Benon Barreto exerce essa ativida-
de no Estado da Paraíba, com produção
anual em torno de 20.000 t de cana. Parte
do sucesso é explicado pelo conhecimento
que conseguiu reunir sobre o setor, já que
presta consultoria na faixa que vai do Mara-
nhão a Goiás. “Cada vez que viajo me certi-
fico que representamos um setor dinâmico
e pungente”, diz. A outra parte da explica-
ção deste sucesso está na sua escolha pela
honestidade, solidariedade e espírito de
união na condução de seus negócios. Cole-
cionador de frases, ele resume sua filosofia
numa única sentença: “Não se pode semear
de punhos fechados” (Adolfo Esquivel).
MUNDO CaNa
Logística de Pernambuco é facilitada pela proximidade de usinas
FELIPE FONSECA
>
lOgísTiCA FAvOrávEl Apesar dos terrenos acidentados, Pernambuco tem muitas vantagens econômicas na produção de cana. Segundo o pro-dutor e consultor Benon Barreto, o Porto de Suape, localizado entre os municípios pernambucanos de Ipojuca e Cabo de San-to Agostinho, é um dos trunfos da região. Instalado a apenas 40 km da capital Recife, ele é ponto de saída de etanol e açúcar. Enquanto produtores de outras regiões do Brasil estão num raio de mais de mil quilômetros de áreas portuárias, Suape situa-se no raio médio de 100 km das unidades produtoras do Estado e em torno de 300 km dos grandes pólos produtivos do Nordeste. “Além disso, nossa lavoura foi instalada nos tempos coloniais, o que nos dá um histórico muito grande de aprendizado e cresci-mento econômico ligado no campo”, observa Barreto.
Conhecimentoque brota
pesquisAs constAntes gArAntem novAs
vAriedAdes de cAnA, proporcionAndo
Aumentos seguidos de produtividAde
MUNDO CaNa
Quando o inventor Benjamin
Franklin disse que “investir em
conhecimento sempre rende os
melhores juros”, ele provavelmente não se
referia ao setor sucroalcooleiro. Mas a frase
se encaixa perfeitamente. Desde que o Brasil
recebeu os primeiros portugueses, vem cole-
cionando novas técnicas de plantio e pesqui-
FELIPE FONSECA
sas para aumentar o rendimento da lavoura.
“Os experimentos voltados para a atividade
estão focados no aprimoramento do trabalho
realizado no campo. O resultado é o contínuo
aumento da produtividade da cana”, ressal-
ta Djalma Euzébio Simões Neto, engenheiro
agrônomo, consultor e professor da Universi-
dade Federal Rural de Pernambuco.
Não faltam provas da relevância das pesqui-
sas científicas para a cana. O próprio profes-
sor Djalma comanda uma equipe envolvida
em diferentes experimentos. Ele coordena
o Programa de Melhoramento Genético da
Cana-de-Açúcar. “Mesmo que leve algum
tempo, a universidade coloca nas mãos do
agricultor a tecnologia que pode alavancar a
produção. As variedades da cana são exem-
plos incontestáveis disso”, explica.
Quando descobertas em território nacional,
as variedades canavieiras levam no nome a
sigla RB (República do Brasil ou RIDESA Brasil)
somadas ao ano do cruzamento genético e
ao código de experimentação daquela culti-
var. Por exemplo: a variedade RB867515 (a
mais plantada no país) foi hibridizada em
1986, embora tenha sido lançada comercial-
mente 12 anos mais tarde, em 1998.
O mais importante é que estas cultivares
Djalma: o mundo está de olho no combustível limpo
>
existem quase 100 milhões de hectares no
Brasil disponíveis para agricultura e a cana,
que ocupa hoje cerca de 8 milhões de hec-
tares, pode ser cultivada sem afetar outros
sistemas produtivos,
atingindo 15 milhões
para atender a de-
manda crescente de
etanol. E para quem
tem receio em re-
lação a este cresci-
mento, o professor
Djalma adverte: “A
cana-de-açúcar não
vai invadir o que não
deve”. O foco, no mo-
mento, é abastecer a
demanda interna e aumentar a quantidade
de produto e tecnologia para exportação.
Conhecimento, tecnologia e experiência
acumulada para isso não faltam.
contêm as características que os empre-
sários do setor sucroalcooleiro buscam. O
trabalho para chegar ao padrão desejado
é árduo. Os pesquisadores chegam a fazer
centenas de cruzamentos e produzem até
três milhões de plantas geneticamente di-
ferentes para selecionar três, duas, uma e
em alguns anos de cruzamentos nenhuma,
após mais de 10 anos de experimentação.
