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A expansão continua A expansão continua TV Cultura chega a 3 milhões de pessoas em 43 localidades do Pará Um gol de placa Um gol de placa Transmissões dos jogos de futebol alcançam audiência recorde Documento deixa de ser obrigatório entre os jornalistas, gerando questionamentos por parte de acadêmicos e profissionais O DILEMA DO DIPLOMA O DILEMA DO DIPLOMA Z YG 360. com PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA FUNDAÇÃO PARAENSE DE RADIODIFUSÃO - ANO II - Nº 6 - ABR/MAI/JUN DE 2009 REDE CULTURA DE COMUNICAÇÃO EM REVISTA

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A expansão continuaA expansão continuaTV Cultura chega a 3 milhões de pessoas em 43 localidades do Pará

Um gol de placaUm gol de placaTransmissões dos jogos de futebol alcançam audiência recorde

Documento deixa de ser obrigatório entre os jornalistas, gerando questionamentos por parte de acadêmicos e profissionais

O dilemA dO diplOmA O dilemA dO diplOmA

ZYG360.comPUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA FUNDAÇÃO PARAENSE DE RADIODIFUSÃO - ANO II - Nº 6 - ABR/MAI/JUN DE 2009

REDE CULTURA DE COMUNICAÇÃO EM REvISTA

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Regina LimaPresidente da Fundação Paraense de Radiodifusão

A Rede Cultura de Comunicação divide com o leitor duas boas notícias: o avanço no processo de reestruturação da programação de seus veículos e na expansão do sinal para os municípios paraenses e a concretização de projetos importantes, que começam a dar frutos. A transmissão dos jogos do Campeonato Paraense de Futebol para o interior do Pará alcançou índices de audiência nunca antes experimentados pela emissora pública; além disso, a nova grade, com programas direcionados para públi-cos específicos, também ganha fôlego, demonstrando que a mudança trouxe um novo gás para a equipe e a população que acompanha nossa programação.

Muitas outras novidades vêm por aí. A TV Cultura fechou parceria inédita com a Rede Francesa do Ultramar (RFO), sediada na Guiana Francesa, para troca de con-teúdos, e continua investindo na tecnologia para levar ao maior número de pessoas possível o conteúdo educativo e cultural da sua programação. O Portal Cultura está cheio de novidades: além de disponibilizar programas da Rádio e da TV Cultura, tam-bém investe na produção de conteúdos exclusivos, com seções que estão agradando aos internautas.

Apesar de ter muito o que comemorar, não podemos dizer que já avançamos tudo o que gostaríamos. Muito ainda deve ser feito. Enquanto caminhamos, a revista ZYG360.com aproveita para discutir temas de interesse dos profissionais que fazem a comunicação da TV, Rádio e Portal Cultura. Nesta 6ª edição, abordamos temas po-lêmicos, mas que não devem ser esquecidos. Nossa matéria de capa trata da questão da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, que não é consenso entre a categoria.

Também abordamos outro assunto espinhoso: o que é censura? Como definir quando os veículos de comunicação e novos meios de interação, como os blogs, estão ultrapassando os limites do bom exercício da liberdade de expressão? Duas sentenças judiciais sobre esta questão estão em foco. Também trazemos entrevista com o pro-fessor Mário Camarão sobre a realidade virtual dos sites de relacionamento e muitas outras matérias interessantes.

Boa leitura!

Um novo momento

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Presidente da FuntelpaRegina Lúcia Alves de Lima

Diretor de TVDimitri Maracajá

Diretor de RádioAntonio Carlos de Jesus dos Santos

Diretor de Comunicação IntegradaMarcos Francisco Urupá Moraes de Lima

Diretor Administrativo FinanceiroValdemir Chaves de Sousa

Diretor TécnicoUlisses Weyl

Diretor de Tecnologia da InformaçãoRafael de Sousa Marinho

Reportagens e textosCantarely Costa (estagiário)

Fernanda MonteiroMarly Quadros

Melina Marcelino (estagiária)Renata Biondi (MTb 1675-DRT/PA)

FotografiaArquivo Funtelpa

Fernanda Monteiro

EdiçãoCarlos Henrique Gondim (MTb 1692-DRT/PA) e

Marly Quadros (MTb 1490-DRT/PA)

Editoração e Tratamento de ImagensCarla Cardoso

RevisãoCarlos Henrique Gondim e Renata Biondi

ImpressãoImprensa Oficial do Estado do Pará

FUNDAÇÃO PARAENSE DE RADIODIFUSÃOAvenida Almirante Barroso, 735 - Belém (PA)

CEP 66093-020TEL: 55 (91) 4005-7759 ISSN 1982-5633

www.portalcultura.com.br

CONTATO COM A REVISTA ZYG360.COM:[email protected]

Abr/mai/jun de 2009. Publicação trimestral da Fundação Paraense de Radiodifusão. Os conteúdos

assinados desta revista são de inteira responsabilida-de dos seus autores. Distribuição dirigida.

Tiragem: 1.000 exemplares.

profissão 14

4 Índice

expansão 26

futebol 32

censura 34

Diploma de jornalista deixa de ser obrigatório para exercer a profissão. Lúcio Flávio Pinto (acima) é a favor da decisão do Supremo Tribunal.

TV Cultura inaugura retransmissoras no interior e chega a 43 municípios e localidades, atingindo mais de três milhões de paraenses.

Transmissões do Campeonato Paraense, pela Rádio, TV e Portal Cultura, alcançam índices de audiência inéditos. Vitória da TV pública do Pará.

Dois veículos de comunicação sofrem intervenção da Justiça, reabrindo discussão sobre a censura no Pará. Acima, o blogueiro Juvêncio Arruda.

cidadania 06artigo I 10doc tv 18minisséries 21história da tv 24vídeos no portal 28história da rádio 38portal cultura 40entrevista 42artigo II 46programação 48belém tem disso 50

Foto: Fernanda Monteiro

Fotos: Fernanda Monteiro

Carlos Sodré/Agência Pará

ZYG360.comPUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA FUNDAÇÃO PARAENSE DE RADIODIFUSÃO - ANO II - Nº 6 - ABR/MAI/JUN DE 2009

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No mês de dezembro, será realizada pela primeira vez a Conferência Nacional de Comunicação. Marcada para os dias 1, 2 e 3, em Brasília, a 1ª Confecom é um passo importante para a discussão sobre a atuação

da mídia no país. O evento, que debaterá o papel dos meios de comunicação privados e públicos e da própria sociedade no de-senvolvimento econômico e social brasileiro, abordará também a atuação dos veículos populares, como rádios comunitárias e jornais impressos, entre outros.

No Pará, uma experiência tem se destacado nos últimos anos, com o diferencial de ser patrocinada pelo próprio Estado. Trata-se do trabalho realizado pela Diretoria de Comunicação Popular e Comunitária da Secretaria de Comunicação do Estado do Pará (Secom), que oferece, desde o ano de 2008, oficinas de jornal impresso, rádio, DJ e grafite.

As Oficinas de Comunicação para a Cidadania acontecem nos bairros de Belém e nas diversas regiões do estado e já atingi-

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>> cidadania <<

A voz da comunidadeProjeto da Secom leva oficinas de comunicação aos municípios paraenses

ram mais de duas mil pessoas. O radialista Luiz Cunha, membro da equipe, relata que o projeto já passou por municípios como Santarém, Castanhal, Bragança, Abaetetuba, Paragominas, Pa-rauapebas, Marabá, Barcarena, Ananindeua e Mosqueiro, além de bairros da capital paraense como Terra Firme e Guamá. Enti-dades como o Grupo de Mulheres Prostitutas da Área Central de Belém (Gempac) e sindicatos também já receberam as oficinas, assim como as detentas do presídio feminino, em Ananindeua, e acampados do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Cada módulo tem a duração de uma semana e reúne de 25 a 30 pessoas, dependendo do local onde está sendo realizado. Ao final, todos os participantes recebem certificado e alguns desco-brem nas oficinas uma vocação. É o caso dos estudantes Jessé Frazão e Harrison Lopes, ambos de 21 anos, que participaram da primeira edição da oficina de rádio, no bairro da Terra Firme.

“Gostamos muito do programa que a gente elaborou e isso está gerando um retorno muito bom. É uma satisfação estar par-

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No último dia de atividade, alunos mostram o resultado das oficinas, com a instalação de uma rádio ao vivo

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ticipando desse projeto”, afirma Jessé Frazão. “Passar oficinas como rádio, jornal impresso, grafitagem e DJ é trazer um pouco de cultura pra cidade, porque tem muitas pessoas legais, que têm conteúdo, basta saber encontrar esse potencial”, completa Har-rison Lopes.

O representante do Governo do Pará na Conferência de Co-municação, Fábio Castro, afirma que o investimento nas oficinas é compromisso assumido. “Um governo democrático e popular precisa se posicionar politicamente e de forma efetiva em rela-ção à comunicação livre. Isso é uma forma de possibilitar a essa população o direito a produzir conteúdo, o direito a se expressar, a dizer quem são, a participar politicamente da sociedade”.

O cronograma da Diretoria prevê que sejam realizadas até o final deste ano cerca de 30 oficinas do gênero. “Não temos pretensão de formar profissionais em uma semana, mas que eles se apropriem desse tipo de ferramenta para fazer uma nova leitu-ra. Muitas escolas, por exemplo, conseguem manter uma rádio-escola que funciona na hora do recreio, outros incorporam as ações ao projeto Escola de Portas Abertas”, explica o radialista Luiz Cunha.

Cada oficina gera um produto no final, completamente criado pelos próprios alunos. O jornal impresso, por exemplo, é plane-jado desde a escolha das pautas (os temas que serão abordados). As matérias e fotografias também são feitas pelos participantes, que recebem um exemplar impresso na hora com o resultado do trabalho feito durante a semana. Os painéis da oficina de grafite e os programas de rádio e TV produzidos também ficam com a comunidade. “Eles se apropriam do espaço da escola, subs-

tituem a pichação pelo grafite. Isso é legal, porque dá a noção de que o bem público é deles. Dificilmente alguém picha por cima”, comenta Luiz Cunha, sobre o resultado das oficinas de grafitagem.

DEMANDASAlém das oficinas, a equipe da Diretoria de Comunicação

Popular e Comunitária, formada por oito pessoas, também é responsável pelo trabalho de divulgação da chegada da gover-nadora aos municípios paraenses, além do levantamento inédito de todo o “centro midiático do Estado”, ou seja, uma espécie de banco de dados com informações sobre os veículos que atuam nos municípios, sejam eles comerciais ou comunitários, e de di-versos gêneros, desde a “rádio-cipó” à “bike-som”, carro-som e aparelhagem.

A Diretoria também oferece assistência técnica e jurídica para rádios comunitárias já outorgadas ou em fase de outorga. “Uma das tarefas é lembrá-los de que a rádio é comunitária. Se ela vende horário, vende programação, aí deixa de ser. Portanto, eles têm que trabalhar através de apoio cultural”, explica Luiz Cunha.

No princípio, conta Luiz Cunha, as oficinas foram pensadas para atingir jovens de 14 a 21 anos. Mas logo na primeira experi-ência uma novidade mudou o foco. “Encontramos uma senhora de 52 anos que fez a oficina de grafite porque trabalhava com decoração de festa infantil e sempre pediam esse tipo de recurso, que ela não dominava. Hoje não temos limite de idade e muitos professores fazem as oficinas. Procuramos limitar só o número de pessoas”, destaca.

Militante do Movimento dos Direitos Humanos de Bragança, Maria Lélia Carvalho, 58, mostra seu talento na oficina de grafitagem

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CONFERÊNCIAA Conferência Nacional de Comunicação terá como tema

“Comunicação: meios para a construção de direitos e de cida-dania na era digital”. Até lá, serão realizadas etapas regionais, organizadas pelos movimentos sociais, com apoio dos governos estaduais. A Plenária do Pará acontecerá no mês de agosto. Luiz Miranda, que coordena a equipe que ministra as oficinas de mí-dia comunitária, afirma que uma das finalidades do trabalho é conscientizar cada cidadão sobre a importância dos meios de comunicação. “As pessoas têm que entender que a comunicação é tão importante quanto a saúde, a educação. É imprescindível desmistificar, também, a ideia de que a produção de jornal, vídeo ou rádio seja cara demais, coisa para grandes empresas”.

Embora grupos privados e políticos ainda detenham o con-trole da comunicação no Brasil, são muitas as experiências em que estes veículos são utilizados pelas comunidades como meios de expressão da realidade e de reivindicação de direitos. Miranda explica que isso acontece porque as grandes mídias têm igno-rado as pequenas populações. “As pessoas querem se ver e se ouvir nos meios de comunicação. Isso explica o crescimento das rádios comunitárias. Elas querem saber o que acontece na sua região, na sua cidade, no seu bairro”.

Quem já passou pelas oficinas mostra uma nova visão dos meios de comunicação. “Aprendi uma coisa diferente: como fun-ciona o jornal. Porque a gente sempre pega a coisa impressa e não sabe como é feito até chegar aos leitores. Tentei tirar o maior proveito disso”, afirma Arthur Amaral, estudante de 16 anos do município de São Domingos do Capim.

“Essa iniciativa da Secretaria de Comunicação vem contribuir para que o desenvolvimento educacional dos nossos alunos na questão social seja adequado para o momento que estamos vi-vendo”, avalia Maycon Vilhena, coordenador da Escola Barão de Igarapé-Miri, em Belém.

Na oficina de rádio, os participantes recebem noções práticas e teóricas e colocam uma rádio em funcionamento

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Sávio Corrêa, de 13 anos, participou das oficinas de DJ em Bragança

Em Parauapebas, as oficinas foram realizadas

no assentamento Palmares II, do Movimento dos

Trabalhadores Sem Terra

As oficinas de grafitagem, rádio,

jornal impresso e DJ já atenderam mais de 2

mil pessoas, em Belém e no interior

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>> artigo <<

O passado e o presente encontram-se no palco midiático

Dos diversos sintomas apresentados pelos teóricos que discutem a nova formação social, cultural e econômica, ou melhor, que revelam o que os autores pós-modernos denominam de mudanças

com relação à modernidade, um será singularmente privile-giado neste texto, qual seja: o modo como todo nosso siste-ma social contemporâneo começou a perder a capacidade de reter seu próprio passado e a viver num presente perpétuo e numa perpétua mudança que oblitera o tipo de tradições que todas as formações sociais anteriores, de um modo e de outro, tiveram que preservar (Jameson, 1993).

De acordo ainda com estes teóricos, a mídia é a principal agente e mecanismo dessa amnésia histórica, cuja tarefa é relegar ao passado, com a maior rapidez, as experiências his-tóricas recentes, em detrimento de uma experiência cada vez mais atual, transformando a realidade em imagens e frag-mentando o tempo numa série de presentes perpétuos, sem profundidade (Jameson, 1993). Ou seja, a função primordial da mídia, segundo eles, é a de nos fazer esquecer, com seu discurso voltado exclusivamente para o tempo presente, que tudo na notícia conspira no sentido de embolar referências do passado, mesmo que imediato. É exatamente a busca des-se presente que respalda a mídia, em alguns casos, quando lhe convém, organizar a temporalidade de seu discurso com o passado ausente.

Uma das principais características das sociedades con-temporâneas é a ambivalência. O campo midiático, por ser um campo que se desenvolve nestas sociedades, também possui características ambivalentes: ao mesmo tempo em que apresenta estrutura inerentemente amnésica, é inescapa-

velmente mnemônica. Por outras palavras, as práticas sociais contemporâneas e as práticas discursivas da mídia revelam, além da incapacidade de reter o passado em detrimento de um presente perpétuo, o apelo constante e intenso à Histó-ria. Vale dizer que amnésia e memória coexistem no interior do sistema social contemporâneo e nas práticas discursivas da mídia.

Para o nosso objetivo, porém, não interessa aqui apenas constatar que as práticas discursivas da mídia, nosso objeto de reflexão, possuem características ambivalentes. Interes-sa-nos, sim, chamar atenção para a maneira como a mídia, apesar de centralizar sua narrativa na estratégia amnésica, lança mão da estratégia mnemônica. A hipótese que move este texto é que a mídia, ao recorrer a uma parte do passado, não o faz com intuito de retratar o real histórico, aquele que está subordinado à realidade e que pode ser comprovado, verificado e testemunhado. Pelo contrário, às vezes em que toma o passado como base de sua narrativa, o faz com ob-jetivo de desencadear reações nostálgicas no receptor e, por conseguinte, interferir no acontecimento do presente, con-tabilizando seus interesses e preservando o seu poder dentro de uma nova correlação de forças na sociedade. Para isso, a mídia escolhe um fato do passado considerado de prefe-rência exemplar, para associá-lo a um fato do presente que, de preferência, provoca um desencantamento da realidade social e que, por estas razões, desperta a indignação geral da sociedade.

Pela estratégia mnemônica, a mídia permite à sociedade, no movimento do tempo, ver o ontem com os olhos de hoje e identificar, neste passado, a sua própria realidade. A mídia

Regina Lúcia Alves de Lima

“A mídia, ao recorrer a uma parte do passado, não o faz com intuito de retratar o real histórico, aquele que está subordinado

à realidade e que pode ser comprovado, verificado e testemunhado. Pelo contrário, o faz com objetivo de desencadear reações

nostálgicas no receptor.”

