rimas e bocejos

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JOAQUIM CASTILHO RIMAS E BOCEJOS

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Modern Poetry in Portuguese from a unknwon author to be criticized by a larger public!

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JOAQUIM CASTILHO

RIMAS E BOCEJOS

POEMAS

JOAQUIM CASTILHO

RIMAS E BOCEJOS

POEMAS

Cadastro do Autor

AS PALAVRAS DO SILÊNCIO - 2002 ARTESANATO - 2007 NOVAS DE ACHAMENTO - 2008 QUASE POEMAS – 2009 LEGENDAS-2010

TORRESMOS LÍRICOS COM FEIJÃO BRANCO-2011

Ficha Técnica Título : ” Rimas e Bocejos”

Autor:: Joaquim Castilho

Edição: Autor

Execução Gráfica: Tipografia Fátima Lda

Tiragem: 200 Exemplares

1º Edição: Novembro de 2012

Per Violetta mia carissima Amica

da sempre!

“Rima, flor de sal da palavra”

GUNDULA STEGLITZ

RIMAS

Poemas de rimarpalavras soltas

sons que florescem no arversos que se iluminam

balanços que se conseguempoemas que se constroemsem o medo de tropeçar.

7

VER

Procurar o diapousar o olhar

sentir e ver

o que apenas se sentiae se não conhecia

porque havia sempreuma qualquer pressa de chegar.

8

O TEMPO

Quando nada acontecefecham-se os olhos

afasta-se o sonoe não se adormece

hora de olharo que se não vê

de escutar o silênciosem perguntar porquê

num lento aguardaro que o Tempo

9

esse nosso tempohá muito nos tece.

RISO

O risoque chega

vindo do nadasem um lamento

sem uma voz desesperadao olhar límpido

a boca escancarada

10

esquecendo o presentesem olhar o futuro

apenas e sóuma boa gargalhada.

PALAVRAS

Palavras que tocam

caminhos sensíveissob a tua pele

11

palavrasque te mentem

que te consentemque te trazem o calor

de um dia frio de Verão.

DÚVIDA

Tímido sorriso

12

rasocomo vento

acasoternolento

ou o frio do desalento?

SONHO

13

Ponhoum sonho meu

em cima da mesapara terpara ver

para viverde uma única certeza.

Uma sombra clara como eudo que jamais aconteceu

do que nunca irá acontecer.

14

VAZIO

Soacomo um dia cheio de nadaum sol de estio

em tarde geladaum tempo vazio

no fim de uma escada.

15

O TEU POEMA

O teu poemajogo hermético

de palavras soltasem terra árida

chagade imagens revoltas

sem ter rumoum estranho assomo de emoçãosombra lúcida que logo se apaga

fogo sem ter fumouma fonte incerta

vagaque arde

sem ter chão.

16

SEMENTE

Aguardarque do nada venha

a raiz do poemauma palavra, um som, um fonema

que em mim se detenhasem eu mesmo o saber

para poder vingarganhar versos

e nascer.

17

A MINHA RAZÃO

A Razãofeita do que vi

do que li do que senti

a minha razãosó minhacertezasúnicas

que eu em vãome construí.

18

VOZ

Escrever um poemacomo quem

de longeacena

na esperade um eco impossível

na voz serenade um silêncio qualquer.

19

TU

Face tualugar aberto de ternura

rua de carinhos lentos

na pele doce de um mar de ventos

20

mãosde água pura

num manto longo lugar longe

da sombra e da amargura.

FLOR

Na margem de um rioestava uma flor

21

transida de friodorida sem ter dor

sem medo do vento.Da esperança tinha a cora vida trazia-lhe alentocomo se fizesse calor.

PRAZER

22

Olharolhar e ver

ver e escutarno espaço aberto do viver

o longo prazerde um simples olhar.

NÉVOA

23

Névoaque rompe as imagense acorda as sombras

os vultos, as miragensque esconde os caminhos

e a água das fontes,as distâncias e o mar.

