saad_análise ergonômica do trabalgo do pedreiro.pdf

129
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP VIVIANE LEÃO SAAD ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DO PEDREIRO: O ASSENTAMENTO DE TIJOLOS PONTA GROSSA OUTUBRO - 2008

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  • UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARANPR

    UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

    CAMPUS PONTA GROSSA

    GERNCIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    PPGEP

    VIVIANE LEO SAAD

    ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO DO

    PEDREIRO: O ASSENTAMENTO DE TIJOLOS

    PONTA GROSSA

    OUTUBRO - 2008

  • VIVIANE LEO SAAD

    ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO DO

    PEDREIRO: O ASSENTAMENTO DE TIJOLOS

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia

    de Produo, do Programa de Ps-Graduao

    em Engenharia de Produo, rea de

    Concentrao: Gesto Industrial, da Gerncia

    de Pesquisa e Ps-Graduao, do Campus

    Ponta Grossa, da UTFPR.

    Orientador: Prof. Antonio Augusto de Paula

    Xavier, Dr.

    Co-orientador: Prof. Ariel Orlei Michaloski, Ms.

    PONTA GROSSA

    OUTUBRO - 2008

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    S111 Saad, Viviane Leo Anlise ergonmica do trabalho do pedreiro: o assentamento de tijolos. / Viviane

    Leo Saad. -- Ponta Grossa: [s.n.], 2008. 124 f. : il. ; 30 cm.

    Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto de Paula Xavier Co-orientador: Prof. Ms. Ariel Orlei Michaloski

    Dissertao (Mestrado em Engenharia da Produo) - Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Campus Ponta Grossa. Curso de Ps-Graduao em Engenharia de Produo. Ponta Grossa, 2008.

    1.Construo civil. 2. Ergonomia. 3. Antropometria. I. Xavier, Antonio Augusto de Paula. II. Michaloski, Ariel Orlei. III. Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Campus Ponta Grossa. IV. Ttulo.

    CDD 620.82

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    i

    Ao meu filho Andr, minha vida, meu amor, que

    to puramente me apoiou e aceitou tantos

    momentos de ausncia.

    Aos meus pais, Johny e Rosemary Saad pela

    ajuda, incentivo e carinho dados por toda a

    vida.

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    ii

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pela vida e toda a felicidade que dela emana.

    A Universidade Tecnolgica Federal do Paran pela oportunidade de aprendizado e

    crescimento pessoal.

    Ao Prof. Dr. Antonio Augusto de Paula Xavier pelo apoio, ensinamentos, orientaes

    e ajuda durante todo o desenvolvimento desta pesquisa.

    Ao Prof. Ms. Ariel Orlei Michaloski por toda a dedicao na co-orientao deste

    trabalho.

    A todos os professores do curso, pelos conhecimentos passados.

    Aos colegas com os quais tive o prazer de conviver durante este perodo de

    aprendizagem e aos meus amigos mais fiis pelo incentivo dirio e auxlio constante.

    s empresas pesquisadas por abrirem as portas e fornecerem todas as informaes

    solicitadas.

    Aos trabalhadores, que revestidos de extrema compreenso e colaborao

    viabilizaram a realizao deste estudo.

    A todos que direta ou indiretamente ajudaram para a realizao deste trabalho de

    dissertao.

  • iii

    "Somos feitos de carne, mas temos que viver como

    se fossemos feitos de ferro." (Sigmund Freud)

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    iv

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS

    SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    1 Introduo ......................................................................................................... 12 1.1 Objetivos...........................................................................................................................................13 1.2 Hiptese ...........................................................................................................................................14 1.3 Limitaes da pesquisa....................................................................................................................14

    1.4 Importncia do tema........................................................................................................................14

    1.5 Justificativa......................................................................................................................................15

    1.6 Estrutura..........................................................................................................................................16

    2 Referencial terico ........................................................................................... 17 2.1 A indstria da construo civil..........................................................................................................17 2.2 O sistema produtivo .........................................................................................................................18 2.3 A busca pela produtividade ..............................................................................................................19 2.4 As doenas ocupacionais.................................................................................................................21

    2.5 A dor e os distrbios osteomusculares ............................................................................................24

    2.6 Motivao dos DORT na tarefa do levantamento de paredes.........................................................27

    2.7 Biomecnica ocupacional e ergonomia ...........................................................................................28

    2.7.1 Trabalho muscular.........................................................................................................................30

    2.7.2 Posturas do corpo .........................................................................................................................33

    2.7.3 Posies de trabalho.....................................................................................................................35

    2.7.4 O projeto do posto de trabalho......................................................................................................37

    2.7.5 A antropometria.............................................................................................................................38

    2.7.6 Dimensionamento do posto de trabalho .......................................................................................41

    2.7.7 Posturas dos membros superiores ...............................................................................................44

    2.8 Ergonomia na construo civil .........................................................................................................46

    3 Metodologia ...................................................................................................... 50 3.1 Instrumentos de pesquisa ................................................................................................................52 3.2 Estudo piloto.....................................................................................................................................56 3.3 Definio amostra ............................................................................................................................58 3.4 Variveis...........................................................................................................................................60

    3.4.1 Variveis independentes ...............................................................................................................60 3.4.2 Varivel dependente .....................................................................................................................60

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    v

    4 Resultados e discusso ................................................................................... 61 4.1 A atividade do trabalhador durante o levantamento de paredes.....................................................61

    4.2 O tempo das atividades...................................................................................................................66

    4.3 O risco ergonmico..........................................................................................................................71

    4.4 Relatos de dor.................................................................................................................................77

    4.5 Distribuio espacial do posto de trabalho......................................................................................81

    4.6 Antropometria dos trabalhadores da construo civil......................................................................87

    4.7 Avaliao da adaptao dos postos de trabalho.............................................................................91

    4.7.1 Pedreiro ao nvel do solo (zonas 1 e 2 do levantamento)............................................................94 4.7.2 Pedreiro posicionado no andaime (zonas 3 e 4 do levantamento)...............................................98

    4.8 Sugestes de adaptaes dos postos de trabalho aos pedreiros da Construo Civil.................101

    5 Concluso ........................................................................................................101 5.1 Sugestes para trabalhos futuros..................................................................................................104 Referncias .........................................................................................................................................106

    Apndice A Fotos dos trabalhadores e canteiros de obras estudados......................................111 Apndice B Termo de consentimento livre e esclarecido ................................................118 Apndice C Formulrio para coleta de dados...............................................................120

    Anexo A Diagrama de Corlett ....................................................................................124

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    vi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Exemplo de marcao dos componentes do posto, onde l-se Pe para pedreiro, Pa para parede, A para argamassa e T para tijolos.......................................................................................

    53

    5352

    Figura 2 - Cronmetro utilizado na pesquisa................................................... 53 Figura 3 - Diviso das zonas da parede para anlise das posturas

    utilizadas.......................................................................................... 5554

    Figura 4 - Medies antropomtricas do estudo piloto.................................... 57 Figura 5 - Trabalhador posicionado acima da viga baldrame no estudo

    piloto................................................................................................ 6157

    Figura 6 - Distribuio dos tempos de pausas em comparao ao da jornada laboral.................................................................................

    7068

    Figura 7 - Colher de pedreiro e tijolos.............................................................. 70

    Figura 8 - Atividade do trabalhador da construo civil durante o levantamento de paredes................................................................

    7270

    Figura 9 - Classificao dos riscos para a tarefa nas zonas 1 e 3 do levantamento...................................................................................

    7371

    Figura 10 - Classificao geral do risco ergonmico geral das zonas 1 e 3 (fase 1) do levantamento de paredes..............................................

    7573

    Figura 11 - Posicionamento do pedreiro durante as zonas 1 e 3 do levantamento de paredes................................................................

    7674

    Figura 12 - Classificao dos riscos para a tarefa nas zonas 2 e 4 do levantamento...................................................................................

    7674

    Figura 13 - Posicionamento do pedreiro nas zonas 2 e 4 do levantamento de paredes............................................................................................

    7775

    Figura 14 - Classificao geral do risco ergonmico das zonas 2 e 4 (fase 2) do levantamento de paredes...........................................................

    7876

    Figura 15 - Flexes de coluna associadas a rotao de tronco nas zonas 2 e 4 do levantamento de paredes........................................................

    7876

    Figura 16 - Porcentagem de obreiros com e sem relatos de dor....................... 77

    Figura 17 - Nmero de relatos de dor x regies corporais................................. 79

    Figura 18 - Intensidade mdia das queixas de dor p regio corprea............. 80

    Figura 19 - Relatos de dor por regies corpreas agrupadas........................... 81

    Figura 20 - Medidas mdias da disposio espacial do posto nas zonas 1 e 2.......................................................................................................

    8583

    Figura 21 - Posto de trabalho das zonas 1 e 2.................................................. 84

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    vii

    Figura 22 - Medidas mdias da disposio espacial do posto nas zonas 3 e 4.......................................................................................................

    8886

    Figura 23 - Posto de trabalho das zonas 3 e 4.................................................. 87

    Figura 24 - Distribuio normal da varivel 108.............................................. 88

    Figura 25 - Distribuio da varivel 151.......................................................... 89

    Figura 26 - Distribuio da varivel 148.......................................................... 89

    Figura 27 - Distribuio da varivel pega de maior conforto........................... 89

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    viii

    LISTA DE TABELAS 33

    Tabela 1 - Classificao das posturas pelo sistema WinOWAS....................................................................................

    33

    Tabela 2 - Localizao das dores provocadas por posturas inadequadas.................................................................................

    343

    Tabela 3 - Posturas de trabalho, vantagens e desvantagens...............................................................................

    36

    Tabela 4 - Variveis corpreas 56

    Tabela 5 - Tempo dos ciclos de trabalho por fases do levantamento de paredes.........................................................................................

    63361

    Tabela 6 - Seqncia de aes tcnicas no ciclo e situaes ergonomicamente inadequadas nas zonas 1 e 3.........................

