revista parques e vida selvagem n.º 42
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A mais recente edição da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM está a ser distribuída a partir de hoje, 2013-6-20.TRANSCRIPT
Centro de CongressosHospedariaSelf-service
Parque de Auto-caravanasAuditório
e muita, muita Natureza!
a apenas 15 minutos
do centro de Vila Nova de Gaia
Contra-relógio
DIVERSIDADE BIOLÓGICA AGRÍCOLAReportagem
PAUL DO BOQUILOBO Entrevista
NA PISTA DOS DINOSSAUROSLUSITANOS
Ano XII • N.º 42 • 21 de março 2013
Cowntdown
Agricultural Biological Diversity
Report
Boquilobo Wetland
Interview
On the trail of the dinosaurs
6,8 HECTARES DE PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA + CONCURSO DE FOTOGRAFIAESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + RESERVA NATURAL LOCAL DO ESTUÁRIO DO DOURO
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SEL
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 3
EDITORIAL 3
Nuno OliveiraDiretor da revista "Parques e Vida Selvagem"
Cada vez se descobremmais espécies novas
Uma dessas espécies é uma
gralha, do género Cyanocoraxque, apesar dos seus cerca de 35
centímetros de comprimento e de
viver a 150 km a sul da Manaus, nunca fora
descrita.
Esta descoberta vem elevar a biodiversidade
brasileira para cerca de 1840 espécies de
aves. Luís Fábio Silveira, curador de ornitologia
do Museu de Zoologia da Universidade de São
Paulo disse que “Apenas a Colômbia tem mais
espécies do que nós, aproximadamente 1900.
Mas, daqui a uma década, devemos chegar
às duas mil espécies de aves conhecidas no
Brasil. Há vários exemplares de aves desco-
nhecidas nos museus brasileiros, oriundas
de diversos biomas, que serão descritas nos
próximos anos.”
Entre as muitas espécies novas de 2012,
contam-se o Macaco-lesula, Cercopithecus Iomamiensis, da República Democrática do
Congo, a cobra noturna Sibon noalamina, do
Panamá, a pequena violeta, Viola lilliputana, do
Peru, e o mais pequeno vertebrado conhecido,
a rã da Nova Guiné, Paedophryne amauensis,
que em adulta não ultrapassa 8 mm.
Já este ano, António Frias Martins, da Univer-
sidade dos Açores, anunciou a descoberta de
30 novas espécies de moluscos nas ilhas do
arquipélago, a juntar às 102 já descritas para
os Açores.
No Atlântico foram encontrados fósseis que
permitiram a uma equipa liderada por Ismael
Miján, da Sociedade Galega de História
Natural, em que participou Otávio Mateus,
professor de Paleontologia na Universidade
Nova de Lisboa e investigador no Museu da
Lourinhã, identifi car quatro novas espécies de
baleias, já extintas.
A intensifi cação dos trabalhos de investigação
é responsável por estas descobertas: cada vez
maior número de cientistas anda no terreno,
percorrendo os quatro cantos do mundo.
Mas milhões de espécies continuam por
descobrir. Recentemente, Quentin Wheeler,
da Universidade do Arizona, afi rmou: "Não sei
se fi que mais surpreendido com as espécies
descobertas todos os anos ou com a nossa
enorme ignorância sobre a biodiversidade de
que fazemos parte".
OUTRAS ESPÉCIES EXPANDEM A SUA ÁREA DE DISTRIBUIÇÃOO Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) é
uma ave simbólica em Portugal, por no pas-
sado recente ser muito rara, e por isso usada
como emblema do NPEPVS (Núcleo Portu-
guês de Estudo e Proteção da Vida Selvagem)
e da LPN (Liga para a Proteção da Natureza).
Rapina de pequeno porte (cerca de 80 cm
de envergadura), tinha uma área de distribui-
ção inicial essencialmente tropical; a partir da
África subsariana colonizou a África do Norte e
chegou à Península Ibérica, onde se reprodu-
ziu pela primeira vez em 1963, no Alentejo; em
1975 reproduziu-se em Espanha, na Estrema-
dura. A população foi aumentando ao longo
das últimas décadas, e expandiu-se: chegou
a França e ao Médio Oriente. Em Portugal
ocorria apenas na metade Sul da país mas,
aos poucos, tem vindo a conquistar o Norte e,
hoje, é presença regular, por exemplo, na ria
de Aveiro.
CADA VEZ MAIS ESPÉCIES A DESAPARECEREMO Livro Vermelho das espécies ameaçadas,
da UICN (União Internacional para a Conser-
vação da Natureza), regista a existência de
20 219 espécies animais e vegetais em risco
de extinção, contra as 19 570 do ano ante-
rior. No entanto, só uma pequeníssima parte
(4%) das cerca de 1,7 milhões existentes no
mundo está sufi cientemente estudada.
Embora a causa principal das extinções seja
a destruição dos habitats naturais, muitas
outras se lhe juntam. A revista “Landscape and Urban Planning” publicou um estudo de
O Museu de Zoologia
da Universidade de
São Paulo, o Instituto
Nacional de Pesquisas
da Amazónia,
de Manaus, e o Museu
Emílio Goeldi,
de Belém do Pará,
vão apresentar
15 novas espécies
de aves descobertas
na Amazónia
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4 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
4 EDITORIAL
Daniel Paton, Francisco Romero, Javier Cuen-
ca e José Carlos Escudero, da Universidade
espanhola da Estremadura, sobre 91 espécies
de aves, feito em parques de pequenas vilas
de Portugal e Espanha, onde o nível de ruído
não ultrapassa os 40 decibéis (dB) e em
parques de grandes cidades, com ruído acima
dos 70 dB.
Descobriram, que as espécies mais intole-
rantes ao ruído são a Estrelinha-de-poupa
(Regulus regulus), a Rola-brava (Streptopelia turtur), o Pica-pau-malhado-pequeno (Den-drocopos minor), a Águia-de-asa-redonda
(Buteo buteo), a Andorinha-dáurica (Cecropis[antigo género Hirundo] daurica) o Corvo
(Corvus corax), o Papa-fi gos (Oriolus oriolus),
o Rouxinol-bravo (Cettia cetti), o Pardal-espa-
nhol (Passer hispanoliensis) e a Toutinegra-de-
-cabeça-preta (Sylvia melanocephala).
A construção de barreiras acústicas nas es-
tradas e o aumento da área das zonas verdes
podem ajudar a diminuir a perda da biodiversi-
dade urbana.
Mas também pragas de doenças podem
ameaçar espécies, por vezes devido aos
impactos humanos nos ecossistemas. Desde
a década de 1980 conhece-se o efeito do
fungo Batrachochytrium dendrobatidis sobre
as populações de anfíbios, causando-lhes
uma doença denominada quitridiomicose. Um
grupo de cientistas portugueses, espanhóis
e ingleses (Rosa, et all, 2012) vem agora
demonstrar, na revista “Animal Conservation”, que a doença está a matar os sapos-parteiros
(Alytes obstetricans) na Serra da Estrela e a
causar o seu rápido declínio neste parque na-
tural. Em agosto de 2009 centenas de girinos
de sapos-parteiros foram encontrados mortos
na lagoa do Covão das Quelhas, tendo-se
comprovado que a referida doença foi a causa
dessas mortes.
VERDE URBANOAinda a revista “Landscape and Urban Plan-ning” publica, no seu último número de 2012,
um artigo de Mary K. Wolfe e Jeremy Mennis,
onde se demonstra, com base em estudos
feitos em Filadélfi a (EUA), que os espaços
verdes urbanos contribuem para a diminuição
da criminalidade. Diz Jeremy Mennis, professor
de geografi a da Universidade de Temple que
“Há uma ideia antiga, em planeamento urbano,
segundo a qual não se devem ter grandes
maciços de vegetação nas cidades, porque isso
pode encobrir o crime, escondendo a atividade
criminal ou permitindo a fuga dos criminosos.
Mas os espaços verdes bem conservados podem
ter o efeito de reduzir o crime”, e defende que es-
tar num ambiente natural suprime os precursores
do comportamento violento.
MÁ QUALIDADE AMBIENTAL MATAO estudo da OMS (Organização Mundial de
Saúde) “Environmental Burden of Disease”(responsabilidade ambiental nas doenças) estima
que morram, por ano, 16 700 portugueses com
doenças provocadas por problemas ambientais,
como a poluição, a qualidade da água, o tipo de
construção dos edifícios (uso de amianto, por
exemplo), radiações UV, poluição sonora, etc. Só
devido a infeções respiratórias decorrentes da
má qualidade do ar, a OMS estima que morram
anualmente cerca de dois mil portugueses.
Isto para não falar no uso abusivo de herbicidas
que o Plano Nacional de Saúde correlaciona com
o cancro da mama e outras doenças; que mal
fazem umas ervas no passeio? Que justifi cação
pode haver para “lavar” ruas com herbicidas?
Felizmente isso irá acabar em breve, pois a Lei n.º
26/2013, de 11 de abril, transpôs para o direito
português a Diretiva n.º 2009/128/CE, que regula
o uso de produtos fi tofarmacêuticos e determina
que “Em zonas urbanas e de lazer só devem ser
utilizados produtos fi tofarmacêuticos quando não
existam outras alternativas viáveis, nomeadamen-
te meios de combate mecânicos e biológicos”
e que “A partir de 26 de novembro de 2015,
os produtos fi tofarmacêuticos apenas podem
ser aplicados, por aplicadores habilitados, com
formação superior ou de nível técnico-profi ssional,
na área agrícola ou afi ns”.
COMER INSETOSO relatório da FAO (Organização para a Alimenta-
ção e Agricultura das Nações Unidas), intitulado
“Edible insects - Future prospects for food and feed security” (insetos comestíveis - perspetivas
futuras para a segurança alimentar e alimentação),
apresentado recentemente em Roma, depois
de revelar que 2 mil milhões de pessoas (28%
do população mundial) já incluem regularmente
insetos na sua alimentação, vem sugerir que estes
invertebrados podem ajudar a resolver o problema
da nutrição da população mundial que continua a
aumentar, podendo chegar aos 9 mil milhões de
habitantes em 2050.
O relatório aponta mais de 1900 espécies de in-
setos comestíveis, desde escaravelhos a lagartas,
abelhas, formigas, gafanhotos, cigarras, libélulas
e moscas.
Aos que (ainda) acham que um escaravelho ou
uma borboleta não servem para nada, vem
agora a FAO dizer que, a acrescentar às
muitas utilidades dos insetos já conhecidas,
junta-se o seu potencial para alimentação de
pessoas e animais. Afi nal, a biodiversidade é
mesmo muito importante!
PRÉMIO PARA RIBEIRO TELLES NO ANO EM QUE “LHE” ACABAM COM A RENO engenheiro agrónomo e arquiteto-paisagista
Gonçalo Ribeiro Telles, que completou no
passado dia 25 de maio 91 anos, recebeu o
prémio Sir Geoffrey Jellicoe 2013, uma espécie
de prémio “Nobel” da área da arquitetura-
-paisagista.
Uma das suas obras mais conhecidas são
os jardins da Fundação Gulbenkian e a ele se
deve a criação de REN (Reserva Ecológica
Nacional) em 1983, quando era Ministro da
Qualidade de Vida.
A REN foi criada pelo Decreto-lei n.º 321/83,
de 5 de julho, integrava, pois, “todas as áreas
indispensáveis à estabilidade ecológica do
meio e à utilização racional dos recursos natu-
rais, tendo em vista o correto ordenamento do
território”.
Instrumento importantíssimo que ao longo de
décadas impediu desmandos urbanísticos e
outros, é agora ameaçado de extinção pela re-
solução do Conselho de Ministros n.º 81/2012,
de 3/10/2012.
A determinado passo, essa Resolução afi rma
uma coisa incrível: “... os principais objetivos
que presidiram à instituição da REN foram
perdendo relevância prática e, ao invés, aca-
baram por potenciar entropias e disfunções no
próprio sistema do ordenamento do território,
criando difi culdades excessivas no relaciona-
mento institucional entre os vários serviços da
administração e os particulares.” Ou seja, a
Resolução do Conselho de Ministros acolhe a
argumentação daqueles que sempre deram
cabo do território e que veem na REN um
inimigo a abater! A REN não perdeu relevância,
nem entrou em confl ito com outros instrumen-
tos de ordenamento do território.
Recentemente (maio de 2013) foi anunciado
pelo Diretor-geral do Território, que a Reserva
Ecológica Nacional irá ser extinta e substituída
por um “Plano Sectorial de Riscos”; ou seja,
vai reduzir-se a REN às situações em que ela
acautelava riscos, como sejam leitos de cheia
e arribas, deixando de fora a proteção do
território. A ver vamos!
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 5
OPINIÃO 5
Luís Filipe MenezesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia
Gaia: espaço verde mais espaço verde
Apolítica municipal de criação e
desenvolvimento de espaços
verdes prossegue a bom ritmo,
tendo em Maio sido aberto mais
um, o Parque do Conde das Devesas, cuja
temática são as Camélias e, em particular, as
variedades portuguesas de Camélias.
Estas belíssimas fl ores de Inverno são cada
vez mais populares em todo o Mundo;
este novo parque pode, ao apresentar uma
coleção de mais de 120 variedades – algu-
mas raríssimas – devidamente identifi cadas,
contribuir para incrementar o turismo em torno
das Camélias ou Japoneiras, como já acontece
com parques similares na Galiza. Isto porque o
turismo não se faz só com grandes coisas, mas
também com o somatório de muitos pequenos e
diversifi cados polos de atracção.
Em breve – esperemos que em Junho – abrirá
o Parque da Ponte Maria Pia, que aproveita o
abandonado canal ferroviário Porto/Lisboa e
transforma um perigoso buraco, coberto de
silvas, num local aprazível de passeio e lazer, que
um dia terá continuação numa via ciclo-pedonal
através da Ponte Maria Pia, até ao Porto.
E ainda este ano esperamos requalifi car o
Parque de Merendas de Arcozelo e completar
a 2.ª fase do Parque de S. Caetano, obras
que deverão ter início em Junho.
Outro objectivo é prosseguir a ampliação do
Parque Biológico, iniciada no ano passado
com a aquisição de 7 hectares de novos ter-
renos e abri-los à visitação o mais depressa
possível.
João L
. Te
ixeira
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6 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem”
Diretor Nuno Gomes Oliveira
Editor Parque Biológico de Gaia
Coordenador da Redação Jorge Gomes
Fotografi as Arquivo Fotográfi co
do Parque Biológico de Gaia
Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM
Pessoa coletiva 504763202
Tiragem 10 000 exemplares
ISSN 1645-2607
N.º Registo no I. C. S. 123937
Dep. Legal 170787/01
Administração e Redação
Parque Biológico de Gaia
Rua da Cunha • 4430-681 Avintes
Portugal
Telefone 227878120
E-mail: [email protected]
Internet http://www.parquebiologico.pt
Conselho de Administração
José Miranda de Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira,
Serafi m Silva Martins, José António Bastos Cardoso,
Brito da Silva
Inverno 2012• 2013
Capa: Lontra-europeia, mãe e cria
nascida no Parque Biológico de Gaia
o ano passado.
Foto de João L. Teixeira
ErrataNa revista PARQUES E VIDA SELVAGEM n.º 41 publicou-se um artigo sobre o Parque Natural do Litoral Norte. Quando da candidatura ao atual estatuto de conservação o sítio Montedor (Natura 2000) foi justamente proposto para esse enquadramento, o que não acabou por acontecer. Uma saída de campo a este sítio foi por lapso formal, assim, referenciada como sendo percurso dentro do PNLN. Se formos otimistas, será futurologia? Nesse caso o território sob maior proteção seria alargado no porvir.
Na produção desta revista, ao utilizar um papel com 60% de fi bras
recicladas (Satimat Green) em vez de um papel não reciclado,
o impacto ambiental foi reduzido em:
kg de aterro1762
kg de CO2 (gases de efeito de estufa)1590
litros de água159
kWh de energia38170
kg de madeira3804
km de viagem num automóvel europeu de consumo médio
2863
www.facebook.com/parquesevidaselvagem
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 7
50 NA PISTA DOS DINOSSAUROS LUSITANOSentrevistaAlguns eram pequenitos, mas os que fi cam na memória são os
maiores, com uma dimensão que à nossa escala nada parecia
capaz de derrubar. Uma lição que pode ser retida pelo ser humano:
no que toca aos frágeis equilíbrios da Terra, a verdade é que não
passamos de ínfi mas formiguitas diante da natureza. Falamos com
Octávio Mateus, paleontólogo com muito trabalho já realizado em
torno dos dinossauros.
8 Cartoon
9 Ver e falar
12 Fotonotícias
14 Portfolio
22 Quinteiro
26 Dunas
32 Espaços verdes
47 Sair da casca
60 Reportagem
64 Pesquisa
68 Migrações
70 Retratos naturais
72 Atualidade
77 Crónica
20 DIVERSIDADE BIOLÓGICA AGRÍCOLAcontra-relógioSe é verdade que a diversidade biológica é a base da agricultura, mais
certo é que a diversidade biológica agrícola inclui ecossistemas, animais,
plantas e micro-organismos relacionados com a alimentação e a agricultu-
ra. Na Década da Biodiversidade é obrigatório pensar nisto.
54 RESERVA NATURALDO PAUL DO BOQUILOBOreportagemPaul ou pântano, como quiser, o Boquilobo pertence a uma minoria de zonas
húmidas que não chegaram a desaparecer. Quer se comemore em 2013
o Ano Internacional para a Cooperação pela Água quer se celebre o Dia
Mundial das Zonas Húmidas em 2 de fevereiro, a verdade é que a água todos
os dias é indispensável à vida e os ecossistemas que a conservam são
do maior interesse. É por essa razão que possui tão elevada biodiversidade.
SECÇÕES
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30
77
47
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8 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
8 CARTOON
Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas: Livro “Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro”de vários autores ...........................................€5,00
Livro “José Bonifácio de Andrada e Silva: Um Ecologista no Séc. XVIII” de Nuno Gomes Oliveira ............€10,00
Livro “Ecoturismo e Conservação da Natureza” de Nuno Gomes Oliveira .................................................... €10,00
Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto” de Nuno Gomes Oliveira .................................€25,00
Livro “Manual da Confecção do Linho” de Domingos Quintas Moreira...........................................................€5,00
Livro “Empresas Municipais” de Catarina Siquet ...........................................................................................€11,00
Livro “Conservação dos Sistemas Dunares” de vários autores .......................................................................€5,00
Livro “Cobras de Portugal” de Jorge Gomes .....................................................................................................€5,00
Livro “Uma Escola Sem Muros: Diário de Um Professor”, de Paulo Gandra ..................................................€7,00
Livro infantil “Galvino e Galvão, a Galinha-de-água e o Galeirão” de Manuel Mouta Faria ..................... €15,00
Livro infantil “As Histórias de D. Lavandisca Alvéola” de Manuel Mouta Faria ..............................................€2,50
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JUNTO COMPROVATIVO DE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA PARA O NIB SOLICITO P. F. QUE ME ENVIEM À COBRANÇA (PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)
Por Ernesto Brochado
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 9
A palavra
Revistas anterioresVários leitores continuam a enviar
pedidos de aquisição de revistas
mais antigas. Como entretanto já
não há exemplares em armazém
para atender a todos os pedidos,
a alternativa de reunir uma coleção
completa recai na internet: basta ir
ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas— todas as anteriores edições da
revista «Parques e Vida Selvagem»
estão aí disponíveis.
Achamada telefónica da manhã
trazia a voz de José Carlos Quental.
Lamentava que «nem em Vale
de Cambra nem em S. João da
Madeira» encontrara a revista “Parques e Vida
Selvagem” no “Jornal de Notícias”.
É percetível que a época que se atravessa levou
a uma distribuição regional e nem todo o Norte
de Portugal fi cou abrangido nessa distribuição.
Outras vozes, a maioria por correio eletrónico,
referiam o mesmo facto, em outras partes do
país.
Não foi o caso de quem vive na Área Metropolitana
do Porto, como José Oliveira Silva, de Vila Nova
de Gaia, que escreve no seu e-mail: «Boa tarde!
Tenho encontrado por vezes em alguns locais
públicos a vossa revista, pela qual vos endereço os
meus mais sinceros parabéns, não só pelos temas
tratados e seu desenvolvimento/esclarecimento,
como pela divulgação e realce dados a escritos
e dúvidas dos vossos leitores. Sempre que a
encontro leio com prazer os temas tratados, pelo
que gostaria que me informassem como posso ter
acesso a esta publicação. Parabéns e continuem»!
Na resposta explicou-se que não será difícil, a
breve prazo, encontrá-la numa visita ao Parque
Biológico de Gaia e que haverá a seu tempo
novidades sobre as assinaturas desta publicação
que já entrou no seu 12.º ano de vida.
Raquel Gaspar escreve: «Eu gostaria de passar
a receber a revista. Tenho especial interesse
em receber os números que contêm a rubrica
“Vamos desenhar...”: como poderia fazer?
Eu vivo em Azeitão. Obrigada!».
Explicou-se que em 2013 seria provável que
viesse a haver um preço simbólico para assinatura
da revista, que tem sido oferecida nos últimos
anos, dando curso ao seu esforço de educação
ambiental.
Contudo, a edição eletrónica desta publicação
está acessível desde o n.º 1 no site do Parque
Biológico de Gaia no botão Revistas.
A revista de outono
saiu em 24 de outubro
com o “Jornal de Notícias”
e os leitores começaram
logo a reagir...
LicrançosIndaga Júlio Luzes, de Vila Nova de Gaia: «Será que,
como especialistas em bichinhos desses, me podem
dizer duas ou três coisas sobre os licranços, de forma
a desmistifi car a paranóia de que são extremamente
perigosos?»
Resposta breve: «Os licranços, que não são
serpentes, são répteis como os lagartos. A espécie
em causa tem um nome científi co que diz algo
sobre o seu comportamento inofensivo –
Anguis fragilis (“serpente frágil”).
São muito dados a lesões vertebrais se mal
manipulados e na cadeia alimentar são paparoca de
muitas outras espécies, entre répteis, aves, mamíferos.
O seu papel é importante no controlo de populações
de invertebrados que sem os seus predadores naturais
podem tornar-se pragas.
Nalgumas aldeias por vezes dizia-se “Picadela de
licranço nem uma hora de descanso”. Parece que de
boca em boca o animal poderá estar a ser confundido
com algo completamente diferente, um aracnídeo, o
lacrau ou escorpião».
Alb
ano
So
are
s
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10 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Passeio no ParqueNormalmente não aprecio locais onde se
mantenham animais selvagens em cativeiro
por, em muitos casos, não respeitarem sequer
a suas necessidades mais básicas mas, a
meu ver, o Parque Biológico de Gaia é uma
ótima exceção. Não só os animais vivem em
condições adequadas – possuem espaços
amplos, limpos, de acordo com a seu habitat
natural, não demasiado expostos ao público
e com zonas onde se podem refugiar (o
bem-estar do animal não é sacrifi cado em
prol do observador) – como é transmitida
a necessidade de conservação da nossa
biodiversidade.
No parque existe um centro de recuperação de
animais selvagens. É possível ver neste momento,
logo no início do percurso, exemplares de
peneireiro-cinzento, Elanus caeruleus, e de bufo-pequeno, Asio otus, irrecuperáveis; e faz parte
do Projeto LIFE Trachemys tendo por lá nascido
crias de cágado-de-carapaça-estriada, Emys orbicularis, no ano passado. Também se podem
observar as invasoras que estão na origem da
necessidade em criar o Projeto.
Outro facto a assinalar é que o Parque conta com
uma enorme variedade de espécies, sobretudo
aves e mamíferos, e representa bem a esse nível o
território nacional pelo que quem o visita fi ca com
uma ideia mais alargada das espécies, nativas
do nosso país, relativas a estes dois grupos de
animais.
Quanto a mim, de entre as espécies de aves que
lá se podem ver gosto em especial do alcaravão,
Burhinus oedicnemus.
O próprio ambiente envolvente é muito atrativo
porque ao longo de todo o espaço se veem
árvores e arbustos autóctones, assim como a
fauna que aí habita em liberdade. É o caso dos
facilmente observáveis esquilos-vermelhos,
Sciurus vulgaris, e ainda o dos mais esquivos
como as doninhas, Mustela nivalis.
Na época certa ainda se observam diversas
Erica cinerea Linnaeus
Burhinus oedicnemus (Linnaeus - 1758)
Podarcis bocagei (Seoane - 1885)
Ana
Go
nçal
ves
Ana
Go
nçal
ves
Ana
Go
nçal
ves
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 11
AquDe segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00
espécies de anfíbios (já encontrei tritão-de-ventre-laranja, Lissotriton boscai) e, com
alguma sorte, espécies de insetos bastante
interessantes como as cabras-louras,
Lucanus cervus, e a rara borboleta Apatura ilia.
Espécies mais comuns são esta urze, a Erica cinerea, e a lagartixa Podarcis bocagei que
tive a possibilidade de registar.
Por Ana Gonçalveshttp://visionemnaturae.blogspot.pt/2012/08/parque-biologico-de-gaia.html
Quercus robur Linnaeus
Ana
Go
nçal
ves
O fungo Clathrus archeri à primeira vista parece
uma lula com três ou seis tentáculos.
Originário da Tasmânia, na Austrália, tem um
cheiro nauseabundo, tipo carne em putrefação,
e não é comestível.
Isso não impede que diversos insetos,
principalmente algumas espécies de mosca,
se sintam atraídas para a sua “carne”. Ao
pousarem, acabam por dispersar a bom ritmo
os esporos
espalhados
nos
tentáculos
com que
este fungo se
reproduz.
