secretaria da justiÇa e da defesa da cidadania · 2017-02-02 · 1.1. como surgiram as denúncias...

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1

SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA

DIAGNÓSTICO DO TRABALHO INFANTIL NO ESTADO DE SÃO PAULO COM

BASE NA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 2ª E 15ª

REGIÕES

1ª EDIÇÃO

SÃO PAULO

2016

Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

2

FICHA TÉCNICA GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA NÚCLEO DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS Pátio do Colégio, 148, Centro São Paulo – SP CEP: 01016-040 http://www.justica.sp.gov.br Copyright É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. Organizadores: Juliana Felicidade Armede e Flávio Antas Corrêa (Coordenação) Renata Gomes da Silva e Danilo C. N. A. Leite (redação e pesquisa) Diagramação: Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania Capa: Pedro Luiz Montini Edição: 1ª Edição

FICHA CATALOGRÁFIA ELABORADA NA BIBLIOTECA DA SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA – CRB-8ª 5791

São Paulo. Governo do Estado. Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Diagnóstico do trabalho infantil

no estado de São Paulo com base na atuação do Ministério Público do Trabalho 2ª e 15ª regiões. São Paulo : SJDC, 2016. 105p.

ISBN: 978-85-68471-04-3

1. Problemas sociais 2. Tráfico de pessoas 3. Diagnóstico do trabalho infantil 4. Papel das instituições I. Governo do Estado de São Paulo II. Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania III. Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas IV. Secretaria do Planejamento e Gestão 1. Alckmin, Geraldo 2. Rosa, Márcio Fernando Elias 3. Corrêa, Flávio Antas (coord.) 4. Monteiro, Marcos Antonio

CDD 360

3

EXPEDIENTE:

Governador do Estado de São Paulo

Geraldo Alckmin

Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania

Márcio Fernando Elias Rosa

Secretario de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo

Marcos Antonio Monteiro

Responsável pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da secretaria da

Justiça e da Defesa da Cidadania

Flávio Antas Corrêa

4

Sumário

Lista de siglas .............................................................................................................. 6

Prefácio ....................................................................................................................... 8

Apresentação .............................................................................................................. 9

O Projeto ................................................................................................................... 14

Metodologia ............................................................................................................... 15

Trabalho Infantil ......................................................................................................... 17

Limites da Pesquisa .................................................................................................. 25

1. Perfil Geral dos Procedimentos do Ministério Público do Trabalho ....................... 28

1.1. Como surgiram as denúncias ....................................................................... 33

1.2. Locais das Ocorrências ................................................................................ 36

1.3. Termos de Ajustamento de Conduta ............................................................ 37

1.4. Piores Formas de Trabalho Infantil ................................................................. 39

1.4.1. Atividades Ilícitas ...................................................................................... 41

1.4.2. Trabalho Doméstico .................................................................................. 48

1.5. Duração da Exploração e do Procedimento .................................................... 49

1.6. Relação com a Vítima ..................................................................................... 50

1.7. Crianças e Adolescentes e o Esporte ............................................................ 50

1.8. Setor econômico ............................................................................................. 52

1.7. Acidente do Trabalho ...................................................................................... 54

1.8. Outras Informações ......................................................................................... 54

2. Impressões Sobre a Atuação das Organizações Envolvidas ........................................ 54

2.1. Ministério Público do Trabalho ..................................................................... 54

2.2. Conselho Tutelar ............................................................................................. 57

2.3. Ministério do Trabalho e Emprego .................................................................. 58

2.4. Rede de Assistência Social ............................................................................. 59

2.5. Sindicatos ....................................................................................................... 59

3. Bases de Dados Setoriais ...................................................................................................... 60

3.1. Assistência Social ........................................................................................... 60

5

3.2. Saúde .............................................................................................................. 61

3.3. Educação ........................................................................................................ 62

3.4. Segurança Pública .......................................................................................... 63

3.5. Trabalho .......................................................................................................... 64

3.6. PNAD .............................................................................................................. 64

3.7. Censo .............................................................................................................. 65

4. Regiões do Estado de São Paulo .................................................................... 66

4.1. Região Administrativa Central ...................................................................... 67

4.2. Região Administrativa de Araçatuba ............................................................ 70

4.3. Região Administrativa de Barretos ............................................................... 72

4.4. Região Administrativa de Bauru ................................................................... 73

4.5. Região Administrativa de Campinas ............................................................ 75

4.6. Região Administrativa de Franca ................................................................. 78

4.7. Região Administrativa de Itapeva ................................................................. 79

4.8. Região Administrativa de Marília .................................................................. 80

4.9. Região Administrativa de Presidente Prudente ............................................ 82

4.10. Região Administrativa de Registro ............................................................ 84

4.11. Região Administrativa de Ribeirão Preto .................................................. 85

4.12. Região Administrativa de Santos .............................................................. 86

4.13. Região Administrativa de São José do Rio Preto ..................................... 86

4.14. Região Administrativa de São José dos Campos ..................................... 89

4.15. Região Administrativa de Sorocaba .......................................................... 90

4.16. Região Metropolitana de São Paulo ......................................................... 92

5. Entrevistas .................................................................................................................................. 93

6. Estudo de Caso: Franca e a Atuação Exitosa Entre Ministério Público do

Trabalho, Justiça do Trabalho, Defensoria Pública do Estado e a Rede Local de

Proteção da Infância e Juventude ............................................................................................... 94

7. Desafios e Possibilidades ...................................................................................................... 95

8. Considerações finais ............................................................................................................... 97

9. Referências................................................................................................................................. 99

6

Lista de Siglas

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

CCR – Câmara de Coordenação e Revisão

CF – Constituição Federal

CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

COETRAE – Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo

CONANDA - Conselho Nacional Dos Direitos Da Criança e do Adolescente

COORDINFÂNCIA – Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do

Trabalho de Crianças e Adolescentes

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado em Assistência Social

CSMPT – Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada

EPP – Empresa de Pequeno Porte

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FIA – Fundo da Infância e Adolescência

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC – Inquérito Civil

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

JEIA – Juizado Especial da Infância e Adolescência

JUCESP – Junta Comercial do Estado de São Paulo

ME - Microempresa

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

7

NETP – Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNS – Pesquisa Nacional de Saúde

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SIC – Sistema Integrado de Informações ao Cidadão

SJDC – Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

SPG – Secretaria de Planejamento e Gestão

STF – Supremo Tribunal Federal

TAC – Termo de Ajustamento de Conduta

TJ – Tribunal de Justiça

TRT – Tribunal Regional do Trabalho

8

Prefácio

Incumbe à família, ao Estado e à sociedade propiciar meios efetivos

para o desenvolvimento sadio de toda criança, permitindo-lhe titularizar e usufruir

todos os direitos que lhe sejam próprios. A não intervenção do mundo adulto, a

compreensão de que o jovem não pode ser objeto de intervenção desejada tão

somente por terceiros, mas que, antes e acima disso, titulariza direito e nessa

condição se desenvolve para a vida em sociedade é condição indiscutível na

atualidade e desde sempre reclamada.

A pesquisa em apreço deixará claro ao leitor que há momento certo

para a inserção das crianças e adolescentes no mercado de trabalho, inclusive

expondo algumas das atividades proibidas para eles, e a preocupação do Poder

Público em erradicar o trabalho infantil. Dentre tantas mazelas possíveis, a da

exploração certamente é a mais grave e severa, seja porque nega a própria

condição humana, seja porque vulnera o presente e aniquila, no mais vezes, a

esperança de um futuro mais promissor.

Todos os envolvidos na pesquisa, dedicaram-se com afinco e denodo

para ilustrar o cidadão sobre os riscos que o trabalho infantil traz às crianças e

adolescentes, inclusive vitimados pelo tráfico de pessoas, trabalho análogo ao de

escravo e diversos tipos de exploração sexual, posto que a defasagem educacional

é campo propício para os abusos de toda a ordem.

Cabe à família, à sociedade e ao Poder Público, a obrigação de

protegê-los e instruí-los contribuindo, dessa forma, com a defesa da cidadania dos

jovens, garantindo-lhes um futuro mais sólido e preparando-os para, um dia,

tomarem as rédeas do futuro da Nação.

Márcio Fernando Elias Rosa

Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania

9

Apresentação

O estudo apresentado pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas, da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do estado de São

Paulo, não tem apenas a intenção de apresentar à sociedade o diagnóstico sobre o

Trabalho Infantil no estado de São Paulo, mas também os motivos que levaram

crianças e adolescentes ao trabalho, a realidade das famílias e os matizes que

circundam as questões socioculturais do problema.

Para tanto, necessário que se observe a forma como o trabalho infantil

é encarado, tanto pela sociedade quanto pelo Estado.

Insta esclarecer que, segundo consta do artigo 2º, do Estatuto da

Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/1990), a pessoa é considerada

criança até os 12 anos de idade e dos 12 aos 18 anos, adolescente.

Todavia, no Brasil, a opção foi chamar de trabalho infantil todo serviço

prestado por menores de 18 anos, em razão do que prega o artigo 208, I, da

Constituição Federal1

Interessante que se diga que a exploração do trabalho infantil, na Idade

Média, era comum; todavia, apenas os artífices (ferreiros, marceneiros, sapateiros,

oleiros, etc.), geralmente empresas familiares, faziam uso dessa mão-de-obra

considerando que era um posto de aprendiz (menor aprendiz) e deveria aprender a

trabalhar o material que tinha à sua disposição e exercitar a habilidade manual.2

A partir do início da Revolução Industrial, que apresentou ao mundo a

máquina a vapor, a situação do menor modificou-se.

Grassava a utilização de mão-de-obra infantil nas fábricas com salários

baixíssimos, uma vez que havia discriminação salarial entre homens, mulheres e

crianças. A exploração do trabalho infantil foi tamanha, que fez surgir, em 1802, o

1 “Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica

obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)” 2 Cf. GOMES, Orlando, GOTTSCHALK, Elson, Curso de Direito do Trabalho, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 403.

10

Moral and Health Act, de autoria de Roberto Pell, que “proibia o trabalho dos

menores por mais de dez horas por dia, bem como o trabalho noturno”3.

A partir daí, os povos cultos (expressão bem empregada pelo mestre

Orlando Gomes), buscaram proteger o trabalho do menor, posto que a compleição

física mais frágil e a necessidade do desenvolvimento intelectual pediam isso.

A França positivou norma que proibia a utilização de mão-de-obra nas

fábricas e manufaturas aos menores de oito anos (1841); Allan Kardec apresentou

em “O Livro dos Espíritos” (1857), questões relacionadas às Leis Morais e no campo

“Lei do Trabalho”, expos a necessidade do trabalho para o desenvolvimento do ser

humano, recriminando a exploração do trabalhador pelo empregador.

A Suíça, por sua vez, inovou, inserindo na sua Constituição medidas

protetivas ao trabalho do menor nas fábricas (1874); mas foi por meio do Tratado de

Versalhes que medidas protetivas ao menor trabalhador tomaram corpo, passando a

utilizar critérios para o trabalho do menor, tais como duração, idade, condições de

insalubridade e periculosidade, etc.

No que concerne ao Brasil, as primeiras medidas positivadas foram os

Decretos nº 1.313/1891 e 17.943/1927. Modernamente, quando do advento da

Constituição Federal de 1988, foram incluídas no patamar mais alto da legislação

brasileira, as garantias ao trabalho dos menores e os benefícios pertinentes,

servindo de coluna mestra para as demais leis protetivas, como não poderia ser

diferente.

Bem sabido que o Brasil é signatário da Convenção 138 da

Organização Internacional do Trabalho - OIT. A referida Convenção, em seu artigo

2º, § 3º, apresenta a idade mínima para o trabalho (quinze anos), pois, normalmente,

é quando cessa a obrigação escolar regular, além de manter a proibição do trabalho

do menor de dezoito anos em ambientes perigosos para a saúde, segurança e

moralidade (art. 3º, § 1º).

A Lei nº 10.097/2000 (chamada de Lei da Aprendizagem) modificou os

artigos 402, 403, 428, 429, 430, 431, 432 e 433 da Consolidação das Leis do

Trabalho – CLT e a partir daí, a idade mínima para o trabalho passou de 14 para 16

anos, salvo na condição de aprendiz, que antes se iniciava aos 12 anos.

3 GOMES e GOTTSCHALK, Op. cit., 404.

11

Ficou nítido que o país buscou a adequação às convenções

internacionais; entrementes, não basta modificar a idade inicial do trabalho sem

modificar, em paralelo, a forma como em termos culturais o trabalho é encarado ou é

visto pelo povo.

Por meio da pesquisa, pôde-se compreender que, salvo nos casos

visíveis de exploração propositada, a questão do trabalho infantil está nitidamente

ligada à cultura popular, que tem por jargão “melhor trabalhar que ficar com más

companhias” ou “o trabalho nunca matou ninguém”.

À parte o entendimento vox populi, vox Dei, não basta legislar e proibir,

sem que se crie condições para que os menores possam estudar sem que fiquem

relegados à inatividade ou, o que é pior, às más companhias, que deixam as famílias

em pânico.

Por outro lado, não basta fiscalizar e multar, sem que se faça a

conscientização da população e, por conseguinte, se modifique a cultura regional.

A grande questão consiste em saber quais as práticas mais eficazes a

serem adotadas para aqueles menores que, nesse estágio, não se interessam pela

inserção no mercado de trabalho, por meio da porta do curso técnico

(aprendizagem).

Obviamente, trata-se de problema que não deve ficar sem solução e,

nesse sentido, o mais recomendável parece ser implantar, definitivamente, a escola

em tempo integral, com grade curricular atraente e formadora do futuro trabalhador,

grade essa que poderá auxiliar o estudante, inclusive, a descobrir a sua vocação.

Somente assim, os pais poderiam trabalhar tranquilamente sem que os

filhos fiquem ociosos, considerando que teriam atividades o dia inteiro e receberiam

a alimentação adequada, pois, uma vez na escola, não sofreriam as agruras dos

lares mais necessitados - posto que o problema com a alimentação é gravíssimo nas

famílias de baixa renda – algo que, também, deixaria os pais mais sossegados.

Não se pretende discorrer aqui na contramão do diagnóstico e das

soluções propostas quanto ao equivocado direcionamento inserido no artigo 428, da

CLT, ou seja, no sentido da ampliação da idade do aprendiz de 18 a 24 anos (Lei nº

11.180/2005), pois tal situação somente parece apontar para a inoperância do

Governo Federal que, ao falhar na formação do currículo escolar básico, ao

possibilitar a progressão continuada, retirou do menor a possibilidade de aprender e,

12

por conseguinte, chegar preparado à idade do ingresso no mercado de trabalho, isso

sem se falar na retirada do currículo da matéria “Educação para o Trabalho”, matéria

ensinada na antiga 7ª Série, exatamente no ano anterior à possível entrada no

menor no mercado de trabalho.

Nesse passo, por tudo o que foi pesquisado, percebe-se que a questão

cultural tem uma influência absoluta na exploração do trabalho infantil, ainda mais

quando se tratar de regiões vocacionadas às oficinas familiares ou trabalhos no

campo, onde as famílias reúnem-se para a colheita.

Veja-se que, parte dos casos que envolvem as oficinas familiares,

demonstram que os jovens continuam os estudos e trabalham com os pais e

parentes para que não fiquem ociosos no meio da rua – sujeitando-os às situações

de vulnerabilidade e, dentre elas, toda a sorte de problemas (drogas, pequenos

delitos, etc).

No caso das colheitas as condições escolares modificam-se um pouco,

uma vez que nas regiões rurais, geralmente, o acesso às escolas é mais difícil e, na

época da colheita, os pais mantém os filhos próximos, não sendo isso uma regra

comum.

Independentemente da motivação, se está correta ou não, o fato é que

o mote cultural, a falta de escolas em tempo integral, a precária grade curricular, a

baixa renda das famílias, dentre outros fatores regionais, acabam por permitir

condições de vulnerabilidade que propiciam a indevida exploração do trabalho

infantil, repudiada pelo conjunto de normas internacionais e nacionais já citadas.

Portanto, por meio do diagnóstico apresentado, será possível verificar-

se quais são os pontos que merecem ações governamentais mais agudas nas

searas da educação formal e na reformulação cultural da população, para enfatizar o

valor do ensino e da formação do menor antes da entrada no mercado de trabalho,

deixando claro que são capazes de contribuir para o desenvolvimento integral das

crianças e jovens.

As normas jurídicas, logicamente, devem ser respeitadas; todavia,

essas devem ser exequíveis e as punições aplicadas no sentido – ou com o intuito –,

pedagógico; ademais disso, aqueles que fiscalizam devem compreender que o

tratamento dispensado aos pais que buscam proteger os filhos por meio do trabalho,

deve ser mais lhano. Em contrapartida, àquelas empresas ou pessoas físicas que

13

explorem o trabalho do menor, em detrimento da contratação de um maior, devem

merecer punição exemplar. Os critérios e objetivos protetivo-educacionais e os

benefícios precisam avançar para o caminho da efetividade.

A modificação do padrão cultural nas questões da exploração do

trabalho infantil é essencial; entrementes, por ser bastante delicada, deve ser

efetuada por meio de ações governamentais pontuais (escolas integrais, atividades

nos contraturnos, adaptação da grade curricular necessárias à boa formação, sem

inserções ideológicas, inclusão de cursos de línguas opcionais, formação dos

professores, etc.), amparo às famílias de menor renda (cursos profissionalizantes,

alfabetização de adultos, dentre outros) bem como reuniões com a comunidade local

para rodas de conversa, onde se aborde o tema do trabalho infantil e educação

formal.

Assim, espera-se que, com a apresentação do presente diagnóstico,

embora sem a pretensão de qualquer juízo definitivo, possam ser alcançados

avanços significativos, através da mudança cultural proposta, ou seja, mediante a

conscientização da importância e da valorização da formação escolar, como

elemento de formação e incremento para o trabalho, respeitados os limites do

desenvolvimento físico e psíquico, tal como determina a legislação, mas também

mediante a utilização das ferramentas ou instrumentos propostos – sem prejuízo de

outros caminhos que possam surgir como pertinentes à solução para o problema–,

para que, em menos de duas gerações, possa o estado de São Paulo erradicar a

utilização de mão-de-obra infantil.

FLÁVIO ANTAS CORRÊA

Responsável pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – NETP

14

O Projeto

O projeto nasceu no seio do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

(NETP), da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São

Paulo.

Trata-se levantamento e análise de dados relativos à realidade do trabalho

infantil no estado de São Paulo (SJDC), realizado pelos Especialistas em Políticas

Públicas da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo (SPG)

Renata Gomes da Silva (coleta, análise de dados e redação) e Danilo Costa Leite

(coleta de dados) a partir dos procedimentos administrativos do Ministério Público do

Trabalho (MPT) da 2ª e da 15ª regiões no período de 2011 a 2014, sob coordenação

inicial de Juliana Felicidade Armede e, posteriormente, de Flávio Antas Corrêa

(coordenação e revisão).

Por meio de Termo de Cooperação, as Secretarias Estaduais da Justiça e da

Defesa da Cidadania e de Planejamento e Gestão Pública buscaram, junto aos

Ministérios Públicos do Trabalho (MPT) das 2ª e 15ª Regiões e Secretarias de

Desenvolvimento Social, Educação, Trabalho e Saúde, a forma de identificar o perfil

do trabalho infantil em todo o Estado de São Paulo, tendo como base a atuação do

MPT.

Contando com dados apresentados por cada uma das instituições parceiras,

o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, setor da Secretaria de Justiça e

da Defesa da Cidadania, que coordena os Programas de Enfrentamento ao Tráfico

de Pessoas e Erradicação do Trabalho Escravo no Estado de São Paulo, efetuou

análise dos dados.

O primeiro produto do Termo de Cooperação foi uma tabela com os dados

dos procedimentos administrativos classificados de acordo com categorias criadas

pelos pesquisadores.

15

O presente relatório é o segundo produto e consiste em um diagnóstico

preliminar sobre a situação do trabalho infantil no Estado de São Paulo, tendo como

objetivos específicos a produção sistêmica, a análise dos dados, bem como a

apresentação de recomendações diante do cenário pesquisado.

Metodologia

Foram realizados contatos com os Ministério Público do Trabalho da 2ª e da

15ª Regiões buscando a obtenção da relação de todos os procedimentos judiciais e

extrajudiciais que nos anos de 2011 a 2014 registraram casos de trabalho infantil.

Em resposta aos ofícios, foram remetidos para o Núcleo de Enfrentamento ao

Tráfico de Pessoas (NETP) duas tabelas contendo 820 procedimentos do Ministério

Público do Trabalho da 2ª Região e 792 do Ministério Público do Trabalho da 15ª

Região, que tiverem registrados casos de natureza variada sobre trabalho infantil.

Contando com o sistema de consulta e peticionamento eletrônico dos

Ministérios Públicos, os pesquisadores criaram algumas categorias para análise, de

acordo com o entendimento dos pesquisadores.

