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EM ESTADO DE MINAS SÁBADO, 24 DE MAIO DE 2014 EDITOR: João Paulo Cunha EDITORA-ASSISTENTE: Ângela Faria E-MAIL: [email protected] TELEFONE: (31) 3263-5126 CAVALO MOTOR O cantor e compositor Makely Ka lança disco que registra sua jornada pelos sertões de Minas Gerais. PÁGINA 8 MARCO ANTÔNIO GONÇALVES JR./DIVULGAÇÃO Stacey Kent lança o álbum The changing lights, com canções brasileiras, americanas DISCO O cantor e compositor Makely Ka lança seu segundo álbum solo, Cavalo motor. O trabalho é fruto da experiência de percorrer as trilhas de João Guimarães Rosa GRANDES EDUARDO TRISTÃO GIRÃO Falar de Cavalo motor, segundo disco solo do cantor e compositor Makely Ka, não é tão simples. Ícone da geração Reciclo Geral, que sa- cudiu a cena autoral mineira no início dos anos 2000, o artista concebeu um projeto complexo para suceder seu álbum de estreia, Autófago, lançado em 2008. De bicicleta, percorreu solitá- rio os caminhos do jagunço Riobaldo, persona- gem do livro Grande sertão: veredas, de Gui- marães Rosa. Os quase 1,7 mil quilômetros pe- lo noroeste mineiro, com suas paisagens, per- sonagens e fatos, lhe serviram de inspiração. Nascido no Piauí, criado em Minas Gerais e formado em eletrônica indústrial, o artista construiu um sistema para transformar a energia mecânica de suas pedaladas em energia elétrica. Assim, partiu para a viagem, realizada entre julho e setembro de 2012, ga- rantindo bateria suficiente para o farol da bi- cicleta, máquina fotográfica, computador, celular e um gravador. A partir dos registros que fez em áudio, vídeo e foto, criou projeto que engloba exposição fotográfica, docu- mentário, livro, palestra, instalação, site inte- rativo e, claro, as 15 faixas reunidas no disco. “O motor da viagem foi o desejo de conhe- cer essa região e encontrar as referências da minha própria identidade. Quando vim do Nordeste, aos três anos de idade, trouxe um sertão difuso e disperso dentro de mim. En- tão, sempre estive aqui na condição de reti- rante, forasteiro que precisava voltar para se reconciliar com suas origens. Por outro lado, fui criado em Minas, minhas referências tam- bém estão aqui. A viagem foi, portanto, uma forma de resolver essa questão ontológica. Afinal, o sertão acaba ou começa em Minas”, conta Makely. inspirações Algumas músicas já estavam prontas quando ele começou a pedalar, outras foram pensadas literalmente na estrada. “Como não levava instrumento, gravava as melodias ou anotava as letras e alguma ideia e, quando encontrava alguém com instrumento, um violeiro ou cantador emprestava o instru- mento para eu desenvolver a forma”. Não foi nada assim tão fora do normal para Makely, que está habituado a compor no trânsito, em salas de embarque e dentro de ônibus. “O cli- que inicial costuma ser assim. Depois vem o processo de lapidação, de formatação da pe- dra bruta”, conta. REFERÊNCIAS À exceção de uma música (Baião para Gershwin, com Benji Kaplan), to- das as músicas são assinadas apenas por ele. O habitual talento para a seleção das palavras surge já na faixa de abertura, Carrasco, refe- rência a vegetação dos chapadões que guarda semelhanças com o cerrado e a caatinga. A via- gem forneceu matéria-prima para letras co- mo Itinerário Tatarana, mas vários bons mo- mentos do álbum, como Fio desencapado e Baião branco, não estão relacionados de forma tão óbvia a essa temática central. “Meus trabalhos anteriores são muito dis- tintos desse e foram feitos em momentos completamente diferentes da minha vida. Mas é possível reconhecer neles, principalmente dos discos Danaide e Autófago, do ponto de vista estritamente musical, a minha pegada no violão, alguma recorrência das melodias mo- dais e ostinatos, o uso frequente de harmonias com cordas soltas, as afinações alternativas e a incorporação e consequente subversão de rit- mos tradicionais”, analisa o artista. Cavalo motor, continua, contém muitas re- ferências literárias, cinematográficas e musi- cais, sendo os compositores Guinga e Elomar, do ponto de vista harmônico-melódico, algu- mas das principais. “Conceitualmente, eu ti- nha sempre em mente o movimento armo- rial e o manguebit, com todas as suas tensões e interpenetrações antropofágicas. Mas há ci- tações explícitas ou veladas a Luiz Gonzaga, Jo- sé Miguel Wisnik, Bob Dylan, Nick Drake, Geor- ge Gershwin, Tom Zé, Caetano Veloso, Lia de Itamaracá”, afirma. Do mundo das letras, Makely cita Vicente García-Huidobro, Walt Whitman, Konstantí- nos Kaváfis, Antônio Risério e Eduardo Vivei- ros de Castro. Referências de cinema também lhe vêm à mente ao falar do novo trabalho, entre elas, produções de Glauber Rocha (Ter- ra em transe, por exemplo), Cláudio Assis (Amarelo manga), Walter Salles (Abril despe- daçado) e Cao Guimarães (A alma do osso). A lista do artista ultrapassa tudo isso e é real- mente longa. AMBIENTAÇÃO Para costurar tudo com coe- rência, foram três anos de “maturação” do projeto, para o qual foram convocados os produtores de música eletrônica Lucas Mi- randa (oscilloID) e Patrícia Rocha (m ut), o grupo de música experimental O Grivo, Dé- cio Ramos (Uakti), os músicos gregos Kostas Skoulas (lira cretense) e Dimitris Vasmaris (bouzouki), o multiinstrumentista Felipe Jo- sé, o grupo Cataventoré (inspirado nas ban- das de pífanos), o guitarrista Arto Lindsay e os cantores Sérgio Pererê, Suzana Salles e Maísa Moura. Avelar Jr., Maurício Ribeiro e Leandro César escreveram alguns arranjos. “Apesar do tema e da ambientação, eu não pretendia fazer um disco regional. O sertão ser- viu como inspiração pelo seu caráter ambíguo, pela universalidade do deserto, do agreste tão grávido de sons e sentidos. Acho que isso se re- fletiu na música nos pequenos detalhes: um timbre inefável, um som quase inaudível, alguns elementos sutis que podem fazer o ouvinte sair da trilha demarcada e se perder na audição. São várias camadas de sons superpostas que vão se revelando a cada nova audição”, finaliza. PEDALADAS Makely Ka chegou a pedalar por 80 quilômetros sem encontrar uma única pessoa durante sua viagem pelo interior mineiro. Entre as curiosidades que observou nessa experiência, está a impossibilidade de seguir pelo trajeto planejado. “A cartografia do sertão é labiríntica e mistura o real com o imaginário; as informações sempre levavam a outros caminhos e eu sempre me perdia neles. Acho que isso reflete a forma daquelas pessoas lidarem com o espaço, que não passa pela racionalização positivista das cidades planejadas. Às vezes, um sinal quase imperceptível é determinante, como um tronco marcado. Eu me perdi diversas vezes, mas sempre fui acolhido pelos moradores, que foram invariavelmente muito generosos”, relata. Makely Ka reelabora referências literárias, cinematográficas e musicais MARCO ANTONIO GONÇALVES JR./DIVULGAÇÃO

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Page 1: SÁB ADO , 2 4 D E M AIO DE 2014 ões brasileiras,a mericanas ã …makelyka.com.br/wp-content/uploads/2015/07/Clipping-Makely-Ka-10M.pdf · EM ESTADO DE MINAS SÁB ADO ,2 4D EM AIO

E MESTADO DE MINAS ● S Á B A D O , 2 4 D E M A I O D E 2 0 1 4 ● E D I TO R : J o ã o P a u l o C u n h a ● E D I TO R A - A S S I S T E N T E : Â n g e l a F a r i a ● E - M A I L : c u l t u r a . e m@u a i . c om . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6

CAVALOMOTOR

O cantor e compositorMakely Ka lança discoque registra suajornada pelos sertõesde Minas Gerais.

PÁGINA 8

MARCO ANTÔNIO GONÇALVES JR./DIVULGAÇÃO

Stacey Kent lança o álbum The changing lights, com canções brasileiras, americanase francesas. Cantora anuncia novo projeto de MPB com a participação de Menescal

AILTON MAGIOLI

Nem bem lançouMarcos Valle e StaceyKent aovivo, produtodaparceria comomú-sico brasileiro, que chegou ao mercado nofim do ano passado, a cantora americanavolta ao Brasil para o lançamento de Thechanging lights, 10ºálbumdeestúdiodecar-reira, no qual, além de em inglês e francês,ela volta a cantar em (bom) português, ape-sar do inevitável sotaque.

De quebra, Stacey ainda anuncia um no-vo trabalho ligado àmúsica brasileira, destavez ao lado de Roberto Menescal, de quemela inclui no novo disco o clássicoO barqui-nho, da parceria comRonaldoBôscoli. “Já es-tamostrabalhando juntos,masodiscovai fi-carparamais tarde”, reage, ao telefone, acan-toraamericana,queesteverecentementeemSãoPaulopara divulgarThe changing lights.

Como revela, ela já levouo showdonovodiscoa22países, comprevisãodepassarpormais 16. Austrália, Japão, Canadá, EstadosUnidos, Portugal, Alemanha e, claro, Brasil,estãonaagenda.Afinal, comofazquestãoderessaltar, “o mundo todo tem uma relaçãocom essa música”, garante, referindo-se àMPB,que,mesmoemquedanomercado in-terno, continua atraindo público e críticaselogiosas nomercado externo.

Além da presença de clássicos damúsicabrasileira, The changing lights vai adiante einclui canções originais, inéditas, entre elasMais uma vez e A tarde, ambas produto daparceriadomaridodeStacey, JimTonmilin-son (arranjos, produçãoe sax tenor, sopranoe flauta) comopoetaportuguêsAntónioLa-deira, alémdeChanson légére, de autoriadofrancês Bernie Beaupère.

AMPB, no entanto, é o forte do novo dis-codeStaceyKent, quevaido Sambadeumanota só/One note samba (NewtonMendon-ça e Tom Jobim) a The face I love (Paulo Sér-gio Valle, Pingarrilho, Norman Gimbel eMarcosValle), passandopor Insensatez/Howinsensitive (Vinicius de Moraes, Norman

Gimbel e Tom Jobim), O bêbado e a equili-brista (João Bosco e Aldir Blanc), Like a lover(NelsonMotta, Alan Bergman e Dori Caym-mi) e This happymadness (Gene Lees, Vini-cius deMorais e Tom Jobim).

Paralelamenteà turnêdonovotrabalho, acantoraamericanacontinuaexcursionandocomomúsicobrasileiroMarcosValle. “Fize-mosalguns showsno Japãohá três semanase,uh lá, lá!, comoera lindaaquímicadagen-tenopalco. Eraumaforçapoderosa”, afirmaStacey, cujo forte sotaque americano dácharme especial ao português que fala comdesenvoltura. Emdezembro, comoantecipa,ela e Valle estarão nos Estados Unidos, se-guindoposteriormentepara aEuropa. “Quedelícia compartilhar as canções de MarcosValle comopúblico”, resume.

NATUREZA Já o encontro com RobertoMe-nescal, de acordo comStacey, foi tão intensoquantooocorridocomMarcosValle. “Noses-

crevemos o tempo todo. Ele chegou a falarque as nossasmensagens, por e-mail, pode-riam dar um livro”, orgulha-se a cantora, sa-lientando quemesmo vindo de países dife-rentes, ela e o compositor brasileiro estãopartilhandosensibilidade. “Oamorànature-za,porexemplo,nos inspiramuito”,dizares-peitodoMenescal, reconhecidocolecionadordebromélias, noRiode Janeiro, ondevive.

O barquinho, que gravou em The chan-ging lights, comoadmite,nãoésimplesmen-teumabela canção. “Émuitomaisdoque is-so”, garante Stacey, que classifica o parceirocomo um homem generoso. Além de assi-nar amúsica comoparceiroRonaldoBôsco-li, para a qual também fez o arranjo, no no-vo disco de Stacey, o músico e compositorbrasileiro gravou a guitarra em A tarde e nafaixa-título do disco que, escrita para a can-tora, em inglês, “é cantada por uma artistaamericanae tocadaporumbrasileiro”, comofaz questão de dizer StaceyKent.

No texto do encarte, o pesquisador ZuzaHomemdeMello lembraque, embora tenhacanções das mais expressivas parcerias docancioneironacional,The changing lihtsnãoé efetivamente um álbum demúsica brasi-leira. “Háaquinovasebrilhantes cançõeseminglês dos parceiros Jim Tomlinson e KazuoIshiguro,queparecemterdescobertoocons-cienteeo inconscientedeStaceycomascan-ções que já criarampara seu repertório”, pa-lavras de especialista, que conclui: “Por serde ternura, é um disco brasileiro. Mesmoquenão seja brasileiro”.

ASSISTAClipe de canções de The changing lights

NA INTERNET

VOZ DE JOÃO

Muito antes de gravarBrazilian sketches, em2001, no qual registraclássicos de Tom Jobim

como Caminhos cruzados,Lígia e Só danço samba,

Stacey Kent já teria seenvolvido com a MPB, a

exemplo de outrascantoras de jazz

americanas. A relação daintérprete com a música

brasileira remonta àadolescência, quando, aos

14 anos, diz ter ouvidoJoão Gilberto pela primeira

vez. “Foi uma explosão”,recorda a cantora que,

paralelamente à música,afirma também terdescoberto a poesia

brasileira. Antes mesmo deiniciar-se no canto, aamericana já teria se

apaixonado pela culturado Brasil, reafirmando a

união do jazz com a MPB.A paixão fez com queprocurasse cursos de

português nauniversidade.

LITERATURA

A habilidade com idiomasnão é um aspecto isoladona formação de StaceyKent. Ela é diplomada emletras nos EUA e fez cursode literatura comparadana Inglaterra. O queexplica a presença depoetas e escritores emseus discos. No novoálbum, além do portuguêsAntónio Ladeira, oromancista de origemjaponesa Kazuo Ishiguro(ele se mudou para aInglaterra aos 5 anos eescreve em inglês) assinaas letras de três das 13faixas. Em parceria comJim Tomlinson, marido dacantora, Ishiguro é autordos versos das canções Thesummer we crossedEurope in the rain,Waiter,oh waiter e The changinglights. Seu romance Osresíduos do dia ganhou oBooker Prize (1989) e foiadaptado com sucessopara o cinema.

Stacey Kent, além de fundir jazz e MPB comsofisticação, tem se cercado de poetas eescritores em seus projetos musicais

BENOIT FEVERELLI/DIVULGAÇÃO

DA BOSSA

NAS ÁGUAS

» Close your eyes (1997)

» The tender trap (1998)

» Only trust your heart (1999)

» Let yourself go – Celebrating Fred Astaire (2000)

» Dreamsville (2001)

» Brazilian sketches (2001)

» In love again – The music of Richard Rodgers(2002)

» The boy next door (2003)

» The christmas song (single, 2003)

» The lyrics (2006)

» Breakfast on the morning tram (2007)

» Raconte-moi (2010)

» Dreamer in concert (2011)

»Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo (2013)

» The changing lights (2014)

❚ DISCOGRAFIA

Deu-lhe um estalo. Era sábado, fimdetarde.Tirouavaradepescardesmon-tável do fundo do armário. Pegou a cai-xacomanzóis, chumbadas, linhas, cani-vete, alicate e outros apetrechos. Foi àcozinha emisturou queijo, farinha detrigo e o quemais precisaria uma boamassaparaatrairaguladepeixes.Tinhana cabeça uma pequena lagoa que viraquando fora a um povoado com umamigo, a uns 80 quilômetros de BH,comprar uma cachaça artesanal. Perde-ram-se e só depois de hora emeia, per-correndo caminhos de terra e poeira,chegaramàcasadodonodoalambique.A lagoa ficou namemória. Vira-a do al-todaestrada,cercadademato.Deviaes-tarabarrotadadegordastraíras,prontaspara seremfisgadas. Acordounodia se-guinte ainda no escuro. Providenciouágua, repelente, lanche, botou a tralhanocarroetomourumo.Aovolante,viu-se assobiando umamúsica de ErasmoCarlos,quefaladedomingodesol,anzol

e faltade cooperaçãodospeixes. Sorriu.Hora emeia depois chegou ao acesso àestradavicinal.

Fechouosvidrosparadeixar apoei-ra do ladode fora e dirigiu devagar, pa-ra não atropelar os buracos. Passoupe-lo povoado e por uma vendinha, da-quelasdebalcãodemadeira cobertodequeijos curados, sacosdemantimentosabertosnochão, à esperados clientes, elinguiça defumadapendurada emcor-dõesquedesciamdoteto.Aindaera ce-do emeia dúzia oumais de homens jáestava a postos diante do balcão, bebe-ricando em prosas diversas e beliscan-do queijos e nacos de linguiça. Que in-veja! Rodou mais seis, oito quilôme-tros. Enfim,oentornoda lagoa.Deixouo carro sob uma árvore e, com a tralhaa tiracolo, entrou nomato. Atravessouuma clareira, plantada demilho, quia-boeabóbora, emaismato.Chegouà la-goa. Achouumbom lugar. Sentou-se àbeira do lençol d’água, tirou as botinas

de plástico e pôs os pés na água. Nadade vozes, de buzinas, de gente, violên-cia, principalmenteviolência. Sóo can-to de pássaros. Era exatamente o quequeria.Armouavara, iscouumpedaçodemassa no anzol e o lançou na água.

Viu-senovamente comErasmoCarlos.E cantarolava: “Precisoacabar logocomisso. Preciso lembrarqueeuexisto.Queeu existo, que eu existo...”

Estava ali, à espera de um belisco.Não pretendia levar peixe. Era fisgar esoltar. Chegou ao nível mais baixo dealienação possível. Nem sabe explicarcomoouviuosarbustos semexendoàscostas. Virou-se devagar. Viu, à esquer-da, umamulher com uma foice. À di-reita, outra, comummachado.As lâmi-nas brilhavam. Com certeza, afiadas.Pareciam irmãs.Morenas, baixas, saiasde pano grosso abaixo dos joelhos, ca-belos despenteados e blusas rotas. Oolhar delas o gelou. A da esquerda fa-lou: “Épolibido (sic) pescar aqui”. Reco-lheu o anzol e fingiu de desentendido.“Comoassim,polibido?”Adaesquerdadisse: “A lagoa é nossa!”. Avaliou a si-tuação, o olhar hostil das mulheres eimaginouo fundoda lagoacheiodeca-dáveres decapitados. “E por acaso tempeixeaqui?”.Adaesquerda respondeu:“Não,masépolibidopescar, epronto!”.Elasocupavamasduassaídaspossíveis.Então, num estalo, meteu a mão no

bolso, tirouacerteirae,dela,R$50. “Voudar a vocês um dinheirinho pelo incô-modoevouembora”.Ditoe feito.Nemse lembradecomosaiu. Pegouocarroequandoatravessoupovoado, tevea im-pressãodeque todaa freguesiadaven-dinha o olhava com certo sarcasmo. Eacelerou sem se importa com a poeiraque invadia o carro pelas janelas aber-tas. E que o buracos se danassem.

Pergunta do Negão 1: Amigo leitorquer saber “por que a polícia apreendevárias toneladas de drogas e na hora daincineração só aparecemuma ou duastoneladas, mesmo assim sómaconha;asmais carasnunca sevê?”

Pergunta do Negão 2: Rola na altaCorte legislativa projeto para acabarcomo auxílio reclusão, aquele pago àsfamílias dos condenados por homicí-dios, roubo, sequestro e outros crimese reverterobenefício emfavordasvíti-mas dos criminosos. O cidadão podeabrir o sitedaCâmaradosDeputadoseopinar. E você? Apoia ounão a propos-ta?Oumuito antes pelo contrário?

CULTURA

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>> [email protected]

Fechou os vidros para deixara poeira do lado de fora edirigiu devagar, para nãoatropelar os buracos.

É proibido pescar

❚ DISCO

O cantor ecompositorMakely Ka lançaseu segundoálbum solo, Cavalomotor. O trabalhoé fruto daexperiência depercorrer astrilhas de JoãoGuimarães Rosa

ARNALDO VIANA

GRANDES

EDUARDO TRISTÃO GIRÃO

Falar de Cavalomotor, segundo disco solodo cantor e compositor Makely Ka, não é tãosimples. ÍconedageraçãoRecicloGeral,quesa-cudiuacenaautoralmineiranoiníciodosanos2000,oartistaconcebeuumprojetocomplexopara suceder seu álbum de estreia, Autófago,lançadoem2008.Debicicleta,percorreusolitá-riooscaminhosdojagunçoRiobaldo,persona-gem do livroGrande sertão: veredas, de Gui-marãesRosa.Osquase1,7mil quilômetrospe-lo noroestemineiro, com suas paisagens, per-sonagense fatos, lhe serviramde inspiração.

Nascido no Piauí, criado emMinas Geraise formado em eletrônica indústrial, o artistaconstruiu um sistema para transformar aenergia mecânica de suas pedaladas emenergia elétrica. Assim, partiu para a viagem,realizada entre julho e setembro de 2012, ga-rantindobateria suficiente para o farol da bi-cicleta, máquina fotográfica, computador,celular e um gravador. A partir dos registrosque fez em áudio, vídeo e foto, criou projetoque engloba exposição fotográfica, docu-mentário, livro, palestra, instalação, site inte-rativo e, claro, as 15 faixas reunidas no disco.

“Omotordaviagemfoi odesejode conhe-cer essa região e encontrar as referências daminha própria identidade. Quando vim doNordeste, aos três anos de idade, trouxe umsertão difuso e disperso dentro de mim. En-tão, sempre estive aqui na condição de reti-rante, forasteiro que precisava voltar para sereconciliar com suas origens. Por outro lado,fui criadoemMinas,minhas referências tam-bém estão aqui. A viagem foi, portanto, umaforma de resolver essa questão ontológica.Afinal, o sertão acaba ou começa emMinas”,contaMakely.

inspiraçõesAlgumas músicas já estavam prontas

quando ele começou apedalar, outras forampensadas literalmentena estrada. “Comonãolevava instrumento, gravava asmelodias ouanotava as letras e alguma ideia e, quandoencontrava alguém com instrumento, umvioleiro ou cantador emprestava o instru-mentopara eudesenvolver a forma”. Não foinada assim tão fora do normal para Makely,que está habituado a comporno trânsito, emsalas de embarque e dentro de ônibus. “O cli-que inicial costuma ser assim. Depois vem oprocesso de lapidação, de formatação da pe-dra bruta”, conta.

REFERÊNCIAS À exceção de uma música(Baião para Gershwin, com Benji Kaplan), to-dasasmúsicas sãoassinadasapenasporele.Ohabitual talento para a seleção das palavrassurge já na faixa de abertura, Carrasco, refe-rência a vegetaçãodos chapadões que guardasemelhançascomocerradoeacaatinga.Avia-gem forneceu matéria-prima para letras co-mo Itinerário Tatarana, mas vários bonsmo-mentos do álbum, como Fio desencapado eBaiãobranco, nãoestão relacionadosde formatão óbvia a essa temática central.

“Meus trabalhos anteriores sãomuito dis-tintos desse e foram feitos em momentoscompletamentediferentesdaminhavida.Masé possível reconhecer neles, principalmentedos discos Danaide e Autófago, do ponto devistaestritamentemusical, aminhapegadanoviolão, alguma recorrência dasmelodiasmo-daiseostinatos,ousofrequentedeharmoniascomcordas soltas, as afinaçõesalternativaseaincorporação e consequente subversão de rit-mos tradicionais”, analisa o artista.

Cavalomotor, continua, contémmuitas re-ferências literárias, cinematográficas e musi-cais, sendoos compositoresGuinga e Elomar,do ponto de vista harmônico-melódico, algu-mas das principais. “Conceitualmente, eu ti-nha sempre emmente o movimento armo-rial e omanguebit, com todas as suas tensõese interpenetrações antropofágicas. Mas há ci-taçõesexplícitasouveladasaLuizGonzaga, Jo-séMiguelWisnik,BobDylan,NickDrake,Geor-ge Gershwin, Tom Zé, Caetano Veloso, Lia deItamaracá”, afirma.

Domundo das letras, Makely cita VicenteGarcía-Huidobro, Walt Whitman, Konstantí-nosKaváfis, AntônioRisério e EduardoVivei-ros deCastro. Referências de cinema tambémlhe vêm à mente ao falar do novo trabalho,entre elas, produções deGlauber Rocha (Ter-ra em transe, por exemplo), Cláudio Assis(Amarelomanga), Walter Salles (Abril despe-daçado) e CaoGuimarães (A alma do osso). Alista do artista ultrapassa tudo isso e é real-mente longa.

AMBIENTAÇÃO Para costurar tudo com coe-rência, foram três anos de “maturação” doprojeto, para o qual foram convocados osprodutores de música eletrônica Lucas Mi-randa (oscilloID) e Patrícia Rocha (m ut), ogrupo demúsica experimental O Grivo, Dé-cio Ramos (Uakti), osmúsicos gregos KostasSkoulas (lira cretense) e Dimitris Vasmaris

(bouzouki), omultiinstrumentista Felipe Jo-sé, o grupo Cataventoré (inspirado nas ban-das de pífanos), o guitarrista Arto Lindsay eos cantores Sérgio Pererê, Suzana Salles eMaísa Moura. Avelar Jr., Maurício Ribeiro eLeandro César escreveram alguns arranjos.

“Apesar do tema e da ambientação, eu nãopretendia fazer umdisco regional. O sertão ser-viu como inspiração pelo seu caráter ambíguo,pela universalidade do deserto, do agreste tãográvido de sons e sentidos. Acho que isso se re-fletiu na música nos pequenos detalhes: umtimbreinefável,umsomquaseinaudível,algunselementossutisquepodemfazeroouvintesairda trilhademarcadae seperdernaaudição. Sãovárias camadas de sons superpostas quevão serevelandoacadanovaaudição”, finaliza.

PEDALADAS

Makely Ka chegou a pedalar por 80 quilômetros sem encontraruma única pessoa durante sua viagempelo interiormineiro.Entre as curiosidades que observou nessa experiência, está aimpossibilidade de seguir pelo trajeto planejado. “A cartografiado sertão é labiríntica emistura o real como imaginário; asinformações sempre levavama outros caminhos e eu sempreme perdia neles. Acho que isso reflete a forma daquelas pessoaslidarem como espaço, que não passa pela racionalizaçãopositivista das cidades planejadas. Às vezes, um sinal quaseimperceptível é determinante, como um troncomarcado. Eumeperdi diversas vezes,mas sempre fui acolhido pelosmoradores,que foram invariavelmentemuito generosos”, relata.

Makely Ka reelaborareferências literárias,

cinematográficase musicais

MARCO ANTONIO GONÇALVES JR./DIVULGAÇÃO

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AILTON MAGIOLI

“O que caracteriza a nossa geração é a mania

de samplear tudo”, diz Makely Ka, ao listar in-

fluências da sua poesia, que vão de Maiakóvski

aos marginais brasileiros, passando por Lautréa-

mont, Ying Sang e todos os beats, além do sim-

bolismo, surrealismo, concretismo e modernis-

mo. Nascido em Valença (PI) e criado em Barão

de Cocais (MG), foi em Belo Horizonte que Make-

ly Oliveira Soares Gomes, de 31 anos, se transfor-

mou no poeta, letrista e músico que vem cha-

mando a atenção pela contemporaneidade de

sua obra. A ponto de ser apontado em uma en-

quete da reportagem do Estado de Minas como

o letrista símbolo da novíssima geração em ativi-

dade na capital. O pseudônimo, segundo revela,

foi adotado pela sonoridade da letra k que, além

de rico significado literário, batiza livro do tam-

bém poeta russo Vielimir Klebnikov.

Dentro da denominada economiacriativa, Makely Ka se autopro-duz e não oculta o orgulho denunca ter procurado gravadoraou editora, apesar de revelar quejá foi sondado pelo mercado edi-torial. Com dois livros publica-dos (Objeto livro, de 1998, e Egoexcêntrico, de 2003, que vemcom o CD Poemas de ouvido en-cartado), o letrista produziu egravou a coletânea A outra cida-

de, que reúne a nova geração musical belo-ho-rizontina. Este ano lançou Danaide, da parceriacom a mulher Maísa Moura. Para 2007, preparaAutófago, o primeiro disco solo, integralmenteautoral que, anuncia, será mais rock’n’roll. Atéentão a sua produção musical tendia para can-ções e baladas. Além de editar a Revista de Au-tofagia com o poeta Bruno Brum, Makely tam-bém edita um blog (www: autofago.blogs-top.com) e apresenta o espetáculo de poemasAutofagia, no qual faz uso de samplers.

“O que Makely tem de mais característico é otrânsito absolutamente livre entre a poesia dacanção e do livro”, detecta Ricardo Aleixo. Coin-cidentemente aí também residem os aspectos

mais ricos e frágeis do artista que, na opinião dotambém poeta-letrista, são a capacidade de in-troduzir na canção – especialmente na parceriacom Kristoff Silva – elementos tradicionalmen-te associados à poesia de livro, e a tentativa delevar para o livro procedimentos que são usadoshá mais tempo por outros poetas, com melho-res resultados, segundo Aleixo.

“A poesia sempre esteve ligada intrinseca-mente à música”, pontua Makely Ka, lembran-do que o processo de escrita é que começou aseparar as duas manifestações. “As poéticascontemporâneas, no entanto, apontam para avocalização do poema”, aposta, admitindo quevivemos o momento em que a poesia começaa ter outros suportes, desagarrando-se nova-

mente do papel. No primeiro disco solo, porexemplo, ele diz que vai trabalhar mais o can-to falado. “Algo entre a fala e o canto, onde mesinto mais à vontade”, explica o autor, que gos-ta de cantar as próprias canções.

RENEGADO “O Makely Ka recupera muitobem a história da música como poesia”, pon-dera Patrícia Ahmaral, satisfeita com o resul-tado da enquete que, em sua opinião, traz àtona a trupe que está contribuindo para a re-novação da cena poético-musical. “Entre asmulheres, além da Erika Machado, há a MilaConde. Mas o nosso grande compositor popu-lar é o Vander Lee”, destaca a cantora, quetambém cita Ricardo Aleixo e Renato Negrãocomo letristas de trabalhos consistentes. Sur-preso pelo segundo lugar que lhe coube, Flá-vio de Abreu Lourenço, o Renegado, de 24anos, diz que o resultado é justo porque, alémdo trabalho solo reconhecido, Makely vemsendo gravado por vários intérpretes.

Com o primeiro disco solo (Do Oiapoque aNova York) sendo preparado para o ano quevem, Renegado, que lidera o grupo de rap Ne-gros da Unidade Consciente (NUC) há noveanos, transformou a comunidade do Alto VeraCruz, na regional Leste, em ponto de referênciada nova cultura belo-horizontina. “Renegadonão tem vergonha de expor seus sentimentosenraizados”, elogia o jornalista Paulo Vilara, quediz ter visto um show de Renegado em que aprópria mãe do artista subia ao palco. “É a forçada periferia se fazendo ouvir”, acrescenta. JáMakely Ka é um poeta mais elaborado na opi-nião do autor do recém-lançado Palavras musi-cais – Letras, processo de criação, visão de mun-do de 4 compositores brasileiros: FernandoBrant, Márcio Borges, Murilo Antunes, ChicoAmaral – Entrevistas.

