sebenta de zootecnia

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA Apontamentos de Zootecnia Curso de Engenharia Alimentar Orientação Animal Fernando Manuel Santos Mota Professor Adjunto do Departamento de Produção e Protecção Animal 2003

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Page 1: Sebenta de Zootecnia

INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA

Apontamentos

de

Zootecnia

Curso de Engenharia Alimentar

Orientação Animal

Fernando Manuel Santos Mota

Professor Adjunto do Departamento

de Produção e Protecção Animal

2003

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NOTA DO AUTOR

Esta compilação, pelo carácter geral que norteia a abordagem das matérias nela tratadas,

destina-se exclusivamente aos alunos da Disciplina de Zootecnia, do 3º Semestre do Curso de

Engenharia Alimentar, Orientação Animal.

Não está de modo nenhum aconselhada aos alunos de disciplinas, que pela sua especificidade,

exijam um estudo mais aprofundado, ainda que as matérias versadas nessas disciplinas, possam ter

alguma correspondência titular com partes da presente compilação.

Beja, Setembro de 2003

(Fernando Manuel Santos Mota)

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ÍNDICE

Pag. 1. Conceitos Introdutórios 1 1.1. Noções Reprodutivas das Espécies Domésticas 1 1.2. Parâmetros Reprodutivos 8 1.3. Possibilidades Étnicas da Exploração Animal 9 1.4. Métodos de Fertilização 12 1.5. Pastoreio e Forragens 16 1.6. Estabulação Sistemas Exploração 20 1.7. Relações Animal / Ambiente 21a 2. Noções de Produção de Ovinos 22 2.1 Origem e História 22 2.2 Características Biológicas da Espécie 23 2.2.1 Comportamento Alimentar 23 2.2.2. Características Reprodutivas 24 2.2.3. Produção de Carne Leite e Lã 26 2.2.3.1. Produção de Carne 26 2.2.3.2 Produção de Leite 28 2.2.3.3. Produção de Lã 29 2.3. O Tronco Merino 32 2.4 Raças Ovinas Portuguesas 34 2.5. Raças Ovinas de Maior Expansão Mundial 40 2.6. Sistemas de Produção de Ovinos 45 2.6.1. Tipo de Animais Utilizados 46 2.6.1.1. Linha Pura 46 2.6.1.1. Cruzamento 46 2.6.2. Tipo de Instalação 47 2.6.2.1. Estabulação Permanente 48 2.6.2.2. Semi-estabulação 48 2.6.2.3. Pastoreio 48 3. Noções de Produção de Caprinos 49 3.1. Origem e História 49 3.2. Características Biológicas da Espécie 50 3.2.1. Comportamento Alimentar 50 3.2.2. Comportamento Reprodutivo 51 3.2.3. Produção de Carne Leite e Pêlo 53 3.2.3.1. Produção de Carne 53 3.2.3.2. Produção de Leite 54 3.3. Raças Caprinas Portuguesas 57 3.4. Raças Caprinas Estrangeiras 62 3.5. Sistemas de Produção de Caprinos 65 3.5.1. Tipos de Animais Utilizados 65 3.5.2. Tipos de Instalações 67 4. Noções de Produção de Bovinos 71 4.1. Origem e História 71 4.2. Características Biológicas da Espécie 72 4.2.1. Comportamento Alimentar 72 4.2.2. Comportamento Reprodutivo 73 4.3. Produção de Carne e Leite 76 4.3.1. Produção de Carne 76 4.3.2. Produção de Leite 79 4.4. Raças Bovinas Portuguesas 80 4.5. Raças Bovinas de Maior Difusão Mundial 85 4.6. Sistemas de Produção de Bovinos 91 4.6.1. Sistemas de Produção de Carne 91

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4.6.2. . Sistemas de Produção de Leite 92 5. Noções de Produção de Suínos 95 5.1. Origem e História 95 5.2. Características Biológicas da Espécie 97 5.2.1. Comportamento Alimentar 97 5.2.2. Comportamento Reprodutivo 99 5.3 Raças Suínas Portuguesas 101 5.4. Raças Suínas Estrangeiras de Maior Difusão 105 5.5. Sistemas de Produção de Suínos 108 5.5.1. Sistema Intensivo 108 5.5.2. Sistema Extensivo 112 5.5.2 1. Caracterização do animal obtido neste Sistema 112 5.6 Produção de Carne 114 6. Noções de Produção de Coelhos 118 6.1. Caracterização da Espécie 118 6.2. Características Biológicas da Espécie 118 6.2.1.Comportamento Alimentar 118 6.2.2. Características Reprodutivas 119 6.3. Produção de Carne 121 6.4. Produção de Peles 121 6.5. Produção de Pêlo 121 6.6 Raças de maior interesse 122 6.7. Sistemas de Produção de Coelhos 124 6.7.1. Tipo de Instalações 124 BIBLIOGRAFIA 127

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1- CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

A Zootecnia é uma ciência que em termos gerais se ocupa de todos os

aspectos que concernem à Produção Animal, estando incluídos nos seus aspectos

fundamentais o conhecimento dos comportamentos reprodutivo e alimentar das

diversas espécies exploradas pelo Homem.

Não sendo o objectivo desta disciplina, o estudo pormenorizado quer da

Reprodução Animal, quer dos Sistemas de Pastoreio e de Estabulação a que os

animais domésticos são sujeitos, torna-se no entanto necessário introduzir alguns

conceitos destas áreas, conducentes a uma total compreensão das matérias adiante

tratadas.

1.1- NOÇÕES REPRODUTIVAS DAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS

Durante o longo processo de Evolução os Mamíferos sofreram notáveis

modificações anatómicas endocrinológicas e fisiológicas, cujo efeito foi garantir a

continuidade das espécies (Hafez, 1988). A reprodução numa espécie dióica,

implica a participação de dois indivíduos diferentes entre si anatómica e

fisiologicamente, dizendo-se de sexos diferentes (Simões, 1984).

Desde a Antiguidade que o conhecimento da reprodução dos animais é

preocupação dos povos, como o atestam textos de Hipócrates e Aristóteles

(McDonald, 1978; Simões, 1984). No entanto só no séc. XIX se chegou ao

reconhecimento definitivo da existência do espermatzóide através dos trabalhos de

Prévost e Dumas em 1924 e do oócito pelo conhecimento dos trabalhos de von

Bauer e de Dumas ambos divulgados em 1927 (Asdel, 1969, cit. in Simões, 1984).

As descrições mais ou menos exactas da penetração do espermatzóide no oócito

começaram a surgir em meados do séc. XIX (Bishop e Walton, 1960, cit. in Simões,

1984).

Lataste em 1887, reconheceu a natureza cíclica dos fenómenos sexuais na

fêmea e em 1900, Heape definiu e designou as fases do ciclo éstrico (Asdel, 1969,

cit. in Simões, 1984).

O sucesso reprodutivo em qualquer espécie, está dependente de muitos

factores entre os quais se contam a existência ou não de estação sexual e a

extensão desta, a frequência dos cios, o número de óvulos produzidos, o número de

crias nascidas, os períodos de gestação e de amamentação, a idade à puberdade e

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a estabilidade do período reprodutivo na vida do animal. Por outro lado a eficiência

reprodutiva, pode declinar em consequência de factores estacionais, genéticos,

nutricionais, anatómicos, hormonais, neurais, imunológicos ou patológicos (Hafez,

1988).

A partir de determinada altura da sua vida, os animais começam a manifestar

comportamentos associados à actividade sexual, acompanhados da aparição dos

caracteres sexuais secundários e do aumento dos órgãos reprodutivos (McDonald,

1978). O aparecimento dessas manifestações é conhecido por Puberdade, estando

dependente entre outros factores da raça, da idade do animal, do clima, da época

do ano e do seu estado de nutrição e do sexo a que pertence (McDonald, 1978;

Simões, 1984; Hafez, 1988).

Os processos reprodutivos no seu conjunto são condicionados de maneira

extraordinariamente complexa, por mecanismos que incluem os Sistemas Nervoso e

Endócrino, os quais operando em integração fisiológica fazem a coordenação das

estruturas e órgãos neles participantes, directa ou indirectamente (Simões, 1984).

O Hipotálamo e a Hipófise são dois órgãos integrados no cérebro que actuam

em interdependência e desempenham uma acção primordial na regulação de

numerosos fenómenos fisiológicos, nomeadamente os sexuais, do crescimento e da

lactação (McDonald, 1978; Simões, 1984).

O hipotálamo é o órgão responsável pela produção e libertação de hormonas

que vão regular a produção e libertação de hormonas pela hipófise. Entre estas

encontram-se a FSH (hormona estimulante dos folículos) e a LH (hormona

luteínizante) implicadas directamente nos fenómenos sexuais, a Somatrotropina

(hormona do crescimento), a Prolactina e a Oxitocina (hormonas implicadas na

produção e libertação do leite) (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

Nas fêmeas, o alvo da acção das hormonas hipofisárias FSH e LH são os

ovários, aos quais chegam pelo sangue e nos quais vão produzir alterações

fisiológicas e anatómicas que constituem o Ciclo Éstrico (McDonald, 1978 ; Hafez,

1988).

De modo simplista e generalizado pode assumir-se a seguinte descrição, como

resumo dos complexos fenómenos processados no ovário : a FSH libertada na

hipófise vai promover o crescimento de um folículo (ou vários conforme a espécie).

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Grosso modo, podemos comparar o folículo a uma bolha na superfície do

ovário, no interior da qual se encontram basicamente um líquido viscoso e um oócito

ou óvulo. Este líquido é rico em estrogéneos, designação que engloba um conjunto

de substâncias hormonais responsáveis pelo comportamento sexual exibido pelas

fêmeas em cio e pela manutenção dos caracteres sexuais secundários, nas fêmeas.

A LH vai promover o rompimento do folículo maduro, com a consequente

libertação do óvulo (fenómeno designado por Ovulação), e a formação de uma

substância designada por Corpo Lúteo ou por vezes por Corpo Amarelo (assim

designado na generalidade pela sua cor em algumas espécies), que cresce no local

onde existiu o folículo e começa a produção de uma substância hormonal, a

Progesterona (McDonald, 1978).

A Progesterona tem como funções principais, a inibição da produção de FSH

e a manutenção da gestação, actuando sobre o útero. Se há fecundação o corpo

amarelo permanece activo produzindo progesterona durante todo o período até ao

parto (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

Na situação de não ter havido fecundação a progesterona é produzida durante

alguns dias, até que por ausência de estímulo do embrião no útero, este produz uma

substância a PGF2 a qual provoca a regressão do corpo amarelo, fazendo cessar

deste modo a produção de progesterona (McDonald, 1978). Ao cessar a produção

de progesterona, cessa o seu efeito inibitório sobre o hipotálamo, levando de novo à

possibilidade da produção e libertação das hormonas percursoras da libertação de

FSH e LH pela hipófise (Hafez, 1988).

Depois do exposto introduzem-se alguns conceitos :

Puberdade é a altura em que um animal amadurece sexualmente ficando apto a

reproduzir-se, o que acontece quando os machos começam a produzir

espermatzóides e as fêmeas experimentam o primeiro Ciclo éstrico (McDonald,

1978).

Ciclo Éstrico é uma sequência combinada de acontecimentos fisiológicos

(McDonald, 1978), com um ritmo e duração característico para cada espécie, em

que se processam modificações do aparelho genital e do comportamento sexual

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(Simões, 1984), que é composto de quatro fases, Proestro, Estro, Metaestro e

Diestro (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

- Proestro período que se inicia com a estimulação e o crescimento do folículo

por acção da FSH (McDonald, 1988), podendo dizer-se que é a fase do ciclo

éstrico em que se processa a transição entre o declínio da actividade secretora

do corpo lúteo e o início da influência dominante dos folículos em crescimento,

através da produção de estrogéneos (Simões, 1984).

- Estro, também designado por cio, é a fase que termina com o

amadurecimento do folículo e em que, em geral tem lugar a ovulação (Simões,

1984). Neste período devido à alta concentração de estrogéneos, as fêmea

tornam-se receptivas sexualmente, desenvolvendo comportamentos que as

levam a procurar os machos e a deixar-se montar por eles, seguindo cada

espécie os seus padrões de comportamento próprios (McDonald, 1988 ;

Simões, 1984). Em algumas espécies animais, a ovulação ocorre no fim do

Estro, enquanto que noutras ocorre imediatamente a seguir a este (McDonald,

1988).

- Metaestro, corresponde à formação e entrada em funcionamento do corpo

lúteo com o início da produção de progesterona, a qual aumenta rapidamente

(Simões, 1984).

- Diestro, corresponde em princípio à plenitude funcional de corpo lúteo e à

consequente influência dominante da progesterona sobre os órgãos acessórios

(Cupps et al., cit. in Simões, 1984).

É em geral o período mais longo do ciclo éstrico, ocorrendo nesta fase um

desenvolvimento das glândulas mamarias e do útero, cujas glândulas

segregam um material viscoso e espesso, que irá servir de nutrição ao ovo, no

caso de sobrevir uma fecundação. Na ausência de fecundação o corpo

amarelo permanece funcional na vaca a té ao 17.º dia do ciclo, regredindo

após esta data, permitindo deste modo o início de um novo ciclo éstrico

(McDonald, 1988).

- Anestro - se após a fase de diestro e na ausência de gestação, não se verifica

o início de um novo ciclo éstrico, estamos em presença de uma situação de

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Anestro. O Anestro pode ser provocado por vários factores, entre os quais a

Espécie a que pertence o animal, o clima, doenças, desnutrição. Durante a

primeira fase da lactação, acontece em algumas espécies um anestro,

designado nesta situação anestro de lactação (McDonald, 1978 ; Hafez,

1988).

A duração do ciclo éstrico é variável nas espécies domésticas :

Espécie Duração do ciclo éstrico Duração do cio

Bovinos de carne 17-24 dias 12-30 horas

Bovinos de leite 17-24 dias 13-17 horas

Equinos 16-24 dias 2-11 dias

Ovinos 14-19 dias 26-42 horas

Caprinos 18-22 dias 26-42 horas

Suínos 19-23 dias 40-60 horas

Adaptado de Hafez, 1988.

Época Reprodutiva

Na nossa latitude e em condições naturais, existem determinadas espécies

animais, em que os ciclos éstricos podem suceder-se ao longo de todo o ano, com a

periodicidade característica, para cada uma dessas espécies. Nas espécies

domésticas, este fenómeno acontece com as fêmeas dos Suínos e dos Bovinos,

que são por isso designadas quanto ao seu comportamento reprodutivo por

Poléstricas sem sazonalidade reprodutiva (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ;

Hafez, 1988).

Outras espécies só exibem comportamento sexual, numa época do ano bem

determinada, sendo virtualmente impossível a ocorrência de fenómenos

reprodutivos fora desse período, dizendo-se que possuem Sazonalidade

reprodutiva. Nesta situação estão os Ovinos e os Caprinos pertencentes a raças

originárias do Norte da Europa, que possuem a estação reprodutiva no início do

Outono, em que exibem vários ciclos éstricos (Speedy, 1984 ; Hafez, 1988 ; Fraser

e Stamp, 1989), o mesmo sucedendo com os Equinos, embora estes tenham a sua

estação reprodutiva no início da Primavera (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez,

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1988). Estes factos justifica para ambos a designação de Poliéstricos sazonais

(Simões, 1984).

No entanto, algumas das espécies que respeitam este princípio da

Sazonalidade reprodutiva, só exibem um ciclo éstrico pelo que são designados

Monoéstricas sazonais, estando neste caso as cadelas (Hafez, 1988).

Em certas espécies, apesar da maioria dos seus membros mostrarem uma

marcada tendência, para exibirem comportamento sexual em épocas do ano bem

determinadas, existem algumas raças que fogem em maior ou menor grau a esta

tendência, quer por possuírem uma época reprodutiva mais dilatada, quer pela

possibilidade de exibirem ciclos éstricos em outras épocas do ano, sob

determinadas condições. Estão nesta situação os Ovinos e Caprinos pertencentes a

raças originárias das margens do Mediterrâneo, que podem experimentar cios em

várias épocas do ano (Quittet, 1965 ; Mason, 1967 ; Avó, 1983 ; Hafez, 1988 ;

Portulano, 1990 ; Quittet, 1990), dizendo-se que possuem Sazonalidade

reprodutiva mal marcada.

Importa nesta fase clarificar e introduzir alguns conceitos :

Sazonalidade reprodutiva - é sinónimo de sazonalidade sexual ou de

estacionalidade sexual, sendo um termo que se usa para uma espécie ou raça,

em que o ciclo éstrico ou os ciclos éstricos somente costumam ocorrer numa

determinada época do ano. Esses animais são considerados Monoéstricos

sazonais no primeiro caso (um ciclo éstrico por estação reprodutiva) e Poliéstricos

sazonais no segundo caso (vários ciclos éstricos por estação reprodutiva).

Sazonalidade reprodutiva mal marcada - designa a espécie ou raça que pode

experimentar ciclos éstricos em mais de uma época no ano, embora estes

maioritariamente se verifiquem numa época determinada.

Ausência de sazonalidade reprodutiva - caracteriza os animais de espécies que

podem experimentar ciclos éstricos consecutivos ao longo de todo o ano. São

designados como Poliéstricos.

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Fotoperiodismo - é um termo usado como sinónimo de sazonalidade reprodutiva.

A razão desta sinonímia, reside no facto de actualmente ser aceite que os

processos fisiológicos que conduzem à produção e libertação das hormonas do

hipotálamo, são desencadeados pela acção cumulativa das radiações

infravermelhas irradiadas do Sol (Tamarkin et al., 1985 ; Hafez, 1988), as quais

atravessando pêlo, pele, ossos e massa encefálica, estimulam a acção

hipotalâmica.

Se o início da estação reprodutiva de determinada espécie ou raça, coincide

com a época em que os dias vão tendo sucessivamente mais horas de luz

(Primavera), diz-se que esses animais possuem fotoperiodismo positivo, sendo

designados de fotoperiodismo negativo, se acontece o contrário (Outono).

Fêmeas monotocas - diz-se das fêmeas pertencentes a espécies que por regra

dão à luz uma cria em cada gestação. A ocorrência de partos gemelares, não

invalida esta designação. Das espécies domésticas, são espécies monotocas os

Bovinos, os Ovinos, os Caprinos e os Equinos.

Fêmeas politocas - são as fêmeas pertencentes a espécies que por regra dão à luz

várias crias em cada gestação. Das espécies domésticas, são espécies politocas os

Suínos, os Coelhos e os Cães e os Gatos.

Fêmeas nulíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que ainda não tiveram uma

gestação. Podem ser as fêmeas jovens ainda não submetidas à reprodução ou

fêmeas velhas que devido a variadas condicionantes ainda não tiveram uma

gestação.

Fêmeas primíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que pariram ou que se

apresentam pela primeira vez, sendo na gíria conhecidas por "fêmeas de primeira

barriga".

Fêmeas multíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que já pariram mais que

uma vez ou que se apresentam numa gestação de número superior a um.

Page 12: Sebenta de Zootecnia

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Índices Reprodutivos

Os resultados reprodutivos de um conjunto de fêmeas, quer formem uma

espécie, uma raça, de um efectivo ou de um lote, podem ser encontrados através de

determinados índices produtivos. Os índices são a Fertilidade, a Produtividade, a

Prolificidade, a Mortalidade e a taxa de Abortos, representados sob a forma de

taxas. Para a sua obtenção são utilizados todos os dados relativos ao número de

fêmeas do efectivo, o número de abortos, o número de partos, o número de crias

nascidas vivas e mortas e o número de crias desmamadas (Borrego, 1986 ;

Senante, 1988).

- A Taxa de Fertilidade dá-nos a percentagem de partos ocorridos entre as

fêmeas do efectivo que entrou à reprodução. É calculada do seguinte modo :

Taxa de Fertilidade = n.º de partos x 100 / n.º de fêmeas do efectivo

- A Taxa de Produtividade dá-nos a percentagem de crias nascidas vivas em

relação ao número de fêmeas do efectivo que entrou à reprodução. É

calculada do seguinte modo :

Taxa de Produtividade = n.º de crias nascidas vivas x 100 / n.º de fêmeas do efectivo

- A Taxa de Prolificidade dá-nos a percentagem de crias nascidas (vivas e

mortas) em relação ao número partos. É calculada do seguinte modo :

Taxa de Prolificidade = n.º total de crias nascidas x 100 / n.º de partos do efectivo

Fonte : (Urries,1988).

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Page 13: Sebenta de Zootecnia

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1.2- PARÂMETROS PRODUTIVOS

Em termos zootécnicos cada animal por si e cada raça são caracterizados por

determinados parâmetros produtivos, como a sua precocidade, a velocidade de

crescimento, a rusticidade ou a capacidade de produção de leite. Impõe-se deste

modo a introdução destes conceitos.

Precocidade - pode ser definida como o tempo que decorre até o animal atingir a

puberdade (precocidade reprodutiva), ou o estado adulto.

Velocidade de crescimento - é uma noção muito próxima da precocidade, sendo

amiúde usada em seu lugar, sendo traduzida pelo ganho médio diário.

Ganho médio diário - é o peso diário ganho em média pelo animal em determinado

período, obtido por meio de duas pesagens, uma efectuada no dia inicial do período

considerado e outra no dia final do mesmo período. Este parâmetro obtêm-se

dividindo o ganho de peso total no período considerado, pelo número de dias do

período. Um animal será tanto mais precoce quanto maior for o seu ganho médio

diário, o que aumenta a sua velocidade de crescimento, verificando-se estarem

deste modo os três parâmetros intimamente relacionados.

Rusticidade - pode ser definida como a capacidade de determinado animal

conseguir subsistir ou produzir em condições climatéricas e alimentares difíceis. É

uma qualidade possuída por todas as raças autóctones de regiões com condições

climáticas difíceis, de solos pobres, situações que condicionam a disponibilidade

alimentar. Nestas situações dá-se uma selecção natural em que só os animais mais

resistentes sobrevivem e por consequência se reproduzem, transmitindo essas

características aos descendentes.

Lactação - é definida como o período após o parto, em que a fêmea se encontra a

produzir leite. Como as necessidades alimentares da cria variam ao longo do tempo,

lógico será pensar que a produção de leite não será uniforme. De facto não é,

aumentando desde o parto até um valor máximo, designado pico da lactação,

decrescendo desde esse momento até ao fim da lactação. Se efectuarmos a

representação gráfica da produção leiteira diária de uma fêmea de qualquer

Page 14: Sebenta de Zootecnia

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espécie, teremos uma curva que começa com um valor inicial maior que zero logo

após o parto, tem uma fase ascendente a partir daí até um valor máximo (pico da

lactação), após o que vai decrescendo mais ou menos bruscamente até um valor

perto de zero (altura em que se desmama ou se deixa de ordenhar).

Fonte : (Mota, 1994)

Fig. 1 - Exemplo de duas curvas de lactação, obtidas a partir da produção de cabras

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1.3- POSSIBILIDADES ÉTNICAS DA EXPLORAÇÃO ANIMAL

Qualquer das espécies domésticas de interesse zootécnico comporta várias

raças, podendo essas espécies ser exploradas usando animais de uma só raça ou

animais de duas ou mais raças, na persecução dos objectivos de cada tipo de

produção, carne, leite, trabalho, lã, peles ou mista.

Linha Pura - consiste na criação de animais em que todos os machos e todas as

fêmeas são da mesma raça. O tipo de produção em linha pura é utilizada quer para

animais produtores de carne, quer para os produtores de leite, em núcleos para

obtenção de reprodutores ou comerciais.

Cruzamento - como o nome indica consiste numa união de um reprodutor

masculino de uma raça com outro feminino de outra raça diferente.

Os cruzamentos são na prática, efectuados com o recurso a machos de uma

raça pura, considerada melhoradora, num efectivo de fêmeas pertencentes a outra

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raça, em linha pura ou hibridada, em que se pretende melhorar qualquer das

vocações produtivas conforme a espécie e a raça.

Os produtos de um cruzamento tendem a mostrar características mais

próximas da linha pai, (melhoradora) chamemos-lhe assim e gozam dos efeitos de

um fenómeno designado por "heterose", na gíria conhecido por "vigor híbrido", que

pode ser entendido como a expressão em maior grau, das qualidades apresentadas

pelos progenitores.

Existem vários tipos de cruzamento, sendo os mais usados o cruzamento de

absorção, duplo, alternativo e o industrial.

Cruzamento de absorção - pode ser efectuado com a intenção de substituir o

rebanho das fêmeas de base, por outro, de características étnicas idênticas às do

reprodutor masculino, substituição esta que se dá de modo gradual, à custa dos

animais nascidos nos passos intermédios e finais do cruzamento. Este intento só se

consegue à 5ª geração pelo que quase só se utiliza em programas de selecção.

Cruzamento duplo - também designado de dois andares, este tipo de cruzamento

tem a interveniência de três raças, pretendendo-se obter um produto final de maior

valor produtivo, que qualquer uma das raças iniciais. Suponhamos que temos três

raças de ovinos, uma rústica, uma prolífica e uma boa produtora de carne. Cruzando

as duas primeiras raças numa primeira fase, obter-se-iam fêmeas rústicas e

prolíficas que cruzadas com a terceira raça, dariam como resultado numa segunda

fase, origem a um maior número de borregos e com boa conformação. Este tipo de

cruzamento terá forçosamente que seguir continuamente este esquema, utilizando

as três raças, para dar os resultados propostos no início.

É de resultados muito mais rápidos que o cruzamento de absorção, sendo

utilizado para melhorar quer a produção de leite, quer a produção de carne.

Cruzamento alternativo - também designado por retrocruzamento, nele intervêm

duas raças. Denominemo-las X e Y por exemplo, de ambas se pretendendo

aproveitar algumas características. Vai efectuar-se o 1º cruzamento, do qual

resultam híbridos que vão ser cruzados com reprodutores de uma das raças, por

exemplo a raça X, sendo os produtos deste segundo cruzamento cruzados com a

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raça Y. À 7ª geração todos os indivíduos terão o mesmo genótipo. Este tipo de

cruzamento tem sido utilizado na obtenção de novas raças.

Cruzamento industrial - é o tipo de cruzamento de resultados mais rápidos,

fazendo-se para a obtenção de produtos melhorados, a partir de fêmeas de uma

raça local rústica, bem adaptada à região e de reprodutores masculinos de uma raça

especializada numa determinada produção. É frequentemente efectuado para a

produção de carne, utilizando machos de raças pesadas em rebanhos de fêmeas de

raças autóctones.

A descendência apresenta em geral as características de conformação da

carcaça e de precocidade próximas da raça do pai. A justificação da utilização tão

frequente deste tipo de cruzamento, reside na possibilidade de obter mais carne a

partir de uma raça rústica, numa região em que devido às condições edafo-

climáticas seria difícil ou mesmo impossível criar animais especializados nessa

função.

É de regra que todos os animais resultantes deste cruzamento, ou seja os F1,

devem ser inexoravelmente mandados para o matadouro, devido ao facto de, se

forem usados para fins reprodutivos entre si, ou com o progenitor masculino se

verifica uma perda de qualidade em termos de rusticidade, tanto nos F1 como nos

F2, originando prejuízos futuros à capacidade de sobrevivência no meio para o qual

a raça mãe estava bem adaptada, levando deste modo ao abastardamento do seu

património genético, muitas vezes com consequências irreparáveis.

Por este princípio não ter sido respeitado no passado, levou-se a uma

descaracterização parcial das nossas raças autóctones, as quais em parte e na

tentativa de reparar parcialmente os danos causados, têm sido alvo de alguma

selecção no sentido de as aproximar o mais possível da sua antiga linha.

Temos como exemplo nos ovinos, o caso da raça Campaniça, em que o

abastardamento com a etnia Merina foi de tal modo, que na actualidade a raça está

considerada em vias de extinção, havendo no entanto algumas perspectivas de no

futuro ultrapassar esta situação drástica em que ainda se encontra.

O cruzamento industrial pode ainda ser implementado por outros motivos,

como seja a obtenção de fêmeas mais prolíficas, melhores produções de leite, etc.,

devendo todos os machos F1 serem enviados para abate e as fêmeas destinadas

Page 17: Sebenta de Zootecnia

17

ao fim que norteou o cruzamento. A descendência das fêmeas F2 terá que ser

totalmente abatida devido aos distúrbios morfológicos e produtivos que a sua

heterogeneidade genética acarreta.

Na prática deste tipo de cruzamento põe-se o problema da obtenção das

fêmeas de substituição no efectivo, devido ao inevitável refugo anual de parte das

fêmeas em linha pura, problema que se resolve por aquisição dos animais

necessários a outro criador, ou por manutenção na exploração de um pequeno

núcleo em linha pura, expressamente para esse fim, se o rebanho tiver dimensão

suficiente e fôr economicamente rentável.

---------- / - / - / - / ----------

1.4- MÉTODOS DE FERTILIZAÇÃO Os métodos de fertilização usados em zootecnia são a cobrição natural ou monta

natural e a inseminação artificial

Monta natural - consiste na reprodução natural, em que os machos emparelham

com as fêmeas segundo os princípios comportamentais próprios de cada espécie.

Pode ser efectuada em liberdade ou condicionada pelo homem.

Monta em liberdade - constitui o método mais prático e mais simples, sendo

praticado na esmagadora maioria dos nossos rebanhos consistindo em deixar os

machos junto com as fêmeas durante toda a época de cobrição.

Desde que cada rebanho tenha mais do que um macho não é possível

estabelecer a paternidade dos filhos. Num rebanho comercial este facto não é

importante e embora haja sempre necessidade de fazer uma certa selecção, esta é

feita através da mãe, procurando-se deixar para a reprodução filhos de fêmeas boas

produtoras.

Monta condicionada ou dirigida - este tipo de monta consiste em fazer cobrir as

fêmeas por um macho conhecido, podendo praticar-se duas modalidades :

Em lotes - juntam-se um certo número de fêmeas com um único macho o que

garante a paternidade dos filhos nascidos dessas fêmeas. Este procedimento é

Page 18: Sebenta de Zootecnia

18

obrigatório quando se pretende inscrever a descendência nos Livros Genealógicos

ou quando se faz a testagem de um macho.

À mão - consiste no despiste dos cios, isto é identificar as fêmeas em cio, usando

para isso um macho da mesma espécie, sem que se possibilite ao mesmo a

realização da cópula.

Nos grandes animais o despiste é feito por um macho conduzido por uma

corda, o qual se faz passar perto de todas as fêmeas, as quais se marcam depois

de identificadas.

Nos suínos, animais em que é visível o inchaço vaginal, leva-se essa fêmea ao

macho, podendo utilizar-se um artifício que consiste em o tratador sentar-se sobre o

dorso da porca, a qual se estiver em cio imediatamente se imobiliza.

Nos pequenos ruminantes o despiste é efectuado por um animal equipado com

um arreio marcador com almofada de tinta e impossibilitado de praticar uma cópula

fértil, como seja o caso de machos vasectomizados, machos criptorquídios ou

animais usando um avental. Este último caso é o mais falível pois o carneiro com

avental sabe que não pode cobrir e que se magoa ao tentá-lo e pode defender-se

não saltando a ovelha, não se ficando por isso a saber se esta se encontra ou não

em cio, correndo-se o risco de este passar e a fêmea não ser marcada.

Depois de marcada por meio do arreio marcador a ovelha é retirada e

introduzida numa divisão onde se encontra o carneiro seleccionado para realizar a

cópula.

Inseminação artificial - Consiste na introdução artificial no tracto genital de uma

fêmea, de sémen colhido de um macho, igualmente de modo artificial. Em regra

tanto o macho do qual foi colhido o sémen, como a fêmea na qual é introduzido,

pertencem à mesma espécie. Como excepção temos a possível fertilização de

éguas com sémen de burros, ou burras com sémen de cavalos, além das

experiências efectuadas com animais selvagens em cativeiro em Jardins Zoológicos.

Em muitas situações, quer no âmbito de programas de selecção ou de

melhoramento das raças, ou ainda em certos tipos de produção, é imperioso ou

vantajoso usar a inseminação artificial como procedimento de rotina.

A inseminação artificial é um procedimento que envolve necessariamente

diversas fases, que são a recolha do sémen, a sua conservação (por curtos

Page 19: Sebenta de Zootecnia

19

períodos para o sémen fresco ou longos períodos para o sémen congelado), e a

aplicação do mesmo no tracto genital da fêmea ou fêmeas a inseminar.

A situação de utilização da inseminação artificial em esquemas rotina na

produção das diversas espécies, envolve outras fases além das já citadas, como a

sincronização dos cios das fêmeas a inseminar.

Resumindo a prática da inseminação artificial envolve em termos gerais as

seguintes fazes : sincronização de cios ; colheita de sémen ; diluição ;

acondicionamento do sémen ; aplicação do sémen.

Sincronização de cios - é uma técnica que permite desencadear o cio

simultâneamente e em data pré-determinada, das fêmeas submetidas ao

tratamento. Baseia-se no conhecimento de que a progesterona (hormona

segregada pelo corpo lúteo durante a gravidez), impede o desencadear de novo

ciclo sexual, devido ao bloqueio da ovulação e do cio, por impedimento da formação

das hormonas hipofisárias FSH e LH. O que se passa de forma natural, pode ser

simulado artificialmente com o recurso a hormonas de síntese, que têm idêntica

acção que a hormona progesterona natural designadas progestagéneos.

Deste modo administra-se simultâneamente a todas as fêmeas envolvidas no

processo, uma determinada dose de progestagéneos. Ora suspendendo a

administração de progestagéneos a todas as fêmeas de modo simultâneo, a

actividade ovárica manifesta-se rapidamente e dentro de um curto espaço de tempo

devido à acção das hormonas hipofisárias FSH e LH. produzindo-se o crescimento

dos folículos, o cio, e consequentemente a ovulação.

Associando no final da acção dos progestagéneos uma outra hormona de

síntese, a PMSG (assim designada por ter sido identificada em urina de éguas em

gestação), ou a FSH, provoca-se um estímulo nos ovários que provoca um

incremento do número de folículos que crescem e amadurecem e logicamente há

um aumento no número de fetos por gestação.

Os métodos usados para promover uma sincronização de cios, envolvem a

utilização de esponjas destinadas à aplicação intravaginal, as quais estão

embebidas de um soluto contendo as hormonas a aplicar e / ou injecções dessas

hormonas, conforme a espécie animal considerada. Normalmente as esponjas

vaginais são utilizadas nos pequenos ruminantes.

Page 20: Sebenta de Zootecnia

20

O recurso à técnica de sincronização de cios permite :

1- uma mais fácil e fecunda aplicação da inseminação artificial

2- programar cobrições para obter partos na altura desejada, concentrando-os

num período muito curto de apenas alguns dias

3- o planeamento das parições em épocas e grupos pré determinados

4- a produção de lotes de borregos mais uniformes, facilitando assim sua

venda

5- melhor assistência aos partos, devido à sua concentração temporal

6- uma maior produtividade e rentabilidade da exploração pecuária

Colheita de sémen - consiste como o nome indica na recolha do sémen do macho,

directamente para um reservatório. É feita com o recurso a uma fêmea em cio ou a

um manequim (nome dado a um macho castrado ou a uma estrutura inerte em

forma de banco alto e comprido), no qual foi vertida urina de uma fêmea em cio,

utilizando-se uma vagina artificial, aquecida por água quente à temperatura ideal

para a espécie em causa, a qual é provida de um reservatório destinado à recolha

do sémen.

Diluição do sémen - é efectuada no sentido de dilatar o número de doses de

sémen a utilizar nas fêmeas, partindo da dose fornecida por uma ejaculação. Para

tal são utilizadas várias substâncias como o ácido cítrico, a glucose ou a frutose,

antibióticos, glicerol, gema de ovo, e água destilada. As funções destas substâncias

são fornecer fontes energéticas aos espermatzóides, protegê-los contra o choque

térmico causado pelos abaixamentos de temperatura ultra, manter o pH do sémen

congelado idêntico ao do sémen fresco e proteger os espermatzóides contra a

acção de microorganismos.

O número de doses de sémen para inseminação artificial, obtidas com uma só

ejaculação, varia com a espécie animal considerada, sendo o número de fêmeas

passíveis de serem fecundadas por um só macho, com este método, muito superior

ao possível com a monta natural, como se verifica no quadro seguinte.

Doses de sémen para inseminação obtidas por ejaculação

Touro

300

Carneiro

15

Bode

15

Varrasco

10

(Adaptado de Hafez, 1988)

Page 21: Sebenta de Zootecnia

21

Como exemplo diremos que enquanto um carneiro em sistema de monta

natural, fecunda por época de cobrição um número de cerca de 50 fêmeas, com a

inseminação artificial esse número pode estender-se até 300-400 ovelhas, devido ao

facto de cada ejaculação depois de diluída dá origem a 15 doses de inseminação.

As doses de sémen para inseminação artificial são acondicionadas em

palhetas de 0,25 a 0,5 ml de capacidade e com uma forma aproximada a uma carga

de esferográfica.

Acondicionamento do sémen - é feito com o recurso a cápsulas de azoto líquido,

nas quais se atingem temperaturas, da ordem dos –196 ºC, podendo teoricamente

conservar-se indefinidamente, existindo inclusivamente relatos de inseminações

realizadas com êxito e efectuadas com sémen congelado durante 20 anos.

