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Trabalho Universitário da UFRRJ - Iniciativa das repórteres Jéssica Reis, Caroline Ribeiro, Enila Bruno e Thaís Fukuda.

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Page 1: Revista Sou Rio
Page 2: Revista Sou Rio

A primeira edição da Revista Sou Rio marca o nosso compro-misso com o equilíbrio entre

a inovação e jornalismo de qualidade. Não comprometemos nossa linha edito-rial em acordos com governos e grupos econômicos ou políticos. Temos autono-mia e visão crítica para tratar de assuntos variados de maneira íntegra e imparcial, usando a palavra como instrumento para fugir dos estereótipos e promover a inte-gração entre as regiões metropolitanas do Rio e Grande Rio. Estaremos dispostos a assumir e corrigir eventuais erros, prezan-do sempre pela exatidão das informações e a conformidade com as fontes. Seguin-do essa linha editorial, a Revista SOU RIO vai estimular o turismo e promover senso crítico com textos que desper-tem a curiosidade e o interesse do leitor.

Equipe SouRio

EDITORIAL

Page 3: Revista Sou Rio

Especial

115 anos do bondinho de Santa Tereza

Feira de São CristovãoMantém tradições e rompe fronteiras 10 20índice

Transcarioca

prato cheio

Leia também

4 Artigo de Opinião

5 Viaduto Negrão de lima

8 Perfil

12 Ping-pong

17 Dica certa

27 Mercadão de madureira

29 Crônica

Esportes radicais

1424

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Feira do Lavradio

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Page 4: Revista Sou Rio

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A relação entre cultu-ra e direitos do ci-dadão, bem como

seu papel na luta contra a desigualdade social, é uma re-alidade que o Brasil enfrenta. O abismo entre os analfabe-tos e aqueles capazes de ler, es-crever e interpretar reproduz a humilhante separação entre os que ampliam suas possibili-dades de evoluir e entre os que têm abortado um direito pleno do indivíduo: a capacidade de pensar de maneira crítica. Algumas formas de entreteni-mento, à exemplo do teatro e do museu, são práticas tidas como elitizadas. Isso se dá não só pelo preço dos ingressos, que não é razoável para todos, como tam-bém pelo déficit educacional do povo brasileiro o que se ratifica se pensarmos no livro como uma dessas articulações. A leitura é uma atividade gratuita, se considerarmos as bibliotecas públicas, e ainda assim é prati-cada por uma minoria que teve acesso à educação de qualidade. Há ainda a dificuldade no aces-so à internet, grande catalizado-ra desse processo cultural. Lugar de conhecimento compartilha-do livremente, a rede ainda não

atinge igualmente à população. O fomento às políticas cul-turais pode favorecer a super-ação desse quadro. Entretanto, a integração da cultura junto às demais políticas sociais é uma experiência recente que necessita ser aperfeiçoada.

O momento atual é de recon-hecimento dos direitos cul-turais como necessidade básica e direito de todos. Isso que conduzirá à busca de uma in-serção à prática de políticas sociais e de desenvolvimento.

AS BARREIRAS QUE INTERCEPTAM O

POVO E A CULTURA

Jéssica Reis

Page 5: Revista Sou Rio

Viaduto reúne amantes da Black MusicDurante a semana, é ap-

enas um estacionamento num bairro da Zona

Norte carioca. Todos os sábados, de 20h às 5h, é palco da Black Mu-sic, num local que tradicionalmente é berço do samba. Essa é a rotina sob o viaduto Negrão de Lima, no bairro de Madureira, desde 1990. Marcado pela presença histórica do Jongo da Serrinha e, posterior-mente, pelas tradicionais escolas de samba Portela, Império Ser-rano e Tradição, Madureira sem-pre demonstrou em sua essência a predominância da cultura negra. O baile do “duto”, como é conhe-cido, celebra seus 21 anos em grande estilo. Cada vez mais democrático e pacífico, reúne um público fiel

e segmentado que se renova com o passar do tempo. O evento, que sempre foi mais popular no subúr-bio, conta agora com blogs e redes sociais para promover a divulgação. - Hoje é um movimento mais uniforme, atrai pessoas de várias partes do Rio de Janeiro e já re-cebeu até caravanas de charmei-ros de outras cidades - afirma Michell, dj do baile há 13 anos. A festa tem espaço para todos os gostos e estilos. Quem curte dan-çar pode acompanhar os ‘passin-hos’ de grupos que se formam em coreografias de diversas influên-cias. Já aqueles com ouvidos mais afinados para uma boa música black, podem se acomodar nas bar-raquinhas improvisadas no viaduto.

Kolawole Dias frequentador as-síduo do baile, há sete anos, não se importa com os esteriótipos criados para quem curte música black. Desligado de preconcei-tos, afirma que o baile em si já antecipa qualquer ideia sobre as pessoas que o frequentam.- A grande maioria é black. So-mos negrões cheirosos e bem vestidos! Aliás, o que mais conta nisso tudo é o estilo de se vestir porque é ali que será observado se você é frequentador ou entende-dor do mundo black – confessa. Se você é carioca e ainda não conheceu o Charme no Rio, está perdendo a oportunidade de se divertir ao som da Black Music.

Jéssica Reis

Page 6: Revista Sou Rio

Pessoas carregando panelas vão pipocando na Rua Zig-mund, no bairro de Jardim

Redentor, Belford Roxo, Baixada Fluminense. Carros com placas de São João de Meriti, Nova Iguaçu, Nilopólis estacionam um a um. Lá dentro, na estreita e abafada coz-inha, Dona Helena Caverzan se reveza com a irmã, a cunhada e as vizinhas, no preparo da feijoada mais famosa da região. São quase onze horas da manhã de domingo e a fila já começa a se formar. A feijoada completa vem com lombo, carne seca, lingüiça, pé de porco, costela, arroz, farofa e couve. E o preço do prato, por pessoa, custa R$10. Visitante pela primeira vez, a auxiliar financeira Valéria Mincareli, já sabe aonde ir quando quiser comer bem e pagar barato. – O preço é camarada, a fei-joada é puxadinha no sal, mas não é gordurosa – opina. O cliente pode comer ali mes-mo, em uma das mesas espalha-das pelo saguão, ou ser servido em suas próprias panelas para le-

“Vamos botar água no feijão”A feijoada da Dona Helena do Jardim Redentor é famosa. Mas o segredo de tanto sucesso ela não revela

