revista repórter do marão

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Nº 1274 | abril ' 13 | Ano 30 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. | OFERECEMOS LEITURA Prémio GAZETA ABRIL ’ 13 repórter do marão + norte Arminda criou 11 filhos após 20 gravidezes Paulo Morais culpa PSD e PS pela ruína das PPP Pastelaria de Vila Real criou empresa de logística para contrariar a crise

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Revista Mensal de Informação. Tiragem média de 20 a 30 mil exemplares. Distritos do Porto, Vila Real e Bragança e parte dos de Viseu, Aveiro e Braga. Regiões do Douro, Tâmega e Sousa, Trás-os-Montes

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Page 1: Revista Repórter do Marão

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Arminda criou 11 filhos após 20 gravidezes

Paulo Morais culpa PSD e PS pela ruína das PPP

Pastelaria de Vila Real criou empresa

de logística para contrariar

a crise

Page 2: Revista Repórter do Marão

pessoas

02 abril'13 | repórterdomarão

A mesa era preparada como se, todos os dias, viesse uma

equipa de futebol, o treinador e o adjunto.

Os 13 lugares eram ocupados pelos filhos e pelos progenitores.

Arminda e António Silva viram a família

crescer quando nasceram os netos e

conheceram as feições dos bisnetos.

ARMINDA MARTINS teve 20 gravidezes, nasceram 14 bebés, 11 filhos sobreviveram

Patrícia Posse

[email protected]

Fotos: P.P. e D.R

Page 3: Revista Repórter do Marão

A memória de Arminda de Jesus Martins é uma es-pécie de relicário. Nela guarda datas, acontecimentos, emoções e sentimentos. Aos 87 anos, desfia a história da sua vida com precisão e simplicidade.

A sua baixa estatura está longe de permitir adivi-nhar que engravidou vinte vezes. Dos 14 filhos nasci-dos, três faleceram pouco depois. “Tenho 8 rapazes e 3 raparigas, 17 netos e 7 bisnetos”, informa envaide-cida. À exceção de um filho emigrado e das três filhas, os restantes moram em Bragança.

“Tinha-os muito parecidos com o pai, que era uma pessoa muito calma, mas eram mais parecidos comi-go, no feitio e fisicamente”, garante. Mas, curiosa-mente, nenhum lhe herdou o azul dos olhos.

Namoro dominical

Nascidos e criados na freguesia de Vila Caiz [Ama-rante], Arminda e António acabariam por se apaixo-nar. “O meu marido morava num lugar mais em bai-xo, mas aos domingos passava à minha porta para ir à missa e ao terço. Então, fazia-me esperas e começá-mos a namorar. Tinha 14 anos.”

O romance não fez alterar os rituais. “Só namorá-vamos ao domingo: vínhamos da igreja juntos e ía-mos a casa de uma tia, onde passávamos um bocado a conversar.”

António, pedreiro de cantaria, não se esqueceu do aniversário da amada quando foi trabalhar para Vila Real. “Mandou-me uma carta e nunca mais se me es-queceram estes três versos:

«Foi a 23 de agosto que tu viste a luz do dia, tens hoje 16 anos e és a minha alegria /

oh 23 de agosto bendito sejas para sempre por tra-zeres ao mundo quem eu amo eternamente /

salve 23 de agosto, dia de tanta alegria, foste tu que aliviaste o meu coração que sofria».”

A 21 de outubro de 1944, casaram. Ela com 19 anos, ele com 25. Foi uma cerimónia simples, na igreja da terra, mas Arminda ainda se lembra bem do repasto:

coelho assado no forno e aletria.

No verão seguinte, Arminda teve o primeiro filho, que morreu com icterícia. Só aos 22 anos é que segu-rou nos braços uma menina.

O marido acabaria por rumar a Bragança, porque “quando fizeram o Palácio da Justiça e a Taça, me-teram muitos canteiros de fora”. “Fiquei muito tris-te, porque fiquei sozinha. Nessa altura já tinha duas crianças. Disse-me que se arranjasse cá vida, tam-bém vinha.” E assim foi, poucos meses depois. “No Castro de Avelãs [Bragança] tive mais dois filhos. De-pois, os partos foram sempre no hospital.”

De Amarante para Bragança

Arminda responde com um riso tímido quando questionada sobre o porquê de tão longa descendên-cia e acrescenta: “não fazíamos nada para eles não vi-rem”. “O meu homem era muito católico. Foi sempre sacristão, até em solteiro. Como diziam que era peca-do evitar os filhos, ele pronto.”

No momento do parto, Arminda tinha uma curio-sidade imediata. “Perguntava logo se era menino ou menina, porque eram nove meses à espera para saber.”

António não se inibia de dar palpites quando se en-costava à barriga da esposa. “Sentia-os e dizia «este vai ser rapaz, já anda a jogar à bola» e, às vezes, acer-tava.”

Apesar de já ter crianças a seu cargo, Arminda as-segura que vivia cada gravidez “contente da vida” e “o pai era igual, não ficava nada triste”. “Só di-zia: «eles cá vêm e Deus há de dar-nos força para os criar», confidencia.

Entre os nascimentos, a família teve de gerir algu-mas perdas. “Mesmo pequeninos e doentinhos, fo-ram todos batizados. Nisso o meu homem tinha mui-to cuidado.”

repórterdomarão | abril'13 03

Um colo que não envelhece

Page 4: Revista Repórter do Marão

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“Tê-los leva umas horas e são umas dores muito gran-des, mas criá-los custa mais”, admite. As dificuldades fo-ram muitas, sobretudo para os vestir, calçar e alimentar. “Passámos bons sacrifícios. O meu marido trabalhava muito e ia para longe. Eu ficava e, para os sustentar, ia aos feixes de lenha e quantos tachos de roupa fui lavar para o rio...”

Prole em expansão

Para cuidar da prole, socorria-se dos mais velhos. Eram todos “sossegadinhos e bem comportados”, só que se o pai os repreendia “guardavam-lhe muito respeito”. “Co-migo abusavam mais um bocadinho”, sublinha. O exem-plo que deviam seguir era, justamente, o do progenitor: “queria que fossem trabalhadores, poupados e respeita-dores”. Cada descendente decidiu se queria estudar ou

trabalhar, contando com o apoio dos pais.

Arminda foi avó pela primeira vez aos 48 anos, dois anos antes de ser mãe pela última vez. “Senti uma ale-gria grande, apesar da primeira neta ter nascido em Mo-çambique.” Acompanhou, pois, o crescimento dos netos. “Vinham aqui para casa e pintavam a manta”, diz. E por-que havia sempre espaço para mais um, Arminda tornou--se até avó adotiva de um vizinho. “Dos bisnetos já não to-mei conta. O primeiro nasceu há nove anos”, afirma.

Ver a família crescer é “uma alegria”, porém os descen-dentes não lhe seguiram as passadas. “No máximo, têm dois filhos e há alguns que nem um.”

Arminda não vê com bons olhos o adiar da maternidade nos tempos que correm, mesmo que justificada pelas di-ficuldades financeiras ou por motivos profissionais. “De-viam ter os filhos mais cedo, quando se casam, e deviam ter mais, mas agora querem dar-lhe tudo e mais alguma coisa. Eu tive os filhos que Deus me deu.”

04 março'13 | repórterdomarão

"Tive os filhos que Deus me deu"

pessoas

Arminda e uma prole de outros tempos:

Page 5: Revista Repórter do Marão

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"Tive os filhos que Deus me deu"

repórterdomarão | março'13 05

Paulo, 47 anos, é o terceiro descendente mais novo do casal Silva. Orgulha-se de ter tido uma infância feliz, rode-ado de tanta gente. “Não tínhamos tudo o que queríamos, mas o mais importante não faltava: a amizade e o amor dos pais e dos irmãos mais velhos.”

Nunca faltou o essencial numa família em que só o pai trabalhava

Não raras vezes era alvo da curiosidade dos colegas de escola: “tantos irmãos? Que família tão grande, deve ser giro”. Quando os pais comunicavam a chegada de mais um membro havia reações paralelas: “a minha irmã mais velha ficava danada, porque teria mais trabalho; para os mais pequenos era uma alegria”.

Os progenitores nunca lhe deixaram faltar nada, ape-

sar de serem “uma família humilde, com tantos filhos e só com o pai a trabalhar”. Havia “algumas limitações” e tantas lições para a vida. “Ensinaram-me a ser uma pes-soa justa, honesta, amiga, trabalhadora. Tantas coisas importantes para o meu futuro.”

A meninice de Tiago Silva, 28 anos, ficou marcada pela presença dos avós, pois ficava a seu cargo enquanto os pais trabalhavam. “Aprendi muito com eles e, também, os chateei muito”, reconhece. Crescer numa família nume-rosa foi francamente positivo: “sou a pessoa que sou, gra-ças a isso”. “É sempre bom reunir toda gente e onde quer que vá encontro sempre alguém da família”, conclui.

Agora, já viúva, é muito raro Arminda ver a família toda reunida. “Estivemos todos juntos nas bodas de ouro e foi uma festa bonita”, recorda. Diariamente, um ou outro filho empurra o portão da sua casa, avivando as lembranças do tempo em que os via, ainda catraios, chegar de mais um dia de escola.

O casal Silva, com filhos e netos, numa comemoração familiar (à esq., numa foto de que não se sabe a data) e Arminda com os filhos Jorge (esq.) e Paulo, fotografados para esta reportagem.

Arminda e uma prole de outros tempos:

repórterdomarão | abril'13 05

Page 6: Revista Repórter do Marão

06 abril'13 | repórterdomarão

KIKA – A nova estrela da popFrancisca Castro, ou Kika, tinha cinco anos quando pediu aos pais

para ter aulas de piano. Depois veio a guitarra e um dia quis um mi-crofone profissional para poder gravar as músicas que gostava de cantar e sabia de cor depois de horas de ensaios durante intermi-náveis viagens de carro até ao Algarve. Quando as aulas de música que tinha no colégio Luso Internacional do Porto, onde estuda des-de criança, já não lhe chegavam procurou uma escola onde acabou por conhecer aquele que viria a ser o seu grande mentor no projeto que ganhou corpo e voz e chega agora ao público.