Inseminação - consiste na introdução do conteúdo da dose de sémen no útero da

fêmea receptiva, efectuada por um técnico com o auxílio de uma seringa

transformada para esse fim. A inseminação pode ser realizada com sémen fresco

ou sémen congelado, necessitando este de breve período de aquecimento a 37 ºC,

o que normalmente se faz com recurso a água a essa temperatura.

---------- / - / - / - / ----------

1.5- RELAÇÕES ANIMAL / AMBIENTE

Os principais factores ambientais que afectam os animais, são a Temperatura, a

Humidade Relativa, a Velocidade do Ar, a Pureza do Ar e a Iluminação.

Para melhor compreensão dos efeitos ambientais, há que introduzir alguns

conceitos ligados à Homeotermia e aos seus mecanismos.

Homeotermia

Os animais domésticos são homeotérmicos, isto é tendem a manter uma

temperatura corporal constante, reagindo para isso às variações externas de

temperatura, para o que se servem dos chamados "mecanismos homeotérmicos".

Estes mecanismos têm a função de estabelecer um balanço calórico entre o calor

produzido e o calor perdido, conduzindo assim a variações da temperatura corporal,

sempre que há alterações deste balanço.

Page 22: Sebenta de Zootecnia

22

As condições ambientais ao influenciar a quantidade de calor trocado entre ele

e os animais, determina os ajustamentos fisiológicos que o animal deve realizar para

manter o seu balanço de calor corporal.

Se o animal está sujeito a temperaturas ambientes muito diferentes da sua

temperatura corporal normal (ou seja está em "stress térmico"), os esforços para a

manter são consideráveis, levando a uma utilização de energia para a regulação da

seu balanço calórico, facto que se vai reflectir no seu crescimento, produção e

saúde. O esquema seguinte ilustra a partição da energia utilizada pelos animais:

Energia dos alimentos

(calor de combustão)

Energia das fezes Energia digestível

Energia da urina e metano

Energia metabolizável

Incremento de calor

(efeito calórico da comida)

Energia Limpa

(manutenção e produção)

Deste modo são as condições ambientais que determinam a extensão com

que a Energia Limpa é utilizada para a manutenção, para a termorregulação e para

a produção, sendo a resistência de um organismo em relação ao seu ambiente,

proporcional à sua capacidade de manter constante a sua temperatura corporal.

O sangue representa um papel fundamental em todo o processo, dado que

todas as zonas corporais mantêm a sua temperatura constante graças à irrigação e

temperatura sanguíneas.

Temperaturas corporais típicas de alguns animais homeotérmicos

Aves pequenas 43 ºC Bovinos 38,5 ºC

Galinhas 41,7 ºC Cães e Gatos 38,5 ºC

Caprinos 40 ºC Equinos 38 ºC

Ovinos 39 ºC Homem 36,5-37ºC

Suínos 39 ºC Elefante 36 ºC

Page 23: Sebenta de Zootecnia

23

Regulação dos mecanismos homeotérmicos

O balanço calórico "calor produzido / calor perdido" possui um mecanismo de

"retro-alimentação" ou "feed-back", constituído por sensores, controladores e

efectores, controlados pelo hipotálamo.

O hipotálamo, ao receber a informação a partir dos sensores de temperatura

espalhados por todo o corpo e transmitida pelos neurónios, transmite-a à tiróide

(que parece ser a responsável pela regulação da produção de calor), a qual em

colaboração com os sistemas nervoso central e somático, vai provocar alterações

comportamentais por parte do animal, no sentido de voltar a ter a temperatura

corporal normal.

Termorregulação

A regulação da temperatura corporal envolve respostas fisiológicas e de

comportamento. Quando o animal está sujeito a um ambiente de temperatura mais

baixa que a sua temperatura corporal, de acordo com as leis físicas de transferência

de calor, mais calor é removido do seu corpo. Se este processo continuar sem

nenhuma compensação fisiológica a temperatura corporal descerá inevitavelmente.

No entanto o animal pode compensar esta perda de calor, aumentando a sua

produção interna ou reduzindo as suas perdas.

As perdas de calor podem ser reduzidas através de uma diminuição da

superfície de pele exposta, através de uma cobertura de pêlo ou penas, diminuindo

as perdas por evaporação, diminuindo a área exposta ao ambiente e se está alojado

em grupo, promovendo o ajuntamento.

A produção de calor é regulada por mecanismos tais como o tremer,

alterações do tónus muscular e secreções de glândulas endócrinas, que aumentam

a produção de calor metabólico.

Os animais homeotérmicos realizam estes ajustamentos através do sistema

nervoso central podendo-se distinguir dois tipos de respostas, do comportamento e

fisiológicas.

Respostas do comportamento que envolvem :

Movimentos do animal

Ajustamentos de postura

Page 24: Sebenta de Zootecnia

24

Agrupamentos

Trocas na ingestão de água e comida

Respostas fisiológicas que envolvem alterações :

No metabolismo e utilização dos alimentos

Na circulação sanguínea periférica

Na taxa respiratória

Na taxa de evaporação pelos pulmões

Na taxa de transpiração

Conforme o ambiente em que se encontra o animal pode utilizar diferentes

mecanismos :

Em ambiente frio - aumenta a produção de calor e / ou reduz as suas perdas,

através das seguintes estratégias :Treme, executa mais exercício físico, os animais

agrupam-se diminuindo as superfícies de perda de calor, aumenta o isolamento,

quer depositando gordura sob a pele, quer através do crescimento do pêlo, etc.

diminui a circulação sanguínea periférica, aumenta o seu metabolismo, aumenta a

ingestão alimentar e procura alimentos muito energéticos

Em ambiente quente - diminui a produção de calor e aumenta as suas perdas

usando os seguintes estratagemas : não executa exercício físico, reduzindo os seus

movimentos ao, diminui o seu metabolismo, aumenta o ritmo respiratório e a

evaporação pelos pulmões, aumenta a ingestão de água, aumenta a taxa de

circulação sanguínea periférica e diminui a ingestão alimentar

Apesar de estes mecanismos serem generalizados, nem todos os animais os

utilizam do mesmo modo, pois uns têm penas, outros pêlo, outros pele quase nua,

uns possuem glândulas sudoríparas, outros não, etc.

Zona Termoneutral e Zona de Conforto Térmico

Existe uma gama de temperaturas dentro da qual os animais conseguem

manter a temperatura corporal, mas para além dos limites inferior e superior deste

intervalo a temperatura corporal respectivamente baixa e sobe, sem que haja algum

controlo eficiente da sua temperatura, entrando o animal respectivamente em

Page 25: Sebenta de Zootecnia

25

hipotermia ou hipertermia, sobrevindo a morte, se não houver rápida mudança de

ambiente ou das condições deste. Esta gama de temperaturas tem o nome de Zona

de Homeotermia.

Zona de Homeotermia, podendo ser definido como o intervalo de temperaturas

dentro do qual o animal consegue manter a sua temperatura normal, utilizando os

seus mecanismos homeotérmicos e de comportamento para fazer a sua

termorregulação.

Neste intervalo podem ser verificadas variações da temperatura corporal

média, que resultam das oscilações de temperatura registadas nos tecidos

periféricos, mas que não afectam a temperatura corporal interna.

Englobadas dentro da Zona de Homeotermia podemos distinguir duas outras

zonas, a Zona Termoneutral e dentro desta, a Zona de Conforto Térmico.

Zona Termoneutral - corresponde à gama de temperaturas em, que o animal

consegue manter a homeotermia por meio de mecanismos físicos,

correspondendo ao intervalo em que a taxa de metabolismo animal é mínima,

constante e independente da temperatura ambiente.

Os seus limites inferior e superior designam-se respectivamente Temperatura

Crítica Inferior e Temperatura Crítica Superior.

Zona de Conforto Térmico - corresponde a uma zona dentro da Zona

Termoneutral onde o animal não necessita de recorrer a quaisquer mecanismos

físicos ou de comportamento para modificar o seu balanço de energia. Pode ser

caracterizada do seguinte modo :

- Ausência de fenómenos de vasodilatação ou vasoconstrição

- Produção mínima de vapor de água proveniente da respiração pulmonar, da

respiração cutânea ou da transpiração.

- Nula ou mínima erecção de pêlos.

- Inexistência de comportamento contra o frio ou calor.

Homeotermia e idade

Page 26: Sebenta de Zootecnia

26

Após o nascimento, os mecanismos da homeotermia começam a ser

utilizados, apesar de estarem muito pouco desenvolvidos. Esta parece ser a razão

pela qual em muitas espécies domésticas só se tornarem eficientes algum tempo

depois, tempo esse variável com a espécie animal. Pode assumir-se dentro da

mesma espécie que quanto mais jovem fôr o animal, maior é a perda de calor por

unidade de peso.

Este fenómeno é devido a vários factores, entre os quais o facto de os

mecanismos homeotérmicos estarem pouco desenvolvidos ao nascimento, e o facto

da superfície corporal exposta às perdas de calor, ser maior em termos relativos que

nos animais mais velhos e mais volumosos, pois a razão entre a superfície corporal

e o peso é maior nos animais jovens que nos adultos.

A taxa metabólica - que é a produção de calor por unidade de tempo, não está

directamente relacionada com o peso corporal, existindo sim uma relação entre o

tamanho corporal e a quantidade de calor produzida por m 2 de área superficial.

Factores ambientais

Como anteriormente foi referido, os principais factores ambientais que afectam

os animais em qualquer ambiente são a Temperatura, a Humidade do Ar e a

Velocidade do Ar.

A temperatura ambiental numa exploração pecuária constitui um dos factores

físicos ambientais com maior influência no comportamento produtivo dos animais.

Os animais confinados, seja qual fôr a sua espécie, só conseguem alcançar os

seus índices máximos de produção, a temperaturas dentro da sua zona

termoneutral, mais precisamente dentro da sua zona de conforto.

Os valores de temperatura que se situam da Zona Termoneutral e da Zona de

Conforto variam de animal para animal, ou de grupo para grupo, existindo uma série

de factores como a espécie, a raça, a idade, o peso, e o nível alimentar que

dificultam a definição de valores absolutos.

As condições de temperatura dentro das instalações, representam uma

solução de compromisso entre o custo de manutenção de temperaturas ambientais

Page 27: Sebenta de Zootecnia

27

dentro de uma certa gama e o rendimento obtido as produções (carne, leite e ovos)

nessas condições.

Em termos produtivos, "o bom é inimigo do óptimo", significando isto que

regra geral, não se torna rentável assumir os custos da manutenção de uma

temperatura ambiental óptima, pois esses custos não são compensados em termos

económicos, pelo aumento de produção experimentado pelos animais ao serem-lhe

fornecidas as melhores condições ambientais.

Por outro lado existe uma série de relações entre distintos parâmetros, como a

humidade relativa e a velocidade do ar, que interferem em conjunto, diminuindo ou

aumentando o efeito das altas ou das baixas temperaturas.

Velocidade do ar

Um aumento de velocidade do ar a baixas temperaturas faz baixar a

temperatura, implicando um aumento do dispêndio de energia para a conservação

da temperatura corporal, devido ao aumento das perdas de calor que originam, o

que na prática se traduz num aumento da ingestão alimentar, para fazer face ao

incremento de gasto energético. Logicamente, a diminuição da velocidade do ar leva

a menor gasto de energia para o mesmo fim, ficando maior quantidade da energia

ingerida para a produção.

Em situações de altas temperaturas, um aumento da velocidade do ar funciona

de maneira benéfica para os animais, ao aumentar as perdas de calor, o que leva a

um abaixamento da temperatura corporal. A diminuição da velocidade do ar ajuda

ao aumento do desconforto do animal, e em último caso ao "stress" térmico. A

ingestão alimentar diminui, na tentativa de o animal reduzir a produção de calor

endógeno, incrementando-se a ingestão hídrica.

Em qualquer das situações referidas a "performances" produtivas saem

prejudicadas.

Humidade relativa

Um aumento do teor de humidade relativa do ar faz diminuir a possibilidade de

perdas por evaporação por parte dos animais, dificultando deste modo um

abaixamento da temperatura, através da evaporação.

Page 28: Sebenta de Zootecnia

28

Factores que influenciam as perdas de calor pelo animal

- Superfície corporal

- Revestimento corporal e condutividade térmica.

- Balanço Hídrico

- Condições climáticas

- Raça

- Sexo

- Modo de vida

- Superfície corporal

A medição tridimensional da superfície corporal permite estimar a produção e a

dissipação de calor. Quanto maior fôr a superfície corporal, maior será a dissipação

de calor quer sensível, quer latente. A taxa de calor transmitido a partir de um corpo

é proporcional à sua superfície corporal, sendo igualmente importantes a sua forma

e o seu peso.

Quanto maior fôr a razão entre a superfície corporal e o peso de um animal,

maiores serão as perdas de calor.

A razão entre a superfície corporal externa e o peso vivo aumenta quando o

peso vivo diminui, sendo maior nos animais mais pequenos, os quais perdem assim

mais calor, isto dentro da mesma raça.

Os bovinos da espécie Bos indicus, são mais resistentes ao calor, entre outras

razões pôr terem muitas pregas na pele, possuindo uma superfície corporal superior

em 12 % em relação aos da espécie Bos taurus e dissipando assim maior

quantidade de calor.

- Revestimento corporal e condutividade térmica

No corpo de um animal a temperatura não é homogénea, pois que a nível do

pêlo, pele, zona subsuperficial, rectal, do aparelho respiratório, do sangue, etc.

aquela varia, possuindo cada componente corporal uma determinada condutividade

térmica, oferecendo desse modo várias resistências à passagem de calor, da qual

depende em última análise a transferência de calor das zonas internas para a zona

superficial.

O pêlo dá certo grau de isolamento, dependendo este do tipo de pêlo, sua

orientação, espessura, comprimento, inserção na pele, e da relação entre a inserção

Page 29: Sebenta de Zootecnia

29

na pele, o comprimento e a densidade. Ex. : os pêlos longos diminuem a velocidade

do ar e as perdas pôr convecção. Pôr outro lado a radiação solar é absorvida pela

pele, de acordo com a sua côr, indo de 20% numa pele branca a 100% numa pele

negra.

- Balanço Hídrico

A quantidade de água ingerida pelos animais depende também da temperatura

ambiente, estando o vapor de água expirado, relacionado com o consumo de água

e as perdas de calor.

- Condições climáticas

Dentro dos limites fisiológicos o aumento da temperatura tende a diminuir as

perdas totais de calor, favorecendo mais as perdas de calor latente que sensível.

A humidade tem igualmente influência sob as perdas de calor a temperaturas

elevadas. A temperaturas ambientais superiores à temperatura corporal, o

movimento do ar ao aumentar o transporte de calor do meio para o organismo,

tende a reduzir as perdas de calor.

Pelo contrário a baixas temperaturas do ambiente, o movimento do ar favorece

as perdas pôr convecção. Nesta situação, o animal perde facilmente calor sensível.

No entanto isto em termos de perda de calor total, é compensado pôr uma redução

na produção de calor latente.

A temperaturas elevadas há mais dificuldade em perder calor sensível,

acelerando-se o ritmo cardíaco-respiratório e aumentando a perda de calor latente

pela transpiração.

Quando a temperatura ambiente se aproxima da temperatura crítica superior, a

perda de calor latente atinge o máximo, havendo uma tendência da temperatura

interna para aumentar, provocando por sua vez um aumento da produção de calor,

como resultado do incremento da velocidade das reacções químicas (efeito de Van

Hoff). Temperaturas desta ordem levam a uma diminuição da produção, motivada

pelo facto de baixar o consumo alimentar.

Qualquer animal só conserva o seu estado sanitário e de produção, quando a

razão entre o calor sensível libertado e a quantidade de vapor libertado se mantém

constante.

Page 30: Sebenta de Zootecnia

30

- Raça

Tem muita influência no comportamento do animal em termos ambientais, em

termos da produção de calor metabólico, havendo diferenças interrácicas muito

significativas, da ordem dos 5-10%, sendo o que se verifica nos bovinos de carne

em relação aos leiteiros.

- Sexo

O metabolismo basal e logo a produção de calor, é superior nos machos em

relação às fêmeas e machos castrados, sendo de 5% em bovinos e de 10% em

coelhos.

- Modo de vida

O pastoreio aumenta as necessidades de manutenção em relação à

estabulação fixa, sendo este facto conhecido como incremento da actividade.

Os outros factores que influenciam a produção de calor ao nível da

conservação. também influenciam a produção de calor ao nível das despesas da

produção.

Entende-se por produção o crescimento e engorda, a gestação, a produção de

leite, de lã, de ovos e de trabalho.

Qualquer animal para produzir, necessita de ter um nível alimentar superior ao

nível de manutenção.

Devido aos processos de mastigação e digestão o aproveitamento dos

nutrientes faz-se sempre com uma eficiência inferior aos 100%, dependendo o seu

grau de eficiência do tipo de produção. O incremento de calor resultante da

eficiência alimentar, é designado acção dinâmica específica dos alimentos.

O nível alimentar tem muita influência nas perdas de calor, pois a

sobrealimentação aumenta a produção de calor e a subalimentação vai diminuí-la.

Interacção nutrição temperatura

O nível de alimentação influência a temperatura corporal. Abaixo da

temperatura crítica inferior o aumento da produção de calor dá-se à custa da

Page 31: Sebenta de Zootecnia

31

diminuição da energia disponível para a produção. A taxa de conversão do alimento

em produto nesta situação desce.

O factor nutricional mais importante na definição da temperatura crítica inferior

é o nível energético alimentar. Como exemplo cita-se o caso de um suíno de 30 kg

de peso vivo, alimentado com uma dieta de energia quatro vezes maior que as

necessidades de manutenção, o qual experimenta uma produção de calor dupla da

obtida com a energia de manutenção.

É um facto que quando a ingestão de alimentos aumenta, a produção de calor

aumenta proporcionalmente a uma taxa que é definida pelo tipo de alimento. Este

aumento da produção de calor é devida ao aumento das necessidades de

manutenção e à consequente diminuição da eficiência de utilização da energia

metabolizável para a produção, pois que maior quantidade de alimentos são

utilizados na produção de calor.

O incremento da produção de calor resultante de um nível de energia alimentar

mais elevado, traduz-se numa ampliação da zona termoneutral, pôr abaixamento da

temperatura crítica inferior.

Este raciocínio é igualmente válido em situações de temperaturas elevadas,

levando neste caso a uma diminuição voluntária do consumo de ração, numa

tentativa por parte do animal de baixar a produção de calor e assim facilitar a perda

de calor corporal.

---------- / - / - / - / ----------

1.6- PASTOREIO E FORRAGENS

A forma mais rentável e mais correcta de produzir carne ou leite, consiste na

alimentação dos animais essencialmente à base de erva de qualidade. A erva pode

ser proveniente de pastagens ou de forragens, importando desde já fazer a distinção

entre as duas :

Pastagens - igualmente designada por prados, são conjuntos de plantas em

geral herbáceas, podendo comportar igualmente plantas subarbustivas ou

arbustivas, que ocupam uma certa área e se destinam a ser comidas pelos

Page 32: Sebenta de Zootecnia

32

animais no local onde crescem. Podem no entanto ser cortadas em determinadas

épocas do ano, para servir de alimento a animais que se encontram noutro local,

quer no estado natural, quer após conservação sob a forma de feno ou de

silagem.

Forragens - igualmente designadas culturas forrageiras são plantas geralmente

herbáceas destinadas ao corte, para serem consumidas pelo gado noutro local,

quer no estado natural, quer após conservação sob a forma de feno ou de

silagem. Eventualmente uma área de forragem pode ser pastoreada, mas por

princípio uma forragem destina-se a ser cortada.

A diferença entre uma pastagem e uma forragem radica unicamente na forma

como as plantas são utilizadas pelos animais.

Existem espécies vegetais mais apropriadas para pastagens, com porte

prostrado ou sub-prostrado, sendo mais resistentes ao pisoteio do gado e outras

mais apropriadas para forragens, de porte erecto e sub-erecto, servindo no entanto

algumas espécies para ambos os fins.

As pastagens possuem além da importância directa na alimentação animal,

outras vantagens, como a sua capacidade para defender os solos contra a erosão,

pela protecção que as plantas oferecem ao embate directo das gotas de chuva e

pela melhoria que as raízes provocam na estrutura do solo aumentando a

resistência dos agregados terrosos à fragmentação pela chuva ; o aumento da

fertilidade dos solos, pelo aumento no teor de matéria orgânica provocado quer

pelos componentes das plantas que ficam no solo, quer pelos dejectos dos animais

apesar da sua distribuição não ser uniforme.

As pastagens podem ser espontâneas, melhoradas e semeadas e estas

podem ser de sequeiro ou regadio.

Pastagens espontâneas são consideradas todas as que crescem sem qualquer

intervenção do homem, possuindo composição florística e desenvolvimento

inteiramente dependentes das condições de solo e clima. Por vezes são

formadas por plantas ricas e abundantes, constituindo fonte alimentar muito

importante, pelo menos temporáriamente.

Page 33: Sebenta de Zootecnia

33

São também consideradas pastagens espontâneas as que crescem nos

pousios das zonas cerealíferas. A carga animal em pastagens deste género é

baixa, não passando de 0.15 Cabeças Normais* por hectare e por vezes menos.

Este tipo de pastagem pode ser melhorado através de adubação, facto que

aumenta tanto o volume da massa herbácea, como o seu valor nutritivo,

permitindo o aumento directo da carga animal por hectare.

* A Cabeça Normal é uma forma de calcular encabeçamentos, sendo 1 Cabeça

Normal correspondente a uma vaca adulta. Uma ovelha adulta, ou uma cabra

adulta correspondem a 0,15 C.N., ou seja cerca de seis vezes menos que uma

vaca.

Pastagens melhoradas é a designação para as pastagens espontâneas que

foram adubadas, sofrendo deste modo um aumento da massa herbácea.

Pastagens semeadas como o próprio nome indica são todas as pastagens

semeadas pelo homem, sendo designadas por temporárias se ficam no terreno de

3 a 5 anos, ou por permanentes se excedem este período, permanecendo estas

no terreno geralmente 7 a 10 anos, podendo inclusivamente ter maior duração.

As espécies vegetais a semear variam com as condições de solo e clima

locais, devendo sempre usar-se para a sua composição uma mistura de gramíneas

(plantas ricas em hidratos de carbono e pobres em proteínas) e leguminosas

(plantas ricas em proteínas e pobres em hidratos de carbono), no sentido de obter

uma alimentação mais rica e equilibrada.

Este artifício permite eliminar a necessidade de adubos azotados por parte

das plantas, pois as leguminosas possuem a capacidade como simbiontes, de fixar

o azoto atmosférico, o qual ao ser por esse meio incorporado no solo fica

disponível também para as gramíneas. É no entanto vantajoso fazer adubações

com adubos contendo fósforo, potássio e outros elementos como cálcio e

magnésio.

Um facto indesmentível é que numa pastagem em que as leguminosas

dominem, a produção de carne é sempre superior.

Page 34: Sebenta de Zootecnia

34

As condições em pastagens semeadas com tratamento correcto, melhoram

de tal modo que a carga animal pode em certos casos, atingir as 2 Cabeças

Normais / ha.

O maneio das pastagens assume uma enorme importância, devendo praticar-

se de uma forma racional, tendo em conta as variedades botânicas existentes, o

seu grau de desenvolvimento, a época do ano, além de outros factores, devendo o

pastoreio ser orientado de modo a que não seja excessivo nem insuficiente, pois

que ambas as situações levam à degradação da pastagem.

Pastoreio - entende-se como pastoreio o acto de pastar, ou seja o deambular

dos animais pelos campos em busca do alimento.

Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante

todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, em

períodos nos quais as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente

satisfeitas durante o pastoreio.

Os principais sistemas de pastoreio são : Pastoreio contínuo, pastoreio

diferido, pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.

Pastoreio contínuo considera-se aquele em que o gado está na pastagem de

modo permanente, vivendo durante todo o ano do aproveitamento das ervas verdes

durante o seu período vegetativo e da erva seca, até que as primeiras chuvas

originem nova rebentação, sendo a carga animal calculada de acordo com as

potencialidades da pastagem.

No nosso clima o crescimento da erva é reduzido nos meses de Setembro a

Novembro, sofrendo as plantas um adormecimento nos meses frios de Dezembro e

Janeiro e experimentando um rápido e intenso crescimento na Primavera. Temos

assim um período de relativa escassez, seguido de um período de abundância em

que os animais têm um excesso de alimentação.

As plantas que constituem esse excesso podem ser consumidas em seco no

verão ou ainda cortadas e transformadas em feno ou silagem, destinados a ser

utilizados como suplementação nos períodos de carência de alimentos.

Pastoreio deferido é caracterizado por se retirarem os animais da pastagem após a

ocorrência das primeiras chuvas, quando da rebentação das ervas, voltando

Page 35: Sebenta de Zootecnia

35

aqueles à pastagem algumas semanas depois, seguindo na pastando até virem de

novo as primeiras chuvas no fim do Verão.

A este tipo de pastoreio são apontados dois inconvenientes, corporizados no

facto de o gado ter de alimentar-se noutro local de forma mais dispendiosa durante

o tempo em que não está na pastagem e a possibilidade de durante esse tempo, as

ervas infestantes livres da pressão do pastoreio, experimentarem um incremento

degradando a pastagem.

Pastoreio rotacional é a forma mais racional de aproveitamento de uma pastagem,

apresentando contudo o inconveniente, de para ser praticado, necessitar da

presença de cercados. Consiste em fazer o gado passar sucessivamente de umas

cercas a outras, à medida que a erva vai sendo consumida, de tal modo que quando

termina a erva do último cercado, a do primeiro experimentou um crescimento tal,

que está de novo apta para ser consumida.

Este sistema apresenta como vantagem adicional o facto de em anos de boa

produção de erva, se poder guardar um cercado destinando-o à produção de feno

ou silagem, para ser consumida nos períodos de fraco crescimento da erva.

Pastoreio em faixas é um sistema intensivo em que se obrigam os animais a pastar

intensivamente numa pequena parcela, mudando-os diariamente para outra. É um

sistema utilizado vulgarmente em rebanhos leiteiros, sendo a parcela em que os

animais pastam, delimitada por cancelas ou mais modernamente por recurso a

cercas eléctricas.

Após terem sido anteriormente mencionados termos como feno e silagem,

importa esclarecer que são alimentos conservados de diferentes propriedades.

Assim temos:

Feno - é o resultado do corte, secagem e posterior enfardação de plantas

forrageiras ou eventualmente de plantas provenientes de pastagens. Não é

mais do que as plantas cortadas e enfardadas depois de alguns dias de

secagem no campo na altura da Primavera, conservando-se devido ao seu

baixo teor em água, sendo destinado ao consumo em épocas de carência

alimentar, geralmente o Outono e o Inverno.

Page 36: Sebenta de Zootecnia

36

Silagem - é o resultado da acção de microorganismos anaeróbios, sobre a

forragem finamente fragmentada, por acção de uma máquina específica no

campo e imediatamente transportada para silos, onde é fortemente

compactada a fim de eliminar os espaços com ar e posteriormente

completamente tapada. A massa herbácea sofre uma fermentação anaeróbia,

que transforma os glúcidos das plantas em ácido láctico, o qual ao baixar o pH

do meio até cerca 4, actua como agente conservante impedindo o

desenvolvimento de outros tipos de microorganismos. Tal como o feno, a

silagem destina-se a ser consumida preferencialmente no período de Outono-

Inverno.

---------- / - / - / - / ----------

1.7- ESTABULAÇÃO E SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO

Quanto às instalações usadas para animais, o que motiva o tipo utilizado é o

sistema de exploração a que os animais estão sujeitos, aliado ao tipo de animal que

estamos considerando.

Basicamente os sistemas de exploração são três, Extensivo, Semi-

extensivo ou Semi-estabulação e Estabulação permanente.

Extensivo

É um sistema de exploração que se confunde com o conceito de pastoreio

extensivo, em que os animais andam todo o ano na pastagem, podendo recolher

durante a noite ao curral, podendo este ser de variados tipos, quase sempre simples

e baratos, desde uma simples cerca em local abrigado dos ventos dominantes e

com capacidade de escorrência de águas pluviais, até barracões fechados, obtidos

com o recurso às mais avançadas técnicas de construção de alojamentos para

animais, passando por telheiros fechados por três lados, com parque anterior os

quais abrigam da chuva e dos ventos, factor que só por si melhora bastante as

condições de produção dos animais.

Semi - Estabulação

Este sistema é muito utilizado nos países frios do Norte da Europa, durante o

Inverno nas condições em que o solo se encontra totalmente coberto de neve, tendo

Page 37: Sebenta de Zootecnia

37

os animais que ficar confinados, recebendo então a totalidade da sua alimentação

no estábulo, do qual só saem quando a neve desaparecer. Outra situação é a de

rebanhos leiteiros de alta produção, que passam parte do dia dentro do estábulo e

parte pastando erva de alta qualidade em parques próximos daquele, que se situa

geralmente numa posição central preferencialmente em relação aos parques para

que os animais não necessitem andar muito.

Estabulação Permanente

É o sistema utilizado nas explorações de engordas intensivas de animais

jovens, e nas explorações intensivas.

Nas instalações de engorda intensiva, procura-se que os animais façam o

mínimo de exercício, para que gastem o mínimo de energia possível e assim

experimentarem um máximo de aumento de peso.

As explorações intensivas visam a obtenção de altas produções, sendo para o

efeito utilizados animais de grandes capacidades produtivas, mas que

simultâneamente necessitam de óptimas condições, situação que requer instalações

caras e programas de maneio elaborados, que só se conseguem obter na prática

com o recurso a mão-de-obra especializada.

A exploração intensiva é certamente o sistema de produção que envolve

maiores encargos económicos, por vezes com condicionamento ambiental,

alimentação e água distribuídas automaticamente, etc. e que por essa razão envolve

mais riscos.

Page 38: Sebenta de Zootecnia

38

2- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE OVINOS

2.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os ovinos pertencem à Família Bovidae, Subfamília Ovidae, Género Ovis e

Espécie aries. Contam-se entre os primeiros animais a serem domesticados pelo

Homem, pensando-se que remonta a 9000 a.C. a sua domesticação, logo a seguir à

domesticação dos cães (Williamson e Payne, 1980). Os ovinos domésticos têm a

sua origem em três grupos de ovinos, o muflão europeu (Ovis aries musimon), o

muflão da Ásia Menor ou urial (Ovis urial) e o argali (Ovis arcal) (Avó, 1983).

O centro original de domesticação desta espécie, tanto quanto hoje se sabe,

parece estar situado nas estepes entre os mares Aral e Cáspio, tendo-se

posteriormente dispersado para a zona hoje ocupada pelo Irão, para o

subcontinente Indiano e Sudeste da Ásia, Ásia Menor e daqui para a África e

Europa (Williamson e Payne, 1980). Em vastas regiões da Europa encontram-se

antigos vestígios de ovinos, sendo no entanto mais importantes nas áreas que

ladeiam o Mediterrâneo, nomeadamente no Sul de França e na Itália.

Documentos históricos da mais remota antiguidade dão-nos ideia da

importância que esta espécie teve na vida dos povos e do lugar que ocupavam,

inclusivamente nas confissões religiosas. A atestar este facto temos os relatos de

sacrifícios e oferendas feitas aos deuses da mitologia da Antiguidade Clássica. O

culto Muçulmano tem estes animais em grande conta, pois foi em escápulas de

carneiro que Maomé escreveu o Alcorão (Avó, 1983). O Cristianismo honra também

esta espécie, como símbolo da inocência, colocando-o até ao lado de S. João

Baptista.

A importância dos ovinos provém das utilidades que a espécie proporciona ao

Homem desde tempos imemoriais, traduzidas em peles, lã, leite e carne, aliando a

estas potencialidades um temperamento dócil, grande rusticidade e facilidade de

deslocação, podendo deste modo acompanhar o Homem nas frequentes mudanças

em busca de melhores condições de vida ou fugindo dos seus inimigos, factos que

fizeram desta espécie um aliado até aos nossos dias.

As estimativas da população mundial de ovinos rondam o bilião de animais

(FAO, 1991).

2.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

Page 39: Sebenta de Zootecnia

39

2.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os alimentos habituais dos ovinos, mais apropriados e económicos são as

ervas pastadas directamente, constituindo a pastagem o factor económico mais

importante da sua exploração, pois estes animais utilizam toda a vegetação

espontânea ou semeada e todos os restos de culturas de cereais ou legumes, bem

como subprodutos de indústrias ou culturas várias, como repiso da indústria do

tomate, bagaço de uva , restolhos de girassol, etc.

A principal vantagem dos ovinos reside assim na sua capacidade de utilização

das pastagens para a produção de carne, leite e lã, quer em regiões montanhosas,

nas terras de fraca fertilidade que de outro modo não teriam qualquer utilidade para

fins agrícolas, quer nas terras de planície onde aproveitam as ervas que nascem nos

pousios das terras aráveis, tal como aproveitam durante o verão os restos das

colheitas de cereais que ficam no terreno.

O principal papel do gado ovino consiste portanto na utilização de pastagens,

sendo subsequentemente o principal objectivo de uma ovinicultura eficiente, a

obtenção do maior rendimento possível das pastagens, o que não impede que

sempre que necessário se recorra a suplementação com fenos, silagens, farinhas

ou cereais. O consumo de silagens em ovelhas leiteiras em produção, está

desaconselhado, pelas características negativas que este alimento confere ao leite.

Está igualmente desaconselhado em ovelhas aleitantes, enquanto os borregos

estão na fase de pré-ruminante, pois em termos digestivos, estes comportam-se

como monogástricos, sendo portanto o consumo de silagem letal para eles.

Os ovinos são ruminantes cujo comportamento alimentar é caracterizado pela

marcada preferência por erva baixa (sendo por este facto designados por "grazers"),

a qual ingerem depois de a cortarem com um movimento brusco da cabeça para

cima e para a frente. Apesar desta preferência pela erva, estes animais não

desdenham rama de árvores, arbustos, bolota e inclusivamente azeitona em

períodos de escassez alimentar.

Têm um comportamento alimentar selectivo, preferindo determinadas espécies

herbáceas em detrimento de outras, existindo ainda algumas que nunca são

ingeridas a não ser em casos extremos de escassez de alimento. Apesar de

Page 40: Sebenta de Zootecnia

40

selectivos são-no muito menos do que os caprinos, o que por conseguinte os torna

mais aptos para um melhor aproveitamento de pastagens à base de plantas

herbáceas.

As 24 horas do dia, grosso modo, são passadas 9-11 horas a pastar, 8-10

horas a ruminar e as horas remanescentes a descansar, isto em condições de

alimento abundante, alterando-se estas proporções sempre que se alterem as

condições de disponibilidade alimentar.

2.2.2- CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS

Puberdade

Os ovinos atingem a puberdade cerca dos 7-8 meses nos machos e entre os 5

e os 7 meses nas fêmeas, havendo variabilidade quanto a este evento entre raças e

dentro da mesma raça, podendo ser condicionado o seu aparecimento pelo clima,

estação reprodutiva e efeitos da nutrição, condicionando esta o início da puberdade,

sobretudo pelo peso vivo e pela condição corporal, esta designada amiúde por

"estado de carnes". Esta situação nas fêmeas, corresponde na prática e para este

fim em boas condições de nutrição, a uma percentagem entre 40 a 60% do peso

vivo adulto da raça, sendo esta condição considerada imprescindível para que se

verifique a passagem ao estado fértil. Na prática corrente encara-se a percentagem

de 65% do peso vivo adulto, como o peso considerado correcto, para que se inicie a

reprodução de modo efectivo e viável.

Estacionalidade reprodutiva

As fêmeas dos ovinos domésticos são poliéstricas de ovulação espontânea,

apresentando vários ciclos éstricos consecutivos ao longo da estação reprodutiva,

com duração média igual a 16,5 dias, tendo os cios a duração de 24 a 36 horas.

São considerados animais de "fotoperiodismo negativo", o que significa que entram

em cio quando as condições de luminosidade diária começam a diminuir, ou seja no

fim do Verão / início do Outono.

As raças de ovinos originárias das regiões mais frias do hemisfério Norte

apresentam estacionalidade sexual bem marcada, facto que tem uma simples

explicação em termos puramente biológicos, já que os borregos vão nascer durante

Page 41: Sebenta de Zootecnia

41

a Primavera, com muito maiores probabilidades de sobrevivência comparadas com

as que teriam se o nascimento se desse no fim do Verão / início do Outono.

Existe no entanto um grupo de raças ovinas que não apresentam

estacionalidade sexual bem marcada, as quais são todas originárias das regiões

marginais do Mediterrâneo, onde as condições climáticas são mais amenas,

facultando aos recém nascidos condições de sobrevivência durante quase todo o

ano.

Nas raças deste grupo, uma grande parte das fêmeas pode entrar em cio sob

certas condições, no período em que os dias têm maior duração e por consequência

se verificam condições de luminosidade crescentes.

Um determinante factor para que o efeito referido se verifique, consiste na

utilização do fenómeno designado por "Efeito macho" ou "Efeito carneiro", que não é

mais do que a reintrodução na Primavera dos machos no rebanho das fêmeas após

um período de alguns meses de ausência, nos quais permanecem o mais

separados possível das fêmeas. A presença dos machos e seu cheiro provoca em

grande parte das ovelhas o aparecimento de cios e a consequente entrada em

estação reprodutiva.