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Pra encher a pança

Page 7: Revista Sou Rio

A feijoada da Dona Helena

funciona de segunda a

domingo na Rua Carlos

Zigmund, nº 200 no bairro

Jardim Redentor, em Bel-

ford Roxo. O almoço é

servido a partir das 11h e

quer uma dica? Chegue cedo.

var a feijoada e almoçar em casa. - Achei engraçado as pessoas na fila, segurando panelas – con-fessa Dona Maria da Conceição. A dona de casa também ia provar o prato pela primeira vez e levar a encomenda para Jacarepaguá, na Zona Oeste. - Meu filho come aqui com os amigos, hoje eu vou ex-perimentar – conta, ansiosa.Dona Helena, de 66 anos, contou que estava trabalhando desde as duas horas da manhã e que cumpre a mesma rotina, há 15 anos, quan-do o bar era uma mercearia. Com a chegada de um mercado no bairro, ela teve medo de perder a clientela e logo surgiu a ideia de fazer feijoada. - Tinha que manter meu sus-tento e sempre gostei de coz-inhar. Uni as duas coisas. Faço

com amor – revelou o segredo. Casada com Seu Edgar Gomes de Aguiar e mãe de dois filhos já criados, Dona Helena lamenta não ter ninguém na família para dar continuidade ao pequeno negó-cio. Em dias de maior movimento, sábados e domingos, o bar chega a servir 16 panelas de feijoada. - Ultimamente não tenho dado conta de tanto trabalho – confessa. Mesmo assim, jura que não pensa em parar agora. -Vou continuar aqui até quando puder – avisa. O motorista de ônibus, Alberto Ferreira estava empolgado. Chegou de moto, com uma dúzia de pane-las. Naquele dia ele levou a feijoa-da para a família e para o vizinho. -Final de semana tenho que dar um descanso para Dona

Maria na cozinha, né? – brin-ca, referindo-se à esposa.Rosemi de Oliveira com-pra a feijoada toda semana. - Lá em casa a gente faz e não fica igual – admite a dona de casa.E o simpático Seu Alberto concorda. - Se ela me contar o segredo eu não venho mais aqui - ameaça.

Caroline Ribeiro

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Page 8: Revista Sou Rio

UM ILUSTRE DESCONHECIDOMarcus Vinicius Rodrigues da Silva tem 17 anos, orgulho de ser morador da Baixada Fluminense e acredita que a região é berço de uma forte cena de produção cultural

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É tarde de sábado. Os ter-mômetros do bairro Rocha Sobrinho, em Mesquita, na

Baixada Fluminense, deviam estar marcando uns 35 graus Celsius. Marcus Vinícius me recebe na Rua Soledade, apelidada entre os mora-dores de “Rua Meio a Meio”, por ser metade pavimentada e metade calçada com paralelepípedos. Sou confundida pelo vizinho Reginal-do, que entra quintal afora, com a amiga baterista de Marcus, minha xará. Aqui ele é Marcão. Inquieto, reservado, mas conversador. Assim ele se define. Os amigos de infân-cia, Gabriel e Gi00ovane, o acham brincalhão.

Caseiro, prefere o sossego ao tumulto da rua, mas não dispensa os eventos que pintam nos finais de semana. Aquariano, os astros ex-plicam o lado humanitário, frater-no. Flamenguista, não acompanha os jogos, mas jura que é torcedor quando se pega ao acaso assist-indo as transmissões. A casa, onde mora com a tia Hilda e o avô José Fabrício, de 86 anos, é simples. A mãe, Dona Lúcia Helena, está na cozinha preparando o almoço, e de lá, reclama, em tom de brincadei-ra, que foi abandonada pelo único filho. Marcus está morando com a tia há cerca de um ano por conta do acesso a internet.

Ele é viciado em redes sociais. Desde 2009, por intermédio do amigo e parceiro musical Ualax, com quem escreve e canta even-tualmente, está envolvido no Movi-mento Enraizados. Lá ele é Marcão Baixada, nome artístico. Começou

Perfil

Page 9: Revista Sou Rio

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com a oficina de produção de áudio, para aperfeiçoar as gravações caseiras. Aprendeu a mixar, samplear e se tornou beatmaker. Hoje é locutor da Rádio e colunista do Portal. Na varanda arejada onde conversamos por cerca de uma hora e meia, ele ainda está tímido. Le-vanta, vai até o quarto e traz o livro “Pelas Periferias do Brasil, volume 5”, organizada pelo escritor, cineasta e apresentador Alessandro Buzo. Na coletânea, publi-cou a poesia Bonde do Trem. De tanto perambular nos vagões da Super Via, veio o nome do blog pessoal: Itinerante. Sem pestanejar, se considera um jovem diferente, que foge ao padrão. “Desarmo-me da lógica comum”, diria Partum, ídolo na música rap. E a música faz parte dele. Aos nove anos, começou a estudar guitarra e ainda hoje se aventura em algu-mas cifras. A poesia também o influencia. Rabisca alguns versos e os transforma em ritmo. Parece ansiar por uma rotatividade no cenário da música rap. Ele é MC. Mas cresceu ouvindo MPB, Djavan. Conheceu o jazz – e logo cita o último vinil comprado, Duke El-lington, da Coletânea Gigantes do Jazz. Ele me con-vida para dar uma volta no bairro. No caminho até a quadra da praça, onde agora, uma vez ou outra, joga basquete – esporte que o levou a conhecer a cultura hip hop - esbarra com Pipoca, segundo ele, “moleque

bom de bola”. O menino franzino cultiva um estiloso moicano, lembrando o talentoso Neymar. Invadimos a quadra e até eu arrisquei alguns arremessos, sem a marcação cerrada do Michael Jordan de Mesquita. No final do nosso bate-papo descontraído ele coloca um boné na minha cabeça, me dá óculos escuros e me fo-tografa com a câmera do celular. Já não era mais o tímido garoto do início da tarde.