Esta
estratégia
reprodutiva
é efi caz e os
resultados
comprovam-
se ao
contabilizar-se
os habitats
que ocupa, nomeadamente as zonas mais
húmidas de bosques e parques e um pouco
por todo o Norte peninsular numa expansão
contínua.
Quando está a frutifi car aparece de início um véu
esférico cinzento esbranquiçado, rodeado por
uma capa gelatinosa e por uma cutícula que se
abre pelo vértice de onde emerge o carpóforo
de cor vermelha pálida que passa a vermelha
intensa quando completamente maduro. A sua
consistência é fofa e porosa.
Ao que parece, os esporos deste fungo
chegaram à Europa de forma acidental, no
interior de navios carregados com lã de
ovelha importada da Nova Zelândia e com
destino a fábricas francesas, região de
Los Vogos, onde o fungo foi descrito pela
primeira vez na Europa em 1914.
Em 2002 o Ministério do Ambiente francês
considerou o Clathrus archeri uma espécie
invasora e recomendou a erradicação,
uma vez que não eram conhecidas as
consequências
da rápida
proliferação em
territórios de
outras espécies.
Além deste tipo
de ameaças,
na Europa,
existem milhares
de fungos sob
pressão nos
seus habitats
naturais pela
poluição química
no solo ou
plantações
mono-específi cas de árvores que se
destinam à indústria.
Os cogumelos carecem de clorofi la e não
podem criar substâncias orgânicas, por
isso, encontram-se classifi cados num reino
chamado Fungi.
Utilizam a matéria orgânica já existente para
obter as suas substâncias vitais. O que
popularmente se conhece como “cogumelo”
é o carpóforo que cresce do micélio quando
ocorrem condições climáticas favoráveis.
Por Filipe Vieira
Cogumelo exótico
Hug
o O
liveira
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12 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
As plantas não se contêm: antes que a estação mais
fl orida do ano entrasse no calendário já havia corolas
amarelas, brancas e lilazes a agitarem prados e caminhos
Sangue-frio?
Sim, até certo ponto, mas quando
apetece namoriscar, sejam fêmeas
ou machos de lagarto-de-água,
pela calada lá acabam por juntar
trapinhos e tratar de fazer arribar
novas gerações: a fêmea está à
esquerda...
Na Ásia estes insetos dão esplendor a um
festival popular, concretamente na Coreia e na
Tailândia. Em Portugal, já se contam décadas
em que, de noite, visitantes miúdos e graúdos
organizados em grupos percorrem, fascinados,
o trilho de descoberta da natureza do Parque
Biológico de Gaia para contemplarem as luzes
que estes pequenos animais emitem entre a
primavera e o verão.
A espécie da fotografi a, Luciola lusitanica, é a
que mais abunda em junho, quando parece
que as constelações vêm visitar o bosque
encantado sob a batuta destes insetos
bioluminescentes.
Cheirinho de primavera
Lagartos enamorados
Chegou a hora dos pirilampos
12 FOTONOTÍCIAS
João L
. Te
ixeira
Jo
rge G
om
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Jorg
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om
es
Jo
ão
Petr
onilh
o
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 13
Ombreando com morcegos, os ouriços-cacheiros representam os animais notívagos que se defendem do frio invernal com uma boa soneca, a chamada hibernação.Agora que a primavera chegou, fazem questão de apanhar o ritmo e, omnívoros, não desdenham petiscar uma minhoca ou um caracol: o bom tempo traz crias e, no que toca às fêmeas, há aleitação a preparar.Apesar de estarem ativos sobretudo de noite, o crepúsculo e o amanhecer são alturas que também proporcionam um encontro inesperado com algum destes animais.
As Scilla são pequenas plantas que
abundavam nos bosques da região.
Assim que os primeiros sinais do fi m do
inverno se passeiam pela atmosfera, o bolbo
lança da terra uma folha verde.
Depois, como se não quisessem perder a
corrida, os botões ascendem para que a sua
luz acene aos insetos desta vaga na quadrícula
certa do calendário.
Aqui e ali, poupadas aos solos calcinados
pelos incêndios sistemáticos, à plantação
de exóticas e à impermeabilização do solo,
afl oram em março nos sítios mais esquecidos
ou guardados para que a sua participação no
tecido da vida, a biodiversidade, não se perca.
Voa apenas nesta
altura mais primaveril
do ano, para pôr
ovos e dar lugar à
geração vindoura.
Chamam-lhe
Glaucopsyche melanops, da família
dos Licenídeos, mas
se a quiser conhecer
melhor poderá
designá-la por
borboleta azul-de-olhos-pretos, como
fazem os britânicos...
Acordar depois do frio
Bolbosa resiliente
Única no ano
João L
. Te
ixeira
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exposição relativa ao concurso nacional de foto-
grafi a da natureza Parques e Vida Selvagem abriu
sábado, 3 de novembro, pelas 15h00, com a en-
trega dos diversos prémios.
O salão reservado a estas mostras, no Parque Biológico de
Gaia, lotou.
Quer os premiados quer os demais concorrentes puderam
apreciar em primeira mão a meia centena de trabalhos expos-
tos, acompanhados por um catálogo melhorado, de várias pá-
ginas, a marcar a década de realização deste concurso.
Em 2012 o júri foi constituído por Ricardo Fonseca, Gaspar de
Jesus e Nuno Gomes Oliveira.
Ricardo Fonseca disse que «é de registar um número muito
signifi cativo de concorrentes que o concurso teve o mérito de
fi delizar. O sucesso do concurso de Fotografi a Parques e Vida
Selvagem implica para o Parque Biológico a responsabilidade
de manter a iniciativa que, em boa hora, há dez anos tomou.
Os fotógrafos certamente não esmorecerão o seu entusiasmo
e cada ano teremos o privilégio de continuar a apreciar um con-
junto de fotografi as da natureza com uma qualidade ao nível do
que de melhor vemos nas publicações da especialidade».
Na próxima primavera este concurso será retomado com novi-
dades.
Nature Photography ContestportfolioThe Exhibition of the Parks and Wildlife Nature Contest opened on November, 3rd with the presentation of the winning awards. In the Biological Park of Gaia, the Hall reserved for this Exhibition was packed. Both the winners and the competitors could enjoy the fifty photographs exhibited, accompanied by a catalogue that marked the ten years success of this Nature Photography Contest.
PRÉMIO ARTE FOTOGRÁFICA “Inferno” de Paulo Latães
Concurso Fotográfi co 10.ª edição
Abertura com entrega de prémios da 10.ª edição do concurso Parques e Vida Selvagem:
Ricardo Fonseca, membro do júri, entrega o prémio Arte Fotográfi ca a Paulo Latães, pelo seu
«Inferno»
14 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
14 PORTFOLIO
PRÉMIO ARTE FOTOGRÁFICA “Inferno” de Paulo Latães
seu
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 15
PRÉMIO FLORA, LÍQUENES E FUNGOS «Cogumelos» – «O bosque ripícola
do ribeiro de Corgo, em Arcos, Tabuaço, apresenta-se pela altura do outono na sua maior transfi guração. O desfolhar colorido do arvoredo dá lugar a espessos tapetes de folhas entrelaçadas pelo vento. Contrariando esta aparente perda de vi-talidade, os cogumelos dão ares da sua graça irrompendo, aparentemente vindos do nada, em locais mais sombrios e hú-midos». JORGE SANTOS • Nikon D70 • Nikon 60
mm micro • Abertura f/9 • Vel. 1/60s.
PRÉMIO FAUNA «Natureza Íntima», Salinas da Marinha da Troncalhada, Aveiro: «Entre maio e julho acompanhei algumas das espécies de aves que elegem este local para nidifi car,de que é exemplo esta andorinha-do-maranã. Para estas aves, as salinas são atrativas uma vez que não sofrem a infl uência do ciclo diário das marés, oferecendo-lhes por isso condições de alimentação e abrigo particularmente vantajosas. É um verdadeiro exemplo de que apesar da forte presença humana derivada da atividade salineira, é possível atingir um equilíbrio entre o aproveitamento económico de um recurso e a conservação dos valores naturais, neste caso, as aves.» HUGO AMADOR • Nikon D7000 • Nikon 300 mm.
PRÉMIO PAISAGEM «De Costas Voltadas» – «Esta foto foi obtida num dos meus raids fotográfi cos ao Alentejo. Na zona de Castro Verde, pareceu-me na altura interessante a extensão de fl ores, a árvore isolada e o céu com bastantes nuvens. Tal conjunto poderia dar uma composição interessante». MIGUEL AUGUSTO
MESQUITA • Nikon D700 • Objetiva Nikon 24-70
(a 24 mm) • Abertura f/22 • Vel. 1/250
PRÉMalgumaestas a
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PRÉMIO FLORA FUNGOS E LÍQUENES «Gerânio que encontrei, em maio deste ano, num terreno baldio perto da praia da Madalena, Gaia. Penso tratar--se de uma espécie botânica de jardim, mas parecia muito bem adaptada à vida selvagem. As pétalas já tinham caído. O que me atraiu foi a forma como o estigma e o estilete, pelo seu colorido contrastante, emergiam das sépalas e se destacavam do verde que os rodeava». JOSÉ MELIM Pentax K20D • Objectiva
Pentax 50 mm | 2.8 Macro • Abertura f/5,6 • Vel. 1/180 • Dist. Focal 50 mm • ISO 100.
PRÉMIO JORNAL DE NOTÍCIAS - JÚNIOR «Primavera À Conquista de Albergaria da Serra» – Serra da Freita, Arouca. «Em caminhada de fi nal de primavera, reparei que as nuvens cobriam a serra, formando um “degradé” curioso. Dava a impressão que o despontar do novo ciclo de vida tomava conta da aldeia e suas gentes». GONÇALO SILVA (11 anos) • Canon EOS
550D • Objetiva Canon EF-S18-55 IS • Abertura f/9.0 • Vel. 1/250, ISO 100.
PRÉMIO REGISTO DOCUMENTAL «Estrela-do-mar» – «Esta imagem foi captada na Costa da Caparica. Normalmente, acompanho com alguma regularidade os pescadores locais e tenho a possibilidade de documentar a realidade presente no seu dia-a-dia. A imagem da estrela surge num desses momentos, em que com algum tempo de espera encontrei uma estrela à beira--mar e reparei nas texturas, formas e luz que a embalavam. Enquanto a fotografava, apareceu a onda do mar, que decidi incluir na imagem. Achei que a espuma iria enriquecer mais a composição». JOÃO COUTINHO • Nikon D90 • Abertura f/9.0 • Vel. 1/320 • ISO 200.
16 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 17
O FIM DA LINHA «Em altura de nidifi cação, ia reparando num maior número de aves que apareciam mortas na berma das estradas, naturalmente seriam juvenis que se deixavam fi car sem receio e acabavam atropelados. E foi assim que, mal vi um gaio, numa tarde em que regressava a casa depois de mais um dia de trabalho, pensei logo em fazer um registo que descre-vesse o sucedido. Mais pela noite voltei ao local e fi z a fotografi a, compondo e esperando que passasse um carro e deixasse as linhas de luz, com uma velocidade mais lenta da exposição» SÉRGIO ESTEVES • Nikon D90 • Nikon 12-24 mm • Abertura f/4 • ISO 640.
PRÉMIO JÚNIOR «Garça branca e seu refl exo» – «Neste lindo dia estava na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, com o meu avô, a fotografar. Fica próximo da minha residência. Gosto muito da reserva, dada a diversidade de aves que lá costumo encontrar». PEDRO CALDAS Cardoso (13 anos) • Nikon D90 • Abertura f/6.3 – Vel. 1/2000.
BICOS DE CEGONHA «Semi-encobertos por um manto de lã seminal libertada pelo pequeno bosque de choupos, um grupo de bicos-de-cegonha peleja por um lugar ao sol. Casal de S. Tomé (Mira)». JOÃO PETRONILHO • Nikon D300s • Objetiva Nikkor
AF-S 105mm 1:2.8 G ED VR • Vel. 1/2000s • Abertura: f/3.2. ISO 200.
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18 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
BAIXA VELOCIDADE «A foto do pato-real foi tirada no Parque da Pas-teleira, onde aparecem algumas espé-cies não residentes e que se mantêm por períodos mais ou menos longos. No caso dos patos-reais, são frequentado-res regulares, dividindo o seu tempo pelo Parque e pelo Estuário do Douro». Luís gosta de «praticar e desenvolver técnicas pelas quais me interesso es-pecialmente, concretamente a baixa velocidade de obturação». LUÍS PINHEIRO
TORRES • Canon Mark IV • objetiva 300 mm
f:4.0 • Abertura f/6.3 • Vel. 1/80s • ISO 160.
ARICIA CRAMERA «Sempre que chega a primavera, gosto de percorrer os campos e bosques, registando a ex-plosão de vida que nessa altura ocorre. Fascinam-me particularmente os insetos não só pela função que desempenham mas também pela diversidade de formas, tamanhos e cores que apresentam. Esta pequena borboleta da família Lycaenidae, cuja distribuição ocorre essencialmente no Sul da Europa e Norte de África, des-cansava da atividade frenética diária, num prado, em Vila Nova de Gaia». VÍTOR SOUSA
• Nikon D90 • Objetiva Sigma 180 mm f/3,5D
- Abertura f/8 - Vel. 1/60s • ISO 200 • Flash.
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 19
TONS DE OUTONO» «O percurso da Penoita, Caramulo, é mágico no outono, a estação do ano em que mais me dedi-co à captação de imagens de paisagem. Nesta em particular, tinha acabado de chover e todas as cores fi caram mais saturadas: o momento pareceu-me ideal para a realização desta fotografi a». CÉSAR OLIVEIRA • Canon EOS 1D Mark IV • EF
24-70 F2.8 L • Flash 580 EX II.
migrador. O local é de uma riquíssima e surpreendente diversidade. A pureza das suas águas, a abundância de alimento, e vegetação envolvente é ideal não só para as espécies residentes e estivais, como reúne condições favoráveis de stop-over às espécies migratórias em trânsito». JOSÉ PAULO CARVALHO PEREIRA • Nikon D70s • Vel. 1/250 • Abertura f/13.
FUSFUSFUSFUSFUSELOELOELOELO OO, O ÉÉÉÉÉPÉPICOICO MIGRADOR NA ALBUFEIRA DO AZIBO «Em setembro, numa das minhas habituais saídas tive a sorte de registar a presença, algo inesperada e pouco comum, deste épicoi d O l l é d i í i d t di id d A d á b dâ i d li t t ã l t é id l ã ó é i id t ti i
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20 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
20 CONTRA-RELÓGIO
Diversidade
agrícola
Hoje em dia a maioria das espécies
cultivadas e o próprio gado
domesticado são o resultado
de alguns milhares de anos de
intervenção humana, com base na reprodução
seletiva e noutras práticas de origem humana.
Se é verdade que a diversidade biológica
é a base da agricultura, mais certo é que
a diversidade biológica agrícola inclui
ecossistemas, animais, plantas e micro-
organismos relacionados com a alimentação e a
agricultura. E mais: cada planta, animal e micro-
organismo desempenha uma determinada
função ao regular os serviços essenciais dos
ecossistemas, tais como a conservação da
água, a decomposição dos detritos e o ciclo de
nutrientes, a polinização, o controlo de pragas e
enfermidades, a regulação do clima, o controlo
da erosão e a prevenção das inundações, o
sequestro do carbono e muitos mais.
Embora seja verdade que as práticas agrícolas
modernas possibilitaram um grande aumento
de produção de alimentos, contribuindo
assim para a segurança alimentar e a redução
da pobreza, também é facto que elas são
responsáveis por danos consideráveis à
diversidade biológica.
É assim sobretudo pela mudança de
usos da terra e de igual modo pela sua
sobreexploração, com a intensifi cação dos
sistemas agrícolas de produção, o uso
excessivo de produtos químicos e de água, a
carga de nutrientes que procuram as linhas de
água, adicionando-se ainda a contaminação e
a introdução de espécies exóticas invasoras.
A agricultura forma parte da paisagem e neste
contexto tem de ser gerida de maneira sábia,
sustentável.
Os conhecimentos tradicionais de maneio
agrícola são fundamentais para manter a
diversidade biológica e garantir a segurança
alimentar global.
Hoje em dia estes conhecimentos seculares
estão a desaparecer, menosprezando-se regra
geral a importante contribuição que estes
saberes podem trazer.
A agricultura enfrenta agora duros reptos,
assentes na necessidade de satisfazer as
necessidades de uma população em contínuo
crescimento e, ao mesmo tempo, de reduzir
a pressão sobre os recursos da Terra e a
diversidade biológica.
Tecnicamente é possível superar estas
difi culdades mas, para isso, fazem falta
mudanças importantes nas políticas e um
planeamento mais dilatado.
Torna-se fundamental que os produtores
agrícolas, os consumidores, os governos e
demais agentes diretamente interessados
colaborem mais de forma efi caz para
obterem maior proveito da contribuição que
a diversidade biológica pode atingir dentro
de metas próximas de uma agricultura
sustentável.
Fonte: www.cbd.int
A diversidade biológica agrícola
é a fonte de um sem-fi m de alimentos
e matérias-primas que servem
para produzir inúmeros bens
Agricultural Biological DiversitycountdownIf it is true that Biological Diversity is the basis of agriculture, then it is more certain that Agricultural Biodiversity includes ecosystems, animals, plants and micro-organisms related to food and agriculture. In the midst of this Biodiversity Decade, it is necessary to review this subject.
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 21
•• Em matéria de utilização de água doce,
à agricultura corresponde cerca de 70%
da água utilizada pelos seres humanos
em todo o mundo, e o limite sustentável
de extração de água já foi alcançado ou
ultrapassado em muitas zonas.
•• O ritmo a que se está a perder
solo fértil no mundo é entre 13 a 18
vezes superior ao ritmo a que os
ecossistemas naturais o criaram.
•• Existem mais de 25 mil espécies de
abelha, mas as populações estão a
diminuir. Um terço da produção de
plantas cultivadas em todo o mundo
tem de ser polinizada para produzir
mais sementes e mais frutos.
•• A desfl orestação nos Trópicos e nas
regiões subtropicais, promovida em
muitos sítios pela agricultura, pode
levar à redução da precipitação a nível
regional, o que afeta a administração
sustentável de água.
•• A agricultura é responsável por
44% das emissões de metano e
aproximadamente por 70% de óxido
nitroso no estado gasoso.
•• Cerca de 20% das emissões de
CO2 na década de 90 originam-
se na alteração de uso da terra,
principalmente devido à desfl orestação
para fi ns agrícolas.
•• Mais de 826 milhões de pessoas
sofrem de fome e necessitam de 100
a 400 calorias adicionais por dia.
•• Entre as crianças em idade pré-
escolar, 32% delas apresentam um
peso insufi ciente.
•• Vinte por cento das 6500 raças de
animais domesticados enfrentam a
extinção.
•• Aproximadamente ¼ da população
mundial — 1300 milhões de pessoas
— trabalha na agricultura.
Jo
ão
L.
Teix
eira
Ág
ua (m
3 )
0
5 000
10 000
15 000
20 000
Mirtilo276
Batatas287
Framboesas413
Laranjas560
Maçãs822
Arroz1 673
Soja2 145
Azeitonas3 015
Lentilhas5 874
Castanhade caju14 218
Cacau19 928
Cultivo em toneladas no período compreendido entre 1996 e 2005
factos&números
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22 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
22 QUINTEIRO
OC. parasitica é um organismo
que consta do Anexo II, parte
A, secção II, alínea c, ponto 3,
do Decreto-lei n.º 154/2005,
republicado pelo Decreto-lei n.º 243/2009 de
17 de setembro, sendo por isso considerado
um organismo prejudicial cuja introdução
e dispersão é proibida, quando presente
em vegetais de Castanea Mill e Quercus L.,
destinados à plantação, exceto sementes.
Pensa-se que o fungo terá sido introduzido nos
Estados Unidos através da importação de plantas
da China ou Japão. Foi identifi cado pela primeira
vez no ano de 1904, em Nova Iorque. No fi nal dos
anos 20 do século passado, cerca de 3,5 biliões
de castanheiros americanos (Castanea dendata)
estavam infetados, conduzindo praticamente ao
desaparecimento desta espécie.
Na Europa, a doença foi assinalada pela primeira
vez em Itália, em 1938, tendo-se difundido
rapidamente. No fi nal dos anos 60, as zonas
cultivadas a sul da Europa já se encontravam
contaminadas.
Em Portugal o alerta surge em 1989, em
castanheiros europeus (Castanea sativa)
Cancro do
O “Cancro do Castanheiro” é uma doença
provocada pelo fungo Cryphonectria parasitica(Murrill) Barr., que se encontra disseminada pelos
soutos e castinçais portugueses, constituindo uma
das principais causas do seu declínio
nas regiões de Carrazedo de Montenegro e
Parada. Apesar de em fi nais dos anos 90 se
ter implementado o “Programa Nacional de
Erradicação do Cancro do Castanheiro”, tendo
a Direção Regional de Agricultura de Trás-os-
Montes ao longo de três anos monitorizado 82 mil
castanheiros, não foi possível erradicar o fungo,
tendo, no entanto, havido uma diminuição dos
níveis de infeção. Este programa permitiu ainda
que os produtores adotassem um conjunto de
boas práticas culturais que limitaram a rápida
dispersão da doença.
SintomasOs sintomas iniciais da doença, folhas secas de
cor amarela-acastanhada e ramos secos entre
a folhagem ainda verde, podem ser confundidos
com outras patologias. A observação mais
atenta dos ramos e tronco, permite detetar a
presença de cancros de cor avermelhada nas
plantas jovens, com fendilhamento longitudinal
da casca nas adultas. Sobre os cancros, na
primavera, com chuva são visíveis pústulas de cor
amarela-alaranjada, constituídas por peritecas e
picnidios (frutifi cações sexuadas e assexuadas,
respetivamente) do fungo. Debaixo da casca,
observa-se o micélio, de cor esbranquiçada ou
amarelada em forma de leque.
Como consequência do ataque do fungo há um
estrangulamento anelar, que impede a circulação
da seiva, conduzindo à morte dos ramos
situados acima da lesão. Abaixo da lesão há
desenvolvimento de ramos adventícios.
HospedeirosCastanea spp. (castanheiros), particularmente
C. dendata (castanheiro americano) e C. sativa(castanheiro europeu), C. molissima e C. crenatatêm um grau elevado de resistência.
Quercus spp., Castanopsis, Acer, Rhus typhina e Carya ovata poderão esporadicamente ser
infetados, não assumindo a doença gravidade
comparável com a do castanheiro.
Sintomas da doença em fase inicial
Tratamento de inverno com oxicloreto de cobre
Dulc
e A
nasta
cio
Cancro (coloração avermelhada)
Dulc
e A
nasta
cio
Estroma do fungo
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 23
BiologiaC. parasitica penetra no hospedeiro através de
feridas na casca (poda, fendilhamentos, etc.).
Os cirros alaranjados libertados dos conídios
em condições de elevada humidade relativa,
que contêm elevado número de esporos
(picnidiósporos), são transportados pelo vento,
chuva, insetos, pássaros e pequenos mamíferos,
dispersando assim a doença. O transporte de
madeira e garfos infetados, e a utilização de
instrumentos de poda sem desinfeção, contribuem
igualmente para a dispersão do cancro do
castanheiro.
Os ascósporos, são projetados das peritecas
(fenómeno mecânico) a poucos centímetros, sendo
posteriormente transportados a maiores distâncias
pelo vento. Tanto os picnidiósporos, como os
ascósporos dão origem a novas infeções.
Meios de controlo• Corte de ramos com cancros (cerca de 20 cm
abaixo da lesão).
• No tronco e ramos de maior diâmetro, extirpação
dos cancros, até atingir madeira sã, pincelando a
ferida com uma pasta à base de cobre.
• O material lenhoso infetado deve ser queimado
no local.
• Desinfetar os instrumentos utilizados na poda
(lixívia diluída ou álcool a 70o).
• Podar com tempo seco.
• Na plantação de pomares novos, utilizar plantas
sãs. Chamamos a atenção para o facto de
todas as plantas de Castanea spp., exceto
sementes, terem de circular acompanhados
por um passaporte fi tossanitário, que atesta o
cumprimento das exigências específi cas que
constam do Anexo IVAII, ponto 7 do Decreto-
Bibliografi aAgrios, G. N. (2005) Plant Pathology, 5th edition,
Elsevier Academic Press, London, UK. 922pp.
BRAGANÇA, Helena et al. “Cancro do castanheiro”
– dispersão da doença em Portugal. Caso-estudo para
determinação de factores de dispersão. Disponível
em http://www.esac.pt/cernas/cfn5/docs/T5-44.pdfAcessos em 23 nov. 2012.
BRAGANÇA, Helena et al. Survey and geographic
distribution of chestnut blight in Portugal. Rev. de Ciências Agrárias, Lisboa, v. 31, n. 2, dez. 2008.
Disponível em http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-018X2008000200018&lng=pt&nrm=iso Acessos em 23 nov. 2012.
CARVALHEIRA, Marta et al. O “Cancro do Castanheiro”
no Nordeste Transmontano – Medidas para Travar o
seu desenvolvimento. Silva Lusitana, Lisboa, 8(2):239
– 244, 2000. Disponível em https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/5954/3/Silva%20Lusitana.pdf Acessos em 23 nov. 2012.
GOUVEIA, Eugénia et al. Epidemiologia do cancro
do castanheiro. Dinâmica da distribuição espacial de
Cryphonectria parasitica (Murril) Barr. Disponível em
https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/3361Acessos em 23 nov. 2012.