Este artifício é utilizado em muitas das regiões onde existem raças com

estacionalidade sexual mal marcada, para iniciar os cios na Primavera e condicionar

os nascimentos dos borregos no período de Setembro a Novembro. Nesta situação,

normalmente o primeiro cio é anovulatório e portanto infértil, mas o segundo cio é já

um cio com ovulação, logo fértil e portanto passível de dar origem a uma gestação

se fôr efectuada cópula viável.

A este grupo de raças ovinas possuindo estacionalidade mal marcada os

Merinos, Karakul e os Persas de cabeça negra, entre outros.

Os machos da espécie ovina, apresentam produção de espermatzóides

durante todo o ano, ainda que se verifique em algumas raças uma certa inactividade

das gónadas durante o período estival. No entanto o ardor sexual dos machos é

mais evidente no fim do Verão / início do Outono, o que não é de estranhar dado

que as altas temperaturas influenciam negativamente a produção de sémen, devido

à temperatura óptima do interior do testículo ser de 36 ºC enquanto que a

temperatura corporal é de 38-39 ºC.

Page 42: Sebenta de Zootecnia

42

Gestação

A gestação nos ovinos tem a duração média de 5 meses, sendo a sua duração

tanto menor quanto maior o número de fetos. As fêmeas dos ovinos são monotocas,

sendo no entanto comuns os partos gemelares, experimentando o número de fetos

importantes variações interrácicas e interindividuais dentro da mesma raça. Apesar

destas diferenças, os partos são normalmente simples na maioria das raças, mas,

mesmo nas raças menos prolíficas é frequente a ocorrência de partos múltiplos.

Podemos assim dizer que o número de fetos é mais influenciado pela raça que pela

a espécie em si.

Sistemas de Reprodução

A reprodução dos ovinos pode fazer-se em sistema de monta natural, nas

suas diversas variantes, ou por recurso à inseminação artificial.

Nos sistemas extensivos de produção de carne é normalmente utilizada a

monta natural, em de liberdade.

Quando se trabalha com raças puras para a obtenção de reprodutores, é

muitas vezes utilizada a monta natural condicionada em lotes ou à mão.

Nos sistemas de produção de leite em grandes efectivos utiliza-se

preferencialmente a inseminação natural.

2.2.3- PRODUÇÃO DE CARNE, LEITE E LÃ

Os ovinos podem ser explorados para a produção de carne, leite e lã.

2.2.3.1- PRODUÇÃO DE CARNE

A produção de carne de ovinos em Portugal é mais ou menos equivalente ao

consumo ou ligeiramente deficitário. O mercado destes animais é no entanto e

actualmente complexo sobretudo no Sul do País, região em que é corrente a

exportação de borregos para Espanha, França e menos correntemente Itália

destinados à engorda. Dos animais exportados para Espanha, uma parte deles

retorna ao nosso País após o período da engorda, in vivo destinados ao abate ou

em carcaça. Verifica-se igualmente a importação de carcaças de ovino refrigeradas,

provenientes da República da Irlanda e da Nova Zelândia, as quais são vendidas a

Page 43: Sebenta de Zootecnia

43

preços muito competitivos, sendo no entanto preteridas pelos consumidores, devido

às suas características sobretudo de gordura.

Os ovinos para abate são apresentados ao consumidor no nosso País sob três

tipos principais :

- Borrego de leite com idade entre 1 e 2 meses e peso de inferior a 12 kg de

carcaça

- Borrego de pasto com idade entre 4 e 6 meses e peso superior a 12 kg de

carcaça

- Animais adultos de refugo com idade variável e um peso superior a 18 kg de

carcaça

O borrego de leite é um produto com tradição nas regiões em que os ovinos

são explorados na sua vocação leiteira, sendo precocemente desmamados, para a

utilização integral do leite para a confecção de queijo. Tem na Serra da Estrela e

regiões limítrofes a designação de "anho".

O borrego de pasto é o borrego tradicional de toda a zona Sul de Portugal, em

que as raças e as condições climáticas não permitem senão de modo reduzido a

exploração do leite, efectuada após o desmame. As épocas de maior consumo de

borrego de pasto coincidem com o Natal e a Páscoa.

Os animais de refugo são todos os adultos que ou por terem terminado a sua

vida útil produtiva por idade, transtornos reprodutivos ou produtivos (caso das

ovelhas leiteiras que tiveram mamites irreversíveis), são destinados ao abate.

As carcaças de ovinos são apresentadas sem cabeça e inteiras segundo

normativa Comunitária. A sua classificação é efectuada de acordo com duas

grelhas, uma de utilização geral no âmbito da Comunidade Europeia, utilizada para

as raças estrangeiras e seus cruzamentos com as raças autóctones e outra de

aparecimento bastante posterior à primeira, de utilização somente nas carcaças dos

animais de raças autóctones mediterrânicas.

Ambas as grelhas classificativas, baseiam os seus critérios de avaliação na

conformação da carcaça, na gordura de cobertura e na gordura cavitária ou interna,

Page 44: Sebenta de Zootecnia

44

sendo no entanto as carcaças dos dois tipos de animais, classificadas de modo

diferencial por cada uma das Grelhas de Classificação.

Esta dualidade de critérios é justificada pelas diferenças verificadas nas

carcaças dos dois tipos de animais, saindo sempre prejudicadas as carcaças de

animais das raça autóctones quando comparadas com as carcaças dos animais de

raças mais seleccionadas e seus híbridos, devido à melhor conformação e

possuindo maior deposição de gordura, quer de cobertura, quer cavitária.

A carne de ovino não é utilizada na confecção de produtos industriais, se

exceptuarmos um ou outro prato regional em conserva, como o caso do borrego

com ervilhas, tendo contudo uma importância insignificante no cômputo do consumo

nacional.

Pelo contrário o intestino delgado dos ovinos, tem grande aplicação na

indústria salsicheira de carácter não artesanal, para a confecção de diferentes tipos

de chouriços e linguiças industriais e igualmente nas salsichas frescas.

2.2.3.2- PRODUÇÃO DE LEITE

A produção de leite é uma das mais valiosas dos ovinos atingindo na

actualidade este produto, preços da ordem dos 230$00 a 250$00 por litro,

constituindo um factor de uma grande importância na economia de determinadas

regiões e apesar de actualmente não estar contabilizado, sabe-se que atingiu o

número de 42,6 milhões de litros em 1979 (FAO, 1991).

O leite de ovelha representa uma grande contribuição para a economia e

alimentação dos povos da bacia do Mediterrâneo, tendo no entanto uma importância

insignificante em outras regiões do Mundo.

O leite de ovelha tem características de sabor e conteúdo em matéria gorda,

que o distinguem do leite das outras fêmeas domésticas com destino à alimentação

humana, sendo canalizado de modo exclusivo para a produção de queijo, produto

em cuja transformação atinge o mais alto rendimento económico. Este facto deve-se

às elevadas percentagens de gordura e proteína, o que origina um alto teor de

resíduo seco, permitindo fazer um quilograma de queijo com 1,5 a 2 meses de cura

com 5 a 6 litros de leite.

Page 45: Sebenta de Zootecnia

45

Em termos médios a composição do leite de ovelha é a seguinte:

Água 80,8 %

Matéria gorda 7,7 %

Lactose 4,4 %

Proteína 6,0 %

Sais minerais 0,9 %

Densidade a 15 ºC 1,038

(Adaptado de Sá e Barbosa, 1990)

A produção de leite é em alguns casos como na Serra da Estrela e em Azeitão

o motivo principal da criação de ovinos, pelo que os borregos são considerados

nestas regiões como um subproduto e desmamados precocemente, sendo então

consumidos como borregos de leite ou sujeitos a aleitamento artificial, seguido de

acabamento intensivo.

Actualmente assiste-se a um incremento de efectivos leiteiros, em regiões de

grande tradição no fabrico artesanal de queijo de ovelha, como a região de Serpa,

onde já são frequentes explorações de ovelhas francesas da raça Lacaune, muito

produtivas e de tetos bem adaptados morfologicamente à ordenha mecânica.

Regista-se deste modo, a uma gradual substituição de efectivos de raças

autóctones, tradicionalmente exploradas em produção mista carne / leite, sendo

este somente recolhido depois do desmame tardio tradicional do Alentejo.

Esta substituição das raças autóctones por raças estrangeiras de vocação

leiteira, deve-se a dois factores, a maior produtividade destas e a impossibilidade de

continuar a explorar as raças tradicionais nas vertentes carne e leite, por imposição

Comunitária, facto que se prende com a atribuição de Ajudas Compensatórias à

Perda de Rendimento, muito maiores na produção de carne, sendo quase irrisórias,

se é efectuado o aproveitamento do leite, no período pós-desmame.

Assim, estamos perante uma substituição de efectivos, por uma causa

exógena ao próprio sistema de produção.

A ordenha das ovelhas pode fazer-se manual ou mecanicamente, sendo até

um passado recente, a modalidade manual a mais utilizada na esmagadora maioria

das explorações. Hoje, pelas razões expostas, são muito poucas as explorações

que a praticam.

Page 46: Sebenta de Zootecnia

46

A ordenha manual, tem a desvantagem de ser um trabalho árduo e demorado,

com cada ovelha a dar por vezes menos de um decilitro de leite por ordenha, sendo

de 40 a 50 o número de ovelhas ordenhadas por um homem por hora. Por outro

lado o custo da mão-de-obra cada vez mais elevado, aliado ao facto de ser um

trabalho especializado, logo raro na realidade agro-pecuária alentejana, está

igualmente a levar, mau grado o preço elevado do leite, a que cada vez mais

rebanhos não especializados na produção de leite, como são os rebanhos de raças

autóctones, não sejam ordenhados, sendo assim o leite integralmente aproveitado

pelos borregos.

O sistema de ordenha mecânica, se por um lado tem imensas vantagens

quanto à redução do custo de mão-de-obra, por outro lado é bastante caro e só se

justifica economicamente para efectivos numerosos, sendo usual considerar o

número mínimo de 150 ovelhas leiteiras, para justificar economicamente, uma

instalação deste tipo. Também a conformação do úbere de algumas ovelhas,

especialmente de raças não leiteiras, não é a mais adequada a este tipo de

ordenha.

As salas de ordenha para ovelhas, podem compor-se de uma ou duas linhas

(ver fig. 13), isto é de uma ou duas filas de animais, dando um rendimento de 180-

432 ovelhas ordenhadas por hora, conforme comportem 24 ou 72 pesebres, ou seja

lugares de ordenha.

Devido ao facto de nem todas as ovelhas terem igual produção, e a máquina

exercer um sucção contínua, há o perigo real de danos nos tetos, por traumatismo

causado pela sucção em seco. Este facto representa um acréscimo adicional de

problemas de patologia da glândula mamária, pela frequente ocorrência de

mamites, tendo como consequência uma diminuição da higiene microbiológica do

leite, pela ocorrência neste dos microorganismos provenientes das infecções. Além

da perda de qualidade do leite, regista-se ainda a perda parcial ou total do animal

como produtor de leite nessa lactação ou para toda a vida, o que a todos os níveis,

representa uma forte perda económica, quer pelo preço do leite, quer pelo preço

elevado que as ovelhas de raças especializadas na produção de leite atingem.

2.2.3.3- PRODUÇÃO DE LÃ A produção de lã não pode considerar-se uma produção autónoma, sendo

antes uma produção acessória, já que os animais a produzem seja qual fôr a sua

Page 47: Sebenta de Zootecnia

47

aptidão. Se no passado ela representava uma riqueza para o agricultor, hoje quase

não passa de um incómodo, dado que a sua obtenção se não ocasiona prejuízo,

origina um lucro insignificante, devido ao facto de o produto da sua venda na

generalidade dos casos, não cobrir os encargos da tosquia. Esta operação no

entanto torna-se indispensável pelos prejuízos advindos aos animais pela sua não

realização. Têm sido estudados métodos que evitem a tosquia, nomeadamente com

recurso a fármacos, os quais pura e simplesmente ocasionam a queda da lã,

levando no entanto a que em certas ocasiões, esta fique espalhada pelos terrenos,

ficando temporariamente os animais com o aspecto insólito de ovinos com "pele de

porco".

O corpo dos ovinos é recoberto por uma camada de lã que no seu conjunto

tem o nome de "velo" e cuja função é proteger o animal das variações de

temperatura e de outros elementos climáticos a que o mesmo está sujeito.

O velo é um conjunto de fibras lanares de dois tipos : as primárias e as

secundárias, produzidas pelos folículos primários e secundários existentes no

interior da pele dos animais, os quais dão origem respectivamente às fibras lanares

primárias de maior diâmetro e meduladas e às fibras lanares secundárias, mais

finas.

Cada fibra compõe-se de uma raiz e de uma haste. Esta haste que constitui a

porção têxtil, é revestida de escamas sobrepostas que lhe dão um aspecto rugoso,

conferindo à lã as qualidades têxteis que permitem a fabricação de fios, com os

quais se fabricam os tecidos. A presença das fibras primárias meduladas constitui

um factor de desvalorização do velo, que será tanto pior quanto menor fôr a

proporção entre fibras secundárias e fibras primárias, sendo num velo merino de 15-

20 / 1 e num velo cruzado de 2-8 / 1.

Externamente as fibras lanares estão cobertas de uma substância gordurosa

designada "suarda", resultante das secreções das glândulas sudoríparas e

sebáceas conferindo à lã maior ou menor maciez e impermeabilizando-a ao mesmo

tempo. No velo existem ainda outros filamentos que são os pêlos, caracterizados

pela ausência de ondulações e crescimento descontínuo, os quais não possuem

qualidades têxteis, nem admitem serem tingidos, pelo que têm que ser eliminados

antes da fiação, pois a sua presença desvaloriza o "velo".

As lãs caracterizam-se por vários elementos classificativos entre os quais se

destacam a finura, o comprimento, o frisado, a resistência e elasticidade, o toque e

Page 48: Sebenta de Zootecnia

48

a côr, mas de forma principal é a finura que determina a classificação das lãs, que

entre nós se classificam em merinas (com espessuras compreendidas entre 12 e

27 microns), cruzadas (com espessuras compreendidas entre os 25 e 36 microns) e

churras (com diâmetros superiores a 30, 50 ou mais microns).

Cada uma destas divisões comporta ainda algumas subdivisões, como as

extra, fina, média e forte para as lãs merinas ; prima, cruzada fina, média e comum,

para as lãs cruzadas ; lustrosa, churra super e churra ordinária para as lãs churras.

Tosquia - era feita no passado à tesoura, sendo hoje efectuada com o recurso a

máquinas de tosquiar mecânicas ou eléctricas, estando estas mais difundidas

devido ao maior rendimento que possibilitam.

Os velos após a tosquia devem ser enrolados e libertados de todos as porções

que mostrem defeitos, bem como de todos os corpos estranhos, como palhas etc.

A lã proveniente das cabeças e barrigas, designadas na gíria por "apartes",

não deve ser incluída no velo pois vai desvalorizá-lo, devendo ser armazenada à

parte, o mesmo acontecendo com a lã da parte traseira do animal designada por

"rabejas", devido a estar conspurcada com fezes e urina, levando a fermentações

microbianas no velo, daí resultando desvalorização das fibras lanares. Deve dizer-se

em abono da verdade que esta regra não é sempre seguida, pelo que constitui

como se disse, mais um factor de desvalorização da lã produzida no nosso País.

Apesar de a situação do nosso país em relação à lã ser caótica e esta pouco

valorizada, em parte pela deficiente homogeneidade dos lotes devido à sua

elaboração e pela baixa qualidade de uma grande parte da produção, na Austrália

criam-se animais exclusivamente para a produção de lã. Isto não significa que neste

país, que possui o maior rebanho ovino do Mundo, não se faça produção de carne,

mas esta tem uma ínfima importância no âmbito da sua produção ovina total. Como

explicação sumária desta afirmação, temos vários factos :

- A Austrália é o maior produtor e exportador mundial de lã, enquanto que a carne

de ovino não é bem aceite na generalidade dos consumidores australianos, que

preferem a carne bovina e também que este país tem uma muito baixa densidade

populacional.

Page 49: Sebenta de Zootecnia

49

- A Nova Zelândia país vizinho da Austrália, tem também um grande rebanho ovino

mas mais virado para a produção de carne, que exporta preferencialmente para a

Inglaterra ao abrigo de acordos da "Commonwealth", apesar da Inglaterra fazer

parte da Comunidade Europeia. Assim e via Inglaterra, a carne de muitos milhares

de ovinos produzidos na Nova Zelândia, acaba na mesa de muitos consumidores

da Comunidade Europeia

Estes factos têm como consequência uma falta de procura para a carne do

borrego australiano. É do conhecimento geral, que uma fêmea tem maiores

necessidades alimentares anuais que um macho, apesar da maior corpulência e do

maior metabolismo basal deste, devido às maiores necessidades das fêmeas

durante a gestação e amamentação. Acrescentando a isto, que a lã produzida pelos

machos castrados, é em maior quantidade e de melhor qualidade que a produzida

pelas fêmeas e pelos machos inteiros, é fácil deduzir que utilizando machos

castrados especializados na produção de lã, se obtém um maior encabeçamento e

logicamente maior produção de lã por hectare.

A Austrália tem assim numerosos rebanhos de carneiros castrados, que vivem

no limiar da fome (mas sempre produzindo lã), rebanhos esses que só com muito

boa vontade, poderiam não ser considerados especializados na produção de lã, pois

são constituídos por animais de etnia merina, seleccionados cuidadosamente para a

produção de lã em solo Australiano. Como resultado dessa selecção, apareceu a

determinada altura um animal mutante, que foi designado por "Booroola", o qual não

é mais que um carneiro com uma pele "grande de mais para o corpo", apresentando

numerosas pregas cutâneas, cobertas de folículos produtores de fibras lanares.

Fig 2 - Carneiro Merino Booroola

Page 50: Sebenta de Zootecnia

50

Todos estes factos aliados ao cuidado posto, por profissionais altamente

credenciados, trabalhando a tempo inteiro, na constituição de lotes e partidas de lã,

conduzem à situação indesmentível, de que a lã australiana não tenha concorrente

à altura a nível mundial, quer em termos de preço, quer em termos de qualidade.

2.3- O TRONCO MERINO

O "Tronco Merino" não é uma raça, mas sim um conjunto de raças, que teve

segundo alguns autores, origem numa etnia formada em Espanha, desde a

Antiguidade e que foi posteriormente, já nos nossos dias exportada para todo o

mundo, tendo participado na formação de várias raças em inúmeros países, estando

hoje todas as raças ovinas com sangue "Merino" no seu conjunto, englobadas sob a

designação de "Tronco Merino".

A génese do "Merino", encontra-se nas relações ancestrais com a primitiva

forma domesticada, o Ovis aries vigney, pigmentada, com os cornos em espiral,

com fibras meduladas externas e fibras internas ameduladas. A formação do

"Merino" consta de três etapas: mutacional, selectiva e de cruzamento.

A fase mutacional consistiu na perda do estrato externo piloso e a conservação

do estrato interno lanoso, medulado o que deu origem a uma lã isenta de pêlo. Não

se sabe ao certo o local onde se deu a mutação, aproveitada zootecnicamente,

situando-a nas margens do Mar Morto a tese mais difundida.

A fase selectiva constitui a etapa principal da génese do "Merino",

correspondendo à necessidade de manter os efeitos mutantes, acentuá-los e

perpetuá-los, tornando-os compatíveis com as exigências da produção ovina.

Segundo os peritos nesta matéria, a Península Ibérica é indiscutivelmente a zona

onde se deu esta fase selectiva, a partir de ovinos originários do Leste e do Sul do

contorno do Mediterrâneo, trazidos pelos Fenícios e pelos Cartagineses. Este

processo de selecção, parece ter sido iniciado com os Tartesos de 1000-500 a.C. e

continuado pelos Turdetanos de 500-200 a.C..

A selecção de animais efectuada pela conservação de fibras ameduladas,

permitiu um aumento da produção de lã por expansão da superfície cutânea, devido

à formação de rugas em consequência da falta de folículos primários.

Page 51: Sebenta de Zootecnia

51

A fase de cruzamento perseguiu o objectivo da côr branca, dado a lã branca

poder ser tingida enquanto que a lã de côr preta não pode. O estado residual do

factor pigmentado no genótipo Merino, determina actualmente ainda nascimentos de

borregos pretos, após séculos de sistemática eliminação destes exemplares.

Segundo alguns autores, mais tarde no início do séc. XII houve introdução de

ovinos provenientes do Norte de África, pela tribo Muçulmana dos Beri-Merines que

passou do Magreb para Espanha no período dos Almohades, sendo aceite que o

nome desta etnia derivado do nome daquela tribo.

Certo é que na Idade Média já se exportava lã de Espanha para toda a Europa,

tendo esta origem nos animais de raça Merina. Estes animais eram explorados em

grandes rebanhos em regime de transumância (possuindo por vezes 80 000

cabeças ou mais), pertencentes a grandes senhores ou a comunidades, que se

dedicavam a desenvolver e seleccionar as qualidades naturais destes ovinos

rústicos e que se aclimatam facilmente em muitas regiões pobres e secas. Durante

muito tempo os Merinos permaneceram confinados à Península Ibérica, havendo

sanções Reais para quem vendesse animais desta raça para o estrangeiro.

Foi somente no séc. XVII e no seguimento da política mercantilista de Colbert,

que saíram os primeiros exemplares Merinos de Espanha, os quais viajaram a pé

desde Segóvia em Espanha, até Rambouillet, perto de Orléans. No entanto só no

séc. XVIII os Merinos começaram a invadir a Europa tendo, entrado quer por

simples selecção, quer por cruzamento com raças locais, na constituição de

inúmeras raças que fazem parte do "Tronco Merino".

Quanto aos aspectos reprodutivos os animais de etnia Merina possuem

"estacionalidade sexual mal marcada", que consiste em não possuírem

"fotoperiodismo negativo" estrito, podendo desenvolver cios na Primavera com o

recurso ao "efeito macho", qualidade esta transmitida aos filhos inclusive em

cruzamento com outras raças.

Este facto permite nas nossas regiões vender borregos pelo Natal (os quais

nascem em Setembro / Outubro sendo altamente valorizados economicamente

nesta altura), permitindo deste modo a ordenha posterior no período de maior

existência de erva verde de alto valor nutritivo.

É graças a esta qualidade dos animais de etnia Merina que existe o famoso

"Queijo Serpa", dado que se as ovelhas do Alentejo "respeitassem" o

"fotoperiodismo negativo" somente fariam cios em Outubro/Novembro (o que

Page 52: Sebenta de Zootecnia

52

acontece com muitas fêmeas nulíparas), sendo os borregos desmamados pela

Páscoa, não havendo desse modo tempo suficiente para produzir leite, devido a que

não poderiam ser ordenhadas mais que um mês, pois em Maio acaba a erva

cessando a produção de leite.

2.4- RAÇAS OVINAS PORTUGUESAS

São três os grupos étnicos de ovinos portugueses :

Merinos - engloba as raças "Merino da Beira Baixa", "Merino Branco" e "Merino

Preto".

Bordaleiros - engloba as raças "Entre Douro e Minho", "Serra da Estrela", "Saloia" e

"Campaniça".

Churras - engloba as raças "Galego Bragançano", "Galego Mirandês", "Badano",

"Mondegueiro", "Churra do Campo", e "Churra Algarvia".

Devido à sua importância relativa somente nos ocuparemos das raças "Merino

Branco", "Merino Preto", "Serra da Estrela", "Saloia" e "Campaniça".

2.4.1- MERINO BRANCO - os animais desta raça ocupam uma grande parte das

províncias do Alentejo, Ribatejo e Estremadura. Compreendem

aproximadamente metade do efectivo ovino nacional, ascendendo a perto de

meio milhão de cabeças. O Merino Branco actual é o resultado das acções

exercidas sobre as primitivas populações ovinas que povoavam o Sul do país,

por outros tipos da etnia merina, seleccionados em Espanha e França e

introduzidos por cruzamento, no sentido de melhorar a qualidade da lã e a

precocidade da raça.

São animais eumétricos e mediolíneos, possuem côr branca e

caracterizam-se pela grande extensão do velo e pela boa qualidade da lã,

classificada de "merino extra" a "merino forte", possuindo um velo extenso e

tochado com madeixas cilíndricas ou quadradas, regularmente homogéneo,

recobrindo a cabeça, todo o pescoço, o ventre, os membros até quase às

unhas e os testículos.

Page 53: Sebenta de Zootecnia

53

Nos machos podem ocorrer ou não cornos, enquanto que nas fêmeas

eles estão sempre ausentes. Podem contudo em algumas poucas fêmeas de

fenótipo merino, ocorrer cornos residuais, facto que só por si é

desclassificativo, dado tratar-se de manifestações de genes de outras etnias,

demonstrativos de antigos cruzamentos.

Podem porém encontrar-se nos nossos rebanhos de Merino Branco,

registados no Livro Genealógico da Raça Merino Branco, de quando em vez,

ovelhas que apresentem estes cornos residuais, sendo por isso designadas de

"cornichas". As ovelhas que apresentem estes cornos residuais, mesmo que

filhas de pais registados no Livro Genealógico da Raça, não são admitidas

para registo nesse Livro.

Fig 3 - Ovelha da Raça Merino Branco Rebanho da Raça Merino Branco

Os animais desta raça possuem grande rusticidade, característica que

lhes permite suportar as difíceis condições de grande amplitude térmica e a

fraca e irregular distribuição das chuvas próprias da sua região de origem,

factores que comprometem a sua alimentação durante grande parte do ano.

Os rebanhos desta raça, são actualmente de dimensão média a grande,

com 500 a 1000 cabeças, sendo exploradas na grande maioria dos casos, em

regime extensivo com pastoreio permanente.

As fêmeas desta raça não têm estacionalidade sexual bem marcada, pelo

que podem ser utilizadas em regimes reprodutivos diversos.

Características produtivas

Idade ao 1º parto 18-20 meses

Fertilidade 80-85 %

Prolificidade 110-115 %

Peso ao nascimento 3,5-4 kg

Page 54: Sebenta de Zootecnia

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Peso aos 120 dias 25-30 kg

Peso dos machos 80-85 kg

Peso das fêmeas 45-60 kg

Produção de leite 20-25 l durante 90-100 dias

Peso do velo :machos 4,5-5 kg

fêmeas 2,5-2,8 kg

Por fertilidade entende-se a razão entre o número de fêmeas paridas e o

número de fêmeas presentes à cobrição. A prolificidade é a razão entre o

número de crias nascidas e o número de fêmeas paridas.

As fêmeas desta raça eram no passado, sujeitas a ordenha depois de

terem amamentado os seus borregos borrego durante 4 a 5 meses.

Actualmente poucos são os efectivos desta raça sujeito a ordenha.

Grande parte do leite destes efectivos, era utilizado no fabrico do famoso

"Queijo Serpa", sendo o restante canalizado para a produção de queijos

pequenos, tradicionais em todo o Alentejo.

2.4.2- MERINO PRETO - esta raça possui características morfológicas e funcionais

idênticas às do Merino Branco, residindo a principal diferença entre ambos, na

pigmentação da pele e lã, a qual igualmente classificada de "merino extra" a

"merino forte".

Igualmente nesta raça os machos podem ou não possuir cornos,

enquanto que nas fêmeas eles estão sempre ausentes. Contudo, actualmente

o merino preto possui menor corpulência que o seu congénere branco, facto a

que certamente não é alheia a ausência de influências de tipos mais pesados e

ainda por ser mantido em zonas menos favorecidas. Tem uma maior

rusticidade e maior resistência às doenças que o merino branco. Recorde-se

que no passado remoto todos os merinos eram pretos, constituindo o fenótipo

branco uma mutação que devido ao facto de a sua lã poder ser tingida, foi

sendo preferido até chegar a constituir a quase totalidade do efectivo merino.

Page 55: Sebenta de Zootecnia

55

Fig. 4 – Rebanho da Raça Merino Preto Carneiro da Raça Merino Preto

Características produtivas

Idade ao 1º parto 20-22 meses

Fertilidade 80-85 %

Prolificidade 110-120 %

Peso ao nascimento 3-4 kg

Peso aos 120 dias 20-25 kg

Peso dos machos 70-80 kg

Peso das fêmeas 40-50 kg

Produção de leite 20-25 l durante 90-100 dias

Peso do velo :machos 4,5 kg

fêmeas 2,5 kg

As características da lã são muito similares às da lã do merino branco, e

hoje em dia o seu preço está uniformizado. Analogamente ao que acontecia

com o Merino Branco, também a produção de leite referida, é após o desmame

do borrego e grande parte do seu leite era utilizado no fabrico dos queijos

tradicionais e de "Queijo Serpa".

2.4.3- CAMPANIÇA – o nome desta raça foi originado no nome da região do Campo

Branco, no distrito de Beja, onde mais se concentra. Esta região que

compreende os concelhos de Ourique, Castro Verde, Mértola, e Almodôvar, é

caracterizada por vastas áreas de terrenos pobres e de clima muito seco,

pouco favorável à agricultura e à abundância de pastagens, sendo por esse

motivo o gado Campaniço, de pequena estatura e de modestas produções.

Page 56: Sebenta de Zootecnia

56

Trata-se de animais elipométricos a eumétricos, brevilíneos mas bem

proporcionados e explorados na maioria dos casos na sua tripla função : carne,

leite e lã. Têm velo de côr branca, geralmente não possuem barbela, têm

membros finos e deslanados abaixo dos curvilhões e velo extenso e tochado,

com madeixas quadradas, só não cobrindo a cabeça e as extremidades dos

membros. A sua lã é classificada como "cruzado fino". Nesta raça só os

machos possuem cornos.

Estes animais pela sua extraordinária e inigualável rusticidade ocuparam

um lugar de notável destaque na agricultura das áreas a Sudeste do distrito de

Beja e áreas anexas das serras do Algarve, sobretudo no Sotavento. A sua

área de dispersão compreendia os concelhos de Mértola, Almodôvar, Ourique,

Castro Verde, as zonas serranas de Odemira e Serpa e os concelhos Algarvios

de Alcoutim, Castro Marim, Loulé, Tavira e Silves.

Fig. 5 – Ovelha da Raça Campaniça Rebanho da Raça Campaniça

Infelizmente hoje em dia, os efectivos desta raça estão tão reduzidos

devido ao abastardamento com outras raças mais pesadas, que a raça esteve

a ponto de ser considerada em extinção e apesar dos esforços para aumentar

o seu efectivo, não é de esperar que alguma vez deixe esta pouco invejável

situação. A razão deste facto prende-se com o facto de que os animais

registados existentes, são pouco mais do que 4000, originados em somente

três núcleos. Sabendo-se como a variabilidade genética é indispensável à

manutenção de uma população saudável, e que esta população é

manifestamente pequena, acrescendo ainda o facto de muitos dos animais

serem aparentados entre si, é lógico pensar que a sua situação nestes termos,

não melhore a curto prazo.

Page 57: Sebenta de Zootecnia

57

Características produtivas

Idade ao 1º parto 18-20 meses

Fertilidade 90,6 %

Prolificidade 110,4%

Peso ao nascimento 2,9 kg

Peso aos 105 dias 23 kg

Peso dos machos 65 kg

Peso das fêmeas 35-40 kg

Produção de leite 12-15 l durante 60-90 dias

Peso do velo :machos 2,8 kg

fêmeas 2 kg

A reduzida quantidade leite que produziam após o desmame dos

borregos, era igualmente utilizado no fabrico de queijos tradicionais e também

de Queijo Serpa.

2.4.4- SALOIA - Esta raça é constituída por um pequeno número de animais

rondando os 70.000, com características do tipo bordaleiro, produtores de lãs

finas classificadas de "merino médio" a "cruzado médio". É também conhecido

por gado "Brusco" devido ao muito sugo da lã ao qual se prendem facilmente

poeiras e outros corpos estranhos que a sujam.

Os machos apresentam cornos fortes e rugosos e as fêmeas podem

apresentar cornos ou não.

Tem esta raça o seu solar numa região de solos férteis de basaltos e

calcários em ambiente de humidade relativa apreciável ocupando os concelhos

limítrofes de Lisboa, tendo irradiado para os concelhos de Setúbal, Mafra, Vila

Franca de Xira e Torres Vedras. Com o leite desta raça fabricam-se alguns

famosos queijos regionais tal como o de Azeitão e o Saloio.

Os animais desta raça são rústicos e bem adaptados às condições de

exploração, possuindo um grande instinto gregário o que permite uma fácil

condução dos rebanhos quando se pastoreiam em parcelas dispersas. Estes

animais são particularmente explorados na sua vocação leiteira.

Page 58: Sebenta de Zootecnia

58

Fig. 6 – Rebanho da Raça Saloia Ovelhas e borregos da Raça Saloia

Os animais desta raça são rústicos e bem adaptados às condições de

exploração, possuindo um grande instinto gregário o que permite uma fácil

condução dos rebanhos quando se pastoreiam em parcelas dispersas. Estes

animais são particularmente explorados na sua vocação leiteira.

Características produtivas

Idade ao 1º parto 13-15 meses

Fertilidade 90-95 %

Prolificidade 105-120%

Peso ao nascimento 3-4 kg

Peso aos 60 dias 17-20 kg

Peso dos machos 50-70 kg

Peso das fêmeas 35-40 kg

Produção de leite 60-80 l durante 170-200 dias *

Peso do velo :machos 4-5 kg

fêmeas 2,5-3,5 kg

*Após o desmame do borrego com idade entre 1,5 e 2 meses

2.4.5- SERRA DA ESTRELA - os animais desta raça constituem o grupo étnico mais

numeroso depois do merino branco com um efectivo de cerca de 280.000

animais, sendo criados desde tempos imemoriais em toda a área da Serra da

Estrela facto que se reflecte no seu nome, nomeadamente nos concelhos de

Seia, Gouveia, Celorico da Beira, Guarda, Oliveira do Hospital, Tábua,

Mangualde, Nelas, Viseu e Arganil. Distribuem-se ainda por todo o campo do

Page 59: Sebenta de Zootecnia

59

baixo Mondego, havendo exemplares desta raça em regiões em que se

pretende uma maior produção de leite como Tomar, Torres Novas, península

de Setúbal arredores de Lisboa e até no Alentejo.

Fig. 7 – Ovelhas Serra da Estrela brancas Carneiro Serra da Estrela, variedade preta

Estes animais pertencem ao grupo étnico bordaleiro, são de corpulência

média e possuem características morfofuncionais bem definidas, em que o

principal objectivo da sua exploração é a produção de leite. Podem ter

indistintamente côr branca ou preta, com velo não muito extenso, deixando a

cabeça, o bordo inferior do pescoço, a barriga e as extremidades livres de lã.

Verifica-se a ocorrência de cornos nos dois sexos. A sua lã é classificada na

categoria de "cruzado fino".

Características produtivas

Idade ao 1º parto 14-16 meses

Fertilidade 90-95 %

Prolificidade 120-150%

Peso ao nascimento 3-4 kg

Peso aos 60 dias 15-20 kg

Peso dos machos 60-80 kg

Peso das fêmeas 40-60 kg

Produção de leite 140-180 l durante 210-240 *

Peso do velo :machos 2-3,5 kg

fêmeas 1,5-2 kg

*A produção de leite é reputada ao período depois do desmame do

borrego com idade entre 1,5 e 2 meses.

Page 60: Sebenta de Zootecnia

60

Os animais desta Raça são sobretudo explorados em explorações de tipo

familiar, numa região caracterizada pela dimensão reduzida e dispersão das

propriedades, na qual constituem a principal actividade dos agricultores

regionais, os quais embora possuindo efectivos pequenos de 30 a 100

cabeças, auferem apreciável rendimento com a venda do leite produzido, que

constitui por vezes a única fonte de rendimento de algumas famílias serranas.

O leite das ovelhas desta raça é exclusivamente destinado ao fabrico do

famoso queijo "Serra da Estrela".

2.5- RAÇAS OVINAS DE MAIOR DIFUSÃO MUNDIAL

Existem várias raças de ovinos que pela sua difusão no mundo adquiriram uma

importância tal, que não podem deixar de ser lembradas no âmbito desta disciplina.

São elas : "Suffolk", "Southdown", "Merino de Rambouillet e "Ile de France". Uma

raça que não pode deixar de ser aqui focada pela sua vocação leiteira e importância

regional cada vez maior no Alentejo é a raça francesa "Lacaune".

2.5.1- SUFFOLK - é uma raça de origem inglesa, caracterizada por ter a pele

pigmentada de preto e lã branca, com a cabeça totalmente deslanada e

desprovida de cornos nos dois sexos, possuindo os animais desta raça boa

precocidade e uma conformação ideal para a produção de carne. Os animais

desta raça, são muito utilizados em cruzamentos industriais, pois transmitem

aos seus produtos um marcado bom tipo de carcaça, tendo por esse motivo

sido exportados para muitos países do Mundo.

Fig. 8 – Ovelhas e borregos Suffolk Ovelhas Suffolk

Page 61: Sebenta de Zootecnia

61

No nosso país, sobretudo no Alentejo, fizeram-se importações de

exemplares desta raça, mas apesar das suas óptimas características de

produção de carne, verificou-se que não conseguiam aguentar as duras

condições a que os nossos rebanhos de raças autóctones estão sujeitos

(sobretudo no Verão, dado serem oriundos de climas mais frescos), vindo por

esse motivo mais tarde a ser preteridos em favor de outras raças pesadas,

mais resistentes às condições climáticas.