    62

    Tabela 7 - Seqncia de aes tcnicas no ciclo e situaes ergonomicamente inadequadas nas zonas 2 e 4.........................

    66664

    Tabela 8 - Distribuio do tempo no ciclo de trabalho................................... 66

    Tabela 9 - Mdia do tempo gasto em atividades laborais com pausas disfaradas associadas................................................................

    69967

    Tabela 10 - Mdia do tempo gasto em atividades laborais com pausas espontneas.................................................................................

    70068

    Tabela 11 - Distribuio do tempo das atividades com relao ao tempo efetivo de produo......................................................................

    71169

    Tabela 12 - Categoria de risco obtida atravs do software WinOWAS das atividades do obreiro durante as zonas 1 e 3 do levantamento de paredes....................................................................................

    74747472

    Tabela 13 - Categoria de risco obtida atravs do software WinOWAS das atividades do obreiro durante as zonas 2 e 4 do levantamento de paredes....................................................................................

    77777775

    Tabela 14 - Tempo de servio X relatos de dor............................................... 78

    Tabela 15 - Distribuio do posicionamento espacial nos postos de trabalho das zonas 1 e 2............................................................................

    84882

    Tabela 16 - Mdia, desvio padro e coeficiente de variao das zonas 1 e 2....................................................................................................

    85583

    Tabela 17 - Distribuio do posicionamento espacial nos postos de trabalho das zonas 3 e 4............................................................................

    87785

    Tabela 18 - Mdia, desvio padro e coeficiente de variao das zonas 3 e 4....................................................................................................

    88886

    Tabela 19 - Anlise estatstica das variveis antropomtricas........................ 90

    Tabela 20 - Situaes encontradas, anlise e providncias recomendadas 94

  • PPGEP Gesto Industrial (2008)

    ix

    nas zonas 1 e 2............................................................................

    Tabela 21 - Situaes encontradas, anlise e providncias recomendadas nas zonas 3 e 4............................................................................

    98

  • PPGEP rea de Concentrao (Ano)

    x

    RESUMO

    A Indstria da construo civil requer grande quantidade de mo de obra para a

    realizao de diversas tarefas. As tarefas desempenhadas na construo civil so

    em grande maioria realizadas manualmente e requerem diversos graus de esforo.

    O esforo quando aplicado de modo contnuo, repetitivo, com materiais inadequados

    e postos de trabalho no adaptados ao trabalhador, geram os distrbios

    osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Este estudo tem como objetivo

    geral apontar adaptaes ergonmicas para o posto de trabalho da tarefa do

    levantamento de paredes da construo civil. Do ponto de vista de sua natureza esta

    pesquisa ser aplicada, sendo predominantemente quantitativa na abordagem de

    seus resultados. Em relao a seus objetivos descritiva, pois visa descrever as

    caractersticas do trabalho e dos trabalhadores da construo civil, sendo

    apresentada segundo seus procedimentos na forma de levantamento. Realizou-se a

    observao simples e direta do trabalhador durante a tarefa do levantamento de

    paredes associada a fotos e filmagens. Utilizou-se o mtodo WinOWAS para

    classificao das posturas utilizadas e avaliao do risco ergonmico. Aplicou-se o

    Diagrama Corlett e realizaram-se as medies antropomtricas de 91 trabalhadores

    da construo civil. Constatou-se que os riscos ergonmicos do trabalhador da

    construo civil durante o levantamento de paredes de alvenaria so acentuados,

    variando conforme a regio anatmica estudada e a altura da parede. Verificou-se

    que 68,13% dos trabalhadores apresentavam relatos de dor. Percebeu-se

    precariedade dos postos de trabalho com relao a adaptaes aos trabalhadores.

    Muitas das medidas dos postos de trabalho no estavam adaptadas as medidas

    corporais dos trabalhadores. A partir das avaliaes biomecnicas e antropomtricas

    pode-se sugerir adaptaes dos postos de trabalho do levantamento de paredes aos

    pedreiros da Construo Civil.

    Palavras-chave: Construo civil; ergonomia; antropometria; risco ergonmico.

  • PPGEP rea de Concentrao (Ano)

    xi

    ABSTRACT

    The Industry of the civil engineering requires a great amount of workforce for the

    accomplishment of diverse tasks. The tasks developed in the civil engineering are in

    great majority carried out manually and require diverse degrees of effort. The effort

    when applied in a continuous, repetitive way, with inadequate materials and not

    adapted work position, generates the Work-related osteomuscular disturbances

    (WRMD). This study has as its general objective to point ergonomic adaptations

    concerning the work position of the walls constructing task of the civil engineering.

    From the point of view of its nature this research will be applied, being predominantly

    quantitative in the approach of its results. In relation to its objectives it is descriptive,

    therefore it aims to describe the characteristics of the work and the workers from the

    civil engineering, being presented according to its procedures in survey form. It was

    carried out simple and direct observation of the worker during the walls constructing

    task associated to photos and filmings. The WinOWAS method was used to classify

    the used positions and evaluate the ergonomic risk. The Corlett Diagram was applied

    and anthropometric measurements of 91 workers from the civil engineering were

    carried out. It was evidenced that the ergonomic risks of the worker from the civil

    engineering during the construction of masonry walls are high, varying according to

    the studied anatomical region and the height of the wall. It was verified that 68.13%

    of the workers presented pain reports. Precariousness of the work positions in

    relation to adaptations to the workers was perceived. Many of the measures of the

    work positions were not adapted to the corporal measures of the workers. From the

    biomechanic and anthropometric evaluations it can be suggested adaptations of the

    bricklayers wall constructing work positions from the Civil Engineering.

    Key words: Civil Engineering, ergonomics; anthropometry, ergonomic risk.

  • Captulo 1 Introduo 12

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    12

    1 INTRODUO

    A indstria da construo civil uma das atividades que gera maior nmero

    de empregos no Brasil, impulsionando grande parte de sua economia e gerando

    empregos. Devido s caractersticas scio-culturais brasileiras, a grande maioria da

    populao apresenta baixo nvel de escolaridade tendo que empregar-se em setores

    onde no existam muitas cobranas de qualificao profissional. Segundo Iida

    (2005, p.21),

    a construo civil apresenta uma ampla capacidade de empregabilidade por necessitar de um grande contingente de trabalhadores, e principalmente nas pequenas e mdias empresas, no ter exigncias quanto ao grau de instruo mnimo para as ocupaes de pedreiro e servente.

    Como relataram Oliveira, Adissi e Arajo (2004), o fator humano est

    presente em todos os nveis do processo produtivo e sem ele, os demais se tornam

    inoperantes. A qualificao, o interesse e a motivao desse fator so fundamentais

    para o crescimento de uma organizao.

    A atividade no canteiro de obras exige constantemente movimentos

    repetitivos e manuseio de cargas, caracterizando-a como trabalho pesado,

    dificultando padres posturais corretos, ocasionando o uso excessivo da

    musculatura e desencadeando doenas ocupacionais. Conforme Iida (2005 p. 550),

    os postos de trabalho na construo civil so mveis, pouco estruturados e grande

    parte das tarefas executada ao ar livre, sob calor e chuvas. Ainda segundo o

    mesmo autor, os pedreiros inclinam-se mais de 1000 vezes ao dia para pegar tijolo,

    pegar argamassa com a colher e fazer os assentamentos.

    O nvel de atividade exagerada devido a extensas jornadas em busca de uma

    produtividade cada vez maior, associadas a uma atividade com grandes exigncias

    ergonmicas, coloca os trabalhadores da construo civil em uma posio

    extremamente vulnervel ao aparecimento de doenas ocupacionais. preocupante

    dentro da construo civil, o grande nmero de trabalhadores que sofrem de

    distrbios msculoesquelticos oriundos da atividade neste setor.

    A aplicao da ergonomia pode contribuir para a minimizao da demanda

    muscular gerada pelo trabalho pouco estruturado na construo civil. Esta cincia

    traz grande auxlio para a preveno dos distrbios osteomusculares relacionados

  • Captulo 1 Introduo 13

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    13

    ao trabalho, melhorando a qualidade de vida no trabalho e diminuindo a exposio

    do trabalhador aos agentes comprometedores da sade. A ergonomia apresenta

    diversas faces de aplicao para diminuio dos riscos inerentes ao trabalho. Uma

    delas o dimensionamento dos postos de trabalho adaptando-os as medidas do

    corpo humano obtidas pela antropometria.

    Existem tabelas antropomtricas pr-concebidas que dispem de medidas

    corporais, porm h dificuldade na utilizao destas quando analisada a validade

    para outras populaes. Segundo Dul (2004, p. 11) as tabelas antropomtricas

    referem-se sempre a uma determinada populao e nem sempre devem ser

    aplicadas para outras populaes.

    Os padres antropomtricos dos trabalhadores da construo civil no Brasil

    apresentam-se pobremente definidos, e para adaptao do posto de trabalho do

    levantamento de paredes, entre outros, existe a necessidade do estabelecimento

    dos padres prprios e satisfatrios para esta populao.

    Dentro deste contexto pergunta-se, Quais posicionamentos e adaptaes

    podem ser utilizados pelo trabalhador da construo civil durante o levantamento de

    paredes?

    1.1 Objetivos

    Inserido dentro do contexto j mencionado, o foco deste estudo concentra-se

    no trabalhador da construo civil, mais especificamente no pedreiro, responsvel

    pela tarefa do levantamento de paredes.

    Este estudo tem como objetivo geral apontar adaptaes ergonmicas para o

    posto de trabalho da tarefa do levantamento de paredes da construo civil.

    Em funo do objetivo geral apresentam-se ento os seguintes objetivos especficos:

    a) Analisar a atividade do trabalhador da construo civil durante a tarefa do

    levantamento de paredes;

    b) verificar a existncia de risco postural do trabalhador da construo durante a

    tarefa do levantamento de paredes;

  • Captulo 1 Introduo 14

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    14

    c) verificar a existncia de relatos de dores osteomusculares;

    d) verificar se os postos de trabalho da tarefa do levantamento de paredes da

    construo civil da regio de Ponta Grossa esto adaptados aos padres

    antropomtricos dos trabalhadores.

