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A REALIDADE DOS TRABALHADORES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Tiago Xavier dos Santos História Moderna e Contemporânea Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

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Page 1: Revolução industrial

A REALIDADE DOS TRABALHADORES NO CONTEXTO

DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Tiago Xavier dos Santos

História Moderna e ContemporâneaUniversidade Federal dos Vales do

Jequitinhonha e Mucuri

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A ORIGEM DO CAPITAL INGLÊS• Pioneirismo Inglês – Acumulação de capital entre os séculos XVI e XVIII.

• Ato de Navegação (1651) – Navios estrangeiros proibidos de transportarmercadorias coloniais nos portos ingleses.

• Tratado de Methuen (1703) – Panos e Vinhos Portugal pagava tecidosingleses com ouro extraído das Minas Gerais

• Corsários – Coroa britânica estimulava o ataque pirata às embarcaçõesespanholas.

• Exploração Colonial – Exploração de matéria prima.

• Produção de manufaturados.

• Práticas Protecionistas – Cobrança de impostos alfandegários sobre produtosimportados.

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BURGUESIA INGLESA• Enriquecida, conquistou mais poder político.

• Ideologia:

• - Liberalismo econômico – conjunto de práticas queestimulavam a livre concorrência.

• - Livre cambismo – ausência de impostos sobreprodutos importados.

• Não interferência do Estado na economia.

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RUMO À INDUSTRIALIZAÇÃO

• Início por volta de 1760;• Condições favoráveis pré-existentes no país antes do século

XVIII;• Consolidação da monarquia parlamentar – lucro privado e

desenvolvimento industrial eram prioridades;• Enclousure Acts ou Cercamentos (1760-1830):• - Novas leis de terras;• - Terras comunais passam às mãos de particulares; • - Modernização da produção; • - Expulsão dos camponeses – desemprego no campo.• - “A Ovelha Comeu o Homem” – Lã das ovelhas criadas nos

cercamentos abastecia a indústria têxtil.

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ORIGEM DA MÃO-DE-OBRA INDUSTRIAL

• Desemprego no campo;

• Êxodo Rural;

• Contingente absorvido como mão-de-obra assalariada nasfábricas;

• Nova camada social – proletariado.

“O povo agrícola primeiro era expropiado da terra à força, expulso de

suas casas, lançado para a vagabundagem, e depois chicoteado,torturado por leis grotescamente terríveis, até estar disciplinado para osistema do trabalho assalariado”.

MARX, Karl. O Capital. (Crítica da Economia Política). O processo de produção docapital. Livros 1 e 2. v. 1 e 2. 8. ed. São Paulo: Difel, 1982.

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“(…) a agricultura já estava preparada paralevar a termo suas três funções fundamentaisnuma era de industrialização: aumentar aprodução e a produtividade de modo aalimentar uma população não agrícola emrápido crescimento; fornecer um grande ecrescente excedente de recrutas em potencialpara as cidades e as indústrias; fornecer ummecanismo para o acúmulo de capital a serusado nos setores mais modernos daeconomia (...)”.

Hobsbawm, Eric, A era das revoluções. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1977. p.22

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NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS

• Capitalistas X Proletários:

• Até a Revolução Industrial, o sistema produtivo era baseado no artesanatodoméstico e na manufatura;

• Nas atividades artesanais, o próprio dono das matérias-primas e dasferramentas de trabalho realiza todas etapas da produção;

• Agora os artesãos de um mesmo ofício passavam a trabalhar para o donoda manufatura, um capitalista, que ficava com a maior parte dos lucros;

• Com a Revolução Industrial, as relações de produção se transformaram.Consolidou-se o trabalho assalariado e aprofundaram-se as desigualdadessociais;

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NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS

• Proletariado - composto de ex-camponeses e ex-artesãos;

• não tinham alternativa senão vender sua força detrabalho aos proprietários das fábricas, dasmatérias-primas, das máquinas e da produção.

• Cada trabalhador exercia uma tarefa naprodução, ou seja, passou a existir a Divisão doTrabalho.

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CONDIÇÕES DESUMANAS DE TRABALHO

• Falta de legislação trabalhista;

• Proibição de organização dos trabalhadores por meio de sindicatos;

• Havia muitos desempregados nas cidades;

• As jornadas de trabalho variavam entre 14 e 16 horas por dia e ossalários eram baixos;

• Instalações das fábricas mal iluminadas e pouco ventiladas.

• Grande jornada de trabalho resultava em graves acidentes com omaquinário.

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CONDIÇÕES DESUMANAS DE TRABALHO

• Nas minas de carvão, os mineiros sofriam com a falta de ventilaçãoe com a umidade nas galerias subterrâneas, condições que osdeixavam sujeitos a doenças respiratórias;

• Mulheres e crianças eram preferidos pelos donos das fábricas poisseu salário era menor que o dos homens;

• Não havia indenização ou pensão para as famílias dos trabalhadoresacidentados;

• Moradias operárias eram desprovidas de rede de água e esgoto;

• Acidentes com maquinário era frequente.