Durval de S

ouza Filho

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“Através da minissérie ‘JK’, a Globo procurou envolver a sociedade por uma aura de sentimentos nostálgicos e os problemas da

sociedade parecem ser bem menos difíceis de serem resolvidos naquele passado resgatado, em comparação aos nossos desafios

do presente. Um presente sem esperança, mergulhado no mar de lama e de corrupção, marcado por amplas massas de

excluídos, buscando um lugar e um sentido para vida.”

nos ensina a consumir momentos do passado em termos de imagens sofisticadas nostalgicamente evocadas. Neste caso, o passado, sem história, é transformado em uma grande co-leção de imagens vazias e de fácil consumo. Ao resgatar um fato do passado de preferência exemplar, a mídia procura construir uma visão de passado que lhe interessa, para in-terferir na construção de sentido de um fato no presente, provocando nostalgia no receptor.

A recorrência ao passado pela mídia de forma nostálgica nos remete inevitavelmente aos mitos literários, mais especi-ficamente o mito da Idade de Ouro, porque nos mostra com clareza uma constante: é nas épocas de crise, quando tudo parece oscilar, que o mito ressurge, em um contexto proféti-co, estreitamente ligado aos apocalipses:

“... ele se reveste, na cultura ocidental, de uma dimensão filosófica e uma utilização política que favorece a sua so-brevivência. Admirável é a plasticidade do mito da Idade de Ouro, cujos temas incessantemente retomados e submetidos a uma demonstração (filosófica) e às aspirações de um povo (política), se transformou e ofereceu à imaginação uma ima-gem renovada de felicidade humana total”. (Brunel, 1998)

A recorrência ao passado de forma nostálgica recoloca também a questão do pastiche, em que tentativas desespe-radas de recuperar o passado perdido são agora retratadas pela lei inexorável da mudança e da moda. A nostalgia torna possível também o processo alegórico do passado, porque mobiliza certo momento do passado como prática particular de pastiche. É um pastiche do passado histórico, com fortes doses de hiperrealismo, carregando na fantasia e rompendo o compromisso com a realidade. Ao retornar o passado de forma nostálgica, a mídia cria um discurso essencialmente alegórico e reafirma estrategicamente o presente através de fragmentos deste passado revisitado.

É o passado retrospectivo, algo semelhante ao que os franceses denominam de “la mode rétro”, em que momen-tos geracionais específicos desse passado não reinventam um quadro do passado em sua totalidade, mas provocam a sensação e a forma de objetos característicos de um período

anterior, em que almeja “re-despertar” um sentimento do passado diretamente associado a um fato no presente.

A ENCENAçãO DO pRESENtE pELA MODALIDADE NOStáLgICA

Para mostrar como a mídia recorre à estratégia mnemô-nica com objetivo de interferir nos acontecimentos atuais, usaremos como exemplo as chamadas minisséries históricas veiculadas na televisão. A opção pelas minisséries televisi-vas deve-se basicamente a duas razões. A primeira por conta do papel que a televisão, um dos mais importantes veículos da chamada comunicação massiva, desempenha hoje num país como Brasil, em que o índice de analfabetismo ainda é alto (no Brasil, segundo dados da Unesco, são 14 milhões de analfabetos, sendo 600 mil só no Pará), em que o acesso à leitura é cada vez mais precário, em que a tradição oral foi substituída pela televisão. Por isso, não é de estranhar que a televisão tenha se transformado num dos principais meios de entretenimento e informação e que a ficção ofertada por ela passou a ser a principal fonte de referência da socieda-de nos dias atuais. A televisão investe-se, por suas próprias características, de uma forte sensibilidade para captar o seu presente, seja no dia-a-dia de sua função jornalística, seja no sentido de vestir a sua própria ficção com a roupagem de seu tempo, mesmo quando fala de uma época passada.

A segunda, por ser a minissérie um recurso que permite à televisão trazer um fato do passado mesclado de elementos que fazem parte da narrativa ficcional, diferenciando, assim, do formato das telenovelas onde a ficção toma ares de reali-dade. Nas minisséries, a televisão faz o caminho inverso das telenovelas. Ao invés de usar a ficção para introduzir ele-mentos reais, como acontece nas telenovelas a exemplo das obras ficcionais “Que rei sou eu?” e “Salvador da Pátria”, a televisão usa um fato real para introduzir elementos ficcio-nais, como a saber, as minisséries históricas.

Para compreender melhor como a mídia lança mão da estratégia mnemônica, usaremos a minissérie “JK”, exibida pela Rede Globo de Televisão. No início da minissérie, a

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primeira ideia que nos ocorre é a de que a emissora decide relembrar a vida social e política do ex-presidente Juscelino Kubitschek, com o objetivo apenas de relatar ao telespec-tador momentos históricos que marcaram intensamente o país. Entretanto, um olhar mais atento à minissérie nos per-mite perceber que a Globo, ao resgatar a vida de um político que faz parte da história política brasileira exatamente num momento em que o país vivia uma desesperança com as de-núncias de corrupção no campo político, não tinha apenas a intenção de recordar um fato histórico, mas de interferir no momento político, suscitando toda uma onda de lembran-ças, re-vivências e saudades de um tempo memorável, em que o público tem a possibilidade de satisfazer um desejo mais profundo e mais propriamente nostálgico de retornar àquele antigo período e vivenciar novamente uma época exemplar. Aquilo que falamos anteriormente sobre o Mito da Idade de Ouro.

Através da minissérie, a Globo procurou envolver a socie-dade por uma aura de sentimentos nostálgicos e os proble-mas da sociedade parecem ser bem menos difíceis de serem resolvidos naquele passado resgatado, em comparação aos nossos desafios do presente. Um presente sem esperança, mergulhado no mar de lama e de corrupção, marcado por amplas massas de excluídos, buscando um lugar e um sentido para vida, tanto no plano social quanto no plano subjetivo.

Retratado pela autora como herói, desde sua infância, um dos presidentes mais polêmicos do país, a Globo pretende, em verdade, resgatar o ânimo da sociedade brasileira e re-tomar a crença no mito do “salvador da pátria”, em pleno ano eleitoral, num momento de descrença generalizada que se alastrou pelo país, marcado pelos últimos acontecimentos que abalaram o cenário político. Apoiada na imagem e no es-tereótipo do político correto, a emissora busca relembrar um passado distante (época de ouro) com nostalgia, para com-pará-lo com os fatos recentes ocorridos no campo político.

Esta estratégia nos reporta ainda ao que Freud chama de

“É interessante observar que quatro dias depois do último capítulo da minissérie “Anos Rebeldes”, no dia 18 de agosto

de 1992, as mobilizações de rua pelo “fora Collor” assumiram proporções cada vez maiores. Pode até ser que a minissérie

não tenha levado a juventude às ruas, mas talvez tenha contribuído para algumas frases de efeito, como marketing das

manifestações estudantis.”

“luto e melancolia”. Luto, porque a sociedade que tanto in-vestiu na eleição de Lula e acreditou em sua proposta polí-tica, vive o Luto por conta das revelações de corrupção em seu governo. Melancolia, porque a emissora, ao rememorar um fato exemplar do passado, provoca um sentimento de melancolia já que os anos JK marcaram o último governo democrático, que cumpriu mandato inteiro, seguido por um período de instabilidade e de governos militares. É a busca relacionada ao presente e que foi melhor no passado.

“O retorno ao passado representa, aqui, a integração do fato de atualidade a outro fato ‘semelhante’ que o precede. A notícia se inscreve, assim, na reprodução de um modelo na re-atualização de um paradigma”. (Mouilland, 1997)

Além da minissérie JK, outras minisséries também foram veiculadas em momentos muito delicados da política brasi-leira. Em 1992, por exemplo, a Globo lançou a minissérie “Anos Rebeldes”, em meio ao conturbado cenário político: o Congresso, às voltas com a Comissão Parlamentar de In-quérito para investigar ações de corrupção no governo do presidente da República, depois das primeiras eleições pre-sidenciais diretas desde 1964. Naquele ano, o país vivencia o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, por conta das inúmeras denúncias de cor-rupção em seu governo, e a população estava desencantada com o governo: inflação em torno de 20 por cento ao mês e o crescimento econômico do país estancando há mais de dez anos.

É interessante observar que quatro dias depois do último capítulo da minissérie “Anos Rebeldes”, no dia 18 de agosto de 1992, as mobilizações de rua pelo “fora Collor” assumi-ram proporções cada vez maiores. Pode até ser que a minis-série não tenha levado a juventude às ruas, mas talvez tenha contribuído para algumas frases de efeito, como marketing das manifestações estudantis (Lobo, 2000). No entanto, uma coisa é certa: a sociedade imediatamente estabeleceu uma relação de causa e efeito entre “Anos Rebeldes” e os fatos

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“Ao rememorar a vida de JK num momento particularmente delicado da política, a emissora procura oferecer versões para períodos da

história na perspectiva de mostrar um passado que lhe interessa e forjar outra imagem do fato que está sendo abordado no presente. Por isso, não à toa os candidatos à presidência até hoje procurarem

relacionar suas imagens à de JK, dada a mitificação em torno da história dele, gerada pela crença no mito do ‘salvador da pátria’, que vem sendo

explorado pelo marketing político desde o fim da ditadura militar”.

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que resultaram na onda de manifestações estudantis que re-dundaram no impeachment de Fernando Collor.

Outra minissérie que pode ter tido uma relação direta com o fato político daquela época foi a minissérie “Deca-dência”, também exibida pela Rede Globo. Coincidência ou não, ela foi ao ar no mesmo período em que enfrentávamos o dilema da sucessão de Figueiredo e a eleição indireta de Tancredo Neves, sua doença e morte e, por fim, a ascendên-cia de Fernando Collor de Mello e seu tumultuado período de governo.

Enfim, a ideia neste texto não era fazer uma extensa análi-se comparativa entre a minissérie “JK” e a atuação do gover-no Lula. A proposta, em verdade, era levantar alguns pon-tos que nos ajudem a entender que as estratégias discursivas construídas pelo campo midiático, sejam elas mnemônicas ou amnésicas, são reveladoras de como a mídia busca instau-rar processos de legitimação do seu dizer, tendo em vista re-gular o processo de construção social da realidade, ao tempo em que procura moldar sentimentos dos mais variados nos receptores, especialmente se o fato narrado pretende criar uma realidade exclusivamente atual e única para o receptor.

Conclui-se, a partir deste breve relato, que o papel e a função da mídia, dentro da estrutura social de poder, po-dem – dependendo dos interesses que estão em jogo no processo de construção da notícia – ser tanto a de nos fa-zer esquecer quanto de nos fazer recordar. Já em relação à Rede Globo de Televisão, conclui-se que a emissora busca influir no quadro político brasileiro, selecionando situações da história social e política e relacionando-as com as ações políticas dos governos.

Ao rememorar a vida de JK num momento particularmen-te delicado da política, a emissora, estrategicamente, procura oferecer versões para períodos da história na perspectiva de

mostrar um passado que lhe interessa e forjar outra imagem do fato que está sendo abordado no presente. Por isso, não à toa os candidatos à presidência até hoje procurarem relacio-nar suas imagens à de JK, dada a mitificação em torno da his-tória dele, gerada pela crença no mito do “salvador da pátria”, que vem sendo explorado pelo marketing político desde o fim da ditadura militar.

REFERÊNCIAS BIBLIOgRáFICASBRUNEL, Pierre (Org.). Dicionário de mitos literários. Trad. Carlos Sussekind et al. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ed. Ática, 1997.__________. O pós-modernismo e a sociedade de consumo. In: KAPLAN, Ann (Org.). O mal-estar no pós-modernismo: teorias e práticas. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.LOBO, Narciso. Ficção e política: o Brasil nas minisséries. Manaus: Ed. Valer, 2000.MOUILLAND, Maurice. O jornal: da forma ao sentido. Brasília: Paralelo 15, 1997.RODRIGUES, Adriano. Estratégias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 2001.SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998.

Regina Lúcia Alves de Lima é Doutora em Comu-nicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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>> profissão <<

Diploma pra quê?É o que perguntam os universitários de jornalismo, diante da decisão do STF

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Após a queda da Lei de Imprensa, outra decisão recente do Supremo Tribunal Federal mexeu com o jornalismo brasileiro. Por oito votos a um, os juízes do STF derrubaram a exigência

do diploma de jornalismo para exercer a profissão de jornalista. A polêmica decisão não agradou, em geral, aos jornalistas e entidades de classe, como a Federação Na-cional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalis-tas no Estado do Pará (Sinjor-PA), mas foi bem recebida por representantes das empresas de comunicação, como a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), e intelectuais do porte de Lúcio Flávio Pinto.

Os juízes do Supremo invocaram a Constituição Brasileira e a liberdade de expressão para acabar com a exigência do diploma. “Está claro que a exigência de di-ploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendi-mento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar. Fica patente, assim, que o referido ato normativo aten-de a outros valores que não estão mais vigentes em nosso Estado Democrático de Direito”, considerou o ministro Gilmar Men-des, presidente do STF.

Coordenador da Faculdade de Comunicação Social da Univer-sidade Federal do Pará (UFPA), o professor Otacílio Amaral é enfático ao desaprovar a decisão do STF. “O ato do STF é ditato-rial. Seria ridículo assumir que na sociedade contemporânea não prescinda de uma formação de nível superior. O jornalismo não é uma profissão que se aprende por encosto”, afirma Otacílio. Para o professor, a decisão deixou os estudantes de jornalismo em dúvida.

“Essa decisão não fere apenas os profissionais de jornalismo, mas acaba por desestimular o interesse em fazer um curso de nível superior. A Suprema Corte ainda vem com o discurso chinfrim ao comparar o jornalismo à cozinha. Acho que o STF tratou e pena-lizou uma profissão contemporânea ainda com os efeitos de 100 anos atrás, na concepção de que o jornalismo era aprendido nas rodas de bares e mesas de redações da vida”, critica Otacílio.

Ainda assim, o diploma de jornalista continua sendo uma fer-ramenta valiosa no mercado de trabalho. “A busca não é pelo

diploma, e sim pela formação profissional. A formação de nível superior é que credencia não só jornalistas, mas quaisquer outros profissionais”.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA), Sheila Faro, afirma que a maioria dos profissionais que hoje atuam no país era a favor da manutenção do diploma. “Os que são con-tra argumentam que o diploma limita um direito constitucional de todos, que é a liberdade de expressão. Só que neste mesmo artigo, ele diz: para determinadas áreas é necessário conhecimento específico. E aí cabe o exercício do jornalismo. Não se quer com o diploma limitar as pessoas de se expressar, para isso existem espa-ços que garantem à sociedade se expressar. E a sociedade mesmo cobra isso”, argumenta.

Ainda de acordo com a sindicalista, recente pesquisa sobre o governo Lula avaliou também a opinião do brasileiro sobre esta questão e 64,3% dos ouvidos se posicionavam a favor da manu-tenção do diploma. “A sociedade hoje mostrou que ela exige pro-fissionais qualificados. O jornalista tem uma função essencial na sociedade, que é de agente social. E como tal ele tem que ter muita responsabilidade na informação que ele está passando. A socieda-de quer uma informação sensata, precisa, responsável e, sobretu-do, ética. E isso, é lá no banco da universidade que o profissional terá condições de enfrentar o mercado de trabalho”, reforça.

Uma das vozes dissidentes à opinião da representante do Sin-jor é um dos mais bem conceituados jornalistas do Pará, Lúcio Flávio Pinto. Embora seja reconhecido internacionalmente como referência quando se trabalha a cobertura de temas ligados à Ama-zônia, por exemplo, Lúcio Flávio é formado em sociologia e já foi professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Pará.

Ele afirma que o Brasil é o único país que tem imprensa li-vre que ainda mantinha a exigência do diploma para o exercício da profissão. “Eu sempre digo que estamos querendo inventar a roda. O absurdo é a exigência da exclusividade do curso de Comu-nicação, que nem é jornalismo. Em nenhum país com imprensa livre isso foi adotado”, adverte.

A decisão do Supremo Tribunal Federal gerou

reações por parte dos profissionais, que

prometem contra-atacar.

Para Lúcio Flávio Pinto, a exigência de diploma era um resquício da ditaduraFo

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“A exclusividade do diploma foi adotada através

de um decreto lei, um ato espúrio do governo federal,

irmão gêmeo do AI-5. O governo queria exercer

o controle, acabar com a mais brilhante geração do

jornalismo brasileiro.” (Lúcio Flávio Pinto)

Sheila Faro, do Sinjor-PA: diploma significa responsabilidade

Lúcio vai buscar a origem da instituição do diploma para defen-der a queda do mesmo. Ele afirma que a exigência foi engendrada pelos militares à época da ditadura vivida pelo Brasil no período de 1964 a 1985, com o propósito de cercear uma das principais ferramentas de oposição ao regime, a imprensa, que na época era exercida pelos mais diversos profissionais. “Ninguém tinha essa reivindicação da exclusividade do diploma. Ela foi adotada através de um decreto lei, um ato espúrio do governo federal que impôs a exclusividade em maio de 1969. Ele é irmão gêmeo do AI-5 (o Ato Institucional nº5, que deu ao regime poderes absolutos e teve como primeira conseqüência o fechamento do Congresso Nacio-nal). O governo queria exercer o controle, acabar com a mais bri-lhante geração do jornalismo brasileiro”. Na visão de Lúcio, a uni-versidade, sob o cabresto do decreto lei que punia os subversivos, passou a ser o instrumento de controle da ação da imprensa.