Foi na Jahas Academia de Artes Rockschool, à qual chegou por mero acaso do destino, que o diretor a apresentou a Daniel McAlis-ter, um músico britânico que já tinha alguns originais escritos e gos-tou da voz da Kika para os cantar. McAlister levou-a para Inglaterra onde gravou seis temas que o pai de Francisca um dia em Madrid, para onde se desloca frequentemente a trabalho, conseguiu mos-trar a RedOne durante um convívio de amigos. O produtor marro-quino de artistas como Lady Gaga, Cher e Jennifer Lopez viu ali uma estrela e decidiu apostar e colaborar na criação deste “Alive” que ra-pidamente se tornou num êxito em Portugal.

Agora no 10.º ano, Kika quer continuar a estudar e um dia tirar um curso. Nunca imaginou aos 15 anos, e prestes a fazer 16 em maio, ter tanto sucesso a fazer aquilo que tanto gosta. E se o single “Guess it’s alright” com que se apresentou é uma música pop, o álbum traz te-mas mais animados mas também baladas já que a cantora gosta de misturar vários géneros de música. Para já não é a Kika, que além de piano também toca guitarra e bateria, a escrever os temas que can-ta. Ainda não tem sobre o que escrever e nem está a sofrer de amor, diz a brincar.

. . . e no Porto nasceram duas estrelas

Uma canta em inglês e a outra em português, a primeira 15 anos e a segunda 30, as duas nasceram e vivem no Porto, tocam piano, são apaixonadas por música e acabaram de apresentar os seus álbuns de estreia ao público que se tem rendido à singularidade de cada uma. Kika mostra o seu álbum “Alive” com 11 temas de onde sai o single “Guess it’s alright”, já nos tops nacionais. Cristina Massena traz “O que não se vê” com 12 originais escritos pela própria que escolheu “O meu nome é Terra” para o lançamento ainda que o seu grande sucesso seja a música “Acorda Portugal” que escreveu após a manifestação de 15 de setembro e se tornou viral nas redes sociais. Texto de Liliana Leandro

artes

Page 7: Revista Repórter do Marão

repórterdomarão | abril'13 07

. . . e no Porto nasceram duas estrelas

CRISTINA MASSENA – Uma estrela maiorComeçou a estudar música aos sete anos quando integrou as au-

las de piano e formação musical da Academia Musical de Vilar do Paraíso. Em casa cresceu rodeada de música, mas um dia optou por seguir estudar arquitetura, para matar a curiosidade que sentia em relação às artes. Acabou por perceber que estas se cruzam e dialo-gam, que da imagem nasce som e decidiu dedicar-se ao que mais gostava de fazer: cantar.

Quis fazer um álbum e bateu à porta de muitas editoras mas foi Pedro Abrunhosa quem a ouviu, escutou, entendeu e decidiu pro-duzir o disco que começou a desenvolver em 2007, foi maturando e chega agora a público. Abrunhosa convidou-a mesmo para cantar com ele num espetáculo a música “Se houver um anjo da guarda”. Mas o anjo de Cristina foi Abrunhosa que perante a musicalidade da sua voz quente quis dar corpo a “O que não se vê”, nome do primei-ro álbum da cantautora que nele conta um pedaço da sua história, através de sons, palavras e até de imagens, já que os desenhos que acompanham a capa e o livrete do álbum são da sua autoria.

Com 12 músicas originais, que cantam a sua luta e o seu mundo interior, “O que não se vê” tenta ser pessoal mas também social, fala

de dias cáusticos e desabafos e termina com o tema “Acorda Portu-gal” que retrata as observações da artista sobre a sociedade portu-guesa. Cristina esteve na manifestação de descontentamento de 15 de setembro de 2012, sentiu as pessoas na rua, absorveu os seus rostos, chegou a casa e sentou-se ao piano para tocar o que tinha vivido. Daí nasceu o grito, a canção de intervenção, o gesto de cida-dania que se tornou num hino maior que o próprio nome da autora. O álbum estava terminado quando escreveu o “Acorda” mas Cristina quis incluí-lo como forma de agradecimento a todos os que tinham ouvido e cantado.

Cristina Massena, irmã do maestro Rui Massena, cresceu a ouvir Miles Davis, Aretha Franklin, The Beatles e diz-se “eclética” na sua au-dição musical. Talvez por isso não consiga determinar influências precisas naquilo que canta. Começou a compor aos 27 anos, depois de passar pela Escola de Jazz do Porto, para poder eternizar momen-tos e contar histórias, as suas histórias, e deixar uma mensagem. Foi na música que encontrou a sua genuína identidade. Canções não faltarão para um próximo trabalho mas para já quer trabalhar e can-tar este primeiro que lançou. Talvez ainda aprender a tocar guitar-ra este ano. Afinal, como a própria diz, nunca é tarde para sonhar.

Page 8: Revista Repórter do Marão

cidadania

08 abril'13 | repórterdomarão

Paulo Morais é taxativo na sua análise à dívida pública portuguesa: "os compromissos com as PPP são insustentáveis". O professor caracteriza o estado a que o país chegou e culpa os governantes das últimas décadas e os grandes grupos económicos.

"Na forma como este regime está a funcionar, com partidos que dominam completamente o regime de forma partidocrática e que funcionam a favor de determinados tipos de negócios, não vai obviamente levar Portugal a lado nenhum. Os portugueses já perceberam isso porque são um povo sábio e percebem que se estão afastar desta política, porque esta política é má".

Qual é hoje o nosso regime? "Temos um sistema constitucional de

governação alicerçado no Parlamento, no Governo, no Presidente da República, enfim, no regime que nós conhecemos, mas a maioria destas estruturas estão orgânicamente dependentes dos grandes grupos económicos. 

O que quer dizer que a maioria das pessoas na política estão ao serviço de um sistema que por sua vez está refém dos grandes interesses económicos, razão pela qual nós hoje vamos analisar a estrutura do orçamento de Estado português e vemos que a maior despesa em 2013 vai ser os pagamentos de juros da dívida pública. Temos compromissos do Estado com as parcerias público-privadas (PPP) na ordem dos dois mil milhões que vão orçar 24 mil milhões em todo o período de maturidade dos contratos. Portanto, isto é insuportável.

Os portugueses neste momento são escravos de um fisco que por sua vez alimenta os grandes grupos económicos." 

Qual é o instrumento que faz este interface? "É a atividade política. Também isto acontece

porquê? Porque a promiscuidade entre a política e os negócios é absoluta. No parlamento,  neste momento, mais de 50 deputados, um terço dos deputados, são administradores, diretores, consultores ou advogados dos grandes grupos económicos que fazem negócios com o Estado. Por isso, enquanto parlamentares, que deviam fiscalizar a atividade do Estado nos negócios, o que fazem é incentivar os negócios com o próprio Estado, a favor dos lucros privados de quem são salariados. (...)

Todos os grandes negócios que dependem do Estado foram gizados por pessoas que usaram os seus lugares públicos para mais tarde irem beneficiar desses negócios. As parcerias público-privadas são negócios criminosos da parte de quem os celebrou do lado do Estado e que são desastrosos para as finanças públicas". 

Paulo Morais pergunta e dá a resposta: "Hoje [essas PPP] são geridas por quem? Por aqueles que enquanto governantes os gizaram. A ponte Vasco da Gama, a primeira parceria público-privada, que é um negócio ruinoso também para as finanças portuguesas, é pensada no Governo de Cavaco Silva pelo Joaquim Ferreira do Amaral que é hoje o presidente da Lusoponte, concessionário da própria ponte. Portanto, ele no Governo fez, em nome do Governo, um mau

PPP vão custar ao país24 mil milhões de euros

Escrutinador implacável da má despesa pública, dos fenómenos da corrupção e das ruinosas parcerias público privadas – as celebérrimas PPP – Paulo Morais afirma que os últimos governos de Portugal assumiram compromissos de 24 mil milhões de euros no período de vigência dos contratos, maioritariamente na área rodoviária. É a segunda parte da entrevista que concedeu ao RM e que na última edição abordava genericamente o estado da Nação. O professor aponta o nome de alguns dos culpados, políticos dos partidos do poder: "São pessoas que usaram os seus lugares públicos para mais tarde irem beneficiar desses negócios".

Paulo Moraisacusa antigosgovernantesdo PS e PSD

Page 9: Revista Repórter do Marão

repórterdomarão | abril'13 09

PPP vão custar ao país24 mil milhões de euros

negócio que seria um bom negócio para os privados – que contratualizaram com o Estado – onde ele neste momento se encontra. E ele era o Ministro das Obras Públicas de Cavaco Silva.

E depois, quem era o Ministro das Obras Públicas de Guterres? Jorge Coelho. Onde é que está Jorge Coelho? Na Mota Engil [abandonou as funções executivas no início deste ano, depois de cinco anos à frente do grupo, passando a liderar um conselho consultivo estratégico], que é a empresa portuguesa de construção detentora de mais parcerias público-privadas.

E a seguir a Jorge Coelho? Depois de Guterres, no governo de Durão Barroso, quem era o ministro das Obras Públicas? Luís Valente de Oliveira. Onde está Valente de Oliveira, ministro das Obras Públicas? Na mesma Mota Engil a gerir as parcerias público-privadas que estimulou e incentivou enquanto ministro das Obras Públicas. Não pode ser".

E como é possível que se isso se mantenha? "Isto só é possível manter no atual estado à custa do sacrifício das pessoas. O

feudalismo era um regime execrável mas subsistiu durante muito tempo à custa da fome das pessoas.

Neste momento, os portugueses são, na sua maioria através de impostos, servos dos grandes negócios do orçamento do Estado. O orçamento de Estado é hoje o instrumento de maior corrupção de Portugal."