Características produtivas

Prolificidade 150 % ou mais

Peso ao nascimento 4,5 kg

Peso aos 110 dias 35 kg

Peso dos machos aos 360 dias > 60 kg

Peso das fêmeas aos 360 dias > 45 kg

Peso do velo: machos 3,6-5 kg

fêmeas 2,9-4 kg

2.5.2- SOUTHDOWN - é outra raça de origem inglesa, vocacionada para a produção

de carne, possuindo uma carcaça muito bem conformada muito apreciada.

Possui igualmente alto poder de transmissão de características corporais à

descendência, originando por cruzamento borregos muito bem conformados,

de boa precocidade e bom rendimento em carne. Nesta raça estão ausentes

os cornos tanto em machos como em fêmeas.

Fig. 9 – Carneiros da Raça Southdown Ovelhas e borregos da Raça Southdown

Esta raça é muito importante na Nova Zelândia, país do qual a Inglaterra

importa um grande número de carcaças refrigeradas, ao abrigo de acordos no

âmbito do Commonwealth.

Page 62: Sebenta de Zootecnia

62

Exemplares desta raça foram importados para Portugal, mas todas as

tentativas de produzir cruzados desta raça foram mal sucedidas, pois os

animais no Alentejo pura e simplesmente morriam por acção do calor do

Verão.

Características produtivas

Prolificidade 155 %

Peso aos 90 dias 25-30 kg

Peso dos machos 80-100 kg

Peso das fêmeas 50-80 kg

Peso do velo :machos 3-4 kg

fêmeas 2-2,5 kg

2.5.3- MERINO DE RAMBOUILLET - Esta raça francesa teve origem num núcleo de

334 ovelhas e 42 carneiros da etnia merino de Espanha, compreendendo

várias origens não aparentadas entre si, os quais saíram de Segóvia em

Espanha a 15 de Julho de 1786, com destino a Rambouillet (perto de Orleans,

onde se situava a exploração Real de ovinos de França), local a que chegaram

três meses depois. Da selecção bastante cuidada deste efectivo, resultou uma

raça muito apreciada quanto à produção de lã e carne, cujos animais são o

protótipo do animal produtor de lã, possuindo um velo branco, extenso de lã

muito fina, elástica e resistente, sendo considerados melhoradores em

cruzamento com animais de lãs grosseiras.

Fig. 10 – Carneiros Merino de Rambouillet Ovelha Merino de Rambouillet

Como Merinos não possuem estacionalidade sexual, característica que

transmitem à descedência por cruzamento. É uma raça muito rústica que se

Page 63: Sebenta de Zootecnia

63

adapta a todos os climas especialmente os secos e a todos os regimes de

exploração.

Devido a estas características, exportaram-se no Séc. XIX centenas de

exemplares para a Austrália, EUA, Argentina, Uruguai, Peru, Portugal e

inclusivamente Espanha, países onde participaram na arquitectura de novas

raças, como na Austrália, ou no simples melhoramento de raças autóctones,

como foi o caso do "melhoramento das lãs" do nosso Merino Branco.

Os machos desta raça possuem cornos, enquanto que estes se

encontram ausentes nas fêmeas.

Características produtivas

Idade ao 1º parto 14-16 meses

Fertilidade 90-95 %

Prolificidade 110-115%

Peso ao nascimento 3,5-4 kg

Peso dos machos 70-90 kg

Peso das fêmeas 45-60 kg

Peso do velo :machos 5,6-9 kg

fêmeas 3,6-6 kg

2.5.4- ILE DE FRANCE - esta raça é o resultado de cruzamentos entre carneiros

ingleses da raça Leicester (seleccionados pelo major Dishley sendo também

conhecidos por este nome), com Merino de Rambouillet, fixada por um longa e

cuidadosa selecção, tendo sido criados na tentativa de obter um animal

Dishley (de óptima conformação e precocidade o que faz deles animais com

extraordinária capacidade para produção de carne), com o velo de um Merino

de Rambouillet.

O mentor desta raça foi um veterinário francês de seu nome Yvart, que

iniciou os cruzamentos em 1833. Depois de várias vicissitudes a raça

encontrava-se fixada em 1922, ano em que foi fundado o Livro Genealógico

em França. Na actualidade esta raça está perfeitamente fixada e tornou-se

uma das grandes raças francesas mais apreciadas em todo o Mundo.

Os animais desta raça são brancos, desprovidos de cornos muito

compactos, possuindo um velo extenso com lã de boa qualidade.

Page 64: Sebenta de Zootecnia

64

Fig. 11 – Carneiros da Raça Ile de France

Possuem em termos produtivos um conjunto notável de qualidades, que

passam por uma óptima conformação, grande velocidade de crescimento (que

pode chegar aos 600 g / dia), boa capacidade leiteira (só em termos de

alimentação dos borregos) e estacionalidade sexual mal marcada tal como os

Merinos, que estiveram na origem desta raça. Apesar de adaptados a um

regime de semi-estabulação, estes animais suportam bem a vida ao ar livre e

em condições de pastoreio em extensivo.

Características produtivas

Fertilidade 95-99 %

Prolificidade 135-160 %

Peso ao nascimento 4-5 kg

Peso aos 90 dias 30-35 kg

Peso dos machos 120-160 kg

Peso das fêmeas 65-85 kg

Peso do velo :machos 5-6 kg

fêmeas 4-4,5 kg

Pelas características apontadas estes animais são muito apreciados para

cruzamentos industriais dando produtos de alta qualidade. Nesta perspectiva

esta raça foi exportada para inúmeros países da Europa incluindo Portugal,

África do Sul, Brasil, China e EUA entre outros.

Page 65: Sebenta de Zootecnia

65

2.5.5- LACAUNE - Esta raça originária do Sudoeste da França a Norte dos Pirinéus

tirou o seu nome dos montes Lacaune. A origem destes animais parece estar

nos Pirinéus, datando de 1294 as primeiras referências aos queijos desta

região. Posteriormente estes animais sofreram a infiltração de sangue Merino,

Southdown e Lauraguais, tendo no entanto sido limitadas no tempo e no

espaço. A partir de 1870 iniciou-se uma selecção leiteira metódica. Em 1902

os caracteres rácicos estavam fixados, em 1937 foi introduzido o contraste

leiteiro e em 1947 foi iniciado o Livro Genealógico da raça.

Fig. 12 – Carneiro da Raça Lacaune Ovelhas da Raça Lacaune

A Raça Lacaune é de aptidão mista, em que a produção leiteira é

predominante. Os animais possuem côr branca, com velo pouco extenso que

não cobre a cabeça, ventre e extremidades. Os borregos são desmamados às

4-5 semanas e a partir desse momento as ovelhas começam a ser

ordenhadas, o que acontece durante 4 a 6 meses. Em virtude da selecção a

que têm vindo a ser sujeitos, estes animais estão muito bem adaptados às

condições da ordenha mecânica.

O efectivo desta raça calcula-se em cerca de 450 000 fêmeas, grande

parte das quais está permanentemente sujeita a contraste leiteiro, situando-se

a produção média por ovelha e lactação em 160 litros, havendo animais que

chegam aos 350 litros. O mundialmente famoso e mais conhecido dos queijos

franceses, o "Roquefort" é fabricado a partir do leite das ovelhas desta raça.

Esta raça está a assumir cada vez maior importância no Alentejo, na zona

demarcada do "Queijo Serpa", sobretudo nos concelhos de Serpa e Mértola,

na tentativa por parte dos produtores de aumentar a produção de leite para o

fabrico do referido queijo.

Page 66: Sebenta de Zootecnia

66

São animais de alta produção e como tal requerem condições de

produção especiais, com pastagens de alto valor nutritivo e suplementação

energética e proteica e pernoita em apriscos abrigados.

Diga-se que é voz corrente que o leite das ovelhas desta raça, dá menor

rendimento em queijo, que o leite das raças regionais, nomeadamente o

Merino Branco, o Merino Preto e a Campaniça, o que é correcto. Mas por esse

facto o leite desta Raça é pago a preços inferiores aos atingidos pelo leite

produzido por animais daquelas raças.

Apesar deste facto, como a quantidade de leite produzida pelas ovelhas

Lacaune é em muito maior, esta raça está a ter cada vez maior aceitação entre

os produtores que têm a possibilidade de fornecer aos seus animais, as

condições superiores de tratamento, que estes requerem para exibirem todas

as suas capacidades produtivas. A problemática desta situação foi atrás

descrita, no sub-capítulo 2.2.3.2.

Fig. 13 – Aspecto de uma sala de ordenha, com ovelhas da Raça Lacaune

Características produtivas

Idade ao 1º parto 16-18 meses

Prolificidade 130-150 %

Peso ao nascimento 3-4 kg

Peso aos 90 dias 25-30 kg

Peso dos machos 80-100 kg

Peso das fêmeas 50-65 kg

Peso do velo :machos 2,5 kg

fêmeas 1,5 kg

Page 67: Sebenta de Zootecnia

67

2.6- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE OVINOS

Os ovinos são como se disse os animais com maior capacidade de

aproveitamento das pastagens e como tal são explorados preferencialmente em

regimes de pastoreio. No entanto na exploração de ovinos nas suas vocações

carne, leite ou mista poder ser utilizados quer a semi-estabulação e até mesmo a

estabulação. O sistema de pastoreio é o sistema utilizado quase universalmente na

produção de carne, sendo igualmente muito corrente na produção de leite, produção

em que é utilizado em maior escala a semi estabulação, ou inclusive a estabulação

permanente, esta em casos muito particulares.

Exactamente como qualquer outra espécie doméstica, os ovinos podem ser

explorados em linha pura ou em cruzamento, nos seus vários tipos, utilizados

segundo as condições e pretensões dos produtores.

2.6.1.- TIPO DE ANIMAIS UTILIZADOS

Os ovinos domésticos são explorados em raça pura ou em sistema de

cruzamento. Os tipos de cruzamento utilizados em cada situação, são fruto do

interesse, grau de conhecimento e importância atribuída aos animais por parte do

proprietário.

Os tipos de cruzamentos passíveis de serem utilizados na produção de ovinos

são logicamente todos os que existem : cruzamento de absorção, cruzamento duplo,

retrocruzamento e cruzamento industrial.

2.6.1.1- Linha pura - a exploração em raça pura, é utilizada sobretudo em

programas de selecção, em explorações comerciais de animais de alta

produção leiteira e em explorações de raças autóctones, situação muito

corrente no nosso país, em que os produtores recebem um prémio adicional às

Ajudas Compensatórias à Perda de Rendimento, só por utilizarem raças

autóctones.

2.6.1.2 - Cruzamento

Page 68: Sebenta de Zootecnia

68

Cruzamento de absorção - a filosofia suprajacente a este tipo de cruzamento, é a

substituição do rebanho das fêmeas de base, por outro de características étnicas

iguais às do reprodutor masculino, à base das fêmeas nascidas do cruzamento

durante algumas gerações. Esta opção tem sido praticada actuando em ovelhas de

raças autóctones, com machos de raças de raças seleccionadas para a produção

de carne. Poderá ter uma hipotética vantagem em relação à utilização da raça

pura, por parte de quem já possui um rebanho de base, de não ter de investir uma

soma considerável e muitas vezes insuportável do ponto de vista económico. No

panorama actual da Ovinicultura Portuguesa, não se justifica, excepto em efectivos

leiteiros e em situações pontuais.

Cruzamento duplo - este tipo de cruzamento em que recorde-se intervêm três

raças, é de resultados muito mais rápidos que o cruzamento de absorção. Tem

sido pouco utilizado em ovinos, devido ao facto de na sua essência envolver quase

obrigatoriamente, uma raça de carne e uma raça prolífica. Foram no passado

recente, implementados no centro do País, cruzamentos deste tipo em ovinos

estabulados explorados intensivamente, envolvendo três raças estrangeiras, uma

muito prolífica, uma de grande produção leiteira e outra pesada de produção de

carne, na tentativa de obter uma grande prolificidade em que os borregos tinham

grande peso.

Cruzamento alternativo - este tipo de cruzamento não é utilizado em ovinos no

nosso País, tendo no passado recente utilizado na tentativa de obter ovelhas

leiteiras de grande produção, designadas "Friserra", utilizando as raças Serra da

Estrela e raça Frísia, uma raça finlandesa, muito prolífica e de muito boas

produções leiteiras. Este programa foi abandonado, não restando actualmente

quaisquer animais daquele tipo.

Cruzamento industrial - tem sido em Portugal, utilizado indiscriminadamente, não

no sentido de utilizar deliberadamente duas raças em linha pura, para obtenção de

híbridos de valor em determinada função, mas sim na utilização totalmente

aleatória de machos de raças pesadas e dos seus híbridos, devido à ausência

desde sempre em Portugal de uma Política Agrícola. Este facto pôs em perigo as

Page 69: Sebenta de Zootecnia

69

populações das raças autóctones de produção de carne, sobretudo as do Sul de

Portugal, devido aos híbridos (F1,F2,F3, etc.) terem sido utilizados na reprodução,

diminuindo deste modo as qualidades dessas raças, por abastardamento com

genes das raças estrangeiras utilizadas.

Para qualquer dúvida surgida acerca dos tipos de cruzamentos aqui

mencionados, remete-se o leitor para o capítulo Noções Introdutórias, onde este

assunto se encontra explanado com a profundidade necessária, ao âmbito desta

disciplina.

2.6.2- TIPO DE INSTALAÇÃO

Os ovinos, são como se disse animais com grande capacidade de

aproveitamento em regimes de pastoreio e como tal são explorados

preferencialmente neste sistema. Apesar desta capacidade inerente aos ovinos,

existem sistemas de produção em que os animais estão em regime de confinamento

permanente, outros em que passam parte do tempo estabulados e outros ainda em

que não usufruem de qualquer tipo de estabulação ou sómente recolhem ao ovil

para passar a noite. Os sistemas utilizados na exploração de ovinos continuam a ser

a estabulação permanente, a semi-estabulação e o pastoreio.

2.6.2.1- ESTABULAÇÃO PERMANENTE

Este sistema é utilizado para ovinos, quer nas recrias e engordas intensivas,

quer em explorações leiteiras com animais de alto valor produtivo, embora não seja

comum no nosso País.

Nestas explorações visa-se a obtenção da maior quantidade de leite possível,

sujeitando-se os animais a um tipo de vida em confinamento que é contrário à

natureza da espécie, mas que algumas raças suportam bem, em virtude da

selecção a que têm vindo a ser sujeitas. As instalações são caras e o maneio é

elaborado. Devido às razões apontadas, a exploração intensiva envolve custos fixos

muito elevados, só sendo praticável em condições muito especiais.

2.6.2.2- SEMI-ESTABULAÇÃO

Page 70: Sebenta de Zootecnia

70

É utilizado nos países frios do Norte da Europa e em rebanhos leiteiros de alta

produção, que passam parte do dia estabulados, pastando uma pequena parte do

dia, erva de alta qualidade em parques próximos ou adjacentes ao ovil.

2.6.2.3- PASTOREIO

Pelo que atrás foi dito quando se tratou do comportamento alimentar dos

ovinos, chega-se facilmente à conclusão que estes animais são utilizadores

preferenciais de sistemas extensivos com plantas herbáceas.

Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante

todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, sempre que

as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente satisfeitas durante o

pastoreio.

As pastagens podem ser espontâneas ou semeadas, podendo estas ser de

sequeiro ou regadio e consumidas em pastoreio contínuo, pastoreio deferido,

pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.

Pastoreio contínuo é um sistema em que o gado vive durante todo o ano do

aproveitamento dos recursos da pastagem, devendo a carga animal ser calculada

de acordo com as potencialidades da pastagem, tendo o inconveniente de requerer

a presença constante de um pastor.

Pastoreio condicionado - é o sistema actualmente mais utilizado, já que dispensa

a presença permanente do pastor, sendo eficiente sempre que o encabeçamento

seja bem calculado o que se traduz num bom maneio das pastagens.

Page 71: Sebenta de Zootecnia

71

3- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE CAPRINOS

3.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os caprinos pertencem à Família Bovidae, Subfamília Ovidae, Género Capra,

que compreende cinco espécies : Capra hircus, considerada a verdadeira cabra,

que inclui o bezoar (Capra hircus aegragus), Capra ibex, ou ibex, Capra prisca, ou

tur do Cáucaso, Capra pyrenaica ou ibex espanhol e Capra falconeri, ou markor

(Williamson e Payne, 1980).

Apesar da origem das cabras domésticas necessitar ainda de uma maior

clarificação, existem evidências, segundo alguns autores, que indicam o bezoar

(Capra hircus aegragus) como seu principal ancestral (Sá, 1978).

Segundo outros autores desde recuadas épocas se diferenciaram três troncos:

- o tronco asiático proveniente da Capra falconeri ou da Capra prisca;

- o tronco europeu proveniente da Capra hircus aegragus;

- o tronco africano proveniente da Capra nubiana, estando provavelmente

envolvidos na origem desta espécie, o ibex da Abissínia e o bezoar

(Williamson e Payne, 1980).

Quanto à cronologia da sua domesticação, existem diversas opiniões, referindo

umas que a espécie foi domesticada cerca de 5.000 a.C., depois dos cães e dos

ovinos, e outras que foi domesticada na mesma altura que os ovinos, logo depois

dos cães, cerca de 4.000 anos antes (Williamson e Payne, 1980).

Os métodos de classificação das cabras domésticas têm sido implementados

com base na sua origem, aptidão, tamanho corporal, e tamanho e forma das

orelhas. No tocante às origens e aptidão existem atributos e limitações,

especialmente devido ao facto de grande parte das cabras dos Trópicos não

possuírem aptidão ou vocação especializada e a sua origem permanecer obscura,

devido à inexistência de dados que possibilitem esse conhecimento.

Page 72: Sebenta de Zootecnia

72

Na tentativa de classificar as raças caprinas relativamente ao seu tamanho

corporal foram constituídos três grupos :

grande - animais de altura superior a 65 cm e peso de 20 a 63 kg

pequeno - animais de altura entre 51 e 65 cm e peso de 19 a 37 kg

anão - animais de altura inferior a 50 cm a peso de 18 a 37 kg (Sá, 1978)

Na classificação relativa ao tamanho e forma das orelhas estão constituídos

quatro grupos :

1º grupo - animais de orelhas curtas e erectas;

2º grupo - animais de orelhas chatas, compridas e pendentes;

3º grupo - animais de orelhas inclinadas e de pelagem frisada;

4º grupo - animais de orelhas largas, semi inclinadas e de pelagem abundante

De qualquer modo a caracterização em raças dos vários troncos, origina

diversas interpretações, levando a designar por raça determinadas variedades (Sá,

1978). A população mundial de caprinos atinge números da ordem dos 400 milhões

de cabeças.

3.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

3.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

O comportamento alimentar dos caprinos é sem dúvida a sua característica

mais marcante, pois são extremamente selectivos e exigentes na escolha do

alimento, sendo esta característica tão vincada no seu carácter, que a palavra

capricho deriva do seu nome latino capra.

Este comportamento expressa-se plenamente em regime de pastoreio

extensivo, em que os animais se alimentam dos recursos naturais que aproveitam

directamente, estando esse aproveitamento condicionado por factores quer relativos

ao animal, quer aos alimentos disponíveis e ao maneio da carga animal.

Os factores relativos ao animal são expressos por lábios extremamente móveis

e língua preênsil, que aliados a uma grande agilidade, lhe possibilitam alcançar e

consumir uma grande variedade de alimentos localizados até uma altura de 2

metros ou em sítios pouco acessíveis e inclusivamente subir às árvores para obter o

que desejam.

Page 73: Sebenta de Zootecnia

73

O comportamento alimentar dos caprinos, distingue-se assim do dos outros

ruminantes domésticos, sejam quais forem as condições do meio, devido à maior

selectividade posta na escolha dos alimentos, embora a sua dieta seja constituída

por uma gama muito mais variada de espécies vegetais, incluindo também plantas

lenhosas. Normalmente e particularmente em anos secos os caprinos escolhem

mais sistematicamente as lenhosas que os ovinos.

Quanto às preferências os caprinos são assim muito mais "browsers" (utilizam

preferencialmente plantas arbustivas) que "grazers" (utilizam preferencialmente

plantas herbáceas).

Quando as disponibilidades do meio são fracas, exigindo longas caminhadas

diárias, estes animais podem apresentar um consumo alimentar superior ao dos

ovinos, quer em quantidade quer em qualidade, graças à sua capacidade de marcha

e selectividade, permitindo-lhes encontrar e escolher mais facilmente os melhores

alimentos. Deste modo preferem as folhas aos caules e plantas com menos teor em

glúcidos parietais e mais matéria azotada, sendo deste modo capazes de

compensar o baixo valor alimentar das pastagens pobres e a menor ingestabilidade,

com a selecção das partes mais nutritivas, melhorando assim a qualidade do

alimento ingerido.

Comparando os caprinos com os ovinos, submetidos a regimes de baixos

teores em fibra e altos teores em azoto, ambos consomem e digerem com igual

eficiência, mostrando contudo os caprinos maior digestibilidade em regimes com

altos teores em fibra e baixos teores em azoto. Este facto deve-se a que os caprinos

reciclam por unidade de tempo, maiores quantidades de azoto endógeno e ainda a

outros factores susceptíveis de influenciar os fenómenos digestivos nos ruminantes,

como sejam a mais elevada ingestão de matéria seca, fraco consumo de água (a

necessidade de água dos caprinos parece ser inferior em 10 a 25 % à dos ovinos de

igual aptidão), ruminação mais eficaz e secreção salivar mais importante (originando

uma maior reciclagem da ureia), tendo estas características como consequência

uma melhor aptidão para o pastoreio e refeições mais frequentes.

3.2.2- COMPORTAMENTO REPRODUTIVO

Page 74: Sebenta de Zootecnia

74

Os caprinos são animais poliéstricos, caracterizados na generalidade por uma

estacionalidade sexual dita de "fotoperiodismo negativo", significando isto que

mostram marcada tendência para um reinicio ou aumento da actividade sexual,

quando o período de luminosidade diurna diminui, o que acontece no Outono, o

mesmo é dizer, que têm a sua estação sexual preferencialmente nesta altura do

ano.

Esta tendência pode estar expressa em maior ou menor grau, existindo raças

que experimentam cios durante grande parte do ano, enquanto outras têm um

comportamento de "fotoperiodismo negativo" estrito. As raças de climas frios estão

nesta última situação, sendo um bom exemplo a raça "Angora", enquanto que as

raças de caprinos das regiões tropicais e subtropicais, mostram grande tendência

para experimentar actividade sexual tanto no Outono como na Primavera.

Puberdade

A puberdade nestes animais é atingida dos 4 aos 6 meses tanto nos machos

como nas fêmeas, existindo importantes variações interrácicas, de modo que nas

cabras pigmeias a puberdade pode ser atingida aos 3 meses nas fêmeas. No

entanto dentro da mesma raça, o aparecimento da puberdade pode ser

condicionado pelo clima, estação reprodutiva e efeitos da nutrição, exercendo o

"estado de carnes" e a percentagem de peso em relação ao peso adulto, nesta

espécie tal como nos ovinos, enorme importância.

As fêmeas dos caprinos são poliéstricas de ovulação espontânea,

experimentando vários ciclos éstricos com a duração de 18 a 22 dias, com média

igual a 20,6 dias, ao longo da estação de reprodução. Os cios têm a duração de 26

a 42 horas, apresentando uma média de 35 horas, excepto na raça "Angora" que

tem cios mais curtos, com duração média de 22 horas.

O efeito designado por "Efeito macho", atrás referido quando do estudo dos

ovinos, verifica-se igualmente nas raças caprinas sem estacionalidade sexual ou

com estacionalidade sexual mal marcada, sendo verdade para estas raças, o que é

verdade para as raças de ovinos que não apresentam estacionalidade sexual, no

respeitante às épocas de cobrição e períodos de nascimento dos cabritos.

Os machos caprinos ou bodes, apresentam produção de espermatzóides

durante todo o ano, verificando-se no entanto uma depressão na actividade do

Page 75: Sebenta de Zootecnia

75

testículo durante a estação quente. Do mesmo modo que nos carneiros, o ardor

sexual também é maior no período do fim do Verão e início do Outono.

Gestação

O período de gestação nos caprinos tem uma duração média de 153 dias,

podendo ir de 147 a 165 dias, período este que é tanto maior quanto menor fôr o

número de fetos. A variação interrácica do número de fetos por parto, é menos

importante que nos ovinos, sendo ao primeiro parto normalmente de um, número

que sobe usualmente a dois nos partos seguintes, sendo mais frequente nas raças

de vocação leiteira, a ocorrência de partos triplos e mais raramente quádruplos.

Métodos de reprodução

Os sistemas de reprodução usados na produção de caprinos são a monta

natural e a inseminação artificial. A monta natural pratica-se tal como nos ovinos,

quer em liberdade, quer em sistema de monta condicionada, sendo contudo a

monta em liberdade, o sistema mais amplamente utilizado, não devendo o número

de cabras por bode, ultrapassar as 50 a 60, podendo eventualmente chegar às 70.

Do mesmo modo que nos ovinos, a fertilidade dos machos é menor nos jovens e

nos animais velhos.

A inseminação artificial é sobretudo utilizada em programas de selecção e em

explorações de cabras de raças de vocação leiteira, permitindo uma maior

rentabilização económica, pelo controlo que introduz na temporização dos

processos produtivos.

Todos os preceitos e princípios que são válidos para o uso da inseminação

artificial em ovinos são-no igualmente ao tratar-se dos caprinos.

Page 76: Sebenta de Zootecnia

76

3.2.3- PRODUÇÃO DE CARNE, LEITE E PÊLO

3.2.3.1- PRODUÇÃO DE CARNE

Ao contrário do que acontece com os ovinos, não existem raças caprinas de

verdadeira vocação para a produção de carne, resumindo-se os animais destinados

ao talho, aos cabritos desmamados precocemente, com um peso de carcaça

rondando os 4 a 6 kg, aos animais fracos produtores de leite e aos animais de

reforma.

Esta situação tem a sua explicação, a qual é decorrente de vários factos :

- por um lado a produção de maior importância económica dos caprinos é sem

qualquer sombra de dúvida o seu leite, que na actualidade e nas nossas

latitudes, é integralmente destinado à produção de queijo (se exceptuarmos

algum pequeno consumo de leite em natureza por parte das populações

serranas mais afastadas dos centros populacionais);

- os caprinos são animais com carcaças mal conformadas, facto que se alia ao

cheiro forte quase repulsivo, resultante das secreções das glândulas anais,

cheiro este que se transmite à carne tornando-a muito pouco apetecida por

parte dos potenciais consumidores, logo de baixo valor económico. Este

inconveniente do sabor e cheiro desagradável da carne, só se põe em animais

de idade superior a 6 meses;

- A maioria dos cabritos nascidos nas nossas latitudes estão em idade de ser

precocemente desmamados e sacrificados cerca do Natal e da Páscoa, alturas

em que o cabrito se tornou prato tradicional, sendo altamente valorizados.

Juntando estes factos, facilmente se chega à conclusão que a decisão mais

rentável económicamente na exploração de caprinos, é vender os cabritos logo que

possível, pois na idade de 1,5-2 meses são bem valorizados, ao mesmo tempo que

todo o leite produzido pelas mães fica disponível para fabrico de queijo, produto bem

valorizado.

Em países como a França, é usual fazer a castração dos machos e submetê-

los a aleitamento artificial e posterior engorda, junto com as fêmeas destinadas a

Page 77: Sebenta de Zootecnia

77

venda, sendo enviados para o talho com a idade de 4 a 6 meses e peso vivo de 25-

30 kg, sendo a sua carne muito apreciada.

Não devemos esquecer que o gosto dos consumidores é soberano e

direcciona o mercado em determinada direcção, muitas vezes de maneira que nada

tem a ver com a lógica. Há sim que estar atento às preferências do mercado e

aproveitar as potencialidades representadas pelas possibilidades de colocação dos

produtos.

A classificação das carcaças de caprinos é efectuada com base na mesmas

grelhas normativas Comunitárias utilizadas para as carcaças dos ovinos.

3.2.3.2- PRODUÇÃO DE LEITE

A produção de leite, é a contribuição mais valiosa dos caprinos, constituindo

em muitas regiões áridas e semiáridas a única fonte de proteína animal a que têm

acesso numerosas populações.

Na Europa a cabra foi e ainda é, em muitas regiões considerada a "vaca do

pobres", sendo comum, outrora mais que actualmente, a existência em zonas rurais

de uma e às vezes duas cabras mantidas em casa, o que assegurava o

fornecimento de leite à família. Vários factores contribuíram para o desaparecimento

deste fenómeno, entre os quais avultam o acesso fácil a leite de vaca embalado e a

disseminação da Brucelose, não necessariamente por esta ordem.

As qualidades da cabra como animal produtor de leite são incontestáveis, pois

é o animal que relativamente ao seu peso vivo, consegue atingir as mais altas

produções, não sendo tão raro quanto isso, ocorrerem produções, por parte de

cabras pertencentes a raças especializadas de vocação leiteira e sujeitas a

selecção, da ordem dos 2000 kg de leite por lactação de 255 dias.

O leite de cabra possui algumas características, que fazem dele um alimento

aconselhável para doentes padecendo de problemas a nível do aparelho digestivo,

pois possui uma maior digestibilidade que o leite de vaca, facto que reside no

tamanho relativo e na composição dos seus glóbulos de gordura. Tanto na vaca

como na cabra os teores de gordura podem considerar-se similares e tanto numa

como noutra as dimensões dos glóbulos estão contidos na mesma escala

Page 78: Sebenta de Zootecnia

78

dimensional (1-10 microns), no entanto a proporção de glóbulos de gordura de

dimensão não superior a 1,5 microns é de 10 % na vaca e 28 % na cabra, o que

obviamente facilita a sua digestão. Por outro lado a composição da gordura do leite

de cabra é mais rica em ácidos gordos de cadeia curta, que a gordura do leite de

vaca, o que contribui igualmente para facilitar a sua digestão.

De salientar ainda, a diferença registada no leite de cabra para os leites das

outras fêmeas de ruminantes domésticos, que reside no facto daquele não possuir

beta carotenos, o que origina a transmissão da côr branca ao queijo produzido a

partir do seu leite, pois a côr amarelada apresentada pelos queijos, é devida a

compostos derivados dos beta carotenos.

A composição do leite de cabra em termos médios pode considerar-se :

Água 86,1 %

Matéria gorda 4,8 %

Lactose 4,4 %

Proteína 3,9 %

Sais 0,8 %

Densidade a 15 º C 1,030

(Adaptado de Sá e Barbosa, 1990)

A legislação Portuguesa, por razões que se prendem com a Saúde Pública

(directamente relacionadas com a ocorrência da brucelose, na gíria conhecida como

a "febre de Malta", por ter sido diagnosticada nesta ilha que pela primeira vez), não

permite a fabricação de queijo de cabra utilizando leite crú, havendo a

obrigatoriedade de tratar pelo calor todo o leite destinado à fabricação deste

produto. Este facto, se por um lado origina um aumento do rendimento industrial na

obtenção de queijo, por outro leva a um empobrecimento da potencial diversificação

da produção de queijo (por razões que saem fora do âmbito desta disciplina),

reduzindo-se os queijos fabricados em Portugal com leite de cabra, a queijos

pequenos para consumo em fresco, queijos do mesmo tipo que não foram vendidos

em fresco e sofreram um processo de cura para posterior venda e um tipo de queijo

originário da Beira Baixa, produzido a partir de uma mistura de leites de ovelha e

cabra.

Page 79: Sebenta de Zootecnia

79

Deve salientar-se que em França alguns dos queijos de maior nome,

inclusivamente a nível mundial, são fabricados com leite de cabra crú e sujeitos a

maturação. Por essa e outras razões a França é o maior produtor mundial de queijo

de cabra e o país onde a selecção de raças caprinas atingiu maior expoente, sendo

francesas as raças de cabras de maior importância na produção de leite.

Em Portugal, os preços atingidos por litro de leite de cabra, rondam conforme

os anos, os 90$00 a 120$00, preços que se por um lado, são cerca de metade dos

atingidos pelo leite de ovelha, por outro lado, mesmo as cabras não especializadas

na produção leiteira (que são a maioria das existentes sobretudo no Alentejo),

produzem 1-1,3 litros de leite por ordenha em plena lactação enquanto as ovelhas

(igualmente não especializadas) produzem 2-3 decilitros, pendendo deste modo a

balança nitidamente para o lado das cabras.

Ordenha

A ordenha dos caprinos pode fazer-se tal como nos ovinos manualmente ou

mecanicamente, sendo mais uma vez o sistema manual o mais difundido.

Exactamente como os ovinos, a utilização de uma instalação de ordenha mecânica,

só se justifica em efectivos especializados na vocação leiteira, ainda que nesta

espécie e devido a razões anatómicas, que se prendem com o tamanho e a forma

do úbere e dos tetos, a ordenha mecânica seja facilitada.

As cabras constituem por tudo o que foi dito, os animais de maior rendimento

potencial, no aproveitamento de ecossistemas de fracos recursos, assumindo no

âmbito da política agrícola actual, fortemente direccionada pela PAC (Política

Agrícola Comum), uma crescente importância, pois são cada vez mais os terrenos

pobres, que por o serem são retirados da produção agrícola, podendo no entanto

suportar uma exploração pecuária. No entanto a par deste potencial, uma

importante restrição emerge, fruto da necessidade de cada efectivo ter um tratador

com disponibilidade permanente, situação que hoje já rareia, sendo previsivelmente

pior no futuro.

Produção de pêlo e Peles

Page 80: Sebenta de Zootecnia

80

Existem raças de cabras que são exploradas principalmente para a produção

de pêlo, o qual pelas suas características de maciez, é utilizado na confecção de

alguns dos mais caros tecidos do mundo, luxo que está ao alcance da bolsa de

muito poucos. Temos como exemplo os famosos e caríssimos abafos, conhecidos

no mercado como Angora e Cachemira, nomes que derivam directamente dos

nomes por que são conhecidas as raças que os produzem.

No nosso país existem algumas explorações em número reduzidíssimo, de

animais da raça Angora, explorados nesta função.

As peles dos caprinos são muito valorizadas na indústria de confecção do

vestuário designado por "cabedal".

3.3- RAÇAS CAPRINAS PORTUGUESAS

As raças caprinas Portuguesas são a "Bravia", a "Serpentina", a "Charnequeira",

a "Algarvia " e a "Serrana". Por ordem decrescente de importância em termos

numéricos temos a Serrana, a Serpentina, a Charnequeira, a Algarvia e a Bravia.

Quanto à produção de leite temos por ordem decrescente de importância a raça

Serrana, a Algarvia, a Charnequeira e a Serpentina. A raça Bravia não é

considerada em termos da produção de leite, já que a produção é tão baixa que é

totalmente consumida pelos cabritos.

3.3.1- BRAVIA - são animais de conformação muito delicada e graciosa, de grande

agilidade, de pelagem preta ou castanha, apresentando os animais desta côr,

tonalidades mais escuras na cabeça, ao longo do dorso, ventre e

extremidades. Existem ainda animais com malhas, de localização e extensão

variável. O pêlo é curto nas fêmeas e mais comprido e áspero nos machos.

Ambos os sexos possuem cornos finos e erectos ou ligeiramente

inclinados para trás, têm o tronco pouco desenvolvido e o úbere é pequeno e

bem ligado.

A sua distribuição geográfrica compreende as penedias do Gerês e Trás-

os-Montes, vivendo em zonas muito inóspitas, o que só é possível devido à

sua enorme rusticidade.

Page 81: Sebenta de Zootecnia

81

Fig. 14 – Cabras da Raça Bravia

Esta raça é somente explorada para a produção de carne, concentrando-

se os nascimentos nos meses de Outono e em Fevereiro / Março, sendo os

cabritos vendidos respectivamente pelo Natal e pela Páscoa.

Características produtivas

Fertilidade 80-85 %

Prolificidade 100 %

Peso dos machos 35-40 kg

Peso das fêmeas 25-32 kg

Os partos múltiplos nesta raça são pouco frequentes.

3.3.2- SERPENTINA - a área de dispersão desta raça estende-se por todos os

distritos Alentejanos.

São animais longilíneos de perfil subconcâvo, geralmente de grande

estatura. Possuem pelagem branca ou creme com um listão preto disposto

longitudinalmente no dorso, podendo alargar-se na parte posterior, por vezes

de tal modo que parece uma "albarda". Têm orelhas grandes e semi-

pendentes, podendo ocorrer barbas em ambos os sexos, o mesmo

acontecendo com os cornos.

O tronco é bem desenvolvido, com linha dorsal quase horizontal, úbere

de tamanho médio, em forma de bolsa e tetos diferenciados de tamanho

médio.

Page 82: Sebenta de Zootecnia

82

Fig. 15 – Cabras da Raça Serpentina Bode da Raça Serpentina

As fêmeas não apresentam estacionalidade sexual, verificando-se duas

épocas de cobrição, uma em Maio / Junho e outra em Setembro / Outubro.

O efectivo desta raça ascende a mais de 100.000 animais, tendo os

rebanhos em geral de 100 a 200 cabeças.