“O discurso da letra de Mulher do Norte(“Jamais se submeta a mim/ pois posso lhe es-cravizar/ não é porque eu seja ruim/ é como seiamar”) é muito contemporâneo”, destaca Pau-lo Vilara, que inclui Vander Lee na relação dosnovos letristas, pelo cotidiano popular que eleleva para composições como Balanço do balaioe Chazinho com biscoito, que classifica de ver-dadeiras crônicas. De olho na nova geração, otambém letrista Murilo Antunes detecta em

Makely Ka um artista inventivo e inovador. “Eletem boas experimentações poéticas”, atesta, in-cluindo o também letrista na tribo de ArnaldoAntunes e José Miguel Wisnik, influenciada pe-la poesia moderna.

ABOIOS E VÍDEOS Segundo Makely Ka, apesardas influências da mãe professora e do pai, umtio, também músico e artista plástico, foi res-ponsável pelo aprofundamento de seu contatocom a literatura. “Figura mística, meu tio me le-vou a ter contato com livros sagrados, atravésdos quais conhecia a tradição oral de 5 mil anosatrás”. “Já meu pai me trouxe o cordel, repente eaboios nordestinos, onde encontrei vínculoscom Homero”. Depois do curso técnico que o le-vou a trabalhar em uma nineradora, Makelydescobriu nos festivais de inverno de Ouro Pre-to o canal para a arte, começando a trabalhar naedição de vídeos paralelamente aos poemas quejá vinha colecionando.

Para musicar os poemas foi uma questão detempo. Já na universidade, onde cursou filosofia,que acabou abandonando, passou a viver em co-munidade com jovens artistas e daí nasceram asparcerias. As primeiras músicas gravadas foramQueixumes e Menina ilha dos olhos d’água, queAlda Rezende inclui no repertório do CD Sambasolto. Hoje, a lista de intérpretes vai de ReginaSpósito a Anthonio, passando por Júlia Ribas, Vi-tor Santana & Mariana Nunes, além de Titane,Patrícia Ahmaral e Elisa Paraíso. O parceiro maisconstante do poeta é Kristoff Silva, com quemcontabiliza cerca de 20 composições.

Mas a parceria vai da mulher Maísa Mouraao lendário Marku Ribas, além de Renato Ne-grão, Renato Vilaça, Flávio Henrique, Dudu Ni-cásio, Antônio Loureiro e, mais recentemente,Chico Saraiva, do grupo paulistano A Barca, eGuilherme Wisnik, filho de José Miguel Wisnik.Para Makely, o processo de composição costu-ma ser diferenciado. “Quando você faz músicae letra sozinho tem de cobrir a métrica, buscaras rimas. O processo parece uma mistura depoesia com palavras cruzadas. Já na letra que vaiser musicada pelo parceiro há mais recursos eliberdade. Mas não dá para passar texto em pro-sa sem elementos musicais. Tem de ter alitera-ções , rimas e algum ritmo, coisas que facilitamna hora de colocar a melodia”, compara.

E MESTADO DE MINAS ● S E X TA - F E I R A , 2 2 D E D E Z E M B R O D E 2 0 0 6 ● E D I T O R : J o ã o P a u l o C u n h a ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : Â n g e l a F a r i a ● E - M A I L : c u l t u r a . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6

MAIS INFANTIL,MAIS ORIGINAL

Temporada 2007 do ‘Sítio do PicapauAmarelo’, como o ator Rodolfo Valente(Pedrinho), teránovos roteiristas.

PÁGINA 5ISABELA KASSOW/O DIA

O POETA MAKELY KA É APONTADO POR ESPECIALISTAS E MÚSICOS COMO O LETRISTA QUE MELHOR SIMBOLIZA A NOVA GERAÇÃO DE ARTISTAS MINEIROS

LETRA VIVALIRISMO CONTEMPORÂNEO

O lançamento recente de Palavras musicais– Letras, processo de criação, visão demundo de 4 compositores brasileiros:Fernando Brant, Márcio Borges, MuriloAntunes, Chico Amaral – Entrevistas, dePaulo Vilara, instigou a reportagem apromover a enquete para descobrir quemseria o principal letrista em atividade nacapital. Jornalistas, cantores e letristas-poetas participaram da votação, cujoresultado é produto do rico momentovivido pela música produzida em BeloHorizonte, onde variadas vertentes semanifestam em canções, baladas, raps,sambas e outros gêneros.

ELEITORES E VOTOS

Chico Amaral – Makely Ka e Gilberto Sáfar

Marcelo Dolabela – Erika Machado e FrancescoNapoli (Zanzara)

Patrícia Ahmaral – Makely Ka e Christian Maia

Paulo Vilara – Makely Ka e Renegado (NUC)

Pedro Morais – Makely Ka e Magno Mello

Ricardo Aleixo – Sérgio Pererê e Renegado (NUC)

MARIA TEREZA CORREIA/EM

Makely Ka tem doislivros de poesia

publicados eprepara CD autoral

Page 3: SÁB ADO , 2 4 D E M AIO DE 2014 ões brasileiras,a mericanas ã …makelyka.com.br/wp-content/uploads/2015/07/Clipping-Makely-Ka-10M.pdf · EM ESTADO DE MINAS SÁB ADO ,2 4D EM AIO

KIKO FERREIRA

Quem co-nheceu Make-ly em incur-sões poéticas,assembléiasde músicos,performancese e-mails insti-gantes, sentiufalta, nos doisprimeiros tra-

balhos, da virulência e da posturasempre afiada comum às suas co-municações e expressões públicase privadas. O primeiro, o coletivoA outra cidade, era dividido comPablo Lobato e Kristoff Silva e an-dava em paralelo com o funda-mental projeto Reciclo geral, querevelou uma geração de artistasmineiros. Já A Danaide foi umaparceria com a cantora MaisaMoura e parecia um passeio pelolado Dr. Jeckyll do Mr. Hyde damúsica feita em Belo Horizonte.

Autófago, o disco, é Makely emseu território: poético, elétrico, de-safiador e afinado com sua históriade transgressões conseqüentes. Jána faixa que dá nome ao disco elese posiciona: “Eu me alimento dacarniça do meu pensamento/e meoriento por ecos e condicionamen-to/ meu amuleto são os ossos comque me sustento”. Formado porleituras e audições várias, que in-cluem Leminski, Torquato Neto,Wally Salomão e Chacal, Makelydeclara em Reator, entre confissõesde boemia e carne em flor: “Eu fizda poesia minha ambrosia/ meusustento, meu amor.”

Produzido pelo domador derelâmpagos Renato Villaça, ou-tro autor de méritos e movido adesafios, o disco foi gravado noEstúdio Engenho, pilotado por

um experiente dinamitador depeso, André Cabelo. O trio Make-ley/Villaça/Cabelo extrai a estra-nheza necessária para que a poe-sia tenha a clareza desejável pa-ra ser compreendida, sem pare-cer didática ou recitativa.

“Destravem seu maxilares”,ordena o poeta na faixa de abertu-ra, “desliguem seus celulares”, mi-nutos antes de soar o sucessor deArnaldo Antunes em Eu não,questionadora de identidades. As-sumidamente perturbado pela ci-dade, ele abre Cérebro na Cuba,com célebre fala de Glauber Ro-cha, colocando a cara a tapa noprograma Abertura, e confessa oestilo inquieto e briguento.

VITAMINADO De repente, nomeio da fita, o vigor dá lugar àmalícia crítica em Punk de buti-que, sobre “um moleque de rebo-ck, completamente lock de ara-que”, seguida de um rock quasepunk, sem ser de araque, Não semeta, com fala de Hugo Chávezna abertura e rima sexualmenteexplícita na conclusão. Meio mu-tante, com voz processada de Pa-

trícia Rocha e bateria de AntônioLoureiro conduzindo o ritmo,Equinócio cheira a ciência poéti-ca, enquanto Endoscopia retomaa questão da identidade pela viada pluralidade de sons, etnias egeografia interplanetária. Hit nosshows, o coco Sorôco inaugura areta final com pegada nordestina.Famigerado apresenta a voz deMaisa Moura cobrindo a faixa de

delicadeza , antes que as guitarrasassaltem a cena.

Mais discussão de liberdade,mais política. A outra cidadetraz fa-la do subcomandante Marcos, gra-vada na cidade de Toluca, México,em 2001, abrindo caminho para omais implacável retrato musicalque BH já recebeu, com o refrão im-placável: “E o Arrudas continua cin-zento e cheirando mal”. Mudandode ribeirão para planeta, Plutão,com suas cordas e canto arrastado,poderia estar no Araçá azul de Cae-tano ou no Aprender a nadar deMacalé. Para terminar, a faixa bô-nus O meteoroevoca o poeta russoMaiakovski, detonando pessoal-mente a poesia depois de sintomá-ticos dois minutos de silêncio.

Autófago apresenta, além dequalquer consideração ou juízo devalor, conjunto consistente deidéias bem-alinhavadas. Caracte-rística rara num cenário repleto demelodias sem vitaminas, letrassem consistência e obras sem con-ceito. A Makely o que é de Makely.Com todos os louros e riscos.

Matheus Nachtergaele fala sobre A festa da menina morta,filme rodado no Amazonas e montado em Belo Horizonte

CINEMA

CULTURA

E S T A D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 1 9 D E J U N H O D E 2 0 0 7

5

CULTURALGIRO

MARCOS VIEIRA/EM – 21/5/07

PALÁCIO DAS ARTES

Curadores fazempanorama das artesCuradores da exposição Arte moderna em con-texto batem papo com o público hoje, no Palá-cio das Artes. Fernando Cocchiarale, Franz Ma-nata e Luiz Antônio Ewbank analisarão o pano-rama das artes visuais e as perspectivas do se-tor. O debate será realizado na Sala Juvenal Dias,com entrada gratuita e de acordo com a lotaçãodo espaço, que tem 174 lugares. Senhas devemser retiradas com antecedência na AvenidaAfonso Pena, 1.537, Centro. Na Grande Galeria(foto) estão expostas obras de Alfredo Volpi, Ar-cangelo Ianelli, Burle Marx, Candido Portinari,Di Cavalcanti, Manabu Mabe, Milton Dacosta eTomie Ohtake, entre outros.

REVISTA

Alunos da Fumec lançamTraçano Café com LetrasA revista Traça, que será lançada hoje em BeloHorizonte, mescla elementos de colagens, foto-grafias, tipografia e ilustrações. Criada por alu-nos de design gráfico da Fumec, a publicação foiorientada pelos professores Mário Arreguy, Sa-muel Eller e Rafael Neder. Com 70 páginas, a re-vista poderá ser conferida a partir das 19h noCafé com Letras (Rua Antônio de Albuquerque,781, Savassi). Traça será vendida no diretórioacadêmico do curso de design da Fumec, na RuaCobre, 200, Cruzeiro, a R$ 7.

DANÇA

Seminário já recebeinscrições em BrasíliaArtistas de Minas têm feito sucesso no Semi-nário Internacional de Dança de Brasília. Em2006, o mineiro Cristian Alex Assis das Dores,de 17 anos, ganhou prêmio de 7 mil euros,passagem aérea para a Alemanha e bolsa deestudos na Academia de Dança da Escola Su-perior de Música e Artes Cênicas de Man-nheim. Ana Luiza Luizi, de 22, e Júnio Teixei-ra, de 24, receberam bolsa para estudar dançana Áustria. Promovido pela Associação Cultu-ral Cláudio Santoro, o seminário será realiza-do entre os dias 1º e 29 de julho, em Brasília.Inscrições e informações pelo telefone (61)3226-6662 ou no site www.dance.art.br.

PALESTRA

Especialista vai explicarsegredos do estilo Luís XV O professor Marco Elízio Paiva faz palestra ho-je, às 19h, no Palácio dos Leilões, sobre o estiloLuís XV nas artes visuais. Dia 25 serão leiloadaspeças sobre as quais o especialista falará. O Pa-lácio dos Leilões fica na Rua Gonçalves Dias,1.866, Lourdes. Informações: (31) 3291-2343.

● MUSEU MINEIRO

O Museu Mineiro (Avenida João Pinheiro, 342,Funcionários) abre amanhã, às 19h30, aexposição Reserva 1 – Sala das sessões, queresultou da segunda oficina do projetoTerritório, que propõe reflexão prática sobrearte e ocupação do espaço da instituição. Amostra exibirá a primeira das quatro etapas demontagem produzidas pelos artistas CinthiaMarcelle, Laís Myrrha, Ariel Ferreira, CamilaGomes, Flávio C.R.O., Luiz Henrique Vieira,Marcela Yoko, Pedro Veneroso, RobertoAndrés, Rosa Araújo, Tales Bedeschi e WalterTrindade. O trabalho coletivo poderá serconferido até 5 de julho.

● MÁSCARAS

A artista plástica Cláudia Regina expõe máscarasem papel machê sobre telas, amanhã e sexta-feira, às 21h30, no Restaurante Originale, na RuaFernandes Tourinho, 515, Savassi.

AFIADO

Contundência necessária

Makely Ka transforma em música sua poesia elétrica e desafiadora

HELENA LEÃO/DIVULGAÇÃO

�������

DISCO

MARIANA PEIXOTO*De Ouro Preto

A inspiração veio do sertãonordestino. Já a história ganhou al-ma em Minas e corpo no Amazo-nas. Agora, novamente em Minas,ele está moldando esse corpo. Háum mês, um dos atores-símbolodo cinema brasileiro atual, Ma-theus Nachtergaele, está em BH,na casa de Cao Guimarães, mon-tando A festa da menina morta,que marca sua estréia na direção.A pausa no trabalho a que vem sededicando em 2007 deve-se aolançamento na CineOP – Mostrade Cinema de Ouro Preto de Bai-xio das bestas, longa-metragem deCláudio Assis em que ele atua. Oevento será encerrado na noite dehoje com a exibição, às 21h, no Ci-ne Vila Rica, do documentário An-darilho, de Guimarães.

Matheus Nachtergaele contaque o convite para que Guima-rães participasse de A festa da me-nina morta foi, de certa maneira,afetivo. "Cheguei a cogitar que eledirigisse o filme comigo, mas,num certo momento, achei quetinha que encarar sozinho o traba-lho. Fiquei encantado porque oCao não é exatamente um mon-tador, ele monta seus próprios fil-mes. E eu não queria um monta-dor profissional, mas um poeta",comenta Nachtergaele, contandotambém que o manuscrito de Afesta… foi escrito por ele num sítioem Rio Acima, que alugou para es-sa finalidade, assim que voltoudas filmagens de O auto da com-padecida (lançado em 2000). "Naépoca, dos amigos, era o Caoquem tinha carro. Então fiquei nosítio e pedi para ele me buscar uns

20 dias depois", recorda.O longa foi filmado no início

do ano em Barcelos, Alto Rio Ne-gro, a primeira capital do Amazo-nas. É centrado em Santinho (Da-niel de Oliveira), considerado ummilagreiro no lugar onde vive. Afama só aumenta quando ele con-segue fazer aparecer o vestido deuma menina que sumiu. A partirdesse fato, as pessoas que ali vi-vem comemoram a data comuma festa. Na comemoração de 20anos da descoberta, a mãe da garo-ta aparece para revelar a verdade.O elenco traz ainda Cássia Kiss e Ja-ckson Antunes, atores de Manause pessoas que vivem em Barcelos.

Foi durante as filmagens de Oauto da compadecida que Na-chtergaele descobriu a história."Naquela ocasião, ficamos saben-do de uma cerimônia religiosa nosertão do Cariri chamada Festada menina mártir. Uma garota,chamada Josefa, tinha sumido nosertão e a família dela, muito reli-giosa, fez promessas, peregrinoue, finalmente, encontrou o vesti-do da menina. A família conside-rou um milagre e uma festa foicriada na data em que os traposforam achados. Havia uma ver-dadeira migração de fiéis, poisaquele vestígio foi consideradouma prova de que a morte nãohavia vencido. Cético que sou,me impressionou a capacidadeque as pessoas têm de criar fé, desubstituir a dor por um símbolo,um rito", relata Nachtergaele.

Um dos atores mais produti-vos do cinema nacional, ele, noentanto, não tem experiência an-terior em direção. "Pensei até emfazer um curta para entender ostipos de problema que poderia

ter. Mas a A festa da menina mor-ta nasceu como longa e um cur-ta poderia me desviar desse fil-me. Além do mais, costumo serum ator que se envolve nos pro-cessos dos longas de que partici-po. Desde 1999 estou muito aten-to a todas as etapas. O que fiz foime cercar de pessoas que gosto eque poderiam aceitar a minha di-reção", acrescenta. Entre os cola-boradores do projeto estão o ro-teirista Hilton Lacerda (de Ama-relo manga e Baixio das bestas,ambos de Cláudio Assis e comNachtergaele no elenco); e o dire-tor de fotografia Lula Carvalho(filho de Walter Carvalho). "Todostêm plena consciência de que es-tou estreando. Não queria dele-gar tarefas a ninguém, mas cha-mar parceiros para o projeto."

A decisão de filmar no Ama-zonas se deu porque ele queriaum lugar que reunisse diferentes

manifestações religiosas. "Minasou o Nordeste me pareceram ca-tolizantes demais. Bahia ou Ma-ranhão são muito ligados ao can-domblé. Já em Barcelos, por serlonge de tudo, você tem atuantesas igrejas católica e evangélica, apajelança e o candomblé. Pare-ceu-me o lugar ideal para pegaras religiões que formam a identi-dade dos brasileiros e tentar reu-ni-las, sem pretensão antropoló-gica." Produzido pela BananeiraFilmes (da mineira Vânia Catani),A festa da menina morta aindanão terminou o processo de cap-tação de recursos (até o momen-to, o orçamento chegou a R$ 1,2milhão). "Esperamos captar maispara finalizar o filme. Mas, comotrabalho com amigos, estou con-seguindo fazê-lo caminhar", con-clui Matheus Nachtergaele.

*A equipe viajou a convite da CineOP

Atrás dasCÂMERAS

Matheus Nachtergaele está em Ouro Preto para lançamento de Baixio das bestas, de Cláudio Assis

MARIA TEREZA CORREIA/EM

KIKO FERREIRA

Quem co-nheceu Make-ly em incur-sões poéticas,assembléiasde músicos,performancese e-mails insti-gantes, sentiufalta, nos doisprimeiros tra-

balhos, da virulência e da posturasempre afiada comum às suas co-municações e expressões públicase privadas. O primeiro, o coletivoA outra cidade, era dividido comPablo Lobato e Kristoff Silva e an-dava em paralelo com o funda-mental projeto Reciclo geral, querevelou uma geração de artistasmineiros. Já A Danaide foi umaparceria com a cantora MaisaMoura e parecia um passeio pelolado Dr. Jeckyll do Mr. Hyde damúsica feita em Belo Horizonte.

Autófago, o disco, é Makely emseu território: poético, elétrico, de-safiador e afinado com sua históriade transgressões conseqüentes. Jána faixa que dá nome ao disco elese posiciona: “Eu me alimento dacarniça do meu pensamento/e meoriento por ecos e condicionamen-to/ meu amuleto são os ossos comque me sustento”. Formado porleituras e audições várias, que in-cluem Leminski, Torquato Neto,Wally Salomão e Chacal, Makelydeclara em Reator, entre confissõesde boemia e carne em flor: “Eu fizda poesia minha ambrosia/ meusustento, meu amor.”

Produzido pelo domador derelâmpagos Renato Villaça, ou-tro autor de méritos e movido adesafios, o disco foi gravado noEstúdio Engenho, pilotado por

um experiente dinamitador depeso, André Cabelo. O trio Make-ley/Villaça/Cabelo extrai a estra-nheza necessária para que a poe-sia tenha a clareza desejável pa-ra ser compreendida, sem pare-cer didática ou recitativa.

“Destravem seu maxilares”,ordena o poeta na faixa de abertu-ra, “desliguem seus celulares”, mi-nutos antes de soar o sucessor deArnaldo Antunes em Eu não,questionadora de identidades. As-sumidamente perturbado pela ci-dade, ele abre Cérebro na Cuba,com célebre fala de Glauber Ro-cha, colocando a cara a tapa noprograma Abertura, e confessa oestilo inquieto e briguento.

VITAMINADO De repente, nomeio da fita, o vigor dá lugar àmalícia crítica em Punk de buti-que, sobre “um moleque de rebo-ck, completamente lock de ara-que”, seguida de um rock quasepunk, sem ser de araque, Não semeta, com fala de Hugo Chávezna abertura e rima sexualmenteexplícita na conclusão. Meio mu-tante, com voz processada de Pa-

trícia Rocha e bateria de AntônioLoureiro conduzindo o ritmo,Equinócio cheira a ciência poéti-ca, enquanto Endoscopia retomaa questão da identidade pela viada pluralidade de sons, etnias egeografia interplanetária. Hit nosshows, o coco Sorôco inaugura areta final com pegada nordestina.Famigerado apresenta a voz deMaisa Moura cobrindo a faixa de

delicadeza , antes que as guitarrasassaltem a cena.

Mais discussão de liberdade,mais política. A outra cidadetraz fa-la do subcomandante Marcos, gra-vada na cidade de Toluca, México,em 2001, abrindo caminho para omais implacável retrato musicalque BH já recebeu, com o refrão im-placável: “E o Arrudas continua cin-zento e cheirando mal”. Mudandode ribeirão para planeta, Plutão,com suas cordas e canto arrastado,poderia estar no Araçá azul de Cae-tano ou no Aprender a nadar deMacalé. Para terminar, a faixa bô-nus O meteoroevoca o poeta russoMaiakovski, detonando pessoal-mente a poesia depois de sintomá-ticos dois minutos de silêncio.

Autófago apresenta, além dequalquer consideração ou juízo devalor, conjunto consistente deidéias bem-alinhavadas. Caracte-rística rara num cenário repleto demelodias sem vitaminas, letrassem consistência e obras sem con-ceito. A Makely o que é de Makely.Com todos os louros e riscos.

Matheus Nachtergaele fala sobre A festa da menina morta,filme rodado no Amazonas e montado em Belo Horizonte

CINEMA

CULTURA

E S T A D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 1 9 D E J U N H O D E 2 0 0 7

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CULTURALGIRO

MARCOS VIEIRA/EM – 21/5/07

PALÁCIO DAS ARTES

Curadores fazempanorama das artesCuradores da exposição Arte moderna em con-texto batem papo com o público hoje, no Palá-cio das Artes. Fernando Cocchiarale, Franz Ma-nata e Luiz Antônio Ewbank analisarão o pano-rama das artes visuais e as perspectivas do se-tor. O debate será realizado na Sala Juvenal Dias,com entrada gratuita e de acordo com a lotaçãodo espaço, que tem 174 lugares. Senhas devemser retiradas com antecedência na AvenidaAfonso Pena, 1.537, Centro. Na Grande Galeria(foto) estão expostas obras de Alfredo Volpi, Ar-cangelo Ianelli, Burle Marx, Candido Portinari,Di Cavalcanti, Manabu Mabe, Milton Dacosta eTomie Ohtake, entre outros.

REVISTA

Alunos da Fumec lançamTraçano Café com LetrasA revista Traça, que será lançada hoje em BeloHorizonte, mescla elementos de colagens, foto-grafias, tipografia e ilustrações. Criada por alu-nos de design gráfico da Fumec, a publicação foiorientada pelos professores Mário Arreguy, Sa-muel Eller e Rafael Neder. Com 70 páginas, a re-vista poderá ser conferida a partir das 19h noCafé com Letras (Rua Antônio de Albuquerque,781, Savassi). Traça será vendida no diretórioacadêmico do curso de design da Fumec, na RuaCobre, 200, Cruzeiro, a R$ 7.

DANÇA

Seminário já recebeinscrições em BrasíliaArtistas de Minas têm feito sucesso no Semi-nário Internacional de Dança de Brasília. Em2006, o mineiro Cristian Alex Assis das Dores,de 17 anos, ganhou prêmio de 7 mil euros,passagem aérea para a Alemanha e bolsa deestudos na Academia de Dança da Escola Su-perior de Música e Artes Cênicas de Man-nheim. Ana Luiza Luizi, de 22, e Júnio Teixei-ra, de 24, receberam bolsa para estudar dançana Áustria. Promovido pela Associação Cultu-ral Cláudio Santoro, o seminário será realiza-do entre os dias 1º e 29 de julho, em Brasília.Inscrições e informações pelo telefone (61)3226-6662 ou no site www.dance.art.br.

PALESTRA

Especialista vai explicarsegredos do estilo Luís XV O professor Marco Elízio Paiva faz palestra ho-je, às 19h, no Palácio dos Leilões, sobre o estiloLuís XV nas artes visuais. Dia 25 serão leiloadaspeças sobre as quais o especialista falará. O Pa-lácio dos Leilões fica na Rua Gonçalves Dias,1.866, Lourdes. Informações: (31) 3291-2343.

● MUSEU MINEIRO

O Museu Mineiro (Avenida João Pinheiro, 342,Funcionários) abre amanhã, às 19h30, aexposição Reserva 1 – Sala das sessões, queresultou da segunda oficina do projetoTerritório, que propõe reflexão prática sobrearte e ocupação do espaço da instituição. Amostra exibirá a primeira das quatro etapas demontagem produzidas pelos artistas CinthiaMarcelle, Laís Myrrha, Ariel Ferreira, CamilaGomes, Flávio C.R.O., Luiz Henrique Vieira,Marcela Yoko, Pedro Veneroso, RobertoAndrés, Rosa Araújo, Tales Bedeschi e WalterTrindade. O trabalho coletivo poderá serconferido até 5 de julho.

● MÁSCARAS

A artista plástica Cláudia Regina expõe máscarasem papel machê sobre telas, amanhã e sexta-feira, às 21h30, no Restaurante Originale, na RuaFernandes Tourinho, 515, Savassi.

AFIADO

Contundência necessária

Makely Ka transforma em música sua poesia elétrica e desafiadora

HELENA LEÃO/DIVULGAÇÃO

�������

DISCO

MARIANA PEIXOTO*De Ouro Preto

A inspiração veio do sertãonordestino. Já a história ganhou al-ma em Minas e corpo no Amazo-nas. Agora, novamente em Minas,ele está moldando esse corpo. Háum mês, um dos atores-símbolodo cinema brasileiro atual, Ma-theus Nachtergaele, está em BH,na casa de Cao Guimarães, mon-tando A festa da menina morta,que marca sua estréia na direção.A pausa no trabalho a que vem sededicando em 2007 deve-se aolançamento na CineOP – Mostrade Cinema de Ouro Preto de Bai-xio das bestas, longa-metragem deCláudio Assis em que ele atua. Oevento será encerrado na noite dehoje com a exibição, às 21h, no Ci-ne Vila Rica, do documentário An-darilho, de Guimarães.

Matheus Nachtergaele contaque o convite para que Guima-rães participasse de A festa da me-nina morta foi, de certa maneira,afetivo. "Cheguei a cogitar que eledirigisse o filme comigo, mas,num certo momento, achei quetinha que encarar sozinho o traba-lho. Fiquei encantado porque oCao não é exatamente um mon-tador, ele monta seus próprios fil-mes. E eu não queria um monta-dor profissional, mas um poeta",comenta Nachtergaele, contandotambém que o manuscrito de Afesta… foi escrito por ele num sítioem Rio Acima, que alugou para es-sa finalidade, assim que voltoudas filmagens de O auto da com-padecida (lançado em 2000). "Naépoca, dos amigos, era o Caoquem tinha carro. Então fiquei nosítio e pedi para ele me buscar uns

20 dias depois", recorda.O longa foi filmado no início

do ano em Barcelos, Alto Rio Ne-gro, a primeira capital do Amazo-nas. É centrado em Santinho (Da-niel de Oliveira), considerado ummilagreiro no lugar onde vive. Afama só aumenta quando ele con-segue fazer aparecer o vestido deuma menina que sumiu. A partirdesse fato, as pessoas que ali vi-vem comemoram a data comuma festa. Na comemoração de 20anos da descoberta, a mãe da garo-ta aparece para revelar a verdade.O elenco traz ainda Cássia Kiss e Ja-ckson Antunes, atores de Manause pessoas que vivem em Barcelos.

Foi durante as filmagens de Oauto da compadecida que Na-chtergaele descobriu a história."Naquela ocasião, ficamos saben-do de uma cerimônia religiosa nosertão do Cariri chamada Festada menina mártir. Uma garota,chamada Josefa, tinha sumido nosertão e a família dela, muito reli-giosa, fez promessas, peregrinoue, finalmente, encontrou o vesti-do da menina. A família conside-rou um milagre e uma festa foicriada na data em que os traposforam achados. Havia uma ver-dadeira migração de fiéis, poisaquele vestígio foi consideradouma prova de que a morte nãohavia vencido. Cético que sou,me impressionou a capacidadeque as pessoas têm de criar fé, desubstituir a dor por um símbolo,um rito", relata Nachtergaele.

Um dos atores mais produti-vos do cinema nacional, ele, noentanto, não tem experiência an-terior em direção. "Pensei até emfazer um curta para entender ostipos de problema que poderia

ter. Mas a A festa da menina mor-ta nasceu como longa e um cur-ta poderia me desviar desse fil-me. Além do mais, costumo serum ator que se envolve nos pro-cessos dos longas de que partici-po. Desde 1999 estou muito aten-to a todas as etapas. O que fiz foime cercar de pessoas que gosto eque poderiam aceitar a minha di-reção", acrescenta. Entre os cola-boradores do projeto estão o ro-teirista Hilton Lacerda (de Ama-relo manga e Baixio das bestas,ambos de Cláudio Assis e comNachtergaele no elenco); e o dire-tor de fotografia Lula Carvalho(filho de Walter Carvalho). "Todostêm plena consciência de que es-tou estreando. Não queria dele-gar tarefas a ninguém, mas cha-mar parceiros para o projeto."

A decisão de filmar no Ama-zonas se deu porque ele queriaum lugar que reunisse diferentes

manifestações religiosas. "Minasou o Nordeste me pareceram ca-tolizantes demais. Bahia ou Ma-ranhão são muito ligados ao can-domblé. Já em Barcelos, por serlonge de tudo, você tem atuantesas igrejas católica e evangélica, apajelança e o candomblé. Pare-ceu-me o lugar ideal para pegaras religiões que formam a identi-dade dos brasileiros e tentar reu-ni-las, sem pretensão antropoló-gica." Produzido pela BananeiraFilmes (da mineira Vânia Catani),A festa da menina morta aindanão terminou o processo de cap-tação de recursos (até o momen-to, o orçamento chegou a R$ 1,2milhão). "Esperamos captar maispara finalizar o filme. Mas, comotrabalho com amigos, estou con-seguindo fazê-lo caminhar", con-clui Matheus Nachtergaele.