Sheila Faro argumenta, no entanto, que hoje os tempos são ou-tros e que as universidades estão enfrentando a crise existencial da profissão investindo mais na formação dos futuros profissionais. “Estão fazendo isso de uma forma muito madura, profissionali-zando, capacitando seus professores, fazendo com que eles discu-tam temas atuais, inserindo matérias dentro da matriz curricular. Então, a academia hoje está batendo de frente com essa possi-bilidade e de uma forma muito bonita, inclusive com apoio dos estudantes no sentido de fortalecer os cursos para mostrar que é importante sim ter o diploma, não por conta de um certificado de garantia, mas para que se possa exigir o mínimo de condições para quem está entrando do mercado de trabalho. Tem que se partir de algum ponto, até na anarquia existem regras, porque não vão se

criar regras para se exercer a profissão?”, rebate.Lúcio Flávio Pinto, por sua vez, considera que bastaria a exi-

gência de qualquer diploma de nível superior. Ele relembra que no período em que foi presidente do Sindicato dos Jornalistas no Pará, de 1978 a 1980, excluiu dos quadros da entidade pessoas que não exerciam a profissão e que haviam conseguido a filiação ape-nas para desfrutar algumas regalias dispensadas aos profissionais da época.

Naquele período, por força da Lei de Imprensa, jornalistas tinham 50% na compra de passagem de avião, isenção total de Imposto de Renda, imunidade para exercer a profissão e financia-mento integral da casa própria. “Essas pessoas, que nunca foram jornalistas, eram usadas como exército de mão-de-obra reserva no caso de greve. Com isso, excluí dos quadros 60% dos filiados da época. Pra continuar no sindicato bastava a pessoa provar que estava atuando”.

Ainda de acordo com Lúcio Flávio Pinto, a proliferação dos cursos de comunicação hoje é mais um fator complicador. “É a perfeição do que os militares queriam em 1969. São latas de sar-dinha: eles espremem as pessoas nesses cursos para colocá-las na lata e fechar, justamente porque tem a reserva de mercado. Só que sofrerão golpe com a crise da imprensa, com as novas mídias, como a internet. Os grandes fecharam ou reduziram quadros. A maioria dos jovens que entra na universidade hoje acha que vai virar uma celebridade, será o grande repórter da TV Globo, e isso acabou”.

Os sindicatos e a Federação dos Jornalistas estão empenhados no sentido de rever a decisão do STF. Além de comunidade no site de relacionamentos Orkut, existe uma comissão nacional que trata do assunto e estimula o debate pelas instituições públicas e privadas.

“A Fenaj assume o compromisso público de seguir lutando em defesa da regulamentação da profissão e da qualificação do jornalismo. Assegura a todos os jornalistas em atuação no Brasil que tomará todas as medidas possíveis para rechaçar os ataques e iniciativas de desqualificar a profissão, impor a precarização das relações de trabalho e ampliar o arrocho salarial existente”, garan-tiu a diretoria da Fenaj, em seu site oficial.

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EstudantEs dE jornalismo sE manifEstam a favor do diploma

“Acho que a profissão tem sim que exigir o diploma, assim como

o médico, o advogado ou qual-quer outra profissão. A exigência

do diploma fortalece e respalda o profissional, e com certeza dá mais credibilidade no trabalho. A ética e o compromisso são levados mais a

sério. Pessoas que passam quatro anos estudando, aprendendo a ter

uma técnica e visão de como vão atuar no mercado com seriedade e responsabilidade, são itens que

fazem um jornalista exercer a função para qual se dedicou. O acom-panhamento acadêmico ajuda no reforço de um bom senso já que o

jornalista tem o papel de ligar a noticia até a população.”raul BEntEs, 24 anos,

estudante de Jornalismo da Faculdade Ipiranga

“Em minha opinião, a quali-dade da informação levada ao

público é o centro da discussão. O diploma de jornalista não é

suficiente, mas fundamental para a profissionalização e melhoria

do que é veiculado na imprensa. Porém, o mais importante é que

as universidades trabalhem a co-municação de forma estratégica,

integrada e com qualidade, forne-cendo os meios para que os futuros profissionais possam pensar.”

rEnata trindadE, 22 anos, estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Pará

“A exigência de diploma para o curso de Jornalismo é algo po-lêmico, mas que não deveria ser. Não há algo mais óbvio e sensato do que exigir de um profissional o atestado da sua formação aca-dêmica que leva em consideração princípios éticos, envolve técnica e também formação crítica. Não que só tenha competência quem vai à faculdade, mas então por que

a exigência de diplomas em vários cursos, e não em jornalismo? O jornalista por fato e direito merece seu registro profissional, não só porque ficou quatro anos na universidade, mas porque presta um serviço relevante à sociedade: a informação ética e de qualidade.”

andrEssa silva, 21 anos, estudante de Jornalismo da Faculdade do Pará

LEI DE IMpRENSA CAI E JORNALIStAS qUEREM REgULAMENtAçãO

Embora tenham opiniões diferentes em relação à discussão so-bre o diploma, Sheila Faro e Lúcio Flávio Pinto concordam em um ponto: o fim da Lei de Imprensa era necessário. No entanto, a falta de regulamentação é ainda mais perigosa para o exercício da profissão. A preocupação é que as ações na Justiça comum se proliferem como uma pandemia pela falta de regulamentação da profissão.

Lúcio Flávio Pinto, que responde a diversos processos judiciais por conta de reportagens de denúncia escritas por ele e publicadas em seu Jornal Pessoal, demonstra preocupação. “Logo que saiu a Lei de Imprensa eu publiquei matéria no Jornal Pessoal dizendo que a ditadura continua. Foi uma decisão tão atabalhoada, já que vai haver uma interpretação individualizada no juízo. A lei civil é pior que a Lei de Imprensa: não tem prescrição, não tem limite de indenização”, afirma o jornalista. Ainda de acordo com Lúcio Flá-vio, a medida vai fortalecer a chamada “indústria da indenização” e acabará fatalmente engessando a atividade jornalística.

Sheila Faro endossa a opinião de Lúcio. “A questão da Lei de Imprensa já vinha sendo discutida há algum tempo. Inclusive, aqueles artigos mais pesados já haviam sido revogados. A Fenaj e o sindicato concordam que os artigos que haviam sido revoga-dos realmente cerceavam a liberdade de imprensa, de expressão e impunham um limite muito severo à atividade de jornalista. Mas a queda da lei de imprensa na totalidade abre um questionamento: vai ser feito agora um debate acerca de uma nova lei que substitua essa e que estabeleça critérios? Por que o jornalista não pode agora ser julgado pela lei comum. Há necessidade de se ter regras, parâ-metros para essa relação, o exercício da profissão com a sociedade, para que não se exagere nos conteúdos, para que não se desrespei-te os seres humanos, ou que caia na vala comum”.

Os jornalistas aguardam, agora, a votação da proposta de lei para regulamentação da profissão, que está parada no Congresso Nacional. A presidente do sindicato diz que um dos empecilhos para a consolidação da nova lei é o próprio desconhecimento da categoria da existência de um marco regulatório para a profissão. “A gente percebeu que o próprio jornalista não tinha conheci-mento da Lei de Imprensa e hoje desconhece o código de ética e incorre em erros completamente bobos, diante de uma categoria que tem como premissa básica a informação”.

“A sociedade exige profissionais qualificados. O jornalista tem que ter

muita responsabilidade na informação que ele está passando.” (Sheila Faro,

presidente do Sinjor-PA)

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Depois de nove meses de muito tra-balho, che-

gou a hora de conferir o resultado da quarta edição do Programa de Fomento e Teledifusão do Documentário Bra-sileiro, o DocTV, reali-zado pela Secretaria do Audiovisual do Ministé-rio da Cultura em par-ceria com a Associação Brasileira das Emisso-ras Públicas e Educati-vas (Abepec). No Pará, o projeto foi desenvol-vido pela Fundação Pa-raense de Radiodifusão (Funtelpa), em parceria com a Associação Bra-sileira de Documentaristas e Curta-metragistas (ABDeC) e patro-cínio do Banco do Estado do Pará (Banpará).

No dia 3 de junho, foram apresentados ao público paraense os documentários que tiveram os roteiros selecionados e que agora serão exibidos nacionalmente pela TV Brasil. “Saudades de Minha Terra” e “Camisa de Onze Varas” documentam duas situações que marcam a realidade do Pará.

O primeiro tem como pano de fundo as bandas de música do interior do Estado, que carregam entre suas partituras histórias muito ricas, não apenas sobre música, mas especialmente das pes-soas: suas trajetórias nas bandas e seus sentimentos. “Saudades de Minha Terra” tem roteiro original do jornalista Nélio Palheta, cuja versão final foi inscrita no DocTV em 2008, por Bernadete Mathias Mello, depois de ter participado da oficina realizada em Belém pelo projeto das emissoras educativas.

“Poderíamos ter escolhido outras localidades do interior do Pará para rodar o filme, mas elegemos Vigia porque as bandas locais encerram histórias de mais de um século. E porque em ne-nhum outro lugar as bandas de música têm uma relação tão vis-ceral com o próprio local e seus personagens, como nessa cidade histórica. Vigia tem no século XVIII as origens da tradição musi-cal, pois foram os jesuítas, entre 1732 e 1760, que ministraram as primeiras aulas de solfa em Vigia”, conta Bernadete.

O documentário narra experiências pessoais e das próprias bandas, que extrapolam a simples execução de repertórios, com uma intensa participação na vida religiosa do lugar (até meados dos anos da década 1960) e concertos. As bandas continuam to-cando dobrados, mas já não tocam missas como antigamente; o

>> rede cultura <<

O Pará em cartazDocumentários resultantes do 4º DocTV são lançados nacionalmente

Os documentários foram lançados em uma sessão especial, no Cine Líbero Luxardo, em Belém

Fotos: Fernanda Monteiro

repertório religioso está restrito às procissões – especialmente o Círio de Nazaré. Hoje, executam um repertório contemporâneo que inclui canções populares, chorinhos, sambas e até música eru-dita, modernizando o acervo.

“O filme é resultado de uma percepção jornalística, mas diria que é um tributo vigiense. Há muito tempo, eu pensava docu-mentar a história das bandas de Vigia; a primeira intuição foi le-vantar as histórias a partir da leitura dos atuais meninos da banda. Originalmente, o filme se chamaria ‘Meninos da Banda’, mas no decorrer da produção e das gravações percebemos que era preciso ter também as narrativas dos músicos que já não tocam mais; des-cobrimos também que as meninas têm, hoje, um papel muito forte nas atividades das bandas. E o mais forte foi constatarmos que a peça que mais emociona – tanto os velhos quanto os músicos atuais, além do público – é o dobrado ‘Saudades (ou Saudade) de Minha Terra’”, relata Bernadete.

Em Vigia, existem cerca de 500 meninos e meninas estudando música nas escolinhas das três bandas. Suas escolinhas preenchem espaços fundamentais na comunidade, nas áreas da educação, arte, cultura e lazer. É o que afirma o pianista Paulo José Campos de Melo: “As bandas fazem um trabalho social que deveria ser feito pelo poder público. Os governantes não se apercebem do poten-cial e do material que eles teriam em mãos, se soubessem lidar com isso, no que diz respeito à escola de música”.

Outro depoimento que diz muito desse aspecto é de Lucivaldo Reis, que aparece no documentário porque, quando criança, era “estante” (carregava as partituras) da Banda 31 de Agosto: “Hoje, uma escola de música no interior tira as crianças da rua. Ela educa

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e leva o ser humano à dignidade na sua vida”.Outro mérito do documentário “Saudades de Minha Terra” é

provocar a discussão sobre o papel das bandas em comunidades interioranas. “O filme vai criar um sério ‘problema’, porém positi-vo, para as bandas de Vigia, porque vai estimular muitas crianças e jovens a serem músicos”, diz o jornalista Nélio Palheta, que divi-diu a direção do projeto com Aladim Júnior.

O documentário levou cerca de seis meses para ser gravado em Vigia. Foram documentados concertos, as bandas no Círio de Nazaré, a homenagem aos músicos veteranos da 31 de Agosto e ensaios. Produzido pela TV Norte, de Belém, o filme tem 52 minutos e versões legendadas em inglês e espanhol. A direção de fotografia é de Wellington Brawn, que também fez cinegrafia. A edição foi feita por Sávio Palheta e a produção, por Francinéa Pimenta.

ANáLISE DA REALIDADE

O segundo projeto premiado foi “Camisa de Onze Varas”, que originalmente chamava-se “Profissão: Escravo”. Dirigido pelo publicitário Walério Duarte, o documentário conta a histó-ria dos 16 homens de São João da Ponta, cidade do interior do Pará, escravizados em 1974. Esses homens foram recrutados por um “gato”, pessoa que arregimenta mão-de-obra nessas localidades para trabalhar em uma fazenda. Ali, descobriram a terrível realidade do trabalho escravo e organizaram uma fuga. Após mais de um mês andando pela mata cerrada, 12 completa-ram o caminho de volta. Outros três desapareceram misteriosa-mente e um foi deixado para morrer, deitado em sua rede atada “no meio dos paus”. Estava cansado demais para continuar.

O roteiro não abre diretamente a discussão sobre o trabalho escravo, mas através da história dos homens de São João da Ponta,

O Programa de Fomento e Teledifusão do Documentário Brasileiro, o DocTV, é realizado pela Secretaria do Audiovisual

do Ministério da Cultura em parceria com a Associação

Brasileira das Emissoras Públicas e Educativas (Abepec)

revela os detalhes do que sofrem as pessoas que ainda hoje são submetidas às condições subumanas de sobrevivência. “A gente tem muitos registros de trabalho escravo. Este é tema muito pre-sente no interior do estado”, considera Walério.

Para o documentarista, este é um assunto que vai trazer para a região um “outro olhar” sobre o problema, principalmente para as pessoas de São João da Ponta, cidade onde se passa a toda a história. “Este filme vai reabrir um canal de discussão sobre este tema na cidade”, acredita.

O primeiro contato com os sobreviventes não foi uma tarefa fá-cil. “Eles não gostam de conversar sobre o passado”, revelou o di-

retor. Mas depois de mui-ta insistência, finalmente quatro deles resolveram contar suas histórias. “Ca-misa de Onze Varas” utili-zou a metalinguagem para narrar a saga, que contou com a participação no ro-teiro e realização de Cláu-dio Assunção.

Para Expedito Negrão, filho do Expedito Piedade, o “Miró”, um dos perso-nagens que viveram a saga dos escravos perdidos em São João da Ponta, a expe-riência foi única e, ao mes-mo tempo triste, pois teve que reviver as desventuras dos trabalhadores. “Eu fiz o papel do meu pai, Expe-dito Piedade, que foi um dos que mais sofreu dos 16 homens que ficaram perdidos na mata, tentan-do fugir do trabalho escra-vo. Fomos seis escolhidos Expedito Negrão interpreta o próprio pai no filme “Camisa de Onze Varas”: lembranças tristes

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Dirigido pelo publicitário Walério Duarte, o documentário

“Camisa de Onze Varas” conta a história dos 16 homens de

São João da Ponta, cidade do interior do Pará, escravizados

em 1974. Ao tentar fugir do trabalho escravo, três

desapareceram e um morreu.

para fazer os personagens reais e fizemos tudo o que aconteceu lá, na mata, durante os 36 dias que eles ficaram perdidos. A ex-periência foi boa e, ao mesmo tempo, triste, porque tivemos que relembrar e viver de novo tudo aquilo que eles passaram naquele momento e isso é difícil para nós”.

Alguns atores que participaram do documentário assistiram, em primeira mão, à exibição de estreia do documentário, no dia 3 de junho. “A iniciativa do DocTV permite, por exemplo, esse tipo de encontro dos personagens reais participarem do lançamento do próprio filme. E como o DocTV tem o alcance nacional, é uma forma da história deles, tão contida na cidade-zinha, alcançar o Brasil e o mundo”, diz Walério Duarte. Com cerca de 20 mil habitantes, São João da Ponta é uma localidade pequena e com problemas de acesso e comunicação. Além da história, o filme coloca em foco imagens características da re-gião amazônica.

João Inácio, da Produtora Caiana Filmes, relata que para tornar a narrativa mais interessante, o filme não tem trilha sonora, o que cria uma tensão específica. “É tudo som ambiente. São detalhes que o grande público não vai perceber, mas ele entra no subcons-ciente para percepção, para o sentimento dos personagens. São barulhos de passarinho, de água, árvores, folhas. Elementos da natureza que estão presentes dentro do universo dos personagens

Filmado em Vigia, o documentário “Saudades de Minha Terra” conta a trajetória das bandas musicais do interior paraense

do documentário, inseridos cuidadosamente para compor a malha sonora desse universo, que vai impulsionar o sentimento dos te-lespectadores”, revela.