Ver assim o segredo dos horizontes

com o rosto de um novo olhar.

24

FUTURO

Ontemsonhei com o futurotinha asas de marfim

e voavaera uma paisagem sem fimonde o dia nunca acabavao choro era desconhecidoninguém andava perdido

e quem duvidavaestava sempre seguro.

25

CLARÃO

Desfolhar os diasna procura incerta

de um silêncio cheiovereda aberta,

clarãoque em nós desperta

sem temor, sem o receio

de noites vaziasprelúdio adivinhadoda eterna emoção

de uma nova descoberta.

26

CONSTRUÇÃO

O estranho balançode uma simples palavra, uma nótula só

viva, sem descansosolta mas agarrada

vinda do fundo do nadaque tomba sobre uma outra palavra

da mesma ninhadae outra e mais outra até que um verso

apareçae se escreva para que não se esqueça

verso trôpego ainda sem conseguir caminhar

27

verso que aguarda mais versospara se poder equilibrar

um berço, raiz de um sentido, de um tema

uma tentativa, vã talvezde construir

mais um anónimo poema.

DESALENTO

Braços cansadosde não abraçarrios desaguados

sem o azul do marcarinhos guardadossonhos desbotados

28

sem ter poiso sem ter lugar.

ESCRITA

Rostodo olhar

para além do olhar

29

lugarde palavras reinventadas

escrever sem descreverapenas mostrar

lograr sentiro outro lado do ver

tentar descobriraflorar

uma outra dimensão do estar.

ONDE?

30

Na desolaçãoonde encontrar alentonos horizontes do marou na voz do vento?

Na lava revoltada de um vulcãogritando sonoras utopias

ou em líricas fátuas e doentiasque alguns poetas nos tecem?

Em janelas abertas de par em parou em grandes arcas vazias cheias das razões da Razão

para viver uma vida a esperarpor sonhos que nunca acontecem?

BOM DIA

31

Ritos rasosrotinasmanias

por que tem de sercortinasvasos

os “bons dias”eu sei

porque empurram o viver.

32

PASSADO

Memórias feridasenterradasesquecidas

ecos de vidas vividassombras passadasjulgadas perdidas

que não mais se querem recordar.

33

TESOURO

Por detrás das palavras ditasas outras

que se não ouvemque no teu silêncio murmuras e gritas

sombras de sombras infinitasque em ti guardas

como tesouros derramadosciosamente guardados

só para ti.

34

REGRESSO

Um dia voltareiaos lugares de onde nunca parti.

Quando? Nem eu sei!Só sei

que em muitos outros lugareshá muito jáeu morri.

35

DECADÊNCIA

Abraçar um corpo que se desfazconsciente

doenteque sente

não mais ser capazde viver os sonhos já desfeitos

caminhos outrora perfeitosquando se julgava ter encontrado

a Paz.

36

FRIO

Brancoque não aquece

o som de uma corque nunca aparece

e um pássaro de ventoriso

sorriso

37

que jamais acontece.

PRIMAVERA

Na cidadesente-se já

a Primavera.

38

A claridadeatarda-se já

a Noite espera.

Nascem floresabrem-se botões

despertam amorescrescem ilusões.

Plim!

TEMPO

Diluir o tempo

39

no tempo de outros temposde outros vagares

para além dos tempospara além dos mares

pedras que ficaram dos temposde diferentes pensares

presentes agora no tempode todos os temposdestroços solenes

de todos os lugares.

QUANDO

40

Quando o olhar se não pousae resvala

porque não se atreve, não ousae se cala

sem uma palavra, um sorrisouma fala

num silêncio duro e precisocomo uma bala

vidro fosco, opaco, indecisocom um pouco de calor

sem um grito sem um esgar de dor esmorece e estala.

41

AMANHECER

Rompe da névoa o diasem amanhecer

as árvores, as casas, um murosem um sopro de vento

o vulto que passa a corrersombras

no branco cinzento que não deixa ver

o que sem acontecerna nossa frente

acontecia.