*A equipe viajou a convite da CineOP

Atrás dasCÂMERAS

Matheus Nachtergaele está em Ouro Preto para lançamento de Baixio das bestas, de Cláudio Assis

MARIA TEREZA CORREIA/EM

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Produto: CADERNO_2 - BR - 3 - 20/11/08 D3-BR/SP - CYANMAGENTAAMARELOPRETO

Lauro Lisboa Garcia

NafaixadeaberturadoCDOVi-vido e o Inventado (independen-te), o compositor e cantor KikoKlaus,recifenseradicadoemBe-lo Horizonte, diz que “é hora desoprar a vela no bolo e enfiar odedo”.Sabendo fazer ahoraporsi,Klausdáumpassosignificati-vo na carreira com esta estimu-lante estréia-solo.Dividindo a noite com Pedro

MoraiseRenegado,outrosbonsexpoentes da nova safra, ama-nhãKlausseapresentanachope-ria do Sesc Pompéia, naMostrade Arte Mineira Contemporâ-nea, que tem Makely Ka hoje(leia abaixo). Klaus traz influên-ciasdesuaorigempernambuca-na e de quandomorou na Espa-nha, situando-se emMinas a ca-minhodomar, ligadonaboamú-sicahíbridadomundo.O“inventado”do título – ins-

pirado em poema do mineiroCarlosDrummond deAndrade–doCDéacolagempessoaldis-sotudo,segundoomúsico;o“vi-vido” é a parte reflexiva das le-tras, que armazena memóriasda infância até a fase adulta.“Discordoquandodizemquetu-do já foi feito.Aspessoasemge-ral sofrem com a massificaçãodas coisas, porém, gente tem aopção de buscar outros cami-nhosemostraro entendimentopróprio do que é vivido. Agoraquecheguei à faixados30anos,tenho histórias pra contar.”Klaus – que assina 11 das 12

faixasdoCD,2emparceria comWagner Merije –, vem de umabem-sucedida experiência como colombiano Carlos Jaramillo(Mesmalua, 2005), que ecoa nafaixa inicial do novo trabalho. Otoque de flamenco em A Hora,mescladocommaracatu,remon-ta aomesmo tempo à influênciaárabe na cultura espanhola e namúsicanordestina brasileira.“Mesmaluafoiquasetodogra-

vado na Espanha , era umdiscoem dupla, por vários motivosnãomepermitiu ir tão fundona

essência das raízes pernambu-canas”, diz. “Agora eu já tinhamais segurança comomúsico eprodutorparaconseguir impri-mir algo comconsistência.”Klaus também pôde trazer

paratocarcomobateristaPupi-lo (Nação Zumbi), a percussio-nistaSimoneSoulecantorami-neiraAlineCalixto–quepartici-pa de duas dasmelhores faixasdo CD: a cirandaACaminho doMar e o xote-reggae Varanda,parcerias deKlaus comMerije.“Pupilo já incorporou toda aquestão da música popular, domaracatu, da ciranda, do frevo,

e traduz essas raízes demanei-ra contemporânea.” Simonetrouxe um pouco o ambientedos terreiros do candomblé pa-raA Caminho do Mar, VarandaeOQueNãoTem.PupiloeSimone trabalhama

percussão“nãosócomoelemen-to musical, mas também vi-sual”, o que também interessa aKlaus.“Aquímicadoinstrumen-toremeteaalgoalémdacanção.Comoumlivroemque,pormaisqueumautordescrevaemdeta-lhes uma imagem, é o leitorquemvaidarsua interpretação.Com a canção se dá o mesmo,quandopermiteviajarnasentre-linhas. Procurei trabalhar nodisco com esse tipo de questão,o que está muito associado aomeu trabalho com trilhas sono-ras.” Coincidentemente, os trêstêmgrandeadmiraçãopelotam-bém percussionista Naná Vas-concelos,aquemKlausdedicaoCDecomquempretendetraba-lhar no próximo ano nopalco.O caminho estético deKlaus

– que também temumcanto vi-goroso e envolvente – leva a

uma série de possibilidades,sem que se possa classificá-lo. “Poderia ser sambista,porquetenhofacilidadeparacomporsamba”, dizKlaus.Eparacantartambém.Provasconvincentes são O SambaChora (dele) e Caminhão (deWagnerPã). “Masnãoquerome limitar, a diversidade fazparte daminha personalida-de. Essas experiências sãoenriquecedoras.”Antes que alguém o fizes-

se, Klaus disponibilizou o CDinteiro na internet. “Se a rá-dionãotoca,seatevênãomos-tra, a gente tem de estar emalgum lugar”, diz o cantor.“Tenho consciência de que amídia é essencial para con-quistar um público, para queagentesefortaleça.Omerca-do está se abrindo muito e ainterneté fundamentalnessesentido,porqueaspessoaspo-demdecidirmelhoroqueque-remvereouvir.”ComocantaemOQueNãoTem, “oquenãotempreçoéinspiração”.Ade-le está valendomuito. ●

Ahoradeenfiar odedonoboloAtraçãode festival de artemineira naPompéia, KikoKlaus avançacomconsistenteCDdeestréia-solo

MakelyKa,musicalidadea serviçodapoesiaCompositormistura influênciasparaembalar inconformismo

MúsicaShows:

Serviço● Mostra Contemporânea deArte Mineira. Choperia doSesc Pompéia (800 lug.). R.Clélia, 93, 3871-7700. Hoje,19 h; amanhã, 21 h. R$ 16

O poeta Makely Ka, piauienseque fixou residência em BeloHorizonte, entrou na músicapor força dos versos que escre-ve. Parte significativa de suaprodução está no perspicazCDAutófago, do qual faz uma ver-são compacta no show de hojedentrodaMostradeArteMinei-ra Contemporânea, no SescPompéia. A cantora Érika Ma-chadoeoprojetodemúsicaele-trônicaIndianaMagnetosãoasoutras atrações da noite.No encarte do disco, que ele

também disponibilizou todo nainternet,MakelyavisaqueoCDé apenas o suporte do conteúdomusical, que é o que realmenteimporta. A música, porém, é oveículoparaalgoaindamais im-portante: sua poesia. Exceçãonopop-rockatual,emquemuitose fala, mas pouco se aproveita,Makelybrandeidéiasdeconteú-do político, sexual, existencial,descrevepaisagensurbanascin-zentascomtraçossecos,comoocaosde fioselétricosembaraça-dos que ilustram a capa e o en-cartedoCDempreto-e-branco.Asonoridademusicaladequa-

da para suas letras reflexivas épesada, com rock, reggae, coco,funkeafinssealternandoemse-qüência sem intervalo entre asfaixas.“Nãotenhoformaçãomu-sical, venho da poesia. A partirdequandocomecei amusicarospoemasquefazia,surgiramcon-vites paraparcerias.Aspessoasmemandavammelodiasparaco-locar letrae issoquasequeviroua minha profissão”, diz Makely.“Acho que há uma escassez deletristas no mercado e a genteacaba tendode sedesdobrar.”Em outros tempos, Makely

seria classificado de “maldito”,como o foram Walter Franco,JardsMacaléeItamarAssump-ção(1949-2003),dosquaisseou-

vemecos inspiradores,comoosde Arnaldo Antunes, em algu-mas faixas, como Endoscopia,Sorôco e O Meteoro. Autófago éumbomexemplocomversosco-mo:“Eumealimentodacarniçado meu pensamento.../ Eu medeserto quando seca o lacrime-jamento/ Eme rebento quandoabortomeus renascimentos”.Conterrâneo do tropicalista

Torquato Neto (1944-1972),Makely o temcomoumadas re-ferênciasmais fortes. O outro éo paranaense Paulo Leminski(1944-1989). Deste ele absorve aironiaecertainfluênciadacultu-raoriental.DeTorquato,ainspi-ração da personalidade artísti-

ca,dearticulador. “Osdoissecolocavamcommuitapaixãoem tudo o que faziam.”Seoinconformismonade-

mocracia de hoje não tem opeso do risco nos tempos daditadura, há outros oponen-tes a combater. Makely, deextenso currículo artístico,também é articulado nessesentido.Foieleumdosideali-zadores do projeto RecicloGeral, que deu ares demovi-mentoaosjovensmúsicos in-dependentes mineiros em2005. Duas cantoras dessageração, Patrícia Rocha eMaísaMoura, participamdoCD, uma teia nervosa deme-táforas e invenções. ● L.L.G.

Um - dois

www.estadao.com.br/e/d3

HÍBRIDO–Mesclando ritmos de sua origempernambucana, ele se situa emMinas a caminho domar

Ouça Kiko Klaus e Makely Ka

MAKELY–TeianervosacomironiadeTorquato, Leminski e Itamar

Para anunciar nos classificados do Estadão, ligue:Demais localidades

0800-055-2001São Paulo

(11) 3855-2001

LILIANE PELEGRINI/DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

ESCALAPB PB ESCALACOR COR

%HermesFileInfo:D-3:20081120:

QUINTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2008 CADERNO 2 D3O ESTADO DE S. PAULO CADERNO 2 D3

Produto: CADERNO_2 - BR - 3 - 20/11/08 D3-BR/SP - CYANMAGENTAAMARELOPRETO

Lauro Lisboa Garcia

NafaixadeaberturadoCDOVi-vido e o Inventado (independen-te), o compositor e cantor KikoKlaus,recifenseradicadoemBe-lo Horizonte, diz que “é hora desoprar a vela no bolo e enfiar odedo”.Sabendo fazer ahoraporsi,Klausdáumpassosignificati-vo na carreira com esta estimu-lante estréia-solo.Dividindo a noite com Pedro

MoraiseRenegado,outrosbonsexpoentes da nova safra, ama-nhãKlausseapresentanachope-ria do Sesc Pompéia, naMostrade Arte Mineira Contemporâ-nea, que tem Makely Ka hoje(leia abaixo). Klaus traz influên-ciasdesuaorigempernambuca-na e de quandomorou na Espa-nha, situando-se emMinas a ca-minhodomar, ligadonaboamú-sicahíbridadomundo.O“inventado”do título – ins-

pirado em poema do mineiroCarlosDrummond deAndrade–doCDéacolagempessoaldis-sotudo,segundoomúsico;o“vi-vido” é a parte reflexiva das le-tras, que armazena memóriasda infância até a fase adulta.“Discordoquandodizemquetu-do já foi feito.Aspessoasemge-ral sofrem com a massificaçãodas coisas, porém, gente tem aopção de buscar outros cami-nhosemostraro entendimentopróprio do que é vivido. Agoraquecheguei à faixados30anos,tenho histórias pra contar.”Klaus – que assina 11 das 12

faixasdoCD,2emparceria comWagner Merije –, vem de umabem-sucedida experiência como colombiano Carlos Jaramillo(Mesmalua, 2005), que ecoa nafaixa inicial do novo trabalho. Otoque de flamenco em A Hora,mescladocommaracatu,remon-ta aomesmo tempo à influênciaárabe na cultura espanhola e namúsicanordestina brasileira.“Mesmaluafoiquasetodogra-

vado na Espanha , era umdiscoem dupla, por vários motivosnãomepermitiu ir tão fundona

essência das raízes pernambu-canas”, diz. “Agora eu já tinhamais segurança comomúsico eprodutorparaconseguir impri-mir algo comconsistência.”Klaus também pôde trazer

paratocarcomobateristaPupi-lo (Nação Zumbi), a percussio-nistaSimoneSoulecantorami-neiraAlineCalixto–quepartici-pa de duas dasmelhores faixasdo CD: a cirandaACaminho doMar e o xote-reggae Varanda,parcerias deKlaus comMerije.“Pupilo já incorporou toda aquestão da música popular, domaracatu, da ciranda, do frevo,

e traduz essas raízes demanei-ra contemporânea.” Simonetrouxe um pouco o ambientedos terreiros do candomblé pa-raA Caminho do Mar, VarandaeOQueNãoTem.PupiloeSimone trabalhama

percussão“nãosócomoelemen-to musical, mas também vi-sual”, o que também interessa aKlaus.“Aquímicadoinstrumen-toremeteaalgoalémdacanção.Comoumlivroemque,pormaisqueumautordescrevaemdeta-lhes uma imagem, é o leitorquemvaidarsua interpretação.Com a canção se dá o mesmo,quandopermiteviajarnasentre-linhas. Procurei trabalhar nodisco com esse tipo de questão,o que está muito associado aomeu trabalho com trilhas sono-ras.” Coincidentemente, os trêstêmgrandeadmiraçãopelotam-bém percussionista Naná Vas-concelos,aquemKlausdedicaoCDecomquempretendetraba-lhar no próximo ano nopalco.O caminho estético deKlaus

– que também temumcanto vi-goroso e envolvente – leva a

uma série de possibilidades,sem que se possa classificá-lo. “Poderia ser sambista,porquetenhofacilidadeparacomporsamba”, dizKlaus.Eparacantartambém.Provasconvincentes são O SambaChora (dele) e Caminhão (deWagnerPã). “Masnãoquerome limitar, a diversidade fazparte daminha personalida-de. Essas experiências sãoenriquecedoras.”Antes que alguém o fizes-

se, Klaus disponibilizou o CDinteiro na internet. “Se a rá-dionãotoca,seatevênãomos-tra, a gente tem de estar emalgum lugar”, diz o cantor.“Tenho consciência de que amídia é essencial para con-quistar um público, para queagentesefortaleça.Omerca-do está se abrindo muito e ainterneté fundamentalnessesentido,porqueaspessoaspo-demdecidirmelhoroqueque-remvereouvir.”ComocantaemOQueNãoTem, “oquenãotempreçoéinspiração”.Ade-le está valendomuito. ●

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Torquato Neto (1944-1972),Makely o temcomoumadas re-ferênciasmais fortes. O outro éo paranaense Paulo Leminski(1944-1989). Deste ele absorve aironiaecertainfluênciadacultu-raoriental.DeTorquato,ainspi-ração da personalidade artísti-

ca,dearticulador. “Osdoissecolocavamcommuitapaixãoem tudo o que faziam.”Seoinconformismonade-

mocracia de hoje não tem opeso do risco nos tempos daditadura, há outros oponen-tes a combater. Makely, deextenso currículo artístico,também é articulado nessesentido.Foieleumdosideali-zadores do projeto RecicloGeral, que deu ares demovi-mentoaosjovensmúsicos in-dependentes mineiros em2005. Duas cantoras dessageração, Patrícia Rocha eMaísaMoura, participamdoCD, uma teia nervosa deme-táforas e invenções. ● L.L.G.

Um - dois

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¬ FABIANO CHAVES

ESPECIAL PARA O TEMPO

O Tempo – Recente-mente você lançou“Autófago”, terceirotrabalho musical. Con-te sobre o processo decriação desse disco.Makely Ka – sse é meu pri-meiro trabalho como intér-prete solo. Anteriormente,atuava como compositor ecolaborava como instru-mentista em diversas par-cerias. Em 2003, em parce-ria com o Kristoff Silva ePablo de Castro, lançamoso disco “A Outra Cidade”.Nesse trabalho, atuei maiscomo letrista. Meu segun-do trabalho, “Danaide”, fizem parceria com a cantoraMaísa Moura. No CD, elacanta tudo o que escrevi eeu basicamente toco em al-gumas faixas. No “Autófa-go”, quis mostrar meu tra-balho como intérprete. Fi-quei muito à vontade paracantar minhas músicas. Éum disco mais roqueiro,mais aguerrido, mais mili-tante. Como compositor,acabo sendo conduzido adiferentes melodias. O tra-balho vem a partir da pala-vra. Nesse disco, tive aoportunidade de criar e to-car também. Só toco mi-nhas próprias músicas. Mesinto à vontade assim. E is-so acabou por definir umpouco o meu trabalho.Não me arrisco a tocarcomposições dos outros.Não tenho competência pa-ra isso.

Você é uma pessoaque transita em diver-sos gêneros artísticos.Por que a opção de rea-lizar multiatividades?Isso vem dentro de um con-ceito recente de auto-pro-dução. Coloquei como me-ta, sobreviver do meu pró-prio trabalho artístico. Emfunção disso, tenho queme desdobrar. Então, tra-

balho muito com oficinas,debates, palestras, ediçãode livros, por exemplo. Sãoatividades que não têm amesma visibilidade que otrabalho artístico, mas quecomplementa financeira-mente. Atuando em diferen-tes áreas, consigo pagar mi-nhas dívidas. O forte domeu trabalho continua sen-do a música, a literatura eum pouco de trabalhos emvídeo também. É uma op-ção muito clara, pois issome enriquece muito. Vocêconsegue se reciclar. Pensoque a troca de experiênciasé muito importante para otrabalho.

Seu trabalho incorporaum componente críticoe reflexivo. Essa é umacaracterística que sem-pre o acompanhou? Vo-cê se considera um cria-dor inquieto?Estudei filosofia, mas aca-bei abandonando o cursono último período por diver-sos motivos. Porém, me en-volvi muito com a questãoda crítica, da reflexão. É umprocesso natural incorporarquestões políticas no traba-lho e nem acho que o proces-so de criação está desvincu-lado disso. O fato de vocênascer em uma determina-da cultura, falar determina-do idioma, por si só já carre-ga um elemento político. Is-so acontece naturalmente,sem que você perceba. Aspessoas fazem parte de umcontexto. Esse engajamentopolítico, essa crítica e refle-xão, tudo isso é um transbor-damento daquilo que vive-mos diariamente.

Como poeta e composi-tor, você consegue esta-belecer uma relação en-tre poesia e música? Épossível criar uma poe-sia cantada?Isso é até uma oficina queministro. A relação da tradi-

ção oral com a palavra escri-ta. A poesia sempre foi can-tada. Na história da tradi-ção oral, existem elementosque facilitam a memoriza-ção, como rimas. Isso é umatradição anterior à escrita.Acabou que fomos entendera poesia distinta da música.Mas não é. Atualmente, a le-tra de composições brasilei-ras recupera essa questão.Na Índia, os textos clássicossugerem que foram canta-dos antes de escritos, porcausa de elementos pró-prios da poesia cantada. Háuma reverberação dessa tra-dição dentro da música po-pular brasileira. Não vejocontradição. Sei que quan-do escrevo canções, tenhoque lançar mão de elemen-tos, como a rima, que vãoinstigar a criação. E ocorre ocontrário também, quandorecebo uma melodia. Ás ve-zes, faço um poema que nãotinha a pretensão de musicá-lo. Minha parceria com oKristoff (Silva) tem muitodisso.

Falando em parcerias,conte um pouco dessacaracterística na suaatividade.Sempre acho que a parceriaé uma concessão que vocêfaz, e acho ela muito bemvinda. Existe uma grandecumplicidade. Além dos par-ceiros constantes, como oKristoff Silva e o Pablo deCastro, tenho realizado óti-mas parcerias com o ChicoSaraiva, o Mário Sèze, o poe-ta português Thiago Torresda Silva. Elas ampliam o seuuniverso, abrem caminhopara questões que não fariasozinho. São coisas que sãofruto da generosidade des-sas parcerias. Este ano, temmuita coisa minha em traba-lhos de grandes amigos eparceiros. A Maísa Moura,em breve, lança disco comcanções minhas, o mesmocom a Elisa Paraíso. Tenho

trabalhos com o Mestre Jo-nas, Pablo de Castro, AldaRezende. Acho isso ótimo.Têm canções que não canta-ria.

No seu site, há uma fra-se que diz “ultimamen-te, ganho uns trocadoscomo um operário dacontra-indústria”. Ex-plique o que quis dizercom “operário da con-tra-indústria”?A idéia de contra-indústria,na verdade, vem para substi-tuir o termo independente,já bastante desgastado. Issovem de diversas discussõesem fóruns que participo, on-de confirmamos a não-espe-cialização do artista. A gran-de indústria busca e exige es-pecialização. Isso não temadmissão do todo. O compo-sitor não sabe como o traba-lho será distribuído. O distri-buidor, por não saber nadade música, enfia o disco emqualquer prateleira. Vocêperde a noção do todo. Oconceito é no sentido de pro-por uma nova forma de pro-dução. Há uma grande faltade comunicação, aconteceum esquema esquizofrêni-co. A própria inovação tec-nológica trouxe uma mu-dança de paradigmas. Éuma outra forma de produ-ção. Trabalhamos com cul-tura, um bem renovável.Quanto mais se produz,mais estímulo para criar. Éoutra lógica de funciona-mento.

Atualmente, em queprojetos está envolvi-do?Tenho trabalhado intensa-mente com a Cooperativada Música de Minas. É umademanda antiga, onde de-senvolvemos diversasações. Estamos montandoum festival, uma espécie dereedição do “Reciclo Geral”,que foi o ponto de partidade uma geração inteira aqui

de Minas Gerais, como Ra-fael Macedo, Vítor Santa-na, entre tantos outros ar-tistas. A intenção é criar o“Reciclo Gerou”, mostran-do exatamente o que aqui-lo produziu no cenário mu-sical de Minas. Também es-tamos desenvolvendo umaação para exportar o nossopotencial. Atualmente, te-mos no Estado uma gran-de diversidade e riquezaque não tem em outro lu-gar. Nos últimos dois anos,viajei pelo país e posso afir-mar que não há cena comoa de Minas Gerais. Tam-bém estou envolvido coma criação de um espetáculode poesia sonora, chama-do “Verborragia Mínima”,ao lado do videoartista Chi-co de Pádua e com inter-venções eletrônicas da Pa-trícia Rocha. Junto com oKristoff Silva, estou traba-lhando na trilha para umespetáculo da Cia Sera-quê!. No próximo semes-tre, já começo a trabalharem novo CD. Temos tam-bém a intenção de encer-rar o “Expresso Melodia”,projeto do qual sou cura-dor e diretor artístico, emque levou artistas a cida-des no entorno da regiãometropolitana, em BeloHorizonte.

Conte um pouco sobrea sua formação artísti-ca.Toda a minha formação ar-tística vem de família. Naminha infância e adoles-cência, tive a sorte de con-viver com músicos. Meutio tocava violão, pintava,esculpia. Comecei a apren-der a tocar com ele. A mi-nha mãe é professora, en-tão tive estímulo e acessoao universo da literatura.Já meu pai vem de uma fa-mília de vaqueiros. Entãosempre teve aquela tradi-ção do aboio, fundamentalna minha formação.

“Acho aparceria

muito bemvinda.

Somoscúmplices”

“O conceito,é no sentido

de proporuma novaforma de

produção”

Criador intenso,estepiauiense criadoemMinastransitaporvários gêneros artísticos.Fezdaatividadecultural oseuganha-pãoevem colhendoosfrutosemmais dedezanos sededicandoà poesia,àmúsicaeemqualqueraventuraa quesepropõe.Agitadorcultural,aos 32anos,ele firma-secomoumdos importantesvalores danova geraçãomineira.

“A grandeindústriaexige um

discurso deespecialista”

G

Makely KaPoeta, compositor e produtor

Criação poética e reflexão

HELENA LEÃO/DIVULGAÇÃO

Entrevista

O TEMPO Belo HorizonteM 5DOMINGO, 13 DE ABRIL DE 2008 M 5

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Teve Angelina Jolie, linda,lançando “Kung Fu Panda 2”, paragarantir o momento relax... Mas éa palavra polêmica que mais seadapta aos filmes já exibidos noFestival de Cannes. A começar de“Sleeping Beauty”, protagoniza-do por Emily Browning, o primeiroda mostra competitiva, ou “WeNeed to Talk about Kevin”, de Lyn-ne Ramsay, o segundo. Dois fil-mes que dialogam entre si. No pri-meiro, uma garota entra para umairmandade secreta - de acordocom Luiz Carlos Merten, da Agên-cia Estado, meio “De Olhos bemFechados”, de Stanley Kubrick.Ela dorme, é abusada por velhos(mas sem penetração), acorda e écomo se não houvesse ocorridonada. Nada? Os danos são muitomais (pro)fundos. Por que a garotaaceita fazer esse jogo? Não é pordinheiro, porque ela queima as no-tas que recebe por seu “trabalho”.Lynne Ramsay também não expli-ca por que Kevin faz o irremediá-vel em seu filme, deixando semresposta a pergunta que a mãe(Tilda Swinton) faz ao garoto, masKevin é aquilo que se chamaria demente doentia, um “monstro”.

E segue: “É uma história de fa-mília. Algo muito trágico. Um pe-sadelo”. A cor vermelha, diz ela,“domina desde o início porque ve-jo os filmes na minha cabeça, an-tes de escrever o roteiro, sou vi-sual”, declarou Ramsay, cujo cur-ta-metragem de fim de estudos,“Small deaths”, ganhou em 1996o prêmio do júri em Cannes. “Nos-so filme não trata, como Elefante,de Gus Van Sant, do massacre emum colégio, e sim sobre uma famí-lia, sobre as relações entre mãe efilho”, explicou o roteiristaStewart Kinnear. “Kevin cresceem uma família de classe médianorte-americana. Tem tudo o quequer, mas acredita que não temum lugar no mundo. É muito inteli-gente e pensa que seus pais inter-pretam o papel de pais, que estãoatuando, que não são sinceros”,disse, por sua vez, Tilda Swinton.A atriz falou de sua maneira de en-carnar o personagem de Eva, quese sente desconcertada e perdidadesde o nascimento de Kevin, ummenino muito chorão e depois au-tista, violento, grosseiro. “Quan-do uma pessoa tem um filho sesente às vezes como se estivesseescrevendo uma carta que nuncaenviará a ele”, acrescentou.

“We need to talk about Ke-vin” conta a história de Eva (Til-da), mãe de Kevin, o jovem ameri-cano que um dia cometerá ummassacre em seu colégio, e estre-meceu Cannes. Baseado no bem-sucedido romance da americanaLionel Shriver, “Precisamos falarsobre Kevin”, publicado pela In-trínseca no Brasil, o filme exploraa ambivalente relação entre Eva,que talvez não desejasse ser mãe,e o filho Kevin, muito mimado equem, ao que parece, nasceu cominstintos ruins. A história começadurante uma “tomatada” em al-gum lugar da Espanha, na épocaem que Eva é ainda uma escritoraviajante, solteira e sem compro-missos. A partir desta “tomatada”violenta e sensual, a cor vermelhadomina o filme e prefigura o san-gue que será derramado por Ke-vin, interpretado pelo talentosoEzra Miller, em seu colégio de Con-necticut, poucos dias antes decompletar 16 anos. “Ficaria commuito medo de ser amigo de al-guém como Kevin. O mal vive den-tro das pessoas, devemos saberque somos capazes do bem e domal”, declarou Ezra Miller. “Todoo filme trata da culpa da mãe”, diza diretora Lynne Ramsay.

Filme sobre massacre faz Cannes estremecer

CINTHYA OLIVEIRA

REPÓRTER

Grande defensor da flexi-bilidade da Lei dos DireitosAutorais e antenado a novida-des tecnológicas, Makely Kadecidiu fazer um lançamentototalmente inusitado paraseu segundo disco, “CavaloMotor”. O público poderáconferir essas músicas novi-nhas em um show que aconte-ce hoje, na Casa Una.

O novo trabalho foi dispo-nibilizado ao público por meiodeum aplicativoparatelefoniamóveleIPods.Quemfizerodo-wnload do programa terá, emseu celular, além das músicasrecentes, letras, fichas técni-cas, vídeos e as canções do dis-coanterior,“Autófago”.

Quem se interessar porpassar esse conteúdo para oaparelho móvel, também teráacesso a uma rádio, onde sãoexecutas mais de 70 composi-ções de Makely, interpreta-das por outros artistas, comoNá Ozzetti, Alda Rezende, Ti-tane, Chico Saraiva, KristoffSilva e Aline Calixto.

Por enquanto, estão dis-ponibilizadas apenas quatromúsicas do álbum – que terá12 no total. “Quando a pessoavai usar o aplicativo, eu peçoum cadastro, com alguns da-dos socioculturais da pessoa.Assim, ela vai receber automa-ticamente as outras músicascom o passar do tempo e eupoderei fazer ações mais dire-cionadas, de acordo com operfil de cada um”, explicaMakely Ka, que deve disponi-bilizar o álbum completo atémeados de julho.

Por enquanto, o artistanão sabe dizer se irá disponi-bilizar “Cavalo Motor” pormeio de CDs físicos conven-cionais. “Queremos primeira-

mente trabalhar essa distri-buição via aplicativo, mas ébem possível que eu não façao CD físico”, diz o artista, quedepois de Belo Horizonte, oartista segue para quatrocapi-tais nordestinas – Salvador,Maceió, Recife e Natal.

Em “Cavalo Motor”, o mú-sico apresenta sua principalinfluência: a música nordesti-na. Nascido no Piauí e criadono interior de Minas, Makelyabsorve elementos do que po-de ser ouvido no Sertão e noAgreste: emboladas, aboios,redondilhas, etc.

“De toda a musicalidadedo Nordeste, o que mais me

interessa é a influência ibéri-ca nas canções. Trabalhei is-so, mas de forma intuitiva”.

E para quem não concor-da com disponibilização gra-tuita de músicas via novas tec-nologias, Makely dá um reca-do: “Até o início do século XX,guardávamos as músicas pe-la memória. A gravação damúsica tem pouco mais decem anos, pouco tempo per-to da história da humanida-de. Ou seja, não importa o su-porte pelo qual você ouveuma música, mas ela em si”.Show de Makely Ka na Casa Una de Cultura(Rua Aimorés, 1451, 2º andar), hoje, às 21horas. Entrada franca.

Angelina e sua ilustre companhia: a atriz, ao lado de Jack Black, deu o ar da graça em Cannes

AFP PHOTO / MARTIN BUREAU

“Cavalo Motor” será mostrado hoje,em show na Casa Una de Cultura

Cor vermelha épredominante

Emily Browning: papel polêmico em “Sleeping Beauty”

MICHELLE SOARES/DIVULGAÇÃO

Os atores Ezra Miller e TildaSwinton: tema atualíssimo

Makely Ka: infuência das músicas nordestina e ibérica

AFP PHOTO / GUILLAUME BAPTISTE

MakelyKalançadiscoemIPodscelulares

AFP PHOTO / VALERY HACHE

CURTAS

Além de músicas, oaplicativo criado porMakely disponibilizavídeos, letras, fichastécnicas e uma rádio

“O mal dentrodas pessoas”

HOJE EM DIA - BELO HORIZONTE, SEXTA-FEIRA, 13/5/2011

2Cultura

Teve Angelina Jolie, linda,lançando “Kung Fu Panda 2”, paragarantir o momento relax... Mas éa palavra polêmica que mais seadapta aos filmes já exibidos noFestival de Cannes. A começar de“Sleeping Beauty”, protagoniza-do por Emily Browning, o primeiroda mostra competitiva, ou “WeNeed to Talk about Kevin”, de Lyn-ne Ramsay, o segundo. Dois fil-mes que dialogam entre si. No pri-meiro, uma garota entra para umairmandade secreta - de acordocom Luiz Carlos Merten, da Agên-cia Estado, meio “De Olhos bemFechados”, de Stanley Kubrick.Ela dorme, é abusada por velhos(mas sem penetração), acorda e écomo se não houvesse ocorridonada. Nada? Os danos são muitomais (pro)fundos. Por que a garotaaceita fazer esse jogo? Não é pordinheiro, porque ela queima as no-tas que recebe por seu “trabalho”.Lynne Ramsay também não expli-ca por que Kevin faz o irremediá-vel em seu filme, deixando semresposta a pergunta que a mãe(Tilda Swinton) faz ao garoto, masKevin é aquilo que se chamaria demente doentia, um “monstro”.