    1.2 Hiptese

    Os postos de trabalho dos pedreiros na tarefa do assentamento de tijolos no

    esto adaptados aos trabalhadores, necessitando de adequaes

    antropomtricas e biomecnicas.

    1.3 Limitaes da pesquisa

    As medies antropomtricas deste estudo limitam-se as variveis necessrias

    para as adaptaes ergonmicas do posto de trabalho do levantamento de paredes,

    no contemplando outras medidas que talvez fossem necessrias para adaptaes

    de outras tarefas.

    Outra limitao, podendo considerar-se uma das mais preocupantes relativa

    aos surveys de forma geral, ou seja, a subjetividade da percepo do indivduo

    sobre si mesmo.

    Tentando uma minimizao da subjetividade da percepo dos indivduos a

    respeito de si mesmos, utilizou-se, alm dos relatos dos prprios indivduos, a

    medio direta dos parmetros corporais destes e a observao direta destes

    trabalhadores durante a realizao da tarefa.

    1.4 Importncia do tema

    Salienta-se a relevncia deste estudo, considerando que este pretende

    contribuir para que os trabalhadores da construo civil na tarefa do levantamento

    de paredes possam desenvolver suas atividades de modo seguro, sem incidncia de

    doenas ocupacionais. Isso possibilitado pelas adaptaes ergonmicas dos

    postos de trabalho, de acordo com seus prprios parmetros antropomtricos e

  • Captulo 1 Introduo 15

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    15

    biomecnicos. Para as adaptaes ergonmicas nos postos de trabalho alm dos

    padres antropomtricos e biomecnicos dos pedreiros da construo civil, devem

    ser consideradas as queixas lgicas dos prprios usurios bem como o risco

    ergonmico inerente a atividade desenvolvida.

    Uma maneira de colaborar para equacionar os problemas ergonmicos que

    afetam os trabalhadores da construo civil compreender o comportamento dos

    problemas laborais dentro do contexto da Gesto Industrial a partir das

    necessidades locais e segundo as exigncias legais.

    1.5 Justificativa

    A construo civil por sua prpria natureza requer de seus colaboradores

    grandes ndices de esforo fsico e prtica de tarefas rduas para realizao de

    muitas de suas atividades. O canteiro de obras um inspito local de trabalho

    devido fadiga fsica, gerada por uma grande quantidade de trabalhos manuais, o

    estresse, causado pela constante necessidade de altos ndices produtivos, e

    ambientes hostis de trabalho com vrios riscos ambientais.

    Segundo Oliveira, Adissi e Arajo (2004), na construo civil existe uma

    multiplicidade de fatores que predispe o operrio s condies de trabalho

    desfavorveis, tais como instalaes inadequadas, falta de uso de equipamentos de

    proteo, falta de treinamentos, m organizao do ambiente de trabalho, dentre

    outros. Pontes, Xavier e Kovaleski (2004) descrevem que identificar e dar o

    tratamento adequado aos riscos ambientais na organizao evitar incalculveis

    prejuzos que afetam centenas de empresas e incapacitam milhares de

    trabalhadores todos os anos no Brasil.

    Em suas pesquisas, Goldshevder et al (2002), relatam que 82% dos

    encarregados da construo relataram pelo menos um sintoma msculo-esqueltico.

    A dor lombar foi o sintoma mais frequentemente relatado com 65% dos casos. O

    mesmo autor descreve que 12% dos trabalhadores faltaram ao trabalho como

    conseqncia da dor e 18% procuraram um mdico tambm por causa da dor.

    Assim, com a crescente preocupao quanto aos impactos negativos causados

    pelo setor da construo civil e especialmente em relao s doenas ocupacionais

  • Captulo 1 Introduo 16

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    16

    relacionadas ao sistema de produo, observa-se a necessidade de uma avaliao

    mais completa de dados antropomtricos e biomecnicos referentes aos

    trabalhadores da construo civil, para que possam ser realizadas adaptaes

    ergonmicas mais precisas dos postos de trabalho.

    1.6 Estrutura

    No captulo 1 apresentado o tema, os objetivos, a hiptese e as limitaes

    da pesquisa.

    No captulo 2 encontram-se o referencial terico onde abordada a indstria

    da construo civil e algumas particularidades desta, os distrbios osteomusculares

    relacionado ao trabalho em contexto geral e tambm de modo especfico ao

    levantamento de paredes, a antropometria, a biomecnica ocupacional e a

    ergonomia.

    O captulo 3 destina-se a metodologia utilizada para a realizao da pesquisa.

    No captulo 4 so apresentados os resultados e a discusso.

    O captulo 5 contm as concluses do autor e as sugestes para trabalhos

    futuros.

  • Captulo 2 Referencial Terico 17

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 A indstria e o trabalho na construo civil

    A cada dia aumenta a competitividade no setor da construo civil, as

    empresas prestadoras de servios no so mais escolhidas exclusivamente por seus

    produtos, pois existem outros fatores relevantes durante a escolha de uma empresa

    para realizar determinado servio. A imagem de responsabilidade social de uma

    empresa est intimamente relacionada qualidade de vida de seus colaboradores.

    Segundo Cruz e Oliveira (1997) improvvel que uma organizao alcance

    excelncia em seus produtos negligenciando a qualidade de vida daqueles que os

    produzem. O resultado deste descaso mostra-se na baixa produtividade, altos

    ndices de acidentes de trabalho e absentesmo.

    A atividade da construo civil caracteriza-se pela utilizao de trabalho braal,

    pouco mecanizado, e nela existem tarefas rduas e complexas, realizadas por

    trabalhadores com pouco ou nenhum treinamento prvio (IIDA,1990). O aprendizado

    ocorre com a insero direta do trabalhador no canteiro de obras, onde aprende a

    funo de servente atravs da observao dos colegas de trabalho. Nesse

    processo, acaba adquirindo todos os vcios de trabalho que o trabalhador observado

    possua. Conforme Cassarotto; Gontijo e Milito (1997) a formalizao dos

    procedimentos nas diversas tarefas que constituem as atividades em um canteiro

    basicamente inexistente, pois os operrios mantm o controle sobre as ferramentas,

    sobre o aprendizado dos novatos, sobre a produtividade o ritmo e a qualidade do

    trabalho.

    Alm da identificao e tratamento dos riscos ambientais deve-se alertar e

    conscientizar os trabalhadores a respeito destes riscos. comum ocorrem rejeies

    a utilizao de EPIs (equipamentos de proteo individual) por parte dos

    trabalhadores. Este fato compreensvel quando se analisa como estes

    equipamentos so introduzidos no canteiro. fato corriqueiro haver o depsito deles

    no ambiente laboral, sem que existam treinamentos e esclarecimentos que

    esclaream aos operrios que aqueles itens esto l para resguardar sua sade,

  • Captulo 2 Referencial Terico 18

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    melhorar sua qualidade de vida no trabalho. Deve-se, explicar, treinar, orientar, para

    que estes paradigmas possam ser realmente transformados.

    2.2 O sistema produtivo

    A terceirizao da mo de obra um sistema muito utilizado na construo

    civil, principalmente pelas pequenas empresas. Neste sistema o obreiro

    responsvel direto por sua remunerao. Utiliza-se o sistema de contratao por

    etapas, de modo que quando uma parte for concluda, ocorre o pagamento

    proporcional ao servio realizado. Uma vez que esta uma atividade precariamente

    remunerada, o trabalhador se v obrigado a manter altos ndices de produtividade

    para que ocorra uma remunerao satisfatria. Segundo Barros e Mendes (2003),

    esta situao impe um ritmo acelerado ao trabalhador, fazendo com que ele

    ultrapasse seus prprios limites, o que pode levar ao comprometimento de sua

    sade.

    O sistema terceirizado de produo caracteriza-se pela contratao de

    trabalhadores, para a realizao de uma tarefa especfica, sem a certeza de

    recontratao aps esta encerrar-se. Este sistema de produo acaba sendo um

    mtodo que algumas empresas utilizam para negar o vnculo empregatcio dos

    trabalhadores e, com este, os direitos a seguridade social dos obreiros. Segundo

    Barros e Mendes (2003), este modelo de produo negligencia direitos como

    aposentadoria, INSS, FGTS, plano de sade, entre outros, submetendo o

    trabalhador excluso social. Franco et al (1997) enfatizam que, no trabalho

    terceirizado na construo civil, h um ambiente insalubre, ausncia de estrutura

    para atendimento das necessidades bsicas dos operadores, inadequao e

    ausncia de manuteno em equipamentos e a no utilizao de EPIs.

    Outra face deste sistema que afeta enormemente sade do trabalhador a

    busca incessante por produtividade. Quanto maior a produtividade, maior ser o

    recebimento pelas tarefas prestadas. Este evento fora, de certa maneira, os

    trabalhadores a aumentarem sua produtividade, muitas vezes aumentando sua

    jornada laboral. Lembra-se que o aumento se d por tempo limitado, pois riscos de

    desenvolvimento de leses ocupacionais ocorrem proporcionalmente s elevaes

  • Captulo 2 Referencial Terico 19

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    da quantidade de trabalho. Kroemer e Grandjean (2005) relataram que o excesso de

    horas trabalhadas reduz a produtividade por hora, mas tambm provoca um

    aumento caracterstico de faltas devido s doenas ou acidentes.

    Conforme Barros e Mendes (2003), a terceirizao dos servios pautada por

    produo, tem-se constitudo em uma das formas de remunerao geradoras de

    sofrimento, na medida em que coloca toda a responsabilidade da produo e de sua

    remunerao sobre o trabalhador. O trabalhador autnomo sendo remunerado pelo

    servio prestado, e no precisando cumprir horrio, pode ter uma carga semanal

    superior a do assalariado, dependendo apenas da sua disponibilidade

    (CASSAROTTO; GONTIJO E MILITO,1997). Os mesmos autores relatam que os

    baixos nveis de remunerao na construo, aliam-se a jornadas de trabalho mais

    extensas que nos demais setores da indstria de transformao.