Raimundo Siqueira

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>> teledramaturgia <<

Luz, câmera, ação!Em iniciativa inédita, livros viram minisséries na tela da TV Cultura

O universo criado pelos escritores paraenses Haroldo Maranhão e Ildefonso Guimarães ganhará vida na tela da TV Cultura. As obras literárias “Miguel, Miguel” e “Dia de Cão”, de autoria dos dois escritores paraenses, respectivamente, serão adaptadas para

o formato de minissérie e exibidas em cinco capítulos ainda este ano.A produção é resultado do primeiro Concurso de Minisséries realizado

no país, iniciativa da Fundação Paraense de Radiodifusão – Funtelpa. De-pois de uma etapa de seleção que iniciou com as inscrições, no ano passado, os dois projetos contemplados receberam, no mês de abril, a quota de R$ 100 mil cada para iniciar a gravação das minisséries, que deverão estar con-cluídas até o mês de setembro.

Roger Elarrat é o diretor e roteirista de “Miguel, Miguel”, que terá a produção as-sinada pela Digital Produções. Entusiasma-do com a oportunidade de ser um dos pri-meiros a enveredar pela teledramaturgia em uma televisão pública no Brasil, ele conta que o segredo para ter o projeto aprovado foi ter fugido da complexidade. “Eu procu-rei um projeto simples, com uma estrutura que não precisasse de locações distantes da capital ou que tivesse alguma produção de época, e aí cheguei ao ‘Miguel, Miguel’, que é um livro pequeno e muito famoso, por-que já foi leitura do vestibular”, comenta.

Os realizadores independentes come-moram a abertura de um novo espaço para a produção paraense. “Esse edital é pioneiro no Brasil. A TV Cultura está de parabéns. Eu espero estar à altura, honrar um edital como esse. A gente sabe que os custos são altos, o orçamento é apertado, mas ao mesmo tempo é a oportunidade de produzir o primeiro, tirar o melhor dis-so, estimular o crescimento da produção audiovisual no estado”, comenta Elarrat, diretor dos curtas-metragens “Vernissage” e “Visagem” e do documentário “Chupa-Chupa - A História Que Veio do Céu”.

Cada realizador recebeu da Funtelpa uma verba de R$ 100 mil para a produção das minisséries, que serão exibidas ainda em 2009

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Na produção de “Miguel, Miguel”, serão envolvidas cerca de 40 pessoas. Elarrat diz que o principal desafio do projeto é a adaptação de uma obra literária para a televisão. “A minissérie tem uma história pontuada ao longo de fragmentos. Minha pri-meira estratégia durante a elaboração do roteiro foi fazer uma história que deixasse ganchos abertos no final de cada episódio e que se desdobrasse no episódio seguinte. É uma logística que, di-ferentemente de um filme único, tem uma história que percorre os nódulos dramáticos do início ao fim. Espero que dê certo”.

Fernando Pena de Carvalho, da Digital Produções, afirma que o concurso veio em boa hora, já que, devido à crise internacional, as produtoras estão enfrentando dificuldades. “A produção estava praticamente voltada para o setor comercial e tivemos uma queda de quase 80% em relação ao mesmo período do ano passado. Para se ter uma idéia, o nosso principal clien-te, que fazia uma média de quatro comerciais por semana, hoje está fazendo um por mês. Então, esta-mos procurando outras atividades além da comercial, exatamente pra tentar sobreviver”.

Ele afirma ainda que a inicia-tiva da Funtelpa demonstra que a Rede Cultura está antenada com o futuro das comunicações no mundo. “O concurso é uma oportunidade, o futuro, porque a quantidade de mídias que podem ser incorporadas pela televisão

é grande, como o telefone celular, a internet, ou seja, é um leque de oportunidades que está se abrindo”.

LOCAçÕESEnquanto o diretor de “Miguel, Miguel” optou por locações

mais acessíveis, em Belém, a equipe que está por trás da produção de “Dia de Cão” sonha alto. Como explica João Inácio, da Caiana Filmes, o desejo é reproduzir a história no cenário pensado pelo escritor Ildefonso Guimarães, o município de Óbidos, no Baixo Amazonas. “O Walério [Duarte, diretor da minissérie] pesquisou

muito qual seria o escritor paraense mais interessante. E encontramos uma série de características na obra do Il-defonso que nos atrai muito enquanto realizadores. É ób-vio que é uma obra talvez um pouco mais difícil, mas isso nos dá gás para que a gente possa fazer um trabalho mais interessante”, acredita. A pro-dução envolverá cerca de 50 pessoas.

“Dia de Cão” conta a his-tória de um garoto que vive em situação de risco e que tem como seu único com-

panheiro um cachorro. Ele passa por diversas situações dentro da minissérie. De acordo com o produtor, em cada episódio da minissérie ele viverá uma situação diferente. Mesmo sendo a pri-

Capa do livro “Miguel, Miguel”, de Haroldo Maranhão

Reprodução

“Este é um piloto na área da teledramaturgia, que não é fácil de fazer. Começamos bem, porque os projetos premiados têm temáticas

importantes.” (Dimitri Maracajá, diretor da TV Cultura)

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Roger Elarrat, diretor e roteirista de “Miguel, Miguel”: “Esse edital é pioneiro no Brasil. É a oportunidade

de produzir o primeiro e estimular o crescimento da produção audiovisual no estado”

João Inácio, produtor de “Dia de Cão”: “Essa é a nossa contribuição para o nascimento de uma nova fase na produção independente do Pará. A gente procurou logo fazer uma obra de impacto, que fosse importante de ser contada”

meira experiência do grupo com minissérie, João Inácio diz que a pretensão de fazer um roteiro mais elaborado tem justificativa. “Essa é a nossa contribuição para o nascimento de uma nova fase na produção independente do Pará. Por isso, a gente está se empenhando ao máximo. A gente procurou logo fazer uma obra de impacto, que fosse importante de ser contada”.

Assim como os realizadores, a presidente da Fundação Para-ense de Radiodifusão, Regina Lima, também está entusiasmada com o início da produção audiovisual da TV Cultura. “Estou apostando todas as fichas porque acredito que é uma experiência inédita, do ponto de vista das TVs públicas. E nós seremos co-baias, pois vamos fazer um formato que os próprios produtores locais não estão habituados a trabalhar. Mas em compensação, se ele der certo, estaremos criando um nicho dentro das TVs públicas, que tenho certeza que será o maior sucesso”, comenta.

Ainda de acordo com a presidente da Funtelpa, além de mo-vimentar o circuito independente de produção audiovisual, o edital, que deverá se repetir em 2009 para a seleção de mais dois projetos, tem a preocupação de contribuir com a educação, já que as minisséries apresentarão a obra de autores paraenses, alguns, tema de leitura obrigatória para o vestibular, como já foi o caso de Haroldo Maranhão. “A TV pública tem como seu eixo condutor a questão da educação, por isso resolvemos fazer a adaptação de obras de autores paraenses. Sabemos que boa parte dos nossos alunos hoje não conhece os autores paraenses. Isso é uma forma de divulgar esses autores e uma oportunidade

para os criadores”.Regina Lima anuncia também que em breve a Funtelpa abrirá

editais direcionais para os profissionais de teatro e música. “Isso envolve dinheiro, dotação orçamentária que nem sempre nós temos, mas para isso vamos buscar parceiros. Tenho interesse muito grande de que isso tenha regularidade na nossa grade de programação”.

Confirmando isso, o diretor da TV Cultura, Dimitri Maracajá, explica que a Funtelpa está em busca de parcerias para executar outros projetos, inclusive o segundo edital para o Concurso de Minisséries. “O projeto tem várias fases. Os primeiros premiados têm cinco meses para aprontar tudo. Eles têm algumas dificulda-des por conta de figurinos, atores, mas estão caminhando. A TV vai fazer um acompanhamento via programas, como o Cultura Paidégua e o Moviola. Será uma espécie de making of da minis-série, com o nome provisório de Set Minissérie, onde a gente vai exibir como estão sendo realizadas essas produções”.

Dimitri afirma que diretores de outras emissoras estão acompa-nhando, de modo informal, a iniciativa da Funtelpa e, dependendo do resultado do Pará, podem enveredar pelo mesmo caminho. “O que é importante ressaltar é que este é um piloto na área da tele-dramaturgia, que não é fácil de fazer. Começamos bem, porque os projetos premiados têm temáticas importantes. O ‘Miguel, Miguel’ é uma forma de retratar um autor tão importante como o Haroldo Maranhão e a gente precisava dessa temática tratada dramaturgi-camente. O outro tem um apelo mais político-social. Acho impor-tante ter essa diversidade nas duas temáticas”.

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>> história da tv <<

A informação na frentePrimeiro programa da TV Cultura, Jornal Cultura está no ar há 22 anos

Mais informação e menos notícia. A frase pode parecer sem sentido, mas representa bem a diferença entre o jornalismo comprometido com a sociedade e aquele apenas preocupado com o lucro. Essa é a caracterís-

tica dos programas produzidos pelas emissoras públicas, como a TV Cultura do Pará, que possui entre os seus principais programas o Jornal Cultura, que todos os dias leva informação, mas também estimula o debate sobre assuntos de interesse público.

O jornalismo da Rede Cultura de Comunicação tem como papel fortalecer a participação do público no debate dos temas impor-tantes para a cidadania. O seu principal programa diário de infor-mação, o Jornal Cultura, entrou no ar no mesmo ano da inaugura-ção da TV, em 1987, sendo o primeiro noticiário exibido pela TV pública do estado. Rosa Rodrigues foi a primeira apresentadora.

A queda do Edifício Raimundo Farias, em Belém, no final da década de 1980, foi uma das primeiras coberturas jornalísticas de impacto do jornal. Na ocasião, as luzes do equipamento da repor-tagem foram colocadas a serviço do Corpo de Bombeiros para auxiliar no resgate das vítimas da tragédia.

Atualmente, o Jornal Cultura tem duas edições, com duração de 40 minutos cada, sendo que a primeira edição exibida às 12h05

No ar desde 1987, o Jornal Cultura atualiza os telespectadores de várias partes do estado em duas edições diárias

O Jornal Cultura é o principal programa do jornalismo da TV Cultura, que tem como papel fortalecer a participação do

público no debate dos temas importantes para a cidadania.

e a segunda às 19h, ambas ao vivo, de segunda a sábado. Os prin-cipais acontecimentos da cidade e do interior paraense viram des-taque no Jornal Cultura, que apresenta, ainda, a repercussão dos fatos que contribuem para o processo de formação da história no estado do Pará.

Cultura, economia, política e cidadania são as editorias que fa-zem parte do jornal. A tônica é buscar a cobertura crítica das áreas

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A informação na frentePrimeiro programa da TV Cultura, Jornal Cultura está no ar há 22 anos

Cássia Mesquita (foto) apresenta o Jornal Cultura 1ª Edição, exibido às 12h05. A segunda edição é apresentada por Gleyse Menezes

A qualidade do jornalismo da TV Cultura foi reconhecida pela TV Brasil, que passou a incluir parte da produção jornalística em seu noticiário, que vai ao ar

todas as noites.

de interesse público. A partir deste ano, a TV Cultura também incorporou na primeira edição um resumo do que será destaque no programa Esporte Cultura, exibido logo depois noticiário. “A primeira edição do Jornal Cultura abre a possibilidade de inserir o esporte por ser um jornal com matérias mais comportamentais”, explica Paloma Andrade, coordenadora de jornalismo da TV.

RECONHECIMENtOA qualidade do trabalho da equipe de jornalismo da TV Cul-

tura foi reconhecida pela TV Brasil, que passou a incluir parte da produção jornalística da TV em seu noticiário, que vai ao ar todas as noites para todo o Brasil. De acordo com Paloma Andrade, o processo de escolha das matérias que são exibidas nacionalmen-te é feito, normalmente, através de um contato inicial da equipe de produção do jornal da rede. Quando não há, na avaliação dos produtores, matérias de repercussão nacional, são sugeridas maté-rias especiais. “As matérias especiais são uma forma de divulgar e incentivar a produção e a cultura local”, avalia a coordenadora de jornalismo.

O Jornal Cultura também estreou no mês de maio deste ano o quadro “Cidade Viva”, exibido quinzenalmente na primeira edi-

ção do jornal, com o intuito de mostrar de forma detalhada as peculiaridades de cada bairro de Belém, com destaque para temas como patrimônio histórico, segurança, vida noturna e culinária. A proposta é expandir o quadro, para futuramente ter como tema também bairros de outros municípios da Região Metropolitana de Belém, e posteriormente, expandir ainda mais a cobertura.

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>> rede cultura <<

Cultura chega a 43 localidadesProgramação da TV pública do Pará atinge agora três milhões de pessoas

A TV Cultura do Pará avança no processo de expansão do seu sinal pelos municípios paraenses e fecha o pri-meiro semestre de 2009 com a marca de 43 municípios e localidades, além da Região Metropolitana de Belém,

recebendo o sinal da TV pública paraense. O projeto iniciou com a inauguração da primeira retransmissora, em janeiro de 2008, quando os moradores de Abaetetuba, nordeste paraense, começa-ram a acompanhar a programação pelo Canal 11.

A entrada de um novo sinal de TV não significa apenas mais uma opção para os moradores dos municípios onde o sinal está sendo instalado, mas representa a inserção de um novo olhar, uma nova programação, de uma forma diferenciada de mostrar a cul-tura do Pará e de outros estados, através de uma empresa que tem, além da audiência, preocupação em levar ao público entrete-nimento, educação em uma programação de qualidade.

Jery Carlos Trindade, morador do município de Igarapé-Miri (distante 95 quilômetros de Belém), acredita que a Rede Cultura de Comunicação acertou em tomar a iniciativa e levar a sério esta interiorização da comunicação pública. “São inúmeros programas que eu assisto na Cultura, principalmente os de educação, porque vou prestar vestibular no fim do ano. Depois vem o jornalismo que é muito bom, principalmente o Sem Censura Pará. A programação é uma forma que temos de estar ligados nas coisas que aconte-cem em Belém”. Jery veio para a capital paraense estudar desenho técnico de construção civil, no Instituto Federal do Pará, mas já retornou ao município, onde encontrou oportunidade de emprego e também sua esposa, Rosineide Lima, funcionária pública.

O morador, de 40 anos, relembra o dia em que o Canal 11 da TV Cultura saiu do ar por causa de problemas técnicos. “Tem muita gente aqui em Igarapé-Miri que assistia à TV Cultura, mas a última transmissão foi a final do campeonato paraense entre Pay-sandu e São Raimundo, só que teve um problema técnico e o canal saiu do ar. Desde então, a galera aqui reclama e sempre liga para a Cultura pedindo que um técnico venha consertar a antena, que está quebrada”.

Experiências desse tipo nos fazem perceber que o papel de uma emissora pública e educativa de telecomunicações ultrapas-sa o limite de simplesmente transmitir ou retransmitir um sinal, programas jornalísticos, de entretenimento, infantis, filmes, docu-mentários ou esportes. A responsabilidade aumenta principalmen-te porque, muitas vezes, a TV pública é o único canal de comu-nicação entre os moradores de localidades distantes. “Por favor, não nos deixem com água na boca de seus programas, pois não aguentamos mais a programação de outra emissora (além da Cul-tura, apenas uma empresa privada transmite para o município)”, desabafa Jery.

Fazer a comunicação pública em qualquer cidade ou país não é uma missão fácil. E no Pará, por suas características territoriais, essa missão torna-se ainda mais árdua e desafiadora. Não somen-te pela distância entre os 143 municípios do Pará, mas também pela dificuldade de acesso a essas localidades. “É possível, em São Paulo ou Minas Gerais, atravessar o estado inteiro de carro. Já no

A entrada de um novo sinal de TV representa mais uma

opção para os moradores dos municípios e a inserção de um novo olhar, uma forma diferenciada de mostrar a cultura do Pará e do Brasil.

As retransmissoras levam informação para todo o estado

Fotos: Fernanda Monteiro

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Pará isso é impossível. A malha aérea não cobre todo o estado e, em algumas localidades, as oportunidades de acesso são mínimas, como é o caso do município de Curionópolis”, explica a presiden-te da Funtelpa, Regina Lima.

A boa notícia é que a programação da TV Cultura do Pará não está restrita aos moradores do estado. O Portal Cultura, o tercei-ro veículo da Rede Cultura de Comunicação, rompe as fronteiras territoriais e disponibiliza acesso à programação da TV e Rádio Cultura FM para os internautas de todo o mundo, ao vivo, através do sistema de streaming.

A inauguração do Canal 8, em Soure, en-cerrou o mês de maio como a 42ª retransmis-sora instalada, garantindo a recepção do sinal da TV Cultura para os quase 23 mil morado-res do município, distante 80 quilômetros de Belém.

Estimulada e desafiada diariamente pe-los obstáculos e conquistas, a Fundação Pa-raense de Radiodifusão orgulha-se em levar a programação da TV Cultura do Pará para mais de três milhões de paraenses, que po-

dem assistir aos programas produzidos pela TV pública paraense, como os noticiários Jornal Cultura 1ª e 2ª Edições, Jornal Cultura Direto da Redação, Esporte Cultura, além dos programas Sem Censura Pará, Cultura Paidégua, Sementes, Brasil da Amazônia, 7 Set Independente, Cinerama, Moviola, Café Cultura, Cena Mu-sical e o infantil Catalendas, assim como os programas de grade nacional, vindos pela TV Brasil, como o Cocoricó, Repórter Bra-sil, Observatório da Imprensa, Conversa Afinada e Roda Viva, entre outros.