OEPP/EPPO (2005). Cryphonectria parasitica. Bulletin Bulletin 35, 271-273. Disponível em http://www.eppo.int/QUARANTINE/fungi/Cryphonectria_parasitica/pm7-45(1)%20ENDOPA%20web.pdf Acessos em 28
nov. 2012.
lei n.º 243/2009 (constatação ofi cial de que os
vegetais são originários de áreas isentas de
C. parasitica ou não se observaram sintomas
da presença de C. parasitica, nem no local de
produção nem na sua vizinhança imediata,
desde o início do último ciclo vegetativo
completo).
• Colher material para enxertia em soutos sãos.
Os resultados de um estudo realizado por
Gouveia, et al., indicaram que o corte e extirpação
de ramos são mais efi cazes se realizados em
pomares onde o nível de infeção ainda é baixo.
Esta prática não permite uma recuperação
defi nitiva das árvores.
Deverá promover-se a formação da copa das
árvores o mais cedo possível, de forma a evitar
grandes cortes.
Nalguns locais tem-se observado a cicatrização
espontânea de cancros. Este fenómeno deve-
se à presença de estirpes hipovirulentas de C. parasitica. No âmbito da luta biológica tem-se
procurado implementar esta metodologia,
através do isolamento das estirpes hipovirulentas,
quando presentes, nos povoamentos, e posterior
inoculação nas árvores infetadas. D
ulc
e A
nastá
cio
Cancro (coloração avermelhada)
Gis
ela
Chic
au
Gis
ela
Chic
au
Fendilhamento longitudinal da casca
Dulc
e A
nasta
cio
Dulc
e A
nasta
cio
Cirro de C. parasitica
Por Gisela Chicau Eng. Agrónoma
Maria Dulce Anastácio Eng. Agrónoma
Miguel Rebelo Eng. Agrícola (DRAPN – DSCA)
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24 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
24 QUINTEIRO
Aves selvagens
Vai umcheirinho?
Até há bem pouco tempo era ponto
assente que a esmagadora maioria
das aves não teria um olfato
signifi cativo. As suas perceções
esgotar-se-iam, indiscutivelmente, na visão e na
audição.
Começaram entretanto a surgir factos que
questionam esse ponto de vista. Um deles
envolve aves tão habituais como os estorninhos.
Observou-se que levam para os seus ninhos folhas
de determinadas plantas no intuito de repelirem a
presença de piolhos e outros parasitas.
Agora que o inverno abre caminho à próxima
estação do ano, começará a ouvir as aves a cantar
no seu jardim. Poderá concluir que deverão ter
um bom sentido auditivo, superior ao nosso, não
só para distinguirem a territorialidade e tudo o que
lhe está associado como para estarem alerta face
O quivi, Apteryx sp., consegue
cheirar minhocas até pelo menos 15 centímetros
de profundidade. Como evoluiu
em habitats do atual território neo-zelandês praticamente
sem predadores pôde desistir de
voar aplicando esse esforço evolutivo no
desenvolvimento de outros sentidos.
a predadores, dada a sua posição intermédia na
cadeia alimentar. Se não conjugarem as perceções
para detetarem a tempo o avanço de um gato, por
exemplo, evidenciariam uma fragilidade fatal.
Também se tornou evidente que a visão é um
sentido muito desenvolvido nas aves, quer à
distância quer na proximidade das ramagens
de uma árvore. A deteção de grão, de larvas
de insetos e outros alimentos revela-se rápida e
efi caz.
Outros sentidos — como o tato, o paladar ou o
olfato — costumavam passar ao lado no que toca
às pesquisas ornitológicas.
Mesmo assim, quantas vezes observou uma das
mais frequentes aves das cercanias, o melro, a
bicar certeiramente no relvado e a extrair minhocas
que decerto não vê à superfície do solo?
Isso leva a ponderar que esta ave terá um ouvido
muito apurado. Mas, mesmo que à partida pareça
errado, até que ponto não se poderá colocar a
hipótese de haver algum tipo de odor associado
ao sítio em que uma minhoca está ativa que o
melro consegue detetar?
Seja como for, não é de duvidar que haja
novidades na investigação científi ca neste campo
que venha a desmistifi car ideias-feitas que se
consolidam com o tempo até que sejam, com
fundamento, postas em causa.
A arte da sobrevivência na vida selvagem não
é tarefa fácil e só a conjugação de um leque
alargado de soluções na obtenção de alimento
consegue dar a estes seres de metabolismo
acelerado um tempo de vida que lhes permite
passar os seus genes aos descendentes.
Faz sentido por isso ajudar esta fasquia da
biodiversidade na medida em que lhe seja
possível.
A conservação de habitats de alimentação e de
reprodução é fundamental mas se puder manter
no seu jardim um comedouro para aves selvagens
estará com certeza a auxiliar.
Agora que o inverno se torna mais curto, o tempo
de reservar território e fazer ninho está a chegar. Já
instalou alguma caixa-ninho no seu jardim?
Texto Jorge Gomes
A ideia de que as
aves têm um sentido
do olfato pouco apurado
começa a tremelicar:
pensava-se que a vida
destes animais
se centrava em pouco
mais do que a excelência
da visão e da audição,
mas a pesquisa avança
e colhe novidades em
torno desta pergunta
– o olfato destes animais
será mesmo um sentido
menor?
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 25
O urubu, sul-americano,
consegue localizar pelo olfato
debaixo da fl oresta tropical
carcaças de que se alimenta
Estorninho-malhado: esta
espécie costuma fazer ninho em
buracos de árvores e de muros,
onde põe alguns ovos azulados;
aceita também caixas-ninho, só
que com uma abertura de um
diâmetro um pouco maior do
que as próprias para chapins e
outros passeriformes de menor
dimensão
Não deixa de ser polémico,
mas depois de instalada uma
caixa-ninho no seu jardim, fora
do alcance dos gatos, pode
optar por a limpar no inverno.
Na fotografi a, a reforma de
alguns ninhos em mau estado
no Parque Biológico de Gaia por
técnicos de educação ambiental
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26 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
26 DUNAS
Cordão dunar
Parque de
Dunasda Aguda
Levados pelo embalo das ondas ou
simplesmente deambulando ao sabor da
brisa marinha, há cerca de 14 quilómetros de
litoral em Vila Nova de Gaia, passadiços fora.
Domina ali o cordão dunar, sobretudo para
sul, logo a seguir aos granitos de Lavadores,
com a bonita idade de aproximadamente
300 milhões de anos, nas palavras dos
geólogos.
Ao dirigir-se para sul, a linha da costa faz-se
de areia.
Para que esta se aguente, há uma espécie
botânica do grupo das gramíneas que não
deixa os seus créditos em mãos alheias:
chama-se estorno e leva por nome científi co
Ammophila arenaria. Sob a areia, estende
longas raízes que, além de assegurarem a
vida da parte visível da planta, à luz do sol,
criam uma estrutura efi caz na retenção das
areias que dão corpo à duna.
Juntam-se sucessivamente umas boas
dezenas de outras espécies de plantas
nativas típicas do ambiente dunar, reunindo
todas elas diferentes talentos para ali viver,
sempre com raízes neste tipo difícil de solo.
O cordão dunar continua a ser a primeira
linha de proteção da terra face ao mar.
Os passadiços e os regeneradores das
dunas são ambos estruturas de madeira
pensados para ajudarem a reabilitar estes
habitats sob proteção legal, sem contudo
fazerem milagres.
No cordão dunar, rumo a sul, tem ainda
muito para ver, ao sabor de cada estação,
inclusive no inverno.
Certo é, mesmo assim, que nada substitui
uma visita pessoal a estes espaços onde a
salsugem do mar se sente ao longo de todo
o ano.
Manhã de 4 de outubro: libertação de borrelhos-de-coleira-interrompida reabilitados no Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 27
No inverno os borrelhos andam em
bandos.
E estamos em crer que estes dois
juvenis, libertados na manhã de 4 de
outubro, andem pelo litoral a dar à asa entre a
rebentação das ondas do mar e as dunas com a
sua vegetação típica.
No nosso clima, esta é a época do ano em que
as plantas das dunas sentem temperaturas
mais frias e quando a humidade mais as visita,
enquanto preparam o rejuvenescimento da
primavera.
Ao visitar o Parque de Dunas da Aguda, não verá
agora a maior parte das fl ores destas espécies,
que ajudam a distingui-las na areia, mas nem por
isso a sua função fi xadora deixará de se sentir.
Este parque com cerca de dois hectares,
desde 1997 que sensibiliza a população para a
importância da conservação dos ecossistemas
dunares.
Numa primeira linha as dunas são essenciais para
travar o avanço do mar. No caso concreto da
Aguda, se estas dunas desaparecessem — e para
isso bastaria abri-las ao pisoteio para as pessoas
acederem ao mar sem passadiços — a estrada
passaria a ser uma marginal constantemente
inundada, no inverno, pelas ondas do mar, que
chegaria às casas.
As dunas são também o habitat de muitas
espécies animais e vegetais, algumas delas
endémicas, ou seja, com populações restritas a
uma região, ou raras.
As plantas das dunas são o tecido pelo qual se
torna consistente a vida de aves do litoral, como
os borrelhos, de pequenos répteis e anfíbios,
invertebrados, entre outros.
Aquilo que mais destrói as plantas que vivem nas
dunas é a construção ilegal, o despejo de lixo, a
circulação desordenada de veículos motorizados
ou mesmo andar a pé em cima delas.
Além disso, as dunas são habitats protegidos
por lei. Protegê-las é um serviço que a todos
benefi cia.
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28 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
28 DUNAS
Durante o Fim de Semana Europeu de Observação de Aves estiveram ativos centenas
Fim de Semana Europeu de Observação de Aves na RNLED
Pato-preto, Melanitta nigra, uma ave que passa o inverno no mar português e regressa
na primavera à nidifi cação na tundra do Norte europeu
Em 6 e 7 de outubro realizou-se o Fim de
Semana Europeu de Observação de Aves
(EuroBirdwatch 2012).
O evento, de caráter internacional,
é promovido anualmente pelo BirdLife, uma
associação ornitológica que tem por parceiro em
Portugal a Sociedade Portuguesa para o Estudo das
Aves.
Na Reserva Natural Local do Estuário do Douro
estes dias juntaram ambas as instituições e o
Parque Biológico de Gaia, entidade gestora desta
área protegida.
Quem passeava perto sentiu curiosidade. Depois
das observações e de explicado o contexto,
houve até quem dissesse: «O passeio de bicicleta
trouxe-nos aqui. Ficamos felizes por este encontro
casual que nos enriqueceu». Outra participante
afi rmou: «Achámos a iniciativa muito interessante.
Gostávamos que repetissem e agradecemos a
disponibilidade do técnico que nos acompanhou».
Outro interveniente expressou-se assim: «Gostámos!
Moramos aqui tão perto e não tínhamos
conhecimento da variedade de aves que aqui
passam...».
«Adorámos a aproximação às aves. Ver espécies
diferentes, que nunca vimos, só em fotografi as.
As crianças fi caram fascinadas. Obrigada pelo
momento especial», diz uma mãe.
Ao todo, sábado, 6 de outubro, contaram-se 91
participantes e no dia seguinte 228. Em ambos
os dias foram observadas 40 espécies de aves.
Registaram-se 31 espécies de aves no sábado, e,
domingo, 36.
Os registos que se têm realizado desde 2010 nesta
Reserva Natural, inseridos no plano de Rastreio de
Aves Anilhadas, têm contribuído para conhecer os
movimentos de deslocações de espécies europeias
que são acompanhadas por projetos de estudo
específi cos, reconhecendo-se cada vez mais a
nível europeu a importância de pequenos espaços
que hoje são desvalorizados pelo facto das aves
apresentarem fi delidade a determinados locais que
não estão diretamente associados a grandes áreas.
Reserva Natural Local do Estuário do D
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aq
uim
Oliv
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PelecaniformesPelecaniformesPhalacrocorax carboCiconiformesEgretta garzettaArdea cinereaAnseriformesAnas platyrhynchosMelanitta nigra
CharadriiformesCharadriiformesHaemantopus ostralegusCharadrius hiaticulaArenaria interpresPluvialis squatarolaCalidris alpinaCalidris albaNumenius arquataNumenius phaeopusLimosa lapponica
Actitis hypoleucosTringa totanusLarus marinusLarus fuscusLarus michahellisIchthyaetus melanocephalusChroicocephalus ridibundusThalasseus sandvicensis
ColumbiformesColumbiformesColumba liviaApodiformesApus apus
CoraciiformesCoraciiformesAlcedo atthis
FalconiformesFalconiformesFalco tinnunculus
PasseriformesPasseriformesDelichon urbicumCecropis dauricaHirundo rusticaMotacilla albaPica picaCisticola juncidisPhylloscopus trochilusOenanthe oenanthe
Saxicola torquitaTurdus merulaPhoenicurus ochrurosPasser domesticusCarduelis chloris Serinus serinus
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 29
nas de participantes
Chapinhar para petiscar
Agora que estamos no inverno é altura de
relembrar os tempos de infância, em que todos
tínhamos um certo gosto por chapinhar nas
poças. Este comportamento, que para as crianças é um
divertimento, para muitas aves pode ser uma questão de
sobrevivência.
A RNLED é o cenário indicado para recordar esses
momentos de juventude, observando as aves. Deixamos
assim aqui um registo concreto.
Uma gaivota Larus fuscus intermedius belga (nasceu em
Zeebrugge - West-Vlaanderen - próximo da fronteira com
Holanda), com pouco mais de dois anos de idade, tem
permanecido na RNLED, fazendo desta área protegida a sua
segunda morada.
Tem-se revelado exímia na técnica de “chapinhar”
(trembling foot), técnica utilizada normalmente em águas
turvas e lamacentas que auxilia na captura de pequenos
animais aquáticos. Pode ser descrita da seguinte forma:
a ave desloca-se devagar sempre com as patas na água,
arrastando-as e agitando-as alternadamente provocando
uma trepidação que dura alguns segundos. Desta forma
tenta localizar e capturar potenciais presas que estejam
escondidas na lama, conseguindo assim boas refeições.
O “trembling foot” é um comportamento evidente em muitas
espécies. Talvez a tradução mais compreensível seja “bater
com os pés rápida e alternadamente”.
Esta técnica começou a ser descrita no fi nal da segunda
década do século passado e é utilizada por borrelhos,
tarambolas, pilritos...
Algumas gaivotas também utilizam este estratagema
nas zonas intertidais e encharcadas, batendo na água
(chapinhando) de forma a remexer o substrato, conseguindo
capturar pequenos animais ali escondidos.
Este chapinhar é também utilizado pelos borrelhos durante a
altura de nidifi cação como forma de criarem a concavidade
própria na areia (ninho) para colocarem os ovos.
É interessante observar estas aves que lembram o
sapateado de Fred Astaire e Ginger Rogers dos famosos
musicais da Broadway da década de 30, ou mesmo o
sapateado irlandês, verdadeiros artistas naturais que atuam
numa “casa de espetáculos” conhecida por RNLED.
Por Paulo Faria
Gaivota com a anilha de cor azul com código N.JAR e anilha metálica com referência L912857, em ativo “chapinhar gastronómico” - ave observada na RNLED desde 11 de julho de 2012 a 29 de setembro do mesmo ano.
o Douro
Escrevedeira-das-nevesNos dois últimos meses do ano passado passou pela
Reserva Natural Local do Estuário do Douro uma
escrevedeira-das-neves, Plectrophenax nivalis.
Trata-se de uma espécie de ave de «alta montanha que
se distribui pelas regiões árticas da Europa, da Ásia e
da América».
No inverno «migra para latitudes mais temperadas.
Portugal não é um dos seus locais importantes de
invernada mas, mesmo assim, esta ave pode ser vista
entre outubro e março nas terras altas e nas zonas
dunares». Na RNLED, a lista ornitológica já vai além da
210.ª espécie ali observada.
Hélder Vieira viu em 30 de novembro de 2012 uma gralha-cinzenta, Corvus corone cornix, com o telescópio a alimentar-se junto dos corvos-marinhos na "ilha" de areia em frente ao observatório mais avançado da RNLED. Trata-se de uma subespécie do Centro da Europa. Paulo Leite, fotógrafo da natureza, estava ao lado e conseguiu registar esta raridade quando voou: será a segunda vez que a espécie é observada em Portugal!
Paulo
Leite
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30 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
O Homem percorre-o há milhares
de anos mas apenas em 1872
é que começou a fazer os
primeiros estudos de Biologia
Marinha e Oceanografi a, com o navio inglês
“Challenger”, já equipado com laboratórios
e instrumentário científi co a bordo. Desde
então, as Ciências do Mar evoluíram,
sobretudo na segunda metade no século
passado.
Quase ao mesmo tempo nasceram as
Estações Marinhas na costa europeia para
fornecer condições de trabalho para o estudo
dos organismos marinhos no seu habitat
natural.
A mais antiga estação data de 1871 e foi
construída em Roscoff na costa Norte de
França. A mais famosa de todas, a Estação
Zoológica de Nápoles, nasceu em 1873
na Itália. Grandes cientistas visitaram-na
regularmente para estudar a fauna e fl ora
marinhas locais. As amostragens do material
eram tarefa dos pescadores locais que
conheciam muito bem a área e também eram
peritos nas técnicas de colheita. Isto motivou
os fundadores das primeiras estações
marinhas a construírem os edifícios perto ou
mesmo dentro dos portos de pesca locais.
No Porto, a Estação de Zoologia Marítima
foi criada em 1914 pelo Professor Doutor
Augusto Nobre da Universidade do Porto.
Em paralelo, os Aquários Públicos
conquistaram o mundo ao longo das costas.
O primeiro aquário público abriu em Londres
no ano de 1853, e o primeiro guia de um
aquário foi publicado em 1855. Em Lisboa, o
Aquário Vasco da Gama foi inaugurado em 1898,
numa cerimónia de grande impacto público e na
presença da Família Real.
Desde então a evolução técnica e científi ca
dos aquários nunca mais parou e continua a
surpreender ano após ano, com construções
arquitetónicas cada vez mais sofi sticadas.
Grandes Oceanários, com milhões de litros de
água salgada artifi cial, foram erguidos, até longe
da costa, no interior de alguns países. Até hoje
construíram-se mais de 650 aquários em todo
o mundo, para além dos que estão integrados
nos jardins zoológicos. Atualmente, 50 novos
oceanários/aquários estão em construção e
esta tendência parece que não vai parar. No
entanto, apenas metade das cem maiores
cidades do mundo possui um aquário público,
em contrapartida algumas cidades têm mais do
que um.
Com 60 milhões de litros de água, que albergam
mais de cem mil animais de 800 espécies
diferentes, o maior oceanário do mundo o
“Marine Life Park” abre em Singapura em
dezembro de 2012, com um investimento total
de 5,4 mil milhões de euros.
A visita a um aquário, desde que este esteja
organizado e montado pedagogicamente,
contribui para informar, ensinar e consciencializar
o público em relação à biodiversidade aquática,
aos problemas e programas de conservação
e proteção da Natureza… muito mais do que
qualquer artigo na imprensa diária, numa
revista de divulgação científi ca ou num canal de
televisão.
A mensagem transmitida por um aquário ao
visitante deve fazê-lo sentir-se consciente e,
assim, mais responsável pela preservação
de um património de beleza indescritível e de
Desde tempos remotos, o mar foi
fonte de alimento, local de descoberta,
de comércio e lazer
Estação de Zoologia Marítima Dr. Augusto Nobre (Autor desconhecido) Aquário Vasco da Gama (Marinha Portuguesa)
Pesca artesanal na Praia da Aguda
AgudaVocação
estação litoral
30 DUNAS
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 31
importância ímpar, que são os oceanos e mares,
lagos, rios e ribeiros.
A Estação Litoral da Aguda (ELA) nasceu numa
praia conhecida pela pesca artesanal, a Praia
da Aguda em Vila Nova de Gaia, município que
adotou e se responsabilizou pelo projeto.
A ELA é pequena quando comparada com
a grande maioria dos aquários públicos mas
também integra um Museu das Pescas, que
exibe objetos únicos de todo o mundo, alguns
com mais de dois mil anos de idade. Ainda tem
um Departamento de Educação e Investigação
que fornece vários programas de educação
ambiental para todas as classes de idade e
todos os níveis pedagógicos, incluindo o ensino
superior.
A famosa frase “small is beautiful” pode aplicar-
se ao caso da ELA. Em cada visita encontra-se
algo de novo e diferente. Espécies locais são
introduzidas e mantidas nos aquários, algumas
delas raridades, enquanto outras conseguem
mesmo reproduzir-se ou atingir grandes
dimensões em pouco tempo. É uma montra
representativa da biodiversidade aquática
local, sobretudo marinha. As coleções no
Museu das Pescas são enriquecidas com
novas peças vindas dos cantos mais remotos
do mundo, e os Programas Pedagógicos são
esporadicamente atualizados e adaptados de
acordo com as novas realidades. A ELA pratica
investigação científi ca nas áreas da Ecologia
Marinha, Aquacultura e Pescas, e também está
ativa no âmbito da conservação da Natureza,
recuperando e libertando organismos marinhos
como tartarugas-marinhas (Caretta caretta) e
lavagantes juvenis (Homarus gammarus), o que
tem sido feito sistematicamente nos últimos
anos.
A vocação da ELA é inspirar os visitantes
de todas as faixas etárias para melhor
entenderem, valorizarem e se preocuparem
com a vida marinha costeira, informando,
educando e divertindo ao mesmo tempo,
através de uma exposição fascinante.
Por Mike Weber
Estação Litoral da Aguda ELA
Aquário da ELA Museu das Pescas da ELA
ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDARua Alfredo Dias, Praia da Aguda
4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia
Tel.: 227 536 360 / fax: 227 535 155
[email protected]ção-ela.pt
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32 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Parque da Lavandeira
Na manhã de 18 de dezembro,
o presidente do Município de
Vila Nova de Gaia, Luís Filipe
Menezes, apresentou no Parque
da Lavandeira a candidatura ao próximo
quadro comunitário de apoio da reabilitação
da estufa do jardim romântico da quinta da
Lavandeira.
Para esse feito está criada uma parceria entre
a família proprietária de terrenos adjacentes
ao Parque da Lavandeira, onde se situa uma
estufa com interesse histórico, «um exemplar
único na Península Ibérica, associado a um
jardim romântico».
Em visita ao local, Menezes afi rmou: «Temos
o compromisso de tratar bem este espaço
e preparar uma candidatura para recuperar este
património».
Adiantou que está em curso «um conjunto de
processos que visam alargar os espaços verdes
do concelho», sendo «este parque municipal o
mais central da cidade». Rematou: «É um trabalho
que não está fechado. Espero que nos próximos
anos continue».
Numa década «os cidadãos de Gaia dispõem do
triplo de área verde conseguida no concelho: de
2,5 metros quadrados por habitante, Gaia oferece
agora 8,5 metros quadrados», sublinhou Menezes.
Este parque fi ca em Oliveira do Douro.
Com entrada grátis, está aberto todos os dias
e nele ocorrem várias iniciativas de participação
gratuita.
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 33
Jo
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eira Parque Botânico
do castelo
As mulheres do campo vêm à vilaAos sábados de manhã, venda de legumes sem
pesticidas.
YogaA orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa
Bernardo, que proporciona a atividade em regime
de voluntariado. Quartas e sextas-feiras às 9h45.
Tai ChiÀs terças e quintas-feiras, aulas às 9h30.
Participação e entrada grátis.
O trabalho de campo tem vindo
a ser promovido pela empresa
municipal Águas e Parque
Biológico de Gaia e realizado
pelo Gabinete de História, Arqueologia
e Património da Confraria Queirosiana,
coordenado pelos arqueólogos J. A.
Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva.
Os arqueólogos suspeitavam que existisse na
praia de Favaios este porto, com base no espólio
vindo de longe, nas cantarias de bom porte por
ali dispersas e nas indicações do levantamento
geofísico ali realizado por geo-radar, que indiciou
a existência de estruturas enterradas na areia.
Também a compreensão do sítio que o estudo
do complexo arqueológico de Crestuma tem
vindo a proporcionar foi decisiva.
Para tal foram mobilizados diversos meios
técnicos e uma equipa com núcleos de aptidões
diversas. Enquanto na praia junto à linha de
água foi colocada a operar uma máquina
escavadora, eram cheios sacos de areia para
entivar a área escavada e acionado um grupo
de motobombas. No rio Douro uma equipa de
mergulhadores da Companhia de Sapadores
Bombeiros efetuou o reconhecimento
subaquático da zona sob a indicação dos
arqueólogos.
Todas estas ações foram devidamente
registadas em terra, e também na água através
da colaboração da Junta de Freguesia de
Crestuma, que para o efeito disponibilizou um
barco e tripulação.
Começaram a aparecer na área escavada da
praia algumas cantarias de granito aparelhadas
à maneira romana, estruturadas entre si.
Procedeu-se de imediato à sua limpeza e registo.
Entretanto em meio subaquático os
mergulhadores registaram diversas existências
de espólio e outros elementos que valorizam o
conhecimento do sítio.
No fi nal dos trabalhos foi reposta a paisagem,
pois não era possível, nas atuais circunstâncias,
manter à vista as estruturas descobertas.
Os trabalhos desta campanha passaram
entretanto à fase de estudo, devendo prosseguir
no terreno no verão.
Como aconteceu noutras épocas, quando o
inverno passar o Parque Botânico do Castelo
irá começar a cobrir-se de um novo ciclo de
fl oração silvestre, o que dá um toque singular à
linda paisagem do sítio. A entrada neste parque
é grátis.
Momento dos trabalhos arqueológicos de setembro do ano passado
Concluiu-se a terceira
campanha de escavações
arqueológicas no Castelo
de Crestuma em 22 de
setembro e confi rmou-se
a existência de um cais
romano
Direitos R
eserv
ad
os
Agenda
Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook,
no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira),
enviar uma mensagem pelo e-mail [email protected]
ou telefonar para 227 878 138.