Caroline Ribeiro

Page 10: Revista Sou Rio

O Rio de Janeiro é mesmo a cidade maravilhosa. Na capital carioca encontra-

se de tudo, até mesmo tradição nordestina. É na feira de São Cris-tovão que vive um pedaço do Nor-deste brasileiro. São cerca de 700 barracas fixas que disponibilizam toda a modalidade dessa cultura. Lá o visitante encontra artesanato, comidas típicas, trios e bandas de forró, dança, cantores, poetas pop-ulares e repentistas, e ainda pode esbarrar com figuras bastante pe-culiares durante o passeio. O Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas ou Feira

dos Paraíbas, como é popular-mente conhecido, está localizado no bairro de São Cristovão, zona norte da cidade. O lugar atrai em média 300 mil pessoas por mês, que varia entre freqüentadores as-síduos e turistas curiosos. – Costumo vir sempre aqui por toda alegria que o lugar oferece. Essa música tocando o tempo in-teiro um ritmo dançante e a co-mida é um espetáculo – afirma a vendedora Rita Ribeiro. Durante sua breve passagem pela cidade, a paulistana Márcia Rocha resolveu seguir as dicas do amigo Marcos Emílio que pesqui-

sou na internet um lugar diferente para ela conhecer. – Adorei a feira, mesmo sendo um local animado o ambiente é familiar, não me arrependi de ter trazido minha filha. – diz a turista. O funcionamento é a partir das 10h de sexta-feira até às 22h de domingo. Todas as barracas fun-cionam, ininterruptamente, ani-madas por trios, bandas de forró e shows de cordelistas e repentistas em palcos espalhados pelas ruas estreitas do complexo. De terça a quinta-feira os restaurantes abrem no horário de almoço e a entrada custa somente R$3.

A opção carioca para comprar, comer e se divertir ao melhor estilo nordestino

Feira de São Cristovão

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Pra curtir coma galera

Thaís Fukuda

Page 11: Revista Sou Rio

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O início dos primeiros movimen-tos que deram início à Feira de São Cristovão foi em 1945. Nesta época os caminhões paus-de-arara vindo de vários lugares do Nordeste, chegavam ao Campo de São Cristovão trazendo os retirantes nordestinos para trabal-har na construção civil. A animada festa regada a muita música e comida típica, gerada pelo encontro dos recém-chegados com parentes e conterrâneos, deu origem à Feira, que permaneceu ao redor do Campo por 58 anos.

História da Feira

Pra curtir coma galera

Um estabelecimento chama atenção entre restaurantes e pistas de dança a céu aberto. O Bazar da Cantoria é uma espécie de espaço para calouros, onde qualquer

pessoa pode gravar um cd, pagando apenas R$2 por música. – É uma coisa diferente em se tratando de feira. Às vez-es a procura é tanta que fica uma fila de duas horas de es-pera para cantar – conta o proprietário Luiz Paulo Keijok. Depois de algumas cervejas, o ambi-ente fica pequeno para tanto ego dos cantores. – Estou desde cedo fazendo uma homenagem pra minha esposa, vou gravar um cd pra ela com 15 músicas que lembram a nossa história – diz o apaixonado Marcelo Sales casado há 32 anos. O estabelecimento existe desde 1998, cinco anos antes de o pavilhão ser reformado pela Prefeitu-ra do Rio. Após sua estruturação, o complexo passou a oferecer ao visitante mais conforto e segurança, com banheiros públicos e estacionamento. – As coisas estão bem melhores, ag-ora não é preciso montar e desmon-tar o equipamento todo dia - lembra Keijok.

Bazar da Cantoria

Page 12: Revista Sou Rio

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ENTREVISTAMARINA BARROS

“QUEM TEM NÃO DÁ VALOR”

A turismóloga diz que o carioca não sabe aproveitar o Rio de Janeiro

Formada em Turismo pela FGV, Marina Barros de Melo é uma apaixonada

pelo Rio de Janeiro e conhece a fundo o que essa cidade tem a ofer-ecer. Ela já viajou para diversos lu-gares fora e dentro do país, porém é na capital carioca que se sente real-mente em casa. Marina dá dicas do que fazer na capital e fala sobre al-guns problemas de acessibilidade.

SOURIO - Acredita que o cari-oca não conhece sua região?Marina Barros - Quem vem de fora fica impressionado com a quantidade de programas interes-santes para se fazer no Rio de Ja-neiro, como shows, peças, apre-sentações de dança, competições esportivas, passeios ecológicos e quase tudo que se possa imagi-

nar. E o melhor é que para uma capital, os custos de muitas des-sas atrações não chega a ser alta para grande parte da população.No entanto, quem tem não dá val-or. O carioca se esquece de tudo que pode fazer em sua cidade.

SOURIO - Qual a importância de expandir o turismo interno... levar o morador da Zona Sul para a Zona Oeste, o morador da Zona Norte para a Baixada, por exemplo?Marina Barros - É de enorme importância expandir o turismo interno, pois o carioca se limita muito a sua região. Muita coisa passa despercebido no dia a dia agitado do carioca, ele não des-perta para o potencial turístico e cultural que a cidade tem, tanto no centro, como nas zonas sul, norte

e oeste e até na Baixada Flumin-ense. As vezes o próprio morador não vê atrativos no seu bairro. Mas se ele decide fazer um pas-seio, descobre o rico patrimônio que existe na região onde mora. SOURIO - Como promov-er lugares populares e de boa qualidade no Rio de Janeiro?Marina Barros - Em primeiro lu-gar o ponto deve ser um lugar onde as pessoas se sintam seguras e o am-biente seja agradável. É necessário também um bom marketing e acessibilidade no transporte.

SOURIO - O transporte como forma de acessibilidade à di-versos pontos atrai e integra as regiões? De que forma?Marina Barros - Sim, se for

Por Thaís Fukuda

Page 13: Revista Sou Rio

ENTREVISTAMARINA BARROS

acessível o usuário muitas vezes vai conhecer outras regiões por ter facilidade em chegar até ela. Mesmo que demore um pouco às vezes vale a pena conhecer outros lugares da Grande Rio.

“Acho que o carioca não

sabe aprovei-tar a cidade”

SOURIO - Você acredita que o governo do Rio oferece progra-

mas culturais acessíveis a maioria? Marina Barros - Sim. Há diversos programas interessantes para fazer aqui como olhar as estrelas e os planetas nas sessões de cúpula do planetário ao som de música clás-sica ao Vico; passear na Floresta da Tijuca e fazer um churrasco; subir a Pedra da Gávea; fazer uma visita ao Museu de Arte Moderna (MAM) ou aos muitos centros culturais da cidade; passear de bonde em Santa Tereza e visitar os ateliês de artistas desconhecidos; correrno caminho Cláudio Coutinho, na Praia Ver-melha, tomar um chop na Rua do Lavradio; conhecer os inúmeros bares e restaurantes da Lapa em

que se pode comer petiscos e beber uma caipirinha enquanto se ouve ao melhor da música brasileira. Esses são apenas alguns dos exemplos.

