revista unifica - segunda versão

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Revista UNIFICA |1 Evandro Otura Airá Ifanilorun Babalawô dá entrevista marcante Igualdade Racial & Tolerância Religiosa De mãos das por um mundo melhor Ano I - Nº 1 - Fev/Mar de 2013 Ogunda Masa Diz Ifá que neste odu nasce a UNIÃO entre os HOMENS É a UNIÃO que faz a FORÇA!

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Revista sobre religiões de matrizes africanas.

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Revista UNIFICA |1

Evandro Otura Airá IfanilorunBabalawô dá entrevista marcante

Igualdade Racial&

Tolerância ReligiosaDe mãos das porum mundo melhor

Ano I - Nº 1 - Fev/Mar de 2013

Ogunda MasaDiz Ifá que neste odu nasce a UNIÃO entre os HOMENS

É a UNIÃO que faz a FORÇA!

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5 EditorialApresentação da revista

7 EntrevistaCom o Olwo Siwaju EvandroOtura Airá

16 CandombléIncêndio criminoso na Roça doVentura, na Bahia

19 UmbandaA nova cara da Umbanda noBrasil e no mundo.

22 Igualdade RacialSeppir capacita jovens emdireitos quilombolas

24 Coisas de MulherPolíticas Federais voltadaspara os direitos das mulheres.

26 Baralho CiganoO que dizem as cartas

29 PerfilConheça um pouco da históriade Gaiaku Luíza.

34 AgenAfroFique por dentro dos eventosreligiosos e marque-os em suaagenda.

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Revista Unifica também online

www.revistaunifica.com.br

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Revista Unifica - Chegando parafazer uma história diferente

Marcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoAwô Ni Orunmila Ogbe Ate IfaIrawô (Babalawô)Coordenador Geral do CENEditor

A Revista Unifica é o reflexo do que acreditamos. Prega-mos, militamos e atuamos em prol da unificação das reli-giões de matrizes africanas em todo o país. Acreditamosque as diferenças só fortalecem a diversidade, mas nãopodem servir como elemtnos de divisão.

Entendemos que há uma relação íntima e extremamentepróxima entre o Culto de Ifá, o Candomblé, a Umbanda etodas as outras tradições que têm como base fundamentala crença em Olodumare/Olofin como Deus Supremo enos Orixás como manifestações distintas deste Deus Cria-dor.

Temos a firme convicção que nossas diferenças são artifi-ciais e foram construídas ao longo de centenas de anospara que não nos fortalecêssemos como grupamentos éti-cos e nem mesmo valorizássemos nossa raíz comum. Pois,independente de qualquer diferença o que nos une é aorigem comum africana e a história de garra e resistênciaque construíos no Brasil.

Somos ketu, angola, gêge, mahin, mas, antes de tudo so-mos filhos e filhas de Exu, Ogun, Xangô, Oyá, Oxum,Yemonjá, Oxossi e todos os outros Orixás que compõem obelo Panteão Yorubá.

A percepção que esta cosmovisão nos origina a todos éque nos faz pensar que precisamos somar forças e cons-truir entre nós a unidade buscando a unificação de pensa-mentos e ações, mesmo que valorizemos as diferençasritualísitcas e litúrgicas.

Temos como origem comum o Candomblé, somos prati-cantes do Culto de Ifá e respeitamos toda a base constitu-inte da Umbanda e isso, por mais paradoxal que possaparecer significa exatamente que somos todos praticantesde um único culto só que é aquele que acredita nos Orixáse em todas as forças da natureza.

É por acreditar nisso que lançamos esta revista, imaginan-do que ela servirá como ponta-de-lança para a constitui-ção de uma nova política de relacionamento entre as vári-as tradições religiosas, começando pelo Rio de Janeiro eseguindo, posteriormente, para o restante do país.

Jacqueline CostaJacqueline CostaJacqueline CostaJacqueline CostaJacqueline CostaApetebi Ni Orunmila, Iyalorixá,Editora

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Oluwo Siwaju da mais tradicional família de Ifá do Rio de Janeiro,Evandro Luiz de Carvalho Otura Airá Ifá N’Lorun, o Babalawô nosconcede entrevista para desmistificar questões fundamentais liga-das ao Culto de Ifá no Brasil.

Profundo conhecedor dos cultos afro-brasileiros Evandro Otura Airáprega a integração destes cultos com Ifá pois ele acredita que todospraticam e trazem em si a mesma base religiosa sendo, portanto,qualquer tipo de sepração algo sem sentido.

Nesta entrevista, que terá continuidade no próximo número de nos-sa revista dada sua extensão, o Babalawô desmistifica várias ques-tões e explica outras tantas. Sem dúvida, este é um documentohistórico para todos os que têm interesse no Culto de Ifá.

Espero que vocês gostem tanto de ler, como eu gostei de realizaresta entrevista.

Iboru, Iboya, Ibosheshe

Marcio Alexandre M. GualbertoAwô Ni Orunmila Ogbe Ate Ifa Irawô (Babalawô)

O senhor poderia nos explicar deuma forma simples o que é Ifá?

Em Ifá encontram-se os desígnios deDeus/Olodumare para com ahumanidade; as leis morais quedevem ser seguidas na sociedadecom o próximo; os verdadeirosvalores familiares entre pai, e filho,mãe, esposa em prol da construçãode uma família feliz; os mandamentosque dão noção do que é sagrado aosolhos de Deus, que apresentam oslimites que necessitamos ter dianteda vida, nos mostrando, onde somoscastigados, onde somos abençoados,onde fracassamos, onde vencemos,nos mostrando a noção, e oparâmetro do certo, e do errado, dafelicidade, e da tristeza, da riqueza eda pobreza, do que é ser bom, do queé ser ruim, a vida e a morte, do bem eo mal, tudo de acordo com oproposito, e a razão de Olodumare tercriado a humanidade e o mundo.

Quem é Orunmila?

Orunmila é o testemunho de tudo quefoi criado por Olodumare, é o Profetade Deus.

Diz Ifá, que Olodumare quando criouo mundo, ordenou que Orunmilapresenciasse sua criação e que eleseria o detentor de todo o segredo daexistência humana, e que sua missãono mundo seria levar aos homens asalvação através de Ifá, seria oencarregado de transmitir na terraseus desígnios, para que os homenscompreendessem a razão pela qualestariam no mundo e assimbuscassem sua evolução através dodestino que a cada um foisentenciado.

De acordo com tal evoluçãochegariam às respostas, queconsecutivamente dariam condições,e sabedoria de vencer a morteprematura, o infortúnio, as doenças,as tragédias, a perda e o fracasso,alcançando a realização, e ocumprimento de sua missão. Casonão evoluíssem confrontariam com os

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males do mundo, criado porOlodumare na razão de dar sentido àvida, e a seus propósitos comocriador, fracassando assim em suajornada, e teriam que voltar em outravida, com um destino pior, por não tersuperado as provas impostas por seudestino.

Orunmila é um Orixá da culturaYoruba. Orixá da mais alta sabedoria,é o maior Orixá entre os Orixás, dadosua sabedoria e grandeza, e suaimportância com a humanidade.Orunmila foi ha quarta divindadecriada por Olodumare, incumbido damissão de salvar a humanidade naterra. ORUNMILA é tão sábio, que é oúnico capaz de interpretar a palavrade Olodumare (IFÁ).

Orunmila é uma entidade e Ifá é umsistema religioso. Devemos entenderque Orunmila é o interprete entreOlodumare e toda sua criação, oúnico que conhece o principio, e o fimde tudo que existe no mundo.

Dentro de Ifá estão contidos todos ossegredos da vida, e da morte e detodas as coisas existentes no mundo.

Ifá foi onde Olodumare registrou todasua criação. É com auxilio da palavrae sabedoria de Ifá que nos munimosde saber necessário para sairmosvitoriosos dos obstáculos existentesno mundo (infortúnio, tragédias, amorte etc.), e principalmente dodestino que a nós foi recomendado,para, assim conseguir cumprir nossodestino diante do criador.

Ifá é a cosmologia completa docontexto Yoruba. Um sistemadivinatório composto de crençasritualísticas que formam seu contextofilosófico de todo o sistema teológicobaseado na essência do povo Yoruba.

O sistema de Ifá narra a existênciahumana através de pontosfundamentais como: Orixá, quandofalamos de todo o contexto Yorubadevemos ter a consciência que partedele são os Orixás já que os Deuses

Yorubas são os ancestrais divinizadosdo povo Yoruba, suas origens, e seussegredos compõe parte do sistemade Ifá, onde nos deixa claro que averdadeira essência, e segredo decada Orixá provem de Ifá.

O sistema de Ifá, narra parte dosegredo da vida baseado napassagem dos Deuses Yorubas sobrea terra, em contrapartida os Orixáspassaram a existir graças ao sistemateológico de Ifá. É certo dizer que osOrixás nascem de Ifá, pois em seunascimento receberam um Odu parase reconhecer como tal,compreendendo então sua missãocom a humanidade e comOlodumare.

Os Orixás diversas vezes dentro dosescritos de Ifá, recorreram àsabedoria de Orunmila no intuito dese encontrar no mundo. Quero frisara todos que não existe Orixá sem Ifáe nem Ifá sem Orixá, seria umaignorância pensar o contrário já que ocontexto de Ifá é formado por tudoque existe no panteão Yorubainclusive os Orixás, sendo Ifá oprincipio de todas as coisas, a própriacriação divina.

Dentro do entendimento teológicoYoruba, os Orixás foram criados porOlodumare para auxiliar o homem emsua trajetória na terra. Os Orixásrepresentam toda a essência dohomem dividida em divindades. Olófin(Deus/Olodumare) criou a essênciada humanidade, em sexo masculino efeminino com suas virtudes eimperfeiçoes para representar cadauma delas criou os Orixás no objetivode compor cada uma. Desta formaOlófin (Deus/Olodumare) dividiu asdivindades com suas virtudes edefeitos, ele precisava manter aimagem de Deus intacta, e tambémporque deveríamos ser guiados porDeuses que fossem sagrados, masque fossem como nos, espelho e aimagem do homem, em um contextogeral. Dai surgiu Ogum trabalhador,valente, guerreiro. Sua força e seu

raciocínio se apoiariam na brutalidadeonde teria dificuldades em outrosaspectos da vida. Criou Oshum,deusa da sensualidade, do amor, davaidade feminina, da complacência,da mulher intuitiva de grande saber,entendendo também, que da vaidadenasce à inveja, do amor nasce àcarência e assim por diante.