42

SILÊNCIO

Silêncio no olharmaior o silênciodo que o pensaro silêncio duro

do não falarouvir sem escutar

outras falasvozes de um outro mar

ou o som fátuo de poemas vazios

versos brancos de rimar.

43

PRISÃO

Estar e não estarporque as raízes te ficaram

presasem vão

num outro lugaronde sentes que pertences

mesmo que não queirasonde nasceste onde viveste

é essa a tua inevitável condição.

44

PAISAGEM

Encher o olhar de verpaisagens , Homens, cidades outras

jogos, fogos do acontecerpara além do mar.

Lugaresde mantas estendidas de muitos verdes

de rostos apagados de outras sedesvivendo para sobreviver.

Com histórias mudas para me mostrarvidas impossíveis

45

diante mima desfilar.

TURISMO

Turista, eugentes, paisagens, históriasque em breve irei esquecer

quandocheio de tanto

lá longe no mundo meuno meu canto

46

do outro lado do marem mim

uma vez mais me reencontrar.

SEDE

De olhar vaziopousado

sem horizonteRio

sem barcos

47

margens sem pontesede nua

dorsem ter fonte.

PRESENTE

Sem a pressa que tem o ventopouso

48

repousosinto

pressintocada momento

na luz que luz

no escurocomo se o presente

nunca tivesse o Futuro.

DESOLAÇÃO

49

Sentadonuma carruagem vazia

de um comboio abandonadoviajo noite e dia

num destroço enferrujadosem destino certonum mundo meu

por mim descobertonum roteiro abertopor mim inventado

sentadonuma carruagem vaziade um comboio parado.

PERDA

50

No balanço manso

esmorecendovejo-me vendo

falho de alentoolhando ausente

distraídoo estranho presente

barco lentoque por mim

me vai acontecendo.

51

A OUTRA MARGEM

Como se não houvesse mais riosnem o prazer de uma paisagem

estradas aeroportosrotas nuas

de passagemtempo sem tempo

que a cidade aguardaperto

como miragemtudo o resto é longenum mundo outro

paradonuma outra margem.

52

LUIS FILIPE DE CASTRO MENDES

Teus poemasde encantado desencanto

livro de distânciassaudade dolente

de choro doce sem ter prantoa Índia

no teu falarsempre presente

cores, locais, fragrânciaspoiso sereno do teu canto

nos gestos transparentes de tão delicada genteinvenção lunar

reflexo iluminado do teu espanto.

53

PASSADO ETERNO

Séculos de memóriahúmus infiltrado

num pedaço extenso de terranum mapa traçado

pelo sopro lento da História.Berço de muitos berços

de sangue e suor derramadoem Paz e na Guerra, tempo do tempo

que passagritos, miséria e glória

argamassa

54

de falas, gestos, costumesfogos apagados

chão de muitos lumessonhos vividos dias vencidos

hinos e bandeirasonde só se podem escrever

as sombras coloridas da Vitória!

POETA

Poeta tuescondido

nos teus versosem novelos

perdidonas linhas quebradas

do teu texto

55

nova literatura, revolta, pesadelos?ou apenas um pretexto

para versos sem sentidopalavras soltas em enxurradas

versos livres, abertos, nusveredas sem luzque interessa?

Virá um dia alguémque sem desdém

fará do teu poema uma peçaum festival!

VAZIO

Saudadesdos versos que nunca escrevi

dos que nunca agarreidos que apenas senti

56

por mais que escute as sombrase olhe para o papel vazio

vejo sempresempre

o que sempre vi.

EU

E até passei um bom bocado

57

entretido na conversaexibi-me como erudito entusiasmado

um vulcão em mim renasceueu que o julgava, para sempre,

apagadosinto que fiz boa figura

fui fluente, firme, demagógico e educado

fingindo dominar o assuntomostrei-me culto, sagaz e bem

informadoe depois

até escrevi um poema banalde rima simples, infantil, elementarque podia ter sido em -ar ou em -al

mas acabou por ficarcomo acima enunciado

com uma rima simples e pueril mais um poema banal em -ado.