SOURIO - Na sua opinião o carioca sabe aproveitar o que sua cidade oferece?Por quê?Marina Barros - Acho que o carioca não sabe aproveitar a ci-dade. Porque muitas vezes ele se restringe a sua região. Ele precisa despertar para a vida cultural e o entretenimento de qualidade que a cidade maravilhosa pode oferecer. Claro que a violência nos impede de ir e voltar com facilidade, mas há sempre várias alternativas.

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Page 14: Revista Sou Rio

O parque estadual da Ser-ra da Tiririca hoje é um pólo de ecoturismo e

lazer de Niterói. Com 2.260 hec-tares, ele protege áreas naturai e é palco de grandes aventuras. Entre as categorias de esportes possíveis o rapel, modalidade esportiva de descida em corda, se destaca, devido à geografia dos grandes paredões. Após uma leve caminhada de 30 minutos, acessível também para crianças, chega-se a esse paraíso, que mais parece um anfiteatro natural. Ideal para quem quer relaxar e contemplar a natureza ao som do mar. E aos

sentir o respingar da água que quebra nas pedras. – Valeu a pena encarar o medo de descer a Garganta do Diabo, a sensação é incrível.- admite o aventureiro Marcos Paulo. O rapel pode ser feito até mes-mo pelos mais inexperientes e a maior parte dos acidentes que ocorrem acontece por erro hu-mano, seja por má utilização ou falta de manutenção do equipa-mento ou mesmo por negligen-cia do praticante. – Se tudo for feito com segu-rança será uma experiência inc-rível - garante Costa.

que procuram adrenalina essa é a hora de preparar o equipa-mento. – Sempre cheque o seu equi-pamento de segurança – reco-menda Francisco Costa, guia e instrutor da expedição. As descidas de rapel podem ser feitas em três vias, a primeira são 12 metros de rapel em posi-tivo, onde os pés do participante têm contato com a parede. A se-gunda de 17 metros, metade é feita em negativo, ou seja, em vãos livres. E a última conheci-da como garganta do diabo são 31 metros, todo em negativo, quando se chega ao final pode

Pra Radicalizar

Rapel em Niterói

Aventura cercada de exuberante beleza natural

14Thaís Fukuda

Page 15: Revista Sou Rio

primeiro no ranking estadual. - Os ventos vindos do norte são mais quentes, o que per-mite um vôo de cross, que é como decolar aqui e ir voando até outros municípios próxi-mos - explica o instrutor de vôo livre, Gerci Trevenzolli. A Serra também é uma das mais procuradas por prati-cantes. A subida a pé para a rampa de decolagem dura em média três horas e é indi-cada para os mais experientes. - É um trajeto pesado e deve ser feito sempre em grupos – aconselha Gerci. Na maioria dos casos, o aces-so ao local é feito por uma es-pécie de gaiola, um carro tubu-lar leve e com tração traseira, que em cerca de 40 minutos leva o visitante até o topo. Embora não exista um tra-

A Baixada Fluminense é uma localidade popu-larmente marginali-

zada. O que muita gente não sabe é que a região é um pólo em potencial para a prática de turismo ecológico e esportes radicais. O lugar é uma opção diferente para quem já conhece pontos famosos do Rio e está em busca de outras alternativas. O atrativo para os aven-tureiros é a oportunidade de viver uma nova experiência. - Aqui há uma imensa área de trilhas que passam por serras e florestas ainda pouco exploradas - afirma o instrutor e professor de educação física, Carlos Lima. As correntes de vento fa-voráveis da Serra do Vulcão, em Nova Iguaçu, propiciam a práti-ca de asa delta, e fazem desse o segundo melhor ponto do país e

balho consistente de promoçăo turística por parte do poder público e nem o vôo livre ten-ha se tornado um símbolo da cidade, as qualidades de vôo săo inegáveis. Raffael Cord-eiro, auxiliar administrativo e morador de Nova Iguaçu, acredita que o lugar merece uminvestimento oficial, já que a iniciativa para a visitação parte de grupos de instrutores. - Eles arrecadam dinheiro para a manutenção da estrada de acesso e uma vez ao ano se reúnem para subir - conta. A Serra, certamente, tem po-tencial para o turismo. Do pico é possível ver toda a cidade de Nova Iguaçu, cidades ao entor-no e parte da Baía de Guanabara. - A vista não perde em nada para a famosa Pedra da Gávea – afirma Raffael.

Vôo livre em Nova Iguaçu

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Experimentando novos ares Caroline Ribeiro

Page 16: Revista Sou Rio

Quer ouvir música boa e de qualidade? Quer assistir ao ar livre uma encenação de teatro ou dança? Comer e beber nos mais variados bares? Fazer compras de todos os tipos? E que tal

fazer tudo isso no mesmo lugar ou ainda, ao mesmo tempo? Assim ac-ontece na feira mais charmosa e uma das mais antigas do Rio de Janeiro. Através do comércio de antiguidades da Rua do Lavradio, muitas históri-as são relembradas, recomeçadas ou continuadas. Em barracas, lonas e lojinhas cerca de 400 expositores se reúnem e vendem seus produtos, entre objetos antigos e usados que vão desde anéis de prata da década de 20 até enormes e lindas cristaleiras, tudo com muito conteúdo e história. Mas há também espaço para as últimas tendências, como a sa-patilha florida que a estudante Marina Bueno vai levar pra casa. - Já tinha visto uma parecida, mas não sabia de onde era, foi uma sorte encontrá-la aqui – comemora a jovem. Serviços como restauração de mobiliário, consertos de lus-tres, estofamento e pinturas personalizadas também são ofereci-dos. Entre uma barraca e outra é possível assistir a performace da vendedora Tereza Queiroz declamando trechos das obras de Ghandi en-quanto demonstra 10 maneiras de usar o que, a princípio, seria um colar. Esse é o charme da feira. Gente de todas as tribos se jun-ta, mistura e acrescenta, sem preconceitos. Além do privilé-gio de estar a um pulo da Lapa, reduto carioca do samba, onde a cada esquina há um bar e a cada bar uma roda e cerveja gelada.