    A oferta de mo de obra para a construo civil abundante, pois, como j foi

    citado, normalmente no requerer elevado grau de escolaridade. Os trabalhadores

    que no conseguem se adaptar a este modelo de produo so substitudos.

    Sabendo deste fato, os obreiros acabam realizando as tarefas recebidas sem

    grandes questionamentos ou exigncias. Eles sofrem a presso constante do

    desemprego, da substituio rpida, sem garantias, e acabam por aceitar esta forma

    de realizao do trabalho e suas exigncias produtivas.

    2.3 A busca pela produtividade

    Em algumas empresas do setor da construo civil, so cortados gastos que

    seriam utilizados para a manuteno da sade do trabalhador para se reduzir

    custos. Segundo Melo Junior e Rodrigues (2005), a organizao do trabalho,

    atualmente, est estruturada de maneira a se conseguir altos ndices de

    produtividade, otimizao nos sistemas de produo, diminuio dos custos, e por

    fim uma integrao cada vez maior do homem com o seu trabalho, tudo isso em prol

    de um desenvolvimento, o qual no se sabe aonde levar nem quais conseqncias

    traro ao homem.

  • Captulo 2 Referencial Terico 20

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    As boas condies ambientais por vezes so esquecidas, deixando-se de lado

    acomodaes como refeitrio, lugar apropriado para descanso, banheiros com pelo

    menos as mnimas condies de utilizao necessrias. Os trabalhadores por sua

    vez, conheceram esta nica realidade de trabalho, no tendo parmetros

    comparativos necessrios para julgarem se estas condies so adequadas ou no

    para um ambiente laboral. Cabe aos gestores da construo civil proporcionar

    condies adequadas de trabalho nos canteiros de obras, tanto em sua

    macroestrutura, quanto nos postos de trabalho, proporcionando melhores ndices de

    qualidade de vida no trabalho e menor nmero de doenas ocupacionais.

    Os trabalhadores apontam fatores organizacionais como um dos principais

    responsveis pelo desenvolvimento das DORT (distrbios osteomusculares

    relacionados ao trabalho) (GHISLENI E MERLO, 2005). Eles no tm liberdade para

    gerenciar suas atividades e foram levados a:

    - Submeterem-se a horas extras, provocando jornadas extensas de trabalho;

    - a realizarem atividades repetitivas, com ritmos produtivos acelerados;

    - a trabalharem em postos de trabalho sem dispositivos facilitadores;

    - permanecerem em ambientes de trabalho inadequados;

    - realizarem esforos excessivos;

    - manterem as mesmas posies corporais por perodos demasiadamente longos;

    - a sofrerem acmulo de funes;

    - a dedicarem-se ao trabalho de forma abusiva na busca pelo reconhecimento.

    Somam-se a estes fatores o transporte de cargas, a repetitividade do laboro,

    as caractersticas estticas e dinmicas inadequadas dos movimentos, a ausncia

    de ergonomia no posto de trabalho, a baixa preocupao das empresas com os

    trabalhadores terceirizados. Estes fatores associados entre si, fazem com que o

    trabalho na construo civil torne-se bastante desgastante, onde constantemente

    existe estresse, depresso, desmotivao e fadiga muscular que podem trazer

    predisposio a uma srie de doenas ocupacionais. A busca por produtividade

    realizada de forma pouco estruturada acaba por ter um efeito reverso. A sade do

    trabalhador colocada em risco o que conseqentemente resulta em trabalhadores

  • Captulo 2 Referencial Terico 21

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    incapacitados parcial ou totalmente, pois estes acabam sendo acometidos, por

    doenas ocupacionais.

    2.4 As doenas ocupacionais

    A atividade no canteiro de obras exige constantemente movimentos repetitivos

    e manuseio de cargas, caracterizando-a, como j citado anteriormente, como

    trabalho pesado, dificultando padres posturais corretos, ocasionando o uso

    excessivo da musculatura e desencadeando doenas ocupacionais. Segundo

    Kroemer e Grandjean (2005), trabalho pesado toda atividade que exige grande

    esforo fsico e caracterizado por um alto consumo de energia e grandes

    exigncias do corao e pulmes. Neste contexto, Couto (1995), afirma que o

    trabalho fsico pesado sem racionalidade pode gerar situaes nocivas e ter como

    conseqncia bsica a fadiga por sobrecarga metablica, aguda ou crnica. O

    prprio Couto, j citado, descreve que a fadiga por sobrecarga metablica crnica,

    age como catalisador e aumenta a propenso para distrbios msculo-ligamentares,

    como distenso, tenossinovites e tendinites. Estes distrbios, quando relacionados

    ao trabalho so chamados de distrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho

    (DORT). Lianza (2001) define DORT, como um conjunto de afeces relacionadas

    com as atividades laborativas e que acometem msculos, fscias musculares,

    tendes, ligamentos, articulaes, nervos, vasos sanguneos e tegumento. Diversos

    fatores so associados para o surgimento das DORT, fsicos e psicolgicos, que em

    grande maioria acabam culminando na perda da funcionalidade do membro afetado,

    gerando incapacidade laboral e deteriorao da vida social.

    Filus (2006) a respeito das DORT ressalta:

    Como elementos predisponentes, ressaltamos a importncia da organizao do trabalho, caracterizada por manter uma exigncia de ritmo intenso de trabalho, sem as devidas pausas para recuperao psicofisiolgicas, contedo das tarefas, existncia de presso por resultados, autoritarismo das chefias e mecanismos de avaliao de desempenho baseados em produtividades.

    As leses ocupacionais afetam a sade fsica e mental do trabalhador,

    reduzindo sensivelmente sua capacidade funcional, interferindo diretamente na

    produtividade e na qualidade de vida do trabalhador.

  • Captulo 2 Referencial Terico 22

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    Merlo et al (2003) expondo a respeito dos DORT relata que:

    A perspectiva de que se assista a um crescimento ainda maior nos prximos anos, j que o essencial do trabalho produtivo, apesar das propostas de reestruturao produtiva, continua sendo feito sem muitas alteraes, mantendo-se, basicamente, dentro das propostas de gesto da produo taylorizadas e com grande intensificao na realizao das tarefas.

    Couto (2006) relata cinco motivos pelos quais os DORT tm aumentado em

    todo mundo nas ltimas dcadas:

    - Pelo desequilbrio entre a prescrio de trabalho e a possibilidade de cumprimento;

    - pela anulao dos mecanismos de regulao;

    - pela complexidade cada vez maior do trabalho a ser feito pelas pessoas;

    - pela realidade social favorecedora das leses, principalmente pelo fracasso dos

    mecanismos da prpria empresa;

    - pela intensificao dos fatores biomecnicos da tarefa.

    Ghisleni e Merlo (2005) relatam que os DORT tornaram-se uma epidemia a

    partir da entrada dos processos produtivos do modelo de acumulao flexvel, da

    reestruturao produtiva e da terceirizao. Kroemer e Grandjean (2005) descrevem

    que, o excesso de horas trabalhadas no s reduz a produtividade por hora, mas

    tambm acompanhada por um aumento caracterstico de faltas, por doena ou

    acidentes.

    Neste setor produtivo, diversos motivos somam-se para o aparecimento dos

    DORT. Ghisleni e Merlo (2005) descrevem que os distrbios osteomusculares

    relacionados ao trabalho (DORT), abrangem quadros clnicos do sistema msculo

    esqueltico adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condies de

    trabalho e que no h causa nica para sua ocorrncia. Fatores fsicos e

    psicolgicos somam-se e na grande maioria acabam culminando na perda da

    funcionalidade do membro afetado. Larroyd (1997), por sua vez, acrescenta que o

    conservadorismo dos equipamentos e ferramentas, aliado improvisao acabam

    determinando uma carga fsica ao trabalhador, que poderia ser reduzida,

    preservando assim a sua sade e aumentando sua produtividade.

  • Captulo 2 Referencial Terico 23

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    Skare (1999) relatou como fatores de risco para os DORT a repetio, o alto

    grau de fora, a vibrao, a presso direta, a postura articular inadequada, e a

    postura inalterada por tempo prolongado. Estas patologias, independente de sua

    origem anatmica, apresentam como sintomatologia comum dor.

    Na indstria da construo civil pode-se citar dois principais focos de

    aparecimento de dor e consequentemente de distrbios osteomusculares

    relacionados ao trabalho: a coluna e os membros superiores.

    Reconhece-se que a dor no ombro relacionada ao trabalho grandemente

    representada nos trabalhadores da construo quando comparados a outras

    ocupaes (SPORRONG et al, 1999). Corroborando com esta afirmao Schneider

    (2004) descreve que o risco de ferimento msculo esqueltico nos trabalhadores da

    construo civil muito mais elevado que o risco de outros trabalhadores com

    trabalhos menos pesados, sendo o risco na construo civil 50 % mais elevado que

    em outras categorias.

    Percebe-se que a queixa de dor em membros superiores uma realidade

    antiga na ocupao do trabalhador da construo e que causa sofrimento ao

    trabalhador. Inserido neste contexto o fator que mais contribuiu para o crescimento

    de uma realidade social favorecedora de DORT foi a incapacidade da empresa de

    lidar com a gesto de pessoas que apresentam dores nos membros superiores.

    (COUTO, 2000).

    Outro foco anatmico que frequentemente encontra-se em relatos entre os

    pedreiros na construo civil a coluna, mais especificadamente a coluna lombar.

