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Os senhores dos dragões

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S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

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O s s e n h o r e s d o s d r a g õ e sO s s e n h o r e s d o s d r a g õ e sO s s e n h o r e s d o s d r a g õ e sO s s e n h o r e s d o s d r a g õ e s

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Capítulo 16 – Os senhores dos dragões

— Yusguard, o que acha que realmente aconteceu em Buor? — Não sei, Luftar – respondeu Yusguard preocupado. – A cidade foi completamente queimada. Parece que houve alguma batalha… — Uma batalha onde não conseguiram matar nenhum inimigo? – perguntou Luftar insinuando que ignoravam o que realmente aconte-ceu. – Nós vimos os corpos, mas todos eles eram dos próprios habitan-tes de Buor. Como é possível que nenhum inimigo tenha sido derrota-do por eles? Yusguard não respondeu. Não conseguia imaginar o que podia ter acontecido na cidade. Todos os habitantes estavam mortos e pratica-mente todas as casas estavam queimadas. Encontrou pegadas no chão, pegadas que não eram de humanos. O que teria atacado a cida-de? — Ainda havia fogo – disse Cardamis de repente. – Mesmo com a chuva ainda havia fogo na cidade. Seja o que for que aconteceu por lá, aconteceu no máximo há uns dois dias. Então como é possível que não tenhamos visto nem sinal de inimigos nas redondezas da cidade? — Cardamis tem razão – disse Roeron entrando na conversa. – Com o estrago que fizeram na cidade, e a velocidade com que fizeram isso, devia ser no mínimo um pequeno exército. Eles derrubaram os portões e destruíram a cidade, matando todos os que encontraram pelo cami-nho. Então como não encontramos ninguém próximo a cidade? Novamente Yusguard não respondeu. Estava perturbado com tudo o que viu na cidade. Tanto horror, tanta crueldade, e por quê? Qual era o sentido daquilo? Uma cidade bonita com homens de paz; por que al-guém se daria ao trabalho de cometer tamanha crueldade com Buor?

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— Parece que meu pai estava certo mais uma vez – disse Yusguard após um longo tempo meditando. – Coisas estranhas e ruins estão acontecendo. Alguma coisa realmente ruim está prestes a acontecer em Gardwen. Yusguard e seus homens haviam deixado Buor há apenas alguns mi-nutos e agora sobrevoavam a imensidão da Floresta de Pedra. Vista de cima era tão misteriosa quanto vista de perto. A névoa que cobria toda a floresta não permitia que se visse nada dentro dela. A densa névoa dava à floresta a aparência de um grande lago, cheio de pedras se sobressaindo sobre ele. O sol já estava quase se pondo, mas Yus-guard pretendia chegar ao outro lado da floresta para poder acampar. Aquele lugar era misterioso, jamais pousara naquele solo, tampouco queria pousar. Eles eram homens de Covarmen, o reino dos dragões e dos senhores de dragões. Yusguard, assim como os outros, estava voando sobre as cos-tas de seu dragão. Os homens de Covarmen são conhecidos por sua co-ragem e bravura, e eles fazem jus a isso. Yusguard é um viajante, um eterno peregrino. Sobre as costas de seu dragão, voa para todas as par-tes de Gardwen, e seus homens o seguem. Luftar, seu primo, é o mais jovem. Com apenas dezenove anos Luftar é um dos homens mais cora-josos que Yusguard conhecia, mas também um grande cabeça dura. Luftar é meio esquentado e freqüentemente age sem pensar, tomando decisões sem pensar nas conseqüências. Cardamis é o oposto de Luftar. O mais velho dos cinco, Cardamis é o mais experiente. Sempre calmo, pensando sempre duas vezes antes de falar ou de agir. Roeron é o eterno amigo de Yusguard. Desde criança os dois são inseparáveis e juntos costumavam se meter em grandes confusões. E por último, mas não menos querido, Lendus. Ele foi o escolhido pelo pai de Yusguard para seguir o filho aonde quer que ele fosse, sendo seu guarda-costas e

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seu conselheiro. Mas o rei jamais soube que Lendus é mais fiel ao fi-lho que a ele. Longuard, o irmão de Yusguard, também costumava vo-ar ao lado deles, mas desde que o rei adoeceu, Longuard se afastou de seu irmão. Yusguard saiu de Covarmen alguns dias atrás e de lá seguiu para Bu-or, onde havia feito amizades. Queria dar a eles um aviso oficial de Covarmen, mas ficou chocado ao encontrar a cidade em tal situação. Agora ele estava seguindo para Aldunion, a capital do reino de Mon-del, onde pretende encontrar uma pessoa, seu querido irmão. Enquanto Yusguard estava distraído, pensando em tudo o que acon-tecera nos últimos tempos, um de seus homens chamou sua atenção: — Veja Yusguard! O que está acontecendo? De repente parecia que um vento muito forte estava soprando lá em-baixo. A névoa da floresta passou a mover-se ligeiramente para a frente e Yusguard a acompanhou com os olhos. Algo muito estranho estava acontecendo. Além de onde eles estavam, ele podia ver que a névoa também estava se movendo, mas em direção contrária à névoa que estava sob eles. Era como se toda a névoa estivesse sendo concen-trada em um único ponto. Yusguard olhou para o centro, para onde toda névoa estava sendo sugada, então se surpreendeu com o que viu. — O que é aquilo? – perguntou Luftar apontando para o ponto onde toda a névoa da floresta estava sendo concentrada. — É uma grande construção – afirmou Cardamis surpreso. – É uma espécie de templo, mas ele nunca esteve aqui antes… Os cinco estavam olhando para a enorme construção feita completa-mente de ouro, então ficaram igualmente surpresos quando viram a cor dourada do templo desaparecendo, transformando-o em um templo de pedra bruta. Era para dentro dele que toda a névoa estava sendo levada.

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— Vamos nos aproximar e ver o que está acontecendo – ordenou Yusguard olhando, sem saber, para a ruína do Templo do Sacrifício. Mesmo em meio à enorme quantidade de névoa que o templo estava sugando, ele conseguiu enxergar uma longa escadaria que levava até o chão da Floresta de Pedra, o único lugar por onde se podia chegar ou sair do templo. A não ser que a pessoa estivesse montada em um dra-gão, é claro; isso dispensaria o uso da escada, pois havia um amplo pá-tio onde podiam pousar. Enquanto se aproximavam lentamente do templo, inesperadamente os grandes pilares começaram a desmoronar, assim como o resto do tem-plo. Parte do teto ou da parede cedia em um ponto ou outro e muita poeira era levantada. Agora já estavam sobre o templo e Yusguard viu quando a escadaria de acesso desabou, impedindo que qualquer um entrasse ou saísse. — Mas que diabos está acontecendo aqui? – perguntou o jovem Luf-tar. Quanto mais os dragões desciam, mais eles podiam ver e ouvir. Um barulho intenso era ouvido, como se o templo estivesse ruindo de den-tro para fora. De repente, em meio à poeira, Yusguard viu algo se mo-vendo, então fez seu dragão descer rapidamente. — Yusguard – chamou Lendus, seu conselheiro e guarda-costas. – Não se aproxime, pode ser perigoso. Mas Yusguard não lhe deu atenção, descendo cada vez mais rápido. — YUSGUARD! – chamou o velho Cardamis. – O QUE ESTÁ FAZENDO? Mas novamente Yusguard não deu atenção ao que diziam. Ele conti-nuou descendo e seus quatro companheiros o acompanharam de longe. De repente ele percebeu o que estava se movendo e gritou:

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— CORRAM AQUI! HÁ PESSOAS LÁ EMBAIXO E ESTÃO PRECISANDO DE AJUDA! Yusguard desceu ainda mais rápido, sem se preocupar com o risco que poderia estar correndo, e seus homens foram atrás dele. Logo ele con-seguiu contar três pessoas lá embaixo, não, quatro! Havia três homens presos em meio ao templo que ruía, mas um deles estava carregando o corpo de uma jovem inconsciente. Yusguard já estava bem próximo do chão, que estava se trincando rapidamente. Os três homens olharam para ele e recuaram de medo do dragão, mas então Yusguard gritou: — NÃO FUJAM! SÓ QUERO AJUDAR… Os três homens relutaram por algum tempo, mas então parte do chão cedeu atrás deles e decidiram que deviam arriscar e aceitar ajuda. Yusguard se aproximou com seu dragão e segurou um dos homens, ajudando-o a montar nas costas de Sangrento. Ele saiu voando em grande velocidade, afastando-se do templo e esperando que seus ho-mens salvassem os outros que estavam correndo perigo, e assim acon-teceu: Luftar pegou o homem que estava vestido com vestes vermelhas e também a menina inconsciente que estava com ele, enquanto Carda-mis pegou o outro que estava usando vestes brancas. Os cinco dragões subiram rapidamente, liderados por Yusguard. O homem de vermelho que estava montado no dragão de Luftar olhou para trás e viu todo o templo ruir de uma vez por todas. Ficou alivia-do por ter saído de lá…

Elkens assustou-se ao ver o enorme dragão negro sobrevoando-os. Por um momento ele recuou, assim como Meithel e Gauton, mas então o dragão se aproximou mais e ele viu que havia alguém montado sobre o

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dragão. Elkens olhou em seus olhos e imediatamente foi capaz de per-perceber que estava diante de uma pessoa de bom coração. O homem se aproximou com seu dragão e estendeu a mão para um deles. Gauton foi quem segurou a mão do homem, então foi puxado para cima do dragão negro. Ele bateu asas e subiu, mas no segundo seguinte apare-ceram mais dragões. O primeiro deles pegou Elkens e Laserin, e por úl-timo Meithel foi pego. Quando todos estavam seguros no ar, eles olha-ram para trás e viram o templo desabando por completo. Os cinco dragões voaram sobre a Floresta de Pedra, um lugar que El-kens jamais queria voltar a pôr os pés. Eles voavam a uma grande ve-locidade, sempre liderados pelo grande dragão negro, mas assim que deixaram a Floresta de Pedra para trás, eles pousaram. Tunmá estava desaparecendo no horizonte e a noite já havia começa-do. — Quem são vocês? – perguntou Yusguard assim que desmontaram dos dragões. O líder dos senhores dos dragões era bem mais alto que Elkens. Sua força e postura já diziam isso, mas agora sua voz deter-minada e a autoridade que impunha nela confirmavam o que Elkens suspeitava: era um soldado ou qualquer coisa que fosse… era treinado para a guerra e parecia habituado a comandar, dar ordens. Seus cabe-los curtos e espetados eram ruivos e abaixo dos olhos muito verdes continha sardas. Em volta do pescoço trazia um colar rústico: uma única fita de couro com uma placa de metal pendurada. Elkens não tentou ler o que estava escrito nela. Num dos braços do homem, que estava completamente à mostra, uma feia cicatriz nascia na metade do antebraço e seguia até sob sua camisa, estendendo-se pelo peito e reaparecendo no pescoço. Elkens imaginou assustado se fora provoca-da por um dragão.

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O Sacerdote da Alma deu um passo à frente, ficando ao lado de seus companheiros. — Eu sou Elkens – disse. – Estes são Gauton e Meithel, e a garota é Laserin. — O que estavam fazendo naquele templo? – voltou a perguntar o líder dos senhores de dragões. Falava firmemente, quase como um in-terrogatório. — Estávamos… ‒ Elkens começou, mas foi interrompido por Meithel: — Perdidos! A escuridão caiu completamente sobre eles, então o velho Cardamis acendeu uma fogueira com incrível facilidade. — ESTÃO MENTINDO! – disse o jovem Luftar agressivamente, olhando com ódio para os desconhecidos. — Luftar! – Yusguard reprimiu-o. – Acalme-se. — Por que, Yusguard? Vai acreditar nesses estranhos? Vai acreditar que eles estavam apenas perdidos? Estavam se escondendo! Foram eles que atacaram a cidade de Buor, não percebe isso? Estavam fugin-do… — Está enganado! – disse Gauton com firmeza. – Nós sabemos o que aconteceu em Buor. Nós estávamos lá, mas não fomos nós que ataca-mos. Nós tentamos ajudá-los, mas eles foram todos… mortos… O jovem Luftar deu uma enorme gargalhada ao ouvir isso. Fez o que Gauton disse parecer uma piada. — Todos mortos, é? – perguntou Luftar zangado, embora ainda esti-vesse sorrindo forçadamente. – Engraçado, não acham? Vocês esta-vam no meio da batalha e, por incrível que pareça, foram os únicos a sobreviver, pois todos os outros não tiveram a menor chance…

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— Eles sobreviveram, Luftar – disse Yusguard alteando a voz para que pudesse ser ouvido pelo primo zangado, mas não olhou para ele; olhava atentamente para Elkens – porque são protetores! Todos ficaram sem reação com a afirmação de Yusguard, tanto os seus homens como Elkens e os outros. Yusguard olhou sorrindo para Meithel, cujo rosto mostrava um misto de espanto e surpresa, então disse: — Por que se espantou? Estranha o fato de eu saber quem são? Mas não deveriam estranhar, pois não faz muito tempo vocês viviam co-nosco. Os protetores não viviam escondidos como hoje, viviam no nos-so mundo, em Gardwen, lutando ao nosso lado. Não sabemos o que aconteceu, mas de repente os protetores desapareceram e hoje são vis-tos muito raramente, e os poucos que os vêem não os reconhecem mais, nem sabem quem são. Hoje vocês são considerados uma lenda por mui-tos, mas alguns ainda sabem quem são… Cardamis foi o único que sorriu após ouvir a dedução de Yusguard. Percebeu quem Elkens e os outros eram assim que os viu, pois também sabia sobre os protetores, mas decidiu não revelar isso. Só pelo fato de saber que eram protetores, já confiava neles, por isso resolveu deixar que eles tomassem a decisão de se revelarem ou não. Ficou surpreso ao ver que Yusguard foi capaz de reconhecer um protetor, sem nunca ter visto um antes, mas pelo menos agora estava tudo resolvido. Em Co-varmen a lenda sobre os protetores dos Elementos ainda era muito di-fundida, contada de pai para filho, por isso todos sabiam sobre eles. Os homens de Yusguard também sabiam sobre os protetores, e sabiam que eles eram pessoas de bem, por isso todo o problema foi resolvido instantaneamente. Luftar parecia também confiar neles agora, ao me-nos não olhava mais para eles com ódio no olhar; agora ele sequer olhava para eles. Elkens não soube se isso era um avanço ou não.