As cultivares precisam atender às exigências
climáticas, variações de solo e topografia da
região em que será plantada. “Nos últimos
meses, nós vimos o país comemorar a notí-
cia sobre a reserva de combustíveis fosseis,
o pré-sal, o que é fantástico. Mas não po-
demos nos esquecer que essas são fontes
esgotáveis. O mundo está cada vez mais
interessado no combustível limpo. E, para
isso, precisamos investir em produtividade
da cana”, acrescenta Simões Neto.
O consultor comemora as conquistas do
setor. Ao acompanhar a visita de estrangei-
ros interessados no know-how brasileiro,
ele percebe que os mais de 500 anos plan-
tando cana geraram conhecimento como
em nenhum outro
lugar do planeta.
“Quando o assunto
é etanol, o Brasil é a
principal referência
mundial”, resume.
Em solo de nações
como Angola, Mo-
çambique e países
da América Central
e do Sul, existem
diversas tecnologias
brasileiras, inclusive
variedades surgidas no Brasil.
E a expectativa é de que o país produza
ainda mais. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
19
o mundo está cAdA
vez mAis interessAdo
no combustível limpo.
e, pArA isso, precisAmos
investir em
produtividAde dA cAnA
“
“
MUNDO CaNa
FELIPE FONSECA
Pesquisas de cultivares consomem pelo menos uma década
Lombos quebrados em busca do lucro
MUNDO CaNa
O desafio aparece justamente na hora da
colheita feita com máquina, pois este des-
nível impede que o equipamento corte a
cana inteira até o solo. A solução, assim, é
adotar uma prática chamada nacionalmen-
te de “manejo de quebra-lombo” (ou cien-
tificamente classificada como “operação
mecânica de sistematização do solo”). Fun-
ciona assim: 90 dias após o plantio da cana
planta, revolve-se a terra onde se formará o
canavial. Isso ni-
vela o terreno e
permite o maior
acolheita mecanizada trouxe diver-
sos benefícios para o setor sucro-
alcooleiro. É possível citar o avan-
ço da produtividade por hectare, o menor
desgaste humano e a proteção do meio
ambiente, pois a técnica dispensa a quei-
ma da palha no canavial. Existe, porém,
um desafio que surgiu apenas quando este
tipo de colheita começou a ser implantado
no País. Por ser necessário fazer sulcos na
terra para a instalação da primeira safra do
canavial, cria-se no solo um desnível entre
estes sulcos. Essas áreas mais elevadas
são popularmente conhecidas
como lombo.
Manejo da cana traz desafio (e solução)
pArA produtores que já optArAm pelA
colHeitA mecAnizAdA
Colheita mecânica trouxe desafio para produtores, explica Christoffoleti
>
aproveitamento pela colheitadeira. Dessa
forma, uma área do Centro-Sul (sudeste,
centro-oeste e sul do Brasil) que recebe a
cana planta em fevereiro terá manejo de
quebra-lombro entre
maio e junho.
O professor dr. Pe-
dro J. Christoffoleti,
do Departamento
de Produção Vegetal
da Esalq/USP, lem-
bra que existe outra
questão importante
a ser considerada: o
revolvimento do solo
com a colheita meca-
nizada pode inibir a
ação dos defensivos
agrícolas aplicados
no início do plantio. “Então, é necessário
fazer uma segunda aplicação. O ideal é tra-
balhar com produtos especializados como
os que têm ótimo desempenho em períodos
secos”, afirma.
Para o pesquisador, esse tipo de adapta-
ção mostra como o setor sucroalcooleiro
se adapta com facilidade aos desafios im-
postos pelo meio produtivo e também pelo
mercado. Desde 1981, quando Christoffoleti
se formou em Engenharia Agronômica, mui-
tas tecnologias foram incorporadas pelos
produtores. “Tivemos avanços muito signifi-
cativos em produtividade neste período, com
aumento de até 20 toneladas por hectare”,
lembra. De modo especial, ele cita entre es-
tes avanços as pesquisas e várias soluções
em melhoramento genético, irrigação, fer-
tilidade do solo e controle de plantas dani-
nhas. “Hoje temos mais disponibilidade de
bons produtos, inclusive para períodos secos.
A perda de produtividade é cada vez menor e
tende a zero”, completa o professor.