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34 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
34 ESPAÇOS VERDES
O Plano Diretor Municipal já marcava os novos espaços há anos mas
só nesta altura se tornou possível alargar os 35 hectares que compõem
este equipamento de educação ambiental
“Oalargamento do Parque
Biológico de Gaia surge
no contexto de um grande
objetivo: chegar em apenas
uma década a uma ocupação de espaços
verdes per capita em Gaia que tivesse o nível
do Norte da Europa», disse o presidente da
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Luís
Filipe Menezes, quando da cerimónia que
assinalou a nova fase de ampliação do Parque
Biológico de Gaia, no fi nal da manhã de 30 de
outubro passado.
Aos 35 hectares já fl orestados somaram-
se agora mais sete, em parte graças à
colaboração de mecenas da campanha
“Confi e ao Parque Biológico de Gaia o
Sequestro de Carbono”, em curso desde há
quatro anos.
Os resultados desta iniciativa tinham sido
acabados de apresentar no auditório por
Nuno Gomes Oliveira que referiu uma ligação
histórica à segunda Invasão Francesa, nos
idos de 1809, de um velho caminho, o
caminho de Viseu.
Nas próprias palavras de Menezes, o
alargamento do Parque Biológico em mais sete
hectares é um passo para atingir os 58 que
constam do Plano Diretor Municipal, capazes
de consolidar esta pequena reserva de natureza
«como parque urbano com este tipo de
características, porventura o mais importante e
mais signifi cativo da Península Ibérica».
Esta ampliação da área do Parque está
associada «a uma política de educação
ambiental e a uma prestação de serviços um
pouco por todo o país».
Parque Biológico de Gaia
ampliado
Caminho de Viseu
Área ampliada6,8 hectares
Área existenteaté 18 de maio de 201235 hectares
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 35
Além disso, estes metros quadrados verdes
garantem «42 hectares de fl oresta autóctone
que fi xam a cada ano 1600 toneladas de dióxido
de carbono».
No novo espaço há também uma ribeira, que
enriquece a biodiversidade da área recém-
adquirida.
Ficam a faltar 16 hectares para o parque agregar
a área que o afasta da auto-estrada.
Estando marcado o 30.º aniversário do Parque
Biológico de Gaia para março de 2013, esta foi,
com certeza, a antecipação de uma boa prenda.
Luís Filipe Menezes: plantação simbólica de um carvalho na área ampliada
Visita à área ampliada do Parque J
oão L
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36 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
36 ESPAÇOS VERDES
Ao fi nal da manhã, o Parque Biológico de
Gaia recebeu o visitante n.º 2 500 000,
Carlos Pimenta, antigo Secretário de
Estado do Ambiente.
O Presidente do Município gaiense, Luís Filipe
Menezes marcou presença e disse, a respeito de
Carlos Pimenta, que é “o grande criador da política
ambiental em Portugal”.
As declarações foram prestadas depois de um breve
passeio pelo percurso de descoberta
da natureza até ao complexo de
exposições intitulado Biorama, local
onde Carlos Pimenta não disfarçou o
facto de se sentir sensibilizado com
a distinção e com a evolução do
Parque: “Este projeto em Gaia é do
melhor que há no mundo. Hoje, ao
ver o Parque, a sua expansão, o seu
número de visitantes e, principalmente,
a obra que é feita com amor por toda
uma comunidade viva de pessoas,
recheada de vivências e de educação
ambiental, sinto-me comovido”.
Adiantou que “não é só o produto
interno bruto por habitante que mede a realização
de cada um: é também o tipo de relação com o
verde, a sensação de que não estamos a delapidar
o capital natural”. E confessou: “Tenho para mim que
a grande crise que a humanidade terá de enfrentar
– eu sou um otimista, acho que temos capacidade
para a enfrentar – não é a crise dos problemas
fi nanceiros, mas sim a crise do capital natural que
a geração atual e as anteriores, desde a revolução
industrial, geraram, com a perda de biodiversidade,
a quantidade de espécies que desaparecem
cada dia para sempre, com a acumulação de
resíduos tóxicos e de metais pesados e de outras
substâncias que se acumulam na cadeia alimentar.
Se hoje se fi zer uma análise de sangue a um
albatroz do Pacífi co
surge um cocktail de
químicos que não havia
no fi nal da II Grande
Guerra Mundial. Não
há natureza que
aguente este tipo de
excessos”.
Como registo do
momento fi cou uma
placa comemorativa
na entrada do centro
de acolhimento do
Parque.
O Município de Vila
Nova de Gaia “investiu cerca de 125 milhões de
euros na melhoria das condições ambientais” ao
longo do mandato de Luís Filipe Menezes. Hoje
distingue-se com cerca de 8 metros quadrados de
espaços verdes por habitante, “um valor ao nível
dos países nórdicos”, salientou o autarca.
Carlos Pimenta visitante
2 500 000
Conhece o Parque
Biológico de Gaia
desde o seu início:
em 9 de novembro,
Carlos Pimenta
foi o visitante
n.º 2500000!
Carlos Pimenta: “Hoje, ao ver o Parque, a sua expansão, o seu número de visitantes e, principalmente, a obra que é feita com amor por toda uma comunidade viva de pessoas, recheada de vivências e de educação ambiental, sinto-me comovido”
De tarde Carlos Pimenta visitou a Reserva Natural Local do Estuário do Douro
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 37
Em 11 de dezembro o presidente do
Município de Vila Nova de Gaia, Luís
Filipe Menezes, despoletou a fase inicial
da construção do Parque Ponte Maria
Pia, um dos novos espaços verdes da
cidade.
Para o efeito, simbolicamente plantou a
sua primeira árvore, um azevinho.
Este parque «é muito interessante
porque fi ca situado numa zona urbana
e de transição de freguesias», disse,
referindo entretanto o prolongamento até
à ponte Luís I para, mais tarde, através
de um circuito ciclo-pedonal e outro para
veículos elétricos, fazer a ligação entre a
Alfândega do Porto e a Praia da Granja.
O parque vai desenvolver-se em duas
fases. Nesta, abrange o espaço até ao
viaduto do antigo canal ferroviário Porto/
Lisboa, desativado.Na segunda estender-
se-á até à ponte Maria Pia.
Será um parque simples, de passeio
e de lazer, mas importante numa área
densamente povoada.
Parque Ponte Maria Pia
João L
. Te
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38 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
38 ESPAÇOS VERDES
Maria da Luz Gebuza visita o Parque Biológico
Maria da Luz Gebusa liberta um andorinhão juvenil reabilitado pelo Centro de Recuperação de Fauna Selvagem
Maria da Luz Gebuza, esposa
do Presidente da República de
Moçambique, visitou em 22 de
novembro o Parque Biológico
de Gaia. Recebida inicialmente no auditório,
assistiu a um vídeo que apresenta uma síntese
do que é o parque, tendo ainda, após uma
apresentação do Presidente do Conselho de
Administração das Águas e Parque Biológico
de Gaia, EEM, José Miranda de Sousa Maciel,
sobre o trabalho realizado na última década
em matéria de melhoria da qualidade da água
e do saneamento em Vila Nova de Gaia,
visitado a exposição permanente “Encantos &
Desencantos” e as exposições temporárias que a
complementam.
No início do pecurso de descoberta da natureza
libertou vários andorinhões juvenis, reabilitados
pelo Centro de Recuperação de Fauna do
Parque, também eles aves migradoras que nesta
época andam em África.
A passagem de Maria da Luz Gebusa, que
curiosamente é bióloga, por este equipamento
de educação ambiental foi possível tendo em
consideração o facto de nessa altura ter estado
em viagem de trabalho na região do Porto.
A visitante disse que a visita a Portugal é uma
oportunidade singular para o reforço das relações
de cooperação e amizade existentes entre os
dois países e povos: «Fazemos votos para que
esta cooperação se fortifi que cada vez mais
em prol da melhoria das condições de vida das
populações dos dois países», afi rmou Maria da
Luz Guebuza.Exposição permanente “Encantos & Desencantos”
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 39
Andorinhões
Crias de andorinhão em recuperação
Entre a numerosa fauna que tem dado
entrada no Centro de Recuperação
do Parque Biológico de Gaia
destacam-se alguns visitantes
alados que fazem invernada em África e são,
também, entre aves, as mais adaptadas a uma
vida aérea.
Estamos a referir-nos aos andorinhões.
Ao longo do verão é normal a entrada de
algumas crias que, certamente descuidadas no
seu primeiro voo, acabam por aterrar no solo.
Enquanto para a maioria das aves isso não é
nenhum problema, pois levantam voo quando
quiserem, como os andorinhões têm patas muito
curtas e asas longas, não conseguem retomar
o voo.
É geralmente nessa circunstância que as
pessoas as encontram e fi cam preocupadas,
pensando que estão feridas. Bem...
pontualmente até poderão estar, ou apenas
enfraquecidas, mas não na maioria das vezes.
Bastaria soltá-las com a mão a meia altura e elas Uma das crias tardias de andorinhão Apus palidus, a ser alimentada com larvas de inseto
retomariam o voo, como se se soltassem de um
penhasco para darem espaço às asas.
Um dos casos mais tardios de entrega de crias
de andorinhão no Centro de Recuperação tem
como protagonista Lara Reis, professora na
Escola dos Carvalhos, que nos dias 16 e 18 de
outubro entregou para reabilitação duas destas
aves: «Um dos andorinhões apareceu pousado
no hall da sala» e o outro «estava no chão do
recreio: foram os alunos que nos alertaram».
Querendo dar bom destino aos animais, «falei
com outra professora que me disse que seria de
os entregar ao cuidado do Parque Biológico de
Gaia».
Após exame veterinário e respetiva recuperação
ambas as aves foram anilhadas por técnicos
habilitados para o efeito e, em 17 de novembro,
reencontraram a liberdade, quando após alguns
círculos no ar rumaram ao calor do Sul.
Acresce dizer que, a norte, este registo poderá
ser o primeiro de uma nidifi cação estranhamente
tardia.
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CENTRO DE RECUPERAÇÃO 39
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40 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Que será isto?
Eis algumas das iniciativas a curto prazo que podem ser do seu interesse...Agenda
Passatempo
Ofi cinas de Verão É tempo dos mais pequenos
se divertirem nas ofi cinas
que chegam em julho
Estes espaços lúdicos e educativos destinam-se a
crianças e jovens dos cinco aos 14 anos e decorrem de
1 a 5 de julho, de 8 a 12 de julho, de 22 a 26 de julho e
de 29 de julho a 2 de agosto.
Há também Campos de Verão. Encontra mais
informações indo a www.parquebiologico.pt,
clicando em Atividades.
Para participar tem de fazer a inscrição no Gabinete
de Atendimento, através do e-mail
[email protected], que funciona de
março a setembro das 9h00 às 19h00. Os telefones
diretos são 227 878 137 e 227 878 138.
Quando em 24 de outubro a revista “Parques
e Vida Selvagem” foi distribuída, Alexandrina
Morgado, de Marrazes, foi a primeira leitora
a acertar no passatempo proposto: «Tomo a
liberdade de tentar identifi car as espécies da
recente edição “Parques e Vida Selvagem”
- Borboleta: Iphiclides feisthamelii, de nome
comum borboleta-zebra. Ave: Haematopus ostralegus, de nome comum ostraceiro».
Na lista de obras publicadas pelo Parque
Biológico de Gaia escolheu como prémio o
livro “Ecoturismo e conservação da natureza”,
que lhe foi imediatamente enviado.
António Luís Silva, de Valbom, foi o segundo
leitor mais rápido: «Olá! Nunca é demais
dar-vos os parabéns, e agradecer-vos por
este magnífi co trabalho que é a divulgação
da natureza através desta vossa revista,
nomeadamente a existente nos parques naturais da
região. A borboleta representada na fotografi a da
revista n.º 41 do ano XII, tem como nome comum:
borboleta rabo-de-andorinha, que pelo seu padrão,
também é chamada de borboleta-zebra. Pertence à
classe dos insetos; pertence à ordem: Lepidoptera;
à família: Papilionidae; ao género: Iphiclides. E é
mais um belo ser com que nós coabitamos neste
maravilhoso planeta».
Nesta nova edição, quem sabe se não chega a sua
vez de alcançar algum prémio?
Para a presente edição de inverno, fi cam estas
fotografi as de fl ora e fauna.
É capaz de identifi car estes seres vivos?
Se for, não deixe de nos dizer! As fotografi as
publicadas são sempre de vida selvagem que já foi
observada na região.
As duas respostas mais rápidas recebem como
prémio um dos livros editados pelo Parque Biológico
de Gaia.
Deve ser indicado um dos nomes vulgares
reconhecidos ou, melhor ainda, o género ou o
nome científi co. Se acertar numa só de ambas as
espécies, a sua resposta é igualmente considerada
na lista das mais rápidas.
Os leitores já premiados em edições anteriores só o
serão se não houver outra resposta certa (este item
só é válido durante um ano a partir da atribuição do
prémio).
Então, já sabe o nome de alguma destas duas
espécies? Joan
a P
erei
ra
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 41
Noites dos Pirilampos • Nos dias 1, 7 e 8 de junho, de 11 a 15, de
17 a 22 e de 25 a 29 do mesmo mês o Parque
Biológico de Gaia recebe visitas, sob reserva, às
22h00 para observação de pirilampos e outros
animais noturnos. Nesta época do ano a espécie
mais abundante é o pirilampo Luciola lusitanica:
de noite, os machos voam por vezes em elevado
número à procura de fêmeas. Depois, há ainda
observações astronómicas.
Dia 1 de junho às 21h30 abre também a
exposição do concurso de fotografi a astronómica
com a entrega dos prémios.
Sábado no Parque• Dia 1 de junho o Parque prepara algumas
atividades especiais para os seus visitantes, com
início às 11h00, quando decorre o atelier “Detetives
no Parque”.
Às 14h30, decorre a conversa do mês intitulada
“Insetos à lupa”, levando a mostra de Paulo Latães
que abre às 15h00 no salão de fotografi a da
natureza o mesmo título. Meia hora depois começa
a visita guiada pelos técnicos do Parque e o
percurso ornitológico.
No mesmo dia às 22h00 há observações
astronómicas, se as condições meteorológicas
o permitirem, sendo às 21h30 a abertura da
exposição do concurso de fotografi a astronómica
com entrega dos prémios.
Em 6 de julho, o atelier chama-se “Jogos de cores,
cheiros e sabores” e a conversa do mês é sobre
“Flora portuguesa em perigo”.
Anilhagem científi ca de aves selvagens • Nos primeiros e terceiros sábados de cada
mês, das 10h00 às 12h00, os visitantes do Parque
podem assistir de passagem pelo percurso de
descoberta da natureza (Quinta do Chasco) a estas
atividades, se não chover.
Observação de aves selvagens• Nos primeiros domingos e nos segundos
sábados de cada mês, das 10h00 às 12h00, leve,
se tiver, um guia de campo de aves europeias
e binóculos à Reserva Natural Local do Estuário
do Douro. Com telescópio, estará um técnico do
Parque para ajudar os presentes a identifi car
as aves do Litoral a partir dos observatórios ali
instalados.
Exposição de Fotografi a da Natureza "Insetos à Lupa"• Na Década da Biodiversidade, lançada pelas
Nações Unidas até 2020, esta mostra temática vai
abrir às 15h00 de sábado, 1 de junho. Patente
todos os dias até fi ns de agosto no horário de
abertura do Parque Biológico.
Simpósio Internacional sobre Conservação de Cágados • O Parque Biológico, entre 22 e 24 de maio,
vai organizar um Simpósio Internacional sobre
tartarugas de água doce, no âmbito do Projeto
LIFE-Trachemys, em que se encontra envolvido.
Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem das
suas atividades a curto prazo,
o Parque Biológico sugere
uma visita semanal a
www.parquebiologico.pt
A alternativa será receber
os destaques, sempre que
oportunos, por e-mail.
Para isso, peça-os a
Mais informações Gabinete de Atendimento
[email protected] direto: 227 878 138
4430-861 Avintes - Portugal
Envie-nos o seu e-mail para
[email protected] por carta para
Parque Biológico de Gaia
Revista “Parques e Vida Selvagem”
4430-681 Avintes
O prazo para as respostas termina em 30 de junho de 2013.
Gab
riel Moreira
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42 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
42 ESPAÇOS VERDES
No fi nal do ano passado nasceram duas lontras-
europeias no Parque Biológico de Gaia.
Depois de demorada permanência na
segurança da toca, ciosamente defendidas pela
progenitora, começaram a sair à luz do dia em novembro.
Em 1 de dezembro, sábado, pelas 13h30, um juvenil
selvagem de corvo-marinho-de-faces-brancas,
Phalacrocorax carbo, pousou no Parque Biológico de
Gaia o tempo sufi ciente para um mergulho. Como é
habitual nesta espécie de mergulhão, a secagem das asas
obrigatória fez-se à vista de todos, e o regresso provável à
Reserva Natural do Estuário do Douro ter-se-á abreviado
por uma hora.
Não há registo, que se saiba, da presença de um indivíduo
selvagem desta espécie no Parque anteriormente.
Os corvos-marinhos podem ser observados em estado
selvagem com facilidade, às dezenas, na Reserva Natural
Local do Estuário do Douro, por exemplo. São aves que
nadam muito bem debaixo de água e conseguem capturar
peixe como as tainhas que abundam ali.
Em 12 de novembro pela hora do almoço, andava a
apanhar o sol de outono uma osga adulta, Tarentola mauritanica, espécie mediterrânica que começa a fazer
cada vez mais aparições no Norte.
As osgas alimentam-se de insetos e outros pequenos
invertebrados, sendo não só inofensivas como benéfi cas
para o ser humano.
Novidades
Poucos dias depois das primeiras aparições das duas crias: 15 de novembro ao fi m da tarde
Este corvo-marinho foi um visitante inesperado
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Fauna
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 43
Musgo pleurocárpico (cresce
prostrado), irregularmente
ramifi cado, muito variável
nas dimensões. Forma tufos
extensos, de cor verde, verde-amarelada ou
acastanhada.
Os fi lídios (pequenas folhas) dos ramos são
semelhantes aos fi lídios do caulóide (análogo a
um caule) e têm uma forma ovado-lanceolada,
com um ápice muito delgado e curvado.
Para além disso, os fi lídios são côncavos e
imbricados, ou seja, estão muito juntos e
geralmente sobrepostos ao longo do caule,
o qual se assemelha a uma pequena trança.
Apresenta cápsulas com alguma frequência;
são normalmente cilíndricas, inclinadas e com
opérculo curto. É uma espécie muito variável no
seu aspeto (polimorfa), sendo aceites cerca de 5
variedades desta espécie na Península Ibérica.
É a espécie mais comum do género Hypnumque se distingue facilmente pelos fi lídios que
fazem lembrar pequenas foices, uma vez que
são todos curvados em direção ao solo.
É um dos musgos mais abundantes em vários
tipos de substrato. Coloniza preferencialmente
troncos, mas também rochas e solo, em locais
geralmente sombrios, sobretudo em bosques.
É uma espécie bastante cosmopolita que está
distribuída por todo o mundo. Em Portugal, é
bastante vulgar de norte a sul de Portugal. No
Parque Biológico de Gaia é possível encontrá-
la em troncos de árvores e taludes húmidos.
Neste tipo de ambientes, funciona como
habitat e refúgio para muitos invertebrados e
desempenha um papel importante como micro-
estufa onde germinam sementes de plantas
vasculares.
Atualmente, compostos obtidos a partir desta
espécie têm sido estudados e testados como
biopesticidas. Por outro lado, é uma espécie
moderadamente sensível à poluição atmosférica
e tem sido bastante utilizada como bioindicador
da deposição de metais pesados, quer a nível
internacional, quer nacional.
O nome Hypnum deriva da palavra grega
“Hypnos” que signifi ca sono. Devido à
suposição antiga de que induziria sono, tufos
desta espécie foram muitas vezes colhidos para
encher almofadas e colchões. Porém, muitas
dúvidas subsistem relativamente à veracidade
desta explicação para a origem do nome.
Recentemente, esta espécie, tal como tantas
outras de musgo, enfrenta uma ameaça
preocupante: é das espécies mais utilizadas
para decoração de presépios. Sabia que o
crescimento desta planta é tão lento que pode
demorar vários anos até que cresça no mesmo
local de onde foi removida? Já agora, vale a
pena pensar nisto.
Texto Helena Hespanhol e Cristiana Vieira
(CIBIO-UP). Foto Cristiana Vieira
Musgo-trança ou Musgo-do-sonoHypnum cupressiforme Hedw.
Filip
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Flora
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44 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Colhereiro e corvo-marinho
44 O VOO DAS AVES
Jo
sé R
ollo
Colhereiro, Platalea leucorodia, com anilha de cor nascido na Holanda
Com a bonita idade de quatro anos,
já adulto, este colhereiro foi anilhado
no ninho em 9 de julho de 2008 e é
supostamente um macho. Esta ave
nasceu na Holanda. É uma ave migratória que
todos os anos regressa à sua terra natal.
Contudo, este colhereiro escolheu no seu
primeiro ano de vida e uma grande viagem para
sul, rumo à Reserva Natural Local do Estuário
do Douro, para passar os períodos de frio.
Na Holanda esta espécie ornitológica usufrui
de uma atenção e estima especial, idêntica à
que acontece no nosso país relativamente às
cegonhas.
Estas aves estiveram em perigo de extinção
durante a década de 80. Os países do Norte,
reconhecendo o seu valor como espécie,
conseguiram utilizar a imagem do colhereiro
para estimular o interesse na proteção de aves
selvagens. Na atualidade a população já não
está tão ameaçada nos locais de reprodução
mas é fundamental assegurar as condições
naturais dos locais de invernada no Sul e os
que utiliza durante as migrações.
No caso desta ave em particular pode-
se testemunhar o contributo concreto da
Reserva Natural Local do Estuário do Douro na
salvaguarda desta espécie da fauna europeia e
especifi camente população reprodutora no mar
de Waden.
Diferente é o caso do corvo-marinho-de-faces-
brancas (Phalacrocorax carbo) proveniente de
um lago de França, o Lac Grand-Lieu (Loire
Atlantique). Esta área protegida é em grande
parte uma Reserva Natural (2700 ha – que
representa 67% da área do lago) e inclui a maior
colónia francesa de corvos-marinhos, em que o
número de casais nidifi cantes nesse local varia
consoante os anos entre 500 e 1300. Há ainda a
particularidade de ter sido a primeira colónia que
surgiu em território continental da França em 1981.
Outras colónias francesas situam-se em ilhas da
costa atlântica (Normandia e Bretanha; fonte: Loïc
Marion CNRS-Ecobio).
A anilhagem de corvos-marinhos-de-faces-
brancas realizada na Europa tem demonstrado
que estas aves apresentam comportamentos
que evidenciam preferências por certos sítios,
sendo fi éis aos locais de nascimento, e revelam
preferência por certos locais de invernada.
O corvo-marinho em referência anilhado ainda
como não voador no ninho, a 11 de maio de
2011 no Lac Grand-Lieu (Loire Atlantique), além
da anilha metálica com a referência CA71501,
recebeu anilhas de cor que permitem a sua
identifi cação à distância.
O primeiro registo do corvo-marinho-de-faces-
brancas CA71501 na RNLED ocorreu a 11 de
outubro de 2011 por Paulo Leite.
Foi novamente registado na RNLED a 25 de
dezembro de 2011 por Thijs Valkenburg.
O primeiro registo em 2012 foi realizado a 7 de
outubro durante as atividades de simulação de
observação visual de anilhas de leitura à distância
realizadas durante o EuroBirdwatch de 2012 (6 e 7
de outubro). O último registo foi a 7 de dezembro
confi rmando a escolha desta ave pela RNLED
para passar o inverno de 2012.
Por Paulo Faria
O corvo-marinho com a anilha CA71501 (7-10-2012)
João L. Teixeira
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 45
ANILHAR 45
A iniciativa «tem como objetivo
compreender a origem geográfi ca
das populações de aves
invernantes, avaliar as interações
entre as populações invernantes e residentes e
estudar a fi delidade aos territórios de inverno».
Para funcionar baseia-se no trabalho das Estações
de Esforço Constante que mais não são do
que grupos de anilhagem científi ca de aves
selvagens que visam «obter informação que possa
auxiliar a entender e a explicar as alterações nas
populações de aves, através de um programa
de capturas regulares durante a época de
reprodução, em locais e habitats específi cos».
As estações «inserem-se no projeto à escala
europeia EURO-CES, Constant effort ringing in Europe, promovido pela EURING, baseado no
método CES (Constant Effort Sites), utilizado já por
algumas centrais de anilhagem europeias e tem
como meta principal monitorizar as populações
Está em curso o projeto
Monitorização de Aves
Invernantes, da Associação
Portuguesa de Anilhadores
de Aves, «que visa o
estudo das populações de
passeriformes invernantes
em Portugal com recurso
à anilhagem científi ca
de aves selvagens»: a
presente edição teve início
em 15 de novembro
das espécies de aves mais comuns».
A associação pretende «divulgar o MAI junto
dos anilhadores, incentivando as estações de
esforço constante a desenvolverem o projeto e
os anilhadores a estabelecerem novas estações
com especial ênfase no interior do país e ilhas»,
afi rma Miguel Araújo, da APAA.
Adianta ainda que «há interesse em aumentar o
número de estações, para que a monitorização
das aves invernantes em Portugal seja mais
abrangente».
Com mais de seis anos de funcionamento
contínuo a Estação de Esforço Constante em
serviço no Parque Biológico de Gaia aderiu em
2012 a este projeto.