Compreendemos, ao nos depararmoscom a essência de nossos sagradosDeuses que não existe nada perfeitono mundo. Os Orixás são osprogenitores da natureza humana ecada ser humano tem um como basede seu nascimento. De acordo com oOrixá tutelar se explica porque unstem dificuldades para uma coisa eoutros não, uns sofrem mais por ummotivo e outro não. Devemosentender que o papel do Ori nessecenário é manter a razão e oequilíbrio diante de tal naturezainterior. Quando o ser humano vemao mundo, ele vem com seu Oriindividual, raciocínio próprio, masesse raciocínio se limita ao contextoterrestre, logo seu Orixá é inseridoem seu Ori, acoplando ao mesmo aessência inicial (virtudes eimperfeiçoes) de um ser humano quetrilhará pela terra, com rasgoscaracterísticos com seu Orixá tutelare logo recebe seu Odú razão,propósito do nascimento, destino naterra e diante de sua trajetória naterra essas virtudes e imperfeiçoes semanifestam.

Sabemos que todos temos Oriindividual que diferencia um ser

Orunmila é tãoOrunmila é tãoOrunmila é tãoOrunmila é tãoOrunmila é tãosábio, que é osábio, que é osábio, que é osábio, que é osábio, que é oúnico capaz deúnico capaz deúnico capaz deúnico capaz deúnico capaz deinterpretar a pa-interpretar a pa-interpretar a pa-interpretar a pa-interpretar a pa-lavra delavra delavra delavra delavra deOlodumare (Ifá)Olodumare (Ifá)Olodumare (Ifá)Olodumare (Ifá)Olodumare (Ifá)

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humano de outro. O que devemosentender é que nossa essência/basevem de nosso Orixá e por este motivose chama: Orisha alagba tobi. Ifánarra que não há Orixá maior quenosso próprio Orixá. Ori é o serindividual da cada hum, poremdepende de sabedoria para se evoluire de seu Orixá para guiá-lo em suatrajetória terrestre. Quanto mais Orise desenvolve, melhor equilíbrio erazão ele encontrará dentro daessência (virtudes e defeitos)base detodos os seres humanos, fazendo asboas escolhas na vida. Quando Ori éfraco ou debilitado fica vulnerável àparte negativa de sua essência, éonde passa a ser dominadofacilmente em estagio avançadopelos vícios das drogas, bebida, doroubo, da maldade etc. E, em outrosestágio,s tornando-se uma pessoafrágil diante das vicissitudes da vida,não tendo força suficiente parasuperar seus conflitos, fracassandocontinuamente em todos os pontosda vida. Orixá é quem fortalece esseOri, Ifá é quem proporciona asabedoria para que Ori se desenvolvaencontrando forças para se superar eser um vencedor.

Lembrando que nossos Orixás são osresponsáveis por nos guardar nestemundo, eles são encarregados derogar por nos aos pés deOlodumare(Deus).

Ifá também é composto de Egun, queseriam os espíritos de tudo que existeno mundo, os ancestrais, a origem damorte, a reencarnação. Egun sendo aprópria continuidade, já que o espiritonunca morre, se mantem vivo até suareencarnação, a descendência, omundo paralelo aos vivos, inicio detudo, pois da morte nasce a vidacomo a dinâmica da criação.

Sendo assim, o culto a egun éfundamental para todos quepertencem aos cultos Yorubas. Amatéria egun é extensa, em outromomento falaremos mais a fundo.

O passo do ser humano sobre a terra,a forma masculina e feminina, seusconflitos, sua procriação, seu destino,seu nascimento, sua vida e morte, emconjunto com Orixá e Egun, aliado ascrenças, a liturgia religiosa Yoruba, osritos, a filosofia, o maior sistema deadivinhação existente, compõe o quechamamos de Ifá.

É com a utilização do oraculo de Ifáque o Babalawo consulta e seconecta com a espiritualidade dogrande profeta Orunmila e atravésdele alcançamos a sabedoria de Ifá.

O oraculo de adivinhação de Ifá éutilizado de duas formas diferentes,uma é através dos ikins, sendo estamais utilizada nas consagrações, àoutra é com Opele, uma corrente comoito elos de semente sagrada, ondeatravés dele alcançamos aconfiguração que expressa à saídade um determinado Odu de Ifá, peloqual Orunmila estabelece suaadivinhação. Os ikins são dezesseissementes de dendezeiro que sãoutilizadas para configurar um Odu.

Como o senhor vê hoje ocrescimento do Culto de Ifá noBrasil?

Vejo caminhar em ritmo acelerado,mesmo porque, as própriascontradições que existem atualmentecom relação a Ifá, é a prova viva dodesenvolvimento da religião no país.Os questionamentos, ascuriosidades, momento como este, deter a oportunidade de desvendaralguns mitos. Para mim já é umexemplo vivo que me faz crer que embreve teremos um culto que sedesenvolverá em todos os estados dopaís, em harmonia entre os cultosafros brasileiros predominantes noBrasil. Tenho pequenos exemplos emnossa família de Ifá que apontam oscaminhos que a religião vai trilharpara seu desenvolvimento.

Hoje já existem muitoscandomblecistas, e umbandistasiniciados em Ifá, que entendem com

facilidade o propósito REAL de Ifá emnossa sociedade e na religião em umtodo. País e mães de santo queengrandeceram seus conhecimentose multiplicaram seu ashé, tanto emsuas vidas pessoais, como em seustemplos religiosos, com os recursosobtidos em sua iniciação.

Confrontamos hoje em dia com mitoserrôneos com relação ao que seria Ifáde fato, dando uma visão contraria doculto, fazendo com que rotulem Ifá deacordo com tais conceitos. Entendoque através do comprometimento debons sacerdotes em esclarecer elevar a palavra de Ifá, vem trazendoresultados surpreendentes ondetenho a certeza que em breve Ifá seráum culto predominante no Brasilaliado ao Candomblé e à Umbanda.

É possível ser praticante de Ifá epraticar outras religiões ou mesmoreligião alguma?

É importante lembrar que todos osadeptos das religiões afrodescendentes pertencem à mesmareligião, mesmo porque acreditamostodos em OlOdumare como criador.

Talvez sua pergunta fosse a seguinte:praticantes de outros cultos afrosdescendentes podem pertencer a Ifá?Devem! Quero ressaltar que quandouma pessoa pertence a outro cultoela tem a necessidade de pertencer aIfá, exatamente pelo fato de buscarem Ifá seu Odu de destino, ondeatravés do mesmo ela terá condiçõesde desvendar segredos fundamentais

O culto a Egun éO culto a Egun éO culto a Egun éO culto a Egun éO culto a Egun é

Somos todos daSomos todos daSomos todos daSomos todos daSomos todos damesma matrizmesma matrizmesma matrizmesma matrizmesma matrizreligiosa quereligiosa quereligiosa quereligiosa quereligiosa quevem da África,vem da África,vem da África,vem da África,vem da África,da tradiçãoda tradiçãoda tradiçãoda tradiçãoda tradiçãoYYYYYorubá.orubá.orubá.orubá.orubá.

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que lhe dará auxilio para buscar apaz, a tranquilidade, a saúde, oprogresso e, principalmente, seencontrar como pessoa na vida.

Talvez muitas pessoas não entendamé que, através de nosso Oducompreendemos as razões do porquetudo ocorre em nosso destino, seja nocampo positivo, ou negativo, e nosguiando por este ponto de partidapodemos então organizar nossa vidano sentido material, espiritual,sentimental, familiar, de forma exatacom relação ao nosso universoparticular e somente assimalcançamos a tão sonhada vitória navida.

Quero resaltar que conquistas comoas que eu citei acima, são desejos epropósitos particulares de todos osseres humanos no mundoindependente de culto, raça oureligião.

Dai entendemos que em hipótesealguma quando nos iniciamos em Ifáestamos trocando de culto, seria umaignorância pensar assim, já que Ifásustenta o propósito divino da criação,o segredo da humanidade e isso estaacima de qualquer religião, é umdireito de todos. Já a escolha do cultoa seguir deveria ser feita após essepasso, mesmo porque partir daí tudoterá sentido.

Portanto uma pessoa que se inicie emIfá e pertença a qualquer culto afro,continuará pertencendo ao mesmoculto, com a diferença que terá seusegredo em suas mãos, obtendocondições ainda melhor de se nortearno seguimento religioso que pratica,Se destacando ainda mais comocandomblecista, umbandista, ouaqueles que ainda não escolheramseu caminho religioso.

O senhor prega a integração doCulto de Ifá com as religiões afro-brasileiras, tais como o Candomblée a Umbanda. Porque o senhor temessa preocupação?

Tenho exemplos de modelos comoesses na América Latina e tambémem outros países, onde as uniões dospropósitos religiosos fizeram com quese tornassem uma forte sociedadedos cultos afro-descendentes.

Ainda somos muitos, mas bemmenos do que éramos décadas atrás.Infelizmente não somos fortes, se nãobuscarmos essa fortaleza entre nósem breve estaremos extintos. Muitospodem achar pessimista minhacolocação, ao contrario dos queconhecem de perto nossos conflitoscotidianos, que com certeza temnoção de nossa realidade. Vejo naintegração a única forma de nostornarmos fortes diante dosobstáculos em que vivemosatualmente, como POR EXEMPLO: opreconceito, o desrespeito,humilhação com que nossa religiãovem sido submetida, tanto pelos quenada conhecem de nossa culturaquanto pelos evangélicos, eprotestantes.

Através de Ifá temos como munir desaber todos àqueles que lutam noobjetivo em comum e tambémreceber em contrapartida o apoionecessário para triunfarmos juntosnessa jornada.

Resultado final: menos adeptosabandonarão nossa religião, centenasde pessoas que se atraem por nossoculto, mas que ainda estão emduvidas, vão se decidir, teremoscomo nos posicionar com mais forçadiante dos evangélicos, e no fim,seremos respeitados e teremosmenos ataques, menos barracõesfechados, mais liberdade, maiscrescimento, e progresso religioso,em todos os cultos.

A integração é um momento de nosconhecermos melhor, de suprirnossas carências com auxilio doaliado, e preencher as carências dosaliados com o que temos.