As categorias “nº do procedimento”, “TRT” ao qual o procedimento se

relaciona, “região do ofício”, “tipo” de procedimento, ausência ou presença de “TAC”

e “status” do procedimento já estavam na tabela original enviada pelo MPT. Outros

campos como “local”, “partes” e “CNPJ” estavam parcialmente preenchidos e foram

complementados com informações do procedimento de acordo com o entendimento

dos pesquisadores.

Foram criadas categorias apenas para controle da própria pesquisa como o

“pedido de vista” nos procedimentos em que isso era necessário. Algumas

categorias foram criadas, mas por faltarem informações mais completas nos

procedimentos, não puderam ser utilizadas numa análise mais ampla como “número

de vítimas”, “sexo das vítimas”, “idade das vítimas”, “duração da exploração”, “sexo

16

dos acusados”, “idade dos acusados”, “relação com a vítima”, “número de

inspeções” e “outros atores envolvidos”.

As categorias “como se deu a notícia do fato” e “rural ou urbano” foram as que

permitiram o preenchimento de mais procedimentos e por isso puderam ser

analisadas de maneira mais adequada. O número de inscrição no Cadastro Nacional

de Pessoas Jurídicas (CNPJ) possibilitou o preenchimento de algumas informações

sobre o perfil das empresas, mas devem ser considerados com reservas por serem

baseados nos registros, não necessariamente correspondendo à realidade.

Em outras formas de organização, categorias criadas como “duração do

procedimento” e “endereço” não se mostraram interessantes para a análise nesse

momento. A duração do procedimento se relaciona diretamente ao encaminhamento

que foi feito, podendo se encerrar rapidamente no caso de indeferimentos ou durar

alguns anos por causa da apuração e resolução da questão.

É importante destacar, ainda, que apenas foram analisados os procedimentos

instaurados nos Ministérios Públicos do Trabalho, não se podendo afirmar que se

tratam de todos os casos que chegaram ao órgão, considerando que nem todas as

denúncias são passíveis de instauração de procedimentos.

Por meio dessa forma de organização das informações, verificou-se como as

ocorrências chegaram aos Ministérios Públicos do Trabalho, em que universo estava

inserido o trabalho infantil, se o trabalho era urbano ou rural, dentre outras questões

de interesse.

A complementação da análise dos dados originários dos Ministérios Públicos

do Trabalho decorreu da proposta de levantamento e cruzamento desses dados com

outros fornecidos pelas Secretarias de Estado, além de informações públicas obtidas

pela internet sobre as questões do trabalho infantil no Estado de São Paulo e

trabalhos científicos sobre o assunto.

O trabalho foi realizado a partir de um intenso diálogo envolvendo diretamente

os especialistas em políticas públicas responsáveis pela análise e os parceiros das

17

secretarias de estado. Dada a ampla margem de informações oriundas dos

procedimentos, bem como dada a proposta de análise dos dados dos Ministérios

Públicos em conjunto com outras informações fornecidas pelas Secretarias do

Desenvolvimento Social, Educação, Trabalho e Saúde, foi escolhido o ano de 2013

como referência para um estudo mais aprofundado dos casos porque se tratava do

ano com dados da PNAD disponíveis até então e por possibilitar acesso a

procedimentos mais avançados. Dada a ampla margem de informações oriundas

dos procedimentos, bem como a proposta de análise dos dados dos Ministérios

Públicos, em conjunto com outras informações fornecidas pelas Secretarias do

Desenvolvimento Social, Educação, Trabalho e Saúde, foi escolhido o ano de 2013

como referência para um estudo mais aprofundado dos casos. É relevante destacar,

desde já, que a delimitação de dados em qualquer estudo é uma forma para que

busquemos evitar uma visão deturpada do problema que se quer analisar.

Por fim, para que fossem atingidos os objetivos do estudo, foram realizadas:

reunião com membros do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª região (30.09.2015),

visitas técnicas em Franca/SP (20.10.2015 a 22.10.2015, no Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial - SENAC, Juizado Especial da Infância e Adolescência -

JEIA, Pastoral da Criança, Fórum de Franca/SP e Fundação Casa); apresentação

do trabalho na Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo -

COETRAE (08.10.2015) e diversas reuniões com representantes das Secretarias de

Estado que colaboraram para este estudo.

Trabalho Infantil

A construção do programa de proteção integral aos direitos da infância e da

juventude e, em especial, da proteção contra o trabalho infantil, datam do século XIX

e integram a evolução dos direitos humanos e sociais em todo o mundo.

Apesar da dura realidade mundial, apenas no século XIX, por meio do Peel’s

Act, normas protetivas que foram criadas na Inglaterra entre os anos de 1802 a

1848, buscou-se regular o trabalho das pessoas não adultas.

18

No Brasil, após a aprovação da Emenda à Constituição Federal número 20, a

Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso XXXIII, proibiu o trabalho de

adolescentes menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14

anos. A redação original já vedava o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos

menores de 18 anos:

“Art. 7º XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a

menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos,

salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.” (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

A lei nº 10.097/2000 (batizada de Lei da Aprendizagem) modificou artigos

402, 403, 428, 429, 430, 431, 432 e 433, da Consolidação das Leis do Trabalho –

CLT – regulamentando os contratos de aprendizagem, possibilitando uma alternativa

de trabalho coordenada com o programa de aprendizagem , já que o menor deverá

estar matriculado em curso técnico-profissional, ser assíduo na escola e ter

anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS):

“Art. 428 - Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial,

ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se

compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos,

inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional

metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico,

e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a

essa formação.” (Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) (Vide Medida

Provisória nº 251, de 2005)

Posteriormente, a lei nº 11.180/2005, ampliou os contratos de aprendizagem

para pessoas até 24 anos, mas manteve o espírito da lei nº 10.097/2000:

“Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial,

ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se

compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e

quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-

19

profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e

psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas

necessárias a essa formação.” (Redação dada pela Lei nº 11.180, de 2005)

Apesar da proibição constitucional, uma interpretação sistemática do art. 406,

I e II e 668 da CLT, da Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho

(OIT) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) possibilita a concessão do

direito de participação de crianças e adolescentes em atividades artísticas. Há

divergência na intepretação de qual o juiz deve ser responsável pela concessão das

autorizações de trabalho: juízes do trabalho ou juízes da infância.

Em São Paulo, a Corregedoria Geral, a Coordenadoria da Infância e

Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, as Corregedorias dos

Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª e 15ª Regiões e os Ministérios Públicos do

Estado de São Paulo e do Trabalho da 2 e 15 Regiões assinaram a

Recomendação Conjunta nº 01/2014 dispondo que:

“as causas que tenham como fulcro a autorização para trabalho de crianças e

adolescentes, inclusive artístico e desportivo, e outras questões conexas

derivadas dessas relações de trabalho, debatidas em ações individuais e

coletivas, inserem-se no âmbito da competência dos Juízes do Trabalho, nos

termos do art. 114, incisos I e IX, da Constituição da República.”

No entanto, há divergências sobre essa posição e atualmente há uma Ação

Direta de Inconstitucionalidade ADI 5326, ajuizada pela Associação Brasileira de

Emissoras de Rádio e Televisão, questionando a recomendação no Supremo

Tribunal Federal.

Certo é que, após a Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência da

Justiça do Trabalho foi ampliada, incluindo em razão das especificidades da matéria

a competência de análise e julgamento de casos em que estejam envolvidas toda e

qualquer relação de trabalho. Assim, é importante observar que mesmo diante do

interesse de crianças e adolescentes e, portanto, mesmo diante da regra geral de

que a competência seria do juiz da infância e juventude (art. 146 da lei nº 8.069/1990

20

– Estatuto da Criança e do Adolescente), a especialidade da matéria e a primazia do

principio da proteção integral da infância e juventude caminham para o

reconhecimento de que todas as questões conflitantes que derivem de relação

laboral sejam de competência da Justiça do Trabalho, especializada e integrada à

condição complexa que envolve o trabalho infantil.

Conforme entendimento da decisão no Recurso Ordinário nº 0001754-

49.2013.5.02.0063, o juiz do trabalho está habituado a lidar com questões atinentes

à exploração da mão-de-obra:

“Portanto, entendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus

artigos 148 e 149, trata da competência material dos juízes da infância para

conhecer de ações civis em assuntos alheios ao trabalho, tema para o qual o

magistrado do Poder Judiciário Trabalhista está mais afeito, até porque

conhece os meandros das relações travadas com fulcro na prestação de

serviços e, portanto, sabe dos danos que esse pode trazer a quem tem a

infância tolhida por tal atividade.”

O sistema de proteção integral da infância e juventude conta ainda com o

disposto na Convenção da OIT nº 138 e a Recomendação nº 146 (internalizadas

pelo decreto nº 4.134/20024), relativa a idade mínima de trabalho, a Convenção da

OIT nº 182 (internalizada pelo decreto 3.597/2000), relativa as piores formas de

trabalho infantil, e a Convenção sobre os Direitos da Criança, que proíbe a

exploração econômica das crianças e impõe aos estados o estabelecimento de

idades mínimas.

Sob o aspecto da caracterização do trabalho infantil, há diversos estudos que

tentam desvendar suas condicionantes. Em pesquisa baseada em dados de 2002,

os pesquisadores Maria Cristina Cacciamali e Fabio Tatei constataram que a

ocupação dos pais parece ter influencia na incidência de trabalho infantil: “a

4O entendimento majoritário e do Supremo Tribunal Federal é de que tratados de direitos humanos

incorporados mediante o procedimento de emenda constitucional tem status constitucional (art. 5º, §3º da Constituição Federal), enquanto tratados de direitos humanos incorporados mediante o procedimento comum são supralegais e infraconstitucionais. Em sentido contrário Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, 15ª edição. Saraiva: 2015.

21

probabilidade de ocorrência de trabalho infantil nas famílias cuja pessoa de

referencia trabalha por conta própria é de 25,4%, enquanto nas famílias em que a

pessoa de referencia trabalha na condição de empregado com carteira assinada é

de 8,9%.”5 A diferença nas famílias também se dá no perfil de trabalho

desempenhado: “Enquanto entre as famílias chefiadas por empregados com carteira

assinada prevalece o emprego sem registro dos filhos (44,4%), seguido pelo

trabalho para consumo próprio (10,3%), entre as famílias com pais que trabalham

por conta própria predomina o trabalho não remunerado das crianças (73,7%).”6

Em estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)7

acerca do trabalho rural, demonstra-se a relação entre a escravidão na vida adulta e

o trabalho durante a infância:

“Praticamente todos os entrevistados na pesquisa de campo (92,6%)

iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A idade média em que

começaram a trabalhar é de 11,4 anos, sendo que aproximadamente 40%

iniciaram antes desta idade. Na maioria dos casos (69,4%), tratava-se de

trabalho infantil realizado no âmbito familiar. No entanto, os demais já

trabalhavam para um empregador, juntamente com a família (10%) ou

diretamente para um patrão (20,6%). Entre os que começaram a trabalhar

com menos de 11 anos, 83% faziam apenas trabalho familiar. Os demais

trabalhavam para fora já nesta idade. As atividades desempenhadas pelas

crianças e adolescentes era o de auxiliar nos trabalhos agrícolas: carpir,

roçar, plantar e colher, especialmente ajudando o pai.”

Um fator importante na probabilidade do trabalho infantil nas famílias, mais do

que a renda, é a quantidade de anos de estudo da pessoas de referencia:

“Nas famílias do segundo tipo — pessoa de referência na condição de

empregado com carteira assinada —, um aumento de cinco anos de estudo da

5CACCIAMALI, Maria Cristina; TATEI, Fábio. Trabalho infantil e o status ocupacional dos pais. In

Revista de Economia Política, vol. 28, nº 2, São Paulo: Abr/jun 2008. 6CACCIAMALI, Maria Cristina; TATEI, Fábio. Trabalho infantil e o status ocupacional dos pais. In

Revista de Economia Política, vol. 28, nº 2, São Paulo: Abr/jun 2008. 7ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Trabalho Rural Escravo. Brasília: OIT, 2011

22

pessoa de referência, de 5 anos para 10, representa uma queda de 5,5 pontos

percentuais na probabilidade da família empregar trabalho infantil, de 11,3%

para 5,8%. Nas famílias que apresentam trabalhadores por conta própria como

pessoas de referência — famílias do primeiro tipo —, a queda é mais

acentuada: em torno de 10 pontos percentuais, de 25,3% para 15,4%. A

educação é mais eficiente que a renda na diminuição da probabilidade da

criança trabalhar.”

Essas informações são relevantes para o estudo da quebra do ciclo de

pobreza, já que os anos de estudo dos pais influenciam o trabalho dos filhos e o

trabalho destes pode prejudicar sua frequência e o desempenho escolar e influenciar

o trabalho de seus filhos também. Conforme aborda Kassouf8:

“Outro importante determinante do trabalho infantil, discutido na literatura

como associado ao ciclo da pobreza, é a entrada precoce dos pais no

mercado de trabalho. Há estudos mostrando que crianças de pais que foram

trabalhadores na infância têm maior probabilidade de trabalhar, levando ao

fenômeno denominado de "dynastic poverty traps". Wahba (2002), utilizando

dados do Egito, mostra que a probabilidade de a criança trabalhar aumenta

em 10% quando a mãe trabalhou na infância e em 5% quando o pai

trabalhou. Emerson e Souza (2003) chegam a conclusão parecida, analisando

dados do Brasil, e atribuem o fenômeno às normas sociais, isto é, pais que

trabalharam quando crianças enxergam com mais naturalidade o trabalho

infantil e são mais propensos a colocar os filhos para trabalhar.”

Segundo a pesquisa de Cacciamali e Tatei, baseada nos dados da PNAD

2002, famílias nas quais as pessoas de referência se inserem no setor agrícola

tendem a utilizar mais o trabalho das crianças do que aquelas do setor urbano.

Neste contexto, cabe mencionar os programas de transferência de renda que

são ações de combate à pobreza e apresentam condicionalidades que visam ao

8KASSOUF, Ana Lúcia. O que conhecemos sobre o trabalho infantil? In Nova

economia, vol.17 no.2 Belo Horizonte May/Aug. 2007.

23

acúmulo de capital humano, por meio da obrigatoriedade de presença no sistema

escolar e atendimento médico adequado. Nacionalmente temos o Programa Bolsa

Família9:

“A curto prazo, o PBF busca ampliar o atendimento escolar às crianças e

estender os cuidados primários de saúde às famílias mais pobres, enquanto a

longo prazo visa a romper o ciclo da pobreza entre gerações por meio da

incorporação de capital humano e consequente maior e melhor oportunidade

de inserção no mercado de trabalho. Ressalva-se que, em um primeiro

momento, a transferência monetária direta pode diminuir os índices de

pobreza e de desigualdade de renda; no entanto, a eficácia das

condicionalidades para romper a transmissão da pobreza entre gerações, ou

seja, o efeito positivo de longo prazo do programa, dependerá da oferta de

melhor qualidade dos serviços de educação e de saúde.”

Ou seja, além do aumento de renda, é necessário melhorar o sistema

educacional para que os ciclos de pobreza sejam quebrados, além de se pensar em

programas de geração de emprego e atividades para o contra turno escolar.

“É importante também abordar as consequências desse trabalho

precoce. Nos estudos realizados por Kassouf (1999), Ilahi etal. (2000) e

por Emerson e Souza (2003), todos utilizando dados da PNAD para o

Brasil, fica claro que quanto mais jovem o indivíduo começa a

trabalhar, menor é o seu salário na fase adulta da vida e essa redução

é atribuída, em grande parte, a perda dos anos de escolaridade em

razão do trabalho na infância.” 10

Outra referência é o estudo realizado com dados da Prova Brasil.

9CACCIAMALI, Maria Cristina; TATEI, Fábio; BATISTA, Natália Ferreira. Impactos do Programa Bolsa

Família federal sobre o trabalho infantil e a frequência escolar. In Ver. Econ. Contemp. Vol. 14, nº2. Rio de Janeiro May/Aug.2010. 10

KASSOUF, Ana Lúcia. O que conhecemos sobre o trabalho infantil? In Nova economia, vol. 17, n. 2, Belo Horizonte, Mai/Ago, 2007.

24

Restou provado que, pelo desempenho dos alunos, constantes dos

questionários preenchidos por eles próprios, Ida Bojicic Ono constatou que o

desempenho escolar em língua portuguesa e matemática é pior entre as crianças e

adolescentes que trabalham, sendo que os que trabalham fora de casa e fora e

dentro de casa tem desempenho pior que aqueles que apenas trabalham dentro de

casa. Na 4ª série, por exemplo, a porcentagem dos que tem proficiência em língua

portuguesa em nível crítico e muito crítico é de 4,6% e 29,5% respectivamente para

crianças que não trabalham. Já crianças que trabalham no domicílio tem 6,4% e

36,5%, crianças que trabalham fora do domicílio 12,6% e 48,9% e crianças que

trabalham dentro de fora do domicilio 15,3% e 52,4%. Consequentemente, crianças

que não trabalham tem nível adequado em 45,2% dos casos, enquanto aquelas que

trabalham dentro e fora de casa em apenas 5,9% dos casos. O desempenho

também é pior na 8ª série e no 3º ano do ensino médio e para a proficiência em

matemática. 11

Baseada em dados da PNAD, o referido estudo constatou que o

analfabetismo é maior em crianças que trabalham em comparação com aquelas que

não trabalham, mas a diferença vai diminuindo com os anos. Aos 7 anos, 45,45%

das crianças que trabalham sabem ler e escrever, quando a porcentagem é de

78,21% para as que não trabalham. Na faixa de 13 a 14 anos essa diferença se

torna quase insignificante: 98,51% dos adolescentes que trabalham sabe ler e

escrever e 98,96% das que não trabalham.

A porcentagem de alunos com defasagem idade-série, também se amplia

quando os alunos trabalham fora de casa. Para aqueles que não trabalham a

defasagem atinge 28,44% na 4ª serie do ensino fundamental, 47,06% na 8ª serie do

ensino fundamental e 37,11% no 3º ano do ensino médio. Já para aqueles que

trabalham fora do domicilio a porcentagem passa a ser de 65,73%, 65,99% e

57,23%, respectivamente.

11

ONO, Ida Bojicic. O impacto do trabalho infantil no desempenho escolar. Mestrado em Economia Aplicada. Universidade de São Paulo. 2015.

25

No universo dos que trabalham, o desempenho tende a piorar com o maior

número de horas por semana, de acordo com os dados do questionário do Enem:

“Apenas 0,02% das crianças que trabalha mais do que 40 horas por semana tiveram

um desempenho satisfatório em Linguagens e um pouco mais de 3% em

Matemática.” 12

A autora destaca que o trabalho infantil afetou negativamente a proficiência

em Língua Portuguesa e Matemática, sendo que o trabalho fora de casa teve

impacto negativo maior. Além disso, famílias com mais membros também afetam

negativamente o desempenho. A escolaridade dos pais afetou positivamente o

desempenho, bem como a feitura de lição de casa e a adequação as instalações

escolares também tiveram esse efeito. Homens não brancos13 tendem a entrar no

mercado de trabalho mais cedo, enquanto mulheres tem maior participação em

trabalhos domésticos. O impacto negativo é maior nas séries iniciais do ensino

fundamental.

Limites da Pesquisa

A pesquisa se baseou nos dados dos procedimentos enviados pelo Ministério

Público do Trabalho. Desse modo, o primeiro filtro da pesquisa é a escolha do que

se torna procedimento administrativo no MPT e a classificação que esses

procedimentos ganham internamente. Apenas o que se tornou procedimento e foi

classificado como trabalho infantil pôde fazer parte do levantamento.

Além desses dados, outros foram encaminhados pelos órgãos setoriais da

assistência social, da saúde, do trabalho e da educação, além de dados coletados

na internet. Cada base de dados apresenta limitações que devem ser identificadas

para que não se tenha uma visão deturpada do problema geral.

12

ONO, Ida Bojicic. O impacto do trabalho infantil no desempenho escolar. Mestrado em Economia Aplicada. Universidade de São Paulo. 2015. 13

Cf. ONO, Ida Bojicic. O impacto do trabalho infantil no desempenho escolar. Mestrado em Economia Aplicada. Universidade de São Paulo. 2015

26

Os dados sobre educação permitem analisar uma das questões sobre o

trabalho infantil que é a evasão escolar. No entanto muitas crianças e adolescentes

que trabalham irregularmente continuam frequentando a escola, não sendo captados

por esse indicador.

Dados sobre acidentes do trabalho, em geral, são subnotificados mesmo

entre trabalhadores maiores de idade. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2013,

baseada nas declarações dos trabalhadores, constatou que 5,1% dos trabalhadores

sofreram acidente de trabalho nos últimos 12 meses.14 O número de acidentados é

muito superior ao verificado pelo Anuário da Previdência Social: seriam 4.948.000

trabalhadores acidentados pela PNS e 717.911 registrados na Previdência Social.