Paulo Morais conclui a sua visão sobre as PPP."Mais de 90% do valor das PPP dependem do grupo Mello, do grupo Espírito

Santo e do grupo Mota, o que quer dizer que todos os anos, neste caso das PPP, os portugueses estão a trabalhar durante todo um ano. Todo o dinheiro que foi retirado aos funcionários públicos em 2011 foi direto para o grupo Mota Engil pela via de um acordo de renegociação com a Ascendi que houve em 2011".

Como os portugueses saem deste buraco? "Os portugueses, em termo geral, só saem deste buraco se se combaterem as

causas que nos trouxeram ao buraco. Não vale a pena combater os sintomas, também vale, mas o essencial quando há uma doença usa-se 'Benuron' para tratar da febre mas se quisermos tratar da doença tem que se atacar na causa da febre. Por isso, atacar apenas a crise financeira e o problema do défice é atacar os sintomas. O que é preciso é atacar a causa que nos trouxe até aqui e a causa é essencialmente a corrupção. Não há outra maneira".

hhUm terço dos

deputados são

administradores,

diretores, consultores

ou advogados dos

grandes grupos

económicos que fazem

negócios com o Estado.

hhA ponte Vasco da Gama,

a primeira parceria

público-privada, que

é um negócio ruinoso

também para as

finanças portuguesas,

é pensada no Governo

de Cavaco Silva.

Page 10: Revista Repórter do Marão

economia regional

A ideia de avançar para o setor da distribuição já não é de agora, mas só se concretizou quando Ri-cardo Cramez decidiu trocar a engenharia civil por um negócio que conhece desde pequenino. Aos 31 anos, pertence já à 5ª geração da família que fez nas-cer a Casa Lapão. “Como os nossos produtos são diferentes e de qualidade, queremos dar-lhe bas-tante visibilidade e expandir ao máximo.”

Constituída em fevereiro deste ano, a Casa La-pão Distribuição abrange Vila Real, numa fase ini-cial, e outras latitudes posteriormente. “O próximo passo é expandir para a região de Trás-os-Mon-tes. Depois, a área metropolitana do Porto e avançar para sul”, revela o sócio-gerente. Apesar de ainda não existirem contactos, Espanha poderá ser uma janela de oportunidade para a internacio-nalização deste serviço recém-criado.

A atual conjuntura que a economia portugue-sa atravessa acabou por funcionar como catalisa-

dor. “O comércio está a atravessar uma crise em que as pessoas estão a ir cada vez menos aos lo-cais de compra. Logo, as empresas têm cada vez menos lucros e nós temos que combater isso.” A solução encontrada assenta no imperativo de que “se o cliente não vem a nós, vamos nós ao clien-te”. “Temos que ir à procura do cliente e não fi-car de braços cruzados, à espera que bata à por-ta, porque a crise está aí”, salienta.

A localização e a falta de estacionamento na rua da Misericórdia também desmotivam até a clientela fiel. “Já diz o ditado que «quem não é visto não é lembrado» e as pessoas que conhe-cem e que gostam acabam por se esquecer dos produtos se não passam aqui”, afirma Ricardo.

Por outro lado, se os doces conventuais se en-contrassem noutras pastelarias, o consumo au-mentaria. “Muitos cafés e restaurantes não têm porque não tinham como vir cá buscar.”

Bem conhecida pela doçaria conventual, a Casa Lapão, na cidade de Vila Real, arrancou este mês com uma empresa de distribuição para ir ao encontro dos clientes, pois “a crise está aí”. O estabelecimento é, também, um dos aderentes da marca Parques Com Vida, pela filosofia de trabalho em rede em prol de um turismo sustentável.

10 abril'13 | repórterdomarão

Casa Lapão, na Rua da Misericórdia, em Vila Real

Patrícia [email protected] e Fotos

CASA LAPÃOcria empresa de logística para distribuir doçaria conventual deVila Real

Os pitos de Santa Luzia e as cristas de galo, dois dos doces mais vendidos da casa

C R I S E

Page 11: Revista Repórter do Marão

gera novas estratégias de comercialização

repórterdomarão | abril'13 11

Por isso, a Casa Lapão responsabiliza-se pelo transporte e acondicionamento adequa-dos. “Na nossa zona, qualquer produto é en-tregue pela empresa de distribuição porque será vendido fresco. Em localidades mais dis-tantes, vamos apostar só em dois ou três pro-dutos e vendê-los congelados, porque, as-sim, o cliente pode adquirir mais quantidade de uma vez e vai descongelando à medida das necessidades, sem adulterar a qualida-de”, explica o sócio-gerente.

As encomendas também podem ser feitas por clientes particulares, desde que a quanti-dade justifique os custos inerentes à entrega.

Meta: vender 100 dúzias/diaEm Vila Real, a empresa propõe-se distribuir

doces conventuais, salgados, bolos, semifrios e outras especialidades “quando e onde o clien-te quiser”. “Fora da nossa localidade já tem de ser rentável para a deslocação. Por exem-plo, não vamos entregar meia dúzia de cris-tas ao Porto, mas iremos regularmente con-soante o número de clientes”, explica Ricardo.

O balanço destas primeiras semanas é po-sitivo, com “alguns clientes a aderir”, porém, a expectativa é chegar a vender, diariamente, 100 dúzias de produtos. “Tudo depende da aceitação dos consumidores finais”, ressalva.

Com a empresa de distribuição, a Casa La-pão pretende ainda marcar presença em certa-mes gastronómicos e feiras medievais, de Nor-te a Sul do país. “Tínhamos uma ou duas por

ano, mas não tínhamos possibilidade de abranger grande parte delas, porque en-volvia muitos custos e logística.” Portalegre, Amarante, Vila Nova de Famalicão e Caldas de São Jorge [Santa Maria da Feira] são os próxi-mos destinos. “Como são cozidos a altas tem-peraturas, os doces não precisam de frigo-rífico e conservam-se durante muito tempo. Por isso é que podemos levá-los à-vontade para as feiras”, acrescenta Rosa Cramez.

Cristas de galo no topo Fundada no início do século XX, a Casa La-

pão é uma referência na doçaria vila-realense. Rosa Cramez dedicou-lhe os últimos 25 anos da sua vida. “Procuramos não alterar o le-gado deixado pela minha bisavó. Além da fidelidade à receita tradicional, não há ne-nhum corante nem conservante e procura-mos sempre os produtos portugueses.”

Diariamente são vendidas 60 dúzias de cristas de galo, tornando-as no doce mais re-quisitado. “Quando a Casa começou, era um doce de eleição. O pito de Santa Luzia era um doce sazonal, que só se fazia no inver-no porque era a altura que havia abóbora. Como havia ovos e amêndoa durante o ano inteiro, as cristas iam-se fazendo.”

À mesa, as impressões gustativas são con-sensuais. “O nosso cliente tradicional gos-ta, por isso é que vem e repete. A satisfação com que vemos os nossos turistas comer os produtos e voltar no dia seguinte é incrível.”

Desde 2005 que o estabelecimento se as-sociou à marca Parques Com Vida, que procu-ra promover os territórios que integram qua-tro parques de montanha do Norte de Portugal (Montesinho, Douro Internacional, Alvão e Pe-neda-Gerês).

Servir o turista de “toda a região”“Cada vez mais, os turistas são exigen-

tes e estão informados daquilo que que-rem. Procuram casas típicas e com qualida-de. Não querem vir só comprar os produtos, mas querem ser servidos de toda a região. Se tivermos uma marca a trabalhar tudo isso e em conjunto é uma mais-valia”, justi-fica Rosa Cramez.

Esta marca é atribuída a estabelecimen-tos de restauração, alojamento, pontos de ven-da e empresas de animação, comprometendo--os com princípios de preservação da Natureza e património cultural; educação da população; disponibilização de uma oferta turística inte-grada e de qualidade; destinos turísticos de na-tureza social e ambientalmente responsável. “A marca tenta que as pessoas que vêm de fora saibam que se escolherem a Casa Lapão comem produtos de qualidade”, frisa.

Por outro lado, numa região em que “to-dos trabalham isolados”, começar a trabalhar em rede é “uma mais-valia”. “Hoje, o turis-ta que vem fica pelas quintas e não faz mais nada. Temos um monopólio barco-quintas que deve ser contrariado”, conclui.

Page 12: Revista Repórter do Marão

22 outubro'12 | repórterdomarão

agenda | crónica

22 outubro'12 | repórterdomarãoCentros de Promoção Produtos LoCais: MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004 BAIÃO: DOLMEN - Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154

Sete Aldeias de Portugal no Douro Verde

Tongobriga, freguesia de Freixo, no concelho de Marco de Canaveses, possui um vasto espólio arqueológico que testemunha a existência naquele lugar de uma antiquíssima cidade romana. Estão classificados como Monu-mento Nacional cerca de 50 hectares, espaço designado por Área Arqueoló-gica de Freixo. O IPPAR, a que o Monumento está afecto, criou um Gabinete, sedeado na aldeia, responsável pela sua investigação, conservação, gestão e divulgação.

A aldeia desenvolveu-se em torno deste achado arqueológico. Tongobri-ga detém ainda as características de uma aldeia tradicional expressas nas ca-sas de granito, no património religioso, nas leiras cultivadas e nas suas gen-tes. Merecem destaque a Casa do Freixo e a Igreja Matriz.

FREIXOMarco de Canaveses

A aldeia de Boassas, freguesia de Oliveira de Douro, no concelho de Cin-fães, apresenta um património edificado de grande valor arquitectónico, cul-tural e histórico. O núcleo mais antigo da aldeia, a Arribada, revela uma acen-tuada influência mediterrânica e traduz a presença árabe/islâmica em terras durienses. Percorrer as ruas estreitas e os típicos pátios ornamentados de va-sos coloridos com flores, mostra-nos um passado sublime, expresso na arqui-tectura das casas e nas tradições e mitos de Boassas.