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— Nós não nos escondemos, Yusguard – explicou Meithel calma-mente, ainda pensando no que o homem disse. – Há algum tempo, muito tempo antes de eu nascer, muitas gerações atrás, foi tomada uma decisão. Nós, os protetores, deveríamos permanecer dentro de nossos Domínios, não nos interferindo nos problemas dos humanos. Continuamos com a nossa missão, a de proteger os Elementos da vida de Gardwen, mas não podíamos fazer nada além disso. Nós só pode-mos sair dos nossos Domínios quando os humanos precisarem de nós… — Mas nós precisamos! – interferiu Yusguard sentindo-se injustiça-do, embora ainda assim demonstrasse calma. – Muitas vezes nós pre-cisamos de vocês… — Não! – Meithel afirmou. – Vocês lutaram entre si. Por mais de uma vez os seres deste mundo entraram em guerra entre si, e nós não pudemos fazer nada. Não havia como tomarmos um partido, não po-deríamos lutar ao lado de um reino, indo contra o outro. Indiretamen-te nós lutávamos pelo fim da guerra, mas não pudemos fazer nada além disso. — Sim – respondeu Yusguard dando às costas e finalizando a con-versa. – Você tem razão… Os dragões estavam todos deitados, um pouco afastados do grupo. Dessa forma, imóveis no escuro, não pareciam nada além de grandes pedras. Quatro deles eram iguais; o único que se diferenciava era o dragão de Yusguard: tinha o corpo todo negro e era maior que os de-mais; sua cauda era longa e continha um grande espinho na ponta; uma de suas asas parecia muito machucada, pois estava dilacerada; havia uma carapaça natural protegendo sua cabeça e três chifres que o deixavam com uma aparência aterrorizante; seus olhos eram verme-

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lho-sangue e sua boca continha inúmeras presas pontiagudas como várias espadas. Os outros quatro dragões eram idênticos: couro cor de vinho; cada uma das suas centenas de escamas eram salientes, assim como peque-nos espinhos; o pescoço era mais fino e mais comprido e a cabeça era desprovida de chifres, embora suas garras fossem maiores; os olhos eram opacos e sem vida e suas asas também eram maiores. Yusguard caminhou até onde seu dragão estava deitado e acariciou-lhe o corpo cheio de escamas. — Qual é o problema? – perguntou Elkens que o seguira. Yusguard olhou para ele sem compreender, então Elkens continuou: – Não te conheço muito bem, mas vejo que alguma coisa o está atormentando. — Ah – exclamou Yusguard sem saber o que dizer, apenas sorrindo. – É que eu tinha muitos amigos em Buor… Seu sorriso logo sumiu e desta vez foi Elkens quem ficou sem saber o que dizer. Sofreu pelos habitantes de Buor sem nem ao menos conhecê-los. Ele podia imaginar o que Yusguard estava sentindo ao perder amigos de forma tão cruel. — Foi uma grande injustiça o que aconteceu a eles – disse Elkens por fim. – Todos nós sentimos muito… — Vocês ainda não nos contaram o que realmente aconteceu – disse Yusguard. Elkens fez menção de responder, mas ele o interrompeu: – Não estou te cobrando respostas agora. Só estou dizendo isso porque, apesar de meus homens confiarem em vocês agora que sabem que são protetores, ainda assim estão esperando por respostas. Eles estão pre-parando o acampamento e, logo depois que comermos, terão de dar a eles o que eles querem. — Você tem razão – Elkens consentiu. – Devemos isso a vocês depois do que fizeram por nós.

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Yusguard concordou com a cabeça então voltou sua atenção para Sangrento. — Belo dragão o seu – disse Elkens mudando de assunto. – Este foi um dos primeiros dragões que vi, mas estudei sobre eles no lugar de onde eu vim. É um dragão de fogo, não é? Yusguard concordou com a cabeça. — Em Covarmen os homens não gostam muito de ter um dragão de fogo como companheiro. Embora sejam os mais fortes, eles são traiço-eiros na maioria das vezes. Os dragões que são domados normalmente são esses outros – ele indicou os outros quatro dragões. – Eles são me-nores e mais fáceis de se controlar, e suas asas são maiores também, o que lhes dá mais agilidade. Elkens concordou. Conhecia os outros dragões também. — Sangrento é um grande amigo – continuou Yusguard, ainda acari-ciando o imóvel dragão. – Foi presente do meu pai. Sangrento é muito velho; lutou até mesmo na Guerra Alada, travada entre Covarmen e Mondel há muitos ciclos de tempo – ele virou-se para Elkens e disse de modo que somente ele pudesse ouvir: – Não ligue para o que o Luf-tar diz. Ele é muito jovem, mas já tem muita coisa triste para contar. Ele é o meu primo e é muito corajoso. Às vezes diz tanta coisa sem pensar que pode parecer uma pessoa má, mas não se engane: ele sacri-ficaria a sua vida por um estranho. É uma pessoa de bom coração, embora seja um grande cabeça dura. Ele não mede o que diz e quase sempre ofende sem intenção… Yusguard pegou alguns pães em sua bolsa e os levou para perto da fo-gueira, onde seus homens já haviam posto a carne de algum animal para assar. Laserin acordou enquanto eles terminavam de preparar o jantar e ficou assustada em se encontrar ali. Elkens e Meithel lhe acalmaram e lhe explicaram meio por cima como foram parar ali e

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quem eram aqueles homens. Ela ficou feliz em ver que tinham novos companheiros. Quando a carne terminou de assar, todos comeram animados, exceto Luftar, que foi dormir ao lado de seu dragão sem comer ou dizer algo. Após todos comerem e estarem satisfeitos, finalmente chegou a hora que todos os homens estavam aguardando. Todos se sentaram e ouvi-ram o que Elkens e os outros tinham a dizer. Eles fizeram um resumo sobre tudo o que estava acontecendo. Começaram falando sobre os Domínios da Magia estarem trancados, que era o grande mistério por trás da missão deles, mas não entraram em muitos detalhes até chega-rem ao relato do que tinha ocorrido em Buor. Elkens, Meithel e Gau-ton se revezaram para descrever a batalha contra os kenrauers e como tudo terminou. Depois contaram o que havia acontecido na Floresta de Pedra, onde tiveram de entrar no Templo do Sacrifício, lugar onde foram encontrados por Yusguard e a história terminava. Todos se mostraram muito interessados e quase não faziam interrupções. — E é por isso – Elkens finalizou – que estamos indo para as Mon-tanhas Gêmeas. Acreditamos que o cristal de Laserin seja mesmo a chave que poderá nos levar para dentro dos Domínios da Magia. Já havia se passado mais de uma hora desde que começaram o relato, então estavam todos cansados. Porém, antes de dormirem, Yusguard fez uma última proposta: — Eu e meus homens estamos indo até Aldunion atrás de uma pes-soa. Se quiserem podem ir com a gente até lá, então o caminho será bem mais curto. Elkens aceitou e agradeceu. Então todos dormiram em volta da fo-gueira que permanecia acesa.

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A noite foi tranqüila, a não ser pelos urros que um dos dragões dava de vez em quando. O céu estava limpo, sem nenhuma nuvem. Meithel estava empolgado com a idéia de pegarem carona com Yusguard. Isso encurtaria a jornada deles, o que significava que Meithel chegaria em casa antes do que esperava. Quando o dia finalmente clareou, todos acordaram dispostos. Cardamis já estava acordado quando Elkens abriu os olhos. Quando Elkens o viu pela manhã, o velho estava can-tarolando alguma música, enquanto preparava algo sobre a fogueira que havia sido reforçada. — Ovos! – exclamou Laserin ao sentir o ótimo cheiro. – A última vez que comi ovos foi em Rismã, com Baldor. Ela se aproximou do velho e o ajudou a preparar o desjejum para todo o grupo. Elkens gostou de ver a animação da garota. Depois de tudo o que eles haviam passado na Floresta de Pedra era bom vê-la sorrindo de novo. — São ovos de quê? – perguntou a jovem. — Se você soubesse não comeria – disse o velho com bom humor. La-serin riu. — Então não me conte – pediu ela ainda rindo. – Parecem muito sa-borosos e não quero deixar de comê-los… Yusguard veio andando na direção deles, aparentemente interessado no que Laserin e o velho estavam preparando. Seus cabelos estavam pingando água e ele também parecia muito feliz. — Um ótimo dia – disse ele cumprimentando Elkens. – Quente e sem vento. Um dia perfeito para voarmos. Elkens sorriu. — Reparei que Luftar não está aqui – disse Elkens – e nem o dragão dele. Aconteceu alguma coisa?

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— Ah, não se preocupe – respondeu Yusguard. – Luftar geralmente é o primeiro a acordar. Deve estar dando seu vôo matinal, como é de costume – ele fez uma pausa para espiar dentro da frigideira em que Cardamis e Laserin preparavam o desjejum; fez uma cara de incon-fundível prazer, então acrescentou para Elkens: ‒ Há uma nascente de água logo atrás daquelas pedras. Se quiser tomar um banho en-quanto o desjejum fica pronto… Elkens concordou e agradeceu. Seria ótimo começar aquele belo dia com um bom banho. A última vez que se banhou foi em Buor, no dia em que partiram. Roeron e Meithel estavam sentados ao lado da fo-gueira, conversando animados, e Lendus logo se juntou aos dois. Elkens se afastou do grupo, seguindo para a nascente que Yusguard lhe recomendou. Havia uma grande árvore perto das pedras, o que da-va uma boa sombra. Elkens passou pelas pedras e viu a nascente. Não era muito grande; suas águas cristalinas nasciam do meio das pedras. Elkens se despiu, colocou suas túnicas de Sacerdote a um canto, então mergulhou. A água estava gelada, realmente gelada. Elkens sentiu todo o cansaço de suas últimas aventuras deixando seu corpo, uma sensação maravilhosa. Enquanto nadava, Elkens voltou a pensar em seus amigos. Quais pe-rigos Karnar, Kanoles e Mifitrin estariam enfrentando? Era a primei-ra vez que realmente se preocupava com isso desde que se separaram. Aquele era o quarto dia desde que haviam se separado, portanto seus companheiros não deviam ter progredido bastante. Uma brisa passou pela nascente e com ela Elkens sentiu o cheiro do desjejum. Já devia estar quase pronto, o que significava que estava na hora de ir. Mas antes que saísse da água, mais alguém chegou. — Não pensei que iria encontrá-lo aqui – disse o jovem Luftar, sur-preso em ver Elkens. Parecia preocupado com alguma coisa.