E segue: “É uma história de fa-mília. Algo muito trágico. Um pe-sadelo”. A cor vermelha, diz ela,“domina desde o início porque ve-jo os filmes na minha cabeça, an-tes de escrever o roteiro, sou vi-sual”, declarou Ramsay, cujo cur-ta-metragem de fim de estudos,“Small deaths”, ganhou em 1996o prêmio do júri em Cannes. “Nos-so filme não trata, como Elefante,de Gus Van Sant, do massacre emum colégio, e sim sobre uma famí-lia, sobre as relações entre mãe efilho”, explicou o roteiristaStewart Kinnear. “Kevin cresceem uma família de classe médianorte-americana. Tem tudo o quequer, mas acredita que não temum lugar no mundo. É muito inteli-gente e pensa que seus pais inter-pretam o papel de pais, que estãoatuando, que não são sinceros”,disse, por sua vez, Tilda Swinton.A atriz falou de sua maneira de en-carnar o personagem de Eva, quese sente desconcertada e perdidadesde o nascimento de Kevin, ummenino muito chorão e depois au-tista, violento, grosseiro. “Quan-do uma pessoa tem um filho sesente às vezes como se estivesseescrevendo uma carta que nuncaenviará a ele”, acrescentou.

“We need to talk about Ke-vin” conta a história de Eva (Til-da), mãe de Kevin, o jovem ameri-cano que um dia cometerá ummassacre em seu colégio, e estre-meceu Cannes. Baseado no bem-sucedido romance da americanaLionel Shriver, “Precisamos falarsobre Kevin”, publicado pela In-trínseca no Brasil, o filme exploraa ambivalente relação entre Eva,que talvez não desejasse ser mãe,e o filho Kevin, muito mimado equem, ao que parece, nasceu cominstintos ruins. A história começadurante uma “tomatada” em al-gum lugar da Espanha, na épocaem que Eva é ainda uma escritoraviajante, solteira e sem compro-missos. A partir desta “tomatada”violenta e sensual, a cor vermelhadomina o filme e prefigura o san-gue que será derramado por Ke-vin, interpretado pelo talentosoEzra Miller, em seu colégio de Con-necticut, poucos dias antes decompletar 16 anos. “Ficaria commuito medo de ser amigo de al-guém como Kevin. O mal vive den-tro das pessoas, devemos saberque somos capazes do bem e domal”, declarou Ezra Miller. “Todoo filme trata da culpa da mãe”, diza diretora Lynne Ramsay.

Filme sobre massacre faz Cannes estremecer

CINTHYA OLIVEIRA

REPÓRTER

Grande defensor da flexi-bilidade da Lei dos DireitosAutorais e antenado a novida-des tecnológicas, Makely Kadecidiu fazer um lançamentototalmente inusitado paraseu segundo disco, “CavaloMotor”. O público poderáconferir essas músicas novi-nhas em um show que aconte-ce hoje, na Casa Una.

O novo trabalho foi dispo-nibilizado ao público por meiodeum aplicativoparatelefoniamóveleIPods.Quemfizerodo-wnload do programa terá, emseu celular, além das músicasrecentes, letras, fichas técni-cas, vídeos e as canções do dis-coanterior,“Autófago”.

Quem se interessar porpassar esse conteúdo para oaparelho móvel, também teráacesso a uma rádio, onde sãoexecutas mais de 70 composi-ções de Makely, interpreta-das por outros artistas, comoNá Ozzetti, Alda Rezende, Ti-tane, Chico Saraiva, KristoffSilva e Aline Calixto.

Por enquanto, estão dis-ponibilizadas apenas quatromúsicas do álbum – que terá12 no total. “Quando a pessoavai usar o aplicativo, eu peçoum cadastro, com alguns da-dos socioculturais da pessoa.Assim, ela vai receber automa-ticamente as outras músicascom o passar do tempo e eupoderei fazer ações mais dire-cionadas, de acordo com operfil de cada um”, explicaMakely Ka, que deve disponi-bilizar o álbum completo atémeados de julho.

Por enquanto, o artistanão sabe dizer se irá disponi-bilizar “Cavalo Motor” pormeio de CDs físicos conven-cionais. “Queremos primeira-

mente trabalhar essa distri-buição via aplicativo, mas ébem possível que eu não façao CD físico”, diz o artista, quedepois de Belo Horizonte, oartista segue para quatrocapi-tais nordestinas – Salvador,Maceió, Recife e Natal.

Em “Cavalo Motor”, o mú-sico apresenta sua principalinfluência: a música nordesti-na. Nascido no Piauí e criadono interior de Minas, Makelyabsorve elementos do que po-de ser ouvido no Sertão e noAgreste: emboladas, aboios,redondilhas, etc.

“De toda a musicalidadedo Nordeste, o que mais me

interessa é a influência ibéri-ca nas canções. Trabalhei is-so, mas de forma intuitiva”.

E para quem não concor-da com disponibilização gra-tuita de músicas via novas tec-nologias, Makely dá um reca-do: “Até o início do século XX,guardávamos as músicas pe-la memória. A gravação damúsica tem pouco mais decem anos, pouco tempo per-to da história da humanida-de. Ou seja, não importa o su-porte pelo qual você ouveuma música, mas ela em si”.Show de Makely Ka na Casa Una de Cultura(Rua Aimorés, 1451, 2º andar), hoje, às 21horas. Entrada franca.

Angelina e sua ilustre companhia: a atriz, ao lado de Jack Black, deu o ar da graça em Cannes

AFP PHOTO / MARTIN BUREAU

“Cavalo Motor” será mostrado hoje,em show na Casa Una de Cultura

Cor vermelha épredominante

Emily Browning: papel polêmico em “Sleeping Beauty”

MICHELLE SOARES/DIVULGAÇÃO

Os atores Ezra Miller e TildaSwinton: tema atualíssimo

Makely Ka: infuência das músicas nordestina e ibérica

AFP PHOTO / GUILLAUME BAPTISTE

MakelyKalançadiscoemIPodscelulares

AFP PHOTO / VALERY HACHE

CURTAS

Além de músicas, oaplicativo criado porMakely disponibilizavídeos, letras, fichastécnicas e uma rádio

“O mal dentrodas pessoas”

HOJE EM DIA - BELO HORIZONTE, SEXTA-FEIRA, 13/5/2011

2Cultura

Teve Angelina Jolie, linda,lançando “Kung Fu Panda 2”, paragarantir o momento relax... Mas éa palavra polêmica que mais seadapta aos filmes já exibidos noFestival de Cannes. A começar de“Sleeping Beauty”, protagoniza-do por Emily Browning, o primeiroda mostra competitiva, ou “WeNeed to Talk about Kevin”, de Lyn-ne Ramsay, o segundo. Dois fil-mes que dialogam entre si. No pri-meiro, uma garota entra para umairmandade secreta - de acordocom Luiz Carlos Merten, da Agên-cia Estado, meio “De Olhos bemFechados”, de Stanley Kubrick.Ela dorme, é abusada por velhos(mas sem penetração), acorda e écomo se não houvesse ocorridonada. Nada? Os danos são muitomais (pro)fundos. Por que a garotaaceita fazer esse jogo? Não é pordinheiro, porque ela queima as no-tas que recebe por seu “trabalho”.Lynne Ramsay também não expli-ca por que Kevin faz o irremediá-vel em seu filme, deixando semresposta a pergunta que a mãe(Tilda Swinton) faz ao garoto, masKevin é aquilo que se chamaria demente doentia, um “monstro”.

E segue: “É uma história de fa-mília. Algo muito trágico. Um pe-sadelo”. A cor vermelha, diz ela,“domina desde o início porque ve-jo os filmes na minha cabeça, an-tes de escrever o roteiro, sou vi-sual”, declarou Ramsay, cujo cur-ta-metragem de fim de estudos,“Small deaths”, ganhou em 1996o prêmio do júri em Cannes. “Nos-so filme não trata, como Elefante,de Gus Van Sant, do massacre emum colégio, e sim sobre uma famí-lia, sobre as relações entre mãe efilho”, explicou o roteiristaStewart Kinnear. “Kevin cresceem uma família de classe médianorte-americana. Tem tudo o quequer, mas acredita que não temum lugar no mundo. É muito inteli-gente e pensa que seus pais inter-pretam o papel de pais, que estãoatuando, que não são sinceros”,disse, por sua vez, Tilda Swinton.A atriz falou de sua maneira de en-carnar o personagem de Eva, quese sente desconcertada e perdidadesde o nascimento de Kevin, ummenino muito chorão e depois au-tista, violento, grosseiro. “Quan-do uma pessoa tem um filho sesente às vezes como se estivesseescrevendo uma carta que nuncaenviará a ele”, acrescentou.

“We need to talk about Ke-vin” conta a história de Eva (Til-da), mãe de Kevin, o jovem ameri-cano que um dia cometerá ummassacre em seu colégio, e estre-meceu Cannes. Baseado no bem-sucedido romance da americanaLionel Shriver, “Precisamos falarsobre Kevin”, publicado pela In-trínseca no Brasil, o filme exploraa ambivalente relação entre Eva,que talvez não desejasse ser mãe,e o filho Kevin, muito mimado equem, ao que parece, nasceu cominstintos ruins. A história começadurante uma “tomatada” em al-gum lugar da Espanha, na épocaem que Eva é ainda uma escritoraviajante, solteira e sem compro-missos. A partir desta “tomatada”violenta e sensual, a cor vermelhadomina o filme e prefigura o san-gue que será derramado por Ke-vin, interpretado pelo talentosoEzra Miller, em seu colégio de Con-necticut, poucos dias antes decompletar 16 anos. “Ficaria commuito medo de ser amigo de al-guém como Kevin. O mal vive den-tro das pessoas, devemos saberque somos capazes do bem e domal”, declarou Ezra Miller. “Todoo filme trata da culpa da mãe”, diza diretora Lynne Ramsay.

Filme sobre massacre faz Cannes estremecer

CINTHYA OLIVEIRA

REPÓRTER

Grande defensor da flexi-bilidade da Lei dos DireitosAutorais e antenado a novida-des tecnológicas, Makely Kadecidiu fazer um lançamentototalmente inusitado paraseu segundo disco, “CavaloMotor”. O público poderáconferir essas músicas novi-nhas em um show que aconte-ce hoje, na Casa Una.

O novo trabalho foi dispo-nibilizado ao público por meiodeum aplicativoparatelefoniamóveleIPods.Quemfizerodo-wnload do programa terá, emseu celular, além das músicasrecentes, letras, fichas técni-cas, vídeos e as canções do dis-coanterior,“Autófago”.

Quem se interessar porpassar esse conteúdo para oaparelho móvel, também teráacesso a uma rádio, onde sãoexecutas mais de 70 composi-ções de Makely, interpreta-das por outros artistas, comoNá Ozzetti, Alda Rezende, Ti-tane, Chico Saraiva, KristoffSilva e Aline Calixto.

Por enquanto, estão dis-ponibilizadas apenas quatromúsicas do álbum – que terá12 no total. “Quando a pessoavai usar o aplicativo, eu peçoum cadastro, com alguns da-dos socioculturais da pessoa.Assim, ela vai receber automa-ticamente as outras músicascom o passar do tempo e eupoderei fazer ações mais dire-cionadas, de acordo com operfil de cada um”, explicaMakely Ka, que deve disponi-bilizar o álbum completo atémeados de julho.

Por enquanto, o artistanão sabe dizer se irá disponi-bilizar “Cavalo Motor” pormeio de CDs físicos conven-cionais. “Queremos primeira-

mente trabalhar essa distri-buição via aplicativo, mas ébem possível que eu não façao CD físico”, diz o artista, quedepois de Belo Horizonte, oartista segue para quatrocapi-tais nordestinas – Salvador,Maceió, Recife e Natal.

Em “Cavalo Motor”, o mú-sico apresenta sua principalinfluência: a música nordesti-na. Nascido no Piauí e criadono interior de Minas, Makelyabsorve elementos do que po-de ser ouvido no Sertão e noAgreste: emboladas, aboios,redondilhas, etc.

“De toda a musicalidadedo Nordeste, o que mais me

interessa é a influência ibéri-ca nas canções. Trabalhei is-so, mas de forma intuitiva”.

E para quem não concor-da com disponibilização gra-tuita de músicas via novas tec-nologias, Makely dá um reca-do: “Até o início do século XX,guardávamos as músicas pe-la memória. A gravação damúsica tem pouco mais decem anos, pouco tempo per-to da história da humanida-de. Ou seja, não importa o su-porte pelo qual você ouveuma música, mas ela em si”.Show de Makely Ka na Casa Una de Cultura(Rua Aimorés, 1451, 2º andar), hoje, às 21horas. Entrada franca.

Angelina e sua ilustre companhia: a atriz, ao lado de Jack Black, deu o ar da graça em Cannes

AFP PHOTO / MARTIN BUREAU

“Cavalo Motor” será mostrado hoje,em show na Casa Una de Cultura

Cor vermelha épredominante

Emily Browning: papel polêmico em “Sleeping Beauty”

MICHELLE SOARES/DIVULGAÇÃO

Os atores Ezra Miller e TildaSwinton: tema atualíssimo

Makely Ka: infuência das músicas nordestina e ibérica

AFP PHOTO / GUILLAUME BAPTISTE

MakelyKalançadiscoemIPodscelulares

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CURTAS

Além de músicas, oaplicativo criado porMakely disponibilizavídeos, letras, fichastécnicas e uma rádio

“O mal dentrodas pessoas”

HOJE EM DIA - BELO HORIZONTE, SEXTA-FEIRA, 13/5/2011

2Cultura

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Algumas cidades do percursoSete LagoasSão RomãoRio PardoMonte AzulGrão-MogolBrasília de MinasLassance

São FranciscoCorintoItacambiraSão Gonçalo do AbaetéParacatuCarinhanhaJanuária

¬ DANIEL BARBOSA

¬ Projeto que já vem sen-do divulgado pela internethá algum tempo, “CavaloMotor no Grande Sertão”vai levar o cantor e compo-sitor Makely Ka por umaviagem que pretende refa-zer os caminhos que o per-sonagem Riobaldo Tatara-na, do livro “Grande Ser-tão: Veredas”, de Guima-rães Rosa, percorre pelosinteriores de Minas Gerais.A empreitada, que terá iní-cio na próxima sexta-feira,vai gerar vários resultados.Um deles, que na verdadeé o mote do projeto, é afinalização de seu novo ál-bum, “Cavalo Motor”, cujoconceito se desdobrou na

viagem pelo “Grande Ser-tão”.

“Minha ideia com o ‘Ca-valo Motor’ é trabalhar a re-ferência da música nordesti-na, que é grande na minhaobra, com a da música mi-neira”, diz o músico, que vaicumprir de bicicleta o traje-to, estimado em 1.800km, aser realizado num prazo deaproximadamente 40 dias.“A ideia de viajar de bicicle-ta tem a ver justamente comessa coisa da relação do ho-mem com a máquina, do ca-valo motor”, completa.

Ele diz que elegeu a obra-prima de Guimarães Rosacomo guia dessa aventurapelas simbologias que o li-vro encerra e pela relação

dos biomas que constituemsuas paisagens com as in-fluências harmônicas e rít-micas que pretende abor-dar: o cerrado, pelo lado damusicalidade mineira, e acaatinga, pelo lado nordesti-no. “Fui buscar um sentidopara esse percurso que voucumprir no ‘Grande Sertão’

porque ali tem referênciasmuito fortes da música, dacultura, da linguagem, quesão elementos com os quaistrabalho, e também alusõesà vegetação, à política, en-fim, várias questões que pa-ra mim são importantes”,diz.

Cumprida uma etapa pré-

viagem, que consistiu emajustar o sertão mítico deGuimarães Rosa à topogra-fia da região, para reconsti-tuir os caminhos de Riobal-do, Makely pega a estradacom o intuito de fazer um re-gistro em tempo real, atra-vés do site do projeto, doque vivenciar ao longo dopercurso. Ao final do péri-plo terrestre, que correspon-de à primeira etapa do proje-to, vem a segunda: afinalização do disco.

“Já estou com 12 faixasgravadas. A ideia é trazer áu-dios, gravações das paisa-gens sonoras, e inserir algu-mas coisas no álbum. Preten-do usar esse material comotemas incidentais. Também

estamos negociando algu-mas participações”, diz.

A terceira etapa de “Ca-valo Motor no Grande Ser-tão” são dois shows de lan-çamento do disco, em BeloHorizonte e São Paulo,com projeções de imagense outros elementos coleta-dos durante a viagem. Aquarta e última etapa é olançamento de um livrocom textos, fotos e mapasdo percurso cumprido debicicleta.

Para cobrir os custos daempreitada, Makely optoupela captação via cro-wdfunding. O sistema, jáaberto a doações, pode seracessado pelo site make-lyka.com.br.

Refazendo as trilhas de Rosa

¬ CARLOS ANDREI SIQUARA

¬ Nos próximos quatrodias, de quinta-feira a do-mingo, a cultura tradicionaldos violeiros, dos mestresde congado e dos cantado-res ganhará destaque emChapada Gaúcha, cidade lo-calizada no Norte de Minas,onde será realizado o XI En-contro dos Povos do GrandeSertão Veredas.

Idealizado em 2001 pelaONG Funatura – FundaçãoPró-Natureza, o evento temcomo principal característi-ca a ideia de aliar o momen-to de celebração com a trocade experiências. A partir des-se objetivo, serão realizadasoficinas, apresentações demúsica e dança, além de exi-bições de filmes, como “Mu-tum”, de Sandra Kogut, elançamentos de livros, den-

tre outras atividades.Para Danielle Alves, coor-

denadora do projeto queabraçou a festa neste ano, aprogramação é construídajustamente para possibilitaraos participantes, a maioriahabitante de regiões rurais,a oportunidade de travardiálogos com outras práti-cas e conhecimentos.

“A proposta é maior doque a de um festival, quea p e n a s p r o m o v e a‘espetacularização’ dos gru-pos. Por isso, o termo en-contro é a melhor palavrapara caracterizar o evento.A ideia é que o momento se-ja propício a essas trocasque acontecem em muitosníveis, na esfera cultural,educacional e socioambien-tal também”, observa Da-nielle Alves.

Embora mantenha pon-tos comuns com as ediçõespredecessoras, como o foconas manifestações popula-res, Danielle ressalta que,neste ano, o programa rece-beu maior investimento, oque permitiu o desenvolvi-mento de uma estruturamais sólida e com algumasnovidades.

“Uma das mudanças é aredução da altura do palco,que agora terá apenas ummetro. Isso facilita o inter-câmbio entre os artistas e opúblico. Outra novidade é ainstalação de uma lona decirco com caracterização daarte popular mambembeque já circulou muitas ve-zes por aqui, mas agora é ca-da vez mais difícil recebermanifestações do tipo nes-sas cidades. Por fim, opta-mos por fazer um grandecortejo de folia de reis, emvez de apresentações sepa-radas das folias”, relata acoordenadora.

Agenda

O QUÊ. XI Encontro dos Povos doGrande Sertão Veredas

QUANDO. De amanhã a domingoONDE. Chapada Gaúcha. Gratuito.

Projeto

Trilhas. MakelyTrilhas. Makely

tem pedalado portem pedalado por

trilhas próximas atrilhas próximas a

BH, como parteBH, como parte

dos preparativosdos preparativos

para a viagempara a viagem

RAYZ

ALÉ

LIS

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ULG

AÇÃO

Festa. XI Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas tem início amanhã no município de Chapada Gaúcha

Inscrições

Em contato com as vertentes da cultura popular

Informações sobreparticipação em oficinas,como dança, contação dehistórias e outras ações,telefone (38) 3634-1463.

Programação completa:rosaesertao.blogspot.com.br

De bicicleta, Makely Ka vai percorrer os cenários de “Grande Sertão: Veredas” para balizar conceito de novo disco

O filme “Mutum” (2007) estreará o projeto Cinema da Praça

VIDEOFILMES/DIVULGAÇÃO

Jornal OTEMPO em 11/07/2012

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[email protected]

O cantor e compositorMakelyKaapresenta,ho-je, no Sesc Palladium, oshow “Presente de Gre-go”. Uma prévia do queele mostra neste mês naWomex – World MusicExpo, realizada na cida-de grega Tessalônica.Emsua18ªedição, essaéa mais importante feirainternacional de música,dedicada a artistas e pro-fissionais do meio.O fundador e conse-

lheiro da Cooperativada Música de Minas(Comum) foi seleciona-do, por um júri interna-cional, para represen-tar Minas na Womex2012. É a primeira vezemque oProgramaMú-sica Minas investe emshowcasesdentro da fei-ra itinerante.

CAVALOMOTORNoálbumquevemcons-truindo há cerca dedois anos, Makely trazelementos da tradiçãopopular e oral do Nor-deste, como cirandas,trava-línguas, cocos eemboladas fundamen-tados emestruturasmo-dais amalgamados commétodos modernos deconstrução melódica epoética. Tudo a partirda incorporação de ele-mentos do que ficou co-nhecido como escolaharmônica mineira.Makely é de Valença,

no Piauí, mas veio paraBarãodeCocais com trêsanos.Mesmo sendo cria-do emMinas, a presençanordestinada família pa-terna sempre foi muitoforte. “O ‘Cavalo Motor’traz duas referências: areligiosidademineira e a

cultura ibérica do Nordes-te. É o cerrado e a caatin-ga, amúsicaveionopontode interseção dessas duasvegetaçõesqueéachama-da carrasco”, observa.

AVIAGEMMakely partiu do córregodo Batistério, próximo aomunicípio de Várzea daPalma, e seguiu até o Pa-redão de Minas, distritode Buritizeiro, passandopela divisa com a Bahia eGoiás. Foram 1680 quilô-metros percorridos de bi-cicleta, até chegar aoPiauí. A ideia era identifi-car os elementos que eleincluía em sua música.Aodisseia,quedurou47

dias, trouxe experiênciasúnicas. Fora os apertosque passou – como quan-do quebrou a bicicleta nomeio do sertão e uma boa

almaquepassavademotolhe tirou a ideia de acam-parpor láporcausadapre-sença de onças –, Makelypôdeouvir sons das entra-nhasdanatureza. “Eubus-cava a representação deMinas e do Nordeste emminha música e percebique ela estava no carras-co”, metaforiza.Registrada emáudio, ví-

deo e fotos, a viagem ser-vecomofonteparaomate-rial do disco e para os sho-ws (esta noite, as imagensserão projetadas).Aviagempôdesermoni-

torada em tempo real pe-los internautas por meio

de uma ferramenta degeolocalização espacial.“Passei por lugares inima-gináveis, com realidadescompletamentediferentesdoqueestamosacostuma-dos”. Detalhe: a energiaque alimentou o laptopera gerada a partir das pe-daladas dele.O resultado da emprei-

tada será mote de umapalestra no King’s Colle-ge em Londres, tambémneste mês. !Show“PresentedeGrego”,de

MakelyKa.Hoje,às20h,noSescPalladium(Av.AugustodeLima,420,Centro-fone:3214-5350).

R$20eR$10(meia)

ALÉMDISSO

OsmúsicosThiagoCorrea(foto)eGustavoAmaralsãoosconvidadosdestasemanadaMostraCantautores.Elesseapresentamhoje,apartirdas22h,naCasaUnadeCultura(RuaAimorés,1451,Lourdes).Aentradaégratuita.Masatenção:são60lugareseoingressodeveserretiradoumahoraantes.AMostravisaapromoveredestacarotrabalhodecompositoresquetambémsedividemnafunçãodeintérpretesdesuasmúsicas.Aideiaéreunirartistasinicianteseveteranosdaatualcenamusical.Asériedeencontros,iniciadosemsetembro,marcaolançamentodaprimeiracoletânea.

Aprogramação,sempreàssextas-feiras,ofereceumamplopanoramadocenáriomusicalcontemporâneo,marcadopeladiversidadedeestilos,gêneros,técnicaseabordagens.Dia19,quemseapresentaéRafaelMartini(BH)eFlávioTris(SP).Dia26,éavezdeSaraNãoTemNome(BH)ePedroCarneiro(RJ).Nestamesmadataserádivulgadaaprogramaçãodasegundaediçãodamostra,queserárealizadaemnovembronoTeatroEspanca!(RuaAarãoReis,542,Centro),comnomescomoEdgardoCardozo(Argentina)eLéoCavalcanti(SP).Outrasinformaçõesnowww.mostracantautores.com.br.

Antes de embarcar para aGrécia,MakelyKa canta emBH

CasaUna

recebeMostra

Cantautores

!> Músico representaráMinas na 18ª edição daWomex, que acontece estemês emTessalônica

!>

!> Elemostra imagens registradas durante viagempelo sertão, realizada de bicicleta

MakelyKa(vozeviolão)dividiráopalcohoje comRodrigoTorino (violade 10cordas, ukulelêevocal),RafaelAzevedo (violãoaço,baixolãoevocal),AlcioneOliveira(percussão),YuriVellasco (percussão)eUlissesMoisés (MPCeefeitos)

ANNA LARA

GUIMARÃESROSA-MakelyKarefez,debicicleta,ocaminhodopersonagemRiobaldoTatarana, em“GrandeSertão:Veredas”;aviagemfoi registradaemáudio, vídeoe fotos,utilizadosnonovodiscoenos showsdoartista

DIVULGAÇÃO

hojeemdia.com.br 05BeloHorizonte,sexta-feira,5.10.2012

HOJEEMDIACultura

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CDIVULGAÇÃO

BELOHORIZONTETERÇA-FEIRA,23.10.2012

Editor:CarlosÁ[email protected]

CULTURAHOJE

MAKELI:MAKELI:dosertãodosertãoparaoparaomundomundo

Cantorecompositor seapresentanaGrécia. Páginas2e3

Page 10: SÁB ADO , 2 4 D E M AIO DE 2014 ões brasileiras,a mericanas ã …makelyka.com.br/wp-content/uploads/2015/07/Clipping-Makely-Ka-10M.pdf · EM ESTADO DE MINAS SÁB ADO ,2 4D EM AIO

Desde o seu lançamen-to, em 2009, o progra-ma “Música Minas” be-neficiou cercade740ar-tistas, por meio de 173propostas selecionadaspelos seus editais.A iniciativa levoumi-

neiros a importantesf e s t i va i s , cu r sos eeventos no mundo,além de ter realizadoações de representa-ção em feiras interna-cionais de música co-mo: Womex (Cope-nhague/Dinamarca),BAFIM (Buenos Aires/Argentina), CMJ Mu-sic Marathon (NovaYork/EUA), CMW - Ca-nadian Music Week(Toronto/Canadá),Mercado daMúsica Vi-va De Vic (Espanha),Culturgal - Feiras dasIndústrias Culturais

da Galícia (Pontevedra/Espanha), entre outras.O “MúsicaMinas” é rea-

lizado por meio da parce-ria firmada entre o poderpúblico, representado pe-la Secretária de Estado deCultura e a sociedade ci-vil, na figura do FórumdaMúsica de Minas Gerais,queuneentidades organi-zadas e representativas damúsica como a AAMUCE(Associação dos AmigosdoMuseu Clube da Esqui-na), COMUM (Cooperati-va da Música de Minas),FEM (Fora do Eixo Mi-nas), Grupo CulturalNUC, Rede Catitu, SIM(Sociedade Independenteda Música) e VALE MAIS(InstitutoSociocultural doJequitinhonha). lAcesseoseditaisesaibamais

sobreoprogramanowww.musicaminas.com

Makely Ka realizou umshow na Womex nummomento especial desua carreira. Após qua-tro anos de envolvimen-to com políticas públi-cas (Fórum da Músicade Minas, Cooperativados Músicos de Minas,entreoutros), decidiu seconcentrar novamenteao seu trabalhomusical.Viajou por mais de 40

dias pelo sertão mineiroe levouaexperiênciapa-ra o palco, explorando alinguagem especial dasveredas roseanas.

“ARRISCADO”Em Tessalonica, contoucom Rodrigo Torino(viola de 10 cordas,ukulelê), Rafael Azeve-d o ( v i o l ã o a ç o ,baixolão), Alcione Alves(percussão),YuriVellas-co (percussão) e UlissesMoisés (MPC e efeitos).“Foi um show arrisca-

do porque trabalhei no-vidades no repertório,como a moda de viola‘Itinerário Tatarana’, fa-lando das cidades porquepassei durante avia-gem”, diz Makely Ka.“Os shows feitos naWo-mex surpreenderampornãoseguiremosarquéti-pos da música brasilei-ra.Nomeucaso, eu trou-xe comigo o sertão”.

CONVITESCom o trabalho feito naWomex este ano, Make-ly conquistou convitespara tocar no México,Holanda,Canadá,Portu-gal e França. Outros lu-gares onde ele po-derá exploraros caminhosdo “Cava loMotor”, umtrabalho mul-tiartístico queculminará emum disco, um li-vro e uma exposi-ção fotográfica.“Nesse momento, to-

da imprensaestá centra-da no Pará, que é o‘hype’ do momento.Mas o que estamos fa-zendo em Minas é dife-rente. É história. É umtrabalho gradativo deconstruçãodeuma cenamuito significativa”, afir-ma Makely, para quemos três showcases ti-nham uma identidademineira, mesmo sendorepresentantes de sono-ridades muito diferen-tes. “Nossa música nãoé classificável, mas to-dos identificam comode Minas”. (CO) l

*As passagens da repór-terforamcusteadaspeloEditaldeIntercâmbiodoProgramaMúsicaMinas

paraacoberturajornalísticadaWomex

Poder público esociedade civil unidosnoMúsicaMinas

Viagemsonora dosertão aTessalonica

ALÉMDISSO

Alémdanoitemineira,oBrasilestevemaisumavezrepresentadonaprogramaçãooficialdaWomex.Dessavez,quemsubiuaumdosprincipaispalcosfoioviolinistaRicardoHerz,queseapresentouaoladodeMichiRuzitschka(violãosetecordas)ePedroIto(bateriaepercussão).

AsmúsicasapresentadasfazempartedorepertóriodoúltimodiscodeHerz,“AquiÉMeuLá”,lançadoemjulhodesteano.Aformaespontâneaeanimadacomqueoinstrumentistainsereoviolinonamúsicabrasileiraconquistouaatençãodosprodutoresestrangeiros.