58

DESERTO

Olharo teu olhar vazio

e julgar vera imagem serena de um rio

afinal o que eu olhavaera um deserto

imenso e nu um silêncio magoado

feito de distância, gelo e friotu.

59

OS PÁSSAROS, SEMPRE

E regressaram os pássarosnaves suaves como a neve

abrindo as asaspor sobre os Homens

por sobre as casascomo se fossem cair

visão serena de uma vida breveausentes

mesmo antes de partir.

60

ESCREVO

Escrevoem clareiras rasgadas

no ruído assumidodos meus dias

acasos de silêncio abertos no acontecer

onde procuro mais do que o viver.

Escrevopalavras, sons, poesias

para mim e para tiescrevo e rescrevo

o que sempre escrevitentando despertar horizontes

61

nas manhãs mais frias.

AUSÊNCIA

Barro negroem fogo lento

poema apagadonunca encontrado

sem rosto sem vento

solidão a doisamor de ausência

sem caminho sem depois.

62

LEITURA

Leioas palavras

que em ti desabam em torrentenão é o eco das palavras

mas um estranho rumor da quedao que se sente

sombras significantesque se atropelam

63

sentidos sem sentidoque se estatelampalavras muitas

versos e mais versossons dispersos

sem o sabor único da palavra em ti esquecido

ausente.

ESPERA

Vêm de longede muito longe

para lá de todos os horizontespor vales, planuras e montes

trazem consigo um saber sem igual

64

e lógica de todos os sábios e de um monge

o caminho perfeito para o Universoem nós sempre submerso

que só em sonhos se pode sonhar mas, pobres de nós

nunca poderão cá chegar!

ACASOS

Agarrei no acaso mais um verso

65

trazido por um qualquer ventoum brilho, um sorriso lentoentre mil palavras dispersoraiz primária de um poema

sentido sem ser sentidotema sem ser tema

apenas um vago pressentimentoum som distante, perdido

memória há muito rasgadasonho de um sono brando

em noite sempre acordada.

O QUE EU TENHO

66

Sem céu para alcançare futuro que já esquecitenho vento, tenho mar tenho fogo, rumo, fontepalavras com horizonterimas fáceis de rimar

tenho música, fotos, livros aconchegada companhia

em que um diaeu me reconheci.

67

SERENIDADE

Dia claro de um longo nasceronde, imóvel,

se espreguiça a auroratranquilo e lento o despertar

na luz que mal se deixa anteverluz que se atarda no olhare no voo de um pássaro

se demora.

68

A FOLHA BRANCA

Palavras que nascemde outras palavras

na terra brandafolha branca

que tu, poeta, lavraspalavras luz, novos temasversos que te aparecemque de ti se esquecem

reflexos de sombra, ou de cor livres, no límpido interior

dos teus poemas.

69

PROCURA

Escrever o sonho, o maras sombras e o vento

palavras nuasem busca de talento

um rosto só de imaginar o ver sem nunca olhar

esquecendo o que existeem tantas janelas cerradas

de tantas outras ruas!

70

VONTADE

Acaba o que não se acaba

começao que apenas recomeça

uma colectiva ficçãoum doce engano de se enganar

uma assumida e voluntária ilusãofruto sempre verde da vontade

de um diaum qualquer dia

conseguir

71

enfim mudar.

SOMBRAS

Sombras projectadasde faces iluminadassombras de sombras

medoslumessonhos

mundos cheios de pequenos nadas

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EPÍLOGO

Por detrás das linhas que escrevoestou também eueu, a sós comigo

eu, que não consigoum poema único como o teu

73

eu, que nem me atrevoa olhar para trás

e só de olhar, qual Orfeu, rasgar

os versos que fui sendo capazde me inventar e mesmo assim

incapaz de me transportara um outro lugaronde eu seja eu

um outro eueu, para além de mim.

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