Jery Carlos, morador de Igarapé-Miri, está satisfeito com o retorno da TV

Cultura à cidade: “Assisto a inúmeros programas na Cultura, principalmente

os de educação”

Representantes da Funtelpa, do governo estadual e da prefeitura inauguram retransmissora no município de Capitão Poço

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>> internet <<

Prata da casaPortal Cultura investe na produção de vídeos inéditos em dois espaços

Além da convergência de mídias da TV e da rádio Cultura, o Portal Cultura apresenta outra novidade para os inter-nautas: a produção própria de vídeos inéditos. Dividi-dos em dois espaços – “Portal Entrevista” e “Criação”

– os quadros apresentam dois entrevistados por mês.Desde o ano de 2007, o Portal vem fazendo algumas trans-

missões ao vivo de palestras, shows, peças de teatro e eventos, como o Encontro Nacional da Associação Brasileira das Emis-soras Públicas, Educativas e Culturais, e com o início do quadro “Criação”, essa produção passou a ser permanente. No “Criação”, os artistas convidados contam detalhes sobre como desenvolvem determinado projeto.

O primeiro convidado do quadro foi o músico Paulo Moura, que estava lançando um show ao vivo. Foi a partir desta experi-ência que o quadro passou a ser direcionado para o processo de criação de algum trabalho específico do artista tema do programa, seja sobre o processo de produção de CD, lançamento de livro, exposição, peça de teatro etc.

Andréia Rezende, produtora do Portal Cultura e responsável pelo quadro, deixa o artista livre para explicar o caminho percor-rido para a finalização da obra. Como foi o caso do programa exibido em 20 de fevereiro deste ano, com o quadrinista Otoniel Oliveira, que falou sobre o projeto de quadrinhos “Pretérito Mais Que Perfeito”, ganhador da Bolsa de Pesquisa, Criação e Experi-mentação Artística do Instituto de Artes do Pará (IAP). Otoniel

O “Criação” e o “Portal Entrevista” trazem duas

entrevistas inéditas por mês. No primeiro, os artistas convidados

contam detalhes sobre como desenvolvem determinado projeto. O “Portal Entrevista”

abre espaço para um bate-papo dinâmico com personalidades

da cultura paraense.

O crítico de cinema Marco Antonio

Moreira, presidente da Associação de

Críticos de Cinema do Pará (ACCPA),

foi entrevistado pela jornalista Jacklene Carrèra no “Portal

Entrevista”

Fotos: Fernanda Monteiro

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é um dos profissionais paraenses que têm conseguido destaque no cenário nacional e, inclusive, foi o único convidado da Região Norte para integrar um seleto grupo que participará da edição em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa.

INtERAçãOO “Portal Entrevista”, por sua vez, tem

um caráter mais dinâmico, com muitas per-guntas e com uma interação total entre en-trevistador e entrevistado. Como na conver-sa feita por Jacklene Carrèra, em 14 de maio de 2009, com o crítico de cinema e presi-dente da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), Marco Antonio Moreira, e que se transformou num bate papo di-vertido sobre crítica e história do cinema, produção paraense, trajetória do cineclube e a nova experiência que é a parceria entre o Portal Cultura e a entidade.

A associação vai colaborar semanalmen-te com críticas de filmes que serão disponi-bilizadas no Portal Cultura. Marco Antonio elogiou a iniciativa do Portal. “É ótimo ver a tecnologia ser usada a favor da informa-ção e da história. É incrível o que pode ser feito hoje. Uma produção de vídeo simples e ao mesmo tempo tão profissional, ao ser disponibilizado no portal, abre espaço para muita gente ver”.

O quadro é produzido pelo jornalista Ronaldo Quadros, com a colaboração de Ja-cklene Carrèra. Cada apresentador tem um jeito especial de se preparar para as entrevis-tas, como explica Jacklene: “Primeiro sele-ciono um tema e pesquiso sobre ele, depois escolho uma pessoa que seja especialista no assunto. É neste primeiro contato que per-gunto se o futuro entrevistado tem algum material e se ele pode sugerir alguns pontos a serem enfatizados, porque me preocupo em não estender muito a entrevista e apro-veitar ao máximo o espaço, abordando da melhor forma o que está sendo discutido”.

Jacklene também fala sobre o fato de estar trabalhando com um programa totalmente voltado para o usuário de internet. “É uma experiência totalmente nova, pois antes eu falava para a câ-mera pensando no público de televisão. No ‘Portal Entrevista’, tenho que ter uma abordagem diferente, pois o internauta tem um outro olhar. Estamos ensaiando para utilizar este novo veículo que é a web TV, sem contar que os programas do portal são ideais para divulgar o conhecimento e os profissionais da região para fora do estado”.

Cada um da equipe do portal ajuda em uma parte do pro-cesso de produção dos programas. As pautas são feitas pelo coordenador do portal, Andrei Miralha, mas também contam com as dicas de Andréia Rezende, Ronaldo Quadros, Daniela Walendorff e Jacklene Carrera. A filmagem e edição ficam por

conta de Andrei e de Rodolfo Nogueira.Para o futuro, a equipe do portal tem o projeto de trazer

para os internautas os bastidores da produção dos programas Funtelpa. “Já foi feita uma experiência com a equipe do “7 Set Independente” – um bate-papo com o diretor Guaracy Jr. e o apresentador do programa, Ruy Montalvão. Foi muito bacana e a ideia é continuar”, explica Andrei. Para assistir às postagens mais recentes do “Portal Entrevista” e do “Criação”, acesse www.portalcultura.com.br.

Nos bastidores do “Criação”, o gerente do Portal Cultura, Andrei Miralha, orienta o estagiário em multimídia Rodolfo Nogueira

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>> parceria <<

Pará à francesaTV Cultura fecha acordo com a RFO para troca de conteúdos

Este ano está sendo comemorado o “Ano da França no Brasil” e todas as cidades brasileiras se mobilizam social e culturalmente para receber e produzir programas, even-tos, shows e exposições com as características e cultura

do país europeu como ingredientes principais. E o Pará tem um motivo a mais para comemorar a data. A Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa), através da TV Cultura do Pará, e a Rede Francesa de Televisão do Ultramar (RFO), anunciaram termo de cooperação entre as emissoras públicas de radiodifusão dos dois países, que prevê a troca de conteúdos.

Em visita técnica ao Pará pela terceira vez, Jean-Pierre Karam, diretor-delegado das emissoras da região Amazônia-Caribenha da RFO, sediada na Guiana Francesa, conheceu os espaços da TV Cultura do Pará para observar a metodologia e o fluxo de trabalho das equipes de jornalismo e de produção da emissora pública do Pará. Na primeira visita, em novembro de 2008, a equipe de técni-cos guianenses conheceu os equipamentos e a tecnologia que a TV paraense utiliza. Em um segundo momento, a diretora-regional da RFO Guiana, Liliane Francil, acompanhada de uma equipe de jornalismo da Guiana, esteve em Belém para trocar informações com os jornalistas paraenses. “Essa visita foi importante para que nossos jornalistas pudessem conhecer mais que a parte técnica da Funtelpa: a cultura, os hábitos, as expressões do povo paraense”, explica Jean-Pierre.

Para ele, a escolha pelo Pará não foi aleatória. “Estamos mui-to próximos geograficamente. Somos vizinhos, fazemos parte do mesmo continente, somos todos povos amazônicos”. A distância que separa o Pará da Guiana (mais de 1.100 quilômetros) pode ser vencida em um pouco mais de 1h15 em voo direto. Jean-Pierre também acredita muito no poder da mídia como instrumento de formação de telespectadores-cidadãos, e não apenas de telespecta-dores passivos. “O tempo que a gente passa assistindo e acompa-nhando os meios de comunicação, como a internet, rádio e televi-são, é muito grande, e esses meios têm muita força. Como a TV Cultura e a RFO estão no coração de nossos povos, então essa par-ceria é muito importante para todos. Portanto, temos que produzir bons conteúdos para que a nossa população possa se ver e conhe-cer outras culturas através dos programas que produzimos”.

O termo, que deve ser formalizado ainda este ano, terá como um dos resultados um programa em formato de revista, com 52

Sediada na Guiana Francesa, a RFO (Rede Francesa de

Televisão do Ultramar) está presente em vários países e territórios franceses do

mundo inteiro.

Jean-Pierre Karam, diretor-delegado da RFO, veio a Belém conhecer o trabalho da TV Cultura: “Essa visita foi importante para que nossos jornalistas pudessem conhecer a cultura, os hábitos, as expressões do povo paraense”

Fernanda Monteiro

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31A parceria entre a TV Cultura e a RFO promete encurtar a

distância entre o Pará e a Guiana Francesa

minutos de duração, para ser exibido pelas duas TVs públicas no seu país e em países que retransmitem seus sinais, como Marti-nica, Guadalupe e Polinésia. A ideia é fazer um intercâmbio en-tre as equipes de reportagem para visitar os dois países em busca de curiosidades e especificidades culturais. “Somos irmãos. Essa parceria se faz necessária para que os dois países divulguem as suas realidades. Precisamos compreender melhor o cotidiano, a sociedade, a cultura e a economia brasileira. Toda essa diversidade precisa ser explicada para os dois povos”, acredita Jean-Pierre.

Para a presidente da Funtelpa, Regina Lima, o termo de coope-ração faz parte da nova política da TV Cultura em fazer trocas de conteúdo com outras TVs públicas e colaboradores, iniciada em 2009. “Estamos executando uma política que já havia sido pensada desde o planejamento estratégico da Funtelpa, quando definimos que seria imprescindível estabelecer termos de parceria com ou-tras TVs Públicas, no sentido de que possamos trocar conteúdos para enriquecer a produção local de cada emissora”, garante.

“A grande vantagem da parceria é que, enquanto as TVs priva-das precisam manter um correspondente em cada localidade para poder mandar esse material, pelos termos de cooperação pode-mos ter acesso a esse material sem custos adicionais e sem precisar ter um correspondente em outros países”, acrescenta Regina.

Jean-Pierre considera que a parceira será de grande importân-cia não apenas pela troca de conteúdos entre as duas emissoras, mas também pelo ganho de experiência. “Queremos também dar corpo a um projeto de formação profissional. A ideia é intercam-biar equipes de jornalistas que trabalhem na internet, rádio ou TV, duas ou três vezes por ano. E isso vai ajudá-los a compreender melhor inclusive a língua”.

Oito mil quilômetros distante da França, a Guiana Francesa,

CuriosidadEs

Jean-pierre Karam tem 50 anos e já foi apresentador de progra-mas de tV na RFO. “queremos produzir documentários que falem da vida de brasileiros na França, da realidade daqueles que optaram por morar no país guianense”.

O consulado brasileiro na Guiana, juntamente com lideranças da igreja católica do país, pretende fazer o Círio de Nazaré na Guiana, no mês de outubro.

Assim como no Brasil, o Carnaval é um dos pontos fortes da cultura local, comemorado em janeiro: “O carnaval é uma festa muito bonita e grande que une várias comunidades, os brasi-leiros, chineses, haitianos, e a própria comunidade crioula do Suriname, para comemorar, para festejar”

Existem, ainda, outras datas importantes para a população dos dois países. “Uma das que eu acho extremamente importantes e que relem-bra um evento marcante da história é celebrada no dia 10 de junho, que é a comemoração da Abolição da Escravatura no país”.

que tem uma população estimada em 300 mil habitantes, ainda depende economicamente do país europeu. “É muito fácil ir da França para vários países, mas o acesso ao Suriname é muito difícil. Hoje só contamos com uma empresa aérea de transportes. Não te-mos ponte, nem estradas que unam os países e o Suriname. Duran-te anos nada foi feito para que pudéssemos circular entre os outros países. Acredito que é necessário que coloquemos outros meios de fonte de conhecimento para que as pessoas tirem esse estigma. Essa parceria com a TV Cultura será uma grande ferramenta para os povos das duas culturas”, revela o diretor-delegado da RFO.

“A gente sabe que esses problemas são reais. Mas existem formas e maneiras de contornar esses problemas. Isso não pode impedir que nos visitemos, que conheçamos as casas, as culturas de países e cidades vizinhas. Nosso país não é ligado apenas à prostituição ou contrabando, mas temos um elemento que predomina e que é muito forte. Todos nós somos do mesmo continente, obedecemos à mesma lógica, todos somos povos amazônidas”, conclui.

A Rede Francesa do Ultramar (em francês, Réseau France Ou-tre-mer – RFO) faz parte de um conglomerado de emissoras do grupo France Télévisions, que possui um direcionamento na sua grade de programação voltado para a cultura, educação e entre-tenimento. A RFO se destaca pela sua proposta e alcance, com presença em vários países e territórios em todo o mundo.

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>> esporte <<

Um gol de placaRede Cultura acerta em cheio com a transmissão do campeonato paraense

Nenhum outro esporte mobiliza os brasilei-ros tanto quanto o futebol, considerado

paixão nacional. No Pará, os torcedores ganharam mais uma forma de prestigiar o campeo-nato estadual de 2009, através de um contrato entre o Governo do Estado e os clubes de fute-bol que garantiu a transmissão dos jogos do Clube do Remo e Paysandu pela Rede Cultura de Comunicação.

O Paraense 2009 teve a par-ticipação dos times da capital e interior. Belém e Região Metro-politana foram representadas por Remo, Paysandu, Time Ne-gra, Vila Rica e Ananindeua. O interior do estado contou com a presença dos times Castanhal, São Raimundo e Águia de Ma-rabá. Graças à transmissão dos jogos pela Rede Cultura (TV, rá-dio e portal), a população desses municípios, que não pôde com-parecer aos estádios, conseguiu acompanhar os jogos e torcer pelo time preferido.

A iniciativa, além de popularizar ainda mais o futebol paraense, marcou um gol de placa ao atender anseios antigos dos torcedo-res. São 43 retransmissoras que repetem o sinal da TV Cultura do Pará, a partir de Belém. Esse processo desencadeou enorme repercussão entre os fanáticos por futebol e aficionados pelos clu-bes paraenses, mostrando a força e a paixão da torcida paraense. No total, foram transmitidos 32 jogos do Campeonato Paraense de 2009, pela TV Cultura do Pará, somando 48 horas de exibição do esporte de forma ininterrupta. Os torcedores dos times da ca-pital e interior tiveram a oportunidade de prestigiar o seu clube do coração no conforto de sua casa.

No quesito transmissão esportiva, a TV Cultura de Comuni-cação deu um show de bola, superando as demais emissoras no período da exibição dos 36 jogos do Paraense 2009, com média de 22 pontos de audiência, com exceção da transmissão do clás-sico rei da Amazônia, Remo e Paysandu, que superou a média e alcançou 47 pontos de audiência. O processo de transmissão foi fundamental para o aumento da audiência da TV. O público da TV, no momento da exibição dos jogos, era em sua maioria ho-mens e jovens. Os torcedores do Clube do Remo representaram

Com as transmissões, paraenses de todas as partes do estado podem aproveitar o melhor do futebol do Pará. Pelo Portal Cultura, as imagens chegam a qualquer lugar do mundo

Eliseu Dias/Agência Pará

50 pontos de audiência enquanto que os torcedores do Paysandu somaram 54 pontos, nos jogos exibidos pela Cultura. A equipe do Paysandu sagrou-se campeã dentro das quatro linhas de campo, com 45 pontos conquistados em 20 jogos disputados.

INtEgRAçãOA iniciativa da TV Cultura em parceria com o Governo do Es-

tado levou o futebol paraense para locais onde os torcedores não tinham acesso aos jogos, muito menos aos estádios de futebol, como no caso dos municípios de Terra Santa (Baixo Amazonas), São Félix do Xingu (Altamira), Monte Alegre (Santarém) e Breves (Ilha do Marajó). A transmissão possibilitou a interiorização do campeonato. Muitos torcedores passaram a acompanhar a campa-

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A TV Cultura deu um show de bola, superando as demais

emissoras no período da exibição dos 36 jogos do

Paraense 2009, com média de 22 pontos de audiência.

nha dos representantes do interior do estado. A torcida mostrou a força do futebol interiorano, onde se destacaram os clubes Águia de Marabá e São Raimundo de Santarém.

A transmissão também aproximou os paraenses que estão em outros estados e até outros países. Como é o caso dos torcedo-res que acompanham os jogos na praia de Porto da Barra (BA), através do Portal Cultura. O bicolor Alexandre Soares, que está morando em Portugal, matou a saudade do seu clube do coração assistindo aos jogos transmitidos pelo Portal Cultura.

Já o torcedor do Clube do Remo, Bruno Castro Alves, é um apaixonado pelo futebol desde a infância. Seu pai, Roberto Sérgio, sempre o levava para acompanhar as partidas do Leão Azul nos estádios de futebol e as “peladas” nos finais de semana. “A TV Cultura está de parabéns pela transmissão do Campeonato Para-ense, pois deu oportunidade a todos de acompanhar seus times de coração, e até mesmo dar uma ‘secadinha’ nos rivais”, comentou Bruno. Alguns dirigentes alegaram que as transmissões dos jogos estavam tirando os torcedores dos estádios, mas Bruno não con-corda. “Quando o time está encantando não tem torcedor fanático que deixe de ir ao estádio. A não ser por falta de condições finan-ceiras ou até por limitações físicas”, defendeu o torcedor remista.

