santo tomás de aquino mestre espiritual

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Page 1: Santo tomás de aquino mestre espiritual

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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA

RESUMO DO CAPÍTULO: TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE

Trabalho apresentado a Faculdade

Católica de Belém como requisito

avaliativo do Seminário Temático:

São Tomás de Aquino e a Suma

Teológica, orientado pela Prof.

Jean Eudes.

ANANINDEUA / PA

2016

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Resumo do Capítulo: Teologia e Espiritualidade

No primeiro capítulo da obra “Santo Tomás de Aquino: Mestre Espiritual”,

Jean-Pierre Torrel propõe uma reflexão sobre a espiritualidade de São Tomás de

Aquino, assim faz necessário esclarecer o termo para posteriormente compreender como

pode ser definida na vida de Tomás, no entanto, há uma necessidade prévia de

compreender o que é a teologia o para este e de que maneira a pratica, tal definição é

necessária, pois conduzirá diretamente para a conclusão do tema proposto.

Tomás era teólogo de profissão, ou seja, um “especialista em teologia”

(HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2697), porém estes termos são demoniados de forma

diferentes quando aplicados à realidade deste teólogo, pois ele se considerava um

mestre em Sagrada Escritura (magister in sacra pagina), detentor do conhecimento da

sacra doctrina. O termo theologia é conhecido e usado com frequência por ele, mas

diferente do sentido que usamos hoje.

Por conta de seu pensamento ser de base aristotélica, ao utilizar a expressão

theologia estava a referir-se de uma parte da filosofia η, que, no mundo grego

pagão, “refere-se principalmente ao modo mítico-religioso de falar dos deuses, de sua

origem e de sua relação com o mundo” (BERNARDINO, 2002, p. 1346),

complementamos este pensamento com que Champlin (2001, p. 359) vem dizer:

Aristóteles fez da teologia uma disciplina filosófica séria, e as ideias divinas,

como ser Impulsionador Não-Movido, faziam parte de seus estudos de

metafísica, ou seja, a seção de seus escritos que aparece ‘após a física’. Seu

estudo sobre as causas lançou a base para o argumento teológico em favor da

existência de Deus.

Feita esta consideração sobre a utilização do termo teologia no contexto do

grego antigo, voltemos o olhar para a utilização da expressão sacra doutrina que possui

tamanha significação e amplitude, porém vale ressaltar dois destes campos maiores que

são o sentido objetivo, voltado para o que se ensina, principalmente sobre o corpo de

doutrinas, e o sentido ativo, ligado a ação de ensinar, relacionado ao ato de transmissão

no intuito de tornar conhecida a revelação que por sua vez nos faz conhecer a vontade

de Deus. Para ter uma noção da amplitude deste termo basta olhar às inúmeras obras de

Tomás, como os textos sobre as Sentenças, a Suma Contra os Gentios, Suma Teológica,

dentre muitos outros escritos advindos das diversas consultas que eram feitas a este

teólogo.

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Também temos que considerar os três fios condutores seguidos na composição

das obras, isto é, que guiavam a sacra doutrina praticada por Aquino, são eles a linha

especulativa, “convertida numa ‘ciência das conclusões’ na qual a arte do teólogo

consiste em buscar, por silogismo, conclusões novas, eventualmente definíveis pelo

magistério em virtude apenas de sua certeza teológica” (TORREL, 2008, p. 16). Outra

linha seguida era o que poderíamos chamar de histórico-positiva por conta de seus

escritos comentando sobre a Escritura e que caminha para um conhecimento profundo e

especializado da história, porém há o risco deste romper, ou seja, distanciar-se da

teologia. Por fim uma terceira linha era a mística que “dá continuidade a uma linha

inaugurada por Santo Agostinho e santo Anselmo” (ibidem, p. 16) de uma teologia

ascética e mística. Assim, ressalta-se o pensamento de Santo Anselmo ao proferir: “Não

procuro compreender para crer, mas creio para compreender (credo ut intelligam)”.

Por falar, sobretudo da fé a teologia é uma expressão da vida teologal, ou seja,

um exercício pleno da fé, da esperança e da caridade, por isso com esta fé nós aderimos

vitalmente à Realidade divina (cf. ibidem, p. 17). A união da teologia com a fé garante o

bem fazer do teólogo, pois a teologia mantém com a fé uma relação de origem e de

dependência constante, a ponto de se tornar sua razão de ser e permite ao investigador

entrar na posse de seu objeto.

Aqui surge o questionamento: Qual é o objeto da fé? O seu objeto é a

revelação, a Verdade Primeira. Porém ela não é uma simples aceitação na obediência da

revelação, mas uma forma de conhecer baseado no amor, como escreve o Apóstolo

Paulo: “a fé que age por meio do amor” (Gl 5, 6).

Esta relação de dependência entre teologia e fé foi denominada de teoria da

subalternação que parte do pressuposto básico da noção aristotélica de ciência

concebida como um conhecimento certo por causa do raciocínio que permite mostrar

por que ela é assim e não de outro modo. Como ciência subalterna entende-se como a

aliança as ciências que não possuem princípios com outras ciências. O sentido profundo

da subalternação está no principio de que a fé é o lugar espiritual onde a ignorância do

homem se articula com a ciência divina.