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Sem saber o que dizer, Elkens apenas fez um leve aceno de cabeça sem nenhum significado, então continuou a nadar. Luftar sentou-se sobre uma das pedras, ficou em silêncio por algum tempo, aparente-mente pensando em algo para dizer. — Yusguard me contou que vocês irão conosco – disse ele por fim. Elkens percebeu que essa idéia não o agradava muito, mas percebeu outra coisa também. Luftar não parecia zangado, ou qualquer outra coisa, na verdade parecia estar querendo puxar conversa com Elkens. Agora o Sacerdote percebia que o que Yusguard dissera na noite ante-rior era verdade. Luftar havia acusado Elkens e os outros, mas o fez sem pensar, e agora parecia arrependido. Não era do tipo que pedia desculpas, Elkens logo soube, mas estava tentando deixar claro para Elkens que confiava neles agora. — Yusguard me disse que você sempre voa pela manhã – disse Elkens tentando ajudar Luftar. O outro parecia com dificuldades em achar algo para dizer, então ficou mais aliviado em Elkens achar um novo assunto. — É – concordou ele animado. – Banká e eu voamos todas as ma-nhãs, já é um hábito. E hoje o dia está muito favorável para isso. — Banká! – disse Elkens surpreso. – Acho que já ouvi o nome do seu dragão em algum lugar, só não me lembro onde. Luftar sorriu. — É o dragão de uma lenda – disse ele. – Diz a lenda que Banká foi um dos dragões mais poderosos que voaram sobre Gardwen. Também é o nome de uma das três Grandes Cidades do reino de Covarmen: Pilar, Mandara e Banká. Elkens sorriu. Era verdade, agora se lembrava da lenda de Banká, o terrível. Ele saiu da água e vestiu suas roupas ainda com o corpo mo-

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lhado. Com o calor que o dia estava prometendo ele estaria seco an-tes mesmo que terminasse o desjejum. — Vamos comer? – sugeriu Elkens terminando de se vestir. – Carda-mis e Laserin fizeram ovos. Luftar riu, mas recusou. — Comi algumas frutas que encontrei quando saí com Banká. Vou tomar um banho agora, encontro vocês mais tarde. Elkens assentiu e sorriu, deixando Luftar sozinho na nascente. Ele seguiu animado para o resto do grupo, que já estavam comendo o des-jejum. Estavam todos sentados juntos, ouvindo as histórias um dos outros. Yusguard e seus homens pareciam interessados nas histórias de Meithel e Gauton, mas os protetores também demonstravam muito in-teresse na vida dos senhores de dragões de Covarmen. Elkens comeu com prazer, enquanto ouvia o relato de Yusguard de como foi sua primeira aventura no Ninho dos Dragões. Logo desco-briu que Yusguard era muito mais importante do que aparentava, ele era um príncipe. Seu pai era o rei de Covarmen, mas Yusguard não se empolgou muito em falar do pai. Ninguém parecia com pressa de ir embora, e Elkens e os outros resol-veram não apressar. Não havia problema em perder algum tempo ago-ra que viajariam em companhia de Yusguard e seus homens. Passaram uma hora conversando, talvez mais, então Luftar se reuniu ao grupo. Estava todo molhado, o que sugeria que ele havia acabado de termi-nar seu banho. — Prontos para partir? – perguntou ele. Parecia muito mais amigá-vel agora. Estava tudo pronto. Cardamis já havia guardado todas as coisas que usaram para montar o acampamento numa grande bolsa amarrada ao

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corpo de seu dragão. Em questão de minutos todos estavam partindo novamente. Elkens foi com Yusguard, voando sobre Sangrento. Laserin foi com Cardamis, Gauton com Lendus e Meithel com Roeron. O jovem Luf-tar, como já era de se esperar, seguiu sozinho. Mesmo estando mais amigável com os novos companheiros, Luftar raramente dizia algo. Não que ele não quisesse, Elkens reparou, mas é que era o seu jeito. Um homem de poucas palavras, que com toda certeza se abria mais com seu dragão do que com qualquer pessoa. No inicio Elkens temeu estar novamente voando sobre um dragão, mas logo esqueceu inclusive o medo. A viagem sobre o dragão não era muito confortável, pois cada vez que o Sangrento batia suas asas, El-kens tinha a impressão de que ia ser jogado para fora dele. Mas logo todo o temor e o desconforto foram esquecidos, então finalmente El-kens pôde realmente sentir o enorme prazer que era voar sobre um dragão. Estavam tão alto que tudo lá embaixo parecia ser tão minús-culo, como se cada árvore coubesse na palma da sua mão. Era maravi-lhosa a sensação de liberdade, de sentir o vento batendo no rosto e os pés estarem tão longe do chão. — Pena não haver nuvens hoje – disse Yusguard de repente. – Você ia gostar de voar no meio delas… Os dragões voavam com admirável graciosidade pelo ar. Sangrento pa-recia ser sério, um verdadeiro líder, e seguia voando sempre em linha reta. Mas os outros dragões, por serem mais ágeis que Sangrento, aproveitavam para se divertir. Em certo momento o dragão de Lendus deu uma investida contra o dragão de Roeron, o que o obrigou a mu-dar bruscamente de direção. Os dois, Roeron e Lendus, gritaram de alegria e incentivaram seus dragões a continuar a brincadeira, mas Meithel e Gauton não gostaram nem um pouco.

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Cardamis ria como uma criança vendo a brincadeira, e parecia louco para entrar nela, mas ele se conteve por causa de Laserin que estava segurando-se nele com tanta força que chegava a machucá-lo. Luftar e Banká freqüentemente mudavam de direção, afastando-se deles por algum tempo, mas sempre voltando a encontrá-los em seguida. O dragão de Lendus deu uma nova investida contra o dragão de Roe-ron, o que fez Meithel e Gauton gritarem, implorando para que eles parassem, mas nenhum dos dois parecia estar disposto a ouvi-los. Yusguard ria do pavor dos dois, ao contrário de Elkens, que quase sentia pena. — Eles acham isso divertido? – disse Yusguard rindo. – Segure-se em mim, Elkens. Vou mostrar a eles o que realmente é diversão! Elkens não teve tempo de dizer nada contra a idéia de Yusguard, ele apenas teve tempo de segurar-se no outro antes que Sangrento final-mente mudasse seu curso. Ele bateu as asas com força, então inclinou-se de cabeça em direção ao chão. Mais uma vez bateu as asas com for-ça, então desceram verticalmente em direção ao solo, numa velocidade incrível. Yusguard e Elkens gritavam, o primeiro de prazer e o segun-do de pavor. Sangrento fechou suas asas, uma completamente e outra parcialmente, de modo que girassem enquanto caiam. Sangrento man-tinha suas asas fechadas, o que significava que estavam em queda li-vre. Elkens já estava ficando sem fôlego de tanto gritar e sua barriga ge-lou quando ele abriu os olhos e viu o chão logo à frente deles. San-grento abriu as asas de repente, então mudaram rapidamente de dire-ção, da queda vertical para um vôo horizontal, tão próximo ao chão que uma nuvem de poeira se levantava onde eles passavam. Os outros quatro dragões o seguiram e fizeram o mesmo movimento. Elkens pôde apenas ouvir os gritos de Gauton, Meithel e Laserin.

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— Vamos parar – pediu Elkens nauseado. – Só um pouco… Yusguard riu e atendeu ao pedido do outro. Eles pousaram em um campo aberto, ao lado de uma pequena lagoa. A paisagem parecia não ter mudado muito, o terreno continuava plaino, com muita vegetação rasteira e poucas árvores. Ao longe podiam ver os leves contornos de uma das doze Grandes Cidades de Gardwen: Alaislude, a cidade que um dia fora conhecida como Cidade da Paz, mas que há mais de vinte anos recebeu o título de Cidade Morta devido àquele triste inciden-te… Os cinco dragões pousaram, lado a lado. Elkens calculou que já se passavam do meio dia, o que significava que aproveitariam a pausa para almoçarem. E estava certo. Com incrível facilidade, Cardamis acendeu uma nova fogueira. — O que vamos comer hoje? – perguntou Cardamis com seu habitual bom humor. — Depende do que eles trouxerem – respondeu Yusguard. Elkens tentou entender do que estavam falando, mas só quando Yus-guard e os outros tiraram as selas de seus dragões foi que ele finalmen-te entendeu. — Vocês vão soltá-los? – perguntou ele apavorado. — Claro que sim – respondeu Yusguard. – Eles também precisam co-mer. Elkens ficou pasmo. — Mas e se houver algum vilarejo por perto? Pode ser perigoso… — Não se preocupe – respondeu Yusguard sorrindo. – Eles são trei-nados, sequer chegam perto de vilarejos. Eles não comeriam um huma-no nem que ele entrasse na boca deles e implorasse para ser devora-do… – Elkens não achou graça da piada, mas Yusguard sequer repa-

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rou. – Eles podem atacar o rebanho de alguém, mas jamais atacarão o pastor. Assim que cada dragão estava livre de sua sela, os cinco voaram em grande velocidade, cada um para um lado, até que desapareceram de vista. Elkens sentou-se à beira da lagoa, olhando para sua superfície calma, onde o céu se refletia. Meithel sentou-se ao lado dele. — Creio que vamos chegar aos Domínios da Magia antes que Karnar e Kanoles cheguem ao reino de Roldur – disse Meithel animado. – Quanto à Mifitrin não posso dizer nada. Do modo como desconheço seus poderes, ela pode até mesmo já estar vindo ao nosso encontro. — Assim fosse – disse Elkens dando um breve suspiro, expondo a fal-ta que sentia da Guerreira. Meithel olhou para ele, então sorriu e disse: — Logo ela estará conosco, pode crer. — Estou com medo – Elkens confessou de repente. – Tentei me con-vencer do contrário, mas não posso negar que estou com medo. Às ve-zes até fico sem saber se devo prosseguir ou não… — Você não é o único – Meithel admitiu. – Eu também estou com medo, assim como Laserin e Gauton. Todos estamos com medo; não sabemos o que iremos encontrar assim que entrarmos nos Domínios da Magia, e o desconhecido apavora até mesmo o mais corajoso dos ho-mens. Mas eu me sinto mais confiante em ter vocês ao meu lado. Se não fosse pela força que estão me dando eu não teria coragem de vol-tar para minha casa… Os dragões voltaram em menos de uma hora. Todos pareciam satisfei-tos, o que significava que a caçada havia sido boa. Elkens realmente achava que eles tinham se fartado, pois muitos animais deviam viver por perto da lagoa onde estavam. Sangrento foi o último a voltar, mas trazia um animal não muito grande preso em sua boca.

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— O nosso almoço acaba de chegar – disse Yusguard feliz. Com a ajuda de Cardamis (sempre o velho) e de Roeron, Yusguard limpou a carne, preparou-a e logo ela estava assando sobre a fogueira de Car-damis. O cheiro estava bom, como era de se esperar, e todos conversa-ram animados enquanto o almoço não ficava pronto. Até mesmo Luf-tar estava mais entrosado com Elkens e os outros. O dia estava bem quente e não havia sequer uma nuvem no céu. Tam-bém não havia vento, o que aumentava ainda mais o calor insuportá-vel. Eles aproveitaram enquanto a carne não ficava pronta para se re-frescarem na lagoa ao lado. Os homens de Covarmen se divertiam co-mo cinco crianças, não importa se estavam no chão ou há centenas de metros do chão. Elkens levou a mão ao peito, onde havia um colar escondido sob suas vestes. Era o colar de Morton, que Mifitrin lhe dera e que o salvara da morte dentro do Templo do Sacrifício. O colar era a única coisa que o reconfortava, pois seja lá o que estivesse aguardando por eles nos Domínios da Magia, o colar iria proteger a todos. Eles ficaram parados por mais de duas horas, permitindo que os dra-gões descansassem um pouco. Alguns deles até tiraram um cochilo, en-quanto os outros continuavam a se refrescar na lagoa. Eles descobri-ram que a carne não apenas tinha o cheiro bom, como também o gosto. Todos se fartaram de tanto comer. Apesar de estarem numa missão tão importante e ao mesmo tempo perigosa, Elkens e os outros se diverti-am como nunca com Yusguard e seus homens. Quando retomaram a viagem, todos seguiram com os mesmos compa-nheiros, e Gauton e Meithel voltaram a se desesperar com as brinca-deiras entre os dragões de Roeron e Lendus. Voaram por mais algumas horas, até que finalmente montaram acampamento.

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O dia seguinte foi tão tranqüilo e divertido quanto o anterior. Desta vez haviam trocado de companheiros de vôo. Meithel e Gauton insis-tiam em ir com Yusguard e Sangrento, pois era o que menos participa-va das brincadeiras no céu, mas no fim foi Laserin quem acabou se-guindo com Yusguard. Meithel voou com Cardamis e Gauton conti-nuou com Lendus. Meithel logo se arrependeu de ter ido com o velho, pois descobriu que ele resolveu tirar o atraso e brincou tanto quanto os outros, até mais que Roeron. Desta vez foi Elkens quem voou na companhia de Roeron, mas já estava tão confiante sobre um dragão que até se divertiu com a brincadeira entre os três dragões. Luftar, como sempre, viajava sozinho.

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No terceiro dia Elkens voltou a voar com Yusguard e Sangrento, mas o dia já estava prometendo ser diferente desde que amanheceu. Não estava mais tão quente quanto os dias anteriores; o céu estava nubla-do com nuvens negras, e também estava ventando muito. Os dragões e seus senhores foram obrigados a parar de brincar, o que Gauton e Meithel agradeceram. Seria perigoso brincar num dia onde rajadas de vento inesperadas poderiam separar homem e dragão em pleno vôo. Enquanto voava sobre Sangrento, Elkens olhou para baixo para ver se estava tudo bem com os demais. Era estranho ver todos os dragões voando sem brincarem, mantendo-se em um único curso, a não ser quando eram desviados do caminho por uma rajada de vento que vi-nha de encontro a eles. Luftar estava mais abaixo, voando solitário sobre Banká.