Outra conquista é a organização crescente
do setor, o que mostra independência em
relação às decisões governamentais. “Não
temos mais cotas de produção, o que mos-
tra que o negócio
está totalmente des-
regulamentado e na
disputa por merca-
dos”. A maior ajuda
do Estado continua
sendo o incentivo. O
BNDES (Banco Na-
cional de Desenvol-
vimento Econômico
e Social), por exem-
plo, é responsável
pela maior parte dos
financiamentos em
cana. Outra ajuda importante é a divulgação
internacional, o que deve atrair ainda mais
a atenção de compradores estrangeiros de
etanol, tecnologias e práticas de manejo
que estão sendo desenvolvidas neste mo-
mento no país.
Quem conhece pessoalmente Pedro Chris-
toffoleti sabe que uma de suas paixões é
o conhecimento. Isso pôde ser observado
durante o “I Simpósio de manejo de plan-
tas daninhas na cultura da cana-de-açúcar”,
realizado em outubro de 2009, na Esalq. O
professor coordenou o evento, que abordou
temas preciosos à produção de cana, como
manejo em cana crua, em solo seco, colhei-
ta mecanizada e custo-benefício da aplica-
ção de herbicidas no canavial.
MUNDO CaNa
Hoje temos mAis
disponibilidAde de
bons produtos, inclusive
pArA períodos secos.
A perdA de produtividAde
é cAdA vez menor e
tende A zero
“
“
21
Embalagemtamanho família
sistemA pArA descArregAmento de big bAgs
trAz lucro, evitA desperdício e permite mAior
controle dA AplicAção de defensivos AgrícolAs
quem trabalha com a proteção do
canavial sabe que a aplicação de
defensivos agrícolas exige aten-
ção e cuidados especiais. O manuseio do
produto precisa ser feito com qualidade e
precisão para evitar desperdícios. Também é
preciso considerar outro fator: as realidades
dos aplicadores espalhados pelo país são di-
versas e alguns ficam distantes dos centros
de distribuição de produtos (o que encarece
o reabastecimento das propriedades).
Atento a esses dois importantes dados, o
mercado encontrou uma solução para permi-
tir lucro aos canavieiros.
As chamadas emba-
lagens Big Bag, tam-
bém conhecidas como
FIBCs (Flexible Inter-
MUNDO CaNa
mediate Bulk Containers) ou, simplesmente,
bolsões que comportam grande quantidade
de produto, já estão à disposição e oferecem
facilidades na hora de proteger o canavial.
Como o peso destes bolsões é de mil quilos,
a empresa Dynamic Air adaptou um de seus
60 tipos de Bulk Buster para usar a Big Bag.
Usando o herbicida amicarbazone, a empresa
criou o equipamento ideal para o uso correto
deste defensivo em grandes embalagens no
campo. “O Bulk Buster reduz o risco de con-
taminação dos aplicadores, pois não há con-
tato humano diretamente com o produto”,
explica Horacio Paez, diretor da Dynamic Air.
O funcionamento do Bulk Buster é simples:
quando o Big Bag chega à propriedade, alças
mecânicas elevam o defensivo até a parte su-
perior do equipamento; depois, uma lâmina
perfura o bolsão e despeja o produto em um
tanque de dispersão, onde ele é misturado
com água; neste processo, um sistema de
dosagem garante que o herbicida seja fracio-
nado em parcelas entre 10 kg e 40 kg, com
pequenos intervalos; finalmente, a tubulação
de transporte carrega o defensivo devida-
mente dosado e misturado para o sistema de
aplicação a campo.
“Já fizemos Bulk Busters para indústrias dos
>
FELI
PE
FON
SE
CA
Horacio: bolsões facilitam manejo e reduzem custos
mais variados segmentos de pelo menos 130
países. Este foi totalmente pensado para
vencer os desafios na hora de usar Big Bags
na cana”, reforça Paez. Para a adaptação do
equipamento, a Dynamic Air consumiu me-
ses na avaliação de soluções para superar
determinadas barreiras. Entre elas, estava a
proibição de energia pneumática (que vem da
compressão de ar atmosférico). Caso contrá-
rio, o Bulk Buster demandaria a instalação de
outros equipamentos, o que poderia tornar
o projeto inviável. Por isso, ele foi adaptado
para funcionar apenas com energia elétrica.
