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Estado do Paraná
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PODER JUDICIÁRIO DO PARANÁ
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
Processo: 0002674-54.2011.8.16.0030
Vara: 1ª Vara da Fazenda Pública de Foz do Iguaçu
Classe Processual: 65 - Ação Civil Pública
Assunto Principal: 10011 - Improbidade Administrativa
Autor: MINISTERIO PUBLICO
Município de Foz do Iguaçu/PR
Réu: PRÓ-SAÚDE ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E
HOSPITALAR
PAULO MAC DONALD GHISI
LUIZ FERNANDO BOFF ZARPELLON
S E N T E N Ç A
I - RELATÓRIO
Trata-se de ação de improbidade administrativa ajuizada
pelo Ministério Público do Estado do Paraná contra Paulo Mac Donald Ghisi,
Luis Fernando Boff Zarpelon e Pró-Saúde Associação Beneficente de
Assistência Social e Hospitalar, já qualificados nos autos. O Município de Foz
do Iguaçu também compõe o polo ativo da demanda.
Segundo consta da inicial, os réus Paulo Mac Donald Ghisi e
Luis Fernando Boff Zarpelon, na condição de Prefeito e Secretário Municipal
de Saúde desta Cidade, entabularam o contrato de gestão n. 021/2010 com
a organização social Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social
e Hospitalar, sob o valor de R$34.764.000,00 (trinta e quatro milhões,
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PROJUDI - Processo: 0002674-54.2011.8.16.0030 - Ref. mov. 137.1 - Assinado digitalmente por Rogerio de Vidal Cunha:16706,
25/06/2015: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença
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setecentos e sessenta e quatro mil reais) por ano, a ser repassado pelo
Município para o desempenho do objeto do contrato.
Com isto, foi entregue à Pró-Saúde Associação Beneficente
de Assistência Social e Hospitalar o único hospital público da cidade, e,
consequentemente, grande parte do atendimento público de saúde do
município passou a ser prestado pela aludida organização social, que, além
de se valer dos equipamentos e de parte dos servidores da área da saúde,
também contratou diversos profissionais para desempenhar suas funções
na área da saúde do Município, o que se deu, segundo a parte autora, sem a
realização de concurso público.
O Ministério Público aduziu, ainda, que, diante das
irregularidades que teriam sido encontradas - terceirização do serviço de
saúde, atividade-fim do Município, e a prestação de serviços públicos de
saúde por pessoas não concursadas - foi proposta a celebração de termo de
ajustamento de conduta, o que não foi acatado, de modo que se fez
necessário recorrer à Justiça do Trabalho, que determinou a ruptura do
contrato de gestão.
Por tudo isso, requer o Parquet, em razão da violação dos
artigos 10 e 11 da Lei de Improbidade Administrativa, a condenação dos
réus às sanções do art. 12, II, da mesma lei, ou, caso se entenda pela
violação unicamente do art. 11, pela condenação nas sanções do art. 12, III.
Juntou vários documentos.
Notificados, os réus Paulo Mac Donald Ghisi (eventos 1.5 e
1.9) e Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar
(evento 1.10) apresentaram defesa preliminar. O réu Luis Fernando Boff
Zarpelon quedou-se inerte (evento 1.14).
Manifestação do Ministério Público no evento 1.15.
Após rechaçadas as preliminares, a inicial foi recebida
(evento 1.21).
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Os réus foram citados (Paulo Mac Donald Ghisi no evento
1.23, Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar no
evento 1.30 e Luis Fernando Boff Zarpelon nos termos do mandado e da
certidão do evento 41.1), e contestaram a ação (eventos 1.9 e 1.25, 1.33 e
19.1, respectivamente).
O réu Paulo Mac Donald Ghisi contestou a ação alegando
que não houve má-fé ou animo de ser desonesto ou buscar para si ou para
terceiro proveito em detrimento da Administração Pública, vez que praticou
os atos alicerçado na lei e de acordo com os pareceres técnicos emitidos por
servidores públicos. Sustentou que não há necessidade de concurso público
para contratação de servidores por parte de entidades do terceiro setor,
visto que atuam ao lado da Administração, apenas executando os serviços.