    Strmer et al (1997) relatam que a tenso repetitiva em posies foradas durante

    longos perodos de tempo foi relatada como um fator de risco para doenas

    lombares e entre todos os trabalhadores da construo, os pedreiros so expostos

    predominantemente a estas circunstncias. A respeito de posies foradas

    Przysiezny (2003), relata que a toro do tronco, lesiva para as estruturas da

    coluna vertebral e tem efeito cumulativo e, em geral, este um fator de risco para os

    aspectos fsicos do trabalho, tanto no sentido de causar como de agravar uma ampla

    gama de distrbios osteomusculares.

  • Captulo 2 Referencial Terico 24

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    A dor lombar parece ser epidmica na construo civil, independente da

    atividade realizada, devido a grande quantidade de suas atividades serem realizadas

    com grande esforo fsico e sem preparo para sua realizao.

    Segundo Goldshevder et al (2002) a dor lombar constitui o principal problema

    da construo, sendo que as demandas fsicas intensas no trabalho contribuem para

    um risco, aumentado as doenas da coluna lombar para estes trabalhadores.

    O mesmo trabalhador exerce diferentes atividades com o decorrer da

    construo. Algumas categorias como carpinteiros, pintores e eletricistas excluem-se

    deste movimento de troca de atividades durante o decorrer da obra devido

    natureza de sua atividade ser mais especfica, porm os pedreiros e serventes

    enquadram-se perfeitamente neste rodzio de postos de trabalho, exercendo

    diversas atividades em um mesmo canteiro.

    Do ponto de vista da preveno de distrbios osteomusculares este rodzio

    nas tarefas no tem se mostrado eficaz. No canteiro de obras a porcentagem de

    tarefas desgastantes elevada. A atividade desgastante exercida anteriormente

    modificada por outra atividade desgastante, no proporcionando tempo para a

    recuperao muscular e das estruturas anatmicas que haviam sido solicitadas

    anteriormente.

    2.5 A dor e os distrbios osteomusculares

    A dor uma sensao perceptiva e subjetiva, de etiologia variada, que cria

    impotncia funcional, medo, comprometimento psicolgico e que se traduz na

    diminuio da qualidade de vida do ser humano (GABRIEL ET AL, 2001).

    A dor precede a incapacidade funcional. Apresenta-se como um aviso ao

    trabalhador de que existe algo afetando negativamente seu organismo. Portanto,

    convm lembrar as palavras de Lianza (2001 p. 420), quando nos diz:

    As vrias formas clnicas de manifestaes dos DORT tm como aspecto comum a dor e as incapacidades funcionais e freqentemente so causas de incapacidade laborativa temporria ou permanente. Representam enorme custo econmico para o trabalhador, para os rgos de assistncia sade e para a sociedade.

  • Captulo 2 Referencial Terico 25

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    Segundo Kauffman (2001) a dor a percepo de uma experincia sensorial

    e emocional desagradvel associada leso tecidual real ou potencial.

    Na construo civil, como j citado, existe grande solicitao dos membros

    superiores (MMSS) e coluna para realizao das atividades laborativas. Estas

    solicitaes incluem a realizao de diversas atividades repetitivas, transporte de

    cargas, utilizao de movimentos estticos. Esta utilizao dos MMSS e coluna,

    quando no estruturada e planejada nociva sade do trabalhador, pois so

    grandes geradores de fadiga. Jorgensen, Jensen e Kato (1991) verificaram que o

    desgaste dos msculos paravertebrais lombares durante o dia de trabalho do

    pedreiro durante o revestimento de paredes conduz a fadiga muscular durante a

    jornada.

    Independente da definio, as sndromes dolorosas interferem diretamente na

    produtividade do trabalhador, na qualidade do servio prestado, aumentam o ndice

    de absentesmo, diminuem o nvel de concentrao durante o trabalho, aumentando

    o risco de acidentes graves durante a jornada laboral.

    Iida (2005, p. 550) relatou que,

    muitas tarefas da construo civil exigem trabalhos fsicos pesados, como levantar e transportar cargas. Existem posturas incomodas como aquelas que exigem os dois braos para cima. Estas posturas e movimentos muitas vezes tornam-se nocivos sade do trabalhador.

    Ainda segundo Iida (2005, p. 550), as posturas incmodas e o excesso de

    cargas musculares provocam desordens msculo-esquelticas, que afetam 46% das

    profisses envolvidas na construo e 60%, em trabalhos de reparo nas

    edificaes.

    Priori Junior e Barkokbas Junior (2006) apresentando dados a respeito de

    trabalhadores da construo civil do estado de Pernambuco, relataram que as

    queixas mais freqentes dos trabalhadores estudados foram o estresse e as dores

    nas articulaes. Maral et al (2006) concluram em seus estudos com serventes de

    pedreiro que existe uma grande incidncia de lombalgias entre estes trabalhadores,

    destacando como principais fatores de risco o manuseio de carga, adoo de

    posturas estticas de flexo de tronco por longos perodos de tempo e movimentos

    repetitivos de flexo associada a rotao de tronco. O mesmo autor relata que outro

    dado importante que constatou-se foi a presena de queixas de dor em membros

  • Captulo 2 Referencial Terico 26

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    superiores e pescoo. Larroyd (1997) citou que em sua pesquisa com pedreiros de

    reboco que a carga fsica de trabalho do operrio que reboca paredes internas na

    construo civil, pelo mtodo utilizado para avaliao, demonstrou ser uma carga

    fsica moderada para um dia de trabalho, porm relata que deve-se considerar que

    essas posturas so assumidas todos os dias de trabalho, durante anos. Isso fa-

    talmente vai acarretar algum prejuzo para a sade do trabalhador. Santana e

    Oliveira (2004) estudaram as condies de sade e trabalho de 1947 trabalhadores

    da construo civil, onde relata ter encontrado uma alta prevalncia de sintomas

    msculo-esquelticos nesta indstria.

    Couto (2006) relata que no pode ser considerada normal a incidncia de

    queixas ou afastamentos em um grande nmero de trabalhadores e apresenta

    fatores que podem estar levando a estes acontecimentos:

    - Trabalhadores mais vulnerveis exercendo atividades de alta exigncia

    ergonmica;

    - anulao dos mecanismos de regulao;

    - existncia de sobrecarga decorrente da realidade psicossocial problemtica,

    especialmente o alto nvel de presso;

    - existncia de sobrecarga ao trabalhador decorrente de fatores ligados a gesto da

    rea;

    - existncia de fatores biomecnicos bem evidentes.

    O mesmo autor ressalta que se este ltimo fator no estiver presente no h o que

    pensar que uma queixa tenha sua origem no trabalho.

    Portanto, deve-se partir do pressuposto de que havendo adequao

    biomecnica do posto de trabalho, se este estiver adaptado ao trabalhador, se as

    exigncias da demanda forem organizadas e estruturadas e os mecanismos de

    regulao estiverem presentes, no h motivo para que ocorra dor, fadiga e a

    instalao dos DORT.

  • Captulo 2 Referencial Terico 27

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    2.6 Motivao dos DORT na tarefa do levantamento de paredes

    Os ndices acentuados de DORT na construo civil, como exposto

    anteriormente, podem ser originados pela demanda acentuada exigida dos

    trabalhadores durante a jornada laboral. Fatores de risco esto associados a estas

    atividades, segundo Entzel; Albers e Welch (2006) os fatores de risco identificados

    para ferimentos em coluna entre os pedreiros so o peso dos tijolos ou blocos, a

    freqncia de levantar, a altura em que colocado, a altura da plataforma, a

    distncia do bloco e do trabalhador, o grau e a freqncia da toro, e a elevao

    das taxas de produo.

    Segundo Iida (2005) a equao do NIOSH (National Institute for Occupational

    Safety and Health) foi desenvolvida para calcular o peso limite recomendvel em

    tarefas repetitivas de levantamento de cargas. Refere-se a tarefa de apanhar uma

    carga e desloca-la para deposit-la. A equao de NIOSH expressa pela frmula:

    Fonte: IIda (2005, p. 183).

    Onde:

    PRL = peso limite recomendvel

    H = distncia horizontal entre o indivduo e a carga (posio das mos) em cm.

    V = distncia vertical na origem da carga (posio das mos) em cm.

    D = deslocamento vertical, entre a origem e o destino em cm.

    A = ngulo de assimetria, medido a partir do plano sagital em graus.

    F = freqncia mdia de levantamentos em levantamentos/min.

    C = qualidade da pega.

    A constatao da atividade do trabalhador durante o assentamento de tijolos

    para verificar-se a presena ou inexistncia de fatores de risco associados a esta

    atividade pode ser elucidativa. Looze et al (2001) relatam que o trabalho dos

    pedreiros pegar os tijolos que so entregues por seus assistentes e coloc-los na

    parede, onde uma mo segura os tijolos enquanto a colher de pedreiro segurada

    na outra. Descreve ainda que o pedreiro assenta aproximadamente 800 tijolos por

    dia, sendo posicionado para a realizao desta atividade entre os tijolos e a parede,

    PRL= 23 x (25/H) x (1- 0,003/[v-75]) x (0,82 + 4,5/D) x (1-0,0032 x A) x F x C

  • Captulo 2 Referencial Terico 28

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    tendo frequentemente posturas de flexo de tronco associadas a rotao de coluna.

    Estas posies associadas colocam a coluna em uma postura de fragilidade,

    podendo ocorrer mais facilmente leses neste seguimento corpreo.

    A respeito da atividade do assentamento de tijolos Looze et al (1996) relataram

    que colocar tijolos por um perodo fixo de 47 minutos ocasiona perdas mdias da

    estatura de 2,0 a 3,6 milmetros. A jornada de trabalho dos pedreiros no Brasil

    elevada podendo consequentemente ser geradora de distrbios osteomusculares

    relacionados ao trabalho e demonstrando a necessidade de ser estudada com maior

    ateno e sistemtica. Outra problemtica verificada diz respeito a variao da altura

    da parede a ser construda e as conseqentes mudanas de posicionamento do

    trabalhador com o aumento da altura da parede.