Lembrando que Ifá, Lucumi (omesmo que Candomble no Brasil)

Palo Monte (mesmo que Angola eUmbanda no Brasil) Arará (mesmoque djedje no Brasil), vivem ummodelo religioso sólido, próspero degrande progresso no mundo inteirograças à integração das mesmas,todas são fortes e nenhuma substituia importância da outra, mesmoporque uma foi fundamental para aexistência da outra.

Não busco uma integração entrecultos desconhecidos, e sim decultos que nasceram juntos paracompor o contexto religioso dasociedade Yoruba e que, porcircunstancias da escravidão sesepararam, busco um reencontro develhos amigos, que nasceram juntosno propósito de cumprir a missãodada por Olodumare e só juntas terãoum sentido espiritual de fato para ospraticantes.

Quantos dentro do Candomble ouUmbanda, já se perguntaram: sintoque falta algo que não sei o que é?Quantos morreram na tentativa dedesvendar os mistérios de seusOrixás e não conseguiram? Quantosbuscam respostas para o queacontece em sua vida mesmoestando dentro da religião? Todasessas respostas seriam sanadas porIfá se desde o inicio tivessemcaminhado juntas, pois todas essasrespostas, e todo esse vazio espiritualvêm da falta de Ifá nodesenvolvimento da vida, e daespiritualidade dos que se iniciamatravés dos cultos afro descendentes.É por motivos como estes que buscoa integração.

O senhor acredita que hoje asreligiões de matrizes africanas noBrasil vivem um momento decrise?

Não só acredito que o momento écritico, como também vejo uma criseque se agrava a cada ano, se nãoatinarmos em nos unirmosdificilmente reverteremos estequadro. Estamos diante de umasituação progressiva e daqui alguns

PPPPPertencer a Ifáertencer a Ifáertencer a Ifáertencer a Ifáertencer a Ifásignifica cosignifica cosignifica cosignifica cosignifica co-----nhecer os senhecer os senhecer os senhecer os senhecer os se-----gredos de suagredos de suagredos de suagredos de suagredos de suaprópria vida.própria vida.própria vida.própria vida.própria vida.

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anos nossa religião pode estar à beirado fim.

Não pretendo de forma alguma serextremista em minha declaração,mas sim realista e acredito que osque conhecem nossas debilidades deperto, e na pratica sabem exatamentedo que eu estou falando.

Hoje escuto sair da boca de meiadúzia de pessoas que se dizem fazerparte de nosso culto, coisas como:nossa religião sobreviveu ha décadasassim e sobrevive. Talvez essasmesmas pessoas estejam dentro dasigrejas nos anos seguintes, comopresenciei a minha vida inteira nareligião. Vejo em tais declarações, umesbanjar de desconhecimento básicode nossa situação atual. Pessoas quedeveriam ter o comprometimentoreligioso em buscar a solução dosnossos conflitos, mas queinfelizmente conhecem nossa religiãode fora, da assistência dos barracões,ou mesmo dos salões de Candomble. Digo a eles que suas afirmaçõesnão condizem com nossa realidade,portanto não tem a mínima condiçãode avaliar nossa realidade.

Hoje falo com respeito a os grandeslideres de nosso culto os pais, emães de santo que honrosamentedão seu sangue se forem necessáriopor manter suas casas religiosas depé à base da luta diária para subsistir,superando o cansaço, vencendo oscontratempos, a desunião,verdadeiros sacerdotes que semantém de pé bravamente com oauxilio da fé, em um país onde somospraticamente massacrados pornossos adversários.

Uma religião que perde suaidentidade por conta das invençõescriadas por aqueles que deveriam seravaliados antes de assumir um papelsacerdotal dentro da religião, pessoasdespreparadas, com problemasemocionais sérios, de caráter, muitoscom vícios que precisam de ajuda,abrem casas e mais casas de santo

sem nenhum critério religioso,assumindo posição de líder semnenhuma condição para tal. Atravésdeles absurdos ocorrem queconsecutivamente destroem a fé, osagrado, e a descendência de nossareligião, absurdos que não precisamser citados aqui, pois é uma realidadeconhecida por todos. Fatos que levama cada dia nossa religião aodescrédito total por todos nasociedade e consecutivamente aoabismo. Acredito que esse seja umdos pontos cruciais que desencadeiatodos os outros.

Não quero ser polemico, mas épraticamente impossível falar de crisesem a indignação ao desrespeito queé tratada nossa religião.Dadoscomprovam a perda de 70 por centode nossos adeptos a cada ano.

A religião cada vez mais banalizada.Lembro-me de uma época onde eracomum uma pessoa sair no portão desua casa e logo ouvir os toques dostambores, que hoje foi substituídopelo hino das igrejas. Um tempo ondeminha mãe rezava as criançasrecém-nascidas dos vizinhos de ondemorávamos, os de hoje nos agridem,e nem sequer nos cumprimentam porsaber que pertencemos aos cultosafros. Nossos filhos são tratados comdesigualdade nas escolas, muitos sedisserem a qual culto pertencemperdem seus empregos, umarealidade critica e impraticável emtempos futuros.

Outro ponto crítico em conjunto comque disse acima, seja a dificuldade desustentação de nossa religião, queacaba por estar comprometida emtempos futuros por falta decontinuidade de bons descendentes,dado a disseminação errônea do cultoonde muitos dos neófitos de hoje seformam (sem generalizar).

Quero lembrar que religião afro,descendentes ainda sobrevive dopouco que os antigos deixaram e aluta dos poucos antigos que ainda semantém vivos. A religião vem se

extinguindo por falta de descendentessustentáveis nos tempos atuais.Lembremos que bons descendentessignifica continuidade futuras. Se nãohá descendentes não há futuro.

Vejo uma religião agonizando, talvezmuitos não percebam, por estarempreocupados somente consigomesmo, acreditando talvez, quandotudo acontecer estarão mortos. Oproblema é que sentimos na pele ossintomas profundos nos dias atuais.

Acredito que tais pontos, sejamíndices graves da realidade dodeclínio acelerado dos cultos afro-brasileiros. Por este motivo devemosnos unir em prol do que realmenteprecisamos, e focar em nossasdebilidades para vencer.

Todos os lideres de nossa religiãotem uma missão com Olofin/Deus,devemos dar tudo de nós paracumprirmos, já que o que valerealmente nessa vida, é morrerrealizando, com a sensação de devercumprido, com o espirito em paz,tendo a consciência de que tudo foifeito, que honrou a missão dada pelocriador, o resto ficará, não levaremosnada.

Qual seria, portanto, o papel realdo Culto de Ifá neste cenário?

Hoje muitos se perdem de seudestino, por se deixar guiar pelocaminho do próximo, Resultado:Fracassos e frustrações, já queentendemos que só através de nossoreal propósito, alcançaremos a

Há pessoas queHá pessoas queHá pessoas queHá pessoas queHá pessoas quenão têm condi-não têm condi-não têm condi-não têm condi-não têm condi-ções de exercerções de exercerções de exercerções de exercerções de exercero sacerdócio eo sacerdócio eo sacerdócio eo sacerdócio eo sacerdócio eabrem casas deabrem casas deabrem casas deabrem casas deabrem casas desanto.santo.santo.santo.santo.

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grande realização. Caso um filhocaminhe fora de seu real destino, elese desvia de tudo que é benéfico emsua vida, vivendo uma vida deperegrinação dia, após dia até seencontrar, em muitos casos perdendoa vida, e a saúde prematuramente.Quero apontar para situaçõesagravantes que nos assola nomomento, e pedir ao querido leitor,que reflitam em minhas palavras,perdemos tanto tempo em tentarjustificar aquilo que já não temosonde buscar as justificativas. Vivemosno auge do século XXI, epercebemos então que em umavelocidade critica os verdadeiros ereais valores da vida, vem seperdendo, e junto com eles o rumo dahumanidade, que gradativamente seafasta de sua verdadeira essência, oresultado nos mostra em dadospreocupantes publicados diariamentenos tele jornais, e percebemos entãoa degradação atual de nossageração, filhos agredindo os pais, porsua vez pais abandonam os filhos, ajuventude cada dia mais cedoentregue as drogas, muitos delesficarão no meio do caminho, e sequer terão a chance de formar suasfamílias, meninas se prostituindo,casamentos em ruina, atualmenteduram cada vez menos, mulheres, ehomens perdidos em seu papelsocial, um alto índice de depressão, eloucura etc. Por mais que o novomundo esteja repleto de conforto, ede facilidades, comparado asdécadas anteriores, o país vive umestado de angustia e infelicidadedesesperadora. A busca necessáriapelo materialismo, porem desmedida,digo desmedida pelo fato da mesmater levado o homem a passar porcima de valores essenciais enecessários para construção de umavida social, e familiar feliz, resultado:a sociedade se perdeu! Em todas asépocas a religião sempre ponderou omaterialismo, pois o materialismo nãotem pai, mãe, irmão etc.,, os valoressão baseados em quem tem mais,onde felicidade real era a verdadeira

riqueza aos olhos humanos,resultando numa geração destruída.

Todos nós temos um Odu, razão pelaqual estamos neste mundo, ondeestão contidas as informações denossa existência, destino, natureza,nossas debilidades, virtudes, donsque nos tornam um ser único emessência, passivo de erros e deacertos, que nos faz capacitado paraumas coisas, e outras não.

Se por algumas circunstancias nosdesviarmos de nossos propósitos,acabamos por viver uma vidadiferente da que deveríamos viver defato, e por tais motivos noscomprometemos, e nos vinculamos, apessoas, profissões, amores, ideais,contrárias a nossas essências,naturezas, e destino, oque seria algodesastroso a vida de qualquerpessoa, pois forçaríamos nossanatureza, aquilo que somos de fato,causando sequelas graves ao estadoemocional , como um vazio interior, aperda do animo pela a vida,depressão, que consequentementelevará a loucura, esses são índicesfortes que algo esta errado em seudestino, e a progressão destessintomas pode levar a perda de tudocom o tempo. Costumo dizer que aloucura vem de não se entender avida.

O papel de Ifá na sociedade, e noscultos afros Brasileiros é fundamentalpara o resgate de valoresfundamentais para a formação deuma geração social, e religiosa

renovada com valores, e princípiosantigos e sagrados aos olhos deOlodumare. Como disseanteriormente em Ifá estão às leisque regerão a sociedade, mas que nageração atual estão perdidos,causando um grande caos àformação de qualquer contextofamiliar, e religioso, filhos perdidos,casamentos extintos, famíliasdestruídas por quem deveria guiar,perda da noção do sagrado, a falta detemor é respeito a Deus a o próximo,e aos Orixás.