Isso indica a subnotificação desse tipo de acidente e ainda a falta de cobertura que

trabalhadores informais sofrem:

“A comparação mostrou que a PNS aponta números de quase 7 vezes os da

Previdência, sendo que há maior variação entre as Unidades da Federação

da região Norte e Nordeste. Sugere-se que essa diferença se deve à já

conhecida subnotificação do registro de acidentes, ao tipo de dado resultante

de cada pesquisa, e à baixa taxa de formalização do emprego, sendo este

último fator o responsável pelas maiores razões entre as Unidades de

Federação da região Norte e Nordeste.” 15

A questão da subnotificação pode ocorrer também na assistência social, já

que depende do entendimento do funcionário responsável pela anotação do dado.

Os dados do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério Público do

Trabalho apenas indicam em quais lugares esses órgãos atuaram e não,

necessariamente, os lugares de maior frequência do problema. Desse modo, para

uma análise, ainda que superficial do problema, é necessário considerar todas essas

14

IBGE. Pesquisa Nacional da Saúde, 2013. 15

FUNDACENTRO. Serviço de Estatística e Epidemiologia-SEE. Boletim: Acidentes de trabalho no Brasil em 2013: comparação entre dados selecionados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (PNS) e do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) do Ministério da Previdência Social.

27

dimensões da questão. Observar apenas um dado prejudicará a visão do trabalho

infantil.

No que tange aos procedimentos judiciais e extrajudiciais dos Ministérios

Públicos do Trabalho, alguns exigiram realização de pedido de vistas ao procurador

que decidia se concederia o acesso ou não. Em alguns procedimentos, como no IC

002051.2013.02.000/3, o pedido de acesso foi feito no dia 29.9.2015 e não houve

resposta até fevereiro de 2016.

Enquanto alguns procuradores tem a transparência como regra, outros

acreditam que a Resolução 69/2007 do Conselho Superior do Ministério Público do

Trabalho impediria o acesso amplo aos dados procedimentais. Segundo o art. 7º da

citada Resolução, “aplica-se ao inquérito civil o princípio da publicidade dos atos,

com exceção das hipóteses de sigilo legal ou em que a publicidade possa acarretar

prejuízo às investigações, casos em que a decretação do sigilo legal deverá ser

motivada.” No entanto, deve-se considerar a diferença existente entre os

procedimentos físicos e aqueles digitais, que possibilitam o acesso, sem impedir o

de outros.

Para os pesquisadores, alguns indeferimentos resultaram da falta de

identificação ou falta de motivação do pedido de acesso para a pesquisa. Percebe-

se que não há um padrão de resposta ao pedido de vista de procedimentos dentro

do órgão.

O sistema de digitalização dos procedimentos ainda está em andamento, o

que impediu o amplo acesso a dados e cópias de documentos que poderiam auxiliar

na compreensão mais ampla da realidade do trabalho infantil. Mas cabe mencionar

que o sistema de digitalização dos procedimentos, além de trazer maior agilidade

para quaisquer interessados, possibilita maior transparência sobre as relevantes

atividades do Ministério Público do Trabalho.

28

1. Perfil Geral dos Procedimentos do Ministério Público do Trabalho

Os procedimentos pesquisados originam-se da resposta referenciada dos

Ministérios Públicos do Trabalho e enviados para a Secretaria da Justiça e da

Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. A lista continha 820 procedimentos

do Ministério Público do Trabalho da 2ª região e 792 do Ministério Público do

Trabalho 15ª região. Foram utilizados apenas os referentes ao período de 2011 a

2014, sendo no total 739 e 775, respectivamente, desconsiderados aqueles ligados

a outros procedimentos como ações de execução de um processo principal.

A base de dados tem muitas informações relevantes, mas é importante

destacar os limites da seleção escolhida. O Ministério Público do Trabalho, em geral,

atua provocado por denúncias ou a partir de processos judiciais ou procedimentos

de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego. Desse modo, sua atuação fica

muitas vezes condicionada a uma atuação anterior de outro órgão.

O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região abrange os municípios de São

Paulo, Arujá, Barueri, Biritiba-Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Cubatão,

Diadema, Embu, Embu-Guaçu, Ferrás de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da

Rocha, Guararema, Guarujá, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itapevi,

Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco,

Pirapora do Bom Jesus, Poá, Praia Grande, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra,

Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba, Santo André, Santos, São Bernardo

do Campo, São Caetano do Sul, São Vicente, Suzano e Taboão da Serra.

A Justiça do Trabalho da 15ª região, criada pela Lei nº 7.520/1986, abrange

os demais Municípios do Estado, não incluídos na competência da Justiça do

Trabalho da 2ª Região.

Foram enviados como resposta ao ofício de solicitação de informações, dados

referentes a 731 casos autuados no período de 01.01.2011 a 03.02.2015, em que

constava como uma das questões o trabalho infantil (código interno do MPT15

29

07.04.01) e 61 casos autuados, em que constava o trabalho infantil doméstico

(código interno do MPT15 07.04.03).

Como na primeira listagem também havia casos com trabalho infantil

doméstico e na segunda listagem por definição já estava incluído no primeiro grupo,

optou-se por tratar os dois grupos conjuntamente, resultando num total de 792 casos

autuados no período, sendo que 17 casos são de 2015.

É importante informar que os dados utilizados envolvem procedimentos que

estavam em andamento ou que foram arquivados, independentemente do resultado

final ter sido a constatação do trabalho infantil. Optou-se por considerar todos os

dados em que havia a indicação da existência desse tipo de trabalho e não apenas

os casos em que isso foi comprovado ao final do procedimento.

Verificou-se um aumento progressivo nas autuações do MPT-15: em 2011

foram 62; em 2012, 183; em 2013, 229; em 2014, 301; e em 2015, 17 apenas até o

dia 03.02.2015.

Fonte: Procedimentos enviados pelo MPT15 acerca de trabalho infantil.

30

As datas são referentes às atuações e não se relacionam, necessariamente, à

data dos fatos. Do total, 230 casos autuados resultaram em Termos de Ajustamento

de Conduta (TAC) e outras 562 não.

Do status das autuações do MPT-15 constavam 329 procedimentos

arquivados, 169 arquivados com TAC, 148 ativos, sendo que destes ativos, 15

estavam na Câmara de Coordenação e Revisão (CCR), 72 desativadas e 59 em

acompanhamento. Tratando-se da dinâmica dos procedimentos, qualquer número

trará apenas um retrato de determinado momento, porque os procedimentos

evoluem e são direcionados a lugares diferentes ao longo do tempo.

Os dados da tabela enviada pelo órgão apresentaram, em muitos casos,

informações incompletas, pois não havia partes identificadas em 35 casos autuados.

Em outros 11 casos autuados não há identificação da empresa, mas o ramo

econômico em que atua fica claro, constando como olarias ou bares. Em um caso

houve a menção a empresas que promoveram a Copa e as Olímpiadas.

Quarenta e sete pessoas físicas ou jurídicas contaram com mais de uma

autuação. Em apenas 118 dos procedimentos havia mais de uma parte envolvida e,

o máximo de partes envolvidas, em um único caso, foi de sete. Em 401 casos

autuados há o número dos documentos (CPF e/ou CNPJ) das pessoas e empresas

envolvidas, permitindo melhor detalhamento da situação.

A classificação utilizada varia bastante. Enquanto 250 autuações tinham

apenas um código da classificação interna do MPT, em um caso foram utilizados 25

códigos. Mas é importante observar que os códigos podem se referir a outras

situações dentro do mesmo ambiente e não, necessariamente, à situação das

crianças e adolescentes. Foram utilizados 113 códigos diferentes para classificar as

situações encontradas.

Setenta e quatro autuações são da região de Araçatuba, 39 de Araraquara,

82 de Bauru, 266 de Campinas, 68 de Presidente Prudente, 88 de Ribeirão Preto, 57

de São José do Rio Preto, 54 de São José dos Campos e 64 de Sorocaba. Em 87

dos registros não há menção ao Município onde se deu a autuação, apesar de

31

constar a região. O Município com o maior número de casos na 15ª Região foi

Campinas com 53, seguido de Ribeirão Preto (23), Presidente Prudente (18),

Jundiaí, Limeira e Santa Adélia (16), Franca (15) e São José dos Campos (14).

O código de classificação da infração mais frequente é o “trabalho inferior a

16 anos” que está presente em 748 casos e foi a base de busca da grande maioria

dos casos. Em seguida “trabalhos proibidos ou protegidos” (300 casos) e “outras

formas de trabalho proibido ou protegido” (78), “exploração do trabalho da criança e

do adolescente” (295), “registro e Carteira de Trabalho e Previdência Social” (198),

“equipamentos de proteção individual ou coletiva” (107) e “trabalho infantil

doméstico” (81). Algumas classificações não se mostram muito úteis à identificação

do problema como “temas gerais” e outras pecam por trazerem a possibilidade de

sobreposições como “assédio moral” (17) e “assédio moral e discriminação dos

trabalhadores” (6). Outras questões relevantes identificadas nos códigos foram

“atividades ilícitas” (35) e “outras atividades ilícitas” (9), “trabalho em ruas e

logradouros públicos” (31), exploração sexual comercial (27), atividades e operações

insalubres (16), trabalho noturno (8), jornada exaustiva (6), trabalho na catação do

lixo (5), condição degradante (5), assédio sexual (5), atividades e operações

penosas (2) e perigosas (2), trabalho análogo ao de escravo, tráfico de

trabalhadores e trabalho indígena (1), servidão por divida (1), aliciamento e tráfico de

trabalhadores (1) e coação sobre trabalhadores (1).

Após essa primeira avaliação do problema, elegeu-se o ano de 2013 para o

estudo mais aprofundado dos documentos dos procedimentos administrativos

porque, até o momento da pesquisa, era o ano em que havia dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD16 - e também por ser um ano mais

central dentre os escolhidos, pois imaginou-se que a análise dos procedimentos

estivesse mais madura do que os de 2014.

O critério temporal pareceu mais “neutro”, apesar de também ter limitações e

enviesar a análise como qualquer outro. Foram eliminados procedimentos em

16

Posteriormente houve o lançamento das informações acerca de 2014.

32

duplicidade, obtendo-se, ao final, 396 procedimentos da 2ª e da 15ª Regiões para o

estudo.

Os procedimentos foram classificados em rural ou urbano, de acordo com a

atividade exercida pela criança ou adolescente e pela atividade da empresa. Apenas

foram considerados como rurais casos envolvendo agricultura, pecuária, carvoarias,

olarias e empresas localizadas na zona rural com atividade ligada ao campo, como o

turismo rural. No caso de fábricas localizadas na zona rural, considerou-se trabalho

urbano. As informações foram obtidas pela leitura dos procedimentos, a observação

dos endereços e a verificação da atividade da empresa no cadastro da Junta

Comercial do Estado de São Paulo ou o cadastro do Ministério da Fazenda, quando

disponível.

Em 80 procedimentos não foi possível a identificação do trabalho por estar

desativado no sistema eletrônico (não estar mais acessível) ou não ter sido obtida

vista, sendo impossível a pesquisa pelo nome da empresa que, em geral, estavam

em nome de pessoas físicas.

Apenas 21 procedimentos se relacionaram relacionavam com o trabalho rural.

Destes casos, um envolvia uma menção genérica a “roça”, um caso de turismo rural,

onde houve acidente de trabalho, dois casos envolvendo olarias, dois casos

envolvendo carvoarias. Outros casos envolviam corte de cana, colheita de laranja,

cebola e beterraba.

Os demais 295 procedimentos envolviam trabalho urbano, relacionados em

geral com comércio, serviços e indústria, mas também envolvendo exploração

sexual, mendicância e verificação do cumprimento das cotas de aprendizes nas

empresas. 17

17

Essas ações incluem a verificação do cumprimento da cota de aprendizagem dos 14 aos 24 anos, não se referindo necessariamente apenas a trabalho infantil.

33

1.1. Como Surgiram as Denúncias

Considerou-se relevante levantar como os procedimentos se iniciaram; ou

seja, qual a porta de entrada para a atuação do MPT no tema do trabalho infantil.

Dos 396 procedimentos analisados, em 131 não foi possível determinar como

se iniciou o procedimento administrativo por não haver tal informação ou não ser

possível o acesso aos autos por indeferimento das vistas ou por estar o

procedimento desativado.

Dos 265 procedimentos em que havia a informação, constatou-se que o

Disque Direitos Humanos - um serviço de recebimento, encaminhamento e

monitoramento de denúncias de violação de direitos humanos do governo federal

(Disque 100) - foi responsável pelo inicio de 84 procedimentos. Denúncias por outros

meios, especialmente ao próprio MPT, foram responsáveis por 54 procedimentos.

Ao mesmo tempo em que se mostra um importante meio de acesso ao Poder

Público, por aqueles que buscam um canal adequado, as denúncias, muitas vezes,

carecem de fundamento, especificação ou veracidade, conforme informa o

procurador no procedimento nº 001010.2013.02.000/4: “Seja pelo volume, seja pelas

imprecisões, seja por geralmente veicular casos individuais, seja pela complexidade

dos casos, a experiência tem revelado dificuldades na apuração das denúncias que

chegam através do Disk 100.” É relevante também destacar que se trata de um

canal que exige algum retorno, fazendo com que os procuradores encaminhem o

desfecho das denúncias de volta ao Disque Direitos Humanos.

Em alguns casos é possível verificar que não ficou comprovada a atribuição

do MPT, tendo sido o procedimento indeferido, mas restou demonstrada a

preocupação em informar os órgãos responsáveis como o Conselho Tutelar e a

Promotoria de Justiça, como no procedimento nº 001663.2013.15.000/6.

É bastante relevante essa atitude, já que muitas vezes o cidadão não sabe o

meio adequado de combater determinadas violações de direitos humanos e a

denúncia pode se perder nas divisões burocráticas do Estado.

34

A atuação do MPT na fiscalização do cumprimento das cotas de aprendizes

foi responsável por 46 procedimentos18. De acordo com o art. 429 da Consolidação

das Leis do Trabalho os estabelecimentos são obrigados a empregar e matricular

nos cursos dos serviços nacionais de aprendizagem de 5% a 15% dos trabalhadores

de cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.

A importância desse estudo relaciona-se com a prevenção do trabalho infantil:

o preenchimento de cotas com trabalhadores aprendizes que tem carga de trabalho

reduzida e são capacitados enquanto exercem suas funções é um modo de evitar

que tarefas inadequadas sejam direcionadas aos adolescentes. No entanto, existem

situações em que fica claro o desvirtuamento da função educativa, onde os

aprendizes recebem salários mais baixos que seus paradigmas e há desempenho

de atividades proibidas.

Algumas empresas como uma de segurança do procedimento nº

002698.2013.02.000/0 relatam dificuldades na contratação dos aprendizes

justamente por conta da atividade principal da empresa: armas e trabalhos noturnos.

Problema semelhante da empresa de resíduos sólidos do procedimento nº

002718.2013.02.000/7 que desempenha muitas atividades insalubres que são

proibidas a menores.

Em outros casos, há dificuldades das empresas reconhecerem a importância

da cota e a necessidade de seu cumprimento. Grande parte desses procedimentos

deu origem a Termos de Ajustamento de Conduta para que houvesse a adequação

das empresas à lei.

Oito procedimentos tiveram origem em outros procedimentos administrativos

do próprio MPT e outros 29 tiveram origem em processos trabalhistas. 14

procedimentos tiveram origem em ofícios da Promotoria Estadual da Infância, que

tendo conhecimento de denúncias de trabalho infantil, encaminham ao MPT.

18

Essas ações incluem a verificação do cumprimento da cota de aprendizagem dos 14 aos 24 anos, não se referindo necessariamente apenas a trabalho infantil.

35

Foram agrupadas denúncias vindas por outros órgãos como prefeituras (2) e

SJDC (1), totalizando 8 procedimentos.

A atuação do MPT “de ofício” diz respeito aos casos em que o MPT atuou

sem a provocação de outro órgão, estando divididos os de verificação de

cumprimento da cota de aprendizagem e os relacionados a outras questões que

somam sete procedimentos (atuação não preventiva).

Fonte: Procedimentos enviados pelo MPT15 acerca de trabalho infantil.

Importante ressaltar que os procedimentos que tiveram início “de ofício” pelo

MPT, para verificação do cumprimento da cota de aprendizagem, são todos da 2ª

região.

36

Fonte: Procedimentos enviados pelo MPT15 acerca de trabalho infantil.

1.2. Locais das Ocorrências

No que tange aos locais dos fatos que deram origem aos procedimentos,

alguns dados obtidos permitiram a consulta aos procedimentos e a identificação do

local da ocorrência; mas em 11 procedimentos não foi possível determinar a

localização.

O município com maior número de procedimentos foi São Paulo com 126,

seguido de Campinas (23), Mogi das Cruzes (15), Araçatuba (7) e Franca (7). 132

municípios tiveram a atuação do MPT em 2013, seja repressiva ou preventiva.

37

Mapa dos municípios dos procedimentos do MPT de 2011 a 2014

Fonte: elaboração própria tendo por base os procedimentos do MPT-2 e MPT-15.

1.3. Termos de Ajustamento de Conduta

No que concerne aos desdobramentos de responsabilidade, em 116

procedimentos consta assinatura dos Termos de Ajustamento de Conduta. A maior

multa determinada em Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) foi no valor de

R$50.000,00 por irregularidade em relação ao TAC assinado juntamente com multa

diária de R$1.000,00 no procedimento nº 002499.2013.15.000/1. As menores foram

de R$ 200,00 por trabalhador irregular nos procedimentos nº 1566.2013.15.000/5, nº

2135.2013.15.000/0, nº 589.2013.15.003/0, nº 2522.2013.15.000/6 e nº

000082.2013.15.000/0.

38

O Fundo de Amparo ao Trabalhador é o destino mais frequente das multas

segundo os TACs assinados. Em 89 casos o fundo era uma opção de destinação, às

vezes sozinho, às vezes com outros fundos ou instituições filantrópicas, a critério do

procurador do trabalho responsável pelo procedimento.

Em quatro procedimentos o destino foi o Fundo para Infância e Adolescência

(FIA), sendo que em apenas um procedimento “instituições” foram a única

alternativa. Um procedimento destinaria a fundos nacionais, estaduais ou municipais

de criança ou adolescente, no entanto a multa acabou sendo destinada a uma

associação.

Em quatro procedimentos a destinação foi o Fundo de Direitos Difusos, sendo

que em apenas um foi a destinação exclusiva. Um procedimento destinaria ao

Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente ou ao Fundo de Amparo

ao Trabalhador (FAT). Há uma menção ao Fundo dos Direitos da Criança e do

Adolescente e uma ao Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Em três procedimentos a destinação foi ao Fundo Municipal de Defesa dos Direitos

da Criança e do Adolescente. Em três procedimentos os recursos seriam destinados

apenas a instituições, sem menção a qualquer fundo estatal.

A multa foi aplicada em poucos casos e verificou-se a preocupação em

realizar de forma proporcional a cobrança das multas: no procedimento nº

000073.2013.02.005/2, por exemplo, a multa de R$5.000,00 para cada trabalhador

encontrado em situação irregular foi paga pela metade, considerando que a

adolescente se encontrava no local há apenas um dia e a espontaneidade no

pagamento da multa. A quitação foi feita com a doação de bens no valor acordado

na audiência.

Em outros dois procedimentos, o pagamento da multa foi substituído por

doação de cestas básicas para instituições filantrópicas para ressarcimento do dano

coletivo causado pela contratação de adolescentes de forma irregular.

É interessante notar que alguns procedimentos são arquivados logo após a

assinatura do TAC: “considerando a formalização do Termo de Ajuste de Conduta nº

39

124/2013 e a natureza das obrigações assumidas que não comportam fiscalização

ostensiva de seu cumprimento por parte do Ministério Público do Trabalho, aliado ao

fato de o Conselho Tutelar de Araçatuba e a Gerência Regional do Trabalho e

Emprego terem sido devidamente cientificados do acordo formalizado (fls. 46/47), o

que viabiliza denúncia de eventual descumprimento do quanto ajustado, promovo o

ARQUIVAMENTO do presente PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO, sem prejuízo

de desarquivamento à vista de novas denúncias.” (procedimento nº

000235.2013.15.004/2-70).

Em outros, se busca realizar pelo menos uma diligência para averiguar o

cumprimento do acordado, como no procedimento nº 000393.2013.15.008/4. Em

outros ainda, o cumprimento do TAC é provado apenas com a juntada de

documentos, como no procedimento nº 000447.2013.15.002-2. Há casos ainda de

descumprimento do TAC, mas considerando as circunstancias fáticas, não se

aplicou multa e arquivou-se o procedimento (nº 000735.2013.15.006/0).

Poucos procedimentos trazem o número de pessoas submetidas a exploração

especificado, e em muitos não se verifica a procedência da denuncia, quando da

realização da diligência. As idades variam entre 3 e 17 anos.