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— Ele parece feliz! – Elkens comentou com Yusguard, que também estava observando o jovem garoto. — Sim – concordou Yusguard. – O que Luftar mais gosta, acima de tudo, é voar. Ele adora estar no ar com seu dragão. Adora velocidade e altura, um verdadeiro aventureiro… De repente surgiu uma brecha nas nuvens carregadas e a luz de Tun-má acertou os olhos de Elkens. O Sacerdote da Alma fechou os olhos e abaixou a cabeça para evitar a luz repentina, mas assim que voltou a abrir os olhos viu algo acontecer muito rápido. Ele viu algo brilhante subir pelo ar em grande velocidade e, antes que entendesse o que estava acontecendo, o objeto brilhante atingiu o pes-coço do dragão de Luftar e ele despencou no ar. — YUSGUARD! – gritou Elkens surpreso, apontando para os dois lá embaixo. Ao ver a cena, Yusguard deu um grito para Sangrento. — Segure-se Elkens! – ele advertiu, então Sangrento fez um movi-mento já conhecido de Elkens. Apontou a cabeça para o chão e bateu as asas para aumentar a velocidade de sua queda. Em segundos esta-vam ao lado de Banká, que continuava a cair com seu dono sobre ele. Mas não havia nada que pudessem fazer para evitar a queda do dra-gão. A prioridade agora era salvar a vida de Luftar. Sangrento apro-ximou-se o suficiente para Yusguard poder segurar Luftar pelo braço. — LUFTAR – ele gritou. – VENHA COMIGO! Por algum tempo Luftar segurou-se com força ao seu dragão e se recu-sou a abandoná-lo, mas então Yusguard o puxou com toda força e Luftar não pôde fazer nada. — Não há nada que possamos fazer – disse Yusguard. – Ele ficará bem…

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Com Luftar a salvo, Sangrento abriu suas asas e pairou no ar, se-gundos antes de ouvirem o grande baque que Banká provocou ao fi-nalmente tocar o chão. Logo a seguir Sangrento desceu e pousou, logo ao lado de Banká, mas antes mesmo que tocasse o chão, Luftar saltou e correu para onde seu dragão estava. Banká estava desacordado, provavelmente por causa da grande pancada. Ele havia caído sobre uma de suas asas, que pare-cia estar quebrada. Em questão de segundos os outros três dragões pousaram e todos cor-reram para onde o dragão de Luftar havia caído. Luftar estava desesperado, tentando inutilmente acordar seu dragão. Yusguard se aproximou dele e disse: — Ele ficará bem, Luftar. Está respirando… mas precisamos saber o que aconteceu. — Eu não sei – disse Luftar com sua voz abalada. – Estávamos vo-ando bem, até que de repente ele apagou e começamos a cair. Eu não vi nada… — Eu vi! – disse Elkens seriamente, virando-se para encarar Meithel. – Eu vi uma flecha de luz branca atingir o pescoço do dra-gão. Ao ouvir isso, Meithel correu até o dragão e procurou por algum sinal nas escamas do pescoço. Após pouco tempo procurando, ele encontrou uma parte que fora perfurada profundamente. Meithel não disse na-da, apenas olhou para longe deles e começou a procurar por alguma coisa que ninguém podia ver. Mas não havia nada, apenas pedras de todos os lados. — Como foi que uma coisa dessas aconteceu? – perguntou Luftar quase aos prantos ao encontrar o ferimento no pescoço de Banká. –

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Como podem ter atingido um dragão de tão longe e em pleno vôo, e o que seria forte o suficiente para perfurar as escamas? Meithel olhou de Elkens para Gauton, então respondeu a pergunta de Luftar: — Magia! – todos se assustaram com o que ele disse, mas não tanto como quando ouviram o que ele disse a seguir. – Há mais alguém aqui embaixo…

♦ Todos seguiram o seu exemplo e começaram a procurar por mais al-guém que eles não podiam ver. Mas havia muitas pedras em toda a volta, e a maioria era grande o suficiente para mais de uma pessoa se esconder atrás. — De onde a flecha veio? – Yusguard perguntou para Elkens. — Eu não sei – respondeu o Sacerdote também abalado. – Estáva-mos voando e… — DE ONDE, ELKENS? – Yusguard repetiu a pergunta, desta vez irritado. Parecia louco para encontrar o responsável pelo inciden-te. Elkens levantou a mão trêmula e apontou para frente. Todos olharam na direção em que ele apontava, onde havia apenas uma grande pedra, a uns cinqüenta metros de onde estavam, talvez um pouco mais. Yus-guard fez menção de ir até lá, mas Cardamis se adiantou e o impediu: — Eu vou verificar. Você fica aqui e cuida dos outros. Yusguard concordou sem dizer nada. Luftar tentava a todo custo fazer seu dragão acordar. Meithel, que continuava analisando o ferimento do dragão, disse:

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— Não sou um Feiticeiro, não tenho prática com feitiços de cura, mas acho que posso fazer alguma coisa para ajudá-lo. Luftar puxou Meithel pelo braço e forçou o Sacerdote da Magia a olhar para ele. Os olhos de Luftar estavam brilhando, embora nenhu-ma lágrima houvesse escorrido até então. — O que aconteceu com ele? Ele vai ficar bem? — Eu não sei – respondeu Meithel com sinceridade. – Mas eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para ajudá-lo. Acredito que o feri-mento em si não seja o responsável por Banká estar desacordado, mui-to menos a queda. Acredito que havia algum tipo de veneno naquela flecha – Meithel colocou uma das mãos em seu colar e a outra colocou sobre o ferimento de Banká. – Se realmente for um veneno acho que posso tentar retirá-lo, mas precisarei da sua ajuda. O veneno agiu rá-pido e fez seu dragão adormecer e fará isso com todo o corpo dele. Ele fará com que órgão por órgão adormeça, até que atinja o coração. Se isso acontecer não poderei fazer mais nada por ele. Luftar ficava mais apavorado enquanto Meithel falava, mas sabia que devia ser forte agora, por isso não deixava o desespero tomar con-ta dele. — O que eu faço? – perguntou Luftar decidido. — Você tem que fazer o Banká acordar. Eu preciso que ele acorde e tente lutar contra o veneno, senão não poderei fazer muita coisa. Luftar rapidamente subiu no pescoço de Banká e passou a chamá-lo, ao mesmo em que lhe dava fortes tapas. Infelizmente o dragão parecia não reagir, mas Luftar não desistia. Enquanto isso Cardamis continuava a andar com cautela em direção à pedra de onde Elkens disse que saiu a flecha que feriu Banká. O velho seguia devagar, segurando algum tipo de arma que Elkens não foi ca-paz de identificar. Porém, antes que chegasse muito perto da pedra,

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uma esfera de luz branca foi conjurada e atirada contra ele. O velho foi atingido com violência, então foi atirado para trás e caiu inconsci-ente no chão. Segundos depois uma flecha formada de luz branca sur-giu no ar, sendo disparada contra o corpo de Cardamis… Gauton, que observava tudo de longe, rapidamente tocou seu colar e usou o teletransporte. Ele desapareceu e reapareceu ao lado do corpo do velho, então voltou a desaparecer e reapareceu ao lado de Elkens e os outros, trazendo o velho inconsciente consigo. A flecha atingiu apenas o chão, então desmanchou-se em flocos de luz que o forte ven-to levaram para longe. — Cuidem dele – disse Gauton colocando o inconsciente Cardamis no chão. – Elkens, você vem? — Com certeza – respondeu o Sacerdote decidido, dando um passo à frente. Mas então parou e virou-se para Laserin – Tenho que fazer uma coisa antes. Ele levou a mão ao pescoço, então tirou um colar anil, grande e belo. Era o colar de Morton, o mesmo que tinha a incrível habilidade de proteger quem estivesse usando-o. Ele colocou o colar no pescoço de Laserin, então disse: — Não tire o colar por nada e não saia de perto do Meithel. É impor-tante que faça isso. A garota assentiu, sem saber realmente o que aquilo significava. El-kens e Gauton deram mais um passo em direção à pedra de onde vie-ram os ataques, mas logo foram detidos, desta vez por Yusguard. — Eu vou com vocês! — Você não poderá ajudar – disse Elkens firmemente. – Apenas ma-gia enfrenta magia; você iria apenas atrapalhar.

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Yusguard não gostou do que ouviu, mas antes que pudesse respon-der, Gauton disse: — Fique aqui e cuide dos outros. Proteja o Meithel enquanto ele esti-ver concentrado para salvar o dragão e proteja a pequena Laserin também. Yusguard não gostou muito de ser deixado para trás e de ter a sua ajuda recusada, mas mesmo assim concordou e ficou para proteger os outros. Elkens e Gauton caminhavam lado a lado, com as mãos nos colares. Sabiam que podiam ser atacados a qualquer momento, mas mesmo assim andavam em frente sem vacilar. Logo eles estavam perto da grande pedra, então pararam e Gauton gritou: — APAREÇAM COVARDES! A ordem de Gauton foi rapidamente obedecida. Uma flecha de luz branca foi atirada contra eles. Gauton levantou uma barreira branca à frente dos dois, na tentativa de protegê-los, mas seu feitiço não fun-cionou como o esperado. A flecha da Magia era tão poderosa que per-furou a barreira com incrível facilidade e errou por pouco a cabeça de Elkens. Não eram adversários comuns. No segundo seguinte dois homens saíram de trás da pedra, um de cada lado. Os dois trajavam vestes brancas, o que sugeria que eram dois protetores da Magia. Um deles era alto e forte, enquanto o outro era muito magricela. — Quem são vocês? – perguntou Gauton. Ambos os protetores da Magia riram. — Não se lembra de nós, Gauton? – perguntou ironicamente o ho-mem alto e forte. Nem precisavam reparar em seu colar ou na armadu-ra que ele usava para saberem que era um Guerreiro da Magia. – Sou Calarrin, e este – disse ele indicando o companheiro magricela – é Ego, Feiticeiro da Magia.

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Os rivais se encararam por algum tempo. Os protetores da Magia exibiam sorrisos provocantes no rosto, o que deixava Elkens ainda mais perturbado. Logo ele resolveu quebrar o silêncio e perguntou: — Por que nos atacaram? — Porque esta foi a ordem que recebemos – disse Ego com sua voz ar-rastada, quase asmática. – não precisamos matar nenhum de vocês, mas para isso devem nos entregar o cristal que carregam. Se preferirem lutar, iremos matar um por um e por último mataremos quem estiver com o cristal. De qualquer maneira levaremos o cristal, a escolha é de vocês. — Mas agradecemos se resolverem entregar o cristal por bem – disse Calarrin sorrindo. Estava evidente em seu sorriso que iria matá-los de qualquer jeito. – Estamos esperando por vocês há muitos dias e eles estão começando a ficar sem paciência… Elkens não esperou Calarrin terminar de falar. Tocou seu colar e con-jurou duas esferas rubras e atirou-as contra seus dois inimigos. Ego apenas fez um movimento com uma das mãos e as esferas foram joga-das para longe; uma delas explodiu ao se colidir com uma pedra, mas a outra continuou a vagar sem direção pelo ar até que desapareceu de vista. — Isto é brincadeira – disse Ego. – Terá que fazer muito mais do que isso se quiser nos machucar – ele fez uma breve pausa enquanto estu-dava seus inimigos, então tocou seu colar e murmurou algo inaudível, então disse: – Agora é a minha vez! Ele tirou a mão do colar e abriu os braços. Inúmeros pontos de luz surgiram entre seus braços, dezenas deles. Elkens tentou descobrir que feitiço era aquele, então olhou mais atentamente. Levou um susto ao perceber o que realmente eram os pontos de luz. Não eram simples-mente pontos; eles tinham asas e ferrões pontiagudos. Eram vários

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pequenos insetos, minúsculos, dezenas deles. Estavam parados no ar, batendo suas asas minúsculas e produzindo um zumbido ameaça-dor. Estavam apenas aguardando alguma ordem do Feiticeiro. — Podem parecer pequenas e frágeis – começou Ego indicando os mi-núsculos insetos – mas as vespas do terror carregam um terrível vene-no. Caso vocês sejam picados, instantaneamente sentirão o veneno pe-netrando e invadindo todo o seu corpo. Sentirão dor até morrerem, mas a morte virá de forma lenta e dolorosa – Ego ria como um louco. – Muitos dos que provaram o veneno das vespas do terror tiraram a própria vida na esperança de se livrarem da dor. Elkens ficou sem saber o que fazer. Uma batalha entre protetores era sempre imprevisível. Como ambos pertenciam à Elementos diferentes, nenhum dos dois tinha muitos conhecimentos sobre as habilidades do outro. Era a primeira vez que Elkens via alguém utilizando as vespas do terror, mas já sabia que seu escudo da Alma de nada serviria. As vespas não tinham alma, eram apenas insetos sem vida criados por magia; seu escudo não lhe protegeria. — Tem certeza de que não nos entregarão o cristal por bem? – per-guntou Ego rindo como louco. — Nunca! – exclamou Elkens desafiando-os, mas logo se arrependeu de ter feito isso. — Então… ATAQUEM! – gritou Ego e instantaneamente as ves-pas voaram contra Elkens e Gauton. O Sacerdote da Alma conjurou um turbilhão de esferas e atacou as vespas. As esferas explodiram contra o enxame, derrotando várias vespas, mas não o suficiente, e o ataque de Elkens serviu apenas para irritá-las mais ainda. As vespas continuaram a voar a toda velocidade contra eles. Elkens pensou em correr, mas sabia que isso não adiantaria de nada. Seria