Declarou que a Pró-Saúde atua de modo a complementar ou suplementar os
serviços de saúde, sendo lícita tal contratação. Argumentou inexistir dano
ao erário e inaplicabilidade das sanções previstas no art. 12, II da Lei
nº8.429/1992. Por fim, fundamentou que o município não tem condições de
tomar para si com corpo próprio a execução de todos os serviços, razão pela
qual contratou a gestão compartilhada.
A ré Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social
e Hospitalar apresentou sua contestação afirmando que o MP/PR promoveu
arquivamento de procedimento administrativo no qual se apurava
irregularidade de contato de gestão entre a ré e o Município de Pinhais.
Arguiu preliminar de ausência de interesse de agir. Alegou que o modelo
jurídico das organizações sociais é constitucional e que é possível a
realização de contrato de gestão com o poder público. Sustentou que não
há óbice a contratação direta de pessoal sem concurso público.
O réu Luis Fernando Boff Zarpelon contestou a ação
arguindo preliminar de falta de interesse processual. No mérito, afirmou que
não há nulidade na contratação, visto que o contrato de gestão não pode
ser qualificado como transferência de responsabilidade da saúde pública.
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PROJUDI - Processo: 0002674-54.2011.8.16.0030 - Ref. mov. 137.1 - Assinado digitalmente por Rogerio de Vidal Cunha:16706,
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Relatou que os serviços foram prestados adequadamente. Declarou haver
ofensa ao princípio da autonomia federativa e ao princípio da correição
funcional, haja vista que o parquet busca impedir a contratação de OS´s
para prestação de serviços complementares à saúde. Alegou existir violação
do princípio da reserva do financeiramente possível, bem como inexistência
de dolo na conduta do réu e não haver dano ao erário.
O Ministério Público impugnou as contestações (evento 22),
reiterando os pedidos iniciais.
As preliminares levantadas nas contestações foram
rechaçadas na decisão do evento 43.1. Também foi indeferida a pretensão
probatória das partes, já que se trata de caso de julgamento antecipado da
lide.
O réu Paulo Mac Donald Ghisi interpôs agravo retido em
face da decisão do evento 43.1. Recebido o recurso (evento 55.1), houve
apresentação de contrarrazões por parte do Ministério Público (evento
53.1).
Chamado o feito à ordem, determinou-se a intimação do
Município de Foz do Iguaçu, que integra o polo ativo da demanda, nos
termos do despacho do movimento 62.1, o qual se manifestou no evento
75.1.
O réu Luis Fernando Boff Zarpelon também agravou retido
(evento 69.1). Contrarrazões por parte do Ministério Público no evento 81.1.
Juntada de documentos nos eventos 83 e 84, sobre os quais
se manifestaram o Ministério Público e os réus nos movimentos 102.1,
106.1, 108.1 e 109.1.
A decisão agravada restou mantida no evento 91.1.
É o relatório.
Decido.
II - FUNDAMENTAÇÃO
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Conforme restou consignado na decisão do evento 43.1, o
feito comporta julgamento antecipado, na forma do art. 330, I, do CPC, vez
que a questão de mérito, ainda que de direito e de fato, não exige
necessidade de produção de prova em audiência.
E, considerando que as preliminares apresentadas pelos
réus já foram afastadas (eventos 1.21 e 43.1), passo diretamente ao exame
do mérito.
À luz da doutrina de José Afonso da Silva: "A probidade
administrativa é uma forma de moralidade administrativa que mereceu
consideração especial da Constituição, que pune o ímprobo com a suspensão
de direitos políticos (art. 37, §4º). A probidade administrativa consiste no
dever de o "funcionário servir a Administração com honestidade, procedendo
no exercício das suas funções, sem aproveitar os poderes ou facilidades delas
decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer". O
desrespeito a esse dever é que caracteriza a improbidade administrativa.