O enquadramento natural de Boassas, uma aldeia debruçada sobre o rio Douro, a albufeira da Pala e ainda o vale do Bestança justificam uma visita, nomeadamente aos lugares de Lapa da Chã, Vista do Coreto, os Penedos e o Sítio da Tília. A aldeia foi também uma referência na arte de cerâmica.

O lugar da Rua, na freguesia da Aboadela, concelho de Amarante, é o povoado mais típico e bem conservado da aldeia banhada pelo rio Ovelha.

Trata-se de um aglomerado com casas típicas e construções agrícolas tra-dicionais em bom estado de conservação. A dinamização da aldeia tem be-neficiado da parceria público-privada estabelecida entre a Câmara Municipal de Amarante, Dolmen e proprietários locais que possibilitou a apresentação de uma candidatura ao AGRIS e consequente recuperação da arquitectura rural. Foi criado o Centro Interpretativo e Cultural do Marão, apoiado através do PIC Leader+. A partir da aldeia os visitantes podem explorar as belezas na-turais da Serra do Marão, através dos percursos pedestres “Rota do Maranci-nho” e “Rota de S. Bento”.

Porto Manso é uma aldeia da freguesia de Ribadouro, no concelho de Baião. É um povoado em crescimento, devido ao extraordinário enquadra-mento paisagístico que possui com a albufeira da Pala e a foz do rio Ovil, no lugar do Poço Negro, junto à igreja paroquial. A aldeia ficou celebrizada pelo romance homónimo de Alves Redol, em que o escritor retrata a realidade so-cial portuguesa de meados da década de 40.

Nas proximidades da aldeia os visitantes encontram diversos locais de interesse, como o Convento de Ancede, a “Casa de Souto Moura”, a Casa de Tormes, a Casa do Lavrador, a Barragem do Carrapatelo e o Cais Náutico da Pala. Porto Manso dispõe ainda de alojamento qualificado, no segmento do turismo de habitação.

RUAAboadela - Amarante

PORTO MANSOBaião

BOASSASCinfães

Page 13: Revista Repórter do Marão

Canaveses, aldeia formada por lugares das freguesias de Sobretâmega e S. Nicolau, no concelho de Marco de Ca-naveses, dispõe de paisagem deslumbrante e importante Património Cultural e Edificado, nomeadamente as igrejas de Santa Maria de Sobretâmega e de S. Nicolau, que inte-gram a Rota do Românico do Tâmega e Sousa, Casa da Ri-beira, Casa da Palmatória, Capela de S. Sebastião, ponte dos Asnos e Casa de Penidos.

Nas tradições, destaque para os cantares das Janeiras e Reis, a matança do porco e o baile dos Santos Popula-res. A gastronomia acompanha as iguarias típicas da re-gião: Pão-podre, anho assado com arroz de forno, Bazu-laque (verdinho) e Vinho Verde. A aldeia é ainda ponto de interesse turístico pelo seu Centro Náutico, circuito pedo-nal e de manutenção e fluvina para 40 embarcações, além de três plataformas de pesca desportiva.

Em Maio, entre os dias 17 e 19, terá lugar a terceira edição do Mercado Medieval.

repórterdomarão | outubro'12 23

agenda | crónica

repórterdomarão | outubro'12 23

agenda | crónica

Centros de Promoção Produtos LoCais: MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004 BAIÃO: DOLMEN - Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154

Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

Sete Aldeias de Portugal no Douro Verde

Casas de arquitectura tradicional e estruturas agrícolas associadas como as eiras, cortes e os conjuntos de espigueiros são a referência dominante na aldeia de Almofrela, freguesia de Campelo, no concelho de Baião. Possui um albergue, adaptação da antiga Escola Primária e a Capela de S. Brás.

A aldeia foi percursora das primeiras feiras do Fumeiro do concelho de Baião (finais dos anos 70), mas também é conhecida pelos queijos frescos de ovelha e pela sua gastronomia, sobretudo o bazulaque e o anho assado com arroz de forno (servido a preceito na Tasquinha do Fumo).

A aldeia situa-se a meia encosta da Serra da Aboboreira e tem cerca de 30 habitantes, dispondo de excelentes condições para percursos pedestres.

Apesar do envelhecimento da sua população, a monografia da aldeia identifica como oportunidades a criação de novo investimento privado a ní-vel de alojamento e restauração, de novos percursos pedestres e de despor-tos natureza.

A aldeia de Ovelhinha, freguesia de Gondar, no concelho de Amarante, já existiria no tempo das Invasões Francesas pois alguns testemunhos da épo-ca falam de uma casa solarenga incendiada pelas tropas do general Loison, mas é a sua paisagem (banhada pelo rio Fornelo) e sobretudo o afamado "pão da Ovelhinha" que lhe perpetuam o nome. A aldeia tem ainda vestígios de antigos moinhos a água e uma casa senhorial, além de um aglomerado de casas típicas, habitadas por meia centena de pessoas.

Apesar de a panificação ter surgido na Ovelhinha, a padaria acabou por ser transferida para outros lugares da freguesia de Gondar, que possui vá-rias unidades industriais. O "pão da Ovelhinha" é ainda produzido por algu-mas destas padarias seguindo os moldes antigos, em fomo de barro e com aquecimento a lenha. Nas proximidades, há muito património para conhe-cer: igreja e Mosteiro de Gondar e o Centro Histórico do Barro Negro e o Mu-seu Rural, ambos no lugar de Vila Seca.

ALMOFRELABaião

OVELHINHAAmarante

CANAVESESSobretâmega - Marco de Canaveses

Três novascandidaturas

CANAVESESS. Nicolau - Marco de Canaveses

Page 14: Revista Repórter do Marão

educação

"Como vimos pelos dados comparativos com outras escolas nós estamos acima, os nossos índices são melhores do que a média das escolas que oferecem o mesmo tipo de serviço e portanto eu penso que o saldo tem que ser extremamente positivo", disse o dire-tor da EPAMAC.

Victor Vitor considerou que tem sido feito "um esforço a nível das instalações, na quali-ficação de cursos técnicos para fazer face ao crescente aumento do número de jovens que nos procuram", mas ressalvou que a escola ainda tem algumas lacunas ao nível das insta-lações desportivas e da biblioteca escolar.

"Penso que não há escolas perfeitas, não somos uma escola modelo mas somos com toda a certeza um bom modelo de escola, porque há sempre coisas que por mais que se

faça nunca se consegue ter a 100%. É o caso da biblioteca escolar e é o facto da escola não ter instalações desportivas o que nos obriga a levar os alunos a uma freguesia vizinha e ain-da a pagar um aluguer do pavilhão. Mas são

coisas que vamos tratar nos próximos anos e resolve-las", enfatizou.

Na conversa com a imprensa, o diretor da EPAMAC também abordou a dificuldade de a escola continuar a ter uma estrada a atravessar

EPAMAC triplicou o número de alunosO diretor da Escola Profissional de Agricultura do Marco de Canaveses (EPAMAC), Victor Vitor, anunciou que este estabelecimento de ensino cresceu nos últimos anos 200 por cento. "Triplicamos o número de alunos, temos mais turmas, temos novos cursos", referiu o dirigente da escola profissional marcuense, na sessão de abertura de uma nova avaliação externa, a cargo da Inspeção-Geral de Educação e Ciência.

Escola Profissional de Agricultura do Marco de Canaveses em avaliação externa

14 abril'13 | repórterdomarão

Page 15: Revista Repórter do Marão

o seu "campus" escolar: "Um aspeto recorrente dos últimos anos, que não está dependente de mim, senão já estaria resolvido. É uma questão que tem a ver com a Junta de Freguesia e a Câma-ra Municipal. Espero que se consiga, não sei se, agora, com esta nova renovação das freguesias se vai haver alguma considera-ção com este aspecto. De facto uma escola pública ter uma es-trada pública a passar a 10 metros das salas de aula acho que é um fator de instabilidade e que traz alguma perigosidade para os nossos jovens e pessoas que nos visitam".

O grau de empregabilidade dos alunos que saem da escola está acima da média e isso é realçado pelo seu responsável: "Cer-ca de 51% dos nossos alunos arranjam emprego e mais de 17% vão para o ensino superior. Portanto, a nível da taxa de suces-so e de empregabilidade nós estamos bem. O desemprego jo-vem em Portugal anda à volta de 40% e a crescer, e nós estamos abaixo desse número nesta crise e numa região em que a oferta de emprego não abunda".

O diretor da EPAMAC, a propósito da aposta, acertada, da esco-la na formação agrária, salienta "que tem havido uma grande pro-cura por este tipo de cursos e ainda bem que a escola apostou nesta matriz agrícola e do desenvolvimento rural, que é basica-mente a nossa oferta, porque agora está a dar os seus frutos".

EPAMAC triplicou o número de alunosEscola Profissional de Agricultura do Marco de Canaveses em avaliação externa

repórterdomarão | abril'13 15

A terceira edição do Mercado Medieval de S. Nicolau, a realizar junto à ponte de Canaveses, será reeditado de 17 a 19 de maio. Organizado pela junta de freguesia, com a colaboração da Câmara Municipal e o apoio da cooperativa Dolmen, o Mercado Medieval voltará a recriar as bancas dos vendedores medievais.

Artesanato, animação, dança, teatro, tabernas, música e algumas surpresas vão marcar o Mercado Medieval de Marco de Canaveses, segundo anuncia a organização. Pelo seu rigor organizativo e histórico, nomeadamente das vestes dos figurantes, começou a figurar na agenda de eventos regionais.

Freguesia de S. Nicolauorganiza Mercado Medieval

Page 16: Revista Repórter do Marão

regiões

16 abril'13 | repórterdomarão

A Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras (ESTGF) e o Município de Pare-des celebraram um protocolo relativo à cria-ção de uma licenciatura em Tecnologias da Madeira. De acordo com a autarquia, esta for-mação "vem dar resposta à necessidade de uma maior ligação entre o meio universitário e a realidade empresarial".