Os visitantes do parque podem assistir a
parte do funcionamento destas sessões que
costumam decorrer nas manhãs dos primeiros
e terceiros sábados de cada mês, se não
chover.
Estação de Esforço Constante
Uma das redes essenciais ao funcionamento deste trabalho científi co Ferreirinha
Anilhagem de papa-moscasGaio em análise Anilhagem de um cucoToutinegra: colheita de dados biométricos
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46 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Oriontee a Estrelado Cão
A constelação de Orionte,
representando um gigante caçador
com origem na mitologia grega,
é uma das mais facilmente
identifi cáveis no céu noturno, em particular
durante o inverno.
Durante os meses de dezembro, janeiro e
fevereiro, pode ser vista acima do horizonte sul
pouco depois de anoitecer (fi gura).
As sete estrelas mais brilhantes da constelação
formam um quadrilátero (uma estrela por vértice)
dentro do qual se encontram três estrelas
quase perfeitamente alinhadas. As estrelas que
formam o quadrilátero são Betelgeuse, Bellatrix,
Rigel e Saiph, começando no vértice superior
esquerdo e seguindo no sentido dos ponteiros
do relógio. No interior, as Três Marias, como são
conhecidas na tradição oral portuguesa, têm
por nome, da esquerda para a direita, Alnitak,
Alnilam e Mintaka. Estes nomes exóticos são na
realidade corrupções dos seus nomes originais
em árabe, eles próprios em grande parte
absorvidos da herança cultural de civilizações
passadas como a da Grécia Clássica.
Betelgeuse é uma supergigante vermelha mil
vezes maior, 120 mil vezes mais luminosa e
15 vezes mais maciça do que o Sol. Colocada
no centro do Sistema Solar, o Sol e todos os
planetas até Júpiter, inclusive, fi cariam no seu
interior. É tão grande que a sua temperatura
superfi cial é mais baixa do que a do Sol, o que
lhe dá uma tonalidade alaranjada facilmente
detetável à vista desarmada. Está situada a
cerca de 640 anos-luz (a distância percorrida
pela luz em 640 anos, à velocidade de 300
mil quilómetros por segundo). As restantes
seis estrelas são todas mais quentes do que
o Sol, motivo pelo qual têm um brilho branco-
azulado. Bellatrix, a cerca de 250 anos-luz, é
seis vezes maior, 6500 vezes mais luminosa e
oito vezes mais maciça do que o Sol. Rigel, a
uma distância de 850 anos-luz, é uma estrela
colossal, tão luminosa como Betelgeuse mas
muito mais quente. É "apenas" 80 vezes maior
e 20 vezes mais maciça do que o Sol. Saiph, no
canto inferior esquerdo do quadrilátero, situa-se
a cerca de 650 anos-luz e é 22 vezes maior,
60 mil vezes mais luminosa e 15 vezes mais
maciça do que o Sol.
Dentro do quadrilátero, as Três Marias, apesar
de alinhadas de forma tão precisa, estão a
distâncias diferentes do Sol - o alinhamento é
um mero acaso de perspetiva. Alnitak, Alnilam e
Mintaka situam-se respetivamente a 750, 1300 e
900 anos-luz. São também estrelas absolutamente
notáveis: Alnilam, o exemplo mais extremo, é 275
mil vezes mais luminosa, 25 vezes mais maciça e
25 vezes maior do que a nossa estrela; Mintaka é
um sistema com duas estrelas, cada uma com 20
vezes a massa e 90 mil vezes a luminosidade do
Sol, que orbitam em torno uma da outra em cada
6 dias; Alnitak é um sistema triplo em que a estrela
mais maciça e luminosa tem 20 vezes a massa e
100 mil vezes a luminosidade do Sol.
Rigel, Saiph e as Três Marias nasceram, em
gerações diferentes, numa "maternidade" estelar
existente na direção da constelação de Orionte.
Situada a 1300 anos-luz, esta "maternidade"
é na realidade uma nuvem gigante de gás e
poeiras interestelares a partir das quais se formam
novas estrelas. A pequeníssima parte desta
nuvem que é visível em telescópios, e mesmo à
vista desarmada, é designada de Nebulosa de
Orionte e corresponde à "estrela" central de um
pequeno grupo de três mesmo por debaixo das
Três Marias. Esta porção da nuvem é tornada
visível pela ação da intensa radiação ultravioleta,
emitida por estrelas recém-formadas, sobre o
gás interestelar, provocando a sua fl uorescência.
Vista por um telescópio ou em fotografi as, a
Nebulosa de Orionte é um objeto de grande
beleza e de grande signifi cado: em locais
como este testemunhamos o nascimento de
novas gerações de estrelas, um processo que
demora milhões de anos a concluir-se.
Mas as noites de inverno têm outro espetáculo
reservado para o observador do céu. Seguindo
por uma linha imaginária defi nida pelas Três
Irmãs, para o lado esquerdo e para baixo,
podemos observar a estrela com maior brilho
aparente do céu noturno, Sirius, a luminária
da constelação do Cão Maior. A constelação
representa um dos cães que seguia o gigante
caçador Orionte. De brilho intenso, branco-
azulado, Sirius é, no entanto, apenas 25 vezes
mais luminosa e duas vezes mais maciça do
que o Sol. É a estrela mais brilhante do céu
simplesmente porque se encontra a apenas
8.7 anos-luz de distância. No antigo Egito, o
primeiro avistamento desta estrela antes do
nascer do Sol marcava o início das cheias do
Nilo e por isso Sirius tinha uma importância
central para a civilização. Os gregos e os
romanos atribuíam o calor excessivo dos
meses de verão a este aparecimento de Sirius,
a "Estrela do Cão", sendo esta a origem do
termo "canícula".
Texto Luís Lopes
46 OBSERVATÓRIO
Sul
Castor
Sirius
Prócion
Gêm
eos
PolluxTrês Marias
Capella
Betelgeuse
Bellatrix
Nebulosa de Orionte
RígelSaiph
Júpiter
Orionte
Touro
Cocheiro
Cão Menor Unicórnio
Cão Maior
Lebre
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 47
Piscar o olho à selvagemSó depende de si próprio
tornar 2013 o seu melhor ano
de observação da natureza:
a criação de um caderno de
campo vem mesmo a calhar
para registar dados colhidos
em todos os percursos da
natureza que vier a realizar
Os cadernos de campo, quadriculados
ou não, destinam-se a reter
informação testemunhada por si
e permite agregar elementos para
consulta a posteriori dos dados colhidos em cada
percurso de descoberta que vier a palmilhar.
Seja organizado para não fi car com dúvidas sobre
as suas anotações!
A forma mais prática de o organizar é a sequência
cronológica. Por este processo o caderno estrutura-
se através das datas das observações de fl ora e de
fauna que realiza.
Não interessam só espécies raras. Aquilo que hoje
abunda, amanhã pode ser escasso.
A primeira página deve ser usada para identifi car
o caderno com o título que lhe queira dar e o seu
nome. Escrever o seu contacto também é útil, caso
num dia mau venha a esquecer-se dele em sítio
indeterminado.
O caderno de campo terá assim uma folha de
rosto, a abertura do caderno, os assuntos sob
observação, locais e datas, descrições e até
desenhos.
Mais tarde, poderá consultar anotações e comparar
registos ano após ano, o que alimentará a sua
memória e robustecerá o seu conhecimento da vida
selvagem.
SAIR DA CASCA 47
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PRIMAVERAMesmo sem a mudança de hora
de 31 de março, a luz do Sol já
começa a durar mais tempo.
Se teve o cuidado de instalar uma
caixa-ninho no seu jardim quem
sabe se não será ocupado por
exemplo por um casal de chapins-
reais? Poderá fazer o diário de
crescimento como já aconteceu
com várias pessoas.
Cada uma à sua maneira, as
árvores de folha caduca vão
começando a rebentar, muitas
com fl ores e depois folhas, a fi m
de aproveitarem a sofreguidão
dos insetos polinizadores, como
moscas e abelhas, que ajudam, e
muito, a produzir mais frutos.
Nas bermas dos caminhos, as
fl ores despontam sucessivamente.
Em fi ns de fevereiro ou início de
março poderá começar a ver as
primeiras espécies de libélula. No
Parque Biológico a espécie mais
regular é a donzelinha-vermelha,
Pyrrhosoma nymphula.
Também os primeiros morcegos
começam a voar e os ouriços-
cacheiros despertam do torpor
invernal, nas noites já menos frias,
para tratarem de se alimentar.
INVERNOA temperatura mais baixa traz visitantes
do Norte da Europa que no resto do ano
não se avistam normalmente por cá.
Esta época reúne oportunidades que não
duram muito mais que um par de meses.
À beira-mar, por exemplo, poderá ver
uma maior concentração de garças e
encontra várias espécies que envergam
roupa de inverno. É o caso do guincho,
uma pequena ave do grupo das gaivotas,
que perdeu a cor preta da cabeça e
agora está branca.
Os dias com menos luz não lhe retiram a
possibilidade de sintonizar a hora certa do
dia para aprender a escutar o entardecer.
No seu jardim, é boa altura para instalar
um lago e atrair a natureza para mais
perto de si. Plante de preferência
arbustos autóctones!
Pode ser inspirador, desiniba-se: escreva,
fotografe, grave vídeos, e não deixe de os
partilhar connosco...
Esta época também é propícia a visitar
uma sessão de anilhagem científi ca de
aves selvagens. Em Vila Nova de Gaia,
no Parque Biológico, se não chover, nos
primeiros e terceiros sábados de manhã
de cada mês, funciona um grupo há já
mais de seis anos.
Interação, Luís S. GonçalvesPeto-verde, Francisco BernardoCaracol, Alberto Vale
Chapim-carvoeiro,José Manuel Carvalho
48 SAIR DA CASCA
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OUTONOJá sabe que de repente surge outra
mudança de hora, desta vez em 27
de outubro. Os dias já foram bem
maiores!
Não lamente.
Embora ainda venha longe, nesta
altura aumentam signifi cativamente
as migrações das espécies aladas,
sejam aves ou insetos.
As árvores vão começando a
convencer-se que vêm aí dias frios
e amarelecem as folhas cuja cor se
confunde com os frutos.
Se tiver um diospireiro por perto,
comece a observar o trânsito.
Toutinegras, chapins, melros
e tordos, borboletas como
a almirante-vermelho vão ali
alimentar-se, nos frutos que
não faz mal deixar para a vida
selvagem. Súbito, terá
boas surpresas: anote,
registe, não deixe
longe o seu
caderno de
campo!
VERÃOTire um dia e transforme-se num detetive
da natureza.
Não se garante é que não lhe apanhe
o gosto: entusiasme os seus fi lhos ou
sobrinhos!
Uma pinha roída, uma concha de caracol
escaqueirada, uma pegada na lama, um
ovo azulado partido… há que puxar o fi o
à meada.
Depois, há que incentivar a diversidade
da vida e, nisso, os invertebrados estão à
mão de semear: junte várias canas ocas
ou mesmo tubos amarrados e aquiete
o resultado num sítio recôndito do seu
jardim – diversos pequenos animais
como insetos, aracnídeos, moluscos irão
aproveitar a hospedagem e enriquecer
o quadro de espécies à porta de casa,
atraindo outros.
Não se esqueça que há grupos nas
redes sociais que ajudam a identifi car,
dentro do possível, as espécies que vai
fotografando,
sejam aves,
libelinhas,
borboletas, gafanhotos, répteis e
anfíbios, e muitas outras fasquias da
biodiversidade!
Se precisar de alguma dica envie-
-nos um e-mail para
Melanárgia,José Rafael Moreira
Garça-real, Mário L. Rocha Galeirão, César Oliveira
Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 49
Macho de toutinegra-de-barrete,Jorge Gomes
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50 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
50 ENTREVISTA
Na pista dos dinossaurPortugal está entre os dez países com
melhores jazidas de fósseis de dinossauros
no mundo: quem o afi rma é Octávio Mateus,
paleontólogo e professor auxiliar
da Universidade Nova de Lisboa
A lesson from the dinosaursSome of the dinosaurs were small, but the ones we remember are the largest ones, with a size that nothing seemed to be able to topple. We spoke to Palaeontologist Octávio Mateus, who has made many and varied studies about dinosaurs.
Juvenil?
Está bem, mas não deixa de intimidar!
Mede de comprimento quatro metros
e a réplica mexe com os sentidos.
Trata-se do esqueleto de uma das várias
espécies de dinossauro encontradas apenas
na Lourinhã.
O réptil tinha uma cabeça grande e andava
apoiado nas patas traseiras. O nome,
Lourinhanossaurus antunesi, foi dado em
homenagem ao paleontólogo Telles Antunes
por Octávio Mateus.
O investigador elucida com a paixão que nutre
desde criança pelo tema: «Era um dinossauro
carnívoro e, em adulto, poderia medir nove
metros».
O que torna ainda mais interessante esta
conversa é que o nosso interlocutor descobriu
na Lourinhã a capital lusitana dos dinossauros.
E, para que não haja dúvida, sublinha que
«Portugal, face ao seu tamanho, é talvez o país
com mais espécies de dinossauros por metro
quadrado! Os cinco países mais destacados
neste aspeto são os EUA, a China, o Canadá,
a Argentina e a Mongólia. Países gigantescos –
a China é cem vezes maior que o nosso país».
Bem, contra factos não há argumentos.
A conversa decorre no Museu da Lourinhã, no
Núcleo de Paleontologia, pelo que, de repente,
vê-se um ninho fossilizado com ovos deste
predador, encontrado ali perto, em Paimogo.
Parece argiloso...
A conversa continua:
Octávio Mateus — É verdade, é mesmo um
ninho de Lourinhanossaurus antunesi. E temos
crias, dentro dos ovos. Vê ali um ossinho de
embrião? Isto é raríssimo.
Na altura em que foram descobertos, estes
eram os únicos embriões de dinossauro de toda
a Europa. Foram também os mais antigos do
mundo, mas entretanto já descobriram outros.
Seja como for este é um ninho bastante grande
e permite perceber a sua evolução, a sua
nidifi cação, o seu comportamento, etc.
É tão raro que no ano em que foi anunciado, em
97, entrou para a lista das cem descobertas mais
importantes em todos os domínios da ciência
para esse ano.
Nestes casos será possível extrair ADN?
Octávio Mateus — Depende da conservação
mas diria que sim. É muito difícil extrair ADN com
qualidade de um dinossauro com 150 milhões de
anos!
É preciso que esteja preservado ao detalhe.
Em todo o caso, estes ossinhos estão tão bem
preservados que até temos células individuais que
formam o osso. Está tudo impecável.
O osso não está petrifi cado?Octávio Mateus — Está petrifi cado mas mesmo
assim... sabe que a fossilização ainda não é
completamente compreendida. Não se trata de
algo que é orgânico e, num estalar de dedos,
se transforme em mineral. É gradual e leva
seguramente milhões de anos. Nalguns casos até
continua a preservar a matéria orgânica original
apesar de ter mais de 100 milhões de anos.
Nunca o fi zemos, mas a julgar pelo aspeto aposto
Embrião de Lourinhanossaurus
Sim
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Ninho de Lourinhanossaurus
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65
144
206
250
290
360
410
440
510
570
0
Milhões de anos PeríodoEra
Pré-Câmbrico
Paleozoico
Cenozoico
Câmbrico
Ordovícico
Silúrico
Devónico
Carbonífero
Pérmico
Triássico
Jurássico
Cretáceo
Paleogeno
Neogeno
Quaternário
Terciário
Mesozoico
uros lusitanosque há alguma matéria orgânica ali.
Em matéria de conhecimento científi co estamos
ainda hoje numa fase de provar o que é e o que
não é matéria orgânica.
Mesmo que consigamos recolher ADN, este é uma
cadeia complexa e frágil. O máximo que vamos
conseguir dizer é que usa o mesmo sistema que
os outros vertebrados.
Isso já sabemos. É a mesma coisa que termos
um livro comido pelos bichos e conseguimos ler
umas quantas frases ou palavras. Sim, está bem,
podemos perceber a grafi a um bocado diferente,
podemos talvez compreender a língua, mas nunca
vamos conseguir compreender a prosa.
É impossível saber se cuidavam das crias?Octávio Mateus — Não é impossível. Neste caso
há várias indicações. Temos mais de cem ovos,
aposto que eram 150 ovos pelo menos. É muita
coisa! Haveria talvez várias fêmeas a pôr ovos no
mesmo ninho, como as avestruzes fazem hoje. Isto
é possível.
Penso que seria difícil os dinossauros não presta-
rem alguma atenção a um ninho destes: era um sí-
tio tão importante! Havia tanto esforço ali, e depois
iam deixá-lo à sua sorte? Repare que os crocodilos
também cuidam do ninho e das crias.
Outra curiosidade: no meio de cem ovos de di-
nossauro havia três ovos diferentes, distintos, bem
mais pequenos, com um terço do volume e uma
casca mais fi na. A estrutura era diferente: parecem
ser ovos de crocodilo.
O que fazem estes ovos de crocodilo no meio de
cem ovos de dinossauro? Para já, é difícil que seja
coincidência. São os mais antigos ovos de crocodi-
lo de todo o mundo!
Isso é um parasitismo de nidifi cação tipo…
O do cuco?Octávio Mateus — A cria de cuco lança fora os
ovos da ave hospedeira e esta começa a alimentá-
-la apenas a ela.
Estes crocodilos difi cilmente conseguiriam fazer
algo idêntico. Os ovos destes dinossauros eram
três vezes maiores...
O que parece acontecer é um comensalismo em
Lourinhanossaurus antunesi, um carnívoro bípede
Extinções massivas
Era
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52 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
que o crocodilo punha os ovos no ninho deste
dinossauro – na minha opinião devia ser o sítio
mais bem guardado à face da Terra. Quem se
atreveria a mexer num ninho de dinossauros
carnívoros daquele tamanho?
Benefi ciavam assim dessa proteção.
Podemos pensar que este pensamento é
rocambolesco, que é difícil de ocorrer, mas hoje
há tartarugas que põem ovos em ninhos de
crocodilo! Benefi ciam da sua proteção. Esse
comportamento existe.
Ora se isto estiver correto só faz sentido se
houver cuidados parentais.
É curioso que este Lourinhanossaurus foi o
primeiro dinossauro a que dei nome científi co.
Os fósseis de dinossauros do nosso país não são as mesmas espécies que se divulga na televisão a partir do património paleontológi-co dos EUA?Octávio Mateus — É fauna muito parecida com
a dos EUA. A nível genérico é idêntica, a nível
específi co é diferente.
A réplica do esqueleto que está à entrada desta
secção do museu é do Miragaia longicollum.
Não tem nada a ver com Miragaia no Porto, mas
tem a ver com a aldeia de Miragaia na Lourinhã.
Além disso, mira vem de mirabilis, maravilhoso,
e gaia equivale a deusa da Terra. Portanto, “ma-
ravilhosa deusa da Terra”; longicollum, pescoço
comprido.
Nós descobrimos toda a parte da frente deste
dinossauro e o original está aqui. Estes são os
ossos originais com 150 milhões de anos!
Uma das coisas impressionantes nesta desco-
berta é a sua anatomia: repare que os estegos-
sauros – isto é um tipo de estegossauro – nos
EUA tinham placas muito grandes e um pescoço
curto.
O nosso tem placas pequenas e um pescoço
muito longo. Tem 17 vértebras cervicais, o que
dá dez a mais que uma girafa.
Os estegossauros tinham 9 e este tinha 17.
Estão em circulação miniaturas feitas pelo
Carnegie Museum, nos EUA, famoso pelo rigor
das miniaturas que fazem para as crianças: há
dois bonecos diferentes cujo original se encontra
neste museu e está já a ser comercializado para
todo o mundo.
Se se quisesse promover Portugal desta forma
quanto custaria fazer isso? É o valor que temos
em património.
Por exemplo, a Discovery fez o ano passado um
documentário só sobre os dinossauros na Lou-
rinhã. Já passou nos EUA. Quanto nos custaria
produzir isso?
E é resultado direto desta pesquisa científi -ca... Octávio Mateus — Sim, por vezes as pessoas
perguntam que utilidade tem esta investigação,
a própria ciência – é a mesma utilidade de um
recém-nascido. Que utilidade tem?
Pode vir com um potencial gigantesco. Um
recém-nascido pode ser o próximo Mozart, o
próximo Newton ou Einstein...
Não sabemos. A ciência é a mesma coisa. Os
dados que recolhemos agora podem revelar-se
de grande interesse no futuro.
Já se sabe que a Lourinhã centraliza muitas novidades fósseis de dinossauros, não é?Octávio Mateus — É verdade, e isso ocorre por
várias razões.
Realmente havia cá muitos dinossauros mas
aqui também existem os terrenos certos, na
idade certa, com os ambientes certos.
Noutros sítios, na mesma altura era mar – os
dinossauros não eram marinhos.
No Jurássico aqui havia um sítio com muita
água, vegetação luxuriante, muitos rios, era um
sítio onde os dinossauros facilmente podiam vi-
ver. Basicamente, temos um ecossistema muito
rico com herbívoros e carnívoros.
A biodiversidade cria recursos e o padrão repete-se na época dos dinossauros. Aliás, estamos na Década da Biodiversidade...Octávio Mateus — Isto mostra a grande paleo-
diversidade de Portugal.
Embora haja muito trabalho pela frente, temos
duas dúzias de espécies. Por exemplo, não tão
conhecido como outros dinossauros, temos aqui
no museu o Draconyx loureiroi. É uma espécie única, um holótipo. Trata-se de
um espécime de referência para se classifi car
uma espécie. Sabe que sempre que surge
uma nova espécie temos de ter o exemplar de
referência. No fundo é o padrão perante o qual
todos os outros são comparáveis.
Neste museu temos cinco padrões. Veja: o
Dinheirossaurus lourinhanensis, Miragaia longi-collum, Draconyx loureiroi, Lourinhanossaurus antunesi e o Allosaurus europaeus. Todos eles
batizados por mim, são parte do património
O supercontinente Pangea no Jurássico já se tinha separado e o território português atual estaria na posição assinalada no mapa com um círculo, próximo dos atuais Canadá e EUA
Octávio Mateus explica as diferenças entre o
dinossauro lusitano Miragaia longicollum e os
estegossauros da América do Norte
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 53
português e é impressionante como um museu
de pequena dimensão como o da Lourinhã tem
este número de holótipos.
Soubemos também que descobriu o pri-meiro fóssil de dinossauro de Angola e da Bulgária...Octávio Mateus — Angola é um terreno espe-
tacular. Está no começo.
Um paleontólogo deve ter uma costela de engenharia mecânica? É que a partir de uma vértebra vir a alcançar uma boa parte de um esqueleto de dinossauro...Octávio Mateus — É preciso realizar muita
anatomia comparada.
Um dos dinossauros tem um nome estranho: Dinheirossaurus...Octávio Mateus — Tem este nome bizarro
porque foi descoberto na praia de Porto Dinheiro
nos anos 80 e início de 90. Em termos de gran-
des escavações de dinossauros foi das minhas
primeiras. Bons tempos.
Este dinossauro tinha 25 metros de comprimen-
to e foi uma nova espécie para a ciência.
Conseguimos saber que o corpo era, em grande
parte, constituído por sacos de ar.
Eles eram ocos! As vértebras tinham buracos
onde entravam literalmente sacos de ar, o que
os tornava relativamente leves para o tamanho
que tinham.
Continuavam a ter toneladas de peso, é claro,
mas para o volume enorme dos seus corpos
eram mais leves do que seria de esperar.
Isso permitia-lhes ter um grande tamanho sem
terem de investir em matéria orgânica, osso,
músculo, etc.
Ossos ocos como os das aves?Octávio Mateus — Exato. Na verdade as aves
descendem de dinossauros que tinham estas
estruturas.
Esse pormenor permitiu duas coisas: uma,
serem mais leves para poderem voar; depois, os
sacos de ar estão ligados à respiração.
Enquanto o nosso sistema respiratório é simples,
inspiramos e expiramos, as aves inspiram para
dentro desses sacos de ar, o ar passa então
pelos pulmões e só depois é expelido.
Isso permite às aves ter uma respiração de longe
mais efi caz que a nossa.
Outro detalhe: estes dinossauros não tinham
molares, não conseguiam mastigar. O que
faziam é o que as aves fazem hoje. Engolem
areia para a moela esmagar os alimentos. Eles
também comiam areia, só que em tamanho
dinossáurico! Os gastrólitos que eles ingeriam
serviam para esmagar os alimentos e encontra-
mo-los hoje fossilizados.
Além do Allosaurus europaeus, em Portugal há outros fósseis de grandes predadores?
Octávio Mateus — Não havia maior que o
Torvosaurus tanneri. Toda a gente pensa que é
o Tyrannosaurus rex. Ele tem essa dimensão,
toda a estrutura é de T. rex – só que este fóssil
é do Jurássico superior e o T. rex é do Cretáceo
superior. Pensará que é tudo a mesma coisa,
mas não é assim.
Quando o primeiro T. rex apareceu já este era
fóssil há 80 milhões de anos. Veja que é maior
a distância de tempo deste para o T. rex do que
do T. rex para nós. Impressionante! Era o maior
predador terrestre do Jurássico.
Como distingue um e outro? Octávio Mateus — Entre outras coisas, o T. rex possui dentes mais adaptados para cortar,
enquanto o Torvosaurus tinha dentes mais adap-
tados para esmagar.
Em Portugal, as espécies de dinossauro
descobertas já passaram as duas dúzias
e recordam que a vida na Terra, por maior
que seja o domínio que algum ser aparente
ter, é sempre frágil e pode sucumbir perante
perdas de biodiversidade.