Como através de Ifá podemosreconstituir a sociedade, e a religião?Todo na vida tem um Odu que ocaracteriza como um ser humano,dentro dele está às respostas vitaisdo destino de cada ser, asnegatividades, as positividades, asvirtudes, os defeitos, as fraquezas, oslimites, o segredo da espiritualidadeindividual de cada um, nosso destinoe propósitos, o caminho que devemostrilhar na terra. Se cada ser humanodentro de nossa sociedade social,como religiosa tiver acesso àsinformações de sua existênciaatravés de Ifá, dificilmente secomprometerão com algo que nãoseja de sua natureza, se conformarãocom seu destino, farão as escolhasna vida de acordo com suashabilidades, e sua essência, seencontrando em todos os pontos davida, terão em suas mãos asinformações que o livrará dos males,formando sua família com valoresessenciais de uma sociedade feliz,terão oque passar para seus filhos.

Não haverá depressão pois estarãoconscientes de seu destino, orespeito pelo próximo seráreconstituído, o valor pela vidaconsequentemente, o sentido dosagrado, conceitos que colocarálimite no homem, resultado: menospessoas perdidas, menos suicídios,menos assassinatos, menos viciados,formará uma geração solida, e feliz.Devemos entender que realização devida não é ter muito bens materiais,

VVVVVejo a religiãoejo a religiãoejo a religiãoejo a religiãoejo a religiãoagonizando eagonizando eagonizando eagonizando eagonizando ecada um só pen-cada um só pen-cada um só pen-cada um só pen-cada um só pen-sando em si messando em si messando em si messando em si messando em si mes-----mo, as excessõesmo, as excessõesmo, as excessõesmo, as excessõesmo, as excessõesde semprede semprede semprede semprede sempre

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mas sim, viver dentro da vida que temhaver com nosso destino, seja commuito ou pouco, já que hoje em dia sebusca tanto o material, que faltatempo de buscar as realizaçõespessoais, e assim se cresce vazio.

Nosso Odu é a forma de nosconhecermos, de entender nossasvidas, de obter todas as respostas,nosso Odu é a forma de nosconhecer diante do criadorOlodumare, já que o mesmosentenciou cada um,com um Odu(destino).

Na religião creio que o papel de Ifáreconstituirá conceitos quaseperdidos como a fé, o sagrado, oamor, a devoção e o respeito.

Tenho certeza se tomarmos o habitode iniciar em Ifá, antes de se iniciarem Orixá, tudo terá sentido inclusivepor quem esta sendo iniciado, pois omesmo saberá as razoes pelas quaisestaria dando tal passo, e tudopassaria a ter um sentido muito maisprofundo, ate porquecompreenderiam baseado em seupróprio Odu a real necessidade deestar ali.

Com seu Odu conheceriam seuOrixá, não esperaria da religião

AvAvAvAvAv. Carnaubeira, 304. Carnaubeira, 304. Carnaubeira, 304. Carnaubeira, 304. Carnaubeira, 304Guaratiba - RJGuaratiba - RJGuaratiba - RJGuaratiba - RJGuaratiba - RJTTTTTelefone: 2417-6339elefone: 2417-6339elefone: 2417-6339elefone: 2417-6339elefone: 2417-6339wwwwwwwwwwwwwww.ifanilorun.com.br.ifanilorun.com.br.ifanilorun.com.br.ifanilorun.com.br.ifanilorun.com.br

coisas que não é do seu destino, nãoperderiam a fé na primeiraadversidade, pois teria seresguardado de tal prova, nãodespachariam seus santos, poisentenderiam sua missão em suasvidas, teriam um crescimento muitomais acelerado, até porque nãomudariam de pai de santo, ou mãe desanto com facilidade, respeitariammais seus maiores de religião, dentrodo Odu do Yawo o pai, ou mãe desanto teria com saber o segredo quemovimenta a vida de seu yawo, eassim conseguir mexer comsegurança nos pontos espirituais quetem haver realmente com a vida doyawo, mas sucesso na vida dosyawos, mas crescimento para a casade candomblé onde o yawo seráiniciado, através do Oduconheceremos os osgobos(negatividades) os ebos específicosque surtem efeito contra todos osmales, evitando algumas tragédias eperdas na vida do yawo, evitando queuma pessoa sem estrutura ocupe umposicionamento de liderança nareligião, para seu próprio bem, e obem da religião. Através de Ifá o yawoconhecera o sentido real daespiritualidade, e seus valores,conhecerá os segredos profundos deseus Orixás, terá mais

comprometimento com a religião. Oyawo é a base e futuro da religião, seforem bem preparados no futuroreverteremos nosso quadro religiosono país.

Através de seus Odus, e a ricasabedoria, e dos conhecimentosteólogos de Ifá terão como mostrar ariqueza de nossa religião diante dasociedade, e assim seremosrespeitados diante da sociedadeconsequentemente.

Quero lembrar que através de Ifápodemos recuperar boa parte daliturgia de nossa sagrada religião,pois tudo permanece intacto naliteratura de nossa religião.

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Funções religiosas dasApetebis no Culto de Ifá

Destacamos agora a importância das mulheres no Culto a Ifá a partir do momento de sua inicia-ção, sua posição e suas atribuições junto ao culto, no que diz respeito também aos cerimoniaisrealizados e sua influência como peça fundamental para o melhor andamento das mesmas. Éimportante frisar que, em nosso culto toda mulher que recebe a cerimônia de Ikofá alcança omaior nível de graduação religiosa. Sendo elas essenciais para o desenvolvimento estável e har-mônico dos cerimoniais.

Dotadas de uma sensibilidade única, a Apetebi com sua essência envolvente e carismática tornamais suave e agradável todo e qualquer desenvolvimento religioso, tornando aprazível e acolhe-dor o contato com as pessoas, seja recepcionando em suas casas religiosas, seja orientando, sejaatuando no auxílio aos cerimoniais, permitindo assim a chegada de Orunmilá em um ambienteharmônico e puro como deve estar os o templo onde se realize os rituais a Ifá e assim obter umamanifestação espiritual completa de Orunmilá. E fundamental a atuação das Apetebis, dandoatenção às necessidades dos sacerdotes, contribuindo para o melhor andamento dos rituais, sejapreparando os Adimus sagrados ou servindo as mesas cerimoniais, ou seja, recepcionando aospresentes.

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As Apetebis também possuem um papel importante na socialização e convívio harmônico entreafilhados, consulentes, sacerdotes,etc. se desenvolvendo espiritualmente diante de suas fun-ções, conhecendo os patakis mencionados pelos babalawós durante os cerimoniais, aprendendo acultuar melhor seu orixá. As Apetebis aprendem em Ifá e em comunhão com seu padrinho na casade Ifá, os conceitos religiosos básicos para ter uma vida mais feliz, buscando as orientaçõesbaseadas na escritura sagrada que as levam a um nível espiritual grandioso, como já conheciApetebis de anos de religião com uma sabedoria surpreendente. Os babalawós invocam as divin-dades e as Apetebis amparam-nos dando o auxílio fundamental para que tudo seja odara. E assimrecebendo as bênçãos de Orunmilá.Iboru, Iboya, Ibosheshe!

Ikofá: a iniciação daIkofá: a iniciação daIkofá: a iniciação daIkofá: a iniciação daIkofá: a iniciação damulher em Ifámulher em Ifámulher em Ifámulher em Ifámulher em IfáIkofá fun é o nome dado a consagração que se reali-za as mulheres que se iniciam em Ifá, e após os ceri-moniais religiosos necessários para tal iniciação, pas-sam a se chamar Apetebi Ni Orunmilá, que significaesposa de Orunmilá. Também é o grau mais alto quea mesma alcança dentro do culto.

O termo esposa de Orunmilá, refere-se à ligação es-piritual que, a partir do momento de sua iniciação amulher terá junto ao profeta, dando a mesma o direitode receber de Ifá os benefícios espirituais necessári-os, de acordo com suas necessidades espirituais,como por exemplo: a revelação do seu destino atra-vés de seu odu, os ebós específicos para vencer asadversidades de sua vida e assim, estabelecer a saú-de, o equilíbrio financeiro, a felicidade, a realização ea paz familiar, a harmonia matrimonial e principalmen-te as orientações fundamentais para um convívio so-cial e familiar feliz.

O Ikofá Fun é uma cerimônia que se realiza às mu-lheres, independentemente que a mesma seja espo-sa de um babalawó, como narra o odu Odi meyi, ondeOxum foi a primeira mulher a se iniciar nos segredode Ikofá, o pataki abaixo nos afirma, categoricamen-te que Oxum no momento de sua iniciação, não eraesposa de Orunmilá e sim tornou-se futuramente nosdeixando claro e desfazendo mitos de que a mulherpara ser Apetebi tem de ser esposa de babalawo.Portanto, Oxum foi a primeira mulher a se iniciar, es-tabelecendo a partir de então o nascimento do ceri-monial de Ikofá às mulheres, graças a Orunmilá e aOxum, salvando assim as mulheres e seus descen-dentes.

Dado aos fatos contidos no odu Odi meyi (escriturasagrada de Ifá), Orunmilá salva Oxum das persegui-ções de Ikú (morte) e de todos os arrastes. Iniciando

a mesma nos mistérios do Ikofá, tornando-se OxumApetebi e posteriormente sua esposa.

A escritura, nos deixa clara a força e o poder que oIkofá exerce na vida da mulher, principalmente na saú-de, no equilíbrio emocional, quebrando as maldições,trazendo a felicidade conjugal, etc. Como ocorreu comOxum.

A espiritualidade de Orunmila é fundamental para amulher, independente de seu orixá ou segmento reli-gioso. Digo isto pela seguinte razão de que: nem Orixátutelar, nem segmento religioso irão suprir ou substi-tuir a importância fundamental que Ifá exerce na vidada mulher.

Pois Ifá é parte de todos os seres humanos, e estácontido dentro do espírito de cada ser, pelo simplesfato de termos um destino, e um propósito real porestarmos vivos. Este propósito em toda sua amplitu-de chama-se Ifá.