São animais de vocação dupla carne / leite, sendo considerados a raça

portuguesa mais apta para a produção de carne, pelos seus pesos e tamanho,

recorrendo-se frequentemente ao cruzamento industrial com bodes desta raça,

quando se pretende aumentar a produção de carne. São explorados em

sistema de pastoreio extensivo, em terrenos bastante pobres e de clima

caracterizado por fortes insolações, sendo dotados de uma extrema rusticidade

e resistência.

Características produtivas

Idade ao 1º parto 14-15 meses

Fertilidade 80-85 %

Prolificidade 110 a 130 %

Peso dos machos 75-85 kg

Peso das fêmeas 55-60 kg

Produção de leite 120-180 l em 120 a 180 dias

A produção de carne resulta sobretudo dos cabritos ou chibos, que são

vendidos com idades de 1,5 a 2 meses e um peso vivo de 9 a 12 kg, sendo

então as cabras sujeitas a ordenha até ao fim da lactação.

3.3.3- CHARNEQUEIRA - esta raça deve o seu nome à zona da Charneca da região

Ribatejana, onde era explorada. Hoje em dia e devido às diferenças do meio

em que vivem consideram-se dois ecotipos diferentes, sendo um explorado no

Baixo Alentejo e o outro no Alto Alentejo e na Beira Baixa, caracterizando-se

Page 83: Sebenta de Zootecnia

83

os animais do segundo ecotipo por serem mais encorpados, sendo designados

na gíria por "cabra beiroa".

Esta raça agrupa, animais eumétricos e sub-hipermétricos de perfil

rectilíneo ou sub-côncavo, de pelagem uniforme de côr vermelha, com tons

que vão desde o claro até ao retinto e pêlo curto, apresentando-se mais hirsuto

nos machos. Ambos os sexos possuem geralmente cornos, que são grandes,

largos, juntos na base e espiralados, sendo mais pequenos e por vezes

estando ausentes no ecotipo "beiroa".

As fêmeas possuem úberes ensacados e pendentes ou globosos, de

desenvolvimento regular, não apresentando estacionalidade sexual, pelo que

são normalmente efectuadas duas épocas de cobrição, uma na Primavera e

outra no Outono.

Fig. 16 – Cabras da Raça Charnequeira

Esta raça é explorada na dupla aptidão carne / leite em sistema

extensivo. Os cabritos são vendidos com cerca de mês e meio de idade e peso

vivo de 8-10 kg, passando então as mães para o regime de ordenha.

O efectivo da raça ascende a cerca de 35.000 animais, que são

explorados no Alentejo em efectivos de 150 a 250 animais e na Beira em

efectivos de 10 a 50 animais, geralmente familiares.

Características produtivas

Page 84: Sebenta de Zootecnia

84

Idade ao 1º parto 14-15 meses

Fertilidade 85-90 %

Prolificidade 130-135 %

Peso dos machos 60-70 kg

Peso das fêmeas 45-55 kg

Produção de leite 220-250 l em 180 a 210 dias

A ordenha é efectuada após o desmame do cabrito com 1,5 a 2 meses de idade.

3.3.5- ALGARVIA - esta raça deve o seu nome à região onde foi formada, sendo

constituída por animais de estatura média, e perfil côncavo, de marcada

aptidão leiteira.

O pêlo curto de côr branca, com pêlos castanhos ou mais raramente

negros, que se agrupam em malhas ou podem aparecer disseminados de

forma irregular por todo o corpo.

As orelhas dos animais desta raça podem ser de quatro tipos distintos

(compridas, abertas e pendentes ; médias em corneto lançadas para fora ;

curtas em corneto e direitas ; muito curtas e erectas), apresentando cornos nos

dois sexos e barba nos machos, só muito raramente aparecendo esta nas

fêmeas. O úbere é formado por mamas cónicas, pendentes, com têtos pouco

destacados e paralelos ou por mamas globosas com têtos destacados e

dirigidos para a frente e para fora.

O efectivo da raça compreende cerca de 15.000 animais, a grande

maioria dos quais explorados nas serras Algarvias, aparecendo alguns poucos

núcleos na região de Beja.

Page 85: Sebenta de Zootecnia

85

Fig. 17 – Cabras da Raça Algarvia, malhadas de castanho e de preto

Esta raça é explorada em regime extensivo em rebanhos de 50 a 100

cabeças, mostrando-se estes animais extremamente rústicos e resistentes. As

fêmeas experimentam uma reprodução sem estacionalidade sexual,

registando-se duas épocas de cobrição, uma na Primavera e outra no Outono.

Os cabritos são vendidos com 1,5 a 2 meses e peso vivo de 7-10 kg.

Características produtivas Idade ao 1º parto 13-14 meses

Fertilidade 90-95 %

Prolificidade 140-210 %

Peso dos machos 50-60 kg

Peso das fêmeas 35-40 kg

Produção de leite 350-650 l em 210 a 270 dias

3.3.5- SERRANA - esta raça é originária da Serra da Estrela e povoa a maior parte

do país, predominando a norte do Tejo, exceptuando o distrito de Castelo

Branco. Tem ainda um número significativo de animais na península de

Setúbal. O efectivo desta raça ronda os 243.000 animais.

Esta raça compreende animais de côr preta, castanha e ruça, podendo

apresentar coloração amarela nas regiões superiores do abdómen, membros,

focinho, face e arcadas orbitarias. Podem possuir ou não cornos, sendo estes

em forma de sabre, de secção triangular, paralelos ou divergentes. Possuem

úbere bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente, com têtos pequenos e

cónicos.

Fig. 18 – Cabras da Raça Serrana

Page 86: Sebenta de Zootecnia

86

Como resultado da diversidade de ecossistemas onde vive, distinguem-se

quatro ecotipos : Jarmelista, da Serra, Ribatejano e Transmontano.

Trata-se de uma raça bastante rústica, que expressa as suas

potencialidades genéticas mesmo em condições mais ou menos agrestes. As

fêmeas não têm estacionalidade sexual, havendo normalmente duas épocas

de cobrição, uma na Primavera e outra no Outono. Os cabritos são vendidos

aos 30-40 dias de idade com peso vivo de 6 a 8 Kg.

As produções médias calculadas das fêmeas desta raça, situam-se entre

os 540 e os 600 litros em lactações de 210 dias.

Características produtivas Idade ao 1º parto 14-16 meses

Fertilidade 90-95 %

Prolificidade 170-180 %

Peso dos machos 60-70 kg

Peso das fêmeas 30-45 kg

Produção de leite 540-600 l num período de 210 dias

Os efectivos médios de animais desta raça por exploração, situam-se entre

as 40 e as 70 cabeças.

3.4- RAÇAS CAPRINAS ESTRANGEIRAS

As raças caprinas de maior difusão mundial são a "Saanen" e a "Alpine",

constituindo ainda objecto de estudo no âmbito desta disciplina, as raças "Murciana-

Granadina", como grande produtora de leite e as raças "Angora" e "Caxemira",

como raças produtoras de pêlo, embora sejam raças de muito reduzida expansão.

3.4.1- SAANEN - esta raça é originária do Vale de Sâane na Suíça, tendo-se

implantado pelas suas qualidades como produtora de leite.

São animais corpulentos, de pêlo curto, denso e sedoso, de côr branca. A

cabeça possui um perfil quase recto, com ou sem cornos, de olhos grandes e

claros, podendo ou não possuir barbas.

Page 87: Sebenta de Zootecnia

87

O peito é profundo, largo e comprido, caracterizando uma grande

capacidade torácica. A espádua é larga e bem ligada e o garrote é forte e

musculado, possuindo linha dorsal próxima da horizontal, garupa ligeiramente

inclinada e abdómen bem desenvolvido.

O úbere é globoso, bem ligado e muito largo na parte superior, com

grande desenvolvimento em largura. Os têtos são bem desenvolvidos e

paralelos entre si.

Fig. 19– Cabra da Raça Saanen

Esta raça adapta-se muito bem a sistemas de exploração intensivos,

qualidade que aliada a uma grande docilidade faz dela a raça por excelência

da produção leiteira intensiva.

Características produtivas

Fertilidade 95 %

Prolificidade 140-180 %

Peso dos machos 80-120 kg

Peso das fêmeas 50-90 kg

Produção de leite 680-1050 kg em 240 dias Esta raça é de todas as raças caprinas, a que experimentou uma maior

difusão a nível Mundial, tendo sido exportada para muitos países da Europa,

EUA, Brasil e África do Sul, entre outros.

Page 88: Sebenta de Zootecnia

88

3.4.2- ALPINE - é originária do Maciço Alpino, sendo uma raça muito apreciada

pelas suas qualidades leiteiras e de cria.

Os animais desta raça têm pêlo raso e côr variada, indo do castanho

claro ao avermelhado e mesmo preto, sendo no entanto a côr mais frequente a

"chamoisée", ou côr de camurça, com um listão preto longitudinal no dorso e

extremidades negras. Podem possuir cornos ou não, possuem peito profundo,

linha do dorso recta, garupa larga e pouco inclinada, com extremidades

sólidas, articulações secas e aprumos correctos.

Fig. 20 – Cabras da Raça Alpine Fig. 21 – Bode da Raça Alpine

O leite das cabras desta Raça, é volumoso, bem inserido tanto atrás

como à frente, retraindo-se bem após a ordenha, possuindo tetos bem

diferenciados paralelos e dirigidos para a frente.

Esta raça possui inegáveis qualidades de produção leiteira e embora se

adapte bem a sistemas de produção intensivos, possui grande rusticidade, o

que faz dela uma raça muito procurada para sistemas de produção semi-

intensivos.

Características produtivas

Fertilidade 95 %

Prolificidade 140-180 %

Peso dos machos 80-100 kg

Peso das fêmeas 50-70 kg

Produção de leite 580-850 kg em 8 meses

Page 89: Sebenta de Zootecnia

89

Esta raça encontra-se espalhada por toda a Europa, EUA, Brasil, etc.

Ambas as raças atrás descritas, foram e são, em França, sujeitas a selecção,

visando melhorar as suas potencialidades e qualidades leiteiras. Cerca de 140.000

cabras pertencentes às raças Saanen e Alpina estão sujeitas a contraste leiteiro.

Estas práticas permitiram até agora que 20 % das explorações sujeitas a contraste,

tenham alcançado produções médias entre os 850 e os 1050 kg de leite por

lactação, enquanto que 10 % das lactações sujeitas a contraste, são superiores a

1000 kg de leite, havendo algumas que atingem os 2000 kg de leite por lactação.

Diga-se que estas lactações têm em geral uma duração de 255 dias.

3.4.3- MURCIANA - esta raça é originária das províncias de Múrcia e Granada, em

Espanha, constituindo grande polémica regional a sua província de origem,

pelo que os de Múrcia a chamam de Murciana e os de Granada, de Granadina.

Parece que a solução de consenso consiste na designação de Murciana-

Granadina ou Granadina-Murciana.

São animais de côr geralmente negra, havendo exemplares de coloração

castanho escura designada por "caoba". Possuem perfil recto, órbitas salientes

e orelhas erectas, grandes, pontiagudas e muito móveis. Só muito raramente

possuem cornos, o mesmo acontecendo com as barbas. A linha do dorso é

ligeiramente ascendente na direcção da garupa, o garrote é muito destacado e

o tronco amplo e de grande perímetro torácico em relação ao seu tamanho,

possuindo espádua forte e inclinada e bem aderente ao corpo. A garupa é

curta e inclinada. O úbere é amplo e volumoso, formando duas bolsas muito

distintas, com tetos pequenos e dirigidos ligeiramente para a frente e para fora.

Page 90: Sebenta de Zootecnia

90

Fig. 22 – Cabra da Raça Murciana-Granadina

Esta raça possui grande vocação leiteira, tendo sido dito acerca dela por

um inglês, que é tão perfeita que não há necessidade de ser melhorada. É

uma raça rústica, no entanto adapta-se muito bem a sistemas de produção

intensivos.

Características produtivas

Fertilidade média 90-95 %

Prolificidade média 200 %

Peso dos machos 60-75 kg

Peso das fêmeas 50-60 kg

Produção de leite 720 kg em 210 dias

3.4.4- CACHEMIRA - esta raça é originária das regiões montanhosas do Paquistão,

mais propriamente da província de "Cachemira". Os animais desta raça são de

tamanho médio, com 70-80 centímetros de altura.

A sua principal característica reside na existência de uma pelagem

exterior formada por pêlos compridos, ásperos e desbotados, contendo

debaixo destes uma maior quantidade de pêlo finíssimo de comprimento

regular, o qual é a matéria prima dos famosos tecidos que são conhecidos por

Caxemira.

Este pêlo obtêm-se não por tosquia, mas sim penteando as cabras. A

quantidade de pêlo obtida por animal é de 200 a 250 gramas, facto que muito

contribui para o alto custo dos tecidos com ele confeccionado.

Fig. 23 – Cabras da Raça Cachemira

Page 91: Sebenta de Zootecnia

91

A experiências de aclimatação de animais desta raça em outros países

falharam rotundamente.

3.4.5- ANGORA - é uma raça originária da Turquia, sendo constituída por animais

pequenos, de pêlo muito comprido e sedoso o qual possuem em abundância.

Este pêlo é conhecido no mercado por "mohair", nome pelo qual a raça é

algumas vezes designada.

Fig. 24 – Cabras da Raça Angorá

Debaixo desta camada de pêlo fino e comprido possuem outra de pêlo

denso, forte e curto, sem qualquer aplicação industrial. O pêlo fino tem o

aspecto de lã, podendo alcançar o comprimento de 75 centímetros, de côr

branca ou preta e muito brilhante.

Nesta raça e ao contrário do que se passa noutras raças de cabras, o

pêlo é obtido por tosquia.

Experiências de aclimatação com animais desta raça em Espanha e

Portugal, foram bem sucedidas. No Alentejo existem duas explorações de

caprinos Angora, em que os animais se mostram sem problemas de

aclimatação, o que não é de estranhar, visto que estes animais são originários

de uma região de grandes amplitudes térmicas e muito seca, sendo sensíveis

à humidade.

3.5- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CAPRINOS

Os sistemas de produção caprinos utilizados, são exactamente os mesmos

que podem ser utilizados na produção de ovinos, pelo que neste capítulo somente

serão referidas características passíveis de constituir diferença.

Page 92: Sebenta de Zootecnia

92

Os sistemas de produção de caprinos são igualmente considerados quanto à

natureza genética dos animais utilizados, bem como quanto ao tipo de instalações a

que estão sujeitos e modo de obtenção de alimentos.

3.5.1- TIPO DE ANIMAIS UTILIZADOS

Os caprinos domésticos são explorados em raça pura ou em sistema de

cruzamento. Os tipos de cruzamento utilizados em cada situação, são fruto do

interesse, grau de conhecimento e importância atribuída aos animais por parte do

proprietário.

Os tipos de cruzamentos passíveis de serem utilizados na produção de

caprinos são logicamente todos os que existem: cruzamento de absorção,

cruzamento duplo, retrocruzamento e cruzamento industrial.

3.5.1.1- LINHA PURA - a exploração em raça pura, é utilizada sobretudo em

programas de selecção, em explorações comerciais de animais de alta

produção leiteira e em explorações de raças autóctones, situação muito

corrente no nosso país, em que os produtores recebem um prémio adicional às

ajudas compensatórias à perda de rendimento, só por utilizarem raças

autóctones.

Page 93: Sebenta de Zootecnia

93

3.5.1.2- CRUZAMENTO

Cruzamento de absorção - a filosofia suprajacente a este tipo de cruzamento, é a

substituição do rebanho das fêmeas de base, por outro de características étnicas

iguais às do reprodutor masculino, à base das fêmeas nascidas do cruzamento

durante algumas gerações. Esta opção tem sido praticada actuando em cabras de

raças autóctones, com machos de raças de alta produção leiteira. Poderá ter a

vantagem em relação à utilização da raça pura, por parte de quem já possui um

rebanho de base, de não ter de investir uma soma considerável e muitas vezes

insuportável do ponto de vista económico.

Cruzamento duplo - este tipo de cruzamento em que recorde-se intervêm três

raças, é de resultados muito mais rápidos que o cruzamento de absorção. Tem

sido pouco utilizado em caprinos, devido ao facto de na sua essência envolver

quase obrigatoriamente, uma raça de carne e uma raça prolífica. Ora os caprinos

são já bastante prolíficos, não se registando as diferenças interrácicas quanto a

esta característica, que se registam em ovinos e não existem raças que possam

ser consideradas de produção de carne, razões que contribuem para que este tipo

de cruzamento seja pouco utilizado

Cruzamento alternativo - este tipo de cruzamento interveio no "melhoramento" de

algumas raças de caprinos estrangeiras, levados a cabo no Reino Unido.

Cruzamento industrial - tem sido em Portugal, utilizado indiscriminadamente, não

no sentido de utilizar deliberadamente duas raças em linha pura, para obtenção de

híbridos de valor em determinada função, mas sim na utilização totalmente

aleatória de animais, machos e fêmeas, sem qualquer preocupação de raça. Este

facto tem a ver sobretudo, com o tratamento dado na esmagadora maioria dos

casos, à exploração da espécie caprina no nosso País, em que é considerado o

parente pobre da produção animal.

O facto desta espécie ser tradicionalmente utilizada, devido às suas

capacidades de rusticidade e resistência, em zonas de terrenos marginais, nos

quais mais nenhuma outra espécie doméstica seria economicamente viável, levou

a que fosse olhada como animais de pouco interesse e deste modo sem grandes

preocupações quanto à raça.

Page 94: Sebenta de Zootecnia

94

A escolha dos animais para produção é/era feita pelas características

morfológicas, sobretudo pela conformação e tamanho do úbere, e a escolha dos

machos pelo seu tamanho e muitas vezes por serem filhos de cabras consideradas

boas produtoras, sendo esta tarefa amiúde entregue ao "cabreiro", tarefa que estes

levaram a cabo com mais ou menos sucesso, mas que está muito longe de ser a

correcta do ponto de vista zootécnico.

A descendência apresenta-se deste modo com um grau de heterogeneidade

genética de tal modo, que é frequente observar numa cabrada inúmeros fenótipos

diferentes, com os custos inerentes à utilização de animais mestiços, criados sem

qualquer critério.

Para qualquer dúvida surgida acerca dos tipos de cruzamentos aqui

mencionados, remete-se o leitor para o capítulo Noções Introdutórias, onde este

assunto se encontra explanado com a profundidade necessária, ao âmbito desta

disciplina.

3.5.2- TIPO DE INSTALAÇÃO

Os caprinos, mais ainda que os ovinos, são como se disse os animais com

maior capacidade de aproveitamento dos alimentos escassos, em regimes de

pastoreio e como tal são explorados preferencialmente neste sistema. Apesar desta

capacidade inerente aos caprinos, existem sistemas de produção em que os

animais estão em regime de confinamento permanente, outros em que passam

parte do tempo estabulados e outros ainda em que não usufruem de qualquer tipo

de estabulação ou somente recolhem ao capril para passar a noite. Os sistemas

utilizados na exploração de caprinos continuam a ser a estabulação permanente, a

semi-estabulação e o pastoreio.

3.5.2.1- ESTABULAÇÃO PERMANENTE

Este sistema é utilizado para caprinos, quer nas recrias e engordas intensivas

de cabritos, quer em explorações leiteiras com animais de alto valor produtivo.

Nestas explorações visa-se a obtenção da maior quantidade de leite possível,

sujeitando-se os animais a um tipo de vida em confinamento que é contrário à

natureza da espécie, mas que algumas raças suportam muito bem, em virtude da

selecção a que têm vindo a ser sujeitas.

Page 95: Sebenta de Zootecnia

95

As instalações são caras e o maneio é elaborado. Devido às razões

apontadas, a exploração intensiva envolve custos fixos muito elevados, só sendo

praticável em condições muito especiais.

O comportamento alimentar dos caprinos em estabulação, caracteriza-se por

um exame prévio dos alimentos que lhes são administrados, só depois elegendo as

partes que irão ser consumidas. Este comportamento selectivo é causador de

desperdícios de alimentos, que podem chegar aos 40 % do total que lhes é posto à

disposição. Esta dificuldade pode ser em parte torneada, dado que os caprinos em

estabulação aceitam bem as forragens sob a forma de granulados e "pellets", bem

como silagens finamente picadas.

3.5.2.2- SEMI-ESTABULAÇÃO

É utilizado nos países frios do Norte da Europa e em rebanhos leiteiros de alta

produção, que passam parte do dia estabulados, pastando uma pequena parte do

dia, erva de alta qualidade em parques próximos ou adjacentes ao capril.

3.5.2.3- PASTOREIO

Pelo que atrás foi dito quando se tratou do comportamento alimentar dos

caprinos, chega-se facilmente à conclusão que estes animais são utilizadores

preferenciais de sistemas extensivos com plantas arbustivas, em que possam

exercer a sua acção selectiva, sobre plantas e partes de plantas, que escolhem de

acordo com a época do ano.

Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante

todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, sempre que

as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente satisfeitas durante o

pastoreio.

As pastagens podem ser espontâneas ou semeadas, podendo estas ser de

sequeiro ou regadio e consumidas em pastoreio contínuo, pastoreio deferido,

pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.

Pastoreio contínuo é o sistema de eleição para a produção de caprinos, em que o

gado vive durante todo o ano do aproveitamento dos recursos da vegetação, quer

Page 96: Sebenta de Zootecnia

96

seja herbácea, quer seja arbustiva ou arbórea, devendo a carga animal ser

calculada de acordo com as potencialidades da pastagem.

Nas vegetações do tipo dos matos e floresta, onde se encontrem

representados os estratos herbáceo, subarbustivo e arbustivo, os caprinos

mostram em determinadas alturas, preferência pelos subarbustos e arbustos,

independentemente da disponibilidade dos outros tipos de vegetação.

Este comportamento depende contudo das variações do valor nutritivo das

espécies vegetais com a estação do ano, não devendo a disponibilidade de

determinado tipo de vegetação, de uma estação para outra, ser encarado como um

indicador do seu estado de utilização pelos animais.

Na prática muito poucas espécies vegetais são rejeitadas pelos caprinos,

dependendo as preferências alimentares mais da acessibilidade das partes das

plantas apetecidas, que da espécie vegetal propriamente dita. As cabras têm

tendência para consumir, dentro das plantas herbáceas, as anuais durante a

Primavera e as plantas perenes durante o resto do ano, consumindo das

gramíneas preferentemente, as inflorescências. Dos arbustos as folhas são na

Primavera consumidas de preferência aos ramos e frutos, quando os arbustos

novos ultrapassam os 60 centímetros de altura. Em cada caso os caprinos

realizam um autêntico consumo selectivo da vegetação, consumindo rebentos,

flores, gomos ou sementes, que constituem as partes mais nutritivas.

É assim mais que evidente que os sistemas de exploração de caprinos mais

eficientes do ponto de aproveitamento da pastagem são sem dúvida os sistemas

de pastoreio contínuo em extensivo.

Pastoreio condicionado - o comportamento alimentar desta espécie, se por um

lado constitui uma inexcedível vantagem em situações de exploração extensiva

com escassez de alimentos, que são próprias das zonas desfavorecidas áridas e

semiáridas em que normalmente são explorados, por outro lado torna-se uma

desvantagem em sistemas de intensificação forrageira, prados permanentes ou

temporários.

Em pastagens semeadas, permanentes ou temporárias, com existência de

abundante vegetação, os caprinos começam a pastar durante os primeiros 60-90

minutos, seguindo posteriormente a um ritmo de consumo muito mais lento, devido

à selecção que fazem do alimento, de tal modo que não consomem a massa

Page 97: Sebenta de Zootecnia

97

forrageira de forma regular, deixando antes áreas ou manchas de erva com tal

frequência, que a parte não aproveitada pode representar até 50 % do total da

produção do prado. Esta característica dos caprinos conduz a um mau maneio das

pastagens, o que leva estas a degradarem-se, com as desvantagens daí inerentes

em termos de produção futura, a qual será sempre muito menor do que seria

normal.

Page 98: Sebenta de Zootecnia

98

4- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE BOVINOS

4.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os bovinos domésticos pertencem à Família Bovidae, Subfamília Bovinae e

Géneros Bos e Bubalus. O Género Bos compreende as Espécies taurus e indicus,

enquanto que o Género Bubalus engloba entre outras Espécies a bubalis

(Williamson e Payne, 1980).

O termo Bos taurus designa os bovinos Europeus, representados pelos

bovinos que desde sempre nos são familiares.

Os bovinos englobados na designação Bos indicus, são os animais na gíria

conhecidos como zebús, existindo em grande número na Ásia África e América

Latina, distinguindo-se à primeira vista pela característica bossa na cernelha.

Os animais pertencentes à Espécie Bubalus bubalis são os búfalos domésticos

Asiáticos, designados de “búfalos de água”, nas suas variedades de rio e de

pântano, sendo esta designação originada pela marcada tendência em

permanecerem imersos grande parte do dia, com preferência respectivamente pelas

águas correntes e águas paradas.

A origem dos bovinos é, como muitos assuntos da área da paleontologia, ainda

algo controversa. Segundo uns autores, os bovinos europeus provêm de um animal

primitivo, o Bos primigenius.

Parece que o centro de domesticação dos bovinos, se situou na região que é

actualmente o Nordeste do Turquestão cerca de 8.000 a.C. Há evidências de que

cerca de 2000 anos mais tarde, outro tipo do bovino o Bos brachyceros, foi

"originado" na mesma área. Do que parece não haver dúvida, é que a espécie Bos

indicus teve origem na Ásia Ocidental e não, como se julgou em tempos, no

Subcontinente Indiano (Williamson e Payne, 1980).

O efectivo Mundial de bovinos englobava há cerca de uma década, perto de

1.300.000.000 animais, sendo distribuídos por ordem decrescente, pela Ásia com

cerca de 510 milhões de cabeças, América do Norte, Central e do Sul com cerca de

430 milhões de cabeças, África com 160 milhões de cabeças, Europa com 140

milhões de cabeças e Oceânia com 40 milhões de cabeças (FAO, 1991).

Page 99: Sebenta de Zootecnia

99

Os bovinos são encarados nas várias regiões do Mundo, sob diversas

perspectivas, que vão desde simples animais destinados quer à produção de leite,

quer ao talho, na Europa, América do Norte, América do Sul, e Ásia (Athanassof,

1957), até ao estatuto de animal sagrado, por parte dos muitos milhões de indianos

que professam a religião Hindu, passando por uma situação em que confere

estatuto social (estando nesta situação a esmagadora maioria dos bovinos do

continente Africano), sendo impensável por parte dos seus possuidores, a morte

para consumo de qualquer dos seus animais, por esse facto originar perda de parte

do seu prestigiante património (Williamson e Payne, 1980).

Não se pense no entanto, que na Índia não se consome carne de bovino ou

que os bovinos não são utilizados na produção leiteira, pois o estatuto de animal

sagrado só se refere a animais da espécie Bos indicus, existindo em zonas

climaticamente favoráveis, como as zonas de altitude, vacas leiteiras da espécie

Bos taurus importadas da Europa, sendo nas outras regiões, a produção de carne e

de leite, assegurada por animais pertencentes à espécie Bubalus bubalis ou sejam

os búfalos domésticos (Williamson e Payne, 1980).

4.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

4.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os bovinos como ruminantes, são animais que fazem a sua alimentação à

base de pasto e forragem, não desdenhando no entanto rama de árvores e

arbustos, bem como bolotas e outros frutos. A maneira de pastar dos bovinos é bem

peculiar, pois enrolam a língua à volta das plantas herbáceas, cortando-as em

seguida com um golpe dos incisivos, acrescendo ainda a falta de mobilidade dos

lábios apresentada por estes animais

Este facto faz, com que as pastagens próprias para bovinos devam ser altas,

cerca dos 15-20 centímetros de altura. No entanto, ao contrário do que está

estabelecido e vem escrito na literatura sobre bovinos, estes animais têm a

capacidade de apreender ervas de poucos centímetros, facto sobejamente

verificado nos recentes anos de seca no Alentejo.

Os bovinos não são de todo eficientes no aproveitamento das pastagens

pobres, sendo menos selectivos na pastagem que os ovinos e muito menos que os

caprinos.

Page 100: Sebenta de Zootecnia

100

A falta de selectividade e a grande quantidade de matéria alimentar necessária

para estes animais, remetem-nos para áreas forrageiras de maior valor que as

zonas pobres, passíveis de serem aproveitadas com maior sucesso pelos ovinos e

caprinos.

O seu comportamento em pastagem, caracteriza-se por comer quase tudo o

que está ao alcance da boca, sem grandes preocupações quanto à natureza do

pasto, deixando no entanto no terreno uma boa porção da parte inferior das ervas

que consomem, visto que as cortam altas. Esta situação foi aproveitada no passado

no Alentejo, quando nos grandes latifúndios havia bovinos e ovinos na mesma

exploração, fazendo estes últimos o aproveitamento da pastagem residual, depois

da passagem dos bovinos.

Os bovinos como ruminantes, aproveitam com sucesso quer a silagem, quer o

feno, quer ainda a palha de cereais.

4.2.2- COMPORTAMENTO REPRODUTIVO

As fêmeas dos bovinos domésticos são animais poliéstricos de ovulação

espontânea, com reprodução não estacional. A maioria das raças bovinas de carne

e leiteiras hoje existentes, foram desenvolvidas de raças ancestrais comuns, na

Europa e Ilhas Britânicas. Por este facto, os bovinos de carne e leiteiros, possuem

características reprodutivas similares, atribuindo-se as variações fisiológicas

existentes entre os animais de diferentes aptidões produtivas, quer à selecção

efectuada nos últimos séculos, quer a diferenças que se vêm verificando nas

práticas de maneio.

A puberdade nesta espécie é como nas espécies já estudadas, influenciada

pela raça e estado de nutrição, podendo iniciar-se dos 5 aos 20 meses, com uma

idade mais comum de 9 a 11 meses nas fêmeas e 9 a 12 meses nos machos,

havendo tendência para a puberdade ser atingida um pouco mais cedo nas raças

leiteiras, relativamente às raças de carne.

As fêmeas não gestantes, experimentam ciclos éstricos com a duração de 17 a

24 dias, com cios de 12 a 30 horas, assumindo uma média de 20 horas nas raças

de carne e de 15 horas nas raças leiteiras.

A gestação tem uma duração de cerca de 9 meses, podendo ir de uma média

de 278 dias na raça "Ayrshire", até uma média de 292 dias na raça "Brown Swiss",

Page 101: Sebenta de Zootecnia

101

sendo a duração da gestação, influenciada por factores maternais (idade da mãe),

factores ligados ao feto (número de fetos e sexo) e factores ambientais (estado de

nutrição, temperatura e estação do ano).

O número de crias por parto é geralmente de uma, sendo no entanto

frequentes os partos gemelares. Quando se verificam partos gemelares, em que as

crias são de sexos diferentes, acontece que a fêmea é estéril em 90 % dos casos,

possuindo os órgãos genitais internos atrofiados, apresentando no entanto os

genitais exteriores com normal desenvolvimento. Este fenómeno é conhecido por

"Free-martinismo", sendo causado pelo mais precoce desenvolvimento das gónadas

do feto macho, o que influência de forma negativa o desenvolvimento do aparelho

reprodutivo da sua irmã. O macho apresenta todas as condições para ser fértil.

O cio nas fêmeas bovinas tem sintomatologia bem evidente, sendo sinais

inequívocos de cio, a vulva tumefacta, vermelha e brilhante, com eliminação de um

exsudado pegajoso e brilhante, urinando a vaca com frequência e apresentando

tendência para levantar a cauda arqueando simultâneamente o dorso, mostrando

ainda especial tendência para saltar sobre as companheiras. Se está solta, corre

desordenadamente com a cauda e cabeça levantadas, orelhas erectas e salivando

bastante. Por todos estes sinais, a descoberta do cio não é difícil para o tratador ou

técnico habituados a estes animais.

Os tipos de reprodução praticados em bovinos, são a monta natural e a

inseminação artificial.

4.2.2.1- Monta natural - este tipo de reprodução é praticada quase de modo

universal, nos sistemas de produção de bovinos de raças de carne. A

modalidade mais utilizada é a monta em liberdade, sendo corrente o emprego

simultâneo de vários touros, no rebanho com as fêmeas, realizando-se as

cobrições à medida que as vacas vão entrando em cio.

Em explorações intensivas de raças leiteiras, sempre que se verifica a

monta natural, esta é praticada na modalidade que pode ser considerada de

monta dirigida, dado que o touro está numa boxe, à qual se leva a vaca logo

que é detectado o cio, neste caso pelo tratador, com base nos sinais

evidenciados pelo animal.

Page 102: Sebenta de Zootecnia

102

4.2.2.2- Inseminação artificial - este tipo de reprodução atingiu na espécie bovina o

seu expoente máximo, tendo sido estudadas e implementadas todas as

técnicas ligadas à inseminação artificial, na espécie bovina e só depois de

dominadas, foram extrapoladas para as outras espécies.

Espécie alguma foi sujeita a uma tão grande pressão de selecção como

os bovinos, nomeadamente os bovinos leiteiros e dentre estes os pertencentes

à raça "Holstein-Frisian", selecção esta que teve e tem na inseminação artificial

o seu principal instrumento.

A esmagadora maioria das vacas leiteiras são sujeitas a inseminação

artificial, efectuada com sémen proveniente de touros de alto valor genético

para a produção leiteira. Este sémen é recolhido, diluído e conservado, em

centros existentes para esse fim, sendo depois vendido para os mais variados

pontos do mundo, transportado em cápsulas arrefecidas por azoto líquido.

Hoje em dia, existem centros experimentais dotados da mais sofisticada

tecnologia, que além de sémen, produzem embriões quer frescos quer

congelados.

Os embriões podem resultar da aplicação de duas técnicas.

Uma é a fecundação de vacas de alta produção, nas quais é induzida

superovulação através de tratamento hormonal apropriado, sendo

artificialmente inseminadas com sémen de touros de alto valor genético. Após

a fecundação, os embriões são retirados do útero por lavagem, podendo ser

transferidos em fresco para outras vacas ou congelados para posterior

utilização.

A outra é a indução de superovulação igualmente em vacas de alta

produção, com o recurso igualmente a tratamento hormonal, sendo retirados

os óvulos do útero e posteriormente fecundados in vitro com sémen de touros

de alto valor genético.

A viabilidade dos embriões congelados pode atingir os 80 %, sendo no

entanto mais comuns taxas de viabilidade de 50 a 60 %. A percentagem de

êxito em termos de gravidez, utilizando embriões congelados atinge em

bovinos uma taxa média de 71 %.

Para realizar uma transferência de embriões frescos, é imprescindível a

realização da sincronização de cios, entre a dadora de embriões e as

receptoras, condição indispensável para o êxito da operação.

Page 103: Sebenta de Zootecnia

103

Em termos muito gerais a transferência de embriões pode descrever-se

do seguinte modo: uma ou várias vacas de alta produção muito acima da

média da raça e que vão actuar como dadoras de embriões, recebem

tratamento hormonal conducente a uma sincronização de cios,

simultâneamente com várias vacas que podem ser da mesma raça ou não e

que vão actuar como receptoras desses embriões.

A sincronização dos cios tem como fim preparar as vacas receptoras para

a recepção dos embriões, pois teoricamente quando os recebem estão na

mesma fase que as dadoras. Estas são sujeitas a tratamento hormonal com

PMSG ou FSH, visando a superovulação ou seja, a libertação simultânea do

maior número possível de óvulos, sendo em seguida inseminadas

artificialmente com sémen de alto valor genético para o fim em vista. Após

efectuada a inseminação, entre 4 a 8 dias após o cio, procede-se à recolha e

implantação dos embriões nos úteros das vacas receptoras.

Estas vacas vão actuar como mães desses embriões, desenvolvendo

gravidez normal, não sendo como é óbvio, mães biológicas dos vitelos que

darão à luz.

O recurso a esta técnica possibilita aumentar extraordinariamente o

número de filhos de vacas com alto potencial de produção, que de outro modo

dariam à luz não mais de 5 a 7 filhos, podendo deste modo originar largas

dezenas. É possível deste modo obter grande número de animais provenientes

de pais com grande aptidão produtiva. Este método efectua-se no âmbito de

programas de selecção e melhoramento de raças quer de carne, quer de

aptidão leiteira.

4.3- PRODUÇÃO DE CARNE E DE LEITE

4.3.1- PRODUÇÃO DE CARNE

A carne de bovino ocupa sem dúvida a posição mais importante a nível

mundial, sendo a que tem mais aceitação por parte do consumidor, embora seja a

mais cara e por esse facto nem sempre a escolhida.

A produção de carne de bovino tem características diferentes, conforme se

considerem os países da Europa, da América do Norte, Austrália e África do Sul,

Page 104: Sebenta de Zootecnia

104

ditos desenvolvidos, ou os países da América do Sul, África e Ásia, conhecidos por

países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.

Nos países ditos desenvolvidos, a carne de bovino é sobretudo proveniente de

animais jovens, a maioria com idade compreendida entre os 14 e os 18 meses,

engordados e acabados à base de concentrados provenientes de cereais e

proteaginosas.

Os animais pertencem indistintamente a raças de produção de carne ou a

raças de vocação leiteira, sendo destinados ao abate os animais jovens, machos e

fêmeas não utilizados na renovação dos efectivos, bem como as vacas de reforma.