Feira do Lavradio

História

A Rua do Lavradio tem uma importância

cultural e arquitetônica que data do iní-

cio do século. É uma das primeiras ruas

residenciais da cidade, e foi moradia e

local de encontro de poetas, escritores

tipógrafos, políticos e artistas que fizer-

am a história do Rio de Janeiro. Uma vis-

ita à Feira do Rio Antigo é também a oc-

asião apropriada para apreciar a beleza

das fachadas de arquitetura neoclássica.

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Pra Torrar a Granaana

Há 14 anos, a feira é um dos eventos gratuitos mais prestigiados da cidade do Rio

Enila Bruno

Page 17: Revista Sou Rio

O passeio até a Ilha de Paquetá pode ser feito nas tradicionais barcas, em via-

gens de 60 minutos, ou em aerobarcos ou catamarãs, que fazem o trajeto em

apenas 20 minutos. O embarque para a Ilha é feito no cais da Praça XV, no Cen-

tro do Rio. Lá, as principais atrações são a charrete e o passeio de pedalinho.

Ilha de Paquetá

O casarão, localizado no bairro das Laranjeiras, foi construído no início do século passado. Era

uma cabaré de luxo que funcionou até meados dos anos 80. Hoje, a Casa Rosa é um conhecido

Centro Cultural. Durante a semana, recebe moradores do bairro e pessoas da comunidade local

para oficinas e rodas de poesia e saraus. Nos finais de semana tem uma programação variada

de samba, forró, rock, MPB, chorinho e música regional, em eventos que reúnem um público

bastante variado. A Casa Rosa fica em Laranjeira, Zona Sul da cidade do Rio, na Rua Alice, nº 550

Centro Cultural Casa Rosa

17

DIC

A

CERTA

Page 18: Revista Sou Rio

O Pólo Gastronômico da Via Light é um complexo de bares e restaurantes que oferecem

atrações musicais e culinária variada. O ambiente já é um sucesso, principalmente em dias

de jogos de futebol, quando há transmissão das partidas em alguns estabelecimentos. O

Pólo fica na Via Light, nº 351, Nova Iguaçu, e funciona de terça a domingo, das 12h às 4h.

O Museu de Arte Contemporânea é um dos postais principais da cidade de Niterói. O visi-tante pode desfrutar de extraordinárias vistas panorâmicas fora do museu, no pátio, ou dentro do museu através do anel de janelas que divide este gigantesco prato de concreto em duas faixas. O MAC fica no Mirante da Boa Viagem, em Niterói e a entrada custa 5 reais.

MAC

Fundição Progresso

A Fundição é um centro cultural localizado em um prédio histórico no coração da Lapa. Contrapondo com a arquitetura antiga, a filosofia artística da Fundição é contemporânea, arrojada e independente. O enorme casarão, que começou a ser construído no século XIX, conta com espaços, onde ocorrem ensaios, fes-tas, filmagens, aulas, eventos corporativos e shows. Os preços variam de 30 a 70 reais e a Fundição fica na tradicional e famosa Rua dos Arcos, na Lapa.

O Centro Cultural Banco do Brasil tem um volume de frequentado-res comparável ao de outras grandes instituições culturais do mundo. Nos vários campos da arte, o CCBB consegue atingir um público am-plo, com os mais dinstintos níveis de interesse. O Centro Cultural está localizado na Rua Primeiro de Março, número 66, no Centro do Rio de Janeiro.

CCBB

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Page 19: Revista Sou Rio

O Pólo Gastronômico da Via Light é um complexo de bares e restaurantes que oferecem

atrações musicais e culinária variada. O ambiente já é um sucesso, principalmente em dias

de jogos de futebol, quando há transmissão das partidas em alguns estabelecimentos. O

Pólo fica na Via Light, nº 351, Nova Iguaçu, e funciona de terça a domingo, das 12h às 4h.

Pólo gastronômico

Palácio do Catete

No Palácio passaram nada mais do que 18 presidentes da

República e ocorreram alguns dos mais importantes acon-

tecimentos de toda a história do país. Após a mudança da

Capital Federal para Brasília, em xxxx, foi transformado em

museu. O local, além de uma intensa agenda cultural, conta,

ainda, com livraria, bar, restaurante, loja de variedades e um

jardim. O Palácio fica na Rua do Catete, nº 153, Zona Sul do Rio.

O Circo está localizado logo abaixo dos Arcos da Lapa, e é considerado um dos principais espaços para

shows na cidade do Rio. O ambiente é simples, composto pelo palco, bar e uma pista onde o público

eclético comparece para ver as atrações. Além dos shows de rock, pelos quais a casa se tornou famosa

a partir dos anos 80, o Circo abriga performances de dança, teatro, poesia, pintura, cinema e vídeo.

Circo Voador

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Page 20: Revista Sou Rio

Santa Teresa sempre foi conhecido como um bair-ro boêmio, famoso pela

presença de estilistas, artistas plásticos e escritores, e mar-cado pelo seu peculiar con-junto arquitetônico. Desde os tempos do Império, frequentar o local era sinônimo de sta-tus. A implantação do sistema de bondes, em 1896, trouxe ainda mais charme ao bairro carioca e tornou-se uma refer-

ência como ponto turístico. O plano inclinado que fazia o transporte da Rua do Riachuelo até o Largo do França já não conseguia atender ao crescente número de passageiros. Assim, em 1986, foi inaugurada uma linha à tração elétrica, que faria o trajeto do Largo da Carioca até Santa Teresa, passando sobre o antigo Aqueduto da Carioca, hoje os Arcos da Lapa. A partir de então, com menos de R$1, foi

possível seguir pelas ladeiras do bairro e conhecer pontos turís-ticos como a Igreja e o Conven-to de Santa Teresa, o Largo do Curvelo e o Parque das Ruínas.Ao longo de sua existência o sistema chegou a ter em oper-ações mais de 35 veículos, ini-cialmente, pintados de verde. Os bondes só tornaram-se os famosos amarelinhos, depois que moradores reclamaram que os veículos não se desta-

BONDINHODE SANTA TERESAOs 115 anos de um símbolo da história do RioCaroline Ribeiro

Page 21: Revista Sou Rio

cavam em meio à vegetação do bairro. O Bonde de Santa Teresa foi reconhecido como Patrimônio Cultural, em 1988 e foi a última linha do país a interromper sua circulação.