Procedimentos como os de nº 000.414.2013.15.003/0 e nº

000450.2013.15.007/6, indicam que a violência física ou verbal acompanha a

situação irregular. Esse é um ponto relevante para que se possa relativizar o

discurso de trabalho dignificante, quando a realidade de exploração pode envolver

riscos e danos irreparáveis ou de difícil reparação para as pessoas em

desenvolvimento.

1.4. Piores Formas de Trabalho Infantil

O Decreto nº 6.481/2008, que regulamenta a Convenção nº 182, traz como

referencia as diretrizes de proteção integral da infância e juventude especificando

em um rol descritivo as piores formas de trabalho infantil.

40

Entre as piores formas de trabalho infantil listadas, uma das mais frequentes é

o trabalho em “lava-jato” (item I. 77 da lista das Piores Formas de Trabalho Infantil –

lista TIP). Também foi encontrado trabalho infantil na construção civil (item I. 58), na

colheita (item I. 3) e no corte da cana (item I. 2).

Em entrevista concedida para esta pesquisa, o Desembargador João Batista

Martins César (ex-membro do Ministério Público do Trabalho e atualmente

desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região) afirmou que o

enfretamento deveria se dar baseado na lista TIP19 com “enfoque na área rural que

é a área que é menos visível.” A invisibilidade do problema, a naturalidade com que

é tratado e a dificuldade na fiscalização tornam o trabalho infantil rural muito difícil de

combater.

A dificuldade de fiscalização foi observada no meio rural, sendo que nos

procedimento nº 000252.2013.15.000-0 e nº 002527.2013.15.000-3, o Ministério do

Trabalho e Emprego não encontrou a colheita onde estariam sendo empregadas

crianças e adolescentes. No procedimento nº 002522.2013.15.000/6 houve

dificuldade em encontrar o local da colheita e se perdeu a época em que ela

ocorreu, estando agora a espera do próximo ano para a verificação do trabalho

infantil.

Ainda, dentre as piores formas encontradas, o trabalho como cuidador de

crianças em buffets infantis (item I. 75), trabalhos domésticos (item I. 76), o trabalho

na rua (item I. 73), seja na mendicância, seja na panfletagem e o trabalho em bar

(item II. 3).

O procedimento nº 002499.2013.15.000/1 tratou de um acidente de trabalho

ocorrido em uma empresa envolvendo dois menores de idade com posterior

assinatura de TAC. É relevante observar que mesmo empresas cujas atividades

principais possam se mostrar “inofensivas”, no caso em apreço, segundo o cadastro

da Junta Comercial do Estado de São Paulo, se tratava de um restaurante com

19

A lista TIP é a lista das piores formas de trabalho infantil, integrante do Decreto nº 6.481/2008.

41

atividades de lazer, e tal ambiente pode levar a graves riscos da integridade física e

psíquica das crianças e adolescentes.

É interessante observar que a atuação varia de acordo com o posicionamento

do procurador: no procedimento nº 002916.2013.02.000/0 em que se verificou

mendicância, o procurador considerou que se tratava de situação análoga à

exploração de trabalho infantil nas ruas:

“De acordo com a descrição constante do Temário MPT, à fl. 180, o trabalho

exercido em ruas, praças e outros logradouros públicos pode representar

sério risco à criança e ao adolescente, dele advindo insuperável prejuízo à

sua formação moral. Inúmeros são os riscos que podem atingir o

desenvolvimento biopsicossocial de crianças e adolescentes nestas

atividades de rua: abusos sexuais, atropelamentos, morte, violência física,

problemas de pele, entre outros.”

Já em outro procedimento – nº 004417.2013.02.000/6 – que envolvia

mendicância, a decisão foi oposta:

“Trata-se de denúncia de exploração de menor em logradouro público, em

atividade de mendicância e venda miúda de produtos (panos de prato) aos

transeuntes e motoristas com veículos parados nos semáforos. Tais

atividades não são consideradas trabalho remunerado, muito menos se

inserem numa lógica capitalista de produção.”

1.4.1. Atividades Ilícitas

No caso de denúncia sobre adolescentes trocando sexo por drogas

(procedimento nº 002649.2013.15.000/4) e no caso de tráfico de drogas

(procedimento n° 002773.2013.15.000/8) o MPT entendeu que não era de sua

competência, encaminhando a órgãos como a Promotoria da Infância e o Conselho

Tutelar.

42

Do mesmo modo, no procedimento nº 000133.2013.15.002/5, justificou-se o

indeferimento:

“Assim, inicialmente, não há que se falar em irregularidades trabalhistas

a serem investigadas, uma vez que as irregularidades restringem-se, a

priori, ao aliciamento de menores para o tráfico de drogas, afastando a

atuação deste órgão ministerial especializado, que exerce suas atribuições

junto aos órgãos da Justiça do Trabalho.”

No procedimento nº 001191.2013.15.000/8 também houve indeferimento:

“para que se possa iniciar uma investigação é necessário que os fatos

denunciados estejam compreendidos dentro do âmbito de atuação deste

Órgão, o que não ocorre no caso vertente em que o fato narrado constitui

crime sujeito à jurisdição da Justiça Estadual.”

No entanto, há um debate sobre a exploração de trabalho infantil em

atividades ilícitas, sendo que a Convenção 182 da OIT, incorporada no ordenamento

jurídico brasileiro por meio do decreto nº 3.597/2000 esclarece que a expressão “as

piores formas de trabalho infantil” inclui:

“Art. 3º, c) a utilização, recrutamento ou a oferta de crianças para a

realização para a realização de atividades ilícitas, em particular a produção e

o tráfico de entorpecentes, tais com definidos nos tratados internacionais

pertinentes;”

A informalidade ou a ilicitude da conduta não podem servir de pretexto à

impunidade e ao desrespeito aos direitos das crianças e adolescentes.

A atuação de outros órgãos setoriais como a rede de assistência social ou a

Promotoria da Infância são relevantes, mas o MPT também tem um papel importante

na situação, ainda mais considerando as relações de trabalho de forma ampla.

No entanto, essa postura mais restrita de atuação se coaduna com a

jurisprudência trabalhista majoritária, havendo inclusive orientação jurisprudencial do

43

Tribunal Superior do Trabalho (OJ nº 199) que não reconhece o vínculo de trabalho

no caso de jogo do bicho por ser atividade ilícita.

Desse modo, uma regra que é feita para proteger (a tipificação dos crimes de

favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança ou

adolescente – art. 218-B do Código Penal e de corrupção de menores com ele

praticando ou o induzindo a pratica de infração penal art. 244-B do Estatuto da

Criança e do Adolescente), acaba prejudicando a proteção de suas vítimas, por

impedir a averiguação da situação irregular de trabalho.

Ainda sobre a competência do MPT, no procedimento nº

002583.2013.15.000/0, que tratava de denúncia de exploração sexual e agressão

pela mãe das duas adolescentes, a instauração do inquérito foi indeferida:

“a exploração sexual de crianças e adolescentes para fins comerciais

constitui patente relação de trabalho ilícita e degradante, nos exatos termos

do artigo 3°, item “b”4, da Convenção nº 182 da Organização Internacional

do Trabalho, que ofende não somente direitos individuais do lesado, mas

também e, fundamentalmente, os interesses difusos de toda a sociedade

brasileira. Contudo, no caso denunciado, observa-se que as irregularidades

expostas, por ocorrerem no âmbito familiar, guardam correlação com o

exercício do poder familiar. Nesse contexto, no caso in concreto, pelo teor da

denúncia, o abuso sexual praticado em face das menores não configura

nenhuma espécie de exploração de trabalho infantil, porquanto não realizado

para fins comerciais ou lucrativos, o que, pelo menos por ora, afasta a

atuação do Ministério Público do Trabalho, cuja atuação está adstrita às

hipóteses elencadas no art. 114 da Constituição Federal c.c. art. 84 da Lei

Complementar nº 75/93.”

Ou seja, a exploração sexual sendo perpetrada por parente foi

descaracterizada como exploração sexual comercial, apesar de estar claro “que o

dinheiro arrecadado com a exploração sexual seria utilizado pela denunciada para

seu sustento e despesas da casa”.

44

Nesse caso fica clara a interpretação de alguns procuradores acerca da

competência do órgão. No episódio da limitação de investigação da exploração do

traficante e da exploração sexual comercial pela genitora das adolescentes, poderia

existir exploração de trabalho infantil e, por isso, as crianças e adolescentes

deveriam ser protegidos, independentemente da existência de processo penal ou

indenização cível. A falta de punição na questão do trabalho em atividades ilícitas

pode ser benéfico para os exploradores, que não terão a investigação acerca do

trabalho infantil empreendida.

A Comissão Parlamentar de Inquérito20, que no ano de 2014 publicou o

Relatório Final de suas atividades, concluiu, entre outros pontos, que:

“1. A exploração sexual de crianças e adolescentes ocorre em todo o

território nacional e em todas as classes sociais. Existem quadrilhas

especializadas, que atuam junto a hotéis, boates, motéis, taxistas, doleiros e

agências de turismo, captando, treinando e escravizando sexualmente

crianças e adolescentes; 2. Muitas dessas crianças e adolescentes

exploradas sexualmente encontram-se em situação de rua o que as torna

mais vulneráveis ao ataque desses criminosos; 3. Não há uma idade mínima

para a exploração sexual de crianças e adolescentes. Crianças de até cinco

anos são vítimas dessa violência. A exploração sexual atinge meninas e

meninos, homossexuais, travestis e lésbicas; 4. A miséria, o desemprego, a

desestruturação familiar, a violência doméstica encontram-se entre as

causas da exposição dessas crianças e adolescentes à exploração sexual.”

Ainda sobre o poder familiar, também no procedimento nº

001663.2013.15.000/6 houve o indeferimento da instauração do inquérito, já que se

considerou haver aí abuso do poder familiar num caso de mendicância:

“Contudo, a matéria tratada não atrai a atuação do Ministério Público do

Trabalho, já que não existe conotação econômica na relação de exploração,

20

CÂMARA DOS DEPUTADOS. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO: EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Relatório Final, 2014.

45

mas sim indiscutivelmente cível, devendo ser tratada sob a ótica do ECA e

do direito de família, e não da relação trabalhista disciplinada pela CLT. Com

efeito, trata-se de exploração de trabalho de menores e de agressões físicas

e psicológicas impostas pela própria família. Nesta esteira, cuida-se de

situação que envolve a degradação do ambiente familiar e não de uma

relação de trabalho propriamente dita. Ausente a relação de trabalho

envolvendo as menores e um determinado empregador, entende-se que os

fatos denunciados não se inserem no rol de atribuições do Ministério Público

do Trabalho.”

O procedimento nº 001875.2013.15.000-8 também foi tratado como :

“situação que envolve a degradação do ambiente familiar e não de uma

relação de trabalho propriamente dita, mesmo havendo a denúncia de

exploração em costura e tráfico de drogas.”

No procedimento nº 000602.2013.15.003-6 também a exploração do

adolescente vendendo nhoque não foi compreendida como de competência do

Ministério Público do Trabalho por não ser o “caso de exploração do trabalho por

terceiros com fins econômicos/exploração do trabalho.”

No procedimento nº 002716.2013.15.000/6-10 justificou-se a falta de

intervenção, pela atuação do Conselho Tutelar no caso:

“Em decorrência do princípio da intervenção mínima, entendo que no

presente caso não se justifica a intervenção do Ministério Público do

Trabalho, pois já existe acompanhamento do Conselho Tutelar, com

lavratura, inclusive, de Termo Circunstanciado para apuração do abandono

moral, e caso seja constatada a existência de situação de perigo com

necessidade de intervenção, o Conselho Tutelar, bem como a Promotora de

Justiça da Infância e da Juventude de Americana deverão adotar as medidas

adequadas a fim de atender prioritariamente os direitos da criança.”

46

No procedimento nº 000556.2013.15.005/6 tendo havido denúncia de

exploração econômica de criança pelo padrasto e pela mãe em bar, o MPT

considerou que:

“o quadro de abandono prende-se ao comportamento reprovável do

padrasto e da mãe. Trata-se de um problema familiar, em que o

comportamento negligente e imprudente advém daqueles que detêm o pátrio

poder, responsáveis legalmente pelo provimento material e afetivo da menor.

Neste contexto, a questão trabalhista decorre do quadro de quase abandono

material e moral da menor, o que exige das autoridades públicas o ataque às

causas do problema globalmente consideradas e não o ataque pontual a

uma das consequências, que é a “ajuda” da menor nas tarefas profissionais

desenvolvidas pelo padrasto. (...) Outrossim, não vislumbro repercussão

social da lesão, tal como ocorre em empreendimentos empresariais que se

utilizam do trabalho do menor de 18 (dezoito) anos indevidamente.”

Nesse mesmo sentido é a posição do MTE, conforme afirmou Leonardo

Soares em pesquisa sobre o assunto:

“Se descobrir que o pai ou a mãe é a pessoa responsável pela exploração,

por exemplo, deixa de haver uma relação de emprego e a fiscalização em si

não pode fazer nada. Nesses casos, é importante o trabalho em rede, quem

pode agir é o Ministério Público ou o conselho tutelar.” 21

Noutro caso de exploração por parente – menor que trabalhava no salão de

beleza da tia – o MPT indeferiu a abertura de procedimento por entender não ser da

sua competência:

“Com relação às referências ao exercício de atividades no “salão”. Na casa

da tia da menor, é mister esclarecer que a mínima descrição não nos

autoriza outra leitura que não seja a de atividade exercida no âmbito familiar,

sem a ocorrência dos pressupostos da relação de emprego, eis que não se

21

REPORTER BRASIL. Brasil livre do trabalho infantil.

47

trata de trabalho executado por crianças e adolescentes em casa de

terceiros.(...) Portanto, no caso presente, ainda que verificada a ocorrência

de violações a direitos do menor, em razão do trabalho exigido ser superior

aos seus recursos físicos e mentais, com prejuízo ao seu desenvolvimento

educacional, não há que falar em relação de emprego, devendo tal violência

ser coibida segundo os ditames da lei especial que rege a matéria, qual seja,

o Estatuto da Criança e Adolescente, em especial os arts. 22; 98, II; 101;

129; 130 e 232.”

No procedimento nº 000086.2013.15.000/0 também se verificou a negativa

para abertura de procedimento:

“Trata-se de representação encaminhada pelo Departamento de Ouvidoria

Nacional de Direitos Humanos dando conta de que o representado, Sr.

L.A.O., agride e negligencia seu filho de 15 anos. Além disso, estaria

colocando o adolescente para trabalhar em local não informado; outrossim,

assevera ser o denunciado pessoa agressiva. Entendo que o caso merece

atuação do Ministério Público Estadual, no que e entender pertinente, num

primeiro momento, diante dos fatos narrados, e não deste MPT uma vez que

se comprovada a denúncia o fato poderá ter natureza penal.”

Em outra situação, a adolescente explorada em serviços domésticos e em

atividades de cunho econômico pela mãe e pelo companheiro da mãe, a abertura de

procedimento também foi indeferida (000096.2013.15.000/8), mencionando o MPT o

dever dos órgãos do executivo:

“Nessa linha, compete primordialmente ao Ministério Público Estadual e aos

órgãos que exercem poder de polícia a pronta adoção de medidas em face

dos representados, sobretudo para cessação da conduta lesiva à menor.

Destaque-se, ainda, que não cabe ao Ministério Público do Trabalho exercer

primordialmente atribuição inerente à de fiscalização ou de poder de polícia,

mas sim aos órgãos executivos do Estado.”

48

Pela mesma questão, a negativa no procedimento nº 001088.2013.15.000/2-

10:

“Importante ressaltar, ainda, que a exploração econômica alegada na

denúncia não é referente à relação de emprego ou de trabalho, não existindo

providências a serem adotadas no âmbito de atuação do Ministério Público

do Trabalho.”

Tem-se, portanto, que quando envolve as relações familiares e/ou ilícitas, a

maior parte dos procuradores indefere a abertura de procedimentos, de plano, e

encaminha ofícios a outros órgãos, deixando de acompanhar o problema por

entender não ser de sua competência.

1.4.2. Trabalho Doméstico

O trabalho doméstico é pouco visível, tanto na percepção da população, nas

denúncias, quanto na fiscalização, que conta ainda com a inviolabilidade domiciliar

como um entrave.

No procedimento em que a situação foi denunciada (nº

000639.2013.15.000/8), o MPT considerou que não se tratava de competência sua,

mesmo com a exploração do trabalho doméstico sendo realizada em casas de

terceiros, com a avó e a tia explorando os adolescentes:

“No caso em tela, entendemos que a apuração de maus tratos (agressões

físicas e verbais) é de competência da Justiça Comum Estadual, sendo

promovida pelo Ministério Público Estadual - Promotoria da Infância e da

Juventude em Campinas. Destarte, não pode o Ministério Público do Trabalho

atuar no presente feito, sob pena de usurpar a legitimidade

constitucionalmente atribuída ao Parquet Estadual. Já com relação a

obrigação de realizar afazeres domésticos, entendemos que quando estes

não interferem no desenvolvimento normal da criança e do adolescente,

49

dentro do próprio núcleo familiar, não se amoldam prima facie à figura de

trabalho infantil, cabendo ao Conselho Tutelar atuar nas funções de

verificação, aconselhamento e orientação das famílias no trato com crianças e

adolescentes. Caso constatado a interferência desses afazeres domésticos

no bom desenvolvimento dos menores envolvidos e persistindo o problema,

este Órgão Ministerial deverá ser comunicado para abertura de investigação.”

É importante frisar que o trabalho doméstico é proibido para menores de 18

anos, por ser uma das piores formas de trabalho infantil e expor a criança ou o

adolescente a diversos riscos. Segundo dados da PNAD 2011, havia 20.381

pessoas de 5 a 17 anos realizando serviços domésticos no Estado de São Paulo,

sendo que dessas 3.361 de 10 a 13 anos e 4.197 na região metropolitana de São

Paulo. No Estado apenas pessoas do sexo feminino foram contabilizadas no serviço

doméstico.

1.5. Duração da Exploração e do Procedimento

Em poucos procedimentos fica clara a duração da exploração do trabalho

infantil. Quando ele está determinado, o tempo varia de poucos dias a anos de

exploração. A duração superior a cinco anos não foi comprovada em nenhum

procedimento, seja por não sido constatada a irregularidade, seja por não haver sido

encontrada a empresa denunciada.

Os procedimentos indeferidos duraram menos de um mês, enquanto outros

estão ativos desde 2013, especialmente pela demora na realização de diligências,

tanto na averiguação do problema, quanto na verificação de cumprimento do

conteúdo acordado pelos Termos de Ajustamento de Conduta.

O tempo da exploração e o tempo do procedimento são totalmente

independentes, já que o início do procedimento se dá quando já existe a exploração.

50

1.6. Relação com a Vítima

Em geral, a relação do explorador com a vítima era apenas de trabalho; mas

também há procedimentos em que a exploração foi realizada pelos genitores ou

padrastos da criança ou adolescente. Há também citação de exploração por primos,

tios e avós.

Não foi possível aprofundar a análise dessa relação por não haver tantos

dados disponíveis.

1.7. Crianças e Adolescentes e o Esporte

Pelo menos quatro procedimentos (nº 000195.2013.02.003/5, nº

000095.2013.02.004/1, nº 000096.2013.02.004/9 e nº 000097.2013.02.004/6) foram

decorrentes de um trabalho preventivo em relação a crianças e adolescentes em

clubes de futebol: a Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho

de Crianças e Adolescentes (Coordinfância) tem um plano de ação nacional e, a

partir dele o MPT, atua preventivamente fazendo recomendações e fiscalizações em

determinadas áreas.

Nesse sentido é importante distinguir as diversas modalidades de esporte. De

acordo com a publicação sobre o assunto22, que cita a lei Pelé – lei nº 9.615/1998 –

há o esporte de participação, educacional e o de rendimento. Esse último é a maior

preocupação do órgão, já que considerando a situação peculiar de desenvolvimento

das crianças e adolescentes e a busca cada vez mais precoce por espaço em

clubes de futebol, é bastante preocupante o modo como eles são tratados e como

isso afeta a educação e o desenvolvimento.

A Constituição proíbe o trabalho da pessoa com idade inferior a 16 anos,

excetuando os aprendizes a partir dos 14 anos; já a Lei Pelé possibilita a confecção

22

UNICEF. A infância entra em campo: riscos e oportunidades para crianças e adolescentes no futebol. Salvador, 2014.

51

do primeiro contrato especial de trabalho desportivo, a partir dos 16 anos. Contudo,

a partir dos 14 anos, sem gerar vínculo empregatício entre as partes , pode haver

um contrato formal entre clube e atleta, a fim de garantir um auxílio financeiro ao

desportista (artigo 29, § 4º).

“Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito

de assinar com ele, a partir de 16 (dezesseis) anos de idade, o primeiro

contrato especial de trabalho desportivo, cujo prazo não poderá ser superior

a 5 (cinco) anos.” (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

“§ 4o O atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de

vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de prática

desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem livremente

pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo

empregatício entre as partes.” (incluído pela Lei nº 10.672, de 2003).

A publicação aponta ainda os diversos riscos que a profissionalização

precoce amplia: afastamento do ensino regular, exploração sexual, ameaça à

integridade física, afastamento da convivência familiar.

As recomendações dizem respeito a uma idade mínima (o documento cita 14

anos, mas só a partir dos 16 é possível a assinatura de contrato, antes disso o atleta

não profissional pode receber auxílio financeiro, sob a forma de bolsa de

aprendizagem livremente pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado

vínculo empregatício entre as partes); os atletas maiores de 14 anos podem se

submeter a testes gratuitos com autorização dos pais, exame médico anterior e

comprovação de frequência escolar, limite de tempo e registro adequado;

contratação com salário não inferior ao mínimo, proibição da interferência de

agentes; instalações adequadas; necessidade de manutenção de um programa de

assistência técnico desportiva com profissionais como fisioterapeutas; e

impossibilidade de terceirizar a formação dos atletas.

Num dos procedimentos (nº 000195.2013.02.003/5) está se aguardando a

eventual realização de força-tarefa para averiguação do cumprimento da notificação

52

recomendatória nº 2.199/201323. Outro procedimento (nº 000095.2013.02.004-1) foi

arquivado devido à informação de que o clube não estaria mais disputando jogos

oficiais, nem teria mais menores de idade registrados como atletas, perdendo nesse

caso o requisito de atualidade necessário ao prosseguimento do procedimento. A

atualidade está sendo investigada no procedimento nº 000096.2013.02.004-9, já que

o clube não participou de competições oficiais em 2016, apesar de contar com

atletas menores de 18 anos cadastrados e no nº 000097.2013.02.004-9, onde,

apesar do clube ter participação de competição em 2016, a alegação é de que é

“futebol social”

1.8. Setor Econômico

De uma amostra de 200 empresas, onde foram pesquisados dados de

fundação, tipo societário e atividade econômica, verificou-se que, naquelas em que o

dado estava disponível no site do Ministério da Fazenda ou da Junta Comercial do

Estado de São Paulo, havia 45 empresas de até 10 anos de abertura, 36 empresas

de 10 a 20 anos e 25 empresas com mais de 20 anos.

Havia 17 sociedades anônimas, 58 limitadas – dessas 27 eram Microempresa

ou Empresa de Pequeno Porte (ME ou EPP), cinco associações privadas, 21

empresários individuais e apenas uma Empresa Individual de Responsabilidade

Limitada (EIRELI), figura criada pela lei nº 12.441/2011, que alterou o Código Civil.

Oito dessas empresas tinham capital social inferior a R$5.000,00 e 36 empresas

tinham capital social superior a R$1.000.000,00.

Das empresas envolvidas na atuação de ofício do Ministério Público do

Trabalho, ou seja, iniciada pelo próprio órgão, em que as atividades foram

identificadas, há pelos menos três construtoras e três empresas que terceirizam

funcionários a outras empresas, também se constatou a presença de empresas de

segurança e de coleta de lixo. Das denúncias decorrentes de provocação da

23

Recomendações sobre o tratamento dos adolescentes: idade, testes, contratos, alojamentos etc.

53

Promotoria da Infância, pelo menos quatro envolvem empresas de buffet e uma

envolve um circo.

Dos 166 casos em que foi possível identificar a atividade predominante da

empresa ou do adolescente, de acordo com a consulta ao CNPJ ou tendo por conta

as informações do procedimento, foi feita uma classificação conforme os tipos

eleitos pela autora com a seguinte distribuição: comércio, serviço, construção,

plantação, fábrica, ilícito, doméstico e outros. É importante destacar que os dados

decorrem da atuação em alguns meses de 2013 não caracterizando a realidade do

trabalho infantil no Estado, mas apenas dando um retrato da atuação dos MPT’s em

determinado momento.

Fonte: elaboração própria tendo por base os procedimentos do MPT-2 e MPT-

15.

54

1.7. Acidente do Trabalho

Em pelo menos dois procedimentos foram verificados acidentes do trabalho24

com adolescentes: procedimento nº 001224.2013.15.000/7 e nº

002499.2013.15.000/1. No primeiro caso, o acidente provocou danos graves,

cicatrizes e deformações no corpo da vítima e no segundo torção e ferimentos.

1.8. Outras Informações

Em pelo menos 202 procedimentos foi possível determinar, de forma clara, o

endereço do administrado ou onde se deu a exploração.

As diligências de averiguação da denúncia ou do cumprimento foram

realizadas em geral pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Conselho Tutelar.

Em alguns procedimentos a diligência foi efetuada pelo próprio MPT. Em apenas um

procedimento o órgão de assistência social realizou a averiguação.

2. Impressões Sobre a Atuação das Organizações Envolvidas

2.1. Ministério Público do Trabalho

O levantamento das informações deu-se, principalmente, a partir dos dados

fornecidos pelo Ministério Público do Trabalho. Vê-se que a interlocução do órgão

com outros entes públicos por vezes é difícil.

24

Sumula Vinculante nº 22: “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.”

55

No Inquérito Civil nº 000073.2013.02.005/2, por exemplo, em 27.03.2014, o

MPT enviou ofício à Secretaria de Assistência Social de Guarulhos e ao Conselho

Tutelar do mesmo Município, a fim de fiscalizar novamente o cumprimento do Termo

de Ajustamento de Conduta que já havia sido descumprido em 18.02.2014. O

Conselho Tutelar de Guarulhos informou que o endereço estava situado em São

Paulo, mas não encaminhou o ofício, o que levou o procurador a enviar outro ofício

ao Conselho correto, em 21.07.2014. A resposta do Conselho de São Paulo deu-se

apenas em 25.02.2015, quando a adolescente já havia atingido a maioridade,

afastando a competência do MPT.

Em outros casos, entre a denúncia e a fiscalização decorrem muitos meses,

que podem corresponder a meses de exploração de crianças e adolescentes de

forma ilegal. Essa demora pode gerar significativo e prejuízo de difícil reparação,

considerando a situação peculiar de pessoa em desenvolvimento.

A apreciação prévia do IC nº 000236.2013.02.000/3, datado de 28.01.2013,

houve a expedição de um ofício à Gerência Regional do Trabalho e Emprego, sito à

Zona Leste de São Paulo, em 06.02.2013 e reiterado em 06.06.2013. Houve novas

reiterações em 10.01.2014, em 20.08.2014 e em 05.03.2014; ou seja, infere-se daí a

dificuldade na comunicação e na atuação compartilhada dos órgãos.

Também é possível verificar os limites do trabalho dos procuradores, já que a

atuação individual e localizada é muito restrita perto do tamanho do problema. No

procedimento n º 002384.2013.15.000/0, após o recebimento de uma denúncia pelo

Disque Direitos Humanos (Disque 100), o MPT foi informado, pelo Conselho Tutelar

de Cabreúva/SP, “de que em ‘todas as olarias’ do município há o trabalho de

crianças e adolescentes, mas que se torna inviável flagrar o trabalho, porque se

escondem nas residências quando alguma autoridade se aproxima das olarias.”

Nesse caso, como a denúncia foi feita de modo muito genérico e sem a

identificação do estabelecimento prejudicou a averiguação; por outro lado, o próprio

procurador, em seu relatório de arquivamento, mencionou: “Vislumbra-se, de outro

lado, a necessidade de adoção de medidas mais amplas, afetando parcela da

56

sociedade local, com atividade integrada e mais intensa de órgãos públicos

municipais e fomento de políticas públicas, medidas inerentes a procedimento

ministerial mais amplo, de caráter promocional, previsto no art. 17 da Resolução nº

69/2007.”. Ficam bastante claros os limites da atuação jurídica que, em geral, é

individualizada e repressiva, a qual deveriam se contrapor ações governamentais

que visassem a prevenção e a conscientização da população.

Em outro procedimento, o de nº 001010.2013.02.000/4, a constatação do

problema mais geral fez com que o procurador recomendasse ação promocional na

área, sendo informado, posteriormente, que tal ação já existia:

“O quadro revela uma triste realidade: trabalho precoce, gravidez precoce,

irrecuperabilidade de preciosos anos de estudo. O bairro situa-se na extrema

zona leste da Cidade de São Paulo, região marcada por elevados índices de

violência. O IDH é de 0,74 e conta com uma população de cerca de 153 mil

habitantes. Assim, em que pese o saneamento da questão, este Procurador

entendeu por bem expandir o procedimento visando a um desfecho

promocional de políticas públicas na citada região carente, conforme

despacho de prorrogação de inquérito civil e outras providências juntado em

30/03/2015. Todavia, a Excelentíssima Senhora representante da

Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil na 2ª Região,

em despacho de 13/04/2015, esclareceu a já existência de procedimento

promocional em trâmite visando ao aperfeiçoamento de políticas públicas

voltadas às crianças e adolescentes, onde, por razões de racionalidade de

atuação, deverão verter as medidas aventadas no despacho de 30/03/2015.”

Nesse caso, percebe-se a necessidade do procurador buscar outros

partícipes, possibilitando a atuação do governo do estado e outros órgãos, a fim de

que as ações sejam harmônicas e racionalizadas.

No procedimento nº 002916.2013.02.000/0, constatou-se que a procuradora

convidou diversas empresas da região para participarem de uma audiência, a fim de

57

estimular a contratação de aprendizes entre os adolescentes em situação de

vulnerabilidade social.

Outro limite imposto ao Ministério Público do Trabalho é a impossibilidade de

fiscalização dos estabelecimento de forma ininterrupta.

No procedimento nº 000073.2013.02.005/2 a fiscalização encontrou três

adolescentes trabalhando de forma irregular; depois de assinado o Termo de

Ajustamento de Conduta, mais um foi encontrado, ou seja, pode ser que

posteriormente mais irregularidades tenham sido praticadas, mas dentro dos limites

de atuação do órgão, não é possível estar sempre presente.

No procedimento nº 002423.2013.02.000/4, depois de assinado o TAC em

2011, a empresa cometeu 29 infrações ao termo, sendo proposta, ainda uma vez,

uma revisão doTermo, diante do descumprimento:

“Em verdade, a proposta apresentada não foi de alteração da redação das

cláusulas, mas de desprezo ao que foi descumprido. Resta claro a que a

executada não tem intenção de reconhecer as obrigações assumidas, cuja

importância está fundamentada nas considerações preliminares do TAC,

tampouco de adimplir a obrigação gerada.”

Essa atuação irresponsável e ilegal de algumas empresas, também prejudica

o trabalho dos procuradores e da rede de proteção da infância e juventude.

2.2. Conselho Tutelar

O conselho tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional e está

encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes,

segundo o art. 131 da lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente.

Eles são eleitos pela população local para um mandato de 4 anos, sendo requisitos

58

para a candidatura: idoneidade moral, idade superior a 21 anos e residência no

município.

Em pelo menos 56 procedimentos ficou clara a participação do Conselho

Tutelar, verificando a denúncia ou fiscalizando o cumprimento dos acordos

celebrados. Em pelo menos dois procedimentos o Conselho realizou duas

diligências no mesmo procedimento.

Em alguns casos, o Ministério Público do Trabalho encaminhou cópia dos

procedimentos por ofício ao Conselho Tutelar por se tratar de exploração em que

não há relação de trabalho, mas sim abuso do poder familiar ou atividades ilícitas,

conforme já mencionado.

2.3. Ministério do Trabalho e Emprego

O Ministério do Trabalho e Emprego tem um papel bastante relevante, tanto

fornecendo subsídios para a investigação do MPT, quanto na fiscalização de

denúncias e cumprimento de TAC’s assinados.

No entanto, aparentemente, sua atuação é limitada, sendo possível verificar,

em alguns procedimentos, a demora entre seu acionamento e sua atuação: no

procedimento nº 001425.2013.02.000/7, o MTE recebeu ofício reiterando anterior

requisição, em 15.3.2013. Houve novas reiterações em 21.11.2013, 26.05.2014,

30.06.2014 e 15.09.2014, mas a diligência foi realizada, apenas, em março de 2015.

Em casos de trabalho infantil, essa demora é ainda mais sensível, pois

implica na continuação de situações de ilegalidade e obstáculos ao desenvolvimento

das crianças e adolescentes que são de difícil reparação, quando não irreparáveis.

No procedimento nº 002769.2013.02.000/4 o ofício expedido em dezembro de

2013, foi atendido em maio de 2015. No procedimento nº 000236.2013.02.000/3,

59

não é possível verificar se houve a realização da fiscalização, mesmo havendo o

envio de ofícios com etiqueta de urgência, desde fevereiro de 2013.

2.4. Rede de Assistência Social

A presença das secretárias municipais de assistência social e outros órgãos é

bastante limitada. Apenas em algumas ocasiões elas são informadas dos

problemas, especialmente quando não há competência do MPT. Em um

procedimento houve inspeção realizada pela Secretaria de Inclusão e Assistência

Social da Prefeitura de Santo André e em outro procedimento a atuação do Centro

de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

Em alguns casos, fica bastante clara a relação entre problemas das famílias e

a relação de exploração; por vezes pela própria família, como no procedimento nº

001572.2013.15.000-0, ficou evidente que a adolescente não contava com o apoio

dos pais, vivia com o avô e o “ajudava” na mercearia. Nesse caso, fez-se a

recomendação e o encaminhamento aos órgãos de assistência social e de infância:

Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Conselho Tutelar.

Esse tipo de questão, mesmo quando não aparece de maneira tão óbvia,

demonstra a necessidade de cooperação entre órgãos e a interdependência entre a

atuação de cada um, já que as situações de exploração são complexas e exigem a

atuação do Estado sob diversos aspectos. A falta de coordenação pode prejudicar o

atendimento à criança ou ao adolescente, que necessitam de uma ação eficaz e

imediata de diversos órgãos e entidades.

2.5. Sindicatos

Foi pequena a participação dos sindicatos de trabalhadores nos

procedimentos. O procedimento nº 000295.2013.15.004/6 teve origem na denuncia

60

do sindicato ao MPT. Os procedimentos nº 000711.20013.15.0019 e nº

002157.2013.15.000/3 foram arquivados após comunicação e reunião com o

sindicato, respectivamente.

3. Bases de Dados Setoriais

3.1. Assistência Social

A Secretaria de Desenvolvimento Social disponibilizou dados sobre os casos

de notificação de trabalho infantil no CadÚnico de 2012 a 2015. Conforme já

mencionado, é possível que haja subnotificação desses dados. Os dados indicam

uma grande queda na notificação de 2012 para 2013.

Fonte: CadÚnico, dados fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento

Social.

61

3.2. Saúde

A Secretaria de Saúde forneceu dados referentes a acidentes do trabalho de

2011 a 2014 ocorridos no Estado de São Paulo divididos por sexo, tipo de acidente,

região do corpo atingida, consequência, idade, vínculo empregatício, local de

residência e escolaridade da vítima. Considerando que 193 municípios tiveram pelo

menos uma ocorrência de acidente do trabalho no período.

Verifica-se pequena queda no número de casos registrados no período:

Fonte: Sistema Nacional de Agravos de Notificações, 2011-2014. Dados

fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde.

62

As vítimas são predominantemente do sexo masculino:

Fonte: Sistema Nacional de Agravos de Notificações, 2011-2014. Dados

fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde.

3.3. Educação

O site www.qedu.org.br possibilita o acesso aos dados do Censo Escolar

realizados pelo Inep de modo bastante dinâmico. A partir dele, levantou-se os dados

sobre evasão escolar de 2011 a 2014, que demonstram ligeira queda no ensino

médio.

Fonte: qedu.org. Acesso em 05.01.2016.

63

3.4. Segurança Pública

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo não disponibiliza

os dados sobre adolescentes apreendidos, quando o motivo da apreensão se

relacione com o tráfico de drogas. Também não são publicizadas as informações

referentes à exploração sexual de crianças e adolescentes e corrupção de menores.

Mesmo se utilizando do Sistema Integrado de Informações ao Cidadão (SIC)

sem especificar o órgão de destino, os pedidos foram encaminhados pelo próprio

SIC à Delegacia-Geral de Polícia, que indeferiu o pedido por não dispor dos dados

(protocolo 390411515775: tratava-se de pedido de informações sobre adolescentes

apreendidos em razão do tráfico). Ou seja, o cidadão fica perdido diante das

divisões burocráticas da SSP, assim como o próprio SIC, não conseguindo obter as

informações que deveriam ser públicas e acessíveis.

No caso do protocolo nº 42456159965 a solicitação foi registrada como

atendida, mas na verdade a resposta foi que o pedido deveria ser feito ao “SIC P.

Civil do Departamento de Administração e Planejamento da Polícia Civil (DAP),

para análise e deliberação da autoridade competente.” Em outros protocolos o

pedido foi redirecionado pelo SIC e não foi atendido.

Além disso, diferente de outros sistemas, o do Governo do Estado exige

identificação a cada pedido, o que o torna mais demorado.

Ainda sobre segurança, a Polícia Rodoviária Federal realiza levantamento

sobre pontos críticos de risco de exploração sexual de crianças e adolescentes nas

rodovias federais brasileiras. Em 2013 foram mapeados 23 pontos nas rodovias

federais que cortam o Estado de São Paulo. 25 Devido ao grande número de

rodovias estaduais em São Paulo, seria interessante o monitoramento de pontos

também nessas estradas, que estão sob a tutela do governo do Estado.

25

CHILDHOOD. 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras. Disponivel em: <http://www.childhood.org.br/wp-content/uploads/2015/11/Mapeamento_2013_2014.pdf> Acesso em 20.10.2016.

64

3.5. Trabalho

Os dados de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego mostram um

pico de número de crianças e adolescentes encontradas nas fiscalizações em 2012.

Importante observar que o número de fiscalizações diz respeito à quantidade

de diligências, independentemente do número de crianças e adolescentes

encontrados. Já o número de crianças e adolescentes em cada diligência pode

variar, o que justifica a diferença entre as quantidades apresentadas no gráfico:

Fonte: <http://sistemasiti.mte.gov.br/> Acesso em 22.10.2015.

3.6. PNAD

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) é realizada

anualmente e é relevante para indicar as tendências dos indicadores, já que os

censos nacionais são realizados apenas a cada dez anos, mas os dados são

65

capturados por amostragem e em algumas regiões. A divulgação dos dados da

última PNAD referentes a 2014 demonstram crescimento do trabalho infantil no país

todo:

Fonte: IBGE, PNAD: síntese de indicadores 2014

O maior crescimento se deu na faixa entre 5 e 9 anos (15,5%) e entre 10 e 13

anos (8,5%).

3.7. Censo

O Censo traz a divisão do trabalho infantil, a partir dos 10 anos de idade por

municípios.

Apesar do tempo decorrido desde o último Censo, a pesquisa é relevante porque

traz os dados municipalizados. Percebe-se que a maior parte do trabalho infantil

está concentrada na população de 16 e 17 anos sem registro na Carteira de

66

Trabalho, o que demonstra um potencial para a efetivação do programa de

aprendizagem.

Fonte: Censo, 2010.

Os municípios com mais pessoas em situação de trabalho infantil (aqui

considerado como pessoas de 10 a 15 anos trabalhando somadas às pessoas de 16

e 17 anos trabalhando sem carteira de trabalho) em relação à população total foram:

Santa Salete, Holambra, Louveira, Jumirim, Torrinha, Ibitinga, Taguaí, Vista Alegre

do Alto, Serra Negra e Bilac. Já em números absolutos, os municípios com maior

número de pessoas nessas condições foram: São Paulo, Guarulhos, Campinas, São

Bernardo do Campo, Santo André, Ribeirão Preto, Osasco, São José dos Campos,

Sorocaba e São José do Rio Preto.

4. Regiões do Estado de São Paulo

A seguir, serão feitos breves comentários sobre os dados de cada região

administrativa do estado, bem como da Região Metropolitana de São Paulo.

67

É importante frisar que cada setor apresenta uma regionalização própria que

não necessariamente se adapta à divisão administrativa: o MPT tem a divisão entre

2ª e 15ª regiões, além de divisões de regiões de ofício: Araçatuba, Araraquara,

Bauru, Campinas, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Osasco, Presidente Prudente,

Ribeirão Preto, Santos, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, São José

dos Campos, São Paulo e Sorocaba.

As tabelas abordam em cada município: número de notificações no CadÚnico

de 2012 a 2015, dados fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Social do

Estado de São Paulo; notificações de acidente do trabalho de 2011 a 2014, dados

fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde; evasão escolar e reprovação nos

anos finais do ensino fundamental, dados coletados no site Qedu; número de

inspeções do Ministério do Trabalho e Emprego e número de vítimas encontradas

nessas inspeções, dados retirados do sistema do próprio site do MTE; e por fim, os

dados dos procedimentos do MPT, de elaboração própria.