As vacas de reforma, atingem taxas anuais da ordem dos 15 a 25 % nas raças

especializadas na produção de carne e 10 a 15 % nas raças leiteiras, dependendo

estes números de vários factores como a velocidade de renovação dos efectivos, a

raça e o nível de produção, entre outros.

As estratégias para aumentar a produção de carne são muito variadas,

dependendo das condições de mercado, das condições locais de exploração e do

tipo de animais existentes. Exemplos dessas estratégias são :

1- o cruzamento industrial de vacas de efectivos leiteiros com touros de raças

pesadas de produção de carne, o que implica um aumento de peso dos

vitelos em relação aos vitelos de raças leiteiras

2- o cruzamento industrial de vacas de raças rústicas com touros de raças

pesadas de produção de carne

3- o abate de novilhas leiteiras com um parto. Estas novilhas destinadas ao

abate são inseminadas artificialmente com cerca de 12 meses e abatidas

cerca de três meses após o parto, ganhando-se com esta técnica um vitelo

adicional

4- a engorda e acabamento dos novilhos e novilhas que são abatidos com

idades entre os 14 e os 20 meses

5- a utilização de vacas leiteiras de baixa produção, para cruzamento industrial

em vez de irem para o talho, sujeitando-as a aleitamento de vitelos adicionais,

resultantes de compra em efectivos leiteiros

6- a engorda criteriosa das vacas de reforma

Page 105: Sebenta de Zootecnia

105

Durante bastantes anos o abate de vitelos por regra não era efectuado, sendo

inclusivamente penalizado, visto ser uma forma de não vender uns meses mais

tarde, umas largas dezenas de quilogramas de carne. Actualmente devido à

depressão do mercado de carne de bovino, devido à problemática da Encefalopatia

Espongiforme Bovina (BSE), já se abatem vitelos, devido ao baixo preço que

atingem para recria, motivado pelo baixo preço no produtor, da carne de novilho.

Nos países subdesenvolvidos os bovinos destinados ao talho, são produzidos

em sistemas de pastoreio extensivo, dadas as condições de carência alimentar

generalizada que os caracterizam, sendo extremamente difícil canalizar para a

produção animal, cereais e proteaginosas, quando estes alimentos são

manifestamente poucos para consumo humano.

Os animais apresentam ao abate uma idade de 2-3 anos, tratando-se nas

regiões tropicais, principalmente de animais mestiços de Bos taurus e Bos indicus.

Este fenómeno largamente difundido na América Central e do Sul, teve origem no

facto dos animais Bos taurus não se adaptarem às condições climáticas existentes

nestas regiões, resistindo muito mal às elevadas temperaturas e baixa humidade

relativa, morrendo simplesmente ou sobrevivendo apenas, desaparecendo nestas

condições como é óbvio qualquer capacidade produtiva.

Pelo contrário os animais Bos indicus, originários que são de regiões tropicais,

resistem muito bem a estas condições, devido a vários factores, entre os quais

diferenças na pigmentação da pele e maior número de glândulas sudoríparas. No

entanto estes animais apresentam precocidade e velocidade de crescimento

inferiores aos animais Bos taurus o que implica o seu abate a idades superiores à

daqueles. No entanto apresentam maior rusticidade, radicada em diferenças

fisiológicas a nível digestivo.

A qualidade de carne depende da sua textura ou "tenrura" como é

erradamente designada na gíria, a qual está intimamente relacionada com a idade

do animal, com a quantidade de gordura intermuscular e sobretudo intramuscular,

responsável pala textura macia. Por antítese a carne muito magra torna-se muito

seca à mastigação.

As carcaças de bovinos apresentam-se sem cabeça e divididas em duas meias

carcaças, ficando a cauda na meia carcaça direita. São valorizadas segundo uma

grelha normativa, designada por EUROPE, que contempla seis classes de carcaças,

com base na qual são classificadas quanto à conformação e estado de engorda. A

Page 106: Sebenta de Zootecnia

106

cada letra da designação da grelha corresponde uma situação, que vai desde a

carcaça classificada como excelente, até à carcaça classificada como má e

destinada à indústria.

4.3.2- PRODUÇÃO DE LEITE

A produção de leite de bovino, tem enorme importância no cômputo da

produção mundial de leite, sendo tal a sua importância que quando se fala de leite,

se subentende o leite de vaca.

Por leite entende-se a secreção da glândula mamária de fêmeas da

espécie bovina, em estado hígido (isto é gozando de boa saúde), produzida

desde os 7 dias após o parto até ao fim da lactação.

A secreção da glândula mamária produzida desde o momento do parto, até

aos 6 dias é o colostro, substância com composição muito diferente do leite,

sobretudo ao nível das proteínas e cuja missão é conferir imunidade à cria através

de proteínas específicas do grupo das globulinas, como as , e globulinas,

estando a venda de colostro proibida, pelo facto de ser uma substância imprópria

para consumo humano.

Nos países Ocidentais s vacas exploradas para a produção de leite, pertencem

sobretudo a raças específicas de aptidão leiteira, embora existam raças de aptidão

mista, responsáveis por uma grande parte do leite produzido em certos países como

a França (raça Normanda), Alemanha (raça Fleckvieh) e Suíça (Simmental e Brown

Swiss).

A constituição do leite experimenta importantes variações interrácicas,

sobretudo no tocante à gordura, podendo-se no entanto considerar como

composição média do leite a seguinte :

Água 87,2 %

Matéria gorda 3,6 %

Lactose 4,5 %

Proteína 3,0 %

Sais 0,7 %

Densidade a 15 ºC 1,030

(Adaptado de Sá e Barbosa, 1991)

Page 107: Sebenta de Zootecnia

107

O leite destina-se ao consumo em natureza (quer seja pasteurizado,

ultrapasteurizado ou esterilizado, em batidos ou leite com aromas), ao fabrico de

manteiga, de variadíssimos tipos de queijo, de iogurte, requeijão, leite evaporado,

leite em pó, kefir, leitelho, etc.

No Extremo Oriente o leite de búfala é utilizado em larga escala, sendo

naquelas regiões tão importante quanto o leite de vaca. Na Europa, mais

concretamente em Itália na região de Nápoles, existe um considerável número

destes animais da raça "Murrah" (que é uma raça de búfalos de pântano), cujo leite

é a matéria prima do verdadeiro queijo "Mozzarella", mundialmente conhecido por

entrar na confecção das "pizzas". Noutros países, o queijo "Mozzarella" é fabricado

com leite de vaca.

4.4- RAÇAS BOVINAS PORTUGUESAS

O nosso País possui mercê da sua variabilidade em termos edafoclimáticos,

uma grande variedade de raças bovinas, que não seria de esperar em tão pequeno

espaço geográfico. Figuram como raças bovinas autóctones as seguintes : a

"Alentejana", a "Arouquesa", a "Barrosã", a "Brava de Lide", a "Galega", a

"Marinhoa", a "Maronesa", a "Mertolenga", a "Mirandesa", e a "Preta".

Dada a sua importância relativa e a natureza desta disciplina somente iremos

estudar as raças "Alentejana", a "Barrosã", a "Mertolenga" e a "Mirandesa".

3.4.1- ALENTEJANA - é uma raça vocacionada para a produção de carne, que foi

originada no Tronco Aquitânico, sendo constituída por animais convexilíneos,

eumétricos, do tipo longilíneo, rústicos, enérgicos e mansos, de pelagem

vermelha, desde o claro ao retinto com cabos vermelhos ou brancos.

Fig. 25 - Vaca da Raça Alentejana com vitelo Toiro da Raça Alentejana

Page 108: Sebenta de Zootecnia

108

A raça Alentejana foi tradicionalmente explorada na função de trabalho,

tendo a seu cargo no passado a quase totalidade das lavouras do Alentejo.

Esta tarefa era desempenhada por machos castrados que eram adestrados

para esta função, constituindo as vacadas a fonte de animais para o trabalho.

Os bois de trabalho eram no fim da sua vida útil, engordados na pastagem em

extensivo na Primavera e posteriormente vendidos.

Os animais desta raça tinham nessa altura uma conformação diferente da

que apresentam hoje em dia, possuindo um grande desenvolvimento do terço

anterior o que é sinónimo de força de tracção. Actualmente a conformação

apresentada pela raça transmite a intenção para que é explorada, possuindo

um maior desenvolvimento do terço posterior (onde se localizam os músculos

que mais influenciam no rendimento em carne).

Esta conformação é resultante da orientação selectiva dada às vacadas,

que teve como resultado a criação de um animal vocacionado para a produção

de carne, tanto em regime intensivo, como extensivo, tendo havido um registo

de um macho desta Raça que atingiu 1417 kg de peso, o que demonstra

grande potencial produtivo. A sua carne é de boa qualidade, apresentando

moderada quantidade de gordura intermuscular e intramuscular.

O efectivo de reprodução desta Raça é de cerca de 20.000 vacas,

distribuídas sobretudo pelo Alto e Baixo Alentejo.

Características produtivas :

Fertilidade 85-90 %

Prolificidade 1

Peso ao nascimento 30 a 33 kg

Peso dos touros 900 a 1100 kg

Peso das vacas 600 kg

Fecundidade 80 a 90 %

Ganho médio diário * 1252 g

Alguns dos animais desta raça estão registados no "Livro Genealógico da

Raça Alentejana", sendo uma parte substancial das fêmeas utilizadas em

cruzamento industrial com touros de raças pesadas especializadas de

produção de carne, como a "Charolesa", a "Salers" ou a "Limousin". Diga-se

Page 109: Sebenta de Zootecnia

109

que as vacadas inscritas no Livro Genealógico estão obrigadas à reprodução

em linha pura.

* Os ganhos médios diários são referidos a animais entre os 11 e os 17 meses

4.4.2- MERTOLENGA - esta raça é originária do termo de Mértola e Martinlongo,

zona de solos paupérrimos, sendo uma raça extraordinariamente rústica, tendo

no passado sido explorada na função trabalho, exercida por machos castrados.

Fig. 26 - Vacas da Raça Mertolenga com vitelos, variedades “Malhada” e “Rosilho”

A sua área de dispersão é constituída pela charneca do Ribatejo, por

parte da região de Elvas, Distritos de Évora e Beja, sobretudo na margem

esquerda do rio Guadiana.

São animais de tamanho mediano e de formas harmoniosas e esqueleto

fino, com pelagem variada, havendo três variedades : vermelha, rosilho mil-

flores e malhada de vermelho, possuindo o contorno das aberturas naturais e

mucosas de côr clara ou ligeiramente pigmentada, constituindo defeitos

eliminatórios, malhas na cabeça e cabos brancos.

É como se disse uma raça muito rústica, o que lhe permite aproveitar os

recursos forrageiros inaproveitáveis por outras raças e que por essa

característica é explorada nos terrenos mais pobres em regime extensivo.

Page 110: Sebenta de Zootecnia

110

Fig. 27– Toiro da variedade “Malhada” Novilhos da variedade “Vermelha”

Os seus vitelos são muito vigorosos, sendo praticamente inexistentes

nesta raça os partos distócicos (partos anormais, difíceis), mesmo em

cruzamento com touros de raças pesadas. A sua capacidade maternal é

notável, sendo uma boa leiteira mesmo em condições de alimentação difícil,

permitindo facilmente criar um vitelo proveniente de cruzamento industrial.

A carne desta raça é de extraordinária qualidade, tendo inclusivamente

ganho alguns concursos frente às mais variadas raças e cruzamentos,

apresentando notáveis qualidades organolépticas.

Os principais inconvenientes desta Raça, são o temperamento muito

nervoso e a idade ao 1º parto tardia, que ronda os três anos. No entanto, foi

recentemente provado por ensaios realizados no Centro de Experimentação e

Reprodução Animal do Baixo Alentejo, na Herdade da Abóbada na freguesia

de Vila Nova de S. Bento, que a idade tardia do primeiro parto, está muito mais

ligado ao sistema de exploração a que são submetidas as novilhas, que às

características raça em si.

O Registo Zootécnico desta Raça é feito desde 1977, tendo sido

posteriormente criado o "Livro Genealógico da Raça Mertolenga", o qual

actualmente se encontra fechado, o que significa que somente podem ser

inscritos no "Livro Genealógico" animais filhos de animais registados.

Esta raça esteve em perigo de desaparecimento, devido ao cruzamento

irracional e indiscriminado com raças mais pesadas nacionais e estrangeiras,

nomeadamente a "Alentejana", a "Charolesa", e "Limousin". Foi fundamental

na recuperação da raça o programa de selecção e melhoramento levados a

cabo na antiga "Estação de Reprodução e Selecção Animal do Baixo Alentejo,"

hoje "Centro de Experimentação do Baixo Alentejo", sito na Herdade da

Abóbada, Vila Nova de São Bento, representando o efectivo da raça

actualmente cerca de 20.000 vacas.

A variedade que mais foi afectada pelo programa de selecção, é a rosilho

mil-flores, pelo que estes animais mostram hoje capacidades produtivas nos

testes de "performances" superiores aos das outras duas variedades.

Page 111: Sebenta de Zootecnia

111

No panorama bovino da Zona Sul do nosso País, esta raça assume cada

vez maior importância devido a vários factores :

1- os criadores desta raça recebem uma adicional ajuda compensatória no

valor de 26.000$00 / ano por criarem uma raça autóctone

2- é dada uma ajuda compensatória de 42.000$00 aos criadores de vacas

aleitantes independente da sua raça;

3- as vacas Mertolengas devido seu pequeno tamanho, têm menor consumo

alimentar, sendo possível ter mais vacas desta raça que de outra raça

qualquer;

4- como foi provado num estudo realizado no "Centro de Experimentação do

Baixo Alentejo" consegue-se obter mais quilogramas de vitelo desmamado

por hectare com vacas desta raça, que com vacas da raça Alentejana;

5- utilizando um touro de raça pesada especializada na produção de carne,

ainda mais quilogramas de vitelo desmamado se conseguem por hectare;

Deste modo é perfeitamente perceptível que se torna mais rentável

explorar esta raça, que por exemplo a Alentejana ou as suas cruzas com

touros das raças Charolesa ou Salers, tão comuns nesta região. Deve

salientar-se no entanto que os vitelos Mertolengos mesmo cruzados, têm

menor peso ao desmame que os vitelos das raças e cruzas citadas, obtendo-

se com eles menor rendimento unitário. Acresce ainda o facto, de os

compradores de gado depreciarem os vitelos e novilhos das Mertolengos,

puros ou cruzados, sendo mais mal pagos que os animais de outras raças e

cruzas.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 24 a 26 kg

Peso dos touros 450 a 600 kg

Peso das vacas 300 a 400 kg

Fecundidade 85 a 95 %

Ganho médio diário 800 g

4.4.3- MIRANDESA - é originária da região de Miranda do Douro, muito pobre e de

clima agreste, apresentando os seus animais notáveis qualidades de trabalho,

Page 112: Sebenta de Zootecnia

112

pelo que se dispersaram para outras terras Transmontanas e Beirãs, tendo

inclusivamente descido abaixo do rio Tejo.

Fig. 28 – Toiro da Raça Mirandesa Vaca da Raça Mirandesa com vitelo

Os animais desta raça têm pelagem castanha, com a parte anterior e a

cabeça e extremidades castanho-escuro quase preto.

As qualidades desta raça como produtora de carne foram também

reconhecidas, apresentando-se ainda hoje e apesar das modificações

operadas no sector bovino nacional, uma das nossas principais raças de

produção de carne, sendo famosa a "Posta Mirandesa".

Foi no passado e ainda o é, explorada como raça de aptidão mista

trabalho / leite / carne, no seu solar de origem e nas regiões de minifúndio do

Norte de Portugal, sendo também, embora em pequena escala utilizada como

produtora de carne, integrada em vacadas mistas, exploradas em cruzamento

industrial com touros de raças pesadas especializadas na produção de carne.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 37 a 39 kg

Peso dos touros 800 a 1000 kg

Peso das vacas 450 a 550 kg

Ganho médio diário 1200 g

O efectivo desta raça ronda as 50.000 vacas, sendo a raça mais

numerosa no panorama bovino Nacional

4.4.4- BARROSÃ - esta é a raça emblemática da Bovinicultura Portuguesa, sendo

considerada uma raça pura absolutamente original no Continente Europeu. A

Page 113: Sebenta de Zootecnia

113

sua origem parece remontar à ocupação da Península Ibérica pelos Árabes,

tendo sido encontrado no Norte de África o seu ancestral paleontológico

denominado Bos pimigenius mauritanicus.

Explorados na produção de trabalho e leite foi contudo na produção de

carne que se notabilizaram estes animais, tendo preços diferenciados das

outras raças, tendo-se inclusivamente imposto pelas qualidades organolépticas

da sua carne, no mercado Inglês, para o qual foi intensivamente exportado até

há bem pouco tempo.

Estes animais possuem pelagem castanha, indo as vacas da côr palha ao

acerejado, sendo os touros mais escuros, particularmente no terço anterior.

A principal característica morfológica distintiva desta raça, é o tamanho e

a forma dos cornos, de tamanho excessivo quer em comprimento, quer em

espessura, projectando-se quase verticalmente, desviando-se para os lados,

para a frente e para fora, apresentando a forma de lira quando vistos de frente.

A armação atinge a sua maior expressão nos animais castrados, chegando a

ter 1 metro de comprimento e 35 centímetros de perímetro, com a envergadura

de 1,5 metros, valores frequentemente atingidos.

Fig. 29 – Toiro da Raça Barrosã Vacas da Raça Barrosã

A Raça Barrosã é considerada uma raça de montanha, que produz muito

bem nas condições tradicionais de pastoreio da sua região de origem. Apesar

dos seus padrões de produtividade, da óptima qualidade da sua carne e da

sua grande adaptação ao meio, exacta Raça necessita de uma orientação

realista, para evitar o seu desaparecimento por mestiçagem indiscriminada.

Page 114: Sebenta de Zootecnia

114

Características produtivas :

Peso ao nascimento 26 a 28 kg

Peso dos touros 500 a 700 kg

Peso das vacas 350 a 400 kg

Ganho médio diário 875 g

O efectivo de produção desta raça é constituído por cerca de 35.000 vacas.

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4.5- RAÇAS BOVINAS DE MAIOR DIFUSÃO MUNDIAL

As raças que vão ser objecto de estudo no contexto desta disciplina são : a

"Holstein-Frisian" por ser a raça leiteira mais importante, no Mundo, a "Jersey" pelas

características do seu leite, a "Hereford" por ser a raça bovina de carne mais

numerosa e dispersa no Mundo, a "Charolais", a "Limousin" e a "Salers" pela

importância no Mundo e em Portugal, na produção de carne.

4.5.1- HOLSTEIN-FRISIAN - é originária de uma região que ocupa as zonas

costeiras dos Países Baixos (conhecida como Frísia) e uma parte da Alemanha

(conhecida como Holstein), tendo alcançado devido às suas características

produtivas uma expansão mundial de tal ordem, que é hoje a raça leiteira mais

importante em termos numéricos e em termos de produção.

Fig. 30 –Vacas da Raça Holstein-Frisian

A pelagem destes animais é branca malhada de preto ou preta malhada

de branco, sendo animais de esqueleto fino e mediolíneos, possuindo grande

capacidade de adaptação a diferentes zonas climáticas e sistemas de

exploração.

Esta raça é a raça bovina que foi objecto de mais processos de selecção,

orientada no princípio para a produção leiteira, tendo sofrido depois vários

processos selectivos, visando uma melhoria na conformação da carcaça, no

aumento do teor em matéria gorda e proteína do leite, na forma do úbere

visando uma conformação própria para a ordenha mecânica, no aumento da

capacidade ingestão de alimentos e novamente o aumento da produção

leiteira.

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O resultado de todos estes processos de selecção, é uma raça de grande

produção leiteira, com elevados teores de proteína e gordura, de boa

conformação e precocidade, de temperamento dócil, de úberes com grande

facilidade de ordenha, partos fáceis e grande capacidade de ingestão

alimentar, o que lhe permite atingir uma grande produção láctea.

A produção média numa lactação de 305 dias é de cerca de 11.000 kg,

com 3.93 % de proteína e 4 % de gordura. Foram registadas lactações de

17.000 kg de leite.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 28 a 33 kg

Peso dos touros 900 a 1200 kg

Peso das vacas 600 a 700 kg

Ganho médio diário 875 g

4.5.2- JERSEY - esta raça é originária da ilha do mesmo nome, situada na costa da

Grã-Bretanha. Estes animais são de pequeno tamanho, muito compactos, com

cornos pequenos, esqueleto fino e cascos duros e resistentes, atingindo em

média os machos o peso de 600-700 Kg e as fêmeas 350-450 kg.

A sua côr é a parda, desde o tom claro ao escuro, uniforme ou malhada

de branco, com círculos mais escuros à volta dos olhos, que são grandes e de

expressão doce.

Fig. 31 – Vacas da Raça Jersey

Foi seleccionada desde tempos imemoriais para a produção

manteigueira, possuindo um leite com 5,8 a 6 % de gordura, e 3,9 % de

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proteína, produzindo em média cerca de 5.000 kg de leite por lactação de 305

dias.

As vacas possuem excelentes qualidades maternais, boa precocidade,

boa fertilidade, partos fáceis e boa capacidade de adaptação, possuindo os

vitelos uma carne muito apreciada. Os touros possuem caracter violento,

tornando-se muito agressivos entre si e em relação ao homem.

O leite destes animais, pela sua composição e pelo diâmetro dos seus

glóbulos de gordura é muito saboroso e a nata e a manteiga são igualmente

apreciados, de tal modo que estas vacas pelo elevado teor butiroso do seu

leite, ganharam a alcunha de "fábricas de manteiga". O elevado teor proteico

do seu leite, torna-o matéria prima para a indústria queijeira.

A sua capacidade de adaptação aliada à sua resistência, contribuíram

para a sua expansão geográfica, sendo explorada quer em raça pura, quer em

cruzamento, em muitos países da América Latina (sobretudo na América

Central), África, Ásia e Austrália.

4.5.3- HEREFORD - é originária do Condado de Hereford na Grã-Bretanha, sendo

conhecida desde tempos imemoriais pelo seu tamanho, resistência e aptidão

para a produção de carne, tendo o melhoramento desta raça sido iniciado nos

meados do séc. XVIII, por Benjamin Tompkins.

Fig. 32 –Toiro da Raça Hereford

São animais de perfil convexo, tamanho grande, de pelagem

característica vermelha com a cabeça branca e muito frequentemente um

listão branco longitudinal médio, desde a cabeça até à região lombar.

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Esta raça é considerada em termos mundiais a mais importante raça

bovina para a produção de carne, com elevados ganhos médios diários,

possuindo uma carcaça bem conformada, com o inconveniente de

experimentar uma deposição precoce de grande quantidade de gordura

intermuscular e subcutânea, que pode atingir em relação ao peso da carcaça,

percentagens de 30 %. No entanto esta característica é apreciada pelos povos

de influência anglo-saxã. Estes animais atingem pesos de 700 a 1000 kg, os

touros e de 450-700 kg as vacas.

Estes animais são muito rústicos, sendo explorados em regimes variados,

mas sobretudo em regime extensivo, desde as montanhas dos EUA e do

Canadá sob intensos frios de Inverno, até às estepes áridas da Austrália,

passando pelas pampas Argentinas. As vacas têm partos fáceis e boas

qualidades maternais, dando leite suficiente para um bom crescimento do

vitelo.

Esta raça é utilizada quer em linha pura, quer em cruzamento industrial

com Bos indicus em regiões tropicais ou com Bos taurus em regiões

temperadas. Em cruzamento transmitem à descendência, a sua característica

cara branca e as extremidades igualmente brancas.

4.5.4- CHAROLAIS – entre nós designada de Charolesa, esta raça originária da

região de Charol, situada no Saône-et-Loire, em França. Era originalmente

uma raça de trabalho, que foi seleccionada no início deste século para a

produção de bois de trabalho, pesados e que demonstrassem facilidade de

engorda. Posteriormente sofreu novo processo de selecção, com vista à

especialização na produção de carne, apresentando grande desenvolvimento

do terço posterior.

Na actualidade é uma das raças especializadas na produção de carne,

mais apreciadas em todo o mundo, devido às suas características

melhoradoras, tendo contribuído para a formação de algumas raças modernas,

como a Santa Gertrudes e a Brahman americanas, sendo utilizada em

cruzamentos com Bos indicus e Bos taurus em mais de 70 países.

São animais compactos, de grande tamanho, pescoço curto e linha do

dorso horizontal, muito musculados, de pelagem branca uniforme, podendo

igualmente ser creme, apresentando mucosas claras e sem manchas.

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Fig. 33 –Toiro da Raça Charolais Vaca e vitelo da Raça Charolais

Características produtivas :

Peso ao nascimento 47 kg

Peso dos touros 1000 a 1400 kg

Peso das vacas 700 a 800 kg

Ganho médio diário 1450 a 1550 g

As vacas desta raça têm excelentes qualidades maternais, com óptima

produção leiteira superior a 1700 kg de leite por lactação, possuindo

igualmente grande longevidade, dando frequentemente 10-12 vitelos na sua

vida útil, sendo a percentagem de nascimentos gemelares desta raça de cerca

de 4%.

Quanto à capacidade de produzir carne, o Charolês quando comparado

com as outras raças, dá as mais pesadas carcaças, com altas percentagens

de músculo e depósitos adiposos muito limitados, de gordura

predominantemente intermuscular (facto que muito contribui para a falta de

sapidez da sua carne), qualquer que seja a idade de engorda. Em cruzamento

transmite à descendência estas características.

Os vitelos desta raça com idades de 14 a 16 meses podem atingir

rendimentos de carcaça de 67,5 a 69 %.

O Charolais ou Charolês como é conhecido entre nós, é largamente

utilizado em cruzamentos, seja com raças leiteiras, seja com raças de carne,

no intuito de aumentar a produção de carne a partir de efectivos leiteiros ou a

partir de vacas de raças rústicas. No Brasil e na África do Sul, esta raça é

largamente utilizada em cruzamento industrial com zebús (Bos indicus),

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transmitindo aos F1, um tal aumento de peso e precocidade, que estes

chegam a apresentar aumentos de 100 Kg de carcaça, em relação aos Bos

indicus puros, sendo abatidos um ano mais cedo.

Uma desvantagem da raça Charolesa em cruzamento industrial, é o peso

dos vitelos ao nascimento, o que a torna não recomendável para padrear

novilhas, pela quase certeza de dificuldade de parto que vão experimentar,

com as inerentes perdas económicas, representadas quer pela perda de

alguns vitelos e algumas vacas, quer pela conta de serviços veterinários.

4.5.5- LIMOUSINE - esta raça originária do Maciço Central Francês, teve origem em

animais de tiro de grande rusticidade, adquirida numa região de chuvas

abundantes e solos graníticos muito pobres.

São animais de grande formato, musculosos, de esqueleto fino e bons

aprumos, de pelagem castanho clara que é mais escura nos machos, e

mucosas claras sem manchas.

Fig. 34 –Toiro da Raça Limousin

As vacas desta raça têm fertilidade de cerca de 95 %, sendo o intervalo

médio entre dois partos consecutivos de 375 dias. Os partos são fáceis, em

grande parte devido ao tamanho da cria, mais pequena que as crias das

demais raças especializadas na produção de carne, característica que

transmite por cruzamento.

Como produtora de carne, esta raça é excelente, possuindo muito boa

conformação, grande precocidade, bom rendimento de carcaça e óptima

qualidade da carne.

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Os animais desta raça têm a particularidade de manter uma composição

da carcaça constante, desde vitelos até à idade de 20-22 meses, com

moderado estado de gordura, intermuscular e intramuscular, sendo a carne

destes animais, considerada a mais sápida de todas.

Fig. 35 – Vacas e vitelos da Raça Limousin

Em cruzamento industrial transmitem as características de constância da

composição da carcaça, a grande velocidade de crescimento e o pequeno

tamanho do vitelo ao nascer. Esta última característica torna os touros desta

raça particularmente indicados para padrear novilhas de primeira barriga.

Devido a todas as características apontadas, esta raça é muito

procurada, encontrando-se difundida em mais de 50 países, sendo explorada

em cruzamento industrial ou em linha pura.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 37 a 39 kg

Peso dos touros 1000 a 1200 kg

Peso das vacas 650 a 750 kg

Ganho médio diário 1390 g

4.5.6- SALERS - é outra raça originária de França, tendo o seu solar de origem na

região de Cantal, onde com o seu leite contribui para o fabrico dos queijos do

mesmo nome, que tornaram famosa aquela região. Tal como as outras raças

de origem francesa já estudadas, teve origem em animais vocacionados para a

produção de animais de tiro, posteriormente seleccionados para a produção de

carne.

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São animais dóceis, grandes, robustos e rústicos, de pelagem vermelho

escura uniforme e cabos brancos.

Fig. 36 –Vacas da Raça Salers

Fig. 37 - Vaca da Raça Salers sujeita a ordenha manual

A capacidade leiteira desta raça é notável, sendo a média das lactações

em França de 2978 kg de leite em 271 dias, havendo registos de vacas que

produziram 4600 kg de leite no mesmo período. Na região de origem, esta raça

é explorada na função mista carne / leite, sendo comum uma vaca amamentar

o seu vitelo e simultaneamente outro como ama de leite.

Como produtores de carne, os animais desta raça são notáveis,

experimentando ganhos médios de 1350 a 1450 g, entre os 6 e os 12 meses,

apresentando rendimentos de carcaça, a frio de 64 % dos 14 aos 16 meses, e

pesos de carcaça de 380 a 400 kg aos 18 meses.

Devido às suas características produtivas os animais desta raça foram

exportados para vários países entre os quais EUA, Canadá, México, Espanha

e Portugal entre outros.

No nosso País esta raça assume grande importância, dado o grau de

mestiçagem que se verifica nas vacadas alentejanas, havendo muito poucos

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exemplares de raça Alentejana que não possuam sangue "Salers", introduzido

na tentativa de melhorar a conformação e as "performances" maternais da

citada raça, na tentativa de manter a rusticidade perdida devido a cruzamentos

irracionais e desordenados.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 39 a 43 kg

Peso dos touros 900 a 1200 kg

Peso das vacas 650 a 750 kg

Ganho médio diário 1350 a 1450 g

4.6- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS

Os sistemas de produção de bovinos são diferentes conforme se considere a

produção de leite ou a produção de carne.

4.6.1- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CARNE

Os bovinos para a produção de carne são provenientes, como atrás se disse,

de bovinos de raças vocacionadas para a produção de carne, de bovinos explorados

em aptidão mista trabalho / leite / carne e de bovinos provenientes de raças de

produção de leite.

Os bovinos de raças produtoras de leite utilizados para a produção de carne,

são provenientes de sistemas intensivos de produção de leite, nos quais os vitelos

machos e fêmeas são olhados como subprodutos da produção leiteira.

Os bovinos de raças de carne são provenientes das vacadas de raças rústicas,

exploradas em cruzamento industrial com raças pesadas especializadas na

produção de carne ou em linha pura, das vacadas formadas por vacas cruzadas

padreadas com touros de raças pesadas especializadas na produção de carne e

das vacadas de raças especializadas, sendo desmamados com idades

compreendidas entre os 7 e os 9 meses.

Os animais de raças exploradas em aptidão mista trabalho / leite / carne,

provêm das regiões onde impera o minifúndio, sendo os vitelos vendidos

precocemente para recria e engorda, para possibilitar a venda do leite.

As vacas de raças produtoras de animais destinados ao talho, são exploradas

em regime de pastoreio, que pode ser contínuo, diferido ou rotacional, recebendo

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suplementação de farinha e feno, palha ou silagem, nas épocas de carência de

alimentos, que correspondem ao fim do Verão e princípio do Outono, em anos de

pluviosidade normal. Os partos devem realizar-se com intervalos de cerca de doze

meses.

Os vitelos machos e fêmeas após o desmame são submetidos a confinamento

em parques denominados "feed lots", separados por sexos, idades e pesos,

entrando numa exploração intensiva.

Neste sistema de engorda intensiva, os animais recebem uma alimentação rica

em energia e proteína à base de concentrados de cereais e proteaginosas com feno

e/ou silagem, que lhes permita exibir todas as potencialidades permitidas pelo seu

património genético, experimentando assim grande aumento de peso.

Normalmente os novilhos e novilhas estão preparados para o abate a idades

compreendidas entre os 14 e os 20 meses, sendo o seu peso tão variado quanto as

condições genéticas, de idade e ambientais o permitem.

Nas vacadas exploradas para a produção de animais destinados ao talho, o

tipo de reprodução largamente utilizado é a monta natural, em linha pura ou como

repetidamente se disse atrás, em cruzamento industrial com touros de raças

pesadas, especializadas na produção de carne.

4.6- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE

As vacas utilizadas na produção de leite no Mundo, são submetidas aos mais

variados tratamentos, consequência das condições locais, raça, condições

climáticas, etc. No entanto em traços gerais e qualquer que seja a situação, há

normas e preceitos zootécnicos que provavelmente em múltiplas situações, não

poderão pelas mais variadas razões, ser respeitados.

Como não se pretende fazer um estudo exaustivo de todos os sistemas de

produção de leite, o que seria desajustado do âmbito desta disciplina, iremos focar o

sistema intensivo nalgumas das suas inúmeras possibilidades, precisamente as que

são mais adoptadas na Europa Ocidental e na América do Norte.

O conceito de regime intensivo de produção de leite, compreende a

estabulação permanente e a semi-estabulação. As vacas exploradas neste regime

devem ter partos com uma periodicidade de doze meses, produzindo leite durante

dez meses e permanecendo seca nos dois meses seguintes, que antecedem o

parto, altura de maior crescimento do feto e de maiores necessidades energéticas,

Page 125: Sebenta de Zootecnia

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proteicas minerais. O nível de produção na futura lactação depende muito do nível

de alimentação nesta época.

Estabulação permanente - neste regime as vacas estão, como o próprio nome

indica, permanente estabuladas, não saindo do estábulo senão para ir para o talho,

existindo várias opções :

- estabulação fixa - os animais permanecem presos a um local no interior

do estábulo;

- estabulação livre - os animais encontram-se soltos dentro de um recinto

limitado, sendo uma parte coberta, designada por área de repouso e

outra descoberta designada por área de exercício.

Semi-estabulação - é também designada estabulação mista e neste regime os

animais dispõem da possibilidade de se deslocarem a pastagens necessariamente

muito perto do estábulo, nas quais permanecem determinadas horas do dia,

recolhendo depois ao estábulo, que pode ser de estabulação convencional ou livre.

O sistema de pastoreio mais indicado nestas explorações é o pastoreio em faixas

A alimentação das vacas submetidas a sistemas intensivos de produção

leiteira têm uma alimentação muito rica em energia e proteína, à base de

concentrados de cereais e proteaginosas, com feno de boa qualidade, forragem

verde e/ou silagem, na tentativa de fornecer todas as possibilidades de exprimirem

na totalidade as suas potencialidades produtivas.

O tipo de reprodução quase exclusivamente utilizado é a inseminação artificial,

devendo no entanto haver em todas as explorações deste tipo um touro, que se

destina a cobrir todas as vacas que fazendo cio, não haja possibilidades de efectuar

a inseminação em tempo útil, a exemplo do que acontece aos fins de semana.

O facto de haver um touro para este fim na exploração pode representar um

enorme benefício em termos económicos, pois como se disse atrás, o cio das vacas

leiteiras é curto, e durante o cio, deve a vaca ser coberta ou inseminada. Se o não

fôr, somente fará cio dentro de 21-22 dias, período correspondente ao atraso na

data próximo parto e consequentemente do próximo período de lactação. Durante o

período adicional em que irá nessa circunstância permanece seca, a vaca terá que

comer e os empregados terão que ser pagos, recebendo o empresário menos

dinheiro proveniente da produção de leite.

Page 126: Sebenta de Zootecnia

126

A ordenha nestas explorações é feita mecanicamente, sendo o tipo da sala de

ordenha escolhido de acordo com as características da exploração nomeadamente

o número de vacas, o tipo de estabulação, etc.

Os vitelos podem mamar o colostro ou este ser-lhes apresentado em aleitador

artificial. Em explorações deste tipo os vitelos são considerados um subproduto e

como tal são olhados como concorrentes do empresário, na obtenção da matéria

prima, o leite. Assim ou são vendidos para explorações que se dedicam à cria de

vitelos ou são criados na exploração, sendo em qualquer dos casos submetidos a

aleitamento artificial com leite de substituição (farinha de leite, em pó, contendo

proteína vegetal, gorduras, vitaminas de síntese, etc.).

Posteriormente e a seu tempo serão recriados e engordados, destinando-se ao

talho, situação já focada no ponto respeitante à produção de carne.

É situação corrente fazer a inseminação de vacas leiteiras em explorações

deste tipo, com sémen de touros de raças especializadas na produção de carne,

para aumentar o peso dos vitelos e consequentemente a produção de carne.

Qualquer que seja a opção de produção, todas as decisões técnicas têm em

vista a maximização dos lucros, situação em que se insere a menor utilização

possível de mão-de-obra, no sentido de diminuir os custos fixos e variáveis da

produção.

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127

5- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS

5.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os suínos pertencem à Ordem Artiodactyla, Sub-ordem Bunontia, Família

Suidae, Género Sus, Espécie scrofa e a várias Subespécies, entre as quais a Sus

scrofa ferus (javali Europeu), a Sus scrofa cristatus (porco selvagem Asiático) e a

Sus scrofa domesticus (porco doméstico) (Williamson e Payne, 1980).