“O sistema modificou o cotidiano e o comporta-

mento das pessoas”

A representante da empre-sa Riotur, Mônica Sanches, afirma que o bondinho sem-pre exerceu uma função importante para a cidade. - O Bonde sempre foi um atrativo para visitantes e tu-ristas estrangeiros – afirmou. A estudante de pedagogia Teresa Barbosa, que mora no bairro há um ano e meio, acredita que muitos cari-ocas não conhecem o bairro e nunca andaram de bonde. - Isso é uma pena porque Santa Teresa é um lugar in-

crível. Acho que mais turistas andaram nos bondinhos do que os próprios cariocas - opina. O bonde foi um elemento fun-damental no desenvolvimento do Rio de Janeiro. O sistema modi-ficou o cotidiano e o comporta-mento das pessoas ao introduzir uma nova maneira de andar pela cidade e proporcionar formas de interação social até então impen-sáveis. Muitas obras literárias da virada do século XIX para o XX remetem às mudanças de cos-tumes geradas pelos bondes. “Na roça, é tomando café que se esta-belecem e estreitam as relações; na cidade, é viajando no mesmo bonde que se consegue isso.” - afirmava o poeta Olavo Bilac nas crônicas dos jornais diários. Os bondinhos continuavam at-endendo à população da região até agosto deste ano. De acordo com a Secretaria de Comuni-cação do Estado do Rio de Janei-ro, alguns moradores preferiam usar os bondes a utilizar outros

meios de transporte porque po-diam pagar mais barato. Mas muita gente ainda gostava de pegar carona. A dona de casa Augusta de Souza, moradora de Santa Teresa há mais de 40 anos, lembra das pessoas que se aproveitavam da pouca veloci-dade do bonde para se pendurar. - Até hoje alguns meninos se ar-riscam - ri. A valorização que vem ocorrendo no mercado imobil-iário do bairro é resultado da revitalização da região central da cidade. Para Tomas Martin, mestre em antropologia e pro-fessor da Universidade Veiga de Almeida, esse processo está construindo uma imagem do Rio, que cruza patrimônio cul-tural arquitetônico e manifes-tações culturais cariocas. “O bonde de Santa Teresa nesse sentido, condensa história e memória. Faz uma conexão com o Rio antigo.” - afirmou em entrevista para a BBC Brasil.

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O acidente com o Bonde de Santa Teresa levan-tou a discussão sobre

as políticas públicas que at-endem ao sistema, e suspen-deu por tempo indeterminado o funcionamento do meio de transporte que comple-taria 115 anos, em 28 de ago-sto, um dia após o acidente. As primeiras conclusões sobre o caso, que deixou 57 feridos e seis mortos, apontaram para a superlotação do veículo, que teria capacidade para transpor-tar no máximo 40 passageiros. O laudo pericial do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) sinalizou o excesso de passageiros como agravante (no momento do acidente, o bonde transportava 62 pas-sageiros, 50% a mais que o permitido) e apontou 23 falhas no sistema. Segundo o docu-mento, o veículo não tinha condições para circular e o aci-dente ocorreu por problema no sistema de freios, gerado por falta de manutenção preventiva. O governador do Rio, Sérgio Cabral, reconheceu que falta

controle sobre o número de passageiros e que os bondes es-tavam sucateados. “A verdade é que é a frota dos bondinhos é uma frota sucateada. É uma frota onde foram reformados alguns bondes e outros não.” – admitiu à imprensa, três dias após o acidente. Cabral tam-bém informou que foi realizado um investimento para a recu-peração dos veículos e trilhos.

“Foi uma tragédia anunciada”

A empresa TTrans entregou, até 2009, sete bondes refor-mados, pelos quais recebeu R$ 9 milhões. O contrato previa a reforma de 14 bondes, com uma verba de R$ 14 milhões. Mas, somente R$ 8,6 mil-hões foram usados para a con-versão dos bondes em Veículos Leves Sobre Trilhos (VLTs). A presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), Elzbieta Mitkiewicz relatou que os prob-

O CHARME SAIU DOS TRILHOS

lemas são recorrentes há déca-das. “O que aconteceu foi uma tragédia anunciada”. – afirmou a presidente ao portal G1 no dia seguinte ao acidente. Ela conta que a Associação está cobrando ações do Ministério Público, do governo e da empresa re-sponsável desde fevereiro. - Caso medidas de fiscali-zação, manutenção e cum-primento das normas de se-gurança não sejam tomadas, outros acidentes poderão acon-tecer – acredita Marieta Novaes, representante da Associação.

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Cerca de dois meses após o acidente, as duas lin-has de ônibus que es-

tão substituindo os bondinhos começaram a circular. O serviço deve funcionar durante um ano e meio, até que os tradicionais meios de transporte voltem a operar normalmente. A criação das linhas foi uma determinação do prefeito do Rio, Eduardo Paes, para atender à solicitação dos moradores, que alegavam que o transporte no bairro ficou prejudicado desde que as com-posições pararam de funcionar.- Agora está bem melhor. Os ônibus estão passando até tarde pelo mesmo preço do bondinho

e descem pela Riachuelo, o que é ótimo para quem vai para a Lapa - comemora a técnica em enfermagem Karine Soares.

“Não será possível manter o estilo

tradicional do bonde” O governador Sérgio Cabral anunciou, no início de novem-bro, que pretende entregar, em 2013, um novo sistema de bondes, com um investimento inicial de R$ 40 milhões. Seg-undo Eduardo Macedo, presi-

FUTURO

dente da Central (Compan-hia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística), não será possível manter o estilo tradicional. “A troca dos trilhos torna inviável a permanência do antigo modelo” – explicou, em declaração para o Jornal O Dia.Outra questão é o que será feito com os bondinhos anti-gos. Uma sugestão dos mora-dores é que os carros fiquem expostos para visitação. - O ideal é que eles fossem res-taurados e tivessem manutenção frequente para funcionar com segurança - afirma a Débora Ler-rer, representante da AMAST.

OUTROS ACIDENTES

Em junho deste ano, um turista francês morreu depois de cair de um

bonde que passava sobre os arcos da Lapa. Em Novembro de 2007, quando técnicos da TTRANS realizavam testes com o primeiro bonde modernizado dentro da oficina, o veículo per-deu o freio e atingiu um fun-cionário. Dois anos depois, em 2009, um outro acidente com um dos bondes modernizados provocou a morte de uma pas-sageira e deixou, pelo menos, sete pessoas, após uma colisão com um táxi.