É importante ressaltar não só os benefícios que o Ikofátraz a mulher em sua essência, como a todas as mu-lheres que cultuam os orichas yorubás, principalmen-te às filhas de Oxum, por serem a percussora do cul-to, as filhas de Oya, Óba, Yewá, por sua ligaçãotranscendental com os espíritos e com a adivinhaçãoe a ligação com Ikú, as filhas de Yemanjá, pois atra-vés de seus filhos pode se lavar o Ikofá, Nanã e todasas Iyabás do culto yorubá.

A essas mulheres afirmo que diante de fatos relevan-tes não ter Ifá é não ter grande parte de suaespiritualidade intuitiva, materna, religiosa, etc. Digoisto principalmente às mulheres líderes no culto, poistambém por serem mães-de-santo e terem com issoo dom da maternidade religiosa, a necessidade vitalde ter Ikofá nos mostra claramente Oxum quando re-corre a Orunmilá em prol do nascimento de seu filho,já que Oxum representa a fertilidade espiritual em nos-so culto.

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Fogo destrói árvores e plan-tas sagradas da Roça do

O fogo, que começou por voltadas 10h30 de quarta-feira, 9,na área da Roça do Ventura,templo afrorreligioso Zo OgodoMale Bogun Seja Hunde, emCachoeira (a 110 km de Salva-dor), no Recôncavo baiano, jáconsumiu cerca de 50 árvorese plantas sagradas do local.

Segundo o ogã Anderson Mar-ques, até ontem à noite jáhaviam sido queimados maisde 600 metros da vegetação.Jaqueira, sucupira, umbaúba,mangueira, licuri, são-gonçalinho, coqueiro e cajueiro,além de plantas usadas nasobrigações religiosas e comoervas medicinais, foramdestruídas pelas chamas.

Para evitar que o fogo chegas-se à sede e outras construções

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Fonte: Cristina Pita, Jornal ATarde (BA)

do sítio religioso de tradiçãoJêje Mahin, a comunidadeusou folhas sagradas, pás,enxadas, garrafas plásticas ebaldes com água, além de doiscarros-pipa da prefeitura. Mashá meses não chove na região,e a vegetação seca fez comque o fogo se alastrasse, atin-gindo até a jaqueira consagra-da à divindade ssansú.

A PM foi acionada, mas nãoapareceu. O Corpo de Bombei-ros, que só chegou às 18h30,após intervenção do MinistérioPúblico, disse não ter comotrabalhar no escuro. O combatefeito pela comunidade foisuspenso às 22h, mas recome-ça hoje pela manhã com aajuda dos bombeiros. EmCachoeira, não há uma unida-de da corporação, a cidade é

coberta pela de Feira deSantana.

O secretário municipal deCultura, José Bernardes, disseque um tanque foi carregadode água para molhar a vegeta-ção não atingida, por precau-ção. "A mangueira do carro-pipa é curta, não atingia a áreatoda. Tivemos muitas dificulda-des", disse.

Festa e suspeitas - O ogãEdvaldo de Jesus Conceição,Buda, disse que há muita gentena Roça porque, domingo,haverá a Festa do Boitá (pro-cissão do vodun), a maiorcomemoração religiosa dolocal. Disse também que hojeserá registrada uma queixa naDelegacia de Cachoeira, por-que há suspeitas de que o

incêndio foi criminoso.

"Moradores viram dois adoles-centes ateando fogo na vegeta-ção. Daqui a quatro dias, rece-beremos convidados ilustres erepresentantes de vários tem-plos. A intenção era atingir oterreiro. Além disso, o julga-mento sobre a invasão ocorridana Roça será em 24 de abril",frisou.

Até o fechamento desta ediçãoas informações que tínhamos éque o incêndio de fato foicriminoso e a polícia já haviaestabelecido uma base deinvestigação.

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Livro Denuncia a IntolerânciaReligiosa no Brasil

Na década de 1980 do século passa-do o Brasil, a partir do Rio de Janeiro,tomou conhecimento do recrudesci-mento em potencial da intolerânciareligiosa que, mediante proselitismo,beligerantemente atacava a Religiãode Matriz Africana, Afro-Umbandista eIndígena. Uma "guerra santa" em queadeptas/os e os locais de cultos dasreferidas tradições religiosas eramalvos mais contundentes de sucessi-vas violências em logradouros públi-cos como das invasões dos TemplosAfros que prosseguem como numcontinuum.

Desta feita protagonizada pelospentecostais, e, sobretudo,neopentecostais a sociedade passoua testemunhar o crescimento vertigi-noso das novas igrejas que incorpora-ram na sua teologia ingredientesreligiosos que dizem combater dandoaos mesmos contornos evangélicossob a lógica do bem em detrimento domal associado à prosperidade. Aestratégia e o marketing adotadoscomo sedução e cooptação demons-tram nítido conhecimento do perfilsocial dos afro-religiosos.

O Mapa da Intolerância Religiosa quetemos em mãos, organizado porMarcio Alexandre M. Gualberto quecontou com a colaboração de pesso-as e variados grupos religiosos todo opaís, demonstra que há um contingen-te de adeptas/os mobilizados contra aintolerância religiosa que vão doOiapoque ao Chuí. Essa mobilizaçãodemonstra contemporaneamente ograu de politização e de mobilizaçãoprincipalmente do Povo de Santo, ocontingente mais atingido pela intole-

rância religiosa, como veremos aolongo deste Mapa. Este povo de axé ede nguzo, que está indo para as ruasatravés das massivas caminhadas epasseatas denunciar e alardear quenão mais suportam resilientemente asatrocidades do racismo cultural ereligioso que histórica e secularmentese abate contra uma visão de mundoinclusiva.

Mulheres e homens de axé, crianças,jovens de terreiros e os detentores desenioridade iniciática estão vindo apúblico, saindo das suas comunida-des-terreiros seja de Candomblé, deBatuque, do Xambá, do Nagô, doJeje/Fon, Tambor de Mina, FantiAshanti, da Umbanda, da Quimbanda,da Jurema Sagrada e dos CultosIndígenas em geral, para atestar que,ao contrário da teologia xenófobacomo pressupostos das tradiçõesjudaicas cristãs, os determinantesteológicos e filosóficos das culturasnegras, de matriz africana e/ouafrodescendentes assentam suasterritorialidades civilizatórias materiaise simbolicamente onde se inscrevemas Divindades em consonância comos axiomas da xenofilia em que aalteridade é incluída incondicional-mente.

O Mapa da Intolerância Religiosa -2011 (MIR) que no seu bojo trazfundamentos legais que protegem easseguram a diversidade religiosa, aliberdade de culto entre outros tantosdireitos; a exemplo do CBO (CódigoBrasileiro de Ocupação) que nomeiaos ministros de culto religioso dasvárias denominações e crenças docampo religioso brasileiro, se constituinum instrumento valiosíssimo. O MIRé um instrumento de cidadania de vitalimportância para os vivenciadoras/osdos Cultos aos Orixás, Inquices,Voduns, Ancestrais e Antepassados,bem como para os poderes públicos,os ativistas contra a intolerânciareligiosa entre outros setores dasociedade comprometidos com ademocracia radical em que o respeitoseja o fundamente da convivência

entre os sujeitos sociais e religiosos enão a tolerância como querem muitos.

A tolerância deve ser banida dospleitos dos afro-religiosos e exigido,sim, o respeito que deve se materiali-zar no cotidiano das relações median-te a compreensão política e conceitualdas invariantes teológicas e filosóficasentre as tradições religiosas dahumanidade, tendo em mente que oSagrado é um Todo indivisível, masque foi compartimentado pelos gruposhumanos em que o ideário da domi-nação funciona como norteador desseprocesso em que algumas tradiçõesreligiosas se colocam como detento-ras únicas dos meios de salvação.

O Mapa da Intolerância Religiosadeve se constituir num instrumento naluta contra a afrotheofobia que vemsendo disseminada pelas denomina-ções religiosas intolerantes e que estásendo introjetada pela população etraduzindo-se em violências das maisvariadas naturezas como asemiológica, semântica, subjetivas emateriais.

Esperamos que o Mapa da Intolerân-cia Religiosa não pare na sua primeiraedição, convertendo-se numa série,adquirindo para sua continuidade comum veículo sistemático, cujaperiodização adquira sustentabilidadepara prosseguir sustentando ebalizando a luta contra a intolerânciareligiosa até a sua total erradicação,divulgando não só diagnósticos comoprognósticos.

O FONAPER parabeniza a iniciativa ereitera a urgência em se tratar dasquestões relacionadas a diversidadecultural religiosa por parte da socieda-de e especificamente a escola, porser um espaço de construção de umacultura que respeite o outro indepen-dente de sua crença religiosa ou outradiferença. Conheça o texto anexoproduzido por Marcio Alexandre M.Gualberto.

Fonte: Sedh/Presidência da República

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A nova cara da Umbanda

Plural por natureza, a religião brasileira se reinventa econquista novos adeptos. Acompanhe essa jornadaespiritual e entenda como a umbanda está ganhando omundo

Sentada no meio do seu ateliê,a artista plástica Joana Gatis,30 anos, aguarda o clique dacâmera. Suas mãos estãopousadas sobre a da mãe-de-santo Alice Zanin, 64, a outra"modelo" da foto ao lado. Elasnão se conheciam: foram reuni-das por Galileu para esta repor-tagem. Em meio a pedidos dofotógrafo por olhares mútuos,poses e "sorrisos serenos",Joana se emociona - tem osolhos marejados. Sente-sereconciliada com seu ladoespiritual, deixado meio de ladodesde que trocou Recife porSão Paulo, há um ano. "Choranão, tem que sair bonita", dizMãe Alice para a nova filha.Joana estanca o quase-choro evolta a sorrir.

O retrato de Alice e Joanamostra dois lados da mesmahistória: a evolução daumbanda. Nos anos 1960,

quando Alice começou a fre-qüentar terreiros, foi precisoenfrentar a desconfiança dafamília, o preconceito dos ex-companheiros espíritas e mui-tas sessões de iniciação. Hoje,uma simpatizante umbandistacomo Joana pode se aproximare se afastar da religião, criarseus próprios rituais e interpre-tações. Quem não é daumbanda não vai julgá-la, equem é sempre irá recebê-lacom energias positivas, o sufi-ciente para trazer lágrimas aosolhos.