A origem dos porcos domésticos é ainda hoje controversa, sabendo-se no

entanto que formas ancestrais dos suínos existiam há 40 milhões de anos.

Actualmente existem duas teorias contraditórias a este respeito, defendendo uma

que os suínos foram domesticados de modo independente em várias regiões,

enquanto a outra indica um centro de domesticação mais ou menos bem localizado.

Segundo esta última teoria, a domesticação desta espécie ocorreu na região

ocidental da Ásia, de onde se teria gradualmente dispersado para o Sudeste

Asiático, para a Europa e para a África. A confirmar parcialmente esta teoria, foram

encontrados vestígios de porcos domésticos em Cayöny na Turquia, mais

precisamente no Sudeste da Anatólia, os quais foram datados de 7000 a.C., sendo

anteriores a quaisquer outros vestígios conhecidos, destes animais em outros

lugares (Williamson e Payne, 1980).

Desde a mais remota Antiguidade que os suínos domésticos são apreciados

pelo Homem, sendo prova disso as ossadas de porcos domésticos encontradas nas

mais antigas estações pré-históricas e palustres.

Os Gregos atribuíam ao porco a amamentação de Júpiter e imolavam-no a

Ceres, Marte e Cíbeles enquanto os Romanos o incluíram nos baixos relevos

designados Suovitaurilia e o imolavam aos deuses, sendo considerado este animal

por estes dois povos, símbolo de abundância (Andrade, 1965).

O porco é tratado nos antigos livros Chineses, tal como na Bíblia e no Alcorão,

embora as referências a esta espécie nestas duas últimas obras tenha um cunho

negativo, pois proscrevem-no como animal imundo (Andrade, 1965). Supõe-se que

esta proscrição na Bíblia e no Alcorão, proviria de este animal ter sido julgado pela

civilização de então, como transmissor da lepra e da triquinose (Andrade, 1965 ;

Williamson e Payne, 1980). Na realidade porco nada tem a ver com a transmissão

da lepra, doença provocada pelo "bacilo de Hansen", sendo no entanto o

Page 128: Sebenta de Zootecnia

128

transmissor da Trichinella spiralis, agente da triquinose e do Cystircercus cellulosae,

forma larvar da Taenia solium. A transmissão destas duas parasitoses é motivada

pelo consumo de carne insuficientemente, cozinhada proveniente de animais

portadores (Leitão, 1979; Borchet, 1981 ; Soulsby, 1986).

Actualmente é muito vasta a dispersão geográfica de suínos selvagens e

assilvestrados (termo que classifica os animais domésticos fugidos à tutela humana

e que se tornaram autónomos), sendo geralmente aceite que todas as raças actuais

de suínos domésticos, derivaram de uma forma ou de outra de dois tipos selvagens

: o Sus vitatus (sinónimo de Sus scrofa cristatus) ou porco selvagem Asiático e o

Sus scrofa ferus ou porco selvagem Europeu, o qual pode ter existido no passado,

na Ásia Ocidental (Williamson e Payne, 1980).

Aceita-se hoje que alguns exemplares do tipo do Sus vitatus podem ter sido

introduzidos na Europa por criadores do Neolítico oriundos do Leste.

O que é hoje dado como certo, é que o porco Siamês (que é por vezes

identificado pelo nome específico de Sus indicus), foi introduzido na região do

Mediterrâneo na era Romana tendo sido utilizado em cruzamentos com porcos

locais, produzindo um tipo de suíno que mais tarde ficou conhecido por porco

Napolitano.

Mais tarde no fim do séc. XVIII porcos Chineses, crê-se que originários da

região de Cantão, foram introduzidos na Inglaterra (país na altura com fortes

relações com a China) e cruzados com os suínos de tipo antigo Inglês

caracterizados por serem pouco precoces, terem orelhas compridas e caídas, côr

amarelada ou vermelha acastanhada e pêlo áspero.

Estes suínos asiáticos tinham na sua maioria côr branca, havendo alguns

pretos e malhados, de orelhas pequenas e erectas, tendo a sua introdução razões

sediadas na sua grande prolificidade, grande rusticidade e boa precocidade,

associadas à capacidade de engordarem facilmente.

Alguns porcos Siameses foram importados pela Inglaterra na mesma altura,

sendo estes do mesmo tipo que os porcos Chineses, mas possuindo cerdas pretas

e pele acobreada.

Mais tarde porcos do tipo Napolitano, pretos e sem cerdas foram também

introduzidos em Inglaterra e cruzados com os tipos de porcos locais.

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129

Foi do cruzamento de porcos Chineses, Siameses e Napolitanos, com os

porcos Ingleses de tipo antigo, que se originaram os ancestrais das modernas raças

de porcos Ingleses.

No período colonial da América do Norte, foram importados da Europa porcos

de tipo antigo Inglês, tendo os descendentes desses porcos sido mais tarde

cruzados com porcos Ingleses de raças modernas, bem como com porcos

importados do Sudeste Asiático e de outras partes do Mundo.

Apesar de haver suínos selvagens indígenas na Europa, na Ásia e

possivelmente no Norte e Noroeste de África, os suínos foram introduzidos pelo

Homem na América do Norte, América Central e América do Sul, nas Caraíbas, na

Australásia e nas ilhas do Oceano Pacífico e Índico, onde existem formas

assilvestradas.

Na actualidade os porcos estão distribuídos praticamente por todo o Mundo,

exceptuando-se as zonas áridas e as regiões em que as questões religiosas o

impõem, estando praticamente ausentes de todas as regiões do Mundo, de culto

Muçulmano.

Os Suínos são a terceira espécie doméstica mais numerosa a nível Mundial,

logo a seguir aos Bovinos e aos Ovinos, representando o seu número cerca de 30 %

do número dos ruminantes. O efectivo mundial de suínos está computado em

qualquer coisa como 800 milhões de cabeças, dos quais cerca de 120 milhões estão

sediados na Comunidade Europeia, correspondendo 73 % deste número à

Alemanha, França, Holanda e Dinamarca (FAO, 1991).

5.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

5.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os suínos são monogástricos omnívoros, sendo de certo modo competidores

com Homem pelo alimento. No entanto não existe nenhuma espécie pecuária que

utilize tamanha variedade de alimentos, consumindo desde erva verde, bagaço de

uva, azeitona, bagaço de azeitona, bagaço de girassol e de outras leguminosas,

cascas, bolotas, glandes de sobreiro e de carvalho, castanhas, frutos secos, frutos

deteriorados, legumes, cereais alterados (e logicamente em bom estado),

tubérculos, raízes, silagens, soro de leite, lavagens de cozinha ou leitaria, farinha de

carne, farinha de peixe, farinha de sangue, gorduras, etc.

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Devido a este ecletismo, o número de suínos é geralmente maior, onde a

comida humana é barata e existe em quantidade, e em todos os locais onde existam

grandes quantidades de sobras e subprodutos alimentares.

Os suínos em liberdade, pastam, ingerem cadáveres de animais abandonados,

caça miúda, ninhos, invertebrados, répteis, batráquios, fungos e toda a espécie de

bolbos e raízes que desenterram com o seu focinho terminado em tromba,

"ferramenta" com a qual removem incansavelmente a terra na busca de qualquer

possível fonte alimentar vegetal ou animal, detectados pelo seu apuradíssimo

olfacto.

Estes animais têm o sentido do olfacto de tal modo apurado, que são utilizados

em França na detecção de trufas, trabalho que conseguem desempenhar com

bastante êxito. As trufas são fungos que por vezes estão enterrados a mais de um

metro e meio de profundidade (diga-se a título de informação, que as trufas são

consideradas o alimento mais caro do mundo, atingindo um quilograma destes

fungos várias dezenas de milhares de escudos) e só uma grande com acuidade

olfactiva se consegue nestas circunstâncias detectá-las. Igualmente devido ao seu

olfacto, têm sido feitas várias tentativas de adestramento destes animais na

detecção de drogas, tarefa na qual se mostram superiores aos cães.

Existem actualmente suínos de raças modernas seleccionadas, que têm como

nenhuma outra espécie (exceptuando algumas aves), uma grande eficiência

alimentar (ou seja a capacidade de conversão de alimentos em substâncias

corporais, conceito inverso do índice de conversão definido como a quantidade de

alimentos necessários ao aumento de um quilograma de peso corporal), sendo a

quantidade de alimentos necessária para a obtenção de 1 kg de peso vivo, inferior a

2,62 kg, experimentando ganhos médios diários que podem ser superiores a 850 g.

Como monogástricos os suínos têm uma fisiologia digestiva totalmente

diferente dos ruminantes, caracterizada, no que ao metabolismo dos lípidos se

refere, pela inclusão dos ácidos gordos ingeridos na dieta, directamente nos tecidos

de reserva na forma em que foram ingeridos, não se verificando alterações em

termos de saturação/instauração, dos referidos ácidos gordos.

Este facto condiciona grandemente a qualidade do produto final, pois se os

lípidos provêm de alimentos alterados, isto vai reflectir-se nas qualidades

Page 131: Sebenta de Zootecnia

131

organolépticas da carne. Podemos então dizer que o sabor da carne de suíno é

substancialmente condicionado pelo alimento, de tal modo que se este contém

substância favoráveis, a carne é sápida, sendo o contrário igualmente verdade.

A título meramente ilustrativo, diremos, que esta característica é responsável

por três produtos muito apreciados, o "Presunto de Montado", os "Enchidos

Artesanais" e parodiando um pouco, a "Carne de Porco à Alentejana", prato muito

apreciado.

A "Carne de Porco à Alentejana" é um prato dito tradicional, que erradamente

se julga oriundo do Alentejo. Ora bem, como no Alentejo profundo não há amêijoas

e no Algarve as há, fácil é concluir que este prato será Algarvio, o que na realidade

acontece. O antigo manjar local, de amêijoas com carne de porco foi apelidado

deste modo, devido ao facto de a carne dos porcos criados à beira-mar ter um sabor

acentuado e desagradável a peixe, devido aos restos de peixe que consumiam,

circunstância que levava os utentes dos restaurantes a fugir do consumo deste tipo

de carne. Para pôr cobro a esta situação, importavam-se porcos do Alentejo e

anunciava-se em letreiros às portas dos restaurantes «Carne de porco Alentejano»,

situação que com o tempo converteu este anúncio no nome do citado prato.

Com os presuntos e os enchidos Alentejanos de cariz artesanal, acontece algo

similar mas pela positiva, pois o sabor tão apreciado nestes produtos, é-lhes

transmitido pelos ácidos gordos contidos nas bolotas, que devido à característica

dos suínos ibéricos genética de deposição de gordura intramuscular, adquirem

assim um sabor inigualável e muito apreciado.

Devem igualmente salientar-se os famosos presuntos de “Chaves" e de

"Lamego", os quais adquiriram a sua justa fama devido ao facto dos porcos de que

provêm, serem acabados à base de uma alimentação formada por castanhas, cujos

ácidos gordos são os principais responsáveis pelos sabores da sua carne.

Facto análogo se passa com o internacionalmente famoso "Presunto de

Parma" de proveniência Italiana, igualmente proveniente de porcos acabados com

castanhas.

Page 132: Sebenta de Zootecnia

132

5.2.2- COMPORTAMENTO REPRODUTIVO

As fêmeas dos suínos domésticos são politocas (têm ovulações e partos

múltiplos) e poliéstricas (cios múltiplos ao longo da época reprodutiva), de ovulação

espontânea, com reprodução não estacional, estando aptas para reproduzir-se ao

longo de todo o ano, processo que é somente interrompido pela gestação ou

disfunções endócrinas (McDonald, 1975 ; Hafez, 1988).

Puberdade

O aparecimento da puberdade é influenciado pela raça, nível nutricional, peso

corporal, estação do ano, doenças, parasitismo e práticas de maneio (Hafez, 1988).

As fêmeas atingem a puberdade entre os 190 e os 250 dias de vida enquanto que

os machos a atingem dos 150 aos 180 dias, aumentando a produção de sémen até

aos 18 meses (McDonald, 1975).

A fertilidade das fêmeas mantém-se por um período de 6 a 10 anos em regra,

altura a partir da qual se fazem sentir os sinais de senilidade que começam a afectar

a função ovárica (McDonald, 1975).

Os ciclos éstricos repetem-se de 19 a 23 dias, com média de 22 dias, sendo

mais curtos nas fêmeas jovens. O período do cio vai de 40 a 60 horas, tendendo

nas fêmeas jovens a ser mais curto que nas porcas adultas. A raça, a estação do

ano e anormalidades endócrinas afectam a duração do cio (McDonald, 1975 ;

Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

Ciclo éstrico

Os sinais de que uma porca está em cio, são caracterizados por uma mudança

de comportamento em que os animais mostram inquietação, montando outros

animais da mesma espécie, apresentando a vulva congestionada e com descargas

de muco (McDonald, 1975 ; Hafez, 1988).. Um sinal inequívoco de que uma porca

está em cio é o facto de se imobilizar perante uma forte pressão exercida no dorso

(por exemplo o peso do tratador sentado sobre o dorso), fenómeno usado de forma

muito comum, na prática da monta dirigida e em alguns casos na inseminação

artificial (Hafez, 1988).

A ovulação tem lugar de 38 a 42 horas depois do começo do cio, acontecendo

cerca de 4 horas mais cedo nas multíparas que nas primíparas. O número de óvulos

libertados em cada cio está associado com a raça, número de cios, idade à cobrição

Page 133: Sebenta de Zootecnia

133

e peso à cobrição (Hafez, 1988). O número de óvulos regista um aumento até ao

terceiro cio, não tendo sido observados aumentos nos cios subsequentes

(McDonald, 1975; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

A fertilidade dos suínos é geralmente elevada, superior a 90 %, verificando-se

amiúde mortalidade embrionária. Os embriões mortos nos primeiros estágios da

gestação são absorvidos, ocorrendo abortos se a morte embrionária se verifica

depois dos 50 dias de gestação (Hafez, 1988).

Gestação

A gestação nas porcas tem uma duração média de 114 dias (três meses, três

semanas e três dias), dependendo esta duração do número de fetos do número do

parto e da idade da fêmea, entre outros factores. Normalmente as porcas têm dois

partos por ano (McDonald, 1975 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

Os tipos de reprodução praticados em suínos, são a monta natural e a

inseminação artificial.

Monta natural - este tipo de reprodução é praticada quase de modo universal, nos

sistemas extensivos. A modalidade mais utilizada nestes sistemas é a monta em

liberdade, utilizando-se um varrasco para 10 porcas.

Em explorações intensivas sempre que se verifica a monta natural, esta é

praticada na modalidade de monta dirigida, dado que o varrasco está numa boxe, à

qual se leva a porca logo que é detectado o cio pelo tratador, com base nos sinais

evidenciados pelo animal.

Inseminação artificial - este tipo de reprodução é utilizado em sistemas intensivos

de produção de porcos, sendo o seu procedimento nesta espécie similar em termos

gerais, aos referidos nos capítulos das espécies já estudadas.

5.3- RAÇAS DE SUÍNOS PORTUGUESAS

5.3.1- BÍSARA - é uma raça do tipo céltico, corpulenta, de dorso longo e convexo,

testa curta e chata, tromba comprida, orelhas grandes e pendentes sem cobrir

os olhos, de esqueleto espesso e pernas altas, sendo uma raça pouco

precoce, mesmo tardia e de difícil engorda.

Page 134: Sebenta de Zootecnia

134

O seu desenvolvimento completa-se somente por volta dos dois anos e

meio a três anos, atingindo pesos de carcaça da ordem dos 250 kg, com um

rendimento em carne magra de cerca de 50 %. É muito apreciada pela textura

da sua carne, pela sua prolificidade e corpulência.

Esta raça que dominou em toda a região a norte do rio Tejo, vive bem

quer em pocilgas quer em liberdade restrita, sendo tradicionalmente explorada

para consumo familiar, em número reduzido de animais, grande parte das

vezes somente um, aproveitando os restos da alimentação humana, a erva dos

lameiros, onde lhe permitem andar e umas quantas batatas cozidas, bem

como abóboras e outros legumes de sobra da alimentação familiar,

contribuindo esta alimentação pobre para a dificuldade em engordar.

Fig. 38 - Porco de Raça Bísara Porca e Leitões da Raça Bísara

Nas regiões em que predomina o castanheiro, estes animais são

acabados a castanha, o que confere uma grande qualidade à carne e aos

produtos com ela obtidos.

A raça Bísara Portuguesa tem duas variedades que são a Galega, de côr

branca predominando na raia Minhota e a Beiroa em geral de côr malhada e

disseminada por Trás-os-Montes, Beiras e Estremadura.

Esta raça em Portugal esteve praticamente à beira da extinção, devido a

ter sido submetida a cruzamentos, e ainda à concorrência das raças selectas

estrangeiras, possuidoras de melhores características produtivas,

nomeadamente mais precoces, e de fácil e rápida engorda. O aumento e

disseminação do uso dos alimentos concentrados, permitindo a obtenção de

Page 135: Sebenta de Zootecnia

135

animais mais pesados e com melhores características de carcaça, concorreu

igualmente de maneira decisiva para o abandono progressivo desta raça, em

benefício das raças estrangeiras.

Actualmente está a decorrer um programa de recuperação da raça,

patrocinado pela Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, que pensa-se

vir no médio prazo a reabilitar definitivamente esta raça tão característica do

Norte do País.

5.3.2- ALENTEJANA - apesar de como tal ser tratada, não se pode dizer de modo

absoluto que esta raça seja Portuguesa, dado que também existe em

Espanha, sendo aí estes animais designados de "Cerdo Ibérico".

Os animais desta raça registam uma certa variabilidade fenotípica,

sobretudo no tocante à côr, que pode ser preta ou avermelhada, à existência

ou não de número considerável de cerdas e à existência de maior ou menor

número de pregas de pele.

Fig. 39 – Porca aleitante da Raça Alentejana Porca com leitões da Raça Alentejana

São animais de estatura média, harmoniosos, deficientes em

comprimento e altura, com cerdas de comprimento médio, finas, pretas,

castanhas ou ruivas, de dorso curto, linha dorso-lombar rectilínea ou

ligeiramente enselada.

Possuem garupa curta, pouco larga e descaída em demasia e coxas de

deficiente espessura e comprimento, insuficientemente descidas, membros de

ossos delgados e curtos e patas medianamente desenvolvidas com unhas

rijíssimas.

Page 136: Sebenta de Zootecnia

136

São animais de deficiente precocidade, baixa prolificidade (5 a 6 leitões

por parto em média), com medíocre capacidade de aleitamento, baia

velocidade de crescimento e altos índices de conversão.

Fig. 40 – Porcos da Raça Alentejana na fase de acabamento

A carne dos animais desta raça é contudo possuidora de extraordinárias

qualidades organolépticas, que lhe são conferidas pela existência de gordura

intermuscular e sobretudo intramuscular, característica que lhe transmite

sapidez inigualável para consumo em fresco e sobretudo para a confecção de

produtos de salsicharia.

Fig. 41 – Porcos da Raça Alentejana em “Montanheira”

Engordam facilmente, possuindo uma capacidade de ingestão e

transformação tal, que podem duplicar o seu peso vivo num curto período de

60 a 80 dias. Cerca de 55 % do peso da carcaça pode ser constituído por

Page 137: Sebenta de Zootecnia

137

gordura (toucinho e banha), obtendo-se deste modo um baixíssimo rendimento

em carne.

No entanto e não obstante as características produtivas pouco favoráveis

atrás enunciadas, estes animais são possuidores de uma adaptação

inigualável às condições de alimentação e maneio a que têm sido sujeitos ao

longo de séculos.

Este suínos, são detentores de uma grande capacidade de

movimentação em pastoreio, de busca de água e alimento e de uma especial

capacidade para seleccionar a bolota, bem como descascá-la.

A sua adaptação ao campo é tal, que inclusivamente utilizam até as

zonas mais declivosas, possuindo uma rusticidade somente superada pelo

javali.

Características da raça :

Peso nascimento 1,250 kg

Peso aos 56 dias 10,450 kg

Peso adulto médio dos machos 150 – 180 kg

Peso adulto médio das fêmeas 110 – 130 kg

Prolificidade 6,24

Idade 1.º parto 12 a 14 meses

O produto final o "porco gordo", é consequência de três factores

principais :

a - Marcada tendência da raça para depositar gordura, a qual chega a

constituir 55 % da carcaça

b - Alimentação desequilibrada, pobre em proteína e fibra e muito rica em

hidratos de carbono, a qual deprecia a formação de músculo

c - Engorda tardia, quando o animal já é adulto, facto que impossibilita

qualquer incremento da sua massa muscular

Esta raça é tradicionalmente explorada desde tempos imemoriais, em

sistema extensivo, com abate entre os 18 e os 24 meses e apesar da

inigualável aptidão para rentabilizar os pobres recursos dos ecossistemas dos

montados de sobreiros e de azinheiras, tem vindo a desaparecer

progressivamente, mau grado a alta qualidade dos produtos de caracter

Page 138: Sebenta de Zootecnia

138

artesanal elaborados com a sua carne, nomeadamente o presunto hoje

denominado de "Pata Negra".

A diminuição drástica da raça Alentejana verificada nas décadas de 60,

70 e 80 do século XX não pode imputar-se a uma única causa, mas sim a

várias causas, contando-se entre elas:

1-a mudança de hábitos alimentares das populações, que reduziu

drasticamente o autoconsumo de porcos, devido ao cada vez mais reduzido

consumo de gordura, provocando forte descida das matanças familiares, ao

mesmo tempo que crescia a procura de novos produtos de salsicharia

industrial como fiambres, mortadelas, etc.;

2-o crescente desflorestamento sofrido pelos montados de azinheiras, cujos

terrenos foram hipotecados à cultura cerealífera, inserido numa política de

auto-suficiência de cereais, implementada no nosso País, que ficou

conhecida como “Campanha do Trigo”;

3-o encurtamento dos ciclos produtivos, com a utilização de raças estrangeiras

em regime extensivo, com abates a idades entre os 9 e os 12 meses;

4-a mecanização dos processos agrícolas, com diminuição do valor alimentar

dos restolhos e consequente aumento dos custos de produção de porcos de

raça Alentejana, devido ao ciclo de produção mais longo próprio desta raça,

frente às raças estrangeiras mais precoces, mais magras, e de maior

rendimento em carne, o que levou à consequente depreciação dos porcos de

côr escura;

5-a perda de rentabilidade dos montados, devido ao aparecimento da Peste

Suína Africana, que motivou a substituição do sistema extensivo por sistemas

de exploração intensiva em confinamento, nos quais as raças estrangeiras

são muito mais eficientes que a raça Alentejana.

A Peste Suína Africana é uma doença causada por um vírus cujas

características não permitem o uso de vacinas e cujo hospedeiro

intermediário é uma carraça, mais propriamente um ixodídeo, o

Page 139: Sebenta de Zootecnia

139

Ornithodorus erraticus, o qual tem fácil acesso aos porcos em regime

extensivo, sendo nestas condições impossível travar a disseminação desta

doença, que causa 100 % de mortalidade. Como meio de limitar os efeitos

drásticos e totais desta doença nos suínos, confinaram-se estes em pocilgas

fechadas, sendo a raça Alentejana neste sistema, claramente desvantajosa

frente a raças de suínos seleccionadas neste ambiente (Botija, 1963 a, b;

Botija e Botija 1965; Botija, 1982).

Actualmente, a situação da raça Alentejana é muito diferente, estando de

novo em recuperação, devido a circunstâncias relacionadas com a PAC

(Política Agrícola Comum) e à importância dada às raças tradicionais, situação

a que se alia o apreço atribuído aos produtos regionais de cariz artesanal e de

qualidade comprovada.

5.4- RAÇAS SUÍNAS ESTRANGEIRAS DE MAIOR DIFUSÃO

As raças suínas de maior importância a nível da produção mundial são a

"Large White", a "Landrace" e a "Duroc Jersey", sendo no entanto também objecto

deste estudo, devido suas características morfológicas e seu uso em cruzamento

com raças autóctones nalguns países, a raça "Piétrain".

5.4.1- LARGE WHITE - é uma raça Inglesa oriunda do Condado de York o qual deu

o nome à raça inicial. Os porcos autóctones sofreram a influência de porcos

Chineses e Napolitanos, nos finais do século XIX., tendo levado o resultado

destes cruzamentos e a consequente e contínua selecção morfológica, ao

estabelecimento de dois agrupamentos raciais :

Yorkshire - porcos brancos ou malhados de orelhas erectas e grande

desenvolvimento;

Leicestershire - porcos negros apresentando maior influência das raças

estrangeiras citadas.

Page 140: Sebenta de Zootecnia

140

Fig. 42 – Varrasco da Raça Large White Porca da Raça Large White

Do cruzamento entre animais oriundos destes agrupamentos raciais

surgiram três tipos de porcos : Small White ; Middle White ; Large White.

O tipo Large White hoje tratado como raça, consolidou-se e expandiu-se

em toda a Europa e EUA, constituindo actualmente 50 % dos reprodutores da

Europa Ocidental.

Possuem perfil côncavo, orelhas erectas, grande volume, linha dorso-

lombar recta, boa morfologia dos terços anterior e posterior, bons aprumos,

patas curtas, mamas bem implantadas com o mínimo de 6 de cada lado e

grande perímetro toráxico.

Características da raça :

Peso médio dos machos 400 a 500 kg

Peso médio das fêmeas 280 a 350 kg

Média de leitões desmamados/ano 20,2

Índice de conversão 2,7

Ganho médio diário dos 35 aos 90 kg 880 g

As carcaças dos animais desta raça são do tipo "pork", não sendo bem

conformadas, e não satisfazendo totalmente as exigências do mercado, pois

são espessas, relativamente curtas e sobretudo com "pouco presunto".

No entanto os porcos desta raça possuem muitas características

favoráveis, como as excelentes qualidades maternais, facilidade de adaptação,

boa rusticidade, altas fecundidade e fertilidade e boa qualidade da carne, pelo

que são muito utilizados em cruzamentos duplos, para obtenção de fêmeas

híbridas para reprodução, as quais por sua vez são cruzadas com varrascos de

outras raças.

Page 141: Sebenta de Zootecnia

141

5.4.2- LANDRACE - é uma raça de animais brancos, de origem Dinamarquesa,

resultante de cruzamentos e posterior selecção entre as raças de suínos

existentes naquele país. Foi exportada para toda a Europa, EUA e Canadá,

podendo dizer-se que uma grande parte dos animais em produção intensiva no

Mundo, possuem sangue Landrace.

Fig. 43 – Varrasco da Raça Landrace Porca gestante da Raça Landrace

Possuem perfil sub-côncavo, orelhas grandes, caídas, geralmente

tapando os olhos, linha dorso-lombar recta, excelente morfologia dos terços

anterior e posterior e pequeno perímetro torácico. Atingem um alto nível de

produção e são sexualmente muito precoces. A sua silhueta é afilada no

sentido dos anteriores e comprida, características apreciadas por muitos

criadores.

A característica que mais se destaca nesta raça é o comprimento,

havendo animais que possuem 16 e inclusivamente 17 pares de costelas,

existindo inclusivamente uma estirpe de origem Alemã denominada "Europa

16", devido a possuir 16 pares de costelas.

Características da raça :

Peso médio dos machos 350 a 450 kg

Peso médio das fêmeas 260 a 300 kg

Média de leitões desmamados/ano 19,7

Índice de conversão 2,8

Ganho médio diário dos 35 aos 90 kg 845 g

A carcaça dos animais desta raça é muito comprida, pouco gorda, muito

bem conformada, possuindo excelente desenvolvimento das massas

Page 142: Sebenta de Zootecnia

142

musculares dos terços anterior e posterior, sendo claramente uma carcaça de

tipo "bacon".

Pelas suas boas características é muito usada em cruzamentos quer

industrial, quer em cruzamento duplo, para obtenção respectivamente de

produtos para o talho e reprodutoras híbridas.

5.4.3- PIÉTRAIN - raça de origem Belga, possuindo os animais côr branca, com

grandes manchas negras e cinzentas, as quais dão um aspecto azulado a

certas partes do corpo. Possuem boa precocidade baixa e prolificidade (16

leitões desmamados/porca/ano).

Distinguem-se sobretudo pelo seu comprimento e pelas massas

musculares muito redondas, tanto no terço posterior como no anterior,

assumindo na porção caudal dos membros posteriores o aspecto designado de

"cullote" (grande desenvolvimento das massas musculares dando aspecto de

ter umas cuecas vestidas, daí o termo).

Os animais desta raça dão um grande rendimento quer de carcaça quer

em carne, devido à pouca quantidade de gordura subcutânea, intermuscular e

intramuscular, representando o expoente máximo das raças "bacon".

Fig. 44 – Varrasco da Raça Piétrain Porca gestante da Raça Piétrain

Apesar de todas as características apontadas, esta raça não está tão

difundida como seria de supor, pois além da baixa prolificidade, requer um

maneio difícil e devido à baixa quantidade de gordura que possui, a sua carne

é baixa qualidade, dura e de textura bastante "seca".

No entanto esta raça é muitas vezes utilizada em cruzamento duplo,

como elemento da linha macho, sendo cruzada com fêmeas de raças de

grande crescimento, boa qualidade da carne e boa prolificidade.

Page 143: Sebenta de Zootecnia

143

5.4.4- DUROC JERSEY – raça de origem Norte Americana, de côr avermelhada a

avermelhada escura, de aptidão mista, não podendo considerar-se uma raça

do tipo "pork" nem tampouco do tipo "bacon", sendo assim passível de ter as

duas utilizações.

Fig. 45 – Varrasco da Raça Duroc-Jersey

Teve origem em múltiplos cruzamentos de porcos americanos,

descendentes das raças Inglesas de tipo antigo e moderno, nos quais também

intervieram porcos ibéricos importados de Portugal e de Espanha. Os animais

oriundos do nosso País, eram da antiga linha “Ervideira”, os quais tinham

cerdas fartas e avermelhadas, razão pela qual alguns autores atribuem a cor

avermelhada dos animais Duroc Jersey a estes ancestrais.

Os produtos desses cruzamentos foram posteriormente sujeitos a uma

apurada selecção, possuindo hoje esta raça boa rusticidade, boa resistência

ao calor e uma carcaça muito magra, com um bom desenvolvimento muscular.

Actualmente animais desta raça, são utilizados em cruzamento com

animais de raça Alentejana, na tentativa de obter carcaças mais magras e

melhor conformadas, com maior "presunto". No entanto o cruzamento tem um

impacto negativo na qualidade do produto final, pois a carne dos animais

cruzados tem nítidas desvantagens organolépticas, quando comparada com a

dos animais de raça Alentejana, facto que como é lógico resulta numa menor

qualidade dos produtos com ela elaborados.

Apesar deste facto, experiências efectuadas por investigadores

espanhóis, provaram que a carne dos animais possuidores de sangue de

Page 144: Sebenta de Zootecnia

144

Duroc-Jersey numa percentagem não superior a 25 %, mantinha quase

intactas as características organolépticas indispensáveis para a confecção de

produtos artesanais de alta qualidade. Por este facto, é permitido pela lei

daquele país, a produção de híbridos, na citada proporção, destinada à

confecção de produtos designados de “Ibérico”. Este fenómeno tem maior

expressão em Espanha que em Portugal, pois a produção e o consumo deste

tipo de animais é muito superior no país vizinho.

5.5- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS

Os suínos são sobretudo explorados em sistemas intensivos e extensivos.

5.5.1- Sistema Intensivo

Em produção animal, qualquer sistema que vise uma intensificação (maior

quantidade de produto por unidade de área) sujeita os animais a um ambiente

artificial, confinado, promiscuo, muito diferente das condições naturais e por isso

conducente a situações de "stress".

Os animais estabelecem entre si hierarquias sociais, em que uns são

"dominantes" e outros são "dominados", sendo estes fortemente prejudicados pelos

"dominantes", devido à exiguidade das instalações que os obriga ao convívio

estreito.

Neste sistema existem explorações que se dedicam a vários fins, dependendo

das condições existentes nas regiões onde estão implantadas :

- explorações para produção de reprodutores de alto rendimento, em linha pura

ou cruzamento

- explorações produtoras de leitões destinados a engorda

- explorações de recria e engorda que compram animais às explorações de

tipo anterior

- explorações de ciclo fechado que executam todas as operações dos três

tipos anteriores

Para garantir o êxito de uma exploração intensiva, temos que ter instalações

em que o ambiente seja totalmente controlado nomeadamente em relação a:

Page 145: Sebenta de Zootecnia

145

- Temperatura - é um factor fundamental nas pocilgas, devendo manter-se

constante, variando o seu valor de 10 a 15 ºC em instalações de

reprodutores, 15 a 18 ºC em engorda e de 24 a 30 ºC em leitões, variando

neste caso as necessidades térmicas na razão inversa da idade. Para manter

a temperatura é necessário isolar paredes, tectos, pavimentos, portas e

janelas, havendo ainda necessidade de sistemas de aquecimento e de

sistemas conducentes a um abaixamento da temperatura sempre que

necessário.

- Humidade relativa - é um factor bastante importante, possibilitando o seu

controlo, evitar a existência de ambientes muito húmidos ou demasiado

secos. A condensação, formada em condições de humidade relativa elevada,

deve-se evitar a todo o custo visto criar condições favoráveis ao

desenvolvimento de fungos e de outros microorganismos, passíveis de

conduzir nomeadamente ao aparecimento de afecções respiratórias.

Por outro lado, ambientes muito secos conduzem a um aumento do

consumo de água e diminuição do consumo de ração, com consequências

desastrosas ao nível dos desempenhos produtivos.

Por estas razões é imperioso manter a humidade relativa entre valores,

que permitam evitar as situações atrás apontadas, valores esses que

dependem do tipo de animais utilizados (reprodutores 60-70 %, leitões 60 % e

animais em fase de engorda 60-80 %)

- Ventilação e velocidade de circulação do ar - são factores fundamentais no

controlo da temperatura e da humidade relativa, bem como das emanações

de amoníaco, provenientes das fezes e urina e de dióxido de carbono,

proveniente da respiração. A ventilação é conseguida com recurso a técnicas

de construção (ventilação natural) e a forçagem de ar (ventilação artificial),

devendo evitar-se a ocorrência de correntes de ar, que provocam

abaixamentos da temperatura e desconforto que se reflectem igualmente nos

desempenhos produtivos.

- Iluminação - é feita naturalmente (janelas, painéis, clarabóias) e

artificialmente (lâmpadas).

Page 146: Sebenta de Zootecnia

146

- Disponibilidade de água e alimentos - administrados segundo os esquemas

de maneio sendo a água ad libitum por meio de bebedores automáticos. A

alimentação dos animais explorados em sistemas intensivos deve ser rica em

energia, proteína, minerais e vitaminas, devendo proporcionar todos os

nutrientes necessários a um rápido crescimento e grande desenvolvimento

muscular.

- Todas as condições que interditem o acesso a insectos, roedores e outros

animais, inclusivamente o Homem, devendo existir no acesso às instalações

rodilúvios e pedilúvios, respectivamente para automóveis e pessoas (tanques

contendo líquido desinfectante pelos quais passam), redes mosqueiras nas

janelas e demais aberturas, devendo ser fortemente condicionado o acesso a

estranhos, pois todos os intrusos são passíveis de actuarem como veículos

de diversas doenças.

Por todas estas razões, os sistemas intensivos exigem um maneio cuidado e

difícil, com custos elevados, sendo de primordial importância ter instalações

apropriadas e usar animais com boa capacidade de adaptação a estas condições,

tão diferentes das condições naturais.

Para que sejam plenamente utilizadas as potencialidades de um sistema deste

tipo, é necessário "fabricar" o maior número de quilogramas de porco possível por

unidade de tempo, rentabilizando ao máximo as instalações. Estas são diferentes na

sua estrutura interna, tipo de maneio, valores de temperatura e de humidade

relativa, etc. segundo o tipo de produção :

- instalações de reprodutores - neste tipo de instalações tem que haver

instalações para machos, fêmeas vazias e fêmeas em gestação, existindo

necessariamente uma maternidade. As instalações destes animais, estão

separadas por categorias devido às necessidades específicas de cada grupo.

O arranjo interior de cada um destes tipos de instalações é diferente segundo

o conceito geral da instalação.

- instalações de recria - os leitões ficam com a mãe um período de tempo que

está dependente do tipo maneio e que pode ir de 21 a 60 dias, embora o

período mais corrente seja 30 a 35 dias. Após este tempo os leitões passam

Page 147: Sebenta de Zootecnia

147

ao período de recria, na mesma empresa onde nasceram ou noutra que se

dedique exclusivamente a compra de leitões para recria e engorda. A recria

estende-se até aos três meses, atingindo os animais no final desta fase

pesos da ordem dos 30-35 kg.

- instalações de engorda - a engorda pode durar em média até aos 6 meses de

idade, com pesos de 90 a 100 kg, sendo por vezes mais curta, atingindo os

animais neste caso pesos de 65 a 80 kg.

O peso a que os animais são abatidos é fortemente influenciado pelo

gosto dos consumidores, que ao preferirem carcaças mais leves ou mais

pesadas, condicionam a idade ao abate e consequentemente o seu tempo de

permanência na exploração, embora existam fortes razões económicas

radicadas na rentabilização das instalações, que limitam o tempo que os

animais podem permanecer nestas.