Para garantir a pesagem correta de cada dose
a ser misturada em água, o Bulk Buster traz
um sistema interessante de medição. Cha-
mado de Loss In Weight Feeding (dosagem
por perda de peso), o processo soma os quilos
do Big Bag quando ele chega ao equipamen-
to e vai descontando a cada dosagem. Todo o
peso do Bulk Buster já é descontado pela ba-
lança digital que acompanha o sistema.
Essa tecnologia faz parte do novo momen-
to do agronegócio, no qual os produtores
tornam-se empresários e agora desejam in-
vestir em soluções que melhorem sua atua-
ção no mercado. “O futuro da produção rural
caminha junto da tecnologia. Sem ela, hoje é
impensável o bom desempenho produtivo. A
automação do segmento da cana é uma con-
quista inquestionável dos últimos anos e sem
dúvida alguma ainda trará resultados surpre-
endentes”, analisa Paez.
O equipamento já está disponível no merca-
do e pode ser usado em qualquer usina.
23
DIVULGAçãO
Equipamento criado pela Dynamic Air
facilita distribuição de defensivos
VANTAGENS DA EMBALAGEM DE 500 kG
Menor desgaste físico de quem manuseia o produto•
Redução do total de embalagens•
Precisão na dosagem•
Maior limpeza do ambiente no processo de mistura em água•
Menor custo com mão de obra•
Proteção do meio ambiente e das pessoas•
Gastos menores com manutenção•
Controle das paradas na produção•
MUNDO CaNa
>
Evita fraudes e roubos por causa do seu tamanho
Controle de pragas: corda-de-viola
espAlHAdA pelo brAsil, plAntA dAninHA
tem Ação AgressivA e AumentA o custo
do cAnAviAl, mAs controle é possível
Uma das mais conhecidas e fre-
quentes plantas daninhas da
cana é a corda-de-viola, planta
herbácea trepadeira da família das Convo-
vulaceae. Com ação em todo o continente
americano, ela pode chegar a três metros
de comprimento. Suas flores têm aparên-
cia vistosa e suas cores variam conforme a
espécie. Essa planta é anual e sua reprodu-
MUNDO CaNa
24
ção é feita por sementes, com adaptação a
qualquer tipo de solo. Segundo a Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá-
ria), a corda-de-viola possui mais de 140
espécies. Ela se tornou um grande desafio
para o setor sucroalcooleiro porque é ex-
tremamente agressiva para a cana, que não
consegue sobreviver se não houver contro-
le. “Mesmo se houver baixa infestação desta
praga e a cana sobreviver, ocorrerá signifi-
cativa queda da produtividade e ficará mais
caro produzir”, informa Rodrigo Gimenes,
especialista de Desenvolvimento de Produ-
to e Mercado da Arysta LifeScience.
A corda-de-viola ganhou destaque após o
avanço da colheita mecanizada. O espaço
onde havia o chamado colchão de palha (que
poderia impedir o aparecimento de plantas
daninhas) tornou-se o ambiente preferido
da planta invasora. “O desafio maior está no
controle do banco de sementes. Esta espé-
cie se espalha com facilidade pelo canavial,
inclusive com ajuda da própria colhedora”,
completa Gimenes.
Para a colheita mecânica, ela é um desafio
maior ainda. Essas pragas atrapalham signifi-
cativamente o processo, pois se enrolam nas
máquinas e seguram grande quantidade de
Planta daninha proliferou com o avanço da colheita mecanizada
>
em criar soluções inteligentes para defen-
der o canavial contra espécies invasoras”,
resume Rodrigo Gimenes.
palha de cana. Isso compromete o rendimen-
to em até 30%. Há casos em que a presença
da corda-de-viola é tão forte que as plantas
chegam a inviabilizar a colheita mecânica. É
preciso, então, realizar a desinfecção mecâ-
nica ou química do canavial, práticas paliati-
vas que aumentam os custos de produção.
sOluçãO iNTEligENTEO ideal é prevenir. O mais adequado é o
uso de produtos que impeçam o nascimen-
to desse tipo de planta na lavoura de cana.
Estes insumos precisam ter ação prolonga-
da, pois a corda-de-viola pode germinar du-
rante todo o desenvolvimento do canavial,
mesmo que seja com poucas sementes.
Há alguns anos, a Arysta iniciou trabalhos
em cana-de-açúcar com amicarbazone, o
princípio ativo do herbicida Dinamic. Os pri-
meiros testes já mostravam a alta eficácia do
produto para combater a corda-de-viola. Ele
demonstrou eficiência ao combater tanto
espécies de folha estreita como as de folha
larga. O resultado surpreendeu com o con-
trole altamente satisfatório das trepadeiras
como nenhum outro defensivo do mercado.