Dá para manter fiéis tão...infiéis? Segundo o IBGE, aumbanda perdeu um Maracanãde adeptos na década de 1990:eram 542 mil em 1991 e 432mil em 2000. Mas os dados sãocontestados. "Até hoje o catoli-cismo é uma máscara usadanas religiões afro-brasileiras,máscara que evidentemente as

Lei do passe: para abençoarJoana, Mãe Alice pediu que aartista plástica vestisse mangascompridas, seguindo a regra dosterreiros tradicionais

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esconde também dos recense-amentos", afirma o sociólogoReginaldo Prandi em seu livro"Segredos Guardados - Orixásna Alma Brasileira". Além disso,a década foi o auge da perse-guição dos neopentecostais àumbanda.

Produto de exportaçãoEstatísticas à parte, o povo dosterreiros afirma que a supostadeserção é compensada comnovos adeptos de todas asraças, classes, idades, crençase até países. Uma movimenta-ção geopolítica singularmentecuriosa ora se expressa: oscentros de umbanda se repro-duzem com voracidade noexterior.

Afinal, a vida espiritual seconverteu em um grande su-permercado holístico, ondecada um enche seu carrinhocom elementos para o panteãopessoal. Vantagem para aumbanda, que possui atributosjá tão apontados pelos estudio-sos como brasileiros autócnes:cordialidade e tolerância.

Vejamos o caso de SebastiãoGomes de Souza, um alagoanode 57 anos que atende pelonome de pai-de-santo CarlosBuby (veja texto "O Pai-de-Santo que Reinventou aUmbanda"). Em 20 anos, seustemplos de "umbanda moder-na" chegaram aos EUA, Cana-dá, Portugal, Áustria, Suíça eFrança. A religião tambémchegou à Itália, ainda que deforma meio macarrônica. Se-gundo a antropóloga milanesaAndrea Modrone, lá não háterreiros, mas acontecem ritu-ais particulares em residênciase centros culturais. "Muitos,inclusive eu, se interessam por

AS PRINCIPAS PRINCIPAS PRINCIPAS PRINCIPAS PRINCIPAIS ENTIDAIS ENTIDAIS ENTIDAIS ENTIDAIS ENTIDADESADESADESADESADES

mandingas e feitiços, e algu-mas misturam orixás comoutras correntes esotéricas",diz.

Mostrando que a latinidadetambém se ajoelha diante dospais-de-santo, localizamosterreiros da Argentina ao Méxi-co. Em Miami há um templogerenciado por um economistavenezuelano, Luis Carbonell,umbandista há 25 anos. Eleafirma que recebe 75 pessoaspor noite (americanos e cuba-nos, na maioria) e que estão

FUNCIONFUNCIONFUNCIONFUNCIONFUNCIONAMENTAMENTAMENTAMENTAMENTO DO CULO DO CULO DO CULO DO CULO DO CULTTTTTOOOOO

surgindo terreiros na Califórniae em Nova York. ParaCarbonell, o que atrai os novosadeptos é a possibilidade demisturar a umbanda com a suacultura.

Essa visão é confirmada porPatrícia Birman, antropóloga daUerj: "A incorporação einteração com entidades deoutras religiões é inerente àumbanda".

Fonte: Cláudio Júlio Tognolli,Revista Galileu

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Jovens lideranças recebem formação sobre racismo e direitosJovens lideranças recebem formação sobre racismo e direitosJovens lideranças recebem formação sobre racismo e direitosJovens lideranças recebem formação sobre racismo e direitosJovens lideranças recebem formação sobre racismo e direitosquilombolas em curso promovido pela SEPPIRquilombolas em curso promovido pela SEPPIRquilombolas em curso promovido pela SEPPIRquilombolas em curso promovido pela SEPPIRquilombolas em curso promovido pela SEPPIR

Saber como organizar sua comunida-de para que ela busque direitos comoa posse da terra em que vive, e evitarque ela se esvazie e enfraqueça suaidentidade cultural. Conhecer osmecanismos de acesso às políticaspúblicas e descobrir formas de incen-tivar atividades de esporte e lazerpara a juventude, além da geração derenda e emprego. Estes são osobjetivos mais citados entre algunsdos 45 jovens que estiveram partici-pando do curso Formação de Lideran-ças Quilombolas, promovido pelaSecretaria de Políticas de Promoçãoda Igualdade Racial (SEPPIR).

O conteúdo da formação incorporouquestões sobre racismo e questãoracial, políticas de promoção daigualdade racial, direitos quilombolas,regularização fundiária e controlesocial das políticas públicas. As aulasaconteceram em módulos que incluí-ram os marcos internacionais, princi-pais conceitos correlatos, indicadoressociais, projetos legislativos e legisla-ção nacional. Os quilombolas tambémtiveram um módulo específico sobrepolíticas públicas e direitos sociais,econômicos e culturais das comunida-des, com informações sobre o Progra-ma Brasil Quilombola (PBQ), daSEPPIR, o Plano Brasil Sem Miséria eOrçamento Público.

O preconceito contra sua origemquilombola foi o que mais motivou oestudante Valdiney Rodrigues Bispoda Silva, 17 anos, a se interessar pelamilitância. “A gente sofre discrimina-

ção até quando vai ao município maispróximo de nossa comunidade, quefica a 22 km. Chamam a gente dekalungueiro. Muitos colegas que saemde lá e vão morar em cidades voltamcontando vantagem, desprezandonossa origem. Eles pensam quenegar quem eles são é bom. Purailusão”, diz ele, que se inscreveu nocurso pela Associação QuilombolaKalunga.

A estudante Louriene Ferreira deCastro, também da comunidadeKalunga, 17 anos, relembra a dificul-dade de seus pais quando ainda eramuito nova. “Eu ainda peguei o tempoda lamparina. Os quilombos vivemmuitas dificuldades. Quero aprendercomo podemos nos organizar paravencer esses obstáculos. Achei muitointeressante ouvir as histórias desituações de racismo que os outrosquilombolas viveram e compartilha-ram com a gente durante as aulas, ecomo são parecidas”, afirmou.

Mais experiente na lida e já ocupandoum posto importante como coordena-dor das unidades quilombolas deAlagoas, o agricultor Manoel Oliveira,40 anos, relembra que, ao começarsua caminhada, há 22 anos, a grandedificuldade era se entender e seaceitar como quilombola. “Era difícilse assumir quilombola. A ideia dosmais velhos era de que a lutaquilombola podia trazer a escravidãode volta. Até hoje ainda existe essaideia. A gente tenta convencer aspessoas de que não é assim, explicar

que vivemos um momento democráti-co. Por isso é importante o curso deformação, para que os jovens apren-dam a lutar pelos seus direitos”.

Para o assessor jurídico da ONGTerra de Direitos e professor do curso,André Barreto, 25 anos, a demandaque tem sido objeto central da forma-ção é a organização da juventudequilombola e a conscientização dahistória de luta do povo negro noBrasil e da necessidade da luta pelaafirmação e efetivação dos direitosquilombolas. “Estamos trabalhando asnormas jurídicas que afirmam o direitoao território e regulamentam o proces-so de titulação, a fim de eles teremesse conhecimento como instrumentopara seguir na luta e na construção deum modelo de desenvolvimentopopular mais justo e soberano para oBrasil”, afirmou.

A diretora de Políticas das Comunida-des Tradicionais da SEPPIR, BárbaraOliveira, também salientou o papel dequalificação e protagonismo daslideranças jovens. “Essa iniciativa docurso nasceu das próprias comunida-des quilombolas e é uma parceria daSEPPIR com a Agência Espanhola deCooperação Internacional para oDesenvolvimento (Aecid), AgênciaBrasileira de Cooperação (ABC) eCoordenação Nacional de Articulaçãodas Comunidades Negras RuraisQuilombolas (Conaq)”, explicou.

Fonte: Seppir

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Desde 1983, com a criação do Programa Assistência Integral à saúde da

Mulher (PAISM), a atenção federal à saúde da mulher deixou de ser

unicamente voltada para a relação materno-infantil para incorporar a

assistência em todas as etapas da vida. O programa deu ênfase a

preocupações com doenças ginecológicas prevalentes, prevenção e

tratamento de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids, além

de assistência às mulheres vítimas de violência.

Últimos 20 anos, o Brasil também apresentou grande avanço na redução

da mortalidade materna e infantil, de acordo com dados da Secretaria

dos Direitos Humanos (SDH). Em 1990, a razão de morte infantil era de

47,1 por mil nascidos vivos, e a mortalidade materna era de 140 por mil

nascidos vivos. Hoje, a razão de mortalidade infantil é de 19,3 por mil

nascidos vivos, enquanto as mortes maternas estão estimadas em 69 por

mil nascidos vivos.

Em 2008, a preocupação com a saúde da mulher ganhou força com a

implantação do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (II PNPM).

Ele ampliou e aprofundou a atuação do governo na promoção de políticas

de igualdade e justiça social com a inclusão de novos eixos estratégicos,

Políticas de Assistência

à Mulher

que foram somados aos já

existentes no I Plano, como a

participação das mulheres nos

espaços de poder e decisão;

desenvolvimento sustentável no

meio rural, na cidade e na

floresta, com garantia de justiça

ambiental, inclusão social,

soberania e segurança alimentar; e

direito à terra, moradia digna e

infraestrutura social nos meios rural

e urbano.

Entre outras metas para o período

de 2008 a 2011, o II PNPM propôs

a redução em 15% da mortalidade

materna, o aumento em 15% do

número de mamografias na

população feminina, a

disponibilização de métodos

anticoncepcionais em 100% dos

serviços de saúde e o aumento em

60% do número de exames

citopatológicos (estudos das

células) em mulheres com idade

entre 25 e 29 anos.

Os principais problemas de saúde

enfrentados atualmente

pelas brasileiras foram apontados

no Painel de Indicadores do SUS

(Sistema Único de Saúde),

publicado em 2007. No ano 2005,

63.542 mulheres de 10 a 49 anos

morreram no Brasil. Destas, 1.619

tiveram óbitos relacionados

a complicações na gravidez, parto

e pós-parto. De acordo como SUS,

são exemplos de mortes que

podem ser evitadas em sua quase

totalidade, e seu enfrentamento tem

sido prioridade para o Ministério da

Saúde.