Este curso, com duração de três anos, será repartido pela ESTGF e pelo Centro Tecnológi-co das Indústrias de Madeira e Mobiliário, em Lordelo, onde predominam as atividades eco-nómicas ligadas ao setor do mobiliário.

Segundo a mesma fonte, esta licenciatura resulta "do esforço que a autarquia tem vindo a desenvolver na qualificação dos seus recur-sos humanos, no estímulo às atividades de in-vestigação e desenvolvimento e no aumento da competitividade e sustentabilidade do te-cido empresário local".

Pintora Paula Rego venceprémio Amadeo

O júri do Prémio Amadeo de Souza-Cardo-so atribuiu o prémio consagração à pintora Paula Rego. Segundo anunciou a organização, a artista será convidada a realizar uma exposição no mu-seu municipal e algumas das suas obras serão ad-quiridas para a coleção do próprio museu.

Entretanto, até 30 de maio, decorrem as ins-crições para a 9ª edição do prémio bienal atribuí-do pelo Município de Amarante.

Tecnologias da Madeiracom licenciatura

Minas de ouro de Paredesjá têm centro interpretativo

Um centro interpretativo das antigas minas ro-manas de ouro do município, em Castromil, em Paredes, instalado na antiga escola primária da freguesia, vai permitir divulgar o património geo-mineiro da zona.

No espaço será possível ver uma seleção de amostras geológicas e artefactos arqueológicos, que inclui um tanque onde se pode exercitar a arte de garimpar.

O local está ainda dotado de suportes gráficos e multimédia.

O vereador Pedro Mendes assinala que o con-celho de Paredes "preserva testemunhos únicos da passagem dos romanos por este território" e que com este centro representa "uma mais-valia do ponto de vista geológico, ambiental, histórico, cul-tural e turístico".

Este centro de interpretação, que deverá orga-nizar visitas aos vestígios das antigas minas, foi um projeto cofinanciado pelo PRODER, representando um investimento de 200 mil euros.

O percurso pedestre foi delineado através de um trabalho de investigação do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universida-de do Porto (UP).

As antigas minas de ouro de Castromil e Banjas foram exploradas até ao século XX e a eventu-al reexploração das jazidas de ouro tem surgido de tempos a tempos, como aconteceu há mais de uma década. Nessa época, os veementes protestos da população levaram o governo de então a re-cuar na concessão da exploração mineira, alegadamente devido a problemas ambientais decorren-tes da sua exploração a céu aberto.

Para celebrar os 500 anos da atribuição do Fo-ral ao concelho de Baião, a autarquia está a prepa-rar uma Recriação Histórica, que terá lugar a 1 e 2 de junho. Segundo a autarquia, "será uma viagem no tempo onde se poderá ver como era o concelho naquele período histórico mas também nas épocas da pré-história ou do período romano".

A exemplo de outros concelhos, o foral foi atri-buído no reinado de D. Manuel I (1469-1521).

A Rede EmpreenDouro anunciou os 15 finalis-tas ao Prémio Douro Empreendedor, estando pro-gramado que em maio sejam conhecidos os três vencedores.

Este concurso, em que participaram 69 empre-sários, pretende distinguir e impulsionar a criação de "projetos inovadores na região duriense".

Desde produtores de vinho, turismo cultural e rural, produtos de cosmética, trabalhos na área do xisto, museus interativos, transformação de frutas e

legumes, restaurantes e chás com vinho do porto, muitos foram os projetos que aderiram.

Segundo a organização, foi uma "adesão sur-preendente", pelo facto de as 15 empresas a dispu-tar o concurso gerirem "uma carteira de negócios de cerca de 55 milhões de euros" em diversas áreas. Os três vencedores – cada um receberá um prémio de cinco mil euros –, vão poder usufruir de acom-panhamento e consultadoria gratuita das estrutu-ras de apoio ao empreendedorismo da Universida-

de de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) ou do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), entre outras regalias definidas pela Rede EmpreenDouro.

As empresas finalistas são: Douro Boys; Duo-rum Vinhos; Restaurante DOC (Armamar); Solicel; Quinta do Avessada; Bairro do Casal; João Brito & Cunha; Néctar de Sabedoria; Quinta do Pesseguei-ro; William Smith & Lima (Quinta de Covela); Cachi-cos; Douro Skincare; Low Cost Douro Tours; Lusa Saudade e TeaPort.

Paços de Ferreira está a ensaiar um novo mercado agrícola, no terceiro sábado de cada mês, no espaço do renovado parque ur-bano, anunciou a autarquia.

A Câmara pretende apurar "se a procura e a forma de funcionamento correspondem às expectativas da população" e só posterior-mente decidirá se a sua criação passará a de-finitiva.

Durante a fase experimental, funcionará entre as 13:00 e as 18:00.

O mercado disponibilizará produtos hor-tícolas, frutícolas, mel, compotas e outros produtos caseiros.

Segundo a fonte, a Câmara Municipal e a Cooperativa A Lavoura pretendem dispo-nibilizar à população que vive na cidade um local de aquisição de "produtos frescos e de qualidade".

Paços de Ferreiraensaia novo mercado

Baião assinala em junhoForal dos 500 anos

Escolhidos os 15 finalistas do Prémio Douro Empreendedor

Page 17: Revista Repórter do Marão

Descubra o mundo com ...

Helena, Margarida e Luís *

crónica

repórterdomarão | abril'13 17

NIHIL NOVUM Nihil novum sub sole — eis uma

verdade como um punho, tirada do Eclesiastes via Vulgata. Não há nada de novo debaixo do Sol. Aquilo que nos parece novo já aconteceu antes. Vivemos no reino do déjà vu. Isto não se aplica, naturalmente, a ino-vações técnicas e científicas, que nesse campo surge todos os dias muita novidade, mas sim a situações e comportamentos, e é decerto nesse sentido que no Eclesiastes aparece a frase, que se viria a tornar um aforis-mo, que digo eu?, um lugar-comum.

O Grémio Literário Vila-Realense publicou muito recentemente uma antologia sobre os animais no quo-tidiano das pessoas, a que chamou Bestiário trasmontano e alto-du-riense, numa alusão aos bestiários medievais que, contudo, tinham ge-ralmente uma finalidade edificante e moralizadora: tratava-se de contras-tar o comportamento dos homens com o dos animais, levando a que os primeiros imitassem as qualidades e evitassem os defeitos dos segundos. No caso deste bestiário trasmontano, a finalidade foi sobretudo dar voz a escritores da nossa região que te-nham escrito páginas sobre animais.

Folheando o livrinho, a minha Mulher (re)leu o excerto do poema “O melro”, de Guerra Junqueiro — justamente aquele momento em a ave envenena os filhos e morre de-pois, supostamente de dor. O Leitor recordará a cena: incapaz de libertar as crias aprisionadas numa gaiola, o melro acaba por, entre muita retórica (que apesar de tudo tem ainda o po-der de comover, pelo menos a mim), lhes dar a comer uma qualquer plan-ta venenosa.

O próprio Guerra Junqueiro, em nota ao poema, esclarece que este se baseia num facto da natureza: certas aves (melros, pintassilgos, rouxinóis — precisa) envenenam os filhos, se lhos encarceram. Mas, adverte o po-eta, só fazem isto «os mais extraor-dinários, os mais heróicos». O que, acrescenta ainda, «demonstra que a acção é livre e responsável, e não um simples produto duma fatalidade orgânica».

Voltando ao rego. Acabado de (re)

ler o excerto, a minha Mulher co-mentou que o que o melro fez é o que vemos hoje em dia fazer a tantas mulheres, que matam os filhos, às vezes conjuntamente com elas pró-prias. Nunca tinha pensado nisso, mas é claro que lhe dei razão. Podem os motivos do acto não ser exactamente os mesmos, dos melros para os humanos. O melro mata os filhos porque os vê privados da liber-dade, que é a condição suprema de uma ave:

[…] Meus filhos, a existência é boaSó quando é livre. A liberdade é a lei.Prende-se a asa, mas a alma voa…Ó filhos, voemos pelo azul!... Comei!

As mulheres matam-nos porque os vêem privados de perspectivas de vida.

Mas a violência do impulso é a mesma: como se pode avolumar o desespero de uma criatura a ponto de, no mais anti-natural dos gestos, conseguir dar a morte pelas suas próprias mãos àqueles a quem tinha anteriormente dado a vida?

Resta uma reflexão breve sobre as causas próximas desse desespero. No caso do melro, é a própria igno-rância e a gulodice do padre-cura. Estupidez, porque atribui errada-mente aos melros a destruição das colheitas; gulodice porque se prepa-ra para comer as avezinhas, que, diz, guisadas com arroz são excelentes.

Que petisqueira! Melros com chouriço!...E então a FortunataQue tem um dedo e um jeito para isso!...

E no caso das mães humanas? Dispenso-me, Leitor, de dizer que outro e pior padre-cura é que leva essas extraordinárias, heróicas mães ao desespero de matar os filhos. O Leitor sabe bem quem é ele, mais a Fortunata que lhe guisa os melros.

De qualquer modo, como se disse acima, nihil novum.

[email protected]

BaLiBali é um destino turístico mundial, situado na Indonésia,

que todos os anos recebe turistas europeus, americanos e asiáticos, sendo o turismo a principal fonte de receitas da ilha

e a atividade sobre a qual gira toda a economia. O fuso horário, relativamente a Portugal, é de oito horas, ca-

racterizando-se por possuir praias paradisíacas, sím-bolo da ilha, que transbordam cul-tura.

Com três mi-lhões de habitan-tes, o seu pon-to mais alto é o Monte Agung

com 3142 metros de altura, estratovulcão localizado no les-te da ilha de Bali que entrou em erupção pela última vez em 1963, quando os fluxos piroclásticos mataram milhares de pessoas.

Em muitas zonas do país o idioma varia entre o inglês e o ho-landês.

As suas cida-des principais são Porto de Sin-garaja, Denpa-sar, Sinur e Ubud, cada uma delas com caracterís-ticas diferentes, sendo a capi-tal da cultura de Bali, Ubud, destino de muitos artistas mundiais.