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A população carioca passa diariamente por tran-stornos relacionados

aos meios de transporte, que fi-cam ainda mais evidentes com a proximidade da Copa do Mun-do de 2014 e os Jogos Olímpi-cos de 2016. A superlotação nos trens e nas barcas, a capacidade insuficiente das linhas de metrô e os extensos congestionamen-tos nas principais avenidas são os problemas mais recorrentes da mobilidade urbana na cidade. A Transcarioca, também chamada de T5, será um pro-jeto de BRT, sigla que, em in-glês, define os corredores de ônibus (Bus Rapid Transit) inte-gra o conjunto de obras viárias planejadas pela Prefeitura do Rio para estruturar o sistema de transportes a fim de viabi-lizar os eventos esportivos que serão sediados na cidade. A obra é um corredor expresso de 41 km que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internac-ional Tom Jobim, passando pe-

los bairros de Jacarepaguá, Cu-ricica, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Car-valho, Penha e Vila da Penha. A previsão é que a nova via ex-pressa atenda cerca de 350 mil passageiros por dia e permita que o trajeto Barra-Penha seja percorrido em 47 minutos, ao invés dos 96 atuais. A estima-tiva de custo inicial foi de R$ 730.498.256,86 e a previsão é que a obra seja concluída em 2013, três anos após seu início. - A Transcarioca é um com-promisso da prefeitura e, por isso, há um esforço para que seja tudo feito segundo o cron-ograma estipulado - revelou o secretário municipal de obras, Alexandre Pinto da Silva, em en-trevista ao Jornal Extra Online. A linha exclusiva por onde vão passar ônibus articulados – com capacidade para pelo menos 160 passageiros cada um - inaugura um novo conceito de

transporte público na cidade, integrando metrôs, trens, ter-minais rodoviários e ciclovias. Alexandre Pinto, explicou ao site da Prefeitura do Rio que a Transcarioca está dividida nos lotes 1 (Barra-Penha) e 2 (Pen-ha-Galeão). O projeto prevê a construção de viadutos, um de-les sobre a Avenida Brasil, e de uma ponte que ligará a Ilha do Fundão à Ilha do Governador. As obras da T5 vão mudar a cara da cidade para quem chega ao Rio através da Avenida Brasil ou da Linha Vermelha. De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio, serão con-struídas 46 estações BRT, quatro mergulhões, dez viadutos e nove pontes. Além disso, o projeto contemplará os bairros afeta-dos com novas calçadas, mure-tas, praças e iluminação públi-ca. Contará, principalmente, com a diminuição do preço da passagem e com a urbani-zação da área ao redor da obra.

TRANSCARIOCA

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Jéssica Reis

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A polêmica gerada pela desapropriação de im-óveis em áreas resi-

denciais em função de pro-jetos de infraestrutura para eventos esportivos chegou à Zona Norte. A Transcarioca irá afetar diretamente a rotina da população. As expectativas pela conclusão e o andamento do projeto vêm causando dis-cussões e dividindo opiniões. Os insatisfeitos com as obras, que são diretamente afetados, estão se pronunciando através das associações de moradores. O bairro de Olaria é um dos principais atingidos com a mu-dança. Moradores da região fundaram uma entidade para acompanhar o projeto e re-uniram mais de 4 mil assinatu-ras, reivindicando a alteração do traçado. Eles querem que a BRT siga pela Rua Uranos e chegue à Avenida Brasil por uma via, a ser aberta, paralela à Linha Amare-la. Em contrapartida, o projeto prevê a saída da Penha seguindo pela Estrada Engenho da Pedra para chegar à Avenida Brasil. - Não tem sentido desalo-jar milhares de moradores de uma área residencial - afir-ma Marcos Saldanha, líder do movimento de Olaria. Já o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ra-mos e Olaria, Jorge Medeiros, reclama da organização do trân-sito e argumenta que o traçado proposto pelos moradores pro-vocaria mais congestionamentos no entorno da Linha Amarela. No bairro de Vicente de Car-

valho, a associação de mo-radores protestou colocando faixas ao longo da avenida. A auxiliar administrativo Gisele Gomes Telles, de 32 anos, cres-ceu na Rua Ouro Fino, próximo a Av. Vicente de Carvalho. Para ela, a obra só tem a acrescentar. - Moro aqui há 32 anos e sem-pre dependi de condução para ir até o trabalho. Daqui para Barra é uma viagem. Sem con-tar os transtornos com ônibus cheio e o preço abusivo das passagens – conta a moradora. Entre as modificações previs-tas, o projeto inclui a eliminação de oito linhas de ônibus e a in-corporação de 33 delas aos tra-jetos integrados à Transcarioca. Outras 28 serão mantidas, duas continuarão operando, e 19 terão seus percursos desviados. -Soube que algumas linhas de ônibus vão mudar de itinerário e outras não passarão mais por aqui. Mas se for para desafogar o trânsito, eu apoio – afirma Gisele. A lista de imóveis que serão desapropriados foi divulgada pelo Diário Oficial do Municí-pio no dia 14 de dezembro de 2009. A principal reclamação dos moradores é a falta de in-formação e o descaso. Entre as insatisfações, há também a questão dos imóveis alugados. Na desapropriação, o inquilino perde o ponto de venda e não recebe parte alguma da indeni-zação, que compete ao locatário. - Eu só lamento pela derrubada da padaria que é tradicional no bairro. E também me preocupo com a travessia da rua, que antes

só tinha duas pistas com faixa de pedestres e sinal. E agora, como vai ficar? – desabafa, Gisele. Segundo a Secretaria de Obras, ninguém foi comunicado antes para evitar especulações imo-biliárias. O montante para os ressarcimentos será de R$ 300 milhões. Assim, o valor médio delas seria de R$ 82.644,62. A assessoria de imprensa da Sec-retaria Municipal de Obras in-formou ao Jornal O Globo que apenas os proprietários em situ-ação regular, com posse do Reg-istro Geral de Imóveis (RGI), serão indenizados. Quem não possui o registro passará por uma avaliação, que será feita pela Secretaria de Habitação. Caso o proprietário não concorde com a avaliação proposta pelo município, a indenização será deposi-tada em juízo e o poder ju-diciário decidirá a questão. - Vale lembrar que, pela Consti-tuição, o bem público possui su-premacia sobre o privado - avisa o Secretário Municipal de Obras, Luiz Antônio Guaraná em en-trevista ao Jornal Extra Online. A Procuradoria-Geral do Mu-nicípio determinará as indeni-zações com a Comissão Especial de Avaliação - criada em 1994, à época dos preparativos para construção da Linha Amarela. A construção da via expressa, aliás, é o único parâmetro de comparação para a construção da BRT. A obra resultou em 783 desapropriações e na remoção de 3.091 famílias que viviam em favelas e terrenos invadidos no traçado de 15 km da autoestrada.