Outro dado importante do estudo

mostra que o câncer continua

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sendo uma das principais causas de falecimento entre

as mulheres do País. Ao todo, em 2005, 67.833

mulheres morreram em consequência da doença, das

quais 10.208 por câncer de mama e 4.506 por câncer

de colo de útero. No entanto, a taxa de mortalidade

por câncer de mama, que cresceu da década de 80

até a virada do milênio, estabilizou-se nos cinco anos

seguintes. Segundo o relatório, isso se explica pelo

maior acesso aos exames de detecção precoce, e

mostra como a prevenção é fundamental no combate

à doença.

O governo continua promovendo ações para avançar

na luta pelos direitos humanos e na melhoria da saúde

pública para a mulher. Em dezembro de 2011, a capital

Brasília será palco da 3ª Conferência Nacional de

Políticas para as Mulheres, que tem como objetivo a

atualização e a definição de prioridades para o próximo

período, tendo por base as ações propostas no II Plano

Nacional de Políticas para as Mulheres.

Fontes:

Ministério da Saúde

Secretaria de Políticas para as Mulheres

Secretaria de Direitos Humanos

Racismo e sexismo causam desigualdadesPor Nilza Iraci

Dadosdisponibilizadospelo InstitutoBrasileiro deGeo-grafia eEstatística(IBGE) em 2010revelam que oBrasil é um paíshabitado por uma população de 191 milhões depessoas. A população negra soma 97 milhões depessoas e, pela primeira vez, é maioria no Brasil.As mulheres negras representam 49 milhões dototal das brasileiras.

Trata-se de um contingente populacional exposto adiferentes formas de violência e mecanismos deexclusão dentro e fora das políticas públicas emdecorrência da força com que o racismo, o sexismoe a lesbofobia incidem – e estruturam – a sociedadebrasileira.

Ser mulher negra significa muitas coisas diferentes,porém tem em comum fortes marcas decorrentes daexistência do racismo, que cria um conceito e umahierarquia de raça, que, aliado ao sexismo, temproduzido historicamente um quadro de destituição,injustiça e exclusão.

Há muito tempo, a mobilização política das mulhe-res negras tem apontado para o reconhecimento dopapel do Estado na produção de ações capazes dereduzir o impacto que o racismo, o sexismo e alesbofobia têm em suas vidas. Entretanto, o Estadonão tem sido eficiente na construção de políticascapazes de enfrentar as discriminações e as demaisini-qui-da-des que excluem uma grande parcela dapopulação brasileira, impedindo seu acesso àspolíticas sociais.

As mulheres negras acreditam que a luta contra osexismo, o racismo e todas as formas de preconcei-to é tarefa de todas as pessoas que acreditam naconstrução de uma sociedade justa e igualitária,onde todas as pessoas possam viver com dignidadee prazer.

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A Cartomancia

É um dos costumes ciganos maisconhecidos, afinal muitas pessoasrecorrem a este povo para saber ofuturo pelas cartas. De acordocom a tradição, o Baralho Ciganosó poderá ser lido por mulheres,pois trazem em seu interior aenergia da lua (o oculto), tendo aluz da vidência , o dom do sentir,pressentir e interpretar.

Para a leitura das cartas, asciganas utilizam um baralhocomum, desses usados parajogos de azar, retirando o curingae as cartas que vão do dois aocinco, restando 36 cartas que sãoutilizadas para a leitura.

O Povo Cigano associou à essascartas algumas figuras do seusimbolismo esotérico, cujosignificado veremos mais adiante.

As correspondências entre ascartas comuns e as figurasacontece de forma natural para osCiganos, porém para os não-ciganos torna-se um tanto difícilfazer essa associação, felizmenteexiste no mercado versões dobaralho com as figuras impressaso que facilita muito o aprendizadoe sua interpretação. A RevistaUNIFICA terá essa coluna todomês, contamos com aparticipação dos especialista no

assunto. Um forte abraçoUnific@do! Jacqueline Costa

Carta do Mês O CORAÇÃO

Os Sentimentos revelam o nossolado emocional, sensível, nossasreações instintivas que brotam dofundo do nosso ser e semanifestam muitas vezes deforma alheia à nossa vontade.

Embora esta carta traga umcoração radiante, o que nos fazlembrar do amor, sentimento maisnobre e importante para o serhumano, esta pode ter o seu ladonegativo salientado por algumacarta que a acompanhe,dependendo do contexto.

Além disso, esta carta podeindicar, em sua via negativa,sentimentalimos excessivos,reações instintivas, bloqueio darazão, atitudes impensadas,nervosismo, entre outras reações.

Mas na maioria dos casosrepresenta a manifestação dossentimentos mais profundos, deemoções, sensibilidade, amor.

Indica também início derelacionamento, paixão, namoro,compromisso emocional.Entendimento entre as partes,

simpatia, solução de problemasde relacionamento.

Interpretação: Emoções,sensibilidade, lado emocional sesobrepondo ao racional; bomrelacinamento, comprometimentoemocional, namoro, paixão, amor;em sua via mais negativa, podeindicar atitudes impensadas ouprecipitadas, bloqueio da razão,nervosismo.

Carta do amor, emoção, entrega,paixão, seja por uma pessoa ouuma atividade.

O coração transmite o sentimentomais verdadeiro e lembra quepodemos modificar o mundo anossa volta, os relacionamentos,por meio de troca de afeto e calorhumano.

Emoções profundas, expansão desentimentos, ondas de emoções.Você viverá uma grande paixãoem breve.

Também indica que deverá ajudaras pessoas que pedirem o seuauxílio.

Negativa avisa que a paixão quese está sentindo é algo efêmero epassageiro, que não se devetomar nenhuma atitude baseadanesse sentimento, pois ele éenganador.

Tratando-se de saúde e rodeadade cartas negativas, pode indicarproblemas circulatórios.

Jacqueline Costa

ApetebiNiOrumiláOturáRosso Mu,Omo Oyá e Iyálorisá.

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Rafael Tavares - Escultor de Areia

Desde o final de 1999, Rafael Tavares escultor deareia,vem travando uma grande batalha em busca dasobrevivência e de realizar o seu grande sonho,que éser reconhecido como escultor, já que inúmeras pessoasjá o reconhecem e admiram o seu trabalho.

Rafael é de família simples,morador de Muriqui, naatualidade, pois já rodou esse Rio de janeiro em prol demostrar sua arte. Pai de dois filhos e esposo de umamulher,que ele admira muito pois esta com ele em todasas suas empreitadas.

Rafael vive da arte, faz suas esculturas na Areia daPraia, de acordo com sua inspiração,ou tema do dia.Ama os Orixás,e a Cultura dos Negros,cria esculturasbelíssimas ,imensas, e simplesmente perfeitas. Cadapessoa que passa fica admirado com tanta perfeição.

O que esse escultor mais desejava além doreconhecimento,era obter uma ajuda financeira,parapoder desenvolver diariamente seu trabalho,pois omesmo gostaria de participar de eventos,levando omaterial e criando suas obras,porque o que consegue nodia que faz sua escultura e para o sustento da família. Opróprio nos relatou que além de areia e água,existemcritérios secretos que ele não quis nos revelar.

Acreditamos no seu trabalho,pois sua arte fala porsi,agradecemos a participação para Revista UNIFICA,eesperamos ter contribuído com mais umtrabalhador,vencedor dessa grande batalha,chamadaVIDA.

Jacqueline Costa

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Luiza Franquelina da Rocha nasceuem 25 de agosto de 1909, em Cacho-eira, cidade do Recôncavo Baiano.Sua mãe chamava-se Cecília, negra,descendente de escravos e iniciadapara Yemonjá em Feira de Santana/BA, vindo a falecer com 105 anos.Seu pai chamava Miguel, negro,também descendente de escravos efoi confirmado Kpenjigàn na Roça deVentura (Kwe Sejá Húnde), candombléJeje em Cachoeira, por Gaiaku MariaOgorensì de Gbèsén. Faleceu aos 86anos. Sua irmã carnal, Joana, foiiniciada para o vodun Azansú porGaiaku Pararasì, na Roça de Ventura.

Gaiaku Luiza que é bisneta de africa-no e foi nascida e criada dentro docandomblé aonde chegou a morardentro da Roça de Ventura. Tevecontato com as velhas tias do can-domblé que lhe ensinaram muitacoisa. Em 1937 Gaiaku Luiza éiniciada para Oyá na nação ketu, noIlé Ibecê Alaketu Àse Ògún Medjèdjè,do famoso Babalorixá ManoelCerqueira de Amorin, mais conhecidocomo Nezinho de Ògún, ou Nezinhoda Muritiba, filho-de-santo de MãeMenininha do Gantois. Por motivosparticulares, após 2 anos GaiakuLuiza se afasta da Roça deste ilustreBabalorixá. Foi Sinhá Abali, segundaGaiaku a governar a Roça de Ventura,quem viu que Gaiaku Luiza deveriaser iniciada no Jeje, nação de todasua família, e não no Ketu. Assim,encarrega sua irmã-de-santo KpòsúsìRomaninha, de sua inteira confiança,a iniciar Gaiaku Luiza no Terreiro

Zòògodò Bogun Malè Hùndo, emSalvador. Em 1944, Gaiaku Luiza éiniciada na nação Jeje sendo a tercei-ra a compor um barco de 3 vodunsìs.Seu barco foi constituído por umaOsún, um Azansú e uma Oyá.

Gaiaku Luiza foi uma das poucasVodunsìs, na Bahia, que ousaramabrir uma roça de candomblé jeje-mahi. Isso ocorreu em 1952, numperíodo em que não era comum talprática dentro do culto jeje. Na época,supõe-se que existiam somente doisterreiros jeje-mahi na Bahia, que eramo Zòògodò Bogun Malè Hùndo (Terrei-ro do Bogun), em Salvador, e a Roçade Ventura (Sejá Hundê) , em Cacho-eira. Com a autorização e participaçãode sua mãe-de-santo KpòsúsìRomaninha, dona Luiza abriu umterreiro jeje-mahi, tornando-se, então,uma Gaiaku.

A iniciação de Gaiaku Luiza foi noBogun. Ela chegou no Bogun no dia 9de agosto de 1944 e só voltou paracasa em 1945. Segundo depoimentoda própria Gaiaku Luiza, quem coman-dava o Bogum naquela época eraGaiaku Emiliana, pertencente aovodun Agué.