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pego em segundos. Quando estava quase sendo pego, sentiu Gauton segurando o seu braço e imediatamente os dois desapareceram, reapa-recendo longe de onde as vespas estavam. — O que é isso? – exclamou Ego tentando fingir-se de zangado, mas não deixando sua ironia de lado. – Vão fugir desses pequenos insetos? Vão ficar fugindo ao invés de lutar? As vespas mudaram de direção e voltaram a voar contra Elkens e Gauton, mas antes que tivessem que fugir mais uma vez, Calarrin dis-se: — Você não vai ficar com todo o divertimento, Ego – dizendo isso ele tirou um grande e belo arco das costas, então conjurou uma flecha da Magia. – Também quero ter o prazer de matar um deles… O zumbido das vespas do terror estava cada vez mais próximo. — Tudo bem, Calarrin – concordou Ego a contragosto. – Qual deles você quer matar? Calarrin olhou de Gauton para Elkens com seus olhos miúdos, apon-tando sua flecha de um para o outro, então finalmente deixou a flecha apontada para a sua escolha: — Eu fico com o Sacerdote da Alma. Você pode matar o Mensageiro da Magia se quiser, não faço questão… Ao definir os oponentes, Gauton voltou a tocar seu colar e desapare-ceu de perto de Elkens, reaparecendo longe de onde ele estava, supos-tamente na tentativa de atrair as vespas para longe do Sacerdote. El-kens, seguro de que as vespas não o atacariam, virou-se para Calarrin e o viu puxar a flecha para trás. Elkens rapidamente ergueu uma bar-reira rubra para proteger-se, mas sabia que a flecha a atravessaria com facilidade, assim como atravessou a barreira de Gauton. Precisava pensar em um jeito de enfrentar as flechas de Calarrin o quanto antes. Em outras vezes, quando estava passando por apuros, ele simplesmen-

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te invocava Nai-Peleguir, sua alma-protetora, então tudo ficava bem, mas agora ele não podia fazer isso. Ele não podia nem queria chamá-la, pois da última vez que o fez ela foi ferida e com certeza se recusaria a vir ajudá-lo, e ele não a culpava. Elkens estava sozinho agora. Pela primeira vez estava enfrentando sozinho um protetor, numa situação em que seria morto caso falhasse. Mas não podia fa-lhar. Não iria falhar. Estava decidido. — Acorde Banká! Por favor, acorde – Luftar agora se entregava ao desespero. Continuava tentando acordar seu dragão que continuava adormecido, mas seu esforço parecia inútil. – Vamos Banká, não se entregue assim. Acorde… Meithel continuava com os olhos fechados e com a mão sobre o feri-mento do dragão, por onde o veneno havia penetrado no corpo de Banká. Estava muito concentrado; já havia atingido o Roe-gan na tentativa de fazer o envenenamento regredir, ou pelo menos parar, mas não conseguia grandes resultados. O veneno continuava espa-lhando-se a cada segundo e Banká não resistiria mais muito tempo. — Luftar – começou Meithel após muito tempo calado. – Você preci-sa conseguir. Se Banká não acordar não conseguirei salvá-lo. Luftar congelou-se ao ouvir isso. Esqueceu até mesmo de dar tapas na tentativa de acordar o dragão. Olhou para Meithel e implorou com sua cara de choro: — Meithel, por favor. Eu não posso… não consigo acordá-lo. Você não pode usar magia para fazer isso? — Sinto muito Luftar, mas não posso fazer nada quanto a isso. Co-mo eu disse não sou um Feiticeiro, então não posso fazer muita coisa para ajudá-lo. A nossa maior chance é que Banká acorde e tente resis-

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tir o máximo que puder ao veneno, mas se ele não acordar logo, nun-ca mais acordará! Calarrin olhou para Elkens com seus olhos miúdos; seus olhos brilha-vam de expectativa. Ele puxou sua flecha branca mais alguns centí-metros para trás, e seu arco tencionou-se mais ainda, então finalmente soltou. Elkens viu a flecha voar velozmente em sua direção através da barreira rubra, mas ele já tinha algo em mente. Quando a flecha esta-va próxima, ele conjurou uma luz rubra que envolveu o seu braço di-reito. Iria utilizar o mesmo feitiço que utilizou no Templo do Sacrifí-cio para evitar os ataques da grande estátua de ouro que tentou matá-lo. Estava usando o kotetsu! Ele acompanhou a flecha aproximando-se dele com uma velocidade assustadora; Mantinha-se tão calmo que podia acompanhar facilmen-te todo o percurso da flecha. Logo ela atingiu sua barreira rubra e a atravessou sem dificuldades, indo em direção à Elkens. Calculando o momento exato de agir, Elkens agitou o braço direito, que estava en-volvido pelo kotetsu, então acertou a flecha em pleno vôo. O feitiço que envolvia seu braço lhe dava uma grande força, além de lhe confe-rir uma ótima proteção. A flecha foi atirada para longe, inutilizada, então se desmaterializou no ar, deixando em seu lugar apenas flocos de luz. — Vejo que precisarei gastar mais algumas de minhas flechas antes de matá-lo – disse Calarrin confiante, conjurando uma nova flecha e preparando-a em seu arco. Elkens sorriu em desafio. — Não me matará com suas flechas fracas – disse ele preparando-se para se defender de um novo ataque. A única coisa que precisava fa-

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zer era manter a calma, então seria capaz de ver qualquer flecha que Calarrin disparasse. Enquanto isso Gauton continuava fugindo das vespas do terror con-juradas por Ego. Por algum tempo ele tentou atacá-las, mas logo per-cebeu que isso era inútil. Havia muitas delas, e por mais que Gauton atacasse, o número parecia não ser reduzido. Foi então que ele come-çou apenas a fugir; as vespas se aproximavam e ele se teletransporta-va para longe delas, onde ficava aguardando até que elas voltassem a se aproximar. Ego ria como um louco cada vez que Gauton se teletransportava, pois sabia que aquilo iria apenas esgotar as forças de Gauton até que ele não agüentasse mais usar qualquer feitiço. Mas Ego estava muito en-ganado, pois Gauton não estava apenas fugindo das vespas, estava distraindo-o! Ele tinha um plano em mente, e o momento de executá-lo logo surgiu. Ele aproveitou enquanto Ego estava rindo das suas tentativas de fuga, então aproveitou a guarda baixa do Feiticeiro pa-ra teletransportar-se mais uma vez… — Peguei você – Gauton sussurrou no ouvido do outro. Ego congelou-se com o susto que levou e o riso morreu em sua gargan-ta. Enquanto ele ria de Gauton, seu inimigo teletransportou-se para trás dele, onde o imobilizou com os dois braços. Ego estava impedido de tocar seu colar, o que significava que dificilmente conseguiria exe-cutar algum feitiço. Isso exigiria que Ego elevasse sua concentração para o quarto nível: Ginden-gan. Mas geralmente protetores elavam-se no máximo até Roe-gan, o terceiro nível, que não consome tanta energia. Ego não teria tempo para esse feito. — Faça suas vespas desaparecerem! – Gauton exigiu.

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— E o que você fará se eu não te obedecer? – perguntou Ego ainda assustado, mas voltando a assumir seu desprezível tom de voz irônico. As vespas voavam na direção deles, provocando o zumbido intimida-dor. – Terá coragem de me matar? Gauton hesitou por algum momento, mas logo se recuperou e disse: — As suas vespas do terror realmente são perigosas, mas elas não es-tão vivas de verdade. Você tentou imitar a vida através de magia, o que pode ser ainda mais perigoso. Mas ao fazer isso você deu vontade própria a elas, a vontade de causar dor e matar, coisa que você não pode mudar agora que o feitiço foi feito. Você sabe tão bem quanto eu que elas estão vindo atrás de mim, mas sabe também que ao me encon-trarem com você elas não irão distingui-lo de um inimigo. Nós dois se-remos atacados – Gauton gostou de sentir o corpo de Ego tremendo. – O feitiço vira contra o Feiticeiro. — Por que está fazendo isso? – perguntou Ego apavorado. – Você me pegou desprevenido, poderia ter me derrotado instantaneamente. O zumbido das vespas estava cada vez mais perto agora. — Não sei como você conjurou as vespas – Gauton respondeu. – Se você as conjurou estando concentrado o bastante, talvez em Roe-gan, acredito que elas não desaparecerão mesmo que você seja derrotado. Como elas foram conjuradas por você, também é você quem tem o po-der de fazê-las desaparecer. Como você viu, eu posso fugir com facili-dade, mas os meus amigos não, por isso preferi não correr o risco. Ego deu um riso forçado, tentando passar a Gauton a impressão de que ele estava confiante, mas ainda estava tremendo. — Você pensou nas conseqüências antes de agir, não é? Esta é uma das características dos grandes protetores, mas me parece que você não pensou em todas as conseqüências… Desta vez Ego riu de verdade, então prosseguiu:

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— Se você quer que eu cancele o meu próprio feitiço, terá de me dei-xar usar o meu colar. Mas deve saber que, caso eu toque o colar, tam-bém irei atacá-lo. Desta vez foi Gauton quem riu, o que fez Ego tremer ainda mais. — Também pensei nisso e é por esse motivo que eu só permitirei que você toque seu colar um segundo antes das vespas nos alcançarem. Você não poderá fazer nada antes de acabar com as suas vespas, en-tão terei tempo de escapar de você. Desta vez Ego ficou em silêncio, sequer sorriu. Estava óbvio que Gauton tinha o controle da situação. As vespas estavam há poucos metros agora. Gauton se preparou para soltar os braços de Ego e se te-letransportar, ao mesmo tempo em que Ego se preparava para fazer suas vespas desaparecerem. Então o momento chegou e tudo aconte-ceu muito rápido. Gauton soltou os braços de Ego e levou a mão para o seu próprio co-lar, mas algo aconteceu e ele foi impedido de tocar o colar e usar o te-letransporte. Ego agiu mais rápido que ele, mas Gauton ainda não conseguia compreender o que estava acontecendo. Ele percebeu que Ego realizava algum feitiço logo a sua frente, então o zumbido foi emudecido. Significava que as vespas haviam desaparecido. Mas ago-ra Gauton não estava mais se importando com isso. Tentava desespe-radamente tocar o seu colar, mas alguma coisa segurava a sua mão pa-ra impedi-lo. — Feitiço para imobilizar – disse Ego readquirindo sua confiança e esclarecendo a dúvida de Gauton sobre o que o impedia de tocar o próprio colar e se teletransportar para longe. – Fui mais rápido! Gauton estava ferrado. — Como eu disse: você não pensou em todas as conseqüências…

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Pouco afastado dali, Elkens continuava a desviar as flechas da Ma-gia de Calarrin com o braço protegido pelo kotetsu. Cada flecha que era lançada por Calarrin era rebatida por Elkens, uma após a outra, mas nenhum dos dois desistia. Aquela batalha parecia sem fim. Calar-rin não podia parar de lançar suas flechas, pois permitiria que Elkens tivesse tempo para um contra-ataque. Mas de repente Elkens olhou para o lado e se surpreendeu com o que viu. Gauton estava atrás de Ego, imobilizando-o, e as vespas do ter-ror voavam contra os dois, preparadas para atacá-los. Quando as ves-pas estavam muito perto, Gauton soltou Ego, sem saber que este esta-va concentrado em Roe-gan, o que lhe permitiu utilizar dois feitiços simultâneos; um deles foi para fazer as vespas desaparecerem, o outro foi para imobilizar Gauton. Um segundo depois Ego utilizou seu terceiro feitiço. Assim que tocou seu colar, uma grande quantidade de energia se acumulou na superfí-cie de seu corpo até que finalmente explodiu. Uma nuvem de poeira levantou-se, mas assim que ela abaixou, Elkens pôde ver Ego imóvel no mesmo lugar, mas Gauton estava caído no chão, vários metros atrás, inconsciente. Ego havia vencido. Elkens ficou tão assustado com o que viu que por um breve momento esqueceu-se completamente do que estava acontecendo. Ao recordar-se da batalha, olhou para frente bem em tempo de ver uma das flechas brancas há poucos metros dele. Elkens não teve tempo de se preparar, apenas agitou o braço direito na tentativa de se proteger, e surpreen-dentemente conseguiu atingir a flecha e a viu voando para longe. Ao menos metade dela… Ele sentiu uma terrível dor no braço que usou para se defender e logo verificou que metade da flecha havia atravessado o kotetsu e agora estava cravada em seu antebraço. Como era uma flecha imaterial,