Cuida-se de uma imoralidade administrativa qualificada. A improbidade
administrativa é uma imoralidade qualificada pelo dano ao erário e
correspondente vantagem ao ímprobo ou a outrem(...)." 1
Configura improbidade administrativa a prática por agente
público (LIA, art. 2º) e seus eventuais concorrentes (LIA, art. 3º) de ato
capitulado em alguma das situações dos artigos 9º, 10 e 11 da Lei nº
8.429/92, descritos, respectivamente, como atos de improbidade que
“importam enriquecimento ilícito”, “causam prejuízo ao erário” ou “atentam
contra os princípios da Administração Pública”.
Sedimentou-se na jurisprudência do SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA o entendimento segundo o qual “para que seja reconhecida a
tipificação da conduta do réu como incurso nas previsões da Lei de
Improbidade Administrativa, é necessária a demonstração do elemento
1 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, 24ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, 2005, p-669
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subjetivo, consubstanciado pelo dolo para os tipos previstos nos arts. 9º e 11
e, ao menos, culpa, nas hipóteses do art. 10. Isso porque não se pode
confundir improbidade com simples ilegalidade. A improbidade é a ilegalidade
tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo da conduta do agente”2 .
Ou ainda: “A improbidade é uma ilegalidade qualificada pelo
intuito malsão do agente, atuando sob impulsos eivados de desonestidade,
malícia, dolo ou culpa grave.2. Dessa atuação malsã do agente, ademais,
deve resultar (i) o enriquecimento ilícito próprio ou alheio (art. 9o. da Lei
8.429/92), (ii) a ocorrência de prejuízo ao Erário (art. 10 da Lei 8.429/92) ou
(iii) a infringência aos princípios nucleares da Administração Pública (arts. 37
da Constituição e 11 da Lei 8.429/92).”3
É preciso ter em mente, portanto, que nem toda ilegalidade
consubstancia ato de improbidade. Sua configuração reclama um plus de
antijuridicidade. E por essa razão a análise da prática ou não de
comportamento ímprobo, para o qual reservadas severíssimas sanções,
deve nortear-se por um juízo de proporcionalidade, de forma a que não se
qualifique como improbidade o que é mera ilegalidade.
Pois bem, o Programa Nacional de Publicização (PNP),
instituído pela Lei n. 9.637/98, foi idealizado em razão da necessidade de se
ampliar a descentralização na prestação de serviços públicos. Por ele,
algumas atividades de caráter social, então exercidas por pessoas e órgãos
administrativos de direito público, podem ser absorvidas por pessoas de
direito privado (art. 20).
José dos Santos Carvalho Filho entende que o termo
publicização é inadequado e infeliz. Para ele, o que existe, na realidade é o
cumprimento de mais uma etapa do processo de desestatização, pelo qual o
Estado se afasta do desempenho direto da atividade, ou, se se preferir, da
prestação direta de alguns serviços públicos, mesmo não econômicos, 2 STJ – AgRg no AREsp 161.420/TO, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/04/2014, DJe 14/04/2014 3 STJ, AgRg no AREsp 83233/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 03/06/2014
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delegando-a a pessoas de direito privado não integrantes da Administração
Pública (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito
Administrativo, 17ª Edição, Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, p. 305).
Essas pessoas, a quem se incumbirá a execução dos
serviços públicos em parceria com o poder público, por meio de contrato de
gestão, são as organizações sociais.
As organizações sociais fazem parte do que se chama de
Terceiro Setor, a indicar que não se trata nem dos entes federativos nem
das pessoas que executam a administração indireta e descentralizada
daqueles, mas simplesmente compõem um tertium genus, ou seja, um
agrupamento de entidades responsáveis pelo desenvolvimento de novas
formas de prestação dos serviços públicos (CARVALHO FILHO, José dos
Santos. Manual de Direito Administrativo, 17ª Edição, Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, p. 304).