“O controle de corda-de-viola com Dinamic
é uma ilustração do compromisso da Arysta
O MAIS ADEQUADO
É O USO DE DEFENSIVO
QUE IMPEçA O
NASCIMENTO DESSE
TIPO DE PLANTA
“
“
MUNDO CaNa
25
o ideal é prevenir o nascimento da
planta na lavoura de cana
>
Oagronegócio e a sociedade
estão mais próximos. As pes-
soas estão mais interessa-
das em conhecer a origem dos alimen-
tos, modos de produção, processos
envolvidos no cultivo, sustentabilidade
do setor e garantia de qualidade dos
produtos. Para terem mais transparên-
cia, fornecedores de alimentos, fibras e
bioenergia precisam usar ferramentas
de mercadologia, planejamento e mar-
keting. Há mais ou menos 50 anos, o
Brasil era um país rural, com cerca de
O espetáculo do agronegócio
26
MUNDO CaNa
60% da população no campo. Porco
era sinônimo de gordura para cozinhar
e conservar alimentos e era difícil con-
vencer o agricultor a usar novidades
tecnológicas. O país mudou muito e,
hoje, quase 80% da população estão
nas cidades. O porco tornou-se carne
ultralight e hoje temos agricultura de
precisão, GPS e satélite.
Essa modernização permitiu aban-
donar pouco a pouco a cultura geren-
cial de agricultura de sobrevivência.
O produtor virou empresário rural. O
bom marketing
em agronegócio
exige observa-
ção de todo o
setor, que é uma
cadeia produtiva
que agrega valor
movida por de-
manda derivada.
As percepções
de demanda
se formam da
ponta do consumo para trás. Não
importa o elo: é fundamental enxergar
a cadeia inteira, pois cada segmento é
influenciado pelas outras etapas pro-
dutivas. As ferramentas de marketing
são fundamentais para chamar a aten-
ção dos países importadores sobre a
qualidade dos nossos produtos, es-
pecialmente de mercados mais exi-
gentes, como a União Europeia.
O agronegócio não desempenha ape-
nas o papel de fornecedor tradicional de
commodities. O foco inclui o exterior,
com operações e marcas internacionais já
presentes em praticamente todos os can-
tos do mundo. Neste novo cenário, o mar-
keting é essencial para gerenciar os ris-
cos. Não podemos nos expor a erros em
responsabilidade social, ambiental ou de
sanidade em nossos produtos, marcas
e imagem. Não investir na boa imagem
seria correr atrás do próprio rabo.
Em um mercado acirrado e em cons-
tante profissionalização, os empresá-
rios rurais podem utilizar as campa-
nhas de marketing e diálogos com as
mais diversas mídias para mostrar os
diferenciais do seu negócio, sustenta-
bilidade e compromisso com a socieda-
de. Tudo isso favorece a construção e a
consolidação de imagem no mercado.
Nos setores em ascensão, como o do
etanol, essa comunicação tem papel
fundamental ao aproximar fornecedo-
res, distribuidores e consumidores.
O agronegócio precisa se ver como
parte do espetáculo da comunica-
ção. As pessoas cultuam cada vez
mais o prazer, bem-estar, felicidade
aparente, moda, valor estético, reco-
nhecimento e visibilidade social. Es-
ses valores foram assimilados pelos
estrategistas empresariais e transfor-
mados em poderosa ferramenta per-
suasiva, por meio das tecnologias de
marketing. Na prática, isso significa
usar apelos emocionais na propagan-
da, especialmente de forma indireta.
Está aí uma lição a ser aprendida e mul-
tiplicada pelo campo.
Artigo por Coriolano Xavier e José luiz Tejon *
*coriolano Xavier (à direita) é coordenador adjunto do Núcleo de Agronegócio da ESPM e professor da FGV-Pec; José Luiz Tejon é responsável pelo núcleo de agronegócios na pós-graduação da ESPM, especialista em agronegócio por Harvard e professor da FGV. Em conjunto, eles publicaram, em 2009, o livro “Marketing & Agronegócio: A nova gestão – diálogo com a sociedade” (Editora Pearson Education).
>
como o mArketing pode AjudAr A expAndir
AindA mAis o setor rurAl no brAsil
>
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bum
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