Texto Jorge GomesFotos João L. Teixeira
Pegada fóssil de dinossauro com escamas perfeitamente defi nidas: uma impressão digital
Allosaurus fragilis
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Junto à Golegã,
a Reserva Natural
do Paul do Boquilobo
estende-se ao longo
de 816 hectares: nutrida
pelo rio Almonda,
um afl uente do Tejo
nascido na serra de
Aire, esta zona húmida é
«um dos poucos locais
do território português
em que nidifi ca o zarro
e o colhereiro»
Boquilobo Wetland Natural ReserveBoquilobo Bog belongs to a area of wetlands that have not yet disappeared. Whether one celebrates the International Year of Water Cooperation in 2013 or the World Wetlands Day on February 2nd, the truth is that water is essential for life and the ecosystems that preserve it deserve our best interests. That is why this protected area has so much Biodiversity.
54 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
54 REPORTAGEM
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Boquilobo A maior área protegida de paul em Portugal
Uma pergunta pousa na paisagem:
«Não sei se já reparou nas
cegonhas. Sabe o que estão a
fazer?».
Sob a copa de um velho sobreiro vê-se a colina
a descer, suave, e a esconder-se por baixo do
paul.
Na superfície inundada surgem linhas dominadas
por freixos e por várias espécies de salgueiro.
Em dezembro ainda há folhas amareladas
no arvoredo, um efeito causado pela clorofi la
sempre que esta molécula complexa desatina e
enrubesce a vegetação.
A voz que lança a dúvida é de Fernando Faria
Pereira, supervisor da Reserva Natural do Paul do
Boquilobo.
Sobre o horizonte há aves de larga envergadura
a rodarem sem pressa em espirais
ascendentes: «Ganham altura numa coluna
de ar quente», respondi.
Estamos no ponto mais elevado das
proximidades, a partir do qual é possível ver
além da imensa zona alagada a Golegã e,
mais longe ainda, as colinas da Chamusca.
Fernando trabalha no Boquilobo desde 85.
Nessa altura, «na região havia dois casais de
cegonha, hoje são centenas», refere.
Aquelas cegonhas serão as mesmas que se
veem na primavera?
«Não sabemos. Estas podem ter vindo do
Norte e as que estiveram aqui a criar poderão
ter ido para sul...», diz Fernando.
Se algumas tivessem passado pela anilhagem
científi ca conseguir-se-ia identifi car alguns
indivíduos ao longo do ano.
Seja como for, esta área de montado, em
matéria de humidade, é o oposto de um paul.
A vegetação mediterrânica impera, sendo
indisfarçáveis as folhas da cebola-albarrã, a
afl orarem da terra: «Julguei que era invenção,
mas um historiador confi rmou. O bolbo desta
planta é venenoso e, quando das Invasões
Francesas, contava-se que uma noite tinham
furtivamente metido na cozinha do exército
inimigo bolbos de albarrã». Os cozinheiros
confundiram-nos com a cebola comestível e os
estragos sentiram-se na batalha...
Em piso de terra batida, os solavancos do jipe
atiram a voz do condutor, António Figueiredo,
guarda da natureza: «Vai ali um saca-rabo!».
Refere-se a um mangusto habitual neste habitat.
Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 55
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56 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
O pequeno mamífero corre até que se perde de
vista por trás dos sobreiros. «É uma fêmea!»,
completa.
O domínio da águaHá dois tipos de cheias no Boquilobo. Um resulta
das chuvas absorvidas pela bacia hidrográfi ca
do Tejo. Outro chega à área protegida através
do maciço calcário estremenho, representado
pela serra de Aire, cheia de fi ssuras e canais
subterrâneos.
Perto de uma casa típica, branca com rebordo
azul, há um marco com as datas gravadas
segundo os níveis das cheias. António recorda:
«Há uns anos atraquei aqui o barco à janela. O sr.
José servia o copito de vinho de galochas...».
Em volta, há oliveiras antigas, espaçadas
com qualidade, não como hoje se planta à
maneira industrial, densa, com perdas claras de
biodiversidade.
Este espaço protegido tem características
próprias: «A área mais baixa do paul está a cerca
de dez metros de altura em relação ao nível médio
das águas do mar» e «o rio Almonda que passa
aqui vai desaguar a cerca de 12 metros de altura».
Isto signifi ca «que antes da intervenção humana
possivelmente o rio Almonda espraiava-se por
aqui e depois teria um esquema de drenagem
para o Tejo porventura não muito bem defi nido».
Quando «o homem intervencionou este espaço
em termos históricos para viabilizar a agricultura
deixou uma evidência expressiva: a regularização
do traçado do rio Almonda, que passa segundo
linhas retas aqui no paul e que aceleram o
escoamento».
Mais perto de Torres Novas este rio ainda é muito
meandrizado.
Na área que hoje está sob alçada da Reserva
Natural elevaram outrora as margens e
minimizaram o transbordo para os campos:
«Grande parte do ano o rio corre mais alto que o
paul mas como as margens estão elevadas não
há contacto com a reserva. Construíram uma
rede de valas que permite a drenagem e serve
igualmente para rega».
Na Reserva, há peixes habituais, como uma
das espécies de tainha, conhecida e comida na
região como fataça, ou a enguia, que elege um
festival regional, mas há também «endemismos
lusitânicos, o ruivaco e a boga-portuguesa».
Em toda a área protegida, há níveis diversos de
conservação.
A reserva natural abriga «a área de proteção
complementar que possui mecanismos de
Bando de abibes
Cebola-albarrã
As cegonhas-brancas hospedam-se o ano inteiro no paul
Águia-sapeira: a rapina mais dependente das zonas húmidas
56 REPORTAGEM
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 57
proteção menos apertados — permite-se a
agricultura dentro de algumas condições». Este
espaço «envolve os núcleos principais da reserva e
são propriedade de particulares».
Há também «a área de proteção parcial, que
permite o pastoreio mas não a agricultura. É aqui
que se desenrola o trilho de conservação da
natureza».
Segue-se «a área de proteção total, sendo cerca
de 80% deste espaço pertença do Estado. Está
quase sempre alagada».
O plano de ordenamento «prevê ainda as áreas
de intervenção específi ca, que correspondem
aos núcleos urbanos das quintas que ocupam a
maior parte dos terrenos que são área protegida,
nomeadamente a quinta do Paul, a da Broa e a de
Miranda».
Céu cinzento. Hoje o sol não rompe as nuvens e o
frio ainda está para norte.
O Boquilobo padece de alguma poluição, cujos
efeitos estão a caminho de diminuir: «Está previsto
o melhoramento da ETAR de Torres Novas e
a remodelação da estação dos Riachos. Com
esta janela descortina-se a despoluição do rio
Almonda».
Outro problema emergente, não só deste paul,
«é uma dor de cabeça mundial em termos
de conservação da natureza: a introdução de
espécies exóticas». É o caso «do lagostim-
vermelho-da-louisiana: não o introduzimos aqui
obviamente, mas esse crustáceo chegou ao
Boquilobo e trouxe muitos problemas».
Quem mais os sente são «as espécies de anfíbio
e de peixe que aqui vivem. O lagostim alimenta-se
das larvas desses organismos».
A verdade é que o paul é um ecossistema
muito produtivo como é habitual nas zonas
húmidas. Além de purifi car a água e de reter a
biodiversidade, ajuda a regular as cheias no inverno
e, no estio, favorece a disponibilidade de água
doce ao ser humano e aos outros seres vivos.
Trilho pedestreAinda o ano não terminou e já há freixos em fl or...
Vamos agora a pé num percurso de terra batida
à face do paul. O ar tépido traz laivos de calmaria
depois das chuvadas do dia anterior.
Súbito, «Olhe: uma pegada de texugo!», diz
Fernando Faria Pereira.
Observa atentamente o recorte fresco da pressão
exercida na lama pelo mamífero notívago pintado
a preto e branco, nem por isso menos castiço.
«E está aqui outra!».
Caminhamos pelo trilho de descoberta
da natureza. Em volta as ervas dominam,
verdejantes, ao nível do solo emerso e, acima
delas, a copa despida dos salgueiros desenha
um túnel espontâneo.
À distância, o espelho de água é uma paisagem
tranquila, onde se sucedem várias cortinas de
vegetação: «Podemos ver em certas alturas
uma quantidade de aves apreciável no paul»,
mas «vir aqui apenas pela observação de aves é
um bocado enganador», sublinha o guia.
No paul «há perto de 250 espécies
ornitológicas, isso é verdade, só que grande
parte do ano a maioria dessas aves estão
concentradas na área de proteção integral».
Ao longe, patas imersas, há garças e cegonhas
à procura do almoço.
Junto de plantas que emergem do espelho
de água andam felosas, em voo acrobático, a
petiscar insetos. Mais acima, canta um cartaxo
exibicionista, como é típico da espécie.
«Este trilho está intransitável nalgumas partes do
ano – fi ca coberto de água». Não é o que ocorre
neste dia. As bagas rubras dos pilriteiros, que
aqui ainda têm muitas folhas por cair, juntam
mais cor ao passeio.«Uma espécie de mamífero
também frequente é o toirão», adianta.
António Figueiredo assinala níveis de água mais antigos
Gansos-bravos
Carvalho-cerquinho: quercínea mediterrânica
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58 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Além do abrigo que proporciona «o paul é o mais
importante garçal do país e funciona como zona
de concentração para espécies invernantes»,
sendo disso exemplo as várias espécies de patos-
bravos, galeirões e limícolas, como os bandos
fuselos que ali pousam em passagem no inverno.
«O ano passado andaram por cá grous.
Chegaram por altura do S. Martinho e fi caram
até março», altura em que terão procurado o
Norte da Europa para nidifi car.
O estatuto de proteção do paul do Boquilobo
acumula a designação de sítio Ramsar, de
Reserva da Biosfera e de Zona Especial de
Proteção para as Aves.
Ao longo do ano, entre os grupos que visitam o
paul do Boquilobo dominam as crianças, sem
exclusividade. Além deste trilho pedestre, que
excede três quilómetros, os visitantes podem
fazer um outro pelas estradas da periferia da
Reserva.
Ao fi m da tarde, viram-se aí bandos de garça-
boieira, de abibes e tarambolas, duas espécies
de peneireiros, búteos, águias-sapeiras, entre
outras aves.
Fernando Faria Pereira recorda que uma vez
orientou a visita de um grupo de militares:
«Estávamos no observatório. Às tantas há um
militar que fi xa o olhar e diz: «Estou a ver ali
um bicho dentro de água, mas aquilo não é
um cão, é uma lontra!». Penso eu cá para os
meus botões – eu nunca vi aqui uma lontra, só
vestígios, deve estar a ver mal».
Alterca a voz de um camarada: «Estás maluco.
As lontras são difíceis de ver. Mostra lá os
binóculos!».
Assim que espreitou deu o braço a torcer: «Ó
pá, tens razão! É mesmo uma lontra!».
Fernando apressou-se: «Empreste-me os
binóculos!», conta numa gargalhada, e explica:
«Já se tinha ido embora...».
Era uma lontra. O militar que confi rmou sabia
distingui-la. Sorte de principiante!
Mesmo que não o seja, quem sabe se quando
visitar o paul não lhe acontece também algo do
género?
Texto Jorge GomesFotos João L. Teixeira
58 REPORTAGEM
Vê-se a colina a descer, suave, e a esconder-se por baixo do paul
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39º 23’N e 8º 32’W
Centro administrativoEdifício Equuspólis
Rua D. João IV • 2150-170 Golegã
Telefone249 820 550
Correio eletró[email protected]
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Reserva Natural do Paul do Boquilobo
As garças-boieiras são aves que abundam na região
Observatório do Braço do Cortiço: FernandoFaria Pereira
Centro de Interpretação
Início do trilho de descoberta da natureza do paul
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60 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
60 REPORTAGEM
Na parte Noroeste da serra do Bussaco, entre
Coimbra e o Caramulo, contam-se 105 hectares
de mata dispostos sensivelmente entre os cem
e os 500 metros de altitude: memorial de antigos
monges, militares e poetas, hoje marca diferença
pela sua biodiversidade em várias unidades
de paisagem — a fl oresta-relíquia, o arboreto,
os jardins e o vale dos fetos...
Um ácer cobre o trilho atapetado
de folhas amareladas,
encharcadas ainda de uma
chuva recente. Estamos no
arboreto da mata.
Milene Matos, investigadora do
Departamento de Biologia da Universidade
de Aveiro em serviço na mata do Bussaco,
acompanha-nos e acentua: «Esta mata
marca a primeira descrição da salamandra-
lusitânica para a ciência».
Refere-se a um anfíbio que, em todo o
mundo, existe apenas no Noroeste da
Península Ibérica. Em 1864, Bocage foi o
cientista que lhe deu o nome pelo qual é
hoje conhecida, Chioglossa lusitanica.
Longe de ser caso único entre endemismos
Mata do
adernal único na Europa
BussacoreportThe woods of the Bussaco Forest bring together Biodiversity and Historic Buildings, among other points of interest. It has 105 hectares with an altitude ranging from 100 to 500 metres. Under the canopy of hundreds of plant species, water flows everywhere. This forest joins together a special heritage of historical, religious, military, nature, landscaping, architectural and cultural significance.
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 61
ibéricos aqui presentes, juntam-se-lhe
outros mais habituais. É o caso do tritão-de-ventre-laranja, da rã-ibérica ou do
lagarto-de-água.
Esta manhã não é a altura adequada
para estas pérolas de biodiversidade se
mostrarem, mas «de noite, abundam pelo
trilho, e temos de ter cuidado para não as
calcar».
A caminhada não quer despacho no
bosque luxuriante. É tempo de olhar os raios
de sol que conseguem fugir ao bloqueio da
folhagem densa do arvoredo que se atira ao
céu e cria um ar tépido onde a humidade
brilha por toda a parte.
Nota-se uma vegetação de transição, onde
predominam espécies mediterrânicas, ainda
Milene Matos, bióloga
Também no trilho religioso a biodiversidade domina
Jo
aq
uim
Ped
ro F
err
eira
com lugar para o carvalho-alvarinho e o
azevinho.
O folhado, Viburnum tinus, a uva-de-cão,
Tamus communis, a salsaparrilha-bastarda,
Smilax aspera, os medronheiros e os muitos
adernos antigos, Phillyrea latifolia, coexistem
sem guerra maior pela luz, cada um no seu
nicho climácico.
Estes últimos estão distribuídos pela encosta
Sudoeste da mata, onde se centra o domínio
da fl oresta-relíquia.
No clímax da sucessão ecológica, este
bosque mediterrânico dá uma ideia de
como seria o relevo antes da transformação
operada pelo ser humano.
Hoje, sob o cuidado do projeto Bright,
Salamandra-lusitânica
Cogumelo Xylaria hypoxylon
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62 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
incluído no programa LIFE/Natureza e
Biodiversidade, empreende-se «a conservação
das áreas de adernal, habitat que em toda a
Europa apenas se conhece na Mata Nacional do
Bussaco».
Não há pressa pelo caminho. Uma pedra na
berma segue o exemplo geral. Cobre-se de
camadas de musgo, sob as folhas redondas
dos umbigos-de-vénus, as folhas penteadas
dos fetos, hospedando pequenos cogumelos e
sabe-se lá que mais — nem uma nesga da rocha
se avista!
Adiante uma placa explica o bosque e a poucos
metros um dos adernos exibe um tronco ainda
mais largo do que o dos arbustos vizinhos.
Retorce-se num voltear oblíquo, tão caprichoso
que não se consegue ignorar. Fica a ideia de
muita idade. Quantos anos poderá ter esta planta
de porte arbóreo?
Milene Matos fi xa os olhos claros no colosso e
estima: «Talvez uns 400 anos...».
Outra dúvida se impõe — terá sido esta a parte
da mata que despoletou do Nobel português da
literatura, José Saramago, o breve dizer «Mata
do Buçaco, não se descreve, o melhor é perder-
nos nela»?
Para se perceber este património luso
multifacetado, estão em curso medidas de
conservação, abrigando algumas delas a
participação de voluntariado.
Um dos exemplos decorre do controlo e
erradicação de espécies invasoras, que podem
deitar a perder o oásis de biodiversidade que é
o Bussaco, agora cercado de pobres fl orestas
exóticas: «Gostamos de envolver vários públicos,
desde visitantes, residentes e entidades públicas
e privadas», introduzindo-os, explica Milene
Matos, «em atividades práticas de conservação,
nomeadamente no combate controlado de
espécies vegetais invasoras ou na recolha e
propagação de sementes».
Entre as plantas invasoras contam-se sobretudo
duas acácias australianas, a tradescância
sul-americana e o louro-cerejo, curiosamente
este último «disseminado em boa escala por
fuinhas»...
Na mata há viveiros cujo produto é replantado
para reabilitar os bosques autóctones onde se
evidencie maior vulnerabilidade.
Cheio de história, «os primeiros registos sobre
o Bussaco remontam ao século II», diz Milene
Matos. «Poderia ainda não haver ocupação
humana nessa época e teria servido de refúgio
a cristãos em fuga». No século XVII, «a mata foi
procurada pela ordem dos Carmelitas Descalços
com a ideia de estabelecerem o seu deserto»,
um espaço distante do mundanismo, centrado
na busca de Deus e da natureza.
«Construíram o convento de Santa Cruz» e foi
graças ao seu domínio que os adernos antigos
não desapareceram: impedia a população de
obter lenha nesta mata.
O fervor religioso recriou o percurso da via-sacra,
à escala real do que aconteceu em Jerusalém,
um dos trilhos ainda existentes, palmilhado
em pleno bosque. Os monges plantaram um
cipreste oriundo da América Central, o chamado
cipreste-do-bussaco, Cupressus lusitanica,
a árvore exótica que domina o arboreto: «Era
semelhante a um cipreste do Líbano, presente
na Terra Santa».
A restante vegetação exótica foi introduzida na
mata «pelos antigos serviços fl orestais, a partir de
1856. Hoje contam-se 257 espécies lenhosas».
As características climáticas, geológicas e a
vegetação luxuriante são amigas da água.
Na verdade, funciona como uma gigantesca
esponja, com ecossistemas que purifi cam a água
e a conservam, soltando-a em fontes e linhas de
água que se ouvem no trilho.
Escondidos de olhares pouco especializados,
bordalos, Squalius alburnoides, e ruivacos,
Achondrostoma oligolepis, são pequenos
peixes ameaçados de extinção que dão por ali à
barbatana.
Pelo bosque voam, furtivos, gaviões e açores.
Acautelem-se esquilos e pássaros com estes
guardiões do bosque.
A noite é das corujas e das ginetas, das raposas
e dos javalis, neste oásis de biodiversidade, cheio
O Vale dos Fetos está a ser reabilitado e apresenta alguns exemplares arbóreos da espécie Dicksonia antarctica
62 REPORTAGEM
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 63
40º 33’N e 8º 28’W
de espécies protegidas por legislação nacional e
internacional.
A mata pode também ser percorrida por mais dois
trilhos, o da água e o militar, este último ligado às
Invasões Francesas de 1810.
A velha oliveira, chantada no meio da estrada, é
intocável. Corre a lenda que o duque de Wellington,
comandante aliado das tropas luso-inglesas, ali terá
atado o seu cavalo.
Na mata do Bussaco, em cada estação do ano,
os ritmos renovam-se numa paleta de matizes
próprios com o condão de perdurar e, mesmo que
se mudem os tempos e as vontades, quando ali
passear não tenha pressa, apure o ouvido, o olfato, e
observe para além dos limites da luz: perceberá por
que faz sentido ali ir e, mais tarde, voltar.
Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira
* Optou-se pela grafi a antiga de Bussaco.
Folhado, uma planta mediterrânica O bosque retém a água por toda a parte, nos lençóis freáticos e à superfície, em sintonia com a Década da Biodiversidade
A multiplicação de acácias leva à perda de muitas espécies nativas: uma equipa de voluntários trata de controlar as invasoras
Convento de Santa Cruz do Bussaco – o remanescente na zona à direita
Fundação Mata do BussacoMata do Bussaco
3050-261 Luso
Telefone231937000
Correio eletró[email protected]
www.fmb.pt
Mata do Bussaco
Arq
uiv
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64 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
Foto-armadilhagemquando os animais se fotografam a si próprios
Conservacionistas e cientistas
têm deparado com imensos
obstáculos: um deles é a
obtenção de dados fi áveis
que permitam delinear medidas de
conservação. Recentemente, o uso de
armadilhas fotográfi cas tem permitido
documentar espécies em locais onde até
então eram desconhecidas, descrever
novos comportamentos e até descobrir
novas espécies. Estamos perante uma
evolução ou revolução no conhecimento da
biodiversidade?
Muitas espécies são elusivas, raras e
vivem em locais remotos tornando-se
difíceis de capturar e até mesmo de ver.
Com o avanço tecnológico e científi co, o
estudo destas espécies recorre cada vez
mais a metodologias não-invasivas que
permitem detetar e identifi car indivíduos
sem a necessidade de os ver ou capturar
diretamente. A foto-armadilhagem é uma
destas técnicas e é cada vez mais utilizada,
tendo já contribuído para um aumento
substancial do conhecimento científi co
sobre várias espécies. Habitualmente são
usadas câmaras digitais ativadas por sensores de
temperatura e movimento que são dispostas em
locais onde as espécies têm maior probabilidade
de ocorrer, como trilhos, pontos de água ou tocas
e que fotografam o animal quando este passa
diante da câmara.
Utilizando esta metodologia, uma equipa
composta por investigadores espanhóis e
marroquinos documentou recentemente pela
primeira vez a presença de lobo-africano
(Canis lupus lupaster) nas montanhas Atlas em
Marrocos. Também em 2012, a organização
Panthera divulgou as primeiras imagens de
um gato-dourado (Caracal aurata) no Gabão.
Esta espécie é considerada como sendo
o felino africano sobre o qual existe menor
conhecimento e consequentemente um dos
mais difíceis quando se quer delinear estratégias
de conservação. A mesma organização
registou também pela primeira vez a utilização
de plantações de óleo de palma por jaguares
(Panthera onca), na América do Sul. As
plantações de óleo de palma são há muito
consideradas como um dos responsáveis
pela destruição do habitat nativo do jaguar,
contudo até agora não se sabia se a espécie
evitava totalmente estas áreas ou se era capaz
de se deslocar através destas. Vários outros
registos de espécies ameaçadas de extinção
foram também obtidos nos últimos anos como
é o caso de uma chita (Acinonyx jubatus)
documentada no Sara argelino em 2009. Esta
população poderá estar criticamente ameaçada
e até este registo existiam poucas evidências
fi áveis que confi rmavam a presença deste felino
na Argélia. Situação semelhante aconteceu com
a confi rmação da ocorrência do criticamente
ameaçado crocodilo-siamês (Crocodylus siamensis) no Camboja. O uso de armadilhas
fotográfi cas permitiu ainda a descoberta de
novas espécies tais como o coelho-listrado-de-
annam (Nesolagus timminsi) nativo do Laos e
Vietname e uma nova espécie de musaranho-
elefante (Rhynochocyon udzungwensis) registada
na Tanzânia. A aplicação da foto-armadilhagem
não tem no entanto originado apenas boas
notícias, uma vez que tem documentado
a ausência de várias espécies criticamente
ameaçadas durante algumas expedições. Em
2002 e 2003 campanhas de foto-armadilhagem
não detetaram a presença do lince-ibérico
(Lynx pardinus) na região da serra da Malcata
64 PESQUISA
Durante o inverno, a lebre-variável (Lepus timidus)
apresenta pelagem branca, que utiliza para se
camufl ar na neve
Kerr
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ilshaw
/Wild
CR
U
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 65
e Guadiana, duas das possíveis áreas onde a
espécie poderia ainda ocorrer em Portugal.
O uso da armadilhagem fotográfi ca é cada vez
mais amplo. Recentemente conservacionistas
têm utilizado armadilhas fotográfi cas para registar
a presença de caçadores furtivos em regiões
onde a caça e a captura ilegal de animais são a
maior ameaça à preservação de várias espécies.
Também no confl ito homem-animal o uso de foto-
armadilhagem tem sido um elemento importante.
A conservação do lobo (Canis lupus) é um destes
exemplos. Devido à falta de presas naturais o
lobo recorre por vezes a animais domésticos,
principalmente gado, para se alimentar. Este
facto tende a gerar atitudes negativas em relação
à espécie, incluindo muitas vezes perseguição
direta e extermínio de lobos. Para compensar
estas perdas, vários países implementaram um
sistema de indemnização que cobre os danos
causados durante ataques de lobos. Contudo
a presença de cães assilvestrados, que podem
formar matilhas e que podem também recorrer a
estas fontes de alimento, causará danos similares,
embora estes não sejam cobertos pelo sistema
de indemnizações. Em Portugal, tal como noutros
países, é uma técnica auxiliar que já foi testada
com sucesso e que pode funcionar como uma
fonte de informação complementar para a correta
identifi cação das espécies responsáveis pelos
ataques atribuídos ao lobo.
Contudo, a aplicação da foto-armadilhagem
apresenta limitações. Embora cada vez mais se
experimente aplicar esta tecnologia em diferentes
cenários (por exemplo para monitorizar o uso de
cavernas por morcegos) o uso de armadilhas
fotográfi cas tem revelado sucesso principalmente
no estudo de mamíferos fl orestais. Espécies de
maior porte têm maior probabilidade de serem
detetadas e em ambiente fl orestal a fauna tende a
deslocar-se através trilhos que vão sendo criados
durante a passagem de diferentes espécies.
Isto permite que o investigador tenha uma
noção concreta de onde colocar as câmaras,
contrariamente ao que acontece em ambientes
mais abertos, aumentando a probabilidade de
ser bem sucedido na sua captura fotográfi ca. Os
felinos têm sido um dos alvos principais destes
estudos uma vez que o seu padrão natural da
pelagem permite identifi car cada indivíduo que é
fotografado ao contrário do que acontece com
outras espécies.