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formada apenas por luz, ela logo desapareceu, assim como todas as outras, mas agora o estrago já estava feito. Ao constatar que a dor apenas aumentava, Elkens logo entendeu o motivo. O dragão de Luftar foi derrubado por uma flecha da Magia, que com toda certeza havia sido conjurada por Calarrin, mas não fora o ataque em si que derrubara o dragão, e sim o veneno contido na fle-cha. O kotetsu amorteceu o impacto da flecha, mas como Elkens foi pego desprevenido, a flecha acabou perfurando o seu braço. Não per-furou muito profundo, mas foi o suficiente para o veneno contido nela se infiltrar em seu corpo. Elkens ficou desesperado. O mesmo veneno que derrubara Banká ago-ra também corria em suas veias. Logo Elkens caiu de joelhos e sentiu todo o seu corpo enfraquecer. Não chegou a perder a consciência tão rápido quanto o dragão, talvez por não ter sido atingido num ponto crítico, ou ainda por ser um protetor e conter proteções diferentes das de um dragão, mas ainda assim sabia que não tardaria em perder os sentidos. O vento ficou mais forte de repente, trazendo consigo a tempestade que estava prevista no céu nublado. Os trovões distantes vieram pri-meiro, mas a chuva não demorou a chegar. O céu havia se fechado so-bre eles e a fúria da tempestade foi implacável. O vento estava tão forte que mesmo que ainda estivessem voando sobre os dragões, seriam obrigados a interromper a viagem e procurar por abrigo. — Vamos Banká… acorde, por favor… não se entregue assim… não morra Banká! – Luftar ainda não havia se entregado. Continua-va em cima de Banká, falando com ele e esmurrando-o na tentativa de acordá-lo, ferindo seus punhos nas escamas salientes sem se importar, mas até agora o dragão não dera nenhum sinal. Meithel continuava se

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esforçando o máximo que podia, mas já sabia que Banká nunca mais acordaria. Yusguard e seus homens estavam todos à volta, mas nenhum deles ou-sava dizer nada. Todos sentiam parte da dor de Luftar, mas diferente do garoto, já sabiam que o dragão não teria um destino diferente. De repente Luftar pareceu se dar conta da tempestade que caía em torno dele e isso lhe trouxe antigas lembranças. — Você se lembra de quando aquela tempestade nos derrubou, Banká? – Lá no fundo Luftar sabia que seu dragão podia ouvi-lo, ele queria acreditar nisso, mas suas esperanças de vê-lo voando novamen-te já estavam se esgotando. – Eu só consigo me lembrar de que está-vamos caindo e depois acordei em casa, são e salvo… Foi a primeira de muitas outras vezes que você me salvou, Banká. Por favor, acorde! Este não pode ser o fim… não pode terminar tudo assim… Não que-ro que você morra, Banká. Não quero ficar sozinho… Pela primeira vez Meithel viu a pessoa por trás de Luftar, a criança por trás do homem forte e inabalável que ele tentava a todo custo convencer que era. Mas isso não era verdade e agora todos viam. Luf-tar tinha dezenove anos, apenas dois anos mais velho que Laserin. Era mais criança do que homem e mesmo assim estava passando pela pior das provações, coisa que nenhum homem jamais está preparado para passar. Meithel só não desistiu ainda porque seus ensinamentos lhe proibiam disso, mas agora não havia mais como ter esperanças de salvar o dra-gão. Se pelo menos houvesse um Feiticeiro com eles, alguém que pu-desse usar magia de cura, mas o único Feiticeiro que estava presente no momento era um dos responsáveis por tudo o que estava aconte-cendo.

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A chuva estava tão forte quanto o vento. Meithel estava esgotado, pois gastara todas as suas forças na inútil tentativa de salvar o dra-gão, mas agora não havia mais nada que ele pudesse fazer. Meithel levantou a cabeça e olhou para Luftar mais uma vez; o garoto conti-nuava conversando com seu dragão, coisas que ninguém podia ouvir por causa do barulho da tempestade, mas agora estava na hora de pa-rar. Meithel tirou a mão do ferimento de Banká, então afastou-se do dragão. Estava tão esgotado que quase caiu, mas alguém, talvez Yus-guard, ele não chegou a ver, o segurou e o ajudou a manter-se em pé até que um pouco das suas forças voltasse. Ao ver o que Meithel estava fazendo, Luftar saltou de cima do dra-gão e correu até ele: — O que está fazendo, Meithel? Não desista ainda, por favor. Não desista enquanto não estiver tudo acabado… — Me desculpe, Luftar – disse Meithel com a voz fraca. – Mas está tudo acabado! Eu falhei, não consegui salvar Banká. — Não… por favor, não diga isso. Ainda podemos tentar… Ele é forte, sei que vai acordar… — Não vai, Luftar! – Meithel o interrompeu. – Ele não vai acordar porque… o veneno chegou ao coração! Luftar petrificou-se com o que ouviu. Ficou sem reação alguma, ape-nas continuou imóvel encarando Meithel. Sem piscar; sem chorar; completamente imóvel, a não ser pela respiração arfante de alguém que lutou até o último segundo. Luftar então desviou os olhos de Meithel e virou-se para seu dragão. Banká estava ali, imóvel no mesmo lugar em que caíra, com sua asa quebrada, mas agora até mesmo a sua respiração que estava fraca ha-via parado. Um brilho deixou o corpo de Banká; sua alma! Uma alma cinzenta e extremamente pequena comparada ao tamanho do dragão.

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A alma de Banká bateu asas e pairou por algum tempo no ar, enca-rando Luftar. Meithel deu um passo à frente, tentando aproximar-se de Luftar para consolá-lo, mas neste instante deu um forte relâmpago que clareou tu-do por um segundo. Meithel pôde ver a expressão desesperada de Luf-tar, as lágrimas escorriam de seus olhos e se misturavam com a chuva que caía em seu rosto. O belo pássaro formado pela luz cinzenta bateu asas mais uma vez, voou contra Luftar, deu uma volta completa em torno dele e então voou para os céus, rumo aos Domínios da Alma. Luftar permaneceu imóvel por muito tempo e ninguém conseguiu di-zer nada. Logo depois ele saiu correndo na chuva, completamente de-sorientado, e ninguém tentou detê-lo. Banká estava morto; o grande companheiro de sua vida partira para sempre, partiu para um lugar onde nenhum dragão poderia levar Luftar. Elkens continuava de joelhos, sentindo a terrível dor do veneno espa-lhando-se por todo o seu corpo. Ego estava parado à sua frente, rindo da sua dor, mas Calarrin continuava no mesmo lugar de onde havia atirado as flechas da Magia. — Pensei que você resistiria até seu amigo acordar – disse Ego – para que ele pudesse assistir a sua morte, mas vejo agora que quando Gau-ton acordar você já estará morto. Elkens agora estava com as mãos apoiadas no chão e mesmo assim ti-nha dificuldades para não cair ali mesmo e se entregar à dolorosa mor-te. A dor aumentava a cada segundo e se espalhava mais pelo seu cor-po acompanhando o veneno. Mas junto com sua dor e agonia, aumen-tava também a raiva de Elkens. — Seu maldito – disse ele com esforço. Como alguém podia sentir tanto prazer vendo alguém morrer de modo tão horrível? Mesmo sen-

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do um inimigo, como era possível sentir prazer ao presenciar aquilo? Nem mesmo o pior e mais vingativo dos protetores deveria sentir ta-manho prazer quanto o que Ego estava sentindo. – Por que estão fa-zendo isso? Por que estão obedecendo aos Cavaleiros da Magia quan-do eles são responsáveis por todo o caos que está acontecendo agora? Ego deixou seu sorriso maníaco de lado, mas ainda assim sem deixar de sorrir. O que exibia no rosto agora era um misto de prazer, culpa, arrependimento e orgulho. Calarrin, de longe, exibia a mesma expres-são, confundindo e misturando sentimentos. — Os Cavaleiros da Magia estão iniciando a Revolução Elementar – explicou Ego. – A Magia já não é a mesma e toda Gardwen mudará, inclusive os Elementos da Vida. Tudo o que você conhece irá acabar. Um novo mundo está se formando e somente aqueles que forem fiéis aos Cavaleiros da Magia é que irão sobreviver. Os traidores serão pu-nidos com a morte, assim como você e todos os seus amigos. O veneno já havia se espalhado por quase todo o seu corpo, mas El-kens tentava resistir a ele a todo custo. Com um imenso esforço igno-rou a dor e conseguiu se levantar, ficando frente a frente com Ego. A raiva que sentia é o que lhe dava forças para não se entregar. — Isso eu não permitirei – disse ele desafiando o Feiticeiro. – En-quanto eu estiver vivo não permitirei que isso aconteça! Ego riu como um louco ao ouvir isso. Riu tanto que chegou a se en-gasgar, um completo insano. — Que palavras bonitas – disse Ego recuperando-se. Sua voz asmáti-ca carregava a ironia que Elkens tanto odiava agora. – Mas pelo o que vejo o dragão que foi atingido pela flecha de Calarrin acaba de morrer e tenho certeza de que você não agüentará tanto tempo quanto ele. Você pode não ter sido derrubado pelo veneno com tanta facilida-de quanto o dragão, mas quando o veneno chega ao coração o efeito é

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o mesmo. Não tenha dúvidas de que o veneno levará bem menos tempo para chegar ao seu coração… O medo que sentiu fez sua raiva explodir. Elkens cambaleou, mas sem ter onde se apoiar deu dois passos à frente e agarrou Ego pelo peito. — Tire o veneno do meu corpo! Ego apenas ria. — Como disse? – perguntou ele sem querer demonstrar a surpresa pe-la força que Elkens ainda tinha, mesmo após receber o veneno mortal em suas veias. — Sei que um Guerreiro não é capaz de criar um veneno, então não foi Calarrin que criou o veneno que está em suas flechas, foi você! Ca-larrin está utilizando o seu veneno, então você pode tirá-lo do meu corpo. A tempestade caía com sua fúria sobre eles. Não era possível ver ou ouvir nada que não estivesse por perto. — E por que eu faria isso? – perguntou Ego num sussurro. – A or-dem que recebemos era para matá-los e levar o cristal. Se eu salvá-lo agora, terei que matá-lo depois, por isso não farei nada. Gosto de as-sistir a uma morte dolorosa… — TIRE O VENENO DO MEU CORPO! — Não! – exclamou Ego decidido. – Você já era, não percebe isso? Você não pode fazer nada agora; sua morte é inevitável. Mas ainda havia algo que Elkens podia fazer. Com a dor que sentia não conseguiu elevar sua concentração nem mesmo para Absu-gan, mas Ken-gan já era o suficiente para realizar o seu plano. Tocando seu colar, utilizou suas últimas forças para realizar mais um feitiço, sua última tentativa. Um fino fio de luz rubra, quase imperceptível, saiu do colar de Elkens. Ego rapidamente levantou uma barreira à sua frente, mas logo percebeu que ele não era o verdadeiro alvo de El-

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kens, e sim Calarrin. Ego olhou preocupado para Calarrin, mas sor-riu como um insano quando o fio de luz rubra atingiu o Guerreiro e não aconteceu nada a ele, apenas continuou imóvel onde estava. — Parece que você não consegue mais realizar feitiços decentes – dis-se Ego com sua voz asmática. – Calarrin sequer sentiu o seu golpe… — Se você não tirar o veneno do meu corpo – disse Elkens interrom-pendo Ego. Ele não deu atenção ao que o Feiticeiro falava, pois tinha pouco tempo agora. – o seu amigo ficará imóvel como uma estátua por um bom tempo… acho que tempo suficiente para que a ajuda que eu pedi chegue. — Você pediu ajuda? – perguntou Ego assustado, tanto por ouvir Elkens dizer sobre a ajuda quanto em constatar que Calarrin continu-ava imóvel no mesmo lugar. Realmente Calarrin estava imobilizado. — Pedi! – mentiu Elkens se esforçando para sorrir do medo que sur-giu na voz de Ego com esta notícia. – Pedi ajuda assim que o dragão caiu e eles chegarão logo. Você não poderá enfrentar a todos… — O QUE VOCÊ FEZ COM O CALARRIN? – perguntou Ego se descontrolando. — Nada de mais – explicou Elkens com a voz cada vez mais fraca, embora continuasse se esforçando para sorrir. A situação estava cada vez pior para ele, mas sua última cartada, embora arriscada, poderia virar a mesa a seu favor. – Eu usei o feitiço de congelar alma. Este feitiço não consiste na minha força para mantê-lo, e sim na força do adversário para se livrar. Não sei quanto tempo Calarrin levará para se livrar do meu feitiço, mas posso te assegurar que tempo o suficiente para que os meus amigos cheguem. Toda a confiança de Ego de repente desapareceu; parecia finalmente ter cedido à ameaça de Elkens. Ele sabia que não viria ajuda alguma,

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mas estava tão confiante que conseguiu convencer Ego com facili-dade. Ego tocou seu colar com uma das mãos, então com a outra tocou o fe-rimento no braço de Elkens, por onde o veneno havia entrado. Elkens sentiu algo quente saindo da mão de Ego e penetrando pelo seu corpo e, a medida que avançava, a dor ia diminuindo e as forças voltavam. Em questão de poucos segundos toda a dor havia passado e o ferimen-to se fechou. Elkens estava salvo! — Agora é com você – disse Ego à Elkens. – Faça Calarrin voltar ao normal! Elkens não gostava da idéia de ajudar um inimigo, ainda mais o res-ponsável pela morte do dragão de Luftar, mas Ego fez o que ele pedi-ra. Mesmo contrariado, Elkens levou a mão em direção ao seu colar, mas foi então que viu alguém correndo na direção de Calarrin, que ainda estava imobilizado pelo seu feitiço. Por causa da chuva muito forte e também por causa da distância que os separava, Elkens não pôde reconhecer quem era a pessoa que se aproximava do Guerreiro da Magia, mas pôde ver perfeitamente bem quando quem corria parou diante de Calarrin, desembainhou uma es-pada e cravou-a no peito do Guerreiro da Magia. Foi então que um forte relâmpago iluminou o céu repentinamente e permitiu Elkens de ver o rosto do assassino de Calarrin: o jovem Luf-tar ainda segurava a espada no peito do homem. Calarrin estava mor-to. Luftar havia acabado de vingar a morte de Banká.