    Luttmann, Jger e Laurig (1991) em estudos com esta tarefa verificaram que

    para paredes baixas os pedreiros gastam at 75% da durao total da atividade em

    uma postura inclinada, esta porcentagem diminui com a altura da parede de 20 a

    25% . Onde os nveis da parede esto abaixo de 100 cm a carga (tijolo) prendida

    em uma mo por 30% do tempo e a carga prendida em ambas as mos (tijolo,

    colher e argamassa) por 13% do tempo. Segundo os mesmos autores as

    porcentagens aumentam para paredes elevadas a 45 e 30% do tempo

    respectivamente. Neste estudo o nmero de tijolos colocados por unidade de tempo

    teve uma diminuio com a altura da parede, aproximadamente 2,7 tijolos por minuto

    para uma altura de 20 cm e 2,0 tijolos por minuto para uma parede de 160 cm.

    Luttmann, Jger e Laurig (1991) concluem relatando que investigaes

    eletromiogrficas revelaram que com a altura crescente da parede as atividades

    mioeltricas das musculaturas da coluna e do bceps esquerdo multiplicam-se em

    comparao com as atividades das paredes baixas.

    2.7 Biomecnica ocupacional e ergonomia

    A biomecnica, segundo Lippert (2003, p. 52), envolve agregar os princpios

    e mtodos da mecnica e aplic-los a estrutura e funo do corpo humano. Quando

    estes conceitos relacionam-se ao ambiente laboral enquadram-se, ento, na

    biomecnica ocupacional. Segundo Iida (2005, p. 159), a biomecnica ocupacional

  • Captulo 2 Referencial Terico 29

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    preocupa-se com as interaes fsicas do trabalhador, com seu posto de trabalho,

    mquinas, ferramentas e materiais, visando reduzir os riscos de distrbios msculo-

    esquelticos. Existem diversos princpios utilizados para a reduo do aparecimento

    destas leses. Dul e Weerdmeester (2004, p. 6) relatam os 10 princpios mais

    importantes para reduzir as tenses que ocorrem em msculos e articulaes

    durante uma postura ou um movimento, as quais esto descritas abaixo:

    - As articulaes devem ocupar uma posio neutra;

    - conservar os pesos prximos ao corpo;

    - evitar curvar-se para frente;

    - evitar inclinar a cabea;

    - evitar tores de tronco;

    - evitar movimentos bruscos que produzem picos de presso;

    - alternar posturas e movimentos;

    - restringir a durao do esforo muscular contnuo;

    - prevenir a exausto muscular;

    - pausas curtas e freqentes so melhores.

    Para utilizao destes princpios, h a necessidade de que seja feita uma

    anlise de todos os fatores envolvidos entre o trabalhador e sua tarefa. Devem-se

    avaliar as diversas interaes existentes entre o posto de trabalho, as ferramentas

    utilizadas e a maneira com que a atividade realizada pelo obreiro, com o fim de

    proporcionar, atravs da ergonomia, a melhor adaptao possvel do trabalho ao

    homem.

    Segundo Dul e Weerdmeester (2004) a ergonomia uma cincia aplicada ao

    projeto de mquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar

    a segurana, sade, conforto e eficincia no trabalho. Para que este conceito possa

    ser amplamente utilizado, torna-se imprescindvel a realizao da anlise da tarefa,

    de como ela est sendo realizada pelos obreiros e sobre quais circunstncias de

    trabalho.

  • Captulo 2 Referencial Terico 30

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    Segundo Entzel; Albers e Welch (2006) pedreiros e encarregados de pedreiro

    apresentam um elevado nmero de distrbios msculo-esquelticos relacionados ao

    trabalho, muitos destes que poderiam ser evitados com mudanas nos materiais,

    nos equipamentos ou nas prticas de trabalho.

    Conforme Ribeiro et al (2004) um dos problemas que ocorre entre

    trabalhadores da construo civil o fato dos mesmos subestimarem os riscos

    existentes no ambiente de trabalho, fato esse que ocasiona uma necessidade de

    treinamento e conscientizao quanto aos riscos existentes em cada situao de

    trabalho bem como a forma correta de preveno de acidentes do trabalho. Quando

    um trabalho realizado de maneira inadequada, pouco programada, sabe-se que

    este afeta diretamente a sade do trabalhador, atravs de diversas patologias

    msculo esquelticas. Couto (2006) relata que no existem leses se no houver

    fatores da condio antiergonmica do posto de trabalho e da atividade. Atravs

    desta colocao, o autor demonstra as caractersticas lesivas que um trabalho pouco

    adaptado ao homem tem sobre este.

    Cabe a ergonomia, atravs de suas diferentes faces, proporcionar melhores

    adaptaes e aos gestores e trabalhadores diminuir as resistncias a estas

    mudanas diminuindo os fatores de risco ao desenvolvimento dos distrbios

    osteomusculares relacionados ao trabalho.

    2.7.1 Trabalho muscular

    O trabalho muscular pode ser dividido em dois grupos: o trabalho muscular

    esttico e o trabalho muscular dinmico. O trabalho muscular esttico aquele que

    no possui movimentos articulares, ou seja, aquele que produz contraes

    isomtricas. No trabalho muscular dinmico existe movimentao articular durante

    sua realizao. Segundo Kroemer e Grandjean (2005, p. 15) o trabalho dinmico

    caracteriza-se pela alternncia de contrao e extenso, portanto, por tenso e

    relaxamento. H mudana no comprimento do msculo, geralmente de forma

    rtmica. Ainda segundo Kroemer e Grandjean (2005, p. 15) o trabalho esttico

    caracteriza-se por um estado de contrao prolongada da musculatura, o que

    geralmente implica um trabalho de manuteno de postura. Iida (2005) relata que o

  • Captulo 2 Referencial Terico 31

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    trabalho esttico altamente fatigante, pois nele ocorre a diminuio da irrigao

    sangunea para os msculos. Em oposio o trabalho muscular dinmico funciona

    como bomba hidrulica, ativando a circulao (IIDA, 2005, p. 162).

    Deve-se analisar, porm, que o trabalho muscular dinmico quando usado de

    forma repetitiva, desmedida e sem ferramentas adequadas pode ser extremamente

    desgastante a sade do trabalhador quando este realiza a mesma atividade por

    horas, dias e semanas consecutivamente.

    Em canteiros de obras encontram-se movimentos estticos e dinmicos

    associados nas mais diversas formas de combinao. Kroemer e Grandjean (2005,

    p. 17) descrevem que podemos considerar a existncia de trabalho esttico

    significativo quando:

    - Um esforo grande mantido por 10 s ou mais;

    - um esforo moderado persistir por 1 min ou mais;

    - um esforo leve (cerca de 1/3 da fora mxima) dura 5 min ou mais.

    Percebemos ento que o trabalho muscular esttico nocivo ao trabalhador.

    Iida (2005, p. 163) descreve que quando no for possvel de ser evitado o uso do

    trabalho muscular esttico ele deve ser aliviado atravs das mudanas de posturas,

    da melhora do posicionamento das peas e ferramentas ou providenciando apoios

    para partes do corpo.

    So necessrias avaliaes a respeito dos tipos de posturas que os

    trabalhadores utilizam para realizao de uma determinada atividade, para anlise

    dos movimentos estticos e dinmicos que estes realizam e adequao destes para

    diminuio dos riscos de comprometimento da sade. Iida (2005, p. 169) relata que

    uma simples observao visual no suficiente para analisar essas posturas

    detalhadamente, sendo necessrio empregar tcnicas especiais de registro e

    anlise destas posturas.

    Para uma melhor visualizao do risco ergonmico, dispomos de diversos

    mtodos que auxiliam a descrio das posturas utilizadas para realizao de

    determinadas tarefas e qual o risco ergonmico inerente a elas. So exemplos

  • Captulo 2 Referencial Terico 32

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    destes o software RULA, o Strain Index e o WinOWAS, sendo todos de grande

    auxlio aos ergonomistas para anlise e correo de ms posturas.

    O sistema RULA (rapid upper limb assessment), descrito por Mc Atamney e

    Corlett (1993) um mtodo utilizado para investigaes ergonmicas em locais de

    trabalho onde existam queixas de desordens dos membros superiores, pois

    proporciona uma anlise com maior detalhamento da atividade dessas

    extremidades. Ao final da anlise indicado o nvel da interveno necessitada para

    diminuio dos riscos inerentes ao trabalho.

    Segundo Moore e Garg (1995), o Strain Index um mtodo para anlise do

    risco de aparecimento de enfermidades msculo-tendinosas das extremidades

    distais dos membros superiores. Envolve a mensurao ou estimativa de seis

    variveis:

    - Intensidade do esforo;

    - durao do esforo por ciclo;

    - esforo por minuto;

    - postura do punho e mo;

    - velocidade do esforo;

    - durao da tarefa por dia.

    O mesmo autor relata que a intensidade do esforo uma estimativa da fora

    necessitada para a realizao da tarefa, refletindo a magnitude do esforo muscular

    exigido, classificando-os como leve, ligeiramente pesado, pesado, muito pesado e

    nvel mximo. A durao do esforo por ciclo reflete o estresse fisiolgico e

    biomecnico relacionado ao tempo que o esforo mantido durante o ciclo.

    medida a durao do esforo durante o perodo de observao. O nmero de

    esforos por minuto sinnimo de freqncia e calcula-se medindo o nmero de

    esforos durante o perodo de observao. Outros parmetros que, segundo Moore

    e Garg (1995), devem ser avaliados so: a posio da mo e punho durante o

    trabalho em relao posio neutra, graduando sua angulao em flexo,

    extenso e desvio cubital, a velocidade com que os esforos so executados,

  • Captulo 2 Referencial Terico 33

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    demonstrando quanto rpida a atividade de trabalhador e a durao da tarefa por

    dia.