Notório que sem uma padronização, ao menos no que respeita às regiões sob

a tutela dos órgãos estaduais, o trabalho dos órgãos públicos sempre ficará aquém

do ideal, causando severos prejuízos à população vulnerável.

Abaixo serão apresentados os dados de todas as regiões administrativas do

Estado, sendo destacadas alguns casos interessantes.

4.1. Região Administrativa Central

A Região Administrativa Central inclui 26 municípios, todos correspondentes

ao MPT da 15ª região.

É interessante notar que, apesar de contar com 207 notificações de trabalho

infantil no município de Taquaritinga, pelo CadÚnico, tenha havido apenas um caso

de acidente do trabalho notificado e nenhuma fiscalização do Ministério do Trabalho

e Emprego, considerando ainda que se trata de município pequeno que conta com

68

56.587 habitantes atualmente. 26 Houve um procedimento de atuação do Ministério

Público do Trabalho envolvendo empresa de sucata, mas por estar desativado o

procedimento não se pôde obter maiores informações.

Municípios semelhantes como Araraquara e São Carlos - que contam com

226.508 e 241.389 habitantes respectivamente e são do grupo 1 do Índice Paulista

de Responsabilidade Social (IPRS) baseado em indicadores semelhantes do Índice

de Desenvolvimento Humanos (IDH), têm números muito díspares em relação ao

trabalho infantil. São Carlos tem muito menos notificações de acidente do trabalho

com menores de idade e notificação no CadÚnico, apesar de contar com cinco

descobertas de foco de trabalho infantil em 2013. Araraquara foi dos poucos

municípios em que o acidente resultou em morte do adolescente.

Dos três procedimentos administrativos em Araraquara, um envolveu corte

de cana e apenas nesse verificou-se a situação de trabalho infantil. Como forma de

punição, os contratadores tiveram de pagar cestas básicas a uma instituição

beneficente. São Carlos teve apenas um procedimento em 2013 e este envolveu um

lava-jato, considerado uma das piores formas de trabalho infantil. O procedimento foi

arquivado após a assinatura do TAC e o pagamento de cestas básicas à instituição

beneficente. Nesse caso, foi possível verificar, também, que a inspeção do Ministério

do Trabalho e Emprego foi realizada em 2014 e, apesar de não encontrar nenhum

trabalhador menor de idade na diligência, foram informados que o trabalhador tinha

sido contratado antes de completar 18 anos, por isso no relatório da diligência não

consta nenhum adolescente encontrado, apesar de ter sido aplicada a penalidade

pelo MPT pela infração ter se consumado anteriormente, em conformidade com o

TAC.

É curioso que os Municípios tenham apontado, no Censo de 2010, a

presença de trabalhadores com idade inferior a 18 anos, contratados de forma

irregular, em quantidades semelhantes, mesmo com discrepância nos dados de

alguns órgãos: Araraquara apresentou 192 trabalhadores, entre 10 e 13 anos,

26

População estimada pelo IBGE para 2015: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=355370&search=sao-paulo|taquaritinga>

69

ocupados em 2010; 522 entre 14 e 15 anos; e 801 trabalhadores de 16 a 17 anos

sem carteira, enquanto São Carlos apresentou 258, 409 e 764, respectivamente.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Américo Brasiliense 0 15 3,62 0,55 0 0 0

Araraquara 157 273 5,35 1,00 4 0 3

Boa Esperança do Sul

0 0 11,68 0,74 0 0 1

Borborema 0 8 0,35 0,73 0 0 0

Cândido Rodrigues 128 1 0 0 2 0 0

Descalvado 154 29 7,80 1,49 0 0 0

Dobrada 0 0 0 0 0 0 0

Dourado 2 0 1,93 0,19 0 0 0

Fernando Prestes 0 1 1,98 0,34 1 0 0

Gavião Peixoto 0 0 1,91 5,16 0 0 0

Ibaté 0 6 3,32 0,46 0 0 0

Ibitinga 4 82 1,54 0,89 0 0 0

Itápolis 1 2 0,80 0,41 0 0 0

Matão 1 0 3,04 0,61 0 0 0

Motuca 0 0 7,99 0,72 0 0 0

Nova Europa 0 1 5,01 0,21 0 0 0

Porto Ferreira 1 0 13,57 2,60 0 0 1

Ribeirão Bonito 0 0 7,79 2,97 0 0 0

Rincão 0 0 4,30 0 0 0 0

Santa Ernestina 0 0 0,26 0,78 0 0 0

Santa Lúcia 0 1 1,85 1,46 0 0 0

Santa Rita do Passa Quatro

1 0 7,22 3,09 0 0 2

São Carlos 27 3 3,42 0,80 5 4 1

Tabatinga 0 0 2,05 2,12 0 0 0

Taquaritinga 207 1 2,97 0,17 0 0 1

Trabiju 0 6 10,89 0 0 0 0

Total 683 429 4,26 1,06 12 4 9

70

4.2. Região Administrativa de Araçatuba

A região administrativa de Araçatuba é formada de 43 municípios todos

correspondentes à competência do MPT/15.

Notou-se que municípios com populações tão díspares, como Andradina

(57.520) e Araçatuba (192.757), tenham notificações semelhantes no CadÚnico. No

entanto, tal semelhança não se repete na atuação do MPT e do MTE e nos números

do Censo 2010 (131 pessoas entre 10 e 13 anos ocupadas em Andradina e 297 em

Araçatuba).

Em Araçatuba o Conselho Tutelar encaminhou ao MPT comunicação do

Ministério Público Estadual acerca da utilização de trabalho de crianças e

adolescentes em buffets infantis, que constam da lista TIP, se envolve o cuidado

com outras crianças (item I.75), além de denúncias sobre trabalho noturno, que é

proibido. Essa comunicação deu origem a quatro procedimentos no município.

Em Turiúba, município que contava com 2.009 habitantes, pela estimativa de

2015, a atuação do MPT envolveu a fiscalização de dois mercados, que estão

inclusive, localizados na mesma rua.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Alto Alegre 0 0 3,04 0 0 0 0

Andradina 106 75 4,25 2,20 0 0 1

Araçatuba 119 216 5,00 1,19 17 9 7

Auriflama 0 0 0,26 0,29 5 0 0

Avanhandava 1 0 6,07 6,37 0 0 1

Barbosa 3 1 2,98 5,42 0 0 0

Bento de Abreu 0 0 1,38 1,47 0 0 0

Bilac 0 3 7,49 0,64 0 0 0

Birigui 4 9 2,63 0,89 5 1 1

71

Braúna 2 0 1,45 0,76 0 0 0

Brejo Alegre 0 0 1,63 0 0 0 0

Buritama 16 2 0,33 0,21 0 0 0

Castilho 1 2 2,34 2,13 0 0 0

Clementina 5 0 1,24 1,21 0 0 0

Coroados 1 1 0,69 0,70 0 0 0

Gabriel Monteiro 0 0 0 0 0 0 0

Gastão Vidigal 0 0 0 0,46 0 0 0

General Salgado 2 0 3,10 0 0 0 0

Glicério 0 2 6,91 3,84 0 0 0

Guaraçaí 12 10 1,22 4,72 0 0 0

Guararapes 0 0 2,29 0,55 0 0 0

Guzolândia 0 0 1,11 0 0 0 0

Ilha Solteira 1 44 3,12 1,05 0 0 0

Itapura 0 0 2,44 0,32 0 0 0

Lavínia 0 0 1,11 0,68 0 0 0

Lourdes 0 0 1,59 0,79 0 0 0

Luiziânia 3 0 4,36 0 0 0 0

Mirandópolis 1 3 1,47 0,37 0 0 0

Murutinga do Sul 21 0 2,45 4,05 0 0 0

Nova Castilho 0 0 3,08 1,56 0 0 0

Nova Independência 5 1 4,32 1,52 0 0 0

Nova Luzitania 0 0 1,56 0,52 0 0 0

Penápolis 2 0 4,58 1,39 0 0 0

Pereira Barreto 0 10 2,17 0,59 0 0 0

Piacatu 0 3 3,16 4,33 0 0 0

Rubiácea 1 0 3,04 0 0 0 0

Santo Antônio do Aracanguá

0 0 6,92 0,45 0 0 0

Santópolis do Aguapeí 0 0 0,38 0,74 0 0 0

São João de Iracema 1 0 3,56 0 0 0 0

Sud Mennucci 6 9 1,52 0,44 0 0 0

72

Suzanápolis 17 0 0,48 0 0 0 0

Turiúba 0 1 0 0 0 0 3

Valparaiso 0 17 1,52 4,21 0 0 1

Total 330 409 2,52 1,30 27 10 14

4.3. Região Administrativa de Barretos

A Região Administrativa de Barretos é composta de 19 municípios, todos de

competência do MPT/15.

O município de Severínia apresentou a maior taxa de reprovação escolar nos

anos finais do ensino fundamental da região e a 7ª do Estado e com 16.806

habitantes, houve 228 notificações de trabalho infantil no CadÚnico. Guaíra com

uma população estimada em 39.813 habitantes, teve 499 notificações no CadÚnico

em 2013.

Já Barretos, 119.243 habitantes, contou com quatro fiscalizações do MTE e

dois procedimentos do MPT. Desses, o primeiro, que era baseado em uma denúncia

no Disque Direitos Humanos (Disque 100) sobre criança recolhendo latinhas, foi

julgado improcedente, e o segundo tratou de panfletagem com a utilização de

trabalho infantil.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Altair 20 0 0 0,48 0 0 0

Barretos 606 1 3,14 0,79 4 0 2

Bebedouro 63 0 3,36 1,45 6 2 0

Cajobi 57 0 0,60 0 0 0 0

Colina 196 0 4,27 1,62 0 0 0

73

Colômbia 49 0 8,62 0 0 0 0

Embaúba 0 0 0,85 0 0 0 0

Guaíra 499 6 2,02 2,35 0 0 0

Guaraci 183 0 1,34 0,76 0 0 0

Jaborandi 23 0 3,34 0 0 0 0

Monte Azul Paulista 6 0 3,00 0,82 0 0 1

Olímpia 186 1 1,22 0,49 2 1 1

Pirangi 5 0 0,17 0 0 0 0

Severínia 228 0 16,41 0 0 0 0

Taiaçu 1 0 0 0 0 0 0

Taiuva 0 0 0 0 0 0 0

Terra Roxa 0 0 0 0 0 0 0

Viradouro 25 0 2,24 1,67 0 0 0

Vista Alegre do Alto 0 1 0,59 0,30 0 0 0

Total 2.147 9 2,69 0,57 12 3 4

4.4. Região Administrativa de Bauru

A Região Administrativa de Bauru é composta de 39 municípios, todos

correspondendo ao MPT/15.

É claro que mesmo que o município não apresente notificação no CadÚnico e

de acidente de trabalho, não haja reprovação ou abandono e nem procedimentos do

MPT e atuações do MTE, não quer dizer que o problema não exista, como no caso

de Balbinos, que no Censo de 2010 apresentou 1 pessoa de 14 ou 15 anos ocupada

e 3 de 16 ou 17 sem carteira assinada.

Já Bauru apresentou um grande número de notificações de acidente do

trabalho, sendo, na maioria dos casos, adolescentes entre 16 e 17 anos (100

74

casos). As notificações no CadÚnico vem caindo de 2012 até 2015, passando de

191 para 37 (em 2012, 191; 2013, 109; 2014, 65; e 2015, 37).

Dos procedimentos do MPT em Jaú, um envolve carvoaria: comércio

atacadista de combustíveis de origem mineral em bruto/comércio varejista de outros

produtos não especificados anteriormente.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Agudos 0 0 5,99 1,67 0 0 1

Arealva 0 0 2,43 0,90 0 0 0

Avaí 0 0 5,38 2,06 0 0 0

Balbinos 0 0 0 0 0 0 0

Bariri 1 0 3,96 0,51 0 0 0

Barra Bonita 46 0 3,03 1,06 0 0 1

Bauru 402 110 4,23 1,50 3 0 5

Bocaina 0 0 7,04 4,14 0 0 0

Boracéia 1 0 4,98 2,12 0 0 0

Borebi 0 1 10,40 2,00 0 0 0

Cabrália Paulista 0 0 3,40 0,67 0 0 0

Cafelândia 0 1 4,74 1,45 0 0 0

Dois Córregos 114 0 2,24 0,83 0 0 0

Duartina 0 0 0,50 2,05 0 0 0

Getulina 0 0 3,22 2,38 0 0 0

Guaiçara 0 0 8,62 2,31 0 0 0

Guaimbê 0 0 4,58 1,04 0 0 0

Guarantã 0 0 9,83 3,80 0 0 0

Iacanga 0 2 2,88 1,84 0 0 0

Igaraçu do Tietê 62 0 6,24 1,87 0 0 0

Itaju 0 0 1,91 0,47 0 0 0

Itapui 0 0 6,90 4,68 0 0 0

Jaú 359 25 4,89 1,60 0 0 2

Lençóis Paulista 0 23 5,22 1,64 0 0 0

Lins 2 1 8,28 2,84 0 0 0

Lucianópolis 0 1 2,29 0 0 0 1

Macatuba 0 0 2,38 0,68 0 0 0

Mineiros do Tietê 1 0 3,03 1,73 0 0 0

Paulistânia 0 0 0 0,98 0 0 0

Pederneiras 9 0 4,31 1,35 0 0 0

Pirajuí 0 0 0,61 1,61 0 0 0

Piratininga 0 0 1,84 0 0 0 0

Pongai 0 0 1,74 0,57 0 0 0

Presidente Alves 0 0 0,88 0,42 0 0 0

Promissão 1 0 6,64 1,50 0 0 0

75

Reginópolis 1 0 0,35 1,62 0 0 0

Sabino 1 0 5,98 2,47 0 0 0

Ubirajara 0 0 1,14 0 0 0 0

Uru 0 0 8,52 2,70 0 0 0

Total 1.000 164 4,12 1,56 3 0 10

4.5. Região Administrativa de Campinas

A Região Administrativa de Campinas compõe-se de 90 municípios, todos

correspondendo à atribuição do MPT/15.

Dois dos procedimentos em Hortolândia foram arquivados porque o

procurador entendeu não ser de sua competência: um caso envolvendo tráfico de

drogas e máquina de costuras e outro envolvendo trabalho doméstico. Em Limeira

dois procedimentos envolveram atividade no campo: colheita de laranja, lavoura e

pecuária. Um dos procedimentos em Leme envolveu exploração de menor, desde os

12 anos, em empresa de comércio varejista de peças para motos e reparação.

Houve um grave acidente que causou deformidades no corpo do adolescente.

Os dois procedimentos de Pinhalzinho envolveram empresas da construção

civil.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Aguaí 312 2 7,29 1,79 0 0 0

Águas da Prata 0 1 0,98 0 0 0 0

Águas de Lindóia 0 0 8,40 0,45 0 0 0

Águas de São Pedro 0 0 1,80 0 0 0 0

Americana 343 324 2,57 0,81 0 0 1

Amparo 0 7 2,39 2,04 0 0 1

Analândia 0 0 8,07 0 0 0 0

Araras 6 0 4,04 1,50 0 0 2

Artur Nogueira 1 0 4,76 1,03 0 0 0

Atibaia 34 1 3,70 1,41 0 0 1

Bom Jesus dos Perdões 7 0 4,25 0,59 0 0 0

76

Bragança Paulista 449 0 5,38 1,20 9 1 1

Brotas 363 0 5,37 2,67 0 0 0

Cabreúva 0 0 6,47 0,58 0 0 2

Caconde 0 13 2,38 0,58 1 0 0

Campinas 643 99 5,62 1,99 0 0 23

Campo Limpo Paulista 1 0 6,23 0,72 0 0 2

Capivari 63 0 5,05 1,63 0 0 1

Casa Branca 0 0 1,57 2,12 1 2 1

Charqueada 0 0 4,52 0,87 0 0 0

Conchal 12 0 1,68 1,82 0 0 0

Cordeirópolis 1 0 6,70 3,02 0 0 0

Corumbataí 0 0 6,33 0 0 0 0

Cosmópolis 0 0 6,75 1,67 0 0 1

Divinolândia 0 0 5,42 2,05 0 0 0

Elias Fausto 0 0 6,05 0,93 0 0 0

Engenheiro Coelho 42 0 3,19 2,72 0 0 0

Espírito Santo do Pinhal 0 20 6,06 1,26 0 0 2

Estiva Gerbi 0 0 8,68 1,79 0 0 0

Holambra 0 0 5,84 0 0 0 0

Hortolândia 366 2 4,61 1,18 0 0 5

Indaiatuba 44 43 3,46 1,28 0 0 1

Ipeúna 1 0 2,03 0,68 0 0 0

Iracemápolis 1 0 4,20 0,09 0 0 1

Itapira 266 0 4,34 3,15 0 0 1

Itatiba 2 0 5,37 0,38 0 0 0

Itirapina 315 0 3,91 1,41 0 0 0

Itobi 0 1 0,23 0 1 1 1

Itupeva 3 6 4,84 0,96 0 0 1

Jaguariúna 128 0 3,64 0 0 0 0

Jarinu 0 0 4,17 0,54 0 0 0

Joanópolis 16 8 5,01 0 0 0 0

Jundiaí 13 301 4,07 0,84 5 1 3

Leme 857 9 2,16 1,86 4 15 2

Limeira 1.932 189 5,11 1,70 5 0 4

Lindóia 0 0 16,37 0 0 0 0

Louveira 0 2 3,32 1,30 0 0 0

Mococa 0 6 4,63 1,02 0 0 1

Mogi Guaçu 1.157 109 8,34 2,21 0 0 2

Moji Mirim 17 2 8,54 1,62 0 0 3

Mombuca 2 0 13,37 0 0 0 0

Monte Alegre do Sul 0 0 32,92 1,93 0 0 0

77

Monte Mor 4 0 7,92 1,89 0 0 0

Morungaba 1 0 9,29 2,36 1 1 0

Nazaré Paulista 0 0 2,66 1,15 0 0 0

Nova Odessa 0 2 2,13 0,97 0 0 1

Paulínia 1 2 7,57 1,96 0 0 1

Pedra Bela 0 0 5,34 1,52 0 0 0

Pedreira 0 1 1,62 0,78 0 0 1

Pinhalzinho 0 0 4,52 1,81 1 0 2

Piracaia 2 0 6,18 0,51 0 0 0

Piracicaba 319 98 4,04 1,64 2 0 5

Pirassununga 206 0 5,46 2,02 0 0 2

Rafard 11 0 3,97 0 0 0 0

Rio Claro 125 379 4,13 1,69 0 0 1

Rio das Pedras 1 0 9,10 0,39 0 0 0

Saltinho 0 1 4,08 1,37 0 0 0

Santa Bárbara d'Oeste 45 112 4,06 0,91 0 0 2

Santa Cruz da Conceição 0 0 1,15 1,14 0 0 0

Santa Cruz das Palmeiras 0 4 5,31 2,56 0 0 0

Santa Gertrudes 1 8 7,33 0 0 0 0

Santa Maria da Serra 0 0 2,36 1,06 0 0 0

Santo Antônio de Posse 0 0 10,79 0 0 0 0

Santo Antônio Do Jardim 151 4 1,88 0 0 0 0

São João da Boa Vista 13 192 4,76 0,62 0 0 1

São José do Rio Pardo 0 421 4,10 1,28 1 6 6

São Pedro 20 0 15,30 3,12 0 0 1

São Sebastião da Grama 160 2 1,49 0,89 0 0 1

Serra Negra 1 0 3,39 1,68 0 0 2

Socorro 1 0 1,85 1,02 0 0 1

Sumaré 3.627 0 4,32 0,99 0 0 0

Tambaú 0 6 3,04 1,84 0 0 0

Tapiratiba 0 1 7,57 1,34 0 0 0

Torrinha 435 0 0,22 2,71 0 0 0

Tuiuti 0 0 10,33 0,78 0 0 0

Valinhos 0 0 7,91 0,90 0 0 0

Vargem 0 0 18,68 0,15 0 0 0

Vargem Grande do Sul 425 16 4,52 2,57 0 0 1

Várzea Paulista 15 2 3,18 1,29 0 0 0

Vinhedo 0 18 6,98 0,55 0 0 2

Total 12.961 2.414 5,56 1,19 31 27 93

78

4.6. Região Administrativa de Franca

A Região Administrativa de Franca é formada por 23 municípios, todos de

competência do MPT/15. Ela apresenta a maior média da taxa de abandono escolar

nos anos finais do ensino fundamental.