A comida na Indónesia caracteriza-se pela sua variedade. O arroz é a base de muitos pratos, sendo no entanto temperado de forma diferente em cada um deles.

Este país tem um clima tropical húmido, com uma estação seca entre junho e setembro e uma estação húmida entre de-zembro e março. A temperatura é constante ao longo do ano, variando entre 28ºC e os 35ºC.

O custo de uma viagem para Bali é de cerca de 525 euros por pessoa.

* Alunos do 2º ano do curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses

A.M.PIRES CABRAL

Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico.

Page 18: Revista Repórter do Marão

14 fevereiro'13 | repórterdomarão

poder local

ePamaCAlunos de produção agrária encontram trabalho com facilidade

sÉrGio PaCHeCo (Lousada)Porque escolheu a EPAMAC? Gosto muito da área agrícola, de conviver com os

animais e de andar na Natureza. Recebi uma carta em casa a informar sobre a escola e os cursos que ha-via, gostei das opções, fui lá ver e inscrevi-me. Adorei. Andei lá três anos, saí no ano de 2012. 

Tinha alguém da família ligado a esta área que o fizesse apaixonar pela mesma? 

O meu avô tem uns terrenos, com animais e tam-bem produção de vinho. Desde cedo convivi muito com isso, com a vida do campo.

Que formação a escola passa para os alunos? Como conviver com as pessoas, trabalhar no cam-

po. Aprendi muito. Trouxe umas bases boas para jun-tar aos conhecimentos que já tinha e assim aprofun-dei melhor esta área.

Teve alguma formação fora da Epamac? Nao, aprendi tudo lá. Tive também um estágio du-

rante o meu percurso escolar, o que veio ajudar um pouco.

Como é esse estágio? A Escola tem parcerias com algumas empresas do

Marco. Estagiei em aviários, numa salsicharia e numa ovinocultura [unidade de criação de ovelhas]. Foram experiências para a vida e gostei muito.

Como surgiu a oportunidade de ingressar nes-ta empresa? 

Acabei a escola no ano passado e, depois do ve-rão, recebi uma proposta de uma empresa vitiviníco-la para um estágio profissional durante nove meses. Aproveitei a oportunidade. É uma mais valia para o meu currículo.

Qual o seu papel nesta empresa? 

Trabalho na área do vinho, na adega, na prepara-ção das terras, nas vindimas e até no engarrafamen-to. Fazemos toda a produção do vinho.

E no final do estágio? Se surgir a oportunidade de ficar a trabalhar aqui

seria ótimo porque gosto do que faço, de trabalhar nesta área e nesta empresa. As pessoas são excelen-tes e aprendo bastante com todos. 

Vai querer trabalhar futuramente nesta área?Sim. No meu caso digamos que tive sorte, por-

que o estágio é remunerado. Como as coisas estão, é complicado ingressar na agricultura, mas acho que há mais oferta na vitivinicultura do que na parte de produção animal. Cada vez se faz mais vinha e isso faz com que seja necessário mais mão de obra.

Tem boas recordações da escola?Muito boas. Foram tempos bons, fiz muitas amiza-

des. Repetiria a experiência.

sérgio Pacheco e Carlos sousa integrados em empresas agrícolas de Penafiel e marco de Canaveses

Sérgio Pacheco e Carlos Sousa são dois jovens alunos da EPAMAC que terminaram o seu curso profissional de Técnico de Produção Agrária no último ano letivo.

Ambos estão já inseridos no mundo laboral, o que demonstra, mais uma vez, o elevado grau de empregabilidade e de saídas profissionais dos cursos da Escola Profissional de Agricultura e Desen-volvimento Rural do Marco de Canaveses (EPAMAC).

Sérgio tem 19 anos e reside em Lousada. Depois de cumprido o 9º ano na EB de Lustosa, surgiu a oportunidade de ingressar na EPAMAC, onde completou o 12º ano.

O apelo da agricultura e as raízes familiares, nomeadamente do avô, fizeram-no escolher o curso agrícola. Está a fazer um estágio profissional numa empresa agrícola de Casais Novos, em Penafiel.

O percurso de Carlos Sousa, 20 anos, de Vila Boa do Bispo, não é diferente. Até ao 7º ano de esco-laridade frequentou a EB 2/3 de Alpendurada, ingressando a seguir na Escola Profissional da Pedra, também em Alpendurada, onde completou os dois anos seguintes, antes de ingressar na EPAMAC.

São dois casos de alunos que encontraram rapidamente trabalho após a sua formação base, em produção agrária.

CarLos sousa (Marco de Canaveses)

Que percurso escolar fez na EPAMAC? Técnico de produção agrária. Depois do curso fui logo trabalhar. Fiz um estágio na empresa onde estou a trabalhar atualmente [uma empresa do Marco de Canaveses que tem como atividade a produção de micro legumes para a área gourmet e que usa a técnica da hidroponia] e em várias outras quintas.Que funções exerce na empresa? Faço de tudo, desde os trabalhos da estufa, o maneio dos animais e agricultura ao ar livre.Trabalha nesta empresa desde quando? Agosto de 2012.

Como ingressou na Escola Profissional de Agricultura do Marco de Canaveses? Através de primos que já lá andavam.Escolheu um curso profissional ligado à Agricultura. Porquê? Desde sempre gostei da agricultura. Os meus pais são agricultores e também gosto do trabalho ao ar livre. Passa pela agricultura o meu futuro profissional.Que importância teve a EPAMAC na sua formação escolar e profissional? A EPAMAC é um início para a vida, onde aprendemos muito.Que recordações guarda da sua passagem pela Escola? Momentos de convívio com professores e amigos.

Page 19: Revista Repórter do Marão

repórterdomarão | fevereiro'13 15

Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC

Page 20: Revista Repórter do Marão

Na sua visita a Portugal – pelos vistos só cá vem, ou é noticiado, quem apoia e aplaude a austeridade governamental, o que ele fez na grande entrevista que deu ao Público – o PM da Finlândia afirmou para o justificar do alto da sua autoridade, que «não há atalhos para o céu». Espero que o Governo, para além da vanglória do elogio, aprenda algo que não sei se o senhor lá do topo frio da Europa não quereria transmitir de forma subliminar: a procurar o atalho, já que não falta por cá quem o tenha descoberto há muito tempo. É ver os altos “dependentes" do Estado, lá colocados ou noutro sítio por via dele, os ban-queiros verdadeiros ou os que nisso se armaram, e os muitos “colaboradores” que apro-veitaram o regabofe e nos puseram a pagar o que esmifraram. Não falta por cá quem saiba onde estão as poldras para caminhar sobre as águas sem se afogar. Era assim que um velho colega explicava o bíblico andar sobre as águas quando o mestre disse a Pe-dro para as indicar ao Judas que já tinha a água pela boca.

Outra questão interessante é a dos off-shores que tem vindo a ganhar espaço medi-ático e as preocupações de alguns líderes mundiais, agora com um novo fôlego após o escândalo do ministro francês e a lista do nosso Zé das medalhas. Reaparecem “inten-ções” de fazer o que há muito devia ter sido feito: acabar com eles. Bem sei que é medi-da difícil pois implica acordos de muitos países, alguns deles nada interessados em que tal aconteça, mesmo os “mais sérios”. Mas, tendo de começar por algum lado, seria bom passar da palavra aos actos. Além de melhor controlo dos fluxos fiduciários e dos rastos que deixam, aplique-se a Justiça Fiscal com agravamentos em vez de perdões, e a Justi-ça Cível eficazmente e a tempo e horas. Cá por mim punha já a correr a ideia do que, pro-

vavelmente, irá acontecer e até já aconteceu. Os off-shores são recentes mas apenas com este nome. Sempre houve bancos fanáticos do segredo. Lembrando só um exemplo, an-tes e durante a II Guerra Mundial, grandes fortunas de judeus e não só atafulharam os cofres de certa banca. Muitos dos legítimos donos “evaporaram-se” e por lá ficou a mas-sa. Hoje, sem ser necessário que as pessoas se “volatilizem”, não custa a crer que os “ho-nestíssimos” detentores da massa e dos seus depositantes ou intermediários lancem no éter a escassíssima contabilidade, pois tal o exige e recomenda o “esquema”, mandando--os receber a Chipre ou ao Totta como antes se dizia...

Mas o mais preocupante, e cada vez me convenço mais das tácticas político/partidá-rias concertadas do “ora agora bates tu e depois bato eu para ficar tudo na mesma”, é o desemprego. Dados recentes, e só no sector dos transportes (Metro, Carris e Transtejo), apontam para terem de “despachar” mais 630 trabalhadores (desde 2010 já foram 2614). Logo a seguir notícia de mais de 3 mil milhões de perdas no financiamento das trasn-portadoras em geral por causa dos produtos tóxicos (swap), que mais cedo ou mais tar-de nós acabaremos por pagar. Ninguém é culpado. Uns pagam, outros vão para a rua, e os responsáveis têm prémios de desempenho e pedem isenção de cortes salariais. Estes também já descobriram os atalhos das poldras.

E para encapotar a realidade, pois os números manipulam-se como der jeito esque-cendo que estão a tratar de Pessoas, e apresentam um ou outro exemplo que felizmen-te ainda aparece como um oásis no deserto. É a separação do trigo do joio, das boas e das más empresas, blá, blá, blá, engrossando as filas dos abandonados em empresas que

opinião

A CHAVE PARA O FUTUROPara onde vamos? O que nos espera? Vêm aí mais

impostos? Vai haver uma remodelação governamen-tal “a sério”? Paulo Portas mantém-se fiel à coligação? A maioria no poder aguenta-se até ao final da legislatura? O PS de Seguro é alternativa? A Europa muda de políti-cas? Quem já não ouviu ou fez alguma destas perguntas?