REVELAÇÃO-Makeli levousuasonoridademineira,embebidana linguagemroseana,atéopúblico internacional reunidonafeira realizadanaGrécia

l>

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EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Não

reco

men

dado

para

men

ores

de14

anos

.“Nossamúsica

não éclassificável,mas todosidentificam

como deMinas”

RICARDOHERZ–OmúsicoseapresentouaoladodeMichiRuzitschka(violãosetecordas)ePedroIto(bateriaepercussão)

DIVULGAÇÃO

SITE DO ARTISTA

hojeemdia.com.br 03BeloHorizonte,terça-feira,23.10.2012

HOJEEMDIACultura

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OGLOBO

CADERNOSEGUNDO FRANKFURT

INCERTEZASPOLÍTICASRONDAM AHOMENAGEM AOBRASIL EM 2013

pág. 10TERÇA-FEIRA 16.10.2012

oglobo.com.br

NETOS DOCLUBELEONARDOLICHOTE

[email protected]

Com levezamineira, o violonista e compo-sitor Thiago Delegado define:— Não somos mais os filhos do Clube

da Esquina, somos os netos, e neto tem sempremais liberdade e regalia. Isso nos dá oportuni-dade de experimentar mais, ousar mais, sem opeso de ser a continuidade desse movimentotão vitorioso e importante.Delegado fala da geração de músicos que flo-

resceu ao longo da última década emMinasGe-rais, sobretudo em Belo Horizonte, discreta-mente—comoque reafirmando omitomineiroda ação sem alarde. Artistas como ele próprio,Juliana Perdigão, Makely Ka, Graveola e o LixoPolifônico, César Lacerda e Luiza Brina, que si-lenciosamente começam a conquistar espaçono Brasil e fora dele — apenas como exemplos,o Graveola lança seuCDna Europa (atualmenteestá em turnê lá) e, ao lado de Delegado eMakely Ka, integra uma noite mineira na Wo-mex, uma das mais importantes feiras de músi-ca do mundo, realizada entre hoje e o dia 21.A cena é ampla e inclui a crueza rock doHell’s

Kitchen Project e o rap positivo de Flávio Rene-gado.Mas a cena dentro da cena de que trata es-ta reportagem é a dos herdeiros da tradição har-mônica tão desafiadora quanto bela, do olharque vê o pop alémde sua superfície—dos netosdo Clube da Esquina, enfim. As característicasde cada um são bem marcadas, mas os artistastratados aqui — e que representam outros tan-tos — se aproximam na forma como abordam amúsica popular. Respeitam os avós e mostramque aprenderam suas lições musicais, masolhampara frente com a consciência de que na-da será como antes amanhã.—Háumequilíbriomuito sutil entre vanguar-

da e tradição na engenharia de construção deuma canção. Apresentar alguma inovação e ain-da assim dialogar com a tradição me parecemuito mais arrojado do que simplesmente umaousadia formal gratuita, sem referências —acredita Makely, que avalia o papel da belezanessa nova música mineira. — Penso que hádois caminhos. Um deles é fácil, escorado emconvenções universalmente aceitas como be-las, melodias doces, harmonias funcionais, le-tras suaves. Essa beleza cansa rápido e não inte-ressa. A outra é a beleza difícil, que causa estra-nhamento, que deixa uma dúvida, que você vaipercebendo aos poucos, vai descobrindo emca-madas, vai se surpreendendo. Essa é a belezaque interessa. Talvez seja esse o nosso caminho,do equilíbrio formal e da beleza difícil.

DIÁLOGO COM UMA MINAS MÍTICAA clarinetista, cantora e compositora Juliana

Perdigão (integrante da Graveola e também dabanda de Tulipa Ruiz, além de ter uma carreirasolo), completa a ideia:— Aqui temmesmo uma certa busca pelo ca-

minho do esmero musical, da harmonia disso-nante, das melodias sinuosas, do domínio ins-trumental, das letras e arranjos plenos de nuan-ces. Percebo que a reverência aos clássicos jávem impregnada pela sua subversão.Há um diálogo com uma Minas mítica, que

engloba o Clube da Esquina — todos os entre-vistados têm consciência dessa dimensão econstroem seu discurso (e talvez sua música)um tanto a partir dela, seja para negá-la ouabraçá-la. Mas a atmosfera que emerge do some da fala deles é muito mais reveladora de umlugar contemporâneo. A Belo Horizonte deles éa dos músicos articulados em associações, coo-perativas e movimentos civis (como “Fora La-cerda”, contra o prefeito Márcio Lacerda, e

“Praia da Estação”, ocupação bem-humorada deuma área urbana para marcar uma posição so-bre a política de ocupação cultural de espaçospúblicos). Uma união que surgiu comum senti-do de sobrevivência numa cidade na qual, paraos músicos, parecia fundamental conhecer leisde incentivo, editais e saber afirmar seus pontosde vista perante o governo. Uma reinvenção dacidade, como aponta o compositor César Lacer-da, mineiro que mora no Rio há cinco anos:— Por uma deficiência a cidade precisou se

reinventar. Os músicos precisaram se unir a fimde criar um cenário possível. Consigo enxergardois grandes acontecimentos culturais em perí-odos distintos, ambos dialogando entre si. Pri-meiro: “A outra cidade”, disco-manifesto enca-beçado por Makely Ka, Pablo Castro e KristoffSilva lançado em 2002 com participação demais de 30 músicos. É o gesto que transforma acidade. É a primeira vez, depois do Clube da Es-quina, do pop e do metal dos anos 1990, quesurge uma geração comprometida com uma re-novação do cenário musical. Segundo: Praia daEstação e (o revitalizado) Carnaval de BH. Doismomentos de intensificação do gesto agregadorna cidade. É quando os coletivos, os artistas e asociedade se juntam demaneira lúdica a fim dediscutir na rua assuntos centrais na vida políticada cidade. A banda-coletivo Graveola e o LixoPolifônico tem papel central nestes momentos.O resultado éumaBeloHorizonte agregadora,

uma “roça grande”, como define Delegado:— Isso gera uma cumplicidade, uma troca de

ideias e agrega demais nomodo com a gente faza música acontecer. Todos nós nos conhece-mos, gravamos uns nos discos dos outros, troca-mos influências entre nós mesmos, e isso resul-ta numamúsica mais rica.

Cresce, e começaa ganhar espaço,uma geraçãoda músicamineira que unelições de Miltone cia. coma articulaçãoda BH de hoje

DIVULGAÇÃO/FLAVIA MAFRA

Continua na página seguinte

GRAVEOLA E O LIXO POLIFÔNICO (à esquerda)Idades: entre 25 e 33Discos: “Graveola e o Lixo Polifônico” (2009), “Um emeio” (2010) e “Eu preciso de um liquidificador”(2011/ 2012)Como se define: “Lúdico experimental, barrocobeat,boa música e péssimos cortes de cabelo, estética doplágio etc.”

MAKELY KAIdade: 37Discos: “A outra cidade” (2003), “Danaide” (2006),“Autófago” (2008), “Cavalo motor” (aplicativo paracelulares e tablets, 2012)Como se define: “Minha música é um produto con-traindustrial para médios e pequenos públicos”

JULIANA PERDIGÃOIdade: 33Discos: “Álbum desconhecido” (2012), solo. Já gravoucom grupos como Elefante Groove, A Outra Cidade,Proa e Graveola.Como se define: “As situações de risco me são caras,acho que a tática da cara a tapa não deixa de seruma escola”

THIAGO DELEGADOIdade: 29Discos: “Serra do Curral” (2010) e “Thiago DelegadoTrio ao vivo no Museu de Arte da Pampulha” (previstopara 2012)Como se define: “Cresci ouvindo samba e bossanova, me profissionalizei no choro e faço MúsicaInstrumental Brasileira”

CÉSAR LACERDAIdade: 25Discos: “César Lacerda” (EP, 2011), “Ouça de fone”,com Luiza Brina (2012). Em março dee 2013 lançaseu primeiro disco soloComo se define: “Não consigo definir minha música.Nem quero. Esse sentimento leviano me suspendeda barreira”

LUIZA BRINAIdade: 24Discos: “A toada vem é pelo vento”, com O Liquidifica-dor (2011), e “Ouça de fone”, com César Lacerda(2012)Como se define: “Canção. Regada de culturas popula-res, mundo contemporâneo, desarranjos, espirituali-dades e paixão”

UCaraacara

Uma ediçãoespecial só comnotas sobre anovela ‘AvenidaBrasil’, quetermina na sextaGente Boa pág. 3JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS

Product: OGloboSegundoCaderno PubDate: 16-10-2012 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_A User: Asimon Time: 10-15-2012 16:37 Color: CMYK

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2 l O GLOBO l SegundoCaderno l Terça-feira 16 .10 .2012

|PeloMundoDeBerlim

|

_CRISTINA RUIZ-KELLERSMANN

[email protected]_

Uma História conturbadaAniversário de cidade é um prato cheio parafestas populares, seja onde for. Em Berlimnão é diferente, ainda mais neste ano, emque a cidade está completando 775 anos.Apesar de não ser uma data “redonda”,recentes descobertas arqueológicas na áreacentral de Berlim virarammotivo parafestejar. Exposições ao ar livre convidam auma viagem à era medieval e à descobertadas origens da cidade.

A História de Berlim é um tanto conturbada,sempre foi. A começar pela data oficial desua fundação, que é incerta. Mas, mesmo

sabendo que o nome Berlim só vai aparecer anosdepois, vamos considerar que Berlim existe há pe-lo menos 775 anos.De fato, 1307 foi o ano em que dois pequenos

povoados, Berlim e Cölln — separados pelo RioSpree — foram reconhecidos oficialmente comoúnica cidade, chamada Berlim e agora protegidapor umamuralha. A jovem e pequena Berlim já ti-nha duas igrejas, duas prefeituras e dois merca-dos... parece que a vocação para cidade dupla é denascença.O 28 de outubro de 1237, sendo uma data arran-

jada, só se comemorou pela primeira vez no sécu-lo XX. Desde então, foram duas festas de aniversá-rio, em datas que marcam a história de Berlim.Uma cidade que começou da junção de duas, de-pois se separou de novo e há pouco mais de 20anos voltou a ser uma só.As comemorações dos 700 anos de Berlim, em

1937, começaram a ser planejadas na ressaca daPrimeira Guerra. Foi aí que se estabeleceu a dataoficial da fundação da cidade e o conceito para ojubileu de 700 anos. A ideia era uma festa para de-senvolver no berlinense um sentimento de identi-dade comum, já que a maioria da população erade imigrantes. Isso nãomudoumuito em centenasde anos de história.Porém, comaascensão donazismo, esse concei-

to perdeu o sentido. Hitler proclamou uma mega-comemoração militar para acontecer em agosto,um ano exato depois das Olimpíadas de 1936. Co-mopara o regime não interessava o passado prole-tário da cidade, valorizou-se o futuro, demolindoprédios históricos para dar espaço à Germaniaplanejada por Hitler e Albert Speer. Berlim muda-ria até de nome para se tornar a capital do Reich.Em 1962 omuro acabara de ser construído e não

houve festa. Coma cidade dividida e uma fronteiracontrolada, não tinha clima para comemorar. Em1987, 25 anos depois, cada uma das duas Berlinscomemorou os 750 anos do seu jeito. No Leste, sobo comando do regime comunista, houve um gran-de desfile patriótico, reconstruções de prédios his-tóricos, exposições. Do lado Oeste da cidade,acontecia um megaconcerto em frente ao Reichs-tag com Eurythmics, Genesis e David Bowie, quevoltava a Berlim alguns anos após sua temporadaresidindo na cidade, no final dos anos 1970. O pal-co ficava pertinho do Muro de Berlim, o que cau-sou uma grande confusão do lado de lá, já que aspessoas que se aproximavam da fronteira para ou-vir melhor o som eram dispersadas pela Stasi, apolícia da antiga República Democrática Alemã.Isso foi apenas dois anos antes do colapso do

muro. Os tempos hoje são outros. Ainda existempedaços do muro em algumas partes da cidade,mas nesta época de aniversário há um outromurocélebre na rota do turismo. É um pedaço damura-lha medieval da cidade, construída no século XIV.Fica entre aWaisenstraße e a Littenstraße. Ali per-to fica o Zum letzten Instanz, o restaurante maisantigo de Berlim, fundado em 1621. O local serviuuma lista enorme de personalidades através dostempos: de Napoleão Bonaparte a Charles Cha-plin. Ficou célebre nos anos 1920, foi destruído naSegunda Guerra e reaberto em 1963. Cozinha ale-mã com tradição.Berlimnão se destaca pela arquiteturamedieval.

Mas, desde que a cidade virou um canteiro deobras após a reunificação, escavações para cons-trução de prédios e ampliação das linhas demetrôvêm proporcionando grandes descobertas arque-ológicas. Na área da Petriplatz foram achadas asruínas de uma escola de latim e vigas de sustenta-ção de um porão que foi construído em 1212.Emumpercurso de apenas quatro quilômetros é

possível dar toda a volta na Berlim medieval, quefica a 2,5 de profundidade na área central da capi-tal, no bairroMitte. Outro destaque da exposição éum imenso mapa que foi pintado no chão da Sch-lossplatz, na Ilha dos Museus. Além de reproduziro mapa da cidade em escala 1:775, informa sobreas ondas de imigrantes que Berlim recebeu ao lon-go dos séculos e sua importância na história da ci-dade. O mapa é tão grande que os visitantes po-dem caminhar sobre os bairros, acompanhando ocrescimento de Berlim durante os oito séculos, eler histórias de estrangeiros que fizeram e fazemesta cidade ser especial. No dia 28, haverá umagrande festa popular para encerrar os festejos. l

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGOFELIPEHIRSCH

Pelomundo

FRANCISCOBOSCO

Pelomundo

HERMANOVIANNA

JOSÉMIGUELWISNIK

CAETANOVELOSO

CRISTINARUIZ

EDUARDOGRAÇA

BERLIM NOVA YORK

ANAPAULASOUSA

EDUARDOLEVYLOS ANGELES

LONDRES

NETOS DO CLUBE CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

A compositora Luiza Bri-na, que também morano Rio, dá exemplos:

— Neste ano foram lançadosdiscos como o do Thiakov, queapresenta influências de rock,blues e jazz; o da banda Uru-cum na Cara, que realiza pes-quisa sobre cultura popular,principalmente mineira; o doRafaelMartini, que transita en-tre a canção e a música instru-mental, com arranjos refina-dos; o do Gustavito, um axépolítico e psicodélico. É inte-ressante porque se você olharos encartes dos discos percebeuma grande interação entre osinstrumentistas e também en-tre os compositores.A recente aventura de

Makely no sertão mineiro —assim como seus frutos futuros— dão uma ideia da dimensãodessa diversidade. O composi-tor acaba de percorrer cerca de1.800 kmde bicicleta, acompa-nhando o percurso do perso-nagem Riobaldo, de “Grande

sertão: Veredas”, de GuimarãesRosa. No caminho, registrouvídeos, fotos e áudios que usa-rá em seu próximo disco, “Ca-valo motor”, e nos shows. Navolta, ele trouxe, além das gra-vações, uma lição fundamen-tal da geografia sertaneja.— A cartografia do sertão é

labiríntica emistura o real como imaginário, as informaçõessempre levavam a outros ca-minhos e eu sempreme perdianeles, apesar dos mapas, doGPS e das indicações. Isso re-flete a forma de aquelas pesso-as lidarem com o espaço, quenão passa pela racionalizaçãodas cidades planejadas, das vi-as pavimentadas, dessa civili-zação ordenada em coordena-das cartesianas. Às vezes umsinal quase imperceptível é de-terminante: um tronco marca-do, uma pedra, um pequenocurso d’água, que pode estarseco inclusive. Isso tende a serefletir na minha música nosdetalhes, um timbre inefável,

um som quase inaudível, deta-lhes que podem fazer o ouvin-te sair da trilha demarcada e seperder na audição. Para buscaresse impacto eu pretendo usaras gravações que realizei du-rante a viagem, as paisagenssonoras, as conversas, as rezas,mas também a participação detrês convidados que trabalhamcom esses elementos labirínti-cos: os grupos mineiros O Gri-vo eUakti e o guitarrista ameri-cano-brasileiro Arto Lindsay.

‘REGIÃO DE PASSAGEM’Entre o imaginário mineiro e

a realidade pragmática da polí-tica, portanto, se constrói essageração damúsica deMinas—um estado, como nota JoséLuis Braga, da Graveola e o Li-xo Polifônico, que faz divisacom outros cinco e é historica-mente “região de passagem”.— Claro, se há alguma refe-

rência que podemos chamaringenuamente de genuína, elaestá ancorada no “movimento

da esquina”. Mas, na realidade,as coisas estão bem mais mis-turadas e a cena musical mi-neira da atualidade está aí paraprovar essa confusão, quandoouvimos a harmonia mineiradialogando com o rock rural, acomplexidade de um arranjoinstrumental camerísticocomplicando a simplicidadedos três acordes de uma bala-da de rock. Talvez sejam essasMinas Gerais (e o nome do es-tado noplural émais um sinto-ma desta multiplicidade), tur-vas e rosianas, opacas e drum-mondianas, rurais e urbanas,corrompidas por diversos estí-mulos e influências ao longode sua história, as que maisutilizamos como referênciasem nossa música. A músicamineira pode parecer para omundouma coisa orgânica, re-gionalizada, homogênea, maspara nós ela não passa de umpedacinho desse mundo, coma vantagemde termos oMiltonNascimento, claro. l

MENESCALALÉM DA BOSSA NOVA

A rixa entre a bossa nova ea Jovem Guarda seguiafirme. Do lado da turma

do amor, do sorriso e da flor,Roberto Menescal testemu-nha, havia a indignação pelosucesso daquelamúsica consi-derada tão pobre. Do outro la-do, a reação, lembra o compo-sitor, estava expressa numa re-portagem que trazia RobertoCarlos, Erasmo Carlos e CarlosImperial sentados, com os péssobre a mesa, tranquilos, co-mendomaçãs, ao lado da fraseirônica: “Estamos muito preo-cupados com a bossa nova.”— Eles tiveram muito mais

sabedoria do que a gente —comenta Menescal, rindo.A história será lembrada ho-

je, no Teatro Net Rio, na aber-tura da série “Nas entrelinhasda MPB”, uma celebração dos75 anos de Menescal. Na data,o músico recebe Erasmo e Fer-nanda Takai — os encontros,de conversa regada a música evice-versa, continuamnos dias23 (comOswaldoMontenegro,

Wanda Sá e o grupo Bebossa) e30 (Alcione e Emílio Santiago).Mais que reunir curiosida-

des como essa, a série (quecontinua em 2013) lança luzsobre o Menescal que vai alémda bossa nova. Profundamenteidentificado com o gênero co-mo músico e compositor, ele otranscendeu sobretudo quan-do ocupou o posto de diretorartístico da Polygram (hojeUniversal). Lá, lançou artistascomo Raul Seixas, Alcione eSidney Magal e trabalhou coma nata da MPB da época: ElisRegina, Erasmo, Caetano Velo-so, Chico Buarque, Gal Costa...

‘TEM QUE IR TODO DIA?’Convidado para o cargo (noqual ficou entre 1970 e 1986)pelo amigo André Midani, en-tão presidente da gravadora,ele não fazia ideia do que faria:— Lembro de ter pergunta-

do: “Mas tem que ir todo dia?”Tinha. Um dos primeiros

grandes projetos — e um dosque mais se orgulha — é o dis-co “Elis”, de 1972. Assim queassumiu a produção do álbum,pediu a Elis ummês para sele-

cionar um repertório. A canto-ra reagiu com desconfiança:— Ela disse que já tinha um

repertório: “Duas do Chico,duas do Edu, duas do Caetano,duas do Gil...” Perguntei quemúsicas eram essas, ela res-pondeu que não sabia, mas iapedir. Argumentei que seriamelhor pesquisar, que eles po-diam não ter músicas boas na-quele momento. Ela ficou ca-breira. Mas separei umas 30,de artistas como João Bosco,Zé Rodrix, Vitor Martins —conta Menescal, lembrando areação de Elis quando o discoficou pronto. — Ouvimos jun-tos na casa dela. Ela ficou cala-da o tempo todo. Quando aca-bou, disse: “Sou foda esco-lhendo repertório.”Menescal tem créditos, co-

mo produtor ou diretor artísti-co da gravadora, emálbuns co-mo “Construção”, de Chico(“Resolvi peitar a ideia de ter‘Construção’, uma música deseteminutos, quando o forma-to das rádios era de três minu-tos”), o experimental “Araçáazul”, de Caetano (“Ele disse:‘Preciso fazer esse disco, sei

que não vai vender, mas é algoque tenho que fazer para mi-nha vida”), “Gal tropical”(“Sentia que ela tinha que lar-gar aquela coisa meio hippie epassar a ser vista como umamulher madura, bonita, comoDiana Ross”) e “Sidney Magal”(“Aprendemos que devíamosinvestir nos artistas populareso mesmo que dávamos paraChico, usando músicos bons,arranjos bacanas, porqueeram eles que sustentavam agravadora”).

‘NÃO SOU SAMBISTA, NÃO’No caso de Alcione, convidadada série no Net Rio, Menescalteve importância crucial:— Precisávamos de uma

cantora de samba, porque asoutras gravadoras já tinhamBeth Carvalho e Clara Nunes.Jair Rodrigues me falou deuma mulata bonita, com vozboa, mas que era mais do jazz.Quando falei com ela, ouvi:“Não sou sambista, não.” Con-venci-a a gravar uma demo,depois um disco. Acabou es-tourando e hoje é essa grandesambista. l

O compositor celebra 75 anos recebendo amigos a partir de hojena série ‘Nas entrelinhas da MPB’, que destaca o seu lado produtor

Roberto Menescal. O homem que lidou com a nata da MPB como diretor artístico da Polygram, de 1970 a 1986, vai relembrar suas histórias no Teatro Net Rio

CAMILLA MAIA

LEONARDOLICHOTE

[email protected]

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

Memórias.Omúsico comErasmo, comquem fez discoscomo “Mulher”,e Alcione, quese tornoucantora desamba porsugestão dele

Product: OGloboSegundoCaderno PubDate: 16-10-2012 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_B User: Asimon Time: 10-15-2012 16:37 Color: CMYK

2 l O GLOBO l SegundoCaderno l Terça-feira 16 .10 .2012

|PeloMundoDeBerlim

|

_CRISTINA RUIZ-KELLERSMANN

[email protected]_

Uma História conturbadaAniversário de cidade é um prato cheio parafestas populares, seja onde for. Em Berlimnão é diferente, ainda mais neste ano, emque a cidade está completando 775 anos.Apesar de não ser uma data “redonda”,recentes descobertas arqueológicas na áreacentral de Berlim virarammotivo parafestejar. Exposições ao ar livre convidam auma viagem à era medieval e à descobertadas origens da cidade.

A História de Berlim é um tanto conturbada,sempre foi. A começar pela data oficial desua fundação, que é incerta. Mas, mesmo

sabendo que o nome Berlim só vai aparecer anosdepois, vamos considerar que Berlim existe há pe-lo menos 775 anos.De fato, 1307 foi o ano em que dois pequenos

povoados, Berlim e Cölln — separados pelo RioSpree — foram reconhecidos oficialmente comoúnica cidade, chamada Berlim e agora protegidapor umamuralha. A jovem e pequena Berlim já ti-nha duas igrejas, duas prefeituras e dois merca-dos... parece que a vocação para cidade dupla é denascença.O 28 de outubro de 1237, sendo uma data arran-

jada, só se comemorou pela primeira vez no sécu-lo XX. Desde então, foram duas festas de aniversá-rio, em datas que marcam a história de Berlim.Uma cidade que começou da junção de duas, de-pois se separou de novo e há pouco mais de 20anos voltou a ser uma só.As comemorações dos 700 anos de Berlim, em

1937, começaram a ser planejadas na ressaca daPrimeira Guerra. Foi aí que se estabeleceu a dataoficial da fundação da cidade e o conceito para ojubileu de 700 anos. A ideia era uma festa para de-senvolver no berlinense um sentimento de identi-dade comum, já que a maioria da população erade imigrantes. Isso nãomudoumuito em centenasde anos de história.Porém, comaascensão donazismo, esse concei-

to perdeu o sentido. Hitler proclamou uma mega-comemoração militar para acontecer em agosto,um ano exato depois das Olimpíadas de 1936. Co-mopara o regime não interessava o passado prole-tário da cidade, valorizou-se o futuro, demolindoprédios históricos para dar espaço à Germaniaplanejada por Hitler e Albert Speer. Berlim muda-ria até de nome para se tornar a capital do Reich.Em 1962 omuro acabara de ser construído e não

houve festa. Coma cidade dividida e uma fronteiracontrolada, não tinha clima para comemorar. Em1987, 25 anos depois, cada uma das duas Berlinscomemorou os 750 anos do seu jeito. No Leste, sobo comando do regime comunista, houve um gran-de desfile patriótico, reconstruções de prédios his-tóricos, exposições. Do lado Oeste da cidade,acontecia um megaconcerto em frente ao Reichs-tag com Eurythmics, Genesis e David Bowie, quevoltava a Berlim alguns anos após sua temporadaresidindo na cidade, no final dos anos 1970. O pal-co ficava pertinho do Muro de Berlim, o que cau-sou uma grande confusão do lado de lá, já que aspessoas que se aproximavam da fronteira para ou-vir melhor o som eram dispersadas pela Stasi, apolícia da antiga República Democrática Alemã.Isso foi apenas dois anos antes do colapso do

muro. Os tempos hoje são outros. Ainda existempedaços do muro em algumas partes da cidade,mas nesta época de aniversário há um outromurocélebre na rota do turismo. É um pedaço damura-lha medieval da cidade, construída no século XIV.Fica entre aWaisenstraße e a Littenstraße. Ali per-to fica o Zum letzten Instanz, o restaurante maisantigo de Berlim, fundado em 1621. O local serviuuma lista enorme de personalidades através dostempos: de Napoleão Bonaparte a Charles Cha-plin. Ficou célebre nos anos 1920, foi destruído naSegunda Guerra e reaberto em 1963. Cozinha ale-mã com tradição.Berlimnão se destaca pela arquiteturamedieval.

Mas, desde que a cidade virou um canteiro deobras após a reunificação, escavações para cons-trução de prédios e ampliação das linhas demetrôvêm proporcionando grandes descobertas arque-ológicas. Na área da Petriplatz foram achadas asruínas de uma escola de latim e vigas de sustenta-ção de um porão que foi construído em 1212.Emumpercurso de apenas quatro quilômetros é

possível dar toda a volta na Berlim medieval, quefica a 2,5 de profundidade na área central da capi-tal, no bairroMitte. Outro destaque da exposição éum imenso mapa que foi pintado no chão da Sch-lossplatz, na Ilha dos Museus. Além de reproduziro mapa da cidade em escala 1:775, informa sobreas ondas de imigrantes que Berlim recebeu ao lon-go dos séculos e sua importância na história da ci-dade. O mapa é tão grande que os visitantes po-dem caminhar sobre os bairros, acompanhando ocrescimento de Berlim durante os oito séculos, eler histórias de estrangeiros que fizeram e fazemesta cidade ser especial. No dia 28, haverá umagrande festa popular para encerrar os festejos. l

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGOFELIPEHIRSCH

Pelomundo

FRANCISCOBOSCO

Pelomundo

HERMANOVIANNA

JOSÉMIGUELWISNIK

CAETANOVELOSO

CRISTINARUIZ

EDUARDOGRAÇA

BERLIM NOVA YORK

ANAPAULASOUSA

EDUARDOLEVYLOS ANGELES

LONDRES

NETOS DO CLUBE CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

A compositora Luiza Bri-na, que também morano Rio, dá exemplos:

— Neste ano foram lançadosdiscos como o do Thiakov, queapresenta influências de rock,blues e jazz; o da banda Uru-cum na Cara, que realiza pes-quisa sobre cultura popular,principalmente mineira; o doRafaelMartini, que transita en-tre a canção e a música instru-mental, com arranjos refina-dos; o do Gustavito, um axépolítico e psicodélico. É inte-ressante porque se você olharos encartes dos discos percebeuma grande interação entre osinstrumentistas e também en-tre os compositores.A recente aventura de

Makely no sertão mineiro —assim como seus frutos futuros— dão uma ideia da dimensãodessa diversidade. O composi-tor acaba de percorrer cerca de1.800 kmde bicicleta, acompa-nhando o percurso do perso-nagem Riobaldo, de “Grande

sertão: Veredas”, de GuimarãesRosa. No caminho, registrouvídeos, fotos e áudios que usa-rá em seu próximo disco, “Ca-valo motor”, e nos shows. Navolta, ele trouxe, além das gra-vações, uma lição fundamen-tal da geografia sertaneja.— A cartografia do sertão é

labiríntica emistura o real como imaginário, as informaçõessempre levavam a outros ca-minhos e eu sempreme perdianeles, apesar dos mapas, doGPS e das indicações. Isso re-flete a forma de aquelas pesso-as lidarem com o espaço, quenão passa pela racionalizaçãodas cidades planejadas, das vi-as pavimentadas, dessa civili-zação ordenada em coordena-das cartesianas. Às vezes umsinal quase imperceptível é de-terminante: um tronco marca-do, uma pedra, um pequenocurso d’água, que pode estarseco inclusive. Isso tende a serefletir na minha música nosdetalhes, um timbre inefável,

um som quase inaudível, deta-lhes que podem fazer o ouvin-te sair da trilha demarcada e seperder na audição. Para buscaresse impacto eu pretendo usaras gravações que realizei du-rante a viagem, as paisagenssonoras, as conversas, as rezas,mas também a participação detrês convidados que trabalhamcom esses elementos labirínti-cos: os grupos mineiros O Gri-vo eUakti e o guitarrista ameri-cano-brasileiro Arto Lindsay.

‘REGIÃO DE PASSAGEM’Entre o imaginário mineiro e

a realidade pragmática da polí-tica, portanto, se constrói essageração damúsica deMinas—um estado, como nota JoséLuis Braga, da Graveola e o Li-xo Polifônico, que faz divisacom outros cinco e é historica-mente “região de passagem”.— Claro, se há alguma refe-

rência que podemos chamaringenuamente de genuína, elaestá ancorada no “movimento

da esquina”. Mas, na realidade,as coisas estão bem mais mis-turadas e a cena musical mi-neira da atualidade está aí paraprovar essa confusão, quandoouvimos a harmonia mineiradialogando com o rock rural, acomplexidade de um arranjoinstrumental camerísticocomplicando a simplicidadedos três acordes de uma bala-da de rock. Talvez sejam essasMinas Gerais (e o nome do es-tado noplural émais um sinto-ma desta multiplicidade), tur-vas e rosianas, opacas e drum-mondianas, rurais e urbanas,corrompidas por diversos estí-mulos e influências ao longode sua história, as que maisutilizamos como referênciasem nossa música. A músicamineira pode parecer para omundouma coisa orgânica, re-gionalizada, homogênea, maspara nós ela não passa de umpedacinho desse mundo, coma vantagemde termos oMiltonNascimento, claro. l

MENESCALALÉM DA BOSSA NOVA

A rixa entre a bossa nova ea Jovem Guarda seguiafirme. Do lado da turma

do amor, do sorriso e da flor,Roberto Menescal testemu-nha, havia a indignação pelosucesso daquelamúsica consi-derada tão pobre. Do outro la-do, a reação, lembra o compo-sitor, estava expressa numa re-portagem que trazia RobertoCarlos, Erasmo Carlos e CarlosImperial sentados, com os péssobre a mesa, tranquilos, co-mendomaçãs, ao lado da fraseirônica: “Estamos muito preo-cupados com a bossa nova.”— Eles tiveram muito mais

sabedoria do que a gente —comenta Menescal, rindo.A história será lembrada ho-

je, no Teatro Net Rio, na aber-tura da série “Nas entrelinhasda MPB”, uma celebração dos75 anos de Menescal. Na data,o músico recebe Erasmo e Fer-nanda Takai — os encontros,de conversa regada a música evice-versa, continuamnos dias23 (comOswaldoMontenegro,

Wanda Sá e o grupo Bebossa) e30 (Alcione e Emílio Santiago).Mais que reunir curiosida-

des como essa, a série (quecontinua em 2013) lança luzsobre o Menescal que vai alémda bossa nova. Profundamenteidentificado com o gênero co-mo músico e compositor, ele otranscendeu sobretudo quan-do ocupou o posto de diretorartístico da Polygram (hojeUniversal). Lá, lançou artistascomo Raul Seixas, Alcione eSidney Magal e trabalhou coma nata da MPB da época: ElisRegina, Erasmo, Caetano Velo-so, Chico Buarque, Gal Costa...