Os animais usados em Sistemas Intensivos pertencem a raças bem

conformadas, precoces, com fertilidade e prolificidade altas e boa capacidade de

adaptação a regimes confinados

Embora se possam utilizar raças puras na produção de animais para o abate, o

mais corrente é a produção de híbridos de duas ou três raças, usadas

respectivamente em cruzamento industrial e duplo, havendo certas vantagens em

relação às raças puras.

As porcas utilizadas em cruzamento duplo são híbridos F1, que são

posteriormente cruzadas com varrascos de outra raça, na busca das características

mais rentáveis, em função da procura de mercado (tipo de cruzamento está descrito

no Cap. 1).

Como exemplo usaremos uma situação em que se pretende obter porcos tipo

"bacon", com grande precocidade, pesos altos, carcaças magras, carne de boa

qualidade e em grande número. Iremos cruzar varrascos da raça "Land Race" com

porcas "Large White", para obter fêmeas híbridas com boa prolificidade, compridas,

de peso alto, boa qualidade da carne e carcaça mista "pork" / "bacon". Ao

cruzarmos estas fêmeas F1 com varrascos "Piétrain" de carcaça magra e má

qualidade da carne, vamos obter maior número de leitões, pois as porcas têm boa

prolificidade que lhe veio da raça mãe; grande precocidade de ambos os pais; peso

Page 148: Sebenta de Zootecnia

148

alto por parte da linha mãe; carcaças compridas por parte da linha mãe; carcaças

magras tipo "bacon" da linha pai e carne de melhor qualidade por parte da linha

mãe.

5.5.2- Sistema Extensivo

É um sistema em que os animais vagueiam pelos campos em busca de

alimento, recolhendo por vezes a um curral para passar a noite, regressando ao

campo pela manhã. Baseia-se no aproveitamento dos recursos naturais existentes

em grandes superfícies, de forma natural ou melhorada pelo Homem, como os

restos de culturas aproveitados durante o Verão, a poda dos montados, etc. sendo

característica deste sistema o consumo directo ou "a dente", como é igualmente

conhecido. O sistema tradicional de produção de porcos para abate, utilizado no

Alentejo e conhecido por "montanheira", é perfeitamente enquadrado neste

conceito.

Exceptuando quaisquer culturas específicas efectuadas para esse efeito, o

sistema extensivo em montado proporciona aos animais erva durante a Primavera,

que funciona como ração de manutenção, o aproveitamento dos restos das culturas

de cereais conhecidas como "restolhos", que são um recurso muito importante no

Verão e a bolota, fruto fornecido pelas Quercíneas, que são no Alentejo a azinheira

(Quercus rotundifolia), o sobreiro (Quercus suber) e o carrasco (Quercus lusitanica),

cuja maturação acontece de Outubro a Fevereiro.

Além dos recursos apontados, os porcos em regime de pastoreio consomem

uma grande variedade de alimentos quer de origem animal, como caça miúda,

ninhos, répteis, batráquios, insectos, vermes, gastrópodes, cadáveres, etc. quer de

origem vegetal, como todos os frutos, grãos, sementes, bolbos e raízes, quer ainda

outros alimentos como cogumelos e outros fungos.

5.5.2.1- Caracterização do animal obtido neste sistema

A raça indissociável deste Sistema e ao mesmo tempo produto dele,

rentabilizando os seus recursos como nenhuma outra é a "Alentejana".

No sistema extensivo a cobrição é efectuada, de modo que os partos se

realizem numa altura que permita o abate dos animais engordados em montanheira,

Page 149: Sebenta de Zootecnia

149

isto é de Dezembro a Fevereiro, com idades que vão dos 10 meses (portanto com

uma só montanheira) até aos 18-20 meses (com duas montanheiras).

O desmame faz-se usualmente aos 45 dias, com pesos entre 13 e 17 kg.

Cerca de um mês a mês e meio mais tarde, período durante o qual os leitões têm

uma alimentação à base de rações e aumentam o seu peso até aos 23 a 26 kg,

entra-se na fase da recria.

A recria é a fase que medeia entre o peso de cerca de 25 kg e a fase de

engorda. É um período extraordinariamente importante, pois é nesta fase que se

desenvolve o esqueleto do animal. Um porco bem recriado, deve ser um animal

comprido e magro, de ventre recolhido, submetido ao pastoreio e com desenvolvido

hábito de procurar o alimento no campo, exercitando deste modo a sua

musculatura.

A engorda é a última fase da vida do animal, a mais transcendental de todo o

processo, dependendo sobretudo dela, a qualidade atingida pelos produtos

elaborados com a sua carne, quer sejam frescos ou curados.

Como foi referido quando do estudo desta raça, a presença de grande

quantidade de gordura nas carcaças de porcos da raça Alentejana, deve-se além de

características genéticas desta raça, a características inerentes à espécie suína.

Obtêm-se deste modo animais com pesos que chegam aos 180 kg, um terço dos

quais é adquirido nos últimos 2 ou 3 meses de vida, durante a engorda em

montanheira.

Entre as razões conducentes a uma grande deposição de gordura durante a

fase da engorda, avultam o estado de enfraquecimento dos animais em termos

nutricionais, os quais quando submetidos a uma alimentação final intensa,

experimentam reposições diárias muito elevadas, bem como uma alimentação

deficiente em aminoácidos essenciais, pobre em fibra bruta e rica em lípidos e

hidratos de carbono, contribuindo em última análise, para canalizar grande parte da

proteína ingerida para a produção de gordura, além da produção de gordura,

motivada pela ingestão de grandes quantidades de hidratos de carbono lípidos.

5.5.2.2- Instalações

As instalações para reprodutores, para a recria e para a engorda são

diferentes das existentes no sistema intensivo. Assim temos :

- Instalações para reprodutores - podem ser de três tipos :

Page 150: Sebenta de Zootecnia

150

Sistema de "Camping" - com pequenas cabanas de secção triangular em

chapa galvanizada, com uma densidade de 10 cabanas por hectare no

interior de uma cerca, em que os leitões acompanham a mãe;

Sistema Funcional - com celas de alvenaria no interior de um pavilhão de

uma nave, com pequenos currais exteriores para exercício dos leitões;

Sistema Moderno - com estabulação permanente das fêmeas reprodutoras,

monta dirigida ou inseminação artificial, desmames precoces, etc. em tudo

similares às explorações intensivas de raças selectas;

- Instalações para animais de recria e engorda, que podem ser de

variadíssima natureza, constando usualmente de um telheiro fechado de três

lados, aberto na frente e com parque descoberto anexo.

5.6- PRODUÇÃO DE CARNE

A produção Mundial de carne de suíno estimada, é de cerca de 56 milhões de

toneladas, num total de cerca de 112 milhões de toneladas (número no qual não

figura a produção de carne de aves e coelhos, sendo assim responsáveis por este

número os bovinos, ovinos, caprinos e suínos ) (FAO, 1991), cifra que representa 50

% do total da carne produzida no Mundo.

Este facto é tanto mais espectacular se nos lembrarmos que 50 % da carne, é

produzida por 25 % do efectivo mundial de grandes animais, o que só é possível

pela prolificidade, velocidade de crescimento e elevado rendimento de carcaça

desta espécie.

O porco proporciona mais pratos comestíveis que qualquer outra espécie

animal. A carcaça de suíno possui grande quantidade de gordura, composta pela

gordura de cobertura designada "toucinho", a gordura cavitária chamada "banha",

além da gordura intermuscular e da gordura intramuscular.

Na carcaça estão incluídos a cabeça, rabo e patas, apresentando-se dividida

em duas meias carcaças estando a cauda na meia carcaça direita. As carcaças de

suíno são classificadas de acordo com uma Grelha Normativa Comunitária em cinco

Page 151: Sebenta de Zootecnia

151

classes, em função da sua conformação, comprimento e espessura de toucinho no

dorso.

A composição da carne de suíno pode variar, dependendo essa variação de

factores intrínsecos como a raça sexo, idade, parte da carcaça considerada, etc. e

de factores extrínsecos como o habitat, o maneio e a alimentação, entre outros.

Entre os factores intrínsecos, a raça é o factor de maior influência na

composição da carne, sobretudo no que se refere à quantidade de gordura, que é o

componente com maior peso em termos de sapidez. A quantidade de gordura é

sempre maior nas raças que não foram submetidas a selecção ou que o foram em

pequeno grau.

Na linguagem específica internacional, a carne de porco fresca é denominada

"pork" e uma vez elaborada ou curada é denominada "bacon". Estas designações

levaram com o tempo, a que as raças de porcos mais preparadas para produzir

cada um destes tipos de carne, tivessem adquirido a mesma designação do tipo de

carcaça que produzem.

Hoje, devido à procura crescente de carcaças magras, o mercado está virado

em grande parte para as carcaças de raças tipo "bacon", tanto para consumo em

fresco, como para indústria.

Dentro das carcaças de suínos, temos que distinguir entre carcaças

provenientes de raças com aptidão para a elaboração de produtos industriais, como

fiambres (da perna e da pá), mortadela, salsichas, filete afiambrado, galantina,

chouriços industriais, paio de lombo, bacon, presuntos, etc. e as carcaças

provenientes de raças com aptidão para a elaboração de produtos de cariz

artesanal, os quais embora possam ser produzidos em instalações industriais,

reproduzem na sua essência os processos artesanais.

As raças que produzem carcaças com um alto rendimento em peças nobres e

logicamente em carne, são preferidos pelos empresários da Indústria de Salsicharia

e Charcutaria. As peças nobres são neste caso, as que contêm as massas

musculares dos membros anteriores e posteriores, e ainda os músculos que formam

o lombo. São designadas de “nobres”, por serem as que possuem maior qualidade

em termos de peso, textura e sapidez, originando assim maior rendimento em

termos económicos. São estas peças que têm o maior peso no valor da carcaça, e

Page 152: Sebenta de Zootecnia

152

das quais se fazem o fiambre da pá e da perna e ainda o paio de lombo, que são de

longe os produtos mais valorizados.

Todas as outras peças que se podem retirar de uma carcaça de porco vão

entrar na confecção de produtos menos valorizados. Assim o toucinho da barriga

(músculos da parede abdominal e a gordura que os reveste) é utilizado na

confecção de bacon, enquanto todas as partes magras restantes e grande parte da

gordura, vão entrar na confecção de mortadela, salsichas, filete afiambrado,

galantina, chouriços industriais, etc. produtos de menor preço, sendo deste modo

muito menos valorizadas.

Os porcos de raças selectas, criados em explorações intensivas são

particularmente indicados para a confecção de produtos industriais de origem não

artesanal, devido ao facto de possuírem carcaças mais magras e com maior

rendimento em carne mas de pior qualidade da carne, menos sápida, sendo estas

características sobretudo de origem rácica.

Para o fabrico de produtos de cariz artesanal de qualidade reconhecida, estão

indicadas as carcaças provenientes de porcos de raças autóctones, que possuem

grande infiltração de gordura nas massas musculares e um inevitável excesso de

gordura de cobertura. Este facto que parece à primeira vista paradoxal, baseia-se no

facto de a gordura intramuscular, ser a principal responsável pelo sabor da carne.

Os produtos de origem artesanal por excelência são os presuntos da perna, os

presuntos da mão (chamados paletas) e os paios elaborados com os lombos

inteiros, chamados “canhas de lombo”, por curroptela da designação espanhola.

Se soubermos que os presuntos e as paletas destes animais, representam

respectivamente cerca de 14% e 9% do peso das carcaças, terão estes que ser

muito bem valorizados para que a actividade se mostre rentável, pois que o

toucinho, entrecosto e cabeças são vendidos a preços quase irrisórios para

consumo em fresco. Esta é uma das razões dos elevados preços alcançados pelos

produtos artesanais.

As qualidades gustativas destes produtos artesanais, residem segundo os

peritos, nos processos de laboração sem adição de substâncias químicas (além de

sal), na quantidade e composição e localização da gordura e nos processos

utilizados na maturação a que são sujeitos estes produtos e que faz parte do

processo de cura de cada um deles.

Page 153: Sebenta de Zootecnia

153

Enquanto a distribuição intermuscular e intramuscular relativa da gordura na

carcaça tem uma origem genética, a composição da gordura e a sua riqueza em

determinados ácidos gordos poliinsaturados, nomeadamente o ácido oleico e

linoleico, são motivados pelo tipo de alimentação. Estes dois ácidos gordos

poliinsaturados, constituem marcadores de origem, na actual acreditação destes

produtos, tendo que ultrapassar determinados valores mínimos, para os produtos

poderem ser considerados de origem em bolota. Este facto prende-se com a

condição de monogástricos dos suínos, nos quais recorde-se como característica

fundamental, a passagem ao tecido adiposo dos ácidos gordos, na forma em que

são ingeridos.

Na maturação destes produtos, principalmente dos presuntos e paletas, têm

lugar processos químicos muito importantes, causados nomeadamente pela acção

de fungos com acção lipolítica, assumindo os compostos intermédios resultantes da

lipólise, um papel decisivo a nível das qualidades organolépticas finais.

Como já foi referido, têm vindo a ser efectuados cruzamentos da raça

Alentejana com a raça Duroc Jersey, visando diminuir a percentagem de gordura

na carcaça, e aumentar o tamanho dos membros posteriores e anteriores, na

tentativa de obter maior peso de presuntos, paletas e lombos, o que se por um

lado se consegue, por outro lado desvirtua a qualidade destes produtos quando

provenientes dos animais cruzados, pois as qualidades organolépticas são

diferentes das apresentadas pelos produtos provenientes de animais da raça

Alentejana, ainda que com alimentação idêntica, devido à diferença de deposição

de gordura sobretudo intramuscular, mas também devida à diferente composição

do músculo, características de marcada origem genética (Pereda e Hoz, 1992).

Os presuntos de origem artesanal são constituídos por todo o membro pélvico

ou torácico com o pé e unhas, para supostamente comprovar a autenticidade de

proveniência da raça "Alentejana", visto que as unhas desta raça são negras, por

oposição às unhas da maioria das raças seleccionadas que são brancas, sendo

inclusivamente mais conhecidos pela designação de "pata negra".

O uso da raça Duroc Jersey representa uma vantagem para o vendedor pouco

escrupuloso, pois como os animais são pigmentados, possuem unhas pretas, facto

que possibilita no acto da venda dos presuntos e paletas, reeditar o eterno "gato por

lebre".

Page 154: Sebenta de Zootecnia

154

No entanto como atrás foi dito, é legal em Espanha (Portugal infelizmente não

possui legislação nesse campo), produzir produtos de cariz artesanal, a partir de

porcos híbridos, com 75% de Ibérico e 25 % de Duroc, facto que é motivado pela

pequena alteração da composição do músculo e da distribuição relativa da gordura,

quando este cruzamento é efectuado, em comparação com o Ibérico puro. Mas

apesar de legal, os produtos têm necessariamente de mencionar a raça dos animais

de que provêm, sendo o seu preço diferenciado.

Page 155: Sebenta de Zootecnia

155

6- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE COELHOS

6.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os coelhos domésticos têm a sua origem em exemplares domesticados do

coelho bravo europeu, (Oryctolagus cuniculus) o qual pertence à classe Mammalia,

ordem Lagomorpha e família Leporidae e género Oryctolagus, que compreende

duas subespécies, o Oryctolagus cuniculus cuniculus e Oryctolagus cuniculus

algirus (Ferrand et al., 1998).

A origem do coelho está hoje bem determinada, tendo os primeiros ancestrais

dos lagomorfos surgido na Ásia durante o Paleoceno, há cerca de 55 milhões de

anos, donde se expandiram para a América do Norte, tendo posteriormente

desaparecido do Continente Asiático. Durante o Mioceno surgiram na América do

Norte os primeiros leporídeos de que há vestígios conhecidos, os quais colonizaram

a Ásia através do estreito de Behring, tendo chegado assim à Europa. Neste

Continente há registos fósseis com cerca 5 milhões de anos, situados portanto no

Plioceno.

Os primeiros vestígios atribuídos directamente a Oryctolagus cuniculus,

apareceram há cerca de 900 mil anos no final do Pleistoceno no Sul de Espanha.

Depois da última glaciação esta espécie ficou confinada ao Sul de França e

Sudoeste da Península Ibérica, tendo sido nesta época que se deu a diferenciação

das duas subespécies conhecidas (Câmara, 1998; Ferrand et al., 1998).

Os fenícios chamaram à Península Ibérica “i-shephan-im” que significa “terra

de coelhos”, designação que depois de latinizada pelos Romanos deu origem ao

vocábulo “Hispania“ (Câmara, 1998; Ferrand et al., 1998).

Devido à acção humana esta espécie colonizou toda a Europa, a América e a

Oceânia (Croman, 1997; Ferrand et al., 1998).

A criação de coelhos era outrora uma actividade de tipo familiar, virada para o

autoconsumo e venda dos excedentes vivos, em mercados próximos.

Actualmente a produção de coelhos adquiriu um grande estatuto produtivo,

proveniente de uma orientação industrial da actividade, mercê de trabalhos de

índole genética, zootécnica e económica, que conduziram não só ao melhoramento

das raças existentes, no tocante a velocidade de crescimento, índice de conversão,

Page 156: Sebenta de Zootecnia

156

relação entre as partes posterior e anterior da carcaça, mas também a uma

selecção das raças que possuem uma melhor capacidade de utilização.

O coelho é actualmente um animal de grande interesse do ponto de vista

económico, assumindo tal importância, que a produção de carne de coelho era há

cerca de uma década da ordem de 300.000 toneladas em França, 100.000 ton. em

Itália, 50.000 ton. em Espanha, 30.000 ton. na Alemanha, 20.000 ton. na Inglaterra

e 3.000 ton. na Suíça (FAO,1991).

6.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

6.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

O coelho é um herbívoro monogástrico, com um grande desenvolvimento

intestinal, possuindo um intestino delgado com o comprimento entre 2 e 3 metros e

um intestino grosso que pode atingir até 3 metros no animal adulto. Tem ainda um

ceco bastante desenvolvido, o qual chega a ter uma capacidade de 600 centímetros

cúbicos, volume enorme num animal deste tamanho.

A característica mais marcante do comportamento alimentar desta espécie é

um fenómeno designado de coprofagia, que é um hábito instintivo que consiste no

consumo das próprias fezes. O coelho produz dois tipos de fezes, umas no período

diurno (das 8 às 16 horas) grandes e consistentes e outras no período nocturno (das

16 às 8 horas), pequenas, moles e revestidas de muco, que o animal recolhe

directamente do ânus com a boca. Este procedimento permite-lhe aproveitar ao

máximo as vitaminas do complexo B e o alimento em geral, aumentando a sua

digestibilidade.

O alimento do coelho é constituído por matérias vegetais, que um

monogástrico não pode de modo nenhum aproveitar eficientemente, devido ao facto

de grande parte da digestão da fibra bruta ser efectuada no intestino grosso, que

como é óbvio, possui uma fraca capacidade de absorção de nutrientes, perdendo-se

nas fezes os nutrientes resultantes dessa digestão.

A coprofagia é um comportamento inato, mediante o qual na prática, o coelho

tem a possibilidade de digerir duas vezes o mesmo alimento, conseguindo assim

aumentar drasticamente a absorção dos nutrientes resultantes da primeira digestão.

Page 157: Sebenta de Zootecnia

157

As fezes moles contêm 4 a 6 vezes mais vitaminas do complexo B que as

fezes duras, além de uma maior riqueza em nutrientes que está sintetizada do

seguinte modo :

Fezes Diurnas Fezes Nocturnas

Matéria seca (%) 58,9 29,3

Proteína Bruta (%) 10,7 32,3

Lípidos (%) 2,7 2,2

Fibra Bruta (%) 51,1 28,5

Cinzas (%) 5,2 7,9

(Adaptado de Ruiz, 1980)

Os coelhos consomem de bom grado todas as forragens e produtos hortícolas,

feno, sementes de oleaginosas, sementes de leguminosas e grãos de cereais, não

devendo ser-lhe administrado trigo ou se o fôr, só em pequena proporção, devido

aos transtornos digestivos que lhe provoca.

Este tipo de alimentação pode servir para coelhos destinados ao autoconsumo,

mas nunca para coelhos produzidos em explorações comerciais. A alimentação

neste tipo de explorações deve ser constituída exclusivamente por rações

formuladas e produzidas em fábricas, expressamente para esta espécie, sendo

suposto que o seu conteúdo está de acordo com as necessidades da espécie, para

as diferentes idades e tipos de produção, com as correctas quantidades e

proporções dos diversos nutrientes.

6.2.2- CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS

As fêmeas desta espécie são poliéstricas e politocas, mostrando as formas

selvagens alguma tendência para experimentarem quase que uma reprodução

sazonal, com duas épocas de reprodução principais, uma no fim do Inverno e outra

no início da Primavera. As fêmeas pertencentes a raças domésticas exploradas em

ambiente controlado, mostram actividade reprodutiva ao longo de todo o ano.

Os ciclos éstricos têm a duração de 15 a 16 dias, podendo a fecundação

realizar-se durante 12 ou 13 dias, sendo o primeiro ou os dois primeiros e os dois

últimos dias do ciclo infecundos. A ovulação nesta espécie não é espontânea mas

Page 158: Sebenta de Zootecnia

158

sim induzida, sendo desencadeada pela cópula e ocorrendo 8 a 12 horas após esta,

estando os óvulos em condições de serem fecundados durante 12 horas.

O tempo de gestação das coelhas tem a duração de 29 a 32 dias.

A puberdade nas fêmeas é alcançada nas raças pesadas aos 6-7 meses, nas

raças médias aos 5 meses e nas raças leves e nas híbridas aos 4 meses, enquanto

que nos machos ela é alcançada cerca de um mês mais tarde. Para que se proceda

a um correcto maneio reprodutivo, as fêmeas nunca deverão ser sujeitas à cobrição

com menos de 80 % do peso adulto.

Os machos devem ter uma alimentação de tal ordem que não lhes permita

engordar, pois esse facto faz com que diminuam o ardor sexual

A aceitação do macho pela fêmea verifica-se de uma forma cíclica, cada seis

ou sete dias e durante 1 a três dias.

A cobrição deve fazer-se levando a fêmea à jaula do macho e não o contrário,

pois este ao ser retirado da sua jaula, pode estranhar e não realizar a cópula.

O macho deve realizar dois saltos, devendo o segundo salto ser realizado 15 a

20 minutos após o primeiro, e se possível por um segundo macho, no sentido de

promover uma maior quantidade de óvulos fecundados.

Se a fêmea urinar nos 10 minutos seguintes à cópula, esta não deve ser

considerada válida por haver a possibilidade de os espermatzóides serem

eliminados com a urina. Os melhores momentos para a realização da cópula são ao

nascer e ao pôr do Sol.

Os maiores níveis de fertilidade obtêm-se na Primavera e no Verão.

Os sistemas de cobrição utilizados na produção de coelhos são a monta

dirigida e a inseminação artificial.

A inseminação artificial tem uma dupla vantagem, ao permitir diminuir a

quantidade de machos na exploração e permite fecundar no mesmo dia um grande

número de coelhas, tirando maior proveito de coelhos seleccionados, difundindo

assim as suas boas qualidades.

Uma ejaculação pode ser diluída de modo a fecundar 20 coelhas, pois contém

em média 250 a 300 milhões de espermatzóides, sendo dez milhões suficientes

para a fecundação.

Page 159: Sebenta de Zootecnia

159

A inseminação tem contudo a desvantagem, de muitas vezes ter que ser

totalmente efectuada na exploração, havendo grandes probabilidades de insucesso,

pelo grau de conhecimento técnico que exige.

6.3- CLASSIFICAÇÃO DOS COELHOS

O tamanho é o critério mais utilizado na classificação das raças e suas

variedades, dependendo do tamanho do esqueleto. O peso reflecte o crescimento

do todo ou de parte dos tecidos, devendo sempre tender para um perfeito equilíbrio

estrutural do animal, o qual mostra impressas na sua aparência, as suas faculdades

produtivas e de adaptação.

Em função do seu tamanho, os coelhos classificam-se em 5 categorias: Raças

grandes; Raças médias; Raças de pêlo característico; Raças pequenas e Raças

anãs.

Outras classificações podem ser efectuadas, baseando-se em três outros

critérios, a côr, a pelagem e o tipo do animal.

Para realizar a classificação segundo a côr dos animais, utiliza-se um modelo

de comparação, como elemento de categorização. São reconhecidos sete modelos

de coloração, nos quais se posicionam os diferentes padrões de côr: Cutia (pelagem

idêntica à de estes animais); Unicolores; Albinos; Himalaias; Prateados; Matizados e

Multicolores.

A classificação segundo o tipo de pelagem, permite agrupar os animais em

quatro grupos : Raças ditas de pelagem normal; Raças de pelo longo; Raças de

pelagem com carácter acetinado e Raças de pelagem com carácter rex (é uma

pelagem muito mais curta que o normal, tomando um aspecto de veludo).

Solução igualmente possível para diferenciar as características dos diferentes

grupos de raças, é classificá-las segundo o Tipo. O aspecto geral, o tamanho de um

coelho e o seu peso, formam as coordenadas do tipo do animal. Assim, podemos

classificar estes animais nos seguintes tipos: Tipo esbelto; Tipo cilíndrico; Tipo

cónico; Tipo ultraconvexo; Tipo encurtado ou brevilíneo e Tipo alongado ou

longilíneo.

6.3- PRODUÇÃO DE CARNE

Page 160: Sebenta de Zootecnia

160

A carne de coelho é como foi atrás referido, produzida em grande quantidade,

não correspondendo contudo as estatísticas à realidade, por nelas não ser incluída

a carne de coelho utilizada no autoconsumo familiar, que nas zonas rurais

representa uma quantidade importante.

Para a produção de carne são preferidas raças de grande precocidade, sendo

os coelhos preferencialmente vendidos com um peso médio de 2,2 Kg, atingindo um

rendimento de carcaça de 57 a 62 % com cabeça e possuindo um bom

desenvolvimento dos posteriores.

A carne de coelho possui o mais baixo nível de colesterol de todas as carnes,

tendo a mais baixa percentagem de gordura (10 %), a mais elevada percentagem de

proteína (21 %) e a mais elevada percentagem de minerais (1,2 %), frente às carnes

das outras espécies.

6.4- PRODUÇÃO DE PELES

A pele de coelho é muito apreciada para o fabrico de vestuário, sendo as peles

brancas preferidas, pela possibilidade de admitir qualquer tipo de preparação.

A qualidade deste produto pode ser afectada pela raça, densidade do pêlo,

estação do ano (sendo melhor no Inverno), alimentação, estado sanitário (existência

de peladelas motivadas por sarnas e feridas desvalorizam-na), sexo (a pele dos

machos é mais forte, mais pesada e mais difícil de trabalhar que a da fêmea), idade

(as peles dos láparos e dos animais velhos têm menos aceitação), etc.

Todas as raças produtoras de carne são acessoriamente potenciais produtoras

de peles, embora como é lógico, sejam mais valorizadas as raças especializadas

produtoras de peles.

6.5- PRODUÇÃO DE PÊLO

Existem raças de coelhos produtoras de pêlo, sendo a mais importante a raça

"Angorá". A recolha do pêlo faz-se por tosquia ou por depilação quatro vezes por

ano, sendo a depilação um processo preferível à tosquia, por permitir obter um pêlo

mais comprido e portanto mais valorizado.

A produção Mundial de pêlo deste tipo, anda à volta das 2.000 toneladas,

1.500 das quais provenientes da China.

Page 161: Sebenta de Zootecnia

161

O pêlo é utilizado no fabrico de abafos, geralmente misturado com lã de ovino,

sendo estes tecidos muito apreciados devido à sua textura macia e às suas

qualidades térmicas.

6.6- RAÇAS MAIS EXPLORADAS

Actualmente na produção industrial de carne de coelho, são quase

exclusivamente utilizados animais híbridos, dos quais existe grande variedade,

sendo os coelhos conjuntamente com as galinhas e os porcos e quase ao nível

destas últimas espécies, dos animais mais sujeitos a selecção e possuindo maior

número de híbridos e estirpes. Todas estas estirpes são provenientes de

cruzamentos entre as raças de maior produção, seguidos de selecção mais ou

menos intensas.

As raças puras de coelhos de maior disseminação e interesse na produção

racional são a "Gigante de Espanha", a "Fulvo de Borgonha", a "Borboleta", a

"Neozelandesa", a "Californiana" e a "Angorá".

6.6.1- COELHO COMUM - esta raça ou melhor dizendo este tipo de coelho, ganhou

o direito a figurar neste estudo devido à sua disseminação nos meios rurais e

ao papel que tem desempenhado na economia familiar, ao nível do

autoconsumo e dos mercados locais.

Fig. 46 – Exemplares de Coelho comuns.

Possui orelhas compridas, cauda de tamanho médio, pelagem de côr

cinzenta ou parda, unhas de côr parda ou negra, tamanho médio e peso entre

2,8 e 3,5 Kg, sendo uma raça de tamanho pequeno. Tem prolificidade baixa,

de 6 a 8 láparos por parto e é muito rústica, consumindo de tudo um pouco,

quer sejam cereais, legumes ou erva.

Page 162: Sebenta de Zootecnia

162

6.6.2- GIGANTE DE ESPANHA - é como o nome indica, originária de Espanha

sendo uma raça de tamanho grande que foi sujeita a selecção. Caracteriza-se

pelas orelhas grandes e largas, cabeça grande e acarneirada, e olhos grandes

côr rubi com membrana branca. A cauda é grossa, as patas são sólidas e

unhas pardas ou negras.

Fig. 47 – Coelho da Raça Gigante de Espanha

A pelagem pode ser de três cores fulva, branca ou parda. Possui peso variável

oscilando entre os 5,5 e os 8 Kg, com bons rendimentos de carcaça e boa

conformação. As fêmeas são muito prolíficas (9 a 12 láparos por parto), possuindo

óptimas qualidades maternais.

6.6.3- FULVO DA BORGONHA - é uma raça de tamanho médio, possuindo os

machos cabeça volumosa, que é mais pequena nas fêmeas.

Fig. 48 – Coelho da Raça Fulvo da Borgonha

As orelhas são fortes e abertas, tocado-se na base e os olhos são de

coloração cinzento acastanhada com pupila azul escura. As patas são fortes e

curtas e a cauda é direita encontrando-se encostada à anca. A pelagem desta

raça é de côr vermelho forte, apresentando-se as patas, cauda e região

abdominal de côr branca.

Page 163: Sebenta de Zootecnia

163

É uma raça de tamanho médio, com peso à volta dos 4 Kg, rústica e

prolífica, com boa conformação, sendo indicada para cruzamento com raças

puras para produção de animais com boas características de produção de

carne.

6.6.4- BORBOLETA - é uma raça de tamanho médio (5 Kg no macho e 6 Kg na

fêmea), cuja origem é controversa, pretendendo os Alemães, Ingleses e

Franceses para si a origem da raça.

Fig. 49 – Coelho da Raça Borboleta Francês

Tem uma papada desenvolvida, orelhas compridas, direitas e de côr

quase preta em toda a sua extensão, os olhos são castanho escuros rodeados

de uma mancha bem delimitada e simétrica de côr preta. A pelagem desta raça

é a sua característica mais marcante, pois é branca possuindo uma faixa

escura longitudinal no dorso e uma mancha no nariz muito característica,

fazendo lembrar uma borboleta.

A sua prolificidade é boa, tal como as capacidades maternais.

6.6.5- NEOZELANDÊS - esta raça é possivelmente a mais explorada no Mundo,

sendo produto de intensos programas de selecção. É uma raça de pêlo denso

e de coloração branca, olhos vermelho rosados, cabeça grande, orelhas de

tamanho médio e extremidades arredondadas. As patas são robustas, de

unhas brancas e a cauda direita e forte.

Page 164: Sebenta de Zootecnia

164

Fig. 50 – Coelho da Raça Neozelandês

Tem grande aptidão para a produção de carne, é muito prolífica, sendo

os animais dotados de grande precocidade, bem proporcionados, de dorso

amplo e anca arredondada, de tamanho médio com pesos de 4,5 Kg no macho

e 5 Kg na fêmea.

6.6.6- CALIFORNIANA - raça é procedente dos EUA sendo bem proporcionada,

sobretudo no dorso e lombos, de tamanho médio (4-4,5 Kg os machos e 4,5-5

Kg as fêmeas), sendo muito apreciada pela qualidade da sua carne e

conformação da sua carcaça. Possui pelagem branca, com orelhas, pata e

focinho pretos, nascendo contudo. as crias brancas. Tem boa prolificidade e

boas qualidades maternais.

Fig. 51 – Coelha e láparos da Raça Californeana

Page 165: Sebenta de Zootecnia

165

6.6.7- ANGORÁ - , atribui-se amiúde a sua origem à Turquia, embora nada o prove.

Esta raça é explorada para a produção de pêlo, devido ao alto preço alcançado

por este. Cada coelho dá em média 1200 a 1500 gramas de pêlo por ano,

sendo a produção de 1 Kg de pelo por cada 7 Quilogramas de carne.

Fig. 51 – Coelho da Raça Angorá Gigante Coelho da Raça Angorá Inglês

As fêmeas são de prolificidade média, não devendo contudo deixar-se

mais de quatro láparos por parto, devido à fraca produção de leite desta raça.

Os láparos são desmamados aos 2 meses de idade, fazendo-se nesta altura a

primeira recolha de pêlo, operação que se repete cada três meses.

As jaulas destes animais devem ter fundo em rede de arame, para evitar

o feltramento do pêlo e também que este se suje.

6.7- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE COELHOS

6.7.1- TIPO DE INSTALAÇÕES

Temos que considerar na produção de coelhos a criação familiar para

autoconsumo e a exploração racional em ambiente controlado.

Quanto às primeiras, desprovidas de qualquer pretensiosismo, as instalações

vão desde gaiolas em madeira e inclusivamente até galinheiros, onde os coelhos

convivem com as galinhas.

Para as explorações racionais de ambiente controlado, as instalações mais

simples e funcionais são pavilhões de uma nave, com 8 a 12 metros de largura, e

um pé direito de 2,2 a 2,5 metros, sendo o comprimento variável. As instalações

deste tipo devem obedecer em termos de controlo ambiental, a quatro princípios

essenciais, que são de crucial importância nos processos produtivos :

- Os coelhos são menos sensíveis ao frio do que ao calor

Page 166: Sebenta de Zootecnia

166

- Ressentem-se bastante com as correntes de ar

- Sofrem bastante com a humidade

- Gostam de ver sem ser vistos

As variações térmicas diárias e anuais deverão ser pouco amplas e nada

bruscas, situando-se a temperatura ambiente óptima, entre os 18 e os 20 ºC nas

instalações de maternidade e cria e entre 15 e 18 ºC nas instalações de engorda

A humidade relativa deve situar-se entre os 60 e os 80 % e a ventilação deve

fazer-se com boa velocidade de entrada de ar, sem correntes de ar que devem ser

evitadas pelos efeitos nefastos que exercem na saúde dos animais e logicamente

nos níveis produtivos.

As instalações devem possuir sistemas de aquecimento e de ventilação que

permitam a renovação de uma quantidade de ar entre 1 e 4 metros cúbicos por hora

e quilograma de peso vivo, dependendo da temperatura interior da instalação.

Os animais devem estar em jaulas de rede metálica galvanizada de 1,8 mm de

diâmetro, que são adoptadas universalmente, pois permitem uma boa higiene e fácil

recolha das dejecções, devendo ser dispostas em baterias de dois ou três pisos

cada um constituído por uma gaiola ou em piso simples, sistema este que

logicamente ocupa muito mais espaço, o qual é um bem escasso, devido ao alto

preço das instalações e dos equipamentos. As dimensões das baterias variam

conforme o seu uso.

- As jaulas para coelhas de reprodução com ninhada podem ter 0,8 m x 0,5 m

x 0,4 m, podendo variar conforme o fabricante e a colocação de ninho,

interno ou externo. Como o fundo da gaiola é de malha metálica, o ninho de

dimensões de 0,3 m x 0,4 m x 0,3 m, deve conter palha ou aparas de

madeira, onde a coelha vai parir.

- As jaulas para machos reprodutores devem ser idênticas às das fêmeas para

facilitar a sua colocação no local. A normalização das dimensões das

gaiolas é uma das grandes vantagens deste sistema de baterias.

- As jaulas de engorda devem ser de tamanho suficiente para conter 12 a 15

coelhos após o desmame, não devendo ser ultrapassado o peso de 40 kg /

metro quadrado de piso. As baterias de engorda podem ter até 3 ou 4 pisos.

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167

Fig. 52 – Planta de um pavilhão para produção intensiva de coelhos em jaulas

Fig. 53 – Corte de um Pavilhão para produção intensiva de coelhos em jaulas

É indispensável a existência de água limpa e de boa qualidade sempre em

sistema de ad libitum, pois as necessidades em água dos coelhos são muito

grandes. Para este efeito as jaulas devem estar providas de bebedouros

automáticos, colocados a uma altura que permita o acesso fácil aos láparos recém

desmamados. Estes bebedouros podem ser dos sistemas de gota de gota ou de

chupeta, disponíveis em metal ou plástico, sendo preferível usar os de metal, dado

que a propensão dos coelhos para roer é incontornável, sendo os de plástico mais

tarde ou mais cedo alvo dessa propensão e logicamente destruídos.

Page 168: Sebenta de Zootecnia

168

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