Mais de dois anos após o início do programa de assis-tência financeira, Portugal regista alguns ajustamentos positivos, nomeadamente ao nível das contas externas, mas para conseguir esses escassos ganhos mergulhou numa profunda recessão. Os portugueses olham para a sua situação, para o discurso dos governantes e para os sinais que chegam da Europa e não encontram motivos para acreditar no futuro próximo. Este desânimo é devas-tador para o país e para as empresas.

O Governo prossegue alinhado com as teses mais or-todoxas na defesa das políticas de austeridade e do con-trolo dos défices nacionais, sem cuidar de verificar se tais fins justificam os meios usados. Passos Coelho e Vítor Gaspar são os filhos pródigos de Merkel, Schäuble e com-panhia e insistem em provar que são capazes de aplicar, sem tergiversar, as medidas macroeconómicas impostas pelo directório alemão e pela troika. Neste quadro, quais-quer medidas que contrariem ou incomodem os países que lideram a zona euro e as instituições internacionais são prontamente afastadas pelo Governo.

Aliás, as divergências cada vez mais notórias entre PSD e CDS passam também pela maneira como Portu-gal se apresenta nos fóruns europeus. Quando o execu-tivo procura mudar a agulha e apelar a um consenso en-tre as principais forças políticas, provavelmente forçado a isso pelos credores internacionais, o CDS defende, e bem, que esse propalado consenso deve ser usado para for-çar junto dos nossos parceiros uma negociação dos pra-zos, das taxas de juro e das maturidades dos emprésti-mos que nos foram concedidos.

Para além da pequena política que leva o CDS a lutar por certas pastas governamentais e Paulo Portas a sina-lizar o seu descontentamento com a ausência na toma-da de posse dos dois novos ministros, os centristas têm defendido teses muito próximas das do PS, nomeada-mente quando defendem uma forte aposta na área eco-nómica, de modo a criar condições mais favoráveis ao in-vestimento e ao emprego.

Passos Coelho e Vítor Gaspar, contudo, têm uma vi-são diferente e não dão mostras de ceder, mesmo pe-rante as críticas de destacados sociais-democratas como Manuela Ferreira Leite. Na sua óptica, impõe-se cumprir até ao fim o guião da troika, prosseguindo com a aus-teridade e a redução da despesa, “custe o que custar”. A própria forma como o Governo reagiu ao chumbo pelo Tribunal Constitucional de medidas previstas no Orça-mento do Estado revela que, aos seus olhos, qualquer entrave às políticas governamentais é um bloqueio que coloca em risco a imagem de Portugal como país cum-pridor. Ora, isto é inaceitável, desde logo porque, neste caso concreto, é o Governo que tem de legislar de acor-do com as normas constitucionais e não o Tribunal Cons-titucional que tem de se acomodar às leis aprovadas no parlamento.

Passos Coelho, depois de uma remodelação que não deixou ninguém satisfeito, uns porque queriam altera-ções mais profundas, outros porque queriam mais PSD no executivo, ensaia agora uma nova estratégia, visando atrair o PS para um consenso em torno das metas orça-mentais. A necessidade de proceder a cortes na despe-sa pública – feitos à pressa e sem o devido planeamento – é a razão imediata para essa tentativa de aproximação. A batata quente da redução salarial e do número de fun-cionários públicos queima nas mãos do Governo.

Como já defendi nestas páginas, o PS não deve fur-tar-se ao diálogo e ao sentido de compromisso. Todavia, as cartas que a maioria PSD/CDS quer colocar em cima da mesa não podem estar marcadas à partida. O consen-so deve ser trabalhado entre as forças do arco da gover-nação de modo a defender Portugal e os portugueses e não as folhas de excel de Vítor Gaspar.

É evidente para todos a necessidade de reduzir a despesa pública, em face das receitas arrecadadas e de não haver espaço para mais impostos – mas isso deve ser feito obedecendo a uma estratégia cuidada e plane-ada. A nossa economia tem de continuar o seu proces-so de ajustamento – mas é fundamental criar condições para o investimento das empresas nacionais e estrangei-ras e para a criação de emprego. Portugal terá de pagar o que deve aos seus credores – mas tal só será possível se tivermos condições ajustadas ao perfil da nossa econo-mia. Este é o guião (do consenso) possível para os pró-ximos anos.

José Carlos PereiraGestor

20 abril'13 | repórterdomarão

Page 21: Revista Repórter do Marão

Um PAíSdE EngOdOS

Armando MiroJornalista

A misteriosa fragilidade dos laços humanos, os sentimen-tos que esta fragilidade inspira e a contraditória necessidade de criar laços, e ao mesmo tempo, de os manter flexíveis. São as principais questões postas por “Amor Líquido”, por Zyg-munt Bauman, Relógio d’Água Editores. Zygmunt Bauman tem sido um dos mais atentos observadores das contradi-ções do mundo atual, fez a sua notável carreira de investiga-dor como sociólogo e lecionou em universidades prestigia-das do mundo anglófilo.

A modernidade líquida é uma expressão que lhe é cara nos seus escritos: os habitantes deste líquido mundo moder-no detestam tudo o que é sólido e duradouro, tudo o que não se ajusta ao uso instantâneo. O sociólogo explica o inte-resse neste estudo: “O principal herói deste livro é o relaciona-mento humano. Os seus personagens centrais são homens e mulheres, os nossos contemporâneos, desesperados por te-rem sido abandonados aos seus próprios sentidos e senti-mentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio, desesperados por «se relacionarem». E, no entanto, desconfiados da condição de «estar ligado», em particular de estar ligado «permanentemente», pois temem que tal con-dição possa trazer encargos e tensões para que eles não se consideram aptos nem estão dispostos a suportar e que po-dem limitar severamente liberdade que necessitam para se relacionarem…”

Estar apaixonado ou desapaixonar-se já não é o que era. A definição romântica de amor está fora de moda. Noites avul-sas de sexo são descritas por meio da expressão “fazer amor”. O autor recorda que amar significa abrir-se ao destino, à mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde com o regozijo numa amálgama irreversível. O amor é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável. Desejo é outra coisa, é vontade de consumir, o desejo não precisa de ser instigado, é ímpeto, é compulsão. O amor é a vontade de cuidar e preservar o objeto cuidado. Amar signi-fica estar ao serviço, sujeita-se à renúncia e ao sacrifício. Ora o nosso tempo é o da aceleração, da vertigem, do descartá-vel, a noção de amor colide com a rapidez das nossas vidas, a vontade de satisfazer desejos que a própria comunicação comercial é um dos principais instigadores. Investir numa re-lação duradoura é uma operação de risco e de abertura ao longo prazo, o que contradiz o ritmo frenético a que a maior parte quer viver o presente, não está disposta a incertezas nem a consentir a indeterminação do futuro.

Tal como nas telenovelas, as relações vão e vêm, geram poucas responsabilidades, dar e receber prazer é uma conta corrente do convívio de viver juntos com espaços-tempo dis-tintos, cada qual tem direito a um universo seu, com as suas leis e lógicas próprias. O mundo digital confirma todas estas possibilidades. É possível estabelecer canais de conversação, ter amigos virtuais, inundar o silêncio com mensagens. Todos pertencem à conversa, aquilo sobre que se conversa é mera-mente acessório. Para enquadrar este novo mundo de laços

usam-se expressões como namorado, relação colorida, casais a tempo parcial. São pessoas que odeiam a ideia de partilhar o lar e as atividades domésticas, preferindo manter domicí-lios, contas bancárias e circos de amizade separados, estão juntos quando sentem conveniência.

Esta atitude é diametralmente oposta à que se viveu até chegarmos, com a sociedade de consumo, ao que se conven-cionou chamar a família nuclear. No passado os filhos eram produtores, eram bons investimentos saudados. Agora, um filho é um objeto de consumo emocional. O sociólogo con-cretiza: “Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda a sua vida. Em termos puramente monetários, os filhos custam mais do que o carro luxuoso do ano. Pior ainda, o custo total ten-de a crescer com o tempo e o seu volume não pode ser fixa-do de antemão nem estimado com algum grau de certeza”. E ter filhos significa ter que diminuir ambições pessoais, ter que sacrificar uma carreira, enfim, ter que fazer sacrifícios. Ora a modernidade líquida, insiste-se, é contra os compromissos duradouros, não quer dependências do tipo incapacitante. A vida consumista favorece a leveza e a velocidade, o melhor de tudo é consumir e deitar fora. Numa expressão faz-se a sín-tese graças a uma inteligente estratégia publicitária de pre-servativos: sexo seguro, faz-se sexo e não deixa vestígios nem no corpo nem na alma.

O sociólogo lembra que o consumidor de hoje o que quer é andar permanentemente com o seu telemóvel, permane-cer conectado, ter acesso pronto a um contacto que o con-duza à diversão, a uma tarefa, a um biscate, a um encontro. E como crescem as dificuldades de amar o próximo, o melhor, o mais rápido é pagar solidariedades. Os programas televisi-vos mais apetecidos espelham este estado de espírito. Quan-do se vê o Big Brother ou o Elo Mais Fraco, a mensagem que passa é que os seres humanos são descartáveis, ninguém é indispensável, a vida é um jogo duro para pessoas duras, o melhor que pode acontecer no convívio humano é encará-lo como um contrato, esse relacionamento só pode existir en-quanto as partes imaginam que estão a proporcionar satisfa-ção suficiente para permanecerem na relação.

O olhar do cientista social estende-se depois para a vida nas cidades onde cresce a mixofobia (sensibilidade alérgica e febril aos estranhos e desconhecido), se desenvolvem ani-mosidades tribais, regiões gueto e a problemática da segu-rança é sempre matéria nobre nas campanhas eleitorais. É um olhar que se estende aos refugiados da mesma manei-ra que procura interpretar a violência que emerge da xeno-fobia e da perda de raízes culturais. Todo este vasto diagnós-tico leva à conclusão de que todas estas manifestações de modernidade líquida só poderão gradualmente desaparecer quando nos entendermos coletivamente sobre a humanida-de partilhada: em nenhuma outra época se mostra tão inten-sa a busca por uma humanidade comum, é o aviso derradei-ro que deixa Zygmunt Bauman.