‘TEM QUE IR TODO DIA?’Convidado para o cargo (noqual ficou entre 1970 e 1986)pelo amigo André Midani, en-tão presidente da gravadora,ele não fazia ideia do que faria:— Lembro de ter pergunta-

do: “Mas tem que ir todo dia?”Tinha. Um dos primeiros

grandes projetos — e um dosque mais se orgulha — é o dis-co “Elis”, de 1972. Assim queassumiu a produção do álbum,pediu a Elis ummês para sele-

cionar um repertório. A canto-ra reagiu com desconfiança:— Ela disse que já tinha um

repertório: “Duas do Chico,duas do Edu, duas do Caetano,duas do Gil...” Perguntei quemúsicas eram essas, ela res-pondeu que não sabia, mas iapedir. Argumentei que seriamelhor pesquisar, que eles po-diam não ter músicas boas na-quele momento. Ela ficou ca-breira. Mas separei umas 30,de artistas como João Bosco,Zé Rodrix, Vitor Martins —conta Menescal, lembrando areação de Elis quando o discoficou pronto. — Ouvimos jun-tos na casa dela. Ela ficou cala-da o tempo todo. Quando aca-bou, disse: “Sou foda esco-lhendo repertório.”Menescal tem créditos, co-

mo produtor ou diretor artísti-co da gravadora, emálbuns co-mo “Construção”, de Chico(“Resolvi peitar a ideia de ter‘Construção’, uma música deseteminutos, quando o forma-to das rádios era de três minu-tos”), o experimental “Araçáazul”, de Caetano (“Ele disse:‘Preciso fazer esse disco, sei

que não vai vender, mas é algoque tenho que fazer para mi-nha vida”), “Gal tropical”(“Sentia que ela tinha que lar-gar aquela coisa meio hippie epassar a ser vista como umamulher madura, bonita, comoDiana Ross”) e “Sidney Magal”(“Aprendemos que devíamosinvestir nos artistas populareso mesmo que dávamos paraChico, usando músicos bons,arranjos bacanas, porqueeram eles que sustentavam agravadora”).

‘NÃO SOU SAMBISTA, NÃO’No caso de Alcione, convidadada série no Net Rio, Menescalteve importância crucial:— Precisávamos de uma

cantora de samba, porque asoutras gravadoras já tinhamBeth Carvalho e Clara Nunes.Jair Rodrigues me falou deuma mulata bonita, com vozboa, mas que era mais do jazz.Quando falei com ela, ouvi:“Não sou sambista, não.” Con-venci-a a gravar uma demo,depois um disco. Acabou es-tourando e hoje é essa grandesambista. l

O compositor celebra 75 anos recebendo amigos a partir de hojena série ‘Nas entrelinhas da MPB’, que destaca o seu lado produtor

Roberto Menescal. O homem que lidou com a nata da MPB como diretor artístico da Polygram, de 1970 a 1986, vai relembrar suas histórias no Teatro Net Rio

CAMILLA MAIA

LEONARDOLICHOTE

[email protected]

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

Memórias.Omúsico comErasmo, comquem fez discoscomo “Mulher”,e Alcione, quese tornoucantora desamba porsugestão dele

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2 l O GLOBO l SegundoCaderno l Terça-feira 16 .10 .2012

|PeloMundoDeBerlim

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_CRISTINA RUIZ-KELLERSMANN

[email protected]_

Uma História conturbadaAniversário de cidade é um prato cheio parafestas populares, seja onde for. Em Berlimnão é diferente, ainda mais neste ano, emque a cidade está completando 775 anos.Apesar de não ser uma data “redonda”,recentes descobertas arqueológicas na áreacentral de Berlim virarammotivo parafestejar. Exposições ao ar livre convidam auma viagem à era medieval e à descobertadas origens da cidade.

A História de Berlim é um tanto conturbada,sempre foi. A começar pela data oficial desua fundação, que é incerta. Mas, mesmo

sabendo que o nome Berlim só vai aparecer anosdepois, vamos considerar que Berlim existe há pe-lo menos 775 anos.De fato, 1307 foi o ano em que dois pequenos

povoados, Berlim e Cölln — separados pelo RioSpree — foram reconhecidos oficialmente comoúnica cidade, chamada Berlim e agora protegidapor umamuralha. A jovem e pequena Berlim já ti-nha duas igrejas, duas prefeituras e dois merca-dos... parece que a vocação para cidade dupla é denascença.O 28 de outubro de 1237, sendo uma data arran-

jada, só se comemorou pela primeira vez no sécu-lo XX. Desde então, foram duas festas de aniversá-rio, em datas que marcam a história de Berlim.Uma cidade que começou da junção de duas, de-pois se separou de novo e há pouco mais de 20anos voltou a ser uma só.As comemorações dos 700 anos de Berlim, em

1937, começaram a ser planejadas na ressaca daPrimeira Guerra. Foi aí que se estabeleceu a dataoficial da fundação da cidade e o conceito para ojubileu de 700 anos. A ideia era uma festa para de-senvolver no berlinense um sentimento de identi-dade comum, já que a maioria da população erade imigrantes. Isso nãomudoumuito em centenasde anos de história.Porém, comaascensão donazismo, esse concei-

to perdeu o sentido. Hitler proclamou uma mega-comemoração militar para acontecer em agosto,um ano exato depois das Olimpíadas de 1936. Co-mopara o regime não interessava o passado prole-tário da cidade, valorizou-se o futuro, demolindoprédios históricos para dar espaço à Germaniaplanejada por Hitler e Albert Speer. Berlim muda-ria até de nome para se tornar a capital do Reich.Em 1962 omuro acabara de ser construído e não

houve festa. Coma cidade dividida e uma fronteiracontrolada, não tinha clima para comemorar. Em1987, 25 anos depois, cada uma das duas Berlinscomemorou os 750 anos do seu jeito. No Leste, sobo comando do regime comunista, houve um gran-de desfile patriótico, reconstruções de prédios his-tóricos, exposições. Do lado Oeste da cidade,acontecia um megaconcerto em frente ao Reichs-tag com Eurythmics, Genesis e David Bowie, quevoltava a Berlim alguns anos após sua temporadaresidindo na cidade, no final dos anos 1970. O pal-co ficava pertinho do Muro de Berlim, o que cau-sou uma grande confusão do lado de lá, já que aspessoas que se aproximavam da fronteira para ou-vir melhor o som eram dispersadas pela Stasi, apolícia da antiga República Democrática Alemã.Isso foi apenas dois anos antes do colapso do

muro. Os tempos hoje são outros. Ainda existempedaços do muro em algumas partes da cidade,mas nesta época de aniversário há um outromurocélebre na rota do turismo. É um pedaço damura-lha medieval da cidade, construída no século XIV.Fica entre aWaisenstraße e a Littenstraße. Ali per-to fica o Zum letzten Instanz, o restaurante maisantigo de Berlim, fundado em 1621. O local serviuuma lista enorme de personalidades através dostempos: de Napoleão Bonaparte a Charles Cha-plin. Ficou célebre nos anos 1920, foi destruído naSegunda Guerra e reaberto em 1963. Cozinha ale-mã com tradição.Berlimnão se destaca pela arquiteturamedieval.

Mas, desde que a cidade virou um canteiro deobras após a reunificação, escavações para cons-trução de prédios e ampliação das linhas demetrôvêm proporcionando grandes descobertas arque-ológicas. Na área da Petriplatz foram achadas asruínas de uma escola de latim e vigas de sustenta-ção de um porão que foi construído em 1212.Emumpercurso de apenas quatro quilômetros é

possível dar toda a volta na Berlim medieval, quefica a 2,5 de profundidade na área central da capi-tal, no bairroMitte. Outro destaque da exposição éum imenso mapa que foi pintado no chão da Sch-lossplatz, na Ilha dos Museus. Além de reproduziro mapa da cidade em escala 1:775, informa sobreas ondas de imigrantes que Berlim recebeu ao lon-go dos séculos e sua importância na história da ci-dade. O mapa é tão grande que os visitantes po-dem caminhar sobre os bairros, acompanhando ocrescimento de Berlim durante os oito séculos, eler histórias de estrangeiros que fizeram e fazemesta cidade ser especial. No dia 28, haverá umagrande festa popular para encerrar os festejos. l

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGOFELIPEHIRSCH

Pelomundo

FRANCISCOBOSCO

Pelomundo

HERMANOVIANNA

JOSÉMIGUELWISNIK

CAETANOVELOSO

CRISTINARUIZ

EDUARDOGRAÇA

BERLIM NOVA YORK

ANAPAULASOUSA

EDUARDOLEVYLOS ANGELES

LONDRES

NETOS DO CLUBE CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

A compositora Luiza Bri-na, que também morano Rio, dá exemplos:

— Neste ano foram lançadosdiscos como o do Thiakov, queapresenta influências de rock,blues e jazz; o da banda Uru-cum na Cara, que realiza pes-quisa sobre cultura popular,principalmente mineira; o doRafaelMartini, que transita en-tre a canção e a música instru-mental, com arranjos refina-dos; o do Gustavito, um axépolítico e psicodélico. É inte-ressante porque se você olharos encartes dos discos percebeuma grande interação entre osinstrumentistas e também en-tre os compositores.A recente aventura de

Makely no sertão mineiro —assim como seus frutos futuros— dão uma ideia da dimensãodessa diversidade. O composi-tor acaba de percorrer cerca de1.800 kmde bicicleta, acompa-nhando o percurso do perso-nagem Riobaldo, de “Grande

sertão: Veredas”, de GuimarãesRosa. No caminho, registrouvídeos, fotos e áudios que usa-rá em seu próximo disco, “Ca-valo motor”, e nos shows. Navolta, ele trouxe, além das gra-vações, uma lição fundamen-tal da geografia sertaneja.— A cartografia do sertão é

labiríntica emistura o real como imaginário, as informaçõessempre levavam a outros ca-minhos e eu sempreme perdianeles, apesar dos mapas, doGPS e das indicações. Isso re-flete a forma de aquelas pesso-as lidarem com o espaço, quenão passa pela racionalizaçãodas cidades planejadas, das vi-as pavimentadas, dessa civili-zação ordenada em coordena-das cartesianas. Às vezes umsinal quase imperceptível é de-terminante: um tronco marca-do, uma pedra, um pequenocurso d’água, que pode estarseco inclusive. Isso tende a serefletir na minha música nosdetalhes, um timbre inefável,

um som quase inaudível, deta-lhes que podem fazer o ouvin-te sair da trilha demarcada e seperder na audição. Para buscaresse impacto eu pretendo usaras gravações que realizei du-rante a viagem, as paisagenssonoras, as conversas, as rezas,mas também a participação detrês convidados que trabalhamcom esses elementos labirínti-cos: os grupos mineiros O Gri-vo eUakti e o guitarrista ameri-cano-brasileiro Arto Lindsay.

‘REGIÃO DE PASSAGEM’Entre o imaginário mineiro e

a realidade pragmática da polí-tica, portanto, se constrói essageração damúsica deMinas—um estado, como nota JoséLuis Braga, da Graveola e o Li-xo Polifônico, que faz divisacom outros cinco e é historica-mente “região de passagem”.— Claro, se há alguma refe-

rência que podemos chamaringenuamente de genuína, elaestá ancorada no “movimento

da esquina”. Mas, na realidade,as coisas estão bem mais mis-turadas e a cena musical mi-neira da atualidade está aí paraprovar essa confusão, quandoouvimos a harmonia mineiradialogando com o rock rural, acomplexidade de um arranjoinstrumental camerísticocomplicando a simplicidadedos três acordes de uma bala-da de rock. Talvez sejam essasMinas Gerais (e o nome do es-tado noplural émais um sinto-ma desta multiplicidade), tur-vas e rosianas, opacas e drum-mondianas, rurais e urbanas,corrompidas por diversos estí-mulos e influências ao longode sua história, as que maisutilizamos como referênciasem nossa música. A músicamineira pode parecer para omundouma coisa orgânica, re-gionalizada, homogênea, maspara nós ela não passa de umpedacinho desse mundo, coma vantagemde termos oMiltonNascimento, claro. l

MENESCALALÉM DA BOSSA NOVA

A rixa entre a bossa nova ea Jovem Guarda seguiafirme. Do lado da turma

do amor, do sorriso e da flor,Roberto Menescal testemu-nha, havia a indignação pelosucesso daquelamúsica consi-derada tão pobre. Do outro la-do, a reação, lembra o compo-sitor, estava expressa numa re-portagem que trazia RobertoCarlos, Erasmo Carlos e CarlosImperial sentados, com os péssobre a mesa, tranquilos, co-mendomaçãs, ao lado da fraseirônica: “Estamos muito preo-cupados com a bossa nova.”— Eles tiveram muito mais

sabedoria do que a gente —comenta Menescal, rindo.A história será lembrada ho-

je, no Teatro Net Rio, na aber-tura da série “Nas entrelinhasda MPB”, uma celebração dos75 anos de Menescal. Na data,o músico recebe Erasmo e Fer-nanda Takai — os encontros,de conversa regada a música evice-versa, continuamnos dias23 (comOswaldoMontenegro,

Wanda Sá e o grupo Bebossa) e30 (Alcione e Emílio Santiago).Mais que reunir curiosida-

des como essa, a série (quecontinua em 2013) lança luzsobre o Menescal que vai alémda bossa nova. Profundamenteidentificado com o gênero co-mo músico e compositor, ele otranscendeu sobretudo quan-do ocupou o posto de diretorartístico da Polygram (hojeUniversal). Lá, lançou artistascomo Raul Seixas, Alcione eSidney Magal e trabalhou coma nata da MPB da época: ElisRegina, Erasmo, Caetano Velo-so, Chico Buarque, Gal Costa...

‘TEM QUE IR TODO DIA?’Convidado para o cargo (noqual ficou entre 1970 e 1986)pelo amigo André Midani, en-tão presidente da gravadora,ele não fazia ideia do que faria:— Lembro de ter pergunta-

do: “Mas tem que ir todo dia?”Tinha. Um dos primeiros

grandes projetos — e um dosque mais se orgulha — é o dis-co “Elis”, de 1972. Assim queassumiu a produção do álbum,pediu a Elis ummês para sele-

cionar um repertório. A canto-ra reagiu com desconfiança:— Ela disse que já tinha um

repertório: “Duas do Chico,duas do Edu, duas do Caetano,duas do Gil...” Perguntei quemúsicas eram essas, ela res-pondeu que não sabia, mas iapedir. Argumentei que seriamelhor pesquisar, que eles po-diam não ter músicas boas na-quele momento. Ela ficou ca-breira. Mas separei umas 30,de artistas como João Bosco,Zé Rodrix, Vitor Martins —conta Menescal, lembrando areação de Elis quando o discoficou pronto. — Ouvimos jun-tos na casa dela. Ela ficou cala-da o tempo todo. Quando aca-bou, disse: “Sou foda esco-lhendo repertório.”Menescal tem créditos, co-

mo produtor ou diretor artísti-co da gravadora, emálbuns co-mo “Construção”, de Chico(“Resolvi peitar a ideia de ter‘Construção’, uma música deseteminutos, quando o forma-to das rádios era de três minu-tos”), o experimental “Araçáazul”, de Caetano (“Ele disse:‘Preciso fazer esse disco, sei

que não vai vender, mas é algoque tenho que fazer para mi-nha vida”), “Gal tropical”(“Sentia que ela tinha que lar-gar aquela coisa meio hippie epassar a ser vista como umamulher madura, bonita, comoDiana Ross”) e “Sidney Magal”(“Aprendemos que devíamosinvestir nos artistas populareso mesmo que dávamos paraChico, usando músicos bons,arranjos bacanas, porqueeram eles que sustentavam agravadora”).

‘NÃO SOU SAMBISTA, NÃO’No caso de Alcione, convidadada série no Net Rio, Menescalteve importância crucial:— Precisávamos de uma

cantora de samba, porque asoutras gravadoras já tinhamBeth Carvalho e Clara Nunes.Jair Rodrigues me falou deuma mulata bonita, com vozboa, mas que era mais do jazz.Quando falei com ela, ouvi:“Não sou sambista, não.” Con-venci-a a gravar uma demo,depois um disco. Acabou es-tourando e hoje é essa grandesambista. l

O compositor celebra 75 anos recebendo amigos a partir de hojena série ‘Nas entrelinhas da MPB’, que destaca o seu lado produtor

Roberto Menescal. O homem que lidou com a nata da MPB como diretor artístico da Polygram, de 1970 a 1986, vai relembrar suas histórias no Teatro Net Rio

CAMILLA MAIA

LEONARDOLICHOTE

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Memórias.Omúsico comErasmo, comquem fez discoscomo “Mulher”,e Alcione, quese tornoucantora desamba porsugestão dele

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Jornal do Brasil, 16 de maio de 2008

Jornal do Brasil, 16 de maio de 2008

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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

O compositor Makely Ka lança “Danaide” e prova que é possívelproduzir arte sem depender de projeto de incentivo ou gravadora

MÚSICA

CULTURA

E S T A D O D E M I N A S ● S E X T A - F E I R A , 2 0 D E J A N E I R O D E 2 0 0 6

6

Filme triste queme fez chorar

Tenho tendência a preferir histórias tristes. Saio pra alu-gar um filme e acabo ficando com os dramas. Deve ser por-que prefiro roteiros da vida real aos de ficção. Gosto mais debons atores em cena do que pirotecnia digital. Não sei se foisempre assim... Se bem que me recordo de passar algumastardes chorando em casa por causa de uns desenhos que iamao ar no início dos anos 1980. Eu e meu irmão do meio espe-rávamos ansiosos por coisas como Marco, apresentado coma maior expectativa por ninguém menos do que Sílvio San-tos (se não estou delirando), e a série Superaventuras exibi-da pela TV Manchete. Em geral, os roteiros eram desenvolvi-dos em cima de temas animais ou infantis. A morte ou o de-saparecimento de um ser querido ia sendo desfiado por de-senhos animados lindos e muito lacrimosos. Tinha me es-quecido dessa época, quando no último mês tive uma over-dose de filmes assim.

Pra começar a temporada, durante um vôo de longa dura-ção, escolhi ver Hoshi ni Natta Shonen (Shining Boy and LittleRandy), de 2005, que conta a história verdadeira de TetsumuSakamoto, o primeiro treinador de elefantes japonês a passarpelos tradicionais ensinamentos tailandeses. O protagonistaera um garoto que tinha dificuldades de relacionamento naescola porque cheirava a animais. A mãe e o pai adotivo cuida-vam de uma empresa que treinava bichos atores para comer-ciais e shows de televisão. Até que um dia ele tem um encon-tro com um elefante recém-chegado à sua fazenda emHokkaido e vê nisso uma válvula de escape daquele mundo.Bom, só pra dar uma idéia, a aeromoça me perguntou se es-tava me sentindo bem, porque respondi, aos soluços, que que-ria água com gás pra acompanhar o jantar, enquanto limpavameus óculos embaçados...

Daí, em Tóquio, numa loja daquelas de seis andares deDVDs e CDs, parei na seção de animes do Studio Ghibli, fábri-ca de grandes produções longa-metragem que tem entre seusmestres Hayao Miyazaki, diretor de A viagem de Chihiro. Os

muitos títulos e a beleza de cada umadas capas me fez perguntar a algunsamigos se me indicavam algum pracomprar. Aí me mostravam: Esse émuito bom! Aquele também é lindo!Esse não, é muito triste. Daí outro fala-va: Leva esse aqui, é o mais novo. Oque tá na sua mão, não. É triste de-mais, nem mostra pra sua filha...

Foi então que tomei a decisão: é es-te triste que eu quero!

O filme escolhido foi Hotaru noHaka (O túmulo de vaga-lumes), lan-çado em 1988. Eu nunca tinha ouvi-do falar dessa produção. A história éaté óbvia desde os primeiros minu-tos, mas a delicadeza dos desenhos ea forma como é mostrado o relacio-namento entre Seita (nitian, o irmãomais velho) e Setsuko (a caçula deapenas 4 anos) comovem a todos. Osdois tentam sobreviver órfãos numJapão decomposto pela 2ª Guerra.Mas a vida real é cheia desses casos.A gente até se acostuma – no péssi-mo sentido – a isso. Por que um de-senho faz a gente desabar em lágri-mas e a se emocionar tanto assim?

Acho que é o simples foco que colo-camos enquanto vemos os filmes.

Dispensamos nossa atenção toda aeles, através de um som alto, uma salamais escura. Por mais de uma hora,convivemos com personagens dosquais sabemos os nomes, conhece-mos o dia a dia, as qualidades e defei-tos, compartilhamos seus momentosíntimos de alegria e dor. Isso tudo nosdeixa perto demais – até mesmo prasentir o que eles sentem. Mas a sessãotermina, a gente enxuga as lágrimas esegue fazendo outras coisas.

A tristeza também é bonita.

● SEGUNDA-FEIRA - Alcione Araújo● TERÇA-FEIRA - Carlos Herculano Lopes●QUARTA-FEIRA - Fernando Brant●QUINTA-FEIRA - Frei Betto● SEXTA-FEIRA - Fernanda Takai● SÁBADO - Cyro Siqueira●DOMINGO - Affonso Romano de Sant’Anna

Por que um desenho faz a gente desabar em lágrimas e a se emocionar tanto assim?

‘‘’’[email protected]

FERNANDA TAKAI

CAROLINA BRAGA

Primeira montagem dogrupo Espanca!, Por Elise estáentre os indicados ao PrêmioShell de Teatro de São Paulo, omais importante das artes cê-nicas do país. Grace Passô,atriz, diretora e dramaturgada peça, concorre como me-lhor autora com Fábio Torres,por O Mata-burro, e LourençoMutarelli (O que você foiquando era criança?). Assom-brações do Recife velho e A vi-da na Praça Roosevelt conse-guiram o maior número deindicações, três cada uma.

Pela criação e concepção dePor Elise, o Espanca! disputa acategoria especial com GrupoXIX de Teatro, responsável pelaintervenção artística na VilaOperária Maria Zélia (SP), comFernando Oliveira, tradutor deA escolha do jogador, e EliseteJeremias, diretora de cena deOs sertões – a luta: primeiraparte. Por sua contribuição aoteatro brasileiro, Gianfrances-co Guarnieri será o homena-geado da 18ª edição do prêmio.Os vencedores receberão, alémdo troféu, R$ 8 mil. O resultadoserá divulgado em abril.

MARIANA PEIXOTO

Danaide, álbum que reúne aobra do compositor Makely Kacom a cantora Maísa Moura, éprova de que é possível fazer umtrabalho totalmente desvincula-do de gravadoras e/ou leis de in-centivo fiscal. Nos últimos trêsanos, Makely e Maísa apresenta-ram boa parte do repertório de 14faixas do disco em espetáculosem Belo Horizonte e outras cida-des. Chegaram a aprovar o proje-to do álbum na lei estadual de in-centivo à cultura. Como a capta-ção emperrou, decidiram realizá-lo na marra (também o nome dadistribuidora criada por Makely).

“Aconteceu que o disco aca-bou se resolvendo de outra for-ma. Não desdenho patrocinador,ainda mais porque a verba dasleis é dinheiro público, então énossa obrigação ocupar esse es-paço. Só quis mostrar que é pos-sível fazer sem”, afirma Makely.Foram dois anos de produção dodisco, que tem tiragem inicial deapenas 500 cópias. O compositorcontou com a boa vontade demúsicos, estúdios e designers.Acredita ter gastado R$ 5,5 mil.“Fiz muitas permutas. Quando fa-zia show, divulgava o nome do es-túdio nos cartazes. Combinei dechamar os músicos para os showse pagar cachê razoável”, explica.

As saídas criativas acabaraminfluenciando a estética do ál-bum, que teve direção musical deMakely e Renato Villaça. “Íamosfazer um disco com percussão eparte instrumental maior.” Comos cortes de orçamento, a baseacabou sendo o violão, que, des-

sa maneira, deu foco maior àcomposição. Todas as faixas le-vam a autoria de Makely, ora so-zinho, ora em parceria com Estre-la Leminski (Rodador, poema empalíndromo que dialoga com otema do álbum, já que um dossignificados de danaide é roda);Renato Negrão (Monotonia gris,gravada anteriormente por Patrí-cia Ahmaral); e Tabajara Belo (Ja-carta,com a participação de Suza-na Salles, uma das vozes da cha-mada vanguarda paulistana). Háainda duas canções compostaspor Makely e Maísa (Surya e O ve-lho). “Fiz todas as canções para avoz dela”, conta.

Sem patrocínio para a grava-ção, Makely conseguiu aprovar aturnê do disco pela lei estadualde cultura. No entanto, antes decomeçar a excursionar pelo esta-do, ele apresenta Danaide fora deMinas. Em fevereiro, faz showsem Recife e Campinas. Em BeloHorizonte, o lançamento deveser em abril. Ele aguarda fecharcom algum teatro, pois há umano parou de se apresentar embares da cidade. “Em BH, o hábitodas pessoas é sair para beber eouvir aquela música de barzinhode fundo. Arrumei muita confu-são com os donos de bares, emsituações tragicômicas, poissempre toquei as minhas músi-cas, e não covers, por total in-competência. Os donos de barestêm de entender que precisamda gente. Se eles investem emdecoração e uma série de coisas,não podem ter som paupérrimo,cheio de gambiarras. Não conhe-ço, em Belo Horizonte, uma casade espetáculos que trate os mú-

sicos com respeito”, critica.Em 2003, Makely lançou, com

Kristoff Silva e Pablo Castro, o CDA outra cidade. No segundo se-mestre, pretende lançar Autófa-go, esse sim seu primeiro álbumsolo. Também produzido por Re-nato Villaça, é trabalho oposto aDanaide, mais pesado, com bai-xo, guitarra e bateria. Em março,lança a edição inicial da Revistade Autofagia, claramente inspira-da na Revista de Antropofagia, deOswald de Andrade.

Fora da lei

DANAIDECD de Makely Ka e

Maísa Moura. À venda por R$ 15. Informações:

[email protected]

Makely Ka e MaísaMoura apresentam14 canções em discoviabilizado comrecursos próprios

GISELE MOURA/DIVULGAÇÃO

TEATRO

“Por Elise”disputa oShell/SP

cmyk

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CYA

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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

O compositor Makely Ka lança “Danaide” e prova que é possívelproduzir arte sem depender de projeto de incentivo ou gravadora

MÚSICA

CULTURA

E S T A D O D E M I N A S ● S E X T A - F E I R A , 2 0 D E J A N E I R O D E 2 0 0 6

6

Filme triste queme fez chorar

Tenho tendência a preferir histórias tristes. Saio pra alu-gar um filme e acabo ficando com os dramas. Deve ser por-que prefiro roteiros da vida real aos de ficção. Gosto mais debons atores em cena do que pirotecnia digital. Não sei se foisempre assim... Se bem que me recordo de passar algumastardes chorando em casa por causa de uns desenhos que iamao ar no início dos anos 1980. Eu e meu irmão do meio espe-rávamos ansiosos por coisas como Marco, apresentado coma maior expectativa por ninguém menos do que Sílvio San-tos (se não estou delirando), e a série Superaventuras exibi-da pela TV Manchete. Em geral, os roteiros eram desenvolvi-dos em cima de temas animais ou infantis. A morte ou o de-saparecimento de um ser querido ia sendo desfiado por de-senhos animados lindos e muito lacrimosos. Tinha me es-quecido dessa época, quando no último mês tive uma over-dose de filmes assim.

Pra começar a temporada, durante um vôo de longa dura-ção, escolhi ver Hoshi ni Natta Shonen (Shining Boy and LittleRandy), de 2005, que conta a história verdadeira de TetsumuSakamoto, o primeiro treinador de elefantes japonês a passarpelos tradicionais ensinamentos tailandeses. O protagonistaera um garoto que tinha dificuldades de relacionamento naescola porque cheirava a animais. A mãe e o pai adotivo cuida-vam de uma empresa que treinava bichos atores para comer-ciais e shows de televisão. Até que um dia ele tem um encon-tro com um elefante recém-chegado à sua fazenda emHokkaido e vê nisso uma válvula de escape daquele mundo.Bom, só pra dar uma idéia, a aeromoça me perguntou se es-tava me sentindo bem, porque respondi, aos soluços, que que-ria água com gás pra acompanhar o jantar, enquanto limpavameus óculos embaçados...

Daí, em Tóquio, numa loja daquelas de seis andares deDVDs e CDs, parei na seção de animes do Studio Ghibli, fábri-ca de grandes produções longa-metragem que tem entre seusmestres Hayao Miyazaki, diretor de A viagem de Chihiro. Os

muitos títulos e a beleza de cada umadas capas me fez perguntar a algunsamigos se me indicavam algum pracomprar. Aí me mostravam: Esse émuito bom! Aquele também é lindo!Esse não, é muito triste. Daí outro fala-va: Leva esse aqui, é o mais novo. Oque tá na sua mão, não. É triste de-mais, nem mostra pra sua filha...

Foi então que tomei a decisão: é es-te triste que eu quero!

O filme escolhido foi Hotaru noHaka (O túmulo de vaga-lumes), lan-çado em 1988. Eu nunca tinha ouvi-do falar dessa produção. A história éaté óbvia desde os primeiros minu-tos, mas a delicadeza dos desenhos ea forma como é mostrado o relacio-namento entre Seita (nitian, o irmãomais velho) e Setsuko (a caçula deapenas 4 anos) comovem a todos. Osdois tentam sobreviver órfãos numJapão decomposto pela 2ª Guerra.Mas a vida real é cheia desses casos.A gente até se acostuma – no péssi-mo sentido – a isso. Por que um de-senho faz a gente desabar em lágri-mas e a se emocionar tanto assim?

Acho que é o simples foco que colo-camos enquanto vemos os filmes.

Dispensamos nossa atenção toda aeles, através de um som alto, uma salamais escura. Por mais de uma hora,convivemos com personagens dosquais sabemos os nomes, conhece-mos o dia a dia, as qualidades e defei-tos, compartilhamos seus momentosíntimos de alegria e dor. Isso tudo nosdeixa perto demais – até mesmo prasentir o que eles sentem. Mas a sessãotermina, a gente enxuga as lágrimas esegue fazendo outras coisas.

A tristeza também é bonita.

● SEGUNDA-FEIRA - Alcione Araújo● TERÇA-FEIRA - Carlos Herculano Lopes●QUARTA-FEIRA - Fernando Brant●QUINTA-FEIRA - Frei Betto● SEXTA-FEIRA - Fernanda Takai● SÁBADO - Cyro Siqueira●DOMINGO - Affonso Romano de Sant’Anna

Por que um desenho faz a gente desabar em lágrimas e a se emocionar tanto assim?

‘‘’’[email protected]

FERNANDA TAKAI

CAROLINA BRAGA

Primeira montagem dogrupo Espanca!, Por Elise estáentre os indicados ao PrêmioShell de Teatro de São Paulo, omais importante das artes cê-nicas do país. Grace Passô,atriz, diretora e dramaturgada peça, concorre como me-lhor autora com Fábio Torres,por O Mata-burro, e LourençoMutarelli (O que você foiquando era criança?). Assom-brações do Recife velho e A vi-da na Praça Roosevelt conse-guiram o maior número deindicações, três cada uma.