    O sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing System), segundo Iida

    (2005, p. 169) foi desenvolvido por pesquisadores finlandeses em 1977, Karku,

    Kansi e Kuorinka. Este mtodo avalia a postura do dorso, braos, pernas e a carga

    manipulada pelo trabalhador em cada fase de trabalho, com um total de 72 posturas.

    As posturas utilizadas pelos trabalhadores so classificadas em quatro categorias,

    como apresentadas na tabela 1.

    Tabela 1 Classificao das posturas pelo sistema Wi nOWAS.

    Classe 1

    Postura normal, que dispensa cuidados, a no ser em casos excepcionais.

    Classe 2

    Postura que deve ser revisada durante a prxima reviso rotineira dos mtodos de trabalho.

    Classe 3

    Postura que deve merecer ateno a curto prazo.

    Classe 4

    Postura que deve merecer ateno imediata.

    Fonte: Iida (2005, p. 171).

    Segundo Iida (2005, p. 171) as classes dependem do tempo de durao das

    posturas, em percentagens da jornada de trabalho, ou da combinao de quatro

    variveis (dorso, braos pernas e carga).

    2.7.2 Posturas do corpo

    Grande parte da vida passa-se no ambiente laboral. Deve-se visualizar que

    este tempo intimamente relacionado com nossa sade. A postura que se utiliza

    para realizao das diversas atividades envolvidas no processo produtivo est

    estreitamente ligada ao aparecimento de diversas patologias que reduzem ou

    comprometem a qualidade de vida laboral e social.

    Para minimizarem-se estas situaes objetiva-se no meio produtivo uma

    postura ideal. Segundo Kendall (1990, p. 316) a postura padro deve ser o tipo de

    postura que envolve uma quantidade mnima de esforo e sobrecarga e conduz a

    eficincia mxima do uso do corpo.

  • Captulo 2 Referencial Terico 34

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    Com freqncia a atividade desenvolvida interfere na tentativa do indivduo de

    manter um bom alinhamento postural. Segundo Iida (2005, p. 165) muitas vezes, o

    trabalhador assume posturas inadequadas devido ao projeto ineficiente das

    mquinas, equipamentos, postos de trabalho e tambm, s exigncias da tarefa.

    Conforme Dias de Paula (2003) nenhuma postura suficientemente adequada

    para ser mantida confortavelmente por longos perodos. Qualquer postura

    prolongada pode ocasionar a sobrecarga esttica sobre os msculos e outros

    tecidos e, conseqentemente, causar dor e desconforto.

    As posturas inadequadas a biomecnica humana consequentemente levam

    ao estresse, fadiga e dor. Iida (2005, p. 166) apresenta a localizao das dores no

    corpo provocadas por posturas inadequadas, conforme descrito na tabela 2 abaixo.

    Tabela 2 Localizao das dores no corpo provocadas por posturas inadequadas.

    Postura inadequada Risco de dores

    Em p Ps e pernas (varizes)

    Sentado sem encosto Msculos extensores do dorso

    Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos e ps

    Assento muito baixo Dorso e pescoo

    Braos esticados Ombros e braos

    Pegas inadequadas em ferramentas Antebraos

    Punhos em posies no neutras Punhos

    Rotaes de tronco Coluna vertebral

    ngulo inadequado assento/encosto Msculos dorsais

    Superfcies de trabalho muito baixas ou muito altas

    Coluna vertebral, cintura escapular

    Fonte: Adaptado de Iida (2005, p. 166).

    Inmeras vezes durante as atividades cotidianas as posturas inadequadas

    so utilizadas. Porm quando aborda-se o ambiente produtivo deve-se pensar que

    estas posturas inadequadas a biomecnica humana estaro sendo utilizadas

    repetidas vezes durante a jornada laboral, causando problemas msculo-

    esquelticos. Segundo Paquet; Punett e Buchholz (2001) problemas msculo-

  • Captulo 2 Referencial Terico 35

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    esquelticos so comuns entre trabalhadores da indstria da construo. Porm,

    ainda segundo Paquet; Punett e Buchholz (2001) mesmo com os trabalhadores

    sendo titulados de uma mesma forma, eles tem diferentes nveis de exposio aos

    estressores fsicos devido a distribuio das tarefas individuais variar entre os

    trabalhadores e de dia para dia.

    Para realizao de muitas das atividades relacionadas construo civil, so

    associados diversos movimentos corporais. Exemplificando esta situao, temos o

    trabalhador da construo civil que para realizao de sua tarefa se v frente a uma

    carga a ser levantada ao nvel do solo, a qual est lateralizada em relao ao seu

    corpo. Este colaborador, se pouco instrudo quanto as melhores posturas de

    trabalho, ser levado a realizar uma flexo de tronco associada rotao de tronco

    com extenso de membros superiores para levantar o peso descrito. Uma postura

    inadequada leva a movimentos compensatrios tambm inadequados de outras

    estruturas corporais.

    2.7.3 Posies de trabalho

    Existem diversas posies que podem ser assumidas para a realizao de

    determinada tarefa, porm ressaltam-se trs posies fundamentais: sentada,

    deitada e de p. Abaixo esto apresentadas as principais posturas, suas vantagens

    e desvantagens.

  • Captulo 2 Referencial Terico 36

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    Tabela 3 Posturas de trabalho, vantagens e desvanta gens.

    Posio Vantagem Desvantagem

    Posio deitada

    - no h concentrao de tenso em nenhuma parte do corpo.

    - O consumo energtico assume um valor mnimo aproximando-se de seu metabolismo basal.

    - a posio mais recomendada para o repouso.

    - No se recomenda esta postura para o trabalho porque os movimentos tornam-se difceis e fica muito cansativo elevar a cabea, braos e mos.

    Posio de p

    - proporciona grande mobilidade corporal.

    - Facilita o uso dinmico de pernas, braos e troncos.

    - A posio parada em p altamente fatigante porque exige muito trabalho esttico da musculatura envolvida para manter esta posio.

    - O corpo no fica totalmente esttico, mas oscilando, exigindo freqentes reposicionamentos, dificultando a realizao de movimentos precisos.

    - O corao encontra maiores resistncias para bombear o sangue para os extremos do corpo, e o consumo de energia torna-se elevado.

    - Difcil fixar um ponto de referencia.

    Posio sentada

    - O assento proporciona um ponto de referncia relativamente fixo.

    - Permite grande mobilidade das pernas.

    - Permite o uso simultneo dos ps e mos.

    - Consome menos energia, em relao a posio em p, reduzindo a fadiga.

    - Reduz a presso mecnica sobre membros inferiores.

    - Reduz a presso hidrosttica da circulao nas extremidades e alivia o trabalho do corao.

    - Exige atividade do dorso e do ventre para manuteno desta posio.

    - Praticamente todo peso suportado pela pele que cobre o osso do squio, nas ndegas.

    - O consumo de energia 3 a 10% maior que na posio horizontal.

    - aumento da presso sobre as ndegas.

    - Pode provocar estrangulamento da circulao sangunea nas coxas e pernas.

    - Restrio dos alcances.

    - Flacidez dos msculos abdominais.

    - Desfavorvel par os rgos da digesto e respirao.

    Fonte: Adaptado de Iida (2005 p. 148 -167) e Kroemer e Grandjean (2005, p. 60).

    Segundo Dul e Weerdmeester (2004, p. 12) a postura frequentemente,

    determinada pela natureza da tarefa ou do posto de trabalho. As posturas

    prolongadas podem prejudicar msculos e articulaes. Para a realizao do

    trabalho so usadas na maior parte das tarefas as posies sentadas e de p,

    ocorrendo tambm grandes variaes quanto ao projeto de posto e a presena de

    intervenes da ergonomia. Estas parecem ser de extrema importncia quando

  • Captulo 2 Referencial Terico 37

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    vislumbrado o aparecimento das DORT, elevando o projeto do posto de trabalho a

    um fator primordial.

    2.7.4 O projeto do posto de trabalho

    Posto de trabalho a configurao fsica do sistema homem-mquina-

    ambiente uma unidade produtiva envolvendo um homem e o equipamento que ele

    utiliza para realizar o trabalho, bem como o ambiente que o circunda (IIDA, 2005, p.

    189). Todo ambiente de trabalho deve proporcionar sade e segurana ao

    trabalhador. Estes so dois imperativos que podem assegurar o bem-estar, a

    satisfao, a reduo do risco de acidentes e de doenas ocupacionais (AGNELLI et

    al, 2004).

    O trabalhador passa a maior parte de jornada laboral em seu posto de

    trabalho. Este por sua vez deve ser merecedor de ateno por parte dos

    ergonomistas para objetivar uma melhor qualidade de vida no trabalho, com um

    menor ndice de sobrecarga muscular.

    Segundo Iida (2005, p. 196-200) para o projeto adequado do posto de

    trabalho, necessrio obter informaes sobre a natureza da tarefa, equipamento,

    posturas e ambiente. Para a realizao do projeto de um posto de trabalho

    necessrio fazer a anlise da tarefa, sendo esta dividida em trs fases:

    Fase 1 descrio da tarefa: abrange os aspectos principais da tarefa e as

    condies que ela executada.

    Fase 2 descrio das aes: devem se descritas em um nvel mais detalhado que

    a tarefa, concentrando-se mais nas caractersticas que influem no projeto da

    interface homem-mquina e se classificam em informaes e controles.

    Fase 3 reviso crtica: visa principalmente avaliar as condies que poderiam

    provocar dores e leses osteomusculares nos postos de trabalho, levando-se em

    considerao principalmente as tarefas altamente repetitivas (com ciclos menores

    que 90 s) e as aes estticas. Aps a anlise da tarefa deve-se identificar o grupo

    de usurios para realizar-se as medidas antropomtricas relevantes.

  • Captulo 2 Referencial Terico 38

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    2.7.5 A antropometria

    A antropometria diz respeito s medidas do corpo humano. Sua utilizao tem

    sido crescente devido a necessidade de adaptar produtos, espaos e ambientes de

    trabalho as medidas humanas. Segundo Dul e Weerdmeester (2004, p. 10) a

    antropometria ocupa-se das dimenses e propores do corpo humano.