Luftar tirou a espada do peito de Calarrin e recuou um passo para trás, permitindo que o corpo do homem despencasse ao chão. A alma

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de Calarrin levou alguns segundos para abandonar o corpo, pois ainda estava congelada e Elkens teve de cancelar o feitiço para liber-tá-la. A alma voou rapidamente em meio à tempestade, na mesma di-reção em que a alma de Banká voara. — Seu desgraçado! – gritou Ego após recuperar-se do choque pela morte do amigo. Ele segurou seu colar com força, então avançou para Elkens. – A culpa é sua! — Essa não é uma boa idéia, Ego – disse uma voz ao lado de Elkens. Ele se virou e viu Gauton se aproximando, segurando o seu colar. Fi-nalmente havia se recuperado do ataque do Feiticeiro. Ainda estava ferido, mas felizmente voltara para a batalha. Ego estava em desvan-tagem. — Com toda certeza essa não é uma boa idéia! – disse outra voz, des-ta vez de Meithel, que somente agora aparecia para a batalha. A des-vantagem de Ego apenas aumentou. Ego parecia ter sido atingido por um feitiço de congelar alma; ficou imóvel, apenas encarando seus inimigos: Elkens, Meithel e Gauton. Como poderia enfrentá-los sozinho? Toda a vantagem que Ego tinha desde que a batalha começou, agora fugia por entre os seus dedos. Primeiro foi obrigado a salvar Elkens, agora Calarrin estava morto, deixando-o sozinho para enfrentar não um, mas três inimigos. Mas Ego recuperou-se quase que imediatamente, pois ainda havia uma car-ta na manga, um último truque que poderia lhe trazer não só a vanta-gem, mas a vitória. Um sorriso contido surgiu em seu rosto, mas logo transformou-se numa gargalhada. Gauton irritou-se e se preparou pa-ra atacá-lo, mas Meithel o interrompeu: — Não faça isso, Gauton. Não sabemos o que ele tem em mente. — Por isso mesmo devemos atacá-lo – retrucou Gauton irritado. – Não podemos dar a ele chance para fugir ou nos atacar.

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Gauton e Meithel se encaravam, mas Elkens só olhava para Ego. Estava com um mau pressentimento. Ego ainda causaria problemas, ele sentia isso. A tempestade ficou mais forte. A chuva caía com violência e as raja-das de vento os desequilibravam. Um forte raio caiu não muito longe de onde estavam, mas nenhum deles baixou a guarda. Todos estavam preparados para se defender de um possível ataque de Ego. Ele, por sua vez, apenas continuava sorrindo. — Você está certo, Meithel – disse Ego finalmente. – Seria uma pés-sima idéia vocês me atacarem, uma vez que estou com um de vocês… O coração de Elkens deu um pulo. A primeira pessoa que veio em sua mente foi Mifitrin, mas aquilo não era possível. Mifitrin estava mui-to longe deles e jamais seria pega por um Feiticeiro como Ego. — O que você está insinuando? – perguntou Meithel receoso. — Um refém! – respondeu Ego. – É isso que estou insinuando quan-do digo que estou com um de vocês. Mas se não acreditam… Ego parou de falar e fez um gesto com as mãos. No segundo seguinte alguém se materializou na frente deles. — Yusguard! – exclamou Elkens surpreso. Yusguard estava agacha-do no chão, com os braços e as pernas atados por cordas de luz branca. Estava preso de tal forma que mal podia se mover, e ainda havia algo em sua boca, impedindo-o que falasse. — Não – disse Meithel olhando atentamente para o refém. – Acabei de deixá-lo lá atrás. Este não é o Yusguard… — Não – confirmou uma voz às costas deles. Desta vez era o verda-deiro Yusguard. – Este não sou eu. É Longuard, meu irmão gêmeo. Elkens ficou pasmo. Os dois eram idênticos, sem pôr nem tirar. Os mesmos cabelos ruivos e curtos, os mesmos olhos verdes, as mesmas sardas, a mesma estatura…

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— Era atrás dele que eu e meus homens estávamos indo – explicou Yusguard, olhando com compaixão para o irmão que estava preso pelo feitiço de Ego. O Feiticeiro observou-os por algum tempo, então disse: — Estão vendo isso? – perguntou ele enquanto apontava para uma argola de luz que envolvia o peito do refém. – Neste momento estou me concentrando neste feitiço, mas se por acaso eu deixar de me con-centrar nele, ele explodirá e matará o refém. Portanto, se eu for morto, ou se você tentar congelar a minha alma, Elkens, ele morre. “Mas se vocês fizerem exatamente o que eu mandar, talvez ele perma-neça vivo. Quero que vocês me tragam a garota, pois sei que o cristal está com ela. Me entreguem o cristal e eu irei embora sem criar mais problemas. Se fizerem exatamente o que eu mandar, e não tentarem nenhuma gracinha, prometo que não matarei nenhum de vocês”. A espada de Yusguard, que estava em punho pronta para atacar, len-tamente foi se abaixando. Yusguard não entendia de magia, mas sabia que o que Ego falava era verdade. Ele não podia atacar e correr o ris-co de perder seu irmão. Gauton, Elkens e Meithel se encaravam, mas desta vez não havia nada a ser feito, por isso Meithel se virou e come-çou a andar na direção em que Laserin e os homens de Yusguard esta-vam. — Vou buscar a garota – disse ele sem olhar para trás. — Traga somente a garota – disse Ego feliz. – Não traga nenhum dos homens e mande-os ficarem onde estão. Mais alguns passos e Meithel desapareceu, engolido pela tempestade. Ninguém podia vê-lo e ele podia fazer qualquer coisa agora, mas todos sabiam que isto estava fora de cogitação. Por mais que pensassem não havia nada a ser feito. Meithel não tinha escolha, teria de trazer La-serin e o cristal e entregá-lo para Ego.

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Enquanto Meithel estava ausente, ninguém disse nada. Yusguard não tirava os olhos de seu irmão, amarrado e amordaçado no chão. Não esperava encontrar o irmão em tais condições, mas agora que es-tava olhando para ele lembrou-se do motivo por ter vindo atrás dele e novamente sentiu um aperto no coração. Longuard sequer imaginava o quão terrível era a notícia que Yusguard tinha para lhe dar. Alguns minutos depois Meithel voltou e Laserin veio com ele. Ela es-tava segurando sua bolsa de couro firmemente com as duas mãos. El-kens sabia que o cristal encontrava-se ali dentro. Ao ver a garota, o sorriso de Ego dobrou de tamanho, mas ele não dis-se nada. — Vamos Laserin – Meithel a encorajou. – Entregue o cristal para ele. Não temos escolha. Laserin parecia nervosa e extremamente relutante em entregar o cris-tal, mas logo resolveu aceitar o que Meithel pedia. Ainda relutante, ela abriu a bolsa, demorou-se por um segundo enquanto pensava me-lhor, mas então tirou o grande e belo cristal branco de dentro. Os olhos de Ego brilharam ao ver o cristal. Havia uma certa ambição em seu olhar e ao mesmo tempo satisfação, pois afinal de contas ele conseguiu fazer o que Mudriack morreu sem conseguir. Ego, com toda certeza, seria muito bem recompensado pelos Cavaleiros da Magia, talvez con-siderado um dos maiores aliados na realização de seu objetivo. Ele ra-pidamente tomou o colar das mãos de Laserin, e por algum tempo apreciou sua beleza, mas então sentiu uma lâmina encostar-lhe ao pescoço. Era Luftar. — LUFTAR – gritou Yusguard. – Não faça nada. A vida de Lon-guard está nas mãos dele.

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Ego ficou imobilizado pelo ataque surpresa do jovem Luftar, que ti-nha a espada preparada para arrancar-lhe o pescoço a qualquer mo-mento. Em sua lâmina ainda estava o sangue de Calarrin. — NÃO FAÇA ISSO, LUFTAR – gritou Yusguard mais uma vez. Luftar não olhou para seu primo, apenas encarava a lâmina da pró-pria espada, então disse: — Me desculpe Yusguard, mas eu preciso fazer isso – sua voz era a de alguém que já havia perdido a esperança, alguém que não tinha mais nada a perder, que queria apenas se vingar. – Ele tem parte na morte de Banká. Ele era amigo do outro… — LUFTAR, É UMA ORDEM – gritou Yusguard ainda mais alto. – NÃO FAÇA ISSO. Luftar não respondeu de imediato. Estava apenas lá, segurando a es-pada que deceparia o desgraçado. Estava se recordando de tudo o que já vivera, de momentos bons e ruins que passou, mas pensava princi-palmente em Banká, o dragão que para ele foi o mais leal e mais ado-rado de todos os amigos. De repente ergueu a cabeça e encarou Yus-guard. Lágrimas ainda escorriam por seu rosto. — Sinto muito, Yusguard – disse Luftar, que não parecia sentir tan-to quanto dizia. O desejo de vingança agora era maior que qualquer coisa. – Eu preciso matá-lo porquê… Mas ninguém nunca chegou a descobrir o porque de Luftar, pois ja-mais uma palavra voltou a sair de sua boca. Aconteceu rápido demais. O irmão de Yusguard, Longuard, que estava amarrado no chão, de re-pente livrou-se das cordas mágicas que o prendiam, levantou-se, de-sembainhou uma espada e cravou-a nas costas de Luftar, atravessan-do-lhe o peito. Yusguard perdeu o ar, perdeu o chão. Ficou sem fala enquanto tenta-va entender o que estava acontecendo. Ego desvencilhou-se do garoto,

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que ficou em pé por algum tempo, ainda com a espada de Longuard atravessada no peito. Sangue escorreu por sua boca, mas Yusguard não reparou nisso. Havia algo muito maior por trás disso: um sorriso. Após compreender o que havia acontecido, após passado o susto, Luf-tar sorriu. Um sorriso sincero como Yusguard jamais vira em seus lá-bios. Lágrimas continuavam escorrendo por seu rosto, lágrimas que também escorriam pelo rosto de Yusguard sem que ele se desse conta. Ele não soube se Luftar não conseguia dizer nada, ou se não queria dizer, afinal de contas sempre foi um homem de poucas palavras, mas Yusguard entendeu o que ele queria dizer. Um adeus estava claramen-te exposto nos olhos do jovem garoto, que ainda sorria quando final-mente caiu. Yusguard adiantou-se para frente, evitando a queda de seu querido primo, mas Luftar já estava morto quando o pegou em seus braços.

