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Roteiro
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Roteiro TENUTA DE SANTO ANTonio - perugia
A sua grande festa do espírito, a sua exultante euforia, o florescimento daquele
complexo destino durou dez anos. Neste período, abandonou-se plenamente na
alegria do cumprimento de sua missão. Nos únicos dois meses que, no verão, o
seu trabalho lhe deixava livres, conseguiu escrever um milheiro de páginas que
publicou em artigos e volumes. Sentia a concepção tão madura e pronta dentro de
si, que não lhe tomava tempo. O trabalho normal de preparação cultural,
bibliográfica, de assimilação do argumento estava já automaticamente realizado.
Não precisava senão do tempo indispensável para a compilação material da escrita
em duas vezes: uma primeira, ilegível para os outros porque feita com
extraordinária rapidez, e uma segunda, cuidada, clara, para o editor.
(História de um homem, cap.XV, p.113)
Estamos na Tenuta de Santo Antônio, uma propriedade rural da família Ubaldi que por muitos
anos fora o retiro espiritual do autor durante as férias de verão: momento de intensa recepção
e produção textual.
***
Na noite de Natal de 1931, nesta torre, uma mensagem foi recebida:
No silêncio da Noite Santa, escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas
recordações; põe-te de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz; inerte,
vazio, no nada; no mais completo silêncio do espaço e do tempo. Neste vazio, ouve
minha voz que te diz – ergue-te e fala: Sou eu.
Exulta pela minha presença: grande bem ela é para ti; grande prêmio que
duramente mereceste. É aquele sinal que tanto invocaste deste mundo maior em
que vivo e em que tu creste. Não perguntes meu nome; não procures individuar-
me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que
sou sempre o mesmo.
Minha voz, que para teus ouvidos é terna, como é amiga para todos os pequeninos
que sofrem na sombra, sabe também ser vibrante e tonante, como jamais a
sentiste. Não te preocupes; escreve. Minha palavra dirige-se às profundezas da
consciência e toca, no mais íntimo, a alma de quem a escuta. Será somente ouvida
por quem se tornou capaz de ouvi-la. Para os outros, perder-se-á no vozear imenso
da vida. Não importa, porém: ela deve ser dita.
Falo hoje a todos os justos da Terra e os chamo de todas as partes do mundo, a
fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao Céu. Que
nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não
está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e
injustos.
Essas foram as palavras iniciais da Mensagem de Natal, uma torrente inspirativa
que se perpetuaria de distintas formas por toda a sua vida.
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***
Saio, cheio de impressões ainda recentes, duma experiência novíssima. A 23 de
agosto de 1935, às 11 horas da noite, acabava de escrever "A Grande Síntese",
em Colle Umberto, Peruggia, na torre de uma casa de campo, à mesma pequena
mesa onde quatro anos antes, no Natal de 1931, noite alta, havia iniciado a primeira
das mensagens de "Sua Voz". Quatro anos de superprodução intelectual, de
intenso drama interior, de hipertensão, de sublimação psíquica, de sublimação
espiritual, emergindo da cinzenta monotonia do magistério, esforço diário que me
é imposto no cumprimento do dever de todos, de ganhar a vida com o próprio
trabalho. (As noúres, cap I, pag. 12-13)
Do Natal de 1931 até agosto de 1935 decorreram quatro anos em que ao meu
espírito afloraram, progressiva e metodicamente, profundos estados psíquicos,
após lenta incubação; culminando na maturação de minha personalidade eterna.
(...) (As noúres, cap I, pag. 17)
***
(...) Naquela noite de agosto se encerrava uma fase de minha vida: a vida é
verdadeiramente um caminho e, nas vicissitudes de cada dia, a alma elabora o seu
destino. A vida é uma deslocação contínua do ser no tempo. (...)
Naquela noite, eu senti, transfuso em mim, o poder de quem comprimiu o universo
num monismo absoluto, de quem encontrou o caminho das causas no dédalo dos
efeitos. (...)
O meu ser estava todo imerso numa onda de pensamentos, ressonante de
vibrações, que por tanto tempo me haviam alimentado. A vida continuava a mesma,
supremamente indiferente, em torno de mim, no seu curso milenário, obedecendo
à sua eterna lei. (...)
(...) No entanto, algo de extraordinário acontecera: em minha alma, a eterna
evolução rejubilava-se pela maturação de uma sua fase mais alta. E dos longes do
universo eu percebia ressonâncias, em resposta a esse secreto júbilo. Júbilo de
meu ser, que mais se avizinhara da lei de Deus, júbilo da lei de Deus, que se tornara
mais real em mim. (As noúres, cap I, pag. 18-21)
Um projeto do