    Muito embora a antropometria tenha sua sustentao feita modernamente, a

    histria mostra ser antiga a preocupao do homem em mensurar o corpo e, ao

    longo do tempo as propores do corpo foram estudadas por filsofos, artistas,

    tericos, e arquitetos (MELO e SANTOS, 2000).

    No ambiente de trabalho a antropometria tem sido grandemente utilizada para

    a adaptao dos postos de trabalho. A adaptao do posto para os padres do

    trabalhador que vai utiliz-lo minimiza os riscos ocupacionais inerentes tarefa.

    O levantamento antropomtrico de determinada populao, segundo Silva et

    al (2006) um instrumento importante em estudos ergonmicos, fornecendo

    subsdios para dimensionar e avaliar mquinas, equipamentos, ferramentas e postos

    de trabalho, ainda sendo utilizada para verificar a adequao deles s

    caractersticas antropomtricas dos trabalhadores, dentro de critrios ergonmicos

    adequados para que a atividade realizada no se torne fator de danos sade e

    desconforto ao trabalhador. Neste mesmo contexto, Minetti et al (2002) descrevem

    que as medidas antropomtricas so dados de bases essenciais para a concepo

    de um posto que satisfaa ergonomicamente os trabalhadores, pois s a partir das

    dimenses dos indivduos que se pode definir o dimensionamento adequado,

    tanto da mquina de trabalho como da atividade envolvida, visando segurana,

    eficincia e o conforto do trabalhador.

    Pilon e Xavier (2006) relatam que,

    a obteno de medidas fsicas do corpo humano por meios de mtodos diretos ou indiretos de vital importncia para as empresas, pois proporciona a melhoria dos postos de trabalho e o desenvolvimento de novos produtos, adaptando-os anatomia dos usurios, permitindo maior conforto, menores riscos de acidentes e de doenas ocupacionais.

    Conforme Silva et al (2006) o ideal seria que o dimensionamento dos postos

    de trabalho, ferramentas e equipamentos fossem desenvolvidos individualmente

  • Captulo 2 Referencial Terico 39

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    para atender as caractersticas de cada trabalhador, porm isto seria invivel tanto

    na prtica como economicamente. Os mesmos autores relatam que os

    levantamentos antropomtricos so realizados para atender s faixas da populao,

    podendo ser realizados para o tipo mdio, indivduos extremos e um indivduo

    especificamente.

    Minetti et al (2002) relatam que as medidas antropomtricas so

    estabelecidas em vrias faixas entre o mnimo e o mximo, sendo que o uso destes

    critrios depende do tipo de projeto, das aplicaes e da finalidade destas medidas.

    Percebendo-se a relevncia da antropometria para a sade ocupacional, diversos

    estudos nas mais variadas tarefas, foram realizados utilizando as medies

    humanas para a adaptao de postos de trabalho no Brasil. Minetti et al (2002)

    utilizaram a antropometria para adaptao do trabalho a operadores de motossera.

    Silva et al (2006) a utilizaram para adaptao dos postos de trabalho no plo

    moveleiro. Costa Neto e Santos (2002) realizaram adaptaes ergonmicas atravs

    da antropometria em um projeto de carro de metr. Calado et al (2006)

    dimensionaram o mobilirio de cozinhas industriais com um enfoque antropomtrico.

    Schlosser et al (2002) realizaram estudo em antropometria aplicada a operadores de

    tratores agrcolas.

    Na adaptao de postos de trabalho na construo civil, a antropometria tem

    sido escassamente utilizada a nveis nacionais. Porm no pode deixar de ser

    notado que, tambm nesta rea de abrangncia, pode-se utiliza-la vislumbrando o

    resguardo da sade ocupacional.

    Kroemer e Grandjean (2005, p. 35) relatam que,

    considerando que posturas naturais do corpo posturas de tronco, braos e pernas que no envolvem o trabalho esttico e movimentos naturais so condies necessrias para um trabalho eficiente , imprescindvel a adaptao do local de trabalho s medidas do corpo e a mobilidade do operador.

    Conforme Dul e Weerdmeester (2004, p. 11) os princpios antropomtricos

    que interessam a ergonomia so:

    - Considere as diferenas individuais do corpo;

    - use tabelas antropomtricas adequadas.

  • Captulo 2 Referencial Terico 40

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    A respeito do segundo princpio o mesmo autor relata que as tabelas

    antropomtricas que apresentam dimenses do corpo, pesos e alcances dos

    movimentos, referem-se sempre a uma determinada populao e nem sempre

    podem ser aplicadas a outras populaes.

    Atravs desta afirmao pode-se perceber que as populaes no se

    apresentam de forma homognea, necessitando-se de medies especficas

    conforme a populao estudada. As medidas do corpo humano podem variar

    segundo a raa, sexo, idade, cor, classe social, condies ambientais e natureza do

    trabalho.

    Expondo sobre este assunto Iida (2005, p. 109) descreve que sempre que for

    possvel e economicamente justificvel, as medies antropomtricas devem ser

    realizadas diretamente, tomando-se uma amostra significativa dos sujeitos que sero

    usurios ou consumidores do objeto a ser projetado.

    Segundo Minetti et al (2002) na ergonomia so encontrados dois tipos de

    medidas antropomtricas, a esttica e a dinmica, sendo que as dimenses

    estticas so relacionadas com as medidas fsicas do corpo parado, enquanto as

    dinmicas se relacionam com as medidas do corpo em movimento. Iida (2005) cita

    ainda a antropometria funcional que so aquelas relacionadas com a execuo de

    tarefas especficas, sendo que cada parte do corpo no se move isoladamente, mas

    h uma conjuno de diversos movimentos para realizar uma funo. A respeito da

    antropometria esttica Iida (2005, p. 110), descreve que aquela em que as

    medidas referem-se ao corpo parado, ou com poucos movimentos e as medies

    realizam-se entre pontos anatmicos claramente identificados. Com relao a

    antropometria dinmica, Iida (2005, p. 110) cita que ela mede os alcances dos

    movimentos, onde os movimentos de cada parte do corpo so medidos mantendo-se

    o resto do corpo esttico.

    Percebe-se que a partir da atividade desenvolvida ou dos objetivos que

    queiramos alcanar, devem-se utilizar formas especficas de medies

    antropomtricas para a populao a ser estudada e para o tipo de atividade

    desenvolvida.

  • Captulo 2 Referencial Terico 41

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    2.7.6 Dimensionamento do posto de trabalho

    O dimensionamento dos postos de trabalho mostra-se ser de caracterstica

    primordial para a boa qualidade de vida no trabalho. Segundo Calado et al (2006)

    produtos e postos de trabalho inadequados podem provocar tenses musculares,

    dores e fadiga aos seus usurios, sendo que dispositivos de ajustes seria uma

    soluo para acomodar com conforto e segurana um nmero maior de usurios.

    Para se dimensionar o posto de trabalho vrios aspectos devem ser levados

    em considerao, como o tipo de tarefa que ser desenvolvida, as medidas dos

    trabalhadores que iro ocupar o posto, os riscos de leso inerentes tarefa, as

    queixas de dor relatadas pelos trabalhadores e a melhor postura para o

    desenvolvimento da tarefa.

    a) O trabalho sentado

    O trabalho sentado, conforme apresentado anteriormente, possui certas

    vantagens e desvantagens. Segundo Dul e Weerdmeester (2004) a posio sentada

    apresenta vantagens sobre a posio ereta, sendo menos cansativa, pois o corpo

    fica apoiado em diversas superfcies como piso, assentos, encosto, braos da

    cadeira, mesa.

    Durante este tipo de postura no trabalho um fator de fundamental importncia

    o assento. Conforme Iida (2005) assentos muito duros geram aumento da

    concentrao da presso ao nvel das tuberosidades isquiticas gerando fadiga e

    dores na regio das ndegas. Por outro lado, o mesmo autor relata que

    estofamentos muito macios no proporcionam um bom suporte porque no permitem

    um equilbrio adequado do corpo, porm uma situao intermediria, com uma leve

    camada de estofamento de 2 a 3 cm mostrou-se benfica. Esta situao, conforme

    Iida (2005) reduz a presso em cerca de 400% e aumenta a rea de contato de 900

    cm para 1050 cm, sem prejudicar a postura, mas para que isto acontea este

    estofamento deve ser moldado a uma base rgida para suportar o peso do corpo.

    Dul e Weerdmeester (2004, p. 13) descrevem as caractersticas que um

    assento deve ter:

    - A altura do assento deve ser regulvel com movimentos contnuos e suaves;

  • Captulo 2 Referencial Terico 42

    PPGEP Gesto Industrial (2008)

    - a altura do assento deve ser considerada boa quando a coxa est bem apoiada no

    assento, sem esmagamento em sua parte inferior (em contato com as bordas do

    assento) e os ps apiam no cho;

    - o encosto deve proporcionar apoio para a regio lombar (na altura do abdmen),

    devendo-se deixar um vo livre de 10 a 20 cm entre o assento e o encosto e o

    encosto deve ter uma altura de 30 cm;

    - a parte inferior do encosto deve ser convexa para acomodar a curvatura das

    ndegas ou ser vazada.

    Outra questo a abordada quanto ao assento que este para ser ajustado ao

    trabalhador poder obedecer aos parmetros antropomtricos da populao a qual

    ir servir e segundo Iida (2005, p. 151) a dimenso antropomtrica crtica a altura

    popltea (da parte inferior da coxa a sola do p), que determina a altura do assento.

    Apesar de todas as especificaes e cuidados a respeito da postura sentada

    pode-se levar em considerao que a manuteno de posturas por tempo

    prolongado nociva, sendo tambm fator predisponente para uma grande

    quantidade de doenas ocupacionais relacionadas ao trabalho.

    b) O trabalho em p e superfcies de trabalho

    Na indstria da construo civil, frequentemente utilizada a postura em p