Dos sete procedimentos de Franca, pelo menos dois envolveram a fabricação

de calçados ou parte de calçados. O número de acidentes do trabalho no município

é bastante significativo e, a grande maioria (446), envolve empregados registrados,

sendo que 46 deles resultaram em incapacidade temporária. Um dos acidentes no

município envolveu uma criança de 6 anos.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítima

s MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Aramina 0 0 3,46 4,60 0 0 1

Batatais 2 87 4,90 2,87 1 0 1

Buritizal 0 0 23,95 4,14 0 0 0

Cristais Paulista 0 26 3,47 2,45 0 0 0

Franca 207 476 2,92 1,70 1 2 7

Guará 9 0 11,50 0,86 0 0 1

Igarapava 0 0 8,08 1,22 0 0 0

Ipuã 2 0 8,54 0,11 0 0 1

Itirapuã 0 0 3,45 3,60 0 0 0

Ituverava 0 0 9,79 1,63 0 0 0

Jeriquara 0 0 1,18 1,15 0 0 0

Miguelópolis 17 0 9,91 4,94 0 0 0

Morro Agudo 1 0 9,16 2,18 0 0 0

Nuporanga 0 0 6,39 2,96 0 0 0

Orlândia 0 12 3,89 2,20 0 0 1

Patrocínio Paulista 1 4 5,67 3,90 0 0 0

Pedregulho 0 0 4,24 4,11 0 0 0

Restinga 0 0 7,85 2,05 0 0 0

Ribeirão Corrente 0 0 11,20 0 0 0 1

Rifaina 1 0 6,84 1,34 0 0 0

Sales Oliveira 1 0 2,24 1,05 0 0 0

79

São Joaquim da Barra 0 0 3,19 1,08 0 0 0

São José da Bela Vista 77 0 5,12 3,37 0 0 0

Total 318 605 6,82 2,33 2 2 13

4.7. Região Administrativa de Itapeva

A Região Administrativa de Itapeva é constituída de 32 municípios, todos da

competência do MPT/15.

É interessante observar que Itapeva, contando com 1.224 notificações no

CadÚnico sobre trabalho infantil, apresentou quantia semelhante no Censo 2010: 97

crianças de 10 a 13 anos, 342 entre 14 e 15 anos e 878 de 16 e 17 anos, totalizando

1.317 casos.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Angatuba 2 0 6,88 0,44 0 0 1

Apiaí 130 1 3,07 1,26 5 1 0

Arandu 0 0 1,80 4,53 0 0 0

Barão de Antonina 0 0 0,95 3,19 0 0 0

Barra do Chapéu 1 2 3,26 1,86 0 0 0

Bom Sucesso de Itararé 0 1 1,56 1,32 0 0 0

Buri 0 5 10,10 0 7 3 0

Campina do Monte Alegre 0 0 9,85 0 0 0 0

Capão Bonito 6 0 6,16 0,02 5 1 0

Coronel Macedo 23 0 4,14 1,73 0 0 0

Fartura 0 0 2,06 0,73 0 0 1

Guapiara 1 1 0,59 0,35 3 4 0

Iporanga 1 0 5,86 2,20 0 0 0

Itaberá 153 6 2,85 1,91 1 0 0

Itaí 77 7 7,92 1,62 0 0 0

Itaoca 116 0 2,82 0,71 0 0 0

Itapeva 1.224 20 3,57 0,92 4 2 0

Itapirapuã Paulista 8 0 1,55 0,77 0 0 0

Itaporanga 51 1 4,23 1,25 0 0 0

Itararé 257 2 2,18 2,35 11 3 0

Nova Campina 2 0 3,70 0,79 0 0 2

Paranapanema 6 0 5,44 0,16 0 0 0

Piraju 293 3 2,79 1,36 0 0 0

Ribeira 0 0 2,20 0 0 0 0

Ribeirão Branco 5 0 2,54 1,92 3 1 1

80

Ribeirão Grande 11 0 5,18 0 0 0 0

Riversul 0 2 3,98 2,68 0 0 0

Sarutaiá 0 0 3,83 4,27 0 0 0

Taguaí 0 0 0,60 0,60 0 0 0

Taquarituba 28 16 2,04 1,77 0 0 0

Taquarivaí 0 4 4,54 0,20 1 0 0

Tejupá 0 0 2,84 0 0 0 0

Total 2.395 71 3,78 1,28 40 15 5

4.8. Região Administrativa de Marília

A Região Administrativa de Marília é composta de 51 municípios, todos

pertencentes ao MPT/15.

Em Marília, dos acidentes do trabalho notificados: 152 foram típicos e 35

durante o trajeto. Em Ourinhos, houve muitas notificações no CadÚnico, mas poucos

acidentes e nenhuma atuação do MPT ou do MTE no período.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Álvaro de Carvalho 0 0 0,40 0 0 0 0

Alvinlândia 0 0 7,93 1,69 0 0 0

Arco-Íris 0 0 2,46 0,81 0 0 0

Assis 125 0 4,04 0,90 5 1 0

Bastos 1 0 2,79 2,09 0 0 0

Bernardino de Campos 0 0 2,80 0,68 0 0 0

Borá 0 0 0 0 0 0 0

Campos Novos Paulista

0 0 3,15 4,10 0 0 0

Cândido Mota 0 0 4,25 0,68 0 0 0

Canitar 1 0 1,09 0,89 0 0 0

Chavantes 0 0 1,90 2,86 0 0 0

Cruzália 0 0 0 0 0 0 0

Echaporã 0 0 1,28 0,52 0 0 0

81

Espírito Santo do Turvo 0 0 0 0,37 0 0 0

Fernão 0 1 3,52 0 0 0 0

Florínia 0 0 3,97 1,12 0 0 0

Gália 0 0 3,23 2,45 0 0 0

Garça 0 21 1,93 1,42 0 0 0

Herculândia 0 0 0,19 1,90 0 0 0

Iacri 0 0 0,56 0,85 0 0 0

Ibirarema 0 0 2,55 4,93 0 0 0

Ipaussu 1 0 11,36 0 0 0 0

João Ramalho 0 0 1,58 1,93 0 0 0

Júlio Mesquita 0 0 0,29 0 0 0 0

Lupércio 0 0 2,35 1,53 0 0 0

Lutécia 0 0 2,59 1,03 0 0 0

Maracaí 0 0 2,41 0,39 0 0 0

Marília 29 190 3,36 1,01 15 0 0

Ocauçu 0 0 3,10 1,90 0 0 2

Óleo 0 0 6,56 0,54 0 0 0

Oriente 0 0 3,98 0,99 0 0 1

Oscar Bressane 0 0 7,62 0 0 0 0

Ourinhos 208 6 4,28 1,22 0 0 0

Palmital 0 0 5,01 2,17 0 0 1

Paraguaçu Paulista 0 0 0,74 0,03 1 1 0

Parapuã 1 1 1,44 0,88 0 0 0

Pedrinhas Paulista 0 0 0 0 0 0 0

Platina 0 0 0,53 0,51 0 0 1

Pompéia 0 0 1,66 1,04 2 3 0

Quatá 0 0 4,06 3,36 0 0 0

Queiroz 0 0 2,30 0 0 0 0

Quintana 0 0 3,80 0,32 0 0 0

Ribeirão do Sul 15 0 2,97 1,08 0 0 0

Rinópolis 0 0 0,79 0,60 0 0 1

82

Salto Grande 2 0 2,19 2,14 0 0 0

Santa Cruz do Rio Pardo

8 13 2,45 2,10 0 0 2

São Pedro do Turvo 1 0 2,22 1,52 0 0 0

Tarumã 1 0 4,77 3,50 0 0 1

Timburi 0 0 3,60 2,42 0 0 0

Tupã 7 0 4,36 2,07 2 0 0

Vera Cruz 0 0 4,12 1,13 0 0 0

Total 400 232 2,83 1,25 25 5 9

4.9. Região Administrativa de Presidente Prudente

A Região Administrativa de Presidente Prudente é composta por 53

municípios, todos de competência do MPT/15.

A região, apesar de apresentar boa longevidade (4ª do estado), é bastante

pobre (14ª em riqueza) e ocupa o 11º lugar do estado em escolaridade; quase a

metade dos municípios se encontra no grupo 4 do IPRS27; ou seja, municípios que

apresentam baixa taxa de riqueza e níveis medianos de escolaridade ou

longevidade.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Adamantina 0 1 5,95 2,46 0 0 0

Alfredo Marcondes 0 0 4,60 3,56 0 0 1

Alvares Machado 34 0 0 0 0 0 1

Anhumas 0 0 4,53 3,73 0 0 0

Caiabu 0 0 5,94 3,03 0 0 0

Caiuá 0 0 3,39 2,91 0 0 0

Dracena 80 0 5,53 2,52 0 0 0

Emilianópolis 0 0 7,29 0 0 0 0

27

SÃO PAULO. FUNDAÇÃO SEADE. Índice Paulista de Responsabilidade Social. <http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php?selLoc=0&selTpLoc=2&prodCod=1#> Acesso em 20.01.2016.

83

Estrela do Norte 2 0 0 1,88 0 0 0

Euclides da Cunha Paulista

0 0 0,88 0,16 0 0 0

Flora Rica 0 0 8,32 0 0 0 0

Flórida Paulista 0 0 4,43 2,76 0 0 0

Iepê 0 0 2,23 0,70 0 0 0

Indiana 0 0 1,22 1,63 1 0 0

Inúbia Paulista 0 0 4,25 0 0 0 0

Irapuru 0 0 4,61 2,88 0 0 0

Junqueirópolis 0 0 4,32 0 0 0 0

Lucélia 0 0 9,06 0,10 0 0 0

Marabá Paulista 15 0 0 0 0 0 0

Mariápolis 0 0 10,58 0,58 0 0 0

Martinópolis 9 1 3,14 0,08 0 0 5

Mirante do Paranapanema

0 0 2,18 0,44 0 0 0

Monte Castelo 0 1 0,95 0,50 0 0 0

Nantes 0 0 0 0,93 0 0 0

Narandiba 0 0 6,81 0 0 0 0

Nova Guataporanga 0 0 8,68 2,88 0 0 0

Osvaldo Cruz 3 0 3,18 0,61 0 0 0

Ouro Verde 0 0 0,88 0 0 0 0

Pacaembu 0 0 4,31 1,33 0 0 0

Panorama 69 1 3,04 1,58 0 0 0

Paulicéia 0 0 7,20 0 0 0 0

Piquerobi 0 0 3,63 1,86 0 0 0

Pirapozinho 8 0 3,55 2,49 0 0 2

Pracinha 0 0 1,06 0 0 0 0

Presidente Bernardes 7 0 4,89 0,48 0 0 0

Presidente Epitácio 2 0 2,72 0,46 0 0 1

Presidente Prudente 160 1 6,95 2,75 4 0 4

Presidente Venceslau 1 0 2,44 0,52 0 0 1

Rancharia 1 0 1,23 0,10 0 0 0

Regente Feijó 1 0 4,69 0,28 0 0 1

Ribeirão dos Índios 0 0 5,31 0 0 0 0

Rosana 0 0 2,74 0,41 0 0 1

Sagres 0 0 1,25 0 0 0 0

Salmourão 0 0 5,49 1,64 0 0 0

Sandovalina 0 0 4,98 0,32 0 0 0

Santa Mercedes 0 0 1,73 0 0 0 0

Santo Anastácio 0 0 5,67 3,05 0 0 0

Santo Expedito 9 0 1,82 1,75 0 0 0

84

São João do Pau d'Alho 0 0 1,96 0 0 0 0

Taciba 0 0 4,24 1,68 0 0 0

Tarabai 0 0 0 0 0 0 0

Teodoro Sampaio 0 1 6,41 2,47 0 0 1

Tupi Paulista 0 0 3,44 0,86 0 0 0

Total 401 6 3,84 1,10 5 0 18

4.10. Região Administrativa de Registro

A Região Administrativa de Registro é composta de 14 municípios, todos de

competência do MPT da 15ª Região.

Foi a única região em que não houve nenhum procedimento administrativo do

MPT envolvendo trabalho infantil em 2013. Ela apresenta muitas áreas no grupo 7

do IPVS, ou seja, setores rurais com vulnerabilidade alta.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Barra do Turvo 1 0 7,83 3,06 0 0 0

Cajati 24 1 2,61 1,64 0 0 0

Cananéia 4 0 5,80 1,63 1 0 0

Eldorado 3 0 2,42 0,38 0 0 0

Iguape 263 0 3,88 1,08 0 0 0

Ilha Comprida 1 0 7,83 0 0 0 0

Itariri 1 0 5,44 1,51 0 0 0

Jacupiranga 3 0 0,43 1,55 4 0 0

Juquiá 29 1 6,71 1,10 0 0 0

Miracatu 13 2 6,09 1,76 0 0 0

Pariquera-Açu 0 20 1,06 0,35 0 0 0

Pedro de Toledo 1 0 3,08 1,68 0 0 0

Registro 57 25 2,83 1,30 0 0 0

Sete Barras 145 0 6,51 2,40 0 0 0

Total 545 49 4,47 1,39 5 0 0

85

4.11. Região Administrativa de Ribeirão Preto

A Região Administrativa de Ribeirão Preto é composta de 25 municípios,

todos de competência do MPT/15.

O município de Ribeirão Preto teve um alto número de notificações no

CadÚnico, baixo número de notificações de acidente do trabalho e três intervenções

do MPT em hipermercados, pousada e panfletagem.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Altinópolis 1 0 7,10 1,34 0 0 0

Barrinha 0 0 8,36 0,55 0 0 0

Brodowski 0 0 3,29 0,99 1 0 2

Cajuru 0 0 2,50 2,56 0 0 0

Cássia dos Coqueiros 0 0 4,53 0 0 0 0

Cravinhos 1 0 11,80 3,02 0 0 0

Dumont 0 0 2,98 1,70 0 0 0

Guariba 9 0 5,21 1,09 0 0 2

Guatapará 0 0 1,52 3,49 0 0 0

Jaboticabal 0 0 3,09 1,62 0 0 0

Jardinópolis 2 0 3,81 1,66 0 0 0

Luís Antônio 0 0 12,36 0,27 0 0 0

Monte Alto 0 1 3,17 0,90 0 0 0

Pitangueiras 26 0 5,29 0,88 0 0 0

Pontal 88 2 2,73 0,68 0 0 0

Pradópolis 8 0 12,73 0,21 0 0 0

Ribeirão Preto 1.119 58 5,63 2,16 3 0 3

Santa Cruz da Esperança

0 0 2,83 0 0 0 0

Santa Rosa de Viterbo 0 0 2,35 0,71 0 0 0

Santo Antônio da Alegria 1 2 4,59 0,27 0 0 1

São Simão 0 0 10,77 4,57 0 0 1

Serra Azul 0 0 7,88 4,49 0 0 0

Serrana 1 0 7,70 1,95 0 0 0

Sertãozinho 582 2 6,12 0,74 2 0 0

Taquaral 0 0 1,89 0,65 0 0 0

Total 1.838 65 5,61 1,46 6 0 9

86

4.12. Região Administrativa de Santos

A Região Administrativa de Santos é composta de 9 municípios, sendo que, 3

deles, são da competência do MPT da 15ª Região (Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe)

e os outros estão sob a competência do MPT/2. A região apresentou a maior média

da taxa de reprovação nos anos finais do ensino fundamental do Estado.

Dois procedimentos do MPT aconteceram na região em 2013: um em

Guarujá, envolvendo trabalho em quiosques, e outro relativo à prática desportiva, em

Santos.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Bertioga 64 0 8,43 1,34 1 0 0

Cubatão 83 3 12,09 1,22 0 0 0

Guarujá 341 0 10,00 1,44 21 2 1

Itanhaém 94 0 6,96 0,85 0 0 0

Mongaguá 30 1 7,28 0,40 1 0 0

Peruíbe 92 0 6,27 2,09 0 0 0

Praia Grande 597 0 7,11 1,94 0 0 0

Santos 136 1 7,98 0,75 2 0 1

São Vicente 537 0 8,36 1,47 4 0 0

Total 1.974 5 8,27 1,28 29 2 2

4.13. Região Administrativa de São José do Rio Preto

A Região Administrativa de São José do Rio Preto é composta de 96

municípios, todos sob atribuição do MPT/15.

Dois procedimentos de Fernandópolis envolveram a produção de vime

sintético para cadeiras.

87

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%)

2013 2013 2013 2013

Adolfo 0 0 1,32 2,48 0 0 0

Álvares Florence 52 0 0,53 0 0 0 0

Américo de Campos 1 0 4,72 0,29 0 0 1

Aparecida D'oeste 0 0 2,91 1,25 0 0 0

Ariranha 0 0 2,23 0,64 0 0 0

Aspásia 0 0 0,89 0 0 0 0

Bady Bassitt 1 0 10,11 1,02 0 0 0

Bálsamo 2 0 0 1,81 0 0 0

Cardoso 0 0 3,96 1,72 0 0 0

Catanduva 80 40 5,50 0,25 1 1 1

Catiguá 1 0 0,78 1,07 0 0 0

Cedral 2 0 8,51 3,58 0 0 1

Cosmorama 1 0 1,55 3,19 0 0 0

Dirce Reis 15 0 6,07 0 0 0 0

Dolcinópolis 2 0 3,17 0 0 0 0

Elisiário 0 3 0 0 0 0 0

Estrela d'Oeste 0 0 1,67 3,82 0 0 0

Fernandópolis 92 78 3,37 0,33 0 0 3

Floreal 0 0 0,68 0 0 0 0

Guapiaçu 1 0 11,25 5,21 0 0 0

Guarani d'Oeste 27 0 3,75 2,77 0 0 0

Ibirá 0 2 0,43 0 0 0 0

Icem 0 0 11,76 0 0 0 0

Indiaporã 7 0 4,06 1,52 0 0 0

Ipiguá 0 1 4,05 5,01 0 0 0

Irapuã 56 0 0 1,07 0 0 1

Itajobi 0 3 4,34 0,12 0 0 0

Jaci 0 0 5,15 0,58 0 0 0

Jales 332 10 1,23 0 0 0 1

José Bonifácio 79 35 1,60 1,30 0 0 0

Macaubal 3 0 2,08 2,08 0 0 0

Macedônia 0 0 2,36 0 0 0 0

Magda 1 0 5,99 0 0 0 0

Marapoama 0 1 2,87 0 0 0 0

Marinópolis 0 0 1,42 0 0 0 0

Mendonça 0 0 0,76 0 0 0 0

Meridiano 28 1 3,41 0 0 0 0

Mesópolis 0 0 0,95 0 0 0 0

Mira Estrela 26 2 0,77 0 0 0 0

Mirassol 21 9 3,67 2,14 0 0 0

Mirassolândia 0 0 9,94 0,42 0 0 0

Monções 0 0 2,05 0 0 0 0

Monte Aprazível 17 0 1,01 0,07 0 0 0

Neves Paulista 0 0 0,27 0 0 0 0

Nhandeara 72 0 0,21 1,22 0 0 1

Nipoã 0 0 3,40 0,36 0 0 0

Nova Aliança 0 0 12,45 3,51 0 0 0

Nova Canaã Paulista 0 0 1,04 0 0 0 0

88

Nova Granada 57 0 6,88 1,23 0 0 0

Novais 0 0 2,74 1,96 0 0 0

Novo Horizonte 57 2 2,16 0,27 0 0 0

Onda Verde 0 0 1,47 0 0 0 0

Orindiuva 0 0 0 0,25 0 0 0

Ouroeste 1 1 2,69 0,19 0 0 0

Palestina 5 0 6,44 0 0 0 0

Palmares Paulista 198 1 2,35 0,31 0 0 0

Palmeira d'Oeste 0 0 1,01 0 0 0 0

Paraíso 35 0 0,31 0,32 0 0 0

Paranapuã 0 0 4,45 0 0 0 0

Parisi 0 1 0,87 0 0 0 0

Paulo de Faria 52 0 0,23 0,24 0 0 0

Pedranópolis 0 1 1,39 0 0 0 0

Pindorama 0 0 5,69 1,26 0 0 0

Planalto 1 0 2,84 1,26 0 0 0

Poloni 0 0 4,20 1,04 0 0 0

Pontalinda 0 0 9,16 0,47 0 0 0

Pontes Gestal 0 0 6,27 1,43 0 0 0

Populina 0 0 2,20 0 0 0 0

Potirendaba 4 1 8,52 0 0 0 0

Riolândia 0 0 2,07 0,62 0 0 0

Rubinéia 0 0 2,40 1,84 0 0 0

Sales 26 0 1,11 1,68 0 0 0

Santa Adélia 0 1 2,66 0,24 0 0 3

Santa Albertina 0 0 3,28 0 0 0 0

Santa Clara d'Oeste 0 0 0,96 0 0 0 0

Santa Fé do Sul 115 60 1,08 0,24 0 0 0

Santa Rita d'Oeste 0 0 0 0 0 0 0

Santa Salete 0 0 0 0 0 0 0

Santana da Ponte Pensa

0 0 0 0 0 0 0

São Francisco 0 0 0,61 0 0 0 0

São João das Duas Pontes

25 0 2,06 1,42 0 0 0

São José do Rio Preto 45 421 5,32 0,92 12 1 2

Sebastianópolis do Sul 0 0 0,64 2,50 0 0 0

Tabapuã 0 0 2,21 0 0 0 0

Tanabi 98 0 2,15 1,87 0 0 1

Três Fronteiras 0 0 4,04 0,37 0 0 0

Turmalina 0 0 0,99 0 0 0 0

Ubarana 2 1 11,81 1,64 0 0 0

Uchoa 0 2 11,78 0,22 0 0 0

União Paulista 0 0 0 0 0 0 0

Urânia 0 0 1,52 0 0 0 0

Urupês 52 0 5,13 1,67 0 0 0

Valentim Gentil 33 0 1,86 1,56 0 0 0

Vitoria Brasil 0 0 5,03 0 0 0 0

Votuporanga 177 89 3,53 1,67 0 0 2

Zacarias 0 0 0,61 0 0 0 0

Total 1.902 766 3,18 0,81 13 2 17

89

4.14. Região Administrativa de São José dos Campos

A Região Administrativa de São José dos Campos envolve 39 municípios,

todos da competência do MPT/15.