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COTIDIANO DO OPERÁRIO• Segundo um relatório de 1883 sobre as condições de vida da população

operária inglesa, assim era um dia de trabalho normal de um operárioadulto, sadio e com família para sustentar:

4-5 horas: acordar; uma xícara de chá.

6 horas: início do trabalho na fábrica.

8 horas: 30 minutos para uma pequena refeição, composta de uma xícara dechá e um naco de pão, feita enquanto controlavam as máquinas.

12-13 horas: descanso para o almoço, que era trazido de casa, normalmenteapenas algumas batatas cozidas; os operários mais bem remunerados podiamse permitir um pedaço de carne de porco.

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COTIDIANO DO OPERÁRIO

• 13/20-21 horas: trabalho contínuo, interrompido apenas por 20minutos para “pão e chá”, durante a pausa, as máquinas deviam sermantidas sob controle. O relatório afirma: “Os operários trabalhamnuma sala apinhada, com temperatura elevada, de modo que aoserem dispensados estão exaustos”.

22-23 horas: retorno à casa da família operária (pai, mãe, filhos, jáque todos trabalham em fábrica). O jantar era composto de mingauou sopa de aveia ou qualquer outro cereal, e batatas cozidas emágua e sal. Após o jantar, cama, porque às 4 ou 5 horas deviamestar de pé para trabalhar.

• O único dia de folga, na semana, era o domingo; as fériaslimitavam-se a quatro ou cinco dias por ano.

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Joseph Hebergram

• 7 anos de idade.

• Trabalhava das cinco da manhã às oito da noite (indústria têxtil).

• Joelhos e tornozelos prejudicados.

• Apanhava com um cinto de couro em caso de atraso.

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Mulheres e crianças operárias recebiam salários inferiores àqueles pagos a homensadultos. A fotografia mostra crianças trabalhando numa fábrica inglesa em 1880.

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Mulheres trabalhando nas minas de carvão (1880).

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ÉMILE ZOLA

• Émile Édouard Charles Antoine Zola

• Nascimento: 1840 – Paris.

• Escritor francês.

• Considerado criador da escola literária naturalista.

• Autor de Germinal - 1885

• Livro descreve as condições de vida sub humanas de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França.

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GERMINAL (1885)

• “Já a senhora Hennebeau estava amolada;contente, ao princípio de se distrair comaquele papel de quem anda a mostrar bichosno tédio do seu exílio, repugnava-lhe agoraaquele cheiro insípido de miséria, apesar doasseio das casas escolhidas em que seenfiava. Aliás, não fazia mais do que repetirfrases ouvidas daqui e dali, sem nunca darmaior importância àquele povo de operáriosque suava e sofria junto dela”.

ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p.95

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REAÇÃO DOS PROLETÁRIOS

• Ludismo – movimento de operários que quebravam as máquinas –Ned Ludd.

• Reação às transformações causadas pela nova forma deorganização do trabalho.

• Máquinas vistas como responsáveis pelo desemprego de muitosoperários e pelo controle sobre o ritmo de trabalho.

“Os ludistas agiam mascarados ou com roupas de camuflagem; montavamsentinelas e utilizavam correios; comunicavam-se entre si por meio decódigos e senhas; um sinal de pistola podia ser sinal de perigo ou retirada.Os assaltantes apareciam repentinamente, formando grupos armados, amando de um chefe; o líder, não importando qual fosse seu nome, erachamado de “general Ludd”. Obedeciam às suas ordens com a presteza queteriam para obedecer as ordens de um monarca”.

THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 3 vols. 1987. p.53.

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REAÇÃO DOS PROLETÁRIOS

• Reação às mudanças:

“Ajustar-se às exigências da fábrica era, para os trabalhadores, tão difícilquanto aceitar o o sistema de vida nas cidades. A jornada fabril eralonga, em geral de doze a quatorze horas diárias, antes de 1850. Oambiente era sujo e perigoso. As fábricas de tecido continuavam semventilação , de modo que fragmentos de fios e panos se alojavam nospulmões dos trabalhadores. As máquinas eram desprotegidas erepresentavam um perigo especial para as crianças, muitas vezescontratadas devido a sua suposta agilidade […]”.

BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: do homem dascavernas às naves espaciais. São Paulo: Globo, 2003. p.540-1.

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REAÇÃO DOS PROLETÁRIOS

• Reação às mudanças:

“Tão perturbador como as condições físicas de trabalho nas fábricas erao ajustamento psicológico exigido à primeira geração de operários. […]Na fábrica, toda a “mão-de-obra” aprendia a disciplina do apito. Parafuncionar com eficiência, a fábrica exigia que todos os empregadoscomeçassem e terminassem o trabalho ao mesmo tempo. A maioriadeles não sabia dizer as horas; poucos possuíam relógios; nenhum estavaacostumado ao ritmo implacável da máquina. […] A contratação demulheres e crianças foi outra inovação perturbadora. […] Quando issoacontecia, o sistema de vida familiar era gravemente desagregado, e ogrupo obrigava-se a suportar mais uma quebra de tradição”.

BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: do homem dascavernas às naves espaciais. São Paulo: Globo, 2003. p.540-1.

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PREOCUPAÇÃO DOS PATRÕES

• A burguesia, na condição de classe dirigente, fezpromulgar leis defendendo os seus interesses:

- pena de morte para quem destruísse fábricas oumáquinas;

- pesadas multas pelo delito de greve (atualmente umdireito garantido pela Constituição de numerosos países);

- proibição aos operários de se organizarem em associaçõesde defesa de seus interesses (hoje, os sindicatos sãoorganizações legais em todas as nações civilizadas).

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NOVO RITMO DE VIDA

• Pré-industrial – ritmo de produção baseado nos ciclos da natureza.

• Pós-industrial – mudanças da relação do homem com o tempo.

• Ritmo de trabalho passa a ser determinado pela máquina.

• Horário pré-estabelecido para início e término de todas as atividades.

• Relógio – passa a ser um instrumento de controla do homem sobreo tempo.

• Desagregação do núcleo familiar – mulheres passam a ter duplajornada de trabalho – na fábrica e nas tarefas domésticas.

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NOVO RITMO DE VIDA“Essa imposição de normas e valores por um determinado setor dasociedade pode ser percebida decisivamente quando tomamos a noção detempo útil , produzida pela ampliação da esfera do mercado e que não sódisciplina a classe burguesa como também procura se introjetar no âmbitoda gente trabalhadora. Essa introjeção de um relógio moral no corpo decada homem demarca decisivamente os dispositivos criados por uma novaclasse em ascensão”.

“A fábrica foi o grande trunfo do capitalista. Ela trouxe um rígido controlesobre o trabalhador, destituindo-o de sua autonomia, do controle que eledetinha sobre seu tempo e sobre seu saber técnico, submetendo-o a umarígida disciplina e hierarquia. O surgimento do sistema de fábrica parece tersido ditado por uma necessidade muito mais organizativa do que técnica, eessa nova organização teve como resultado, para o trabalhador, uma novaordem de disciplina durante todo o transcorrer do processo de trabalho”.

DE DECCA, Edgar Salvadori. O Nascimento das Fábricas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1990. p.23.

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NASCE O SINDICATO• Procurando aumentar seus lucros ainda mais, os capitalistas contratavam,

sempre que podiam, trabalhadores desempregados ou indivíduos dispostos aaceitar salários inferiores aos normalmente pagos.

• Era, portanto, necessário que os operários se organizassem de modo a imporaos patrões certas normas relativas às condições de trabalho e remuneração.

• Os primeiros sindicatos surgiram na Inglaterra: eram as trade unions.

• A princípio, a legislação restritiva obrigava-os a funcionar clandestinamente.Mas, embora sofressem pressões de toda a espécie, eles acabaramsobrevivendo.

• Aos poucos, medidas repressivas que se opunham ao seu funcionamento foramsendo abolidas.

• Na segunda metade do século XIX foram legalmente reconhecidos na Inglaterrae em outros países.

• A grande arma dos sindicatos era a greve: os trabalhadores deixavam de recebersalário por não comparecer ao serviço, mas as perdas dos patrões eram muitomaiores, pois as máquinas paradas não produziam.

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SOCIALISMO E COMUNISMO• O opressivo sistema capitalista deu origem a sangrentas revoltas populares que

eclodiram já na primeira metade do século XIX.• Reprimidos, os operários tentavam compreender a razão dos seus males,

procurando encontrar uma solução para eles.• Como a causa desses males era a desigualdade das classes sociais, urgia

construir uma sociedade onde todos fossem iguais, onde “patrão” e “operário”fossem sócios, tivessem os mesmos direitos e obrigações.

• Surgia uma nova ideologia – o socialismo.• Os métodos para levá-la à prática dividiram a classe operária.• Socialistas Utópicos - Alguns consideravam primordial modificar o “ser

humano”, por meio de uma educação inspirada nas idéias de igualdade efraternidade, e transformar as fábricas em cooperativas, onde todosrecebessem o mesmo salário, sem que para isso fosse preciso recorrer à lutaarmada.

• Partindo da crítica a esses socialistas, Karl Marx e Friedrich Engels, doispensadores alemães, criaram o socialismo científico, também chamado decomunismo.

• Para eles, a história da humanidade é feita de contradições e lutas entre asclasses, e só uma revolução dos trabalhadores poderia acabar com as injustiçassociais;

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BIBLIOGRAFIA

• BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: do homem dascavernas às naves espaciais. São Paulo: Globo, 2003. p.540-1.

• DE DECCA, Edgar Salvadori. O Nascimento das Fábricas. Rio de Janeiro:Jorge Zahar,1990. p.23.

• Hobsbawm, Eric, A era das revoluções. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1977.

• MARX, Karl. O Capital. (Crítica da Economia Política). O processo deprodução do capital. Livros 1 e 2. v. 1 e 2. 8. ed. São Paulo: Difel, 1982.

• THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio deJaneiro, Paz e Terra, 3 vols. 1987. p.53.

• ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p.95