A TV Cultura do Pará conta com um time de primeira, com-posto por jornalistas e comentaristas, além da equipe técnica que trabalha para levar o sinal de qualidade da TV pública do estado aos lares dos apaixonados pelo futebol paraense. Os jogos exibi-dos pela TV Cultura foram a grande novidade para os torcedores do Clube do Remo e Paysandu, que puderam acompanhar o de-sempenho dos seus clubes.

E os torcedores não foram os únicos beneficiados, mas tam-

Bruno Castro Alves, torcedor do Remo: “A Cultura deu oportunidade a todos de acompanhar seus times de coração”

bém os profissionais da TV Cultura do Pará. Para Carlos Augusto, cinegrafista da TV Cultura do Pará há 21 anos, a oportunidade de trabalhar nestas transmissões foi engrandecedora, tanto profissio-nal, como pessoalmente.

“A transmissão do campeonato trouxe uma realização profis-sional, pois é gratificante saber que o trabalho está sendo visto por várias pessoas no país e no mundo”, avalia o cinegrafista. Por meio desse contrato de transmissão, a TV Cultura ganhou novos telespectadores. “Através da exibição dos jogos, o torcedor-teles-pectador conheceu os outros programas exibidos pela TV”, opina Carlos Augusto.

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>> comunicação <<

Justiça que calaDecisões judiciais reabrem discussão sobre censura na imprensa do Pará

Quarenta e cinco anos depois do iní-cio da ditadura militar brasileira, a imprensa paraense revive o ambien-te repressor do cerceamento à liber-

dade de expressão. Em um mesmo período, dois veículos de formatos distintos receberam intimações da Justiça do Pará determinando retirada de comentários e publicação de fotos.

No primeiro caso, a determinação da juíza Teresinha Moura ordenou a retirada dos posts e comentários sobre o ex-deputado Luiz Sefer, que está sob acusação de ter cometido crime de pedofilia no Pará, do site www.quintaemenda.blogspot.com. Feitas em ambiente virtual, as publicações estavam hospedadas no blog Quin-ta Emenda, do economista Juvêncio Arruda, até o dia 14 de abril, quando foi decretada a liminar. As manifestações no campo virtual e real reacenderam a discussão sobre a censura nos meios de comunicação. Em dois dias, a discussão rendeu a publicação de aproximados 60 comentários no blog Quinta Emenda sobre a liminar da Justiça paraense, entre mensagens de apoio ao blogueiro e de repúdio à justiça pa-raense que, segundo os visitantes do site, move-

CEnsura: suBstantivo fEminino1. Crítica severa, repreensão2. Exame oficial de certas obras ou escritos3. Corporação a que compete esse exame4. Pena eclesiástica que priva os fiéis dos bens espirituais CEnsurar: vErBo transitivo1. Exercer censura sobre2. Criticar3. Condenar4. Repreender

EstÁ no diCionÁrio

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“Há no ar um cheiro de cerceamento da web. Isso é

bastante claro.” (Juvêncio Arruda, criador do

blog Quinta Emenda)

se ao sabor da pressão política que a cerca.“Não é só aqui no Pará ou no Brasil, mas acredito que há uma

expectativa dos reacionários, da bandidagem, da parte podre da justiça, das pessoas que têm interesse em abafar casos para manter privilégios ou situações. Mas há no ar um cheiro de cerceamento da web. Isso é bastante claro”, diz o autor do blog, que está em fase de conclusão do mestrado em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Pará.

Para ele, diferente das batalhas judiciais contra veículos de co-municação da mídia tradicional (rádio, TV e impresso), as discus-sões no campo virtual devem ser mais acirradas. “Na web, a batalha vai ser muito mais cruenta, porque ela é um mundo e espaço em que é praticamente impossível estabelecer uma cerca definitiva e perene. As cercas no mundo virtual são sempre rompíveis, os ha-ckers estão aí para mostrar. A web passa a ser objeto desse tipo de cerceamento pela sua independência, pela possibilidade de que um não-jornalista como eu exerça sua opinião e que um certo mo-mento passa a ser lido por um número de pessoas”, acredita.

Vale esclarecer que em nenhum momento o blog ficou impe-dido de cobrir o caso Sefer. A censura impetrada pela juíza fazia jus a determinados posts que continham determinadas expressões, juízos de valor ou “ideologismos”, o que, para o autor do blog, é a pior forma de Justiça. Ele ainda se defende explicando que, como não-jornalista, o seu papel no blog Quinta Emenda é mediar os

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assuntos por ele postados para livre discussão. “Nada mais sou que um mediador de informações, dado que não invento coisas. Trabalho em cima de situações e de fatos. Trabalho basicamente com informações da mídia, só que mostrando o que não está es-crito no subtexto da matéria, e até revelando possíveis interesses escusos que acontecem”, garante Juvêncio.

Quando questionado sobre uma possível perseguição, já que nenhum outro veículo de comunicação no estado sofreu a mesma penalização so-bre o caso Sefer, Juvêncio avalia que foi um erro de estratégia de quem o processou, principalmente por não conhecer o poder de propagação infinita que a internet possui. “Avalio como uma reação de pessoas que, sem relação direta com os eventos protagonizados pelo ex-deputado, sentiram-se atingidos e, de alguma maneira, não conseguiram se apartar do problema. Ora, francamente, quem de nós não tem na família uma pessoa que não reza por um comportamento decente? Então, que his-tória é essa de a família do Sefer não querer deixar que um escrutínio público se abata sobre um dos membros da família, e que, segundo os autos do processo, baseado em todos os laudos, procedeu mal?”.

Juvêncio diz ainda que acredita que outros veículos não tenham sido penalizados “porque os familiares, a justiça e os advogados têm outro tipo de relação com os donos dos jornais”, conclui Ju-vêncio, que aguarda os próximos passos do imbróglio judicial que corre na 3ª Vara Cível de Belém.

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o quE é a quinta EmEnda?

A Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América assegura ao norte-americano o direito de permanecer calado e evitar assim a auto-incriminação, assim como a proteção contra buscas e apreensões descabidas. É comum os americanos invocarem a Quinta Emenda quando se encontram perante agentes da administração que estão cometendo arbitrariedades ou abuso de poder.

“ANTE O EXPOSTO, defere-se a liminar re-querida, para determinar que o requerido retire imediatamente e, ainda, se abstenha de veicular em seu blog ou em qualquer outro meio de in-formação de sua autoria expressões ofensivas como: seferização, seferice, seferizada e Sefer Sport Clube ou qualquer outra expressão similar, e, ainda, de utilizar expressões injuriosas como: canalhices, safadezas, corrupção, truculência, perversões sexuais e outras congêneres, fixando-se multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais) em caso de descumprimento da ordem. Expeça-se mandado de intimação para o cumprimento desta decisão, e, após, cite-se o requerido, para que apresente contestação, no prazo legal, com as advertências dos arts. 285 e 319 do Código de Processo Civil. Defere-se o plantão para o cum-primento do mandado. Intime-se. Cumpra-se.”

Juíza Teresinha Moura, na decisão contra Juvêncio Arruda e o blog Quinta Emenda

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ção

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CADERNOS pOLICIAISOutra decisão que tomou os jor-

nais impressos de Belém de supetão e saiu às ruas da capital paraense foi a da desembargadora Eliana Abu-faiad, que determinou a proibição de publicação de fotos de cadáveres nas páginas dos cadernos policiais dos jornais impressos de Belém.

Infelizmente, o chamariz que os cadernos policiais das mídias im-pressas trazem é significado de lu-cro para a empresa do jornal (pelo aumento de exemplares em circu-lação) e atrai leitores, sejam estes críticos ou não. Fora o incontestá-vel choque visual que as imagens causam, o penoso dessa relação também reside nos efeitos nocivos que podem causar no segmento da população que tem acesso às ima-gens de corpos dilacerados, vítimas de acidentes, assassinatos e de cri-mes de toda ordem, ora revelando a falsa impressão de impunidade que cerca os criminosos, ora esti-mulando jovens, inspirados em seus exemplos, a cometer crimes.

Gerson Nogueira, diretor de redação do jornal Diário do Pará, acredita que a determinação da jus-tiça paraense foi arbitrária. “O Diá-rio do Pará adotou a atitude de aca-tar a decisão da Justiça; no entanto, o jornal está tomando providências legais para reverter esta decisão. O ato da juíza Eliana Abufaiad foi um ato claro de censura ao funciona-mento editorial de um jornal. Só pessoas habilitadas, que tenham a capacidade de ver o lado ofensivo de uma imagem – que é o papel de um jornalista – que têm o compromisso, que podem julgar”, contesta o diretor.

No mesmo sentido caminha a opinião de outros dois jornais impressos da capital paraense, que, afirmam ter obedecido a ordem judicial. Entretanto, consta no Ministério Público ações contra os três jornais por descumprimento à ordem da desembargadora. “O Diário não teve a intenção de ofender ninguém com o uso das ima-gens. O nosso objetivo é a informação, pois muitas vezes a imagem faz parte da informação e quem lida com isso sabe que às vezes a imagem fala mais do que o texto”, avalia Gerson Nogueira.

O jornal Diário do Pará chegou a colocar uma tarja preta sobre as fotos de cadáveres ou acidentados como forma de protesto à decisão do judiciário paraense. “A utilização da tarja de ‘Censurado Pela Justiça do Pará’ teve dois propósitos; o primeiro de informar o leitor a razão das imagens não poderem ser divulgadas, lembran-do que no mesmo período o concorrente divulgou imagens do mesmo teor; segundo, como forma de protesto contra o ato que vai contra a liberdade de imprensa e liberdade de expressão e isso

é um direito nosso assegurado. A justiça tem espaço e formas de punir os crimes de imprensa, quando necessário, mas este não é o caso”, considera Gerson.

A DISCUSSãO CONtINUADuas decisões judiciais, uma atentando contra o mais dos tradi-

cionais e antigos meios de comunicação, o jornal impresso, e outra contra o mais recente deles: a internet. Apesar de ambas tratarem de posturas de censura por parte da Justiça contra veículos de co-municação, observa-se grande diferença entre os dois casos.

“Fui censurado, mas não acho que seja a mesma censura que paira sobre os cadernos ‘sangue’ dos jornais da capital. Em princí-pio, nada que absolutiza tudo deve ser vivido. Acho que são casos bem diferentes. As pessoas não entendem e são levadas, em um primeiro momento, colocar tudo no mesmo saco”, defende Juvên-cio Arruda.

O autor do Quinta Emenda não poupa críticas à mídia paraen-se, principalmente em relação ao jornalismo impresso: “Os jornais, a mídia paraense, chegou a um nível de degradação que me permite tratá-la, com muita tranquilidade, de pocilgas”.

Reprodução

Tarjas pretas escondem cadáveres no caderno policial do Diário do Pará, em 09/05/2009

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>> história da rádio <<

Bem brasileiroCriado em 1991, o programa Clube do Samba chega à maioridade em 2009

A mistura entre estilos musicais africanos e brasileiros deu origem ao samba. E quando se fala neste tipo de música, o programa Clube do Samba, da Rádio Cultura, reúne todas as vertentes do ritmo que representa a ginga e o

suingue do povo brasileiro. O programa leva para os ouvintes o samba de raiz, grupos paraenses, entrevistas com os bambas, lan-çamentos e a agenda dos agitos na cidade.

O Clube tem no comando o “Mister Samba”, Janjão, e na produção a “Rainha Branca do Samba”, Lourdinha Bezerra, que formam a dupla que conseguiu transpor o cenário do samba pa-raense para um programa de rádio. Aos sábados, os bambas têm um encontro marcado, a partir das 12 horas, com o que de melhor acontece na produção local e nacional do samba de raiz, de bre-que, de partido alto, de gafieira e de roda.

A receita para o sucesso dos 18 anos do programa vem em grande parte ao carisma de Janjão e Lourdinha Bezerra, que tra-balham no mesmo ritmo e cadência, dando um giro nos agitos e “balacobacos” que ocorrem na cidade, com dicas e locais onde rolam os pagodes e o samba. Outro fator relevante é a opção do programa pelo samba de raiz, tornando-se referência para os sam-bistas paraenses.

O apresentador Janjão começou sua relação com a Rádio Cul-tura em 1991, quando o “mestre” Edgar Augusto (assim denomi-nado pelo apresentador), na época diretor da rádio, sugeriu um programa de samba semanal com a duração de duas horas. Logo na terceira semana de existência, o Clube do Samba se tornou um sucesso. A larga experiência do apresentador foi primordial para que o programa se transformasse em ícone para os sambistas pa-raenses, pois ele viveu todo o crescimento do carnaval, o aumento

do número de pessoas nas alas e a influência da bateria com a percussão harmônica que acompanha o ritmo.

Inicialmente, o programa tinha o nome de Samba e Outros Pagodes, com a produção do músico Nazareno Silva. Em 1991, o programa impressionou Dona Zica, da Estação Primeira da Mangueira, que estava em Belém, pois eram poucas rádios que dedicavam duas horas de sua programação para o samba de raiz. O novo nome foi ideia de Edgar Augusto, para que parecesse uma filial do programa Clube do Samba, de João Nogueira. Foi aí que entrou na produção Lourdinha Bezerra. Nazareno Silva ficou com a programação musical e Janjão, na apresentação.

A coisa deu tão certo que o programa foi parar na TV Cultura, transmitido diretamente das casas noturnas, com participação de passistas, mestres-salas e portas-bandeiras. Mesmo depois do final da transmissão pela TV, o Clube continuou na Rádio Cultura.

Sinônimo de samba no Pará, o apresentador Janjão comanda o Clube do Samba ao lado da produtora Lourdinha Bezerra (esq.). À dir., a convidada Aninha Portal

Batizado inicialmente de Sambas e Outros Pagodes, o

Clube do Samba logo ganhou a adesão dos bambas paraenses,

que consideram o programa uma das melhores formas de

apreciar e divulgar o ritmo

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OpçãO pELO SAMBADesde o início, o programa tinha a

proposta de ser o porta-voz do sam-ba do Norte do Brasil e a plataforma das escolas de samba. O fato é que o Clube do Samba é o único programa na rádio paraense que divulga os sam-bistas, e cobra por isso apenas a sua simpatia e presença no programa. Um Clube que leva para os amantes do samba todos os tipos de composições, dos mais antigos até os atuais. Den-tro da grade de programação da Rá-dio Cultura, o Clube do Samba detém uma grande popularidade, com forte interação com o público, além de ser o líder de audiência entre os bambas.

Quem admira o Clube do Samba diz que ele não é apenas um progra-ma que toca o samba bonito, mas o orientador daqueles que gostam de curtir o ritmo no final de semana. Para o apresentador Janjão, é como se o programa fosse parte da família. “O Clube do Samba é o filho de 18 anos de idade que é cuidado com o maior carinho, por fazer parte da minha vida”. Considerado por muitos ícone do samba na rádio paraense, Janjão prefere ser considerado apenas como referência do cenário paraense.

Com o surgimento do Clube do Samba na Rádio Cultura, o meio mu-sical sofreu consequências positivas. Um dos marcos foi a profissionaliza-ção do samba no estado do Pará. An-tes do programa, os sambistas eram vistos como batuqueiros que tocavam em festas particulares e ani-versários. Com a mudança desse cenário, surgiram grupos como o Manga Verde e Oficina, em função da constante divulgação das músicas e shows no Clube.

Na recente passagem por Belém, para apresentação de shows na cidade, a sambista paraense Aninha Portal, que reside atual-mente no Rio de Janeiro, considerou o programa como a “maior porta aberta para os artistas locais, propagando a nossa música e valorizando o artista local”. Outro ponto importante destacado pela sambista é o giro que o programa faz na produção do samba no Brasil.

O prestígio do Clube do Samba é grande ao ponto de reunir, em 2006, cerca de 40 músicos no Teatro Margarida Schivasappa, do Centur, para uma grande festa de comemoração pelos 15 anos do programa.

O SÓCIO Nº 1No Pará, um cantor destaque nas rodas de samba: Fernando

Carmina Ferreira, o consagrado Fernando Gogó de Ouro, título concebido em 1966 pelos músicos Lilito e Oswaldo Nuno, que fi-caram encantados com a extensão vocal do artista paraense. A sua

carreira no samba começou após vencer um concurso na antiga Rádio Marajoara, que elegera os melhores cantores de Belém, a pedido do Rei Momo, Mário Cuia, que pediu para que o vencedor do concurso interpretasse um samba. A canção escolhida foi “Ma-rina”, na época interpretada pelo grupo Noite Ilustrada. Após a “palinha”, o Rei Momo deu um conselho para o Fernando Gogó de Ouro para que ele seguisse carreira.

Para o intérprete, ser batizado como o sambista embaixador do samba paraense e primeiro cidadão do samba de Belém é motivo de orgulho. Considerado o sócio nº 1 do Clube do Samba, Fer-nando Gogó de Ouro não perde um programa. “O Clube levanta a bandeira daqueles que militam não só com o samba, mas com a música popular brasileira. Isso é um trabalho marcante que veio pra ficar”.