AmOR LíqUidO, SObRE A FRAgiLidAdE dOS LAçOS HUmAnOS

Beja Santos Ex-Assessor D.G.Consumidor

repórterdomarão | abril'13 21

têm mesmo de fechar e outras que aproveitam a onda para despedir sem responsabilidades e encargos.

O mais giro disto tudo, se é que se pode sorrir de ironia no drama huma-no, são os anúncios de criação de emprego. Normalmente, nas áreas co-merciais e serviços, os números dos postos de trabalho, directos e indirec-tos, não têm em conta aqueles que fazem desaparecer, bem mais do que os criados, nos sectores tradicionais. Contudo, o que dizer de um recen-te anúncio da EDP que ainda encherá as páginas dos jornais, dizendo que só no projecto hídrico vão criar mais de 35 mil empregos? Levantando um pouquinho o véu lá vêm os 8750 directos, eventualmente da sua respon-sabilidade, e 26.250 indirectos. Não sendo uma relação directa simples, pois os indirectos dizem também respeito aos productos, materiais e equi-pamentos (e aqui compra-se onde há sem nada de novo), mas são-no tam-bém nos serviços e apoios que aqueles geram: um activo para três induzi-dos: acreditam? E nem sequer falo no que o projecto hídrico prejudica ou tem de negativo. Noutro pequeno exemplo marcante diria que, também na EDP, só os vencimentos de dois dos maiorais, dariam para 800 empre-gos a 500 euros em 13 meses. Vá lá, deixando-lhes cinco mil euros a cada um que bem lhes chegava para enfrentar a crise, ainda ficariam 780 lugares.

Abençoado país com mais de um milhão de pessoas a sobreviver a pão e água...

Page 22: Revista Repórter do Marão

Cartoons de Santiagu

MANOEL DE OLIVEIRA

Publicação da IV Série

[Pseudónimo de António Santos]

O olharde...

EdUARdO PINTO 1933-2009

Amarante - Anos 60

S/ Título

artes

sensiBiLidades

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22 abril'13 | repórterdomarão

2º Prémio Especial, na modalidade de caricatura, em Homenagem ao cineasta Manoel de Oliveira no XV PORTOCARTOON.

2013

Page 23: Revista Repórter do Marão

GaBrieLa e ÂnGeLoO problema deve ser do meu

relógio. Não, não a tenho por men-

tirosa, a minha Gabriela é uma boa filha. E não há razões para que não seja assim, eu sem-pre a tratei bem, sempre lhe dei o melhor que consegui ar-ranjar. Mesmo quando ela me disse que ia casar com aquele desgraçado, que tão mal a tra-tou, eu, que já não ia com a cara dele, disse-lhe: minha filha, se fosse eu mandava-o dar uma volta, mas tu é que sabes o que queres para a tua vida, o que eu mais quero é que tu sejas feliz.

Foi a única vez que eu me meti na vida dela, e não me ar-rependi. A mãe da Gabriela não gostou, disse que era um as-sunto que não me dizia respei-to, e que mais isto e mais aquilo. Tanto me disse e me azucrinou que eu até comecei a ficar com remorsos. Ah, mas a verdade é como o azeite, e quando a Gabriela chegou à nossa bei-ra com óculos de sol num dia de chuva, a dizer que tinha ca-ído na banheira, eu perguntei à mãe da Gabriela: e agora, Ben-vinda, sempre me dás razão? E a Benvinda respondeu-me, pa-rece que ainda agora a estou a ouvir: Está calado, Ângelo, ele é pai do nosso neto. Queres que o Afonso cresça sem pai?

Eu calei-me, naquele tempo o mundo era diferente, não ha-via tanto casa e descasa como agora é costume e até dá na te-levisão. E valeu de alguma coisa fazer de conta que éramos ce-gos e surdos? Claro que não, o desgraçado foi-se embora, para o Luxemburgo, ou para a Suí-ça, nunca se soube ao certo, a minha Gabriela voltou para o quarto dela, e o Afonso foi o sol que nos alegrou em casa. De-pois, a Benvinda morreu sem avisar. Deitou-se e nunca mais acordou. Foi muito complicado, porque eu não estava prepara-do para acordar com a Benvin-da deitada ao meu lado, gelada e dentro da camisa de dormir.

Não, a minha Gabriela é uma boa filha, só deve estar um bo-cadinho atrasada. Eu não gosto que esperem por mim, nunca ninguém esperou por mim, eu tinha vergonha se alguém es-perasse por mim.

Antes não era assim, mas

agora com estes anos todos em cima das costas qualquer preo-cupação, mesmo que seja pe-quenina, não me deixa dormir em paz. Acordo muitas vezes de noite, vou ver as horas e o tempo nunca mais passa. Às vezes, no meio do sono, a Ben-vinda pára à minha beira e eu pergunto-lhe: porque é que me deixaste? E ela ri-se, não res-ponde, e vai-se embora. Depois custa-me a adormecer.

Se isso não tivesse aconteci-do, se calhar eu e a Benvinda ainda estávamos na nossa casa, e eu não estava aqui no meio destes velhos que mijam nas fraldas e gritam de noite, com pesadelos.

Depois da Benvinda ter sido enterrada, a Gabriela tomou logo conta da caderneta do banco da mãe e agora tam-bém da minha, e disse que tra-tava de mim e de tudo. Meteu dentro de casa um sujeito que é muito educado, muito calado, não me parece má pessoa, mas está desempregado e fuma ci-garro atrás de cigarro, que só lhe faz mal e seca a carteira da minha filha. Eu já não me im-porto com nada desde o dia em que acordei no hospital e des-cobri que metade de mim recu-sava-se a fazer o que eu queria. Deixei de pensar. É melhor as-sim.

Agora estou aqui num quar-to que tem duas camas. Eu es-tou deitado numa, e na outra fica um pobre diabo que, mal pressente a noite desata a cho-rar como uma criança de colo. É irritante. Se eu tivesse forças dava-lhe um estalo e dizia-lhe: cala-te, volta a ser um homem, tem vergonha, desaparece de vez.

Hoje é domingo, e a Gabriela disse que me vinha buscar, que íamos dar um passeio, almoçar juntos. Dormi mal porque não sabia bem o que havia de pedir lá no restaurante. E ainda não sei. Antes eu sabia logo tudo, agora só tenho dúvidas.

O meu relógio diz que são quatro da tarde, mas deve ser engano.

Este relógio está pior que o dono.

António Mota

[email protected]

crónica

repórterdomarão | abril'13 23

Cenários deEnvelhecimento

Cláudia Moura

CAPACIDADE FUNCIONAL E ACESSIBILIDADE x AMBIENTE DOMICILIAR DO IDOSO

O bem-estar doméstico é uma necessidade humana fundamental, que está profundamente enraizada e que necessita de ser satisfeita, o que possibilita e mostra na acessibilidade o ganho de autonomia e mobilidade, principalmente nos idosos que possam usufruir dos espaços e das relações com mais segurança, confiança e capacidade funcional.

DEIXO-VOS A PENSAR … O envelhecimento populacional associado ao aumento da expectativa

de vida tem acarretado novas preocupações, nomeadamente a necessida-de de prestação de cuidados aos mais dependentes. Deste modo, o aten-dimento domiciliário surge como um novo modelo de atenção à saúde do idoso, conduzindo à emergência do conhecimento do ambiente domiciliar.

Torna-se essencial ter conhecimento das habilidades funcionais do idoso de forma a poder desenvolver um projeto que minimize as suas difi-culdades, dentro de um processo terapêutico para maximizar a aceitação do uso das adaptações e a insatisfação do idoso e da família.

Tal conhecimento tem privilegiado o atendimento do idoso no seu do-micílio, ao lado da sua família. O modelo assenta na atenção para a transfe-rência desta responsabilidade para a família. Sendo esta a nova tendência do modelo a atenção à saúde do idoso, onde o maior conhecimento e in-tervenção no ambiente domiciliar, se considera na dinâmica familiar, nome-adamente as verídicas necessidades da família e do idoso, bem como a ca-pacidade funcional do mesmo e as características ambientais no domicílio.

Ora tais acontecimentos conduzem à inevitável proposta de avalia-ção do ambiente domiciliar e da capacidade funcional dos idosos.

A velhice é portanto, dependente do referencial histórico vivido. Sendo que o processo de envelhecimento engloba diversos aspetos determinantes para uma velhice saudável e com qualidade. A manutenção da autonomia e da independência constitui-se como condição necessária para o processo de envelhecimento saudável. Que segundo a Organização Mundial de Saú-de, é um estado de completo bem-estar físico, psíquico e social, e não mera-mente ausência de doença. Desse modo, um indivíduo, mesmo portador de alguma doença, pode sentir-se saudável caso mantenha a capacidade de re-alizar funções ou atividades, de alcançar expectativas e desejos, nomeada-mente no que refere a manter-se ativo no seu meio.

A saúde poder ser alcançada como a capacidade de o indivíduo conti-nuar a exercer funções no seu meio físico e social, contribuindo para a so-ciedade e interagindo com a mesma.

Porém, é necessário pontuar-se que, apesar da relação do poder fazer e poder escolher, mesmo funcionalmente e/ou fisicamente impedidas, muitos idosos são capazes de exercer as suas capacidades de escolha e de controlo sobre parte do seu ambiente.

Pode dizer-se que a dependência na velhice é determinada por even-tos biológicos, socioculturais e psicológicos. Portanto, o envelhecimento e o ambiente domiciliar passa a ter um novo significado, daquele antes visto como um ambiente de descanso do trabalho e local de acolhimento fami-liar passando a ser encarado para muitos idosos o seu único ambiente, po-dendo, em determinadas alturas, ter uma inter-relação na capacidade fun-cional destes idosos.

Por isso, os ambientes devem ser planeados objetivando a promoção e estímulo da independência e autonomia.

[email protected] Professora Universitária e Investigadora na área da Gerontologia.

Page 24: Revista Repórter do Marão