Em Cruzeiro, que tem a população estimada em 81.082 pessoas, houve 372

ocorrências no CadÚnico, enquanto Jacareí com 226.539 habitantes teve apenas 2

notificações. No entanto, segundo o Censo de 2010 o primeiro município contou com

743 ocorrência de trabalhadores com menos de 18 anos e o segundo 2.427.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Aparecida 1 0 7,70 0,20 0 0 0

Arapeí 0 0 13,20 1,02 0 0 0

Areais 0 0 5,93 0 0 0 0

Bananal 0 0 12,06 0,88 0 0 0

Caçapava 13 0 8,36 1,17 0 0 0

Cachoeira Paulista 0 0 6,96 2,70 0 0 0

Campos do Jordão 0 2 9,68 0,91 5 5 0

Canas 0 0 4,30 0 0 0 0

Caraguatatuba 197 0 3,10 0,03 0 0 4

Cruzeiro 372 0 6,34 2,07 0 0 1

Cunha 2 0 5,17 2,29 0 0 0

Guaratinguetá 0 0 7,20 1,74 0 0 0

Igaratá 1 7 5,57 2,19 0 0 0

Ilhabela 0 0 7,28 1,33 0 0 0

Jacareí 2 0 4,09 1,10 0 0 1

Jambeiro 0 0 4,15 1,30 0 0 0

Lagoinha 0 0 7,01 0,81 0 0 0

Lavrinhas 0 0 6,36 1,92 0 0 0

Lorena 1 1 8,30 3,19 0 0 0

Monteiro Lobato 0 0 4,37 2,51 0 0 0

Natividade da Serra 1 0 6,25 2,05 0 0 0

Paraibuna 0 2 7,04 1,86 0 0 0

Pindamonhangaba 0 6 3,81 2,66 0 0 1

90

Piquete 0 0 3,43 3,03 0 0 0

Potim 8 0 12,39 1,67 0 0 0

Queluz 1 0 11,05 1,94 0 0 1

Redenção da Serra 0 0 2,70 3,06 0 0 0

Roseira 0 0 15,34 0,74 0 0 0

Santa Branca 3 0 16,54 0 0 0 0

Santo Antônio do Pinhal

1 0 4,26 3,17 0 0 0

São Bento do Sapucaí

1 1 4,75 1,83 0 0 0

São José do Barreiro 0 0 12,64 0 0 0 0

São José dos Campos

69 140 3,26 0,59 5 6 1

São Luís do Paraitinga

0 0 9,50 0,77 0 0 0

São Sebastião 1 0 2,67 0,35 0 0 0

Silveiras 0 0 8,49 1,65 0 0 0

Taubaté 5 0 8,28 0,57 0 0 0

Tremembé 117 0 19,99 1,89 0 0 0

Ubatuba 67 0 3,54 0,11 2 3 1

Total 863 159 7,51 1,42 12 14 10

4.15. Região Administrativa de Sorocaba

A Região Administrativa de Sorocaba é composta por 47 municípios. Apenas

Ibiúna está sob competência do MPT/2.

Em Itapetininga, uma atuação do MTE encontrou 22 adolescentes que

estavam desempenhando funções proibidas pela lista TIP. Eles tiveram suas

atividades regularizadas por meio de contrato de aprendizagem.

CadÚnico Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE Vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Águas de Santa Barbara 0 0 7,93 2,77 0 0 0

Alambari 0 0 5,68 0 0 0 0

Alumínio 0 0 9,85 1,35 0 0 0

Anhembi 0 0 4,74 1,28 0 0 0

Araçariguama 1 0 9,60 0,60 0 0 0

Araçoiaba da Serra 0 0 1,20 1,09 0 0 1

91

Areiópolis 0 0 5,46 0,13 0 0 0

Avaré 51 26 3,38 1,59 0 0 1

Bofete 0 0 12,97 2,93 0 0 0

Boituva 1 0 2,58 0,07 0 0 1

Botucatu 1 6 6,69 2,82 0 0 0

Capela do Alto 0 1 7,83 3,21 0 0 0

Cerqueira César 1 0 4,65 1,21 0 0 0

Cerquilho 0 0 3,68 0,51 0 0 0

Cesário Lange 2 0 9,27 0,18 0 0 0

Conchas 0 0 4,65 2,41 1 1 0

Guarei 0 0 8,68 2,61 0 0 0

Iaras 1 0 12,94 0,72 0 0 0

Ibiúna 2 1 1,70 0,53 0 0 0

Iperó 0 0 14,78 0,18 0 0 0

Itapetininga 151 0 4,77 1,75 4 27 2

Itatinga 1 0 13,83 1,13 0 0 0

Itu 3 0 7,52 1,82 0 0 0

Jumirim 0 0 7,66 0 0 0 0

Laranjal Paulista 0 0 8,68 3,04 0 0 0

Mairinque 2 0 12,01 0,36 0 0 0

Manduri 22 0 2,95 3,67 0 0 0

Pardinho 0 0 5,63 2,64 0 0 0

Pereiras 2 0 6,79 1,45 0 0 0

Piedade 4 1 1,65 1,98 0 0 0

Pilar do Sul 4 0 2,50 1,47 0 0 0

Porangaba 0 0 6,35 2,63 0 0 0

Porto Feliz 0 3 5,03 0,78 0 0 0

Pratânia 0 0 3,50 0,81 0 0 0

Quadra 0 0 1,59 1,22 0 0 0

Salto 4 4 3,00 0 0 0 0

Salto de Pirapora 3 2 3,58 1,34 0 0 0

São Manuel 0 0 6,14 1,45 0 0 0

São Miguel Arcanjo 0 7 4,39 0,70 1 0 0

São Roque 2 1 11,50 1,73 0 0 0

Sarapui 7 3 4,83 1,09 0 0 0

Sorocaba 106 250 4,89 1,46 0 0 2

Tapiraí 1 0 5,22 3,01 0 0 0

Tatuí 1 0 5,44 1,71 0 0 0

Tietê 1 1 6,12 2,17 0 0 0

Torre de Pedra 0 0 5,47 0 0 0 0

Votorantim 793 0 2,85 1,98 0 0 0

Total 1.167 306 6,22 1,44 6 28 7

92

4.16. Região Metropolitana de São Paulo

A Região Metropolitana de São Paulo é composta de 39 municípios, sob a

alçada do MPT/2. Como era de se esperar o município com o maior número de

procedimentos administrativos do MPT, notificações de acidente do trabalho,

atuações do MTE e do CadÚnico foi São Paulo, já que é o maior município do

Estado.

Nessa região encontram-se concentrados os casos de verificação de

cumprimento da cota de aprendizagem.

CadÚnic

o Acidente

Educação (fundamental finais)

MTE vítimas MPT

Município 2012 a 2015

2011 a 2014

Reprovação (%) 2013

Abandono (%) 2013

2013 2013 2013

Arujá 57 0 3,69 1,18 0 0 0

Barueri 2 0 8,12 1,03 1 0 0

Biritiba-Mirim 102 1 5,01 2,38 0 0 0

Caieiras 0 0 1,68 0,46 0 0 0

Cajamar 24 0 2,93 1,12 0 0 0

Carapicuíba 6 3 4,95 2,36 0 0 2

Cotia 13 0 6,46 1,82 0 0 1

Diadema 871 223 4,48 2,07 13 9 2

Embu 91 2 7,34 2,09 0 0 0

Embu-Guaçu 4 0 2,69 1,11 0 0 0

Ferraz de Vasconcelos 382 13 7,21 2,74 0 0 0

Francisco Morato 115 0 2,62 1,83 0 0 0

Franco da Rocha 142 1 2,82 1,13 0 0 0

Guararema 39 2 4,95 3,39 0 0 0

Guarulhos 933 22 5,49 2,07 4 12 5

Itapecerica da Serra 6 1 5,97 0,87 0 0 0

Itapevi 509 3 6,56 3,49 0 0 1

Itaquaquecetuba 166 2 7,44 1,89 1 0 0

Jandira 155 1 6,07 3,50 0 0 0

Juquitiba 1 0 4,46 2,73 0 0 0

Mairiporã 7 1 1,44 0,86 0 0 0

Mauá 211 89 5,74 1,75 4 6 0

93

Mogi das Cruzes 684 0 4,31 1,71 1 0 15

Osasco 181 19 4,48 1,54 0 0 4

Pirapora do Bom Jesus 170 5 18,64 2,76 0 0 0

Poá 293 0 6,42 1,42 0 0 0

Ribeirão Pires 2 0 4,02 0,75 0 0 0

Rio Grande da Serra 5 0 5,40 3,32 0 0 0

Salesópolis 119 1 4,34 2,26 0 0 0

Santa Isabel 19 0 2,14 0,88 0 0 0

Santana de Parnaíba 35 9 10,47 0,92 0 0 0

Santo André 271 3 6,11 1,89 21 10 2

São Bernardo do Campo 571 125 6,93 1,41 61 10 6

São Caetano do Sul 0 0 11,17 0,40 7 5 0

São Lourenço da Serra 0 0 4,66 2,28 0 0 0

São Paulo 5.098 1658 5,73 2,00 73 25 126

Suzano 64 0 3,45 1,62 0 0 1

Taboão da Serra 36 4 6,48 1,40 0 0 0

Vargem Grande Paulista 0 0 3,59 0,55 0 0 0

Total 11.384 2.188 5,55 1,77 186 77 165

5. Entrevistas

Foram realizadas entrevistas com o Desembargador João Batista Martins

Cesar (ex-membro do MPT e atual membro do TRT/15) e com a Drª. Eliane dos

Santos Alves Nogueira (Juíza do trabalho de Franca, responsável pelo Juizado

Especial da Infância e Adolescência - JEIA) que serviram como subsídios para

alguns pontos deste estudo.

Foram realizadas visitas técnicas ao JEIA, SENAC, Fundação Casa e

Pastoral da Criança no município de Franca/SP.

94

6. Estudo de Caso: Franca e a Atuação Exitosa Entre Ministério Público do

Trabalho, Justiça do Trabalho, Defensoria Pública do Estado e a Rede Local

de Proteção da Infância e Juventude

Franca foi onde primeiro se instalou um Juizado Especial da Infância e

Adolescência (JEIA). O município tem importante vocação calçadista e sofre com a

utilização de mão-de-obra infantil, especialmente nas oficinas familiares.

Um caso sensível é o do processo trabalhista nº 0010584-65.2014.5.15.0076

(TRT/15), que trouxe uma realidade bastante complexa com relação às autorizações

para trabalho do menor de 16 anos. Mesmo com autorização judicial, o adolescente

desempenhava funções proibidas aos menores de 18 anos, tendo sofrido grave

acidente do trabalho com amputação de dedos e esmagamento da mão, que levou a

um quadro de depressão.

Essa ocorrência é relevante para demonstrar que assinar a carteira ou

mesmo ter autorização judicial para o trabalho não são suficientes para a proteção

dos adolescentes, se não houver responsabilidade dos empregadores e empresas

em cumprir a legislação e dos órgãos estatais em fiscalizar e cobrar esse

cumprimento.

Muitos menores de 16 anos têm recebido autorizações para trabalho na

comarca de Franca. Ao mesmo tempo, o Judiciário Trabalhista desenvolveu no JEIA

a coordenação de diversos setores da sociedade do município, fazendo uma ponte

entre instituições que desenvolvem programas de aprendizagem como o CIEE,

SENAC e SENAI, as empresas, o poder público e pais e adolescentes interessados

em começar a trabalhar que, em muitos casos, estavam ou estariam sob o perigo de

trabalharem ilegalmente, mas com autorizações da justiça estadual. No entanto,

ficou clara a omissão do Poder Executivo, seja no âmbito municipal, seja no estadual

nessa intermediação e na apresentação de alternativas e soluções, levando o

judiciário a assumir a responsabilidade por essa ação.

95

Considerando o enfoque desta pesquisa e sua relevância ímpar, o Governo

do Estado de São Paulo, representado pelos pesquisadores deste trabalho, fez-se

presente em uma das reuniões no JEIA.

Verificou-se que boa parte das famílias buscava evitar a ociosidade dos

adolescentes. Nesse sentido, o estudo da Repórter Brasil28 aponta um novo perfil do

trabalho infantil que inclui famílias acima da linha de pobreza, mas que almeja bens

de consumo:

“Os dados apontam que quase 40% das pessoas menores de 18 anos em

situação de trabalho não estão em famílias que vivem abaixo da linha de

pobreza. Outro fator novo é que a maior parte da população infanto-juvenil

em atividades remuneradas frequenta a escola simultaneamente. Se antes a

pobreza era um dos determinantes do trabalho infantil, hoje essa relação

ficou menos direta. Atualmente muitos adolescentes não trabalham para

garantir a sobrevivência de suas famílias, mas para aceder a bens de

consumo, como tênis, roupas de marca, videogames, celulares, ou fazer

atividades de cultura e lazer, como shows, cinema e viagens. São

aspirações materiais que nem suas famílias nem os programas de

transferência de renda podem satisfazer.”

Essa articulação conjunta trazendo a sociedade local à responsabilidade e

participação, é a melhor saída para o tratamento de um problema tão complexo

como o trabalho infantil.

7. Desafios e Possibilidades

Percebe-se que a exploração econômica perpetrada por familiares,

envolvendo atividades ilícitas ou domésticas não são abordados pelo MPT. É

necessário que os dados dessas recusas sejam levantados e prestem-se para

modificar o entendimento, tanto dos profissionais do Direito, envolvidos na seara

28

REPÓRTER BRASIL. Brasil livre de trabalho infantil.

96

trabalhista, quanto dos legisladores, a fim de que sejam criadas ações que coíbam a

prática e que envolvam toda a sociedade e os órgãos governamentais.

É importante observar que os dados do MPT podem balizar programas mais

estruturadas dos órgãos, em especial do Poder Executivo, para ações de

fiscalização e atuação social em áreas mais vulneráveis ao trabalho infantil.

Considerando que grande parte dos procedimentos indicou o endereço das

ocorrências, o georreferenciamento dessas informações permitiria a atuação de

outros órgãos de proteção da infância em regiões com maior incidência de trabalho

infantil, que tendem a indicar outras vulnerabilidades.

É relevante destacar que mesmo nos casos em que o MPT atuou e

solucionou o problema, a resposta é, em geral, individual, ou no máximo restrita a

uma empresa. Podem haver outras pessoas na mesma situação precisando de

apoio do Estado e de programas de proteção e amparo mais amplos e inclusivos.

As atuações da Coordinfância mostram-se como importante iniciativa que

podem coordenar a atuação do MPT dentro de problemas coletivos, como, por

exemplo, a utilização de mão-de-obra infantil em colheitas, como já mencionado.

Nos casos em que a situação de vulnerabilidade econômica é mais reduzida,

o programa de aprendizagem, previsto na lei nº 10.097/2000 alterada pela lei nº

11.180/2005 (alterações dos artigos 402, 403, 428, 429, 430, 431, 432 e 433, da

CLT) deve ser intensificado para permitir, simultaneamente, o acesso à

remuneração e a manutenção do estudo, desde que a lei seja respeitada e os

estabelecimentos constantemente fiscalizados.

A falta de recursos do MTE para a fiscalização pode prolongar situações

preocupantes de exploração e abusos. Por serem pessoas em situação peculiar de

desenvolvimento, esse prejuízo pode ser irreparável. Deve-se incrementar os

recursos humanos do MTE e pensar em alternativas a essa fiscalização, com grupos

de trabalho envolvendo outros órgãos e entidades da sociedade civil, formando-se

uma rede de proteção para a averiguação rápida das denúncias recebidas e do

cumprimento dos acordos.

97

É relevante também apontar que a fiscalização deve ser contínua e

capilarizada; o que, só será possível com a formação de profissionais que atuem

com crianças e adolescentes, para que consigam verificar as situações e contatar os

órgãos responsáveis. Tanto funcionários públicos, quanto a população em geral

deve ser sensibilizada acerca dos prejuízos que o trabalho infantil causa, a fim de

que possam denunciar os casos, permitindo uma atuação mais eficaz do Estado.

O foco na prevenção deve ser intensificado, permitindo o acesso a atividades

no contra turno escolar como esportes, lazer, educação complementar.

A bem da verdade, o ideal seria que os legisladores e agentes políticos do

Poder Executivo compreendessem a importância do ensino em período integral, algo

que possibilitaria aos pais trabalharem tranquilamente e garantiria um melhor

aprendizado aos menores de 16 anos.

A questão cultural é um importante limite ao trabalho infantil. A ideia da

dignidade apenas pelo trabalho acaba tornando banal a entrada precoce no

mercado de trabalho, por vezes em trabalhos que não são adequados, ou mesmo

são proibidos. Somada à cultura do consumismo exagerado, acaba antecipando o

contato das crianças e adolescentes com o mundo do trabalho, o que pode gerar

graves consequências físicas, psíquicas e de limitações de aprendizagem, que

dificilmente serão vencidas posteriormente.

8. Considerações finais

O desafio de erradicar o trabalho infantil ainda não foi vencido, e está longe

de sê-lo. Convivemos diariamente com situações degradantes e que comprometem

o futuro de crianças e adolescentes, que se veem presas em ciclos de pobreza e

exploração.

98

Os estudos que tratam do trabalho infantil apontam diversos fatores para sua

existência e, portanto, colocam diversas soluções intersetoriais, especialmente

visando programas de ensino em tempo integral, atividades extracurriculares de

cultura ou formação no contraturno, melhoria da educação, formação dos pais,

alternativas para geração de renda.

O enfrentamento ao trabalho infantil passa por uma integração dos três

Poderes e dos entes federados e seus órgãos, em especial no compartilhamento de

informações que, com a tendência de ampliação da transparência, devem permitir a

compreensão do problema de modo mais global. Cada órgão desempenha um

papel, não se pode atribuir ao MPT a competência da implantação de programas

governamentais, até porque o Ministério Público, em sua essência, é o fiscal da lei

(custus legis).

Cabe aos Poderes Executivo e Legislativo a obrigação moral e constitucional

de realizar esse papel e trabalhar com inteligência, unindo as diversas fontes de

dados para a compreensão e combate mais amplos das questões levantadas, já que

a atuação individual tem muitos limites.

Além disso, é necessário refletir sobre a necessidade de formação dos

servidores públicos para a notificação adequada dos casos e melhorar as bases de

dados para que o diagnóstico e a atuação sejam corretamente direcionados, tendo-

se por norte a Resolução nº 113, do CONANDA, que dispõe sobre a

institucionalização do sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente.

Que esse levantamento sirva como um primeiro passo para se pensar sobre o

problema, e para que, no futuro, tenhamos maior e melhor acesso aos dados dos

diversos órgãos. A troca de informações e a atuação conjunta possibilitarão intervir

sobre o problema de forma menos pontual e mais eficaz: atualmente nem a

nomenclatura dos municípios é padronizada, o que dificulta a utilização dos dados

em análises e cruzamentos. Também seria interessante apontar as equipes que

realizam os melhores trabalhos de notificação para multiplicar as experiências pelo

estado e permitir o acesso a dados cada vez melhores.

99

Sem qualquer pretensão, caso os apontamentos feitos neste trabalho sirvam

para auxiliar os futuros estudos relacionados com o tema “Erradicação do Trabalho

Infantil”, as análises dele derivadas, poderão melhorar a coleta de dados junto à

população, a dinâmica econômica, indicadores sociais e poderão permitir

diagnósticos mais próximos da realidade, apontando com maior clareza a

localização dos fatos e o alcance do problema, além de ajudar a atuação preventiva

de maneira mais eficaz.

Por fim, o tema aqui proposto precisa ser continuamente debatido por meio de

simpósios, conferências, etc., para que a sociedade tome conhecimento das

questões relacionadas à erradicação do trabalho infantil e auxilie o Estado a cumprir

o seu papel fundamental que é dar segurança ao cidadão.

9. Referências

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