Em grande parte a recente explosão na utilização
de armadilhas fotográfi cas deve-se também
à redução de custos. Uma câmara para foto-
armadilhagem custa tipicamente entre 150 e
400 euros e em estudos onde são utilizadas
dezenas de estações fotográfi cas (usualmente
entre 10 e 20), os custos podem facilmente
atingir valores de milhares de euros. Existem
ainda outros custos signifi cativos, como
por exemplo o custo de pilhas, cartões de
memória e o possível extravio. Investigadores
e conservacionistas deparam por vezes
com o roubo do equipamento. Seja por
curiosidade ou má intenção parece existir
uma irresistibilidade a estas armadilhas, que
desaparecem ou são estragadas. Por vezes
também os próprios animais ou as condições
climatéricas podem danifi car o equipamento.
Deste ponto de vista é fácil entender porque
ainda existe alguma apreensão na utilização
desta tecnologia, nomeadamente em países
em desenvolvimento.
Embora tenha demonstrado um grande
potencial e seja atualmente um auxílio
inquestionável para a investigação científi ca
e conservação da biodiversidade, um dos
maiores trunfos desta técnica é talvez um
Gato-bravo (Felis silvestris silvestris) fotografado durante
uma sessão de foto-armadilhagem na Escócia. A
população escocesa de gato-bravo é principalmente
ameaçada pela a hibridação com o gato-doméstico e
segundo estimativas recentes podem existir apenas 400
indivíduos em estado selvagem
Fotografi a de lobo-ibérico (Canis lupus signatus) capturada em Portugal, a sul
do rio Douro. Os investigadores utilizam
a foto-armadilhagem para monitorizar
esta esquiva e ameaçada população
Juvenil de lobo-ibérico
(Canis lupus signatus)
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66 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
A origem da foto-armadilhagem No advento da fotografi a, durante o século XIX, o equipamento fotográfi co era volumoso e pesado,
limitando muito a aplicação da fotografi a. O interesse pela fotografi a de vida selvagem nasce
progressivamente, mas espécies elusivas, como animais noturnos, que habitam em locais remotos
continuavam a não ser possíveis de fotografar.
George Shiras, no fi nal do século XIX, criou um sistema que permitia que os animais se
fotografassem a si próprios. Utilizando uma câmara fotográfi ca, acoplada a um sistema de fl ash,
ligou através de um pequeno fi o um isco ao obturador da sua câmara. Ao investigarem o isco
os animais fotografavam-se a eles próprios. O sistema provou-se efi ciente e durante alguns anos
George Shiras fotografou a vida até então desconhecida de diversas espécies entre as quais a
lebre-americana, castor-americano, esquilo-cinzento, visão-americano e urso-pardo.
Durante o século XX o trabalho deste fotógrafo foi replicado em várias partes do mundo, permitindo
fotografar espécies até então desconhecidas ou raramente fotografadas em estado selvagem,
como é o exemplo da primeira fotografi a de tigre tirada com este sistema na década de 1920
por Frederick Champion na Índia. A tecnologia despertou interesse entre cientistas e na segunda
metade do século XX já com o desenvolvimento de equipamentos bastante mais pequenos e
sofi sticados, alguns trabalhos científi cos utilizaram a foto-armadilhagem, nomeadamente para
estudar a distribuição e os ritmos de atividade de várias espécies.
Na década de 1990 as câmaras fotográfi cas são acopladas a sensores de infra-vermelhos que
ativam o obturador da câmara quando o feixe de luz é interrompido. O sistema foi testado com
sucesso na deteção de vários carnívoros na Califórnia.
Ullas Karanth em 1995 utiliza câmaras fotográfi cas para identifi car individualmente tigres e
determinar a sua densidade em algumas regiões na Índia, a sua metodologia é replicada para
vários outros estudos com felinos, nomeadamente jaguares, leopardos e ocelotes. Atualmente, as
armadilhas fotográfi cas são utilizadas em várias regiões do mundo por investigadores, organizações
não governamentais de ambiente e até por particulares gerando milhares de imagens que
monitorizam o funcionamento de vários ecossistemas.
dos menos esperados. Até há alguns
anos, o trabalho de investigadores e
conservacionistas era de pouca acessibilidade
ao cidadão comum. Este era, e ainda é, um
verdadeiro problema para a conservação da
biodiversidade pois é compreensivelmente
difícil motivar a população para a proteção
de espécies que nunca viram e das quais
até a comunidade científi ca pode ter poucos
registos.
O conhecimento de espécies raras estava
restrito a visitas a museus de história natural
ou instituições zoológicas. Porém, o uso de
armadilhas fotográfi cas veio trazer dezenas
de espécies, grande parte das quais espécies
carismáticas, para dentro da nossa casa
cativando a nossa atenção para a temática da
conservação da biodiversidade. Atualmente
é fácil receber fotos de espécies que estão
a ser fotografadas nos mais remotos cantos
do mundo, por exemplo via Facebookou YouTube. A aplicação Instant-Wild,
uma parceria entre a Zoological Society of London e a Microsoft, permite receber
quase em tempo real fotos tiradas por
armadilhas fotográfi cas em locais remotos
de países como Quénia, Sri Lanka, Mongólia
ou Indonésia. A fi losofi a por detrás da
construção desta aplicação é o envolvimento
de milhares de pessoas na identifi cação
das várias espécies que são capturadas,
ajudando a categorizar a enorme quantidade
de dados que os conservacionistas têm de
analisar. Desta forma qualquer pessoa pode
diretamente participar na monitorização de
várias espécies por todo o mundo. A foto-
armadilhagem veio desta forma preencher
um pouco o vazio que existia na relação do
investigador com o grande público. Esta
ligação mais próxima permite não só transmitir
valores ambientais mas também cativar o
público para atuar ativamente na conservação
da biodiversidade. Vários projetos de
conservação e científi cos que utilizam
armadilhas fotográfi cas têm recorrido com
sucesso a campanhas de “crowdfunding”
para se fi nanciarem. Nestas campanhas
qualquer pessoa pode contribuir com um
pequeno montante para a compra de uma
câmara que será utilizada na conservação
de uma ou várias espécies, sendo possível
receber acesso exclusivo a algumas das
imagens que foram capturadas durante o
estudo que ajudou a fi nanciar.
Texto André Silva
Montagem de uma câmara de foto-armadilhagem. O equipamento é tipicamente colocado em árvores, estacas ou pedras direcionadas para um trilho que os investigadores pensam poder ser utilizado pelas espécies-alvo
66 PESQUISA
Para saber maisSmithsonian Wild – Esta iniciativa permite visualizar mais 200 mil fotografi as tiradas por armadilhas
fotográfi cas em projetos espalhados por todo o mundo. http://siwild.si.edu/Photo trapping - Blogue português sobre foto-armadilhagem. http://phototrapping.blogspot.ptBBC Wildlife Camera-trap Photo of the Year - Concurso organizado pela BBC que elege as
melhores fotos provenientes de armadilhas fotográfi cas em cada ano. http://www.discoverwildlife.com/gallery/bbc-wildlife-camera-trap-photo-year-2012-%E2%80%93-winners
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 67
Éassim, envolvidos pelos altos valores
cénicos e ambientais que conferiram
o estatuto de área protegida ao
litoral de Esposende, que nos são
apresentados os seus habitats ribeirinhos,
o meio marinho adjacente e os sistemas
dunares que lhes estão associados, instáveis,
frágeis e vulneráveis como a biodiversidade
que suportam. Agora que, face à melhoria
das acessibilidades entretanto criadas, nos é
mais fácil desfrutar dos atributos paisagísticos
deste estuário, não é difícil sermos assaltados
pela frustração ao percebermos que, apesar
do atual recuo da linha de costa resultar
sobretudo de um ciclo normal na evolução
da Terra, em muito temos contribuído para
acelerar o desaparecimento deste nosso
valioso património natural.
A erosão costeira, resultante da subida do nível
médio das águas do mar e da redução dos
caudais dos rios, continuará a emagrecer os
areais das nossas praias, onde ainda podemos
ver os pilritos-d’areia (Calidris alba) a alimentar-
se. Mas, a par destes, o que sucederá aos
borrelhos-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) que todos os anos se deparam
com a destruição das dunas que lhes serviam
de berço? E assim que o mar invadir o estuário
quantos biótopos se extinguirão? E quantas das
aves, suas habitantes, debandarão como os
pinguins (Spheniscidae) que em tempos muito
remotos também se terão distribuído por estas
latitudes?
Mais ecléticas, as rolas-do-mar (Arenaria interpres) colocaram-se entre as primeiras a
descobrir oportunidades de sobrevivência nos
recifes rochosos recentemente expostos com o
sumiço das areias das praias esposendenses.
E o processo de colonização deste novo meio
atrairá certamente outros organismos e outras
cadeias de vida se estabelecerão. Foi nestas
circunstâncias que na última estação se deu
o primeiro registo conhecido do pilrito-escuro(Calidris maritima) por estas paragens e,
eventualmente, será assim que outras espécies
mais adaptadas à vida nas rochas, como as
petinhas-marítimas (Anthus petrosus), passarão
a visitar-nos com maior assiduidade.
É que a instabilidade geológica do nosso litoral
continuará, assim como no passado, a destruir e
a criar mundos novos.
Por Jorge Araújo da Silvawww.verdes-ecos.blogspot.com
Avifauna do Estuário do CávadoAo percorrermos o
circuito de visitação
do estuário do Cávado
somos confrontados
com um quadro
interpretativo a alertar-
nos para o caráter
efémero das formações
geológicas e dos
ecossistemas que hoje
caraterizam esta faixa
do litoral norte, mas
que se transformarão
com o inexorável
avanço do mar
Pilrito-escuro, Calidris maritima
BLOCO DE NOTAS 67
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Grou-comumvoar na Europa de lés a lés
Grus grus
o tamanho da cegonha, o
grou-europeu nidifi ca na
tundra, nas margens de
zonas húmidas, do Norte
da Europa, para onde se desloca
normalmente em março.
Foi este ritmo migratório, comum a
tantas aves selvagens, que deu fôlego à
convenção de Ramsar. Os grous que já
poderá ter visto nos campos de Moura
ou de Évora, por exemplo, ao deixarem
batidos pelo frio o habitat de nidifi cação,
poderão ter voado ou pousado no
território de uma dúzia de países.
Em Portugal só se observam grous-europeus selvagens no tempo frio,
entre novembro e fevereiro. Mais a sul, algures no Alentejo,
conseguem ver-se bandos por vezes com centenas de aves.
Se se sentem ameaçados levantam voo numa breve corrida e,
em pleno batimento de asas, formam um V no céu.
Percebe-se, por isso, que a conservação
deste setor da biodiversidade tenha
necessariamente de envolver o maior
número possível de países.
Esta espécie, bem distribuída, abrange
três continentes: a Europa, o Norte de
Àfrica e parte da Ásia.
Alimentam-se de matéria vegetal, rizomas,
frutos e sementes, bem como, entre
outras ementas, de insetos e crustáceos.
A publicação “Hirundo” dá nota de uma
pesquisa feita por um grupo de cientistas
estonianos* sobre as migrações do
grou-europeu, sendo algumas das aves
68 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
68 MIGRAÇÕES
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controladas através de anilhas de cor e por dispositivos ligados a satélites entre 1997 e 2011. Em síntese, conseguiram um total de 3810 registos de 221 grous-europeus, com 2257 observações de 201 aves realizadas fora da Estónia.Muitos destes grous passaram o inverno na Estremadura espanhola, vizinha das terras alentejanas onde se verão por estes dias. A população invernante no nosso país, hoje, estima-se em cerca de 2 mil indivíduos.
Texto Jorge GomesFotos João L. Teixeira
Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 69
Migração primaveril
Migração outonal
*"Hirundo 24: 41-53 (2011), Aivar Leito.
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70 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
70 RETRATOS NATURAIS
Vamos desenhar... plantas
E se o Natal evoca nos portugueses o
sentimento de grupo e união familiar, a
necessidade de adorno das casas para
receber os mais próximos com enfeites
brilhantes e coloridos (onde os pátrios verde e o
vermelho imperam), que embelezam a árvore de
natal ou as portas ou os centros de mesas. Esta
quadra festiva permite ainda o retorno em nós
do espírito da criança aquando da construção
do presépio, forrado com tapetes de felpudos
musgos. Na verdade tudo parece dar o mote
para dedicarmos alguma da nossa atenção à
ilustração do fabuloso mundo verde, ou seja,
das plantas.
Ilustrar plantas é adentrar no domínio da
botânica, enquanto ciência da biologia, e,
concomitantemente, entrar no apaixonante
universo da ilustração botânica – e o uso do termo
"universo" é propositado. De facto, ao estudo e o
desenho ou pintura das plantas, na multitude de
formas, tamanhos e cores, constituiu um motivo
que sempre fascinou o Homem. A arquitetura e
a harmonia das composições fl orísticas, e mais
ainda daquelas ditas fl orais (plantas com fl or),
têm o poder de suscitar emoções que levam
quase sempre a apreciações positivas do que
se olha (perceção), do que se vê (chama e capta
a atenção), ou ainda do que se observa (analisa
visualmente). Sendo que as plantas com fl or são
na sua maioria temporalmente muito efémeras,
motivam à conservação da sua memória e não
Reminiscências do
paganismo pré-cristão
europeu, as plantas de
folhagem persistente e
verde-escura, nas quais
pontuam contrastantes
drupas vermelhas,
como no azevinho ou
nas gilbardeiras que
ocorrem em matagais
umbrios, são ainda
muito procuradas como
adorno, na ocasião das
festividades do Natal
AzevinhoIlex aquifolium
pvs42.indd 70 5/28/13 4:58 PM
Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 71
são poucos os exemplos em que a representação
destas plantas surge aliada aos primevos
desenhos e pinturas, em paredes, tábuas ou telas,
antes mesmo de passarem a ilustrar as páginas
dos manuscritos (como por exemplo, os códices
religiosos, minuciosamente tintados pelos monges
copistas), ou dos primeiros incunábulos (cadernos
impressos da centúria de quinhentos), que
precederam os livros encapados.
Um dos primeiros realces a fazer é o do que a
ilustração botânica é um campo tradicionalmente
bastante vasto. Dada a precocidade deste tipo
de estudo na história do conhecimento humano
(inicialmente mais voltada para o uso prático,
medicinal ou económico – sistemática artifi cial – do
que para uma sistematização natural e apoiada na
história evolutiva da espécie), a botânica acabava
por englobar toda uma série de domínios que hoje
já não se encontram incluídos no reino das plantas.
Curiosamente, ainda hoje se observam algumas
perceções erróneas sobre o que realmente é a
ilustração botânica, que urge clarifi car, bem como
também esclarecer que ilustração botânica é
muito mais do que ilustração de angiospérmicas
(plantas com fl or) – a qual, por motivos óbvios, é
aquela que agrega mais seguidores, tanto nos que
apreciam, como nos que executam e/ou criam.
Desenhar plantas é desenhar aqueles seres
fotossintetizantes (autotrófi cos), sejam eles micro
ou macroscópicos (a maioria das herbáceas,
arbustos e árvores), sejam terrestres, ou aquáticas,
dulciaquícolas ou marinhas. Assim, hoje em dia
é comummente aceite que os fungos são um
reino à parte das plantas (incapazes de fazer
fotossíntese, i. é, são seres heterotrófi cos), e como
tal deve-se evitar a representação destes seres
no domínio da ilustração botânica (apesar de este
tipo de ilustrações ainda ser recorrente em obras
dedicadas à ilustração botânica recentemente
publicadas), uma vez que pertencem à ilustração
micológica (independentemente de se desenharem
hifas, ou as suas frutifi cações, os cogumelos, que
também serão alvo de abordagem, mais à frente,
nesta rubrica). Existe ainda uma outra ressalva a
fazer e que é preciso ter em consideração – as
microalgas, independentemente do meio em que
se inserem, não estão taxonomicamente incluídas
no reino Plantae (são consideradas Protistas),
logo a sua representação não pode ser incluída
na disciplina da ilustração botânica. Por seu lado,
as macroalgas marinhas já fazem parte deste
domínio e subcategoria da ilustração científi ca.
Na realidade, pode-se afi rmar que ambas estarão
indexadas à ilustração fi cológica, ou seja à
ilustração de algas (uma disciplina da fi guração
científi ca que é recente, com cerca de 250 anos,
se comparada com a ilustração).
Regra geral, fazer ilustração botânica é ilustrar
as espécies de briófi tas (no qual se incluem os
musgos), as pteridófi tas (dominadas pelos fetos),
as gimnospérmicas (como as coníferas) e as
angiospérmicas (plantas com fl or). Este tipo de
ilustração pode ser restrito a algo tão simples
como a ilustração de apenas uma folha, ou parte
da fl or ou do fruto, se em respeito à anatomia
externa, ou então de um corte anatómico interno
(onde se mostre a relação dos tecidos vegetais
num caule, folha ou raiz), ou pode mostrar ainda
a planta inteira (hábito) – e que será o tema dos
próximos artigos, onde o verde irá imperar.
GilbardeiraRuscus aculeatus
Anatomia externa
do azevinho açoriano (Ilex azorica)
1. Folhaa - face superior
b - face inferior
2. Flor c - botão
d - fl or/fl orescimento
e - fl or/inicio da frutifi cação
3. Frutof-h - fases da maturação
i - fruto em corte longitudinal
4. Sementes
c
3
12
d
g
h
4 i
f
a b
h
e
Texto e ilustrações
Fernando CorreiaBiólogo e ilustrador científi co
Dep. Biologia, Universidade de Aveiro
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72 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
72 ATUALIDADE
Pedras-parideiras: geo-sítio ganha centro de interpretação
Na aldeia da Castanheira, em plena serra da
Freita, abriu ao público em 3 de novembro
a Casa das Pedras Parideiras, na verdade
o Centro de Interpretação deste singular
geo-sítio.
Este pólo de apoio surge depois de
reabilitada uma casa antiga, em desuso,
nas proximidades do afl oramento principal
das afamadas pedras, já abordadas pela
PARQUES E VIDA SELVAGEM (n.º 27,
disponível em www.parquebiologico.pt, no
botão Revistas).
Trata-se de um equipamento que
pretende contribuir para a conservação,
a compreensão e a valorização deste tipo
de património geológico, assim como para
promover as visitas turísticas e educativas
deste espaço, que se integra num conjunto
total de 41 geo-sítios (sítios com interesse
geológico) classifi cados pelo Arouca
Geopark, membro das Redes Europeia e Global
de Geoparks, sob os auspícios da UNESCO.
Com marcação, é possível a visualização de um
fi lme no auditório intitulado “Pedras Parideiras:
Um tesouro geológico”, seguindo-se uma visita
aos afl oramentos externos.
No fi lme, faz-se uma viagem dos primórdios
do planeta Terra à atualidade da região,
sendo possível compreender os mistérios que
envolvem estas pedras peculiares.
Jo
aq
uim
Peix
oto
2013 • 11.ª edição
Prémio Júnior - Edição de 2012Pedro Caldas Cardoso, Garça branca e seu refl exoAcompanhe este Concurso
no site do Parque Biológico de Gaiawww.parquebiologico.pt
ou no Facebookwww.facebook.com/parquebiologicodegaia
NOVIDADES
EM BREVE!
CONCURSO NACIONAL DE FOTOGRAFIA DA NATUREZA PARQUES E VIDA SELVAGEM
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 73
Um asteróide terá colidido com a Terra há 65
milhões de anos, no fi nal do Cretáceo, e terá
originado enormes perdas de biodiversidade,
incluindo a extinção dos dinossauros.
Mas não foram apenas esses seres vivos que
desapareceram do planeta.
Um novo estudo publicado na revista “PNAS”
destaca que o sinistro terá aniquilado 83% de
espécies de lagartos e serpentes, sublinhando
que «só os pequenos animais com uma ampla
distribuição geográfi ca sobreviveram neste
período».
De acordo com esta pesquisa, defendem os
investigadores, «as origens da fauna moderna
só podem compreender-se tendo em conta
as grandes catástrofes que ocorreram nessa
altura».
Cerca de «9 mil espécies de lagartos e
serpentes continuam hoje a existir não por se
terem adaptado melhor mas porque ganharam
por defeito, já que os seus concorrentes diretos
tinham sido eliminados».
Concluídos os exames dos fósseis de
serpentes e lagartos obtidos em trabalho de
campo no Oeste da América do Norte – do
Novo México a Alberta, Canadá – regiões
favoráveis à colheita de uma elevada
diversidade de fósseis de répteis dessa era,
verifi caram que entre as espécies examinadas,
21 eram conhecidas e as outras totalmente
desconhecidas.
O estudo conseguiu reconstruir as relações
dos répteis extintos a partir de mandíbulas
fragmentadas.
Esta variedade de espécies de répteis mostra a
grande biodiversidade dessa era: «Os lagartos
e as serpentes rivalizavam com os dinossauros
em termos de variedade», afi rmou Nicholas
Longrich, do Departamento de Geologia e
Geofísica de Yale, um dos autores da pesquisa.
Enorme meteorito eliminou 83% de répteisImitar para interagir
Os papagaios tendem a imitar as vocalizações
uns dos outros com vista a estabelecerem
algum tipo de interação, segundo um estudo
recente de uma equipa de cientistas. Thorsten
Balsby da Universidade de Aarhus e os colegas
da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca,
chegaram a esta conclusão quando observaram
que as aves submetidas à pesquisa reagiam mais
rapidamente e com maior frequência sempre
que um dos papagaios imitava o chamamento
de outros. Balsby disse, num artigo publicado na
revista "PLOS One", que se sentia surpreendido
pelo facto de as aves conseguirem imitar as
variações subtis das vocalizações de contacto.
Muitos destes animais vivem uma parte do ano
em bando, o que desafi ará os psitacídeos a
complexifi carem o seu sistema de vocalizações.
O cientista explicou que a constante mistura de
aves de vários bandos na fl oresta poderia estar
na origem desta adaptação.
VILA NOVA DE GAIA
28-29 DE JUNHO DE 2013
AUDITÓRIO DO PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA
I JORNADAS ARQUEOLÓGICAS
CASTELO DE CRESTUMA
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74 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
74 PROJETO
Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono
Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3
• Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto
• Alice Branco e Manuel Silva • Amigos do Zé
d’Adélia • Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana
Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana
Luis e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel
Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires •
Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos, Fátima
Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia Neves
do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de
Oliveira do Douro • Ana Sofi a Magalhães Rocha •
Ana Teresa, José Pedro e Hugo Manuel Sousa •
António Miguel da Silva Santos • Arnaldo José Reis
Pinto Nunes • Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara
Sofi a e Duarte Carvalho Pereira • Bernadete
Silveira • Carolina de Oliveira Figueiredo Martins
• Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch •
Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues
Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa
& Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger •
Convidados do Casamento de Joana Pinto e
Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10) da
Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira
Alves • Deolinda da Silva Fernandes Rodrigues
• Departamento Administrativo Financeiro da
Optimus Comunicações, SA - DAF DAY 2010 •
Departamento de Ciências Sociais e Humanas da
Escola Secundária de Ermesinde • Departamento
de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10)
da Escola Secundária de Oliveira do Douro •
Dinah Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos
• Eduarda e Delfi m Brito • Eduarda Silva Giroto •
Escola Básica da Formigosa • Escola Dominical
da Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3
de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto
Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária Segura,
Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3 Escultor
António Fernandes de Sá • Escola Secundária
Almeida Garrett - Projecto Europeu Aprender a
Viver de Forma Sustentável • Escola Secundária
Augusto Gomes • Escola Secundária do Castelo da
Maia • Família Carvalho Araújo • Família Lourenço •
Sequestro de Carbono
Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área
de fl oresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município,
de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência
ao seu gesto em favor do Planeta
Para mais informações pode contactar
pelo n.º (+351) 227 878 120ou em [email protected] Biológico de Gaia,
Projeto Sequestro do Carbono4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Fernando Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes
• Francisco Saraiva • Francisco Soares Magalhães
• Graça Cardoso e Pedro Cardoso • Grupo ARES
- Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária
dos Carvalhos • Grupo Ciência e Saúde no Sec.
XXI - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária
Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Grupo de
EMRC da Escola Básica D. Pedro IV - Mindelo •
Guilherme Moura Paredes • Hélder, Ângela e João
Manuel Cardoso • Inês, Ricardo e Galileu Padilha •
Joana Fernandes da Silva • Joana Garcia • João
Guilherme Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares,
Rita Mendes, Rita Moreno, e Sofi a Teixeira, do 12.º
A (2011/12) da Escola Secundária Augusto Gomes
• Joaquim Pombal e Marisa Alves • Jorge e Dina
Felício • José Afonso e Luís António Pinto Pereira
• José António da Silva Cardoso • José António
Teixeira Gomes • José Carlos Correia Presas •
José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves •
José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília
Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange
Cruz • Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo
Pinhal • Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos
Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira Lopes •
Maria de Araújo Correia de Morais Saraiva • Maria
Guilhermina Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio
Guedes da Costa e Manuel da Costa Dionísio
• Maria Helena Santos Silva e Eduardo Silva •
Maria Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela
Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos
Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha
• Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal • Marisa
Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes •
Miguel Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel,
Cláudia e André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão
• Pedro Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos
e Paula Sousa • Professores (2010/11) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Professores
e Funcionários (2009/10) da Escola Secundária
de Oliveira do Douro • Protetores do Ambiente
Professores e Alunos da Escola Básica de Canidelo •
Regina Oliveira e Abel Oliveira • Ricardo Parente • Rita
Nicola • Sara Pereira • Sara Regueiras, Diana Dias,
Ana Filipa Silva Ramos do 11.º A (2009/10) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Serafi m Armando
Rodrigues de Oliveira • Sérgio Fernando Fangueiro •
Tiago José Magalhães Rocha • Tiago Pereira Lopes
• Turma A do 6.º ano (2010/11) do Colégio Ellen Key
• Turma A do 8.º ano (2008/09) da Escola EB 2,3 de
Argoncilhe • Turma A do 9.º ano (2009/10) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 11.º
ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde
• Turma A do 10.º ano e Professores (2010/11) da
Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma
A do 12.º ano (2010/11) da Escola Secundária de
Ermesinde • Turma C do 10.º ano (2010/11) da
Escola Secundária de Ermesinde • Turma D do 10.º
ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária
de Oliveira do Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11)
da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E
do 10.º ano (2008/09) da Escola Secundária de
Ermesinde • Turma E do 12.º ano (2010/2011) da
Escola Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º
ano (2010/11) - Curso Profi ssional Técnico de Gestão
do Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues
de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA
(2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da
Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A
e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores
(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
•Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10)
da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas
B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de
Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G
e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola
Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 75
Posto de Abastecimento de Avintes
Para aderir a este projecto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:
Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de GaiaPretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confi e ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono
apoiando a aquisição de m2 de área fl orestal X € 50 = euros.