Consoante Hely Lopes Meirelles, a organização social pode
ser considerada como ente de cooperação, pessoa jurídica de direito
privado disposta paralelamente ao estado, ao lado do Estado, para executar
cometimentos de interesse do Estado, mas não privativos do Estado
(MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 27ª ed.,
atualizada. São Paulo : Malheiros, p. 359).
Segundo o art. 1º da Lei n. 9.637/98, lei esta tida como
marco legal das organizações sociais, o Poder Executivo poderá qualificar
como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica,
ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio
ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.
Dados os estritos limites da causa, esta sentença abordará
somente o tema da saúde.
A Constituição Federal estabelece que a saúde é direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
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que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação (art. 196). O art. 199, por sua vez, consigna que a assistência à
saúde é livre à iniciativa privada.
A saúde se insere no que a doutrina denomina de serviços
sociais, ou seja, os que o Estado executa para atender aos reclamos sociais
básicos e representam ou uma atividade propiciadora de comodidade
relevante, ou serviços assistenciais e protetivos (CARVALHO FILHO, José dos
Santos. Manual de Direito Administrativo, 17ª Edição, Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, p. 305).
O regime jurídico a que se submete a saúde permite incluí-
la no campo dos serviços públicos não privativos, uma vez que tanto o
poder público quanto a iniciativa privada são titulares, de modo que podem,
simultaneamente, exercê-las por direito próprio.
Quando o Estado a exerce por si, tem natureza de serviço
público; quando o particular a exerce, porém, há discussão doutrinária.
Sem maiores delongas, analisando os serviços de educação
(exemplo típico de serviço público social e não privativo), o Supremo
Tribunal Federal consignou que os serviços de educação, seja os prestados
pelo Estado, seja os prestados por particulares, configuram serviço público
não privativo, podendo ser prestados pelo setor privado independentemente
de concessão, permissão ou autorização (ADI 1266, Relator(a): Min. EROS
GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 06/04/2005, DJ 23-09-2005 PP-00006
EMENT VOL-02206-1 PP-00095 LEXSTF v. 27, n. 322, 2005, p. 27-36)
O Supremo Tribunal Federal foi chamado a deliberar sobre
a atuação das organizações sociais na ADIN 1.963/DF, da relatoria do Min.
Ayres Britto.
O julgamento, que se deu de forma majoritária, teve como
voto condutor o do Min. Luiz Fux, de cujo teor se extrai que, em razão dos
argumentos já apresentados, considera-se:
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(...) inaplicável ao caso o art. 175 da
Constituição, que prevê a delegação de serviços
públicos por permissão ou concessão, sempre
condicionada à licitação. Ora, essa regra geral, dirigida
aos serviços públicos exclusivos ou privativos – como
energia elétrica ou telecomunicações (CF, art. 21, XI e
XII, ‘b’) –, não pode suprimir o âmbito normativo das
diversas regras específicas, previstas também na
Constituição, com relação às atividades definidas como
serviços públicos não privativos. Os dois regimes
jurídicos não podem ser confundidos. E é por força de
tais regras específicas – arts. 199, 209, 215, 217, 218 e
225, todos da CF –, que o particular atua por direito
próprio nessas searas, sendo totalmente descabida a
exigência de licitação para que, repita-se, o particular
possa fazer justamente aquilo que sempre lhe era lícito
executar, por serem “livres à iniciativa privada” e/ou
“deveres da Sociedade”, respeitadas as balizas que a
própria Constituição já impõe quanto ao conteúdo
material do regime jurídico dessas atividades.
Com isso, conclui o Ministro que a Lei das Organizações
Sociais não trata de delegação de serviço público. Há, na verdade, a
instituição de um sistema de incentivo ou fomento, valendo-me dos termos
do Direito Econômico, por meio de contrato de gestão. E este modelo
caracteriza o que a doutrina econômica chama de intervenção indireta na
atividade econômica.