Ao afirmar a existência de um objeto investigativo, somos remetidos a

questionar qual é então o sujeito (ou o tema/o assunto) de que trata a teologia. A

resposta para tal pergunta está na Suma Teológica: “Deus é o sujeito desta ciência” (1a

q.1 a.7). Com este pressuposto Aquino diferencia-se de seus contemporâneos, como

Pedro Lombardo que via na oposição entre a letra da Escritura e a realidade que ela

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significa a matéria da teologia. Tomás via em pensamentos como este apenas a

descrição da realidade, mas vai além por querer explicar essa realidade.

Cabe atentar para a distinção feita por Tomás de Aquino entre sujeito e objeto,

pois a linguagem filosófica emprega antes a palavra “objeto” quanto Tomás fala de

“sujeito”. Para compreender isso, somo remetidos à perspectiva aristotélica: “O ‘sujeito’

é a realidade extramental que a ciência procura conhecer; com efeito, ela não tem outro

fim senão o conhecimento de seu sujeito” (TORREL, 2008, p. 23). São os conceitos que

fazem conhecer esta realidade exterior logo constitui “o objeto” da ciência. Santo

Tomás conclui como o objeto da ciência “o conjunto de conclusões que ela consegue

estabelecer a propósito de seu sujeito” (ibidem).

Outra questão surge: por que falar de Deus como objeto da teologia?

Simplesmente pelo fato de que “um sujeito é uma pessoa que se conhece e que se ama

(porque deu a conhecer e amar) que se invoca e que se conhece na oração” (ibidem) este

constitui o conhecimento do Deus vivo da história da salvação. É esta inferência que

leva Tomás a definir teologia como ciência das conclusões. Mas isso significa que é

preciso voltar até Deus para encontrar a chave explicativa de todas as outras

perspectivas unicamente descritivas.

Uma inferência que é há necessidade destacar no pensamento tomista é: “a fé

desempenha na teologia o papel que o habitus dos primeiros princípios desempenha em

nosso conhecimento natural” (ibidem, p. 26). É preciso ressaltar que habitus não

corresponde ao mesmo sentido de hábito (no português), pois o habitus é uma

capacidade inventiva, perfectiva da faculdade na qual ela se enraíza e à qual dá uma

prefeita liberdade em seu exercício. A habilidade de um artista é um habitus, assim com

a fé que reside em nós, como dom divino, que aperfeiçoa nossa capacidade de

conhecimento de seu objeto, o próprio Deus e o mundo das realidades divinas, ou seja,

nos possibilita compreender espontaneamente o que procede de Deus. Levando em

consideração este conceito conseguimos compreender os princípios da teologia.

O elo da teologia com a fé, como ressaltado anteriormente, conduz a duas

práticas que deves ser inerentes a teologia, são elas a prática da caridade e a oração, isso

porque não de uma fé morta que requer os estudos teológicos, logo sendo morta ou

inteiramente insuficientes ocorre uma situação anormal nas investigações. Quanto à

oração, no prólogo às Sentenças, a.5, ele fala que a teologia assume uma modalidade

orante entre os seus praticantes, sem duvidar que oração pertence ao exercício da

teologia.

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Quanto à espiritualidade em santo Tomás, Torrel utiliza a definição dada por

Walter H. Principe a qual abrange três conceitos, porém somente os dois aplicam-se a

vida do santo. Estes dois sentidos dizem respeito a uma vivencia sobre a moção do

Espírito e uma espiritualidade ligada à prática. Na primeira convém ressaltar os sentidos

de spiritualita, que se refere a “uma vida levada na graça sob a ação do Espírito Santo”

e corporeitas, referindo-se ao espírito enquanto distinto do corpo, assim considerando

spiritualita salienta-se uma vida baseada na caridade e nas virtudes recebidas pelo

Espírito.

A segunda definição é aplicada principalmente quando há a referência a uma

doutrina espiritual, um saber nascido da experiência de vida “adquirido por uma longa

aprendizagem sob a ação do Espírito Santo” (TORREL, 2008, p. 35), logo se fala de

uma doutrina espiritual e até de teologia espiritual, onde os seus ensinamentos nascem

da experiência.

Com essas características destacadas na vida e obras de santo Tomas de

Aquino observa-se uma doutrina permeada de valores que podem inspirar o agir do

homem enquanto um ser social e enquanto cristão, por isso podemos chamar de

espiritualidade.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BERNARDINO, Angelo Di. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Trad.

Cristina Andrade. Petrópolis, Rj: Vozes, 2002.

BÍBLIA. Bíblia Edição Pastoral. São Paulo, SP: Paulus, 1990.

CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia: Teologia e Filosofia. V 6. 5a

ed. Dutra, SP: Hagnos, 2001.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

TORREL, Jean-Pierre. Santo Tomás de Aquino: Mestre Espiritual. 2a ed. São Paulo:

Loyola, 2008.