O samba tem como característica expressões peculiares usa-das pelos “bambas”, como são conhecidos os músicos e amantes do ritmo. Os compositores se utilizam dessas frases para compor suas canções, que dão o toque refinado nas músicas, procurando exaltar a presença das pessoas que divulgam os shows. Para Fer-nando Gogó de Ouro, no samba “não precisa ser doutor, mas às vezes o cara é um verdadeiro mestre”.

Sócio nº 1 do Clube do Samba, Fernando Gogó de Ouro não perde um programa

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>> tecnologia <<

Portal Cultura mais completoAmbiente virtual reúne os conteúdos da rádio, TV e revista

O Portal Cultura apresentou mais uma novidade para os internautas. Desde fevereiro deste ano, passou a investir na chamada “convergência de mídias”, que possibilita a integração entre o conteúdo disponibilizado ao público

pela TV e Rádio Cultura e pela Revista ZYG360.com. Com isso, o internauta passa a ter acesso a textos, vídeos e arquivos de áudio produzidos pela Fundação Paraense de Radiodifusão – Funtelpa. O portal nasceu em agosto de 2005, com a proposta de divulgar os programas e projetos da Funtelpa, o que está sendo plenamen-te alcançado com a inserção dos vídeos no portal.

Através do portal, é possível assistir à TV Cultura ao vivo, assim como aos programas já exibidos. O mesmo vale para a Rádio Cultura, cujos programas jornalísticos estão disponíveis em pod cast, arquivos de áudio que podem ser ouvidos a qualquer momento.

A convergência de mídias é uma tendência que os grandes meios de comunicação estão seguindo e a Funtelpa também faz uso deste conceito. Disponibilizar TV, rádio e internet, as três

mídias mais utilizadas no mundo, em um mesmo lugar, facilita o acesso à informação e permite que o usuário entre em contato com a programação dos meios que antes não conhecia. Sem con-tar que, como a internet tem alcance planetário, os internautas de qualquer lugar do mundo podem ter acesso ao conteúdo produzi-do pela Rede Cultura.

A multiplicidade de mídias que a internet converge possibilita maior aproveitamento da divulgação das produções da Rede Cul-tura e também propicia uma resposta quase imediata do usuário ao produto. Esta interatividade facilita o feed-back, a resposta da audiência, que se reflete na quantidade de acessos aos arquivos de vídeo e áudio, ferramenta pela qual a equipe de produção do por-tal pode saber exatamente quais são os arquivos mais acessados do site. Outra forma de processar esta interatividade é com o e-mail, que torna reais as opiniões e pedidos dos internautas.

Em um rápido bate-papo com a ZYG360.com, o coordenador do portal, Andrei Miralha, explica melhor como funciona esta in-tegração das mídias da Rede Cultura:

Ilustração: Diogo Miranda

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41EntrEvistaAndrei Miralha

Como surgiu a ideia de colocar no portal a programação da rede Cultura? andrei miralha - Desde o início desta gestão existe o plano de trazer o conteúdo da TV e da rádio para o portal e estamos trabalhando para isso. Com a reformulação do portal, foi criado um novo ambiente muito mais propício, principalmente para a publicação dos vídeos. A gente espera chegar até o final do ano com toda a programação da Cultura postada, com um espaço de poucos dias entre a ida do programa ao ar, na TV ou na rádio, e a postagem dele no site.

quais os programas da tv que são postados?miralha - O “Sementes” e o “Arquivo Cultura” são os prin-cipais, e agora estão entrando o “Regatão Cultural”, o “7 Set Independente” e o “Café Cultura”. Também disponibilizamos algumas reportagens do “Cultura Paidégua”, mas no futuro co-locaremos o programa na íntegra. Dos jogos de futebol exi-bimos os gols e melhores momentos. A publicação dos gols da partida ajuda a ilustrar as matérias do próprio portal. O in-ternauta lê a matéria e tem a opção de assistir aos melhores momentos do jogo. Aqui no portal, a gente também associa as mídias, um arquivo que é publicado na página de vídeos pode ser associado a um texto.

o que é postado da rádio Cultura fm?miralha - A primeira etapa desta convergência entre portal e rádio acontece no jornalismo. Já estão disponíveis no portal, em pod cast, o “Jornal da Manhã”, o “Jornal da Tarde” e o “Opinião Pública”. O objetivo desta convergência é trazer todos os pro-gramas de produção da rádio para o portal.

para o internauta ter acesso ao conteúdo da rede Cultu-ra, ele precisa ter algum programa em especial? Como o material é disponibilizado?miralha - Os arquivos são postados em wmv. Mas tem um detalhe: se o internauta acessa pelo navegador Mozilla Firefox

terá que fazer a instalação de um plug-in para visualizar os arquivos de vídeo. Mas a gente disponibiliza este plug-in de instalação no link do vídeo. Quem usa o Internet Explorer não precisa instalar o plug-in.

Como você vê esta integração de mídias? miralha - Acho que isso é uma tendência mundial, e a Funtelpa se integra a esta tendência, principalmente por-que ela é uma instituição que trabalha com TV, rádio e in-ternet. E uma mídia tem que olhar para a outra, a TV tem que divulgar a rádio, a rádio divulgar o portal e o portal di-vulgar todas. O portal tem a vantagem que não se restringe à área onde o sinal da Cultura pode chegar. Onde tiver in-ternet você digita o endereço e acessa o nosso conteúdo. O portal é uma vitrine da Funtelpa para o mundo todo. Outro fator de grande importância é ter o stream, o sinal ao vivo da TV e da rádio. Isto realmente rompe fronteiras. Temos um feed-back disso com a transmissão dos jogos de futebol, porque geralmente os paraenses que estão fora do estado acompanham os jogos pelo portal e mandam e-mails dizen-do que estão assistindo aos jogos pela internet, porque esta é a única forma que eles têm para assistir ao vivo.

fiquE por dEntropara quem não está familiarizado com a linguagem da internet, aí vai uma ajudinha.

site: É um conjunto de páginas na internetportal: Site da internet que dá acesso a vários serviçosfeed-back: É a resposta de desempenho de açõesstream: É o fluxo de dados em um sistema computacionalplug-in: É um programa de computador (geralmente pequeno e leve) que serve normal-mente para adicionar funções a outros progra-mas maiores

wmv: Também conhecido como Windows Me-dia Video, é um conjunto de formatos de vídeo desenvolvidos pela Microsoftlink: É uma ligação entre os documentos e as páginas da internet. Navegar ou surfar na inter-net é seguir uma sequência de linksnavegador: É um programa de computador que habilita seus usuários a interagirem com pá-ginas da internetmozilla firefox: É um navegador livre e mul-tiplataforma, altamente extensível

internet Explorer: É um navegador de in-ternet com licença proprietária. É o navegador mais usado nos dias de hojemicrosoft Windows: É uma popular família de sistemas operacionais criados pela Micro-soft. É o sistema operacional mais usado do mundo, embora uma grande quantidade de có-pias sejam ilegaispod cast: É uma forma de publicação pela in-ternet de arquivos de mídia digital (áudio, vídeo, foto)

Fernanda Monteiro

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>> entrevista <<

Mário CamarãoComunicação para desvendar o Novo Mundo

Expressões como “corpo virtual” e “corpo real”, “pi-xels”, “tecnociência” e “digital” marcam a nova teo-ria da Comunicação e são especialidade do jornalista Mário Camarão. Graduado pela Universidade Federal

do Pará em 1998, e em Licenciatura e Comunicação Social pela Universidade do Minho (Portugal), em 2003, Mário também possui especialização em Comunicação, Cidadania e Comunica-ção e mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho (2005).

Curioso e inquieto quando o assunto é o mundo digital, vir-

tualidade e discussões sobre realidade, vivendo cada vez mais essa era da Web 2.0, Mário Camarão imergiu nesse mundo ci-bernético, extraindo das novas mídias material para que ele pu-desse estudar esse espaço virtual e a cultura que surge dele. Em Portugal, o jornalista começou sua tese de mestrado intitulada “Corpos em pixels: Da ruína à utopia do pós-humano”.

Em entrevista exclusiva à Revista ZYG360.com, Mário Cama-rão explica o que representa para o profissional de hoje estar in-terligado com todos os mecanismos oferecidos para o mundo da comunicação, como blogs, Twitter e Second Life, por exemplo.

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43atualmente, discute-se muito sobre a relação do virtual com a realidade e seu projeto de pesquisa trata diretamente dessa relação. Como você busca entender esse processo?mário Camarão - A minha pesquisa surge da necessidade de en-tender de que maneira as pessoas lidam e criam vínculos com essas novas tecnologias, principalmente do virtual, ou seja, como é que a gente começa a interagir e a usar essas novas ferramentas, novos conceitos de linguagem e novas formas de imagem, e até enten-der como esses processos interferem na nossa vida atual. Em meu projeto eu estudo o Second Life e como as pessoas se projetam no espaço virtual, em que elas vão viver através de um avatar (repre-sentação gráfica de um utilizador em realidade virtual). Um avatar não deixa de ser uma criação virtual, de pura imagem ou corpo imagem. Elas (as pessoas) se projetam para lá e passam a viver des-ta imagem, passam a viver desta forma única de imagem virtual. O meu projeto tenta entender e explicar de que maneira esse cor-po representa uma nova forma de vida, de como elas podem viver e se projetar dentro de um espaço virtual. Busca entender como a pessoa se reconfigura a partir da internet, que é uma nova con-figuração do humano em imagem, texto, linguagem. A partir do momento que você percebe que o espaço da internet é um espa-ço imersivo, um espaço de virtualidade, como por exemplo, num jogo de futebol, onde você torce, você sente, na internet você tem nitidamente esse grau de imersão, passa a sentir, ter sensações e é uma imersão cada vez maior.

o seu projeto de pesquisa está baseado no second life, especificamente, ou você estuda outras comunidades/si-tes de relacionamento?Camarão - Além de estudar o Second Life, que é uma comunidade virtual, minha pesquisa acaba tentando entender de que maneira tam-bém as pessoas se organizam dentro dessa cultura do espaço virtual, o ciberespaço, e produzindo uma cibercultura, que é a cultura deste espaço. Nesse caso, todas as comunidades virtuais e todas as formas de relacionamento, de sociabilidade, acabam sendo pontos de vista da minha pesquisa. Então, entender de que maneira as pessoas se or-ganizam, de que maneira produzem novas formas de linguagem, de

entendimento, de relacionamento, faz parte do que eu estudo. Hoje as pessoas criam novas formas de falar, de viver, de enxergar e lidar com o outro e cada vez mais a internet produz esse espaço, que vem para fora de maneira brutal. Sabemos que o que acontece lá não é o que acontece aqui fora e quando esses espaços se colidem acabamos tendo exemplos nada agradáveis. Mas o que precisa é compreender esse espaço, que é quase real, porque as pessoas vão tendo formas de viver, de interagir, de acreditar nele, mas ao mesmo tempo elas não sabem como lidar aqui fora.

Como a relação do real com o virtual é focalizada no estudo?Camarão - No meu mestrado, comecei a estudar como os corpos virtuais agem nesse espaço e o que permite o entendimento de que há um corpo lá dentro. Exemplificando: o Orkut é representa-do por um perfil e ele é exposto a elogios ou comentários maldo-sos. Você aqui também fica exposto a eles. Então, quando alguém elogia ou xinga seu avatar, está fazendo isso com você enquanto pessoa. O meu propósito é estudar de que maneira esses corpos virtuais – uma imagem que você assume como sendo você, que passa por permutações ligadas a você – se transformam em uma reconfiguração do humano. Reconfigurar o humano é transpor não só nossa essência para o espaço real.

para a pesquisa, a análise de casos é um ponto muito im-portante, mas você consegue fazê-lo sem entrar em al-gum tipo de análise psicológica?Camarão - Não chego, em nenhum momento, a levar para RL (“real life”). Assim como o Second Life é uma segunda vida, a RL é essa nossa vida aqui. Em nenhum momento saio de lá e venho para cá, ou seja, saio daquele ambiente virtual e trago para o ambiente real, porque quero entender de que maneira as pessoas agem lá den-tro. Para mim, nesse momento da pesquisa, e que vou aprimorar no doutorado, não me preocupo ainda em entender de que maneira as pessoas acabam divergindo ou não do que são aqui na vida real. O que interessa, o meu ponto focal, o meu objeto de estudo, é o comportamento virtual, tentar entender de que maneira essas re-lações são propiciadas, de que maneira elas criam novas formas de

“As pessoas acham que estudar um ambiente virtual ou um jogo virtual não é se

entender uma prática social. Se eu não estudo, como

vou esperar que os outros passem a respeitar como um espaço de possibilidades, de

entendimento?”

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entendimento lá dentro e como acontece essa cultura, esses hábi-tos que advêm desse contato com os outros. E esse outro é muito diferente do que tenho aqui, que é próximo, por exemplo: o outro que faz parte do meu bairro, da minha escola, da minha universi-dade, do meu trabalho. Na internet, não. Na internet, o grupo, os outros pares estão na China, no Japão, em vários lugares. Tem essa multiplicidade de possibilidades de contato de redes sociais que eu vou criando, de entendimento desses relacionamentos e da forma como vou lidar com esse outro e a cultura que vou produzir dessa união, dessa junção com esse todo.

discutindo sobre a imagem real que é criada no virtual, temos a questão da essência, que vem da nossa personalidade. até que ponto essa essência influencia e dificulta a pesquisa?Camarão - Alguns autores estudam e definem o “eu virtual”. Nes-se caso o que interessa para mim é esse “eu”, que é o mesmo que o “eu real”, só que a internet propicia a criação desse “eu virtual”. A pessoa pode até criar momentaneamente um comportamento, mas dificilmente ela conseguirá mantê-lo diferente do seu “eu real” por muito tempo. Para entender, se você faz algo de ruim na internet, no outro dia os seus atos são refletidos aqui, no real. O “eu virtual” é uma extensão do meu “eu real” e não vou conseguir esconder por muito tempo. Alguns dizem que na vida real você não consegue fazer muitas coisas que consegue na internet. Eu discordo. Acredito que em algum momento o seu “eu real” vai influenciar diretamente na forma com que você age lá. Se você tem má índole, faz coisas de forma ilícita aqui, lá dentro também; não é porque você é bom aqui que vai ser mau lá. O seu caráter influencia sim no seu “eu virtual”. Agora, claro que existem casos, mas não é o foco da minha pesqui-sa. Esse outro ramo vai mais para psicologia e quero me manter apenas no estudo desse “eu” que é projetado nesse espaço.

Essa cultura no espaço virtual, a cibercultura, influencia você?Camarão - Essa cultura sofre muito preconceito, como tudo que é novo. A cibercultura vem do uso que as pessoas fazem da internet. Ela acaba sendo tópico, objeto de estudo, a partir do momento em que esses comportamentos são repetidos, praticados, propagados

de maneira tão rápida e tão abrangente, que acabam sendo vistos como efêmeros. A própria identificação do espaço virtual – que é essa efemeridade, essa rapidez com que tudo muda, de como tudo é criado – gera necessariamente uma forma e um entendimento de que tudo isso que foi criado é banal, não tem solidificação. Muito pelo contrário, porque as pessoas através de sua própria cultura conseguem estabelecer práticas e formas de comunicação, de rela-cionamento, estabelecer práticas e maneiras de entendimento do outro. Acredito que a cibercultura sirva de exemplo para a própria cultura real, sirva para as pessoas viverem melhor, mais felizes, de maneira que elas consigam lidar melhor com as diferenças, com os outros, com os problemas. Por isso, acredito que a cibercultu-ra, que é apenas do espaço virtual, não deve ser vista com tanto preconceito pela academia. Ainda hoje é muito comum você ver em escolas, em faculdades, professores que se recusam a falar do Orkut, do Second Life ou de qualquer outro tipo de expressão do virtual. E elas vão sendo proibidas como algo que transgride, que não faz parte da cultura do espaço real. E o grande risco está aí, não há uma educação para esse tipo de mídia, de como usar. As pessoas só ensinam tecnicamente, de forma mais ferramental, e cadê a educação para a mídia? Cadê a educação para se ensinar a usar uma comunidade virtual? Às vezes fico revoltado, chateado, pela maneira com que ainda hoje vêem com preconceito essa cul-tura do ciberespaço. Quando digo que meu objeto de estudo é o Second Life dão aquela risadinha. As pessoas acham que estudar um ambiente virtual ou um jogo virtual não necessariamente é se entender uma prática social. Se eu não estudo, como vou esperar que os outros, ou todos, passem a respeitar como um espaço de possibilidades, de entendimento?

o mário foi atrás do second life para pesquisa ou o se-cond life veio para a vida do mário?Camarão - Fui atrás do Second Life para pesquisa. Comecei no mestrado, no qual falava de corpos virtuais, e estudei uma canto-ra chamada Kyoko Date e a Kaya, modelo virtual criada por um brasileiro, o Alceu Baptistão, que veio a ser o embrião da jorna-lista virtual conhecida depois como Eva Byte, que trabalhou em

“A internet representa uma forma de consolidação

econômica, que estabelece formas de se ganhar dinheiro.

Hoje, são cada vez maiores as possibilidades para que as pessoas consigam divulgar seu trabalho e uma renda a

partir da internet.”