Foi nesse contexto que Gaiaku Luizaplantou o axé do Hùnkpámè AyonoHuntoloji. Ela narrava que:

“Em 1948, minha mãe Oyá começou areclamar que não queria que batessecandomblé ali (casa no bairro daLiberdade). Ela passou a querer umaroça onde houvesse água, árvoresfrutíferas e que fosse perto da linhaférrea. Saí procurando uma roça paracomprar, mas não encontrava. No dia2 de novembro, eu já estava saindopara minha procura, quando minhamãe carnal falou: ‘Logo hoje, minhafilha, dia de finados’ Eu respondi:‘Quem sabe, mamãe, os espíritos deluz me ajudam?’ Saímos eu e Delzasem destino, fomos parar em AlmeidaBrandão. Passamos por ponte, estra-da de ferro e nada de encontrar.Adiante, vi uma placa, quando chega-mos perto não era uma placa devenda, dizia o seguinte: prenda suagalinha que a roça tem veneno. Delzadizia: ‘Minha velha, vamos embora,esta chuviscando e não vamos acharnada.’ Quando estávamos voltando ejá estava anoitecendo, vi uma placa,mas não conseguia enxergar porquejá estava escuro, chegamos maisperto e a placa era de vende-se.

Descemos até o portão velho e caído,aí apareceu uma “Dan” (cobra), euentão falei: olha Delza esta roça vaiser nossa. A roça ficava num lugarchamado Cabrito. Começamos a gritare de repente apareceu um velho, péhoje e pé amanhã. Ele se aproximouperguntando se queríamos comprarfrutas, eu respondi que queria comprara roça. Era tanta “Dan”, que havia naroça que você pisava e sentia elas porbaixo das folhas. Deixei tudo acertadocom o velho e marcamos a negocia-ção. Foi uma venda rápida. No dia 2de novembro a roça já era minhaverbalmente. O casal de velhos aindaficou morando na roça por algumtempo. A velha, dona Maria era deOyá e o velho era de Azansú. Mudeipara a roça em 1950. Foi muito difícilmorar ali, no começo. Não conhecianinguém, sozinha ali, jogada, morandonaquela casinha de palha. Comi umaroxura! Comendo zinco e arrotandosemânio. A inauguração da roça, em1952, sob a permissão de GaiakuKpòsúsì Romaninha, foi com umafesta para Azansú, o dono da casa, efoi muita gente prestigiar. A roçarecebeu o nome de Humpame AyonoHuntoloji.”

Em 1962, a roça é transferida para umlocal denominado Alto da Levada,próximo ao bairro do Caquende, nacidade de Cachoeira, onde permaneceaté hoje.

Em 20 de junho de 2005, LuizaFranquelina da Rocha, ou GaiakuLuiza de Oyá faleceu, aos 96 anos deidade. Considerada uma das maisimportantes sacerdotisas do culto afro-religioso jeje-mahi do Brasil e possui-dora de uma sabedoria inigualável.Faleceu em Cachoeira, na sua roça,cercada de filhos-de-santo, amigos efamiliares, como ela sempre quis ecostuma dizer: “Mãe-de-santo tem quemorrer dentro de sua roça”. Foideterminado, ainda em vida pelafalecida, que a herdeira do posto dedirigente sacerdotal do terreiro seriasua sobrinha carnal, Regina Maria daRocha. Dofona Regina – hoje chama-da Gaiakú Regina Avimajesì – foiiniciada no Hùnkpámè Hùntóloji, numbarco de 3 Vodunsìs, para o VodunAvimaje.

-Texto extraído e readaptado do livro“Gaiaku Luiza e a trajetória do jeje-mahi”, escrito por Marcos Carvalho(Mejitó Marcos de Gbèsén), filho desanto de Gaiaku Luiza.

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Resenha HQB: Orixás– do Orum ao Ayê

Por Alexandre Manoel, http://impulsohq.com

Orixás – do Orum ao Ayê, deAlex Mir, Caio Majado e OmarViñole, apresenta ao leitoralgumas lendas da religiãocandomblé.

O álbum narra o surgimentodos Orixás, a criação do Orum(o céu), do Ayê (a terra) e dohomem e explica porque hátanta diversidade e deficiênciasfísicas na humanidade.

São narrativas curtas, bemcontadas e acessíveis, com ointuito, apenas, de introduzir osinteressados no assunto.

O único senão vai para adivisão do álbum em capítulos.Pela lógica, cada capítulodeveria apresentar uma lenda,por isso soa estranho a criaçãoda Terra estar dividida em 3capítulos tendo 2 prólogos no 2º capitulo da história. Autilização desse recurso deveser repensada para aspróximas edições.

E digo “próximas edições”porque é um álbum curtinho,com apenas 80 páginas, quedeixa aquela vontade no leitorde conhecer ainda mais dessareligião. Desde já aguardooutros números, narrandooutras lendas e nosapresentando outros Orixás,aqui conhecemos apenas umpouco de Olorum, Oxalá eOdudua.

Para quem é interessado notema, ou apenas tem acuriosidade de conhecer umpouco dessa mitologia, é um

prato cheio.

Parabéns aos autores porenriquecer a linguagem dosquadrinhos ao abordar umtema infelizmentenegligenciado por muitos anos.

Orixás – do Orum ao AyêAutores: Alex Mir (roteiro), CaioMajado (desenhos), OmarViñole (arte-final e cor)Editora: Marco Zero80 páginasData: Abril de 2011R$ 19,90

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A cozinha afro-brasileira é o reflexo damistura de culturas na Bahia

Na época das grandes navegações, Portugal viviade forma pioneira o fenômeno da globalização,lançando-se mar ao encontro da ampliaçãocomercial, da conquista de novas rotas embusca de alimento e especiarias. Sem duvidas,as grandes matrizes da diversa e variada cozinhabrasileira está em um Portugal ampliado com aÁfrica, com o Oriente e com as centenas deculturas indígenas. Pode-se caracterizar acozinha de herança africana no Brasil comoadaptativa, criativa e legitimadora de muitosprodutos africanos e não africanos que foramincluídos regionais e em outros de presençanacional. O nosso tão celebrado coco-verde vemda índia, passando antes pela África Oriental,África Ocidental, Cabo Verde e Guiné para entãofixar-se no Nordeste brasileiro. O dendê é umadas marcas da cozinha genuinamente africanano Brasil e o dendezeiro é sagrado para osIoruba, sendo conhecido como igí-opé . Amundialização sempre aconteceu na boca.

Por volta do século 16 a alimentação cotidianana África, que foi incorporada à comidabrasileira pelos escravos, incluía arroz, feijão,sorgo, milho e cuscuz. A carne erapredominantes de caça (antílopes, gazelas,búfalos e aves). Os alimentos eram preparadosassados, tostados ou cozidos. Feijão variados,

inhames, quiabos, acréscimos de camarõesdefumados, gengibre, pimentas e óleos vegetaiscomo o azeite-de-dendê fazem a base de umamesa em que vigoram acarajés, abará, vatapásde peixe e galinha, bobós, carurus, entre tantosoutros pratos. Ainda os cardápios sagrados dosterreiros de candomblé trazem alimentos como oipeté, amalá acaçá e bebidas como aluá, feito demilho rapadura, gengibre e água. A alimentaçãodos escravos nas propriedades ricas incluíacanjica, feijão-preto, toucinho, carne-seca,laranjas, bananas, farinha de mandioca e o queconseguisse pescar e caçar; e nas pobres era defarinha, laranja e banana.

Os temperos utilizados na comida eram oaçafrão, o óleo de dendê e o leite de coco. Ocuscuz já era conhecido na África antes dachegada dos portugueses ao Brasil, e tem origemno norte da África, entre os berberes. No Brasil,o cuscuz é consumido doce, feito com leite eleite de coco, a não ser o cuscuz paulista,consumido com ovos cozidos, cebola, alho,cheiro-verde e outros legumes. O leite de coco éusado para regar peixes, mariscos, arroz-de-coco, cuscuz, mungunzá e outras iguarias.

O que vem da Costa:

Genericamente os produtos originários da amplacosta atlântica do continente africano sãoconhecidos como da-costa, por exemplo,pimenta-da-costa, inhame-da-costa, pano-da-costa, palha-da-costa. Há um longo caminhohistórico e econômico unindo o que vem da costana formação do povo brasileiro. O amplopatrimônio gastronômico de civilizaçõesafricanas e de soluções e recriaçõesafrodescendentes fazem um dos mais notáveiscaminhos para compreender o que come obrasileiro.

Fontes:

Atlas Afro-Brasileiro Cultura Popular (Raul Lody)

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FEVEREIRO

Pai Renato d. Obalúwaiyé02.02 – 18 h- MESA DE EXÚ(FIRMESA CARNAVAL CAR-NAVAL)Rua Saint Hilarie, 60 –Bonsucesso – Rj tel. 2260-6246

Pai Alex D. Ossain02.02 – 8 ás 23 hPresente as AguasAlvorada, Missa, Danças,Louvação, Umbanda, Procis-são Maritima, Sirê, Presente eshowsPraia Canto do Forte – CaboFrio – tel. 22 9984-3531 ou9801-3040

Pai Anderson D. Oxoguiane Lucas D. Oxoguian02.02 – 20 hSaida de Iniciação de Iyawô dexangô e YansãRua Indiano, 606 – Sitio TacariBoca do Mato – Pedagio Ca-choeira de Macacu – RJtel. 021 21 2649-6197 ou 8167-4779

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Doté Antonio D. Amaralina03.02 – 10 hFesta de Yemanjáe 44 anos de iniciadoRua Faixa Adutora, 127 – VilaKennedy – Rjtel. 2405-3653 , 7742-4699 ou78502431

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Revista & Editora

UNIFICA

CNPJ:017.248.973/0001-47

Jacqueline Costa

Editora Chefe

Coordenadora da Promoção e Política da Igualdade Racial deMangaratiba

Coordenadora da UNEGRO (Unidade Mangaratiba)

Marcio Alexandre M. Gualberto

Editor & Jornalista Responsável: MTb 23.695

Jornalista, Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN)

José Renato de Araújo

Diretor Comercial

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Obs. Todo aquele que não conseguir a nossa Revista Impressa emnossos Pontos de distribuição. Por favor, entre no site –www.revistaunifica.com.br e tenha nossa Revista na íntegra, podendo:Imprimir, Salvar em arquivo, e ainda Participar da Enquete, ver osVídeos e muito mais... Será uma honra receber sua visita!

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