Pela criação e concepção dePor Elise, o Espanca! disputa acategoria especial com GrupoXIX de Teatro, responsável pelaintervenção artística na VilaOperária Maria Zélia (SP), comFernando Oliveira, tradutor deA escolha do jogador, e EliseteJeremias, diretora de cena deOs sertões – a luta: primeiraparte. Por sua contribuição aoteatro brasileiro, Gianfrances-co Guarnieri será o homena-geado da 18ª edição do prêmio.Os vencedores receberão, alémdo troféu, R$ 8 mil. O resultadoserá divulgado em abril.

MARIANA PEIXOTO

Danaide, álbum que reúne aobra do compositor Makely Kacom a cantora Maísa Moura, éprova de que é possível fazer umtrabalho totalmente desvincula-do de gravadoras e/ou leis de in-centivo fiscal. Nos últimos trêsanos, Makely e Maísa apresenta-ram boa parte do repertório de 14faixas do disco em espetáculosem Belo Horizonte e outras cida-des. Chegaram a aprovar o proje-to do álbum na lei estadual de in-centivo à cultura. Como a capta-ção emperrou, decidiram realizá-lo na marra (também o nome dadistribuidora criada por Makely).

“Aconteceu que o disco aca-bou se resolvendo de outra for-ma. Não desdenho patrocinador,ainda mais porque a verba dasleis é dinheiro público, então énossa obrigação ocupar esse es-paço. Só quis mostrar que é pos-sível fazer sem”, afirma Makely.Foram dois anos de produção dodisco, que tem tiragem inicial deapenas 500 cópias. O compositorcontou com a boa vontade demúsicos, estúdios e designers.Acredita ter gastado R$ 5,5 mil.“Fiz muitas permutas. Quando fa-zia show, divulgava o nome do es-túdio nos cartazes. Combinei dechamar os músicos para os showse pagar cachê razoável”, explica.

As saídas criativas acabaraminfluenciando a estética do ál-bum, que teve direção musical deMakely e Renato Villaça. “Íamosfazer um disco com percussão eparte instrumental maior.” Comos cortes de orçamento, a baseacabou sendo o violão, que, des-

sa maneira, deu foco maior àcomposição. Todas as faixas le-vam a autoria de Makely, ora so-zinho, ora em parceria com Estre-la Leminski (Rodador, poema empalíndromo que dialoga com otema do álbum, já que um dossignificados de danaide é roda);Renato Negrão (Monotonia gris,gravada anteriormente por Patrí-cia Ahmaral); e Tabajara Belo (Ja-carta,com a participação de Suza-na Salles, uma das vozes da cha-mada vanguarda paulistana). Háainda duas canções compostaspor Makely e Maísa (Surya e O ve-lho). “Fiz todas as canções para avoz dela”, conta.

Sem patrocínio para a grava-ção, Makely conseguiu aprovar aturnê do disco pela lei estadualde cultura. No entanto, antes decomeçar a excursionar pelo esta-do, ele apresenta Danaide fora deMinas. Em fevereiro, faz showsem Recife e Campinas. Em BeloHorizonte, o lançamento deveser em abril. Ele aguarda fecharcom algum teatro, pois há umano parou de se apresentar embares da cidade. “Em BH, o hábitodas pessoas é sair para beber eouvir aquela música de barzinhode fundo. Arrumei muita confu-são com os donos de bares, emsituações tragicômicas, poissempre toquei as minhas músi-cas, e não covers, por total in-competência. Os donos de barestêm de entender que precisamda gente. Se eles investem emdecoração e uma série de coisas,não podem ter som paupérrimo,cheio de gambiarras. Não conhe-ço, em Belo Horizonte, uma casade espetáculos que trate os mú-

sicos com respeito”, critica.Em 2003, Makely lançou, com

Kristoff Silva e Pablo Castro, o CDA outra cidade. No segundo se-mestre, pretende lançar Autófa-go, esse sim seu primeiro álbumsolo. Também produzido por Re-nato Villaça, é trabalho oposto aDanaide, mais pesado, com bai-xo, guitarra e bateria. Em março,lança a edição inicial da Revistade Autofagia, claramente inspira-da na Revista de Antropofagia, deOswald de Andrade.

Fora da lei

DANAIDECD de Makely Ka e

Maísa Moura. À venda por R$ 15. Informações:

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Makely Ka e MaísaMoura apresentam14 canções em discoviabilizado comrecursos próprios

GISELE MOURA/DIVULGAÇÃO

TEATRO

“Por Elise”disputa oShell/SP

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Produto: CADERNO_2 - BR - 5 - 13/03/09 D5-BR/SP - CYANMAGENTAAMARELOPRETO

Palavra (En)Cantada

A forçadauniãode letra emelodiaAliceRuiz,MakelyKa,SibaeVitorRamil falamdeseu trabalho relacionadoàpoesia edopoder expressivodacançãobrasileira

Filmeéumcomentário poético emusical sobreoBrasilHáodebatedaquestão central,masobra nãodeixademostrar tambémcomoasmudanças sociais se refletemnacanção

Lauro Lisboa Garcia

NumacenadodocumentárioPa-lavra(En)Cantada,AdrianaCal-canhotto desconversa sobre agrandeperguntaemquestão:le-trademúsicaépoesia?Diz,bem-humorada,queavidaécurtade-maisparaperdertempocomes-sa discussão. Adriana conviveuetrabalhouemférteisparcerias– em discos como A Fábrica doPoema – com Waly Salomão(1943-2003), um desses artistasque transitavam com desenvol-tura entre a poesia e a letra demúsica. Vinicius de Moraes(1913-1980),oprincipaldeles,An-tonio Cícero, Arnaldo Antunes,PauloCésarPinheirosãooutrosbons exemplares enfocados nofilme. Mas há outros mais quefizeram história na MPB: Tor-quato Neto (1944-1972), PauloLeminski (1944-1989), PatativadoAssaré (1909-2002),AbelSil-va,Cacaso,GeraldoCarneiro.Há compositores que reco-

nhecem a força poética da can-ção brasileira, a mais viva ex-pressãoculturaldoPaís.Emen-trevista recente aoCaderno 2, opernambucano Alceu Valençadefendeu:“Minhamúsicaépoe-sia.” Para falar sobre o tema, oEstadoentrevistoutrêscompo-sitoreseumaletristapoeta,quenãoestãonofilmedeHelenaSol-berg:ogaúchoVitorRamil,tam-bémescritor, omineiroMakelyKa, o pernambucano Siba e aparanaense radicada em SãoPauloAliceRuiz,que foicasadacom Leminski (leia trechos deuma letra de cada umao lado).Um dos mais brilhantes em

atividadehoje,Siba–quelançounasemanapassadaoálbumVio-las deBronze, comRobertoCor-rêa – é herdeiro da tradição dostrovadores,referência inicialdePalavra (En)Cantada. Compõeseguindoprocedimentosdapoe-

sia oral nordestina. “Essa dis-cussãoéengraçadaporquepar-tedopressupostodequeoqueéconsideradopoesia é apoesia li-terária. Meu ponto de partida éoutro, é o que a gente chama depoesia rimadadoNordeste, quetemumaestética própria.”“Trabalhoparaqueotexto te-

nhavidaprópria, emboramuitasvezes esse texto lido perca umapartedoencantodelequedepen-de do ritmo”, diz Siba. Ritmo é oque sobrou da poesia, “depoisque ela se libertou damétrica edas rimas”, como observa Ali-ce.Apoesiadoscantadoresnor-destinos, como observa Siba,temamúsicaeoritmoaserviçodela. “Opoder encantatóriode-la vem muito em função do rit-mo e da combinação das pala-vras. Por isso, pra gente é im-portantelevaràsúltimasconse-quências o rigor das regras.”Outro diferencial que Alice

aponta é o timing: “O tempo doolhoédiferentedo tempodoou-vido. Para o ouvido você tem deterumacoloquialidadedetalfor-maqueapessoaqueteouvesejaenvolvidaimediatamente”,dizapoeta. Vitor Ramil concordacomela: “A letrademúsica temde terumaação imediata sobrequem ouve. É bom que a açãodelaseprolonguenotempo,pa-raqueoouvintefiquerefletindoapartirda letradeumacanção.Talvez a poesia possa ser feitaum pouco mais desencanadadesse tipo de propósito.”ComoSiba,MakelyKaserela-

ciona coma tradição oral. “Nes-sesentidoLuizTatiteZéMiguelWisniktêmrazãoquandodizemque a gente tem uma tradiçãooral muito sofisticada, porque aletradacançãoestámuitopróxi-ma da fala.” Para Makely, umaboa letra de cançãonãoprecisaser poesia, assim como “bonspoemas não necessariamente

dão boas letras”. “Fazer letraparaumamelodiaéumamistu-radepoesiacompalavracruza-da,porquevocêtemumamétri-ca estabelecida, onde se temdeencaixar a prosódia, a rima, en-fim, vários elementos”, diz opoeta de Ego Excêntrico e com-positor doCDAutófago.Ramil, como Adriana Calca-

nhotto, não faz questão de sepa-rarosuniversosdaletraedapoe-sia. Ele, que não é poeta,mas es-critorde livroscomoSatolep (ro-mance) e A Estética do Frio (en-saio), diz que seu trabalho literá-rioguardacaracterísticasdaati-vidade de letrista. Além de can-ções com poéticas letras pró-prias, Ramil já musicou versosde Fernando Pessoa, Emily Di-ckinsoneJoãodaCunhaVargasepreparaumálbumcomoitopoe-masdoargentinoJorgeLuisBor-ges (1899-1986), e outros deVar-gas, commelodiasdele.Sãopoe-mas (queBorges escreveucomosefossemletrasdemilongas)reu-nidos no livroPara las Seis Cuer-das,de1965.“Ospoemasquecos-tumomusicarfluemcomnatura-lidade. Para mim, a palavra e amelodia sãobemcasadas.”Com Alice Ruiz, autora de

versoscomoodeSocorro(parce-riacomArnaldoAntunes),oca-minho é inverso: “Ao mesmotempo em que tenho poemasmusicados, tenhomuitas letrasfeitas como tal. Uma boa letratemdeteralgumascaracterísti-cas poéticas. Por exemplo: temdeterumaideiaeumatramanalinguagem, o que a transformaem poesia, que case com aideia.”Mas se a canção no Bra-sil tem esse papel que a poesiados livros cumpre em outrospaíses, isso para Alice se deve“muito à excelência da nossacanção”, opinião que Ramil en-dossa. “É mais um motivo pragente caprichar”, brinca ela. ●

“Eufizdapoesiaminhaam-brosia/Meu sustento, meumotor/Meu canto em ago-nia entra agora em afasia/E traz dedentro a carne emflor/ Eu quis a boemia, afantasia/ O ornamento, oesplendor.”MAKELYKA

“Quem me dera fossemeu/Opoemadeamorde-finitivo/ Se amar fosse obastante/ Poder eu pode-ria/Pudera/Àsvezespare-ceseresse/Meuúnicodes-tino/Mas vemo vento e le-va/ As palavras que digo/Minha canção de amigo/Um sonho de poeta/ Nãovale o instante vivo.”

ALICERUIZ

http://www.estadao.com.br/e/d5

“Quero perder o medo dapoesia/ Encontrar a métri-ca e a lágrima/Ondeos ca-minhos se bifurcam/ Pla-nando na miragem de umjardim/...Euastronauta líri-co em terra/ Indo a teu la-do, leve, pensativo.”VITORRAMIL

CríticaLUIZZANINORICCHIO

“Na varanda da fazenda/Está sentado um violeiro/Que ponteia imaginando/Ossonhosdeum fazendei-ro/ ...E opoetapassaanoi-te/Procurandoa rimaexa-ta/ Esfumaçada num caféquente/ Numa caneca delata/Eanoite pagaas can-tigas/ Com uma moedade prata.”

SIBA

A diretora Helena Solberg dizquegostadetrabalharcomcon-ceitos.Querdizer,“pensa”osfil-mesquefaz,procuradar-lheses-trutura e um eixo de progres-são. Esse cuidado está em Car-menMiranda–BananasIsMyBu-siness e Vida de Menina.No pri-meiro,emrelevo,discuteaambi-guidade da imagem de Carmenpara os brasileiros – glória ouvergonha nacional? Ou ambos?Em Vida de Menina, tirado dasmemórias de Helena Morley, ofoco repousanapercepçãoagu-dadeumolharjovemsobreumasociedadevelha, escravocrataeprovinciana, no interior de Mi-nas durante o século 19.Também em Palavra (En)

Cantadanota-seessapreocupa-ção. Neste caso, discutir a rela-çãoentresomeverbo,esseenla-

cefundamentalquedácorpo–ealma – à canção. Por isso, a ten-tativa, embora não exaustiva,deexplicitaralinhatrovadores-caquevaidosprovençaisaChi-coBuarque e Lenine. Corre umdebate interno ao filme – letrade música, isolada, é poesia ounão? Paulo César Pinheiro,grande letrista, opina que sim,pelomenos às vezes. “Quemdi-

rá que alguns versos de ChicoBuarque não são poesia?”, lan-ça, comodesafio.MasopróprioChico, na entrevista, confessaque se sente incomodadoquan-doochamamdepoeta.Elemes-mo não se considera como tal.Nessa conversa entre artistas,o também músico, e teórico,LuizTatitopina:“Poeta,nosen-tido estrito, ele não é mesmo;

não senta namesa, compapel elápis, para escrever um textopoético. Ele pensa o verso já narelação com amúsica.”Esse é odebate, que corre às

vezesmaisaparente,outrasemsurdina, ao longo do filme. Que,exatamente por não se ater aele demaneira pétrea, torna-seextremamenteagradável.Ape-sar de manter o eixo em vista,Helena deixa o documentáriofluir, à vontade. Mescla depoi-mentos commaterial de arqui-vo e propõe umpainel bastanteamplo do seu assunto. Atravésda canção – quem sabe a mani-festação cultural mais forte noBrasil –, “lê” um país. O Brasilde Cartola é, ao mesmo tempo,o mesmo e muito diferente, dopaís do rap, o som da periferiade São Paulo, comentado porFerréz . O país pode ser inter-pretadoà luzdamúsica– e essadiscussão, de certa forma,transcendeodebate teórico so-brea“poesia”ounãodas letras.Porexemplo,namaneiraco-

mootropicalismo,àsuamanei-

ra, se opõe e complementa abossanovaexistetodaumadia-lética do País atravessando devezumcerto isolamentonacio-nal e seabrindoaodiálogocomo exterior. A bossa já era isso,uma conversa inteligente en-tre o samba e o que de melhorhavia na música norte-ameri-cana. O tropicalismo dá outropasso: flerta com o pop e tam-bém com a obra consideradade mau gosto, o kitsch. Era oBrasil ingressando na geleiageral contemporânea, e sobuma forma profética. Esses

passos,quenãosãoapenasmu-sicais, mas da cultura em seutodo,podemser lidosnessebe-lo (e sonoro) documentário. ●

Veja trailer de Palavra (En)Cantada em

LUIZTATIT–“Poeta, nosentidoestrito, oChicoBuarquenãoémesmo”

SÉRGIO CASTRO/AE

MÁRCIO FERNANDES/AE

PAULO LIEBERT/AE

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

Serviço● Palavra (En)Cantada (Bra-sil/2008, 84 min.) – Documen-tário. Dir. Helena Solberg. Livre.Cotação: Bom

ESCALAPB PB ESCALACOR COR

%HermesFileInfo:D-5:20090313:

SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2009 CADERNO 2 D5O ESTADO DE S. PAULO CADERNO 2 D5

Page 16: SÁB ADO , 2 4 D E M AIO DE 2014 ões brasileiras,a mericanas ã …makelyka.com.br/wp-content/uploads/2015/07/Clipping-Makely-Ka-10M.pdf · EM ESTADO DE MINAS SÁB ADO ,2 4D EM AIO

A OUTRA CIDADEShow de lançamento do CD do projeto “Reciclo Geral”, na Conexão Telemig Celularde Música. Teatro Sesiminas, rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31) 3241-7132. Hoje, 21h. Ingresso pode ser trocado nas lojas Telemig Celular,Centro e Savassi por dois quilos de alimentos. CD será vendido no local a R$ 15.

SERVIÇO

MÚSICA

Uma história feliz

Não, não havia mais espaço paraela em Belo Horizonte. As ruas, osbares, a noite, nada mais a atraía.Nem ao Palácio das Artes, de on-de tanto gostava, Sandra estavaindo mais para assistir filmes naSala Humberto Mauro. Comotambém deixou de fazer cami-

nhadas à tarde, na Praça da Liberdade, ounos fins de semana, no alto da Afonso Pena,de onde também, nem mais uma vez, viu opôr-do-sol, enquanto tomava água-de-cocoencostada na cruz de ferro, obra do escultorRicardo Carvão. E ainda: deixou de tomar sor-vetes de flocos e jabuticaba na São Domingos;de ir às vernissages ou a uma ou outra boatebadalada, como fazia com as suas amigas pe-lo menos uma vez por semana.

Sabem por quê? Porque aquela bela more-na curvelana, que vivia em Belo Horizonte des-de a adolescência, não estava conseguindo en-contrar, aqui na capital de Minas, por mais quebatalhasse, o grande amor de sua vida. O últi-mo, do qual nem gostava de se lembrar, haviasido um desastre. “Você precisa fazer uma via-gem, minha filha, passar uns tempos fora, poistodos nós, pelo menos uma vez na vida, temosde fazer isso”, aquela cartomante, Mãe Teresa,que atendia lá pelos lados da Floresta, em umbarracão humilde e cheirando a mofo, lhe dis-se, olhando nos seus olhos, após embaralhar edesembaralhar inúmeras vezes as cartas.

No outro dia, após comentar com a sua te-rapeuta, esta lhe disse que, embora não acredi-tasse no poder das cartas, e muito menos nosbúzios, achava que Mãe Teresa tinha razão.“Em outras palavras, Sandra, eu também sem-pre lhe falei isso.” E foi então que em uma sex-ta-feira à noite, já com a decisão tomada, aque-la morena de lábios grossos, cabelos negros efartos, que ainda nem havia chegado aos 25anos, mas já estava se sentindo uma velha, dis-se aos seus pais, que a ouviram perplexos, queestava indo para os Estados Unidos. “Uma via-gem, minha filha, você tem de fazer uma via-

gem.” As palavras de Mãe Teresa, que nãosaíam da sua cabeça, também a ajudaram, na-quele momento, a ser dura com os pais e a rea-firmar para eles (embora por dentro estivessequerendo explodir) que iria mesmo passar unstempos fora.

Na despedida, no aeroporto de Confins, to-da a família estava presente, e a mãe aindalhe deu, enquanto a abraçava, uma medalhi-nha de São Geraldo, padroeiro de Curvelo.“Para ele te proteger, minha filha…”, faloucom a voz embargada, ao que o pai, queren-do ser durão, apenas lhe deu um rápido bei-jo e se afastou, para que ela não o visse cho-rando. No aeroporto de Nova York, ao contrá-rio do que haviam combinado, sua amiga nãoa estava esperando.

Mas, por essas voltas e reviravoltas do des-tino, enquanto ela, após mostrar os documen-tos e ser liberada, se atrapalhava meio a tan-tas malas e sacolas, um rapaz meio aloirado,muito alto e tentando se expressar em espa-nhol se aproximou dela e perguntou se podiaajudar. Insegura, mas na hora sentindo o co-ração disparar, quando seus olhos se encon-traram, a princípio Sandra agradeceu e disseum vacilante “estoy bien”. Porém acabou per-mitindo que aquele homem a ajudasse a car-regar as malas até um táxi, após não aceitar,pois aí seria demais, que ele a levasse em ca-sa. Mas, ante a sua insistência, acabou lhedando o telefone da amiga.

E foi ela que no outro dia, no início da noite,quando estavam se preparando para sair, aten-deu a uma chamada e, já sabendo da história,disse a Sandra, com um sorriso cúmplice: “Éele, o John…”. O mesmo John, ou melhor JohnAnderson K., um engenheiro civil nascido noKansas, que, na semana passada, junto com asua mulher, a mineira Sandra, com quem já es-tá casado há quase três anos e tem um filhinho,o Richard, que do pai só puxou o azul dosolhos, pois de resto é um sertanejo típico, de-sembarcou no aeroporto de Confins, e de lá se-guiram para Curvelo, onde uma grande festaos estava esperando.

PS – Esta crônica é para Maria Isabel RamosFerreira Lopes, no bairro São Francisco, emBelo Horizonte.

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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

C A R L O S H E R C U L A N O L O P E S

“NA DESPEDIDA, NO AEROPORTO DE CONFINS, TODAA FAMÍLIA ESTAVA PRESENTE, E A MÃE AINDA LHEDEU, ENQUANTO A ABRAÇAVA, UMA MEDALHINHA DESÃO GERALDO, PADROEIRO DE CURVELO”

E S T A D O D E M I N A S - T E R Ç A - F E I R A , 1 1 D E N O V E M B R O D E 2 0 0 3P Á G I N A 1 0

[email protected]

� SEGUNDA-FEIRA - Alcione Araújo� TERÇA-FEIRA - Carlos Herculano Lopes� QUARTA-FEIRA - Fernando Brant� QUINTA-FEIRA - Frei Betto� SEXTA-FEIRA - Ziraldo� SÁBADO - Cyro Siqueira� DOMINGO - Affonso Romano de Sant’Anna

RESULTADO DO PROJETO “RECICLO GERAL”, DISCO “A OUTRA CIDADE”TEM APRESENTAÇÃO DE LANÇAMENTO HOJE, NO TEATRO SESIMINAS

RENOVADAS CANÇÕESAILTON MAGIOLI

A geração é outra, mas a ri-queza harmônica, melódica epoética é a mesma que marcouas anteriores e acabou se tor-nando responsável pelo dife-rencial da música produzidaem Minas Gerais. Atração demais uma edição da ConexãoTelemig Celular de Música, ho-je à noite, no Teatro Sesiminas,Makely Ka, Kristoff Silva e Pa-blo Castro recebem convidadospara mostrar o primeiro produ-to acabado do projeto RecicloGeral, que, ano passado, levounovos compositores, instru-mentistas e intérpretes a se reu-nirem no bar Reciclo AsmareCultural, para mostrar traba-lhos até então inéditos.

Trata-se do CD A Outra Ci-dade, que Makely, Kristoff e Pa-blo gostam de classificar comoa ponta de um iceberg que vaiculminar com o lançamento dediscos solos deles e de outrosjovens artistas, além de um sitee uma distribuidora, depois dolançamento de selos musical eeditorial. Para Kristoff, A OutraCidade é mais uma prova cabaldo quanto a parceria entrecompositor e intérprete é essen-cial para a canção, gênero quea maioria dos participantes doReciclo Geral escolheu paraexercitar-se musicalmente.

Além de Maísa Moura, Ju-liana Perdigão e Leopoldina,eles se uniram a intérpretesque já estavam no mercado,como Alda Rezende, PatríciaAhmaral, Marina Machado,Regina Spósito, Trio Amarantoe Paula Santoro, para mostrarsua música. A maioria prome-te marcar presença no show dehoje à noite, exceto Marina,Paula e Amaranto, por com-

promissos profissionais assu-midos anteriormente.

Segundo Pablo Castro, com oCD eles estão reciclando o queaté então se fez de grandioso doponto de vista da canção. “Eprovavelmente o diferencial es-teja no fato de não termosidentidade estética”, destaca oartista, que, paralelamente àcarreira solo, canta e toca nabanda Sgt. Pepper’s.

Makely Ka diz que sua ge-

ração percebeu a viabilidadedo caminho independente emum momento inusitado – desupremacia da individualida-de, advinda da globalização –,lembrando que o encontro dostrês é anterior ao Reciclo Ge-ral, mais precisamente doFestival de Inverno de OuroPreto de 1998, quando elelançava livro, Kristoff minis-trava oficina e Pablo se apre-sentava no evento.

HARMONIA

Pablo Castro,Makely Ka eKristoff Silva seencontram nodisco e no show“A Outra Cidade”

DIVULGAÇÃO/HELENA LEÃO

A OUTRA CIDADEShow de lançamento do CD do projeto “Reciclo Geral”, na Conexão Telemig Celularde Música. Teatro Sesiminas, rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31) 3241-7132. Hoje, 21h. Ingresso pode ser trocado nas lojas Telemig Celular,Centro e Savassi por dois quilos de alimentos. CD será vendido no local a R$ 15.

SERVIÇO

MÚSICA

Uma história feliz

Não, não havia mais espaço paraela em Belo Horizonte. As ruas, osbares, a noite, nada mais a atraía.Nem ao Palácio das Artes, de on-de tanto gostava, Sandra estavaindo mais para assistir filmes naSala Humberto Mauro. Comotambém deixou de fazer cami-

nhadas à tarde, na Praça da Liberdade, ounos fins de semana, no alto da Afonso Pena,de onde também, nem mais uma vez, viu opôr-do-sol, enquanto tomava água-de-cocoencostada na cruz de ferro, obra do escultorRicardo Carvão. E ainda: deixou de tomar sor-vetes de flocos e jabuticaba na São Domingos;de ir às vernissages ou a uma ou outra boatebadalada, como fazia com as suas amigas pe-lo menos uma vez por semana.

Sabem por quê? Porque aquela bela more-na curvelana, que vivia em Belo Horizonte des-de a adolescência, não estava conseguindo en-contrar, aqui na capital de Minas, por mais quebatalhasse, o grande amor de sua vida. O últi-mo, do qual nem gostava de se lembrar, haviasido um desastre. “Você precisa fazer uma via-gem, minha filha, passar uns tempos fora, poistodos nós, pelo menos uma vez na vida, temosde fazer isso”, aquela cartomante, Mãe Teresa,que atendia lá pelos lados da Floresta, em umbarracão humilde e cheirando a mofo, lhe dis-se, olhando nos seus olhos, após embaralhar edesembaralhar inúmeras vezes as cartas.

No outro dia, após comentar com a sua te-rapeuta, esta lhe disse que, embora não acredi-tasse no poder das cartas, e muito menos nosbúzios, achava que Mãe Teresa tinha razão.“Em outras palavras, Sandra, eu também sem-pre lhe falei isso.” E foi então que em uma sex-ta-feira à noite, já com a decisão tomada, aque-la morena de lábios grossos, cabelos negros efartos, que ainda nem havia chegado aos 25anos, mas já estava se sentindo uma velha, dis-se aos seus pais, que a ouviram perplexos, queestava indo para os Estados Unidos. “Uma via-gem, minha filha, você tem de fazer uma via-

gem.” As palavras de Mãe Teresa, que nãosaíam da sua cabeça, também a ajudaram, na-quele momento, a ser dura com os pais e a rea-firmar para eles (embora por dentro estivessequerendo explodir) que iria mesmo passar unstempos fora.

Na despedida, no aeroporto de Confins, to-da a família estava presente, e a mãe aindalhe deu, enquanto a abraçava, uma medalhi-nha de São Geraldo, padroeiro de Curvelo.“Para ele te proteger, minha filha…”, faloucom a voz embargada, ao que o pai, queren-do ser durão, apenas lhe deu um rápido bei-jo e se afastou, para que ela não o visse cho-rando. No aeroporto de Nova York, ao contrá-rio do que haviam combinado, sua amiga nãoa estava esperando.

Mas, por essas voltas e reviravoltas do des-tino, enquanto ela, após mostrar os documen-tos e ser liberada, se atrapalhava meio a tan-tas malas e sacolas, um rapaz meio aloirado,muito alto e tentando se expressar em espa-nhol se aproximou dela e perguntou se podiaajudar. Insegura, mas na hora sentindo o co-ração disparar, quando seus olhos se encon-traram, a princípio Sandra agradeceu e disseum vacilante “estoy bien”. Porém acabou per-mitindo que aquele homem a ajudasse a car-regar as malas até um táxi, após não aceitar,pois aí seria demais, que ele a levasse em ca-sa. Mas, ante a sua insistência, acabou lhedando o telefone da amiga.

E foi ela que no outro dia, no início da noite,quando estavam se preparando para sair, aten-deu a uma chamada e, já sabendo da história,disse a Sandra, com um sorriso cúmplice: “Éele, o John…”. O mesmo John, ou melhor JohnAnderson K., um engenheiro civil nascido noKansas, que, na semana passada, junto com asua mulher, a mineira Sandra, com quem já es-tá casado há quase três anos e tem um filhinho,o Richard, que do pai só puxou o azul dosolhos, pois de resto é um sertanejo típico, de-sembarcou no aeroporto de Confins, e de lá se-guiram para Curvelo, onde uma grande festaos estava esperando.

PS – Esta crônica é para Maria Isabel RamosFerreira Lopes, no bairro São Francisco, emBelo Horizonte.

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“NA DESPEDIDA, NO AEROPORTO DE CONFINS, TODAA FAMÍLIA ESTAVA PRESENTE, E A MÃE AINDA LHEDEU, ENQUANTO A ABRAÇAVA, UMA MEDALHINHA DESÃO GERALDO, PADROEIRO DE CURVELO”

E S T A D O D E M I N A S - T E R Ç A - F E I R A , 1 1 D E N O V E M B R O D E 2 0 0 3P Á G I N A 1 0

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RESULTADO DO PROJETO “RECICLO GERAL”, DISCO “A OUTRA CIDADE”TEM APRESENTAÇÃO DE LANÇAMENTO HOJE, NO TEATRO SESIMINAS

RENOVADAS CANÇÕESAILTON MAGIOLI

A geração é outra, mas a ri-queza harmônica, melódica epoética é a mesma que marcouas anteriores e acabou se tor-nando responsável pelo dife-rencial da música produzidaem Minas Gerais. Atração demais uma edição da ConexãoTelemig Celular de Música, ho-je à noite, no Teatro Sesiminas,Makely Ka, Kristoff Silva e Pa-blo Castro recebem convidadospara mostrar o primeiro produ-to acabado do projeto RecicloGeral, que, ano passado, levounovos compositores, instru-mentistas e intérpretes a se reu-nirem no bar Reciclo AsmareCultural, para mostrar traba-lhos até então inéditos.

Trata-se do CD A Outra Ci-dade, que Makely, Kristoff e Pa-blo gostam de classificar comoa ponta de um iceberg que vaiculminar com o lançamento dediscos solos deles e de outrosjovens artistas, além de um sitee uma distribuidora, depois dolançamento de selos musical eeditorial. Para Kristoff, A OutraCidade é mais uma prova cabaldo quanto a parceria entrecompositor e intérprete é essen-cial para a canção, gênero quea maioria dos participantes doReciclo Geral escolheu paraexercitar-se musicalmente.

Além de Maísa Moura, Ju-liana Perdigão e Leopoldina,eles se uniram a intérpretesque já estavam no mercado,como Alda Rezende, PatríciaAhmaral, Marina Machado,Regina Spósito, Trio Amarantoe Paula Santoro, para mostrarsua música. A maioria prome-te marcar presença no show dehoje à noite, exceto Marina,Paula e Amaranto, por com-

promissos profissionais assu-midos anteriormente.

Segundo Pablo Castro, com oCD eles estão reciclando o queaté então se fez de grandioso doponto de vista da canção. “Eprovavelmente o diferencial es-teja no fato de não termosidentidade estética”, destaca oartista, que, paralelamente àcarreira solo, canta e toca nabanda Sgt. Pepper’s.