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Enquanto chorava sobre o corpo do primo, uma alma abandonou-o e voou diretamente para os Domínios da Alma, indo para junto da alma de Banká. Os demais ficaram sem reação alguma, apenas olhando para a dor de Yusguard. Laserin também chorava; chorava pela morte tão brutal de Luftar, o garoto que não era muito mais velho que ela e que já havia sofrido tanto. Mas ninguém ainda conseguia compreender o que havia acontecido. Num momento todos estão fazendo de tudo para salvar o irmão de Yusguard, e no momento seguinte ele se levanta e assassina Luftar. — LONGUARD! – gritou Yusguard para seu irmão. – O que você fez? Longuard ainda segurava a espada cuja lâmina estava suja com o sangue de Luftar. Pela primeira vez ele encarou o irmão e então, ines-peradamente, sorriu. — Você continua ingênuo como sempre, Yusguard – disse o irmão rindo como um louco. – Eu nunca fui prisioneiro, estávamos apenas fingindo para conseguir o cristal. Ego e eu estamos juntos nisso tu-do… Yusguard não sabia o que dizer, sequer sabia o que estava pensando. Sempre idolatrou e protegeu seu irmão; por toda a sua vida Yusguard fez isso, mesmo com os constantes avisos de Luftar de que Longuard não se importava com eles, muito menos com o irmão. Yusguard ficava até mesmo contra seu pai para proteger Longuard, mas agora percebeu o quanto foi cego. Todos já haviam percebido, todos menos ele. Yus-guard olhou para o corpo de Luftar e sentiu um imenso remorso. De repente surpreendeu-se desejando que Longuard estivesse no lugar de-le. Sentiu remorso por nunca ter dado à Luftar o respeito que ele re-almente merecia, pois percebia agora que Longuard, em nenhum mo-

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mento da sua vida, fora um terço do homem que Luftar foi durante toda a sua vida. Um ódio crescente tomou conta de seu corpo, que ainda tremia. Lentamente ele colocou o corpo de Luftar no chão, bei-jou-lhe a testa, então levantou-se, ficando frente a frente com o ir-mão. — Estou sob ordens dos Cavaleiros da Magia agora – disse Longuard ainda sorrindo. – Sou leal a eles. Yusguard levantou a espada e avançou contra o irmão, apontando a espada para o seu peito. Longuard apenas encarou-o, sorrindo, como se o incentivasse a fazer aquilo, mas na verdade só o fazia porque sa-bia que Yusguard jamais teria coragem de tirar a sua vida. Yusguard baixou a espada, ao que o irmão disse: — Eu sabia que você não conseguiria me matar. No fundo você é fra-co, Yusguard, não é nada sem mim. Você não tem coragem de me ma-tar porque sou a pessoa mais importante para você… — Você tem razão – disse Yusguard. – Não vou te matar. Mas en-gana-se quanto ao resto. Sempre te idolatrei, Yusguard, achando que você era mais que eu; sempre me espelhei em você, mas agora isso aca-bou. Perdi cada segundo que tentei ser igual a você, porque eu não quero isso. Não quero ser como você! E se quer saber, só não te mato agora porque eu estaria te dando muito mais do que você merece. Você tem que estar vivo, Longuard, para sofrer. Você vai pagar pela morte de Luftar em vida, só então eu irei matá-lo. Longuard não disse nada, apenas sorria, embora agora houvesse um pouco de surpresa misturada com a sua alegria. Confuso com tudo o que ouvia, Meithel resolveu interferir na conver-sa dos irmãos, então olhou para Ego e perguntou:

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— Como saberemos se estão dizendo a verdade? Como saberemos se realmente estão sob ordens dos Cavaleiros da Magia se neste momento eles estão presos dentro dos Domínios da Magia? — Tem certeza de que eles estão presos lá? – perguntou Ego voltando a assumir seu tom de voz irônico. – Como eles podem estar presos se foram eles mesmos que trancaram os portais? Ego tocou seu colar e conjurou algo que comprovou todos os receios de Meithel. Ego estava segurando um novo cristal. Era muito semelhan-te ao cristal de Laserin. Obviamente aquele era mais uma parte do Cristal de quatro Faces. — Qual face é essa? – perguntou Gauton. — A segunda! – respondeu Ego. — Entendo – disse Gauton. – Esse cristal abre o portal paralelo que fica na Grande Cidade de Didori. Aposto como foi de lá que Mudriack saiu também… — Assim como você – afirmou Ego maliciosamente. Gauton não disse nada e todos olharam para ele. — É verdade o que ele diz, Gauton? – perguntou Meithel pela pri-meira vez dirigindo-se com desconfiança ao Mensageiro. Gauton o encarou por algum tempo, aparentemente sem saber o que dizer, mas logo respondeu: — Sim, é verdade, mas saí antes de os Domínios da Magia serem trancados… Ego olhava maravilhado para os dois cristais que estavam com ele, mas então fez com que ambos desaparecessem. Havia usado algum fei-tiço para escondê-los, e quando precisasse deles era só conjurá-los no-vamente.

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— Agora já temos as quatro faces – disse Ego transbordando ale-gria. – Finalmente os Cavaleiros terão todo o poder que precisam para concretizar seus planos… — Ego! – interrompeu Longuard, aparentemente nervoso com algu-ma coisa. – Estamos aqui há muito tempo. Você se lembra do que Al-goz nos disse? — Sim – confirmou Ego também adquirindo um tom nervoso. – Ele nos avisou que caso demorássemos muito, eles viriam pessoalmente buscar o cristal. Acho que está na hora de irmos. Não quero estar aqui quando eles chegarem. Yusguard voltou a levantar a espada, deu um passo a frente e disse: — Você não vai a lugar algum, Longuard. Temos contas a acertar… — Confesso que realmente queria te enfrentar, irmão – disse Lon-guard em tom despreocupado. – Mas você não está mais a minha altu-ra. Prefiro deixar que eles te matem. Logo estarão aqui – Longuard fez uma pausa, olhou profundamente nos olhos do irmão, então con-tinuou: – Você se juntará à Luftar logo. Adeus, irmão! Longuard deu uma enorme gargalhada e Yusguard avançou contra ele, mas Ego se interveio e não permitiu que Yusguard atacasse seu irmão. Rapidamente Ego tocou seu colar e fez uma densa névoa surgir. Por algum tempo ninguém enxergou nada, mas assim que o vento levou a névoa para longe, Ego e Longuard haviam desaparecido, levando o cristal de Laserin com eles. — Não! – exclamou Elkens ao constatar que seus inimigos haviam fugido. – O que faremos agora? Não poderemos fazer nada sem o cris-tal… — Nunca conseguiremos entrar nos Domínios da Magia – lamentou Gauton.

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Yusguard não disse nada; ainda parecia em choque depois de tudo o que aconteceu. Meithel parecia querer dizer alguma coisa, mas não te-ve tempo. Eles ouviram vozes se aproximando, mas por causa do ba-rulho da tempestade ninguém podia ouvir o que diziam. Logo eles vi-ram os homens de Yusguard correndo na direção deles, então final-mente compreenderam o que eles diziam: — CORRAM! CORRAM! Um deles estava carregando Cardamis, pois o velho continuava in-consciente desde que recebera o golpe de Ego. — CORRAM! – gritavam eles. – Eles estão vindo. São muitos, não teremos chance… Os homens chegaram até onde o grupo estava, então emudeceram ao ver o corpo de Luftar. Yusguard virou-se para eles e, ignorando a dor que sentiam ao ver o corpo de um companheiro, perguntou: — Quem está vindo? — Não sei direito – respondeu Lendus. – Parecem homens, mas não são… nunca vi nada igual. Alguma coisa neles causa terror e os dra-gões fugiram logo que sentimos a presença deles… — O que aconteceu? – perguntou Roeron interrompendo a explicação de Lendus. Ele olhava petrificado para o corpo de Luftar. — Agora não há tempo – disse Elkens desesperado, então olhou de Gauton para Meithel e continuou: – Eles estão aqui! Nenhum dos dois precisou perguntar quem estava ali, pois a resposta estava evidente no terror estampado no rosto de Elkens. Logo Meithel e Gauton também sentiram a presença deles. A dor no coração era in-confundível. Os kenrauers estavam chegando!

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Agora sabiam a quem Ego e Longuard se referiam quando diziam que eles estavam vindo. Eram os kenrauers. — Temos que correr! – disse Gauton adiantando-se à frente do grupo, então todos correram atrás dele. Agora sentiam a presença dos ken-rauers, cada vez mais perto. – Não teremos chance alguma. O cristal de Laserin era a única coisa que poderia detê-los. Todos corriam desesperadamente na direção oposta à que vinham os demônios sem alma, porém, não correram por muito tempo, pois logo perceberam que havia mais um grupo e kenrauers vindo da frente. Es-tavam cercados! Eles ficaram parados, pois não havia nada mais a fazer. Logo eles os viram. Montes deles chegavam e formavam um círculo em torno do pequeno grupo. Kenrauers não paravam de surgir de todos os lados. Mais e mais chegavam a cada segundo e logo havia dezenas de dezenas de kenrauers parados à volta deles. Um verdadeiro exército de demônios de Mon. — Estamos cercados – disse Roeron temeroso. – Não há como fu-gir… — Longuard e Ego sabiam que eles viriam – disse Meithel pensativo, sem dar atenção para o que Roeron dizia. – Então de alguma forma os Cavaleiros da Magia estão ligados aos kenrauers e, conseqüente-mente, à Mon! Mas isso não era tudo. Centenas de kenrauers estavam à volta deles, mas por quê? Por que os Cavaleiros queriam o Cristal de quatro Faces tão desesperadamente? — Quem… ‒ começou Yusguard, mas então fez uma pausa e arru-mou sua pergunta de modo mais convincente: – O que são os kenrau-ers?

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Até mesmo Yusguard e seus homens sentiam o mau que a presença dos kenrauers causava. — São demônios – explicou Elkens. – Foram eles que mataram todos na cidade de Buor. Os kenrauers fechavam o cerco lentamente. O pequeno grupo se es-premia uns contra os outros, na tentativa de se afastarem o máximo possível dos demônios, que continuavam a avançar de forma lenta e ameaçadora. Yusguard soltou um alto assobio, mas que foi abafado pelo barulho da tempestade. Os dragões não ouviriam mesmo que estivessem por perto. Então finalmente, após um forte relâmpago, os demônios avançaram ferozmente contra eles. Não podiam fazer nada, estavam perdidos… — LASERIN! – gritou Meithel após um novo relâmpago. – Está na hora! Ninguém entendeu exatamente do que Meithel estava falando, mas logo viram a garota tirar um cristal que estava escondido no fundo de sua bolsa. Ela levantou o cristal com os dois braços e em questão de segundos ele passou a emitir seu brilho já conhecido de Elkens, Meithel e Gauton. O cristal brilhava intensamente, intimidando os kenrauers que se aproximavam. Os kenrauers pararam de avançar contra eles, mas também não recuaram. — De onde veio este cristal? – perguntou Gauton para Meithel. – Eu não sabia que tinham dois cristais. — Nunca tivemos dois cristais – disse Meithel, que mesmo em meio a tanto perigo não deixou de dar um leve sorriso. – Acontece que Ego também não. O cristal que ele levou é falso; eu mesmo o criei quando fui buscar Laserin. O cristal não tem poder algum, é apenas uma imi-tação, e agora Ego já deve ter percebido isso.

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Pouco a pouco os kenrauers iam avançando, gritando para suas pre-sas; estavam resistindo ao poder do cristal! Laserin estava ficando exausta. O cristal estava consumindo todo o seu poder, mas ainda as-sim parecia ser inútil. Laserin focou toda a sua energia de uma única vez para o cristal, e seu brilho se intensificou. Os kenrauers berraram de raiva e, talvez, de dor, mas não recuaram. Estavam determinados a matar suas presas para pegar o cristal, e pareciam dispostos a sofrer com o poder do cristal para atingirem seus objetivos. Elkens lembrou-se de que era uma parte da alma de Mon que estava em cada kenrauer, então Mon devia realmente estar querendo o cristal, mais ainda que os Cavaleiros. — Laserin, o que está acontecendo? – Meithel olhava preocupado da garota para os demônios. Ela parecia cada vez mais fraca, mas os de-mônios não recuavam um passo sequer. — Não consigo – respondeu ela com esforço. – Eles são muitos, Meithel, e estão enfraquecendo o poder do cristal. Ele já está no limite da sua força… e eu também… Lentamente o brilho do cristal foi enfraquecendo e os kenrauers avan-çaram ainda mais. A medida que o cristal enfraquecia, os kenrauers chegavam mais perto. Mais algum tempo e Laserin não resistiu; sol-tou um gemido de dor e caiu de joelhos, derrubando o cristal no chão, já sem brilho algum. Os kenrauers soltaram seus gritos ameaçadores, agora de alegria, en-tão avançaram à toda velocidade. Elkens, Gauton e Meithel se prepararam para lutar, mas já não havia quase magia em seus colares ou em seus corpos. Os kenrauers acaba-vam com qualquer forma de magia, e um exército como aquele os en-fraqueceu em pouco tempo.

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Quando tudo parecia perdido a ajuda finalmente chegou. Elkens ou-viu o barulho de asas batendo e em segundos Sangrento sobrevoava sobre eles. — Vamos – gritou Yusguard tomando a dianteira. – Subam todos! Yusguard ajudou a carregar o corpo inconsciente de Cardamis para cima de seu companheiro e em um segundo Elkens, Meithel, Gauton, Laserin, Roeron e Lendus haviam montado. O dragão bateu veloz-mente suas asas, então voou para o alto a toda velocidade, deixando os furiosos kenrauers para trás. Elkens olhou para baixo e seu coração deu um salto. De cima ele podia ver a quantidade assustadora de ken-rauers. Todos eles deviam estar ali, centenas deles. A força que Mon já dispunha do seu lado era terrível, mesmo antes de ele próprio ter se re-velado ao mundo. De repente Elkens tomou consciência do quão terrí-vel seria a guerra que se aproximava e também do quão era importante que Mifitrin, Kanoles e Karnar se saíssem bem na missão deles, pois era de suma importância que todos os reinos de Gardwen estivessem unidos nesta guerra. Em algum lugar lá embaixo estavam os corpos de Banká, Luftar e Ca-larrin. A chuva e o vento ainda estavam fortes, mas Sangrento voava sem demonstrar fraquezas. — Eu irei com vocês – disse Yusguard de repente, após tomar sua di-fícil decisão. – Irei com vocês para onde estão indo, pois sei que lá também encontrarei meu irmão. Eu vingarei a morte de Luftar!

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