Consequentemente, rechaçado está o primeiro argumento
do Ministério Público: é válida a celebração de contrato de gestão entre o
executivo e organização social para atuação no setor da saúde, uma vez
que a saúde não se trata de serviço de prestação exclusiva pelo Município.
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1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
Há, pois, que se realizar uma interpretação sistêmica da (e na) Constituição,
conjugando-se o disposto no inciso VII do art. 30 com os artigos 196 e 199,
já referidos acima.
Prosseguindo, o autor defende a necessidade de realização
de concurso público para a contratação de pessoal, o que não houve na
espécie, de modo que restou violado o art. 37, II, da Constituição Federal.
Novamente, em que pesem os judiciosos argumentos
apresentados pelo Parquet, não lhe assiste razão.
Como já dito, as organizações sociais não fazem parte da
Administração Pública Indireta. Figuram no campo do que a doutrina
conceitua como Terceiro Setor, e possuem natureza jurídica de direito
privado (art. 1º, caput, da Lei n. 9.637/98). Neste sentido, não integram a
noção constitucional de Administração Pública.
Segundo o que restou decidido na ADIN 1.963/DF,
(...) isso significa que as Organizações
Sociais não estão sujeitas às regras formais dos incisos
do art. 37, de que seria exemplo a regra da licitação,
mas sim apenas à observância do núcleo essencial dos
princípios definidos no caput. Essa incidência dos
princípios administrativos deve ser compatibilizada com
as características mais flexíveis do setor privado, que
constituem justamente a finalidade por detrás de todo o
marco regulatório do Terceiro Setor, porquanto fiado na
premissa de que determinadas atividades podem ser
mais eficientemente desempenhadas sob as vestes do
regime de direito privado (trecho do voto condutor do
Min. Luiz Fux).
Consequentemente, o procedimento de seleção de pessoal
não deve conter os mesmos rigores do concurso público.
Nas palavras do Min. Luiz Fux,
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1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
(...) Se a OS não é entidade da
administração indireta, pois não se enquadra nem no
conceito de empresa pública, de sociedade de economia
mista, nem de fundações públicas, nem no de
autarquias, já que não é de qualquer modo controlada
pelo poder público, não há como incidir a regra do art.
37, II, da CF. O que há de se exigir é a observância de
impessoalidade e de objetividade na seleção de pessoal,
conforme regulamento próprio, mas não a submissão ao
procedimento formal do concurso público, devendo ser
interpretada nesse sentido a parte final do art. 4º, VIII,
da Lei, ao falar em regulamento próprio contendo plano
de cargos dos empregados.
Neste sentir, não se há falar na necessidade de realização
de concurso público para contratação de pessoal por parte da Organização
Social.
Embora o Supremo Tribunal Federal tenha consignado que
o procedimento de seleção de pessoal deve ser posto em prática de modo
impessoal e objetivo, conforme regulamento próprio, a análise deste ponto
transbordaria os limites da lide.
E, como se sabe,
Deflagrada a jurisdição, não pode o
juiz, em razão do princípio da congruência ou da
correlação temática, afastar-se do pedido veiculado
pelo autor na petição inicial, devendo a ele cingir-se,
apreciando a lide... nos limites em que foi proposta,
sendo-lhe defeso conhecer de questões, não
suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da
parte (art. 128, CPC), com o que se evitam sentenças
citra, ultra ou extra petita (CPC, art. 460, caput: é
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defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de
natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu
em quantidade superior ou em objeto diverso do que
lhe foi demandado) (GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério
Pacheco. Improbidade Administrativa. 7ª ed., São Paulo
: Saraiva, 2013, p. 946/947).
Considerando, pois, que as condutas dos acusados não
caracterizam qualquer ato de improbidade administrativa, uma vez que, ao
menos no que tange às causas de pedir apresentadas neste feito, não são
desconformes a qualquer dispositivo da LIA, a improcedência dos pedidos se
impõe.