Makely Ka diz que sua ge-

ração percebeu a viabilidadedo caminho independente emum momento inusitado – desupremacia da individualida-de, advinda da globalização –,lembrando que o encontro dostrês é anterior ao Reciclo Ge-ral, mais precisamente doFestival de Inverno de OuroPreto de 1998, quando elelançava livro, Kristoff minis-trava oficina e Pablo se apre-sentava no evento.

HARMONIA

Pablo Castro,Makely Ka eKristoff Silva seencontram nodisco e no show“A Outra Cidade”

DIVULGAÇÃO/HELENA LEÃO

A OUTRA CIDADEShow de lançamento do CD do projeto “Reciclo Geral”, na Conexão Telemig Celularde Música. Teatro Sesiminas, rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31) 3241-7132. Hoje, 21h. Ingresso pode ser trocado nas lojas Telemig Celular,Centro e Savassi por dois quilos de alimentos. CD será vendido no local a R$ 15.

SERVIÇO

MÚSICA

Uma história feliz

Não, não havia mais espaço paraela em Belo Horizonte. As ruas, osbares, a noite, nada mais a atraía.Nem ao Palácio das Artes, de on-de tanto gostava, Sandra estavaindo mais para assistir filmes naSala Humberto Mauro. Comotambém deixou de fazer cami-

nhadas à tarde, na Praça da Liberdade, ounos fins de semana, no alto da Afonso Pena,de onde também, nem mais uma vez, viu opôr-do-sol, enquanto tomava água-de-cocoencostada na cruz de ferro, obra do escultorRicardo Carvão. E ainda: deixou de tomar sor-vetes de flocos e jabuticaba na São Domingos;de ir às vernissages ou a uma ou outra boatebadalada, como fazia com as suas amigas pe-lo menos uma vez por semana.

Sabem por quê? Porque aquela bela more-na curvelana, que vivia em Belo Horizonte des-de a adolescência, não estava conseguindo en-contrar, aqui na capital de Minas, por mais quebatalhasse, o grande amor de sua vida. O últi-mo, do qual nem gostava de se lembrar, haviasido um desastre. “Você precisa fazer uma via-gem, minha filha, passar uns tempos fora, poistodos nós, pelo menos uma vez na vida, temosde fazer isso”, aquela cartomante, Mãe Teresa,que atendia lá pelos lados da Floresta, em umbarracão humilde e cheirando a mofo, lhe dis-se, olhando nos seus olhos, após embaralhar edesembaralhar inúmeras vezes as cartas.

No outro dia, após comentar com a sua te-rapeuta, esta lhe disse que, embora não acredi-tasse no poder das cartas, e muito menos nosbúzios, achava que Mãe Teresa tinha razão.“Em outras palavras, Sandra, eu também sem-pre lhe falei isso.” E foi então que em uma sex-ta-feira à noite, já com a decisão tomada, aque-la morena de lábios grossos, cabelos negros efartos, que ainda nem havia chegado aos 25anos, mas já estava se sentindo uma velha, dis-se aos seus pais, que a ouviram perplexos, queestava indo para os Estados Unidos. “Uma via-gem, minha filha, você tem de fazer uma via-

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Na despedida, no aeroporto de Confins, to-da a família estava presente, e a mãe aindalhe deu, enquanto a abraçava, uma medalhi-nha de São Geraldo, padroeiro de Curvelo.“Para ele te proteger, minha filha…”, faloucom a voz embargada, ao que o pai, queren-do ser durão, apenas lhe deu um rápido bei-jo e se afastou, para que ela não o visse cho-rando. No aeroporto de Nova York, ao contrá-rio do que haviam combinado, sua amiga nãoa estava esperando.

Mas, por essas voltas e reviravoltas do des-tino, enquanto ela, após mostrar os documen-tos e ser liberada, se atrapalhava meio a tan-tas malas e sacolas, um rapaz meio aloirado,muito alto e tentando se expressar em espa-nhol se aproximou dela e perguntou se podiaajudar. Insegura, mas na hora sentindo o co-ração disparar, quando seus olhos se encon-traram, a princípio Sandra agradeceu e disseum vacilante “estoy bien”. Porém acabou per-mitindo que aquele homem a ajudasse a car-regar as malas até um táxi, após não aceitar,pois aí seria demais, que ele a levasse em ca-sa. Mas, ante a sua insistência, acabou lhedando o telefone da amiga.

E foi ela que no outro dia, no início da noite,quando estavam se preparando para sair, aten-deu a uma chamada e, já sabendo da história,disse a Sandra, com um sorriso cúmplice: “Éele, o John…”. O mesmo John, ou melhor JohnAnderson K., um engenheiro civil nascido noKansas, que, na semana passada, junto com asua mulher, a mineira Sandra, com quem já es-tá casado há quase três anos e tem um filhinho,o Richard, que do pai só puxou o azul dosolhos, pois de resto é um sertanejo típico, de-sembarcou no aeroporto de Confins, e de lá se-guiram para Curvelo, onde uma grande festaos estava esperando.

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RESULTADO DO PROJETO “RECICLO GERAL”, DISCO “A OUTRA CIDADE”TEM APRESENTAÇÃO DE LANÇAMENTO HOJE, NO TEATRO SESIMINAS

RENOVADAS CANÇÕESAILTON MAGIOLI

A geração é outra, mas a ri-queza harmônica, melódica epoética é a mesma que marcouas anteriores e acabou se tor-nando responsável pelo dife-rencial da música produzidaem Minas Gerais. Atração demais uma edição da ConexãoTelemig Celular de Música, ho-je à noite, no Teatro Sesiminas,Makely Ka, Kristoff Silva e Pa-blo Castro recebem convidadospara mostrar o primeiro produ-to acabado do projeto RecicloGeral, que, ano passado, levounovos compositores, instru-mentistas e intérpretes a se reu-nirem no bar Reciclo AsmareCultural, para mostrar traba-lhos até então inéditos.

Trata-se do CD A Outra Ci-dade, que Makely, Kristoff e Pa-blo gostam de classificar comoa ponta de um iceberg que vaiculminar com o lançamento dediscos solos deles e de outrosjovens artistas, além de um sitee uma distribuidora, depois dolançamento de selos musical eeditorial. Para Kristoff, A OutraCidade é mais uma prova cabaldo quanto a parceria entrecompositor e intérprete é essen-cial para a canção, gênero quea maioria dos participantes doReciclo Geral escolheu paraexercitar-se musicalmente.

Além de Maísa Moura, Ju-liana Perdigão e Leopoldina,eles se uniram a intérpretesque já estavam no mercado,como Alda Rezende, PatríciaAhmaral, Marina Machado,Regina Spósito, Trio Amarantoe Paula Santoro, para mostrarsua música. A maioria prome-te marcar presença no show dehoje à noite, exceto Marina,Paula e Amaranto, por com-

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Segundo Pablo Castro, com oCD eles estão reciclando o queaté então se fez de grandioso doponto de vista da canção. “Eprovavelmente o diferencial es-teja no fato de não termosidentidade estética”, destaca oartista, que, paralelamente àcarreira solo, canta e toca nabanda Sgt. Pepper’s.

Makely Ka diz que sua ge-

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HARMONIA

Pablo Castro,Makely Ka eKristoff Silva seencontram nodisco e no show“A Outra Cidade”

DIVULGAÇÃO/HELENA LEÃO

Page 17: SÁB ADO , 2 4 D E M AIO DE 2014 ões brasileiras,a mericanas ã …makelyka.com.br/wp-content/uploads/2015/07/Clipping-Makely-Ka-10M.pdf · EM ESTADO DE MINAS SÁB ADO ,2 4D EM AIO

ARTHUR G. COUTO DUARTE

O rock ainda pensa. Quandomuitos já davam a mais nobrelinhagem dos cantores-compo-sitores da música pop (TomWaits, Randy Newman, Morris-sey, Harry Nilsson, Nick Cave eLloyd Cole, entre outros) comoacabada, eis que, do coração deBrighton, na Inglaterra, surgeEd Harcourt. Dono de um estilopessoal de composição e inter-pretação, Harcourt estreou nomercado fonográfico com o mi-ni-álbum Mappelwood. Um anodepois, o subsequente Here BeMonsters lhe valeu uma indica-ção ao cobiçado Mercury Prizee elogios rasgados por parte dacrítica especializada. Na elabo-ração do recém-lançado FromEvery Sphere, Harcourt enume-rou como influências os escrito-res Raymond Carver e JD Salin-ger, o cineasta David Lynch, opoeta romântico John Donne eShakespeare.

Por mais despropositado quepareça, tal amálgama começa afazer sentido já na audição dasprimeiras faixas do disco, me-diante a irrupção de um jorro lí-rico vindo do inconsciente, denatureza impressionista, noqual o autor tece ruminaçõesacerca de fantasmas, sexo, so-nhos e sentimentos de perda,traição e morte. Ambiciosa, aidéia inicial para From EverySphere girava em torno de umálbum duplo conceitual, comnada menos do que 50 compo-

sições. Pressionado pela grava-dora, Harcourt então redimen-sionou o lote, chegando às 12faixas finais. E o que emanadesse material faz jus ao pro-metido: mestre na agonizantearte do jogo das palavras, elecria letras com a técnica de umourives, sem no entanto abrirmão da emoção.

Musicalmente, o death-popde Ed Harcourt – conforme seuestilo foi definido pelo produtorTchad Blake – denota uma fide-lidade para com as estruturasclássicas da canção. Ainda as-sim, há sempre um elemento si-nistro em meio às melodias;uma sensação de selvageriaoculta que ameaça irromperdas profundezas para nos en-golfar a qualquer momento. É oque ocorre já em All of yourdays will be blessed: escolhidapara primeiro single do disco,traz um coral que poderia atésugerir um lampejo de alegriada parte de Harcourt, porémseus versos dardejantes de me-lancolia querem mesmo é acer-tar na mosca do fatalismo.

Fã incondicional de cinema,Harcourt homenageia o diretorJim Jarmusch na esquálidaGhostrider, onde um homemaprisionado espanta o tédio emsua cela “tirando um som” aobater sua escova de dentescontra um cano. Já Bleed a ri-ver deep e Sister Reneé são aprova de que é possível tratarde raiva com contenção, en-quanto pulsos cortados e ima-

gens que soltam “demônios elobos” do fundo da madrugadavem nos confundir em Meta-phorically Yours, ao surgiremmescladas com um arranjo dosmais doces, rico em harmoniasvocais dignas dos Carpenters.

Lá pelas tantas, os sete minu-tos da faixa-título encadeiamuma espécie de mantra cósmi-co, tangido por piano e quarte-to de cordas, com um patéticoHarcourt sussurando bêbadopara a lua, ao modo do compa-

dre Tom Waits. Uma conclusãoapropriada para um álbum cu-jo autor costuma dizer quecompõe “em explosões, só pa-ra subverter o lugar comum aque foi confinadaa música pop”.

KIKO FERREIRA

O cantor e compositor minei-ro Sérgio Moreira parece fazerum rápido retrato de si própriona letra de Camaleão, uma das11 faixas de seu novo CD, Negro.“Um camelão que não muda decor” é uma boa definição para oestilo de um dos mais versáteis eplurais autores destas terras tãogerais que, na mesma música,compara nós e nossos contempo-râneos a “aquarelas sob a chuva,misturando as cores”, numa felizmetáfora sobre a capacidade hu-mana de digerir e misturar senti-dos e sentimentos.

Surgido nos anos 70, conheci-do a partir do trabalho com ogrupo Ingazeira, Sérgio semprefoi um criador autônomo, poliva-lente, de certa maneira à frentede seu tempo. Num período emque a ditadura não permitiamaiores ousadias, e que o corre-to era construir imagens politica-mente e poeticamente dúbias, oufalar de paisagens e situações re-gionais como forma de combatero imperialismo ianque, Sérgio ou-via Frank Zappa, Hot Tuna, KingCrimson e Sérgio Sampaio, e pin-tava o regionalismo do Ingazeiracom tintas múltiplas, em tons di-ferentes do cenário local.

Seu primeiro disco-solo tinhatango, reggae, blues (com um be-lo solo do ainda iniciante Affonsi-nho), experimentações vocais,caetanices amineiradas, batuquee sotaque rock, num tempo emque roqueiro brasileiro tinha carade bandido e os tambores de Mi-nas não estavam na moda. Vemdele a música Cafuzo, recriadapor vários intérpretes e que podeser encarada como ponto de par-tida deste Negro, que ele classifi-ca como uma síntese das influên-cias musicais, ideológicas e esté-ticas que recebeu ao longo dacarreira. O tom da capa e do no-me chamam atenção para a ên-fase nas influências do sons e rit-mos da música afro-mineira,trespassados pelo estilo único de

Sérgio, em momento de equilí-brio entre sons acústicos, elétri-cos e eletrônicos que ele manipu-la com parcimônia.

Contando com participaçõesespeciais de amigos e parceiroscomo Maurício Tizumba, Perei-ra da Viola, Mamour Bah, Play eSerginho Silva, Sérgio Moreiraacerta em recriações de Brejo daCruz (de Chico Buarque, comacento reggae), Lero Lero (deEdu Lobo e Capinam, transfor-mada num funk dançante, à laTim Maia) e Cravo e Canela (deMilton e Ronaldo Bastos), estilizaa toada mineira (Cara Metade) ea world music de matriz africa-na (Assim é o mundo), tira ro-mantismo da influência religio-sa afro-mineira (Você e Eu) e dásua versão para o soul de Berim-brown e cia. (Tanto Charme).Encerrado com o samba poéti-co/ecológico Pra dizer que sim,Negro abre com consistência atemporada de lançamento de2004 e aumenta as possibilida-des de reposicionamento da car-reira de um artista que mereciaocupar espaço mais generoso nocenário que ajudou aconstruir.

C U L T U R A

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D I S C O S LANÇAMENTOSRegular Muito Bom ÓtimoBomRuim

C O T A Ç Ò E S

ED HARCOURT DIZ QUE COMPÕE EM “EXPLOSÕES” PARA SUBVERTER O LUGAR COMUM QUE APRISIONA A MÚSICA POPREPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

12 TEMAS EMBALADOS PARA VIAGEM. SUITE MINIMALO grupo vem do Paraná com uma misturade punk, psicodelia e grooves, muitasguitarras e efeitos criativos. São 12 faixas,dez delas instrumentais e duas com letrasem inglês – a ótima One More Guiness e Goburning bird. Um estréia de alto nível, paracervejeiros incendiários se divertirem a noitetoda. Como vai ser difícil achar na praça,a dica é [email protected] ouwww.suiteminimal.tk. Valea pena. (Mário Sérgio)

OK GO . OK GO Aos moldes do cultuado Weezer, estequarteto de Chicago procura emular opower-pop que, nos anos 70, teve emformações como The Cars, The Knack e TheRaspberries seus principais expoentes.Damian Kulash, vocalista e compositor doOK Go, pode até ser pós-graduado emsemiótica, mas as letras de Bye Bye Baby,Get over it e You’re so damn hotmal conseguem ir além do clichê.(AGCD)

KADU & CAMILINHO. KADU & CAMILINHOApadrinhados do apresentador Ratinho, elesparecem não saber se são cantores ouhumoristas. Como músicos, não acrescentamnada ao gênero, apenas copiam clichês, emespecial quando apelam para o romantismo.Como comediantes, o humor é grosseriapura. Mas tem gente que vai gostar de coisas como Mete chifre nele, Parei de beber,só tô comendo e Como reconquistar o seu amor. (MS)

BLINK 182 . BLINK 182 Punks de shopping center, Tom Delonge,Travis Barker e Mark Hoppus anteciparamum patético movimento que hoje vive àscustas das poses e gracinhas dos nãomenos inócuos Sum 41, New Found Glory,Saves The e Good Charlotte. Tentandoescapar da armadilha que eles própriosarmaram, tentam vender uma sonoridade,digamos, conceitual. Mas a resultante –incluída a participação especial de RobertSmith, líder do The Cure – soaforçada e (ainda) pueril. (AGCD)

SELVAGEMMELANCOLIA

DIVULGAÇÃO

INSPIRAÇÃOO músico britânico Ed Harcourt está lançando seu terceiro trabalho, “From Every Sphere”

DESENVOLVIDO DE FORMA INDEPENDENTE POR ARTISTAS MINEIROS,O ÁLBUM “A OUTRA CIDADE” FAZ A PONTE ENTRE O ANTIGO E O NOVO

AQUARELA DE CAMALEÃOSÉRGIO MOREIRA BUSCA AS RAÍZES EM “NEGRO”

DIVULGAÇÃO

Moreira mostra versatilidade

JORGE FERNANDO DOS SANTOS

De Ary Barroso ao Skank,com parada obrigatória na esta-ção do Clube da Esquina, os mi-neiros sempre se destacaram naMPB. No entanto, é preciso ga-rimpar fundo nos veios sonorosdas Minas Gerais para descobrirque a história não parou por aí.Um exemplo do potencial inova-dor das novas gerações é o CD AOutra Cidade. Independente, co-mo a maioria dos bons discoshoje produzidos no País, a bola-chinha dialoga com as vanguar-das, mantendo um pé na tradi-ção e outro na pós-modernidade.

As músicas são de Pablo Cas-tro, Makely Ka, Luiz HenriqueGarcia e Kristoff Silva, um quar-teto da pesada que se reveza nasparcerias, com a leveza perfor-

mática daqueles que sabem co-mo é bom tocar um instrumen-to. Além deles, a produção artís-tica conta com os músicos LucasMiranda e Avelar Jr. São nadamenos que 17 canções, cadauma com sua própria atmosfe-ra. Mas vale destacar, por exem-plo, Em Diante (letra, música ea linda voz de Kristoff Silva) e In-tuição (do quarteto citado, navoz doce e forte de Alda Rezen-de em dueto com Kristoff). Umalembra o melhor de José MiguelWisnik e a outra dialoga com osom mais contemporâneo deChico Buarque.

Também merecem registroMulher do Norte, O Chamador,Morrer no Mar e Mira, retratosonoro do submundo do sexo.Resumindo, o repertório estáacima de tudo o que vem sendo

veiculado pela mídia e as partici-pações especiais não poderiamser mais apropriadas. Não bas-tasse a bela voz dos composito-res e a já citada Alda Rezende, otime também reúne Marina Ma-chado e Regina Spósito, numreencontro admirável; Titane,em excelente performance(sem abusar dos agudos); Julia-na Perdigão; Rosa Souki, Leo-poldina e Maisa Moura; SérgioPererê (do grupo de percussãoTambolelê); Patrícia Ahmaral ePaula Santoro (num encontroantológico com o trio Amaran-to). Cada música é uma viagem,com arranjos suaves e inovado-res que, misturam cordas, per-cussão e eletrônica, lembrandoàs vezes George Martin e a últi-ma fase dos Bea-tles.

DIVULGAÇÃO

O TRIO Kristoff Silva, Makely Ka e Pablo Castro criaram as bases do projeto musical “A Outra Cidade”

NA TRADIÇÃO DA VANGUARDA

RESURRECTION . TUPAC Mesmo com a presença de seu pai no postode produtor executivo, essa trilha sonora ésó mais uma exploração do legado deTupac. Em meio ao matraquear de uzis etresoitões do gangsta, o finado rapper éinvocado do além nas inéditas – eapropriadamente intituladas – Ghost(“fantasma”) e Dying to live (“morrendopara viver”). Aclimatação sombria,batidas matadoras, mas teria sido melhor deixar Tupac em paz.(AGCD)

ARTHUR G. COUTO DUARTE

O rock ainda pensa. Quandomuitos já davam a mais nobrelinhagem dos cantores-compo-sitores da música pop (TomWaits, Randy Newman, Morris-sey, Harry Nilsson, Nick Cave eLloyd Cole, entre outros) comoacabada, eis que, do coração deBrighton, na Inglaterra, surgeEd Harcourt. Dono de um estilopessoal de composição e inter-pretação, Harcourt estreou nomercado fonográfico com o mi-ni-álbum Mappelwood. Um anodepois, o subsequente Here BeMonsters lhe valeu uma indica-ção ao cobiçado Mercury Prizee elogios rasgados por parte dacrítica especializada. Na elabo-ração do recém-lançado FromEvery Sphere, Harcourt enume-rou como influências os escrito-res Raymond Carver e JD Salin-ger, o cineasta David Lynch, opoeta romântico John Donne eShakespeare.

Por mais despropositado quepareça, tal amálgama começa afazer sentido já na audição dasprimeiras faixas do disco, me-diante a irrupção de um jorro lí-rico vindo do inconsciente, denatureza impressionista, noqual o autor tece ruminaçõesacerca de fantasmas, sexo, so-nhos e sentimentos de perda,traição e morte. Ambiciosa, aidéia inicial para From EverySphere girava em torno de umálbum duplo conceitual, comnada menos do que 50 compo-

sições. Pressionado pela grava-dora, Harcourt então redimen-sionou o lote, chegando às 12faixas finais. E o que emanadesse material faz jus ao pro-metido: mestre na agonizantearte do jogo das palavras, elecria letras com a técnica de umourives, sem no entanto abrirmão da emoção.

Musicalmente, o death-popde Ed Harcourt – conforme seuestilo foi definido pelo produtorTchad Blake – denota uma fide-lidade para com as estruturasclássicas da canção. Ainda as-sim, há sempre um elemento si-nistro em meio às melodias;uma sensação de selvageriaoculta que ameaça irromperdas profundezas para nos en-golfar a qualquer momento. É oque ocorre já em All of yourdays will be blessed: escolhidapara primeiro single do disco,traz um coral que poderia atésugerir um lampejo de alegriada parte de Harcourt, porémseus versos dardejantes de me-lancolia querem mesmo é acer-tar na mosca do fatalismo.

Fã incondicional de cinema,Harcourt homenageia o diretorJim Jarmusch na esquálidaGhostrider, onde um homemaprisionado espanta o tédio emsua cela “tirando um som” aobater sua escova de dentescontra um cano. Já Bleed a ri-ver deep e Sister Reneé são aprova de que é possível tratarde raiva com contenção, en-quanto pulsos cortados e ima-

gens que soltam “demônios elobos” do fundo da madrugadavem nos confundir em Meta-phorically Yours, ao surgiremmescladas com um arranjo dosmais doces, rico em harmoniasvocais dignas dos Carpenters.

Lá pelas tantas, os sete minu-tos da faixa-título encadeiamuma espécie de mantra cósmi-co, tangido por piano e quarte-to de cordas, com um patéticoHarcourt sussurando bêbadopara a lua, ao modo do compa-

dre Tom Waits. Uma conclusãoapropriada para um álbum cu-jo autor costuma dizer quecompõe “em explosões, só pa-ra subverter o lugar comum aque foi confinadaa música pop”.

KIKO FERREIRA

O cantor e compositor minei-ro Sérgio Moreira parece fazerum rápido retrato de si própriona letra de Camaleão, uma das11 faixas de seu novo CD, Negro.“Um camelão que não muda decor” é uma boa definição para oestilo de um dos mais versáteis eplurais autores destas terras tãogerais que, na mesma música,compara nós e nossos contempo-râneos a “aquarelas sob a chuva,misturando as cores”, numa felizmetáfora sobre a capacidade hu-mana de digerir e misturar senti-dos e sentimentos.

Surgido nos anos 70, conheci-do a partir do trabalho com ogrupo Ingazeira, Sérgio semprefoi um criador autônomo, poliva-lente, de certa maneira à frentede seu tempo. Num período emque a ditadura não permitiamaiores ousadias, e que o corre-to era construir imagens politica-mente e poeticamente dúbias, oufalar de paisagens e situações re-gionais como forma de combatero imperialismo ianque, Sérgio ou-via Frank Zappa, Hot Tuna, KingCrimson e Sérgio Sampaio, e pin-tava o regionalismo do Ingazeiracom tintas múltiplas, em tons di-ferentes do cenário local.

Seu primeiro disco-solo tinhatango, reggae, blues (com um be-lo solo do ainda iniciante Affonsi-nho), experimentações vocais,caetanices amineiradas, batuquee sotaque rock, num tempo emque roqueiro brasileiro tinha carade bandido e os tambores de Mi-nas não estavam na moda. Vemdele a música Cafuzo, recriadapor vários intérpretes e que podeser encarada como ponto de par-tida deste Negro, que ele classifi-ca como uma síntese das influên-cias musicais, ideológicas e esté-ticas que recebeu ao longo dacarreira. O tom da capa e do no-me chamam atenção para a ên-fase nas influências do sons e rit-mos da música afro-mineira,trespassados pelo estilo único de

Sérgio, em momento de equilí-brio entre sons acústicos, elétri-cos e eletrônicos que ele manipu-la com parcimônia.

Contando com participaçõesespeciais de amigos e parceiroscomo Maurício Tizumba, Perei-ra da Viola, Mamour Bah, Play eSerginho Silva, Sérgio Moreiraacerta em recriações de Brejo daCruz (de Chico Buarque, comacento reggae), Lero Lero (deEdu Lobo e Capinam, transfor-mada num funk dançante, à laTim Maia) e Cravo e Canela (deMilton e Ronaldo Bastos), estilizaa toada mineira (Cara Metade) ea world music de matriz africa-na (Assim é o mundo), tira ro-mantismo da influência religio-sa afro-mineira (Você e Eu) e dásua versão para o soul de Berim-brown e cia. (Tanto Charme).Encerrado com o samba poéti-co/ecológico Pra dizer que sim,Negro abre com consistência atemporada de lançamento de2004 e aumenta as possibilida-des de reposicionamento da car-reira de um artista que mereciaocupar espaço mais generoso nocenário que ajudou aconstruir.

C U L T U R A

E S T A D O D E M I N A S - T E R Ç A - F E I R A , 3 D E F E V E R E I R O D E 2 0 0 4P Á G I N A 6

D I S C O S LANÇAMENTOSRegular Muito Bom ÓtimoBomRuim

C O T A Ç Ò E S

ED HARCOURT DIZ QUE COMPÕE EM “EXPLOSÕES” PARA SUBVERTER O LUGAR COMUM QUE APRISIONA A MÚSICA POPREPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

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12 TEMAS EMBALADOS PARA VIAGEM. SUITE MINIMALO grupo vem do Paraná com uma misturade punk, psicodelia e grooves, muitasguitarras e efeitos criativos. São 12 faixas,dez delas instrumentais e duas com letrasem inglês – a ótima One More Guiness e Goburning bird. Um estréia de alto nível, paracervejeiros incendiários se divertirem a noitetoda. Como vai ser difícil achar na praça,a dica é [email protected] ouwww.suiteminimal.tk. Valea pena. (Mário Sérgio)

OK GO . OK GO Aos moldes do cultuado Weezer, estequarteto de Chicago procura emular opower-pop que, nos anos 70, teve emformações como The Cars, The Knack e TheRaspberries seus principais expoentes.Damian Kulash, vocalista e compositor doOK Go, pode até ser pós-graduado emsemiótica, mas as letras de Bye Bye Baby,Get over it e You’re so damn hotmal conseguem ir além do clichê.(AGCD)

KADU & CAMILINHO. KADU & CAMILINHOApadrinhados do apresentador Ratinho, elesparecem não saber se são cantores ouhumoristas. Como músicos, não acrescentamnada ao gênero, apenas copiam clichês, emespecial quando apelam para o romantismo.Como comediantes, o humor é grosseriapura. Mas tem gente que vai gostar de coisas como Mete chifre nele, Parei de beber,só tô comendo e Como reconquistar o seu amor. (MS)

BLINK 182 . BLINK 182 Punks de shopping center, Tom Delonge,Travis Barker e Mark Hoppus anteciparamum patético movimento que hoje vive àscustas das poses e gracinhas dos nãomenos inócuos Sum 41, New Found Glory,Saves The e Good Charlotte. Tentandoescapar da armadilha que eles própriosarmaram, tentam vender uma sonoridade,digamos, conceitual. Mas a resultante –incluída a participação especial de RobertSmith, líder do The Cure – soaforçada e (ainda) pueril. (AGCD)

SELVAGEMMELANCOLIA

DIVULGAÇÃO

INSPIRAÇÃOO músico britânico Ed Harcourt está lançando seu terceiro trabalho, “From Every Sphere”

DESENVOLVIDO DE FORMA INDEPENDENTE POR ARTISTAS MINEIROS,O ÁLBUM “A OUTRA CIDADE” FAZ A PONTE ENTRE O ANTIGO E O NOVO

AQUARELA DE CAMALEÃOSÉRGIO MOREIRA BUSCA AS RAÍZES EM “NEGRO”

DIVULGAÇÃO

Moreira mostra versatilidade

JORGE FERNANDO DOS SANTOS

De Ary Barroso ao Skank,com parada obrigatória na esta-ção do Clube da Esquina, os mi-neiros sempre se destacaram naMPB. No entanto, é preciso ga-rimpar fundo nos veios sonorosdas Minas Gerais para descobrirque a história não parou por aí.Um exemplo do potencial inova-dor das novas gerações é o CD AOutra Cidade. Independente, co-mo a maioria dos bons discoshoje produzidos no País, a bola-chinha dialoga com as vanguar-das, mantendo um pé na tradi-ção e outro na pós-modernidade.

As músicas são de Pablo Cas-tro, Makely Ka, Luiz HenriqueGarcia e Kristoff Silva, um quar-teto da pesada que se reveza nasparcerias, com a leveza perfor-

mática daqueles que sabem co-mo é bom tocar um instrumen-to. Além deles, a produção artís-tica conta com os músicos LucasMiranda e Avelar Jr. São nadamenos que 17 canções, cadauma com sua própria atmosfe-ra. Mas vale destacar, por exem-plo, Em Diante (letra, música ea linda voz de Kristoff Silva) e In-tuição (do quarteto citado, navoz doce e forte de Alda Rezen-de em dueto com Kristoff). Umalembra o melhor de José MiguelWisnik e a outra dialoga com osom mais contemporâneo deChico Buarque.

Também merecem registroMulher do Norte, O Chamador,Morrer no Mar e Mira, retratosonoro do submundo do sexo.Resumindo, o repertório estáacima de tudo o que vem sendo

veiculado pela mídia e as partici-pações especiais não poderiamser mais apropriadas. Não bas-tasse a bela voz dos composito-res e a já citada Alda Rezende, otime também reúne Marina Ma-chado e Regina Spósito, numreencontro admirável; Titane,em excelente performance(sem abusar dos agudos); Julia-na Perdigão; Rosa Souki, Leo-poldina e Maisa Moura; SérgioPererê (do grupo de percussãoTambolelê); Patrícia Ahmaral ePaula Santoro (num encontroantológico com o trio Amaran-to). Cada música é uma viagem,com arranjos suaves e inovado-res que, misturam cordas, per-cussão e eletrônica, lembrandoàs vezes George Martin e a últi-ma fase dos Bea-tles.

DIVULGAÇÃO

O TRIO Kristoff Silva, Makely Ka e Pablo Castro criaram as bases do projeto musical “A Outra Cidade”

NA TRADIÇÃO DA VANGUARDA

RESURRECTION . TUPAC Mesmo com a presença de seu pai no postode produtor executivo, essa trilha sonora ésó mais uma exploração do legado deTupac. Em meio ao matraquear de uzis etresoitões do gangsta, o finado rapper éinvocado do além nas inéditas – eapropriadamente intituladas – Ghost(“fantasma”) e Dying to live (“morrendopara viver”). Aclimatação sombria,batidas matadoras, mas teria sido melhor deixar Tupac em paz.(AGCD)