Junto se envia cheque para pagamento
Nome do Mecenas
Recibo emitido à ordem de
Endereço
N.º de Identifi cação Fiscal
O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo
Telefone e-mail
Procedeu-se à transferência para o NIB 0033 0000 4536 7338 05305
1 m2 = €50 - 4 kg/ano de CO2
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76 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
76 BIBLIOTECA
Contam-se várias
publicações de velha data
no fundo bibliográfi co do
Parque Biológico de Gaia
sobre a serra do Bussaco
e a sua mata, doada em
1628 por D. João Manoel,
bispo e conde de Coimbra,
à ordem dos Carmelitas
Descalços, que nela,
em 1630, iniciaram
a comunidade
Em 1864 foi publicada a 3.ª edição
de Memorias do Bussaco seguidas de uma viagem á Serra da Louzan,
dedicado a José Pimentel, visconde
de Gouvêa pelo autor, Adrião Pereira Forjaz de
Sampaio, e editado pela Bibliotheca Moré.
Nestas páginas, quer em prosa quer em poesia,
descreve-se o Bussaco. Na primeira parte a
sua mata, o horto e as principais edifi cações,
capelas e fontes. Numa segunda são descritos
aspetos da sua história, o seu nome e fundação,
a vida no mosteiro e as ermidas. No fi nal, em
apêndice, ofícios trocados pelos generais no
decorrer da batalha do Bussaco em 1810, onde
se debateram forças anglo-lusas de um lado e
tropas francesas de outro. O autor dedica ao
honrado amigo João de Lemos as páginas fi nais,
onde descreve aspetos vários da serra da Lousã.
Guia Histórico do Viajante no BussacoCASTRO, Augusto Mendes Simões de; Coimbra,
1833.
Augusto M. Castro formou-se em Direito na
Universidade de Coimbra e publica este guia em
1833, dedicando-o a Augusto Filipe Simões.
O autor reúne nesta publicação textos já
publicados em jornais mas dispersos e outros
inéditos, propositados para a obra. Desde a
fundação do deserto do Bussaco pela ordem dos
Carmelitas, à descrição das portarias, as pinturas
do claustro, as igrejas, ermidas, capelinhas
e fontes, mata e fl ora, até um apêndice com
transcrições de documentos ofi ciais redigidos
por altura da batalha do Bussaco. Há neste guia,
escrito em português antigo, e já em segunda
edição, um documento importante da Imprensa
da Universidade de Coimbra do século XIX.
O BussacoMATTOS, Silva; MENDES, Lopes; 1874.
Esta edição impressa pela Lallemant Frères,
Lisboa, é dedicada, como se verifi ca logo nas
primeiras páginas, a Elisa, fi lha de Augusto Matos.
Contém transcritas duas cartas trocadas entre os
autores e nos vários capítulos que se seguem a
descrição daqueles que são os principais aspetos
do Bussaco, desde a mata ao edifi cado. No início
do livro há uma pequena carta a 1/10000.
Elucidário do Viajante no Bussaco(com estampas e mapa);
CASTRO, Augusto M. S. de; Coimbra, 1921.
Enquanto se aguardava a 5.ª edição do Guia Histórico do Viajante no Bussaco, Castro reuniu
neste elucidário de 64 páginas e uma planta da
mata, os principais aspetos deste lugar e incluiu
nele (últimas páginas) um itinerário para quem
quer em pouco tempo visitar a mata, sem perder
as principais atrações.
Bussaco: Its Monastery, Battle, and Woods, its Uses as a Health ResortDr. D. G. DALGADO, da Academia de Ciências
de Lisboa, 1916.
Esta edição, em inglês, contém duas plantas e
um mapa, tendo sido editada em 1916 – Lisboa.
A planta II, nesta edição, é relativa ao
posicionamento das tropas envolvidas na
batalha do Bussaco. É de salientar o facto de em
nenhuma das outras edições sobre o Bussaco
este documento estar presente, o que já confere
por si só alguma raridade a esta publicação.
No 1.º capítulo encontra-se uma descrição geral
do Bussaco, sendo o 2.º dedicado aos aspetos
religiosos, nomeadamente ao convento e à vida
da comunidade. O 3.º capítulo é sobre a batalha
e o 4.º capítulo é dedicado aos aspetos de fauna
e fl ora. No 5.º e no 6.º capítulo revelam-se os
aspetos turísticos e relacionados com saúde.
Por Filipe Vieira
Memórias do Bussaco
O projeto Raízes Bibliográfi cas
da História Natural de Portugal
(RBHNP), em desenvolvimento pelo
Parque Biológico desde 2008, visa
reunir publicações antigas sobre a
história natural de Portugal e das
ex-colónias portuguesas, com as
quais o Parque tem protocolos de
cooperação. Pode consultar
o catálogo de publicações em
www.parquebiologico.pt
clicando em Biblioteca.
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 77
CRÓNICA 77
A relevância da fl ora do Litoral
Portugal Continental tem uma costa
bastante extensa
(1230 km), com diversifi cados
ecossistemas.
É maioritariamente arenosa (ecossistemas
dunares), com algumas arribas, promontórios
e raras pequenas ilhas e ilhéus rochosos
(ecossistemas rupícolas), estuários de razoável
dimensão (ecossistemas de sapal) e algumas
lagoas costeiras (ecossistemas lacustres). Além
destes ecossistemas, há os ecossistemas
marinhos, com vegetais imersos (“pradarias
marinhas” e as “fl orestas marinhas de kelp”) ou
com seres predominantemente microscópicos,
fl utuantes ou imersos (ecossistemas
planctónicos).
Os ecossistemas dunares são
extraordinariamente dinâmicos, com pré-
dunas, dunas embrionárias, móveis, semifi xas e
praticamente estabelecidas (fi xas), com espaços
interdunares.
A planta “emblemática” das dunas móveis é o
estorno (Ammophila arenaria) e a da duna fi xa é
o pinheiro-manso (Pinus pinea).
Nos ecossistemas rupícolas do litoral as
plantas são aero-halinas [ex.: o “emblemático”
funcho-marítimo (Crithmum maritimum)],
apresentam um característico hábito em
coxim, são predominantemente xerófi tas e
aromáticas, variando a composição fl orística
dos ecossistemas consoante a composição
I
Jorge PaivaBiólogoCentro de Ecologia Funcional da Universidade de [email protected]
Ecossistemas dunares
rochosa. Nas arribas calcárias existem muitas
plantas calcícolas como, por exemplo, o alecrim
(Rosmarinus offi cinalis) e nas graníticas, areníticas
ou metamórfi cas, muitas silicícolas, como,
por exemplo, a sabina-das-praias (Juniperus turbinata).
Nos sapais as plantas pioneiras são gramíneas,
com a emblemática morraça (Spartina maritima), seguindo-se-lhe predominantemente
quenopodiáceas halófi tas, desde as herbáceas,
como a gramata (Salsola kali), subarbustivas,
como a gramata-branca (Halimione portulacastrum) até às arbustivas da retaguarda,
como a salgadeira (Atriplex halimus).
Nas lagoas costeiras, de águas salobras a jusante
e dúlcidas a montante, ocorrem não só plantas
aquáticas [ex.: pêlos-de-velha (Zannichellia obtusifolia)], como também terrestres marginais
[ex.: o “emblemático” caniço (Phragmites australis)].
As “pradarias marinhas”, praticamente já
inexistentes na nossa costa, são ecossistemas das
placas litorais sujeitas às marés e estão cobertas
tanto de plantas vasculares, [ex.: a fi ta-do-mar
(Zostera marina)], como de macro-algas (ex.:
Caulerpa prolifera).
As “fl orestas marinhas de kelp” são ecossistemas
das rochas marinhas de baixa profundidade
(até 100 m) das regiões temperadas e frias
pré-duna
duna fi xa
Os ecossistemas
dunares são
extraordinariamente
dinâmicos, com
pré-dunas, dunas
embrionárias,
móveis, semifi xas
e praticamente
estabelecidas
(fi xas), com espaços
interdunares
duna embrionária
duna primáriavale interdunar
duna secundáriaduna semifi xa
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78 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
78 CRÓNICA
predominantemente de macro-algas
castanhas gigantes (kelp), como as laminárias
(ex.: Laminaria hyperborea).
O plâncton, constituído por micro-
-organismos fl utuantes ou imersos
(até 100 m), consumidores (zooplâncton)
e produtores de biomassa (fi toplâncton) é
um ecossistema crucial das cadeias trófi cas
dos oceanos, pois aí se encontram os
produtores primários, as micro-algas, como
Clorófi tas (ex.: Dunaliella salina) e outras que,
atualmente, não pertencem ao reino das
plantas (Plantae), como, por exemplo,
as diatomáceas e os dinofl agelados.
Como se sabe, as plantas são produtoras
de biomassa por terem a capacidade de
utilizar a energia solar através de reações
endotérmicas. Estando estes ecossistemas
da orla marítima não sombreados, as plantas
são extremamente produtivas, podendo,
por isso, sustentar um elevado número de
consumidores da biomassa vegetal, que, por
sua vez, alimentam os respetivos predadores
(consumidores).
Em todos estes ecossistemas há pois uma
elevadíssima biodiversidade, particularmente
os lacustres e marinhos, mais ricos em
água. As “pradarias marinhas”, as “fl orestas
marinhas de kelp” e os sapais funcionam até
como “maternidades” e “creches” piscícolas.
Além da relevante quantidade de biomassa
que produzem, as plantas exercem ainda um
importante papel na despoluição (absorção
de CO2), na produção de oxigénio (O
2) e
na manutenção desses ecossistemas,
particularmente na fi xação dos substratos.
No litoral marítimo arenoso existem
comunidades vegetais claramente
diferenciadas paralelamente à costa, pois
as plantas não estão igualmente adaptadas
ao baixo teor de elementos essenciais,
à fraca disponibilidade de água doce, ao
vento, à salinidade e à mobilidade das
areias. A acumulação das areias no litoral
é, naturalmente, faseada e diferenciada. Numa
fase inicial as areias transportadas pelo mar são
arrastadas pela ação do vento, formando-se
pequenas e baixíssimas elevações (ecossistema
pré-dunar ou ante-dunar), onde nascem as
primeiras plantas. Dá-se, assim, o início da
fi xação das areias e consequente “embrião” das
primeiras dunas (embrionárias ou primárias), que
vão crescendo com cada vez mais plantas e
sucessivamente maiores (dunas secundárias ou
móveis), tornando-se semifi xas (dunas terciárias)
já com plantas subarbustivas, até se estabilizarem
(dunas fi xas ou paleodunas), com estrato arbustivo
e arbóreo. As depressões entre as elevações das
dunas (ecossistemas interdunares) são também
colonizadas por plantas, grande parte delas
distintas das que se encontram no topo das
dunas.
Assim, a comunidade vegetal mais próxima
do mar, o ecossistema ante ou pré-dunar, as
plantas aparecem dispersas sobre essa extensa
superfície arenosa ± ondulante e extremamente
dinâmica. A eruca-marinha (Cakile maritima, com
a subsp. maritima no litoral a sul do Tejo e a subsp.
integrifolia a norte) pode considerar-se como
a espécie “emblemática” deste ecossistema,
acompanhada, por vezes, pelo polígono-marítimo
(Polygonum maritimum) e, na costa ocidental
a norte do Tejo, pelo sapinho-das-praias
(Honckenya peploides).
Dunas de regiões tropicais: Scaevola plumieriDunas primárias e secundárias
Ecossistema dunar
Dunas terciárias, com Pinus pinea
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 79
A seguir estão as dunas embrionárias ou dunas
primárias, que constituem a transição entre a
praia e as dunas móveis ou dunas secundárias,
onde estão instaladas as plantas pioneiras na
fi xação dunar e capazes de suportar imersões
esporádicas em água do mar, como, por
exemplo o feno-das-areias (Elymus farctus, com
a subsp. farctus no litoral algarvio e sudoeste
e a subsp. boreo-atlanticus comum em todo o
resto do litoral), que é a espécie dominante do
declive frontal das dunas virado ao mar. Outras
espécies comuns e, normalmente, mais para a
retaguarda do feno-das-areias, são a maleiteira-das-areias (Euphorbia peplis), a morganheira-das-praias (Euphorbia paralias), a corriola-da-
praia (Calystegia soldanella), o cardo-marítimo(Eryngium maritimum), a junça-das-areias(Cyperus capitatus) e o narciso-das-areias(Pancratium maritimum).
As dunas vão crescendo pela ação do vento e das
plantas, formando-se as dunas secundárias ou de
areias móveis, onde se instalam plantas fi xadoras
com raizame comprido e muito ramifi cado ou
de rizomas igualmente longos, profusamente
ramifi cados em todas as direções e emissoras de
numerosas raízes laterais. A planta “emblemática”
destas dunas, dominante na cobertura vegetal
da metade superior do acervo dunar, é o estorno(Ammophila arenaria subsp. arundinacea).
Portanto, além das plantas já citadas, aparecem
outras plantas, também com ação
fi xadora, como os cordeirinhos-da-praia(Otanthus maritimus), os goiveiros-da-praia (Malcolmia littorea) e leguminosas
(plantas nitrifi cantes) herbáceas de extrema
relevância para estes ecossistemas
arenosos paupérrimos em compostos
nitrogenados. São exemplos destas
plantas dunares, as luzernas-das-areias(Medicago marina e Medicago littoralis) e,
no litoral a sul do Tejo, o trevo-rasteiro-da-praia (Lotus arenarius).
Diminuído o efeito do vento, o grau de
mobilidade da areia é menos intenso e
as dunas tornam-se semifi xas (dunas
Camarinhas (Corema album)
Scaevola plumieri
Pancratium maritimum
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80 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
terciárias) e na superfície dunar até já se
instalam algumas criptogâmicas, como
musgos (e líquenes) haloresistentes. As
plantas mais características destas dunas
são já subarbustivas, como a madorneira
(Artemisia campestris subsp. maritima), a
perpétua-das-areias (Helichrysum italicum
subsp. picardii) e a escrofulária-das-areias
(Scophularia frutescens var. frutescens) e
outras psamófi tas como o tomilho-das-areias
(Thymus carnosus), um endemismo lusitano
(litoral alentejano e algarvio), as granzas-da-praia (Crucianella angustifolia e Crucianella maritima) e ervas anuais como o rabo-de-coelho (Lagurus ovatus), a silene-das-areias
(Silene littorea subsp. littorea) e a erva-mata-pulgas (Odonites virgata).
Estas plantas ocorrem também nas areias
fi xadas e nitrifi cadas do ecossistema
interdunar, que oferecem ótimas condições
para plantas de sistema radicular curto, com
profusa ramifi cação caulinar, formando amplas
manchas arredondadas como a erva-prata
(Paronychia argentea, com a var. argentea,
a mais comum, e a var. angustifolia no litoral
algarvio) e o morrião-das-areias (Anagallis monelli).As dunas estabilizadas ou paleodunas são
colonizadas já por plantas mais robustas,
algumas ainda subarbustivas como a
camarinha (Corema album), outras arbustivas
como a sabina-das-praias (Juniperus turbinata subsp. turbinata) e arbóreas como o
pinheiro-manso (Pinus pinea), particularmente
no litoral a sul do Tejo. As leguminosas destas
dunas fi xas e das dunas terciárias são também
subarbustivas ou arbustivas, como, por
exemplo, o tojo-arnal (Ulex europaeus subsp. latebracteatus).
Devido à intensa e constante destruição da
vegetação nativa todo o cordão dunar do litoral
português tem vindo a ser invadido por plantas
alóctones e até nativas (mas características de
outros ecossistemas). Assim, as infestantes
barrilhas (Mesembryanthemum crystallinum e
Mesembryanthemum nodifl orum), originárias
da província da África do Sul, invadem desde
o ecossistema pré-dunar até às dunas fi xas
e a erva-das-pampas (Cortaderia selloana)
já aparece desde as dunas primárias. As
invasoras lenhosas ocupam mais as dunas
terciárias e as paleodunas. São exemplos
tanto plantas nativas, como o pinheiro-bravo
(Pinus pinaster) e urzes (particularmente a Erica arborea), como alóctones como o australiano
miopóro (Myoporum laetum) e várias espécies
de acácias australianas, particularmente a
Acacia melanoxylon e a Acacia longifolia.
Praticamente já não existe no nosso litoral
continental um sistema dunar perfeitamente
sequenciado. Como sabemos, grande parte do
litoral foi destruído por implantação imobiliária
desregrada, desordenada e, a maioria das vezes,
ultrapassando a lei. As autarquias, além de
terem sido as grandes responsáveis por terem
autorizado isso, também colaboraram nessa
destruição com a construção de artérias urbanas
e infraestruturas de recreio e “pseudodesportivas”
sobre o ecossistema dunar. Assim, está a dar-se
a destruição de muitas dessas construções e até
de praias que deixaram de ter a proteção dunar.
Esta transgressão marinha vai ser mais drástica
com os efeitos da subida do nível médio dos
oceanos resultante do aquecimento global, do
qual só duvidam da sua ocorrência, os incultos,
os interesseiros, os corruptos e egocêntricos com
falta de escrúpulos.
A construção de paredões, perpendiculares ou
paralelos, ao mar e a colocação de estacaria
nas dunas nuas de vegetação, não tem dado os
resultados que pretendiam todos aqueles que ou
são “cegos”, incrédulos ou não têm escrúpulos em
desbaratar as fi nanças públicas.
Além disso, o litoral continua a ser utlizado como
um vazadouro de lixo. É só percorrê-lo antes da
abertura da época balnear ou até de manhã cedo
antes da limpeza que as autarquias executam
durante a época balnear.
Enfi m, além de ser importante que se obrigue a
cumprir a lei do domínio público marítimo, são
Planta das dunas das costas tropicais: corriola-pé-de-cabra (Ipomoea pes-caprae)
80 CRÓNICA
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Parques e Vida Selvagem primavera 2013• 81
necessários excelentes programas de educação
ambiental nas estações de Rádio e Televisão
públicas. É para isso que nós pagamos impostos:
para termos emissoras dessas com programas de
utilidade pública e não apenas de diversão.
Os ecossistemas dunares litorais são idênticos
em qualquer parte do Globo Terrestre. Apenas
as plantas são diferentes, pois a sua ação
fi xadora ou nitrifi cante é a mesma. Assim, por
exemplo, nas costas tropicais e subtropicais, a
convolvulácea correspondente à nossa corriola-da-praia (Calystegia soldanella) é a corriola-pé-de-cabra (Ipomoea pes-caprae com a subsp.
pes-caprae confi nada às costas do Oceano
Índico e a subsp. brasiliensis, a mais difundida)
e a leguminosa herbácea que a acompanha é
o feijoeiro-das-praias (Canavalia rosea), com a
mesma função nitrifi cante das nossas luzernas-das-areias (Medicago marina e Medicago littoralis).
Nas dunas tropicais e subtropicais da Ásia,
Polinésia e Autralásia, a gramínea com funções
correspondentes às do nosso feno-das-areias
(Elymus farctus) e do nosso estorno (Ammophila arenaria) é a erva de-espigas-aciculares (Spinifex littoreus). As dunas terciárias e paleodunas estão
igualmente cobertas de subarbustos, arbustos
e algumas árvores; algumas destas plantas são
leguminosas lenhosas, como a espinhosa silva-da-praia (Guilandina bonduc) das costas tropicais
do Velho e Novo Mundos, outras são de géneros
não europeus, como a Grewia glandulosa, uma
tiliácea de fl ores violáceas do litoral do Quénia,
Tanzânia, Moçambique, ilhas adjacentes e
próximas (Seicheles, Comores e Madagáscar)
e a Pemphis acidula, uma litrácea arbustiva
do litoral marítimo, distribuída pelas costas
do Oceano Índico e Pacífi co desde a África
Oriental até às Filipinas, Papua e Austrália; e
outras pertencentes a famílias inexistentes
na Europa, como a goodeniácea de fl ores
brancas pseudo-unilabiadas, a uva-da-praia
(Scaevola plumieri), um arbusto ou árvore
pantropical que chega a colonizar as dunas
secundárias.
(Continua no próximo número)
Guilandina bonduc
Pemphis acidula
Pemphis acidula
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82 • Parques e Vida Selvagem primavera 2013
82 COLETIVISMO
Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida da Liberdade, n.º 105 - 2.º - esq.
1250 - 140 Lisboa
Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39
[email protected] • www.spea.pt
Nasceram mais cágados-de-carapaça-estriada
Em 19 de junho passado foi induzida no
Parque Biológico de Gaia a postura a uma
fêmea de cágado-de-carapaça-estriada,
Emys orbicularis, capturada na lagoa de
S. Lourenço, no Algarve, local a que foi
posteriormente devolvida.
Após 64 dias de incubação artifi cial, dos
9 ovos nasceram 8 juvenis, todos fêmeas,
que serão de acordo com este programa
oportunamente restituídos à natureza.
Esta espécie de cágado está em perigo de
extinção em Portugal e é protegida por lei.
No nosso país existem populações
isoladas, especialmente a sul do rio Tejo,
embora também ocorra no Minho.
Este projeto integra-se no Programa
LIFE, um instrumento fi nanceiro
para a conservação da natureza na
União Europeia. Está a ser desenvolvido
em Portugal e Espanha com a
coordenação da Generalitat Valenciana -
Conselleria de Infrastructuras, Territorio y Medio-
Ambiente (Valência, Espanha), e a participação
de instituições como o CIBIO-ICETA da
Universidade do Porto, o Parque Biológico de
Gaia e a ALDEIA-RIAS.
Este projeto LIFE tem em vista o
desenvolvimento de estratégias e técnicas
demonstrativas para a erradicação de cágados
invasores, como é o caso das espécies do
género Trachemys, até há pouco tempo
comercializadas como animais de estimação.
Dos nove ovos nasceram oito juvenis, todos fêmeas
Ana A
lves
A campanha “Vamos preservar o priolo”,
espécie única no mundo, que vive apenas
na ilha de São Miguel, decorre até ao fi nal de
fevereiro e pretende mobilizar todo o apoio
para continuar o trabalho de conservação
desta espécie e a manutenção do seu habitat
fl orestal nos Açores.
O objetivo é angariar 21600 euros através de
donativos que podem ser feitos em http://www.indiegogo.com/PreserveAzoresBullfi nchO atual projeto LIFE Laurissilva Sustentável,
coordenado pela Sociedade Portuguesa para
o Estudo das Aves e fi nanciado pelo programa
LIFE, termina em breve. É necessário manter o
esforço para preservar esta ave.
Com o dinheiro angariado pretende-se
continuar a refl orestação do habitat do
priolo com plantas autóctones e evitar que a
vegetação exótica invasora volte a proliferar.
O crowdfunding e a plataforma Indiegogo são
meios recentes, com sucesso na angariação
de fundos para projetos e causas, apelando
ao altruísmo de todos os que querem
contribuir. Os donativos podem ir dos 5
dólares aos 2500 dólares e todos os valores
têm recompensas.
A população de priolos foi considerada
praticamente extinta no século XX e aumentou
de três centenas em 1990 para mil indivíduos
em 2012.
O trabalho da SPEA e dos seus parceiros
tem sido retirar as plantas exóticas e plantar
arbustos e árvores produzidas num viveiro do
projeto, também ele em risco.
Faça o seu donativo!
Texto Joana Domingues
A sobrevivênciado priolo
Ped
ro M
onte
iro
Jorg
e G
om
es
pvs42.indd 82 5/28/13 5:00 PM
Quer receber comodamente as edições desta revista em sua casa, pelo correio, assim que começa a ser distribuída?
Basta que se torne Amigo(a) do Parque Biológico de Gaia!
Informe-se através do e-mail [email protected] telefone 227 878 120 ou por correio:Revista Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | Rua da Cunha | 4430-681 Avintes
Centro de CongressosHospedariaSelf-service
Parque de Auto-caravanasAuditório
e muita, muita Natureza!
a apenas 15 minutos
do centro de Vila Nova de Gaia
Contra-relógio
DIVERSIDADE BIOLÓGICA AGRÍCOLAReportagem
PAUL DO BOQUILOBO Entrevista
NA PISTA DOS DINOSSAUROSLUSITANOS
Ano XII • N.º 42 • 21 de março 2013
Cowntdown
Agricultural Biological Diversity
Report
Boquilobo Wetland
Interview
On the trail of the dinosaurs
6,8 HECTARES DE PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA + CONCURSO DE FOTOGRAFIAESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + RESERVA NATURAL LOCAL DO ESTUÁRIO DO DOURO
42
PA
RQUE
S E
VIDA
SEL
VAGE
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