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45“No espaço virtual, as

pessoas vão viver através de um avatar, que não

deixa de ser uma criação virtual, de pura imagem. Quando alguém elogia

ou xinga seu avatar, está fazendo isso com você

enquanto pessoa.”

um programa na televisão brasileira. Estudei de que maneira os corpos virtuais delas (Kyoko e Kaya) poderiam representar uma projeção completa de uma “existência no espaço virtual” para os criadores. Então, não necessariamente a cantora japonesa “nunca” teve mais de 16 anos. Desde 1994 e até pouco tempo ela ain-da existia no espaço virtual. Lançou muitos e-discos – discos no mundo virtual onde o público, na maior parte adolescente, con-sumia via mp3 – e vendendo tanto quanto as cantoras reais. Ten-to entender esse fenômeno, mostrar como esses corpos virtuais produziam sentidos e eram encarados como corpos aceitos por um grande público. Entender de que maneira a confusão entre real e virtual acaba influenciando na forma como nós aceitamos a criação desse corpo virtual, e como lidamos com isso, foi o que me levou a estudar. Esses corpos podem ser uma forma de proje-ção nossa, há sempre uma relação com corpo, principalmente nós, brasileiros, associamos muito corpo a tudo, futebol, samba, praia. Então, essas imagens de corpos pulavam na minha mente como corpos reais. Na internet, vem a projeção. No espaço virtual, com um “click” eu crio uma nova foto, uma nova imagem, e passo a viver e a ser o que gostaria de ser. Eu passo a não mostrar toda a minha verdade, já que o corpo é criado onde não irá padecer. Nesse processo do corpo, tanto a Kyoto quanto a Kaya represen-tam uma infinitude. A não ser que a empresa fabricante venha a desistir, elas nunca envelhecerão, terão sempre a imagem que qui-serem. Depois da pesquisa de mestrado, fui me aproximando cada vez mais dos corpos em pixel. Percebi que as imagens são utopia e ruína do corpo real e como as pessoas, através desses produtos virtuais, acabam deixando de existir e passam a viver num corpo com múltiplas possibilidades.

no second life existe a relação do consumo. Como você olha essas relações, essa interferência no ser humano?Camarão - As pessoas acabam tendo relações e relacionamentos econômicos, circula dinheiro, moeda. O que acontece por conta disso também é a pratica de atos de pessoas com má índole, que vão tentar encontrar uma maneira de se dar bem. Assim como aqui, lá também existem formas de controle, de coibir roubos, furtos. As pessoas acabam tendo uma segurança de poder con-sumir, poder controlar e gastar lá dentro. No SL há uma moeda

chamada Linden, que você pode trocar por dólar, por real. Nesses casos, no financeiro, de consumo, acho que também demonstra de que maneira a própria internet hoje representa uma forma de consolidação econômica, que estabelece formas de se ganhar di-nheiro. Mas atenção, não é só um setor hegemônico que ganha, uma mídia hegemônica – qualquer pessoa passa a ganhar. Hoje, são cada vez maiores as possibilidades que existem para que as pessoas tenham voz e consigam divulgar seu trabalho, suas poten-cialidades, consigam uma renda a partir da internet. No Second Life as pessoas produzem, constroem casas, cidades, mundos, tudo em tempo real. São pessoas reais convivendo num espaço cada vez menos lúdico. Elas interagem com seus avatares como sendo reais. Você pode conversar por microfone, ter sensações, sentimentos. Você sofre, tem alegria, entra em crise e faz com que elas entendam a afeição. São máquinas de afeição, de criação por si só, porque estamos sempre nos recriando, reformulando, sentin-do a necessidade de afeição. Acredito que somos seres totalmente afetivos mesmo na internet. Há interação, onde escutas a voz, já pode ser usado a webcam, então cada vez menos você mascara e cada vez mais a sua essência está ali e para tudo isso existe uma realidade. As pessoas associam a realidade no espaço virtual como desejo de se autocriar, porque aqui meu corpo tem limites, meu comportamento tem limites; na internet, no SL, aumenta o desejo de estar se recriando.

Como você percebe essa interatividade dentro da cultura criada nesse espaço virtual? Camarão - A internet passou a ser um lugar de todos, não se tem mais um dono de conteúdo, alguém privando conteúdo para si próprio. Hoje todo mundo produz, todo mundo faz, transforma o espaço em seu e de todos. Hoje você não quer só abrir uma página, você quer intervir. Outra possibilidade de fazer com que todos sejam colaboradores, vivendo como “pró-sumidores”. Não temos mais só consumidores, a pessoa quer consumir e produzir automaticamente, quer participar daquele conteúdo. Isso melhora as formas e práticas de expressão cultural, social, de todos os âm-bitos dentro da internet. As pessoas passam a ter mais criticidade diante daquilo que fazem, que publicam, de como agem dentro deste espaço.

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Pergunte a um morador de Rio Branco, no Acre, onde fica o Leblon. Ele dirá, sem titubear, que este é um bairro do Rio de Janeiro e ainda descreverá sua paisagem. Experimente fazer o inverso: per-

gunte a um carioca onde ficam o 1° e o 2° distritos. É quase certo que nada se ouvirá. Um dos principais motivos para exemplos como esse serem tão comuns está na maneira como se constrói a programação televisiva no país.

Criada com caráter local nos anos 50, a televisão se di-fundiu nos anos 60 e 70 estimulada pelos governos milita-res, que viam nela uma missão inte-gradora. Emissoras das cinco regiões brasileiras tornaram-se afiliadas das cabeças-de-rede, aquelas instaladas em regiões de forte industrialização e urbanização. Até hoje, todas as re-des nacionais têm sede no Rio ou em São Paulo. As emissoras regionais tornaram-se simples reprodutoras de conteúdo, com uma mínima grade de programação local.

Muitas vezes as emissoras locais se resumem a gerentes comerciais; retransmitem a produção nacional e ganham o slogan da empresa nacio-nal, usando essa marca para vender seus anúncios locais. As afiliadas fi-cam sem o custo de produção e as cabeças-de-rede ganham em dobro. Amortizam parte do valor já investi-do e aumentam o público que recebe as mensagens de seus anunciantes.

>> artigo <<

Regionalização da programação: o Brasil não conhece o Brasil

João Brant e Rosário de Pompéia

“Sem a regulamentação da Constituição, o Brasil segue refém

dos interesses comerciais das emissoras e o cidadão segue

sem saber onde ficam o 1° e o 2° distritos.”

A defesa da regionalização da programação da televisão não parte de uma leitura “folclórica” da realidade, mas do fato de que é por meio da expressão do cotidiano local que os cidadãos podem construir significados e se reconhecer nos meios de comunicação. Hoje, os pontos de vista que circulam e se consolidam na opinião pública são geralmente de especialistas do sudeste. O mesmo fenômeno se repete no campo dos valores e da cultura. As novelas, por exem-plo, há 40 anos difundem diariamente os valores da classe média-alta paulistana e carioca para o restante do Brasil. As

Arquivo pessoal

Eunice Pinto/Agência Pará

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“A defesa da regionalização da programação da televisão

não parte de uma leitura ‘folclórica’ da realidade, mas

do fato de que é por meio da expressão do cotidiano local

que os cidadãos podem construir significados e se reconhecer nos meios de

comunicação.”

Arquivo pessoal

pretações do que significa regionalizar a programação. Pode ser a realização do programa naquela região, sobre aquela região, feito por produtores locais ou ainda qualquer combi-nação dessas três variantes. O importante é a referência da regionalização como um elemento fundamental para garan-tir o direito humano dos diversos cidadãos a ter voz.

A questão é que essa regionalização não se dá esponta-neamente. Produzir localmente é mais custoso do que sim-plesmente reproduzir a programação. Além disso, a ausência de limites legais faz com que uma afiliada possa transmitir 100% da programação da cabeça-de-rede, sem nenhuma in-serção de programação local.

Assim, fica evidente a necessidade de que se dê suporte legal à regionalização. Embora o artigo 221 da Constitui-ção Federal estabeleça que as emissoras devam atender ao princípio da “regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei”, até hoje essa obrigação não foi regulamentada. Desde 1991, há um projeto de lei em debate no Congresso Nacional sobre o assunto, mas por conta da pressão dos donos das emissoras de TV, ele até hoje não foi aprovado.

Além das motivações econômicas, a resistência das emis-soras está baseada numa combinação de preconceito e espí-rito civilizatório. Em 1996, Luiz Eduardo Borgerth, à época vice-presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), declarou à revista da própria enti-dade que “[a regionalização da programação] é um absurdo, pois implica condenar a população das localidades distantes a ficar vendo eternamente seu bumba-meu-boi”.

Na última década, estudos mostram que algumas emisso-ras passaram a investir mais na produção local, por verificar que o público tem grande interesse em conteúdos que dia-loguem com sua realidade. No entanto, essa mudança é pon-tual, e acontece apenas onde é economicamente vantajosa. Mesmo assim, com a diminuição do custo de produção, há um aumento da produção audiovisual local, que todavia não encontra janelas de exibição. Sem a regulamentação da Constituição, o Brasil segue refém dos interesses comerciais das emissoras e o cidadão segue sem saber onde ficam o 1° e o 2° distritos.

poucas exceções, em geral, tendem a reforçar estereótipos, como os tipos e sotaques nordestinos.

Nesse contexto, a presença da diversidade cultural na te-las significa ao mesmo tempo garantir o conhecimento das diferentes realidades do Brasil e viabilizar que essas dife-rentes realidades tenham espaço similar na construção da opinião pública. A regionalização é ainda um estímulo ao mercado de produção local, criando trabalho para jornalis-tas, produtores e técnicos.

Dependendo do objetivo, pode haver diferentes inter-

João Brant é membro do Intervozes e Mestre em Regulação e políticas de Comunicação pela LSE (Londres).Rosário de pompéia é membro do Intervozes, jor-nalista do Centro de Cultura Luiz Freire e Mes-tranda em Comunicação Social pela UFpE.

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7 Set Independente O “lado B” da produção artística brasileira. Cinema, música, vídeo, moda e outras comunidades de criação direto da fonte. Sábado, às 21h30. Reprise no domingo, às 21h

>> programação <<

TV Cultura do Pará

Brasil da AmazôniaA diversidade dos municípios do Pará, na imensidão da floresta amazônica brasileira.Domingo, às 14h

CatalendasO criativo universo do teatro de bonecos se mistura com o mágico mundo das narrativas populares brasileiras. De segunda a sábado, às 11h45 e 17h

Cena MusicalA experiência do rádio na TV. Artistas convidados falam sobre sua carreira e apresentam pequenos números musicais. Sábado, às 15h. Reprise no domingo, às 11h

CineramaProduções cinematográficas nacionais, com exclusividade, na tela da TV Cultura.Domingo, às 22h

ControvérsiaDois debatedores, dois pontos de vista, um único tema. Segunda-feira, às 20h30

Cultura PaidéguaRevista cultural eletrônica, mostra a produção artística paraense.Sexta-feira, às 21h. Reprise no domingo, às 20h

Esporte CulturaA cobertura das diversas modalidades esportivas, tanto profissionais quanto amadoras.De segunda a sexta-feira, às 12h40

Jornal CulturaA cobertura completa dos acontecimentos do estado, em duas edições diárias.De segunda a sábado, às 12h (1ª Edição) e 19h (2ª Edição)

MoviolaInformações sobre cinema e o melhor da produção audiovisual nacional e regional.Terça-feira, às 20h

Regatão CulturalPersonagens e assuntos ligados às artes, política e cultura popular que marcaram história na cultura paraense.Terça-feira, às 19h30. Reprise no domingo, às 13h30

Sem Censura ParáO mais tradicional programa de entrevistas da TV paraense, no ar há 21 anos.De segunda a sexta-feira, às 13h30

SementesCiência, tecnologia e inovação das populações amazônicas e as pesquisas desenvolvidas por instituições no estado. Quarta-feira, às 19h30. Reprise no domingo, às 8h

TimbresA música instrumental, erudita e popular, em transmissão ao vivo, da Capela do Espaço São José Liberto. Domingo, às 18h. Reprise na quarta-feira, às 20h

Varadouro:Caminhos na AmazôniaUma radiografia dos principais assuntos da região, retratando o homem amazônico pela sua própria ótica. Domingo, às 14h

InterprogramaçãoBrasil da Diversidade l Cultura Cidadã l VídeoVerso l França.PA Belém Tem Disso l Mapa da Gente Contos da Amazônia l Videoclipes Tubo de Ensaio l Sou Mais Cultura

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AbracadabraUm universo encantado de brincadeiras e adivinhações, de historinhas e cantigas de roda. Domingo, às 9h

Alta Fidelidade Uma viagem sonora através de um túnel radiofônico do tempo, com artistas da época de ouro do rádio. Domingo, às 6h

Balanço do RockOs clássicos e as novidades da cena roqueira do Pará, do Brasil e do mundo. Sábado, às 16h

Bossa Nova, Novas BossasTodo o charme e a elegância de um dos mais importantes ritmos brasileiros. Quinta-feira, às 21h

BrasileiríssimoUm retrato do tradicional chorinho, em performances inesquecíveis de seus mestres e dos novos chorões de todo o país. De segunda a sábado, às 6h

Bravo!Dedicado aos amantes da música clássica e erudita. Grandes orquestras, renomados regentes e os mais importantes temas da história da música mundial. Terça-feira, às 21h

Canta ParáEntrevistas e apresentações ao vivo, em estúdio, com o melhor da música paraense em versões exclusivas. Domingo, às 14h

Cena MusicalBandas e artistas consagrados, novos talentos e a produção cultural independente de todo o estado.Sábado, às 15h

Cine CulturaUm grande passeio musical pela sétima arte, com lançamentos, raridades e as melhores trilhas sonoras, além de dicas sobre o universo cinematográfico.Sábado, às 11h

Clube do SambaTodo o suingue e a alegria do samba, em uma seleção musical com nomes tradicionais ao lado das novas vozes do ritmo. Sábado, às 12h

Cultura ReggaeO suingue jamaicano em suas várias

tendências e sotaques do Brasil e do mundo. Sábado, às 18h

Discoteca Cultura e Especial CulturaOs grandes nomes da música brasileira e mundial em seleções especiais e exclusivas. De segunda a sábado, às 22h

Estação TurismoInformações turísticas do Pará, temperadas pela música popular paraense. As atrações de cada município, como chegar, onde ficar e os eventos no calendário do interior.Domingo, às 8h

Feira do SomDas relíquias aos mais recentes lançamentos, o programa é uma grande feira de arte com os principais shows, eventos e demais programações de Belém e do interior. De segunda a sexta-feira, às 12h

Fina EstampaO jazz em suas várias suas possibilidades. Todas as tendências, ritmos e gerações de um dos mais importantes estilos da música mundial.Quarta-feira, às 21h

FonogramaA música pop do Pará, do Brasil e do mundo numa seleção de muito bom gosto e a agenda cultural de Belém.De segunda a sexta-feira, às 14h

Jornal da ManhãUm referencial de informação nas manhãs do Pará, com notícias locais, nacionais e internacionais, além de flashes ao vivo sobre os acontecimentos do cotidiano do estado. De segunda a sábado, às 7h

Jornal da TardeOs principais fatos do dia e as notícias de todo o estado. De segunda a sexta-feira, às 17h30

Matéria Prima Uma revista radiofônica com entrevistas, música, cinema, literatura, notícias e reportagens especiais. De segunda a sexta-feira, às 8h

NostalgiaA tradicional música romântica brasileira de um período de ouro do rádio, na voz dos grandes intérpretes

de nossa música, em gravações históricas. De segunda a sexta-feira, às 5h

Notícias CulturaBoletins informativos com notícias locais, nacionais e internacionais. De segunda a sábado, de hora em hora

Opinião PúblicaPrograma de entrevistas que discute os grandes temas da sociedade paraense, com espaço para a participação dos ouvintes. Terça-feira, às 20h

Gol de PlacaA resenha esportiva semanal, com os resultados dos jogos, entrevistas nos estádios e participação de convidados. Domingo, às 18h, sempre após o futebol

Raridades da MPB Os discos fora de catálogo, gravações únicas, acervo de colecionadores, grandes espetáculos registrados em disco e raridades da música paraense jamais lançadas em disco. Domingo, às 21h

Rotatividade Rock, música negra, música eletrônica e experimentações sonoras em conexão direta com o mercado fonográfico independente. Sexta-feira, às 21h

Som na Caixa O ouvinte da Rádio Cultura FM apresenta a programação da sua rádio, fazendo seu pedido no ar, por telefone. De segunda a sexta-feira, às 11h

TimbresA música instrumental, erudita e popular, em transmissão ao vivo, da Capela do Espaço São José Liberto. Domingo, às 18h

Toque de ClasseO melhor da música instrumental paraense, brasileira e mundial, acompanhado de informações sobre os artistas e suas performances. De segunda a sexta-feira, às 18h

Visagem Histórias, lendas e sons conduzem o ouvinte a ambientes inusitados em uma variada experimentação auditiva entre várias informações sonoras. Segunda-feira, às 21h

Rádio Cultura FM

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>> arte <<

Belém tem disso...

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G R Á F I C A

Contato: (91)4009-7800 - 40097810

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Mapa de Retransmissoras da TV Cultura do ParáMapa de Retransmissoras da TV Cultura do Pará

Eldorado dosCarajás São Geraldo

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* Última inauguração em 13.06.2009

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