Portanto, à época havia uma verdadeira área cinzenta de
legalidade na possibilidade de contratação de organizações socais para a
prestação direta de serviços públicos, sem a submissão do procedimento
prévio de licitação e concursos públicos.
Era até mesmo discutível a constitucionalidade dessa norma,
mas não se pode negar que, a princípio, goza de presunção de
constitucionalidade, como todas as normas, sendo tal, na ausência de
outros elementos mínimos, suficiente para afastar a conduta dolosa do
agente público.
Nesse sentido:
(...)
3. O dolo, ainda que genérico, é elemento
essencial dos tipos previstos nos arts. 9º e 11 da Lei
8.429/92.
4. O STJ, em situações semelhantes,
entende ser "difícil identificar a presença do dolo genérico
do agravado, se sua conduta estava amparada em lei
municipal que, ainda que de constitucionalidade duvidosa,
autorizava a contratação temporária dos servidores
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públicos". Precedentes: AgRg no AgRg no REsp
1191095/SP, Segunda Turma, Rel. Ministro Humberto
Martins, DJe 25.11.2011 e AgRg no Ag 1.324.212/MG,
Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe
13.10.2010.5. Recurso Especial não provido.(STJ, REsp
1231150/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 13/03/2012, DJe 12/04/2012)
No campo doutrinário, Wellignton Pacheco Barros4 leciona
que: "A palavra improbidade vem do radical latino 'probus', que significa
crescer reto e, na tradição da língua portuguesa, significa ter caráter, ser
honesto, ser honrado. Por via de consequência, não ter probidade ou ser
ímprobo significa não ter caráter, ser desonesto ou desonrado." Não por
outra razão exige-se para o recebimento da ação de improbidade, com
severos reflexos nos agentes públicos, exige a prova, ainda que indiciária da
existência de conduta dolosa e maliciosa de violar os preceitos
fundamentais da administração, conduta essa que não vislumbro, nem
mesmo em termos de indícios, na conduta do requerido.
III - DISPOSITIVO
Diante de todo o exposto, resolvendo o mérito na forma do
art. 269, I do CPC, JULGO IMPROCEDENTES OS PEDIDOS formulados pelo
Ministério Público.
Deixo de condenar o Ministério Público ao pagamento das
custas processuais ou de honorários advocatícios, uma vez que, segundo a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é pacífica a jurisprudência de
que, nas ações civis públicas, não se impõe ao Ministério Público a
condenação em honorários advocatícios ou custas, ressalvados os casos em
que o autor for considerado litigante de má-fé (REsp 565.548/SP, Rel.
4 O Município e seus agentes , Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002
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1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe
20/08/2013), o que não ocorre na espécie.
Sentença não sujeita a reexame necessário, tendo em vista
ser inaplicável analogicamente o disposto no art. 19 da Lei da Ação Popular,
na forma do entendimento do Superior Tribunal de Justiça5.
Em sentido semelhante: TJPR - 4ª C.Cível - AC - 1270848-6 -
Foz do Iguaçu - Rel.: Guido Döbeli - Unânime - - J. 12.05.2015.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Oportunamente, arquivem-se.
Diligências necessárias.
Foz do Iguaçu, 25 de junho de 2015.
Assinado digitalmente
ROGERIO DE VIDAL CUNHA
Juiz de Direito Substituto
5 DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E REEXAME NECESSÁRIO. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa não está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei de Ação Popular (Lei 4.717/1965). Isso porque essa espécie de ação segue um rito próprio e tem objeto específico, disciplinado na Lei 8.429/1992, não cabendo, neste caso, analogia, paralelismo ou outra forma de interpretação, para importar instituto criado em lei diversa. A ausência de previsão da remessa de ofício, na hipótese em análise, não pode ser vista como uma lacuna da Lei de Improbidade que precisa ser preenchida, mormente por ser o reexame necessário instrumento de exceção no sistema processual, devendo, portanto, ser interpretado restritivamente. REsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/9/2014.
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