DESAPROPRIAÇÃO

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Há cronogramas a serem cumpridos para todas as mudanças, inclusive para a modernização dos ônibus, com a obrigação de chegar a 2016

com cem por cento dos veículos dentro do novo pa-drão. De acordo com a Fetranspor, até as Olimpíadas, os ônibus terão direção hidráulica, suspensão a ar, es-cadas de acesso rebaixadas, elevador para pessoas com deficiência, motor traseiro (para reduzir a poluição so-nora dentro dos coletivos) e carroceria dupla articulada. Dentre as mudanças que já serão percebidas pelos usuários, logo nos primeiros meses de operação, es-tão a nova identificação dos veículos (com cores pa-dronizadas por região de exploração), o uso de GPS e a instalação de dispositivos de segurança como câmeras de vídeo. Outra novidade que já pode ser usufruída pelos passageiros é o Bilhete Único Cari-oca, no valor de R$ 2,50, que permite a utilização de duas viagens em um intervalo de duas horas e meia entre os embarques, proporcionando econo-mia de R$ 2,50 para cada segunda viagem realizada. Para o prefeito do Rio, Eduardo Paes, depois de 50 anos com o mesmo sistema de transportes, a ci-dade vive um de seus momentos mais importantes.

O Tribunal de Contas da União (TCU) quer que a prefeitura apresente licenças ambientais para liberar R$ 500 milhões de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção da Transcar-ioca. Já a Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca), liberou a prefeitura de contratar um estudo de impacto ambien-tal (EIA/Rima). Depois de longa negociação, o BNDES confir-mou o financiamento de R$ 1,1 bilhão. O custo do projeto chega a R$ 1,3 bilhão dos quais R$ 1,1 bilhão são financiados pela in-stituição e R$ 220 milhões são uma contrapartida da prefeitura. - Há 30 anos, o Rio espera para começar essas obras que interligam todo o sistema de transporte público. Além disso, conseguimos o empréstimo em boas condições. Ao contrário de outras cidades, o Rio fará a amortização em mais tempo, e terá que desembolsar R$ 131 milhões de contrapartida. Percentual inferior ao exigido para outros municípios - disse Luiz Antônio Guaraná em entrevista ao Jornal O Globo.

FACILIDADES

FALANDO EM CIFRAS

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Se você quer comprar bara-to, o Mercadão de Ma-dureira com certeza é o

melhor lugar. Entre produtos de beleza, itens de decoração e artigos religiosos, o merca-do oferece uma variedade de produtos e serviços a preços altamente competitivos no mer-cado do atacado e do varejo. São mais de 580 lojas que atraem cerca de 80 mil pessoas por dia. Próximo ao centro comercial de Madureira e à estação de trem,

o Mercadão passou a ser um símbolo do comércio da cidade. Apesar de ser considerado um mercado popular, o Mercadão é local de convergência social. A aposentada Silvia Guedes con-firma isso e se considera cliente fiel do lugar. Moradora da Bar-ra da Tijuca, hoje aos 63 anos, ela fabrica bombons caseiros. - Eu tiro um dinheirinho por fora com os meus bombons e ainda me divirto fazendo o que eu gosto. Devo isso ao Mer-

MAIOR MERCADO POPULAR DO BRASIL É O XODÓ DE MADUREIRA

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cadão, que vende tudo o que eu preciso sem que eu tenha que ir para o Centro. Saio da Barra para a Rodoviária de Madureira e pronto, já estou no Mercadão – afirma Silvia. O Mercadão de Madureira fica na Av. Ministro Edgard Rome-ro, nº 239, em Madureira e fun-ciona de segunda à sábado de 6h às 19h e domingos e feriados de 7h às 12h. Vale à pena conferir!

Jéssica Reis

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Em 2009, o Mercadão ganhou

o Prêmio Mérito Ambiental do

Centro de Literatura do Museu

Histórico do Exército e Forte de

Copacabana. O mercado pos-

sui um eco ponto com sistema de

captação e tratamento da água

da chuva para uso em sanitários,

produz sacolas retornáveis, trata-

mento parcial do esgoto, coleta

seletiva do lixo, entre outras ativi-

dades de preservação ambiental.

Inaugurado em 1914 como uma feira livre ponto de venda de produtos agropecuários, era localizado na quadra do Império Serrano. Em 1959, com a moder-nidade eminente do governo JK, foi inaugurado em 18 de dezem-bro no mesmo local que é hoje.Em 2000 um incêndio destruiu

por completo o Mercadão e em 5 de outubro de 2001, finalmente,

o maior mercado popular do país reabre suas portas.

História

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Mais carioca, mais brasileiro que ele, im-possível. Nasce no morro e no asfalto, no subúrbio e na Zona Sul. O samba é um

só. A alma do carioca.Cai bem com churrasco, feijoada, com cerveja gelada. Cai bem na sexta, no sábado. Nas ruas com o carnaval passando, nas rodas com al-guém improvisando.Consagrou Noel, Cartola, Caymmi, Ary Barroso, Adoniran. Ou seria o contrário?O tamborim ecoa e o pandeiro batuca. O cavaco grita, a cuíca chora e os poetas cantam.Não precisa nascer na Portela, nem ter frequentado o Cacique de Ramos. Não precisa ter sido criado nas rodas de samba do Rio pra se fazer em qualquer uma delas. O samba é resistência, criação. Tem ginga, suingue e poder duplamente incansável de seduzir e libertar.É paixão que floresce e arrepia da cabeça aos pés. É paixão corre-spondida e transparente.Eu quero mais é samba miudinho, samba de partido alto. Eu quero mais é muito samba.

Eu quero mais ésamba

Caroline Ribeiro

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